TESE - Aldo Morais PDF
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1894 – 1930
Salvador
2006
1
1894 - 1930
Salvador
2006
2
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Fernando Guerreiro de Feitas (Orientador)
Universidade Federal da Bahia
________________________________________________________
Profª. Drª. Lina Maria Brandrão de Aras
Universidade Federal da Bahia
________________________________________________________
Profª Drª. Lucia Maria Pascoal Guimarães
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
________________________________________________________
Prof Dr. Rinaldo Cesar Nascimento Leite
Universidade Estadual de Feira de Santana
________________________________________________________
Profª. Drª. Wlamyra Ribeiro de Albuquerque
Universidade Estadual de Feira de Santana
3
Para
Izabel e Amanda
4
AGRADECIMENTOS
À Profª. Lina Aras, pela paciência com que leu versões preliminares de alguns dos
textos e ainda pelas valiosas sugestões que me fez.
Ao corpo funcional do Museu Casa do Sertão (da UEFS), sobretudo nas pessoas de
sua Diretora, Cristiana Barbosa de Oliveira Ramos, e da Bibliotecária Ana Martha
Machado Sampaio, pela presteza e apoio na consulta do acervo sob sua guarda.
Por fim, aos muitos que de algum modo contribuíram para a realização deste
trabalho, a todos os meus sinceros agradecimentos.
5
RESUMO
ABSTRACT
This study analyzes the origin and the process of consolidation of the Geographic
and Historical Institute of Bahia from 1894 to 1930, observing its participation in the
effort to promote the modernity and civility of bahian society in that context of the
brazilian modernization, which characterized the First Republic. With this objective,
this paper discusses the historical conditions of the institution source and its relation
with the ancient Provincial Historical Institute than precede it. This study debate,
further, the use than GHIB for insertion of Bahia into national republican project,
utilizing to this the examination of the debates about the racial question in Bahia and
the efforts of the Institute about to stand up for the discourses about European
immigration to Bahia. The text discusses, further, the use of these same questions by
the GHIB as channel and strategies of interlocution whit the society and Bahian
government, thinking about the necessary support to its institutional consolidation.
After these considerations, the study discusses the moment of consolidation of the
GHIB and its implications for the relations of the Institute with the government and the
society, as well as about the characteristics of its institutional production.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 03 Variação do número de artigos da Revista do IGHB entre 1894 e 1930 221
(total e por área)
Gráfico 04 Variação da média quadrienal de artigos na Revista do IGHB entre 1894 223
e 1929
Gráfico 05 Variação do número de páginas da Revista do IGHB entre 1894 e 1930 223
8
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
Lista de ilustrações 07
Lista de Tabelas 08
INTRODUÇÃO 10
CONCLUSÃO 226
Fontes 228
Referências 232
Apêndices 242
Anexos 246
10
INTRODUÇÃO
1
Discurso do Ministro Felix Pacheco em sessão a ele dedicada, em 18 de setembro de 1924. Revista
do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 49, p. 514-519, 1924.
2
No decurso dos anos da Primeira República a Bahia ressentia-se ainda de um processo de retração
econômica que se iniciara por volta da década de 1870 e que implicou, entre outros aspectos, em
perda do prestígio e poder político do estado. Voltaremos a discutir tal processo, mais
detalhadamente, no primeiro capítulo.
11
3
SILVA, Aldo José Morais. Natureza sã, civilidade e comércio em Feira de Santana: elementos para
o estudo da construção de identidade social no interior da Bahia (1833-1937). Salvador, 2000.
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia. p. 82-109.
12
4
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de. Algazarra nas ruas: comemorações da independência na Bahia
(1889-1923). Capinas: Editora da Unicamp, 1999. p. 30-35.
13
5
Tratamos aqui das elites segundo a concepção de Wright C. Mills, para quem as elites são
compostas por “homens cuja posição lhes permite transcender o ambiente comum dos homens
comuns, e tomar decisões de grandes conseqüências” e assim “ocupam os postos de comando
estratégicos da estrutura social, no qual se centralizam [...] os meios efetivos do poder e a riqueza e
celebridade que usufruem”. MILLS, C. Wright. A elite do poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. p. 12.
14
arruinada), mas que era ao mesmo tempo parte da elite intelectual e, portanto,
legatária de títulos e posições sociais ostentadas como atributos de estirpe, as
instituições de saber apresentaram-se como os espaços capazes de garantir certo
reconhecimento social que já não podia assentar-se sobre o poder econômico ou
político.
E não menos significativa é a perspectiva de que tais instituições se
mostrassem úteis ainda exatamente por possibilitarem o contato entre esse
segmento em declínio econômico e os representantes mais vigorosos da economia e
da política baiana, garantindo assim a manutenção e o eventual desenvolvimento de
teias de relações que, em muitos casos, garantiram a sobrevivência daqueles,
mediante sua inserção, por exemplo, em diferentes níveis do serviço público.
Uma outra ponderação se faz aqui necessária quanto à noção de
‘sociedade’ com a qual o Instituto se relacionava e da qual esperava apoio. Já
dissemos da importância das instituições de saber para as elites intelectuais em um
cenário caracterizado pelo analfabetismo da maior parte da população. Essa grande
parcela do corpo social não compunha, por certo, a ‘sociedade’ com a qual o
Instituto pretendia se relacionar.
Num período em que o rádio, como meio de comunicação de massa,
ainda era incipiente na Bahia, a ampla parcela iletrada da população tinha limitada a
sua possibilidade de conhecer diretamente e de forma consistente a produção do
Instituto, fosse ela aquela veiculada pela sua revista (de tiragem ademais limitada)
ou pelos jornais em que freqüentemente as atividades do IGHB eram anunciadas ou
seus sócios assinavam artigos. Isso para não mencionar a questão, não menos
significativa, das diferentes visões de mundo, valores e expectativas distintas
existentes entre os segmentos letrados e iletrados da sociedade, e que poderiam
determinar, por exemplo, o simples desinteresse destes últimos pelas questões
julgadas dignas de atenção por aqueles.
As instituições de saber e, em particular, os institutos históricos, são um
fenômeno próprio das comunidades urbanas, logo, urbana é também a ‘sociedade’
com a qual o IGHB quer dialogar. Seu caráter (ou pretensão) estadual em princípio
predispõe-no a se relacionar com as ‘sociedade urbanas’ de todo o território baiano,
mas a exiguidade de centros economicamente relevantes no interior durante a
Primeira República, a deficiência das vias de comunicação e, mais
significativamente, o fato de que boa parte dos jovens com recursos para tal buscava
15
a capital do estado para concluir seus estudos (passando com freqüência a ali se
fixar), praticamente restringia o universo social do IGHB a Salvador.
Nesse ambiente urbano soteropolitano*, a condição de alfabetizado era
assim um pré-requisito para aqueles que desejassem conhecer e se relacionar com
o Instituto. Consequentemente era também o primeiro critério para que o Instituto
julgasse alguém digno de ser visto e ouvido como parte da sociedade. Mas mesmo
entre os que tinham alguma alfabetização (que podia ser muito rudimentar e
direcionada apenas para atividades profissionais básicas como escrever e calcular),
apenas aqueles que possuíam uma educação mais consistente e que dela se valiam
para ocupar funções com maior nível de especialização apresentavam-se como os
interlocutores preferenciais do IGHB. Eram eles os ditos segmentos médios da
sociedade: professores, advogados, farmacêuticos entre outros profissionais liberais,
funcionários públicos e, talvez, alguns pequenos comerciantes. Muitos dos quais,
como veremos posteriormente, acalentavam a expectativa de integrar o Instituto e,
muito provavelmente, compuseram o grosso das fileiras da instituição.
Tais segmentos estavam (ou acreditavam estar) intelectualmente
habilitados para compreender a retórica empregada pelos integrantes do Instituto e,
mais importante, comungavam das mesmas crenças e expectativas quanto ao que
julgavam ser as questões fundamentais para a Bahia. Ocorre que, ao que tudo
indica, este não chegou a ser um grupo numericamente expressivo até o final da
Primeira República. De fato, embora não tenhamos dados seguros sobre a
estratificação social baiana nesse período, supomos que uma estimativa de meros
5% da população como integrantes da classe média já seria uma projeção
extremamente otimista, dado que até o final do Império esse contigente foi estimado
em não mais do que 2% da população soteropolitana6. Disso resulta que a
‘sociedade’ considerada pelo Instituto foi sempre uma fração do conjunto total da
população, ainda que os discursos da instituição se pretendessem representativos e
direcionados a toda a sociedade.
O IGHB foi assim uma instituição constituída pelas elites e para as elites.
Pelo mesmo motivo o Instituto foi concebido como uma instância de referência para
aqueles grupos, uma referência não só enquanto espaço de interlocução, mas
*
Para os não familiarizados, o termo refere-se ao que ou a quem é próprio ou natural da cidade de
Salvador.
6
ARAÚJO, Dilton Oliveira de. Republicanismo e classe média em Salvador (1870-1889). Salvador,
1992. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia. p. 144.
16
7
Estatuto do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Título I, Cap. I. Revista do Instituto Geográfico
e Histórico da Bahia. Salvador, v. 1, n. 1, p. 37-58, 1894.
8
CERTEAU, Michel de. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos
problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 17-22.
9
NETTO, Lino Ferreira. In. SILVA. Benedito (Coord.) Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1986. p. 612.
10
ACEVES, Patricia. La red cientifica en el área farmacéutica, química y metalúrgica en la Nueva
Espanhã de finales del siglo XVIII. In. AFONSO-GOLDFARD, Ana Maria; MAIA, Carlos A. (Orgs).
História da ciência: o mapa do conhecimento. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura; São Paulo:
Edusp, 1995. (Coleção América 500 anos: raízes e trajetórias; v. 2). p. 746-747.
17
14
FIGUEIRÔA, Silvia F. de M. Ciências no torrão natal: a adaptação de modelos estrangeiros e a
construção de uma problemática científica nacional. In. Idem. p. 776.
15
SCHAPOCHNIK, Nelson. Como se escreve a história? Revista Brasileira de História. São Paulo:
Marco Zero/Fapesp/Anpuh, v. 13, n.25, p. 67-80, set. ago, 1993.
16
FIGUEIROA, Silvia F. M. Associativismo científico no Brasil: o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro como espaço institucional para as ciências naturais durante o século XIX. Interciência, v.
17, n. 3. p. 141-146, may-june 1992.
17
DOMINGUES, Heloisa M. Bertol. As ciências naturais e a construção da nação brasileira. Revista
de História, São Paulo, n. 135, p. 41-60, 1996.
19
18
MAHL, Marcelo Lapuente. Teorias raciais e interpretação histórica: o instituto histórico e geográfico
de São Paulo (1894-1940). Assis, 2001. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual
Paulista.
19
FERREIRA, Antônio Celso. A epopéia bandeirante 1870-1940, São Paulo: Unesp, 2002.
20
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil
(1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. ver o capítulo 4 “Os institutos históricos e
Geográficos: Guardiões da história oficial”. p. 99-140.
20
instituição no contexto mais amplo dos momentos políticos e das relações com as
autoridades locais21.
Com estes poucos títulos fecha-se o limitado leque (mesmo considerando
a possibilidade, bastante plausível, de que nos tenha(m) escapado título(s)) de
estudos sobre as experiências regionais dos institutos. No âmbito local a
historiografia acadêmica baiana tampouco atentou para um conhecimento mais
profundo do instituto histórico local, salvo pelas análises desenvolvidas sobre aquela
instituição por Wlamyra Albuquerque, à qual já nos referimos pouco antes, e por
Paulo Silva, em estudo dedicado à análise das “relações entre intelectuais,
particularmente os historiadores, e o poder político”, e das conseqüentes implicações
de tais relações (entre outros fatores) para a “produção do conhecimento histórico
[especialmente pelo grupo da chamada Concentração Autonomista] do período que
se estende de 1930 a 1945”, conforme anuncia o próprio autor22.
Digna de nota é ainda a tese de doutoramento de Rinaldo Leite, sob o
título “A rainha destronada”, em que o autor analisa os esforços da intelectualidade
local para a construção da identidade baiana ao longo dos anos da Primeira
República23. Aqui, porém, o IGHB não chega a ser discutido em sua condição de
instituição. Não obstante, o autor vale-se amplamente das falas de personalidades
proeminentes do Instituto (quase sempre registradas na Revista do IGHB e, por isso
mesmo, uma das fontes mais recorrentemente utilizadas por ele) para caracterizar
as ações e estratégias discursivas dedicadas à configuração de determinadas
imagens da Bahia e do seu povo.
Noutras palavras, embora Leite não se preocupe em discutir as condições
institucionais que condicionavam e/ou possibilitavam a produção de tais discursos
por aqueles indivíduos, evidencia em sua análise a relevância da produção do IGHB
para o cenário intelectual do período, corroborando assim – ainda que indiretamente
– o destaque conferido ao IGHB pelos autores supra citados.
Cabe assinalar que não só no caso de Leite, mas também nos demais
estudos, as análises desenvolvidas sobre o IGHB inserem-se em propostas mais
21
TAVARES, Giovana Galvão. A Trajetória de uma casa de saber: o Instituto Histórico e Geografia de
Goiás (1930-1970). Campinas, 2000. Dissertação (Mestrado em História). Universidade de Campinas.
22
SILVA, Paulo Santos. Âncoras de tradição: luta política, intelectuais e construção do discurso
histórico na Bahia (1930-1949). Salvador: Edufba, 2000. p. 16.
23
LEITE, Rinaldo César Nascimento. A rainha destronada: discursos das elites sobre as grandezas e
os infortúnios da Bahia nas primeiras décadas republicanas. São Paulo, 2005. Tese (Doutorado em
História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
21
24
ALBUQUERQUE, 1999. p. 30.
25
VASCONCELOS, Pedro Almeida. Salvador: transformações e permanências (1549-1999). Ilhéus:
Editus, 2002. p. 259.
22
parte dos esforços da sociedade baiana estavam voltados para garantir que esta se
pusesse em sintonia com uma dinâmica nacional, sendo o próprio Instituto um dos
‘instrumentos’ de tais esforços.
Nessa perspectiva, ainda que 1930, como baliza temporal, possa sugerir
uma leitura do processo histórico atrelado à explicação política (e conseqüentemente
à própria história política), como observa Borges 26, não se pode desconsiderar que
esse momento foi também – e é isso que nos interessa – o início de uma série de
transformações de ordem econômica e sócio-cultural tão significativas que alteraram
a própria percepção acerca da identidade nacional27.
No mesmo sentido, mas no, por assim dizer, campo das percepções
quotidianas, a data em questão assinala o fim do período também identificado como
a Belle époque nacional, fase em que a nação e, particularmente, as camadas
dirigentes viveram a crença de que os avanços da ciência e os povos deles
detentores ofereciam modelos seguros para direcionar os esforços de superação do
atraso do país, até então ainda fortemente marcado por seu passado colonial 28. A
superação desta fase marcou o fim das expectativas iniciais em torno do potencial
modernizador do regime republicano em âmbito nacional e, conseqüentemente,
também na Bahia.
Até mesmo a defesa da imigração européia como instrumento de
promoção desta modernidade (pela modificação do caráter mestiço da população,
mediante o seu embranquecimento), discurso até então amplamente difundido no
país, sofreu um revés nesse momento, como resultado da adoção de uma nova
postura perante a questão. É o momento em que, como assinala Jeffrey Lasser:
26
BORGES, Vavy Pacheco. Anos trinta e política: história e historiografia. In. FREITAS, Marcos
Cezar de. (Org.) Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. p. 159-182.
27
Vale lembrar aqui, apenas para frisar o quanto as transformações do pós-30 estendem-se para
além do campo estritamente político, os estudos produzidos acerca do cinema brasileiro, da música
popular e do teatro, por Maria Rita Galvão e Carlos Roberto de Souza, Gilberto Vasconcellos e
Matinas Suzuki Jr., e Décio de Almeida Prado, respectivamente, no já bem conhecido 4º volume do 3º
Tomo (O Brasil Republicano) da coleção História geral da civilização Brasileira, sob a direção de Boris
Fausto.
28
SEVCENKO, Nicolau. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In.
NOVAIS, Fernando A. História da vida privada no Brasil: república – da belle époque à era do rádio.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 27-28.
23
29
LESSER, Jeffrey. Imigração e mutações conceituais da identidade nacional, no Brasil, durante a
era Vargas. Revista brasileira de história São Paulo: ANPUH/Marco Zero. v. 14, n. 28, p. 121-150,
1994.
30
Nesse momento a entrada de estrangeiros foi limitada à observação da quota anual de 2% do
número de imigrantes (por nacionalidade) que já estava no Brasil. BERGMANN, Michel. Nasce um
povo: estudo antropológico da população brasileira. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 128.
31
SILVA, José Calazans Brandão da. A revolução de 1930 na Bahia: documentos e estudos.
Salvador: Mestrado em Ciências Sociais da FFCH; Universidade Federal da Bahia, 1980. Veja-se em
especial as análises das repercussões da passagem de Juarez Távora pela Bahia, na terceira parte
da obra, “estudos”. p. 63-91.
24
passado vinha reforçar o tecido social das elites locais e dar apoio ao
projeto político contrário ao nacionalismo centralizador do governo Vargas.
Nesse sentido, a historiografia baiana revelou-se um discurso sobre a
32
autonomia política e sua defesa .
32
SILVA, P. 2000, p. 15-16.
25
33
Uma definição da duração desse período de transição, bem como as condições em que se deu a
transição do status de referência para a intelectualidade, do IGHB para a UFBA, são ainda pesquisas
a serem desenvolvidas.
26
IGHB, que o antecedeu ainda durante o Império e que se extinguiu quase duas
décadas antes da fundação da agremiação republicana. Essa documentação
mostrou-se relevante porque nos possibilitou reconstituir o percurso existencial
daquele primeiro Instituto e identificar os fatores que contribuíram para o seu
insucesso, tornando evidentes as ameaças que pairavam também sobre a
agremiação que lhe sucedeu.
Nesse sentido, cabe observar que ambos os relatórios foram produzidos
num momento em que a instituição já se encontrava agonizante há vários anos. Isso
permitiu ao seu autor produzir um relato que chama atenção pela clareza e
objetividade com que identifica as causas das dificuldades da instituição, um relato
tanto mais verossímil quanto, pela relativa distância temporal dos fatos narrados (a
despeito do envolvimento emocional do narrador), reconhece os fatores externos e
internos à instituição, que determinaram o malogro daquilo que era também fruto do
seu próprio trabalho.
Menos espontâneos, mas não menos relevantes para os nossos
propósitos são os dados da série de falas, mensagens e relatórios dos governadores
do estado, praticamente ininterruptas de 1893 a 1930. Essa série é particularmente
importante por sua persistência ao longo do período estudado e pela oportunidade
que propicia de acompanhar o tratamento oficial para muitas das diferentes
questões envolvidas em nossa temática.
Como registros oficiais a série de falas e relatórios traz uma leitura própria
dos fatos, preocupada em respaldar as ações e propostas governamentais. E,
embora assim concebidos – o que exige uma análise especialmente cautelosa de
sua ‘fala’ – esta documentação mostrou-se reveladora do tratamento oficial para o
problema do desenvolvimento da imigração estrangeira no Estado. Nesse particular,
valemo-nos da relativa padronização das falas, cuja ‘fórmula’ trazia sempre tópicos
como “colonização” ou “Imigração”. Nessas seções tais temas eram
obrigatoriamente abordados, ainda que com freqüência muito pouco houvesse para
ser acrescentado ao texto do ano anterior, que por sua vez, registrava quase sempre
(pelo menos quanto à imigração) o insucesso do seu empreendimento. As falas
foram trabalhadas assim não apenas quanto à verificação do discurso oficial em
relação à questão, mas também quanto às discrepâncias e omissões observadas
entre tal discurso e as medidas para sua viabilização, por exemplo.
27
34
APEB. Biblioteca. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. In. Mensagem e relatórios
apresentados à Assembléia Geral Legislativa pelo Dr. Joaquim Manoel Pereira Rodrigues Lima –
Governador do Estado em 7 de abril de 1895. Bahia: Typographia do Correio de Notícias, 1895. p.
36-38.
28
padronizada dos trabalhos (com leitura da ata anterior, registro dos sócios
presentes, apresentação das correspondências recebidas...) e poucas referências a
fatos pontuais, como a morte ou a admissão de um sócio, o registro de alguma
proposta de homenagem ou de um tema para monografia, seguidos pelas listas de
doações e ofertas ao acervo do Instituto.
Raríssimos são assim os registros em ata de discussões sobre pontos
polêmicos entre os sócios, ou mesmo explanações (ainda que consensuais) acerca
da relação entre a instituição e o Governo, por exemplo. Tais registros, bem mais
raros e esporádicos ocorrem quase que exclusivamente nos discursos ou nos
trabalhos assinados, quando a responsabilidade pelo conteúdo das falas podia ser
imputado ao seu autor – e somente a ele. A instituição preferiu assim, no registro de
suas atividades, a adoção de uma fórmula marcada pela concisão e neutralidade,
que empobrecia (na perspectiva de quem estuda) o documento por ela produzido.
Muitas dessas lacunas, que lamentavelmente não são supridas pela
documentação do arquivo, podem determinar a persistência de eventuais dúvidas no
leitor e, de nossa parte, conduzem-nos a algumas especulações (factíveis,
queremos crer) que se incorporam ao trabalho. Acreditamos, todavia, que tais hiatos
não comprometeram o conjunto da pesquisa, primeiro porque quando ocorrem foram
bem assinaladas, além de não se constituírem em pontos fundamentais do estudo.
E, finalmente, porque sinalizam as muitas possibilidades e questionamentos que
ainda cercam o estudo do IGHB como instituição, do qual este texto pretende ser
apenas uma contribuição.
Considerados os objetivos propostos, o presente trabalho estrutura-se em
cinco capítulos. No primeiro deles buscamos apresentar um breve panorama da vida
baiana no decurso da Primeira República, como recurso para familiarizar os leitores
(baianos ou não) com as características econômicas, sociais e políticas do estado no
período em questão, contemplando, na medida do possível, não apenas a capital,
mas também as principais regiões e/ou cidades do interior. Tal caracterização busca
também apresentar, em seu conjunto, o cenário e as circunstâncias históricas que
condicionaram as experiências de constituição dos institutos históricos da Bahia,
bem como o desenvolvimento das discussões e das propostas acerca da imigração
européia para Estado, pelo IGHB.
Com o segundo capítulo buscamos situar o Instituto no contexto histórico
de sua fundação. Para tanto realizamos um breve apanhado sobre a origem dos
32
CAPÍTULO I
CENÁRIOS DA BAHIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA
1
GUIMARÃES, Emmanuel Ribeiro. Evolução da economia baiana: algumas considerações.
Planejamento. Salvador, v. 5, n. 1, p. 31-46. jan. mar. 1977.
2
ALMEIDA, Rômulo Barreto de. Traços da história econômica da Bahia no último século e meio.
Planejamento. Salvador, v. 5, n. 4, p. 19-54. out. dez. 1977.
36
para além da estrita área do seu sítio urbano, do seu entorno imediato e do
Recôncavo. Essa dificuldade dos moradores de Salvador, notadamente os
segmentos políticos e a intelectualidade, em pensar e enxergar a Bahia para além
de sua capital tem sido constatada por vários estudiosos, em diferentes pesquisas
acerca do Estado nesse período.
3
BRITO, Jailton Lima. A abolição na Bahia: uma história política (1870-1888). Salvador, 1996.
Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal da Bahia. p. 19.
4
GONÇALVES, Graciela Rodrigues. As secas na Bahia do século XIX: sociedade e política.
Salvador, 2000. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal da Bahia. pp. 11, 43, 130, 146-148 e 155-156.
37
5
FREITAS, Antônio Fernando Guerreiro de. Au Brésil: deux regions de Bahia (1896-1937). Paris,
1992, Tese (Doutorado em História). Université de Paris – Sorbonne. Paris IV. p. 85.
6
GUIMARÃES, 1977, p. 42.
7
MATTOSO, Kátia M. de Queiroz. Bahia século XIX: uma província do império. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1992. p. 42.
8
Pelo menos oito destas obras foram produzidas no período, a saber: Estado da Bahia, posição
geográfica, dimensões, povoação e clima, publicação oficial de 1897; Memória sobre o Estado da
Bahia, de Francisco Vicente Vianna, 1893; Municípios da Bahia, de Guimarães Cova, 1913; A Bahia e
os seus municípios, publicação custeada pelo Estado em dois volumes, 1916 e 1917; Dicionário
geográfico e histórico da Bahia, de Francisco Borges de Barros, 1923; O Estado da Bahia, agricultura,
criação de gado, indústria e comércio, de Theodoro Sampaio, 1925, e o Álbum Artístico, Comercial e
Industrial do Estado da Bahia, de Manoel Rodriguez Folgueira, 1930.
38
no Rio Pardo e na maior parte dos rios que descem da Serra dos Aymorés
9
nos limites com Minas Gerais.
9
SAMPAIO, Theodoro O Estado da Bahia: agricultura, criação de gado, indústria e comércio. Bahia:
Imprensa Oficial do Estado, 1925. p. 21.
10
NEVES, Erivaldo Fagundes. et. al. Bambúrrios e quimeras (olhares sobre Lençóis: narrativas de
garimpos e interpretações da cultura. Feira de Santana: UEFS, 2002. p. 21-23.
11
Etimologicamente o termo ‘corografia’ designa, segundo Bueno, a “parte da geografia que estuda
particularmente um país ou um território de importância considerável”. In. BUENO, Francisco da
Silveira (org.) Dicionário escolar da professor. Brasília: Ministério da educação, 19[60]. p. 334.
12
Entre 1895 e 1919, além de uma descrição do Estado, nove municípios foram descritos na Revista
do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, nos números 04, 05, 07, 08, 10, 12, 15, 22, 30, 44 e 45.
39
13
PEDRÃO, Fernando. O recôncavo baiano na origem da indústria de transformação no Brasil. In.
LAPA, José Roberto do Amaral; SZMRECSÁNYI, Tamás (orgs). História econômica da
independência e do império. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 307.
14
OLIVEIRA, Waldir Ferreira. A Bahia no século XIX. In. SOUZA, Regina Celeste de Almeida (Coord.)
Atlas do estado da Bahia. Salvador: SEPLANTEC; SEPLAB, 1970. (C 03/1-2).
15
SILVA, Elizabete Rodrigues da. Fazer charutos: uma atividade feminina. Salvador, 2001.
Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal da Bahia, p. 41.
16
ALMEIDA, 1977. p. 32-33.
40
17
SILVA, E. 2001. p. 30-41.
18
PORTO, Costa. O pastoreio na formação do nordeste. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa
Nacional, 1959, p. 33.
41
19
BOAVENTURA, Eurico Alves. Fidalgos e vaqueiros. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA,
1989. p. 16, 171-250.
20
PEDRÃO, 1996, p. 311.
42
Durante algum tempo a mais importante [das feiras] foi a de Nazaré, ao sul
da baia de Todos os Santos. Por essa época, só na Cidade do Salvador
consumia-se uma média de mais de vinte mil cabeças de gado, anualmente.
Uma grande parte provinha da feira de Nazaré. Os animais vendidos em
Nazaré para consumo na Capital teriam que fazer o percurso em pequenas
embarcações, ou dar a volta em toda a baia. Isso acarretava despesas e
inconvenientes e os fazendeiros do interior passaram a enviar o gado, cada
vez em maior número, para o mercado de Feira de Santana.
[e esclarece]
Feira de Santana foi escolhida para feira do gado por três razões
importantes. Primeiro, porque estava situada no caminho mais direto entre o
Recôncavo e as imensas pastagens do Mundo Novo, Jacobina e do médio
São Francisco. Em segundo lugar, porque o povoado estava rodeado de
excelentes pastagens naturais. A terceira razão, de vital importância para
uma zona sujeita a secas periódicas, é que a região era atravessada por
dois rios e por numerosos riachos. Salvo nos períodos de seca prolongada,
21
Neste estudo Andrade faz uma análise das diferentes tendências historiográficas acerca da origem e
povoamento de Feira de Santana, evidenciando a primazia da família Peixoto Viegas no processo de
povoamento, em contraposição a uma versão tradicional dominante que silencia sobre a atuação desta
família (uma família de cristãos-novos) em favor da sobrevalorização (ou mitificação) da atuação do
casal católico Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandão. Cf. ANDRADE, Celeste Maria Pacheco.
Origens do povoamento de Feira de Santana: um estudo de história colonial. Salvador, 1980.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal da Bahia. p. 69-88.
22
ANDRADE, C. 1980, p. 128.
23
Idem. p. 130-131.
24
POPPINO, Rollie E. Feira de Santana. Salvador: Itapoã, 1968. p. 55.
43
25
POPPINO, 1968. p 54-55.
26
SILVA, A. 2000. p. 77-78.
27
OLIVEIRA, 1970, (C 03/1-2).
44
partir da década de 1860, passou a ter alguma relevância econômica, tendo já Ilhéus
como principal área produtora, chegando a contribuir com quase 20% das
exportações provinciais ainda em 188828.
A produção inicial foi estimulada significativamente pelo cenário
internacional, de tal forma que, em 1893, as exportações já alcançavam 100.000
sacas e, em 1911, superaram as 500.000, o que a colocava a Bahia como segunda
produtora mundial. Cerca de dez anos depois a região chegava a produzir um
milhão de sacas de cacau por ano, mas a partir de então a participação do estado
no comércio internacional começava a diminuir em função do fortalecimento da
produção das colônias africanas. Em 1935 a produção dessas colônias somava mais
que o dobro da produção baiana, mesmo tendo esta se elevado a cerca de dois
milhões de sacas por ano29.
O desenvolvimento da cultura cacaueira acarretou também o
florescimento das localidades dedicadas a sua produção. Dentre estas Ilhéus é,
também, o caso mais ilustrativo, pois, de acordo com Falcón:
28
FALCÓN, Gustavo. Os coronéis do cacau. Salvador: Iamaná; Centro Editorial e Didático da UFBA,
1995. p. 40.
29
ALMEIDA, 1977, p. 34-35.
30
FALCÓN, 1995, p. 39.
45
passam de cerca de 7 mil habitantes em 1892, para 105 mil em 1920, contrapondo
uma taxa de crescimento médio anual de 7%, contra 2% do restante do estado31.
Embora tenha permanecido sempre em destaque na pauta de
exportações do estado – freqüentemente representando mais de 50% desta – até o
fim da Primeira República, o cacau também esteve sujeito às incertezas do comércio
internacional. Essa vulnerabilidade dos produtos agrícolas de exportação foi
determinante para o ritmo de desenvolvimento e mesmo pelos recuos de um outro
segmento da economia baiana no período, a indústria.
De fato, a industrialização na Bahia relaciona-se diretamente à queda da
lucratividade do setor agromercantil, em diferentes momentos entre o século XIX e o
fim da Primeira República. Nesse momento o declínio do comércio atlântico de
escravos (destino preferencial para o investimento dos recursos oriundos do setor
agrário)32, motivou a procura por alternativas de investimento no cenário econômico
local. Das várias opções tentadas destacaram-se a formação de estabelecimentos
bancários e, em menor escala, o desenvolvimento da atividade industrial. As casas
bancárias foram, sem dúvida, objeto de uma ação empreendedora mais determinada
por parte dos segmentos detentores de capitais no estado e a expressão mais
evidente da disponibilidade de recursos em tais segmentos desde a década de 50
do século XIX, sobre o que manifestou-se Pinto de Aguiar:
31
FALCÓN, 1995. p. 42.
32
PEDRÃO, 1996, p. 318.
33
AGUIAR, Pinto de. In. AZEVEDO, Thales; LINS, E. Q. Vieira. História do banco da Bahia 1858-
1958. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. p. xiii.
34
GUIMARÃES, 1977, 36.
46
35
SAMPAIO, José Luiz Pamponet. A evolução de uma empresa no contexto da industrialização
brasileira: a companhia empório industrial do norte (1891-1973). Salvador, 1975. Dissertação
(mestrado em Ciências Humanas). Universidade Federal da Bahia. p. 11.
36
Foram elas as fábricas: Todos os Santos, fundada em Valença, em 1844; a São Carlos do
Paraguaçu, fundada em Cachoeira, em 1857; a Modelo, fundada em Salvador, em 1858; a Nossa
Senhora do Amparo, fundada em Valença, em 1860; e as fábricas São Salvador, Nossa Senhora do
Pilar (também conhecida como Bonfim ou Progresso), Nossa Senhora da Penha e São Braz da
Plataforma, fundadas em Salvador, em 1870, 1873, 1873 e 1875, respectivamente. Cf. Idem. p. 60.
37
Idem. p. 77.
38 2
Esta Vila, fala-nos ainda José Luiz Pamponet Sampaio, ocupava uma área de 21.476 m , onde se
viam distribuídos oito blocos habitacionais com um total de 258 residências. O complexo contava
ainda com gabinete médico, farmácia, loja, creche, açougue e armazém (que funcionavam em regime
cooperativo), bem como uma escola e uma biblioteca. Cf. Idem. p. 86-98.
39
SANTOS, Mário. A. S. Novas e velhas ocupações na Salvador republicana (1850-1930). In.
FRENANDES, A.; GOMES, M. A. F. (orgs). Cidade e história. Salvador: M.A.U., 1992. p. 258.
47
40
GUIMARÃES, 1977, p. 37.
41
ANDRADE, Manoel Correia de. A Itália no nordeste. Torino: Fondazione Giovanni Agnelli; Recife:
FUNDAJ/ Massangana, 1992. p. 70 e 102.
49
estado (em particular dos transportes e do sistema portuário) e, por fim, à falta de
empreendedorismo de sua elite econômica42.
Tal alternância no destaque de uma ou outra atividade econômica teve
seu contraponto no setor do comércio como único segmento a equiparar seu peso e
sua constância no período da Primeira República. Essa proeminência pode ser
avaliada quando se considera, por exemplo, que em 1889 o comércio baiano
ocupava o segundo lugar no cenário nacional, um destaque que só foi realmente
diminuído durante a Primeira Guerra, quando os negócios com a Alemanha
(notadamente a venda de cacau e fumo) foram paralisados43.
O comércio, sempre diversificado, concentrava em Salvador os negócios
de exportação dos produtos agrícolas e de importação de manufaturas. Estas, por
sua vez, daí seguiam para as diversas regiões do interior do estado, de onde
provinha uma grande variedade de “catados” destinados ao abastecimento da
capital ou mesmo de outros estados44.
Uma das poucas exceções à proeminência da praça soteropolitana devia-
se ao comércio com gado, cujos negócios tinham como centro as feiras em
localidades interioranas, como a já mencionada feira de gado de Feira de Santana (a
mais destacada), ainda que destinados, também, em grande parte à Capital. Tanto o
comércio de gado quando de outras mercadorias, contudo, alcançavam praças para
além dos limites do estado, evidenciando a dimensão tomada pelo setor comercial
baiano. Sobre tal aspecto afirmou Rômulo Almeida:
42
ALMEIDA, 1977, p. 43-44.
43
VASCONCELOS, Pedro Almeida. Salvador: transformações e permanências (1549-1999). Ilhéus:
Editus, 2002. p. 265.
44
FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de. Eu vou para a Bahia: a construção da regionalidade
contemporânea. Bahia Análise & Dados. Salvador. SEI. v. 9 n. 4, p. 24-37. mar. 2000.
45
ALMEIDA, 1977, p. 46.
50
46
MATTOSO, 1992. p. 489-496.
51
47
SANTOS, Mário Augusto da Silva. A república do povo: sobrevivência e tensão – Salvador (1890-
1930). Salvador: EDUFBA, 2001. p. 14-15.
52
48
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas do século XX. Rio de Janeiro:
IBGE, 2003. 1 CD-ROM.
49
SAMPAIO, Theodoro. Op. Cit. p. 17-18.
53
50
BAHIA, Diretoria Geral de Estatística. Anuário estatístico 1929-1930. Bahia: Imprensa Oficial do
Estado, 1933. p. 208-222.
54
51
GONÇALVES, 2000, p. 130.
52
FREITAS, 1992, p. 31.
53
Idem, p. 32.
55
54
AZEVEDO, Thales. Italianos na Bahia e outros temas. Salvador: Egba, 1988. p. 30.
55
ANDRADE, Manoel Correia de. A Itália no nordeste. Torino: Fondazione Giovanni Agnelli; Recife:
FUNDAJ/ Massangana, 1992. p. 69-70.
56
BARRETO, Maria Renilda Nery; ARAS, Lina Maria Brandão de. Salvador, cidade do mundo: da
Alemanha para a Bahia. História, Ciência e Saúde Manguinhos. v. 10, n. 1, p. 151-172, Abr. 2003,
56
57
Para uma visão geral da questão ainda no século XIX, ver LYRA, Henrique Jorge Buckingham.
Colonos e colônias: uma avaliação das experiências de colonização agrícola na Bahia na segunda
metade do século XIX. Salvador, 1982. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia.
58
ANDRADE, 1992. p. 102 e 137-138.
59
Idem. p. 70 e 141.
60
MASCARENHAS, Maria José Rapassi. Relações econômicas entre Brasil e Portugal (1880-1930).
Salvador, 1973. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas). Universidade Federal da Bahia. p. 18,
36-37.
61
MONTEIRO, Tania Penido. Portugueses na Bahia na segunda metade do século XIX: emigração e
comércio. Porto: Centro de Estudos da Secretaria da Emigação, 1985. p. 63.
57
62
ALENCASTRO, Luiz Felipe de; RENAUX, Maria Luiza. Caras e modos dos imigrantes. In. NOVAIS,
Fernando A. (Coord.) História da vida privada no Brasil: Império – a corte e a modernidade nacional.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 309-310.
63
BACELAR, Jefferson. Galegos no paraíso racial. Salvador: CED/CEAO/Iamaná, 1994. p. 15-17 e
175.
64
AGUIAR, Durval Vieira de. Descrições práticas da província da Bahia: com declaração de todas as
distâncias das cidades, vilas e povoações. Salvador: Tipografia do Diária da Bahia, 1888. p. 289-290.
58
65
LYRA, 1982, p. 25-29.
66
COSTA, Virginia (Coord.) História da imigração no Brasil: as famílias. São Paulo: Serviço Nacional
de Divulgação Cultural Brasileira, [1992]. p. 52.
67
SILVA, Elizabete Rodrigues da. Fazer charutos: uma atividade feminina. Salvador, 2001.
Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal da Bahia. p. 41.
68
SILVA, Marina Helena Chaves. E eis que chegaram os alemães: alteridade e memória em
Maracás. Jequié, 2001. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Documentação), Universidade
do Rio de Janeiro; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. p. 17.
69
HILTON, Satnley. O Brasil e as grandes potências (1930-1939): os aspectos políticos da rivalidade
comercial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. p. 114.
59
70
SANTOS, 2001, p. 14.
60
respectivamente71. Ocorre que mesmo esses dados podem ocultar certa distorção
pois, no que tange à 1872, muito possivelmente considera-se uma população
escrava flutuante que não necessariamente permanecia na Província. Para Pedrão,
tal possibilidade deve-se ao fato de que, com a crise da atividade agromercantil e a
conseqüente diminuição da utilização de mão de obra cativa, a importância do
escravo na Bahia passou a residir mais na comercialização das peças do que em
sua participação no processo produtivo daquele setor. Um indicativo disso eram as
cifras do negócio entre 1853 e 1875. Nesse período 64.431 escravos entram em
Salvador, sendo que destes 21.810 foram revendidos para outras províncias,
notadamente São Paulo e Rio de Janeiro. Estes dados, contudo, estão certamente
subestimados, pois desconsideram as transações não registradas (para evitar o
pagamento dos impostos).
Outro indicativo é o percentual de apenas 12% de escravos em Salvador,
em 1872, a despeito de haver, ao longo do século XIX, uma média de 7.800
escravos importados anualmente72. Some-se a isso o fato de que os dados em
questão restringem-se à capital, sendo qualquer projeção destes para o interior do
estado questionável em seus resultados, no que diz respeito especificamente ao
contingente de negros.
É certo, porém, que qualquer que tenha sido o percentual de negros,
índios e mestiços, estava muito acima do que era considerado como aceitável ou, o
que é mais sintomático, como viável para a civilização e modernização do país e, em
particular, do estado. De igual maneira, essa população, qualquer que fosse sua
conformação, sofrera com as sucessivas fases de crise econômica e de secas, de tal
modo que ao iniciar-se a Primeira República a sociedade baiana encontrava-se
empobrecida em sua maior parte, tendo acentuadas as suas desigualdades
econômicas73.
Os estudos acerca do tema sugerem que, em fins do século XIX, cerca de
90% da população soteropolitana encontrava-se em condição de pobreza, sendo
bem provável que esse índice possa ser estendido às demais regiões do estado.
Esta pobreza, nas palavras de Fraga Filho, “possuía múltiplas faces e gradações”.
71
BACELAR, Jefferson. A hierarquia das raças: negros e brancos em Salvador. Rio de Janeiro:
Pallas, 2001. p. 55.
72
PEDRÃO, 1996, p. 311.
73
FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX. São Paulo: Hucitec;
Salvador, EDUFBA, 1996. p. 30-33.
61
74
FRAGA FILHO, 1996. p. 26.
75
Idem, p. 28.
62
76
SILVEIRA, Maria Juliana Rodrigues da. O Discurso saneador e a modernização da cidade de
Salvador (1890-1930). In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA BAHIA: Salvador 450 Anos, 4., 1999,
Salvador. Anais. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Fundação Gregório de Matos,
2001. p. 889-900.
77
KÜPPEL, Griselda Pinheiro. Salvador: salubridade, traçado e clima urbano. In: CONGRESSO DE
HISTÓRIA DA BAHIA: Salvador 450 Anos, 4., 1999, Salvador. Anais. Salvador: Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia; Fundação Gregório de Matos, 2001. p. 807-821.
63
78
FLEXOR, Maria Helena Ochi. J.J. Seabra e a reforma urbana de Salvador. In. BATISTA, Marta
Rossetti; CRAF, Maria Elisa de Campos (Orgs.) Cidades brasileiras II: práticas urbanas e dimensão
cultural. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros/USP, 1999. v. 2. p. 110-111.
79
Idem. A mudança no desenho urbano de Salvador: principais agentes no século XIX e princípios do
XX. In. BATISTA, Marta Rossetti (Coord.) Cidades brasileiras II: práticas urbanas e dimensão cultural.
São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros/USP, 1998. v. 1. p. 109.
64
sua religiosidade, suas festividades, seus ritmos, a capoeira. Situação que persistiu
até pelo menos a década de 30 do século XX, enquanto ‘política oficial’ do estado 80.
No mesmo espírito dos ideais de modernização e civilização da sociedade
que determinam a realização das reformas urbanas, dá-se a introdução de novos
padrões de comportamento e lazer, levando a capital baiana a experimentar
algumas ‘novidades’ propiciadas pelas novas tecnologias, como a melhoria dos
serviços de transporte urbano, o advento da luz elétrica, do telefone e a proliferação
dos cinematógrafos, uma valiosa alternativa em termos de lazer aos festejos e
folguedos populares, freqüentemente protagonizados pelas camadas mais pobres (e
negras) da comunidade81.
A despeito de tais esforços, a reforma urbana de Salvador não teve nem a
dimensão nem o impacto inicialmente almejado. As dificuldades econômicas
limitaram os planos iniciais, reduzindo a dimensão das obras realizadas e das áreas
efetivamente alteradas, de tal sorte que no decurso da década de 20 a imprensa
lamenta-se pela persistência dos elementos denunciadores do atraso da cidade em
relação aos demais centros urbanos do Brasil, como a permanência de velhas
construções coloniais, as ruas estreitas e a insalubridade de boa parte destas.
Permanecia assim a capital baiana uma cidade velha, cenário que não se
alterou significativamente até meados do século XX. Tal peculiaridade não passou
desapercebida dos estudiosos da cidade. O geógrafo Milton Santos, por exemplo,
um dos mais célebre intelectuais a dedicar-se à compreensão do não
desenvolvimento da capital baiana, afirmou, em 1959:
80
PIRES, Antonio Liberac Cardoso. Movimentos da cultura afro-brasileira: a formação histórica da
capoeira contemporânea. Campinas, 2001. Tese (doutorado em História). Universidade Estadual de
Campinas. p. 26.
81
FONSECA, Raimundo Nonato da Silva. Cinematógrafos: espetáculos da modernidade (1897-1930).
In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA BAHIA: Salvador 450 Anos, 4., 1999, Salvador. Anais. Salvador:
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Fundação Gregório de Matos, 2001. p. 867-875.
82
SANTOS, Milton. O centro da cidade do Salvador. Salvador: Universidade da Bahia, 1959. p. 15.
65
século XX, a Capital baiana estava restrita (em seus principais sítios) a uma área de,
aproximadamente, três quilômetros de comprimento por um quilômetro de largura.
Sítios Principais
Outros Referencias
16 – Cinema Excelsior
17 – Cine Pax
18 – Cine Jandaia
19 – Hotel Meridional
20 – Rua Chile / Comércio
21 – Faculdade de Medicina
22 – Escola Politécnica
23 – Faculdade de Direito
24 – Associação Comercial
retração do crescimento demográfico da cidade (ver Tabela 02), que acabava por
amortecer a demanda por novos espaços e serviços.
Nesse aspecto, Milton Santos, considera o desenvolvimento da cidade
“quase insignificante, na escala brasileira de crescimento urbano” e amplia os dados
fornecidos anteriormente, observando que, entre 1872 e 1940, Salvador elevou sua
população urbana de 129.000 para 290.000, ou seja, apenas 2,25 vezes, explicando
assim tal fenômeno:
83
SANTOS, M., 1959, p. 41-44.
84
OLIVEIRA, Josivaldo Pires. Pelas ruas da Bahia: criminalidade e poder no universo dos capoeiras
na Salvador republicana (1912-1937). Salvador, 2004. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia. p. 34-45.
67
85
LEITE, Rinaldo Cesar Nascimento. E a Bahia civiliza-se: ideais de civilização e cenas de anti-
civilidade em um contexto de modernização urbana em Salvador (1912-1916). Salvador, 1996.
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas. p. 110-129.
86
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de. Algazarra nas ruas: comemorações da independência na Bahia
(1889-1923). Capinas: Editora da Unicamp, 1999. p. 21-25.
68
3. O CENÁRIO POLÍTICO
87
PINHEIRO, Israel. A república na Bahia: capital versus interior. In: CONGRESSO DE HISTÓRIA
DA BAHIA: Salvador 450 Anos, 4., 1999, Salvador. Anais. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia; Fundação Gregório de Matos, 2001. p. 1041-1050.
88
ARAÚJO, 1992, p. 59.
89
Idem. p. 144.
90
Idem. p. 39.
69
sucedida relação com o Estado Imperial, razão pela qual, observa a autora,
“somente com a partida da família imperial para a Europa, a Bahia tornou-se
republicana”91. Com efeito, foi a Bahia a última das províncias a reconhecer
relutantemente o novo regime, já que:
[...] até a vigésima quinta hora, a maior parte da elite política jurou fidelidade
ao Imperador e, abertamente repudiou a ideologia igualitária da República.
Liberais e Conservadores uniram-se em protesto contra a mudança no
regime. O último Presidente da Província, o liberal José Luiz de Almeida
Couto, recusou o convite que o Marechal Deodoro da Fonseca lhe fizera
para continuar a chefiar o executivo baiano [...]. De igual modo, o Conselho
Municipal de Salvador rejeitou solenemente a ditadura militar, através de
monção que reafirmava lealdade à Monarquia e solidariedade ao Imperador
92
deposto.
91
SAMPAIO, Consuelo Novais. Partidos políticos da Bahia na primeira república: uma política de
acomodação. Salvador: EDUFBA, 1999. p. 233.
92
Idem, p. 27.
93
PINHEIRO, 2001, p. 1043.
70
94
SAMPAIO, C. 1999, p. 235.
95
Idem, p. 239.
71
CAPÍTULO II
INSTITUTOS HISTÓRICOS GEOGRÁFICOS:
ORGANIZAÇÕES DO SEU TEMPO
1
HOBSBAWM. Eric. J. Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 49-
50.
73
2
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos estudos históricos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 86-97.
3
LACOMBE, apud. TAVARES, 2000, p. 21.
74
4
GLÉNISSON, 1991, p. 98-104.
5
PEREIRA, Sérgio Nunes. Saber e poder nos institutos e sociedades geográficas no Brasil: um olhar
sobre o IHGB. Notícia Bibliográfica e Histórica. Campinas, ano 30, n. 170, p. 249-258, jul. set. 1998.
6
CAPEL, Horacio. Institucionalizacion de la geografia y estrategias de la comunidad cientifica de los
geografos. Geo Crítica – quadernos críticos de geografía humana. Barcelona, ano 1, n. 8, mar. 1977.
Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/geo8.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.
75
7
CAPEL, 1977.
8
FIGUEIROA, 1992, 141-146.
76
instituições, sua atuação não alcançou por certo a dimensão daquela conseguida
por um IHGB, por exemplo, mas se prestaram a fornecer os subsídios para a
administração econômica das jovens repúblicas que as abrigavam9.
9
VESSURY, Hebe. La ciencia en América latina (1820-1870). In. VAZQUEZ, Josefina Z.; GRIJALVA,
Manuel Miño (Dir.) Historia general de América latina. Raris: Unesco, 2003. v. 4, p. 546.
10
WEHLING, Arno. Estado, história, memória: Varnhagem e a construção da identidade nacional. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 33-34.
11
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o instituto histórico e
geográfico brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, p.
5-27, 1988,
12
SCHWARCZ, 1993. p. 99.
77
História 844 45 %
Geografia e Geologia 326 18 %
Biografias 295 16 %
Antropologia e Etnologia 86 5%
Rel. Internacionais 48 3%
Trad. de Questões Internacionais 41 2%
Resenhas 27 1%
Línguas Nativas 170 1%
Assuntos Gerais 25 9%
Fonte: POPPINO, Rollie E. apud SCHWARCZ, Lília Moritz. Op. cit. p. 138.
13
Veja-se, nesse sentido, além dos já citados trabalhos de GUIMARÃES, M., 1988 e TAVARES,
2000; os estudos de GUIMARÃES, Lúcia M. P. Debaixo da imediata proteção de sua majestade
imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). São Paulo, 1994. Tese
(doutoramento em História Social). USP; SANDES, Noé F. A invenção da nação entre a monarquia e
a república. São Paulo, 1997. Tese (doutoramento em História Social). USP; ENDERS, Armelle. O
Plutarco brasileiro: a produção dos vultos nacionais no segundo reinado. Estudos Históricos. Rio de
Janeiro. v. 14, n. 25, p. 41-62, 2000; MACHADO, Maria Helena P. T.. Um mitógrafo do império: a
construção dos mitos da história nacionalista do séc. XIX. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 14, n.
25, p. 63-80, 2000, entre outros.
14
FIGUEIROA, 1992. p. 141-146.
78
15
SILVA, Maria Conceição da Costa e. Nota prévia. In. BAHIA, Fundação Cultural do Estado da
Bahia. O instituto histórico da Bahia e o seu periódico (1856-1877). ed. fac-similar. Salvador:
FUNCEB, 2001. p. 11-16.
16
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO SUL. História do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<http://www.paginadogaucho.com.br/ihgrgs/hist.htm>. Acesso em: 29 ago. 2005.
17
TAVARES, 2000, p. 25.
18
SCHWARCZ, 1993, p. 260.
19
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MATO GROSSO DO SUL. Pequeno histórico do
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Disponível em <http://www.ihgms.com.br>.
Acesso em: 29 ago. 2005.
79
instituições mesmo na atualidade, pois estes não se restringem apenas aos institutos
estudais (naturalmente mais visíveis), mas também aqueles de âmbito municipal,
menores, por vezes de vida efêmera, e de menor projeção.
Como observa Tavares, a ocasião da criação destas instituições era,
freqüentemente, determinada pela referência a outras datas ‘maiores’, significativas
para a comunidade local (caso do Instituto Histórico de Mato Grosso, fundado na
data do bicentenário do estado), ou como parte efetiva de tais comemorações, a
exemplo da fundação do Instituto paranaense, como parte das comemorações pelo
centenário da independência20.
Alguns destes institutos locais, por assim dizer, mantêm suas atividades já
por várias décadas, como o Instituto Histórico de Petrópolis cura origem remonta às
comemorações do Centenário da cidade, em l93821, ou o Instituto Histórico e
Geográfico de São João del-Rei, criado em 197022. Outros, porém, de ultimíssima
ora, como o Instituo Histórico e Geográfico de Feira de Santana (2004)23,
evidenciam a persistência do projeto de criação de tais instituições24, o que
certamente poria qualquer estimativa desatualizada (pela criação ou extinção de tais
agremiações) anualmente.
Os estudos sobre estas instituições concordam quanto ao fato de que, em
linhas gerais, todas buscaram adequar-se ao modelo proposto pelo IHGB no que
concerne à identificação da documentação histórica relativa aos locais que lhes
abrigavam. É igualmente consensual que a atuação destes, ou seja, a história e
geografia por eles produzidas, desenvolveu-se buscando explorar as especificidades
regionais como elementos sobre os quais se definiam identidades e se assegurava
certa proeminência (ou, pelo menos, um mínimo reconhecimento) no cenário
histórico regional ou nacional. Em outros termos, na atuação de cada instituto
regional pode-se vislumbrar um claro reflexo da força política e econômica do seu
estado ou região no contexto nacional, bem como da efetiva percepção de seus
integrantes sobre seu lugar e possibilidades nesse contexto.
20
TAVARES, 2000, p. 26-27.
21
NETTO, Jeronymo Ferreira Alves. História [do Instituto Histórico de Petrópolis]. Disponível em:
<http://www.ihp.org.br/default2.htm>. Acesso em: 29 ago. 2005.
22
SOBRINHO, Antônio Gaio. Histórico [do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei].
Disponível em: <http://www.pdturismo.ufsj.edu.br/cadastro/ihg.shtml>. Acesso em: 29 ago. 2005.
23
LOPES, Raimundo Luiz de Oliveira. Editorial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de
Santana. Feira de Santana. ano 1, n. 1. p. 13-15, 2004.
24
O instituto feirense é o último resultado de um programa, em curso, de proliferação e interiorização
dos institutos promovido pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, pelo estado.
80
25
SCHWARCZ, 1993, p. 117-118.
26
MAHL, Marcelo Lapuente. Teorias raciais e interpretação histórica: o instituto histórico e geográfico
de São Paulo (1894-1940). Assis, 2001. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual
Paulista p. 13.
81
elementar, mas não menos significativa para as agremiações, era a de garantir que
a existência dos seus respectivos estados fosse registrada na história nacional. Tal
preocupação é discutida por Tavares, que a ilustra citando a atuação do Instituto
Geográfico Paraibano, cujo orador defendia, em 1905:
Desse modo, embora a atuação dos institutos possa, de fato, ser descrita
em termos gerais como voltada para a produção de uma história legitimadora das
elites regionais e para a colocação dos estados no cenário nacional, as estratégias e
os argumentos lançados para a obtenção de tais fins variaram significativamente. E
o conhecimento das especificidades que determinaram tais opções é, por certo, uma
condição para o entendimento mais amplo da realidade sociocultural dos estados e
das suas efetivas condições de interferência no contexto político da Primeira
República.
27
PINTO, João Pereira de Castro. apud TAVARES, 2000, p. 26.
28
TAVARES, 2000, p. 29.
82
29
TORRES, Tranquilino L. Memória histórica sobre o instituto fundado em 1855. Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, ano 1, v. 1, n. 1, p. 65-81, set, 1894
30
Consta haver pelo menos um documento do IHB em acervo particular de Renato Berbert. SILVA,
M. C., 2001, p. 15.
31 os
Existem notícias ou textos dedicados ao antigo IHB nas edições de n 1, 2, 4, 6, 9, 11, 15 e 19, da
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
83
32
OLIVEIRA NETO. F. G. de. Notícia biográfica de D. Romualdo Antonio de Seixas (Marquês de
Santa Cruz). Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 68, p. 207, 1942.
33
TORRES, 1894, p. 70-71.
34
GARCIA, Manoel Correia. Periódico do Instituto Histórico Baiano: introdução. n. 1 out. p. 3-8, 1863.
In. BAHIA, Fundação Cultural do Estado da Bahia. O instituto histórico da Bahia e o seu periódico
(1856-1877). ed. fac-similar. Salvador: FUNCEB, 2001.
35
Parágrafo 1º, do Artigo 1º, do Estatuto do IHB, p. 03. In. BAHIA, Fundação Cultural do Estado da
Bahia, 2001.
36
Veja-se nesse sentido a série de correspondências enviadas pelo IHB a outras instituições entre
1861 e 1876. APEB. Sessão Colonial e Provincial; Correspondências Recebidas / Instituições
culturais; Série Instrução Pública, maço 4057.
84
que, após as homenagens formais (mas não casuais) ao Imperador como grande
patrono das instituições culturais no país, passou a enumerar as vantagens
auferidas pelas nações que abrigavam (e apoiavam) instituições “literárias e
científicas”, no que parece ser uma referência direta a atuação das sociedades
históricas e geográficas no processo de expansão colonialista das nações
européias, em função do que, salientou o Presidente:
37
SIQUEIRA, José de Góes. Discurso que fez na sessão de 30 de outubro de 1850, por ocasião da
visita que S. M. fez ao Instituto Histórico da Bahia. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. Salvador, n. 2, p. 276-283, dez. 1894.
85
38
Artigo 1º, parágrafos 1º a 6º, do Estatuto do IHB, p. 3-4. In. BAHIA, Fundação Cultural do Estado da
Bahia, 2001.
86
39
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
p. 164-165.
40
RAMA, Angel. A cidade das letras. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 54.
87
41
GARCIA, Manoel Correia. Relatório apresentado na sessão aniversária [do IHB] do dia 7 de maio
de 1865. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 15, p. 109-114, mar. 1898.
88
42
APEB. Sessão Colonial e Provincial; Correspondências Recebidas / Instituições culturais; Série
Instrução Pública; maço 4.057. folha 04; Relatório apresentado pelo Primeiro Secretário do IHB ao
Presidente da Província, em 2 de fevereiro de 1874.
43
Os oito números do periódico do IHB, somados, totalizaram apenas 136 páginas.
89
44
APEB. Sessão Colonial e Provincial; Correspondências Recebidas / Instituições culturais; Série
Instrução Pública; maço 4.057; folha 10. Relatório apresentado pelo Primeiro Secretário do IHB ao
Presidente da Província, em 2 de fevereiro de 1874.
45
APEB. Sessão Colonial e Provincial; Correspondências Recebidas / Instituições culturais; Série
Instrução Pública; maço 4.068. Relatório apresentado pelo Primeiro Secretário do IHB ao Presidente
da Província, em 15 de outubro de 1876.
46
GUIMARÃES, M.,1988, p. 5-27.
90
47
TORRES, 1894, p. 65-81.
48
Continuação dos apontamentos históricos sobre o antigo instituto de 1856. Ano de 1861: ata da
sessão de 29 de setembro de 1861. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. n. 4, p. 196,
jun. 1895.
49
Idem. Ano de 1962: ver atas das sessões de 23 de março, 6 e 27 de abril e 4 de maio de 1862.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. n. 6, p. 403-405, dez. 1895.
50
Continuação dos apontamentos históricos sobre o antigo instituto de 1856. Ano de 1862. Nota
transcrita do Jornal da Bahia de 13 de agosto de 1862. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. Salvador, n. 6, p. 408, dez, 1895.
91
51
Idem. Ano de 1862: ata da sessão de 11 de maio de 1862. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. Salvador, n. 6, p. 407, dez, 1895.
52
Idem. Ano de 1863: ata da sessão de 15 de março de 1863. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. Salvador, n. 9, p. 329, set, 1896
92
autoridades imperiais para o IHB, salvo pela visita curiosa – e inócua – do Imperador
anos depois, por que?
Em primeiro lugar, provavelmente porque o Império já não precisava tão
aguerridamente de instituições para consolidação da identidade nacional e do
regime monárquico, como precisara pouco mais de duas décadas antes. Em 1856 o
Governo Imperial encontrava-se plenamente consolidado, havia-se superado o
período das regências (1831-1840), como também já haviam sido superados os
recentes conflitos armados nacionais e internacionais sem perdas para a integridade
territorial e política nacional. O próprio império era um fato político inconteste, sendo
as idéias republicanas apenas a expressão mais radical de segmentos minoritários e
até então sem qualquer expressividade política real, dentre os liberais,
majoritariamente identificados com a idéia da civilização imperial e escravista 53.
Some-se a isso o que parece ter sido uma certa indisposição pessoal do
Imperador para com a figura do primeiro Presidente do IHB, o Marquês de Santa
Cruz, D. Romualdo Antonio de Seixas. Tal indisposição, à primeira vista, pode
parecer improvável, afinal D. Romualdo foi figura de prestígio durante todo o período
imperial. Sua biografia registra que, ainda durante o Primeiro Reinado, recebeu do
Imperador o título de Pregador da Capela Imperial e a Dignatária da Imperial Ordem
da Rosa. Foi Presidente da Junta Governativa do Pará em 1821 e 1823; integrou a
Câmara Provincial pelo Pará, em 1826 e de 1838 a 1841, e pela Bahia de 1834 a
1837. Foi nomeado Arcebispo da Bahia em 1826 e, na condição de Primaz do Brasil,
presidiu em 1841 a sagração de D. Pedro II. Durante o Segundo Reinado foi
agraciado pelo Imperador com a Gran-Cruz da Imperial Ordem de Cristo; com o
título de Conde, em 1858; e, finalmente, com o de Marquês de Santa Cruz, em
março de 186054.
A despeito dos muitos títulos formais que recebeu, tanta proximidade com
o poder imperial e, mais do que isto, tamanho envolvimento político, levaram D.
Romualdo a entrar em choque com a administração monárquica ao longo de sua
carreira. As querelas com o governo monárquico foram relatadas pelo próprio
Arcebispo em suas memórias. Em um dos primeiros episódios citados, D. Romualdo
53
ALAMBERT, Francisco. O Brasil no espelho do Paraguai. In. MOTA, Carlos Guilherme. (Org.)
Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). Formação: histórias. São Paulo: SENAC
São Paulo, 2000. p. 303.
54
OLIVEIRA NETO. F. G. de. Notícia biográfica de D. Romualdo Antonio de Seixas (Marquês de
Santa Cruz). Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 68, p. 207, 1942.
93
lembrava que, no ambiente das intrigas palacianas, fora acusado de haver “obtido o
Arcebispado [da Bahia] por grande soma [...] oferecida à Marquesa de Santos, a
cuja alta influência se atribuíam os mais importantes despachos”55. Consta que, a
fim de demonstrar a falsidade da acusação, bem como sua autonomia frente à
Marquesa de Santos (sua suposta favorecedora), D. Romualdo impediu a entrada da
Marquesa (notória amante do Imperador) no quarto da Imperatriz quando esta se
encontrava moribunda. O fato não passou desapercebido ao Imperador Pedro I que,
segundo D. Romualdo, retaliou repreendendo-o quando este apresentou o pleito da
sociedade baiana para concessão de condição privilegiada à data do 2 de julho.
Durante o período das regências D. Romualdo opôs-se duramente à
proposta de autonomia da Igreja no Brasil às determinações da Santa Sé,
apresentas pelo então Regente, Padre Diogo Feijó. A falta de apoio à proposta valeu
a D. Romualdo, segundo seu relato, a animosidade do Regente.
No início do Segundo Reinado D. Romualdo envolveu-se em uma
pequena querela com o Bispo Capelão Mor (figura seguramente mais próxima ao
jovem príncipe), sobre o direito de realizar a sagração do novo monarca. A questão
foi decidida (provavelmente pela Santa Sé) em favor do Arcebispo da Bahia, o que
parece ter desagradado D. Pedro II. A retaliação do Imperador, contudo, é
apresentada por D. Romualdo como uma demonstração de “ojeriza à Bahia” (como,
aliás, caracterizou também a represália de D. Pedro I à sua atitude no episódio com
a Marquesa de Santos).
Segundo relata o biógrafo do Arcebispo, após a cerimônia de coroação e
transcorridos os atos protocolares usuais, seguiu-se o momento da concessão de
títulos e honrarias em comemoração à data. Foi quando D. Romualdo teve
desconsiderados todos os seus pedidos para “vários cidadãos quer da Bahia, quer
do Pará”, embora os deputados das diversas províncias tivessem, na mesma
ocasião, obtido todos os despachos solicitados para seus conterrâneos. O
constrangimento foi ainda prolongado com a promessa de concessão posterior aos
pedidos do Arcebispo, embora estes não se tenham concretizado, o que levou D.
Romualdo a registrar:
55
SEIXAS, Romualdo Antonio de. Memórias. apud. SILVA, Ápio Pereira da. (Monsenhor). Discurso,
em seis de maio, na solenidade de inauguração do busto de D. Romualdo Antonio de Seixas,
oferecido pelo clero. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 71, p. 21-33,
1944.
94
56
SEIXAS, apud SILVA, Ápio, 1944, p. 26-27.
57
SEIXAS, Discurso recitado no dia 16 de maio de 1858, no IHB, em sessão magna comemorativa da
fundação dessa sociedade. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 2, p.
257-260, dez. 1894.
95
58
Continuação dos apontamentos históricos sobre o antigo instituto de 1856. Ano de 1862: ata da
sessão de 27 de maio de 1860. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 4, p.
196, jun, 1895.
59
OLIVEIRA NETO, 1942, p. 207.
96
atas das reuniões não mencionem o Arcebispo ou registrem votos de melhoras, por
parte dos integrantes (o que seria esperado, caso estivesse seu Presidente afastado
por enfermidade). Essas lacunas e omissões sugerem, a nosso ver, uma situação de
constrangimento (senão mesmo de aversão) frente à prestigiosa figura do
Presidente e fundador, que se tornara, contudo, o primeiro a provocar a
desarticuladora (e psicologicamente debilitante) perda da sede.
Aventar explicações para esta possível mudança de atitude do Arcebispo
junto ao IHB é tarefa ainda mais incerta que as especulações tecidas até esse
ponto. Pode-se pensar em divergências internas como motivadoras do desinteresse
do Arcebispo, ou talvez a indiferença do Imperador tenha desgostado D. Romualdo
já que, passados quatro meses da fundação do Instituto Provincial, o monarca não o
havia prestigiado com uma visita formal ou com a concessão de apoio oficial. Talvez
a própria idéia de criar um instituto provincial à imagem do IHGB (e atendendo à sua
proposta regimental) tenha sido, em si mesma, uma tentativa do Arcebispo de se
aproximar do Governo Imperial – e, por extensão, do monarca, junto ao qual – já
vimos – D. Romualdo não se encontrava em posição de grande apreço. Neste caso
a indiferença do monarca e a constatação do malogro do seu artifício, teriam
certamente motivado o imediato desinteresse de D. Romualdo pela instituição.
Para além das conjecturas, porém, qualquer que tenha sido o motivo do
afastamento de D. Romualdo do Instituto, o fato é que passaram a presidi-lo figuras
como o já citado Desembargador João Joaquim da Silva, José Góes de Siqueira, ou
o Conselheiro Jonathas Abbott, personalidades sem dúvida respeitadas no cenário
social baiano, mas que não possuíam a mesma notoriedade e autoridade que seu
fundador (não por acaso, não se fez a biografia destes homens, ao contrário do
Primeiro Presidente do IHB). Some-se a isso o fato de que se haviam outras figuras
de prestígio comparável no grupo de sócios original, estes há muito haviam
abandonado o Instituto – como o observou o Primeiro Secretário – desmotivados
pela falta de estrutura e a ausência do periódico. Em outros termos, menos de seis
meses após a sua fundação, o IHB encontrava-se sem uma figura de prestígio,
capaz de impor-se junto ao governo provincial e pleitear o apoio necessário à
sobrevivência da incipiente instituição.
97
60
LIMA, apud TORRES, 1894, p. 71.
61
No citado relatório, de 1874, ao Presidente da Província, o Primeiro Secretário atribui a não
inclusão da verba aprovada para custeio do periódico do Instituto no orçamento provincial, à ação
deliberada de um desafeto político (que não chega a identificar) na Assembléia.
62
DAVID, Onildo Reis. O inimigo invisível: epidemia na Bahia do séc. XIX. Salvador: EDUFBA; Sarah
Letras, 1996. p. 18 e 129.
98
CAPÍTULO III
O IGHB: NASCER OU RENASCER?
hoje poderia ser identificado como editorial, no qual seu autor (provavelmente o
próprio Presidente, Tranquilino L. Torres) afirmou:
1
INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA. Introdução. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Salvador, v. 1, n.1, p. 3-5, set. 1894.
2
Discurso do Orador do Grêmio Literário, Silvio Boccanera. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Salvador, n. 27, p. 111-119, dez. 1901.
3
Artigo 1º, parágrafos 1º a 11º do Estatutos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, v. 1, n.1, p. 37-38, set. 1894.
101
4
DeNIPOTI, Cláudio. Templos do progresso: instituições de leitura no Brasil oitocentista. Locus. Juiz
de Fora, v. 8, n. 2, p. 95-106, 2002.
5
EL FAR, Alessandra. A encarnação da imortalidade: uma análise da academia brasileira de letras
nos primeiros anos da república (1897-1924). Rio de Janeiro: FGV, 2000. p. 22 e 15,
respectivamente.
102
mais atuantes6, em função do que declarava estar “fala[ndo] em nome dos mortos e
reivindicando os direitos dos fundadores do extinto Instituto Histórico” 7. Em outros
termos, propunha o religioso que se reconhecesse o IGHB como a continuidade da
instituição criada por um outro integrante da Igreja Católica, vale lembrar, o então
Arcebispo da Bahia, D. Romualdo Antonio de Seixas.
Contra a proposta insurgiu-se de imediato Severino dos Santos Vieira,
não por acaso o futuro governador do estado, em 1900, e um dos fundadores do
Partido Republicano Federalista (PRF), uma das agremiações nascidas, em 1892,
para abrigar antigos monarquistas, garantindo-lhes a permanência na vida política
local8. A ata da sessão em questão registra, muito laconicamente, que a
discordância de Severino Vieira baseava-se “entre diversas asserções” na
consideração deste sobre a impossibilidade de se “reorganizar uma coisa que
desaparecera completamente sem deixar o menor vestígio de sua passagem senão
o seu nome”.
Vale observar aqui o quão pouco pertinente era a afirmação de Severino
Vieira, pois em princípio apenas dezessete anos separavam o fim do antigo Instituto
e a inauguração da nova agremiação baiana. Ademais, como os vários textos
publicados na revista do IGHB sobre o antigo Instituto Provincial 9 vieram a atestar
posteriormente, haviam sim muitos “vestígios” de sua passagem, como notas em
jornais, registros de atas, discursos, relações de sócios, entre muitos outros
documentos, que permitiriam a sua “restauração e reorganização”, caso desejado. A
oposição de Severino Vieira estabeleceu-se, portanto, a partir de uma leitura sobre a
pertinência de tal associação e não, em verdade, sobre a possibilidade de se
“restaurar” ou não a antiga agremiação.
De qualquer modo, suas observações determinaram nova e ainda mais
vigorosa defesa da proposta pelo Fr. Carneiro, a ponto mesmo do Presidente da
Sessão, Tranquilino L. Torres, propor o adiamento do assunto para a ocasião da
6
O Frei Carneiro, como era mais usualmente tratado o religioso que ostentava também o título de
Padre Mestre do Império, atuou como Orador do Instituto Provincial em 1860. Em 1862 o Frei
encontrava-se integrando o Conselho Administrativo da agremiação e, em 1865, passou a compor a
Comissão de Redação da História da Província. Ver a respeito Revista do Instituto Geográfico e
os
Histórico da Bahia, Salvador, n . 4, 6 e 15, p. 197, 407 e 114-115 , jun. 1895, dez. 1895 e mar. 1898,
respectivamente.
7
Ata da Instalação e 1ª Sessão do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, v. 1, n.1, p. 10-13, set. 1894.
8
SAMPAIO, C., 1999, p. 66 e 77.
9 os
Vele lembrar, que existem notícias ou textos dedicados ao antigo IHB nas edições de n 1, 2, 4, 6,
9, 11, 15 e 19, da Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
103
discussão dos estatutos. Esse adiamento, contudo, não deve ser visto como uma
expressão de indefinição ou dúvida quanto à natureza e aos rumos do IGHB, pois
oito dias antes, o seu corpo dirigente já havia elaborado um comunicado à imprensa,
notificando oficialmente a criação do Instituto, onde se lia:
10
Organização do Instituto (Carta dirigida à imprensa da capital do estado pelos promotores da
criação do IGHB, em 05 de maio de 1894). Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia,
Salvador, v. 1, n.1, p. 6-7, set. 1894.
104
11
Ata da 2ª Sessão em 7 de junho de 1894. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia,
Salvador, v. 1, n.1, p. 10-13, set. 1894.
12
Relação dos Sócios. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 2, p. 335-
340, dez. 1894.
105
13
Ata da 3ª Sessão em 17 de junho de 1894. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia,
Salvador, v. 1, n.1, p. 29-32, set. 1894.
106
14
As primeiras notícias foram veiculadas em 14/05/1895, pelos periódicos: Jornal de Notícias, o
Correio de Notícias e o Diário de Notícias. No dia 15 de maio foi a vez do Estado da Bahia, da Gazeta
de Notícias e do Diário da Bahia. No dia 27 abordou o assunto O Monitor Católico. Cf. Opinião da
Imprensa. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, v. 1, n. 1, p. 13-24, set. 1894.
107
Acha-se, portanto, instalada nesta capital uma instituição que, pelos seus
fins de alta importância para ciência e para as letras pátrias, merece o mais
franco apoio, a mais sincera adesão e os mais ingentes esforços de todos
os que trabalham pelo elevantamento [sic] social desta terra, de todos os
que nutrem a salutar e patriótica idéia de elevar a Bahia, já distinta por
vários títulos, à altura que possa enobrecê-la sempre perante suas irmãs e
perante o estrangeiro.
A instalação desta sociedade, incontestavelmente de grande necessidade
para um Estado como o nosso, rico de tradições históricas que se remontam
aos primitivos tempos da descoberta do Brasil, já se fazia de há muito sentir;
e deveras pungia-nos o coração quando víamos outros estados, como
Pernambuco, Alagoas, Ceará e Pará possuindo instituições desta ordem e
15
nós colocados sempre à retaguarda [...]
15
Transcrição de nota veiculada pelo Jornal Estado da Bahia, em 15 de maio de 1894. Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, v.1, n.1, p. 18-20, set. 1894.
108
1. OS COMPONENTES DO IGHB
16
MARLETTI, Carlo. Intelectuais (verbete). In. BÓBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília:
Editora da Unb; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. v. 1, p. 637-640.
110
17
Artigo 8º dos Estatutos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Revista do Instituto Geográfico
e Histórico da Bahia, Salvador, v. 1, n.1, p. 37-58, set. 1894.
18
Parágrafos 1º e 2º, do Artigo 8º, do Estatuto do IHB, p. 08-9. In. BAHIA, Fundação Cultural do
Estado da Bahia. 2001.
19
Ata da 8ª Sessão do IGHB, de 15 de novembro de 1894. Revista do Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia, Salvador, n.2, p. 302-304, dez. 1894.
111
20
Suma genealógica das mais antigas e tradicionais famílias baianas. Revista do Instituto
Genealógico da Bahia. Salvador, n. 17, p. 197-201, 1971.
21
Memorial. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 8, p. 133-152, 1896.
22
Índice: período de 1894 a 1998, números 1 a 93. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia, Salvador, p. 272, 1999.
112
ausência de uma carreira política, deixa claro seu perfil de intelectual, que
provavelmente foi determinante para a não concessão dos títulos de presidentes
honorários, até porque a concessão dos títulos deveria, regimentalmente, ser
proposta pelo próprio presidente do Instituto.
Mas teria sido difícil para o presidente defender isoladamente esta
posição, o que leva-nos a considerar que este provavelmente encontrava apoio em
outras personalidades do Instituto. De imediato, seu irmão, João Nepomuceno, era
sem dúvida um aliado natural. Além deste, um provável nome de destaque na
primeira diretoria do IGHB a apoiar a visão do Presidente era o seu então orador,
Hermenegildo Braz do Amaral. Médico de formação, professor de elementos de
antropologia no Instituto de Instrução Secundária da Bahia e, a partir de 1902,
professor da Faculdade de Medicina23, Braz do Amaral foi um dos intelectuais de
maior prestígio no meio baiano da Primeira República, com cerca de 36 textos
publicados na revista do IGHB entre 1894 e 1930.
A busca por um perfil intelectualizado para a instituição permaneceu, pelo
menos formalmente, sem alterações durante o decurso de toda a Primeira
República, mas houve também uma acentuada flexibilização destes critérios,
especialmente quanto à exigência do trabalho original. De fato, num levantamento
de 581 fichas de propostas de sócios, apresentadas entre 1916 e 1930, apenas três
fichas, uma do ano de 1916 e duas de 1922, tiveram os seus proponentes (o
Bacharel Eugênio Egas, o professor e publicista José Carneiro Rodrigues e o
tenente Amílcar Salgado dos Santos) identificados como autores de trabalhos sobre
a história nacional, sendo, contudo, admitidos como sócios correspondentes24.
O modelo de ficha de inscrição utilizado jamais incluiu um quesito para a
identificação das obras produzidas (ver modelo em anexo), o que dá margem à
especulação de que, talvez, essa ausência omitisse a existência dos trabalhos dos
candidatos. Embora essa possibilidade deva ser considerada, as referências feitas
aos trabalhos das propostas de 1916 e 1922, indicam a excepcionalidade desse tipo
de ocorrência. Essa idéia é reforçada quando constatamos que outras
excepcionalidades eram também registradas sempre que ocorriam. Esse é o caso
dos sócios doadores, que podiam estar enquadrados nas categorias mais
23
BRITO, 1996, p. 63.
24
Arquivo do IGHB. Caixa 09 (1915-1917). Propostas de 1916; Caixa 13 (1922-1923). Expedientes
dos meses de abril e julho de 1922, respectivamente.
113
25
As categorias em questão eram as principais a compor o Instituto, sendo os Sócios Efetivos
aqueles residiam na capital e, em tese, freqüentavam as reuniões da agremiação (a ausência às
reuniões pelo período de um ano era, inclusive, regimentalmente considerado com indicativo da
renúncia do sócio). O título de Sócio Honorário era concedido a personalidades ilustres da sociedade
e também os sócios que tivessem ocupado cargos da mesa administrativa por mais de cinco. A
condição de Sócio Correspondente se configurava regimentalmente em três situações: (a) quando o
candidato residia fora da capital, (b) quando era sócio efetivo e se transferia para fora da capital e (c)
quando o candidato era juiz de direto de uma comarca (condição em que a ausência da capital e as
freqüentes mudanças eram características). Além destas categorias principais, o primeiro regimento
do Instituto previa ainda a condição de Sócio Fundador, reservada obviamente ao grupo criador da
instituição e que, com o passar dos anos extinguiu-se pelo falecimento de seus integrantes. Outro
grupo previsto era o dos Sócios Beneméritos, título concedido aos mais ‘destacados’ dentre os Sócios
Honorários, e/ou às pessoas que fizessem donativos superiores a 1:000$000 (um conto de réis),
prédios ou outros objetos de valor. Havia, por fim a condição de presidente honorário, com a qual
poderiam ser agraciados vários candidatos (não havia restrição ao número de presidentes
honorários), sendo que, neste caso, não eram estabelecidos critérios específicos para a concessão
do título, a não ser a exigência de que o nome sugerido (necessariamente pelo Presidente) fosse
aprovado unanimemente pelos presentes em uma sessão. Posteriormente, quando da consolidação
do Instituto na década de 1920, estas categorias foram ligeiramente ampliadas, de modo que os
sócios benebéritos foram divididos em: Beneméritos e Grandes Beneméritos; os Sócios Efetivos, por
sua vez, foram diferenciados em Efetivos Contribuintes e Efetivos Remidos, além de ser crianda a
categoria de Sócio Protetor. Sobre a estrutura inical do Instituto ver: Estatutos do Instituto Histórico e
Geográfico da Bahia. Capítulo II, Sessões 1ª a 6ª. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. v. 1, n. 1, p. 38-42, set. 1894. Para uma visualização das categorias adicionadas ver: Lista de
sócios em dezembro de 1926. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. n. 52 p. 426-454,
1826.
26
Arquivo do IGHB. Idem. Ver propostas de Torquato Moneira e Márcia Eugênia Gantois Temporal,
respectivamente. Caixa 14 (1923-1924), Expediente dos meses de janeiro e fevereiro de 1923. Ver
proposta de José Morbecke. Caixa 16 (1926). Propostas de dezembro de 1926. Ver proposta de
Leonardo Pedro Lago.
114
27
As categorias em questão resultam de um esforço de síntese da grande diversidade de ocupações
identificadas nas propostas de sócios do período. Essa diversidade, porém, em muitos casos resultava da
multiplicidade de nomenclaturas para uma mesma atividade básica, como a de ‘comerciantes’, que abarca
também as referências a negociantes. Noutros casos optamos por agrupar à categoria dos ‘funcionários públicos’
(assim identificados) todas as ocupações que se desenvolviam em função de sua relação com o estado (com
exceção dos postos de chefia e cargos de primeiro escalão), como fiscais de secretarias, coletores de impostos,
entre outros, cujo local de trabalho (quando mencionado) indicasse claramente tal vinculação. Outra situação foi
a da criação da categoria ‘Diretor/Chefe de empresa/entidade’ que compreende tanto o engenheiro chefe de uma
sessão da estrada de ferro, quanto o diretor de um orfanato, ou o de uma empresa. Nesses casos, a opção de
agrupá-los deu-se em função da ênfase atribuída nas fichas de sócios aos postos de chefia ocupados pelos
candidatos e ao evidente peso que tal condição exerceu para sua aprovação. A categoria ‘integrantes do
Executivo’ compreende desde chefes de estado (reis, presidentes, governadores...) a secretários de governo (em
suas várias pastas), todos identificados em função de seus postos. A mesma lógica aplica-se aos ‘Integrantes do
legislativo’ contemplando de senadores a conselheiros municipais, e ‘integrantes do Judiciário’, que abarca
juízes, promotores e procuradores, por exemplo. O raciocínio vale também para as categorias de ‘clérigos’ e
militares. Outra situação comum foi a opção por uma de duas atividades identificadas (Fulano, professor e
jornalista, por exemplo). Nesses casos, a caracterização deu-se quase sempre pela primeira referência ou por
aquela de formação mais específica (o médico-literato foi assim classificado apenas como médico). As ‘outras
categorias’ compreendem, por fim, as atividades de ocorrência muito reduzida (menos de 3 casos).
115
28
Arquivo do IGHB. Caixa 06 (1909-1912). Propostas de 1902 [documentos em desacordo com a
período indicado na caixa].
29
Arquivo do IGHB. Caixa 06 (1909-1912). Propostas de outubro de 1911.
30
Idem. Caixa 08 (1914-1915). Propostas de 1915.
31
SILVA. P., 2000, p. 138.
32
Arquivo do IGHB. Caixa 14 (1923-1924). Expediente do mês de abril de 1924. Informe à Diretoria
Geral de Estatística
33
Ver CASTRO, Maria Luiza de Souza. A atuação de Abílio Cesar Borges sobre os processos
educativos no Brasil. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. n. 50, p. 42-58, 1925;
CATARINO, Leocádia de Sá M. Protesto de uma senhora baiana. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. n. 54, p. 433-435, 1928.
118
34
SILVA. P., 2000, p. 129.
35
Idem, p. 86.
119
36
OSÓRIO, Ubaldo. Notas autobiográficas. A Ilha de Itaparica: história e tradição. 6. ed. Salvador:
Fundação Cultural do Estado, 1979. p. 7-12.
37
SILVA, P., 2000, p. 83-86.
120
1905 regressou para sua terra natal, fundado ali, em parceria com Rafael Spínola o
jornal “O Ilhéu”, semanário destinado, segundo o próprio, a “combater a chamada
Oligarquia Ramista”.
Às suas aspirações literárias e jornalísticas correspondiam, portanto,
interesses políticos que lhe valeram, ainda em 1905, a eleição para o cargo de
secretário do grupo da “Concentração Itaparicana”. As relações políticas que
estabeleceu a partir de então envolviam nomes como Felix Gaspar de Barros,
Antonio Calmon e o Conselheiro Luiz Vianna (que fora, aliás, seu padrinho de
casamento). Sob o incentivo ou os auspícios dos mesmos foi nomeado, em 1906,
ajudante do Procurador da República. Em 1918 assumiu o cargo de Coletor Federal
do Município de Itaparica e, em 1924, sob o governo Góis Calmon, assumiu a
intendência da Ilha.
Seu envolvimento com o jornalismo teve continuidade com a produção de
textos para o “Correio da Tarde” e para “O Norte”. Publicou ainda panfletos contra a
administração municipal, na década de 1930, mantendo a linha da crítica política
que iniciara nos jornais. Esse envolvimento com a política por certo determinou o
desinteresse de Osório por publicar outros temas, pelo menos durante os anos de
sua atuação na vida pública. Não obstante, durante esse período, já coligia os dados
que integrariam a sua principal obra “A Ilha de Itaparica”, tornada pública em uma
edição póstuma.
Já Manoel Castelar de Almeida Sampaio (1896-1979), informa-nos
Hildegardes Vianna38, era natural do município baiano de Nazaré e, como tantos
outros jovens da época, transferiu-se para Salvador visando continuar sua
educação. Realizou seus estudos preparatórios no Colégio dos Jesuítas e foi aluno
fundador do colégio Antonio Vieira, em 1911. Bacharelou-se pela Faculdade de
Direito da Bahia em 1919, período em que já publicava suas primeiras poesias no
jornal “O Imparcial”.
Na década de 1920 Sampaio participou ativamente da vida literária da
capital baiana, e muito provavelmente integrou o grupo literário auto-intitulado
“Cavaleiros da Távora Redonda”, liderado por Carlos Chiacchio39, uma das figuras
centrais do modernismo na Bahia do século XX, juntamente com Pinheiro Veigas e
38
VIANNA, Hildegardes. Revisando o poeta Castelar Sampaio. Separata da Revista da Academia de
Letras da Bahia. n. 43, p. 285-300, mar. 1998.
39
SILVA, P., 2000, p. 91.
121
40
Para uma familiarização com o panorama e as personalidades literárias do século XX na Bahia, e
particularmente do movimento modernista, ver BRASIL, Assis. Literatura baiana: breve panorama da
poesia baiana no século XX. Letras da Bahia. Disponível em:
<http://www.facom.ufba.br/artcult/letrasdabahia/literatura.htm>. Acesso em: 21 jul. 2006.
41
Arquivo do IGHB. Caixa 15 (1925). Expediente do mês de março. Ver proposta de Manoel Castelar
Sampaio.
42
VIANNA, H., 1998, p. 287-288.
122
43
Arquivo do IGHB. Caixa 13 (1922-1923). Expediente do mês de julho. Propostas de sócios do mês
de julho de 1922.
44
Arquivo do IGHB. Caixa 13 (1922-1923). Correspondência recebida da Direção do Abrigo dos
Filhos do Povo, em 4 de setembro de 1922.
123
de polícia de Sergipe, além de deputado provincial até 1886, e deputado geral até
1889, pelo Partido Conservador. Na república foi ainda eleito deputado para
constituinte federal, sendo reeleito por mais quatro legislaturas; José Luiz de
Almeida Couto (1833-1895), por sua vez, exerceu mandatos na Assembléia
Provincial, na Câmara Municipal e na Assembléia Geral, sendo presidente da
província da Bahia por duas vezes, em 1855 e 1889.
Nesse meio tempo, de 1884 a 1885, esteve à frente da Província de São
Paulo. Na república foi intendente municipal, em 1892, e senador estadual em 1895,
pelo Partido Republicano constitucional, do qual era o chefe; Já Sátyro de Oliveira
Dias (1844-1913), foi deputado provincial e Presidente das Províncias do Ceará, Rio
Grande do Norte e Amazonas, além de diretor de instrução pública e Secretário do
Interior da Bahia. Com o advento da república foi deputado no Congresso da Bahia,
em 1891 e deputado federal, em 190045. E além destes, pelo menos outros quatro
fundadores: Aristides Cesar Spinola Zama46, Dionysio Gonçalves Martins, Francisco
Rodrigues Monção Filho47 e Jeronymo Sodré Pereira48 exerceram funções
parlamentares durante o Império.
Mas foram mesmo as personalidades republicanas, ou pelo menos
aquelas que souberam se integrar ao novo regime, as que se fizeram mais
presentes no IGHB. De fato, ao tempo da fundação do Instituto, figuravam entre os
sócios pelo menos 12 parlamentares, 2 ocupantes de cargos públicos e um ex-
Governador, Manuel Victorino Pereira, o primeiro a ocupar o cargo após a
proclamação da República.
Outros fundadores ainda, mesmo não exercendo funções públicas
naquele momento, eram personalidades atuantes no meio político, vindo a alcançar
grande destaque anos mais tarde, como os futuros Governadores do Estado Luiz
Vianna (mandato de 1896 a 1900), Severino dos Santos Vieira (mandato de 1901 a
1904) e Victal Baptista Soares (mandato de 1928-1930)49, apenas para citar os de
maior notoriedade.Essa relação de proximidade entre personalidades políticas
45
SOUZA, Antonio Loureiro de. Baianos ilustres (1564-1925). Salvador: Secretaria de Educação e
Cultura, 1973. p. 175-176, 125-126 e 155-156, respectivamente. Sobre o Cons. José Luiz de Almeida
Couto veja-se ainda: Necrologia. Revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 6,
p. 441-446, dez, 1895.
46
SOUZA, 1973, p. 133-134.
47
Revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, n. 27 p. 129-130, 1901 e n. 30, p. 61-64,
1906.
48
BRITO, 1996, p. 55-56.
49
SOUZA, op. cit. p. 192, 167-168, 183-184 e 137-138, respectivamente.
125
50
Arquivo do IGHB. Caixa 09 (1915-1917). Propostas de 1916.
51
Idem. Caixa 10 (1917). Propostas mês de março.
52
Os secretários em questão foram, respectivamente: J. J. de L. Macedo, Antonio J. da Silva, Manoel
Matos Cerqueira de Menezes, José Barbosa de Souza e Domingos Vasconcelos. Arquivo do IGHB.
Caixa 12 (1920-1921). Expediente do mês de agosto de 1920.
53
Arquivo do IGHB. Caixa 12 (1920-1921). Expediente do mês de maio de 1921.
54
Idem. Caixa 15 (1925). Expediente do mês de março.
126
55
Arquivo do IGHB. Caixa 06 (1909-1912). Expediente de 1912. Proposta apresentada em 2 de julho
de 1912.
56
SILVA, P., 2000, p. 90 e 102-103.
57
Capítulo II – Das Comissões, dos Estatutos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, v. 1, n.1, p. 47-52, set. 1894.
127
58
Ata da 5º sessão do IGHB, de 15 de julho de 1894. Revista do Instituto Histórico e Geográfico da
Bahia. Salvador. n. 1, v. 1, p. 34-36, set, 1894.
59
SANCHEZ, Edney Chistian Thomé. Revista do IHGB: um periódico na cidade letrada brasileira do
séc. XIX. 2003. Dissertação (mestrado em Teoria e História Literária). Universidade Estadual de
Campinas, Campinas. p. 56-57.
128
os
TABELA 09 - Ocorrência temática na revista do IGHB n 1 a 53
Tema Ocorrências Percentual
Arquitetura (civil, militar e religiosa) 16 2,74 %
Artes e monumentos 9 1,54 %
Biografias, necrológicos, memórias e homenagens 100 17,09 %
Curiosidades históricas e científicas 14 2,39 %
Descrições de viagens 22 3,76 %
Documentos 7 1,20 %
Educação e ensino 10 1,71 %
Etnografia 7 1,20 %
Geografia 61 10,43 %
História 229 39,15 %
Institutos históricos baianos 15 2,56 %
Lingüística 6 1,03 %
Literatura 6 1,03 %
Mineralogia 11 1,88 %
Municípios (descrições) 22 3,76 %
Tradições regionais 5 0,85 %
Vias de comunicação e transportes 8 1,37 %
Temas diversos 37 6,32 %
Totais 585 100,00 %
Fonte: Analítica de Periódico: ordem de assunto. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia:
índice período de 1884 a 1998, números 1 a 93. Salvador, 2000. v. 2.
129
Assim foram considerados 585 textos publicados entre 1894 e 1930 60, os
quais puderam ser agrupados em 17 categorias de maior ocorrência, segundo os
critérios de classificação utilizados pelo próprio Instituto, excluídas aí as transcrições
de atas, relatórios, discursos, correspondências recebidas e enviadas e os
planejamentos orçamentários. De acordo com tal levantamento constata-se a
acentuada ocorrência (com 17,09 %) os estudos caracterizados como biográficos,
necrológicos, memoriais e homenagens, o que confirma o papel assumido pelo
IGHB de instituição promotora da memória e cultuadora dos vultos para a nova
sociedade republicana.
O primeiro texto biográfico editado pela revista tem como personalidades
focadas os “poetas baianos” do século XVII (na verdade, nesse número, apenas
Manoel Botelho de Oliveira)61. Esta opção por registrar as vivências de
personalidades historicamente tão distantes e politicamente ‘neutras’ está
relacionada à política de acomodação adotada, em primeira ora, pela diretoria do
IGHB frente às expectativas existentes entre os segmentos de neo-republicanos e
de antigos monarquistas, (ou, se preferirmos, pelos grupos pró e contra revitalização
do antigo IHB) por impor-se na instituição.
Com isso evitava-se tratar de figuras que, naquele momento, só poderiam
ter vivido na sociedade imperial, podendo sua exaltação ser confundida com um
enaltecimento do antigo contexto político. Essa estratégia permaneceu ainda no
segundo número da revista que, além da continuidade do texto sobre os “poetas
baianos”, enfocando agora João de Britto Lima, trouxe também a sua primeira, assim
identificada, biografia.
Esta, intitulada “notícia biográfica do padre-mestre João Quirino Gomes,
oferecida ao Instituto Histórico da Bahia por José Antonio Teixeira em 1859” 62,
chama atenção por três aspectos: primeiro, como no caso dos poetas do longínquo
século XVII, tratava-se de trabalho realizado 35 anos antes, quando não havia
motivos ou espaço para a incorporação de polêmicas políticas, sobretudo as
relativas à natureza do regime. Some-se a isso o fato de que, ainda que o texto em
60
Pare efeito de comparação, considere-se que o Instituto Histórico paulista, no período de 1894 a
1940, publicou em sua revista 465 artigos, de acordo com MAHL, 2001, p. 47.
61
Poetas baianos: século XVII. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, v. 1,
n.1, p. 137-139, set. 1894.
62
Notícia biográfica do padre-mestre João Quirino Gomes, oferecida ao Instituto Histórico da Bahia
por José Antonio Teixeira em 1859. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador,
n.2, p. 291-295, dez. 1894.
130
Eleito diversas vezes deputado geral pela capital federal, por Pernambuco e
pelo Amazonas mostrou-se orador consumado e espírito altaneiro que não
se submetia a interesses partidários da monarquia, sendo chefe
63
reverenciado do elemento histórico republicano.
63
ALMEIDA, Antonio Calmon du Pim e. Necrológicos. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia, Salvador, n. 5, p. 331-336, set, 1895.
64
ENDERS, 2000, p. 44-45.
131
65
AMARAL, Hermenegildo Braz do. Necrológicos. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia, Salvador, n. 27, p. 127 e 137-142 (respectivamente), 1901.
132
66
O Brasil. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 2, p. 163-166, dez, 1894.
133
de assumir a dianteira desse suposto processo. Essa linha de ação, contudo, foi
logo abandonada. De fato, não há outros textos que sustentem posição similar nos
números posteriores da revista ou mesmo em outras publicações (artigos em jornais,
livros etc.) dos membros do IGHB. A razão do abandono residia na percepção, por
parte dos intelectuais do IGHB, de que não fazia parte dos planos do Instituto
paulista – e de sua intelectualidade – dividir a primazia da pretensa condição de
sociedade definidora dos destinos nacionais com outro grupo social.
De fato, segundo a leitura dominante no IHGSP, não havia no Brasil
qualquer outro grupo (ou raça) que pudesse ser equiparassem em desenvolvimento
e qualidades à “raça paulista”, o que determinou senão o silêncio, pelo menos o
desconhecimento sobre as especulações baianas acerca da suposta parceria entre
bandeirantes. Voltaremos a discutir a idéia da especialidade da raça paulista em
capítulo posterior. Por ora devemos assinalar apenas que a posição paulistana e a
possível (melhor dizer conseqüente) indiferença dela resultante, impingia o imediato
abandono de tal idéia por parte da intelectualidade do IGHB, sob pena destes
assumirem, aos olhos da ciosa sociedade local, a humilhante posição de insistência
em uma parceria desprezada pela instituição paulista.
O texto “O Brasil” não se destaca, porém, apenas por tal peculiaridade,
pois ao mesmo tempo em que é o único, até então, a ensaiar uma inserção mais
incisiva da participação baiana na história nacional, é também o primeiro texto
‘histórico’ a expressar o cuidado com a neutralidade que já marcava os escritos
biográficos. Os demais textos do segundo número da revista, não necessitavam
desse artifício porque, primeiramente referiam-se a períodos já distantes (mesma
facilidade propiciada pelas biografias dos poetas do século XVII), ao tratar de
questões em torno da ‘descoberta’ do Brasil. Some-se a isso o fato de que estes
outros textos possuíam um caráter acentuadamente narrativo, quando não se
caracterizavam como transcrições de relatos e documentos da época.
Nesse aspecto o texto “O Brasil”, ao contrário, pretendia apresentar uma
síntese da formação histórica e social da nação, possuindo assim um teor mais
analítico e, como tal, muito mais sujeito a expressar tendências ou avaliações de
natureza política. E o cuidado do texto em manter a linha de neutralidade se
expressa exatamente quando caracteriza o período monárquico que há pouco se
findara, como se observa do trecho seguinte:
134
Deste esse tempo [Primeiro Reinado] o Brasil tem passado por varia sorte.
Sacudido por convulsões contínuas durante os dez anos de regência,
inquieto e fremente até 1848, desde este tempo percorreu um ciclo de paz:
aboliu o tráfico, vulgarizou relativamente a instrução, introduziu as estradas
de ferro, pelas comunicações freqüentes com a Europa tornou-se nas
cidades mais numerosas como que um apêndice do ocidente; derrocou por
tal modo o sistema colonial que a escravidão e a monarquia foram extraídos
67
sem dor e sem abalos.
67
O Brasil. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 2, p. 163-166, dez, 1894.
68
VIANNA, Francisco Vicente. A sabinada: história da revolta da cidade da Bahia em 1837. Revista
do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 14, 17 e 25, p. 572-606, 417-435 e 261-292,
1897, 1898 e 1900, respectivamente.
135
Não por acaso, somente três anos após a publicação deste texto, Braz do
Amaral tornou público, desta vez através do jornal Diário de Notícias, o texto
“Proclamação da República na Bahia”, extenso artigo publicado ao longo de nada
menos que doze edições do periódico (entre 5 e 20 de maio de 1904), no qual a
crítica ao regime monárquico é, pela primeira vez, dura e aberta. Este tom, aliás, fica
patente logo em seu parágrafo inicial quando o autor sustenta:
Havia sido tão dura a repressão da revolta republicana de 1837, tinha sido,
após esse período, durante todo o 2º reinado, tão absurdamente corruptora
e hábil a política do império, que parecia morta, a não ser um ou outro
pequeno rebento, a árvore da República Brasileira aqui na Bahia até cerca
69
de 1888.
69
AMARAL, Braz do. Proclamação da República na Bahia. Diário da Bahia, Salvador, n. 337, p. 1, 5
mai. 1904.
136
70
ALMEIDA, Antonio Calmon du Pin e. Relatório do ano de 1894, apresentado ao IGHB em
03/05/1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, n. 4, p. 167-174, jun,
1895.
71
Ata da 17ª Sessão, de 15/09/1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador,
n. 5, p. 323-326, set, 1895.
137
72
Após este período os balanços financeiros não são mais publicados pela revista.
138
30
25
20
15
10
0
1894 1895 1896 1897 1898 1899 1900 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910
73
MAHL, 2001, p. 17.
139
74
Relatório do Primeiro Secretário. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador,
n.30, p. 189-196, 1904.
75
Discurso do Presidente Conselheiro Antonio Carneiro da Rocha. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Salvador, n.32, p. 194-198, 1906.
76
Discurso do Presidente Conselheiro Antonio Carneiro da Rocha. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Salvador, n.34, p. 179-182, 1908.
140
77
SOUZA, 1973, p. 147-148.
141
78
As Leis em questão foram as de números 920, de 28/11/1912; 1.186, de 23/08/1916; 1.232, de
04/09/1917 e 1.287, de 24/08/1918. Cf. DANTAS JÚNIOR, João da Costa Ponto. Repertório das leis
do estado da Bahia 1891-1928. Bahia: Tipografia São Francisco, 1928. p. 195.
143
70
60
50
40
30
20
10
0
1910
1911
1912
1913
1914
1915
1916
1917
1918
1919
1920
1921
1922
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
1931
Receita em Contos de Réis Desepesas em Contos de Réis
79
Compunham a referida Diretoria: o Presidente Theodoro Sampaio, o Vice-Presidente Joaquim dos
Reis Magalhães, o Primeiro Secretário Bernardino José de Souza, o Segundo Secretário José
Wanderley de Araújo Pinho e Orador Oficial Braz Hermenegildo do Amaral.
146
80
A casa da Bahia: monumento comemorativo do centenário da redenção política da Bahia. Revista
do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 48, p. 293-338, 1923.
81
Apelo (à Sociedade para construção da Casa da Bahia). Revista do Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia. Salvador, n. 48, p. 295-296, 1923.
147
82
A maior parte da documentação produzida entre 1898 e 1913 parece ter sido perdida, visto que o
reduzido volume de documentos relativos aos 15 anos desse intervalo encontra-se agrupada em
apenas 3 caixas, enquanto as demais caixas comportam apenas os documentos de 1 ou 2 anos.
148
83
A casa da Bahia: monumento comemorativo do centenário da redenção política da Bahia. Revista
do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 48, p. 297-298, 1923.
149
84
SAMPAIO, Theodoro. Discurso pronunciado na sessão solene de 2 de julho de 1923 do centenário
da independência nacional na Bahia, ao inaugurar-se o novo edifício do Instituto Histórico”. Revista
do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 48, p. 320-324, 1923.
150
Não peço-vos proteção para que a composição que acompanha este seja
oficialmente aceito como hino do Centenário da Independência da nossa
acrisolada pátria, pois penso que uma obra para ser considerada deva ter
os requisitos necessários que se adapte ao fim designado, e não por
intermédio de proteção; porém, conheço que ela para poder chegar ao seu
fim será preciso um forte pulso, e este pulso forte é o Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, do qual sois vós ilustre Diretor, e assim nas vossas
mãos entrego o fruto das minhas débeis lucubrações, que ao futuro dirá
85
quem fui .
85
Arquivo do IGHB. Caixa 12 (1920-1921). Correspondência enviada ao Instituto por Luiz Paulo de
Santa Izabel, em 12 de julho de 1921.
151
Veja se for possível vir em meu socorro com a venda destes três filmes,
pois, confesso-lhe, seria a minha salvação. Não lhe faltam meios para que
possa resolver este caso; sua posição social, sua influência, tudo é
86
favorável para uma boa e satisfatória solução .
86
Arquivo do IGHB. Caixa 15 (1925). Expediente do mês de fevereiro. Correspondência enviada ao
Secretário Perpétuo do Instituto por José Nelli, em 15 de fevereiro de 1925.
152
87
Arquivo do IGHB. Caixa 15 (1925). Expediente do mês de setembro. Correspondência enviada ao
Secretário Perpétuo do Instituto pela Comissão de moradores da Rua do Imperador, em 31 de junho
de 1925.
153
CAPÍTULO IV
O IGHB E O PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DA BAHIA
1
LEITE, 2005, p. 42. Veja-se a respeito todo o capítulo 1.
2
Idem, p. 56-57.
155
3
LEITE, 2005, p. 257-262.
4
Sobre a relação entre tais elementos e a idéia de civilização, afirma ainda Rinaldo Leite: “Da ligação
estabelecida, a princípio, entre o estado da saúde e a estrutura urbana, fundou-se um vínculo
inexorável entre higienização e urbanização [...] que prosseguiu estabelecendo vínculos sucessivos,
contíguos, múltiplos e recíprocos entre muitos outros fenômenos: modernização, urbanização,
higienização, normatização, moralização dos costumes, ações de controle social, regulamentação
dos usos do espaço, etc... Tornaram-se, todos eles, corolários, e seguiram um decurso tal que se
referir a modernização ou à urbanização ou à higienização implicava sempre referir-se sempre a
outras tantas ‘ações’. Uma expressão, entretanto, pela abrangência que adquiriu resumia todo este
complexo de relações: civilizar.” LEITE, 1996, p. 11.
156
5
Uma visão geral das expectativas de civilização da sociedade durante o Império pode ser obtida em
vários trabalhos, muitos dos quais já foram mencionados neste estudo. Além destes podemos
também citar o trabalho de Chalhoub, sobre as políticas para controle dos cortiços e epidemias no
Brasil imperial, notadamente na corte. Cf. CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na
corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996 (ver especialmente os capítulos 1 e 3); Veja-
se ainda Carlos A. C. Lima, em seu estudo das ‘novas’ habitações republicanas, ao observar a
legislação destinada ao controle e normatização das moradias, deixada pelo Império. Cf LEMOS,
Carlos A. C. A Cidade que a República encontrou. In. A República ensina a morar (melhor). São
Paulo: Hucitec, 1999. p. 13-14; FRAGA FILHO, 1996 p. 135-150, por sua vez , ao discutir o
desenvolvimento da intolerância da comunidade para com a figura dos mendigos, na Bahia do século
XIX, mostra como estes foram vistos como “ameaças à ordem social” e, conseqüentemente,
empecilhos à modernização da sociedade; Devemos citar ainda J. J. Reis, que nos apresenta os
esforços das autoridades provinciais para civilizar as práticas da população baiana diante da morte
ainda na primeira metade do século XIX. Cf. REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e
revolta popular no Brasil do séc. XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. Ver capítulos 10 e 11.
“Civilizar os Costumes” I e II
6
SEVCENKO, Nicolau. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In. História
da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 1998. v. 3. p. 8-11.
7
DECCA, Edgar de. O colonialismo como a glória do império. In. O século XX. O tempo das certezas:
da formação do capitalismo à primeira grande guerra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. v.1,
p. 154-158.
157
8
PESAVENTO, Sandra J. O cotidiano da República. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998. p. 12.
9
Sobre a experiência republicana em Minas Gerais ver também: HENRIQUES, Rita de Cássia
Chagas. A razão moldando o cidadão: estratégias de política higienista e espaço urbano disciplinar –
BH –1907-1908. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 2, p. 57-63, out. 1997.
10
Sobre o processo de modernização republicana em Belém veja-se: SARGES, Maria de Nazaré.
Belém, um outro olhar sobre a “Paris dos trópicos”. In. SOLLER, Maria Angélica; MATOS, Maria Izilda
S. (orgs.). A cidade em debate. São Paulo: Olho D’Água, 1999. p. 49-74.
11
Sobre a experiência da capital gaúcha ver: PESAVENTO, Sandra J. Muito além do espaço: por
uma história cultural do urbano. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, p. 282, 1995.
12
Para uma análise do conjunto destas transformações ver: REIS FILHO, Nestor Goulart.
Urbanização e modernidade: entre o passado e o futuro (1808-1913). In. MOTA, Carlos Guilherme.
(Org.) Viagem incompleta. A experiência brasileira (1500-2000). A grande transação. São Paulo:
SENAC São Paulo, 2000. p. 103-105; Sobre a experiência soteropolitana, em específico, ver: LEITE,
1996, especialmente os capítulos 2 e 4.
158
13
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano – Paris, Rio de
Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1999. p. 23-24 e 92-93.
14
PESAVENTO, 1998. p. 62-71.
15
IANNI, Octávio. A idéia de Brasil moderno. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 115-121.
159
negros) que fosse também viável do ponto de vista das qualidades intrínsecas
(atributos morais, físicos e intelectuais) da nação16
Dentro de tais premissas, se havia alguma discussão em tordo da
possibilidade de assimilação proveitosa do indígena, o mesmo não ocorria com o
elemento negro, tido sempre como menos apto intelectualmente, além de
moralmente inferior, o que o punha na condição de um elemento a ser eliminado de
modo a não obstar o desenvolvimento da nação17. Essa era a expressão do
pensamento ‘cientifico’ dominante à época, particularmente junto à intelectualidade
nacional, e que aqui se fazia representar por nomes como Henry T. Buckle, Arthur
de Gobineau, Paul Broca, Cesare Lombroso, Louis Couty, H. Spencer e Louis
Agassiz, apenas para citar alguns dos mais ‘populares’ a divulgar suas idéias ainda
durante o período imperial brasileiro. Não nos dedicaremos aqui à análise ou mesmo
a uma exposição mais detalhada de tais idéias, pois tal empreendimento já foi
desenvolvido mais detidamente e com maior propriedade por vários autores18.
De um modo geral, porém, podemos afirmar que aqueles ‘estudiosos’ do
século XIX defendiam a existência de raças humanas dotadas de atributos naturais
e imutáveis, fossem eles determinados pelas características próprias de cada tipo
racial, fossem pela conformação de cada um dos tipos às condições climáticas de
seu habitat. Tais raças, pensadas de forma hierarquizada, tinham sempre como
elemento mais desenvolvido o branco-europeu, seguido por semitas, orientais e
indígenas americanos como grupos intermediários (embora essa composição
também variasse entre os ‘estudiosos’ da questão), seguidos ainda pelos negros,
estes – como já foi dito – tidos invariavelmente como os mais primitivos dentre os
tipos raciais, ou até mesmo como tipos sub-humanos.
Dentro dessa lógica as autoridades imperiais empenharam-se por
promover a imigração de europeus, dada à impossibilidade do desenvolvimento
16
MONTEIRO, Jonh Manuel. As “raças” indígenas no pensamento Brasileiro do Império. In. MAIO,
Marcos Chor; SANTOS, Ricardo Ventura. Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz; CCBB,
1996. p. 16-17.
17
SCHWARTZ, 1993, p. 208-209.
18
Dentre os autores em questão podemos citar como referências para o tema e/ou suas implicações
na realidade nacional, além dos já trabalhados até o momento: SKIDMORE, Thomas E. Preto no
Branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; BANTON,
Michael. A idéia de raça. Lisboa: Edições 70, 1977; SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. Usos e abusos da
mestiçagem e da raça no Brasil: uma história das teorias raciais em finais do século XIX. Revista
Afro-Ásia, n. 18, p. 77-101, 1996; RAMOS, Jair de Souza. Ciência e racismo: uma leitura crítica de
raça e assimilação em Oliveira Viana. História, Ciências, Saúde-Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 10, n.
2, p. 573-601, 2003, entre outros.
160
nacional com base nos seus elementos predominantes (os índios e os negros).
Como conseqüência, buscou-se demonstrar a possibilidade de adaptação de povos
de origem européia ao ambiente tropical, como parte necessária de um processo de
embranquecimento da sociedade brasileira. As primeiras medidas nesse sentido
resultaram no estabelecimento de colônias agrícolas homogêneas no sul do país,
privilegiando-se assim a nacionalização de uma população branca européia em
lugar de uma estratégia de miscigenação com as populações locais19.
Com o advento da Republica, afirma Seyferth, a antiga política imperial de
imigração foi duramente criticada por supostamente permitir, fosse em função de
estratégia de alocação dos imigrantes para regiões especificas, fosse pela escolha
de ‘etnias inassimiláveis’ (uma referência direcionada especialmente aos alemães), a
formação de núcleos cuja homogeneidade passou a ser vista como um perigo a
nacionalidade. Perigo porque, em tese, sendo tão homogêneas, as comunidades
mostravam-se pouco interessadas em assimilar língua e costumes nacionais,
permanecendo efetivamente como comunidades estrangeiras em território nacional.
Além disso, estando tão localizadas, tais comunidades só produziam, por assim
dizer, um desenvolvimento pontual, o que se afigurava como uma ameaça de
desequilíbrio regional para as novas autoridades republicanas.
O que se observa então é o acirramento do debate sobre a pertinência do
elemento estrangeiro no processo de modernização nacional, considerando-se, por
uma lado, o potencial civilizador de tais grupos e, de outro lado, nas palavras de
Aguiar, os possíveis “desdobramentos [da presença estrangeira] que poderiam levar
ao rompimento da unidade territorial ou provocar mudanças na ordem social”20,
preocupações que se tornaram ainda mais acentuadas (sobretudo em relação aos
alemães) com o advento da Primeira Guerra.
De qualquer modo, embora as preocupações com a homogeneidade das
colônias (especialmente alemãs) já não correspondessem à realidade por volta do
fim do século XIX, sustenta ainda Seyferth, o governo republicano passou a
defender a necessidade da diversificação das ‘etnias’ envolvidas com a imigração.
19
SEYFERTH, Giralda. Construindo a nação: hierarquias raciais e o papel do racismo na política de
imigração e colonização. In. MAIO; SANTOS, 1996. p. 46-47.
20
AGUIAR, Gilson Costa. Germânicos e germanismo: o debate sobre a imigração germânica na ótica
do estado e do ideário nacional brasileiro na transição da monarquia para a república. Assis, 1999.
Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Ciências e Letras – Universidade Estadual
Paulista. p. 40-41.
161
Nesse momento ganharam atenção as ‘etnias latinas’ que, tidas como mais afeitas à
assimilação, possibilitariam, através da miscigenação, a eliminação dos elementos
das raças inferiores da sociedade, processo que deveria permitir a emersão de uma
nova sociedade branca21.
As preocupações republicanas com os ambientes urbanos
permaneceram, desse modo, orientadas pelos mesmos princípios do período
Imperial, ou seja, o combate a insalubridade das cidades e, em última instância, à
sua desafricanização. Todavia, com o novo regime, o trato destas questões ganhou
uma energia e uma relevância até então inusitadas, dado o seu caráter racial mais
acentuado. Assim, as medidas e ações das autoridades do estado republicano no
sentido de reestruturar os espaços urbanos e reorganizar suas populações
funcionaram, na prática, como a concretização de uma política de caráter eugenista,
cuja necessidade era há muito defendida e anunciada. Todo o processo, por seu
turno, era respaldado por um discurso higienista, que teve em Oswaldo Cruz e
Belisário Pena alguns dos seus expoentes, e que concebia a proliferação de muitas
das doenças no meio urbano como uma evidência da inferioridade racial ou mesmo
da degeneração (pela mestiçagem com as raças inferiores – leia-se, os negros) de
boa parte da população22.
Concebida como um dos principais compromissos do novo regime, a
discussão sobre o caráter racial da população foi encampada e desenvolvida em
diferentes frentes tendo sempre como base idéias (mais ou menos integradas) como
o positivismo, o evolucionismo e o darwinismo social, aqui assimiladas e
reelaboradas de modo tanto a reafirmar a necessidade de aprimoramento do
‘caráter’ do povo, como a sinalizar com a possibilidade do desenvolvimento nacional,
a despeito de (ou mediante) sua mestiçagem23.
Sinais concretos dessa política são observados, por exemplo, na
demolição de áreas da cidade tradicionalmente habitadas pelas populações pobres
e de cor, com a remoção de seus moradores para as periferias ou até mesmo a sua
deportação para outras regiões do país, como ocorrido com parte dos indivíduos
detidos nos distúrbios decorrentes da Revolta da Vacina, em meio às reformas do
21
SEYFERTH, 1996. p. 48-55.
22
ROMERO, Marisa. As normas médicas em São Paulo, 1889-1930. Projeto História, São Paulo, n.
13, p. 167-177, jun. 1996.
23
SCHWARTZ, 1993. Ver especialmente o cap. II. p. 43-66.
162
24
SEVCENKO, 1998. p. 25-26.
25
RUY, Affonso. História da câmara municipal da cidade do Salvador. Salvador: Câmara Municipal de
salvador, 1953. p. 322.
26
BARCELAR, Jéferson. A hierarquia das raças: negros e brancos em Salvador. Rio de Janeiro:
Pallas, 2001. p. 38.
163
27
SKIDMORE, 1976, p. 69.
28
Atas da 23ª sessão 12/04/1896 e da 28ª sessão 21/06/1896. Revista do Instituto Geográfico
Histórico da Bahia. Salvador, n. 8, p. 218 e 289 (respectivamente), jun, 1896.
29
Ata da 26ª sessão 17/05/1896. Idem, p. 280.
30
Ata da 35ª sessão 25/10/1896. Revista do Instituto Geográfico Histórico da Bahia. Salvador, n. 10,
p. 600, dez, 1896.
164
da Bahia, o único centro, aliás, a igualar (ou mesmo a superar) o IGHB como espaço
de reflexão da questão racial no estado.
Este destaque da Faculdade de Medicina não era fortuito. Resultava
antes de tudo do seu prestígio como instituição, à qual se atribuía o papel de
difusora das práticas médicas de matriz européia (embora seus integrantes também
tenham participado diretamente, segundo Edler, de um “movimento mais amplo
voltado para a produção de um saber médico original sobre a nosologia
brasileira”31). Um tal ‘perfil’ punha conseqüentemente a Faculdade de Medicina na
condição ‘natural’ de entidade propagadora da modernização dos hábitos e cuidados
com a saúde da sociedade32. Exemplo disso, aliás, observa Marivaldo Amaral, foi a
criação da maternidade-escola da faculdade, com a qual se esperava, além de
possibilitar o treino dos profissionais médicos, a reformulação dos costumes ligados
ao parto, especialmente nas camadas populares33. Pelas expectativas em torno do
seu potencial modernizador, como instituição científica, e em função mesmo do
caráter ‘científico’ atribuído às ditas características raciais a Faculdade de Medicina
tornou-se assim, direta ou indiretamente, propícia ao debate do tema racial na Bahia.
Some-se a isso o fato de se encontrarem ali alguns dos profissionais mais
renomados da época, no que se refere à discussão do tema racial no Brasil. Dentre
estes profissionais o mais notável, durante a década de 1890, foi sabidamente o
médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Membro da Médico-
Legal Society of New York e da Société-Médico-Psychologique de Paris, e defensor
ferrenho da idéia da inviabilidade do desenvolvimento nacional em função da
presença negra (enquanto tal ou mesmo miscigenado) entre a população, Nina
Rodrigues tornou-se um dos intelectuais mais lidos e respeitados de então.
A atuação de Nina Rodrigues como referência para a intelectualidade do
período não é desconhecida. De fato, além da influência junto a seus pares médicos,
foi também o fundador da medicina legal no Brasil, chegando a dialogar com a área
do direito ao defender a necessidade de um código penal específico para os negros
e mestiços em seu trabalho “As raças humanas e a responsabilidade penal no
31
EDLER, Flavio Coelho. A Escola Tropicalista Baiana: um mito de origem da medicina tropical no
Brasil. História ciência, saude-Manguinhos, v. 9, n. 2, p.357-385, maio/ago, 2002.
32
AMARAL, Marivaldo Cruz do. Da comadre para o doutor: a maternidade Climério de Oliveira e a
nova medicina da mulher na Bahia republicana (1910-1927). Salvador, 2005. Dissertação (Mestrado
em História). Universidade Federal da Bahia. p. 27 e 49.
33
Idem. p. 56 e 135-137.
165
Brasil”, que por acaso veio a ser uma das obras ofertada ao IGHB34. Além disso e, a
bem da verdade, foi um dos que mais influenciou o pensamento social brasileiro até
a década de 1930, ainda que tal influência se desse por contraposição (sobretudo
entre o incipiente meio antropológico) a uma suposta “Escola Nina Rodrigues”, como
o observou Mariza Corrêa35.
Além dos trabalhos publicados, a difusão de suas idéias na Bahia deu-se
fundamentalmente através de um veículo especializado: a Gazeta Médica da Bahia,
revista da Faculdade de Medicina, com a qual Nina Rodrigues colaborou
assiduamente, chegando mesmo a ocupar o cargo de redator-chefe da mesma, em
189136. Nesse mesmo ano Rodrigues assinava o artigo “A lepra no Estado da
Bahia”, onde preconizou: “a lepra tende a desaparecer na Bahia, independente de
medidas repressoras e provavelmente apenas com a suspensão do tráfico africano e
com os progressos da civilização”37, numa associação entre a eliminação dos negros
(e dos mestiços a médio prazo) da sociedade e a eliminação da própria doença.
Embora este discurso fosse destinado preferencialmente ao público
médico, não se restringia a ele, sendo também deliberadamente difundido entre a
intelectualidade baiana. Para isso a Gazeta Médica era oferecida, em permuta, a
outras instituições locais de importância, dentre as quais o Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia era por certo uma das mais visadas38.
Com isso a discussão sobre o caráter racial da população baiana
extrapolava o meio médico (que, obviamente, não tinha em Nina Rodrigues o único
preocupado com tais questões39), por meio da sua Gazeta, e se fazia saber junto ao
34
Relatório anual apresentado pelo Primeiro Secretário Antônio Calmon, em 03 de maio de 1895.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 4, p. 167-174, jun, 1895. Alguns
anos mais tarde o Instituto veio a receber também a outro estudo de Nina Rodrigues, A medicina legal
no Brasil v. 1, doado pelo próprio Nina, a essa altura na condição de sócio do IGHB. Cf. Ofertas.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 32, p. 224, 1906.
35
Para uma visão mais aprofundada, ver: CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a escola Nina
Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista: Edusf,. 1998.
36
INSTITUO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA Grandes vultos do IGHB: Raimundo Nina
Rodrigues. Boletim informativo do Instituo Geográfico e Histórico da Bahia. ano 5, n. 31, p. 4-5, jun.
Jul. 2006.
37
RODRIGUES, Nina. A lepra no estado da Bahia. Gazeta Médica da Bahia. n. 22, p. 346-354, 1891.
38
Essa permuta é normalmente registrada através das listagens das “ofertas” de obras pelos sócios
ou instituições ao IGHB. Nesse sentido veja-se, por exemplo, listas de ofertas dos meses do junho de
os
1897 e setembro de 1898. In. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n . 12 e
17. pp. 463 e 457, 1897 e 1898, respectivamente.
39
De fato, a temática racial, em suas várias facetas (mas com uma natural predominância da relação
raça/doença), foi freqüentemente abordada pelos colaboradores da Gazeta Médica da Bahia, como
pode ser constatado, por exemplo, com o artigo “As moléstias nos mulatos e índios”, apresentado no
nº 24, p. 275-277, de 1892, ou com o artigo do Dr. José R. da Costa Doria, intitulado “Deve-se
modificar o código criminal brasileiro de acordo com os progressos da medicina e da sociologia?”,
apresentado no nº 25, p. 57-64, de 1893.
166
IGHB, e por extensão aos principais nomes do poder político e econômico, dentro ou
fora do governo, possibilitando assim o estabelecimento de um círculo, que se
iniciava com a intelectualidade e chegava à esfera do executivo, ou seja, dos
pensadores aos executores de uma abordagem e tratamento racializado da
população.
A influência e a aceitação, junto ao IGHB, das idéias sobre a ‘qualidade’
racial da população e suas implicações para o desenvolvimento social baiano, pode
ser constatada pela incorporação de tais temas às questões de rotina do Instituto.
Os discursos produzidos refletem tais preocupações, externando posicionamentos e
propostas que, indo ao encontro das posições defendidas pelos médicos, legitimam-
se e, ao mesmo tempo, lhes conferem legitimidade, numa teia de apoio e
reciprocidade que aproximava os grupos institucionais (não por acaso o próprio Nina
Rodrigues tornou-se sócio do IGHB40) e fortalecia seu discurso conjunto.
Uma das primeiras expressões desta aproximação revela-se já no
segundo ano de funcionamento do IHGB, no discurso preferido em sua sessão de
aniversario, de autoria do presidente, Tranquilino L. Torres. Neste discurso, ao falar
sobre a dificuldade enfrentada pelas mentes ilustradas do estado para promover o
“desenvolvimento das letras pátrias”, o Dr. Torres argumentou que tal dificuldade se
devia basicamente a um arraigado sentimento de desconfiança que caracterizava o
baiano. Este sentimento, por sua vez, se explicaria do seguinte modo:
[...] para não me alongar na posição de muitos outros males que nos
flagelam e transitam, pelo retraimento egoístico e desconfiança de tudo e de
todos, essa enfermidade que, talvez, pelo produto de raças degeneradas, se
inoculou no corpo inteiro do país e do estado principalmente – esse esforço
sublime [o de desenvolvimento das letras pátrias], repito, não corresponde
41
nem anima as tentativas dos empreendedores.
40
Na ata da 36ª Sessão Ordinária do IGHB, realizada a 22 de novembro de 1896, consta da ordem
do dia a apresentação do Dr. Nina Rodrigues como novo sócio. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. n. 10, p. 603, dez. 1896.
41
TORRES, Tranqulino L. Discurso proferido na sessão magna aniversária (12ª Sessão), a 03/05 de
1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 04. p. 149-165, jun, 1895.
167
A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis
serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de
que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem
os generosos exageros dos seus turiferários, há de constituir sempre um dos
42
fatores de nossa inferioridade como povo.
42
RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 7. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional;
Brasília: Editora da UNB, 1988. p. 07.
43
SILVEIRA, 1999, 89-145. Ver também BANTON, 1977, p. 57.
44
Idem.
168
Para Reis, portanto, aos portugueses caberia preparar “pela absorção [de
negros e índios], pela remodelação final, a raça forte que há de formar a hegemonia
de nossa pátria na América Latina”. É notável que para este estudioso tal síntese de
raças resultasse em uma raça forte, e não na idéia da degeneração, o que
obviamente reforçava sua visão não hierárquica das raças.
No caso do índio, Reis apresentou-o em três possíveis posições, a saber:
como aliado, quando “presta valiosos serviços ao colonizador”, visto ser um grande
conhecedor da terra; como inimigo, quando investia bravamente (uma adjetivação
positiva, note-se) contra o português e, finalmente, como escravo, quando é “fraco e
indolente para o trabalho, insubmisso ao eito”. A descrição do negro foi
surpreendentemente ainda mais positiva, quando ponderou:
45
REIS, Alexandre Borges dos. Colonos, indígenas e escravos: os jesuítas e a catequese Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 28, p. 57-63, 1897.
169
46
MOURA, Thomé. Lucas: o salteador. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador,
os
n . 16 e 18, p. 321-333 e 638-652, jun e dez, respectivamente, 1898.
47
POPPINO, 1968, 50-51. Sobre Lucas da Feira veja-se também: LIMA, Zélia de Jesus. Lucas
Evangelista, o Lucas da Feira: estudo sobre a rebeldia escrava em Feira de Santana. Salvador, 1990.
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia.
171
É no fundo [uma] questão de preparo que tanta falta a todos nós brasileiros,
falta que tem por causa as deficiências e os vícios de nossa instrução, esta
lazeira e humilhação de nossa mocidade, comparada com a mocidade dos
grandes povos livres do mundo moderno; que tem por causa o enervamento
psíquico e moral de uma raça, principalmente pela carência ou
49
superficialidade do preparo nos estudos e exercícios úteis .
48
MOURA, 1898, p. 638-652.
49
AMARAL, Braz. H. do. Explorações do município do Prado pelo engenheiro Apolinário Front.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 15 p. 3-25, mar, 1898.
172
instituto quem falava, conferindo foros de legitimidade a tais idéias com o peso de
seu cargo e do seu prestígio intelectual.
Braz do Amaral voltou a discutir a questão racial no artigo “As tribos
negras importadas: estudo etnográfico, sua distribuição regional no Brasil – os
grandes mercados de escravos”, de 1915. Nesse trabalho Amaral fez uma ampla
descrição das características das diferentes “raças” trazidas ao país como escravos,
alternando caracterizações mais ou menos negativas conforme cada grupo
abordado. Notável, porém, é o fato de que se ali os grupos negros africanos foram
eventualmente vistos como detentores de traços positivos, o mesmo não ocorreu
com os negros crioulos (nascidos no Brasil) e mestiços, descritos por Amaral como
inferiores, física e moralmente, aos seus ascendentes africanos. Nesse sentido,
Amaral, que era também médico e professor da Faculdade de Medicina (vale
lembrar), aproximava-se sobremaneira das idéias defendidas por Nina Rodrigues, ao
condenar a mestiçagem como um fenômeno essencialmente negativo, posto que
degenerativo, sobre o que afirmava:
50
AMARAL, Braz. H. do. As tribos negras importadas: estudo etnográfico, sua distribuição regional no
Brasil – os grandes mercados de escravos. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Salvador, n. 41 p. 39-72, 1915.
173
51
O pedido fora feito pelo arquiteto Roberto Etzel, visando concorrer ao projeto de construção do
monumento do Ipiranga.
52
SAMPAIO, Theodoro; SILVA, Pirajá da; FRANÇA, A. de Campos. A figura simbólica da Bahia.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 45, p. 231-232, 1919.
174
53
SKIDMORE, 1976, p. 81-86.
54
Ata da 16ª sessão 07/09/1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 5,
p. 315, set, 1895.
55
Ata da 35ª sessão 25/10/1896. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n.
10, p. 601, dez, 1896.
56
Ata da 58ª sessão 18/09/1898. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n.
18, p. 466, set, 1898.
57
TORRES, 1895, 149-165.
176
58
TORRES, Tranquilino. Colonização nacional e estrangeira. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. Salvador, n. 11, p. 03-18, mar, 1897.
177
59
APEB. Biblioteca. SINIMBÚ. João Lins V. C. Fala dirigida à Assembléia Legislativa Provincial pelo
Presidente da Província, na abertura da sessão ordinária de 1857.
60
Eram eles: Antônio Carneiro da Rocha, José Luiz de Almeida Couto, o Barão Moniz de Aração,
Jeronymo Sodré Pereira e Severino dos Santos Vieira.
61
APEB. Sessão Colonial e Provincial. Série: Polícia do Porto. Maço 4.609. Atas da Sociedade
Baiana de Imigração. p. 1.
62
O tema “imigração e colonização” foi recorrente nos jornais do período. O Correio de Noticias, por
exemplo, abordou a questão em suas edições de nº 1.888, de 26/09/1898 e 1.914, de 26/10/1898. O
os
Diário de Notícias, por sua vez, tratou do assunto em editoriais nos n 637 de 05/05/1905; 1.195 e
1.198 de 03 e 06/04/1907, respectivamente; 1.241 de 29/05/1907 e 1.570 de 15/07/1908, apenas
para nos limitarmos às duas primeira décadas da República.
178
63
GONÇALVES, Edvaldo Diniz. A Bahia no anuário estatístico do Brasil (1908-1912). Salvador:
Imprensa Oficial do Estado, 1917. p. 13-22.
64
COELHO, 1923, p. 23.
179
65
De acordo com Iná Elias de Castro “as exposições universais consagraram-se, ao longo da
segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, como grandes acontecimentos que
celebravam o progresso dos povos. Eram marcadas pelo caráter de competição entre as nações,
onde seus produtos, nos moldes de uma olimpíada moderna, entravam em competição e, julgados
por juízes, recebiam medalhas que atestavam suas qualidades. Tratava-se de uma celebração à
mercadoria e à civilização, onde cada país deveria levar o melhor que possuísse” Cf. CASTRO, 2006.
p. 7. Para se ter uma idéia da difusão da proposta das exposições universais, basta mencionar que,
somente no século XIX, foram dezesseis as exposições universais ocorridas, a saber: Londres - 1851;
Paris - 1855; Londres - 1863; Paris - 1867; Viena - 1873; Filadélfia (EUA) - 1876; Paris - 1878; Sdney
(Austrália) 1879; Melbourne (Austrália) - 1880; Amsterdã (Holanda) - 1883; Antuérpia (Bélgica) - 1885;
New Orleans (EUA) - 1885; Barcelona (Espanha) - 1888; Copenhague (Dinamarca) - 1888; Bruxelas
(Bélgicas) - 1899; Paris - 1889. Cf. DELGADO, Marcos. A arquitetura e o desenvolvimento
tecnológico do século XIX. Disponível em: <http://www.arqbusca.hpg.ig.com.br/ArqXIXAH.html.>.
Acesso em: 15 nov. 2006.
66
FERREIRA, Manoel Jesuíno. A província da Bahia: apontamentos. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1875. p. 07. Material preparado para a exposição da Filadélfia (EUA), em 1875.
67
VIANNA, Francisco Vicente. Memória sobre o estado da Bahia. Bahia: Tipografia do Diário da
Bahia, 1893. p. 424.
180
68
CARNEIRO, Antonio J. de Souza. A borracha no estado da Bahia. Rio de Janeiro: Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio, 1913. p. 13-24.
69
BARBOSA, Mario Ferreira. A Bahia e sua riqueza econômica. Bahia: Imprensa Oficial do Estado,
192[9]?, p. 01.
181
70
BAHIA. Serviço da Imigração. O estado da Bahia. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. Salvador, n. 10, p. 551-563, dez. 1896.
71
TORRES, Tranquilino. Município de Vitória. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Salvador, n. 12, p.157-174, jun. 1897.
72
VIANNA, Antonio Salustiano. Corografia do Município de Canavieiras. Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 44, p. 57-122, 1918.
73
OLIVEIRA, Antonio Gabriel de. Morro do Chapéu. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. Salvador, n. 45, p.165-172, 1919.
182
74
MAHL, 2001, 79-86.
75
Idem, p. 93-98.
183
76
TORRES, 1895, 149-165.
184
[...] tirar nossos compatriotas indígenas do ócio ignaro para a atividade útil,
da indecisão, da indecisão brutal para as iniciativas enérgicas que só o
estado de civilidade inspira, das rasteiras sombras da ignorância para as
cintilações sublimes! É arrancá-los do círculo estreito que encalha a vida do
selvagem, para fazê-los respirar por largos horizontes, onde avultam na luz
do ideal os grandes homens, as grandes coisas.
O selvagem não é o homem primitivo, é o homem degenerado!
Reabilitemo-lo [...]. Restituamos-lhe com a civilização os tesouros que ignora
no estado selvagem, e de que tem estado privado há pelo menos 400 anos,
para reerguê-lo da decadência, apara fazê-lo subir aos cimos iluminados e
77
sadios em que vive a vida do espírito e do coração .
77
TORRES, 1897, p. 03-18.
185
78
SKIDMORE, 1976, p. 183-188.
186
A citação foi longa, e ainda assim sintética em relação ao muito que foi e
fez Theodoro Sampaio. E se ainda restar alguma dúvida sobre o prestígio alcançado
pelo engenheiro no IGHB, basta citar que, em 1955, dezoito anos após a sua morte,
Sampaio foi o tema de 80 páginas (compreendendo sete trabalhos distintos, dentre
os quais “As primeiras vias de comunicação da cidade do Salvador”, do próprio
Theodoro), na revista do instituto80.
79
SANTANA, José Carlos Barreto. Teodoro Sampaio. In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA BAHIA, 4.,
1999, Salvador. Anais. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Fundação Gregório de
Matos, 2001. p. 951-966.
80
Vários autores. Theodoro Sampaio. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador,
n. 79, p. 11-91, 1955.
187
A imigração, como se vê, não trouxe para S. Paulo tão somente a salvação
da lavoura do café, trouxe-lhe a expressão, a confiança e o progresso.
Engrandeceu as suas cidades e deu-lhes esse cunho europeu que
impressiona sem chocar, porque através do que nos aparece estranho e
alienígena, se presente vigorosa e preponderante a alma nacional, fazendo
de tantos elementos, aparentemente discordantes, um só todo, o povo
83
brasileiro.
81
LIMA, Arnaldo do Rosário. Theodoro Sampaio: sua vida e sua obra. Salvador, 1981. Dissertação
(Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia. p. 34-36. Ver também “Cronologia da vida de
Theodoro Sampaio”, p. 63-65.
82
LIMA, A. 1981. Ver “Cronologia da obra de Theodoro Sampaio”, p. 66-71.
83
SAMPAIO, T. apud MAHL, 2001, p. 35 e 113.
188
Ainda que a alguns, e dos mais eminentes críticos modernos, pareça incerta
a nossa marcha no porvir, porque a história ainda não assinalou, nas
passadas eras, um grande povo, que concorresse para o progresso
humano, trazendo nas veias sangue misturado das raças que corre no
nosso meio étnico, ainda que a outros, tomados de preconceito, pareça que
a terra formosíssima, que nos coube em sorte, seja um desperdício em mão
de brasileiro, [...] a verdade é que na nossa evolução, lenta e por vezes
tormentosa, de uma aparência frágil e incoerente, estamos elaborando o
nosso próprio tipo nacional, definitivo, capaz de agir e dominar no meio
trópico em que nascemos.
[e acrescentou]
É bem verdade que a história não nos mostrou ainda uma civilização
brilhante, despontada entre o Equador e os trópicos [...].
A História, porém, terá acaso concluído o seu ciclo no mundo? A espécie
humana terá dito por ventura sua última palavra na sua evolução sobre a
terra?
As raças novas aí estão, cada dia, revelando qualidade surpreendentes
com que a ciência não contava, e elas hão de demonstrar ainda que a
espécie humana está bem longe de ter atingido o seu tipo verdadeiro,
84
evoluído e definitivo .
84
SAMPAIO, Theodoro. Discurso do orador oficial do Instituto. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. Salvador, n. 37, p. 115-135, 1911.
189
85
SAMPAIO, T., 1911, p. 115-135.
190
86
SAMPAIO, Theodoro. Discurso pronunciado na sessão solene de 3 de maio de 1917, quando se
comemorou o aniversário do Instituto. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador,
n. 43, p. 133-149, 1917.
87
SAMPAIO, Theodoro. Sessão magna aniversária de 3 de maio de 1919: discurso do orador oficial.
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 45, p. 179-191, 1919.
191
A veemência desta defesa precisa ser bem situada. Em primeiro lugar ela
se deveu à ameaça direta que a idéia da desigualdade das raças trazia à proposta
de uma raça brasileira, que seria por definição miscigenada. Esta, como tal, estaria
fadada, segundo a teoria das desigualdades, à degeneração e, portanto, impedida
de ocupar o lugar de destaque almejado por Theodoro Sampaio no cenário mundial.
Some-se a isso as não menos significativas implicações pessoais das idéias racistas
para o orador do Instituto. Acatá-las, ou mesmo omitir-se frente à adesão de seus
pares (daí a fala em nome do Instituto), eqüivaleria a admitir que sua negritude não
era um mero “acidente de cor”, mas o indicativo de uma suposta inferioridade
intelectual e moral. Algo inaceitável perante os demais sócios do Instituto, muitos
dos quais, ainda que brancos e bem nascidos, jamais o igualariam em brilhantismo e
têmpera.
A defesa exaltada feita por Thoedoro Sampaio expressava, por fim, a
necessidade de combater a persistência das teorias raciais mais ortodoxas no
próprio Instituto. De fato, embora pudessem ser caracterizados como uma corrente
com pouca voz ativa (pela situação de inviabilidade em que tais idéias colocavam, a
sociedade brasileira e, sobretudo, a baiana, com o seu grande contingente negro e
mestiço na população), alguns membros do IGHB se mantinham na defesa de uma
visão apegada ainda às teorias raciais em sua forma mais virulenta, e se mostravam
prontos a defendê-las como posições dominantes no Instituto.
A melhor expressão desta linha de pensamento é encontrada em Egas
Moniz Barreto de Aragão, cuja preocupação maior era refutar a noção de que o
clima não teria influência significativa nas capacidades humanas. Uma idéia errônea,
segundo Aragão, que se encontrava cada vez mais difundida entre a
intelectualidade. Essa opinião foi externada por Aragão originalmente em
apresentação durante o 5º Congresso Brasileiro de Geografia, realizado em 1917, e
reproduzido no ano seguinte, em artigo da revista do Instituto, em que se lia já no
início: “Proclama-se vulgarmente que o clima tropical não influi na saúde do homem,
podendo este transformar o meio cósmico, o que constitui uma das mais ousadas
heresias biológicas”88.
Após tal advertência Aragão passava a ‘demonstrar’ a influência do clima
sobre os seres vivos citando inúmeros exemplos da variedade de plantas e animais
88
ARAGÃO, Egas Moniz Barreto de. Influência do clima tropical sobre o homem. Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 44, p. 279-295, 1918.
192
89
ARAGÃO, 1918, p. 279-295.
90
SAMPAIO, Theodoro. Discurso na sessão solene de 2 de julho de 1926, no IGHB. Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 52, p. 391-394, 1926.
91
SAMPAIO, T. A Bahia: atualidade e futuro. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Salvador, n. 54, p. 147-172, 1928.
193
CAPÍTULO V
ENTRE OS PLANOS E OS FATOS: A ATUAÇÃO DO IGHB
1
Veja-se, a título de exemplo, a citação às correspondências recebidas de diversas autoridades na
ata da sessão de 29 de junho de 1895. 29 de junho de 1895. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia. Salvador, n. 4, p. 180, jun, 1895.
2
Ata da 15ª sessão de 11 de agosto de 1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Salvador, n. 5, p. 304, set, 1895.
3
Arquivo do IGHB. Caixa 01 (1894-1895). Livro de Registro de Correspondências Recebidas em
1894-1895.
196
4
Ata da 22ª Sessão de 22 de dezembro de 1895. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia. Salvador, n. 6, p. 436, dez, 1895.
5
Arquivo do IGHB. Caixa 01(1894-1895). Livro de Registro de Correspondências Recebidas em
1894-1895. Ofício nº 781, recebido em 20 de setembro de 1895.
6
Idem. Ofício nº 1.525, recebido em 30 de outubro de 1895.
7
Idem. Caixa 09 (1915-1917). Expediente do mês de novembro. Ofício nº 214, recebido em 19 de
setembro de 1916.
8
Idem. Caixa 10 (1917) Expediente do mês de março. Ofício nº 55, recebido em 13 de janeiro de
1917.
9
AMARAL,Hermenegildo Braz do. Colonização na Bahia. Revista do Instituto Geográfico e Histórico
da Bahia. Salvador, n. 43, p. 93-98, 1917.
197
10
Seu prestígio político valeu-lhe, por exemplo, o papel de intermediário da negociação ocorrida entre
o então governador J. J. Seabra e o banqueiro Francisco Marques de Góes Calmon, para que esse
último se candidatasse ao governo do estado com o apoio oficial, no conturbado final daquele
governo, em 1923. Cf. SAMPAIO, C. 1998, p. 174.
11
APEB. Biblioteca. Limites do Estado. In. Mensagem apresentada à Assembléia Geral Legislativa do
Estado da Bahia, na abertura da 1ª Sessão ordinária da 12ª legislatura pelo Dr. J. J. Seabra –
Governador do Estado. Bahia: Seção de Obras da Revista do Brasil, 1913. p. 23-25.
198
elogiada pelas autoridades, que reconheceram ter sido firmado um acordo oficial
com base em seu parecer e recomendações sobre o assunto12.
Papel semelhante tiveram Theodoro Sampaio e Filinto Mello (este último
também integrante do IGHB13). Em 1924 ambos atuaram como árbitros, a pedido do
governo estadual, no litígio acerca dos limites entre os municípios baianos de
Belmonte e Canavieiras, respectivamente. Como na atuação de Braz do Amaral, os
pareceres dos membros do Instituto foram a base das negociações para o
encerramento das disputas entre os municípios14.
Tão significativo quanto produzir as informações formais sobre o estado
era, internamente, capitanear os eventos e manifestações públicas em que se
processassem os ‘ritos’ definidores da identidade social e política pretendida para a
Bahia. Assim quase tão rapidamente quanto angariou a atribuição de produzir os
dados acerca do estado, o IGHB logrou também a incumbência de organizar os
eventos cívicos oficiais.
A primeira e mais rotineira manifestação que o IGHB assumiu como
atribuição natural foi a comemoração anual da Independência da Bahia, no 2 de
julho. É sintomático, nesse particular, que a solenidade de inauguração do
Monumento ao 2 de Julho, em 1895, tenha sido coordenada pelo IGHB, ao qual
coube ainda o registro da ata oficial do evento 15. Além dessa atribuição permanente,
por assim dizer, com a organização dos festejos anuais da Independência do estado
(e que se mantém ainda na atualidade, é bom lembrar), o Instituto logo foi designado
a cuidar também de eventos cívicos específicos.
Em 1897, por exemplo, a diretoria do IGHB informava à Intendência
Municipal de Salvador, que a Comissão do Instituto, encarregada das
comemorações do centenário do jesuíta Padre Antônio Vieira, havia deliberado pela
realização de um desfile cívico e pelo lançamento de uma lápide comemorativa pela
12
APEB. Biblioteca. Limites do Estado. In. Mensagem apresentada à Assembléia Geral Legislativa do
Estado da Bahia, na abertura da 1ª Sessão ordinária da 13ª legislatura pelo Dr. J. J. Seabra –
Governador do Estado. Bahia: Seção de Obras da Revista do Brasil, 1915. p. 47-52. Veja-se também
a esse respeito, no mesmo arquivo e setor: Relações da Bahia com a União e os outros Estados. In.
Mensagem apresentada à Assembléia Geral Legislativa do Estado da Bahia, na abertura da 2ª
Sessão ordinária da 14ª legislatura pelo Dr. Antonio Ferrão Moniz de Aragão – Governador do
Estado. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1918. p. 17-40.
13
Lista de sócios. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 52, p. 434, 1926.
14
Vão pronunciar-se os conselhos dos municípios sobre o laudo dos árbitros. Diário da Bahia,
Salvador, n. 274, 18 nov. 1924.
15
Ata da solenidade de inauguração do Monumento ao 2 de Julho (transcrição). Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, n. 5, p. 224-225, set, 1895.
199
16
Arquivo do IGHB. Caixa 02 (1896-1894). Livro de Registro de Ofícios Expedidos. Ofício nº 208,
enviado em 05 de junho de 1897.
17
Idem. Ofício nº 237, enviado em 20 de outubro de 1898.
18
Arquivo do IGHB. Caixa 13 (1922-1923). Correspondência recebida da Diretoria da Guarda Noturna
da Rua J. J. Seabra, em 4 de setembro de 1922 e da Associação União dos Varejistas, em 6 de
setembro de 1922, respectivamente.
19
Os demais nomes e seus respectivos cargos na Comissão foram: Bernardino José de Souza –
Secretário Geral; Joaquim dos Reis Magalhães – 1º Secretário e Aníbal Revault de Figueiredo – 2º
Secretário. Ver a respeito CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 5., 1916, Salvador. Anais.
Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Imprensa Oficial do Estado, v. 1, 1917.
200
brasileiros entre seus tripulantes (os jornais que noticiaram o acontecimento não
trataram desses pormenores).
A notícia sobre a possível passagem do Jahu pela capital baiana foi dada
com estardalhaço pelo Jornal Diário da Bahia, que dedicou primeira página ao
evento, sob o título “O vôo brasileiro: o avião Jahu reiniciará hoje a sua rota vitoriosa
de Las Palmas em demanda a Porto Prata”, tendo o texto o significativo subtítulo: “o
que resolveu o Instituto Histórico como as homenagens da Bahia aos bravos
tripulantes do Jahu”.
Poucos enunciados poderiam ser tão claros. O IGHB assumira
formalmente, naquele momento, o papel de organizador dos eventos públicos de
grande porte e caráter cívico na capital do estado. Na prática, era sua prerrogativa a
determinação sobre quais e como devem ser realizadas as atividades
comemorativas específicas, ainda que formalmente submetesse os planejamentos à
Assembléia Legislativa. Os planos desenvolvidos para a recepção ao Jahu e sua
tripulação expressam bem essa autonomia deliberativa, como se depreende da nota
publicada:
20
O vôo brasileiro: o avião Jahu reiniciará ... Diário da Bahia. Salvador, n. 250, 6 nov. 1926. p. 1
21
Recepção solene. Diário da Bahia. Salvador, n. 183, 15 ago. 1926.
201
22
Em 1898 pelo menos 09 notas sobre o IGHB foram publicadas, entre julho e agosto, nas edições
de número 1.838, 1.877, 1.890, 1.948, 2.000, 2.238, 2.240, 2.367 e 2.455.
23
CARVALHO FILHO, Aloísio de. Jornalismo na Bahia: 1875-1960. Revista do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, Salvador, n. 82, p. 17-27, 1958-1960.
202
diretas para o espaço ocupado pelo IGHB em suas páginas. Os primeiros anos de
atuação do Diário da Bahia foram de indiferença ao IGHB. Mesmo entre 1900 e
1904, período em que era identificado como órgão da situação, não fez referência ao
Instituto. Entre 1912 e 1916, fase do primeiro governo de J. J. Seabra, o jornal era
francamente oposicionista e, nesse período, tampouco se menciona o IGHB, embora
existam freqüentes notícias sobre as expectativas e a organização popular para a
realização dos festejos pelo 2 de julho, solenidade que sabidamente era organizada
oficialmente pelo IGHB.
O Diário da Bahia só saiu da oposição em 1917. Sintomaticamente só
então uma pequena nota informa a realização de reunião no Instituto e sua pauta24.
Nos quatro anos seguintes pelo menos nove notas foram dadas, noticiando desde
ofertas de livros pelos sócios ao Instituto, até a realização de conferências, sendo
notável ainda a menção à participação do Instituto na organização dos festejos do 7
de setembro em Salvador, em 191825.
Em 1920 J. J. Seabra iniciou o seu segundo período de governo (que se
estendeu a 1924), O Diário reassumiu sua posição de feroz oposicionista e,
novamente, minguaram as referências ao Instituto em suas páginas. De fato, entre
1920 e 1921 nenhum espaço teve o IGHB naquele jornal, de modo que sequer o
lançamento da pedra fundamental do novo prédio (em junho de 1921) foi noticiado.
Somente no ano seguinte, quando o imponente prédio do Instituto já se erguia,
apoiado maciçamente pelas contribuições da sociedade, o Diário da Bahia voltou a
citar o IGHB, noticiando as atividades ali realizadas26.
Tanto a abertura do jornal ao IGHB, em sua fase situacionista, como a
retomada do silêncio sobre o Instituto evidenciam que a instituição foi identificada
por segmentos políticos como um aparelho do estado, cuja notoriedade deveria ser
minimizada conforme a conveniência de se reconhecer ou não a legitimidade e
eficiência ao governo. Por outro lado, essa mesma percepção da ‘função política’ do
Instituto determinou a retomada do olhar do jornal para a agremiação baiana. Afinal,
24
Diário da Bahia. Salvador, n. 50, 4 mar. 1917.
25
Diário da Bahia. Salvador, n. 173, 2 ago. 1918 [nota sobre ofertas dos sócios]; n. 186, 20. ago.
1918 [nota sobre organização do 7 de setembro pelo IGHB]; n. 193, 28 ago. 1918 [nota sobre ofertas
dos sócios]; n. 229, 10 dez. 1918 [nota sobre anúncio de conferência no IGHB]; n. 230, 11 dez. 1918
[nota sobre conferência realizada no IGHB]; n. 138, 15 jun. 1919 [nota sobre conferência realizada no
IGHB]; n. 152, 02 jul. 1919 [nota sobre participação do IGHB na festa do 2 de Julho; n. 160, 13 jul.
1919 [nota sobre organização da comissão do IGHB para análise da Figura da Bahia].
26
Diário da Bahia. Salvador n. 271, 14 nov. 1922.
203
não era mais possível ignorar aquilo que a sociedade tão expressivamente apoiava,
e cuja nova sede, já o dissemos, o alçaria a uma condição de prestígio até então
inusitada. O fato em si era que Instituto exigia então uma atenção constante e, mais
do que isso, um tratamento sóbrio e respeitoso. Um indicativo desta percepção da
importância assumida pelo IGHB para a sociedade pode ser identificado no artigo
cujo título: “O governo não comemorará o 2 de Julho!”, já anunciava de pronto a
disposição do jornal para atacar o governo, ao mesmo tempo em que o texto
reconhecia o empenho da sociedade em apoiar o Instituto, pelo que o articulista do
Diário afirmava:
A Bahia é bem verdade não se descuida do preito a ser prestado aos seus
grandes homens de antanho.
A generosidade com que ela concorreu para o levantamento do novo
palácio do benemério [sic] Instituto Histórico é bem a clara prova do seu
27
amor às tradições imperecíveis do seu civismo
27
O Governo não comemorará o 2 de Julho! Diário da Bahia. Salvador, n. 79, 5 abr. 1923.
28 os
Cf. Diário da Bahia. Salvador, abril de 1923. n . 79, 80, 82, 84, 91, 92, 95 e 97.
204
29
Mas é preciso alguma coisa útil para o 2 de Julho. Diário da Bahia. Salvador, n. 91, 18 abr. 1923.
30
A parte do governo... Diário da Bahia. Salvador, n. 97, 25 abr. 1923.
31
Diário da Bahia. Salvador, n. 103, 2 mai. 1923 [nota sobre o aniversário do IGHB]; n. 105, 4. mai.
1923 [nota sobre última sessão do IGHB no prédio velho]; n. 310, 30 dez. 1924 [nota sobre os novos
diretores do Instituto]; n. 152, 2 jul. 1925 [nota sobre os festejos do 2 de julho e a participação do
IGHB]; n. 153, 4 jul. 1925 [nota sobre os festejos do 2 de julho e a participação do IGHB]; n. 186, 9
ago. 1925 [nota sobre o planejamento de recepção a acadêmicos mineiros no IGHB]; n. 267, 24 nov.
1925 [nota sobre a realização de sessão no IGHB].
32
Diário de Notícias, Salvador, n. 336, 4 mai. 1904 [nota sobre atividades desenvolvidas no IGHB]; n.
343, 14 mai. 1904 [nota sobre atividades desenvolvidas no IGHB]; n. 353, 26 mai. 1904 [nota sobre
atividades desenvolvidas no IGHB]; n. 356, 30 mai. 1904 [nota sobre atividades desenvolvidas no
IGHB]; n. 633, 5 mai. 1905 [discurso proferido pelo presidente do IGHB]; n. 1.221, 3 mai. 1907 [nota
sobre comemoração do aniversário do IGHB].
205
33
AMARAL, Braz do. Memória histórica: a proclamação da república na Bahia. Diário de Notícias.
Salvador. n. 337-348, 5-20 mai. 1904.
206
34
A brilhante sessão magna do Instituto Histórico. Diário da Bahia. Salvador, n. 149, 4 jul. 1926.
207
35
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr.
Joaquim Manoel Rodrigues Lima, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia,
1893. p. 5.
36
Idem. p. 24-25.
209
37
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr.
Joaquim Manoel Rodrigues Lima, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia,
1894. p. 56-58.
38
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr.
Joaquim Manoel Rodrigues Lima, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia,
1895. p. 72-77.
210
39
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr.
Joaquim Manoel Rodrigues Lima, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia, em
1897. p. 13-15.
40
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr. Luiz
Vianna, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia, 1898. p. 21-22.
211
41
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo Dr. Luiz
Vianna, governador do estado. Bahia: Typographia do Diário da Bahia, 1900. p. 14-15.
42
APEB. Biblioteca. Mensagem e relatórios apresentados à assembléia geral legislativa pelo
governador Dr. José Marcelino de Souza. Bahia: Typographia do Diário da Bahia, 1906, p. 48-49.
43
Idem pelo governador João Ferreira de Araújo Pinho, 1909. p. 67-69.
44
APEB. Biblioteca. Relatório apresentado ao Sr. Dr. J. J. Seabra – governador do estado. Pelo
Engenheiro José Barbosa de Souza – secretário da agricultura, indústria, comércio, viação e obras
públicas do estado da Bahia, no ano de 1920. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1921. p. 172-181.
212
Bahia simplesmente não ocorria, por fatores diversos que iam da dificuldade de
adaptação dos imigrantes ao clima, até (e mais significativamente) à condição de
abandono a que os poucos colonos existentes viam-se submetidos em alguns dos
rincões mais isolados e hostis do estado.
Superar tais adversidades, criando as condições realmente necessárias à
qualquer processo de colonização (nacional ou estrangeiro), envolveria o
enfrentamento de questões, apenas para exemplificar, como a do acesso à terra e a
contestação de interesses políticos e econômicos de potentados regionais. Tratava-
se, portanto, de uma tarefa significativamente mais complexa do que firmar contratos
de imigração, construir hospedarias ou mesmo subsidiar viagens.
Nessa perspectiva, acatar as idéias do IGHB afigurava-se como uma
alternativa para o governo, na medida em que as proposições acerca da viabilidade
da mestiçagem entre os elementos nacionais forneciam-lhe o respaldo institucional e
intelectual para a atitude de ‘abandono’ dos esforços pela imigração européia e,
conseqüentemente, de não enfrentamento dos problemas concretos que a
inviabilizavam. Noutros termos, os limites da influência das idéias oriundas do IGHB
deve ser situada no contexto da sua adequação às diferentes estratégias políticas
dos vários governos, ao longo do período aqui analisado, ora endossando os
investimentos na imigração européia, ora justificando seu abandono, ainda que
aqueles governos mantivessem uma conveniente ambigüidade em seu discurso, ao
permanecer – formalmente – reafirmando a necessidade de tal empreendimento
para o estado.
apoio oficial (em termos financeiros) que lhe era dispensado. Esses períodos de
distanciamento oficial corresponderam aos momentos em que, por diferentes razões,
o papel institucional do IGHB perdeu a relevância que teve em fases como a da
consolidação de regime republicano no estado, quando serviu (ou foi pelo menos
concebido) como um instrumento facilitador do ingresso do estado no novo regime.
A instabilidade decorrente dessa situação impôs o IGHB uma procura
constante por apoio dentro e fora do governo, o que implica dizer que seus
dirigentes tiveram de estar sempre muito atentos aos interesses da sociedade
baiana. Dessa atenção dependia a possibilidade de poder adequar-se a suas
expectativas, abraçar seus pontos de vista e suas aspirações, tornando-se por fim
um ‘aliado’ ao qual a sociedade devia apoiar para ser apoiada.
É nessa relação de reciprocidade que deve ser situado, para além das
convicções pessoais, o apoio do Instituto às propostas de imigração européias, que
não deixaram de figurar entre as aspirações da sociedade no período de que
tratamos (e sua persistência nos discursos e na política oficial é uma prova disso).
Ou ainda, e de modo mais explícito, o endosso e divulgação dados pelo Instituto à
estratégia da ‘europeização’ da Bahia nos escritos e descrições oficiais.
A partir de 1923 essa relação foi-se modificando progressivamente. Não
se trata de sugerir aqui uma ruptura ou inversão total das estratégias que garantiram
a sobrevivência e consolidação do IGHB por tantos anos. Trata-se, isto sim, de
reconhecer que a partir de então, com o status alcançado junto à sociedade e, por
extensão, ao governo, o Instituto pôde passar a distanciar-se das expectativas
sociais em alguns de seus posicionamentos. Noutros termos, a partir de 1923 o
IGHB tornou-se progressivamente uma instituição de ‘pensamento’ mais autônomo
em relação à sociedade, uma prerrogativa que ironicamente se fez possível graças
ao prestígio que esta mesma sociedade lhe possibilitara após os muitos anos de
atenção e endosso a suas aspirações.
A natureza das distinções de posicionamentos entre o Instituto e a
sociedade baiana já foram aqui indiretamente apontados. Essa progressiva
discrepância, porém, girou sempre em torno da balizar questão racial. Com efeito,
contatamos que o Instituto caminhou da visão mais conservadora sobre a questão
da viabilidade racial da sociedade para uma leitura que, se não chegou a abandonar
o preceito racial, flexibilizou-o a ponto de considerar, nas palavras de Theodoro
216
45
O Correio de Notícias e o Diário de Notícias publicaram pelo menos sete artigos sobre o tema entre
1898 e 1908. Ver nota de nº 62, no capítulo 4.
46
Ver Diário da Bahia. Salvador, n. 291, 7 dez. 1924 [nota sobre a falta de apoio a imigrantes
italianos]; n. 293, 10 dez. 1924 [nota sobre o problema da imigração]; n. 300, 19 dez. 1924 [nota
sobre a imigração italiana]; n. 306, 24 dez. 1924 [nota sobre o perigo da imigração japonesa]; n. 307,
25 dez. 1924 [nota sobre a negociações para a promoção da imigração de italianos]; n. 287, 08 dez.
1927 [nota sobre a propagando do Brasil no Japão com vistas à imigração]; n. 291, 13 dez. 1927
[nota sobre as boas relações nipônico-brasileiras e a possibilidade – positiva – da imigração de
japoneses].
47
PRUDÊNCIO, João. Higiene Social. Diário da Bahia. Salvador, n. 95, 22 abri. 1923.
217
48
GERALDO, Endrica. Entre a raça e a nação: a família como alvo dos projetos eugenista e
integralista de nação brasileira nas décadas de 1920 e 1930. Campinas, 2001. Dissertação (Mestrado
em História). Universidade Estadual de Campinas. p. 23-24.
49
Diário da Bahia, Salvador, n. 260, 01 nov. 1924. A edição n. 262 de 04 de novembro trouxe ainda
uma segunda nota, complementar a primeira, intitulada “Comemorando a marcha sobre Roma”.
50
Diário da Bahia, Salvador, n. 260, 18 nov. 1926.
218
51
Diário da Bahia, Salvador, n. 209, 9 set. 1930. Referências complementares ao concurso a ao
regresso da Miss Universo foram feiras nas edições 218 e 226 do Diário da Bahia, de 10 e 28 de
setembro daquele ano, respectivamente.
52
A medicina na sociedade e no lar: certificado médico municipal. Diário da Bahia, Salvador, n. 145,
12 out. 1932.
53
LESSER, Jeffrey. Imigração e mutações conceituais da identidade nacional, no Brasil, durante a
era Vargas. Revista brasileira de história São Paulo: ANPUH/Marco Zero. v. 14, n. 28, p. 121-150,
1994.
54
BERGMANN, Michel. Nasce um povo: estudo antropológico da população brasileira. Petrópolis:
Vozes, 1977. p. 128.
219
Quanto aos demais, embora suas motivações não possam realmente ser
vinculadas aos interesses imediatos do IGHB, permanece válida a premissa de que,
como intelectuais, procuravam demonstrar afinidade com as abordagens correntes
de sua área, em lugar de se manterem apegados à usual fórmula da caracterização
territorial pela associação com a Europa, que de resto já vinha mostrando-se ineficaz
como estratégia para um efetivo processo de estímulo à imigração européia para a
Bahia.
55
O Prof. Braz do Amaral, por exemplo, assina três descrições, sendo respectivamente: Município de
Geremoabo (p. 320), Patrocínio do Coité (p. 337) e São José do Riacho de Casa Nova (p. 345). Além
dele Francisco Borges de Barros assina a descrição de Belmonte (p. 600), apenas para citar os mais
destacados. Cf. CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 5., 1916, Salvador. Anais. Salvador:
Instituto Geográfico E Histórico Da Bahia; Imprensa Oficial do Estado, v. 2, 1918.
221
60
50
40
30
20
10
0
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1904
1905
1906
1907
1908
1914
1915
1916
1917
1918
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
1901-1903
1909-1910
1911-1913
1919-1920
1921-1922
56
Conforme identificado na Tabela 09, as demais categorias verificadas eram: Arquitetura (civil,
militar e religiosa), Artes e monumentos, Curiosidades históricas e científicas. Descrições de viagens,
Documentos, Educação e ensino, Etnografia, Geografia, Institutos históricos baianos, Lingüística
Literatura, Mineralogia , Municípios (descrições), Tradições regionais, Vias de comunicação e
transportes, entre outros de menor ocorrência.
222
57
Ver o folheto A Bahia e sua riqueza econômica, de BARBOSA, Mario Ferreira, publicado pela
Imprensa Oficial do Estado em 1929, com suas descrições europeizantes dos municípios baianos. Cf.
BARBOSA, 1929, p. 1-2.
223
40
35
30
25
20
15
10
0
1894-1897 1898-1901 1902-1905 1906-1909 1910-1913 1914-1917 1918-1921 1922-1925 1926-1929
Média de artigos
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1904
1905
1906
1907
1908
1914
1915
1916
1917
1918
1923
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
1901-1903
1909-1910
1911-1913
1919-1920
1921-1922
58
SCHWARCZ, 1993, p. 18.
59
FIORUCCI, Flavia. ¿Aliados o enemigos? Los intelectuales en los gobiernos de Vargas y Perón.
ESTUDIOS INTERDISCIPLINARIOS DE AMERICA LATINA Y EL CARIBE. v. 15, n. 12, jul. dez.
1994. Disponível em: <http://www.tau.ac.il/eial/XV_2/fiorucci.html>. Acesso em: 8 ago. 2005.
225
CONCLUSÃO
FONTES
Seção: Biblioteca
Seção: Republicana
Caixa 01 (1894-1895):
Livro de Registro de Correspondências Recebidas em 1894-1895
Caixa 02 (1896-1898).
Livro de Registro de Ofícios Expedidos
Caixa 06 (1909-1912):
Expediente de 1912. Propostas de julho de 1912
Livro de registro dos sócios efetivos do IGHB de 1909 [a 1912]
Propostas de 1902
Propostas de outubro de 1911
Registros de receitas e despensas de 1910 e 1912
Caixa 07 (1913-1914):
Registros de receitas e despensas de 1913
Caixa 08 (1914-1915):
Propostas de 1915
Registros de receitas e despensas de 1914.
231
Caixa 09 (1915-1917):
Expediente do mês de novembro de 1916
Propostas de 1916
Caixa 10 (1917):
Expediente do mês de março. Correspondência recebida em janeiro de 1917
Propostas mês de março
Caixa 12 (1920-1921):
Expediente do mês de agosto de 1920
Correspondências recebidas em 1921
Expediente do mês de maio de 1921
Caixa 13 (1922-1923):
Correspondências recebidas em 1922
Expedientes dos meses de abril e julho de 1922,
Expediente do mês de julho. Propostas de sócios do mês de julho de 1922
Informes do IGHB à Diretoria Geral de Estatística de 1922
Caixa 14 (1923-1924):
Expediente dos meses de janeiro e fevereiro de 1923
Informes do IGHB à Diretoria Geral de Estatística de 1923 e 1924
[Livro] Movimento das subvenções concedidas ao IGHB de 1924 por diante
Caixa 15 (1925):
Expediente do mês de março
Expediente do mês de fevereiro. Correspondências recebidas em fevereiro de
1925
Expediente do mês de setembro. Correspondências recebidas em junho de 1925
Seção: Biblioteca
Referências
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memória em Maracás. Jequié, 2001. Dissertação (Mestrado em Memória Social e
Documentação), Universidade do Rio de Janeiro; Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia.
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discurso histórico na Bahia (1930-1949). Salvador: Edufba, 2000.
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cidade de Salvador (1890-1930). In: CONGRESSO DE HISTÓRIA DA BAHIA, 4.,
1999, Salvador. Anais. Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Fundação
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VESSURY, Hebe. La ciencia en América Latina (1820-1870). In. VAZQUEZ, Josefina
Z.; GRIJALVA, Manuel Miño (Dir.) Historia general de América latina. Paris: Unesco,
2003. v. 4.
VIANNA, Francisco Vicente. Memória sobre o estado da Bahia. Bahia: Tipografia do
Diário da Bahia, 1893.
VIANNA, Hildegardes. Revisando o poeta Castelar Sampaio. Separata da Revista da
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WEHLING, Arno. Estado, história, memória: Varnhagem e a construção da
identidade nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
APÊNDICE A – Composição detalhada dos sócios admitidos ao IGHB entre 1916 e 1930
Anos
Categorias / Atividades Total
1916 1917 1918 1919 1920 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930
Acadêmico (estudante) 1 - 2 2 3 4 1 2 - 2 3 2 1 2 4 29
Advogado 4 9 5 5 3 14 1 - 2 4 3 1 - 2 1 54
Agricultor/Fazendeiro 1 1 1 6 - - - 2 - 1 - 1 - - - 13
Capitalista 3 3 - 1 4 1 - - - - - - - 1 - 13
Clérigo - - 1 - - - - 4 1 - - 1 - - - 7
Comerciante 4 10 6 - 9 7 2 3 4 3 4 1 - - 3 56
Dentista 2 - - - - - 1 1 - - - - - - - 4
Diretor/Chefe de empresa/entidade 4 6 1 1 3 1 3 4 - 2 4 3 - 1 1 34
Doador - - - - 1 - 1 1 - - 1 - - - - 4
Engenheiro 4 4 2 6 5 7 3 3 3 4 9 - 2 2 3 57
Escritor - 1 1 - - - - - - - - - 1 - 1 4
Farmacêutico - - - 1 1 - 1 - - - 2 2 - - - 7
Funcionário público 5 8 6 1 4 4 2 5 - 2 3 1 3 - 5 49
Industrial - 2 2 - 3 1 - - - - 3 - - - - 11
Integrantes do Executivo 3 1 - - 9 2 - - - 1 - - 1 1 - 18
Integrantes do Judiciário 4 - - 1 1 - 3 1 - - 4 - - - - 14
Integrantes do Legislativo - 8 2 1 - - 1 1 - 5 2 - 1 - - 21
Jornalista - 2 2 - 2 4 1 1 - - - - - 1 - 13
Médico 4 13 7 6 4 2 1 3 - 3 14 5 2 6 1 71
Militar 1 4 - 3 1 - 1 1 - - - - - - - 11
Professor 3 5 8 4 - 3 1 3 2 1 2 2 1 - 4 39
Sócio de Instituto Histórico 1 1 - - - - 1 2 - - - - - 1 - 6
Não Identificado - - 4 1 - 3 1 4 1 - 4 4 1 - - 23
Outras Categorias
Ajudante de delegacia - - - - - 1 - - - - - - - - - 1
Comerciário - - - - 1 - - - - - - - - - - 1
Contador - - - - - - 1 - - - - - - - - 1
Corretor - - - - - - 1 - - - - - - - - 1
Delegado - - - - - - - - - - 1 - - - - 1
Diplomata - 1 - - - - - - 1 - - - - - - 2
Escriturário - - - - - - 1 - - - - 1 - - - 2
(Continua)
243
Anos
Categorias / Atividades Total
1916 1917 1918 1919 1920 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930
Fotógrafo - - - 1 - - - - - - - - - - - 1
Guarda-livros 1 - - - - 1 - - - - - - - - - 2
Historiógrafo - 1 - - - - 1 - - - - - - - - 2
Marinheiro - - - - - 2 - - - - - - - - - 2
Naturalista - - 2 - - - 1 - - - - - - - - 3
Operário 2 - - - - - - - - - - - - - - 2
Telegrafista - - - - - - - 1 - - - - - - 1 2
Totais Anuais 47 80 52 40 54 57 30 42 14 28 59 24 13 17 24 581
Fonte: Propostas de sócios 1916 a 1930
244
Ano de
Sócia Categoria Título Fontes
Ingresso
Amélia Rodrigues 1896 Efetiva Professora Revista do IGHB. n. 35, 1909.
Maria Elisa Valente Muniz de Aragão 1902 Honorária Não Identificado Caixa 06 – Propostas de 1902
Literara, poetiza e Profª do Instituto
Maria Luiza de Souza Alves 1911 Efetiva Caixa 06 – Propostas de outubro de 1911
Normal
Eufrosina Miranda 1911 Efetiva Professora e poetiza Caixa 06 – Propostas de outubro de 1911
Henriqueta Martins Catarino 1915 Efetiva Pelo cultivo das letras e da História Caixa 08 – Proposta de 1915
Cordula Spinola de Atahyde ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 41, 1915
Elisa Pereira ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 41, 1915
Anísia dos Santos Seabra 1921 Efetiva Não Identificado Caixa 12 – Propostas de abril de 1921
Emília de Oliveira Lobo Vianna 1921 Efetiva Professora Caixa 12 – Propostas de abril de 1921
Ster Flora Bastos 1921 Efetiva Professora Caixa 12 – Propostas de abril de 1921
Sophia Costa Pinto Passos de Oliveira 1921 Efetiva Não Identificado Caixa 12 – Propostas de dezembro de 1921
Márcia Eugênia Gantois Temporal 1922 Efetiva Doadora de objeto histórico Caixa 13 – Proposta de junho de 1922
Alice Machado Martins Catarino ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Elisa Bitencourt de Mello ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Elvira Lima da Silva Pereira ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Eneida Wense de Oliveira ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Isabel de Seabra Durval ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Josephina de Almeida Vasconcelos ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Julieta de Góes Calmon ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Maria Adelaide Dias Coelho Martins ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Maria Amélia de Souza Dias da Silva ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Maria da Glória Barreto de Assis ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Marieta Gonçalves do Passo Cunha ? Protetora Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Maria de Lourdes Moniz Barreto ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 48, 1923
Maria Regis de Santana 1926 Efetiva Engenheira Caixa 16 – Expediente de abril de 1926
Zuhmira Silvany 1926 Efetiva Diretora do Conservatório de Música Caixa 16 – Expediente de abril de 1926
Áurea Anna de Miranda ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
Maria Regis de Sant’Ana ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
Anna Peixoto da Silva Costa ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
(continua)
245
Ano de
Sócia Categoria Título Fontes
Ingresso
Lavínia Villas-Boas Machado ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
Leocádia Sá Carneiro ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
Thereza Villas-Boas Machado ? Efetiva Sem registro Revista do IGHB. n. 52, 1926
Guiomar Borges 1927 Efetiva Não Identificado Caixa 17 – Expediente de novembro de 1927
Júlia Galeano Santana 1927 Efetiva Não Identificado Caixa 17 – Expediente de novembro de 1927
Amphrysia Santiago 1928 Efetiva Professora Caixa 17 – Propostas de dezembro de 1928
ANEXO A – Relação dos sócios efetivos fundadores do IGHB*
*
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, n. 2, p. 335-338, dez. 1894.
247
PROPOSTA DE SÓCIO
Nós abaixo assinados, sócios deste Instituto, no pleno gozo dos direitos que nos
conferem os seus Estatutos, propomos para sócio o Ilm. Sr.__________________________
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Classe: ______________________________________________________________
Títulos: ______________________________________________________________
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_________________________________________________
Naturalidade: ________________________________________________________
Residência: __________________________________________________________
Sala das Sessões, em ______ de ___________________ de 19______
1º ______________________________________________________
2º ______________________________________________________
3º ______________________________________________________
A Comissão: ____________________________
____________________________
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Aprovada em Sessão de Assembléia Geral de ______ de ___________ de 19____