Fraude Fiscal OA PDF
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PRECEDENTE DO CRIME DE
BRANQuEAMENTO DE CAPITAIS.
O “TEMPuS DELICTI” DO CRIME
DE FRAuDE FISCAL
(*)* Advogado.
208 LAuREANO GONÇALVES
(10) Direito Penal Fiscal e Evasão e Fraude Fiscais em Portugal, Porto: Vida Eco-
nómica, pp. 46-48.
214 LAuREANO GONÇALVES
n.º 1, als. b) e c), e 22.º, n.º 2, do RGIT, aprovado pela
Lei 15/2001, de 05.06 é punível...” De igual modo, não pode
haver evidente incomodidade, quando se confundem “papeis”,
com “exposições, memoriais e requerimentos”, expressões com
guarida no art. 98.º, n.º 1, do CPP. Como se disse, e nunca será de
mais repeti-lo, para lavagem de consciência e não de dinheiro, não
pode haver nenhum crime precedente, quando a situação fáctica
não configura nenhuma situação de Fraude Fiscal, subjacente ou
principal, estas duas últimas designações mais do agrado dos deci-
sores, pelo que, ao inexistir este, nunca pode haver crime de Bran-
queamento, para usarmos a terminologia acolhida no art. 368-A,
do Código Penal. Em situações como esta, nunca os arguidos
devem ser sujeitos a um mediático e cruel julgamento, e, muito
menos, condenados pelo Colectivo, dado que nesse momento, se
inexiste tal crime precedente, não pode haver condenação pelo
crime de Branqueamento.
Também se lamenta e com que sentir!...que soluções errácti-
cas dadas a questões como esta, ou seja, considerar o crime de
Branqueamento prescrito, quando ele inexiste, mesmo que favo-
ráveis aos arguidos, venham a prejudicar o conhecimento de todas
as demais questões suscitadas nos recursos destes. Talvez, assim,
se desnudasse, com toda a crueza, a fragilidade da argumentação,
quer de algumas acusações, quer de alguns dos acórdãos dos colec-
tivos.
Em consequência, não é, muitas vezes, o crime de Branquea-
mento que prescreve, pois não pode prescrever o que não existe, e
tal crime, se não houver o de Fraude Fiscal precedente, pura e sim-
plesmente não existe, o que em termos de consciência cívica deixa
outra tranquilidade aos arguidos que, nestas circunstâncias, nunca
devem ser constituídos como tal e muito menos julgados, dado que
no momento do julgamento o crime de branqueamento não existe,
por não haver crime precedente, (predicate offense), sendo esta a
conditio sine qua non para se poder configurar tal crime. Encaixa
aqui, como uma luva, uma frase lapidar do Professor COSTA
ANDRADE, em linguagem chã, mas nem por isso menos sábia e bri-
lhante, como é, aliás seu timbre, em PARECER oportunamente
emitido, “(…) assim como não se podem matar cabritos antes
O “TEMPuS DELICTI” DO CRIME DE FRAuDE FISCAL 215
das cabras os terem parido, não se pode lavar dinheiro sujo
antes de um crime anterior o ter produzido”.
Apesar de já não subsistirem grandes dúvidas, pese embora o
facto de ainda haver quem pense e escreva o contrário, por estar
ligada com a temática aqui abordada, adiantaremos as nossas con-
siderações sobre a seguinte questão: Quid iuris nos casos em que
os crimes de cuja prática resultaram os capitais, (v.g. Fraude Fis-
cal) foram cometidos antes de entrar em vigor a lei que veio a cri-
minalizar o branqueamento de capitais? Se, por exemplo, um
crime de fraude fiscal cometido em 2001, gerasse proventos que
eventualmente viessem a ser «branqueados» em Março de 2002,
seria punível o branqueamento destes capitais? é nossa fundada
convicção, bem ancorada em consagrados Penalistas como Jorge
de Figueiredo Dias, Manuel da Costa Andrade, Germano Marques
da Silva, Paulo Pinto de Albuquerque e Jorge Godinho, que a res-
posta terá de ser aberta e irrestritamente negativa. Isto apesar do
entendimento claramente minoritário e inconsistente de Vitalino
Canas, in “O Crime de Branqueamento: Regime de Prevenção e
Repressão”, Almedina, 2004, p.167 e Rui Gonçalves, in Fraude
Fiscal e Branqueamento de Capitais, Porto, 2008, a pág. 68, para
além de Jorge dos Reis Bravo, com justificação de maior valia, in
Revista SCIENTIA IuRIDICA, Outubro-Dezembro 2008 —
Tomo LVII, número 316, pp. 656/657.
Diga-se, a propósito, e no que ao punctum crucis respeita,
que tais autores, com excepção de Rui Gonçalves, que nada justifi-
cou, “beberam” o seu entendimento sobre os princípios da legali-
dade do Direito Penal e da irretroactividade da lei criminal, consti-
tucionalmente consagrados no art. 29.º, n.os 1 e 4, da CRP,
precisamente em JORGE GODINHO (11), citando-o, porém, sem expli-
car ou justificar a sua posição.
Desconheciam tais autores, por razões óbvias, que JORGE
GODINHO veio, entretanto, a clarificar a sua posição (12). Entendi-
a 399. Veja-se, também, o estudo do mesmo autor, publicado na Revista da Ordem dos
Advogados, ano 71.
(13) JORGE DE FIGuEIREDO DIAS, Direito Penal Geral, Tomo I, Questões Funda-
mentais. A doutrina geral do crime, 2.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 2007, p. 196.
(14) Comentário do Código Penal à luz da Constituição da República e da Con-
venção Europeia dos Direitos do Homem, 2.ª ed. universidade Católica Portuguesa, Lis-
boa, 2010, p. 956, nota 7.
(15) CLAuS ROxIN, Derecho Penal. Parte general, Tomo I. Fundamentos. La
estructura de la teoria del delito, Civitas, Madrid, 1997 (trad. Castelhana da 2.ª ed. alemã,
de 1994, por Luzón Peña, Garcia Conlledo e Vicente Remesal (reimp.2001), p. 163.
(16) GüNTER STRATENWERTH, Derecho penal. Parte general. I. El hecho punibel,
Thomson Civitas, Madrid, 2005 (trad. castelhana da 3.ª ed. alemã, de 2000, por Manuel
Cancio Meliá e Marcelo A. Sancinetti), pp. 71-72.