Casamento Perfeito
Casamento Perfeito
Casamento Perfeito
1
1 •
«ti
RESERVADO
-*•-'&**-
L
IM
A
í
r
:^o
-r-^
- *
1 m < íé
*S^
W
'IH
&
rv-a.
'•4
i -,
lâVk 0% %
fr/íi
>
r#:^
— >
.-JC
..
T
- r..
^ .i ■
> •
«w
S m
.
~ M*>
%:
ft> *
3 .:
t _r N.
ih
w •
V
ú ■
/
'
/
i A.
/ / ZV
r
r .
r
v\ — *
1.
s
N
- m
'i
CASAMENTOS
»^3
PERFEITO
KEMQVESECONTEMADVER-
Ç^ tencias muito importantes pêra vioerem os ca-
OAT fados em quietaçáo3& contentamento;& mui-)
^ tas hyftorias, & acontecimentos particulares ^
Çg~, dos tempos antigos,& modernos: diuerfos cu- F^f
J^3 ftumes, Ieys, &ceremonias que teueráo algúas gf
haçoés do mundo : com varias fentenças}& U *^i*
EM LISBOA..
, 1
V\..
J
T dclulhodc^o.
V
^iraM<>V
'Barreto.
•
■•:
AOLEITOR
||EMVY cuílumado nos q imprime líurqs
JÉ || dcfcolpar (eu atreuimento có rogos, & amoeí-
SMJ' tacões de feus amigos: eu também dou a mel-
t ma ácfculpa, não íó em imprim ir, lenao cm
compor cfte que de nouo apparece no mundo. Delejou
hum amigo meu,a quem deuo muyto,ver recopilados
em hum traçado algús documentos conjugaes, por ler
matéria tão imporrante pêra os cafados,quam pouco ve-
jtilada dos eferitores, ao menos dos que efcreueráo vul-
garmente. Epofto que lhe não faltaua baftante cabedal
pêra outros aíTumptos mais leuantados, quis que correllc
efte por minha conta,ou foíTe pella fazer mais do que he
jufto, do meu engenho,ou por querer ~°feruar o (eu pêra
oceupações &emprefas milhores. Puslhe diante os cur-
tos limites de minha fraca, &tam mal lograda fufficien-
cia, & asr poucas forças com que fiquei defle meu Poema
Latino que tirey a luz o anno paliado , & as calumnias,
ou ainda caftigos que ficaria merecendo/e com fer cafa>
do tam imperfeito, me viííem eníinar perfeição aos ou-
tros. Rogou, inftou> obedeci, porque a obrigação tem
grande império nos corações agardecidos: & afsinão
reparey em perder credito a troco de lhe dar gofto, ôC
poupartrabalhojpoupoumoellemuytoamimem viuec
íempre com fua molhei tam conccrtada,& pesfeitaméte,'
*. que
ãOLEITOR:
:
•
«. s a
"") i
« .
7 *H
DASCOVSASMAIS
DINAS DE MEMORIA
+* »• *- ••
IND EX.
hoca. pãg. no. rofio de demónio. ^^.139.
'Caiados nao feia o pródigos\ne Cafiameto qualhe milhor.pSi,
auarentos.p.147.Séjao ho- Cafiar mais que hua vezjbe co.
neflosj& recolhidos.p. 13I. tra a perfeição do cafia-
Cuardemfie de todo o jogo. mento. pag. 114.
K . pag. 140. Sejao deuotos>&
Catão nao quer por genro A
' yirtuofios.p.i 57. Deixemno 'Pompeo.pag.75. 76.
, y£r ^/ãw molheres.p. 164. Catullo explicado em hum lu-
JN£* encubrãofiuas Virtu- gar eficuro. pag. 86.
'} > des.p. 160.7s?^ */*#* <*#$r Ciampo morto por fiuas mãos
K * afiuasmolheres lafciuame por amor de fiua molher.
te.p:i^Deue cofiua boné* 'pag. .14.
ftidade procurar a de fuás Cimon fiufientado com o leite
molberes.-pag.\$j. • de fiua filha. pag. 236.
Cajados a rezãoporqfie dão as Çiriaco "fapa rnartyrizado co
- • mãos no recebimento.p.40,, - as onz^e mil virgens.p. 171.
'Cafados--perfeitos tem mais Ciúmes.p. 39. folio q por erro
/. • gofio dos filhos que os oti~ efia 36.Os efifeitos delles.p.
■ ; ir os. pag. 237. £38. .44. ate o fim do cap.
Caiado q endoudeceo por nao Claudia Cenouefiay & o fieft
poderVmgar hu aggrauo q fiuccefifio^pag 103.104.
• fezerão a [na molher. p. 28. Claudia virgem Veflal morta
Cofiados deuajfios&fieusen- por juffifaporfie enjeiur.
- cargos, pagm. pag.^%
:
Cafiados perfeitos nao pode ter Outra Claudia oquejdZ,
filhos q degenere, pag.zfí. com Minúcia, pag. 189.
Caiado a lhe naceo hufilho co Confiança de ^ínnibal com
IH DEX
fina rnolber. pdg. 41. filho, por hum modo eflra-
Confiança de Tompeyo com a nho.pag.t^y
fua.pag.^y Danos da falta de ^Amori
- Confiança do Toeta Stacio co pag. 16.
afiua. pagt 41. Decreto do fapaCregorio.X.
Confiança de ^Aufionio cofiua contra os enfeites, pa.191,'
molher^e a.delia co elle p.45. Deuteria matafua flha com.
Confiança quão necefíaria he ciúmes, pag. 49.
I entre 'os cafiados, pag. 39. Defauentura de hua molhe?
Confiança de mafiada y he pello jogo de feu marlda
I perjudicialpag. 63. pag. 146.
Confiado de^iamote &fiua Defconf ancas & feus encar~
* de/graça. pag. 66. gos} pag.39.40. ;
Contenda de hus Romanos Defgualdade dos c afamefi-
I" fiobre ahoncfildade defiuas tos muy per judicial, pa. y0
molheres. pag. 179. até o fim do cap.
Cornélia may dos Craccos o Dido Raynha falta pouco,
I modo de que fie enfiextaua ■pag, zoo.
pag, v)\. i?z. D i[cordias ciuts em RomdpW
Coroas de honefitdade a que cafamentos defguais,p. %
I fie dattao. pag. 1 zi. Defporpoçao de idades &fetts,
W Corbui a hua das onze mil - encargos, pag. 84. •••'<-
I ' Virges, c modo de q mor- Domingos -Catalufto trinei*
I • rco.pag. 173. pede Lesbos o ^dmorq
Crates 'Pkilofiofio quato ama- tinha afua molher, pa. 3 j»'
I ' uafiua molber. pag. 133. Eclipfe da Lua a Úfcatribt*
Creffio hure da morte porfieu \hja entre os antigos .p A\^°
* 4 #(*2
.
•— ^
rr
INDEX.
'fíimcutej liurahua ca/a- Hifioria notauel de hm en-
da dd morte Por hua rezão fehada.pag. 191.
I de fhúojia. vag. 135». Homens armados ò porque
fíilioria de hum fumontes ejlauao antigamente nas^
I pêra faber & temer. p. 66. cafas de jogo .pag. 143.
Hifloria de hum hcmem que Honejltdade da Raynha Df-
cafou mal huaf/ha.p.-$. do. pag. 111.
\ Hiftwia notauel dos tmhuf HoneBidade das caiadasfe
tes de hua velha.pag.119. conferua com a defcus ma
I; que por erro diz^ 195*. ridos. pag. 135.
Htforia notauel de hua ca- Honejltdade conferuafe mal
fada da noua Hefpanha. co aociojidade. pag. \y6.
pag. iio. Honefidade de Viualdo Ce-
HiBoria efpantofa de outra nouesdmade muito lou-
cafada*pag. 2,24.. uor. pag. 108.
Hifloria notauel de hum ca- Iacome jSellino o q lhe acon*
\ fado illufre dejle Reyno teceo por defeofado .p. 60.
pag. 46. idades dos que c$fao. pa. 8j.
jHiJloria doutro perfonage Igualdade das nobrezas qua
Cajlelhano dma de ma- to importa entre elles. pa.
goa <(sr louuor. pag. jo. 5. c^ todo o cap.
Hijloria de hum embaixador Informações que fe deuem
^Português também dma tomar antes dos cafamen-
de fefaber. pag. 51. tos.pag. 6%
HiBoria notauel da aduer- Ioana HHaynha de Nápoles,
tencia de/ hua molher. porque defprez^a feu ma~
rido. pag. 82,.
ÍNDEX
logo que o inuetou.p. 145 J)o~ dos Cd fados. p^O.
defe chamou Ludus *e La Leyfapiafobre o próprio.p. 91
tim.p.l^Os efeitos^faz. Ley Mia contra os^cafa-
f. 14?. Os danos q caufa. 9*o defgualmente. p.li.
1
P.. 146. ^Ainda o moderado Ley dos Cr egos contra os que
he perigofo, pag. 141. cafauaojendo filhos.p. 130
lulio Cefar ca/umniado peUos Ley Òjtpia contra os enfeites.
feusfoldados, & o porque pag. i5>z.
pag. 161. Ley dos Laceaemomos,& Lo
lulio capitão de ^yittila mar- crefes cetra o mefmo p. 193
tyriza as onze milVirges. Ley de Numa TÕptUo febre o
pag. 176. íilencie das caiadas.p.\J9.
luno era guarda dos c afame- Leonora7Slaf)olitana,& ojeu
tos. p. t. Toucaua porfua fuc ceifo, p. 107.
mao as de (bofadas, ib% ^A- Liuia molher de ^/uguílo o
copanhaua-as ate fuaca* afez. a hua ocicfa.f. 182..
fa. Ibidem. Lyfandro o q rrfyonde a que
Ley de-Metello emfauordos lhe leuou enjeites grafitai
a tinhao filhos. /M37. filhas, pag. 190.
Ley de Lycurgo fobre as in- Lucrécia a rezao per que foi
formações dos cafamentos. tão hçnefla. f. 179.
pagin.yi. MalvaflW, &feus encargos.
Ley do mefmo contra os do^ P.\i$.Suaf crueldades. 12.4
tes.p.fy. 7<? ódio aos enteados for re
iSèy do mefmo contra os en- zão natural. 116 Lrao cu-
feites, p. 19$°. ■ fumadas a matar co pefo-
Ley de "Platão fobre as idades^ nhaaos enteados %it%feu n*
me
INDEX.
mefinifica noua Vrincefai2$. que >fag.\ii.
Madrafltade Creffo o que lhe Ju Molher como deue fer amada*
ttde come lie 7 pag. 118. pag. í)i:
Madnarte Re) de Dacia,pa. i<?q. Molher naofeja mais rica que
Marciana hmperatrtz,. mata a feu marido* pag- 8o.
feu enteado,pag. \i8. arran Molheres que encaminharão 4
caolhe altngoa. ibid* Jcus maridos.p*g.$f*<y6.
Marco Planeio o que faz por fua Molher de.Philo Grego, are&ao
molher, pag i\6. queda para andar com trajo
i.sígloriofaP'/rgem Maria nofia - honejlo. pag- 1 ç t.
Senhora os exercidos que ti- Molheres Romanas impede a ge-
• *ha} pag. iSç- ração dos filhos >&oporq p%6\
Mariamne molher de fierodes Nero em q tenipofoy bom Princi
I Acalonita. pag. 50 pe,pa. iói* mata fua molher
Mtyo que fe deue tonar entre co Pope a com htícouce, pag. \8.
. fioȍa>& defconfiaf2ca.pag.67 Occafioes ruyns fogen da pefioa
Milagre de noffa senhora do Re de bom exemplo > pag. 161.
I fairo^fobre os ciúmes de hm Odoaldo Rty dos Godos morre as
molher, pag. 43. mãos de hu feu criado, p. 44..
Molheres fao naturalmente in~ Òpimio Romano^ &feu fuce/fo,
l clinadas A vanglorta.pa. 1 /o, pag. 1 s^-
MolheresCantas de Portugal.$8. Ot o Valenciano perdido por jogo
Molheres de Hcfpanha> prece- o que faz, pag. 146.
dião antigamente a/eus ma- ' Pantea refpeitada de Cyro por
ridos. & o por que > pag. \ 6/. honfla^pag. > 68.
£ a obrigação que ttnhao. I<?í. Parecer do roflo qualfe ha de tf-
Molheres vir tuafas quaoetttma colher nas molheres caiadas.ps
das e*ao antigamente. p> 1^7. Partos monfiruofós.p. 240-241
precediao em muytos Reynos Paulina Romana perdeoa vida
afeus mtridos, pag. $6* porfalar muyto.paç. ztS.
Molher Rosana pa>e hum filho Philipo Maria, & o feu fucceffb
comrolío de Vrfo. pag. 240. pag. 66. Outro'Philippo Mauo,
Molheres Romanas oferecem a & ofeufucceffo pag. 86.
; i*w hm veftiduta^ & o por- topea morta de hum couce.p. 1 /
Pophllo
IND EX.
TopieHo Rey àe Polónia & o feu $ 6.porq d ttuerZôós antigo*
I fuccejfopag. 23. em veneração pag. i$S-
' Pcrcta molher de Bruto comofe Tar quinto drfua crueldade p u
I matou,?*g- U7- Tibério Gracco <jr [«* hifioria i;
Trincefa de Sidónia, mata fen 'Tirrhenoflho dclRcy dos Lydos
mando & o porque, pag- % 8. porq rezão veyo a Itália. 1^4.
Trotteitos da perfeição, do cafa Títulos de parentes , quefàÕas
mento. pag. %2Ç.. vezes perjudiciais >p&g- ó 6,
Qtãopoder ofahe. A imaginação The An o matrona Grega o q rejpé
pag. xjS. deahtía pergunta, pag. \j2,
Rezocs pêra, não ferem perfeitos Theniftocles porq efeolbe hum
sfegundos casamentos, pag. venro pobre & engeita hw
otif-
rico. pag. 7<f.
Romanos Unhão por afronta CA- TulUa ^rjua crueldade- pag, 21.
far com velhas, pag. i.7'.8$. Valleria Romana, & fua firme *
Sapho molher Grega, porq nas z,a>pag. 116.
tjtíis cafiar fegiída vezjjT- Velhas o prejuízo q as vezes fa*
Saturno & Cernis porqfao corsá- z,en>pag- 217. z\8. z*o.
riosnas influencias,pag. 93. Vénus porq he contraria de Sa-
Silencio dos Hefpanhôis antigos turno p. 93.porq[e pintava
pag. IOí. co os pês [obrehu cagado pag.
Simão gomes- pag. *07- l$S. porque afaziao compa-
• Sócrates o qfofria afua molher nheira de fuada. 1 o ç.
pag-xo6- o que lhe diffc ven- Villa foldado Godo mata o [cu
doa enfeitada, pag. íffo. R(yp*rcittmes,pa. 44 f I5£'
Stratonica Raynha, o que fazia Vitoria Colona.pag* IS-I^-
afeu marido p*g> Z7- Virtude follicitada crece muito*
Suada Deofa antiga dos Gentios. S. Vrfula. & a fua hiiíoria.iét*
pag- *oj. Viuuas q tom ao a cafar. pa. 1 ro.
Talaftoporq fe inuocauA nos ca- Xantippe molher de Sócrates co-
■ [amemos, pag. \J7- mo o trata, pag-106. enfei-
Tales Milefio a rezão q deit fera tafè. i^>
não cafar pag- 13 •■. Zoe Bmperatris.à' */»* defgra
Taquilfaz Rcj afett_ marido f *. ca, &caufa delia.pag- fi.
FIM,
AO CASAMENTO
PERFEITO DE DIOGO DE
Payua d'Andrada.
SONETO.
Me llt o
CAPITVLO. I.
ciAs Excellençias doQafamento? &a oph
niaaqàe os-antigosjinhao de lie.y. '■-
I perfeito. $
famentõs- Outros imaginarão que tora filho de
Vulcano,q era tido por deos do ferro & do fogo;
& pello mais disforme de todos os deofes, & de
Vénus deofa do Amor, que foi a mais fermofa de
todas as deofas; para moftrar q entre os cafados,
feja qual for o gefto & parecer de qualquer dellcs;
ha de auer hum amor tão arTcruorado como os
ardores do próprio fogo: & húa firmeza tão con-
fiante como a dureza do próprio ferro. Muitos
diflerão que elle nacera de Baccho, & Venus:por £<#«■«
q como cila prefidia.nos amores, & Baccho nos ^ '*_
conuitcs,& paílatcmposi querião dar a entender, „e^ "
que não fomente os bõs caiados íc deué ter mui-
to orande amor, fenáo eíte com tanto calor, &
contentamento, que não aja defgraça q o resfrie,
nem defauença q o perturbe. Outros affirmauão ,
que era filho da Mu^Vranje,que em Grego fini- ald '
fica, Ceo,para nos perfuadirqueos que tomarem Rhod.
aquelle citado, deucm encaminhar sô para o Ceo vbifufl
todasfuás obras, acções, & cuidados. Algús dos
Gregos tábem diziáo que fora filho de húa nim-.
pha da fua nação, a quem não dauão nome nem
origem,da qual tinhão por tradição que fe apren-
derão todas as virtudes, para finificar, que pois o
cafamento nacera da meftra dellas,tinhão precifa
obrigação todos os cafados de a imitar reforman-
do as vidas, & apurando as conckncias. Os que
7 A: moftrar
fafamento
moftrauâo tratar delle co.mais ã p pa re n cia _, d i íTc^
Jeo vbi r*°'9UC Hymeneo fora hum mancebo natural
nfp. de Athenas/que amou com grades exceflbs a húa
donzelia da mefrna cidade, por quem obrou me-
moraueis façanhas; & que vltimamétc liurandoa
pátria de hum trifte catiueiro em q a tinháo pofto
feus inimigos; lhe deráo em premio a poííe da.
quelle bem, que com tanta juftiça merecia,& có
tao largas anfias defejaua: & q depois de celebra-
das as vodas, quando cuftumáo a fazer termo as
affeições mais feruorofas,creceo elle táto no amor
. que lhe tinha & nos eftremos que pór cila fazia,
q admirados os Athenienfes o vicrão a fazer deos
-dos cafamentos, & a nomear o cafamento pcllo
próprio npme de Hymeneo.
CA PI TV L O IL
• ♦••** z
• *
0íí
P
fejaó os cajados de iguale alidade.
% rafawento
tiencia, & autoridade, começou a viuer com o
roefmo defgofto com que viuia feu primeiro ma-
rido-, & não lhe íofrendo também o coração ef.l
ta fegunda defigualdade, tratou de matar eftou.i
tro iecretamcnte, pêra fe cafar com hum Rey feu|
vizinho, que he muito certo na ruim conciencia
cmmendar hum erro com outros mayores, deo-.
lhe peçonha imuy refinada j & elle vendofe comi
as anfias da morte, & fofpeitando a caufa delia, a
fez comer por força da mefma peçonha, comi
que morrerão ambos em pouco efpaço , & foy
caufa de três mortes taõ dcfeftradas a deíigualda.l
de de hum cafamento, que em todos fez igual
a defauentura. *. Caiou hum Villio Romano,!
homem de humilde nacimento,com Faufta filha
de Corneiio Sylla dos mais illuftres da mefmal
Republica^ perfeição, & ventura que entre elles
ouue,declara Horácio nos verfos feguintcs. ' |
.. Villius in TauítA SylUgenerMc mifer vno
SermJt. Nom-tne âeceptas, pxnus dedit vfcjue {upercjue
**Sàt.2. gtàmfAtis e(l3 pttgnts cajus jerrç^ue petttas:
Exclufusfore^C'
Qu. di. Foy Villio genro de Sylla, enganandofe
cô a dinidade de fer marido de Faufta fua filha : o
que lhe rendeo eftc cafamento foy,fcr lançado ró
rade cafa com muitas punhadas, & feridas: * &
a hiftoria foy, que Faufta fe enfadou de maneira
por
perfeito. 9
por fe ver cafada com Villio de tanto menos cali-
dade,que pello mcfmo caio lhe foy adultera, & o ■
mandou efpancar, ferir, & lançar de caía: & Ioao
Britano expofitor de Horácio da a rezáo de lhe a- ^ ^_
contcccrcftctrabalho^izcndo.^^w^»'»'^- HoYAU '-
piis vxorcm habere afeólauerit. Qu, di. porque quis
cafar com molher de tam illuftre fangue. * Iulia
filha de Augufto Cefar tratou a Tibério feu mari-
do com contínuos arrufos, defdens, & dcfprezos,
até que o fez dcfterrarfe por fua vontade, & are-
záo que para iíTo da Cornelio Tácito , he dizer. Anníb*-
Spreuemt vt imparem : que o defprezaua como Ulib.u
defigual. * Bem empregados foráoos trabalhos,
& miferias do defterro em que íe vio aquella an-
tiga Zoe filha & herdeira de Conftantino Empe- hcoh ^
rador deConftantinopla, por fe cafar có hum of- Ar&i in
ficial macanico de Paphlagonia, & o fazer fenhor diãi. Mi
de todo o Imperio.Ouuc antigamente em Roma, ^ &
t t - \C
ci-• Zoe.
-
: -
'fer fato 13
verdadeiros contentamentos^ porque áísi corao
hum corpo fem alma não temais defeu, que fer
manjar dos animais, ou bichos da terra;: afsi hum
cafamento fem Amor, não feruede mais quede
entrarem por ellc rodos os encargos, trabalhos,&
vícios a que eftãó fogeicos os mal caiados. A vou
tadequando o Amora fogeita?, & prende, não
pode dar paflb para feus delejos, & liberdades: a
firmeza quando íícllè fe Funda,vence os impuifos
da cócupicencia, & os ameaços da tyrannia-, o cõ
tentamento quando delle procede, não dá lucrar
a defconfolações,nem fe diminue com dcfgraças,
São tão admiraueis & copiofos os exemplos defta
verdade, que referir todos não *he-poísiuel,& dei-
xar algus hefazerlheagrauo, porque fempre osq
fe deixarem ferao igualmente dinos de fe referirei.
Eftanos a Fama apregoando eflas Philas, Hippos,
Paulinas, & Sóphronias, eflas Iuiias, Porcias, Pá-
teas, & Lacrecias, & outras multidões innume-
raueis de todos os Reynos,& de todos os tempos,
as quais pello Amor & firmeza conjugal padece-
rão mortes extraordinárias, & voluntárias, huas
com ágoa, ferro, ou rogo, outras cora diuerfos ri-
gores & violências, que as obrigaua a padecer cÕ
muito gofto o amor de feus maridos, & oauor-
récimentodas próprias vidas. Não he menor a
multidão & mcrecimento,.das que pella meiem
occafião
0i
iji • . Cófkmentõ "'
oecaííão quifcrão «intcs eftar fofrendo trabalhos
defíerros, & miferias, que triunfar a vida na fua
pátria cem honras, defeanfos; & abundancias:né
daquellasqueporeííe meímo refpcito tomarão
armas, & deráo batalhas, vencendo não fó a fra-
queza de fuás naturezas, fenão o esforço de feus
inimigos. E não faltou húa Arria Romana, cm
Sap- íW quem concorrerão todos cites effeitos: porque a I
go.li- 4- companhou a feu marido nos perigos da guerra, I
ca
P- * nos apertos da paz, nas miferias do catiueiro,&
fe matou com lua mão, porque o via morrer nas
de feus aduerfarios. E pofto que os homens natu-
ralm ente faó mais ifentos, & fe entregão menos
a eftes exceíTos, em algus fez também o. amor
conjugal mui efpantoíos & celebrados cíFcitos:
como vimos naqlles dous illuírres varões Ciam-
Jd. ibtd. po , & yímilio que indo montear a hús bofques
lom. efpeffos os forão fegnindofecretamehte fuás mo-
Ste H
t*r.
' lheres desfraçadas cm peiles de feras, & embre- I
nhadas pella efpcííura dos mefmos bofques, an«
dauão com húas enganofas fcfpeitas (que faõ ás
vezes caufa de danos mui certos) de não ferem
delles tratadas com a merecida lealdade:& vendo
manifeftamcnte feu engano, forão para os tomar
de fubito com o contentamento q cuftuma eau.
far hum amor liure de femelhantes fofpcitas: bc
mui cõpanhcira dos goftos perfeitos algúa grade
aduerfí,
perfeito *$
CAP1XVL.O mi. •
"io QaSaminlo
»a guerra de Tracia,fe conuocarâo fua<3 molheres
em húa barbara & deshumana cõjuração,em que
decretarão q por treição os macaííem a todos, &]
na primeira noite q os maridos chegarão-, efcaça-
mente começauão a gozar do defcanfo do lotio,
quãdoellas cõ húa horrenda crueldade os fezerão
-lidar cõ as aníias da morte: & ao outro dia appa-
íeceo a ilha toda cõuertida em hu lago de Cangue,
& os leitos conjugais em ataúdes de corpos mor-
tos.Efta cruel defauentura que não teue no mun.
dooutrá femelhante, cota Stacio mui. por extéfo,
& declara a caufa delia fó có efte cabo de verfo,
á LèmnoteneriftgiftiSâmores. )
•JW**' Qu/di. fugido Amor dailha de Lemnos. * ti
*' 'chando que como elle geralmente faltou nas
molheres daqucllá Republica, não foi muito con
juraremfe todas em tão miferauel defatino. Mas
para que ferúe apontar exépios particulares,quãdo
geralmente temos noticia dos afrontofos & de-
•prauadoseífeito^quecúílumáo refultar da falta
cfAmor? vejafe como procederão Helena cora
Menèlad, Clytemneftra có Agamemnon , Cleó-
patra com Ptolomeu, Olympias com Philippo,
Metella com Sylla, Iulia com Agrippa, Meflalina
cõClaudio.,Mária cõ.Otto:& outras muitas,de di-
uerfas calidades, tèpos,&:Réynos & ninhúa delias
perdera o rèípeito a fuá hcáieftidadé, fenão per
■-.X
t'.- ' dera
i
*— '
perfeito ti
dera o Amor a feu marido, por onde veio a dizer
Lycurgo que tinha larga efperiencia das occafiões
& fueceífos do mundo: Cumfemelvxor bounolen- Jp-Stoh
tia, in maritftmpriítataejt, tnhime vitaliset retiqva vij* ~ '^'
ett. Qu. di. tanto que a molher perdeo húa vez o
amor a feu cfpofo, não fe pode fazer mais cafoda
fua vida. *Epor eftc mefmo refpeito pintarão os
lm
antio-.os o Amor conjugal com os peis atados, *fr
pellos inconuenienr.es, & perigos que cuftumão J^r ^
refultar de qualquer feu apartamento.
I CAPITVLO V.
Que tombem he mui per judiai o
' ^imor demafiado*
CAPITVLO VI.
P Cófiimento '
tes perigos fobre a virtude, ou entendimento de
húa moíherfraca , & cõftrangida: deixemos exé*
pios do tempo antigo,porque íaõ todos muito fas
bidos,&do moderno, porque podem algús fer
odiofos: & confirmemos a opinião fó com cfta
fentença de Santo Ambrofio:quebem bailará por
aduertencia, fc para algúa for tífcccflatias mpiià
r
A^An.inmt&folentmdosha!oere^roiienuts. Qu^ di. Sempre
Efo.to.i fecolhem.ruinsfruitosdecafamentos feitos con.
tra vontade. ^ E tornado ao nofío intento.Deue-
fe de amar as fermofuras interiores, que íaõ virtu-
des, partes, & merecimentos: porque deltas pode
auerno mundo copia mui larga, pois dependem
de noíToaIuedrio,cuja liberdade he igualem to-
dos, & das outras a não pode auer fenáo limitada
pois depende dà natureza, que não he liberal de
fermofuras: & mais dina he cada peífoa de fer a-
madapellas perfeições que fedeucm a ella, quais
faõ os merecimentos, & virtudes, que pellas q fó
fc deué à natureza^qual he a fermofura do roíio,
&boa-compoíiura&graea dos membros. Dos j
cafadosqfundãotodofeuamor nas apparencias ]
exteriores diz, Iuuenal auifadamente.
'Saí. 6] Si verum excutiasfácies non vxor atn&tur.
Qu.di.Sebem defeubrir^es a "verdade, amais o
rofto, & não a molher. * E Stephano Guazzo
iníigne eícritor Italiano, diz que perguntado hã
fenhof
) perfeito. 35"
fcnhor cm Itália (que deuia fer bem perfeito ca-
facío) quais erão aquelles amadores que quanto
mais a-idade crece, tito o Amor crece imais nel-
iles; rcipondcoi^ft^licheamaao lebe.llez>z>e interne. A- ^w. 4^
quelles que amão as fermofuras interiores.^ D5-
de Propcrcio louuãdo as molheres do tempo an-
l tigo, náo trata deita fermofura de que ordinaria-
méte fazemos cafo/enão da outra verdadeira e m
que fe cm pregão os firmes amantes. jr# ^
Non iHisfiaduim vulgo conquirere amantes eleg. 2».
\ Ulis ampla/atis forma, fudicitu.
Qu. di. Não erão fuás oceupaeões andar vulgar-
mente bufeando amantes: porq toda fua fermo-
fura confiftia na honeftidade. * Be amou eíla em
Ifua molher aquelle memorauel Príncipe deLef-
bos chamado Domingos Cataluíio: o qual, en- TulgeT*
chendoíe ella de mui aíquerofa lepra, mal de que vb. fipz
todos geralmente fogem, por fer tão perjudicial
& contagiofo, não fomente lhe não fugio, mas
, não apartou delia mefa, né leito, como feeíleue-
ra na mayor frefeura & perfeição de fua faude &
gentileza, porque o Amor que lhe tinha, era fun-
dado nas virtudes & merecimétos de que era do-
;
rada, & com eit.es que ella não perdeo,não ficou
I para elle menos fermofa.Perdeo a illuftre Vitoiia
IColona ao Marques de Pefcàra íeu marido, cujas
IIheróicas & iníignes virtudes erão o fundamento
Ci do
36 rafa mento
do muito q lhe queria,ficoulhe por ellas tão viuo
no Amor & penfamento, que fô por fcu grande
recolhimento lhe poderião chamar viuua,porque
de ordinário tinha com elle cão namorados & I
diícretos colloquios, como fe o tiuera diante dos I
olhos,& depois os recopilou todos naquelle Iiuro
tão celebrado, de que podem aprender amorofas 1
branduras os amantes mais requebrados,& dou« 1
trinas mui leuãtadas os pregadores mais eminen^
tes: & para moftrar com mayor euidencia a gen- I
tileza que nellearaara,nos declara em muitos fo«
netosquefòovalor, & virtudes de fuapeííoaa I
obrigarão a quererlhe tanto. Mas porque he grã- |
de o numero dos caiados, & não pode. ter todos
as virtudes & partes onde he bem que fe empre-
gue o Amor verdadeiro:& o conjugal pofto que
tão honefto & licito, não deixa de incluir execu-
ção de ooftoSjimporta feguir o confelho de Plu-
tarco: o qual refpeitando a ambos eftes impedi-
mentos diz que fe amem as peííoas fermofas, ou
li r aquellas que o Amor raz com que o pareçao: Simi
<vb'(tip' btuàinererumàminarfim* Com a femclhança das
coufas.diuinas. * Parece que quer ifto dizer, que
quando os olhos naturalmente fe recrearem com.
a prefcnça & fermofura da peflba amada, logo fe
occupe o penfamento em coníiderar naquella
belleza incomparauel das almas bemauenturadas,
merecida
I perfeito, $2
merecida pellas boas obras que fezerao no mun-
ido, guardando pcrfeiraméreas obrigações defeus
cftados; para que com efta.confideração ; traba-
lhem os caiados por viuer no fcu rão perfeitamen-
te, que fendo na terra fcus imitadores,lhe venhão
no Ceo a íer companheiros. Alem diftoaporq co-
moentreeflcs efpiritos ccleftiais tudo he pureza
& caítidade, procurem osmeímos cafados com
[todas fuás forças, q feja o fcu aroor/c for pofsiuel,'
(ião puro & cafto, que fempre as almas aquiráo '
graça, & as deleitações mereçáo gloria. Terceira
& principalmente, para q fe lembrem } que pois
i Deos foi o criador deíía gentileza q tanto recrea
deue ella fomente fer amada por amor delle fem
relpeito algú a recreações nem deleites humanos:
Para eítaconííderaçáo todos podem ter talento
& liberdade,& os intereííes que delia refuleão per
guntemfe a Luis nono Rey de França, a Elzeario,
& DelphinaCõdesde Ariano: a Guilhelme Du-
que de Aquitania.a Francifco de Borgia duque de
Gaudia^alfabel molher delRey Dom Dinis_,Ray-
nha & protectora do noflo Reyno : à outra do
méfmo nome cafada com o Lanfgraue de Lota-
ringia efpanto & honra de todos os eftados de
Alemanha: & vindo aos noííos naturais; pererun-
tefe por eftes interefles aoefclarecido infantebõ
Duarte filho delRey Dom Manoel, pay da ex-
C 3 ceilencifsima
r# fo]amento • l
cellentifsima fenhora Dom Citbarirta queDeos I
aia,& ano do fereniísimo Duquc,q ainda oje viue j
de Bar^ãçaipois fua milagrofá vida,& morcc (náo
viuendo mais que vinte & cinco amios) mercciáo ;
húa hiftoria mui copiofa,& náo a poucanoticia <j I
delle nosderáo osefcritores daquelle tempo: per- n
guotéíe mais a fua filha Princeza de Par ma, cujas
heróicas & íingulares virtudes efcreue o doutor I
■Injird. frey LUíS dos Anjos da ordéde Sito Auguftinho,
t-ir.*£>l onde fe pode ver a grande cxcellécia, & perfeição I
delias: a feu neto o mefmo Duque D. Theodoíio !
q Deos nos coníerue largos annos,o qual no cfta- j
do conjugal foube profeífar frua vidatáo cxeplar L
& contemplatiua,q faziaenueja aos caiados mais
perfeitos, 6c aosreligiefos mais recolhidos: a feu
bifneto fenhor da caía de Oropefa , que fendo ca-1
fado no mais florente curfo de fua idade , quiz
com penitécias anticipar a morte, para ter mayor
gloria na eterna vida:a Dona Hieronyma de Car- |
ualho moíher de Dom F/anciíco Coutinho, que I
foi hum prodígio de fonridade, como fe pode ver v
'Sard.ibL no mcfmo liuro òo doutor frey Luis dos Anjos,
• & nas chronicas da ordem de S. Domingos que I
Tc
l*?l : * compôs o infigne eferitor írcy Luis de Soufa: dos I
quais, & doutros muitos de que fe náo pode fa- I
zer larga menfaõ em papel tão eílreito: hús eftáo
canonizados pclla geral opinião da Igreja catholi-
ca.
perfeito {ê
cã" outros beatificados por particulares decretos
dos Summos Pontífices, & os demais alsinalados
com virtudes tão raras & manifeftas, que bçtn
poderão afpirar a qualquer deftas dmidades.
CAPITVLO. VIL
42, Capimento
tendentes tão.honefta & firme como fempre
foíles: & ouuercisde negara todos o efícito de
fua pertenção defendendo vofla firmeza & no-
neftidade.não com fingimentos de teas defteci-
das, lenáo com o esforço de húa fê muito con-
fiante & defenganada. * Sabida hc a hiftoria de
^Z^ Penélope molhcr de VlyíTcs, que em vinte annos
/ cjueellc andou aufente fendo de todos julgado
por m orto, fe efcuíou de cafar cõ cada Príncipe
dos muitos que a pretendião : dizendo que não
podia tomar eftado até* que não deíTe fim a húa
. tea, na qual tecia todo o dia, & cjcftecia toda a
noite. Também Annibal quando fe partia para as
guerras de ItaIja,defpedindofe da fua Imilce,a que
amaua em todo o eftrcmo>& eráo cafados de m ui
pouco tempo, moftrou leuar muita confiança de
fua firmeza , pois lhe diíTe como efereuc Sillio
Itálico referindo as magoas defte apartamento.
Lib ' % ?*r« & lacryms ftdifsima COííJUX.
'' ' Q.O. diz. Não choreis fidelifsiixia efpofa. # Porq
- não achou mais efficaz remédio para lhe fegutar
a lealdade, que rooílrar que leuaua delia min cer-
ta & fegura confiança:Pompeyo Magno quando
perfeguidode Iulio Cefar íe veyo a apartar de
Cornélia, por cujo'Araor fez tantas finezas, diz
Lucano que entre muitas, & mui piadofas lafti-
mas a confolou com citas palauras.
De
perfeito. 43
jyefovmh aàhuc vhunte mmU
a
[ pet'feito 47
j fulucáo fe determinou em matar a fenhora:man-
] dou fazer fecretaméte hum cutelo muito agudo:
I & hua noite qae lhe parcçeo mais accommoda-
da para feu infernal intento: fe foy para onde a fe-
nhora dorm-a, & de caminho" matou húa dona
da mefma cafa, por lhe não fer impedimento no
que não podia executar fem que cila o viíTe. En-
trou com o cutelo enfanguétado pello apofenco
em queeftaua a fenhora jà mcdiofa, &'fobrcíTal-
tada com o rumor & gritos da cafa de fora: & fe-
chando logo a porta por denrro, arremeteo para
a fua cama, arrebétando de raiua & fúria: dormia
junto delia húa fua colaça,que lhe era muito affei-
çoada-, & vendo a defatinada refuluçáo que a ef-
craua trazia, fe fez efcudo dç fua íenhora contra
os furiofos gol pesque já fobrelte defcarregauáo.
Não queria a ráiuofa eferaua matar a criada, ou
foííe por fer amiga fua, ou porque noííb Senhor
afsi o ordenou, para não fer mayor a defauentura,
& não fazia mais que andalla ferindo icuemente,.
dizendo que a deixaííc matar aquella inimiga:po-
rem ella por fe lhe andar pondo feropre diante,
leuou vinte & fete feridas, cada .vez cõ mais leal-
dade, & mayor esforço. Acudio entre tanto aos
gritos a gente de eafa,& o pay da própria fenhora
cm cujo poder ella ficara , & todos attonitos, ôc
marauithados arrobarão as portas, & acharáofc
- - - " "'" com
4-3 fyfx mento
com aquelle efpe&aculo tão horrendo & aJmi-
rauel, & em duas molheres fracas dous eftremos
tão dafufados, hum de raiua, furor, & defacinoj
outro de Amor, esforço, & lealdade : veyofc a
efcraua chegando para ellcs muico fegura & con-
fiada,& pondo os olhos no pay da fenhora, que
eftaua como fora de d por tão eftranho aconte-
cimcnto,lhediííe com muico foflcgo & feguran-
ça: Que vos parece? Quem tal fez, merece a mor-,
te? Não tinha bem pronunciado eftas palauras,
quando feàtraucííou com o meímo cutelo; cor.
reráo logo todos a ella para, lhe eftrouar tão fu-
riofa & barbara morte; mas ja- a miferauel alma
eftaua no inferno, & o corpo eftiradõ no meyo
da caía. Soppoílos eftes cffeitos, & outros muitos
de diuerfos infultos & crueldades que os ciúmes
trazem comílgo, fe aduirre geralméte aos homés
ca fados, que íe conftrangidos defta mal confide-
rada opinião, a que vulgarmente chamamos ho-
ra, acharem (do que Deos os guarde) que lhe cò-
uem acudir por ella em matérias defta calidade,
examinem toda a fofpcita com muita confidera-
ção & diligencia, não fe confiando nem de fua
própria vifta, porque jà aconteceo enganarfe al-
guém com ella & nacer deftc engano morrer
deshonradaquem viuia com muita honra:& por
efte refpeito dizia Menandro tratando da ira; Klá
Jàefc
perfeifâ 4?
'&firbuerh,'a7átMs vtdebii. Qu.di. Como a iraAc subi
resfria então tem mais aguda vifta.í* Porque a Cir à(
r
verdade he q nao ouue nunca cm> matérias 'grauçs .:
reíblução precipitada,que náo foíTemui perju- •
dicial,*& perigofa. Cheyos andáo os linros àcxmr
tenças, amoeílações ,• & exemplos ç cm que nos
procurãoperfuadiro vagar Ô^coníelho comque
fedeue tomar fatisfação de agrauos, & particular-,
mente nas occafiões de que tratamos, que comp
fao as dcque os homens :màis Icíccatao,» as eni
quetempofto-osmayofes quilates de fua honra
(Te hà coufano mundo q mereça tal nome) euf-
tumáo arrojarfe mais facilmente a caliíicar quaif-
querfofpeitas,queas mais das/Vezes faõ.fabulofas;.
porem depois, julgue cada hum a grade afflição,
& agonia, em que deue ficar hum homem' chrL'
ftáo, & bem nacido paliando o ímpeto da ira cõ
que matou fua molher per adultério, fcaueriguat •
que lhe náo tinha culpa-, antes córròfpondeo( co«
mo hé de crer que as mais delias fazem) com a
dèuida obrigaçãode feu recato, & recolhimento;
que anguftias, que arrependimentos, qns reccyos
lhe deucm perturbar todos os fentidos,húas vezes-
comos rebates da juftiça, outras com os affaltos
da confcicncia, & fempre com as lembranças de
fua cegueira & defatino! Quantas., <& quão aper-
tadas inquietações deue padecer fe acertar M, k
D • v«
5Q fáfamento
veremhúa páfaõ perfeguido de. importunações
• - dos accufador<%deameaçps dos algozes, de pra-
éas & calumnias-dosjnimigos r&iem fim redu-
zido a termos, que ou há de perder a vida, ou fal.
s
tíallacom húa perda irreparauelda alma,& da hõ-
Êãvpois não tem:por remédios humanos oucra
dcfefa;fenãò prouarenganofamehte,que ainno-
cente molher lhe mereceo a. morte : certo' que fe
lhe paííar pello penfamento que há Iuizo, Infer,
tíd, & Eternidade; nâo.pode .ter mais cruel aflli-
çáo,nem mayoraperto.:Neftefewo hum íenhor
Caftelhano, cuja memoria fora mui jufto quefe
celebraííe em todos os liuros,& nações do mudo,
peite* esforço & chriftandade com cjue.procedeu
fílH. no fucceíío feguiiite.. Era cafado/fegimdo contâo
&ifp. as Crónicas antigas,cõ húa filha d'elRey de Leáo,
& andando na guerra contra os:Mouros,lha fazia
; muigrande contrafua honra , hum- homem que
dê nòicclhefalta tiaos muros: chègoulhe noticia-
do que paíTaua, & ainda que confuíòy& perturba-
do'- quiz miefmo fer fua teftemunha; porque não
hèprúdehciagóuernarfeninguém em coufastáo
próprias porinfòrmaçoés, néjuizos alheyosi&
vendo que ítfbia quem quer que era, pellas pare-
des do feu jardim^ & faltaua dentro-, fubio logo,
& íãltoutras-cUc:& achouo cora húa molher ju-
Co cófigo^què pòUõs geicosJ& trajos, lhVpateceo-
: - ° V- ° * fer
perfeito. ' 5T
fera Infante^ & fera mais detença nem dilcurio
ernbebeo a efpada nellc, & correo trás cila, q lhe
foi fugindo para o apofento onde a Infante dor-
mia^ entrou correndo com aquella raiuofa furiã
em feu alcance, & achou a mefma Infante fua
molher aílentada na cama mui inquieta, & fo-
breííaltada : & certificado per eftas: mal confide-
radas moftras fer cila a própria que!he vinha fu-
gindo, lhe começou a dar de cruéis eftocadas: no-
mefmo tempo , fahio húa molher de debaixo do
leito , vcftida nos trajos da Infante gritando que V
CA.PITVLO X, ,
CAPITVLO XI-
•/. Perfeito •%
ta razão o deuem fer cftcs cafamentos de toda a
peííoa de bom'.difcurfo, ainda que fe facão por
lot-an gearia , ou com prefupofto de procurar re-
médio; afsi porque podem os neeefsitados proeu-
rallo por outro caminho, como porque quando
onáoacharem, he muito melhor padecer aper-
tos, que por em perigo de cometer peccados. Efta
aduertencia tão importante para, os homens>tam-
bem onão.he pouco p3ra as molheres, porque
fe põem em riíco de perder muito,fe caiarem com
quem lhe enuelheça, eftando ellas na flor da idar
de : tem cita defporporçáo defeontos vários, que
podem caufar copiofos perigos das honras, das
vidas,& confciencias,& ferão os effeitos delles fe-
gundo as inclinações que ellas teuerem, as que
forem inclinadas, a andar galantes, & virem que
pella muita idade de feus maridos, lhe náo con-
uem, nem elles lhe fofrem demafiadas galas, &
louçainhas, fempre com elles terão deígoftos, Sc
defauenças,ou comfigo agonias, & repugnancias;
as que por natureza forem foberbas, náo ceííarão
com teimas, defdens,.&defprezos-, parecendolhe
que tudo o que tem de menos idade lhe ha de íer-
uir de mais.preminencia;as que forem affeiçoadas
a vifitas,& paíTatempos, & entenderem que as o-
briga o primor. a mais recolhimento que as que
tem os maridos de pouca idade , tudo ferão an-
lias,
t 90 Cafameniô
íias, triítezas, & magoas, tanto mais pefadasi $
•trabalhofas, quanto forem mais encubertasjd
•reprimidas: & buas vezes fe inclinarão contra a
idade de quem tem em caía^outras contra a líber-
dade das que andão por fora, & ferriprc contrao
ruim confclho de quem as metéo nequella clau>
fura; & fe encobrem cilas paixões, padecem mui-
to: porque náo bamayoraffliçáo que bum def,
gofto difsimulado; fe as manifeftão, padecem
mais: porque não ba mal mais para temer que
defconfianças,& ciúmes: & os de maridos velhos
muito pior 3 pella facilidade com que os formão,
& as vezes rigor có que os caíligão: èV em qual-
quer encargo deites, lá vai a vniáo de Amor,a'
quietação da confcicncia, & a perfeição do caía-1
mento : & para que eítes dannos não tenháol
críeito, fera forçado que os maridos de huas&l
outras viuão em hum perpetuo acto de fofrimen-1
to; & como efta virtude tem tanta repugnância I
com ajHhice, que raramente feacha bum ve-l
lho que fejafofrido, bem fe infere que também I
fera muito raro no mundo bum caíamento at-
ites que.íeja perfeito.
-■ Por eúitar eítes & outros inconuenientes, q
os tais cafamentos trazem comíígo, fez Platáo
Thilolog hua ley .entre algúas que aponta Volaterrano, na.
lib.2p. ^ua^ mancjou ^ue cafaííenv os homens ate idade.
de trinta
perfeito.. ■ ■ 91
de trinta & cinco annos, & quem paiTaiTc deites
liicitesfolíc caítigado nahonra;& fazeda, & náo
Ificaííe participante dos priuilegios dexidadáo: &
bem nos encarece Alciato o bom fundamento
que Platão teue em promulgar efta lcy tão rigu- l» $*&*
Foe
rofa, comparando a contrariadade que tem as ri
molheres moças corai os maridos velhos, ao fo-
go da poluora quando faz difparar hua bombar-
da : porque afsicomo aquelle abalo, eftrondo, &C
fúria, vem de pelejarem dentro nella coufas entre
I fi tão repugnantes, como faó o feco & o húmi-
do o frio Òc o quente, o duro & o brando, o pefa-
do & o leue, o que tudo ha nos materiaes da pol-
I uora: afsi as pelejas & defcompoíiçoés de raa-
! ridos velhos com molheres moças nafeem de
auer entre elles eftes contrários com a mefma dif-
cordia, & repugnância: os quais vnidos todos no
cafamento,arrebentão ás vezes em grandes eftro-
I dos. Vejafe a ley Papia que fez antiga mete Tibé-
rio Cefar, & acharfeha que também limitou ida- Tinquei
descerras nos cafamentos, por atalhar aos perigos àeem-
que eftas deíporporçoés trazem comíígo: as quais m '' *'>
erao tão reprouadas entre os antigos que náo lo
as defendião com leys & rigores,fenão ainda mo-
I tejauão delias com perpetuas graças & zomba-
rias. Aquelle Sophocles Athenienfe tio celebra-
do por fuás tragedias^ ^poefias^ que quando os
:>z Cafamento 1
Gregos, & Latinos queriao gabar a hum eftvlo
poético, de mui fublime, Ihè chàmauáo Sopho.
cleo, tão eílimado dos mayores Príncipes & Mo.
«arcas-; que. Lyíaridro Rey dos Lacedemonios lhe
fcpultou Teu corpo com exceílos de veneração,
& acatamento, & ío por iíío fez paz com Ather
nas: efte Sophocles tão eftimado fendo jaho-
mem entrado em.dias quizcafar, ou ter amores
.com húa moça chamada Arquippe : & ficou
por iífo táo abatido & deíacreditado naquella
republicay que os moradores delia lhe poferáo paír
quiris & fezerão verfos, com grande defprezo,&
zombaria : cuja memória chegou ainda anof-
fos.tempos,, & ^Iciató refere hum diftico,qtiej
elle deiiia treíladar do Grego^ no qual fe moteja-
uadelledefta maneira: . -
Noãua yt in tu-mulis3fupet'ufiJL caâauera htiho
Talis apud Sophoclem noílra Vueíla iacet.
Qué diz.Êomoa curuja nas fepulturasj &r o bu^
fo nos corpos mortos, afsi eftá a noflà Arquippe
junto a Sophocles. * Muitos cafos pudéramos rc-
• ferir ao menos de Reynos eftranhos, de que an-
dáo cheyos muitos liurcs,& por ventura muitos
ouuidos, mas nem a minha tenção he ( como ja
tenho ditto ) dcfçubrir faltas de molheres, fenáo \\
publicar delias muitos louuores3 nem a material
requere exemplos, porq fem elles eftà manifefto I
quejj
I ' ••• Perfeito 93
Lãô perjudiciai & cfc.ufada fcja efía defporpor-
Lão de cafamcntos,& a rezáo difto nos dà Platão,
kom eftas ^âkmas.^4morefiommumpulchemfnm:
\nam cunBorw âeoru ejl maxime juuems, quod \>el ex
\eo múxime patet^ma isfemPer a finto refugút, tuue
\nihs)>erofemferfe mifcct,& cu t/s y>erfatur. Qu. ai. Infimp.
o Amor hc o mais moço & fermofo de todos os Vincent.
r êr
deofes, & ifto feproua mais claraméte porq Cem- ?^ ' .'
pre fe afafta da velhice,*: lhe te ódio por natureza: nJ^'
& não fe mittura íenão cõ moço's,& có elles mo-
ra contínua mete. * E eftá he a razão, cõforme ao
'parecer de bons autores', por onde faõ tão contrá-
rios nas influencias os dous planetas Saturno & **?*•' ,
Vénus, porque por cila fe entende a mo cidade & .££
Ifermozura, & por elle a velhice & disformidade.
Também he inconucniente o exceíTo dos an-
nos por refpeito da falta dos filhos,p.ois ainda que
fem elles pode o cafamento íer perfeito , cõtudo
fazem os filhos muito ao cafoparaa vrilidade&
perfeição de que tratamos: porque como faõ pe-
nhores que apertão mais o vinculo d'Amor entre
os cafados, & nelle confifte a principal perfeição
daquelle eftado, claro fica que quem faz o Amor
mais verdadeiro,fará o cafamento mais perfeito:
& defte exceílo de vtilidade carecem os que cafaõ -
tendo ou com quem tenha muita idade. E ainda
que náo ouuera eíte refpeito, deuerão os cafados
- •""" - - - ~ depro-
94 . Cafamento
de procurar filhos fô por euitar pretenfoes deIicr-
deiros, porque não fe pode crer o que algúasvc.
zes acontece nos fal Iecimécos de peflbas que por
não terem filhos deixáo feus bens a herdeirosef.
tranhos, ou a parentes que bem merecem o pio.
prio nome: pois Cç algus fatisfazem a ponto com
as obrigações do agardecimento , não faltão ou»
trosquc perdem tanto a lembrança delias,que tu. I
do hc procurar pella fazenda que lhe fica/em rcf-
peito algum ao corpo ou alma de quelha deixa.
He tacha eíh muito antiga, & como geralmen-
te abominada dos mefmos Gentios pragucjaua
Stacio della.quando daua os parabéns a Máximo.
. Iunio de hum filho que lhe nacera.
Situar. Orbitas omnifugienàa mfu, ■
lib> 4> . Quampremit votis immicus heres,
Óptimo pofcésÇpudct hcii)propin4uum
Fmms amico\
Orbitas nullo tumulatafletti,
Stat domo capta cnpidus fupcrfies
Imminefís IcthiJJiolijs, & ipfum
Computai ignem.
rQu. di. O homem cafado ha de fugir com todas
fuás forças deite grande encargo de náo ter filhos;
porq quaifquer outros herdeiros lhe eftáo fempre
pedindo a morte como inimigos,fédolhe elle tio
?ã-*è*™ ^'ê0: (3uem morrc íeni filhos n
n • -ir
perfeita. %
tem quem o chore no enterramento, toma logo
0 cobiçofo herdeiro poííe da caía, cão pronto, &
|fofrego fobre os defpojos do defunto,que lhe eítá
dando por onças acé o fogo que ha de arder nas
fuás exéquias. * Sofráo efta digreíTaó os afazenda-
dos que não cem filhos,"para q fe lébrem de cfco-
lher herdeiros mais agradecidos que cobiçofos,
4
CAPITVLO XI1II.
0 parecer do roflo fie os homens âeuem efcolher
nasmolheres com cjue cafiirem.
CAPITVLO. xvi,
• Os encargos das mddrdjlds.
■
CAPITVLO XVII.
CAPITVLO XVIU. •
Ouefeguardem de todo o \ogo+
K1
I 150 Cdjkmento
penas, tudo hé deílruição de Amor, & gofto, era
que fe alenta, & fortifica a felicidade dos bem ca-
iados. Se as fazem participantes de fuás pompas
& apparatos,ainda fe arriíeão a encargos mayores:
porque todas cilas naturalmente faõ inclinadas a
vangloria; que afsi o affirniaS. Ioão Grifoftomo.
dp.Efor jfâujieres gloria 'panafadium infe habent. Qu. di
EJiJftr AS molheres eiludão em como hão de fer van-
gloriofas.■* (Não hc iíto /tirar o louuor a muitas,
quceonhecemos em tudoefmeradas, & perfeitas,
fenão tratar da opinião, que geralmente fe tem
delias pronada com a authoridade de tam qualifi-
cada tcítemunha) & o principal effeito de fua vai-
dade^ faõ os ornamentos de íua pefloa : o mcfmo
Wtâ.i fantoo diz mais adiante. Mulicn fcculUre efl cr-
nari. Qu^di. He próprio das molheres quererem
andar fempre bem vcftidas, & algúas com tanto
Zfh. yl exceíío, que Sceuola Iurifconfulto conta de 1-iúa
timff.de tjo feu tempo tão defatkiada por enfeites, que mã-
& (jou ^ue aemerraflero com os que tinha de mais
re
leg.%, P Ç°i& galantaria:deitesrauítos, & riquezas,!he
giulier. nafee logo o quereré fer viftas: porq ningué gafta
fua fazenda cm veftidos euftofos para fe querer
fechar entre quatro paredes, fenáo oftentar nas
partes mais publicas feus ornamétos & bizarrias,
os perigos que ordinariamente daqui refultáo per-
v gu ateai fe ao igíigne PMofopho Theopbrafto: o
qual
. . u
Perfeita Tji
qual pcllòs rei* bem expcrimentados^nos faz a ad-
uertencia,que fe feguc. Muller nec Mios lidere, yec Ap.Stob.
Iibfit \>ideri debet, 'Çráfertimjfáá elegânter òrnata íit3 tom.2.dè
ytynmj3 emm a d res in honeflas tncltamjsntu eít, Qu.' Prac-
di. A molhcr nem ha de ver, nem ha de fer viíta, * /'• ,
principalmente quando elteuer muito enfeitada. tm> g j
Porque ambas eftas coufas cofíumao prouocar "
deshoneftidade. * E no perigo delia fica metido
qualquer prodigo^ou gaftador,que faz participan-
te a fua molher da demafia de feus gaftos. Longe
eftaua de arrifcár a leu marido aquella honrada
matrona Grega molhcr de Philo : ajuntarãofe
as da íua cidade em certo lugar , para húa fe-
fta, o mais cuílofas, &; melhor ornadas que
todas puderão; (o ella foy com trajo honeíio,'
íèm o ouro, joyas, nem riquezas que a com-
petência ieuàuaõ as outras: eílranhandolhe el-
.asmuyto adirTerençaj&perguntandolhe acau-
fa delia : relpondeo. Ouomampro ornamento ma- Stõb.víz
riiiVirtus mlhi[ufficit. Qu. di. Porque a virtude/»/'»
de meu marido me bafía por galas, & atauios. *
Sc gaftaó demaííadamente cm banquetes delicio-
fos. ainda fica o cafamento arrifeado a mayor def-
graça , pello rifeo em que fe põem a continência
conjugal com a frequência, & delicia das igua-
rias: bem confirmada temos efta opinião com
a authoridade de fanco Ambrofio, o qual nos diz.
K4 Saturhas
v. .- .. ». - ..— _-—J
jei Cafamentô
Efor. SaturitdscdJlitatetftprci/citiQu.ãi. A fortuna de^
vtifitp. tnaftada lança de fi a caítidade.. * E ninhua coufa
arrifca mais a perfeição- &felicidade daqlle eftado,
que os. exceíTos da concupicencia, & por efte ref-
peito lhe chama S. Ioáo Grifoftomo, máy dos a-
IUL dulterios, & André Eborcnfe refere hum lugar de
tom.z. São Hyeronimo, no qual eftáo cftas formais pa-
lauras.. ^Aàuher efi, injudm yxorem, dmdtor drâen-
tior. Qu. di. (faluo milhor fentido) logo vem a
dar em adultero quem ama fua molher mais fen-
íual mente do ncceííario. * E pois da concupicen-
cia demaííadarefulta o perigo de tão grandes da-
nos, como. vemos que faõ os do adultério, parece
que manifcftamente fe pode inferir que fe deue
fugir com muito cuidado de todos os gaftos que
a prouocáo.. Eo certo he que como e 11 es forem dc-
fordenados, fempreo eftado conjugal padecerá I
mui grandes.defordens,afsi pello notauel detrimé*
to que recebem os filhos, & família, como pella
defconfolaçáo com quede ordinário.as molheres
Viucm, fe tem es maridos efperdiçados„
Mas com ferefte hum vicio tão prcjudicial,&
trabalhofo, que deuem os homes cõ muita rezáo
benzerfe delie,,aduirtimos com tudo aos que fo.
rero cafados que por fe defuiar de gaftadores, não
venháo a dar em auarecos,. q ferà.cair,nos mcímos
cíefcontos que traz comíuo a prodigalidade: por
r ». •-.
j/er/eítâ. i $$
que tem entre íí certa conueniencía eíles dous
vicios, que com ferem contrários na origem, os
faz mui femelhantes nos erTeicos: pella qual rezáo
diz Cicero àcWes.Duíeres, <w<& maxime impellunt aâ AâHiei
ma,leficwmjuxuries,& amrttiafimt. Qu. di. Duas ronu
coufas ha, queobrigaõ muytoos homés a come-
ter maldades as quais faó fec gaftadores, ou fer
-auarentos. * E ao mefmo fim diz TitoYimo.^Àua- DeCt.
ykta & luxurU ommit imberia euertunt.. Quer. di.
A todos os impérios põem por terra fuperfluida-
des, & auarezas. * E bem exprimentáo a propor-
ção, & correfpondencia deites dous vieios as mo-
Iheres^que acercarão deter maridos inficionados
de qualquer delles(poito q o mais certo fera não
auer'já no mundo nenhúa deftas:)porque fe os pro>
di<*os,por gaflar o feu no que cem gofto^náo aco-
dem aotemedio &fuí:tentaçáodefuas.famiíias-,os:
auarentos por guardar a mefmo3onde lho não ve«
jáo,tambem fazem nas fuás a própria falta. Se hús
por triunfar a vida com o fe» dinheiro fogeitáo,&:
encantoáo fuás molheres: os outros, porque o feu.
dinheiro triunfa delles^ambem as tem fogeitas,&
encantoadas :fc aquellespeUas fazer participantes:
deleusfaufíos as arriicáo< fempreafer defejadasy,
cíles, quando as ftzé. companheiras em feus aper-
tos as obrigão as» vezes aifer defcompofíasr & ain-
da que náo fora tão rnariife&fc a proporção) entre
cites;
ij'4 €âfetmentõ •
cites doUs vícios, nunca os aaarêntôs púderãó
guardar a regra dos bem caiados: porque delles
dizexpreflamenreodoutoAntifthenes. ^Amrus
tom.i. nemobenus. Qu. di. Nenhum auarento pode fer
bom homem. * £ faõ Ioáo Grifoílomo encare-
ce eíta opinião com canta cfKcacia, que chegou
Sup. a dizer, ^Aiidrus ecr^us faum diabolo projlhmt,
Epiií.ad cuja íiniíi cação he. A Cs i como húa molher do
e
mundo fc entrega aos homens: aísi hum auaren-
to aos demónios. * E como para a perfeição do
•cafamemo o principal arrimo he a virtude; fe
hum auarento não fóhcruym,& viciofo,fenáo
eftà amigado com o demónio, bem manifcfto,
& prouado íica que nunca pôde fer perfeito ca-
, fado. Alem difto moftrado deixamos atras com
larga proua que não pode auer nunca cfta per-
feição, onde faltar amor & brandura-, &osaua-
rentos não fomente não faõ brandos, nem amo-
raueis, fenão duros, cruéis, & empedernidos: o
mefmo fanto atras referido nos fauorece efta ver-
Stt
P* dade, pois diz delles. ^Auaritia crndeles efficii eos
"" fiiciJcYiuunt. Qu. di. Aauareza faz deshuma-
nos aos que a tratáo. * E Horácio fallando com
elles,encarece mais fua crueldade dizendo.
Ser.li.\. Çym Uyt-seo "pxorem interimu, màtr.em% veneno.
Sât
? 3- Qu. di. Matais com garrotes vofías molheres,'
& voílasmáys próprias com peçonha.* E Afcen-
fio
'"ferfeítâ! ' 15 5
fio comentando cftc lugar diz que o fazião por
ficarem com a fua fazenda : não pareça ifto gran-
de encarecimento; porque Srobeo refere de hum-
do feu tempo que chegou a tanto eftrcmo de aua H
reza, que afogou todos os feus filhos por não Tomo>z\
aaftar com ellee nenhum dinheiro. Mas que nos fêrmo.
de ÍU US
efpantamos de ferem cruéis para os pais, mâys, J \
nioiheres & filhos, íe para com fuás próprias pef-
íoas vfaõ da mcfma crueldade í Pois quç coufa
be deixarfe perecer hum auarento por não gaftar
hum real conifigo/enãofer mais deshumano pa-
ra íi próprio, do que o he para todos os outros.''
Quantos vimos vir a morrer de achaques-, que.
no principio forão - leucs: & por não chamar
hum medico que os curafle* os.deixarão conuer-
ter em doenças graues. Oune antigamente hum
deftes em Roma por nome Opimio, que era muy H°r(it*
v
cheio de riquezas, & trataua fua molher, & mais * **£*
familia com grandes apertos, & miferias: adoc- .
eco, & nunca quis tratar de cura pella inimiza-
de que tinha com a defpefa-, foy áenfermidade
tomando forças, por falta de médicos, & remé-
dios-, mas aauareza as tomaua mayores para o
mo deixar valeríe delles: deulhe hum paroxií-
mo,que lhe tirou a falla,& lhe hia por momentos
tirando a vidada molher,q em quanto elle teue Çca
tidos k. não atreueo a bufearlhe medicos.mandou
l02O
j-6 Cafamento
logo que lhe troixeííem quantos auia na cidade:
começarão fangrias,& vétofas>& os mais artifícios
da medicinadas todos vierão fora de tépo:porq o
mal eftaua de pofle da natureza,& não íó o enfer-
mo não melhoraua do accidéte^mas hia entrando
em artigos de morte. Por fim de tudo hu medico
efperto.q tinha experiência de fua condiçáo.man-
dou trazer diante delle todos os cofres/m q tinha
fepultado o feu theíouro,& fez com q os abriflem
& cadahõ foííe embolfando o mais dinheiro.q pu
deíl'e:abrio elle logo també os olhos,& pos o teto
no dinheiroj& foi tão poderofa a meíma auareza,
6 fe d'antes o tinha potto naquelle eftado por não
gaitar o feu cófigojbe tornou de repete a falia, &
forças,para gtirar q não foííe d'outrem : ficou por
então liure da morte por virtude do mefmo vicio
q lhe tiraua primeiro a vida, q eftes erros em q fe
acerta/e achão algúasvezes na natureza,porê né el
lc m udou a cõdição de miferaucljné a molher a def
graça de maltratada.Em fim hcefte vicio nó mudo
tam danofo, q fométe nelle, & na fenfualidade pa
reee q encerráo os autores todos os outros: cõfor*
me a efta celebrada íentéça de Valério Máximo.//
L> 4,0.3- Penates.ea emitas3 id regnu aterno ingradufacilefte
terít,)>hi minimuVmu "penerls-^pecunUj, cuj)iditdsjibi
wdicauerit; na. mo ifl.agenerishumam cerúfsima p£-
Çtes^eneiYaueYmtJimuna dominaturjnfamiaflagrai,
~ r - ou.
J
perfeita 57
Q3 di. Aqucllácafa, cidadé,oti Reyho fe confcr-
oàrà eternamente, onde não cobrarem forças a
cobiça da carne,ou do dinheiro : porq onde quer
que entrarem èftas táo certas deftruiçoés do géne-
ro humano, tudo íeráo infamias,& fem joftiças.*
O meyocjuc fe dcue vfar entre eftes dous vícios,"
he muito facil,& conforme áboa razáo,& enten-
diroento:porc|ue o lume d'ambos eftà perfuadin-
do que cònuem gaftâr com húa liberal modera^
çáo,ou moderada liberalidade, conforme as cali-
dades & preminencias: fem que padeçáo detri-
mento afamiliamem a fazenda-, nem as molheres
por fartas, ou famintas, por muito ou pouco ata-
uiadas, por mais ou menos recolhidas^íc arrilqnem
a fazer o que não deuem.
CAPITVLO XX.
CAPITVLCX XXL
Quanto Importafer conhecida a virtude das molheres
cafadaSj & nao lhe tolherem [eus maridos
oferem deuotas*
iji . : Cafamento
viuos, & & logo os recebeo, & abençoou com
eípiritual golto & follcnidade ,creceo o Amor cõ
mayor eftreiteza por virtude do Sacramento,cujo
fruyto não auia de fer de decendécia reporaljfenão
de muitos augmétos de gloria eterna.lá o Tyrano
Iulío tinha noticia do caminho& refolução q cilas
traziáo,& efpcraua quebrar fua brutal fúria naqlla
virginal, & mania innocencia: preparaua elleo
ferro pêra a execução da Crueldade, & cilas as al-
mas, & corações pêra o fofrimerõ do martyrio:
& quando defembarcârão dos nauios, jà toda a
praya eftaua ehca d'algozes: faltou em terra a in-
uenciuel Vrfula primeiro q todos,& foy diante có
a Cruz aruorada prouocando os inimigos, & ani-
mado as companheiras, leuaua logo junto cõíigo
o feu leal, 5c amado Eutherio cõ o Papa, & mais
facerdotes, & Prelados, conforrandoíe todos hús
aos outros., ôc pregando aos barbarosa fê de Chrir
fto. Começou fé de improuifo a regar a terra com
fangue.de mortos, & a pouoar o Ceo cõ almas de
bemauenturadosjCÓpetiáo as fantasna refolução,
valor, & cõílancia, &aqlla fejulgauapor menos
ditofa, q lhe duraua mais tepo a vida: pouco foy
o que fe gaílou nefta contenda: porq não tinháo
as.Martyres menos goílo no que padecião, que os
íyranos no que executauão.-Foy o fanto Papa
dos primeiros, q martyrizàraoj. & abéauenrurada
• ;.. * '""" " ' Vrfula
ferfeitol 175
Vrlura com ofeu Eutherio dos derradeyfos. Ma~
taraolho era fim diátc dos olhos co grande vniao
& contentamento d'ambas as almas: & vencido
otyrano Iulio de fua fermofura,lhe offcreceo a vi-
da,.& muytas riquezas, íe o acceitaíTe por efpofo:
porem a fanta com o inuéciuelferuor de padecer
martyrio, lhe deu em irepoíla tantas affrontas, &
vitupérios, que logo lhe paííáráo com húafetaa-
quelle valerofo & eóftante peito tão abrafado em
fogo diuino. Cahio morta cõ a Cruz nos braços,
& foy poluir a vida eterna era cõpanhia decoros
de Anjos. Húa donzella chamada Cordula, fe"
deixou ficar efcondida entre as cauernas de hum
nauio por lhe faltar detrcminaçáo para os terrores
do martyrio: porem não confentio o efpofo diui-
no que ella fó perdeííc a coroa que tátos milhares
delias alcanfàráoj deulhe cóftancia no dia feguin-
te pêra íc ir meter pello capo dos bárbaros a pre-
gar a Fé, & facrificar a vida, & logo fe vio com as
cópanheiras naquellas eternas felicidades: depois
appareceo a húa religiofa cercada de gloria, &m£
dou que lhe celebraflem a fua fefta no dia, que fe
ífgue ao das onze mil virgens. Foy origem de to-
das eftas boas véturas o confencimento,q Euterio
deu, antes de íer íanto, a fua efpofa, pêra eífeicuac
húa obra deuota: & íe nos não alargáramos,
O*
tanto
atftahiftoria ( que pofto quefabidad'algíás, náa
deixara
j ~, Cafameniò
deixara de feruir para outros) bem pudéramos ÍÍP
bem efcreuer muytas de grandes males,.& defgra-
ças,de que íoráo occafião os próprios maridos por
não cófentirem a fuás molheres occuparenfe cm
obras femelhantes. Porem a ellas aducrtimos,que
quando exercitarem fuás deuaeõcs, de que fe tirão
tantos proueitos,não feja cm tempo nem a horas,
que caufem molcftiaa feus maridos: porque alem
de poder fer ifto occafião de lhe impedir o mere-
cimento, pode o fer de perturbar o gofío, & de
encarregar a cõfciencia: & o q ha pêra dizer nefta
matéria, ficará reféruadò a os confeífores: porque
a elies pertence mais que aos eferitores.
CAPITVLO XXII.
tates,
í^8 Cafam-ento I
ta/w, /£i ttlfdiíenàt lanam, & alu^ dtiafrug l fmt \
ci4randa\>eni{fereminifcdttír. Qu.di. Pêra que lem~
brandofe ellado particular officio das molheres,
entcndefle que não caiara pêra eftar ociofa em-de-
licias,& paíTatépos: fenão pêra eftar fcmpce occu-
pada cm fuás teas,& cufturas, & no mais que per-
tence às molhercs honradas. * E tudo ifto era ata-
lhar a ociofidade, afsi em cerimonias publicas, co-
mo em amoeílações particulares. E o fpirico Sãto,
quando traça das perfeições da molher forte,pare.
'Prwèr. ce que vé a refolucr as mais, & melhores,em não
1
SaUm. eftar nunca ociofarporque dentro cm muico pou-
**h V' Cas regras, húa vez diz delia que bufea lã, & linho
pêra trabalhar com fuás mãos, outra, que com o
que aquirio pello trabalho delias plantou vinhas,
ÔC grangeou fazenda>& logo a bayxo,q ceue goílo
de ver os proucitos q lhe refulcáráo de eftar oceu-
pada: E pouco depois, que toda anoite eftaua có
candeaacefa,final claro que nem ainda quando
iodos defeanfauão tinha nella parte a ocioíídade:
rta regrafeguince. Quefempre as fuás mãos me-
néauáo o fufo:- & logo. na outra, q nunca comeo
o pão ociofa. Bem fe conformaua com efta dou-
trina, ainda.quctyãoconheceflc o autor delia, a«
qrsella antiga, êe.memorauel Theano matrona
..7'.'. [ prega, que perguneandolhc as outras de que ma-
... #eyra fe fazia tam conhecida & celebrada, refpó-
perfeitâ íjp
Sto 6i
fcõ. ^CcnTexmsnUm. Qu. di. Occupãndome nas y
minhas tcas. * E eftando os Romanos no cerco p'rMe^-
de Ardea poucas Iegoas de Roma,húa noite ceue~ naund.
rão algus delies entrei] altercação íbbre qual de ~ '
fuás molheres era mais dina de fer louuada, 8c ca-
da hum daua rezões em fauor da fua: era hu dtftcs
Tarquino CoUatino marido de LucreciajCUJa ho-»'
ineílidade ainda oje conhecemos, Ôc celebramos:
Sc como eftaua bem certo em quem tinha nellas
diífe pcra os outros^que não erãoneceííarias alter-
cações, nem argumentos, quando podião em ■
poucas horas refoiuer a queftáo com próprias vif-
tas:que íoílem juntos íecrccamentea todas as ca-'
fas tomallas àc íupito, 8c pcllo exercício em que
efteuefle cada húa/e julgaria toda a verdade: aceiJ
tàráoo partido,vieráofcaa Roma:& diz TitoLiuiOj'
que conta largamente cfte íucceílb. Lucretkm - * .*
ri
kducl qiíítquíim )>(': regias
• nurus, 4Uâs m conumiô,• • //£.
*w««i
t,
hxuj3 ciim aejualiJms )>iJerant3 tempus teretitesSeà
noòle fera dedítam Un<z inter lucubrantes ancillds in
meaio ctâiumfeàcntem inueniunt,muliehris certdmu
ms Uns penes LncretUmfuit. Qu. di. Acharãofe as.
outras em banquetes, Sc delicias gaitando o tem-'
poociofamente, com ferem já paíTadas muytas
horas da noite, 8c fò Lucrécia não eftaua cõ ellas,'
fenão no mais interior de feus apofentos.toda oc-
cupadaemfuas cufturas, ôc em companhia das
M a criadas
l8o Cafkmentô
criadas,que também eftauão trabalhando, & cõ
- iílo ficou íô Lucrécia ganhando a palma no. .me-
recimento dos louuores, * E fe aigúas difsimulare
com as. occupaçóes por lhe parecer cjue não fe cõ
padecem cófanguçilluftre, darlheemos. muitasã
não fomente o teueráa illuftre, fenáo real, & não
fó real, íènâo. com coroa de Raynhas, que fe pre-
zauáo. muyto de nunca eft.arem deíoccupadas., &
principalmente nefte exercício, de que tratamos,
por ler o mais próprio & çõueniente pera as mo-
íheres: comolemos de Ameílris molher deXcr-
fíeroào. Xes ReX dos pe^s,. que por fuás mãos fiaua, &
in Cal- tecia as roupas que trazia feu marido: & de Argia
líope. filha delRey Adrafto rnôl.her do mal Logrado Po-
lyniccs,,quc rambem pellas fuás lhe fiou •, & recco
. os veftidos que leuou pera aguerra de-Thebas. E
S a mo er da ç anCo
J*Lact. ^ ^ 4^ ^ Maduarce Reyde Daria,
ue com uas
in Polit* °i ' ^ damas. & criadas fiaua & tecia con-
trat. /. tinuamentepera veftir os pobres, do feu. Reyno..
cfp. 10.. Deixemos anoíía efclarecida Raynha fanta Ifabel,.
littbíi\ & a outra também fama do feu nome fenhora do
grande eftado de Lotaringia, &,a do mefmo no-
me molher delRey dom Fernando Catholico, &
outras.^quenão íãbemos numero, cuja continua
oceupaçáo era. exercitarfe em rocas, & almofadas,
pera íemediar m necefsitados. & dar exemplo aos
• inferiores:'& era cuíhme antiquifsirno ( fegundo
referem
perfeito i8r
. referem autores graues) das momeres da noíía Níct$^
mib ê
* Hefpanha de qualquer qualidade q foflem, mof- 'g "
trar em cerros dias publicamente os fiados, teas, J&n^
cufturas,&lauores,em que fe tinhaó occopado saraius:
naquelle anno,& aquellaque moftraua ter traba- li, t-
lhado mais que as outras, ficaua mais honrada, & Lacera:^
tn Polt
engrandecida; Eílando Itália toda cheade cfpan-
r ca
f.
o J n « P- vbi
to,& medo pelios terrores, & ameaços com que r„prílt "
Annibal vinhafazerlhe guerra: & procurando a
gente delia algúa forçofa interceíTaô, com q fof~
fempedir foccoroa íuno.náoacháraõoutra mais
accomodada, que fiarem, & tecerem as piínci-
paes matronas por fuás mãos húa veftidura, q lhe
foraõ ofTerecer ao teraplo, como indicio de íua
honeftidadeJ& recolhimento, em pago do qual a
queriáo obrigar a que lhe acuJiííe; conferuando
a quietação, & liberdade daquelle Rr-yno,em que
não auia molheres ociofas:& a pratica,queellas fi-
zeraó, refere com muyca propriedade Sillio Itáli-
co,parce da qual faó os veríos íeguintes-
Huc ades, o Regina Deum, gens cafia precamur, Lib.f^
Btjenmus digno qu&cunque efl nomme turba
^Anfomdkm^ulcrum^^ acujub tegminefulm
Quod nojlra ne itere mams^enerahtle donum.&c.
Quer dizer, o Raynha dos deofes (fallauaõ como
infiéis) nos as molheres Italianas, que por fugir-
mos fempre da ociofidadc merecemos dinaméte
Mj ©nome
i3i • Cajdmenfo
o nome de honeftas, vos rogamos que nos acorri
panheis,& foccorrais nefte trabalho;, & pera mais
Vos obrigarmos oferecemos efte tico prefentefia*
do,& tecido por noflas mãos.* E coftumeera
muy ordinário entre os Reys,& Príncipes be con
íidetados, mandar eníinar efte mefmo exercício a
todas fuás filhas, como circúfíancia tam importã-
te pera fe conferuar o recolhimento: & entre elles
'Stteton. Augufto Cíefar depois de fer Emperador de Ro-
in Auga mafez aprender a fiar,& cofer a fua filha Iulia,& a
c
*h 44- fuas netas Iulia^ôd Agrippina. No mefmo exercí-
cio fempre fua molher Liuia Drufilia: & efereuem
■FrAHt delia que viodoa vifitar húa Romana muito illu-
xirnen. ftre, que fempre cuftumaua eftar ociofa, & não
t*tti. tinha boa fama na Republica, lhe mandou trazer
íe
^ fr húa roca pera que fiaííe diante delia: & efeufan-
aptid La. tíolccora
j r li
lnc j.
dízer , r.
cerd. in > <5«c BUflca tal víara, nem a-
feliti. prendera} a fez logo ir pella porta fora} dizen-
do, que com razão cftaua tão mel aualiada: pois
quem paíTauao tempo ociofamente, bem mere-
cia que a teueflem por deshonefía: & logo man-
dou publicar por ley esprenV, que todas as mo-
lheres5deíde a mais nobre are a mais humilde,
que não fia/Tem ou Jaurafícm, foííem defterradas
iáaq.uetta Republica como vicioías, & malfeito-
ras. E até nos í^eyiios bárbaros, & remotos, ouue
fempre o conhecimento defta verdade; pois le-
mos
Mkta
I r—~»* F* t "•*«<
perfeito. . . 183
5os nas relações da China referidas por Fr. Ioão
de Lacerda na Tua poIicica:que o primeiro Rey da- '
quclla Monarchia.ern quem não auia ainda o tra- vhifuf,
to polido, nem bom gouerno, que depois vieraó
ater feus decendentes: com tudo não deixanclo
de eoníiderar o muyco que ímporcaua a oceupa-,
ção pêra as mulheres,mandou com ley muy apcr-(
tada que codas as do feu Reyno íiaííem, ou cofef-'
fem: ôc com taí continuação que em nenhúas ho
ras do dia as podeííem achar defoceupadas, & fez
com que 3s primeiras que a guardaflem foflfe fua
própria molher, ôc filhas, ôc com feu exemplo a«.
ficarão guardando de melhor võcade todas as ou--
eras: & veofe a ley a conuercer em coítume cam'
órdinario,& inuiolauel, que tinhão a oceupação
por honra, ôc a ocioíídade por vitupério. Do con.
trario naó temos para que apontar hiftorias:por q
as molheres defte Reyno: com as quais fomente
falíamos: todas faõ,& foraõfempre muy oceupa-
das,& pello cõfeguinte,muy virtuofas: ôc conué-
Ihe mais exemplos de boas, que as animem que
de viciofas, que as efpantcm: & pois tracaõ com
tanta eííicacia de ferem honeftas, entendáo que
1
não podem ter mais efficaz remédio pêra fegu-
rarde todo a honeftidade, que perfeuerar fempre
em oceupaçoés, fem confentir ociofidades, nem
dar entrada a penfamenros, & pêra iíío oução.a
M 4 Ouuidiq
184 Cafamenti
Ouuidio meílrc das laciuias , 6c amores profanos:
7>ereme O tia JitolUsrferiere cubidinis artes-
ão aw- çomo fc áiflera. Vedes vós, as artes- embuftes, &
manhas de cupido, com que coftuma a vencer,&
penetrar os corações mais izentos,& acautelados:
pois todas ellas não montaõ nada, íe fe tirar do
r
Andr. mundo a ociofidade : & os Santos chamarão a
*'*' qualquer licito exercício, fundamento da vida ho
nefta, o qual parece que tira as forças ao mefrno
demonio:porque d3 gloriofa fanta Brifida(que foy
a mais perfeita caiada, que ouue em íeu tempo,)
Tome 4 efereue Surio. "Re^nquam Sathana tentandi mate*
ee
™ -i ' riam otfer-ret ah otio^aldeabhormit-J?ompiue>&fan-
ais exercitijJemper vacam, ofteri manuam incumbe*
bat,<?c. Qu. di. Sempre fugio de cftar ociofa, por
não fer tentada do demonio:.não celíando de tra-
balhar com as mios em oceupaçoes honeftas, &
fantas. * O mefmo nos enílnáo os documétos de
Saõleronymo, & em particular oquefe fegue.
uo /
i^íptid. ^■^q " o^usfacitO) vt te diabolus inueniat occuba-
Ebo>ef. tum\ non enim■ ab $0 facile capitur qui bcnc\acat
ybificp. exercida. Quef dizer. Occupaiuos em algúa cou-
fa pêra refiílirdes ao demónio: porque não enga-
na elite tam facilmente, aos que fe entretém em
bós. exercícios.* Não perfuadimos,pello menos ás
que íaõ ricas, & feruidas, que tudo fejaõ rocas, &
almofadas: porq não faltaõ outras occupaçoés,&
■ oihi L-O '• H . exer-
perfeito. 185
cxercicios,em cjfe poíTaõgaftaralgúashoras,co-
rno ler por Huros deuotos,q he a lição mais conue
niente, & accomodada pêra coda a géce Chriftaã;
ou cambem d'hiftorias, com canco que não fejaò
lacioas, nem amorofas; porque neftes há muytos
perigos, mal encendidos que âs vezes caufam da-
nos bem cercos Recolherfe em feus apofcncos,ou
Oracorios a traçar hum pouco com Deos,ou me-
tal, ou vocalmente, conforme ao cabedal de feu
efpirito: Afsiíbr nos lauores, & cufturas de Tuas
criadas, & concarlhe amigauelmence exemplos
deuocos, & curiofos do que tem lido, que lhe íír-
uaÕ de aliuio no trabalho , & de exortação para a
virtude: Paíladaalgua parte do dia neftes, ou ou-
tros bons exercícios; tornem ao de fuás cufturas,
& fiados: que não deuem nunca largar de todo,
por fer o mais accomodado, & conueniente, que
podem vfar as molheres cafadas, & em que fem-
prefe efmeráraõ táto as mais illuftres, qualifica-
das, & perfeitas: & a gloriofiísima Virgem no (Ta
Senhora: a quem o Cco adoraua, & o Inferno tã-
to temia, tam liure, & fegura de qualquer íombra
de peccado, que por mais ociofa que eftiueUe,
não podia nunca ter parte nella, nem húa peque-
na leuiandade;com tudo" viuia,pera exéplo noíTo,
cõ tantos refguardos, & cautelas nefta matéria-, q
já mais deixou de cftar occupaJa cm nenhuns
heras
I IúG €dfdmentô
I horas, nem momentos: porque as primeiras três
\â • L dodia(rcfercoaísiíàntoEpiphanio)galtauacmre
hcrd.vbi zar com o feruor,& deuaçaõ,que podemos confi-
fut>. Me- derar cm tal fpirito: as outras três q íe lhe feguiaõ
\uphratf. em gar ol3 tecer (quem pudera comprar algúa va-
ew
! *P j "- ra je(\e pano) ou cncanelar os feus nouelos-, com
o qual officio fe (uftcntaua: & o de mais tempo
cm meditar nas coufas diuinas, & ler pella Efcri-
tura Sagrada:& com tam foberano, & diuino exê>
plojque RaynliSjOU que Princefa,não digo ja dou
tro ertado nem qualidade poderá ter atreuimento
pêra paífar a vida ocioramente5
• C A PIT V L O. XXIII.
■Oue efeufem enfeites demdíiados.
)9i CafAmento
melhorou por interceflaõ de hum homem Íant5
não faltarão muytas que fe perderão com os en-
contros dos profanos: pellaqual rezao os Iurifcõ-
fultos refpeitando aos prejuízos que trazem con.
..:■ • •. íígo eftas d.émafias,determinàtão que as pudeííe
defender com graues. penas rodos os. Bifpos,&
juizes: .& o Papa Cregorio decimo^naquelle con-
cilio geral,que celebrou em Leão de França, as de-.
fendeocom varjos decretos, & porfe clles depois"
irem relaxando com a continuação; & coílume
do tempo, os renouou, & fezexecutar o bemaue-
Canhn- turado Sam Carlos. Barrome.u no feu Arcebifpado
tom. 4- ^ç Milão, como tudo apponta hum autor grane,
& outrodenão menos grauidade afflrma tábem
Steptia. q ícdeclaraua nas leys antigas, que fe hum home
GttazM- fezeíTe húa publica &afrontofa defeortefia a qual»
3- quer molhe.r,pór illuftre que fofl"e> que andaffe em
trajos pouco honeftos, fenáo podeííe chamar in-
. juria, nem recebefle por cila.nenhum caftigo: &
Ludoui. muytosannos antes defenderão os Romanos os
Viues. m.efmos excejfíos naleyQpia, a.quai confirmou
ap.Lace. depois.Catão çotra a vontade dç dous fenadpres,
v
■*"?' aquém, por não encontrar a de foas molheresj pa-,
TruMcif. tecia bem que fe derogaíle; & fe: pos em Roma
xime» .• hum-edição publico, que,toda amolhercjue ixw.U
apnd eU tafíe-algum.género..de;eraj.o.j ou de' toucado1.diffe*'
dem. renté tCj0 qUç. fç yfaua,; fotfe logo defterrada.com.
• . . " feu
terfekô. x^v
(ca marido, ella porque o inucntàra, & ellc, porq
oconfentíra, &osccnforestinháo obrigação de
lho mandar pinrar fobre todas as portas, pêra que
íbubcílem as de mais a rezão, porque a's deftetrá-
ráo: & ate nos lugares pêra ondeie hiáo ficauáo
mal quiftas, & dcfprezacfas. Tambcm fabemos Ldccrd*
dos Lacedemonios que não permittiáo demafia *&h
de enfeites/enão fomente nas molheres publicas:
& dos Locrenfes, & feu legislador Zaleuco que da D;âj.r-
mefma maneira a não cõíentiáo fenáo fó naqllas, shu.tik,
que quifeflem confeílar que crão adulteras: ôcaiz,
rezáo, em que hús1 & outros fe fundáráo.,era muy
difeteta, & bem atinada, porque como todas as
molheres de qualidade fe prezão tanto de fere ho-
neftas,de força auiáo de fugircom grande cuyda-
do de tudo o que as fezeíTe parecer o contrariou
com efta traça alcatifarão com honra, & fem tra-
balho a reformação que pretendião. Mas ainda ã
(cjáo tam apertados eftes rigores, tem fuás diftin-
çóes muy difpenfadas; & quem quifer perfuadir
fem cilas cfta doutrina, moftrarfe há muy atreui-
do, ou mais do que he jufto efcrupuloío. Os en-
feites, & atauios andáo à medida das idades, quali-
dades,» & fazendas, ou mais ou menos tempo de
cafadas, com tal ordem, & conformidade, que o
que em huas hé moderação,ferà em outras dema-
fia: & o perigo deíla matéria coníifte mais nas
N ^delpor*
194 Cdfamento
fèfproporfões, que nos exccífos: porque quánt
do húa,que for moça iliuftre,& rica trouxer as ga-
jas & ornamentos que lhe competem, com os
quaes fe veíte mais por decência, que por liuian-
dade, parece que tem mão no defejo dos ociofos,
& ria liberdade dos.atrcuidos; porque a mefma
filofofia nos cníína que ncnhúa coufa no íeu cen-
tro fica pefada, nem perigofa: pello contrario pa-
rece que por hum & outro defeonto eftà chama-
do, a que tendo mais annos, & menos cabedal,
& qualidade, fe enfeita com os mcfmos trajos, &
galantarias: & como o follicitar amores profanos
contra a ley, & amor de Dcos, hé mera doudice,
& defuario, o mefmo bom defcuríoeílà raoftfan
• oo que não pode fazer tanto cfíeitq nas que em
fe enfeitar Ceguem a rezão, como naqucDas que
a preucrtem.
E porque as pofturas do rofto nao deixão de
ter muyto parentefeo com a demaíia dos enfeites,
não vinha muytò fora de occaííáo dar noticia lar-
ga de feus encargos, pofto que não aja nefte Rey-
V\o pêra quem firua, porque he menor inconue-
niente aduirtir íem neccísidade, que poder auer
erro fera aduertencia: porem não hê matéria efta
pêra queixas geraes, nem documétGs particulares:
Omnes Vejafe o que nclla dizem Tanto Agoítinho, fanto
i*<Kni<i Thomas,S.Cyp'riano>S. Ioão Grifoftomo, São
Gregório
perfeito. I9J
Gregório Nazianzeno, Clemente Alexandrino, ap Cáfm
Aurélio Prudencio, Antiphanes Cómico, Flauto, ibá^cn,
Tibullo, & outros .rcuytos: & cm todos elles, ÔC tom,4.
cada hum por íi,íe acharão infinitas pragas, inuc-
diuas, & vitupérios contra efta hipocreíía de fer-
mofuraXemos.deLycurgoquedeftcrrou da Re- D,
J
, ,. , _ o 1 PlUÍ&YC.
publica de biparta, pera nunca mais aella tornare jH LACBn
r
CAPITVLO. XXIIII.
GAPITVLO XXV.
Que fe guardem de conuerfafoes demajtddas,
pojlo me parefão licitas.
' r O nelles
perfeifõl 2.15
hellcs naqúclíe efpaço que duratia o Eclipfè,& to-
dos eftauáopcríuadidosqoacabarfeelle não era
outra coufa, fenão tornarfea alegrar a Lua có tam
brutal, & gentílicafefta. E pêra Iuuenal encarecer
o rebuliço; cftrondo,& fúria deftas lingoas defen-
freadas, diz q húa fó delias pode aliuiar a trifteza
da Lua, que he o mefmo q fazer rnayores nuno-
res,& doudices,do que faziáo aqueiles-ignorantes
•com feus tachos, trombetas, & campaynhas. E fe
.as peflbas,com quem tratará as molheres caiadas
acertarem de ferda condiçáo,ou arte de£hs,pofto
õ fejão poucas, & efcolhidas,fempre cilas efhrão
aparelhadas a não menos defaftres, ou defgoftos,
que fe conueríàrao com toda a terra: porque eín
fe admittindo feraelhante gente, efpeoiàlmente fe
faõ molheres, ( &L claro eftà, q G haó de (cr, pois
■com homés não fe permitte conueríàr particular-
mente nem- caladas, nem folteyras ) por algúa
experiência vemos- q fe efeapáo de eníinar liuian-
dades contra afirmeza,pode fer que fe entremetáo
em dar documentos contra a concórdia, perfua-
dindolhe.quenãofofráo tal,ou tal defeonto a feus
maridos: & logo lhetrazem exemplos doutras, q
fazem em tudo fua vontade, & como eftas aduer-
tencias nunca faõ de muyto defgofto pêra as ca-
fadas,lanção ás vezes mão delias tanto de fifo que
fe põem em rifeo de fazer doudices: & com eftes
*" P 4 ~ goucrnos
,*íé Cafdmenlâ
.goucrnos fe defgouerna a paz de hÚa alma,a quie:
cação de bua famjlia, & a perfeição de hum cafa-
mento: & por atalhar aos encargos delles, a priJ
. meyra circunftancia que aponta Euripidcs,& que
encomenda com muyta efficacia nos preceitos cõ
jugaisqtrazStobeo,he náofc permitrirem cafa.
tal forte de gente. Mutuam, nunqmm-, non emm I
Suh femeluntlm dicam j mente hahentes, fermittere o\
£?'/*/• prtet^uihus^xorefk^tàomuaâ ipfim ingredun*
tur alU nrnlieres-ydocent emm res tòâUsJtfoeefi aud
domus^ Virorum m<ile hdent. Qu^ di. N u n ca, n u n ca
q o não digo húa fó vez, os homés cafados q tem
juizo deixem entrar quaifquer molheres, onde as
fuas.eíteuercm,porque não faó boas as coufas que
lhe eníinâo, & daqui vem ferem algúas cafas tam
ma! regidas. * Eno mcfmo lugar, cujo latim por
fer muyto largo não efereuemos: fe achara dizer
elVinÍjgneautbo^quehúaslhe folicitao a ho-
neftidade pello proueito que lhe refulta de ferem
terceiras,outras por terem cahido em algus erros,
lhe perfuadem por inueja,ou defeulpa que os co-
mettão, outras por ignorância ddaduerrida fe en-
tremetem em dar confelhos defencaminhados, q
fempre vem a caufar dano, ou defgofto. Aponta
Plutarco húa miferauel exclamação q razia certa
'mòlher Grega por nome Hcrmione em dcfcõtos
q por çófelho & conueríàçào de algúas deitas lhe
fobrcuie-
perfeita' 117
fobreuierao có feu marido,naqual repetia muytas
vezes Me perdidemm aâ me adoentando mulicres l»pr<ec.
maU. Qadi. Deitarãomc aperder ruins molheres <•}* «*•
que entrauáo & conuerfauáo em minha cafa. * E'"£ st0'
v
por diante vay encarecendo o mefmo Plutarco o y*°'
mal que fazem, & a quanto fcarrifcão,as que não
fechão a eftas taes não fô os ouuidos fenáo-as por-
tas: & depois vem a rematar todo odifeurfo com
eftas excellétes pafauras,'merecedoras de as trazer
fempre na memoria roda a q quiíerviuer quieta.
Cum muliercuU calummatrices dicent tibr. amantem
fui tey & pudica wV mifue traãat: Quid ergo, dices)
fet ft odijfe eum, & tnjurijs afficcere incipiam. Qu.
di.Qíiando eftas agulhas ferrugentas vos forem
dizer que voíTo marido He muy ruim homem, &
vos trata mal fendo vos tam honefta, & íua ami-
ga, & por iííoquifercm aconfclhar que o não fc-
jais:re(pondeilhe:fecUe me trata afsi fendo ea
cíía, como me tratara fe vir que lhe quero mal3&
lhe faço injurias. *£ (obre tudo lhe encomenda- .
mos quefe guardem de húas velhas de meya au-
thoridade, que còftumáo entrar em muytas caías,
& faltar na rua có muytos homens: & juntamete
d'outras a que vulgarmente chamamos Adelas, cj
tem comunicaçáocom toda agente por occafiáo
dasalfayas que vendem: porque temos também
experiência de quam per judicial & arrifeado feja
o trato
i5.8 ^ * Cafamento
o trato,& conúerfação de qualque r deílas: pois já
pode fer q accnteceíle trazerem fe cartas amoro-
fas dcbayxo de capellos authorizados,& entre en-
uolcorios de veftidos fe efcondcré outras do mef-
mo feicio, & fazerfe com que cilas, ou aquellas fe
áceicaííem de quéacê então não tinha noticia da
pretenção de quem as mandaua, & as que não
íeuarem cartas,pofsiuel fera que leuem recados,ou
comecem por elles, pêra depois vfarem dellas/ai-
canfando pêra iíío licença com força d'embuíles
& lifonjarias, & que não fe lhe aceitando dapri-
mcyra vez, inftaflem fegunda, terceira, & quarta,
efperando com a frequêcia de-íeus enganos alcan-
far o cfieito de feu intcrcfle, & a efperança he muy
importuna, & a importunação muy poderofa,& •
neftes cafos as qué fe entrcgão,ficáo perdidas:'&
asquereíiílem, pcrigofas: porque faó muy incer-
tas as refiílencias entre profias continuadas. Im-
porta ifto muyro a todas as molhercs de qualquer
. qualidade, ou eílado que fejão: pois temos alcan-
fado-.q a continuação de fe.melhantes entradas hè
muy arrifcada pêra as honras, & muy prejudicial
pêra asconfciencias. Morauaem cerco lugar que
não nomeamos, húa donzella orfaã & pobre, de
bom parecer, & de pouca idade, viuia honrada,&
honçílametc enrre pobreza,& fermofura,que faõ
os barrancos mais perigofos de coda a honra, &
1
honcfti-
*
honeftidade, entendco nella hum perfonagc de
roupas largas, que também o era na confeiencia:
& depois de lhe não aproueitaré rogos.promeflas
& diligencias, entregou foa pretençáo a hú deites-,
capellos entremetidos; bufeou a velha occaíioes
de lhe ir a cafa,& trauou com ella eftreita amiza-
de: hua vez em pratica lhe começou a louuar feu
recolhimento;, & a fe compadecer de (eu defem-
páro, & perguntoulhe meudamente qualauia de
íer o (eu modo de vida ,' refpondeolhe ella com
muyta magoa que o não fabia,porque feu cabedal
era tam pouco que a não deixaua ter efperanças de
fer cafada ré religiofa: diflelhe a peruerfa,& aftuta
enimiga, que fe quiíeííe faber o cftado de vida,que
a vétura lhe tinha ordenado, fe pofeííe a rezar per
çincOjOU féis noites nafua janella,& aduertiíle bé
no que ouuifle na rua: tomou a moça o enganofo .
coníelhocomfmgeleza, & fimplícidade, enco-
mendando a Deos aquelle negocio, fem aduertir.
que náo era aquillo deuaçáo, que o obrigaua3fenâo
luperftiçáo que ofendia: naquellas horas que ella
rezaua,pafíauahum moço pellarua, por ordem
&induftria da própria^ velha, cantando en altas
vozes as ladainhas, & detinhafe por algum efpaço
ao pê da janelk: paííados aquelles dias lhe tornou
a caía, & perguntoulhe fe fezera a deuaçáo, & o q
delia refukàra, & tanto que lhe diííe o que ouuira •
cantar
zio Cafamento
cantarem todasaquellas noitcs:lhe refpondeo cõ
cfficaz refoluçáo q era íinal muy infalhuel de ella
vir a poder de algua peífoa quefoííc,ou ouucíle de
fer ecclen*aftica,& pois q fem duuida eftaua guar-
dada pêra eftas fadas: ella conhecia hum homem
muyto rico daquelle eftado,que a poderia ter muy
a feu gofto,dkoía3 feruida, & regalada, & q logo
lhe hia pedir que a recolheíle, pêra que não cou-
befle por forte a outro,com que não teue0e tanto
defeanfo, &da hy fe foy com muyto aluoroço.
darlhe rezáo do que tinha traçado. Ficou a moça
entre fufpenfa & perfuadida, dando credito como
ignorante, & duuidádo como virtuofa.refolueofe
com tudo ( que fempre a virtude fegue o melhoc
caminho ) em dar conta do cáfo a hum Relipjofo
que a confeffaua: & dellefe informou dos enga-
nos & traças que não alcanfaua; & quando a ve-
lha veyo pêra dar cffeito ao que ordenara, leuoti a
repofta q merecia. Não falta noticia doutros fuc-
ceífos que procederão do trato & conuerfação de
tais pcííoas, & com pior fim do que vemos que
teue o deíta donzella, & porque nem todas pode
ter a fua ventura, ou aduerrencia, aduertimos nos
ôc pedimos, muyto que fe guarde de admittir em
caía femelhantes amigas, íem ter primeiro de fua
virtude largas, & cahflcadas experiências: porque
• hé tam antigo, & coftumadoíeie eilas inftruméto
de grandes
ferfekoí 21 [
de grandes defaftres; q o principaLcV mais impor
tance documento q os antigos dauÃo ás molheres
cafadas,era çlizerlhe. Improbam anum domi nunjua tfa(t?»a •
receberis: mulierubene conditas família pefTundede. eh. apu.
sp
m nt anus. Qu.di.Náo admittais em voíía caía ve- °^- ^f
lhas de que entenderdes q não faõ virtuofas:porq r*conl\
eílas taes tem jà dcftrnido muyto honradas famí-
lias. * Outros perfuadidos da mefma efperiencia3
tabem âifeváo.'. Ego vero )>etuUs cauenda* con(ulo3 Nicottta,
conÇúia intemperantia plenafuggerunt. Qu. di. O tp-eund^
meu coníelho hc qtodas fe guardem de tais ve- tom' 2'
lhas: porq íempre os q cilas dáo,faõ encontrados
com a temperança. * Plaut© introduz a hum ho-
mem nobre q fe queixaua muyto de bua deftas,&
depois de lhe chamar diuerfos nomes, t,odos muy
accomodados a feu orneio, &. nofíb intento, re-
mata as queixas com eftas palauras.
Scelejliorem me hâc anu vidi cerlefeto
Vidiffe nuntfua, nimifj, ego hac metuo mald> In Att-
*Ne mim ex iníidijs verba imwudenú dmt, lulfcen[
Ona w occipicio quo^ habet óculos. *'
Qu. di. Náo vi nunca velha rnais ruym queefta, .
& tenho grande medo q me engane fem eu faber
como, com feus embuíles^ filadas: porq també
tem olhos no toutiço. * Ouidio referindo aquella
fabularam íabida de quando Iuno fez queimara
Semeie mãy de Bacho cm vingãça do adultério/
: :
. . -: ~ ' ~' A™
222. Capjnentõ
Mcidm. fluci *upitcr com e^a comettérn: não achou mais
lib.y accomodado artificio pêra fingir 5-Iuno pôs em
7 " eíFeito efta vingança, que cornar .ena a figura de
liúa velha, & irlhe dar a caía taes confelhos, q fo-
ráo a total dcftruição de fua vid*'E |e o trato def-
tas com ferem molheres, he tão ."'judicial, &
arrifeado, que fará o doshomens,em quem o.pe-
ligo cftâ tanto mais perto, quanto vay de fer per-
Stôbl tenfor, a fer rercciroí5 Appertáráo os antigos táto
çteftjh. com efta doutrina, que nem ainda cõ os criados
quaefquer qfoíIem,permittião.praticas demaíia-
das, & fobre efte particular eícreuéráo muytas íea
tenças, & documetos-: & rezão he que ainda hoje
fe não permittão, porem mais por autoridade, <j
por perigo: porque pêra poderem ter algum, hc
Hecef&mo concorrerem duas -circunftancias, que
muyraramentefeacháojuntas,quefaõ muytoa
' 'treuimento nèlles, & muyta dafenuoltura liellas,
■&i nunca, ou poucas vezes acõcecc chegarem am-
ebas eftas coafas a tanto eftremo,q fe poffaó delias
formar receyos, que fejáo certos, né bem funda-
dos: & fealgua vez acòteceííe. faóiíío monftruo-
(idades qne fetiáo reduzem ado.cumetos: "porque
onde ouucr (de q Deos nos guarde.) ta© depraua-
das naturezas, nem pays com filhas, nem irmãos
Com irmãs eftaráo feguros, & nos tratamos do q
íe confirma com a rezão,& não do que a excede
: &def-
ferfeitâ -113
& desbarata. Alg"H* querião também que foflem
perigofaseftas '$p 'iças, por podereos criados fer
medianeyros aè algiía pretençáo de pcíloas de
fora: mas nem ajsi me achamos bõ fundamento:,
porque íoppeff ~ iue os que feruem em caía não
podem deixnPRtallar nua vez por outra coma
íenhora delia para trégocios,& occafíocs q fe offe-
recern, nunca lhe pode faltar tempo.,quando qui-"'
zerem fer traydores, para efíes aluitres, ou embai-
xadas, com mais ou menos breuidade, (egundo a
occaííão em que fe derem: por onde pêra os
criados, &■ criadas não há outro nenhum re-
paro, ícnão fabellos efcolher ( que afsi hé muyto
riecefíario ) de tais cuftumes, & procedimentos^
fefaça dell"es verdadeira confiança conforme ao
parecer & defeurfo humano. O em q fe deuc ter
muyto cuydadojhè em não confentir das poitas a-
den$>ro a conuerfaçao de algús fenhores que com
titulo de parentefeos arro deados, ou de correfp5-r
denciasindifcretasjtomão liberdades que nao fe
lhe deuem-, le que às vezes procedem taes defeon-
certos, q quando fe acode a vfar do remédio, jâ o
dano eíU íenhor da honra-, & a todos fe atalhara -
com facilidade, fe quádo os homês teuerem ami-
zade com eítes ( que pouco mais ou menos logo
faó bem conhecidos) tratarem delia das portas a
fora. De muytos exemplos que neífce pardcular fe
2.14 Cdfamento
nos oíFcreccm, eícolhemos hum que merece fct
muyto notorio3afsi pella nouidade do fuccefío3co
Martin, mo pella authoridade do Efcritor. Em húa cidade
dehius, longe defte Reyno viuia hurcvhomem principal,q
difqni. ^nha a molher fermofa & moça, muyto cõpofta,
U
ll^ & recolhida, hialhe a caía hnm certo amigo,cujo
qax» 2. cftado não declaramos, que era tam deprauado
noscoftumes, quanto exemplar nas apparencias:
fallaua com ella muytas vezes com as liberdades.
que fempre nacemda conuerfaçãocõtinuada:náo
reparaua nellas o marido, poíto que a molher as
eftranhaua rnuyto-.porn a boa reputação coftuma
fermuvconfiada: íokoufé elle tanto em lhe de-
J
2.5.Ó Cafamento
. bros por entre os incédios, Sc crueldades em õ os
de mais Troyanos perderão ss vidas. Era rifcoeí-
taua de ficar vécido3 abatido, & prefo na batalha
ehrem- do Touro o noílo Rcy D. Afonfo o V- Te o Prin-
Lfífittc. cjpe D.Ioáo lhe não acudira aflegurádolhe a vito-
ria,repuraçáo, & liberdade. Vejáoíe os autores an-
tap* 4*
ti^os& modernos,efpecialméte Valério Máximo,
lib. S. Baptifta Fulgofo, Baprifta Eguacio , André Ebo~
cap, 4* renfe, & nelles fe acharão exéplos raros,& admi-
lib. 5. ' raueis de cjuão proueitoíos faõ os filhos pêra feus
cap* 4* pays,hús dando por elles* prodigamente vidas,fa-
tom. 2.
Valer. zendas, & HberdadeSjOutros fazêdo tão eftranhos
Max. v- exceflbs,ój tem o mundo muy eftrcita capacidade
bifup. pêra olimite de (eus louuores. E não íómente dos
filhos machos refultão aos pays eftes intereííes, fe
não tambê de muytas fêmeas: pergútemos ifto a
Cimon Romano, cj eftãdo em hú eftreito cárcere
defemparado miferauelméte de todo o foccorro,
Y mantimeco: o fuílentou -muyto tépo húa filha
ua co e te
i^/tnâr. ^ ' fó ° l i de feus peitos. Perguntemolo ao
Ebor. pay dacjlla antiga Claudia virgé de Vefta, q indo
vbifup. rriunfando pellas ruas de Roma, & querendo cõ
grande violência eftrouarlhe o trionfo hú tribuno
do pouo feu enimigo,acudio ella cò outra mayor,
& o laçou logo do carro abayxo,èc leuou feu pay
ao Capitólio fem contradição, nem impediméto.
Tàrabcm feria boa teítemunha o affligido, &
pobre
A —.
ferfeltól 2.37
pobre Édipo Reyde Thebas, a quem fomente íua Sut^
filha Antigone deu confolação nas afflições,& rhcb&i
fuftentação nas necefsidades- Em fim hecam no- lib. 12.
Se
taucl o intereíle que reíulta de nacerem filhos,que ^-«
eA
diz S. Paulo, que fe haõ de faíuar as molheres ca- '
fadas. ¥erfiliorum genWdúonem. Que quer dizer, ^^j-17?
pella geração delles. * Entendefe ifto quando por epji, 2
vícios, ou defnarios não perderem ellas o mereci- cap. 2.
mento. E quinto Mecello, &: depois delle Iulio,& Alsx.t
ex
Augufto fezeráo húa ley, na qual mandauáo dar ;
grandes prémios, & priuuegios a todos os nomes
q ciueíTem filhos: & entre os Lacedemonios auia i£, iyu
também outra rnuy exprefla, & pracicada,que to- &Uih*
do o homem que teuefie até três filhos,o não pu- ,.%ar;
deffem obrigar a ir aos rebates nem vigias :'& ten- J .
do mais, nao pagafle ninhum tributo^uem le en- " "
tendefíe nelle encargo algum dos moradores da
quella Republica. Porem eítes goftos3& intereífes
nao lao muyto pertos em todos' os; pays: porque
faem algús filhos tam áueíTos,&r mal concertados
auelhe conuertem eítas deícanfos & alegrias, em
inquietações, fufpirôs>& lagrimas, &. os bens de
queeoítumaprocedcrtanco:proueito, em males,
&c dèígraças irreparaucis, fó pêra os perfeitos cafa-
dos fe pode todos cftes bens chamar excefsiuos,&
verdadeiros: porq o gofto de tere filhos.hé nelles
:
muytó rhayor que cm quáefqtier outros daquellc
cílado:
2j 8 Ccifamenii
citado, & os quê delles nacercm nunca põdeni
degenerar da virtude,& nobreza de feus pays,auòs,
j & antepaííados, nem deixar de lhe caufar muytos
' proueitos & alegrias:& húa & outra coufa fe mof-
' tra claramente com regras de bem fundada Phy-
lofophia. Bem fe fabe cjue os filhos faõ penhores
d'Amor, & por iíTo na fraíl Latina, efpccialmen-
ce da Poeíía, o mefmo hé dizer penhores, que di-
zer filhos: também não auerá quem ponha duui-
da q lhe foy pofto efíe nome, por náo auer coufa
de mayorgcíloperaoscafados: logo parece que
bem fe infere que tanto feráo efles penhores mais
agradaueis, & deleitofos, quanto for mais intenfo,
$C aferuorado o Amor que fe tem os que os gera-
rão^ como o Amor dos perfeitos cafadospor
tantas rezões,& fundamentos hé fempre auentaja-
do ao de todos os outros; por igual confequencia
fe fícamoftrando que ferà nelles mayor com grã-^
des ventagensa confolação, & gofto dos filhos:
Ôc que todos os q nacerem delles hajáo de fair vir-
tuoíbs, & obediétes, a mefma Pbylofophia o eftá
declarando.Sabida coufa he entre os Phylofophos,
& bem ventilada entre os curiofos,que coftumáo
os filhos a tomar femelança daqucllas coufas, em
ã feus pays,ou mãys põem eííicaz imaginação. As
rezões>& declarações defta Phylofophia q em La*
tim faõ muyto ejegantes,& Pbyloíbphicas,& em
Português
ferfekc. 2.39 \
Português terão algúa coufa de indecentes: fe po-
dem ir bufcar em Martinho dei Rio,S. Iíidoro, Lib.t.
Plinio, &outros;& particularmente em hum tra- ™p 3>
tado, que compôs oveneraucl MartyrThomas ***/•.■£
â
Moro. E nellas íe achará que em refpeito da natu- ? ,* *
rai Phylofopbia,fe pode duuidar pouco defta ver- eandem
dade : aqual também fe confirma com exemplos, ap. eun •
em
Conta Torquemada de húa molher cafada do feu ^ -
A !ld
tempo, cujo marido veyo de certa feíbcom húa ? : .
mafeara de diabo poda no rofto : de q cila teue u}°?
grade medo, & elle rez graça de a nao querer tirar
ate o outro dia: & da hi a noue mefes íhe naceo
hum filho com o rofto fem tirar nem por feme-
lhante ao da própria mafeara, & logo cm nacen-
do começou a correr,& faltar, & afazer outras o-
bras, & marauilhas, como fe reuera o diabo no
corpo. Celio Rhodogino efereue doutra, que em
L 2
tempo de Hipócrates foyaccuíada barbaramente ^- \
por adulterio,por lhe nacer hum filho muyto fer- "?'IJ*
mofo, tendo hum marido maytofeoj como ella
também o era, & toda a mais gente daquella caí-
ta, & por eftar na cafa,em que elles dormião hua j
imagem pintada muyto perfeita,com quem fe o
minino parecia, a liurou Hipócrates do caftigo,
raoftrando as rezões daqaelle fegredo.No Textro
íagrado temos milhor calificadosos efTcicos defta clp là
l %
PP^fo & Pty °f°phia,c|uando conta que o Pa- ~
triarcha
z'fO Cafdmento
m
LAVS DEO
»*
PEDE O AVTOR MVYTO A QVEM
ler efte Liuro^que primeyro que o lea queira
áduirtir nos erros da impreffaó, que aqui
váo apontados, & emmendallos
na forma feguinte,
P^ K^igtna. ii. regra. /?. Mum, leafeillatn, pagwa.tf*
' reg. xi. GaudL, le. Gwdia\pag. S*- reg. *j; refe-
luçaoje.refolução: pag- s$. reg 24. dtfcrito, lea.
difereto pag. só. re* $. repredededojea. repre?tdendo*pag.
64*teg 4> muliere:le.multcri:namffmapêg. cr reg.re-
mitteriyle.remiticre:pag.7i' reg.<>. deliberao, le. deli-
berado: pag* SS. reg* 1. pofio nao> le. poftoquenaoipa-x \o.
reg. 21. molhes, le molhtres:pag 119. reg. 26. dcgoHos,
le defgoftos:pago226.reg. 2z. quehâje. qtsehe.pag.13t
reg 1 6. C*ya, le Cayo, & acreeentefe, ft rey eu Cay£:pag.
144. reg. t.MaunoJe. Manno\pa 150 naallegaçaopoíiá
na margem, onde diz, li. vitimo le- ky vitima, na me(ma
állegaçâo ondediz> Auw, le. ^jítiro:pag. >j3*reg» f).ana-
ritta, le. ãua7Ísia:pag.i76. regai & ficarem, k* emfica-
rem: pag. %77.Y2g. 9 enÇwbfíomle. enfinâfft?»: pag* itz,
reg- i a. WQ mefmo exercido le>no mejrxoje exercitou.pag.
l%4.re. 14 exeteitij, le. exercittjr.pa. 192*?? j, Htif-
confnltoSy le** Legijladwes:pag. 1 fò- reg- \ 2 Jufiencialje^
JuftMcial: pag 20t. reg. 7 deHe} le. delles. pag 206* reg,
20 toc&uao le tomauÃo:pâg. 2 \ o. reg. jó.foyojefojaoi
pÃg. 2 tio reg. 7. de^ojíos} le- defgofto*: pag zij.teg- rj0
cuw, le-eum:pag- 2t9 reg- 2/. que efiendia k. q o offen-
dia: pag. 222. reg. vitima, confirma, le. conforma: pa.i2<$*
reg. 74. c)%e rovbafíe, Uo qt*elheroubafe. pa z}* reg %f0
I iriftitia, fa trifistiâ: pag %$t. ttft. 2,4-fewekfi(êà le. fe<-
,. r ,*•• • *-'l » -! • • -^v> , » .*? <* - t X » -■- \ • •' '•
0 •
I*
I-
^^
\ cm •' '♦
W. Ww*
?
n "í
t«h v v^*«
* *>\
»
^
•>J
««#•»*;
*- .* AÉ*
to
x
^
«v4
t»
,.^ v
^
k**5
^t^anfi iè. ^í >
i
tf
!.V
'«?*&
*t< kSi
çN^
1 .9 Vi
/ "iffil
%\ ^
Pã 3-
r .
^•V
(I
Vi
\*
.«. >
85?
; // Wg*
■Sr 7
(ifr: