Aprenda A Trabalhar Sob Pressão - Max Gehringer
Aprenda A Trabalhar Sob Pressão - Max Gehringer
Aprenda A Trabalhar Sob Pressão - Max Gehringer
SUA CARREIRA
Trabalho em uma organização que tem um ambiente opressivo. Parece que voltamos
à idade da pedra. Não existe a mínima preocupação com o bem-estar dos
empregados, e os chefes sentem orgulho quando dizem que o resultado deve ser
obtido a qualquer custo. Isso é normal?
JANE, SÃO PAULO, SP
Vamos começar definindo o que seja "normal". Uma empresa existe para gerar lucro.
Isso é normal. Como os concorrentes pensam a mesma coisa, acaba levando vantagem a
empresa que coloca mais pressão sobre seus funcionários. Isso também é normal. As
coisas começam a sair da normalidade quando essa pressão se transforma em
desrespeito e humilhação. Isso é assédio moral.
Portanto, se o que você chama de "bem-estar dos empregados" é algo que fere a lei
trabalhista (por exemplo, trabalhar em fins de semana, sem receber), sua empresa está
cometendo uma infração e está sujeita a uma punição. Se os chefes são exigentes e
opressivos, mas todas as exigências legais estão sendo cumpridas, aí as reclamações vão
ficar no campo do "seria bem melhor se eles fossem mais humanos". Mas, se os chefes
ofendem e destratam os funcionários, a coisa muda de figura. Vocês poderiam mover
uma ação trabalhista contra a empresa. Isso resolveria alguma coisa? Talvez sim, talvez
não. Depende do juiz que for julgar. Mas seria um processo demorado, e o ambiente
ficaria ainda pior do que já está.
Vamos dizer que você vá para a Inglaterra. E lá, além de aprender inglês, você consiga
fazer alguns cursos de curta duração. E trabalhe como lavador de pratos para poder se
sustentar. A maioria dos brasileiros que vão para o exterior faz isso, porque o visto
concedido é de estudante, que não permite o trabalho formal. Você fará contato com um
mundo diferente e aprenderá muito em termos de civilização. Mas, do ponto de vista do
mercado de trabalho brasileiro, os cursos contarão pouco (a não ser que você consiga
estudar numa universidade inglesa de primeira linha).
Quanto às empresas brasileiras, elas vão avaliar sua experiência de modo pragmático:
como lavador de pratos. O importante é que, antes de decidir embarcar para o exterior,
você tenha um claro propósito em mente, Thyago. Se esse propósito for "conseguir
daqui a dois anos um emprego que não estou conseguindo hoje", eu lhe diria que as
chances são remotas. Se o propósito for "somar uma valiosa experiência à minha vida,
num momento em que disponho de tempo e condições para fazer isso", vá voando.
Você pode atacar o problema por duas frentes. A primeira é a pesquisa. Mesmo sem
conhecê-la, eu chutaria que ela segue o padrão de "(a) Satisfeito (b) Neutro (c)
Insatisfeito". De modo geral, nós, brasileiros, somos gentis quando respondemos a
pesquisas. Nós tendemos a escolher o meio-termo. Empregados só respondem que estão
insatisfeitos quando estão profundamente decepcionados. Se eles estão levemente
insatisfeitos (mas o suficiente para mudar de emprego), preferem marcar a alternativa
neutra. E a pesquisa acaba revelando que "o índice de insatisfação geral é de 8%". Isso
deixa a administração não apenas feliz, mas também confortada, porque o número
reflete o que a própria administração pensa.