Monografia Cintia V. M. Bandeira
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Foi há cinco mil anos que o legendário Imperador Amarelo chamou seu
médico-chefe e ordenou-lhe: – Relate-me tudo sobre a Natureza, o Tao e as
Leis da Acupuntura. – O diálogo que se seguiu a esta ordem foi escrito
mais tarde em vinte e quatro volumes, constituindo o primeiro registro de
que dispomos sobre acupuntura ou seja, nesse específico material, um dos
trabalhos pioneiros em medicina (MANN, 1994, p.17).
O Nei Jing é dividido em duas partes: o Su Wen (Questões Básicas) e o Ling Shu
(Pivô Espiritual), onde estão descritas as bases da acupuntura, indo desde as causas das
doenças e seu diagnóstico, até a profilaxia e tratamento, utilizando-se também da fitoterapia,
da dietética, da massagem Tao Yin e de métodos para nutrir a força vital (Yang Sheng) e de
atingir a longevidade (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
É pertinente salientar que o tratamento através da acupuntura, na antiguidade,
consistia em
a obra mais antiga chinesa que chegou até nós, sendo também a primeira a mencionar os
termos Yin e Yang (SUSSMANN, 1974).
A Dinastia Chou (1122-256 a.C) sucede a Dinastia Shang e é marcada pela
presença de importantes acontecimentos históricos, sendo considerada como a Idade de
Ouro da filosofia chinesa. Ao final desse período é que se destaca a escrita do “Nei Jing”,
obra citada no início deste capítulo. Àquela época se atribui também o “Nan Jing – Clássico
das Dificuldades”, livro que procura explicar e esclarecer o “Clássico do Imperador
Amarelo” (SUSSMAN, 1974).
Uma importante contribuição para o desenvolvimento do uso do método
terapêutico da acupuntura se deu na Dinastia Han (206 a.C.-219 d. C.), através da criação da
unidade de medida individual – o Cun (Tsun)1. Este período marcou-se também pela
expansão do Taoísmo e pelo surgimento de vários tratados clássicos, que retrataram com
coerência a tradição oral. Outro destaque presente nesse trecho histórico se dá pelo fato de
Hua Tuo preconizar fórmulas fitoterápicas anestésicas para uso em cirurgias abdominais.
(DULCETTI JUNIOR, 2001).
Dulcetti Júnior (2001) refere o surgimento da obra “Tratado dos pulsos (Mai
Jing)”, a qual Wan Shu He (210-285) codifica o diagnóstico pelo pulso radial a partir de
características Yin-Yang e classifica os 28 pulsos patológicos.
Relatos apontam ainda que foi na Dinastia Tang (590-906) que viveu Sun Si
miao (590-682), que ampliou a dietética, o uso dos pontos antigos conforme os binômios e
apresentou pela primeira vez os pontos Ashi (DULCETTI JÚNIOR, 2001)
Na Dinastia Song (960-1279) a acupuntura se desenvolve plenamente, quando
há um grande avanço da imprensa na China e a recopilação dos textos da medicina chinesa
(DULCETTI JUNIOR, 2001). É nesse período que surge o famoso Homem de Bronze,
objeto de estudo e aprofundamento da recém-criada Faculdade para ensino do método de
MTC:
Se trata de una estatua de bronce de tamaño natural, hueca, com sus puntos
de acupuntura perforantes. Utilizado para tomar examen a los alumnos, los
puntos se cubrían con papel impermeable o cera y la estatua se llenaba de
agua. Obrigado a punzar el punto que le indicara el maestro, el alumno
tema que hacerlo com tal precisión que el agua debía brotar del mismo una
vez retirada la aguja (SUSSMANN, 1974, p.35).
1
Unidade de medida relativa que permite localizar de pontos de acupuntura. O Cun é variável conforme
o indivíduo e é definida por meio do comprimento dos dedos do paciente ou a distância entre duas
partes determinadas do corpo deste (CORDEIRO, 2001).
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Apesar disso, durante a Dinastia Ching (1644-1911), após uma fase de crescente
desenvolvimento, a acupuntura entra em declínio acentuado, devido ao aumento progressivo
da pressão política e econômica exercida pela industrialização ocidental nos países do
Oriente. Trata-se de um dos períodos mais prósperos da história chinesa, muito progressista
no aspecto cultural, mas com estancamento da MTC à medida que a medicina ocidental
passou a ser incorporada ao cotidiano chinês (DULCETTI JUNIOR, 2001; SUSSMANN,
1974).
Ao final da Dinastia Ching a acupuntura foi excluída do ensino formal, sendo
decretado em 1914, pelo Ministério da Educação chinesa, a proibição do seu ensino e de sua
prática. Entretanto, tal proibição era mais teórica do que real, porque os escassos médicos
formados no ocidente não conseguia atender nem dez por cento da população urbana da
China (SUSSMANN, 1974).
Já na segunda metade do século XX, com a ascensão do governo comunista, a
MTC foi oficialmente reconhecida, tomando novo impulso, devido à influência dos
resultados positivos obtidos na cura de um câncer de Mao Tsé que se submeteu ao
tratamento através da acupuntura (DULCETTI JUNIOR, 2001). Vale destacar que, daquele
momento em diante,
A prática milenar, denominada Zhen Jiu Fa, que quer dizer literalmente “O
Método das Agulhas e da Moxa”, recebeu o nome ocidental de acupuntura, termo que tem
origem do latim, sendo acus = agulha e punctura = picar (DULCETTI JÚNIOR, 2001):
Em 1928, Morant publicou seu primeiro livro que trata a respeito do diagnóstico
chinês pelo pulso e, nos anos 30, co-fundou a primeira Escola e Associação de Acupuntura
no Ocidente, a Sociedade Internacional de Acupuntura.
De fato, Morant atuou como um grande expoente mediador do conhecimento
chinês, contribuindo para a difusão da acupuntura pela a Europa e todo o mundo, mantendo
a essência da medicina tradicional.
No seguimento de expansão da MTC pelas Américas, a acupuntura foi inserida
primeiramente na Argentina, em 1955, tendo como seu precursor e fundador da primeira
escola, o médico José Rebuelto.
Nos Estados Unidos (EUA), Felix Mann e o Dr. Tymowski foram convidados
para uma conferência sobre acupuntura com a finalidade de preparar a equipe de viagem do
presidente Nixon à China, em 1971. Em 1972, quando da visita do presidente Nixon, o
repórter da revista Times que o acompanhava foi operado numa cirurgia de emergência de
apendicite. Durante o pós-operatório foi tratado com um único ponto de acupuntura, o que
despertou a atenção e curiosidade diante do procedimento (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
Por conta desse acontecimento, foi televisionado via satélite da China para os
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EUA uma cirurgia cardíaca sob analgesia pela acupuntura, despertando o interesse dos
médicos norte-americanos no estudo da MTC (DUCETTI JUNIOR, 2001).
No início da década de 50, a acupuntura também se expandia a outros países da
América Latina, chegando ao Brasil, onde se desenvolve até os dias de hoje.
Naquele tempo, pouca distinção era feita entre religião, filosofia, ciência e
medicina, e os clássicos da medicina chinesa eram permeados com ideias
provenientes do Taoísmo, Naturalismo, Confucionismo e outros ramos do
pensamento religioso e filosófico (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P.,
2007, p. 1).
A esta tradição dá-se o nome de taoísmo, que não se qualifica como uma
religião, no sentido mais estrito do termo, mas pode ter cunho filosófico, religioso ou ético.
Seu conceito-chave está contido no Tao:
Marcel Garnet (La Pensée Chinoise) escreveu que o emblema Tao num
primeiro sentido quer dizer “Caminho”; numa visão muito sintética dos
chineses, inteiramente diferente da nossa ideia de causa e bem mais
extensa, evoca o Princípio Único de uma Ordem Universal, categoria
suprema. [...] Para os autores taoístas, o termo Tao possui significado
resultante do complexo de ideias muito próximas, tais como a Ordem, a
Totalidade, Responsabilidade, ou até mesmo, o indefinido, o Incontável e o
Inominado (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 42).
O que une tudo é o Qi. O Qi é a matéria não substancial que está por traz
de tudo o que se manifesta. [...] O Qi permeia todo o Universo. Os
naturalistas e os taoístas consideravam que todos os fenômenos na
Natureza estavam “imersos” no Qi, independente de serem objetos
inanimados ou seres vivos e, mais obviamente, cheios de força vital
(HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 1-2)
2
Vetores ou condutores energéticos por onde a energia Qi é conduzida (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
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Circulação-Sexualidade, que faz relação com o Triplo Reaquecedor. A órgão está também
relacionada uma víscera, formando uma unidade que recebe a influência dos cinco
elementos (SUSSMANN, 1974; CORDEIRO, 2001), como veremos adiante.
Em síntese, a teoria Yin/Yang funciona como base para a classificação do pulso
radial e aplicação das regras de diagnósticos e terapêuticas (DULCETTI JÚNIOR, 2001),
sendo também esquema classificatório da polaridade dos meridianos e de seus trajetos
energéticos (Figura 4). O fluxo de cada meridiano segue
O termo chinês para Cinco Elementos – Wu Xing – foi cunhado entre os anos
350 a 270 a.C por Tsou Yen (Zou Yan). Xing é o termo chinês para Elemento e significa
andar, mover. Por esta forma, a expressão “Cinco Movimentos” ou “Cinco Fases” é também
utilizada (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007).
Os Cinco Elementos são Madeira, Fogo, Terra, Metal e Ar e representam os
atributos fundamentais de toda matéria no Universo, derivadas a partir deles (HICKS, A.;
HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI JUNIOR, 2001). A figura geométrica que os
representa é chamada de pentagrama (Figura 5).
Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 8) – Adaptado pela autora
utilizando o pentagrama (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI JUNIOR,
2001; MANN, 1994).
No ciclo ke, cada Elemento domina aquele que sucede o seu “filho” e pode ser
descrito da seguinte forma (Figura 8):
Figura 8. Ciclo Ke
Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 10) – Adaptado pela autora
Figura 9. Ciclo Wu
FONTE: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 10) – Adaptado pela autora