Alienação Parental Elaboração de Uma Medida para Mães
Alienação Parental Elaboração de Uma Medida para Mães
Alienação Parental Elaboração de Uma Medida para Mães
1590/1982-02752017000300005
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo elaborar o Inventário de Práticas Maternas Alienantes e reunir evidências de sua validade
pela estrutura interna. Para isso, foram realizados dois estudos. O estudo 1 contou com a participação de duzentas mães
divorciadas de cidades do estado da Paraíba, com idade média de 35 anos (DP = 9,06). Por meio de uma Análise Fatorial
Exploratória, visualizou-se uma estrutura unifatorial do inventário, com um índice de consistência interna de 0,83. O
estudo 2 contou com 189 mães divorciadas, residentes em municípios paraibanos, com idade média de 37 anos (DP =
10,69). Nesse estudo, uma Análise Fatorial Confirmatória sugeriu uma estrutura unifatorial da medida [χ² = 141,05, χ²/
gL = 4,03, GFI = 0,87, CFI = 0,88, TLI = 0,85, RMSEA (IC90% = 0,10 – 0,14) = 0,12, CAIC = 265,89 e ECVI = 0,96].
Conclui-se que o Inventário em questão é uma medida que apresenta características psicométricas que permitem seu
uso com cautela em estudos futuros.
Palavras-chave: Alienação parental; Inventários; Mães.
Abstract
This research aims to develop the “Inventário de Práticas Maternas Alienantes” (Maternal Alienating Practices Inventory)
▼ ▼ ▼ ▼ ▼
1
Faculdade Maurício de Nassau, Departamento de Psicologia, Curso de Psicologia. Campina Grande, PB, Brasil.
2
Universidade Federal do Piauí, Departamento de Psicologia, Laboratório de Avaliação Psicológica do Delta. Parnaíba, PI, Brasil.
3
Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. João
Pessoa, PB, Brasil.
4
Faculdades Integradas de Patos, Departamento de Psicologia, Curso de Psicologia. Patos, PB, Brasil.
5
Universidade Federal da Paraíba, Centro de Educação, Departamento de Psicopedagogia. R. Cidade Universitária, Campus I, s/n.,
58059-900, Paraíba, PB, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: P.N. FONSÊCA. E-mail: <[email protected]>.
Artigo elaborado a partir da dissertação de T.A. CARVALHO, intitulada “Alienação parental: uma explicação pautada em traços de
personalidade e nos valores humanos”. Universidade Federal da Paraíba, 2015. 367
dos genitores após o processo de separação deles, da criança uma fidelidade de apoio contra o pai
embora admitisse manter relação afetiva positiva alienado, o que contribui para o desenvolvimento
com esse genitor a priori. doentio de uma dependência da criança em relação
Posteriormente aos estudos de Gardner, ao genitor alienador (Baker, 2010).
outros autores dedicaram-se a pesquisar o Para tanto, o genitor alienador faz uso de
fenômeno (Hands & Warshak, 2011; Johnston & uma série de comportamentos sabotadores na
368 Kelly, 2004), definindo a AP como a prática realizada tentativa de denegrir a imagem do pai que sofre
Inicialmente buscou-se conhecer o poder próprio gerado pela análise paralela, com percentil
discriminativo dos itens, utilizando-se o critério da 95% (1,42; 1,30; 1,21), foi superior ao valor próprio
mediana (Pasquali, 1997). Foram criados grupos- observado na AFE (4,48; 1,08; 1,01), sugerindo que
critérios internos, superior e inferior à mediana, se deve adotar uma estrutura unifatorial.
considerando a pontuação total do IPMA. Definidos Assim, tendo-se constatado a superioridade
os grupos, efetuaram-se testes t de Student da análise paralela para retenção dos itens nos
372
Tabela 1
Estrutura unifatorial do Inventário de Práticas Maternas Alienantes. Paraíba, PB, Brasil
Fator
Itens
I h²
07. Faço o possível para manter meu(minha) filho(a) ocupado(a) e longe do pai. 0,86* 0,74
06. Convenço meu(minha) filho(a) a fazer atividades comigo ao invés de sair com o pai. 0,71* 0,50
08. Escondo fotos do pai do(a) meu(minha) filho(a) para ele(a) esquecê-lo. 0,70* 0,50
09. Falo para meu(minha) filho(a) que devo ser mais importante na vida dele(a). 0,61* 0,38
10. Limito o contato do(a) meu(minha) filho(a) com o pai. 0,60* 0,36
01. Programo passeios com meu(minha) filho(a) exatamente no horário de visitas do pai. 0,58* 0,34
02. Para evitar o contato do(a) meu(minha) filho(a) com o pai, invento histórias negativas
0,58* 0,34
sobre o pai dele(a).
13. Convenço meu(minha) filho(a) a não querer passar muito tempo com o pai. 0,56* 0,31
04. Incentivo meu(minha) filho(a) a acreditar que gostar do pai é algo errado. 0,52* 0,27
03. Evito que meu(minha) filho(a) se aproxime do pai. 0,49* 0,13
11. Omito do pai informações médicas de meu(minha) filho(a). 0,38* 0,24
05. Recompenso (com presentes, agrados, elogios) meu(minha) filho(a) quando ele(a) me
0,30* 0,09
defende na frente do pai.
Números de itens 12
Valor próprio 4,83
% variância explicada 35,50
Alfa de Cronbach 0,83
Nota: *Saturação considerada para definir o item como pertencente ao fator respectivo, |0,30|.
Fator I: Inventário de Práticas Maternas Alienantes.
Outro dado que deve ser destacado é o do estado da Paraíba. A maioria possuía o ensino
índice de consistência interna (alfa de Cronbach) médio completo (34,4%) e tinha apenas um filho
de 0,83, avaliado como satisfatório. Considerando (37%). O tempo médio de término da sociedade
o caráter exploratório da técnica estatística conjugal era de sete anos (DP = 2,3), com 74%
Instrumentos e Procedimentos
Estudo 2: Inventário de Práticas Maternas
Alienantes Foi utilizado um caderno de aplicações
semelhante ao do estudo anterior, contendo duas
Este estudo teve como objetivo fundamental partes: o IPMA e um questionário sociodemográfico.
confirmar a estrutura fatorial IPMA. Contou-se com Seguiram-se os mesmos procedimentos do estudo
uma amostra não-probabilística, por conveniência, anterior, tendo esta pesquisa recebido o mesmo
de 189 mães divorciadas, com idade entre 20 e parecer favorável do Comitê de Ética.
70 anos (M = 37 anos; DP = 10,69), provenientes Além do PASW (versão 18), usado para
373
= 5,21, GFI = 0,80, CFI = 0,81, TLI = 0,76 e RMSEA Faz-se importante destacar que foi testada
(IC90% = 0,130 – 0,160) = 0,150]. Contudo, uma estrutura alternativa composta por dois
considerando a covariância entre os erros, os pesos fatores, apresentando resultados mais satisfatórios.
de regressão dos itens, constatou-se que, para o Contudo, o número de itens foi reduzido, uma vez
instrumento apresentar indicadores utilizáveis com que quatro deles saturaram em ambos os fatores.
cautela, seria necessário excluir os itens 6 e 11. Dessa Essa estrutura apresentou os seguintes indicadores:
374 forma, o instrumento se apresentou meritório [χ² = [χ² = 55,70, χ²/gl = 2,93, GFI = 0,91, CFI = 0,92,
de alienação. Com o levantamento bibliográfico Baker, A. J. L. (2010). Adult recall of parental alienation
in a community sample: Prevalence and associations
apresentado, fica evidente que as medidas acerca
with psychological maltreatment. Journal of
da AP possuem um enfoque amostral de adultos Divorce & Remarriage, 51(1), 16-35. https://doi.
jovens que vivenciaram experiências de alienação, org/10.1080/10502550903423206
tentando identificar lembranças associadas a Baker, A. J. L., & Fine, P. R. (2014). Surviving parental
situações desse tipo (Baker, 2007; Denollet et al., alienation: A journey of hope and healing. Lanham:
Rowman & Littlefield.
2007; Gouveia et al., 2013), ao lado de pesquisas
Baker, A. J. L., Burkhard, B., & Albertson-Kelly, J. (2012).
que abordam os prejuízos provocados por essa
Differentiating alienated from not alienated children: A
prática, na maioria das vezes em trabalhos de pilot study. Journal of Divorce & Remarriage, 53(3), 178-
natureza qualitativa (Baker et al., 2012; López et 193. https://doi.org/10.1080/10502556.2012.663266
al., 2014). Bernet, W., & Baker, A. J. L. (2013). Parental alienation,
DSM-5, and ICD-11: Response to critics. The Journal
Concluindo, os resultados empíricos of the American Academy of Psychiatry and the Law,
explicitados parecem indicar evidências de validade 41(1), 98-104.
fatorial e consistência interna do IPMA, sugerindo Brasil. Ministério da Saúde. (2012). Resolução n° 466, de
que ele poderá ser empregado em estudos futuros, 12 de dezembro de 2012. Recuperado em fevereiro
embora com cautela. Além disso, sugere-se o 14, 2017, de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
cns/2013/res0466_12_12_2012.html
desenvolvimento de medidas semelhantes para
Byrne, B. M. (2001). Structural equation modeling with
uma versão paterna, como também pesquisas sobre
Amos: Basic concepts, applications, and programming.
a relação das respostas das mães com construtos New York: Springer.
psicológicos que possam auxiliar a compreender e Clark, L. A., & Watson, D. (1995). Constructing validity:
explicar práticas maternas alienantes. Basic issues in objective scale development. Psychological
Assessment, 7(3), 309-319.
Costa, A. L. F. (2011). A morte inventada: depoimentos
e análise sobre a alienação parental e sua síndrome.
Colaboradores
Estudos de Psicologia (Campinas), 28(2), 279-281.
https://doi.org/10.1590/S0103-166X2011000200015
T.A. CARVALHO e P.N. FONSÊCA foram
Denollet, J., Smolderen, K. G. E., van den Broek, K. C.,
responsáveis pela concepção e desenho do estudo. & Pedersen, S. S. (2007). The 10-item Remembered
E.D. MEDEIROS e M.P.L. COUTINHO fizeram a Relationship with Parents (RRP10) scale: Two-factor
análise e interpretação dos dados. T.C. BRASILEIRO model and association with adult depressive symptoms.
Journal of Affective Disorders, 100(1-3), 179-189.
realizou a revisão e aprovação da versão final do
https://doi.org/10.1016/j.jad.2006.10.009
artigo.
Dreman, S. (1991). Coping with the trauma of divorce.
Journal of Traumatic Stress, 4(1), 113-121. https://doi.
org/10.1007/BF00976012
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psicológica. In E. L. Silva et al. (2012). A síndrome da
Agüero, M. C. P., & Andrade, P. (2013). Construcción y alienação parental e a tirania do guardião: aspectos
T.A. CARVALHO et al.
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padres divorciados. Interamerican Journal of Psychology, Equilíbrio.
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25, 2014, de http://www.apase.org.br/ Gardner, R. (2002). Parental alienation syndrome vs
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