Visao Da Industria Sobre Ger Residuos PDF
Visao Da Industria Sobre Ger Residuos PDF
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Brasileira sobre
a Gestão de
Resíduos Sólidos
Brasília, 2014
Visão da Indústria
Brasileira sobre
a Gestão de
Resíduos Sólidos
Visão da Indústria
Brasileira sobre
a Gestão de
Resíduos Sólidos
Brasília, 2014
© 2014. CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
CNI - Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMAS
SUMÁRIO
objetivos de desenvolvimento do milênio 15
A reciclagem e o mercado secundário de materiais 16
A mancha de resíduos do Pacífico e do Atlântico 16
Problemas globais: desafios locais 16
2. CONTEXTO NACIONAL 17
Panoramas regionais 19
A simbiose industrial no Brasil: coprocessamento de resíduos 19
A Política Nacional de Resíduos Sólidos 20
Plano de gestão de resíduos 23
Sistema de informação 23
Mecanismos de logística reversa 23
Coleta seletiva 24
Acordos setoriais 24
Instrumentos econômico/financeiros 24
Políticas estaduais e muncipais 24
Gestão de resíduos sólidos 27
Plano de gestão de resíduos sólidos 30
Opções tecnológicas 33
Logística Reversa e Análise do Ciclo de Vida 34
Produção Mais Limpa 35
Lean manufacturing 35
3. A VISÃO DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA
E OS DESAFIOS FUTUROS 36
Logística Reversa 36
plano de gerenciamento de resíduos 38
Instrumentos Econômicos 38
design para o meio ambiente, tecnologia e inovação 40
requalificação de resíduos 41
valorização energética de resíduos 42
REFERÊNCIAS 44
ANEXO A – RESÍDUOS SÓLIDOS E SETORES
DA INDÚSTRIA NACIONAL 47
ABAL - A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA INDÚSTRIA DO ALUMÍNIO 49
ABCP - A INDÚSTRIA DE CIMENTO E A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 61
ABINEE- SETOR ELETROELETRÔNICO: CADA VEZ MAIS PRESENTE 73
ABIQUIM - A INDÚSTRIA QUÍMICA E A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 83
ABIT - INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
NA CADEIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO 97
ANFAVEA - As soluções da indústria automobilística
para gestão de resíduos sólidos 107
CBIC- A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E A GESTÃO
DE RESÍDUOS SÓLIDOS 111
AÇO BRASIL - COPRODUTOS E RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DO AÇO 121
IBP - OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA GESTÃO DE RESÍDUOS PARA
O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL: CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO,
GÁS E BIoCOMBUSTÍVEIS 133
IBRAM - UMA VISÃO COMENTADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA MINERAÇÃO 147
FNBF - INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
DO SETOR FLORESTAL 161
FNS - GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA 173
FMASE - INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
NO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA 187
O projeto Encontros CNI Sustentabilidade, lançado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na
Conferência Rio+20, é uma correalização entre a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi), que vem mobilizar
o setor empresarial e incentivar a articulação entre inovação, produtividade e sustentabilidade como
eixos promotores da competitividade. Com edições anuais, essa iniciativa traz ao debate tendências,
tecnologias inovadoras, oportunidades e desafios para nortear esse caminho.
É preciso estimular a mudança no processo linear de utilização de recursos naturais para processa-
mento e descarte para uma lógica circular, na qual os materiais são constantemente reciclados e
reutilizados. A busca por uma solução de longo prazo passa necessariamente por investimentos em
educação, pesquisa, desenvolvimento e inovação. É cada vez mais necessário que os produtos e siste-
mas produtivos sejam projetados dentro de uma lógica de eficiência e reaproveitamento de recursos,
desde a prancheta até o relacionamento com o consumidor final. Esse raciocínio abre grandes pers-
pectivas para o uso de novos materiais, processos produtivos e, consequentemente, novos negócios.
Com o tema Resíduos Sólidos: Inovações e Tendências para a Sustentabilidade, a 3ª edição do Encon-
tros CNI Sustentabilidade reúne o setor industrial brasileiro para dialogar sobre as oportunidades e os
desafios que a gestão de resíduos sólidos traz para o setor industrial e sobre as tendências que têm
levado a indústria a repensar processos, produtos e modelos de negócios.
Este documento tem o objetivo de contextualizar a situação atual e tendências associadas à geração
e destinação de resíduos sólidos, bem como compartilhar a visão do setor industrial para o aprimora-
mento da sua gestão e a minimização dos riscos associados.
No primeiro capítulo, as tendências regionais e globais são analisadas com base em documentos de
instituições de referência, para construir um panorama das melhores práticas e principais lacunas a
serem preenchidas, com destaque para oportunidades criadas com a nova Política Nacional de Resí-
duos Sólidos e as perspectivas para empresas nacionais.
Na sequência, é apresentada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que traz as linhas mestras para
reduzir os resíduos gerados e para a destinação apropriada daquele que é gerado no País. Aqui é
apresentado, também, um levantamento das políticas estaduais e municipais existentes. Esta seção
explora as melhores práticas e lacunas no território nacional, fornecendo um guia para oportunida-
des de ação com maior efetividade para evolução da situação brasileira no que diz respeito à geração
e destinação de resíduos.
A gestão de resíduos sólidos é apresentada com uma descrição dos princípios e critérios de boas
práticas em gestão integrada de resíduos sólidos, com fundamentação em recomendações e manuais
das principais organizações internacionais, com destaque para a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) e para a Organização das Nações Unidas (ONU). São apresenta-
das também as principais escolhas tecnológicas para processamento e recuperação de resíduos, que
podem ser adotadas por empresas em busca de sustentabilidade dos sistemas produtivos.
9
A visão da CNI descreve a importância estratégica da gestão de resíduos sólidos, sua relação com
tecnologias produtivas, com o ciclo de vida dos produtos e suas embalagens, e aborda questões de
logística reversa, inovação e sustentabilidade. Apresenta, ainda, os principais desafios para a gestão
de resíduos sólidos no Brasil, oferecendo uma pauta para o futuro sob o ponto de vista técnico, eco-
nômico e político.
No Anexo A, são apresentados os artigos técnicos de setores estratégicos da economia, com suas
perspectivas específicas, desafios enfrentados e avanços obtidos recentemente com relação à gestão
de resíduos sólidos.
O Anexo B identifica iniciativas internacionais e nacionais relevantes sobre o tema, que não foram
tratadas ao longo do texto principal, com referências para aprofundamento.
O Anexo C oferece uma relação das legislações estaduais e municipais já aprovadas no contexto da
nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, com destaque ao interesse do setor eletroeletrônico.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
10
1. CONTEXTO INTERNACIONAL
Existe uma grande lacuna na disponibilidade de dados consistentes sobre gestão de resíduos sólidos
urbanos no mundo. O Banco Mundial, que publicou em 2013 um dos mais completos estudos sobre
o tema disponíveis atualmente, intitulado What a Waste (World Bank, 2013), afirma que “dados sobre
disposição de resíduos são os mais difíceis de coletar”. Apenas alguns poucos países desenvolvidos
apresentam estatísticas detalhadas e, ainda assim, a ausência de um padrão único de classificação torna
bastante complicado o exercício de comparar números e traçar um panorama global da atividade.
O impacto gerado pelos resíduos sólidos em um mundo cada vez mais urbano cresce de forma ace-
lerada. Resíduos sólidos urbanos contêm significativa parcela de matéria orgânica cuja decomposição
anaeróbica gera metano, um gás do efeito estufa. Os efeitos locais dos resíduos que não são adequa-
damente dispostos contribuem para prejuízos aos cofres públicos, alagamentos, poluição da água e do
ar, além de gerar impactos sobre a saúde pública, como doenças respiratórias, proliferação de insetos
vetores de doenças. Tendências globais analisadas pelo Banco Mundial indicam que a geração de re-
síduos no mundo aumenta mais rápido que as taxas de urbanização ou de crescimento do PIB global.
A quantidade de resíduos sólidos gerados por pessoa nas cidades do planeta aumentou de 0,64 kg
por dia para mais de 1,2 kg diários, entre 2003 e 2013, segundo números disponíveis no relatório
What a Waste. Projeções apresentadas pelo relatório indicam que até 2025, 4,3 bilhões de habitan-
tes urbanos irão gerar cerca de 1,42 kg de resíduos sólidos por dia cada, totalizando 2,2 bilhões de
toneladas por ano.
Tabela 1 - Geração de Resíduos Sólidos por País - Dados Atuais e Projeções para 2025.
Reino
Alto 54.411.080 1,79 97.342 65.190.000 59.738.000 1,85 110.515
Unido
Estados
Alto 241.972.393 2,58 624.700 354.930.000 305.091.000 2,3 701.709
Unidos
Médio
Uruguai 3.025.161 0,11 329 3.548.000 3.333.000 0,6 2.000
Alto
Médio
Vanatu 33.430 3,28 110 328.000 113.000 3 339
Baixo
Médio
Venezuela 22.342.983 1,14 25.507 35.373.000 34.059.000 1,5 51.089
Alto
11
Ainda de acordo com números publicados pelo Banco Mundial, a geração atual de resíduos sólidos no
mundo se aproxima de 1,3 bilhões de toneladas por ano. O cenário é mais preocupante para países
em desenvolvimento, nos quais se espera que o volume de resíduos sólidos dobre no período. Os cus-
tos totais relacionados à gestão de resíduos vão crescer de cerca de US$205,4 bilhões para cerca de
US$375,5 bilhões em 2025, e os aumentos serão mais acentuados nos países em desenvolvimento.
1,2 Kg
Resíduos Sólidos 0,64 Kg
gerados por pessoas
nas cidades por dia. INFOGRÁFICO
2003 2013
Projeções apresentadas pelo relatório
indicam que até 2025, 4,3 bilhões
de habitantes urbanos gerarão cerca de
1,42 kg de resíduos sólidos por dia cada,
totalizando 2,2 bilhões de toneladas por ano.
A geração atual de
resíduos sólidos no mundo
se aproxima de 1,3 bilhões
de toneladas por ano.
Os custos totais
relacionados à gestão
de resíduos vão crescer de...
US$205,4 bilhões US$375,5 bilhões
Em países com renda mais baixa, o relatório afirma que a gestão de resíduos sólidos é normalmente o
maior item dos orçamentos municipais. Em todo o mundo, este serviço é usualmente responsabilidade das
municipalidades. A coleta e disposição de resíduos sólidos estão entre os serviços públicos mais básicos e
municipalidades que não são capazes de oferecê-lo adequadamente raramente conseguem gerir serviços
mais complexos como saúde, educação, fiscalização sanitária, etc. Por esta razão, o fortalecimento da
gestão de resíduos sólidos urbanos representa uma oportunidade para fortalecimento dos serviços pú-
blicos no nível municipal e, consequentemente, um importante vetor de integração de políticas públicas.
12
Um artigo acadêmico publicado em outubro de 2012, no periódico Waste Management, de Guer-
rero, Maas e Hogland - pesquisadores da Universidade Tecnológica de Eidhoven na Holanda e na
Universidade de Lineu, em Kalmar, Suécia-, joga mais luz na questão da disponibilidade de dados.
Segundo os autores, um levantamento da bibliografia científica publicada entre 2005 e 2011 rela-
cionada à gestão de resíduos em países em desenvolvimento indica que poucos artigos oferecem
informações quantitativas.
Organizações internacionais como a OCDE e a ONU oferecem uma grande quantidade de literatura
técnica relacionada à gestão de resíduos, porém em caráter normativo. Estas instituições publicam
também estudos de caso com dados muito específicos às situações enquadradas, difíceis de compa-
rar ou extrapolar. O único relatório global que compila e compara dados sobre resíduos no mundo
todo é o estudo What a Waste, do Banco Mundial, publicado originalmente em 2009 e re-editado
com informações atualizadas em 2013.
A OCDE trabalha com a questão de resíduos há vários anos, encorajando a prevenção, a minimização
e a gestão ambientalmente adequada de resíduos. Desde 2004, a organização trabalha com uma
abordagem integrada de gestão sustentável de materiais, que aborda todo ciclo de vida do produ-
to. Atualmente, o trabalho da OCDE está focado em políticas e instrumentos que podem ser úteis
na promoção desta abordagem, contribuindo para implantação da Recomendação do Conselho da
OCDE sobre Produtividade de Recursos, adotada em 2008.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), atuando por meio do Centro Inter-
nacional de Tecnologia Ambiental, lançou, em 2010, a Parceria Global para Gestão de Resíduos. Esta
inciativa envolve organizações internacionais, governos, empresas, instituições de ensino e pesquisa,
autoridades locais e organizações não governamentais. O objetivo é a busca de cooperação global
entre as partes interessadas, para compartilhar informações, levantar dados e capacitar organizações
para conservação e uso eficiente de recursos.
13
O PNUD gerencia um portfólio de projetos de gestão de resídos perigosos de US$230 milhões, in-
cluindo co-financiamento. Trabalhando em articulação com a Parceria para Ação com Equipamentos
de Computação (PACE, em inglês, parte da Convenção Basiléia que controla o movimento interna-
cional de resíduos perigosos), o programa oferece apoio para países em desenvolvimento na gestão
de resíduos eletrônicos de maneira ambientalmente adequada. Respondendo às demandas de cada
país, mantém 22 escritórios engajados em projetos relacionados a resíduos não perigosos.
Resíduos agrícolas perigosos, como pesticidas e suas embalagens, EPIs usados, solo contaminado,
etc, devem ser manuseados com cuidado. O PNUD assiste países em desenvolvimento no gerencia-
mento de maneira adequada dos resíduos relacionados a pesticidas obsoletos e PCBs (produtos quí-
micos usados em equipamentos elétricos como transformadores), com iniciativas na China, Georgia,
Honduras, Nigarágua e Vietnam, e aqueles relacionados a poluentes orgânicos persistentes (POPs),
com programas em andamento na China, Gana, Cazaquistão, Quirguistão, Letónia, México, Marro-
cos, Ruanda, Eslováquia, Uruguai e Vietnam.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Existe, ainda, o resíduo radioativo, presente em equipamentos de diagnóstico e radioterapia, com po-
tencial para causar desastres ambientais mesmo em pequenas quantidades. O PNUD atua em parceria
com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras partes interessadas, em programas de gestão de
resíduos de serviços de saúde na Argentina, Índia, Letónia, Líbano, Filipinas, Senegal e Vietnam.
Resíduos pós consumo de eletroeletrõnicos domésticos e outros resíduos como baterias, celulares,
etc, contêm materiais preciosos que podem gerar recursos de valor para reciclagem, como cobre,
prata, ouro e terras raras. Segundo o PNUD, a gestão destes resíduos em países em desenvolvimento
é precária. A prevalência do setor informal favorece operações inseguras e insustentáveis, expondo
pessoas a materiais perigosos. Em parceria com a Convenção Basiléia/PACE, o programa realiza pes-
quisas em Burkina Fasso, Jordânia, El Salvador e Sérvia, para propor ações adequadas de gestão de
resíduos eletrônicos.
Há também resíduos que representam um risco para a camada de ozônio. Apesar do sucesso do Pro-
tocolo de Montreal em reduzir o uso destes materiais, existe uma quantidade significativa em equipa-
mentos de refrigeração obsoletos e materiais de isolamento térmico. Sem medidas adequadas, esses
materiais possuem grande potencial para contribuir com o aquecimento global e, por essa razão, devem
ser geridos com cuidado. O PNUD trabalha em parceria com o Protocolo de Montreal e o Global Envi-
ronment Facility (GEF) para implantar projetos piloto no Brasil, Cuba, Colômbia, Geórgia, Gana e Índia.
Resíduos de Mineração
Segundo a Comissão Europeia, resíduos de mineração constituem uma das maiores fontes de resíduos
na Europa. Envolve materiais removidos para acessar o minério, como solo, rochas e resíduos do proces-
samento do minério. Entretanto, existem resíduos, em particular na mineração de metais não ferrosos,
que podem conter grandes quantidades de materiais perigosos. A extração e o processamento do mi-
nério tende a tornar metais mais quimicamente reativos, o que pode gerar efluentes tóxicos.
A Agência de Proteção Ambiental dos Etados Unidos (EPA EPA- Environment Protect Agency) classifi-
ca todos os resíduos de mineração de minerais metálicos e fosfato, além de outros 20 resíduos espe-
cíficos de processamento de minerais, como “Resíduos Especiais” tratados como resíduos perigosos
pela Administração Federal. O refino de minerais gera grandes quantidades de resíduos tóxicos,
segundo a EPA.
14
A Conferência Rio+20
Um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento Sustentável - Rio + 20, realizada em junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, foi o início do
processo de construção de um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para substituir
os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que finalizam em 2015. A estrutura de governança,
os pré-requisitos e outras orientações para a construção desses objetivos foram acordados no docu-
mento final da conferência “O Futuro que Queremos”. Os objetivos farão parte da Agenda Global
de Desenvolvimento Pós-2015, que vai suceder a Declaração do Milênio, e deverão ser aprovados em
setembro de 2014, na 68ª reunião anual da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas.
A proposta de promover diálogo sobre tendências, tecnologias, oportunidades e desafios para a in-
dústria na busca da competitividade com sustentabilidade, em alinhamento com o Mapa Estratégico
da Indústria 2013-2022, dinamiza a interação entre os eixos de competitividade, sustentabilidade
e inovação. Debates, análises comparativas e painéis com especialistas enriquecem o diálogo sobre
políticas públicas, gestão corporativa e os caminhos futuros para a sociedade em busca de uma inte-
gração harmônica entre sistema produtivo e meio ambiente.
de vida dos materiais e a questão da capacitação dos países em desenvolvimento recebe destaque,
com foco no fortalecimento de parcerias, por meio de assistência técnica e estruturas de gover-
nança melhoradas.
Priorizar a redução dos resíduos gerados, por meio de parcerias público-privadas entre a indústria,
governos, instituições de ensino e pesquisa e outras partes interessadas não governamentais fortale-
ce a capacidade de gestão ambientalmente adequada de resíduos. É preciso abordar os produtos ao
longo de todo seu ciclo de vida, desde um projeto que favoreça o reuso e reciclagem dos materiais,
passando por políticas que favoreçam a eficiência no uso de recursos e a gestão adequada de resídu-
os, e aumento na recuperação energética. Resíduos sólidos como eletrônicos e plásticos representam
um desafio específico que deve ser abordado por todas as partes interessadas para desenvolver um
sistema eficiente de gestão de resíduos.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, adotados pela Organização das Nações Unidas na Cú-
pula do Milênio, realizada no ano 2000, abordam a questão da pobreza e da fome, de sustentabilida-
de ambiental e de uma parceria global para o desenvolvimento, que estão diretamente relacionados
à gestão de resíduos e às relações de produção e consumo no paradigma industrial.
15
O Objetivo 7 – Garantir a Sustentabilidade Ambiental possui metas que estão em sintonia com os
desafios abordados pela gestão de resíduos:
gestor de resíduos sólidos deve considerar também as variações nos mercados secundários de mate-
riais. De acordo com o estudo What a Waste, do Banco Mundial, enquanto várias municipalidades
americanas e europeias começaram esforços de reciclagem locais, vendendo os materiais disponíveis
para empresas próximas, hoje este mercado é global. A organização destaca a importação do papel
da China, por exemplo, que compra grandes quantidades do resíduos em Nova Iorque e Buenos
Aires, impactando os preços locais.
O desenvolvimento econômico global coloca em destaque a questão dos resíduos, que crescem expo-
nencialmente com a mudança nos padrões de consumo. Políticas de desenvolvimento industrial acele-
rado adotadas pelos países em desenvolvimento, sem adequada atenção à gestão de resíduos, permi-
tem acumulação de grande passivo ambiental e social. No entanto, os resíduos representam também
uma oportunidade de investimento e desenvolvimento de tecnologias para redução em sua geração e
reaproveitamento dos recursos naturais presentes. Ao reverter a lógica linear de exploração de reservas
finitas de recursos e acumulação indefinida de resíduos, em favor de um novo arranjo circular, onde os
materiais fluem em um ciclo contínuo, promove-se a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
16
2 . CONTEXTO NACIONAL
A limpeza urbana no Brasil constitui um mercado de R$24,24 bilhões e gera cerca de 333 mil empre-
gos, segundo o mais recente levantamento nacional realizado pela Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPEb, 2014). De acordo com os números levantados pela
instituição, em 2013 foram gerados cerca de 76,387 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos
no país. Deste total, cerca de 58% receberam destinação considerada adequada.
O estudo da ABRELPE foi realizado com dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios
(PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e pesquisa direta por aplicação de questio-
nários, abrangendo 401 municípios e 51,3% da população urbana nacional. O Sistema Nacional de Infor-
mações sobre Saneamento (SNIS), instrumento previsto na Política Nacional de Saneamento, e gerenciado
pelo Ministério das Cidades, publica um diagnóstico anual do manejo de resíduos slidos. A edição mais
recente disponível, de 2012, abrange 3.043 municípios, ou 54,6% do total do país, e 81,1% da popula-
ção urbana nacional, ou 132,8 milhões de pessoas. Esse diagnóstico aponta um déficit de atendimento
quase 2,8 milhões de habitantes, dos quais 63,7% estão nas regiões Norte e Nordeste.
59,6%
40,4%
50,5% 49,5%
SIM
NORTE
NÃO
NORDESTE
CENTRO-
OESTE
33,8%
SUDESTE
66,2%
17,4%
SUL 82,6%
BRASIL
18,1%
81,9%
37,9%
62,1%
17
Foi constatado pela ABRELPE que pouco mais de 62% dos municípios brasileiros apresentam qual-
quer iniciativa de coleta seletiva, mas este dado deve ser considerado levando-se em conta que mui-
tas vezes trata-se apenas de disponibilização de pontos de coleta, ou convênios com cooperativas de
catadores, e que nem sempre abrangem toda área ou população dos municípios. Segunto estimati-
vas do SNIS, 20% dos municípios registram serviço de coleta seletiva, 35% não apresentam qualquer
iniciativa e para 45% dos inexistem dados. Com relação ao volume de resíduos, o SNIS estima que
apenas 3,1% do total de resíduos sólidos urbanos são coletados de maneira seletiva.
Os dados compilados pela ABRELPE categorizam os resíduos em três diferentes classes: Resíduos
Sólidos Urbanos (RSU), Resíduos de Construção e Demolição (RCD) e Resíduos de Serviços de Saúde
(RSS). A geração de Resíduos de Construção e Demolição chegou, em 2012, a aproximadamente
35 milhões de toneladas, enquanto os Resíduos de Serviços de Saúde totalizaram cerca de 245 mil
toneladas. Quanto ao total de Resíduos de Construção e Demolição, deve ser notado que estão
contabilizados apenas os resíduos lançados nos logradouros públicos, coletados pelos municípios.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A legislação brasileira responsabiliza os geradores de Resíduos de Serviços de Saúde pela sua dis-
posição final, resultando em maior controle e no mais alto índice de adequação. Dados levantados
pela ABRELPE indicam que, em 2013, 44% destes resíduos foram incinerados, 20,5% foram para
autoclave, 2,4% para micro ondas, e 33,1% para outras destinações.
No que diz respeito aos Resíduos de Construção e Demolição, a nova política nacional responsabiliza
os geradores pela disposição. Apenas os resíduos depositados em áreas públicas e oriundos de obras
públicas apresentam dados estatísticos compilados a seu respeito. Em 2013, foram coletados pelo
poder público 117 mil toneladas diárias de RCD no país, um aumento de 4,6% em relação a 2012.
O Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) publicou, em 2013, o Diagnóstico dos Resíduos
Sólidos do Setor Agrossilvopastoril, considerado nos segmentos de agrotóxicos, fertilizantes, insumos
famaceuticos veterinários, além dos resíduos sólidos domésticos. O relatório de pesquisa informa
que a legislação referente aos agrotóxicos é efetiva e a coleta, o transporte, o armazenamento e a
disposição final de embalagens vazias são adequados. Este caso representa um estudo de campo
sobre a responsabilidade compartilhada, atribuída a todos os agentes envolvidos no ciclo de vida da
embalagem. Não existe, no entanto, legislação específica para fertilizantes, que são enquadrados na
Política Nacional de Resíduos Sólidos sem distinção.
Em 2013, os municípios brasileiros gastaram, em média, R$ 114,84 por habitante na coleta de resí-
duos sólidos urbanos e demais atividades de limpeza, segundo a ABRELPE. O Diagnóstico do SNIS,
que trabalha com uma amostra diferente da ABRELPE, mais abrangente, estima este valor em R$
100,00 por habitante/ano. De maneira geral, os serviços de coleta são parciais, abrangendo apenas
parte da área e população totais dos municípios, o que dificulta a compilação de dados confiáveis a
respeito de quantidades totais.
Além do enorme desafio logístico representado pelos resíduos sólidos, existe, também, um grande
contingente de recursos humanos que carecem de investimento em qualificação e preparo técnico
para adotar e criar novas soluções onde elas são mais necessárias: no chão de fábrica e nas ruas das
cidades. Somente entre catadores de resíduos, o estudo What a Waste, do Banco Mundial, estima em
2 milhões o número de pessoas diretamente envolvidas com a atividade. Ao investir na capacitação
dessa mão de obra, que lida diretamente com o problema, surgem oportunidades de desenvolvimen-
to de soluções de alta efetividade e baixo custo, que agregam valor às cadeias produtivas.
18
Panoramas regionais
Segundo os dados nacionais, levantados pela ABRELPE e pelo IBGE, a abrangência da coleta de resí-
duos sólidos urbanos no Brasil varia conforme a região. Com uma média nacional de 90,17%, chega
a até 96,87% na região Sudeste, 92,54% na região Sul, 92,11% na Centro-Oeste, 84,22% na Norte
e 77,43% na Nordeste. No país todo, 62% dos municípios apresentam alguma iniciativa de coleta se-
letiva, com a região Sudeste novamente na liderançaa com 80,5% dos municípios realizando alguma
iniciativa de coleta seletiva, seguida de perto pela região Sul, com 79,5%, região Norte com 47,7%,
região Norteste com 37,8% e Centroeste com 31,8%.
Proporção da Dispêncio
Resíduos Proporção coleta disposta por hab- Postos de Movimento
Região Municípios
(t/dia) Coletada em Lixões/Aterros itante por Trabalho economico
precários mês
Norte 450 15.159 80,3% 65% (27.126 t/dia) R$8,06 23.399 R$ 1,7 bi
Nordeste 1.794 53.465 78,2% 65% (27.126 t/dia) R$ 8,11 86.314 R$ 5,6 bi
Centro-
467 16.636 93% 70% (10.834 t/dia) R$6,30 30.990 R$ 1,1 bi
Oeste
Sudeste 1.668 102.088 97,1% 28% (27.475) R$12,11 152.991 R$ 13 bi
Sul 1.191 21.922 94.1% 30% (6.094 t/dia) R$7,56 39.083 R$ 2,80 bi
Fonte: ABRELPE
A simbiose industrial no Brasil e o coprocessamento
Merece destaque a iniciativa da simbiose industrial baseada em um programa britânico. Estudado e
praticado na América do Norte e Europa desde a década de 1970, a proposta de utilizar os resíduos
e subprodutos de um setor industrial como insumo para outras cadeias produtivas alinha incentivos
econômicos com ambientais. Empresas podem reduzir custos e passivos ambientais ao mesmo tem-
po em que geram receitas, processo que pode ser fortalecido por meio de coordenação e comparti-
lhamento de conhecimentos e melhores práticas.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) atua desde 2009 por meio do Progra-
ma Mineiro de Simbiose Industrial, conectando empresas e criando oportunidades para aumento de
eficiência no uso de recursos naturais no estado. Nestes cinco anos, a iniciativa reporta uma redução
de 139.793 toneladas de resíduos dispostos em aterros, 194.815 toneladas de recursos naturais eco-
nomizados, 87.476 toneladas de emissões de carbono evitadas, retulização de 13.650.000 metros
cúbicos de água e redução de custos de R$8.768.683,00 para as empresas participantes.
19
A Política Nacional de Resíduos Sólidos
Com a sanção da Lei 12.305, no dia 2 de Agosto de 2010, o Brasil instituiu sua primeira Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O Projeto de Lei 354, proposto pelo Senado Federal em 1989,
somente avançou em 2006 e com a aprovação de substitutivo em Comissão Especial. No ano seguin-
te, em 2007, foi apresentada a Proposta do Executivo, na forma do Projeto de Lei 1997/2007. Em
2008, foi criado um Grupo de Trabalho e, dois anos depois, o texto foi aprovado pelo Congresso e
sancionado pela presidência.
A linha do tempo apresentada na Figura 2 marca os principais avanços na legislação brasileira refe-
rente à governança regional e responsabilidades referentes ao saneamento e aos resíduos sólidos no
Brasil. Na última década, entre 2004 e 2014, importantes marcos legais foram atingidos, fortalecen-
do a gestão ambiental no país e traçando os caminhos para a construção de um sistema integrado
de gestão de resíduos.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Prazo para a
elaboração do Plano
Lei n0 8.666 Lei n0 11.079 Municipal de Gestão
Licitações e Parceria Interada de RS
contratos Público-Privada (PNRS)
Lei n0 12.305
PNRS
A aprovação de uma política nacional de resíduos sólidos é um passo importante para a construção
de uma abordagem integrada e faz parte de um processo histórico de construção de competências
locais. Faz parte deste processo o Estatuto da Cidade, que, ao regulamentar os artigos 182 e 183
da Constituição Brasileira, obrigou os principais municípios do país a criar seus planos diretores. O
exercício de planejamento é fundamental para as autoridades locais conhecerem e adaptarem as
soluções disponíveis às suas comunidades. Com a Lei Federal do Saneamento Básico, em 2007, e
da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, o Governo Federal continua o fortalecimento da
gestão ambiental em todos os níveis do governo.
A nova legislação instituiu princípios, diretrizes, objetivos e responsabilidades na gestão e no geren-
ciamento de resíduos para os setores públicos e privados. Estabeleceu princípios como o poluidor-
-pagador e o protetor-recebedor; a cooperação entre os diferentes níveis de governo, agentes do
setor privado e outros segmentos da sociedade; o respeito à diversidade regional; o controle social; e
a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
20
de resíduos. Neste caso, de logística reversa, a PNRS estabelece que os consumidores devam efetuar
a devolução dos materiais aos comerciantes e distribuidores, e estes devem encaminhar aos fabri-
cantes, que assumem a responsabilidade pela destinação ambientalmente adequada dos produtos e
embalagens encaminhados.
Convertedores
Processamento
Matéria Prinma Produção
Produto
Outros
Materiais
Matéria
Prima
Distribuição
COMP
OSTA
GEM
INCINER
AÇÃ
O
Varejo
ATERRO Reciclagem
LIXÃO
REUSO
Consumidores
Fonte: http://embalagemsustentavel.com.br/2010/01/09/logistica-reversa/
Outros pontos relevantes da Política Nacional de Resíduos Sólidos e de sua regulamentação são a
adequação das políticas estaduais e municipais, a remuneração do poder público pelo desempenho
de atividades que sejam responsabilidades de outras partes, a exigência de planos específicos para
resíduos classificados como perigosos e a proibição de importação de resíduos sólidos e rejeitos.
A nova lei requer também que os municípios estabeleçam sistemas de coleta seletiva, separando
os resíduos recicláveis do material orgânico, e buscando reduzir o decarte final de materiais úteis.
Reduz-se, assim, o volume de materiais a serem dispostos em aterros, e cria-se um novo recurso
econômico na forma dos materiais recicláveis, que se tornam matérias primas com valor econômico.
No fundamento da nova política, encontra-se o conceito de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos.
Foi estabelecido um prazo para que os governos estaduais e municipais elaborem planos de resíduos,
incluindo diagnóstico da situação, metas de redução e reciclagem, fim dos lixões e coordenação com
21
municípios vizinhos - condição legal para acesso a recursos da União em projetos de saneamento em
resíduos sólidos. No âmbito desse plano, os municípios devem identificar os principais geradores de
resíduos e criar indicadores para acompanhar o desempenho do poder público.
Existe a possibilidade de planos simplificados para municípios com menos de 20 mil habitantes. Serão
priorizados os municípios que instituirem sistemas de coleta seletiva com participação de catadores,
organizados em cooperativas e associações. A PNRS estabelece que o Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) deve ser observado para a elaboração dos Planos de Geren-
ciamento de Resíduos Sólidos pelos demais agentes responsáveis, que devem disponibilizar ao órgão
municipal competente, ao órgão licenciador do SISNAMA e às demais autoridades competentes,
anualmente, informações completas e atualizadas sobre a implantação do seu Plano de Gerencia-
mento, de acordo com as regras estabelecidas pelo órgão coordenador do SINIR, por meio eletrônico.
A lei exige também um plano nacional do Governo Federal, que abranja duas décadas e seja atua-
lizado a cada quatro anos, sob coordenação pelo Ministério do Meio Ambiente, e que inclua metas
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
para evolução do cenário nacional, bem como regras para acesso a recursos federais e os meios para
fiscalização. Este plano deve ser realizado com participação popular.
No que se refere ao setor produtivo, a nova política traz para o cenário nacional os conceitos de
responsabilidade compartilhada e logística reversa. Os acordos setoriais foram eleitos como principal
instrumento para estabelecimento de sistemas que permitam o reaproveitamento ou a reciclagem de
produtos e embalagens descartados no pós consumo. Muitos desses produtos já são objeto da logística
reversa, como as embalagens de agrotóxicos, pneus, pilhas e baterias, óleos lubrificantes usados e suas
embalagens, além do sistema tradicional de coleta de recicláveis da fração seca do lixo doméstico.
Novas embalagens
Cliente
Fabricação
Distribuição
Reciclagem
e Reuso
Supermercado
Fonte: http://www.plastiweber.com.br/files/imagens/logisticareversa1_gif1.gif
22
De acordo com o CEMPRE, atualmente apenas 13% dos resíduos urbanos são reciclados e, se-
gundo estudo do IPEA, o país perde anualmente R$ 8 bilhões enterrando materiais recicláveis. O
diagnóstico publicado pelo Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS) estima que
apenas 3,1% dos resíduos sólidos urbanos são recolhidos por coleta seletiva. Existe, claramente,
um grande potencial de ganhos econômicos com a reciclagem, para não mencionar a os aspectos
sociais e ambientais que podem ser trabalhados com a inclusão dos catadores e a diminuição na
pressão sobre aterros sanitários.
Os instrumentos de implantação da PNRS são importantes para a construção de uma base que fu-
turamente poderá contribuir com modelos econômicos mais sustentáveis que valorizem resíduos,
potencializando a sua utilização em novos processos produtivos.
Entre os instrumentos da PNRS que são importantes para a sua implantação citam-se: os planos de
gestão de resíduos; o sistema de informação; os mecanismos de logística reversa; a coleta seletiva; os
acordos setoriais; e os instrumentos econômicos e financeiros.
No contexto dos Planos de Gestão de Resíduos, que inclui o Plano Nacional, os planos estaduais,
os planos microrregionais/metropolitanos, os planos municipais e intermunicipais, e os planos de
gerenciamento, cada agente relevante deve considerar seu papel e posição na cadeia de valores. A
legislação exige um diagnóstico da situação e levantamento de ações preventivas e corretivas, além
da criação de metas e procedimentos para minimizar a quantidade de resíduos, reutilizar e reciclar o
que for possível. Incluem-se aqui também as ações de logística reversa e de saneamento de passivos
ambientais, de maneira integrada aos demais planos no contexto e ao sistema de licenciamento am-
biental. A legislação prevê planos simplificados para micro e pequenas empresas.
Os municípios devem criar um Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, engloban-
do planejamento e coordenação da coleta, transporte, armazenamento temporário, tratamento e
disposição final. Esse plano deve considerar os aspectos ambientais, econômicos, políticos, culturais
e sociais envolvidos.
Sistema de Informação
Parte fundamental do esforço de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos no Brasil, os sistemas
de informação estaduais e o Nacional são ferramentas importantes de todas as etapas do processo.
O uso de indicadores estruturados permite um diagnóstico efetivo, e as métricas para acompanha-
mento de metas devem ser rastreadas em séries históricas, permitindo avaliação da performance da
gestão - outra exigência da lei.reados em séries históricas, permitindo avaliação da performance da
gestão, outra exigência da lei.
Com o princípio da responsabilidade compartilhada adotado pela legislação, as empresas cujos pro-
dutos geram resíduos sólidos devem oferecer mecanismos e meios para o retorno dos produtos pós-
-consumo. Estas medidas são especialmente relevantes para produtos eletrônicos e auxiliares. Estes pro-
dutos frequentemente contêm metais preciosos e outros materiais, e sua quantidade vem aumentando
aceleradamente com a evolução dos padrões de consumo e elevação da renda média da população.
23
Coleta Seletiva
Esta prática é condição indispensável para iniciativas de reuso e reciclagem de materiais descartados
como resíduos sólidos. A separação já nas residências depende de esforço de educação da popula-
ção, e traz grandes ganhos de eficiência ao processo logístico subsequente, pois permite o transporte
separado e processamento facilitado de materiais úteis. Sem a contaminação com matéria orgânica,
os materiais recicláveis são mais fácil e rapidamente manuseados e encaminhados para processamen-
to, como matéria prima recuperada. Algumas formas de contaminação por matéria orgânica podem
inclusive inviabilizar a reciclagem de materiais como papel ou alguns plásticos.
Acordos Setoriais
transversal aos setores da economia, evitando fragmentação de práticas por meio da negociação
entre a indústria, o comércio, os prestadores de serviço, como transportadoras, e os consumidores.
O sucesso e disseminação da PNRS requer que estados e municípios cumpram com as suas respon-
sabilidades com a gestão de seus resíduos e que instrumentos instituídos pela PNRS trabalhem de
forma integrada. Faz-se necessário o levantamento de legislações estaduais para que contextos e
cenários possam ser analisados com o objetivo de monitorar avanços na disseminação da gestão
de resíduos sólidos, com vistas a contribuir com resultados mais efetivos na minimização de usos de
recursos naturais e de impactos ambientais.
24
Quadro 1: Exemplos de legislação Estaduais e Municipais em atendimento à PNRS.
Plano de Ges-
Mecanismos Instrumentos
tão de resíduos Sistema de Coleta sele- Acordos
Região Estado Nº Lei Data Disposição de logística econômicos/
(setor publico informação tiva setoriais
reversa financeiros
e produtivo)
Santa
Sul 13.557 2005 Lei institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos X X
Catarina
Fonte: CNI.
25
As legislações estaduais mais recentes demonstram a absorção dos instrumentos instituídos pela
PNRS. Desta forma, o poder público local precisa passar por transformações importantes para que
compreendam de forma sistêmica os conceitos presentes na PNRS, permitindo a sua aplicação efetiva
na elaboração dos planos municipais de Gestão de Resíduos Sólidos e dos planos de Gerenciamento
de Resíduos do setor privado.
Um sistema robusto de gestão de resíduos não deve ser negligenciado na busca pelo desenvolvimen-
to industrial acelerado. A geração de resíduos tende a crescer rapidamente com o desenvolvimento
industrial e a deterioração de condições ambientais impõe um custo excessivo de recuperação. Uma
estratégia de desenvolvimento que inclui boas práticas de gestão de resíduos elimina a geração desse
passivo ambiental.
• Definição de políticas;
• Desenvolvimento e aplicação de regulamentos;
• Planejamento e avaliação das atividades de gestão de resíduos sólidos municipais por projetistas de
sistemas, usuários e outras partes interessadas;
• Estudos de caracterização de resíduos para ajustar os sistemas para os tipos de resíduos gerados;
• Manipulação física dos resíduos e materiais recuperáveis, incluindo a separação, coleta, composta-
gem, incineração e deposição em aterro;
• Estímulo ao comércio de materiais recuperados ou reciclados visando a fabricação em pequena
escala industrial, comercial;
• Estabelecimento de programas de formação para os trabalhadores da gestão de resíduos sólidos
municipais;
• Realização de informação pública e programas de educação;
• Identificação de mecanismos financeiros e sistemas de recuperação de custos;
• Estabelecer os preços dos serviços e criação de incentivos;
• Gestão das unidades administrativas e operacionais do setor público; e
• Incorporação de empresas do setor privado, incluindo coletores de setor informal, processadores e
empresários.
Os avanços recentes na legislação brasileira traçam o caminho para a construção de um sistema de
gestão integrada de resíduos sólidos que minimize a geração e maximize o reaproveitamento de recur-
sos úteis. A lógica atual de descarte transforma esses recursos em passivos ambientais e sociais, que se
agravam conforme avança o desenvolvimento econômico e industrial do país. Um sistema integrado
26
de gestão, com responsabilidades estabelecidas para cada agente envolvido nas relações de produção
e consumo, contribui para maior eficiência no uso dos recursos naturais, cria oportunidades de investi-
mento e crescimento para organizações sintonizadas com as novas demandas da sociedade, e favorece
a busca de soluções para a eliminação dos passivos ambientais e sociais acumulados.
Com o aumento do consumo e da crise ambiental, as principais justificativas para a gestão de resídu-
os estão no seu nível de geração em centros urbanos, o passo de uso de recursos naturais do planeta
e os desafios climáticos que colocam em risco o bem estar e a capacidade de sobrevivência do ser
humano. Consequentemente, os fatores que propulsionam a gestão de resíduos sólidos passam a
incluir, além da saúde pública, do meio ambiente e da escassez de recursos, a conscientização pública
e o valor dos resíduos (Marshall e Farahbakhsh, 2013). Os dois últimos estão diretamente ligados aos
modelos de consumo e de produção.
Nesse contexto, a base conceitual considera que todos os aspectos da gestão de resíduos, tanto téc-
nicos como não técnicos, devem ser considerados, dependendo, portanto, da capacidade técnica de
gestores, do reconhecimento do papel fundamental da comunidade, da influência de ecossistemas
locais e globais e da cadeia de valor dos resíduos.
A integração desses fatores implica na integração de agentes (setor produtivo, setor público, pesquisa
e terceiro setor), instrumentos (legais, econômicos e técnicos) e ações necessárias que permeiam as
várias fases do ciclo de vida do resíduo (valorização dos resíduos, estruturação da produção, coorde-
nação do governo, conscientização do consumo, normatização técnica, planejamento e operação).
27
Figura 5 - Integração de agentes, ações e instrumentos na gestão de resíduos sólidos.
intrumentos
Comando e controle
Incentivo/Técnicos/Monitoramento
BARREIRAS
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A gestão de resíduos sólidos requer um sistema que integre os diversos fatores tais como: a geração
dos resíduos; sua forma de geração; sistemas de coleta e de disposição; utilização e destinação final.
A gestão integrada de resíduos deve considerar também a aplicação apropriada de tecnologias e con-
dições de trabalho, e a definição de uma relação entre comunidade e o poder público (WB, 2013),
visando consolidar padrões sustentáveis.
Os resíduos sólidos urbanos gerados em uma cidade podem ter origem no mundo todo. Uma grande
parcela desses resíduos é composta por matéria orgânica, que possuem soluções conhecidas, mas
existem resíduos industrializados, na forma de embalagens, produtos eletrônicos, etc, gerados por
uma sociedade tecnológica, que apresentam um desafio maior a ser superado.
A tarefa de recolher e dispor de resíduos sólidos de forma mais eficiente, socialmente e ambiental-
mente responsável, é também uma grande oportunidade de desenvolvimento da competitividade
industrial. Além dos recursos naturais presentes nos resíduos sólidos descartados, que poderiam ser
aproveitados em novos ciclos produtivos, o investimento na capacidade de gestão gera oportunida-
des de emprego e demanda por pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais limpas e eficientes.
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos representa um marco para a consolidação de pa-
drões de consumo e produção em sinergia com algumas das dimensões da sustentabilidade. Susten-
tabilidade essa entendida como função de um conjunto de dimensões que preconizam a minimiza-
ção de usos de recursos naturais, a responsabilidade compartilhada na gestão de resíduos, a inclusão
social, entre outros, trabalhados de maneira integrada para consolidar mudanças na estrutura de
produção que potencializarão mudanças no consumo, e vice-versa.
As mudanças necessárias fundamentam-se nos princípios e conceitos da economia circular, que parte
do princípio de que produtos não se tornam resíduos rapidamente, mas são reusados extraindo o
máximo de valor possível antes de serem retornados ao meio ambiente de maneira segura e produ-
tiva. Nesse contexto, a economia circular gera riquezas e crescimento e requer inovações no design
de produtos e de lideranças de negócios (Ellen MacAthur Foundation, 2013).
28
resíduos. Ao considerar a dimensão da crise ambiental, é necessário que modelos que valorizem os
resíduos como matéria prima sejam implantados. Para que esses modelos tenham sucesso, contri-
buindo com a sustentabilidade do planeta, são imprescendívies sistemas e tecnologias de informa-
ção, que permitam rastrear materiais ao longo do seu ciclo de vida, e novos padrões de consumo que
passam a optar pelo acesso no lugar da propriedade de produtos (Ellen MacAthur Foundation, 2013).
Mineração/Fabricação de materiais
Agricultura coleção
Nutrientes biológicos Fabricante de peças Nutrientes técnicos
Matéria
prima Fabricante de produtos
Nutrientes Biosphere bioquímica Reciclagem
biológicos
Provedor de serviço
Renovar/refabricar
Fabricante Reusar/redistribuir
Biogás de peças
Matutenção
6 2803 0006 9
Consumidor Usuário
Digestão
anaeróbica/
compostagem
Extração de
matéria prima Recupeção de energia
bioquímica
Vazamento a ser minimizado
Aterro
Uma abordagem integrada é um importante elemento das boas práticas em gestão de resíduos,
como apresentado pela OCDE (2007), porque:
• Certos problemas são mais facilmente resolvidos em combinação com outros aspectos do sistema
que sozinhos. Além disso, o desenvolvimento de novos ou melhores procedimentos de manuseio em
uma área podem prejudicar atividades em outra área, a não ser que as mudanças sejam coordenadas.
• A integração permite que a capacidade ou os recursos usados sejam otimizados e, assim, completamen-
te utilizados; existem economias de escala para equipamentos ou infraestrutura de gestão que podem
ser obtidos apenas quando todo o resíduo de uma região é gerido como parte de um só sistema.
29
• Uma abordagem integrada permite a participação de agentes dos setores público, privado e infor-
mal, em papéis apropriados.
• Algumas práticas de gestão de resíduos são mais caras que outras, e abordagens integradas facilitam a
identificação e seleção de soluções de baixo custo, um requerimento da PNRS. Algumas atividades de
gestão de resíduos não podem ser cobradas, outras serão sempre despesas, enquanto outras podem
gerar renda. Um sistema integrado pode resultar em uma gama de práticas que se complementam.
• A falha em integrar o sistema de gestão de resíduos pode levar a separação de práticas que pro-
duzem renda, tratadas como lucrativas, enquanto outras atividades relacionadas à manutenção de
saúde e segurança públicas recebem recursos inadequados ou insuficientes.
Sistemas de gestão são adaptados para objetivos específicos de comunidades, incorporando as expec-
tativas e necessidades das partes interessadas; o contexto local (da técnica, tais como as características
dos resíduos ao desenvolvimento cultural, político, social, ambiental, econômico e institucional); e a
combinação ideal de disposição, métodos adequados de prevenção, redução, valorização e destinação
final. (Kollikkathara et al, 2009;. McDougall et al, 2001;. Van de Klundert e Anschutz, 2001).
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Existe um consenso entre estudiosos, gestores e organizações internacionais sobre a chamada Hierar-
quia da Gestão de Resíduos. Essa lista de prioridades estabelece quais atividades devem ser preconi-
zadas e abordadas com antecedência na resolução do problema dos resíduos.
Estabelece-se, assim, um compromisso, em primeiro lugar, com a menor geração de resíduos. Não
devem ser abordados, de maneira linear, os itens da hierarquia, como uma lista. Todos os aspectos
devem ser abordados conforme as necessidades locais de cada comunidade. Porém, ao priorizar-se a
redução da quantidade de resíduos e de seu potencial de impacto negativo, já se contribui indireta-
mente com o objetivo final - de se criar um sistema produtivo sustentável.
Cabe ao município definir, em seu plano de gestão de resíduos, o limite entre pequenos gerado-
res, atendidos pelos serviços públicos de manejo de resíduos, e os grandes geradores, responsáveis
diretos pelo gerenciamento e, possivelmente, pela elaboração e implantação de plano específico.
30
Além disso, ainda segundo a PNRS, no parágrafo 3 do artigo 21, os planos municipais devem esta-
belecer regulamentos para os geradores de resíduos sobre:
• Geradores de resíduos dos serviços públicos de saneamento básico, excetuados os resíduos sólidos
urbanos domiciliares e de limpeza urbana, originários da varrição, limpeza de logradouros e vias
públicas e outros serviços de limpeza urbana.
• Geradores de resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais.
• Geradores de resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido
em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS.
• Geradores de resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demo-
lições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos
para obras civis.
• Estabelecimentos comerciais que gerem resíduos perigosos, ou mesmo caracterizados como não
perigosos, por sua natureza, composição ou volume, que não sejam equiparados aos resíduos do-
miciliares pelo poder público municipal.
• Os responsáveis pelos terminais e outras instalações referidas na alínea “j” do inciso I do art. 13 da
Lei 12.305/2010 (as empresas de transporte) e, nos termos do regulamento ou de normas estabe-
lecidas pelos órgãos do Sisnama e, se couber, do SNVS;
• Os responsáveis por atividades agrossilvopastoris, se exigido pelo órgão competente do Sisnama,
do SNVS ou do Suasa.
Importante ressaltar que, de acordo ainda com a PNRS, o plano de gerenciamento de resíduos sólidos
faz parte do licenciamento de empreendimentos e atividades junto aos orgãos competentes, de acor-
do com o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). No entanto, caso o empreendimento ou a
atividade não sejam sujeitos a licenciamento ambiental, o plano de resíduos deverá ser aprovado pelo
município de acordo com as suas regras específicas. Cabe, ainda, salientar que no processo de licencia-
mento junto a órgãos do Sisnama, a disposição final de resíduos deve obedecer às regras municipais.
O plano de gestão de resíduos de responsabilidade dos geradores deve ter um técnico habilitado que
tem como responsabilidade a elaboração, a implementação, a operacionalização e o monitoramento
de todas as suas etapas, incluindo o controle da disposição final dos resíduos ambientalmente adequa-
da. No Quadro 2, identifica-se o conteúdo mínimo do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a ser
elaborado pelos geradores, de acordo com o artigo 21 da PNRS e com algumas legislações estaduais.
31
Quadro 2: Conteúdo Mínimo do plano de gerenciamento de resíduos sólidos.
Observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa e, se houver, o plano mu-
nicipal de gestão integrada de resíduos sólidos: a) explicitação dos responsáveis por cada etapa do gerencia-
mento de resíduos sólidos; b) definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas do gerenciamento
de resíduos sólidos sob responsabilidade do gerador – segregação, coleta, acondicionamento, triagem, rotei-
ros, frequência, transporte, destinação, tratamemto, quantificação;
Objetivos e metas quanto ao destino final de resíduos especiais, com previsão de manejo e tratamento dos
mesmos.
Definição de indicadores de desempenho operacional e ambiental.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Identificação das soluções consorciadas ou compartilhadas com outros geradores, considerando forma de
prevenção de potenciais riscos;
Se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, na forma do art.
31 da PNRS;
Medidas saneadoras dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos;
Periodicidade de sua revisão, observado, se couber, o prazo de vigência da respectiva licença de operação a
cargo dos órgãos do Sisnama.
Fonte: Política Nacional de Resíduos Sólidos, Projeto de Lei 218/2014 (Paraná) e Lei 12.932 2014 (Bahia).
32
Opções tecnológicas
As opções tecnológicas podem ser identificadas considerando as formas hierárquicas de disposição e
os principais componentes da gestão de resíduos, conforme apresentado no Quadro 3.
emissões de GEE associadas.
Incineração /
resíduos para
gerar energia Uso de resíduos / CDRs para geração de energia térmica em processos industriais, como
/ Combustível substituto de combustíveis fósseis.
Derivado de
Resíduo - CDR
Aterros Captura do metano gerado em locais de disposição e uso como energia renovável.
Cabe ao poder público local e aos agentes do setor privado e não governamental criar seus planos
de gestão de resíduos, adequados à Política Nacional de Resíduos Sólidos, e às políticas Estadual e
Municipal, se houverem. A integração dos diversos processos, de geração, coleta, armazenamento,
processamento, reuso e recuperação, reciclagem e disposição final, depende do diálogo e da ação
coordenada entre os agentes. As partes interessadas envolvidas devem construir uma visão inte-
33
grada, antes de tudo, pois nem mesmo o mais perfeito plano será corretamente implantado sem o
engajamento de todos, desde a linha de frente até os gabinetes e laboratórios.
As bases conceituais adotadas pelas principais organizações internacionais para a gestão de resíduos
sólidos apontam para a importância da construção de um sistema integrado de gestão de resíduos.
De acordo com a posição desenvolvida nos capítulos anteriores, as soluções para os passivos am-
bientais e sociais acumulados com a disposição inadequada de resíduos sólidos, e consequente des-
perdício de recursos naturais, passam pela construção de sistemas colaborativos, nos quais todos os
agentes conhecem e assumem suas responsabilidades nas relações de produção e consumo e agem
para minimizar seus impactos, ao mesmo tempo em que buscam maximizar a eficiência no uso de
recursos naturais escassos e finitos.
Esse conceito não se restringe à adaptação das cadeias de suprimentos existentes, mas integra todo o
ciclo de vida dos produtos, favorecendo um design sustentável que leve em consideração a eficiência
no uso dos recursos naturais utilizados e a facilidade de transporte, processamento e disposição dos
resíduos gerados pelas relações de produção e consumo estabelecidas em torno dos produtos.
O conceito se estabelece também nos Estados Unidos, na mesma época, além da França e Espanha,
por meio das Organizações de Responsabilidade do Produtor, que são financiadas parcialmente pelas
empresas industriais. Em 1993, o Conselho Presidencial sobre Desenvolvimento Sustentável dos EUA
passa a promover o conceito de Responsabilidade Estendida do Produto, em contraposição à Respon-
sabilidade Estendida ao Produtor. A diferença é marcada pelo compartilhamento, no caso da última,
da responsabilidade pelos consumidores e pelo poder público, e não só pela empresa produtora.
A PNRS adota a Responsabilidade Compartilhada, uma aplicação desta visão de governança integra-
da pelas partes interessadas.
No Brasil, a Lei Federal 7.902, de 1989, estabelece que embalagens de agrotóxicos devem ser proje-
tadas para facilitar sua reutilização e reciclagem, além dos primeiros mecanismos de logística reversa
instituídos no país. A partir de então, os comerciantes deveriam receber as embalagens usadas e
encaminhar para os fabricantes, que se responsabilizam pela destinação apropriada. Em 1999, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece, por meio de resoluções, a responsabili-
dade dos fabricantes e comerciantes pela coleta e disposição de pilhas e baterias (Resolução 257) e
de pneus inservíveis (Resolução 258). Em 2005, a Resolução 362 ampliou a responsabilidade também
para o setor de óleos lubrificantes. Recentemente novas resoluções do Conselho foram elaboradas
para pilhas e baterias (Resoluçõ 401/2008) e para pneus (Resolução 416/2009).
A Lei n. 12.305, de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelece a logís-
tica reversa como instrumento legal, caracterizado pelo “conjunto de ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
34
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambiental-
mente adequada”. O acordo setorial, estabelecido também como instrumento legal dessa lei, esta-
belece as condições para a criação e a expansão de mecanismos de logística reversa no país.
A Produção Mais limpa representa um esforço integrado para a gestão de resíduos, de maneira a
compreender sua geração como ineficiência do processo, e considerando desde o design do produto
e do sistema produtivo para a mais completa redução ou possível eliminação da geração de resíduos.
Desde 1995, a UNIDO, em parceria com o PNUD, opera com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, um Centro Nacional de Tecnologias Limpas.
Lean Manufacturing
Os conceitos de Lean Manufacturing e Lean Enterprise derivam de estudos acadêmicos realizados ao
longo da década de 1990 sobre o Sistema Toyota de Produção, desenvolvido pela corporação japo-
nesa. Com esta abordagem ao sistema produtivo, a Toyota desafiou práticas aceitas de produção em
massa e mudou o balanço entre produtividade e qualidade que se aceitava como natural.
35
3. A VISÃO DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL
DA INDÚSTRIA E OS DESAFIOS FUTUROS
A gestão de resíduos sólidos é uma das estratégias para a busca da sustentabilidade no meio indus-
trial. O desafio vai muito além do controle dos processos produtivos, uso de matérias primas e insu-
mos de qualidade, e emprego de tecnologia avançada; requer um repensar geral sobre as atividades
da empresa, seus objetivos e metas. No mundo atual, do avanço científico e da busca incessante pela
inovação, as indústrias devem se preocupar com os impactos gerados por seus produtos e serviços
disponibilizados no mercado. Uma indústria competitiva, que busca um caminho para ser sustentá-
vel, deve usar a gestão de seus resíduos como forma de antever problemas, demonstrar sua respon-
sabilidade ambiental e como instrumento de inovação para produtos e processos.
Nas últimas duas décadas, para a redução de resíduos se privilegiou a eficiência dos processos de
fabricação e o uso de equipamentos e máquinas mais modernas. O reaproveitamento e a reciclagem
de resíduos se tornaram uma obsessão das empresas visando descartar o mínimo possível, visto que
todo esse processo representa perdas de recursos com custos financeiros elevados. O uso de meto-
dologias de prevenção da poluição, como a ecoeficiência e a Produção mais Limpa, ganharam espaço
e foram muito empregadas pelas empresas de médio e grande porte. O novo foco de atuação das
empresas vem com a responsabilidade pós consumo de produtos e embalagens, preconizada pela
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
A PNRS possui uma série de instrumentos fundamentais para sua efetiva implementação. Dentre as
que merecem destaque para o setor industrial estão a educação ambiental, a logística reversa e os
acordos setoriais, os planos de resíduos, a coleta seletiva, os instrumentos econômicos, os sistemas
de informação e o uso de tecnologias inovadoras para gestão dos resíduos. Para a indústria, aqueles
que merecem maior atenção estão voltados às obrigações que a nova lei trouxe para as empresas.
Logística reversa
A primeira obrigação a ser citada é a logística reversa, que trata do retorno de produtos e embala-
gens aos ciclos produtivos. Ela tem impacto nas estratégias das empresas e, atualmente, é objeto de
negociação entre o setor privado e o Governo Federal. O modelo escolhido para regulamentar a lo-
gística reversa foi o dos Acordos Setoriais, instrumento voluntário por meio do qual agentes discutem
e estabelecem formas para promoção da logística reversa. Esse modelo é complexo e desafiador, uma
vez que há diversos interesses conflitantes entre os setores afetados e cada qual tem suas respon-
sabilidades, seja o Poder Público, o consumidor, o comércio e a indústria fabricante ou importador.
Entretanto, as responsabilidades estabelecidas na legislação são de caráter geral e cada cadeia pro-
dutiva tem sua peculiaridade, exigindo, assim, adaptações e interpretações diferentes dadas pelos
diversos atores envolvidos. Existem pontos que precisam ser negociados entre as partes para que
36
todos os detalhes do sistema de logística reversa possam ser acordados. Dentre os pontos mais im-
portantes, está a relação entre comércio, indústria, importador e o papel de cada participante.
Toda essa complexa teia de relacionamentos privados entre fabricantes, importadores e comércio
precisa ser entendida e adaptada para se estabelecer o fluxo reverso de embalagens e produtos des-
cartados no pós-consumo. É preciso que cada ator envolvido no acordo setorial desempenhe seu pa-
pel conforme as responsabilidades previstas na legislação. Empresas de grande porte possuem maior
capacidade de contribuir com o modelo adotado, comparativamente às micro e pequenas empresas.
Esse aspecto é fundamental para que haja equilíbrio na participação de cada participante.
Aliada a essa dificuldade, é importante considerar que em um país com as dimensões do Brasil, os
investimentos financeiros, de recursos humanos e de criação de infraestrutura para a implantação
da logística reversa são significativos e devem levar um tempo considerável para serem plenamente
estabelecidos. Além disso, é fundamental que as diversas leis estaduais e municipais guardem relação
com a PNRS, respeitando sua estrutura e os acordos setoriais em negociação em nível nacional.
O Governo Federal elegeu cinco Acordos Setoriais para serem firmados inicialmente, dentre eles: em-
balagens em geral contidas na fração seca dos resíduos domésticos; lâmpadas contendo mercúrio;
produtos eletroeletrônicos e seus componentes; embalagens de óleos lubrificantes usados; e medi-
camentos vencidos ou fora de uso. Apenas o acordo setorial de embalagens de óleos lubrificantes
usados foi concluído até o momento. Os demais estão em estado avançado de negociação.
No entanto, eles apresentam desafios que vão muito além da esfera ambiental, englobando aspectos
econômicos, sociais, administrativos, fiscais e tributários. Esses desafios são parte integrante de ações
que devem ser resolvidas para que os acordos firmados obtenham resultados satisfatórios, e envol-
vam, em maior maior ou menor grau, o controle dos importados, o combate à pirataria, a desbura-
cratização dos processos administrativos ambientais e fiscais, e a criação de instrumentos econômicos
e financeiros para estímulo à reciclagem e para redução desses novos custos nas cadeias produtivas.
Os sistemas de logística reversa devem buscar incessantemente a redução dos seus impactos am-
bientais, sua sustentabilidade financeira e a inclusão social. Independentemente desses fatores, será
fundamental que os órgão públicos competentes sejam capazes de acompanhar o cumprimento
dos acordos setoriais, tendo em vista que muitas empresas não serão aderentes a eles num primeiro
momento. É importante que todas as empresas cumpram com sua obrigação legal e que não existam
condições de desequilíbrio entre aquelas que estão no acordo e as que não estão.
O acordo setorial para embalagens em geral contidas na fração seca dos resíduos domésticos envolve
todos os setores fabricantes de embalagens e as indústrias envazadoras de produtos de consumo do-
mésticos, como as indústrias de alimentos, bebidas, comésticos, produtos de limpeza, dentre outros.
Merece uma menção especial o papel da coleta seletiva municipal para a efetivação desse sistema de
logística reversa. É fundamental que os municípios implantem a coleta seletiva de resíduos para que
o acordo setorial seja efetivado. Os catadores têm papel decisivo na logística reversa das embalagens,
podendo exercer a coleta e separação desses materiais. Uma das propostas de acordo setorial prevê
investimentos na capacitação de catadores, formação de cooperativas, aparelhamento e financia-
mento para torná-los agentes ativos no mercado de recicláveis. A meta é formar empreendedores
com capacidade de gestão para o desafio de aproveitar todos os materiais recicláveis disponíveis.
37
Outro reflexo importante da logística reversa, que ocorreu em alguns países europeus e que merece
atenção por parte das indústrias brasileiras, é a mudança nas relações de produção e consumo em
que os produtos não são mais vendidos, mas sim o serviço que eles prestam. Isto é conhecido como
uma das formas de desmaterialização de produtos, na qual a titularidade do produto é da empresa
que o fabricou ou importou e o consumidor paga pelo serviço que esse bem lhe presta. Essa relação
faz com que as empresas, no ato de concepção de seus produtos, utilizem o Design para o Meio
Ambiente (Design for Environment) para propiciar uma otimização do seu aproveitamento ou reci-
clagem, após sua devolução pelo consumidor. Em determinado momento, o produto usado pode ser
trocado por um novo e o velho retorna ao ciclo produtivo para ser reaproveitado e reciclado, configu-
rando uma forma de economia circular. Esse novo modo de relação é uma tendência que demandará
atenção por parte das empresas e exigirá estudos e debates sobre a sua aplicação no Brasil.
Como os planos fazem parte do licenciamento ambiental e de suas renovações, é necessário que haja
uma regulamentação sobre seu conteúdo. Adicionalmente, também é necessário o estabelecimento
dos planos simplificados para micro e pequenas empresas e para as regras de dispensa prevista na
PNRS. A harmonização do conteúdo dos planos e a definição das regras para simplificação e dispensa
são fundamentais para segurança jurídica das empresas e para a adequação aos requisistos estabe-
lecidos pela política nacional.
A CNI apresentou propostas para o Comitê Interministerial que coordena a implementação dos ins-
trumentos da PNRS, à exceção da logística reversa, visando criar um termo de referência para os
planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e regras de simplificação e dispensa para as micro e
pequenas empresas. É preciso que essas regras sejam publicadas a fim de auxiliar as empresas para
a correta elaboração dos planos e facilitar o atendimento da lei. Nesse aspecto, o apoio dos agentes
públicos competentes é fundamental para concretizar essa regulamentação.
Instrumentos econômicos
Os instrumentos econômicos e financeiros estabelecidos na legislação são componentes indispensá-
veis para a efetividade dos demais instrumentos estabelecidos na legislação. É necessário modificar
a incidência de impostos e contribuições sobre a cadeia da reciclagem e também sobre as empresas
obrigadas a implantar a logística reversa. Todo o investimento na estruturação para separação, co-
leta, armazenamento, transporte e destinação de resíduos deve ser desonerado. A tributação atual
encarece o sistema de logística reversa e, desta forma, pode impactar os preços de novos produtos,
corroendo a competitividade dos setores envolvidos e criando desequilíbrios concorrenciais.
38
A CNI estudou o modelo de incidência de impostos no Brasil e, na maioria das vezes, ela é maior para
o material reciclado, comparado a um material não reciclado. Todo o trabalho da logística reversa
pode não obter sucesso se a lógica da tributação brasileira não for alterada para os resíduos sólidos
recuperados. Adicionalmente, o estudo mostra que todas as cadeias devem ser estimuladas. Isto
significa que a coleta, o comércio de materiais recicláveis, a indústria recicladora e as empresas que
irão adquirir os materiais reciclados devem ser objeto de incentivos em graus diferenciados, a fim de
promover o estímulo à reciclagem de forma equilibrada e duradoura.
Da mesma forma, é necessário reduzir os impactos para os setores cuja logística reversa seja onerosa,
como é o caso de lâmpadas, pneus, embalagens de agrotóxicos e seus resíduos, pilhas e baterias,
óleos lubrificantes e suas embalagens, medicamentos e produtos eletroeletrônicos. Para esses produ-
tos, o gasto com a logística reversa supera os ganhos advindos da reciclagem de seus componentes.
Portanto, é preciso estabelecer formas de se reduzir ou mesmo de impedir que os novos custos inci-
dentes sobre os produtos sejam tributados.
A tributação do ICMS de competência estadual é a que mais pesa para a cadeia da reciclagem, con-
forme pode ser verificado no levantamento do estudo elaborado para a CNI. Resolver esse problema
será um grande desafio devido à necessidade de harmonização das fazendas estaduais no Conselho
de Política Fazendária (CONFAZ). Os interesses dos estados são comumente divergentes e será ne-
cessário trabalhar com cada governo estadual sobre a necessidade de simplificação e desoneração
do ICMS sobre as cadeias da reciclagem. Existem estados que adotam políticas de incentivo para
a reciclagem e outros não, o que leva à tributação de recicláveis nas operações interestaduais. Isto
colabora para uma “guerra fiscal” entre os estados, o que poderá dificultar e encarecer a logística
reversa no país.
Outro aspecto importante será alterar a Lei Complementar do ISSQN, impedindo a cobrança desse
imposto sobre as operações de logística reversa nos municípios. A cobrança desse imposto poderá
inviabilizar a logística reversa, tanto sob o ponto de vista econômico, como do ponto de vista
burocrático. As operações de logística reversa para a maioria das embalagens e produtos ocorrerão
em áreas com mais de um município, o que torna fundamental que o sistema seja simplificado e com
baixo custo.
39
Design para o meio ambiente, tecnologia e inovação
Uma das formas para reduzir custos no processo produtivo e nas obrigações da logística reversa é o
investimento nos projetos para o meio ambiente relacionados a produtos e embalagens. O Design
para o Meio Ambiente (Design for Environment, DfE) é uma estratégia que busca integrar as ques-
tões ambientais ao processo produtivo de forma a melhorar o desempenho ambiental dos produtos
desenvolvidos sem comprometer os requisitos de clientes e demais fatores críticos de sucesso, como
segurança, qualidade, custo, etc. A principal contribuição do Design para o Meio Ambiente para a
implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos se dá em relação a não geração ou à mini-
mização da geração de resíduos.
Meio Ambiente
e
ad
Es
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Ergonomia Design de
Qualidade
Produto
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Fabricável
Cu
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Fonte: CNI.
A análise para a prevenção de resíduos no ciclo de vida de produtos e suas embalagens justifica-
-se devido às exigências estabelecidas pela PNRS para a logística reversa de produtos e embalagens
descartados. As novas exigências requerem um esforço adicional na avaliação das externalidades
ambientais de produtos e deembalagens, pelas empresas, devido à necessidade de maior governança
sobre o ciclo de vida dos materiais. Independentemente do porte da empresa, as exigências serão as
mesmas, o que se torna um grande desafio para aquelas de menor porte.
A PNRS exige que as empresas relatem, em seus planos de gerenciamento de resíduos sólidos, ini-
ciativas e ações voltadas ao Design para o Meio Ambiente visando à incorporação de conceitos de
sustentabilidade em embalagens e produtos, e em seus ciclos de vida. Dessa forma, essa estratégia
40
passa a ter importância crucial no atendimento legal e no fomento à redução dos custos da logística
reversa. Esse processo poderá gerar inovações na concepção de novas embalagens e produtos de
menor peso, mais reaproveitáveis ou recicláveis, além da redução ou eliminação de materiais que
sejam tóxicos ou perigosos.
Outro aspecto importante relacionado à prevenção de geração de resíduos, que tem como ferramen-
ta básica o DfE, é o uso de tecnologias inovadoras que não gerem resíduos nos processos produtivos.
Um exemplo de tecnologia de vanguarda que está em processo acelerado de desenvolvimento e tem
potencial de revolucionar os métodos produtivos é a impressão em três dimensões (3D). Essa tecno-
logia tem potencial para substituir máquinas e equipamentos de montagem, conformação mecânica,
extrusão e acabamento, dentre outros, necessários em processos industriais. A impressão em 3D gera
quantidades mínimas de resíduo e poderá ser aplicada por setores como os da indústria têxtil, auto-
mobilística, metalmecânica, de alimentos, da construção civil, eletroeletrônica, médico-hospitalar, de
defesa e aeroespacial.
Com o marco legal da Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria-se a estabilidade necessária para os
investimentos que vão possibilitar esta transição. No médio a longo prazo as relações de produção e
consumo deverão evoluir para se adequar a esta nova concepção de produção sustentável, criando
enormes oportunidades de crescimento e investimento em competitividade. É fundamental que as
empresas sejam capazes de aprender e de evoluir em consonância com as expectativas da sociedade
e dos consumidores, isso trará indiscutível vantagem na competição pelos mercados no futuro. Nesse
sentido o uso do DfE será fundamental e deve ser estimulado, assim como o melhor conhecimento
sobre o tema e as iniciativas existentes. Esse ponto será motivo de reflexão dos agentes econômicos
e dos líderes empresariais para os próximos anos.
Requalificação de resíduos
Requalificação de Resíduos, também conhecida como “critérios de fim de resíduos” (End of Waste Cri-
teria), é a terminologia empregada para determinados resíduos quando eles deixam de ser considera-
dos resíduos e obtêm o status de subproduto ou matéria prima secundária. Os “critérios de fim de re-
síduos” correspondem aos requisitos que um material derivado de resíduo deve atender para garantir
seu uso sem prejudicar a saúde humana e o meio ambiente. Além disso, os critérios devem fornecer
um alto nível de proteção ambiental, redução do consumo de recursos naturais e uso de aterros e ofe-
recer benefícios econômicos. A responsabilidade por sua elaboração é do agente público competente.
O principal objetivo é incentivar ainda mais a reciclagem, criando segurança jurídica e condições de
concorrência equitativas, bem como a remoção de encargos administrativos desnecessários.
41
De acordo com a legislação internacional sobre resíduos (União Europeia, 2008; EUA, 1976), determi-
nado resíduo deixa de ter esse status quando foi submetido a um processo de recuperação (incluindo
a reciclagem) e cumpre com critérios específicos em consonância com as seguintes condições:
Na União Européia, alguns resíduos são atualmente requalificados como subprodutos ou matérias-primas
secundárias. Elas incluem as sucatas de forma geral (metais, papel e papelão, vidro, plásticos e resíduos
biodegradáveis). Porém, a requalificação pode ir muito além quando a sua aplicação é conhecida e uti-
lizada de forma contínua, em diversos setores industriais. O documento setorial apresentado pelo setor
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
siderúrgico contido no Anexo A deste documento exemplifica casos de sucessos já patenteados, como
as escórias de alto forno utilizadas na fabricação de cimento e as escórias de aciaria para pavimentação.
O foco dos “critérios de fim de resíduos” está na qualidade do material submetido à requalifica-
ção. No entanto, além da definição de características, composição e valores-limite de substâncias
poluentes do material secundário, existem outras opções que podem ser utilizadas para se alcançar
a qualidade adequada, inclusive, em alguns casos, mais eficazes em termos técnicos e econômicos.
Por exemplo, alguns critérios podem ser mais eficazmente definidos quanto sua qualidade na origem
dos resíduos - separação de materiais como resíduos de construção/demolição, papel ou vidro -, no
processamento - controle de temperatura em adubos -, ou no uso - rótulos com recomendações para
a utilização de resíduos contendo nutrientes para agricultura.
É importante ressaltar que o processo de discussão sobre requalificação de resíduos é uma antiga
reivindicação da indústria brasileira, devido à dificuldade imposta pela burocracia ambiental. Atual-
mente, esse tema é objeto de discussão internacional e, portanto, a sua abordagem representa não
só uma necessidade para a manutenção da competitividade das empresas brasileiras vis-a-vis às suas
concorrentes internacionais, como também é uma oportunidade para debater o tema no Brasil. Ou-
tro aspecto a ser destacado seria o estímulo à inovação de processos que permitam a determinados
resíduos serem tratados para a aplicação como insumos em outros processos produtivos. Para tanto,
é necessário trazer a discussão para o Brasil e construir propostas que regulem o tema em nível fe-
deral. Requalificar resíduos significa ter uma nova visão sobre o seu valor e, desta forma, incentivar
ainda mais seu reaproveitamento e reciclagem.
Cuidadosamente recolhido e selecionado, o lixo pode conter em média 10.000 kJ/kg de energia, o
que significa que cada quilograma de resíduos pode acender uma lâmpada de baixo consumo de 12
W (= lâmpada convencional de 60W) durante 75 horas (fonte: Fornecedores Europeus de Tecnologia
42
de Valorização Energética de Resíduos). A valorização energética emprega uma série de tecnologias
avançadas que permitem fazer a recuperação de energia com baixos riscos e impactos ambientais.
As diversas tecnologias existentes propiciam gerar energia dos resíduos por meio de sua queima ou
da transformação de combustível para uso industrial, mais conhecido como Combustível Derivado de
Resíduos (CDR). Essa tecnologia representa uma nova oportunidade de negócios para as empresas e
é amplamente utilizada no mundo para geração de energia elétrica ou térmica.
No Brasil, a partir de agosto de 2014 não será mais permitida a disposição final de resíduos sólidos
urbanos em lixões e aterros controlados. Devido ao histórico problemático, a implantação e operação
de aterros sanitários pelo Poder Público se mostraram como um desafio. Existe, ainda, a tendência
de aumento da geração total e per capta de lixo urbano, em função de uma maior inserção social de
famílias pobres e do trabalho de erradicação da pobreza.
Segundo cálculos realizados pela CNI, com base em dados levantados pela Abrelpe em 2010, a fra-
ção seca do lixo corresponde, em média, a 49% do lixo urbano, o que equivale a quase 30 milhões
de toneladas/ano de resíduos gerados. Desse total, cerca de 35% não são passíveis de reciclagem,
o equivalente a aproximadamente 10 milhões de toneladas de rejeitos. Esta parcela é, em sua maior
parte, passível de recuperação energética. No restante da fração seca do lixo reciclável (19,46 milhões
de toneladas), há ainda uma parcela de materiais plásticos e de celulose (papel e papelão) que não
possui potencial de reciclagem devido a fatores como contaminação por alimentos, óleos vegetais ou
outras substâncias químicas. Além disso, as etiquetas presentes em muitas embalagens reduzem ou
impedem a reciclagem. O maior limitante para a reciclagem de materiais não é tecnológico, mas sim
econômico. Em todo o mundo é a relação custo/benefício o fator utilizado para definir a destinação
final de resíduos, independente de sua natureza.
43
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera
a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da República
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Guerrero, Lilliana A., Ger Maas, and William Hogland. “Solid Waste Management Challenges for
Cities in Developing Countries.” Waste Management 33 (2012): 220-32. Elsevier. Web. 10 July
2014. <http://dx.doi.org/10.1016/j.wasman.2012.09.008>.
Krafcik, John F., “Triumph of the lean production system”. Sloan Management Review 30 (1988):
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Marshall, Rachel E., and Khosrow Farahbakhsh. “Systems Approaches to Integrated Solid Waste
Management in Developing Countries.” Waste Management 33 (2012): 998-1003. Elsevier. Web.
10 July 2014. <http://dx.doi.org/10.1016/j.wasman.2012.12.023>.
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OECDa. Guidance Manual for the Implementation of Council Recommendation C(2004)100 on the
Environmentally Sound Management (ESM) of Waste, 2007.
UNa, A 10-year framework of programmes on sustainable consumption and production patterns, 2012.
UNb, Resolution adopted by the General Assembly on 27 July 2012: The future we want, 2012.
44
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Womack, James P., Daniel T. Jones; Danial Roos, “The Machine that Changed the World. 1990
World Bank, WHAT A WASTE: A Global Review of Solid Waste Management, 2013.
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http://www.unep.org/gpwm/
http://www.unep.org/ietc/AboutIETC/IETCandUNEPsvision/tabid/56248/Default.aspx
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-production/cp/cleaner-production.html
http://www.oecd.org/environment/waste/smm-makingbetteruseofresources.htm#Acess_the_full_report
http://www.oecd.org/env/waste/OECD%20Work%20on%20SMM_update%2011-02-2013.pdf
http://www.oecd.org/officialdocuments/publicdisplaydocumentpdf/?cote=ENV/EPOC/WGWPR/
SE%282004%291/FINAL&docLanguage=En
European Comission
http://ec.europa.eu/environment/waste/mining/
http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/NOT/?uri=CELEX:32008L0098
http://www.epa.gov/osw/nonhaz/industrial/special/mining/
http://www.epa.gov/oecaagct/lrca.html#About
http://education.nationalgeographic.com/education/encyclopedia/great-pacific-garbage-patch/?ar_a=1
45
ANEXO A
anexo a
RESÍDUOS SÓLIDOS
E SETORES DA
INDÚSTRIA
NACIONAL
ABAL - A GESTÃO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS NA
INDÚSTRIA DO ALUMÍNIO
Instalada no Brasil desde a década de 1950, a indústria do alumínio está distribuída por todo o país
e, em toda sua cadeia de valor – da extração mineral à reciclagem – apresenta desempenhos que são
referência mundial no setor, nos aspectos econômico, social e ambiental.
Trata-se de uma indústria altamente estratégica para o país, pois atende aos principais segmentos
econômicos com diversidade e qualidade de produtos, além de participar do mercado internacional
como exportador, incluindo alumina e bauxita, gerando riqueza para a nação.
.. Exportações 3.575
.. Importações 1.346
.. Saldo 2.229
Fonte: ABAL
A gestão dos resíduos é extremamente importante para a indústria brasileira do alumínio, tanto na
contribuição socioambiental quanto na gestão econômica e sustentável de suas empresas. Em todas as
etapas de valor (imagem abaixo), o setor realiza práticas sustentáveis para destinação dos seus resíduos.
51
Figura 1 - Indústria Brasileira do Alumínio - Cadeia Produtiva.
e Forjadas
Outros Pó Outros
de Alumínio
Desoxidante Sucata
Outros (Industrial e de
Obsolescência)
Reciclagem
Os principais resíduos sólidos da indústria do alumínio estão assim discriminados, segundo a etapa
produtiva:
52
Produção de ligas secundárias
• Borra de refusão;
• Resíduos de exaustão ;
• Refratários / cadinhos;
• Óleos lubrificantes / cárter;
• Sacarias.
Laminação
• Borra de refusão;
• Refiles de alumínio com plástico e papel;
• Refratários;
• Borra de tintas;
• Solventes gastos;
Extrusão
• Borra de refusão;
• Banho de soda cáustica do lavador de gases dos fornos;
• Refratários;
• Borra de forno de nitretação das ferramentas;
• Sucata de grafite;
• Banho de soda gasto na limpeza de ferramentas;
• Óleos lubrificantes e solúveis;
• Sucata de ferro;
• Banho ácido (anodização/neutralização);
• Banho de soda (fosqueamento);
• Torta da estação de tratamento de efluentes.
Trefilação
• Sucata de borracha;
• Borra de óleo de trefila;
• Óleos lubrificantes e solúveis;
• Ascarel (PCB).
Fundição
• Borra de refusão;
• Refratários/cadinhos;
• Areia de fundição;
• Óleos lubrificantes e solúveis.
Nas etapas iniciais da cadeia produtiva, cada tonelada de alumina produzida gera entre 700 kg e 900
kg de resíduos de bauxita, apresentado sob a forma de uma polpa alcalina com partículas sólidas.
53
Além da destinação correta desse resíduo em áreas previamente impermeabilizadas, a indústria tam-
bém busca possibilidades de aproveitamento do resíduo da bauxita como matéria-prima para outras
atividades, como na indústria de cimento e na indústria cerâmica para a produção de tijolos e telhas.
Para tanto, firmam parcerias com universidades e centros de pesquisa para buscarem soluções que
transformem os resíduos em produtos ou insumos para outros setores.
Resíduos dos calcinadores de plantas industriais servem para a indústria de refratários; o Revestimen-
to Gasto das Cubas eletrolíticas (RGC) – também conhecido por Spent Pot Lining (SPL) – serve de
matéria-prima para a indústria de cimento e até para a fabricação de telhas. Os resíduos de carbono
também são utilizados como combustíveis para fornos das indústrias de cimento, contribuindo assim
com a redução dos gases de efeito estufa.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A produção das ligas secundárias de alumínio também gera escórias com altos teores de sais e óxido
de alumínio e um pequeno percentual de alumínio metálico. O reaproveitamento dessa escória para
extrair o alumínio contido ainda gera um residual que pode ser tratado para recuperação do sal.
Boas práticas
Há vários casos de outras práticas ambientais empreendidas pela indústria do alumínio. Alguns deles:
Alcoa
A Alcoa Alumínio S.A. avançou em seus objetivos de redução, tratamento e reciclagem de resíduos
e vem desenvolvendo soluções que possibilitem a eficiência dos seus negócios, deixando um legado
de sustentabilidade nas localidades onde atua.
A companhia estabeleceu a meta mundial de reciclar e reutilizar, até 2020, 75% dos resíduos que
antes eram destinados a aterros, com base no ano de 2005. Em 2013, a companhia já havia superado
esta meta, pois destinou 86% dos resíduos para disposições sustentáveis, resultado de melhorias em
processos e produtos nas unidades da Alcoa no Brasil.
Exceto os materiais que são incinerados – resíduo oleoso, resíduo de ambulatório, tintas e solventes
–, os demais resíduos (madeira, papel, plástico, metais, vidro, borracha, óleo lubrificante, adubo, etc.)
são sempre usados como uma fonte de recursos para reciclagem. A companhia realiza a destinação
adequada dos materiais descartados de acordo com as leis ambientais, levando em conta as especi-
ficidades de cada resíduo.
Em pesquisa e inovação, a Alcoa possui iniciativas em parceria com instituições de pesquisa para
o desenvolvimento de aplicações para o resíduo do refino da bauxita na indústria do cimento.
Em conjunto com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por exemplo, foi desenvolvido pro-
jeto que viabiliza a utilização dos resíduos da bauxita como matéria-prima na produção de clínquer
de cimento, substituindo fontes naturais não renováveis de ferro e alumínio.
Já em parceria com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli), chegou-se a uma solução
54
que possibilita a adição de resíduos da bauxita em cimentos compostos, em substituição ao clínquer.
O sucesso na implantação destes conceitos ajuda a reduzir a pegada ecológica, as emissões de CO2
e ainda resulta em benefícios econômicos e sociais nas cadeias de produção e consumo dos setores
de mineração e construção civil.
Outra iniciativa inovadora é realizada na refinaria do Consórcio Alumar, gerenciada pela Alcoa em
São Luís (MA), onde foram desenvolvidos bloquetes de concreto com resíduos de bauxita, que po-
dem ser utilizados na construção civil. Os bloquetes são feitos de concreto convencional, substituindo
a areia pelo resíduo de bauxita. No momento, os materiais estão sendo testados em áreas internas
da refinaria do Consórcio Alumar.
A escória formada durante o processo de fundição do alumínio contém teores de alumínio metálico
acima de 20%. Para minimizar a geração deste rejeito, o lingotamento da unidade do Consórcio
Alumar, em São Luis (MA), desenvolveu e implantou um processo de reaproveitamento interno do
alumínio metálico contido na borra, gerando significativo ganho financeiro para a companhia, bem
como uma redução de 10% do resíduo sólido gerado na operação. Como resultado, em 2013, foram
recuperadas 223 toneladas de alumínio.
Na Alumar, a substituição das antigas caldeiras por outras mais modernas e eficientes, em 2009, pos-
sibilitou a geração de menor quantidade de cinzas. Além disso, toda a cinza gerada nas operações é
utilizada como insumo na produção de cimento, sem destinação a aterros. Cabe ressaltar que, desde
2005, toda cinza gerada nas operações da Alumar – um volume de mais de 120 mil toneladas - é
usada na produção de cimento.
Outra ação de reaproveitamento ocorrida na Alumar é a reutilização de tijolos refratários que sobram
após a manutenção dos fornos de cozimento de anodos. A fábrica recicla esses materiais desde o iní-
cio de suas operações, em 1984, e já soma mais de 100 mil toneladas de tijolos reciclados, utilizados
em pavimentação na área da própria fábrica, bem como em ruas e praças de comunidades vizinhas
da unidade.
55
Novelis
Como parte de seu trabalho em torno da gestão de resíduos, a empresa realiza uma contínua inspe-
ção dos materiais, mapeando oportunidades, fazendo avaliações e o monitoramento em seu sistema
de EHS – Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Os relatórios de ocorrência passam a fazer parte das
ações prioritárias a serem implantadas e monitoradas.
Uma alteração no layout da Central de Resíduos da planta aumentou sua capacidade de estocagem e
a rotatividade de caçambas, além de ampliar a área coberta, aumentando a proteção contra intempé-
ries e possível arraste de resíduos com as chuvas, o que poderia acarretar riscos ambientais. Durante
os últimos doze meses, a Central recebeu 1.550 toneladas de resíduos de papel, papelão, plástico,
madeira e embalagens vazias.
Para a segregação da sucata de cobre – basicamente cabos elétricos – foi definido um ponto de
coleta seletiva, dotado de caçamba compartimentada, e qualificado um fornecedor para transporte
e reciclagem da sucata. No período, foram recicladas quase 20 toneladas, gerando uma receita de
aproximadamente R$ 73 mil para a Novelis.
56
Resultados
Votorantim Metais
Neste contexto, alguns dos principais projetos desenvolvidos pela Votorantim Metais estão no Negó-
A previsão da companhia é de reduzir o descarte de resíduos em 1,5 mil toneladas/mês, o que sig-
nifica não só um importante ganho ambiental, mas também uma nova oportunidade de mercado.
Somente o setor de aço possui uma demanda potencial de mais de 75 mil toneladas de escória sin-
tética por ano.
A unidade de Niquelândia (GO) da Votorantim Metais já está testando o alucoque como fonte de
geração de energia, com objetivo de consolidar o projeto junto a parceiros de siderurgia e mineração,
fechando o ciclo de geração e utilização responsável, agregando valor ambiental para a companhia,
seus clientes e, principalmente, para o meio ambiente.
A Votorantim Metais já obteve homologação do registro de patente pelo Instituto Nacional de Pro-
priedade Intelectual (INPI) dentro da modalidade de patente verde, com a perspectiva de conclusão
de todo o processo dentro de dois anos.
Figura 4 - Linha de cubas eletrolíticas que podem ser alimentadas com o alucoque.
57
Trim Liquor
Outro projeto que visa o melhor aproveitamento dos resíduos da produção de alumínio é o Trim Li-
quor, desenvolvido na fábrica de Alumínio (SP). A partir de estudos próprios, a companhia passou a
aproveitar a solução líquida extraída da bauxita, como parte do processo de produção do alumínio.
No refino de alumina, a bauxita - minério rico em óxido de alumínio - é submetida à digestão com
soda cáustica (NaOH). No processo de separação sólido-líquido, pode ocorrer perdas de alumina
(produto) que é incorporada no resíduo. Para minimizar essa perda, o projeto Trim Liquor controla a
precipitação da alumina, diminuindo a geração de resíduo sólido.
Com a adoção do projeto, em 2012, várias conquistas já podem ser comemoradas. A companhia já
consegue aproveitar cerca de 14 mil toneladas de alumina e 2 mil toneladas de soda cáustica, por
ano, que deixaram de ser descartadas como resíduo.
Em 2013, o projeto Trim Liquor foi premiado na 19ª Edição do Prêmio FIESP de Mérito Ambiental,
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, como exemplo de boa prática am-
biental na área de Refinaria de Tecnologia da Alumina.
General Cable
Na General Cable do Brasil Ltda – fabricante de fios e cabos de alumínio localizada em Poços de
Caldas (MG) – a aplicação da metodologia Seis Sigma deu ótimos resultados. Com a implantação
em 2013 de uma nova tecnologia de informação, para controle de processo e desdobramento de
projetos de melhoria, houve uma melhoria de 90% do DMPU (índice de falhas) e uma redução de
30% na geração de resíduos durante o processo de fabricação de fios e cabos.
A empresa também desenvolve outras soluções, como a recuperação de carretéis de madeira utili-
zados no processo. Atualmente, ao invés de serem descartados, os carretéis são recuperados, o que
representa uma economia em volume da ordem de 15% na compra de novos carretéis por mês.
Esta economia viabiliza a estrutura da área, ou seja, a prática de recuperação de carretéis é auto-
-sustentada, baseada nos três pilares da sustentabilidade: econômico, ao reduzir a compra de novos
carretéis; ambiental, ao poupar a extração de madeira e evitar a geração de resíduos; e social, ao
gerar empregos, capacitando e especializando mão de obra para recuperação dos carretéis.
58
A empresa mantém ainda o Fundo Verde, um programa de incentivo aos funcionários para a correta
segregação de resíduos. A receita gerada pelo programa – proveniente da venda dos resíduos de
papel e plástico – é revertida em campanhas educativas, reconhecimentos e recompensas aos empre-
gados e/ou setores que alcançarem as metas relacionadas a Meio Ambiente e Segurança.
Prolind
A Prolind Industrial Ltda – extrusora de alumínio com plantas instaladas em São José dos Campos
(SP) e Londrina (PR) – reduziu em mais de 60% o consumo de soda cáustica utilizada na limpeza do
ferramental de extrusão, através de um processo de reutilização do insumo.
A empresa possui dois tanques de armazenamento da soda, um para o produto puro e outro para
armazenagem da soda já utilizada. A redução significativa no consumo e descarte da soda foi atin-
gida com vários procedimentos.
Além de reduzir o consumo de soda cáustica para 40 toneladas em 2013, contra 93 toneladas do
ano anterior, a reutilização do insumo também contribuiu para a preservação do meio ambiente, ao
diminuir em 66% o descarte de soda impregnada por partículas. Em 2013, a Prolind descartou 103,4
toneladas de soda, contra uma estimativa de 308,2 toneladas previstas para o ano.
59
Desafios
A indústria do alumínio global está engajada no programa “Alumínio para futuras gerações”, lidera-
do pelo International Aluminium Institute (IAI), que promove o desenvolvimento sustentável pela
execução voluntária de ações medidas por 22 indicadores de sustentabilidade. Entre estes indica-
dores, estão a gestão de resíduos da mineração e refino da bauxita; processamento e reciclagem
dos revestimentos gastos de cubas eletrolíticas; destinação correta e recuperação de escória e outros
resíduos decorrentes do processo de transformação e reciclagem do alumínio.
Para atender ao programa, que definiu o ano de 1990 como linha base de referência para o volume
de operação do setor, as empresas investem em tecnologia, ao mesmo em tempo em que formam
parcerias com universidades para desenvolver soluções cada vez mais sustentáveis na gestão de seus
resíduos, como demonstram os exemplos bem sucedidos descritos.
Para ampliar o volume de processamento e reciclagem dos resíduos há, contudo, o desafio de ex-
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
pandir as parcerias com outros setores produtivos, como a indústria de cimento e siderúrgica, por
exemplo, de forma a transformar efetivamente o resíduo da cadeia do alumínio em insumo comple-
mentar para outras cadeias produtivas, gerando novas soluções.
CRÉDITOS
Redação (texto): Assessoria de Comunicação da ABAL, com informações das empresas Alcoa Alumínio
S.A., General Cable do Brasil Ltda, Novelis do Brasil Ltda, Prolind Industrial Ltda e Votorantim Metais.
60
ABCP
ABCP – A INDÚSTRIA DE
CIMENTO E A GESTÃO
DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O cimento é um dos produtos mais consumidos pela humanidade e tem importante papel no desen-
volvimento dos países. É o componente principal do concreto, material fundamental na construção
civil e segundo produto mais consumido no mundo após a água.
A produção de cimento no Brasil vem crescendo desde 2002, tendo atingido 70 milhões de toneladas
em 2013, o que colocou o país como 6º produtor mundial.
A demanda de cimento no país cresceu de 237 kg/habitante em 2007 para 353 kg/habitante em
2012, impulsionada pelas obras de infraestrutura necessárias para a realização da Copa do Mundo
em 2014, das Olimpíadas em 2016 e do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
63
Figura 2 - Evolução do consumo de cimento
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A utilização de combustíveis e matérias primas alternativas são as principais opções para atenuar o es-
gotamento dos recursos não renováveis, contribuir para a mitigação dos gases de efeito estufa, além de
estar em consonância com a lei 12305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
A indústria de cimento
Atuam no país, hoje, 17 grupos industriais com 87 unidades produtoras, sendo 51 integradas
(forno+moinho) e 36 unidades de moagem espalhadas por todo o território nacional, predomi-
nantemente no sul e sudeste. A capacidade de produção nominal é de 86 Mt/ano. A distribuição das
fábricas é apresentada na figura 3.
64
Figura 3 - Localização das fábricas no Brasil
A fabricação de cimento faz uso intensivo de energia e recursos naturais não renováveis. De acordo
com o CEMBUREAU, organização representante do setor na Europa, para cada tonelada de clínquer
produzido são necessárias 1,5 a 1,7 toneladas de matéria prima e para cada tonelada de cimento, 60
a 130 kg de óleo combustível ou seu equivalente.
65
Figura 4 - Esquema do processo de fabricação de cimento
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Com a iminente saturação dos aterros sanitários, a proibição dos lixões a partir de 2014 e a obriga-
toriedade do aproveitamento dos resíduos, a busca por alternativas de destinação ambientalmente
adequadas tornou-se imprescindível.
Além disso, o crescimento da produção de cimento em nível mundial demandará cada vez mais a
utilização de recursos naturais e energia, representando consumo anual de centenas de milhões de
toneladas de combustíveis e minerais. O grande desafio é manter o crescimento sem comprometer
as gerações futuras.
66
A utilização dos fornos de fabricação de cimento como ferramenta para a gestão de resíduos vem se
tornando cada vez mais importante no cenário nacional.
Os fornos de cimento possuem características que os tornam favoráveis para a queima de resíduos,
como altas temperaturas, longo tempo de residência em temperaturas acima de 1450oC, atmosfera
oxidante, destruição total dos componentes orgânicos, não geração de cinzas, entre outras.
Histórico do coprocessamento
As primeiras experiências com coprocessamento de resíduos foram realizadas com sucesso na década
de 70, no Canadá, com o objetivo de estudar a eficiência de destruição de resíduos clorados (1974
a 1976).
Na França, os primeiros ensaios foram realizados em 1978. No mesmo ano, registram-se estudos na
Já em âmbito federal, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) instituiu, em 1999, pela
Resolução 264, a regulamentação nacional. A Resolução 316/2002 para sistemas de tratamento tér-
mico complementou a regulamentação, estabelecendo para o coprocessamento o limite de emissão
de dioxinas e furanos. As regulamentações de São Paulo e Minas Gerais passaram por processo de
revisão e foram publicadas em 2003 e 2010, respectivamente.
67
Figura 5 - Perfil dos resíduos coprocessados ano base 2013 (t)
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
68
Panorama internacional
Como já foi mencionado, países como França, Japão, Canadá e Noruega, diante da saturação imi-
nente dos aterros sanitários e dos riscos dos aterros clandestinos, regulamentaram o coprocessa-
mento há mais de quatro décadas. O objetivo era contar com uma alternativa segura de destinação
de grandes volumes de resíduos e de passivos ambientais.
A geração de resíduos pelos municípios tem crescido substancialmente, e apesar da utilização de di-
versas alternativas de aproveitamento, como reciclagem e reuso, uma grande quantidade de resíduos
com potencial de aproveitamento ainda é destinada a aterros sanitários.
69
Os fornos de cimento são uma opção viável e ambientalmente adequada para o tratamento dos
resíduos sólidos urbanos tratados (após triagem do material reciclável), reduzindo a disposição em
aterros e, consequentemente, prolongando a sua vida útil. Trata-se, ainda, de forte contribuição
na redução das emissões de metano, gás de efeito estufa, com potencial de aquecimento 21 vezes
maior que o CO2 (1 kg de metano equivale a 21 kg de CO2).
A tendência nos países europeus é destinar cada vez menos os resíduos sólidos urbanos (RSU) para
aterros, como pode ser observado no gráfico 2.
No Brasil, a quase totalidade dos resíduos sólidos urbanos é destinada a aterros (aterros controlados,
lixões e aterros sanitários). Segundo estudo feito pela Associação Brasileira de Limpeza Pública e Re-
síduos Especiais (ABRELPE), em 2012 foram geradas 63 milhões de toneladas de RSU, representando
1,049 kg/pessoa/dia, dos quais apenas 3% foram reciclados. O mesmo estudo mostra que 40% de
todo resíduo sólido urbano produzido no Brasil não tem destinação adequada.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Fonte: Eurostat.
Desafios
O aumento do consumo nos países emergentes, com a consequente geração de resíduos, combinada
com a escassez de recursos e pressão pela diminuição nas emissões de gases de efeito estufa, torna
fundamental a busca de soluções para compatibilizar desenvolvimento sustentável com as necessi-
dades de crescimento e demanda por bens.
A recuperação energética dos resíduos é uma das ferramentas para o uso racional de recursos.
O artigo 9o § 1o da lei 12305/10, que instituiu a PNRS, estabelece : “Poderão ser utilizadas tecnolo-
gias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido compro-
vada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de
emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental”.
70
A disseminação da técnica do coprocessamento para recuperação energética dos resíduos sólidos
urbanos dependerá de:
Considerações finais
No Brasil, a lei da PNRS proíbe a disposição em aterros dos resíduos que tenham algum tipo de
aproveitamento e prevê, como já foi visto, a eliminação dos lixões até 2014.
Apesar do prazo para extinção dos lixões se esgotar em agosto de 2014, o Brasil ainda possui 2000
unidades recebendo os resíduos sólidos urbanos.
A utilização de lixões para disposição de resíduos sólidos urbanos contamina o solo, e, por efeito, os
lençóis freáticos e aquíferos.
Como exemplo podemos citar o Aquífero Guarani, considerada a maior reserva subterrânea de água
doce do mundo. Aproximadamente 70% do Aquífero, o equivalente a 1,2 milhão de quilômetros
quadrados, está no subsolo do Brasil, na região centro-sudeste, ocupando desde Goiás até o Rio
Grande do Sul, além de passar, também, pelo Paraguai, Uruguai e Argentina. A reserva do Aquífero
é estimada em 45 mil quilômetros cúbicos de água.
Não devem ser medidos os esforços a serem empreendidos para a adoção de medidas que mini-
mizem os riscos da disposição final inadequada dos resíduos sólidos.
O interesse na utilização de fornos de cimento para destinação de resíduos sólidos urbanos e lodo de
tratamento de esgoto tem crescido globalmente, na medida em que a urbanização vem se concen-
trando em áreas cada vez mais compactas.
Para que seja possível a eliminação dos lixões e a implementação da disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos até 2014, conforme determinado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos,
a utilização de tecnologias de aproveitamento energético dos resíduos é necessária e indispensável.
71
CRÉDITOS
Principal entidade representativa da indústria elétrica e eletrônica no país, a Abinee reúne cerca de
600 associados - entre os quais estão os principais players mundiais do setor, além de um grande
contingente de empresas de pequeno e médio porte.
Empregando mais de 180 mil trabalhadores diretos, o setor eletroeletrônico responde por 13% do
PIB industrial no país e seu faturamento representa cerca de 3% do PIB nacional.
A cada ano, cresce o percentual de eletrônica presente nos produtos finais e em toda a cadeia pro-
dutiva, inclusive no setor de bens de capital. O setor eletroeletrônico produz equipamentos e serviços
para a infraestrutura, voltados especialmente às áreas de geração, transmissão e distribuição de
Também tem papel importante junto aos setores secundário e terciário, que demandam produtos e
serviços de energia elétrica, telecomunicações, informática, automação, motores industriais, instala-
ções elétricas, componentes diversos e outros.
O setor alcança, ainda, a ponta da atividade econômica. Desenvolve e apresenta ao consumidor uma
vasta gama de produtos, que vai de plugues e tomadas, interruptores, pilhas e baterias, aos produtos
da linha verde (desktops, notebooks, impressoras, celulares e monitores). O setor é ainda composto
por outras três linhas: branca (eletrodomésticos grandes), azul (eletrodomésticos portáteis) e mar-
rom (áudio e vídeo).
Hoje, este último grupo de produtos, de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs), além de
serem objetos de desejo por parte dos consumidores, também são ferramentas de eficiência para
seus usuários e empresas, proporcionando aumento de competitividade pela sua aplicação.
Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o Brasil encerrou 2013 com 271 milhões
de linhas ativas em telefonia móvel. A teledensidade alcançou 136 acessos móveis para cada grupo
de 100 brasileiros.
O número de computadores em uso dobrou em quatro anos. Era de 50 milhões de aparelhos em 2008.
Passou para 99 milhões em 2012. Um computador para cada dois brasileiros, de acordo com a Funda-
ção Getúlio Vargas. Até o final de 2014, o país terá 140 milhões de aparelhos - ou duas máquinas para
cada três habitantes -, prevê a FGV. Em 2017, a relação será paritária - um computador por habitante.
Diante deste cenário de expansão na quantidade de produtos disponíveis no mercado, dos programas de
inclusão digital e do incremento do poder aquisitivo das classes C, D e E, como reflexo do crescimento
econômico do país, ocorre um consequente aumento dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
Por irradiar avanço tecnológico, a indústria elétrica e eletrônica exerce intenso efeito multiplicador
sobre o conjunto da economia e, inserida no contexto social, também se vê à frente de questões que
se impõem a toda a sociedade, dentre elas, a responsabilidade socioambiental.
Com produtos e soluções tecnológicas inovadoras, o setor contribui decisivamente para aumentar a
eficiência energética, a produtividade, a flexibilidade e os níveis de sustentabilidade de indústrias e
empresas de praticamente todos os segmentos.
75
O engajamento da Abinee e do setor eletroeletrônico no ambiente da economia sustentável estende-
-se e aprofunda-se a cada ano. A atuação formal da Abinee em relação às questões ambientais teve
início em 2007, com a criação da Área de Meio Ambiente da entidade, incentivando a cultura de
utilização de tecnologias limpas e prevenção à poluição, bem como a participação efetiva no então
Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Para dar estrutura e organicidade ao trabalho nessa área, a Abinee criou, em 2011, o Departamento
de Responsabilidade Socioambiental (DRSA), cuja missão era promover a inserção do homem nas
questões ambientais.
Na busca da melhoria contínua e excelência de atuação frente à evolução das discussões, princi-
palmente da Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos, faz-se necessário um olhar mais
apurado nas questões econômicas e de garantia da competitividade do setor eletroeletrônico. Com
esta visão, a partir de 2014, o DRSA passou a se chamar Departamento de Sustentabilidade (DES).
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A Abinee e o setor eletroeletrônico entendem que o novo momento por que passa o mundo é uma
oportunidade para a promoção em novas bases da competitividade da indústria e de empresas de
todas as demais esferas econômicas. As empresas fazem da sustentabilidade uma missão e um ob-
jetivo estratégico. E percebem que este novo momento abre também uma seara promissora para
novos negócios.
A escassez dos recursos naturais exige uma mudança no modelo de produção. O tripé da susten-
tabilidade é a base da economia verde. Diante da escassez dos recursos naturais, é preciso usar a
inteligência e o conhecimento acumulados pelo homem para construir uma nova economia, em cujo
centro estejam o homem e a natureza em condição de equilíbrio. A indústria elétrica e eletrônica é
parte ativa dessa nova economia.
Neste sentido, a Abinee teve a relatoria do Grupo Técnico Temático de Resíduos de Equipamentos
Elétricos e Eletrônicos (GTT REEE), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Co-
mércio Exterior (MDIC) e subordinado ao Comitê Orientador (CORI), composto pelos ministérios do
Meio Ambiente, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Fazenda, da Saúde e da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento. O objetivo do GTT REEE foi discutir os modelos de Sistema de Lo-
gística Reversa a serem implantados de maneira técnica e economicamente viável. A finalização dos
trabalhos do grupo deu-se com a publicação do Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE)
que subsidiou o Edital 01/13 para propostas de Sistemas de Logística Reversa a serem implementados
por meio da assinatura de Acordo Setorial.
76
Além da representação junto ao governo, por intermédio da Abinee, as empresas têm atuado, de
forma proativa, no desenvolvimento de tecnologias em seus produtos que otimizem a reciclagem e
destinação ambientalmente correta destes resíduos, utilizando-se de empresas legalmente estabele-
cidas e licenciadas pelos órgãos ambientais competentes para estas atividades.
A vida útil cada vez mais curta dos equipamentos eletroeletrônicos, resultado de novas tecnologias
que constantemente surgem no mercado, combinada com um crescimento do poder de compra de
consumidores ávidos por estas novas tecnologias, torna cada vez mais necessária a existência de
canais formais e organizados para o correto descarte destes produtos após sua vida útil. Dados do
EVTE apontam que, em 2016, a geração anual de resíduos eletroeletrônicos no Brasil será de 7,2
quilos por habitante.
Atualmente, o segmento denominado Linha Verde tem se destacado nas ações de recebimento de
produtos junto ao público, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste onde se concentram as maio-
res vendas. Alguns fabricantes já utilizam seus postos de serviço/assistência técnica, e até parcerias
com redes do comércio, como pontos de recebimento. A proposta de acordo setorial deverá prever
sistemas individuais e/ou coletivos para maior abrangência de atuação no recebimento e destinação
Outro segmento no setor eletroeletrônico que faz também a sua parte para a coleta e destinação
ambientalmente adequada de seus produtos após a vida útil é o de pilhas e baterias portáteis, através
do Programa Abinee Recebe Pilhas.
Efetivamente em operação desde 2010, o programa, batizado Abinee Recebe Pilhas, tem o objetivo
de receber, transportar, armazenar e dar a destinação ambientalmente correta para pilhas e baterias
de uso doméstico. A iniciativa é promovida e custeada pelas marcas: Bic, Carrefour, Duracell, Energi-
zer, Eveready, Elgin, Kodak, Panasonic, Philips, Pleomax, Qualita, Rayovac, Goldnews, Ceras Johnson,
Brw, Sieger.
Para o bom funcionamento do programa, bem como da logística reversa, é fundamental que cada
um faça a sua parte, assumindo sua responsabilidade. Dessa forma, os consumidores devem levar as
pilhas e baterias até os locais de recebimento. Hoje, são mais de 1.200 postos espalhados por todo
o Brasil, dentro do Programa Abinee Recebe Pilhas.
O segundo passo cabe ao estabelecimento que recebe o material, devendo armazena-lo em reci-
pientes adequados para, em seguida, solicitar ao operador logístico do Programa, que faça a coleta
77
para destinação até sua base, no estado de São Paulo. Lá o material é pesado, separado por marca,
armazenado e, por fim, enviado à empresa especializada na destinação ambientalmente correta.
Até dezembro de 2013, o Programa já havia recolhido mais de 560 toneladas de pilhas e baterias.
244.410
158.566
88.955
69.755
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
No país são comercializadas anualmente 1,2 bilhão de pilhas e baterias de uso doméstico. O grande
desafio encontrado é que cerca de 15% do material recolhido corresponde a pilhas e baterias de mais
de 200 marcas comercializadas e descartadas sem que seus fabricantes assumam a responsabilidade
do descarte adequado.
Para o sucesso do Abinee Recebe Pilhas, é essencial a participação dos consumidores, varejistas e,
principalmente, a adoção de medidas efetivas, por parte dos órgãos públicos, a fim de que as demais
empresas que comercializam esses materiais, e não possuem programas de logística reversa, assu-
mam as responsabilidades previstas na legislação.
A experiência apresentada pelo Programa Abinee Recebe Pilhas, em seus êxitos e desafios, evidencia
a necessidade de ação em conjunto e envolvimento de todos os atores envolvidos no processo de
logística reversa. No caso dos produtos da linha verde, os desafios se multiplicam diante da complexi-
dade e variedade dos produtos. Estes pontos devem ser endereçados para que o modelo de logística
reversa torne-se exequível e não mais um entrave para a competitividade do setor eletroeletrônico.
78
Há, sem dúvida, desafios específicos de vulto para recolher e dar a destinação ambientalmente cor-
reta a produtos como computadores, celulares e eletrodomésticos em geral que já encerraram a sua
vida útil. É um desafio cuja superação vai exigir a atuação conjunta de governos, indústrias, ataca-
distas, varejistas e, finalmente, do próprio consumidor. Só assim, compartilhando responsabilidades,
será possível o aproveitamento de todos materiais contidos nos equipamentos eletroeletrônicos, e
dessa forma promover a sustentabilidade.
Neste tocante, é importante observar o comportamento do consumidor, que inicia todo o processo de
logística reversa. Segundo relatório, de 2011, da consultoria GIA (Global Intelligence Aliance), 35%
dos consumidores costumam guardar seu lixo eletrônico, 7% jogam no lixo, 19% vendem e 29%
doam, enquanto 10% dão outras destinações aos bens, o que pode incluir ou não uma destinação
ambientalmente correta. Os dados mostram a necessidade de uma mudança de comportamento.
Para criar um mundo sustentável, é preciso engajar a todos nesse movimento. Não é possível fazer
isso isoladamente, com a ação de alguns poucos. Assim, é preciso definir e encontrar formas apri-
moradas de participação dos principais agentes, de modo que as leis e regras ambientais tenham
aceitação e eficácia e que a sustentabilidade seja de fato o princípio essencial da nova era.
O documento aborda aspectos importantes a serem superados para a implantação da logística rever-
sa e garantir segurança técnica e jurídica a todos os agentes da sociedade - consumidores, comer-
ciantes e distribuidores, fabricantes e importadores.
O primeiro deles é a criação de uma entidade de registro e controle com a participação de todos os
atores responsáveis pela efetiva operacionalização da logística reversa dos eletroeletrônicos. A res-
ponsabilidade desta entidade é fazer a governança desde o registro de todos os produtos colocados
no mercado até o acompanhamento, controle, e fiscalização de todos os sistemas de logística reversa
implantados no país. A dimensão de governança é entendida aqui como eixo da sustentabilidade nos
planos institucional, político, econômico e social.
Um segundo aspecto diz respeito à publicação, por parte do governo, de uma norma legal que
reconheça que os produtos eletroeletrônicos pós-consumo descartados pelos consumidores, sejam
considerados como resíduo não perigoso durante as etapas de coleta e transporte desde que não
haja alteração das suas características físico-químicas. O não reconhecimento implica em forte in-
segurança jurídica no processo de logística reversa, onerando sensivelmente todo o sistema. Por
exemplo, se forem considerados como resíduos perigosos, haverá necessidade de licenciamento dos
pontos de recebimento.
Também consta na proposta a necessidade de criação de documento auto declaratório de transporte com
validade em todo território nacional, de forma a documentar a natureza e origem da carga, dispensando
quaisquer outros documentos para sua movimentação. A importância deste documento se dá em função
de diferentes tratativas ambientais e tributações quando do transporte interestadual de resíduos, também
onerando o sistema de logística reversa e causando inseguranças jurídicas às empresas.
79
Outro ponto é a publicação, também por parte do governo, de uma norma legal que reconheça que
o descarte dos produtos pós consumo no sistema de logística reversa implica na perda da proprie-
dade do bem. Este ponto, ainda polêmico, também gera insegurança jurídica aos pontos de recebi-
mento em função de má fé de pessoas que possam supostamente requerer de volta seus produtos
descartados, bem como o mal uso de informações e dados constantes em alguns equipamentos
descartados, como celulares e computadores.
Por fim, o sexto desafio a ser superado é sobre a participação pecuniária de todos os atores no
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
sistema de logística reversa, incluindo os consumidores. Ainda está em estudo a forma de paga-
mento de um Eco-Valor, diferenciados por tipo de produto, nos novos produtos vendidos com o
objetivo de financiar o sistema de logística reversa dos produtos descartados. O setor solicita ao
governo que este valor seja destacado do preço do produto na nota fiscal e isento de tributações,
demostrando, assim, a transparência do sistema e a real responsabilidade de todos os atores para
a correta destinação dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Além desta, outras propos-
tas também foram apresentadas ao governo brasileiro como forma de subsidiar estes custos em
função do benefício ambiental.
Todas estas questões foram analisadas pelo MMA e posteriormente discutidas na reunião do CORI. O
MMA encaminhou à Abinee ofício de resposta, afirmando que o documento apresentado pelas entida-
des mostra evolução em relação às primeiras propostas apresentadas em 2013, e que as seis questões
ainda pendem de resolução, mas os temas extrapolam o quesito meramente ambiental e, desta forma,
decidiu oficiar os demais ministérios membros do CORI, para que contribuam dentro de suas compe-
tências com o processo de negociação em curso. Assim, o assunto está no aguardo do posicionamento
dos ministérios para continuidade das discussões e posterior assinatura do Acordo Setorial.
Em paralelo às discussões acerca da PNRS, uma dificuldade recente encontrada pelo setor eletroeletrô-
nico tem sido a criação de leis municipais e estatuais sobre o mesmo tema, que estabelecem muitas
vezes regras diferenciadas ou até conflitantes com a legislação federal. Como as empresas do setor têm
atuação de âmbito nacional, fica rigorosamente inviável a implantação de ações de logística reversa
diferenciadas para cada município ou estado. A Abinee vem realizando contatos com representantes
dos estados e municípios, sugerindo-lhes que aguardem a discussão federal chegar ao fim.
Há um campo vasto a ser explorado unindo inovação e sustentabilidade. As redes digitais apontam
para um futuro não muito distante em que o trabalho humano se fará em grande parte sem o deslo-
camento físico das pessoas, que poderão desenvolver as suas atividades onde estiverem.
80
E há um campo de associação direta entre inovação e sustentabilidade cujo desenvolvimento de-
pende, naturalmente, de boas estruturas de governança para permitir que recursos públicos e pri-
vados sejam dirigidos a pesquisas envolvendo diretamente temas ambientais. A indústria elétrica e
eletrônica faz parte deste processo, oferecendo equipamentos e inteligência para viabilizar avanços
na área ambiental.
As empresas entendem, também, que a construção de um planeta sustentável exige uma nova cons-
ciência de consumo. Requer que a sociedade repense valores e mude comportamentos, devendo
ajudar a desenvolver uma consciência ética, política, ambiental, social e econômica sobre todas as
formas de vida com as quais compartilhamos neste planeta, respeitando seus ciclos vitais e impondo
limites à exploração dos bens ambientais.
Uma política empresarial de gestão ambiental deve buscar a conscientização, promovendo a mudan-
ça de paradigmas em relação ao ‘consumo a qualquer custo’. A busca, a partir de agora, será capaci-
tar o consumidor a optar por produtos “ambientalmente corretos”, tanto em seu processo produtivo
como nas etapas de uso e pós-consumo, ou seja, levando em consideração todo seu ciclo de vida.
Por fim, o setor eletroeletrônico reconhece a importância da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
como um marco inestimável para o país, e está comprometido em dar a ela a sua mais completa efi-
cácia, no que estiver ao seu alcance. Mais do que uma exigência legal, o atendimento a PNRS, mais
especificamente a logística reversa, na visão da indústria de equipamentos eletroeletrônicos, é um
compromisso do setor com a sustentabilidade econômica, ambiental e social.
Sobre isso, vale resgatar um compromisso público do setor, apresentado em maio de 2010 no docu-
mento “A indústria elétrica e eletrônica em 2020 – Uma estratégia de desenvolvimento”, elaborado
pela Abinee, e que segue como norte para as empresas.
CRÉDITOS
Ademir Brescansin
Gerente de Sustentabilidade
81
ABIQUIM
ABIQUIM - A INDÚSTRIA
QUÍMICA E A GESTÃO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
Contextualização do setor
A classificação da indústria química e de seus segmentos já foi motivo de muitas divergências, o que
dificultava a comparação e análise dos dados estatísticos referentes ao setor. Em algumas ocasiões,
indústrias independentes, como a do refino do petróleo, por exemplo, eram confundidas com a in-
dústria química propriamente dita. Em outras, segmentos tipicamente químicos, como os de resinas
termoplásticas e de borracha sintética, não eram incluídos nas análises setoriais.
Com o objetivo de eliminar essas divergências, a ONU, há alguns anos, aprovou nova classificação
internacional para a indústria química, incluindo-a na Revisão n° 3 da ISIC (International Standard
Industry Classification) e, recentemente, na Revisão nº 4.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, com o apoio da Associação Brasileira
da Indústria Química (Abiquim), definiu, com base nos critérios aprovados pela ONU, uma nova Classi-
ficação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e promoveu o enquadramento de todos os produ-
A Abiquim concentra-se, com algumas exceções, no segmento de produtos químicos de uso indus-
trial. Esse segmento abrange aproximadamente três mil produtos, utilizados no âmbito de outros
setores industriais ou da própria indústria química, fabricados por cerca de 800 empresas , associadas
ou não à entidade, que figuram no cadastro da associação e no Guia de Indústria Química Brasileira.
É importante esclarecer que, como associação, a Abiquim representa a totalidade da indústria quí-
mica brasileira, observando-se, porém, que determinados segmentos da indústria química são repre-
sentados e acompanhados estatisticamente por associações congêneres.
95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
A Abiquim congrega empresas de pequeno, médio e grande portes fabricantes de produtos químicos
e prestadores de serviços ao setor, com a missão de promover o aumento da competitividade e o
desenvolvimento sustentável da indústria química instalada no país.
85
A entidade possui hoje 133 empresas químicas (230 instalações industriais) e 55 empresas de pres-
tação de serviços de transporte, atendimento a emergências e serviços ambientais.O conjunto das
empresas químicas associadas da Abiquim é representativa do universo de 200 produtos químicos de
uso industrial, com peso acima de 85% em termos de produção, faturamento líquido e número de
empregados do setor químico. O universo de produtos é apresentado no gráfico seguinte:
Produtos Químicos
de uso industrial
- Produtos inorgânicos !
- Produtos orgânicos
- Resinas e elastômeros
- Produtos e preparados
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
químicos diversos
A indústria química brasileira, reunida na Abiquim em total sintonia com suas congêneres ao redor do
mundo, considera prioritária a melhoria contínua de seu desempenho nas áreas de saúde, segurança e
meio ambiente. Em busca dessa melhoria contínua, as empresas do setor estão engajadas no desenvolvi-
mento do Programa Atuação Responsável®, uma iniciativa voluntária, por elas concebida e sustentada .
A gestão ambiental do Atuação Responsável é uma das ferramentas pela qual a indústria química
se organiza, interna e externamente, para alcançar a qualidade ambiental desejada. Trata-se de uma
ferramenta fundamental para, de forma clara e objetiva, orientar as empresas na adoção de ações
preventivas visando a identificação dos aspectos e perigos e avaliação dos impactos e riscos da ativi-
dade industrial no meio ambiente.
A gestão do resíduo na indústria química está alinhada com os princípios do Programa Atuação
Responsável, aconselhando clientes e outras partes interessadas sobre a gestão segura no uso, arma-
zenamento e transporte dos produtos químicos, bem como a destinação adequada de seus resíduos
e embalagens, por meio de ações de:
a) Identificação dos aspectos e perigos e perigos e avaliação dos impactos e riscos nas atividades de
gestão dos resíduos sólidos industriais;
86
d) Estabelecimento de instrumentos e canais de comunicação e diálogo com as partes interessadas,
tais como a Ficha com Dados de Segurança de Resíduos Químicos – FDSR e informações e orienta-
ções sobre o uso e descarte dos produtos químicos
Os indicadores estabelecidos para avaliar a gestão dos resíduos sólidos são aqueles relativos a intensi-
dade de geração de resíduos perigosos e não perigosos. Ambos os indicadores mostram uma redução,
desde 2006, de 12,8% e 20,7% respectivamente, como pode ser observado no gráfico a seguir:
Geração de resíduos
12,0
10,0 9,3
9,0 8,9 8,2 8,5
8,0 7,1 7,1
6,6
6,1 6,2
6,0 4,9 5,1 4,9
4,0
4,3
87
Resíduos perigosos Resíduos não perigosos
100% 100%
6,9 4,3 7,9 7,5 8,0
19,5 13,4 13,4 13,7 22,2 27,8 24,6 32,6
35,3
75% 75%
95,7
93,1 92,5
92,1 92,0 88,2
50% 50%
80,5 86,9 85,1 83,2
82,0 64,7
79,2
25% 25%
0% 0%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Reciclados, reutilizados e/ou reprocessados Reciclados, reutilizados e/ou reprocessados
Tratados para disposição final (incineração/aterro) Tratados para disposição final (incineração/aterro)
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Dos resultados dos indicadores apresentados acima, se observa o aumento contínuo dos resíduos
sólidos reciclados, tanto não perigosos como perigosos, desde 2006, em 19,2% e 18,8%, respecti-
vamente, em relação ao ano base 2006.
• “A não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
• O estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;
• A adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar
impactos ambientais;
• A redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
• O incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos
derivados de materiais recicláveis e reciclados”.
Iniciado em 2005, em parceira com o oórgão ambiental da Bahia, com o objetivo de “adotar” uma
empresa parceira e apoiá-la na melhoria da sua gestão ambiental.
A empresa Renova, parceira que loca e higieniza os uniformes da Braskem, foi escolhida e um diag-
nóstico usando a ferramenta de Produção Mais Limpa foi realizado. Um plano de ação foi elaborado
e acompanhado por dois anos, inclusive com monitoramentos do Centro de Recursos Ambientais –
CRA – , denominação dada na época ao órgão ambiental da Bahia.
88
a) Principais motivações:
• Uso dos recursos naturais – água e energia que a empresa parceira utiliza no seu processo de hi-
gienização;
• Possibilidade de estender as práticas adotadas com o projeto nos demais estados, já que a empresa
presta serviço para todas as unidades da Braskem (Em 2005, em Alagoas, Bahia, São Paulo e Rio
Grande do Sul);
• Projeto caracterizado pela preocupação da empresa tanto com sua própria gestão ambiental, quan-
to com a de suas parceiras;
• Iniciativa voluntária condizente com a Política Integrada de SSMA;
Na Bahia, durante os dois anos de parceria, 17 instituições assistenciais participaram do projeto, entre
elas creches, ONGs, associações e cooperativas.
89
Redução na Geração de Resíduos na UNPOL/RS - Braskem
Motivação: necessidade de redução dos resíduos sólidos industriais gerados e redução dos custos
com a destinação final destes resíduos, bem como alinhamento com a visão 2020 de desenvolvimen-
to sustentável.
Definição da meta: reduzir no mínimo em 5% a geração dos resíduos até dez/2010; realizar sinergia
na destinação dos resíduos – 100% dos fornecedores até dez/2010; identificar novas aplicações para
os resíduos gerados com objetivo de redução de custos com destinação final – no mínimo 1 (uma)
até dez/10.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Contribuições para o negócio: atendimento aos ecoindicadores de resíduos; redução de custos com
tratamento/ disposição final dos resíduos; aumento da receita na destinação dos resíduos, através da
sinergia entre as plantas e desenvolvimento de novas aplicações para os resíduos gerados.
Medição
152
138 144
0
2009 2010 Meta
Conclusões
• Este projeto permitiu identificar diversas oportunidades de melhorias na gestão de resíduos na UNPOL/RS.
• Os dados dos controles e registros realizados pela área de SSMA, como acompanhamento da
performance dos ecoindicadores estabelecidos, foram fundamentais para identificação dos pontos
críticos e validação dos resultados obtidos.
90
• Avaliando os resultados obtidos neste projeto, é possível constatar ser viável a otimização dos
recursos de gerenciamento ambiental para a melhor gestão dos resíduos e, conseqüentemente,
melhorias no desempenho financeiro, através da redução de custos com destinação final e/ou de-
senvolvimento de novas alternativas.
Uma importante iniciativa da empresa Cabot, visando reduzir a geração de resíduos sólidos, é a
reutilização dos FIBC´s (big bags e mini bags), que são embalagens fabricadas de polipropileno.
Estas embalagens proporcionam resistência para suportar grandes quantidades de produto e se-
gurança na movimentação. Também são utilizados outros tipos de embalagens para transporte do
produto, como sacos (papelão) e bulks, mas a maior parte dos produtos é embarcada com big bags.
4%
11%
24%
61%
91
Trabalha-se com uma logística reversa, na qual os clientes devolvem as embalagens (big bags e mini
bags) vazias. Este processo, além do beneficio da redução de custo, também contribui para minimizar
o impacto ambiental.
Esta atividade é feita por um setor dedicado de triagem das embalagens devolvidas. Nesta triagem, as
embalagens passam pelas etapas de limpeza e inspeção de segurança. Finalmente, são direcionadas
e classificadas para diferentes finalidades: descarte, recuperação ou reuso.
A classificação “descarte” pode ser feita em duas situações: 1° fim do ciclo de vida ou 2° impossibi-
lidade de reparo. Nos casos de necessidade de descarte das embalagens, o material é enviado a em-
presas especializadas em reciclagem de plásticos. Estas empresas utilizam as embalagens inservíveis
para a fabricação de pellets, que serão utilizados como matéria prima na produção de artefatos de
plástico, como, por exemplo, vasos, vasilhames, sacos plásticos e até peças automobilísticas.
Esta iniciativa buscou a redução dos custos de produção e ressaltar a importância da sustentabilidade.
É possível constatar que a reutilização das embalagens está diminuindo os custos. Indicadores mos-
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
tram que a economia na compra de embalagens versus os custos de recuperação e reuso gera receita
positiva. Por outro lado, a reutilização dos big bags contribui para a preservaçãot do meio ambiente
ao eliminar a necessidade dos clientes descartarem as embalagens após o uso. Também diminui a
necessidade de produção de matéria-prima para os fabricantes de artefatos de plástico, por usarem
material reciclado.
7%
21%
40%
32%
92
Figura 3 - % de utilização de Mini Bag, nos ultimos 8 meses
0%
23%
46%
Pode-se concluir que a logística reversa de big bags proporcionou vantagens competitivas tanto em ter-
mos financeiros, ao reduzir os custos com embalagens, como também diminuindo o impacto ambiental.
Neste procedimento, consta uma série de perguntas que devem ser feitas ao prestador de serviços
( sempre relacionadas a assuntos de SHE e também de security), um questionário com perguntas
objetivas, de modo a mapear a real situação do prestador de serviço em relação a legislação vigente
e os permits ( licenças) necessárias.
Após receber todo o questionário preenchido e assinado, bem como também cópia dos permits, é
agendada uma auditoria no local .
Saõ itens também verificados a existência d trabalho infantil,, a ficha de entrega de EPI, sistema de
housekeeping implementado, alguma boa prática.
93
Após esta auditoria de campo, é enviado ao prestador de serviço mensagem com os pontos positivos
da auditoria/inspeção e os pontos de oportunidades para melhorias que devem ser corrigidas/imple-
mentadas para prosseguir com a homologação. Tudo é arquivado na Dupont.
É aprovado/homologado o prestador de serviço que atender a requisitos mínimos dos permits (como,
por exemplo, licença de operação da agência ambiental estadual, cadastro e taxas do IBAMA, auto
de vistoria do corpo de bombeiros , alvará de funcionamento emitido pela prefeitura, outorga do
uso da água, licenças de produtos controlados emitida pela polícia civil , Polícia Federal, Exército e ou-
tros). A homologação é divulgada em todos os sites e negócios da DuPont. A partir deste momen-
to, cada site e/ou negócio começa a negociação comercial individual com o prestador de serviço.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Vale salientar que a periodicidade de nova auditoria / verificação depende de quanto é crítica a opera-
ção do prestador de serviço de resíduos sólidos, variando de um a 3 anos. Na unidade de incineração
de resíduos, por exemplo, a periodicidade da auditoria é anual.
Todo este trabalho tem como objetivo básico a rastreabilidade dos resíduos e seu ponto de disposição
final, de modo a minimizar problemas de liability para a DuPont. A companhia quer trabalhar com
empresas comprometidas em SHE e na correta destinação dos resíduos. Com a padronização deste
procedimento, a Dupont tem melhores prestadores de serviços e menos riscos de exposição a proble-
mas na disposição final de resíduos.
Desafios do setor
O principal desafio do setor químico é equacionar as exigências da Política Nacional de Resíduos
Sólidos com o modelo de gestão ambiental do Programa Atuação Responsável. Desta forma, foi
estabelecida uma correlação para sete itens do programa alinhados com as exigências da PNRS.
Na tabela abaixo são apresentados os temas do Atuação Responsável e sua relação com a PNRS:
Algumas ações já foram implementadas para adequar a gestão dos resíduos sólidos das indústrias
químicas às demandas da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
• Elaboração, no âmbito do Comitê Brasileiro de Química da ABNT - CB-10, da Ficha com Dados de
Segurança de Resíduos Químicos (FDSR);
• Criação da Equipe de Estudos (EE) de Gestão de Resíduos Sólidos na indústria química na Comissão
de Meio Ambiente e Sustentabilidade;
94
• Inclusão das questões de gestão dos resíduos sólidos na agenda do Conselho de Competitividade
da Indústria Química;
• Disponibilização de um manual de base para a elaboração do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos
Industriais (PGRSI) – Termo de referência - com as informações que devem constar de um plano de
gerenciamento de resíduos;
• Formação e treinamento para a implementação para todos os tipos de resíduos sólidos da Ficha de
Segurança de Resíduos;
Propostas
Eis as propostas para melhoria contínua na gestão de resíduos sólidos no segmento industrial químico:
A Abiquim tem plena convicção de que a indústria química vem cumprindo, com eficiência, seu papel
de indutora do desenvolvimento sustentável, contribuindo decisivamente na construção de um Brasil
próspero e ambientalmente saudável.
CRÉDITOS
Nícia Mourão
Gerência de Assuntos Regulatórios, Meio Ambiente e Sustentabilidade
Obidulio Fanti
Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Abiquim
95
abit
ABIT - INOVAÇÕES
E TENDÊNCIAS PARA
A SUSTENTABILIDADE
NA CADEIA TÊXTIL E DE
CONFECÇÃO
Contextualização do setor
Produzir e consumir de forma consciente são essenciais para diminuir os impactos sobre a natureza
e garantir a qualidade de vida da sociedade. A indústria têxtil e de confecção brasileira representa
uma força produtiva que ultrapassa 32 mil empresas com mais de cinco funcionários, empregando
diretamente cerca de 1,7 milhão de trabalhadores. Gerou um faturamento anual de US$ 56 bilhões
em 2013.
O setor têxtil e de confecção do país tem destaque no cenário mundial não apenas por seu profissio-
nalismo, criatividade e tecnologia, mas também pelas dimensões de seu parque industrial: no mundo,
é a quarta maior indústria de confecção, quinto maior parque industrial em têxteis, o terceiro maior
99
Contextualização do setor no tema de resíduos sólidos
A cadeia têxtil e de confecção brasileira está instalada em todo o território nacional e, como em
qualquer atividade industrial, gera resíduos sólidos, entre eles: embalagens e cones plásticos, óleo
de lubrificação, resíduos de varrição, fibras não processadas, retalhos e trapos, papel, papelão, lodo,
entre outros.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Na indústria têxtil, um dos resíduos que exigem maior controle ambiental, devido às propriedades
químicas, é o lodo industrial proveniente das estações de tratamento de efluente. Este resíduo, de
consistência pastosa, é retirado dos flotadores ou dos sedimentadores nos processos físico – químicos.
De modo geral, o lodo é composto de matérias orgânicas e inorgânicas, entre elas corantes, os quais
contêm elementos químicos como alumínio, chumbo, cromo, cobre, ferro, titânio, silício, manganês,
sódio, cálcio, magnésio, fósforo, carbono e cloretos, devendo passar por tratamento específico para
o seu aproveitamento ou disposição final em aterros de resíduos industriais.
Com relação aos resíduos têxteis, denominados aqui de retalhos, a falta de uma coleta estruturada
desse material passível de ser reciclado, retira qualquer valor agregado que o mesmo poderia ter. Sem
valor econômico algum, esse material, que poderia gerar emprego e renda para milhares de famílias,
está se acumulando nos aterros sanitários.
Como podemos observar no fluxograma abaixo, todos os resíduos têxteis são passíveis de reutiliza-
ção através da logística reversa, independente da composição.
100
Possibilidades de destinação dos retalhos têxteis
Tecidos de Retalhos
Jeans Malha 100% Poliéster/ composição
algodão Poliamida acima de 1,0m
variada
Enchimentos, Fios e
pelúcia barbantes
Diante desse contexto, fica claro que a sustentabilidade é fator crítico para a diferenciação compe-
titiva do setor em nível global. Para tanto, grandes desafios devem ser assumidos no intuito de mi-
nimizar os impactos indesejáveis ao meio ambiente, promovendo mudanças expressivas no patamar
da sustentabilidade.
Retalho Fashion - Inclusão social e preservação ambiental por meio da reciclagem de resí-
duos têxteis
Criado pelo Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo – SinditêxtilSP,
com a parceria de instituições como o Sindicato das Indústrias de Vestuário do Estado de São Paulo
– Sindivest, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, Câmara dos Dirigentes Lojistas do
Bom Retiro – CDL, o Projeto Retalho Fashion tem por objetivo desenvolver um plano de gerenciamen-
to de resíduos sólidos por meio da organização e promoção da coleta de resíduos têxteis provenien-
tes das confecções instaladas nos bairros do Brás e Bom Retiro, em São Paulo.
Busca a preservação ambiental e a geração de renda com ocupação qualificada, além da criação de
condições socialmente justas de trabalho, restabelecendo a preservação das condições socioambien-
tais na área envolvida.
101
Baseado na responsabilidade socioambiental, o projeto também visa agregar valor para a indústria
têxtil e de confecção, antecipando-se à disseminação dos preceitos da PNRS.
O projeto, além de estar fundamentado na responsabilidade socioambiental, também visa agregar valor
para a indústria têxtil e de confecção, e disseminar os preceitos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos.
Segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro (CDL, 2013), atualmente 1.200
confecções estão instaladas no bairro do Bom Retiro, sendo 60% consideradas grandes geradoras de
resíduos, ou seja, descartam, individualmente, mais de 200 kg de resíduo por dia e, portanto, neces-
sitam de um descarte adequado, alternativo à coleta pública. No entanto, considerando os pequenos
e os grandes geradores, estima-se que a região produza, ao todo, uma média de 12 toneladas de re-
síduo têxtil diariamente. Já o bairro do Brás conta com aproximadamente 2.500 confecções, segundo
estimativas da Associação dos Lojistas do Brás – ALOBRÁS (2013).
Os grandes geradores de resíduos devem, conforme estabelecido na Lei 13.478/02 que dispõe sobre
a organização do sistema de limpeza urbana do município de São Paulo, contratar empresa especiali-
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
zada em coleta de lixo para dar um destino a esses resíduos. Porém, foi constatado pelo Sinditêxtil-SP
(2013) que as empresas que realizam a coleta de resíduos nesta região encaminham a maioria desses
resíduos têxteis para os aterros sanitários.
Empresas classificadas como pequenos geradores, ou seja, que produzem menos de 200 kg por dia
de resíduos, realizam a separação, embalam os resíduos e disponibilizam para a coleta pública. Porém,
antes que a coleta ocorra, os catadores que trabalham na região selecionam os resíduos têxteis descar-
tados que possuem maior valor no mercado (conforme matéria-prima e tamanho) e, para isso, rasgam
os sacos plásticos, espalhando o restante dos resíduos e rejeitos nas vias públicas. Assim, o retalho se
torna causa de poluição, entupimento de galerias, enchentes e outros impactos ambientais e sociais.
Após a coleta e seleção, os catadores encaminham os resíduos têxteisaos galpões, onde são separados con-
forme matéria-prima, cor e tamanho e, depois de triados sãovendidos para empresas têxteis recicladoras.
O processo de reciclagem de retalhos têxteis através de máquinas que desfibram o material até que ele se
transforme novamente em fibra não é uma tecnologia nova, porém, uma das principais dificuldades das
empresas recicladoras é a logística para encontrar matérias primas devidamente coletadas e processadas.
Com a implantação do projeto Retalho Fashion, pretende-se formalizar o trabalho dos catadores
e encaminhar os resíduos coletados, tanto por eles como pelas empresas responsáveis pela coleta
dos resíduos dos grandes geradores, para uma cooperativa que ficará responsável por gerenciar os
catadores, separar os resíduos e preparar a matéria prima para ser vendida às empresas recicladoras,
evitando que toneladas de resíduos têxteis sejam descartadas em aterros sanitários ou nas ruas, bem
como diminuindo os impactos sociais e ambientais decorrentes do descarte irregular.
A primeira etapa desse projeto foi realizar o diagnóstico da região, além de promover ações de mobi-
lização das empresas. Na seguinte etapa, foi levantada tanto a infraestrutura necessária para implan-
tação do projeto quanto à demanda por resíduos têxteis das empresas recicladoras. O estágio atual
de implantação do Projeto Retalho Fashion encontra algumas dificuldades de operacionalização em
virtude da forma como os resíduos são descartados nas ruas. Em maio de 2013, foi realizada uma coleta
teste em uma das ruas do bairro Bom Retiro, sendo a amostra coletada de 3,5 toneladas de resíduos, da
qual foi constatado que apenas 50% eram retalhos e o restante do resíduo descartado composto por
papel, papelão, plásticos, eletrônicos e muito lixo orgânico proveniente de cozinha e sanitários, práticas
que levam o material têxtil a ficar impróprio para a reciclagem ou torna sua separação economicamente
inviável. Para tanto, faz-se necessário à conscientização das empresas para que a separação dos resí-
duos têxteis seja feita no processo de corte, evitando sua contaminação por outros resíduos e rejeitos.
102
ABIT- INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE NA CADEIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO
Resíduos têxteis da Rua José Paulino em São Paulo. Crédito: Sinditêxtil, 2013.
A desidratação do lodo tem como principal objetivo a eliminação máxima da água incorporada ao resí-
duo, pois ela é o veículo de propagação dos poluentes presentes neste resíduo. Para tanto, retira-se a umi-
dade do lodo proveniente de processos de tratamento de efluentes, o que pode ser feito por transferência
de calor ou secagem por processos físicos, como, por exemplo, a prensagem (COGO et al).
É comum a utilização do filtro de prensa pelas grandes indústrias, dada a eficiência que esse equipa-
mento oferece, com a redução do tempo de secagem e minimização do espaço físico utilizado para
a remoção da água. Além do filtro de prensa, são usados outros equipamentos para esse fim, como
o separador centrífugo.
Afora os processos físico-químicos, em algumas ocasiões podem ser utilizados, em conjunto, sistemas
biológicos de tratamento. O sistema mais usualmente empregado é o de lodos ativados. Em geral,
103
na indústria têxtil, os processos de tratamento baseiam-se na operação de sistemas físico-químicos
de precipitação-coagulação, seguidos de tratamento biológico via sistema de lodos ativados. Esse
processo permite a remoção de aproximadamente 80% de carga de corantes dos lodos provenientes
de lavanderias têxteis, por exemplo (COGO et al).
Estes processos visam proporcionar benefícios ambientais de forma sustentável, através da melhoria
da eficiência energética, pois sua implantação resulta na redução de consumo de combustível, assim
como promove o consumo mais eficiente nas estações de captação e tratamento de água e efluen-
tes. Ademais, com o processo de secagem, seu volume torna-se consideravelmente menor, diminuin-
do seu passivo ambiental e reduzindo o custo do transporte para o descarte do lodo, uma vez que,
sendo um subproduto de um processo industrial, seu destino são os aterros industriais.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Desafios
Resíduos têxteis
Para a fabricação de fios ou barbantes reciclados é necessário que o resíduo têxtil esteja limpo, sepa-
rado por cor e por composição. A falta de uma separação e organização do descarte de resíduos
têxteis no Brasil é tão grave que as indústrias recicladoras, as quais precisam abastecer diariamente
suas unidades produtivas, preferem importar resíduos têxteis de outros países, pois os fardos im-
portados entram no país separados desta forma. Em 2012, 9.829.928 Kg Líq. de retalhos e trapos
têxteis compostos de seda, lã, algodão, fibras artificiais e sintéticas foram importados pelo Brasil, o
que equivale a US$ 11.421.644, preço Free on Board (FOB) – valor do produto sem o frete (MDIC -
Sistema ALICEWEB, 2013).
Entende-se, nesse caso, que a comunicação, divulgação e conscientização são quesitos chave para
o sucesso de um projeto de reciclagem de resíduos têxteis e, portanto, o Projeto Retalho Fashion
visa, além da organização da coleta, a difusão de informações acerca da reciclagem desses resíduos
sólidos, assim como já é sabido que ocorre com o papelão, o papel e o plástico.
Lodo industrial
A poluição por metal pesado é extremamente perigosa pela toxicidade e persistência no ambiente.
Ao contrário dos poluentes orgânicos, os metais pesados são geralmente refratários e não podem ser
degradados ou facilmente desintoxicados biologicamente.
Encontrar soluções efetivas e seguras para resíduos semissólidos que contêm metais pesados é sempre
um desafio para as indústrias geradoras, devido ao custo das alternativas de tratamento disponíveis.
Visão de futuro
Uma forte tendência mundial nos setores produtivos que vem ganhando força e notoriedade são as
certificações, que comprovam a qualidade do produto e o compromisso da empresa com questões
sociais e ambientais. Foi pensando nessas questões, que a Abit celebrou um convênio com a ABDI
(Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) para criar, normalizar e implementar a certificação
de roupas profissionais no país, dando origem ao Programa Brasileiro de Autorregulamentação de
104
Roupas Profissionais, Militares, Escolares e Vestimentas – SELO QUAL. Atualmente, a
certificação foi estendida para os demais elos da confecção e para a indústria têxtil.
Entre outras práticas, a utilização do SELO QUAL atesta que a empresa atende
às normas ambientais, não descartando resíduos que causam poluição ao meio
ambiente, além de ser socialmente responsável.
Propostas
O planejamento e a execução de um projeto de gerenciamento de resíduos têxteis vão muito além
dos benefícios ambientais e sociais. Estes podem ser vistos, também, como um fator de diferenciação
no mercado, competitividade, aumento de eficiência, economia, e podem, principalmente, evitar
ônus para a indústria têxtil e de confecção, através de uma regulamentação compulsória no âmbito
da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, além de outros licenciamentos ambientais.
Como foi observado, existem processos e metodologias de recuperação de produtos e resíduos têxteis
que podem ser desenvolvidos de acordo com o produto final desejado. Dentre os possíveis produtos
finais, tem-se: mantas, estopas, revestimentos, barbantes, fios, matéria-prima para patchwork ou artesa-
nato e plásticos de engenharia, sendo todo resíduo têxtil passível de ser reprocessado de alguma maneira.
Em pouco tempo, a PNRS será uma realidade para todos os segmentos industriais e a indústria têxtil
e de confecção já possui todos os processos consolidados para realizar a logística reversa. No entan-
to, para que ocorra uma efetiva logística reversa no setor têxtil e de confecção, é necessário que o
resíduo têxtil seja valorizado – assim como acontece com latinhas de alumínio, vidro e garrafas PET
– e sejam criados incentivos fiscais para estimular o reaproveitamento desse material e fomentar o
desenvolvimento tecnológico no setor.
Novas tecnologias são o que movem a corrida contra o desperdício e a favor da eficiência produtiva.
E, quanto ao descarte correto e ao reaproveitamento do lodo industrial, a indústria têxtil encontra-se
muito avançada. Além do processo de secagem supracitado, outras destinações já estão sendo estu-
dadas para o reaproveitamento do produto desse processo. Atualmente, estão sendo feitos estudos
para a aplicação do lodo seco em fabricação de materiais de engenharia civil, visando o tratamento
e a reciclagem total deste subproduto industrial.
105
A indústria têxtil e de confecção vem se aprimorando cada vez mais para enfrentar os desafios do
mercado globalizado, em que a qualidade, a eficiência e a sustentabilidade são quesitos fundamen-
tais não só para uma concorrência saudável, mas também para uma relação de respeito e preocupa-
ção com a sociedade.
Luiza Lorenzetti
Analista de Tecnologia
106
ANFAVEA
ANFAVEA - As soluções
da indústria
automobilística
para gestão de
resíduos sólidos
A indústria automobilística tem papel preponderante na economia brasileira: representa hoje 5% do
PIB e 21% do PIB Industrial. São 62 unidades industriais instaladas em 10 estados e 46 municípios
brasileiros. Além disso, com o programa Inovar-Auto, cujo objetivo é incentivar a produção local,
promover a engenharia nacional e atrair investimentos, novas fábricas entrarão em operação – fruto
do aporte de R$ 75,8 bilhões já anunciados até 2018 para instalação de unidades fabris, ampliação
das já existentes e desenvolvimento de novos produtos.
É uma indústria com mais de um século de história que transforma seus produtos, ou seja, automó-
veis, comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas e rodoviárias, em protagonistas do
direito de ir e vir das pessoas, do transporte de cargas que movimenta a economia, da atividade no
campo e da construção de grandes obras.
Um dos principais focos da indústria está no desenvolvimento de novos sistemas para diminuir a ge-
ração de resíduos nas linhas de montagem. Já há algum tempo as empresas têm adotado inúmeras
formas de reduzir o impacto gerado pelas fábricas e otimizar o material utilizado para a fabricação
de um veículo.
Os resultados já são evidentes: há 10 anos as empresas geravam 348,5 quilos de resíduos sólidos por
veículo produzido e hoje este número caiu 42%, para 202,05 quilos, fruto direto da implantação
de diversos mecanismos para melhorar o aproveitamento do material e descartar cada vez menos.
Destaca-se ainda o alto índice de reciclagem de 94,2%, seis pontos porcentuais acima dos 88,3% de
dez anos atrás – taxa que já era elevada. Isto só foi possível com a adoção de diversas ações. E são
vários os exemplos.
Com a utilização de novos produtos, menos nocivos, as montadoras estão cada vez mais em linha
com as melhores práticas sustentáveis.
Todas estas práticas se estendem pela cadeia produtiva. Boas ações na área de sustentabilidade fazem
parte dos requisitos das montadoras para escolha de seus fornecedores. Mais do que isso: grupos
de executivos tanto da montadora como do fornecedor são formados para discutir como aprimorar
continuamente estes processos – na linha de montagem do veículo e na fabricação das peças.
Treinamentos também são feitos em toda rede de concessionárias das marcas. Atualmente são 5.116
mil lojas espalhadas por todo o País com o uso diário de óleos, filtros, fluidos de freios, efluentes,
baterias, pneus e outras peças que precisam ser descartadas de forma correta ou reutilizadas na
medida do possível.
109
O uso de óleos e outros fluidos gerados na produção e na manutenção do veículo é uma preocupa-
ção em toda cadeia produtiva. O mesmo é esperado das concessionárias, que precisam direcionar os
materiais usados no reparo do veículo para o descarte correto.
A destinação dos pneus também é uma preocupação: os materiais são reciclados e servem de maté-
ria-prima para novos produtos.
Voltando às fábricas, fora das linhas de montagem também há preocupação quanto à sustentabilida-
de. Exemplo disso são as coletas seletivas feitas nos escritórios para reciclagem e reuso de materiais
a base de metal, plástico, vidro ou papel. Importante lembrar a dedicação das equipes da área de
compras na introdução de embalagens retornáveis nos fornecedores nacionais.
Há ainda desafios e oportunidades a serem implantadas pelas empresas, como o uso de novos mate-
riais na fabricação do produto. Com o programa Inovar-Auto e o investimento feito pelos fabricantes,
cerca de R$ 12 bilhões serão destinados para engenharia e desenvolvimento local, o que envolve a
pesquisa por novos materiais que tornem os veículos mais leves, resistentes e seguros.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A aplicação de outros materiais em motores ou carroceria do veículo é uma dessas tendências com
objetivo de diminuir o peso do produto, tornando-o mais eficiente e com menor utilização de re-
cursos naturais. Outra tendência é o uso de fibras naturais e do plástico verde, materiais recicláveis.
Pesquisa e desenvolvimento são ações contínuas da indústria com o objetivo de entregar o melhor
veículo, mais seguro, moderno e compatível com o meio ambiente. Sempre pensando estrategica-
mente na melhor forma de produção e descarte dos resíduos.
110
CBIC
CBIC- A INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
E A GESTÃO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
A construção civil é uma das atividades que mais estimulam o crescimento e a sustentabilidade
econômica do Brasil. Sua importância se traduz, em larga medida, nas inúmeras e inegáveis contri-
buições que seus atores dão para a consolidação, no país, de uma economia compromissada com o
desenvolvimento sustentável.
Programas governamentais, como o Minha Casa, Minha Vida, que viabiliza a redução do déficit ha-
bitacional, as obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, e do Plano Nacional de Lo-
gística e Transporte, que visam melhorar a infraestrutura, e as obras da Copa 2014 e das Olimpíadas
de 2016 têm impactado de forma positiva a economia. Some-se a esse impacto o bom desempenho
do mercado imobiliário nos últimos anos.
O DNA desenvolvimentista da construção civil obriga, porém, a enfrentar os grandes desafios das
questões ambientais, decorrentes das ocupações de áreas (e consequente alteração das característi-
cas locais), da geração de resíduos, da extração de recursos naturais (para aplicação direta nas cons-
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), representante das entidades empresariais da indús-
tria da construção e do mercado imobiliário, é responsável pela interlocução com os órgãos de governo e
com a sociedade e pela formulação de propostas que norteiam toda a cadeia produtiva. Os eixos priori-
tários e programas da CBIC estão em sinergia com a tendência global de se adotar uma economia verde.
A Câmara acredita que a execução das ações previstas nos seus programas está permitindo à indústria
da construção consolidar as condições necessárias para viabilizar o desenvolvimento sustentável no país.
Esses programas proporcionam à CBIC atuar em parceria com o governo, o setor produtivo, as uni-
versidades, o terceiro setor e demais segmentos da sociedade civil. Garantem à Câmara presença
marcante na elaboração de políticas públicas nacionais e setoriais, assim como papel relevante na
consolidação da construção de um Brasil sustentável.
Resíduos
Resíduos da construção civil (RCC) são aqueles provenientes de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos,
como tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madei-
ras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubula-
ções, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (Resolução
do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama nº 307/2002 e suas alterações).
A geração dos resíduos ocorre de forma difusa. A maior parcela deles nas cidades provem de refor-
mas e da autoconstrução – cerca de 70% do volume gerado. Para efetiva solução, considerando-se
ainda as especificidades regionais, são necessárias ações integradas da governança municipal, esta-
dual e federal com a iniciativa privada.
Aprovada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos disciplina a gestão dos resíduos de cons-
trução de maneira diferenciada das regras para a indústria em geral e à semelhança do que é deter-
minado para resíduos sólidos urbanos. Aspecto fundamental de seu decreto de regulamentação é
que a gestão de resíduos da construção deve ser tratada de acordo com as regulamentações especí-
ficas do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), que inclui as resoluções do Conama.
113
Dessa forma, a resolução 307 do Conama, publicada em 2002, passa a ser a principal diretriz para
o setor público, setor privado e a sociedade como um todo. Ela estabelece critérios e procedimentos
para a gestão dos resíduos de construção civil, disciplinando as ações necessárias para minimizar os
impactos ambientais. A resolução apresenta um modelo de gestão na qual são definidas responsa-
bilidades para os agentes envolvidos: geradores, transportadores, áreas de destinação e municípios.
Desde sua publicação, a resolução tem sofrido alterações contemplando as melhorias decorrentes de
sua implementação. A Resolução 448, de 2012, altera a Resolução 307, incorporando as diretrizes
da Política Nacional de Resíduos e estipulando prazos para que os municípios definam as regras de
gestão dos resíduos pelos pequenos e grandes geradores.
Vale destacar que a Resolução 307 apresenta como objetivo principal a não geração de resíduos e como
objetivos secundários a redução, reutilização, reciclagem e disposição final. Esta visão tem feito as em-
presas estabelecer em seus processos de gestão a preocupação com a não geração, que envolve a me-
lhoria dos projetos, inovação dos processos produtivos e escolha dos materiais a serem empregados.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
No Brasil, a indústria da construção está mobilizada há mais de 12 anos para a questão dos resíduos.
Nesse período, treinamentos de capacitação para a correta gestão nos canteiros de obras foram rea-
lizados em todo o país. As empresas construtoras perceberam que os conceitos da não geração, da
correta segregação e da destinação ambientalmente adequada trazem ganhos para as obras.
Destaca-se, entre eles, a redução de desperdícios, que leva à diminuição de custos para a destinação.
A preocupação com a gestão nos canteiros tem se refletido em obras mais organizadas, melhorias na
limpeza e, consequentemente, queda no número de acidentes de trabalho.
A cadeia produtiva da construção temse engajado ainda no estudo das possibilidades de reaprovei-
tamento e reciclagem dos resíduos e na criação de negócios na cadeia da reciclagem. Exemplo disso
é o uso de agregado reciclado em obras de pavimentação. É necessário, todavia, maior empenho na
busca de soluções para outros tipos de resíduos, de modo a atender à logística reversa, que começa
a ser instalada no país.
Cabe aos municípios, no entanto, a regulamentação para os grandes e pequenos geradores e a im-
plantação de equipamentos públicos que possam suprir as necessidades deles.
O Plano Nacional de Resíduos, instrumento de execução da Política Nacional, traçou metas até 2014
para a eliminação da disposição irregular dos resíduos, implementação de pontos para entrega vo-
luntária, aterros de resíduos inertes Classe A da construção e áreas de reciclagem. É preciso lembrar
que o poder público pode, juntamente com a iniciativa privada, atuar nestas frentes.
Experiências
Há avanços visíveis no setor da construção civil e em políticas públicas, desde a edição da Resolução
307 do Conama, em 2002.
A CBIC, por meio de suas entidades associadas, em especial os Sinduscons de todo o país, tem pro-
movido a capacitação de empresas e profissionais para a correta gestão de resíduos. Além disso,
o setor tem evoluído constantemente para que os projetos e sistemas construtivos sejam cada vez
mais industrializados e racionalizados, o que, consequentemente, minimiza a geração dos resíduos.
Programas de qualidade, produtividade e logística no canteiro de obras têm sido implantados con-
templando a gestão de resíduos. As obras que incorporaram os requisitos de sustentabilidade, neces-
sariamente, tratam da gestão de resíduos de forma diferenciada.
114
Diversas publicações elaboradas pelas entidades associadas e entidades parceiras orientam como
o setor deve evoluir e se capacitar. Ressalte-se que estas publicações têm sido utilizadas tanto pelo
setor privado quanto pelo setor público na capacitação dos profissionais envolvidos.
O Programa Construção Sustentável CBIC definiu o tema resíduos como um dos seus prioritários,
tendo como objetivo específico a diminuição do consumo de recursos naturais. Para que o setor pos-
sa alcançar este objetivo, os meios a serem utilizados são o poder de compra, os projetos, a gestão
de pessoas e processos, a inovação tecnológica e a atuação em políticas publicas, além da formula-
ção de legislações e normas.
Tendo os objetivos e metas definidos, o Programa Construção Sustentável CBIC orienta o setor da
construção como um todo na sua forma de atuação. Dessa forma, as entidades e seus associados
têm se empenhado em ações para implementar o programa em suas obras e com o poder público
nos estados e municípios. Os exemplos 2 e 3, a seguir apresentados, demonstram a convergência
com as diretrizes do PCS.
Uma das principais necessidades detectadas pelo setor é a criação de ferramentas que auxiliem
os gestores públicos e privados a cumprirem suas atribuições definidas em legislações e normas.
Tais ferramentas são essenciais, também, no levantamento de informações que possam ser utiliza-
das na melhoria dos processos produtivos, identificação de oportunidades de novos negócios e no
planejamento dos municípios, de forma a atender as demandas dos grandes e pequenos geradores.
115
Nesse sentido, destacamos a seguir duas experiências: a ferramenta ERA – Energia, Resíduo e Água,
e o sistema Sigor - Sistema Estadual de Gerenciamento on-line de Resíduos Sólidos. Aforaestas duas
ferramentas, há interesse crescente de municípios em informatizar o seu sistema de gerenciamento
de resíduos da construção, de modo a facilitar a identificação de pontos de descarte irregular, áreas
de destinação não licenciadas, transportadores e obras não legalizadas.
Como exemplos de cidades que estão implantando sistemas on-line de gerenciamento de resíduos da
construção estão São José dos Campos, Jundiaí, São Carlos, Taubaté, Pindamonhangaba, Americana,
Praia Grande, Araraquara, Bauru, Piracicaba, em São Paulo; Uberaba, em Minas Gerais, e Blumenau,
em Santa Catarina. Essas cidades já percebem os benefícios do uso de ferramentas informatizadas,
principalmente para agilização dos processos, desburocratização e fiscalização.
Desenvolvida especialmente para o setor da construção, a ERA é uma ferramenta simples e prática, fo-
cada na gestão desses recursos, que visa a atender ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade
do Habitat (PBQP-H) e aos requisitos e critérios de certificações ambientais e de construção sustentável.
A ERA é fruto do Pacto Setorial (PS) da CBIC e do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que tem
como principal objetivo o desenvolvimento de metodologia para definição do Índice de Sustentabi-
lidade Ambiental, considerando o uso de água e energia e a geração de resíduos. A ferramenta foi
desenvolvida conjuntamente pela CBIC e pela Universidade de Brasília (UnB). A plataforma permitirá
reunir dados da geração de resíduos durante o processo de construção de obras.
Apesar de diversos trabalhos que versam sobre geração de resíduos, não existem dados disponíveis
que relacionem volume de resíduo gerado por tipologia de obra, o que será possível com esta ferra-
menta.. A apuração dos indicadores poderá servir de referência na fixação de metas futuras para a
redução da geração, reutilização e reciclagem dos resíduos da construção.
A definição do Sigor – Módulo Construção Civil como o primeiro a ser implantado dentro do sistema
é resultado do convênio firmado em fevereiro de 2010 entre o governo do estado, , por meio da Se-
cretaria do Meio Ambiente e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e o Sindicato
da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP).
116
O Módulo Construção Civil do Sigor consiste em uma plataforma eletrônica que permitirá a elabora-
ção dos Planos de Gerenciamento de Resíduos pelos geradores e a emissão de Controle de Transpor-
te de Resíduos (CTR), documento que acompanha as cargas transportadas. Caberá aos transportado-
res aceitar o CTR e transportar os resíduos às áreas de destinação indicadas. Essas áreas poderão ser
de transbordo e triagem (ATTs e PEVs), áreas de reciclagem, aterros de resíduos Classe A (Resolução
Conama 307/2002 e suas alterações) e aterros de rejeitos. As áreas de destino que receberem os
resíduos deverão aceitar o CTR.
O sistema permitirá a emissão de relatórios, entre eles o Sistema Declaratório Anual - uma das exi-
gências da Política Nacional e da Política Estadual de Resíduos ˗ além de agilizar o fluxo de informa-
ções e facilitar o gerenciamento e a fiscalização pelos municípios e pelo estado.
Para a sociedade como um todo, o Sigor terá um papel fundamental na prestação de serviços. Estará
criando um amplo banco de dados com informações como a relação de transportadores cadastrados
Outra iniciativa é a da reciclagem de resíduos de gesso. A Associação Dry Wall, que reúne as empre-
sas fabricantes de painéis de gesso acartonado, tem tornado possível o envio do resíduo de gesso
para indústrias cimenteiras. O trabalho é executado por parcerias com Áreas de Transbordo e Tria-
gem, que recebem os resíduos ou diretamente com obras de grande porte, ou de transportadores e
da indústria. No entanto, esta ação ainda é pontual, concentrando-se na região metropolitana de
São Paulo. Um dos principais entraves à sua disseminação é a pouca disponibilidade de áreas de
transbordo e triagem para receberem o resíduo do gesso.
A segunda etapa contempla a definição de metas para o Plano de Logística Reversa. Faz parte do objetivo
do Sinduscon PR ampliar a iniciativa para outros estados. Esta ação integra a pauta da CBIC, que considera
fundamental uma ampla discussão para superar as dificuldades de implementação do processo de logís-
tica reversa - entre elas, o baixo envolvimento dos fabricantes, a falta de áreas de destinação e reciclagem
e a não estruturação dos planos de resíduos de construção civil por parte dos municípios.
117
Desafios
No conjunto das iniciativas necessárias ao avanço da construção sustentável, a gestão dos resíduos
é, provavelmente, a que mais rapidamente pode oferecer resultados significativos. Mas há desafios a
vencer, internos, do setor da construção, e externos, na sua relação com as administrações públicas
e com os fornecedores da cadeia produtiva.
- capacitação das empresas e profissionais envolvidos com a execução das obras, incluindo empresas
terceirizadas.
Visão de futuro
As experiências positivas do setor em iniciativas voltadas para a construção sustentável demonstram
diversas oportunidades para as empresas. Entre elas:
118
Todas essas oportunidades se aplicam perfeitamente quando tratamos da gestão de resíduos da
construção civil.
Percebemos que as empresas quando conscientes dessas oportunidades incorporam ações relaciona-
das à gestão de resíduos. A adesão tem sido progressiva e reflete o trabalho de conscientização que
tem sido feito no setor. Sendo assim, não enxergamos grandes dificuldades no tocante à gestão de
resíduos nos canteiros de obras.
No entanto, o esforço do setor privado só obtém sucesso se os esforços da gestão municipal e es-
tadual caminharem na mesma velocidade e de forma integrada. Sem a adesão da administração
pública torna-se inviável a solução dos resíduos nas cidades e nos estados. E este é o maior ponto
preocupante do setor.
Outra fragilidade é a baixa adesão dos fornecedores de produtos e sistemas construtivos para soluções do
pós-consumo. Ressaltando que essas soluções devem estar voltadas aos grandes e pequenos geradores.
CRÉDITOS
Nilson Sarti
Presidente da Comissão de Meio Ambiente - CBIC
Lilian Sarrouf
Consultora CBIC
119
aço brasil
AÇO BRASIL - COPRODUTOS
E RESÍDUOS DA
INDÚSTRIA DO AÇO
A indústria do aço está associada à história do desenvolvimento brasileiro. Das usinas siderúrgicas
instaladas no país saiu o aço de nossas hidrelétricas, plataformas de petróleo, navios, torres de trans-
missão. O aço está nas máquinas e equipamentos que impulsionam todos os segmentos industriais e
do agrobusiness. É usado nos meios de transporte, na construção de edifícios, pontes e viadutos. O
aço está presente em todos os momentos do nosso dia-a-dia.
O setor está presente em 10 estados, com 11 grupos empresariais operando 29 usinas, promovendo
o desenvolvimento, emprego e renda nas comunidades onde atuam.
CEARÁ
Gerdau Aços Longos (Cearense)
PERNAMBUCO
Gerdau Aços Longos (Cariacica)
BAHIA
MINAS GERAIS
ArcelorMittal Aços Longos (Cariacica)
Aperam South American ArcelorMittal Tubarão
Gerdau Açominas (Ouro Branco)
ArecelorMittal Longos (Monlevade)
ArecelorMittal Longos (Juiz de Fora) ESPÍRITO SANTO
Gerdau Aços Longos (Divinópolis)
Grupo Usiminas (Ipatinga) Gerdau Aços Longos (Cariacica)
Vallourec (Barreiro)
VSB (Jeceaba) RIO DE JANEIRO
PARANÁ Votorantim Siderurgia (Resende)
Votorantim Siderurgia (Barra Mansa)
Gerdau Aços Longos (Guaíra) Gerdau Aços Longos (Santa Cruz)
ThyssenKrupp CSA (Santa Cruz)
SÃO PAULO
RIO GRANDE DO SUL
ArcelorMital Aços Longos (Piracicaba)
Aços Longos (Gerdau Pindamonhangaba)
Gerdau Aços Especiais (Piratini) Aços Longos (Gerdau Mogi das Cruzes)
Gerdau Aços Longos (Riograndense) Gerdau Aços Longos (São Paulo)
Usiminas (Cubatão)
Vilares Metal
123
Atualmente, o setor emprega mais de 100 mil colaboradores, entre efetivos e terceirizados, e estimu-
la cerca de 2,4 milhões de empregos indiretos e induzidos, considerando o estudo da Fundação Ge-
túlio Vargas “Importância Estratégica do Aço na Economia Brasileira”, de 2010. O trabalho concluiu
que cada emprego na indústria do aço gera outros 23,57 empregos nos demais setores da economia.
O processo de fabricação
A produção de aço é realizada por meio de duas rotas tecnológicas: integradas e semi-integradas.
As usinas integradas são aquelas que produzem aço a partir do minério de ferro e carvão (mineral ou
vegetal). Possuem todas as etapas do processo de produção do aço, ou seja, redução, refino e laminação.
O minério e o carvão são previamente preparados para melhoria do rendimento e economia do pro-
cesso. O minério é transformado em pelotas ou sínter e o carvão é destilado, obtendo-se o coque.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O coque exerce duplo papel na fabricação do aço. Por ser combustível, permite atingir altas tempe-
raturas, de aproximadamente 1.500º Celsius, necessárias à fusão do minério de ferro. Como agente
redutor, associa-se ao oxigênio que se desprende com a alta temperatura, deixando livre o ferro (FeO2
+ C = Fe + CO2).
O processo de redução do óxido de ferro dá origem ao ferro-gusa. A fração não metálica, denomi-
nada escória, também é vazada do alto forno. Escórias e outros coprodutos desta etapa, como o
gás de alto forno e pós e lamas são utilizados internamente ou destinados a outros setores, como a
produção de cimento.
A fase seguinte é o refino do aço, que ocorre nas aciarias a oxigênio, onde são adicionados outros
elementos ao ferro-gusa. Nesta fase é gerado o gás de aciaria, pós e lamas e a escória de aciaria que,
após beneficiamento, é transformada nos produtos AçoBrita® ou AçoFert®.
A AçoBrita® tem sido utilizada, principalmente, na construção civil em sub-base, base e camadas
asfálticas de pavimentos rodoviários, estradas vicinais, lastros ferroviários e contenção de encostas. Já
a AçoFert® é utilizada como corretivo e fertilizante de solos.
Em seguida, vem a laminação, etapa em que o aço passa por grandes máquinas, sendo deformado e
transformado em diversos materiais, como chapas de diferentes formatos e espessuras.
É importante ressaltar que o Brasil se diferencia dos demais países por utilizar, em parte de sua produ-
ção de aço, carvão vegetal como agente redutor. O carvão vegetal é oriundo de madeira proveniente
de florestas plantadas com esta finalidade. Desta forma, compensa as emissões de CO2 geradas no
processo industrial, através do processo de fotossíntese das florestas.
Já na rota semi-integrada, a produção de aço é feita basicamente em duas etapas principais: aciaria
elétrica e laminação. O aço é produzido, predominantemente, a partir da fusão de sucata metálica
em fornos elétricos a arco e, por fim, laminado, dando forma ao produto final.
124
Figura 2 – Representação esquemática das etapas de produção do aço em usinas
integradas e semi-integradas.
A geração de coprodutos e resíduos tem se mantido estável durante os últimos anos. Em 2013, as
empresas associadas ao Instituto Aço Brasil geraram 17,7 milhões de toneladas de coprodutos e re-
síduos. Este total equivale a uma geração específica de 594kg de coprodutos e resíduos para cada
tonelada de aço produzido, como apresentado na figura 3.
125
Figura 3 – Geração específica de coprodutos e resíduos do aço.
650
600
599 594
550
500
2012 2013
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A figura 4 apresenta a geração de coprodutos e resíduos por tipo. Em 2013, os principais coprodutos
gerados pela indústria do aço foram as escórias de alto-forno (37%), escória de aciaria (29%), segui-
dos de finos e pós (14%), lamas, (5%), carboquímicos (2%) e outros (13%).
100%
16% 13%
90%
80% 5%
5%
70% 14%
13%
60%
A escória de alto forno é oriunda do processo de produção do ferro gusa nos altos-fornos. Já a escó-
ria de aciaria provém do processo de refino do aço.
Os finos, pós e lamas são gerados no manuseio de matérias-primas e nos sistemas de limpeza de
gases e de estações de tratamento de efluentes das unidades industriais.
126
Os coprodutos carboquímicos são produzidos através do tratamento dos gases gerados na coqueria e
da destilação do alcatrão. Desse processo resultam produtos como amônia anidra, benzeno, tolueno
e xileno industrial, piche, óleo antracênico e naftaleno.
Os demais coprodutos e resíduos gerados (13%) pela indústria do aço são refratários em final de vida
útil, carepas e borras decorrentes da etapa de laminação, forjamento, tratamento térmico, entre outros.
A figura 5 apresenta a destinação dos coprodutos e resíduos. Em 2013, 88% dos materiais gerados
foram reaproveitados caracterizando-se como coprodutos, 6% destinados ao estoque e os outros
6%
6%
reaproveitamento
estoque
disposição final
88%
Atualmente, 100% das escórias de alto forno geradas são destinadas à indústria cimenteira. Esta
aplicação ocorre desde 1991 e o percentual de cimentos que levam em sua composição a escória de
alto-forno cresce a cada ano. Além das características especiais e o uso para toda e qualquer obra,
são cimentos que propiciam benefícios ambientais, já que substituem o clínquer e, consequentemen-
te, reduzem a emissão de CO2 e o consumo de recursos naturais não renováveis (jazidas de calcário)
na produção de cimento.
Escórias de Aciaria
As escórias de aciaria, após resfriamento, passam pela etapa de beneficiamento. Em 2013, estes
coprodutos foram aplicados, principalmente, em sub-bases, bases e capas asfálticas de pavimentos
rodoviários (62%), nivelamento de terrenos (20%), corretivos e fertilizantes de solos (8%), produção
de cimento (5%), lastros ferroviários (1%) e outros, como estradas vicinais, gabiões e rip-raps (5%).
127
Tanta tem sido a confiança do setor na ampla utilização desses materiais que se registraram as marcas
AçoBrita® e AçoFert® no INPI, para designar esses coprodutos em suas aplicações, respectivamente,
na construção civil e na agricultura.
O uso da AçoBrita apresenta uma série de vantagens em relação aos agregados naturais:
• reduz o consumo de recursos naturais não renováveis, já que substitui materiais provenientes do
desmonte de morros e da mineração de rochas, areia e outros materiais primários;
• possui excelente Índice de Suporte California - CBR (120% - 200%), contra 85% - 100% da brita
– representando maior durabilidade ante uma mesma intensidade de carga e espessura;
• Módulo Resiliente elevado de 400 Mpa comparado ao da brita, de 240 Mpa – possibilitando a
redução da espessura da base e da camada de rolamento, reduzindo o custo da obra;
• menor custo comparado a qualquer outro material pétreo;
• compactação de campo obtida com menor custo, devido ao número de passadas do rolo compac-
tador ser inferior ao de outros materiais;
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Em sua maioria, os finos, pós e lamas gerados durante o processo de fabricação de aço retornam ao
processo produtivo, assim como os gases gerados na coqueria, alto-forno e aciaria são utilizados in-
ternamente para produção de energia elétrica, reaquecimento de placas, entre outros fins, evitando
o consumo de insumos sucedâneos, como óleo combustível e gás natural.
A figura 6 apresenta o alto índice de reaproveitamento dos gases gerados durante o processo de pro-
dução do aço. Vale ressaltar que, em 2013, o setor gerou 48% de toda energia elétrica que consumiu.
Coprodutos carboquímicos
128
Algumas experiências
De fonte de despesa a fonte de receita
Para dar destinação adequada a cerca de 3.200 toneladas anuais de carepa de aço, gerada pela oxi-
dação do aço durante os processos de tratamento térmico, forjamento e laminação, era preciso viajar
400 quilômetros para se chegar ao local onde esse resíduo era aproveitado para coprocessamento
em uma indústria cimenteira.
A partir de 2012, no entanto, o que era preocupação virou solução e o que era custo transformou-se
em receita. A carepa de aço passou a ser reutilizada para enchimento enclausurado de contrapesos
de alta densidade. Esse tipo de material é destinado, por exemplo, às máquinas de terraplenagem e
construção pesada, e ainda aos rebocadores de portos.
Além de vantagens econômicas, entre os bons resultados da mudança na gestão desse resíduo tam-
bém se destaca a redução dos impactos ambientais. O atual local de destinação da carepa de aço fica
a 46 quilômetros da usina onde o material é gerado, o que resulta no menor consumo de combustí-
É compromisso do setor reutilizar e/ou reciclar os coprodutos gerados em suas operações. Para alcan-
çar esse objetivo, houve investimentos em pesquisas em parceria com universidades e instituições de
pesquisa. O objetivo é buscar novas alternativas de aplicações para agregar valor aos coprodutos e
desenvolver novos mercados.
Exemplo dessa iniciativa é a reutilização, como nutriente agrícola, da lama produzida após a lavagem
do gás de alto-forno. Como esse material contém altos teores de carbono, apresenta um conteúdo
de matéria orgânica compostável e contribui para a reposição de nutrientes e o condicionamento do
solo em áreas de silvicultura.
Desafios do setor
Internamente, o principal desafio da indústria do aço foi o de ultrapassar o “pré-conceito” do termo
resíduo associado a material indesejável e de custo elevado de disposição para o de um material ao
qual se pode agregar valor econômico, ambiental e social. Nesse sentido, o setor evoluiu significati-
vamente, com o apoio e a parceria de outras instituições do setor privado, nacionais e internacionais,
e da academia.
129
De olho no futuro
O setor produtor de aço vem, a cada ano, ampliando estudos técnicos e a presença em foros espe-
cíficos para que o aço e os coprodutos cresçam suas participações nas economias brasileira e global,
com soluções inovadoras.
Por isso, o Instituto Aço Brasil, com o apoio das suas associadas e de colaboradores externos, como
as universidades, criou em 2011 o Centro de Coprodutos Aço Brasil (CCABrasil). O CCABrasil tem
o objetivo de incentivar o desenvolvimento e agregar valor aos coprodutos da indústria do aço,
desenvolvendo, promovendo e ampliando a sua aplicação de forma ambientalmente sustentável,
socialmente responsável e economicamente viável.
• promoção e disseminação do uso do agregado siderúrgico como substituto dos recursos naturais
não renováveis.
Agenda positiva
A agenda positiva da indústria do aço no Brasil contribui significativamente mais para a preservação
dos recursos não renováveis, redução das emissões de gás de efeito estufa e para o desenvolvimento
do país, de forma ambientalmente sustentável e socialmente responsável. Dessa forma, dá um passo
importante para o desenvolvimento e consolidação das diversas possibilidades de aplicação dos co-
produtos gerados pelo setor, como demonstram algumas ações:
• Na parceria com instituições internacionais, o CCABrasil faz parte do WoISS, juntamente com as
associações australiana, europeia, americana e japonesa. Esta parceria é um excelente canal para
troca de informações, experiências, projetos e tendências entre as principais associações no mundo
que tratam do tema coprodutos da indústria do aço.
• Na parceria com instituições nacionais, o CCA Brasil estabeleceu convênio com o DNIT e a Univer-
sidade de Brasília para executar trechos experimentais com a AçoBrita®, elaborar Normas Técnicas,
especificar o produto nas obras e certificar as rodovias executadas com o material, como “rodovias
verdes”.
• Registrou, como mencionado, as marcas AçoBrita® e AçoFert® junto ao INPI.
• Implementou grupos de trabalho grupos de trabalho ativos para desenvolver o mercado de copro-
dutos. Estes GT´s trabalham na classificação fiscal da AçoBrita®, no desenvolvimento de norma
ABNT para lastro ferroviário e pavimentação, na elaboração de procedimento padrão para o uso
dos nossos materiais, entre outras atividades.
• Na normatização, foi criada a Comissão de Estudos Coprodutos do Aço no âmbito do Comitê Bra-
sileiro de Siderurgia - CB28, da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
• Importante para troca de experiências, o CCABrasil é presença constante em seminários, congres-
sos e eventos nacionais e internacionais, como o Constructionexpo, Brazil RoadExpo, Global Slag
Conference e The NSA Anuual Meeting.
O CCA Brasil possui um site (www.ccabrasil.org.br) no qual todos poderão acompanhar o trabalho
que o setor vem desenvolvendo nesta área. Além das versões em português e inglês, foi recentemen-
te lançada a versão do o site em espanhol.
Cassius Cerqueira
Gerente de Suprimentos e Coprodutos
Alexandre Costa
Assessor Técnico
131
IBP
IBP - OPORTUNIDADES
E DESAFIOS DA GESTÃO
DE RESÍDUOS PARA
O DESENVOLVIMENTO
DO BRASIL:
CONTRIBUIÇÃO
DO SETOR DE
PETRÓLEO, GÁS E
BIoCOMBUSTÍVEIS
Apresentação setorial
O Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis ( IBP) participa desta iniciativa da CNI pelo
terceiro ano consecutivo para mostrar, nesta edição, os avanços da sustentabilidade na gestão dos
resíduos sólidos nas atividades de exploração e produção.
Mudanças
180.000.000
160.000.000
140.000.000
Educação e saúde
120.000.000
Fundo Social
100.000.000 MCT
Comando da Marinha
80.000.000
Fundo Especial
60.000.000 Municípios
Estados
40.000.000
20.000.000
0
Média Média Média Média Média abr
2010 2011 2012 2013 2014 2014
135
Figura 2 - Distribuição Governamental das Participações Especiais (em reais)
4.500.000
4.000.000
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
Média Média Média Média 10 20 30 40
Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral Trimestral
2010 2010 2010 2010 2013 2013 2013 2013
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O crescimento da demanda por energia e a expectativa de que a indústria petrolífera seja capaz de
suprir parte dela fazem com que as empresas de óleo e gás (O&G) se deparem com o desafio de
descobrir novas reservas, a fim de garantir ao país e à sociedade brasileira o seu desenvolvimento de
forma segura, sustentável e ambientalmente correta.
Além dos incentivos legais visando ao desenvolvimento sustentável, as empresas de óleo e gás vêm
identificando grandes oportunidades de encontrar benefícios econômicos, sociais e financeiros com a
inclusão do gerenciamento de resíduos sólidos como uma das prioridades de suas operações e decisões.
O elevado consumo mundial de derivados de petróleo, combinado com o potencial petrolífero offsho-
re no Brasil, traz um prognóstico de considerável aumento na prospecção de petróleo e gás na costa
brasileira e, por consequência, uma ampliação significativa também na geração de resíduos sólidos
ao longo de todo o litoral e em regiões até então sem histórico deste tipo de atividade. Equacionar
estes dois fatores é um grande desafio para o setor, neste momento, e se torna complexo face ao
aumento do número de regulamentos e legislações que surgem, a todo momento, em nível federal,
estadual e até municipal, impulsionadas pela crescente e saudável preocupação da sociedade com
a preservação ambiental.
136
Marco regulatório
No Brasil, as atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural estão legalmente condi-
cionadas ao licenciamento ambiental, processo administrativo pelo qual “o órgão ambiental compe-
tente licencia (...) empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras (...)”, conforme definido pela Resolução CONAMA 237/1997.
Instituído como um instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (Lei Federal N°
6.938/1981), o licenciamento ambiental2 tem como principal objetivo a conciliação do desenvol-
vimento econômico com o uso dos recursos naturais, de modo a assegurar a sustentabilidade dos
ecossistemas em suas variabilidades físicas, bióticas, socioculturais e econômicas. Para tanto, baseia-
-se na análise dos estudos ambientais, submetidos pelo empreendedor como ferramenta de auxílio
ao licenciador no processo de tomada de decisão.
Conforme determinam as diretrizes legais para sua elaboração, esses estudos devem apresentar, en-
tre outras informações, uma proposta de medidas mitigadoras para os impactos negativos identifica-
O PCP é consubstanciado pelas diretrizes da Coordenação Geral de Petróleo e Gás (CGPEG), da Di-
retoria de Licenciamento Ambiental (DILIC), do IBAMA, através da Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA
número 01/2011, intitulada “Diretrizes para apresentação, implementação e para elaboração de
relatórios, nos processos de licenciamento ambiental dos empreendimentos marítimos de exploração
e produção de petróleo e gás”.
A Nota Técnica descreve as premissas para o estabelecimento do PCP (contêm os objetivos funda-
mentais, resultados esperados, metas, indicadores etc.); bem como diretrizes para sua implementa-
ção (contêm detalhadamente as principais ações a serem tomadas em relação a emissões atmosfé-
ricas, resíduos sólidos e efluentes líquidos); as diretrizes para apresentação das metas do PCP e para
elaboração de relatórios (contêm os principais procedimentos a serem realizados para as atividades
de pesquisa sísmica, perfuração e produção e escoamento, assim como os modelos necessários a
cada uma).
Traz, por fim, um item sobre vistoria e acompanhamento, que trata dos procedimentos a serem
realizados após o PCP, tanto pela CGPEG quanto pelo setor. Isto é, no PCP, a empresa de óleo e gás
apresenta o detalhamento das etapas do gerenciamento de resíduos que inclui o controle desde sua
geração, passando pelas fases de segregação, armazenamento temporário, transporte, tratamento e
disposição final, que é realizada em terra através de tecnologias específicas para cada tipo de resíduo.
Sob o ponto de vista de vistorias técnicas, o tema está presente também na Nota Técnica no 08/12
CGPEG/DILIC/IBAMA (Manual de Procedimentos para Vistorias de Embarcações de Emergência e de
Pesquisa Sísmica, e de Plataformas de Perfuração e Produção). Neste Manual está claro que o PCP
deve estar implementado para que a vistoria seja realizada, além de descrever alguns itens relaciona-
dos à coleta de resíduos e equipamentos.
2 As principais diretrizes para a execução do licenciamento ambiental das atividades de E&P estão descritas na Lei
Federal N° 6.938/1981 e na Lei Complementar N°140/2011; nas Resoluções CONAMA N° 001/1986, N° 237/1997 e N°
350/2004; e Portaria MMA N°422/2011.
137
Desafios do setor
A boa prática de gerenciamento de resíduos se inicia na prevenção da poluição. À semelhança dos
diversos processos de gestão ambiental, a prevenção da poluição é obtida seguindo as quatro práti-
cas de boa conduta (e.g., redução na fonte, reuso/reciclagem, tratamento e disposição adequada) e
observando a hierarquia ilustrada na Figura 3 e o passo a passo a ser seguido na Figura 4.
138
Figura 4 – Passo a passo no gerenciamento de resíduos.
Inventário
Caracterização
Segregação
Minimização Exemplos
• Modificação no processo ou no projeto
Redução
• Eliminação de materiais
• Controle de inventário
• Substituição de materiais
Não
Há resíduo?
Sim
Requer Sim
Pare Tratamento
tratamento?
Não
Disposição
Neste cenário, a Base Portuária pode ficar incumbida pelo gerenciamento dos resíduos em terra,
desenvolvendo boa parte das operações previstas no âmbito da cadeia de resíduos (recebimento,
armazenamento temporário e encaminhamento para a destinação final)3. Para esses casos, a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) define, através do princípio da “Responsabilidade Compartilha-
da”, que a responsabilidade legal pelos resíduos, até a sua efetiva destinação final, é compartilhada
por todos os agentes da cadeia, incluindo o operador do sistema de armazenamento. Sendo assim,
a Base Portuária estaria submetida aos mesmos preceitos descritos pela NT 01/11, especialmente no
3 Em alguns casos, a Base pode oferecer apenas a infraestrutura física necessária para o desembarque dos resíduos,
ficando o gerenciamento deles a cargo do próprio agente gerador (o Operador/Concessionário), ou da pessoa/instituição
por ele designada.
139
que diz respeito aos resultados esperados para o PCP, entre os quais destacam-se:
• A redução, por meio da destinação final adequada, da poluição que poderia ser provocada em
terra; e
• A gestão de médio e longo prazos dos resíduos sólidos dos empreendimentos localizados ou recor-
rentes em uma mesma região.
A partir da análise dos dados gerados por esta gestão, espera-se que seja possível avaliar aspectos
como a disponibilidade dos serviços de destinação final em uma dada região e a capacidade de
suporte dos serviços para atender às demandas existentes, em termos de quantidade de resíduos
desembarcados e destinação final adequada. Obtém-se ainda, a partir dessa análise, uma visão in-
tegrada e sinérgica das dinâmicas e reflexos socioeconômicos e ambientais no desenvolvimento de
tais atividades.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
As diversas técnicas para o tratamento dos resíduos sólidos objetivam reciclá-los, estabilizá-los ou
então reduzir seus volumes para ampliar a vida útil do aterro. Já a disposição final do resíduo deve ser
realizada em aterros. A depender do tipo de resíduo, pode ser realizada em aterros Classe II (resíduos
não perigosos) ou em aterros Classe I (resíduos perigosos).
A Tabela 1 indica as opções disponíveis e usuais para a gestão de resíduos oriundos da indústria de
óleo & gás.
Tabela 1 – Opções para gestão de resíduos oriundos da indústria de óleo & gás
Compostagem
Reintrodução
Incineração
Neutralização
Evaporação
Injeção subsuperficial
Disposição em superfície
Aterro sanitário
Ácidos/álcalis X X X X X X X X
Carvão ativado X X X X X X
Asbesto/materiais refratários X
Cinzas (Resíduo de combustão) X X X X
Eletrólito de bateria X X X X X
Catalisadores X X X X X X X
140
Filtros (ar/água/outros) X X X X X X
Cilindros de gás X X X
Vidro X X X X
Glicol e anticongelante X X X X X X X
Fluidos de hidroteste X X X X X X X
Materiais isolantes (não asbestiformes) X X
Refrigerantes X X
Sucata metálica X X
Lodo de tratamento de esgoto doméstico X X X X X X X
Pneus X X X X X
Águas residuais X X X X X X
De fato, dados extraídos de PCP’s de diversas operadoras elencados na Figura 5 permitem aferir que
as boas práticas de gerenciamento de resíduos vêm sendo adotadas no país na Exploração e Produ-
ção (E&P) offshore de óleo e gás. Verifica-se, com base nos dados coletados junto às operadoras re-
ferentes a 2013, que somente de 2,4 a 7,5% de todo o resíduo gerado nas operações de exploração
e produção offshore de petróleo e gás são destinados a aterros sanitários ou industriais. Isto significa
que o percentual de rejeito gerado fica abaixo dos 7,5% de todo o resíduo produzido.
141
Figura 5 - Opções para gestão de resíduos oriundos de E&P offshore em 2013.
300 41,05
4937,5
6195,05
Aterro Sanitário
Reprocessamento
20087,111
Re-Refino
Reaproveitamento Energético
4937,5 99,7
Aterro Industrial
150
Incineração em terra
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Co-processamento
51211,15 Reciclagem
Reuso
16006 129
Reprocessamento
Reciclagem
230777
Co-processamento
3500855 Detonação
Re-Refino
Descontaminação
34757 Aterro Sanitário
42 Incineração em terra
188410
6799
776
142
Distinção dos Resíduos Queiroz Galvão Exploração e Produção (Kg)
2400 433
29556 Descontaminação
25715 Reciclagem
Reuso
Desinfecção térmica
1350 32
11350
29,2
2745
Tratamento de Efluente Oleoso
64451
168 Descontaminação
Aterro sanitário
4641
Incineração em terra
Co-processamento
88536 Reprocessamento
297260
Reciclagem
Reuso
Desinfecção térmica
Re-refino
143
Figura 5 - Opções para gestão de resíduos oriundos de E&P offshore em 2013.
Reciclagem
35502
Reuso
Desinfecção térmica
Destruição térmica
A maior parte do resíduo gerado nas operações de exploração e produção offshore de petróleo e gás
consiste em efluente oleoso. Observa-se que foi tratado por grande parte das operadoras no decorrer
do ano de 2013 em estações de tratamento de efluentes em terra. Verifica-se ainda que os rejeitos
gerados são oriundos, em quase sua totalidade, de resíduo alimentar desembarcado que é disposto
em aterros.
Com base nos dados disponibilizados pelas empresas de óleo e gás, relativos ao ano de 2013, foi
possível constatar uma similaridade entre os processos de tratamento empregados para cada resíduo.
A Tabela 2 apresenta o tipo de tratamento empregado para cada resíduo gerado durante as opera-
ções de exploração e produção offshore no Brasil.
144
Tabela 2 – Tipo de tratamento empregado pelas operadoras de E&P offshore.
Nos últimos anos, é crescente a resposta do poder público às dificuldades inerentes ao gerenciamen-
to de resíduos pelo aumento do número de empresas com atividades de exploração marítima no país.
Houve grande avanço dos instrumentos normativos (i.e., leis, normas, notas técnicas), seja em forma
de novas publicações e/ou revisões.
As empresas que prestam serviço ao setor desenvolvem pesquisas contínuas sobre a utilização de tec-
nologia mais limpa para tratamento e destinação final de resíduos. Entre as tecnologias disponíveis e
adequadas no mercado de serviços, o tratamento térmico por pirólise tem destaque, por minimizar
o quantitativo de resíduos gerados pela atividade, mitigando seus possíveis impactos ambientais. Re-
sultados preliminares indicam que essa tecnologia, com reaproveitamento energético, é válida, pois
os líquidos pirolíticos apresentam alto teor de hidrocarbonetos (Oliveira, 2006).
145
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. ABNT NBR 10004: Resíduos Sólidos. Rio de
Janeiro: Norma brasileira, 2004. 71p.
o
BRASIL. Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA n 01/11. Rio de Janeiro: IBAMA, 2011. 34p.
o
BRASIL. Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA n 07/11. Rio de Janeiro: IBAMA, 2011. 38p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS – IBP. Monitor IBP: Maio 2014. Ano VI
– Número 5. Disponível em: http://www.ibp.org.br/main.asp Acesso em: 25 de jul. 2014.
OLIVEIRA, M. L. Caracterização e Pirólise dos Resíduos da Bacia de Campos: Análise dos Resíduos da
P-40. 2006. 192p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Química, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro. 2006.
CRÉDITOS
Carlos Victal, Carlos Henrique Mendes, Felipe Dias, Francisco Ebeling e Maria Augusta Nogueira
Equipe Técnica do IBP
Mara Oliveira (SSOG), Patrícia Burlini (ExxonMobil), Cláudio Henrique Guimarães (Petrobras), Ana Paula
Brandão (Statoil), Anne Guedes (QGEP), Sérgio Sahlit (Anadarko), Adriana Almeida (BP), Ricardo Canela
(Karoon), José Araruna (Consultor)
Colaboradores
ibram
IBRAM- UMA VISÃO
COMENTADA DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS NA
MINERAÇÃO
A mineração é a atividade destinada a pesquisar, descobrir, extrair e transformar os recursos minerais
em benefícios econômicos e sociais. O regime de aproveitamento dos recursos minerais, inclusive
os do subsolo, sempre mereceu tratamento diferenciado na legislação brasileira, por sua relevância.
O setor mineral tem grande importância social e econômica para o país. Em 2013, respondeu por
aproximadamente 3% do PIB industrial e por 17% das exportações. Além disso, é responsável por
aproximadamente um milhão de empregos diretos, incluindo a indústria da transformação mineral.
Ressalte-se ainda que o setor mineral é base de várias cadeias produtivas. O Brasil produz cerca de 80
substâncias minerais não energéticas, destacando-se, entre outras, as produções de nióbio, minério
de ferro, bauxita e manganês (Tabela 1). Embora seja um importante produtor mundial de várias
substâncias, o país depende da importação de minerais essenciais à economia. Por exemplo, o Brasil é
o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, mas importa 91% do potássio e 53% do fosfato
utilizados na produção desses insumos agrícolas (IBRAM, 2012).
Contextualização do setor
A indústria mineral se diferencia de outros setores produtivos não somente pelo fato das substâncias
minerais serem os recursos básicos de sua cadeia produtiva, como também pela particularidade no
dimensionamento da geração dos resíduos para cada tipologia mineral. E, principalmente, pela co-
notação diferenciada e peculiaridades distintas dos resíduos sólidos gerados nos outros segmentos.
Na mineração, as principais alterações físicas da paisagem em suas atividades situam-se nas aberturas
das cavas, que necessitarão da deposição de material estéril (ou inerte ou não aproveitável), proveniente
do decapeamento superficial e da deposição de rejeitos decorrentes do processo de beneficiamento.
149
Figura 1 - Principais etapas da atividade minerária e a geração de resíduos.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
(Fonte: IBRAM)
Na geração de resíduos, destaca-se a existência dos resíduos sólidos de extração (estéril) e do benefi-
ciamento (rejeitos). Estes resíduos, de modo geral, podem ser pilhas de minérios pobres, estéreis, ro-
chas, sedimentos, solos, aparas e lamas das serrarias de mármore e granito, as polpas de decantação
de efluentes, as sobras da mineração artesanal de pedras preciosas e semipreciosas, principalmente
em região de garimpos, finos e ultrafinos não aproveitados no beneficiamento.
Os outros resíduos resultantes da operação das plantas de mineração são em geral, os esgotos das
estações de tratamento, os pneus, as baterias utilizadas nos veículos e maquinários, além de sucatas
e resíduos de óleo em geral.
Resíduos
Tipologia mineral Produção
total (T) reciclados/reutilizados (%)
Bauxita 4,383 Mtpa (ROM) 915,56 78,8
Fosfato 1,4 Mtpa (concentrado) 6,8 M 80
Carvão mineral 2,4 Mtpa (ROM) 58,66 58,4
Ouro 486 mil oz 3.719 56
Ferro 22,9 Mtpa (ROM) 18,1 mil 62,4
Crisotila 305,0 mil tpa 689,3 82,9
Cobre 25 mil tpa 718 80,7
Nióbio 4,4 mil tpa 1,4 mil 91
150
Arcabouço legal
O aumento dos dispositivos legais estabelecidos a partir de 2000 implicou em mudança das práticas
de gestão de barragens e de depósitos de estéril até então adotadas pelas empresas de mineração.
Tal mudança ocorreu pela necessidade de se atender os requisitos e exigências nos critérios de elabo-
ração dos projetos, de operação da recuperação e fechamento dessas estruturas, aos mecanismos de
controle, licenciamentos e autuações dos órgãos fiscalizadores
Âmbito federal:
• Portaria DNPM Nº 416, de 03 de setembro de 2012: cria o Cadastro Nacional de Barra-
gens de Mineração e dispõe sobre o Plano de Segurança, Revisão Periódica de Segurança
e Inspeções Regulares e Especiais de Segurança das Barragens de Mineração conforme a
Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, que dispõe sobre a Política Nacional de Segu-
rança de Barragens.
• Ministério do Meio Ambiente - Conselho Nacional de Recursos Hídricos - Reso-
lução Nº143, de 10 de julho de 2012: estabelece critérios gerais de classificação de
barragens por categoria de risco, dano potencial associado e pelo seu volume, em atendi-
mento ao art. 7° da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010.
• Ministério do Meio Ambiente - Conselho Nacional de Recursos Hídricos - Reso-
lução Nº144, de 10 de julho de 2012: estabelece diretrizes para implantação da Política
Nacional de Segurança de Barragens, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sis-
tema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens, em atendimento ao art. 20
da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010, que alterou o art. 35 da Lei nº 9.433, de
8 de janeiro de 1997.
• Lei Federal Nº 12.305/2010 - 02/08/2010: institui a Política Nacional de Resíduos Só-
lidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências, que
apresenta o rejeito da mineração como uma categoria de resíduo (art.13, inciso I, “k”).
• Lei Federal Nº12.334/2010 - 20/09/2010: estabelece a Política Nacional de Segurança
de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou
temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de
Informações sobre Segurança de Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei no. 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4º da Lei no. 9.984, de 17 de julho de 2000.
Âmbito estadual:
• Estado de Minas Gerais: define os requisitos legais da Deliberação Normativa COPAM
nº 62, de 17 de dezembro de 2002 e da Deliberação Normativa COPAM nº 87, de 17
de junho de 2005 e Deliberação Normativa COPAM no. 124, de 09 de outubro de 2008
que dispõem sobre critérios de classificação de barragens de contenção de rejeitos, de
resíduos e de reservatório de água em empreendimentos industriais e de mineração.
Outros requisitos:
• ABNT NBR 13028:2006 – Mineração -Elaboração e apresentação de projeto de barra-
gens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água;
• ABNT NBR 13029:2006 Mineração - Elaboração e apresentação de projeto de disposição
de estéril em pilha.
151
Destaque-se a sinergia hoje existente entre a Lei N º12.305/2010, que instituiu a PNRS, com as ações
previstas no Plano Nacional de Mineração 2030 e com a Lei N º 12.334/2010, que estabeleceu a
Política Nacional de Segurança de Barragens.
Apesar dessa sinergia entre as legislações, o setor mineral discorda da definição legal de rejeito na
mineração. O rejeito pode e deve ser tratado, mas sem esgotar as possibilidades para tal, ao contrá-
rio do pressuposto para resíduos sólidos urbanos. É que o rejeito da mineração de ontem e de hoje
poderá ser a mineração do amanhã.
A compatibilização do Plano Nacional de Resíduos Sólidos com o Plano Nacional de Mineração 2030
não poderá prescindir, ademais, da integração entre os órgãos de licenciamento ambiental e os ór-
gãos gestores dos recursos minerais. O estabelecimento de cenários sobre as tipologias de atividades
minerárias e a geração e destinação adequada de resíduos gerados na mineração deverá ser revisto
e atualizado, de modo a garantir a sustentabilidade da mineração brasileira a médio e longo prazos.
A elaboração do cenário de produção de rejeitos para o período 2010-2030 (Figura 2), realizada
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
em relatórios produzidos pelo Projeto de Assistência Técnica ao Setor de Energia (Projeto ESTAL), do
Ministério das Minas e Energia, que subsidiaram a elaboração do Plano Nacional de Mineração 2030,
destaca-se como um balizador de tendências para o tema. Tais relatórios, baseados na produção
(bruta, beneficiada ou comercializada), no consumo e/ou demanda das substâncias selecionadas
permitem, portanto, estimar a geração de rejeitos.
Cobre Estanho
Caulim 7,18% 3,14%
Calcário 0,80%
2,99%
Alumínio
4,32%
Zircônio
4,30%
Zinco
Ferro
0,39%
41,38%
Titânio
8,93%
Ouro
9,74% Fosfato
9,89%
Níquel
5,59% Manganês
Nióbio
1,05% 0,32%
(adaptado de http://www.mme.gov.br/sgm/menu/relatorios_plano_nacional_mineral.html)
152
Sistemas de disposição de rejeitos
A disposição de rejeitos em reservatórios criados por diques ou barragens é o método mais comu-
mente usado. Estas barragens ou diques podem ser de solo natural ou construídos com os próprios
rejeitos, sendo classificadas, neste caso, como barragens de contenção alteadas com rejeitos e as de
solo natural como barragens convencionais. Muitos rejeitos são transportados para a área de dispo-
sição com um alto teor de água (10 a 25% de sólidos).
Fonte: Vale
Na disposição dos rejeitos, além dos aspectos intrínsecos da construção e segurança, é necessário que
o reservatório formado para conter o material seja estanque, para impedir a infiltração dos efluentes
danosos à qualidade das águas, como, por exemplo, soluções contendo cianetos, metais pesados ou
com pH muito ácido. Nestes casos, a investigação geológico-geotécnica é de grande importância.
Conforme estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), denominado Gestão
para Sustentabilidade na Mineração: 20 anos de História, publicado em 2012, as maiores mudanças
na gestão das barragens de rejeitos após o ano de 2010 estão associadas aos avanços tecnológi-
cos no processo de beneficiamento do minério. Estes avanços tornaram viável a redução de áreas
153
necessárias para a ampliação e implantação de novas barragens, bem como práticas para a redução
dos volumes de rejeitos a serem nelas dispostos.
O estudo, baseado em dados primários fornecidos pelas próprias empresas do setor em 2011, mos-
tra que houve um aumento do número de empresas que declararam possuir todas as práticas para
gestão de rejeitos e estéril em comparação com o ano de 1990.
Os resultados da pesquisa indicaram que mais de 50% das empresas desenvolveram e implantaram,
nos últimos anos, sistemas informatizados para o gerenciamento de barragens de rejeitos e depósi-
tos de estéril. Houve melhoria dos sistemas de controle das barragens. A pesquisa mostrou também
outros exemplos de boas práticas, como o reaproveitamento de águas de barragem de rejeitos e uso
de rejeitos e estéril para preenchimento de galerias em minas subterrâneas.
Entre as mudanças de gestão dos rejeitos gerados pelo beneficiamento de minérios e sua deposição
em barragens de rejeitos podem ser citados os seguintes exemplos.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A Mineração Caraíba adotou em 2010, em sua mina de cobre no município de Pilar (BA), a prática de
lançamento da polpa de rejeitos da flotação da planta de beneficiamento nas cavas a céu aberto. A
finalidade foi reduzir a deposição na barragem de rejeito existente e eliminar a implantação de nova
barragem. Além disso, os rejeitos dispostos nas cavas integram as ações do plano de recuperação da
mina como parte integrante do PRAD (PIGNATON, 2010). Passaram a ser feitos acompanhamentos
e monitoramentos da qualidade das águas subterrâneas e superficiais para controle dos parâmetros
físicos e químicos presentes nos rejeitos dispostos nas cavas.
Outro exemplo de disposição de rejeitos em cavas exauridas está na mina de Capão Xavier da MBR
(Minerações Brasileiras Reunidas S.A), em Minas Gerais, cuja disposição de rejeitos adensados (pastas
de rejeitos) gerados no beneficiamento do minério apresenta vantagens ambientais. Entre as van-
tagens, estão a maior capacidade do reservatório da barragem, não saturação do dique, menores
riscos a jusante e melhores possibilidades de revegetação no fechamento da barragem (SILVA, 2005).
(Fonte: Vale)
154
Aproveitamento Agrícola de Rejeitos
No caso específico de minas cujos rejeitos do beneficiamento do minério apresentem potencial para
aproveitamento em outros usos como, por exemplo, no aproveitamento agrícola, existem iniciativas
nas quais os rejeitos do processo de beneficiamento da planta de zinco, que antes correspondiam
ao pó de calcário industrial, e que passaram a ser destinados como corretivo do pH de solos para
atender as necessidades do mercado agrícola regional.
Os resultados de tal iniciativa reduzem novas áreas ou ampliações de barragens ou lagoas de rejeitos
gerados pelo processo de beneficiamento do minério. Contribuem, dessa forma, para diminuir os
potenciais efeitos ambientais e sociais desencadeados por estas estruturas de deposição de rejeitos.
É o caso da mina de Morro Agudo, em Paracatu, MG, onde um circuito de flotação trata o minério
sulfetado de zinco e chumbo, gerando rejeitos com alta concentração de calcita. Em 2007, a Voto-
Melhorias nas instalações de tratamento de minério possibilitaram ainda maior recuperação de metal
juntamente com o reprocessamento de rejeito armazenado em barragens, denominado de pó calcá-
rio industrial. Resultou disso um rejeito comercializável, chamado de pó calcário agrícola, denomina-
ção de amplo uso no mercado.
Da produção anual de 880 mil toneladas de rejeito – agora coproduto – a Votorantim Metais comer-
cializou 550 mil toneladas em 2011, obtendo receita de cerca de R$ 7 milhões. A iniciativa evitou
a construção de uma nova barragem de rejeitos, a um custo estimado de mais de R$ 20 milhões.
O reprocessamento do pó calcário industrial, adicionado à moagem de minério, possibilitará a elimi-
nação do estoque desse antigo rejeito.
155
Figura 7- Vista das instalações de flotação, onde inovações incrementais
foram necessárias para melhor controle de qualidade.
Fontes: Votorantim Metais, Brasil Mineral nº 318 (junho de 2012) e DNPM, Sumário Mineral 2012.
Vale ressaltar a técnica conhecida como rochagem, em que o pó de rocha é usado diretamente no
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
solo como insumo agrícola alternativo. Este pó fornece nutrientes ao solo, como cálcio, fósforo,
magnésio e, principalmente, potássio.
Outra função dessas rochas é de serem condicionadores do solo - isto é, permitem que outros nu-
trientes e condições do solo sejam mais equilibrados e que os nutrientes estejam disponíveis confor-
me a demanda da cultura.
Apesar dos recentes estudos e projetos de algumas empresas de mineração sobre a redução da ge-
ração de rejeitos não corresponderem a uma ação direta na gestão de barragens de rejeitos, tal ini-
ciativa tem o grande potencial de contribuir em redução significativa dos volumes de rejeitos a serem
dispostos nas barragens. Um exemplo de projeto de redução da geração de rejeitos é o da usina de
beneficiamento Conceição em Itabira (MG), da Vale (MINERIOS e MINERALES, s/d), com resultados
elevados de redução do percentual de transbordo dos rejeitos na barragem, aumento de reserva de
água na barragem, o que é de alta relevância devido ao fato da barragem estar inserida na área ur-
bana de Itabira e ser fonte de água para esta.
Os resultados podem ser aplicados em outras usinas de concentração de minério, não só da Vale,
como das demais empresas de mineração, disseminando-se pelo país.
Recuperação de Rejeitos
Outras técnicas que contribuem para a boa gestão de barragens de rejeitos são empreendimentos de
recuperação de rejeitos de barragem que se transformam em novos projetos de mineração.
A indústria da mineração vem ampliando largamente o aproveitamento dos rejeitos para outros usos
econômicos.
É o caso do Projeto Sambaíba, da empresa SAMA S.A. Minerações Associadas. A partir do aproveita-
mento da rocha estéril da mineração do crisotila, a empresa desenvolve material para ser trabalhado
e transformado em peças ornamentais, utilitárias e artesanais.
Outra forma de aproveitamento que vem ganhando espaço tem ocorrido no setor de rochas orna-
mentais. O segmento se caracteriza por grandes volumes de perda de material, tanto na extração
quanto no beneficiamento. Estudos mostram que já existem várias alternativas tecnológicas, não só
156
para o tratamento desses resíduos, como para seu aproveitamento industrial, como nas indústrias
da cerâmica, do vidro, da construção civil, metalúrgica, química, na agricultura e no artesanato, na
confecção de pavimentos e tijolos, entre outros.
Nas práticas de gestão em depósitos de estéril, verifica-se que, assim como nos projetos de barragens
de rejeitos, os requisitos legais e normativos estabelecidos a partir de 2000 contribuíram para a ado-
ção de critérios técnicos de segurança e de prevenção de riscos e de impactos ambientais.
Assim, desde 2010 os projetos e as práticas de operação de depósitos ou pilhas de estéril vêm incor-
porando critérios geotécnicos de prevenção e controle destes depósitos, bem como da recuperação
na fase de fechamento.
A redução dos depósitos de estéril também vem sendo realizada como prática de utilização de parte
do estéril na recuperação de voçorocas e preenchimento de cavas exauridas.
É importante destacar a distinção entre as tipologias de minérios metálicos e não metálicos, nos quais
a geração de rejeitos e estéreis não são equivalentes. A mineração dos não metálicos é potencialmen-
te geradora de estéreis. Os rejeitos de não metálicos são gerados na transformação mineral, que se
notabiliza por ser a sequência da cadeia produtiva da mineração.
157
Desafios do Setor Mineral quanto aos resíduos sólidos
A eficiência no uso dos recursos e o desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento de resí-
duos são estratégicos para o setor mineral.
Existe a necessidade de projetos de P&D&I relacionados com o ciclo de vida dos resíduos, tanto para
a redução da sua geração como para a identificação de novos usos dos resíduos. É necessário es-
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
São outros desafios da indústria da mineração a capacitação técnica de mão-de-obra na gestão dos
resíduos e o levantamento e gerenciamento de dados e as destinações adequadas. O aproveitamen-
to, por exemplo, de minas exauridas, cujas cavas podem ser utilizadas para destinação de resíduos da
construção civil e urbanos, é uma solução tecnológica interessante para a destinação final adequada
dos resíduos gerados pela sociedade.
Além disso, a definição de diretrizes, estratégias e metas dos Planos de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos da Mineração constitui uma importante variável no planejamento estratégico dos resíduos.
Deve ser dada atenção especial à dificuldade em se distinguir o que é resíduo de mineração, de trans-
formação mineral e industrial e ainda à diferença entre os resíduos gerados na indústria da mineração
e os resíduos sólidos urbanos.
Tendências
O futuro da gestão de resíduos sólidos na mineração contempla a necessidade de um olhar sistêmico
sobre todo o processo da mineração, desde sua concepção, ainda na fase da pesquisa mineral, até
o seu fechamento. Em resumo, o papel da indústria da mineração no desenvolvimento sustentável
passa pela eficiência no uso dos recursos, pelo aproveitamento, reprocessamento, reciclagem, desti-
nação e/ou disposição final ambientalmente adequada dos seus resíduos.
Este novo olhar não pode prescindir de inovação e competitividade para uma produção mais limpa
e recuperação energética e econômica dos resíduos. Além, é claro, de todo o controle da qualidade
ambiental que garantirá a conservação da qualidade das águas e da biodiversidade. Neste tocante, a
tendência do setor de mineração é a seguinte:
• Ecodesign das minas, visando maior aproveitamento dos recursos minerais extraídos;
158
• Utilização de resíduos em outras áreas de atividades econômicas;
• Novas técnicas de disposição adequada, diminuindo a necessidade de grandes áreas para disposi-
ção dos resíduos, como, por exemplo, a técnica de espessamento de rejeitos, denominada pasta.
Perspectivas
O setor mineral vive hoje um novo paradigma. A constante busca por eficiência no uso de recursos,
e por consequência, na geração de resíduos, e a necessidade de ampliação da competitividade da
indústria da mineração vem modificando as estruturas corporativas das empresas, criando novas
formas de relacionamentos com os atores envolvidos. Os incentivos à inovação e ao desenvolvimento
científico-tecnológico e à disseminação de práticas sustentáveis nos processos produtivos e nas ca-
deias de suprimento têm sido estratégicos para a transição a meios mais sustentáveis de produção,
No que concerne à gestão de resíduos sólidos da mineração, o entendimento de sua relevância de-
verá nortear a visão estratégica de que este assunto pode e deve conjugar um rol de oportunidades
de negócios sistêmicos, com uma nova perspectiva de atuação dos empreendimentos nos territórios
e consequentemente na sociedade em geral.
Neste sentido, o IBRAM vem fomentando a sustentabilidade como prática habitual do setor, enten-
dendo o papel da mineração como transformadora dos padrões de qualidade de vida da sociedade.
Esta transformação se dá a partir das boas práticas desenvolvidas dentro das próprias empresas,
como também de ações que promovam a geração de benefícios, incremento de renda e a melhoria
da vida das comunidades relacionadas, direta e indiretamente, com as atividades da mineração.
O Instituto entende que é por meio de um processo coletivo de ações, harmonizadas com o meio am-
biente e concatenadas com objetivo de consolidar o desenvolvimento sustentável com inclusão social,
que será possível alcançar o padrão de crescimento almejado pela sociedade brasileira, hoje e no futuro.
CRÉDITOS
Cláudia Salles
Gerente de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração
159
FNBF
FNBF - INOVAÇÕES
E TENDÊNCIAS PARA
A SUSTENTABILIDADE
DO SETOR FLORESTAL
1. Contextualização do setor
Com vasta diversidade biológica, o Brasil possui, o maior território e o mais vasto número de espé-
cies de madeira tropical do mundo. Com tamanha riqueza, as florestas tropicais representam hoje
mais de 50% do território brasileiro e um potencial produtivo ainda inestimado. O uso das flo-
restas e a exploração da madeira, por meio do manejo sustentável, tem contribuído significativa-
mente para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico e para a conservação do bioma amazônico.
Neste sentido, o Fórum Nacional de Atividades de Base Florestal (FNBF) tem trabalhado sistemati-
camente no processamento dos dados do setor florestal a fim de desvendar o verdadeiro potencial
econômico das florestas e o quanto as atividades produtivas são essenciais para a geração de rique-
zas no país e para a manutenção da vida do maior bioma do planeta. Em seu último estudo, o FNBF
A cadeia produtiva do setor brasileiro de base florestal caracteriza-se pela grande diversidade de pro-
dutos. As florestas em geral (plantadas e nativas) fornecem ampla gama de produtos madeireiros e
não madeireiros. Além disso, os recursos florestais do setor produtivo fornecem uma série de serviços
sociais e ambientais, que incluem a reabilitação de terras degradadas, o combate à desertificação e
sequestro e armazenamento de carbono.
De acordo com ABRAF (2013), em 2011 o Brasil possuía 519,5 milhões de hectares com florestas
nativas. Em 2012, a área com florestas plantadas no Brasil somava 7,2 milhões de hectares, com
eucalipto, pinus e outras espécies. Além disso, o setor de base florestal contribui com 66% a mais
de sua área total com áreas protegidas, sob a forma de Áreas de Preservação Permanente (APPs),
Reservas Legais (RL) Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).
Em 2012, o valor bruto da produção (VBP) do setor de floresta plantada somou BRL 56,3 bilhões,
4,6% superior a 2011. Os tributos arrecadados atingiram BRL 7,6 bilhões (0,5% do total nacional).
O saldo da balança comercial da indústria de base florestal (USD 5,5 bilhões), representou 28,1%
do superávit da balança comercial nacional. No âmbito social, as atividades da cadeia produtiva do
setor contribuíram em, 2012, na geração de 4,4 milhões de empregos e investimentos de BRL 149,0
milhões em programas sociais, de educação e do meio ambiente.
Conforme Siqueira e Wiecheteck (2014), o Brasil em 2012 se situou como o 1º produtor mundial
de carvão vegetal (6.843.000 m³), o 2º maior em madeira serrada de folhosas tropicais (16.110.000
m³), o 3º maior em celulose (14.401.000 t) e o 4º maior produtor de madeira em tora industriais
(154.894.000 m³). O país também possui relevância relativa na produção de compensado e lamina-
do, com 2.800.000 m³ (8ª posição), madeira serrada de pinus, com 9,1 milhões m³ (9ª posição), MDF
e MDP com total de 6.938.407 m³, e papel com 10.171.000 t em 2012 (11ª posição).
163
2. Contextualização do setor no tema Resíduos Sólidos
A atividade florestal no Brasil é geradora de resíduos de madeira (ver figura 1). Estima-se (MMA
2012) um total de 85.574.465 m³/ano de resíduo florestal em duas etapas da cadeia produtiva da
madeira (colheita e processamento mecânico), não sendo contabilizada a geração na indústria de
transformação. O estudo indicava que os resíduos das indústrias de papel e celulose totalizaram na-
quele ano 10.916.640 t/ano.
164
Figura 1 – Cadeia Produtiva do Setor Florestal Brasileiro e Principais Tipos
de Resíduos Sólidos Gerados
MDF,
Aglomerados, Mobiliário,
Mourões,
Base Postes, Construção Resíduos de
Florestal Madeira Cruzetas, Civil, Madeira
Tratada Pilares, Infraestrutura Tratada
Cercas, Muros,
Dormentes
Produtos
Florestais Não - Construção
Siderurgia a Ferro Gusa, Civil, Indústria Resíduos de
Madeireiros Carvão Ferro Ligas, Aço Siderurgia2
em Geral
(PFNM)
Lenha Consumo
Industrial, Industrial,
Energia N.A.3
Biomassa, Termelétricas,
Pellets Doméstico
Resíduos
Florestais Resíduos de
Potencial Poda e de
Outros (Rurais e Energético
Urbanos) Colheita
Os resíduos de madeira do processamento industrial não utilizados, entretanto, podem deixar de ser
um passivo ambiental, ao se tornarem matéria-prima para diversos fins, incluindo o uso energético,
e gerar lucro para a iniciativa privada. Um panorama dos diferentes usos de resíduos de madeira no
Brasil são mostrados a seguir, por segmento industrial (Wiecheteck, 2009):
i. Resíduos na Indústria Madeireira (Serraria e Compensado): uma parte é destinada à produção de PMVA
(Produtos de Maior Valor Agregado) tais como carvão, cabos, briquete, embalagem, etc. A maravalha
tem sido utilizada no processo de criação intensiva de frangos, na forma de cama de aviário.
ii. Resíduos na Indústria de Celulose e Papel: esta indústria e a de painéis de madeira possuem bom geren-
ciamento no aproveitamento de resíduos. Como este segmento é dependente de energia no processo
165
industrial, parte dos resíduos são utilizados como biomassa na cogeração de energia. Empresas deste
segmento também aproveitam o lodo orgânico da indústria na compostagem utilizada como adubo;
iii. Resíduos na Indústria de Painéis de Madeira: por não ser muito demandante de energia, o seg-
mento pode consumir madeireiros como matéria prima para os seus produtos de fibra de madeira
(MDP, MDF, OSB e chapas duras);
iv. Resíduos na Indústria Moveleira: a indústria moveleira se concentra em polos nas regiões Sul e Su-
deste, onde existem mercados produtores e consumidores em consolidação em torno dos resíduos
de madeira gerados.
Também os resíduos urbanos merecem uma abordagem diferenciada, já que os mesmos compõem
o passivo ambiental nos grandes centros urbanos. Entre estes destacam-se:
i. Resíduos da Construção Civil: neste segmento é comum não haver segregação da madeira dos
outros resíduos sólidos e seu destino final é via de regra o aterro sanitário. Em alguns aterros, há
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
ii. Resíduos de Arborização Urbana e Municipal: os resíduos da poda de arborização urbana e remo-
ção de árvores em um município podem gerar graves problemas urbanos se não aproveitados,
via de regra sendo descartados em locais impróprios, como aterros sanitários/lixões clandestinos;
O município de Curitiba (PR) apresenta um dos melhores modelos de utilização da madeira de arbo-
rização urbana do Brasil. Nas vias públicas da cidade estão plantadas cerca de 300 mil árvores. Como
resultado, o volume gerado de resíduos vegetais é elevado. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(SMMA) conta com três departamentos envolvidos na geração e destino de resíduos vegetais. Em
2009, os resíduos de madeira mensalmente coletados pela SMMA era de 2.800 t/mês. Do total, cerca
de 800 t/mês seguiam para compostagem, e o restante (cerca de 2.000 t/mês) para empresa produ-
tora de cavacos, destinando-se ao segmento de celulose e papel da região. Parte do resíduo lenhoso
(toras) era usado como lenha e em olarias regionais (Wiecheteck, 2009).
Antes do advento da termelétrica, a empresa não tinha opção para eliminar de maneira sustentável os
resíduos de madeira gerados no processo de produção da serraria. A produção de energia elétrica soma
9 MW, equivalente a 64.000 MWh/ano, que atende a demanda industrial da própria indústria madeirei-
ra e da população de Itacoatiara através de contrato com a distribuidora local de energia (Tuoto, 2009).
166
3.2. Tecnologias Utilizadas para Gestão de Resíduos
As principais tecnologias utilizadas no aproveitamento e na transformação de resíduos sólidos de
madeira pelo setor florestal são apresentadas a seguir, não implicando em uma ampla revisão sobre
todas as tecnologias disponíveis.
As tecnologias disponíveis e mais utilizadas no Brasil para geração de energia elétrica e de cogeração
a partir de biomassa madeireira podem ser classificadas como de combustão direta e indireta (Siquei-
ra, Ferreira e Lange Jr; 2005).
Combustão Direta
ii. Turbina de Contrapressão: utilizada em centrais de cogeração que permitem produzir energia elé-
trica e energia térmica (vapor).
iii. Turbina de Extração: utilizadas em instalações onde se requer, além de geração de energia, tam-
bém vapor para o processo industrial.
iv. Motor Alternativo (a Vapor): através de gerador, a energia mecânica é convertida em elétrica; sis-
tema usado em unidades de pequena capacidade.
Combina a operação simultânea de turbinas a vapor com as turbinas a gás obtido por meio de
gaseificação do combustível. A energia térmica contida nos gases quentes exauridos pela turbina a
gás é utilizada em uma caldeira para produzir vapor. Este vapor é então utilizado em uma turbina de
condensação para gerar energia adicional.
Dada a relevância da utilização de produtos de madeira com fins energéticos no país, percebe-se
nos últimos anos a entrada de novos produtos energéticos (briquetes, péletes) que utilizam resíduos.
Estes são compostos basicamente pela trituração e compactação de resíduos florestais e de biomassa
resultante do processamento de madeira. Países europeus são os principais importadores atuais destes
produtos. Segundo o ITC (2014), o comércio global dos mesmos movimentou USD 2,4 bilhões em
2013, frente a USD 695 milhões em 2005, com tendência de aumento nos próximos anos.
Novas tecnologias de resíduos têm sido aplicadas pelo segmento de painéis reconstituídos de ma-
deira, onde se utiliza partículas de madeira (na produção de MDP/Aglomerado) e fibras de madeira
(MDF e chapa dura). No Brasil, sua produção tem crescido nos últimos anos. O uso de resíduos de
madeira neste segmento é alternativa à possível falta de matéria-prima florestal (tora), às expectativas
de investimento e ao aumento da capacidade.
Deve-se considerar também o potencial uso de resíduo de madeira (toras descartadas, costaneiras sem
casca, etc.) pelo setor de celulose e papel, a partir da sua transformação em cavacos em processos
167
termo mecânicos e químicos. Apesar deste potencial, poucas empresas fazem uso desta opção, em
parte pela exigência da qualidade da matéria prima, bem como por questões logísticas e econômicas.
Na indústria de celulose e papel ocorre a geração de um resíduo em forma líquida com alto teor de
sólidos em suspensão. O efluente líquido é submetido a um tratamento que tem por objetivo a remo-
ção de sólidos. Após isso, os sólidos decantados passam por desaguamento, gerando lodo primário
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O lodo primário tem como destino final mais empregado o aterro sanitário. Esta destinação, embora
ambientalmente aceita, é pouco sustentável e onerosa. Por isso, as indústrias de papel e celulose
estão buscando alternativas para sua utilização como matéria-prima na construção civil (tijolos, fri-
brocimento) e agricultura (adubo orgânico).
As embalagens longa vida são fabricadas com papel cartonado, constituído 75% de papel cartão ou
papelão e 25% alumínio e plástico, podendo haver outras combinações. Esse tipo de embalagem
representava, no início, grande preocupação ambiental, pois apesar de se separar o papelão, as ca-
madas de plástico e alumínio permaneciam unidas. Assim, foi desenvolvida no Brasil a “Tecnologia
a Plasma” para reciclagem de embalagens cartonadas, que permite a separação total dos materiais.
Essa tecnologia foi desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo (IPT) e as em-
presas TSL Ambiental e Tetra Pak Ltda. A mesma está sendo aplicada por empresa especializada que
reaproveita os materiais de embalagens longa vida (Castanho et.al., 2006).
Como resultado, mais de 71 mil t de embalagens longa vida foram recicladas em 2013 no país.
Atualmente, este índice é limitado pela ausência de um número maior de programas de coleta seleti-
va no país, parte fundamental do processo de recuperação e aproveitamento destes tipos de resíduos
(Tetra Pak, 2014).
1 Embalagens cartonadas feitas de papel (cartão), plástico (polietileno de baixa densidade) e alumínio.
168
No caso de resíduos de madeira da construção civil e outros do meio urbano (ex.: embalagem de ma-
deira), as principais barreiras tecnológicas ao seu aproveitamento têm estreita relação com sua descon-
taminação (ex.: metais, plásticos, etc.). As tecnologias envolvendo remoção de contaminantes são rela-
tivamente simples e bastante difundidas em países desenvolvidos, porém pouco empregadas no Brasil.
Não obstante, não é do conhecimento da maioria das empresas que os subsídios da CCC/CDE es-
tão acessíveis e que se referem à substituição do consumo de combustíveis fósseis por combustíveis
Um dos grandes desafios, que permeia não só o setor florestal como outros, é a implantação e o
monitoramento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei Federal nº 12.305/10.
Exemplos incluem os conceitos trazidos pela lei como os de “gestão integrada”, “responsabilidade
compartilhada” e “logística reversa”, bem como a elaboração, implementação e monitoramento
dos Planos Estaduais e Municipais por tais entes da federação e do Plano de Gerenciamento pelos
geradores de resíduos, já que o êxito dos mesmos envolve diversos atores.
Enquanto a elaboração dos Planos Estaduais e Municipais é condição para que estes tenham acesso
a recursos da União para políticas dessa natureza, os Planos de Gerenciamento são obrigatórios para
geradores de resíduos, incluindo indústrias em geral, empresas de construção civil e responsáveis por
algumas atividades agrossilvopastoris.
Integração das Políticas de Resíduos Sólidos com Outras Políticas e Instrumentos Existentes
A gestão adequada dos resíduos do setor florestal passa por um mapeamento adequado de suas
cadeias produtivas, que considere os diversos atores, elos e processos produtivos de cada segmento.
Para isso, deve-se considerar a complexidade das cadeias do setor; área de abrangência; perfis de
produtores; setores consumidores; dificuldades, limitações e soluções apontadas por ator; obriga-
ções/ responsabilidades; causas do não atendimento à legislação; entre outros.
169
Havendo comprometimento de cada ator (através de acordos) pode-se efetuar um planejamento
setorial adequado, em nível nacional, estadual e/ou local, o que é de grande relevância em termos de
atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
É essencial que as empresas geradoras de resíduos no setor florestal se organizem para se adequarem
a exigências legais e diretrizes e ações decorrentes dos acordos setoriais e das suas cadeias produ-
tivas. Também é fundamental maior comprometimento e planejamento pelas empresas, a fim de
melhor se estruturarem quanto a controles internos da disposição final ambientalmente adequada
de resíduos. Isto passa pela ampliação das negociações formais, pelo controle e incentivo sobre seus
fornecedores e consumidores, e pela fiscalização de todo o seu processo produtivo.
5. Visão de futuro
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O crescimento do setor florestal nos últimos anos indica que a geração de resíduos sólidos pelo setor
florestal continuará aumentando e seu manejo, tratamento e disposição devem ser adequados, já
que as atividades florestais e seus processos produtivos dependem prioritariamente de recursos na-
turais para existirem.
Em síntese, a informação e o conhecimento da cadeia produtiva e dos resíduos por ela gerados, a
organização dos atores público e privado, o estabelecimento de incentivos adequados via políticas
públicas orientadas ao perfil do setor e a implementação destas iniciativas são os principais fatores
para o aumento no tratamento e na disposição dos resíduos sólidos gerados pelo setor.
No setor florestal, ao mesmo tempo em que há oportunidades não exploradas na utilização de resí-
duos sólidos, também existem desafios técnicos, econômicos, burocráticos e legais que inviabilizam
seu maior aproveitamento. Fatores como tecnologia, logística, incentivos econômicos, informação e
localização geográfica das fontes destes resíduos vis-à-vis os locais de sua utilização interferem direta-
mente nesta viabilidade e necessitam ser devidamente estudados. Somente assim, com conhecimen-
to mais aprofundado sobre as oportunidades e a ameaças relacionados ao uso de resíduos sólidos
pelo setor florestal, será possível atingir o propósito de seu maior aproveitamento.
170
6. Propostas
A seguir apresentam-se algumas propostas (agenda positiva) para melhoria em gestão, tratamento e
disposição de resíduos sólidos nas empresas e no pós-consumo associados ao setor florestal:
ii. Maior Sinergia Institucional e Integração entre as Políticas Existentes: necessária na medida em
que a maioria das políticas atuais relacionadas com o tema são conduzidas pelo MMA e MME de
forma isolada, não havendo integração entre as mesmas.
171
7. Referências
ABRAF (2013). Anuário Estatístico da ABRAF 2013 – Ano Base 2012. Associação Brasileira dos
Produtores de Florestas Plantadas. Brasília, 2013.
ITC (2014). Trade Map. International Trade Centre (ITC). Disponível em: http://www.trademap.org/.
2014.
MMA (2012). Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Dis-
ponível em: http://www.sinir.gov.br/documents/10180/12308/PNRS_Revisao_Decreto_280812.pdf/
e183f0e7-5255-4544-b9fd-15fc779a3657. Brasília, 2012.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
STCP (2014). Banco de Dados. STCP Engenharia de Projetos. Disponível em: http://www.stcp.com.
br/. 2014.
Siqueira e Wiecheteck (2014). Panorama da Indústria de Base Florestal no País. Joésio D.P. Si-
queira, Marcelo Wiecheteck. STCP Engenharia de Projetos. Guia Técnico Referência 2014.
CRÉDITOS
Geraldo Bento
Presidente
172
FNS
FNS - GESTÃO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS
NA AGROINDÚSTRIA
CANAVIEIRA
O Fórum Nacional Sucroenergético (FNS) congrega as entidades de classe do setor produtor indus-
trial de açúcar, etanol e bioeletricidade, representando nacionalmente os interesses da indústria
sucroenergética. Tem a participação de todos os estados produtores, atuando na defesa dos inte-
resses da produção e dos segmentos de mercado destes produtos, buscando as políticas adequadas
para o seu crescimento sustentável e uma integração com os interesses da sociedade.
Fonte: UNICA, ALCOPAR, BIOSUL, SIAMIG, SINDALCOOL, SIFAEG, SINDAAF, SUDES e MAPA.
Nota: safra 2013/2014 - dados consolidados (finais) para a região Centro-Sul; dados preliminares para a região Norte-Nordeste (referente
à posição de 30 de abril de 2014).
São números que fazem do Brasil o maior produtor de açúcar e o segundo maior produtor de etanol
do mundo, atingidos com um parque agroindustrial de cerca de 400 unidades produtoras.
175
O setor e os resíduos sólidos
A indústria canavieira apresenta, na sua cadeia produtiva, etapas de processo que, se não adequa-
damente gerenciadas, podem desencadear no meio ambiente impactos indesejáveis, principalmente
os associados ao solo e à água.
O processo de tomada de decisão para uma gestão ambiental eficaz não representa tão somente a
necessidade de conformidade legal da atividade industrial, mas também a demonstração de respon-
sabilidade social do setor produtivo. Além disso, o setor sucroenergético tem importante atuação
no mercado internacional e um número crescente de países vem exigindo certificação ambiental de
produtos, processos e serviços. Como se vê, a competitividade exige, de forma cada vez mais pre-
sente, a reavaliação dos processos produtivos e a adoção de práticas de produção mais limpas, que
aperfeiçoem os usos dos recursos naturais.
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
No ano em que a Lei de Resíduos (Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos - PNRS) entra em pleno vigor, com a eliminação dos lixões, é importante alinhar algumas
definições pertinentes ao setor:
• Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas pro-
priedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou no-
vos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do
SISNAMA e, se couber, do SNVS e do SUASA (item XIV).
• Reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica,
física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos compe-
tentes do SISNAMA e, se couber, do SNVS e do SUASA (item XVIII).
• Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recu-
peração por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade senão a disposição final ambientalmente adequada.
• Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em
sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para
isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (item XVI).
Observa-se, a partir destas definições legais, que o setor pratica a reutilização dos resíduos sólidos
quando os utiliza “in-natura” na lavoura como biofertilizantes ou na indústria, na produção de bio-
eletricidade. A reciclagem dos resíduos é praticada quando são utilizados após mistura, homogenei-
zação e secagem nos pátios de mistura ou até tratamento.
Não há praticamente interface direta com o consumidor final. Os produtos finais são comercializados
a granel. Algumas usinas com refinaria lidam com embalagens plásticas ou papel de sacos de açúcar,
tema de pós consumo, não tratado aqui. Os resíduos sólidos gerados pelo setor são:
• Palha ou palhiço da cana: originada na colheita da cana sem queimar em uma quantidade apro-
ximada de 0,14 t MS/t cana. Trata-se de um resíduo não perigoso e não inerte (classe II-A, segundo
a ABNT). Atualmente, parte é mantida no campo como cobertura do solo, e parte é recolhida
juntamente com a cana, compondo-se com o bagaço na moenda. Há pesquisas para um maior
recolhimento da palha e seu melhor aproveitamento energético na cogeração de bioeletricidade e
produção de etanol celulósico, entre outras possibilidades, como se verá adiante.
176
• Bagaço: longe de ser um resíduo, trata-se de um verdadeiro insumo na produção canavieira.
A fibra da cana (bagaço) vai fornecer a energia necessária para a extração da sacarose a ser
processada. Há um balanço quase perfeito entre teor de fibra da cana e teor de sacarose para que
o processo se desenvolva com viabilidade econômica. O bagaço é produzido na quantidade apro-
ximada de 0,25 t/t cana e é composto pelas fibras e impurezas com um teor de 50% de umidade.
Pode ser classificado como resíduo não perigoso não inerte (classe II-A da ABNT) e é reutilizado
integralmente nas caldeiras para a produção de vapor e bioeletricidade para autoconsumo e venda.
Há um forte mercado de bagaço para fins energéticos de indústrias de outros setores, notadamen-
te a cítrica. Existe empenho em cada vez mais otimizar seu uso na cogeração de energia.
• Cinzas: resíduo proveniente das caldeiras de queima do bagaço, na proporção aproximada de 2,0
kg MS/t cana, cuja classe é II-B (não perigoso – inerte). É composto de areia e cinzas, sendo reutili-
zado como fertilizante na lavoura, conjuntamente com a torta, para o aproveitamento do potássio.
• Fuligem: resíduo originado no sistema de tratamento das emissões atmosféricas das caldeiras, princi-
palmente lavadores de gases da chaminé, numa proporção de aproximadamente 12,0 kg/t cana, com
umidade de 70 a 80%. Trata-se de resíduo não perigoso não inerte (classe II-A), que é igualmente reutili-
zado na lavoura de cana para aproveitamento do potássio, conjuntamente ou não com a torta.
• Terra da limpeza de cana: resíduo retirado sob a mesa de alimentação da cana para a esteira,
podendo ser arrastado via seca (correia transportadora) ou via úmida (corrente de água). Trata-se
da terra trazida juntamente com a cana, pela colheita mecânica ou mesmo pelo carregamento me-
cânico da cana. São as chamadas impurezas minerais. Sua produção é bem variada, dependendo
de épocas de chuva, nas quais sua concentração é maior, pois fica mais impregnada aos colmos,
podendo-se estimar de 15 a 30 kg MS/t cana. É um resíduo classe II-B (não perigoso e inerte), nesse
caso um rejeito, pois sua disposição final é feita em áreas para acertos de terrenos ou espalhada
no campo (podendo espalhar semente de ervas daninhas). Não há reutilização, mas tão somente
devolução da terra ao seu local de origem, o campo.
• Lixo comum: resíduo originado da varredura de pisos e pátios, classe II-A (não perigoso não
inerte), composto por materiais diversos, como terra, bagacilho, pedaço de cana pisado, poda de
jardim e outros. Normalmente é acondicionado em caçambas e enviado a aterros de resíduos não
perigosos (municipais ou particulares).
177
• Lixo de ambulatório: são recolhidos separadamente e enviados para disposição conjunta com os
da cidade (incineração ou autoclavagem), por se tratarem de resíduos perigosos (classe I).
• Lodo de fossas: resíduo classe II-A (não perigoso – não inerte), é recolhido por caminhão limpa-
-fossa e enviado a ETE’s municipais. Sua geração, estimada em 0,3 kg/pessoa dia, é esporádica e
resultante da limpeza de fossas.
• Embalagens de agrotóxico: resíduo classe I (perigoso), proveniente das embalagens dos agro-
tóxicos. São latas, vidros e plásticos. De há muito o setor prática a “tríplice lavagem”, inutilizando
e guardando as embalagens em depósitos cobertos para serem enviadas a centros de reciclagem
para reprocessamento. Nestes centros, os materiais são reciclados com segurança e enviados a
fábricas de vidros, acearia e de conduites flexíveis, no caso do plástico. As usinas têm também sis-
tema centralizado para o manuseio dos agrotóxicos, denominado “calda pronta”, no qual todo o
processo de preparo da calda com o agrotóxico e a tríplice lavagem é centralizado. Evita-se, assim,
o espalhamento das embalagens no campo, resultando em grande segurança no manuseio do
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
• Pneus inservíveis: são resíduos não perigosos inertes (classe II-B), armazenados convenientemen-
te e devolvidos aos fornecedores (logística reversa).
• Resíduos especiais: resíduos perigosos classe I, que possuem legislação própria (lâmpadas fluo-
rescentes, pilhas e baterias). São coletados seletivamente, armazenados e dispostos conforme a
lei. São recolhidos pelo fabricante ou enviados a centros de recuperação (do mercúrio no caso de
lâmpadas), pela logística reversa do fornecedor.
• Vinhaça: resíduo de consistência líquida, porém tratado como resíduo sólido, segundo a ABNT,
por não ter tratamento convencional que permita seu lançamento em corpos. Trata-se de resíduo
não perigoso – não inerte ( classe II-A), cujo volume é estimado em aproximadamente 12 L/L de
etanol produzido (com cerca de 3% de sólidos totais). É originado na etapa de destilação do etanol
e reutilizado na fertirrigação dos canaviais, devido aos macros e micros nutrientes, principalmente
potássio. Substitui com vantagens parte da adubação mineral.
Um bom gerenciamento de resíduos deve ser realizado conforme a ABNT NBR 10004, que os clas-
sifica, como já foi mencionado, em três categorias: classe I - perigoso; classe II - A, não perigoso e
não-inerte, e classe II – B, não perigoso e inerte. A nova legislação de resíduos deixa clara a prática
dos 3 Rs - reduzir, reutilizar e reciclar. No setor de açúcar, etanol e bioeletricidade, os resíduos, em sua
maioria, são reutilizados pelas suas características energética, como o bagaço da cana, ou agronômi-
cas, como a vinhaça, torta de filtro e cinzas de caldeiras. São poucos os resíduos rejeitados.
Como já foi visto, a grande maioria dos resíduos sólidos das usinas é enquadrada como não perigosa.
A Figura 2 apresenta a distribuição final dos RS do setor. Observa-se que 80% dos resíduos gerados
são prontamente reutilizáveis no setor (uso energético e uso agronômico). Uma porcentagem de
178
20% é rejeitada, em sua maior parte a palha, que tem grande potencial de utilização na produção de
etanol de segunda geração, mas ainda é deixada no campo, e a terra de limpeza de cana, que deve
ser cada vez mais objeto de redução, tendo em vista a melhoria da matéria prima.
0,2%
3,0% 1,2%
16,1% RS Perigosos
Outros (estimativa)
0,2%
19,5%
Reuso Energético
Reuso Agronômico
Reciclo
Rejeito
24,9% 55,3%
179
Boas práticas
1. Produção de bioeletricidade
Utilizado diretamente nas caldeiras de combustão, o bagaço é a fonte energética essencial para o pro-
cessamento dos produtos canavieiros (açúcar e etanol), aliado a uma produção excedente de bioeletri-
cidade disponibilizada na rede elétrica. Toda a energia necessária para a fabricação de açúcar e etanol
é proveniente da queima do bagaço em caldeiras, o que se considera como aproveitamento de um
resíduo. Ele gera vapor para a produção de energia térmica (calor), para o processo de energia mecâ-
nica na movimentação de equipamentos (turbo bombas e de turbinas para geradores de eletricidade).
e 2/3 de biomassa, formada por palha, ponteiro e bagaço. Do caldo já se fabrica o açúcar e o etanol.
O restante representa um potencial de matéria-prima que começa a ser explorado, muito embora a
maior parte do bagaço já seja utilizada no próprio processamento industrial.
Os resíduos orgânicos canavieiros possuem um grande potencial de produção de biogás pelo proces-
so anaeróbio de biodigestão. De há muito a vinhaça é objeto de tentativas na produção de biogás.
Não tem ainda, contudo, viabilidade econômica, pelas baixas tarifas de bioeletricidade pagas ao se-
tor. Em 2010, o custo de produção de bioeletricidade da vinhaça foi estimado em R$ 200,00/MWh a
R$ 350,00/MWh (ELIA NETO, 2014), não sendo competitivo com o valor de mercado para contratos
de médio e longo prazos até então, na ordem de R$ 100,00 a R$ 140,00/MWh.
Em 2014, por conta do “stress hídrico” no Sudeste, os preços da bioeletricidade serão mais atraentes,
o que, aliado a incentivos governamentais, poderá viabilizar projetos de biogás da vinhaça e de outros
resíduos, como torta, palha e bagaço. O potencial de produção energética a partir dos RS canavieiros é
mostrado na Figura 3 e foi obtido com base em outros RS similares (GIZ, 2010 e ELIA NETO et al., 2009).
São estimados 83,2 bilhões de m3 de biogás com aproximadamente 50 a 60% de metano quando
se consideram todos os resíduos do setor, podendo-se gerar 167,84 TWh por ano na combustão com
moto geradores a biogás, o que representa 32% da atual Matriz de Consumo Elétrico. Saliente-se
que boa parte destes resíduos (44% representado pelo bagaço) já tem seu potencial energético usa-
do na cogeração da bioeletricidade. Resta aproveitar, no entanto, 56% do potencial representado
180
pelos demais resíduos, principalmente da vinhaça e da torta, que poderiam agregar mais 10 TWh de
bioeletricidade (cerca de 2% a mais na Matriz Elétrica), conforme é ilustrado na Figura 4.
4%
3%
Palha/palhiço
Bagaço
Torta
Vinhaça
181
Figura 4 – Potencial de geração de bioeletricidade da combustão em moto geradores
Potencial de Geração de Bioeletricidade a partir do Biogás
a biogás dos resíduos sólidos do setor canavieiro
dos Resíduos Sólidos do Setor Canavieiro
6,33TWh;
3,70TWh; 4%
3%
Palha/palhiço
Bagaço
Torta
Vinhaça
69,15TWh;
61,74TWh;
49%
44%
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Potencial de Geração de
Bioeletricidade da Biodigestão de RS =
167,84 TWh ano
Todo este biogás alternativamente pode virar biometano com sua purificação, atingindo um potencial
de 50 bilhões de m3 de biometano (base safra 2013/2014). Segundo BEN (2014), a produção de gás
natural em 2013 foi de 77 milhões de m3 por dia (28,1 bilhões de m3 por ano). O potencial de pro-
dução dos RS canavieiros representa, portanto, quase o dobro da produção nacional de gás natural.
Considerando-se apenas os resíduos ainda sem exploração energética, como vinhaça, torta e palha,
o potencial de geração de biometano é de 23,6 bilhões de m3 (84% da produção nacional de GN).
Somente a vinhaça já possui um grande potencial de geração, como mostrado na Figura 5. Na rota 1
de bioeletricidade pode-se incrementar mais 1,1% de energia na Matriz Elétrica, enquanto que na rota
2 de produção de biometano pode-se atingir um patamar de 6.4% a mais na disponibilidade de GN.
182
Figura 5 – Rotas potenciais de produção de bioeletricidade e biometano
da biodigestão da vinhaça – base 2013
Trata-se de um aproveitamento não concorrente com a produção energética. Pode-se explorar o po-
tencial energético dos RS e ainda se terá o potencial como fertilizante. Este aproveitamento agrícola
já é realizado pela reutilização dos RS “in natura” - vinhaça, torta, cinzas e fuligens - na substituição
de adubo mineral NPK. FARONI et all (2010) estima que a utilização destes resíduos em 2010 substi-
tuiu 1,4 milhão de toneladas de NPK, que se fossem reutilizados nas dosagens recomendadas equiva-
leria a uma economia de adubo de 45% de nitrogênio, 77% de fosfato e 88% de potássio.Calcula-se
uma redução de aproximadamente 50% nos custos de adubação da cana de açúcar, estimados hoje
em R$ 5 bilhões por ano.
Parte destes resíduos é reciclada - ou seja, processada em pátio de mistura onde passa pelo processo
de homogeneização e secagem - para diminuir os custos de transportes para a lavoura, conforme é
ilustrado na Figura 6.
183
Figura 6 – Misturador de resíduos do setor canavieiro (foto: CTC)
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
4. Etanol celulósico
Outra linha de aproveitamento dos resíduos é a produção de etanol celulósico a partir do bagaço e
palha. O recolhimento da palha (Figura 7) representa um grande potencial de biomassa ainda não intei-
ramente explorado, que, somado ao bagaço excedente do setor, pode servir de fonte primária para a
produção sem a concorrência com a atual cogeração de bioeletricidade do etanol de 2ª geração.
É uma inovação tecnológica na qual o setor vem investindo, com plantas pilotos em escala comerciais
no Brasil e no mundo, considerando várias fontes de resíduos agrícolas. Uma tonelada de RS (bagaço
184
e palha) base seca pode gerar aproximadamente 450 litros de etanol celulósico (pentose e hexose),
ou seja, uma tonelada de cana tem o potencial de gerar mais 57 litros de etanol celulósico a partir do
seu bagaço intrínseco. Isto representa um aumento de produtividade da ordem de 30% a 40% de
etanol sem aumento de área de cultivo. A esta nova produção a partir de um resíduo vem se somar
a produção de mais resíduos, como a nova vinhaça de 2ª geração, que também tem um grande po-
tencial de utilização energética pela sua biodigestão.
Desafios
Como se demonstrou, é intenso o reuso dos resíduos sólidos do setor canavieiro. O uso energético
do bagaço para o auto consumo e venda de bioeletricidade e o reuso dos resíduos agrícolas tornam
a produção sucroalcooleira a mais sustentável do mundo. Os desafios ainda são grandes, pois o atual
potencial de produção de bioeletricidade pela cogeração com o bagaço ainda não está sendo con-
O grande desafio é explorar ainda mais o potencial energético dos resíduos orgânicos, tendo em vista
que não se perderá o seu reuso agrícola. É perfeitamente viável ampliar significativamente a produ-
ção de energia mais limpa tanto para uso próprio da usina, com o biometano na frota, ou para venda
a terceiros, com injeção de biometano na rede de gás.
Devem ser priorizadas as inovações tecnológicas de redução dos resíduos para uso agrícola, como
a vinhaça, para que seu manejo seja cada vez mais sustentável ambiental e economicamente. Resta
explorar todo o potencial energético da vinhaça.
Exemplo dignificante de sustentabilidade, o setor canavieiro tem amplas condições de aumentar ain-
da mais sua inestimável contribuição à preservação ambiental e à produção de energia limpa.
185
Referências
GIZ - Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH Guia Prático do Biogás - Ge-
ração e Utilização. Probiogás Projeto Brasil Alemanha de Fomento ao Aproveitamento Energético do
Biogás. 5ª edição, Gülzow, 2010.
ELIA NETO, A.; SHINTAKU, A.; PIO, A.A.B.; CONDE, A.J.; FRANCESCO, F.; & DONZELLI, J.L. Manual de
Conservação e Reúso de Água na Agroindústria Sucroenergética. Coordenação Técnica: André
Elia Neto, Publicado por: ANA – Agencia Nacional de Águas; FIESP – Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo, UNICA – União da Indústria da Cana-de-Açúcar; e CTC – Centro de Tecnologia Canavieira,
Brasília, 2009.
ELIA NETO, A. Biogás a partir de Vinhaça. 2ª. Conferência Biogás e Bioeletricidade 2014, Realização:
Página Sustentável, São Paulo, SP, 28 e 29/04/2014
FARONI, C.E.; DONZELLI, J.L.; PENATTI, C.P.; FORTI, J.A.; SILVA, P.C. Subprodutos Agroindustriais na
Nutrição da Cana-de-açúcar- Safra 09/10. Relatório Técnico de P&D. Centro de Tecnologia Canavieira,
Piracicaba, SP, 2010, 70p.
SOUZA, Z. de, Bioelectricity Overview - Clean Technology Seminar-CNI. Brasília, April1, 2014
UNICA UNIÃO DA INDÚSTRIA DA CANA DE AÇÚCAR Banco de Dados UNICADATA. Site HYPERLINK
“http://www.unicadata.com.br” www.unicadata.com.br, acessado em 11 de junho de 2014.
CRÉDITOS
Os principais resultados desses estudos apresentam evolução da oferta para 17.094,6 milhões de
toneladas Equivalentes de Petróleo (tEP), em 2030, em taxa anual média de crescimento de 1,5%
O consumo energético mundial terá crescimento com taxas anuais médias no patamar de 2%. No Brasil,
, onde a oferta de energias renováveis já representa mais de 45% do total, em virtude da consolidação
de políticas de agroenergia e hidroeletricidade, a taxa anual de crescimento do consumo será de 2,8%.
Previsões sobre o crescimento da economia mundial apontam, até o ano de 2035, que o PIB crescerá
a uma taxa de 3,2% a.a., passando de US$ 63,13 trilhões em 2007 para US$ 153,66 trilhões em
2035, ou seja, o tamanho do mercado mundial aumentará em 243,40%. Sem dúvida, esse cresci-
mento terá um relevante papel no aumento da demanda de energia, pela sua vital importância para
o desenvolvimento de qualquer sistema econômico.
Nos últimos anos, o mundo tem dado cada vez maior importância aos riscos e incertezas da degra-
dação ambiental. O uso de energia mais limpa e renovável tornou-se estratégico para o desenvolvi-
mento sustentável.
Ao contrário da presença majoritária das fontes não renováveis de energia na matriz mundial, a ma-
triz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo, com forte presença de fontes renováveis
de energia. Enquanto no Brasil a energia renovável tem exatos 46,70% de participação, no resto do
mundo (aí incluídos os países ricos) esse percentual não passa de 13% e 8%, respectivamente. Pelo
lado das emissões, enquanto o país emite 1,4 tonelada de dióxido de carbono (tCO2) por tonelada
equivalente de petróleo (tEP), no restante do mundo este indicador é de 2,4 tCO2/tEP. Em alguns
países com forte presença de fontes fósseis (óleo, gás e carvão mineral) em suas matrizes energéticas,
esse indicador passa de 3 tCO2/tEP.
Dado que o Brasil continuará na liderança da produção mundial de energias renováveis nas próximas
duas décadas, a sua matriz eletroenergética poderá inspirar outros países com suas experiências
bem-sucedidas, inclusive em áreas em foco por iniciativas da ONU, pelos seguintes fatos e resultados:
(a) O país vem cumprindo os compromissos assumidos na Conferência das Nações Unidas sobre De-
senvolvimento Sustentável (Rio +20), assegurando, entre outras ações estratégicas, uma matriz
limpa, incremento da eficiência energética e universalização do acesso à energia elétrica - atu-
almente, 99,5% da população brasileira possui energia elétrica em suas residências. No final
de 2013, o Programa Luz para Todos já havia atingido a marca de 15 milhões de beneficiados,
gerando emprego e renda e contribuindo para a permanência dos brasileiros no campo.
(b) A economia energética brasileira pode ser considerada de baixo carbono, pois 46% de sua matriz
energética provem de fontes renováveis, entre elas a hidrelétrica e a biomassa. Por sua vez, na
matriz elétrica, este número ultrapassa os 80%.
189
(c) O planejamento energético nacional prevê que a participação de fontes renováveis na capacidade
instalada de geração elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) crescerá 2% nos próximos dez
anos, passando de 83,8% em 2012 para 85,8% em 2022. Esse aumento se deve, em especial, ao
crescimento do parque eólico do país, que saltará de 1,5% no final de 2012 para 9,5% em 2022.
A capacidade instalada das usinas eólicas, hoje em torno de 1,8 mil megawatts (MW), subirá para
17,4 mil MW no decênio.
(d) O investimento no setor elétrico, até 2022, será de R$ 269 bilhões, dos quais 77% destinados à
geração e 23% à transmissão.
(e) As decisões estratégicas, tomadas pelo Brasil, durante a crise mundial do petróleo na década de
1970, possibilitaram ao país ter, hoje, sua matriz eletroenergética em destaque internacional.
O país é exemplo de como explorar o potencial hidroelétrico, implantar um sistema de transmis-
são de grande extensão, desenvolver conhecimento e tecnologia nacional e implementar um
programa de biocombustível – etanol de cana-de-açúcar. Graças a isso, dispomos hoje de uma
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
capacidade instalada de 128 mil MW, produzindo mais de 80% de sua energia por meio de fon-
tes renováveis, bem como de um sistema de transmissão de alta tensão com 117 mil quilômetros
de extensão, cuja gestão é realizada dentro de critérios de sustentabilidade e segurança.
A grande questão que vem se tornando cada vez mais evidente é se o Brasil estará preparado para
atender à demanda futura de energia, diante da pressão sobre a maior produção desse insumo pelas
indústrias nos próximos anos. Ao mesmo tempo, o consumo de energia das famílias aumentará por
conta do crescimento da população e, principalmente, da renda. Para que a produção de energia
não seja o ponto de estrangulamento do crescimento econômico, será preciso definir com clareza
no setor as metas de investimento para a produção de energia, bem como o papel estratégico que
desempenhará no crescimento econômico nacional.
Considerando que a produção de energia deverá se ampliar na medida em que cresça a economia
brasileira, sua indisponibilidade pode produzir efeitos econômicos severos. Assim, diversos estudos
que utilizam modelos insumo-produto híbridos vêm sendo desenvolvidos no país para definir a dis-
ponibilidade e o uso setorial de energia com suas implicações ambientais.
Um dos desafios do Brasil para as próximas décadas é a infraestrutura. Em menos de dez anos, o
país criou 14 milhões de empregos. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), “a
infraestrutura é ainda um dos principais desafios para o Brasil”. Apesar de investir 2,5% do PIB no
setor, isso não é suficiente, segundo o BID.
Ainda há dúvidas quanto às medidas que o governo federal pode vir a tomar para equacionar um
eventual descompasso entre a oferta e o consumo de energia. Tampouco, há cálculos sobre qual seria
a dimensão de uma potencial necessidade de redução do consumo de eletricidade.
190
O cenário brasileiro apresenta crescente demanda por energia elétrica, de forma que são ine-
vitáveis investimentos no setor em novos projetos e tecnologias eficientes. Com isso, se evita
a ocorrência de riscos sistêmicos, assegura-se a continuidade da prestação do serviço público e
consagra-se a segurança jurídica dos contratos. Os investimentos ampliam a inovação tecnológica,
essencial para assegurar ganhos de produtividade e competitividade de produtos e serviços e o
desenvolvimento sustentável.
Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) de junho/2014 mostra que 80% dos investimen-
tos em energia na Europa, nos últimos 10 anos, foram aplicados em fontes renováveis, 60% dos
quais só para energia eólica e solar fotovoltaica. Independentemente dos problemas de suprimento,
o aproveitamento de energias renováveis com eficiência é uma questão de segurança energética e
Por outro lado, é necessário desenvolver a geração térmica para dar segurança energética a um sis-
tema renovável de geração de energia. Com isso, desenvolvem-se as fontes energéticas disponíveis
no Brasil (carvão, gás e nuclear), aquecendo a economia e a geração de emprego. Cada real aplicado
em geração térmica a carvão é multiplicado por 3,68 reais na economia.
A utilização de energia solar, fonte limpa, sustentável e econômica, apresenta diversas possibilidades.
Entre elas a utilização de usinas fotovoltaicas de larga escala, a geração distribuída, produtos e soluções
personalizados para uso em usinas de energia solar térmica, incluindo campos solares, blocos de ener-
gia e componentes essenciais para geração solar (produtos solares orgânicos, refrigeração solar, etc).
A biomassa também é uma importante alternativa. Esta fonte é produzida por meio de toda matéria
orgânica não fóssil, de origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produção de calor, seja para
fins térmico industrial, para geração de eletricidade e/ou que pode ser transformada em outras formas
de energias sólidas (carvão vegetal, briquetes), líquidas (etanol, biodiesel) e gasosas (biogás de lixo).
Na modalidade hidráulica, outra alternativa de fontes renováveis está nas pequenas centrais hidre-
létricas (PCHs), que já demonstraram ser excelente fonte de energia limpa com baixo custo final,
podendo estar localizadas junto aos centros de carga. Assinale-se ainda que o caráter descentralizado
da geração hidrelétrica assegura redução do custo de transmissão e segurança energética.
Por fim, há a energia eólica, que, no Brasil, tem experimentado impressionante desenvolvimento e, assim
como as outras fontes de geração de energia, deve continuar a ser incentivada. No Brasil, os ventos apre-
sentam uma produtividade média de 42%, bem superior à produtividade na Europa, de 25%.
No Brasil, em média, o megawatt-hora (MWh) gerado pelos ventos foi contratado por R$ 129,97 no
leilão realizado em junho último pela Agência Nacional de Energia Elétrica ( ANEEL), valor 30% mais
baixo do que os R$ 184,65 alcançados no primeiro leilão, em 2009.
191
Os resíduos sólidos do SEB (Sistema Elétrico Brasileiro)
A condição da matriz elétrica brasileira, na qual a fonte hídrica é responsável por cerca de 80% da
geração, retrata o baixo índice de geração de resíduos sólidos. O aproveitamento dos recursos ener-
géticos renováveis, como solar, eólico, PCH e bioenergia, não implicam geração direta de resíduos.
A geração nuclear e a geração termelétrica a carvão mineral são os principais segmentos de geração
de resíduos no setor elétrico nacional, mas têm vantagens para a economia e a sociedade.
a) Nas termelétricas
O Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, instalado em Santa Catarina, por exemplo, produz cerca de
um milhão de toneladas de cinzas de carvão mineral por ano. A grande vantagem comparativa é que
toda esta quantidade de resíduos é utilizada como insumo nos processos industriais para fabricação
de cimento, substituindo o calcário e podendo representar cerca de 30% da composição do cimento
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Pozolâmico, elementos construtivos de alvenaria e telhas, entre outros. Essas cinzas são classificadas
em cinzas leves (fly ash – cinzas secas) e cinzas pesadas (bottom ash – cinzas úmidas) e cerca de
100% são utilizadas na produção do cimento. Aquelas não comercializadas retornam para as áreas
de mineração.
Um dos fatores que contribui para tornar a indústria cimenteira brasileira uma das mais eficientes do
mundo em relação às emissões de gases de efeito estufa é o chamado coprocessamento, no qual se
utilizam, entre outros insumos, areias de fundição e cinzas, que substituem o combustível e o calcário
na fabricação do cimento.
O clínquer é um insumo muito mais poluente e danoso ao meio-ambiente. Seu processo de produção
gera emissões significativas de CO2, uma vez que se baseia na transformação do composto químico
CaCO3 em CaO, sendo o CO2 o gás resultante desse processo de transformação emitido para a
atmosfera. Dessa forma, com a utilização das cinzas em substituição ao clínquer, há uma redução
nas emissões totais de CO2 da cadeia, alcançando valores de uma tonelada de CO2 reduzido por
tonelada de cinza utilizada na fabricação de cimento.
A indústria nuclear é uma das poucas atividades com interferência humana que tem capacidade para
controlar totalmente os rejeitos que produz. Devido às características do material radioativo, a Eletro-
brás Eletronuclear armazena e controla em tempo integral os rejeitos das usinas de Angra, no Rio de
Janeiro.
192
Os resíduos são classificados pelo seu teor de radioatividade. Nas usinas de Angra, os rejeitos clas-
sificados como de baixa radioatividade são materiais utilizados na operação das usinas, como luvas,
sapatilhas, roupas especiais, equipamentos e até fitas crepes. Depois de coletados e separados, estes
materiais sofrem um processo de descontaminação para reduzir os níveis de radioatividade. Alguns
materiais são triturados e prensados, para ocuparem menos espaço, e acondicionados em recipientes
que bloqueiam a passagem dessa radiação.
Os rejeitos radioativos ficam em depósitos, dentro da área da Central Nuclear Almirante Álvaro Alber-
to (CNAAA), em Itaorna, até que a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) escolha um local
para armazená-los definitivamente, assim como outros materiais radioativos usados pela indústria ou
pela medicina.
Em 2009, foram geradas 971,24 toneladas de resíduos na central nuclear, das quais 87% encami-
nhados para reciclagem e outros 9% utilizados em outros processos. Cada tipo de material requer
um tratamento específico. As pilhas e baterias seguem para uma empresa que recupera os sais me-
tálicos para usá-los como pigmento em tintas e corantes industriais.
Outros resíduos, como solventes, borras de tinta, resinas de troca iônica, carvão ativado e placas de
isolamento térmico, são aproveitados na indústria de cimento. Os materiais que têm poder calorífico
(por conter carbono) são triturados e misturados, formando um composto que alimenta os fornos no
qual é produzido o cimento. Já os materiais que têm outros componentes, como cálcio e ferro, são
incorporados ao calcário e à argila do próprio cimento.
193
Retornando à cadeia produtiva
O SEB, assim como todas as atividades econômicas, gera diversos resíduos em suas atividades de
operação e manutenção. Parte dos resíduos é reincorporada à cadeia produtiva, e outros, devido às
características de periculosidade, inflamabilidade, corrosividade ou patogenicidade, têm destinação
feita por tecnologias apropriadas.
Entre os resíduos comumente gerados pelas concessionárias de energia, destacam-se os óleos mine-
rais isolantes (OMI), utilizados como fluido isolante em equipamentos elétricos.
O SEB dedica especial atenção aos resíduos ,como por exemplo, os óleos minerais contaminados
com Bifenilas Policloradas (PCBs). Participa efetivamente das ações de governo para atendimento à
Convenção de Estocolmo e, também, na definição e detalhamento da regulamentação em execução
pelo governo, com o apoio da Associação Brasileira de Entidades de Meio Ambiente ( ABEMA).
VISÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA SOBRE A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Por ser um tema extremamente relevante, a gestão de resíduos é objeto dos Indicadores Ethos da Associação
Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica ( ABRADEE), aplicável ao setor de distribuição de energia.
A Convenção de Estocolmo (CE), promulgada pelo Brasil por meio do decreto 5.472, de 20/06/2005,
estabelece o banimento internacional do PCB, além de outros 11 POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes).
Segundo a CE, as partes signatárias devem envidar esforços para banir os PCBs até 2028, seja na
forma de resíduos ou equipamentos que os contenham.
Além da Convenção de Estocolmo, está tramitando no Congresso Nacional o projeto de lei 1075,
de 2011, que dispõe sobre a eliminação controlada das Bifenilas Policloradas e dos seus resíduos.
Encontra-se também em discussão na Câmara Técnica de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos
( CTQAGR), do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, proposta de resolução para re-
gulamentação do inventário PCB e gestão sustentável para sua eliminação. O SEB está engajado na
discussão das duas normas, atuando por meio das entidades de classe, em parceria com o Ministério
de Minas e Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL.
Para os PCBs, existem basicamente duas possíveis destinações finais: descontaminação ou incineração.
A descontaminação ocorre através de uma reação com sódio metálico, na qual as moléculas de PCB são
descloradas, tornando o óleo isento de PCB. A vantagem desta tecnologia em relação à incineração é
que as perdas de óleo são pouco significativas, enquanto na incineração há perda total do óleo.
Um dos pontos problemáticos na gestão de PCB é a existência de poucas empresas licenciadas para
sua destinação final. Apenas duas promovem a incineração no Brasil (há uma terceira que exporta os
resíduos para a Finlândia), e outras três realizam a descontaminação. Todas elas estão situadas próxi-
194
mas à costa, acarretando dificuldades de entrega principalmente para concessionárias de energia do
Norte e Centro-Oeste.
O SEB está preocupado se as empresas atualmente existentes conseguirão suprir a demanda gerada
dentro dos prazos estabelecidos na Convenção de Estocolmo. Outro aspecto importante é a reali-
zação de ensaios para identificar se há ou não contaminação no OMI por PCB, com a necessidade
de metodologia, capacitação e creditação de laboratórios. Atualmente, poucas concessionárias e
indústrias possuem laboratório próprio, dependendo de novos recursos, que implicam custos para a
contratação de serviços ambientais junto a laboratórios externos.
A gestão dos PCBs divide-se, resumidamente, como já foi mencionado, em duas etapas: inventário e
gerenciamento da destinação final sustentável.
Outra experiência de destinação correta de resíduos no setor de energia elétrica que está dando certo, como
já foi citado, é o uso das cinzas, leves e pesadas, na fabricação do cimento Pozolâmico, que pode utilizar
de 15 a 50% de cinzas, substituindo outros minerais, como argilas, calcários, areias. Se considerarmos que
o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda produz cerca de um milhão de toneladas de cinzas por ano e esse
material é adicionado ao cimento na proporção de 30%, estaremos deixando de minerar essa quantidade
de matéria prima para produção de cimento ou aumentar a produção num patamar de 15 a 50%.
Outro dado importante são as emissões de GEE. Enquanto a média mundial de emissão de CO2
chega a 900 kg por tonelada de cimento, no Brasil esse número cai para 600 kg. Isso só é possível
graças ao uso de cinzas, escórias de fundição, gesso e resíduos combustíveis no coprocessamento.
Além da produção de cimento, há outros usos das cinzas, como bloquetes, pavers, concreto, sub-
-base de asfalto. No site Habitare há alguns exemplos do uso de cinzas na construção civil: http://
www.habitare.org.br/pdf/relatorios/15.pdf
Desafios
O principal gargalo do SEB na gestão dos PCBs é inventariar todos os equipamentos, como um censo.
São cerca de 5 milhões de equipamentos somente no setor de distribuição de energia elétrica.
A adoção dos testes screening (colorimétricos) e dos potenciométricos (medida indireta de PCB através do
teor de cloro, utilizando eletrodo específico) ajuda a superar este gargalo. Mas há a necessidade de que
estes métodos sejam devidamente normatizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O SEB considera que este gargalo será superado apenas se forem aceitas pela regulamentação
CONAMA, em elaboração, a classificação dos equipamentos pela análise estatística, utilizando o
conceito de grupos de risco, sem necessidade de realizar análise censitária de todos eles.
195
Há necessidade de um maior envolvimento da ANEEL, já que todas as operações devem ser autori-
zadas pelo órgão regulador.
Outro ponto de destaque são os custos envolvidos para a eliminação dos PCBs. O SEB estima que,
apenas para a realização de análise em todos os equipamentos de distribuição, os custos sejam da
ordem de R$ 7 bilhões, caso os métodos estatísticos e os testes semiquantitativos não sejam valida-
dos pela legislação em estudo. Ressalte-se que estes valores não consideram os custos com armaze-
nagem, transporte e destinação final dos resíduos e equipamentos.
O desafio do SEB e da indústria em geral será o de viabilizar recursos junto ao governo para o aten-
dimento da Convenção de Estocolmo sem onerar a tarifa das distribuidoras e sem comprometer a
sustentabilidade financeira das concessionárias, de modo a evitar desequilíbrio econômico-financeiro
nos contratos de concessão.
O SEB é apontado como o grande detentor de PCB, mas faltam dados objetivos que comprovem esta
afirmação. Há o risco, por isso, de ser imputado majoritariamente ao setor elétrico a responsabilidade
pela eliminação deste resíduo químico no país.
Cabe ao Governo Federal estimular a pesquisa de novas tecnologias para tratamento de resíduos de PCB,
que possam ser implementadas no curto prazo, a partir da realização do inventário de PCB em 2015.
Visão de futuro
Algumas inovações tecnológicas surgidas ao longo dos anos apresentaram impactos danosos ao
meio ambiente e à vida das pessoas, como, por exemplo, o descarte de pilhas e baterias e o uso
intensivo de combustível fóssil. A utilização e o descarte desses produtos têm gerado impactos tanto
na natureza (flora e fauna) como na saúde humana. Nesse sentido, as inovações tecnológicas têm
requerido análises criteriosas antes de serem lançadas no mercado.
Novas tecnologias estão sendo desenvolvidas em ritmo cada vez mais acelerado, o que certamente
levará os países a buscarem a cooperação para gerar conhecimento suficiente visando equacionar as
demandas associadas ao reaproveitamento de resíduos.
196
emissão de gases causadores do efeito estufa e de geração de resíduos, bem como na diminuição
dos gastos das empresas com energia, água e outros insumos.
Quanto à logística envolvida na fase de gerenciamento de PCB, cabe ao SEB e à indústria em geral
avaliar a possibilidade de serem criados centros de armazenagem. Com os centros, ganha-se escala,
Cabe ao governo estimular a pesquisa de novas tecnologias para tratamento de resíduos de PCB,
que possam ser implementadas no curto prazo, a partir da realização do inventário de PCB em 2015.
Propostas
O SEB está engajado no atendimento à Convenção de Estocolmo dentro dos prazos determinados
para a destinação final de resíduos PCB. Desta forma, são necessárias algumas ações para garantir
que os objetivos sejam alcançados até 2028.
A primeira delas é a continuidade dos trabalhos articulados junto ao CONAMA e à Câmara dos Depu-
tados pela aprovação de legislação coerente com a realidade do setor e que viabilize o apoio à ação
empresarial para a destinação final dos resíduos de PCB.
O SEB irá elaborar o Guia de Gestão de PCB, a ser publicado pelo Ministério de Meio Ambiente
(MMA) Necessário se faz, igualmente, a implementação do Plano de Atendimento às Emergências,
para os casos de derramamento de PCBs, visando a atender a toda a indústria nacional.
A realização de inventário piloto pelo MMA, conforme proposto pelo SEB e aprovado pelo PNUD GEF,
é fundamental para se avaliar a aplicabilidade da metodologia e estimar os custos e prazos setoriais
para atendimento da Convenção de Estocolmo, sob pena de se ter uma legislação federal desconec-
tada da realidade brasileira.
197
CRÉDITOS
198
ANEXO B
ANEXO B
Resumo das Iniciativas
globais à Governança
de Resíduos nas
Organizações
Introdução
Estabelecido no ano 2000 para fomentar o desenvolvimento da reciclagem no Reino Unido e para
criar um mercado para materiais reciclados. Focado na premissa de que resíduos são na verdade
recursos úteis, e que o desperdício de recursos não faz sentido econômico ou ambiental, o Setor
Público do Reino Unido criou, na última década, estratégias que ajudam a lidar com estas questões.
Nos anos recentes a WRAP mediou uma série de acordos setoriais voluntários, incluindo:
• Setor da construção – com mais de 700 companhias reduzindo pela metade seus resíduos até
2012;
• Setor Varejista – por meio do Compromisso de Courtauld, organizações que produzem alimentos
e bebidas trabalharam juntas para reduzir desperdícios em embalagem e processos produtivos;
• Setor de Vestuário – por meio do Plano de Ação do Vestuário Sustentável, reduzindo os impactos
ambientais da indústria por meio de design sustentável, reuso e reciclagem.
Encorajar melhor design e consumo mais informado para reduzir todas as formas de desperdícios
Promover a recuperação da maior parcela possível de valor presente nos resíduos coletados, seja
como recursos que podem ser reutilizados, seja como energia
A WRAP e a Zero Waste Alliance UK, uma organização sem fins lucrativos focada na reciclagem e
recuperação de resíduos, promovem o conceito de Design out Waste. Como outras iniciativas que
abordam o design na gestão integrada de resíduos, a proposta é fundamental para a adaptação e
evolução dos sistemas produtivos para além da lógica linear de processamento de recursos naturais
e descarte de resíduos.
No setor da Construção Civil a WRAP já oferece uma ferramenta de gestão que provê ferramentas para
projetistas analisar os impactos de seus designs em termos de resíduos e desperdícios, nos estágios ini-
201
ciais de elaboração. Chamada Designing out Waste Tool for Buindings (DoWT-B), a ferramenta ajuda a:
Uma iniciativa da Zero Waste Alliance UK, a Great Recovery é uma iniciativa que desafia a visão linear
ANEXO B Resumo das Iniciativas globais à Governança de Resíduos nas Organizações
de “obter-fazer-dispor” que gera grandes desafios ambientais e econômicos. O aumento nos custos
de materiais e os riscos inerentes a cadeias de suprimentos globais e complexas gera pressão para
mudança sobre os sistemas produtivos
É preciso mudar para uma lógica de circulação e reaproveitamento de recursos, e para isso o design é
fundamental. O foco nos sistemas completos, em lugar de componentes individuais ou produtos isolados,
com apoio de competências de especialistas em materiais, gestores de sistemas produtivos, comerciantes
e varejistas, consumidores, agentes do setor público, investidores e pesquisadores, trabalhando juntos.
Lançada em 2012, a Great Recovery investe em novas redes para explorar as questões, investigar
lacunas de inovação e incubar novas parcerias. Um programa de oficinas práticas e eventos apoiam a
nova competição liderada pelo Painel de Estratégia Tecnológica, que investe £1,25 milhão em design
e desenvolvimento de parcerias que repensam produtos, componentes e sistemas que “fecham o
ciclo” da economia circular.
Desenvolvido pela Zero Waste South Australia, a Wipe Out Waste é uma iniciativa de educação am-
biental que encoraja escolas a reduzir a geração de resíduos e a conscientizar os estudantes sobre
reciclagem e disposição de resíduos. É o primeiro programa educacional australiano a abranger todos
os níveis de educação infantil, do fundamental ao médio.
Segundo estimativas do programa, até metade dos resíduos de escolas do Sul da Austrália poderiam
ser compostados, reciclados ou reutilizados. A Wipe Out Waste oferece materiais didáticos multimí-
dia, com objetivo de reduzir a geração de resíduos nas escolas e fortalecer redes com o setor público,
a indústria e as escolas.
A Zero Waste South Australia conta com apoio do Departamento para Meio Ambiente e Recursos
Naturais do Governo do Sul da Austrália, da Unidade de Educação Ambiental de Victoria, e de profes-
sores de escolas de todo o Sul da Austrália, bem como de coordenadores de programas de resíduos
de escolas de todo país, que oferecem apoio e aconselhamento.
Waste Wise
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA na sigla em inglês) promove uma iniciativa
de redução de resíduos municipais e industriais e gestão sustentável de materiais chamada Waste
Wise. Organizações podem participar do Waste Wise como parceiro, apoiador ou ambos. Parceiros
demonstram como reduzem resíduos, protegem o meio ambiente e incorporam gestão sustentável
de materiais nos seus processos de gestão de resíduos. Apoiadores promovem a participação de
novas organizações no Waste Wise como parte de uma abordagem ampla que ajuda as partes inte-
ressadas a perceber os benefícios econômicos de redução de resíduos.
202
Lançado em 1994, o Waste Wise se tornou uma referência global em gestão ambiental e continua a
evoluir na busca pelo atendimento às necessidades ambientais futuras da sociedade.
Benefícios da participação:
A Waste Wise conta com sistema de informação próprio, que permite aos parceiros coletar, orga-
nizar, analisar e reportar suas informações sobre resíduos sólidos. Parceiros podem acessar a base
Entre os recursos que a Waste Wise disponibiliza para seus parceiros, destacam-se:
O Programa Nacional de Simbiose Industrial britânico foi desenvolvido em 2005 como um facilitador
independente para ajudar empresas de diferentes portes e setores a encontrar maneiras de usar
subprodutos de seus processos, buscando reduzir o descarte de resíduos e ao mesmo tempo gerar
receita, por meio de redução de custos de disposição e geração de oportunidades comerciais por
meio do compartilhamento de recursos, ativos e conhecimentos.
O NISP é baseado em regionais operando no Reino Unido, que coordenam a troca de materiais em
uma determinada área geográfica. A 12 regiões do Reino Unido possuem metas quantitativas e
todos os resultados são verificados por partes externas. Um executivo nacional supervisiona as ativi-
dades regionais, coordenando sinergias e mediando a troca de melhores práticas. As metodologias
adotadas pelas empresas são avaliadas caso a caso.
Resultados:
203
Programa Mineiro de Simbiose Industrial – PMSI
Desenvolvido no ano de 2009 pela FIEMG em parceria com a FEAM (Fundação Estadual de Meio
Ambiente) e com o CMRR (Centro Mineiro de Referência em Resíduos) o Programa Mineiro de Sim-
biose Industrial é a versão brasileira do britânico NISP (National Industrial Symbiosis Programme).
Atualmente coordenado pela FIEMG, o PMSI possui o objetivo de promover interações lucrativas
entre empresas de todos os setores da indústria.
Através do PMSI, pode-se alcançar uma redução significativa de custos (destinação final, transporte,
compra de matérias primas virgens), gerar novas vendas a mercados alternativos, melhorar o geren-
ciamento dos resíduos nas empresas e contribuir para a criação de uma economia ambientalmente
sustentável.
ANEXO B Resumo das Iniciativas globais à Governança de Resíduos nas Organizações
Os resultados, além de comprovarem a boa perspectiva do projeto, mostram que a simbiose in-
dustrial tem o potencial de reduzir significativamente os resíduos industriais e mitigar os impactos
ambientais adversos, enquanto as empresas lucram e desenvolvem novos mecanismos econômicos.
Abaixo, os resultados do PMSI (2009 a 2012), auditados por empresa britânica especializada:
204
ANEXO C
Anexo c- legislações
Estaduais e Municipais
sobre gestão de
resíduos sólidos
TEMA ESFERA ESTADO MUNICIPIO DOCUMENTO Nº ANO EMENTA
Dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos, nos termos do artigo 247, parágrafo 3º da
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL RS LEI 9921 1993
Constituição do Estado e dá outras providências.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL PE LEI 12008 2001 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL CE LEI 13103 2001 Dispõem sobre a Politica estadual de Residuos Sólidos e da outras providências
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL RJ LEI 4191 2003 Dispões sobre a política estadual de resíduos sólidos e dá outras providências.
209
ANEXO C- LEGISLAÇÕES ESTADUAIS E MUNICIPAIS SOBRE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
210
Dispõe sobre o descarte final de produtos potencialmente perigosos do resíduo urbano
REEE ESTADUAL PB LEI 7476 2003
que contenham metais pesados e dá outras providências.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL SP LEI 12300 2006 Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define princípios e diretrizes.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL RJ DECRETO 41084 2007 Regulamenta a Lei 4.191/2003 - Política Estadual de Resíduos Sólidos.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL ES LEI 9264 2009 Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências correlatas.
MUDANÇAS
FEDERAL LEI 12187 2009 Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras providências.
CLIMÁTICAS
MUDANÇAS
ESTADUAL SP LEI 13798 2009 Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas - PEMC
CLIMÁTICAS
211
ANEXO C- LEGISLAÇÕES ESTADUAIS E MUNICIPAIS SOBRE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
212
Dispõe sobre a obrigatoriedade de empresas produtoras, distribuidoras e vendedoras de
TIC´s ESTADUAL PE LEI 13908 2009 equipamentos de informática instaladas no Estado de Pernambuco, criarem e manterem
programa de recolhimento, reciclagem e destruição de equipamentos de informática.
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL SC LEI 14675 2009 Institui o Código Estadual do Meio Ambiente e estabelece outras providências.
RESÍSUOS SÓLIDOS ESTADUAL MG LEI 18301 2009 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL MG DECRETO 45181 2009 Regulamenta a Lei nº 18.031, de 12 de janeiro de 2009, e dá outras providências.
Regulamenta dispositivos da Lei n° 12.300 de 16 de março de 2006, que institui a Política
Estadual de Resíduos Sólidos, e altera o inciso I do artigo 74 do Regulamento da Lei n°
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL SP DECRETO 54645 2009
997, de 31 de maio de 1976, aprovado pelo Decreto n° 8.468, de 8 de setembro de
1976.
REEE MUNICIPAL RJ NITERÓI LEI 2759 2010 Dispõe sobre a coleta, reciclagem, tratamento e descarte final de lixo tecnológico.
REEE ESTADUAL MS LEI 3970 2010 Institui normas para reciclagem, gerenciamento e destinação final do lixo tecnológico.
Dispõe sobre gerenciamento e disposição final dos resíduos sólidos gerados em unidades
INSTRUÇÃO
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL GO 7 2011 de produção industrial, de bens e serviços, assim como os provenientes de atividades
NORMATIVA
minero industriais e aquelas definidas na Lei Federal nº 12.305/2010, no Estado de Goiás.
DELIBERAÇÃO
RESÍDUOS SÓLIDOS ESTADUAL MG 172 2011 Institui o Plano Estadual de Coleta Seletiva de Minas Gerais.
NORMATIVA
CELULARES ESTADUAL SP RESOLUÇÃO 11 2012 Trata dos programas de responsabilidade pósconsumo no setor da telefonia móvel celular.
213
ANEXO C- LEGISLAÇÕES ESTADUAIS E MUNICIPAIS SOBRE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
214
Dispõe sobre a coleta, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final de lixo
REEE MUNICIPAL AM MANAUS LEI 1705 2012
tecnológico no município de Manaus e dá outras providências.
Dispõe sobre a obrigatoriedade de empresas fabricantes, distribuidoras e vendedoras
REEE ESTADUAL AC LEI 2539 2012 de equipamentos eletrônicos, instaladas no Estado, criarem e manterem programa de
recolhimento e reciclagem, e dá outras providências.
REEE ESTADUAL ES LEI 9941 2012 Regulamenta o descarte de lixo tecnológico no Estado
Dá nova redação ao art. 2º, da Lei nº 16.075, de 01 de abril de 2009, passando a vigorar
com a seguinte redação:
CELULARES / PILHAS E “Art.2º (…)
ESTADUAL PR LEI 17073 2012
BATERIAS § 1º O serviço deve ser disponibilizado através de manutenção de um recipiente, em
local visível, no próprio estabelecimento, com a indicação de que é destinado a recolher
produtos que contenham metais pesados.
DESENVOLVIMENTO Institui a Estratégia para o Desenvolvimento Sustentável do Estado de São Paulo 2020, e
ESTADUAL SP DECRETO 58107 2012
SUSTENTÁVEL dá providências correlatas
CNI
Daniela Cestarollo
Priscila Maria Wanderley Pereira
Coordenação Editorial
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AMR Design
Adaptação de projeto gráfico e editoração
Instituições parceiras do Projeto Encontros CNI Sustentabilidade que colaboraram com esta publicação:
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
Associação Brasileira do Alumínio (Abal)
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (Fmase)
Fórum Nacional de Atividades de Base Florestal (FNBF)
Fórum Nacional Sucroenergético (FNS)
Instituto Aço Brasil (Aço Brasil)
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP)