Transitividade No Príncipio Era o Verbo
Transitividade No Príncipio Era o Verbo
Transitividade No Príncipio Era o Verbo
TRANSITIVIDADE:
NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, MAS AGORA O FOCO É TODA A
SENTENÇA...
VITÓRIA
2015
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TRANSITIVIDADE:
NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, MAS AGORA O FOCO É TODA A
SENTENÇA...
VITÓRIA
2015
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5
Àqueles que, mesmo de longe, estiveram comigo durante toda essa jornada. Dedico esta
dissertação, especialmente, à Profa. Reni, que, com seu jeito, me fez optar e sonhar com o
curso de Letras, mesmo quando eu ainda estava no Ensino Médio.
6
AGRADECIMENTOS
Uma dissertação de mestrado não é feita apenas da leitura de muitos livros e artigos.
Na verdade, tão importante quanto a nossa dedicação são aquelas pessoas que, de perto ou de
longe, ficam sempre ao nosso lado para nos dar apoio e, às vezes, para nos impedir de perder
o foco. Embora muita gente tenha contribuído de alguma maneira para a conclusão do meu
mestrado, gostaria de dirigir algumas palavras àqueles que foram realmente decisivos para o
êxito desta etapa em minha vida.
Em primeiro lugar, agradeço imensamente à Profa. Lúcia Helena, minha orientadora,
pela confiança e liberdade em todas as etapas da pesquisa. Agradeço por todas as vezes em
que me ajudou, inclusive financeiramente, durante a graduação, quando enfrentei uma série de
problemas pessoais. Tê-la como orientadora nestes últimos 4 anos foi um presente de Deus
para mim!
Sou muito grato também à Profa. Edenize Ponzo Peres. Ela, com certeza, é mais uma
das muitas pessoas que Deus colocou em minha vida para me abençoar: além de ter sido a
minha primeira orientadora, me convidou para trabalhar, como estagiário, no Colegiado de
Letras-Português em 2010 e me abriu as portas de sua casa, onde fiquei por quase 2 anos. O
agradecimento é extensivo à Silvinha, que me acolheu de forma muito especial. A única da
casa que ainda não me aceita é a Kika, a cachorrinha de estimação da família. Mas fazer o
quê, não é?! Não se pode ter tudo na vida...
Lorrann e Luíza, muito obrigado pela amizade! As muitas vezes em que choramos de
rir e as incontáveis partidas que ganhei de vocês no vídeo-game (!) também foram muito
importantes para aliviar a tensão de estar concluindo o mestrado. As nossas viagens foram
inesquecíveis, especialmente aquela em que eu, Lorrann e Thiago ficamos procurando, num
pasto, cercados por bois e vacas muito bravos, uma planta que a Bianca queria... fotografar...
Bárbara e Pri, minhas melhores amigas do mestrado, obrigado por tudo! Com certeza,
enfrentar essa etapa foi uma tarefa muito mais prazerosa ao lado de vocês. De fato, somos a
prova de que, embora não seja fácil, fazer amizades no meio acadêmico é, sim, possível!
Agradeço também ao Prof. Gustavo e à Profa. Micheline, que, no Exame de
Qualificação, propuseram uma série de alterações à pesquisa e ao texto da dissertação, o que
contribuiu substancialmente para a melhoria do trabalho. Obrigado, também, pela participação
em minha defesa.
7
Para (quase) finalizar, agradeço ao Jares Lima, meu colega de curso, que leu boa parte
da dissertação e propôs muitas mudanças para melhorar o produto final. Assumo, contudo,
toda a responsabilidade pelos equívocos que eventualmente persistam no trabalho.
Para a Capes, o meu obrigado por minha bolsa de pesquisa, que viabilizou a realização
deste projeto.
8
RESUMO
ABSTRACT
Traditionally the transitivity is considered a property of some names and verbs. In general, the
lexemes that require the presence of an complement for integrate the sense of them, are
considered transitive. However, the transitivity is a more complex phenomenon than the
grammarians suggest. It is therefore necessary to analyze this phenomenon from other
perspectives, which are probably more appropriate. In this research, we defend the relevance
of analyzing the transitivity from a functionalist approach, more specifically from the
postulates of Hopper and Thompson (1980). These researchers believe that transitivity is
gradient and it involves the whole clause. Based on the analysis of a narrative text that was
produced during an interview by an informant to 7 years old, we confirm the hypothesis that
the speakers handle the transitivity system in order to reach their communicative intentions,
because the portions with high degree of transitivity are associated with the foreground, and
the portions that have low degree of transitivity are associated with the background. In
addition, based the study of 280 sentences produced by informants between 4 and 7 years old,
we show that the sentences with median transitivity are the most common in our corpus
(41%); in turn, the sentences with high transitivity and the sentences with low transitivity are
less recurrent (36 and 23%, respectively). These data, when compared with findings from
Hopper and Thompson (2001), suggest that the transitivity manifests itself in different ways
because of the particularities of the gender of discourse in question.
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................. 13
5 METODOLOGIA ....................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 66
13
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Transitividade: no princípio era o verbo, mas agora o foco é toda a sentença é uma
tentativa de sintetizar o modo como a Gramática Tradicional, o Formalismo (sobretudo, a
Teoria Gerativa) e uma vertente do Funcionalismo norte-americano abordam o fenômeno da
transitividade, sem, contudo, incorrer no erro de acreditar que essas abordagens constituam
modelos de análise monolíticos e homogêneos. Assim, parte-se de uma visão que preconiza a
transitividade como uma propriedade de certos nomes e verbos para se chegar a uma teoria
que a concebe como um complexo sintático-semântico escalar (não discreto), que envolve
toda a sentença. E isso justifica a escolha do título.
O trabalho organiza-se da seguinte maneira: no segundo capítulo, discutimos a
transitividade a partir da tradição gramatical. Para isso, foram consultados seis gramáticos de
referência, que se destacaram no processo de desenvolvimento dos estudos gramaticais em
nosso país. Além disso, comparamos a visão desses gramáticos com o que postulam quatro
dicionários gerais de grande circulação, sendo dois impressos e dois online.
No capítulo 3, intitulado Agora é a vez dos linguistas, apresentamos, em primeiro
lugar, uma visão crítica acerca do modo como os gramáticos abordam a questão da
transitividade. Em seguida, discutimos a noção de complementação utilizando alguns
elementos da Gramática Gerativa e, por fim, resenhamos muito simplificadamente a proposta
de Perini (2009) sobre a transitividade verbal.
No capítulo 4, discutimos o referencial teórico adotado na pesquisa. Primeiro,
apresentamos os aspectos que, no nosso entendimento, melhor caracterizam as diferentes
abordagens funcionalistas da linguagem, as quais, mesmo em meio a tanta diversidade,
compartilham alguns pressupostos teóricos fundamentais, como a ideia de que a estrutura
gramatical das diferentes línguas é altamente sensível a fatores externos de ativação. É nesse
capítulo também que apresentamos a concepção de transitividade adotada por Hopper e
Thompson (1980), que embasa as nossas análises.
No capítulo 5, todo dedicado à metodologia, falamos sobre a natureza do nosso corpus
e apresentamos uma série de procedimentos adotados na pesquisa.
No capítulo 6, discutimos como a transitividade efetivamente se manifesta nas
entrevistas analisadas. Em primeiro lugar, apresentamos, a partir de uma abordagem
qualitativa, os resultados de uma investigação que procura detectar as supostas inter-relações
entre o sistema de transitividade e a organização do texto, tendo em vista os diferentes planos
discursivos (figura e fundo). Para isso, partimos da investigação de uma narrativa que consta
da Amostra de Fala Infantil do Banco de Dados do Programa de Estudos sobre o Uso da
Língua (PEUL/UFRJ). Em seguida, com base em 20 entrevistas retiradas desse mesmo banco
15
(...)
TRANSITIVO
2. Gram Diz-se dos verbos cuja ação passa do sujeito e recai, direta
ou indiretamente, no objeto.
3. Gram desus Diz-se também de certos substantivos, adjetivos e
advérbios que pedem um complemento.
Dicionário Michaelis (versão
(...)
online)
T. direto, Gram: diz-se do verbo de predicação incompleta cuja ação
passa diretamente para a pessoa ou coisa sobre que recai.
T. indireto, Gram: diz-se do verbo de predicação incompleta cuja
ação passa indiretamente para a pessoa ou coisa sobre que recai.
T.-predicativo: V transobjetivo. T.-relativo, Gram: diz-se do verbo
de predicação incompleta que exige dois objetos, um direto e outro
indireto. A NGB aboliu essa designação. Sendo transitivo, não
importa que tenha o verbo dois objetos, um direto, outro indireto.
Nesse caso considera-o simplesmente transitivo.
TRANSITIVIDADE
(A palavra não foi encontrada.)
Dicionário Priberam da Língua
TRANSITIVO
Portuguesa (versão online)
1. Cuja ação se transmite diretamente do sujeito a um objeto distinto
dele.
2. Que passa. = PASSAGEIRO; TRANSITÓRIO.
1
Versão online, disponível no site: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso: 26/10/2015.
2
Versão online, disponível no site: < https://www.priberam.pt/DLPO/>. Acesso: 26/10/2015.
18
3
Em Priscila gosta de Fonética, o verbo é classificado por muitos gramáticos como transitivo indireto, embora
seja, de acordo com Ignácio (2002), um verbo de estado, e não de ação ou ação-processo.
19
aproveita e desaproveita” (op. cit.). Esse constituinte secundário, que se expressa “por um
nome precedido de a ou, para evitar repetição, pelo pronome lhe, lhes” (pp. 94-95), chama-se
objeto indireto ou complemento terminativo. Entretanto, o autor ensina que, por extensão, “O
nome de objeto indireto aplica-se [...] também às expressões preposicionadas que completam
o sentido de verbos intransitivos.” (p. 95), entendendo-se por verbos intransitivos os “que não
necessitam de outro têrmo, como viver, morrer, andar, e bem assim aquêles cujo sentido se
completa com substantivo regido sempre de preposição” (p. 94).
A proposta de Said Ali (1966) não é acolhida, em sua totalidade, pela NGB, que,
diferentemente dele, admite a existência de verbos transitivos indiretos. Observe que, de
acordo com o gramático, os verbos intransitivos não são todos necessariamente de predicação
completa: alguns representantes dessa subclasse podem ter sentido incompleto, desde que o
seu único complemento obrigatório seja encabeçado por preposição4 . Portanto, a distinção
entre os verbos transitivos e os intransitivos que exigem complemento deve, conforme o
espírito da proposta de Said Ali (1966), ser feita com base no tipo de sintagma que os
completa.
Por outro lado, Kury (2000), ao tratar da transitividade, defende, a partir de um critério
predominantemente semântico, a existência de (i) verbos intransitivos, “que podem conter em
si toda a significação do predicado sem acréscimo de complemento” (p. 28); (ii) verbos
transitivos, os quais “requerem o acréscimo de um complemento que integre o sentido do
predicado” (p. 29); e (iii) verbos de ligação, “que, sem possuírem geralmente significação
precisa, ligam um sujeito a um predicativo [...], exprimindo ao mesmo tempo (a) o estado ou
condição do sujeito, ou (b) o tipo de relação (aspecto) que há entre sujeito e predicativo.” (p.
40). Diferentemente de Said Ali (1966), a abordagem de Kury (2000) não prevê a existência
de verbos intransitivos com sentido incompleto. Contudo, este último autor admite a
possibilidade de, em determinadas situações, empregar-se como transitivo direto um verbo
que usualmente é intransitivo, e apresenta o seguinte exemplo para corroborar seu
posicionamento: “Deus choverá BÊNÇÃOS sobre este casal.” (p. 29).
Um ponto que merece destaque na abordagem de Kury (2000) diz respeito aos verbos
transitivos adverbiais, que indicam movimento ou situação e, por terem sentido incompleto,
pedem um complemento adverbial de lugar. O autor elenca os seguintes representantes dessa
subclasse, não contemplada pela NGB: chegar, ir, partir, seguir, vir, voltar; estar, ficar,
morar, etc. (p. 32). Assim, na frase Micheline mora em Vitória, o termo em destaque, rotulado
4
Em A vitória depende de esforço, o verbo é intransitivo, de acordo com Said Ali (1966).
20
pela NGB como adjunto adverbial de lugar, é, de acordo com Kury (2000), um complemento
adverbial de lugar. Consideramos tal proposta muito interessante, sobretudo para o ensino de
gramática, porque, além de ser coerente com o conceito de transitividade adotado pelo autor,
nos permite agrupar, na subclasse dos intransitivos, apenas os verbos que dispensam qualquer
complemento obrigatório, o que facilitaria muito a vida do estudante.
Cunha e Cintra (2008) afirmam que os verbos transitivos e os intransitivos “trazem
uma nova ideia ao sujeito” (p. 149). Para os autores, no caso dos intransitivos, “a ação não vai
além do verbo” (op. cit.); já nas orações em que há verbos transitivos, o processo verbal vai
além do núcleo predicador, transmitindo-se a outros elementos (p. 150). Nessa perspectiva, os
verbos transitivos podem ser diretos, indiretos ou diretos e indiretos respectivamente, e a
diferença entre eles se dá em função do número e do tipo de complemento exigido.
Almeida (2009) admite a existência de apenas dois tipos de verbos transitivos, os
direitos e os indiretos. O autor adota a classificação proposta pela NGB e, ao discorrer acerca
dos verbos transitivos, afirma tão somente que eles “exigem” complemento verbal para que
tenham sentido completo (p. 424). No capítulo em que trata dos termos integrantes da oração,
o estudioso dedica boa parte das páginas a notas que evidenciam as diferenças entre objeto
indireto e complemento nominal, e apresenta uma série de regras que visam a evitar possíveis
“erros” de regência.
Bechara (2009) afirma que os verbos transitivos selecionam, como complemento, um
termo com o qual mantêm um forte vínculo sintático-semântico. Esse vínculo é muito mais
forte do que aquele que se observa entre um verbo intransitivo e um adjunto adverbial, por
exemplo. Para o autor, os verbos transitivos possuem conteúdo léxico de grande extensão
semântica, de modo que, “se desejamos expressar determinada realidade, temos de delimitar
essa extensão semântica mediante o auxílio de outros signos léxicos adequados à realidade
concreta.” (p. 414). Já os verbos intransitivos “apresentam significado lexical referente a
realidades bem concretas” e, portanto, “não necessitam de outros signos léxicos” (p. 415).
Bechara (2009) admite a possibilidade de um mesmo verbo ser usado transitiva ou
intransitivamente, desde que sua extensão significativa aponte para um termo geral “que
englobe a natureza de todos os signos léxicos que naturalmente apareceriam à direita do
verbo” (op. cit.). O autor destaca também que o emprego intransitivo de certos verbos
normalmente transitivos pode fazer emergir um novo (e especial) matiz semântico (cf. Ele não
vê / ‘não enxerga’, ‘é cego’) (op. cit.). Diferentemente dos outros gramáticos consultados,
Bechara (2009) evidencia que “a oposição entre transitivos e intransitivos não é absoluta, e
mais pertence ao léxico do que à gramática” (op. cit.).
21
importantes que, até certo ponto, quando testadas empiricamente, revelam-se adequadas pelo
menos para o ensino, e são abonadas pela maioria dos gramáticos. Um exemplo disso é a ideia
de que, nos predicados com verbos transitivos, a ação vai além do verbo. Quanto aos
gramáticos, eles divergem entre si porque, na verdade, elegem diferentes pontos de vista
acerca do fenômeno, a partir dos quais firmam o seu posicionamento. Assim, se, por um lado,
Said Ali (1966) concebe a transitividade como um fenômeno primariamente sintático e
propõe que a distinção entre as diferentes subclasses de verbos seja feita com base no tipo de
complemento que eles exigem, Kury (2000) opta por uma abordagem que atribua um papel
mais decisivo ao componente semântico, excluindo do rol dos intransitivos qualquer verbo
cujo sentido se complete em função do acréscimo de um complemento obrigatório.
Diante de tantas divergências, muitos estudiosos se propuseram a analisar essa
problemática de uma perspectiva científica, partindo de diferentes modelos teóricos. A ideia
por trás disso é que estudar o fenômeno de outros prismas pode viabilizar a descoberta de
mecanismos que nos permitam alcançar um poder explicativo maior. A transitividade assume
papel de destaque em praticamente todas as teorias linguísticas, em função de sua importância
para a Gramática das mais diferentes línguas. Sendo assim, convém apresentar o
posicionamento dos linguistas frente a essa questão, o que é feito no próximo capítulo.
23
5
Agradeço à Profa. Dra. Catarina Vaz Rodrigues pela leitura deste capítulo e pelas sugestões, sempre muito bem
vindas. Evidentemente, os equívocos que, por ventura, tenham permanecido são de minha inteira
responsabilidade.
6
O sujeito, na perspectiva de alguns gramáticos , é concebido como o sintagma nominal que estabelece uma
relação de concordância com o verbo. Para a Gramática Gerativa, nas construções transitivas e inergativas, por
exemplo, ele é gerado como argumento externo, na posição de especificador do verbo. Mas também há verbos
que selecionam apenas argumento interno, o qual se move à posição de especificador e, só então, recebe caso
nominativo. Tais verbos são chamados de inacusativos. Voltaremos a esse assunto quando discutirmos o
problema da complementação na referida teoria. Por ora, importa-nos apenas alertar o leitor acerca da
inconveniência de se associar, indiscriminadamente, a ideia de sujeito à de argumento externo. De qualquer
maneira, quando nos referirmos às ocorrências em que houver, pelo menos, 1 argumento interno e sujeito (como
naquelas às quais subjazem as construções transitivas e com verbo-suporte), o sujeito será sempre argumento
externo.
24
últimos constituintes supostamente não gozam. Uma abordagem mais discursiva, de certo
modo, respalda esse posicionamento, porque, nas orações constituídas de sujeito e predicado
(simples ou complexo), o sujeito, de fato, normalmente é o ser “de quem se diz alguma
coisa”. Contudo, do ponto de vista semântico, sujeito e complementos são selecionados
diretamente pelo verbo, de modo que o mais adequado parece ser incluí-los em uma mesma
“meta-classe”, a dos argumentos. Isso, contudo, não quer dizer que eles disponham das
mesmas propriedades e se relacionem da mesma forma com o item que os seleciona. Na
verdade, nada seria mais enganoso! A relação do verbo com seus complementos é muito mais
estreita do que a que ele contrai com o argumento externo, e também com os adjuntos. No
próximo subitem, voltaremos a essa discussão.
Já é terreno comum nos estudos linguísticos a ideia de que o verbo predicador
seleciona seus argumentos e lhes atribui caso gramatical e papel temático. O que se quer dizer
com essa afirmação é que o significado lexical de um verbo predicador projeta determinados
espaços que, quando preenchidos adequadamente, nos conduzem a sentenças completas
(ILARI; BASSO, 2008). É, em geral, o verbo que determina as funções sintáticas e
semânticas que cada um dos participantes por ele previstos deve desempenhar. Assim, comer,
em sua acepção mais prototípica (“mastigar e engolir”), seleciona um NP-sujeito7 (caso
nominativo), com a função semântica de Agente, e um NP-objeto (caso acusativo), com a
função semântica de Paciente (cf. Jares comeu a maçã). Essa postulação é muito importante
na medida em que evidencia que uma sentença, em qualquer língua natural, é na verdade um
conjunto de elementos que se organizam a partir de determinadas relações hierárquicas que
eles estabelecem entre si.
Vale destacar que as restrições semânticas que o verbo impõe aos seus argumentos
parecem ser universais, enquanto as restrições sintáticas podem variar dependendo das línguas
em jogo. É o que acontece, por exemplo, com o verbo gostar: no português, seu argumento
interno é um sintagma preposicionado (PP); no inglês, um sintagma nominal (NP). As
relações semânticas, contudo, são as mesmas, pois, em ambas as línguas, o verbo seleciona,
respectivamente, Causador de Experiência e Experienciador (cf. O Diego gosta da Bárbara
versus Diego likes Bárbara.).
A meta-classe dos argumentos, a que nos referimos acima, não comporta apenas o
sujeito e os objetos verbais; ela inclui também alguns dos adjuntos adverbiais da Gramática
Tradicional, selecionados pelos verbos que Kury (2000) classificou como transitivos
7
NP = Nominal phrase (“sintagma nominal”).
25
adverbiais (veja o cap. 2), e os demais oblíquos. Deste modo, na sentença Luíza foi para a
Serra do Caparaó, tanto o sintagma nominal quanto o sintagma preposicionado são
argumentos do verbo.
A partir de agora, as discussões sobre a transitividade partirão dos princípios
apresentados nos parágrafos anteriores, por considerarmos que eles são mais adequados para
descrever o modo como os constituintes da sentença se inter-relacionam. Convém destacar
que, além do verbo, palavras de outras classes, como adjetivos e até nomes, podem
desempenhar função predicadora. Entretanto, não entraremos em maiores detalhes porque
seria inviável iniciar essa discussão aqui.
A seguir, vejamos como a Teoria Gerativa lida com o problema da complementação,
isto é, com o modo como o verbo se relaciona com seus complementos e, por tabela, como ele
se relaciona com o argumento externo e com os adjuntos. Decidimos tratar dessa teoria
porque, apesar de não assumirmos neste trabalho os seus postulados, reconhecemos a sua
importância para os estudos linguísticos, bem como seu alto poder explicativo.
(1)
a. A Maria levou um susto.
b. O gato levou um susto.
Em (1), temos duas realizações distintas de um mesmo esquema, que, no caso, tem o
núcleo sintático preenchido pelo verbo-suporte levar. A principal diferença entre (1a) e (1b) é
o fato de o referente do sujeito de (1a) possuir o traço [+ Humano], que falta a (1b). Contudo,
ainda assim, o papel temático atribuído a esses elementos é o mesmo: nos dois casos, trata-se
26
de entes que sofreram a ação denotada pelo predicado. Mas essa função semântica só pode ter
sido atribuída pelo complexo [V + NP 2 ], porque o verbo levar, nessa ambiência, não é capaz
de, sozinho, subcategorizar por completo os seus argumentos; antes, é necessário que ele se
prenda ao seu complemento8 . As sentenças em (2), abaixo, confirmam essa hipótese, porque,
apesar de, em todas elas, o sujeito ser o mesmo, sua função semântica muda conforme
trocamos os argumentos internos do verbo:
(2)
a. Maria levou um soco de Pedro. (Sujeito Paciente)
b. Maria levou as compras para casa. (Sujeito Agente)
c. Maria levou vantagem nas compras de fim de ano. (Sujeito Beneficiário)
8
O verbo-suporte transfere ao seu argumento interno o papel de núcleo semântico do predicado. A
agramaticalidade de uma sentença como *A pedra levou um susto não se instaura (apenas) por causa do verbo,
mas sim em função da incompatibilidade de um elemento não animado com a ideia de se “levar um susto”.
9
Temos consciência de que uma configuração arbórea desse tipo não é capaz de representar adequadamente o
paralelismo semântico que existe entre, por exemplo, sentenças com verbos -suporte e suas correspondentes com
verbos transitivos (cf. João deu um beijo em Maria vs. João beijou Maria). Em Cyrino, Nunes e Pagotto (2015),
temos acesso a esquemas de representação bem mais completos do que os apresentados neste capítulo. Contudo,
nosso propósito com as representações arbóreas é tão-somente captar o modo como o verbo se relaciona com
seus diferentes tipos de argumentos, sem, para isso, precisarmos lançar mão de esquemas mais complexos que
evidenciem a existência de elementos ainda mais abstratos, como os “verbos leves abstratos”, por hipótese
presentes em sentenças transitivas do tipo A Maria beijou o João.
27
(3)
a. Maria levou um susto.
Diferentemente do que se poderia pensar a partir dos exemplos acima, essa assimetria
sintática não se limita a ocorrências com verbo-suporte10 . É possível observá-la em outros
contextos, como em sentenças organizadas com o verbo quebrar, em que, novamente, apenas
o complexo [V + NP2 ] é que nos permite saber exatamente qual é o papel temático do sujeito:
(4)
a. João quebrou o copo. (Papel temático do Sujeito: Agente)
b. João quebrou a cara. (Papel temático do Sujeito: Paciente)
10
Assume-se normalmente que o verbo-suporte (ou “verbo leve”) se constitui a partir do esvaziamento
semântico do lexema que o originou (SCHER, 2003). Contudo, conforme Duarte (2003), “esse processo de
esvaziamento lexical dos verbos leves não é total, sendo preservada a grelha argumental que o verbo tem como
verbo pleno” (p. 312). Isso respalda a representação arbórea que fizemos em (3a), na qual não represent amos,
como um constituinte único desde o léxico, o bloco [V-suporte + NP2 ].
28
Até nas sentenças organizadas por verbos bitransitivos, a assimetria observada em (5)
se mantém. A diferença é que, antes de formar V’ e associar-se ao argumento externo, o
complexo [V + NP2 ] é conectado ao segundo argumento interno, sempre constituído de
sintagma preposicionado (PP) no português. É o que podemos observar em (6), a seguir.
Caso queiramos acrescentar a essa sentença um adjunto, ele deverá ser vinculado à
projeção máxima VP. Com isso, queremos dizer que a inserção de um adjunto na sentença
não interfere no modo como o verbo se relaciona com seus argumentos, porque esse tipo de
relacionamento não varia em função do contexto, mas é determinado desde o componente
lexical, que é onde os itens do léxico recebem seus traços semânticos e formais básicos.
Observe:
(1)
a. Choveu.
b. O meu sobrinho nasceu.
c. O caçador matou o lobo mau.
d. Izabel deu todos os seus livros para Maria.
11
Para Borba (1996), o verbo transferir em Allan transferiu sua conta do Banestes para o Banco do Brasil é
tetravalente.
12
Em Cançado (2009), há uma discussão bastante produtiva acerca do modo como diferentes autores se
posicionam relativamente à problemática que envolve a distinção entre argumentos e adjuntos.
30
(2)
a. Maria já queimou todo o lixo do quintal.
b. Allan, Bárbara e Priscila vão para o Rio de Janeiro no final do mês.
(3)
a. A minha sobrinha gritou muito esta madrugada.
b. As crianças dormem tranquilamente, mesmo durante a chuva.
c. Quando saem para caminhar, Sônia e sua irmã andam muito rápido.
(4)
a. Logo depois que chegou ao hospital, o paciente desmaiou.
b. A porta quebrou e, por isso, fez um barulho danado esta madrugada.
c. No dia 11 de dezembro de 1960, nasceu o senhor Joaquim.
(5)
Mas, afinal, quais são as evidências que corroboram a hipótese de que os verbos
monoargumentais integram duas subclasses, se as sentenças que constam em (3) e (4) são
aparentemente realizações distintas de um mesmo “esquema construcional intransitivo”?
Comecemos pelo critério semântico. Todas as sentenças em (3) são formadas por sujeito
Agente, mas não é isso o que acontece em (4), onde os sujeitos destacados desempenham
outros papeis temáticos. Lembremo-nos que a função de Agente é tipicamente associada ao
argumento externo... Mas as diferenças não acabam por aqui. Na verdade, é no plano sintático
que elas ficam mais evidentes. Observemos.
Os seguintes exemplos comprovam que construções de particípio absoluto (orações
subordinadas adverbiais temporais reduzidas de particípio) podem ser feitas naturalmente com
o argumento interno de verbos transitivos, mas a situação é outra quando tentamos produzi-las
a partir do argumento externo:
32
(6)
a. Clotilde comprou dois pães para o café da manhã.
b. Comprados dois pães para o café da manhã, Clotilde voltou para casa.
c. #Comprada Clotilde...13
Deste modo, as construções de particípio absoluto parecem ser um bom recurso para
verificarmos se, de fato, a hipótese mencionada está correta. Vamos ao teste.
(7)
a) A minha sobrinha gritou...
b) #Gritada a minha sobrinha...
(8)
a. O paciente desmaiou...
b. Desmaiado o paciente, a equipe médica tomou providências o mais rápido possível.
c. A porta quebrou...
d. Quebrada a porta, todas as crianças se puseram a chorar.
13
O símbolo # está sendo usado por nós para indicar que a sentenç a em questão é agramatical ou que ela é
gramatical, mas condiciona a uma interpretação não condizente com o significado da sentença que lhe serviu de
base.
33
(9)
a. A minha sobrinha gritou...
b. *A minha sobrinha está gritada.
(10)
a. O paciente desmaiou...
b. O paciente está desmaiado.
c. A porta quebrou...
d. A porta está quebrada.
Este último teste reforça a hipótese de que os verbos em (10) selecionam apenas
argumento interno, ao passo que os verbos em (9) têm, como único argumento, um sintagma
que nasceu na posição de especificador. Os verbos em (9) são chamados de inergativos; os
verbos em (10), de inacusativos.
O rótulo inacusativo remente à impossibilidade que os verbos dessa classe têm de
atribuir caso acusativo ao seu argumento interno, o qual, então, se move para a posição de
14
O símbolo “?” antes de uma sentença indica que a aceitabilidade dessa sentença é duvidosa.
34
(11)
Perini (2009, p. 164) defende que há, no português, quatro funções sintáticas
relevantes para o estabelecimento da transitividade de um verbo, a saber, objeto direto,
complemento do predicado (corresponde aproximadamente ao “predicativo do sujeito”),
predicativo (corresponde ao “predicativo do objeto”) e adjunto circunstancial (esta função
inclui, também, o “objeto indireto”). Desta forma, para o autor, os verbos devem ser
classificados conforme “aceitem”, “recusem” ou “aceitem livremente” esses elementos. A
título de exemplificação, consideremos o verbo comer. De acordo com a proposta, ele se
caracteriza desta maneira: “aceita livremente objeto direto” (cf. Pedro comeu dois pedaços de
bolo antes de sair de casa vs. Pedro comeu muito antes de sair de casa); “aceita livremente
adjunto circunstancial” (cf. Pedro comeu do bolo que estava na mesa hoje cedo); “recusa
predicativo”; e “recusa complemento do predicado”.
36
Instrumento de interação
a. Conceito de língua Conjunto de orações
social
De acordo com Butler (2003), hoje os mais diferentes modelos funcionalistas tendem a
estabelecer sua posição teórica relativamente às reivindicações formalistas. Para o autor, essa
postura está diretamente relacionada à forte influência que a Gramática Gerativa exerceu no
âmbito dos estudos linguísticos, a partir da segunda metade do século passado, sobretudo com
a publicação de Syntactic Structures (1957) e Aspects of the Theory of Syntax (1965), de
Noam Chomsky. Contudo, embora a tradição formalista tenha imperado hegemonicamente
durante a maior parte do século XX e continue vigorante até hoje, convém destacar que os
modelos funcionalistas também estão firmados em bases teóricas bastante sólidas, tendo
alcançado generalizações importantes e empreendido análises, de fato, muito frutíferas.
Assim, os funcionalistas em geral não se limitaram a apontar supostas inadequações presentes
nas diferentes escolas formalistas, mas também construíram um conhecimento bastante
consistente acerca da natureza da linguagem humana.
Qualquer abordagem linguística deve formular hipóteses que expliquem
satisfatoriamente como os falantes associam forma e significado, já que, grosso modo, a
linguagem pode ser concebida como um dispositivo pelo qual organizamos, processamos e
transmitimos informação através do manuseio de signos linguísticos. Portanto, dentro de uma
abordagem funcionalista, as expressões linguísticas não devem ser descritas
independentemente do contexto em que ocorrem, pois elas são instrumentais em relação aos
vários propósitos a que são destinadas no decurso de nossas relações sociais.
A concepção de linguagem enquanto instrumento de comunicação entre seres
humanos une os mais diferentes modelos funcionalistas e, para autores como Butler (2003), é
fundamental para se explicar por que as línguas humanas são como são. Na verdade, todas as
línguas naturais cumprem uma série de funções, das quais a principal, dentro de uma
abordagem funcionalista, é a função comunicativa. Esse posicionamento, contudo, não é
unânime entre os estudiosos: considerando a linguagem um sistema para a livre expressão de
pensamentos, essencialmente independente de estímulos externos, Chomsky confere à
finalidade comunicativa da linguagem um papel secundário em relação à sua função
cognitiva. Observe que, nesse embate, o que muda é o foco: no que concerne à natureza das
línguas humanas, determinar qual função é proeminente em relação às demais depende do
objeto teórico construído. De qualquer maneira, acreditamos ser interessante ressaltar que a
41
ideia de linguagem enquanto instrumento de comunicação não encontra muito espaço em uma
teoria na qual essa capacidade é vista como um objeto que se encerra em si mesmo.
Presente nos mais variados modelos formalistas, a rígida separação entre sistema e
uso, conforme dissemos anteriormente, é comumente criticada pelos funcionalistas, que
consideram esse tipo de abordagem arbitrária e não condizente com o modo como as línguas
humanas se nos apresentam, em situações reais de uso. Na verdade, muitos funcionalistas até
concordam que existe um tipo de conhecimento subjacente ao uso da linguagem, entretanto,
por certo, ele não é puramente gramatical; está relacionado também à habilidade dos falantes
de usar a língua de maneira apropriada em diferentes situações. Dito de outro modo, os
funcionalistas estão preocupados não apenas com o saber gramatical dos usuários da língua,
mas com o que Hymes (1979) chama de “competência comunicativa”, um conjunto de
conhecimentos que emerge da / na vida em sociedade e que nos permite interagir
satisfatoriamente por meio de textos. Nesse mesmo espírito, lembra-nos Neves (1994, p. 109)
que “Qualquer abordagem funcionalista de uma língua natural, na verdade, tem como questão
básica de interesse a verificação de como se obtém a comunicação com essa língua, isto é, a
verificação do modo como os usuários da língua se comunicam eficientemente”. Subjacente a
essa ideia, está a procura constante por respostas acerca do modo como “padronização
linguística” e “contextos de uso” se inter-relacionam.
Croft (1995) defende que muitos aspectos do comportamento linguístico humano
podem ser explicados em termos de “funções da linguagem”. O autor, que critica o
isolamento mútuo existente entre formalistas e funcionalistas, argumenta que a controversa
relação entre forma e significado é um ponto bastante complexo dentro da linguística, o qual,
em grande medida, determina o modo como o “objeto escondido” vai ser caracterizado. A
própria noção de autonomia, tão problemática dentro dos estudos linguísticos, tem ligação
direta com esse embate. Para muitos formalistas, a arbitrariedade do signo linguístico
evidencia a autonomia da gramática em relação ao componente discursivo. Os funcionalistas,
no entanto, acreditam que o fato de as línguas serem usadas em situações reais de
comunicação, para cumprir determinados propósitos, faz com que, de algum modo, o
funcional influencie o sistêmico.
Delbecquer (2006) apresenta três princípios que, na sua concepção, estruturam a
linguagem humana. Tais princípios em geral são compartilhados pelos mais diferentes
funcionalismos, embora o grau de comprometimento com cada um deles varie dependendo da
escola. Para a autora, no “[...] sistema complexo de símbolos chamado linguagem, podemos
42
defendendo neste trabalho. Sobre esta última teoria, em torno da qual gravitam as análises
aqui empreendidas, falamos com mais vagar no próximo subitem.
seu final, ou seja, é télica; a ação é intrinsecamente instantânea e, por isso, pontual; o sujeito é
Agente e volitivo15 ; a oração está no modo realis e é afirmativa; o objeto é individuado
(concreto, singular, contável, referencial) e totalmente afetado.
Mas por que os traços elencados acima são fundamentais para a aferição do grau de
transitividade de uma sentença? Com base em Hopper e Thompson (1980), Thompson e
Hopper (2001) e em muitos outros autores que se preocuparam com esse tema, apresentamos
as seguintes hipóteses:
(A) PARTICIPANTES: Não pode haver transferência de ação a menos que dois
participantes estejam envolvidos. O número de participantes, de certa forma, se relaciona com
a valência do verbo, mas também depende dos propósitos comunicativos do falante. Desta
maneira, em Milton gosta do camarim, há dois participantes envolvidos, embora apenas o SN-
Sujeito tenha como característica o traço [+ animado].
(B) CINESE: Considerando-se que somente ações podem ser transferidas de um
participante a outro, pode-se afirmar que, de maneira geral, os verbos de ação-processo e os
de ação causam maior impacto na transitividade da sentença do que os verbos de processo e
os de estado (TEIXEIRA, 2014).
(C) ASPECTO: Os verbos perfectivos são aqueles que codificam ações concluídas,
acabadas. As ações são interpretadas como mais efetivas quando vistas de seu ponto final.
(D) PONTUALIDADE: Próprio de eventos instantâneos, esse traço está presente
nas ações em que não há fase de transição óbvia entre seu início e final. Tais ações têm um
efeito mais marcado nos seus pacientes do que aquelas que são contínuas. As ações pontuais
se opõem às que estão inerentemente em andamento; nelas, o começo e o fim ocorrem quase
que de forma concomitante. De acordo com Laroca (2014, p. 79), “O traço que distingue a
pontualidade é a não duratividade no tempo”.
(E) INTENCIONALIDADE DO SUJEITO: Quando o sujeito é intencional, a
transferência de ação é mais evidente, bem como a proximidade desse sujeito com o objeto
(COSTA, 2014). Comparem-se os seguintes exemplos: Eu escrevi seu nome vs. Eu esqueci
seu nome.
(F) POLARIDADE: Este é o parâmetro de afirmação/ negação. Considera-se que a
afirmação é mais efetiva do que a negação (cf. João ofendeu Maria vs. João não ofendeu
Maria).
15
Para fins de análise, desconsideramos, neste exemplo, qualquer possibilidade de o SN “João” ter praticado a
ação denotada pelo predicado acidentalmente.
47
(G) MODO: Assumimos, neste trabalho, que o modo realis está presente nas
orações em que o evento denotado pelo verbo corresponde a algo que já aconteceu ou que é
tido como certo pelo falante; assim, o modo está relacionado ao grau de comprometimento do
falante com aquilo que ele está enunciando.
(H) AGENTIVIDADE DO SUJEITO: O Agente é aquele que executa a ação
denotada pelo predicado. Neste trabalho, assumimos que todo Agente é [+ animado], contudo,
nem sempre é [+ volitivo]. Em Vinícius quebrou o vaso de flores da vovó, a “quebra do vaso”
aconteceu por causa de Vinícius, embora isso possa ter ocorrido acidentalmente.16
(I) AFETAMENTO DO OBJETO: A transferência de ação é mais perceptível
quando o objeto é totalmente afetado.
(J) INDIVIDUAÇÃO DO OBJETO: A transferência de ação ocorre de maneira
mais efetiva quando o objeto é individuado, ou seja, quando ele apresenta as seguintes
características: próprio; humano, animado; concreto; singular; contável; referencial, definido.
16
Isso explica a coerência de os componentes “Agentividade do Sujeito” e “Intencionalidade do Sujeito” serem
analisados separadamente.
17
Os diferentes planos discursivos refletem o modo como o enunciador interpreta um evento e, assim, organiza
seu discurso. De acordo com Castilho (2010, p. 674), o plano de figura reúne os “Eventos mais importantes de
uma narrativa, expressos no pretérito perfeito.”. Por outro lado, o plano de fundo reúne “Segmentos descritivos e
argumentativos no interior de uma narrativa, habitualmente no presente ou no pretérito imperfeito.” (op. cit., p.
676).
48
produzidos por falantes escolarizados da classe média americana caucasiana. Tais achados,
dentre outras coisas, sugerem que as formas de manifestação da transitividade dependem, pelo
menos em parte, das especificidades de cada gênero discursivo.
De qualquer maneira, o que fica evidente na proposta de Hopper e Thompson é a
plausibilidade de se conceber a transitividade como um complexo que está a serviço da
comunicação. E mais: comunicação e cognição, dentro dessa perspectiva, mantêm um
relacionamento muito estreito entre si. As sentenças de transitividade alta estão associadas ao
plano de figura na organização do discurso porque, antes, são mais salientes do ponto de vista
cognitivo. E é isso que procuramos demonstrar a seguir, quando, após discorrermos acerca da
metodologia, apresentaremos os resultados de nossas análises.
49
5 METODOLOGIA
Considerando-se que esta pesquisa tem por objetivo geral defender a plausibilidade de
se conceber a transitividade a partir de proposição de Hopper e Thompson (1980) tendo em
vista o que dizem algumas abordagens alternativas, a nossa primeira tarefa consistiu em um
levantamento bibliográfico acerca do tema. A princípio, verificamos como os gramáticos
tradicionais se posicionam relativamente à questão da transitividade; em seguida,
investigamos o fenômeno a partir da Teoria Gerativa e da proposta de Perini (2009); por fim,
debruçamo-nos sobre a proposta de Hopper e Thompson (1980). Para compreender melhor
esta última teoria, estudamos também o texto Transitivity, clause structure, and argument
structure: evidence from conversation, dos mesmos autores (publicado em 2001), os livros
Transitividade e seus contextos de uso 18 , (In)transitividade na perspectiva funcionalista da
língua19 e Transitividade traço a traço20 , além de uma série de artigos disponíveis na internet
que abordam esse assunto, dentro do mesmo recorte teórico.
Para alcançar o nosso objetivo geral, decidimos fazer dois tipos de análise: uma de
caráter quantitativo e outra de caráter qualitativo.
No primeiro caso, escolhemos, como corpus, 20 entrevistas da Amostra de Fala
Infantil do PEUL/UFRJ, feitas nos anos de 1979 a 1981 com informantes entre 4 e 7 anos de
idade. Destas entrevistas, analisamos um total de 280 sentenças simples, aplicando-lhes os 10
parâmetros de transitividade propostos por Hopper e Thompson (1980), a fim de saber qual é
o tipo de sentença mais frequente nesses dados. Para os propósitos deste trabalho, estamos
considerando simples aquelas sentenças que reúnem apenas 01 oração, como em O meu
computador queimou, em detrimento das sentenças complexas, que reúnem duas ou mais
orações, como Clotilde disse que o meu computador queimou, na qual o verbo dizer, que
organiza a oração principal, seleciona, como argumento interno, outra oração (cf. RADFORD
et. alii., 1999, p. 277-290).
As sentenças analisadas foram organizadas em 03 grupos, quais sejam:
Grupo 1: sentenças altamente transitivas (possuem de 7 a 10 traços marcados
positivamente)
Grupo 2: sentenças de transitividade média (possuem entre 4 e 6 traços marcados
positivamente)
18
Editora Lucerna, 2007. Autoria: Maria Angélica Furtado da Cunha e Maria Medianeira de Souza.
19
Edufes, 2008. Organização: Lúcia Helena Peyroton da Rocha e Carmelita M. da Silva Amorim.
20
Editora da UFF, 2014. Organização: Jussara Abraçado e Eduardo Kenedy.
50
21
Tanto em João matou a barata quanto em João e Pedro mataram a barata, a transferência de ação ocorreu
efetivamente.
51
22
Considere-se, por exemplo, o verbo bater, que, significando “aplicar pancadas ou golpes em”, idealmente
seleciona, como argumento interno, objeto indireto (cf. Pedro bateu em João).
23
Desta forma, estamos assumindo que o conhecimento linguístico do falante nativo é parte de seu
conhecimento enciclopédico, e não uma instância isolada.
52
comprometida. Em outras palavras, eles são licenciados pela construção SN + V, e não pelo
verbo viajar.
Por outro lado, os “participantes em potencial” do evento transitivo precisam ser
atualizados, no discurso, pelo falante para que, de fato, sejam contabilizados na aferição da
transitividade da sentença. A título de exemplificação, consideremos o verbo fumar: ele
usualmente seleciona 02 argumentos (o fumante e o objeto fumado), que, na nossa proposta,
são participantes em potencial; contudo, há contextos em que, por motivações pragmáticas
(suposta irrelevância, por exemplo), o argumento interno é descartado: Minha mãe fumava
muito. Neste caso, contabilizamos apenas 01 participante, o SN “minha mãe”, embora
saibamos que alguma coisa foi fumada por ela.
Assumir que a grade argumental básica do verbo é constituída de “participantes em
potencial” de um evento e que esses participantes podem ser integralmente atualizados pelo
falante no discurso é, no nosso entendimento, indispensável para uma teoria de base
funcionalista como a de Hopper e Thompson (1980). Tendo em vista que esses autores
postulam que o grau de transitividade da sentença está diretamente associado ao modo como
os usuários da língua organizam o próprio discurso, é fundamental que, na análise dos traços,
sejam consideradas, sempre que possível, as escolhas do falante durante a enunciação,
momento no qual ele coloca em cena aquilo que considera relevante compartilhar.
53
[...]
É uma menininha que ela se chamava (Degol), mas o apelido dela que eles chamava foi de
Chapeuzinho Vermelho porque ele, eles tem uma- ela tem uma capa, assim vermelha e um
chapeuzinho vermelho. Aí ele botou o apelido dela de Chapeuzinho Vermelho. Um dia
que, ela foi lá embaixo [na]- na casa dela, da mãe dela, aí bateu o caçador assim: pá, pá.
Aí a mãe da Chapeuzinho disse: “Quem é?”. Aí o caçador disse: “Sou eu, abre eu sou o
caçador”, aí ele disse “ó, cuidado em! não vai pela cidade que às vezes tem um lobo mau
que a passa para assustar às pessoas pra comer o dedo”. Aí a Cha-... [Aí], aí a mãe dela
disse: “Ó, tua vó ta muito doente, quer ir lá na casa dela?” “Eu quero sim”, respondeu o
Chapeuzinho Vermelho. Aí ela disse: “Não vá [pela]- pela cidade que às vezes... viu o
que o caçador disse que às vezes aparece o lobo mau sempre para comer as crianças”.
[Aí ela]- aí ela acreditou, aí ela foi pela floresta, mas viu, mas viu o lobo mau. Ele era
sabido e tava lá na casa da vovozinha perto da- da- da casa dela ouvindo tudo. Aí ele saiu da
cidade [e foi] e foi pela floresta porque ele estava ouvindo a mãe dela falando com o
Chapeuzinho Vermelho. Aí ela, quando o Chapeuzinho foi passando, aí a Chapeuzinho disse
pros bichinho: “Eu não posso brincar agora, tou muita atrasada. Desculpe mais eu
tenho que ir”. Aí, né, quando ela foi andando ela andou meio metro, aí foi o lobo mau,
pulou assim e disse: “Aon-... aonde, aonde pensa que você vai”. Aí ela disse: “Eu vou na
casa da minha vó. (Caia fora)”. Aí o lobo mau pegou a cesta dela, dela, procurou alguma
coisa pegou a- aí pegou o negócio que avó dela adorava. Aí o lobo mau comeu comeu
nem gostou, jogou pro canto rarara jogou o pau no chão, aí jogou o saco fora, aí ficou cá;
[aí], [aí], aí ele, [aí], aí ele ouviu a mãe dela; aí ele se lembrou a mãe dela falando pra ela
ir pra casa da avó; [aí]- aí ele muito sabido foi na frente, aí bateu na porta: pá pá pá. Aí
a vó dela disse: “Quem é?”. Aí o lobo mau com uma voz fininha disse: “Sou eu, tua neta
Chapeuzinho Vermelho”. Aí a vovó disse: “Pode entrar”. Aí ele entrou. [Aí]- aí a vovó
que não era burra, que tinha doce pra ela comer, aí ela sabia que era o lobo mau, que atacou o
filho dela, que comeu o filho dela inteirinho. Aí ela deu no pé. Aí o lobo mau vestiu a roupa
da vovó, botou o óculos, botou a carapuça da vovó que ela sempre usa, parece até a
carapuça igualzinha a do saci. Aí ele se deitou na cama, aí se cubriu pra Chapeuzinho não
poder, não poder ver a perna dele, aí na... foi chegando. Aí a Chapeuzinho Vermelho, aí
Chapeuzinho: pá pá pá. Aí ele, o lobo mau falou com uma voz bem fofinha, ele disse:
“Quem é?”. Aí a Chapeuzinho Vermelho disse: “Sou eu, sua neta, Chapeuzinho
Vermelho”. Aí o lobo disse com uma voz fofinha: “Pode entrar”. Aí a Chapeuzinho
54
entrou, [aí viu], aí viu a vó dela que era o lobo mau, disfarçado. Aí ela reparou bem e
disse pro lobo mau: “Pra que esse ouvido tão grande”, “É pra mim poder te ouvir melhor,
querida”. Aí a Chapeuzinho disse: “Pra que esse nariz tão grande?”, “Pra cheirar essa
comida deliciosa”. Aí a Chapeuzinho disse: “Pra que essa boca tão grande?”, aí o lobo
disse: “É pra te comer”. Aí ele levantou. Aí a Chapeuzinho ainda era criança, aí foi
correndo até o lobo mau ficar cansado. Aí ela... foi assim... ela pulou, aí o lobo mau ficou
tonto e não podia vê ela; aí o lobo mau ficou tonto e não podia ver.
Aí foi assim abaixada pela porta para a campanhia [que]- [que]- que ela ia chamar o
caçador [que]- que andava pela floresta, aí o Chapeuzinho foi começou: “Socorro, socorro,
tem um lobo mau me perseguindo”. [Aí]- aí o caçador tava dormindo assim cansado,
dormindo: “Chuss, trurrr”. Aí na hora quando ouviu o grito da- da Chapeuzinho disse: “O
quê hã, hã, o quê que foi?”. [Aí]- aí o Chapeuzinho chegou: “O lobo mau, ele ta lá na casa
da minha vó”. Aí ela pegou minha vó... [aí foi]- aí foi o lobo mau andando e cantando
uma canção: “Eu sou o caçador, o caçador, o caçador, eu vou caçar um lobo mau, muito
mau”. Aí que ele já tava chegando, cantando, aí o lobo mau ouviu; aí o lobo mau ouviu, aí
disse: “Aonde tem um lugar pra mim me esconder”, “Ah, não tem nenhum lugar”. Aí ele
foi esconder na cama que ele nem dava; aí o caçador que era forte e podia levantar a cama
da vó aí levantou, aí viu o lobo mau, aí o lobo mau deu no pé, [aí]- aí foi correndo; aí o
caçador assim, com uma-, querendo matar ele, aí bateu assim [com]- com o martelo na
cabeça, aí ele morreu. Aí levou o lobo mau, então o lobo mau, apareceu a vó dela. Aí o
chapeuzinho disse: “Graças a Deus”. [Aí]- aí o caçador foi convidado para- para jantar,
quer dizer, almoçar com a vó da Chapeuzinho. Aí acabou a estória.
[...]
(1)
Aí ela, quando o Chapeuzinho foi passando [na floresta], aí a Chapeuzinho disse
pros bichinho: “Eu não posso brincar agora, tou muita atrasada. Desculpe mais
eu tenho que ir”
a porção de texto em itálico (plano de fundo) permite-nos saber em que circunstância o evento
codificado pelo trecho em negrito (plano de figura) aconteceu. É o que está em negrito que, de
fato, contribui para a progressão textual.
55
(2)
Aí o caçador disse: “Sou eu, abre eu sou o caçador”, aí ele disse “ó, cuidado em! não
vai pela cidade que às vezes tem um lobo mau que a passa para assustar às pessoas pra
comer o dedo”. Aí a Cha-... [Aí], aí a mãe dela disse: “Ó, tua vó ta muito doente, quer
ir lá na casa dela?” “Eu quero sim”, respondeu o Chapeuzinho Vermelho. Aí ela disse:
“Não vá [pela]- pela cidade que às vezes... viu o que o caçador disse que às vezes
aparece o lobo mau sempre para comer as crianças”. [Aí ela]- aí ela acreditou, aí ela
foi pela floresta, mas viu, mas viu o lobo mau.
(3) aí a Chapeuzinho disse pros bichinho: “Eu não posso brincar agora, tou muita
atrasada. Desculpe mais eu tenho que ir”
(4) “É pra mim poder te ouvir melhor, querida”
(5) aí o lobo mau ficou tonto e não podia vê ela
Aqui, apresentamos os resultados de uma análise quantitativa que levou em conta 280
sentenças produzidas, em situação de entrevista, por 20 informantes cariocas entre 4 e 7 anos
de idade. As entrevistas, conforme dissemos anteriormente, estão disponíveis na Amostra de
fala infantil do PEUL/UFRJ. Relembramos também que as sentenças foram classificadas em
função do número de componentes da transitividade acionados. Para maiores informações,
releia o capítulo 5 – Metodologia.
Na tabela abaixo, apresentamos o resultado geral do levantamento. Ressaltamos que
todas as sentenças analisadas acionaram, pelo menos, 01 componente da transitividade.
57
Além das atributivas e das existenciais, também são de baixa transitividade certas
sentenças monoargumentais com sujeito paciente. É o que se observa no exemplo abaixo, em
que, mais uma vez, foram acionados apenas os traços polaridade (afirmativa) e modo (realis).
24
Analisamos apenas a parte grifada.
58
25
Tendo em vista que as sentenças menos transitivas, em sua maioria, são atributivas, existenciais ou
organizadas em torno de expressões com verbo-suporte, defendemos que os verbos ali presentes tendem a ter um
comportamento mais gramatical (e, portanto, de certo modo, menos concreto) do que os verbos plenos que
normalmente organizam as construções prototipicamente transitivas. Salientamos, contudo, que identificamos,
no nosso corpus, sentenças de transitividade baixa que são organizadas por verbos plenos, como gostar,
conhecer, ter (no sentido de “possuir”) e estar (indicando localização no espaço).
26
Em geral, nesse caso, o espaço previsto pelo verbo para esse participante é preenchido (também) por um
sintagma que codifica o próprio enunciador.
59
13. Amanhã eu vou pra aula de novo, às nove; eu vou tá lá às nove horas. (PEUL/UFRJ,
07Ren)
14. Eu brinquei. (PEUL/UFRJ, 08And)
15. Pois é... eu dava um merguio. (PEUL/UFRJ, 08And)
O exemplo (15) comprova que sentenças pertencentes ao Grupo 2 também podem ser
organizadas em torno de expressões com verbo-suporte.
Embora, conforme dissemos anteriormente, a negação seja um elemento comum em
sentenças do Grupo 3, também é possível encontrá-la frequentemente em sentenças com
transitividade média:
O Grupo 1, que reúne as sentenças com maior grau de transitividade, contém 36% do
total de ocorrências. Embora muitas das sentenças desse grupo tenham como sujeito alguém
que pratica a ação do predicado intencionalmente, identificamos casos em que,
definitivamente, o sujeito não é volitivo:
19. Ah, eu nadu, eu brincu, comu churrascu, nadu, jogu bola, caiu, se machucu, comu
linguiça, comu lá, jogo bola, pegu... eu tenhu um negóciu aqui quando eu andu lá,
brincu, discambu, durmu, comu banana, cumida. (PEUL/UFRJ, 23Gab)
20. É que eu sou muito sabido. Eu sei de tudo. A única coisa que eu não sei é como ficar
quieto agora. Porque um dia eu joguei confete na boca de um, da dona Dilma, daquela
60
cost-... daquele negocinho de costura, sabe? perto da baiana do Leme. Ela ficou
tossindo, respirou confete!
21. Dona Altair todo dia bota ele de castigo. (PEUL/UFRJ, 03Luc)
22. Ah, eu levei meu patins pra brincar. (PEUL/UFRJ, 08And)
23. Lavei ropa, lavei meia, a meia... pindurei a calça. (PEUL/UFRJ, 12Her)
De acordo com a tabela, as crianças com 04 anos de idade produzem menos sentenças
do Grupo 3 do que as crianças mais velhas. Por outro lado, todos os grupos etários
produziram mais sentenças de transitividade média do que sentenças altamente transitivas.
A seguir, apresentamos também os resultados por informante. Entre parênteses, foram
indicados, respectivamente, o sexo e a idade das crianças entrevistadas.
27
A margem de erro no cálculo da média é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
62
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