Ensinando Habilidades Socias PDF
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escolar
Resumo
A atuação do professor na escola requer formação e suporte para planejar e intervir
em situações que promovam comportamentos sociais com todos os estudantes, in-
cluindo os com deficiência. Nesse estudo, objetivou-se avaliar as habilidades sociais
educativas dos professores antes e depois de passarem por um Programa de formação
em Habilidades Sociais Educativas (PHSE). Participaram 40 professores do Ensino
Fundamental 1, de escolas públicas do interior paulista, 10 pertencentes à turma
A e 30 à turma B. Considerando o tamanho do segundo grupo, foram implemen-
tadas estratégias tais como: realizarem as atividades de casa por escrito sendo estas
entregues no encontro seguinte, e também foi disponibilizada a comunicação por
e-mail com a pesquisadora, tanto para tirar dúvidas quanto para pedir ajuda em
relação à implementação das atividades em sala. O programa aconteceu em horário
de trabalho coletivo, com oito encontros de duração média de uma hora e meia. A
análise evidenciou que a turma A apresentou melhoras significativa em Explicar e
avaliar de forma interativa e uma tendência de melhora em Selecionar conteúdos e
Organizar ambiente físico. A turma B apresentou melhoras significativas em todos
os fatores das duas escalas. Sugere-se que a estrutura modificada do programa para a
turma B, mostrou-se mais eficaz e que o tamanho da amostra pode ter influenciado
a sensibilidade do teste estatístico. Discute-se a possibilidade de programas desse
tipo para professores serem utilizados como forma de promover o desenvolvimento
socioemocional dos estudantes.
Palavras chave: Habilidades Sociais Educativas; Formação de professores;
Educação inclusiva.
* Professora doutora do Centro Universitário Estácio Uniseb, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
** Professora doutora da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
*** Professora doutora da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
****Professora doutora da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Abstract
The teacher's performance in the school requests formation and support to plan and
to intervene in situations that promote social behaviors with all the students, inclu-
ding those with disability. In this study, it was aimed to evaluate the teachers' educa-
tional social abilities before and after they were submitted to a formation Program in
Educational Social Abilities (PESA). 40 teachers of Elementary School from public
schools, 10 belonging to the group A and 30 to the group B, participated in the ex-
periment. Considering the size of the second group, strategies of accomplishing the
written home activities to be presented in next meeting were implemented. Besides,
the communication with the researcher by e-mail in order to put an end to doubts as
well as to request support to carry out the activities in classroom. The program was
performed during the time reserved to collective work, with eight meetings of about
one hour and half. The results showed that the group A presented significant impro-
vement in Explaining evaluating interactive way and a tendency to improvement in
Selecting contents and Organizing physical environment. The group B presented
significant improvements in all factors of the two scales. The modified structure of
the program for the group B may have motivated greater effectiveness. Besides, the
sample size may have influenced the sensibility of the statistical test. The possibility
to use this type of programs with teachers in order to promote students' socio-emo-
cional development is discussed.
Keywords: Educational Social Abilities; Teacher formation; Inclusive education.
Introdução
Nos últimos anos, vêm-se fortalecendo os discursos e políticas que defendem
a necessidade de a educação abranger a formação integral do aluno, as competências
para aprender, aprender a ser, aprender a conviver e a trabalhar em um mundo cada
vez mais complexo. Dentre as competências já reconhecidas nos sistemas educativos,
estão as relacionadas ao letramento, numeramento e, tão importante quanto essas, as
competências socioemocionais.
Para Zabala e Arnau (2010), o conceito de competências tem ganhado espaço
no contexto educacional do Brasil e de vários outros países e vem associado à pro-
posta de pensar o ensino numa perspectiva da formação integral. Para estes autores,
tal proposta rompe com os modelos tradicionais da escola, de transmissão do saber
e reafirma a necessidade de um ensino focado no estudante, nas suas aprendizagens
e em interações saudáveis paralelamente aos conteúdos disciplinares. Os autores são
enfáticos ao afirmar a necessidade de ensinar e aprender as diferentes competências
conceituais, procedimentais e atitudinais de forma funcional e levando o sujeito da
aprendizagem à resolução de situações reais do cotidiano escolar. Essa perspectiva
tem ganhado força nos últimos anos na educação brasileira, juntamente com a pro-
posta de avaliar e promover as competências socioemocionais dentro da aprendiza-
gem escolar.
Método
O estudo contou com delineamento teste e reteste, ou seja, foram realiza-
das avaliações das HSE antes e depois de os professores passarem pelo programa de
formação em HSE. Participaram escolas de dois diferentes municípios do interior
paulista com características semelhantes quanto a IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) e que fazem parte de uma região distrital de Ribeirão Preto.
Participantes
Participaram 40 professores do primeiro ciclo do ensino fundamental, do 1º
ao 5º ano, de escolas públicas. Dez lecionavam em uma escola estadual (turma A) e
30 em quatro escolas municipais de município vizinho a Ribeirão Preto (turma B).
Trata-se de uma amostra de conveniência, composta segundo critérios de acessibili-
dade às escolas e interesse dos professores.
Na turma A, todas as participantes eram mulheres, com idade entre 32 e 63
anos (M = 44,52, DP = 8,5). O tempo de magistério variou entre 6 e 32 anos (M =
Instrumentos
Inventário de Habilidades Sociais Educativas – Professores (IHSE-Prof, DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2013). Trata-se de um inventário de autorelato com 64
itens que descrevem comportamentos sociais apresentados na relação com os alunos,
respondidos pelos professores em uma escala Likert que varia de Nunca ou Quase
Nunca (0) a Sempre ou Quase Sempre (4). Os itens da escala foram elaborados a
partir do Sistema de Categorias de Habilidades Sociais Educativas, proposto por Del
Prette e Del Prette (2008). As propriedades psicométricas preliminares, incluindo a
determinação da estrutura fatorial do inventário e obtenção de índices de consistên-
cia interna, foram aferidas em uma amostra de 513 professores de alunos desde o
maternal (2 anos de idade) até o final do ensino médio (em torno de 17 anos). O ins-
trumento é composto por duas escalas. A Escala 1, denominada Organizar Atividade
Interativa, tem 14 itens e produz um escore total (α = 0,957) e três escores fatoriais:
F1 – Dar instruções sobre a atividade (α = 0,758); F2 – Selecionar, disponibilizar
materiais e conteúdos (α = 0,800); F3 – Organizar o ambiente físico (α = 0,730). A
Escala 2, Conduzir atividade interativa, tem 50 itens e produz um escore total (α =
0,948) e quatro escores fatoriais: F1 – Cultivar afetividade, apoio, bom humor (α =
0,895); F2 – Expor, explicar e avaliar de forma interativa (α = 0,891); F3 – Aprovar,
valorizar comportamentos (α = 0,847); F4 – Reprovar, restringir, corrigir comporta-
mentos (α = 0,857).
Programa de promoção de Habilidades Sociais Educativas (PHSE) para pro-
fessores (ROSIN-PINOLA; MARTURANO; ELIAS, 2016): consistiu em oito en-
contros coletivos entre o mediador e os professores, com os objetivos de ensinar as
habilidades:
1º. Encontro- Selecionar, disponibilizar materiais e conteúdos e ensinar as
habilidades: escolher conteúdos de música, filme ou literatura (poesias, contos, etc.)
para ensinar comportamentos interpessoais a meus alunos; usar histórias, poesias,
filmes, músicas para ensinar comportamentos sociais que considero importantes para
os alunos; sugerir aos alunos romances, poesias e filmes para a aprendizagem de for-
mas de convivência; Inserir recursos educacionais diferenciados para ensinar os alu-
nos com necessidades educacionais especiais.
2º. Encontro- Organizar o ambiente físico: modificar a posição das cadeiras/
carteiras na sala para facilitar o contato entre os alunos; realizar atividades em duplas,
Procedimento
A coleta de dados e a intervenção ocorreram entre 2014 e 2015, após autori-
zação do Comitê de Ética – CEP (Parecer 627.828, de 15/04/2014) e novo contato
com as escolas que tinham aceitado a realização do projeto antes da submissão ao
CEP. Em uma primeira reunião, a pesquisadora apresentou o projeto e disponibili-
zou os TCLE para os professores. Na mesma ocasião, os professores que assinaram o
TCLE receberam o IHSE-Prof (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2013) para autoa-
valiação e o Critério Brasil. O PHSE ocorreu no horário de trabalho coletivo semanal
dos professores e os encontros foram gravados em áudio.
Participaram do PHSE1, na Turma A, 10 professores do ensino Fundamental,
de 1º ao 5º ano, sendo uma auxiliar de sala e uma professora da sala de recurso. Uma
vez concluída a intervenção, os professores responderam novamente ao IHSE, em
encontro coletivo. Na Turma B, em 2015, foram adotados os mesmos procedimentos
gerais. Participaram do PHSE cerca de 36 professores, mas somente foram conside-
rados 30, que participaram de pelo menos 80% dos encontros e fizeram as avaliações
de pré e pós com o IHSE.
Em seguida, deu-se início ao PHSE com uma estrutura de encontro composta
por três momentos: (1º.) os participantes relatavam as tarefas de casa; (2º.) a pesqui-
sadora propunha e os participantes realizavam uma atividade para desenvolvimento
de algumas habilidades sociais educativas, conforme plano de cada encontro; (3º.)
a pesquisadora distribuía e orientava os participantes na execução da tarefa de casa
da semana. As atividades do 1º e do 3º momento eram coletivas, incentivando-se
a participação de todos os professores. As do 2º momento, em geral realizadas em
duplas ou trios, eram apoiadas em técnicas como vivências e desempenho de papéis.
As tarefas de casa consistiam em planejar e executar em sala de aula, com os alunos,
atividades que demandassem as HSE trabalhadas nos encontros.
O procedimento de intervenção diferiu entre os grupos: na Turma A, as tarefas
de casa eram propostas oralmente pela pesquisadora e relatadas na sessão seguinte
pelos professores, também oralmente. Com base nessa experiência, modificações fo-
ram introduzidas no trabalho com a Turma B, visando assegurar: (a) o suporte ao
trabalho do professor na sala de aula, nos intervalos entre os encontros; (b) a reflexão
do professor sobre a própria atuação ao implementar as atividades previstas na lição
de casa. Para isso, foi disponibilizada a comunicação por e-mail com a pesquisadora
(tanto para tirar dúvidas quanto para pedir ajuda em relação à implementação das
atividades em sala) e introduzido o relatório escrito da realização da lição de casa. Tais
modificações foram implementadas no pressuposto de que a oferta do suporte extra
de encontros, a sistematização das tarefas e a contingência de associar a realização da
atividade em sala com o registro desta funcionariam como facilitadores da aprendi-
zagem.
Resultados e discussão
Tabela 1 - Comparação entres as medidas antes e depois da Turma A nas duas escalas
do IHSE.
Tabela 2 - Comparação entres as medidas antes e depois da Turma B nas duas escalas
do IHSE.
Nota. * p <0,001. N= 30
Considerações Finais
Considerando a complexidade desse tipo de formação, que parte do conheci-
mento e da experiência real do professor em sala de aula, de seu relato e percepções,
foi possível verificar que o PHSE oferecido proporcionou mudanças favoráveis, se-
gundo a própria avaliação dos professores. Destacam-se as estratégias de valorizar e
dar modelos com a finalidade de que os professores revissem suas práticas e melho-
rassem a interação deles com seus alunos, além de apoiar os mesmos na elaboração de
atividades e materiais que pudessem favorecer a inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais. Sugere-se que estudos utilizem diferentes avaliadores e, se pos-
sível, incluam dados de observação do desempenho do professor e dos estudantes.
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Notas
1
Tanto as avaliações como a intervenção foram conduzidas pela primeira autora como parte do seu projeto de pós-
doutorado.
Correspondência
Andréa Regina Rosin Pinola – Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Rua Abraao Issac Halack, 790.
Ribeirania. CEP: 14010-080. Ribeirao Preto, São Paulo, Brasil.
E-mail: [email protected]