Antes Que o Sol Apareça - Lucília Junqueira de Almeida Prado
Antes Que o Sol Apareça - Lucília Junqueira de Almeida Prado
Antes Que o Sol Apareça - Lucília Junqueira de Almeida Prado
LUCLIA J U N Q U E I R A D E A L M E I D A P R A D O
ANTES QUE
O SOL APAREA
1 edio 1977
10 edio
1982
c e n t e n r i o d e m o n t e i r o lobato
Para meu sogro,
Sebastio de Almeida Prado,
que, enquanto viveu, soube compreender o homem da terra.
Bendito o que, na terra, o fogo fez, e o teto;
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que, do cho abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;
CAPITULO I
CAPITULO II
e expirou gostoso.
Agora mesmo estava gabando, homem de Deus! Achan-
do bom ganhar mais, falou at em comprar televiso...
v o z Televiso!!! Oba! gritaram as meninas a uma s
CAPITULO IV
CAPITULO V
CAPITULO VI
Que foi?.
O pai resolveu; vai s'imbora mesmo.
- No! Voc, no!
Como posso, Valdemar?
Amanh sbado; a gente foge. . .
Em casa, Ceio aproveita a luz, remenda umas calas pro
seu velho sair no dia seguinte, espera que ele volte da Sede.
Sabe. Tio foi de corao mido, temeroso de um mal-enten-
dido. Ela tambm sente um aperto do lado esquerdo do peito,
parece que o corao endureceu.
Meia hora depois ele volta, at satisfeito:
Tudo combinado, mulher! O patro foi bem legal. . .
Me props receber metade dos meus direitos, mais as frias
deste ano. E eu aceitei. Amanh saio madrugadinha pra pro-
curar lugar. Quem sabe ficamos a mesmo, na fazenda vizi-
nha?
Ela sente um soluo a embargar-lhe a voz:
Ento. . . vou mat um franguinho proc levar assado.
J est preso no balaio.
No carece, mulher! Eu me viro por a.
Tio, me promete; se no arrumar servio no vizinho,
oc procura numa fazenda perto daqui, de jeito que a gente
pode vir nalgum domingo, um jogo de futebol. . . ver os com-
padres . . .
T bem, mulher.
Quando a luz se apaga, acendem o lampio. O frango,
na panela, cheira bem. Silvestre quer provar. O pai pega as
perninhas j cozidas, d para ele. Jorginho est de "olho com-
prido", Luzia tambm; no querem ir dormir sem provar.
Viche! Que esganao! S sobrou o peito, meu velho!
No faz mal. Eu me viro por a.
Assim, no sbado, Sebastio de Oliveira sai madrugadi-
nha. Na reta, apanha o caminho do leite que faz o rodzio
de todas as fazendas. Apeia na vizinha. Chega casa do
administrador, que acaba de sair para ir ao ponto, distribuir
o servio. Sebastio pede emprego, d seu nome.
Mas, voc no aquele que brigou com Ansio?
No. . . pra desordeiro, aqui no tem servio.
No adianta explicar. A p, segue para outra fazenda.
"Se tivesse vindo ontem, eu inda tinha uma casa vazia," diz o
fiscal de l. Na terceira, precisam de um retireiro, lugar dis-
tante, longe da escola: "No posso," diz Sebastio. "Fiz o
propsito de deixar meus filhos pequenos ao menos arfabeti-
z." Numa quarta fazenda querem um tratorista: "Tem pr-
' a?" pergunta o patro vendo seu jeito desempeado. "No,
nunca guiei um trator," v-se obrigado a responder.
Chega em casa noite fechada. Engole um prato de comi-
da nem toma banho e cai na cama, morto de cansao.
No dia seguinte domingo, mas ele sai do mesmo jeito,
ainda escuro, para a mesma sina, as mesmas desculpas. Ento,
em uma fazenda onde estavam at desmanchando as casas da
colnia, algum explicou:
Nestes tempos que correm, com tanta facilidade de
camarada por dia, muitos fazendeiros preferem indenizar os
empregados, esvaziar as colnias e tocar a fazenda s com
paus-de-arara, uma maneira de escaparem dos problemas tra-
balhistas.
Ali estava a explicao.
Sebastio de Oliveira resolveu-se; tomou a jardineira para
o arraial, onde levou a tarde procurando uma casa para alugar.
Enfim, na Vila dos Paus-de-Arara conseguiu deixar apalavrada
uma casa de quatro cmodos, gua de poo. Depois, passou
no bar do Nego, bebeu quantos copinhos de cachaa agentou.
Saiu pelas ruas, ziguezagueando, os olhos injetados.
Ficou surpreso quando, na sada da cidade, percebeu pas-
sar o carrinho de Joaquim Boror, o compadre, mais a mulher,
Ceio, e o filho, Dito. Cambaleando, gritou:
Cooompaaadre!
Joaquim Boror freou a mula. Ceio olhou para trs.
Quando reconheceu o marido, num repente, apeou, correu para
ele:
Tio! Tio! Nossa Adelaide no amanheceu hoje em
casa! Fugiu, Tio! Fugiu com aquele tal de Valdemar.
Sebastio de Oliveira, parado no meio da estrada, as
pernas abertas para equilibrar-se, o crebro lerdo, procurando
orientao:
Fuuuuugiu?!?
. Que que oc foi fazer, homem de Deus? ela
ento pergunta porque sentiu-lhe o hlito dos bbedos.
Tooomeeei umas piiingas a maaais!
Joaquim Boror se acerca, ajuda o compadre Tio a su-
ir no carrinho; Ceio fica na beirada para amparar seu velho;
ninho do outro lado; em seguida o compadre, que atia a
m
u l a . Saem pela estrada.
De repente, Sebastio de Oliveira enterra o rosto nas
mos, a voz sai clara, mas como se quisesse pr a notcia
dentro de sua cabea:
Fugiu? F.ugiu mesmo? Oc disse que a Laide fugiu?
A mulher passa as mos pelas costas do homem:
Pois foi, meu velho! Hoje de madrugada quando oc
saiu, ela j no estava. . . Se tivesse olhado no quarto. . . ia
ver. . . Levantou na calada da noite, muito cuidosa, nem as
irms deram pela coisa. Quando percebi, era dia claro. Ento,
pedi pro compadre trazer a gente no comrcio, eu mais o Di-
tinho. . . corremos todas as casas dos conhecidos... as pen-
ses . . . No estavam em lugar nenhum.
Joaquim Boror d um galeio com as rdeas que batem
no lombo da mula, que se pe a andar mais depressa. Diz:
Hoje domingo. Eles devem estar amoitados em algu-
ma fazenda. Amanh voltam, vo querer casar. Oc vai v e r . . .
Mas, a minha Laide di-menor, compadre! S dei-
xam casar com dezesseis anos. . .
CAPITULO VII
- , Tio! No me queixo.
Sebastio de Oliveira nem conseguia erguer os olhos, emocionado.
Nunca vou m'esquecer dessas suas larguezas,compadre!
- Valdemar e Laide vo com a gente pra cidade. Melhor que eu recolha minha filha e seu
Ceio correu a abraar seu velho; a chorar, falou:
Eu sabia, Tio! Eu sabia que oc no ia me faltar.
O caminho da mudana chegava. Em meia hora carregaram as camas, o arm
um banco, os trens de cozinha, a mala com o enxoval da Adelaide, comeado h trs a
veio com a bacia do banho, Rosa com o trip das panelas
Ditinho e o pai com as enxadas, enxades, o machado. Quando estava tudo pronto, a
caminho, seu Joaquim Boror e a mulher apareceram com
porco pendurado num varal. Valdemar correu a tomar o lugar de dona Teresa, um p
Minha roseira!
Valdemar foi buscar a lata pesada, colocou na carroceri
Em volta, a roda macia das mulheres, das crianas, a gritarem adeuses. Valdemar
penso; foi abra-la.
De repente, Sebastio de Oliveira pegou o machado, chamou Valdemar:
CAPITULO VIII
tor Fbio. Na sala, o cachorro Galaxie, pensando que estivessem chamando, comeou a la
Auuuuuuuuuuuuuuuun!
Quieto, porquera! No c'oc, no!
De longe chegou-lhes a msica da moda, posta no alto-
-falante da praa. Ben levantou-se, calou as sandlias de
salto que dona Marisa lhe dera, alisou o vestido ramado:
Vou indo para a praa. Combinei encontrar com a
Aurora em frente igreja.
Cuidado, menina! Moa que anda com os beios pin-
tados, vermelhos daquele jeito, no flor que se cheire.
Deixa, me! Dona Marisa disse que a gente no pode
julgar os outros pelas aparncias, que quando me viu assim
magrinha no acreditou que eu gentasse o batido de sua
casa.
isso. . . Oc muito menina pra andar com moa
escolada como a Aurora. Donde j se viu afinar as sobran-
celhas daquele jeito que s mulher da vida usa. . .
Onde que ela pensa que vai? l do quarto per-
guntou Sebastio de Oliveira.
Enquadrar * na praa! gritou Ben j de fora.
No vai mesmo! berrou o pai, saindo do quarto
ainda a abotoar a braguilha; mas Ben j estava l o n g e . . . En-
to pediu para Adelaide e Valdemar: Vo, vo buscar essa
moleca que eu no quero outra desencaminhada aqui em casa.
, pai! Isso coisa que se fala na presena dos ou-
tros?
Mas Valdemar, trancando a boca, puxou a mulher para
fora. Na esquina, frente ao bar do Nego, outra vez calmo:
Deixa, Adelaide! Seu pai um bom p r a a . . . Vai
ficar assim at ns podermos casar, depois, conserta... Vamos
buscar Ben.
Em casa, naquele instante, perceberam que Silvestre tinha
sumido; foi um corre-corre, procura no terreiro, na frente da
casa, Ceio aflita:
Esse menino deu pra isso agora! Foge de casa todo
dia...
Jorginho veio puxando o irmo.
* "Enquadrar": n a s c i d a d e s d o interior u s a m este t e r m o para descrever a s
v o l t a s c o m p l e t a s que as m o a s e os r a p a z e s d o em redor das praas
isto nas n o i t e s de s b a d o , d o m i n g o e f e r i a d o s .
Estava na vizinha. A que mudou ontem para c, dona
Durvalina.
Voltaram televiso. Agora era a hora do programa de
louros, os candidatos a suceder-se e o gongo soava a toda
hora impiedoso. Ceio, com Ritinha no colo, ria, desdentada.
O pai segurava Silvestre.
A me parece zor! Ri como se esses cantores de ara-
que estivessem falando a maior das piadas mas ele ria tam-
bm.
Ento, uma moa de vestido longo, bonita, comeou a
cantar e o gongo no soou. Ficaram todos absortos:
Essa sim!
Quando terminou, foi levada para o trono. Rosa gritou:
J sei! Quando eu for moa quero ser cantora de r-
dio e televiso!
CAPITULO IX
No t amofines disse Joo Baiano apois, prciso t dizer, seu Vav, mas
gente do Nordeste, pur'isso s se fala "pau-de-arara".
CAPITULO XI
CAPITULO XII
CAPITULO XIII
CAPITULO XIV
CAPITULO XVIII
CAPITULO X I X
CAPITULO X X
CAPITULO X X I
CAPITULO X X I I
CAPITULO XXIII
CAPITULO X X I V
CAPITULO X X V
CAPITULO X X V I
CAPITULO X X V I I