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ESCRITA CIENTÍFICA

DA FOLHA EM BRANCO
AO TEXTO FINAL

LUIS ADRIANO OLIVEIRA

Edição apoiada por:

Lidel – edições técnicas, lda.


www.lidel.pt
Índice

Índice de exemplos ............................................................................................................................................... IX
Índice de figuras .................................................................................................................................................... XI
Índice de tabelas .................................................................................................................................................... XII
Autor ............................................................................................................................................................................ XIII
Agradecimentos ..................................................................................................................................................... XV
Prefácio ....................................................................................................................................................................... XVII
Nota prévia ............................................................................................................................................................... XIX
Siglas e acrónimos ................................................................................................................................................ XXI

1 INTRODUÇÃO  ................................................................................................................................................... 1

PARTE I – INVESTIGAÇÃO E ESCRITA CIENTÍFICA ................................................................................. 5

2 A VIA CIENTÍFICA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ...................................................... 7


2.1 Investigação e conhecimento científico ................................................................................................. 7
2.2 Processo de investigação ..................................................................................................................... 8
2.2.1 Seleção do âmbito temático .................................................................................................... 9
2.2.2 Revisão bibliográfica ................................................................................................................... 9
2.2.3 Seleção da questão central ...................................................................................................... 9
2.2.4 Fundamentação teórica. Elaboração de uma hipótese de trabalho ........................ 10
2.2.5 Metodologia e método(s) ......................................................................................................... 10
2.2.6 Obtenção de resultados ............................................................................................................ 10
2.2.7 Discussão dos resultados .......................................................................................................... 11
2.2.8 Elaboração de conclusões ........................................................................................................ 12
2.3 “Memória de elefante”? ........................................................................................................................ 15
2.4 Resultados favoráveis e resultados desfavoráveis ...................................................................... 16
2.5 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 19

3 COMUNICAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ....................................................................... 21


3.1 Processo de comunicação ................................................................................................................... 22
3.2 Agentes do processo de comunicação ........................................................................................... 22
3.3 Interposição de ruído ............................................................................................................................ 24
3.4 Contexto do processo de comunicação ......................................................................................... 27
3.5 Outros fatores condicionantes ........................................................................................................... 28
3.6 Exemplos de incomunicação .............................................................................................................. 28
3.7 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 31

4 ESTRATÉGIA DE ESCRITA CIENTÍFICA ................................................................................................... 33


4.1 Escrever porquê ....................................................................................................................................... 34
4.1.1 Disseminar o conhecimento científico ................................................................................. 34
4.1.2 Reconhecer a investigação realizada .................................................................................... 35
4.1.3 Avaliar o mérito da investigação realizada ......................................................................... 35
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4.1.4 Fundamentar, interiorizar e sedimentar o conhecimento ............................................ 35


4.1.5 Preservar o património científico ........................................................................................... 36
4.2 Escrever o quê, onde .............................................................................................................................. 36
4.2.1 Dissertação de mestrado .......................................................................................................... 37
4.2.2 Tese de doutoramento ............................................................................................................... 37
VI
Escrita Científica

4.2.3 Artigo publicado em revista .................................................................................................... 37


4.2.4 Publicação ou poster (painel) a apresentar em congresso ........................................... 38
4.2.5 Projeto de investigação contratual ....................................................................................... 38
4.2.6 Relatório de projeto  ................................................................................................................... 39
4.2.7 Artigo de divulgação científica ............................................................................................... 39
4.2.8 Livro ou capítulo de livro ........................................................................................................... 39
4.3 Escrever para quem, para quê ............................................................................................................ 39
4.3.1 Dissertação de mestrado e tese de doutoramento ........................................................ 40
4.3.2 Artigo publicado em revista .................................................................................................... 40
4.3.3 Comunicação ou poster a apresentar em congresso ..................................................... 40
4.3.4 Projeto de investigação contratual e relatório ................................................................. 41
4.3.5 Artigo de divulgação científica ............................................................................................... 41
4.3.6 Livro ou capítulo de livro ........................................................................................................... 41
4.4 Escrita científica: breve perspetiva histórica .................................................................................. 42
4.4.1 Períodos determinantes da História ..................................................................................... 43
4.4.2 História da comunicação: fases marcantes ........................................................................ 44
4.4.2.1 Era dos símbolos e dos sinais ....................................................................................... 45
4.4.2.2 Era da fala ............................................................................................................................. 45
4.4.2.3 Era da escrita  ...................................................................................................................... 45
4.4.2.4 Era da imprensa ................................................................................................................. 46
4.4.2.5 Era da comunicação de massa ..................................................................................... 47
4.5 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 48

5 ESTRUTURA TÍPICA DE TEXTOS CIENTÍFICOS ................................................................................. 49


5.1 Dissertação de mestrado e tese de doutoramento ................................................................... 49
5.1.1 Título ................................................................................................................................................. 50
5.1.2 Identificação do autor, do(s) supervisor(es), do júri, da instituição e da data........... 50
5.1.3 Resumo ............................................................................................................................................ 51
5.1.4 Palavras­‑chave ............................................................................................................................... 51
5.1.5 Capítulo “Introdução” ................................................................................................................. 52
5.1.6 Capítulo “Metodologia e método(s)” ................................................................................... 53
5.1.7 Capítulo “Resultados e discussão” ......................................................................................... 54
5.1.8 Capítulo “Conclusões” ................................................................................................................ 54
5.1.9 Referências bibliográficas ......................................................................................................... 55
5.1.10 Outros itens  ................................................................................................................................... 55
5.1.10.1 Índice  ..................................................................................................................................... 55
5.1.10.2 Apêndice(s) ou anexo(s) ................................................................................................. 56
5.1.10.3 Notas de rodapé e/ou notas finais ............................................................................. 56
5.1.10.4 Lista de símbolos ............................................................................................................... 56
5.1.10.5 Índice de figuras e/ou índice de tabelas .................................................................. 57
5.1.10.6 Lista de siglas e de acrónimos ...................................................................................... 57
5.1.10.7 Índice remissivo .................................................................................................................. 57
5.1.10.8 Agradecimentos ................................................................................................................. 58
5.1.10.9 Dedicatória  ......................................................................................................................... 58
5.1.10.10 Glossário  .............................................................................................................................. 58
5.2 Projeto de tese ......................................................................................................................................... 59
5.3 Artigo a publicar em revista e comunicação/poster a apresentar em congresso .......... 61
5.4 Projeto de investigação contratual ................................................................................................... 62
5.5 Relatório de projeto ............................................................................................................................... 64
5.6 Artigo de divulgação científica .......................................................................................................... 64
5.7 Livro ou capítulo de livro ...................................................................................................................... 68
5.8 Documento de suporte a comunicação oral ................................................................................ 68
5.9 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 70
Índice VII

PARTE II – Mãos à obra: da folha em branco ao texto final .......................................................... 71

6 PRIMEIROS PASSOS DA REDAÇÃO ........................................................................................................ 73


6.1 Fase de escrita: preparado para começar? .................................................................................... 73
6.2 Superando o impasse da folha em branco ................................................................................... 75
6.3 E o texto surge, de forma natural! .................................................................................................... 79
6.4 As expectativas dos seus leitores. Como corresponder­‑lhes? ............................................... 79
6.5 O primeiro esboço de texto ................................................................................................................ 80
6.5.1 Tópicos adicionais a considerar .............................................................................................. 81
6.6 O seu equilíbrio pessoal ....................................................................................................................... 83
6.7 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 85

7 ELABORANDO SOBRE O PRIMEIRO ESBOÇO. DO CONTEÚDO À FORMA .......................... 87


7.1 Fatores que promovem a comunicação escrita ........................................................................... 88
7.1.1 Atribuir prioridade absoluta aos seus leitores .................................................................. 88
7.1.1.1 Respeito pelo tempo e pelo interesse dos seus leitores .................................... 88
7.1.1.2 Respeito pelo perfil dos seus leitores ........................................................................ 89
7.1.2 Fazer prova de utilidade ............................................................................................................ 90
7.1.3 Assegurar a reprodutibilidade do seu trabalho ............................................................... 91
7.1.4 Garantir a existência de um fio condutor ........................................................................... 91
7.1.5 Assegurar coerência formal ..................................................................................................... 94
7.1.6 Prender a atenção dos seus leitores ..................................................................................... 95
7.1.6.1 Reduza cada frase ao essencial .................................................................................... 95
7.1.6.2 Transmita uma ideia principal por frase ................................................................... 96
7.1.6.3 Evite exceder seis a sete linhas por parágrafo ....................................................... 96
7.1.6.4 Procure usar os verbos na voz ativa ........................................................................... 96
7.1.6.5 Aproxime o seu texto da oralidade ............................................................................ 97
7.1.6.6 Evite redundâncias ............................................................................................................ 97
7.1.6.7 Leia o seu texto em voz alta  ........................................................................................ 97
7.1.6.8 Suscite e antecipe questões .......................................................................................... 98
7.2 Fatores que dificultam a comunicação escrita ............................................................................. 98
7.3 Ordem de leitura versus ordem de escrita .................................................................................... 100
7.4 Palavras­‑chave globais e locais .......................................................................................................... 101
7.5 Expressões matemáticas, figuras e gráficos, tabelas ................................................................. 102
7.5.1 Expressões matemáticas ............................................................................................................ 102
7.5.2 Figuras e gráficos ......................................................................................................................... 106
7.5.2.1 Gráfico de linhas  ............................................................................................................... 109
7.5.2.2 Gráfico de colunas ............................................................................................................ 110
7.5.2.3 Gráfico circular  .................................................................................................................. 111
7.5.3 Tabelas .............................................................................................................................................. 112
7.6 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 114

8 ESCREVER E CITAR COM ÉTICA. O PAPEL DO ERRO NA ESCRITA CIENTÍFICA ................. 115


8.1 A dimensão ética do seu texto .......................................................................................................... 116
8.1.1 Uma armadilha chamada plágio ............................................................................................ 116
8.1.2 Resumir, parafrasear, citar ......................................................................................................... 119
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8.1.2.1 Citação direta  ..................................................................................................................... 119


8.1.2.2 Citação de citação ............................................................................................................. 120
8.1.2.3 Resumo .................................................................................................................................. 121
8.1.2.4 Paráfrase  .............................................................................................................................. 121
8.2 Formatação da lista de referências bibliográficas ...................................................................... 122
8.2.1 Formato APA .................................................................................................................................. 123
VIII
Escrita Científica

8.2.1.1 Citações em texto .............................................................................................................. 123


8.2.1.2 Lista de referências bibliográficas ............................................................................... 124
8.2.2 Sistema numérico de citação ..................................................................................................... 132
8.3 Gestores bibliográficos ......................................................................................................................... 133
8.4 Evidência de prova: a ética dos dados ............................................................................................ 133
8.5 O erro em escrita científica .................................................................................................................. 140
8.6 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 144

9 TRABALHO DE REVISÃO, RUMO AO TEXTO FINAL ........................................................................ 145


9.1 “Pontapés na gramática” ...................................................................................................................... 145
9.2 Revisão final ............................................................................................................................................... 153
9.2.1 Verificações a fazer: checklist ................................................................................................... 153
9.2.1.1 Cuide a apresentação visual .......................................................................................... 153
9.2.1.2 Use e abuse do corretor ortográfico ......................................................................... 154
9.2.1.3 Verifique a coerência das numerações ..................................................................... 154
9.2.1.4 Verifique a correspondência entre citações em texto e lista de referências ....... 155
9.2.1.5 Evite a mistura de línguas .............................................................................................. 155
9.2.1.6 Revisite o seu bloco de notas ....................................................................................... 155
9.2.1.7 Elimine abreviaturas ......................................................................................................... 155
9.2.1.8 Convide uma pessoa amiga a ler o seu texto ........................................................ 156
9.2.1.9 Assegure o acordo final do seu supervisor ............................................................. 156
9.2.1.10 Procure e elimine títulos em fim de página  ........................................................... 157
9.2.2 Elaboração de uma errata ......................................................................................................... 157
9.3 Outro tipo de textos ............................................................................................................................... 158
9.3.1 Artigo científico em revista ...................................................................................................... 159
9.3.1.1 Seleção da revista .............................................................................................................. 160
9.3.1.2 Open access .......................................................................................................................... 161
9.3.1.3 Seleção do idioma ............................................................................................................ 161
9.3.1.4 Instruções para autores ................................................................................................... 161
9.3.1.5 Agradecimento versus coautoria ................................................................................. 162
9.3.1.6 Carta de envio do manuscrito ...................................................................................... 162
9.3.1.7 Submissão de versão revista ......................................................................................... 163
9.3.2 Suporte escrito de comunicação oral .................................................................................. 165
9.3.2.1 Apresente a estrutura global da comunicação ...................................................... 167
9.3.2.2 Restrinja­‑se aos tópicos essenciais ............................................................................. 167
9.3.2.3 Controle o número total de slides e numere­‑os ................................................... 168
9.3.2.4 Privilegie a componente visual .................................................................................... 168
9.3.2.5 Aposte na sobriedade ..................................................................................................... 169
9.3.2.6 Evite ler  ................................................................................................................................. 170
9.3.2.7 No mesmo slide, apresente tópicos de forma progressiva  .............................. 170
9.3.2.8 Teste tudo, antes de apresentar  ................................................................................. 170
9.3.2.9 No final da apresentação, encoraje a formulação de questões ...................... 171
9.4 Nota conclusiva ........................................................................................................................................ 172

10 CONCLUSÃO  ................................................................................................................................................... 173

Referências bibliográficas ................................................................................................................................. 175


Apêndice A – Exercícios práticos de escrita ............................................................................................. 179
Apêndice B – Conclusão do exemplo 9.1.1 (erros de português em 50 ilustrações) ......... 195
Apêndice C – Exemplos de cover letter, para submissão de manuscritos ................................ 203
Índice remissivo ..................................................................................................................................................... 205
Autor

Luis Adriano Oliveira


Professor Catedrático da Universidade de Coimbra (UC), onde tem assegurado a
orientação científica de diversos trabalhos de mestrado e de doutoramento. Diplo‑
ma de “Docteur Ingénieur”, pela universidade francesa de Poitiers (1981), e Douto‑
ramento (1986) e Agregação (1998), pela UC. Pelo grupo LIDEL, é autor dos livros
Dissertação e Tese em Ciência e Tecnologia – Segundo Bolonha (3.ª ed.) e Ética em
Investigação Científica. Na qualidade de Professor Catedrático Convidado da UC
(desde a sua aposentação, em 2014), tem-se dedicado às áreas de Metodologia de
Investigação, Ética na Investigação e Escrita Científica. Neste âmbito, vem proferin‑
do palestras, organizando workshops e dirigindo unidades curriculares, a convite de
diversas instituições de ensino superior, universitário e politécnico, em Engenharia,
Matemática, Física, Medicina, Economia, Agronomia, Nutricionismo, Bioética. O livro
agora publicado reflete a experiência partilhada ao longo de toda esta recente ati‑
vidade.
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Agradecimentos

A determinação de abraçar a temática da escrita científica não me acorreu por mero


acaso ou por capricho pessoal. Surgiu, antes, enquanto corolário natural de toda
uma vivência de longos anos, em estreito contacto com alunos universitários de
diversos níveis curriculares. Fui, assim, interiorizando a convicção de que este traba‑
lho tem potencial para ser, de facto, útil. A eles o devo, para eles o fiz.
A sugestão de convidar um prestigiado professor de medicina para prefaciar este
trabalho teve por base o empenho em que o livro abranja áreas temáticas não
circunscritas ao domínio da engenharia, como medicina, economia, arquitetura, mate‑
mática, física, química, geologia. O Doutor Carlos Manuel da Silva Robalo Cordeiro,
Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
(FMUC), aceitou, prontamente, o convite que lhe dirigi. Gesto que muito me honra e
me inspira, também, afetuoso sentimento de gratidão.
À semelhança de exercícios de escrita anteriores, colegas, amigos, família foram pre‑
sença e incentivo constante. Para além da devida homenagem abrangente, permito­
‑me destacar alguns exemplos, que assumiram dimensão particular.
Desde o minuto zero, a presente publicação foi objeto de inúmeras interações entre
a Sandra e a minha condição de autor. Partilhou comigo muito do que sabe, e sabe
muito! Obrigado, Sandra!
É legítimo esperar, de cada livro envolvendo texto, que seja, no mínimo, linguistica‑
mente irrepreensível. No caso particular de um livro cuja temática é a própria escri‑
ta, tal requisito assume particular relevância. Qualquer erro que ocorra no presente
trabalho é da minha inteira e exclusiva responsabilidade. Pesa­‑me, ainda, a carga
acrescida de ter podido contar com a disponibilidade amiga da Ana Cristina Macário
Lopes. Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
(FLUC), nunca regateou, para as minhas frequentes dúvidas, o seu esclarecimento de
linguista incontornável. Seja fator atenuante a minha sincera gratidão!
O formato que adotei para uniformizar as ilustrações do livro foi objeto de sucessivas
iterações preliminares. Nesse esforço reiterado, pude contar com a cumplicidade e a
reflexão da minha irmã Bi, sempre pronta e empenhada em partilhar os seus dotes
de excelente desenhadora.
Pela proximidade amiga e pelo empenho positivo, ao longo de todo o projeto, dirijo,
com gosto, particular e afetuoso reconhecimento ao José Costa e ao António Morais.
Esta publicação conta com patrocínio concedido pela Ordem dos Engenheiros (OE),
que agradeço e muito me honra.
Uma última palavra de apreço é devida à Editora, simplesmente – sempre, a isso me
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habituou! – inexcedível.
Prefácio

Numa pesquisa não sistemática na PubMed sobre “writing a scientific paper” obtive‑
ram-se 1766 resultados, muitos dos quais artigos de elevada qualidade. Então, para
que precisamos nós de outro documento sobre escrita científica? Porque este foi
dado à pena por Luis Adriano Oliveira!
Pareceu-me, aliás, impossível recusar tão amável e honroso convite para escrever o
prefácio deste livro, por diversos motivos, desde logo, pela enorme admiração pelo
Autor, enquanto pedagogo, como cientista e como pessoa, também pelo gosto em
contribuir, na folha em branco, para uma nova “peça do seu já longo reportório” e,
finalmente, pelo tema da obra, que percorre uma área vital da nossa atividade aca‑
démica.
De facto, como médico e professor de medicina, há muito que me habituei a conviver
com a “ditadura da bibliometria”, parecendo, por vezes, que a vida se resume ao índice
h… Assim seja.
Publicar investigação científica pode ser importante por variadas razões, ou porque se
concorre a um financiamento, ou para melhoria do Curriculum Vitae e/ou obtenção
de uma melhor condição profissional ou tão simplesmente pela satisfação pessoal,
eventualmente matizada com dose suficiente de egocentrismo.
Contudo, organizar e produzir uma boa publicação não é tarefa fácil, não apenas para
investigadores em início de carreira, mas também para autores mais experientes.
Esta obra, Escrita Científica: da folha em branco ao texto final, oferece-nos, de forma
expressiva, o rigor, a elegância e a irreverência, características fundamentais na cons‑
trução da melhor e mais atual produção científica. E como toda a ciência se destina a
ser aplicada, só uma eficaz comunicação, para mais exercitada com um indispensável
humor, permite percorrer com sucesso essa translação.
Poderá este “guia de boas práticas para dissertações, teses e publicações de investi‑
gação” ser entendido como guideline, como statement ou apenas como documento
orientador; entenda-o o leitor na medida em que lhe possa ser mais útil, pois essa
é verdadeiramente a intenção matricial do manuscrito. Para mim, foi e será sempre
percebido como um estímulo intelectual, exercício obrigatório para quem pretenda
produzir boa ciência.

Carlos Robalo Cordeiro


Professor Catedrático
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
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Nota prévia

Caro(a) leitor(a)1,
A investigação científica é um desafio fascinante, que não conhece fronteiras, idades,
raças ou credos. Vem sendo desenvolvida pela inteligência humana, desde que tomou
consciência de si própria e do mundo em que se movimenta. Tem base de atuação
bem definida, que assenta no chamado método científico, e persegue um objetivo
concreto: fazer avançar o conhecimento, de forma tão sólida e fiável quanto possível.
O livro que agora lhe proponho completa uma trilogia, inteiramente dedicada ao
processo de investigação científica. Embora seja, aqui, central a investigação desen‑
volvida em ciências ditas da natureza e da matemática, grande parte dos conteú‑
dos versados é, também, válida para investigação praticada em ciências humanas e
sociais, com particular destaque para o domínio da economia.
A primeira obra da trilogia, intitulada Dissertação e tese em ciência e tecnologia
(Oliveira, 2012), é, essencialmente, dedicada a quem se inicia no mundo da investiga‑
ção, não raro tendo em vista a realização de uma dissertação de mestrado ou de uma
tese de doutoramento. O livro adota uma perspetiva abrangente, abordando, de forma
sintética, cada uma das fases de trabalho conducentes à obtenção do diploma visado.
O segundo volume da trilogia tem por título Ética em investigação científica (Oliveira,
2013). Esta obra desenvolve a forma como, na prática quotidiana, a comunidade
científica recorre ao conceito de ética – e aos valores que lhe são inerentes – para
lidar com a problemática do erro, inevitavelmente presente nas diversas vertentes da
construção do conhecimento científico.
O presente livro, intitulado Escrita científica: da folha em branco ao texto final, encer‑
ra a referida trilogia, ao centrar o seu conteúdo no relato escrito da investigação
desenvolvida. Temática relevante, já que a qualidade do conhecimento produzido
não é avaliada pela forma como decorreu a investigação (apenas o investigador está
presente, nessa fase), mas, antes, pela forma como ela é relatada. Assim (repito­‑o à
exaustão, ao longo do livro), um excelente trabalho pode ser simplesmente “arrasa‑
do” por um mau relato.
Os livros que compõem esta trilogia comungam, entre si, como tema dominante,
o enriquecimento partilhado do conhecimento científico. Natural, pois, que ocorram
interseções, porém, sempre abordadas a partir de perspetivas distintas.
Escrita científica é, antes de tudo, escrita. Ainda assim, procurei resistir à tentação
de transformar o livro num manual exaustivo – logo, “interminável”! – sobre como
elaborar textos científicos, tirando o melhor partido do software de apoio atual‑
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mente disponível, incluindo o recurso à Internet. Muito menos pretendi elaborar um

Respeitando o chamado masculino genérico, adotado na prática da língua portuguesa, passarei a designar
1

investigador(a) por investigador, leitor(a) por leitor, etc. Sem esta simplificação – algo redutora, reconheça­‑se –,
o texto resultaria demasiadamente extenso e pesado.
XX
Escrita Científica

prontuário ortográfico, ou uma gramática da língua portuguesa ou, ainda, um


manual detalhado sobre diferentes formatações de texto e de referências biblio‑
gráficas. Todas essas vertentes foram já contempladas por outros autores (alguns
citados no corpo do texto), de forma bem mais competente do que eu saberia fazer.
Pelo contrário, o que lhe proponho é, simplesmente, assisti­‑lo, percorrendo, consigo,
o caminho que separa a primeira folha em branco do que virá a ser o seu texto final.
Termino esta breve nota pessoal com duas citações: (i) – “O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.”
(Pessoa, 1932); e (ii) “Não há realidade que valha uma boa ficção.” (autor desco‑
nhecido).
Belíssimas, concordará! Entretanto, ambas representam a antítese da essência de um
texto científico.
Em contraste com a literatura de natureza poética e/ou ficcional, a escrita científica é
pautada por conceitos como rigor objetivo, clareza transparente, linearidade tempo‑
ral, fiabilidade, reprodutibilidade. Trata­‑se de relatar a construção do conhecimento
científico, aventura universal que segue a denominada via científica, a que faço alu‑
são na sequência do texto.
A literatura científica brinda­‑nos, também, com a sua própria beleza. Assim esteja‑
mos nós despertos para a valorizar, com proveito e fruição!
Na linha caricatural da citação (ii), poderíamos contrapor: “Não há ficção que valha
o rigor de um bom texto científico”. Espero que aceite o contributo da minha expe‑
riência pessoal, ao elaborar o seu.
Neste sentido, convido­‑o a participar num “jogo”: na parte I do livro, trata­‑se de
conhecer as regras do jogo; e, na parte II, jogamos a sério.
As regras do jogo não são de agora: existem há muito, e são reconhecidas universal‑
mente. Não resultando da minha lavra, não posso ser acusado de parcialidade! Acresce
que este jogo tem uma componente original, que o distingue dos jogos convencio‑
nais: reservo­‑a como “surpresa”, a revelar na conclusão do livro2 (capítulo 10).

Aceita o desafio?

“Não vale” ir já ler o capítulo 10: anularia o efeito de surpresa! J


2
Capítulo 1

INTRODUÇÃO

Desde as últimas décadas do Século XX, o conceito de investigador(a)3 tem vindo


a registar um profundo processo de democratização. Com efeito, nos tempos mais
recentes, o conhecimento científico evolui, já não tanto através de saltos qualitativos
de dimensão verdadeiramente revolucionária – que a Humanidade ficou a dever a
génios como Leonardo da Vinci, René Descartes ou, mais recentemente, Albert Eins-
tein –, mas, antes, com base em avanços menos vertiginosos, que poderemos enqua-
drar em dois tipos: (i) inovação disruptiva (responsável, ainda assim, por grandes
progressos do conhecimento); e (ii) inovação incremental (inúmeros avanços de
menor envergadura, mas de forte interligação e complementaridade). Neste con-
texto, a descoberta da molécula de ADN4 pode ser vista como exemplo de inovação
disruptiva, enquanto um trabalho de doutoramento – ou mesmo de mestrado –
constitui, na maioria dos casos, excelente ilustração de inovação incremental.
No momento atual, a evolução tecnológica surpreende e deslumbra quotidianamen-
te, ao tornar novos horizontes cada vez mais acessíveis. Por seu turno, a comunica-
ção, virtualmente gratuita – por um lado, de cientistas entre si; por outro lado, entre
cientistas e a sociedade que procuram servir – deixou de conhecer fronteiras, espa-
ciais ou temporais. Neste contexto, qualquer pessoa “normal” (no sentido de não ser
necessariamente genial) pode, facilmente, reunir condições para realizar importante
contributo de inovação incremental ou, mesmo, disruptiva, capaz de, em muito, valo-
rizar o conhecimento científico.
Esta democratização do estatuto de investigador tem­‑se traduzido, na prática, em
aumento exponencial do número de elementos que atualmente integram a comuni-
dade científica. Tão grande crescimento não é isento de consequências.
Infelizmente, o financiamento disponível para suportar a prática de investigação
não tem logrado acompanhar tão forte ritmo de subida do número de cientistas.
© Lidel – Edições Técnicas

3
Recordo nota de rodapé, feita no início da "Nota prévia" do presente volume. Respeitando o chamado mascu-
lino genérico, adotado na prática da língua portuguesa, passarei a designar investigador(a) por investigador,
leitor(a) por leitor, etc. Sem esta simplificação – algo redutora, reconheça­‑se –, o texto resultaria demasiada-
mente extenso e pesado.
4
ADN é o acrónimo de Ácido DesoxirriboNucleico. Trata­‑se de uma molécula biológica, presente em todas
as células vivas, que contém toda a nossa informação genética. Permite, nomeadamente, a identificação
inequívoca de qualquer indivíduo.
2
Escrita Científica

Daí resulta acentuada competição entre elementos da comunidade científica. Neste


contexto, apenas “sobrevivem” aqueles que conseguem ter os seus artigos publica-
dos em revistas com reconhecido impacto junto do público. Na terminologia inglesa,
tal cenário é designado por publish or perish (publicar ou perecer). A expressão ingle-
sa foi inicialmente introduzida na referência Harzing (2007).
Se é certo que um bom nível de redação e de apresentação de um trabalho não
cauciona, necessariamente, a qualidade do seu conteúdo, não é menos verdade que
uma má forma pode, simplesmente, “arrasar” um excelente conteúdo!
No caso concreto da investigação científica, a garantia de sucesso – e, portanto, de
elevado impacto, face à comunidade científica e à sociedade – resulta da conjugação
de dois fatores cruciais: (i) mérito do trabalho realizado; e (ii) qualidade da forma
como esse trabalho é relatado.
O presente livro focaliza, essencialmente, o tópico (ii), referido no parágrafo anterior,
ou seja, a escrita científica. Trata­‑se de um género literário de estrutura, estilo e lin-
guagem específicos, bem distintos dos que encontramos, nomeadamente, na prosa
romanesca ou na escrita poética. Com efeito, a escrita científica tem por objetivo
último disseminar, de forma objetiva, clara e rigorosa, as conclusões a que conduz o
processo de investigação.
Refletindo o meu próprio percurso profissional, investigação científica é, aqui, pre-
ferencialmente centrada em ciências da natureza e matemática (por exemplo, física,
química, engenharia ou, mesmo, medicina). Entretanto, grande parte do que aqui se
escreve é, também, aplicável às áreas do conhecimento que designamos por ciências
humanas e ciências sociais, com particular destaque para o domínio da economia.
Em tom dialogal e usando linguagem simples, mas rigorosa, o livro dirige­‑se, em
primeira instância, a quem se empenha em relatar trabalho científico, procurando
conferir­‑lhe o maior grau de impacto possível.
Estudantes de mestrado ou de doutoramento, mas também autores de artigos cien-
tíficos – a publicar em revistas especializadas, a apresentar em reuniões científicas ou
mesmo a divulgar nos meios de comunicação social –, são, assim, público privilegia-
do desta obra. Não obstante, a produção de relatórios ou a de trabalhos curriculares
de âmbito científico (como, por exemplo, a simples revisão bibliográfica sobre um
tema concreto) são, igualmente, âmbitos temáticos contemplados no texto.
Para além do universo académico (ensino superior, universitário ou politécnico),
o livro estende­‑se ao mundo empresarial, em particular às empresas industriais apos-
tadas na diferenciação inovadora. Com efeito, a comunicação escrita, intraempresas
e interempresas, é reconhecidamente determinante em ambiente negocial e tam-
bém no exercício da atividade quotidiana. Por seu turno, a candidatura a projetos de
investigação contratual – não raro envolvendo partenariado com centros de investi-
gação, públicos ou privados – constitui um exercício de escrita científica cuja garantia
de qualidade é condição necessária à sua aceitação e ao subsequente financiamento.
Fruto de crescente grau de especialização, dentro do próprio tecido empresarial,
empresas há que dedicam, em exclusivo, um dos seus departamentos à tarefa
de redigir textos científicos: o departamento de escrita científica tem por função
Introdução 3

relatar a atividade de investigação levada a cabo por outros departamentos, dentro


da mesma empresa. Libertados da tarefa de escrita, estes concentram a sua atividade
em conceber, investigar, desenvolver e/ou licenciar novos produtos, com vista à sua
posterior colocação no mercado. Os elementos do departamento de escrita científi-
ca poderão usar o presente texto, como importante mais­‑valia para o desempenho
da sua atividade profissional.
Em resumo, o livro procura ser útil: a académicos (doutorandos, mestrandos, alu-
nos de pré­‑graduação); a autores de artigos que relatam investigação científica;
também a profissionais do tecido empresarial, empenhados em partilhar conteú-
dos de natureza científica; ou, ainda, a autores de textos de divulgação científi-
ca, destinados ao grande público, não necessariamente especializado ou, sequer,
conhecedor.
O corpo do texto encontra­‑se estruturado em dois blocos fundamentais, comple-
mentares entre si, designados parte I e parte II.
A parte I inclui os princípios básicos subjacentes à escrita científica. Trata­‑se, no
fundo, de definir as “regras do jogo”, aqui proposto na “Nota prévia” do presente
volume. Quatro capítulos integram a parte I.
O capítulo 2, primeiro desse bloco, caracteriza o processo de investigação, enquan-
to estratégia de construção e enriquecimento do conhecimento científico.
De nada serviria o conhecimento científico, se não fosse partilhado, no seio da comu-
nidade científica, por um lado, e entre esta e a sociedade, em geral, por outro. A par-
tilha do conhecimento científico é, antes de mais, um processo de comunicação,
que envolve agentes próprios, atuando em contextos específicos. A comunicação é
o tema central do capítulo 3.
A par de outras vias, nomeadamente através da oralidade, a escrita científica é uma
forma privilegiada de implementar a comunicação do conhecimento científico. Para
ser eficaz, o processo de escrita pressupõe caracterização prévia do universo de lei-
tores a quem se destina, bem como do uso que esse público fará da correspondente
leitura. O capítulo 4 ocupa­‑se desta “análise de mercado”, para além de estabelecer
breve enquadramento histórico sobre a evolução da escrita científica, desde os pri-
meiros registos conhecidos.
A concluir a parte I, o capítulo 5 caracteriza a estrutura dos tipos de texto mais
correntemente usados na prática quotidiana da esfera científica. A descrição toma,
como estrutura de referência comparativa, a do documento académico conducente
à obtenção de um diploma de pós­‑graduação, mestrado ou doutoramento.
A parte II do volume é dedicada ao exercício prático da escrita científica. Trata­‑se de,
à luz do que constitui a substância da parte I, implementar estratégias de escrita que
permitam produzir um documento real. Percorre­‑se, assim, o caminho que conduz,
© Lidel – Edições Técnicas

desde a primeira folha em branco, até ao texto final, pronto a ser tornado público.
Retomando o “jogo” proposto na “Nota prévia” deste volume, a parte II consiste em
“jogar”, de facto, conhecidas que são as “regras do jogo”, expostas na parte I.
Dito de outro modo, na parte II dedicamo­‑nos, diretamente, à elaboração do seu
próprio texto. Escrevo, de forma explícita, “dedicamo­‑nos” (usando a primeira pessoa
4
Escrita Científica

do plural), porque, caro leitor, sem o seu empenhado contributo, a segunda parte do
livro não teria qualquer utilidade prática!
À semelhança da parte I, a parte II é constituída por quatro capítulos.
No capítulo 6, primeiro da parte II, vamos encarar, sem rodeios, o que, muitas vezes,
se designa por síndrome da folha em branco. E, naturalmente, adotaremos estra-
tégias bem definidas para superar essa inibição inicial. Daí resultará o seu primeiro
esboço de texto.
Tomando como ponto de partida o primeiro esboço de texto, procuraremos, no
capítulo 7, tirar partido dos fatores que promovem o poder de comunicação da sua
escrita, bem como evitar os efeitos nocivos de fatores suscetíveis de o dificultar ou,
mesmo, inibir. De modo progressivo, cuidaremos a forma como é relatado o con-
teúdo inerente ao esboço de partida. Ou seja, o conteúdo começará a ganhar forma.
A dimensão ética do seu texto, temática decisiva e incontornável, é o tema central
do capítulo 8. Esta vertente determina e condiciona inúmeras outras, nomeada-
mente a forma como faz citações de trabalhos terceiros e apresenta os seus próprios
resultados.
Por último, o trabalho detalhado de revisão final e a verificação de que nada de
relevante foi esquecido, subestimado ou deixado ao acaso são matéria central ao
capítulo 9, que tem por objetivo conduzi­‑lo à versão definitiva do seu texto.
A parte II termina com um balanço final, conclusivo, formulado no capítulo 10.
Ao longo de todo o volume, vão sendo inseridos diversos exemplos práticos, geral-
mente inspirados em situações reais da vivência quotidiana: trata­‑se de ilustra-
ções que se destinam a clarificar conceitos e a formular sugestões, recomendações,
advertências ou simples observações, diretamente relacionadas com o contexto a
que se aplicam.
Com a mesma finalidade, são também incluídas, no corpo do texto, várias figuras
ilustrativas. Muitas delas de natureza caricatural, recorrem, frequentemente, ao
humor possível, dentro da abordagem séria que o tema do livro exige.
Em suma, usando a escrita científica enquanto tema central, encaro este livro como
oportunidade privilegiada para partilhar, com o leitor, a experiência de investigação
e docência que fui acumulando ao longo da minha vivência profissional.
22
Escrita Científica

3.1 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO


Comunicar consiste, no essencial, em transmitir uma mensagem (oral, escrita, visual,
sonora, olfativa, táctil, ou de outra natureza). Mensagem é, pois, a informação a
transmitir.

Figura 3.1.1 O processo de comunicação.


(1): emissor; (2): canal de propagação; (3): recetor.

Na esquematização da figura 3.1.1, ilustra­‑se um processo de comunicação. A efetiva


transmissão da mensagem envolve um conjunto de componentes ativas, normal-
mente designadas por agentes do processo de comunicação. O sucesso da comu-
nicação pode, entretanto, ser reforçado, prejudicado ou, até, inibido, por uma vasta
gama de fatores externos.

3.2 AGENTES DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO


A fim de melhor entender a essência do processo de comunicação, dele procurando
retirar o maior benefício, em termos práticos, vários modelos de comunicação têm
sido propostos ao longo das últimas décadas.
Aquele que é, geralmente, considerado como “o pai de todos os modelos” foi inicial-
mente formulado, em 1948, pelo matemático e engenheiro eletrotécnico americano
Claude Shannon (1916­‑2001). Destinava­‑se, à partida, a ser usado no âmbito das
telecomunicações, com o duplo objetivo de maximizar a capacidade de comuni-
cação e de minimizar possíveis interferências. Em ciências da natureza, o modelo
de comunicação de Shannon é também conhecido como teoria da informação
(Shannon, 1948).
Mais tarde, em colaboração com Shannon, o matemático americano Warren Weaver
(1894­‑1978) generalizou o âmbito de aplicação do modelo de Shannon a todo o
tipo de comunicações, incluindo, portanto, as áreas temáticas de ciências huma-
nas e sociais. O  resultado dessa abrangência ficou consagrado como modelo de
Shannon­‑Weaver (Shannon & Weaver, 1963).
Estrutura típica de textos científicos 55

O trabalho mencionado no exemplo 5.1.8 satisfaz os requisitos necessários.

Exemplo 5.1.8 Capítulo “Conclusões”: exemplo ilustrativo

T
 ambém aqui, recorro à referência Fernandes (2017), direcionando o leitor para o
respetivo capítulo 6.

5.1.9 Referências bibliográficas


Esta secção fornece a informação necessária para que seja inteiramente identificada,
localizada na literatura bibliográfica existente e diretamente consultada qualquer das
fontes publicadas a que é feita referência ao longo do texto da dissertação/tese. For-
matos comuns de apresentação da lista de referências são objeto da parte II deste
livro (cf. secção 8.2).
As referências bibliográficas mencionadas no exemplo 5.1.9 satisfazem os requisitos
necessários.

Exemplo 5.1.9 Capítulo “Referências bibliográficas”: exemplos ilustrativos

A
 secção 8.2 contém diversos exemplos de referências bibliográficas, enquadráveis
em diferentes tipologias de publicação. Todas as referências aí apresentadas seguem
o formato da American Psychological Association (APA)21, introduzido nessa mesma
secção.

5.1.10 Outros itens


Para além do chamado corpo do texto (conjunto dos capítulos e referências biblio-
gráficas), do título, do resumo e das palavras­‑chave, outros itens integram – ou
podem integrar – dissertações e/ou teses.

5.1.10.1 Índice
Obrigatório. Indica, pela ordem em que surgem no volume, os títulos de todos os
capítulos, secções e subsecções, com indicação das respetivas páginas de início. Per-
mite rápida visão de conjunto de todo o texto e fácil localização de qualquer das
suas partes. Pode incluir a indicação de outros itens, como resumo, dedicatória, agra-
decimentos, etc. Proponho­‑lhe, a título ilustrativo, o exemplo 5.1.10.

Exemplo 5.1.10 Índice: exemplo ilustrativo


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E
 mbora não se trate de uma tese, o índice localizado no início deste livro poderá ser
encarado como exemplo ilustrativo, no presente contexto.

Em português: Associação Americana de Psicologia.


21
58
Escrita Científica

Exemplo 5.1.16 Índice remissivo: exemplo ilustrativo

O
 índice remissivo, localizado no final deste livro, poderá ser encarado como exemplo
ilustrativo, no presente contexto.

5.1.10.8 Agradecimentos
Facultativo. Manifestação de reconhecimento a pessoas e/ou instituições, caso
tenham contribuído para o sucesso do trabalho, apoiando­‑o de forma direta, ou
participando no correspondente financiamento. Proponho­‑lhe, a título ilustrativo, o
exemplo 5.1.17.

Exemplo 5.1.17 Agradecimento: dois exemplos ilustrativos

Agradecimento institucional:
“Este trabalho foi enquadrado na Iniciativa Energia para a Sustentabilidade, da Uni-
versidade de Coimbra, e apoiado pelo projeto Energy and Mobility for Sustainable
Regions – EMSURE (CENTRO­‑07­‑0224­‑FEDER­‑002004).”
Agradecimento pessoal:
A secção “Agradecimentos”, localizada no início deste livro, poderá ser encarada
como exemplo ilustrativo, no presente contexto.

5.1.10.9 Dedicatória
Facultativa. É, também, uma manifestação de reconhecimento a alguém, não tanto
pelo contributo direto para a realização do trabalho, mas, sobretudo, pelo que repre-
senta de intimamente importante para o autor. Não raro, a dedicatória é usada como
testemunho de afeto (que convém, naturalmente, exprimir de forma sóbria).
A dedicatória tem cariz essencialmente pessoal. O  exemplo 5.1.18 menciona uma,
entre tantas outras possíveis.

Exemplo 5.1.18 Dedicatória: exemplo ilustrativo

R
 eproduzo aqui, a título ilustrativo, a dedicatória deste livro. Enderecei­‑a ao meu
supervisor de tese de doutoramento, que partiu já, precocemente!
“Ao António Oliveira Restivo, Professor, Amigo, pelo vazio que ficou”

5.1.10.10 Glossário
Facultativo. Por ordem alfabética, e com formato análogo ao da tabela 5.1.1, expõe
o significado de palavras ou expressões pouco comuns (por exemplo, “entropia” ou
“velocidade terminal”), que possam ter sido usadas no corpo do texto. Proponho­‑lhe,
a título ilustrativo, o exemplo 5.1.19.
Estrutura típica de textos científicos 65

Exemplo 5.6.1 Análise da estrutura de um artigo de divulgação científica

Título27:
“Pequeno grupo de células do embrião de uma planta opera de maneira semelhante
ao cérebro humano”
[Título original (cf. University of Birmingham, 2017): “Small group of cells within a
plant embryo operate in similar way to the human brain.”]
Caixa – Resumo:
“Um estudo original revelou um grupo de células que funciona como ‘cérebro’ para
embriões de plantas, capaz de avaliar as condições ambientais e de decidir quando
devem as sementes germinar.”
Introdução:
“A decisão de uma planta sobre quando deve germinar é uma das mais importantes
que virá a tomar durante a sua vida. Se for demasiado cedo, a planta será danificada
pelas severas condições do inverno; se for demasiado tarde, a sobrevivência da planta
pode ser ultrapassada pela de outras mais precoces.”
Resultados:
“Num estudo publicado hoje, em Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS), cientistas da Universidade de Birmingham demonstraram que este compromis-
so, entre celeridade e precisão, é controlado por um pequeno grupo de células, locali-
zado no interior do embrião, que opera de modo semelhante ao do cérebro humano.
Os cientistas mostraram que o ‘centro de decisão’ de uma planta, denominada Arabi‑
dopsis, ou Tremeira, contém dois tipos de células: (i) um, que promove a dormência da
semente; (ii) e um outro, que promove germinação. Estes dois grupos de células comu-
nicam, entre si, através de hormonas móveis, um mecanismo análogo ao que é usado
pelos nossos cérebros, quando decidimos se devemos, ou não, mover­‑nos.”
Metodologia e métodos:
“Os cientistas usaram modelação matemática para mostrar que a comunicação, entre
elementos separados, controla a sensibilidade da planta ao meio ambiente. Seguindo
esta teoria, utilizaram uma planta mutante, cujas células apresentavam maior ligação
química – incrementando, assim, a comunicação entre elementos do circuito – para
demonstrar que o momento da germinação depende destes sinais internos.”
Autores e afiliação. Discussão:
“O autor que liderou o estudo, Professor George Bassel, da Escola de Biociências da
Universidade de Birmingham, referiu: ‘O nosso trabalho revela uma separação crucial
entre os componentes, no interior do centro de decisão de uma planta.
No cérebro humano, esta separação é suposta introduzir um lapso de tempo, atenuan-
do o ruído dos sinais provenientes do meio envolvente, e aumentando, assim, a preci-
são com que nós tomamos decisões. A separação destas partes no cérebro da semente
aparenta, também, ser central à forma como ele funciona.’
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Tradução do autor.
27
Primeiros passos da redação 75

6.2 SUPERANDO O IMPASSE DA FOLHA EM BRANCO


Tem toda a razão: uma folha em branco é, de facto, algo intimidante! Sou o primei-
ro a reconhecê­‑lo, até por experiência própria: desde logo, ao iniciar a escrita da
minha tese e, mais tarde, a de vários outros documentos, incluindo aquele que, neste
momento, tem entre mãos!
Não somos únicos! A “síndrome da folha em branco”32 não é um conceito abstrato,
inventado por um grupo de psicólogos delirantes, para sobre eles atrair a atenção
dos media. Trata­‑se, pelo contrário, de um fenómeno bem real, que afeta o quotidia-
no de muitos autores em início de escrita, sobretudo quando essa escrita constitui
uma obrigação, com prazo definido. Atinge todos os âmbitos da produção literária,
desde a área científica, até às ciências humanas e sociais, passando pela criação artís-
tica em obras de teatro, poesia ou música.
Prova da dimensão da ansiedade inerente à síndrome da folha em branco é a forma
como vem dinamizando o mercado de ansiolíticos e antidepressivos na indústria
farmacêutica! Para o seu caso, porém, gostaria de lhe propor uma alternativa, isenta
de efeitos secundários.
O seu processo de investigação (cf. secção 2.2) está já bem avançado ou quase con-
cluído e a primeira folha da tese permanece em branco, símbolo de uma tarefa
teimosamente adiada.
Porém, se a folha em branco se destinasse a nela registar a lista de compras para a
próxima ida ao supermercado, a dimensão “atemorizadora” desapareceria por com-
pleto! Porquê? Simplesmente, porque, nesse caso, não se trataria de redigir um texto,
mas, apenas, de anotar uma sucessão de itens (café, pão, fiambre, ovos, fruta, legu-
mes, etc.). Mais, talvez até a lista estivesse, já, parcialmente elaborada, contendo itens
sucessivamente inseridos, à medida que a correspondente falta se ia fazendo sentir.
Pois bem, acontece que o leitor dispõe, já, de uma preciosa lista de itens. Entre
outros, o conjunto de tópicos, que anotou, ao elaborar: (i) a sua caracterização do
estado da arte; (ii) a descrição dos métodos a que recorreu para obter os seus resul-
tados; e (iii) os próprios resultados e a correspondente interpretação.
Em resumo, a sua lista de itens é formada por todas as notas soltas, que foi toman-
do e registando no bloco de notas (cf. secção 2.3), ao longo das diferentes fases
do seu processo de investigação. Chegou a altura de dar o devido valor a esse
conjunto de registos, já que vai, agora, tirar inestimável partido do tempo e do
esforço que foi investindo, ao coligir, cuidadosa e meticulosamente, cada uma des-
sas anotações.
A minha viva sugestão é que comece a redação por esses itens, ordenando­‑os e
distribuindo­‑os por “gavetas mentais”, que identificará, atribuindo­‑lhes “nomes” ou
“etiquetas”. O  trabalho de etiquetagem conduzirá, necessariamente, ao primeiro
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esboço do que virá a ser a estrutura de títulos e subtítulos de capítulos, secções e


subsecções da sua tese.

Writer’s block, em língua inglesa.


32
124
Escrita Científica

• Se a publicação envolver dois autores, a citação contém, por ordem: apelido do
autor 1 & apelido do autor 2 e ano de publicação;
• Se a publicação envolver três ou mais autores, a citação contém, por ordem,
apelido do primeiro autor et al.57 e ano de publicação;
• Caso se trate de uma citação direta, ao apelido e ao ano segue­‑se a indicação
dos números das páginas citadas;
• Se a citação envolver duas ou mais publicações, estas são inseridas por ordem
alfabética crescente de apelidos e separadas por ponto e vírgula, sendo que
a citação global envolve um único nível de parênteses curvos. Em alternativa,
dependendo da localização da citação no parágrafo de texto, as publicações
podem ser separadas por vírgulas, como se ilustra no exemplo 8.2.1;
• Na eventualidade de citar, no mesmo parágrafo, duas ou mais vezes a mesma
publicação, apenas a primeira citação faz referência à data do trabalho.

Exemplo 8.2.1 Ilustrações de citação em texto

Citações em início ou meio de parágrafo:



(a) De acordo com Pereira & Poupa (2016), …
(b) … Por outro lado, Oliveira et al. (2014) concluíram que…
(c) Os trabalhos de Morin (2017), Oliveira et al. (2014) e Pereira & Poupa (2016) são
exemplos de…
Citações em final de parágrafo:
(d) … (Morin, 2017, p. 15).
(e) … (Pereira & Poupa, 2016).
(f) … (Oliveira et al., 2014).
(g) … (Morin, 2017; Oliveira et al., 2014; Pereira & Poupa, 2016).
Citação de dois artigos, do mesmo autor, publicados no mesmo ano (caso fictício):
(h) A questão foi levantada por Dreyfus (2016a) e, mais tarde, parcialmente esclare-
cida pelo mesmo autor, na publicação Dreyfus (2016b).
Citações no mesmo parágrafo, referentes à mesma publicação:
(i) Segundo Morin (2017), cada explicação suscita nova dúvida. Ainda assim, Morin
não deixa de reconhecer que…

8.2.1.2 Lista de referências bibliográficas


É encabeçada por esse mesmo título, “Lista de referências bibliográficas”, com forma-
to igual ao título de um capítulo, ao qual não é atribuída numeração no índice geral
(como se fosse um capítulo sem número). Trata­‑se de uma lista, que constitui a última
parte do corpo do texto. As entradas dessa lista são apresentadas por ordem alfabética
crescente do apelido do primeiro autor (ou do nome da instituição, se for o caso).

A expressão latina “et al.” (abreviatura de et alii) significa, em português, e outros.


57
Escrever e citar com ética. O papel do erro na escrita científica 127

Tipologia II: capítulo de livro


Os elementos são inseridos pela seguinte ordem (a inclusão de itálico deve ser res-
peitada):

Apelido, Inicial do nome próprio do autor do capítulo. (ano de publicação). Título do


capítulo. In Inicial do nome próprio do editor. Apelido do editor (Ed.), Título do livro:
Subtítulo do livro (pp. xx­‑yy). Local de publicação: Instituição/Editora.

A título ilustrativo, sugiro­‑lhe o exemplo 8.2.3.

Exemplo 8.2.3 Ilustração de referência bibliográfica para capítulo de livro

 liveira, L. A. (2018). Publication ethics. In R. Costa & P. Pittia (Eds.), Food ethics in food
O
studies education: Integrating food science and engineering knowledge into the food
chain (pp. 167­‑195). New York: Springer International Publishing AG.

Tipologia III: artigo publicado em revista científica


Os elementos são inseridos pela seguinte ordem (a inclusão de itálico deve ser res-
peitada):

Apelido, Inicial do nome próprio. (ano de publicação). Título do artigo. Nome da


revista, volume (número): página inicial­‑página final. doi: xxxxx.

Notas:
• O volume do artigo não é precedido da abreviatura “Vol.”; a indicação das
páginas não é precedida da abreviatura “pp.”;
• O número (a seguir ao volume) apenas é indicado se os números que com-
põem o volume começarem todos na página 1. Caso a paginação do número
que contém o artigo seja contínua com a do número anterior do mesmo volu-
me, então, apenas se indica o volume (e, naturalmente, as páginas inicial e final
do artigo);
• Tal como na tipologia livro, o título do artigo apenas utiliza maiúscula na pri-
meira letra da primeira palavra e, se for o caso, em nomes próprios;
• Caso o artigo tenha mais de sete autores, listar os primeiros seis (cf. caixa ante-
rior), seguidos de reticências e do último autor: Autor, A., Autor, B., Autor, C.,
Autor, D., Autor, E., Autor, F., … Autor, G.;
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• A inclusão de referência ao DOI (doi: xxxx), para artigos de revistas científicas,


apenas passou a ser preconizada a partir da sexta edição do manual da APA
(APA, 2010).
A título ilustrativo, sugiro­‑lhe o exemplo 8.2.4.
146
Escrita Científica

ao cidadão comum: jornalistas, políticos, ou, mesmo, cientistas, entre outros, são
(somos!) disso triste exemplo.
Tais falhas linguísticas geram consequências que se estendem por vasta gama de
perigosidade, afetando profissões, empresas, instituições, pessoas.
Repito: um excelente conteúdo pode ser seriamente prejudicado, adulterado, ridicu-
larizado ou, simplesmente, “arrasado”, se a correspondente partilha for feita através
de deficiente expressão, escrita ou oral.

(a) (b)

Figura 9.1.1 A falta de uma vírgula que faz, de si, um verdadeiro canibal.
(a): “Vou comer, amigos!”; (b): “Vou comer amigos!”.

A caricatura da figura 9.1.1 ilustra a forma como uma simples ausência de vírgula
(“Vou comer amigos!”, em lugar de “Vou comer, amigos!”) pode adulterar o seu dis-
curso, fazendo, de si, um verdadeiro canibal!
Não me proponho, aqui, apresentar um prontuário ortográfico ou uma gramática
da língua portuguesa. Não teria sequer, confesso, preparação para tal. Felizmente,
a nossa literatura inclui excelente bibliografia dedicada a essa temática: a título de
exemplo, entre tantas outras, recomendo­‑lhe, para consulta, as referências Cunha &
Cintra (1984), Bergström & Reis (2011) e Raposo et al. (2013).
Não obstante, gostaria de exprimir um testemunho pessoal. Ao longo de vários
anos de carreira universitária, fui chamado a participar em inúmeros júris de pós­
‑graduação, dentro e fora de fronteiras. Tive, nessa tarefa, o privilégio de avaliar
trabalhos de altíssimo nível.
Em paralelo, porém, fui igualmente confrontado com documentos escritos, cuja
redação descuidada em muito desvalorizou o conteúdo – tantas vezes, excelente! –
que pretendiam relatar. Quase sempre por um motivo recorrente: a tentação de fazer
mais e mais, durante a fase de investigação, subestimando o tempo necessário para
elaborar um texto com a qualidade exigível. Ingénua imprudência (cf. secção 6.6)!
Foi esta, admito, a principal motivação para escrever o presente livro: fazer dele um
contributo no sentido de que a sua tese escrita aconteça e esteja à altura do trabalho
por si produzido.
A valorização do seu relatório de tese passa por evitar a ocorrência de erros que pos-
sam colocar em causa o carácter eticamente irrepreensível do trabalho final. É esse o
objeto das secções 8.4 e 8.5.
Trabalho de revisão, rumo ao texto final 147

Neste momento, proponho­‑lhe uma chamada de atenção para a enorme perda de


credibilidade que pode resultar de um outro tipo de erros: os erros de linguagem
(no caso vertente, erros de português).
Sem ter a pretensão de ser exaustivo, utilizarei vários exemplos concretos, para ilus-
trar alguns dos erros que se me afiguram mais importantes e/ou de ocorrência mais
frequente. O objetivo do exemplo 9.1.1 é que os evite, a todo o custo.

Exemplo 9.1.1 Erros de português em 50 ilustrações

N
 ota prévia: A ordem adotada nos exemplos de erro que refiro seguidamente não
obedece a qualquer critério. Muito menos pretendo hierarquizá­‑los por ordem cres-
cente ou decrescente de gravidade. Em meu entender, todos são, simplesmente,
importantes.
A fim de não tornar esta ilustração demasiado extensa, apenas incluo, aqui, 20 dos
50 erros anunciados em título. Os restantes 30 figuram no apêndice B.
1 – Usar “de encontro a” por “ao encontro de”
Forma errada: “Concordo consigo. O meu argumento vai de encontro ao seu.”
Forma correta: “Concordo consigo. O meu argumento vai ao encontro do seu.”
Comentário: “Ir ao encontro de” significa ir no mesmo sentido, para encontrar (de
braços abertos…); “ir de encontro a” significa choque, colisão (de olhos fechados e
punhos cerrados…), antagonismo.
2 – Usar “sobre” por “sob”
Forma errada: “Desde que se tornou eticamente suspeito, este autor tem estado
sobre apertado escrutínio.”
Forma correta: “Desde que se tornou eticamente suspeito, este autor tem estado sob
apertado escrutínio.”
Comentário: Quem domina é quem está por cima, sobre. O  autor está sujeito ao
escrutínio, em posição de dominado, em situação inferior, sob.
3 – Usar “houveram” por “houve”, ou “haverão” por “haverá”
Forma errada: “Com origem neste diferendo, houveram vários casos de conflito arma-
do. Sem diálogo urgente, haverão muitos mais.”
Forma correta: “Com origem neste diferendo, houve vários casos de conflito armado.
Sem diálogo urgente, haverá muitos mais.”
Comentário: O  verbo “haver” pode ser usado significando “ter” ou “existir”. Neste
segundo caso, apenas se conjuga na terceira pessoa do singular. Já quando significa
“ter”, pode ser conjugado na terceira pessoa do plural: é correto dizer “Se houvessem
ficado em casa, nada de grave teria acontecido.”.
4 – Usar “descriminar” por “discriminar”
Forma errada: “As instruções a respeitar são em número de cinco, a seguir descrimi-
nadas.”
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Forma correta: “As instruções a respeitar são em número de cinco, a seguir discrimi-
nadas.”

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