Acordao 15 CC 2014
Acordao 15 CC 2014
Acordao 15 CC 2014
De 20 de Novembro
Processo nº 16/CC/2014
Relatório
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políticos estariam representados pelos seus mandatários, designadamente os
delegados de candidatura, que, através deles, exercer-se-ia o “direito-dever” de
impugnação prévia;
– O apuramento parcial fora realizado apenas na presença dos membros das mesas
de votação, sem direito a impugnação, conforme instruções do STAE;
– Por isso mesmo, os resultados não espelharam “a realidade dos votos expressos
nas urnas, mas sim os dados aleatórios e falsos” fabricados pelos presidentes das
mesas de votação;
– Pelo motivo expresso acima e porque o número de votos lançados não eram os
apurados nas mesas de voto, os delegados de outros partidos não assinaram as
actas e os editais;
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– Para além da Cidade de Tete, as irregularidades semelhantes também ocorreram
nos Distritos de Chiúta e Angónia que estão contempladas neste único Recurso
Contencioso Eleitoral do partido MDM;
Junta, para o efeito, a fls. 104 e 105, uma procuração forense e uma credencial de mandatário de
candidatura.
O Recurso Contencioso Eleitoral apresentado pelo Partido MDM foi indeferido liminarmente
porque:
a) Faltou a impugnação prévia dos actos objecto do recurso: o recorrente não juntou
provas de que teria reclamado ou protestado nas mesas de votação, ou ainda, não provou
ter protestado nos órgãos da administração eleitoral, conforme dispõem os nºs 1 e 2 do
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artigo 192 da Lei nº 8/2013, de 27 de Fevereiro, derrogada e republicada pela Lei nº
12/2014, de 23 de Abril, conjugado com os nºs 1 e 2 do artigo 174, da Lei nº 4/2013, de
22 de Fevereiro, derrogada e republicada pela Lei nº 11/2014, de 23 de Abril.
b) O recurso foi apresentado fora do prazo legal: o recurso deu entrada no Tribunal
Judicial da Cidade de Tete no dia 24 de Outubro de 2014. Dispõe a Lei Eleitoral que o
recurso é interposto no prazo de quarenta e oito horas, a contar da afixação do edital que
publica os resultados eleitorais para o Tribunal Judicial do Distrito de ocorrência dos
factos. Neste sentido, confira-se o nº 4 do artigo 192 da Lei Eleitoral. Como se
depreendeu dos autos, o recorrente só fê-lo transcorridos nove (9) dias após a fixação dos
editais que publicaram os resultados eleitorais, violando de forma flagrante o comando
legal supra referido. Trata-se, pois de um prazo peremptório, cuja violação impossibilita
definitivamente a sua prática regular.
O Despacho do Juiz a quo foi precedido de um parecer do Ministério Público que também
propôs o indeferimento liminar do recurso por violação da Lei Eleitoral, designadamente a falta
de impugnação prévia das irregularidades ocorridas e por intempestividade do recurso.
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II
Fundamentação
O presente recurso foi remetido ao Conselho Constitucional nos termos dos números 6 e 7 do
artigo 192 da Lei nº 8/2013, de 27 de Fevereiro, revista e republicada pela Lei nº 12/2014, de 23
de Abril, que estabelece o quadro jurídico para a eleição do Presidente da República e dos
Deputados da Assembleia da República e dos números 6 e 7 do artigo 174, da Lei nº 4/2013, de
22 de Fevereiro, revista e republicada pela Lei nº 11/2014, de 23 de Abril, que estabelece o
regime jurídico para a eleição dos Membros das Assembleias Provinciais, doravante
simplesmente designadas por Lei n° 8/2013 e Lei n° 4/2013.
O recorrente Partido MDM tem legitimidade processual activa para recorrer, em conformidade
com o que dispõe o nº 2 do artigo 192, da Lei Eleitoral.
O recurso apresentado pelo recorrente é tempestivo, nos termos do nº 6 do artigo 192, da Lei
Eleitoral.
Analisando:
Ora, a alegação supra não tem acolhimento favorável deste Conselho Constitucional por não
possuir um mínimo de correspondência verbal com a letra das Leis Eleitorais e muito menos com
a mens legis.
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parcial, distrital ou de cidade, provincial, geral e nacional, podem ser apreciadas em recurso
contencioso, desde que tenham sido objecto de reclamação ou protesto”.
O recorrente enfatizou no seu recurso o facto de que a impugnação prévia pressuporia sempre “a
presença do impugnante na mesa durante a votação e o apuramento dos resultados, logo se vê
que tal direito não podia ser exercido in loco porquanto factores estranhos ao impugnante
ditaram o seu não exercício, podendo fazê-lo a posterior atendendo ao princípio da prevalência
das leis constitucionais sobre as ordinárias”. E acrescenta o recorrente: “ (…) fica claro que a
impugnação, mesmo em fase posterior, é procedente em face do impedimento coercivo do
exercício do direito de fiscalização (…) por solicitação e ordens explícitos dos presidentes das
mesas de voto, que desfrutando do prazer que lhes conferia a autoridade momentânea, se
transformaram em ditadorzinhos ad hoc”.
Se o recorrente não tinha a possibilidade de se socorrer da via indicada pelo nº 1 do artigo 192 e
do nº 1 do artigo 174, respectivamente da Lei n° 8/2013 e da Lei n° 4/2013, poderia, porém,
protestar junto dos órgãos de administração eleitoral, atendendo ao pretenso justo impedimento
de fazê-lo no decurso da votação e/ou no apuramento parcial dos resultados eleitorais, nos
termos do nº 4 do artigo 101, e do nº 4 do artigo 113, ambos das supracitadas leis.
Quanto à prevalência das normas constitucionais sobre as ordinárias, observe-se que estabelece o
artigo 135, nº 4 da Constituição da República que “O processo eleitoral é regulado por lei”. E o
artigo 179, nº 2 alínea a), também da Constituição confere a Assembleia da República
competência para a aprovação da legislação eleitoral. Foi nesta conformidade que o legislador
aprovou as Leis Eleitorais.
Outrossim, se o Juiz a quo afastasse a aplicação do nº 1 do artigo 192 e nº 1 do artigo 174, das
Leis n° 8/2013 e n° 4/2013 respectivamente, com o fundamento de que seria injusto para o
recorrente, porque “os delegados de candidatura (fiscais) dos partidos da oposição foram
mandados retirar das mesas (…) ”, estaria a violar as Leis Eleitorais, por um lado, e os princípios
gerais do Direito, por outro, designadamente o constante do nº 2 do artigo 8 do C.C., atinente ao
dever de julgar e dever de obediência à Lei, segundo o qual “O dever de obediência à lei não
pode ser afastado sob pretexto de ser injusto ou imoral o conteúdo do preceito legislativo”.
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A alegação da irrelevância da impugnação prévia das irregularidades no decurso da votação e no
apuramento dos resultados eleitorais, a todos os níveis, não procede por violar a Lei Eleitoral
vigente.
O Recurso Contencioso Eleitoral deu entrada no Tribunal Judicial da Cidade de Tete no dia 24
de Outubro de 2014, transcorridos 9 dias, após a afixação dos editais que publicaram os
resultados eleitorais. Esta inacção do recorrente violou o disposto no nº 4 do artigo 192 e no nº 4
do artigo 174, ambos das Lei n° 8/2013 e da Lei n° 4/2013, respectivamente, segundo as quais o
recurso, havendo-o, deve ser interposto no prazo peremptório de 48 horas após a afixação dos
editais que publicam os resultados eleitorais.
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Analisados todos os factos ocorridos que determinaram a presente lide, conclui-se que a decisão
do Juiz a quo não viola nenhuma disposição legal atinente ao contencioso eleitoral, pelo que é
legal.
III
Decisão