Monografia Cintia V. M. Bandeira

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1 BREVE HISTÓRICO DA ACUPUNTURA

1.1 Acupuntura na China

As origens da acupuntura se perdem no tempo. Suas raízes remontam a uma era


primitiva, com evidências de que já era praticada pelo povo chinês a mais de 4.500 anos.
Trata-se de um conhecimento disseminado de mestre a discípulo verbalmente, perpassando
gerações e tendo nele contido a essência do pensamento de uma herança até hoje venerada
em sua tradição.
Seu primeiro registro escrito é atribuído ao “Nei Jing – O Clássico do Imperador
Amarelo”, obra considerada como um dos livros fundamentais da Medicina Tradicional
Chinesa (MTC), redigida a partir do diálogo entre Huang Di, o lendário Imperador Amarelo
e seus ministros:

Foi há cinco mil anos que o legendário Imperador Amarelo chamou seu
médico-chefe e ordenou-lhe: – Relate-me tudo sobre a Natureza, o Tao e as
Leis da Acupuntura. – O diálogo que se seguiu a esta ordem foi escrito
mais tarde em vinte e quatro volumes, constituindo o primeiro registro de
que dispomos sobre acupuntura ou seja, nesse específico material, um dos
trabalhos pioneiros em medicina (MANN, 1994, p.17).

O Nei Jing é dividido em duas partes: o Su Wen (Questões Básicas) e o Ling Shu
(Pivô Espiritual), onde estão descritas as bases da acupuntura, indo desde as causas das
doenças e seu diagnóstico, até a profilaxia e tratamento, utilizando-se também da fitoterapia,
da dietética, da massagem Tao Yin e de métodos para nutrir a força vital (Yang Sheng) e de
atingir a longevidade (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
É pertinente salientar que o tratamento através da acupuntura, na antiguidade,
consistia em

[…] espetar lanças ou flechas na superfície do corpo em pontos


estratégicos da pele a fim de afugentar os ’espíritos malignos’. Talvez, os
pontos mais antigos da acupuntura fossem os chamados ‘Treze Pontos do
Demônio’, que, atualmente, servem para tratar patologia neurológicas e
distúrbios psíquicos” (DUCETTI JUNIOR, 2001, p. 20).

O surgimento da acupuntura na história da cultura chinesa passou por várias


dinastias, tendo consideráveis contribuições para o que hoje podemos conhecer como o
pensamento chinês. Como exemplo, podemos citar a Dinastia Shang (1766-1112 a.C.), no
período pré-imperial, quando foi publicado “I Ching – O Livro das Mutações”, considerada
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a obra mais antiga chinesa que chegou até nós, sendo também a primeira a mencionar os
termos Yin e Yang (SUSSMANN, 1974).
A Dinastia Chou (1122-256 a.C) sucede a Dinastia Shang e é marcada pela
presença de importantes acontecimentos históricos, sendo considerada como a Idade de
Ouro da filosofia chinesa. Ao final desse período é que se destaca a escrita do “Nei Jing”,
obra citada no início deste capítulo. Àquela época se atribui também o “Nan Jing – Clássico
das Dificuldades”, livro que procura explicar e esclarecer o “Clássico do Imperador
Amarelo” (SUSSMAN, 1974).
Uma importante contribuição para o desenvolvimento do uso do método
terapêutico da acupuntura se deu na Dinastia Han (206 a.C.-219 d. C.), através da criação da
unidade de medida individual – o Cun (Tsun)1. Este período marcou-se também pela
expansão do Taoísmo e pelo surgimento de vários tratados clássicos, que retrataram com
coerência a tradição oral. Outro destaque presente nesse trecho histórico se dá pelo fato de
Hua Tuo preconizar fórmulas fitoterápicas anestésicas para uso em cirurgias abdominais.
(DULCETTI JUNIOR, 2001).
Dulcetti Júnior (2001) refere o surgimento da obra “Tratado dos pulsos (Mai
Jing)”, a qual Wan Shu He (210-285) codifica o diagnóstico pelo pulso radial a partir de
características Yin-Yang e classifica os 28 pulsos patológicos.
Relatos apontam ainda que foi na Dinastia Tang (590-906) que viveu Sun Si
miao (590-682), que ampliou a dietética, o uso dos pontos antigos conforme os binômios e
apresentou pela primeira vez os pontos Ashi (DULCETTI JÚNIOR, 2001)
Na Dinastia Song (960-1279) a acupuntura se desenvolve plenamente, quando
há um grande avanço da imprensa na China e a recopilação dos textos da medicina chinesa
(DULCETTI JUNIOR, 2001). É nesse período que surge o famoso Homem de Bronze,
objeto de estudo e aprofundamento da recém-criada Faculdade para ensino do método de
MTC:

Se trata de una estatua de bronce de tamaño natural, hueca, com sus puntos
de acupuntura perforantes. Utilizado para tomar examen a los alumnos, los
puntos se cubrían con papel impermeable o cera y la estatua se llenaba de
agua. Obrigado a punzar el punto que le indicara el maestro, el alumno
tema que hacerlo com tal precisión que el agua debía brotar del mismo una
vez retirada la aguja (SUSSMANN, 1974, p.35).

1
Unidade de medida relativa que permite localizar de pontos de acupuntura. O Cun é variável conforme
o indivíduo e é definida por meio do comprimento dos dedos do paciente ou a distância entre duas
partes determinadas do corpo deste (CORDEIRO, 2001).
11

Apesar disso, durante a Dinastia Ching (1644-1911), após uma fase de crescente
desenvolvimento, a acupuntura entra em declínio acentuado, devido ao aumento progressivo
da pressão política e econômica exercida pela industrialização ocidental nos países do
Oriente. Trata-se de um dos períodos mais prósperos da história chinesa, muito progressista
no aspecto cultural, mas com estancamento da MTC à medida que a medicina ocidental
passou a ser incorporada ao cotidiano chinês (DULCETTI JUNIOR, 2001; SUSSMANN,
1974).
Ao final da Dinastia Ching a acupuntura foi excluída do ensino formal, sendo
decretado em 1914, pelo Ministério da Educação chinesa, a proibição do seu ensino e de sua
prática. Entretanto, tal proibição era mais teórica do que real, porque os escassos médicos
formados no ocidente não conseguia atender nem dez por cento da população urbana da
China (SUSSMANN, 1974).
Já na segunda metade do século XX, com a ascensão do governo comunista, a
MTC foi oficialmente reconhecida, tomando novo impulso, devido à influência dos
resultados positivos obtidos na cura de um câncer de Mao Tsé que se submeteu ao
tratamento através da acupuntura (DULCETTI JUNIOR, 2001). Vale destacar que, daquele
momento em diante,

[…] a Medicina Chinesa foi simplificada e sistematizada de maneira a


tornar possível a sua utilização como sistema de medicina de massas, como
se a medicina tradicional chinesa não fosse, outrora, preventiva e o
acupunturista não ganhasse seus honorários se a população estivesse sadia.
Assim, as teorias tradicionais foram reduzidas e ajustadas ao espírito atual
(DULCETTI JÚNIOR, 2001, p.27).

A prática milenar, denominada Zhen Jiu Fa, que quer dizer literalmente “O
Método das Agulhas e da Moxa”, recebeu o nome ocidental de acupuntura, termo que tem
origem do latim, sendo acus = agulha e punctura = picar (DULCETTI JÚNIOR, 2001):

porque os padres jesuítas franceses do século XVII foram em missão


cientifica à China e descobriram a prática de se enfiar finas agulhas em
pontos cutâneos específicos, para o tratamento de diversas doenças e
algias, pois regulam a circulação das energias pelo organismo promovendo
a homeostase (DUCETTI JUNIOR, 2001, p. 20).

Assim, através da missão jesuíta, os franceses receberam os primeiros


ensinamentos chineses. Entretanto, a acupuntura não teve tanta expressividade no Ocidente
ao longo do tempo, mesmo após diversas publicações e experiências acerca dessa ciência.
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1.2 Acupuntura no Ocidente

Somente no século XX, a acupuntura renasce no interesse ocidental, tendo o


francês George Soulié de Morant (1878-1955) como seu grande difusor de ensino e prática
(SUSSMANN, 1974).
Soulié foi enviado como cônsul da França para China. Na época, havia uma
epidemia de cólera asiática em Yunan Fu, a população era tratada com acupuntura e ele
decidiu estudar e aplicar a técnica. Após 20 anos estudando e aplicando acupuntura na China
e, tendo recebido o título de Mestre em Medicina Chinesa, Soulié de Morant voltou à França
(DULCETTI JÚNIOR, 2001).
Por suas contribuições, os acupunturistas do Ocidente reconhecem-no como:

o introdutor do estudo e da prática sistemática da acupuntura no Ocidente.


Foi ele quem traduziu os textos antigos da Medicina Tradicional Chinesa
para o idioma francês. […] Criou a correspondência alfanumérica dos
pontos de acupuntura. Inventou o termo Meridiano para os “condutores da
energia vital” (em chinês Tsing ou Jing). Realizou as primeiras pesquisas
científicas sobre a eletricidade da pele nos pontos de acupuntura, em
coautoria com Dr. Niboyet. Também, inventou o primeiro disparador de
agulhas (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 29).

Em 1928, Morant publicou seu primeiro livro que trata a respeito do diagnóstico
chinês pelo pulso e, nos anos 30, co-fundou a primeira Escola e Associação de Acupuntura
no Ocidente, a Sociedade Internacional de Acupuntura.
De fato, Morant atuou como um grande expoente mediador do conhecimento
chinês, contribuindo para a difusão da acupuntura pela a Europa e todo o mundo, mantendo
a essência da medicina tradicional.
No seguimento de expansão da MTC pelas Américas, a acupuntura foi inserida
primeiramente na Argentina, em 1955, tendo como seu precursor e fundador da primeira
escola, o médico José Rebuelto.
Nos Estados Unidos (EUA), Felix Mann e o Dr. Tymowski foram convidados
para uma conferência sobre acupuntura com a finalidade de preparar a equipe de viagem do
presidente Nixon à China, em 1971. Em 1972, quando da visita do presidente Nixon, o
repórter da revista Times que o acompanhava foi operado numa cirurgia de emergência de
apendicite. Durante o pós-operatório foi tratado com um único ponto de acupuntura, o que
despertou a atenção e curiosidade diante do procedimento (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
Por conta desse acontecimento, foi televisionado via satélite da China para os
13

EUA uma cirurgia cardíaca sob analgesia pela acupuntura, despertando o interesse dos
médicos norte-americanos no estudo da MTC (DUCETTI JUNIOR, 2001).
No início da década de 50, a acupuntura também se expandia a outros países da
América Latina, chegando ao Brasil, onde se desenvolve até os dias de hoje.

1.3 Acupuntura no Brasil

É interessante saber que muito antes da colonização brasileira a população


indígena utilizava técnicas rudimentares semelhantes à acupuntura, através da aplicação de
espinhos no corpo. Mas foi apenas com a chegada de imigrantes chineses no Brasil para
trabalhar nas lavouras de chá no século XIX, que a MTC foi introduzida no país
(DULCETTI, 2001).
Ainda assim, pode-se considerar que:

No Brasil, em que pese o seu uso pelos orientais e seus descendentes,


desde as primeiras imigrações, a Acupuntura só passou a ser devidamente
aplicada por acupunturistas qualificados depois que o Prof. Frederico
Spaeth a trouxe para o Rio de Janeiro e São Paulo em 1950, devendo este
ano ser considerado como o da introdução da verdadeira acupuntura, pois a
partir daí passou a ser estudada e difundida pelo professor e seus
discípulos, atendendo a seus princípios básicos, filosóficos e, podemos até
dizer, científicos, não faltando o estudo dos textos antigos em comparação
com os conceitos médicos modernos para melhor aplicação clínica
(CORDEIRO e CORDEIRO, 2014, p. 14).

Em 1958, foi fundada a Sociedade de Acupuntura e de Medicina Oriental e em


1961, a Associação Brasileira de Acupuntura (ABA), que é a primeira e a mais antiga
instituição de acupuntura do Brasil, cujos pioneiros foram Dr. Ari Cordeiro, Dr. Olivério de
Carvalho e Silva, Dr. Evaldo Leite, Dr. Rui Cordeiro e Dr. Orley Dulcetti Junior.
(DULCETTI JUNIOR, 2001).
Atualmente, o estudo da acupuntura no Brasil tem um campo avançado em
pesquisas acadêmicas, sendo amplamente reconhecida pela comunidade científica e pela
população como uma técnica terapêutica eficaz. Apesar da acupuntura estar largamente
difundida no país, a profissão do acupunturista ainda está em processo de regulamentação.
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2 ESTRUTURA ENERGÉTICA NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Os chineses antigos desconheciam a concepção dualística do Universo, sobre a


qual se ergue toda a estrutura da nossa ciência ocidental:

Naquele tempo, pouca distinção era feita entre religião, filosofia, ciência e
medicina, e os clássicos da medicina chinesa eram permeados com ideias
provenientes do Taoísmo, Naturalismo, Confucionismo e outros ramos do
pensamento religioso e filosófico (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P.,
2007, p. 1).

Dentro da percepção do pensamento chinês face à vida, o homem era parte


integrante do Universo. Naturalmente, a acupuntura torna-se perfeitamente compreensível
para aquele que percebe a existência de um fluxo de energia num ciclo de eterno movimento
(MANN, 1994).
Acreditavam, portanto, na existência de uma realidade subjacente que a tudo
unifica, denominada Tao.

“Yin e Yang estão contidas em Tao, o princípio básico de todo o Universo.


Criaram toda a matéria e as suas transmutações. Tao é o começo e o fim, a
vida e a morte e é encontrado nos Templos dos Deuses. Se se deseja curar a
moléstia, deve-se procurar a sua causa básica.” (Nei Jing apud MANN,
1994, p. 17)

A esta tradição dá-se o nome de taoísmo, que não se qualifica como uma
religião, no sentido mais estrito do termo, mas pode ter cunho filosófico, religioso ou ético.
Seu conceito-chave está contido no Tao:

Marcel Garnet (La Pensée Chinoise) escreveu que o emblema Tao num
primeiro sentido quer dizer “Caminho”; numa visão muito sintética dos
chineses, inteiramente diferente da nossa ideia de causa e bem mais
extensa, evoca o Princípio Único de uma Ordem Universal, categoria
suprema. [...] Para os autores taoístas, o termo Tao possui significado
resultante do complexo de ideias muito próximas, tais como a Ordem, a
Totalidade, Responsabilidade, ou até mesmo, o indefinido, o Incontável e o
Inominado (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 42).

Dentro da visão taoísta, os chineses conceberam o Universo inteiro,


considerando um conjunto de energias primordiais que compõem sua origem, tendo como
base a Energia Vital, o Qi:
15

O que une tudo é o Qi. O Qi é a matéria não substancial que está por traz
de tudo o que se manifesta. [...] O Qi permeia todo o Universo. Os
naturalistas e os taoístas consideravam que todos os fenômenos na
Natureza estavam “imersos” no Qi, independente de serem objetos
inanimados ou seres vivos e, mais obviamente, cheios de força vital
(HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 1-2)

No pensamento chinês, Qi pode tem muitos significados e contextos. Seu


ideograma (Figura 1) é a representação do “vapor” que sai do cozimento do arroz, o que é
comumente traduzido como “sopro” ou “energia” e equivale ao Principio Vital. Ele está
presente em tudo e assume diversos estados e condições, é a fonte de todas as coisas e
fundamenta a Unidade cósmica (DULCETTI JÚNIOR, 2001; HICKS, A.; HICKS, J.;
MOLE P., 2007).
Figura 1. Ideograma Qi

Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 2)

A MTC considera que o Qi promove a manutenção das funções vitais do


Homem. Assim, a energia Qi é única e essencial para a composição do Universo e os
fenômenos ocorrem por conta de seu fluxo e de suas mutações (DULCETTI JUNIOR,
2001).
O estudo das “mudanças e transformações” do Qi levou à percepção de que a
unidade do Tao era polarizada em yin/yang (dualidade) e dividida nos Cinco Elementos
(MANN, 1994).

2.2. O Yin e o Yang

A relação Yin e Yang expressa, essencialmente, o equilíbrio no qual se refere


toda doutrina filosófica chinesa, sendo eles opostos e complementares. Cada uma dessas
manifestações carece da coexistência da outra no Universo, como também da alternância
entre si. Uma vez que, dentro do Yin há o Yang e dentro do Yang existe o Yin, de forma que
nada é totalmente Yin ou totalmente Yang (CORDEIRO, 2009; DULCETTI JÚNIOR, 2001).
Yang é associado à energia ativa e tem qualidades de firmeza, força, luz,
plenitude, atividade, masculinidade, entre outras. O ideograma para Yang (Figura 2a)
significa "lado ensolarado da encosta". Yin está associado à energia que é receptiva e possui
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qualidades de flexibilidade, receptividade, água, chuva, noite, vazio, quietude e


feminilidade, entre outras. O ideograma para Yin (Figura 2b) significa "lado sombrio da
encosta" (CORDEIRO, 2009; DULCETTI JÚNIOR, 2001, SUSSMANN, 1974).
Figura 2. Ideogramas Yang (a) e Yin (b). Os antigos à esquerda e os modernos à direita.

Fonte: (DULCETTI JUNIOR, 2001, p.44)

O Tai Chi (Figura 3) é a representação do movimento cíclico e eterno do Yin/


Yang dentro do Universo, simbolizando as constantes transformações e manifestações do
Tao. O Tai Chi aparece pela primeira vez representado no canônico “I Ching – O Livro das
Mutações”, atribuído ao mítico imperador chinês Fu Xi (DULCETTI JUNIOR, 2001).
Figura 3. TAI CHI

Fonte: (DULCETTI JUNIOR, 2001, p.43)

A energia Qi, polarizada em Yin e Yang, se expressa no Homem na totalidade de


todas suas manifestações vitais, físicas e psíquicas. No organismo, flui através de doze
meridianos2 principais simétricos, sendo cinco órgãos, cinco vísceras e duas funções que se
agregam a estes (SUSSMANN, 1974).
Dos doze meridianos, seis são Yang e seis são Yin. As vísceras são todas Yang,
sendo estas: estômago, intestino delgado, intestino grosso, vesícula biliar e bexiga; o sexto
meridiano Yang é uma função, o Triplo Reaquecedor, que atua nos sistemas
cardiorrespiratório, digestivo e geniturinário. Os órgãos são todos Yin, sendo eles: pulmão,
baço-pâncreas, coração, rim e fígado. O sexto meridiano Yin é a função chamada

2
Vetores ou condutores energéticos por onde a energia Qi é conduzida (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
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Circulação-Sexualidade, que faz relação com o Triplo Reaquecedor. A órgão está também
relacionada uma víscera, formando uma unidade que recebe a influência dos cinco
elementos (SUSSMANN, 1974; CORDEIRO, 2001), como veremos adiante.
Em síntese, a teoria Yin/Yang funciona como base para a classificação do pulso
radial e aplicação das regras de diagnósticos e terapêuticas (DULCETTI JÚNIOR, 2001),
sendo também esquema classificatório da polaridade dos meridianos e de seus trajetos
energéticos (Figura 4). O fluxo de cada meridiano segue

ao longo da localização em que o compõe essencialmente do acúmulo do


Yin ou do Yang. Logo, o meridiano de polaridade Yang apresenta trajeto
fluindo em sentido à região Yang do corpo e o meridiano Yin segue na
região Yin do organismo (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 52).

Figura 4. Topografia energética e os sentidos dos trajetos das energias Yin/Yang

FONTE: (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 52)

A concepção de que toda Natureza é regida pelo Yin/Yang e pelos Cinco


Elementos (Wu Xing) está na cerne do que preconiza a MTC. A noção de ascensão e do
declínio ritmado do Yin/Yang ao longo do ano culminou no engendramento da Teoria dos
Cinco Elementos (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI JÚNIOR, 2001).

2.3. Teoria dos Cinco Elementos

Os Cinco Elementos derivam da transformação da energia Yin/Yang,


perceptíveis pelo ser humano, submetido ao ciclo sazonal das estação. Assim, os chineses
estabeleceram correspondências analógicas, onde:

o inicio do dia, o nascer do sol (leste) e a primavera correspondem ao


inicio das atividades; o meio-dia, o sul e o verão correspondem à máxima
atividade; o final do dia (crepúsculo – oeste) e o outono correspondem ao
18

declínio das atividades; a meia-noite, o escuro (norte) e o inverno


correspondem ao período de repouso; e no centro fixo, o observador na
Terra, corresponde à interestação (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p. 55)

O termo chinês para Cinco Elementos – Wu Xing – foi cunhado entre os anos
350 a 270 a.C por Tsou Yen (Zou Yan). Xing é o termo chinês para Elemento e significa
andar, mover. Por esta forma, a expressão “Cinco Movimentos” ou “Cinco Fases” é também
utilizada (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007).
Os Cinco Elementos são Madeira, Fogo, Terra, Metal e Ar e representam os
atributos fundamentais de toda matéria no Universo, derivadas a partir deles (HICKS, A.;
HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI JUNIOR, 2001). A figura geométrica que os
representa é chamada de pentagrama (Figura 5).

Figura 5. Pentagrama com os Cinco Elementos

Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 5)


O Elemento Madeira simboliza o começo do ciclo natural e está associado a um
energia expansiva. O Elemento Fogo é o auge do ciclo. O Elemento Terra representa uma
pausa, quando a energia está em processo de transformação. O Elemento Metal é o
crepúsculo do ciclo. O Elemento Água representa o momento em que a energia está no seu
mínimo, preparando para o início de um novo ciclo (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
Os Cinco Elementos servem como modelo para compreender a sucessão das
estações do ano e sua relação com o ser humano. Em analogia, na estação da primavera,
crescem os vegetais; no verão, desenvolvem-se plenamente a vida e as atividades humanas;
no outono, há o declínio das atividades humanas; no inverno, a energia tende ao repousa,
pausa das atividades e armazenamento. Há, ainda, a interestação, aqui, correlacionada ao
Elemento Terra, de onde provém as quatros polarizações estacionais. Logo, equivalem a
19

Primavera ao Elemento Madeira, o Verão ao Elemento Fogo, o Outono ao Elemento Metal e


o Inverno ao Elemento Água (DULCETTI JÚNIOR, 2001).
A cada órgão, víscera e função considerada pela MTC é atribuído um Elemento.
Fígado e Vesícula Biliar são Madeira; Coração, Intestino Delgado, Triplo Reaquecedor e
Circulação-Sexualidade são Fogo; Baço e Estômago são Terra; Pulmão e Intestino Grosso
são Metal; Rim e Bexiga são Água.
Assim, a Teoria dos Cinco Elementos ocupa um lugar importante na medicina
chinesa, porque todos os fenômenos dos tecidos e órgãos, da fisiologia e da patologia do
corpo humano estão classificados e são interpretados pelas ressonâncias desses elementos
(Figura 6). Essa teoria é usada como guia na prática terapêutica (MANN, 1994; HICKS, A.;
HICKS, J.; MOLE P., 2007).

Figura 6. Tabela de correspondência dos cinco elementos

Fonte: (DULCETTI JÚNIOR, 2001, p.66)

Os Cinco Elementos se interacionam originando dois importantes movimentos


cíclicos: a geração e a dominância. Assim como Yin e Yang, os Cinco Elementos que
compõe o pentagrama estabelecem um ciclo de interdependência num movimento de
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geração – ciclo sheng –, onde apresenta equilíbrio energético (harmonia); ou num


movimento de dominância – ciclo ke –, quando manifestar desequilíbrio energético
(desarmonia) (MANN, 1994; HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI
JUNIOR, 2001).
No ciclo sheng cada Elemento é produzido pelo Elemento anterior e, ao mesmo
tempo, gera o seguinte, podendo ser descrito da seguinte forma (Figura 7):

A “Madeira” será queimada para criar o “Fogo” que, ao terminar de arder,


deixará atrás de si as cinzas, a “Terra”; desta, virão os “Metais” que, se
aquecidos, serão fundidos, serão como “Água” que, por sua vez, é
necessária ao crescimento das plantas e, portanto, da “Madeira”. Este é o
ciclo de geração (MANN, 1994, p. 120).

Figura 7. Ciclo Sheng

Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 8) – Adaptado pela autora

Dentro do ciclo de geração, se estabelece uma relação mãe e filho entre os


Elementos. Dessa forma, se o “filho” estiver em insuficiente, pode ser que não esteja
recebendo Qi adequadamente da sua “mãe”. Neste caso, trata-se o Elemento “mãe”, com
fins de harmonizar o “filho”. Entretanto, se o Elemento “filho” estiver em excesso, este pode
prejudicar o Elemento “mãe”. Logo, deve-se equilibrar o Elemento “filho”. Esta é uma das
regras utilizadas na MTC para fins terapêuticos, onde se realiza o reequilíbrio energético
21

utilizando o pentagrama (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007; DULCETTI JUNIOR,
2001; MANN, 1994).
No ciclo ke, cada Elemento domina aquele que sucede o seu “filho” e pode ser
descrito da seguinte forma (Figura 8):

“Madeira” destrói “Terra”, isto é, as raízes das plantas podem partir as


rochas e perfurar o solo. “Terra” destrói “Água”, isto é, um jarro de barro
(terra) impede a água de seguir a sua lei natural, ou seja, fluir, correr.
“Água” destrói “Fogo”, isto é, a água lançada sobre um fogo o fará
extinguir-se; o “Fogo” destrói o “Metal”, ou seja, leva-o à fusão. “Metal”
destrói “Madeira”, ou seja, porque pode cortá-la (MANN, 1994, p. 120)

Figura 8. Ciclo Ke

Fonte: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 10) – Adaptado pela autora

O Ciclo de Dominação – também conhecido como regra “avô-neto”, pela forma


em que se manifesta – propõe como princípio de tratamento harmonizar o ciclo atuando no
“avô” para harmonizar o “neto”, constituindo, assim, o restabelecendo o equilíbrio
energético no pentagrama (DULCETTI JUNIOR, 2001).
Pode ocorrer, ainda, o ciclo de contra-dominância (wu), que é considerado
patológico e acontece quando a ação do dominado é predominante ao elemento dominante,
ou seja, o “neto” passa a contra-dominar o “avô”: a Madeira contra-domina o Metal; Metal
contra-domina Fogo; Fogo contra-domina Água; Água contra-domina Terra e Terra contra-
domina Madeira (DULCETTI JUNIOR, 2001).
O ciclo wu acontece conforme ilustra a Figura 9:
22

Figura 9. Ciclo Wu

FONTE: (HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE P., 2007, p. 10) – Adaptado pela autora

A compreensão da Teoria dos Cinco Elementos permite interpretar as


relações de controle e dominância entre órgãos e vísceras, entre o Homem e a Natureza,
indicar o diagnóstico energético, sendo de fundamental importância no uso terapêutico
(DULCETTI JÚNIOR, 2001).
23

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