CA Ciencia Medicamento
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Atividade
Resumo da atividade
Sem os remédios, a expectativa de vida da humanidade não seria muito superior a 30 anos. Por isso, as
conquistas da farmacologia moderna são inestimáveis.
No entanto é preciso considerar que a indústria de medicamentos visa ao lucro e que o desenvolvimento
de uma nova droga é um processo caro e demorado.
Diante disso, não são raros dois efeitos colaterais desse quadro: o excesso de medicação, de um lado, e a
descrença em todos os remédios artificiais, de outro. O que fazer diante dessa contradição?
É disso que vamos falar agora.
Parte 1
DESENVOLVIMENTO DE REPERTÓRIO
1. Leia o texto a seguir:
Não há teorias eternas em ciência. Sempre acontece que alguns dos fatos previstos pela
teoria são desaprovados pela experiência. Toda teoria tem o seu período de desenvolvimento
gradativo e triunfo, após o qual poderá sofrer rápido declínio. [...] Quase todo avanço da ciência
surge de uma crise da velha teoria, através de um esforço para encontrar uma saída das difi-
culdades criadas. Devemos examinar as velhas ideias, as velhas teorias, embora pertençam ao
passado, pois este é o único meio de compreender a importância das ideias e teorias novas, bem
como a extensão de sua validez.
EINSTEIN, A. & INFELD, L. A evolução da Física. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
2. O texto a seguir foi extraído de uma entrevista da pesquisadora Adriane Fugh-Berman, do Georgetown
University Center:
Artigo que escrevi em 2011 para a PLOS Medicine aponta que, mesmo depois de o Wo-
mens’s Health Initiative (WHI, estudo de longo prazo focado em estratégias de prevenção de do-
enças em mulheres) indicar os riscos da terapia hormonal na menopausa, cerca de metade dos
ginecologistas dos EUA continuou acreditando no contrário. Identificamos tendência promo-
cional em artigos relativos ao tema, por afirmações do gênero: “o ensaio do WHI é polêmico”,
“resultados de ensaios clínicos não devem guiar tratamentos” e “riscos associados à terapia de
reposição hormonal têm sido exagerados”.
Revista Ser médico, número 67, junho de 2014.
a) Esse texto comprova que as pessoas estão dispostas a aceitar evidências científicas para mudar com-
portamentos? Explique sua resposta.
Essa expressão parece remeter aos interesses financeiros que estão por trás da
terapia hormonal para mulheres na menopausa. Se, por ventura, esses tratamentos
deixarem de ser recomendados, a indústria que investiu para produzir esses hormônios
perderia muito dinheiro, o que explicaria a “tendência promocional” de desmentir o
WHI.
Um em cada cinco estudantes do Ensino Médio nos EUA recebeu o diagnóstico de TDAH. Um
terço destes fazem tratamento com estimulantes.
Center for Disease Control and Prevention, 2013.
Os lucros com a venda de estimulantes para o tratamento de TDAH foram de cerca de US$ 9 bi-
lhões na última década.
The New York Times, Dezembro 2012.
3. O primeiro fragmento permite concluir que o TDAH é uma doença inventada pela comunidade científi-
ca? Explique seu ponto de vista.
Não. O TDAH ser um transtorno neurobiológico muito bem estudado e lastreado pe-
la comunidade científica. O que parece estar ocorrendo é a banalização do diagnóstico,
que deveria ser feito apenas por médicos e psicólogos experientes e confirmado por meio
do acompanhamento da evolução da criança com os tratamentos propostos.
Tão grave quanto não tratar os que precisam de medicação é tratar os que não
precisam dela, pois as reações adversas, os efeitos colaterais podem ser maléficos para
os pacientes.
Ironia ao natural
É natural,
é bom
e quanto mais melhor,
como os cogumelos
vermelhos,
as rãs azuis
ou o suco de serpente...
É químico,
processado,
é mau,
como a
aspirina,
um perfume
ou o plástico
da válvula
cardíaca
de um coração...
(João Paiva, Quase poesia quase química. Sociedade Portuguesa de Química, 2012, p.15.
Disponível em www.spq.pt/files/docs/boletim/poesia/quase-poesia-quasequimica-jpaiva2012.pdf.
Acessado em 06/07/2016.)
Parte 2
PRODUÇÃO TEXTUAL
(Unifesp / Adaptada) Observe a imagem e leia os textos seguintes.
A literatura contempla-nos com personagens realizados com a vida simples que levavam. É o caso, por
exemplo, do personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato:
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta,
nem flores – nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o “tocarem” não ficará nada que a
outrem aproveite; porque para frutas há o mato; porque a “criação” come; porque...
– “Mas criatura, com um vedozinho por ali... A madeira está à mão, o cipó é tanto...”
Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça
e cuspilha.
Para Jeca, seu projeto de vida é esse: “Nada paga a pena”. Na literatura, ainda, encontramos o contra-
ponto de Jeca. O personagem Jerônimo, de O Cortiço, nada tem de acomodado, pois era
(…) perseverante, observador e dotado de certa habilidade. Em poucos meses se apoderava
do seu novo ofício e, de quebrador de pedra, passou logo a fazer paralelepípedos; e depois foi-se
ajeitando com o prumo e a esquadria e meteu-se a fazer lajedos; e finalmente, à força de dedicação
pelo serviço, tornou-se tão bom como os melhores trabalhadores de pedreira e a ter salário igual
ao deles. Dentro de dois anos, distinguia-se tanto entre os companheiros, que o patrão o converteu
numa espécie de contra-mestre e elevou-lhe o ordenado a setenta mil-réis.
Dois personagens, duas histórias, duas formas de viver e encontrar a realização pessoal.
Há casos, porém, em que o sucesso existencial é muito questionado, sobretudo se não atende aos
sonhos previamente instalados na vida. É o que acontece com Mathieu, personagem de A idade da razão,
de Jean-Paul Sartre:
Assim é que eles me vêem, eles, Marcelle, Daniel, Brunet, Jacques. O homem que quer ser livre.
Come, bebe, como qualquer outro, é funcionário, não faz política, lê L’Oeuvre e Le Populaire e está
em dificuldades financeiras. Mas quer ser livre, como outros desejam uma coleção de selos. A li-
berdade é seu jardim secreto. Sua pequena conivência para consigo mesmo. Um sujeito preguiçoso
e frio, algo quimérico, razoável no fundo, que malandramente construiu para si próprio uma feli-
cidade medíocre e sólida, feita de inércia, e que ele justifica de quando em vez mediante reflexões
elevadas. Não é isso que sou?
A questão da grande busca humana é tema que não se restringe à literatura e toma formas diversas no
mundo em que vivemos, como mostra a reportagem O paradoxo do progresso”, que saiu na revista Veja:
A população dos países mais ricos passa por uma crise existencial: a sensação de que no pas-
sado se vivia melhor. A história e as estatísticas, no entanto, mostram que a média dos moradores
dos Estados Unidos e da Europa Ocidental nunca teve uma vida tão próspera. As pessoas vivem
mais, têm mais acesso à educação e, descontados os desejos mais extravagantes, realizam como
nunca os sonhos de consumo. Cinquenta anos atrás, os objetivos de uma família americana eram a
casa própria, o carro na garagem e pelo menos um dos filhos na universidade. Hoje, seu estilo de
vida excede essas expectativas, graças a um aumento de 50% na renda da classe média nos últimos
25 anos. O que hoje é comum – uma frota de carros na garagem, assistência médica de primeira e
férias no exterior – no início do século XX era privilégio de uns poucos milionários. Há muito mais:
algumas doenças letais que nos anos 50 não poupavam nem sequer os muito ricos, como a polio-
mielite, foram praticamente erradicadas. Apesar de todos esses avanços, os psicólogos identificam
um fenômeno que tem sido chamado de “hipocondria social” ou “paradoxo do progresso”: a sensa-
ção crescente de que tudo o que se conquistou com as melhorias sociais é mera ilusão.
A ideia de que um bom padrão de vida não é garantia para a realização pessoal é antiga. Há
mais de 2000 anos, o filósofo grego Aristóteles já afirmava que a felicidade se atinge pelo exer-
cício da virtude, e não da posse. Uma pesquisa recente realizada pelo sociólogo holandês Ruut
Veenhoven, da Universidade Erasmus de Roterdã, concluiu que com uma renda anual de 10000
dólares o indivíduo tem o suficiente para uma vida confortável em qualquer país industrializa-
do. A partir daí, como na propaganda de cartão de crédito, existem coisas – um sentido para a
vida, uma paixão e amizades – que o dinheiro não pode comprar. A melancolia que contamina
as sociedades ricas do século XXI é mais complexa do que a velha frase “Dinheiro não compra
felicidade”. Para o jornalista americano Gregg Easterbrook, pesquisador do Instituto Brookings,
se a classe média americana não está se sentindo bem, isso é culpa de uma mistura indigesta que
Diante dessas constantes insatisfações, mesmo que imotivadas, surgem soluções que parecem mági-
cas, como revela esse artigo de Mônica Tarantino, publicado no portal Terra:
Leio no site da Organização Mundial de Saúde (ONU) que o abuso de medicamentos vendidos
sob prescrição médica continua a se espalhar por todas as regiões do mundo e aumentou substan-
cialmente nos últimos anos. O dado faz parte do relatório recém-divulgado da Junta Internacional
de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), organismo da ONU com sede em Viena.
A JIFE expressou preocupação especial com o aumento do consumo de remédios para trata-
mento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em alguns países. Conheci uma econo-
mista brilhante que havia se viciado em ritalina, um estimulante do grupo dos anfetamínicos usado
no tratamento do déficit de atenção. Profissional de sucesso, ela tomava para ter maior rendimento
no trabalho. Sofreu bastante quando decidiu parar de tomar.
O relatório da JIFE também toca em um velho problema – o abuso de tranquilizantes e sedati-
vos. O alerta feito pelo presidente da instituição, Raymond Yans, é de que que o consumo desneces-
sário desses remédios cresce. “Mais de 6% dos alunos de escola secundária já utilizaram tranquili-
zantes em alguns países, indicando mais uma tendência alarmante”, disse Yans. A história me toca
especialmente porque tenho um parente que há anos se automedica com remédios benzodiazepíni-
cos. Toda noite, um pouquinho do remédio para dormir. Consumidor dedicado, “descola” o remé-
dio em drogarias das quais é cliente fiel ou com profissionais da saúde. Em comparação com seus
irmãos, alguns até mais velhos, apresenta lapsos de memória e parece, digamos, emocionalmente
mais “avariado”. Especialistas correlacionam tais sinais com o uso crônico desse tipo de remédio.
A JIFE recomenda algumas medidas possíveis para enfrentar essas questões. Uma delas é a ca-
pacitação de profissionais da área médica, controles mais rígidos de armazenamento e distribuição
e a conscientização do público a respeito dos riscos à saúde.
A partir do que se expôs, pense no que seja um projeto de vida e reflita sobre as implicações que ele
tem para a realização pessoal – plena ou não. Portanto, sua tarefa aqui, agora, é elaborar um texto disser-
tativo-argumentativo, em prosa, analisando e discutindo a seguinte questão:
AS FORMAS DE ALCANÇAR A SATISFAÇÃO PESSOAL E A FELICIDADE