Um Olhar Psicológico Sobre A Delinquencia PDF
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Um Olhar Psicológico Sobre A Delinquencia PDF
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Documento produzido em 28-03-2010
(2010)
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RESUMO
Este artigo tem o objetivo de apresentar noções gerais sobre a delinqüência tendo como
foco estudos de psicologia. A fonte das afirmações está em artigos extraídos da internet e livros
de psicologia jurídica e criminologia. A pesquisa demonstrou a existência de uma pluralidade de
abordagens sobre o tema, demonstrou ainda que a delinqüência decorra de um transtorno
psíquico, demonstrou que o sistema de penas não está atento à possibilidade de existência desse
transtorno, constatou-se ainda um descompasso entre prática judiciária e realidade.
INTRODUÇÃO
O problema da delinqüência têm se tornado cada vez mais preocupante com o tempo e o
avançar da contemporaneidade. Não há nação ou povo no mundo que não tenha que enfrentar
este desafio, em todas as conferências e projetos de ações públicas e segurança pública esta tem
sido uma questão primária, inclusive entre os países desenvolvidos.
Pensar e refletir a delinqüência, e as causas de sua existência, é obrigação para toda nação
que deseja se desenvolver e pensar o futuro. Erradicar as causas, determinar medidas de
prevenção e promover o tratamento adequado para este problema é necessário para se resolver
toda a problemática da segurança pública e bem estar social, é a melhor forma de proteger as
famílias e jovens deste mal social.
O cientista está na linha de frente desta batalha, pois o maior desafio hoje é a mudança de
paradigma, transformar a forma de enxergar o delinqüente, trazer novas compreensões sobre o
tema que não se limitem ao senso comum e a opinião popular. A quem cabe este trabalho se não
O termo delinqüência possui diversos usos e sentidos. Certos atos classificados como
delinqüentes podem estar sendo nomeados de forma de equivocada. Cabe uma boa distinção dos
usos do termo para a melhor compreensão do fenômeno, a fim de se fazer justiça e não
estigmatizar sujeitos como delinqüentes sem o devido entendimento da espécie de sua conduta e
suas causas, para enfim determinar-lhe um tratamento adequado.
Basicamente, existem dois usos mais freqüentes para o termo delinqüência. Estes são o
sentido jurídico e psicológico do ato delituoso. O primeiro leva em consideração a legislação e os
aspectos determinados e verificados objetivamente pela norma, já o segundo requer uma análise
mais profunda da subjetividade do sujeito e da particularidade de sua ação. Vamos ao tratamento
destes termos:
Em noções gerais, o termo delinqüência advém do verbo delinqüir, que significa ato de
cometer delito. Cabe então a definição de delito, está claro que é a ação contrária ao direito,
portanto, em sentido jurídico, a delinqüente é todo aquele que transgride as normas jurídicas.
As legislações traduzem e, ao mesmo tempo, definem os valores e a cultura de cada época e
local, portanto neste sentido não existe uma definição absoluta de delinqüente, pois o direito
Enfim, esta distinção de termos esclarece que se deve estar atento ao fato de que muitas são
as causas para a condição da delinqüência e que existe um grupo de delinqüentes que são mais do
que transgressores, são pacientes de um transtorno de personalidade e que por isso merecem uma
atenção diferente.
“Tomando como modelo de um aparato psíquico que tende à descarga e que através da
complexização vai conter a satisfação pulsional direta, imediata, [...] proponho pensar
no modelo de transgressão que ocorre pela falha da organização psíquica interna que
favorece a passagem ao ato [delituoso], em um aparato psíquico que não consegue
estabelecer contenção.”
Quando o indivíduo não encontra em si mesmo os limites, que são impostos pela presença
do outro, ele transgride, visando à satisfação de demandas internas. Na ausência destes limites é
que o sujeito perde a consciência de realidade, não enxerga o outro e o mal que pode lhe causar
(Steffen, 2009). Isto é facilmente verificado se olharmos o comportamento adolescente, cada vez
mais imediatista, individualista e – naturalmente – transgressor.
“Há para esses sujeitos uma evidente impossibilidade de elaboração psíquica de todo
esse quadro com que se defrontam. Chegam à situação epídica (e à reedição epídica)
muito frágeis e encontram ainda esta configuração grave externa com que lidar. Quando
adolescente, se observa muitas vezes a sua colocação real no lugar do pai, de alguma
forma, seja por ser o mais e o pai ausente, seja por sustentar a mãe e os irmãos na
ausência do pai. Recordo de um adolescente que colocou em palavras o que ocorre em
termos subjetivos com muitos desses adolescentes. Relatava maus-tratos, desde a
infância, do pai em relação à companheira, mãe do adolescente. Na adolescência, junto
com o irmão, defendiam a mãe. Relatam que muitas vezes colocavam o pai, alcoolizado
e agressivo, para fora de casa, e ele, contando como pensa que precisavam fazer isso,
face ao risco que o pai representava, diz: ‘sabe, a gente, eu e meu irmão, a agente era a
lei lá em casa’. Se podemos compreender o que ele fazia, ocorre que no campo social
esse adolescente era um transgressor, internado naquele momento por roubo, já
repetidos processos, apesar de uma crítica e uma intenção consciente de parar com os
delitos. Este quadro remete ao registro simbólico da lei. Que possibilidades tinha este
adolescente de estabelecer a interdição edípica que daria acesso à culpa, e a castração
que estabeleceria o reconhecimento da alteridade?”
O psicanalista traz, em outros trechos além deste, à luz outra causa determinante da
personalidade delituosa, enxergada pela teoria psicanalítica, a carência de afeto. A ação delituosa
pode surgir como uma medida psíquica anti-depressiva, a agressividade se torna uma fuga da
angústia presente no íntimo desses sujeitos. Muitos outros autores em diversas pesquisas
confirmam a carência de afeto como causa para os sintomas do transtorno anti-social de
personalidade, sendo este ponto comum e pacífico na ciência. Isto justifica inclusive muitos
outros fenômenos do comportamento humano relacionados à agressividade. Corrobora com esta
idéia Renata Benavente (2009):
[...]
[...]
O problema das perturbações internas do sujeito, que o levam a cometer delitos, não exclui
os fatores externos ao sujeito como causas para a existência da delinqüência como condição
patológica. Este problema não encontra todas as suas respostas no âmbito do intimo do indivíduo,
deve-se levar em conta também os fatores econômicos e sociais que estão na gênese da
personalidade anti-social, é o que propõe a perspectiva psicossocial. O indivíduo não se encerra,
nem se justifica, ou se entende em si mesmo, ele está ligado ao meio, inevitavelmente.
Pesquisas comprovam que as personalidades delinqüentes se formam com mais freqüência
entre os economicamente desprivilegiados e nos meios urbanos. A pobreza tem “alguma
influência sobre os comportamentos desviantes na medida em que frustra o exercício das funções
parentais e aumenta as adversidades na família.” (Rutter apud Benavente, 2009)
Na mesma perspectiva Costa afirma (apud Benavente, 2009) que:
4. A PREVENÇÃO E O TRATAMENTO
Tendo em vista que o delinqüente, especialmente os juvenis, muitas vezes são sujeitos com
sérios transtornos psicológicos que o impede de se adequar à normalidade daquele ambiente
social, problemas estes decorrentes da carência afetiva, educativa, desestrutura familiar, fracasso
escolar, falta de condições materiais de desenvolvimento, etc – muitos são as causas – se faz
necessária uma estrutura de reabilitação social à esses sujeitos, que seja sensível aos seus
problemas subjetivos. Deve-se pensar o delinqüente como um sujeito problemático que necessita
de tratamento, não deve ser enxergado mais como um inimigo da sociedade ou do status quo.
Esta nova ótica sobre o delinqüente não compactua diretamente com os interesses da
sociedade, ou de seus membros “normais”. O corpo social vê o delinqüente como um vírus,
partícula nociva que deve ser extirpada do todo, para com isso devolver a harmonia social. Esta é
a lógica do sistema prisional, especialmente o brasileiro. Apesar da legislação avançada e
humanista, a vontade social e o medo contra o delinqüente é mais forte. Operadores do direito
insensíveis e desinformados sobre as origens do problema, tratam-no na posição de defensores do
senso comum, é isto que faz com que policiais espanquem e desmoralizem o criminoso; faz com
que um juiz se mantenha inerte aos problemas de conflito e de infração de direitos nos presídios e
na prática repressora (seja exercida pela sociedade – com o linchamento – seja pela ação dos
agentes internos penitenciários); faz com que as entidades públicas reforcem e reiteram
programas de repressão violenta, etc. Ou seja, esta ótica tradicional sobre o delinqüente, fundada
no senso comum, incide diretamente sobre todos as esferas do poder público, tornando-se
também um problema sistêmico.
Uma reflexão crítco-científica, realizada por psicólogos e operadores do direito, tais como
os presentes neste simplório trabalho, contribuem para uma mudança de paradigma ou a
afirmação de uma nova ótica sobre o delinqüente que reestruture este aparelho (hoje meramente
repressivo), para que alcance fins de reestruturação da personalidade delituosa do indivíduo.
Duas são as correntes que propõem inovações no tratamento do delinqüente, as quais
podem ser denominadas de reformista e inovadoras. A primeira propõe a manutenção do atual
tratamento institucional, ligado ao sistema de medida penal judicial, por outro lado propõe uma
reforma deste sistema, incluindo tratamentos terapêuticos para os jovens delinqüentes
CONCLUSÃO
Este trabalho visou realizar uma breve exposição sobre as principais correntes que estudam
a delinqüência, enquanto seu aspecto psicológico, a fim de formar uma base teórica geral sobre o
problema, formando uma compreensão crítica do mesmo que contribua na formação acadêmica
do direito mais atualizada com os novos paradigmas de tratamento da conduta delituosa.
Constatou-se que a ciência jurídica analisa a conduta humana objetivamente, a norma
jurídica, devido seu caráter de generalidade, abstém de tratar da subjetividade da conduta
humana. Para o direito, delinqüente é aquele que infringe as normas, não importando as
motivações subjetivas que influíram na conduta. A norma por si só não compreende a angústias e
as perturbações psíquicas que envolvem certos delitos, o direito considera que todo delinqüente
age por ato de vontade, e por isso deve ser punido pela ação delituosa.
A ciência da psicologia, que tem como foco a compreensão do indivíduo em sua
subjetividade, entende que certos delinqüentes sofrem, na verdade, de uma patologia psíquica: o
transtorno anti-social de personalidade. A ciência entende ainda que o sistema penal,
fundamentado unilateralmente na objetividade da ciência jurídica, é ineficaz na recuperação
desses sujeitos problemáticos, o sistema não enxerga os problemas subjetivos dos sujeitos, tratam
todos num mesmo sistema objetivo de penas, aí está sua falha.
Para resolver este problema, faz-se necessário uma abordagem multidisciplinar que
considere a complexidade que envolve este problema. Em primeiro lugar, uma mudança na
formação acadêmica dos juristas pode contribuir de forma decisiva, deve-se tornar a ciência
jurídica cada vez mais interdisciplinar, mais atenta aos problemas da realidade, a fim de formar
operadores do direito capacitados para efetivar a justiça social tão demandada. Em segundo
ponto, uma reforma institucional dos sistemas de repressão e reabilitação do delinqüente se faz
absolutamente necessária, pois o atual sistema é meramente repressivo, deve-se haver uma ponte
entre a atividade judiciária e atividade dos profissionais de saúde.
Enfim, qualquer que seja a mudança proposta, só poderá ser efetivada com a disseminação
de estudos científicos sobre o tema, transformando o paradigma e a forma de pensar o problema
por parte dos operadores do direito. A efetivação do direito deve ceder sua objetividade, natural
da norma jurídica, e levar em conta a subjetividade da realidade, momento em que o juiz faz a
passagem da norma para o caso concreto, produzindo a solução jurídica mais apta para
solucionar o problema social. Portanto, o juiz, ou operador do direito, não deve ser refém da
norma jurídica, ao lidar com o delinqüente importa aplicar a norma da forma que melhor
solucione os problemas psicológicos deste sujeito.
REFERÊNCIAS
Fiorelli, José Osmir; Mangini, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica. São Paula:
Atlas, 2009.