Pesquisa e Formação em Educação Musical PDF
Pesquisa e Formação em Educação Musical PDF
Pesquisa e Formação em Educação Musical PDF
8 a 11 de outubro de 2002
Natal RN
Realizao: ABEM
DIRETORIAS REGIONAIS
CONSELHO EDITORIAL
Promoo:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
Reitor: Prof. Dr. tom Anselmo de Oliveira
Sub-comisses:
Acadmico-Cientfica:
Profa. Ms. Helenita Nakamura / UFRN
Profa. Ms. Valria Carvalho da Silva / UFRN
Artstico-Cultural:
Prof. Andr Muniz / EMUFRN
Prof. Danilo Guanais / EMUFRN
Infra-Estrutura:
Profa. Es. Catarina Shin / EMUFRN
Profa. Ms. Lourdinha Lima / EMUFRN
Documentao:
Profa. Maria Clara Gonzaga / EMUFRN
Comunicao:
Profa. Maria Helena Maranho / EMUFRN
Comit Cientfico:
TEMTICA
Sub-temas:
ATIVIDADES
- Conferncias
- Fruns de Debate
- Comunicaes de Pesquisas
- Relatos de Experincias
- Grupos de Trabalho
- Cursos
- Apresentaes Musicais/culturais
CONVIDADOS
FRUNS DE DEBATE
CURSOS
INFORMAES GERAIS
Resumo. Diante das dificuldades pelas quais normalmente o professor de musica passa ao
lidar com as classes do Ensino Mdio, por encontrar nos alunos uma postura bastante
resistente em relao a repertrios e mtodos consagrados e adotados na formao especfica,
surgiu a necessidade de se buscar alternativas que suprissem tais dificuldades a partir de uma
adequao de repertrios e metodologias realidade scio-cultural desses alunos. Para isso
faremos uma pesquisa bibliogrfica e anlise de documentos a fim de levantarmos pontos
importantes a serem considerados em uma educao musical no Ensino Mdio, buscando
traar um perfil dos alunos deste nvel de ensino quanto as suas caractersticas scio-culturais
e identificando metodologias e repertrios adequados aos mesmos. Ser realizado, tambm,
um experimento baseado numa proposta de educao musical aberta e sob uma perspectiva
criativa e contextualizada na vivncia cotidiana do aluno, no final do qual ser feita a anlise e
apresentados os resultados na dissertao de mestrado.
1. INTRODUO
2. JUSTIFICATIVA
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de msica poder ser uma alternativa para lev-lo a uma reflexo sobre a realidade que o
cerca, ao mesmo tempo em que torna significativa a sua experincia musical.
Aliando essa realidade uma prtica criativa em sala de aula, ser possvel vislumbrar
um produto musical real, que emergir do mundo real deste mesmo aluno, uma vez que se
estar manipulando elementos que encontram significados em seu prprio contexto. A partir
da ser possvel estabelecer relaes com outros contextos scio-histrico-culturais, tornando
a aprendizagem musical repleta de significados e importncia.
No que diz respeito educao musical o que se tem observado que tem havido uma
nfase nos estudos relacionados criana pequena e uma menor preocupao com a realidade
do jovem, deste os tericos mais consagrados da histria da educao musical at as reflexes
contemporneas. Por isso nossa pesquisa procurar lanar um olhar sobre a realidade do
aluno do Ensino Mdio e seu comportamento em sala de aula. Se sua realidade especfica,
suas possibilidades e tendncias so especficas, ento nada mais justificvel do que proceder
a um estudo que trate essas especificidades, olhando para o jovem com a ateno que lhe
devida.
3. PROBLEMAS DE PESQUISA
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4. HIPTESE SUBSTANTIVA
O aluno do Ensino Mdio ter uma maior aceitao do ensino de msica e,
conseqentemente, um maior rendimento no aprendizado, se este levar em conta sua prpria
vivncia cotidiana, numa atividade aberta e criativa.
5. OBJETIVOS
Geral:
Atravs de pesquisa bibliogrfica, anlise documental e experimento, buscar identificar os
elementos mais adequados ao ensino de msica no Ensino Mdio, considerando as
caractersticas especficas dos alunos para, em seguida, proceder a uma anlise dos mesmos a
fim de subsidiar uma proposta de educao musical neste nvel de ensino.
Especficos:
Traar um perfil scio-psicolgico-cultural do aluno do Ensino Mdio;
Identificar e analisar os elementos bsicos a serem considerados numa educao
musical para o Ensino Mdio;
Buscar identificar repertrios e mtodos adequados a este nvel de ensino a partir das
respostas dos alunos, inseridos numa prtica criativa e contextualizada em suas
vivncias.cotidianas.
6. METODOLOGIA
Ser feito, inicialmente, um levantamento bibliogrfico e documental contemplando estudos
sobre o potencial criador, teorias do cotidiano, abordagens contemporneas sobre paradigmas
educacionais atuais em msica, objetivos e funes da msica, reflexes sobre os PCN de arte
e toda literatura que possa contribuir para a fundamentao terica de nosso objeto de estudo
e orientao do programa que ser elaborado para subsidiar nosso experimento.
Experimento:
- Sujeitos
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Sero observadas duas turmas do 1 Ano do Ensino Mdio, perodo matutino, do
Colgio Estadual Waldemar Mundim em Goinia GO:
A-1 turma, Grupo Experimental, desenvolver a atividade proposta pela pesquisa;
B-1 turma, Grupo Controle, permanecer com suas atividades normais, desenvolvidas
pelo seu professor efetivo.
- Instrumentos
. Pr-teste e ps-teste ser aplicado um pr-teste nas duas turmas para verificar o
nvel de criatividade dos alunos. No final do experimento um ps-teste para verificar
se houve um maior desenvolvimento do potencial criador do Grupo Experimental em
relao ao Grupo de Controle.
. Questionrio antes de iniciar as aulas ser aplicado um questionrio ao Grupo
Experimental, a fim de verificar a vivncia musical de cada um, anterior pesquisa.
. Programa Ser aplicado ao Grupo Experimental o Programa de educao musical
proposto pela presente pesquisa.
- Procedimentos
. O Grupo Experimental ser submetido a um programa de educao musical
construdo abertamente, tendo como espinha dorsal a paisagem sonora e os parmetros
sonoros:
. A professora atuar como facilitadora, introduzindo os elementos a serem
explorados e organizados pelos alunos;
. As atividades sero conduzidas de modo a garantir que os elementos trabalhados
tenham uma evoluo coerente, levando o aluno compreenso gradativa da msica
como linguagem estruturada;
- Carga horria
. Por ser uma pesquisa para obter o ttulo de Mestre, o experimento ser realizado no
perodo de um ano apenas, devido ao pouco tempo para concluir a pesquisa. De agosto
de 2002 a junho de 2003 est prevista uma carga horria de 40 horas,
aproximadamente.
. As aulas sero realizadas uma vez por semana, com durao de 50 minutos cada, de
agosto a dezembro de 2002 e seguir no ano 2003 de fevereiro a junho.
- Registro
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. As atividades sero gravadas e filmadas para apreciao posterior dos prprios
alunos e para registro do experimento, a fim de proceder a anlise final da pesquisa;
- Limitao em Potencial
. Por ser uma pesquisa para obter o ttulo de Mestre, o experimento ser realizado no
perodo de um ano apenas. Dessa forma o Programa ser experimentado parcialmente,
uma vez que um programa completo para o Ensino Mdio deveria ser experimentado
no perodo de trs anos, comeando no 1 e evoluindo at o 3 ano. No entanto,
consideramos vlida tal experincia por termos como objetivo a funcionalidade de tal
programa, com vistas a futuras estruturaes curriculares.
7 -BIBLIOGRAFIA
PENNA, Maura (coord.) esse o ensino de arte que queremos?: Uma anlise das propostas
dos Parmetros Curriculares Nacionais. Joo Pessoa: Editora Universitria-CCHLA/PPGE,
2001.
6
SCHAEFFER, Murray. A afinao do mundo. So Paulo: Editora Unesp, 1997
7
CANTAR E CONVIVER,
UMA EXPERINCIA COM UM GRUPO CORAL DE ADOLESCENTES.
Agnes Schmeling
Resumo. Esta comunicao relata uma experincia que vem sendo realizada com um grupo
coral de adolescentes, vinculado ao Movimento Coral-UNISINOS (Universidade do Vale
do Rio dos Sinos/RS), propondo, a partir dela, uma reflexo acerca de como as vivncias
cotidianas de um grupo coral juvenil subsidiam a construo de uma educao musical
atraente e envolvente. A experincia trata da organizao do repertrio coral, de uma forma
interdisciplinar, envolvendo coralistas e regente num trabalho conjunto.
Introduo
A pr-reitoria de extenso da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS),
h 36 anos vem desenvolvendo a atividade coral na Universidade. Inicialmente dirigida a
adultos, atravs do Coral UNISINOS. Em 1989 ampliou-se a atividade musical a partir da
criao dos corais infantil e juvenil, oferecido para crianas e jovens com idade de oito a
dezoito anos de idade. Hoje a Universidade, pelo seu Movimento Coral (nome dado ao
movimento msico-vocal da Universidade), desenvolve o trabalho vocal da faixa etria
infantil at a terceira idade, contando com aproximadamente trezentos participantes, pelos
seguintes grupos:
Coral Unisinos (adulto misto, de vozes selecionadas)
Coral Juvenil (jovens de 14 a 19 anos de idade)
Coral Infantil (crianas de 7 a 14 anos de idade)
Coral Maior (adulto a partir dos 50 anos de idade)
Coral dos Funcionrios (funcionrios da Universidade)
Coral do Meio Dia (alunos e funcionrios do Campus Universitrio)
Laboratrio da voz, para vozes iguais (crianas iniciantes dos 7 aos 13 anos
de idade )
Laboratrio da voz, para vozes mistas (jovens e adultos iniciantes a partir
dos 14 anos de idade)
Para a conduo desses grupos a UNISINOS conta com a atuao de cinco
profissionais especializados na rea musical-coral. Ressalta-se que a Universidade no tem
departamento de msica e que estas atividades so integrantes do programa da Pr-Reitoria
Comunitria e Extenso. Integra tambm este programa, o Projeto Sinos Acorda (projeto de
aprendizagem de instrumentos de corda - violino, viola, violoncelo e contrabaixo, para
crianas, jovens e adultos a partir dos 7 anos de idade).
O Coral Juvenil UNISINOS, sob minha responsabilidade e ao qual irei me reportar
nesta comunicao, composto por 50 jovens, de 13 a 19 anos de idade. O grupo
demonstra um fascnio, uma disposio, um envolvimento marcante dos jovens para com a
atividade, o que me faz refletir sobre a atividade em si, sobre as possibilidades do fazer
msico-vocal em um grupo de adolescentes. Os ensaios so realizados duas vezes por
semana com a durao de duas horas cada.
Uma experincia
Inicia-se mais um ano letivo. As inscries e as classificaes vocais ultrapassaram
o nmero de participantes. Os jovens procuram o Movimento Coral-Unisinos para
participar do Coral Juvenil. So eles participantes do ano anterior, bem como jovens sem
experincia coral, vindos por convite, geralmente, de colegas que j cantam ou por terem
assistido a alguma apresentao do grupo.
Feliz, refao-me a pergunta do porque de tantos jovens, crianas e adultos
procurarem a atividade msico-vocal, na modalidade coral? Muitos retornam e querem
participar novamente ou dar continuidade ao trabalho do ano anterior. Cada vez mais, os
cantores, querem ser agentes do processo. H uma sinergia no trabalho em grupo. Cada
qual, trazendo sua experincia pessoal: gostar de cantar, no saber e querer aprender, por
ser vocalista de banda ou gostar de videok, karaok e procurar orientao e crescimento
vocal.
Na sua chegada so ouvidos para verificao de sua extenso e classificao vocal,
percepo e entoao e encaminhados para seu respectivo naipe (soprano, contralto, tenor
ou bartono) ou grupo (coral ou laboratrio). Preenchidas as vagas, os demais so
encaminhados para o laboratrio de voz.
O coral juvenil desenvolve um trabalho a capella, com at cinqenta vagas, tendo
como objetivo a musicalizao, o desenvolvimento vocal como instrumento para expresso
da obra musical e a performance musical construdas atravs da socializao do grupo em
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um entorno coral. Preocupa-se com adolescentes em processo de mudana vocal
possibilitando uma prtica de vozes mistas.
O repertrio desenvolvido variado, do folclrico, msicas de razes, msicas do
mundo, msicas populares, principalmente brasileiras, msica erudita. Cada ano discute-
se com o grupo, desejos e anseios do que gostariam de cantar, que tipo e sugestes de
msicas, de como gostariam que transcorresse o trabalho. H expectativas, sonhos por parte
do grupo, bem como disponibilidades por parte dos participantes e etapas de trabalho a
serem percorridas.
Neste ano de 2002 iniciamos com uma cano africana Siyahamba e uma japonesa
Sakura (sugeridas por mim), veja em anexo, as quais musicalmente, na sua escrita vocal e
concepo harmnica so de mais fcil execuo. Relembramos e refizemos Trs cantos
nativos dos ndios Kra, pesquisa de Marlui Miranda e arranjo de Marcos Leite, cano
indgena para a qual, a partir de pesquisa sobre esta tribo, havamos criado uma
interpretao, para cada canto. Cantamos tambm algumas canes populares brasileiras:
Sina de Djavan e Noite de So Joo de Vitor Ramil, as quais marcaram o trabalho do ano
de 2001. Desta maneira, como o grupo em sua maioria renovado anualmente,
possibilitamos uma mais gil unidade de desenvolvimento msico-vocal, bem como uma
cumplicidade no grupo envolvendo a todos no ensino-aprendizado.
Ouvidos atentos no que esto cantando em suas rodas de violo, no que sugerem
que seja cantado, nas discusses do que d para coro ou no, discutindo e orientando-os
nos critrios de escolha de repertrio e das possibilidades vocais-musicais do grupo em
mudana vocal, iniciamos, coralistas e regente, a construo do repertrio deste ano.
Verificamos que h diferentes agrupamentos de tipo de repertrio cujos conceitos
foram dados pelo prprio grupo, como por exemplo: Msicas nossas- Firmamento do
grupo Cidade Negra, A Irm do Dr. Robert do grupo TNT, Noite de So Joo de Vitor
Ramil; Msicas MPB- Sina de Djavan, Menina de Paulinho Nogueira, Maria Solidria,
de Milton Nascimento e Fernando Brandt; Msicas mais eruditas- Pim pam pum do
Oscar Torales, Trenzinho Caipira de Villa Lobos e as Msicas de razes- indgenas e
africanas.
Como podemos alinhavar e criar um espetculo com todo este repertrio?
Respeitando o desenvolvimento de cada um e do grupo, o coro tambm tem como agente
3
motivador, apresentaes em escolas, na Universidade, festivais, intercmbios, visando
compartilhar seu processo, sua construo desta riqueza cultural.
O desafio foi lanado, aos poucos chegavam sugestes entre as quais a declamao
de poesias das prprias msicas (por ex. Noite de So Joo de Fernando Pessoa),
coreografias, diferentes maneiras de se vestir, trajar, recursos visuais, escrita de um roteiro,
novos arranjos feitos por um coralista e buscados na internet. Com tantas sugestes,
envolvendo diferentes maneiras de expresso, lancei ainda a idia de pesquisarmos sobre as
comemoraes em relao aos 80 anos da Semana da Arte Moderna e ou da Campanha da
Fraternidade 2002: Terra sem Males. Para buscar uma contextualizao e uma relao
temtica com que se est cantando. Como escreve Souza (2001) a complexidade dos
fenmenos pedaggico-musicais talvez nos obrigar a pensar em projetos
interdisciplinares, pluridisciplinares, como forma de conectar os problemas da rea aos
mais diversos campos de saberes e possibilitar sua comunicao, inclusive com a criao
de novos campos, no mais disciplinares, mas efetivamente interdisciplinares (p89).
O envolvimento do grupo via pesquisa na internet, trazendo livros de poetas e
gravuras de quadros de artistas plsticos, as discusses entre eles, para construo do
espetculo algo apaixonante, envolvente no qual o fazer arte parte de cada um para a
construo de um todo.
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com outras maneiras de fazer msica. Por outro lado surge o sentimento de unio, amizade
de identidade de que todos esto fazendo msica, utilizando a mesma linguagem(p41).
O repertrio, nem sempre vivenciado por todos participantes, pertinente a suas
realidades, mas o fato de poder e querer experimentar, expor idias, exercitar lideranas,
aprender a ceder e acrescentar, criticar, construir uma prtica na qual acreditam ser sua
verdade, para um contexto que tem sua histria.
O adolescente traz consigo muitas experincias de vida e tambm experincias
musicais. Lidar com este leque de informaes scio-culturais algo vital para uma
proposta pedaggico-musical que inclui o canto coral como processo alternativo de
educao musical na sociedade.
O profissional que lida com o canto coral pode tambm estar preocupado com estas
questes: os problemas da apropriao e transmisso musical se orientando,
principalmente, pelas questes: quem faz msica, qual msica, como e por que a fazem?
(Souza, 2001, p89). Pois como Souza argumenta: a resposta questo como algum ouve
e faz msica, e como a julga uma premissa bsica para desenvolver e permitir
significativas experincias de aprendizagem em espaos dentro e fora da escola (p89).
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afirmando-se este como cidado, como agente do processo e no como mero receptor e
repetidor de informaes.
Anexo:
6
Referncias Bibliogrficas
ASSMANN, H. Ps-modernidade e agir pedaggico: como reencantar a educao. Texto
apresentado no VIII Encontro Nacional de Didtica e Prtica do Ensino. Florianpolis, 9,
maio, 1996. Mimeo
SOUZA, J. Mltiplos espaos e novas demandas profissionais: reconfigurando o campo da
Educao Musical. In: Anais da ABEM, Uberlndia, p. 85-91, 2001.
WICKEL, H. H. Musikpdadogik in der sozialen Arbeit. Mnster: Waxmann Verlag
Gmbh, 1998.
7
BRINCARTE
CONSERVATRIO NO ESPAO DA ESCOLA
Algumas crianas mostraram rejeio a simples brincadeiras, onde a nica regra seria pegar nas
mos dos colegas, transformando o momento de possvel alegria em instantes de inquietao. A
persistncia e a diversidade das atividades foram elementos importantes para que essa situao se
modificasse. As crianas, que utilizavam o espao do recreio para correrem desordenadamente,
comearam a brincar e a se organizar com mais harmonia e quietude. Os professores regentes das
quatro escolas estaduais passaram a colaborar com mais afinco, reforando os laos afetivos devido
a aproximao gerada pelos momentos de descontrao, transformando, assim, ao pedaggica em
momentos de aprender com alegria.
A cada aula, canes eram apresentadas e trabalhadas, formando assim, gradativamente, um
pequeno repertrio, o que viria a ser a apresentao de encerramento no final do ano. Os pais
envolveram-se na confeco de coletes para serem usados como figurino na apresentao de
encerramento, construdos de materiais reciclveis.
As crianas puderam, ento, no decorrer do processo, entrar em contato com uma
realidade criativa, rica, dinmica e inovadora, onde se destacam alguns momentos, tais como:
apresentao de instrumentos musicais na sala de aula; mostra do trabalho de canto em encontro de
Diretores e Superintendncias RENAGEST; construo de painel que serviria como cenrio da
apresentao de encerramento; desenhos para os convites da apresentao; e, principalmente, os
mais variados pedidos para que esta ou aquela msica, ou brincadeira, fosse repetida.
A presena dos professores - brincantes, na proposta do BRINCARTE, tornara-se
motivo de alegria para as crianas e para a escola.
Assim, alunos e professores, depois de tomarem um lanche em suas respectivas escolas,
e vestirem a camiseta e o colete confeccionados especialmente para o evento, chegaram de nibus
no ginsio Romo, onde l estava um enorme palco, preparado para msicos do Conservatrio,
ornamentado por dois grandes painis pintados pelas crianas.
Na entrada do ginsio foram expostas as fotos que foram tiradas em diversos momentos
no decorrer do ano letivo, onde os pais e alunos se viam, revivendo os momentos de alegria, atravs
de imagens ali expostas.
Aps a apresentao, impactados com a grandeza, dimenso e valor da atividade de
encerramento, ficou a sensao de que oportunidades como o BRINCARTE so nicas nas vidas de
todos que se dispuseram a contribuir de modo sincero, pleno e profundo realizao do ser humano
enquanto homem, homem-cidado.
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Conforme essas discusses, chegamos a uma proposta, cujos objetivos seriam vivenciar
as prticas ldicas existentes e trocar novas experincias de brincar. Partindo da vivncia das
crianas, poderamos ter uma grande referncia dessas prticas, que considervamos em estado
puro, isto , o que era aprendido espontaneamente em casa, com suas famlias, sem a
interferncia da escola. Pensando-se que o brincar parte essencial da vida humana, observa-se
que:
Assim, trabalhamos com 1000 crianas distribudas nas quatro escolas estaduais j
citadas.
Para nos aproximarmos mais do nosso objeto de pesquisa, que eram as informaes que
as crianas trariam de casa, elaboramos um questionrio, que inicialmente nos forneceria dados
sobre o brincar, contendo as seguintes perguntas:
Dia 23 de maro retornamos para as escolas, onde entrevistamos todas as crianas que
haviam trazido alguma brincadeira at ento desconhecida por ns, como tambm fizemos uma
reunio em cada uma dessas escolas, para que pudssemos entrevistar as famlias dos alunos de
pr-escola. Foi constatado que o nmero de brincadeiras de roda e brincadeiras cantadas era um
nmero pequeno em proporo s crianas, sendo ento necessrio uma busca para alm das
fontes.
Realizamos trs entrevistas a seguir:
1- Entrevistamos a Professora Ms. Marlene Ftima Freitas Borges, de modo a recolher
durante a entrevista, 66 brincadeiras de roda e cantadas, constatando que muitas
delas j no so brincadas e cantadas nos recreios, nos ptios, e nas ruas. Borges
afirma: A escola no mais estimula o tempo de brincar , o que faz com que as
crianas esqueam o brinquedo de fato no bolso , pois o recreio no representa mais
a liberdade de voar depois da tarefa e o brinquedo se afastou de sua rotina
(Borges, 2001: 103)
de recolher o mximo de brincadeiras guardadas na memria das pessoas, quer estejam nas ruas,
nas casas ou nos bairros. Essa atividade ser realizada pelos professores do Brincarte, e
monitores, que batendo de porta em porta pediro as pessoas que colaborem, doando
brincadeiras.
Na concluso desse projeto est previsto o registro dessas brincadeiras em um livro,
descrevendo-as e formatando-as musicalmente, para que possam fazer parte das prticas
educacionais de todos que, direta ou indiretamente, comunguem a crena de que brinquedo e
arte representam o passaporte para a cidadania . O cuidado com a infncia, como produto do
amanh, s se efetivar de fato na possibilidade do desenvolvimento pleno, garantindo s
crianas o exerccio da livre expresso atravs das prticas ldicas. Veja se:
A responsabilidade de um mundo adulto carente da essncia humana pesar
sobre nossos ombros se no varrermos a casinha,se no cuidarmos da
boneca,se no rompermos o cabo de guerra,se no enxergarmos as
Terezinhas de Jesus, se no enfrentarmos a prxima casa da amarelinha, se
corremos sempre para frente sem nunca parar no pique,se no apararmos a
bola dividindo-a no Maria Viola, se no passarmos o anel, se entrarmos na
ciranda cirandinhae no darmos meia volta sempre que precisar, se no
voltarmos, ainda que por instantes, a ser criana, se no buscarmos no
comeo de cada dia , os restos de manh, para a reconstruo da vida.
(Borges, 2001:173)
Referncias bibliogrficas
BORGES, Marlene Ftima Freitas. Restos de manh anlise do brincar nas dcadas de
50 a 70, na regio do Pontal do Tringulo Mineiro. Dissertao de Mestrado apresentada
ao Instituto de Histria da Universidade Federal de Uberlndia, como requisito parcial
obteno do grau de Mestre em Histria e Cultura. Uberlndia, 2001.
7
GARCIA, Rose Marie Reis & MARQUES, Llian Argentina. Brincadeiras cantadas. Porto
Alegre, Kuarup, 1989.
Introduo
A Educao Musical atual, fundamentada nos estudos da Psicologia, concebe o aluno como
ponto central da aprendizagem, considerando suas potencialidades e respeitando suas
limitaes. A educao do ouvido torna-se uma base importante para a compreenso da
msica, necessitando da participao ativa do estudante. Novas propostas pedaggicas para
a iniciao musical comeam a surgir atravs de uma melhor adequao do repertrio e da
criao de atividades para que o ensino do instrumento seja prazeroso e esteja em
consonncia com cada etapa do desenvolvimento motor e cognitivo do aluno.
O ensino de piano vem sofrendo inmeras mudanas. GAINZA (1988, p.116-117) tece um
paralelo entre a educao tradicional e a contempornea. Na tradicional, os aspectos da
msica eram inculcados no aluno de fora para dentro e na contempornea, contrariamente,
o processo educativo-musical realiza-se de dentro para fora. Segundo a autora, a educao
tradicional
O modelo vocal materno est presente desde a tenra infncia e a conscincia do ritmo se d
pelo embalo da criana ao som da msica, ou pelo contato com o corpo materno (...) Logo
que cresce, a criana torna-se capaz de cantar com a me, imitando o seu modelo (...) O
desafio a executar o modelo ouvido, a reproduzir o que foi visto, est presente tambm nas
brincadeiras infantis, onde a imitao das estruturas rtmicas e sonoras ouvidas dos adultos
representa um jogo eficaz na aprendizagem da linguagem musical. (SANTOS, 1994, p.15-
16).
A imitao na musicalizao formal reitera a idia do fazer musical como base para a
construo do conhecimento, favorecendo a prtica da improvisao e, conseqentemente,
da criao.
O menino escuta realmente como soa o que ele faz sem estar preocupado ou perturbado por
condicionamentos de leitura ou tcnica musical. O trabalho livre sobre o teclado constitui,
na minha opinio, uma condio essencial no estabelecimento e consolidao de uma
relao sadia e natural com o instrumento e a msica no qual o afeto, corpo e intelecto
formam um todo integrado.
O papel do professor deve ser o de conduzir o aluno a perceber no apenas notas e ritmo da
melodia que vai imitar, mas todos os elementos musicais como forma, intensidade e
aggica. Para tal, o educador precisa ter conscincia da importncia do processo imitativo
como possibilidade de ampliar a percepo e otimizar a compreenso e interpretao
musical.
De acordo com GONALVES (1989, p.05) para valer-se do recurso do ensino por
imitao, o professor deve ter ntidos os objetivos e dominar procedimentos especficos
dessa estratgia de ensino.
Apresentamos duas canes do livro Piano 1 para exemplificar a aprendizagem pelo
processo imitativo. A pgina dedicada ao professor contm os objetivos, as orientaes e a
partitura com a melodia, letra e acompanhamento. A pgina do aluno traz a letra da cano
e o desenho do teclado como material de referncia para a localizao das teclas utilizadas.
Em Piano 1, a prtica pedaggica da imitao apresentada no incio do livro, mas
acreditamos que esse procedimento deva ser utilizado tambm aps o domnio da leitura
musical. O professor pode utilizar-se de temas folclricos e populares para enriquecer o
repertrio do aluno e possibilitar o desenvolvimento de sua musicalidade. De acordo com
FRANA SILVA (1998, p.241):
preciso que dentro do repertrio do aluno haja espao para que ele toque peas mais
acessveis, que ele possa realizar mais confortavelmente, com expresso, toques
imaginativos e com um senso de estilo, para que possa sentir quo satisfatria a experincia
musical pode ser.
Resumo. Este artigo versa sobre a integrao entre os Cursos de Graduao e Extenso da Escola
de Msica da Universidade Estadual de Minas Gerais, atravs do Estgio Supervisionado no Curso
de Musicalizao Infantil. Apresenta as estratgias adotadas e relata a importncia dessa iniciativa
para a formao profissional dos alunos.
Introduo
A Escola de Msica da antiga FUMA Fundao Mineira de Arte Aleijadinho, foi incorporada
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) em 1995. Atualmente, sob direo do professor
Domingos Svio Lins Brando e vice-direo do professor Nelson Salom, oferece cursos de
Graduao (Bacharelado em Msica com habilitao em Instrumento ou Canto, Licenciatura em
Educao Artstica com habilitao em Msica e Licenciatura em Msica), Especializao em
Msica Brasileira Prticas Interpretativas e Cursos de Extenso permanentes Bsico e
Musicalizao Infantil. A escola tem buscado a integrao entre seus cursos e maior participao
na comunidade.
Os cursos de graduao
A Licenciatura em Msica foi criada em 2001 e tem como objetivo principal formar profissionais
para exercerem atividades no ensino fundamental e mdio e em escolas de msica. O enfoque do
curso essencialmente didtico: as aulas de instrumento so coletivas e os alunos, alm de tocar,
tambm discutem e apresentam possibilidades pedaggicas para a compreenso e interpretao das
obras. Alm da docncia, o licenciado poder atuar de maneira integrada com outras reas
artsticas.
O estudo dos novos currculos baseou-se nessas diretrizes e procurou inserir na proposta os sete
campos de conhecimento: Instrumental (Instrumento/Voz e Regncia), Composicional, de
Fundamentos Tericos, de Formao Humanstica, Pedaggico, de Integrao (estgios, prticas de
ensino) e de Pesquisa.
Os cursos de extenso
A Musicalizao Infantil significou uma srie de vivncias nicas: trabalhar a msica em grupo,
experimentar seu carter ldico, atuar em pblico, lidar com a crtica de maneira construtiva. O
grande diferencial da musicalizao na infncia que ela proporciona tudo isso num momento em
que no se racionaliza o aprendizado: a criana aprende mais. Ainda que a msica no seja uma
opo para a carreira, esse aprendizado permanece.
O Curso tem sido utilizado como laboratrio e referncia para produo acadmica de professores.
Podemos citar a monografia da professora Snia Assis Construo e aplicao de instrumentos
alternativos no processo de musicalizao que mostra o resgate da cultura brasileira atravs da
construo de instrumentos de origem africana e indgena e sua experimentao nas turmas de
Musicalizao Infantil.
De acordo com a professora Flvia Botelho, mestra em piano pela UFRJ, as aulas de piano em
grupo tm contribudo com sua experincia docente, no que tange busca de novas estratgias para
o ensino instrumental.
Acreditamos que professores e educadores no percurso de sua formao acadmica devem ter
espao para a experimentao e o exerccio dos conhecimentos adquiridos atravs da prtica
orientada.
As contribuies do Estgio Supervisionado podem ser comprovadas nas declaraes dos prprios
estagirios em questionrios de avaliao. Os alunos reconhecem o valor dessa oportunidade e
afirmam ter real aproveitamento na aplicabilidade dos procedimentos pedaggicos vivenciados.
A Escola de Msica da UEMG tem pleno interesse na continuidade e ampliao dessa iniciativa
para que se torne fonte de pesquisa cientfica e integrao de seus alunos na comunidade,
fortalecendo o perfil que a instituio tem construdo no meio acadmico.
Referncias bibliogrficas
MARINO, Gislene, RAMOS, Ana Consuelo. Piano 1: arranjos e atividades. Belo Horizonte.
Edio das autoras, 2001. 193 p.
PENNA, Maura. O desafio necessrio: por uma educao musical comprometida com a
democratizao no acesso arte. Cadernos de estudo: educao musical, So Paulo, n. 4/5, p.
15-29, Atravez, 1994.
SAMPAIO, Marcelo Almeida. Mtodos brasileiros de iniciao ao piano: um estudo sob o ponto
de vista pedaggico. Rio de Janeiro: Universidade do Rio de Janeiro, 2001. 126 p. (Dissertao
de Mestrado em Educao Musical).
1
Segundo Rocha (1995:33), Indstria Cultural, no seu sentido amplo, designam as produes simblicas que
circulam na Sociedade Industrial e so veiculadas pelos Meios de Comunicao de Massa.
produto de qualidade duvidosa, a nosso ver , mas que simbolicamente trabalhado para
atender aos desejos infantis.
Nesse trabalho em classes de Educao Infantil, percebemos que ao sugerir
brincadeiras e canes ligadas ao folclore brasileiro, muitas crianas no conhecem como se
brinca e no sabem cant-las. Observamos tambm que quando os movimentos da dana
incluem um rebolar - tradicionalmente um inocente movimento de quadris - as crianas
imitam imediatamente os movimentos coleantes das danarinas de alguns grupos de msica
baiana mostrados exausto nos programas dominicais da tev.
A Formao do Professor
Acreditamos que um trabalho de qualidade na educao musical infantil s pode ser
realizado por profissionais terica e metodologicamente preparados para que possam
reconhecer em diferentes situaes as necessidades do desenvolvimento infantil. Um
professor na complexidade e na diversidade desse desenvolvimento, saiba, no seu cotidiano,
contribuir na promoo e ampliao das experincias das crianas, favorecendo um espao de
construo interativa do conhecimento.
Desse modo, iniciamos um trabalho de investigao da ao docente como elemento
desconstrutor e, conseqentemente, construtor de um novo paradigma esttico-musical a
partir das classes iniciais. Para isso necessrio que o professor desenvolva competncias, ou
seja, que mobilize os recursos necessrios para uma determinada ao (Perrenoud, 2001).
Como exemplo: a partir de um trabalho de canto em conjunto e de audio de boas
gravaes de canes no s folclricas, como tambm clssicas e populares, desmobilizar
pr-conceitos musicais que as crianas demonstram, passando a construir um novo repertrio
juntamente com aquele trazido pela criana.
Neste sentido foi positivo o trabalho realizado por uma das autoras. Partindo de uma
pesquisa de repertrio com as crianas em suas famlias e cruzando as informaes trazidas
pelas crianas com o repertrio antecipadamente preparado por ela, construram juntas um
novo repertrio. A importncia de se ter um repertrio preparado a de se pensar numa
organizao prvia para ser trabalhada em paralelo com as canes recolhidas.
A necessidade de instrumentalizar o professor com repertrio adequado ao trabalho na
Educao Infantil vem ao encontro da necessidade de uma maior reflexo sobre os produtos
veiculados pelos meios de comunicao.
Cabe ao professor optar por novas oportunidades de aperfeioamento, de acordo com
seus interesses e demandas (Kenski, 1998). A formao continuada de professores como
investimento na direo da melhoria do ensino indicada, entre outros, por Schn (1992) e
Nvoa (1992).
Nossa proposta
Ao verificarmos a carncia de oportunidades de formao continuada para professores
na Educao Musical, em particular dos que atuam na Educao Infantil, decidimo-nos por
desenvolver uma pesquisa com o objetivo de estruturar um curso voltado s necessidades
mais prementes na rea.
Considerando a fundamental e permanente necessidade de formao do professor, a
viabilizao de um curso a distncia apresenta a possibilidade de atingirmos os mais distantes
pontos do pas alm de flexibilizarmos o horrio dedicado ao estudo. Alm disso, possvel o
confronto das novas informaes com a prtica educativa, bem como favorecer a
oportunidade dos professores perceberem que eles prprios so possuidores de conhecimentos
que podem contribuir para a compreenso e aperfeioamento do processo educativo (Pedrosa,
2001)
Tambm partimos da necessidade de que a prtica de formao e a prtica que se
pretende implantar em sala de aula sejam coerentes (Kramer, 1989). Da considerarmos de
grande importncia uma investigao junto ao professor para detectar como ele se sente
fazendo o que faz, quais os modos como se relaciona com a criana etc.
Com esse objetivo estamos estruturando um curso a distncia para professores que
atuam com Educao Musical e/ou Educao Infantil que lhes permita aprimorar o
desempenho de suas atividades.
O curso em projeto destina-se, prioritariamente, a professores que atuem na rea da
Educao Musical e/ou Educao Infantil. Esta opo deve-se importncia de uma
estruturao que privilegie o trabalho em equipe e a fundamentao interdisciplinar que
norteiam nosso projeto.
Nossas primeiras observaes indicam a necessidade de:
Oportunizar ao professor a elaborao de um repertrio prvio para a gradao das
dificuldades musicais e que tenha funo de parmetro pesquisa realizada com as
crianas;
Propor ao professor da Educao Infantil das classes de pr-escolar reflexes sobre as
produes musicais atuais, principalmente aquelas que se dirigem s crianas;
Fundamentar tcnicas de pesquisa para que o prprio professor pesquise junto s crianas;
Repertoriar canes folclricas e populares para serem trabalhadas e pensadas junto com
as crianas;
Subsidiar na escolha dos suportes musicais que favoream a integrao das atividades
musicais a necessidades especficas. Por exemplo: entonao meldica - fala. Marcao
rtmica - psicomotricidade. Canto - percepo do prprio corpo;
Discutir atitudes do professor que favorecem ou inibem a criao de um clima afetivo.
Observaes finais
A possibilidade da educao a distncia permitir que um sem-nmero de professores
possam sintonizar-se com as orientaes mais contemporneas da Educao Musical na
Educao Infantil, no significa um atendimento coletivo do ordem quantitativa. Acreditamos
que a troca de experincias e o apoio ao professor, s deve realizar-se quando haja condies
do estabelecimento de vnculo entre todos os participantes, ou seja o atendimento deve ser
individual e de ordem qualitativa.
Nossa proposta de estruturao do curso contribui para que exista uma forte relao
teoria - prtica, prtica - teoria. Consideramos fundamental que os professores tenham
oportunidade de praticar e aplicar suas aprendizagens e de relacion-las a sua prpria
experincia. Durante o curso os professores sero incentivados a registrar diariamente suas
atividades, atitudes, observaes, sentimentos etc.
Este projeto vem sendo desenvolvido em carter particular por iniciativa das
pesquisadoras, no contando at o presente momento com nenhum apoio ou qualquer vnculo
institucional.
Referncias bibliogrficas
1. Introduo
O Curso Tcnico em Instrumento Violo do CEMCPC tem durao de trs anos,
divididos em seis nveis de ensino denominados Nvel Mdio 1 (M1), Nvel Mdio 2 (M2),
Nvel Mdio 3 (M3), Nvel Mdio 4 (M4), Nvel Mdio 5 (M5) e Nvel Mdio 6 (M6).
Desde meados dos anos 905 a metodologia do ensino do violo em grupo est sendo
aplicada pelo autor no Ensino Mdio. Sendo assim, com objetivo de ampliar e enriquecer o
repertrio de obras para a metodologia de Ensino em Grupo, o autor elaborou arranjos e
1
No presente trabalho entende-se o significado de arranjo em separado de adaptao. O primeiro refere-se
composio de outras vozes a partir de uma melodia original, e o segundo como separao das vozes da partitura
original para outros instrumentos.
2
O Curso Tcnico ministrado no Ensino Mdio.
3
No trabalho corrente, compreende-se CEMCPC por Conservatrio Estadual de Msica Cora Pavan Capparelli.
4
Na gravao do CD foram utilizados os seguintes os seguintes programas: Encore 4.2.1, Finale 2002, Cakewalk
9.0, Virtual Sound Canvas 3.2 e Sound Forge 5.0.
5
Motivados pelo Anexo I, da Resoluo n 6791/90, que normatiza o ensino de instrumento em grupo no Ensino
Fundamental, os autores ampliaram esta metodologia para o Curso Tcnico em Instrumento no CEMCPC.
2
adaptaes de diferentes obras com vistas prtica instrumental em grupo para os nveis j
citados do Curso Tcnico em Instrumento Violo da j citada instituio de ensino.
Neste relato de experincia sero apresentados nove arranjos e adaptaes de obras para
dois e quatro violes, todas de carter popular, bem como anlise destas peas com o propsito
de nivelamento para Curso Tcnico em Instrumento Violo do Conservatrio Estadual de Msica
Cora Pavan Capparelli, de Uberlndia, Minas Gerais.
Os aspectos e critrios levantados para anlise dos arranjos e adaptaes, com vistas a
classific-los para uma sugesto de repertrio para aulas em grupo do Curso Tcnico do
CEMCPC, esto fundamentado nos Princpios Tcnicos de Jodacil Damaceno. Estes preparam o
aluno para tocar qualquer tipo de repertrio, seja este erudito, popular, solo ou mesmo tocar em
grupo e constam no Programa do Curso Tcnico de Violo do Conservatrio Estadual de
Msica Cora Pavan Capparelli. A partir da, foram levantados os seguintes critrios para a
referida anlise:
Tonalidade
Mudana de Posio
Dinmica
Ritmo
Melodia
Dedilhado
Arpejo
Escala
Aspectos tcnicos apresentados na obra.
posies6 , sendo tocada apenas nas trs primeiras cordas. Tanto o 2 como o 3 violo esto sendo
executados 2 posio. Enquanto o 2 violo utiliza apenas as trs primeiras cordas, o 3 violo,
utiliza as 3 ltimas. Ritmicamente, a pea simples, podendo ser conferido na partitura anexada a
este trabalho.
6
A posio indica a casa em que o dedo 1 (indicador) deve ficar. Dedo 1 na casa um 1 posio. Dedo 1 na casa
dois 2 posio, etc.
4
Este arranjo fica, segundo este trabalho, classificado no Nvel M1 por fornecer elementos
para serem trabalhados na escala de R Maior, nas 2, 5 e 8 posies, oportunizando assim, a
aplicao dos Elementos Tcnicos estudados no nvel M1, de acordo com a 2 parte do Programa
do Curso Tcnico de Violo do Conservatrio Estadual de Msica Cora Pavan Capparelli (ver
anexo).
Na adaptao da obra Lana Perfume de Rita Lee (Tabela 2), a tonalidade R Maior,
sendo que a melodia executada pelo 1 violo, nas 3 primeiras cordas e nas 8 e 10 posies.
No 2 violo, ter-se- 5 posio. J no 3 violo aparecer as 1 e 2 posies, enquanto no 4
violo, apenas a 2 posio, em que trabalhado principalmente as notas mais graves. Na questo
rtmica, a obra simples.
A adaptao est classificada no Nvel M2 por oportunizar a aplicao da 2 parte do
Programa do Curso Tcnico de Violo do CEMCPC (Ver Anexo), no que se refere a escalas.
Em Jazz Walk de Robert Pace (Tabela 3), obra adaptada para dois violes, observa-se que
a tonalidade da adaptao Sol Maior, sendo a mesma tonalidade original , e que executada na
1 posio tanto no 1 violo quanto no 2 violo. Tambm observado que a melodia est no
primeiro violo, sendo executada somente nas trs primeiras cordas do violo. Ritmicamente,
pode-se dizer que a obra no apresenta dificuldades, sendo utilizadas somente as seguintes
clulas rtmicas:
Na adaptao para dois violes da obra Big Band Tune de Mike Schoenmehl (Tabela 4)
observada a tonalidade de D Maior. No 1 violo tem-se a presena da melodia, sendo esta
executada na 1, 2, 4 e 5 posies. No 2 violo, apenas a 1 posio. Ritmicamente, a
adaptao apresenta as seguintes clulas:
Contratempos:
7
A afinao do violo : mi (1 corda), si (2 corda), sol (3 corda), r (4 corda), l (5 corda) e mi (6 corda), sendo
possvel mudar a afinao de algumas cordas.
7
A melodia inicia-se no 2 violo, sendo que a mesma passa para o 1 violo, uma oitava
acima, no 23 compasso. A melodia executada a uma voz e o acompanhamento executado por
acordes.
A classificao da adaptao justifica-se por estarem presentes ornamentos que so
trabalhados no nvel M4 do Programa do Curso Tcnico de Violo do CEMCPC.
Na obra Solace de Scott Joplin (tabela 8) observada a tonalidade de F Maior, bem
como a presena de mais de uma voz no primeiro violo e tambm no segundo violo. A
melodia executada pelo primeiro violo a partir do compasso nmero 17 (dezessete).
Ritmicamente, a obra apresenta as seguintes clulas:
o acompanhamento, havendo uma grande utilizao dos baixos. O primeiro violo explora toda a
extenso do instrumento. Ritmicamente, o arranjo apresenta o seguinte:
4. Consideraes Finais
A ttulo de consideraoes finais, o presente relato mostrou a experincia dos autores em
desenvolvimento no CEMCPC destacando a relevncia da criao de arranjos para ampliar o
repertrio do ensino de violo em grupo no Curso Tcnico em Instrumento.
Apresentou-se o processo de construo dos arranjos e adaptaes bem com os
fundamentos tericos e metodolgicos da anlise dos mesmos. Tais fundamentos foram
subsidiados no trabalho do Professor Jodacil Damaceno quando da sua atuao como eminente
profissional acadmico da UFU e cujo nome relevante no pas.
Por fim mostra-se o resultado sonoro dos nove arranjos e adaptaes em CD anexado ao
presente relato.
Concluindo, torna-se importante dizer que este trabalho poder ser um campo rico para
abertura de temas para pesquisa na rea.
Referncias bibliogrficas
BARBOSA, Joel L. da Silva. O Ensino em Grupo de Instrumentos de Sopro na Educao
Profissional. In: VII ENCONTRO ANUAL DA ABEM, VII, 1998, Recife. Anais... Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, 1998. p. 107-113.
CAMPOS, Andr; DAMACENO, Jodacil. Caderno Pedaggico: uma sugesto para iniciao ao
violo. [S.l: s.n., 2000]. 88p.
MORAES, Abel. Ensino Instrumental em grupo: uma introduo. Msica Hoje , Belo Horizonte,
n. 4, p. 70-78, 1997.
RICHARDS, William II. A Briel Cronology. The Piano Quartely, v. 26, n. 101, p.12-40, 1978.
Lista de Tabelas
Tabela 1
Nome da Obra / Compositor Nvel Tonalidade Posio Melodia
1 violo
1, 2, 5 e 8
O Primeiro Natal / Folclore Ingls M1 R Maior (3 primeiras
posies
cordas)
Tabela 2
Nome da Obra /
Nvel Tonalidade Posio Melodia Dinmica
Compositor
1 violo
Lana Perfume / 1, 2, 5, 8 e 10
M1 R Maior (3 primeiras mf, mp, p
Rita Lee posies
cordas)
Tabela 3
Nome da Obra /
Nvel Tonalidade Posio Melodia Dinmica
Compositor
1 violo staccato (2 violo)
Jazz Walk /
M2 Sol Maior 1 posio (3 primeiras mp, cresc. decres.
Robert Pace
cordas) Apoio (1 violo)
11
Tabela 4
Nome da Obra /
Nvel Tonalidade Posio Melodia Dinmica
Compositor
Big Band Tune / 1, 2, 4 e 5
M2 D Maior 1 violo
Mike Schoenmehl posies
Tabela 5
Nome da Obra /
Nvel Tonalidade Posio Melodia Dinmica
Compositor
Berimbau / 1, 2, 5 e 10 1 e 2
M2 R Menor mf, mp, f
Baden Powell posies violes
Tabela 6
Nome da Obra / Compositor Nvel Tonalidade Posio Melodia Dinmica
Flor e Espinho /
1 e 5 1 e 2
N. Cavaquinho, M3 R Menor mp, pp
posies violes
G. de Brito e A. Caminha
Tabela 7
Nome da Obra / Compositor Nvel Tonalidade Modulao Melodia
Years of Solitude / Mi Maior 1 e 2
M4 Sol Maior
Astor Piazzolla Lab Maior violes
Tabela 8
Nome da Obra / Compositor Nvel Tonalidade Melodia Dinmica
Solace / 1 e 2 mp, fermata,
M5 F Maior
Scott Joplin violes cresc
Tabela 9
Nome da Obra / Compositor Nvel Tonalidade Melodia Dinmica
O Choro de Juliana /
M6 L Maior 1 violo mf, cresc., decresc.
Marco Pereira
O IMPACTO DO PROGRAMA DE MESTRADO INTERINSTITUCIONAL EM
ARTES, CONVNIO UFRN-UNICAMP
Resumo. Este relato tem como ponto de partida a experincia vivenciada, na tentativa de
titular quatorze docentes da UFRN, em parceria com a UNICAMP, sem acarretar um
prejuzo maior aos cursos da primeira Universidade, que ainda estavam em fase de
implantao.
INTRODUO
JUSTIFICATIVA
OBJETIVOS
2
dictionary of music and musicians, uma das grandes obras de referncia mundial na rea de
msica.
O item 3 foi alcanado da seguinte forma: durante os vinte e quatro meses em que
estivemos em contato com os docentes do programa promotor a UNICAMP podemos
relatar a realizao de sete palestras, quatro masterclasses e dois concertos direcionados aos
nossos alunos dos diversos nveis de ensino onde a Escola milita.
A CAPES formula uma srie de exigncias para que uma instituio possa ser
credenciada enquanto instituio promotora, conforme podemos observar na tabela 1. Na
rea de msica, especificamente, encontrar um programa que possa servir a este papel ainda
mais complexo, pois a maioria das candidatas a instituio receptora possui equipes que
tm ligaes com prticas interpretativas, matrias tericas e educao musical. Achar um
programa que possua tamanha diversidade de linhas de pesquisa no fcil. No caso da
UNICAMP, contvamos com linhas de pesquisa na rea de Prticas Interpretativas,
Articulao Terica e Composio.
DIFICULDADES OPERACIONAIS
3
O maior desafio em uma amarrao interinstitucional garantir um permanente
contato entre orientandos e orientadores. Felizmente, tanto a UNICAMP como a UFRN
possuem uma infraestrutura de informtica compatvel com to grande desafio. Outra
dificuldade observada foi o cansao a que est submetido a equipe da Instituio Receptora,
que desenvolve paralelamente atividades de ensino e pesquisa, e ainda passam pela
estressante situao de correr contra o tempo para a concluso, fixado em 24 meses.
RESULTADOS
4
INFORMAES TEIS
5
Tabela 1- Principais Requisitos para as Instituioes Participantes, projeto MINTER
Instituio Promotora Oferecer em sua sede programa de Ps-
Graduao com nota igual ou superior a 4
(quatro), segundo a ltima avaliao da
CAPES.
Instituio Receptora 1- Garantir a infra-estrutura bsica
exigida para as atividades de ensino e
pesquisa inclusive relacionando o
material bibliogrfico disponvel na
instituio para o oferecimento do
curso.
2- Contar, durante todo o perodo de
execuo do projeto, com, pelo
menos, um doutor com condies
de auxiliar na conduo da
programao acadmica e no
acompanhamento e co-orientao
dos alunos.*
3- Possuir um nmero mnimo de 10
alunos (docentes) e o nmero
mximo de 25 alunos (docentes)
para cada curso implementado no
programa, independente da rea.
4- Os alunos do curso devero pertencer
ao quadro docente permanente - de
uma das instituies beneficirias do
projeto: receptora ou associadas.
Tambm devero contar, no momento
do incio do curso, com, pelo menos,
12 (doze) anos para integralizar o
tempo legalmente fixado para a
obteno de sua aposentadoria por
tempo de servio.
Instituio Associada** 1- Ser reconhecida pelo MEC
2- Possuir um grupo de docentes
particularmente interessados em sua
capacitao em nvel de mestrado.
*A CAPES poder viabilizar o atendimento dessa condio concedendo uma bolsa de
Professor Visitante/Mestrado Interinstitucional a um doutor - que pode ser ou no
um professor aposentado - que se fixe na receptora durante o perodo de promoo
do curso para o desenvolvimento das atividades acadmicas, gerencial e
orientao/co-orientao dos alunos.
** Participa da definio e execuo do projeto como instituio interessada na
capacitao de um grupo de seus docentes.
6
Tabela 2- Nome dos participantes e ttulos dos trabalhos apresentados no Convenio
MINTER UFRN-UNICAMP
Andr Luiz Muniz Oliveira O Magnificat de J. S. Bach: Uma leitura a
Luz do seu Significado Retrico Musical.
Alexandre Alves Casado Sonata de Csar Frank - Anlise das
Possibilidades Tcnicas.
7
O ENSINO DO PIANO E DO TECLADO: UMA PROPOSTA METODOLGICA
EM EDUCAO MUSICAL SOB A TICA DA PERCEPO E DA CRIAO
Resumo. Esta pesquisa fruto da reflexo sobre as dificuldades vivenciadas por mim no mercado de trabalho, a meu
ver oriundas de falhas da minha formao. Buscando super-las na minha prtica docente, recorri a subsdios tericos e
recursos metodolgicos que pudessem dar suporte um trabalho que vinha desenvolvendo informalmente com alunos
particulares: a partir da vivncia e da percepo dos elementos estruturais de uma cano (captada pelo ouvido), o aluno
desenvolvia a tcnica pianstica, a improvisao, composio, harmonizao, transposio. Ao surgir, ento, a
oportunidade de trabalhar com um grupo de alunos em um dos centros de cultura do municpio de Goinia, no hesitei
em avanar, em tentar desenvolver uma prtica formativa que pudesse contemplar os aspectos importantes de uma
educao musical abrangente, na qual o aluno pudesse participar ativamente da construo do seu conhecimento a
partir de experincias significativas, compatveis com um fazer musical imaginativo, reflexivo, consciente, consistente e
expressivo.
OBJETIVOS:
Pensando, ento, em uma prtica formativa mais abrangente, que valorize o estudo
contextualizado e interdisciplinar, no qual o aluno participe ativamente da construo do
2
conhecimento para melhor compreend-lo e interpret-lo, que est sendo desenvolvida esta
pesquisa que tem como objetivo central:
PRESSUPOSTOS TERICOS
A teoria de Piaget (in Beyer, 1999, pp. 14-15) referente aquisio do saber, como produto
da mediao da ao do sujeito sobre o objeto e a reorganizao posterior do mesmo, ou seja, ao e
reflexo - prtica e teoria, vistas como um conjunto interdependente, interferiu muito para a
mudana de direo na educao musical. Para ele, o "saber fazer" impulsiona o "saber conceptual'
atravs da representao mental a qual operacionalizada segundo o sistema da imagem mental.
Beyer, ao buscar entendimento do processo de cognio musical luz dessa teoria, explica
que na msica essa operao da imagem, denominada aural por estar alicerada sobre a audio,
que possibilita a evocao simblica da realidade musical ausente. "A representao mental,
portanto, um pr requisito ao exerccio da atividade musical". (1999, pp. 16)
Nesse sentido, Tourinho, ao traar consideraes sobre a avaliao de mtodo de ensino de
msica, ressalta:
O que parece bvio mas permanecia oculto foi trazido para o centro do debate de educao musical: a
nfase na msica como arte aural, portanto fundamentalmente ligada audio; a viso do som e
outros 'conceitos' musicais como fenmenos relacionais; e a noo de aprendizagem como experincia
que envolve mltiplas dimenses do comportamento (o fazer, o recriar) do sentimento (a sensao, a
percepo) e do pensamento (o intuir, o conceber, o imaginar). (1994, pp. 33-34)
A partir dessas concepes, compreendo, portanto, que o fazer musical fundamental antes
da elaborao dos conceitos referentes simbologia musical.
Citado por Costa, Ferraz designa esse fazer como a mediao que ocorre entre a percepo e
a elaborao da estrutura musical no corpo daquele que a pratica, explicando que "para se estudar o
dinamismo musical necessrio uma anlise para alm do enunciado musical, vendo-o no como
um objeto isolado, mas como fruto do contato entre a sua realizao acstica e seu receptor, seja
este algum que cante, componha, dance ou oua". (2001, pp. 462)
Para tal prtica formativa, preciso trabalhar a audio de forma reflexiva, para que o aluno
seja capaz de analisar, identificar, julgar, compreender os elementos musicais, e por conseguinte,
3
agir criativamente sobre a sua percepo. Dessa forma, o desenvolvimento da percepo iria muito
alm do trabalho usual, como assim sugere Bernardes: "Se tradicionalmente o treinamento auditivo
proposto de cima para baixo e de fora para dentro, aqui tem-se o contrrio em todas as direes: a
cada vez que se ouve, ouve-se o que d conta de ouvir e compreender; isso acontece de dentro para
fora." (2001, pp. 583)
No ato criativo tomado como pedaggico estariam contempladas todas as instncias do fazer musical.
Ou seja, na atividade de criao trabalha-se o ouvido interno e o externo, tem-se a oportunidade de
improvisar sobre o material e as possveis relaes que sero estabelecidas, o que significa, alm da
prtica instrumental, o treinamento auditivo feito de forma ativa e reflexiva, uma vez que escolhas
tero que ser feitas. (2001, pp. 583)
Schaffer faz restrio leitura musical nos primeiros estgios da formao, alegando que
"ela incita muito facilmente a um desvio de ateno para o papel e para o quadro - negro, que no
so os sons" (1991, pp. 307), elementos fundamentais da educao musical. Questiona o tempo
gasto com exerccios silenciosos, sem sentido. Para ele, a escrita musical tem incio em um primeiro
momento atravs de grafia elaborada pelos alunos; s h orientao do professor quanto aos
aspectos omitidos.
Segundo Lino, "essa experincia informal com a partitura, alm de contemplar as hipteses
representativas, abre espao para a descoberta e melhor compreenso do sistema representativo
musical"(1999, pp. 71). Isso ocorre, a meu ver, pelo fato de os sons j terem sido gravados na mente
atravs da representao mental e nos sentidos atravs dos movimentos, do canto e da execuo
instrumental. Sendo assim a notao no ser entendida apenas pelo seu lado grfico, mas tambm
pelo seu lado simblico, carregado de significado e sentido, pelo fato de ter sido experimentada
pelo corpo.
4
Em uma prtica musical desse porte, no haveria espao para o trabalho individualizado do
professor, isto , voltado apenas para o domnio de sua especificidade. importante mencionar que
em 1921, Dalcroze j chamava ateno para essa questo:
Os cursos de msica so muito fragmentados e especializados. Cada professor est confinado no seu
prprio domnio. [...] como toda msica est fundada na emoo humana, e na pesquisa esttica a
partir da combinao dos sons, o estudo do som e movimento deveria ser organizado e harmonizado
sem nenhuma rea da msica ser separada da outra. (1988, p. 6-7)
PROCEDIMENTOS
Desenvolvimento
1- Levantamento bibliogrfico
Por meio de canes elaboradas por mim (3, 5 sons, texto significativo, frases curtas) e,
posteriormente, de canes folclricas e populares, desenvolvo todo o processo de musicalizao:
com a letra, duas notas ou um motivo, percebendo se na relao entre elas o som subiu, desceu
ou se repetiu. Assim, chega-se primeira frase, e com o auxlio da anlise morfolgica,
conclui-se a pea. Cada aluno recebe uma fita K7 com a gravao do material para o estudo em
casa.
- A transposio: por meio do canto (pequenos trechos cantados no incio da aula, primeiramente
com texto depois com nome das notas) e no instrumento (esses trechos e as canes).
- A leitura primeira vista: a partir da apresentao das partituras das canes e composies j
trabalhadas (sem ttulo) para o aluno solfejar e/ou tocar; seguirei o trabalho de forma
sistemtica, incluindo o ditado meldico e o repertrio tradicional no instrumento.
Obs: essas atividades no acontecem de forma linear; uma completa a outra, assim como a prtica
coral, msica em conjunto e apreciao musical; articuladas com msicas que contm certos
elementos estruturais das canes.
3 - Avaliao:
recitais e aulas pblicas, por uma banca formada por professores de ambos os grupos.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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TOURINHO, Irene. Avaliao de mtodo de ensino de msica. Anais do III Encontro Anual da
ABEM, pp. 13-43, 1994.
IDENTIFICANDO CANES DE NINAR DE OUTRAS CULTURAS: UM
ESTUDO COM PARTICIPANTES BRASILEIROS
Beatriz Ilari
Hermes Jacchieri
Pablo Majlis
Relatos sobre uso da msica com bebs datam desde a antiguidade (West, 2000).
Em Leis, Plato descreve os benefcios da msica para o desenvolvimento da alma do
feto e do beb, e aconselha o canto materno dirio para gestantes e bebs (West, 2000).
Na Bblia sagrada tambem h passagens que descrevem, indiretamente, os benefcios da
msica para mames e bebs (Kovacs, 1999). Estes e outros relatos sugerem que o
hbito de cantar para acalmar um beb ou coloc-lo para dormir existe h varios sculos
(Papousek, 1996), e em diversas culturas do mundo (Trehub & Schellenberg, 1995).
Mais do que o simples ato de cantar para um beb, ha canes que so especficas
para bebs. Canes de ninar ou acalantos so cantados por pais e bebs em praticamente
todas as culturas do mundo (Trehub & Schellenberg, 1995). Curiosamente, grande parte
das canes de ninar das mais variadas culturas do mundo, falam de um assunto comum
que a necessidade do beb dormir. Na maior parte das culturas, o gnero cano de
ninar esta comumente associado a figura da mulher, que frequentemente a responsvel
por cuidar do beb (ONeill, Trainor & Trehub, 1999). Porm, em algumas regies da
frica e da Indonsia, so os homens os responsveis por expor seus bebs s canes de
ninar (para exemplos veja Corpataux, 1995). Independentemente de quem canta, h
indcios de que as canes de ninar fazem parte de uma srie de comportamentos
intuitivos e universais dos pais (Papousek, 1996).
Um outro elemento comum das cantigas de ninar existentes no mundo, so os
temas de suas letras. Em algumas cances, possvel indentificar o lamento ou
desespero dos pais que, por estarem cansados por conta do trabalho, da pobreza ou da
exaustiva tarefa de cuidar de um beb (que que um pai pode fazer, pro nen nanar?
Cano Brasileira), suplicam ao beb que durma. Em outras canes de ninar, os pais
ameaam o beb com monstros imaginrios (Dorme nen, que a cuca vem pegar
Cano Brasileira) ou reais (Se o negrinho no dorme, vem o diabo branco e zaz, come a
sua patinha, Acalanto Caribenho), ou com outro tipo de castigo destinado aos bebs
sem sono (Se voc no dormir, o bero ir cair Cano Norte-Americana). H ainda
canes nas quais os pais oferecem uma recompensa ao beb que dorme (Dorme beb,
papai volta ao luar e lhe trar um presente Acalanto Israelense). Um quarto tipo de
cano de ninar procura tranquilizar o beb, para que ele saiba que seus pais esto por
perto enquanto ele dorme sossegado (Papai est la embaixo, mamae faz chocolate
Acalanto Francs), ou agradece aos Deuses pelo sono e a sade do beb (Obrigada Alah,
por meu beb dormir tranquilo Cano de ninar rabe). Como j foi dito antes, em
todas estas canes, o objetivo comum o de pacificar o beb para que ele durma.
Segundo alguns especialistas em bebs, as letras de muitas canes de ninar tem
mais sentido para os pais do que para o beb em si, que fica atento s melodias simples e
repetitivas (Trehub & Schellenberg, 1995). Em outras palavras, a melodia das canes de
ninar que carrega a mensagem que o beb vai escutar. Estudos sobre os contornos
meldicos ou entoacionais da fala sugerem que os contornos descendentes so os que
mais acalmam os bebs (Papousek, 1996). Coincidentemente, muitas canes ninar so
construdas sobre melodias descendentes, o que provavelmente auxilia o beb a pegar no
sono (Trehub & Schellenberg, 1995).
Mais do que isso, ha quem diga que a cano de ninar identificvel em vrias
culturas. Trs estudos empricos (Trehub, Unyk & Trainor, 1993 a, b; Unyk, Trehub,
Trainor & Schellenberg, 1992) demonstraram que os adultos conseguem reconhecer
canes de ninar de vrios pases do mundo. Nestes estudos, canes de ninar vocais e
instrumentais foram parelhadas por canes lentas de vrios pases. Aos participantes,
cabia o ato de identificar qual cano era a mais expressiva. Surpreendentemente, os
participantes conseguiram identificar a maior parte das canes de ninar. Contudo, se h
uma crtica para tais estudos, esta est fundamentada no fato destes estudos terem sido
conduzido no Canad, onde h uma imigrao recente e portanto uma quantidade enorme
de estrangeiros. J que no Canad a populao est constantemente exposta msica de
diversas culturas do mundo, no possvel saber se tais resultados no foram
influenciados pela diversidade da amostra. Um outro aspecto destes estudos , em geral, a
falta de informao no que diz respeito msica utilizada. No se sabe pelos artigos se
nos estmulos utilizados predominavam canes em sistema tonal ou se estas estavam
misturadas s canes pentatnicas ou que utilizavam micro-tons (veja Krumhansl,
1999). Tal informao necessria, sobretudo quando se fala em universalismos na
escuta musical; na identificao de canes de ninar.
Nosso objetivo com o presente estudo o de investigar a capacidade de crianas e
adultos brasileiros de identificar canes de ninar de vrias culturas. Uma vez que tanto
as crianas como os adultos brasileiros so normalmente monolngues e
comparativamente menos expostos msicas de outras culturas do que as crianas e os
adultos Canadenses, possvel que resultados interessantes apaream no que diz respeito
ao universalismo das canes de ninar. Esta primeira fase do estudo preliminar; estamos
testando a exequibilidade do projeto, dos materiais e instrumentos de coleta. Iniciaremos
nossa pesquisa com adultos, e uma vez confirmado que os materiais so vlidos,
aumentaremos a nossa amostra e testaremos crianas de vrias idades, com e sem treino
musical formal. Este estudo nos ajudar a identificar o conhecimento dos brasileiros
sobre o gnero cano de ninar, e, apontar algumas diretrizes futuras, tanto para a
educao musical de pais e bebs, quanto educao musical de adultos para msica de
outras culturas.
MTODO
Amostra
Alunos oriundos de trs classes de teoria e harmonia do Centro de Educao
Musical Tom Jobim em So Paulo esto, neste momento, participando da primeira coleta
de dados, que compe o estudo prelimar. A segunda coleta de dados, com adultos e
possivelmente crianas, est prevista para Agosto de 2002, quando j teremos alguns
resultados da primeira coleta de dados.
Material musical
CASS-BEGGS, Barbara & CASS-BEGGS, Michael. Folk lullabies of the world. New
York: Oak Publications, 1969.
DU BOUCHET, Paula. (org.). Les berceuses du monde entier. Paris, Frana: disco e livro
pelo selo Gallimard, 1999.
CORPATAUX, Francis. Berceuses Le chant des enfants du monde vol. 3. Paris, Frana:
disco pelo selo Arion, 1995.
KOVACS, Jolan. The effects of vocal music on young infants: mother tongue versus
foreign language. Dissertao de mestrado no publicada. Universidade McGill,
Montral, Canad, 1996.
KRUMHANSL, Carol. Rhythm and pitch in music cognition. Psychological Bulletin, v.
126, p. 159-179, 1999.
ONEILL, C.T., TRAINOR, L.J., TREHUB, S.E. Infants' responsiveness to fathers'
singing. Music Perception, v. 18, p. 409-425, 2001.
PAPOUSEK, Mechtild. Intuitive parenting: A hidden source of musical stimulation in
infancy. In: DELIEGE, Irene & SLOBODA, John. (eds.). Musical beginnings Origins
and development of musical competence. Oxford: Oxford University Press, p. 37-87,
1996.
TREHUB, Sandra E. & SCHELLENBERG, Glenn. Music: Its relevance to infants.
Annals of Child Development, v. 11, London: Jessica Kingsley Press, p.1-24. 1995.
TREHUB, Sandra E., UNYK, Anna & TRAINOR, Laurel. Adults identify infant-directed
music across cultures. Infant Behavior and Development, v.16, p. 193-211, 1993a.
TREHUB, Sandra E., UNYK, Anna & TRAINOR, Laurel. Maternal singing in cross-
cultural perspective. Infant Behavior and Development, v.16, p. 285-295, 1993b.
UNYK, Anna, TREHUB, Sandra, TRAINOR, Laurel & SCHELLENBERG, Glenn.
Lullabies and simplicity: A cross-cultural perspective. Psychology of Music, v.20, p.15-
28, 1992.
WEST, M. Music therapy in antiquity. In: HORDEN, Penelope. (ed.). Music as medicine
The history of music therapy since Antiquity. Aldershot, Inglaterra: Ashgate Publishing
Limited, p. 1-32, 2000.
A PESQUISA NOS CURSOS DE GRADUAO EM MSICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA (UFU) - MG
Resumo. Este relato de experincia discorre sobre a experincia dos cursos de msica de
Universidade Federal de Uberlndia MG, representados, neste documento, pelo Curso de
Educao Artstica Habilitao em Msica, com o ensino da pesquisa. Inicia-se com uma
introduo histrica sobre quando e como o ensino da pesquisa comeou a ser desenvolvido
na universidade brasileira; faz um rastreamento do trajeto da pesquisa no Relatrio da
ltima Reforma Curricular do curso citado; comenta sobre a funo formadora da pesquisa
nos cursos de graduao em geral; e finaliza ilustrando as reas de interesse investigativo
dos alunos dos cursos de msica da UFU.
Introduo
A formao cientfica universitria tomou fora em nosso pas atravs da Lei n
5540/68 que tratou da reforma da universidade brasileira e estabeleceu como princpio a
valorizao da pesquisa associada ao ensino como forma de transcender a reproduo e
estabelecer a ampliao1 do saber, alm de ser vista como um instrumento necessrio para
que a universidade pudesse acompanhar o ritmo da modernizao at ento alcanado pelo
Brasil.
A universidade passa, ento, a ter que contribuir para a criao do conhecimento
cientfico, tecnolgico, filosfico e artstico atravs da pesquisa bsica e aplicada. No
entanto, para lidar com esta preocupao, surge a necessidade de criar uma mentalidade
cientfica em sua comunidade. Comea-se pois, a partir dos anos 70, a expanso dos cursos
de ps-graduao tendo como finalidade capacitar os professores para que ampliem suas
funes na carreira docente: ensinar e pesquisar, transmitindo e ampliando o saber. Isto
passou a exigir mais tempo de trabalho dos docentes, o que intensificou o regime de
dedicao exclusiva.
Paralelamente capacitao docente, desenvolve-se a instrumentalizao cientfica
dos estudantes de graduao: criam-se as disciplinas Metodologia Cientfica, (ou
1
Antes da referida Lei, o ensino universitrio no Brasil era marcado pela repetio, no havendo muito
espao para a reflexo crtica, nem to pouco para a investigao (MELO, 1996, p. 66).
Metodologia da Pesquisa Cientfica; ou Iniciao Pesquisa). Estas disciplinas
caracterizam-se pela sua funo instrumental e propedutica, auxiliando na (re)construo
do conhecimento em outras reas, bem como, servindo como campo de treinamento da
atividade intelectual e de pesquisa _ uma vez que, apesar dos alunos ingressarem na
universidade sem um mtodo bsico de vida intelectual (MELO, 1996, p.58), os mesmos
geralmente tm que desenvolver trabalhos monogrficos como resultado do estudo da
investigao, e do prprio processo didtico (Ibidem, p.58).
Embora todas estas disciplinas busquem proporcionar ao estudante o
desenvolvimento de uma mentalidade cientfica, investigadora e questionadora, alm de
ensinar um mtodo para pensar e trabalhar, para MELO (1996), existem trs vertentes que
as caracterizam diferentemente: a Iniciao Metodologia do Trabalho Cientfico ensina a
apreender a cincia j produzida, fornecendo instrumentos tcnicos e conceituais para o
desenvolvimento do trabalho intelectual, como: hbitos de estudo eficiente, leitura
proveitosa e documentao; tcnicas de elaborao de trabalhos cientficos como resumos,
resenhas e monografias. A Iniciao Metodologia Cientfica considera importante a
metodologia do trabalho cientfico, porm, vai alm: preocupa-se com a formao da
esprito crtico como fundamento da atividade cientfica, orientando o estudante a discutir
questes relativas cincia e seu mtodo e preparando-o para um posicionamento mais
reflexivo diante do conhecimento j elaborado. A Iniciao Metodologia da Pesquisa
Cientfica integra a formao crtico-reflexiva com estudos dos procedimentos da pesquisa
cientfica. Seu objetivo formar e instrumentalizar o pesquisador, tomando o prprio
procedimento de pesquisa como eixo do ensino e aprendizagem.
2
O termo Cursos de Graduao em Msica da UFU engloba os cursos de Bacharelado em Instrumento,
Bacharelado em Canto e Licenciatura em Educao Artstica _ este, trata-se na verdade de um curso de
Licenciatura em Msica que, por fora da legislao, ainda leva o nome de Educao Artstica. A grade
Fazendo um rastreamento do trajeto da pesquisa no Relatrio da ltima Reforma
Curricular efetuada em 19953 , encontramos na Introduo (p.5): Esse o currculo vigente
hoje. Seu objetivo a formao do professor preocupando-se essencialmente com o carter
cientfico no trato do conhecimento e a forma global do indivduo enquanto ser social
(grifo nosso). O que demonstra consonncia com a preocupao de transcender o nvel da
reproduo do conhecimento. A reforma curricular tambm registra como Justificativa
(p.7): A melhoria qualitativa da formao do professor, do msico e do cantor se dar
atravs de um embasamento cientfico mais intenso (grifo nosso). A frase grifada
demonstra a preocupao com o desenvolvimento de uma mentalidade crtico-reflexiva,
possvel atravs do questionamento e da investigao. E ainda, define como um de seus
Objetivos Especficos (p.9): valorizar a pesquisa cientfica atravs do trabalho de final de
curso, o que reflete a preocupao de se tomar a pesquisa como eixo do ensino e
aprendizagem, formando o aluno-pesquisador e instrumentalizando-o tambm para o
ingresso na ps-graduao.
Na grade curricular (p.11-17), a pesquisa integra o ncleo das disciplinas
complementares obrigatrias (Metodologia Cientfica 1 e 2, Pesquisa em Msica 1 e 2), ao
lado das disciplinas obrigatrias do ncleo comum (Fundamentos de Expresso e
Comunicao Humanas: Portugus, Filosofia da Msica; Folclore Brasileiro; Esttica e
Histria das Artes; Formas de Expresso e Comunicao Artstica); do ncleo diversificado
(Evoluo da Msica: Histria da Msica 1, 2, 3; Linguagem e Estruturao Musicais:
LEM 1, 2, 3, LEM Integradas, Percepo Musical 1, 2, 3, 4; Tcnica de Expresso Vocal:
Tcnica vocal, Canto Coral 1; e Prticas Instrumentais 1 a 8); do ncleo pedaggico
(Psicologia da Educao; Didtica; Estrutura e Funcionamento do Ensino de I e II graus; e
Prtica de Ensino sob a forma de Estgio Supervisionado); alm do ncleo de ampliao
das disciplinas pedaggicas (Metodologia da Iniciao Musical 1, 2; Metodologia do
Instrumento 1; e Projeto Integrado). A distribuio das disciplinas do curso em foco
curricular muito semelhante entre os trs cursos, diferenciando-se basicamente pela presena das disciplinas
pedaggicas.
3
A pesquisa no Curso de Educ. Artstica Hab. em Msica da UFU j era desenvolvida antes da reforma
curricular, como requisito parcial de avaliao da disciplina Prtica de Ensino sob a Forma de Estgio
Supervisionado (a monografia mais antiga localizada no acervo do curso data de 1985). A partir de 1992,
com a reforma curricular, a pesquisa ganhou um corpo autnomo de disciplinas.
apresentam-se distribudas em nove semestres letivos; nestes, a Metodologia Cientfica 1
(60 horas) encontra-se no 2 semestre do curso, a Metodologia Cientfica 2 (30 horas), no
7, a Pesquisa em Msica 1 (15 horas), no 8 , e a Pesquisa em Msica 2 (15 horas), no 9 e
ltimo semestre. No total de 2530 horas de curso (790 horas de disciplinas optativas e
1740 de disciplinas obrigatrias), a pesquisa ocupa 120 horas.
Atualmente, a disciplina Metodologia Cientfica 1 ministrada por um professor do
Departamento de Filosofia. A Ficha de Disciplina define como objetivo da mesma abordar
as cincias sob o ngulo do produto delas, como resultado em forma de conhecimento
cientfico, mas tambm como processo: gnese do prprio conhecimento. Apresentar a
maior gama de procedimentos epistemolgicos tericos, morfolgicos e tcnicos para
coloc-los disposio dos pesquisadores das disciplinas particulares em Artes Plsticas,
Msica, Decorao, Arquitetura, Psicologia, etc.. Alm deste documento, cada professor,
ao ministrar a disciplina, elabora seu Plano de Curso para o semestre; este, em 2000,
apresenta como ementa: Estudo do conhecimento: processos metodolgicos, suas
possibilidades e suas fontes, sua natureza, verdade, certeza e evidncia. Introduz ao aluno
na pesquisa caracterizando-a em seus tipos e fases, levando-o a elaborar um projeto de
pesquisa, vivenci-lo e redigir uma monografia. Finalmente aborda-se a composio de
trabalhos cientficos nos cursos de graduao (SOARES NETO, 2000, p.1).
Os trabalhos de final de curso so desenvolvidos nas disciplinas Metodologia
Cientfica 2, Pesquisa em Msica 1 e 2. Na Metodologia Cientfica 2, o aluno define o seu
tema e prepara uma bibliografia comentada sobre o mesmo; na Pesquisa em Msica 1,
elabora e defende perante banca o projeto de pesquisa, e comea o trabalho de campo
propriamente dito, preparando para o final do semestre, um relatrio de resultados parciais;
na Pesquisa em Msica 2, termina a sua pesquisa e redige a monografia que ser tambm
defendida perante banca de dois professores.
A Ficha de Disciplina da Metodologia Cientfica 2 no muda em relao
Metodologia Cientfica 1, porm, no Plano de Curso desenvolvido em 2001 encontramos
como objetivos especficos instrumentalizar o aluno no desenvolvimento da conscincia
sistemtica e reflexiva atravs da leitura e interpretao de textos; da discusso sobre a
pesquisa em msica no Brasil e na universidade brasileira; do conhecimento sobre os tipos
de pesquisa em geral e sobre os campos de pesquisa em msica em particular; e da
utilizao das normas tcnicas. Oportunizar a preparao de um projeto de pesquisa atravs
da elaborao da bibliografia comentada organizada de acordo com o tema de interesse
(MORATO, 2001, p.1). As Pesquisa em Msica 1 e 2 apresentam na Ficha de Disciplina a
ementa orientao individualizada e desenvolvimento de projetos de pesquisa
determinados em comum acordo com o docente responsvel pela disciplina. A
Metodologia Cientfica 2 e a Pesquisa em Msica 1 so ministradas em turmas, sob a
responsabilidade de um professor dos cursos de msica (geralmente, da rea de Educao
Musical), mas, alm da desta carga horria, o aluno orientado individualmente por um
docente de sua escolha _ feita pelo critrio da linha de pesquisa e/ou dos projetos
desenvolvidos pelos professores. A Pesquisa em Msica 2 consiste no acompanhamento
individualizado do aluno pelo professor orientador da pesquisa.
Por esta contextualizao, acreditamos que o corpo das disciplinas responsveis
pela pesquisa no Curso de Educao Artstica Habilitao em Msica confirma as
segunda e terceira vertentes expostas por MELO (1996) na introduo, ou seja, as
Metodologia Cientfica 1 e 2 no s valorizam a metodologia do trabalho cientfico, mas,
principalmente, preocupam-se com a formao da reflexo crtica como fundamento da
atividade cientfica, alm de introduzir tcnicas e mtodos para realizao da pesquisa; as
Pesquisa em Msica 1 e 2, alm de preocupar-se com formao crtico-reflexiva, procuram
instrumentalizar o aluno para a vida acadmica do pesquisador.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 2.ed. Campinas: Autores Associados., 1997. 120 p.
MORATO, Cntia Thais. Monografias de graduao dos cursos de msica da UFU: uma
bibliografia comentada. Projeto de Pesquisa aprovado pelo Departamento de Msica e
Artes Cnicas, UFU, 1999.
MORATO, Cntia Thais. Plano de Curso da Disciplina Metodologia Cientfica 2, 2001. 4p.
Mimeo.
OLIVEIRA, Luciano R.; PEREIRA, Marta Regina S. Monografias dos cursos graduao
em msica da UFU, 1998: catalogao e indexao. 2000, 62p. Monografia (Graduao),
Departamento de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Uberlndia - MG.
RUIZ, Joo lvaro. Como elaborar trabalhos de pesquisa. In: Metodologia Cientfica: guia
para eficincia nos estudos. So Paulo: Atlas, 1992. p.48-51.
SILVA, Ronan Manoel da. Monografias dos cursos de graduao em msica da UFU,
1994-1995: catalogao e indexao. 2000. 35p. Monografia (Graduao), Departamento
de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Uberlndia, 2000.
SOUZA, Jusamara (Org.). Livros de msica para escola: uma bibliografia comentada.
Porto Alegre: Curso de Ps -Graduao em Msica - UFRGS, 1997. 99p. Srie Estudos,
v.3.
1
2
1
Cidade com cerca de 500.000 habitantes, localizada no Tringulo Mineiro. O Curso de Msica tem uma
clientela advinda de escolas particulares, e, principalmente, de 04 Conservatrios Estaduais de Msica da
regio; Araguari, Ituiutaba, Uberaba e Uberlndia.
2
3
Mc Laren (1997, p. 18) ressalta que, de acordo com a Pedagogia Crtica de Giroux, os
professores devem assumir um papel de intelectuais transformadores, empreendendo uma
prtica social transformadora, comprometidos com a promoo da democracia e melhoria
da qualidade de vida humana.
Giroux reconhece que a pedagogia uma prtica poltica e tica, bem como uma
construo social e historicamente situada e no apenas restrita s salas de aula. Deve estar
envolvida toda vez que existirem tentativas de influenciar a produo e construo de
novos significados. A pedagogia no apenas a prtica de ensino, mas tambm envolve um
reconhecimento da poltica cultural que tais prticas sustentam ( apud Mc LAREN, 1997, p.
19).
Alm disso, Giroux fala que os educadores devem articular seus propsitos
educacionais com clareza, estabelecendo metas, definindo os termos da escolarizao
3
4
pblica como parte de um projeto democrtico mais abrangente, devendo estar conscientes
de que este tipo de pedagogia de libertao est sempre em construo e no tem respostas
definitivas (ibid, p. 19).
O professor deve, alm de ajudar os educandos atravs da utilizao de uma
abordagem pedaggica significativa, a possibilidade de ver o conhecimento e a experincia
como formas de emancipao. Isto oferece aos alunos a possibilidade de ampliarem sua
imaginao social e coragem cvica, capaz de ajud-lo a intervir em sua prpria auto-
formao, na formao de outros e na sociedade em geral (apud Mc LAREN, 1997, p. 17).
Consequentemente, oferece aos educadores uma linguagem crtica para ajud-los a
compreender o ensino como uma forma de poltica cultural e como um empreendimento
pedaggico que considera com seriedade as relaes de raa, classe, gnero e poder na
produo e legitimao do significado e experincia(ibid, p. 13).
Giroux considera importante que as escolas descubram como o significado
construdo por seus alunos atravs da experincia vivida que, por sua vez, o que d o
sentido de esperana e possibilidade s suas vidas (ibid, p. 16).
De acordo com a Pedagogia Crtica de Giroux, a universidade tem um conjunto
particular de relaes com a sociedade dominante. Neste sentido, funciona para produzir e
legitimar o conhecimento, habilidades e relaes sociais que caracterizam as relaes de
poder dominante na sociedade (GIROUX, 1997, p. 191).
Por um lado, considera Giroux, que a estrutura da universidade est ligada a interesses
que achatam as preocupaes crticas dos intelectuais empenhados a lutar por espaos
pblicos de oposio. Tais interesses podem desmoronar somente a partir dos esforos
coletivos dos intelectuais transformadores(id, ibid, p. 192).
Os professores universitrios precisam pensar no estudante dentro e fora da
universidade, refletindo a atuao da prtica poltica alm de engajar projetos que
estimulem a crtica.
Ser que o professor permitir a prtica desta pedagogia em sala de aula? Vai
depender do que ele considera ser prtica. Se esta se referir a um livro de receitas, a
resposta ser no, mas se a prtica associar-se a um pensar e agir criticamente na luta por
relaes sociais democrticas e liberdade humana, ento a resposta certamente ser sim,
4
5
para o trabalho de Giroux que nos oferece a oportunidade de executar uma transformao
concreta (Mc LAREN, 1997, p. 20).
2. Metodologia.
5
6
6
7
Como diz Hernandez (1998), ns que nos propusemos a ensinar os outros, nunca
esqueamos que preparar algum para o futuro significa prepar-lo para continuar
aprendendo por toda a vida.
Souza (1997) defende que a formao do futuro profissional em msica, nos cursos
de licenciatura, no condiz com a realidade que ele vai encontrar nas escolas e que por isso
preciso mudar e inovar. [...] a universidade est preparando de forma diferente do que se
precisa l fora.
Um agravante a este, consiste na formao do msico nas universidade que, segundo
Arroyo (1992, p. 2), se os cursos de formao musical incorporassem uma viso de msica
ligada aos processos sociais e histricos idia de movimento constante, de permanente
construo, como o seu fio condutor, talvez fosse um caminho a ser percorrido para
amenizar esses problemas do ensino de msica universitrio brasileiro.
Tm-se em vista que no Brasil precisa-se de professores de msica que, segundo
Gonalves (1992, p. 75), tenha equilbrio e ausncia de preconceitos, apoiados em slida
formao pedaggica geral e especializada, para facilitar a aplicao de prticas e saberes
na rea de educao musical.
4. Referncias Bibliogrficas.
ARROYO, Margarete. Reflexes sobre a prtica. In. I Encontro Anual da ABEM, pp. 90-
96, 1992.
BENINC, Elli et.al. Prtica pedaggica uma questo de mtodo. Espao Pedaggico, V.
4, N.1, pp. 161-171, 1997.
7
8
MAC LAREN, Peter. Prefcio: Teoria crtica e o significado da esperana. In: GIROUX,
Henry A Os Professores como Intelectuais: rumo a uma pedagogia crtica da
aprendizagem. Porto Alegre, Artes Mdicas, p. xi-xxi, 1997.
MOREIRA, Antnio Flvio; SILVA, Tomaz Tadeu. Sociologia e teoria crtica do currculo:
uma introduo. In: Currculo, Cultura e Sociedade. So Paulo, Cortez, pp. 7-38, 1995.
8
1
Resumo. O presente texto retrata a experincia realizada com a turma da terceira srie do
curso de Educao Artstica com Habilitao em Msica da UEPA, no exerccio da
disciplina Prtica Instrumental-Piano e objetiva propiciar anlise e discusses sobre a
disciplina, no que tange a forma de aplicao da mesma em relao aos objetivos do curso.
Ainda procura fomentar o debate em relao s diferenciaes entre um ensino dito
tradicional de Piano aulas individuais e a prtica de Piano em Grupo, em busca da
conscientizao de um ensino que evidencia um aprendizado para alm de simples notas
musicais-uma compreenso mais aprofundada da linguagem musical.
HISTRICO:
Desde quando o curso de Educao Artstica-Msica foi implantado na
Universidade do Estado do Par (1989) a disciplina Prtica Instrumental tem sido alvo de
grandes debates. Dentre as principais discusses citamos a anlise da coerncia da
disciplina em relao aos objetivos reais do curso. Entretanto foi a preocupao de se
manter uma disciplina na grade curricular que evidenciava a prtica de trs instrumentos
( flauta, violo e piano ) - suas dificuldades de aplicao, carga horria, controle acadmico
e objetivando reconduzi-la, que em dezembro de 1997 o Departamento de Artes aprovou a
proposta de se oferecer o instrumento Flauta Doce para a 1a e 2a sries deixando escolha
do aluno cursar Violo ou Piano nas sries seguintes. Essa nova forma de aplicao -
vigente at hoje delimita o perodo cronolgico da experincia apresentada. Mas
precisamente o ano de 2001 com os alunos da 3a srie, em meio s importantes e recentes
discusses para a implantao da nova grade curricular do curso - Projeto Poltico
Pedaggico.
JUSTIFICATIVA:
2
OBJETIVO:
Propiciar anlise e discusses sobre a disciplina Prtica Instrumental-Piano no
curso de Educao Artstica da UEPA, no que tange a forma de aplicao da mesma em
relao aos objetivos do curso.
METODOLOGIA:
A forma de aplicao desta experincia fundamentou-se no resultado da anlise
dos seguintes pontos:
1. Alunado:
1
MONTADON (2001) discorre sobre as origens da prtica de piano em grupo: O ensino de piano em grupo
j pode ser verificado nos Estados Unidos no sculo XIX, possivelmente pela influncia da metodologia
desenvolvida por Johann Bernhard Logier na Inglaterra...p.2
3
Obs.: Esta tipificao serviu como base para o reconhecimento de grupos distintos de
alunos, no significando considerar a mesma tipificao para a diviso em sub- turmas.
possvel haver fuses entre os vrios grupos, portanto aps uma anlise mais detalhada dos
alunos foi possvel estabelecer as subturmas.
2. Espao fsico e recurso material:
Resolvemos utilizar o laboratrio de piano que possui, na verdade quatro pianos
eltricos Yamaha com alguns recursos de mudana-imitao de sons de piano, piano
eltrico, rgo e cravo.
3. Contedo:
No contedo residiam assuntos de acordo com a diviso estratgica das sub-
turmas assim representadas: .SUB-TURMA A: Iniciantes
SUB-TURMA B : Intermedirios
SUB-TURMA C : Avanados
CONTEDO SUB-TURMAS
Estudo da Topografia do piano/ teclado A
Movimentos sincronizados A B
Estudo dos pentacordes A B C
Escalas: princpios para uma boa passagem do polegar A B C
Introduo concepo harmnica A B C
Estudo dos acordes: Graus da escala I, IV e V A B C
Prtica de conjunto A B C
Leitura A B C
alunos que j possuam um certo conhecimento de piano e poderiam ter prestado teste de
proficincia, ao verificarem a forma de como iria ser trabalhado a prtica-piano dando-se
nfase harmonia, decidiram cursar a disciplina e contriburam consideravelmente ao
desenvolvimento desta experincia2 .
4. Mtodos e Repertrio:
BURNAM, Edna Mal. A dozen a day (Mini Book). Ghappele e Co. Ltd.
London, W.1. The Wills Music Company, Circinnati. Ohio
GEORGE, Jon. Two at one piano. Elementary Duests. Secaucus, New Jersey.
Summy-Birchard Inc.
MARTIN, R. CH. L A . B.C du 4 mains OP.123. Paris. Edition Classique
Durand, 1924.
PACE, Robert. Theory Papers. Lee Roberts Music Publications, inc. Sole
Selling Agent: G. Schirmer, inc. New York, N.Y.
PALMER, Willard, Manus, Morton & Lethco, Amanda. Alfreds
Basic piano library- level one. Alfred Publishing Company. Inc., Van
Nuys, CA.
VIANNA, Maria Aparecida & XAVIER, Carmem. Ciranda dos dez dedinhos.
So Paulo, Musiclia S.A. 1977.
Obs. : importante ressaltar a valiosa contribuio de alguns alunos na produo de
arranjos para vrios teclados de msicas populares e folclricas pertencentes ao repertrio
brasileiro e mundial.
5. Aplicaes:
Ao introduzir cada contedo em sala de aula nossa tarefa residia, com dinamismo
em explicar de forma clara e objetiva cada atividade proposta. Os exemplo a seguir tem
como eixo o contedo Pentacordes:
2
Os educadores musicais tm advogado um currculo centralizado no aluno, onde se deve observar seus
objetivos, interesses e possibilidades frente ao meio scio-econmico. Nesse contexto, contedos e
procedimentos seriam selecionados e organizados em relao s necessidades e caractersticas do educando
(MONTADON, 1995)
6
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
MONTADON, Maria Isabel. Aula de piano em grupo: uma anlise do movimento para
implantao do ensino de piano em grupo nos Estados Unidos. Tnica, Revista do
Departamento de Msica Id A-UnB. ( http://www.arte.unb.br/tonica/isabel.html)
pp.1-10, 2001.
_______________________. Aula de piano ou aula de msica? O que podemos entender
por ensino atravs do piano. Em Pauta. V.11, pp.67-79,1995.
A PRXIS NA EXECUO MUSICAL: O ESTUDO DA OBRA AZIKIR
DE ALDA DE OLIVEIRA
INTRODUO
1
Doutora em Educao Musical pela Universidade do Texas em Austin, USA (1983-1986), atua na rea
de Msica, como pianista, compositora, educadora, tendo assumido tambm funes poltico-
administrativas, presidente de comisses e membro da diretoria de associaes. Co-Presidente da
Comis so de pesquisa da International Society for Music Education ISME (2000-2002).
2
Pesquisa em Msica, formatos e finalidades, se encontra no ANAIS do 1 Colquio d Pesquisa da Ps-
Graduo de 17 de novembro de 1999, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Letras e
Artes Escola de Msica. A pea Azikir foi gravado em CD (2000), pela prof. Dr. Cristina Capparelli
Gerling onde incluiu-se no repertrio latino-americano.
2
METODOLOGIA
Em funo dos sujeitos da pesquisa estarem conscientemente envolvidos no
processo de ao, a metodologia empregada a pesquisa/ao. Segundo Bogdan e
Biklen (1982, p. 294 e 297)
...a investigao pode servir como estratgia organizativa para
agregar as pessoas ativamente em face de questes particulares. A
prpria investigao constitui uma forma de ao diretamente associada
com mudanas, pois seu objetivo o de precipitar uma modificao
relativa a um assunto particular. Os prprios investigadores assumiram
um papel ativista, ou seja, de agentes de mudana... (id.).
3
ANAIS do 1 Colquio de Pesquisa da Ps-Graduao de 17/11/1999. (Gerling, p.12)
3
PROCEDIMENTOS
4
Anlise feita pelos alunos, a qual sofreu algumas divergncias com a anlise realizada pela prof. Dr.
Cristina C. Gerling.
4
combinao de
elementos anteriores,
toque da associao
percussiva com o
tema
Acelerando 105-114 Coda Deslocado
Exemplo: 1
Canto responsorial representado pelo tradicional procedimento de pergunta e
resposta, ocorrendo nos compassos 15-18 (pergunta) e 19-21 (resposta), 39-40
(pergunta) e 41-42 (resposta), exemplo: 2.
6
Exemplo: 2
Chamadas A representao do chamamento dos tambores ocorre na melodia
introdutria, compassos 6-13. Exemplo: 3:
7
Acentos Podem ocorrer acentuaes que quebram a mtrica na melodia do tema, cuja
tendncia justifica-se pelos intervalos ascendentes (mi-f, sol-d) e pela inflexo das
palavras que compem a letra do canto (Azikir, nivodum), exemplo: 4.
Exemplo: 4
Melodia Folk A obra foi composta utilizando a melodia do canto Azikir, nao Ketu,
de carter Folk.
Ostinato Ocorre como nos compassos 92-107, 110-111, (exemplo: 5).
8
Exemplo: 5
9
Exemplo: 6
Virtuosidade H muitos momentos virtuossticos na obra, destacando-se,
principalmente, os compassos 91 e 92 pela exigncia na execuo pianstica. Da em
diante a obra atinge um clmax e mantm uma grande densidade at o final, exemplo: 7.
Exemplo:7
A La Havana Representao do padro rtmico de dois grupos unidos de semicolcheia
ligada a colcheia, no qual a obra se baseia.
10
c. 16
c. 48
c. 94
c. 107
Exemplo: 8
12
c. 61 e c. 66
c. 76-88
Exemplo: 9
13
Exemplo: 10
CONSIDERAES FINAIS
A aluna Bruna iniciou a leitura no dia 23/02/02 e o Gabriel em 17/03/02.
As principais dificuldades encontradas na fase de leitura, segundo o relato dos
alunos, foram: 1) decidir quanto ao dedilhado mais eficiente, e 2) aprender a lidar com
os constantes saltos e mudanas bruscas de registro. Foi trabalhado com a Bruna a
lateralidade do punho, exerccios de alongamento e abertura das falanges, devido a
estrutura antomo-fisiolgica da sua mo pequena, o mesmo no ocorreu com o Gabriel,
por este ter uma mo que favorece as extenses.
O estudo sistematizado, a anlise e a busca de informaes com relao obra
foram processos indispensveis para a realizao da performance musical. A audio da
14
fita gravada, (do canto Azikir, durante o culto Ketu, no estudo exploratrio),
influenciou as inflexes rtmicas do tema, surgindo, novas idias que possibilitaram
uma interpretao da obra, no somente sob a tica musical, mas tambm, de seu
significado no contexto cultural. A metodologia utilizada neste processo, em que a
pesquisa integra-se ao, contribui para uma melhor observao das etapas do
desenvolvimento tcnico-interpretativo e para a troca de informaes ocorrida atravs
do estudo em conjunto e supervisionado.
Durante os encontros, o pesquisador teve a funo de orientar os alunos no
projeto, explicando o mtodo a ser aplicado, suas fases e fornecendo material
bibliogrfico para auxiliar a anlise da pea. Os diferentes pontos de vista dos
participantes enriqueceram o processo de estudo, havendo, alm do confronto de
opinies, a troca de conhecimento e experincias.
O encontros peridicos motivaram o estudo individual, pois estes geraram um
sentimento de responsabilidade perante os envolvidos no projeto, semelhante ao papel
do professor em relao ao aluno. A anlise, que foi iniciada na fase exploratria, serviu
para que o aprendizado fosse mais consciente e objetivo. Verificou-se um grande
companheirismo entre os envolvidos, sendo que as opinies, elogios e crticas foram
todos aceitos da mesma maneira.
O aluno Gabriel acredita na validade do mtodo, com uma ressalva de que
para a obteno satisfatria do trabalho necessrio o engajamento e sintonia entre os
envolvidos.
Ao observar os relatrios dirios dos alunos, pode-se constatar processos de
aprendizagem distintos. O primeiro mostrou-se bastante objetivo em sua abordagem de
leitura inicial, desde o incio refletindo sobre estratgias de como simplificar essa fase
preliminar. O segundo, por outro lado, mostrou-se com uma abordagem mais holstica,
pois comeou a pensar nas partes somente depois de ter lido globalmente a pea. Essas
abordagens distintas demonstram estratgias diferentes e individuais dos estudantes, que
foram respeitadas e que contriburam para uma troca de informao e de enriquecimento
mtuo desde o princpio. Neste artigo constata-se um trabalho gratificante e
enriquecedor pelas trocas de idias e sugestes que ocorreram durante os encontros. A
pesquisa se encontra em sua fase conclusiva, e para esta etapa final pretende-se uma
gravao em mini-disc com as duas interpretaes, demonstrada na primeira, com
execues singulares dos trechos selecionados, verifica-se que apesar da mesma
15
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
DISCOGRAFIA
Introduo:
Este relato de pesquisa aborda alguns dos mecanismos de transmisso oral do
conhecimento pianstico, uma modalidade de educao musical muito disseminada, porm
pouco discutida na literatura. Historicamente esse processo de ensino/aprendizagem
mantm-se atravs de aulas individuais, onde a relao aluno e professor muito prxima,
sendo o ltimo no apenas um orientador de contedos genricos, mas sim de
procedimentos extremamente especficos direcionados a cada indivduo e que esto
sustentados por um amplo conhecimento artstico-cultural e, sobretudo humano. Meus dois
alunos de piano no nvel de doutorado foram encorajados a resgatar sua trajetria pregressa
atravs de entrevistas com seus professores anteriores.
Trabalhos desta natureza comeam a ganhar espao e podemos citar o fato que,
congressos de piano, principalmente nos Estados Unidos tais como World Piano
Conference 1999, 2000, 2001, tm convidado professores de renome discorrendo sobre sua
prpria formao e seus prprios professores, muitos deles nomes de fama mundial.
Informamos que recentemente foi estruturado um programa de educao musical no New
England Conservatory em Boston, cujo alicerce a observao de renomados mestres na
sua ao pedaggica. Assim sendo, alunos de graduao observaram e documentaram a
2
aula de instrumento como ponto de partida para futuras reflexes e implementao de aes
educativas. Livros recentes sobre a aula de piano trazem relatos de pianistas famosos
comentando suas atividades pedaggicas (BASTIEN,1978 & UZLER,1991). No Brasil
temos tido professores de piano cuja esfera de atuao e de influncia comprovadamente
impactante, neste trabalho levantamos alguns dos aspectos de transmisso e, sobretudo de
valorizao deste conhecimento especializado atravs de dois depoimentos.
Foi natural a escolha de Milton de Lemos atravs de depoimento de Olinda
Allessandrini, por sua vez foi a principal professora do doutorando Marcelo Macedo
Cazarr bem como a de Anthony di Bonaventura atravs de depoimento do Dr. Mauricy
Martin, o antigo professor da doutoranda Silvia Cristina Hasselaar.
Olinda Allessandrini
3
Metodologia:
1
Histria oral um termo amplo que recobre uma quantidade de relatos a respeito de fatos no registrados
por outro tipo de documentao, ou cuja documentao se quer completar. Colhida por meio de entrevistas de
variada forma, ela registra a experincia de um s indivduo ou de diversos indivduos de uma mesma
coletividade (QUEIROZ apud BOZZETTO, 1999, p.15).
4
Olinda conta que quando ele queria que ela estudasse uma pea que no fosse de
encontro imediato ao seu gosto ou a sua personalidade ele a cativava contando histrias
sobre pianistas em paris. Cita como exemplo: contava a histria sobre um concurso de
piano que assistiu em Paris onde uma pianista jovem se apresentou, tocou tudo muito
brilhante e muito bonito e ele ento perguntou a um colega que se sentava ao lado, ento
o que achastes ? ele respondeu : Le sauvagette..., porque ela passava por cima de todos
os momentos lricos e intimistas da pea Olinda comenta que achava a histria bonita e
procurava no ser uma sauvagette. Milton escolheu a histria no momento adequado, pois
Olinda estudava Debussy e ao cativar-se com a estria, sentiu-se motivada para ter
pacincia de se dedicar a um estudo mais aprofundado das sonoridades.
7
no se tinha facilidade de consultas e acessos as outras artes como se tem hoje (por
exemplo, via internet), o material mais acessvel era as enciclopdias, porm estas
tinham uma viso muito generalista dos fatos artsticos. Valorizava as apresentaes em
pblica e que fossem sempre, de memria (falava em francs da palavra par coeur =
pelo corao), a msica eliminada dos teus olhos deve estar to dentro do pianista que
vem naturalmente, preconizava a troca de sentimentos com o pblico. Associava
msica e filosofia, porm Olinda diz que era muito jovem e que, embora tivesse tentado
compreender com mais profundidade as associaes feitas por seu professor, ela no
obteve xito.
Consideraes finais:
A entrevistada relata que durante seus estudos com o Prof. Milton sentia-se muito
gratificada, e louva a atitude do professor que estava quase sempre ao piano tocando
esperando-a para a aula, sempre explicava alguma coisa sobre a pea que tocava e a instrua
no sentido esttico, Olinda observa ainda que as mos de Milton de Lemos eram grandes e
ele tocava de forma que suas mos ficassem como que convexas. Foi seu principal
professor e lhe ensinou o que a msica a ultrapassar as notas, a fazer o piano cantar e
obter sonoridades a emocionar passamos o resto da vida aprendendo com todos os
musicistas, mas sua base foi Milton de Lemos. Ensinou-lhe a fazer msica com paixo e
fazer com que a msica tocasse emocionalmente as pessoas e sensibilizasse-as.
Um dos fatos mais salientes na entrevista que tendo se passado quarenta anos os
ensinamentos de Milton de Lemos continuam atuais e relevantes
3. Processo de Recepo.
4. Compreenso.
5. Verificao dos resultados.
6. Concluso.
Apresentao:
Isabelee Afanasievna Vengerova (*1877Minsk+ 1956 New York). Foi aluna de
Leschetizky em Viena e Anna Essipova em So Petersburgo. Iniciou suas prprias
atividades pedaggicas em Kiev, em 1906 foi assistente da professora Essipova no
Conservatrio de So Petersburgo e em 1910 tornou-se efetiva naquela instituio. Em
1923 mudou para os Estados Unidos passando a residir em New York e Philadelphia,
adquirindo reputao de brilhante professora.Durante muitos anos deu aulas no Curtis
Institute of Philadelphia (nesta instituio recebeu o ttulo de Doctor Honoris Causa) e no
Mannes College of Music em New York. Alguns de seus alunos foram: Samuel Barber,
Leonard Bernstein, Lucas Foss e Anthony di Bonaventura. Ela tinha princpios metdicos
definidos sobre o cultivo e desenvolvimento espontneo do pensamento musical e aplicava-
os de maneira diferenciada para cada aluno.
Anthony di Bonaventura: Pianista americano iniciou seus estudos aos trs anos de idade,
dando seu primeiro concerto profissional aos quatro.Ganhou uma bolsa para a Escola de
Msica de New York aos seis e apareceu como solista da Filarmnica de New York aos 13.
Aos dezesseis anos iniciou seus estudos com a clebre professora russa Isabelle Vengerova
e posteriormente concluiu seus estudos no Curtis Institute, onde se formou com distino.
Tendo atuado como solista em mais de 25 pases incluindo o Brasil, solou com a
Philadelphia Orchestra, Chicago Symphony, Pittsburgh Orchestra, Royal Philharmonic e
com a Viena Symphony.Atualmente professor da cadeira de Piano na University of Boston
e Diretor do Piano do Institute at Colby College em Maine.
Mauricy Martin. Iniciou seus estudos na Escola de Msica de Braslia sob a orientao
Joel Bello Soares. Formou-se pela Escola de Msica da Indiana University com o ttulo de
Mestre, tendo como professores Bronja Foster e Alfonso Montecino. Em 1993 obteve o
ttulo de Doutor pela Boston University sob a orientao do pianista Anthony di
Bonaventura. Tem se apresentado como solista junto a vrias orquestras sob a regncia de
10
Benito Juarez, Aylton Escobar, Jlio Medaglia, Lutero Rodrigues e Eduardo Ostergren.
Mauricy Martin vem se destacando tambm pelo seu trabalho didtico. Nos Estados Unidos
ministrou master classes na Indiana State University, North Dakota State University,
Northwestern State University (Lousiana), Harlem Boys Choir Academy (New York).
Entrevista
velocidade a todo aquele peso. Ento, quando conheci Bonaventura e vi a maneira dele
tocar e dar aulas tendo a certeza que era isso que eu queria.
Entrevistador: Que pontos da metodologia de Bonavetura chamaram sua ateno para
impulsion-lo a fazer doutorado com ele?
Entrevistado: A forma clara e objetiva com que ele explicava. Ele sabia ir direto ao
assunto de nenhuma forma crtica ou agressiva e tambm sabia dosar at que ponto
pressionar e depois dar um tempo para interiorizao. E na minha opinio, foi esse o
problema da outra professora.
Entrevistador: Como foi todo processo cognitivo do mtodo?
Entrevistado: Comeamos o trabalho do zero, caindo o peso do brao na ponta do dedo,
com o pulso caindo junto, dedo por dedo, nota por nota.O brao tem que estar totalmente
liberado e muito importante a subida do pulso, pois este tem que vir levantando muito
devagar, consecutivamente e gradualmente.
Entrevistador: Esse processo de tocar a pea do comeo ao fim caindo o pulso nota por
nota no meio montono. No fez voc se sentir meio desmotivado?
Entrevistado: Apesar de ser um tipo de trabalho que exige muita disciplina, fora de
vontade e autocontrole, jamais me senti desmotivado, pois eu sabia como ele tocava e se ele
havia feito aquele trabalho, eu confiava muito nele, alm disso, ele era um exemplo vivo na
minha frente no era algum que estava s teorizando. Na verdade o processo de
aprendizado de uma pea parece mais lento mais ao longo do tempo ele se torna mais
rpido.
Entrevistador: Quanto tempo voc levou para assimilar o mtodo?
Entrevistado: Para mim foi rpido porque eu j havia passado por um trabalho similar no
mestrado, mas para me sentir confortvel a tocar em pblico, demorou mais ou menos um
ano e meio.
Entrevistador: Qual foi a metodologia que ele usou para lhe ensinar o mtodo?
Entrevistado: Pegamos algumas peas do repertrio e a ele comeou a aplicar o mtodo,
que se resumia em cair o pulso de nota em cada nota, e aos poucos ele ia agrupando as
notas em grupos de duas; de trs; de quatro; de cinco e depois ele ia mostrando os grupos
maiores de acordo com o fraseado musical, com mos separadas. Exemplo: Se voc tem
quatro semicolcheias, ento voc vai cair na primeira na segunda e na quarta nota se voc
12
tem seis semicolcheias cai na primeira terceira e sexta nota, depois vai fazer o gesto do seu
pulso subir ou descer conforme a msica, da primeira at a quarta ou sexta nota sem parar.
Entrevistador: Qual o ponto de maior dificuldade para assimilao do mtodo em um
aluno que nunca fez esse tipo de trabalho?
Entrevistado: A maior dificuldade que os alunos encontram no incio a de aprender a
soltar o peso, relaxar em cada dedo e o tempo de entendimento depende de cada aluno.
Entrevistador: Por que esse o ponto de maior dificuldade?
Entrevistado: Porque a maioria dos alunos no distingue cair o peso com o brao relaxado
de empurrar o brao para baixo.
Entrevistador: Como fazer o aluno sentir a diferena?
Entrevistado: Fazendo o aluno tocar e ouvir, sentindo a diferena de um som duro seco
para um som bonito, consistente, profundo.Depois de algumas tentativas o prprio aluno
comea a ouvir e sentir a diferena.
Entrevistador: Quando comea a ser visvel a diferena de tocar?
Entrevistado: H um ponto do trabalho que a mudana mais visvel para voc e no para
os outros, porque voc comea a incorporar essa forma de tocar, no s a parte fsica, mas
tambm a forma de pensar msica, equalizao do som, na construo musical, mas como a
tcnica ainda no est interiorizada sua forma de tocar ainda no to espontnea e nem to
limpa, porque voc ainda est no processo de aprendizagem. Mas voc j sente que
algumas coisas saem com mais facilidade, tambm aprende mais rapidamente, porm se
voc ainda esbarra ou no est to confiante ainda, as pessoas vo achar que voc ainda no
est tocando bem.
Entrevistador: Qual a sensao de perceber que o objetivo esta sendo alcanado?
Entrevistado: uma sensao de controle fsico, tcnico do que voc faz. Porque com esse
mtodo, voc trabalha muito lentamente as notas, caindo o dedo voc no est s
trabalhando a cada do dedo, mas tambm a sonoridade, independncia dos dedos, memria
digital, a topogrfica do teclado, por exemplo, se voc tem um arpejo, cai num dedo e j
posiciona o maior nmero de notas que seguem, pensando antecipadamente na posio da
mo. Na verdade tocar rpido muito lento!
Entrevistador: O que o andamento lento?
13
Entrevistado: o tempo que voc precisa para verificar, se o ombro est relaxado, pulso
flexvel, dedos posicionados.Partindo do gesto exagerado lentssimo vindo com o pulso de
baixo para cima e aos poucos voc vai retirando o peso para uma maior assimilao do
movimento.Na medida que voc vai acelerando andamento, o gesto vai diminuindo a ponto
de ficar imperceptvel, porque invariavelmente todo mundo faz alguma coisa com o pulso,
ento faa de uma forma que esteja acoplado com o que voc quer musicalmente.
Entrevistador: Voc acha que esse mtodo pode ser empregado em crianas?
Entrevistado: Existem relatos sobre a atuao da Vengerova com crianas, mas na sua
maioria tratam-se de prodgios. O prprio Di Bonaventura, disse que quanto mais cedo o
mtodo for aplicado melhor, pois no d tempo do aluno pegar alguns, do que o Di
Bonaventura chama vcios
Entrevistador Obrigada, professor Mauricy!
Entrevistado: Foi um prazer.
Consideraes Finais
Quando a professora Cristina me sugeriu para fazer uma entrevista sobre o mtodo
na qual eu havia firmado minha tcnica (apesar de ter sido aluna do prof. Mauricy de 1985
a 1986, s vim conhecer o mtodo em 1994) fiquei muito contente, pois seria uma tima
oportunidade de em primeiro lugar escrever sobre um procedimento que realmente acredito
ser o caminho mais seguro e eficiente do aluno de piano trabalhar a mecnica, a memria, a
segurana e o fraseado.E depois porque uma forma de dizer muito obrigado professor,
sinto ser outra pianista depois de conhecer aspectos preconizados por Vengerova atravs do
prof. Mauricy Martin.
BIBLIOGRAFIA
BASTIEN, James. How to teach piano successfully. San Diego: Kjos Music, 1973.
BOZZETTO, Adriana. O professor Particular de Piano em Porto Alegre . Porto Alegre,
Dissertao de Mestrado.UFRGS.1999.
15
INTRODUO
1
Mestranda em Educao Musical no Programa de Ps-Graduao em Msica da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, sob orientao da Prof Dr Liane Hentschke.
2
ser compreendido como sujeito em formao que traz consigo uma representao de
educao construda durante sua prpria escolarizao, que vivencia uma formao
superior fundamentada e que continuar se formando na prtica pedaggica com questes
advindas da realidade escolar (PEREIRA, 1998, p. 58).
rea da Educao Musical. A contribuio ocorrer na medida em que buscarei desvelar, a partir
da realidade dos licenciandos e sob seu ponto de vista, os espaos pedaggico-musicais em que
estes atuam, as demandas profissionais pedaggico-musicais e as necessidades prticas e tericas
para atuar nesses espaos. Conhecendo a perspectiva desses licenciandos, os dados da
investigao podero colaborar para repensar e re-elaborar os cursos de Licenciatura em Msica.
Souza (1997) defende a tese de que a formao do futuro profissional em msica, nos
cursos de Licenciatura, no condiz com a realidade que ele vai encontrar nas escolas (...)
(SOUZA, 1997, p. 19). Mas, o que pensam os licenciandos sobre sua formao pedaggico-
musical? Em que espaos pedaggico-musicais esto atuando? Quais as dificuldades e problemas
que enfrentam no seu trabalho nos espaos que atuam? Conseguem os licenciandos articular a
teoria com a prtica? Sob a perspectiva dos licenciandos em msica, quais as suas opinies sobre
o curso?
Analisar sob o ponto de vista dos licenciandos quais as necessidades para atuar nesses
espaos.
METODOLOGIA
A amostragem foi realizada a partir do universo de alunos nas trs Instituies Pblicas
de Ensino Superior do Rio Grande do Sul. A escolha dessas universidades deve-se pelo motivo
que essas so as nicas Instituies Pblicas de Ensino Superior que oferecem o curso de
Licenciatura em Msica no Rio Grande do Sul.
caractersticas desejadas para o estudo (COHEN & MANION, 1994, p. 89). De acordo com o
objetivo deste trabalho necessrio que os licenciandos tenham cursado mais de oitenta por cento
dos crditos, tanto no campo musical quanto no pedaggico, tenham realizado o estgio
supervisionado e/ou estejam atuando em alguma atividade pedaggico-musical. A escolha destes
critrios deve-se pelo motivo de que o aluno tendo cursado a maior parte das disciplinas, poder
trazer dados concretos, vindos da realidade pedaggico-musical em que vivencia, tanto no curso
de Licenciatura como em sua prtica pedaggico-musical. Outro critrio de seleo da amostra
ser a partir da disponibilidade do aluno em participar da pesquisa.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
8
BABBIE, Earl. Mtodos de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.
CHIZZOTTI, Antnio. Pesquisa em cincia humanas e sociais. 4 ed. So Paulo: Cortez Editora,
2000.
GARCA, Carlos Marcelo. A Formao de Professores: para uma mudana educativa. Porto:
Editora Porto, 1999.
LAVILLE, Christian.; DIONNE, Jean. A construo do saber. Porto Alegre: Artmed, 1999.
OLIVEIRA, Alda. Currculo de Msica no Brasil aps a Nova LDB e os Documentos elaborados
pelo MEC para o Ensino Bsico e Superior. Anais do VIII Encontro da ABEM, p. 17-38, 1999.
____. Currculo de Msica para o Brasil 2000. Anais do IX Encontro da ABEM, p. 5-17, 2000.
1 INTRODUO
Na rea de Educao Musical, alguns artigos que tratam da formao dos professores
de msica e da construo de um perfil profissional mais adequado s exigncias do mercado
de trabalho, realizam reflexes sobre as competncias profissionais necessrias para o
exerccio da prtica profissional (OLIVEIRA, 2001; SANTOS, 2001). A preocupao com as
competncias profissionais emerge na atualidade, sendo abordadas, inclusive, pelas novas
Diretrizes Curriculares Nacionais destinadas aos Cursos Superiores de 2002. Em tais
documentos governamentais verificada a preocupao quanto a preparao de um
1
Esta pesquisa de mestrado em Educao Musical orientado pela Profa. Dra. Liane Hentschke.
2
2
Torna-se relevante afirmar que na redao da dissertao, que est em andamento, a reviso das noes de
competncia apresentam-se mais numerosa e se d com maior complexidade.
3
utilizadas pelos docentes no so respeitados, sendo eles orientados a trocar suas prticas
educativas por outras que no dominam (ibid.).
Logo, para que os programas de formao continuada sejam eficientes, na medida que
se deseja auxiliar no desenvolvimento da autonomia, da criticidade e das competncias dos
professores, torna-se de suma importncia conhecer as necessidades reais desses profissionais
em servio, assim como considerar suas reflexes e questionamentos sobre suas prprias
prticas educativas (MARIANI, 2000, GIRARDI, 2001). Como salienta KINCHELOE (1997,
p. 220)
revela que para ensinar msica no suficiente apenas saber msica ou saber ensinar, mas
que os conhecimentos musicolgicos e pedaggicos so igualmente relevantes para a
realizao da prtica de ensino. Dessa maneira, a prtica de ensino musical nas escolas
ultrapassa os limites do que especfico ao ensino de msica, apresentando-se includa num
projeto coletivo maior (DEL BEN, 2001, p. 304).
Atravs das pesquisas realizadas por BEINEKE (2000) e DEL BEN (2001) na rea de
Educao Musical, possvel perceber que elas sugerem que para o professor de msica
desenvolver sua prtica educativa com criticidade, reflexividade e qualidade, necessita ter
certas competncias. Assim, quais seriam as competncias docentes que, na viso dos
professores de msica atuantes no ensino bsico, so necessrias para o exerccio da prtica
pedaggico-musical no contexto escolar? Foi a partir desse questionamento que desenvolvi
esta proposta de pesquisa.
3
Sero abordadas, neste trabalho, algumas das noes de competncias. No entanto, cabe ressaltar que ainda o
referencial para a anlise dos dados da pesquisa no encontra-se, neste momento, totalmente definido.
5
caracteriza-se por ser mediador entre as duas dimenses poltica e tcnica, remetendo-se
dimenso tica.
Considerando, tambm, a noo de competncia como algo que ultrapassa um mero
saber fazer, encontram-se MEGHNAGI (1998). Para MEGHNAGI (1998), a competncia no
se reduz em uma aquisio simplria de informaes, mas na capacidade de saber onde e
como procurar informaes no imediatamente disponveis para anlise de situaes e
resolues de problemas de mdio a alto nvel de complexidade. Para esse autor, a
competncia uma explicitao de repertrios cognitivos de natureza variada, que
envolvem aes e decises das quais resulta a qualidade de desempenho (ibid., p. 51).
Assim, a competncia, segundo MEGHNAGI (1998), algo tipicamente humano que no
pode ser assimilado por mquinas por mais sofisticada que elas possam ser. Quanto a melhora
das competncias no profissional, MEGHNAGI (1998, p. 72) ressalta que pode acontecer
desde que se possibilite ao ser humano vivncias profissionais que ultrapassem os
comportamentos impostos por um sistema baseado em rotina (id.).
Philippe Perrenoud em sua obra Dez novas competncias para ensinar, designa
competncia como sendo tambm uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos
para enfrentar um tipo de situao (PERRENOUD, 2000, p. 15).
A competncia especializada concebida por PERRENOUD (1999, p. 9) baseada
alm da inteligncia operatria, em esquemas analgicos prprios de cada rea de atuao,
em processos intuitivos, procedimentos de identificao e resoluo um certo tipo de
problemas, subentendendo a procura e elaborao de estratgias de ao adequadas. Esse
processo de construo de competncias indissocivel da elaborao de esquemas de
mobilizao de conhecimentos com discernimento (ibid.,p 10).
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
3 JUSTIFICATIVA
4 METODOLOGIA
Para a realizao desta pesquisa est sendo utilizado o mtodo de survey. O mtodo
de survey se refere a um estudo de uma parcela de todos os componentes de uma populao,
da qual os resultados obtidos podem, vantajosamente, realizar estimativas muito precisas
sobre a populao total da amostra selecionada. (BABBIE, 1999, p. 113).
4
O termo formao profissional utilizado aqui na tentativa de se proporcionar uma abertura para qualquer
que seja a formao musical do professor que ir ser entrevistado, podendo-se remeter a formao
conservatorial, superior, continuada, entre outras que possam surgir.
7
5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Resumo. O presente trabalho relata minha experincia como professora de flauta doce do
Departamento de Msica da UFPE, desde meu ingresso em 1993 at o momento. So feitas
consideraes sobre experincias e projetos desenvolvidos nestes nove anos, em atividades
de ensino, extenso e pesquisa. Alm disso, so includos dados que - apesar de
extrapolarem o perodo estabelecido - so importantes para resgatar historicamente fatos
que levaram a flauta doce ao contexto atual na UFPE. Como concluso feita uma
articulao entre a prtica da flauta doce na UFPE e a educao musical no estado de
Pernambuco, considerando os mbitos das escolas fundamental e secundria, da formao
de professores, concertistas e pblico.
Tudo teve incio nos anos 50 quando a flauta doce foi introduzida em Pernambuco
por freiras alems na cidade de Timbaba, utilizando o instrumento para educao musical
e formao de conjuntos com os estudantes da escola em que trabalhavam. Em 1976, a
professora Ilma Lira iniciou um trabalho pedaggico com flauta doce no antigo curso de
Licenciatura em Educao Artstica da UFPE. Em seguida, ainda na dcada de 70, atravs
dos Cursos de Extenso e Capacitao Profissional, a mesma professora desenvolveu um
trabalho especfico de flauta doce dirigido a crianas e jovens. No final da dcada de 80, em
decorrncia de anos de esforo - a flauta doce passou a integrar o hall dos instrumentos
oferecidos pelos cursos de bacharelado da UFPE. Em 1992 diplomada a primeira bacharel
em flauta doce do estado de Pernambuco, em carter pioneiro, visto que naquele perodo
pouqussimos cursos semelhantes existiam no Brasil. Atualmente, o bacharelado em flauta
doce da UFPE continua sendo o nico das regies Norte/Nordeste. Entre 1976 e 1992,
perodo em que a rea de flauta doce estava sob a coordenao da professora Ilma, foram
realizados projetos de performance como a Camerata ad Libitum - grupo multidisciplinar
que realizou espetculos, sobretudo renascentistas, integrando as reas de dana, teatro,
msica instrumental e vocal.
1
Relatarei a seguir os projetos mais relevantes da minha experincia como professora
de flauta doce no Departamento de Msica da UFPE, onde so desenvolvidas atividades de
ensino, extenso e pesquisa. A flauta doce consta no Departamento nos cursos de Extenso
e Capacitao Profissional, Licenciatura em Msica e Bacharelado em Instrumento. O de
Extenso e Capacitao Profissional forma e prepara instrumentistas jovens, possveis
candidatos ao curso de bacharelado. Alm disso, oferece a prtica de conjunto para crianas
e adultos. Atualmente, 50% da classe de Bacharelado em flauta doce egressa deste curso.
Dentro do currculo de Licenciatura, as quatro disciplinas de Instrumento Auxiliar
abordam a flauta doce como mais um recurso a ser utilizado em sala de aula pelos futuros
professores. Para estes alunos da Licenciatura foram elaboradas apostilas de iniciao
flauta doce, onde o repertrio apresentado mais amplo que nos mtodos brasileiros desse
instrumento, baseados normalmente no cancioneiro infantil. O repertrio proposto na
apostila - desenvolvida em conjunto com o atual monitor, aluno do Bacharelado em flauta
doce Marco Barcellos - inclui exemplos retirados da msica tradicional brasileira e
internacional, da msica popular brasileira, da msica erudita e das melodias trabalhadas
dentro da concepo ORFF-SCHULWERK 1 . Levando em considerao que se trata da
formao de professores, foram adotadas metodologias e atividades semelhantes s da
iniciao musical, que servem como referncia aos trabalhos pedaggicos que venham
desenvolver. Alm do trabalho prtico do instrumento, discutimos textos relacionados a
histria, repertrio, tcnica de execuo, mtodos e abordagens da flauta doce, a fim de
fornecer uma fundamentao e contextualizao do estudo. Tem sido muito gratificante
observar o atual entusiasmo dos alunos de Licenciatura que fazem instrumento
auxiliar/flauta doce, visto que, freqentemente, estes so encaminhados para o instrumento
por falta de vagas nos demais e no por opo. Alm da metodologia adotada, atribui-se tal
receptividade ao repertrio dirigido especialmente faixa etria em questo. Considerando
que, segundo os princpios andraggicos2 , "a educao para adultos tambm requer
professores especializados, mtodos prprios e uma filosofia especial" (Eugen Rosenstock
apud MEDEIROS 1998), observou-se que os mtodos brasileiros de flauta doce, em sua
1
Alm do repertrio criado por Carl Orff, outras melodias so desenvolvidas por educadores e pelos prprios
alunos, onde so utilizados acompanhamentos em ostinato, improvisao e outros aspectos que caracterizam
esta metodologia.
2
"Andragogia a arte e a cincia de ajudar os adultos a aprender" (Knowles apud MEDEIROS 1998).
2
maioria destinados a crianas, no so ideais para o trabalho com adultos. Quanto aos
mtodos estrangeiros, geralmente utilizam exemplos retirados unicamente da msica
europia. Foi ento, com o duplo propsito de gerar material variado e de motivar os alunos
de Licenciatura nas aulas de flauta doce, que foram criadas as apostilas para adultos
iniciantes.
No Bacharelado em flauta doce da UFPE, at o presente foram formados cinco
flautistas, dos quais, dois, posteriormente concluram curso de especializao em flauta
doce no Conservatrio Nadia Boulanger, Paris. Atualmente, os nove bacharelandos que
integram a classe de flauta doce participam de concertos promovidos semestralmente,
principalmente em igrejas barrocas de Olinda. Concertos individuais tambm so realizados
como palco - no currculo do curso de Bacharelado em Instrumento, alm do recital de
concluso, exigida do aluno a realizao de trs concertos menores denominados palcos.
Alm disso, como o programa curricular prev uma prtica de conjunto durante os dez
semestres do curso, todos estes alunos integram o CONSORT DE FLAUTAS da UFPE.
O conjunto CONSORT DE FLAUTAS resultante do projeto de mesmo nome
apoiado pela PROACAD/UFPE3 desde 1999, atravs do programa PROENSINO. Tal
projeto previu a aquisio de um whole consort 4 para o Departamento de Msica contendo
nove flautas renascentistas, importadas da Mollenhauer, Alemanha. Entre as flautas, que
vo da sopranino em f at a grande-baixo em d, esta ltima desperta muito interesse e
curiosidade pela infreqencia da mesma no Brasil. O CONSORT DE FLAUTAS vem
marcando sua atuao, igualmente, pela performance das msicas renascentista e
contempornea, incluindo a brasileira. O repertrio do grupo, bastante ecltico, no exclui
arranjos de gneros musicais diversos, dando oportunidade aos alunos e ao pblico de
conhecerem obras musicais no originais para flauta doce. Dentro deste repertrio
"arranjado"5 para flauta doce destacam-se A swing in the Park (Hilling) e Theme of the Pink
Panther (Mancini) que tm muita aceitao pelo pblico por contrastar com o repertrio
erudito. De acordo com o gnero trabalhado, so adicionados outros instrumentos como
3
Pr-Reitoria para Assuntos Acadmicos.
4
Termo utilizado na Renascena para designar conjuntos musicais ou os prprios conjuntos de instrumentos,
compostos unicamente por instrumentos de uma mesma famlia. Ex: somente flautas ou somente violas.
5
O repertrio arranjado representa parte considervel do repertrio da flauta doce tirado da msica de
qualquer perodo (Rowland-Jones, 1995).
3
contrabaixo e violo, alm de percusso. Programas renascentistas com a participao de
cantores tambm so propostos pelo grupo.
Como atividades de extenso, foram realizados dois cursos, com os professores
Helder Parente (UNIRIO) e Laurence Pottier (Conservatrio Nadia Boulanger),
respectivamente em 1994 e 1995, dos quais participaram alunos e professores de vrias
escolas de msica de Pernambuco e de outros estados. Extra-Universidade, mas dentro da
mesma filosofia, foram promovidos de 1995 a 1998, pelo Conservatrio Pernambucano de
Msica, quatro Encontros de Msica Antiga de Recife e Olinda. Atravs de master-classes
e concertos com profissionais conceituados no Brasil e no exterior, estes cursos e
Encontros suscitaram um maior interesse pela flauta doce em Pernambuco entre alunos,
instrumentistas e professores.
Para os professores de flauta doce das escolas de msica de Recife, um projeto
marcante foi o I Curso Internacional de Flauta Doce (1995) ministrado por Laurence
Pottier, onde o aproveitamento transcendeu os master-classes. Com o objetivo de
proporcionar aos professores a observao de aulas de iniciao ao instrumento, foi
formada uma turma de crianas musicalizadas, com faixa etria entre dez e treze anos, que
nunca haviam tocado flauta doce e capazes de se comunicar em francs. Apesar da
dificuldade para encontrar crianas que preenchessem esses trs pr-requisitos, tal
exigncia decorreu da preocupao em conservar a espontaneidade do processo de
ensino/aprendizagem, no qual a relao professor/aluno seria comprometida caso houvesse
a interferncia de um intrprete.
No que se refere pesquisa em flauta doce, duas dissertaes de mestrado foram
desenvolvidas por professores da UFPE. A primeira delas, Rumo a um Novo Papel da
Flauta Doce na Educao Musical Brasileira, apresentada ao Departamento de Msica da
Universidade de York, Inglaterra, de autoria da professora Ilma Lira, data de 1984. Neste
trabalho a autora trata de questes relacionadas utilizao da flauta doce em escolas de 1o
e 2o graus, fazendo reflexes sobre seus benefcios para o desenvolvimento das
potencialidades do ser humano. Para este trabalho educacional com flauta doce, a autora
sugere novas abordagens no uso do instrumento, ressaltando a importncia do uso de
elementos e tcnicas da msica de vanguarda do sculo XX - como textura, timbre,
frulatos, entre outros - nas atividades musicais escolares.
4
A segunda dissertao em flauta doce acima referida a que desenvolvi no
mestrado em Musicologia do Conservatrio Brasileiro de Msica, Rio de Janeiro, 1998:
Estilos Musicais em Telemann - o exemplo da sute em l menor. Nesta pesquisa foi
realizado um levantamento sobre dados biogrficos do compositor e caractersticas dos
estilos musicais nacionais do sculo XVIII, a fim de facilitar a compreenso da diversidade
encontrada na sua linguagem musical. A sute em l menor para flauta doce e orquestra de
cordas - tomada como exemplo - constitui referencial do estilo idiomtico para o
instrumento, sendo tambm representativa no que se refere aos estilos nacionais. Na
concluso, a pesquisa prope um quadro sinptico dos aspectos italianos e franceses da
sute em l menor, o que pode ser de grande utilidade aos estudantes e profissionais em
msica antiga, uma vez que a bibliografia sobre Telemann quase inexistente no Brasil.
Devido necessidade de pesquisas voltadas para a flauta doce, apresentei projeto ao
CNPQ, atravs da PROPESQ/UFPE6 , solicitando a participao de bolsista de iniciao
cientfica. O primeiro sub-projeto (2000) da bolsista Helena Vieira, bacharelanda em flauta
doce, constou do estudo da obra para flauta transversa de Joaquim Calado, seguido de uma
adaptao da mesma para flauta doce. Com isso, teve-se como objetivo proporcionar ao
estudante ou profissional em flauta doce o acesso a um gnero musical do sculo XIX, que,
ao mesmo tempo, tem a funo de estudos tcnicos, pelo nvel de execuo requerido, e de
peas de concerto. O segundo sub-projeto, concludo em setembro de 2002, investigou a
msica popular brasileira (movimentos bossa nova e tropiclia) como possvel material a
integrar o repertrio de iniciao flauta doce para adultos. Neste ano de 2002, foi
aprovado pelo CNPQ um projeto que visa a realizao de levantamento do repertrio
brasileiro original para flauta doce, indo da msica erudita msica pernambucana
tradicional.
Tenho observado que as atividades de ensino, extenso e pesquisa do Departamento
de Msica da UFPE tm desenvolvido a rea instrumento/flauta doce no estado de
Pernambuco, contribuindo, direta e indiretamente, para a melhoria da educao musical em
vrios nveis. Os cursos de Bacharelado e Extenso viabilizam o desenvolvimento de
potenciais artsticos individuais, formando instrumentistas. Estes flautistas, conforme se
pode observar, tm multiplicado o nmero de concertos no Estado, representando papel
6
PROPESQ - Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa.
5
significativo na formao de pblico ao despertar interesse para o instrumento e para o tipo
de repertrio. Como conseqncia, essa atividade de performance tem provocado
desdobramentos - como a necessidade de especializaes em cravo e outros instrumentos -
solicitados pelas formaes instrumentais da msica antiga. Neste particular, pela primeira
vez em Pernambuco, em julho de 2002, uma professora do Conservatrio diplomou-se em
cravo, na Frana.
No que se refere aos alunos de Licenciatura, muitas vezes sem experincia
instrumental anterior, o estudo da flauta doce preenche lacunas atravs de vivncias
musicais significativas proporcionadas pelo repertrio do instrumento. Ainda em relao a
esses alunos, as discusses em sala de aula tm contribudo para solucionar os problemas
trazidos pelos mesmos, encontrados em suas atividades profissionais em escolas. O esforo
despendido na formao musical/instrumental dos alunos de Licenciatura da UFPE, sem
dvida aprimora o seu desempenho como educadores musicais, beneficiando diretamente
os alunos das escolas fundamental e secundria num notvel efeito multiplicador. O mesmo
efeito ocorre em escolas especializadas, a exemplo do Conservatrio Pernambucano de
Msica, onde atualmente, cinco professores de flauta doce tiveram sua formao acadmica
no Departamento de Msica da UFPE. Estes professores, de reconhecida qualidade tcnica,
tm sido responsveis pela iniciao instrumental de centenas de alunos.
interessante ressaltar que durante as disciplinas de Instrumento Auxiliar - onde
vivenciado um processo de aprendizagem baseado na tcnica, histria e repertrio do
instrumento - percebe-se uma mudana de concepo da flauta doce por parte dos alunos de
Licenciatura. Infelizmente, muitas vezes esses alunos chegam com a idia de que ensinar
flauta doce no necessita um grande preparo, pois "a elevada quantidade de executantes
sem bases tcnicas aceitveis levou a que se subestimasse as enormes possibilidades
musicais deste instrumento" (Henrique, 1988, p.261).
"(...) essencial que o professor toque o suficiente para demonstrar aos alunos e domine o
instrumento e seu repertrio ANTES de comear a ensinar. pobre a idia de que o
professor esteja apenas uma lio frente dos alunos(...) (Dinn, 1965, p.8).
Finalmente, as pesquisas, embora ainda poucas, tm possibilitado o aprofundamento
em temas diversificados relativos flauta doce, estimulando os flautistas a continuarem
atuando em pesquisas de ps-graduao.
6
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BARROS, D.C.& VIEIRA, H.S.L. Joaquim Antonio Calado: uma anlise e adaptao
para flauta doce. Relatrio final de Iniciao Cientfica. UFPE, Recife, 2001.
LIRA, Ilma. Rumo a um novo papel da flauta doce na educao musical brasileira.
Dissertao. (Mestrado em Educao Musical). York, Universidade de York, 1984.
O'KELLY, Eve. The recorder in education. In: THOMPSON, J.M. (Ed.) Recorder.
England, Cambridge University Press, pp.184-195, 1995.
7
PAU E LATA: PROJETO ARTSTICO PEDAGGICO
O Pau e Lata: Projeto Artstico Pedaggico, que tem como idealizador Danbio
Gomes, surgiu em Macei/Al em 1996. Na oportunidade desenvolvia como voluntrio,
atividades artsticas Oficina de teatro e msica numa escola de ensino fundamental
localizado no bairro do Tabuleiro dos Martins, na periferia da cidade. A escola se propunha
a realizar uma atividade que envolvesse a comunidade. Ento, com essa pretenso foi
pensado a construo de uma banda rtmica, utilizando instrumentos confeccionados com
sucata. Nesse propsito - escola, famlia e alunos desenvolveram tarefas, tais como:
captao de sucata em terrenos baldios, solicitao de latas e cmaras de ar de pneus no
comrcio; cabos de vassouras coletados em serrarias e nas prprias residncias dos alunos e
outros. Com o material arrecadado, passou-se etapa de construo dos instrumentos e em
seguida, formao da banda rtmica com ensaios sistemticos. A apresentao de estria
foi no dia 12 de outubro de 1996 com 100 componentes, todos tocando instrumentos de
fabricao prpria.
Em 1997 o Projeto Pau e Lata iniciou suas atividades junto Prefeitura da cidade de
Baa Formosa / RN, compondo o Projeto Brasil Criana Cidad. Projeto que tinha como
objetivo trabalhar a educao sexual. Em maio deste mesmo ano recebeu o convite da
FUNDAC (Fundao da Criana e do Adolescente ) para desenvolver atividades junto ao
programa DESPERTAR, cuja finalidade era trabalhar com jovens usurios de drogas.
Neste ano o Projeto Pau e Lata contemplou 120 crianas e adolescentes na sua totalidade.
No ano seguinte, o Projeto, vinculado ao Programa VIVER, um programa de
combate ao abuso sexual de crianas e adolescentes, coordenado pela Secretaria de Ao
Social passa a desenvolver atividades em Lajes do Cabugi/RN. A presena do Pau e Lata
nessa comunidade possibilitou a formao de um grupo composto por 22 adolescentes na
faixa etria entre 13 e 17 anos. importante chamar ateno para uma caracterstica
peculiar desse grupo, tendo em vista que hoje ele se encontra num estado de auto-
sustentao de forma que a organizao interna se d por comisses escolhida entre seus
integrantes.
Em 2000, o Projeto Pau e Lata foi integrado ao Departamento de Artes da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como Projeto de Extenso, passando a ser
denominado de Pau e Lata: Projeto Artstico Pedaggico, coordenado pela professora
Snia Maria de Oliveira Othon. A partir de 2001 o Projeto passou a ser coordenado por
Valria Carvalho da Silva, tambm professora de Departamento de Artes.
Atualmente, o Projeto trabalha com 40 adolescentes na faixa etria entre 13 e 17
anos, sendo 22 componentes integrantes do grupo de Lajes do Cabugi/RN. Os outros 18
adolescentes compem o grupo com o qual o Pau e Lata desenvolve suas atividades junto a
ONG Canto Jovem, em Natal. H dez meses o Projeto vem trabalhando com um grupo
formado por 22 jovens, entre estudantes e professores. Um dos objetivos direcionado a esse
mais recente grupo consiste na formao de multiplicadores.
O Pau e Lata: Projeto Artstico - Pedaggico desenvolve ao longo de 06 anos uma
prtica educativa a qual aponta resultados significativos. Pois tem possibilitado aos
envolvidos um contato com os aspectos da linguagem musical, bem como a sua vivncia e
compreenso. Em decorrncia disso, considera-se que eles estaro mais aptos a dispor da
msica no dia a dia.
O material sonoro tem papel importante no processo de musicalizao,
principalmente o instrumento de percusso, onde a facilidade tcnica e a diversidade de
sons permitem que a intuio musical aflore de maneira rpida, e os conceitos da
linguagem possam ser prontamente absorvidos. A percepo auditiva se desenvolve tanto
na capacidade de se reconhecer o som dos instrumentos tocados, como na de se equilibrar o
som produzido pelo seu instrumento, dentro do contexto da formao da banda rtmica.
Qualquer conjunto de latas ou caixas velhas serve para montar uma folia de lata ou
um conjunto rtmico (Conde, 1976, p.45). Buscamos embasamento terico na pesquisa de
Ceclia Conde sobre Significado e Funes da Msica do Povo na Educao e a partir da
nossa compreenso tentamos ir um pouco mais, quando passamos a experimentar a lata, o
tambor plstico e o cabo de vassoura, como elemento sonoro deixando visivelmente claro
para os observadores a natureza daquele material, sem nenhuma camuflagem plstica,
destacando as diversas forma de extrao do som na prtica das variaes rtmicas.
O processo de montagem do repertrio rtmico acontece a partir de uma pesquisa
onde os envolvidos com o projeto participam os grupos j referidos. Vdeos, CDS,
partituras, documentrios, entrevistas, e vivncias com pessoas que tem experincias
acadmicas ou no em msica erudita e popular, alm de uma bibliografia especfica so
fontes significativas para a pesquisa.
Atravs de oficinas programadas, fazendo uso da sucata como instrumentos
musicais e desencadeando questionamentos sobre a importncia da reciclagem e o do
reaproveitamento de material, realizamos pesquisas sobre a msica experimental e
divulgamos os resultados atravs de shows, aulas espetculos e oficinas para a comunidade
em geral.
Por meio dessas atividades, o Pau e Lata procura trabalhar a conscincia e a
responsabilidade entre os jovens, principalmente, enfatizando valores e atitudes que
consolidam uma ao pela no-violncia, atravs do dilogo, participao e solidariedade.
Nesse sentido, acredita se que dessa forma o Projeto possa contribuir para reduzir o nmero
de jovens e adolescentes que se encontra em processo de excluso social.
O Pau e Lata: Projeto artstico Pedaggico desenvolve suas atividades de formas
variadas:
1. Construo de instrumentos musicais e composio rtmica a partir do uso da
sucata, utilizando textos, vdeos e outros meios.
2. Oficinas continuadas de musicalizao com aulas tericas e ensaios prticos.
3. Pesquisas sobre gneros e estilos musicais, refletindo e articulando com a
realidade social local, regional e nacional.
4. Aulas espetculos
5. Apresentaes: - Show em espao fixo;
- Apresentao cortejo.
Para finalizar essas consideraes, faz parte da prtica do Pau e Lata: Projeto
Artstico Pedaggico trabalhar o processo avaliativo de forma contnua, objetivando
aprofundar cada vez mais tanto o seu contedo como a sua prtica.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. So Paulo. Cortez editora,1982.
AYALA, Maria Igns Novais & AYALA Marcos. Cocos: alegria e devoo. Natal;
EDUFRN,2000.
BARBOSA, Ana May. A imagem do ensino da arte. So Paulo. Perspectiva editora,2001.
CONDE, Ceclia (coordenadora). Significado e funes da msica do povo na educao.
Projeto de Pesquisa, RJ: (INEP), 1976/1978.
FREYRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. SP. Paz e Terra, 1996.
JOURDAIM, R. Msica, crebro e xtase. Rio de Janeiro. Editora Objetiva,1997.
SHAFIR, R. Murray. O ouvido Pensante. So Paulo. Fundao Editora da UNESP,1991.
_________________ A alienao do mundo. So Paulo. Fundao Editora da
UNESP,1997.
SOUZA, Jusamara. Msica, cotidiano e educao. RS, 2000.
A EDUCAO MUSICAL COMO PARTE INTEGRANTE DE UM PROCESSO DE
ALFABETIZAO SCIO-HISTRICO
Resumo. Relato de uma pesquisa que deu continuidade outra investigao anterior sobre
a influncia da msica no processo de alfabetizao formal. A partir dos resultados obtidos
anteriormente pela equipe de pesquisadoras e da diversidade de idias que existem sobre o
tema, a pesquisa foi planejada e executada novamente. Buscou-se associar os elementos
musicais aos temas e textos utilizados no processo de alfabetizao, tendo como sujeitos
alunos de uma escola pblica. Os resultados parecem indicar um efeito positivo dessa
integrao de reas.
INTRODUO
O tema proposto para esta pesquisa foi objeto de outra pesquisa semelhante,
elaborada e desenvolvida por uma equipe de professoras da qual participavam algumas das
pesquisadoras do presente projeto, denominada "A educao musical integrada a uma
proposta de alfabetizao formal". Os resultados desta pesquisa anterior foram objeto de
uma Comunicao de Pesquisa feita no X Encontro Anual da ABEM, ocorrido em
Uberlndia em 2001. Tal investigao tinha como objetivo promover uma experincia de
interrelao entre a msica e o processo de alfabetizao formal, buscando descobrir de que
forma a linguagem musical poderia auxiliar a criana no processo de aquisio da leitura e
escrita.
Naquela 1 pesquisa realizamos as atividades em duas turmas de alfabetizao no
CEPAE/UFG: a turma A, que no tinha aulas de msica e que se constitua em grupo de
controle e a turma B, que tinha aulas de msica, servindo aos propsitos da pesquisa
como grupo experimental. Os resultados obtidos foram positivos com relao ao
desenvolvimento musical das crianas, mas a anlise dos textos produzidos pelas crianas
de ambas as turmas, mostrou no haver diferenas significativas no processo de
alfabetizao formal.
Avaliando a pesquisa feita, pudemos levantar alguns problemas que prejudicaram
seu desenvolvimento e os resultados obtidos, tais como:
.A coleta dos textos produzidos pelas crianas: deveria ocorrer a partir de atividades
comuns s duas turmas, durante todo o ano, uma vez que o processo se desenvolveu em
torno de unidades temticas comuns s duas turmas, mas tal coleta no ocorreu de forma
sistemtica.
.A valorizao excessiva do aspecto ldico durante as aulas de msica: as unidades
temticas durante as aulas de msica eram desenvolvidas de forma ldica. Os momentos de
reflexo em torno dos assuntos explorados eram muito escassos. Os aspectos relacionados,
por exemplo, grafia e leitura das canes utilizadas nas aulas de msica, no foram
suficientemente enfatizados.
.A ausncia de dados sobre a leitura: houve uma centralizao nos aspectos relacionados
grafia e faltaram dados para analisar o desenvolvimento da leitura, como um dos
componentes do processo de alfabetizao.
.A falta de financiamento para o projeto: esse aspecto nos impediu de contar com recursos
materiais e humanos que facilitariam a coleta de dados durante a execuo do projeto de
pesquisa. Seriam necessrios alguns equipamentos para registro udio-visual e a
contratao de servios de terceiros para a filmagem e edio de imagens para posterior
anlise do desenvolvimento do processo.
Detectados esses problemas, mas considerando o grau de interesse do tema, nos
propusemos a realizar a presente pesquisa visando dar continuidade pesquisa anterior,
buscando o mesmo objetivo e redirecionando-a em alguns aspectos, buscando suprir as
deficincias apontadas. Foi fundamental para tanto o financiamento obtido para o projeto
atravs da FUNAPE/UFG.
Destacamos, conforme j o fizemos no relatrio da pesquisa anterior, que os estudos
realizados sobre este tema apresentam algumas controvrsias (ver MANINS, 1994;
REGELSKI, 1977; SHARMAN, 1981; WILSON, 1985; GROFF, 1977; GELVIN, 1974), o
que torna ainda mais necessria e relevante para a educao musical a realizao de
pesquisas nesta rea.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
RESULTADOS
CONCLUSES
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1
Entendemos aqui a leitura e escrita convencional como um processo ainda em construo em que o aluno
estaria colocando suas hipteses a respeito da linguagem escrita relacionando-a com a linguagem oral.
CAMPOS, D. A. (1998): La percepcin musical em escolares: Relaciones con la
psicologa cognitivo-evolutiva la pedagoga musical. Tese doutoral, Universidad
Autnoma de Madrid.
GROFF, Patrick (1977): Reading Music Affects Reading Language: Says Who? Music
Educators Journal, 63/5: 37.
REGELSKI, T.A. (1977) "Who Knows Where Music Lurks in the Mind of Man? New
brain research has the answer". Music Educators Journal,63-69:30..
SMOLKA, A.L.B. (1988): A criana na fase inicial da escrita. 2 ed. Campinas: Cortez.
WILSON, F. R. (1985): Music as Basic Schooling for the Brain. Music Education
Journal.71/9:39.
ANEXOS
TABELA 1
Universidade Federal de Gois
Pr-Reitoria de Graduao
Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada Educao
Aluno(a):-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Professora:-----------------------------------------------------------------------------------Turma:---------
Escala:---------------------------------------------------------------------------------------------------------
TABELA 2
L convencionalmente ?
Controle Experimental
L
Convencionalmente Inicio do ano letivo Final do ano Letivo Inicio do ano letivo Final do ano Letivo
?
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Sim 5 26,32 13 68,42 2 11,76 11 64,71
No 11 57,89 - 0,00 11 64,71 4 23,53
Com dificuldade 3 15,79 6 31,58 4 23,53 2 11,76
Controle p = 0,000 ; Experimental p = 0,001
TABELA 3
Escreve convencionalmente ?
Controle Experimental
Escreve
convencionalmente Inicio do ano letivo Final do ano Letivo Inicio do ano letivo Final do ano Letivo
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Sim 5 26,32 13 68,42 2 11,76 10 58,82
No 11 57,89 - 0,00 14 82,35 4 23,53
Com dificuldade 3 15,79 6 31,58 1 5,88 3 17,65
Controle p = 0,000 ; Experimental p = 0,001
TABELA 4
GRUPOS
L CONVENCIONALMENTE ESCREVE CONVENCIONALMENTE
INCIO DO FIM DO ANO MELHORA INCIO DO FIM DO ANO MELHORA
ANO ANO
GRUPO DE 26,32 68,42 42,10 26,32 68,42 42,10
CONTROLE
GRUPO 11,76 64,71 52,95 11,76 58,82 47,06
EXPERI-
MENTAL
O CORPO PRPRIO DRAMA NICO UMA UNIDADE SEMPRE IMPLCITA
E CONFUSA
Introduo
corpo ou conscincia, pois s h conscincia se houver algo em que ela possa se jogar.
Eles no se limitam e sim so paralelos, confundindo-se num nico ato.
Nosso corpo habitado por uma potncia de objetivao que trata os dados
sensveis, representando-os, animando-os, ordenando-os e centrando-os numa pluralidade
de coisas vividas e experimentadas num ncleo inteligvel. A conscincia o prprio poder
e s conscincia se existir algo de que se ter conscincia, onde esse algo um objeto
intencional.
Lyotard (1967) coloca que s existe algo se houver relao entre o sujeito e a
situao, a intencionalidade destronando o eu puro isolado a interioridade. Para
Merleau-Ponty (1994:6), no existe homem interior, o homem est no mundo, no mundo
que ele se conhece.
O homem compreende o mundo no qual se instala mediante sua experincia, e o
resultado de suas relaes com o mundo objetivo sua histria perceptiva, recriada e
reconstituda a cada instante; esse homem o sujeito perceptivo de Merleau-Ponty.
Cabe dizer que perceber no lembrar-se, perceber no arrastar o fluxo de
conscincia, no analisar o retido na memria que uma condio desta, e que pela
reflexo pode descrever tal vivncia. Perceber apreender as coisas no sentido em que as
vemos no mundo e em nosso mundo. E, atravs de nosso corpo, no como um objeto, mas
como o campo primordial, que apreendemos as coisas no mundo.
Esse corpo, que condio bsica, campo primordial de nossa experincia como
sujeito perceptivo, denominado por Merleau-Ponty de corpo prprio ou corpo
fenomenolgico, que o corpo da experincia do corpo. Esse corpo difere do corpo
biolgico, do corpo fsico, que um corpo em geral, no o meu, no o que eu vivo, no o
da minha experincia. Esse corpo tambm no um corpo subjetivo, desde que a percepo
antecede o pensamento.
Leia-se: A percepo no uma cincia do mundo, no nem mesmo um ato,
uma tomada de posio deliberada; ela o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e
ela pressuposta por eles (Merleau-Ponty, 1994:6). Para Lyotard (1967:65), a percepo
aquilo pelo qual estamos no mundo, ou aquilo pelo qual temos um mundo, como se
quiser, e constitui por isso o ncleo de toda compreenso filosfica e psicolgica do
homem.
3
Leia-se:
5
Referncias bibliogrficas
VARELA, Francisco J.; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. De cuerpo presente. Las
ciencias cognitivas y la experiencia humana. Barcelona, Editorial Gedisa S.A., 1992.
A PERCEPO NA EDUCAO MUSICAL: DESPREZO OU MIOPIA?
Introduo
Atestar que homem e mundo esto encarnados assegurar que esse contato est
calcado na condio de um eu posso ao contrrio de eu penso.
Se assumimos o que pensamos porque vivemos numa situao, e assim nos
constitumos como seres no mundo, ou seja, somos porque vivemos em experincias,
experimentando - a experincia o solo de ancoragem da fenomenologia.
Nesse contado do homem com o mundo, a percepo um dado a priori,
atravs dela que nos abrimos ao mundo. Merleau-Ponty (1990:42) observa: O mundo
percebido seria o fundo sempre pressuposto por toda racionalidade, todo valor e toda
existncia.
A percepo um dado particular de cada sujeito que percebe. E, embora exista
uma estrutura sensorial universal, os homens apreendem o mundo atravs de uma
disposio dos sentidos em condies mais ou menos semelhantes, o modo particular de
assumir-se e localizar-se segundo mltiplas possibilidades que faz a diferena.
3
Conforme Maciel Jnior (1997), percebemos tudo aquilo que nos interessa e
quando no, deixamos que as coisas nos atravessem. Benghi e Carvalho (1994) observam
que a percepo humana um complexo processo de codificao de materiais, acontecendo
inicialmente atravs dos sentidos, para ento, mediando entre o sentido e o pensar,
estabelecer diferenas e semelhanas. Duarte Jnior (1988) fala sobre os processos
perceptivos simples ou rudimentares, que vo se organizando e atuando, at que sirvam de
alicerce aos mais refinados. Fernandes (1997) observa a questo de que os elementos
perceptivos ligam-se diretamente ao desenvolvimento da sensibilizao.
Para Sontag (1987), a arte como uma extenso da vida, pois somos o que
somos, capazes de ver, ouvir, tocar, cheirar e sentir, muito mais profundamente do que
somos em idias armazenadas na cabea e, assim, a arte vinculada aos sentidos. Santaella
(1993) afirma que todo pensamento lgico entra pela porta da percepo e sai pela porta da
ao deliberada. E, Martins (1985) observa que o campo perceptivo envolve elementos e
eventos, tanto externos quanto internos.
Para Merleau-Ponty (1990), os estudos da percepo parecem justificveis pelo
desenvolvimento das pesquisas filosficas e experimentais, sobretudo por meio do
progresso de uma nova psicologia da percepo, a Gestaltpsychologie.
A percepo passou a ser vista no mais como operao intelectual e sua forma
estaria presente no prprio conhecimento sensvel, enquanto fenmeno primrio. Nossa
percepo apreende uma fuso de elementos que fazem um todo, uma estrutura que contm
mais que a soma de partes, a Gestalt capta o todo de uma situao, que perceptvel por se
destacar de um fundo.
Segundo Merleau-Ponty (1994), numa pea musical a idia s se comunica pelo
desdobramento dos sons. No so as partes e nem seu somatrio, mas o entrelaamento das
partes num todo to engendrado que s assim se torna reconhecvel e inconfundvel.
Bastaria uma nica e mnima parte deslocada de seu devido lugar, que este todo no seria
mais o mesmo, e sim, um outro todo, uma outra idia.
Martins (1985:33) coloca que uma melodia no um simples aglomerado ou
coleo de notas ou smbolos musicais, mas uma organizao musical, uma Gestalt
reconhecvel.
4
Referncias bibliogrficas
MACIEL JNIOR, Auterives. Perceptos e afetos: uma introduo lgica das sensaes.
Pesquisa e Msica, Vol. 3, N. 1, pp. 24-33, Rio de Janeiro, 1997.
Introduo
Cena 1
O pesquisador est em campo, observando um estagirio, futuro professor
de msica, numa sala de aula com alunos da 5a srie do ensino fundamental de uma
escola estadual. O que se segue a transcrio de um trecho de seu dirio de campo.
Cena 2
O pesquisador, agora como professor de msica, se dirige a uma escola
estadual de ensino mdio. o seu terceiro encontro com seus novos alunos. As aulas
so marcadas para as manhs de sbado, porque no h espaos adequados nem
disponveis nos dias normais de aula nesta escola. Abaixo, um trecho de seu dirio:
1
Recolhido dos dirios de campo das observaes que fiz poca da elaborao de minha
dissertao de mestrado (M ARQUES 1999).
2
2
Trecho de dirio de aula referente a atividades pedaggicas desenvolvidas como
cumprimento das atividades requeridas numa das disciplinas do meu doutoramento. (A este respeito ver
3
Justificativa
Objetivo
Problema
M ARQUES 2000).
4
Objeto
Metodologia
Abordagem
Sujeitos
guisa de concluso
3
As escolas federais constituem exceo por sua prpria singularidade: h apenas duas
instituies federais de ensino em Salvador. As condies de infra-estrutura dessas escolas no refletem
7
Referncias bibliogrficas
PEREZ, Carmen Lucia Vidal e SAMPAIO, Carmen Sanchez. A pr-escola em Angra dos
Reis: tecendo um projeto de educao infantil. In GARCIA , Regina Leite (org.)
A Formao da Professora Alfabetizadora: reflexes sobre a prtica. 2a ed.
So Paulo, Cortez, pp. 45-82, 1998.
1
TIMBRE
Colocando a hiptese de que o mundo no tivesse sons:
- Ningum falava.
- O telefone no toca.
- A gente no a ouv nada.
- Eu no acordava, porque o despertador no a t som.
A possibilidade do silncio na sala de aula:
- S aqui dentro.
- S se a gente ped silncio l fora.
- Tm os barulho da rua.
- Vai t os barulho das rvore, do vento.
5
AUDIO
No houve nenhum preconceito a respeito do repertrio ouvido, sendo trabalhadas
msicas folclricas, populares, infantis, eruditas, apreciao de concerto em vdeo e concerto
ao vivo.
Trenzinho caipira VILLA LOBOS (disco).
Aps a audio surgiram muitas perguntas sobre a obra e o autor e os estudantes
sugeriram e criaram um teatro, utilizando amplamente a expresso corporal e os materiais
disponveis na sala de aula para a construo do cenrio onde havia mar e ondas fortes,
montanha, trem, maquinista e passageiros, brisa e vento forte. Todos os sons utilizados, como
representaes de aes e objetos, levavam a compreenso destes como tais.
Nocturne CHOPIN (disco).
Depois de muitas discusses, os estudantes foram unnimes em afirmar a sensao de
inverno frio e chuvoso, de tristeza, saudade e melancolia.
Quinta Sinfonia 1 movimento Allegro - BEETHOVEN (vdeo).
Os alunos questionaram a respeito dos instrumentos e sobre quem comps a msica .
Observaram que, se Beethoven estava surdo, ele:
- Ouvia os sons, saindo, com os olhos.
Discutiram sobre a possibilidade de algum ter criado esta msica, estando surdo:
- Eu acredito mais ou menos !
Assistir aos concertos ao vivo foi uma experincia absolutamente nova para todos.
O Coral Infantil apresentou msicas folclricas e populares deixando a platia
alvoroada para, depois, oportunizar as reflexes:
-Ns tambm j cantamo bem bunito, que nem eles!
O grupo de violinos (crianas e adolescentes) executou um repertrio composto pelo
folclore, msica erudita e msicas do Mtodo Suzuki. Os alunos puderam se aproximar e
tocar nos instrumentos, momento em que as observaes se diversificavam:
- Eles pdi faze que nem o hme surdo.
- Quero estud mais msica, pr toc o violino.
A anlise das formas grficas construdas pelos estudantes, a verbalizao utilizada
como instrumento para a reflexo e a expresso, a transferncia do sentido para as
representaes plstica e corporal e, o significado de cada msica do repertrio, que no
apresentou barreiras ou rejeio (apenas preferncias naturais), refletiram as representaes e o
7
imaginrio dos estudantes que, no meu entendimento no diferem sensivelmente, num processo
inicial de musicalizao, em relao a outros estudantes ditos normais, da mesma faixa de
idade mental. No entanto, h uma certa dificuldade na consolidao dos conhecimentos
adquiridos, a prpria representao grfica alternativa de estruturas sonoras precisou de muitas
repeties, para que as legendas ou smbolos fossem memorizados, de modo que, a partir da
segunda execuo, as execues se repetissem de forma idntica.
Com a pretenso de dar continuidade ao estudo, para compreender melhor estas
representaes, acredito na necessidade de investigar de forma mais sistemtica e profunda, a
psicognese da lngua escrita, a partir de tericos como Emlia Ferreiro e Ana Teberosky e,
sobre as teorias da representao social, na psicologia social, a partir de Jodelet e Moscovici e,
possivelmente, fazer uma incurso pelos tericos do imaginrio.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARRUDA, A. (org.) Representando a alteridade. Rio de Janeiro: Vozes,1998.
BEYER, H. O fazer psicopedaggico: a abordagem de Reuven Feuerstein a partir de Vygotsky
e Piaget. Porto Alegre: Mediao, 1996.
FEUERSTEIN, R. The Dinamic Assesment of Retarded Performers: The Learning Potential
Assessment Device, Theory, Instruments, and Techniques. Baltimore: University Park Press,
1979.
FRIENDEREICH, K. A educao musical fundamentada na cincia espiritual. So Paulo:
Associao Pedaggica Rudolf Steiner, 1981.
GARDNER, H. Estruturas da mente: A teoria das Mltiplas Inteligncias. Porto Alegre: Artes
Mdicas, 1994.
____________. Inteligncias Mltiplas: A teoria na prtica. Porto alegre: Artes Mdicas,
1995.
PEREIRA DE S, C. A construo do objeto de pesquisa em representaes sociais. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 1998.
SCHAFER, R. O ouvido pensante. So Paulo: UNESP, 1991.
___________. A afinao do mundo. So Paulo: UNESP, 2001.
WILLEMS, E. As bases psicolgicas da educao musical. Lisboa: Fundao Calouste
Gulbenkian, 1984.
____________. El valor humano de la educacin musical. Barcelona: Paids, 1981.
1
Erwin Schrader
O canto coral tem sido uma das atividades que, nas duas ltimas dcadas, teve
grande expresso no cenrio musical brasileiro. Em Fortaleza, inmeros encontros, em
mdia, 5 a 6 por ano, concursos e mostras de corais, cursos de curta e mdia durao
relacionados rea, assim como a criao de diversos grupos corais independentes,
profissionais, em empresas ou em igrejas, fizeram com que a atividade crescesse
acentuadamente, estando presente em vrios segmentos da comunidade. Ao longo dos anos,
muito se ouviu falar a respeito do desenvolvimento da atividade coral e dos fatos histricos
que impulsionaram o seu crescimento, no entanto, esses dados so esparsos e no houve,
at o momento, nenhum esforo metodolgico de organizao desse material, assim como a
realizao de uma anlise contextualizada do assunto determinando os processos humanos
e pedaggicos envolvidos na sua construo. A identificao dos fatos e eventos corais
acontecidos na cidade e sua compreenso pedaggico-musical poder auxiliar na
elaborao de pesquisas no campo metodolgico e social da atividade coral e contribuir
para fundamentao terica de uma maior insero dessa atividade vocal coletiva em
2
*
Judith Filc. Clarn. Revista Viva, 17/08/97.
3
CONSIDERAES FINAIS
Atravs do estudo e sistematizao cronolgica dos fatos histricos buscamos
compreender um momento especfico da histria da atividade coral em Fortaleza
verificando se tal atividade, desempenha ou desempenhou um papel importante no processo
formao dos msicos desta cidade. O testemunho dos regentes que esto atuando frente a
grupos de canto coletivo em Fortaleza foi o principal material que encaminhou toda a
pesquisa e isto faz com que algumas personalidades, dependendo da abrangncia de sua
atuao, tenham adquirido um certo relevo ao longo deste trabalho.
O maior destaque de determinadas personalidades em relao a outras j nos oferece
uma pista do que seria aquilo que poderamos chamar de personalizao do canto coral
cearense. Essa personalizao ocorreu porque a atuao de instituies no processo de
formao dos regentes dos grupos de canto coral, nos parece, ainda bastante deficiente.
No podemos negar a ampla contribuio da Universidade Federal do Cear nem, to
6
pouco, a atuao da Universidade Estadual do Cear que, nos ltimos anos, esteve
responsvel pelo processo de legitimao acadmica dos novos msicos e regentes,
entretanto observamos, a partir dos discursos dos principais atores do movimento coral
cearense, que a atuao de tais instituies no foi determinante para o desenvolvimento da
atividade de canto coletivo em Fortaleza.
Observamos que, antes de qualquer instituio, foram os prprios grupos de canto
coral os responsveis pela formao de novos regentes de maneira que, participar de um
grupo de canto coral era a condio essencial para um aspirante ao posto de regente e, em
alguns casos, observamos que a deciso de desenvolver um trabalho de regncia nasceu em
alguns msicos depois de seu ingresso em um grupo coral.
Como herana das grandes concentraes corais idealizadas por Villa-Lobos,
podemos ainda hoje encontrar momentos de concentraes corais que muito se assemelham
quelas que ocorreram nos anos 50 e 60. Tais concentraes, no entanto, so determinadas
pelo interesse afetivo entre os regentes que concordam em unir seus grupos para a execuo
de um programa conjunto. H portanto uma certa compensao falta de uma atuao mais
permanente das instituies educativas, principalmente universitrias, junto atividade de
canto coral em Fortaleza, contudo, tal compensao que, como j dissemos, baseia-se nos
laos de afetividade entre os diferentes grupos, no garante uma coeso do movimento
coral de Fortaleza.
A histria do movimento coral apresenta diversas facetas e caminhos. A atuao dos
corais de Fortaleza segue hoje dois caminhos distintos que so, na verdade, de uma
bifurcao ideolgica que comeou a ocorrer logo no incio do perodo que estudamos. O
surgimento de novas geraes de regentes contribuiu para tecer uma ampla teia de correntes
pedaggicas e pedaggico-musicais onde se destaca, alm das idias de Villa-Lobos e
Paulo Freire, todo o movimento de contracultura que viria a ser determinante a partir dos
anos 80. O legado da contracultura passou a ser o embasamento que deu ao canto coral no
Cear contornos de ao poltica consciente e planejada por alguns grupos. Baseados na
liberdade de expresso e no descompromisso com uma tradio europia, grupos de canto
coral nascidos nos anos 80 usaram de todos os recursos sonoros e cnicos para expressar
sua nsia de liberdade. No nos possvel afirmar se houve um progresso esttico ou social
da atividade coral em Fortaleza, mas observamos que a transfigurao que ocorreu nesta
7
atividade por demais significativa e que foi exatamente quando tal transfigurao ocorreu,
que se deu o grande encontro entre a atividade coral e a comunidade cearense o que veio a
propiciar a criao de um grande mercado para atuao dos regentes: os corais de empresa.
No pretendemos com este estudo elaborar modelos metodolgicos que
conduzissem a uma unidade, ou avaliar as atividades desenvolvidas pelos regentes em
particular, mas sim evidenciar as sadas emancipatrias atravs da multiplicidade de
pensamentos e aes habituais dos pesquisados, buscando caractersticas do canto em
Fortaleza como agente musicalizador e educador na comunidade. Dois grandes momentos
de crescimento da atividade coral em Fortaleza basearam-se em concepes de educao
musical que objetivavam o desenvolvimento dos aspectos sociais a partir da valorizao das
possibilidades individuais, vivenciadas num contexto coletivo. Restaria perguntarmos se tal
concepo de educao musical atravs do canto est hoje sendo posta em prtica pelos
grupos em atuao, mas esta uma outra histria.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BARELA, Liliana, MIGUEZ, Mercedes, CONDE, Luis Garca. Algunos apuntes sobre
histria oral. Buenos Aires, Instituto Histrico de la Ciudad de Buenos Aires,
2000.
TUPINAMB, Irene Zgari. Dois momentos, dois coros: por uma anlise da evoluo da
linguagem coral no Rio de Janeiro do sculo XX. Rio de Janeiro, 1993. 154f.
Dissertao (Mestrado em Musicologia) Centro de Ps-Graduao, Pesquisa e
Extenso, Conservatrio Brasileiro de Msica, 1993.
A FUNO DA CANO EM LIVROS DIDTICOS:
UMA ANLISE DE CONTEDO
Resumo. Este presente trabalho tem como objetivo identificar a funo da cano em livros didticos
para a pr-escola que abordam contedos de msica. Com isso, para obter os devidos resultados foram
catalogados e classificados os livros encontrados nos acervos das 40 bibliotecas visitadas de escolas
municipais e estaduais da cidade de Uberlndia. Sendo assim selecionou os seguintes livros para
anlise: Educao Musical para a pr-escola de Nereide Schilaro Santa Rosa (1990) e Pr-Escolar:
orientaes metodolgicas e sugestes de atividades, de Thas Grany Fernandes da Silva et al (s/d),
ambos destinados pr-escola. Desta forma, verificou-se que a cano utilizada na maioria dos livros
encontrados e catalogados. No caso da pr-escola nota-se quase que essencialmente a funo social e a
funo educativa da cano. A funo social refere-se ao objetivo da cano em favorecer o
desenvolvimento do carter, da socializao, do civismo e da disciplina, enquanto funo educativa
focaliza-se na formao de hbitos e atitudes. Observa-se que, na maioria das vezes, a cano no tem
funo musical em si mesma, consistindo, portanto, em um recurso para ensinar outras disciplinas.
1- INTRODUO
Este trabalho est inserido em um projeto maior A msica nos livros didticos: anlise de
contedo, coordenado pelas as professoras Lilia Neves Gonalves e Maria Cristina L. Souza Costa e
tem como objetivo estudar e analisar livros didticos que abordam contedos de msica encontrados
nas bibliotecas das 101 escolas estaduais e municipais de Uberlndia MG.
Como bolsista do CNPq, detivemos na catalogao do acervo de 40 bibliotecas dessas
escolas, incluindo a Biblioteca Municipal.
2- JUSTIFICATIVA
Este trabalho justifica-se pela a carncia de informaes respeito das abordagens que o
livro didtico faz dos contedos de msica, visto que a anlise da funo da cano no contedo deste
livros de grande importncia na medida em que consiste em um dos principais instrumentos
utilizados na prtica escolar. Sendo assim, estes resultados podero ser teis aos profissionais que
atuam nessa rea, bem como fonte de referncia quanto subsdio para o uso do livro didtico de uma
forma mais consciente e crtica.
3- OBJETIVOS
3.1- GERAL
Organizar e analisar livros didticos para a pr-escola que abordam contedos de msica em seu
contedo, encontrados em bibliotecas de escolas estaduais e municipais localizadas na cidade de
Uberlndia.
3.2- ESPECFICOS
Catalogar e classificar livros que tratem de msica em seu contedo encontrados em bibliotecas
de escolas estaduais e municipais localizadas na cidade de Uberlndia.
Selecionar livros do acervo catalogado para a anlise do seu contedo.
Identificar a funo da cano nos livros selecionados.
4- METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa documental-analtica. No caso desta pesquisa, a organizao, a
catalogao e a classificao de livros didticos que abordam contedos de msica so caractersticas
da pesquisa documental.
Esta pesquisa ainda pode ser considerada analtica quando se prope discutir aspectos
referentes ao contedo do livro didtico, bem como sua estrutura. Neste sentido, procurou-se identificar
a funo da cano a partir do tratamento dado mesma no contedo do livro didtico.
Desta forma, realizou-se uma anlise de contedo, que consiste em:
um conjunto de tcnicas e anlises das comunicaes visando obter por procedimentos
sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores
(quantitativas ou no) que permitam inferncia de conhecimentos relativos s condies
de produo / recepo destas mensagens ... procurando conhecer aquilo que est por
trs das palavras sobre as quais se debrua. Por outro lado, Berelson ( BARDIN, 1988,
p.42-44 ).
.... uma tcnica de investigao que tem por finalidade a descrio objetiva, sistemtica
e quantitativa do contedo manifesto na comunicao.( BERELSON apud BARDIN,
1998, p.19 ).
Para realizar a anlise de contedo, esse processo foi organizado em trs plos
cronolgicos ( BARDIN, 1998 p.95 ).
1) Pr-anlise: fase de organizao e sistematizao das idias essenciais, conduzindo a
escolha dos documentos a serem submetidos anlise, formulao das hipteses e dos objetivos e a
elaborao de indicadores que fundamentem a interpretao final. (id, ibid, p. 95)
2) Explorao do material: fase de administrao sistemtica dos procedimentos
realizados na pr-anlise. Desta forma, realizou-se operaes de codificao em funo de regras
previamente formuladas.
3) Tratamento dos resultados e interpretao: fase que solidificou-se os resultados
encontrados, podendo propor inferncias e adiantar interpretaes de acordo com os objetivos previstos
(id, ibid, p. 101).
Tendo em vista estes princpios metodolgicos e o referencial terico, baseado na discusso
de Tourinho (1993a; 1993b) sobre os usos e funes na msica na escola pblica de 1 grau, esta
pesquisa visa a identificar a funo da cano no contedo do livro didtico para pr-escola.
Para se chegar funo da cano partiu-se dos ncleos de sentidos que consistem nas
concepes de msica e de ensino de msica, nos contedos, nos procedimentos de ensino, nos
recursos e repertrio abordados pelos autores dos livros. Tais ncleos de sentido serviram de orientao
para identificao da funo da cano no contedo dos livros didticos selecionados.
Tal proposta pode ser visualizada melhor a partir do esquema seguinte:
Cano
Concepes
de
msica
Ncleos Concepo
Contedos de de ensino
sentidos de msica
Recursos Procedimento
E De
Materiais ensino
Funo
da
cano
4.1 PROCEDIMENTOS
Esta pesquisa foi dividida em trs fases distintas. Na primeira fase realizou-se a coleta de
dados nas bibliotecas e as leituras para a atualizao bibliogrfica sobre o assunto em questo tanto no
que se refere ao tema livro didtico quanto ao proposto para anlise a utilizao da cano no
ensino.
Na segunda fase realizou-se a catalogao, a classificao dos livros didticos que abordam
contedos de msica e a seleo dos ttulos para anlise, sendo ambas realizadas simultaneamente. Na
terceira fase realizou-se a anlise de contedo.
A partir da catalogao e classificao dos livros encontrados nas bibliotecas das escolas
visitadas foram selecionados aqueles utilizados para a anlise de contedo, tendo como objetivo
identificar, nesses livros didticos a funo da cano.
Sendo assim, selecionou-se para anlise o livro Educao musical para a pr escola de
Nereide Schilaro Santa Rosa, editado por tica, em 1990. Este livro tem como objetivo principal
trabalhar a linguagem musical de forma simples e clara, com um contedo rico, dinmico e prtico,
apresentando a descoberta dos sons a linguagem dos instrumentos musicais, corpo e das canes
(ROSA, 1990, apresentao).
O outro livro selecionado para anlise foi classificado como material didtico: Pr-escolar:
orientao metodolgica e sugestes de atividades de Thais Grany Fernandes da Silva et al, editado
pela Editora Pedaggica, sem data. Pode ser considerada uma coleo publicada em 5 volumes e tem
como objetivo servir professores da pr-escola de diversos locais do pas.
A escolha destes dois livros se justifica, inicialmente, porque ambos, no ttulo, tratam da
pr-escola e so destinado professores da pr-escola.
5-ANLISE DE CONTEDO
Este material faz parte de uma coleo e est dividido em volumes. Em relao a este material
o 4 e o 5 volumes englobam disciplinas como a educao musical e a educao artstica, bem como
as demais reas de estudos do ensino regular, observa-se que a educao musical tratada com o
mesmo significado. Com isso as autoras defendem que a msica possui valor educativo, uma vez que
a mesma considerada eficiente auxiliar de todas as reas de estudo (SILVA et al, mar-jun, p. 12).
Nota-se que a msica exerce papel auxiliar no desenvolvimento da criana.
Nota-se a presena do canto nas mais variadas atividades propostas, uma vez que as autoras
apontam que a criana gosta muito de cantar e na pr-escola as crianas iro cantar bastante, no
somente nas atividades musicais, mas tambm em vrias ocasies como: na hora da entrada, no recreio,
quando lavam as mos, ao voltar para a casa (id, mar-jun, p. 12).
Em relao educao musical a autora preocupa-se em primeiro lugar com a vivncia,
interiorizao e o gosto da criana pela a msica, fazendo com que a mesma seja auxiliar constante na
aprendizagem da criana.
Verifica-se que a cano, neste material, tem como principal funo ser o instrumento e o
auxiliar na aprendizagem musical e dos contedos de outras disciplinas do ensino regular.
Pode-se dizer que este material est destinado professores especficos e no especficos em
msica quando a autora aborda contedos com por exemplo: criar movimentos apropriados ao ritmo
das canes ouvidas ou cantadas (id, mar-jun, p. 35), cantar em diferentes tonalidades e saber
acompanhar ritmos diferentes (id, mar-jun, p. 38), tocar as canes (id, mar-jun, p. 47) o que no se
torna possvel professores que no possuem um certo conhecimento musical.
6- CONSIDERAES FINAIS
Analisou-se a funo da cano no contedo dos livros didticos para a pr-escola citados
acima, sendo que o primeiro tem como pblico alvo professores especializados em msica e o segundo
professores no especialistas.
Constatou-se que ambos, apesar de serem destinados a professores com caractersticas e
formao diferentes, atribuem msica na pr-escola funes idnticas. A msica tem as funes de
educar, de expressar sentimentos, contribuir para a formao e interao do indivduo na sociedade, de
desenvolver a ateno, a memria, etc.
Alm de ser considerada essencial como forma de expresso musical, a cano tambm tida
como fundamental para a execuo das demais atividades que envolvem a bandinha rtmica, o
movimento corporal e o folclore. fundamental na medida em que utiliza-se as canes nos arranjos
para os instrumentos que compem a bandinha rtmica, para a movimentao corporal e para as danas
e brincadeiras folclricas.
Desta forma, nota-se que o ato de cantar est presente em praticamente todas as atividades
escolares. Ambos os livros defendem que a cano utilizada tanto nas atividades que trabalham os
contedos musicais em si quanto nas vrias reas (matemtica, estudos sociais, portugus, etc) e
momentos escolares (festividades, hora do recreio, hora da merenda, etc).
Nesse sentido, pode-se apontar uma funo dupla da cano na escola. Por um lado, um
elemento para vivncia e experimentao dos vrios elementos musicais, principalmente, o ritmo e o
som; e, por outro lado, elemento que tem como objetivos desenvolver a socializao, a disciplina, o
raciocnio lgico-matemtico, dentre outros.
Desta forma, aponta-se funes distintas para a cano: funo social quando a msica se
relaciona com a formao do aluno no que se refere sua atuao no comportamento, disciplina e
socializao, e a funo educativa quando se prope que a msica seja um veiculo para ensinar
conceitos das vrias reas, alm dos destinados a formar atitudes e hbitos (escovar os dentes, hora do
recreio, hora do lanche, etc) nas crianas da pr-escola.
Sendo assim, sugere-se que sejam realizadas outras anlises referentes ao uso da cano na
escola, bem como estudos que tratam da ideologia implcita e/ou explcita nas canes do repertrio
escolar. Tais discusses seriam importantes tanto para rea de msica quanto para as demais reas do
currculo que utilizam a cano em suas propostas pedaggicas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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O SISTEMA DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA BANDA LACTOMIA: UM
ESTUDO DE CASO
Flavia Candusso
1
A dissertao "O sistema de ensino e aprendizagem da banda Lactomia: um estudo de caso", foi
defendida em fevereiro de 2002 no Programa de Ps-Graduao em Msica da UFBa, sob orientao da
Dra. Alda Oliveira.
2
Adotei o termo "sistema" segundo a concepo de Gilberto Velho (1999), o qual afirma que a partir da
anlise dos dados o pesquisador deve demonstrar como categorias, valores, atividades se articulam e
fazem sentido umas em relao s outras.
1
um daqueles conjuntos do contexto de tradio oral, representado aqui pela banda
Lactomia.
Para a realizao da pesquisa, o estudo de caso dentro de uma perspectiva
qualitativa mostrou-se a metodologia mais apropriada, pois atravs do trabalho de
campo, e, conseqentemente, da observao e das entrevistas semi-estruturadas pude
conhecer o ambiente de vida e, aos poucos, compreender os comportamentos e a
mentalidade dos integrantes da banda.
A banda Lactomia composta por 30 a 35 integrantes divididos em dois grupos3 :
o primeiro, que denominei "grupo dos adolescentes", formado principalmente por 15 a
20 jovens entre os 13 e 23 anos de idade (divididos entre percussionistas e seo
rtmica), e o segundo, que denominei "grupo de crianas", formado por 15 meninos
entre os 5 e 13 anos de idade, que esto aprendendo a tocar os instrumentos de
percusso e se preparando para juntar-se ao resto do grupo.
A banda surgiu h dez anos a partir de uma turma de amigos que, assistindo aos
ensaios do grupo Vai Quem Vem e Arrasto da Timbalada, regidos pelo msico e
compositor Carlinhos Brown, tinha a inteno de imitar as msicas tocadas por estes e
outros conjuntos de maior visibilidade no cenrio musical baiano. Sem possuir
instrumentos de percusso, estas crianas resolveram, assim, recuperar latas, baldes e
outros materiais jogados no lixo para torn-los instrumentos musicais. Com o passar do
tempo, o reaproveitamento do lixo, a preservao da natureza, bem como as questes
sociais e a educao se consolidaram ao ponto de se tornarem temas indissociveis do
discurso musical. As atividades da banda se dividem entre ensaios, reunies, encontros
para construo e decorao dos instrumentos, manuteno do galpo4 ou dos
instrumentos, confeco de figurinos e realizao de shows.
Uma das principais caractersticas da banda, resultante desses princpios
ecolgicos e cidados da vida, consiste no uso de instrumentos "reciclados5 , de prpria
construo, que so divididos em alas6 , ou seja, naipes, diferenciados por timbres e tipo
3
Os integrantes da banda no fazem distino alguma entre os dois grupos. Fiz esta opo para obter uma
maior clareza na descrio.
4
O galpo consiste numa pequena casa dividida em duas salas, nas quais na primeira esto repostos os
instrumentos, e na segunda so realizados os ensaios. Externamente, a fachada pintada com cores vivas
e decorada com latas de diferentes tamanhos, baldes, discos quebrados, entre outros objetos.
5
No excluda a possibilidade de utilizar os instrumentos convencionais (timbaus, bacurinhas, surdos)
em ocasies especficas.
6
Em itlico coloquei os termos assim como so utilizados pelos integrantes da banda Lactomia.
2
de ritmo. Uma ala formada por dois timbancos, um tambor trmico e um isopor7 , que
so tocados com a tcnica do timbau; numa outra ala encontram-se dois timbales de lata
e um quadricano8 , que utilizam a tcnica do repique; a ala da marcao consta de um
trisurdo e de um estante de meios9 , para os quais foi desenvolvida uma tcnica
semelhante quela dos tmpanos; e para os efeitos, foram construdos uma trave com
bacia (para obter um efeito de gongo), um set de latas, um cano de semforo, e um
chocalho de tampas de cerveja10 .
Para contemplar diferentes modalidades de apresentao, o repertrio foi
preparado em duas verses: a primeira para instrumentos de percusso e a segunda a
estes acrescenta canto e instrumentos harmnicos (teclados, guitarra e baixo). As
msicas geralmente so constitudas de uma introduo, aps a qual segue uma base
(corpo rtmico principal) que se alterna com as convenes (breques e variantes) e o
final. Os arranjos so elaborados a partir de diversas combinaes de ritmos, tocados
pelos vrios instrumentos de um naipe, que juntos formam um outro mais complexo.
Jair Rezende, o lder da banda, cuja atuao foi citada por Swanwick (1999, p. 66-67),
coordena atravs de precisos sinais de regncia o desenrolar das msicas, comunicando
ao grupo quando o momento de passar de uma parte para outra, as variantes rtmicas
introduzidas extemporaneramente, bem como a dinmica.
Para compreender o sistema de ensino e aprendizagem da banda Lactomia, a
presente pesquisa teve como cenrio do trabalho de campo o bairro do Candeal Pequeno
de Salvador. Durante um ano, ento, procurei, atravs da vivncia e interao com os
integrantes da banda, investigar as seguintes questes, cujas respostas teriam se
articulado no conceito de sistema. Como os integrantes da banda Lactomia aprendem e
ensinam msica? Quais objetivos, valores e normas fundamentam e guiam o sistema de
ensino e aprendizagem dos integrantes da banda? Existe planejamento? Qual a
7
O timbanco um banco alto de madeira; tambor trmico formado por um isopor redondo e um
garrafo de gua montados num suporte; isopor uma caixa grande de isopor para vender cerveja, ao
qual foi arrancado um lado.
8
Os timbales de lata so compostos de duas latas grandes de manteiga fixadas num estante; o quadricano
constitudo de quatro pedaos de tubulao plstica de diferentes comprimentos montadas num suporte
metlico.
9
O trisurdo formado por um estante, no qual foram colocados dois tonis e um balde; o estante de
meios tem a mesma estrutura do trisurdo, mas alterna um balde, um tonel no centro e uma lata grande
quadrada.
10
A trave com bacia consta de uma trave com uma bacia de zinco pendurada; o set de latas realizado
com latinhas de tamanhos decrescentes, dispostas em forma de meia lua, com um timbales de lata no
meio; o cano de semforo um cano de metal fixado sobre uma pequena plataforma; o chocalho de
tampas de cervejas feito com tampas de cervejas presas num cabo de vassoura.
3
metodologia e didtica utilizadas? Existe algum tipo de avaliao? Estas questes,
porm, apontaram a existncia de uma hiptese a ser verificada, segundo a qual os
elementos que compem um currculo podem ser encontrados tambm no sistema de
ensino e aprendizagem da banda Lactomia.
A reviso bibliogrfica tratou fundamentalmente de duas temticas: a primeira
relativa ao ensino e aprendizagem em contexto de tradio oral que, baseada em autores
da rea de educao musical11 , etnomusicologia12 , e antropologia 13 , evidenciou a
importncia da experincia na coletividade, da integrao entre adultos e crianas e a
eficincia do processo de imitao; e a segunda centrada no currculo que, a partir da
perspectiva de autores da rea de educao14 , concebido tanto em sentido amplo para
entender o fenmeno educativo multidimensional, quanto em sentido mais delimitado
para indicar o contedo de uma disciplina, embora j na dcada de 70, Cremin (in
Jackson, 1992, p. 8) e, sucessivamente, Silva (1999), contemplaram o currculo em
outros contextos, como por exemplo, na famlia, nas igrejas, museus, bibliotecas, rdio e
televiso, entre outros. Jackson (1992), porm, chama a ateno que este tipo de
currculo deve ser entendido em senso metafrico, pelo fato de no se realizar e se
desenvolver dentro de uma escola e por no ter nada a ver com o conceito de
escolarizao.
O sistema de ensino e aprendizagem da banda Lactomia foi descrito e analisado,
visando responder a questes baseadas nos principais conceitos que Silva (1999) aponta
como representativos das teorias tradicionais de currculo.
Teorias tradicionais 15
Ensino
Aprendizagem
Avaliao
Metodologia
Didtica
Organizao
Planejamento
Eficincia
11
(Conde e Neves, 1984-85; Rios, 1995 e 1997; Prass, 1998; Gomes, 1998-99; Stein, 1998-99; Arroyo,
2000; Mller, 2000; Dantas, 2001; Oliveira, 2001).
12
(Merriam, 1964; Nketia, 1974; Chernoff, 1979; Blacking, 1976 e 1995; Nettl, 1983; Arom, 1996;
Borges, 1996).
13
(Brando, 1983).
14
(Donmoyer, 1990; Jackson, 1992; Forquin, 1993; Gimeno Sacristn, 1998 e 1999; Coll, 1999; Silva,
1999).
15
Aps as Teorias Tradicionais, Silva continua listando os principais conceitos das Teorias Crticas e
Ps-Crticas.
4
Objetivos
(Silva, 1999, p. 17)
16
Destes nove conceitos considerei estas quatro partes como fundamentais, por serem os outros conceitos
j temas centrais do trabalho.
17
Acrescentei valores e normas pelo fato que, segundo os autores consultados (Coll, 1999; Saviani, 2000)
os objetivos esto diretamente relacionados a eles.
5
lugar especfico. A porta, por exemplo, pode at tornar-se smbolo de incluso ou
excluso no caso de algum integrante chegar pontualmente no horrio estabelecido ou
atrasado no ensaio.
2. Planejamento
Segundo Menegolla e Sant'Anna, "planejar uma exigncia do ser humano;
um ato de pensar sobre o possvel e vivel fazer" (1998, p. 17). Na banda Lactomia
possvel observar que aes como coordenar os ensaios, formar um repertrio e
construir os instrumentos exigem planejamento e organizao. Tendo sempre presente
os objetivos, como, por exemplo, a afirmao profissional e a educao atravs da
msica, por meio do planejamento que os integrantes da banda podem alcan-los.
Planejar implica saber relacionar os objetivos com os resultados obtidos e, desta forma,
saber delimitar um problema dentro de uma determinada situao para o qual se
pretende buscar solues e respostas.
3. Metodologia e didtica
Nos processos metodolgicos e didticos se destacam a aprendizagem por
observao e a modelagem. Rivire (1996) afirma que, segundo a teoria cognitiva
social de Bandura, "a maior parte da conduta humana aprendida por observao,
mediante modelagem" (1996, p. 59), e que as crianas imitam principalmente
(a) condutas relativamente simples, (b) prximas sua compreenso
cognitiva, (c) que recebem recompensas em outros, (d) apresentadas por
modelos atrativos, (e) em momentos em que elas prestam ateno ativa aos
referidos modelos. (Rivire, 1996, p. 60)
No caso da banda Lactomia, as crianas, por exemplo, aprendem atravs da
observao e da imitao, j quando ficam assistindo aos ensaios do grupo dos
adolescentes. As condutas imitadas so claras e, fazendo parte de um contexto cultural e
musical, so compreensveis; estas so geradas pela admirao sentida por outros
msicos que se tornam modelos atrativos, sobre os quais crianas e adolescentes
concentram ateno total.
interessante destacar que a comunicao no-verbal o principal meio de
comunicao entre os msicos. Esta, segundo Tait (1992), inclui a modelagem musical,
ou seja, uma demonstrao global realizada atravs de um instrumento, a modelagem
6
auditiva, ou seja, o uso de onomatopias, chamadas pela banda de "percusso de boca",
para explicar frases rtmicas e suas caractersticas, e a modelagem fsica, explicitada
principalmente por Jair por meio dos sinais de regncia.
4. Avaliao
A avaliao leva em considerao todos os aspectos da vida da banda: o
comportamento dos integrantes, os ensaios, a qualidade tmbrica dos instrumentos, o
repertrio, os figurinos, a performance durante os shows. A avaliao baseia-se nos
valores e princpios, mas, sobretudo, nas normas disciplinares que funcionam como
meio de controle dentro do sistema de ensino e aprendizagem.
Os resultados da pesquisa apontaram que o sistema de ensino e aprendizagem da
banda Lactomia baseia-se em princpios, valores e normas claras que orientam e
regulamentam todas as atividades nas quais seus integrantes esto envolvidos e unidos
em nome de objetivos especficos comuns. A vida da banda segue um planejamento a
curto, mdio e longo prazos, por meio dos quais os msicos procuram alcanar suas
metas e construir o prprio futuro. O recurso aprendizagem por observao e imitao,
atravs do qual o conhecimento transmitido e socializado, constitui a metodologia e a
didtica mais utilizada. A avaliao realizada constantemente e detalhadamente para
verificar se as atividades e os comportamentos esto de acordo com os valores, as
normas, os objetivos, e se o planejamento e a metodologia previstos esto conduzindo
eficientemente aos resultados esperados.
Os elementos que compem o currculo foram encontrados dentro do sistema de
ensino e aprendizagem da banda Lactomia, confirmando a hiptese inicial e
demonstrando que currculo no peculiaridade exclusiva do ambiente escolar. Assim,
talvez possa se afirmar que exista um currculo da banda Lactomia, embora entendido
metaforicamente, que no enfoca somente a msica, mas a formao para a vida do
cidado.
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10
A TEORIA ESPIRAL COMO EMBASAMENTO DO PROGRAMA DOS PRIMEIROS
ANOS ESCOLARES (PYP)
A Teoria Espiral como embasamento do programa dos primeiros anos escolares (PYP)
Atravs do relato das aulas de msica ministradas na escola internacional St. Nicholas School,
tenho como objetivo discutir os fundamentos tericos que sustentam sua prtica bem como
refletir sobre o papel da educao musical. Estaramos cumprindo o papel de direcionar os
alunos para o que Swanwick acredita ser o objetivo final da educao musical: valorizar a
msica, no sentido de tornar os alunos cientes da importncia da msica como um discurso
simblico, um ganho maior para ns, como indivduos, e para a sociedade? (Swanwick
1994:88).
1
Desse modo, apesar de o programa de msica ser delimitado pelo Currculo da Inglaterra, a
forma como ele implementado, de acordo com o PYP, faz com que os educadores
considerem:
O que querem que os alunos aprendam (contedo),
Como os alunos aprendero melhor (metodologia) e
Como sabero o que os alunos aprenderam (formas de avaliao).
Assim, elementos musicais como ritmo, pulso, altura, durao, timbre e intensidade so
agrupados em unidades consideradas relevantes pelos professores e alunos e so investigados
em atividades de apreciao, composio e performance, que permeiam todo o programa de
msica.
Na faixa etria de 5 a 7 anos, por exemplo, espera-se que as crianas tenham a possibilidade
de usar suas vozes de diversas maneiras ao cantar e falar; cantem e dramatizem msicas e
canes, explorando ritmo, movimentos corporais e tendo noo do contorno meldico
(altura); ouam diversos tipos e estilos de msica, aumentando seu repertrio, familiarizando-
se com msica de outras pocas e culturas e reconhecendo como os sons so produzidos
(percutidos, com arco, sopro, etc.). Alm disso, espera-se que elas conheam alguns smbolos
musicais e explorem sons de instrumentos, criando diferentes efeitos e climas (suspense,
tristeza, alegria), acostumando-se com a estrutura de comeo, meio e fim em suas
composies.
De acordo com a teoria de Swanwick (1988:77-78), crianas na faixa etria descrita acima
estariam aptas a se desenvolverem no nvel de expresso. Evidenciada enquanto cantam ou
tocam instrumentos, a expressividade torna-se aparente na explorao de mudanas nos
nveis de andamento e intensidade, freqentemente acelerando e tocando/cantando mais forte
2
deliberativamente.... tambm neste nvel que Swanwick identifica padres rtmicos e
meldicos em uma organizao mtrica, onde as composies das crianas so bastante
previsveis e fazem claras referncias a suas fontes e experincias musicais, donde pode-se
sugerir que quanto mais rica e variada for a vivncia musical das crianas, mais ricas sero
suas composies.
Alm das expectativas de cada faixa etria, o programa de msica na St. Nicholas School
tenta sempre ter uma conexo com o que trabalhado nas demais aulas. Longe de usar a
msica apenas como pano de fundo para atividades de outras matrias ou para reforar o
vocabulrio, a conexo com outras reas se d com o intuito de oferecer s crianas a chance
de investigar um mesmo tpico no domnio musical.
O PYP, adotado em todos os anos da educao infantil, abrangendo desde a srie Nursery (de
crianas de 3-4 anos) at o Year 6 (crianas de 10-11 anos), usa a investigao como meio de
aprendizagem. Atravs de seis grandes temas transdisciplinares trabalhados durante todo o
PYP Quem somos, Onde estamos no tempo e espao, Como nos expressamos, Como o
mundo funciona, Como nos organizamos, e Como compartilhamos o planeta os professores
das sries discutem e propem unidades que julgam interessantes para investigar cada tema.
Assim, enquanto as crianas do Kindergarten (4-5 anos) investigam Famlias dentro do tema
Onde estamos no tempo e espao, as crianas do Year 3 (7-8 anos) investigam Visitantes
Indesejveis dentro do mesmo tema. O educador musical, ento, aborda a unidade da forma
que julga mais conveniente, sempre levantando novas questes aos alunos.
Nas aulas do Kindergarten, o professor de msica pode aumentar o repertrio de canes
sobre famlias seja de animais ou humanas e trabalhar aspectos musicais como afinao,
dinmica e tempo. Alm disso, pode introduzir algumas famlias de instrumentos e discutir
como os sons so produzidos.
3
No entanto, nem sempre a unidade escolhida tem conexes bvias com a msica e o professor
de msica estar sempre livre para adaptar as unidades dentro das expectativas de cada faixa
etria. Para tanto, as fundamentaes tericas sero de grande valia. No Year 3, por exemplo,
a unidade Visitantes Indesejveis, apesar de ser comumente utilizada para introduzir a
cultura Viking pelo professor de classe, pode ser explorada sob outros aspectos nas aulas de
msica. A seguir, segue um breve relato de como a unidade foi abordada.
Primeiramente, estabeleci alguns pontos que gostaria de focalizar: ostinato e canto em duas
vozes algumas das expectativas para esta faixa etria. Depois, preparei algumas perguntas
que direcionariam os alunos a investigarem os pontos que havia escolhido. Obviamente,
outras perguntas foram adicionadas ou reformuladas de acordo com as respostas das crianas
e tambm alguns outros pontos de foco foram adicionados medida que os seus interesses
ampliavam.
Uma vez estabelecido que investigaramos Invasores, escolhi uma cano denominada Battle
Song, uma cano de batalha que chama as crianas para protegerem o planeta contra
invasores do planeta Zars. Alm de trabalhar aspectos de afinao, tempo e dinmica, esta
cano serviu para chamar a ateno ao tipo de msica marcha e ao compasso binrio.
Dessa descoberta, as crianas relembraram algumas das canes aprendidas e apontaram as
que se encaixavam ao ritmo de batalha.
Para introduzir o ostinato, utilizei uma gravao de Marte da Sute Os Planetas do ingls
Holst. As crianas fizeram vrias menes ao filme Guerra nas Estrelas e ao vdeo game
Zelda ao escutarem a pea. Pedi que tentassem me reproduzir a pea esperando que algum se
lembrasse do ostinato rtmico, mas a respostas que tive foram as mais diversas e chegavam a
lembrar o tema do mencionado filme. Fui, ento, ao piano e toquei o incio da pea. As
crianas a reconheceram e entoaram o ostinato. At mencionar a denominao musical para
4
essa repetio rtmica e/ou meldica, fiz vrias perguntas para certificar-me que as crianas
haviam entendido e saberiam reconhecer tal repetio.
Alm das perguntas, uma outra estratgia de avaliao foi a composio em teclados. O
nmero de alunos por classe no ultrapassa 25 e temos um teclado para cada dois alunos, de
modo que as crianas puderam trabalhar em duplas, ficando uma de cada dupla responsvel
pelo ostinato enquanto a outra improvisava uma melodia. Para evitar grandes dissonncias,
pedi que s utilizassem as teclas pretas. Sequer mencionei escalas pentatnicas, mas
referncias China e ao Oriente foram inevitveis. Isso daria um gancho para outras
atividades de composio e apreciao, porm decidi manter o foco no ostinato apenas.
Nesta atividade de composio algumas das dvidas foram esclarecidas. Uma das perguntas
era: Posso mudar de nota no meu ostinato? ou Quantas notas, no mximo, posso utilizar?
Uma das salas no teve tempo de trabalhar com os teclados. Nesta sala, pedi que as crianas
fossem aos pares ao piano. A atividade em si foi a mesma, mas neste caso elas no tiveram
chance de ensaiar e a ateno aps o terceiro par j era difcil de ser controlada.
Uma atividade final para trabalhar tanto o ostinato quanto o cantar em duas vozes foi retomar
a Battle Song e inserir um ostinato ritmo-meldico. Ensinei o ostinato para todos e dividi a
classe em dois grupos: enquanto um grupo cantava um verso o outro cantava o ostinato. A
cada verso eles invertiam, de modo que todos cantavam o ostinato. A fim de verificar alguns
conceitos musicais, fiz perguntas como: Como vocs poderiam descrever como o grupo 1
cantou?, O tempo e a dinmica eram apropriados para esse tipo de msica?, Os dois
grupos comeam a cantar no mesmo momento?, Como saber se estamos cantando no
momento certo?
Nota-se, portanto, que a investigao foi musical. Trabalhamos entonao, fraseado, ritmo,
dinmica, tempo, compasso; cantamos em duas vozes, aprendemos o que um ostinato e
identificamos uma marcha atravs de atividades de apreciao, composio e performance
(execuo). Como j mencionado anteriormente, longe de ser uma matria de apoio de
cincias, histria, geografia, etc, a msica tem seu lugar no currculo para que o conhecimento
musical, como qualquer outra forma de conhecimento, possa ser desenvolvido.
Concluso
5
Atravs desse relato, tentei justificar a adoo do currculo da Inglaterra e do PYP atravs da
fundamentao baseada na Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical de Swanwick para
que no corramos o risco de ver aulas de msica como sinnimo de aulas de ensinar
musiquinhas para determinadas festividades. Mencionei tambm a importncia da Msica
no currculo escolar, oferecendo a possibilidade de nveis de anlise que podem aumentar e
aprofundar a resposta intuitiva Swanwick (1994:118).
Quanto questo levantada no incio dessa discusso, apenas posso afirmar que por enquanto,
acredito que estamos cumprindo o papel de encaminhar os alunos para uma maior valorizao
da msica medida que promovemos o conhecimento musical, capacitando os alunos a
refletirem sobre suas aes, seja ao ouvir, compor ou tocar msica, analisando suas respostas
e livrando-os de esteretipos e preconceitos. Enfim, promovendo a reflexo crtica.
Outras questes tais como a validade de um currculo estrangeiro para crianas brasileiras que
continuaro seus estudos no pas talvez valham uma investigao maior.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
SWANWICK, Keith. Music, mind, and education. London, Routledge, 1988.
SWANWICK, Keith. Musical knowledge intuition, analysis and music education. London,
Routledge, 1994.
The National Curriculum for England- Music.London, DFEE, QCA, 1999.
PYP Music Scope and Sequence.Geneva, IBO, 2000.
The Primary Years Programme. Geneva, IBO, 2000.
6
O ENSINO DA ARTE EDUCAO E AS MANIFESTAES
FOLCLRICAS DE PERNAMBUCO: UM RELATO DE EXPERINCIA
1
MEC,1997. Parmetros Curriculares Nacionais. Vol.07: Arte
2
. PEREIRA, Oswaldo. 1999, Pina povo cultura e memria.
Sua Histria inicia-se nos tempos do descobrimento, quando Olinda ainda era a
capital da Capitania de Paranambuco. Minha Histria com esta comunidade vem
desde meus tempos de infncia quando passava minhas frias e carnavais em casa de
vov que mora em Braslia Teimosa. Passei bons tempos correndo atrs dos
movimentos populares existentes nestas duas comunidades (Braslia e Pina os
movimentos populares de uma foram inspirados pelas comunidades culturais da
segunda); danando atrs dos maracatus, troas carnavalescas, boizinhos e La ursas,
me escondendo dos segredos ou almas3, nas folias de Momo. Trabalhando na
organizao de concursos de quadrilhas no So Joo; participando das procisses e
viglias da Quaresma e Pscoa. Ajudando a montar as quermesses da festa do Corao
Imaculado de Maria (padroeira da comunidade de Braslia), indo assistir os autos
natalinos do Bumba-meu-boi e a torcer pelo Cordo Azul do Pastoril nas noites
natalinas, no largo das igrejas de Braslia e de Nossa Senhora do Rosrio (Matriz do
Pina), dentre outras coisas que no lembro agora.
Sempre vi o Pina como um caldeiro popular. Sua tradio, em especial a negra,
est estampada no comportamento deste povo. Os moradores espelham em seu jeito
de andar, falar, sorrir, e cantar, a desconfiana herdada dos negros que, nos tempos do
Brasil Colnia, se escondiam por estes mangues para cultuar seus deuses; a
desconfiana dos terreiros de candombl (aqui chamados de xang), que sofreram
perseguies durante o perodo do estado novo (1937 45). Mas tambm a felicidade
de um povo que festeja por f em suas crenas, e esperana de que um dia tudo vai
melhorar.
Aqui, o ritmo, a msica e a dana fazem parte da vida das crianas. Elas so
geradas, nascem e crescem em meio s batucadas do frevo, samba e maracatu (e
3
Um tipo de mascarado, vestido em preto branco ou colorido, que sai durante o carnaval pelas ruas
do bairro em bandos (hoje j se estenderam para brincar pelo resto da cidade) encapuzados tocando
apitos e castanholas, dando cascudo e assustando a pirralhada que sai s ruas para brincar de
mela-mela.
porque no tambm do xang)4. Como dizem muitos alabs5 daqui, a primeira coisa
que o pirraia aprende a faz quando t novinho toc bombo6. E ainda, o
excesso de colorido e brilho dos frevos de bloco, maracatus, escolas de samba etc.,
fazem parte da esttica visual destes, que se refletem nas decoraes das casas, cores
das roupas, maquiagens e perucas.
Apesar toda esta individualidade esttica, as escolas regulares desta rea (salvo
ONGs e projetos de resgate da cidadania), normalmente, no utilizam em seus
currculos estas particularidades. Percebe-se que, ao atravessar os muros das
instituies regulares de ensino a criana e o adolescente tornam-se tabulas rasas,
no sendo os alunos considerados detentores de algum saber, estando eles ali como
depositrios de informaes, distanciados de seu cotidiano. E estas informaes so
passadas, na maioria das vezes, sem o compromisso de se fazer uma ligao entre o
conhecimento recebido e sua realidade sciocultural.
Pensando nisto, em maro de 2000 iniciei o projeto de bolsa de Iniciao
Docncia PROACAD-UFPE: o Ensino da Arte-Educao atravs das
Manifestaes folclricas de Pernambuco, para ser desenvolvido em uma instituio
do ensino fundamental de base (1 e 2 ciclos, baseando-se nos Parmetros
Curriculares Nacional) deste bairro, objetivando o ensino das modalidades artsticas
(em especial da msica minha rea de estudo), segundo os PCN, e a partir da cultura
popular existente naquela localidade. Uma vez que, como est explicitado na Lei de
4
Como informao, para se ter uma idia o Pina hoje possui cerca de cem grupos culturais
(contando com os projetos de resgate a cidadania) e ainda cerca de 19 barraces ( terreiros) de
umbanda, jurema e candombl.
5
Tocadores dos tambores dos terreiros de xang, jurema e umbanda. Esta declarao foi-me dada
por todos os tocadores que tive contato durante este tempo quando eu os perguntava sobre seu
processo de aprendizado nos terreiros. E perceptvel o quanto os meninos e meninas (em
especial eles) reproduzem desde cedo os ritmos e trejeitos dos mais velhos.
6
Bombo: termo utilizado para os tambores, atabaques, ils (ou ingomes: tambores tocados com a
mo especficos dos cultos nags pernambucanos) dos batuques de maracatu e de terreiro.
Diretrizes e Base da Educao LDB 9.394/967, em seu artigo 26, o currculo do ensino
fundamental deve ser adaptado a cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,
por uma parte diversificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela. E me aprofundando um pouco
mais seguindo o definido para o ensino da Arte em seu pargrafo 28, onde cita que o
ensino da Arte constituir componente curricular obrigatrio nos diversos nveis
da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos; utilizar os esquemas de percepo das linguagens artsticas, desenvolvidos
pelas experincias de vida de cada um ajudar numa melhor compreenso do que
ensinado. Seguindo este pensamento, encontramos em Ferraz (1997: 42):
Desde muito pequena, a criana participa das prticas sociais e culturais de sua
famlia, de seu meio, enfim dos grupos com os quais convive. Gradativamente ela
vai descobrindo o mundo fsico, psicolgico, social, esttico e cultural que lhe
apresentado pelos adultos (e outras crianas) no dia a dia.9
7
Ministrio da Educao.1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional.
8
Idem.
9
FERRAZ, Maria Luiza. 1993, A Arte na Educao Escolar. p. 51
10
PENNA, Maura. 1990, Reavaliaes e Busca em Musicalizao. p 20-21.
assistemticas o ouvir rdio, danar rock, batucar a mesa de um bar etc. como
11
digamos, uma forma natural de se musicalizar. (Penna,1990:22)
A escola
11
Idem, pg.22
educandos e educadores, atravs da valorizao do bairro e de sua Histria e cultura
local.
O Projeto Poltico Pedaggico fundamentado na realidade ambiental, histrica
e cultural do bairro (realidade do aluno), destacando-se principalmente seu
ecossistema, j que a grande parcela desta populao sobrevive dos recursos naturais
do mangue e do mar, e seus artistas populares. Possui um corpo docente de 35
professoras, das quais apenas uma no possui a licenciatura plena (por estar prxima
de sua aposentadoria) e uma estagiria de magistrio.
Os registros e observaes
As intervenes
Combinei com a direo da escola que, ao longo do ano letivo, eu teria espaos
especficos durante as reunies pedaggicas, para abordar assuntos de interesse do
corpo docente, referentes ao projeto. Nestas, foram abordados assuntos relativos ao
bairro, sua esttica artstica e cultural e sua Histria, sobre a Arte educao,
musicalizao e organizao e produo de folguedos populares. Coletei declaraes
sobre suas expectativas sobre o projeto. Estas apresentaram inicialmente receio em
suas colocaes e participao, todas apresentaram a necessidade de ter algum com
um conhecimento maior na rea para apoiar e ajudar nas realizaes das atividades.
Assim, elaboramos os contedos que seriam trabalhados em sala, a partir da prpria
movimentao cultural do bairro, dentro dos ciclos folclricos identificados por elas:
Carnaval, Junino e Natal. Com estes resultados em mo, parti para a escolha da turma
de maior identificao: duas de 1 srie (por uma maior identificao com o trabalho de
sala de aula das professoras) e uma da 2(por uma identificao cultural com os alunos,
pois sua maioria fazia parte da cultura negra religiosa do bairro). Dentro dos contedos
abordados trabalhei folguedo junino (Bandeira de So Joo), natalino (O Pastoril) e
especificamente o batuque do Maracatu12.
12
Este muito mais compreendido pelas crianas, uma vez que, por conta de seu tamanho (cerca de
600 integrantes) e Histria o Maracatu Porto Rico at os tempos atuais a expresso artstica de
maior popularidade do bairro.
incrvel como a compreenso maior dos assuntos abordados nos encontros
se deu com maior facilidade quando foi trabalhado o Maracatu e sua esttica rtmica e
meldica.
Avaliao
Referncias bibliogrficas
FERRAZ, Maria Helosa, et al. Arte na educao escolar. So Paulo: Cortez, 1993.
MOURA, Gloria. os quilombos contemporneos e a educao. Revista
Humanidades. p. 99-116, nov. 1999.
RECIFE, PCR, Escola Municipal Novo Pina. Projeto Poltico Pedaggico. Recife:
Novo Pina, 2000.
Introduo
Todas as atividades humanas so passveis de melhoramentos. Por mais
aperfeioadas que sejam as prticas sempre ser possvel melhorar, principalmente quando
as finalidades mudam. Pensando no caso de uma orquestra amadora que objetive o
aprimoramento musical de seus integrantes os objetivos podem mudar no tempo muito
rapidamente. possvel que o objetivo inicial seja o incremento da quantidade de msicos,
seguido de um enfoque na criao de um repertrio, partindo para o aprimoramento musical
dos participantes, passando para divulgao da msica brasileira, entre outros. O ideal seria
que cada objetivo fosse levado em conta pela organizao em cada atividade que realiza.
Desta forma ficaria clara a necessidade de se efetuar melhorias pois as atividades deveriam
variar, conforme varia os objetivos da organizao. Outro fator que indica a necessidade de
se efetuar melhorias expressado pela necessidade de eficincia da organizao. Uma
orquestra ineficiente musicalmente no incentiva os seus integrantes e nem o pblico e
pode at mesmo representar o ensino de uma m prtica que propiciar a criao de uma
srie de vcios para aquela comunidade.
Na busca de uma abordagem mais sistemtica para se efetuar melhorias em uma
organizao musical como a Orquestra Experimental da Universidade Federal de So
Carlos entrou-se em contato com conhecimentos organizacionais j bastante difundidos nos
meios empresarias tanto manufatureiros como em servios. A utilizao destes
conhecimentos resultou em uma srie de posturas que modificaram a forma que a orquestra
em questo planejava suas atividades. Neste texto sero descritos alguns destes
conhecimentos utilizados em uma atividade bastante importante para os grupos musicais
que o ensaio. Mas antes segue uma rpida apresentao da organizao estudada.
Caracterizao do ambiente
A Orquestra Experimental uma organizao musical sem fins lucrativos que
permite a prtica musical para msicos amadores. As atividades bsicas da Orquestra
Experimental so ensaios e apresentaes, alm de outras atividades de suporte como a
administrao, a manuteno e a produo de partituras. A organizao est inserida em um
programa de extenso desta universidade que fornece espao fsico, professores
coordenadores e alguns outros subsdios.
Aps a concluso do diagrama de afinidades obteve-se uma viso mais clara dos
aspectos do ensaio que deveriam ser levados em conta para a busca de alguma sugesto de
melhoria. Deste modo, optou-se pelo desdobramento destes resultados em um Diagrama de
fluxo de sistemas/rvore, pois este pode ser utilizado para mapear as atividades necessrias
para se alcanar um fim, que no caso a melhoria do processo, porque somente aps esta
tarefa teremos elementos para conceber uma estratgia. Na Figura 1 visualizamos um
exemplo de realizao de um destes diagramas.
Matriz de priorizao
Como resultado destas e de outras sugestes a orquestra modificou bastante seus ensaio
de modo que a cada dia percebe-se um aprimoramento musical do grupo, inclusive nos
detalhes que antes pareciam intocveis. Os pontos mais notveis de melhoria so o cuidado
mais acentuado com a funo e contribuio de cada um dos msicos para o coletivo, a
percepo da capacidade de melhoria dos msicos mediante o estabelecimento de
atividades pontuais e aferio de sua execuo.
Concluses
A experincia no emprego dos conceitos e ferramentas para a melhoria das atividades na
Orquestra Experimental tem mostrado a viabilidade desta utilizao pois, embora muitas
ferramentas e metodologias sejam de complexidade incompatvel com a prtica em
organizaes musicais, existe uma boa quantidade de ferramentas cuja aplicao bastante
simples, o que possibilita um aprendizado bastante rpido por quem esteja interessado.
Ferramentas como as que vimos neste texto podem ser utilizadas por quaisquer regentes e
coordenadores de grupos musicais. Aliada a esta caracterstica nota-se a eficcia com que
estes procedimentos tm demonstrado. Na Orquestra Experimental solues para problemas
sem estes procedimentos resultavam em sugestes para melhoria sem criatividade (isto ,
limitadas, no inovadoras), sem reflexo, imediatistas (no duravam muito), e sobre tudo
pouco coordenadas.
Aps a concepo do processo de melhoria no ensaio solidificou-se uma grande
quantidade de conhecimentos sobre o funcionamento da Orquestra que at ento passavam
desapercebidos. Muitas outras possibilidade de administrao puderam ter lugar aps estas
reflexes o que mostra que o processo de melhoria resulta em um armazenamento de
conhecimentos, diferentemente do que ocorria antes da utilizao destas ferramentas.
Problemas recorrentes eram mais comuns e a cada momento sua soluo baseava-se em um
empirismo ou imediatismo pouco eficientes. Aps a execuo das sugestes de melhoria
nas atividades de ensaio ocorreu realmente uma correo do problema inicial, que era: as
atividades de ensaio tm cumprido seus resultados musicais aqum do necessrio. A cada
ensaio percebe-se um aprimoramento que no parece diminuir em quase um semestre de
utilizao dos procedimentos.
Mas, como indicado na introduo, as atividades devero ser revistas futuramente,
pois os objetivos podem ser outros, ou mesmo esta metodologia pode resultar em vcios de
execuo, ou ainda se mostrar ineficiente em algum aspecto. Desta forma, a melhoria no
deve ser vista como uma atividade pontual a ser executada por uma organizao em
determinado momento, ela deve ser encarada como perene e necessita ser incorporada no
interior do grupo.
RESGATANDO A CULTURA POPULAR :
MSICAS E DANAS FOLCLRICAS ATRAVS DO CRONOGRAMA ESCOLAR
1. JUSTIFICATIVA
Temos de levar o folclore ao campo da educao, na escola primria, mdia e superior.
Necessitamos formar tcnicos e especialistas em folclore... Precisamos levantar o Atlas
folclrico do pas - preparar o terreno para as pesquisas, as anlises e as interpretaes
que viro qualificar e justificar o nosso trabalho... No se defende, no se promove, no se
divulga o folclore sem o mais decidido, eficaz e permanente apoio aos folguedos populares
e s festas tradicionais... Teremos de proteger e restaurar os grupos autnticos existentes,
sempre que os antigos mestres e ensaiadores estejam vivos (Carneiro, 1965, pg. 183,
184).
2. QUADRO TERICO
O folclore, fato social, uma coisa viva sujeita aos processos normais dos fatos da
sociedade e, portanto, capaz de nascimento, desenvolvimento e morte.
(Edison Carneiro /1965, pg. 136)
3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A finalidade deste trabalho contribuir para uma maior motivao da pesquisa folclrica
atravs das manifestaes cearenses e mostrar sua importncia para o estudo da cultura
brasileira.O Educador da rea Musical dever desenvolver sua pesquisa analisando seu carter
histrico-descritivo, voltada para o estudo do fato na atualidade, observando e descrevendo o
fenmeno tal como se apresenta, procurando interpretar os dados do presente, verificando a
dinmica do fato, as modificaes que sofreu e buscando as razes pelos quais um fato se
mantm vivo, com funo definida num grupo social.
A seleo de mtodos de coleta de dados estar ligada ao enfoque dado investigao e
ao tipo de fato investigado:
Delimitar o problema para investigao;
Definir e diferenciar os aspectos especficos do problema;
Levantar hipteses de trabalho para facilitar a percepo de um plano de estudo
lgico;
Coletar, analisar e interpretar os dados;
Elaborar relatrios escritos dos resultados da pesquisa;
Esclarecer aspectos de certos fatos pouco investigados;
Verificar as modificaes que determinadas manifestaes sofreram,
estabelecendo co-relaes sociais, psicolgicas, geogrficas, entre outras;
Buscar as causas, os fenmenos que provocaram o surgimento do fato, sua
difuso, sua funo no grupo, seu desaparecimento, se possvel, verificando
sua universalidade;
Triagem de fotos com respectivos referenciais;
Seleo de seqncias filmadas, tendo em vista o todo e o detalhamento do fato
em estudo;
Confeco de desenhos ou traados elaborados na coleta de campo referentes
parte coreogrfica;
Transcrio em forma de partitura musical dos materiais meldicos e rtmicos
recolhidos;
Mapeamento geogrfico das regies estudadas.
4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Resumo. Esse trabalho tem por objetivo descrever o processo de identificao dos objetivos
terminais e dos comportamentos intermedirios de um programa de capacitao de professores de
musicalizao infantil, no qual esses professores devem aprender a desenvolver programas de
musicalizao infantil adequados populao de alunos aos quais sero aplicados. As classes de
comportamento envolvidas nas atividades de planejar aulas de musicalizao, executar aulas de
musicalizao e avaliar aulas de musicalizao foram explicitadas de tal forma que possvel
desvendar para o futuro professor um conhecimento sobre a conduta, interesse, preferncias e
necessidades da criana, de forma que ele possa eleger corretamente os mtodos de ensino, o
repertrio musical e o material a ser adotado no programa de ensino de musicalizao.
Introduo
O professor de musicalizao, quando em sala de aula, enfrenta uma srie de desafios: o tempo
disponvel para o desenvolvimento do trabalho musical, que envolve uma grande variedade de
procedimentos; o domnio da disciplina e ateno dos alunos num ambiente com predomnio de
atividades ldicas; um pblico alvo com uma variao significativa de caractersticas e diferenas
de idade; mltiplas opes de material didtico e musical; necessidade constante de adequao da
metodologia s diferentes turmas de aprendizes. Como possvel lidar com essa gama de variveis
sem perder de vista o objetivo final do programa musical a ser cumprido?
De acordo com ainda Gainza (1964), comum encontrar professores com excelentes condies
musicais, mas sem uma preparao pedaggica adequada. E, da mesma forma, possvel identificar
srios inconvenientes no ensino daqueles professores que, fascinados por uma metodologia musical
moderna ou por falta de sensibilidade e conhecimento de sua matria, pem em prtica mtodos que
no tem por objetivo o desenvolvimento de habilidades verdadeiramente musicais.
As consideraes de Gainza (1964) a respeito das qualidades necessrias para ser um bom professor
trazem, como uma das decorrncias, uma tarefa de suma importncia para aqueles que tem a
responsabilidade de formar novos professores: prepar-los para utilizar suas condies musicais
como meio para educar o aluno no s para a msica, mas para a vida de maneira geral.
Na presente proposta de programao de ensino para o professor de musicalizao, o
professor/aprendiz pratica na presena do supervisor (tutor), que cria inmeras oportunidades de
dilogo com ele, tendo objetivo realizar as avaliaes constantes que caracterizam o processo
reflexivo. Nessa situao, quando professores e supervisores trabalham em conjunto tentando
desenvolver novos conhecimentos sobre o processo ensino-aprendizagem, o programa de ensino e
as situaes de sala de aula tornam-se pontos relevantes de reflexo. O conhecimento gerado
partir das anlises e reflexes das situaes de ensino oferecem as informaes necessrias para a
construo de um programa de musicalizao eficiente.
Zeichmer (1993), citando John Dewey, afirma que a ao reflexiva implica numa considerao
ativa, persistente e cuidadosa daquilo em que se acredita e pratica, luz dos motivos que o
justificam e das conseqncias a que conduz. A reflexo no consiste num conjunto de passos ou
procedimentos especficos a serem usados por professores, pelo contrrio, ela uma maneira de
encarar e responder aos problemas, constituindo-se numa caracterstica especfica de determinados
professores. De acordo com estudos do autor, a ao reflexiva tambm um processo que implica
mais do que a busca de solues lgicas e racionais para os problemas. A reflexo implica intuio,
emoo e paixo, e no um conjunto de regras fechadas que possa ser ensinado como uma simples
"receita". A ao reflexiva um processo complexo que pode ser desenvolvida por meio de uma
programao de ensino criteriosa, na qual o professor estimulado a olhar constantemente para seus
objetivos de ensino, para as diferentes situaes inerentes a eles, e depois disso, propor as melhores
condies para o desenvolvimento de seu trabalho.
Para garantir uma formao profissional completa h necessidade de recorrer a fontes diversas de
informaes, e diferentes bases tericas. Para a elaborao de um programa de formao do
educador musical observador, perspicaz, flexvel e reflexivo, parece no ser suficiente desenvolver
conhecimentos que dizem respeito somente educao musical, mas importante tambm,
pesquisar o material j produzido na rea pedaggica para, de fato, garantir uma formao mais
completa desse educador.
Um relato de pesquisa sobre uma experincia de superviso com duas professoras, no qual a
supervisora tem como objetivo terminal ensinar professores a desenvolver programas de
musicalizao adequados s suas diferentes turmas de aprendizes, parece contribuir para a
descrio de um processo de formao do profissional reflexivo, para o qual as situaes de sala de
aula constituem indicadores relevantes para as tomadas de deciso no processo de ensino-
aprendizagem.
A primeira etapa desse trabalho de superviso teve por objetivo descrever o processo de
identificao dos objetivos terminais e dos comportamentos intermedirios de um programa de
capacitao de professores de musicalizao infantil, no qual esses professores deveriam aprender a
desenvolver programas de musicalizao infantil adequados populao de alunos aos quais seriam
aplicados, de modo que esse caminho, devidamente explicitado, pudesse servir de base para outros
educadores.
Mtodo
Resultados
A partir das respostas s perguntas sugeridas por Botom (1977) foi possvel delinear uma grande
classe geral de comportamento necessria ao professor de musicalizao: desenvolver programas de
musicalizao infantil. A anlise derivada dessa classe de comportamento permitiu vislumbrar
outras classes, igualmente importantes e necessrias ao professor de musicalizao: 1) planejar
aulas, 2) executar aulas e 3) avaliar aulas de musicalizao.
A cada uma dessas classes de comportamento foram feitas, novamente, as perguntas sugeridas por
Botom (1977) e os resultados podem ser apreciados a seguir: Para a classe de comportamento
planejar aulas de musicalizao infantil foram derivadas as seguintes classes de comportamento,
que seria desejvel um professor ter ao iniciar seu planejamento geral, ao imaginar o total de aulas
de seu programa de ensino de msica:
Descrever as condies que sugerem a necessidade de um programa de musicalizao.
Propor os objetivos terminais de um programa de musicalizao infantil.
Identificar os objetivos intermedirios para um programa de musicalizao.
Descrever as partes funcionais dose objetivos.
Ordenar os objetivos intermedirios em seqncia.
Propor condies facilitadoras para a aprendizagem musical.
Propor unidades de ensino.
Planejar a avaliao do desempenho do aluno.
Planejar a avaliao geral do programa.
Preparar o material didtico a ser utilizado durante o programa.
Preparar as aulas do programa de musicalizao.
Elaborar o roteiro de procedimentos.
Caracterizar a populao de alunos a ser atendida pelo programa.
Caracterizar o conhecimento disponvel sobre musicalizao.
Caracterizar os aspectos principais a serem abordados durante o programa de musicalizao.
Propor condies antecedentes para a aprendizagem musical.
Propor condies subseqentes para a aprendizagem musical.
Explicitar respostas de aprendizagem esperadas.
Planejar critrios de avaliao para um programa de musicalizao.
Identificar as habilidades musicais dos alunos e identificar os aspectos musicais mais
relevantes a serem ensinados durante o programa
O detalhamento da classe de comportamentos que diz respeito atividade de executar uma aula de
musicalizao infantil oferece o seguinte panorama referente s classes de comportamento, as
quais, da mesma forma seria desejvel o professor ter ao fazer o seu planejamento dirio, especfico
de cada uma das aulas de msica de seu programa:
Verificar o roteiro de procedimentos previamente elaborado.
Separar o material didtico a ser usado na aula
Preparar a sala de aula para a execuo do roteiro e alguns desdobramentos partir desses
nveis de especificidade.
Identificar as possveis condies de ensino a serem utilizadas.
Identificar as necessidades dos aprendizes para a execuo da atividade.
Identificar as condies de ensino necessrias.
Preparar os aprendizes para a atividade.
Distribuir o material a ser utilizado.
Apresentar as condies antecedentes de ensino.
Acompanhar a execuo das atividades.
Concluir a atividade.
Desenvolver cada uma das atividades propostas para toda a aula de msica.
Notar as preferncias dos aprendizes com relao aos procedimentos utilizados.
Notar o rendimento dos aprendizes em relao aos objetivos propostos.
Notar as reaes dos aprendizes em relao s suas prprias aes.
Identificar as facilidades e dificuldades dos aprendizes em relao aos procedimentos.
Notar os aspectos do ambiente que possam intervir no planejamento.
Identificar os objetivos do conjunto de atividades planejadas.
Identificar as possibilidades de alterao disponveis.
Identificar aspectos que podem estar comprometendo a atividade tal qual ela foi planejada.
Propor alteraes nas atividades planejadas.
Adaptar as atividades planejadas s situaes de ensino.
Integrar-se com os aprendizes.
Integrar os aprendizes entre si.
Envolver os aprendizes com as atividades propostas.
Garantir condies de ocorrncia e manuteno de comportamentos desejveis.
Finalmente, a anlise do objetivo "avaliar uma aula de musicalizao infantil" nos mostra as
seguintes classes de comportamentos importantes para que o professor pudesse ter domnio
completo de como se realizou o processo ensino-aprendizagem de suas aulas de msica, e tambm
das possveis decises futuras que ele teria que tomar ao verificar as facilidades e dificuldades de
seus alunos:
Registrar os resultados obtidos na aplicao dos procedimentos.
Registrar os procedimentos bem sucedidos que podero ser utilizados em situaes futuras.
Identificar os procedimentos planejados que no foram bem sucedidos.
Relacionar resultados e aspectos dos procedimentos aplicados.
Caracterizar resultados gerados pela aplicao de procedimentos.
Derivar propostas de melhoria para os procedimentos.
Propor adaptaes aos procedimentos nos quais os aprendizes desenvolveram interesse.
Identificar as possveis razes pelas quais um procedimento planejado no foi bem sucedido.
Identificar as facilidades e dificuldades dos aprendizes em relao aos procedimentos
aplicados
Sugerir variaes na aplicao de um mesmo procedimento.
Propor adaptaes nos procedimentos nos quais os aprendizes tiveram dificuldades.
Discusso
O conjunto de comportamentos envolvidos nas habilidades de "desenvolver e planejar programas de
musicalizao", executar e avaliar uma aula de musicalizao", resultados da pesquisa, descreve,
genericamente, as habilidades necessrias ao professor de musicalizao infantil e parece
contemplar, tambm, as habilidades necessrias ao professor que observador, perspicaz e
reflexivo.
Considerando a importncia de se estabelecer uma relao entre o que o professor faz e a efetiva
aprendizagem do aluno, como diz Botom (1980), de modo que os resultados obtidos caracterizem
o processo de aprendizagem, o conjunto de comportamentos listados nos diferentes quadros
apresentados no item "resultados" parece descrever essa relao. O conhecimento dos
comportamentos envolvidos em cada uma das etapas de aplicao do programa parece garantir o
conhecimento das caractersticas e habilidades dos aprendizes, das caractersticas do ambiente e das
condies facilitadoras da aprendizagem. Tendo disponvel esse conhecimento, o professor ter
melhores condies de produzir as mudanas necessrias e almejadas para efetivar a aprendizagem
musical.
Da mesma forma, o conjunto de comportamentos descritos nos diferentes quadros que descrevem as
atividades de planejar programas, executar e avaliar aulas de musicalizao esto de acordo com
uma srie de habilidades apontadas como necessrias por diferentes estudiosos da rea de educao
musical, tais como Gainza (1964). A partir dessas habilidades possvel traar o perfil profissional
do professor que possui tanto habilidades musicais, quanto pedaggicas. Esse perfil pode ser
adotado como desejvel tambm para outros profissionais, de diferentes campos de atuao, com as
devidas adaptaes.
A descrio e organizao dessas classes de comportamentos colaboraram de maneira fundamental
para a melhor percepo de que as habilidades musicais e pedaggicas so igualmente importantes
para a formao do professor de musicalizao infantil. Segundo Gainza (1964), existe um
intercmbio muito intenso de experincias e emoes entre o professor e o aluno, e a pedagogia
musical necessita basear-se em pesquisas sobre a personalidade infantil e o processo ensino-
aprendizagem envolvido nessa relao. O conhecimento da conduta, interesse, preferncias e
necessidades da criana ir orientar o educador para eleger corretamente os mtodos de ensino, o
repertrio musical e o material a ser adotado no programa de ensino de musicalizao. O exerccio
constante da reflexo far com que o professor seja sempre um observador atento de seus alunos e
do ambiente onde esto inseridos. Essas capacidades, se desenvolvidas conjuntamente faro com
que o professor tenha sucesso na obteno de seus objetivos.
Referncias bibliogrficas
GAINZA, V. H. La iniciacin musical del nio. Buenos Aires, Ricordi Americana, 1964.
Resumo. Esse relato de experincia tem por objetivo descrever e analisar o processo de
fundao e implantao de um trabalho de formao de orquestras para crianas de classes
populares de So Carlos e seus benefcios no que diz respeito melhoria da auto-estima e
da incluso social dessas crianas e suas famlias atravs das atividades musicais.
Introduo
O Departamento de Artes da UFSCar Universidade Federal de So Carlos fundou e
mantm como parte de seu programa de extenso, uma Orquestra Experimental formada
por cerca de 80 pessoas da comunidade. Na tentativa de conseguir recursos para manter o
trabalho j constitudo e ampliar o seu campo de atuao para crianas e jovens oriundas de
classes populares, demos incio a um projeto especfico com crianas provenientes de
escola pblica de um bairro da periferia da cidade de So Carlos.
Tanto a Orquestra Experimental, j atuante, como a ampliao de suas atividades pretende
servir como estmulo crianas e jovens para o desenvolvimento de uma cultura musical,
por meio do aprendizado de estruturas bsicas da teoria musical e de tcnicas instrumentais.
O projeto em questo tem por objetivo estimular a prtica e o domnio de instrumentos
musicais, especialmente de instrumentos de cordas (prtica com reconhecida carncia na
cidade e regio) e estimular ainda o conhecimento de um repertrio formado por msicas
de todos estilos, mas com estudo e pesquisa predominante em autores brasileiros. A
pesquisa, ensino e divulgao da msica brasileira seja ela folclrica, popular ou erudita
tem sido um dos fios condutores do repertrio da Orquestra Experimental e tambm de
outras orquestras oriundas do mesmo programa de educao musical da UFSCar .
A experincia da Orquestra Experimental, nos seus 11 anos de vida, demonstrou a
importncia da educao musical para o desenvolvimento de recursos e habilidades
individuais e tambm do desenvolvimento da sociabilidade no s entre os integrantes do
prprio grupo, como tambm entre esses e as comunidades nas quais se realizam as
apresentaes pblicas.
Nesses concertos, realizados a convite de prefeituras, empresas, shoppings, escolas, clubes,
etc., divulga-se msica instrumental de boa qualidade, especialmente msica brasileira,
bem cultural essencial uma existncia social digna.
Snyders (1992), em seu livro A escola pode ensinar as alegrias da msica questiona: a
escola pode ensinar a alegria cultural? Mas h outra coisa a ser ensinada na escola alm da
alegria cultural? Segundo o autor, o ensino da msica destina-se a fazer com que os alunos
encontrem mais alegria na msica, atravs do conhecimento de obras de autores
consagrados, que, na opinio do autor, so obras muito mais bonitas do que as que ouvimos
no dia-a-dia. Esta tarefa no impossvel, diz ele, pois na alegria musical existem
elementos de continuidade em face das rupturas da obra prima: os sentimentos musicais e
os sentimentos do dia-a-da so, de certa forma, os mesmo, embora no caso da obra-prima
estejam estilizados, delimitados, medidos e no mais emaranhados. possvel fazer os
alunos perceberem as semelhanas e diferenas entre essas experincias e, a partir disso a
escola poder tornar mais firme, alargar e levar plenitude a conscincia esttica e as
alegrias musicais vividas pelos seus aprendizes.
Baseados nesses princpios, e com o ideal de ampliao do trabalho de formao de
orquestras para crianas de classes populares de So Carlos, em agosto de 2001, entramos
em contato com o responsvel por uma pequena organizao sem fins lucrativos, o Projesc
(Projetos de So Carlos), para que unidos, pudssemos encontrar uma soluo para
formao de uma pequena orquestra, dirigida para crianas da rede pblica de ensino,
oriundas de classes populares e residentes em bairro de alto risco (em termos de
criminalidade e trfico de drogas).
A localizao do espao fsico do Projesc j nos abria possibilidade de trabalhar num dos
bairros de classes populares de So Carlos, no qual h uma incidncia comprovada de alto
ndice de uso e trfico de drogas. Ainda para complementar, essas instalaes ficavam a
duas quadras de uma escola de ensino pblico, que atende crianas de 5a. a 8a. Sries e com
srias queixas e ocorrncias de agressividade entre alunos, professores e diretores.
Um planejamento cuidadoso foi realizado pelos coordenadores do programa da
universidade e pelo diretor da organizao, Sr. Mario Di Giullio. Ficou acordado que este
ltimo buscaria fundos oramentrios para comprar instrumentos e pagar professores e
monitores. Ns, da universidade ficaramos responsveis pela coordenao dos professores
e monitores, bem como pela produo de materiais didticos, composies e arranjos e
ainda pela regncia da orquestra.
Metodologia de implantao
Demos incio ento seleo de alunos. Entramos em contato com a escola do bairro e o
diretor ficou muito animado em dar incio s atividades do projeto a partir da escola. As
primeiras divulgaes foram realizadas, pelo prprio diretor, durante as aulas dos trs
perodos oferecidos pela escola. Cerca de 35 crianas se inscreveram e as portas da escola
foram abertas para fazermos as primeiras reunies com os alunos interessados, conhecer
seus pais, marcar horrios de aulas e ensaios. Nesses primeiros contatos os alunos j
tiveram algumas aulas de iniciao musical e levamos um pequeno conjunto de flautas
doces para que eles pudessem ter uma idia do trabalho a ser desenvolvido.
Ficou estabelecido que teramos aulas, a princpio de teoria musical, flauta doce e violino.
Resultados
Analisando o trabalho j desenvolvido possvel perceber, nitidamente, os benefcios da
implantao do projeto. Dentre eles podemos destacar:
Culturais: Com a implantao do projeto, a comunidade de So Carlos viu multiplicado os
benefcios culturais j desenvolvidos pela Orquestra Experimental da UFSCar em termos
de pesquisa, ensino e divulgao dos bens culturais advindos da msica. Um nmero
significativo de outras crianas e jovens j esto sendo formados, com habilidades
suficientes para divulgar esse bem cultural disponvel para ns brasileiros, atravs da nossa
msica. Nesse momento, quando estamos abrindo novas turmas para ampliar o projeto,
podemos vislumbrar as possibilidades de acesso cultural das comunidades menos
favorecidas, seja economicamente, seja culturalmente. Acreditamos que a capacidade de
transformao cultural da comunidade ser cada vez mais significativa medida que o
projeto se estabelece, fortalece e amplia suas atividades para um nmero maior de crianas.
Sociais: Oferecer oportunidades de aprendizagem da arte musical, da tcnica de um
instrumento para crianas e jovens das classes populares dar a eles oportunidades
diferenciadas de formao para melhoria da qualidade de vida, criar para eles uma
identidade com a comunidade em que vivem ainda oferecer uma oportunidade de se
sentirem teis para o ambiente no qual esto inseridos. Levar uma criana de bairro da
periferia para realizar um concerto na escola em que estuda, por exemplo, dar a ela
oportunidade de mostrar sua capacidade de cidad til e capaz. Esse tipo de programa
aumentou, de modo significativo, a auto-estima das crianas, ofereceu melhor objetivo de
vida, e criou motivao suficiente para tirar essas crianas de um meio ambiente hostil, para
oferecer um futuro mais promissor.
Econmicos: Sem dvida, o primeiro benefcio econmico advindo desse programa foi
criar oportunidade de uma futura profissionalizao do estudante, seja como msico, seja
como futuro professor de msica. O aluno, depois de algum tempo aprendendo e praticando
um instrumento pode trilhar um caminho real de profissionalizao e com isso beneficiar
outros projetos semelhantes. Com certeza, os benefcios indiretos se referem melhor
qualidade de vida dos estudantes e em conseqncia de seus familiares. Um indivduo til,
trabalhador, consciente e ainda sensvel ser um cidado importante para o crescimento
cultural, scio e econmico da comunidade em que vive.
Resultados musicais
Depois de 3 meses de trabalho, a Orquestra Filarmnica Projesc j tinha repertrio
suficiente para participar dos concertos de Natal promovidos pela Orquestra Experimental e
pela Pequena Orquestra da UFSCar. Foram oportunidades mpares para as crianas do
projeto e seus familiares. Um concerto no Shopping Iguatemi de So Carlos e outro na
Universidade Federal. A identidade e o papel social de cada famlia ficou solidificado. Os
pais compareceram aos concertos levando amigos e parentes, demonstrando o orgulho em
poder mostrar as habilidades e o trabalho musical dos filhos.
No incio de 2002, voltamos escola pblica, na qual os msicos aprendizes estudam, para
fazer um concerto. Era aniversrio da escola e o diretor marcou dois concertos: um no
intervalo das atividades da manh e outro, no intervalo das atividades da tarde. As crianas
da orquestra, professores e o diretor da escola estavam temerosos. Os colegas iro respeitar
esse trabalho? Ser que faro silncio para ouvir a nossa msica? No meio de uma platia,
de incio barulhenta e curiosa, esses temores se mostraram infundados quando um silncio
total ecoou no ptio da escola quando a orquestra tocou os primeiros acordes do concerto.
Cada msica foi ouvida com ateno e carinho. Depois do concerto as crianas foram
recebidas na sala dos professores para um lanche especial. Era possvel perceber a alegria e
a melhoria da auto-estima de cada um deles seja pelo reconhecimento dos colegas, dos
professores e diretor, seja pelos familiares e por toda a instituio de ensino.
Figura 4: Depois do concerto, recepo na sala dos professores
Discusso
Paulo Freire (2000) afirma que sonha com uma escola que, sendo sria, jamais vive
sisuda. A seriedade no precisa de ser pesada, diz ele. Quanto mais leve a seriedade,
mais eficaz e convincente ela. Sonhamos com uma escola que, porque sria, se dedique
ao ensino de forma competente, mas, dedicada, sria e competentemente ao ensino, seja
uma escola geradora de alegria. O que h de srio, at de penoso, de trabalhoso, nos
processos de ensinar, de aprender, de conhecer, no transforma este quefazer em algo
triste. Pelo contrrio, a alegria de ensinar-aprender deve acompanhar professores e alunos
em suas buscas constantes. Precisamos remover os obstculos que dificultam que a
alegria tome conta de ns e no aceitar que ensinar e aprender so prticas
necessariamente enfadonhas e tristes. por isso que ele fala de que o reparo das escolas,
urgentemente feito, j ser um pouco mudar a cara da escola, do ponto de vista tambm de
sua alma.
Embora esse trabalho esteja sendo desenvolvido fora dos muros da escola, ele comeou a
partir de uma escola pblica, ainda mantm o vnculo com ela e pode ser discutido como
uma proposta para ampliao dos espaos escolares, trazendo as alegrias da msica para a
transformao social e cultural da comunidade. Em pouco tempo de trabalho foi possvel
estreitar os laos afetivos com os alunos e suas famlias, foi possvel conhecer um pouco
mais de cada um (suas alegrias, angstias, facilidades e dificuldades), foi possvel
desenvolver um processo de ensino-aprendizagem musical que oferecesse a esses alunos
oportunidades reais de reconhecimento social e ainda ampliasse o leque de futuras
possibilidades profissionais para cada um deles.
Atualmente a orquestra tem realizado inmeros concertos em So Carlos mostrando seu
trabalho dentro de instituies importantes da cidade. levando ainda seu exemplo para
outras comunidades, cumprindo uma agenda de vrios convites para concertos em
diferentes cidades da regio.
Referncias Bibliogrficas
FREIRE, P. A educao na cidade. So Paulo, Cortez Editora, 2000.
SNYDERS, G. A escola pode ensinar as alegrias da msica? So Paulo, Cortez editora,
1992.
ZOADA BRASILEIRA: UMA ALEGRIA CULTURAL A PARTIR DO CONTATO
COM AS NOSSAS RAZES MUSICAIS
Resumo. Esse artigo tem por objetivo relatar um processo de construo de conhecimento
musical tendo por base as razes folclricas da msica brasileira. Um passeio musical do
Amazonas ao Rio Grande do Sul transformado em formas de aprendizagem de um
repertrio musical para crianas desde os 08 meses at 14 anos, se transforma tambm em
repertrio instrumental para a Pequena Orquestra da UFSCar, e cria oportunidades de
trabalho multidisciplinar considerando a diversidade de formao profissional da equipe
organizadora. Aos poucos, a pesquisa e o ensino desse repertrio, essencialmente brasileiro,
ganha forma, ritmos, alturas, harmonias e cores que proporciona s crianas e adultos as
alegrias do contato com a msica e com os bens culturais do pas.
Zoada1 Brasileira!
Quando o colega e arranjador, Glauber Santiago, me sugeriu esse ttulo ao nosso musical
anual, ele me soou ao mesmo tempo sonoro, divertido, irnico e instigante. A seguir, uma
srie de preocupaes surgiu em minha mente: Que zoada ser essa, perguntaro os pais
dos alunos? O que ser que meu filho aprende nessa aula de msica? Ser uma baguna
musical?
Para responder essas questes e conhecer um pouco do que chamamos de Zoada
Brasileira ser preciso voltar um pouco atrs no tempo.
Somos um grupo de professores e alunos do Departamento de Artes da Universidade
Federal de So Carlos- UFSCar e, desde 1989 e temos ali um programa de extenso
denominado Educao Musical na UFSCar, que possui atualmente 11 turmas de
musicalizao, com aulas de msica dirigidas para crianas desde 08 meses at 14 anos e 3
orquestras: a Pequena Orquestra da UFSCar (uma orquestra infanto-juvenil com cerca de
1
Zoada: 1. Ato ou efeito de zoar: zoeira. 2. zumbido 3. barulheira, barulho, gritaria, confuso. Bater zoada
Bras., MG.Pop.Contar casos, conversar fiado, bater papo, papear. Verbete encontrado em FERREIRA, A. B.
de H. Novo dicionrio da lngua portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.
60 participantes), a Orquestra Experimental da UFSCar (com cerca de 85 participantes) e
a Orquestra Filarmnica Projesc (com cerca de 35 crianas oriundas de bairros de classes
populares de So Carlos).
Diante desse panorama possvel perceber que estamos, quase sempre, nos defrontando
com situaes de concerto ou apresentaes musicais com grupos variados. So cerca de 30
a 35 concertos por ano!
Nunca tivemos preocupao com os diferentes concertos das orquestras. Uma orquestra j
tem mais ou menos definido a sua forma de concerto, seja ele mais formal (em teatros, em
ocasies solenes, em inauguraes de espaos importantes, etc), seja ele mais informal (em
praas, escolas, bosques, etc), seja ele ainda de carter didtico, o que as nossas orquestras
tm sempre oportunidades de realizar. Mas, o concerto das crianas! Que desastre! Claro
que as crianas sempre estiveram muito compenetradas, cantando, tocando e danando com
muita alegria, competncia e seriedade. No entanto, como era difcil fazer os pais ouvirem
em silncio o espetculo todo. A concentrao era sempre dirigida ao momento em que o
filho tocava e depois... Como segurar a emoo, o orgulho, a alegria de ver a habilidade
musical do filho? Como ficar quieto?
No incio do ano 2000, demos incio a um processo de reflexo e discusso para achar uma
possvel soluo para o nosso problema: conseguir com que os pais ouvissem todo o
concerto das crianas com interesse e em silncio, de forma que pudessem compreender
melhor o processo de educao musical pelo qual passavam seus filhos.
A partir dessas reflexes surgiu a idia de montarmos um espetculo musical com todas as
crianas da musicalizao, tendo como base instrumental a Pequena Orquestra da
UFSCar. Dentre a equipe de estagirias e monitoras do Laboratrio de Musicalizao
Infantil da UFSCar, local que abriga todas as atividades do programa, tnhamos uma
estudante de teatro Mara Vanessa - e junto com ela, construmos um roteiro para o
musical. A idia era mostrar aos pais a importncia da msica na vida da criana, tendo um
ou dois personagens para contar uma histria e criar um fio condutor entre um grupo
musical e outro. O resultado foi timo. Esse primeiro espetculo foi denominado ainda
Concerto das Crianas, como sempre chamvamos as apresentaes das turmas de
musicalizao. Participaram desde os bebs at os adolescentes. A Pequena Orquestra fez
a base instrumental em todas as msicas, uma atriz e um ator encenaram e contaram a
estria da Dona Dirce faxineira do departamento, que teve sua trajetria de vida,
sensivelmente modificada em decorrncia de seu contato dirio com as crianas e a msica.
Os pais e toda a platia escutaram em silncio, encantados com essa nova linguagem
musical e teatral!
Desde quando comeamos a construir o roteiro para o Concerto das Crianas, em
princpios de 2000, acalentvamos a idia de realizar um musical cujo repertrio fosse
composto por msicas da cultura popular brasileira. Mas precisvamos de tempo para
pesquisa, para construo de arranjos especiais e para ensinar todas as msicas para as
crianas. Em vista disso, a idia foi deixada para o ano seguinte. J no incio de janeiro de
2001 comeamos uma pesquisa de repertrio e dentre os inmeros livros pesquisados
encontramos Msica e percusso: nossas razes culturais (1999), que nos deu inmeras
possibilidades de desenvolvimento para idia original.
Por que essa vontade de voltar s nossas razes, de valorizar a msica brasileira, de
descobrir enfim quais so as nossas influncias musicais e, que elementos musicais
compem a nossa diversidade e ao mesmo tempo a nossa unidade?
Segundo Campbell (1994), cantar um fenmeno humano que no possui amarras
culturais. A criana, diz a autora, comea a cantar antes de falar, musicalmente balbuciando
os sons que ela ouve em casa. Conforme seu vocabulrio se amplia, ela brinca com as
palavras, ritmos e alturas e, gradualmente, comea a se expressar com coerncia musical
por meio de parlendas, rimas e canes tradicionais. As canes auxiliam as crianas a
aprender um pouco mais sobre si mesmas, sobre suas relaes e interaes com a famlia e
amigos, sobre como brincar e trabalhar de modo cooperativo, e ainda sobre como se
comunicar apropriadamente. As canes infantis, afirma a autora, ainda garantem o
desenvolvimento de habilidades importantes para aquisio de conceitos sobre histria,
matemtica, linguagem e dana. De modo mais profundo, as canes populares advindas de
qualquer povo tem a capacidade de ensinar as atitudes daquele povo especfico. As canes
folclricas abrem sempre uma janela para o mundo e sempre tm uma lio a ensinar.
Esses princpios nos moviam a pesquisar e aprender para depois ensinar s crianas de
nosso programa, uma coletnea de msicas brasileiras representativas das vrias regies.
Que msicas nosso povo canta? De que regies so essas msicas? Onde exatamente elas
ficam no Brasil?
Em fevereiro os arranjos para o musical estavam prontos e fomos para a sala de aula e de
ensaio com novas alegrias: a alegria cultural, a alegria da descoberta de nossas msicas, a
alegria de poder mostrar e compartilhar esse bem com as crianas.
O primeiro objeto adquirido e levado para a sala de aula com todas as honras foi o mapa
do Brasil. A cada nova msica anunciada para ser aprendida, as crianas se debruavam
sobre o mapa e descobriam de onde vinha aquela cano. Depois pesquisvamos juntos a
origem e costumes daquela regio, as peculiaridades de seu povo, suas roupas e sua msica.
A bolsista do laboratrio Melina Fernandes Sanchez, especialista em dana, descobriu e
criou uma poro de coreografias para as canes e as crianas comearam a se integrar
com os temas musicais, danas e histrias de cada cano. A cada novo dia de aula havia
um nmero significativo de novas descobertas musicais e aprendizagens sobre a msica, o
povo brasileiro e suas razes.
E assim foi que, no decorrer do ano, o Zoada Brasileira foi ganhando contornos, formas,
sons, movimentos es cores. O nosso barulho, gritaria, confuso se transformava em forma
musical apaixonante!
Para Snyders (1992) h sempre um momento no qual ser necessrio que o aluno se
especialize, mas preciso que ele tenha oportunidade enquanto jovem, de tomar contato,
durante todo o tempo que lhe for possvel, com o sentido da cultura no seu conjunto, com o
sentido da unidade da cultura. Era esse contato com a cultura, com a obra prima traduzida
aqui nas preciosidades de nosso folclore, que queramos oferecer aos nossos alunos, aos
seus pais e ao pblico que iria assistir aos espetculos. O teatro, a histria, a geografia, a
dana e a msica trouxeram todos os benefcios da interdisciplinaridade. Como era bom
partilhar com as crianas e jovens as expresses da nossa cultura no seu sentido mais amplo
e abrangente!
Se o termo multiculturalismo, diz Walker (1993), possui alguma significao, esta
seguramente deve ter algo a ver com o fomento do respeito, da compreenso e aceitao
das diferentes culturas: ocidente compreendendo ao oriente, o urbano ao aborgine, o
italiano ao noruegus e assim sucessivamente. Pensando ento, que essa compreenso
multicultural precisa ganhar significado com o conhecimento das prprias razes culturais
comeamos a trabalhar as razes musicais e culturais do norte e do sul do Brasil, do
nordeste, do sudeste, da regio central. Ao olhar para as nossas crianas, depois de um ano
de trabalho, foi possvel observar que elas tinham respeito, compreenso, aceitao e uma
verdadeira paixo por sua prpria cultura e, a partir da, poderiam se aventurar a conhecer e
respeitar as outras culturas.
As apresentaes do Zoada Brasileira foram finalmente marcadas para o dia 02 de
dezembro no SESC So Carlos e para o dia 03 de dezembro no Teatro Municipal de So
Carlos. Comeamos ento os ensaios gerais com as crianas, os atores e a orquestra. Os
pais compareciam em todos porque tinham que levar as crianas num horrio especial e l
ficavam para assistir a tudo. O silncio e a alegria imperaram desde o incio dos trabalhos.
Aos poucos todos foram se envolvendo. O figurino foi decidido por Raquel, a diretora de
teatro, que sugeriu uma roupa branca simples para as crianas e pais (sempre considerando
nossa precariedade oramentria). O uniforme da pequena orquestra j estava pronto: cala
ou saia preta e a camiseta amarela tradicional. Todos os msicos j tinham esse uniforme.
Depois, explicou Raquel, os pais, as crianas e jovens da orquestra poderiam criar adereos
coloridos para enfeitar as roupas.
Mos obra! Duas mes resolveram fazer pequenos aventais para o cordo azul e
encarnado das Pastorinhas, de Pernambuco e l foram tirar medidas, comprar panos e
costurar. As crianas faziam sero para confeccionar os adereos: peneiras ganharam um
lindo colorido para dana A Peneira do nordeste; pandeiros, chocalhos, tambores e guizos
foram ficando coloridos com fitas e pequenos enfeites. At os bambols ganharam adereos
para danar o Carro no anda sem boi do Rio Grande do Norte.
A Pequena Orquestra tambm se movimentou. Melina aparecia nos ensaios para ensinar as
danas para os msicos, para que, danando pudessem compreender melhor esse universo
da cultura popular brasileira. Juliane, outra bolsista do curso de Pedagogia, comandava as
sesses de construo de adereos com mes, meninas e meninos construindo colares,
fitas, flores e bandanas. Todos trabalhavam cantando as msicas do Zoada. Tnhamos
atingido nosso objetivo!
Os concertos foram um sucesso! Lotao esgotada nos dois dias! Muito trabalho e emoo
para todos! Inesquecvel! A Pequena Orquestra ainda realizou outros concertos s com
parte musical do Zoada, levando as danas e alegrias dessas msicas para crianas de
escolas pblicas e para adultos e crianas nas praas pblicas e clubes de lazer de So
Carlos.
Figura 4: Zoada Brasileira: confeco de adereos
Hoje, afirma Koellreutter (1997), como a maioria das pessoas deseja a paz, mas no sabe
como transformar esse desejo em realidade, a paz se torna, sobretudo uma questo de
educao do homem destinado a viver num mundo aberto.
O processo de construo do Zoada Brasileira proporcionou a todo grupo de participantes
(cerca de 180 pessoas) e a todo pblico que o assistiu, essa aproximao cultural, esse
benefcio da alegria cultural, essa aproximao da paz atravs do processo de educao
musical.
Referncias Bibliogrficas
SOLBU, E. A performance perspective. In LUNDQUIST & SZEGO. Music of the Worlds
Cultures: a source book for music educators. Inglaterra, CIRCME (Callaway International
Resource Center for Music Education), 1998. p. 29.
Resumo. Este texto descreve e analisa uma atividade desenvolvida em turmas da 2a. Srie
do Ensino Mdio durante o ano de 2001 no Colgio Pedro II Unidade Engenho Novo II
na cidade do Rio de Janeiro. A atividade interdisciplinar se definiu em sua dimenso
conceitual e temtica envolvendo alunos e professores na orientao e produo de textos,
criao de imagens para os textos e sonorizao destas imagens. Acreditamos ser relevante
apresentar esta proposta pela importncia de se refletir constantemente sobre a prtica
pedaggica, norteando um trabalho em busca de constante renovao de idias. Assim
como, para compartilhar o significado que a atividade ganhou no processo de
desenvolvimento da musicalidade dos alunos.
Este texto descreve e analisa uma atividade desenvolvida em turmas da 2a. Srie do
Ensino Mdio durante o ano de 2001 no Colgio Pedro II Unidade Engenho Novo II na
cidade do Rio de Janeiro.
Arte, como um componente curricular, vem sendo implantada no Ensino Mdio do
Colgio Pedro II desde o ano de 2000, oferecendo as linguagens Msica e Artes Visuais, e
atendendo exigncia da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional no. 9394/961 . A
carga horria da disciplina de dois tempos semanais (45 minutos) na 1a. e na 2a. Srie,
sendo que a turma dividida durante cada ano. Enquanto metade da turma cursa Msica
no primeiro semestre a outra metade cursa Artes Visuais. No segundo semestre os grupos
se invertem e assim a turma tem contato com as duas linguagens durante o 1o. e o 2o. ano do
Ensino Mdio. O critrio de diviso das turmas meramente administrativo, ou seja, pelo
nmero do aluno no Dirio de Classe. J que todos os alunos devem vivenciar as duas
linguagens, optou-se por esta forma e no pela escolha do aluno.2 As duas linguagens tm
1
Lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Art. 26, 2o. In: BRASIL.
MINISTRIO DA EDUCAO. SECRETARIA DE EDUCAO MDIA E TECNOLGICA.
Parmetros curriculares nacionais: ensino mdio: bases legais. Braslia: Ministrio da Educao/Secretaria
de Educa/co Mdia e Tecnolgica, 1999. p.59. (Parmetros Curriculares Nacionais. Ensino Mdio, 1).
2
Apesar de nos documentos oficiais do Colgio e pela prtica, a disciplina estar sendo oferecida nas duas
sries iniciais do Ensino Mdio, com inexistncia de Concurso Pblico para compor o quadro de professores
da disciplina desde 1994, este ano o Colgio se viu obrigado a suprimir a oferta da disciplina em uma de suas
caractersticas iguais aos demais componentes curriculares, exceto quanto periodicidade
que semestral para cada linguagem e no anual. Elas tm programas e avaliaes
prprias, garantindo a especificidade de cada uma. 3
Muitos professores optam por prticas interdisciplinares de diversas modalidades
por identificao pessoal. Por outro lado, a Direo Geral e a Secretaria de Ensino do
Colgio estimulam os professores a buscarem prticas interdisciplinares, por acreditarem
ser este o caminho para superar o que chamam de fragmentao do conhecimento. As
propostas de atividades interdisciplinares surgem tanto no perodo de planejamento,
anterior ao incio das aulas, como durante o prprio perodo letivo em decorrncia de
eventos culturais na cidade ou do trabalho desenvolvido por outras disciplinas.4
Foi no perodo de planejamento realizado no incio do ano letivo de 2001, na
Unidade Engenho Novo II5 , que esta proposta de trabalho surgiu. O planejamento
aconteceu entre os professores da equipe de msica e, em outro momento, entre os
professores e coordenadores de cada srie. O primeiro ponto de olhar em comum foi com
os professores de Arte Visuais. Eles definiram que a 1a. Srie do Ensino Mdio trabalharia
Imagem Fixa e a 2a. Srie, Imagem em Movimento. A equipe de Msica observou que
poderia trabalhar os objetivos e contedos estabelecidos para estas sries relacionando-os
em alguns pontos com imagens fixas (pinturas, esculturas, gravuras, cartes postais,
fotografias e outros) e imagens em movimento (vdeos, filmes para cinema e televiso,
sries. A opo recomendada pelos professores aps longa argumentao foi por no oferecer Msica na 2a.
Srie do Ensino Mdio provisoriamente, o que est ocorrendo no ano letivo de 2002.
3
O ensino de arte, tanto a linguagem msica quanto artes visuais, oferecido desde a Classe de Alfabetizao
at a 8a. Srie do Ensino Fundamental, com carga horria de dois tempos semanais (45 minutos) para cada
componente curricular. A diferena em relao ao Ensino Mdio que estas linguagens constituem duas
disciplinas com nomes diferentes e sem diviso da turma. As linguagens Dana e Teatro tambm so
trabalhadas com os alunos, s que em atividades extracurriculares, com carter opcional e por iniciativa de
professores que j pertencem ao quadro do Colgio e que tenham formao especfica ou afinidade com a
linguagem.
4
No terceiro ano do Ensino Mdio ou mesmo durante os dois primeiros anos, os alunos podem cursar
matrias eletivas que so oferecidas pelos professores e dentre estas esto matrias ligadas s linguagens
artsticas e algumas com propostas interdisciplinares, tais como art-web, prtica instrumental, prtica vocal,
percepo musical, dentre outras. As disciplinas eletivas tm caractersticas iguais s outras disciplinas s
que o aluno pode optar dentre aquelas oferecidas pela Unidade Escolar e a periodicidade anual. Outras
reas tambm oferecem disciplinas eletivas.
5
O Colgio Pedro II possue 9 Unidades Escolares: Centro, Engenho Novo, Humait, So Cristvo e Tijuca.
So, carinhosamente, chamados de Pedro (5a. Srie do Ensino Fundamental ao 3o . ano do Ensino Mdio-
Unidades II) e Pedrinho (Classe de Alfabetizao 4a. Srie do Ensino Fundamental-Unidades I))
2
propaganda, documentrio, novelas e outros formatos). Detalharemos aqui o trabalho
desenvolvido na 2a. Srie.
Na aula inaugural desta srie houve a participao dos professores de diversas
disciplinas como dinamizadores das atividades que constaram de uma leitura, debate e
produo de texto pelos alunos.6 Esta aula constituiu outro elo da atividade interdisciplinar.
A primeira parte da aula foi realizada com a leitura de um poema de Aphonso Romano de
Santanna que ilustrava o sentimento vivido por muitos no incio do sculo XXI: Epitfio
para o sculo XX. Esta leitura foi acompanhada por imagens em data-show, ao som de
uma msica para enfatizar mensagem e tinha como objetivo estimular um debate, que
aconteceu em seguida, entre professores e alunos sobre a virada do sculo. A etapa
seguinte foi a de produo de um texto por grupos de cinco alunos elaborando um Prefcio
para o sculo XXI.7 Para finalizar a aula os textos foram lidos pelos alunos.
Estes trabalhos se tornaram os primeiros estmulos para que os alunos criassem
imagens relacionadas aos textos produzidos, etapa esta que seria realizada nas aulas de
Artes Visuais8 . Nestas aulas os alunos se familiarizaram como o manuseio da cmera de
vdeo, e aspectos relacionados filmagem e composio de imagens em movimento. Os
textos (Prefcio para o sculo XXI) foram utilizados como tema para a criao das
imagens, movimentao da cmara, escolha de ngulos para a filmagem, elaborao de
cenrios e figurinos e tambm, dramatizao realizada pelos prprios alunos. Os grupos se
alternavam nas aulas, ora utilizando a filmadora, ora criando situaes para serem filmadas.
Dando continuidade proposta, a etapa de sonorizao destas imagens seria realizada no
segundo semestre, quando este grupo estaria cursando a disciplina Msica.
Enquanto este grupo trabalhava em Artes Visuais, o grupo de Msica estava
trabalhando os seguintes objetivos: cantar, tocar e registrar repertrio diverso, utilizando
vrias formas de notao musical, convencional ou no; desenvolver senso de conjunto;
criar, organizar, dirigir, ensaiar e apresentar atividades musicais como resultado de um
processo conjunto de planejamento; selecionar, utilizar e combinar recursos e fontes
6
Esta aula contou com a participao dos professores de fsica Srgio Lima, de Sociologia: Ftima Ivone, de
Matemtica: Lzaro, de Msica: Marcos Vieira Lucas e Ins Rocha, de Lngua Portuguesa e Literatura: Isabel
Vega e Artes Visuais: Wilson Cardos Junior e Gisela Viana sendo realizada no auditrio da Unidade Escolar.
7
Esta atividade foi orientada pela professora de Lngua Portuguesa Isabel Vega.
8
As aulas de Artes visuais foram ministradas pelo professor Wilson Cardoso Junior que, com sua
disponibilidade, muito contribuiu para que esta proposta pudesse ser realizada.
3
sonoras na construo de uma idia musical; registrar e executar suas prprias composies
e de outrem, atravs do uso de equipamento tecnolgico adequado (gravadores,
computadores, dentre outros); expressar e justificar opinies e preferncias com
vocabulrio musical adequado; identificar e conhecer as habilidades e funes dos diversos
profissionais envolvidos na produo musical, considerando as diferentes caractersticas
das reas de atuao e do mercado de trabalho; identificar e analisar as manifestaes
musicais da contemporaneidade no contexto scio, histrico e cultural. 9
Primeiramente o curso constou de anlise e comparao de trabalhos em vdeo,
cinema e televiso com o objetivo de identificar, em linhas gerais, aspectos relacionados
sonorizao de imagens, tais como: gneros musicais que podem ser utilizados e quando
us-los; relao movimento da imagem e da edio com o movimento musical (andamento
e ritmo); quando usar msica instrumental, vocal ou mista; msicas mais utilizadas em
propagandas, em novelas, em programas jornalsticos, documentrios, em desenhos
animados e outros. Pela observao, reflexo, comparao, os alunos foram se
familiarizando com as diversas possibilidades de sonorizao de imagens em movimento.
Outras atividades tambm foram desenvolvidas, e mesmo no estando relacionadas
mais especificamente com o processo de sonorizao, contriburam para a realizao do
trabalho, especialmente para a criao de efeitos sonoros e a relao das estruturas musicais
com as imagens em movimento. Foram realizadas atividades de improvisao musical com
estmulos rtmicos, meldicos ou harmnicos, com acompanhamento instrumental
diferentes (percusso, violo e teclado) ou tendo como estmulo gneros musicais diversos
(samba, funk, baio e outros). Todas estas atividades de improvisao eram seguidas de
uma segunda etapa de criao musical a partir dos elementos trabalhados e apresentao
deste produto final para a turma. Outra atividade significativa foi a pesquisa e anlise de
msicas instrumentais que expressassem alguns sentimentos e climas. Foi fornecida uma
lista para os alunos e eles deveriam escolher uma msica instrumental para cada item e
comentar as caractersticas musicais que mais contribuam para o carter e expresso
daquele sentimento que eles estavam atribuindo msica. A lista para este grupo constava
de dez itens: alegria, tristeza, terror, suspense, tranqilidade, romance, aventura, comdia,
9
COLGIO PEDRO II. Projeto Poltico Pedaggico. Proposta Curricular de Educao Musical
apresentada ao Colegiado do Departamento de Educao Musical do Colgio Pedro II. Rio de Janeiro, dez.
de 2000.
4
drama e vitria. Esta atividade desenvolveu nos alunos a percepo das estruturas musicais
e da expresso que as msicas lhes transmitem. Proporcionou outra dimenso do
conhecimento musical pela percepo, e pelo processo de conceituao de diversas
estruturas constitutivas da msica. Uma relao interessante que os alunos mencionaram
foram as imagens sonoras que algumas msicas e efeitos sonorizao provocavam. Este
termo, imagens sonoras, foi usado e aceito por muitos deles. Melhor talvez seria dizer:
imagens que a audio destes sons e msicas provocavam em suas mentes. Eram
infindveis e encantadoras as descries de cenas e situaes que eles comentavam entre si
divertidamente. Mas este seria um tema para outro texto.
Como trabalho final de curso, os alunos decidiram pela elaborao de uma outra
sonorizao para um dos desenhos animados que eles haviam analisado: o Desenho
Animado Pingu. A primeira etapa foi de escolha e gravao do episdio a ser sonorizado
em uma fita. Combinamos que no faramos edio em um estdio de som e sim uma
apresentao para os colegas que estavam tendo aulas de Artes Visuais com a nova
proposta de sonorizao sendo realizada simultaneamente exibio na tela da televiso do
episdio sem o som original. A turma se dividiu em trs grupos: um deles ficou
responsvel pela criao e dublagem dos dilogos; outro ficou responsvel pela sonoplastia
e efeitos sonoros, e um outro grupo pelas msicas.10
A segunda etapa foi de planejamento especfico de cada parte da sonorizao. Os
grupos assistiam o desenho determinando os momentos em que poderiam ser includas as
msicas; identificando qual o tipo, gnero e durao de cada uma; que movimentos
deveriam ser ressaltados com sons ou efeitos sonoros expressivos; quantas personagens;
quem deveria dublar cada uma; caractersticas sonoras e inflexes das vozes das
personagens; histria a ser contada por eles e seus dilogos; dentre outros detalhes que se
fizeram necessrios dependendo do episdio. Cabe lembrar que neste desenho animado as
personagens tm uma linguagem prpria, no falado em portugus. Os alunos deveriam
imaginar e redigir dilogos possveis de forma sincronizada com o movimento dos bicos
dos pingins, focas e lees marinhos (personagens dos desenhos animados). Assistamos o
desenho repetidas vezes, procurando no ouvir o som original nesta fase para criao de
10
Lembramos que a turma de Msica representa metade da turma original, constando de cerca de 17 a 20
alunos.
5
sonorizao personalizada da turma. A terceira fase constou dos ensaios para a
apresentao final.
No dia da apresentao o local foi preparado com uma cortina isolando os dois
grupos da turma, de tal forma que os alunos de artes visuais que assistiam no poderiam ver
os alunos de msica realizando a sonorizao e sim direcionar o olhar apenas para a
televiso como se o som tivesse sido editado na fita. Um grupo de alunos de Artes Visuais
ficou encarregado de filmar os momentos da aula e enquanto acontecia a apresentao eles
focalizaram apenas a televiso. Em seguida a turma toda (Artes Visuais e Msica) assistiu
as imagens do desenho animado com a nova sonorizao e comentou a atividade. Em um
segundo momento da apresentao de trabalhos, os alunos de Artes Visuais mostraram as
imagens realizadas a partir dos textos da aula inaugural. Curioso e gratificante foi observar
como aps a exibio destas imagens sem som ou apenas com uma locuo dos textos, os
alunos de Msica j comentavam possibilidades para sonoriz-las. Os prprios alunos
constatam que, aqueles que cursaram Msica no primeiro semestre, ao produzirem suas
imagens na aula de Artes Visuais, certamente o faro com outros olhares, pois suas
audies no so as mesmas. Da mesma forma, os alunos que inicialmente tiveram contato
com Artes Visuais iro sonorizar imagens com outras escutas, pois suas vises no so as
mesmas. Um jogo de palavras que demonstra como estavam conscientes das mudanas
ocorridas em suas percepes e expresses.
Um aspecto importante a ser destacado foi o envolvimento afetivo dos alunos na
realizao das atividades, demonstrando prazer na realizao, na constatao que a
sonorizao estava sincronizada com as imagens, no entrosamento dos trs grupos e pela
boa receptividade por parte dos alunos de Artes Visuais e professores que assistiram a
apresentao. Despertou, tambm, nos alunos de Artes Visuais um grande interesse para a
realizao das sonorizaes de suas imagens e de um desenho animado ao cursar a
disciplina Msica. Por sua vez os alunos de Msica tambm ficaram mobilizados para
produzirem suas prprias imagens.
relevante tambm enfatizar que os trabalhos desenvolvidos nas duas disciplinas
apontam para diversas possibilidades profissionais ligadas s artes ou profisses que cada
vez mais esto estabelecendo relaes com diferentes linguagens artsticas. Um exemplo
6
a exigncia do mundo atual para o conhecimento de uma tecnologia diversificada e como
importante inserir o aluno e o professor na busca por este domnio de conhecimento.
Outro ponto importante proporcionado foi o relacionado com diversos produtos de
criao que as atividades envolveram (criao de textos, imagens, sons e msicas). Vrios
alunos se perceberam pessoas muito criativas e outros potencializaram possibilidades
criativas j destacadas. Constata-se a marca deste processo de descoberta de capacidades
pelas opes de cursos universitrios que os alunos definiram aps estas atividades.
A proposta tem alguns aspectos interdisciplinares que gostaramos de destacar.
Primeiramente apontamos uma integrao temtica, ou seja, olhares diferentes sobre um
mesmo tema: Virada do sculo gerando desdobramentos. O olhar da disciplina Lngua
Portuguesa e Literatura na produo dos textos intitulados Prefcio para o sculo XX,
olhar das Artes Visuais na criao de imagens para estes textos e o olhar da Msica para
sonorizar estas imagens.11
A interdisciplinaridade por conceitos: Linguagem (conceituao e elementos
constitutivos), Forma (estruturas constitutivas), Expresso, Tempo, Espao, tambm pode
ser identificada na proposta com abordagens de diferentes disciplinas enriquecendo o
aprendizado do aluno pelas conexes que se estabeleceram entre as disciplinas. Imagem
em movimento sendo analisada em sua relao com a linguagem musical e com a
linguagem visual. Conceitos musicais sendo relacionados com imagens em movimento,
ampliando as possibilidades de compreenso das estruturas das linguagens musicais e
visuais.12
Outro tipo que pode ser identificado a interdisciplinaridade por pareamento, uma
vez que disciplinas se reuniram, ora em pares ora em trios, buscando conexes possveis em
seus conceitos e estruturas especficas gerando conceitos a partir das relaes entre texto-
imagem, imagem-msica e msica-texto.13
Por fim, esta proposta interdisciplinar no se define como tal apenas pelas diversas
disciplinas que participaram da proposta, mas pelas conexes, relaes e novos conceitos
11
MENANDRO, Heloisa F. Interdisciplinaridade: superao do conhecimento fragmentado ou da
fragmentao do conhecimento? Texto apresentado em reunio com a Equipe de Professores do setor de
Projetos Especiais da Secretaria de Ensino e Professores da Unidade Engenho Novo II do Colgio Pedro II.
Rio de Janeiro, 27 e 28 de fevereiro de 1997. p.5.
12
Op. Cit. p. 6.
13
Op. Cit. p. 8.
7
incorporados s disciplinas, pois para haver interdisciplinaridade no basta sentar junto,
ou discutir junto, viver o processo junto, preciso que haja tambm um produto comum
que expresse a superao, ou a tentativa de superao das fronteiras disciplinares 14 .
Referncias bibliogrficas
14
Op. Cit. p. 2.
8
BANCAS AVALIADORAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DA
EDUCAO MUSICAL INSTRUMENTAL INFANTIL
INTRODUO
Em minha trajetria profissional, muitos momentos foram marcados por fortes
discusses entre professores de instrumento e a equipe de professoras de musicalizao
infantil. Apesar da formao mdia semelhante, isto , ambos iniciaram seus estudos por
um instrumento musical, porm, o caminho escolhido posteriormente, graduao e
formao continuada, os modelos de profissionais e autores referenciados, distingem
claramente estes dois grupos.
O primeiro embate acontece, muitas vezes, quando o professor de instrumento exige
que o aluno criana compreenda a linguagem musical rapidamente e que isto seja pr-
requisito para este aluno iniciar seu trabalho no instrumento. A equipe de musicalizao
procura significar melhor uma vivncia musical para depois conceitu-la.
Somando a esta realidade, muitos pais, em reunies bimestrais, questionam alguns
procedimentos e / ou muitas vezes, desabafam suas insatisfaes. Pontuam que seus filhos
esto perdendo o prazer e a alegria de fazer msica, questionam a presso profissional
exercida pela escola, a inadaptao da escola ao pblico infantil, etc.
H uma grande dificuldade e um longo tempo de espera para conseguir uma vaga de
instrumento e muitas vezes, a criana reprovada ou desiste do curso um ou dois semestres
depois.
Esses dados preliminares oferecidos pela realidade da educao musical em que
realizei meu processo de formao e onde venho atuando, foram impulsionadores e
estimuladores para a problematizao desta situao.
A verbalizao e reflexo sobre a prtica do instrumentista educador, frente suas
concepes, valores e crenas, conduzir a trajetria da pesquisa sobre bancas avaliadoras
como um procedimento freqentemente utilizado na educao musical instrumental
infantil.
PRESSUPOSTOS TERICOS
Em todo processo educacional musical que percorri, a presena marcante de bancas
avaliadoras de ensino, ou melhor, da aprendizagem de instrumento, sempre me intrigaram.
Observo ainda em muitas escolas, principalmente nas escolas oficiais
(profissionalizantes e graduao), a prtica das bancas avaliadoras como um instrumento
quase nico para avaliar o desempenho da aprendizagem instrumental.
A prtica constante das bancas avaliadoras deixa um nmero limitado de seis ou
sete aulas entre uma banca e outra. O contedo programtico que ser exigido nas bancas
vira objeto central das aulas, aprisionando alunos, professores e escolas a esta camisa de
fora ditada pela prtica acomodada na tradio das escolas de msica.
Esta prtica fechada na execuo do produto final pode prejudicar acentuadamente o
processo de ensino aprendizagem da educao musical, pois nestas bancas, o erro passa a
ser o enfoque central contra a construo dos acertos vivenciada pelos alunos.
por isso que transformar a experincia educativa em puro treinamento tcnico
amesquinhar o que h de fundamentalmente humano no exerccio educativo, o seu carter
formador. Freire (1999 p.37)
No exerccio do planejamento escolar, definimos objetivos, contedos e
procedimentos, muitas vezes sobre a tica do aluno hipottico para um grande nmero de
alunos.
Temos referncias de faixa etria para execuo de determinadas obras, por
exemplo. Isso se deve provavelmente a tradio de concursos de performances
instrumentais difundidos nacional e internacionalmente.
Os motivos e estmulos que levam uma criana para a escola de msica so
diversos. A inflexibilidade destes programas versus as diferentes realidades sociais,
cognitivas e afetivas das crianas estudantes de msica, me faz questionar sobre os
momentos de desprazer e comprometimento educacional que estamos ofertando.
Em Paulo Freire (1999) h uma indagao que complementa o argumento acima:
que no devo pensar apenas sobre os contedos programticos que vm
sendo expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas
mas, ao mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialgica, ou mais fechada,
autoritria, com que este ou aquele professor ensina. Freire (1999 p.101)
QUESTES DE PESQUISA
Quais concepes sobre o processo de ensino e aprendizagem de instrumento so
verbalizadas por professores que compem bancas avaliadoras na educao musical
infantil?
Qual a contribuio da reflexo sobre situaes problematizadoras para melhor
explicitao, contextualizao e possvel reformulao de tais concepes.
OBJETIVOS
Analisar concepes de professores sobre ensino, aprendizagem, avaliao, relao
professor-aluno, relao famlia-escola de msica, formas de ensino.
Analisar concepes de professores sobre: a funo das bancas avaliadoras.
METODOLOGIA PREVISTA
Pesquisa do tipo qualitativa e de carter descritivo analtica.
Entrevistas: Sero entrevistados professores de piano, violo, flauta-doce e violino que
lecionem para crianas e que utilizem as bancas avaliadoras como instrumento de
avaliao; e professores de musicalizao que so responsveis pela vivncia e
sistematizao da linguagem musical das crianas estudantes de instrumento.
As entrevistas se caracterizaro por questes abertas com exemplos provocativos
para resultar num mapeamento das concepes destes professores.
Numa segunda etapa, faremos uma anlise destas concepes, juntamente com os
professores envolvidos, frente a textos problematizadores sobre educao musical infantil.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Autores como C. Luckesi, P. Freire, C. Vasconcellos, V. Gainza e H. Koellreuter
referenciaram inicialmente esta problemtica.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, dividirei a seguir quatro grupos de
focos/conceitos que sero aprofundados com base nos seguintes autores e / ou obras.
Avaliao
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"BOI DE MAMO DA BARRA DO ARIRI: UM ESTUDO DE CASO" - UM
ESTUDO SOBRE A CONSTRUO E OS SENTIDOS DAS PRTICAS MUSICAIS
DO GRUPO DE BOI DE MAMO FILHOS DA TERRA
Jaqueline Rosa
INTRODUO
Esse estudo fala da importncia do Boi de Mamo para uma comunidade da grande
Florianpolis, a Barra do Ariri, e sobre como a msica e a dana se inserem nessa
brincadeira de origem popular.
Foi iniciada e erguida pelo Sr. Manoel Pereira de Mattos Jr. e continua, desde 1965,
com o Sr. Luzair Lauro Martins. Estavam em plena atividade at 1989 quando pararam.
Retornaram, mais estruturados em 1993, institucionalizando-o a nvel estadual e nacional.
Hoje contam com cerca de cinqenta participantes com idades que variam de trs a sessenta
anos.
2
1.2. Objetivos
2. FUNDAMENTAO TERICA
A questo do improviso est visvel nas msicas do grupo que retratam aspectos da
sociedade. Vnia Mller3 em um estudo sobre crianas e adolescentes em situao de rua
1
SMALL, Cristopher. Msica, sociedade, educao. Madrid: Alianza Editorial, 1989, 206 p.
2
GEERTZ, Clifford. A Interpretao das Culturas. Editora Guanabara/Koogan, Rio de Janeiro, 2000, 15 p.
3
MLLER, Vnia B. Op. Cit., 126 p.
3
em Porto Alegre, afirma que esses indivduos vem sua situao de vida refletida nas
letras das msicas, como, por exemplo, o Rap que retrata a pobreza, a misria e o
abandono.
Small coloca a msica como fator de integrao, porm acredita que essa funo da
msica em relao sociedade e ao homem foi desvirtuada no mundo Ocidental. Ele
considera que a msica comeou a ser distorcida a partir do sculo XV, quando perdeu-se o
sentimento e ela passou a ser mais ligada viso cientfica do mundo. Ou seja, quando a
perfeio da tcnica e a habilidade fsico-motora4 comeou a ser mais valorizada do que
o significado da msica5 a partir do momento em que ela comeou a ser fragmentada em
conceitos.
O Sr. Luzair definiu o papel da msica da seguinte forma: um Boi sem msica ele
no se torna um Boi de Mamo. Ele vai ser mais uma Farra de Boi. Tambm pra animar.
No nosso Boi, se baseia tudo sobre a msica7 . E sobre improviso: quando a gente vai
tocar um Boi de Mamo que o pblico participa, a brincadeira fica mais...assim...d at
mais inspirao pra gente que t tirando verso8 .
4
SMALL, Christopher. Op. Cit., 61 p.
5
SMALL, Cristopher. Op. Cit., 61 p.
6
MULLER, Vnia B. Op. Cit., 140 p.
7
Sr. Luzair. Entrevista pesquisadora Jaqueline realizada no dia 12 jun.02.
8
Sr. Luzair. idem.
4
Existem vrias verses para a origem do Boi de Mamo. Para o Sr. Luzair, essa
questo tambm indefinida: (...) nem a gente que brinca com ele, at hoje no se
concretizou uma definio certa de como ele , de como ele surgiu... tem vrias verses. E
Coelho: No existe nenhum boi igual ao outro, esta que a maravilha do Boi de
Mamo12 .
9
GONALVES, Reonaldo M. op. Cit., 25 p.
10
GONALVES, Reonaldo M. op. Cit., 30 p.
11
COELHO, Gelcy (Peninha). Histrico do Boi de Mamo. Palestra. Casa de Cultura , So Jos 21.abr. 02.
12 COELHO, Gelcy. Idem.
5
3. METODOLOGIA
Outro meio de coletar dados, foi a participao em um curso sobre o boi de mamo,
com intuito de aprender o processo de montagem de um boi, desde a confeco dos bichos
e personagens, em papel mach, at a aprendizagem do enredo, das msicas e uma anlise
das possveis origens de folguedo.
Foram escolhidos dois integrantes, o casal responsvel pelo grupo, Sr. Luzair e D.
Rita, por serem os que esto a mais tempo no grupo, e por conhecerem profundamente
todos os aspectos deste. Sendo o primeiro a principal fonte de informao, pois
responsvel pela construo e criao de todas as personagens, composio das msicas e
puxador da cantoria, realizando as improvisaes.
A seleo dos entrevistados foi realizada com base em trs critrios: (1) o interesse
e disponibilidade em participar da pesquisa; (2) estar atuando no grupo; (3) fazer parte do
grupo h, no mnimo, dois anos ou conhecer, na prtica, os aspectos que envolvem o grupo
e o ritual.
3.1. Reflexes
Um outro enfoque, foi a observao do trabalho nos bastidores, realizado pelos pais
dos integrantes do grupo. Essas pessoas ajudam a organizar a entrada e sada dos bichos, a
colocao e retirada das roupas e armaes de fibra, e so responsveis pelo transporte e
devoluo de todo material para o nibus. Alguns deles, quando falta gente, se preciso,
tambm danam. O figurino, muito bem elaborado e ricamente enfeitado, sempre com
muito brilho, e todos os outros acessrios, so confeccionado por D. Rita.
13
TRIVIOS, Augusto N. S. Introduo Pesquisa em Cincias Sociais. So Paulo: Atlas, 1994, 133-134 p.
7
4. CONSIDERAES FINAIS
Comparando-se a teoria, atravs dos autores consultados, com a prtica, por meio da
observao, pode-se refletir sobre a conexo proporcionada durante a performance do
grupo: todos so envolvidos, tanto quem atua como quem assiste. Quando perguntado sobre
a interao entre danarinos e pblico, o Sr. Luzair respondeu que: quando a gente vai
tocar um Boi de Mamo pra um pblico que no aplaude, que no brinca junto...Tudo que
aplaudido, tudo que o pblico brinca junto...ele se torna mais...tu sabe, muito importante e
tambm a nossa parte. Saber tambm se comunicar com o pblico. Pro pblico poder
entender. Vai muito dos dois.14 . Dessa forma entende-se performance como um conceito
tanto cnico como musical, sendo a reunio de pessoas conectadas por um objetivo comum.
Vrios so os focos de conexo. Um deles a estrutura das msicas onde existe uma
dinmica de responsrio, onde o puxador, uma espcie de mestre de cerimnia, improvisa
versos em contraponto ao coro que sempre lhe responde aps cada verso. Outro foco o
risco presente no improviso, despertando a ateno das pessoas que assistem.
8
bumba-meu-boi
Boi de Mamo
Hoje aqui no Rio Tavares
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
14
Sr. Luzair. idem.
9
1
dos primeiros mtodos que realmente conduz para a prtica da
performance. Finalmente a noo de que o jazz no pode ser
ensinado tem sido resolvida com um golpe final.1
1
In the past tem years a number of jazz players / composers / teoreticians have turned their heads to the
codification of jazz improvisational pratices. The result has been a number of fine books on jazz
improvisation, including Jerry Cokers Improvising Jazz, the John Mehegan series, and Jamey
Aebersolds series A New Approach to Jazz Improvisation, as well as my own Jazz Improvisation. In
addition to these and others, there is George Russels excellent tome The Lydian Cromatic Concept of
Tonal Organization for Improvisation, which is one of the first theory methods which actually leads to
performance practices. Finally the notion that jazz cant be taught has been dealt a death blow.
BAKER, David. Jazz Pedagogy. USA: Alfred Publications, 1989 p. 1.
2
importncia do estudo voltado para o aspecto criativo, ao estimular o estudante a tocar
as notas da escala, nos mais variados arranjos e de tal maneira que no soem mais como
uma escala e sim como motivos ou linhas meldicas.
Diante disso que o presente trabalho tenciona oferecer, alm de exerccios que
apontam para o domnio tcnico, uma orientao que demonstra o uso criativo do
material sonoro na improvisao.
Ainda que alguns autores tenham realizado tentativas para superar essa
limitao, o que pode ser comprovado em algumas publicaes estrangeiras, nota-se
que no Brasil existe uma carncia crnica de literatura para o ensino da msica popular
de um modo geral.
2
Estudo baseado na representao diagramtica do brao do instrumento, usada na maioria dos livros e
mtodos que abordam o tema das escalas e modos.
3
Portanto, como docente do Curso Tcnico Profissionalizante de Guitarra Eltrica
da Escola de Msica da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), vi-me
motivado a desenvolver exerccios complementares, visando a aplicao das tcnicas
comumente abordadas, de maneira musical e mais articulada.
A partir de ento, entendi que seria plausvel enriquecer a proposta com o uso de
outros elementos meldicos, ampliando-a para outras regies modais e definindo um
mtodo especfico baseado no estudo diagramtico.
4
De acordo com C. M. Charles (1988, p. 131 145), este mtodo de pesquisa
aplicada est voltado para o desenvolvimento de novos produtos e procedimentos,
testando sua eficcia e produzindo novos materiais e melhores alternativas para o ensino
e o aprendizado.
3
Research and development is used to develop new processes or products and test their effectiveness in
the educational setting. It is the most widely used type of educational research, supported by millions of
dollars of federal and private grant money each year. Teachers also do research and development more
than any other type of research; many do it routinely on a informal basis, as they develop new materials
and activities and test them in their classes. CHARLES, C. M. Introduction to Educational Research.
NY. USA: Logman, 1988, p. 144.
5
sendo naturalmente organizados, mediante a experincia gradual, adquirida sobretudo
na aplicao prtica a grupos de estudantes.
Mesmo assim, todo esforo est voltado para oferecer uma contribuio real aos
estudantes de guitarra e, obviamente, enriquecer a produo literria to restrita no
cenrio nacional.
2. CONSIDERAES FINAIS
6
Para a testagem e aplicao do mtodo, foram selecionados seis alunos
matriculados no curso Tcnico Profissionalizante de Guitarra da Escola de Msica da
Universidade Federal do Rio Grande do norte (UFRN), visto que, para a disponibilidade
do momento, eram os nicos detentores de conhecimentos tericos e habilidades
tcnicas necessrias ao fim pretendido.
7
O empenho e os resultados obtidos, tanto no mtodo quanto no processo de
desenvolvimento da pesquisa, foram positivos, e apontam para uma maneira
diferenciada de abordagem em face do estudo diagramtico da Guitarra.
Portanto, compreendendo que no Brasil a produo literria nessa rea bastante
reduzida, vislumbra-se que o presente trabalho venha a contribuir de forma significativa
para o ensino-aprendizado desse instrumento, lanando dentro do tema proposto, a
semente de futuros desdobramentos.
3. BIBLIOGRAFIA
8
ROBERTS, Howard e HAGBERG, Garry. Guitar compendium. Germany: Advance Music,
1989.
SMITH, Dave. Method of Jazz improvisation with theoretical explanation for guitar.
USA: Columbia Pictures Publications, 1986.
9
ENSINO ELEMENTAR EM GRUPO DE INSTRUMENTOS DE SOPRO: O
EFEITO DAS ESTRUTURAS DE ENSINO COM MODELO MUSICAL AO VIVO
Joel Barbosa
Objetivo e Hiptese
Este estudo investiga os efeitos de Estruturas de Ensino com Modelo Musical ao
Vivo (EEMMV) em relao execuo musical em um programa de ensino elementar em
grupo de instrumentos de banda (sopro e percusso). Ele visa analisar se o uso de EEMMV
pode promover um desenvolvimento significativo na execuo instrumental do aluno
quando utilizada junto ao conjunto de atividades de ensino do mtodo Concerto, Mtodo
Elementar para o Ensino Coletivo e/ou Individual de Instrumentos de Sopro e Percusso.
(Barbosa 1984) Ele investiga a seguinte hiptese:
Ho: No existe diferena entre o uso ou no de EEMMV na sua aplicao junto ao
mtodo Concerto, no contexto de ensino em grupo, considerando afinao, andamento,
articulao, dinmica, formato de notas e fraseado.
Fundamentao Terica
Segundo Casey (1993, 171), a palavra Modelagem descreve uma tcnica de ensino
pela qual o professor mostra exemplos do que o aluno est para aprender. O professor
comea demonstrando um exemplo o mais perfeito que ele possa, enquanto o aluno ouve,
v e, em seguida, tenta duplicar o que o professor mostrou. O termo Estrutura de Ensino
est sendo utilizado neste estudo conforme a definio de Oliveira: conjuntos de
atividades autnomas ou fenmenos solidrios internos (1996, 38). No caso de EEMMV,
o exemplo tocado, ou executado, ao vivo por um msico em um instrumento.
Os ltimos estudos apontam dvidas quanto ao emprego de EEMM para o
desenvolvimento de habilidades de execuo instrumental com alunos iniciantes. H
discordncias entre os resultados dos experimentos realizados com EEMM em relao a sua
aplicabilidade para o desenvolvimento dessas habilidades. Embora os estudos de Hodges
(1975), Anderson (1981), Kendal (1988) e Delzell (1989) apresentam resultados
significativos quanto ao uso de EEMM para o desenvolvimento das habilidades de
discriminao musical, demonstram valores insignificantes para o desenvolvimento da
habilidade de execuo instrumental com alunos iniciantes. Porm, as pesquisas
conduzidas por Sperti (1970), Puopolo (1970), Folts (1973), Rosenthal (1984) e Sang
(1987) sugerem que sua aplicao pode melhorar esta habilidade de execuo com estes
estudantes.
Metodologia
2
As etapas foram classificadas em dois formatos: um com atividades de EEMMV
(Formato A) e outro sem (Formato B). As etapas I e III pertenceram ao Formato A,
incluindo EEMMV, enquanto que as outras duas ao formato B . O mesmo professor
ministrou as aulas de todas etapas, sendo os mesmos sujeitos em todas elas. Nos dois
formatos de etapas, A e B, a atividade e o contedo de ensino eram os mesmos: o
mtodo Concerto trabalhado de maneira seqencial e msicas que estavam dentro do nvel
do mtodo. Porm, o Formato A inclua a atividade de EEMMV nos ltimos cinco
minutos das aulas, sendo que era o prprio professor quem tocava ao vivo. Ele tocava
trompete. As melodias usadas para esta atividade eram do prprio mtodo. Na Etapa I
trabalhou-se na atividade de EEMMV as msicas Frei Joo e Cachorrinho, e na Etapa III
Frei Joo e A Trompa de Caa. Nas etapas que no incluram EEMMV, etapas II e IV,
alm de Frei Joo, trabalhou-se nas atividades de ensino normais do mtodo Concerto
Atirei o Pau no Gato na segunda etapa e Laudate, Pueri, Dominus na quarta.
Realizaram-se cinco testes durante o experimento; entre os quais foram ministradas
as etapas de aulas. Cada um deles consistia em tocar duas melodias que eram registradas
em vdeo. Durante o teste, cada aluno tocava, individualmente, apenas perante o professor
e o encarregado das filmagens. Os testes foram realizados fora do tempo normal de aula. Os
testes 1, 3 e 5 referiam-se ao aprendizado sem o uso de EEMMV, e os testes 2 e 4 ao ensino
que inclua EEMMV, pertencente as etapas I e III, respectivamente. O primeiro teste
precedeu a primeira etapa e incluiu as msicas Frei Joo, que foi utilizada em todos os
testes, e Cachorrinho. Ele foi realizado para poder ser considerado, junto aos valores gerais
correspondentes s Etapas sem atividades de EEMMV, como os sujeitos tocavam estas
duas melodias antes do experimento. Estas melodias j estavam sendo trabalhadas por eles
no curso de banda, onde era usado o mesmo mtodo de ensino com o mesmo professor do
experimento, porm sem o auxlio de EEMMV. O segundo teste foi realizado aps a
primeira etapa de aulas e utilizou-se das mesmas melodias. Os testes seguintes foram
realizados aps cada etapa e incluram, alm de Frei Joo, as seguintes msicas: Atirei o
Pau no Gato no terceiro, A Trompa de Caa no quarto e Laudate, Pueri, Dominus no
quinto. A fim de facilitar a referncia a essas melodias, dividiremo-las em dois grupos: o
Grupo 1 (G1), possuindo apenas Frei Joo, e o Grupo 2 (G2), contendo as outras.
3
Os testes, gravados em vdeo, foram analisados por cinco juzes independentes,
sendo eles instrumentistas de sopro e regentes em plena atividade profissional. Eles
verificaram as habilidades de execuo instrumental atravs de seis variveis: Afinao,
Andamento, Articulao, Dinmica, Formato de Notas e Fraseado. A varivel Formato de
Notas considerou o tipo de ataque, a sustentao e a finalizao da nota. Eles tiveram
acesso as partituras utilizadas pelos sujeitos antes de analisar os testes. Deram notas de
valores de 1 a 5 para cada sujeito em cada msica e em cada varivel.
Por se tratar de amostras relacionadas, um mesmo grupo submetido a dois
tratamentos diferentes, onde cada sujeito funciona como seu prprio controle, os dados
coletados foram analisados pela prova t de Wilcoxon. Esta prova considera no s o
sentido da diferena entre os valores obtidos para cada par de valores observados, mas o
valor das diferenas.
Resultados
O grupo de melodias G1, composto apenas pela melodia Frei Joo, que a nica
msica trabalhada em todas etapas e testes, teve seus resultados analisados separadamente
para verificar se apresentaria resultados diferentes das melodias do G2.
4
Finalmente, quanto ao Fraseado, os valores foram T=5,5 para o G1 e T=7,0 para o G2, no
a rejeitando tambm.
Concluso
Referncias Bibliogrficas
5
HODGES, Donald A. The Effects of Aural Recorded Model on the Performance
Achievement of Students in Beginning Band Classes. Journal of Band Research, pp. 30-34,
1975.
KENDALL, Michael J. Two Instructional Approaches to the Development of Aural and
Instrumental Performance Skills. Journal of Research in Music Education, N. 36, pp.205-
219, 1988.
OLIVEIRA, Alda. Educao Musical: uma Perspectiva Estruturalista. Revista OPUS, N. 3,
pp. 36-48, 1991.
PUOPOLO, V. The Development and Experimental Application of Self Instruction and
Practice Materials for the Beginning Instrumentalist. Journal of Research in Music
Education, N. 19, pp. 342 349, 1970.
ROSENTHAL, Roseane K. The Relative Effects of Guided Model, Model Only, Guide
Only, and Practice Only Treatments on the Accuracy of Advanced Instrumentalists Musical
Performance. Journal of Research in Music Education, N. 32, pp.250-257, 1984.
SANG, Richard C. A Study of the Relationship Between Instrumental Music Teachers
Modeling Skills and Pupils Performance Behaviors. Bulletin of the Council for Research in
Music Education, N. 19, pp. 155-259, 1987.
SIEGEL, Sidney. Estatstica No-paramtrica: para as cincias do comportamento. So
Paulo: Editora McGraw-Hill do Brasil, 1979.
SPERTI, J. Adaptation of Certain Aspects of the Suzuki Method to the Teaching of
Clarinet: An Experimental Investigation Testing the Comparative Effectiveness of two
Different Pedagogical Methodologies. Tese de doutorado, New York University, 1970.
ZURCHER, W. The Effect of Model-Supportive Practice on Beginning Brass
Instrumentalists. MADSEN, C. K. e MADSEN, C. H. (Eds). In Research in Music
Behavior. New York: Teachers College Press, pp. 131-138, 1975.
6
LICENCIATURA EM MSICA E PRTICAS DE ATUAO MUSICAL: UMA
PERSPECTIVA DE DILOGO E INVESTIGAO PARA A FORMAO
UNIVERSITRIA
A proposta da disciplina
Antes de relatar o trabalho com os estudantes, convm apresentar alguns pontos
que caracterizam o programa da disciplina PROM, comeando pela discusso sobre seus
parmetros mais recentes. A disciplina tem ocupado, desde o incio dos anos 1980, uma
posio de destaque na grade curricular do curso de Licenciatura em Msica da UNIRIO,
distribuindo-se por trs dos oito perodos previstos para o total do curso. Com os ttulos
de PROM I, II e III, vem sendo alternadamente lecionada por uma equipe de docentes do
Departamento de Educao Musical (D.E.M.), com a contribuio de estagirios-
docentes do programa de ps-graduao em msica (P.P.G.M.) da mesma universidade.
Entre o segundo semestre de 2001 e o primeiro de 2002, a professora responsvel
pela disciplina, Dra. Regina Mrcia Simo Santos, convocou uma srie de reunies com a
equipe de docentes e estagirios, com o objetivo de discutir e redefinir parmetros para a
estruturao terica e para a prtica docente de PROM. Ao fim desse processo, a equipe
decidiu em favor de algumas mudanas, e tambm confirmaram-se tendncias que
vinham sendo propostas na atividade dos professores. Entre os pontos dessa discusso,
que resultou em novo programa de disciplina, destaco aquele que se relaciona
diretamente com o presente comunicado. Ele poderia ser resumido assim:
2
Essa perspectiva tem ligaes bvias com a filosofia educacional de Paulo Freire
e, em particular, com a relevncia que ele atribuiu ao dilogo entre professor e estudantes
(v. sobretudo Freire, 1996 [1970]). Como que parafraseando Freire, no contexto da
formao de professores de msica, poderamos dizer o seguinte: se o professor presume
que o estudante nada sabe de prtica educacional, ele discorre sobre autores consagrados
e ensina mtodos de educao musical. Mas, se ele inicia um dilogo com o aluno, pode
descobrir que este j ensina msica ou organiza atividades musicais, de alguma forma.
Investigando mais, descobre que, assim como os prprios estilos da moda, algumas
prticas sociais de msica (incluindo prticas de ensino e outras formas de trabalho
comunitrio) so muito recentes, e podem ainda no estar registradas na literatura
acadmica. Diante desse quadro, o professor interessado na produo do conhecimento
por meio do dilogo, poder investigar, junto com o aluno, essas novas formas de atuao
musical. Apresentando a contribuio de outras experincias e teorias, o professor pode
enriquecer a investigao sobre a experincia de trabalho do estudante, com novos dados
e perspectivas.
Essa produo conjunta de conhecimento traduz-se em uma crtica informada pela
observao de dados concretos, analisados por mais de um ponto de vista, e alm disso
pode traduzir-se na concepo de metodologias adequadas a novas situaes. Pois, se
adotarmos um parmetro que prev a criao como atividade central na educao (v.
Rocha 1993) incluindo-se obviamente a educao superior e a formao de educadores
, entenderemos que conceber programas de musicalizao, com referncia no estudo
terico e na observao de prticas musicais e prticas pedaggicas, pode passar a ser
atividade curricular relevante, para os estudantes de licenciatura.
Consideraes finais
7
Referncias bibliogrficas
GREEN, Lucy. How Popular Musicians Learn A Way Ahead for Music Education.
Aldershot, Ashgate, 2001.
1. Introduo
2. O Projeto INVENTE
1
Tcnica, Execuo, Composio, Literatura e Apreciao.
especial a msica(WebFlauta). A figura 4.3 mostra a tela inicial do
INVENTE.
5. Cenrio de Implementao
A tela principal do WebFlauta foi criada com uma interface grfica que
possibilita um alto grau de interao com o usurio. Contem seis Guias. Cada representa
uma atividade. Essas guias possibilitam aos alunos escolher o que se deseja estudar. Ao
abrir o programa, a tela inicial apresentada a do Mdulo Apreciao. Cada mdulo
ser especificado abaixo. A figura 5.1. mostra a tela inicial do WebFlauta.
Figura 5.1. Tela principal do WebFlauta
6. Concluso
Neste artigo, foram conceituadas as concepes e parmetros da Educao
Musical, indispensveis produo de um software educativo musical, de qualidade.
Apresentaram-se as principais caractersticas do WebFlauta, uma ferramenta que ensina
flauta doce a distncia, incorporado ao projeto INVENTE. Espera-se que este trabalho
possa contribuir para a elaborao de outros sistemas e ensine msica com concepes e
parmetros adequados ao desenvolvimento musical.
7. Referncias bibliogrficas
LIMA, Jos Maximiano Arruda Ximenes de. WebFlauta- Uma Aplicao EAD para
o ensino da Flauta doce. Dissertao de Mestrado( Mestrado em Cincia da
Computao) - Universidade Estadual do Cear/ Centro Federal de Educao
Tecnolgica do Cear,Fortaleza, 2002.
Introduo
1
musicais e para a gravao de um compact disk (cd). Este projeto envolvia vrias
atividades educacionais, que foram: Reforo Escolar (hoje Setor de Atividades Ludo
Pedaggicas), Dana, Grupo de Flauta, Capoeira, Grupo de Rap, Esporte, Bijuteria,
Velas, Estamparia e a formao de uma Banda Musical, com: bateria, tubadoras,
guitarra, contra-baixo, teclado e microfones.
A idia inicial foi formar uma banda musical para fazer apresentaes nos
eventos culturais da entidade e em outras possveis localidades, alm de promover uma
iniciao ao estudo musical para os estudantes envolvidos. O detalhe deste projeto,
que ficou determinado em sua proposta (elaborada pela coordenao da CPD), que
haveria a gravao de um cd aps um ano de atividades.
Uma turma se formou em Agosto de 2000, mas no havia ainda os instrumentos
musicais para que as atividades se desenvolvessem. Comecei ento as aulas tericas,
com noes bsicas dos elementos musicais. Somente em Dezembro do mesmo ano,
contando com o patrocnio da Unicef, os instrumentos musicais foram adquiridos.
No incio eram seis alunos, houve algumas desistncias e mudanas, sendo que
ao trmino do perodo havia o grupo do turno da manh formado por sete indivduos,
que formaram uma banda chamada A Porta Bate S, e o grupo do turno da tarde,
tambm com sete alunos, cuja banda se chama Abalando a Estrutura. Ambos os
nomes foram colocados pelos integrantes, e as bandas eram compostas por um
guitarrista, um baixista, um baterista, um percussionista, um tecladista e dois vocalistas,
totalizando quatorze estudantes.
2
que, ao contrrio do ensino tradicional de msica, partem da vivncia musical do aluno
para chegar ao conhecimento terico, valorizando tambm sua expresso pessoal.
Como o objetivo era a formao de um conjunto musical, o estudo foi e continua
sendo sempre direcionado para a prtica instrumental, fazendo desta um meio para se
chegar ao conhecimento terico musical, sua linguagem e estruturao.
H uma constante sondagem sobre que msicas trabalhar em sala de aula, e os
alunos so regularmente solicitados a levarem exemplos musicais familiares, que eles
esto acostumados a ouvir no cotidiano. A partir de anlises destas msicas, observa-se
primeiramente o grau de dificuldade de execuo da mesma, destaca-se tambm a
relao com contedos bsicos da linguagem musical. Esta uma fase do estudo, que
podemos chamar de releitura ou reapropriao de msicas j existentes, e visa
incentivar os alunos nos seus primeiros passos do estudo musical, uma vez que os
mesmos mostram-se empolgados ao executar msicas de seus conjuntos favoritos,
consagrados no meio artstico. H de se convir, no entanto, que vrias msicas que os
alunos gostam exigem uma certa competncia para que sejam executadas, e s vezes
preciso descartar algumas sugestes. Sendo assim, esta prtica menos estimulada do
que a criao.
3
marcado pela palma da mo, mais tarde, contando os tempos do compasso, at a
identificao das slabas que recaem sobre o primeiro tempo do compasso, ou seja, o
tempo forte que caracteriza o acento mtrico.
Com esta viso, surgiu a primeira msica da banda, com uma letra construda
coletivamente, falando dos problemas sociais e ambientais acerca do grande depsito de
lixo, de como ele afeta a qualidade de vida da populao, e por que no h uma poltica
de educao ambiental na cidade, bem como atividades de reciclagem de materiais.
Os arranjos dos instrumentos foram construdos sobre exerccios simples, sobre
uma seqncia dos acordes de I, IV, I, V, IV e I, sendo em mi maior (E, A, E, B, A, E).
Assim, ao mesmo tempo em que o aluno exerce uma prtica direta, ele comea a ter
noes bsicas, ou ainda, se prepara para um estudo futuro de harmonia.
Atravs da letra da msica foi feito um exerccio de percepo, onde depois do
vocalista j saber pelo menos mais ou menos como ia cantar, e mostrar a toda a turma,
esta ficava marcando o tempo da msica e identificava qual slaba (ou silncio entre as
palavras) recaia sobre o primeiro tempo de cada compasso. Este exerccio mostrou bons
resultados para o entendimento do acento mtrico.
Mas a reflexo da realidade vivida pelos alunos no cotidiano pode no ser
exatamente o contedo de interesse maior deles. que, cansados de viverem e verem
um contexto social to desfavorvel, eles preferem pensar e por que no dizer sonhar,
numa outra realidade, uma com certeza bem melhor do que a atual. Numa segunda
composio prpria da turma, um dos vocalistas trouxe uma letra quase pronta, que fala
sobre diverso, viagens para diferentes lugares, mudanas, etc. Nela pode-se observar
uma manifestao inconsciente ou no -, como um ideal de mudana da realidade para
um mundo melhor, sem tantas desigualdades sociais existentes.
Para o estudo dos exerccios prticos e tericos, as aulas com duas horas de
durao, tm sido divididas em duas partes iguais: a primeira para exerccios
individuais, onde a turma separada em duas salas - numa ficam os instrumentos de
percusso, noutra os meldicos e harmnicos -, e a segunda para esclarecimento de
contedos tericos e para a prtica instrumental coletiva, ou seja, ensaios.
Em cinco meses de trabalho e estudo, o grupo tem um repertrio de quatro
msicas, sendo duas de outras bandas, e duas de autoria prpria. A formao deste
repertrio acarretar em apresentaes dentro e fora da Casa Pequeno Davi.
4
Para que se alcance os resultados almejados preciso, no entanto, uma prtica
instrumental mais constante do que apenas duas vezes na semana, j que os alunos no
dispem de instrumentos musicais prprios. Isto ajudaria no processo de progresso dos
exerccios prticos principalmente, favorecendo a execuo e construo de diversas
msicas. Neste sentido, foi sugerido que os alunos assinassem um termo de
responsabilidade sobre os instrumentos, para que num horrio extra eles pudessem
freqentar a sala de ensaios para praticarem e desenvolverem suas idias.
J foram trabalhados contedos de iniciao linguagem e estruturao
musical, teorias, notao musical, etc, visando oferecer ao aluno diferentes perspectivas
para o aprofundamento de seus estudos musicais, seja numa escola formal
especializada, seja num futuro vestibular, ou mesmo na prtica artstica em bares e
diversos outros lugares, favorecendo assim um possvel exerccio profissional.
Concluso
Referncias bibliogrficas:
5
PENNA, Maura. Contribuies para uma reviso das noes de Arte como linguagem e
como comunicao. Caderno de Textos do CCHLA. N 15, p. 65-78 (publicao
UFPB/CCHLA). 1998.
________ . Reavaliaes e buscas em musicalizao. So Paulo: Loyola, 1990.
________ . Ensino de msica: para alm das fronteiras do conservatrio. In:
PEREGRINO, Yara R. (coord.) Da Camiseta ao Museu: o ensino das artes na
democratizao da cultura. Joo Pessoa, Editora da UFPB, p. 129-140, 1995.
________ . Revendo Orff: Por uma reapropriao de suas contribuies. In: Som, Gesto,
Forma e Cor: Dimenses da Arte e seu Ensino. 2 ed. Belo Horizonte: Editora C/ Arte,
p. 80-108. 1996.
6
LEITURA E TEORIA MUSICAL NAS PRTICAS DE BANDAS DE ROCK
Jusamara Souza
Liane Hentschke
Adriana Bozzetto
Elisa Cunha
Resumo. O presente trabalho tem como objetivo analisar o papel da leitura e da teoria musical nas
prticas de bandas de msica de adole scentes. Este trabalho constitui-se de uma parcela do projeto
de pesquisa intitulado Articulaes de processos pedaggicos musicais em ambientes no
escolares: estudos multi-casos em Porto Alegre, RS. A metodologia escolhida foi multi-casos, com
trs bandas de msica, utilizando entrevistas semi-estruturadas e observao no-participante como
tcnicas de obteno de dados. O papel da leitura e da escrita adquire dessa forma um papel social,
na troca e aquisio de informaes entre os membros do grupo. Apesar da importncia que
atribuem escrita musical no a consagram em detrimento do tocar de ouvido, reconhecendo que
ambas as prticas se complementam.
A notao musical tem sido um contedo central nos processos formais de ensino e
aprendizagem de msica. Existe uma representao corrente na pedagogia musical de que o
saber msica significa ler e escrever msica. Como conseqncia muitas tradies
musicais que so aprendidas e transmitidas oralmente so consideradas como primitivas
ou mais simples apesar dos estudos etnomusicolgicos demonstrarem as suas
complexidades.
Essa posio em relao escrita remete s limitaes e contradies visveis nas
teorias tradicionais sobre a leitura e escrita, entre elas, a de querer tratar a ausncia da
escrita, a oralidade como inferior, algo a evoluir ou, se necessrio, a ser erradicado e
classificar indivduos que no lem como incultos, discriminando, por exemplo, as
sociedades grafas (Narasimhan, 1995, p. 197).
No caso especfico da educao musical essa supremacia da escrita sobre a
oralidade tem contribudo para que muitos desistam de aprender msica. Isso no
mnimo curioso considerando que muitas prticas musicais contemporneas entre
jovens e crianas so aprendidas oralmente, como comum na tradio da msica
popular ou na nova oralidade que os meios de comunicao apresentam.
Esta comunicao analisa a questo da leitura e escrita musical no mbito das
prticas musicais de trs bandas de rock investigadas na cidade de Porto Alegre-RS. Os
dados coletados foram analisados a partir da perspectiva da escrita como prtica
significativa (Kittay) procurando ressaltar os contrastes entre a escrita e a oralidade. Sero
destacadas as funes da notao musical e os procedimentos que so adotados pelos
integrantes das bandas para aprender a ler msica.
T: Acho que a teoria faz bastante falta pra fazer msica. No tanta falta, eu at
entendo alguma coisa de teoria, alguma coisa, sabe? Mas entendo. Mas acho que a
teoria, pro Lauro...
E: No que ela ajudaria?
T: Ajudaria pra fazer msica, pra fazer...
K: Engembrar na hora.
T: .
E: Em que sentido, saber engembrar?
K: Um solo. Esqueceu o solo...
T: Improvisar.
K: Saber, por exemplo, uma escala, sei l.
T: . Tipo, a msica em L. Eu esqueci como que o solo, ou 'ah...no vou fazer
aquele solo porque eu no gosto'. Eu pego a escala menor de f sustenido, a
pentatnica, isso a eu sei fazer. Mas o Lauro no sabe.
K: Eu tambm no.
T: Nem o Klaus.
H: Eu queria saber.
K: Ele sabe fazer, mas no sabe o que est fazendo.
2
H: , eu queria saber fazer isso. Se eu soubesse isso a, minha tcnica no baixo
seria muito melhor (Banda MM, p. 126-127).
Na bateria existem vrios tipos de tcnica que o cara usa pr compor. Essas
tcnicas que ajudam, como, por exemplo, tem um movimento de tercinas que tu
comea com a mo direita e termina com a mo esquerda, a tu fica assim: ppp
ppp p [cantando e batendo a mo na perna], e isso vai, gradativamente, indo
rpido, entendeu? A tu vai botar numa msica. E so vrias tcnicas tem
paradidle, tem tatamama, tem vrias tcnicas. O resto eu no sei, s o que eu
sei isso a, mas, tu sabendo isso da, tu aprende um monte de coisa (P.; SM, p.71).
T.: Ler, eu sei. Na manha, no tipo pegar uma partitura e sair tocando.
E.: O que tu sabes ler?
K.: Eu sei ver a bateria, as batidas eu sei ler.
E.: Uma clave de sol, tu podes decifrar aquela melodia?
T.: Consigo.
E.: Se tu pegares um songbook, esses de msica brasileira, que tm aquela pauta
com as notas, ento tu consegues tocar?
T.: que mais parte de acorde, eu no sei tanto, sabe. Acorde eu teria que olhar.
Esses trs esto aqui e fazer certo assim, botar um d em cima, eu ia botar. Ler
direto no. Ler direto, sair tocando no, mas eu sei o que significa (MM, p. 80-81).
3
faculdade ou mesmo professores de msica. O pouco que alguns integrantes
sabiam sobre a notao e teoria musical, aprenderam na escola regular ou em
cursos particulares. Mesmo tendo interesse em conhecer a notao tradicional as
experincias mal sucedidas acabaram levando- os a desistir, como relata um dos
integrantes da banda QN: Eu estava vendo um exerccio l, s que eu parei
porque no... sei l, que eu levei a srio at, isso era o ano passado, levei a srio,
a sabe como que , n, no toca em livro nem nada, s acabei levando [...] um
dia tava chovendo, eu peguei e dei o livro (G.; QN).
Ao relatar suas experincias faziam crticas, sobretudo, ao repertrio considerado
inadequado, distante de suas motivaes e interesses:
T: Tem que superar, n? um bagulho chato mais que importante. Porque todo
mundo, o cara entra no curso: eu quero tocar, quero tocar! Eu quero aprender a
tocar, no t ligando se eu t aprendendo teoria, isso a...eu quero ter uma roda de
amigos e eu quero tocar uma msica pra eles ouvirem.
H: Se tu no comeas a tocar de uma vez tu comeas a ti...
T: A tu vai ver, comea assim: ah...eu no quero tocar o cravo brigou com a rosa,
eu quero tocar msica.
K: Mas tu tens que aprender pelo Parabns a Voc. Acho que todo mundo aqui
comeou com o solinho do Parabns a Voc.
T: Eu no!
K: Com o Atirei o pau no gato?
T: No. [Cantarolando] O coz...o gatinho faz miau, o cozinho faz au au A
primeira msica no teclado. D r mi r do r mi, d r mi r d r d. (Risos) (...)
(MM, p. 84).
O trecho acima revela, portanto, uma prtica de aula de msica onde a teoria musical
abstrada de seu contedo sonoro. Ensina-se a fazer msica, sem observar uma seqncia
de procedimentos metodolgicos, esquecendo-se de que conhecimento de notas musicais
no nenhum indicativo de uma aula de msica significativa.
Kittay (1995) discute duas questes fundamentais que surgem com a prtica da
escrita. A primeira a questo da escrita descontextualizada, ou seja, no apenas se, ao
escrever, podem-se tornar explcitos todos os processos de comunicao, mas tambm se
apropriado torn-los explcitos. A segunda questo a da universalidade do efeito, o
problema de se estabelecer se todas as culturas que possuem escrita seriam cognitivamente
similares ou se, como Kittay (1995) sugere, cognitivamente inovadoras de maneiras
4
diferentes dependendo de outros aspectos culturais, como uma relativa abertura a novas
formas de comunicao e/ou aspectos fsicos dos materiais e da ortografia de investigao
(Olson/Torrance (1995, p. 11). Essas questes parecem particularmente importantes para se
discutir o confronto da escrita com a oralidade em culturas musicais populares, como as das
bandas investigadas. O trecho abaixo ilustra de uma forma exemplar esses aspectos:
T.: O que eu fazia, quando tocava assim sozinho, mais com a partitura. Eu pegava a
partitura eu via aquilo ali mi e aquilo ali r. Eu escrevia o r, grosso assim,
noutro papel. R, tracinho, mi, sem tempo, sem nada, s as notas que eram. E
quando era oitava assim eu botava mi com uma flechinha pra cima e tipo depois ia
tocando, sabe? Tocava assim.
K.: Tipo uma legenda.
5
T.: Eu no conseguia olhar e j tocar, porque pra ti localizar no violo, se no
teclado, t um mi. Mais no violo mais difcil (MM, p.81-84).
Um tipo de notao muito utilizado pelos guitarristas das bandas era o sistema da
tablatura. Nas palavras de T., integrante da banda MM, a tablatura so seis risquinhos que
no caso so as cordas do violo e vai o nmero da casa. O material didtico que utilizava
apresentava os dois sistemas: tablatura e tradicional (por partitura). O primeiro era
utilizado para a aprendizagem de guitarra enquanto que o segundo mais para o violo. J o
baterista da mesma banda, K., conseguia fazer a leitura rtmica por meio da partitura
tradicional.
C., integrante da banda QN, conseguia ler a notao tradicional e tablaturas. Afirmava
que a partitura facilita no momento e que permite fazer acompanhamento com a direita, e
tocar forte com a esquerda (QN, p. 187). Porm o sistema mais utilizado por todos,
principalmente pelos guitarristas, era as cifras dos acordes que aprendiam por diferentes
meios.
4. Breves concluses
Neste trabalho procurou-se discutir a questo da notao musical trazida por trs
bandas de adolescentes. A leitura e escrita musical foram analisadas numa perspectiva mais
abrangente das relaes entre a escrita e oralidade, onde os dois processos podem ser
considerados essencialmente equivalentes para o desempenho de funes semelhantes, que
a performance musical.
Os exemplos trazidos revelam a funo da escrita musical de preservar a msica no
tempo e no espao, tornando-se assim um instrumento til para atividades como construo
de uma tradio acumulativa e arquivada de conhecimentos musicais. O papel da leitura e
da escrita adquirem dessa forma um papel social, na troca e aquisio de informaes entre
os membros do grupo. Apesar da importncia que atribuem escrita musical no a
consagram em detrimento do tocar de ouvido, reconhecendo que ambas as prticas se
complementam.
6
Finalmente, se a aquisio da notao musical exige metodologias especficas, estas
so bastante criticadas pelos integrantes das bandas. Com isso mostra-se a necessidade de
repens-las e propor outros caminhos para o pblico jovem que mesmo com suas
experincias frustantes com as aulas de msica vivenciadas continuam gostando dela e
pensando em uma profissionalizao na rea.
Referncias Bibliogrficas
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auto-aprendizagem com adolescentes. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-
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216.
7
AN DIE FERNE GELIEBTE OP. 98 DE L. V. BEETHOVEN: A RELAO TEXTO-
MSICA E O ACOMPANHAMENTO PIANSTICO
Resumo. Este trabalho tem como objetivo verificar a relao texto-msica particularmente no
acompanhamento pianstico do ciclo de canes An die ferne Geliebte de Ludwig van
Beethoven (1816). Aps uma contextualizao histrica da obra, questes como o
desenvolvimento do Lied, os lieder de Beethoven, o poeta Alois Isidor Jeitelles e o piano da
poca, bem como as diferenas nas edies da obra utilizadas, foi necessria uma anlise do
ciclo, por meio do estudo de vrios elementos musicais texto potico, nmero dos
compassos, extenso vocal, tonalidade, forma, andamento, estrutura fraseolgica, harmonia,
ritmo, dinmica, timbre, textura que, alm de possibilitar uma definio clara das relaes
entre texto e msica, evidencia a importncia expressiva do piano nesse ciclo de canes,
viabilizando, ainda, a discusso de aspectos interpretativos do mesmo andamento,
articulao e sonoridade, ornamentao, dinmica, pedal e recursos para o cantor.
INTRODUO
1. ASPECTOS GERAIS
2. O CICLO
2
A anlise formal de cada uma das canes, separadamente, possibilitou o estudo de
elementos musicais da obra que podem ser visualizados na tabela 2 e serviu de base para
evidenciar a estreita relao existente entre texto e msica.
Aps verificar o significado do texto, observar as mudanas de andamento, subdividir
as frases, verificar a harmonia, conferir as mudanas de ritmo, dinmica, timbre e textura,
podemos afirmar que existe, sim, pictorismo ou word-painting no ciclo de canes de
Beethoven. Notamos que h uma preocupao do compositor em pintar o texto atravs da
escrita pianstica, por intermdio da riqueza da textura, da mudana de figurao rtmica, dos
procedimentos modulatrios, do andamento, da dinmica ou da articulao.
Na cano 1, por exemplo, Beethoven utilizou o recurso de variao rtmica em cada
estrofe para aludir ao significado do texto. Quando fala em separao, utiliza um ritmo
entrecortado por pausas; quando menciona ardor e excitao, h o emprego de acordes
arpejados em semicolcheia. Na quinta estrofe, o amor supera a distncia que o separa da
amada. Na msica, vemos a dinmica em forte e a alterao do andamento.
Na cano 2, na segunda estrofe, o texto remonta a um vale tranqilo, onde no h dor.
A linha vocal realiza, ento, um pedal na fundamental da dominante, deixando a melodia na
parte de piano. Na terceira estrofe, o poeta fala na ansiedade que se contrape calma
anterior. Nesse momento, utiliza a dinmica em forte e h alterao no andamento.
A terceira cano revela a exacerbao emocional do poeta. Podemos observar um
exagero de sentimentos, de splica, de desespero e de dor. O poeta no faz idia de onde
esteja a sua amada, chegando a ponto de pedir ajuda a alguns elementos da natureza. Na
msica, vemos uma complexidade de informaes no que se refere ao texto, harmonia, ao
ritmo e ao timbre. Vale destacar o carter truncado do timbre, representado pelo ritmo de
colcheia e pausa de colcheia, quebrando as palavras silabicamente e que alude s lgrimas
sem conta. Ainda, na terceira estrofe, notria a quebra brusca do padro rtmico, agora
formado por semnima no primeiro tempo e pausas de semnima no restante do compasso,
aludindo idia de parar presente no texto. A partir deste ponto, a tonalidade passa para l
bemol menor, aludindo dor do poeta em estar longe da amada.
A quarta cano est caracterizada pela leveza. Na msica, vemos um pedal de
dominante que no se resolve at metade da estrofe, o gorjeio dos pssaros aludidos nos
mordentes da parte de piano, a textura puramente acordal na linha inferior do piano, mas que
se torna menos densa com a presena de pausas intercalando esses acordes. Vemos, ainda, o
ritmo de tercinas em oitavas arpejadas que representam a idia circular do vento. Por outro
3
lado, quando o texto menciona riacho, h uma melodia em grau conjunto descendente,
aludindo ao possvel caminho percorrido pelo riacho.
A quinta cano apresenta o contraste entre a felicidade dos animais e a tristeza do
poeta. Na msica, observamos mudanas na textura, andamento, ritmo (quebra do ritmo
harmnico) quando o texto retrata a infelicidade. A textura passa de homofnica acordal
unssono, ocorrem ritardandos, o andamento adagio, a tonalidade passa para d menor.
Na sexta cano, o amante diz que as canes devem ser cantadas no mais por ele,
mas pela amada. A forma no mais estrfica e, sim, ABAC Coda, em que C o retorno ao
tema inicial do ciclo. Vemos o grande contraste entre a segunda e quarta estrofes. Na segunda,
predomina a idia de introspeco, de natureza dolente, o texto fala de fim. Na msica, h
um carter descendente da melodia, diminuendo, ritardando e um trecho homofnico que
alude idia de continuidade. Na quarta estrofe, o poeta resolve superar a distncia que o
separa da amada, h um carter de redeno ao amor. Na msica, Beethoven se supera ao
empregar o material musical da segunda parte da cano. Inicialmente, utiliza a mesma escrita
pianstica da quarta estrofe da primeira cano, a qual traz oitavas arpejadas em colcheia na
linha inferior do piano e acordes sincopados em semicolcheia intercalados com pausas de
semicolcheia, resultando em um ritmo sincopado. Na coda, h vrias repeties do trecho
cromtico, aludindo excitao e, at mesmo, loucura do amante. No trecho final, a parte de
piano realiza uma seqncia ascendente de acordes oitavados em fortssimo, cuja extenso
atinge o ponto mximo, representado pelo l bemol 5.
Estes e outros aspectos da relao texto-msica podem ser mais bem visualizados na
tabela 3.
4. ASPECTOS INTERPRETATIVOS
4
por Mazael em 1813, chegando a publicar um documento com as indicaes metronmicas de
algumas obras suas que j haviam sido publicadas. Dessa forma, as indicaes de andamento
feitas por ns se basearam mormente no entendimento do texto potico, bem como as
indicaes de andamento e carter contidas em cada pea.
conhecido que existem muitas divergncias no que concerne ornamentao da
msica de Beethoven. Para esta obra, o ponto mais preocupante na cano 5, quanto nota
que inicia o trinado da introduo. Optamos por realizar o trinado iniciando com a nota
principal da harmonia, levando em considerao as recomendaes do Ausfhrliche
theoretisch-practische Anweisung zum Piano-Forte-Spiel (1828), de Hummel.
No tocante articulao, h algumas diferenas nas diferentes edies pesquisadas.
Decidimos basear o trabalho na edio Urtext da editora G. Henle Verlag (Neuen Beethoven-
Gesamtausgabe), por ser uma nova edio crtica (1990) sob os cuidados do Beethoven-
Archiv de Bonn. Aps apreciao das diferenas entre as demais edies e a edio da Henle
Verlag, afirmamos que estas diferenas em pouco comprometem o resultado sonoro que se
deseja alcanar. Para a realizao das articulaes marcadas na partitura, recomendamos que
o pianista faa alternncia de peso e leveza do brao, alm do toque em legato.
A escrita pianstica apresenta alguns trechos, nos quais utilizada a tcnica para cravo,
em que se devia ligar as notas com os dedos. Em virtude da pouca capacidade de reverberao
e rica qualidade timbrstica dos pianos da poca, h muitos trechos onde a marcao de
pedal engloba trs, quatro e, at, cinco compassos. Nos pianos modernos, alguns ajustes
fazem-se necessrios quanto ao uso de pedal e diferenciao da dinmica. Czerny (1791-
1857), afirma que Beethoven usava muito mais pedal em sua execuo do que estava
indicado em suas partituras (Newman, 1988, p. 78). Aconselhamos que sejam respeitadas as
caractersticas do piano moderno, por exemplo, no seguindo risca as marcaes de pedal,
deixando prevalecer apenas aquelas que fazem jus ao significado do texto, quando menciona,
por exemplo, neblina e ventos.
Estas e outras sugestes de interpretao podem ser mais bem visualizadas na tabela 4.
CONCLUSO
H, ainda, muitas diretrizes que no foram abordadas no corpo deste trabalho. Entre
elas, a discusso de mrito das diferenas entre as edies do An die ferne Geliebte; o
estreitamento do material temtico de todas as canes. Este assunto foi brilhantemente
tratado no artigo Separated Lovers and Separate Motives: The Musical Message of An die
5
ferne Geliebte, de Christopher Reynolds e publicado no Beethoven Newsletter Volume 3,
Nmero 3, de 1998. Ainda, no sugerimos recursos tcnicos para o cantor, uma vez que nossa
rea de atuao o piano. Estes e outros assuntos referentes ao An die ferne Geliebte so
aventados a futuras pesquisas.
A no utilizao das sugestes interpretativas apresentadas neste trabalho uma
possibilidade. Todavia, uma das grandes preocupaes que devem ter os pianistas ao
acompanharem um lied ou um liederkreis, concentra-se na importncia do significado do
texto potico, na certeza de que o acompanhamento pianstico representa a idia contida no
texto. A responsabilidade do pianista no An die ferne Geliebte ainda maior quando se
verifica que a representao pianstica do texto no est explcita, ao contrrio, encontra-se
nas mincias, exigindo, assim, um estudo pormenorizado da obra.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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2. MUSICOGRAFIA:
BEETHOVEN, Ludwig van. Smtliche Werke. v. 12, Band II: An die ferne Geliebte in Lieder
und Gesnge mit Klavier. Ed. por Helga Lhning. Mnchen, G. Henle Verlag, 1990.
____. An die ferne Geliebte in Beethoven Smtliche Lieder (rev. von Alfred Drffel). Leipzig,
C. F. Peters, [19--?].
____. An die ferne Geliebte in Beethovens Werke. Srie 23. n. 10. GA: n. 224. Leipzig,
Breikopf & Hartel (impresso), 1851.
3. DISCOGRAFIA:
8
9
ANEXO - TABELAS
Andamento Bastante lento e Poco Allegretto Allegro Assai No to rpido, Vivace Andante con moto,
c/ expresso Assai Allegro (c/ rit). agradvel Poco adagio Cantabile.
Allegro Poco adagio e c/ muito Tempo I Molto adagio
(aumento do Tempo I sentimento Adagio Tempo I
andamento na Poco Allegretto Bem devagar e c/
ltima estrofe). expresso.
Allegro molto e con
brio.
2 1 Montanhas azuis: sonho, 2) Mudana 3 Quebra brusca: sncope. 1 e 2) Pouco 1,2 p 1,2 - s/
impossibilidade. de elaborada. 3-f alterao.
2 Vale tranqilo: vento calmo na tonalidade 3) acorde 3 Assai
rocha com uma flor e onde no h dor. Melodia dim. e allegro
3 Floresta meditativa: esttica. bordadura c/ a
ansiedade, dor profunda. 9a.
3 Palavra-chave = lgrimas 1 L 1 Ostinato semitom. Complexa Acento > 3,4,5 rit. Nos Truncado e
1 Riacho pequeno e estreito, 2 L 2 Voz em ; Marcaes ltimos versos. soluado (-
saudai-a mil vezes (exagero). 3,4,5 l Ritmo pontuado no piano e nas linha pausas de
2 Pelos vales tranqilos a (dor) retorno ao ritmo truncado vocal e do ).
meditar, pedido, splica, calma. (calma aparente). piano.
3 parar, arbustos plidos e nus,
3 c/ e pausas.
dor.
4 Ventos, suspiros, ltimos raios de 4 - alternadas.
sol. Alterao (suspiro)
5 Riacho, ondas, splica, lgrimas. 5 tercinas
EXACERBAO EMOCIONAL
6 1 Toma estas canes e canta-as Acordes em quilteras Inicia c/ 2 dim. 2 rit. Cantabile
noitinha (enfoque na amada) acorde de S. Tessitura
2 Se tudo acabar, introspeco. 2 Nota
(natureza) continuidade. mais grave
3 Mas se cantares consciente da no piano
saudade, (enfoque na amada). 4 Nota
4- Ento desaparecer a distncia que mais aguda.
nos separa (Redeno)
DOLENTE X SUPERAO
Obs.: As cores utilizadas na coluna de texto tm relao direta com os procedimentos musicais empregados.
Tabela 4 Aspectos interpretativos
3
ENCONTROS MUSICAIS COM O GRUPO DA AMIZADE: UMA
EXPERINCIA EM EDUCAO MUSICAL COM A TERCEIRA IDADE
Resumo. Este trabalho descreve uma experincia realizada com um grupo de idosos de
Porto Alegre/RS, de abril a dezembro de 2001. Esta atividade foi parte integrante da
disciplina de Prtica de Ensino I e II do Curso de Licenciatura em Msica da UFRGS. O
relato considera aspectos metodolgicos, musicais e sociais envolvidos nesta prtica. Na
metodologia destacam-se a estrutura dos encontros e as principais atividades desenvolvidas.
Nos aspectos musicais so descritos os critrios de escolha do repertrio, a influncia das
vivncias dos participantes, gnero e tema das canes. O contexto em que viviam os
participantes e outras caractersticas sociais do grupo tambm se fazem presentes neste
trabalho. Esta experincia aponta uma perspectiva de educao musical pouco conhecida: a
discusso sobre a terceira idade como um novo conceito de envelhecimento e o papel da
msica na busca da valorizao do idoso na sociedade.
Meu interesse pela terceira idade teve origem em meu convvio familiar, onde os
velhos so exemplo de vivacidade e admirao. Meu av materno viveu at os 95 anos e
sempre deixou claro que a msica e a dana eram fontes de vida. Contava que quando novo
tocava gaita nos bailes gauchescos, e por ser muito malandro seus dedos se dividiam entre os
bordes e as pernas das moas que ele gostava de beliscar quando passavam. Meu av
paterno tocava violino nas retretas que se faziam na praa da cidadezinha. Fui a nica neta a
herdar a paixo pela msica, mas o respeito pelos mais velhos, sempre foi cultivado por
todos.
Em uma ocasio, enquanto fazia o Curso de Licenciatura em Msica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, uma colega comentou sobre uma clnica geritrica que estava
procurando um professor de msica. Fui at a clnica que h alguns anos desenvolvia uma
atividade musical, basicamente atravs de canes populares brasileiras e internacionais.
Depois de observar a realidade dos idosos da clnica passei a elaborar o que chamei
de encontros musicais. Nestes foram desenvolvidas atividades como: canto, onde eu
acompanhava o grupo com violo e apreciao musical. A partir deste primeiro contato com
idosos passei a buscar na literatura acesso ao universo da Terceira Idade.
2
Em 2001, cursando a disciplina de Prtica de Ensino I e II tive a oportunidade de
realizar encontros musicais com o Grupo da Amizade, um grupo de idosos da periferia de
Porto Alegre. essa experincia que relatarei a seguir.
2- O Grupo da Amizade
3
2.1.1- Aspectos Metodolgicos
4
Alm de canes curtas optei por melodias com poucos saltos a fim de descobrir o
registro vocal predominante do grupo. Para escolher o tom das canes considerei o grande
nmero de mulheres e a influncia do envelhecimento gerando um registro mdio-grave.
Nos primeiros vocalizes percebi que o grupo no fazia a relao de que os intervalos
mudavam de altura. Por isso, exemplificava todos os exerccios para eles imitarem o que
servia de referncia para o grupo.
Pensando em aproximar os vocalizes da vivncia musical dos participantes criei
melodias como exerccios de tcnica vocal aprimorando o ritmo. Eis outra dificuldade do
grupo: sentir o pulso. Com o tempo o grupo foi aprendendo a se ouvir e a perceber suas
dificuldades. O uso de coreografias foi til na busca do pulso das canes e como atividade
fsica. Aos poucos os prprios participantes foram sugerindo movimentos.
Nos primeiros encontros sentia uma certa resistncia ao aprender msica nova
como diziam. A grande desculpa era que eram velhos demais pra decorar. Provando o
contrrio, o grupo cantou em italiano, tupi-guarani e um mantra em snscrito. Essas canes
de culturas distantes deram um outro colorido para os encontros.
3. Prtica de ensino II
5
Desenvolver o senso rtmico dos participantes; inserir no repertrio outros gneros
musicais e introduzir instrumentos feitos com sucata; eram algumas metas deste semestre.
Com chocalhos e caxixis construdos pelos participantes, executamos clulas
rtmicas. Nestas tentativas percebi que poucos tinham noo de pulso, dificultando a
execuo instrumental. Voltei a insistir na percusso corporal abandonando os instrumentos.
No repertrio poucas canes foram inseridas. Separando o grupo em naipes percebi
que a maioria no tinha conscincia da prpria voz. Passei a estimular esse aspecto atravs de
canes conhecidas.
Para acompanhar o grupo alm do violo, utilizei o cavaquinho e o teclado. Nas
primeiras tentativas com o teclado a dificuldade de sentir o pulso reapareceu, mas, foi
amenizada com a incluso de coreografias.
Em dezembro o grupo promoveu um ch beneficente. Apresentamos a pea de teatro
e algumas canes. Este evento foi um desafio para todos ns e uma oportunidade para
familiares e amigos dos participantes prestigiarem o potencial artstico destes idosos.
4. Consideraes finais
6
por outras reas, necessrio que o educador ao elaborar um programa de atividades
musicais considere a msica por ela mesma.
Para que a educao musical de idosos seja legitimada necessria a realizao de
pesquisas acerca do tema msica e terceira idade. Desse modo, a rea de educao musical
dar o suporte artstico no desenvolvimento da sociedade brasileira apontando perspectivas
no campo scio-cultural.
5- Referncias Bibliogrficas
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Journal of Music Education, n. 31, pp.25-36, 1998.
7
CONTRIBUIES DE UM PROGRAMA DE FORMAO CONTINUADA EM
EDUCAO MUSICAL PARA PROFESSORAS DAS SRIES INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL NO DESENVOLVIMENTO DESSAS PROFESSORAS
E SEUS ALUNOS
Resumo. Esse trabalho apresenta alguns resultados j alcanados por meio de uma pesquisa
que se encontra em andamento numa escola pblica da cidade de So Carlos, cujo principal
objetivo verificar que contribuies um programa de formao continuada para
professoras das sries iniciais do ensino fundamental pode trazer para o desenvolvimento
dessas professoras e seus alunos.
I- OBJETIVOS DA INVESTIGAO
A Educao Musical, criada pela LDB de 1961, incorpora nas escolas brasileiras
novos mtodos que estavam sendo disseminados na Europa, passando a msica a ser
valorizada de outras formas que no somente cantada: utilizao de jogos, instrumentos de
percusso, rodas e brincadeiras por meio dos quais buscava-se desenvolvimento rtmico,
auditivo, expresso corporal e a socializao das crianas. Atravs da LDB, de 1971, a
arte passa a ser incorporada ao currculo escolar com o ttulo de Educao Artstica, sendo
extinta a Educao Musical.
Atualmente, temos em vigor os Parmetros Curriculares Nacionais, poltica pblica
que visa resgatar, entre outros objetivos, um ensino de artes mais abrangente nas escolas,
dinamizando o contato com a Arte no Ensino Fundamental, incentivando a vivncia do
aluno em suas diversas modalidades (Artes Visuais, Dana, Msica e Teatro) de modo
que cada modalidade possa ser desenvolvida e aprofundada (PCN/Artes, 1997:74).
As sugestes apresentadas pelos PCN de Artes so relevantes, porm os professores
continuam tendo que dar contar de trabalhar vrias modalidades no Ensino de Artes sem
formao para isso, tal como ocorria quando vigorava a Educao Artstica. A dificuldade
encontra-se justamente no fato de que a maioria dos professores que saem dos cursos de
formao para lecionarem nas sries iniciais do Ensino Fundamental no tm essa vivncia
com a Arte.
Apesar das limitaes para a insero da msica em todas as escolas, autores em
defesa desse ideal nos do contribuies importantes, no sentido de alertar para a
importncia da msica na formao da personalidade da criana. GAINZA (1964) afirma
que as sries iniciais abrangem a poca na qual a criana absorve a maior parte do
conhecimento e realiza as experincias bsicas: o ensino musical adquire na escola
primria seu mais alto sentido educativo. A msica contribui ali, conjuntamente com as
demais matrias gerais e artsticas a modelar o esprito e a terna personalidade
infantil(Gainza, 1964: 235).
Segundo KOELLREUTTER (1998), a educao musical a ser difundida em sala de
aula deveria ser um tipo de educao no orientado para a profissionalizao de musicistas,
e sim uma educao voltada para o desenvolvimento da personalidade do jovem como um
todo, ou seja, faculdades indispensveis em qualquer rea de atuao percepo,
comunicao, concentrao, trabalho em equipe, discernimento, desembarao, auto-estima,
criatividade, senso crtico, senso de responsabilidade, memria.
Mais uma vez evidencia-se a importncia da msica enquanto elemento formador
do indivduo crtico, capaz de discernir, autnomo, criativo. Se nosso sistema de ensino
atual, como afirma LIMA (1998) ainda afasta o jovem de um ideal cultural que privilegie a
educao musical como participante direta do processo de formao da personalidade
humana cabe a ns pesquisadores e educadores redefinir tal situao, transformando a
realidade que nos cerca, mesmo que os resultados no nos venham de imediato.
IV ABORDAGEM METODOLGICA
Os dados para o presente trabalho esto sendo coletados numa escola municipal de
ensino bsico localizada na periferia da cidade de So Carlos. O primeiro contato com os
sujeitos da pesquisa se deu no dia 25 de setembro de 2001, no horrio de HTP 1 coletivo dos
professores dessa instituio, no qual foram colocados os objetivos da pesquisa. A
interveno, iniciada na semana seguinte, teve a participao de aproximadamente 16
professoras (o nmero variava). Nas reunies semanais foram desenvolvidas atividades
prticas, com nfase no desenvolvimento da percepo auditiva e rtmica, expresso
corporal, improvisao e experimentao da voz, e momentos de reflexo sobre as
sensaes vividas pelas professoras durante as mesmas, que contribuies poderiam trazer
para as crianas, lembrando que nesse primeiro momento no houve aplicao das
atividades em sala de aula devido proximidade do final do ano letivo.
O segundo momento da coleta de dados, iniciada em fevereiro de 2002, conta com a
participao de 4 professoras: Elsa (1a srie), Ins (2a srie), Mrcia (2a srie) e Luciana (4a
srie), sendo que a diretora da instituio, sempre que possvel, tem participado. A cada
encontro h o desenvolvimento de atividades prticas, nas quais lidamos com conceitos
1
Horrio de Trabalho Pedaggico, reunio semanal, na qual as professoras preparam aulas, discutem e
refletem sobre o cotidiano da sala de aula, assistem palestras, sendo que um dos horrios destinado para
trabalhos pedaggicos individuais e outro para trabalhos pedaggicos coletivos. A presente pesquisa
desenvolve-se no HTP individual das professoras participantes.
musicais bsicos intensidade, altura, durao, andamento, timbre e por meio das quais
procuramos estimular a percepo auditiva e rtmica, a capacidade para expressar-se
corporalmente, para improvisar movimentos e sons a partir das canes, como tambm
discutimos sobre os efeitos dessas atividades sobre as crianas, o quanto tm realmente
representado um auxlio, como tm sido desenvolvidas, que tipo de alteraes as
professoras tm feito para adequar as atividades s diferentes situaes, alm de leituras de
pequenos textos sobre a msica e sua influncia na formao da criana. Os registros das
reunies tm sido feitos em fitas cassete e VHS, sendo que desde o incio da pesquisa
tambm tem se desenvolvido um trabalho de superviso junto aos alunos das professoras
participantes com a realizao de pequenas atividades musicais e registro, com auxlio da
filmadora e mquina fotogrfica, da interao das professoras com seus alunos ao
desenvolver atividades musicais, bem como a participao e envolvimento das crianas
durante as mesmas.
O que fica claro, a partir dos relatos das professoras, que se por um lado existem
dificuldades no cotidiano da sala de aula, por outro lado existem possibilidades de
superao para as mesmas e a msica tem representado um elemento importante nesse
sentido.
Ao longo dos encontros, verifica-se que a participao das professoras tm sido
cada vez mais significativas nas atividades propostas, tanto no que diz respeito expresso
corporal, ao canto, quanto proposio de maneiras para integrar tais atividades musicais
aos contedos da sala de aula e reflexes sobre a importncia da msica na vida das
criana. O contato mais prximo com a msica tem motivado as professoras a fazerem mais
sugestes durante as atividades vivenciadas e adequ-las aos objetivos a serem alcanados
no decorrer do ano letivo. Nos momentos de reflexo, as professoras tm relatado o quanto
as crianas tm apreciado as atividades desenvolvidas..
Quanto aos alunos, por meio do acompanhamento que tem sido feito das atividades
realizadas junto com as professoras, tem sido possvel observar o quanto esto realmente
apreciando e se envolvendo com a experimentao da msica atravs da voz e do prprio
corpo, cantando com maior entusiasmo, realizando movimentos com maior desenvoltura e
controle do espao fsico. O desenvolvimento da capacidade de percepo auditiva e
rtmica, de expresso corporal, de socializao entre os alunos, de improvisao j pode ser
observado nas crianas apesar do pouco tempo em que ali estamos atuando.
VI CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
LIMA, S.A. O modelo de ensino artstico musical do homem contemporneo. In: LIMA,
S.A. (org.); GAINZA, V.H. (apres.). Educadores Musicais de So Paulo: Encontro
e Reflexes. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998.
INTRODUO
1
Doutora em Educao (UNICAMP, 2000). Professora da Universidade Federal do Par e da Universidade do
Estado do Par.
2
A EXPERINCIA DESENVOLVIDA
3
dados e estrutura do relatrio final. Cada tpico explicado, discutido e redigido de acordo
com o campo de estgio escolhido considerando as expectativas peculiares a cada campo.
O aluno aplica o instrumento de coleta de dados em campo de estgio, medida
que observa aulas de msica ao longo de dois meses, com carga horria de duas horas-aula
semanais, totalizando dezesseis horas-aula de observao em campo.
Concluda a etapa de coleta de dados, os alunos retornam classe de Prtica de
Ensino para proceder ao tratamento dos dados. Esse tratamento estatstico, realizado a partir
de orientao coletiva. Aps a tabulao dos dados, feita sua anlise, interpretando
(qualitativamente) as generalizaes dos percentuais em busca de seu significado em cada
situao, em cada campo. As concluses dos relatrios tambm so elaboradas em sala de
aula, considerando a hiptese inicial das investigaes.
O relatrio final de cada aluno exposto em Jornada de Estgio, voltada
especialmente aos professores do prprio curso de Educao Artstica com habilitao em
Msica. O documento apresenta espcie de diagnstico do profissional formado pelo curso,
indicando principais problemas e dificuldades enfrentados por eles em sua preparao e
atuao. A partir da exposio dos diagnsticos so feitas sugestes para tomada de deciso
em relao realizao curricular do curso, de modo a que reflita na melhoria do preparo
daqueles alunos de Prtica nos prximos dois anos de formao.
As investigaes realizadas apontam elementos no s para o diagnstico do curso
de Educao Artstica no qual o aluno investigador se forma, mas tambm oferece subsdios
para a continuidade da Prtica de Ensino da Msica nos anos subseqentes. Assim, na Prtica
II (3 ano), quando vai elaborar sua proposta de ensino para ser executada no Estgio
Supervisionado (4 ano), aquele aluno tem como referncia os fundamentos estudados e os
resultados da investigao realizada.
A experincia da Prtica de Ensino da Msica como processo de pesquisa tem
desenvolvido a percepo da prtica docente como um fenmeno a ser descrito, analisado e
compreendido. Com esta postura em relao prtica docente observada, o aluno volta o
olhar construo de sua prpria prtica, definindo e redefinindo concepes, atitudes,
buscando ou revendo fundamentos, reavaliando a educao musical, seus espaos, seus alunos
e as possibilidades de desenvolvimento de propostas.
Ao buscar delinear sua prpria prtica, o aluno avalia seu preparo e avista suas
necessidades, criando a condio primordial da inquietao em busca de conhecimento que
precisa para sua lida futura como docente.
4
CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
5
BRITO, Ana Rosa Peixoto de. LDB: da "conciliao" possvel lei "proclamada". Belm,
Graphitte Editores, 1997.
6
BANDAS DE ROCK: QUAL REPERTRIO? COMO TOCAR? - UM
ESTUDO MULTI-CASOS COM ADOLESCENTES
Liane Hentschke
Elisa Cunha
Jusamara Souza
Adriana Bozzetto
1. INTRODUO
2. MTODO
Como o objetivo de obter informaes sobre vrios ngulos da prtica musical de
adolescentes, optou-se pelas tcnicas de observaes no-participantes e entrevistas
semi-estruturadas para a obteno dos dados de campo. A pesquisa se constituiu em 3
estudos de caso. Cada grupo musical, foi considerado uma unidade de caso.
Para tal dividimos a seleo da amostra, em duas fases. Na primeira selecionamos
escolas na cidade de Porto Alegre que ofereciam educao musical. Em um segundo
momento, realizamos contato com os professores de msica destas escolas, buscando
realizar um levantamento dos provveis grupos musicais existentes, dentre os alunos
adolescentes que estiveram expostos educao musical. Nas duas fases, utilizamos o
princpio de amostragem proposital. Neste caso selecionamos as instituies e/ou
indivduos que deveriam fazer parte da amostra, baseadas nas caractersticas desejadas
para o estudo. Entende-se por grupos musicais um conjunto de indivduos que se
renem para fazer msica em ambientes no-escolares. Neste caso, no foi delimitado o
gnero musical adotado por estes grupos.
A dinmica da coleta de dados consistiu na alternncia de observaes no-
participantes e a realizao de entrevistas semi-estruturadas, sendo que os ensaios foram
filmados e as entrevistas gravadas em fita cassete e transcritas. Nesta dinmica cada
seo de observao antecedia as entrevistas, para se evitar tendenciosidade nas
respostas dos integrantes das bandas. Alm das entrevistas e observaes, os
pesquisadores/entrevistadores bem como os bolsistas, redigiam um relatrio de cada
seo.
3. COMO E O QU ENSAIAM?
Os ensaios das bandas consistem nos momentos que os grupos se renem com
todos os seus integrantes, independente dos objetivos destes para o encontro. Ensaiar
para eles mais do que estarem reunidos para tocar. Significa tirar e aperfeioar as
msicas. Este conceito parece estar vinculado ao nvel de seriedade que atribuem ao
encontro e tambm "ao quanto" eles aprendem naquele momento. A passagem do
repertrio, ou seja, tocar o repertrio uma msica aps a outra no encarado pela
banda como ensaio.
Alm disto, o ensaio tambm est vinculado dramatizao o mais prxima
possvel dos momentos das apresentaes. Esta dramatizao consiste em agir
exatamente como ser o momento da apresentao, incluindo o acerto dos instrumentos,
a passagem de som, o modo como iro agir no palco, bem como a execuo completa
do repertrio.
A freqncia dos ensaios em geral de uma ou duas vezes por semana, sendo que
varia de acordo com a agenda do grupo e com a maior ou menor necessidade de ensaios.
Algumas bandas ensaiam todas as semanas, independente de haver ou no
apresentaes. Outros intensificam seus ensaios nos perodos em que participam de
festivais escolares ou ainda quando realizam algum show.
3.2. Repertrio
O repertrio das bandas composto por msicas do gnero pop rock, heavy metal
e no caso da Banda QN, por msicas compostas pelo prprio grupo. Percebe-se, no
entanto, que estas definies de gnero no correspondem a uma definio musicolgica
propriamente dita, mas sim partem do carter expressivo de um determinado repertrio.
O repertrio da banda QN composto por msicas do grupo Legio Urbana e
tambm de msicas compostas pela prpria banda. Por outro lado, a banda SA executa
um repertrio misto incluindo rock and roll, heavy metal, hard core at o rock clssico.
Atravs dos depoimentos foi possvel perceber que existem alguns fatores, por
vezes interligados, que determinam a escolha do repertrio. Poderamos mencionar ao
menos quatro: a) preferncia do pblico; b) influncia da mdia (aspecto comercial); c)
identidade do grupo; d) poder de deciso de quem detm conhecimento musical.
De maneira geral a preferncia do pblico determina o que o grupo vai ensaiar,
pois existe uma preocupao em executar msicas que sejam aceitas e aclamadas. Os
integrantes demonstram ter percepo do grau de aceitao e, conseqentemente,
versatilidade em mudar o repertrio.
As msicas vinculadas na mdia, principalmente no rdio, tambm exercem forte
influncia na escolha do repertrio, apesar dos grupos evitarem um repertrio
puramente comercial. No parece claro para eles o limite entre escolher um repertrio
pelo fato deste estar na moda ou por gostarem deste. Por outro lado, a banda QN
demonstra ter conscincia do grau de comercializao da msica e de que forma uma
banda deve se adequar para garantir sua sobrevivncia, revelando o ponto de conflito
que consiste na opo, ou conciliao, entre as msicas da mdia e as msicas que
correspondem identidade da banda. Mesmo havendo preferncia por uma msica
especfica, por um ou mais integrantes, existe a preocupao em adequar o repertrio ao
estilo da banda.
A busca de identidade musical do grupo se d atravs da escolha do repertrio, de
gneros musicais especficos. Alm disto o grupo possui conscincia de que, para fazer
sucesso, no basta reproduzir um repertrio e sim buscar um toque de originalidade.
Esta originalidade buscada atravs da transformao de repertrios atravs do
andamento, distoro da guitarra, mudanas de padres rtmicos, etc.
O quarto fator de influncia est relacionado ao poder de deciso de quem
detm conhecimento musical. Isto evidente principalmente na banda MM, pois
quando questionados sobre os critrios de escolha de repertrio, um dos integrantes
respondeu: quem decide quem tira as msicas, neste caso atribuindo a si mesmo esta
tarefa.
3.3. Planejamento e dinmica dos ensaios
De modo geral as bandas possuem um planejamento dos ensaios embora parea
que muitas vezes no tenham conscincia disto. Eles combinam o repertrio a ser
ensaiado, sendo que em alguns casos, um dos integrantes avisa qual a msica que est
tirando para que os demais aprendam-na. Neste caso, o planejamento e at mesmo, a
deciso quanto ao repertrio depende do lder, se ele tira as msicas ou no.
A dinmica dos ensaios varia de acordo com o objetivo daquele momento. Os
ensaios para aprender a tocar o repertrio so muito diferentes dos ensaios antes dos
shows. Geralmente quando uma das bandas est passando pela fase de aprendizagem do
repertrio o integrante que sabe a msica ensina as partes aos demais. Aos poucos todos
os instrumentos vo se juntando. Na Banda MM, por exemplo, existe um msico que
aprende sozinho a linha do baixo, os acordes da guitarra e os solos. Nos ensaios ele
ensina para cada integrante da banda. Ao juntarem todos os instrumentos, costumam
parar para fazer correes, sendo minuciosos neste aspecto.
4. CONCLUSO
Para os jovens entrevistados, a msica praticamente um elemento
indispensvel no seu meio e uma forma de comunicao fundamental. Isso traz para a
aprendizagem de msica o desenvolvimento das preferncias musicais e a formao de
determinados hbitos e comportamentos auditivos.
A prtica musical intuitiva dos jovens, evidente nas composies e na execuo
musical, ocorre tambm na apreciao musical, sendo que estas trs atividades parecem
possuir funes especficas dentro desta prtica. A forma como ensaiam e a maneira
como aprendem o repertrio revelam estas funes bem como a inter-relao existente
entre ouvir para aprender a tocar e ouvir para compor.
Os processos de aprendizagem musical na juventude revelam a importncia do
grupo (peer-group) como instncia socializadora musical que parece deslocar o
significado da escola e da famlia como mediadora. O grupo torna-se uma referncia
para a escolha do repertrio, aprimoramento tcnico e avaliao do desenvolvimento
musical. Compreender as prticas de aprendizagem musical de adolescentes fora da
escola pode ser uma base importante para se repensar o conhecimento musical adquirido
nas escolas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Resumo. Esta comunicao tem como objetivo apresentar os resultados parciais do projeto
de pesquisa Contedos de msica em livros didticos realizado nas bibliotecas de 101
escolas estaduais e municipais de Uberlndia-MG. Este projeto tem como objetivo geral
investigar e analisar a respeito do material instrucional produzido na rea de msica; e
como objetivos especficos prope realizar a catalogao e classificao de livros didticos
que abordam contedos de msica encontrados nessas bibliotecas; elaborar uma
bibliografia comentada dos ttulos; realizar uma anlise de contedo do material
catalogado, buscando salientar caractersticas deste material. Adotou-se como
procedimentos para a abordagem do material levantado e catalogado a anlise de contedo
(BARDIN, 1977; LAVILLE e DIONNE, 1999). O acervo encontrado foi classificado em
livros didticos especficos de msica, livros didticos no especficos e material didtico.
Analisou-se algumas caractersticas relacionadas ao contedos de msica abordados nos
ttulos, bem como aspectos referentes aos perodos de publicao.
1 Introduo
Este projeto iniciou-se em 1997, junto aos alunos dos cursos de graduao em
msica da Universidade Federal de Uberlndia, inclusive com a participao de bolsistas do
CNPq (1998-1999). Os alunos participaram da coleta de dados e catalogao do acervo,
que terminou no final de 2001, das bibliotecas de 101 escolas estaduais e municipais de
Uberlndia-MG.
Este projeto tem como objetivo geral investigar e analisar a respeito do material
instrucional produzido na rea de msica; e como objetivos especficos prope-se fazer a
catalogao e classificao do material encontrado na Biblioteca Municipal e nas
bibliotecas de 101 escolas estaduais e municipais de Uberlndia; elaborar a bibliografia
comentada dos ttulos; realizar uma anlise de contedo do material catalogado, buscando
salientar caractersticas desse material..
1
Este projeto teve a contribuio de 5 alunas do Curso de Educao Artstica Habilitao em Msica da
Universidade Federal de Uberlndia: Cludia Pereira Dias, Bernadete Correia Souza, Daniela Carrijo Franco,
Fernanda de Assis Oliveira e Andria Aparecida Floriano Alves.
2
Este projeto tem como justificativas a atestada carncia de dados cientficos sobre o
livro didtico de msica ou sobre aqueles que abordam contedos de msica e tambm a
ausncia de uma anlise mais detalhada do material didtico produzido no Brasil, sendo que
tal proposta pode abrir possibilidades para uma avaliao da produo nacional no que diz
respeito ao ensino de msica.
Alm disso, esta proposta, ao considerar a produo da rea como objetos culturais
que reproduzem e representam os valores da sociedade em relao sua viso de cincia,
da histria, da interpretao dos fatos e do prprio processo de transmisso do
conhecimento (OLIVEIRA, GUIMARES, BOMNY, 1984, p. 11), aponta para a
extenso do estudo que ainda est por ser feito no que se refere sua histria e suas
concepes, seja nas instituies oficiais de ensino ou nos diversos espaos onde ele tem se
delineado.
2 - Metodologia
Este projeto tem duas frentes de trabalho: uma com os alunos da graduao e o
outro relacionado anlise do material catalogado nas bibliotecas das escolas estaduais e
municipais de Uberlndia-MG.
A coleta de dados foi realizada por 5 alunas em 101 bibliotecas das escolas
estaduais e municipais de Uberlndia-MG. O material encontrado foi catalogado e
classificado, bem como foram elaborados comentrios dos contedos de cada ttulo. Os
livros didticos que foram encontrados e catalogados referem-se aos que abordam
contedos de msica. Para facilitar o seu manuseio os livros foram classificados
observando como os contedos de msica estavam organizados e abordados. Sendo assim,
o acervo foi classificado em 3 partes: livros didticos especficos de msica, que so
aqueles livros encontrados que constavam unicamente contedos de msica; livros
didticos no especficos, que so aqueles livros classificados por no possurem somente
contedo de msica, mas tambm de outras reas, sendo que abordavam msica em uma
parte ou captulo; e, por ltimo, material didtico, que so aqueles que no so
considerados livros, tais como revistas, apostilas, folhas avulsas, enciclopdias.
Para a anlise do material adotou-se os princpios da anlise de contedo difundidos
por Bardin (1977) e Laville e Dionne (1999).
3
3 - Reviso bibliogrfica
4- Resultados parciais
Grfico 1
50
40 Livros didticos
especficos
30 Livros didticos
20 no especficos
Material
10 didtico
0
Grfico 2
Dcada 10
30
Dcada 20
25 Dcada 30
20 Dcada 40
Dcada 50
15
Dcada 60
10 Dcada 70
5 Dcada 80
Dcada 90
0
Sem data
7
Grfico 3
40
Dcada 10
35 Dcada 20
30 Dcada 30
Dcada 40
25
Dcada 50
20
Dcada 60
15 Dcada 70
10 Dcada 80
Dcada 90
5
Sem data
0
Liv. Didticos Liv. Didticos no Material didtico
especficos especficos
8
5 Referncias bibliogrficas
CORRA, Rosa Lydia Teixeira. O livro escolar como fonte de pesquisa em Histria da
Educao. Cadernos Cedes, Campinas, v. 20, n. 52, nov. 2000.
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622000000300002&... (consulta em
27/09/2001).
FARIA, Nadir Soares. Livro didtico de matemtica no CBA: sua importncia para a
formao de conceitos. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao, Universidade
Federal de Uberlndia, Uberlndia, 1997.
FERRAZ, Maria Helosa Corra de Toledo; Siqueira, Idma Semeghini Prspero. Arte-
educao: vivncia, experincia ou livro didtico? So Paulo : Loyola, 1987.
FRANCO, Daniela Carrijo. O processo de musicalizao nos livros didticos "A msica
na escola primria" e "Educao musical para a pr-escola": uma anlise de contedo.
Monografia (Graduao), Departamento de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal
de Uberlndia, 1999.
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Histria do Brasil, dos anos sessenta aos dias atuais. cone, Uberlndia, v. 6, n. 1, p. 97-
116, jan-jun. 2000.
NASSIF, Luis Alberto de Lima. O conceito de cincia veiculado por materiais didticos:
uma anlise de curso de fsica do PSSC. So Paulo, 1976. Dissertao (Mestrado em
Cincias), Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1976.
PENA, Perciliana. A experimentao nos livros didticos de cincias das sries iniciais do
ensino fundamental. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao, Universidade
Federal de Uberlndia, Uberlndia, 2000.
PEREZ, Jos Roberto Rus. Lio de portugus: tradio e modernidade no livro escolar.
So Paulo: Cortez, 1991.
PRETTO, Nelson de Luca. A cincia nos livros didticos. Salvador: CED-UFBA, Editora
da UNICAMP, 1985.
SILVA, Nisiane Franklin da. Msica brasileira nos livros didticos para a escola. 2001.
(mimeog).
SOUZA, Jusamara (org). Livro de msica para escola: uma bibliografia comentada. Porto
Alegre : [s.n.], 1997.
TOURINHO, Irene (coord). Projeto de pesquisa: livros didticos para o ensino de msica:
estrutura, concepes e propostas. Boletim do NEA (Ncleo de estudos avanados em
msica), v. 3, n. 1, p. 39-49, abr. 1995.
1
Lisbeth Soares
Resumo. O trabalho aqui relatado desenvolvido na EMEBE Marly Buissa Chiedde, escola de
Educao Especial do municpio de So Bernardo do Campo, que atende deficientes mentais entre
07 e 24 anos. Estes alunos tm aulas semanais de artes, onde vivenciam diversas atividades
musicais, que envolvem desde a simples movimentao a partir de um estmulo sonoro at
realizao de jogos de improvisao e criao. Cada atividade planejada de acordo com as
caractersticas das turmas, considerando suas particularidades. Os objetivos deste trabalho,
baseado na linha construtivista e com fins educacionais, so: 1) Desenvolver a musicalidade;
Ampliar o repertrio, trabalhando com msicas de diferentes compositores, pocas e estilos;
Proporcionar o contato com instrumentos variados; Aprimorar a ateno e a concentrao. De
maneira geral este trabalho musical tem apresentado bons resultados e contribudo para confirmar a
importncia da Educao Musical no contexto da Educao Geral.
Introduo
Quando comecei a dar aulas de artes na EMEBE Marly Bussa Chiedde, escola de
Educao Especial de So Bernardo do Campo, percebi que a expectativa de todos era a de que
fossem desenvolvidas somente atividades de artes visuais. Foi fcil entender que a msica no fazia
parte do universo da Educao Artstica.
O fato que, nesta escola, assim como em outras, a msica sempre foi (e ainda ) utilizada
somente como recurso pedaggico, estando vinculada s datas comemorativas ou aos momentos da
rotina, no sendo trabalhada como linguagem e rea de conhecimento importante para o
desenvolvimento. Segundo Esther BEYER (1993, pp. 16), no se ensina a operar sobre os
processos musicais, ou seja, a agir e a transformar sons em uma frase musical, a dar significados
msica (...). Isto porque, para muitos professores, a Educao Musical responsabilidade das
escolas especializadas. Os Referenciais Curriculares para a Educao Infantil (BRASIL, 1998) e os
Parmetros Curriculares Nacionais (idem, 1997) esto contribuindo, junto com outros documentos,
para o esclarecimento e o estudo desta questo.
As aulas de artes (semanais) esto inseridas na rotina cuja carga de cinco horas dirias de
trabalho. A proposta das aulas trabalhar com a integrao das diferentes linguagens artsticas
visando, entre outras coisas, proporcionar o contato com diferentes produes e desenvolver o
potencial criativo. A inteno tambm fazer da aula um momento prazeroso, onde os alunos
2
tenham a possibilidade de trabalhar em grupo e respeitar as diferenas. Em uma escola onde muitos
tm um histrico de frustraes escolares e sociais devido s suas dificuldades, o trabalho com
artes vem sendo de fundamental importncia para o seu desenvolvimento, conforme indicam alguns
autores:
Entre todas as atividades desenvolvidas nas aulas de artes, sero destacadas e relatadas
aquelas que tm a Educao Musical como objetivo. Vale ressaltar que, apesar de tratar de um
trabalho com deficientes mentais, o enfoque educacional e no teraputico.
Caractersticas do Trabalho
Antes de iniciar o trabalho musical propriamente dito, tive contato com os alunos para
conhec-los e observar sua relao com a msica. A EMEBE Marly Bussa Chiedde tm alunos de
idades, comprometimentos e condies scio-culturais diferentes, todos com deficincia mental.
Em linhas gerais, a escola est estruturada da seguinte maneira: os alunos mais novos (entre
07 e 13 anos) estudam de manh e os mais velhos (entre 14 e 18 anos), tarde. H, tambm,
aqueles que fazem parte das Oficinas de Trabalho (maiores de 17 anos) e tm uma jornada de 40
horas semanais. Os alunos da manh tm maiores comprometimentos e necessitam de superviso
para desempenhar as diversas atividades; os alunos da tarde tm melhor desempenho, so
independentes e esto alfabetizando se.
Apesar desta diversidade, a relao dos alunos com a msica semelhante. Notei que o
contato com a msica estava restrito aos meios de comunicao, o que demonstrava a necessidade
de ampliar o universo musical destes alunos. A maioria deles havia tido poucas oportunidades de
participar de jogos musicais, de manusear diferentes instrumentos, ou seja, de vivenciar e de fazer
msica. Os Referenciais Curriculares apontam a importncia destas oportunidades:
muito importante brincar, danar e cantar com as crianas, levando em conta suas
necessidades de contato corporal e vnculos afetivos. Deve-se cuidar para que os
jogos e brinquedos no estimulem a imitao gestual mecnica e estereotipada que,
muitas vezes, se apresenta como modelo pra as crianas. (BRASIL, 1998, pp.59)
3
1) Atividades de apreciao
Para muitos adolescentes, no s da escola especial, msica legal aquela que toca vrias
vezes no rdio e cujos cantores aparecem na televiso; seguindo este pensamento, a msica erudita
chata. Infelizmente, esta idia, transmitida pela mdia cujos interesses so comerciais, esta
arraigada entre os alunos. Como, ento, motiv-los a participar da excurso da escola para assistir
apresentao da Orquestra da cidade?
Comecei a falar sobre os diferentes instrumentos, mostrando a eles fotos, vdeos e algumas
gravaes. Aos poucos, fomos trabalhando com as famlias de instrumentos, aproveitando, tambm,
os instrumentos de pequena percusso da escola para fazer as classificaes: qual tem o som mais
forte/fraco? Qual tem o som mais grave/agudo? Como produzido o som neste ou naquele
instrumento? Com algumas turmas, pude aprofundar estas vivncias, fazendo atividades de
4
identificao dos solos ouvidos. Quando assistimos Orquestra, no Teatro Elis Regina, estas
informaes vieram tona e todos ficaram bastante atentos e emocionados com o que viram e
ouviram. De acordo com Violeta Gainza:
2) Jogos musicais
Com algumas turmas, optei por usar o papel como elemento bsico de diversas atividades.
Entre outras coisas, os alunos fizeram recorte e colagem, dobraduras e pinturas. Participaram
tambm de jogos teatrais, onde os papis serviram como figurino. Para as atividades musicais,
separei pedaos de papel sulfite, dobradura, papel carto, jornal, cartolina e papel de seda para
fazer algumas exploraes sonoras.
5
Na maioria das aulas, proponho alguma brincadeira cantada onde eles experimentam
diferentes movimentos e sons. Fazemos tambm a explorao dos movimentos do corpo e do
espao da sala a partir de diferentes estmulos sonoros.
Tenho feito tambm, com algumas turmas, jogos de improvisao. Deixo disposio dos
alunos instrumentos variados e proponho que eles os explorem livremente. Aps a explorao,
cada um mostra o que descobriu e depois todos tocam em diferentes seqncias, fazendo solos
e tuttis. Pretendo fazer o registro sonoro destas improvisaes e tambm o registro dos prprios
6
alunos, caminhando para a escrita no-convencional. Como alguns alunos esto alfabetizando-se,
este tipo de registro possvel.
3) Canto
Muitos alunos da escola tm dificuldades de fala, mas, nem por isso, o canto deixado de
lado. Em nenhuma circunstncia se pode privar o deficiente de uma experincia no real, pois todas
as experincias servem para aligeirar a predisposio ao isolamento.(FONSECA, 1995, pp. 9)
Procuro trabalhar com canes com estruturas simples, com refres e que no sejam muito
infantis e nem comerciais, j que a preocupao com a ampliao do repertrio sempre est
presente.
. O canto trabalhado a capela e tambm com acompanhamento de instrumentos de
pequena percusso, de batimentos corporais, de teclado e at de play-backs, sempre levando em
conta o que adequado para cada grupo, no que diz respeito, principalmente, tonalidade e ao
andamento. Usamos canes brasileiras que :
Consideraes Finais
O trabalho ora relatado continua em andamento, necessitando de uma pesquisa mais
aprofundada. Para o momento, importante ressaltar alguns aspectos:
1) No h necessidade de elaborar um mtodo de Educao Musical exclusivo para
deficientes mentais. importante conhecer e respeitar as diferenas, fazendo as
adaptaes necessrias, o que facilitar, inclusive, o processo de incluso.
7
Referncias Bibliogrficas
BENENZON, Rolando. Teoria da musicoterapia. So Paulo: Summus, 1988.
BEYER, Esther. A educao musical sob a perspectiva de uma construo terica: uma anlise
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Braslia: MEC/SEF, 1997.
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MEC/SEF, 1998.
FONSECA, Vtor da. Educao especial: programa de estimulao precoce uma
introduo s idias de Feuerstein. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995.
GAINZA, Violeta H. Estudos de psicopedagogia musical. Trad. de Beatriz A. Cannabrava. So
Paulo: Summus, 1988.
IACCOCCA, Liliana. Plic, plic: um barulho da chuva. So Paulo: tica, 1988.
MARTINS, Mirian C. F. D., PICOSQUE, Gisa. e GUERRA, M. Teresinha T. Didtica do ensino
de arte: a lngua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. So Paulo: FTD, 1998.
CORAL FEMININO DO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO PORTO
ALEGRE: UM RELATO DE EXPERINCIA
1. Introduo
2. Objetivos
2
Feminino para encontros de coros e outras apresentaes. Tambm os pacientes do
Hospital reivindicavam uma lembrana do coral para levar e, no ano de 2000,
gravamos o primeiro registro desse trabalho no CD intitulado Cantando ao Pr-do-
Sol, uma referncia s apresentaes de final de tarde.
3. Desenvolvimento do trabalho
LEITURA RTMICA
LEITURA MELDICA 1
Toda essa parte inicial toma, em mdia, a primeira meia hora de ensaio.
Posteriormente inicia-se o ensaio propriamente dito, normalmente dividido em duas
etapas:
3
1) Leitura de uma pea nova:
Em geral so trabalhados arranjos para coro feminino ou adaptaes de obras
para coro misto, realizados por mim e escritos especialmente para este coral. Dessa
forma procuro escrever sempre respeitando as extenses vocais (nada to grave ou
agudo demais) e com um nvel de dificuldade mediano, por exemplo:
4
Esse perodo abrange, aproximadamente, uma hora e meia, ao trmino do qual
seguem-se avisos, agendamentos de apresentaes ou algum outro assunto de interesse
do grupo.
As peas escolhidas para este agrupamento coral so pensadas em termos da
extenso vocal dessas cantoras, nvel de dificuldade, extenso das mesmas (no muito
extensas), propsito musical visando o crescimento das coralistas, e mensagem dos
textos (msicas destinadas a um pblico especfico). O repertrio tambm adequado
s festas religiosas (canes natalinas ou que celebram o perodo da Pscoa) e s
crianas (canes infantis, acalantos) quando se canta na ala neonatal.
Aps um intervalo de 15 minutos para lanche, momento em que o grupo tem a
oportunidade de conversar entre si, o coral sai pelos corredores a cantar. O cantar pelos
corredores dura cerca de uma hora, das 17h e 40min s 18h e 40 min.. Durante essa
verdadeira peregrinao musical algumas portas vo se abrindo e surgem pessoas de
dentro dos quartos, provavelmente acompanhantes dos pacientes que vo deixando as
portas abertas para que os mesmos possam ouvir. Por vezes, alguns pacientes, com soro,
e que conseguem sair de seus leitos, vm at a porta para ver e ouvir. Outros, em
melhores condies de sade, chegam a seguir o coral pelos corredores.
Finalizada a apresentao, o coral retorna a sua sala de ensaio onde faz o
desaquecimento vocal como encerramento das atividades do dia. Este desaquecimento
consiste em ficar em silncio absoluto durante cinco minutos e, aps o silncio,
realizam-se dois exerccios a fim de retornar frequncia da voz falada. O
desaquecimento tem por objetivo a manuteno da sade vocal das cantoras.
5
aplaudindo inclusive perguntando se lhes permitido aplaudir sorrindo, ou
simplesmente emocionando-se. H, tambm, uma pesquisa de opinio, do prprio
hospital, chamada Olho Clnico na qual as pessoas expressam, por escrito, seu
parecer sobre vrios servios prestados e, por vezes, escrevem elogios e sugestes para
o coro:
6
da quinta-feira, a fim de poderem novamente ouvir o coral, bem como de pacientes que
se internaram um dia antes do previsto para no perderem a apresentao do mesmo.
A partir dessas reflexes sobre o trabalho desenvolvido com o Coral Feminino
do HMV, outros temas se abrem para futuras investigaes, entre eles, o perfil do coro e
o aprofundamento na relao paciente/coral. So questes tais como: As caractersticas
de envolvimento do coral com os pacientes modificaram-se com a transformao de
coro misto para coro feminino. o trabalho assistencial prestado pelo coral uma
atividade eminentemente feminina? Ou: Por que os pacientes gostam da presena do
coral?
Respostas a estas indagaes ajudariam a entender melhor as funes do canto
coral nos vrios espaos em que atualmente se faz presente.
Referncias bibliogrficas
DECOURT, Luiz. Msica para ns, mdicos. Revista do InCor, Fundao Zerbini, Ano
6, n 59, Maio 2000, p. 52-53.
Legado de respeito vida que muito nos orgulha preservar. Bisturi: Informativo do
Hospital Moinhos de Vento, n 128 Ano XXII
Julho/Agosto/Setembro/Outubro/2001, p.9. [Legado de respeito]
7
UMA INVESTIGAO SOBRE MANUAIS ESCOLARES DE MSICA
PUBLICADOS NO BRASIL NA DCADA DE 1930
1. Introduo
A imigrao alem no Rio Grande do Sul teve incio no ano de 1824 com a chegada dos
primeiros imigrantes cidade de So Leopoldo, ento Real Feitoria de Linho Cnhamo. O grupo
de imigrantes aqui chegado era constitudo por 39 alemes, de origem campesina, dos quais 33
vinham de uma tradio religiosa luterana onde a msica era prescrita como conhecimento a ser
transmitido. (Tarry, 1973, p.362) A escola, enquanto espao educativo, era entendida como
instncia implicada na prosperidade da comunidade, cujo currculo, de acordo com Kreutz (1994,
p.09) era organizado de forma a contemplar conhecimentos vinculados diretamente realidade.
Desta forma, os imigrantes alemes investiram intensamente na elaborao e impresso de
material didtico adequado realidade regional e local, preparando os alunos para o entrosamento
na vida comunitria, tanto sob o prisma religioso quanto social. A elaborao do material escolar
era tema de discusso nas Assemblias de Professores e os livros didticos eram alvo de crticas
ou recomendaes no Das Schulbuch, o peridico destinado ao livro didtico.
Manuais escolares, livros e textos didticos constituem-se desta forma, em fontes
privilegiadas de investigao, espelhando o currculo escolar e o pensamento comunitrio de uma
poca, na medida em que expressam conceitos, contedos, valores, normas e condutas prprias de
uma sociedade. Enquanto instrumento pedaggico,
(...) o livro de classe veicula, de maneira mais ou menos sutil, mais ou menos
implcita, um sistema de valores morais, religiosos, polticos, uma ideologia
que conduz ao grupo social de que ele a emanao: participa, assim,
estreitamente do processo de socializao, de aculturao (at mesmo de
doutrinamento) da juventude. (Choppin, 2002, p.14)
1
No ano de 1877 o pastor Wilhelm Rotermund fundou uma livraria evanglica na cidade de So Leopoldo, da qual
nasceu a Casa Rotermund & Co., que em pouco tempo seria ampliada, abrindo espao para uma editora e uma
tipografia. Rotermund, atravs de sua editora, publicou materiais didticos, livros, jornais e anurios, visando a
formao geral e religiosa da comunidade. (Becker, 1968, pp.62-3)
A literatura pedaggico-musical, enquanto produto cultural, constitui-se em fruto da
criao de um autor imerso em uma determinada situao histrica e existencial, e sujeito s
influncias do meio, as quais marcam os processos de produo, circulao e recepo. (Chartier,
2001; 1992; 1988) Enquanto produo de indivduos - autor e editor - inseridos num contexto
especfico do qual participam, a produo literria sofre, portanto, a ao de diferentes foras que
influem em suas estruturas textuais, em seus contedos, em sua organizao e nas suas formas de
apresentao. Da mesma forma a circulao condicionada por um conjunto de prticas sociais e
culturais, implicando nos usos, apropriaes e na interpretao que determinados meios e
comunidades concedem ao objeto literrio. (ibid, 2001, p.66) No que concerne recepo da obra
pelo leitor, em detrimento do crescimento e da disperso do pblico nas sociedades, cada vez mais
se exige a presena de mediadores interpostos entre os processos citados. Desta forma, de acordo
com Darnton (1990, p.109) os objetos que comunicam o texto esto inseridos num circuito de
comunicao que vai do autor ao editor, passando pelo impressor, pelo distribuidor, pelo
vendedor, at chegar ao leitor, onde os mediadores encontram-se entremeando o circuito de
circulao do livro.
A busca bibliogrfica pelo tema livros didticos de msica revela que as pesquisas nesta
linha vm sendo iniciadas recentemente. Desta forma, dentre as primeiras abordagens destaca-se o
estudo Schulmusikerziehung in Brasilien zwischen 1930-1945, efetuado por Souza (1993), o qual
tematizou as relaes entre educao musical e poltica no perodo de 1930 a 1945, examinando
currculos, instrues, livros didticos e a literatura do perodo em questo. A partir deste estudo
Souza identificou a msica como funcional, sobretudo no perodo do Estado Novo (1937-45).
No que tange anlise especfica de livros didticos de msica constitui-se como
referncias para esta pesquisa o trabalho Livros de Msica para a Escola. Uma Bibliografia
Comentada (Souza, 1997) o qual apresenta o levantamento de 223 ttulos publicados em
diferentes pocas e dirigidos a alunos e a escolas brasileiras regulares. Numa linha semelhante,
Gonalves e Costa (1998) no estudo A Msica nos Livros Didticos, levantaram, catalogaram e
analisaram livros de msica encontrados em bibliotecas escolares municipais e estaduais da
cidade de Uberlndia - MG, procedendo construo de uma bibliografia comentada e
conseqente estudo das obras atravs do mtodo de anlise de contedo.
O estudo Anlise de Livros e Mtodos Musicais para o Ensino de Instrumento: Entre
Historicidade e Dispositivos Pedaggicos, realizado por Torres (2002), apresenta uma anlise de
manuais e partituras utilizadas em Conservatrios e Escolas de Msica no Brasil entre os anos 60
e 90, destinadas ao ensino do violino. A autora fornece uma descrio de cada mtodo, analisando
a cronologia das composies, os prefcios, as gravuras, a biografia de cada autor, bem como a
gradao dos manuais selecionados.
Ao lado destes trabalhos surgem estudos voltados literatura escolar dos imigrantes
alemes do Rio Grande do Sul. Seguindo essa proposta Kreutz (1994), atravs da obra Material
Didtico e Currculo na Escola Teuto-Brasileira, analisa a questo curricular atravs do
levantamento dos materiais didticos, incluindo manuais, livros e cartilhas, utilizados nas escolas
comunitrias do Rio Grande do Sul. Atravs deste estudo o autor localizou e fichou 124 livros
didticos, nacionais e estrangeiros, utilizados nas escolas teuto-brasileiras entre 1824 e 1939.
A elaborao de estudos centrados na temtica da produo, circulao, e recepo de
materiais didticos de msica constitui uma faceta pouco explorada nas investigaes em
educao musical e neste sentido, a anlise dos manuais escolares de msica elaborados para a
escola teuto-brasileira representa uma ausncia no conjunto das investigaes.
No que tange metodologia utilizada, o presente estudo, de carter eminentemente
bibliogrfico, busca a investigao da palavra impressa atravs do exame de dois manuais de
msica selecionados e do peridico Das Schulbuch. Os livros de msica so aqui tratados como
fontes de dados e como objetos de pesquisa.
Para a realizao deste estudo, procedeu-se a duas etapas, contemplando o levantamento
das fontes e o exame de dois manuais selecionados. A primeira etapa, foco deste artigo,
caracterizou-se pelo levantamento dos livros de msica disponveis em arquivos pblicos e
acervos particulares nas cidades de Panambi2 , Ivoti3 , Santa Cruz do Sul4 , So Leopoldo5 e Porto
Alegre6 . A partir de reiteradas visitas aos acervos e arquivos, procedeu-se ao levantamento das
fontes, as quais totalizaram 39 ttulos.
2
Acervo particular da Sr. Helga Jung; e Arquivo do Colgio Evanglico de Panambi.
3
Arquivo da Escola Evanglico de Ivoti.
4
Arquivo Histrico de Santa Cruz do Sul; Acervo particular do Sr. Roberto Steinhaus; e Acervo particular da Sr. Iria
Bender.
5
Museu Histrico de So Leopoldo; Instituto Anchietano de Pesquisas; Ncleo de Estudos Teuto-Brasileiros; e
Arquivo da Editora Rotermund.
primeira etapa adotou-se esta categorizao em virtude de no se haver efetuado uma anlise mais
detalhada do material.
Dentre os livros levantados alguns apresentam vrias edies, no entanto, at o momento
conseguiu-se localizar apenas uma, constituindo-se num desafio a busca de outras edies de um
mesmo ttulo. Da mesma forma, alguns ttulos no trouxeram a data de edio, pertencendo
poca dos livros datados em virtude de suas caractersticas gerais, englobando formato, caracteres,
ilustraes, encadernao, e contedo. Salienta-se que muitos acervos particulares e arquivos
histricos ainda necessitam ser visitados e seus acervos levantados para que se possa ter um
mapeamento mais completo dos manuais escolares de msica utilizados nas comunidades teuto-
brasileiras do Rio Grande do Sul, no perodo Republicano.
4. Consideraes Finais
Maschler, Max Auf bleibet treu! Liederbuch der So Verlag der 1936 IB 76pp.
Evangelischen Junged Leopoldo Riograndenser
herausgegeben vom Jugendamt der Synode / Druck
Riograndenser Synode von Rotermund &
Co.
Maschler, Max Kommt und singt! So Rotermund 1938 AHSC e __
Deutschbrasilianisches Liederbuch Leopoldo MHSL
fr Schule und Haus
6
Acervo Benno Mentz .
fr Schule und Haus.
Wustrow, Gesnge, Lieder und Briefe aus den Porto Alegre Geschftsstelle der 1934 AM 130pp.
Wilhelm Jahren 1898-1934. Liga das Unies
Coloniais
Riograndenses
__ Kleine Liedersammlung zur Porto Alegre Tipografia do 1929 NETB 48pp.
Einfhrung des Volksgesanges Centro
__ Kleiner Liederschatz fr Deutsche Porto Alegre Typographia do 1932 NETB 94pp.
Schulen und Vereine Centro
Kruse, Ludwig Andante Cantabile So Rotermund s/d AM 74pp.
Leopoldo
Sinzig, Frei Modinhas Brasileiras Petrpolis Vozes 1913 AHSC 112pp.
Pedro O.F.M.
Sinzig, Frei O Brasil Cantando Petrpolis Vozes 1938 HJ __
Pedro O.F.M.
Livros Estrangeiros
Dahlfe, Ernst & Das Deutsche Lied Essen G. D. Bardeker 1926 IAP 152pp.
Schmidt,
Walter
Gollhardt, Lieder der Reiterbuben. St. Georg. Leipzig Verlag Das junge 1929 RS __
Walter Liederbuch Deutscher Jungend Volk Gnther
Wolff
Heim, I. Volksgesnge fr gemischten Chor Zrich Selbstverlag der s/d IAP 485pp.
Liederbuchanstalt
Hoffmann, Singendes Volk. Ein Buch zum Frankfurt Moritz Diesterweg 1930 AHSC 104pp.
Joseph; Singen und Musizieren fr Schule
Martens, und Haus
Heinrich; Rolle,
Georg;
Schneider,
Richard
Kuhlo, Joh. Cantate! Mehrstimmige Lieder fr Gtersloh Duck und Verlag 1921 IB 432pp.
Frauenchor von C.
Bertelsmann
Linder, August Deutsche Weisen. Die beliebtesten. Stuttgart Albert Auers s/d RS __
Volks und geistlichen Lieder fr Musikverlag
Klavier mit vollstndigem Text.
Mahr, Curt Klingende Heimat Hamburg Musikverlag Hans s/d MHSL 141pp
Sikorski
Matthias, Dr. Das deutsche Dorfslied Bielefeld Delhagen & s/d IAP 142pp.
H. und Leipzig Klafing
Mauersberger, Vierstimmiges. Deutsches Leipzig Verlag von Carl s/d MHSL 164pp.
Rudolf Choralbuch Merseburger
Redlich, Hans Chre des jungen Deutschland; Berlin Ludwig 1934 AEEI 96pp.
& Seidelmann, eine Sammlung von Sprechchren Voggenreiter
Karl fr Fest Feier
Reichsjugendf Junge Gefolgschaft. Neue Lieder Berlin Georg Kallmeyer 1938 IB 108pp.
hrung der Hitler Jugend Verlag
Verantwortlich
fr die
Herausgabe
Bannfhrer
Wolfgang
Stumme
Schwab, Walter Das Christkind kommt Stuttgart R. Chienemanns s/d RS __
Classen Verlag
Schwarz, Prof. Zweites Mnnerchor-Album Kln Verlag von P. J. s/d MHSL 328pp.
J. Conger
Putsch, H. Deutsches Kindergesangbuch fr Bremen Verlag von J. 1895 IB 358pp.
Kirche, Schule und Haus Morgenbesser
Vogel, Mori Deutsches Schulliederbuch Leipzig Verlag von 1898 MHSL 190pp.
Gebrder Hug &
Co.
Weeber, J. Chr. Liedersammlung fr die Schule Stuttgart J. B. Metzlerscher 1903 IB 64pp.
und Krantz, Kommissions
Friedrich Verlag
Weeber, J. Chr. Liedersammlung fr die Schule Stuttgart J. B. Metzlerscher 1904 IB 37pp.
und Krantz, Kommissions
Friedrich Verlag
Weinrich, Paul Des Sngers Freunde Berlin Verlag von Ernst 1908 MHSL 167pp.
Janetzke
Weismann, Das kleine Volksliederbuch Leipzig C. F. Peters s/d MHSL 110pp.
Wilhelm
Zaulert, J. Deutsches Kindergesangbuch Leipzig Verlag von C. s/d MHSL 220pp.
Bertelsmann
__ Lieder-Perlen fr unsere Schulen St. Louis, Concordia 1905 MHSL 251pp.
Mo. Publishing House
__ Illustrirtes Volksliederbuch Baden Lahr Moritz s/d MHSL 368pp.
Schauen Burg
Referncias bibliogrficas
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Grandense, 2 v., 2 ed. Porto Alegre, Sulina, pp.47-79, 1968.
CHARTIER, Roger. Cultura escrita, literatura e histria: Conversas de Roger Chartier com
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TARRY, Joe E. Music in the Educational Philosophy of Martin Luther. Journal of Research in
Music Education, 21. Winter, pp.355-365, 1973.
Introduo
A pesquisa
Alguns Resultados
4
Isso no quer dizer que as escolas de msica alternativas dem conta dessa
questo. A insatisfao constatada reside, principalmente, no fato dos saberes presentes
nos currculos das IES estarem desarticulados com o cotidiano profissional do msico
que busca por determinado perfil profissional, incluindo a a seleo do repertrio que,
segundo Ferreira e Kleber, atualmente privilegia a msica erudita.
Consideraes finais
demanda atendida. Esperamos assim trazer alguns subsdios para o debate que aponta
para a necessidade em se conhecer os mltiplos espaos onde ocorre o ensino musical, e
as inmeras representaes do agente deste ensino, especialmente no que se refere a
formao profissional do msico.
Referncias bibliogrficas
FREIRE, Paulo. Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1976.
Resumo. O objetivo desta pesquisa foi analisar o atual currculo atual do Curso de Msica da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), na sua forma oficial (mediante o contedo do
documento), experienciado pelos alunos e percebido pelos professores do Curso (mediante
entrevistas). Trs perspectivas foram focalizadas: o entendimento sobre o que conhecimento; o
papel da educao e da educao musical no desenvolvimento do indivduo e o entendimento do
que currculo. A anlise das trs perspectivas foi baseada nos paradigmas curriculares -
tcnico-linear, circular-consensual e o dinmico-dialgico presentes na classificao de Mac
Donald (1975) e Domingues (1988). A pesquisa buscou identificar os paradigmas que permeiam
a atual proposta curricular do curso mencionado, com vistas a contribuir para a sua reformulao.
O currculo entendido nesta pesquisa como uma inveno social, portanto, um
empreendimento humanstico, uma situcionalidade educador/educando, dialgica e
problematizadora, mediatizada pelo contexto cultural de uma sociedade (Domingues, 1988). A
anlise revelou que o currculo em estudo reflete a sobreposio dos trs paradigmas abordados,
com prevalncia do tcnico-linear na prtica; uma nfase no circular-consensual na perspectiva
de um currculo ideal, projetado pelos alunos e professores entrevistados e o reconhecimento do
papel do professor como agente transformador da sociedade refletindo o paradigma dinmico-
dialgico. Esta sobreposio revela diferenas entre a abordagem filosfica e pedaggica e sua
aplicao na prtica. A pesquisa revelou ainda, o desejo dos professores se construir uma nova
proposta pedagogia baseada em um processo coletivo, centrado no aluno.
INTRODUO
1. A ABORDAGEM METODOLGICA
2. FUNDAMENTAO TERICA
CONCLUSES
Pretendi, com este trabalho, realizar uma reflexo crtica sobre o currculo do Curso de
Msica da UEL, enfocando como as diferentes tendncias educacionais se refletem na
construo de modelos curriculares.
Com base nos pressupostos tericos, os aspectos analisados focalizaram basicamente trs
pontos: o entendimento de conhecimento; a viso sobre a funo da educao e da educao
musical na formao do indivduo; o entendimento do currculo.
A anlise do currculo oficial mostra a sobreposio dos trs paradigmas, evidenciando
posies diferentes entre os pressupostos filosfico e pedaggicos e a operacionalizao do
currculo. Esta sobreposio no documento supe uma polarizao que tem, por um lado, a
tendncia para uma perspectiva curricular crtica e, por outro lado, a necessidade de as
instituies cumprirem as determinaes legais levando a elaborao de um currculo que mais
tendia mais para a reproduo de um modelo conservador do que para propostas inovadoras. A
racionalidade tcnica das determinaes legais dificultava a elaborao de um currculo coerente
com a idealizao de um currculo progressista.
Fruto dessa situao antagnica, o conceito de conhecimento musical se apresenta de
forma contraditria ao longo do texto do documento. Ora, aparece como algo no neutro,
carregado de um significado histrico, fruto da dinmica social e das identidades scio-culturais,
alinhado-se ao paradigma dinmico dialgico; ora emerge como fruto da comunicao
interpessoal, caracterizado pelo paradigma circular-consensual; ora vem engessado nos
contedos previstos nas ementas das disciplinas, como algo pronto, de carter prescritivo, como
pressupe o paradigma tcnico-linear. A organizao do conhecimento musical em disciplinas,
linearmente organizadas, identifica-se com o paradigma tcnico-linear e projeta a fragmentao
do conhecimento musical no currculo em ao.
A partir das entrevistas verificou-se que a questo da avaliao revelou diferenas entre o
discurso e a prtica, tanto na perspectiva dos alunos como na dos professores. Observa-se que
este ponto no foi explicitado no documento, demonstrando que, possivelmente, este aspecto
seguiu as orientaes do senso comum. Entretanto, o discurso dos sujeitos revela o
reconhecimento da dicotomia entre a teoria e a prtica, apontando um amplo leque de formas de
avaliao presentes no Curso que vo do modelo conservador ao progressista, perpassando pelos
trs paradigmas. O que prevalece como ideal nas falas dos alunos e professores identifica-se com
o paradigma circular-consensual.
A anlise referente formao e papel do educador musical permitiu-me detectar que os
alunos e os professores entendem a prtica docente como um ato eminentemente poltico,
devendo o educador ser um agente transformador da sociedade. A valorizao do sujeito e de seu
contexto sociocultural na seleo e na apropriao do conhecimento curricular revela uma viso
que se alinha ao paradigma dinmico-dialgico.
Os depoimentos dos docentes revelam uma vontade de se construir um novo projeto
pedaggico centrado no aluno e pautado no processo coletivo, onde se contemple a diversidade,
o compromisso poltico-social, a competncia profissional e no se fragmente o conhecimento
musical. Entretanto, percebem-se vcuos no entendimento do papel do professor, do aluno e da
instituio, no que se refere organizao e operacionalizao num trabalho dessa natureza. A
seleo do conhecimento musical tendo como perspectiva o interesse do aluno e, tambm, o
universo do professor foi uma questo problematizada pelos professores.
Este estudo desvelou-me que qualquer modelo de educao adota uma posio e uma
orientao seletiva frente cultura e ao conhecimento, que se concretizam, precisamente, no
currculo. Em consonncia com o pensamento de Moreira (1998), entendo que os estudos
relativos pesquisa sobre currculo, nas diferentes instncias da prtica curricular, devem
desdobrar-se na elaborao das polticas pblicas de currculo, assim como no acompanhamento
e avaliao da implementao dessas propostas. Ressalto, ainda, a necessidade de se realizar as
investigaes nos diferentes espaos que integram o sistema escolar, privilegiando-se o cotidiano
dessa realidade. Desta forma, a teorizao sobre o currculo poder incidir na prtica curricular,
contribuindo para a superao do impasse terico e para a revitalizao da prtica.
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[1]
Docente da Universidade Estadual de Londrina, especialista em Piano pela EMBAP, mestre em Artes/Msica pela
UNESP e doutoranda em Educao Musical na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
[2]
Hans Joachim Koellreutter (1915 - ) Msico, compositor e regente formado pela Escola Estadual de Berlim e
pelo Conservatrio de Msica de Genebra. Foi o criador do movimento Msica Viva na dcada de trinta e dirigiu
a Escola Livre de Msica de So Paulo, a Escola de Msica da Universidade Federal da Bahia e a Escola de Msica
Ocidental, em Nova Delhi- ndia.
POR QUE NO ESTUDAMOS NOSSA MSICA?:
QUESTIONAMENTOS A CERCA DO CONTEDO CURRICULAR DO
CURSO DE GRADUAO EM MSICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
CEAR
1
de extrema importncia, que o leitor entenda que este projeto de pesquisa no pretende
desqualificar o curso de msica da UECE, mas, demonstrar que. os indivduos que ingressam no referido
curso, buscam outras oportunidades, ou seja, eles entram imaginando uma coisa e descobrem outra.
2
2
Vale destacar que j h algum tempo, o curso de msica mencionado, atendendo a uma
proposta de dinamizao e reestruturao da Universidade Estadual do Cear - fruto da gesto reitora
atual -, tem procurado novas propostas didticas e uma maior abertura para a realidade atual. Este fato se
comprova, principalmente, por melhorias no curso bem como a qualificao de 13 (treze) professores que
concluram o mestrado em 2002, a partir do programa MINTER, da CAPES. Programa este, possvel
somente, aps acordo celebrado entre a Universidade Estadual do Cear e a Universidade Federal da
Bahia.
3
3
Deixamos claro aqui, que no esboamos um modelo ideal de currculo, pois o mesmo deve
ser elaborado por vrios profissionais de reconhecida competncia. O que pretendemos com essa
investigao mostrar que existe, realmente, uma necessidade urgente de um estudo sobre o contedo
deste currculo, afim de mostrar que a msica popular, como fonte de estudo para as disciplinas
acadmicas uma sada sbia para nossa realidade atual e para o futuro.
5
aprendizagem em msica (Fazenda 1994, Carvalho 1995, Demo 1999, Moreira 1995,
Goodson 1995), investigar: Por que no estudamos nossa msica dentro da
universidade, ou seja, por que o ambiente acadmico rejeita de maneira brutal sua
cultura na hora de formular o currculo de um curso de msica? E, por se tratar de um
curso de msica, especificamente, do estudo da produo artstica e cultural de um povo
que se percebe o descaso com o que nosso.
Deve-se estudar e analisar com a mesma dignidade e necessidade qualquer
gnero ou estilo musical (Brizzi 1999).
Para Moreira (1995) o currculo h muito tempo deixou de ser apenas uma rea
meramente tcnica. Ele diz que se fala agora em uma tradio crtica, guiada por
questes sociolgicas, polticas, epistemolgicas. O currculo no neutro e, sim preso
ao artefato social e cultural, pois transmite vises sociais particulares e interessadas.
O currculo, ainda segundo Moreira (1995) produz identidades individuais e sociais
particulares, ou seja, tem uma histria.
Ora, se o currculo no um meio neutro de transmisso de conhecimentos
desinteressados, mas um mecanismo essencial de constituio de identidades
individuais e sociais atravessadas por relaes de poder segundo Moreira (1995), neste
no deve, de maneira nenhuma, estar ausente as particularidades da cultura em que o
currculo modelado. Ou dizendo de outra maneira, o currculo deve atender s
necessidades da sociedade e no ser ideolgico.
Todos esses argumentos podem ser reforados, ainda, pela necessidade de se
levar em conta a revoluo tecnolgica, que sem dvida contribuiu para o
desenvolvimento da criao da sonoridade sociocultural do ambiente em que vivemos, e
consequentemente da msica de hoje (Schafer 1994 e 1991)4 . As novas combinaes
rtmicas, de timbre, o surgimento de uma nova esttica para uma nova linguagem, a
inter-relao entre a msica e outras formas artsticas tudo conta.
A elaborao de novos currculos de msica, deve levar em conta a
insatisfao, por parte de grande parte dos alunos, inclusive nos cursos de nvel
4
O compositor, artista plstico e educador musical canadense Murray Schafer, tem dedicado boa
parte de sua vida aos problemas do ensino da msica. Tomando como pressuposto a noo de paisagem
sonora, construda a partir de uma ampla pesquisa, convida uma nova postura do ouvir. Um desafio de
um novo olhar do mundo, reconhecendo que este tem se transformado e, juntamente, as inesperadas
sonoridades que vm surgindo ao longo do tempo. Aqui se percebe claramente a impossibilidade de
analisar o mundo com uma viso ultrapassada, como no caso do estudo da msica atravs do padres
estticos, artsticos e culturais de sculos passados, ainda mais de outra cultura.
7
5
A expresso modelo conservatrio, utilizada por Freire, diz respeito a um modelo de ensino
de msica baseado no aprendizado da teoria musical e da tcnica vistuosstica - geralmente se utilizando
dos modelos europeus da msica erudita -, deixando de lado a experincia anterior do aluno, seu contato
com a msica do cotidiano ou suas pretenses particulares. um ensino engessado, que leva em
considerao apenas o conhecimento e as exigncias do professor, desprezando radicalmente a msica
popular e o ensino informal.
6
Os questionamentos de Freire (1999), sobre o impacto da globalizao nos processos de
transformao de identidades, podem ainda ser reforados pelos estudos de Canclini (2000 e 1999)
atravs da anlise das tradies culturais coexistindo com a modernidade, e do entusiasmo por novos
ideais. Sem esquecer ainda de Stuart Hall (2001) que trata da crise de identidade que o homem da
sociedade moderna tem sofrido.
8
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SCHAFER, Murray. Tuning of the world The soundscape: our sonic enviroment and
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Introduo
1
Neste grfico a disposio das cordas se d com a primeira acima e a sexta abaixo. O brao est
representado at a dcima segunda casa, a partir da qual, as notas passam a repetir o mesmo padro do incio
do brao.
3
2
Sistema no qual cada nota representada por uma letra: A=l, B=si, C=d, D=r, E=mi, F=f, G=sol.
4
4) Idiomatismo no violo
6-
5-
4-
3-
2-
1-
| | | | | | | | | | | | | | | | | | | (x)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
3
Este o nmero padro de casas no brao do violo moderno; contudo, alguns instrumentos tm este
nmero modificado para mais ou para menos.
4
Existe um efeito, caracterstico da guitarra eltrica, mas tambm usado no violo, que pode alterar esta
relao. Trata-se do bend, ou bending, no qual o dedo, aps pressionar a corda e faz-la tocar o traste, desliza-
a para cima ou para baixo no eixo (y), alterando-lhe a altura.
6
caractersticas presentes na distribuio das notas nas cordas soltas e os efeitos idiomticos
resultantes. Vejamos ento alguns destes recursos, bem como sua aplicao prtica na
composio para violo:
5.1. Campanela
Usaremos o termo para descrever qualquer passagem meldica cujas notas sejam
executadas em cordas diferentes, fazendo com que elas soem umas sobre as outras.
Chamaremos de campanela o efeito produzido pela execuo das notas de uma passagem
meldica (ou escalar) em cordas distintas. A caracterstica primordial deste efeito o fato
de a ltima nota a ser tocada continuar a soar, juntamente com a nota seguinte.
Este um efeito possvel de se obter em virtualmente qualquer afinao, embora
algumas sejam mais propensas que outras. Os resultados podem variar enormemente,
dependendo da afinao e da imaginao do compositor.
Vejamos um exemplo. O pentagrama mostra as notas reais, enquanto a tablatura, a
localizao de cada nota em sua corda e casa respectivas, com as cordas representadas
estando a mais grave em baixo. Assim, um nmero 3 escrito sobre a segunda linha (de
baixo para cima) estar representando uma nota obtida na terceira casa na quinta corda. Sua
altura ser indicada no pentagrama na mesma posio verticalmente acima. O nmero zero
representa as cordas soltas. As passagens em campanela so aquelas em que podemos
observar pela tablatura seqncias de nmeros situados em cordas diferentes.
Em Mirade, uma das peas que criamos para este trabalho, a campanela um
recurso muito utilizado. Algumas sees so inteiramente construdas com base neste
recurso. A afinao desta pea C1 G1 D2 G2 A2 C3 , porm, devido utilizao de um
capotasto na segunda casa, temos na verdade as cordas soltas em D1 A1 E2 A2 B2 D3 , um tom
acima. Em uma seo da pea (cc. 74 a 101), de andamento presto, o recurso foi utilizado
com o propsito principal de facilitar a velocidade na execuo. (Ex.2)
7
O segundo recurso idiomtico que iremos abordar, e que tambm pode ser
explorado criativamente com scordaturas, a ligadura de expresso feita entre notas da
mesma corda, sendo uma delas a nota correspondente corda solta. Este recurso, utilizado
comumente na afinao tradicional, ganha novas possibilidades e combinaes com
coloridos sonoros surpreendentes quando empregado com determinadas afinaes. Stanley
Yates escreveu:
A escolha da digitao de mo esquerda determinada pelo contexto meldico e
harmnico e pelo compromisso entre efeito musical, sonoridade instrumental e
convenincia tcnica... Os ligados de mo esquerda ... podem ser categorizados em relao
funo de trs modos, tcnica, textural e fraseolgica. Ligados tcnicos so usados
simplesmente para auxiliar a mo direita na execuo de passagens velozes, ligados
texturais minimizam a monotonia das passagens com notas iguais, articuladas
uniformemente, particularmente quando no possvel conferir suficiente variedade de
toque apenas com a mo direita, e ligados fraseolgicos so definidos de acordo com seu
efeito musical. (YATES, 1998)
A exemplo da campanela, este recurso utiliza as notas das cordas soltas, o que
significa uma participao decisiva da escolha da afinao no processo de composio.
5.3. Acordes
Concluso
Mesmo com as diversas revolues por quais passou a msica nos ltimos duzentos anos, o
instrumento continuou com a mesma afinao padro. Este fato pode ser justificado pela
versatilidade desta afinao, que lhe permite acomodar escalas e acordes em qualquer
tonalidade, em diversos pontos do brao do instrumento. Contudo, ela representa,
igualmente, uma limitao no modo como compreendemos o violo, uma barreira imposta
acerca de nossa concepo do termo violonstico.
Afinado de outras maneiras, o instrumento ganha novos registros e sonoridades,
alm de uma multiplicidade expressiva de novas combinaes harmnicas e meldicas,
contribuindo para a gerao de composies musicais originais e inovadoras, cujo resultado
seria impossvel de reproduzir com a afinao tradicional.
Estas novidades so resultantes da modificao na relao espacial das alturas
disponveis no brao do instrumento. Podemos classificar estas relaes de acordo com
padres ou caractersticas comuns, encontrados em determinados grupos de afinaes. As
categorias resultantes revelam inclinaes particulares para certos efeitos, acordes ou
texturas.
A anlise e a pesquisa de algumas disposies espaciais de notas geradas pelas
afinaes revelaram-nos um campo amplo de descobertas, que se harmonizam com a
efervescncia musical de nosso tempo. Recursos idiomticos, peculiares ao violo,
combinados a scordaturas, podem ser usados para criar texturas musicais surpreendentes,
como demonstramos em alguns exemplos e peas criadas para este trabalho.
Compor para violo utilizando scordaturas um processo delicado, que requer um
alto grau de familiaridade com o instrumento. Para tirar proveito das inclinaes tcnicas e
expressivas de cada afinao importante o contato direto com o violo durante o processo
criativo, a fim de experimentar e testar os resultados na prtica.
Sabemos, todavia, que este um campo cujas pesquisas esto apenas comeando.
H certamente muito ainda a ser analisado e descoberto acerca das implicaes musicais do
uso de scordaturas. Este pensamento leva-nos a acreditar que o violo continuar sua
trajetria de transformaes, renovando nosso interesse por sua sonoridade envolvente,
sempre em sintonia com as idias criativas e o pensamento musical de sua
contemporaneidade.
10
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Kingdom, nov.1998 to feb.1999. 4 v.
11
Anexos
Margarete Arroyo
Introduo
1
Essa pesquisa contou com o apoio financeiro do programa PIAP - Programa Institucional de Apoio
Pesquisa - Pr-Reitoria de Pesquisa, Universidade Federal de Uberlndia (agosto de 2000) e teve seu mrito
reconhecido no programa "Apoio a Projeto de Pesquisa" do CNPq (outubro de 2000).
1
A metodologia de investigao constituiu-se de tcnicas etnogrficas e o
desenvolvimento da pesquisa contou com a valiosa contribuio de duas bolsistas de
Iniciao Cientfica, Mirian Carmen Machado (2001; 2002) e Juliana Pereira Penna (2001;
2002), a primeira concentrando-se nas turmas de pr-escola e suas experincias musicais
formais e informais; a segunda, nas primeiras sries, focalizando a temtica "msica e
pluralidade cultural". As segundas sries ficaram a meu cargo, e o foco foi as experincias
formais e informais e a valorizao da diversidade cultural2 .
Seguindo um referencial terico sustentado pela Antropologia Interpretativa,
Etnomusicologia e abordagem sociocultural da Educao Musical, as categorias bsicas da
pesquisa foram: o conceito scio-antropolgico de "representao social", educao
musical formal e informal, fazer musical como prtica cultural (Arroyo, 1999; 2000a e b;
Arroyo; Penna; Machado, 2001). A noo de cultura est baseada na concepo geertzniana
de teia de significados que conferem sentidos s prticas sociais (Geertz, 1989).
Essa pesquisa mantm uma continuidade com a investigao que desenvolvi entre
1995 em 1999 quando, seguindo o mesmo modelo terico-metodolgico, os espaos de
insero foram outros dois contextos de ensino e aprendizagem musical da cidade de
Uberlndia: o ritual afro-catlico do Congado e o Conservatrio Estadual de Msica
(Arroyo, 1999). importante destacar essa continuidade, j que na escola focalizada foi
possvel observar a presena de experincia musical oriunda dos dois espaos estudados
anteriormente. Esse dado trouxe a possibilidade de reflexes e interpretaes relativas ao
cruzamento de mundos musicais locais no espao escolar, tema focalizado em outro texto
(Arroyo, 2002).
Resultados
2
A educao musical uma colagem de crenas e prticas. Seu papel na
formao e manuteno dos [mundos musicais] cada qual com seus
valores, normas, crenas e expectativas implica formas diferentes nas quais
o ensino e aprendizagem so realizados. Compreender esta variedade sugere
que pode haver inmeras maneira nas quais a educao pode ser conduzida
com integridade (Jorgensen, 1997, p.65-66).
2
As bolsas foram concedidas pelo programa PIBIC-UFU-CNPq em agosto de 2000, sendo renovadas em
agosto de 2001.
3
Entretando, contava com professoras de Educao Artstica que trabalhavam Artes Plsticas e com
professores de Educao Fsica.
3
24/04/2001 - Cheguei escola bem quando soava a sirene, anunciando o
incio do turno da tarde. Algumas crianas ainda chegavam na garupa de
bicicletas ou de motos. Algumas bicicletas eram trazidas por mes ou por
irmos mais velhos; as motos eram dirigidas na maioria pelos pais. Muitas
crianas vinham p, acompanhados das mes e de irmos mais novos;
outro tanto vinha de transporte escolar e alguns de carro. Lucas4 vinha
chegando com um menino da manh. Ele, feliz, perguntou-me: hoje vai ter
aula de msica? Eu: vai. Ele: Yes! Falou feliz e vibrante5 .
(D.C6 , Margarete).
Mas nem sempre era assim. Neste mesmo primeiro semestre de 2001 quando pude
observar a interao de uma das bolsistas com as turmas de pr, percebi em duas classes
uma apatia muito acentuada das crianas. Neste perodo, as coordenadoras comentavam
que as turmas estavam com muita dificuldade de adaptao ao sistema escolar. Uma
4
Os nome so fictcios.
5
O texto em itlico refere-se fala dos atores sociais.
6
D.C. refere-se ao dirio de campo
7
A primeira pessoa do plural indica as trs pesquisadoras em campo.
4
professora, Vernica, de primeira srie, referiu-se a esta apatia em outra ocasio e como
recorreu msica para criar outra dinmica:
18/12/2000 - Igual quando eu peguei esses menininhos, era aquela
indisposio, aquela falta de vontade... aquela descrena. Tudo que voc
perguntava: qual o nome do seu o pai? No sei. Qual o nome de sua me,
que rua voc mora, eles no sabiam responder... Ento, a partir do
momento que voc comea a cantar ... aquelas musiquinhas que eu invento
para estar trabalhando o sonzinho das msicas... s vezes ele t errando eu
canto: Cuidado com a letra c, cuidado com a letra c (a professora
cantarola com expresso e entusiasmo). A maior parte das msicas
pardia. Mas tambm inventamos. Tudo eu que criei (ela ri) e com eles,
voc sabia? Sempre eu falava uma historinha, um texto. Agora vamos pr
msica? s vezes eu at comeava. E voc precisava ver a vibrao deles ao
verem que eles foram os criadores. Olha! eu que fiz o pedao dessa msica!,
eu que criei! Foi assim bem interessante. Eu acho assim... Esse trabalho
muito rico. Alm da criana estar aprendendo a palavra, o texto, tudo que
ela precisa aprender, ela t dentro dela criando a possibilidade de estar
sendo autor, compositor, criador. (entrevista concedida a Margarete)
Vernica tinha uma histria pessoal de proximidade com msica, embora nunca
tivesse estudado. Alm do entusiasmo com esse trabalho, a professora utilizava de msica
para estimular a aprendizagem de outros conhecimentos, para estabelecer uma relao
afetuosa com o grupo, para faz-lo produzir, no s de modo reprodutivo mas tambm
criativo.
Esses entendimentos da msica na escola variavam entre as professoras generalistas.
Das doze com quem interagimos durante a pesquisa, trs delas, incluindo Vernica,
trabalhavam com msica em suas turmas, sendo que uma utilizava violo para
acompanhamento. As outras professoras diziam gostar de msica, mas sentiam-se
limitadas por no saberem msica. Dos doze professora, apenas uma recusou-se a nos
aceitar na sua turma.
Por especificidade sociais e culturais quero dizer das experincias de vida dos
estudantes e dos profissionais da escola. Uma tarefa importante na pesquisa foi levantar as
experincias musicais informais e extra-escolares e observar como elas eram trazidas e
recebidas na escola.
5
Michael foi uma das crianas que chamou minha ateno. Nos nossos encontros na
1 srie e depois na 2, queria sempre tocar violo. Sabia algumas posies que aprendera
com o tio que tocava o instrumento. Um mapeamento dessas experincias com as crianas
mostrou uma diversidade de prticas musicais ligadas famlia - do av catieiro, ao
pagode, aos vizinhos e parentes congadeiros, aos folies de reis, ao solfejo do Bona na
igreja evanglica e ao sonho de tocar sax nessa mesma igreja depois de aprendidas as notas,
ao Conservatrio Estadual de Msica onde vrias crianas estudavam violino, flauta doce,
piano e teclado.
24/11/2000 - Recreio: Nesse dia o irmo de Salomo pediu-me para bater
corda. O menino, Samuel, era aluno do pr. Antes de brincarmos de corda,
falei sobre o irmo na 2 srie e que ele havia me dito que tocava violino.
Estabelecemos, ento, um dilogo sobre a sua prpria experincia musical
que eu sabia estar ligada uma igreja evanglica:
Eu: e voc, toca algum instrumento? Samuel: no, fao o Bona. Eu: voc
faz na igreja? Samuel: do lado da igreja tem um casinha e a gente tem aula
l. Eu: e qual o instrumento que voc quer tocar? Samuel: sax. Falou com
muita naturalidade, expressando familiaridade com vrios instrumentos que
a vivncia na igreja lhe proporcionava. Eu: seu pai toca instrumento?
Samuel: toca trombone. Eu: que igreja ? Samuel: Congregao Crist.
Discusso e concluso
6
Como subsdios para a construo de polticas locais de educao musical, o estudo
apontou caminhos que no diferem substancialmente dos resultados alcanados por outras
investigaes da mesma natureza. Entretanto, evidenciou um aspecto que deve sustentar
essas polticas: estar atento ao cruzamento de experincias musicais locais no contexto da
escola. Acolher as experincias como o Congado, a Cartira, a Capoeira e o Pagode, o que se
aprende no Conservatrio e nas igrejas, implica na construo de modelos locais educao
musical.
Apesar da delimitao sociocultural desse estudo, acredito que ele possa contribuir
teoricamente e praticamente para com a Educao Musical. Teoricamente, ao desvelar
prticas locais de ensino e aprendizagem musical e a partir da anlise e interpretao dessas
prticas, ampliar a viso de processos de ensino e aprendizagem musical. Praticamente, ao
registrar que essas prticas musicais adentram a escola, podendo constituir-se no ponto
desencadeador de uma aprendizagem sistemtica da msica.
Durante a pesquisa pudemos experimentar algumas possibilidades dessa
metodologia de trabalho com msica (Penna, 2002), que esperamos realizar de modo mais
sistemtico em outros projetos. Alm desse desdobramento da investigao, esto os planos
de: realizar uma insero da mesma natureza em outra escola que atenda adolescentes;
iniciar um trabalho conjunto com a equipe de Artes da Secretaria Municipal de Educao
de Uberlndia (trabalho iniciado em maio de 2002) e desenvolver um projeto de pesquisa,
j aprovado e contemplado com uma bolsista de Iniciao Cientfica, cujo foco levantar
documentao relativa ao lugar da msica nas polticas educacionais da Secretaria
Municipal de Educao de Uberlndia entre 1970 e 2002, abordando, agora, aspectos
macro da msica no contexto das escolas municipais de Uberlndia
Referncias bibliogrficas
7
____________ . Representaes sociais sobre msica em escolas pblicas de Uberlndia,
MG: subsdios para polticas de educao musical. In: Anais do IX Encontro Anual da
ABEM, Belm, Pa, set. 2000b. Edio eletrnica- Disquete
8
AO PIANSTICA - UMA PROPOSTA DE INTERAO PARA A PRTICA
INSTRUMENTAL
1- INTRODUO
1
A ao pianstica entendida aqui como uma atitude criativa e interpretativa construda atravs do
processamento das questes envolvidas na msica, selecionando, coordenando e realizando tanto os
elementos da construo musical quanto os movimentos que os realizam. (Pvoas 1999, p.80).
2
Entende-se por "design" os delineamentos determinados pelas configuraes musicais e as articulaes
correspondentes que, constitudas de smbolos, denotam a(s) ao(es) musical(ais) a ser(em) realizada(s)
atravs da execuo instrumental. (Pvoas 1999, p.1).
2
2- REFLEXO ANALTICA
Para a aplicao desta proposta, trs habilidades devero ser orientadas e ativadas
pelo professor e pelo intrprete, respectivamente: 1- a capacidade de organizao dos
recursos tcnico-mecnicos disponveis (RTD) ou em processo de aquisio, 2- a destreza
em associ-los com as questes musicais propostas pela obra em estudo e 3- a
determinao em utiliz-los conscientemente, em conformidade com as necessidades
sonoras indicadas no texto musical. O fluxograma seguinte apresenta, esquematicamente,
as orientaes anteriores.
3
O movimento acontece quando ocorre uma mudana de posio de um corpo com relao a um
referencial, sendo a posio de um ponto material no espao definida por suas coordenadas.
4
Sistema de coordenadas em relao ao teclado: eixo X: deslocamento no sentido da extenso do
teclado; eixo Y: deslocamento no sentido ascendente ou descendente do gesto sobre o teclado; eixo Z:
deslocamento no sentido da extenso da tecla ou de sua profundidade.
4
Anlise Prvia
aspectos tcnico-musicais___
adequar selecionar
prever
recursos fsico-musculares
_________________ ____ __ ___ _________________
5
Planejamento
Observao
Controle permanente
_________ _________
contexto musical comportamento fsico-muscular
correta aplicao dos fatores do desempenho
____________ _____________
movimentos fora despendida energia fsica despendida
___________ ____________
realizao do movimento
Determinao de critrios
Observao
avaliao sistemtica (observao direta)
Objetividade
movimentos realizados relao resultados esttico-sonoros
fsico-muscular desempenhos musical
(resultados)
Resultados previstos: concentrao
_____ _____
desempenho fsico-muscular otimizao rendimento esttico-sonoro
____ ______
tempo de treinamento energia
3- CONCLUSES
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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New York: Academic Press, 1985, p. 237-258.
FINK, Seymour. Mastering Piano Technique. A Guide For Students, Teachers, And
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HALL, Susan. Biomecnica Bsica. Traduo de Adilson Dias Salles. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan, 1993.
KAPLAN, Jos A.. Teoria da Aprendizagem Pianstica. Porto Alegre: Movimento, 1987.
KOCHEVITSKY, George. The Art of Piano Playing. A Cientific Approach. New York:
Summy-Birchard, 1967.
MATTHAY, Tobias. Musical Interpretation. Its Laws and Principles, and their
Applications. Boston: Music Company, 1912.
WINTER, David A.. Biomechanics of Human Movement. New York: John & Sons: 1989.
IDENTIDADES MUSICAIS DE PROFESSORAS: ENTRE MEMRIAS E
BIOGRAFIAS
Resumo. Este trabalho um recorte de um projeto de doutorado que est sendo realizado
junto a um grupo de professoras do Ensino Fundamental alunas de um Curso de
Graduao em Pedagogia com o qual pretendo analisar as identidades musicais das
mesmas, atravs de narrativas de si. Penso em descrever qual o relacionamento de tais
alunas com as msicas de diversas origens, desde a infncia, adolescncia, at o momento
atual da vida adulta, como tambm analisar o modo como essas identidades se constituram
e se constituem, como so interpeladas e incessantemente redefinidas pelos mltiplos
discursos veiculados pela mdia musical. Pretendo ouvir a diversidade das vozes desse
grupo de mulheres, atravs de suas narrativas, que vo compor como numa pea musical
as suas biografias musicais. As opes metodolgicas so as entrevistas que no devem
ser vistas como instrumentos para captar a verdade, mas como estratgias de
desencadeamento de discursos e narrativas de si.
Introduo
1
No decorrer do texto vou referir-me inmeras vezes ao mesmo grupo de professoras que participar dessa
pesquisa.
2 Delimitei um perodo de tempo compreendido entre as dcadas de 60 a 90 para falar de mdia musical e
pretendo articular alguns aspectos dos movimentos musicais representativos de cada dcada ou fase com
aspectos econmicos, culturais e polticos, (os estilos musicais e os textos/discursos), englobando as formas
de cultura, juventude, apropriao e consumo musical.
A escolha deste tema emergiu de muitas questes que ouvi formuladas por
professoras do Ensino Fundamental, da rede pblica e privada, em diferentes lugares da
regio Sul do Brasil, com as quais convivi e trabalhei em disciplinas, cursos e oficinas com
temticas musicais nos ltimos cinco anos. Ouvi afirmaes e perguntas recorrentes em
diferentes tempos e espaos como: Eu no sei cantar, Sou desafinada e no tenho voz, No
sei msica mas gostaria de trabalhar com ela, O que fazer com as msicas da mdia? Devo
trabalhar com as letras e msicas erotizadas?
Ao mesmo tempo, essas mesmas professoras dizem que a msica faz parte de suas
vidas, exemplificando que msicas gostam de ouvir, cantar e danar. Nessas escolhas
observa-se a presena de estilos musicais que vo desde o rock, rap, romntica, pagode,
samba, MPB, msica nativista, clssica e outros gneros que provavelmente esto presentes
nos muitos discursos da mdia musical. Meu objetivo maior analisar como essas
professoras se narram e descrevem suas memrias e biografias musicais atravs das
diferentes fases de suas vidas, possibilitando assim, que os saberes musicais desse gupo
possam emergir e permear as autonarrativas.
Larrosa (1996) nos fala de um tempo passado, o qual est entrelaado s nossas
memrias e lembranas que nos constituram, nos constituem e fazem parte de nossa
histria nossas identidades um tempo narrado, representado e articulado em uma
histria.
Discutir sobre identidades e identidades musicais implica em se conhecer e analisar
os fios que tecem as biografias musicais, com as diferentes escolhas e lembranas do grupo
de mulheres/professoras aqui selecionadas como campo de estudo. Ao mesmo tempo, essa
discusso implica fazer as articulaes com autores e suas concepes de identidades numa
perspectiva cultural, considerando, por exemplo o que Hall (1997), ao se posicionar sobre
diferenas e identidade, afirma: identidades so construdas atravs das diferenas, e no
fora das diferenas (p.4).
A literatura nos mostra exemplos de escolhas e gostos musicais diferentes
imbricadas com as idias de Frith (1996), que aborda as conexes entre msica e
identidade, numa perspectiva de diferentes performances no cenrio da ps-modernidade.
Pretendo ouvir a diversidade das vozes desse grupo de mulheres, atravs de suas narrativas,
que vo compor como numa pea musical as suas biografias musicais e tambm
2
abordar questes relacionadas ao corpo na e com a msica, com os estilos musicais do final
dos anos 80, com as coreografias e movimentos sensuais. Tentarei focalizar os discursos
miditicos numa perspectiva ps-crtica, envolvendo as relaes de poder e buscando
subsdios em autores como Luke, A. (2000), Luke, C. (2000) e Foucault (1996).
preciso comear a perder a memria, mesmo que a das pequenas coisas, para perceber
que a memria que faz nossa vida. Vida sem memria no vida (...) Nossa memria
nossa coerncia, nossa razo, nosso sentimento, at mesmo nossa ao (...) (Luis Buuel, In:
Sacks, 1998, p.23).
Caminhos Metodolgicos___________________________________________________
3
Fazer aproximaes e tentar conectar autores e campos do conhecimento que no se situam
numa mesma matriz de pensamento, num mesmo paradigma, pode ser produtivo tanto para
aprofundar o entendimento que se tem sobre cada um deles, quanto para retirar, destas
aproximaes, novas maneiras de ver, descrever, problematizar, compreender e analisar e
dar sentidos ao mundo. Mas por outro lado, tais aproximaes e conexes envolvem um
custo que muitas vezes excessivo a ponto de comprometer irremediavelmente essas
tentativas (Veiga-Neto, 2000, p.39).
Embora existam variaes entre os cientistas sociais, a maioria deles argumenta que as
biografias podem estar situadas entre as narrativas e o contar histrias de algo particular,
com concepes mais abstratas, interpretaes e explanaes. O escrever sobre vidas pode
servir a muitos propsitos (Smith, 1994, p.295).
3
J foram realizadas 16 entrevistas e biografias musicais, de um total de 20 alunas/professoras, que
constituem o grupo selecionado para esta pesquisa. No momento esto sendo transcritas e analisadas.
4
Quanto ao fato de estar trabalhando com um grupo formado por mulheres, Bevan e
Bevan (1999), chamam a ateno para o papel do entrevistador e a questo do gnero, no
momento da anlise das falas das entrevistadas, comentando que
A linguagem usada por mu lheres parece ser, para certos pesquisadores, diferente da
utilizada pelos homens, pois ao entrevistarem mulheres eles tentam traduzir essas
linguagens em categorias para a sua pesquisa... Esse argumento permite que algumas
autoras feministas argumentem que a representao adequada de mulheres requer
entrevistas de mulheres por mulheres... (Bevan e Bevan, 1999, p.16)
Atravs das entrevistas abertas, pretendo solicitar que estas professoras descrevam
suas biografias musicais, relembrando a infncia, na fase de adolescente e as muitas
interferncias sonoras como o uso do walkman, as fitas e CDs, e no momento atual,
enquanto adultas, com suas identidades profissional e pessoal, onde devero estar
contempladas questes sociais, polticas e culturais. A respeito das entrevistas na
perspectiva dos Estudos Culturais, elas no devem ser vistas como instrumentos para
captar a verdade, mas como estratgias de desencadeamento de discursos. Neste sentido,
Arfuch (1996, p.3) prope algumas questes de fundo que merecem uma reflexo numa
proposta que trabalhe com entrevistas como: de quantas maneiras se conta uma vida?,
qual dos outros (do entrevistado) convocado pelo investigador? e qual das vidas
possveis o entrevistador vai ajudar a tecer no relato? (p.3). A autora, que desenvolveu o
seu trabalho de pesquisa com entrevistas autobiogrficas, enfatiza que, nesse tipo de
abordagem com biografias, elas so vistas como um momento de inscrio ou como uma
identidade narrativa4 , e que o pesquisador dever estar atento para o seguinte:
4
Expresso utilizada por Paul Ricoeur em sua obra Soi -mme comme un autre Seuil, Paris, 1991.
5
Outra possibilidade o trabalho com biografias musicais escritas. Conforme
Smith (1994, p.286) o escrever sobre a vida vem com muitos rtulos: retratos, memrias,
histrias de vida, estudos de casos, biografias, jornais, dirios e mais e mais cada uma
com suas perspectivas e diferenas a serem consideradas, ressaltando o domnio geral das
biografias pessoais, sugerindo que escrever deveria ser refletir as vozes (individuais) e a
polifonia. Outro aspecto abordado pela autora que a autobiografia uma maneira de
escrever a vida e o trabalho (profisso), devendo estar ligada s narrativas, dentro do
contexto de escrever sobre a vida.
Nesta reviso de literatura, no foram ainda localizados artigos especificos sobre
biografias musicais, na perspectiva de descrever e analisar um grupo de professoras do
ensino fundamental, embora trabalhos sobre biografia, narrativas e autobiografias dos
campos da Pedagogia, Histria da Educao, Literatura e Feminismo, devam tambm
embasar a discusso terica. Dentre eles incluo Ferres (1994), Smith (1994), Heilbrun
(1999), Fontana (2000) e Fischer (2001) como algumas das autoras que pesquisam sobre
recuperao e interpretao de vidas de mulheres.5
A abordagem de Heilbrun (1999) sobre memrias de mulheres enfatiza um ponto
com o qual concordo e pretendo desenvolver neste projeto de tese:
5
Ver Ferres (1994) em seu artigo The paradox of woman: problems of feminist biographer. Australia: Griffith
University.
6
Como as alunas/professoras narram seu envolvimento com msica, durante sua
adolescncia, interpeladas pelos diversos estilos musicais, e incluindo possivelmente os
ditos discursos de rebeldia de algumas bandas de rock?
Onde, quando e como se ouvia msicas nos diversos momentos da vida? Que artefatos
tecnolgicos eram utilizados (toca-discos, walkman, rdio, etc.)?
Que discursos e prticas familiares foram incorporadas nas suas escolhas em termos de
preferncias e audincia? Quais foram os diferentes estilos e compositores ouvidos em sua
casa? A partir desta questo, pretendo abordar as diferenas entre geraes o gap6 entre
pais e filhos que poder emergir com referncia as tenses familiares e resolues sobre
os diferentes gostos e escolhas musicais dentro de um espao familiar.
6
Nesta proposta trabalho com o entendimento de gap como um espao a ser preenchido, uma brecha ou uma
uma lacuna entre duas partes.
7
Referncias bibliogrficas________________________________________________
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Sociedade, Buenos Aires, septiembre. 1996.
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8
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the Sociology of Music Education. Oklahoma: University Press, 1997.
9
MSICA CNICA PARA PIANO: CINCO PEAS BRASILEIRAS
Resumo. Este trabalho teve como objetivo investigar a Msica Cnica para piano
produzida no Brasil do sculo XX, no perodo que envolve os anos 70 e suas proximidades,
a fim de constatar as possibilidades de realizao artstica no gnero e contribuir, desta
maneira, para a pesquisa e a prtica de ensino, assim como para a divulgao da Msica
Contempornea Brasileira. Cinco peas representativas foram tomadas como objeto de
estudo: Cinco kitschs 1968 (Willy Correa de Oliveira); Comentrios sobre uma pea de
Mozart 1976 (Henrique Morozowicz); Redundantiae 1979 (Jorge Antunes); Recado a
Schumann 1983 (Gilberto Mendes) e XI Variaes 1983 (H. Dawid Korenchendler). A
abordagem passa pelos dados dos compositores, descrio nas peas, anlise dos recursos
cnicos nelas utilizados, referncia s interpretaes de pianistas que tiveram oportunidade
de realiz-las, proposta de utilizao de tecnologia nas apresentaes em pblico e relao
de outras peas de Msica Cnica dos mesmos autores. Em anexo, entrevistas: transcries
completas.
1
GANDELMAN, Salomea. 36 compositores brasileiros: obras para piano (1950-1988). 1 Rio de Janeiro:
FUNARTE/Relume Dumar, 1997.
2
A abstrao vanguardista tentava manter, conforme explica Steven Connor em Cultura ps-moderna. So
Paulo: Edies Loyola, 1992. p.129, um mundo de valor autolegitimador e absoluto em meio s degradaes
do kitsch (modelo repetido sem autenticidade, modismo, clich), mas acabou por cair, dela mesma, em
Background - e que serve de material bsico para todas as outras. A segunda pea ou
kitsch -, Nocturne, no utiliza em sua mtrica as figuras rtmicas tradicionais, mas um
tempo medido em centmetro por segundo e, com relao s alturas, traz smbolos criados
pelo prprio compositor, que contam com uma lista de instrues como guia para a
leitura. Como exemplo, podemos citar cabeas de nota sem figurao rtmica representando
as notas naturais e tringulos com o vrtice voltado para cima, representando notas com
sustenido, alm de tringulos com o vrtice voltado para baixo, representando notas
bemolizadas. O terceiro kitsch Make it yourself (Faa voc mesmo) orienta o pianista a
criar sua prpria partitura a partir de instrues anotadas pelo compositor. So sete
pequenos trechos de peas de compositores conhecidos (Chopin, Debussy, Liszt, Mozart,
Stockhausen, Bach e Bartok), ao lado de um quadro de acordes, montado por Willy Corra
de Oliveira, sobre a srie que d origem obra. O pianista deve reconstruir os trechos
expostos sobre os acordes propostos, recebendo consentimento de horizontalizar os
acordes, alm de poder, tambm, acrescentar idias pessoais desde que coerentes com
cada estilo s verses construdas. Jazztime, o quarto kitsch, uma parte de piano
acompanhada de bateria, cuja partitura escrita em notao tradicional. A parte de bateria
deve ser pr-gravada e acionada no palco para acompanhar o pianista. A atuao cnica
reservada ao kitsch n.5, Narcissus, constitudo apenas por um texto explicativo, que instrui
o pianista a editar em fita magntica fragmentos retirados dos kitschs anteriores que
representem os melhores momentos da performance do pianista, selecionados a partir do
seu prprio critrio e acionados por ele mesmo que, em seguida, deve descer do palco,
sentar-se em meio platia e apreciar sua prpria performance junto com o pblico. Ao
final, dever aplaudir-se veementemente, gritar BRAVO! e incentivar o pblico a fazer o
mesmo. A proposta deste trabalho que a edio da gravao em Narcissus seja realizada
em udio e vdeo para que pianista e pblico possam no apenas ouvir mas tambm ver o
que seriam os melhores momentos da apresentao.
Comentrios para uma pea de Mozart 1976 (Henrique Morozowicz mais
conhecido como Henrique de Curitiba), subintitula-se Collage-76, pelo fato de ser,
literalmente, uma colagem de trechos editados da Sonata K331 de Mozart ao lado de
determinado momento, numa padronizao, numa prtica de repetio no autntica de si mesma, num
modismo, num painel de clichs.
Comentrios, ou seja, variaes de trechos da pea de Mozart que j , ela mesma, um
tema com variaes. Tais comentrios so, em sua maioria, homenagens a grandes
pianistas e compositores. Em determinado momento, em um dos comentrios, Henrique
Morozowicz anota o elemento cnico idealizado por ele na composio da pea: indica uma
ambientao cnica - atravs de iluminao, cenrio, figurino e outros recursos teatrais
que possa sugerir um retorno ao sculo XVIII. Tal cena, que deve durar cerca de trinta
segundos, pode ser pr-gravada em vdeo para ser projetada no exato momento da
indicao cnica.
Jorge Antunes escreveu Redundantiae variaes para um arabesco e um suspiro:
cinco notas que se repetem insistentemente sugerindo movimentao circular e causando
efeito hipntico no ouvinte. O pianista deve, orientado por desenhos colocados pelo
compositor na partitura, emitir suspiros sonoros de boca aberta ou boca fechada. So cinco
suspiros que devem soar em altura, intensidade e durao diferentes e parecer naturais, ou
seja, decorrncia de performance supostamente desinibida e exuberante do intrprete. A
proposta deste trabalho ampliar a sonoridade dos suspiros atravs da utilizao de
microfone para que suas sutis nuances possam ser percebidas por todas as pessoas da
platia, onde quer que elas estejam situadas.
Msica para piano n.2 Recado a Schumann, composta em 1983, a pea de
Gilberto Mendes, onde o compositor indica elementos cnicos com o sistema semelhante
ao de nota de rodap. No momento em que deve ocorrer, a indicao cnica feita atravs
de nmeros e explicada no fim da pgina. Trata-se de expresso corporal e facial com
movimentao de cabea. A proposta deste trabalho que trs cmaras de vdeo possam
projetar, em tempo real, tomadas ensaiadas que possam mostrar, em momentos
estratgicos, detalhes das mos e/ou do rosto, alm da visualizao do corpo inteiro do
pianista, para que os elementos cnicos, de efeitos sutis, possam ser ampliados e bem
percebidos pelo pblico.
As XI Variaes de H. Dawid Korenchendler, obra composta, assim como a
anterior, em 1983, so variaes sobre uma das Variaes Breves para Piano e Orquestra,
do mesmo compositor. Na ltima das onze variaes, intitulada Saudosamente,
Korenchendler, inconformado por ter que por fim ao trabalho que, segundo ele, no deveria
ter fim, insere ao texto musical dois versos os ltimos do poema O florir do encontro
casual, escrito por Fernando Pessoa: Grande mgoa de todas as coisas serem bocados...
caminho sem fim. Tais versos devem ser declamados pelo pianista, ao mesmo tempo em
que interpreta o texto pianstico. Ainda aqui, sugerimos a utilizao de microfone para que
a voz do pianista seja ampliada e a declamao possa ser efetuada em tom de voz natural,
sem esforo nem impostao, num ambiente intimista e subjetivo, como parece ser o
ambiente psicolgico do poema e da composio musical.
Essas sugestes de utilizao de tecnologia nas peas de Msica Cnica para Piano
tentam viabilizar, de certa forma, a realizao das mesmas, j que os elementos cnicos
propostos pelos compositores so de tal maneira sutis, que podem no atingir um pblico
acostumado amplificao de sons e imagens, caracterstica do mundo ps-moderno em
sua constante necessidade de intensificao da realidade.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
OLIVEIRA, Willy Corra de. Cinco Kitschs. So Paulo: Ricordi, 1969. (Nova Msica
Brasileira. 1a. srie).
1
IMPROVISO GEOMTRICO
Resumo. O presente trabalho relata uma das atividades prticas de criao musical e
improvisao desenvolvidas na disciplina Oficina Bsica de Msica no Departamento de
Msica da Universidade de Braslia. A atividade descrita se baseia em uma estrutura
rtmica construda a partir de figuras geomtricas, as quais permitem combinaes,
imitaes e variaes que se desenvolvem numa composio ou num improviso rtmico,
meldico e harmnico. Como recurso didtico, utiliza-se um conjunto de figuras
geomtricas que permitem a manipulao concreta da estrutura rtmica, estimulando,
assim, um jogo criativo. As diferentes possibilidades de construo musical tornam a
atividade muito diversificada e inesgotvel, uma vez que permitida a adio de outros
elementos musicais como: diferentes escalas, variaes tmbrica e instrumental, variaes
rtmicas, subdivises do pulso e outros. O grande sucesso desse trabalho entre os alunos e
a qualidade dos mesmos me motivou a apresent-lo como relato de experincia. No se
trata de uma atividade desenvolvida a partir da atividade de pesquisa, mas fruto da minha
vivncia como professora de Educao Musical e especialmente da disciplina OBM.
I - INTRODUO
II - DESENVOLVIMENTO
ORIGEM
A Improvisao Geomtrica, objeto deste relato, se enquadra entre os princpios e a
metodologia adotados na disciplina OBM, tendo como enfoque a elaborao de um
"ostinato" rtmico que se repete vontade do compositor-intrprete tendo como referncia a
msica minimalista.
Essa atividade teve duas influncias bsicas, descritas a seguir:
pelos alunos, onde se distribui acentos diferenciados para criar um padro rtmico
dinmico.
Exemplo 1:
:
> > > >
Nesse padro, pode-se definir tambm uma linha meldica (baseada em qualquer modelo
de escala), um tipo de baixo, um tipo de harmonizao e variaes do modelo inicial.
Definido um elemento fixo, repetitivo, variante ou no, pode-se tambm explorar a
improvisao livre. Inicialmente, a atividade se baseava apenas nesse esquema pulso-
acento. Os pulsos que do estrutura ao trabalho so elementos de igual durao, que
estabelecem um referncia temporal e espacial sobre a qual construda a idia musical.
No h preocupao de se definir mtrica sob o ponto de vista de compasso; o prprio
padro que orienta o pulso e a mtrica da composio musical.
Exemplo 2:
= = =
> > >
= = =
> > >
Desse modo, o padro rtmico e meldico, adotado na atividade de criao musical, passou
a ser construdo sobre as figuras geomtricas. Essa escolha metodolgica mostrou-se mais
dinmica e interessante pois, feita a confeco das figuras geomtricas, os alunos passaram
a manipular essas representaes de forma ldica, criando uma diversidade de combinaes
e poliritmias que enriqueceram o trabalho de composio musical.
O Improviso Geomtrico manteve o pressuposto originrio (situao descrita na 1
influncia). Isto , a atividade est baseada numa referncia de durao (pulso regular)
com deslocamento dos acentos (o que gera uma mtrica irregular), porm mantendo o
ritmo regular do ostinato. Nessa sntese, manteve-se tambm as vrias possibilidades
composicionais a partir da explorao de variaes do motivo inicial e da utilizao de
diferentes recursos tcnicos de composio.
DESCRIO DA ATIVIDADE
6
:
> > >
Ostinato =
D Mi Sol R D D L
4x 2x DC 1
4x 2 x DC1
Uma outra variao interessante e marcante desse trabalho est na opo por uma seqncia
de pulsos constantes (no exemplo acima, 9 pulsos) com variao do desenho geomtrico.
Opo essa que permite trabalhar com as formas musicais bsicas.
Exemplo 5 C:
4x 4x
4x 4x
4x
CONCLUSO E ANLISE
Uma das mais importantes caractersticas desse trabalho est na reflexo sobre o conceito
de ritmo. No sentido temporal de periodicidade, ou seja, de algo que tem um ciclo (incio,
meio e fim) , encontra-se a regularidade dos pulsos que definem tambm a regularidade do
9
padro rtmico. No incio da atividade, pede-se aos alunos que procurem manter um
"campo rtmico"1 constante, formado por um mesmo nmero de pulsos (7, 8, 9 , 11 etc). O
contraste a essa regularidade dado pelo acento que deslocado de acordo com a figura
geomtrica, gerando um desequilbrio rtmico e emocional. Mas o padro rtmico tem, por
sua vez, um equlibrio e uma regularidade. Nesse caso, o contraste e desequilbrio rtmico
acontecem novamente com os acentos na variao das figuras geomtricas (exemplos 5 B e
5 C). Quanto durao dos sons, pode-se observar a durao constante do pulso referncia
e a durao do acento. Os alunos tm a liberdade de criar linhas meldicas contrastantes
com o desenho rtmico, criando assim uma variedade de duraes ou rtmos (no sentido de
combinao de duraes).
Outro ponto relevante no trabalho est na assimilao do padro rtmico, fato fundamental
para a improvisao em conjunto, desenvolvendo no aluno a execuo musical participativa
(todos so importantes para o resultado final). O envolvimento do grupo com o trabalho e
com o motivo bsico, construdo em conjunto, gera unidade tanto na composio musical
quanto na sua execuo e na apresentao pblica. De modo geral, esse trabalho muito
estimulante para os alunos e a escolha por escalas modais e pentafnicas facilita a
improvisao dos alunos que no so estudantes de msica ou que no tm essa experincia
musical. Os trabalhos realizados dentro deste roteiro so de tima qualidade musical
(dentro da possibilidade instrumental da disciplina). O resultado sonoro muito
interessante e diversificado, pois o jogo de repeties e constrastes, regularidade e
irregularidade, fica muito evidente. Alm disso, a facilidade de registro e o jogo ldico das
figuras geomtricas agiliza o exerccio, gerando ilimitadas possibilidades de combinaes
padres e de forma.
Esse trabalho, como modelo pedaggico, pretende tambm ser uma referncia para os
alunos que iro trabalhar com Educao Musical, o que j vem acontecendo segundo alguns
relatos informais de ex-alunos.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1
Essa terminologia tem sido usada empiricamente, no tenho referncia cientfica do termo.
10
FE / UnB, 1988.
PAYNTER, J. and ASTON, P. Sound and Silence: classroom projects in creative music.
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WISNIK, Jos Miguel O som e o sentido uma outra histria das msicas. So Paulo,
Crculo do Livro - Companhia das Letras, 1989.
REFERNCIAS DISCOGRFICAS
Resumo. Este texto apresenta um resumo de um projeto de pesquisa que est sendo
desenvolvido no Conservatrio Estadual de Msica CPC de Uberlndia e trata da
construo de aes pedaggicas voltadas para o ensino de Teoria da Msica e
Percepo Musical. Fundamentado na proposta da construo de saberes
profissionais que emergem das experincias prticas pessoais e dos estudos
reflexivo-crticos feitos em grupo, o projeto visa tambm formao continuada dos
profissionais envolvidos. Este projeto iniciou-se em fevereiro deste ano envolvendo
oito professoras que trabalham com 1600 alunos distribudos em 72 turmas nos
perodos da manh, tarde e noite. Com durao prevista de doze meses, este projeto
esta organizado para ser realizado em trs etapas.
INTRODUO
Designada por teoria da msica, fundamentos da linguagem musical,
musicalizao ou outros diferentes nomes, a teoria uma disciplina que faz parte,
explcita ou implicitamente, de todo currculo de msica. O seu prprio nome
determina sua principal caracterstica, ou seja, uma disciplina terica. Entretanto,
ela no deveria ser exclusivamente terica.
(ou eles no conseguiam estabelecer) relao com a sua prtica musical ou com seus
objetivos enquanto alunos de msica.
que seriam tratados no projeto ao longo do ano e que foram levantados por todos os
professores participantes.
O PROJETO
Este projeto tem dois plos distintos porm totalmente complementares. O
seu objetivo principal buscar contedos e metodologias adequadas prtica das
disciplinas teoria e percepo musical no Conservatrio Estadual de Msica de
Uberlndia de forma que estas sejam altamente significativas para os alunos e
atendam suas necessidades no percurso de construo de seu conhecimento musical
dissipando a dicotomia entre teoria e prtica Conseqentemente, o outro plo do
projeto est voltado para a formao profissional dos professores que atuam nestas
disciplinas, ou seja, oportunizando a eles condies adequadas para atuao dentro
da proposta.
METODOLOGIA
Esta uma pesquisa qualitativa e foi organizada em trs etapas distribudas
em 12 meses.
1 etapa 1 semestre
- Acompanhamento dos professores da disciplina e observao de seus trabalhos de
seleo, catalogao e anlise do repertrio a ser utilizado em aula, porm sem a
interferncia das pesquisadoras.
- Acompanhamento dos resultados das aulas atravs de depoimentos informais de
alunos da disciplina teoria e percepo e de professores de instrumento.
- Realizao de reunies mensais com todos os professores envolvidos e as duas
coordenadoras do projeto para levantamento dos depoimentos dos professores quanto
: dificuldades encontradas na realizao das aulas; resultados obtidos; reao dos
alunos frente s mudanas propostas; sistemas de avaliao adotados. Nestas
reunies tambm so discutidas as dvidas de contedos e procedimentos trazidas
pelos professores.
- Anlise das avaliaes feitas por escrito pelos alunos das 72 turmas de
musicalizao e percepo referentes a contedo, do professor, sistema de avaliao
e comentrios diversos a critrio do aluno.
3 etapa 2 semestre
- Reunies semanais com durao de duas horas/aula com as professoras da
disciplina e as duas professoras coordenadoras do projeto para estudo, anlise e
discusso da literatura oferecida pelas coordenadoras.
- Elaborao das aulas, anlise e discusso dos procedimentos.
- Avaliao do trabalho realizado durante todo o ano.
6
1
Os nomes dos alunos citados so fictcios.
7
No entanto, existe uma grande preocupao dos alunos com a matria a ser
aprendida. A cultura da quantidade e contedo sobre a qualidade, a funo e a
aplicabilidade na construo do conhecimento musical prevalecem, como podemos
observar nestes comentrios.
CONSIDERAES FINAIS
Este projeto tem nos mostrado a possibilidade de articular a reflexo terica e
as aes pedaggicas de um grupo de professoras em busca de aulas mais
significativas para os alunos. Alm disso, a construo conjunta tem garantido a
formao continuada e a possibilidade de crescimento de todos os envolvidos.
O envolvimento e o interesse dos alunos nas aulas, tambm tm sido
evidenciados pelo seu aproveitamento deles e pela aplicao prtica nas aulas de
instrumento a partir de uma postura mais ativa e questionadora.
8
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
INTRODUO
Uma observao sobre a atuao dos professores de educao musical mostra
que esta se fundamenta, freqentemente, no empirismo, embora essa atitude no possa
ser generalizada. Ou, ainda, as propostas so constitudas daquilo que o professor mais
gosta ou de um repertrio freqentemente desvinculado dos conceitos que so
trabalhados em sala-de-aula. H necessidade de uma linha mestra que norteie o
professor para concretizar seus objetivos, indo ao encontro dos anseios da criana. Esta
linha seria seguir um mtodo? Ou vrios ao mesmo tempo? Ao meu ver, seguir apenas
um mtodo privaria as crianas de se beneficiarem de outros contedos existentes
noutras propostas. Violeta Gainza diz:
esta no uma poca de escolhas absolutas, excludentes ou definitivas
em matria de mtodo. Todo aquele que responde com profundidade s
necessidades das crianas (...) deve ser utilizado e sabiamente
combinado e harmonizado. (Gainza, 1977, p. 75)
Por outro lado, seguindo vrios mtodos simultaneamente, devemos ter
conscincia dos seus princpios e de que eles foram concebidos numa determinada
poca, para uma determinada cultura. Desta forma, podemos dar-lhe um novo
direcionamento dentro da nossa realidade. A esse respeito, Maura Penna afirma:
No podemos esquecer que estes mtodos carregam uma concepo de
msica e de mundo. Podemos nos reapropriar de exerccios de vrios
mtodos, na condio de, compreendendo os princpios que os embasam,
redirecion-los para as metas que almejamos. (Penna, 1990, p. 66)
Um segundo problema o da poluio sonora, em conseqncia da vida
moderna. Pesquisas indicam que o homem est ficando gradualmente surdo devido a
ela. Murray Schafer, em seus trabalhos sobre educao musical, enfatiza a necessidade
da criao e da conscincia do som ao invs de teoria e habilidades instrumentais. Ele
expande os conceitos tradicionais de treinamento auditivo, que pode-se fazer a partir da
paisagem sonora, gerando no aluno uma conscincia crtica em relao ao ambiente
acstico, fazendo-o ainda participar ativamente do fazer musical, preparando-o para
ouvir novas formas de msica. O aluno, assim, fica sensvel ao problema da poluio
sonora.
Edgar Willems, por sua vez, defende a cano como uma forma eficaz de
desenvolver a musicalidade da criana e a audio interior, pois age diretamente na sua
sensibilidade afetiva e musical e, ao mesmo tempo, sintetiza os elementos musicais
rtmicos e meldico-harmnicos e a poesia do texto. Esse educador elaborou um mtodo
ativo de educao musical, cujos princpios bsicos so:
1 as relaes psicolgicas estabelecidas entre a msica e o ser humano;
2 a no utilizao de recursos extra-musicais no ensino da msica;
3 a nfase no trabalho prtico antes da teoria;.
Schafer, sem ter precisamente concebido um mtodo, concentra seu trabalho de
educao musical em trs campos:
1 - descobrir o potencial criativo dos alunos, para que eles faam sua prpria
msica. Ele faz de sua aula um momento de enriquecimento, pois todos tm uma
soluo diferente para os problemas levantados.
2 - fazer com que os alunos conheam a paisagem sonora do mundo e
considerem-na uma composio musical, assumindo uma viso crtica para tentar
melhor-la;
3 - encontrar um ponto de unio entre as artes, onde as mesmas possam
desenvolver-se e harmonizar-se.
DIFERENAS E SEMELHANAS ENTRE AS PROPOSTAS DE
EDGAR WILLEMS E MURRAY SCHAFER
Ao analisarmos o Mtodo Willems e as propostas de Schafer, importante
observarmos o contexto em que os dois esto inseridos. Violeta Gainza afirma que, na
primeira metade do sculo XX, ocorreu um perodo de revoluo e mudana que
instaurou os aspectos ativos e vitais do educando como eixo do processo educativo.
Antes, a criana no era levada em conta quanto aos seus anseios e necessidades. Data
desta poca o Mtodo Willems, que prope partir da vivncia para chegar-se ao
conhecimento terico. Outro perodo, de reviso e atualizao dos aspectos daquela
revoluo, situou-se entre os anos 60 e 70, momento dos trabalhos de Schafer.
Outro fator que devemos considerar o fato de Willems ser autor de um mtodo,
com etapas a serem cumpridas e respeitadas para que se alcancem seus objetivos.
Schafer no criou nenhum mtodo mas apresenta caminhos bem abertos, ressaltando
que foram vlidos para ele, podendo ser recriados pelo educador musical.
Uma semelhana marcante nos dois msicos a preocupao com a acuidade
auditiva. Willems aponta a audio como indispensvel ao aperfeioamento musical do
aluno. Assim, aconselha que o professor possua um vasto material sonoro para que os
alunos realizem atividades de escutar, reconhecer, reproduzir, comparar, ordenar,
emparelhar e improvisar com eles. Schafer utiliza toda a paisagem sonora para fazer
exerccios similares. Tal preocupao pode ser ilustrada nas seguintes frases:
Os maus msicos no podem ouvir o que tocam; os medocres
poderiam ouvir, mas no ouvem; os msicos medianos ouvem o que
tocaram; s os bons msicos ouvem o que vo tocar (Willems, 1961,
p. 96).
No minha vontade confinar o hbito de ouvir msica aos estdios e
salas de concerto. Os ouvidos de uma pessoa verdadeiramente sensvel
esto sempre abertos: no existem plpebras nos ouvidos (Schafer,
1991, p. 288).
Estas frases tambm prenunciam a direo tomada por eles. Das palavras de
Willems, depreende-se que ele est, de certa forma, direcionando a ouvir msica em
salas de concerto, enquanto Schafer extrapola este limite.
Ambos consideram que todos devem ter acesso msica, pois atribuem grande
valor presena da arte na vida. Criticam o ensino musical que visa apenas o
aperfeioamento tcnico de um instrumento.
Para Willems, a leitura e a escrita musical s podem ser iniciadas aps a
vivncia sensorial dos elementos sonoros. Quando o professor perceber que a leitura e a
escrita relativas estejam automatizadas, passar para a leitura e a escrita absolutas
atravs da pauta de onze linhas, com o uso conjunto das claves de sol e f 4a. linha.
Segundo Schafer, antes de introduzir a notao tradicional, preciso que o aluno
vivencie os sons, componham com eles e criem sua prpria grafia. Depois, descobrindo
que a notao convencional ainda o sistema mais adequado comunicao da maioria
das idias musicais, o aluno vai querer aprend-la. Assim, ambos concordam que o
aluno s passe para a escrita no pentagrama aps ter vivenciado bastante o fato sonoro e
t-lo representado atravs de grficos (Willems) ou mais livremente (Schafer).
Duas frases so sintomticas em relao anlise de semelhanas e diferenas:
O professor de Msica no deveria ignorar as principais leis de
ressonncia dos corpos (Willems, 1961, p. 48).
Hoje se ouve mais msica por meio de reproduo eletroacstica do
que na sua forma natural (...) No deveria o estudante compreender o
que acontece quando a msica produzida deste modo? (Schafer,
1991, p. 122)
Tambm aqui pode-se estabelecer um paralelo entre preocupaes comuns no
caso, a forma de produo do som e diferenas da postura relativa natureza do som
produzido para um, somente pela ressonncia dos corpos; para outro, a reproduo
eletroacstica e ao ator principal do processo educativo para um, o professor; para
outro, o estudante.
Ambos falam em iluses auditivas embora Willems no use este termo para
indicar um som que se transforma e ganha novo significado. Por exemplo: Willems diz
que um timo meio para relembrar o canto dos pssaros transform-lo em elementos
sonoros da linguagem (palavras, frases). Schafer, por seu turno, citando Da Vinci, diz
que nas badaladas dos sinos podem-se encontrar todas as palavras que se puder
imaginar.
Para Willems, o ritmo o elemento mais material da msica, tem a prioridade;
porm, a melodia tem a superioridade. Na educao rtmica, preciso que se adquira a
prtica dos trs elementos: tempo, compasso e subdiviso dos tempos. Ele d grande
importncia improvisao de melodias, pois traz tona as riquezas musicais
acumuladas no subconsciente.
Para Schafer, qualquer combinao de sons intencionalmente organizada pode
ser melodia; e ritmo compreende qualquer seqncia de apoios organizados vontade,
dependendo do efeito particular que se pretende atingir.
Observa-se tambm que Willems considera que a melodia quase inexistente no
canto dos primitivos, enquanto Schafer diz que as linguagens primitivas so ricas em
flexes, emoes e muitos sons complexos, portanto, mais prximas da cano do que a
nossa.
Willems no admite atividade extra-musical no ensino de msica mas aceita o
uso de analogias para aumentar a compreenso; Schafer emprega analogias
constantemente e faz interligao com outras reas.
Willems, mesmo envolvendo as crianas ativamente no processo de ensino,
deixa pouco espao para o desenvolvimento do senso crtico; Schafer solicita
constantemente o posicionamento crtico dos alunos.
A diferena mais marcante das suas posturas em relao educao musical
que Willems encaminha o seu mtodo pelo e para o padro tonal, que considera inato ao
ser humano, e critica o ensino fora dos padres clssicos. Afirma que a altura a
propriedade mais importante do ponto de vista artstico, sendo timbre e intensidade
propriedades secundrias. Schafer explora toda a possibilidade de produo do som,
apontando para a necessidade de uma limpeza de ouvidos antes de qualquer
treinamento auditivo. Assim, incentiva o uso dos sons nas diversas formas: imitao de
eventos sonoros de maneira precisa, narrao de estrias com sons da boca,
desvinculao entre palavra e seu significado semntico, que sacrificado pela
sonoridade. Dessa forma, pode-se dizer que a msica, para Willems, das alturas,
enquanto para Schafer, dos timbres e texturas.
CONCLUSO
Foi apresentado um estudo comparativo das propostas pedaggicas, aplicadas ao
ensino da msica, de Edgar Willems e Murray Schafer. Esses pedagogos, vivendo em
momentos histricos distintos, tomaram caminhos diferentes, mas suas idias incluem
muitos aspectos concordantes. Willems autor de um mtodo sistematizado,
fundamentado na psicologia infantil, com etapas definidas a serem seguidas. Schafer
apresenta propostas revolucionrias de educao sonora musical, onde o aprendizado
est intrinsecamente relacionado ao fazer. Portanto, pede uma participao constante do
aluno na criao e na produo do som e da msica.
O trabalho de conscientizao sonora desenvolvido por Schafer conduz a um
aguado grau de sensibilidade aos sons. Por isso, o professor de msica deveria abordar
em seu trabalho o problema da poluio sonora. A criana de hoje est pouco sensvel a
isso. Schafer, com suas propostas, nos abre espao para trabalhar com crianas tambm
nesse sentido, buscando gerar nelas uma vontade de contribuir para o melhoramento da
paisagem sonora em seus ambientes.
Willems aponta caminhos que respeitam o desenvolvimento natural da criana.
Ele coloca a cano como recurso pedaggico muito vlido para trabalharmos os
elementos da msica.
A formao do pensamento crtico e da verdadeira musicalidade colocada em
um plano superior aquisio da tcnica musical. Eles no apontam solues prontas
para os problemas pedaggicos: cada professor deve adaptar suas orientaes conforme
a situao, considerando a realidade dos alunos.
Ambos do grande nfase criatividade. importante que um trabalho voltado
para o fazer criativo no d modelos e sim direes abertas, que provoquem a
imaginao. Dentro deste pensamento, foi composto o repertrio de exerccios e
canes (vide sumrio em anexo), o qual nasceu do desejo de traduzir na prtica as
idias dos dois msicos, como tambm da inteno de contribuir para reduzir a relativa
escassez de material apropriado para a iniciao musical. Willems fala dessa dificuldade
e da importncia do professor criar suas prprias composies, inclusive com a
contribuio dos alunos, que ele afirma ser de alto valor pedaggico. Assim, no
repertrio aqui proposto, constam peas com trechos em aberto, para serem completadas
pelas crianas. Alguns exerccios j experimentados demonstram marcante participao
crtica da criana, comprovando que so criativas, tm aguado senso de observao e
encontram vrias formas de desenvolver um exerccio, dando-nos tambm a
possibilidade de assumir outros direcionamentos para nossas propostas. Com este
repertrio, pretende-se ento estimular a criatividade, que no pode surgir do nada, pois
o professor precisa dar elementos para, a partir da, o aluno trabalhar consciente e
criticamente.
No houve inteno de esgotar o contedo extremamente rico do pensamento
dos dois msicos e pedagogos estudados, nem tampouco de abordar todas as
possibilidades na elaborao do repertrio. Muito ainda pode ser discutido e recriado, e
nesse sentido h uma porta aberta para aqueles que se interessarem por essa rea.
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Anexo
Repertrio
9 - Exploraes sonoras
9.1 - Exerccios para improvisaes rtmicas/sonoras, utilizando
os recursos da boca atravs de slabas, palavras e frases
a) com slabas Brincando com slabas
Verso 1 - Eco
Verso 2 - Cnone
Verso 3 - Com instrumentos
rtmicos
Batanana Sarapanan Tana
Percepo com slabas
b) com palavras Sapato
Sonorizando palavras I
Sonorizando palavras II
c) com frases Frases sonoras I
Frases sonoras II
9.2 - Sons contrastantes
a) Procurando sons contrastantes
9.3 - Isolando sons
a) Isolando sons desejados
9.4 - Estrias sonoras
a) Trs estrias sonoras
9.5 - Conversas sonoras
a) Conversa sonora I
b) Conversa sonora II
9.6 - Exerccios diversos com sons
A PRTICA DE ENSINO DE MSICA:
REFLEXES ACERCA DE UMA EXPERINCIA DOCENTE DESENVOLVIDA
NA UFPE
Resumo. Este relato trata da minha experincia como professora substituta do Centro de
Educao da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ministrando a disciplina
Prtica de Ensino de Msica. O objetivo principal desse trabalho foi levar as/os
licenciandas/os, a partir da vivncia de situaes pedaggicas nos campos de estgio, a
questionarem as prticas de ensino conservadoras e a refletirem acerca da importncia de
prticas pedaggico-musicais consubstanciada numa perspectiva crtica e humanista. Para
isso, o embasamento terico se fez imprescindvel, provocando reflexes mltiplas acerca
de que educador/a queremos ser, para intervir como neste mundo. A questo central que
foi se aprofundando ao longo desses dois anos de docncia - se refere s nossas identidades
musicais/profissionais/pessoais: ensinar msica numa perspectiva que fragmenta e aliena
no s o objeto, mas o prprio sujeito na sua relao com o conhecimento musical e com
outros sujeitos, ou ensinar, buscando o sentido da msica nas nossas vidas?
Introduo
Este relato trata da minha experincia como professora substituta no Centro de Educao da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ministrando a disciplina Prtica de Ensino
de Msica, durante o perodo de 2000 2002. Neste perodo, pude acompanhar trs turmas
de licenciandos/as desde o incio concluso de seus estgios, assim como, trabalhei com
turmas quer em fase de concluso, quer em fase inicial de estgio. O nmero de alunos/as
girava em torno de oito dez estagirios/as por turma.
Como campos de estgio considerei espaos variados, entre os quais, escolas pblicas de
ensino fundamental e mdio; escolas particulares de ensino fundamental e mdio; escolas
especficas de msica (pblica e privada); intervenes em comunidades; entre outras
possibilidades que se ampliaram ao longo desses dois anos. O critrio de seleo do campo
envolvia basicamente trs aspectos: ser de interesse do/a aluno/a; ser de interesse da
instituio acolhedora; abranger mltiplos espaos, mas ter como locus principal a escola
pblica.
Princpios Norteadores
Perceber a instituio escolar como espao sociocultural de vivncias diferenciadas e
construo de identidades, foi um aspecto considerado importante nesse trabalho de
reflexo-atuao docente. Modos de ensino dissociados da dinmica da escola, e desta com
a comunidade, foram problematizados. Levar as/os licenciandas/os a questionarem os
limites de prticas de ensino conservadoras (instrumental/tcnico/racionalista) e a
refletirem acerca da importncia de prticas pedaggico-musicais consubstanciada numa
perspectiva crtica e humanista, e que principalmente, faa sentido para suas/nossas vidas,
foi o maior objetivo deste trabalho. Eu estava consciente que, observaes dos campos de
estgio, elaborao de planos de aula, regncia de classe, relatrio final, socializao das
experincias, entre outras responsabilidades das/os estagirias/os, alm das minhas, s se
constituiria em um todo significativo caso fosse estimulado nas/os estagirias/os sua
criticidade, base para uma prtica dialgica, aberta s mudanas inerentes ao mundo vivido
que criado/re- criado por todos/as ns.
Metodologia
Atravs de discusses, seminrios e debates realizados ao longo dos encontros semanais em
sala de aula, buscava-se associar a dimenso terica e prtica do ato de ensinar. Nessa
perspectiva, refletiu-se sobre questes trazidas pelos/as alunos/as e por mim, tais como:
limites e possibilidades do mercado de trabalho local; a msica popular e o ensino de
msica nas escolas; problemas referentes aos critrios de avaliao em msica; mudanas
paradigmticas no campo da Educao e da Educao Musical; a instituio escolar como
espao social permeado de conflitos, tenses e possibilidades; entre outras questes, inter-
relacionando essas discusses com demais problemas que emergiam dos campos de
estgio.
Neste sentido, foram selecionados textos - tanto na rea de Educao Musical quanto na
rea de Educao - para fundamentar as discusses. A seleo dos textos mudava a cada
planejamento semestral na medida em que os interesses e as necessidades dos grupos-
classes eram distintos, e, a medida que o meu entendimento acerca dos objetivos e
possibilidades da disciplina se ampliava. A ttulo de ilustrao, entre as leituras realizadas
temos o seguinte quadro:
Autor/a Ttulo Temtica
Cipriano Luckesi Avaliao Educacional Escolar: para alm do Avaliao formativa
autoritarismo
Cipriano Luckesi Avaliao da aprendizagem escolar: apontamentos sobre a Avaliao formativa
pedagogia do exame
Jusamara Souza Parmetros Curriculares Nacionais: Ensino fundamental e Parmetros Curriculares
mdio, polticas e aes para o ensino de msica nas Nacionais
escolas
Maura Penna Ensino de Msica: Para alm das fronteiras do Concepo de educao
conservatrio musical
Paulo Freire Pedagogia da autonomia; saberes necessrios a prtica Concepo de educao
educativa
Paulo Freire Pedagogia da Indignao: Cartas pedaggicas Concepo de educao
Regina Santos Repensando o ensino da msica Concepo de educao
musical
Teca Brito Aprendendo a aprender com o aluno o que ensinar: Metodologia de ensino de
metodologia para uma educao musical significativa msica
O Campo de estgio
O Conservatrio Pernambucano de Msica (CPM), o Centro Profissionalizante de
Criatividade Musical do Recife (CPCMR) e o Centro de Educao Musical de Olinda
(CEMO) so escolas especficas de ensino de msica, sendo o CPM uma autarquia e o
CPCMR e o CEMO escolas pblicas de ensino tcnico. Logo quando assumi as aulas estas
instituies eram os campos de estgio preferidos pela maioria das/os alunas/os,
movidas/os pelo interesse de ensinar seus instrumentos (majoritariamente piano e violo).
Sensibiliz-las/os a experienciar outros espaos e possibilidades de interveno
pedaggico-musical, principalmente escolas de ensino fundamental e mdio, foi uma tarefa
rdua mas gratificante. Segue exemplos de campos de estgio - alm do CEMO, CPM E
CPCMR justo acima mencionados - com alguns breves comentrios:
Colgio de Aplicao da UFPE. Passou a atender uma significativa nmero de
licenciandos/as de msica;
Escola Municipal Joo Pernambuco. Esta a nica escola municipal que oferece, a nvel
do ensino tcnico profissionalizante, formao nas reas de Artes Visuais, Artes Cnicas,
Dana e Msica em Recife;
Escola Municipal Pe Antonio Henrique. Um aluno optou por esta escola que desenvolve
trabalhos com deficientes auditivos. Nela, uma professora graduada em Letras regia um
coro utilizando a linguagem de sinais. Este fato motivou o estagirio a aprender, com a
ajuda da referida professora, a linguagem de sinais para trabalhar com essas crianas.
Assim, ele passa a desenvolver atividades pedaggico-musicais para crianas surdas, em
parceria com o trabalho coral daquela professora. Isto provocou em nossos encontros
semanais discusses acerca da educao musical no mbito da educao inclusiva;
Projeto Feliz Idade. Projeto elaborado pela Igreja Batista de Prazeres e promovido em
parceria com a Prefeitura de Jaboato dos Guararapes. Espao onde foi desenvolvido por
estagirias/os um trabalho de musicalizao com idosas/os, trazendo questes referentes
educao musical com adultos no contexto religioso para as nossas discusses em sala de
aula.
Consideraes finais
A minha perspectiva de educao est alinhada com o pensamento de Freire (1997), educar
um processo que se dar ao longo de nossas vidas, pois os saberes que geramos so
temporais, contextuais, dinmicos, portanto limitados, devendo ser re/criados.
Esta compreenso de que somos sujeitos sempre em formao vital para a/o
licencianda/o, futuro/a professor/a. Acredito que tal compreenso se dar atravs de uma
prtica crtica, dialgica, onde a/o licencianda/o possa ser respeitado como sujeito
estruturador/a de seu prprio conhecimento.
Esta foi meu primeiro trabalho na universidade como docente. Considero a Prtica de
Ensino uma disciplina instigante, momento de sntese e articulao entre as disciplinas do
curso de licenciatura, momento onde os/as alunos/as se tornam nossos/as colegas, futuros
professores. Esta foi uma experincia marcante, que me propiciou inclusive uma viso
panormica do ensino de msica nas escolas (em Pernambuco) e outros espaos
pedaggicos. Guardo boas memrias das discusses e debates travadas com as/os
licenciandas/os em msica com quem tive o prazer de conviver.
Referncias Bibliogrficas
FREIRE, Paulo: Pedagogia da Autonomia Saberes necessrios prtica
educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996.
2
periferia da Grande Florianpolis que procuram atualmente suas oficinas - atravs de
atividades relacionadas ao conhecimento e prtica musical, aliado a aquisio de
habilidades relacionadas a confeco de instrumentos musicais, dando a estas o acesso a
uma educao musical consciente, contextualizada e de qualidade, que contribua para o
desenvolvimento de suas potencialidades.
Ao todo o Projeto contempla atualmente as seguintes atividades:
musicalizao infantil;
oficina de flauta doce;
oficina de ceramofone (percusso e construo de instrumentos);
oficina de canto coral;
oficina de dana e ritmos brasileiros (dana e percusso);
prtica conjunto.
3
Aprender da fazer: devemos ter a clareza de que o fazer extrapola a simples aquisio de
habilidades prticas e tericas ou formao tcnica na rea da msica. Uma educao
musical coerente no deve apenas formar pessoas competentes em suas habilidades
musicais, instrumentais, artsticas. Deve tambm auxiliar na formao de seres capazes de
interagir na sociedade, que possam agir de maneira cooperativa, criativa e atuante na
comunidade, nos mais diversos setores da vida.
Aprender a conviver: vivemos num mundo de relaes, em um trabalho de educao
musical estas relaes e a oportunidade para a convivncia em grupo esto sempre muito
presentes. O desafia para uma proposta em educao musical, principalmente num contexto
comunitrio saber aproveitar as oportunidades de convivncia de seus educandos para que
o grupo ensaie o convvio na diversidade, os princpios democrticos, a resoluo de
conflitos, em suma: o exerccio da cidadania. O Projeto Msica & Cidadania, como o
prprio nome refere, busca trabalhar estas questes nos momentos educacionais, pois acima
de tudo acredita na educao como um ato integral, onde os valores trazidos no devem ser
desconsiderados, correndo o risco se assim o forem, deste se tonar um interveno
perifrica e no educacional.
Aprender a ser: aqui coloca-se a necessidade da assuno de si mesmo. A educao deve
levar o ser humano sua prpria independncia, busca de sua identidade o uso de sua
criatividade, formao de seres de deciso. Uma educao musical verdadeiramente
engajada com este ideal possui a clareza da importncia dos momentos educacionais como
oportunidades fomentadoras do exerccio da escolha crtica, do desenvolvimento esttico e
intelectual, e das oportunidades da expresso da criatividade, experimentao e de
descoberta de seus prprios potenciais individuais.
4
aprofundamento de suas aes no contexto em que atua. Listamos aqui algumas estratgias
utilizadas:
- Visitas s famlias e s escolas para divulgao do projeto;
- Realizar eventos de divulgao;
- Promover reunies festivas, peridicas para atrair as famlias;
- Realizar reunies sistemticas com as escolas com vistas a desenvolver aes
conjuntas;
- Realizar, ao incio do ano letivo, reunio com professores para identificar as
necessidades/potencialidades dos alunos;
- Interagir com a comunidade e instituies que atuam na regio, participando de
iniciativas que venham ao encontro dos anseios e necessidades de
desenvolvimento local;
- Realizar apresentaes artsticas dentro e fora da comunidade, alm de
participao e apoio em eventos promovidos pela comunidade.
5
conhecimento, e enquanto possuidora e formadora de significados nas vidas e no cotidiano
do contexto dos integrantes do Projeto.
6
compreenso e desmistificao de saberes institudos, e posturas de vida impostos s
classes populares, tidos como verdades incontestveis.
Referncias bibliogrficas
GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma biobibliografia. So Paulo: Cortez: Instituto Paulo
Freire; Braslia, DF: UNESCO, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 16a. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2000.
7
1
Resumo. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma pesquisa em andamento sobre a
interdisciplinaridade entre a rea de msica e as demais reas de conhecimento, nas sries
iniciais do ensino fundamental. Prope-se questes de pesquisa referentes existncia, no
espao escolar, de um trabalho interdisciplinar entre a rea de msica e as demais reas de
conhecimento; considerao da msica como elemento articulador s demais reas de
conhecimento propiciando um trabalho interdisciplinar e, na ausncia do professor
especialista, proposta interdisciplinar como um caminho facilitador do trabalho do
professor regente em msica. Metodologicamente, prope-se que as informaes sejam
coletadas nas sries iniciais do ensino fundamental em escolas da rede pblica e particular
de ensino, na cidade de Araguari-MG, por meio de entrevistas orais com professores.
Espera-se que a anlise possa apontar, entre outros, elementos para a discusso sobre a
formao em msica de professores, numa perspectiva de atuao multidisciplinar.
entanto, destacamos aquela que consideramos uma das mais instigantes, que poderia ser
redigida em trs partes:
Existe, no espao escolar das sries iniciais do ensino fundamental, um trabalho
interdisciplinar entre a rea de msica e as demais reas de conhecimento?
A msica poderia ser considerada elemento articulador s demais reas de
conhecimento, propiciando um trabalho interdisciplinar nesses nveis de ensino, no
deixando de ser contemplada enquanto rea de conhecimento?
Na ausncia do professor especialista em msica, a proposta interdisciplinar seria um
caminho facilitador do trabalho do professor regente em msica nesse nvel de ensino?
o do professor regente. Alis, a busca por um trabalho integrado entre ambos talvez fosse o
caminho ideal, como aponta Bellochio (2001)
...bastam 45 minutos de aula de msica semanais, de modo desarticulado
dos demais conhecimentos que esto sendo trabalhados pelos professores,
para potencializar a educao musical na escola? Uma possibilidade que
vejo a da articulao mais consciente, crtica e madura entre o professor
atuante nos anos iniciais de escolarizao e os profissionais especialistas no
ensino de Msica. Longe de pensar que o professor desses anos poder
substituir o professor especialista, acredito na construo de um trabalho
mais colaborativo, que possa articular melhor a atuao desses
profissionais da educao na escola (BELLOCHIO, 2001, p.46).
Tais reflexes tambm no significam que para utilizar a msica de maneira interligada
s diversas reas de conhecimento, o professor regente deva conhecer menos sobre a
rea, ou retornar a um trabalho polivalente, que caracterizou o ensino de Educao Artstica
por ocasio da vigncia da LDB n 5.692/71, ou ainda restringir seu conhecimento a
algumas canes, atividades, brincadeiras ou jogos apropriados para este ou aquele
contedo.
justamente sobre a possibilidade do professor regente abordar a rea de msica numa
perspectiva interdisciplinar, de maneira reflexiva e crtica, que se justifica essa pesquisa,
cujos resultados podero refletir positivamente na melhoria da qualidade do
ensino/aprendizagem nas sries iniciais do ensino fundamental nas escolas pblicas e
particulares e na formao inicial e continuada do professor regente.
Diante de tais justificativas, foram delineados os seguintes objetivos de pesquisa:
Identificar e analisar a presena de um trabalho interdisciplinar entre a rea de msica
e as demais reas de conhecimento, nas sries iniciais do ensino fundamental;
Refletir sobre a possibilidade da msica ser considerada elemento articulador s
demais reas de conhecimento, propiciando um trabalho interdisciplinar, nestas sries;
Refletir sobre a possibilidade do trabalho interdisciplinar ser um caminho facilitador
do trabalho do professor regente em msica, nestas sries.
dados ser realizado atravs de entrevistas orais com seis professores(as) de trs escolas,
duas de cada rede de ensino, utilizando-se a histria oral como metodologia de pesquisa.
Nas narrativas dos(as) professores(as) sero encontrados o que fazem, como fazem, o que
pensam, o que sabem, o que sentem, o que deixam de fazer.
A histria oral privilegia a fala dos narradores, o trazidos para o centro da histria que
se est construindo. Requer, por isso, uma forte interao entre pesquisador/entrevistador e
narrador, de forma que o resultado final dessa interao escrito ser marcado pela
presena, idias, falas, gestos, memria, histrias e emoes de ambos.
As vrias etapas que compe a pesquisa em histria oral, foram descritas por Fonseca
(1997), a respeito de seu trabalho
...a elaborao do projeto; os critrios utilizados na definio dos
narradores; a localizao das pessoas; os contatos e a preparao dos
encontros; a realizao das entrevistas orais gravadas; a transposio do
discurso oral para o escrito, envolvendo as etapas de transcrio das fitas,
textualizao e conferncia pelo autor e narrador. (FONSECA, 1997,
p.15).
Muitas vezes, so realizados mais de um encontro, mais de uma entrevista, que nunca
sero iguais. Porm, a histria oral no focaliza os dados em si, mas o sentido que as
pessoas envolvidas na pesquisa, especialmente os narradores, atribuem aos fatos.
Um cuidado especial deve ser considerado na transcrio das entrevistas, conforme
aponta Portelli (1997), ao comparar traduo e transcrio:
A mais literal traduo dificilmente a melhor, e uma traduo
verdadeiramente fiel sempre implica certa quantidade de inveno. O
mesmo pode ser verdade para a transcrio de fontes orais. (PORTELLI,
1997, p.27).
Cabe ressaltar, ainda, a questo da profundidade do trabalho, trazida pela histria oral,
na espcie de narrativa descrita por Prins (1992) como reminiscncia pessoal
O que a reminiscncia pessoal pode proporcionar uma atualidade e uma
riqueza de detalhes que de outra maneira no podem ser encontradas. ...
Isso d aos historiadores os meios para escrever o que o antroplogo
Clifford Geertz chamou de descrio densa: relatos ricamente tecidos que
tm a profundidade e os contornos que permitem uma anlise antropolgica
substancial. (PRINS, 1992, p.192-193);
No momento, a presente pesquisa encontra-se em fase de levantamento e reviso de
literatura, sendo que at o final do semestre letivo sero escolhidos os(as) entrevistados(as)
e realizados os primeiros contatos a fim de agendar as entrevistas, a serem realizadas no
segundo semestre letivo deste ano. Em seqncia s entrevistas, estas sero transcritas e na
6
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Resumo. O presente projeto teve por objetivo investigar a histria de vida de uma
professora de msica, de forma que o conhecimento produzido no decorrer da pesquisa
possa servir como elemento formador de novos educadores musicais. A metodologia
utilizada de investigao de "histria de vida de professores", abrangendo perspectivas do
desenvolvimento pessoal e profissional, buscando compreender os diversos aspectos que
permeiam a construo de uma carreira. Os dados foram coletados por meio de entrevistas
semi-estruturadas, com roteiro aberto, dando liberdade de expresso e reflexo ao professor
entrevistado. Tratando-se de um relevante trabalho como o da educadora Teca Alencar de
Brito, esta pesquisa fornece um contato mais prximo com as realidades sociais, numa
compreenso das prticas metodolgicas, do universo da criana, das funes da msica na
educao, trazendo informaes e uma srie de reflexes e conceitos acerca do pensamento
educacional e do processo de formao do ser humano.
Introduo
1
Como suporte tcnico para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados estudos
j desenvolvidos em histria de vida de professores que propem estes como uma nova
perspectiva na formao do educador, trazendo o professor para o centro da pesquisa,
analisando sua prtica profissional e trajetria pessoal, associando a teoria com a prtica
educacional. A partir da anlise destes estudos, elaborou-se um roteiro aberto de entrevista
que pudesse abranger todos os aspectos que permeiam a construo de uma carreira nas
suas diversas perspectivas.
Buscando um contato com as realidades sociais, a compreenso da utilizao das
metodologias, do universo da criana, das funes da msica na educao, optou-se por
estudar o percurso da educadora Teca Alencar de Brito, que tem uma histria de relevantes
trabalhos no contexto da educao musical.
A formao bsica
... Eu estudei msica a vida inteira e no tinha a menor inteno de ser educadora....
O envolvimento de Teca1 com a educao musical vem de um processo muito
natural. Desde criana sempre esteve envolvida com a msica mesmo dentro de sua prpria
casa. Iniciou seus estudos de piano aos cinco anos de idade e seu av, que era violonista,
compositor, msico intuitivo, mas que nunca estudou msica sistematicamente, foi uma
grande influncia no envolvimento e desenvolvimento musical de Teca, principalmente por
esta maleabilidade com que lidava com a msica. Seus professores de msica, durante todo
o processo de formao, tambm exerceram influncia significativa em seu
desenvolvimento musical e pedaggico.
Com aproximadamente dezessete anos, formando-se no conservatrio que estudava,
opta por continuar seus estudos musicais e ingressa na faculdade cursando Bacharelado em
piano e Licenciatura em msica.
1
Teca Alencar de Brito, objeto desta pesquisa, fundadora e diretora da escola Teca Oficina de Msica em
So Paulo.
2
Os primeiros trabalhos de Teca se do enquanto ela ainda cursava a faculdade.
Inicialmente como professora de piano e iniciao musical. Aos poucos, diversas
oportunidades comearam a acontecer e em contextos bem variados. Juntamente com isto
h um investimento assduo no sentido da aquisio de diferentes materiais e
conhecimentos, mesclando a experincia terica com a prtica.
Assim Teca vai encontrando maior identificao profissional dentro da Educao
Musical, descobrindo uma outra funo no trabalho com msica que no a da performance
instrumental. Ao mesmo tempo, os diferentes trabalhos, contextos e conhecimentos
adquiridos vo lhe permitindo descobrir sua prpria maneira de trabalhar e encontrar os
conceitos e aes que mais se assemelhavam a suas idias e ideais. Como aponta
HUBERMAN (1992) em seus estudos, esta fase inicial marca um perodo de grande
explorao, de descobertas, mas tambm verifica uma certa tendncia a restringir tentativas
de diversificao na aula, devido insegurana inicial. Embora seja vivvel este processo
de descobertas, as restries no ocorrem no percurso de Teca que, ao contrrio, busca
inovaes, diferentes linhas de trabalho, o melhor e o mais amplo repertrio possvel para o
aprendizado do aluno.
O desenvolvimento da carreira
Com a concluso da faculdade Teca passa logo de aluna para professora, assumindo
tambm, um pouco depois, aulas em um conservatrio.
Nesta poca se d um maior contato com o educador Koellreutter, em um trabalho
de atualizao pedaggica. Tendo encontrado uma srie de aproximaes entre as idias de
Koellreutter e as suas, principalmente com a questo da improvisao, Teca comea a se
aprofundar no trabalho deste educador.
Amadurecendo a idia de ter seu prprio espao, tendo j duas filhas pequenas,
aluga um novo apartamento para morar onde faz da sala seu primeiro ambiente de trabalho
com poucas turmas de musicalizao. Com o aumento da demanda de alunos e da
quantidade de trabalho, Teca aluga um espao especfico e d incio primeira verso da
sua escola. Ento, deixa as aulas da faculdade e posteriormente do conservatrio para se
dedicar inteiramente ao seu projeto profissional/pessoal.
3
Verifica-se em HUBERMAN (1992), e tambm em GONALVES (1992), uma
fase de estabilizao, de comprometimento, de consolidao de pensamentos e idias nesta
fase do percurso profissional. Isto claramente verificado nesta fase da vida de Teca. No
decorrer dos anos vai havendo um maior empenho com a escola e um envolvimento
tambm com trabalhos fora da escola.
Os melhores momentos
Os piores momentos
Houve uma poca que Teca trabalhava em diversos lugares, dava muitas aulas. Em
uma determinada situao percebeu que no estava conseguindo notar todos os seus alunos,
questo que vai totalmente contra seus princpios de educadora. Percebendo-se com uma
4
quantidade de trabalho alm da que poderia fazer, refletindo sobre sua conduta profissional,
sobre qualidade, percebe que precisa diminuir o nmero de aulas e assim faz. Tudo se
resolveu, principalmente pelo reconhecimento do excesso de trabalho, prejudicial
qualidade deste, mas foi um timo espao de auto-reflexo, marcando assim o percurso
profissional.
GOODSON (1992) aponta para a ocorrncia de incidentes crticos na vida e/ou
trabalho dos professores que podem decididamente afetar sua percepo e prtica
profissional, bem como se verifica neste item sobre a carreira.
A somatria da histria de Teca como aluna, seu prprio percurso, reflexes, suas
experincias prticas como profissional, o amplo conhecimento terico, resultam em um
trabalho preocupado em contribuir para o crescimento e formao global do indivduo,
alm de formar pessoas, cidados mais conscientes, equilibrados, no sentido de desenvolver
todas as suas potencialidades - o lado intelectual e tambm o lado sensvel, de trabalhar
valores mais humanos em cada pessoa. Assim h tambm a preocupao com cada aluno,
individualmente e dentro de um grupo, a participao ativa de cada um no sentido de fazer,
opinar, participar, pensar, dividir, criar, enfim, um espao de liberdade estimulando
diferentes aspectos da criana.
MOITA (1992) verifica nos percursos estudados por ela, uma grande autonomia
pedaggica pela criatividade das propostas educativas. GONALVES (1992) aponta o
processo de formao contnua. Ao analisar todos os ideais de Teca, seu percurso,
formao, conceitos, estudos, nota-se claramente estes elementos em sua histria tambm.
5
Os modelos de professor
NVOA (1992) evoca uma mistura de vontades, gostos, experincias, acasos, que
consolidam os gestos, rotinas, comportamentos, onde cada qual se identifica como
professor. Assim se faz no percurso de Teca. No h um modelo especfico em seu
trabalho. Ao contrrio, sua linha de trabalho foi se consolidando a partir da mistura de toda
a experincia terica e prtica presente em todo seu percurso. Inclusive seus prprios
professores, positiva ou negativamente, foram modelos no processo de construo do
trabalho. Mas o que mais influenciou, marcou o desenvolvimento de seu trabalho foi o
educador Koellreutter.
6
como um todo na luta contra essa massificao e mecanizao da sociedade, buscando
equilbrio e uma reconceitualizao no que se refere questo do processo e do produto,
abrangendo inclusive o processo de formao de formadores que sero os condutores do
desenvolvimento da criana. Tambm discorre a respeito de tratar a cultura em uma
dimenso mais ampla e as pessoas em dimenses mais prximas, umas das outras.
De um modo geral Teca se v como uma pessoa que esteve e est sempre buscando,
pesquisando, pensando, revendo, reestruturando. H um constante espao de
questionamento, um exerccio constante de reflexo, de conscientizao, de auto-avaliao,
o que proporciona uma constante abertura no seu campo de atuao.
A educadora considera seu percurso atravs de um olhar surpreso j que no
possua, inicialmente, a pretenso de se trabalhar com educao musical. Tambm o
considera interessante tendo em vista os fatos que marcam seu processo.
Concluses gerais
7
fornecendo diversos tipos de informao. E assim como coloca MOITA (1992), ningum se
forma no vazio. Compreender um percurso vida compreender um percurso de formao,
de modo que formar-se supe uma srie de trocas, experincias, interaes sociais,
aprendizagens, um sem fim de relaes. Ter acesso a este processo ter em conta a
singularidade de sua histria e sobretudo o modo singular como age, reage e interage com
todos os contextos.
Referncias Bibliogrficas
8
1
Resumo. Estudos empricos realizados com alunos dos cursos de msica da UnB fazem
emergir incompatibilidades entre a bagagem cultural trazida e a que encontram dentro da
academia, entre um currculo baseado em cdigos estticos do passado e as demandas de
um mercado de trabalho cada vez mais diversificado. O texto explora os resultados do
estudo e aponta as dificuldades com as quais professores e instituies de ensino da msica
confrontam-se hoje.
Introduo
Este texto foi escrito a partir dos resultados preliminares de uma investigao realizada com
alunos dos cursos de msica da UnB no primeiro semestre de 2001. A preocupao com a
melhoria dos cursos de graduao nos motivou a aplicar questionrios, entrevistar e
observar estudantes visando saber o grau de envolvimento dos mesmos com as atividades
oferecidas pelo curso (disciplinas tericas, coral, big band, orquestra de cmara, pequeno
laboratrio de msica e computao) e como desenvolvem estratgias para sua insero
num mercado de trabalho cada vez mais diversificado.
Falar sobre cursos de msica nas universidades brasileiras reconhecer que ainda se
dedicam quase que exclusivamente perpetuao da msica do passado, abrindo caminho
para sua compreenso na mente dos alunos. A UnB no exceo. Vindos de diferentes
contextos de ensino tais como escolas, colgios, aulas particulares, igrejas, clubes, bandas
militares, ou mesmo autodidatismo, os estudantes inserem-se num processo de
profissionalizao que comea com seu nivelamento pelo vestibular. Currculos, contedo
das disciplinas e grade horria so apresentados aos mesmos desconhecendo as variadas
vivncias e expectativas musicais que trazem quando entram para a academia. Expostos a
uma pluralidade de campos de conhecimento e propsitos educacionais, tentam como
podem, aliar por si mesmos os antagonismos que atravessam seu cotidiano, prticas e
educao. Para alguns, o impacto da imposio de cdigos estticos alheios ao seu mundo
enorme.
2
Apesar dos esforos de alguns professores em atuar com um maior grau de pluralismo
esttico, lhes faltam aes concretas nos processos educativos. Assim, as intervenes da
aprendizagem permanecem calcadas no reforo de hbitos perceptivos e pouco no
enriquecimento, melhoramento ou atualizao deste sistema. O que emerge quando jovens
descrevem sua relao com a msica que seu aprendizado choca-se com a inadequao
dos currculos e a ausncia de formao docente para atender a estas expectativas. O
esgotamento do projeto da modernidade na sociedade ps-industrial, trazendo a existncia
concreta de uma infinidade de fazeres musicais instigam o pesquisador/professor/intrprete
a criar modelos de ensino/anlise, visando dar conta de suas especificidades, e a academia
no est estruturada para tematizar ou acompanhar esta multiplicidade de fazeres como
objeto de estudo. A problemtica no observada somente na UnB. Levantamentos feitos
nos cursos de msica da UNIRIO, mostram a pluralidade de gostos estticos e fazeres
musicais entre os estudantes.
Saberes e competncias.
Comeo meu relato com trs mini biografias de alunos.
Carlos. Veio do nordeste e mora com a famlia numa cidade satlite. aluno de regncia.
Sobrevive de vrias fontes: pequenos arranjos e trilhas sonoras que faz em seu estdio, toca
1
Depoimento de um aluno.
3
teclado em churrascarias e restaurantes com seus dois filhos cantores2 . Nos dias que no
tem apresentaes, ele e os meninos transformam em sala de aulas, a parte da frente de sua
casa, local onde sua esposa trabalha como cabeleireira. Para completar o oramento
domstico, a famlia ainda faz e distribui cestas de caf da manh para a clientela da cidade
aos domingos.
Luiz. Mora na Capital. Entrou no bacharelato de violo mas apesar de no gostar de
ensinar, mudou para o curso de licenciatura. Aos poucos vem aprendendo a tocar outros
instrumentos. A flauta transversa e o pandeiro, aprendeu olhando os colegas tocarem ou
perguntando a um e a outro como faziam. Sua performance nos trs instrumentos o permite
participar hoje de um conjunto de choro j com um certo nome na cidade. As exigncias da
sobrevivncia o tem levado tambm a trabalhar com trilhas sonoras.
Hlio3 . Veio de um estado do centroeste para fazer o curso de clarinete. J tinha tambm
estudado piano mas hoje faz o curso de regncia. Como evanglico, o produtor da vida
musical da igreja, regendo o coral, participando dos conjuntos instrumentais e no ltimo
ano foi responsvel por todo o processo de gravao e distribuio de um CD patrocinado
pela sua comunidade religiosa.
O trecho acima ilustra as relaes dos alunos com seus cursos. Mostram de modo
subjacente as experincias musicais que trouxeram, as que adquiriram fora dos muros da
academia e at que ponto elas ou completam sua formao ou j tomam boa parte de suas
competncias. O Departamento de msica da UnB tem dois tipos de curso; bacharelato e
licenciatura. Dentro do bacharelato, encontram-se os cursos para formao do
instrumentista de cordas (atualmente sem professor de violino), sopro e canto. Alm disto,
formam-se tambm regentes e compositores. A licenciatura forma professores de msica
para preencher demandas de escolas primrias e secundrias. O nmero de alunos
direcionado para as carreiras de solista ou msico de orquestra relativamente pequeno.
Estes so estudantes profissionais que j entram no curso com bagagem cultural adquirida
em aulas particulares ou conservatrios. Sua prtica musical d-se em orquestras, conjuntos
menores que tocam em casamentos, festas, ou como regentes de coros. Em geral no
gostam de dar aulas e s o fazem como ltima alternativa de ganhar algum dinheiro. S se
2
Como ele mesmo disse: msica breganeja.
4
3
Nomes fictcios.
4
Depoimento de uma aluna.
5
O curso de Licenciatura abriga 40% dos alunos. Os outros cursos esto assim divididos: regncia 10%, canto
6%, composio 10%, violo 4%, piano 9%, cordas 11%, sopros 10%.
6
41% so estudantes profissionais, 50% trabalham para sobreviver e 9% no responderam ao questionrio.
5
O que eu aprendi com a gravao deste CD, desde o momento de escolher as msicas,
ensaiar, at sua venda, valeu mais do que quatro anos de UnB7 .
Cuido para que meus filhos sejam msicos, mas para mim, sei que ser difcil sair dessa
vida. Meu curso j se estende por mais de seis anos8 .
7
Depoimento de um aluno.
6
O que dizer dos compositores? Como encaram as atividades de arranjador, trilha sonora? O
que conhecem eles sobre o mercado de trabalho que os espera? Este pequeno grupo
apresenta-se como estudantes profissionais. Pelas prprias caractersticas do currculo do
curso, tem pouca participao nas prticas musicais oferecidas pela academia e conhecem
pouco a realidade do compositor como trabalhador cultural.
Estou fazendo um trabalho de ambientao sonora para uma exposio de pintura, mas
no isto que quero como compositor9 .
Por fim, os que praticam a msica sacra tem nos corais o seu grande espao. So cantores,
regentes acompanhadores e at instrumentistas. Dentro da variedade de experincias
musicais na vida de estudantes de msica da UnB o grupo mais numeroso orientado para
msica popular e a religiosa. No entanto, estas prticas no chegam a mobilizar processos
de conhecimento dentro da academia nem tampouco se interroga sobre os atrativos que elas
exercem nos jovens. Seus valores e atitudes no geram estratgias de comparao a partir
de emprstimos ou de comportamentos musicais destes fazeres10 . Os dados obtidos nos
mostram que as experincias dos alunos entram em conflito com o processo de aquisio de
conhecimento oferecido na escola e compreensvel que nestas condies eles comecem a
formar seus prprios valores, suas prprias atitudes, sua prpria prtica que no
encontrada dentro da universidade11 .
Concluso
8
Depoimento de um aluno.
9
Depoimento de um aluno de composio.
10
No se tem uma disciplina especfica de msica brasileira nem tampouco de folclore. A disciplina de
msica popular optativa e aberta para alunos de toda a universidade. Um espao para discusso sobre
mercado de trabalho lhes falta.
7
11
Todos os alunos tem um perodo de dois semestres no final do curso, dedicados ao estgio. Com exceo do
curso de licenciatura (que no gostam desta atividade), os alunos utilizam estes dois semestres para preparar o
recital final.
12
A Colmbia tem recorrido a um caminho eloquente neste aspecto. No ltimo encontro da IASPM realizado
em abril de 2002 no Mxico percebeu-se como os espaos universitrios tem dado nfase formao do
msico profissional com um claro vnculo ou opo pelas msicas populares.
8
Referncias bibliogrficas
CARVALHO, Jos Jorge de. 1999. Transformaes da Sensibilidade Musical. in
Horizontes Antropolgicos. Ano 5, n 11/ p.53. PPGAS/UFRGS, 1999.
DeNORA, Tia. Music in Everyday life. Cambridge University Press.2000.
FRANCES, Robert. Les Sciences Humaines devant la Musique Contemporaine. Les
Moulineaux, Editions EAP, 1992.
GARZN, Leonardo e outros. Concluses do GT de Msica Popular e Educao. IV
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13
As Oficinas de Msicas (OBM) que existem como disciplina em vrios cursos universitrios parecem ser as
mais sedimentadas neste aspecto.
1
Nair Pires
ngela I. L. Freitas Dalben
Resumo. Esta comunicao visa divulgar um projeto de pesquisa de mestrado que est sendo
desenvolvido no programa de Ps-Graduao em Educao da FAE/UFMG. A pesquisa tem
como objetivo analisar o que os cursos de Licenciatura na rea de msica esto propondo para a
formao do professor e quais os limites e possibilidades dessas proposies. Dentro de uma
abordagem qualitativa sero adotados trs instrumentos de coleta de dados de carter
complementar: a anlise documental, a entrevista e o grupo focal. A partir do cruzamento dos
dados buscaremos compreender de maneira global as inter-relaes que emergem do contexto
escolar, produzindo conhecimentos teis tanto para a prtica profissional quanto para formulao
de polticas pblicas.
INTRODUO
quando da realizao do estgio. Esse modelo de formao a meu ver no propicia ao aluno ao
longo de sua formao a vivncia de alternativas metodolgicas em espaos de reflexo e
reconstruo do conhecimento, contribuindo desta maneira para a manuteno do crculo vicioso
- a reproduo didtica.
Dentro desse modelo de formao, a articulao teoria-prtica quando existente, reservada
apenas s disciplinas pedaggicas, o que no garante uma formao global do aluno, dotando-o
de competncias necessrias para o desempenho profissional. Alm disto, este fato reflete a
concepo estanque de disciplina, que opera com o conhecimento fragmentado e isolado. Sobre
esta questo, PERRENOUD afirma que uma concepo de formao docente baseada em uma
abordagem por competncias exigiria que os professores, por mais especialistas que fossem,
sentissem-se antes responsveis pela formao global de cada aluno do que responsveis
exclusivamente por seus conhecimentos em sua prpria disciplina (1999, pp.67).
Em oposio ao modelo da racionalidade tcnica, um modelo alternativo de formao de
professores est emergindo na literatura especializada o chamado modelo da racionalidade
prtica. Retomando a discusso de PEREIRA, o autor afirma que esta nova proposta concebe o
professor como um profissional autnomo, com capacidade de reflexo e deciso sobre sua ao
pedaggica. A prtica de locus da aplicao dos conhecimentos cientfico-pedaggicos, passa a
ser entendida como um espao de criao e reflexo, em que novos conhecimentos so,
constantemente, gerados e modificados (1999, pp.114).
Dentro desse paradigma emergente, formar o professor dota-lo de capacidade para atuar
em situaes complexas, com condies de resolver problemas prticos, atravs da integrao
do conhecimento e da tcnica. A realidade educativa criada e construda no cotidiano da sala
de aula, e a cada nova realidade novos significados so produzidos abrindo um novo espao para
o conhecimento e a experincia, para a reflexo e a descoberta. O professor constri na prtica o
seu prprio conhecimento profissional atravs do processo de reflexo-na-ao, no se
limitando somente a reproduzir modelos e tcnicas aprendidas, mas tambm construindo novas
estratgias de ao, novas maneiras de enfrentar e definir os problemas (GMEZ, 1995,
pp.110-112). Neste sentido,
3
Hoje, diante das reformas educacionais em todo o sistema brasileiro a partir da promulgao
da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB - n9.394/96), instalou-se uma nova
onda de debates sobre a formao docente no Brasil. Documentos oficiais elaborados desde
ento nos mostram claramente a ruptura com o modelo anterior, apontando para este novo
paradigma de formao docente. Com nfase na formao por competncias, o discurso oficial
prev o professor como o prtico-reflexivo, com capacidade de reflexo sobre sua prpria
prtica. Tomando a prtica como eixo da formao docente, esta dever estar presente desde o
incio do curso e permear toda a formao do professor, no podendo ficar reduzida a um
espao isolado, que a restrinja ao estgio, desarticulado do restante do curso 1 . Sendo assim,
no apenas as disciplinas pedaggicas, mas todas as que compem o currculo de formao tero
a sua dimenso prtica. Dentro dessa concepo, este documento entende a articulao
teoria/prtica como a juno entre o conhecimento do objeto de ensino- os contedos das reas
de conhecimento - e o conhecimento do objeto de atividade do professor sua expresso
escolar, ou seja, a re-interpretao dos contedos para os contextos escolares onde atuam.
A partir da minha experincia como professora do Curso de Licenciatura em Educao
Musical na Universidade Federal de Ouro Preto, observo a busca constante por parte dos
professores em romper com o modelo de formao com base na racionalidade tcnica, com
vistas formao mais global do aluno. Como todos ns fomos formados a partir desta
concepo de ensino/aprendizagem de msica, com a presena dominante das caractersticas do
modelo conservatorial, podemos perceber a inadequao de algumas concepes e prticas
adotadas nos cursos superiores de msica. Porm necessrio saber que alternativas tem sido
adotadas para romper com esse modelo tradicional? Como e onde esto acontecendo as
4
mudanas? Que concepes, valores e crenas esto orientando as aes dos educadores
musicais? Pois como afirma SANTIAGO, o grande desafio dos educadores comprometidos com
a profissionalizao dos professores
clarificar os propsitos que definem a intencionalidade e a dimenso das
transformaes que, necessariamente, devero ocorrer na escola, a fim de
que no se restrinjam elas a polticas de legitimao de programas oficiais,
ou meras inovaes metodolgicas que atingem apenas o mbito da sala de
aula sem preocupao com o inevitvel comprometimento de qualquer
prtica pedaggica com um projeto poltico (2001, pp.162).
Diante desse novo cenrio onde polticas educacionais lanam novas propostas para a
formao docente com bases no paradigma da racionalidade prtica, onde a produo terica
aponta para a profissionalizao do professor pautada em concepes claras e na comunicao
argumentativa dos sujeitos que instituem as relaes escolares, e, perante a carncia na literatura
de pesquisas voltadas para a formao do professor de msica, considero necessria uma
investigao cientfica que tenha como objeto de estudo a orientao poltico-pedaggica dos
cursos de Licenciatura na rea de Msica. Diante disso, a pesquisa se prope a responder a
seguinte questo: o que os cursos de Licenciatura na rea de Msica esto colocando como meta
para a formao do licenciado?
A partir de uma ampla reflexo, pretende-se localizar as convergncias e divergncias entre
os projetos poltico-pedaggicos dos cursos, clarificar as concepes e valores dos sujeitos
envolvidos na ao educativa, apontando os limites e as necessidades de transformao,
articulando estratgias que possibilitem a superao das dificuldades, proporcionando avanos na
formao do professor de msica dentro do novo contexto scio-cultural. Neste sentido, esta
pesquisa pretende contribuir com uma reflexo mais aprofundada dos cursos de Licenciatura na
rea de Msica, produzindo conhecimentos teis tanto para a prtica profissional quanto para
formulao de polticas pblicas.
OBJETIVOS
1
Artigo n12 da Resoluo CNE/CP 1/2002 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de
professores de Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena.
5
Objetivo geral:
Analisar o que os cursos de Licenciatura na rea de msica esto propondo para a
formao do professor e quais os limites e possibilidades dessas proposies.
Objetivos especficos:
Analisar os projetos poltico-pedaggicos dos cursos de Licenciatura na rea de msica,
identificando o que existe de comum entre eles e em que se diferenciam;
Identificar os aspectos que tm sido priorizados na formao dos alunos a partir da tica
dos professores;
Analisar sob a tica dos alunos a adequao entre a formao que esto tendo e os
limites para a atuao prtica.
METODOLOGIA
A anlise documental se constitui numa valiosa tcnica de coleta de dados, podendo ser
utilizada tanto para complementar informaes obtidas de outras tcnicas, quanto para ajudar no
desvelamento de novos aspectos de um problema (LDKE, 1986, pp.38). Quanto natureza
dos documentos, sero utilizados a produo terica da rea de Educao Musical e os projetos
poltico-pedaggicos dos cursos a serem selecionados para o estudo. Sero selecionadas trs
instituies de ensino superior que oferecem cursos de Licenciatura na rea de Msica, para uma
anlise comparativa de seus projetos poltico-pedaggicos. O estudo comparativo dos projetos
objetiva averiguar as semelhanas e diferenas das propostas de formao de professores,
buscando identificar quais os seus limites e possibilidades, e o que esto priorizando para a
formao do professor de msica.
A segunda tcnica de coleta de dados a ser utilizada ser a entrevista semiestruturada, com o
objetivo de captar o discurso dos sujeitos, compreendendo o significado que eles atribuem s
situaes, eventos e processos presentes no seu cotidiano. Como procedimento da entrevista
semiestruturada, ser elaborada uma agenda contendo tpicos ou temas a serem abordados
com cada participante, como forma de cobrir uma srie de assuntos em todas as entrevistas,
garantindo dessa forma a possibilidade de anlise comparativa dos dados. Como sujeitos da
entrevista, sero selecionados dois professores de cada um dos trs cursos escolhidos,
perfazendo um total de seis professores.
A terceira tcnica de coleta de dados prevista para a realizao dessa pesquisa o Grupo
focal. Essa tcnica um tipo de entrevista realizada coletivamente, com o objetivo de apontar
alguns aspectos a serem discutidos pelo grupo. Ao dar lugar ao dilogo entre os participantes, o
uso do Grupo focal permite ao pesquisador identificar como a idia vai sendo gradativamente
construda no grupo, proporcionando maiores oportunidades de examinar as relaes entre os
participantes e as perspectivas que tm em relao ao assunto.
Como procedimento do Grupo Focal, ser formado um grupo de aproximadamente seis alunos
dos ltimos anos de cada um dos trs cursos selecionados, organizando um grupo de pessoas
que estejam atuando em diferentes espaos educativos.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
7
Neide Esperidio
Fundamentos tericos
Proposta do trabalho
A seguir, esto relacionadas as propostas das duas modalidades dos
Projetos Integrados, conforme configurao apresentada Secretaria Municipal
de Educao de Osasco.
Pblico Alvo
Crianas das EMEF(s): 1 e 2 sries
1
Docentes do Conservatrio Villa Lobos da FITO, componentes da equipe dos Projetos
Integrados:
Encontro com Villa Lobos - Maria Aparecida Ges e Tnia C. Araujo.
Arte na Escola - Fred Tangary, Israel Barros, Marcelo Manfra e Renato Alves.
5
Objetivos Gerais
Conhecer o ambiente de um Conservatrio e suas atividades.
Vivenciar, significativamente, uma aula especializada de msica.
Competncias
Estimular a escuta musical.
Conhecer e explorar o material sonoro, ambiental e instrumental.
Apreciar significativamente a produo musical, identificando o material sonoro.
Contextualizar o produto musical no mbito histrico, social e geogrfico.
Produzir criativamente seqncias sonoras.
Conhecer e identificar as partes do corpo.
Reconhecer as variaes de velocidade, tempo, ritmo e espao.
Experimentar e observar as relaes entre peso corporal e equilbrio.
Habilidades
ouvir e identificar os sons ambientais;
ouvir e reconhecer a voz dos colegas relacionando-as imagem corporal;
conhecer a famlia dos instrumentos musicais e suas possibilidades sonoras;
relacionar o formato dos instrumentos s formas geomtricas: crculo,
quadrado e tringulo, explorando-se essas formas no espao da sala de aula;
reconhecer e perceber a noo de altura, durao, intensidade e timbre dos
materiais sonoros, relacionando-os aos conceitos de tempo, espao e peso;
explorar o manuseio dos instrumentos musicais;
ouvir uma obra musical, identificando os timbres dos instrumentos e
conhecendo o compositor, o contexto histrico, social e geogrfico;
observar e reconhecer os movimentos em grupos, opondo qualidades como:
leve e pesado, rpido e lento, direto e sinuoso, alto e baixo, direito e esquerdo,
em cima e embaixo, de frente e de costas.
Atividades
Vivenciar aulas ldicas de msica e de dana.
Projeo de um vdeo - didtico sobre a formao de uma orquestra sinfnica.
6
Recursos Humanos
Professores de msica e dana do Conservatrio Villa Lobos
Professores da rede municipal
Equipe tcnica da Secretaria de Educao
Recursos Materiais
Material didtico: apostila contendo proposta interdisciplinar do projeto e plano
de aula para o professor da rede municipal.
Transporte coletivo
Cronograma
O projeto teve a durao de seis meses (maio a junho/agosto a novembro de
2001) e as visitas ocorreram duas vezes por semana, de acordo com
agendamentos prvios da Secretaria de Educao com as escolas municipais,
em grupos distintos de at oitenta alunos.
Arte na Escola
Descrio Sumria
Programao de apresentaes itinerantes de uma banda de msica, dentro do
espao fsico da escola, envolvendo os alunos e suas famlias.
Pblico Alvo
EMEF(s) 3 e 4 sries
Familiares
Comunidades de Bairro
7
Locais
Salas de aulas, quadras de esporte, ptios ou auditrios das escolas.
Objetivos Gerais
Estimular a comunidade escolar e as famlias a participarem de eventos
artsticos, oferendo a oportunidade de ampliar conhecimentos e de apreciar a
produo do universo cultural nacional e de outros povos e naes, nos
diversos momentos histricos.
Promover a integrao social da comunidade escolar, atravs da arte.
Estimular a ida freqente a eventos artsticos, independente de programao
escolar.
Competncias
Apreciar a msica nacional e de outros povos e culturas, contextualizadas no
mbito histrico e social;
Conhecer o material sonoro da msica de tradio culta/ erudita e popular;
Reconhecer as caractersticas musicais regionais;
Adquirir uma postura crtico - musical, avaliando e discutindo as imposies
da mdia;
Habilidades
Conhecer os instrumentos musicais componentes de uma banda;
Reconhecer as caractersticas sonoras desses instrumentos;
Compreender os elementos constitutivos da msica: ritmo, melodia e harmonia;
Relacionar a funo de cada instrumento da Banda do Villa com os elementos
constitutivos musicais.
Perceber o pulso e a subdiviso rtmica;
Criar sequncias sonoras e rtmicas utilizando sons e gestos corporais;
Relacionar velocidade, tempo e espao;
Conhecer ritmos regionais brasileiros, identificando as regies contextualizadas
no mbito histrico-geogrfico e social.
8
Atividades
Apresentao didtica da Banda do Villa, composta por professores-msicos do
Conservatrio Villa Lobos da FITO.
Recursos Humanos
Professores do Conservatrio Villa Lobos da FITO
Professores e equipe tcnico-pedaggica da rede municipal
Recursos Materiais
Transporte para os grupos
Material didtico: apostila contendo proposta interdisciplinar do projeto e plano
de aula para o professor da rede municipal.
Cronograma
O projeto teve a durao de seis meses (maio a junho/agosto a novembro de
2001) e a apresentao da Banda ocorreu uma vez por semana, em duas sesses,
seguindo agendamento prvio feito pela Secretaria de Educao com as escolas,
em grupos distintos de at duzentos alunos por sesso.
Consideraes finais
Concluindo este relato, os Projetos Integrados possibilitaram realizar uma
experincia de educao musical interdisciplinar, comprometida com a formao
da cidadania. No entanto, somos conscientes de que somente com a incluso da
educao musical no currculo das escolas pblicas, a democratizao do ensino
de msica ser efetivamente concretizada. Esses mesmos anseios foram
9
Referncias bibliogrficas
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efetividade ou ideologia. So Paulo, Loyola, 1979.
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A SITUAO DA EDUCAO MUSICAL EM ESCOLAS DE PRIMEIRA A
QUARTA SRIE EM CURITIBA: DOIS ESTUDOS DE CASO
Patrcia Schwarz
Nelsione Carla Gonalves
Resumo. O objetivo central da presente pesquisa foi investigar como direo e docentes de
escolas de ensino fundamental, de primeira a quarta srie, percebem e valorizam a educao
musical, verificando a importncia e o lugar destinado a ela. Buscamos verificar a opinio dos
entrevistados quanto importncia da Educao Musical como parte do ensino formal; quem
deveria ensinar msica; investigar quais as instituies musicais que a escola mantm, e
apurar quais recursos materiais disponveis para o ensino de msica. Como mtodo de
pesquisa utilizamos o estudo de caso, realizado em duas escolas de Curitiba, sendo uma da
rede particular e outra da rede pblica de ensino. Entrevistamos a direo, coordenao, os
professores de primeira a quarta srie, e o professor de msica. Os professores de ambas as
escolas enfatizaram a importncia da Educao Musical na escola, defendendo a idia que
deveria ser realizada por um profissional especializado.
INTRODUO
O presente artigo uma sntese da pesquisa realizada para a monografia do curso de
especializao em Educao Musical, na Escola de Msica e Belas Artes do Paran, que
consistiu em verificar a situao das aulas de msica em duas escolas regulares de Curitiba.
Ao se falar em educao musical impossvel no pensar na sua importncia na
educao geral. Para KATER, MOURA, MARTINS et al. (1998, p. 114) h um consenso
quanto importncia da msica na vida das pessoas e necessidade de se desenvolver na
comunidade escolar a sua musicalidade.
Deve-se pensar em ensinar msica pelo seu discurso musical e pela sua importncia
como rea autnoma de conhecimento, pois ... tem como objeto de estudo toda a rea de
relaes entre os homens e as suas msicas (SOUZA, 1996, p. 2). Mesmo sabendo da
importncia da msica na educao infantil e fundamental, nos deparamos com muitas escolas
que no tm a msica presente no seu currculo. Quando tem, verifica-se muitas vezes a
existncia de profissionais mal capacitados na rea ou at mesmo, com formao em uma rea
bem distinta que no a de msica, que so colocados para exercer a funo de professor de
msica. Constatando-se com isso, o pouco cuidado na escolha daquele que deveria ser o
educador musical.
Segundo BEYER (1993, p. 13), a msica deve fazer parte da educao geral, visando
o acesso de todos linguagem musical, como mais um cdigo de expresso entre outros de
forma a possibilitar a qualquer indivduo a compreenso e participao na cultura musical do
seu meio. Para OLIVEIRA (1993), torna-se essencial hoje que o educador musical tenha
conscincia dos princpios e fundamentos que servem para guiar os seus atos, os seus mtodos
de ensino e para abordar os problemas que surgem no seu trabalho (p. 26).
HENTSCHKE, SOUZA e OLIVEIRA (1999) realizaram uma pesquisa, denominada
Relao da escola com a aula de msica: trs estudos de caso em escolas de Porto Alegre -
RS e Salvador BA, onde discutem diferentes concepes de professores e diretores sobre o
ensino de msica nas escolas, analisam os fatores escolares envolvidos no ensino de msica e
verificam dados mais especficos sobre as dimenses institucionais que possam interferir na
implementao de prticas da educao musical escolar.
Tomando como base e apoio esta pesquisa, nos propusemos a investigar como a direo e
docentes de escolas de ensino fundamental, de primeira a quarta srie, percebem e valorizam
a educao musical, verificando a importncia e o lugar destinado a ela.
Como objetivos especficos pretendemos: verificar a opinio dos entrevistados quanto
importncia da Educao Musical como parte do ensino formal; questionar, na opinio dos
pesquisados, quem deveria ensinar msica; identificar a formao do professor de msica
atuante; investigar quais as instituies musicais que a escola mantm; e apurar quais os
recursos materiais disponveis para o ensino de msica.
Para isso realizamos observaes nas escolas e entrevistamos a direo, coordenao,
os professores de primeira a quarta srie, e o professor de msica, que foi uma das diferenas
da nossa proposta de pesquisa com a pesquisa citada anteriormente (HENTSCHKE, SOUZA
e OLIVEIRA, 1999).O objetivo de se entrevistar o professor de msica foi de verificar qual a
sua concepo de msica, sua formao e seu ponto de vista quanto situao da educao
musical na escola.
METODOLOGIA
Dentro dos mtodos de pesquisas qualitativas, o estudo de caso se mostrou ser o mais
adequado. Nossa proposta foi verificar a situao da msica no contexto escolar, focalizado
como um todo. O estudo de caso, segundo LDKE e ANDR (1986, p.19), enfatiza a
complexidade natural das situaes, evidenciando a inter-relao dos seus componentes e
focalizando-a como um todo. A entrevista semi-estruturada e a observao livre foram os
instrumentos de coleta de dados empregados.
O critrio adotado para a escolha das escolas foi que oferecessem turmas de primeira a
quarta srie com aulas de msica no perodo curricular. Uma das escolas deveria pertencer
rede particular de ensino e a outra rede pblica. Adotamos, dentro das concepes da tica
de pesquisa, pseudnimos para os entrevistados e para as escolas.
Para a seleo da escola pblica tivemos dificuldades em encontrar uma que se
adequasse ao critrio, pois a maioria delas no contempla a msica no currculo. A escola
pblica escolhida de perodo integral, e oferece msica no currculo atravs da disciplina
DRM Desenvolvimento do Ritmo e Movimento. Porm, para a seleo da escola particular,
no encontramos nenhum obstculo.
Eu acho assim, primeiro que ela [a msica] sensibiliza, acho que a gente est
numa poca que aqui na escola Alfa a gente costuma falar bastante de paz.
Acho que isso ajuda bastante, eu vejo crianas muito violentas, muito sem
sensibilidade, acho que isso ajuda muito, a arte em geral, no s a msica, e a
msica com o seu toque especial, acho que bem importante (Profa Marcela;
msica).
Ao perguntar coordenadora Silvia qual a sua opinio quanto msica fazer parte do
ensino regular, ela respondeu:
A msica dentro do ensino formal, em si, j seu projeto. Porque, hoje em dia,
todas as teorias nos ajudam a reforar a idia de que ns no temos apenas uma
inteligncia, de que ns temos muitas inteligncias, e que uma est a servio da
outra. No se pode pensar num ser que esteja fragmentado com conhecimentos
exatos diferentes daqueles que so mais de sensibilidade por exemplo. Ento, a
inteligncia musical como a pictrica, como a cinestsica, fazem parte desse
ser humano que a gente est desenvolvendo, ento ela to importante quanto
qualquer disciplina (Coordenadora Silvia).
Para ela, a misso que a gente tem na escola hoje, enquanto equipe, reforar ou justificar
ou ter um trabalho to srio, to cientfico, com tanto estudo, que justifica nossa prtica. Para
a escola Alfa e sua equipe de professores de msica, segundo a professora Silvia, a principal
meta da educao musical :
A escola Beta, uma escola pblica, de perodo integral, da rede municipal de ensino,
localizada em um bairro da periferia do municpio de Curitiba. Por ser de perodo integral, a
escola Beta oferece diversas oficinas dentre as quais os alunos optam participar, como a
oficina de canto, street dance, radionovela, fotogravura, brinquedoteca, teatro, entre outras.
Nesta escola a msica no faz parte do currculo como disciplina. A educao musical
acontece atravs da oficina de canto, do coral e da disciplina DRM Desenvolvimento do
Ritmo e Movimento.
A professora ngela tem a opinio de que a aula de msica deveria trabalhar com as
percepes.
Porque s vezes a gente acaba, dentro das nossas reas, trabalhando muito o
coletivo, coletivo, coletivo. Uma atividade igual para todo mundo. E dentro da
msica voc vai explorar um por um. Porque a gente tem aquele objetivo,
atingir aquele conhecimento. E no caso dela [da msica], no o
conhecimento, algo que vai levar a vrios conhecimentos (Prof ngela; 4
srie).
A professora Yasmim desempenha seu papel de educadora procurando oferecer aos
alunos o que eles no tem acesso em casa. Sobre a escolha do repertrio ela declara:
Msica eu considero muito srio, porque eu considero o aspecto cultural que
mais entra nas pessoas. Todo lugar que voc vai tem msica, se que se chama
de msica o que se ouve por a. Mas ele muito democrtico, do vizinho voc
est ouvindo, ele invade voc. S se a pessoa tem deficincia auditiva no vai
perceber. Ela entra em tudo, na novela, na propaganda. Ento s vezes voc
tem que ver a novela, por horrvel que seja, para pinar uma msica que seja
boa. (...) Eu escolho as msicas a dedo (Prof Yasmim; artes).
Fazer com que, no contexto escolar, ela se torne uma criana sempre acessvel,
educada, que mexa o introspecto dela, que consiga colocar para fora os
sentimentos dela, sem ser uma coisa forada, que seja uma coisa assim
autntica. E principalmente fazer com que a criana desperte o lado crtico
dela. Que ela consiga definir o que bom, o que ruim, o que serve para ela e
o que ela pode jogar no lixo (Prof Mariana; msica).
CONCLUSO
Nesta pesquisa, observamos que as professoras utilizam-se da msica de diversas
formas em suas prticas, justificando sua importncia no ensino como rea de conhecimento e
tambm como msica de fundo. Destacam o seu elemento disciplinador, fixador de aes e
hbitos, auxiliador da fonoaudiologia, sua funo socializadora, o desenvolvimento da
sensibilidade, e o desenvolvimento do raciocnio.
As professoras percebem que a mdia est muito presente na vida dos alunos. A
professora Yasmim (artes, escola Beta) acredita que no vai conseguir evitar que os alunos
vejam programas de televiso que sejam ruins, ou que deixem de ouvir msicas de m
qualidade, mas vai oportunizar aos alunos que assistam esses programas com uma viso mais
crtica, ou ouam essas msicas de uma forma mais consciente.
Com esta pesquisa conseguimos perceber que a msica faz parte do dia-a-dia das
escolas no apenas no ensino curricular, mas os alunos tendo liberdade de trazer para a escola
as msicas que ouvem em casa e os instrumentos que tocam. Ambas as escolas, mesmo com
muitos diferenciais, se importam com o ensino da msica, pois esto atentas s modificaes
que ocorrem atravs dessa aprendizagem. Tambm percebemos que trocas entre o professor
de msica e os professores regentes praticamente no existem, salvo uma ou outra situao
em que ocorreram atividades e projetos interdisciplinares.
As professoras de ambas as escolas defendem a idia de que o ensino da msica deve
ser realizado por um profissional especializado, e que a msica deve estar presente no ensino
fundamental.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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INTRODUO
A educao musical brasileira tem enfrentado vrios desafios, sendo um destes, o de
lidar com a diversidade de vivncias musicais no escolares. So persistentes os problemas
que dizem respeito a falta de relacionamento e at mesmo de conhecimento sobre os
processos que ocorrem em diferentes contextos scio-culturais. H, de um lado uma
diversidade de vivncias musicais no escolares propiciadas pela sociedade atual e do outro
lado prticas arraigadas de ensino e aprendizagem escolar de msica. Mas alguns processos
de articulao entre as estruturas formais e informais, j esto sendo realizados atravs do
desenvolvimento de pesquisas, grupos de pessoas e organizaes no governamentais.
Neste processo de transio e articulao, a educao musical poder ser ampliada,
desenvolvendo aes e estruturas pedaggicas mais condizentes com a realidade brasileira.
(ARROYO, 2000; OLIVEIRA, 2000).
Alguns estudos tm sido desenvolvidos pelo Programa de Ps-graduao em
Msica da UFRGS, visando a identificar e compreender o ensino e a aprendizagem de
msica que ocorrem tambm fora dos limites da sala de aula, em outros contextos.
Dentre os vrios estudos j contemplados pela educao, educao musical e
tambm sobre as prticas pedaggico-musicais, podemos perceber uma preocupao em
compreender o ensino de msica nas escolas e tambm fora delas, partindo assim da
realidade concreta, investigando as prticas cotidianas e os agentes diretamente envolvidos
nestas prticas. As pesquisas revelam a necessidade de compreender o ensino a partir das
prprias prticas, vividas em diferentes situaes e contextos.
Torna-se importante aprofundar questes em torno do que GMEZ (1998)
denomina de aprendizagem relevante, a qual considera a reconstruo do conhecimento
que o indivduo adquire em sua vida cotidiana fora da escola. Desta forma educao
musical caberia considerar o ensino e aprendizagem que ocorrem no s na sala de aula
mas em outros contextos mais amplos (SOUZA, 2000, p. 177).
O projeto de pesquisa de HENTSCHKE, SOUZA, BOZZETTO e CUNHA (2000)
abordou as articulaes de processos pedaggicos musicais em ambientes no escolares,
atravs de um estudo multi-casos na cidade Porto Alegre. O trabalho tomou como
pressuposto que a prtica educativa depende de outros mbitos e de outros agentes que
atuam fora da sala de aula, antevendo-se que os territrios no podem ser facilmente
demarcados.
Este projeto motivou o interesse em conhecer outras realidades e as prticas
musicais no escolares dos adolescentes. Na cidade de Pelotas h uma escola da rede
pblica, que oferece msica no currculo do primeiro ano do ensino mdio, estes alunos que
cursam o primeiro ano do ensino mdio participam de atividades musicais fora da escola.
Ao buscar as vivncias musicais dos adolescentes fora da escola, ser possvel conhec-los
melhor enquanto sujeitos aos quais se destina a atividade educativa da escola, neste caso a
atividade musical.
JUSTIFICATIVA
Levando em considerao os trabalhos j realizados, e que privilegiam as
manifestaes musicais que acontecem em outros ambientes fora do mbito escolar, bem
como as atividades realizadas pelos adolescentes, destacamos a importncia de investigar a
dimenso dos processos de ensino aprendizagem musical no institucionais, evidenciando
as prticas musicais de adolescentes que formalmente esto expostos educao musical.
Ao investigar se os conhecimentos musicais obtidos em sala de aula de alguma
forma so aproveitados pelos adolescentes em suas atividades e vivncias extra-escolares,
haver contribuio para a rea de Educao Musical no sentido de refletir sobre o que tem
sido realizado em termos de ensino de msica na escola. O trabalho pretende tornar mais
claro os processos de aprendizagem realizados fora da escola, dirigindo assim para que as
prticas escolares e no escolares atuem juntas no ensino de msica.
METODOLOGIA
Para a realizao deste trabalho que visa a investigar se os processos de ensino
aprendizagem musical vivenciados na escola so transmitidos para o contexto no escolar,
foi escolhida a metodologia de estudo de caso. A unidade de caso sero os adolescentes que
possuem atividades musicais fora do ambiente escolar e que esto expostos educao
musical dentro da escola. Como a pesquisa ser realizada com trs adolescentes
pertencentes a grupos musicais diferentes, sero realizados estudos multicasos.
1
Neste trabalho os conhecimentos musicais sero abordado conforme SWANWICK (1994)
enquanto experincia, vivncia prtica da msica atravs da composio, execuo e apreciao.
A escolha deste tipo de metodologia denominada por STAKE (1994, p. 253)
naturalista deve-se ao fato de permitir um estudo aprofundado de um caso. O estudo de
caso no intervm diretamente na realidade, e sim observa aquela j existente. (STAKE,
1994; TRIVIOS, 1987; MERRIAM, 1988).
Com o objetivo de colher as informaes sobre vrios aspectos que envolvem as
vivncias musicais dos adolescentes sero realizadas observaes no-participantes e
entrevistas semi-estruturadas.
As observaes so formas importantes e privilegiadas de se entrar em contato com a
realidade pesquisada, significa um olhar atento e comprometido com a questo de pesquisa.
TRIVIOS (1987, p.146) coloca que se entende por entrevista semi-estruturada aquela
que parte de certos questionamentos bsicos, apoiados em teorias e hipteses que
interessam pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipteses que vo surgindo medida que se recebem as respostas do informante.
A seleo da amostra foi realizada atravs de levantamento entre as escolas que
possuem ensino formal de msica. E a posterior seleo de alunos desta escola que
possuam vivncias musicais fora do mbito escolar.
Procedimentos de coleta de dados: os procedimentos foram realizados em trs fases
que esto descritas a seguir:
FASE I
- Levantamento das escolas;
- Contato com a Direo e Superviso da escola;
- Contato com o professor;
- Definio dos adolescentes.
FASE II
- Observaes das aulas;
- Entrevista com professor.
FASE III
- Observaes dos ensaios;
- Entrevista com os adolescentes.
Procedimentos da anlise dos dados
A anlise significa organizar, dividir e descobrir aspectos importantes dos dados
coletados. A anlise dos dados para autores como BODGAN e BIKLEN (1994, p.205) o
processo de busca e organizao sistemtico de transcries de entrevistas, de notas de
campo, e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objetivo de aumentar a
sua prpria compreenso desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros
aquilo que encontrou.
A anlise dos dados ser realizada posteriormente como uma interpretao iterativa,
elaborando pouco a pouco uma explicao lgica do fenmeno estudado (LAVILLE &
DIONNE, 1999). Segundo os autores o pesquisador interpretaria esses resultados em
termos de evoluo do discurso realizando inferncias sobre a transformao das
mentalidades e do contexto social que essa evoluo traduz( LAVILLE e DIONNE, 1999,
p. 226).
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
SWANWICK, Keith. Musical Knowledge: intuition, anlysis and music education. London:
Routledge, 1994.
Resumo. Na literatura existem controvrsias com relao leitura musical atravs do solfejo.
A Proposta de Desenvolvimento de Leitura Musical de DAVIDSON & SCRIPP, destinada ao
nvel superior de msica, utiliza uma prtica alternativa de solfejo como instrumento
propulsor de desenvolvimento de leitura musical e da integrao de habilidades tico-aurais.
Os autores apresentam uma estrutura pedaggica, alicerada na aquisio de subhabilidades,
que norteia os processos de ensino e aprendizagem. A proposta contm ainda procedimentos
complementares de leitura e discusso de textos relacionados aquisio de habilidades e
elaborao de um portoflio, visando a conscientizao do aluno para engajar-se em seu
prprio processo de aprendizagem, sendo ao mesmo tempo atuante e observador crtico desse
processo. O presente projeto faz parte de uma dissertao de Mestrado em andamento, que
visa investigar a relao entre os fundamentos psicolgicos, musicais e pedaggicos que
sustentam a Proposta de Desenvolvimento de Leitura Musical de DAVIDSON & SCRIPP,
utilizando a Anlise de Contedo como ferramenta analtica.
INTRODUO
1
Esse trabalho faz parte de uma dissertao de Mestrado, que est sendo realizada junto ao Curso de Ps-
Graduao em Msica da UFRGS, sob orientao da Profa. Dra. Liane Hentschke e co-orientao da Profa. Dra.
Cristina Capparelli Gerling.
2
No se pode negligenciar o fato que, quando estamos lendo uma partitura, estamos
tambm recebendo o produto dessa leitura, ou seja, ouvindo-o. Mas esse ato deve revelar uma
atitude consciente, construtiva, integrando a ao de ler com a construo do ouvir e do
interpretar. Como SWANWICK coloca, no se pode ouvir msica como sons isolados, e sim
atravs dos mecanismos de correlao e de identificao de sentidos, pois, tons tornam-se
melodias atravs de um processo metafrico onde tendemos a agrupar sons isolados em linhas
e frases, escutando-os como gestos (SWANWICK, 1999, p. 15).2 Nessa assero, o autor
salienta a importncia de construir nveis qualitativos de experincia musical em conexo com
o gesto expressivo e com o sentido musical. Assim sendo, o indivduo constri um julgamento
de valor que singular para cada ser humano.
Um instrumento para o desenvolvimento da habilidade de leitura musical o solfejo,
ou seja, a emisso vocal cantada e interpretada de uma melodia. Na literatura encontram-se
posicionamentos favorveis a essa prtica considerada tambm como um instrumento de
desenvolvimento de escuta interna e de compreenso musical (HEGYI 1999; KARPINSKI,
2000; GOLDEMBERG, 2000). HEGYI (1999, p. 11), divulgando o mtodo Kdaly, prope o
solfejo como instrumento de exerccio de escuta interna e de memria musical.
Por outro lado, muitas vezes, o ensino e a aprendizagem de solfejo so baseados na
repetio e memorizao de exerccios acompanhados pelo piano. Dessa forma, tem-se uma
nfase desmedida do solfejo efetuado por reproduo automtica no correspondendo
finalidade precpua dessa prtica, que a possibilidade de dar autonomia ao sujeito. Assim,
certos autores (MUSUMECI, 1998; BERNARDES, 2001) enfatizam que o solfejo, quando
trabalhado desse modo limitado pelo treinamento e de maneira reprodutiva, no aprofunda,
nem abrange as possveis significaes do sentido musical.
Entretanto encontra-se na literatura uma srie de artigos, apresentando uma proposta
de desenvolvimento leitura musical atravs do solfejo, empregada no New England
Conservatory of Music, Boston, E.U.A (DAVIDSON & SCRIPP, 1988a, 1988b; DAVIDSON
& alli, 1988, 1995). Esta proposta visa buscar alternativas que se diferenciem do ensino
tradicional de solfejo, focalizando-se em estratgias para resoluo de problemas na execuo
e no na memorizao ou reproduo de exerccios. Ela fundamenta-se nos conceitos tericos
de PIAGET (1990), para o desenvolvimento de habilidades tico-aurais, e estrutura-se na
prtica do solfejo tonal buscando integrar pequenos contornos presentes no conhecimento
2
Para o autor, melodia qualquer tipo de gesto musical, unidade expressiva ou frase, independente de estilo,
gnero ou poca, incluindo at mesmo uma nica nota, desde que possua qualidade expressiva.
3
implcito dos alunos afim de atingir, atravs de um estudo consciente e sistemtico, nveis
estruturais tonais mais amplos e complexos.
DAVIDSON & SCRIPP (1988b, p. 28), em uma tentativa de representar a habilidade
do solfejo, que uma habilidade complexa, resultante de vrias subhabilidades, propem uma
Estrutura Pedaggica de Desenvolvimento de Leitura Musical. Essa estrutura tem como
objetivo descrever e guiar nveis crescentes de complexidade e de integrao de aquisio de
habilidades ao longo da aprendizagem de solfejo, destinando-se tanto ao aluno, para
acompanhar e compreender seus estgios de desenvolvimento, como ao professor, que tem
assim meios de identificar problemas em sala de aula.
Paralelamente ao desenvolvimento da habilidade de leitura musical atravs do
solfejo, a proposta inclui ainda atividades de leitura e discusso de textos, versando sobre
aquisio de habilidades, mecanismos de leitura de linguagem e formao de esquemas, bem
como a criao de portoflio por parte dos alunos. Essas atividades visam fomentar o
pensamento crtico e reflexivo dos alunos, alm de incentiv-los ao desenvolvimento de
estratgias individuais, que parece adequar-se aos princpios do processo de ensino e
aprendizagem reflexiva de SCHN (2000).
No Brasil, esta proposta j foi utilizada inicialmente como fonte de inspirao por
GERLING (1995), entre os anos de 1993-1995 com alunos recm ingressos em curso de
Msica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A partir desses estudos
exploratrios, aliado aos textos escritos pelos prprios autores, surgiu-me a necessidade de
um estudo aprofundado terico-interpretativo dos fundamentos psicolgicos, musicais e
pedaggicos contidos nos propsitos de DAVIDSON & SCRIPP.
2. OBJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA
4. PRINCPIOS METODOLGICOS
5. RESULTADOS PARCIAIS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Handbook of research on music teaching and learning. New York, Schirmer Books, pp. 392-
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HEGYI, Erzsbet. Mtodo Kodly de Solfeo I. Traduo: Adela Miln Vela. Madrid,
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PIAGET, Jean. Epistemologia Gentica. Traduo lvaro Cabral. So Paulo, Martins Fontes,
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Gordon, Edwin. Introduction to Research and the Psychology of Music. Chicago: GIA,
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Gordon, Edwin. Teoria de Aprendizagem Musical para recm-nascidos e crianas em
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RECONSTRUINDO O SABER: O APRENDIZADO DO SISTEMA DE SOLFEJO
MVEL NO CONTEXTO UNIVERSITRIO
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LANDIS, Beth and Polly Carder (1990). The Kodly Approach. IN: CARDER, P. (Ed.)
The Eclectic Curriculum in American Music Education. Reston-VA, MENC, 1990. Pag 57-
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SILVA, Elzamir Gonalves, Elizabeth Tunes. A dissociao entre o ensinar e o aprender.
Abolindo Mocinhos e Bandidos: o professor, o ensinar e o aprender. Braslia: Editora UnB,
1998.
AS LICENCIATURAS RESOLVEM O PROBLEMA DO ENSINO DE
MSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL?
Segundo TEPLOV:
"...Para uma criana, o centro de gravidade consiste na
composio do texto, enquanto que a melodia apenas
secundria; para outra, o centro de gravidade a composio
da melodia, enquanto que as palavras podem quase no ter
sentido; mas ambos entendem a sua atividade da mesma
maneira "canto a minha cano" (ibidem, p.140).
2
3
3
4
4
5
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BARBOSA, Ana Mae. Histria da arte-educao. So Paulo: Max
Limonad, 1986.
_____ arte-educao: conflitos/acertos. So Paulo: Max Limonad, 1988
_____ Tpicos Utpicos Belo Horizonte: C/ Arte, 1998
5
6
6
USOS E FUNES DA MSICA NA EDUCAO INFANTIL
Resumo. Esta comunicao trata de um projeto de pesquisa sobre os usos e funes da msica na
educao infantil. Por se tratar de projeto de pesquisa,o texto apresentar todos os elementos
prprios deste, ou seja, na introduo ser apresentado o tema, objetivo, e justificativa da pesquisa.
Segue-se a reviso bibliogrfica comentando sobre pesquisas respeito dos usos e funes da
msica em diferentes contextos, a problematizao, os objetivos, geral e especficos, o referencial
terico e por fim a metodologia.
1-INTRODUO E JUSTIFICATIVA
Esta comunicao pretende apresentar uma proposta de pesquisa sobre os usos e funes da
msica na educao infantil. O uso da msica em diversas situaes da vida escolar vem atendendo
a vrios objetivos e realizada em vrios momentos juntamente com as demais reas do
conhecimento. A msica presente em todas as culturas, nas mais diversas situaes, faz parte da
educao desde h muito tempo, sendo que, j na Grcia Antiga, era considerada fundamental para
a formao dos futuros cidados, ao lado da matemtica e da filosofia (BEYER, 1999).
Ao se pensar nos usos e funes da msica na educao infantil, devemos pensar no s nos
objetivos que so, s vezes, alheios s questes prprias da linguagem musical, mas tambm,
detectar se existem outros objetivos relacionados educao musical. com esse intuito que esta
proposta de pesquisa pretende investigar como (de que maneira) e quando (em que momento) a
msica acontece na ltima fase da educao infantil (5 e 6 anos). Alm disto, em virtude desse
uso(como e quando), identificar a funo com que ela, a msica, utilizada no referido
contexto. Uma vez desvelados esses usos e funes, buscaremos saber se os mesmos esto de
acordo com os princpios pelos quais o Referencial Curricular Nacional (RCN) foi proposto.
Segundo o RCN, a msica enquanto rea de conhecimento, dever estar presente na
educao infantil e nesse sentido a abordagem scio cultural de educao vem ao encontro da
anlise dos usos e funes da msica neste contexto. Assim, esta pesquisa se justifica devido a
carncia de estudos na educao infantil partindo de uma abordagem scio-cultural.
2- REVISO BIBLIOGRFICA
A msica no contexto da educao infantil vem sendo utilizada para atender vrios
propsitos relacionados a atitudes, comportamentos, valores. A msica na escola muito
1
utilizada como recurso para a aprendizagem de contedos, comemoraes de datas, ou seja, como
meio de transmisso da cultura.
Segundo ROSA (1990), a presena da msica na educao infantil pode ser observada em
diversas atividades como recreaes, canes, comemoraes, interferindo, portanto, na formao
geral da criana.
CAUDURO (1989) comenta que a presena da msica na educao infantil justifica-se
pelo simples fato de que atravs de suas mltiplas facetas como: o canto, os brinquedos cantados, o
movimento ritmado e expressivo, a declamao ritmada (...) vem atender a uma necessidade vital e
espontnea da criana de cantarolar, danar movimentar-se, de inventar, de brincar, de correr, saltar,
recitar, etc. (CAUDURO, 1989, p. 14).
Para WEIGEL (1988), a msica no currculo da pr-escola favorece a auto-expresso da
criana despertando e refinando sua sensibilidade, provocando assim reaes de cordialidade e
entusiasmo, prendendo a sua ateno e estimulando a sua vontade.
Com relao aos usos e funes da msica na escola regular de ensino fundamental,
encontramos em TOURINHO (1994) discusses enfocando as atividades musicais em trs
categorias: as de execuo, de descrio e de criao.
A relao entre as atividades musicais e a instituio escolar foi estudada por FUKS (1991)
que originalmente demonstra e analisa como a msica acontece e entendida num contexto
especfico de escola normal pblica. Esse estudo abre e aponta questes que colocam a msica em
sintonia e em contraste com as perspectivas histricas e sociolgicas que a explicam como uma
prtica educacional (TOURINHO, 1994, p. 93).
No que se refere a escola normal, FUKS (1991) afirma a presena da msica e do professor
de msica como uma constante desde sua criao no Brasil. Segundo a autora, o que se observa na
escola normal um mecanismo de camuflagem do poder, controle escolar, chamado de poder-
pudor que evidenciado principalmente atravs de uma infantilizao no vocabulrio e atitudes da
escola, sem perder de vista o objetivo principal desta escola. Musicalmente, este fato pode ser
observado atravs do uso de musiquinhas de comando enquanto repertrio habitual escola.
A msica empregada, muitas vezes, para resolver situaes que exigem domnio e dessa
forma, utilizam o canto como um canto disciplinador.
No intuito de propor uma reflexo a cerca do valor do ensino de msica nas escolas, bem
como o papel atribudo educao musical dos indivduos, HENTSHKE (1991) tambm questiona
as funes da msica no decorrer da histria.
Ao longo dos anos foram atribudos valores distintos Educao Musical como: valor
esttico, valor social, valor multi-cultural, valor psicolgico e valor tradicional, conforme o
contexto social e histrico vigente. Nesse sentido, torna-se necessrio promover a reflexo no
2
s de educadores, mas da sociedade em geral, sobre a expanso do discurso do valor da Educao
Musical, afim de repensar e organizar a situao da Educao Musical nas escolas, discutir sobre os
usos e funes com que a msica acontece nestas, e se estes usos e funes esto de acordo
com os valores vigentes hoje1 .
3-PROBLEMATIZAO
A partir do tema Usos e funes da msica na Educao Infantil, tem-se neste sentido, o
problema: como, quando e com que funo a msica usada no contexto da educao
infantil? Estes usos e funes esto de acordo com os princpios pelos quais, atravs do RCN, a
msica, enquanto rea de conhecimento deveria estar presente na educao infantil?
4 - OBJETIVO GERAL
Investigar como (de que maneira) e quando (em que momento) a msica acontece na
educao infantil. Alm disto, em virtude desse uso (como e quando), identificar a funo com
que ela, a msica utilizada no referido contexto e se os usos e funes da msica esto de
acordo com os princpios pelos quais o RCN foi proposto.
- 5- REFERENCIAL TERICO
1
A pesquisa ora proposta entende como valor vigente hoje o RCN e, desta forma, estar preocupada
em analisar como e quando a msica acontece na pr-escola, e com que funo utilizada, levando-se em
conta os princpios pelos quais, atravs do RCN, a msica, enquanto rea de conhecimento, dever estar
presente na educao infantil.
3
Diante de um mundo sociocultural onde diferentes prticas pedaggicas acontecem, vm-se
exigindo cada vez mais projetos educativos voltados para demandas diferenciadas devido, a
freqente necessidade de considerar as determinaes socioculturais s quais as crianas e os
profissionais de educao esto inseridos.
Preocupaes com as experincias que os alunos realizam fora da escola e com o cotidiano
escolar tm sido destacadas, nos ltimos anos, pelas pesquisas educacionais onde o tema
cotidiano tem aparecido com freqncia. Este termo, comenta SOUZA (1997), tem sido o centro
do interesse de muitos pesquisadores, que recorrem a essa temtica no s para explicitar os seus
projetos de pesquisa, mas, tambm, para situar no dia a dia a referncia para uma fundamentao
terica de suas aes educativas (SOUZA, 1997, p. 38).
A preocupao com as determinaes socioculturais tem sido tambm uma vertente da
educao musical contempornea onde um dos desafios lidar com o amplo e diverso campo de
experincias musicais e culturais. Como possibilidade de ajuda a estes desafios, tm-se a
abordagem scio-cultural de educao musical.
A abordagem scio-cultural da educao musical, que surgiu a partir da segunda metade do
sculo XX tendo como preocupao central a importncia da utilizao da experincia musical dos
alunos na aula, possui fundamentao terica em campos de conhecimento como Etnomusicologia,
Sociomusicologia, Sociologia da Educao, Antropologia da Educao e na Antropologia. Estes
campos de conhecimento fornecem dados para se pensar e praticar uma abordagem scio-cultural
da educao musical.
Dentre os aspectos centrais desta abordagem pode-se citar: partir do que tem significado
para o aluno para, posteriormente, ampliar a experincia musical dos mesmos; valorizar a
experincia cotidiana como ponto de partida, sem ignorar experincias anteriores; considerar a
diversidade cultural e musical do aluno, do professor e as diferentes concepes de ensino e
aprendizagem; ampliar o discurso musical atravs da utilizao de msicas de outras culturas
(ARROYO, 2000).
Tal postura, mais relativizada, tendo em vista os diferentes contextos sociais e culturais, tm
sido temticas discutidas nas ltimas dcadas enquanto reflexes e prticas de Educao Musical
escolar/acadmica (ARROYO, 2000). Desse modo, consideraes sobre o contexto social e
cultural dos alunos e partir de experincias dos alunos pode se tornar pressupostos para uma
prtica docente mais consciente. Nesse sentido cabe perguntar: o que os professores da peducao
infantil, na sua prtica cotidiana, valorizam? Estes aspectos da abordagem scio-cultural so
levados em conta, considerando a msica como rea de conhecimento?
Porm, o que se observa atravs de pesquisas que tm tratado da msica na educao
infantil, que estas tm constatado que a mesma vem sendo usada em diversos momentos, mas
4
no se detectou se esta utilizao estaria fundamentada em uma abordagem scio-cultural, ou se ao
menos as concepes e prticas dos professores estavam de acordo com os princpios dessa
abordagem.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil (RCN), a msica
dever estar presente no mbito Conhecimento de Mundo que engloba as reas: Movimento,
Msica, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemtica. Este mbito
se refere construo das diferentes linguagens pelas crianas e s relaes que estabelecem com
os objetos de conhecimento e traz uma nfase na relao das crianas com alguns aspectos da
cultura (RCN, Introduo, 1998, p. 46).
Neste sentido, a msica, enquanto rea de conhecimento, tida como essencial na educao
infantil e sua presena justificada da seguinte forma:
A integrao entre os aspectos sensveis, afetivos, estticos e cognitivos, assim como a
promoo de interao e comunicao social, conferem carter significativo
linguagem musical. uma das formas importantes de expresso humana, o que por si
s justifica sua presena no contexto da educao, de um modo geral, e na educao
infantil, particularmente (RCN, v. 3, Conhecimento de Mundo, p. 45).
6 - METODOLOGIA
Investigar os usos e funes com que a msica utilizada no contexto da educao infantil
e verificar se estes esto de acordo com os princpios pelos quais o RCN foi proposto, implica na
construo de um mtodo coerente com a natureza deste tipo de trabalho.
Dadas as caractersticas deste objetivo, optou-se pela abordagem qualitativa de pesquisa que
possui as seguintes caractersticas (BODGAN; BIKEN apud LDKE; ANDR, 1986, p. 11-13): os
dados so coletados no ambiente natural atravs do contato direto e prolongado do pesquisador;
todos os dados so considerados importantes e so predominantemente descritivos; a anlise dos
dados tende a seguir um processo indutivo, sem partir de hipteses pr-estabelecidas; as abstraes
vo sendo construdas medida que os dados vo sendo analisados; o significado que as pessoas
do s coisas e sua vida preocupao essencial.
Sendo assim, a abordagem qualitativa de pesquisa considerada adequada para esta
pesquisa pois procurar-se- valorizar a perspectiva dos participantes da pesquisa (professores e
alunos da educao infantil) no processo de descrio de como e quando a msica utilizada na
educao infantil e de verificao se os usos e funes esto de acordo com os princpios pelos
quais o RCN foi proposto.
O mtodo escolhido o estudo de caso. A opo por este mtodo justifica-se pelo fato do
mesmo possibilitar um conhecimento mais amplo a respeito do objeto de estudo (usos e funes da
msica na educao infantil e suas relaes com os princpios do RCN) de modo a retratar a
realidade de forma completa e profunda (LDKE; ANDR, 1986).
Caracteriza-se por descrever todo o contexto em que o caso se situa atravs de descobertas
que vo acontecendo no desenvolvimento da pesquisa. Por isto, torna-se importante contar com
ampla variedade de fontes de informao, coletadas em diferentes momento tais como na sala de
6
aula, na merenda, no ptio, na entrada e sada das crianas, etc. O estudo de caso permite tambm a
generalizao naturalstica, ou seja, outros profissionais podero fazer aproximaes com os
resultados discutidos pela pesquisa, o que poder lev-los a reflexes sobre suas prprias
experincias de ensino.
O estudo de caso possui quatro fases (LDKE; ANDR, 1986, p. 21-23): a fase
exploratria, que pode partir de questes ou pontos crticos que vo sendo explicitados a fim de
definir o objeto de estudo; a fase de delimitao do estudo, que determina o foco de investigao
bem como a seleo dos aspectos mais relevantes para se compreender a situao estudada; a fase
da coleta de dados em campo atravs de instrumentos e tcnicas estruturadas de acordo com as
caractersticas do objeto estudado; e a fase de anlise sistemtica dos dados que dever ocorrer
concomitante e posteriormente coleta de dados, atravs da elaborao de relatrios. As duas
primeiras fases foram percorridas com a elaborao do presente projeto. As fases seguintes sero
cumpridas com a pesquisa de campo, ou seja, na educao infantil.
7
de dados e considerada uma das principais tcnicas de trabalho na pesquisa em educao. (...) se
desenrola a partir de um esquema bsico, porm no aplicado rigidamente, permitindo que o
entrevistador faa as necessrias adaptaes (LDKE; ANDR, 1986, p.34).
A anlise documental busca identificar informaes factuais nos documentos a partir de
questes ou hipteses de interesse (LDKE; ANDR, 1986, p.38). Atravs dela, da anlise
documental, sero pesquisados os programas, planos de aula, dirios de classe, etc. no sentido de
verificar se a msica est inserida no currculo da escola e se o programa seguido obedece a
estrutura proposta pelo RCN: produo, apreciao, reflexo.
8 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Territrios contestados: o currculo e os novos mapas polticos e culturais. Petrpolis: Vozes,
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9
HENTSCHKE, Liane. A educao musical: um desafio para a educao. Educao em Revista,
Belo Horizonte, n. 11, p. 55-61, 1991.
JOLY, Ilza Zenker Leme. Musicalizao infantil na formao do professor: uma experincia no
curso de pedagogia da UFSCar. In: Fundamentos da Educao Musical, ABEM, n. 4, p. 158-162,
1997.
ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educao musical para a pr-escola. Rio de Janeiro: Libador,
1990.
10
TOURINHO, Irene. Usos e funes da msica na escola pblica de 1 grau. In: Fundamentos da
Educao Musical, ABEM, n. 1, p. 7-14, 1994.
WEIGEL, Anna Maria Gonalves. Brincando de msica: experincias com sons, ritmos, msica e
movimentos na pr-escola. Porto Alegre: Kuarup, 1998. 201p.
11
O ENSINO DA MSICA NAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE
CURITIBA
Resumo. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar o ensino da msica nas escolas da
Rede Municipal de Curitiba, no ano 2000. Para tanto, utilizou-se de um questionrio
como instrumento de coleta de dados, distribudo para todas as escolas municipais com
ensino de 1. a 4. sries. Como referncia para as investigaes, foram consideradas as
prescries legais que regulamentam o ensino da msica nas escolas municipais: a Lei
de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, os Parmetros Curriculares Nacionais e o
Currculo Bsico da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Os principais dados
levantados sobre esse ensino nas escolas municipais de Curitiba foram: a freqncia
com que se realizam as atividades musicais; os tipos de atividades mais comuns nas
aulas de msica; a formao do professor que ministra tais aulas; e as principais
dificuldades encontradas para a sua realizao.
INTRODUO
...se faz necessrio chamar a ateno para uma questo que comumente formulada
por ilustres educadores musicais brasileiros: existe educao musical no Brasil?
Questo que merece ser profundamente analisada e que ainda se torna mais intrigante
quando o que se enfoca o ensino musical da nossa escola pblica (Ibid., p.134).
que regem o ensino da msica nas escolas brasileiras - a LDB de 1996 e os Parmetros
Curriculares Nacionais para o ensino das Artes (PCNs-Artes) - que se fundamentou a
principal questo de pesquisa1 desse trabalho.
O problema inicial que se apresentou como tema a ser investigado e
representou o fio condutor para todo o desenvolvimento dessa pesquisa foi: qual a
situao atual do ensino da msica nas sries iniciais do ensino fundamental, na Rede
Municipal de Curitiba? Essa questo desdobrou-se em vrias outras que tambm
problematizaram o tema proposto: o ensino da msica existe em todas as escolas?
Quando existe, qual a regularidade das atividades musicais nessas escolas? Que
atividades musicais so desenvolvidas com mais freqncia? E quais as menos
freqentes? Quais as principais dificuldades que as escolas encontram para a realizao
dessa modalidade de ensino? Qual a formao do docente que atua nessa rea?
O objetivo geral dessa pesquisa foi caracterizar o ensino da msica nas sries
iniciais do ensino fundamental, na Rede Municipal de Ensino (RME) de Curitiba, no
ano 2000.
METODOLOGIA
1
A pesquisa sobre o ensino da msica nas escolas municipais de Curitiba foi elaborada e apresentada
como dissertao do programa de Ps-graduao, Mestrado em Educao da Universidade Tuiuti do
Paran.
4
1. Populao
2. Procedimentos
RESULTADOS
Das 130 escolas que receberam o questionrio, 84, ou seja, 64% delas
responderam a ele (GRFICO 1). O percentual de respostas foi considerado
significativo para a anlise das questes propostas e para a caracterizao do ensino da
msica nessas escolas.
5
46 escolas
84 escolas
Responderam No responderam
A partir dos resultados foi possvel observar que o ensino da msica estava
presente na maioria das escolas da RME de Curitiba: das 84 escolas que responderam ao
questionrio, 58 afirmaram ensinar msica e 26 declararam no trabalhar com esse
ensino (GRFICO 2).
26 escolas
58 escolas
Sim No
Pela anlise das respostas das 58 escolas que afirmaram ensinar msica, foi
possvel observar que nem todas trabalhavam semanalmente com esse ensino pois, em
algumas, tal ensino foi apontado apenas como espordico. Dessas escolas, apenas 14
afirmaram ensinar msica como rea especfica, enquanto que 34 escolas indicaram que
o ensino da msica ainda desenvolvido dentro da rea da Educao Artstica
(GRFICO 3).
6
40 34
30
20 14
10
10
0
Educao Artstica
Msica c/ rea Especfica
Outras
Histria 2
Estudos Sociais 2
Informtica 2
Msica 2
Psicologia 2
Administrao 1
Biologia 1
Economia 1
Filosofia 1
Geografia 1
Musicoterapia 1
Nutrio 1
TOTAL 103
9 profs.
Ed. Artstica/ msica
Outras reas
94 profs.
- Manipulao de 10 16 31
instrumentos
musicais
- Confeco de 5 28 24
pequenos
instrumentos
- Composio 4 19 35
- Improvisao 12 25 21
- Apreciao 24 18 15
- Execuo 1 4 52
Enfim, a anlise dos dados apresentados pelas escolas permitiu concluir que
so poucas as escolas municipais de Curitiba que apresentam um ensino da msica
sistematizado, ou seja, organizado, com uma freqncia semanal e desenvolvido por
meio de atividades que contemplem uma verdadeira educao musical, isto ,
atividades de execuo, apreciao, composio, improvisao, objetivando um
desenvolvimento musical mais amplo.
Porm, observou-se nesse estudo que existe um crescente interesse por parte
das escolas e da Secretaria Municipal de Educao em organizar esse ensino. E, para
que isso se consolide, necessrio que, inicialmente, haja uma preocupao maior com
a formao docente.
CONCLUSO
BIBLIOGRAFIA
1. Introduo
O que as crianas assistem na televiso foi a questo inicial para tentar entender os
seus hbitos televisivos. As crianas acompanham uma diversidade de programas na
televiso, especialmente aqueles da TV aberta. Entre eles esto os programas de auditrio,
as novelas das diversas emissoras, os desenhos animados e filmes (ver quadros em anexo).
O que est por trs da escolha da programao televisiva por parte das crianas que fazem
parte deste estudo? Como elas justificam suas preferncias?
O que assistem engloba uma variedade de gneros disponveis. Em alguns dilogos
percebe-se o quanto as crianas variam de um programa para outro sem ter, aparentemente
predileo por algum. A ausncia do que fazer no perodo que no est na escola, leva a
criana a buscar na televiso um passatempo. O prazer de assistir televiso torna a
explicao simples para a maioria das crianas entrevistadas:
2
Por ser a nica fonte de lazer e entretenimento realmente das crianas e suas
famlias elas falam com desenvoltura sobre a televiso e o espao ocupado por ela. Falam
com prazer sobre o fato da televiso estar sempre ligada e que realizam as tarefas
domsticas ao som da telinha constantemente ligada. As famlias ajudam a montar o dia a
dia em que a televiso est presente. O vai e vem das pessoas que passam pela frente da tela
na minscula sala caracterizado por uma olhadinha rpida a fim de ver o que se passa,
mesmo que no participe do evento mostrado naquele momento. De acordo com
Morduchowicz (2001):
notvel tambm como revelam a maneira que se utilizam para procurar msica na
programao, como mostra Joel:
3
Planeta Xuxa.
Entrevistadora: Todas esses tm msica?
Joel: Tm.
Entrevistadora: E quais os programas que tu gostas?
Joel: Eu gosto do Furaco 2000.
Entrevistadora: E porqu?
Joel: Porque ele tem msica que abala todo mundo. msica
que faz todo mundo danar e da vai de atrs... a todo mundo j
vai cantar tambm.
Joel sabe qual programa oferece a msica que abala, e como esta pode envolver
todos para danar e cantar juntos. A presena constante da msica faz com que ele se
interesse por programas de televiso que tm msica:
4
Algumas respostas esto mais relacionadas com elementos musicais especficos que
as crianas buscam em contato com a audincia a estes programas.
5
Entrevistadora: Tem algum motivo porque ela deixa tu assistir esses programas?
Lisa: Porque ela disse que bom eu aprender msica porque um dia eu posso
crescer e ser alguma coisa, algumas artistas ... qualquer coisa.
4. Consideraes finais
6
A msica e a televiso ocupam um espao importante na vida deles porque no
terem outras opes de opes de lazer durante uma tarde chuvosa, sem dinheiro e sem
muito compromisso. Eles ficam na frente da televiso vendo a programao de filmes da
tarde. noite, novelas e outros gneros, como o Programa do Raul Gil, canal 4, Rede
Pampa. Como afirma Morduchowicz (2001, p. 48) a televiso compensa um dficit
ldico e recreativo. Converte-se rapidamente numa fonte de satisfao imediata.
Ao desenvolver uma pesquisa sobre msica, televiso e crianas, espero ter
contribudo para que os educadores musicais possam olhar para os meios de comunicao,
hoje intensamente discutidos. Considerar a cultura musical dos alunos, assumir as
experincias televisivas e ir alm dela de uma maneira crtica pode ajudar os profissionais
da rea a cruzar as fronteiras culturais, como sugere Giroux (1999), incluindo a
participao dos alunos.
Referncias bibliogrficas
7
PACHECO, E. D. (1991): Apresentao. In: E. D. Pacheco (org.): Comunicao,
educao e arte na cultura infanto-juvenil, So Paulo: Edies Loyola, pp. 5-6.
8
ANEXOS
Elisa
Dionatha
9
Denise
Jonas
10
Robert
Ana
11
Joel
Lisa
12
1
PRTICAS DE ENSINO DA MSICA
Introduo
Este relato de experincia pedaggica basea-se na execuo do Estgio
Supervisionado na 4 srie do Curso de Educao Artstica Habilitao em Msica da
Universidade do Estado do Par, que possue a carga horria anual de 240 hs, sendo
distribuda semanalmente 04 hs. em campo e 02 hs. de preparao.
horrios das oficinas so compatveis aos horrios das aulas e funcionamento do Curso de
educao Artstica- Msica.
De aluno para aluno um projeto de extenso da Pr- Reitoria de Extenso/
PROEX em convnio com a Secretaria de Educao do Estado do Par/ SEDUC, iniciado
em 2001, desenvolvido nas escolas estaduais de educao bsica, atendendo aos diversos
cursos da UEPA e na rea especfica de msica onde no tem professor dessa
disciplina/msica. Trata-se de estgio remunerado com 80% do salrio mnimo, onde
discentes do 3 e 4 sries so selecionados mediante apresentao de projetos que so
enviados para escolas. Cabe a cada escola a seleo de quantos projetos lhe forem de
interesse e um projeto pode ser solicitado por vrias escolas ao mesmo tempo. O perodo
desse projeto anual, sendo desenvolvido com 16 horas em sala e 04 horas de preparao,
onde cada discente deve atuar num turno divergente ao cursado na graduao.
Pr- vestibular em msica um projeto de extenso do Curso de Educao
Artstica Msica iniciado em 1996, oferecido para a comunidade interessada em prestar
exame vestibular para este curso, nas dependncias do mesmo, com durao de um ano,
perodo noturno e taxa de inscrio no valor de R$ 20,00.
AMAI um projeto de extenso do Curso de Educao Artstica Msica em
convnio com esta Associao, desenvolvido em dois bairros perifricos da cidade de
Belm: Bengu e Utinga. Iniciado este ano (2002), o projeto funciona no turno da manh e
tarde, atendendo a disponibilidade e por consequinte a mobilidade de horrio necessrio
para alguns discentes da graduao.
De acordo com cada projeto o nmero de participantes e outras caractersticas
especficas como horrios de funcionamento e operacionalizao financeira so delimitados
de forma diferenciada.
Os espaos variam entre: Creches, Asilos, Escolas de Educao Bsica, Igrejas,
Centros Comunitrios e os laboratrios de msica do Curso de Educao Artstica do
Centro de Cincias Sociais e Educao.
As aulas so desenvolvidas com base na prtica de conjunto: coral, flauta doce,
violo, percusso, teclado e contrabaixo eltrico. Essas aulas so ministradas com nfase
em percepo, apreciao e recreao musical.
5
Referncias bibliogrficas
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Teoria e Prtica da Educao Artstica. 14 ed. So
Paulo: Ed. Cultrix,1995.
6
Brasil. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte.
Secretaria de Educao Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1998.
LEHMANN, Paul R. Panorama de la Educacin Musical en el mundo. In: La Educacin
Musical frente al futuro. Buenos Aires: Ed. Guadalupe,1993.
VZQUEZ, Adolfo Snchez. Filosofia da Praxis; traduo de Luiz Fernando Cardoso. 3
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
1
INICIAO AO CONTRABAIXO: PERSPECTIVAS PEDAGGICAS PARA
ALUNOS ENTRE 12 E 18 ANOS
Sonia Ray
Alexandre Negreiros
Resumo. A crescente procura pelo contrabaixo e a pouca oferta deste instrumento nas
instituies de ensino brasileiras denotam uma lacuna a ser considerada pelos
pedagogos do instrumento musical. Experincias em outros pases tm gerado material
pedaggico voltado para a iniciao ao contrabaixo, notadamente a ISB International
Society of Bassists, que h mais de 10 anos reserva em seu encontro bienal um espao
para estudantes de 5 a 18 anos. No Brasil, experincias em organizaes como o SESC
e o SESI, e projetos como Guri (SP) e Do Ao ao Clssico (RJ), oferecem cursos de
iniciao a cordas orquestrais, porm sem continuidade aps a alfabetizao musical
bsica. Por ser o Projeto Guri um dos mtodos melhor estruturados atualmente, este foi
escolhido como referncia na iniciao s cordas, e para um proposta de estudo ao
contrabaixo. Esta pesquisa pretende indicar estudos e repertrio para iniciantes entre 12
e 18 anos e sugerir possveis caminhos para a iniciao ao contrabaixo no Brasil.
I - INTRODUO
II OBJETIVOS GERAIS
- Oferecer uma contribuio para a pesquisa em pedagogia da performance no
Brasil;
- Colaborar com a ampliao de possibilidades na iniciao de adolescentes no
contrabaixo no Brasil;
- Detectar e selecionar processos no ensino de contrabaixo utilizados no Brasil e
nos Estados Unidos;
IV PRESSUPOSTOS TERICOS/JUSTIFICATIVA
V METODOLOGIA
BRINE, Patrcia. The First Book for Double Bass. Edio da autora, 1995.
GALINDO, Joo Maurcio. Instrumentos de Arco e o Ensino Coletivo. So Paulo:
Projeto Guri, 1998.
5
KARR, G. The Gary Karr Double Bass - Book 1 & 2. New york: Amati Productions,
1987.
RAY, Sonia. Song of the south, Double Bassist, N. 4, pp. 30-33 e 41-47, 1997.
________. Brazilian classical Music For Double Bass: an overview of the instrument,
the major popular music influences within its repertoire and a thematic catalogue. Tese
de Doutorado defendida na Universidade de Iowa, Estados Unidos em dezembro de
1998.
SWAIN, Daniel. Apontamentos do curso de Mtodo Suzuki para Contrabaixo por Sonia
Ray. Fnix, TX, 1998.
VANCE, George. Repertoire for the Double Bass-Books 1 & 2, Silver Spring, MD:
Slava, 1995.
UM PASSO A MAIS: EDUCAO MUSICAL COMO PARTE DE UM PROJETO
DE EDUCAO COMPLEMENTAR
Apesar da inegvel importncia dessas aes que, via de regra, objetivam, dentre outras
questes, contribuir para a formao integral de seres humanos, observamos tambm que,
no raro, os projetos centralizam seus esforos na produo de espetculos, muitas vezes
para satisfazer exigncias de patrocinadores; descuidam-se, dessa maneira, do processo de
formao em sua complexidade, que deve ocorrer em seu tempo, com o respeito s etapas
que cercam o desenvolvimento da experincia musical e humana das crianas e jovens.
Um passo a mais um projeto de educao complementar que atende crianas com
idades entre seis e quinze anos, freqentadoras de EGJs (Espao Gente Jovem), em bairros
perifricos da cidade de So Paulo. Com a coordenao geral do Instituto Avisa l,
organizao no governamental cujo foco principal a formao continuada de educadores,
o projeto desenvolve atividades educativas e culturais junto s crianas que diariamente
freqentam as instituies, antes ou aps o horrio escolar. Ao mesmo tempo, o projeto
proporciona e atualiza a formao dos profissionais diretamente envolvidos com o
desenvolvimento das atividades.
O projeto Um passo a mais envolve, no momento, seis instituies, localizadas em
diferentes regies da cidade de So Paulo (das zonas leste, oeste e sul), atendendo um
nmero aproximado de setecentas crianas. Dentre outras atividades, elas participam de
aulas de musicalizao. A equipe de educadores musicais formada por 12 professores e
um coordenador, responsvel pela formao e pela superviso do trabalho desses
professores, visando adequ-lo realidade e s necessidades prprias ao contexto
especfico onde se desenvolve, bem como, aos princpios e objetivos norteadores do
projeto, como um todo.
As crianas que freqentam os EGJs so provenientes de famlias de baixa renda e
enfrentam problemas diversos, de ordem material, familiar, social, afetiva etc. grande o
nmero de instituies desse tipo na cidade de So Paulo; mantendo convnios com a
prefeitura e outros rgos (governamentais ou no), os EGJs recebem as crianas no
horrio alm da escola, desenvolvendo atividades pedaggicas e recreativas, alm de
oferecer alimentao.
A realizao do projeto Um passo a mais, por sua vez, parte das iniciativas scio-
educacionais propostas pelo Instituto Po de Acar de Desenvolvimento Humano, em
parceria com o Instituto Avisa l e vem acontecendo h dois anos e meio. Assim sendo,
uma parte das crianas atendidas pelo projeto composta por filhos de funcionrios das
redes de supermercados Po de Acar.
O projeto Um passo a mais tem como objetivos gerais:
Atender filhos de funcionrios do Grupo Po de Acar, em programa de
ao complementar escola;
Atender crianas e adolescentes das comunidades onde esto inseridas as
entidades parceiras do Instituto;
Melhorar a qualidade do atendimento s crianas das regies participantes
do projeto, instrumentalizando profissionais que atuam com essa populao.
Os objetivos especficos visam:
Contribuir para o desenvolvimento das habilidades e capacidades das
crianas, visando a permanncia e o sucesso na escola e ampliao do seu
universo cultural;
Contribuir para o desenvolvimento de competncias didticas especficas
dos educadores das entidades conveniadas e demais profissionais do entorno
que se interessem em participar da formao;
Colaborar com a entidade para a construo de um projeto pedaggico para
atendimento direto.
O Instituto Avisa l parte de uma proposta de trabalho construtivista de
desenvolvimento e aprendizagem, delineando estratgias de formao prpria a todos os
envolvidos: educadores, gerentes e operacionais. Essa linha de construo de
conhecimento est apta a dar conta no somente da aprendizagem de crianas e
adolescentes, mas tambm da aprendizagem de educadores.
Em funo disso, o projeto de formao procura contemplar uma metodologia que
consiste em formar os educadores a partir do mesmo paradigma, dos mesmos princpios e
com a mesma orientao pedaggica que eles devero por em prtica no exerccio de seu
trabalho com as crianas e adolescentes.
Buscando atingir os objetivos propostos, o Instituto Avisa l disponibiliza uma
equipe que conta com um coordenador geral, coordenadores pedaggicos, assistente social,
nutricionista, professoras de apoio, coordenadores de msica e educao fsica, alm dos
professores especialistas nestas duas reas.
O trabalho pedaggico desenvolvido com as crianas visa ampliar e enriquecer suas
experincias e conhecimentos, tendo como o foco a formao da cidadania. O
desenvolvimento de competncias em reas especficas no se desvincula do objetivo de
colaborar para a formao de cidados reflexivos, questionadores, sensveis e criativos,
cnscios de seus direitos e deveres na sociedade em que se inserem, fortificados para
enfrentar sua realidade.
Embora com carter eminentemente educativo, o papel do Espao Gente Jovem no
deve confundir-se com o papel da escola; converge com ele no sentido de complement-lo
e enriquec-lo.
Referncias bibliogrficas
INSTITUTO AVISA L Projeto Um passo a mais 1 a 4 sries, SP: 1999,
publicao interna.
MOLINO, Jean Facto musical e semiologia da msica in: NATTIEZ, Jean-Jacques,
ECO, Umberto,RUWET, Nicolas, MOLINO, Jean Semiologia da msica. Lisboa: Veja
Universidade, s/d.
A PRTICA DE ENSINO EM MSICA:
UMA REFLEXO A PARTIR DE TRS EXPERINCIAS DE ESTGIO
Resumo. Esta pesquisa teve como objetivo compreender as condies efetivas do estgio
supervisionado atravs das vozes dos alunos estagirios em nosso caso, alunas
estagirias do curso de Licenciatura em Educao Artstica, habilitao em msica, da
Universidade do Estado de Santa Catarina. Foram selecionadas trs alunas que realizaram
o estgio em uma escola da rede pblica da cidade de Florianpolis (SC). Para a coleta de
dados foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas, observaes e documentos escritos. A
anlise pressups um processo cclico de trs fases estreitamente relacionadas: reduo,
organizao e interpretao dos dados. Podemos concluir que esta pesquisa confirmou a
necessidade de reflexo acerca da estrutura curricular do Curso de Licenciatura em
Msica, permitiu avaliar a importncia e a eficcia do estgio como um componente
fundamental na formao dos professores e buscou refletir acerca de aspectos essenciais a
superar frente aplicao das possibilidades das ltimas polticas educacionais.
Introduo
nos afirma Prez Gmez (1998:410), desde o incio da formao, o estudante imerso na
cultura da escola. Uma verso que reflete bem esta concepo a de que "algum tempo de
prtica melhor que nenhum, mas quanto mais tempo melhor" (Zeichner, 1990). Para
ilustrar a importncia dos estgios segundo o enfoque prtico artesanal mencionamos o
Programa de Educao de Professores baseado na Escola (Based School Teacher
Education Program), desenvolvido durante os anos noventa e apoiado pela poltica
conservadora inglesa, no qual cerca de 70% da formao do futuro docente era reservado
pura interao nos centros escolares (Prez Gmez, 1999). O conhecimento prtico ,
assim, inteiramente separado de qualquer situao terica e reflexiva resultando, muitas
vezes, em profissionais moldados a prticas tradicionais de repetir atividades como receitas
ou modelos de atuao como referncia nica e absoluta.
O estudo relatado nesta comunicao faz parte de uma investigao mais ampla sobre a
prtica de ensino no Curso de Educao Artstica com habilitao em msica da
Universidade do Estado de Santa Catarina. Selecionamos para esta apresentao a viso
que os estudantes no nosso caso, as estudantes tm a respeito do estgio. Assim,
tendo trs alunas como sujeitos participantes deste trabalho, entendemos que a opo pelo
estudo de caso mltiplo se adequa, j que no pretendemos estudar o grupo de alunas como
um todo e sim cada aluna com suas peculiaridades. A seleo das estudantes respeitou os
seguintes critrios: a) estar matriculado na disciplina de Didtica e Prtica de Ensino; b)
realizar o estgio em escola da rede pblica e nas primeiras sries do ensino fundamental e,
supostamente, c) ter interesse e disponibilidade em colaborar com esta pesquisa. O fato de
vrios alunos escolherem a mesma escola para a realizao do estgio tambm foi um
critrio dominante. Dessa forma, as trs participantes efetuaram o estgio na mesma
instituio, uma escola pblica da cidade de Florianpolis, facilitando assim, a
compreenso do contexto escolar em que se encontravam.
Para a coleta dos dados foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas, observao direta e
documentos escritos. Para a presente comunicao nos basearemos nos dados coletados
atravs das entrevistas, pois foi a partir da anlise das falas de cada uma das estudantes que
encontramos seus pensamentos, sentimentos, crenas e reflexes acerca do estgio. As
entrevistas foram realizadas ao longo do perodo de estgio durante o primeiro semestre de
2000 e foram gravadas e transcritas o mais literal possvel. Para a anlise dos dados
optamos pelas trs tarefas bsicas apresentadas por Maroy (1997): reduo, organizao e
4
Os resultados que apresentamos representam apenas uma pequena parte do todo que
constitui a pesquisa em si. Selecionamos o que nos pareceu ser representativo respeito s
vises que as estudantes tm do estgio, procurando no desvirtuar a compreenso do texto
em sua integralidade. Agrupamos, assim, os resultados em um texto nico onde damos vez
s vozes das estagirias.
1
Pseudnimos.
2
Ressaltamos que o estgio, totalizando trinta horas aula, foi realizado no ltimo semestre do curso.
5
Cecilia busca o ideal, uma vez que consegue identificar as principais falhas em seu
processo de estgio. Ela diz que cada ator professor orientador, professor cooperante,
estagirio deveria ter um papel claro e definido para que o estgio pudesse proporcionar
uma maior e melhor experincia docente. Cecilia enfatiza os problemas de superviso. Por
um lado, a necessidade de um acompanhamento regular por parte do professor cooperante
e, por oturo lado, as poucas visitas do professor orientador escola. Ao mesmo tempo,
considera a falta de comunicao que h entre os trs atores, o que pode gerar conflitos e
duvidas durante o estgio. Cecilia sustenta que deveria ser um momento tranqilo de
aprendizagem para o estagirio, em vez de ser um espao de incertezas e inseguranas
provocadas pela falta de organizaco dos professores responsaveis. Evidentemente, Cecilia
nos mostra a dualidade em que se encontra o processo de superviso durante o estgio. Dar
aulas de acordo com a tutela de um professor com experincia prtica ou aplicar o
aprendido nas aulas da universidade? Em suma, parece haver um grande desencontro. A
palavras da estagiria nos levam a pensar que a superviso pode ser um obstculo para a
aprendizagem do futuro profesor. Cecilia sente que est entre dois mundos diferentes e, de
alguma maneira, quer assegurar seu espao para intentos e experincias pedaggicas.
Independentemente de sua relaco com o que aprendeu durante o curso de licenciatura ou
com o exigido pela escola onde realiza o estgio ela gustaria de ter maior autonomia e
liberdade em sala de aula.
Consideraes finais
6
As palavras das estagirias vieram a confirmar aspectos essencias presentes no debate dos
profissionais da rea da educao ao longo dos anos. Em primeiro lugar, citamos a durao
e a temporalizao do estgio nos programas de formao e concordamos com Beatriz
quando ela diz "era legal se tivesse mais aulas". Este ponto j foi contemplado atravs da
Resoluo CNE/CP 02/2002 que estabelece quatrocentas horas de "prtica como
componente curricular, vivenciadas ao longo do curso" e quatrocentas horas de "estgio
curricular supervisionado a partir do incio da segunda metade do curso" (art.1). Da
mesma forma, a ciso entre teoria e prtica to evidenciada no modelo tradicional de
formao de professores, atravs da viso aplicacionista das teorias ou da viso ativista da
prtica, aparece agora em uma verso mais unificadora. Entretando, a organizao dos
conhecimentos pedaggicos, cientficos e musicais e a formao acadmica frente s
demandas da sociedade so questes a superar perante as possibilidades das polticas
educacionais. Por fim, destacamos, ainda, fatores inerentes ao processo da prtica
pedaggica que necessitam reflexo e busca de novas solues. So eles: as relaes
estabelecidas entre universidade e escola; as interrelaes entre o professor orientador, o
professor cooperante e o estagirio; a reflexo sobre a prpria prtica em contraposio ao
ensino tcnico e academicista; a produo de conhecimentos prticos ao invs da
transmisso e a aplicao de normas e princpios. Estes temas, com certeza, permero
trabalhos futuros.
Referncias Bibliogrficas
Resumo. Este texto relata o processo desencadeado pela disciplina Prtica de Ensino da
Msica II, no curso de Educao Artstica-Msica, da Universidade do estado do Par,
que propicia reflexes e vivncias de mtodos e metodologias, estgio de participao
em diferentes campos de atuao musical, confeco de material didtico para o ensino
da msica e elaborao de proposta de ensino para a Educao Musical.
1. Introduo
A partir da promulgao da Lei 9394/96 a Educao Artstica foi
substituda na dimenso da Educao Bsica pela disciplina denominada Ensino de
Arte. A antiga Educao Artstica foi concebida nos moldes da Lei 5692/71 que
defendia a perspectiva do ensino polivalente das diferentes modalidades artsticas.
Atualmente, o Ensino de Arte, est sendo entendido dentro da construo do
conhecimento de cada linguagem especfica: msica, teatro, artes visuais e dana.
No contexto da transio das leis educacionais, acredita-se que as escolas,
ao buscar mecanismos de adaptao legal, estejam discutindo o projeto pedaggico e as
metodologias especficas dos diversificados contedos que constituem os vrios nveis
da Educao Bsica.
Neste aspecto, a investigao partiu da seguinte questo: Que mudanas
esto acontecendo no Ensino de Arte da Educao Infantil das escolas de Uberlndia
aps a Lei 9394/96? Vislumbrou-se com este trabalho, contribuir para com o
esclarecimento de algumas dimenses de mudanas e colaborar cientificamente com o
processo de construo deste ensino no municpio, no mbito da Educao Musical.
Importante citar que a investigao teve incio com a seleo dos critrios
de observao. Tais critrios foram relacionados aos objetivos da pesquisa e delimitados
em quatro dimenses: saber se o ensino de arte est fazendo parte do projeto pedaggico
da escola; identificar as atividades artsticas desenvolvidas nas instituies; conhecer a
respeito da habilitao dos professores e sobre o interesse das escolas em realizar
projetos de Educao Musical.
Por fim, destaca-se que a comunicao ser parcial pois apresentar o
resultado das investigaes realizadas em dez escolas da Educao Infantil. Este
trabalho foi iniciado em 2001, durante as atividades das disciplinas Pesquisa 1 e 2 do
Curso de Msica da Universidade Federal de Uberlndia e continua em andamento com
outros alunos do curso.
3. Desenvolvimento da Pesquisa
3.1. Caracterizao do mtodo.
A proposta metodolgica se identificou dentro da pesquisa qualitativa
abordando a pesquisa bibliogrfica e documental, enfatizando um trabalho exploratrio
nas escolas.
A pesquisa qualitativa, preocupa-se com o significado dos fenmenos e
processos sociais e tem como objetivo esclarecer situaes, trazer uma
conscientizao dos problemas e proporcionar meios e estratgias de soluo( Pdua,
1996, p.31). Para Gil (1996) a pesquisa bibliogrfica desenvolvida a partir de
material j elaborado, constitudo principalmente de artigos cientficos" (...) e a
pesquisa documental "se caracteriza no mbito de objetivos mais especficos, partir
de documentos. (Gil, 1996, p.63 e 83)
1
Vale lembrar que no dia 25 de julho de 2001, os Tcnicos Administrativos da Universidade Federal de Uberlndia
iniciaram uma greve geral. No mbito destes servios encontrava-se o setor de protocolo o qual recebia as
correspondncia s a serem encaminhadas s Unidades Acadmicas da Universidade Federal de Uberlndia. No
contexto destes acontecimentos, foram recebidos dez questionrios vindos das escolas de Educao Infantil.
4. As quatro dimenses da anlise dos dados
A interpretao dos dados fundamentou-se no referencial terico,
relacionando-se tanto s questes de pesquisa quanto aos objetivos da investigao, para
esclarecer aspectos das quatro dimenses abaixo:3
2
Atualmente esto sendo lidos e analisados os questionrios recebidos aps a greve.
3
Importante registrar que as instituies puderam dar mesma questo, mais de uma alternativa de resposta;
ampliando para mais de dez, o resultado final de alguns itens perguntados.
Analisa-se que as escolas ao responder a questo demonstraram entender
o significado da rea de arte como realizao de atividades e eventos, tendendo a servir
de apoio a outras disciplinas e/ou ser atividades isoladas da escola. Apenas uma
instituio revelou a rea como campo ainda no estudado.
Os tipos de atividades artsticas encontrados so em sua maioria desenhos,
seguidos de apreciao de filmes, vdeos, audio de msica e tambm atividades de
comando e teatro. Na rotina da escola, h prioridade para atividades de carter
recreativo. Realizam msicas de comando, cantigas de roda, coro, fantoches, pinturas,
colagens, dobraduras, jogos, brinquedos pedaggicos, entre outras; integrando
atividades com a Educao Fsica.
Com relao a carga horria verificou-se que a mesma variada, podendo
ser de uma aula semanal de 50 minutos (crianas de 0 3 anos) at 3 aulas de 40
minutos. Observou-se tambm que as crianas de 4 a 6 anos tm aulas desde 1 aula de
50 minutos por semana at 3 aulas de 40 minutos por semana. Analisa-se neste aspecto,
que a idade das crianas no interfere no valor da relao da carga horria. (ver tabela
6).
Para a realizao das atividades, a maioria das escolas no possui sala
ambiente, realizando-as com os recursos da prpria instituio. Importante esclarecer
que a carga horria das atividades artsticas se distribui tambm para ensaios de
apresentaes sendo que os professores, supervisores e demais funcionrios colaboram
com estes ensaios e apresentaes. (ver tabela 7).
5. Consideraes conclusivas
A presente comunicao teve como propsito apresentar um mapeamento
acerca da situao do Ensino de Arte em dez escolas de Educao Infantil em
Uberlndia-MG. No resultado parcial dos dados analisados, observou-se que no
ocorreram mudanas significativas aps a nova legislao.
No que se referiu s atividades realizadas na perspectiva do Ensino de Arte
das escolas em anlise, verificou-se que estas so desenvolvidas como recreativas e/ou
dentro de outras disciplinas oferecidas na Educao Infantil. So atividades inseridas
como um "suporte para atender a vrios propsitos como a formao de hbitos,
atitudes e comportamento". (RCN, 1998, p.47)
Na dimenso da habilitao do professor, observou-se que estes
profissionais responsveis pelo ensino em geral, no tm uma formao especfica para
as diferentes modalidades de conhecimento em arte. Entretanto, as manifestaes
artsticas acontecem, apesar da falta de recursos para tal.
Referindo-se perspectiva do interesse das escolas em realizar projetos de
Educao Musical e/ou em outras reas especficas, detectou-se unanimidade em
consumar tais projetos.
Aps o exposto, compreendeu-se que a leitura do mapeamento parcial
apontou um quadro que confirma as hipteses das autoras sobre o Ensino de Arte na
Educao Infantil ser ainda caracterizado no mbito de diversificadas atividades
recreativas, para festas, apresentaes, aes de comando, entre outras.
Isto possibilitou concluir de um lado, que as escolas pesquisadas ainda
permanecem com a concepo da livre expresso da Educao Artstica, sem dar
rea de msica, (ou outras) o significado de linguagem ou campo especfico de
conhecimento. Por outro lado, verificou-se que as escolas infantis esto abertas para
desenvolver projetos de msica sob diferentes enfoques.
Finalizando, destaca-se que a realizao deste trabalho permitiu o
entendimento do quanto importante desenvolver aes mais conscientes com msica
nas escolas de Educao Infantil. A continuidade da pesquisa, poder estimular os
educadores musicais a iniciar uma discusso mais cientfica sobre a viabilidade da
Educao Musical segundo a Lei 9394/96. Sobretudo, possibilitar enxergar novos
espaos para a atuao dos egressos dos Cursos de Msica para alm dos limites dos
Conservatrios da regio do Tringulo Mineiro.
6. Referncias bibliogrficas
FREGA, Ana Lcia; COUVE, Alcia C. de; PINO, Cludia Dal. Hacia una histria de la
Educacion Musical en Americana Latina: Etapa isme Bahia. In: Fundamentos da
Educao Musical, 1998, v. 4, p. 45- 51.
GIL, Antnio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. So Paulo: Atlas, 1996.
PENNA, Maura. O papel da arte na educao bsica. In: PEREGRINO, Yara Rosas
(coor.) Da camiseta ao museu: o ensino de artes na democratizao da cultura. Joo
Pessoa: Ed. Universitria/ UFPB, 1995. p. 17-22.
QUESTIONRIO
Questionrio a ser preenchido pela Diretoria e/ou superviso da Educao Infantil, e/ou professor
de arte, podendo-se marcar mais de uma alternativa.
1. A)Esta instituio considera o Ensino de Arte(msica, teatro, artes visuais) como componente curricular
obrigatrio dentro da Educao Infantil ?
( ) sim ( ) no
Comente:______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
B) Atualmente, depois da Educao Artstica, qual o tratamento que esta instituio confere rea de artes:
( ) atividades especficas inseridas no Projeto Pedaggico da Escola
( ) atividades isoladas para momentos especiais, festas e/ou outros momentos
( ) atividades inseridas em outras disciplinas
( ) rea ainda no estudada pela escola; porm, com propostas para estudos futuros
Outros tratamentos:__________________________________________________________________
2. No caso da rea de artes ser atividade disciplinar inserida no projeto pedaggico da escola,
que faixas etrias desenvolvem tal projeto?
( ) zero a trs ( ) Quatro a seis
3. Entretanto, se as artes so concebidas na dimenso de atividades isoladas e/ou inseridas em outras
disciplinas, quais as principais dificuldades da escola em efetivar o Ensino de Arte dentro do Projeto
Pedaggico da Educao Infantil?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
4. Havendo as aulas especficas de arte, escreva a carga horria semanal que a escola determina para estas
aulas: nmero de aulas e tempo das mesmas por semana.
_____ aulas de _____ minutos por semana para a faixa de 0 a 3 anos
_____ aulas de _____ minutos por semana para a faixa de 4 a 6 anos
5. Havendo atividades isoladas das atividades artsticas, responda:
A) Em geral, que datas comemorativas so acompanhadas de apresentaes de msica e/ou outras
manifestaes artsticas?(exemplo: dia da pscoa, ndio,... ):______________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
B) Qual a carga horria dedicada aos ensaios e s apresentaes? Citar uma mdia de horas aulas por semana
_______________________________________________________________________________________
7. No caso da escola possuir um professor especfico de arte, h quanto tempo este fato acontece na
instituio (independente de ser o mesmo professor)
( ) menos de dois anos ( ) entre cinco e oito anos
( ) entre dois e cinco anos ( ) mais de oito anos
8. Em caso de contar atualmente com o professor de arte, este tem:
( ) Graduao especfica em Educao Artstica (Licenciatura)
( ) Outras habilitaes ou cursos:_____________________________________________________
9. Tendo o professor habilitado, qual a habilitao da Licenciatura de arte?
13. Existe um espao ambiente para as atividades de artes propostas pela escola, alm da sala de aula?
( ) no
( ) sim, citar: _________________________________________________________________
14. Os pais se envolvem com o ensino de artes? Ajudam com os recursos materiais para as aulas e/ou festas?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
15. A)Esta instituio recebeu os documentos do MEC (Ministrio da Educao) que trata dos Referenciais
Curriculares Nacionais para a Educao Infantil (RCN- Caderno Artes)?
( ) sim ( ) no
B)Desejaria estudar o documento para as reas: ( )msica ( )teatro ( ) dana ( ) artes visuais
16. A escola sentiu que houve mudanas efetivas entre o que se fazia em artes no tempo da Educao
Artstica ( Lei 5692/71) e hoje com o Ensino de Artes ( lei 9394/96) ?Comente:
_____________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
18. Escreva sobre suas consideraes acerca do trabalho com msica na Educao Infantil (importncia,
necessidade, valor, afinidade com as crianas, ....)
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
ANEXO 2: TABELAS
TABELA 1
N DE ESPOSTAS N DE RESPOSTAS
QUESTO 1
SIM NO
Ensino de Arte como
componente curricular 9 1
TABELA 2
Faixa Etria
QUESTO 4 N DE RESPOSTAS
0 a 3 anos 2
4 a 6 anos 5
5 e 6 anos 2
2 a 6 anos 1
TABELA 3
QUESTO 3 N DE RESPOSTAS
Dificuldades quanto a falta do professor, de recursos, espao
fsico e horrio especfico. 5
No existe dificuldade 1
No responderam 3
TABELA 4
Atividades Inseridas
QUESTO 1B N DE RESPOSTAS
Projeto Pedaggico 6
Atividades isoladas 5
Atividades outras disciplinas 5
rea ainda no estudada 1
TABELA 5
Tipos de Atividades
TABELA 6
Carga Horria
QUESTO 4 N DE RESPOSTAS
1 aula de 50 min. Por semana para 0 3 anos 1
1 aula de 50 min. Por semana para 4 6 anos 4
1 aula de 60 min. Por semana para 4 6 anos 1
3 aulas de 40 min. Por semana para 0 6 anos 1
TABELA 7
N DE
QUESTO 6
RESPOSTAS
Grupo de professores regente, conforme distribuio da escola 4
Grupos de professores junto dos supervisores e outros
Seguimentos da escola, conforme planejamento antecipado 6
Professor especfico de arte 2
Comunidade escolar e pais de alunos -
Outros 1
TABELA 8
QUESTO 7 N DE RESPOSTAS
Menos de dois anos -
Entre dois e cinco anos 1
Entre cinco e oito anos 1
Mais de oito anos 1
TABELA 9
QUESTO 9 N DE RESPOSTAS
Msica -
Artes cnicas -
Artes plsticas 1
TABELA 10
QUESTO 10 N DE RESPOSTAS
1 h/semanal 1
4: 16h/semanal 1
4:30 h/semanal 1
8 h/semanal 1
13 h/semanal 1
TABELA 11
QUESTO 17 N DE RESPOSTAS
Interessados em desenvolver um projeto de Educao
Musical na Educao Infantil 10
1
1- INTRODUO
O Hip Hop Sul foi efetivado em junho de 1999, e objetiva a divulgao da cultura
hip hop, que envolve o graffiti, o break e o rap (Djs e Mcs).
Dados coletados em alguns peridicos de Porto Alegre e em contatos com a
produo do programa, sinalizam que o Hip Hop Sul atua como incentivador e facilitador
na criao de novos grupos de rap, grafiteiros e danarinos, oferecendo, dentre outros
aspectos, apoio para a elaborao e gravao de clippes musicais e sua divulgao. O
programa, de acordo com seus produtores e com os prprios grupos de rap, recebe rappers
e Djs j conhecidos dentro da cultura e outros poucos conhecidos ou estreantes, que se
inscrevem para se apresentarem.
QUESTES
Questo Central
- Quais as conexes e circularidades estabelecidas entre o programa Hip Hop
Sul e a formao e atuao musical dos rappers e/ou Djs?
3
Subquestes:
- Qual a proposta musical do programa Hip Hop Sul e suas expectativas em
relao aos rappers e/ou Djs?
- Que funes pedaggico-musicais o programa Hip Hop Sul exerce?
- Quais so as expectativas que os rappers e/ou Djs tm em relao ao
programa Hip Hop Sul?
- Como os rappers e/ou Djs apreendem os aspectos musicais formativos e
atuantes presentes no Hip Hop Sul?
2- REFERENCIAL TERICO
3- METODOLOGIA
COLETAS DE DADOS
4- CONSIDERAES FINAIS
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANDRADE, Elaine Nunes. Rap e educao Rap educao. So Paulo: Summus, 1999.
CASETTI, Francesco e CHIO, Federico di. Analisi della televisione. Milano: Strumenti
Bompiani, 1998.
CORRA, Marcos Kroning. Violo sem professor: um estudo sobre processos de auto-
aprendizagem Musical com adolescentes. Dissertao de Mestrado em Msica
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mdia, estratgias de linguagem e produo de sujeitos. In:
Linguagens, espaos e tempos de aprender. Rio de Janeiro: DP&A, p. 75 88, 2000b.
GOMES, Celso Henrique Sousa. Formao e Atuao de Msicos das Ruas de Proto
Alegre: um estudo a partir dos relatos de vida. Dissertao de Mestrado em Msica
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.
NANNI, Franco. Mass media e socializao musical. Trad. Maria Cristina Lucas. Em
Pauta. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v.11, n. 16/17, p. 110
143, 2000.
WALKER, Jonathan. (2000). Review of Adam Krims: Rap Music and the Poetics of
Identity. In: Music Theory Online.
www.societymusictheory.org/mto/issues/mto.01.7.4/mto.01.7.4.walker.html - acessado
em 11/01/02.
A VIVNCIA MUSICAL DE CRIANAS E ADOLESCENTES EM
SITUAO DE RUA: REFLEXES PARA O EDUCADOR MUSICAL
Vnia Mller1
Introduo
Esta comunicao aborda a vivncia musical de um grupo de crianas e
adolescentes em situao de rua e a forma como estes se relacionavam com msica, a partir
de dados que obtive na realizao da pesquisa intitulada A msica , bem diz, a vida da
gente: um estudo com crianas e adolescentes em situao de rua na Escola Municipal
Porto Alegre - EPA2 , em Porto Alegre, RS.
1
Professora no Departamento de Msica da Universidade do Estado de Santa Catarina.
2
Dissertao de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Ps-Graduao em Msica Mestrado e Doutorado,
na UFRGS, durante o perodo de 1999 e 2000, envolvendo 20 crianas e adolescentes, sob a orientao da Prof.
Dr. Jusamara Souza.
O projeto poltico-pedaggico da EPA
Atravs de uma organizao flexvel, a EPA acolhe em cada uma de suas turmas
alunos de diferentes idades - dos 10 aos 18 anos -, diferentes nveis de alfabetizao,
socializao e desenvolvimento cognitivo e, ainda, a freqncia livre. Porm, a
caracterstica que, talvez, mais diferencie esta escola da maioria das instituies de ensino,
uma relao no-hierarquizada e no formal com o conhecimento.
2
Os sentidos que os alunos da EPA atribuam msica, e as formas como se
relacionavam com ela, abordado aqui a partir do aspecto "vivencial" da msica, sob a
perspectiva de seu interesse pelas msicas que ouviam, tocavam, cantavam e danavam,
bem como da forma como a msica se inseria na relao que estabeleciam com os demais
saberes que vivenciavam na escola.
Informalidade
Tanto no caso do Sabedoria de Rua, quanto na prtica de percusso, o envolvimento
dos alunos no momento da performance no diferenciava se estavam tocando ou danando
no ptio da EPA, ou apresentando-se em local pblico. O desenvolvimento musical, o
domnio do corpo e a habilidade com os instrumentos de percusso eram conseqncia da
vivncia prazerosa e espontnea dos alunos. Com o passar do tempo, desenvolviam mais
suas habilidades, mas ningum se colocava a fazer seqncias de movimentos idnticos por
muito tempo, treinando sozinho, num lugar parte dos colegas, sem que estivesse
"valendo".
Para os alunos da EPA, assim como a msica no era algo para ser observado e
pensado, e sim vivido, ela tambm no ocupava uma posio de status que viesse
classific-la como superior dentre os elementos que compunham suas vidas, exigindo, por
isso, momentos "adequados" e qualquer formalidade para fazer msica. Nesse sentido, a
concepo da msica como algo inerente s suas vidas os fazia crer que ela deve ser vivida,
seja em que contexto for e com quaisquer gneros de msica.
Improviso
A concepo de tempo que as crianas e adolescentes em situao de rua vo
construindo no presente imediato (Craidy, 1998), no "aqui e agora" e no improviso. A
sensao de correr o risco que tanto eles conhecem, de "dar um jeito" em determinada
situao em tempo mnimo e de improvisar encontrava-se, tambm, como um dos prazeres
em suas prticas musicais.
Essa sensao relatou-me um aluno, em entrevista aps uma apresentao do
Sabedoria de Rua que no estava planejada. Lucas contou, emocionado, como foi acordado
3
no moc3 s 9h da manh, no acreditando no que dizia a colega que foi acord-lo para que
fosse se apresentar. Segundo ele, o melhor de tudo foi ter sido pegado de surpresa:
3
Lugar onde moradores de rua dormem e guardam seus pertences.
4
Para as meninas e meninos observados, cujas histrias de vida se constituram em
estado de risco e o cotidiano presente era de absoluta incerteza, o ato de criar e improvisar
com msica significava, antes at das possibilidades de expresso, a oportunidade de viver
a alegria do inusitado, do imprevisto - prprio da infncia e estimulador da curiosidade -
isentas do risco, e por isso, do medo.
As formas como a msica estava inserida no seu cotidiano indicam que a qualidade
de seu envolvimento com msica e a propriedade com que a vivenciavam relacionava-se ao
seu no atrelamento aos padres de status, hierarquia e fragmentao do conhecimento e de
formalidade na relao com ele, da sociedade instituda" (Antunes, 1997). A partir dessa
constatao e da vivncia imersa na cultura da rua, passei a refletir sobre questes das quais
gostaria de salientar duas. Uma delas : em que medida nossa forma de nos relacionarmos
com msica, os valores que atribumos a determinados saberes do universo musical e os
sentidos que ela tem para ns foram padres histrica e culturalmente construdos pela
sociedade em que estamos inseridos e, em que medida isso determina nossa prtica
pedaggico musical?
5
2001; Deleuze, 2000). Como afirma Craidy (1998, p. 22): "o fenmeno meninos de rua
antes de tudo um fluxo que expressa um movimento de excluso social mais amplo e se
manifesta de forma particular na infncia, por ser ela o seu elo mais frgil".
Nesse sentido, a meu ver, o objetivo primeiro de uma educao musical tanto com
quem vive na e da rua ou no, talvez seja propiciar a possibilidade de construir sua prpria
cultura, atravs da dialogicidade entre os seus saberes e os nossos. E, se valorizarmos os
saberes musicais que vm - da rua ou no mas da histria de qualquer menino ou menina
para a escola, no podemos deixar de ver os aspectos sociais, polticos, econmicos e
culturais que neles esto implcitos.
Finalizando, trago uma questo que, a meu ver, deva interessar tambm a educadores
musicais que trabalhem com alunos que no se encontrem em situao de rua: a relevncia
que a msica pode ter nos processos de (re)construo de uma identidade positiva em
crianas e adolescentes. Pois, como tambm acredita e tem esperana na transformao
identitria, Lemos (2002) diz que:
6
A partir disso, a Educao Musical que se mantenha atenta ao aspecto vivencial da
msica poder proporcionar - no s crianas e adolescentes que esto na rua, mas a
quaisquer alunos - momentos em que possam construir, pouco pouco, outros olhares
sobre si mesmos, retroalimentados na conscincia que vo adquirindo de seus saberes,
criaes e performances musicais. Mais especificamente, o improviso musical pode
proporcionar a vivncia da singularidade do aluno, fortalecendo a sua noo de autoria, o
que poder revelar-lhe que, assim como autor de seu desenvolvimento e produo
musical - que processual, singular e mutvel, o mesmo pode se dar com sua identidade.
Referncias bibliogrficas
ANTUNES, Helenise S. (1997). O Imaginrio Social dos Meninos e Meninas nas Ruas de
Santa Maria em Relao Escola. Dissertao de Mestrado. PPG Educao. UFSM.
Santa Maria.
LEMOS, Mriam P. (2002). Ritos de entrada e ritos de sada da cultura da rua. Dissertao
de Mestrado. PPG Educao - Mestrado e Doutorado. UFRGS, Porto Alegre.
7
A MSICA EVANGLICA E A INDSTRIA FONOGRFICA NO BRASIL:
ANOS 70 E 80
1
o contexto da consolidao do mercado de bens simblicos no Brasil a partir de meados dos anos
60 e a entrada de novos aparatos tecnolgicos na indstria do disco.
Foram coletados e catalogados 725 LPs. Esses materiais, que est em anexo
dissertao, de fato, um levantamento parcial da produo fonogrfica evanglica. A coleta do
material fonogrfico e impresso foi de fundamental importncia para este trabalho. Foram
coletadas matrias de jornais e revistas como: Msica & Tecnologia, Backstage, Guitar Player,
Veja, Isto , Folha de So Paulo. Do material especfico utilizei-me do jornal o Mensageiro da
Paz, da Igreja Assemblia de Deus e livros que tratam da msica evanglica tendo por base o
referencial doutrinrio.
2
A extino das tenes instauradas entre a msica popular e a evanglica,
abordadas nesse trabalho foi, antes de tudo, um processo de conformao progressiva dos
princpios religiosos a uma sociedade de consumo. Voltar-se prtica de estilos musicais
populares, significava antes, ceder prtica profana do mundo.
O levantamento fonogrfico mostrou uma produo significativa dos evanglicos,
num momento ainda, em que a msica estava ligada exclusivamente, em seu processo de
produo, uso e intercmbio a sua funo essencialmente litrgica.
Investigar as mudanas ocorridas com a msica evanglica, a partir da concepo
da existncia de um mercado fonogrfico, voltado ao segmento, foi algo complexo de abordar,
posto que, antes de ser uma abordagem sobre a msica evanglica, trata-se da evidencia de
elementos, que definem o indivduo evanglico e sua prxis. Desse modo, a msica evanglica
produto do seu tempo, de elementos simblicos e religiosos, que se somam aos conflitos da
relao do homem (evanglico) com o mundo.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ZAN, Jos Roberto. 2001. Msica Popular Brasileira, Indstria Cultural e Identidade, In: Eccos,
Revista Cintfica: vol.3, n. 1, So Paulo: Centro Universitrio nove de julho, p. 105-122