978 989 752 340 3 - Issuu Escrita Científica
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DA FOLHA EM BRANCO
AO TEXTO FINAL
Índice de exemplos ............................................................................................................................................... IX
Índice de figuras .................................................................................................................................................... XI
Índice de tabelas .................................................................................................................................................... XII
Autor ............................................................................................................................................................................ XIII
Agradecimentos ..................................................................................................................................................... XV
Prefácio ....................................................................................................................................................................... XVII
Nota prévia ............................................................................................................................................................... XIX
Siglas e acrónimos ................................................................................................................................................ XXI
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 1
habituou! – inexcedível.
Prefácio
Numa pesquisa não sistemática na PubMed sobre “writing a scientific paper” obtive‑
ram-se 1766 resultados, muitos dos quais artigos de elevada qualidade. Então, para
que precisamos nós de outro documento sobre escrita científica? Porque este foi
dado à pena por Luis Adriano Oliveira!
Pareceu-me, aliás, impossível recusar tão amável e honroso convite para escrever o
prefácio deste livro, por diversos motivos, desde logo, pela enorme admiração pelo
Autor, enquanto pedagogo, como cientista e como pessoa, também pelo gosto em
contribuir, na folha em branco, para uma nova “peça do seu já longo reportório” e,
finalmente, pelo tema da obra, que percorre uma área vital da nossa atividade aca‑
démica.
De facto, como médico e professor de medicina, há muito que me habituei a conviver
com a “ditadura da bibliometria”, parecendo, por vezes, que a vida se resume ao índice
h… Assim seja.
Publicar investigação científica pode ser importante por variadas razões, ou porque se
concorre a um financiamento, ou para melhoria do Curriculum Vitae e/ou obtenção
de uma melhor condição profissional ou tão simplesmente pela satisfação pessoal,
eventualmente matizada com dose suficiente de egocentrismo.
Contudo, organizar e produzir uma boa publicação não é tarefa fácil, não apenas para
investigadores em início de carreira, mas também para autores mais experientes.
Esta obra, Escrita Científica: da folha em branco ao texto final, oferece-nos, de forma
expressiva, o rigor, a elegância e a irreverência, características fundamentais na cons‑
trução da melhor e mais atual produção científica. E como toda a ciência se destina a
ser aplicada, só uma eficaz comunicação, para mais exercitada com um indispensável
humor, permite percorrer com sucesso essa translação.
Poderá este “guia de boas práticas para dissertações, teses e publicações de investi‑
gação” ser entendido como guideline, como statement ou apenas como documento
orientador; entenda-o o leitor na medida em que lhe possa ser mais útil, pois essa
é verdadeiramente a intenção matricial do manuscrito. Para mim, foi e será sempre
percebido como um estímulo intelectual, exercício obrigatório para quem pretenda
produzir boa ciência.
Caro(a) leitor(a)1,
A investigação científica é um desafio fascinante, que não conhece fronteiras, idades,
raças ou credos. Vem sendo desenvolvida pela inteligência humana, desde que tomou
consciência de si própria e do mundo em que se movimenta. Tem base de atuação
bem definida, que assenta no chamado método científico, e persegue um objetivo
concreto: fazer avançar o conhecimento, de forma tão sólida e fiável quanto possível.
O livro que agora lhe proponho completa uma trilogia, inteiramente dedicada ao
processo de investigação científica. Embora seja, aqui, central a investigação desen‑
volvida em ciências ditas da natureza e da matemática, grande parte dos conteú‑
dos versados é, também, válida para investigação praticada em ciências humanas e
sociais, com particular destaque para o domínio da economia.
A primeira obra da trilogia, intitulada Dissertação e tese em ciência e tecnologia
(Oliveira, 2012), é, essencialmente, dedicada a quem se inicia no mundo da investiga‑
ção, não raro tendo em vista a realização de uma dissertação de mestrado ou de uma
tese de doutoramento. O livro adota uma perspetiva abrangente, abordando, de forma
sintética, cada uma das fases de trabalho conducentes à obtenção do diploma visado.
O segundo volume da trilogia tem por título Ética em investigação científica (Oliveira,
2013). Esta obra desenvolve a forma como, na prática quotidiana, a comunidade
científica recorre ao conceito de ética – e aos valores que lhe são inerentes – para
lidar com a problemática do erro, inevitavelmente presente nas diversas vertentes da
construção do conhecimento científico.
O presente livro, intitulado Escrita científica: da folha em branco ao texto final, encer‑
ra a referida trilogia, ao centrar o seu conteúdo no relato escrito da investigação
desenvolvida. Temática relevante, já que a qualidade do conhecimento produzido
não é avaliada pela forma como decorreu a investigação (apenas o investigador está
presente, nessa fase), mas, antes, pela forma como ela é relatada. Assim (repito‑o à
exaustão, ao longo do livro), um excelente trabalho pode ser simplesmente “arrasa‑
do” por um mau relato.
Os livros que compõem esta trilogia comungam, entre si, como tema dominante,
o enriquecimento partilhado do conhecimento científico. Natural, pois, que ocorram
interseções, porém, sempre abordadas a partir de perspetivas distintas.
Escrita científica é, antes de tudo, escrita. Ainda assim, procurei resistir à tentação
de transformar o livro num manual exaustivo – logo, “interminável”! – sobre como
elaborar textos científicos, tirando o melhor partido do software de apoio atual‑
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Respeitando o chamado masculino genérico, adotado na prática da língua portuguesa, passarei a designar
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investigador(a) por investigador, leitor(a) por leitor, etc. Sem esta simplificação – algo redutora, reconheça‑se –,
o texto resultaria demasiadamente extenso e pesado.
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Escrita Científica
Aceita o desafio?
INTRODUÇÃO
3
Recordo nota de rodapé, feita no início da "Nota prévia" do presente volume. Respeitando o chamado mascu-
lino genérico, adotado na prática da língua portuguesa, passarei a designar investigador(a) por investigador,
leitor(a) por leitor, etc. Sem esta simplificação – algo redutora, reconheça‑se –, o texto resultaria demasiada-
mente extenso e pesado.
4
ADN é o acrónimo de Ácido DesoxirriboNucleico. Trata‑se de uma molécula biológica, presente em todas
as células vivas, que contém toda a nossa informação genética. Permite, nomeadamente, a identificação
inequívoca de qualquer indivíduo.
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Escrita Científica
desde a primeira folha em branco, até ao texto final, pronto a ser tornado público.
Retomando o “jogo” proposto na “Nota prévia” deste volume, a parte II consiste em
“jogar”, de facto, conhecidas que são as “regras do jogo”, expostas na parte I.
Dito de outro modo, na parte II dedicamo‑nos, diretamente, à elaboração do seu
próprio texto. Escrevo, de forma explícita, “dedicamo‑nos” (usando a primeira pessoa
4
Escrita Científica
do plural), porque, caro leitor, sem o seu empenhado contributo, a segunda parte do
livro não teria qualquer utilidade prática!
À semelhança da parte I, a parte II é constituída por quatro capítulos.
No capítulo 6, primeiro da parte II, vamos encarar, sem rodeios, o que, muitas vezes,
se designa por síndrome da folha em branco. E, naturalmente, adotaremos estra-
tégias bem definidas para superar essa inibição inicial. Daí resultará o seu primeiro
esboço de texto.
Tomando como ponto de partida o primeiro esboço de texto, procuraremos, no
capítulo 7, tirar partido dos fatores que promovem o poder de comunicação da sua
escrita, bem como evitar os efeitos nocivos de fatores suscetíveis de o dificultar ou,
mesmo, inibir. De modo progressivo, cuidaremos a forma como é relatado o con-
teúdo inerente ao esboço de partida. Ou seja, o conteúdo começará a ganhar forma.
A dimensão ética do seu texto, temática decisiva e incontornável, é o tema central
do capítulo 8. Esta vertente determina e condiciona inúmeras outras, nomeada-
mente a forma como faz citações de trabalhos terceiros e apresenta os seus próprios
resultados.
Por último, o trabalho detalhado de revisão final e a verificação de que nada de
relevante foi esquecido, subestimado ou deixado ao acaso são matéria central ao
capítulo 9, que tem por objetivo conduzi‑lo à versão definitiva do seu texto.
A parte II termina com um balanço final, conclusivo, formulado no capítulo 10.
Ao longo de todo o volume, vão sendo inseridos diversos exemplos práticos, geral-
mente inspirados em situações reais da vivência quotidiana: trata‑se de ilustra-
ções que se destinam a clarificar conceitos e a formular sugestões, recomendações,
advertências ou simples observações, diretamente relacionadas com o contexto a
que se aplicam.
Com a mesma finalidade, são também incluídas, no corpo do texto, várias figuras
ilustrativas. Muitas delas de natureza caricatural, recorrem, frequentemente, ao
humor possível, dentro da abordagem séria que o tema do livro exige.
Em suma, usando a escrita científica enquanto tema central, encaro este livro como
oportunidade privilegiada para partilhar, com o leitor, a experiência de investigação
e docência que fui acumulando ao longo da minha vivência profissional.
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Escrita Científica
T
ambém aqui, recorro à referência Fernandes (2017), direcionando o leitor para o
respetivo capítulo 6.
A
secção 8.2 contém diversos exemplos de referências bibliográficas, enquadráveis
em diferentes tipologias de publicação. Todas as referências aí apresentadas seguem
o formato da American Psychological Association (APA)21, introduzido nessa mesma
secção.
5.1.10.1 Índice
Obrigatório. Indica, pela ordem em que surgem no volume, os títulos de todos os
capítulos, secções e subsecções, com indicação das respetivas páginas de início. Per-
mite rápida visão de conjunto de todo o texto e fácil localização de qualquer das
suas partes. Pode incluir a indicação de outros itens, como resumo, dedicatória, agra-
decimentos, etc. Proponho‑lhe, a título ilustrativo, o exemplo 5.1.10.
E
mbora não se trate de uma tese, o índice localizado no início deste livro poderá ser
encarado como exemplo ilustrativo, no presente contexto.
O
índice remissivo, localizado no final deste livro, poderá ser encarado como exemplo
ilustrativo, no presente contexto.
5.1.10.8 Agradecimentos
Facultativo. Manifestação de reconhecimento a pessoas e/ou instituições, caso
tenham contribuído para o sucesso do trabalho, apoiando‑o de forma direta, ou
participando no correspondente financiamento. Proponho‑lhe, a título ilustrativo, o
exemplo 5.1.17.
Agradecimento institucional:
“Este trabalho foi enquadrado na Iniciativa Energia para a Sustentabilidade, da Uni-
versidade de Coimbra, e apoiado pelo projeto Energy and Mobility for Sustainable
Regions – EMSURE (CENTRO‑07‑0224‑FEDER‑002004).”
Agradecimento pessoal:
A secção “Agradecimentos”, localizada no início deste livro, poderá ser encarada
como exemplo ilustrativo, no presente contexto.
5.1.10.9 Dedicatória
Facultativa. É, também, uma manifestação de reconhecimento a alguém, não tanto
pelo contributo direto para a realização do trabalho, mas, sobretudo, pelo que repre-
senta de intimamente importante para o autor. Não raro, a dedicatória é usada como
testemunho de afeto (que convém, naturalmente, exprimir de forma sóbria).
A dedicatória tem cariz essencialmente pessoal. O exemplo 5.1.18 menciona uma,
entre tantas outras possíveis.
R
eproduzo aqui, a título ilustrativo, a dedicatória deste livro. Enderecei‑a ao meu
supervisor de tese de doutoramento, que partiu já, precocemente!
“Ao António Oliveira Restivo, Professor, Amigo, pelo vazio que ficou”
5.1.10.10 Glossário
Facultativo. Por ordem alfabética, e com formato análogo ao da tabela 5.1.1, expõe
o significado de palavras ou expressões pouco comuns (por exemplo, “entropia” ou
“velocidade terminal”), que possam ter sido usadas no corpo do texto. Proponho‑lhe,
a título ilustrativo, o exemplo 5.1.19.
Estrutura típica de textos científicos 65
Título27:
“Pequeno grupo de células do embrião de uma planta opera de maneira semelhante
ao cérebro humano”
[Título original (cf. University of Birmingham, 2017): “Small group of cells within a
plant embryo operate in similar way to the human brain.”]
Caixa – Resumo:
“Um estudo original revelou um grupo de células que funciona como ‘cérebro’ para
embriões de plantas, capaz de avaliar as condições ambientais e de decidir quando
devem as sementes germinar.”
Introdução:
“A decisão de uma planta sobre quando deve germinar é uma das mais importantes
que virá a tomar durante a sua vida. Se for demasiado cedo, a planta será danificada
pelas severas condições do inverno; se for demasiado tarde, a sobrevivência da planta
pode ser ultrapassada pela de outras mais precoces.”
Resultados:
“Num estudo publicado hoje, em Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS), cientistas da Universidade de Birmingham demonstraram que este compromis-
so, entre celeridade e precisão, é controlado por um pequeno grupo de células, locali-
zado no interior do embrião, que opera de modo semelhante ao do cérebro humano.
Os cientistas mostraram que o ‘centro de decisão’ de uma planta, denominada Arabi‑
dopsis, ou Tremeira, contém dois tipos de células: (i) um, que promove a dormência da
semente; (ii) e um outro, que promove germinação. Estes dois grupos de células comu-
nicam, entre si, através de hormonas móveis, um mecanismo análogo ao que é usado
pelos nossos cérebros, quando decidimos se devemos, ou não, mover‑nos.”
Metodologia e métodos:
“Os cientistas usaram modelação matemática para mostrar que a comunicação, entre
elementos separados, controla a sensibilidade da planta ao meio ambiente. Seguindo
esta teoria, utilizaram uma planta mutante, cujas células apresentavam maior ligação
química – incrementando, assim, a comunicação entre elementos do circuito – para
demonstrar que o momento da germinação depende destes sinais internos.”
Autores e afiliação. Discussão:
“O autor que liderou o estudo, Professor George Bassel, da Escola de Biociências da
Universidade de Birmingham, referiu: ‘O nosso trabalho revela uma separação crucial
entre os componentes, no interior do centro de decisão de uma planta.
No cérebro humano, esta separação é suposta introduzir um lapso de tempo, atenuan-
do o ruído dos sinais provenientes do meio envolvente, e aumentando, assim, a preci-
são com que nós tomamos decisões. A separação destas partes no cérebro da semente
aparenta, também, ser central à forma como ele funciona.’
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Tradução do autor.
27
Primeiros passos da redação 75
• Se a publicação envolver dois autores, a citação contém, por ordem: apelido do
autor 1 & apelido do autor 2 e ano de publicação;
• Se a publicação envolver três ou mais autores, a citação contém, por ordem,
apelido do primeiro autor et al.57 e ano de publicação;
• Caso se trate de uma citação direta, ao apelido e ao ano segue‑se a indicação
dos números das páginas citadas;
• Se a citação envolver duas ou mais publicações, estas são inseridas por ordem
alfabética crescente de apelidos e separadas por ponto e vírgula, sendo que
a citação global envolve um único nível de parênteses curvos. Em alternativa,
dependendo da localização da citação no parágrafo de texto, as publicações
podem ser separadas por vírgulas, como se ilustra no exemplo 8.2.1;
• Na eventualidade de citar, no mesmo parágrafo, duas ou mais vezes a mesma
publicação, apenas a primeira citação faz referência à data do trabalho.
liveira, L. A. (2018). Publication ethics. In R. Costa & P. Pittia (Eds.), Food ethics in food
O
studies education: Integrating food science and engineering knowledge into the food
chain (pp. 167‑195). New York: Springer International Publishing AG.
Notas:
• O volume do artigo não é precedido da abreviatura “Vol.”; a indicação das
páginas não é precedida da abreviatura “pp.”;
• O número (a seguir ao volume) apenas é indicado se os números que com-
põem o volume começarem todos na página 1. Caso a paginação do número
que contém o artigo seja contínua com a do número anterior do mesmo volu-
me, então, apenas se indica o volume (e, naturalmente, as páginas inicial e final
do artigo);
• Tal como na tipologia livro, o título do artigo apenas utiliza maiúscula na pri-
meira letra da primeira palavra e, se for o caso, em nomes próprios;
• Caso o artigo tenha mais de sete autores, listar os primeiros seis (cf. caixa ante-
rior), seguidos de reticências e do último autor: Autor, A., Autor, B., Autor, C.,
Autor, D., Autor, E., Autor, F., … Autor, G.;
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ao cidadão comum: jornalistas, políticos, ou, mesmo, cientistas, entre outros, são
(somos!) disso triste exemplo.
Tais falhas linguísticas geram consequências que se estendem por vasta gama de
perigosidade, afetando profissões, empresas, instituições, pessoas.
Repito: um excelente conteúdo pode ser seriamente prejudicado, adulterado, ridicu-
larizado ou, simplesmente, “arrasado”, se a correspondente partilha for feita através
de deficiente expressão, escrita ou oral.
(a) (b)
Figura 9.1.1 A falta de uma vírgula que faz, de si, um verdadeiro canibal.
(a): “Vou comer, amigos!”; (b): “Vou comer amigos!”.
A caricatura da figura 9.1.1 ilustra a forma como uma simples ausência de vírgula
(“Vou comer amigos!”, em lugar de “Vou comer, amigos!”) pode adulterar o seu dis-
curso, fazendo, de si, um verdadeiro canibal!
Não me proponho, aqui, apresentar um prontuário ortográfico ou uma gramática
da língua portuguesa. Não teria sequer, confesso, preparação para tal. Felizmente,
a nossa literatura inclui excelente bibliografia dedicada a essa temática: a título de
exemplo, entre tantas outras, recomendo‑lhe, para consulta, as referências Cunha &
Cintra (1984), Bergström & Reis (2011) e Raposo et al. (2013).
Não obstante, gostaria de exprimir um testemunho pessoal. Ao longo de vários
anos de carreira universitária, fui chamado a participar em inúmeros júris de pós
‑graduação, dentro e fora de fronteiras. Tive, nessa tarefa, o privilégio de avaliar
trabalhos de altíssimo nível.
Em paralelo, porém, fui igualmente confrontado com documentos escritos, cuja
redação descuidada em muito desvalorizou o conteúdo – tantas vezes, excelente! –
que pretendiam relatar. Quase sempre por um motivo recorrente: a tentação de fazer
mais e mais, durante a fase de investigação, subestimando o tempo necessário para
elaborar um texto com a qualidade exigível. Ingénua imprudência (cf. secção 6.6)!
Foi esta, admito, a principal motivação para escrever o presente livro: fazer dele um
contributo no sentido de que a sua tese escrita aconteça e esteja à altura do trabalho
por si produzido.
A valorização do seu relatório de tese passa por evitar a ocorrência de erros que pos-
sam colocar em causa o carácter eticamente irrepreensível do trabalho final. É esse o
objeto das secções 8.4 e 8.5.
Trabalho de revisão, rumo ao texto final 147
N
ota prévia: A ordem adotada nos exemplos de erro que refiro seguidamente não
obedece a qualquer critério. Muito menos pretendo hierarquizá‑los por ordem cres-
cente ou decrescente de gravidade. Em meu entender, todos são, simplesmente,
importantes.
A fim de não tornar esta ilustração demasiado extensa, apenas incluo, aqui, 20 dos
50 erros anunciados em título. Os restantes 30 figuram no apêndice B.
1 – Usar “de encontro a” por “ao encontro de”
Forma errada: “Concordo consigo. O meu argumento vai de encontro ao seu.”
Forma correta: “Concordo consigo. O meu argumento vai ao encontro do seu.”
Comentário: “Ir ao encontro de” significa ir no mesmo sentido, para encontrar (de
braços abertos…); “ir de encontro a” significa choque, colisão (de olhos fechados e
punhos cerrados…), antagonismo.
2 – Usar “sobre” por “sob”
Forma errada: “Desde que se tornou eticamente suspeito, este autor tem estado
sobre apertado escrutínio.”
Forma correta: “Desde que se tornou eticamente suspeito, este autor tem estado sob
apertado escrutínio.”
Comentário: Quem domina é quem está por cima, sobre. O autor está sujeito ao
escrutínio, em posição de dominado, em situação inferior, sob.
3 – Usar “houveram” por “houve”, ou “haverão” por “haverá”
Forma errada: “Com origem neste diferendo, houveram vários casos de conflito arma-
do. Sem diálogo urgente, haverão muitos mais.”
Forma correta: “Com origem neste diferendo, houve vários casos de conflito armado.
Sem diálogo urgente, haverá muitos mais.”
Comentário: O verbo “haver” pode ser usado significando “ter” ou “existir”. Neste
segundo caso, apenas se conjuga na terceira pessoa do singular. Já quando significa
“ter”, pode ser conjugado na terceira pessoa do plural: é correto dizer “Se houvessem
ficado em casa, nada de grave teria acontecido.”.
4 – Usar “descriminar” por “discriminar”
Forma errada: “As instruções a respeitar são em número de cinco, a seguir descrimi-
nadas.”
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Forma correta: “As instruções a respeitar são em número de cinco, a seguir discrimi-
nadas.”