Pesquisa Operacional No Ambito Da Logistica
Pesquisa Operacional No Ambito Da Logistica
Pesquisa Operacional No Ambito Da Logistica
Resumo
A Logística como atividade já está estabelecida no Brasil há aproximadamente quatro
décadas. Seu ensino sempre fez parte de cursos como Administração e Engenharia de
Produção. Com a criação dos cursos de graduação em Logística algumas considerações foram
modificadas. As explicações de como funciona a Logística cederam espaço para o ensino de
técnicas mais apuradas com a ampliação do uso da Matemática. A Programação Linear é uma
das técnicas de otimização usadas para solucionar problemas de produção e distribuição, sua
solução pode ser manual, através do método algébrico ou do Simplex. Ambos exigem
conhecimento para resolver sistemas de matrizes. Atualmente o uso de ferramentas de
informática simplifica a compreensão e a otimização dos modelos. O Microsoft Excel traz o
suplemento Solver que diminui o trabalho repetitivo, que é o mais sujeito a erros. Desta forma
é possível avaliar cenários de produção e distribuição com as suas respectivas conseqüências.
Um exemplo de alocação de seis locais de produção e 30 locais de distribuição dos produtos
ilustra as explicações técnicas. A técnica ainda é pouco difundida entre os profissionais de
Logística, mas apresenta grande potencial de aumento de lucros ou redução de custos.
Introdução
O alinhamento estratégico tem sido perseguido por empresas de excelência em
desempenho logístico pelo fato de compatibilizar mutuamente os objetivos de
competitividade e os da cadeia de suprimentos. Chopra (2003) afirma que há uma integração
entre as prioridades dos clientes e as habilidades da cadeia de suprimentos. A Logística
empresarial se apresenta como a parte da cadeia de suprimentos responsável pelo fluxo e
armazenagem dos bens entre a origem e o consumidor final. De acordo com o Council of
Logistics Management (CLM) a gestão logística funciona como um integrador de atividades
de marketing, vendas, produção, finanças e sistemas de informações (CLM, 2004). Este
parece ser, portanto, um ponto em que a Logística se apresenta como um apaziguador de
conflitos.
A Gestão da Distribuição Física responsabiliza-se por reduzir as desigualdades entre
os objetivos do marketing e o das finanças. Tanto o movimento como a armazenagem dos
produtos acabados até o consumidor final são funções que minimizam as desigualdades de
pontos de vista: os responsáveis pelo marketing desejam produtos sempre disponíveis e em
grandes quantidades, ao passo que os profissionais da área financeira buscam a redução dos
inventários e dos custos com transportes e armazenagem (DORNIER, 2000).
A administração do canal de distribuição preocupa-se com os resultados financeiros,
mas também permanece atenta à percepção que os clientes têm a respeito de seus serviços.
CHRISTOPHER (1999) exemplifica que o objetivo logístico baseia-se fundamentalmente em
atividades que resultam na entrega do produto certo, no lugar certo e na hora certa. Isso,
segundo o autor, seria a condição para a melhor condução dos negócios e para haver
incremento na lucratividade e manter-se competitivo. Alcançar cada um dos “certos” da
Logística independentemente não significa algo de especial para o cliente. Por isso, os três
certos devem ser obtidos de forma concomitante, o que demanda um grande esforço de
coordenação.
A Logística é considerada uma atividade, portanto, conta com o uso de disciplinas de
outras áreas para formar seus profissionais. A bipolaridade entre finanças (ou custos) e
marketing é um exemplo da dificuldade em gerir recursos empresariais na área da Logística.
A solução de problemas de alocação de recursos envolvendo diversas variáveis pode ser de
difícil obtenção. Exige, então, o uso de ferramentas de otimização, nem sempre de fácil
compreensão, mas de excelente resultado. Os métodos de otimização são apropriados para
esse tipo de situação, onde a eficiência é alcançada, observando-se as restrições do problema,
através da melhor alocação dos recursos de produção.
A Pesquisa Operacional oferece soluções matemáticas para os casos em que a
otimização é necessária. Trata-se da utilização do método científico para resolver os
problemas de tomadas de decisão com os melhores resultados possíveis de acordo com as
políticas da empresa.
Pesquisa Operacional
A ciência da Pesquisa Operacional é aplicada na resolução de problemas, inclusive os
empresarias, utilizando modelos matemáticos com a assistência de computados. Os processos
de tomada de decisão muitas vezes envolvem elementos objetivos (racionais) e subjetivos
(enquadramento organizacional). Ambos são contemplados nos modelos de Pesquisa
Operacional para a solução problemas. Sua função de encontrar soluções ótimas tem uso nas
mais diversas atividades, inclusive nas de alocação de recursos, sejam eles financeiros,
materiais, patrimoniais, humanos ou tecnológicos.
A Administração, a Engenharia de Produção, e por conseqüência a Logística passaram
a utilizar a Pesquisa Operacional como método para a solução de seus problemas a partir da
Segunda Guerra Mundial. A disciplina criada para o ambiente militar transcendeu suas
fronteiras iniciais e encontrou abrigo tanto na comunidade acadêmica como empresarial no
ramo da Administração (ANDRADE, 1998).
Dentre as vantagens da utilização da Pesquisa Operacional na determinação da melhor
alocação de recursos limitados ou escassos está a possibilidade da realização de simulações de
situações reais, antecipando o conhecimento dos potenciais resultados e suas probabilidades
de ocorrer. Os métodos, portanto, permitem a avaliação de alternativas com a otimização das
atividades e de recursos.
Algumas fases são observadas na solução de problemas com Pesquisa Operacional. As
mais importantes são descritas abaixo:
a. Definição do problema: são definidos os objetivos, as alternativas de decisão, os
limites e as restrições das variáveis.
b. Construção do modelo: são apresentadas as características mais importantes do
problema abordado. O conhecimento obtido é representado através de imagens
intelectuais sobre o que é mais relevante da porção da realidade em análise.
c. Solução do modelo: o método apresenta as saídas ótimas para as entradas de
informações do modelo em questão.
d. Validação do modelo: o modelo é válido se tiver soluções de previsão
apropriadas para a realidade estudada e se forem úteis para a tomada de decisão.
e. Implementação da solução: neste momento são transferidos para a realidade os
resultados provenientes das simulações ou das otimizações.
f. Avaliação final: observação dos resultados práticos do que foi sugerido na
solução através dos modelos.
Vale lembrar que os modelos traduzem apenas uma porção da situação real e que, pela
sua simplificação, podem mostrar soluções que são boas para um segmento da empresa ao
passo que são inadequadas para a empresa em maneira geral. A Teoria Geral dos sistemas
adverte que as partes são interdependentes e que deve haver tratamento complexo para
realidade complexa (MAXIMIANO, 2002)
A modelagem matemática em Pesquisa Operacional classifica-se principalmente
segundo a forma com que são solucionados os problemas:
a. Programação Linear: as variáveis são contínuas e têm comportamento linear. As
restrições e a função objetivo também são lineares em relação às variáveis.
b. Programação Não-linear: havendo não-linearidade na função objetivo ou nas
restrições, a otimização caracteriza um problema de Programação Não-linear.
c. Programação Inteira: problemas complexos em que as variáveis não são
contínuas, mas discretas, demanda o uso de Programação Inteira.
Os diferentes tipos de Programação Matemática oferecem soluções específicas para
problemas reais. Outras disciplinas fundem suas formas de solução de forma semelhante aos
da Programação matemática.
Programação Linear
Dentre os modelos de Programação Matemática a Programação Linear serve de base
para a compreensão de todos os demais. Goldbarg (2000) considera que esse é um tipo
especial de otimização, seus algoritmos são extremamente eficientes e podem ser facilmente
resolvidos com o uso de computador. Ainda segundo o autor a Programação Linear apresenta
algumas particularidades:
a. Proporcionalidade: os volumes de recursos dispendidos para realizar as
atividades são proporcionais aos volumes de atividades atribuídos na solução
final. Ou seja, quanto mais a atividade é realizada, mais recursos ela vai
consumir.
b. Não Negatividade: deve ser sempre possível desenvolver dada atividade em
qualquer nível não negativo e qualquer proporção de um dado recurso deve ser
sempre poder ser utilizada. Os valores de utilização de recursos devem ser
maiores ou iguais a zero.
c. Aditividade: cada elemento que faz parte de uma atividade é somado a seus
pares formando o custo total.
d. Separabilidade: cada elemento que compõe o custo pode ser identificado
separadamente em cada atividade.
Para que um modelo de programação seja considerado linear todas as funções
envolvidas devem apresentar comportamento linear.
A resolução dos problemas de Programação Linear exige a quantificação do objetivo.
Geralmente o objetivo é de maximização ou minimização, ou seja, obter o lucro máximo ou
os custos mínimos. Também as restrições são importantes para estabelecer os limites de
atuação. Alguns itens podem estar sujeitos a um determinado limite de capacidade, ao passo
que outros são utilizados a partir de um nível mínimo. Finalmente, as condições de não-
negatividade devem ser exibidas, para que os valores das variáveis sejam maiores ou iguais a
zero.
Shamblin e Stevens Jr (1979) explicam que há diversas formas de notação para um
mesmo problema em Programação Linear. Em termos gerais a maximização ficaria assim:
z c1 x1 c2 x2 c j x j cn xn para n variáveis
Onde:
x j = variável decisória para a j-ésima variável
c j = coeficiente de lucro (ou de custo) para a j-ésima variável
z = função a ser maximizada (ou minimizada)
Sujeito às restrições:
a11 x1 a12 x 2 a1 j x j a1n x n b1
a 21 x1 a 22 x 2 a 2 j x j a 2 n x n b2
ai1 x1 ai 2 x 2 aij x j ain x n bi
a m1 x1 a m 2 x 2 a mj x j a mn x n bm
Onde:
a ij = coeficiente da j-ésima variável na i-ésima restrição
bi = limitação da capacidade da i-ésima restrição
Também é possível expressar na forma de somatórios ou de matrizes:
Maximizar
n
z c j x j
j 1
Sujeito a
n
a
j 1
ij x j bi para todo i = 1, 2, .... m
Solução Algébrica
A solução algébrica exige que um termo aditivo i (chamado de variável de folga)
apareça em cada inequação para transformá-las em equações. Isso tornará o sistema solúvel,
mas aumenta o número de possíveis respostas para o problema, fazendo com que uma grande
quantidade de soluções sejam apresentadas e apenas uma escolhida dentre todas. Sendo n o
número de incógnitas e m o número de restrições, haverá m+n equações. Portanto, algumas
deverão ser zeradas. São m n!/ m!n! soluções possíveis, sendo que algumas são
inviáveis. Goldbarg (2000) argumenta que o número de soluções viáveis em pontos extremos
ou vértices (próximos do ótimo) cresce de forma exponencial em relação ao número de
variáveis.
Encontrar o ponto onde os custos são mínimos ou o lucro é máximo começa ficar
trabalhoso com a adição de novas restrições. Para isso utiliza-se um método da álgebra
matricial chamado Simplex, que diminui o número de operações necessárias para resolver
problemas maiores.
Método Simplex
Devido à complexidade de alguns problemas de Programação Linear é utilizado o
método Simplex para a solução. Murty (1983) argumenta que os métodos clássicos em
cálculo ou álgebra linear não são suficientes para resolver sistemas de Programação Linear ou
de inequações lineares, por isso uma técnica especial, o Simplex, foi desenvolvida. Shamblin
e Stevens Jr (1979) explicam que são usados conceitos básicos da matemática matricial
começando com uma solução viável qualquer satisfazendo todas as restrições e acabando por
encontrar os resultados que maximizam a função-objetivo. O Simplex é um algoritmo.
Algoritmo é um procedimento ou uma fórmula para resolver um problema. Na Matemática é
um pequeno procedimento que serve para resolver um problema generalizado. Goldbarg
(2000) explica que o algoritmo Simplex soluciona problemas de equações lineares através de
uma seqüência de passos, otimizando uma função-objetivo. Teoricamente pode ser utilizado
para otimizar qualquer número de variáveis.
O algoritmo Simplex examina toda uma seqüência de pontos em uma região viável e
encontra a solução ótima. O procedimento faz com que a região viável, de um canto a outro,
seja analisada até que todos os incrementos na função-objetivo sejam testados (CORMEN,
1999).
Entretanto, os modelos desenvolvidos são de difícil e lenta solução, sujeitos ao erro
humano. De nada adiantaria obter soluções tão morosas que seu cálculo fica pronto depois
que a produção já tivesse encerrado. Por isso o uso do computador revolucionou a forma de
utilização da Programação Linear, passando de problemas estratégicos, de longo prazo, para
situações operacionais, de curtíssimo prazo.
Solver
Uma poderosa ferramenta para os sistemas de Programação Linear foi desenvolvida
para ser utilizada em planilhas eletrônicas. Trata-se do Solver, um suplemento disponível para
Microsoft Excel, Louts 1-2-3 e Quattro Pro. De acordo com o fabricante, Frontline Systems,
Inc. (2004), o programa encontra o melhor caminho para a alocação de recursos escassos. No
campo da Distribuição, que faz parte da Logística, resolve problemas de roteirização,
carregamento e agendamento. A escolha das quantidades a ser produzidas por cada fábrica e
para onde enviar seus produtos é feita com o uso da ferramenta Solver. Isso simplifica o
trabalho de alocação da produção, reduzindo o tempo necessário através do Simplex.
O suplemento do Solver padrão do Microsoft Excel trabalha com até 200 variáveis.
Porém, há versões mais robustas com capacidade para 200.000 variáveis.
Da mesma forma com que se modela um sistema linear o Solver também é preciso
especificar:
a. As variáveis de decisão: os recursos a ser utilizados
b. As constantes: os limites de utilização dos recursos
c. A função-objetivo: a forma de medir o resultado da otimização
Todos os elementos do sistema são numéricos, mas as relações entre si devem ser
definidas. O programa encontra os valores para as variáveis que irá satisfazer as restrições e
maximizar ou minimizar o resultado, conforme o objetivo.
O primeiro passo é o estabelecimento das variáveis de decisão, que aparecem na forma
de uma matriz. A seguir é colocada a função-objetivo, que define o resultado (lucro ou custo)
dependendo das quantidades alocadas. Então são definidos os limites, ou restrições, das
equações. São as capacidades máximas ou mínimas, refletindo as características do mundo
real. As restrições podem servir para um grupo inteiro ou para cada variável de decisão
individualmente, inclusive com valor superiores e inferiores concomitantemente. No
estabelecimento de restrições deve ser levado em conta:
a. As políticas da empresa: os limites até onde a organização acredita que pode
agir
b. As limitações físicas: o computador precisa ser ávida que alguns fatores não
podem ser negativos e que os recursos só podem sair da empresa depois de ter
entrado, resultando em um balanço não-negativo.
c. Restrições de integridade: a solução admite somente valores inteiros ou
respostas do tipo “sim” e “não”.
Os limites geralmente são expressos na forma de “maior ou igual” ou “menor ou
igual”.
As soluções encontradas pelo Solver são viáveis para o sistema e apresentam os
valores das variáveis de decisão, ou seja, o quanto da cada recurso será utilizado com o quê. O
fato de haver uma solução viável não significa necessariamente que esta é a mais adequada,
portanto, o Solver busca pela solução ótima, onde, além de respeitar as restrições, o objetivo é
otimizado. A solução ótima geral é encontrada quando não há a possibilidade de outra solução
viável apresentar melhor resultado. Entretanto, em sempre isso é factível, por isso há casos em
que uma solução ótima local é oferecida e significa que esta é a melhor solução viável
naquela vizinhança. Também há situações em que o Solver não consegue encontrar a solução
ótima global, então proporciona uma solução considerada boa, porém, suficientemente melhor
do que a encontrada manualmente.
Os sistemas têm soluções que podem ser fáceis ou difíceis de encontrar dependendo:
a. Das relações matemáticas entre os objetivos, as constantes e as variáveis de
decisão
b. Do tamanho do modelo (número de variáveis de decisão e de restrições) e da
quantidade de variáveis nulas
c. Do uso de variáveis inteiras
Problemas maiores exigirão, naturalmente, mais esforço computacional.
X
j 1
ij PRODi i 1,,6
X
i 1
ij DEM j j 1,,30
Com o uso de uma tabela se estabelece a margem de contribuição dos produtos sendo
fabricados em uma determinada unidade e entregues para um cliente.
Margem de Contribuição, Demanda e Produção
Localização das fábricas
RS MT GO BA PR SP Demanda
Rio Branco 0,03 1,05 0,27 -1,08 0,30 0,16 25.000,00
Maceió -0,12 -0,49 0,23 1,58 0,32 0,50 25.000,00
Manaus -1,46 1,66 0,35 -1,98 -0,92 -1,03 43.000,00
Salvador -0,47 -0,78 -0,07 1,96 -0,02 0,16 70.000,00
Barreiras -0,30 -0,18 0,53 1,32 0,14 0,31 70.000,00
Fortaleza -0,57 -0,69 0,03 1,06 -0,12 0,06 25.000,00
Brasília 0,62 0,73 1,40 0,43 1,08 1,23 115.000,00
Vitória 0,55 0,64 1,20 1,41 1,00 1,19 25.000,00
Localização dos mercados consumidores
Conclusões
A solução apresentada é a melhor possível. O método encontrou a maior rentabilidade
dentro das restrições de produção e demanda.
Toda a demanda foi atendida e nenhuma unidade industrial ficou ociosa.
As ferramentas de Programação Linear estão disponíveis para a comunidade
acadêmica há muito tempo, entretanto não são utilizadas na prática por falta de experiência
dos profissionais de logística. Alguns cursos estão lançando mão de disciplinas quantitativas
para aumentar a acuracidade das tomadas de decisão.
Apesar de não ser uma inovação a técnica de otimização através do computador ainda
não é bastante difundida devido à falta de conhecimento dos profissionais de Logística e pelo
fato de parecer complexo demais. Na verdade isso não passa de um fruto da falta de
informação. O computador auxilia na criação e gerenciamento de cenário, possibilitando a
redução de custos e o aumento na lucratividade de sistemas logísticos.
Referências
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modelos para a análise de decisão. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC: 1998.
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