A Música No Culto Reformado

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A MÚSICA NO CULTO REFORMADO

INTRODUÇÃO
Nosso propósito é pensar sobre o papel da música no Culto ao Senhor. Ela é um
elemento do Culto que tem sido extremamente valorizado nos últimos anos.
Portanto, devemos analisar de que forma ela pode auxiliar na adoração.

I. BREVE EXPOSIÇÃO BÍBLICA (Cl 3.16)


⇨ A igreja primitiva usava: hinos, salmos e cânticos espirituais. Hino é uma
poesia musicada usada nas reuniões de adoração a Deus e na devoção particular.
Salmos eram pedaços do Saltério Hebraico usado nos cultos. Cânticos espirituais
provavelmente equivalem aos cânticos utilizados nas igrejas contemporâneas.
⇨ “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” – A palavra de Cristo deve
habitar o coração de cada cristão, e de toda a igreja. Onde a Palavra de Cristo habita
não há lugar para mentiras, heresias e falsas doutrinas.
⇨ “instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” – O meio de
instrução e aconselhamento deve ser pela Palavra. Nós temos a Palavra de Deus
como leitura em nossos cultos, e claro, através da exposição bíblica. Toda instrução
deve ser feita com sabedoria, não terrena, mas divina.
⇨ “louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração” – A música deve ser um instrumento de instrução, aconselhamento e
louvor a Deus, mas ela só será eficaz se ela expressa a Palavra de Cristo.

II. O QUE É MÚSICA?


⇨ Música é a arte ou ciência de combinar os sons e pausas de modo que
agradem ao ouvido.
⇨ A música é uma arte neutra não podemos dizer que existem acordes profanos
e acordes sacros; estilos profanos e estilos sacros; melodias profanos e melodias
sacras; ritmos profanos e ritmos sacros.

III. OS ELEMENTOS DE IMPRESSÃO E EXPRESSÃO DA MÚSICA

a) Impressão
⇨ Agostinho de Hipona disse: “Assim flutuo entre o perigo do prazer e os
salutares efeitos que a experiência nos mostra. Portanto, sem proferir uma sentença
irrevogável, inclino-me a aprovar o costume de cantar na Igreja, para que, pelos
deleites do ouvido, o espírito, demasiado fraco, se eleve até aos afetos da piedade.
Quando, às vezes, a música me sensibiliza mais do que as letras que se cantam, confesso
com dor que pequei. Neste caso, por castigo, preferiria não ouvir cantar. Eis em que
estado me encontro”.
⇨ A música tem um poder de impressão muito grande, ela mexe com nossos
sentimentos de uma maneira que muitas outras artes não conseguem. A música
produz em nós: medo, alegria, tristeza, dor e etc. Só um instrumental já é capaz de
causar impressão.
⇨ A música contém três elementos: ritmo, melodia e harmonia. O ritmo é o
esqueleto da música, ele mexe com nosso corpo. A melodia é uma sucessão de sons;
ela trabalha nossas emoções. A harmonia pode ser definida como sons simultâneos.
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A Harmonia ativa o intelecto. Quanto mais elaborada e complicada a harmonia, mais


difícil de ser apreciada e entendida.
⇨ Quando ouvimos uma música algo vem a nossa mente, uma lembrança do
passado, uma identificação de circunstâncias ou ainda de origem. Assim, vemos que
certas músicas nos levam a sentimentos como amor romântico, outras apenas a pura
paixão carnal, outras ainda nos lembram de nossas brincadeiras infantis, outras
incentivam à coragem para lutar, outras ainda o folclore carnal e etc.
⇨ Músicas de origem mundana, mesmo que tenham a letra modificada para
algo dito "cristão", nos influencia a pensar no contexto ou na sua composição
original.

b) Expressão
⇨ Expressão é a mensagem que a música transmite por meio do texto. Cânticos
espirituais/hinos são músicas que se baseiam na inspiração bíblica.
⇨ A música é um excelente veículo para guardar informações em nosso cérebro.
Podemos fixar verdades ou mentiras, dependendo do que cantamos. Por isso, é
preciso parar e pensar seriamente no que estamos cantando nas nossas igrejas.
⇨ Lutero destacou um importante fato quando ele disse à sua congregação: “eu
sei que amanhã, segunda-feira, vocês vão esquecer o que eu estou falando agora no
meu sermão. Mas os hinos que os faço cantar, jamais vão ser esquecidos”.
⇨ Vejamos alguns exemplos de músicas boas e ruins para o canto
congregacional:

MÚSICA RUIM MÚSICA BOA


“Eu tô pagando, eu tô pagando o preço “Não se turbe o vosso coração, crede
pra morar no céu. Eu tô pagando, eu em Deus e também em Mim. Na casa de
vou lutando, eu vou chorando. Meu Pai há muitas moradas. Se não
Cada detalhe o Senhor está somando”. fosse assim, eu não teria dito: “Vou
(Damares) cf. Hb 9.27-28 preparar-vos um lugar, Eu virei e vos
levarei para Mim mesmo”.
(Heloisa Rosa) cf. Jo 14
“Você é um espelho que reflete a “Pelo nome me chamou, com seu
imagem do Senhor. Não chore se o sangue me lavou. Sou teu Senhor, sou
mundo ainda não notou. Já é o bastante teu. Meu pecado apagou, Ele me
Deus reconhecer o seu valor”. predestinou. Sou teu Senhor, sou teu”.
(Anderson Freire) cf. Mt 5.16 (Ministério AME) cf. Ef 1

IV. A MÚSICA E AS ESCRITURAS


⇨ Há vários registros de cânticos nas Escrituras (Gn 31:27; Ex 15:1; Ex 15:20;
Dt 31:19; 1Rs 4:32; Mt 26:30; At 16:25). Há 85 ordens de louvor em forma de
cânticos na Bíblia; 66 se encontram nos Salmos, 5 no Novo Testamento e 14 no
restante da Bíblia. O texto que mais fala sobre isso é o Salmo 47:6. Lucas, em seu
evangelho, registra 4 hinos cristãos: Magnificat (“engrandece” Lc 1:46-55);
Benedictus (“bendito” Lc 1:68-79); Nunc Dimittis (“agora despedes” Lc 2:29-32);
Glória in Excelsis (“Glória nas alturas” Lc 2:14).
⇨ Temos exemplos de músicas entoadas em batalha (Js 6:4,5); Cânticos de
livramento (Sl 32:7); Na oração e nas petições ( Sl 7:1); Cântico de Amor (Sl 45); Para
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relaxar ou para afastar os maus espíritos (1Sm 16:15-17); Proporcionando alegria


(Gn 31:27); Criando um ambiente profético (2Rs 3:15); cortejos sagrados (2Sm 6.4-
5; Mt 9.23,24); consagração do templo (2Cr 5.11-13); coroação dos reis (2Cr 23.11-
13); celebração de vitórias (Ex 15.20).

V. A MÚSICA E OS REFORMADORES
⇨ Zwinglio, um dos reformadores da época, demonstrou a ênfase que a igreja
deveria ter na pregação da Palavra, mantendo apenas alguns elementos de culto.
Segundo Zwinglio, a música tinha um poder muito “sedutivo” com isso ele teve a
ideia de bani-la dos cultos.
⇨ Calvino também contrastou com Zwinglio na medida em que acreditava que
a música possuía o poder para inflamar o coração humano com o zelo espiritual
trabalhando para esta finalidade. Ele recrutou músicos para a igreja de Genebra,
colocou-os para trabalharem na produção de novas melodias para acompanharem
os salmos. Calvino restaurou o canto com o acompanhamento da harmonia e
melodia, voltadas para o canto congregacional.
⇨ O canto medieval era utilizado apenas pelo clero, com isso a igreja tinha uma
participação passiva. Os reformadores então, não aceitando essa ideia, reformaram
o canto congregacional no qual a igreja faça o papel ativo. Ele acreditava que o ponto
central da música na igreja era aquilo que se cantava; a música era direcionada à
congregação e deveria ser simples sem requerer treinamento ou habilidade daquele
que iria cantá-la em uníssono na igreja.
⇨ Em 1539, Calvino escreveu um saltério metrificado em francês com o que ele
equipou sua comunidade; 17 salmos metrificados, 5 de sua autoria e os demais de
Clément Marot. Além dos Salmos, Hinos e Cantos Congregacionais, foram inseridos
também como cantos os Dez Mandamentos metrificados; A Oração do Senhor; O
cântico de Simeão; O Credo dos Apóstolos e outros.
⇨ Calvino sempre enfatizou que deveria haver uma conexão entre a letra, a
palavra e a melodia nos cantos litúrgicos, e que os cânticos litúrgicos não deveriam
ser “luminosos e frívolos”, mas “imponentes e majestáticos” tendo uma grande
aversão às “músicas dançantes” que tornava o povo licencioso. Calvino também
sempre enfatizou o fato de voltar a Igreja antiga, especialmente à Igreja primitiva,
para buscar as bases do culto.
⇨ A tradição litúrgica reformada sempre carregou e deve carregar as marcas
fundamentais da sua concepção teológica. A letra dos cânticos e hinos deve buscar
refletir a centralidade da Palavra de Deus, expressa no cuidado com a biblicidade na
composição, e, tendo a soberania de Deus como elemento distinguível da teologia
que os formula. O imperativo de um culto teocêntrico.

VI. O PAPEL DA MÚSICA NO CULTO


⇨ Não vamos à Igreja para "assistir" o culto, quem assiste o culto é Deus, nós
vamos prestar (ou dar) culto, vamos para adorar a Deus. O culto a Deus deve ser
racional e prestado com decência e ordem (Rm 11.33-36; 12.1-2; 1Co 14.40).
⇨ A música deve ser utilizada para auxiliar a Igreja a adorar a Deus usando esta
arte. O objetivo do culto não é criar uma ocasião para o deleite pessoal de quem lá
estiver.
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⇨ A música pode estar presente em todos os momentos litúrgicos do culto a


Deus.
⇨ A música no culto deve ser compatível com a adoração a Deus, não
extravagante, mas edificante para toda a igreja mediante a comunicação da Palavra.
⇨ Devemos tomar cuidado para não criarmos um “culto” dentro do Culto. Isso
acontece quando separamos o Culto dos cânticos.

VII. MÚSICA NÃO É SINÔNIMO DE ADORAÇÃO


⇨ Música não é adoração, mas podemos adorar com música. Louvor e adoração
não está preso a cantar. É uma atitude do crente, seja cantando, orando e vivendo.

VIII. OS INSTRUMENTOS MUSICAIS


⇨ Desde o princípio da história do povo de Deus temos registros de alguns
instrumentos musicais que eram usados pelo povo. Instrumentos feitos de madeira
2Sm 6.5; de bronze 1Co 13.1; de prata Nm 10.2; de chifre Js 6.8; de corda Sl 150;
Instrumentos feitos por Davi Am 6.5; Instrumentos usados no templo 1Cr 16.1-6;
2Cr 5.7-14. Buzinas (Sl 98.6) feita de chifre ou metal retorcido; címbalos, pratos de
metal (2Sm 6.5); pífaro, flautim (Dn 3.5); harpas (Gn 4.21); saltério, cordas (1Sm
10.5); cítara, (Dn 3.5); tamboris, percussão (Gn 31.27); flauta (Mt 11.17); adufes,
pandeiros (Sl 68.25). Veremos também, os mesmos instrumentos sendo usados para
adorar outros deuses (Dn 3.5).
⇨ Não devemos pensar que alguns instrumentos podem ou não serem usados
nos Cultos (2Cr 5.7-14). Deus não está preocupado com os instrumentos, mas, com
os instrumentistas. Deus não consagra coisas, mas, consagra pessoas.

IX. ESCOLHENDO O REPERTÓRIO


⇨ Nem tudo que ouvimos está apto a fazer parte do canto congregacional.
Nossos gostos pessoais não podem interferir. O que define música boa ou apta a
fazer parte do culto não é sua fama ou contemporaneidade.
⇨ Seu ritmo deve ser muito bem analisado para que não influencie atos carnais.
Se houver qualquer possibilidade de a música ser pedra de tropeço para alguém, não
devemos cantá-la.
⇨ A letra deve expressar a sã doutrina cristã de forma plena. Se existe a menor
dúvida quanto à música é melhor que ela não seja integrada.

X. O PAPEL DA EQUIPE DE LOUVOR, REGENTES E A CONGREGAÇÃO

a) Equipe de louvor e regentes congregacionais


⇨ A Equipe deve utilizar os cânticos/hinos com sabedoria, compreendendo que
o papel dela é de auxiliar o canto congregacional. Jamais deve-se pensar que a
Equipe é o centro das atenções.
⇨ A Equipe não é auxiliadora da adoração, isso é papel do Espírito Santo. A
Equipe conduz música.
⇨ Os cânticos/hinos, tonalidades e arranjos devem ser realizados tendo em
consideração a congregação. É necessário que a Equipe seja facilitadora.
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b) Congregação
⇨ A Congregação é a parte principal do canto congregacional. Quem adora é
toda igreja. A comunidade deve expressar em espírito e em verdade cada palavra
cantada.
⇨ Gostos particulares não devem impedir ou atrapalhar a comunhão e unidade
entre os crentes. Não podemos criar cultos de acordo com gostos musicais.
⇨ O modo de adorar/cultuar a Deus não é baseado em nossos conceitos,
formatos ou métodos (Confissão de Fé de Westminster capítulo XXI).
⇨ O Culto deve ser em espírito e em verdade (Jo 4.23,24), com alegria (sl 100.2);
inteligibilidade (1Co 14.23-25; Rm 12.1); reverência e santo temor (Hb 12.28);
decência e ordem (1Co 14.40); santidade (Is 1; Rm 12.1,2); confessionalidade (Hb
13.15); sinceridade e exclusividade (1Sm 7.3); catolicidade (Hb 10.19-25; 1Pe 2.9).

CONCLUSÃO
⇨ A música não deve ser vista como uma vilã ou como estrela em nossas
comunidades cristãs. Ela é uma ferramenta e um elemento do Culto e não “O Culto”.
Não deve ser valorizada demais ou desvalorizada.
⇨ A Equipe e Regentes devem ser sábios e cientes da sua responsabilidade de
condutores. Jamais devem olhar para si como as grandes estrelas do Culto.
⇨ A Congregação deve exercer seu papel de adoradora e utilizar esta arte como
instrumento para glorificar a Deus em espírito e em verdade. Não só a música, mas
todas as partes do Culto devem ser realizadas com alegria e reverência.
⇨ O Culto prestado por uma congregação só será validado se a vida dos
membros é um culto diário. O que se faz fora se valida dentro e não o contrário.

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