2 - Fascinio Do Universo PDF
2 - Fascinio Do Universo PDF
2 - Fascinio Do Universo PDF
ISBN: 9788578760151
Edição: 1
Ano: 2010
10-04696 CDD-523.1
Apresentação 7
Cap. 1 - O Universo é um laboratório de Física 9
Cap. 2 - Sistemas planetários 17
Cap. 3 - Exoplanetas e procura de vida fora da Terra 27
Cap. 4 - Estrelas variáveis e o Universo transiente 33
Cap. 5 - Populações estelares 57
Cap. 6 - Galáxias e seus núcleos energéticos 61
Cap. 7 - Estruturas em grande escala do Universo 69
Cap. 8 - Universo, evolução e vida 87
Cap. 9 - Astronomia no Brasil 93
Telescópios SOAR de 4 metros (frente) e Gemini Sul de 8 metros (fundo) no
Cerro Pachón (2750 m), Chile, ao pôr do Sol. A parceria nesses telescópios é
o marco de uma nova era nas atividades de pesquisa astronômica no Brasil.
Além da alta qualidade do sítio, participamos da construção de instrumentos
de alta tecnologia. (Crédito: A. Damineli)
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Apresentação
O ano de 2009 foi nomeado o Ano por novas janelas e criando novas disci-
Internacional da Astronomia pela ONU plinas, como a radioastronomia, a astro-
para comemorar os 400 anos desde que nomia de raios X, raios gama, ultravioleta
Galileu Galilei apontou sua luneta para e infravermelho.
o céu e fez descobertas surpreendentes. No Brasil, as pesquisas em Astro-
Entre elas estão quatro luas de Júpiter, nomia têm experimentado um dinamis-
as fases de Vênus, as manchas solares, os mo crescente. Praticamente sem nenhu
anéis de Saturno e a descoberta de que a ma produção até a década de 1960, o
Via Láctea é composta de estrelas. A for- Brasil passou a ser um ator relevante no
ma como vemos o universo nunca mais cenário internacional a partir dos anos
seria a mesma. A luneta passou a ter aper- 1990. A criação dos programas de pós-
feiçoamentos importantes, incorporando graduação e do Laboratório Nacional de
inovações na óptica, na mecânica e na Astrofísica tiveram papel central nesse
forma de se analisar a luz por ela captada. desenvolvimento. Graças à maturidade
A luneta transformou-se em telescópio. assim atingida, o Brasil passou a ser sócio
No século XX, esses instrumentos foram de grandes projetos internacionais como
colocados em órbita terrestre, onde es- o Gemini e o SOAR. Novos passos estão
tão livres dos efeitos da atmosfera. Ao sendo planejados para que o país con-
mesmo tempo novas faixas do espectro tinue a ser ator nessa grande aventura de
eletromagnético foram desbravadas, per- desvendar os mistérios do universo.
mitindo que o universo fosse observado
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Aglomerado com estrelas azuis, conhecido no
Brasil como sete-estrelo. É um asterismo conhe-
cido por todos os povos da Terra, desde a mais
remota antiguidade. Esta ninhada contém cen-
tenas de estrelas jovens (com cerca de cem mil-
hões de anos), ainda circundadas por poeira que
difunde a luz estelar. (Crédito: ANGLO / AUSTRA-
LIAN OBSERVATORY, DAVID MALIN. )
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Capítulo 1
O Universo é um
laboratório de Física
13
Galáxias que atropelam umas às outras – apesar das distâncias incríveis que as separam – revelam um Uni-
verso vivo, em transformação permanente. Estas duas galáxias espirais em colisão, chamadas de Antenas,
estão em processo de fusão. Nossa Galáxia está em colisão com diversas galáxias menores e em cerca de dois
bilhões de anos colidirá com Andrômeda, gerando um panorama muito parecido com as Antenas. As estrelas
não colidem entre si durante o choque, mas a agitação do gás gera grandes ninhadas de novas estrelas, entre
elas as azuis, de grande massa. (Crédito: NASA/ESA/ HUBBLE HERITAGE TEAM (STSCI/AURA)-ESA/HUBBLE
COLLABORATION.)
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panha o clima aqui na Terra. Ainda mais ser classificadas em tipos distintos, como
impressionantes são os espelhos inteli- se fossem tribos cósmicas.
gentes, inventados para evitar o custo E assim como as estrelas for-
de lançar um grande instrumento ao mam galáxias, estas também se ligam
espaço: com a ajuda de um raio laser umas às outras para formar objetos
eles podem examinar as condições ins astronômicos ainda maiores. São os
tantâneas do ar. Essas informações ali- aglomerados e superaglomerados de
mentam um computador, que manda galáxias – estes últimos tão grandes
deformar o espelho captador de luz. que sua história se confunde com a
Com isso, corrigem-se os borrões cria- história do Universo (por isso eles po-
dos pela atmosfera. Além da luz comum, dem, num futuro próximo, ajudar a des-
com suas cores tradicionais, visíveis ao vendar a evolução e a origem do cosmo,
olho humano, existem telescópios que há quase 14 bilhões de anos).
enxergam raios X, luz infravermelha, As estrelas não são eternas, como
ondas de rádio, micro-ondas e outras se pensava até o século XIX. Elas nas
formas de luz invisíveis. cem, evoluem e morrem, e durante a
Essa quantidade inimaginável de vida fabricam átomos pesados que não
informação já se tornou rotina – como existiam no Universo jovem, quando a
uma máquina de produzir conhecimen- química do Cosmo resumia-se aos dois
to. Ela flui pela comunidade internacional átomos mais simples, o hidrogênio e o
dos astrônomos e os ajuda a contar as hélio. Essa atividade não para porque, ao
estrelas e agrupá-las em populações dis- explodir e morrer, as estrelas de grande
tintas. Também pode-se estimar a idade massa espalham seus restos pelo es-
das galáxias em que as estrelas estão. As paço, enriquecendo o ambiente cósmico
próprias galáxias – contendo centenas com carbono, oxigênio, cálcio, ferro e os
de bilhões de estrelas cada uma – podem outros átomos conhecidos.
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A supernova do Caranguejo foi vista em pleno dia, em 1054, pelos chineses. Seus gases se expan-
dem a velocidades superiores a 10.000 Km/s e em seu centro se observa um pulsar – estrela de
nêutrons com fortes campos magnéticos – que gira 33 vezes por segundo. (Crédito: NASA, ESA,
J. Hester, A. Loll (ASU))
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tempo todo, iluminando algum ponto do seu clarão dá aos astrônomos um meio
céu. Outros telescópios podem então ser preciso de calcular a taxa de expansão do
direcionados para lá, para acompanhar Universo naquele ponto.
os detalhes do espetáculo. E é um espe- No espaço, o que está longe tam-
táculo indescritível, já que as grandes es- bém está no passado, já que a luz demora
trelas, ao sucumbir, superam galáxias in- para chegar aos telescópios e, portanto,
teiras em brilho. Seus clarões podem ser aos nossos olhos. Assim, as supernovas
vistos por toda a extensão do Universo mais distantes podem mostrar como
por alguns dias. Esse tipo de explosão é eram quando o Cosmo começou a se
chamado de supernova. acelerar e se a aceleração está ou não
Como podem ser vistas de muito mudando ao longo do tempo.
longe, as supernovas acabaram se tor- A partir daí, pode-se especular com
nando muito úteis como ferramenta mais precisão sobre a natureza exata da
para investigar o próprio Universo. Foi energia escura. Que tipo de energia será
por meio delas que, em 1998, descobriu- essa? O que ela pode nos ensinar sobre
se que o Universo está expandindo cada os átomos e suas partículas? Os cálculos
vez mais depressa, levantando a hipó- mostram que a energia escura – seja lá
tese de que existe algum tipo de força o que for – é muito mais comum que a
desconhecida, aparentemente dotada matéria atômica que forma as estrelas
de antigravidade. e galáxias: mais de 70% da energia total
Desde então esse novo habitante do Universo está na forma de energia es-
cósmico vem sendo chamado de energia cura. Para cada quilograma de matéria
escura, e a corrida para identificá-lo tor- tradicional, existem 10 quilogramas de
nou-se um dos tópicos mais excitantes energia escura correspondente.
da Astronomia. Nessa busca, as super- Essa matéria desconhecida e
novas funcionam como um velocímetro: inesperada representa uma revolução
17
uma celebração global da Astronomia e
suas contribuições para o u
conhecimento humano
18
uma das mais refinadas expressões
da inteligência humana
19
O sistema solar é composto por uma estrela, oito
planetas clássicos, 172 luas, um grande número de
planetas anões como Plutão, um número incalcu-
lável de asteroides e dezenas de bilhões de cometas.
(Crédito: A. Damineli e Studio Ponto 2D)
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Capítulo 2
Sistemas planetários
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Terra ou a transferência de um objeto de identificar famílias ou tipos de asteroi-
uma órbita ao redor da Terra a uma outra, des, e cada família, em geral, é composta
que o leve, por exemplo, até as proximi- pelos mesmos minerais.
dades da Lua ou de Marte. Uma família que tem ocupado
No final do século XX, os asteroi- astrônomos brasileiros é aquela a que
des assumiram um papel de destaque na pertence o asteroide Vesta. Ela é interes-
Astronomia Dinâmica. A razão principal é sante para ilustrar o que acontece depois
que hoje se conhecem cerca de 400 mil que se faz a caracterização dinâmica de
asteroides movendo-se entre Júpiter e os uma família. Nesse caso, a caracteriza-
planetas interiores (Marte, Terra, Vênus ção é bem completa: os maiores aster-
e Mercúrio). Eles são monitorados regu- oides dessa família foram observados e
larmente, e essa riqueza de informações mostrou-se que continham os mesmos
permite equacionar muitos problemas minerais. Depois, comparando-se com
com precisão. A órbita de um asteroide minerais terrestres, verificou-se que eram
é caracterizada por vários parâmetros – basálticos. Mais ainda: alguns dos meteo
indicadores do seu tamanho, forma ou ritos que caem na Terra têm composição
orientação no espaço. Essas característi- similar, o que indica um parentesco entre
cas não são fixas. Variam de acordo com os meteoritos e a família Vesta.
a ação gravitacional conjunta do Sol, de Para completar, imagens de Vesta
Júpiter e de outros planetas. obtidas pelo telescópio espacial Hubble
As leis que regem essas variações mostraram uma imensa cratera em sua
foram determinadas já no século XIX. Elas superfície, a provável cicatriz de um im-
mostram que a órbita de um asteroide pacto gigantesco no passado. Essa possí
tem “elementos próprios”, que não mu- vel colisão arremessou grande quantidade
dam muito e servem como pistas sobre o de fragmentos de Vesta para o espaço, o
seu passado. São traçadores: servem para que pode ter dado origem a asteroides
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Saturno visto de frente e de costas. Quando visto contra a luz do Sol, Saturno
revela anéis imensos que eram desconhecidos até há pouco tempo. Eles são
feitos de poeira fina, que resplandece ao ser olhada contra a luz, da mesma
forma que insetos e poeira em suspensão no ar brilham quando contem-
plamos um pôr do sol. (Crédito: NASA Cassini e NASA/JPL/SSI)
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menores e meteoritos (nome que se dá a Além dos asteroides, situados en-
um objeto celeste quando cai na Terra). tre Júpiter e Marte, existe um grande
Ainda há muitos fatos que pre- grupo de objetos que estão além da ór-
cisam ser estudados. Primeiro: os asteroi- bita de Netuno. Eles não têm as mesmas
des resultantes da fragmentação de Vesta características físicas dos asteroides, que
não têm órbita tão perto da órbita de Ves- são em geral rochosos. Os objetos mais
ta, como deveriam. Segundo: qual teria distantes, como os cometas, contêm di-
sido o caminho dos pequenos fragmentos versos tipos de gelo: de água, de carbono,
(meteoroides) que caíram na Terra? A res- de amônia etc. São restos da nuvem de
posta não é simples e envolve dois efeitos. gás e poeira primitiva, que também deu
Um é a ação gravitacional conjunta do origem aos grandes planetas.
Sol, de Júpiter e dos demais planetas. Nos Mas os cometas e outros obje-
últimos 30 anos viu-se que essa ação está tos relativamente pequenos e distantes
ligada a zonas de movimentos caóticas acabaram sendo expulsos para longe do
no cinturão de asteroides. Sol pela própria ação gravitacional dos
As mais fracas modificam a forma planetas, enquanto estes se formavam.
da órbita do asteroide, que pode se tor- Uma região de grande concentração
nar muito mais longa do que a órbita desses corpos é o chamado cinturão de
original. Nas zonas mais fortes, esse Kuiper, proposto por Gerard Peter Kuiper
efeito pode fazer com que o asteroide se (1905-1973) em 1951. Desde a década pas-
aproxime de Marte, Terra, Vênus ou Mer- sada descobriu-se que ali se move um
cúrio, e pode haver colisões com esses grande número de objetos em órbitas
planetas. Dentre os asteroides conheci- que não são como as dos planetas, ou
dos, cerca de seis mil têm órbitas que se seja, quase circulares e planas.
aproximam perigosamente da Terra, de Em vez disso, são elípticas, muito
tempos em tempos. alongadas e com grandes inclinações
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Jupiter: Imagens do maior planeta do Sistema Solar obtidas (esquerda) através de um telescópio em solo
com óptica adaptativa e (direita) pela nave espacial Voyager. A visão impressionante destaca a camada
mais alta da atmosfera e deixa ver detalhes de apenas 300 quilômetros – compare com o diâmetro do pla-
neta: 133.000 km. (créditos: TRAVIS RECTOR (U. ALASKA ANCHORAGE), CHAD TRUJILLO AND THE GEMINI ALTAIR
TEAM, NOAO / AURA / NSF E JPL / NASA)
em relação ao plano dos planetas. Plutão região dos grandes planetas. Uma das
faz parte desse cinturão. Existe um es- mais importantes leis da Mecânica é a da
forço para explicar a configuração orbital ação e reação. Se A empurra B, A é empur-
desses objetos, bem como a distribuição rado por B na direção contrária. Portanto,
de suas cores e tamanhos. Os modelos se os grandes planetas empurraram os
dinâmicos apontam para processos que planetésimos, também foram empurra-
tiveram lugar nos primórdios de forma- dos por eles.
ção e evolução do Sistema Solar, há mais Apesar da diferença de tamanho,
de quatro bilhões de anos. O descobri- os planetas eram poucos e, os planetési-
mento de novos objetos pode ajudar a mos, zilhões. O número é incalculável!
decifrar esse enigma e levar a uma com- De empurrãozinho em empurrãozinho,
preensão mais completa da evolução do os planetésimos deslocaram os planetas
Sistema Solar. gigantes para as posições que ocupam
Uma teoria atual afirma que os hoje. Por exemplo: de acordo com a teo-
planetas gigantes, nas fases mais avan- ria, Netuno já esteve mais perto do Sol do
çadas de sua formação, interagiram que Urano, e não o contrário, como hoje.
fortemente com corpos minúsculos – Devido às interações com os
chamados planetésimos – que restavam planetésimos, eles trocaram de posição.
no disco de gás e poeira do qual nasceu o Hoje, além de Netuno, encontram-se os
Sistema Solar. Como resultado da intera- planetas anões Plutão e Éris, e uma in-
ção, os planetésimos foram expulsos da finidade de pequenos corpos formando
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o cinturão de Kuiper. Essa teoria, que é
chamada de modelo de Nice, foi desen-
volvida com a participação de astrôno-
mos brasileiros.
Os satélites, ou luas, dos planetas
são também objetos surpreendentes
do Sistema Solar. O número de satélites
O asteroide Ida e sua lua Dactil. No
sistema solar existem 172 luas, 61 conhecidos aumenta mês a mês. Hoje já
delas no gigante Júpiter. Mesmo
são mais de 165. A Astronomia Dinâmica
um asteroide pequeno como Ida é
orbitado por uma lua – pequeno ocupa-se dos satélites de maneiras dis-
ponto à direita. O asteroide rochoso
tintas. Os grandes são formados nas
mostra marcas de colisões com mi
lhares de corpos menores. (Crédito: vizinhanças dos planetas, e os pequenos
NASA/JPL/Galileo)
estão mais distantes: presumivelmente
foram capturados pelos planetas quando
já estavam formados.
Os dois grupos apresentam pro
blemas muito distintos que são trata-
dos de maneiras distintas. Os grandes
satélites têm sua evolução regulada pela
atração do planeta principal, do Sol e dos
demais grandes satélites. Além disso, a
interação gravitacional do satélite com o
seu planeta difere da verificada nos pro
blemas que discutimos até agora porque
a proximidade entre satélite e planeta faz
com que ocorram marés, tanto em um
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Cometa McNaught
Os cometas são restos da formação do
sistema solar, que não foram agluti-
nados pelos planetas e pelo Sol. Logo
após a formação dos grandes planetas
(Júpiter e Saturno) eles foram “estilin
gados” para longe, formando a nuvem
de Oort. Ocasionalmente, algum desses
“icebergs” despenca em direção ao Sol,
estendendo sua bela cauda com mi
lhões de quilômetros de comprimento.
A maior parte da água que temos na
Terra foi trazida por cometas. (Crédito:
ESO/Sebastian Deiries)
quanto em outro. O exemplo que todos gradativamente, mais lenta. Essa variação
conhecem é a maré causada pela ação da é medida. Para manter os relógios acerta-
Lua sobre a Terra. dos com o ritmo da Terra e dar conta do
O fenômeno das marés é bem co fato de que a Terra está girando cada vez
nhecido por sua importância geofísica. mais lentamente, com alguma frequên-
O calor que as marés liberam no inte- cia introduzem-se segundos intercalares.
rior dos corpos pode provocar movimen- As consequências do fenômeno
tos tectônicos e vulcanismo. O exemplo das marés no movimento dos satélites
mais fantástico são os vulcões de Io e têm sido um dos temas estudados pelos
seus grandes derrames de enxofre, resul- astrônomos brasileiros e devem conti
tantes do grande calor gerado no interior nuar a ser pelos próximos anos, principal-
daquele satélite devido à atração gravita- mente no caso dos satélites de Saturno
cional de Júpiter. Mas aqui entra a Física (e também de planetas extrassolares). Os
para dizer que esse calor não pode estar estudos realizados são mais completos
sendo gerado a partir do nada. do que mencionamos acima, pois, além
Se há calor sendo gerado, isto é, se do balanço de energia, considera-se tam-
energia está sendo perdida sob a forma bém a conservação do momento angular,
de calor, essa energia tem que ter uma que provoca a expansão das órbitas de
fonte, e essa fonte é a energia do mo- muitos satélites.
vimento dos corpos. No caso do sistema O melhor conhecimento da
Terra-Lua, o grande estoque de energia é evolução das órbitas é fundamen-
a rotação da Terra, que vem se tornando, tal para que se possa ter um melhor
27
Asteroides também podem
ter satélites
28
m
Nebulosa com formação de estrelas contendo a hipergigante eta Carinae, no centro. (Crédito: Gilberto Jardi-
neiro - Astro Clube Cunha)
tificados, e o uso de óptica adaptativa gia dos anéis e o tamanho das partículas
e de grandes telescópios deve revelar que os formam, de grãos de poeira a ro-
muitos outros. Essas descobertas le- chas com alguns metros.
vantam questões sobre a origem e a
evolução desses objetos.
Finalmente, os anéis, que estão
entre os corpos mais bonitos do Sistema
Solar: os de Saturno, que são conhecidos
desde a época de Galileu, ainda são es-
tudados. Um ponto alto desses estudos
foram os dados obtidos pelas sondas
Voyager, em 1980-81. Mais recentemente,
ampliaram-se as informações sobre os
anéis com a ajuda da sonda Cassini, em
2004. Essas imagens têm permitido inú-
meras descobertas, tais como a morfolo-
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Camada de ozônio: assinatura de atividade biológica aeróbica.
Este é um dos sinais mais inequívocos de atividade biológica,
pois não existe nenhum outro processo que possa manter uma
importante fração de oxigênio na atmosfera.
30
Capítulo 3
Exoplanetas e a procura de
vida fora da Terra
31
a atmosfera, sob a água ou enterrados
no solo. A contaminação biológica por
micróbios é facilmente detectável. Mais
do que isso, essa forma simples de vida
infesta nosso planeta há 3,5 bilhões de
Lista de exoplanetas mais próximos descobertos até o mo-
mento. A grande maioria dos exoplanetas conhecidos são
anos, contra 0,6 bilhão de anos da vida
gigantes gasosos, maiores que Júpiter, com órbitas muito macroscópica. A janela temporal dá
próximas da estrela central. Isso não representa necessari-
amente a regra geral, mas sim uma limitação das técnicas
uma grande vantagem de detecção aos
atuais, por serem esses casos mais fáceis de detectar. (Crédi- micróbios. Os ETs atuais são invisíveis e
to: California Carnegie)
isso os torna mais fáceis de encontrar!
Mas a probabilidade de forma-
ção de vida como a da Terra seria alta
ou baixa em outros lugares? As células
têm alta percentagem de água, indi-
cando a importância do meio líquido
para elas. Nesse aspecto, a Terra é um
local árido para os padrões cósmicos. A
água é uma das substâncias mais co-
muns e mais antigas do Universo. Ela
se formou usando o hidrogênio gerado
no Big Bang e o oxigênio expelido na
morte da primeira geração de grandes
estrelas, há 13,5 bilhões de anos. Os
outros átomos biogênicos, nitrogênio
e carbono, também foram formados
há mais de 12 bilhões de anos e estão
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entre os mais abundantes do Universo. gumas rochas de 3,8 bilhões de anos já
Esses quatro elementos químicos, C, H, apresentam indicadores de processos
O e N, formam mais de 99% da maté- biológicos. Depois disso, muitos even-
ria viva e são fáceis de encontrar. Para tos catastróficos castigaram o planeta,
formar as moléculas essenciais da vida, como quedas de meteoros, vulcanismo
basta adicionar um pouco de energia, e glaciações, mas a vida nunca foi to-
que é bem abundante nas zonas de talmente interrompida. Pelo contrário,
habitabilidade (ou água líquida) em após cada catástrofe ela apresentava
torno de cada uma das 200 bilhões de uma diversificação maior. Esse cenário
estrelas da Via Láctea. Os ingredientes mais amplo indica que a vida não é tão
essenciais para a vida são muito co- frágil quanto muitos pensam. É uma
muns no Universo, o que indica que ele praga agressiva e resistente. O fato de
é biófilo. Mesmo as grandes moléculas parecer para nós tão complicada não
da vida, como os aminoácidos, são pro- implica que também o seja para a natu
duzidas por reações químicas abióticas reza. Provavelmente o fato de ainda não
no espaço. Muitos meteoritos que aqui a termos descoberto fora da Terra deve-
aportaram trouxeram aminoácidos, in- se ao fato de ainda não termos procu-
clusive de tipos diferentes dos 20 usa- rado com os meios adequados.
dos pelos seres vivos. Onde procurar? O sitema solar
Mais um ponto a favor da ideia é até um pouco irrelevante para a pro-
de que nosso universo é biófilo: a vida cura da vida. Nele, só nosso planeta
estabeleceu-se praticamente junto com está situado na zona de água líquida
o próprio planeta. Os últimos grandes (em ambiente aberto). Marte congelou
meteoritos com massa suficiente para há mais de 3,5 bilhões de anos e, no
produzir choques esterilizantes caíram máximo, espera-se encontrar fósseis
cerca de 3,9 bilhões de anos atrás e al- microscópicos que teriam vivido antes
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CoRoT-7b: exoplaneta com massa de apenas cinco vezes a da Terra. A estrela hospedeira é bem parecida com
o Sol e o raio da órbita desse planeta é menor que o de Mercúrio, o que indica que ele é um inferno de calor.
Não é propício à vida, mas um astro de grande interesse para a planetologia. (Crédito: ESA)
34
centenas de planetas serão
descobertos e analisados
a cada noite
encontre ne nhum! Qualquer dos dois A procura por exoplanetas rocho-
resultados terá um profundo impacto sos tem avançado rapidamente, a partir
no pensamento humano, e a grande do lançamento do satélite CoRoT, do qual
maioria das pessoas atuais viverão es- o Brasil é sócio, que já fez diversas des
ses momentos excitantes. A essa al- cobertas importantes. O satélite Kepler
tura, a instrumentação astronômica também está entrando em operação e
será tão sofisticada que os admiráveis a lista de planetas rochosos deve crescer
telescópios atuais serão quase peças rapidamente nos próximos anos.
de museu. O possível resultado nega-
tivo não será um problema para a
ciência, pois ela funciona assim, cria
situações críticas para testar suas
afirmações. O teste da realidade é seu
crivo de veracidade e será a primeira
vez que a humanidade poderá discutir
essa questão com dados nas mãos.
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Em cima: Via Láctea como seria vista do topo. Nossa galáxia é do tipo espiral. Ela tem uma
barra de estrelas velhas no centro (amareladas) e braços com estrelas jovens (azuis) na
periferia. Ainda não sabemos se ela tem dois ou quatro braços. (Crédito: NASA/Spitzer)
Em baixo: Via Láctea como a vemos a partir da Terra – de perfil. As manchas nebulosas são
estrelas individuais, como Galileu demonstrou através de sua luneta há 400 anos. As man-
chas escuras são nuvens de poeira que obscurecem as estrelas de fundo. (Crédito: ESO)
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Capítulo 4
Estrelas variáveis e o
Universo transiente
O centro da Via Láctea – em torno isso, são um campo ainda pouco explo-
do qual giram cerca de 200 bilhões de rado pela astronomia. Para se ter uma
estrelas, inclusive o Sol – é um lugar tur- amostra razoável de estrelas gigantes,
bulento. Provavelmente porque em seu é necessário procurá-las em outras ga-
ponto central reside um buraco negro su- láxias, além da nossa. Além disso, justa-
permassivo. A massa desse monstro seria mente por serem muito grandes, elas são
equivalente à de quatro milhões de estre- instáveis, ou oscilantes: passam por fortes
las como o Sol, espremidas no volume de mudanças de brilho em períodos curtos.
uma única grande estrela. O buraco negro Curto, nesse caso, significa alguns anos.
fica bem no centro e está oculto sob mas- De um século para outro, elas podem so
sas turbulentas de matéria muito quente frer mudanças ainda mais drásticas, que
e em alta velocidade: perto do astro gi- são, geralmente, fantásticas erupções de
gante, sua enorme gravidade pode estar energia. A energia escapa tanto na forma
agitando essas massas a uma velocidade de luz quanto de matéria, que a estrela
de meio milhão de quilômetros por hora. ejeta para o espaço à sua volta. Em vista
Observações recentes da região onde dessas dificuldades, representa muito
deve estar o astro negro indicam que ela para o Brasil poder utilizar um telescó-
mede apenas 30 milhões de quilômetros pio como o Grande Telescópio Sinóptico
– cinco vezes menor do que a distância de Estudos, LSST na sigla em inglês. O
do Sol à Terra. Isso é relativamente pouco, LSST promete ser, num futuro próximo,
e dá uma ideia de como estariam con- o instrumento mais abrangente e o mais
centradas as quatro milhões de massas rápido na nova era digital da astronomia.
solares no centro galático. Um dos mistérios que o LSST vai
O estudo das estrelas gigantes é ajudar a desvendar é a perda de massa
um dos grandes desafios da astronomia pelas estrelas gigantes. Observa-se que
atual. São muito luminosas e raras, e, por há uma ligação entre as rápidas varia-
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ções de brilho e a perda de massa, mas as estrelas mais densas que existem e
não se sabe como isso acontece. Existem devoram estrelas inteiras com sua gravi-
casos em que a perda de massa acon- dade descomunal. Um evento desse tipo
tece em erupções gigantes, nas quais a foi descoberto pelo Telescópio Auger, um
estrela oscilante chega a perder matéria grande detector internacional de raios
na proporção de dez massas solares – ou cósmicos localizado na Argentina e co-
seja, a estrela perde matéria equivalente ordenado por brasileiros.
à de dez estrelas como o Sol. Além das estrelas comuns, grandes
Isso aconteceu há dois séculos ou pequenas, os astrônomos brasileiros
com a estrela Eta Carinae, situada na também estudam estrelas mais com-
Via Láctea. Esse tipo de turbulência plicadas, que eles chamam de objetos
cósmica recebe o nome de “supernova compactos. Existem vários tipos de obje-
impostora”, porque imita a explosão tos compactos, como os buracos negros,
derradeira na vida das estrelas muitos que podem ter, mais ou menos, a escala
grandes, chamada de supernova. Eta Ca- de massa de uma estrela comum ou
rinae, porém, não estava nos estertores formar o núcleo de uma galáxia inteira.
finais quando estremeceu há dois sécu- Neste caso, podem ter massa maior que
los. Continuou existindo. Daí o interesse milhões de sóis. Existem ainda discos
de suas crises para o estudo das grandes de matéria em torno de estrelas ou de
estrelas – inclusive porque se registram galáxias, assim como estrelas chamadas
explosões ainda maiores, conhecidas anãs brancas. Elas são o que sobra das
hoje como surtos de raios gama. estrelas, ao terminar seu combustível
Alguns surtos são relacionados nuclear. Elas explodem e deixam de
com a acreção, ou seja, a absorção de ma- resíduo um “caroço” duro, pequeno e
téria pelos buracos negros nos centros pouco luminoso. Acabam assim cerca de
das galáxias ativas. Buracos negros são 98% dos astros.
38
eta Carinae: embora não pareça, essa imagem representa uma estrela – é como se vê eta
Carinae, a maior que se conhece. Gigantescas nuvens de gás e poeira, somando 20 massas
solares ejetadas pela estrela no ano de 1843, não permitem que ela seja vista diretamente.
Ela continua perdendo massa ao ritmo de uma Terra por dia. (Crédito: Nathan Smith e
NASA/HST). Técnicas especiais permitiram revelar a existência de um par de estrelas (in-
visíveis ao telescópio) e representadas pela simulação computacional de Atsuo Okasaki (à
direita). Note a tremenda colisão entre os ventos ejetados pelas estrelas companheiras,
que espiralam à medida que elas seguem suas órbitas. (Crédito: ESO e A. Okazaki)
Eta Carinae é uma estrela do tipo pilhada lá dentro? Certas anãs bran-
variável: muda de brilho constantemente. cas, por exemplo, têm pulsações de luz,
Nesse caso, as variações seriam acom- variações regulares na luminosidade.
panhadas por grandes jorros de maté- Depois de mapeadas durante algum
ria. Existem sinais fortes – obtidos em tempo, as pulsações dão muitas indi-
grande parte pela astronomia brasileira cações importantes: pode-se estimar a
– de que a nuvem oculta duas estrelas, gravidade e a temperatura na superfí-
girando uma em torno da outra. Ambas cie desse objeto, ou de que maneira a
seriam enormes, já que, juntas, emitem estrela está se transformando. É possí
uma energia equivalente a cinco milhões vel até imaginar como era a estrela que
de estrelas como o Sol. criou o objeto compacto. As pulsações
Em todos esses casos, é útil ob- são o único meio de estudar as estrelas
servar a variação do brilho dos objetos “por dentro”. É o mesmo tipo de estudo
estudados. Isso indiretamente fornece do interior da Terra pelas oscilações
informação sobre as camadas internas produzidas por terremotos, chamado
das estrelas: como a matéria está em- de sismologia.
39
Ao lado, a nebulosa da Tarântula (na parte superior) é uma das regiões mais
estudadas com o objetivo de entender a formação das estrelas de grande mas-
sa. Mede cerca de mil anos-luz, ou dez mil trilhões de quilômetros, e contém
grandes nuvens de matéria energizadas pela radiação de estrelas gigantes
recém-nascidas. Está a 170 mil anos-luz da Terra, o que é bem perto em termos
astronômicos, e fica numa galáxia satélite da Via Láctea, a Grande Nuvem de
Magalhães, que pode ser vista a olho nu. (Crédito: ESO)
40
41
M
SN1987A
Em 1987 viu-se pela primeira
vez ao telescópio, a uma dis-
tância relativamente pequena,
uma grande explosão estelar:
uma supernova, que por alguns
dias brilhou mais que a galáxia
inteira. Chamada de SN1987A,
ela ocorreu há 170 mil anos.
Esta imagem mostra a colisão
da onda de choque da explosão
(como um colar de pérolas), que
dez anos após a explosão atingiu
o material anteriormente ejeta-
do pelos ventos da estrela.
(Crédito: NASA/HST)
42
Mas os instrumentos disponíveis são
ineficientes para essa tarefa
43
Magnetosfera de um pulsar. Os pulsares
são estrelas de nêutrons com campos
magnéticos fortíssimos, da ordem de tri
lhões de Gauss. Esses “cadáveres de es-
trelas” giram muitas vezes por segundo e
seus p0los magnéticos são inclinados em
relação ao eixo de rotação, como no caso
da Terra. Como eles emitem luz só num
feixe estreito ao longo do polo, o feixe
varre o espaço como um farol marítimo.
Um observador distante vê uma sequência
de pulsos luminosos - daí o nome pulsar.
(Crédito: NASA/Chandra)
44
mais que os outros. A origem desses várias estrelas, todas girando em torno
surtos próximos pode ser uma estrela de um centro comum). Quase 60% das
de nêutrons com um campo magnético estrelas próximas do Sol são duplas, ou
muito forte à sua volta. binárias, o que torna muito importante o
Em algumas circunstâncias, esse estudo dessas combinações. Mas por que
ímã poderoso pode provocar rachaduras as estrelas duplas são tão comuns? A res-
no corpo do astro, que tende a “preen posta pode ser uma espécie de equilíbrio
cher” os buracos de forma violenta. “natural”: veja o caso do sistema solar,
Quanto maior a deformação, maior é o formado pelo Sol e pelos planetas que
surto energético produzido. Outra ex- giram à sua volta. Quase toda a massa
plicação plausível é que a estrela de do sistema encontra-se no Sol, que é,
nêutrons pode ter um disco de matéria à sozinho, mil vezes mais pesado que o
sua volta, provavelmente feito da matéria conjunto dos planetas. Em compensa-
da própria estrela que gerou a estrela de ção, os planetas respondem por quase
nêutrons. Se partes do disco caírem sobre toda a rotação do sistema (que é medi-
a estrela de nêutrons, pode haver surtos da por um número chamado momento
de raios gama. O uso de grandes telescó- angular). Essa divisão vem de quando o
pios, como os de dezenas de metros que sistema solar se formou, a partir de uma
estão sendo planejados agora, certa- nuvem de matéria em rotação, que aos
mente poderá ajudar a definir melhor o poucos foi se contraindo por efeito da
que acontece quando os astros criam es- força gravitacional. No final, houve uma
sas imensas explosões luminosas no céu. divisão: a maior parte da massa da nu-
A grande maioria das estrelas não vem inicial acumulou-se no centro e deu
é solitária, como o Sol. Elas existem prin- origem ao Sol; em compensação, a maior
cipalmente em duplas (mas também em parte da rotação da nuvem foi repassada
trios ou em arranjos maiores, reunindo para os planetas.
45
Note que o momento angular de- processo. É nos sistemas binários que se
pende do raio de rotação e da velocidade chega com mais precisão e confiança a
de rotação: antes da nuvem encolher, o alguns dos números básicos das estrelas,
raio era grande e a velocidade pequena, como a massa, o raio e a temperatura.
mas o raio foi diminuindo enquanto a nu- Os astrônomos construíram modelos
vem se contraía e a velocidade aumentava. matemáticos que descrevem bem a es-
Mas partes da matéria da nuvem conden- trutura interna e a evolução das estrelas
saram-se longe da estrela. No fim das con- situadas dentro de certos limites: as que
tas, o sistema conservou todo o momento têm massa igual ou maior que a do Sol,
angular da nuvem. Nada se perdeu. até o limite de 20 vezes a massa do Sol
É previsível, portanto, que esse (M0). Para estrelas menores ou maiores
mesmo mecanismo leve à formação de que esses limites, ainda aparecem dis-
estrelas duplas, em decorrência da ne- crepâncias importantes entre os modelos
cessidade de conservar os momentos an- e as observações.
gulares das nuvens que as criaram. Tentar cobrir essa lacuna, por-
Pelo mesmo raciocínio pode-se tanto, parece ser um dos focos da pes-
especular que boa parte das estrelas não quisa nesse campo, atualmente, e o
binárias deve ter planetas à sua volta, isto estudo das estrelas duplas pode trazer
é, que a existência de planetas seja mais algumas respostas para lacunas exis-
uma regra do que uma exceção no Uni- tentes na dinâmica e estrutura estelar.
verso, ou pelo menos nas galáxias com A ideia é localizar e investigar sistemas
rotação, espirais como a nossa. adequados para se medir com precisão
O nascimento das estrelas é um as massas, os raios e as temperaturas
dos aspectos mais desafiadores da ciên- estelares. Parece promissor estudar du-
cia do Universo, e o estudo dos sistemas plas de estrelas jovens nos estágios ini-
binários é uma chave para entender esse ciais da evolução estelar.
46
Uma descoberta excitante, feita curvas de luz, por exemplo, indicam como
recentemente, envolve sistemas binários o brilho de uma estrela varia com o tem-
de estrelas bem pequenas (chamadas po, e, entre outras coisas, pode revelar a
anãs marrons) que também são eclip- massa da estrela.
santes, o que quer dizer que, ao girar, Também é preciso determinar cor-
uma das estrelas passa periodicamente à retamente a cor da estrela, que está asso-
frente da outra, quando se olha do ponto ciada à temperatura nas camadas exter-
de vista da Terra. Esse fato ajuda muito nas da estrela: as vermelhas são mais frias
a analisar os astros que compõem uma que as azuis, por exemplo. Outro dado cru-
dupla, especialmente para calcular seus cial são as mudanças nas estrelas por cau-
raios e temperaturas. sa do movimento delas: se uma estrela se
As estrelas atualmente se for- aproxima de um observador, sua cor – não
mam em “berçários”, que são regiões de importa qual seja – fica um pouco mais
grande concentração de poeira e gás, ou azulada. Quando a estrela se afasta, a cor
seja, nuvens de matéria no espaço. Em fica mais avermelhada, pois o movimento
alguns pontos da nuvem, a matéria dá em nossa direção diminui o comprimento
início à formação estelar porque entra de onda da luz emitida e, quanto menor
em processo de contração pela atração o comprimento de onda, mais azul parece.
gravitacional entre as partículas de poei Esse trabalho fica mais fácil, porém, quan-
ra e as moléculas de gás. Como acontece do se tem à disposição instrumentos de
em geral, as estrelas duplas são comuns primeira linha, como o SOAR e o Gemini.
nesses agrupamentos e alvos privilegia- Eles têm dado um impulso firme aos estu-
dos para se observar a evolução estelar dos dos brasileiros sobre nascimento, vida
nos estágios iniciais. Não é simples como e morte das estrelas.
parece, porque é preciso combinar um Outro campo de estudo é o cál-
grande número de dados distintos. As culo da idade do universo a partir do
47
estudo de suas estrelas mais velhas,
como as anãs brancas frias. Essa pes-
quisa é feita desde 1987 por um grupo
que reúne cientistas brasileiros e ameri-
canos. Naquela época, esse grupo era o
único que sugeria uma idade inferior a
15 bilhões de anos para o universo, e es-
Buraco negro binário em 3C75. No centro tava no rumo certo: a estimativa atual,
das grandes galáxias sempre se encon-
bastante precisa, é de que o cosmo
tram buracos negros gigantes. Esta tem
dois. A massa do conteúdo estelar do bojo tenha 13,7 bilhões de anos. Além disso,
dessas galáxias é proporcional à massa do
esse mesmo grupo de pesquisadores
buraco negro central, indicando que ele
está intimamente ligado a toda a galáxia. foi o primeiro, em 1992, a localizar um
É possível que os buracos negros gigantes
“diamante no céu” – uma estrela de car-
sejam as sementes das galáxias. (Crédito:
NASA/Chandra). bono cristalizado da mesma forma que
um diamante, batizada com a sigla BPM
37093, pois é a estrela número 37.093 do
catálogo chamado Bruce Proper Motion.
Depois disso, o grupo descobriu
várias outras estrelas cristalizadas, uti-
lizando, para isso, dados do Telescópio
Espacial Hubble. Fez progresso tam-
bém ao localizar anãs brancas mas-
sivas que podem estar prestes a gerar
uma supernova, se receberem massa de
outra estrela em um sistema binário in-
teragente. Os telescópios usados para
48
estudar as estrelas massivas foram do Na década de 1970 ficou demons
Sloan Digital Sky Survey e os Gemi trado que é muito comum no universo
ni. Supernovas são grandes explosões uma estrela transferir matéria para
terminais das estrelas, e, nesse caso, outra, em certos sistemas binários, que
as possíveis supernovas são de um reúnem não apenas estrelas tradicionais,
tipo particular, chamado Ia: acontece mas também anãs brancas, estrelas de
quando uma anã branca mais pesada nêutrons e buracos negros. Essa transfe
tem uma companheira que se expande rência ocorre porque, na evolução de
e joga pedaços dela na anã branca, todas as estrelas, quando acaba o com-
seguindo a atração gravitacional. bustível nuclear no núcleo, elas se expan-
A matéria da companheira cai dem, tornando-se gigantes e supergigan-
na anã branca, que não suporta o peso tes e a distância entre as estrelas pode
extra e explode. As supernovas Ia são tornar-se similar ao raio delas. Existe um
muito importantes porque, no caso zoológico nesse mundo: binárias de raios
delas, é possível saber qual foi a quanti- X de alta e baixa massa, variáveis cataclís-
dade de luz gerada pela explosão. Com micas, sistemas simbióticos etc.
isso, pode-se deduzir a que distância Cada um desses nomes designa
ela ocorreu: se estiver longe, menos luz alguma característica dos sistemas,
chega à Terra, e a explosão vai parecer mas existe um traço comum à maio-
mais fraca. Se ela parecer muito bri ria deles: é que a energia do conjunto
lhante, é porque está mais perto. Essa é dominada não pelo brilho de cada
peculiaridade tornou as supernovas Ia estrela em particular, mas pela trans-
instrumentos poderosos para estudar ferência de massa de um para outro.
a expansão do universo, por exemplo, e Esse processo leva à formação de anéis
elas foram as primeiras a indicar a exis de poeira e gás semelhantes aos anéis
tência da energia escura, de repulsão. de Saturno, mas apenas na aparência.
49
O sistema binário GRO 1655-40 é composto de uma estrela normal de duas massas solares ligada gravi-
tacionalmente a um buraco negro de sete massas solares. A ilustração mostra matéria sugada da com-
panheira normal para o disco de acreção em torno do buraco negro. O disco de acreção é tão quente que
emite raios X e expele ventos a altas velocidades. (Crédito: M. Weiss NASA/Chandra)
50
Chamados de disco de acreção, os anéis do que nos sistemas estelares simples.
em duplas de estrelas envolvem a perda Nesse caso, o objeto que captura massa
de massa de um dos astros e a queda é um buraco negro gigante, que geral-
acelerada dessa massa em direção ao mente tem massa um milhão de vezes
outro componente da dupla. maior que a do Sol, podendo chegar a
Por conservação de momento an- um bilhão de vezes. Buracos negros são
gular, a massa cadente entra em órbita os corpos mais densos que existem no
ao redor da estrela que a atraiu, adquirin- universo, já que suas massas enormes
do velocidades muito altas que aquecem estão concentradas em volumes minús-
a massa circulante. Com isso, ela passa a culos, em comparação com as estrelas.
emitir grande quantidade de luz. Ocor- Assim como as anãs brancas e as estrelas
rem, ao todo, quatro transformações: de nêutrons, eles também são corpos co-
quando está prestes a cair, a matéria da lapsados, isto é, resultam da morte de
estrela que perde massa tem energia po- estrelas normais. Existe uma ordem de
tencial porque está sendo atraída pela grandeza: as anãs são restos de estrelas
gravidade da outra estrela; depois ganha menores, como o Sol, e as estrelas de
velocidade de queda e de rotação, que é nêutrons e os buracos negros resultam
energia cinética; nesse ponto, os choques da explosão de estrelas grandes.
entre as partículas criam calor, ou ener- Além disso, pode haver uma espé-
gia térmica; enfim, os átomos e molécu- cie de “promoção”, nessa hierarquia – se
las da massa vibram por causa do calor e uma anã branca receber massa de uma
emitem luz, que é energia radiativa. companheira binária, por exemplo, ela
Ainda na década de 1970 desco- pode explodir e transformar-se numa
briu-se que também acontecem grandes estrela de nêutrons, mais densa e mais
transferências de matéria no núcleo compacta. Da mesma forma, se uma es-
das galáxias, numa escala muito maior trela de nêutrons receber massa de seu
51
par, pode virar um buraco negro. É por distinguir um disco de acreção de uma
meio dessa acumulação progressiva de estrela comum. Mas essa simplificação,
massa, aparentemente, que surgem os apesar de útil, pode ser enganosa, porque
buracos negros gigantes nos centros existe uma variedade enorme de siste-
das galáxias, ou pela colisão de buracos mas galácticos superbrilhantes.
negros menores, que perdem energia ro- E esse é um dos desafios que en-
tacional, isto é, momento angular, pela contraram o SDSS (Sloan Digital Sky Sur-
emissão de ondas gravitacionais. Os vey) e esperam a nova geração de telescó-
núcleos das galáxias são onde as estre- pios gigantes para coletar dados, fazer
las estão mais concentradas – ou seja, um vasto recenseamento no universo e
existe muita matéria para alimentar o classificar toda a fauna cósmica. Depois,
crescimento dos buracos negros. Então é preciso estudar todos os inúmeros ti-
surgem imensos discos de acreção, cujo pos de núcleos galácticos para tentar
brilho pode superar, em alguns casos em descobrir como eles evoluem, se existem
mil vezes, o de todo o resto da galáxia. regiões cósmicas mais ou menos povoa-
De forma geral, o brilho dos dis- das, quais são os tipos mais comuns e
cos de acreção depende da quantidade assim por diante. O mesmo vale para os
de massa que cai e entra em rotação ao discos menores, formados por objetos
redor do objeto central. Como essa quan- estelares, em vez de núcleos galácticos.
tidade varia com o tempo, a luminosi- Com os telescópios gigantes da próxima
dade acompanha essa oscilação. Outra geração, eles podem ser observados em
característica marcante é que esse brilho outras galáxias, além da Via Láctea.
contém muita luz ultravioleta, e mesmo No final do século XVIII, o filó-
raios X, comparado com o das estrelas sofo alemão Imanuel Kant (1724-1804)
comuns. Então, juntando as oscilações sugeriu que inúmeras “manchinhas”
de brilho com dados sobre a cor, pode-se vistas no céu eram, de fato, gigantescas
52
A observação da galáxia de Andrômeda e a medida de sua distância (2,2 milhões de anos-luz) nos per-
mitiu descobrir que a Via Láctea também forma uma galáxia espiral, uma ilha de 200 bilhões de es-
trelas. A parte central amarelada é composta por estrelas pequenas e velhas e os braços espirais por
estrelas jovens com massas muito superiores à do Sol. Ambas as galáxias são circundadas por halos
esféricos muito velhos, formados por aglomerados globulares de estrelas, do tipo de Omega Centauri.
(Crédito: Robert Gendler)
53
A maioria das estrelas da Via Láctea nascem em grandes aglomerados de estrelas que aos poucos
se dispersam pelo espaço. São os chamados aglomerados abertos, como NGC3603 (20 mil anos-luz
de nós), que são observados enquanto ainda jovens (um milhão de anos). A luz desses aglomerados
é dominada por estrelas azuis, de massa muito maior que a do Sol, que com seus ventos poderosos
empurram para longe a nuvem que as formou. (Crédito: NASA/HST)
54
55
absorvidas por essas massas, e são ex- depois da passagem da outra galáxia,
tremamente úteis nesses estudos. ela tende a perpetuar a nova forma es-
A compressão do gás pela rota- piralada, sugerindo que os braços são
ção dos braços espirais das galáxias é estáveis. Mas, para testar essa ideia, é
um dos principais mecanismos desen- fundamental obter a maior quantidade
cadeadores da formação de estrelas possível de informação. Caso contrário
nas galáxias, e coloca uma série de per- os modelos teóricos tendem a fornecer
guntas intrigantes. Como eles são cria- respostas inconclusivas.
dos? Quanto tempo duram? Eles giram Atualmente existem meios de
junto com as estrelas ou têm velocidade contornar o obstáculo das massas de
própria, atropelando as estrelas, às ve poeira e gás, e os astrônomos brasilei
zes, ou sendo atropelado por elas? O que ros estão equipados para desbravar o
os faz girar, em primeiro lugar? Com os lado oculto da Via Láctea. O país atual-
dados disponíveis atualmente, alguns mente dispõe, por exemplo, de tempo
dos braços são efêmeros e outros são nos telescópios com boa visão dos raios
estáveis e, portanto, de longa duração. infravermelhos – uma das formas de luz
Essa diversidade, naturalmente, com mais facilidade para atravessar gás
está associada à própria origem das ga- e poeira, uma vez que possui compri-
láxias, no princípio do universo. Nessa mento de onda maior do que o tamanho
linha de pensamento, uma hipótese so- dos grãos de poeira.
bre a origem dos braços é que as galá Com isso, os astrônomos podem,
xias perturbam umas às outras: a gravi- por exemplo, localizar regiões de nasci-
dade de uma galáxia, ao passar perto mento de grandes estrelas, que sempre
de uma segunda, pode perturbar o con- se formam nos braços espirais e, indire-
junto de gás e estrelas e reorganizá-la tamente, dão uma ideia de onde es-
na forma de braços espirais. Mesmo tão localizados. Os grupos de pesquisa
56
Cefeida: estrela pulsante
que obedece a uma rela-
ção definida entre o perío-
do e a luminosidade. As
mais luminosas têm perío-
dos mais longos.
57
N
galáxias mais maduras tendem
a ter mais átomos pesados
58
Não
m se sabe do que é feita a
matéria escura
tos, ou seja, que o braço é uma estrutura emite luz. Mas sabemos que ela existe
de longa duração. por causa dos seus efeitos gravitacio-
Em resumo, a soma desses vários nais: a matéria escura faz as galáxias gi-
tipos de informação pode levar a uma rarem mais depressa do que girariam se
visão completa da estrutura da Via Lác- só tivessem estrelas, por conterem mais
tea. E isso não é tudo, porque mesmo nas energia. Dados melhores sobre a den-
regiões mais próximas do Sol ainda exis sidade estelar da Via Láctea permitem
tem muitas estrelas que nunca foram calcular mais precisamente sua rotação.
estudadas, porque são muito fracas. Isso Comparando esse número com a rota-
agora pode ser feito com novos instru- ção que se observa na prática, deduz-se
mentos, que são capazes de ver até as o efeito da matéria escura: quanto maior
estrelas mais fracas num raio de quase a rotação, maior a massa de matéria es-
mil anos-luz em torno do Sol. Essa conta- cura escondida na galáxia.
gem vai levar a um número mais preciso
da densidade estelar da galáxia, isto é,
o número total de estrelas dividido pelo
volume total da Via Láctea.
Dados mais precisos sobre a den-
sidade de estrelas ajudam a entender
outras estruturas além dos braços espi-
rais, como o bojo, o disco, o halo e a barra
da galáxia. Também se pode usar esses
dados para checar um componente in-
trigante das galáxias: a matéria escura.
Não se sabe do que é feita a matéria es-
cura porque, como diz o nome, ela não
59
Omega Centauri: as estrelas de aglomerados globulares como este, forma-
ram-se todas juntas há 12 bilhões de anos. Parecem joias no espaço. Poucos
objetos celestes são mais impressionantes. Nesta imagem veem-se parte
dos dez milhões de astros-irmãos do aglomerado. (Crédito: NASA e ESA/HST)
60
Capítulo 5
Populações estelares
61
seja, à sua forma e aos movimentos das
estrelas. Daí a necessidade de comparar
diversas informações sobre metalici-
dade em populações estelares distintas
– inclusive em outras galáxias – para se
construir teorias mais precisas sobre a
evolução da química do universo.
62
ranca elétrons do átomo de hidrogênio matemáticas próprias para essa tarefa,
comum. Com isso, o hidrogênio torna-se métodos de computação e modelos
ionizado e pode absorver e reemitir a teóricos sobre a evolução das galáxias.
luz das estrelas que o iluminam, ou seja, Mais de 500 mil galáxias já tive
torna-se uma fonte importante de infor- ram suas imagens esmiuçadas por meio
mação indireta sobre essas estrelas. do código Starlight, com bons resulta-
Com relação à observação direta dos. Nesse caso as imagens foram feitas
das estrelas, conseguem-se dados úteis em luz visível e existe grande interesse
das estrelas do bojo galáctico. Do ponto em desenvolver teorias evolutivas com
de vista dos instrumentos, nos últimos as quais se poderá ampliar a utilidade
anos, a astronomia brasileira começou do código aplicado a imagens feitas em
a ter acesso aos chamados espectrógra- raios infravermelhos.
fos multiobjetos, e essa facilidade vai
aumentar quando entrarem em ope
ração o modo multiobjetos do espec-
trógrafo Goodman, no telescópio SOAR,
em 2010, e espectrógrafos similares nos
Gemini. Esses instrumentos ampliam
as possibilidades técnicas de observa-
ção da química estelar e galáctica.
Grupos brasileiros desenvolveram
um método avançado para se decompor
a luz das galáxias, chamado código Star-
light. A decomposição – ou espectrosco-
pia – da luz é feita em cada pixel de
uma imagem, com a ajuda de equações
63
Combinação de imagens da galáxia Centauro A revela os jatos de
energia e matéria que um buraco negro extremamemente ativo, em
seu centro. Estima-se que a massa desse astro negro seja cem milhões
de vezes maior que a do Sol. Centauro A tem uma forma dúbia e pode
ter surgido de uma colisão entre uma galáxia elíptica (forma de um
melão) e uma espiral (como a Via Láctea). Está bem próxima, a cerca de
12 milhões de anos-luz. (Crédito: NASA/Chandra)
64
Capítulo 6
Galáxias e seus
núcleos energéticos
65
tipo “galáxias anãs de maré”. Elas surgem (como grupos de galáxias caindo sobre
do gás expelido das “galáxias-mães” du- aglomerados de galáxias, ou aglomera-
rante a colisão, que também pode gerar dos caindo sobre outros aglomerados). A
objetos menores, como os aglomerados óptica adaptativa logo vai incorporar es-
de estrelas. Os desastres galácticos não pectrógrafos mais avançados, contendo
são muito comuns nas vizinhanças da centenas de fibras ópticas num mesmo
Via Láctea, onde vemos eventos recentes, aparelho. Novas descobertas devem
mas eles podem ter sido frequentes em acompanhar a ampliação dos levanta-
épocas passadas da história do universo. mentos para áreas maiores do céu e dis-
A óptica adaptativa é extrema- tâncias maiores, ao mesmo tempo em
mente útil na investigação dos objetos que os instrumentos de óptica adapta-
criados por colisões galácticas, que são tiva tornam-se de uso mais comum.
geralmente pequenos e exigem imagens O Brasil já tem acesso a instru-
de alta precisão, que mostrem detalhes mentos com óptica adaptativa (Altair,
da estrutura desses objetos e que deem NIRI e NIFS) no telescópio Gemini Norte,
boas indicações sobre sua natureza e e terá acesso também ao módulo SAM,
suas propriedades. Já os levantamentos no telescópio SOAR, a ser instalado em
fotométricos e espectroscópicos possibi 2010. Dois instrumentos brasileiros estão
litaram o estudo das populações este- em construção e serão acoplados ao SAM.
lares das galáxias e tiveram um papel Um deles é o espectrômetro SIFS (Espec-
destacado no entendimento das estrutu- trógrafo SOAR de Campo Integral), que
ras mais amplas do próprio universo. decompõe a luz de um grande número de
Até estruturas novas foram desco- objetos celestes simultaneamente, por
bertas dessa maneira. São os chamados possuir uma unidade com 1.500 fibras in-
grupos fósseis de galáxias e os siste- dividuais. O outro é um filtro de imagem,
mas que estão “caindo” sobre outros o BTFI (Imageador com Filtro Ajustável).
66
NGC 6217 é uma galáxia espiral barrada, com a barra muito maior que a da Via Láctea, mas com diâmetro
de apenas 30 mil anos-luz. Seu núcleo brilhante não mostra atividade óbvia, mas provavelmente tem um
buraco negro gigante dormente. (Crédito: NASA/HST)
67
energia em quantidade excepcional. Foi
o que mostraram os instrumentos cada
vez mais precisos que entraram em ope
ração nas últimas décadas.
Entre eles, destaca-se o Telescópio
Espacial Hubble e os grandes telescópios
terrestres (não orbitais) dotados de óp-
O centro da Via Láctea abriga um buraco negro tica adaptativa, capazes de enxergar
supermassivo dormente. Ele se esconde atrás de melhor os raios infravermelhos, como é o
densas camadas de poeira, mas vem sendo obser-
vado com alta definição pelo telescópio Keck. Esta caso dos Gemini Norte e Sul. Analisando
imagem mede apenas um segundo de arco de lado. essas novas informações, concluiu-se que
Esta figura mostra as órbitas de estrelas em torno
dele, ao longo de 13 anos, permitindo determinar o nível de atividade dos núcleos galácti-
sua massa em quatro milhões de vezes a do Sol. cos depende da quantidade de matéria
(Crédito: UCLA Galactic Center Group)
que cai nos seus buracos negros. Dá-se
a isso o nome de regime de acreção, que
ocorre da seguinte forma: nas galáxias
ativas, o buraco negro central passa por
um regime de engorda, com matéria
caindo das proximidades, na forma de
gás e poeira soltos no espaço ou perdidos
de estrelas vizinhas. Esse material, ao cair,
entra em órbita e cria um disco de acreção
ultrabrilhante em torno do buraco negro
gigante. Nas galáxias não ativas, o corpo
escuro central está em jejum por falta de
material cósmico capaz de alimentar um
68
disco brilhante. Em resumo, não existe ativos, sem que se saiba muito bem o
diferença essencial entre galáxias ativas que os empurra, e os jatos de ondas de
e não ativas, existem apenas fases dis- rádio que espiralam para fora do nú-
tintas no regime de acreção. Mas ainda cleo e se estendem geralmente muito
restam dúvidas sobre a atividade nuclear além das fronteiras da própria galáxia.
das galáxias. Uma das mais importantes A última questão importante a ser res
é a geometria do disco: que formas ele pondida é como medir diretamente a
pode tomar e que diferença isso pode massa dos buracos negros ativos. Isso
causar em sua atividade? tem de ser feito por meio do movi-
Outra questão em aberto diz mento das estrelas próximas: quanto
respeito à “ignição” da atividade do maior o movimento, maior a gravidade
núcleo galáctico. Haveria um ou mais do corpo escuro e, portanto, maior a
processos físicos que serviriam de sua massa. Quase todas as massas
“gatilho” da atividade? Um terceiro medidas até hoje pertencem a buracos
ponto a investigar é o trajeto da maté- negros de galáxias não ativas.
ria que cai no buraco negro. Não está A forma exata dos discos de
claro como ela se desequilibra, toma acreção, a primeira dúvida citada acima,
a direção do centro galáctico e acaba não pode ser definida ao telescópio. Es-
capturada pela imensa gravidade do ses objetos são estudados por seu brilho
buraco negro. Também é interessante total, que dá uma ideia das partes mais
medir até que ponto o buraco negro externas do disco, que é fino e opaco. Só
devolve matéria e energia para o es- agora começaram a surgir dados mais
paço. Nessa conta somam-se a energia precisos sobre a largura do disco, ou seu
luminosa correspondente ao brilho do raio interno. Os telescópios Gemini e
disco de acreção, os “ventos” de poeira SOAR vêm monitorando algumas galá
e gás que sempre jorram dos núcleos xias com esse objetivo.
69
composto por 64 antenas de 12 o
metros de diâmetro cada uma
70
o destino de cada “habitante” desse
a agitado zoológico cósmico
M83 é uma galáxia do tipo espiral barrada, a 15 milhões de anos-luz, na constelação de Hidra. Foi descoberta
em 1752 no Cabo da Boa Esperança por Pierre Mechain. (Crédito: Rodrigo P. Campos OPD/LNA/MCT)
de meia idade nessa região. Nas galáxias mais completo da evolução estelar nes-
de núcleo não ativo, as estrelas tendem a sas áreas, incluindo também a evolução
um perfil etário mais maduro. Isso indica química da matéria interestelar. Com
que a atividade do núcleo pode disparar isso espera-se ter uma ideia mais clara
o nascimento de estrelas, mas os dados do movimento geral da matéria no lo-
ainda não são suficientes para compro- cal e desembaralhar a direção e o des-
var essa possibilidade. tino de cada “habitante” desse agitado
Alguns grupos recorrem a técni- zoológico cósmico.
cas sofisticadas para produzir um quadro
71
Este aglomerado de galáxias está a cerca de cinco bilhões de
anos-luz de nós. As manchas amareladas são galáxias nor-
mais e os arcos azuis, galáxias muito distantes (no espaço e
no tempo). Elas são azuis por serem jovens. São projetadas
para a nossa direção pela gravidade do aglomerado, que, em
sua maior parte, é devida a matéria escura, seis vezes mais
abundante que a matéria normal (bariônica) das galáxias
Nós fazemos parte do aglomerado da Virgem, que contém
cerca de 2.500 galáxias. (Crédito: M. LEE AND H. FORD FOR
NASA / ESA / JHU)
72
Capítulo 7
Estruturas em grande
escala do universo
A forma e a evolução das galáxias esses efeitos. Uma técnica útil consiste
depende em grande parte de estruturas em mapear a radiação luminosa expelida
muito maiores que elas, e que definem as no nascimento do universo, chamada ra-
características do próprio universo. Nes- diação de fundo. Essa luz pode ser captada
sa escala de grandeza é que sobressaem na forma de micro-ondas, que chegam à
personagens como a matéria escura e a Terra de todas as direções do espaço. Ape-
energia escura – ambas distintas da ma- sar de o universo já ter quase 14 bilhões
téria comum, que é feita de átomos. E de anos, ainda guarda pistas sobre como
ambas são muito mais abundantes: ape as massas de átomos e partículas atômi-
nas 4% de toda a matéria do universo é cas estavam distribuídas pelo espaço an-
do tipo comum, que conhecemos. tes de surgirem estrelas e galáxias.
A matéria escura compreende Dessa forma, dados coletados
cerca de 23% da massa total e o resto, pelo SDSS, por exemplo, ajudam a co-
mais de 73%, está na forma de energia locar limites nas propriedades que a
escura. Essa última, além de desconhe- energia escura pode ter. De maneira
cida, tem um efeito intrigante porque, geral, esses limites definem que tipos de
ao invés de contribuir para frear a ex- partículas – tanto as conhecidas quanto
pansão do universo, ela tende a acele as previstas em teoria – poderiam entrar
rar o afastamento das galáxias entre na composição da energia escura.
si. Como não emitem energia, essas Quanto à matéria escura, há tem-
figuras exóticas não se deixam ver ao pos analisa-se se poderia ser feita de
telescópio. Têm de ser investigadas a neutrinos ou de alguma outra partícula
partir dos efeitos que causam sobre a já conhecida. Os testes já feitos nessa
matéria normal. linha reduziram mas não eliminaram as
Antes de tudo, portanto, é preciso dúvidas, e agora está para começar uma
imaginar meios engenhosos de capturar checagem promissora, que cruza dados
73
de oscilações acústicas com os de uma sobre si mesmos. O universo é muito
investigação prestes a começar com o mais dinâmico do que parece: suas es-
telescópio espacial Planck, lançado em truturas crescem e desmancham o tem-
2009 pela agência espacial europeia. po todo. As estrelas massivas, por exem-
Ele vai fotografar com grande pre- plo, crescem agrupando matéria solta,
cisão a luz que o universo emitiu durante depois colapsam sob seu próprio peso e
seu nascimento explosivo – a chamada explodem lançando matéria pulverizada
radiação de fundo do universo. Uma das para o espaço.
ideias é verificar até que ponto a maté- Mas os superaglomerados podem
ria escura interage com a energia escura. estar num caminho sem volta, pois es-
Outro objetivo é mapear as maiores es- tão sendo acelerados pela expansão
truturas luminosas do universo, que são geral do cosmo. Então, mesmo que te
os superaglomerados de galáxias. Eles nham uma tendência a desmoronar
reúnem as estruturas imediatamente sob a própria gravidade, o impulso de
inferiores em tamanho, os aglomerados expansão pode prevalecer. Seja como for,
de galáxias, alguns deles contendo mi graças aos seus imensos tamanhos, eles
lhares de galáxias. têm papel decisivo na evolução do uni-
Qual é a situação dinâmica dos verso. Em vista disso, é necessário medir
superaglomerados? Eles estariam em com mais precisão as propriedades bási-
movimento ou em rotação? Como seria o cas de cada um deles.
colapso gravitacional de objetos tão des Nesse mesmo projeto também
proporcionais? serão estudados os filamentos – com-
Acredita-se que as maiores estru- pridas “filas” de galáxias que costumam
turas estáveis, no universo atual, sejam ligar os aglomerados dentro de um su-
os aglomerados de galáxias, e que os su- peraglomerado qualquer. Como os fila-
peraglomerados estariam “colapsando” mentos afetam a evolução e a estrutura
74
Grupo de galáxias Quinteto de Stephan. Devido à proximidade e constante
movimento das galáxias nos aglomerados, elas se fundem e acabam ge-
rando galáxias maiores, de forma elíptica. (Crédito: NASA/HST)
75
dos aglomerados? A proposta aqui é fazer De maneira geral, os aglomerados têm
a investigação tanto por meio de luz vi- 20% de sua massa na forma de matéria
sível, para analisar as galáxias, quanto comum, ou seja, gás e estrelas. Desse
por meio de raios X, que fornecem da- total, apenas um sexto da massa está
dos sobre o gás quente que permeia os confinada às galáxias. O resto encontra-
aglomerados e filamentos. se nos vazios entre as galáxias na forma
Observações e análises indicam de plasma (gás ionizado) que permeia o
que, além dos filamentos, também exis aglomerado todo.
tem “muros” de galáxias conectando os Como é quente, apesar de muito
aglomerados nos superaglomerados. O rarefeito, o plasma exerce pressão sobre
novo estudo pretende focar em filamen- as galáxias. Estas, por sua vez, expelem
tos que já foram analisados em raios metais e energia para o meio interga-
X pelo satélite XMM-Newton e cruzar láctico e enriquecem o plasma. Esse in-
os dados com os catálogos de galáxias tercâmbio é conhecido há mais de duas
SDSS e 6dF. décadas, mas os mecanismos precisos
Ao mesmo tempo pretende-se de troca ainda precisam ser esmiuçados.
pesquisar entre as galáxias do SDSS para A temperatura do gás é um dos pontos
checar se há sinais de que estão conecta- que vêm sendo analisados. Como ele
das em aglomerados ou superaglomera- permanece quente?
dos (o 2DfGRS é outro catálogo útil nessa
busca). Mais tarde a ideia é aprofundar
essa investigação para saber se o fato de
pertencer a uma estrutura maior influen-
cia a vida interna das galáxias.
Essa influência deve ser avaliada
a partir de certos dados preliminares.
76
Estrutura em larga escala. O Universo é
muito estranho quando se tenta observar
uma quantidade muito grande de galá
xias de uma vez só. Nessa simulação por
computador se vê como elas se agrupam
aos milhões e se movem (traços amarelos)
em conjunto. As manchas vermelhas indi-
cam onde a densidade de galáxias é maior,
atraindo “rios” de galáxias com a força da
gravidade. A imagem cobre um pedaço do
Cosmo da ordem de cem milhões de anos
luz. (Crédito: ESO)
77
Até pouco tempo (1977) imaginava-se que toda a
matéria estaria na forma de átomos – uma parte
brilhante e outra escura, difícil de detectar. Hoje
sabe-se que os átomos são apenas 4% do total: o
resto pode estar na forma de partículas ainda não
identificadas (23% do total) e a maior parte seria
algo chamado de energia escura, sobre a qual não
se sabe praticamente nada. A cada década se pro-
duz uma verdadeira revolução na cosmologia.
78
O Universo vinha expandindo linearmente até
há um bilhão de anos. Desde então, começou
a se acelerar. Este gráfico indica como pode
prosseguir a expansão do Universo: ele cresce,
reduz o ritmo e acelera. No futuro, ele pode
voltar a encolher ou acelerar mais, dependen-
do da quantidade de matéria que contém.
entre elas não é grande, eles formam um O mesmo acontece nas lentes
ambiente propício a colisões galácticas. gravitacionais, mas é a gravidade que
Com isso fica mais fácil estudar as rela- faz a luz convergir ou divergir: se uma
ções das galáxias com o plasma. galáxia está na frente de outra, a gravi-
Prevê-se para a próxima déca- dade da primeira pode curvar a luz que
da realizar grandes levantamentos de vem da segunda e aumentar ou di-
aglomerados galácticos pequenos, tanto minuir sua imagem.
por meio de luz visível quanto por raios Em alguns casos, uma galáxia
infravermelhos. Alguns levantamentos pode até duplicar ou quadruplicar a ima-
previstos são o DES (Dark Energy Survey), gem de outra. Em suma, esses “telescó-
o Kids-Vesúvio e, mais adiante, o LSST. pios naturais” permitem ver a uma dis-
Um item relevante a se procu- tância que seria impossível com os atuais
rar nesses estudos é fazer medidas de instrumentos da astronomia, e há um es-
massa por diversos métodos indepen- forço para levantar o maior número pos-
dentes. Também será útil verificar o pa- sível de lentes gravitacionais.
pel de indicadores secundários, como A distribuição de lentes pelo céu
a riqueza ou pobreza dos aglomerados é particularmente rica em informações
em número de galáxias. sobre a matéria escura, mas também
Quem estuda aglomerados de ga- sobre a massa e o número de galáxias
láxias pode aproveitar um dos fenômenos e aglomerados de galáxias distantes, so-
mais interessantes do universo – as lentes bre a geometria do universo e a história
gravitacionais. Elas podem ser compara- de sua expansão.
das com as lentes de vidro, que aumen- Estão em curso ou em planeja-
tam ou diminuem os objetos porque o mento vários projetos ambiciosos que
vidro espalha ou concentra os raios de luz aumentarão consideravelmente, nos
que transportam as imagens. próximos anos, o número de lentes co
79
Lente gravitacional no aglomerado Abel 370. A estranha galáxia alongada (parte su-
perior direita), que parece muito maior que as outras à sua volta, na verdade é um
“fantasma”, uma imagem distorcida projetada em nossa direção pela lente gravita-
cional que encurva os raios de luz. Imagens como esta permitem medir a força da
gravidade do aglomerado que produz a lente e mostrar que ela se deve à “matéria
escura” em quantidade seis vezes maior do que das galáxias. (Crédito: NASA/HST)
80
nhecidas. Na próxima década, prevê-se A evolução e o destino do universo
a identificação de muitos milhares de estão entre as questões mais candentes
lentes gravitacionais provocadas por de toda a ciência contemporânea, e não
aglomerados de galáxias. apenas das ciências do céu, como a as-
Para se ter uma ideia, até hoje tronomia, a astrofísica e a cosmologia,
ainda não se identificou uma lente pelo simples motivo de que o universo,
forte associada a uma supernova (uma em última instância, não reúne apenas
grande explosão estelar), mas os novos estrelas e galáxias. É o lugar onde se pro-
instrumentos poderão achar centenas curam respostas para ideias fundamen-
de eventos desse tipo, entre outras rari- tais como o tempo, o espaço e a matéria.
dades celestes. O uso de lentes para o E o que sabíamos a esse respeito
estudo de aglomerados é interessante passou por uma dramática mudança, em
por várias razões, e, atualmente, mais 1998, com a descoberta totalmente ines
de uma centena de aglomerados já perada de que o universo não está ape
foram analisados a partir dos efeitos nas em expansão, mas vem crescendo
que criam ao atuar como lente. de forma acelerada. A fonte dessa acele
Esse campo de pesquisa já pro- ração – designada pelo nome genérico
duziu um dos indícios convincentes de energia escura – permanece essen-
da existência da matéria escura, pela cialmente desconhecida. Sabe-se ape
análise do efeito-lente do aglomerado nas que alguma coisa está provocando
1E 0657-558 (também conhecido como a aceleração do universo e que, para ter
“aglomerado-bala”), e acredita-se o efeito que tem, essa coisa deve repre-
agora que os levantamentos propos- sentar nada menos que 73% de toda a
tos poderão estabelecer um perfil ex- energia do cosmo.
tremamente preciso da matéria escura Esse resultado decorre de uma
nos aglomerados. avaliação dos números básicos usa-
81
O Large Hadron Collider do CERN é o mais
poderoso acelerador de partículas já cons
truído. Ele tem capacidade para elevar a
densidade de energia a valores iguais aos do
primeiro microssegundo depois do Big Bang.
Nesse estágio, os glúons não conseguiam
ainda confinar os quarks. Os experimentos
talvez expliquem a existência da matéria
escura, que forma 23% do Universo, e expli-
quem também por que matéria e antimaté-
ria não aparecem em proporções exatamente
iguais (assimetria). (Crédito: LHC)
dos para descrever o universo. Desses Essa parte pode estar, por exem-
números, um dos mais importantes é a plo, na forma de planetas ou estrelas
densidade, designada pela letra grega Ω colapsadas, e é geralmente chamada de
(ômega), que mede a quantidade total de matéria escura bariônica. As observações
energia em relação ao volume total, nor- de microlentes gravitacionais indicam
malizada pela densidade necessária para que essa contribuição é pequena: cerca
que a estrutura tridimensional do univer- de 2% na nossa galáxia.
so seja euclidiana, também chamada de E a parte não bariônica ainda não
plana, mas em três dimensões. foi identificada. Acredita-se que seja
Outro número importante é a feita de partículas ainda não descober-
taxa de expansão cósmica, um indica- tas, como o neutralino, o gravitino, mo-
dor da velocidade com que as galáxias nopolos magnéticos, previstos por uma
vêm se afastando umas das outras teoria de interações das forças conheci-
desde o início dos tempos. Essa taxa das, gravidade, eletrofraca e força forte,
tem o nome de constante de Hubble, mas ainda especulativa, chamada su-
simbolizada pela letra H0. persimetria, mas que pode ser estudada
A partir desses números é que se pelo Large Hadron Collider, em teste no
estima a proporção de energia escura CERN, na Europa.
e também se avalia a quantidade de Determinar a natureza da matéria
outra forma de matéria desconhecida, e da energia escuras (ou o “setor escuro”) é
chamada de matéria escura. A matéria uma das questões mais relevantes da cos-
escura é um pouco menos misteriosa, já mologia atualmente. Existe um consenso
que uma pequena parte dela, ao menos, de que essa meta não pode ser alcançada
pode ser feita de átomos ou partículas por um método apenas, ou apenas um
atômicas bem conhecidas, como pró- tipo de observação. É preciso combinar di-
tons, elétrons e outras. versos métodos e observações.
82
Um ponto de partida nesse estudo efeito da própria teoria que descreve a
é que a energia escura comporta-se como evolução do universo – a teoria da rela-
uma espécie de antigravidade, no sentido tividade geral, desenvolvida pelo alemão
de que tende a acelerar a expansão, ou Albert Einstein (1879-1955) em 1916.
seja, a afastar ainda mais as galáxias en- Portanto, talvez seja possível alte
tre si, enquanto a gravidade faz o oposto rar a teoria de modo a incluir um efeito de
– tende a agrupar as galáxias e a frear a gravidade negativa. Tal como está, atual-
expansão. Assim, procura-se medir esse mente, a teoria não prevê nenhum efeito
efeito de antigravidade por meio de uma desse tipo. Com certeza, essa é uma das
relação entre pressão e densidade da primeiras questões a resolver com rela-
energia escura, designada pela letra w. ção à energia escura. Isso se deve a uma
Qual é o valor desse número? teoria incompleta ou a algum persona-
Essa é uma meta central dos atuais gem cósmico ainda não detectado?
projetos de pesquisa, e espera-se achar Um meio de testar essa dupla
boas respostas com a ajuda do saté- possibilidade consiste em combinar
lite EUCLID, da ESA Cosmic Vision, nos dois tipos de observação. Um é o estudo
próximos anos. Antes de detalhar os já tradicional da expansão e evolução
métodos utilizados nessa pesquisa, do universo por inteiro. O outro, menos
é interessante notar que pode haver tradicional, é o estudo do crescimento
duas possibilidades bem diferentes a das estruturas “internas” do universo, es-
respeito da energia escura. pecialmente na escala dos superaglom-
Uma possibilidade, já menciona- erados de galáxias.
da, é que ela seja composta por partícu- Que efeito a aceleração cósmica
las exóticas que teriam essa propriedade pode ter sobre eles? Como esse efeito
nova, de atuar como antigravidade. Mas deve ser pequeno, geralmente é ignora-
pode ser que a antigravidade seja um do, mas ele pode fazer diferença quando
83
o objetivo é aumentar a precisão dos da- de “régua” para medir a distância de ga-
dos sobre a energia escura. láxias longínquas. Atualmente, a técnica
Foi o primeiro tipo de observação que emprega as SNs Ia é a mais poderosa
– que dá uma visão geral do cosmo, inde- ferramenta disponível para estudar a na-
pendente das suas partes – que levou à tureza da energia escura.
constatação da aceleração cósmica, em Os futuros telescópios gigantes
1998, quando se tentou medir a taxa de deverão encontrar milhões de super-
expansão do universo em momentos novas e dezenas de milhares do tipo Ia.
diferentes de sua história. Isso eliminará as incertezas estatísti-
Para isso mediu-se o afastamento cas dos cálculos atuais, feitos com base
entre galáxias mais próximas da Terra, em amostras relativamente pequenas
representativas da época atual, e tam- de galáxias.
bém entre galáxias distantes, que nós O desafio agora é reduzir os er-
vemos tal como eram no passado ( já que ros sistemáticos (devidos aos próprios
sua luz levou muito tempo para chegar instrumentos e técnicas de observação).
até nossos telescópios. No universo, o É preciso descobrir meios mais livres de
que está longe pertence ao passado). erro para fazer as observações.
Essa comparação mostrou que a Melhor dizendo, espera-se atingir
velocidade de afastamento era menor grande precisão na medida de desvios
no passado, e o universo, portanto, es- de cor causados pelo movimento dos
tava acelerando sua taxa de expansão. astros. Astros que se movem na direção
Esse tipo de observação ainda precisa ser do observador tornam-se mais azula-
ampliado e aprofundado para se estimar dos; os que se afastam ficam mais aver-
com mais precisão o efeito antigravidade. melhados. Nesse caso, interessa analisar
Nesse caso, é crucial monitorar as desvios de cor nas SNs Ia. As medidas de
supernovas do tipo Ia (SNs Ia), que servem cor poderão ser feitas aproveitando os
84
A região mais distante do universo que conseguimos ver é a que foi emitida quando a matéria se desacoplou
da luz. O Universo tinha 380 mil anos de idade e as flutuações máximas de densidade entre um ponto e
outro (representadas pelas cores) eram de apenas uma parte em dez mil. Em apenas 200 milhões de anos a
matéria já havia se condensado em forma de estrelas. Essa condensação rápida só poderia ter ocorrido pela
gravidade da matéria escura. (Crédito: NASA/WMAP)
telescópios Gemini e SOAR, ou, mais à fren universo tinha menos de 400 mil anos
te, um telescópio robótico. de existência. A luz emitida pela maté-
Paralelamente é preciso um es- ria nessa época mostra isso, pois é mais
forço para entender melhor a evolução “quente” em certos pontos do céu, indi-
das grandes estruturas. Isso implica cando que foi emitida por matéria mais
observar a organização das galáx ias concentrada, e mais fria em outros, indi-
na escala mais ampla possível, na cando regiões menos densas de matéria.
qual vê-se que elas formam “pacotes” Essa luz “fóssil” é que é chamada de ra-
monumentais, cada um com mais de diação de fundo do universo (ver neste
500 milhões de anos-luz de extensão. capítulo o tema: energia escura).
Isso equivale ao tamanho dos maiores Antes das galáxias, portanto, o
superaglomerados, mas a concentra- cosmo já tinha como que uma estru-
ção da matéria parece ser anterior às tura “pré-histórica”, que pode ter sido
próprias estrelas e galáxias. a “semente” dos superaglomerados de
Ela teria começado quando havia galáxias que hoje pontilham o universo
apenas átomos dispersos no espaço e o em larga escala. Esse estudo começou
85
pela observação da própria radiação de chamado efeito Sunyaev-Zel’dovich, pre
fundo, mas agora o objetivo é observar visto pelos russos Rashid Alievich Sunyaev
as galáxias para aprimorar os dados dis (1943-) e Yakov Borisovich Zel’dovich (1914-
poníveis sobre a formação das estrutu- 1987), no qual o gás quente que permeia
ras cósmicas. Tenta-se medir o grau de os aglomerados modifica ligeiramente as
concentração das galáxias para estudar intensidades da radiação de fundo.
a geometria e a quantidade de matéria O gás transfere energia para a ra-
do universo – aí incluídas a matéria es- diação, aumentando a proporção de raios
cura e a energia escura. de luz mais energética na composição da
O grau de concentração das galá radiação de fundo. Pode-se avaliar a for-
xias nos superaglomerados fornece ça desse efeito medindo o brilho do gás
dados sobre o tamanho exato e a tem- quente na forma de raios X, e depois usar
peratura das concentrações primitivas esse número para calcular, por exemplo,
de matéria, também chamadas de os- a taxa de expansão do universo, H0. Um
cilações acústicas de bárions. Já se con- objetivo importante do satélite Herschel,
seguiram informações importantes so- lançado em 2009, é medir essa taxa em
bre a energia escura, nos últimos anos, milhares de aglomerados de galáxias e
por meio do estudo da concentração de determinar o valor de H0 com alta pre-
galáxias vermelhas brilhantes fotografa- cisão (margem de erro de apenas 1%).
das pelo SDSS. Resultados bem melhores A imagem das galáxias mais dis-
podem ser esperados com as imagens tantes e primitivas muitas vezes é dis-
dos telescópios da nova geração. torcida por lentes gravitacionais, ou seja,
Há diversos outros meios de ob- galáxias e aglomerados de galáxias mais
servar os aglomerados atuais de galá próximos. Isso gera informação tanto
xias para aumentar a precisão dos dados sobre as lentes quanto sobre as grandes
sobre o universo primitivo. Um deles é o estruturas escondidas atrás delas. É pos-
86
A parte sul do Observatório Auger localiza-se na Argentina e destina-se a detectar chuvas de raios
cósmicos ultraenergéticos (bilhões de bilhões de elétron-volts). Não se sabe ainda como e onde essas
partículas cósmicas são aceleradas. Os eventos de energia ultra-alta são raros, demandando monito-
ramento em grandes áreas. O Pierre Auger cobre uma área de três mil Km2 e é uma parceria entre 18
países, incluindo o Brasil. (Crédito: Consórcio Pierre Auger)
87
as ondas gravitacionais só foram
88
comprovadas até agora de
maneira indireta
89
A vida é uma das formas de organização da matéria. Ela requer estágios anteriores,
como evolução molecular, evolução dos elementos químicos e das estruturas dos cor-
pos em escala mais ampla. Ela é um subproduto do trabalho das forças cósmicas.
(Crédito: A. Damineli e Studio Ponto 2D)
90
Capítulo 8
Universo, evolução e vida
Este painel ilustra as principais matéria inicial e muita luz. Com a idade
fases de evolução do universo. Como é de três minutos, 10% do hidrogênio ha-
impossível representar todas as etapas via-se transformado em hélio. O univer-
e suas diversas variantes defendidas so era uma espécie de sopa uniforme,
por diferentes correntes científicas, aqui luminosa e não transparente (como
simplificamos em cinco fases. Abaixo, uma lâmpada de gás). A luz não permi-
descrevemos com algum detalhe cada tia a aglutinação da matéria. Aos 400
uma dessas fases. No topo da figura, co- mil anos, a temperatura baixou para
locamos alguns eventos marcantes, ao três mil graus e o plasma ionizado ficou
longo da linha do tempo. neutro. O céu tornou-se transparente e
escuro, como ainda é hoje.
A. Fase dominada pela luz e partículas
É possível que existam muitos uni- B. Formação dos astros e evolução
versos. O nosso nasceu há 13,7 bilhões química
de anos, numa grande explosão, o Big As tênues nuvens de gás desabaram
Bang. Uma gotícula de energia pura, sob o peso de sua própria gravidade,
infinitamente quente e densa, entrou formando “rios” de matéria. Após 200
em expansão e foi ficando cada vez milhões de anos de escuridão (idade
mais fria e menos densa. A velocidade das trevas), formou-se a primeira ge-
da expansão acelerou-se de forma in- ração de estrelas que reiluminaram o
flacionária, só deixando uma ínfima universo e aglutinaram-se em galáxias.
parte do espaço dentro de nosso raio de O coração quente das estrelas passou a
visibilidade. Eras inteiras sucederam-se fundir os átomos menores em maiores.
em frações de segundo. Matéria e an- As grandes estrelas formaram o oxi
timatéria aniquilaram-se em forma de gênio; as intermediárias formaram o
luz, restando apenas um bilionésimo da carbono e o nitrogênio. Aos dois bilhões
91
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Or
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Or
Ac
Se
Se
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camada de ozônio já filtrava a radiação Diversos ramos de hominídeos con-
ultravioleta. Há 600 milhões de anos viveram até cerca de 200 mil anos atrás.
apareceram os seres multicelulares A vida é uma praga agressiva que ocu-
(macroscópicos). Há 440 milhões de pou todo o planeta desde seu início. Ela
anos as plantas saíram dos oceanos não só sobreviveu a catástrofes globais,
para colonizar a terra firme, logo segui- como as aproveitou para se diversificar e
das pelos insetos e répteis. Os dinos- gerar formas mais complexas.
sauros, após dominarem a Terra por
200 milhões de anos, foram extintos, D. Humanidade
deixando espaço para os mamíferos O homem moderno surgiu há 200 mil
evoluírem. Há seis milhões de anos, os anos, e há 50 mil anos desenvolveu a
hominídeos passaram a andar eretos, linguagem simbólica. Ao ensaiar as
aprenderam a construir instrumentos situações nesse espaço virtual para de-
e dominaram o fogo (há 400 mil anos). pois atuar no mundo concreto, obteve
93
Daqui a cinco bilhões de anos,
o Sol inchará
94
em forma de gigante vermelha
95
Telescópios Soar e Gemini, dos quais o Brasil é sócio.
(Crédito: A. Damineli)
96
Capítulo 9
Astronomia no Brasil
97
Observatório do Pico dos Dias (Brazópolis-MG): formou gerações de astrônomos e permitiu a organização
do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCT), que coordena o acesso brasileiro a telescópios na faixa
ótica e infravermelha. (Crédito: A. Damineli)
98
Produção científica da
Astronomia Brasileira
no país. Em 1981 o Brasil já contava com
Artigos publicados em revis-
41 doutores em Astronomia. Hoje exis
tas indexadas por ano:
tem 234 doutores, empregados em 40
instituições, além de 60 pós-doutores. 1965 0
Algumas instituições são bastante 1970 8
1975 15
grandes, enquanto a maioria das insti-
1980 25
tuições conta com apenas um ou dois
1985 47
profissionais. Com o início da pós-gra 1990 74
duação, a produção científica brasileira 1995 111
na área da Astronomia também teve 2000 205
2005 214
um grande desenvolvimento. No ano
2008 219
de 1965, ela praticamente não existia,
pois não há registro de trabalho cientí- Taxa anual média de cresci-
fico publicado em revista indexada. Já mento:
no ano de 1970, houve oito artigos pu
blicados. Nos 30 anos seguintes (1970-
1970-2000 11,4%
2000-2005 0,9%
2000) a taxa média de aumento anual
2005-2008 0,8%
de artigos publicados foi de 11,4%. Esse
crescimento deve-se a diversos fatores,
entre os quais:
de Atibaia e do telescópio de 1,60 m do OPD;
- Retorno de doutores formados no exterior; - O uso sistemático da internet deu aos
- Início da pós-graduação no Brasil; pesquisadores brasileiros – antes isolados
- Contratação de profissionais por univer- pelas grandes distâncias – muito mais
sidades e institutos federais de pesquisa; capacidade de articulação e formação de
- Instalação da antena de radioastronomia networking nacional e internacional.
99
O telescópio SOAR está entrando em intenso rit-
mo de observação com a chegada de um espec
trógrafo de campo integral feito no Brasil (SIFS).
Outros dois espectrógrafos de alta tecnologia, o
BTFI e o STELES, estão em fase final de construção
no Brasil. (Crédito: A. Damineli)
a área de astronomia.
Já nos anos de 2000-2008 essa Esse quadro está mudando. Di-
taxa foi bem menor: 2,3%. Isso também versos indicadores sugerem que a astro-
se deve a diversos fatores: nomia no Brasil está voltando a ter um
- O número de contratações de profes- crescimento mais dinâmico. Isso se deve
sores e pesquisadores nesse período foi aos seguintes fatores:
muito pequeno; o quadro, estagnado, - A entrada do Brasil nos consórcios Ge
passou a envelhecer; mini e SOAR começou a dar resultados em
- A antena de Atibaia deixou de ser ritmo crescente;
competitiva; - Novos estudantes estão sendo atraídos
- Os telescópios do OPD, apesar de pro para a área, em número e qualidade cres-
dutivos, eram competitivos apenas na centes. São 90 alunos de mestrado e 130
área estelar, uma vez que novos e mo de doutorado matriculados nos progra
dernos telescópios, instalados em sítios mas de pós-graduação;
muito mais adequados, passaram a dar - Novas contratações de profissionais
apoio muito mais efetivo à astronomia têm sido feitas, principalmente em uni-
extragaláctica; versidades;
- Muitos estudantes deixaram de procurar - Novos grupos de pesquisa vêm se for-
100
Distribuição dos artigos publicados pela astronomia brasileira no ano de 2008,
por especialidade:
Área n0 artigos %
101
Com Com
Sem bolsa Alunos
bolsa bolsa Pós-doutor Total
PQ Ms+Dr
PQ-1 PQ-2
USP 17 4 16 18 65 120
ON 8 5 14 5 31 63
INPE 7 4 13 4 20 48
UFRJ(OV+IF) 1 7 11 1 18 38
UFRGS 7 3 3 13 26
UFRN 2 3 3 1 19 26
UNESP(FEG+RC) 2 2 5 4 11 24
CBPF 1 4 1 1 17 24
LNA(+SOAR) 1 8 4 13
UNIVAP 3 5 1 4 12
UFMG 1 1 3 1 5 11
UFSC 3 1 1 5 10
UESC 3 4 2 9
UNIFEI 1 2 5 8
UNICSUL 1 6 1 7
UFSM 1 2 4 7
Un. Mackenzie 1 3 1 1 6
UEFS 5 5
UNIPAMPA 3 3
UERN 3 3
UNB 3 3
UFPR 1 1 2
UFABC 1 1 2
Unochapecó 2 2
UFPel 2 2
UEL 2 2
UNIFESP 2 2
CTA 2 2
UFF 2 2
UERJ 2 2
UCS 1 1
UNINOVE 1 1
UNIRIO 1 1
UNIVASF 1 1
UFJF 1 1
UEPG 1 1
UFMT 1 1
UFSCar 1 1
CEFET-SP 1 1
UTFPR 1 1
Fund.Sto. André 1 1
Exterior (pós doutorado) 11 11
Total geral 50 49 135 59 225 506
Obs: Bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq nível PQ-1 oferece bolsa + grant, renováveis a cada três anos;
bolsa de nível PQ-2 não tem grant, e também é renovável a cada três anos.
102
Espectrógrafo de campo in-
tegral SIFS na sua fase final
de montagem no Laboratório
Nacional de Astrofísica (MCT).
Este é o primeiro de três espec
trógrafos de alta tecnologia
que o Brasil está fornecendo
ao telescópio SOAR. (Crédito:
Bruno Castilho, LNA/MCT)
103
Da esquerda para a direita: Telescópios Subaru, Keck1 e Keck 2 (ao fundo), Gemini Norte (em primeiro plano)
em noite de lua cheia, situados no topo do Mauna Kea (4250 m). Através de troca de tempo com o Gemini, o
Brasil tem acesso aos outros três telescópios de classe de 8-10 metros. (Crédito: Telescópios Gemini)
104
Atualmente esse projeto encontra-se em mês, que é baseada no período das fases
franco desenvolvimento, sendo coorde- da Lua, causadas pela órbita da Lua em
nado internacionalmente pela IVOA (In- torno da Terra; e do ano, período da ór-
ternational Virtual Observatory Alliance). bita aparente do Sol em torno da Terra,
O Brasil tornou-se membro do IVOA por causada pela órbita da Terra em torno
meio da rede BRAVO (Brazilian Virtual Ob- do Sol. A Astronomia, por isso, é matéria
servatory) em 2009. dos níveis fundamental e médio, estan-
do incluída na Lei de Diretrizes e Bases
Ensino e divulgação da Astronomia da Educação, no Plano Nacional da Edu-
cação, no Programa de Formação Con-
A Astronomia no primeiro e segundo graus tinuada de Professores, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais e nas propostas
Astronomia envolve uma combi- curriculares estaduais.
nação de ciência, tecnologia e cultura e é A Astronomia consta dos cur-
uma ferramenta poderosa para despertar rículos escolares do ensino fundamen-
o interesse em Física, Química, Biologia e tal na temática Terra e universo, já que
Matemática, inspirando os jovens às car- o céu e o universo podem ser usados
reiras científicas e tecnológicas. Mais do para despertar a imaginação e mostrar
que isso, mostra ao cidadão de onde vie que o método científico pode ser usado
mos, onde estamos e para onde vamos. mesmo para coisas que não podemos
Astronomia é a base para se ad- tocar. Mas há poucas iniciativas de
quirir uma noção sobre onde nos situa- disseminação de conceitos em Astro-
mos no universo, assim como para a nomia nesse nível de ensino. Possivel-
compreensão dos fenômenos naturais, mente porque a formação de docentes
como a duração do dia, que representa o de ciências constitui um gargalo grave,
período de rotação da Terra; a duração do devido à dissociação entre sua forma-
105
O fascínio pelos astros se expressa no rosto
desta jovem, que, como outros 2,3 milhões de
brasileiros, acorreram aos 16 mil eventos ofe
recidos ao longo do Ano Internacional das As-
tronomia (2009). Esse gigantesco programa
de divulgação científica foi oferecido por 160
grupos de astrônomos amadores e 80 insti-
tuições universitárias, planetários e centros
de ciência. (Crédito: Centro de Estudos As-
tronômicos de Alagoas – Maceió)
106
químicos que são a base da vida. Final-
Graduação e pós-graduação em Astro- mente, a Astronomia é um dos promo-
nomia tores do desenvolvimento de tecnologia
avançada, de sensores ópticos, de raios
Por que fazer um curso de Astro- X a ondas de rádio, de computadores ve-
nomia? O encanto da Astronomia conti- lozes, de eletrônica e óptica sofisticada e
nua a seduzir e fascinar não só os jovens, mesmo de engenharia de ponta.
mas toda a população. Além da licencia- No Brasil, a grande maioria dos
tura, que forma os professores do ensino pesquisadores em Astronomia e As-
médio e fundamental, cursos de Astro- trofísica fizeram bacharelado em Física, e
nomia no ensino superior são ótimas depois a pós-graduação, mestrado e dou-
preparações para carreiras científicas e torado em Astronomia. A UFRJ oferece
tecnológicas. Existe ainda a pesquisa em curso de graduação em Astronomia há
Astronomia. O objetivo dos astrônomos é mais de 50 anos. A USP iniciou o bachare-
utilizar o universo como laboratório, de- lado específico no ano de 2009 e a UFRGS
duzindo de sua observação as leis físicas está iniciando o dela.
que poderão ser utilizadas em atividades No âmbito da pós-graduação
muito práticas, como prever as marés, es- em Astronomia, os primeiros cursos
tudar a queda de asteroides sobre a Terra, foram dados no Instituto Tecnológico da
entender como funcionam reatores nu- Aeronáutica, na Universidade Mackenzie
cleares e analisar o aquecimento da at- e no Instituto Astronômico e Geofísico da
mosfera por efeito estufa, causado pela USP, entre 1969 e 1971. Foram seguidos
poluição. São atividades necessárias para pelo curso da Universidade Federal do
a sobrevivência e o desenvolvimento da Rio Grande do Sul e, mais tarde, do Ob-
espécie humana. Além disso, foram pro- servatório Nacional, no Rio de Janeiro, da
duzidos nas estrelas todos os elementos Universidade Federal de Minas Gerais e
107
da Universidade Federal do Rio Grande fundamental e médio nesta área. A
do Norte. Atualmente 14 programas já Astronomia é ensinada nas cadeiras
forneceram titulação e novos programas de Geografia e Ciências no ensino fun-
estão iniciando. damental, mas ainda são poucos os
É importante realçar que um professores de Geografia que tiveram
profissional de Astronomia só entra real- cursos de Astronomia na sua gradua
mente no mercado de trabalho após obter ção. Mesmo no ensino médio, onde os
o doutorado. Durante os últimos anos da parâmetros curriculares exigem vários
graduação e durante toda a pós-gradu conhecimentos de Astronomia e licen-
ação, a grande maioria dos estudantes ciatura em física, ainda há muitos cur-
recebe bolsa das agências financiadoras sos de licenciatura sem cursos específi-
brasileiras CNPq, CAPES e FAPESP, esta úl- cos de Astronomia.
tima em São Paulo. À falta de formação específica dos
Os astrônomos profissionais tra- professores, soma-se a ausência de mate-
balham nos institutos de pesquisa rial didático em astronomia, e há muitas
do Ministério de Ciência e Tecnolo- falhas nos livros didáticos. Iniciativas de
gia: INPE, ON, LNA, CBPF e nas univer- cursos de extensão têm sido realizadas
sidades. Uma parcela ainda pequena pela USP, pelo INPE e pela UFRGS, assim
trabalha em empresas privadas, como como cursos a distância pelo ON. Cursos
Embratel, mas a grande capacitação em específicos de mestrado profissionali-
informática que eles aprendem tem le- zante em ensino de astronomia, a exem-
vado alguns para a área de computação plo do que já ocorre na UFRGS, também
e instrumentação. seriam bem-vindos. Os Encontros de
Uma das grandes deficiências Ensino de Astronomia (EREAs e ENEAs)
no ensino de Astronomia é a falta de são um fórum importante para formular
formação dos professores do ensino uma política de ensino de Astronomia na
108
Os programas de pós-graduação na Astronomia brasileira, o número de concluintes no período
2005/2007+2008 e o número de alunos matriculados em 2009.
Alunos matri
Nota 2005/7 2008 2005/7 2008
culados em
CAPES Ms Ms Dr Dr 2009 M/D
IAG-USP 7 22 10 17 6 23/42
IF-UFRGS 7 3 2 6 3 4/9
CBPF 7 3 3 3 2 4/13
DF-UFMG 7 2 - 2 2 2/6
IF-UFRJ 7 1 - 6 1 2/3
DF-UFRN 5 7 1 6 3 5/14
DF-UFSC 5 4 1 3 2 1/4
DA-ON 4 10 3 8 1 13/18
DAS-INPE 4 10 6 4 1 9/11
FEG-UNESP 4 8 2 - 1 6/5
UNIVAP 4 2 1 - - 3/1
DF-UFSM 3 4 1 4 - 1/4
OV-UFRJ 3 5 2 - 12/0
UNIFEI 3 2 1 - 5/0
Total - 83 30 59 24 90/130
Obs.: A UNICSUL (São Paulo), UESC (Ilhéus) e UERN (Mossoró) iniciaram os programas de pós-gra
duação recentemente e não formaram ninguém até 2008.
109
A observação dos astros atrai pes-
soas de todas as idades e faixas so-
ciais. É importante que os cidadãos
de todo o país possam explorar,
desde cedo, suas ligações com o
Universo. (Crédito: Astronomia no
Pantanal – grupo da UFMT)
110
Galeria de imagens
Essa obra foi impressa nas oficinas da gráfica Yangraf, com miolo em papel couché 115g,
capa dura empastada em papel couché 150g, diagramada em tipologia The Sans por
Vania Vieira, para Odysseus Editora no ano de 2010, com tiragem de 45.000 exemplares.
Neste livro você vai ler textos sobre pesquisas
atuais em Astronomia, escritos por pesquisadores
da área, refraseados em linguagem jornalística.
As informação são atualíssimas, mas a
linguagem é compreensível por não iniciados.
A cobertura de temas não é e nem pode
ser completa num pequeno livro, dado que a
Astronomia é vastíssima. Ela representa a visão
de alguns pesquisadores, formada a partir de
seus postos, na fronteira da pesquisa. Ela mostra
também como a área se estrutura no Brasil, em
termos de empregos, formação de pessoal e
atividade de divulgação. A primeira edição é de
40 mil exemplares, distribuídos gratuitamente,
principalmente para escolas públicas. A Astronomia
brasileira tem uma história de sucesso nos últimos
40 anos, reconhecida internacionalmente.
Graças ao apoio das agências de fomento
à pesquisa, federais e estaduais, ela continuará
crescendo na próxima década. Temos pouco mais de
duas centenas de cientistas na área e esse número
precisa aumentar bastante para o Brasil fazer jus às
suas aspirações de país desenvolvido.
9 788578 760151