Elizabeth Accioly - Nutrição em Obstetrícia e Pediatria
Elizabeth Accioly - Nutrição em Obstetrícia e Pediatria
Elizabeth Accioly - Nutrição em Obstetrícia e Pediatria
HISTÓRICO E PERSPECTIVAS1
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-RVp*XLOKHUPH&RUWH]
RESUMO
Este trabalho discorre sobre as modificações impostas pelo modelo tecnológico voltado para a
produtividade na cultura cafeeira brasileira a partir da década de 60, relaciona algumas
decorrências daquele novo processo produtivo sobre as premissas de comercialização e a
atual imagem do produto brasileiro e estabelece novas perspectivas para a futura produção,
industrialização e comercialização de café.
INTRODUÇÃO
1
Este artigo é resultado das dissertações de mestrado dos autores e de discussões posteriores
sobre o tema.
2
Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA/UNICAMP).
[email protected]
3
Engenheiro Agrônomo, Classificador e Degustador de Café, Ministério da Agricultura,
Campinas.
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4
É importante destacar que as cultivares de café exploradas até hoje em dia estão a apenas
três ou quatro gerações de sua origem – café Typica – introduzido no Brasil em 1727.
5
Sobre as transformações do IAC na primeira metade do século, ver Albuquerque et al.
(1986).
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O Mundo Novo é resultado da hibridação natural entre o Bourbon Vermelho e o Sumatra. O
Bourbon original – matriz do Bourbon Vermelho – foi introduzido no Brasil em 1859, e o
Sumatra, em 1896, e ambos eram mais produtivos que o Nacional (ou Crioulo, ou Typica),
introduzido desde o Século XVIII. O Bourbon Vermelho é resultado de pesquisas e
seleção realizadas por Dafert (Carvalho, 1985: p.7).
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7
Os autores consultados usam “plano”, “programa” e “esquema”, para denominar as tentivas
de estabilização dos preços do café, referindo-se sempre acompanhadas do termo as
expressões “valorização” ou “defesa”.
8
Eram definidos pelo GERCA como antieconômicas as áreas plantadas que produzissem
abaixo de seis sacas de café beneficiado por mil covas de café.
9
Vinculado à adoção de novas tecnologias, como novas variedades de café desenvolvidas
pelo IAC (estudadas no item anterior), e também à utilização de insumos modernos, como
fertilizantes, defensivos químicos e equipamentos para secagem e beneficiamento de café.
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A qualidade do café no Brasil; uma proposta metodológica
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Parte destas informações já foram publicadas nos Anais do XIX Simpósio de Gestão da
Inovação Tecnológica, São Paulo: USP/PGT/FIA/PACTo, 1996.
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fungicidas e herbicidas) passou de 13,2 mil toneladas em 1970 para 70,5 mil
toneladas em 1978. O número de tratores aumentou de 8 mil unidades em
1961 para 540 mil em 1980 (Muller, 1989: p.40).
A pesquisa agrícola viabilizou novas tecnologias de produção, cuja
difusão se deu através de um processo de planificação articulado pelo
Estado, garantindo a condução das linhas de crédito. Sob a perspectiva da
cafeicultura, observou-se que, a partir da atuação do IBC/GERCA,
estabeleceu-se um novo regime de produção para a cafeicultura nacional,
associando as novas variedades mais produtivas com a difusão via técnicos
do próprio IBC e dos congressos de divulgação de resultados.
A busca por variedades de maior rendimento resultou no
desenvolvimento pelo IAC de um novo material, o Catuaí Vermelho e o
Catuaí Amarelo, resultado da hibridação entre o Mundo Novo e Caturra
Amarelo; ... “trata-se de um Mundo Novo de porte pequeno, que vem tendo
aceitação em todas as regiões, pela facilidade de colheita e de tratos
fitossanitários. Pode também ser plantado a distâncias menores, melhorando
a produção de café por área” (Carvalho, 1985: p.9).
Considerando como significativas as percentagens de participação dos
Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais no total da produção nacional,
nos anos apresentados na Tabela 1, e sabendo-se que historicamente são
estes três Estados que no século atual alternaram a hegemonia na
cafeicultura, pode-se inferir que, ao longo do tempo, no pós-reformas na
cafeicultura, foi esta a distribuição da produção cafeeira no Brasil e esses
Estados se conformaram nos maiores alvos de políticas explícitas para
difusão de novas tecnologias para a cafeicultura.
Em 1962, o IBC/GERCA elaborou o seu Plano Diretor, com o Programa
de Erradicação de Cafezais, o que causou impacto diretamente na área
plantada dos principais Estados produtores de café. A produtividade da
cafeicultura paulista, que vinha em ligeira queda até a década de 60, com
médias de 13 sacas de café beneficiado/ha, passa após as reformas a assumir
produtividades de 26 sacas de café beneficiado/ha, no quadriênio 71/74, em
plena vigência dos programas. Posteriormente, a cafeicultura paulista sofreu
um decréscimo significativo na área cultivada, sendo substituída pelas
culturas de cana e laranja.
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Conforme Mazzafera & Guerreiro Filho (1991), a produtividade do cafeeiro apresenta
oscilações bianuais por causa do concurso determinado fisiologicamente pelas plantas por
substrato, de maneira que em um ano o cafeeiro produz frutos, se encarregando de sua
reprodução, e no ano seguinte produz mais folhas e ramos, se encarregando de cuidar de
suas estrutura física. Trata-se de alternância de cuidados com sua fisiologia e sua
reprodução.
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As variedades de alto rendimento têm por característica comum, além da alta resposta a
insumos, também maior instabilidade, entendida como probabilidade de oscilação maior
entre colheitas e maior variabilidade de maturação.
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RESULTADOS NA COMERCIALIZAÇÃO
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13
O IBC criou mecanismos de comercialização que incentivavam a qualidade através do
embarque facilitado dos melhores cafés em qualquer porto. Por outro lado, as bebidas
piores, como a bebida Rio, só poderiam ser embarcadas nos portos de Rio de Janeiro,
Niterói e Vitória.
14
O Acordo Internacional do Café estabelecia a produção e comercialização dos cafés
descritos como de “bebida fina, suave ou suaves colombianos” produzidos pela Colômbia
e pelo Quênia; “outros suaves”, produzidos pelos países da América Central; “Brasil e
outros arábicas”, produzidos principalmente pelo Brasil, e os robustas, produzidos pelos
países da África.
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Ver Anexo 2 sobre palestra de comércio de café.
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Neste trabalho, é dada maior ênfase à parte agrícola do agronegócio café, não se referindo à
industrialização do produto.
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Os panos são colocados embaixo da saia do cafeeiro pelo empregado, que como a mão irá
derrubar do pé para o pano os grãos de café, que, posteriomente, serão colocados em uma
peneira para o ato de abanação, em que se separam grosseiramente os grãos das folhas e de
outras impurezas, e levados para beneficiamento.
18
É importante ter em mente que a fertilidade da maioria dos solos onde o café é cultivado no
Brasil é extremamente baixa, comparada com os solos vulcânicos e profundos da
Colômbia, do Quênia e da América Central. O cultivo a pleno sol também é extremamente
desgastante, e as necessidades nutricionais para as altas produções são supridas, mesmo à
custa de grande número de grãos imperfeitos.
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Miya et al. (1967/68) observaram que a presença de 60 % de defeitos (grãos verdes,
ardidos e pretos) induzia à descrição da bebida como “fétida, nauseativa, malcheirosa”; a
adição de 50 % de grãos verdes correspondia a 12,77 pontos na mistura com uma bebida
Mole e 11,53 pontos na mistura com uma bebida Dura. Ou a adição de 40 % de defeitos
ardidos correspondia a 13,07 pontos na bebida Mole e a 11,78 pontos na bebida Dura; em
nenhum dos casos, portanto, chegava-se à pontuação da bebida Rio, o que demonstrava
que esta bebida não era decorrente da presença de defeitos.
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CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
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REFERÊNCIAS
88 Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.15, n.1, p.65-91, jan./abr. 1998
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ANEXO 1
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ANEXO 2
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