Africanidade
Africanidade
Africanidade
AFRICANIDADE E CONTEMPORANEIDADE DO
PORTUGUÊS DE COMUNIDADES AFRO-BRASILEIRAS
NO RIO GRANDE DO SUL
PORTO ALEGRE
2015
II
PORTO ALEGRE
2015
III
a Deus
O Prof. Dr. José Otávio Catafesto de Souza, insigne antropólogo da UFRGS, pela
apresentação que me fez dos Quilombos do RS.
O Prof. Marcelo Krug (UFFS) por sua contribuição teórica para este
trabalho.
A Profa. Florence Carboni pela sua leitura atenta deste trabalho ainda na
Qualificação e por suas sugestões para a melhoria final deste trabalho.
RESUMO
ABSTRACT
This thesis investigates the influence of language contact between African descent,
including Quilombolas, and speech communities present in your surroundings at different
socio-geographical areas of Rio Grande do Sul (RS). Its main objective is to perform a
multidimensional macro analysis of the variation of these african Portuguese-
Brazilian communities, with special attention to phenomena that go back on the one
hand, an african origin or, on the other hand, indicate a change in the direction of
contemporary portuguese. This study seeks to contribute in this sense to integrate the
study of african languages and their contact with the portuguese in Brazil, expanding the
knowledge of the language spoken by afro-brazilians (CASTRO PERSON, 1990; VOGT;
FRY, 1996; CARENO 1997; Petter, 2001 and 2002; Petter; FIORIN, 2009; LUCCHESI,
2009). The RS currently has 155 afro-brazilian communities that include 3831 families.
The communities selected for this thesis were: RS01 Morro Alto (Osório) –
Litoral/Lagunas Region; RS02 Família Fidelix (Porto Alegre) - Metropolitana Area;
RS03 Maçambique (Canguçu) - Region of the Antigas Charqueadas; RS04 Palmas (Bagé)
- Region of the Pampas; RS05 Cerro Formigueiro (Formigueiro) - Region of Depressão
Central; RS06 São Roque (Arroio do Meio) - Serrana/Imigração and RS07 Comunidade
Quilombo Correa (Giruá) - Region of Missões. The selected locations are distinguished
by a number of factors, whether socio-historical, political or geographical, that may
influence the language (Portuguese) spoken in those communities. Certain population
characterized by traits like ethnicity and particular language in dialetologics terms of
discontinuous spaces that resemble linguistic islands, occupies it, it is possible to identify
the afro-brazilian community as a different minority group of others. To investigate the
variety of Portuguese spoken in those communities, we rely on the theoretical perspective
of multidimensional dialectology as Thun (1998), Radtke and Thun (1996), which
includes the linguistic research different spatial and social dimensions in different speech
communities. According Thun (1998), “multidimensional dialectology” can be
understood as the general science of language variation and relations between variants
and varieties on one side and the other speakers. To diatopical dimension or areal of the
traditional geolinguistic incorporate other dimensions, such as age (diageracional
dimension) and sex (diassexual dimension) etc. Through this macro analysis model of
variation and language contacts, it was possible to identify the variable linguistic behavior
of the seven afro-brazilian communities some determinants of variation and change in
portuguese, indicated by data from different points of research (diatopical dimension),
age groups GII and GI (diageracional dimension) and talking men and women (diassexual
dimension). The mapping of data collected through a phonetic-phonological
Questionnaire - QFF (22 maps) and a Semantic-lexical Questionnaire - QSL (54 maps)
allowed to observe and empirically demonstrate some trends, among which the following
stand out: a) the linguistic behavior of members of these communities with respect to the
maintenance or loss of Africanity marks in portuguese varies between 1) a more
conservative range, more present among older speakers, 2) an adjustment to regional or
general portuguese spoken around these communities and, finally, 3) reintegration
African identity marks due to a growing ethnic consciousness and identity that can be
associated with own constitution and recognition of these quilombolas communities; b)
in diageracional dimension, it was observed, so a change in the general course, throughout
the network of research points toward both the loss and the reintegration of africanity
marks in these contexts; c) in diassexual dimension, women appear to be more likely to
join the innovations or of the portuguese surrounding variants, since men are shown as
the most conservative; d) in diatopic plan, the research points of the set is distinguished
VIII
from a greater or lesser adherence to certain variants [+/- afro], and you can view the
following trends in maps: 1) the linguistic behavior of afro-brazilian RS01 and RS02 in
points seems to reflect a more ethnically and identity awareness, probably as a result of
actions of the black movement. These points of the Litoral and Metropolitana are the most
known forms [+ afro]. 2) RS02, RS03 and RS05 as closest points of large cities (Porto
Alegre, Pelotas and Santa Maria) share at the same time, influences that suggest an
approach to the broader brazilian portuguese. This trend, however, lacks a clearer
description. 3) RS05 (Depressão Central) and RS07 (Missões) are the points that have
more losses brands [+ afro] in portuguese. Are at the same time, the farthest points of the
coast. 4) RS06 and RS07 are the points that, at least in phonetic variation, have more
influences of portuguese contact with immigration languages (german and italian). RS07
stands out, moreover, by the resistance to innovative forms of brazilian portuguese. 5)
points further north - RS01, RS06, RS07 and partly RS05 feature variations that suggest
the influence of São Paulo portuguese, especially in phonetics, probably reflecting the
language contact that occurred through the drovers routes, in the 19th century. 6) RS04,
by contrast, strongly reflects the portuguese border, already among speakers of the GII,
which may suggest a loss since early, marks [+ afro] in favor of the portuguese dominant
in the surroundings, spoken by the luso-brazilians. This trend is shared in part by the
RS03 point, which however has a more variable behavior (not as stable as in the region
of the Pampas) dangling from a previous regional influence and a more general influence
of recent brazilian portuguese. In short, the linguistic behavior of members of the
surveyed afro-brazilian communities in Rio Grande do Sul, converge generally to a
centrifugal direction, which goes against the notion of isolation that traditionally
associated with this kind of context, as the loss of africanity marks and adoption marks
of the variety of brazilian portuguese and surrounding regional brands is a constant.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... V
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 01
1
“A despeito do conteúdo histórico, o conceito de quilombos, contemporaneamente, designa a situação
presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos do Brasil. Ele não mais se refere a
resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica nem, tampouco, se trata de
grupos isolados ou de uma população estritamente homogênea constituídos a partir de movimentos
insurrecionais ou rebelados. Consistem, sim, em grupos que consolidaram um território próprio e nele
desenvolveram práticas cotidianas de resistência e reprodução de seus modos de vida. O que os define é a
experiência vivida e as versões compartilhadas de sua trajetória comum e da continuidade enquanto grupo”
(FILHO, s/d, apud MORAES, 2014, p. 110).
2
Nesta Tese, que tem por foco o estudo da variação e contatos linguísticos do português em comunidades
afro-brasileiras, cabe precisar os seguintes conceitos, correntes em diferentes âmbitos da sociedade:
Quilombola = afrodescendente que vive e reside em comunidades afro-brasileiras;
Quilombo = O termo quilombo, originalmente era utilizado apenas para chamar um local utilizado por
populações nômades, ou então pequenos acampamentos de comerciantes, e com o início da escravidão, os
escravizados adotaram o termo para o lugar que eles fugiam, e foi no Brasil que o termo ganhou o sentido
que tem atualmente. Quilombo é o nome dado no Brasil aos locais de refúgio dos escravizados fugidos de
casas de família, engenhos e fazendas durante o período colonial e imperial; ficavam escondidos nas matas,
em lugares preferencialmente inacessíveis, como o alto das montanhas e grutas; os quilombos duraram todo
o período da escravidão no Brasil. Muitos quilombos existiram no Brasil e centenas deles ainda existem,
formando o que hoje é chamado de comunidades afro-brasileiras.
2
3
Informações obtidas do Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística do Brasil (GTDL). Relatório de
Atividades (2006/2007). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=840.
4
A etnolinguista Yeda Pessoa de Castro alerta para a “falta de dados” no tocante às línguas de origem afro-
brasileira, onde a carência de informações e registros ainda é maior. Sistemas lexicais de diferentes línguas
africanas, segundo Yeda, foram preservados pelas religiões afro-brasileiras como marca litúrgica. Mas, de
acordo com a pesquisadora, nenhuma língua original da África continua sendo falada no País, nem em
comunidades de remanescentes de “quilombos”. A pesquisadora observa que as cerca de 500 línguas
faladas pelo grupo Banto na região central e sul da África foram as que mais influenciaram o português do
Brasil; mas, para a ela, as línguas africanas no Brasil foram historicamente “desprezadas”. “Quais
universidades se dedicam a pesquisas?”, questiona. “São vistas como línguas que nem faladas eram. Parece
que os 4 milhões de africanos trazidos para cá eram mudos.” Disponível em:
http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=7131
3
5
Com relação às línguas do entorno, no início do trabalho pensei nestas entrevistas, onde os vizinhos que
convivem diariamente com os afrodescendentes pudessem responder ao mesmo questionário; mas com as
limitações de tempo não foi possível realizar essas entrevistas suplementares. Por esta razão, procurei outro
procedimento para dar conta desse dado. Optei, por isso, por dados do ALERS para suprir esse ponto.
4
A investigação acerca das línguas africanas é ciência recente; muito se baseou nos
estudos de Nina Rodrigues, Jacques Raimundo e Artur Ramos, dentre outros. Nosso
6
Nesta Tese só foram analisadas as entrevistas com QFF e QSL. Apesar de realizadas as gravações, não
tivemos a oportunidade de analisar as questões morfossintáticas que permeiam a fala das comunidades afro-
brasileiras. O QMS ficará para uma futura análise, estando disponível para outros estudos.
5
7
Especialmente no III Encontro Nacional sobre Sítios Históricos e Monumentos Negros (Goiânia: 1992);
na Reunião do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais, da Associação Brasileira de Antropologia
(Rio de Janeiro, outubro de 1994), e na reunião técnica “Reconhecimento de Terras Quilombolas Incidentes em
Domínios Particulares e Áreas de Proteção Ambiental” (São Paulo, abril de 1997).
7
8
Cf. João Pacheco de Oliveira e Eliane Cantarino O’Dwyer, ABA, 1994.
9
José Milton Garcia publicado em Quilombos em São Paulo: tradições, direitos e lutas. Org. Tânia Andrade
(1997, p. 47).
8
Nosso trabalho não é para a geração atual, daqui a cem anos os estudiosos
encontrarão nele uma fotografia do estado de língua e neste ponto serão mais
felizes do que nós, que nada encontramos do falar de 1822 (NASCENTES, 1953
[1922], p. 07).
10
Para um panorama histórico da pesquisa, veja-se Altenhofen (2011).
11
Ver Almeida (2006).
9
se, pode-se dizer, nos dois grupos, na medida em que leva em conta no mínimo três
aspectos importantes para o desenvolvimento da pesquisa:
Questionário para Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul (ver apêndice A),
nas entrevistas realizadas nas sete comunidades selecionadas, o pesquisador experiência
uma evolução da percepção e entendimento de como se constitui o português nessas
comunidades, pressupondo que ali havia uma presença maior de marcas africanas. Essa
evolução demanda um tempo considerável que extrapola o tempo disponível na
realização de uma Tese. A análise e interpretação dos dados cartografados (visão
macroanalítica) representa assim, talvez, a maior contribuição deste trabalho, sem a
pretensão de esgotar o assunto, pelo contário instigar novas perguntas de pesquisa, uma
vez que é, no momento, apenas um recorte do que foi possível observar no prazo em que
esta pesquisa se desenvolveu.
As características das comunidades afro-brasileirasdo como espaços descontínuos
ocupados por uma população que se distingue étnica e linguisticamente da culytura
majoritária do entorno assemelha-se, em grande parte, ao que se convencionou chamar
na dialetologia de ilha linguística. Com este conceito reconhecemos um tipo de contexto
nas comunidades pesquisadas que salienta sua etnicidade e localização em um espaço
delimitado, e no qual se espera uma configuração linguística própria que ainda precisamos
conhecer/descrever mais a fundo. São, enfim, fatores que destacam os afrodescendentes
de quilombos como um grupo minoritário diferente de outros, mesmo os situados em
áreas urbanas.
A partir do exposto, tem-se, por conseguinte, como objetivo central da presente
Tese descrever a variação do português falado em comunidades afro-brasileiras do Rio
Grande do Sul, buscando identificar o papel de diferentes condicionamentos sócio-
históricos, a saber: o grau de isolamento; a localização rural ou urbana; a microrregião
sócio-cultural; a presença de línguas de imigração no entorno12; e a antiguidade da
comunidade ou topostática/topodinâmica da população. Pretende-se, especificamente,
verificar:
a) em que medida se mantêm marcas de africanidade que distinguem a variedade
do português dessas comunidades do português falado no seu entorno, e
b) em que medida se transferem variantes linguísticas do entorno para o
português dessas comunidades.13
12
Foi pensado em se aplicar o Questionário aos moradores do entorno das Comunidades, porém por
questões de prazo não foi possível. Utilizarei quando necessários dados extraídos do ALERS.
13
Com relação às línguas do entorno, no início deste trabalho foi pensado e esteve nas intenções de
pesquisa, mas com as limitações de tempo não foi possível fazer essas entrevistas suplementares. Por esta
12
razão, procurou-se outro procedimento para dar conta desse dado. Optou-se, por isso, por dados do ALERS
para suprir esse ponto.
13
[+ divergente] [+ convergente]
[+ conservador/ arcaico] [+ mudança linguística]
[+ africano] [+ substituição linguística]
[+ popular] [+ normatização]
Capítulo 1
DA ORIGEM AFRICANA ÀS COMUNIDADES AFRO-BRASILEIRAS
Por volta do século VII (ou VIII), os bantu encontraram-se na região dos Grandes
Lagos e a partir dessa época se multiplicaram e se expandiram rapidamente. Pelo século
X, estavam na região do atual Zimbábue, com infiltração até a desembocadura do rio
Congo (ou Zaire). É de fundamental importância nesse processo territorial compreender
que todas as classificações dos grupos humanos na África designam um espaço
geográfico e linguístico significativo para os povos bantu.
A configuração dos antigos Estados políticos no continente africano é um outro
aspecto importante para compreender a riqueza das formas de organização social, política
e territorial dos povos africanos. O que chamamos de reinos e impérios são núcleos de
domínio com limites e fronteiras bastante fluidos, que alcançam maior ou menor extensão
territorial, segundo o nível de autoridade e dinamismo dos governantes.
17
De acorco com o pesquisador Rafael Sanzio Araújo dos Anjos (ANJOS, 2005),
essas expressões não designam, portanto, um Estado político nos padrões ocidentais;
conforme a Figura 2 abaixo.
Figura 2: África – estrutura espacial dos principais Estados e formações políticas até o século XVIII –
fronteiras aproximadas (ANJOS, 2005, p. 24).
alguns povos. Por outro lado, a fala do tambor pode ser pensada como a comunicação
com o mundo espiritual.
A “palavra falada” é de muita importância nas sociedades africanas. A escrita é
uma invenção existente em várias sociedades africanas (CUNHA JUNIOR, 2007), como
a Etiópia, Núbia e Egito, sendo que mesmo na presença destas a palavra falada é um valor
social. Da palavra decorre o discurso oral, a oralidade. O discurso oral tem um lugar
privilegiado nas sociedades africanas.
A oralidade funciona como uma matriz cultural de construção do discurso e tem
diversos empregos nas diferentes sociedades do continente. Deste discurso oral emergem
as mitologias, provérbios, histórias e literaturas. As literaturas escritas guardam o suporte
da oralidade (PADILHA, 2007), (QUEIROZ, 2007), (BATTESTINI, 1997). A oralidade
africana é um conceito amplo, que abrange oratura, oralitura, inscritura, tradição oral,
literatura oral e história oral. São formas da arte verbal e da construção do pensamento na
sua forma verbal. O discurso verbal pensado e composto com diversas formas de
expressão, como teatro, a música, a dança e a expressão corporal. O discurso composto
incorpora os instrumentos musicais e o corpo. São textos das mais variadas formas que
não implicam de forma necessária os acessos públicos. Temos textos iniciáticos, textos
de grupos de conhecimento científicos e tecnológicos secretos de grupos de especialistas,
textos eruditos, no sentido do conhecimento decodificado por um grupo fechado. A
decorrência da palavra é muito ampla nas diversas culturas do continente africano.
As formas dos princípios filosóficos Ntu é a força do universo, que sempre ocorre
ligada a sua manifestação em alguma coisa existente no campo material ou do simbólico
ou do espiritual, nomeados nas formas de muntu, kintu, hantu e kuntu. O Ntu, embora
não exista por si próprio, transforma a tudo que existe com elementos tendo uma mesma
natureza em comum. Tudo tem o seu Ntu. O Ntu não expressa a força da natureza em si,
mas a sua existência. Importante que deus é a única categoria à parte que não tem
necessidade de se expressar pelo Ntu. O deus é único é não é um Ntu, mas os ancestrais
e Inquices14 são parte de um dado Ntu. O Ntu é uma expressão de energia. Tudo é
composto da combinação ou transformações da energia em qualidades diversas. Cada
categoria tem um Ntu em determinada qualidade ou modalidades.
14
Inquice é o mesmo que orixá nos candomblés de Angola e do Congo. No panteão dos povos de língua
quimbunda originários do Norte de Angola, o deus supremo e criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo
dele, estão os Minkisi ou Mikisi (plural do termo quimbundo Nkisi, "receptáculo"), divindades da mitologia
banta (PREVITALLI, 2012).
20
15
Para Kagame há "quatro noções unificadoras últimas" que, por sua vez, remetem a uma única raiz
transcendental: -ntu = ser (Kagame, 1976, p. 121-125). Em Jahn (1963, p. 136-142) pode-se encontrar um
resumo das interpretações da filosofia subjacente à linguagem bantu (suas classes e categorias). Jahn segue
as teses de Kagame procurando compatibilizá-las com Tempels. As quatro "noções unificadoras últimas" -
misto de ser, força e substância - são assim apresentadas por Jahn: "Muntu = homem, Kintu = coisa, Hantu
= lugar e tempo, Kuntu = modalidade. São as quatro categorias da filosofia africana. Tudo o que é, todo
ente, qualquer que seja a forma sob a qual se apresente, pode se incluir numa destas quatro categorias. Fora
delas, nào há nada de imaginável. Ntu é a força universal em si, mas que jamais aparece separada de suas
formas fenomênicas: Muntu, Kintu, Hantu e Kuntu" (JAHN, 1963, p. 136-137).
21
[...] as línguas Bantu têm um rico sistema de classes nominais, com prefixos de
classe alternados sg/pl, em parte com bases semânticas, com morfemas de
concordância obrigatórios dentro da forma verbal para o sujeito, para o objeto
direto quando o verbo é transitivo e o objeto indireto quando o verbo é ‘bi-valente’
obrigatório (por exemplo, ‘dar’); ademais, a ordem de inserção destes morfemas
(prefixos e infixos) é fixa; os morfemas de tempo-modo-aspecto (TMA), etc., são
prefixados ao radical verbal, os sufixos sendo ‘modificadores’ semânticos (ku-
fung-a : fechar, ku-fung-ul-a : abrir).
Nessa integração das palavras de origem Bantu, houve duas fases; a primeira
ocorreu quando os falantes de línguas Bantu se acharam no Brasil e tentaram aprender a
falar a variedade de português praticada no ambiente da senzala e nas relações com os
feitores. Nesta fase não houve “empréstimo” de palavras Bantu, pelo contrário, o que
estava sendo “emprestado” era o português, que estava sendo “acomodado” às estruturas
das línguas Bantu, foneticamente, morfofonologicamente e semanticamente.
Esse fato revela uma rede de ressignificações, com neutralizações,
ressemantização, dando uma nova carga, pactuando e negociando, nesse jogo linguístico.
Hoje interpretamos como palavras de tipo flexionais e não aglutinante.
23
16
Mina não é etnia de africanos e sim uma palavra portuguesa. Mina deriva de negro-mina, de São Jorge
da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge da
Mina” (Costa do Marfim, Costa do Ouro, Costa dos Escravos e as ilhas portugueses de São Tomé e
Príncipe), no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria,
que eram conhecidos, principalmente, como negros mina-jejes e mina-nagôs. Para o trabalho na mineração
havia a preferência por um tipo específico de escravo, pelo qual se pagava caro: o negro-mina. Baixo e
forte, o negro-mina vinha da região do Congo. Forte para a brutalidade do trabalho e baixo para melhor se
mover nos ambientes apertados dos talhos e das galerias das minas, o negro-mina recebia tal denominação
por conhecer técnicas rudimentares de mineração, as quais aprendiam em sua própria cultura (VERGER,
1987, p. 12)
24
Figura 3: Mapa e quadro elaborados por Yeda Pessoa de Castro (2001, p. 47).
Os relatos escritos são poucos, mas resistem pela tradição de seus testemunhos
orais. As línguas oficiais de muitos países africanos não são as nativas, mas sim as dos
colonizadores, sobretudo o inglês, o francês e o português.
Outras famílias linguísticas faladas no Continente Africano: a indo-europeia, a
qual pertence o africâner, o francês, o espanhol e o inglês; e a Austronésias (antiga malaio-
polinésia), que abrange o malgaxe, idioma de Madagascar, por exemplo.
As línguas africanas são classificadas em quatro grandes famílias, cujo grupo de
idiomas procede de um mesmo tronco. São elas:
É fluente desde as margens do rio Níger até a Etiópia, através do vale do alto Nilo
e em algumas partes da Uganda e do Quênia. O songai, língua nilo-saariana como o kanúri,
o tebu e o zarma, é o idioma falado em grande parte do Alto Níger, Mali e Níger.
O ramo saariano abrange as línguas do norte da Nigéria, da República do Chade
e de alguns assentamentos da Líbia. O ramo nilo-chadiano conta com 1 milhão de falantes
27
Reúne línguas que contam com menor número de falantes (cerca de 100 mil). São
os idiomas falados pelos povos do sul da África, os San e os Kikuius. O mais falado é o
nama. A noroeste da Tanzânia existem duas línguas da mesma família: a sandawe e a
hadza. Na família KhoiSan, ainda se encontra as línguas: Kung-ekoka e Xóõ (ambas
faladas pelos hotentotes na África do Sul e Namíbia). Khoisan são as línguas faladas com
estalinhos, pelos pigmeus.
A Níger-Congo também inclui numerosos grupos para sul do Sahara, com destaque
para os bantos, ao sul do Equador. Esta família compreende vários grupos de línguas, como:
Adamawa-Ubangui, Atlântico Ocidental, Benue-Congo, Subgrupo Bantu, Gur, Kru, Kwa,
Mandê, Akan, Bacongo, Balanta, Bambará, Bamileke, Banto, Bassa, Baulê, Bemba, Bété,
Cabie, Chacue, Changã, Changana, Chicheua, Ciao, Congo, Diula, Duala, Euê, Fangue, Fon,
Fula ou fulani, Peule ou pular, Ganda, Guaragigna, Gurma, Hadza, Herero, Igbo/Ibo, Iorubá,
Kanúri, Lingala, Luganda, Luo, Macua, Mandinga, Mende, Mooré, Mossia, Muchope,
Nama, Ndebele, Nianja, Ngbandi, Nyarwanda, Núbio, Ovimbundo, Quicongo, Quiluba,
Quimbundo, Quiniaruanda, Ronga, Rundi/Quirundi, Sandawe, Sepédi, Setsuana, Sindebele,
Sissuáti, Songai, Soninke, Sotho, Sessoto, Sotho do norte, Suaíle / suaíli, Tebu, Temne,
Tonga, Tsuana, Ulof (Senegal), Umbundo, Venda, Xhosa / chosa, Xironga, Tsonga, Xona,
Chichona, Zande, Zarma, Zulu.
f) Línguas Crioulas
28
De todo esse complexo linguístico, Bonvini (2009) destaca quais teriam sido
trazidas para o Brasil,
- Tronco nígero-congolês:
Famílias:
atlântica: fula (fulfulde), uolofe, manjaco, balanta;
mande (sobretudo o mandinga): bambara, maninca, diúla; gur: subfamília gurúnsi;
cuá (subgrupo gbe): eve, fon, gen, aja (designadas pelo termo jeje no Brasil);
ijoide: ijó;
benuê-congolesa.
Grupos:
defoide: falares iorubás designados no Brasil pelo termo nagô-queto; edoide: edo;
nupoide: nupe (tapa);
iboide: ibo;
cross-River: efique, ibíbio.
- Tronco afro-asiático:
Família:
chádica: hauçá.
- Tronco nilo-saariano:
Família: saariana: canúri.
como: estaria a causa de tal variação linguística nas tendências já contidas na deriva da
língua ou na influência da crioulização? Em relação à primeira posição – da deriva
natural, conceito do linguista norte americano Edward Sapir – seus defensores acreditam
que é a tendência já contida no sistema que faz com que a língua tome determinada
direção, isto é, evolua naturalmente no sentido de tendências pré-existentes. Nesse caso,
as mudanças linguísticas são atribuídas à deriva interna da língua portuguesa, das línguas
românicas ou até das línguas indo-europeias. Isso quer dizer que os fenômenos variáveis
já vieram da língua portuguesa da Europa e, aqui, num ambiente de complexo quadro
sociolinguístico, assumiram um caráter quantitativamente mais expressivo e deram ao
português no Brasil seu aspecto característico.
A segunda posição leva-nos à hipótese da crioulização. Para tanto, é necessário
que se entenda como se dá a formação de uma Língua Crioula. Ela forma-se a partir de
um jargão ou de um pidgin, ambos originados do contato linguístico entre informantes de
línguas mutuamente inteligíveis, como um meio de intercompreensão. Nesta perspectiva,
as pesquisas, trabalham dentro de uma concepção teórica bastante difundida e atualmente
considerada clássica, segundo a qual uma situação de contato pode produzir um jargão
que, de acordo com Couto (1996), é uma comunicação de forma pragmática que só se
viabiliza devido ao contexto da situação por meio de estratégias individuais, sem normas
socialmente reconhecidas pelo simples fato de um grupo não conhecer a cultura e a língua
do outro; ele é considerado um pidgin instável, parte de um continuum pré-pidgin. Por
sua vez, o pidgin consiste em comunicação intensificada rumo à cristalização, “um pidgin
estável”. Nessa situação, as soluções individuais são preteridas em favor do
estabelecimento de normas sociais. O pidgin desaparece com o tempo ou se nativiza,
tornando-se uma língua crioula. Os falantes das línguas dominadas empregam seus
esforços para aprender a língua dos dominadores, porém, dada a transmissão geracional
de uma que não se trata de língua nativa (L2), com modelo defectivo dos pais para os
filhos, a língua é aprendida por meio do que se conhece na literatura por transmissão
linguística irregular17. O que os dominados conseguem é um “simulacro” da língua dos
dominadores.
17
A transmissão linguística regular é vista como se aplicando a crianças, a partir da fase de socialização,
na base de uma amostra de fala susceptível de uma análise ordenada. Por sua vez, a ‘transmissão linguística
irregular’, se daria entre adultos e/ou com base em fala não susceptível de uma análise ordenada, talvez por
ser caótica, ou por ser em quantidade insuficiente, ou ainda por outras razões (MELLO; NARO; SCHERRE,
2003, p. 230).
32
18
Vide nota 9, quanto à definição de transmissão linguística irregular.
34
estruturais do sistema, ou seja, embora admita a existência de uma língua crioula, não
afasta a hipótese da deriva natural.
A pesquisadora Yeda Pessoa de Castro (apud MUSSA, 1991 p. 28), distingue
quatro tipos de línguas praticadas por afrobrasileiros: (i) a língua das senzalas, a partir do
séc. XVI, de base banto; (ii) a língua rural, no séc. XVII, com base no quimbundo; (iii) a
língua das minas, provocado pela corrida do ouro, também de base banto, e (iv) a língua
urbana, a partir de 1808. Ela conclui que houve um nivelamento sucessivo entre tais
línguas (do mais “africanizado” ao mais “aportuguesado”) e o português do Brasil, no
qual não considera a existência de línguas crioulas. Segundo a autora, o que contribuiu
também para que línguas crioulas não surgissem no Brasil foram “fatores puramente
linguísticos [...] certas ‘coincidências’ entre a estrutura do português e das línguas
africanas faladas no Brasil” (apud MUSSA, 1991 p. 31). Pessoa de Castro não nega a
influência africana no português do Brasil, mas não o considera descendente de uma
língua crioula.
Nos trabalhos de 1981 e 1986, Gregory Guy, analisando as diferenças existentes
entre o português popular do Brasil e o português-padrão, diz que essas diferenças ou são
devidas a uma evolução linguística “natural” ou apontam para um processo de
crioulização ocorrido no passado, cujos efeitos ainda estão no presente. Ele afirma que
tais diferenças não são de caráter qualitativo e que a velocidade das transformações é que
pode apontar para uma ou outra hipótese, a saber: na crioulização o processo de
transformação é abrupto, enquanto que na evolução natural é lento. Ele defende ter havido
uma língua crioula de base portuguesa no período colonial, que se descrioulizou com o
tempo deixando suas marcas.
Contrariando a posição de Guy, Anthony Naro (1981, 1998, 2001, 2003) rejeita
qualquer hipótese de influência das línguas africanas. Ele argumenta que há dois
caminhos possíveis para as mudanças sintáticas: ou surgem nos contextos menos salientes
e se expandem para os mais salientes (mudança natural), ou o inverso, surgem em
contextos mais salientes, alcançando depois os menos salientes (mudança “consciente”).
Em relação à hipótese de crioulização ele diz que falta documentação para comprovar a
existência de pidgins ou línguas crioulas de base portuguesa no Brasil e que a pré-
existência da língua geral inibiu o desenvolvimento de uma língua crioula em terras
brasileiras.
John Holm (1992) acredita ter havido uma língua crioula de base portuguesa no
Brasil colônia que não encontrou condições para se difundir. Ele advoga o estatuto semi-
35
19
Conversei muito com os moradores das regiões visitadas, mesmo não tendo tido oportunidade de
entrevistar as etnias (alemã e italiana, os de origem) presentes no entorno das Comunidades Afrobrasileiras,
pude perceber que a partir da inserção na região eles acionaram a etnicidade, tomando dois pontos de
referência. De um lado, situam os brasileiros que ocupavam as áreas anteriormente, dentre eles os
afrodescendentes. Ao contrário do habitus daqueles, naturalizaram suas virtudes étnicas. Invocaram, na sua
positividade, a experiência partilhada de colonização, no trajeto de descolamento a uma área inóspita,
transformando “natureza em cultura”. Nessas narrativas acionaram estratégias representacionais, tais como
“a missão civilizadora”, “os construtores do progresso”, as suas virtudes étnicas, as metáforas práticas, os
idiomas da etnicidade, expressos no tripé: família, religião e trabalho. (RENK, s/d)
37
e/ou Rurais em espaços das cidades, ou seja, locais onde se reconhece a presença contínua
desses grupos em virtude de sua ocupação (LEITE, 1991).
Isso só é possível na medida em que fazemos uma retrospectiva do surgimento e
trajetória da categoria “remanescentes de quilombos” no plano constitucional e sua
estreita ligação com a luta de comunidades afro-brasileiras rurais pela permanência em
suas terras. Porque é a partir desse acúmulo de experiência que os grupos
afrodescendentes citadinos passam a se articular vendo na etnicização de suas demandas
fundiárias uma alternativa para a resolução de seus problemas territoriais.
À Antropologia coube o papel fundamental de questionamento de noções como
“quilombos” e “remanescentes”. Os antropólogos, enquanto mediadores, colaboraram
para a configuração de um conjunto de representações acerca das populações que viriam
a pleitear essa identidade. No entanto, não foram os únicos. O movimento negro
desempenha um papel fundamental nesse sentido, conferindo legitimidade aos processos
de etnogênese (BANTON, 1977) protagonizados pelas comunidades afro-brasileiras
rurais num primeiro momento, e posteriormente pelas urbanas. O surgimento da
Comunidade Afro-brasileira Família Fidelix em Porto Alegre/RS, é um exemplo singular
desse fenômeno que coloca na ordem do dia a situação das comunidades afro-brasileiras
citadinas incitando um debate entre antropólogos, juristas e ativistas do movimento negro.
O artigo 68 do ADCT completa vinte e seis anos. Nesse período, das mais de 2000
comunidades identificadas como “remanescentes de quilombos” em todo o país pelo
governo federal, poucas foram tituladas e reconhecidas. No Estado do Rio Grande do Sul,
noventa e quatro já tiveram sua publicação no Diário Oficial da União e várias outras
estão aguardando esse processo de reconhecimento20. Essa característica se explica, em
grande parte, por uma conjuntura política singular que precedeu a promulgação da
Constituição Federal de 1988.
Entre 1985 e 1987 os movimentos camponeses obtêm avanços e articulações
políticas para pressionar os órgãos fundiários a reconhecer a existência e dar uma
definição operacional para as “ocupações especiais”, ou seja, aquelas ocupações
fundiárias que não se enquadravam nas categorias censitárias e cadastrais utilizadas pelos
órgãos governamentais até então, como era o caso das “comunidades afro-brasileiras
rurais”. Esses domínios estariam entregues, ou adquiridos por famílias de ex-
escravizados, ou antigos escravizados com ou sem titulação legal (ALMEIDA, 2002). A
20
Dados extraídos do site da Fundação Palmares. Disponível em: < http://www.palmares.gov.br/. Acesso
em: 21 julho de 2014.
38
De acordo com esse autor, para compreendermos como a metáfora dos quilombos
transitou do âmbito dos movimentos sociais brasileiros até obter o estatuto de tema
constitucional, necessitamos ter em conta alguns marcos importantes desse percurso
levando em consideração outros contextos de disputa de sentido da noção em questão.
Conforme Arruti (2000), Astrogildo Pereira, fundador do Partido Comunista do Brasil,
teria sido o primeiro a propor uma interpretação classista da luta do Quilombo de
Palmares, em 1929. Ele via em Palmares a ação revolucionária dos afrodescendentes
contra os escravizadores como uma luta de classes, tal qual a existente entre proletários e
capitalistas na modernidade. O Quilombo de Palmares era identificado como um estado
revolucionário anti-escravista. O livro de Edson Carneiro intitulado “O Quilombo de
Palmares”, publicado em 1958, tornou-se referência para toda a bibliografia que se seguiu
sobre o tema, reforçando a associação dos quilombos com a ideia de resistência.
A apropriação da metáfora dos quilombos como ícone da resistência
afrodescendente ocorre no final da década de setenta e início da década de oitenta e no
campo das lutas sociais cresce e se fortalece contemplando os mais diversos conteúdos, mas
preservando parte de seu comunismo primitivo. Abdias Nascimento, em 1980, procurou
definir o conteúdo simbólico dos “quilombos” enquanto um movimento social de
resistência física e cultural da população afrodescendente que se estruturou de diversas
39
maneiras, na forma de qualquer grupo tolerado pela ordem dominante em função de suas
declaradas finalidades religiosas, recreativas, beneficentes e esportivas, etc.21
O movimento negro no Brasil, estruturado predominantemente em núcleos
urbanos, toma os “quilombos” como sua fonte de inspiração original, associando-os a
imagem de uma comunidade de afrodescendentes fugidos, caracterizada por sua
capacidade de resistência ao assédio da sociedade colonial e pela reprodução de um estilo
de vida africano na América. Essa metáfora dos “quilombos” ganha força normativa na
Constituição de 1988, em conexão com demandas de grupos afrodescendentes rurais.
A criação de novas categorias fundiárias no plano jurídico nacional dá origem a
novas categorias populacionais. Entretanto esse avanço no âmbito normativo implica em
perdas no plano simbólico, restringindo o significado dos quilombos manejado pelo
movimento negro (majoritariamente urbano) a um sentido mais idílico ou ideológico do
que propriamente sociológico (ARRUTI, 2000). Sobre as inovações que o art. 68 trouxe,
Arruti (2000) diz que:
21
Foram autores como Herskovits (1954, 1967) e Bastide (1971, 1973, 1974) que identificaram a persistência
de traços culturais de origem africana, como mecanismos de resistência cultural dos negros. A utilização dessa
perspectiva sociológica dinâmica de cultura de resistência como esquema explicativo em estudos de casos
assumiu, algumas vezes, um caráter de exaltação política da resistência cultural do negro, que configurou-se
numa visão estereotipada de que a inserção do negro em grupos organizados para práticas de lazer ou religião,
identificados como de origem africana viabilizariam ao nível ideológico a neutralização da dominação branca
que se efetiva nas esferas social, econômica e política pelos negros.
40
22
Alguns exemplos da primeira fase são os trabalhos de: Brandão, C.R. Peões, Pretos e Congos: Trabalho e
Identidade Étnica em Goiás. Brasília: Ed. UnB, 1977. Gusmão, Neusa M.M. Campinho da Independência:
Um caso de proletarização caiçara. 1979 (Dissertação de Mestrado) PUC/SP, 1979. Vogt, Carlos e Peter Fry.
Cafundó: A África no Brasil. Ed. Unicamp: SP, 1996. Sobre a produção da USP na década de 80 remetemos a:
Queiroz, Renato. Caipiras Negros no Vale do Ribeira: Um estudo de Antropologia Econômica. 1983
(Dissertação de Mestrado) FFLCH/USP, 1983. Baiocchi, Mari de Nasaré. Negros de Cedro: Um estudo
antropológico de um bairro rural de Goiás. São Paulo: Ática, 1987. Bandeira, Maria de Lourdes. Território
Negro em Espaço Branco: Estudo Antropológico de Vila Bela. São Paulo: Brasiliense, 1988.
41
com a mudança de status de seus guardadores que passam a ser extremamente valorizados
no e pelo grupo (ARRUTI, 1997).
No que diz respeito ao questionamento e crítica das noções de “remanescentes e
quilombos” podemos citar o trabalho de Almeida (2002) em que ele demonstra que o
conceito jurídico-formal de quilombo remonta ao período colonial. Compondo-se de
elementos descritivos defini-se por toda a habitação de afrodescendentes fugidos, que
passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem
se ache pilões nele. Os elementos básicos dessa definição são:
1- a fuga,
2- uma quantidade mínima de fugitivos,
3- isolamento geográfico,
4- moradia habitual, o rancho, e
5- capacidade de reprodução e autoconsumo na figura do pilão.
Trata-se de uma demanda nova, para a qual faltam os instrumentos mínimos, mas
que pode contar com um importante antecedente visando à criação de uma
sistemática adequada. Este antecedente surge dos trabalhos de acompanhamento e
crítica antropológica aos processos de regularização de terras indígenas, que têm
levado a uma progressiva sofisticação dos instrumentos acadêmicos e estatais de
investigação e intervenção (O'DWYER, 2002, p. 19-20)
23
Boletim da ABA n.º 30, de 1997.
43
[...] o rural hoje só pode ser entendido como um “continuum” do urbano do ponto
de vista espacial; e do ponto de vista da organização da atividade econômica, as
cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem
os campos com a agricultura e a pecuária (SILVA, 1997, p. 43).
44
Além disso, como identifica esse autor, nas últimas três décadas o meio rural
brasileiro se urbanizou em função do processo de industrialização da agricultura, de um
lado, e, de outro, pelo transbordamento do mundo urbano naqueles espaços que
tradicionalmente eram definidos como rurais. Todavia esses processos sociais mais
globais não se traduziram em uma uniformização da sociedade a ponto de extinguir a
particularidade de certos espaços ou grupos sociais.
No Brasil, o critério mais frequente para demarcar o espaço rural do urbano é a
dimensão da população, acompanhado da densidade demográfica e a inserção em um
ambiente sob a influência de grandes ou médias cidades. Do ponto de vista das Ciências
Sociais, a relação específica dos habitantes do campo com a natureza e o caráter de
interconhecimento das relações sociais são as principais características do meio rural. O
“rural” brasileiro está sempre referido à cidade, como sua periferia espacial precária,
sendo política, econômica e socialmente dependente dela. O meio rural configura-se no
espaço da precariedade social (WANDERLEY, 1997).
É preciso que se esteja atento a essas questões para que possamos compreender
que a emergência de “quilombos urbanos” são efetivamente processos de “etnogênese”
(BANTON, 1977) onde as identidades se constituem num movimento dinâmico de
apropriação da condição étnica e de interpretação dos eventos políticos sob um contexto
de disputa territorial. Os papeis do movimento negro e de outros mediadores, como
advogados e antropólogos, por exemplo, são fundamentais na medida em que respaldam
e até mesmo influenciam na organização política desses grupos em termos étnicos com
vistas a garantir seus direitos sobre as áreas que ocupam. Como observado em relação às
comunidades afro-brasileiras rurais, a propagação das informações sobre o tema dos
“quilombos” junto aos grupos urbanos demonstram a importância, a positividade e a
utilidade da demanda para essas coletividades que até então a desconheciam, não
acreditavam nela ou temiam as suas consequências (ARRUTI, 2000).
Reiteramo que, conforme o exposto, esse processo é vivenciado de forma
conflituosa e dramática e modela a forma como a memória desses grupos vai se configurar
tendo em vista a sua situação presente. Não obstante, a sua emergência nas grandes
cidades pode evidenciar de forma mais explícita a ideologia racial que perpassa as
relações sociais brasileiras e os conflitos que ela tende a velar sob outras formas de
desigualdade e hierarquização social.
45
24
Especialmente no III Encontro Nacional sobre Sítios Históricos e Monumentos Negros (Goiânia: 1992); na
Reunião do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais, da Associação Brasileira de Antropologia
(Rio de Janeiro, outubro de 1994), e na reunião técnica “Reconhecimento de Terras Quilombolas Incidentes em
Domínios Particulares e Áreas de Proteção Ambiental” (São Paulo, abril de 1997).
25
Cf. João Pacheco de Oliveira e Eliane Cantarino O’Dwyer, ABA, 1994.
46
designar um legado, uma herança cultural e material que lhe confere uma referência
presencial no sentimento de ser e pertencer a um lugar específico”26.
O processo de ressemantização do termo quilombo se justifica, para Anjos e Silva
(2004, p. 28), pelas seguintes razões:
[...] o conceito de quilombo, tal como vem sendo utilizado, por prender-se a um
fato do passado (o confronto armado, direto, violento e espacialmente localizado
– o refúgio), uma das possibilidades apenas de opor-se ao regime escravocrata,
conceito este enfatizado pelo senso comum como possibilidade única, exatamente
pela sua maior visibilidade, esquece e escamoteia toda uma gama variada e
matizada de situações sutis mas concretas, que fizeram face a esse processo
injusto. [...] acaba por desviar nossa atenção de uma série de outras situações de
resistência, nas quais os negros exercem papéis que não o de refugiado armado,
tornado visível pela historiografia oficial, mas outros papéis de um confronto
relativizado, na sua aparência atenuado, em relação à sociedade escravista ou
recém pós escravista do Brasil do final do século XIX e inícios do século passado
(ANJOS; SILVA, 2004, p. 29).
As duas últimas décadas foram marcadas por importantes inflexões nas narrativas
produzidas sobre a contribuição dos diversos segmentos étnicos na formação da
sociedade sulina. A revisão crítica de obras historiográficas, folcloristas e
socioantropológicas que exaltam a suposta democracia racial dos pampas foi e tem
sido taxativa em apontar a relevância do trabalho escravo na formação econômica,
política e cultural do Brasil Meridional e, concomitantemente, apontar para a
26
José Milton Garcia publicado em Quilombos em São Paulo: tradições, direitos e lutas, org. Tânia
Andrade (1997:47).
47
As pesquisas e estudos realizados nas últimas duas décadas no Rio Grande do Sul
apontam claramente para situações diferenciadas de inserção das comunidades
quilombolas nas sociedades locais, em razão tanto da especificidade econômico-
produtiva de cada região onde estão localizadas, quanto das fronteiras simbólico-políticas
negociadas com outros segmentos étnicos com os quais interagem cotidianamente. Neste
sentido, baseamo-nos em Rubert (2009, p. 170-173) e Altenhofen; Klassmann (2011) para
a escolha das regiões onde se encontram as comunidades quilombolas. (ver cap. 2, seção
2.6.1)
Podemos observar na Figura 5 acima que em sua obra Clóvis Moura ainda não
tem conhecimento do grande número de Quilombos que iria surgir no decorrer do tempo.
No entanto o Professor Kabengele Munanga descreve da seguinte maneira esta obra numa
sinopse
[...] foi a primeira obra na historiografia brasileira a tratar da questão das rebeliões
negras de maneira sistemática, mostrando com fatos históricos o alastramento
desse fenômeno em todo o território brasileiro. [...] Ele foi sem dúvida o pioneiro
e o primeiro a desmistificar a ideia do negro submisso que não se importava com
sua situação de cativo e a colocar em pauta a questão de sua participação no
processo abolicionista e libertário, habilitando-o como sujeito de sua história e da
história do Brasil e tirando-o da posição de mero objeto de pesquisa acadêmica
(MUNANGA, 1995/1996, p. 62).
Santa Vitória do Palmar, Palmares do Sul, Tavares, Tapes, Santa Maria e Aguapé
(MOURA; SCHWARCZ; HAMBURGER, 1996, p. 34).
Os Quilombos em geral eram conhecidos por seus eventos festivos que remetiam
a uma visão de mundo particular e a uma cultura diferenciada. Estes acontecimentos
ordenavam o cotidiano dessas comunidades, onde a interação entre as influências
africana, portuguesa e indígena se revelavam na superposição dos rituais religiosos, no
preparo das comidas, na divisão do trabalho, no som dos tambores e nos gestos dos corpos
dançando. Seus habitantes vivem um processo dinâmico de criação e recriação de sua
identidade étnica em torno da cultura da festa Aguapé (MOURA; SCHWARCZ;
HAMBURGER, 1996, p. 33).
Figura 8: Quadro das comunidades remanescentes de antigos quilombos no Brasil – 2000 – primeira
sistematização. Fonte: (ANJOS, 2000, Mapa Temático 8)
51
Não apenas por compartilharem características físicas comuns (como a cor da pele
e diferentes graus de parentesco), mas também, e sobretudo, por suas práticas culturais
tradicionais, as comunidades afro-brasileiras do Rio Grande do Sul são comunidades que
se auto-identificam com os territórios de que são parte integrante.
Vale observar, por esse prisma, que Poutignat e Fenart (1998, p. 189) ressaltam
que “os grupos étnicos são categorias de atribuição e identificação realizadas pelos
próprios atores e, assim, têm a característica de organizar a interação entre as pessoas”.
Dessa forma, os modelos culturais podem ser constantemente reelaborados, com base
nas origens, tradições e culturas comuns ao grupo. Em outras palavras, as manifestações
culturais tanto se originam do grupo, quanto dão forma a esse mesmo grupo.
53
a) Abertura do processo;
b) Caracterização da comunidade (autodefinição);
c) Produção do RTID (Relatório técnico de identificação e delimitação);
d) Publicidade e consulta a órgãos e entidades;
e) Julgamento das contestações e manifestações;
f) Portaria do presidente do INCRA;
g) Envio para o Governo Estadual;
h) Diferentes situações = diferentes caminhos: desapropriação, anulação de títulos
viciados (grilagem), reassentamento de posseiros, envio para o SPU.
i) Demarcação física;
j) Outorga do título;
k) Registro em cartório.
Figura 12: Quadro geral de Comunidades Remanescentes de Quilombos – 2013. Fonte Fundação
Cultural Palmares.
Figura: 13: Mapa do Estado do Rio Grande do Sul dividido em regiões (Fonte:
http://img.radios.com.br/mapas/brasil_riograndesul.gif).
No mapa acima o Estado do Rio Grande do Sul está dividido em Regiões, onde
encontramos duas comunidades na Região Metropolitana de Porto Alegre; uma
comunidade no Sudeste Rio-grandense; uma comunidade no Sudoeste Rio-grandense;
uma comunidade Centro Ocidental Rio-grandense; uma comunidade no Centro Oriental
Rio-grandense; e uma comunidade na Região Noroeste Rio-grandense (Fig. 12).
No entanto, usaremos, para identificar as localizações das comunidades afro-
brasileiras em estudo, a classificação de Rubert (2009), que destaca cinco Regiões:
1) Região do Litoral/Lagunas por ser a primeira região do estado a ser ocupada por
portugueses, especialmente de origem açoriana; onde houve inicialmente a instalação
de sesmarias que forneciam a infra-estrutura necessária para os caminhos das tropas,
além de assegurarem a posse territorial diante das constantes investidas dos espanhóis.
Nas primeiras décadas do século XX acorrem para aquela região os descendentes de
imigrantes italianos e alemães, coincidindo com o estabelecimento de grandes lavouras
de arroz irrigado. É possível observar, atualmente, o grande avanço da agroindústria
da celulose, com vastas áreas sendo ocupadas por plantações de pinus, acácia negra e
58
3) Região dos Pampas e Antigas Charqueadas são duas áreas historicamente dotada de
uma matriz produtiva assentada na pecuária de corte, impulsionou o surgimento das
charqueadas no século XIX, empreendimento industrial que requeria uso intenso de
mão-de-obra escrava. A localização das charqueadas nas proximidades da Serra do
Sudeste (ou Serra dos Tapes) foi um fator facilitador para a constituição de refúgios
de escravizados e/ou futuro apossamento de terras inicialmente não valorizadas. A
posterior ocupação desta região serrana por imigrantes alemães tornou mais tensa as
relações étnico-raciais, tendo em vista que as áreas de relevo acidentado também
passaram a ser cobiçadas para o desenvolvimento de atividades agropecuárias em
propriedades de pequeno e médio porte. As comunidades localizadas mais ao sul e na
fronteira oeste se encontram em acelerado processo de desagregação devido às
alterações na matriz produtiva tradicional: a expansão da soja e da fruticultura em
escala industrial reduz os já escassos postos de trabalho oferecidos pela pecuária. Além
disso, são as comunidades destas regiões as que menos usufruem de acesso a bens e
serviços públicos básicos, como estradas, saúde, educação, energia elétrica, etc.
(RUBERT, 2005). Observa-se a presença significativa, nestas regiões, de ascendentes
59
4) Região da Depressão Central que foi colonizada inicialmente por portugueses, que
estabeleceram sesmarias onde predominava a atividade de pecuária, a região passou a
ser ocupada por levas de colonos europeus – principalmente italianos – nas últimas
décadas do século XIX. Com esta segunda ocupação introduziu-se a rizicultura,
tornando a terra um bem de produção muito disputado, além de inicialmente requerer
um grande contingente de mão-de-obra disponível e, portanto, destituída de meios
próprios de produção. Os conflitos pela apropriação das terras passíveis de
mecanização, bem como o marcante grau de segregação racial propiciada pela entrada
de imigrantes de ascendência européia, ocasionaram uma forte tendência à
expropriação territorial das comunidades afro-brasileiras situadas nesta região. Nesta
região encontramos o Quilombo Cerro do Formigueiro no município de Formigueiro.
5) Região das Missões que constituiu a última fronteira agrícola a ser ocupada no estado,
foi intensamente disputada entre indígenas (principalmente Kaigangs), lavradores
nacionais (também denominados de caboclos) e migrantes europeus, resultando em
um processo de expropriação das duas primeiras categorias em prol da terceira. A
integração econômica desta região ao restante do estado foi mediada, originalmente,
pela coleta e comercialização da erva-mate. A historiografia tradicional aponta esta
região como a que menos fez uso de mão-de-obra escrava, tendo em vista que
originalmente a geografia era pouco propícia ao desenvolvimento da atividade
pecuária devido à presença de cobertura florestal. Pesquisas recentes apontam, no
entanto, a presença significativa de contingentes de escravizados nos primeiros
núcleos populacionais – principalmente no município de Cruz Alta (ZARTH, 2002, p.
122; DARONCO, 2006), além de indicarem o uso da mão-de-obra escrava no cultivo
e preparo da erva-mate, informação até então inédita (BORTOLLI, 2003). Assim como
a região da Depressão Central, esta foi uma das mais atingidas pelo processo de
modernização na agricultura, com a predominância da sojicultura, o que pode ter
intensificado os processos de expropriação de territórios afro-brasileiros localizados
em áreas propícias à produção mecanizada. Nesta região encontramos o Quilombo
Correa no município de Giruá.
60
Língua minoritária pode ser entendida como toda e qualquer língua falada por uma
minoria num estado nacional. Partindo deste princípio, o Grupo de Trabalho da
Diversidade Linguística do Brasil (GTDL), em Seminário realizado no ano de 2006,
começou a discutir acerca da Criação do Livro de Registro das Línguas.
Segundo o Livro de Registro de Línguas do IPHAN, no Brasil, além da Língua
Portuguesa, temos mais de 200 línguas sendo faladas. As nações indígenas do país falam
cerca de 180 línguas (chamadas de autóctones), e as comunidades de descendentes de
imigrantes cerca de 30 línguas (chamadas de línguas alóctones). Além disso, usam-se
pelo menos duas línguas de sinais de comunidades surdas, línguas afro-brasileiras, e
práticas linguísticas diferenciadas nos “quilombos”, muitos já reconhecidos pelo Estado, e
outras comunidades afro-brasileiras. Finalmente, há uma ampla riqueza de usos, práticas
61
III─ Por comunidades negras rurais, como forma de resistência cultural foi
registrado por duas obras: uma sobre a linguagem do Cafundó, em São Paulo
(Vogt; Fry, 1996) e outra a respeito da linguagem da Tabatinga, em Minas Gerais
(Queiroz, 1998). Em Minas Gerais há menções sobre situação semelhante no
povoado de Milho Verde e em Capela Nova (QUEIROZ, 1998, p. 32).
IV─ [...] Vogt; Fry relatam a existência em Patrocínio (MG), de uma língua‘
identificada como calunga, com um léxico bastante semelhante ao do Cafundó,
mas com um uso bastante distinto: ela é falada por brancos e negros,
indistintamente (VOGT; FRY, 1996, p. 234-255).
Capítulo 2
MACROANÁLISE PLURIDIMENSIONAL E CONTATUAL:
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLOGIA DA PESQUISA
contato (PONSO, 2003; MARGOTTI, 2004; LEÃO, 2007; PERTILE, 2009; DÜCK,
2011; HORST, 2014).
Dialetologia
Pluridimensiona Espaço variacional e disciplinas da variação
l
Dialetologia Sociolingüística
Dialetologia z
tradicional: y
valoriza a análise
espacial, mas
deixa de abordar
diferentes A B C
variáveis D N
extralinguísticas; y
x v
Sociolinguística:
aborda diferentes z A
dimensões em Dialetologia pluridimensional e relacional
apenas um
determinado
espaço; A1 B1 N1
Dialetologia
pluridimensional: A2 B2 N2
busca suprir as y
lacunas existentes
nessas duas A3 B3 N3
abordagens ao
analisar
diferentes A4 B4 N4
variáveis
extralinguísticas
em diversos x
pontos de
pesquisa (THUN,
1998, 2010).
Figura 14: Modelo da dialetologia pluridimensional e relacional, segundo o esquema de Thun (1998, p.
705)
Na seção 2.6 definiremos essas questões para a situação dos quilombolas no RS.
A cartografia é um procedimento central da análise pluridimensional. Será abordada na
seção 2.8.
casos, além da língua portuguesa, estas ilhas estão cercadas por línguas de imigração,
como é o caso do Quilombo São Roque.
O termo “ilhas linguísticas” é mais amplo na Europa, onde existem questões
espaciais e étnicas envolvidas. Os linguistas europeus utilizam tais critérios específicos
para definir como, por exemplo, a distinção entre as comunidades rurais ou urbanas, ou
seja, não há localidades linguisticamente e etnicamente homogêneas. Muitas localidades,
no entanto, são caracterizadas por constelações multiétnicas e são principalmente
definidas em termos de redes sócio-comunicativas bastante fechadas e uma consciência
da diferença étnica.
Outro aspecto a se destacar é o fator "isolamento " o que fez com que a língua
majoritária tivesse um contato mínimo com essas comunidades de fala. Em outras
palavras, no entorno das comunidades quilombolas, a priori, é praticada a variedade
padrão da língua majoritária e as comunidades são linguística e culturalmente isoladas.
O conceito de Ilhas linguísticas deve ser colocado em outro aspecto, o
sociolinguístico. Uma ilha linguística é uma comunidade linguística que se desenvolve
como resultado de uma interrupção ou problemas na assimilação cultural linguística.
Cercadas por culturas linguísticas e / ou étnica dominantes, essa minoria linguística que
se tornara separada, fora de suas raízes originais foi mantida separada e à parte da cultura
da maioria com qual mantém contato tangencial.
Edwards (1990 apud AUER; SCHMIDT, 2010, p. 333) distingue entre três tipos
diferentes:
De acordo com esta tipologia, ilhas linguísticas podem ser definidas como
"minorias não-local, não-adjacente". Eles têm de ser distinguido principalmente de dois
outros tipos de minorias (cf. Riehl, 2004, p. 55-57, apud AUER; SCHMIDT, 2010, p.
333):
1. minorias étnicas sem pátria (por exemplo, Sorbs , Ladinians ou bretões ), que
são definido como exclusivo e não- adjacente. Eles são assentamentos antigos que
72
foram excluídos dos processos de construção da nação e, portanto, não têm uma
pátria linguística que oferece uma variedade padrão e tradição literária .
Consequentemente, , eles têm que codificar a sua própria variedade como língua
escrita (cf. Pusch , 2005). Por comparação , a ilha linguística pode usar um padrão
externo e pode até convergir em direção a ela . Elas são influenciadas pela
evolução da linguagem na pátria e por sua política de língua (por exemplo , o apoio
de um sistema escolar minoritário.
Esses itens acima podem ter sido o motivo de não haver se perpetuado línguas
crioulas e línguas africanas no Brasil; visto que o africano escravizado aqui chegado
perdeu toda a sua referência linguística de origem, não podendo renovar seu repertório
falado. Nas novas gerações que seguiram o que se vê é o simples uso de algumas palavras
ou termos ancestrais. Já na língua portuguesa escrita o que restou foi somente palavras
isoladas do seu contexto africano. O que corrobora para esta tese é o fato de que quanto
mais isolada o Quilombo mais léxico de língua africana foi retido (vide “Cupópia” –
Quilombo do Cafundó/SP e “Gira da Tabatinga” – Bom Despacho/MG), línguas
minoritárias de base africana (Umbundo, Quimbundo) que perderam totalmente sua
conexão visível com a África.
Em suma, temos que com relação às diversas comunidades quilombolas existentes
no Brasil, o que as faz se enquadrar no conceito de “ilhas linguísticas” é a sua peculiar
forma de isolamento espacial, seu espaço linguístico descontínuo e, principalmente, a sua
disposição “sócio- psicológica” ou até mesmo sua “consciência de ser
diferente”(MATTHEIER, 1996, p. 815 apud AUER; SCHMIDT, 2010, p. 334).
Os quilombos históricos foram verdadeiros enclaves em solo brasileiro, onde estas
ilhas linguísticas iam do uso de línguas africanas ao uso de variedades da língua
portuguesa; no RS deve ter existido questões bem mais sui generis por conta da população
que ali se estabeleceu a partir do começo de século XIX, ou seja, uma ilha linguística
cercada por outras ilhas linguísticas, ou melhor,por variedades minoritárias e uma língua
majoritária.
73
O engajamento mútuo implica em uma interação regular, que é a base das relações
que tornam a existência de uma comunidade de prática possível. O empreendimento
negociado implica em um objetivo comum e implica também um envolvimento de
relações complexas que se tornam parte da prática da comunidade, de maneira que as
contribuições e negociações de seus membros refletem a compreensão das regras da
comunidade. Por fim, o repertório compartilhado implica em recursos linguísticos, tais
como uma terminologia especializada, discursos, rotinas linguísticas, gestos etc., que se
tornam parte da comunidade de prática.
27
Um agregado de pessoas que se juntam em torno de um empreendimento mútuo, modos de fazer coisas,
modos de falar, crenças, valores, relações de poder- em resumo, práticas, que emergem no curso de um
esforço mútuo. Como um construto social, a comunidade de prática é diferente da comunidade tradicional,
basicamente porque é definida simultaneamente pelos seus membros e pela prática na qual seus membros
se engajam. (Tradução nossa)
76
Diante dos processos que atuam na configuração de uma língua em contato com
outras variedades, fica a questão sobre o escopo de análise da variação linguística que nos
contatos linguísticos se reveste de uma complexidade ainda maior.
O modelo que escolhemos para dar conta dessas relações é o da análise
pluridimensional e relacional, que busca combinar a dimensão diatópica com dimensões
sociais. Segundo Thun (2004), essa junção de geolinguística e sociolinguística, entre
espaço e sociedade, amplia as perspectivas de análise e de observação de situações
linguísticas. A perspectiva bidimensional adotada pela dialetologia tradicional e o eixo
vertical da sociolinguística formam o espaço variacional tridimensional da dialetologia
pluridimensional e relacional (ver. Figura. 13).
Dessa forma, a dialetologia pluridimensional procura analisar todos os planos e
todas as relações existentes. O foco desloca-se, além disso, da ênfase em dialetos puros
77
para a análise de variedades vistas como mistas, incluindo os fenômenos de contato entre
línguas de minorias e maiorias, e entre formas regionais e o comportamento variável de
diferentes grupos em contato.
Para a concretização desse “casamento” entre geolinguística e sociolinguística,
Thun desenvolveu uma série de procedimentos metodológicos para a análise da variação
e dos contatos linguísticos nas diferentes dimensões.
De acordo com os objetivos propostos para esta pesquisa, serão controladas três
dimensões e parâmetros da amostra, segundo o Quadro 2 a seguir.
Além dos parâmetros elencados no Quadro 2 consideramos o critério de ter
nascido e vivido sempre ou a maior parte de sua vida na comunidade onde mora.
diarreferencial Lg: fala “objetiva” Análise qualitativa de dados obtidos por meio
MLg: fala metalinguística da técnica de entrevista em três tempos:
perguntar – insistir - sugerir
diareligiosa Mafri: cultos de matriz NÃO será considerada, será dada atenção à
africana religião, porém de forma qualitativa.
Crist: cristão (católico,
evangélico etc)
dialingual Conta: monolíngues e/ou NÃO será considerada, porém será dada
(contatual) contato com língua atenção para situações de contato línguas
alóctones autóctones e línguas alóctones e para
Lafri: praticantes de praticantes de línguas ritualísticas de religiões
línguas ritualísticas de de matriz africana.
religiões de matriz
africana
Por meio da leitura dos RTID28, observou-se entre as comunidades acima listadas
a presença viva na memória dos atuais moradores da ancestralidade escrava, além de
inúmeros indícios que comprovam a constituição de territórios étnicos (ilhas linguísticas)
no transcorrer do regime escravocrata e após a abolição.
A limitação a sete pontos distribuídos no Estado do Rio Grande do Sul, foi orientada
pelo tempo previsto para a realização da pesquisa e pela meta de se obter uma amostra
representativa da variedade do português de contato falado em comunidades afro-
brasileiras. A descrição do português contatual se fez numa perspectiva pluridimensional
macrozoneada, levando-se em conta a pluralidade de pontos bem como a pluralidade de
informantes, visando garantir uma maior representatividade dos dados.
A seguir apresentamos uma síntese histórica e cultural das comunidades
quilombolas incluídas na pesquisa. Nos textos sobre cada um dos pontos, procuramos
evidenciar aquelas informações que julgamos mais relevantes para a análise e
compreensão dos fatos linguísticos.
28
O Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) apresenta informações históricas,
antropológicas, socioeconômicas, fundiárias, cartográficas, ambientais e ocupacionais, que compõem a
instrução dos Processos Administrativos que tratam das regularizações fundiárias das terras ocupadas
tradicionalmente pelas Comunidades Remanescentes de Quilombos.
O RTID é constituído pelas seguintes PEÇAS:
I. Relatório Antropológico de caracterização Econômica, Histórica e Sócio-
Cultural;
II. Planta e Memorial Descritivo;
III. Cadastro das famílias remanescentes da comunidade de quilombo;
IV. Cadastro dos demais ocupantes e presumíveis detentores de título de domínio relativos ao território
pleiteado;
V. Parecer Conclusivo.
O Relatório Técnico é elaborado pelo Grupo de Trabalho instituído por Ordem de Serviço, com o auxílio
do corpo técnico dos servidores do INCRA. (Fonte: INCRA/RS)
80
pobres, deixou sua marca na memória da cidade, sobretudo nas crônicas de carnaval,
samba e batuque.
Seu crescimento deu-se na década de 1940. O Projeto Renascença (que propunha
um renascimento de um novo lugar apagando sua desorganização e pobreza), executado
na década de 1970, canalizou o Arroio Dilúvio, formando a Avenida Ipiranga, e
parcelando a área em lotes comercializados pela especulação imobiliária. Sua população
na maioria foi retirada para a área da Restinga Velha. Parte desta área, no final da década
de 1970, foi cedida para a construção do Hospital de Porto Alegre, vinculado inicialmente
ao funcionalismo municipal.
O entorno foi então ocupado pelos integrantes da Comunidade Família Fidélix,
que paulatinamente construíam suas moradias, nas décadas posteriores 1980 e 1990 ,
constituindo lugares de lazer como o campo de futebol. Fortaleceram os laços de
compadrio e de vizinhança, ampliando o espaço de atuação política com a fundação da
associação de moradores e quilombola para as demandas sociais e o pleito de
regularização da terra.
Segundo dados atuais sobre a formação étnica do Rio Grande do Sul – RS,
presentes na Tabela “População residente por cor ou raça e religião” (IBGE, 2010), o
município de Canguçu apresenta cerca de 1000 pessoas pardas e 4000 pretas, mostrando
aproximadamente 5000 afro-descendentes. Além disso, considera-se Canguçu o
município com maior número de minifúndios do Brasil – propriedades com 12 a 15
hectares – responsáveis por sua economia predominantemente agropastoril, atividade que
significa 68% da renda envolvendo 80% da população do município.
A comunidade Quilombola de Maçambique localiza-se na fronteira entre Canguçu
e Encruzilhada do Sul, na Serra dos Tapes, e fica aproximadamente 75 Km distante da
Sede do Município que apresenta limite geográfico com outros municípios: Encruzilhada
do Sul, Amaral Ferrador e Cristal ao norte, com Cerrito ao Sul, com Morro Redondo,
Pelotas e São Lourenço do Sul ao leste e com Piratini a oeste. Canguçu é cortado pela BR
392, rodovia que liga os municípios de Pelotas e Santa Maria e sua distância da capital
Porto Alegre é de 310 km, enquanto que 55 km de Pelotas. O município possui extensão
83
territorial de 3.251 km2, sendo 7,86 km2 de área urbana, 05 distritos e 120 localidades,
8000 km de estradas vicinais e 250 km de estradas intermunicipais.
Esta comunidade já vem se auto-declarando quilombola desde 2004 (Rubert,
2005), e foi certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2009. Atualmente a
Associação Quilombola possui como membros 56 famílias, distribuídas em uma distância
aproximada de 13 km de terras. O território não é ocupado de forma continua, pois as
residências das famílias quilombolas são intercaladas por residências de famílias não
quilombolas. As casas localizam-se em um terreno íngreme, nos topos das serras ou no
interior de pequenos vales, a uma altitude de aproximadamente 240 m do nível do mar.
O Quilombo de Maçambique situa-se na denominada “regiões das charqueadas”,
áreas onde no passado houve grande concentração de mão-de-obra escravizada. Canguçu
foi povoado por índios, portugueses açorianos e espanhóis, estes últimos disputavam as
terras com Portugal, afrodescendentes que trabalhavam na Real Feitoria e imigrantes
europeus como os franceses, italianos e alemães vindos principalmente da Pomerânia.
Estes contribuíram para a formação dos cinco Distritos que compõem o município
atualmente.
Segundo Gutierrez (1993) a rotina dos escravizados das charqueadas dividia-se
entre a salga da carne e as atividades nas olarias, exigindo planteis que chegavam a até
80 escravizados, na grande maioria, homens. É nas áreas mais altas desta região que se
concentra grande parte das comunidades, fato que leva a crer que eram áreas de difícil
acesso no passado que serviam como ponto de resistência afrodescendente. Somente em
Canguçu há 13 comunidades, são elas: Armada, Estância da Figueira, Cerro das Velhas,
Redenção do Manoel do Rego, Iguatemi, Favila, Passo do Lourenço, Cerro da Vigília,
Cerro da Boneca, Quilombo do Faxinal, Boqueirão, Potreiro Grande e Maçambique
localizadas nas Serras dos Tapes.
O inicio do povoamento de Canguçu teve como marco a instalação, entre 1783 e
1788, em Canguçu velho, a Real Feitoria do Linho Cânhamo do Rincão de Canguçu. A
principal economia da região se dava em função dessa atividade e da pecuária. Bento
(1976) ressalta que
Na real Feitoria, além do Linho era produzido estopa para vestir os escravos,
milho, feijão, abobora e mandioca. A última passou grande parte a ser
transformada em farinha. A pecuária teve grande impulso adjacente aos atuais
locais de Canguçu e Canguçu-Velho, tendo seu rebanho em 1788, apesar do
elevado desfrute, atingido 3.031 bovinos e 105 cavalos e muares (BENTO, 1976,
p. 23).
84
Em 1788, a Real Feitoria do Linho Cânhamo de Canguçu, foi deslocada para São
Leopoldo, em um local atualmente chamado de Feitoria, onde funcionou até 1824. No
entanto, a região da Serra dos Tapes não era favorável a criação de gado, devido ao terreno
montanhoso e a mata densa. Eram locais pouco habitados e possuíam abundância de caça,
água e madeira para a construção de casas, além de boas terras para a agricultura. A
historiografia aponta que é justamente nesta região que se formavam quilombos, sendo
que grande parte eram itinerantes, ou seja, não tinham um paradeiro fixo e não
apresentavam um número grande de cativos. Viviam basicamente da agricultura de
subsistência e da pilhagem. O mais famoso quilombo da região da Serra dos Tapes foi o
de Manuel Padeiro, cuja formação teria se dado em 1834. Esse quilombo era pequeno,
constituído de poucos integrantes que se organizavam da seguinte forma:
O grupo era conhecido por saquear algumas das chácaras da região e negociar os
produtos com comerciantes, desenvolvendo também o plantio de algumas roças. Algumas
narrativas que emergem do diálogo com as pessoas mais velhas da comunidade
quilombola de Maçambique estabelecem um elo entre a origem da comunidade e esta
tradição de resistência escrava referida na historiografia. A comunidade leva este nome
em razão do enterramento no topo da serra, em um local em que antigamente havia mata,
de um escravizado de nome Maçambique que encontrava-se em situação de fuga.
O local onde este ancestral escravizado foi enterrado no passado, hoje é um dos
principais marcos simbólicos que legitima a territorialidade da Comunidade, e se constitui
hoje em um cemitério comunitário de toda aquela localidade, embora predomine o
85
rodovia BR 153, passando a ponte do rio Camaquã, em direção ao sul do RS, entrando à
direita na primeira estrada vicinal. São aproximadamente 295 km de Porto Alegre até a
entrada da estrada vicinal, mais 14 km até a entrada na porteira que dá acesso ao Rincão
dos Alves.
O Quilombo de Palmas localiza-se a 70 quilômetros da Sede do município de
Bagé. Ele é constituído por toda uma área ocupada por uma comunidade remanescente
de quilombo, que teve sua gênese a partir dos afrodescendentes das senzalas das grandes
sesmarias da região, dos afrodescendentes que se agregaram num contexto de
desestabilização política ocasionada pelas sucessivas guerrilhas, guerras ou revoluções.
A noção de área ocupada corresponde aquelas que foram apontadas pelos
quilombolas da Coxilha das Flores, também conhecido como Rincão dos Alves; Rincão
das Pedreiras e Rincão dos Infernos. As três comunidades mantêm secularmente laços
sociais de parentesco, compadrio e matrimoniais, sendo que as duas primeiras possuem
uma estreita ligação por meio de trilhas internas, enquanto que o Rincão dos Infernos está
situado em uma área descontínua, embora todas elas configurem uma mesma unidade
social e cultural, e origem comum.
As terras de Palmas estão localizadas em uma zona rural, constituída de 30 a 40
famílias. Esta microrregião fronteiriça possui um solo litólico, bastante pedregoso e
irregular, uma área íngreme, cujas características quanto mais se adentra ao quilombo e
nos aproximarmos do Rincão do Inferno, estas características são acentuadas quando se
está mais próximo ao vale do Rio Camaquã-Chico. Depreende-se daí, o fato de os
afrodescendentes ter obtido concessões para ocupar estás áreas ou, então, de adquiri-las,
uma vez que elas são áreas consideradas impróprias para a prática de uma agricultura
extensiva ou familiar, bem como para a pecuária.
A Comunidade Quilombola de Palmas, de acordo com várias narrativas, teve
início com a concessão de terras, por parte dos proprietários ou dos descendentes da
Sesmaria dos Simões Pires para a ex-escrava Margarida Sabóia; outra versão dá conta de
que a ex-escrava teria vindo da Banda Oriental, mais precisamente do Uruguai, talvez
empreendendo uma “viagem de volta” ao território afro-brasileiro, ao término da
Revolução Federalista (1893-1895).
As famílias afrodescendentes ligadas, por descendência, aos troncos fundadores
do Quilombo de Palmas, tais como Margarida Sabóia e Antonico Alves; Procópia e
Balbino Soares e Adriana Sabóia e outros, acabaram criando roças cultivadas pelos
87
casamentos, por isso, além dos Silvas, Borbas, Gomes, das Almas, aparecem na
comunidade sobrenomes como Watcher.
As festas que ocorrem no salão comunitário resgatam um pouco das tradições com
destaque para a gastronomia com rapadura, pão de milho, sucos e chás, além de
apresentação de capoeira, artesanato de palha e de pano e umbanda. São tradicionais as
festas do padroeiro São Roque, da Imaculada Conceição e do dia da Consciência Negra.
Comunidade pacífica e ordeira, onde as propriedades não têm muro ou cercas de divisão.
“Cada um sabe onde começa e termina sua terra, vivemos em perfeita harmonia”,
afirmaram os moradores.
Por tudo isso a Comunidade Quilombola de São Roque é um ponto sui generis para
a pesquisa. Eles ainda desenvolvem projetos que propõem o desenvolvimento de ações de
valorização da cultura afro-brasileira por meio de oficinas de música e dança, como
maculelé e capoeira, além de oficinas de teatro. Outra ação que se desenvolve é a reativação
da memória oral por meio de oficinas de recordação e de narrativas da história da
comunidade, artes visuais, artesanato em fibras naturais e de culinária afro-brasileira.
29
O nome Giruá provém de uma vegetação muito peculiar do Rio Grande do Sul: as matas de butiazeiros.
O butiá (butiá jataí / Butia yatay) é uma pequena fruta amarela de cachos dourados e que os indígenas
chamavam de J'erivá. Fonte: Wiki.
93
teria permanecido na região. Casado com Eloína Luisa Correa teria escolhido o local
como forma de esconder-se da discriminação e sofrimento do trabalho escravo sofrido
por seus pais, antes de chegar nestas terras. Lembranças dos familiares trazem ainda a
hipótese de que Alzemiro teria ganhado esta terra, rejeitada por agricultores devido ao
relevo, que dificultava a lida no campo. Ao receber a terra, o casal mudou-se com seus
filhos de uma área de São Paulo das Tunas para esta, próxima, onde hoje é a Comunidade
Quilombola, na década de 1950. O casal patriarca deixou 11 filhos, destes, oito vivos, que
ainda residem na Comunidade, e 17 netos e três bisnetos.
Para desvendar e preservar a história desta família que a administração municipal
de Giruá trabalhou na busca do reconhecimento do local como uma Comunidade
Quilombola, para intensificar o trabalho de pesquisa e investigação da história, na luta
por melhores condições de vida desta população.
O reconhecimento de Comunidade Quilombola veio no final do mês de junho de
2012. O reconhecimento do local até então conhecido como Rincão dos Morenos, agora,
como Comunidade Quilombola Correa, foi publicada no Diário Oficial da União no dia
30 de junho de 2012.
Para sua certificação foram reunidas fotografias, documentos pessoais,
reportagens de jornais e revistas da região que abordavam a história dos quilombos, ou
seja, uma documentação que pudesse atender as exigências da legislação que reconhece
um local como comunidade quilombola. A escritura permanece no nome de Alzemiro
Batista Correa, patriarca já falecido.
Segundo relatos históricos concernentes a história da colonização na região
Noroeste do Estado, a família teria chegado até a região no início do século XX, oriundos
da cidade de Cruz Alta, onde na época havia trabalho escravo. Até a data das entrevistas,
a Comunidade Quilombola Correa é a única de que temos conhecimento na região
Noroeste do RS.
A única profissão aprendida e exercida pelos Correa que ainda vivem na
localidade é a agricultura. O relevo das terras e a falta de recursos não permitem a entrada
de máquinas na lavoura. Hoje o trabalho ainda é feito manual, com o uso de animais na
lavoura para lavrar a terra. Hoje os irmãos, filhos de Alzemiro Batista Correa, plantam
milho, mandioca e batata-doce, além de criar animais para a produção do leite e carne.
Apenas saem das terras para a cidade, de ônibus, a cada 15 dias, para buscar algum
alimento ou mantimento que ainda para as casas, mas é das terras que tiram seu sustento.
94
Total Geral 34
Esta pesquisa tem um caráter inovador, uma vez que fizemos uma macroanálise
pluridimensional e relacional do português falado por afrodescendentes de comunidades
afro-brasileiras do Rio Grande do Sul situadas em sete pontos distintos entre si.
Para tanto, tivemos de elaborar um novo instrumento para a coleta de dados que
resultasse numa cartografia de mapas linguísticos pluridimensionais. O Questionário para
comunidades afro-brasileiras do Rio Grande do Sul (v. Apêndice). Estudo inovador de
uma parcela da população sul riograndense, o questionário além de incluir palavras de
origem africana (ALKMIN; PETTER, 2009, p. 145-177; LAYTANO, 1936 e ALKMIN,
s/d), serviu também para propiciar a obtenção mais precisa possível da fala desta minoria
linguística, que são os afrodescendentes do Rio Grande do Sul, a fim de fornecer uma
visualização adequada das macroestruturas do espaço variacional com as seguintes partes:
30
O Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata (ALMA) é um macroprojeto
desenvolvido em conjunto pelas áreas de Romanística (da Christian-Albrechts-Universität de Kiel,
Alemanha) e Germanística (do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil),
sob a coordenação de Harald Thun (Kiel) e Cléo V. Altenhofen (Porto Alegre). (http://www.ufrgs.br/projalma/)
97
Cabe ressaltar que a opção por tal técnica de entrevista amplia o grau de
explanação sobre determinado fenômeno ou variável, na medida em que possibilita uma
visão sobre um espectro mais amplo de variantes em jogo e de suas conotações e valor
social, na comunidade de fala. A pluralidade de informantes favorece ainda mais esse
objetivo, beneficiando, sobretudo, a análise da variação diarreferencial, na medida em
que estimula a ocorrência de comentários metalinguísticos convergentes ou divergentes
entre os informantes.
Paralelo às entrevistas com o questionário-base, o trabalho reúne um corpus de
etnotextos sobre os mais variados temas, nos quais os estilos de uso da língua presente é
o mais coloquial. Além de fornecer um painel dos aspectos culturais da comunidade de
fala, esses textos servem tanto para fins de comparação e controle das entrevistas quanto
para estudos suplementares futuros, como por exemplo, analisar a dimensão diafásica
(comparando estilos de entrevista e conversa livre).
A transcrição fonética dos dados seguiu o Alfabeto Fonético Internacional (IPA).
[+ peculiar] [+ nivelamento]
[+ conservador/ arcaico] [+ mudança linguística]
[+ africano] [+ substituição linguística]
[+ popular] [+ normatização]
Com relação à pesquisa de campo, realizei em média duas idas a cada comunidade
exceto no Quilombo Correa em Giruá e Cerro Formigueiro em Formigueiro; as
entrevistas nestes dois quilombos transcorreram de forma técnica e organizada, pois todos
os informantes estavam à disposição. O motivo é simples, eles residem todos na
comunidade e por ali perambulam, dificilmente saindo para outras localidades.
Nas demais cinco comunidades eu tive de retornar duas ou mais vezes, o que não
foi nada mal. Participei de festas, comemorações eventos em geral que envolvia os
quilombos visitados. Aos quilombos de Morro Alto em Osório, Família Fidelix em Porto
Alegre estive por mais de quatro vezes; já no Quilombo São Roque em Arroio do Meio
estive em três oportunidades. Nos quilombos de Palmas em Bagé e Maçambique em
Canguçu, realizei duas visitas.
Recolhi dados a respeito da origem étnica e histórica das comunidades além da
aplicação do questionário, realizando no total 1993 min e 54 seg ou 33:13:54 horas de
gravações, muitas horas de fala espontânea, além da grata surpresa de os habitantes
fornecerem-me materiais de apoio a pesquisa sobre seus quilombos. Foi assim em
Canguçu, Porto Alegre e Osório. Grata surpresa foi entrevistar os membros mais idosos
das Comunidades São Roque (Arroio do Meio), Rincão do Inferno – Palmas (Bagé) e
Correa (Giruá).
Confesso, no início eu estava apreensivo com a ida a campo, no entanto tudo se
revelou muito prático a partir da confecção do Questionário e definição da rede de
pontos, mesmo com os imprevistos e improvisos.
O meu intuito primordial com esta pesquisa é chamar a atenção para a importância
do estudo da fala das comunidades afro-brasileiras, pois este trabalho pode oferecer
102
1) Relatório antropológico;
2) Levantamento fundiário;
Após a sua conclusão, o mesmo deve ser aprovado pelo Comitê de Decisão
Regional – CDR e ser publicado na forma de Edital, por duas vezes consecutivas nos
Diários Oficiais do Estado e da União, assim como afixado em mural da Prefeitura.
É a partir dos vestígios preservados pelo tempo que a história das comunidades
quilombolas do RS é construída/reconstruída. A relação do pesquisador na área de
ciências humanas com as fontes é uma das bases sobre as quais se edifica a pesquisa
sociolinguística em comunidades quilombolas do Brasil, pois as fontes são a matéria-
prima básica do sociolinguísta numa pesquisa de campo deste gênero, indispensáveis para
a reconstituição do passado histórico dos quilombos. Como não poderia deixar de ser,
essa é uma construção do historiador, do sociólogo, do antropólogo e do linguista.
O ponto de partida de uma pesquisa não é a análise de um documento, mas a
formulação de um questionamento. A problematização das fontes é fundamental porque
elas não falam por si, são testemunhas, vestígios que respondem a perguntas que lhes são
apresentadas. A título de exemplificação, o trabalho de historiadores e antropólogos ao
investigarem os quilombos na região da cidade de Santa Maria/RS descobriram uma rede
de parentesco que ligam os quilombos da região entre si (ANJOS, 2004; RUBERT, 2005).
As perguntas que o pesquisador formula ao documento são tão importantes quanto
o próprio documento. São as perguntas que o sociolinguista faz ao documento que lhe
conferem o sentido. O documento é resultado de uma montagem, consciente ou
inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu e também das épocas
sucessivas durante as quais continuou a existir. O documento é monumento, resulta do
esforço das sociedades históricas para impor ao futuro determinada imagem de si própria.
O documento é produto da sociedade, que o fabricou segundo as relações de forças que
nela detinham o poder. O que transforma o documento em monumento é a sua utilização
pelo poder.
Atualmente, a história transforma os documentos em monumentos e apresenta
uma massa de elementos que é preciso isolar, reagrupar, tornar pertinentes, ser colocados
104
GIIm GIm
GIIf GIf
. .
Figura 15: Grupos de informantes entrevistados e representados em cruz, conforme Thun (2010)
31
A cruz não significa que são quatro entrevistas, apenas que se observa qualitativamente se homem e
mulher GII ou homem e mulher GI, entrevistados juntos, convergem ou divergem na fala.
106
Capítulo 3
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS:
MARCAS DE AFRICANIDADE NO TEMPO E NO ESPAÇO
PLURIDIMENSIONAL
Feita essa observação, cabem antes de tudo algumas considerações sobre o foco
de análise da pesquisa e as características dos contextos estudados que precisam ser
32
Como já se assinalou, apesar de reconhecer a diferença entre os termos carta e mapa, na geografia, opto
pelo termo mapa por julgá-lo mais claro e menos ambíguo no contexto de análise em que está sendo
empregado.
108
Um outro ponto que é preciso levar em conta é o que diz respeito à distinção de
Thun (1998), que divide a diatopia em dimensão diatópica e diatópico-sinética, esta
última ainda em topostática e topodinâmica, sendo a topostática reservada ao estudo
grupos fixos e a topodinâmica a ao estudo de grupos móveis. Os contextos – e isso já é
parte da análise – representam contextos de ordem mais topostática. Sendo os
afrodescendentes das comunidades estudadas grupos de fala mais topostáticos, portanto
fixos e circunscritos a um espaço descontínuo/delimitado, muitas vezes situado à margem
da sociedade circundante, é de se esperar que aí se observe uma sedimentação de
estruturas antigas. Ou seja, a reclusão em ilhas linguísticas que, por muito tempo,
funcionaram como refúgio, pode ter contribuído para uma manutenção maior do acervo
linguístico original. Em suma, nosso estudo trata de estruturas historicamente arraigadas
(topostáticas), principalmente no que diz respeito ao léxico. Essa é, pelo menos, a hipótese
109
Corroborando com essa perspectiva, Pinheiro (2014) analisa como uma coiné se
impõe e domina, no caso a Região de Colonização Italiana (RCI), e quais as chances de
variedades menores (paduano, bergamasco, milânes, trentino, friulano dentre outras)
sobreviverem a essa avalanche da variedade comum, a coiné. Segundo Altenhofen (2014,
p. 3) a resposta a este questionamento é que essas variedades menores criaram focos de
resistência; o mesmo pode ter ocorrido com as comunidades afro-brasileiras do RS que
podem ser vistas, assim, como focos de resistência à língua portuguesa imposta pelos
colonizadores portugueses.
Temos, assim, dois planos de análise: o plano de análise das variáveis sociais com
foco nas dimensões diageracional e diatópica, além da dimensão diassexual, na
comparação entre contextos topostáticos distintos; e o plano das variáveis linguísticas,
visando entender onde a língua como sistema oferece mais resistência ou abertura,
respectivamente à manutenção ou perda de marcas [+ afro] / [– afro].
33
Cf. nota 32.
112
das variáveis a serem consideradas na análise, a partir das perguntas dos questionários
QFF e QSL.
Uma primeira resposta que qualquer um, mesmo o mais leigo em estudos afro-
brasileiros vai dizer, é que o léxico constitui o ponto mais evidente de identificação com
a africanidade. Esta percepção parece predominar no senso comum dos brasileiros. Ela é
reforçada pelo papel do léxico nos ritos afro-brasileiros (religiões de matriz africana), em
que uma série de palavras de origem africana ainda permanece em uso e, não só isso,
conferem autenticidade ao discurso religioso. A influência das línguas africanas e sua
variação dialetal foram, além disso, determinantes na formação de muitos substantivos,
verbos e adjetivos de uso corrente no Brasil.
Interessa, por isso, aqui, investigar de que maneira essa fala de grupos
topostáticos, especificamente dessas comunidades afro-brasileiras, constituem sua língua
coletivamente. A diferença entre o léxico e as variáveis fonéticas e morfossintáticas é que
estas compartilham, de modo geral, traços comuns com outras variedades presentes no
entorno. Por exemplo, a palatalização da oclusiva dental, ou a realização de [r]
113
intervocálico estão presentes de modo qualidade distinto em línguas diferentes, mas não
equivalem a uma variante específica da língua dos afrodescendentes, ou dos teuto-
brasileiros, ou dos ítalo-brasileiros, ou dos luso-brasileiros, por extensão. Quer dizer, são
variáveis mais difusas, não se restringem a uma língua, como o léxico, que não possui
correlato nas outras línguas. Isso, no entanto, não impede que a escolha de determinada
variante fonética ou morfossintática seja induzida por algum traço da africanidade.
Além desse ponto, deu-se atenção especial ao grau de estabilidade da fala afro-
brasileira dessas comunidades selecionadas, o que implicou verificar se o comportamento
linguístico dos membros de uma comunidade afro-brasileira específica é mais ou menos
variável, ou mais ou menos homogêneo. Espera-se, por se tratar de contextos topostáticos
que já apresentam certa historicidade, um comportamento interno mais estável da
variedade do português, portanto, mais homogêneo; em outras palavras, mais convergente
ou divergente.
com dados do léxico não reflete necessariamente o número maior de variáveis léxico-
semânticas, e sim decorre da técnica em três tempos que possilita várias leituras e recortes
a partir de uma única pergunta. Neste sentido, os mapas do QSL foram de três tipos
básicos:
Iniciemos a análise pela variável (a), que engloba os mapas 001 a 003. De modo
geral, chama a atenção o forte predomínio da fricativa velar, contrariamente à expectativa
de maior presença da vibrante múltipla que não se confimou. Por exemplo, nas
comunidades RS04 (de Pampa) e RS03 (de Charqueadas), a vibrante múltipla como
marca gaúcha era esperada. Sua ocorrência se sobressai no ponto RS07, das Missões,
sobretudo no grupo GII, mas também em GIm. Há, nesse ponto, uma leve tendência a sua
substituição pela fricativa [x], em especial entre falantes mulheres. A mesma influência
do português do entorno ocorre no ponto RS06, de imigração, entre os jovens, tanto
homens como mulheres, porém na direção do tepe, característico do português de contato
dos falantes de língua de migração alemã e italiana. O comportamento linguístico
observado em relação à vibrante em posição intervocálica levanta, por fim, uma pergunta
instigante, se a fricatização da vibrante não seria uma influência da fala afro-brasileira, já
que a fala luso-gaúcha, sobretuda na Campanha e nas áreas mais rurais, ou por exemplo
em músicas gauchescas e na linguagem de CTG, costuma ser associada com a vibrante
múltipla? Considerando o caráter topostático dessas comunidades, seria improvável que
o uso da fricativa se deva a uma influência crescente danorma urbana do português, já
que ocorre inclusive entre os falantes GII. Mesmo que a fricativa também apareça no
português riograndense (v. mapas QFF45 e QFF47 do ALERS, cartas fonéticas e
morfossintáticas, 2011), o que surpreende é que a fricativa é generalizada em posição
intervocálica nos pontos RS01, RS02, RS03, RS04 e RS05, tanto entre falantes mais
velhos quanto mais jovens.
Vale acrescentar que o /r/ retroflexo aparece, além disso, nos mapas 012 e 013,
neste caso em virtude do rotacismo de [l] em coda silábica. Sua ocorrência se dá nos
mesmos três pontos (RS01, RS06 e RS07), o que reforça a sua associação com os pontos
mais a norte. O rotacismo se estende, além disso, a RS03 (informante GIIf) e, na variável
Ca[l]ça, inclusive ao ponto RS05. Sua ocorrência em RS05 reforça a explicação de
provável influência paulista; no ponto RS03 (de charqueada), no entanto, permanece uma
certa incógnita. Diferentemente, os pontos RS01 (litorâneo) e RS06 (de imigração), assim
como RS07, resistem no uso da lateral como forma mais conservadora na pronúncia de
Ca[l]ça. Na variável Bicic[l]eta (QFF11), a ocorrência de rotacismo ocorre apenas em
dois contextos: RS02 e RS03 de falantes mais velhos, da GII. De resto, predomina a
lateral.
A análise da lateral em coda silábica, por sua vez, mostra uma mudança em curso
da preservação da lateral na GII em direção a sua vocalização na GI. Essa tendência é
praticamente geral, sendo que em RS02 (urbano) e RS 07 (missioneiro) a vocalização se
estende, inclusive, à GII. Tanto no mapa 007, quanto nos mapas 012 e 013, a vocalização
de /l/ em coda silábica é generalizada entre os jovens. Esse resultado surpreende, na
medida em que novamente, tal como na realização da vibrante múltipla, não se confirma
a manutenção de /l/ nessa posição característica da fala tradicional gaúcha. Em se tratando
de comunidades topostáticas confinadas a espaços descontínuos, mais ou menos se
configurando como ilhas linguísticas com mais ou menos isolamento, se esperaria ainda
mais que aí ocorresse um comportamento mais conservador. Esse não é o caso. Os jovens
dessas comunidades afro-brasileiras estão claramente adotando a fala do entorno, do
português brasileiro mais geral.
Nos mapas 009, 010 e 011, foi esperado um índice maior de ocorrência de ieísmo
que, no entanto, não se confirmou, a não ser entre falantes da GIIf de pontos mais
marginais (RS03, de Charqueada; RS04, de Pampa; RS07, missioneiro) e, assim mesmo,
especialmente na variável Mi[lh]aral (QFF23). Este resultado surpreende, porque
normalmente se associa a fala de comunidades afro-brasileiras, como de muitas outras
comunidades rurais mais isoladas, com pronúncias mais populares, como em [ v jo],
[ jo], [mu j ]. Nos dados levantados nos sete pontos desta Tese, a palatal se impõe
diatopicamente em todos os pontos de pesquisa. Não se registra nenhum caso de ieísmo
117
entre os falantes jovens; pelo contrário, [ʎ] se impõe de forma genérica. Como comenta
um informante GIm de RS05: “Nós conhecemos aqui como zóio”, pode ter havido
pronúncias com ieísmo no passado, mas que já cedo foram substituídas pela respectiva
lateral palatal característica do português riograndense. A mesma tendência em direção a
variantes “novas/mais recentes”, na fonética, registra-se com relação à vocalização de [l]
em coda silábica.
Nos mapas 014, 015, 016, coloca-se a pergunta sobre a palatalização das
oclusivas dentais /t, d/ em posição tônica, como em men[t͡ʃ]ira (QFF06). Os mapas
mostram que a palatalização de /t/ é generalizada, tanto diatópica quanto diageracional e
diassexualmente. Ninguém diz “men[t]ira”, nem mesmo nos pontos com influência de
imigração, RS06 e RS07. Já em posição pós-tônica, ocorrem em todos os pontos pelo
menos uma ocorrência de não palatização, mas sobretudo no ponto RS07 (das Missões),
onde todos os grupos de informantes pronunciam as palavras noi[tɪ] e tar[dɪ] sem
palatalização. Isso chama a atenção. Este comportamento reflete novamente a influência
do português regional do entorno, das Missões. Nos demais pontos, são sempre
informantes da GII, portanto mais velhos, que mantêm a pronúncia tradicional sem
palatalização. Na dimensão diassexual, os homens mais velhos tendem a ser os mais
conservadores, pelo menos no que diz respeito à palatalização da oclusiva dental em
posição pós-tônica. Uma exceção é uma resposta em RS03 de uma GIf. Com exceção
desta uma ocorrência, constata-se de modo geral, entre os jovens, a paltalização da dental
em posição pós-tônica, mesmo em pontos como RS04, em que o entorno do português
regional poderia contribuir para uma manutenção da dental sem palatalização.
Por fim, os mapas 020 e 021 não apresentam variação. Diferente do que ocorre
com o tepe em posição intervocálica, em que se observou a influência da língua de
imigração alemã e/ou italiana, não se registra o mesmo comportamento com relação ao
ditongo nasal [ ]. Ou seja, não foi observado nenhum caso de pronúncia da variante [õ],
e a pronúncia de [ˈmũɪtʊ] também não revelou nenhuma variante que desviasse da
pronúncia do português mais geral.
Passando aos mapas seguintes 025a, 025b e 025c, que cartografam as variantes
para menino (QSL04), verifica-se a ocorrência da forma guri, novamente com uma certa
similaridade, entre os pontos RS01 e RS02, onde aparece como forma espontânea,
portanto de conhecimento ativo. O mesmo ocorre, no plano diatópico, nos pontos RS04
e RS05 (v. mapa 025a). Já a forma arcaica gibi tem pouca representatividade, sendo
reconhecida apenas em RS01 por uma informante GIIf (v. mapa 025b). A forma moleque
120
se destaca como variante mais usada pelos jovens, tanto GIf como GIm, no ponto RS03.
De resto, chama atenção que o ponto RS05 apresenta duas ocorrências em que tanto GIIf,
quanto GIm não conhecem essa forma amplamente presente no português brasileiro de
modo geral.
ocorre entre todos os falantes da GII. Trata-se, portanto, de uma variante mais arcaica em
processo de perda, pois não é mais conhecida pelos jovens. A ocorrência da variante
quizomba, por outro lado, mostra uma maior abrangência; ela só não é conhecida pelo
menos por algum informante, nos pontos RS05 e RS07, de resto aparece reconhecida
inclusive por informantes jovens de RS02 e RS03, mas nos demais pontos é exclusiva da
GII.
Os mapas 028a, 028b, 028c e 028d ocupam-se com a variável que se associa mais
intimamente ao terreno em que os africanismos tradicionalmente se mantiveram de forma
mais contundente, que é o terreno da religiosidade. As variantes para designação de
“feitiço” (QSL12) incluem formas como mandinga, caborge, bentinho, amuleto, ebó,
mandraque, mandraca, milonga, urucubaca, saravá e macumba; aparecendo ainda nas
respostas espontâneas as formas feitiçaria, bruxaria, patuá, miudinha, trabalho,
despacho, serviço, magia, batuque, oferenda, descarrego e abre-caminho. No mapa
028a, buscou-se verificar se existe uma polarização entre saravá e macumba. O resultado
é que macumba é a forma mais representativa dos pontos mais ao norte (RS01, RS06 e
RS07), repetindo alguma similaridade que já observamos no QFF, da proximidade de
contatos com paulistas, mas que não necessariamente tem explicação idêntica. O ponto
mais fronteriço (RS04) é o que mais apresenta como resposta espontânea,
exclusivamente, a forma saravá. Já os pontos mais ao centro que formam o triângulo
RS02, RS03 e RS05, próximos aos centros urbanos, como já se assinalou, têm as duas
formas misturadas, inclusive no mesmo grupo GI. O que podemos hipotetizar é que,
diatopicamente, há uma proximidade entre três áreas ao norte (RS01, RS06 e RS07), ao
centro (RS02, RS03 e RS05) e na fronteira (RS04). Cabe verificar essa tendência em mais
mapas. Com relação à forma mandinga (mapa 028b), ela é conhecida em todos os pontos,
ocorrendo inclusive como forma espontânea em RS04 e RS06. O mesmo vale para as
formas sugeridas mandraque e mandraca que, no entanto, são desconhecidas no ponto
fronteiriço (RS04). Este ponto, aliás, parece tender a uma forma mais regional e ao
comportamento homogeneizante em torno de uma forma. Não obstante, mandraque e
mandraca estão em processo de perda linguística nos pontos RS02, RS03 e RS05, onde
não são mais formas conhecidas dos falantes mais jovens.
122
Com relação à sugerência de ebó34, no mapa 028d, temos que corresponde a uma
palavra yorubá e não bantu. Talvez tenha sido este o motivo de somente o ponto RS02 ter
conhecimento desta forma, por conta da frequência de seus moradores em cultos afros.
Este comportamento peculiar de RS02 reforça a hipótese já mencionada de que,
provavelmente, neste ponto a consciência identitária contribui para a conscientização do
léxico associado à identidade do grupo em virtude também do movimento negro ali
pulsante. Surpresa foi o ponto RS06 desconhecer esta forma, pois ali se pratica desde o
início da comunidade a religião de matriz afro. Uma razão pode ser o grau de isolamento
relativo a outras comunidades.
O mapa 030, igualmente, não mostra variação relevante a não ser que novamente
os pontos RS05 e RS07 são os que registram respostas de não conhecimento da forma
sugerida quenga. Ao contrário do que se observa em RS01 e RS02, de uma consciência
identitária mais acentuada, nestes dois pontos RS05 e RS07 precomina, aparentemente,
uma consciência menos desenvolvida acerca das marcas africanas no léxico. Os
movimentos negros, podemos considerar, se iniciaram predominantemente pelos grandes
34
EBÓ (kwa) 1.(ºPS) -s. despacho, oferenda propiciatória a Exu e às divindades, que em geral é deixada
em alguma encruzilhada, dentro de um prato de barro onde se cola, entre outras coisas, uma garrafa de
cachaça, farofa de dendê, charutos, velas, dinheiro, fitas vermelhas ao lado de um galo preto, vivo ou não.
Quando feito com bicho-de-quatro-pé(s) canta-se sete cantigas, com galo (aquicó), apenas quatro. Cf.
aquirijebó, elebó. Fon / Yor.
2. (LP) -s.m. (p.ext) pessoa, coisa indesejável.
3. (ºBA) -s.m. bruxaria, feitiçaria.
123
centros urbanos e capitais. É provável que esse fato seja um indício, visto tratar-se de
pontos mais interioranos e afastados do(s) centro(s) de irradiação.
No caso de mocó, observa-se uma distribuição diatópica clara, sendo que essa
forma é conhecida de todos os grupos entrevistados dos pontos RS01, RS02 e RS06; é,
ao contrário, não conhecida nos pontos mais interioranos. Os pontos RS05 e RS07, de
qualquer maneira, são os pontos que menos formas conhecem pelo que se vem
observando nesta etapa da análise. Por fim, ao cartografar a sugerência de quatro formas
lexicais [+ afro] – mocambo, mocó, cafofo e moquiço/muquifo – observa-se novamente
um maior conhecimento nestes três pontos (RS01, RS02 e RS06), como no caso de mocó;
RS01 e RS02 já vínhamos associando como pontos com consciência identitária mais
acentuada; RS06 normalmente segue a mesma tendência talvez para marcar a diferença
com o grupo imigrante alemão.
onde os mais jovens não a conhecem mais. Mais frequente como forma espontânea é a
variante boteco, que se poderia julgar como forma mais depreciativa, ela predomina, no
entanto em todos os sete pontos (v. mapa 036b). Diferentemente, a variante
boliche/bolicho (v. mapa 036c), típica do português riograndense (v. mapa 355 do
ALERS, cartas semântico-lexicais, 2011b), aparece, sobretudo, como resposta
espontânea dos homens mais velhos (GIIm). Não é de se surpreender que em RS01 seja
desconhecida porque é uma forma mais próxima da fronteira. Ao reunir as ocorrências de
bodega e boteco (v. mapa 036d), vê-se que bodega ocorre como resposta espontânea
exclusivamente entre falantes GII, mais velhos, sendo boteco mais comum na fala de mais
jovens. O gráfico reforça essa constatação.
No mapa 036e, chama a atenção que biboca como designação para “bodega” é
aceita na sugerência apenas por informantes mais velhos, com exceção, curiosamente de
dois casos de GI, respectivamente nos pontos RS02 e RS03.
essa forma de origem africana (v. mapa 038a). Já a forma tutu, que aparece apenas nas
sugerências sugerindo um conhecimento mais passivo, tem uma distribuição mais ampla,
sobretudo entre os informantes femininos (v. mapa 038c). Interessante é a ocorrência de
dindin, novamente nos pontos RS01 e RS02, porém também entre os jovens dos pontos
RS03 e RS05. Vale lembrar que equivalem aos pontos mais próximos de grandes centros
urbanos (Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria)
Nos mapas 040a, 040b e 040c observa-se a abrangência do uso das variantes para
“calcanhar” (QSL28). Os entrevistados dos sete pontos analisados conhecem a forma
garrão e a usam de forma espontânea e/ou como variante sugerida. Os pontos RS03 e RS06
foram os únicos pontos a responderem espontaneamente a forma calcanhar. No mapa
040b, está demonstrado que calcanhar é uma forma do português mais geral; está presente
em cinco pontos (RS01, RS02, RS03, RS04 e RS07), sendo que em RS02 e RS04 é usada
efetivamente como forma espontânea entre falantes tanto de GII quanto de GI; aliás,
somente em RS06 os jovens usam a forma carcanha. As informantes femininas também
parecem desconhecer a forma carcanha, que aparentemente é forma mais arcaica, visto que
ocorre apenas nas respostas de falantes da GII. O mapa 040c indica que a sugerência
carcanha é conhecida em todos os sete pontos de pesquisa, tanto por GII quanto por GI,
tendo que os homens conhecem mais essa forma que as mulheres.
127
Por fim, os mapas 042a, 042b e 042c abordam o uso das variantes para “tocaio”
(QSL30). Tocaio é variante conhecida na maioria dos pontos pesquisados, mas é em RS01
e RS03 que ela é mais veiculada. Lembro-me que durante a entrevista com GII e GI, no
ponto RS05, os entrevistados estranharam a pergunta, mas na sugerência demonstraram
já ter ouvido falar em “tocaio”. Nos pontos RS01, RS02, RS03, RS04, RS06 e RS07,
parece haver uma tendência ao uso/conhecimento de “tocaio” pelos homens. Isso
explicaria o motivo pelo qual dificilmente uma mulher iria dizer que uma outra mulher
teria um (uma) “tocaio”. O mesmo vale para a forma xará, como pode ser comprovado
nos mapas 042a e 042c, observando os pontos RS03, RS06 e RS07.
1) RS01 (litorâneo) e RS02 (urbano) são os pontos que mais conhecem a forma [+afro].
Por extensão, parecem ser os pontos com maior consciência das marcas de
africanidade (v. mapas 023, 024, 025, 026, 028, 030, 032, 036, 038 que provam
isso);
128
3) por fim, RS05 (região central) constituiu um ponto à parte, com um comportamento
de perda acentuada, como em parte também RS07;
5) O ponto RS06 (de imigração) parece ser o ponto que mais reflete a influência do
contato com língua imigração, ao lado do ponto RS07 (missioneiro) que também
possui influência de imigração, pelo menos na variação fonética (cf. mapas 001-
003, 015, 016).
7) Os pontos RS05 e RS07 são os que menos conhecem a forma [+afro] (cf. mapas
024b, 025b, 027c, 027d, 028d, 029c, 030, 032a, 032c, 033a, 033b, 034b, 035,
039d).
1) de um lado constata-se, através dos dados cartografados (mapas 023 a 042), uma
perda significativa de variantes [+ afro] da GII para GI. Uma série de mapas (v.
mapa 022 – QFF e mapas 036a e 041a – QSL etc.) apontam para esta tendência;
Em termos linguísticos, a proximidade com “as cidades” fez com que o contato
linguístico acrescentasse e substituísse vocábulos, influenciasse na norma gramatical;
mas isso não impediu que essas comunidades mantivessem ao menos uma parcela de sua
genuidade étnico-linguística obtida por herança ou transmissão diageracional. A fala dos
afrodescendentes observada nas comunidades afro-brasileiras do RS representa uma
variedade linguística de cunho popular que se insere no português mais geral falado no
Estado e no Brasil. Não se constitui somente em uma variedade geograficamente
delimitada, mas também numa variedade social; como preceitua Juliete Garmadi (1983)
Constatamos, na análise dos mapas linguísticos elaborados para esta Tese, uma
mudança em curso bastante genealizada, entre o português de falantes da GII, mais
conservadores, e os jovens, da GI. Não é exagero admitir que essa é uma tendência
observável na maioria dos contextos de uso de línguas minoritárias. O que não era
esperado ao início da pesquisa foi a reincorporação ou reintegração de elementos de
origem africana, coo reflexo de processos de ressemantização em andamento no interior
das comunidades através de movimentos sociais e políticas publicas. Essa tendência até
ponto nova – presente sobretudo em pontos mais próximos justamente de centros urbanos
– tem sua origem, ao meu ver, nas políticas recentes de inclusão e reconhecimento da
cidadania pelos afrodescendentes. A política de cotas é um exemplo desse novo quadro
social. Sua repercussão sobre a escolaridade e as relações de poder certamente também
valem para o âmbito linguístico. Os jovens são neste sentido o grupo mais atingido por
essas mudanças.
mudanças sociais causaram e continuam a exercer uma força centrífuga nas comunidades
que explica em grande parte as mudanças em tempo aparente bservadas na análise dos
mapas linguísticos do anexo B.
Embora a presente pesquisa se centre na perspectiva sincrônica, o olhar diacrônico
propiciado pela comparação diageacional, em tempo aparente, possibilitou uma série de
respostas principalmente vinculadas à expressão de marcas de africanidade no léxico. No
entanto, observamos que o uso de algumas variantes fonético-fonológicas ocorreram
predominantemente entre os informantes da GII, enquanto outras são muito mais
frequentes na GI. Da mesma maneira, verificamos variações com maior frequência no
gênero feminino que no gênero masculino, como explicitaremos na seção seguinte.
e duradouro, mas corre o risco de se perder no esquecimento das gerações mais novas. O
que alguns pesquisadores costumam denominar de “transmissão linguística irregular”
(GUY, 1981 e 1989; BAXTER, 1992 e 1995; LUCCHESI; BAXTER; RIBEIRO 2009)
– teria dado origem a uma variedade linguística do português muito diferente do
português falado pelos colonos portugueses. E, devido ao isolamento em que essas
comunidades de descendentes de escravos viveram no interior do Brasil até pelo menos
a primeira metade do século XX, essa variedade bastante alterada do português foi sendo
passada de geração em geração sem maiores alterações, até sofrer a crescente influência
do português mais geral, principalmente nas últimas décadas; influência essa que se
reflete nos padrões de variação e mudança linguística que se observam hoje, como se viu
neste estudo, nas comunidades afro-brasileiras do RS.
O processo de transmissão linguística irregular pode produzir mudanças
significativas na estrutura da língua dos dominadores, que é assimilada, nesse tipo de
contexto histórico, pelos povos dominados. Esse segundo caso se ajusta melhor à história
sociolinguística das comunidades afro-brasileiras do RS. Ou seja, o contato entre o
português e as línguas africanas no RS promoveu uma série de mudanças nas variedades
da língua portuguesa falada no transcorrer da história linguística do RS, sobretudo, nas
que se mantiveram em semi-isolamento na zona rural. O resultado mais notável de todo
esse processo é o amplo e profundo quadro de variação no uso das regras fonético-
fonológicas, algumas observadas nesta Tese, que diferencia o português mais geral do
português empregado nessas comunidades, onde, ao que tudo indica, a língua se mantém
estável no que diz respeito a esse aspecto, com exceção onde os contatos linguísticos
foram mais intensos e duradouros.
O fato empírico que fundamenta tal análise é o de que, em todas as situações em
que ocorre o contato maciço entre línguas, se observa uma redução/eliminação do
componente lexical do lado mais vulnerável, neste caso, os afrodescendentes. Portanto,
seria muito improvável a ampla variação no uso do português contatual no RS. Através
da macroanálise da variação do português falado nas comunidades afro-brasileiras foi
possível identificar, na “dança social” das variantes que formam o repertório linguístico
dessas comunidades, as mudanças no comportamento linguístico de seus membros,
considerando a origem histórica e os contatos linguísticos a que se encontram submetidos
nos respectivos territórios/ilhas linguísticas (cf. ALTENHOFEN, 2014).
Todavia, somente o estudo dessas comunidades de fala não é suficiente para se
esgotar a questão no RS. Para demonstrar que o português falado em cada uma das
136
CONSIDERAÇÕES FINAIS
por dados históricos sobre as formas originais da língua, para concentrar-se no fato
sincrônico despretensioso e real, sem exceder a capacidade e o alcance deste estudo. No
entanto, com o auxílio dos Laudos Antropológicos constantes nos Relatórios Técnicos de
Identificação e Delimitação, conseguimos destacar situações sociais que possivelmente
influenciaram a linguagem falada nas comunidades afro-brasileiras:
A elaboração desta Tese foi um trabalho muito árduo e sofrido. Suas contribuições
compensam, todavia, as dificuldades enfrentadas e constituem um estímulo a novos
estudos. O ponto-chave foi a elaboração de uma descrição da variação do português
falado em comunidades afro-brasileiras do Rio Grande do Sul, tomando por base
diferentes dimensões de análise, em especial de ordem diatópica, diageracional e
diassexual. Com isso, procurou-se medir o impacto de condicionamentos sócio-históricos
distintos, entre os quais o grau de isolamento; a localização rural ou urbana; a
microrregião sócio-cultural; a presença de línguas imigração no entorno; a antiguidade da
comunidade e a característica topostática da população.
35
Ver o excelente trabalho de PRASS, Luciana. Maçambiques, Quicumbis e Ensaios de Promessa: um
reestudo etnomusicológico entre quilombolas do sul do Brasil. Tese (Doutorado em Música) – Programa
de Pós Graduação em Música. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.
36
O casal GII entrevistado notadamente estava influenciado por ideias evangélicas que pregam a
demonização do culto aos ancestrais praticados nas religiões de matriz africana que ora era patricado em
RS03 antes da chegada da denominação evangélica.
139
O ponto RS06, por razões óbvias, foi o que mais refletiu a característica do
português do entorno e é também o ponto mais aprazível em termos de população
afrodescendente e do entorno. O ponto é cercado por descendentes de imigrantes alemães
e italianos e com esses compartilham as dificuldades e felicidades de uma localidade do
interior do Brasil. O que mais nos chamou a atenção foram os casamentos interétnicos e
a religiosidade. Como a comunidade possui um centro de benzição, todos do arredor sem
distinção de etnia ou credo o frequentam para curar suas enfermidades, sejam elas quais
forem. Esse foi o primeiro ponto a ser visitado e enfatizo as características dele porque
foi assim que pude verificar in loco a diversidade que me esperava nas demais
comunidades. Valeu o aprendizado.
Nenhum dos sete pontos de pesquisa pode ser enquadrado, literalmente, como
“quilombo histórico”; essas comunidades foram formadas após a abolição da escravatura
no Brasil. No entanto, as pessoas que ali vivem sempre estiveram naquele espaço,
confirmando sua condição topostática.
Nas análises dos dados cartografados, verificamos que todas as comunidades
mantêm marcas de africanidade que distinguem a variedade do seu português com a do
português falado no seu entorno, porém verificamos também está ocorrendo uma
acelerada transferência de variantes linguísticas do entorno para o português dessas
comunidades. Em resumo, o comportamento linguístico dos membros dessas
espacialidades linguísticas tende a ser por um lado mais conservador, na fala da GII; por
outro lado, o futuro indica uma tendência de abertura para fora (orientação centrífuga),
fazendo com que as comunidades gradativamente percam/abandonem as marcas de
africanidade que os distinguem.
No tocante à relação entre língua e espaço, fica confirmada a hipótese de que as
comunidades afro-brasileiras do RS formam um tipo de ilha linguística, isto é, de espaços
geograficamente descontínuos com presença de afrodescendentes, identificados por sua
etnicidade, historicidade e marcas sociais e linguísticas.
140
1) uma variedade mais conservadora, mais presente entre os falantes mais velhos,
c) na dimensão diassexual, pudemos evidenciar através dos dados que, de modo geral, as
mulheres, mesmo as GII, tenderam a um comportamento de maior adesão às inovações
ou às variantes do português do entorno, de fora das comunidades afro-brasileiras. Isso
se explica pelo papel social das mulheres que mantinham um contato maior com
falantes lusos, tendo em vista sua atividade como servindo os senhores/os donos. Com
relação aos homens GII, em contrapartida, parecem constituir o grupo mais
conservador. Entre os jovens, é também primordialmente o grupo GIm que mais
mantém variantes [+afro] no português (v. mapa 022).
d) no plano diatópico, o conjunto dos pontos de pesquisa se distingue entre uma adesão
maior ou menor a determinadas variantes [+/- afro], sendo que se pode visualizar as
seguintes tendências nos mapas:
2) RS02, RS03 e RS05 como pontos mais próximos de grandes centros urbanos
(Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria) compartilham, ao mesmo tempo, influências
que sugerem uma aproximação ao português brasileiro mais geral. Essa tendência,
142
3) RS05 (de Depressão Central) e RS07 (das Missões) são os pontos que apresentam
mais perdas de marcas [+afro] no português. São, ao mesmo tempo, os pontos
mais distantes do litoral.
4) RS06 e RS07 são os pontos que, ao menos na variação fonética, apresentam mais
influências do português de contato com línguas de imigração (alemã e italiana).
RS07 se destaca, aliás, pela resistência a formas inovadoras do português
brasileiro (cf. mapas 001-003, 015, 016).
Certamente, muitos outros estudos poderão ser realizados a partir da pesquisa que
apresentamos nesta Tese: outros recortes, outras perspectivas, novas conclusões, visto
que, em momento algum, acreditamos na possibilidade de esgotarmos o assunto. Só temo
suma ressalva, que estes estudos sejam realizados o mais brevemente possível, tendo em
vista que a geração mais velha está se indo e com ela um “modo de falar” está se perdendo.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. 3. ed. São Paulo: HUCITEC; Secretaria da Cultura,
Ciência e Tecnologia, 1976. [1920]
AMARAL, Marisa Porto do. Mapas mentais de variações linguísticas no Rio Grande do
Sul.(Manuscrito) Rio Grande : S.d.
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153
APÊNDICES
154
QUESTIONÁRIO
PARA AS COMUNIDADES AFRO-BRASILEIRAS DO RIO
GRANDE DO SUL
Programa de Pós-Graduação em Letras / UFRGS
Tese de Doutorado: Antonio Carlos Santana de Souza
Orientador: Cléo V. Altenhofen
PONTO:
.............................................................................................................................................
...
Nº DO PONTO:
....................................................................................................................................
mGII mGI
Data: ............................ Data: ............................
fGII fGI
Data: ............................ Data: ............................
Nome do Informante 1:
.........................................................................................................................
Data de Nascimento: .......................................................... Idade:
.........................................................
Onde nasceu? na comunidade em outra localidade. Qual?
.......................................................
Há quanto tempo mora na localidade?
............................................................................
Escolaridade:
.........................................................................................................................................
..
Trabalho/Ocupação:
.................................................................................................................................
Religião:
.........................................................................................................................................
.........
Endereço (se quisermos enviar uma carta?):
Nome do Informante 2:
.........................................................................................................................
Data de Nascimento: .......................................................... Idade:
.........................................................
Onde nasceu? na comunidade em outra localidade. Qual?
.......................................................
Há quanto tempo mora na localidade?
............................................................................
Escolaridade:
.........................................................................................................................................
..
Trabalho/Ocupação:
.................................................................................................................................
Religião:
.........................................................................................................................................
.........
Endereço (se quisermos enviar uma carta?):
1 TOPONÍMIA
1.1 Nome da localidade onde mora o informante:
6 DADOS DEMOGRÁFICOS
6.1 População Total
7 Posto médico
8 ESCOLARIZAÇÃO
8.1 Se houver escola na comunidade, a partir de quando foi posta à disposição da
comunidade?
8.2 Como foi a escola dos mais velhos e como é hoje em dia para os mais jovens?
10 IDENTIFICAÇÃO TERRITORIAL
10.1 Qual o caráter jurídico das terras da comunidade?
11 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
11.1 Na agricultura
12 HÁBITOS CULTURAIS
12.1 Quais as expressões culturais mantidas pela comunidade?
OUTRAS OBSERVAÇÕES
158
7 ÁRVORE (ALiB QFF 039; ALERS QSL 109; carta 054 e 055)
O que é que dá sombra nas ruas, no campo / para o gado nos pastos?
13 O OLHO / OS OLHOS – subst. (ALiB QFF 112; ALERS QSL 237, carta 163)
Isto? (Apontar) E se são os dois? (Pl.)
15 REVÓLVER (ALERS QFF 009; cartas 39, 44, 54; cartas 37/39 (a), 37/39 (b),
37/39 (c), carta 37/38/39)
Qual é a arma de fogo com uma peça que gira e se maneja com uma mão só?
Quais são as armas de fogo que conhece?
20 CORDA (ALERS QFF 041; carta 51; carta 48-53; carta 44-46/51/53)
Os fios do violão se chamam...
21 FERVENDO (ALERS QFF 016; carta 52; carta 48-53; carta 36)
Quando a água da chaleira fica quente de soltar fumaça, a gente diz que ela
está...
22 QUASE
E se a água começa a chiar, ela está fervendo?
23 MILHARAL
Uma plantação de milho é um...
24 perguntas
160
2 ORVALHO / SERENO (ALiB QSL 020; ALERS QSL 059; carta 032)
De manhã cedo, a grama geralmente está molhada. Como chamam aquilo que
molha a grama?
a) orvalho; b) sereno; c) cerração; d) neblina; e) nevoeiro
4 MENINO / GURI / PIÁ (ALiB QSL 132; ALERS 443 e 444; carta 270 e 271)
Criança pequenininha, a gente diz que é bebê. E quando ela tem de 5 a 10 anos, do
sexo masculino?
a) moleque; b) jibi/gibi; c) guri; d) piá; e) menino; f) garoto; g) rapazinho
10 DESORDEM
161
11 CONFUSÃO
Isso vira então o quê, que ninguém se acha ou se entende?
a) bafafá; b) fuzuê; c) bololô; d) forrobodó; e) bagunça; f) muvuca; g) quizumba
13 MEXERICO / FOFOCA
Quando alguém gosta de falar da vida dos outros, faz o quê?
a) fuxico; b) milonga; c) quelelê; d) candonga; e) futrica; f) zunzum/zunzunzum
(significado?)
16 MORADIA
Quais nomes conhece para “casa”?
a) mocambo; b) mocó; c) senzala; d) biboca; e) cafofo; f) moquiço/muquifo
(lugar sujo?)
a) capinar; b) carpir
22 BODEGA / BAR / BOTECO (ALiB QSL 202; ALERS QSL 605; carta 355)
Um lugar pequeno, com um balcão, onde os homens costumam ir beber
aguardente e onde também se pode comprar alguma outra coisa?
a) biboca; b) bodega; c) boteco; d) boliche
25 DINHEIRO
Quais os nomes conhece para (mostrar o dinheiro)?
a) gimbo; b) moeda; c) tutu; d) bufunfa; e) cascaio; f) grana; g) conto; h)
jabaculê; i) jimbo/jimbra/zimbro
26 CEGO DE UM OLHO (ALiB QSL 091; ALERS QSL 297, carta 200)
A pessoa que tem só um olho?
a) cego de um olho; b) caolho; c) torto de um olho; d) zarolho; e) mirolho; f)
vesgo
28 CALCANHAR (ALiB QSL 119; ALERS QSL 266, carta 183 e 184)
Como chamam isto? Apontar.
a) calcanhar; b) carcanha; c) garrão
30 perguntas
164
O SENHOR / O SINHÔ
O pai pergunta para os filhos: quem manda nessa casa? O que vocês responderiam?
a) o senhor; b) o sinhô (como diziam os antigos?)
6) Além do português, que línguas fala? Se sim, poderia falar um pouco nessa(s)
língua(s), p.ex. apresentar a si e à localidade onde mora?
ANEXOS
167
Pesquisa ..............
Nome:
Idade: anos Sexo: Masculino Local de nascimento:
Feminino
Escolaridade:
Atividade/ocupação/profissão:
Aplicador:
Local da Coleta: Data: ____/____/______
ANEXO B
U = borrar
U = borrar
RS01
S S
quari
=S borrar
RioJacuí RS06
U U
V U Rio dos Sinos
rd RTa
= OCEANO ATLÂNTICO
o
U borrar
GIIm GIm U U
RS04 V U
a
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
90%
80% 00 Mapa 001 - Va[rr]er (QFF02)
70% 00 00
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00 00
00
50% 00 Q [r]
40%
30%
20% S [ɾ]
10%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U [x]
GIIm GIIf GIm GIf
V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
U
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BRASIL [002]
RS07
U = borrar
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RS01
Q S
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U U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm U U
RS04 U U
a
U U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 002 - A[rr]oz (QFF03)
100%
00 00
00 00
80%
00
60%
00 Q [r]
40%
S [ɾ]
20%
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Q S U Q S U Q S U Q S U
U [x]
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
Q U
BRASIL [003]
RS07
U = borrar
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Q S
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U U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm U U
RS04 U U
a
U U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
90%
80% 00 Mapa 003 - Ca[rr]o (QFF19)
70% 00 00
60%
00 00
00
50% 00 Q [r]
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30%
20% S [ɾ]
10%
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Q S U Q S U Q S U Q S U
U [x]
GIIm GIIf GIm GIf
V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
= borrar
Q
S U
BRASIL [004]
RS07
U = borrar
U = borrar
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S S
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U U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm U U
RS04 U U
a
U U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
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BRASIL [005]
RS07
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Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
a
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 005 - Co[r]da (QFF20)
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00 00
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GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [006]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
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Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
a
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 006 - Fe[r]vendo (QFF21)
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00 00
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00 Q [ɾ]
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Q Q Q Q
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
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U
U U
BRASIL [007]
RS07
S Q = borrar
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RS01
Q U
quari
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Q U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm U Q U
RS04 Q U
a
Q U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 007 - Sa[l] (QFF05)
100%
00 00
80%
00 00
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00 Q [ɫ]
40%
U [w]
20%
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Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [008]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
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Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
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GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
a
S Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
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100%
00
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00 Q [l]
40%
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20%
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Q S U Q S U Q S U Q S U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
RS07
Q Q
GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03 quari
Q Q S (*) RioJacuí
Mapa 009 - O[lh]o (QFF13)
rdinho
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Q [ʎ]
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o
(*) "nós conhecemo aqui como zóio"
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GIIm GIIf GIm GIf a
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QCartográfica
Adaptado da Base R ST U Q M.
do ALMA-H: R Krug,
S TU Q &RH.SThun
C.V. Altenhofen T U QRS TU © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [010]
RS07
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RS01
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RioJacuí RS06
Q Q
Q V Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
a
V Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 010 - Ve[lh]o (QFF18)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
00 Q
60% [ʎ]
40%
20%
S [j]
0%
Q S Q S Q S Q S
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q S Q
BRASIL [011]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
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V Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q S Q
RS04 Q Q
a
S Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 011 - Mi[lh]aral (QFF23)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
60%
00 Q [ʎ]
40%
20%
S [j]
0%
Q S Q S Q S Q S
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
= borrar
U
S U
BRASIL [012]
RS07
S U= borrar
S = borrar
RS01
S S
quari
=U borrar
Q U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm S Q U
RS04 V U
a
S U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 012 - Revó[l]ver (QFF15)
100%
00
80%
00 00
00
60%
00 Q [ɫ]
40%
S [ɹ]
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U [w]
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S U
Q U
BRASIL [013]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q U
quari
=U borrar
S U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
U U
GIIm GIm U U
RS04 S U
a
S U 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 013 - Ca[l]ça (QFF24)
100%
00
80%
00 00
00
60%
00 Q [ɫ]
40%
S [ɹ]
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U [w]
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [014]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
=Q borrar
Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
= o
Q Q
GIIm GIm Q borrar
RS04 Q Q
a
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 014 - Men[t]ira (QFF06)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
60%
00 Q [t͡ʃ]
40%
U [t]
20%
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
S S
BRASIL [015]
RS07
Q T = borrar
Q = borrar
RS01
S Q
quari
=Q borrar
S Q RioJacuí RS06
S Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q T Q
RS04 Q Q
a
Q S 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
90%
80% 00 Mapa 015 - Noi[t]e (QFF08)
70% 00 00
60%
00 00
00
50% 00 Q [t͡ʃɪ], [t͡ʃi]
40%
30%
20% S [tɪ]
10%
0%
T [te]
Q S T Q S T Q S T Q S T
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
S S
BRASIL [016]
RS07
Q S = borrar
Q = borrar
RS01
S Q
quari
=Q borrar
Q Q RioJacuí RS06
S Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q S Q
RS04 S Q
a
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
90%
80% 00 Mapa 016 - Tar[de] (QFF09)
70% 00 00
60%
00 00
00
50% 00 Q [d͡ʒɪ]
40%
30%
20% S [dɪ]
10%
0%
Q S Q S Q S Q S
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [017]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
S S
quari
=S borrar
S Q RioJacuí RS06
Rio dos Sinos
Q S Q rdinho
Q Q
GIIm GIm Q Q o
RS04 S Q
S Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [018]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
=Q borrar
RioJacuí RS06
Q Q
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q Q
GIIm GIm Q Q
RS04 Q Q
a
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 018 - Cr[uz] (QFF17)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
00 Q
60% [us]
40%
20%
S [uɪs]
0%
Q S Q S Q S Q S
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
= borrar
Q
Q Q
BRASIL [019]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
=Q borrar
Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
= o
Q Q
GIIm GIm Q borrar
RS04 Q Q
a
S Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 019 - Arr[oz] (QFF03)
100%
00 00
80%
00 00
00 00
60%
00 Q [os]
40%
S [oɪs]
20%
0%
Q S Q S Q S Q S
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [020]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
=Q borrar
Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
= o
Q Q
GIIm GIm Q borrar
RS04 Q Q
a
Q Q 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 020 - Prociss[ão] (QFF16)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
60%
00 Q [ ]
40%
S [õ]
20%
0%
Q Q Q Q
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
Q Q
BRASIL [021]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
=Q borrar
Q Q RioJacuí RS06
Q Q Rio dos Sinos
rd RTa
= OCEANO ATLÂNTICO
o
Q borrar
GIIm GIm Q Q
RS04 V Q
a
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 021 - Muito (QFF12)
100%
00 00
00 00
80%
00 00
60%
00 Q [ˈmũɪtʊ]
40%
20%
0%
Q Q Q Q
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
U U
BRASIL [022]
RS07
U = borrar
U = borrar
RS01
Q U
quari
=U borrar
Q U RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q U
GIIm GIm U U
RS04 V U
a
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 022 - Qua[s]e (QFF22)
100%
00
00 00
80%
00
60%
00 Q [ʒ]
40%
U [z]
20%
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
T S
= borrar= borrar
BRASIL [023]
RS07
S = borrar
Q = borrar
RS01
T T
= quari
= borrar
U T RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 T T
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q R
= borrar= borrar
BRASIL [024a]
RS07
Q = borrar
S = borrar
RS01
Q R
= quari
= borrar
S Q RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 V U
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [024b]
RS07
U = borrar
U = borrar
RS01
U U
quari
Q U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
=borra
=borra
RS05 Rio P ardo rdinho
U U
í RioP Rio Jacuí
caca PORTO = borrarQ
ALEGRE
Ri o Va RS02
io RiCaí
RS04 Q Q
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [025a]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
S Q RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=V borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
20%
S como forma sugerida
10%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [025b]
RS07
U = borrar
Q = borrar
RS01
V U
quari
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
=borra
=borra
RS05 Rio P ardo rdinho
í
Rio Jacuí
U U
RioP
caca PORTO = borrar= borrar
ALEGRE
Ri o Va RS02
io RiCaí
RS04 U U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [025c]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S S
quari
S U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 S Q
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
= borrar= borrar
BRASIL [026a]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
U Q RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U Q
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
U forma não conhecida
20%
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U Q
= borrar= borrar
BRASIL [026b]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
U Q
= quari
= borrar
U Q RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U Q
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
U forma não conhecida
20%
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S Q
= borrar= borrar
BRASIL [026c]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
S Q
= quari
= borrar
U Q RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U Q
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
S 01 forma conhecida
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U nenhuma forma conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U R
= borrar= borrar
BRASIL [027a]
RS07
U = borrar
S = borrar
RS01
V V
= quari
= borrar
RioJacuí RS06
U U
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
= o
U Q
GIIm GIm U borrar
RS04 V Q
a
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
120%
00 Mapa 027a - Confusão (QSL11)
100%
00 00
00 00 Resposta espontânea
80%
00
00 Q
60% fuzuê
40% R furdunço
20% S banzé
0% T auê, fuxico
Q R ST U Q R S TU QR S T U QRS TU
U forma geral (bagunça, baderna etc.)
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [027b]
RS07
S = borrar
U = borrar
RS01
S T
quari
=S borrar
T U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 S R
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
Q = borrar
U = borrar
RS01
U U
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [027d]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q U
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [028a]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
U S RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 U Q S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40% S macumba
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U nenhuma destas variantes
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [028b]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S Q
= quari
= borrar
S U RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
= borrar= borrar
BRASIL [028c]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
Q U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
U forma não conhecida
20%
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [028d]
RS07
U = borrar
U = borrar
RS01
U U
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
V= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S V
= borrar= borrar
BRASIL [029a]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S V
= quari
= borrar
S S RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S Q
= borrar= borrar
BRASIL [029b]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
S S RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [029c]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
T U
= borrar= borrar
BRASIL [029d]
RS07
Q = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
T T RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q T
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q R ST U Q R S TU QR S T U QRS TU
T 01 forma conhecida
GIIm GIIf GIm GIf U nenhuma forma conhecida
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [030]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
S S RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [031]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S Q
= quari
= borrar
S S RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S Q
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
S forma sugerida conhecida
20%
0%
Q S Q S Q S U Q S
*
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [032a]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S U
= borrar= borrar
BRASIL [032b]
RS07
U = borrar
U = borrar
RS01
U S
= quari
= borrar
V S RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [032c]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
RS04 U U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
T U
= borrar= borrar
BRASIL [032d]
RS07
R = borrar
S = borrar
RS01
R R
= quari
= borrar
T T RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 T T
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U V
= borrar= borrar
BRASIL [033a]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
U U
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40% S talha/taia
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U outra resposta
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [033b]
RS07
U = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U Q Q U
U U
BRASIL [034a]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q S
quari
Q Q RioJacuí RS06
Q S Rio dos Sinos
rd r r RTa
OCEANO ATLÂNTICO
S S
GIIm GIm S= borrar o
RS04 S S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
Q = borrar
U = borrar
RS01
U Q
quari
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 V U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U U
= borrar= borrar
BRASIL [035]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
20%
U forma não conhecida
0%
Q U Q U Q U Q U
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S U
= borrar= borrar
BRASIL [036a]
RS07
Q = borrar
S = borrar
RS01
S S
= quari
= borrar
S S RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S Q
= borrar= borrar
BRASIL [036b]
RS07
S = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
quari
= borrar
S Q RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S Q
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q U Q U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [036c]
RS07
U = borrar
S = borrar
RS01
Q U
= quari
= borrar
RioJacuí RS06
S S
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
U R
= borrar= borrar
BRASIL [036d]
RS07
Q = borrar
R = borrar
RS01
R R
= quari
= borrar
U R RioJacuí RS06
U U Rio dos Sinos
rd RTa
OCEANO ATLÂNTICO
R R
GIIm GIm U= borrar o
RS04 Q R
U R 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [036e]
RS07
U = borrar
U = borrar
RS01
Q U
= quari
= borrar
Q U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
V Q
= borrar= borrar
BRASIL [037a]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
V S
= quari
= borrar
U S RioJacuí RS06
V= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U geleia
GIIm GIIf GIm GIf V outra resposta
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2014)
S Q
= borrar= borrar
BRASIL [037b]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
S Q
= quari
= borrar
S Q RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q S
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S V
= borrar= borrar
BRASIL [038a]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
S Q
= quari
= borrar
U Q RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q = borrar
= borrar= borrar
BRASIL [038b]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q U
quari
=Q borrar
Q U RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
V = borrar
= borrar= borrar
BRASIL [038c]
RS07
Q = borrar
V = borrar
RS01
V V
= quari
= borrar
V Q RioJacuí RS06
V= borrar Rio dos Sinos
RS04 V Q
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q Q Q Q
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q R
= borrar= borrar
BRASIL [039a]
RS07
U = borrar
R = borrar
RS01
U R R
= quari
= borrar
V R RioJacuí RS06
T= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q V
=R borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q V
= borrar= borrar
BRASIL [039b]
RS07
S = borrar
U = borrar
RS01
S U
quari
S U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
=borra
=borra
RS05 Rio P ardo rdinho
S S
í RioP Rio Jacuí
caca PORTO = borrar= borrar
ALEGRE
Ri o Va RS02
io RiCaí
RS04 S U
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S Q
= borrar= borrar
BRASIL [039c]
RS07
S = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
S Q RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 S S
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [039d]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q U
= quari
= borrar
U U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q S
= borrar= borrar
BRASIL [040a]
RS07
S = borrar
S = borrar
RS01
U
quari
Q Q RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 U S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U calcanhar
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
V U
= borrar= borrar
BRASIL [040b]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
S Q Q
= quari
= borrar
V V RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
40%
S carcanha
20%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U calcanhar
GIIm GIIf GIm GIf V outra resposta
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [040c]
RS07
U = borrar
Q = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
Q U RioJacuí RS06
Q= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=U borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [041a]
RS07
S = borrar
U = borrar
RS01
U S
= quari
= borrar
Q Q RioJacuí RS06
S= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q S
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U morrer
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q V
= borrar= borrar
BRASIL [041b]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q Q
= quari
= borrar
Q Q RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs da Bacia do Prata: Hunsrückisch (ALMA-H) MAPA 00
Q U
= borrar= borrar
BRASIL [041c]
RS07
Q = borrar
U = borrar
RS01
Q
quari
Q U RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 U U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q U Q U Q U Q U
V sem resultado
GIIm GIIf GIm GIf
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S = borrar
Q = borrar
RS01
Q U
quari
V V RioJacuí RS06
V= borrar Rio dos Sinos
=borra
=borra
RS05 Rio P ardo rdinho
í
Rio Jacuí
U Q
RioP
caca PORTO = borrar= borrar
ALEGRE
Ri o Va RS02
io RiCaí
RS04 Q Q
=S borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U xará
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
Q Q
= borrar= borrar
BRASIL [042b]
RS07
Q = borrar
Q = borrar
RS01
Q U
quari
S U RioJacuí RS06
S S Rio dos Sinos
rd r r RTa
OCEANO ATLÂNTICO
o
Q U
GIIm GIm Q S
RS04 Q Q
a
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
RS03
80%
70% 00 Mapa 042b - Tocaio (QSL30)
00 00
60%
00 Ocorrência de tocaio
50% 00 00
00 Q forma espontânea (uso ativo)
40%
30%
20%
S forma sugerida conhecida
10%
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
GIIm GIIf GIm U forma sugerida não conhecida
GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
S S
= borrar= borrar
BRASIL [042c]
RS07
Q = borrar
S = borrar
RS01
S Q
quari
S S RioJacuí RS06
U= borrar Rio dos Sinos
RS04 Q U
=Q borrar 0 100 200 300 km
GIIf GIf
a
RS03
0%
Q S U Q S U Q S U Q S U
U forma sugerida não conhecida
GIIm GIIf GIm GIf V sem resultado
Adaptado da Base Cartográfica do ALMA-H: M. Krug, C.V. Altenhofen & H. Thun © A.C.S. de Souza (2015)
252
Comunidades com Título (03): Chácara das Rosas, Família Silva (título parcial) e Casca
(título parcial).
Comunidades com Decreto (06): Família Silva, Rincão dos Martimianos, São Miguel, Casca,
Rincão dos Caixões e Manoel Barbosa.
Comunidades com Portaria (08): Família Silva, São Miguel, Rincão dos Martimianos, Casca,
Chácara da Rosas, Manoel Barbosa, Rincão dos Caixões e Areal.
Comunidades com RTID Publicados (14): Família Silva, São Miguel, Rincão dos Martimianos,
Casca, Chácara das Rosas, Manoel Barbosa, Arvinha, Rincão dos Caixões, Cambará,
Mormaça, Morro Alto, Palmas, Limoeiro, Areal.
RTID em elaboração (15): Alpes, Rincão dos Negros, Arnesto Pena, Manoel do Rego, Família
Fidélix, Quadra, Monjolo, Maçambique, Fazenda Cachoeira, Colodianos, Macaco Branco,
Julio Borges, Linha Fão, Picada das Vassouras, Anastácia.
Comunidades com Relatórios Antropológicos (25): Família Silva, São Miguel, Rincão dos
Martimianos, Casca, Chácara das Rosas, Manoel Barbosa, Alpes, Areal, Arvinha,
Cambará, Mormaça, Palmas, Morro Alto, Rincão dos Negros, Rincão dos Caixões,
Limoeiro, Família Fidélix, Manoel do Rego, Arnesto Penna, Anastácia, Fazenda Cachoeira,
Linha Fão, Júlio Borges, Rincão Santo Inácio e Picada das Vassouras.
(*) Essas duas Comunidades pertenciam à Comunidade da Picada das Vassouras, n° 22, com
processo aberto em: 28/08/2007. Por razões operacionais elas foram desmembradas, e foram
abertos dois novos processos. Como, parte do Relatório Antropológico já foi elaborada, e
considerando o tempo de abertura do Processo que a originou (Picada das Vassouras) ocupa essa
posição na Tabela de acompanhamento e prioridades.