Tese Nuno Sevivas PDF
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DISSERTAÇÃO
Porto|2012
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DO PORTO
Curso de Mestrado em Supervisão Clínica em Enfermagem
DISSERTAÇÃO
Orientação:
Porto|2012
Este trabalho é dedicado…
Ao Professor Doutor Wilson Abreu, por tudo o que me tem ensinado ao longo do
meu percurso formativo como enfermeiro, pela sua enorme dedicação e incentivo;
A todos aqueles que colaboraram para tornar este trabalho uma realidade.
% - Percentagem
cit. – Citado
CLASI-M - Clinical Learning Assessement Inventory – Mentor.
CLE – Curso de Licenciatura em Enfermagem
dp – Desvio Padrão
E.P.E. – Entidade Pública Empresarial
ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto
et al. – (et alli): Significa "e outros"
ICN – International Council of Nurses
m - Mediana
n – Amostra
OE – Ordem dos Enfermeiros
p – Significância Estatística
p. – Página
Q – Questionário
r – Coeficiente de Correlação
SPSS – Statistical Packaged for the Social Sciences
X2 – Qui-Quadrado
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 13
PARTE I – ENFERMAGEM E SUPERVISÃO DA FORMAÇÃO CLÍNICA ....................................... 19
1. Enfermagem e Aprendizagem Clínica ............................................................................ 19
1.1. Caraterização dos Contextos de Saúde ................................................................... 20
1.2. A Clínica na Formação dos Enfermeiros .................................................................. 23
1.3. Da Prática à Enfermagem Baseada em Evidência .................................................. 26
1.4. Perspetiva Ecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner ................ 28
2. Supervisão Do Estudante Em Contexto Clínico .............................................................. 33
2.1. Estratégias de Formação em Contexto Clínico ........................................................ 34
2.2. A Intervenção Didática do Tutor ............................................................................. 37
2.3. Desenvolvimento de Competências em Contexto Clínico ....................................... 40
PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO ................................................................................................ 45
1. Metodologia ................................................................................................................... 45
1.1. Questões Orientadoras ........................................................................................... 46
1.2. Participantes do Estudo .......................................................................................... 46
1.3. Desenho da Pesquisa............................................................................................... 47
1.4. Instrumento de Recolha de Dados .......................................................................... 48
1.5. Tratamento da Informação ..................................................................................... 49
1.6. Questões Éticas ....................................................................................................... 50
2. Caraterização da Formação e do Contexto Clínico ........................................................ 53
2.1. Dados Sociodemográficos ....................................................................................... 53
2.2. A Aprendizagem Clínica .......................................................................................... 54
2.3. Acompanhamento Clínico: Duração e Intervenientes ............................................. 56
3. O Contexto do Acompanhamento Clínico ..................................................................... 61
3.1.Preparação da Aprendizagem Clínica ...................................................................... 61
3.2. Estratégias e Focos de Atenção Supervisiva ........................................................... 64
3.3. Expetativas com o Processo de Supervisão ............................................................. 68
3.4. Satisfação com o Processo de Supervisão ............................................................... 71
4. Momentos Significativos da Aprendizagem................................................................... 85
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 111
ANEXOS ................................................................................................................................ 117
ANEXO I – Questionário de Avaliação da Orientação Clínica (CLASI-M) .......................... 119
LISTA DE TABELAS
Supervision is a process closely linked to the clinical training of nurses and nursing
students. In the current formative context, a significant part of the academic training of
nursing students is done in the clinical setting. In this process there should be the
cooperation of experienced and skilled nurses who share knowledge and interact with the
learner in order to build a theoretical and practical base sustained on critical and reflective
analysis of the situations experienced (Pinto, 2011).
The nurse tutor assumes the role of facilitator of learning, mediating the complex
context of the action, and he must provide the student the ideal conditions for achieving
the objectives for each clinical training (Abreu, 2007).
Thus, the Clinical Supervision in Nursing and the concept of Mentorship have been
essential to promote health care quality and to define the professional identity of nurses.
To better understand this phenomenon, we outlined the main objective of this
research to realize the nature of training in the clinical context, analyzing the monitoring
process of the nurse tutor students.
The sample used in this study corresponds to a total of 119 students, 47
corresponding to the school identified by the letter A and the remaining 72, to the
educational institution identified by the letter B.
The data of the two institutions was collected in the context of a broader study,
done nationally and coordinated by the School of Nursing of Porto, and developed with
support from several Nursing Schools, under the theme: "Training and learning in clinical
education: grants for didactic educational interventions ".
This is an exploratory study, using a questionnaire, with a quantitative and a
qualitative aspect.
The instrument selected for data collection, Clinical Learning Assessment Inventory
- Mentor (CLASI-M), results from a study by Abreu and Calvário in 2005, based on the
ecological perspective of human development by Urie Bronfenbrenner. This was already
used in several studies in our country and abroad.
The treatment of quantitative data was performed using the computer program
Statistical Package for Social Sciences (SPSS), while the qualitative part has undergone a
process of thematic content analysis.
The main conclusions of this study allow us to say, through statistical analysis that
students who formed the sample were mostly satisfied with the type of supervision
provided. The majority of the students have been supervised by professors/tutors with
characteristics understood as facilitators by them. The participants of the study emphasize
that the skills development, as being one of the most important factors on their learning
process.
From the thematic content analysis emerged nine categories, which were:
Autonomy; Competence Development; Assessment; Recognition; Integration in the Team;
Relationship with Tutor/Team; Contact/Relationship with Customers; Pedagogical
Strategies and Trust, elements that students consider essential to the success of their
clinical training.
Keywords: Clinical Training, Nursing Students, Clinical Learning, Tutor, Clinical Supervision.
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos temos assistido a alterações estruturantes no que à saúde diz
respeito. O paradigma da assistência ao cliente tende a centralizar-se na prevenção da
doença, no seu bem-estar e na relação que este estabelece com o meio ambiente. Este
conceito tornou-se mais amplo e completo, abrangendo de um modo global as
necessidades dos clientes em matéria de cuidados.
A evolução tecnológica e científica desta área elementar da Humanidade, numa era
de globalização, exigiu assim dos seus profissionais o desenvolvimento de competências
focadas na ação em conformidade com o contexto, implicando uma mobilização,
integração e transferência de saberes adquiridos em contexto de formação profissional.
Segundo Rua (2011), todos os fatores acima descritos obrigam os profissionais de
saúde “ (…) a uma constante actualização dos saberes e das competências, numa atitude
permanente ao longo da vida” (p.1).
Sendo os enfermeiros parte integrante do sistema de saúde, os mesmos não
ficaram alheios a esta mudança de paradigma na sua área de intervenção, conferindo à
formação um lugar cimeiro na sua vontade de mudança e acompanhamento dos tempos.
Desta forma, a formação dos futuros enfermeiros tem sido alvo de profundas
reflexões por parte da classe, tendo a mesma reconhecido que a qualidade das suas
respostas, face às crescentes exigências sociais, está dependente da aprendizagem clínica
(Abreu, 2007).
A sua atual formação graduada é caraterizada pela alternância entre um período
teórico, ministrado em sala de aula, seguido por outro de natureza prática em contexto
clínico. Através da componente teórica do curso, pretende-se que o estudante adquira um
conjunto de competências consideradas fundamentais para o desenvolvimento de uma
prática estruturada e alicerçada na qualidade dos cuidados prestados (Pinto, 2011).
Num segundo período da formação, pretende-se que a nível dos ensinos clínicos, o
estudante seja capaz de transportar para a prática todos os conhecimentos teóricos
adquiridos anteriormente, desenvolvendo “ (…) as competências necessárias e congruentes
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FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
com as definidas pela Ordem dos Enfermeiros para o ingresso na profissão” (Rua, 2011,
p.2).
Na nossa investigação, esta componente prática da formação dos estudantes de
enfermagem, designada por ensino clínico, assume particular relevância.
Desta forma, somos da opinião de Watson (2002) quando este defende que a
progressão da enfermagem a nível científico e prático, tornou essencial o aparecimento de
um novo modelo em que as atividades académicas não deverão estar dissociadas do
contexto prático, o qual o autor denomina como estudante-clínico.
A formação em enfermagem experimentou desde sempre uma ligação íntima com
os contextos de trabalho, dado o caráter essencialmente prático desta profissão
(Fernandes, 2010). Este ambiente encontra-se sujeito a rápidas transformações, ao nível do
saber e da técnica, implicando uma reflexão permanente sobre o processo de trabalho e as
competências essenciais ao desempenho da profissão (Abreu, 2007).
Face a estes elementos, os enfermeiros viram-se obrigados a repensar os modelos
de formação dos seus pares, incrementando a exigência no desenvolvimento de
competências. O paradigma tecnicista foi assim dando lugar a uma epistemologia da
prática, tendo como referência as capacidades subjacentes à qualidade dos seus atos,
através do desenvolvimento do pensamento crítico (Pires et al., 2004).
Neste sentido, e mais recentemente com a introdução do Processo de Bolonha,
adaptado também aos cursos superiores de enfermagem, o ensino passa a focar-se no
estudante e nas suas necessidades de aprendizagem, tornando-o um elemento ativo no seu
processo contínuo de formação.
Segundo Alarcão e Abreu (2010), o processo de aprendizagem em contexto clínico
tem constituído um alvo privilegiado da investigação em enfermagem nos últimos vinte
anos, destacando o seu papel mediador na construção da identidade e desenvolvimento de
competências profissionais dos futuros enfermeiros.
Carvalho (2004), afirma que os estudantes chegam às unidades de cuidados com
um conjunto de saberes teóricos, necessitando das oportunidades que surgem nos estágios
para os mobilizar. O mesmo autor define o ensino clínico como “ (…) a formação em
cuidados de enfermagem pela qual o estudante (…), integrado numa equipa e em contacto
com o indivíduo, são ou doente e ou comunidade, aprende a planear, prestar e avaliar os
cuidados globais de enfermagem exigidos com base nos conhecimentos e aptidões
adquiridos.” (Carvalho, 2004, p. 104).
É neste ambiente que o estudante faz a sua transição para o papel de prestador
profissional de cuidados (Abreu, 2008), desenvolvendo a sua autonomia, identidade e
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Este é um processo pessoal, que através da aquisição de saberes e a aplicação dos mesmos
na prática, conduz à transformação de valores, atitudes e comportamentos.
Segundo Schön (2000), a base da aprendizagem em contexto clínico assenta na
reflexão das práticas sobre os dados observados e vividos, o que conduz à construção do
conhecimento na ação, segundo a metodologia de aprender a fazer fazendo.
O estudante deverá assim assumir um papel ativo e responsável pela sua formação,
adquirindo autonomia para agir e responder aos desafios crescentes da profissão (Simões,
Alarcão e Costa, 2008).
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superior do enfermeiro seja realizada neste contexto (Fernandes, 2010; Macedo, 2012;
Pinto, 2011).
Para Fernandes (2010), “o ensino clínico é a ocasião para o estudante descobrir a
realidade das situações de vida, surge como o complemento ao ensino em contexto de sala
de aula que, independentemente de utilizar as estratégias pedagógicas mais eficazes, não
consegue substituir-se ao contacto directo com a realidade que as instituições de saúde
permitem pois as competências que ali desenvolve nunca poderão ser aprendidas” (p. 22).
Por esta razão, este momento privilegiado de formação é ansiado por todos os estudantes,
tendo em vista o contacto com o seu futuro profissional, podendo colocar em prática toda
a componente teórica apreendida anteriormente.
Sabendo da importância que o ensino clínico possui para a formação dos futuros
profissionais de enfermagem, importa refletir a articulação estabelecida entre as
instituições de ensino e as instituições de saúde, entidades que possibilitam a componente
prática nos seus serviços.
Como já vimos anteriormente, uma parte significativa do período de formação dos
estudantes do Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) ocorre nas instituições de saúde
durante os períodos de ensino clínico.
A importância atribuída pela classe à formação em contexto de trabalho decorre do
facto das Escolas de Enfermagem em Portugal terem nascido dentro dos próprios hospitais
(Fernandes, 2010). No entanto, apesar da existência deste vínculo, torna-se fundamental o
estabelecimento de relações entre estas entidades, de forma a permitir a satisfação de
todos os intervenientes.
Como sabemos, as instituições prestadoras de cuidados de saúde, centram o seu
objetivo na prevenção da doença ou na pessoa em situação de doença, dependendo da sua
área de intervenção, enquanto a instituição de ensino se foca na formação do estudante
que tem a seu cargo (Fernandes, 2010; Pinto, 2011).
Esta dualidade de missões possibilita a ocorrência de conflitos, devendo por isso
subsistir “ (…) de ambas as partes uma atenção e motivação constantes para a negociação
e o diálogo” (Fernandes, 2010, p.22). Desta forma, deverão ser encontrados pontos de
convergência e finalidades comuns, garantindo a formação de futuros profissionais
competentes e capazes de prestar cuidados de saúde de qualidade (Abreu, 2007).
Sendo o hospital um dos locais privilegiados para a formação dos profissionais de
saúde, nos quais se integram os enfermeiros, importa refletir a sua realidade.
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essenciais para o futuro de uma profissão” (p.15). Espera-se desde logo que este seja um
espaço de excelência, onde o futuro profissional consolidará os conhecimentos adquiridos
na escola, consciencializando-se das exigências da profissão, nomeadamente ao nível das
competências cognitivas, instrumentais, de relação interpessoal e crítico-reflexivas (Simões,
Alarcão e Costa, 2008).
Por outro lado, Fernandes (2010) refere-nos que durante a formação clínica, o
estudante para além das vivências inerentes ao seu papel formativo terá de se confrontar
com um ambiente complexo, caraterístico das unidades de saúde, integrando-se no seu
meio para desenvolver aprendizagens. A mesma autora refere ainda que esta realidade
comporta sentimentos duais de desafio, motivação, interesse, curiosidade e expetativa, em
confronto com o medo e receio.
Apesar do ambiente complexo e desta panóplia de sentimentos, Carvalho (2004)
afirma que “as vivências de um ensino clínico provocarão sempre no aluno uma qualquer
mudança. (…) O que se pretende é que esta mudança seja feita no sentido de ir ao encontro
dos objectivos educacionais que são definidos pelas escolas” (p.70).
Este pensamento é corroborado por Abreu (2003, p.61) quando refere ser “ (…)
necessário aceitar as evidências da investigação que apontam para a formação clínica como
uma área de excelência para se desenvolverem competências, atitudes e personalidades”,
sendo este um período de aprendizagem integrador e mobilizador de saberes, fundamental
para a construção da identidade profissional dos estudantes.
Pelas razões explicitadas anteriormente, Abreu (2003) considera existir todo um
benefício em proporcionar aos supervisados uma formação em ambiente seguro,
acompanhado de suporte emocional e com recurso a estratégias pedagógicas adequadas.
O ensino clínico é destacado ainda por Carvalho (2004), como um espaço
privilegiado para o relacionamento entre pessoas, não envolvendo apenas docentes e
estudantes, como é habitual na escola, abrangendo também os clientes dos serviços, os
profissionais e todas as pessoas que de alguma forma fazem parte da vida de uma
instituição de saúde.
No que se refere ao contacto do estudante com a pessoa/cliente, Fernandes (2004)
salienta a importância desta relação no período de ensino clínico, construindo-se um
conhecimento sustentado na reflexão e discussão, bem como na apropriação de ideias e no
confronto com as teorias científicas. Por sua vez, Simões e colaboradores (2006) afirmam
que “ (…) é no confronto directo com a individualidade de cada utente, família, comunidade
e contexto de trabalho que o futuro profissional se apropria de saberes e desenvolve
habilidades, capacidades e competências pessoais e profissionais que os habilitam a tomar
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Como já vimos anteriormente, o contexto clínico é referido por vários autores como
um marco na construção da identidade pessoal e profissional do futuro enfermeiro, sendo
importante refletir o seu desenvolvimento num ambiente de grande complexidade.
A abordagem ecológica de Bronfenbrenner explana a necessidade de analisar os
fenómenos microssociais, argumentando que o meio ambiente tem uma função altamente
estruturante no desenvolvimento e comportamento do estudante. Deste modo, o contexto
onde o ensino decorre tem uma importância vital no desempenho escolar (Abreu, 2007).
Depreendemos daqui o interesse que esta temática pode trazer para a
compreensão da aprendizagem dos estudantes de enfermagem em contexto clínico,
ajudando-nos a perceber de que forma o ambiente formativo poderá influenciar todo este
processo.
A perspetiva ecológica de Urie Bronfenbrenner constitui-se como uma teoria
recente na área do desenvolvimento humano, ajudando-nos a compreender como “uma
pessoa percebe e lida com o seu ambiente” (Brofenbrenner, 2002, p.5).
Na sua obra podemos identificar duas fases distintas: a primeira obtém o seu auge
com a publicação do trabalho designado por Ecology of Human Development em 1979,
onde o autor concebe o ambiente ecológico em quatro níveis estruturais concêntricos
(posteriormente cinco níveis); a segunda surge de uma necessidade de ampliar e
aprofundar esta teoria com base em novas pesquisas e nas críticas que surgiram, sendo
prestada uma maior atenção às diferentes formas de interação entre as pessoas,
encarando-as não apenas em função do ambiente, mas em função do processo que é
determinado pela relação entre o ambiente e as caraterísticas dos indivíduos em
desenvolvimento (Abreu, 2007). Salientamos nesta fase, o estudo realizado por
Bronfenbrenner e Morris em 1998 que “ (…) manifesta uma visão mais holística e integrada
da pessoa e da sua relação com o meio, colocando-a no centro do debate” (Abreu, 2007,
p.128).
Para Bronfenbrenner (2002), o desenvolvimento humano “ (…) envolve o estudo
científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano activo, em
desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa
em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afectado pelas relações entre esses
ambientes, e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos” (p.18).
De acordo com esta afirmação, o indivíduo possui o seu próprio background, isto é,
não é apenas como um quadro em branco no qual o ambiente pincela a sua influência, mas
sim uma entidade em crescimento dinâmico, que se insere no contexto que a rodeia,
reestruturando-o. O processo de acomodação entre a pessoa e o ambiente é assim mútuo,
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negativamente), quer porque podem estar envolvidas práticas assistenciais menos correctas
que importa corrigir” (Abreu, 2007, p. 180).
Segundo Abreu e Calvário (2005), o conceito de Mentorship está amplamente
documentado na literatura existente, constituindo mesmo uma das estratégias mais
utilizadas na supervisão de estudantes em ensino clínico.
Esta prática tem origens temporais longínquas, sendo descrito que na Grécia antiga,
jovens rapazes viviam normalmente com homens mais velhos ao seu lado, podendo desta
forma adquirir novos valores e saberes, que apenas alguém com experiência de vida lhes
poderia proporcionar (Beskine, 2009).
Na realidade atual, Abreu (2007) aborda o conceito de Mentorship no contexto da
formação clínica, sendo o mentor um profissional experiente, mais velho, que se
responsabiliza pela aprendizagem do formando, estabelecendo com ele uma relação de
proximidade, aproveitando as experiências adquiridas na prática, preparando assim
enfermeiros mais qualificados e aptos a enfrentarem as mais diversas situações que
possam ocorrer ao longo da sua carreira.
Segundo Pinto (2011), nos processos de formação em contexto clínico pressupõe-se
a cooperação de enfermeiros experientes e qualificados, que partilhem conhecimentos e
interajam com o aluno, de forma a construir uma base de saberes teóricos e práticos
assentes na análise reflexiva e crítica das situações vivenciadas. A mesma autora refere que
o modelo de Mentorship constitui um processo estruturado de colaboração entre um
enfermeiro da prática clínica e o estudante em formação, no sentido de facilitar o
desenvolvimento das suas competências pessoais e profissionais.
O tutor e os estudantes desenvolvem o processo de ensino-aprendizagem num
contexto sociocultural em permanente mutação. As transições verificadas no cenário que
serve de palco à sua intervenção pautam-se pela constante produção de nova informação
científica e alterações dos conceitos de gestão e organização das unidades de saúde,
fatores que promovem uma certa instabilidade (Abreu, 2003).
Como se torna evidente, o clima propício à aprendizagem deve evidenciar
sentimentos de segurança, serenidade e confiança que, de acordo com as afirmações
supracitadas, se colocam como desafio para os interessados, face às adversidades do
contexto onde se encontram inseridos.
O papel de facilitador da aprendizagem e desmistificador da complexa
contextualização da ação cabe fundamentalmente ao tutor, que deverá proporcionar ao
estudante as condições ideais para atingir os objetivos propostos para cada ensino clínico
(Abreu, 2007). Desta forma, o mesmo autor defende que neste contexto, a Supervisão
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De acordo com Abreu (2007), a tutoria envolve uma relação de proximidade entre
duas pessoas, sendo uma delas o enfermeiro tutor e a outra o estudante de enfermagem.
No que ao primeiro diz respeito, o desempenho deste papel deve conter momentos de
aconselhamento e orientação para o desenvolvimento de ideias, práticas e atitudes, no
decorrer da aprendizagem do supervisado (Martins, 2009).
Assim, de acordo com Abreu e Calvário (2005), no ensino de enfermagem o tutor
deve ser um profissional que assume a responsabilidade de acompanhar, guiar e aconselhar
os estudantes que se encontram em formação prática. Para que tal seja possível, é
necessário que o tutor se articule com a instituição/escola que desenvolve uma diversidade
de saberes organizados e inter-relacionados, num esquema curricular que se deve adaptar
à rápida evolução de um mundo em transformação (Fernandes, 2010).
Por outro lado, Simões, Alarcão e Costa (2008) afirmam que o contexto de ensino
clínico é aquele onde o estudante integra na prática os seus conhecimentos teóricos.
Porém, é também neste período, através das inter-relações com os profissionais de
enfermagem e outros, que para além de uma aprendizagem real e efetiva, este constrói a
sua identidade profissional (Abreu, 2001; Abreu, 2003; Abreu, 2007; Rua, 2011).
O enfermeiro tutor deve assim, segundo Pinto (2011) permitir ao estudante imitar,
rejeitar e experimentar por ele próprio as práticas, os comportamentos profissionais e os
conhecimentos adquiridos, construindo de modo particular e progressivo, o seu sistema de
valores, de normas e de sentido ético, em função das suas próprias caraterísticas, das dos
clientes, da estrutura e das conceções de cuidados de enfermagem que se encontram em
vigor.
O ensino clínico torna-se assim num período crucial da formação do futuro
enfermeiro, representando um desafio tanto para os estudantes como para os tutores que
acompanham as suas práticas. Cruz (2011) defende mesmo que o processo de supervisão
do estudante de enfermagem se revela complexo, existindo muitos interesses em jogo,
sendo necessário aclarar os papéis desempenhados por cada um dos intervenientes, a fim
de beneficiar o desenvolvimento dos supervisados.
Na relação estabelecida entre o estudante e o seu tutor, o primeiro dá ao seu
formador créditos de competência e de saber em relação ao seu trabalho, mas no entanto
encontra-se sempre na expetativa de descobrir um profissional entusiasta pelo seu
trabalho, ensinando e evidenciando a sua paixão (Fernandes, 2010).
Segundo Sá-Chaves (2000), o estudante espera do seu tutor a capacidade para o
escutar e acolher, fazendo-o sentir parte integrante da equipa. Simões e Garrido (2007)
completam esta ideia, afirmando que o tutor deverá demonstrar competências pessoais e
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Como temos visto até aqui, o ensino clínico deve ser encarado como um espaço
privilegiado na produção de saberes, em que o desenvolvimento contextualizado permite
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1. Metodologia
Terminado o enquadramento teórico, através do qual foi possível obter uma visão
mais ampla e profunda da problemática em análise, importa agora definir o método de
estudo seguido nesta investigação, dando conta das opções e decisões tomadas ao longo
deste percurso.
O papel da investigação é indiscutível para o avanço da ciência. Através dela,
assistimos à construção de um corpo de conhecimentos próprio, permitindo a afirmação
das disciplinas como ciências (Fortin, 2003).
Por outro lado, a investigação permite estabelecer uma base científica para guiar a
prática, assegurar a credibilidade da profissão, alargar o campo de conhecimentos, bem
como descobrir e aumentar os saberes específicos (Fortin, 2003).
No que concerne à disciplina de Enfermagem, a investigação tornou-se crucial para
a sua evolução enquanto profissão (Polit, Beck e Hungler, 2004). A sua prática sustenta-se
hoje em evidências científicas, contribuindo para a melhoria da qualidade dos cuidados
prestados à população, bem como do ensino dos enfermeiros.
No presente capítulo iremos abordar toda a fase metodológica do estudo, onde “
(…) o investigador determina os métodos que utilizará para obter as respostas às questões
de investigação colocadas (…) define população e escolhe os instrumentos mais apropriados
para efectuar a colheita de dados” (Fortin, 2003, p.40).
Primeiramente iremos definir as questões orientadoras da investigação seguindo-se
a caraterização dos participantes do estudo e o desenho de investigação. Posteriormente
apresentamos o instrumento utilizado para recolha dos dados, bem como os
procedimentos para tratamento e análise da informação. Por último, faremos referência
aos procedimentos de natureza ética cumpridos ao longo desta investigação.
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Toda a investigação que inclua pessoas levanta questões de índole ética e moral
que acompanham todo o percurso do estudo.
No desenvolvimento do processo de investigação, as preocupações de natureza
ética constituem um elemento fundamental a ser considerado, salvaguardando-se os
indivíduos participantes no estudo científico através do sigilo e anonimato.
O investigador assume um papel que assenta na responsabilidade não só pessoal,
mas também profissional, necessária em estudos como o nosso, baseando-se em padrões
sólidos de cariz ético e moral (Streubert e Carpenter, 2002).
Nuno Sevivas 50
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Nuno Sevivas 51
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Nuno Sevivas 52
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Idade
n 119
Média 23,2
Median a 22,0
Moda 22
dp 2,41
Mínimo 21
Máximo 37
Nuno Sevivas 53
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Masculino 24 20,2%
Se xo
Fem inin o 95 79,8%
So lteiro 113 95,0%
Es tado Civil Casado 5 4,2%
Divorciad o 1 ,8%
Tal como no estudo de Braga (2007), Pereira (2008) e Monteiro (2009), podemos
concluir que a amostra converge com a realidade sociodemográfica dos estudantes no
Ensino Superior Português, nomeadamente no que à enfermagem diz respeito, sendo estes
na sua maioria mulheres, solteiras e com idades compreendidas entre os 18 e os 22 anos.
No que se refere ao estado civil, os nossos dados vão de encontro ao estudo realizado por
Martins, Mauritti e Costa (2005), no qual estes afirmam que “a formação, designadamente
no ensino superior, constitui uma etapa que os portugueses, na sua grande maioria,
cumprem antecipadamente à vivência de uma profissão e à constituição de um agregado
familiar próprio” (p.31).
Nuno Sevivas 54
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
An o Curricular Qua rto 119 100,0%
Es co la A 47 39,5%
Es co la
Es co la B 72 60,5%
n %
Também se constata que a maior parte dos inquiridos já teve mais de 6 estágios
anteriores (75,6%; n=90), enquanto o equivalente a 23,5% (n=28) teve entre 3 a 6 estágios.
Somente um elemento tem 4 estágios ou menos. Dos participantes que já realizaram mais
de 6 ensinos clínicos, a percentagem divide-se entre os 7 e os 10 estágios, com principal
incidência nos 8 e nos 9 estágios (32,2%; n=29 e 28,9%; n=26 respetivamente).
Podemos concluir que a maioria destes estudantes (75,6%; n=90), ao frequentarem
o 4º ano do curso, teve já mais de seis ensinos clínicos ao longo do seu percurso formativo.
Segundo Pinto (2011), a existência de ensinos clínicos anteriores fomenta a
segurança e é facilitador para o processo de integração do estudante de enfermagem ao
contexto em causa. Tal situação permite-lhes contactar com diversos docentes,
Nuno Sevivas 55
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Nuno Sevivas 56
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Medicina 23 19, 3%
Cirurgia 27 22, 7%
Saúde Mat erna e Obst étrica 3 2,5%
Cent ro de Saúde 21 17, 6%
Ensino Clínico
Urgência 10 8,4%
Cuidados Int ensivos 27 22, 7%
Inf ecciologia 7 5,9%
Vários 1 ,8%
0 a 5 horas 66 55, 5%
5 a 10 horas 2 1,7%
Duração do processo de 10 a 15 horas 7 5,9%
supervisão (por semana) 15 a 20 horas 2 1,7%
20 e mais horas 34 28, 6%
Não respondeu 8 6,7%
Nuno Sevivas 57
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
3 se ma na s 2 1, 7%
4 se ma na s 5 4, 2%
6 se ma na s 1 ,8%
7 se ma na s 25 21,0%
Dura çã o m éd ia
8 se ma na s 55 46,2%
do e stá gio
9 se ma na s 2 1, 7%
10 s em an as 2 1, 7%
12 s em an as 3 2, 5%
14 s em an as 24 20,2%
Doce nt e d a e sc ola 1 ,8%
A ori en taç ão do T uto r 44 37,0%
en si no clí nic o é
ef ec tua da po r A mb os 73 61,3%
Não res po nd eu 1 ,8%
E nfe rm eiro 16 13,4%
Cate go ria E nfe rm eiro Grad ua do 17 14,3%
profi ssi on al d o
E nfe rm eiro E sp ec iali sta 11 9, 2%
tu tor ou
orien tad or Não ap licá ve l 74 62,2%
Não res po nd eu 1 ,8%
Nuno Sevivas 58
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
não possua o tempo essencial para se dedicar ao processo supervisivo, apresenta-se como
um orientador com défices no acompanhamento prestado ao estudante. Um tutor sem
disponibilidade para acompanhar o desenvolvimento progressivo do supervisado poderá
não mobilizar todos os recursos pedagógicos cruciais para a aprendizagem.
Desta forma, os dados que indicam o acompanhamento do ensino clínico como
sendo realizado maioritariamente por enfermeiros graduados e enfermeiros, em
detrimento dos enfermeiros especialistas, seguem o pensamento de autores como Ribeiro
e colaboradores (2010). Estes referem-se ao enfermeiro especialista como um elemento
que frequentemente acumula funções na prestação de cuidados e gestão dos serviços,
consumindo estas tarefas grande parte do seu tempo, o que pode descuidar a atenção
necessária à formação dos estudantes de enfermagem. Assim, o enfermeiro generalista
poderá, quando motivado e empenhado para a tarefa, ser uma mais-valia na aprendizagem
em contexto clínico.
Nuno Sevivas 59
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Nuno Sevivas 60
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Nuno Sevivas 61
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
10,9% (n=13) acha que as informações cedidas foram insuficientes. Do mesmo modo, a
maior percentagem de elementos considera que no início do estágio ficou bem definido o
seu papel e a sua responsabilidade durante a permanência no serviço (95,8%; n=114), mas
a maior parte dos estudantes assume que antes de iniciar o ensino clínico possuía pouco
conhecimento sobre o local de estágio (76,5%; n=91) e, apenas 20,2% (n=24) afirma ter
muito conhecimento sobre o serviço.
Na questão se a instituição onde realizou o estágio desenvolveu uma ação
específica para a receção dos estudantes, a maioria respondeu afirmativamente (61,3%;
n=73), mas o valor de 37,8% (n=45) não foi alvo de qualquer ação. Porém, no que respeita
ao desenvolvimento de ações específicas para a integração dos estudantes por parte dos
serviços, as respostas afirmativas são mais baixas e encontram-se na ordem dos 56,3%
(n=67).
Tabela 7 - Conhecimento Prévio Sobre o Local de Estágio
n %
Na Esc ola, durante a preparaç ão do estágio, as Suficientes 106 89,1%
informaç ões fac ultadas s obre o mesmo foram: Insuficientes 13 10,9%
Sim 114 95,8%
No início do es tágio, fic ou bem definido o papel e a Não 4 3,4%
respons abilidade do aluno durante a sua permanência
no serv iç o / unidade de c uidados ? Não respondeu 1 ,8%
Muito 24 20,2%
Antes de iniciar o estágio, que tipo de c onhec imento
Pouco 91 76,5%
pos suía do s er viço / unidade de cuidados?
Nenhum 4 3,4%
Sim 73 61,3%
A ins tituição onde realiz ou o es tágio des envolveu uma
Não 45 37,8%
acç ão es pecífic a para a recepção dos alunos ?
Não respondeu 1 ,8%
Sim 67 56,3%
O serviç o onde realizou o estágio des envolv eu uma
Não 51 42,9%
acç ão es pecífic a para a integração dos alunos ?
Não respondeu 1 ,8%
Para Steves (2005) o tutor deve iniciar o processo supervisivo, ainda antes da
chegada do estudante ao ensino clínico, planeando as estratégias que irá pôr em prática
desde o primeiro dia. O acompanhamento clínico deve assim iniciar-se no momento em
que o estudante chega ao estágio pela primeira vez, devendo o tutor ter tomado as
providências necessárias para o acolhimento do mesmo. A partir do momento em que o
estudante e o respetivo tutor são apresentados, inicia-se a relação supervisiva, tal como
afirmam Gray e Smith (2000). Podemos assim concluir, que o início do ensino clínico se
torna crucial para o desenrolar do restante processo de aprendizagem, sendo que segundo
Nuno Sevivas 62
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Braga (2007) é neste momento que ocorrem as situações indutoras de maior stresse para o
estudante.
Relativamente ao tipo de acompanhamento disponibilizado pelo
docente/orientador de estágio, verifica-se que as respostas estão distribuídas entre a
presença permanente (26,9%; n=32), a presença esporádica com períodos de trabalho
conjunto (31,1%; n=37) e a percentagem mais saliente afirma que o acompanhamento foi
apenas esporádico (42%; n=50).
Por sua vez, a maioria dos participantes refere que o serviço disponibilizou um
mentor/tutor ao longo do estágio (69,7%; n=83), enquanto 14,1% (n=18) refere que foi
orientado por mais do que um tutor e 11,8% (n=14) afirma ter orientação mista, ou seja,
pelo tutor e pela equipe. Observa-se ainda na tabela seguinte, que a maioria dos
estudantes que obtiveram acompanhamento por parte de um mentor/tutor foram
apresentados ao elemento no início do estágio (93,3%; n=111).
Tabela 8 - Tipo de Acompanhamento Supervisivo Disponibilizado
n %
Presença permanente 32 26,9%
Qual o tipo de acompanhamento disponibilizado pelo Esporádica, mas com períodos
37 31,1%
docente orientador do estágio? de trabalho conjunto
Esporádica 50 42,0%
Disponibilizou um mentor/tutor 83 69,7%
Qual o tipo de acompanhamento disponibilizado pelo Fui orientado por + do que 1 tutor 18 15,1%
serviço onde realiza/ou o estágio? Fui orientado pela equipe 4 3,4%
Misto (tutor e equipe) 14 11,8%
Nuno Sevivas 63
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Sempre 80 67,2%
Sente que teve oportunidade de expressar as s uas
Por vezes 38 31,9%
neces sidades em matéria de formação, no início do estágio?
Nunca 1 ,8%
Sempre 79 66,4%
Sente que teve oportunidade de expressar as s uas
Por vezes 39 32,8%
neces sidades em matéria de formação, durante o estágio?
Nunca 1 ,8%
n %
Durante o estágio f oi env olv ido em activ idades Sim 105 88, 2%
com a equipa de saúde? Não 14 11, 8%
Nuno Sevivas 64
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Teve possibilidade de aceder a rec ursos didácticos para Sim 116 97,5%
aprofundar os s eus estudos ? Não 3 2,5%
Nuno Sevivas 65
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
foram suficientes, enquanto para 16% (n=19) foram insuficientes e para 21,8% (n=26) as
sessões foram inexistentes.
Tabela 12 - Periodicidade de Informação ao Tutor e Disponibilização de Momentos de Reflexão
n %
Informei o docente/tutor sobre a forma Sempre 82 68, 9%
como prosseguia os objectivos? Por vezes 37 31, 1%
O docente/tutor ajudou-me a formular os Sim 104 87, 4%
diagnósticos de enfermagem? Não 15 12, 6%
Nuno Sevivas 66
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
questionar o tutor e solicitar a sua ajuda. Estes factos refletem as evidências apresentadas
em estudos semelhantes ao nosso, como é o caso de Pereira (2008) e Monteiro (2009).
Por outro lado, o papel do tutor não reside apenas, segundo Pereira (2008), na
transmissão de informação, mas também na identificação dos recursos que permitam aos
estudantes explorar novas realidades, adquirindo experiências clínicas relevantes, com base
nas últimas tecnologias. O enfermeiro tutor deve assim, em colaboração com o docente
responsável pelo estágio, levar a cabo as atitudes necessárias para integrar o estudante no
contexto clínico, uma vez que este “ (…) é um espaço importante de socialização dos
enfermeiros” (Abreu, 2007, p.81).
Os estudantes necessitam assim de uma figura que os oriente nas práticas, mas que
ao mesmo tempo os auxilie a elaborar e atingir os objetivos no decorrer do ensino clínico,
estabelecendo metas exequíveis e colaborando paralelamente no seu crescimento pessoal
e profissional (Pereira, 2008).
No que diz respeito à postura reflexiva, Belo (2003) refere no seu estudo que esta
deve servir de fio condutor às ações, devendo ser incutida desde o início da formação do
estudante. Nesse sentido, a autoanálise, a autorreflexão e uma atitude proativa na
aprendizagem, são aspetos que deverão ser valorizados pelos tutores, podendo traduzir-se
na realização de um diário de aprendizagem, que promova uma introspeção permanente.
Neste sentido, Abreu (2003) defende que “os tutores devem ser preparados para a
utilização de estratégias que facultem a análise dos trajectos de formação e da implicação
pessoal e colectiva, tais como portfólios reflexivos, os diários de aprendizagem e a
investigação-acção” (p.63).
Quanto à questão referente à partilha de informação sobre a política de controlo
de infeção, pensamos que o resultado está dependente das estratégias de acolhimento ao
estudante de cada instituição onde decorrem os diversos ensinos clínicos, não esquecendo
que é também dever das escolas alertarem os estudantes para estas especificidades da
prática clínica.
A formação dos enfermeiros é sustentada na prática do cuidar, e portando deverá
basear-se em valores morais (Pinto, 2011). Neste sentido, o futuro profissional de
enfermagem deverá desenvolver o seu juízo moral, sendo esta uma condição essencial na
formação inicial dos enfermeiros. Através da visão crítica e reflexiva da sua prática, o
estudante deverá adquirir, sob orientação do tutor, uma forma de agir e pensar de acordo
com os pressupostos éticos que regem a sua profissão.
Sendo assim, concluímos que a supervisão dos estudantes deve ser
cuidadosamente ponderada no planeamento dos ensinos clínicos, pois o seu êxito vai
Nuno Sevivas 67
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
depender em grande medida, das estratégias utilizadas que devem ser pensadas e
adaptadas a cada estudante e respetivo contexto de estágio. O estudante deverá assim, ser
também responsável pelo seu processo formativo (Pereira, 2008).
n %
Sempre 108 90, 8%
O professor (responsável pelo ensino Nem sempre 8 6,7%
clínico) esteve disponível para o apoiar,
quando por si solicit ado? Nunca 1 ,8%
Não respondeu 2 1,7%
Sim 107 89, 9%
O docent e/ tutor proporcionou-me supervisão
Não 11 9,2%
durante todo o estágio?
Não respondeu 1 ,8%
Sim 111 93, 3%
Durante o est ágio sentiu-se à vontade para
colocar dúvidas, solicitar esclarecimentos ou Não 7 5,9%
pedir ajuda? Não respondeu 1 ,8%
Sempre 87 73, 1%
O docent e/ tutor t eve em conta os seus Por vezes 17 14, 3%
problemas pessoais? Nunca 13 10, 9%
Não respondeu 2 1,7%
Nuno Sevivas 68
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Por outro lado, constata-se que o correspondente a 71,4% (n=85) dos inquiridos
esteve ao serviço como elemento supranumerário à equipa habitual, mas 28,6% (n=34)
refere ter sentido que ao longo do estágio substituiu enfermeiros.
Através da tabela seguinte, é ainda possível verificar que a maioria dos inquiridos
refere ter tido oportunidade de conhecer as práticas do serviço em matéria de qualidade
(87,4%; n=104), e quando questionados se o papel de estudante favoreceu o processo de
orientação, o valor de 68,1% (n=81) respondeu “sempre”, enquanto o equivalente a 27,7%
(n=33) assinalaram “Por vezes”.
n %
Sim 85 71,4%
Esteve no serviço como elemento
supranumerário (para além da equipe habitual)? Não, senti que substi tui
34 28,6%
enfermeiros
Sim 104 87,4%
Teve oportunidade de conhecer as políticas e
Não 14 11,8%
práticas do serviço em mat éria de qualidade?
Não respondeu 1 ,8%
Sempre 81 68,1%
A sua qualidade de aluno(a) da Escola favoreceu Por vezes 33 27,7%
o processo de orientação? Nunc a 3 2,5%
Não respondeu 2 1,7%
n %
Sempre 97 81,5%
A relação com os enfermeiros do serviço favoreceu a
Por vezes 21 17,6%
sua aprendizagem?
Nunca 1 ,8%
Sempre 94 79,0%
A relação com o grupo de colegas favoreceu a sua
Por vezes 23 19,3%
aprendizagem?
Nunca 2 1,7%
Nuno Sevivas 69
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Sempre 4 3,4%
Sentiu falta do docente/tutor quando teve de tomar
Por v ezes 54 45,4%
decisões?
Nunca 61 51,3%
Nuno Sevivas 70
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
O correspondente a 54,6% (n=65) dos inquiridos afirma que sempre lhe foram
indicadas, no final do estágio e em contexto de formação, as áreas deficitárias em matéria
de formação e 36,1% (n=43) assinalou “Por vezes”. Também é considerado pela maioria dos
estudantes, que o responsável pelo acompanhamento do ensino clínico estava preparado
para o momento de avaliação (95,8%; n=114).
Tabela 17 - O Contexto de Avaliação do Estágio e a Avaliação do Estágio
n %
Sempre 65 54,6%
No final do estágio, no contexto da avaliação, foram-lhe
Por vezes 43 36,1%
indicadas as áreas defic itárias em matéria de formaç ão?
Nunca 11 9,2%
Sim 114 95,8%
O responsável pelo acompanhamento do ensino c línico
Não 4 3,4%
estava preparado para o momento de avaliação?
Não respondeu 1 ,8%
Estes dados são igualmente evidenciados através das respostas fornecidas pelos
estudantes nas questões abertas, quando estes afirmam terem o “apoio incondicional dos
enfermeiros em técnicas nas quais sentia mais dificuldade” (Q99), bem como “o tutor
esteve sempre presente quando necessitei dele” (Q65).
No que à avaliação diz respeito, os estudantes referem que “em todo o processo de
avaliação (intermédia e final) e durante todo o estágio o tutor deu feedback da minha
evolução” (Q79), sendo que pelas unidades de registo positivas relativas à categoria
Avaliação, conjuntamente com a percentagem supracitada, podemos concluir que os
inquiridos consideram que os tutores na sua grande maioria, se encontravam preparados
para o momento avaliativo.
Nuno Sevivas 71
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
n %
Boa 92 77,3%
Em termos globais, a orientação que lhe foi
Suficiente 26 21,9%
disponibilizada pode ser considerada:
Insuficiente 1 ,8%
Nuno Sevivas 72
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Por outro lado, constata-se que existe uma relação entre a qualidade da orientação
disponibilizada e a questão 5, que afirma “O Serviço onde realizou o estágio desenvolveu
uma acção específica para a integração do aluno” (p=0,008), verificando-se que os
estudantes detentores de um momento inicial e formal de integração no estágio atribuem
maior qualidade à orientação (68,8%; n=22 comparativamente aos 26,7%; n=4 que avaliam
a orientação como suficiente).
Estes dados vão de encontro ao pensamento de Abreu (2003, p.53), quando este
afirma que o tutor deve “facultar uma integração humana e cientificamente consistente dos
alunos no local de trabalho”, para além de ser um mediador da relação entre os estudantes
e os profissionais.
Do mesmo modo, pode assumir-se a existência de dependência da qualidade da
orientação disponibilizada com as questões 9, 10 e 16 (p=0,014; p=0,050 e p=0,050
respetivamente), sendo que pelos resultados é possível concluir que a orientação é avaliada
mais positivamente pelos estudantes que referem sempre terem tido oportunidade de
expressar as suas necessidades em matéria de formação, quer no início do estágio (65,6%;
n=21), quer durante o estágio (62,5%; n=20). A qualidade da orientação é igualmente
considerada mais positiva pelos estudantes cujo docente/tutor ajudou na formulação dos
diagnósticos de enfermagem.
O tutor assume um papel ativo como mediador da aprendizagem do estudante,
pois atende às necessidades individuais de cada elemento que tem sob a sua orientação
(Pinto, 2011). Este deverá ser dinâmico e sensível às necessidades dos estudantes, tendo
uma intervenção única e exclusiva nas oportunidades de formação e aprendizagem dos
mesmos.
A existência de feedback por parte do tutor é referida pelos estudantes como
fundamental no desenvolvimento de competências no decorrer do ensino clínico, pois de
acordo com Ramos (2003) “o acompanhamento dos estudantes pelos preceptores em todos
os momentos, tirando dúvidas, chamando a atenção, dando feedback e reforços positivos
foi mencionado como favorecedor da aprendizagem, na medida em que ajudou o estudante
a mobilizar os seus conhecimentos e a aplicá-los na prática, ao mesmo tempo que o ajudou
a reflectir (…) ” (p.8).
Constata-se ainda, que não existe relação estatisticamente significativa entre a
qualidade da orientação e as questões 6, 7, 8, 11, 12, 13, 14 e 15, pelo que o tipo de
acompanhamento disponibilizado pelo orientador e pelo serviço, bem como o
envolvimento nas atividades da equipa e o acesso aos recursos didáticos e informação
sobre a política organizacional, não parecem ter grande destaque na qualidade do estágio.
Nuno Sevivas 73
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Nuno Sevivas 74
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
A orientaç ão que lhe foi dis ponibil iz ada pode ser considerada:
Esc ola A Esc ola B
Boa Sufic iente X2 Boa Sufic iente X2
n % n % p n % n % p
Que s tã o Sufic ientes 30 9 3, 8% 13 8 6, 7% ,5 8 3 56 9 3, 3% 6 5 4, 5% ,0 0 2
1 Ins ufic ientes 2 6 ,3 % 2 1 3, 3% 4 6 ,7 % 5 4 5, 5%
Que s tã o Sim 30 9 3, 8% 15 1 00 ,0 % ,4 5 9 59 9 8, 3% 9 8 1, 8% ,0 2 1
2 Não 2 6 ,3 % 2 1 8, 2%
Muito 3 9 ,4 % 1 6 ,7 % 19 3 1, 7% 1 9 ,1 %
Que s tã o
Pouc o 28 8 7, 5% 12 8 0, 0% ,4 0 2 40 6 6, 7% 10 9 0, 9% ,5 4 4
3
Nenhum 1 3 ,1 % 2 1 3, 3% 1 1 ,7 %
Que s tã o Sim 19 5 9, 4% 4 2 6, 7% ,0 3 7 43 7 1, 7% 7 6 3, 6% ,0 2 9
4 Não 13 4 0, 6% 11 7 3, 3% 17 2 8, 3% 4 3 6, 4%
Que s tã o Sim 22 6 8, 8% 4 2 6, 7% ,0 0 8 35 5 8, 3% 6 5 4, 5% ,7 9 2
5 Não 10 3 1, 3% 11 7 3, 3% 24 4 0, 0% 5 4 5, 5%
Pre s e n ç a p erm an e nt e 6 1 8, 8% 2 1 3, 3% 22 3 6, 7% 1 9 ,1 %
Que s tã o Es p o rá dic a , c o m p erío do s de
10 3 1, 3% 6 4 0, 0% ,8 0 7 15 2 5, 0% 6 5 4, 5% ,1 3 9
6 trab a lh o c o nj un to
Es p o rá dic a 16 5 0, 0% 7 4 6, 7% 23 3 8, 3% 4 3 6, 4%
Dis po n ibi liz o u um m en to r/t ut or 2 4 7 5, 0% 9 6 0, 0% 46 7 6, 7% 3 2 7, 3%
Que s tã o Fui o rie nt ad o p or + d o qu e 1 tu to2r 6 ,3 % 1 6 ,7 % ,5 1 2 10 1 6, 7% 5 4 5, 5% ,0 1 6
7 Fui o rie nt ad o p el a eq u ipe 1 3 ,1 % 2 3 ,3 % 1 9 ,1 %
M is to (tut or e e qu ip e ) 5 1 5, 6% 5 3 3, 3% 2 3 ,3 % 2 1 8, 2%
Que s tã o Sim 31 9 6, 9% 14 9 3, 3% ,5 4 1 55 9 1, 7% 10 9 0, 9% ,9 5 2
8 Não 1 3 ,1 % 1 6 ,7 % 5 8 ,3 % 1 9 ,1 %
Sempre 21 6 5, 6% 4 2 6, 7% 48 8 0, 0% 6 5 4, 5%
Que s tã o
Por v ez es 11 3 4, 4% 11 7 3, 3% ,0 1 4 11 1 8, 3% 5 4 5, 5% ,3 5 9
9
Nunc a 1 1 ,7 %
Sempre 20 6 2, 5% 5 3 3, 3% 46 7 6, 7% 7 6 3, 6%
Que s tã o
Por v ez es 12 3 7, 5% 10 6 6, 7% ,0 5 0 13 2 1, 7% 4 3 6, 4% ,8 1 2
10
Nunc a 1 1 ,7 %
Que s tã o Sim 30 9 3, 8% 13 8 6, 7% ,3 8 1 54 9 0, 0% 7 6 3, 6% ,0 5 0
11 Não 2 6 ,3 % 2 1 3, 3% 6 1 0, 0% 4 3 6, 4%
Que s tã o Sim 31 9 6, 9% 14 9 3, 3% ,5 4 1 60 1 00 ,0 % 10 9 0, 9% ,1 4 7
12 Não 1 3 ,1 % 1 6 ,7 % 1 9 ,1 %
Que s tã o Sim 16 5 0, 0% 6 4 0, 0% ,3 7 3 35 5 8, 3% 8 7 2, 7% ,4 8 3
13 Não 16 5 0, 0% 9 6 0, 0% 25 4 1, 7% 3 2 7, 3%
Que s tã o Sim 17 5 3, 1% 6 4 0, 0% ,3 0 0 36 6 0, 0% 6 5 4, 5% ,6 7 1
14 Não 15 4 6, 9% 9 6 0, 0% 24 4 0, 0% 5 4 5, 5%
Que s tã o Sempre 21 6 5, 6% 6 4 0, 0% ,0 9 0 46 7 6, 7% 8 7 2, 7% ,8 2 1
15 Por v ez es 11 3 4, 4% 9 6 0, 0% 14 2 3, 3% 3 2 7, 3%
Que s tã o Sim 29 9 0, 6% 10 6 6, 7% ,0 5 0 56 9 3, 3% 8 7 2, 7% ,1 0 0
16 Não 3 9 ,4 % 5 3 3, 3% 4 6 ,7 % 3 2 7, 3%
Nuno Sevivas 75
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Assim, concordamos com Pereira (2008) quando este refere que o tutor no
decorrer das sessões de reflexão deverá, juntamente com o estudante, analisar os vários
comportamentos observados de forma a construírem os alicerces para uma boa conduta
profissional. O objetivo primordial será edificar a identidade e os valores que regem a sua
profissão (Abreu, 2007).
Por outro lado, e de acordo com Pinto (2011), os estudantes consideram
significativo o domínio da prática profissional, ética e legal, manifestando preocupação com
questões que muitas vezes os levam a reconhecer os seus limites. No mesmo estudo, a
generalidade dos estudantes considera de extrema relevância a existência de uma
disciplina de ética, pois apesar de não os preparar para as diversas situações com que se
deparam em contexto clínico, fornece-lhes os fundamentos essenciais que sustentam a sua
tomada de decisão.
Por sua vez, na Escola B existem ainda vários fatores que se encontram
relacionados com a qualidade da orientação, mais concretamente a questão 17 (p=0,008,
em que quanto mais frequentemente são disponibilizadas sessões específicas e
individualizadas de orientação das experiências clínicas, maior é a qualidade da orientação);
a questão 19 (p=0,020, em que quanto mais momentos de reflexão sobre ética e
deontologia, maior a qualidade da orientação); a questão 20 (p=0,010, em que a qualidade
é maior por parte dos elementos que afirmam ter mais frequentemente apoio e
disponibilidade por parte do professor); a questão 21 (p=0,002, em que os estudantes que
tiveram supervisão durante o estágio inteiro atribuem maior qualidade à supervisão); a
questão 22 (p=0,001, em que os estudantes que afirmam ter à vontade para colocar
dúvidas e solicitar esclarecimentos são os que melhor avaliam a orientação); a questão 23
(p=0,002, em que os estudantes que referem que o tutor teve sempre em conta os seus
problemas pessoais, são os que referem que a orientação foi boa); bem como a questão 24
(p=0,008, em que o estágio foi melhor avaliado por parte dos estudantes que consideram
estar no serviço como elemento supranumerário).
Destaca-se ainda a relação da avaliação da orientação com as questões número 27
(p=0,002), número 28 (p=0,000), questão 29 (p=0,004), questão 30 (p=0,007) e questão 31
(p=0,001). As percentagens sugerem que a orientação do estágio é avaliada com mais
qualidade por parte dos estudantes que referem ter uma boa relação com os enfermeiros e
grupos de colegas, que sentiram menos falta do orientador na tomada de decisões, a quem
foram indicadas as áreas deficitárias em matéria de formação no final do estágio, e por
quem referiu que o responsável pelo acompanhamento do ensino clínico estava preparado
para o momento de avaliação.
Nuno Sevivas 76
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Qu e s tã o Sim 32 1 0 0 ,0 % 12 8 0 ,0 % ,0 2 8 59 9 8 ,3 % 8 7 2 ,7 % ,0 0 1
22 Não 3 2 0 ,0 % 3 2 7 ,3 %
Sempre 23 7 1 ,9 % 6 4 0 ,0 % 52 8 6 ,7 % 6 5 4 ,5 %
Qu e s tã o
Por v ez es 5 1 5 ,6 % 5 3 3 ,3 % ,1 1 1 4 6 ,7 % 3 2 7 ,3 % ,0 0 2
23
Nunc a 4 1 2 ,5 % 4 2 6 ,7 % 3 5 ,0 % 1 9 ,1 %
Sim 19 5 9 ,4 % 12 8 0 ,0 % ,1 4 4 49 8 1 ,7 % 5 4 5 ,5 % ,0 0 8
Qu e s tã o
24 Nã o , s e n t i q u e s u b s ti tu i
13 4 0 ,6 % 3 2 0 ,0 % 11 1 8 ,3 % 6 5 4 ,5 %
e n fe rm e iros
Qu e s tã o Sim 27 8 4 ,4 % 11 7 3 ,3 % ,3 0 2 56 9 3 ,3 % 9 8 1 ,8 % ,6 0 2
25 Não 5 1 5 ,6 % 4 2 6 ,7 % 3 5 ,0 % 2 1 8 ,2 %
Sempre 25 7 8 ,1 % 7 4 6 ,7 % 43 7 1 ,7 % 6 5 4 ,5 %
Qu e s tã o
Por v ez es 6 1 8 ,8 % 8 5 3 ,3 % ,0 4 8 14 2 3 ,3 % 4 3 6 ,4 % ,4 1 8
26
Nunc a 1 3 ,1 % 1 1 ,7 % 1 9 ,1 %
Sempre 29 9 0 ,6 % 11 7 3 ,3 % 52 8 6 ,7 % 5 4 5 ,5 %
Qu e s tã o
Por v ez es 3 9 ,4 % 4 2 6 ,7 % ,1 3 4 8 1 3 ,3 % 5 4 5 ,5 % ,0 0 2
27
Nunc a 1 9 ,1 %
Sempre 27 8 4 ,4 % 14 9 3 ,3 % 47 7 8 ,3 % 6 5 4 ,5 %
Qu e s tã o
Por v ez es 5 1 5 ,6 % 1 6 ,7 % ,3 6 6 12 2 0 ,0 % 5 4 5 ,5 % ,0 0 0
28
Nunc a 1 1 ,7 %
Por v ez es 15 4 6 ,9 % 9 6 0 ,0 % 20 3 3 ,3 % 10 9 0 ,9 %
Qu e s tã o
Nunc a 17 5 3 ,1 % 6 4 0 ,0 % ,3 0 0 37 6 1 ,7 % ,0 0 4
29
Sempre 3 5 ,0 % 1 9 ,1 %
Sempre 17 5 3 ,1 % 6 4 0 ,0 % 39 6 5 ,0 % 3 2 7 ,3 %
Qu e s tã o
Por v ez es 11 3 4 ,4 % 8 5 3 ,3 % ,4 5 1 16 2 6 ,7 % 8 7 2 ,7 % ,0 0 7
30
Nunc a 4 1 2 ,5 % 1 6 ,7 % 5 8 ,3 %
Qu e s tã o Sim 32 1 0 0 ,0 % 14 9 3 ,3 % ,3 1 9 60 100% 8 7 2 ,7 % ,0 0 1
31 Não 1 6 ,7 % 2 1 8 ,2 %
Nuno Sevivas 77
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Nuno Sevivas 78
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
pelo local de ensino clínico, pelo que é necessário estabelecer o tipo de supervisão, a
qualificação dos tutores, entre outros aspetos essenciais à qualidade da aprendizagem
fornecida.
O tutor não deverá ser apenas um elo de experiências agradáveis para o estudante
no contexto clínico. Este deve ser perito na sua área de prestação de cuidados, bem como
estar disponível para facultar formação na prática clínica, compreendendo o percurso
educativo global do estudante. Daqui ressalvamos a importância dos tutores realizarem
formação específica na área da Supervisão Clínica em Enfermagem, para que possam
assumir tal papel de forma exemplar.
Na afirmação “Consegui compreender as orientações disponibilizadas pelo
docente/tutor”, a média refere que os estudantes tendem a concordar bastante com a
mesma (m=3,43; dp=0,671), tal como concordam que o orientador envolveu a equipa no
seu acompanhamento (m=3,36; dp=0,810) e, que na ausência do orientador, a equipa
estava a par da sua situação de aprendizagem (m=3,23; dp=0,897).
Para Abreu (2003) o docente deve apoiar os tutores, mantendo uma relação
pedagógica com estudantes e servindo de mediador da aprendizagem. É importante a
existência de reuniões conjuntas, com o objetivo de avaliar os progressos na aprendizagem.
O docente é um recurso valioso para a díade tutor/estudante. Por outro lado, os nossos
dados vão ao encontro do estudo de Fernandes (2010), que nos refere ser importante que
o tutor desenvolva ações com vista à integração do estudante no serviço e particularmente
na equipa de enfermagem, fazendo com que este se sinta parte integrante do grupo. Este
facto evidencia-se igualmente através do discurso dos inquiridos, quando estes afirmam
que “o tutor e a equipa de enfermagem respeitaram-me e apoiaram-me em tudo” (Q34).
A tendência dos participantes é para discordar bastante, no que diz respeito a só
terem conhecimento da opinião do orientador sobre a sua aprendizagem no final do
estágio (m=1,57; dp=0,829), e os mesmos concordam bastante com o facto do
docente/tutor equilibrar as suas orientações, fornecendo opiniões positivas e negativas
(m=3,24; dp=0,767). Os inquiridos concordam bastante que as apreciações disponibilizadas
pelo orientador estavam focalizadas na sua experiência concreta (m=3,13; dp=0,632), e
consideram ter existido oportunidade para discutir com o tutor as orientações teóricas e
filosóficas da assistência (m=3,03; dp=0,828).
Na perspetiva do estudante, o apoio prestado pelos tutores torna-se imprescindível
no seu processo de aprendizagem em contexto clínico, facto que acompanha os dados
descritos por Almeida (2004), quando este afirma que o tutor/supervisor “ (…) é aquele que
os apoia emocionalmente, que os orienta individualmente oferecendo-lhes feedback após
Nuno Sevivas 79
FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
uma actividade; aquele que motiva o estudante, que acredita na sua capacidade,
auxiliando-o a desenvolver as suas potencialidades; realiza críticas construtivas e procura a
própria capacitação e evidencia uma postura democrática e de acolhimento ao estudante”
(p. 6).
O feedback prestado pelo enfermeiro tutor acerca do desempenho do estudante
pode ajudar este último no desenvolvimento de competências essenciais para a prática
clínica, bem como estabelecer metas para redução do stresse (Braga, 2007). Estes dados
estão também presentes nas afirmações dos inquiridos, quando estes dizem que “o
feedback dado pelo tutor foi constante em todo o estágio” (Q44).
Por outro lado, constata-se que o enfermeiro tutor não se encerra no facto de ser
um profissional da área da enfermagem, sendo que é encarado como um “enfermeiro com
valor acrescentado”, possuindo conhecimentos inerentes à sua profissão, como também o
domínio dos conteúdos programáticos, possuindo um leque de outras competências que
permitam mediar a aprendizagem dos estudantes (Paiva, 2008).
Estes dados vão de encontro aos apresentados por Monteiro (2009), quando este
defende que o docente deverá ajudar o estudante a ultrapassar os diversos obstáculos,
tornando-o mais autónomo e seguro, com vista a identificar-se com a profissão e a
descobrir a sua própria identidade profissional. As apreciações feitas no decorrer dos
contextos clínicos visam assim, orientar o estudante em todo o processo com vista ao seu
crescimento e desenvolvimento de competências.
Na afirmação que refere “O docente/tutor ajudou-me a desenvolver as capacidades
de relação com a equipe e com os doentes” os estudantes demonstram concordância
(m=3,38; dp=0,736), tal como concordam que se sentiram descontraídos nas sessões de
supervisão que tiveram com os orientadores (m=3,23; dp=0,818) e que contaram com a
ajuda do docente/tutor na altura de tomar decisões difíceis a nível clínico (m=3,45;
dp=0,722).
Os nossos dados vão de encontro aos de Fernandes (2010), quando esta afirma que
“sempre que há ajuda por parte do supervisor a análise e reflexão na prática clínica é
facilitada e percebida como um processo promotor do modo como aprenderam” (p.232).
Por outro lado, os próprios inquiridos referem nas suas narrativas que “o tutor ajudou-me a
estabelecer uma relação com a equipa de enfermagem, proporcionando mais e melhor
aprendizagem” (Q37).
Desta forma, para que se estabeleça uma relação segura entre os estudantes e os
intervenientes no contexto clínico “é necessário criar um clima favorável, uma atmosfera
Nuno Sevivas 80
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Nuno Sevivas 82
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efeito foi utilizada a correlação de Pearson, por se mostrar indicada às variáveis em que se
pretende testar, trabalhando-se com dois valores em simultâneo, o valor de r e o valor de
p. O valor de r representa a força e a direção da associação entre as variáveis, e uma vez
que este tipo de correlação vai de -1 a 1, pode-se assumir que quanto mais afastado for o
valor de r do valor central (zero), maior é a associação entre as variáveis. Por sua vez, o p
revela-nos o nível de significância, e sempre que este seja menor ou igual a 0,05 pode-se
assumir a existência de relação entre as variáveis. Mencionamos ainda que a esta
correlação está subjacente a hipótese nula, que afirma não existir relação entre as
variáveis, e a hipótese alternativa que afirma a existência de relação entre as mesmas,
podendo-se aceitar a hipótese alternativa sempre que o valor de p for inferior ou igual a
0,05 (p ≤0,05).
Assim, na tabela seguinte constam os resultados separados por Escola, parecendo-
nos indicado verificar se as diferenças entre ambas são relevantes para esta investigação.
No que respeita à Escola A, verifica-se que apenas não surge correlação significativa com
quatro afirmações (associação muito baixa e p> 0,05), mas a maioria das correlações são
estatisticamente significativas e positivas, e vão desde a relação moderada à associação
forte. Os valores indicam que no geral, quanto maior for a concordância com as afirmações
maior é a satisfação com a orientação disponibilizada, ou seja, quanto mais os estudantes
consideram ter existido espaço para a discussão dos objetivos do estágio e concordam com
a adequação da prestação do tutor, sentindo que a sua aprendizagem foi valorizada, mais
satisfeitos se avaliam.
De igual modo, a correlação apenas é negativa em quatro situações, indicando que
nestas afirmações a satisfação é mais elevada quanto maior for a discordância das
alegações. Assim, conclui-se que a satisfação é mais alta por parte dos inquiridos que
discordam que o tutor lhes indicou as atividades a desenvolver sem os consultar, que
discordam que os seus objetivos de estágio fossem irrealistas e que apenas lhes tenha sido
comunicada a opinião do tutor sobre a sua aprendizagem no final do estágio, discordando
igualmente que a presença do orientador na prestação de cuidados os deixava inibidos.
Por sua vez, as correlações são todas estatisticamente significativas na Escola B.
Tratam-se igualmente de associações moderadas e fortes, e maioritariamente positivas,
sugerindo que aumenta a satisfação com a orientação disponibilizada à medida que se
amplia a concordância com as afirmações. Todavia, as associações são negativas nas
mesmas afirmações que na escola anterior, pelo que a satisfação com a supervisão é
igualmente mais visível nos estudantes que discordam que não foram ouvidos na
elaboração das atividades a desenvolver, que os objetivos do estágio não estavam
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N 32 20 35 32 119
Desta forma, salienta-se que 26,9% (n=32) dos 119 indivíduos da amostra não
responderam a nenhuma das três perguntas abertas e que, a maior parte dos que o
fizeram, ou seja 29,4% (n=35), optaram por não responder a todas as perguntas, mas sim a
duas. Um número um pouco menor 26,9% (n=32) respondeu efetivamente às três
questões, enquanto os restantes 16,8% (n=20) de inquiridos que compõem esta amostra
responderam apenas a uma questão.
A aprendizagem em contexto clínico é, segundo Abreu (2003), “ (…) uma actividade
que, sendo cognitiva, é mediada por factores de ordem cultural, situacional, psicológica e
mesmo biológica, que implicam mudanças a nível do comportamento observável, auto-
conhecimento e definição de uma «estratégia pessoal» de processar a informação (…) ”
(p.9). Sendo assim, o ensino clínico constitui-se como um espaço insubstituível, em que
todos os elementos do processo supervisivo (estudante, enfermeiro tutor e docente)
trabalham com vista à aquisição e desenvolvimento por parte do estudante, das
competências necessárias ao exercício da profissão de enfermagem, tendo como objetivo
que essa atuação competente se prolongue por toda a sua atividade profissional.
De acordo com os factos anteriormente descritos, procedemos à identificação das
categorias classificativas da informação recolhida, as quais remetem para as caraterísticas
do enfermeiro tutor e áreas de desenvolvimento do estudante que a supervisão deve
potenciar.
Foram identificadas 9 categorias, sendo elas: Autonomia; Desenvolvimento de
Competências; Avaliação; Reconhecimento; Integração na Equipa; Relação com
Tutor/Equipa; Contacto/Relação com os Clientes; Estratégias Pedagógicas e Confiança.
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Nuno Sevivas 87
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Por último, a categoria Confiança remete para o facto de ser dado crédito às ações
do estudante, considerando que as expetativas sobre os seus atos ou a sua pessoa serão
concretizadas no futuro.
Como já foi mencionado, para cada categoria foram classificadas unidades de
registo, que de acordo com as questões efetuadas, foram identificadas como “positivas” e
“negativas”.
No Quadro 1 pode-se observar o número total de respostas dos inquiridos (339) e a
sua distribuição e classificação segundo os parâmetros supracitados.
Categorias
Estratégias Pedagógicas
Unidades de
Integração na Equipa
Desenvolvimento de
Total
Registo
Reconhecimento
Competências
Autonomia
Confiança
Avaliação
Positivas 11 48 18 22 42 38 26 42 7 254
Negativas 1 17 10 2 8 17 7 23 0 85
Total 12 65 28 24 50 55 33 65 7 339
Desta forma, verifica-se que por ordem decrescente, as categorias que mais
respostas registaram foram as “Desenvolvimento de Competências” e “Estratégias
Pedagógicas”, com 65 respostas no total para cada uma, seguidas da “Relação com
Tutor/Equipa” com 55 e “Integração na Equipa” com 50.
Com um número bastante menor de ocorrências, comparativamente com as
anteriores, seguiram-se as categorias “Contacto/Relação com os Clientes” (33), “Avaliação”
(28) e “Reconhecimento” (24). As categorias “Autonomia” e “Confiança” foram aquelas nas
quais se apuraram menos respostas, com 12 e 7 respetivamente.
No que concerne às unidades de registo importa indicar que o maior número de
respostas classificadas como “positivas”, num total de 254, observou-se na categoria
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Categoria Exemplos
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Salientam-se ainda situações referidas pelos estudantes que apontam para uma
intervenção ativa dos tutores neste contexto, mais especificamente no domínio técnico,
nomeadamente quanto à forma de prestação de cuidados adequada. Na opinião destes
inquiridos, a orientação prestada por parte dos tutores nesse sentido foi bastante
satisfatória. Ainda relativamente a esta categoria, verificou-se que 17 inquiridos
consideraram que este foi um contexto que lhes proporcionou momentos significativos
desagradáveis. As causas apontadas são basicamente três: a forma de atuação desigual por
parte dos elementos das equipas de enfermagem, fator que desencadeou sentimentos de
confusão nos estudantes; sensações de frustração, impotência e fracasso derivados do
insucesso ocasional na execução das técnicas e na prestação de cuidados; e por fim, a
reduzida carga horária dos estágios, facto que condicionou negativamente, na opinião dos
inquiridos, o desenvolvimento de competências técnicas.
Como temos visto até aqui, o ensino clínico é considerado “ (…) um espaço
insubstituível de transformação de conhecimentos e aquisição de saberes práticos e
processuais” (Abreu, 2003, p.9). Este ambiente complexo, em constante transformação será
propiciador para que os estudantes mobilizem aptidões na ação, para fazer face à
complexidade das situações de trabalho vivenciadas, desenvolvendo desta forma
competências profissionais (Serrano, 2008).
Estas competências deverão ir no sentido do estudante poder agir em
conformidade com as situações que lhe surjam no seu dia-a-dia profissional, tomando as
melhores opções e salvaguardando o bem-estar do cliente (Rua, 2011).
O facto de a nossa investigação revelar um maior número de respostas encaradas
como momentos positivos do estágio, no que concerne à categoria “Desenvolvimento de
Competências”, vai de encontro aos resultados de outros estudos como o de Rua (2011),
Pinto (2011) e Belo (2003), que consideram este fator determinante para uma
aprendizagem de sucesso, bem como na formação de futuros profissionais de excelência.
O desenvolvimento de competências pelo estudante de enfermagem deverá ter
sempre em linha de conta os padrões estabelecidos pela OE (2003), sendo estes a premissa
para a avaliação de muitos dos ensinos clínicos realizados ao longo do seu percurso
formativo.
Tendo os estudantes referenciado em grande número o apreço pelo
desenvolvimento de competências cognitivas e técnicas, Alarcão e Tavares (2007)
defendem que estes devem construir uma aprendizagem sólida “ (…) através de uma
observação reflexiva e de um diálogo permanente com as situações reais e com os outros
actores que nelas actuam e na sábia mobilização criativa de saberes de referência que
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Categoria Exemplos
Ainda no que a esta categoria diz respeito, destaca-se que foram classificadas como
unidades de registo negativas apenas 2 respostas. O desrespeito pelo enfermeiro,
encabeçado pela equipa médica e a desvalorização do seu papel e do seu esforço, foram os
motivos apontados pelos inquiridos para terem considerado estes momentos como
significativamente desagradáveis.
Através destes dados, podemos concluir que o fator reconhecimento contribui para
uma elevação da autoestima do estudante demonstrado através das narrativas
supracitadas, essencialmente quando proveniente do enfermeiro tutor e dos clientes.
Na categoria seguinte, “Integração na Equipa”, registou-se um maior número de
situações comparativamente à anterior. Assim, surgiram 42 respostas por parte dos
inquiridos, que consideraram que o seu processo de integração na equipa de enfermagem
decorreu positivamente, motivo pelo qual constituiu um momento bastante satisfatório em
contexto de ensino clínico. Conforme se pode observar pelas afirmações expostas no
Quadro 6, a contribuição ativa e positiva do tutor na integração do estudante na equipa e
no serviço foi considerada fundamental neste contexto.
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FORMAÇÃO EM CONTEXTO CLÍNICO: A PERSPETIVA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM
Categoria Exemplos
É ainda de salientar que esta categoria foi uma das que registaram um menor
número de situações negativas, apenas 8. Os inquiridos que consideraram a sua integração
como um momento negativo, justificaram-no através de factos como o desconhecimento
das formas de atuação e procedimentos na fase inicial dos estágios, a desigualdade de
conduta dos membros das equipas no que concerne ao acolhimento dos estudantes ou a
excessiva rotatividade desses elementos nos diversos turnos, facto que dificulta o
estabelecimento de uma relação empática entre estudantes e equipas.
Tal como nos referem Simões, Alarcão e Costa (2008), o enfermeiro cooperante é
responsável pela integração do estudante no serviço e, cada vez mais, pela supervisão da
sua aprendizagem na prática. O tutor assume um papel de destaque no que toca à
apresentação do estudante à equipa multidisciplinar, serviço e suas dinâmicas.
Desta forma, os tutores deverão servir de modelo para os futuros enfermeiros,
tendo a incumbência de lhes proporcionar experiências de aprendizagem e momentos
consistentes de formação, constituindo-se como facilitadores da sua socialização com os
contextos de trabalho (Abreu, 2003). Existindo uma boa integração do estudante no seio da
equipa multidisciplinar, todo o processo de ensino-aprendizagem se desenrolará de forma
mais fluente como podemos comprovar através do seu discurso, tal como uma integração
deficitária provoca nele sentimentos de deslocação face à realidade onde se encontra
inserido.
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Através das suas intervenções, o enfermeiro tutor tem assim na opinião dos
inquiridos, um papel fundamental na compreensão das suas dificuldades através do
esclarecimento de dúvidas e apoio na resolução de problemas.
Por outro lado, os aspetos negativos referenciados pelos inquiridos vão de encontro
à ideia defendida por Fernandes (2004), quando esta afirma que os estímulos negativos e a
censura por parte do tutor no decorrer da prestação de cuidados fomentam no estudante
sentimentos de revolta, desânimo e incapacidade.
Categoria Exemplos
CONCLUSÃO
Desta forma, Alarcão e Tavares (2007) afirmam que a formação em contexto clínico
deverá ser entendida, numa tripla vertente de saberes: saber (dimensão cognitiva), saber
fazer (dimensão operativa/técnica) e saber ser e estar (dimensão ética e relacional).
Neste contexto específico, os enfermeiros da prática clínica sabendo que a
aprendizagem deve atender ao nível de desenvolvimento do estudante, têm visto o seu
papel realçado no processo de formação/orientação dos mesmos.
Cabe ao tutor propor tarefas de aprendizagem adequadas ao desenvolvimento do
estudante, coadjuvando-o na sua evolução (Fernandes, 2010) e promovendo o
desenvolvimento de um conjunto de capacidades e atitudes com vista à excelência e
qualidade dos cuidados prestados (Alarcão e Tavares, 2007).
Ainda segundo os mesmos autores, os objetivos propostos para a realização de um
ensino clínico não se atingem todos de uma vez, pelo que se deve ter em conta que o
processo supervisivo constitui uma ação multifacetada, faseada, contínua e cíclica, no qual
o tutor deve acompanhar de perto a evolução dos seus formandos.
Mediante os factos até aqui apresentados, percebemos a importância da formação
em contexto clínico para o futuro enfermeiro, o que reforçou o nosso espírito pela
construção de novos conhecimentos que abrangem aspetos associados à temática em
questão. O enquadramento teórico que esteve na base da nossa investigação permitiu-nos
aprofundar o atual estado da arte, dando o mote para o desenvolvimento de resultados
concretos.
Considerando que a componente prática da formação do enfermeiro é uma
atividade essencial para o seu desenvolvimento profissional, uma vez que por meio dessa
experiência o estudante constrói organizadamente o seu conhecimento, julgou-se
pertinente a realização de um estudo que pudesse demonstrar a real importância da
formação em contexto clínico no curso de enfermagem.
Por outro lado, salientamos também a crescente importância da supervisão clínica
na área da enfermagem, verificada mais recentemente através da proposta de um Modelo
de Desenvolvimento Profissional encabeçado pela OE, prevendo a certificação de
competências do futuro profissional, o que implica algumas mudanças, nomeadamente a
garantia de “um sistema que permita a Certificação de Enfermeiros tutores/supervisores
clínicos e a acreditação das unidades de cuidados com capacidade formativa de modo a
tornar possível o funcionamento do sistema” (OE, 2007). Assim sendo, importa conhecer a
opinião dos estudantes acerca do que estes consideram ser um bom tutor, bem como as
caraterísticas que mais apreciam nos mesmos.
sendo o estagiário envolvido nas atividades coletivas de saúde do mesmo, mas sem
substituir qualquer elemento, para que exista uma relação colegas/estudante/enfermeiros
do serviço favorável (como no estudo elaborado por Monteiro em 2009), são vistos
igualmente como elementos essenciais. Os estudantes primam também a relação
docente/estudante/tutor, na qual os orientadores têm um papel ativo, demonstram
disponibilidade, compreensão face problemas pessoais e incutem no indivíduo em processo
de formação espírito de autonomia, estando sempre preparados para um procedimento de
avaliação suma/formativa.
Pensamos assim, que a instituição de ensino pode ter um poder significativo no que
toca à seleção dos fatores que influenciam a apreciação do tutor e respetiva formação
clínica do estudante de enfermagem, tendo também em conta o coeficiente de correlação
(r) e o nível de significância (p) apresentados pela análise do inventário de avaliação do
acompanhamento clínico (parte III). Deste modo, pensamos ser importante apostar
futuramente em investigações, que se focalizem na compreensão destes factos.
Recorrendo ao modelo ecológico de Bronfenbrenner verifica-se que estão
presentes no nosso estudo, sobretudo o microssistema, o mesossistema e o cronossistema.
O microssitema tem a ver com os contextos mais próximos da realidade do
estudante, como por exemplo a relação com o docente, com o tutor ou com os clientes,
sendo estas enfatizadas nos dados recolhidos. O mesossistema surge fundamentalmente
quando o estudante se refere à relação entre a escola e a instituição de saúde, relação essa
que de acordo com os nossos dados deveria ser mais aprofundada na opinião dos
inquiridos. Por fim o cronossistema remete para experiências anteriores do estudante,
aprendizagens e vivências que condicionam a aprendizagem no presente, tais como o
primeiro contacto com o serviço, as impressões iniciais acerca dos
enfermeiros/colegas/tutores, ou mesmo a relação com o tutor perante um acontecimento
marcante positivo ou negativo (sendo que no nosso estudo foram referidos na sua grande
maioria acontecimentos positivos).
No que à análise temática de conteúdo diz respeito, apuramos que as categorias
com maior número de respostas registadas consistiram no “Desenvolvimento de
Competências”, “Estratégias Pedagógicas”, “Relação com Tutor/Equipa” e “Integração na
Equipa”, sendo que a grande maioria das respostas (254 num total de 339) foram
consideradas como momentos significativos positivos.
A categoria com maior número de unidades de registo positivas encontradas
consistiu no “Desenvolvimento de Competências”, sendo os domínios cognitivo e técnico,
os mais referidos.
Por outro lado, no que toca às unidades de registo negativas, verificou-se que
apenas obtiveram 85 respostas (num total de 339). Da mesma forma, em todas as
categorias o número de respostas positivas superou sempre as negativas. Como categoria
que englobou o maior número de respostas negativas obtivemos assim as “Estratégias
Pedagógicas”, parecendo-nos que, quando mal geridas pelos enfermeiros tutores, poderão
perturbar a aprendizagem dos estudantes.
Ao longo do percurso de investigação, fomo-nos deparando com algumas
dificuldades/limitações inerentes ao próprio processo. Salientamos o facto de este estudo
potenciar uma experiência única e inovadora no nosso percurso como investigadores,
sendo igualmente relevante mencionar a falta de mais estudos sobre a temática em
investigação.
As conclusões apesar de todos os entraves convergem com o que é suposto estar
presente no perfil do tutor, assim como o esperado por parte do mesmo para o
cumprimento da sua função.
Para que se tome maior consciência destas “exigências” por parte do estudante,
podemos concluir que o tutor deve ser alguém completo, de modo a ter todo o quadro de
caraterísticas necessárias a qualquer supervisado. Para que haja uma boa aprendizagem
profissional sugere-se um maior investimento nas formações dirigidas aos enfermeiros com
responsabilidades na prática de tutoria, na área da supervisão clínica em enfermagem, com
promoção da vertente pedagógica.
Deste modo, pretende-se formar tutores capazes de serem enfermeiros com
competências teórico-práticas na sua área de intervenção, capazes de desenvolver
autonomia técnica e prática no estudante, incutindo o desejo pelo saber. Por fim, os
tutores devem ter a capacidade de criar laços com o estudante de forma a permitir uma
relação de proximidade, confiança e segurança, onde a discussão crítica é interpretada
como forma de melhoramento.
Face aos resultados deste estudo, e não pretendendo de forma alguma fazer
generalizações, parece-nos relevante que o tutor para o desempenho global da sua
atividade supervisiva deva possuir uma formação complementar nas seguintes áreas:
conceção de cuidados de enfermagem; sistemas de informação; prática reflexiva;
ferramentas didáticas; avaliação do ensino-aprendizagem e enfermagem baseada em
evidências.
No final desta investigação temos a ideia de ter prosseguido os desígnios iniciais do
estudo. Estamos conscientes que o nível de compreensão dos dados trabalhados poderia
ser incrementado, caso incluíssemos uma análise dos currículos das duas escolas visadas.
Este não era no entanto o nosso propósito, embora possamos nele investir em futuras
investigações.
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ANEXOS