LIVRO - U1 - Hidrologia e Drenagem

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Hidrologia e

drenagem
Hidrologia e drenagem

Gustavo Henrique Tonelli Dutra de Almeida


Letcia Santos Masini
Luiz Ricardo Santos Malta
2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia, gravao ou qualquer outro tipo
de sistema de armazenamento e transmisso de informao, sem prvia autorizao, por escrito, da Editora e
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

Almeida, Gustavo Henrique Tonelli Dutra de


A447h Hidrologia e drenagem / Gustavo Henrique Tonelli Dutra
de Almeida, Letcia Santos Masini, Luiz Ricardo Santos Malta.
Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
200 p.

ISBN 978-85-8482-863-0

1. Hidrologia. 2. Drenagem. I. Masini, Letcia Santos. II.


Malta, Luiz Ricardo Santos.
CDD 551.48

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 Parque Residencial Joo Piza
CEP: 86041-100 Londrina PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumrio

Unidade 1 | Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia


hidrogrca 7

Seo 1.1 - As relaes da gua e a engenharia civil 9


Seo 1.2 - Ciclo hidrolgico 23
Seo 1.3 - Bacias hidrogrficas e vazes de projeto 37

Unidade 2 | Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas


subterrneas 57

Seo 2.1 - Regime de cursos dgua; previso de enchentes 59


Seo 2.2 - Regularizao de vazo e controle de estiagens 71
Seo 2.3 - guas subterrneas 87

Unidade 3 | Sistemas de micro e macrodrenagem 99

Seo 3.1 - Microdrenagem: conceitos gerais e introduo a


dimensionamento 101
Seo 3.2 - Microdrenagem: dimensionamento 119
Seo 3.3 - Macrodrenagem: conceitos gerais 135

Unidade 4 | Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 151

Seo 4.1 - Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: conceitos


gerais e introduo s medidas estruturais 153
Seo 4.2 - Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: medidas
estruturais 167
Seo 4.3 - Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: medidas
no estruturais 185
Palavras do autor

Prezado aluno, este material que vai ser apresentado, traz um estudo a respeito
de Hidrologia e drenagem urbana. O primeiro tema, hidrologia, de grande
importncia, entre outros tpicos, pois aborda o entendimento de previso de
eventos extremos. Neste caso, mais especificamente, ser dada nfase ao evento
extremo referente s precipitaes e vazes mximas, visto que este o mais
empregado em drenagem urbana. O segundo tema, drenagem urbana, de
fundamental interesse, pois est associado ao conceito de saneamento ambiental,
que crucial para se atingir o status de cidade sustentvel. Imagine uma cidade
sem drenagem urbana, abastecimento, esgotamento ou sem controle de resduos
slidos. Seria quase uma cidade primitiva, de convivncia humana praticamente
impossvel. Pense, mais precisamente, na drenagem urbana, toda vez que chovesse
haveria alagamentos, enchentes, inundaes e enxurradas por todos os cantos.

Para o melhor entendimento da dimenso destes dois temas, cada um deles


foi subdividido em duas unidades, perfazendo momentos de aprendizagem. O
primeiro tema, que aborda mais a hidrogrfica, especificamente, ser a introduo
aos estudos da hidrologia: ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica em que sero
vistas as relaes da gua com a engenharia civil, o conceito de ciclo hidrolgico
e o conceito de bacias hidrogrficas e vazes de projeto. O segundo, aborda
o sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas. O
terceiro, aborda as questes especficas de micro e macrodrenagem e, por fim, o
quarto apresenta as tcnicas compensatrias em drenagem urbana.

Esperamos que fique claro para voc que a drenagem urbana basicamente
uma associao de conceitos de hidrologia e hidrulica, provavelmente vistos em
outras disciplinas de seu curso, colocados para resolver os problemas de transporte
de guas pluviais em uma regio urbana.

Nesta pequena introduo, houve uma breve apresentao da importncia da


hidrologia e drenagem urbana, do objetivo e da abordagem metodolgica desta
disciplina. Desejamos a voc boa sorte em seus estudos e que este traga muitos
frutos em sua vida profissional futura.
Unidade 1

Introduo hidrologia,
ciclo hidrolgico e bacia
hidrogrfica

Convite ao estudo

Caro aluno, nesta unidade abordaremos os conceitos de hidrologia,


destacando sua aplicao na Engenharia Civil e sua importncia para a
sociedade. Veremos tambm os componentes do ciclo hidrolgico e os
parmetros necessrios na elaborao de projetos, visando a segurana das
obras hidrulicas, bem como os conceitos que definem as bacias hidrogrficas,
aplicando-os na determinao da vazo de projeto em obras hidrulicas.
U1

8 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Seo 1.1

As relaes da gua e a engenharia civil

Dilogo aberto

Prezado aluno, aqui ser apresentada uma viso geral de como as obras hidrulicas
so influenciadas pelos comportamentos dos corpos hdricos superficiais e de
como a qualidade da gua de corpos hdricos superficiais afetam a vida do homem.
Abordaremos tambm a responsabilidade do engenheiro em melhorar a qualidade da
gua.

Para auxili-lo nesta empreitada, ser apresentada aqui uma situao hipottica,
na qual voc foi chamado para um estgio na secretaria de obras de seu municpio.
Voc dever contribuir com o departamento de drenagem urbana (alis, voc sabia
que geralmente todo municpio tem um secretrio de obras e que conta com um
departamento de drenagem urbana?).

Ao chegar na secretaria, voc conversou com o responsvel tcnico, que ir


supervision-lo durante o estgio: ele o engenheiro Marcos. Ele lhe explicou do
que se tratava o servio, de forma geral. H diferentes trabalhos num departamento
de drenagem de uma cidade, dentre eles, os trabalhos de microdrenagem e
macrodrenagem urbana.

Num primeiro momento, o engenheiro Marcos est trabalhando com alguns


projetos de drenagem urbana e, para um bom desenvolvimento desses projetos, ele
vai contar com a sua ajuda.

Marcos acredita que para voc desenvolver um bom trabalho, ser necessrio
que amplie os seus conhecimentos e a intimidade com as obras ligadas drenagem
urbana. Para tal, ele pediu que voc saia na regio onde mora e comece a observar
as estruturas ligadas drenagem urbana, tais como sarjetas, sarjetes, bocas de lobo,
entradas de poos de visita e canais.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 9


U1

No pode faltar
No grupo de guas superficiais se encontram as guas que escoam ou acumulam
na superfcie do solo, como os rios, riachos, lagos, lagoas, pntanos.

As guas superficiais sempre foram uma necessidade indispensvel para o


desenvolvimento do homem. As primeiras civilizaes se estabeleceram em reas
prximas a rios. Por exemplo, o Egito, ao redor do rio Nilo; a Babilnia, ao redor dos
rios Tigre e Eufrates; os hindus, ao redor do rio Indo e do rio Ganges; os romanos, ao
redor do rio Tibre etc.

Esses povos utilizavam a gua para finalidades de abastecimento humano,


agricultura, dessedentao animal e navegao, sempre utilizando sua engenhosidade
para conduzir a gua para mais prximos deles.

De l para c, para manter essa proximidade, cada vez mais as cidades passaram a
se desenvolver, sempre que possvel, bem prximas a corpos hdricos que suprissem
suas necessidades. Contudo, a proximidade de ocupao prxima a esses corpos
hdricos passou a expor as populaes s intempries promovidas pela gua pluvial,
como alagamentos, enxurradas, inundaes e enchentes.

Essas intempries so geralmente confundidas pela populao, mas so diferentes,


para o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT) (BRASIL, 2007) e para os setores da
Defesa Civil. Para eles, a inundao representa o transbordamento das guas de um
curso dgua, atingindo a plancie de inundao ou rea de vrzea. J as enchentes,
ou cheias, so definidas pela elevao do nvel dgua no canal de drenagem devido
ao aumento da vazo, atingindo a cota mxima do canal, porm, sem extravasar. O
alagamento, por sua vez, um acmulo momentneo de guas em determinados
locais por deficincia no sistema de drenagem (microdrenagem), conforme Figura 1.1,
enquanto a enxurrada o escoamento superficial concentrado e com alta energia de
transporte, que pode ou no estar associada a reas de domnio dos processos fluviais.

Figura 1.1 | Diferena entre inundao, enchente e alagamento

ALAGAMENTO

INUNDAO
ENCHENTE
SITUAO
NORMAL

Fonte: adaptada de <http://2.bp.blogspot.com/-9vj3Z6bgco4/Tf45O_4oz5I/AAAAAAAAABE/V-YFDDqUcow/s1600/enchente


%252C+inunda%25C3%25A7%25C3%25A3o+e+alagamento.jpg>. Acesso em: 28 dez. 2016.

10 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Mas por que ocorrem enchentes e inundaes? Elas ocorrem porque muitas
vezes o leito de um rio, riacho, crrego, lago ou outro corpo hdrico superficial recebe
uma quantidade muito grande de gua, que provm de um evento ou um conjunto
de eventos chuvosos, e esse corpo hdrico no tem a capacidade para suportar tal
quantidade de gua.

Muitas pessoas perdem as vidas e bens em reas agrcolas e urbanas. Por esse
motivo, muitos pesquisadores e profissionais em todo o mundo procuram meios para
resolver esse problema que tanto aflige a humanidade, sendo um desses meios as
obras hidrulicas, que procuram resolver tais problemas.

No municpio de So Paulo, por exemplo, para evitar as desastrosas perdas devido


a enchentes do rio Tiet na zona urbana, foi realizada uma srie de intervenes com
obras hidrulicas.

A Barragem da Penha (localizada no rio Tiet, na divisa entre So Paulo e Guarulhos);


a barragem de Ponte Nova e a barragem do rio Paraitinga (ambas em Salespolis); a
barragem do rio Biritiba (no municpio de biritiba Mirim); a barragem do rio Jundia
(no municpio de Mogi das Cruzes); e a barragem do rio Taiaupeba (na divisa entre
os municpios de Mogi das Cruzes e Suzano) so exemplos de obras hidrulicas
construdas em cabeceira, que regulam a vazo do rio Tiet, sendo a barragem da
Penha a primeira construda para essa nica finalidade. Associada a essas barragens,
outra obra hidrulica foi a canalizao do rio Tiet, no trecho em que ele passa pela
rea urbana (Figura 1.2).

Figura 1.2 | Obras hidrulicas realizadas para conter a vazo de cabeceira no trecho urbano
do Rio Tiet, no municpio de So Paulo
sentido do uxo
reservattio Piratininga
reservatrio Penha do rio

trecho canalizado

rea urbana de So
Paulo

reservatrio
Taiupeba

nascentes
reservatrio
Ponte Nova

reservatrio reservatrio
Jundiai Biritiba Mirim

Fonte: adaptada de <http://www.scielo.br/img/revistas/bn/v11n3/a20fig01.jpg>. Acesso em: 28 dez. 2016.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 11


U1

As obras hidrulicas so realizadas para atender a uma determinada capacidade


hidrulica, por esse motivo, as obras hidrulicas apresentam falhas. Elas admitem um
limite de vazo, se esse limite for ultrapassado por um escoamento gerado por um
evento ou por um conjunto de eventos chuvosos, essas obras iro falhar, provocando
enchentes, inundaes, alagamentos ou enxurradas.

O hidrlogo pode dizer que um determinado escoamento foi gerado por uma
chuva de perodo de retorno de 500 anos. Perodo de retorno o tempo, em mdia,
que um determinado evento pode ser igualado ou superado. (Esse conceito voc
ainda no aprendeu. Em breve, voltaremos a ele de forma mais detalhada. Caso o
tema no fique totalmente claro agora, volte a esta seo quando o tema estiver sido
mais esclarecido).

Considerando o que foi dito agora, um engenheiro, ao realizar uma obra hidrulica,
o faz para uma determinada chuva de projeto (veremos mais sobre esse conceito na
prxima seo), ou seja, ela construda para no falhar at o nvel daquela chuva.
Se ela for superada, a obra falhar. A Figura 1.3 mostra algumas consideraes que o
engenheiro tem ao determinar a chuva, se ele optar por projetar a obra para resistir a
uma chuva maior, ele ter de gastar mais na execuo de sua obra e ter menos risco
de a obra falhar. Basicamente, ele est entre custos menores com maiores riscos ou
custos maiores com menores riscos. Algumas vezes, a limitao tcnica de projetar
uma grande obra est nas ocupaes no entorno, por exemplo.

Figura 1.3 | Alternativas de escolha da chuva de projeto

Chuva Y
Chuva X >>> Chuva X

gera escoamento escoamento muito


$ maior que o anterior
CUSTO MUITO
MAIOR

risco de falha

Obra hidrulica - Canal Obra hidrulica - Canal


dimensionado chuva X dimensionado para Y maior que X

Fonte: elaborada pelo autor.

12 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

A escolha da chuva de projeto estar intimamente relacionada vazo do projeto.


Pode-se dizer, para uma mesma rea de drenagem da bacia, com as mesmas
caractersticas de infiltrao, que a chuva de projeto ser diretamente proporcional
vazo de projeto.

Algumas vezes, o engenheiro opta por obras com custos menores e que reduzem
os efeitos causados pela falha de uma obra (mas com mais chances de falhar) como
sendo a opo mais adequada, visto que ficar com um canal gigantesco e caro em
um ponto pode descobrir outros pontos com problemas de enchente que, por falta
de dinheiro, teriam que ficar sem obras.

Outra questo pertinente a de que para garantir uma qualidade de vida para os
seres humanos, necessrio, entre outras coisas, que os rios apresentem uma boa
situao em relao qualidade da gua. Muitas das necessidades humanas dependem
da qualidade das guas dos corpos hdricos, que esto presentes em nossas cidades,
em nossas zonas rurais e em nosso cotidiano de uma forma geral.

Por muitos sculos, os corpos hdricos foram responsveis por afastar os dejetos
humanos, em conjunto com outras substncias, para longe. Com o crescimento de
agrupamentos humanos, com a evoluo intensa do uso de produtos para fertilizar
os solos e com desenvolvimento industrial, os recursos hdricos passaram cada vez
mais a no conseguir diluir tanto material que aportava neles, e a sua qualidade passou
a decair. De meados do sculo XIX e por quase todo o sculo XX, a qualidade das
guas pelo mundo inteiro caa em nveis alarmantes. As condies chegaram a pontos
inaceitveis, o que levou muitos pases a combaterem os problemas de qualidade. Mas
cabe ressaltar que muitos pases no saram dessa condio at hoje.

Nos Estados Unidos, por exemplo, em meados do sculo XX, o rio Cuyahoga, que
cruza o municpio de Cleveland, no estado de Ohio, chegou a pegar fogo diversas
vezes porque se encontrava muito poludo. Isso desencadeou fortes medidas de
combate no pas visando a melhoria da qualidade das guas. Os Estados Unidos
passaram a investir continuamente milhes de dlares para atingir as boas condies
de qualidade hoje existentes nos recursos hdricos do pas.

No Brasil, muitos corpos hdricos viveram e vivem situaes muito dramticas em


termos de qualidade da gua. Exemplos que so cones desse fato so o rio Tiet e
o rio Tamanduate, em So Paulo; os rios Maracan, Acari e canal do Mangue, no rio
de Janeiro; e os rios das Velhas e Arrudas, em Belo Horizonte. A maioria dos lagos
e rios urbanos brasileiros apresentam qualidade muito baixa. Alguns se encontram
totalmente confinados em galerias subterrneas, para no serem percebidos.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 13


U1

Entre os problemas associados qualidade de gua ruim, podem ser citados:

Aspecto paisagstico desagradvel: muito desagradvel ver um rio


cruzando a cidade com um aspecto de esgoto e com guas de colorao
negra.

Odor ftido: muitas vezes, os rios com qualidade ruim esto associados a
problemas de odores desagradveis, que comprometem o bem-estar na
regio.

Corpo hdrico indisponvel para diversos usos da gua: problemas com


abastecimento, por exemplo.

Riscos sade das pessoas: contato direto com suas guas em atividades de
lazer; contato com a gua em eventos de cheias ou, ainda, em casos mais
incomuns, como o de Pirapora do Bom Jesus (SP), a poluio presente na
gua chegava a formar espumas que flutuavam no ar e atingiam as pessoas.

Doenas de vinculao hdrica: esto mais ligadas a fenmenos de


enchentes, inundaes, alagamentos e enxurradas (sero citadas a seguir).

Cabe lembrar que esses eventos so fontes de risco vida humana. Uma enxurrada,
por exemplo,

pode carregar facilmente uma pessoa e lev-la a bito. A leptospirose uma das
doenas mais associadas aos transtornos causados por uma inundao ou enchente.
Trata-se de uma doena adquirida pelo contato com a urina de ratos. O contato
pode ocorrer quando as pessoas caminham pela gua contaminada. Outras doenas
importantes so a hepatite infecciosa, a febre tifoide e a clera. Geralmente, todas essas
doenas acometem as pessoas por ingesto de gua e de alimentos contaminados,
o que muito comum aps eventos de cheias. Alm dessas doenas, importante
mencionar as amebases, gastroenterites e verminoses. As guas de cheias, aps
voltarem ao seu curso normal, podem deixar rastros de armazenamento de gua
parada. Isso pode servir para a procriao dos mosquitos da dengue, malria, febre
amarela etc. Finalmente, outro problema de sade pblica a exposio das pessoas
vtimas de enchentes em abrigos pblicos. Muitas vezes as condies nesses abrigos
so to inadequadas que inmeras doenas so propagadas pelo agrupamento de
muitas pessoas.

A Poltica Nacional de Recursos Hdricos, instituda em 1997 pela Lei n. 9.433 com
o objetivo de fazer utilizao racional dos recursos, instituiu instrumentos para facilitar
a gesto dos recursos hdricos, que so: plano de bacia; outorga de direito de uso;
enquadramento; cobrana pelo uso da gua; a compensao a municpios; e sistema
de informaes. Todos os instrumentos tm efeitos interligados e afetam, de certo
modo, a qualidade dos corpos hdricos. Contudo, o instrumento de enquadramento
o que tem como alvo direto a melhoria da qualidade da gua.

14 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da Resoluo n.


357/05 e da sua complementao e atualizao n. 430/11, apresenta enquadramento
como o estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da gua (classe) a ser,
obrigatoriamente, alcanado ou mantido em um segmento de corpo de gua, de
acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo.

Mas antes de prosseguirmos no assunto, vejamos um pouco sobre os conceitos


de enquadramento e classe.

Num processo de enquadramento, parte-se de um rio com as condies de


qualidade que existem atualmente (rio que temos) e se chega ao final num rio com a
qualidade necessria para os usos que a sociedade deseja para aquele curso hdrico
(rio que queremos ter). Em caso de no haver recursos financeiros, a meta ser atingir
simplesmente as condies possveis rumo ao rio que queremos ter (nesse caso, o rio
que podemos ter).

Com relao s classes, de acordo com o Conama 357/05 e Conama 430/11,


a classe de qualidade o conjunto de condies e padres de qualidade de gua
necessrios ao atendimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros (esses usos
sero apresentados adiante, por exemplo, a que a gua se destina).

Para efetivar o enquadramento, ou seja, sair da condio atual para atingir a


condio desejada pela sociedade, ser necessrio um conjunto de medidas ou aes
progressivas e obrigatrias, necessrias ao atendimento das metas intermedirias e
finais de qualidade de gua estabelecidas para o enquadramento do corpo hdrico
(Conama 357/05 e 430/11).

As guas doces, de acordo com as Resolues Conama 357/05 e 430/11, so


classificadas em classe especial, classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4, de acordo com
o uso desejado.

Para um melhor entendimento de qualidade da gua, importante saber o que


parmetro e padro de qualidade. De acordo com o Conama 357/05 e 430/11, padro
o valor limite adotado como requisito normativo de um parmetro de qualidade de
gua ou efluente. Por sua vez, parmetro de qualidade da gua so as substncias ou
outros indicadores representativos da qualidade da gua.

Exemplificando
Quando se diz que o limite de oxignio dissolvido (OD) no inferior a
6 mg/L de O2, quer dizer que de acordo com o parmetro analisado a
concentrao padro de O2 dissolvido 6 mg/L.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 15


U1

Existem muitos parmetros envolvidos em qualidade da gua, mais de 300 no total,


entre eles os diferentes metais pesados, os diferentes compostos orgnicos, inseticidas,
oxignio dissolvido (OD), demanda bioqumica de oxignio (DBO), demanda qumica
de oxignio (DQO), coliformes totais e termotolerantes, famlia do nitrognio e fsforo,
potencial hidrogeninico (pH), turbidez etc.

Um exemplo de padro (retirado do Conama):

DBO 5 dias a 20C at 3 mg de O2/L para classe 1, 3 mg/L para classe 2, 10 mg/L
para classes 3 e 4.

Deve-se considerar que essa concentrao padro deve ser obtida para uma
determinada vazo, denominada vazo de referncia, que a vazo do corpo hdrico
utilizada como base para o processo de gesto, tendo em vista o uso mltiplo das
guas e a necessria articulao das instncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(Sisnama) e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (SINGRH).

Reflita
Os rios apresentam variaes ao longo do ano, como voc j deve ter
observado. Quando chove, por exemplo, corre mais gua. Essa gua traz
mais poluentes com ela, arrastados pela chuva, mas, ao mesmo tempo, a
gua realiza uma diluio dos poluentes concentrados no rio. E quando
ocorre uma estiagem, as concentraes de poluentes aumentam, porque
os lanamentos de gua residuria e os poluentes se mantm, mas a
vazo do rio diminui. Para isso, se definiu uma vazo de referncia. Parece
lgico, no? Se no, em qual perodo medir? No perodo das chuvas ou
no da estiagem? Observe que a medio de qualidade no feita somente
quando ocorre essa vazo, mas adequada para essa vazo.

A Resoluo Conama 430/11 dispe sobre as condies de lanamento de


efluentes. Nela se explicita quais so as condies e padres de emisso adotados
para o controle de lanamentos de efluentes em um corpo receptor.

Diferentemente do enquadramento, que se preocupa com a qualidade da gua no


corpo hdrico de acordo com o que seus usurios desejam, ou seja, qual a resposta
do corpo hdrico para os diferentes tipos de lanamentos, os padres de emisso
controlam as caractersticas permitidas para que os efluentes sejam lanados nos
corpos hdricos? De um modo geral, os padres de emisso apresentam a mxima
concentrao permitida em um efluente ou do taxas de remoo necessrias para
que esse esgoto seja adequado para lanamento num corpo hdrico.

16 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Um exemplo pode ser visto para demanda bioqumica de oxignio (DBO 5 dias a
20C): remoo mnima de 60% de DBO, sendo que esse limite s poder ser reduzido
no caso de existncia de estudo de autodepurao do corpo hdrico que comprove
atendimento s metas do enquadramento do corpo receptor.

Pesquise mais
Assista aos vdeos indicados. Observe conceitos de enquadramento e de
padres de lanamento de efluentes. Tente entender mais suas diferenas.
Disponveis em: <https://www.youtube.com/watch?v=xw-i3V3b3ts> e
<https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w>. Acesso em: 28
dez. 2016.

Assimile
A gua superficial est diretamente relacionada histria do homem. Ao
mesmo tempo que tem um papel fundamental para o desenvolvimento
dos povos, ela traz diversos problemas.

Assimile os conceitos de inundao, enchente, alagamento e enxurrada.

Reflita sobre que obras hidrulicas podem evitar ou reduzir os efeitos


desses fenmenos.

Quando um engenheiro escolhe uma chuva de projeto, ele define uma


vazo de projeto, e essa escolha poder influenciar em muito no risco
de falha e no custo da obra.

A perda da qualidade da gua de um corpo hdrico traz inmeros


prejuzos para o homem, sendo os relativos sade pblica muito
importantes.

Existem dois mecanismos que procuram promover a qualidade da


gua: um que se preocupa com a qualidade do corpo receptor frente
aos variados aportes de poluentes nele e que est ligado aos anseios de
usurios do corpo hdrico para a qualidade dele, e outro que controla
a qualidade mnima requerida para um efluente para ele poder ser
lanado num corpo hdrico.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 17


U1

Sem medo de errar

Relembremos a nossa hipottica condio colocada no item Dilogo aberto. Aqui


esto algumas estruturas de drenagem que voc pode ter observado facilmente em
sua cidade. A seguir, sero vistos alguns itens comuns em cidades que contam com
sistemas de drenagem.

Sarjetas: so estruturas que funcionam como um canal que transporta o


escoamento superficial de gua em sua trajetria inicial, a qual ocorre ainda na
superfcie lateral das vias pblicas. Voc deve ter observado que elas podem ser de
diferentes materiais, como concreto ou paraleleppedo, e quem nem todas apresentam
a mesma dimenso.

Sarjetes: so estruturas que funcionam como um canal que transporta o


escoamento superficial no momento em que atravessa uma via. Eles so relativamente
parecidos com sarjetas, mas seu formato um pouco diferente. Algumas vezes, voc
pode encontrar sarjetes feitos inadequadamente, como se fossem depresses no
asfalto, contudo, apresentam a mesma funo. Pense que por sarjetas e sarjetes ir
correr a gua da chuva em seu escoamento inicial.

Bocas de lobo: so estruturas que realizam a transferncia da gua que escoa das
sarjetas para as galerias. Elas podem ser de vrios tipos, como voc deve ter reparado.
Existem aquelas com sada lateral, as com grelhas, as combinadas (sada lateral e
grelha), as com grelhas metlicas e as com grelhas de concreto. Voc tambm pode
ter visto que algumas vezes elas so isoladas, outras, duplas, triplas ou qudruplas.

Poo de visita (PV): voc viu esses tampes pela rua? Eles permitem o acesso das
pessoas responsveis por realizar inspees e limpeza nas galerias. Pelos PVs correm
as guas da chuva. Geralmente, em sua tampa, est escrito: guas pluviais. Eles tm
furos, diferindo dos PVs de esgoto e da rede eltrica (Figura 1.4). Observe que as redes
de distribuio de gua de abastecimento no tm PVs porque trata-se de um fluido
limpo, com baixo risco de entupimentos e que circula sobre presso. Bem, agora que
voc sabe que esse tampo d acesso a uma estrutura, pesquise como seria o formato
dela.

18 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.4 | Tipos de tampes de poos de visita (PVs)

Operrio entrando no poo de Tampa de um poo de visita de Tampa de um poo de visita de


vista da rede eltrica subterrnea: rede de drenagem - tem furos: rede de esgoto - no tem furos
por causa dos gases do esgoto:

Fonte: adaptada de <http://www.ebanataw.com.br/drenagem/bocadelobo.htm>. Acesso em: 28 dez. 2016.

Canais: transportam a gua de um curso dgua, podendo ser naturais ou artificiais


(Figuras 1.5 e 1.6).

Figura 1.5 | Rio natural

Fonte: <http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/fotos/rios-poluidos-desaguam-na-baia-de-guanabara-sem-
tratamento-20951007-2.html>. Acesso em: 28 dez. 2016.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 19


U1

Figura 1.6 | Rio artificial, canalizado e revestido

Fonte: <http://oglobo.globo.com/rio/bairros/rios-da-tijuca-terao-monitoramento-contra-enchentes-11427424>.
Acesso em: 28 dez. 2016.

Avanando na prtica

Seguindo a linha de solicitao do item Dilogo aberto, procure na sua cidade ou


leia sobre algumas estruturas hidrulicas no to comuns de serem observadas como
as j vistas no item Sem medo de errar, como: escadas hidrulicas, reservatrios de
reteno e reservatrios ou lagos de deteno, e tente imaginar como elas funcionam.

Escadas hidrulicas: so estruturas hidrulicas que permitem que a gua pluvial


vena desnveis de terreno (Figura 1.7) e que, ao descer pela escada, ocorra uma
quebra de energia contida na gua.

Figura 1.7 | Escada hidrulica

Fonte: <http://www2.votorantim.sp.gov.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1273:escada-barra-funda-
&catid=2:cat-noticias-pref&Itemid=1>. Acesso em: 28 dez. 2016.

20 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Reservatrios de deteno: so reservatrios urbanos mantidos secos e tm


seu espao geralmente integrado paisagem urbana, promovendo o controle de
cheias pela transferncia de uma parcela da gua que corre no canal (rio) para ele. O
reservatrio libera a gua em um momento mais adequado (ps-chuva), controlando,
assim, o pico e volume de escoamento (Figura 1.8).

Reservatrio de reteno: so lagoas utilizadas como reservatrios que tm por


finalidade a melhoria da qualidade das guas pluviais, por isso so utilizadas lagoas aos
pares, sendo que uma delas permanente e a outra temporria. (Figura 1.8).

Figura 1.8 | Reservatrios de deteno e reteno

Fonte: <http://www.imap.curitiba.pr.gov.br/wp-content/uploads/2014/03/247_drenagem%20_urbana_modulo_2%20(1).
pdf>. Acesso em: 28 dez. 2016.

Faa valer a pena

1. A qual fenmeno corresponde um acmulo momentneo de guas


em determinados locais por deficincia no sistema de drenagem
(microdrenagem)?
a) Inundao.
b) Enchente.
c) Alagamento.
d) Enxurrada.
e) Desabamento.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 21


U1

2. A chuva de projeto diretamente proporcional vazo de projeto.


Assinale a alternativa que melhor representa esta afirmao.
a) Principalmente quando se trata de um projeto em local definido, com
reas a montante e cobertura vegetal definida.
b) Quando se trata de projetos diferentes em que h variao de reas.
c) Quando se trata de projetos diferentes em que h variao de reas de
cobertura de solo.
d) A chuva de projeto no tem nenhuma relao com a vazo de projeto.
e) Sempre independente de rea e de cobertura do solo.

3. As guas de cheias, aps voltarem ao seu curso normal, podem deixar


rastros de armazenamento de gua parada.
Quais consequncias a gua parada pode causar?
a) Procriao de ratos.
b) Procriao de mosquitos vetores de doenas, como malria e
dengue.
c) Doenas do corao.
d) Brucelose.
e) Reumatismo.

22 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Seo 1.2

Ciclo hidrolgico

Dilogo aberto

Prezado aluno, nos prximos contedos voc ser apresentado a uma viso
geral do ciclo hidrolgico e de suas interaes com a engenharia. Para auxili-lo
neste momento, ser apresentada uma situao hipottica, na qual voc est dando
continuidade a um estgio na secretaria de obras de seu municpio, no departamento
de drenagem urbana. O engenheiro Marcos, responsvel por acompanhar seu
desenvolvimento dentro da secretaria, precisa de voc para mais uma nova tarefa.

Agora que voc j conhece um pouco melhor as estruturas urbanas de drenagem, o


engenheiro Marcos pensou que voc poderia entender melhor a respeito da definio
de qual seria a intensidade da chuva de projeto. Para tanto, ele pedir que voc
verifique algumas equaes IDF (intensidade, durao e frequncia) encontradas na
Coletnea das equaes de chuva do Brasil, apresentada por Festi (2007). Verificando o
comportamento dessas equaes para diferentes TR (perodo de retorno) e diferentes
TC (tempos de concentrao). Sendo definidas por Marcos, as equaes de quais
municpios trabalhar, os valores de TR e os valores de TC.

Ento, tomando como base as informaes contidas no artigo de Festi (2007),


Marcos lhe recomendou trabalhar com os seguintes municpios:

Umuarama, PR (utilizar a equao 24).

Angra dos Reis, RJ (utilizar a equao 94).

Tupiratins, TO (utilizar a equao 76).

Salvador, BA (utilizar a equao 91).

Voc deve lanar os resultados em duas tabelas (Tabelas A e B). Na Tabela A,


coloque os valores de precipitao de projeto (mm/hora) para diferentes TR (para 5,
25, 50 e 100 anos), adotando um tempo de concentrao de dez minutos. Aplique o
mesmo procedimento para a Tabela B, s que adotando um TC de 60 minutos.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 23


U1

Aps chegar aos resultados, observe as diferenas entre eles, perceba que para
diferentes localidades, para diferentes tempos de concentraes e para diferentes
perodos de retorno existem diferentes valores de precipitao.

No pode faltar
A gua em nosso planeta est em constante movimentao, e apresenta a mesma
quantidade de milhes de anos atrs. Ela simplesmente vem mudando de estado
fsico e se deslocando de um local para outro. Ela pode estar presente no estado
fsico slido em geleiras, glaciares, tundras etc. Ela costuma derreter, passando para o
estado lquido, alimentando mares, oceanos, rios, lagos, corpos hdricos subterrneos
etc. Essa gua, ento, evapora e passa para a forma de vapor na atmosfera.

A partir dessa viso, pode-se sintetizar que o ciclo hidrolgico um fenmeno


global de circulao de massas de gua que podem ser encontradas no estado lquido,
slido ou gasoso. Segundo Sztibe e Sena (2004), o ciclo hidrolgico ocorre em uma
faixa da terra que vai at uma altura de quinze quilmetros sobre o solo e at uma
profundidade de cinco quilmetros sob o solo.

A seguir sero apresentados cada um destes componentes do ciclo hidrolgico


(Figura 1.9).

Figura 1.9 | Ciclo hidrolgico da gua

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_hidrol%C3%B3gico#/media/File:Ciclo_da_%C3%A1gua.jpg>. Acesso em: 29 dez.


2016.

24 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Para a rea de drenagem urbana, a parte desse ciclo que apresenta principal
interesse diz respeito ao retorno da gua para a terra (precipitao, escoamento
superficial e infiltrao), sendo que muitas das obras hidrulicas so construdas para
uma resposta adequada a esse retorno. Por esse motivo, essas trs etapas sero vistas
mais detalhadamente a seguir.

Pesquise mais
Assista ao vdeo indicado. Observe as interaes da gua em nosso
planeta, o ciclo que ela realiza, ou seja, o ciclo hidrolgico. Disponvel
em: <https://www.youtube.com/watch?v=vW5-xrV3Bq4>. Acesso em:
29 dez. 2016.

Reflita
Reflita sobre a importncia de ciclo da gua. Se ela ficasse parada, como
teramos as chuvas e os rios correndo por vrios cantos do planeta?

Pode-se definir precipitao como a gua proveniente do vapor d'gua da


atmosfera depositada na superfcie terrestre sob qualquer forma: chuva, granizo,
neblina, neve, orvalho ou geada. No Brasil, a chuva o tipo mais comum de precipitao
e, certamente, a grande causadora dos problemas de drenagem existentes.

Para a drenagem urbana, o conhecimento do comportamento dos picos das


precipitaes (chuvas) extremamente importante. Festi (2007) realizou uma coletnea
de equaes IDF (intensidade, durao e frequncia) em diferentes regies do Brasil.
Essa coletnea, entre outros materiais similares, torna-se importante no projeto e
planejamento do sistema de drenagem urbana e para outras obras hidrulicas.

Essas equaes IDF (intensidade, durao e frequncia) se apresentam entre outras


formas, como veremos a seguir:

Imx= A . TR D .
B

(t + C)

Em que:

I mx = intensidade pluviomtrica em mm/h.

TR = perodo de retorno (anos).

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 25


U1

t = tempo de durao da precipitao em minutos. Para bacias hidrogrficas de


pequenas a mdias, costuma-se adotar o tempo de concentrao como tempo de
durao.

A, B, C e D = coeficientes da equao IDF.

A Tabela 1.1 apresenta alguns valores-exemplos para esses coeficientes em


diferentes postos pluviomtricos no municpio do Rio de Janeiro.

Tabela 1.1 | Coeficientes de chuvas IDF para diferentes bairros do Rio de Janeiro

Pluvimetro A B C D Fonte
Santa Cruz 711,30 0,186 7,00 0,687 PCRJ - Cohidro (1992)
Campo Grande 891,67 0,187 14,00 0,689 PCRJ - Cohidro (1992)
Mendanha 843,78 0,177 12,00 0,698 PCRJ - Cohidro (1992)
Benca 7.032,07 0,150 29,68 1,141 Rio-guas (2006)
Realengo 1.164,04 0,148 6,96 0,769 Rio-guas (2006)
Iraj 5.986,27 0,157 29,70 1,050 Rio-guas (2007)
Fonte: <www.rio.rj.gov.br/dlstatic/.../InstrucoesTecnicasProjetosdeDrenagem1.versao.doc>. Acesso em: 29 dez. 2016.

Cabe observar que as equaes IDF so resultantes de dados histricos de ndice


pluviomtrico de uma determinada estao pluviomtrica, por isso a variao entre
elas.

No caso da bacia que faz parte do seu estudo estar em regies intermedirias a
essas estaes, voc deve ter a considerao de determinar a precipitao mdia.
Existem trs mtodos para essa determinao: o mtodo aritmtico, o mtodo de
Thiessem e o mtodo das Isoietas.

Reflita
Como fazer um projeto hidrulico que responder a um determinado
evento de precipitao sem saber para que chuva esse projeto ser
projetado? Ao dimensionar um canal, necessrio ter em mente para que
vazo se projetar.

26 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

O hidrlogo ou um engenheiro com uma equao IDF em mos, pode dizer


qual a precipitao esperada para um perodo de retorno de 5, 10, 25, 50, 100 ou
500 anos, ou o que for mais adequado para seu projeto, e para diferentes tempos de
concentrao, como de 10, 30, 60 ou 120 minutos, conforme caractersticas da bacia
hidrogrfica.

Existem outras formas de equaes IDF, como por exemplo as oriundas do estudo
de Pfafstetter (1982), que apresenta suas equaes de chuvas intensas, conforme
equao a seguir:


, 0+
52
+ +0,25
) t c + 1( gol b= P TTT
.= tb+. log(1
b log t)]c t )
+ (c1. +
0,25

+ t Pa = T
T T
. [a atP+

Em que:

P = precipitao mxima (em mm).

T = tempo de recorrncia escolhido (em anos).

t = durao da precipitao (em horas).

, e c = parmetros definidos para cada estao.

Exemplificando
Para uma dada equao IDF (exemplo):

. TR0,16
Imx= 1.090 0,83
(t + 15)

Adotando-se como valor de perodo de retorno 5 anos e a bacia com um


perodo de concentrao de 60 minutos, tem-se uma chuva de projeto
de 39,17 mm/h.

Adotando-se como valor de perodo de retorno 25 anos e a bacia com um


perodo de concentrao de 60 minutos, tem-se uma chuva de projeto
de 50,68 mm/h.

Adotando-se como valor de perodo de retorno 50 anos e a bacia com um


perodo de concentrao de 60 minutos, tem-se uma chuva de projeto
de 56,62 mm/h.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 27


U1

Adotando-se como valor de perodo de retorno 100 anos e a bacia com


um perodo de concentrao de 60 minutos, tem-se uma chuva de
projeto de 63,26 mm/h.

Observe que ao escolher um perodo de retorno para uma obra, define-se


um valor diferenciado de chuva de projeto.

Define-se perodo de retorno como o tempo em mdia que um determinado


evento pode ser igualado ou superado.

Define-se tempo de concentrao como o tempo que leva para que toda a bacia
considerada contribua para o escoamento superficial na seo estudada.

Perodo de retorno (TR)

A definio do perodo de retorno a ser empregado em uma obra um pouco


subjetiva. Ele est ligado ao risco que essa obra falhe e exponha a sociedade. O TR
est tambm ligado ao custo (o que possvel gastar). Muitas tabelas apresentadas por
diferentes departamentos e secretarias, em diferentes localidades, apresentam valores
tpicos de perodo de retorno. A Tabela 1.2 apresenta alguns valores de perodo de
retorno que podem auxiliar a nortear o valor a ser empregado em uma obra hidrulica.

Tabela 1.2 | Valores de TR adotados para alguns tipos de obras hidrulicas

Pequenos canais sem endicamento Rural 5


Urbano 10
Grandes canais sem endicamento Rural 10
Urbano 25
Rural 10
Pequenos canais com endicamento
Urbano 50
Rural 50
Grandes canais com endicamento Urbano 100

Pequenos canais para drenagem urbana 5 a 10


Pontes em rodovias importantes 50 a 100
Pontes em rodovias comuns 25
Bueiros em rodovias importantes 25
Bueiros em rodovias comuns 5 a 10
Bocas de lobo 1a2
Vertedor de barragens importantes 10.000

Fonte: Unesc (2011).

28 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Tabela 1.3 | Valores de TR adotados para alguns tipos de obras hidrulicas (continuao)

Tipo de obra Tipo de ocupao da rea T-Perodo de Retorno (anos)


residencial
Comercial 2
rea com edifcios de servio 5
Migrodrenagem pblico 5
Aeroportos 2a5
reas comerciais e artria de 5 a 10
trfego
reas comerciais e
50 a 100
Migrodrenagem residenciais
500
rea de importncia especca
Obs.: endicamento = revestimento.
Fonte: Unesc (2011).

Reflita
Voc percebeu uma certa variedade para valores de TR (perodo de
retorno), mas o que tem de existir na prtica uma anlise caso a caso e
uma tomada de deciso empregando-se o bom senso, pois essa escolha
interfere no custo da obra e na sua segurana. Pontos mais importantes
da cidade ou de estradas, por exemplo, requerem maior segurana, voc
no acha?

Tempo de concentrao (TC)

Como foi comentado anteriormente, o tempo de concentrao est ligado a


caractersticas da bacia hidrogrfica. Algumas delas esto listadas a seguir:

rea da bacia.

Comprimento e declividade do talvegue.

Desnvel da parte mais elevada e a seo de controle.

Existem vrios mtodos para estimar o valor do tempo de concentrao. Esses


mtodos podem gerar resultados diferentes, pois se tratam de mtodos empricos,
que foram desenvolvidos em bacias hidrogrficas especficas com caractersticas
distintas (rurais e urbanas, reas diferentes etc.). A seguir, so apresentados alguns
exemplos desses mtodos:

Equao de Kirpich

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 29


U1

583, 0 0,385
L3L33 0,385
tc =tc=5757. 75 =ct
HH

Em que:

tc = tempo de concentrao, em minutos.

L = comprimento do talvegue principal, em km.

H = desnvel entre a parte mais elevada e a seo de controle, em m.

Equao de Doodge

tc = 21,88 . A0,41 . S0,17.

Em que:

tc = tempo de concentrao, em minutos.

A = rea da bacia, em km2.

S = declividade mdia do talvegue, em m/m.

A equao de Kirpich apresenta boa empregabilidade em bacias urbanas.

Recomenda-se a seguinte considerao: o tempo de durao da chuva igual ao


tempo de concentrao da bacia hidrogrfica pequena a mdia.

Escoamento superficial e infiltrao

Esses processos apresentados no ciclo hidrolgico, esto ligados ao deslocamento


das guas sobre a superfcie do solo e infiltrao (o processo pelo qual a gua sai da
superfcie e penetra solo adentro). Esse deslocamento de fundamental importncia
para o projeto de obras hidrulicas e principalmente as de drenagem. Essas obras so
dimensionadas de modo a suportar as vazes decorrentes desse escoamento para
um determinado evento de precipitao.

O importante nessa etapa definir, basicamente da precipitao, qual a etapa que


vai para o escoamento e qual a que vai para a infiltrao (Figura 1.10). Para responder
a isso, existem muitas tabelas que trabalham de acordo com o tipo de cobertura
do solo, declividade, estado se saturao do solo etc. A Tabela 1.4 traz valores de
percentuais de escoamento ou coeficientes de escoamento (C) para diferentes tipos
de coberturas do solo em reas urbanas. Outras metodologias sero apresentadas ao
longo do curso em momentos mais oportunos.

30 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.10 | Relaes de infiltrao e escoamento para diferentes tipos de solo

Inltrao no solo Escoamento para a linha de gua

a) rea Florestal b) rea Residencial b) rea Urbana

Fonte: <http://6.fotos.web.sapo.io/i/ob2117e8b/17905781_f8MrF.jpeg>.. Acesso em: 29 dez. 2016.

Tabela 1.4 | Valores de C para diferentes coberturas de solo, conforme as caractersticas


de urbanizao

Zonas Valores de C
De edicao muito densa: Partes
centrais densamente construdas de
0,70 a 0,95
uma cidade com ruas e caladas pavi-
mentadas.
De edicao no muito densa: partes
adjacentes ao centro, de menor den-
0,60 a 0,70
sidade de habitaes, mas com ruas e
caladas pavimentadas.
De edicao com pouca superfcie
livre: partes residenciais com con- 0,50 a 0,60
strues cerradas, ruas pavimentadas.
De edicao com muitas superfcies
livres: partes residenciais tipo ci-
0,25 a 0,50
dade-jardim, ruas macadamizadas ou
pavimentadas.
De subrbios com alguma edicao:
partes de arrebaldes com pequena 0,10 a 0,25
densidade de construes.
De matas, parques e campos de
esporte: partes rurais, reas verdes, su-
0,05 a 0,20
perfcies arborizadas, parques e cam-
pos de esporte sem pavimentao.
Fonte: Wilken (1978).

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 31


U1

Quando se encontra numa mesma rea diferentes coberturas de solo, ou seja,


subreas com diferentes valores de C (coeficiente de escoamento), deve-se calcular
um valor mdio pela seguinte equao:

C1 A1 . C2 A2 . ..Cn An
Cmdio = .
An

Em que:

C1, C2 at Cn = diferentes valores de C encontrados (adimensional).

A1, A2 at An = diferentes valores de reas encontradas correspondentes aos


diferentes valores de C (m2).

Assimile
A definio de precipitaes de projeto deve considerar as peculiaridades
do local onde ser definida a obra, pois cada uma apresenta uma
caracterstica de chuva que se reflete na equao IDF, no perodo de
retorno compatvel para as diferentes obras hidrulicas, no local e nas
caractersticas das bacias para definir o tempo de concentrao e, ainda,
nas condies de escoamento e infiltrao.

Sem medo de errar

Relembremos a nossa condio hipottica colocada no item Dilogo aberto, na


qual voc estagirio no departamento de drenagem da secretaria de obras de seu
municpio. Foi-lhe solicitado o seguinte, que voc defina a precipitao de projeto
(chuva de projeto) para o engenheiro Marcos. A seguir, esto as equaes que ele
solicitou que voc solucionasse, adotando diferentes perodos de retorno e tempos
de concentrao, j resolvidas.

As equaes solicitadas encontram-se no artigo de Festi (2007).

Equao para Umuarama PR:

1.752,27 . TR0,148
Imx = .
(t + 17)0,848

32 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Equao para Angra dos Reis, RJ:

721,802 . TR0,211
Imx = .
(t + 10,566)0,720

Equao para Tupiratins, TO:

2.300,090 . TR0,155
Imx = .
(t + 31,686)0,869

Equao para Salvador, BA:

1.056,66 . TR0,163
Imx = .
(t + 24)0,743

Com estas equaes, e realizando as substituies de valores em TR e TC, obtm-


se as Tabelas 1.5 e 1.6.

Tabela 1.5 | Valores de precipitao de projeto (mm/hora) para diferentes TR, adotando-se
um tempo de concentrao de dez minutos
Muncipio TR 5 anos TR 25 anos TR 50 anos TR 100 anos
Umuarama - PR 135,91 172,46 191,10 211,74

Angra dos Reis - RJ 114,93 161,40 186,82 216,25

Tupiratins - TO 115,43 148,13 164,94 183,64

Salvador - BA 99,99 129,99 145,54 162,95


Fonte: elaborada pelo autor.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 33


U1

Tabela 1.6 | Valores de precipitao de projeto (mm/hora) para diferentes TR, adotando-se
um tempo de concentrao de 60 minutos
Muncipio TR 5 anos TR 25 anos TR 50 anos TR 100 anos
Umuarama - PR 55,89 70,92 78,58 87,07
Angra dos Reis - RJ 47,31 66,43 76,90 89,01
Tupiratins TO 58,19 74,68 83,15 92,58
Salvador BA 51,07 66,38 74,32 83,21
Fonte: elaborada pelo autor.

Os resultados diferem porque as caractersticas de precipitao so diferentes para


as diferentes regies do Brasil (diferenas entre linhas). Eles diferem ainda porque,
mesmo para uma mesma cidade, quando se emprega diferentes perodos de retorno,
se obtm diferentes resultados (diferenas entre colunas). Finalmente, eles se diferem
tambm porque os tempos de concentrao so diferenciados, ou seja, as bacias tm
caractersticas diferentes (diferenas entre tabelas).

Avanando na prtica

Auxilie o engenheiro Marcos a demarcar no mapa as diferentes reas de escoamento


e os valores de C para essas reas. A regio exemplificada fica no municpio de
Campinas, SP.

Para iniciar a seleo, demarque reas comuns, como as reas com coberturas
vegetais foram demarcadas em azul na Figura 1.11. Para essas reas, os valores esto
entre 0,05 e 0,2, conforme a Tabela de Wilken (1978). Existe um intervalo entre 0,05 e
0,2, que representaria genericamente de 5 a 20% de transformao da precipitao em
escoamento propriamente dito. Qual valor escolher nesse intervalo? Conforme voc
vai trabalhando com isso, sua sensibilidade vai melhorando, mas observe na figura um
dos trechos de reas demarcado em azul e perceba que se trata de uma mata mais
densa (fechada). Voc poderia aferir que para essa mata mais densa, comparada s
demais reas, o valor mais indicado seria de 0,05 para C, pois nela a infiltrao seria
maior e o escoamento menor que para as outras reas com cobertura vegetao
menos densa, que ficaram com um valor de C = 0,2.

Voc pode agrupar ainda, por exemplo, reas com ocupaes mais densas (em que
predominam prdios) e ocupaes menos densas ou subrbios (em que predominam
residncias) etc. Na Figura 1.11, a seguir, a classificao da continuidade considera
ocupaes mais densas e menos densas, e adota valores mdios de C de acordo
coma tabela de Wilken (1978). Resultado: para ocupao menos densa, adotou-se
0,65, e para mais densa, adotou-se 0,8.

34 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.11 | Classificao de continuidade

Fonte: adaptada de < https://www.google.com/earth/>. Acesso em: 30 dez. 2016.

Faa valer a pena

1. Uma equao intensidade, durao e frequncia importante,


entre outras coisas, por fornecer a intensidade de uma chuva para um
determinado projeto que est sendo elaborado: chama-se chuva de
projeto.
Determine pela equao a seguir o valor de intensidade da precipitao
a ser empregado no projeto, adotando uma TR de 10 anos e um tempo
de concentrao de 15 minutos.

1350 . TR0,09
Im x = .
(tc + 20)0,95

a) O valor de 56,7 mm/h.


b) O valor de 66,7 mm/h.
c) O valor de 76,7 mm/h.
d) O valor de 51,7 mm/h.
e) O valor de 49,7 mm/h.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 35


U1

2. A determinao do tempo de concentrao pode ser realizada por


diversas equaes empricas. Essas equaes so alimentadas com dados
retirados da bacia hidrogrfica em que ser realizado um dado estudo.
Empregando a equacionamento de Kirpich I, em uma bacia hidrogrfica
com um comprimento de talvegue principal de 800 metros e um desnvel
entre a parte mais elevada e a seo de controle de 15 metros, qual ser o
tempo de concentrao?
a) O tempo de concentrao ser de 19,5 minutos.
b) O tempo de concentrao ser de 15,5 minutos.
c) O tempo de concentrao ser de 10,9 minutos.
d) O tempo de concentrao ser de 20,2 minutos.
e) O tempo de concentrao ser de 24,3 minutos.

3. A definio do perodo de retorno a ser empregado em uma obra um


pouco subjetiva, mas pode ser associado principalmente a dois conceitos.
Quais so os conceitos a que o texto-base se refere?
a) Caractersticas da bacia hidrogrfica e custo da obra.
b) Declividade do talvegue principal e rea da bacia hidrogrfica.
c) Risco que a sociedade exposta no caso de falha e custo da obra.
d) Custo da obra e rea da bacia hidrogrfica.
e) Intensidade da chuva e custo da obra.

36 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Seo 1.3

Bacias hidrogrficas e vazes de projeto

Dilogo aberto

Prezado aluno, para auxili-lo neste momento de aprendizagem de mais um


novo contedo, apresentaremos uma situao hipottica, na qual voc est dando
continuidade a um estgio na secretaria de obras de seu municpio, no departamento
de drenagem urbana. O engenheiro Marcos, tcnico responsvel por acompanhar seu
desenvolvimento dentro da secretaria, precisa de voc para uma nova tarefa. Ele est
muito entusiasmado com seu desempenho e solicitou que voc defina a vazo de
projeto a ser empregada para uma obra hidrulica de canalizao em um determinado
trecho de um rio. Para tanto, ele disponibilizou a seguinte imagem (Figura 1.12):

Figura 1.12 | Curvas de nveis de uma regio hidrogrfica

Fonte: <http:http://3.bp.blogspot.com/-i6ynIONkkE4/UHwzHvMfQyI/AAAAAAAAABg/VBbwLJ3LJpM/s1600/
MAPA+BACIAS+Layout2+(1).jpg>. Acesso em: 30 dez. 2016.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 37


U1

A rea da bacia de 2,39 km e, pela cobertura do solo observada na imagem,


pode-se aferir que o valor de C mdio seja da ordem de 0,25. Essa rea fica localizada
prxima a uma estao pluviomtrica. Ela apresentada pela equao:

752,27 . TR0,12
Imx = .
(tc + 29)1,2

Considerando o talvegue principal com 2,5 km e visualizando na imagem que a


cota mais alta de 1.330 m e a cota mais baixa 1.030 m, defina para o engenheiro
Marcos a vazo de projeto para uma obra com perodo de retorno de 20 anos,
adotando Kirpich para o clculo do tempo de concentrao e o mtodo racional para
o clculo da vazo de projeto.

No pode faltar
Delimitao e rea da bacia hidrogrfica

Bacia hidrogrfica pode ser vista como uma rea de captao natural da gua de
precipitao que acaba por convergir seus escoamentos para um nico ponto de sada
(exutrio ou ponto de interesse, que o local onde ser executada a obra hidrulica). A
bacia hidrogrfica delimitada pelos divisores de gua e seus tamanhos podem variar
desde dezenas de metros quadrados a milhares de quilmetros quadrados. H dois
tipos de divisores de gua: superficial (topogrfico) e o subterrneo (fretico). Como o
segundo tipo est em constante movimentao, considera-se, na prtica, o superficial
como divisor de gua da bacia.

Para delimitao da bacia, deve-se seguir alguns passos, descritos a seguir:

1 passo: definir o ponto exutrio ou de interesse (local da obra hidrulica) em


planta (Figura 1.13), pois desse ponto que se inicia a delimitao da bacia hidrogrfica.

38 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.13 | Definio do ponto exutrio ou de interesse

Fonte: <http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases-cartograficas/cartas>. Acesso em: 9 jan. 2017.

2 passo: reforar o traado da marcao do curso dgua principal e de seus


contribuintes (deve-se lembrar que o traado da bacia no deve cortar o traado de
reforo de demarcao dos cursos dgua principal e de seus contribuintes, visto que
eles fazem parte da bacia hidrogrfica como um todo, a no ser que isso ocorra por
um motivo justificado).

3 passo: marcar os pontos com cotas mais elevadas no entorno da marcao do


curso de gua principal (Figura 1.14).

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 39


U1

Figura 1.14 | Reforo traado do curso dgua e pontos mais altos

Fonte: <http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases-cartograficas/cartas>. Acesso em: 9 jan. 2017.

4 passo: a partir da demarcao dos topos dos morros, deve-se iniciar a


demarcao do ponto onde a chuva cai e escoa sobre o terreno em direo ao curso
da gua em estudo. Isso feito considerando-se a inclinao do terreno (Figura 1.15).
Se a inclinao do terreno estiver voltada para a direo oposta s drenagens, porque
pertence a outra bacia. Se estiver na direo do curso da gua em estudo, pertence
bacia. Em alguns casos, pode haver pontos com cotas mais elevadas do que as cotas
do divisor de guas topogrfico da bacia.

40 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.15 | Demarcao final da bacia hidrogrfica

Fonte: <http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases-cartograficas/cartas>. Acesso em: 9 jan. 2017.

Pesquise mais
Assista ao vdeo indicado e observe os detalhes para delimitao
da bacia hidrogrfica. Disponvel em: <https://www.youtube.com/
watch?v=MuaoK_g33bw>. Acesso em: 30 dez. 2016.

Aps demarcado o limite da bacia, pode-se definir sua rea. Quando se emprega o
software CAD, ela pode ser obtida por meio do traado poligonal, e quando se fecha
a poligonal no exutrio ou ponto de interesse, entra-se em propriedade e verifica-se
a rea obtida. Existem outros softwares, como o ARQGIS, o QGIS, entre outros, que
podem ajudar a delimitar e definir a rea da bacia. Um mtodo bastante simplificado
o de quadricular por cima do desenho da bacia e usar o quadriculado como escala
para determinar os valores de rea dos quadrados desenhados, conforme e esboado
no vdeo indicado no item Pesquise mais.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 41


U1

Reflita
Por que importante delimitar e saber a rea da bacia hidrogrfica?
simples: a gua que precipita sobre toda a rea ou ir infiltrar no solo,
ou ir evapotranspirar ou ir escoar sobre a superfcie seguindo os
conceitos de ciclo hidrolgico, como vimos na Seo 1.2. A gua que
escoa superficialmente promove a elevao do escoamento de base no
ponto do exutrio, ou ponto de interesse, e promove os problemas de
enchentes e inundaes.

Bacia hidrogrfica com dados fluviomtricos e sem dados pluviomtricos

De acordo com o DAEE (2005), os dados fluviomtricos ou registros de vazo


de um curso dgua, em uma seo determinada, so obtidos com a instalao e
a operao (contnua, e pelo maior perodo possvel) de um posto fluviomtrico,
instalado em uma seo onde seja possvel estabelecer uma boa relao entre nvel
dgua e vazo, para as mais diversas situaes do curso dgua tanto na estiagem
como nas cheias.

Contudo, essas estaes e esses dados fluviomtricos so muito escassos em


nosso pas, se comparados quantidade de estaes e dados pluviomtricos. Por
esse motivo, mais comum definir vazes de projeto transformando chuva em vazo.

Definio da vazo de projeto

A vazo de projeto a mxima vazo a ser considerada no dimensionamento de


obras hidrulicas destinadas reservao e controle do escoamento superficial da
gua. Sua determinao muito importante e, por esse motivo, sero vistos alguns
mtodos (Figura 1.16) para determin-la.

42 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Figura 1.16 | Mtodos de determinao da vazo de projeto

Conta com dados No conta com dados


uviomtricos de longo uviomtricos de longo
perodo perodo

Tratamento Estatstico Emprega-se mtodos que


dos dados Fluviomtricos transformam chuva em vazo

Mtodo do
Mtodo Racional para Km 2Mtodo I-Pai-Wu Hidrograma
bacias pequenas < Modicado para bacia < Unitrio para
5KM2 30 km2 bacias maiores

Fonte: elaborada pelo autor.

Mtodo racional

Cm . Imx . A
Q= .
360

Em que:

Q = vazo em (m3/s).

C = coeficiente de escoamento superficial (adimensional).

Imx = intensidade da chuva (mm/h).

A = rea da bacia hidrogrfica (hectare = ha).

Os meios para determinar C e I foram vistos na Seo 1.2. Seu emprego somente
permite a determinao de vazes mximas, sem definir a forma do hidrograma, e

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 43


U1

apresenta bons resultados somente para pequenas bacias. J o mtodo I-Pai-Wu


modificado, considera caractersticas de forma, distribuio espacial, entre outras, o
que permite seu emprego para reas maiores.

Mtodo I-Pai-Wu modificado

Q = 0,278 . Cm . Imx . A0,9 . K.

Em que:

Q = vazo em (m3/s).

Cm = coeficiente de escoamento superficial modificado (adimensional).

Imx =intensidade da chuva (mm/h).

A = rea da bacia hidrogrfica (km2).

K = coeficiente de distribuio espacial da chuva.

Cm definido pela equao:

Em que:

L = comprimento do talvegue, em km.

C = coeficiente de escoamento superficial (adimensional).

A = rea da bacia hidrogrfica (km2).

44 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Mtodo do hidrograma unitrio

O hidrograma unitrio um hidrograma de escoamento superficial direto (Figura


1.17), resultante de uma chuva efetiva com intensidade e durao unitrias. Sendo o
hidrograma unitrio sinttico SCS um dos mtodos mais simples e mais utilizados para
estimar o volume de escoamento superficial resultante de um evento de chuva, o
mtodo desenvolvido pelo National Resources Conservatoin Center, dos EUA (antigo
Soil Conservation Service SCS). Existem trs princpios gerais do hidrograma unitrio,
como veremos a seguir.

O primeiro princpio da proporcionalidade define que as vazes geradas so


diretamente proporcionais intensidade da precipitao que os gerou.

Exemplificando
Figura 1.17 | Hidrograma unitrio

Fonte: elaborada pelo autor.

Observe que quando a chuva P, a vazo gerada quatro vezes menor


que quando ela 4P.

O segundo princpio de superposio (Figura 1.18) admite que a resposta de duas


chuvas unitrias sucessivas pode ser obtida somando-se dois hidrogramas unitrios
deslocados no tempo.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 45


U1

Exemplificando
Figura 1.18 | Superposio de hidrogramas

Superposio de vazes

Fonte: elaborada pelo autor.

Neste caso, soma-se uma precipitao com a outra, formando-se uma


precipitao final.

O terceiro princpio o da constncia do tempo de base, que define que os


escoamentos superficiais gerados a partir de precipitaes de intensidade diferente, mas
com mesma durao. Persistem pelo mesmo intervalo de tempo, independentemente
dos volumes escoados.

Com esses trs princpios, pode-se promover a convoluo do hidrograma.

Segundo Tucci (2004), os componentes do hidrograma unitrio so: Tempo de


pico, tempo de concentrao, tempo de ascenso, tempo de recesso, tempo de
base e tempo de base. E Chow et al. (1988) apresentou em sua produo as seguintes
equaes para estes componentes:

o Tempo de pico (tp): definido como intervalo de tempo entre o centro de


massa da precipitao e o pico de vazo mxima:

tp = 0,6 . tc.

o Tempo de concentrao (tc): o tempo necessrio para a gua precipitada


ir do ponto mais distante da bacia at o exutrio ou ponto de interesse.

46 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

o Tempo de ascenso (ta): o tempo entre o incio da chuva e o pico do


hidrograma:

D
ta = tp + .
2

Em que:

D = durao da precipitao efetiva unitria (um minuto ou uma hora, por exemplo).

o Tempo de recesso (tr): o tempo necessrio para a vazo baixar at o ponto


em que acaba o escoamento superficial.

tr = 1,67 . ta

o Tempo de base (tb): o tempo entre o incio da precipitao e o tempo que o


volume precipitado j escoou atravs da seo avaliada, ou em que o rio volta
s condies anteriores da precipitao.

tb = ta + tr
tb = ta + 1,67ta ... tb = 2,67ta.
tr = 1,67ta

Sendo a vazo de pico do hidrograma unitrio (Qp em m3/s) definida pela equao:

0,208A
Qp = D .
0,6tc +
2

Em que:

A = rea (km2).

E a determinao da precipitao efetiva determinada por meio da equao:

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 47


U1

2
A 5080
1 0,1log p + 50,8
25 CN
Pe = .
A 20320
1 0,1log 25 p CN + 203, 2

Em que:

Pe = chuva efetiva, em mm.

p = precipitao pontual, considerada no centro de gravidade da bacia,


correspondente durao para o tempo de recorrncia (TR), em mm.

A = rea (km2).

CN = curva nmero, definido pelo complexo solo-vegetao (h diversas tabelas


CN para consulta em sites diversos).

Em relao modelagem para a definio da vazo de projeto, existem softwares


variados, sendo que atualmente alguns de boa empregabilidade no mercado so o
HEC-HMS, que faz a etapa de modelao hidrolgica, e o HEC-HAS, que faz a etapa
de modelao hidrulica, que ser cobrada mais adiante em nossos estudos. H
tambm o Abc - DAEE - verso adaptada (LabSid/EPUSP/FCTH) para o DAEE, que
realiza a modelao por mtodo racional, I-Pai-Wu e hidrograma unitrio, entre tantos
outros modelos existentes no mercado.

Assimile
Com base no que estudamos, pondere sobre como deve ser demarcada
uma bacia hidrogrfica. Lembre-se de que a obteno de sua rea muito
importante para a determinao de vazo de projeto. Memorize tambm
o que vazo de projeto e lembre-se de que h muitas maneiras para sua
determinao, entre elas, as com dados fluviomtricos e as sem dados.
Sendo os mtodos de definio da vazo sem dados fluviomtricos os
mais comuns.

48 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Sem medo de errar

Relembremos a nossa hipottica condio colocada no item Dilogo aberto, em


que voc atua como estagirio no departamento de drenagem da secretaria de obras
de seu municpio. Foi solicitado que voc defina vazo de projeto para o engenheiro
Marcos.

A rea da bacia de 2,39 km2, e, pela cobertura do solo observada na imagem,


pode-se aferir que o valor de C mdio seja da ordem de 0,25. A rea fica localizada
prxima a uma estao pluviomtrica. Ela apresenta a equao:

752,27 . TR0,62
Imx =
(tc + 29)1,2

Considerando o talvegue principal com 2,5 km, e visualizando na imagem que a


cota mais alta de 1.330 m e a cota mais baixa 1.030 m, defina para o engenheiro
Marcos a vazo de projeto para uma obra com perodo de retorno de 20 anos,
adotando Kirpich para o clculo do tempo de concentrao e o mtodo racional para
o clculo da vazo de projeto.

Equao de Kirpich:

583, 0 0,385
LL3L33 0,385
tc 57 .
== 57
tc 75 =ct
HHH

Em que:

tc = tempo de concentrao, em minutos.

L = comprimento do talvegue principal, em km.

H = desnvel entre a parte mais elevada e a seo de controle, em m.

0,385
583, 0
L3 2,53 3L 0,385
tc 57 .
== 57
tc 75 cttc = 18,72 min.
=
H 1030
1330 H

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 49


U1

Equao IDF:

752,27 . TR0,62
Imx = .
(tc + 29)1,2

Em que:

Imx = intensidade da chuva de projeto (mm/h).

TR = perodo de retorno, em anos.

tc = tempo de concentrao, em minutos.

752,27 . TR0,62
Imx = Imx = 53,54 mm/h.
(tc + 29)1,2

Equao mtodo racional:

Cm . Imx . A
Q=
360

Em que:

Q = vazo em (m3/s).

C = coeficiente de escoamento superficial (adimensional).

Imx = intensidade da chuva (mm/h).

A = rea da bacia hidrogrfica (hectare = ha).

A = rea da bacia de 2,39 km2 = 239 ha.

Cm . Imx . A 0,25 . 53, 54 . 239


Q= Q= Q= Q = 8,89 m3/s.
360 360

A vazo de projeto a ser informada para tal obra de 8,89 m3/s.

50 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Avanando na prtica

Agora, auxilie o engenheiro Marcos na demarcao de uma bacia hidrogrfica


(Figuras 1.19 e 1.20), que apresenta como ponto de interesse para uma obra hidrulica
o ponto demarcado em vermelho.

Figura 1.19 | Bacia hidrogrfica

Fonte: <https://edificarto.files.wordpress.com/2014/11/topografico.jpg>. Acesso em: 30 dez. 2016.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 51


U1

Figura 1.20 | Bacia hidrogrfica

Fonte: adaptada de <https://edificarto.files.wordpress.com/2014/11/topografico.jpg>. Acesso em: 30 dez. 2016.

Faa valer a pena

1. O __________________ ocorre entre o incio da precipitao e o tempo


que o volume precipitado j escoou atravs da seo avaliada, ou em que
o rio volta s condies anteriores da precipitao.
Qual alternativa completa corretamente a lacuna?
a) tempo de base
b) tempo de recesso
c) tempo de ascenso
d) tempo de concentrao
e) tempo de pico

2. O __________________ o tempo necessrio para a vazo baixar at


o ponto em que acaba o escoamento superficial.
Qual alternativa completa corretamente a lacuna?
a) tempo de base

52 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

b) tempo de recesso
c) tempo de ascenso
d) tempo de concentrao
e) tempo de pico

3. O __________________ refere-se ao tempo entre o incio da chuva e


o pico do hidrograma l.
Qual alternativa completa corretamente a lacuna?
a) tempo de base
b) tempo de recesso
c) tempo de ascenso
d) tempo de concentrao
e) tempo de pico

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 53


U1

54 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


U1

Referncias

BRASIL. Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Poltica Nacional de Recursos


Hdricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos. Dirio Oficial
[da] Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 1997.
BRASIL. Ministrio das Cidades/Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT). Mapeamento
de riscos em encostas e margem de rios. Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de
Macedo e Agostinho Tadashi Ogura (Org.). Braslia, DF, 2007.
CHOW, V. T.; MAIDMENT, D. R.; MAYS, L. W. Applied hydrology. New York: McGraw-Hill,
1988. 572 p.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Conama). Resoluo n. 357, de 17
de maro de 2005. Dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres
de lanamento de efluentes, e d outras providncias. Dirio Oficial [da] Repblica
Federativa do Brasil, Braslia, n. 53, p. 58-63, 18 mar. 2005.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (Conama). Resoluo n. 430, de 13 de
maio de 2011. Dispe sobre as condies de lanamento de efluentes, complementa
e altera a Resoluo n 357, de 17 de maro de 2005, do Conselho Nacional do Meio
Ambiente. Dirio Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia,
DF, 2011.
FESTI, A. V. Coletnea das equaes de chuva no Brasil. In: XVII Simpsio Brasileiro de
Recursos Hdricos. So Paulo: ABRH, 2007. Disponvel em: <http://www.pliniotomaz.
com.br/downloads/coletanea_chuvas.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2016.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Disponvel em: <http://mapas.ibge.
gov.br/bases-e-referenciais/bases-cartograficas/cartas>. Acesso em: 9 jan. 2017.
PFAFSTETTER, Otto. Chuvas intensas no Brasil: relao entre precipitao, durao e
frequncia de chuvas, registradas com pluvigrafos, em 98 postos meteorolgicos. 2.
ed. Rio de Janeiro: DNOS, 1982.
SZTIBE, Rosely; SENA, Lcia Bastos Ribeiro de. Gesto participativa das guas. Secretaria
de Meio Ambiente. Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao
Ambiental. Departamento de Educao Ambiental. So Paulo: SMA/CPLEA, 2004.
PARTAMENTO DE GUAS E ENERGIA ELTRICA (DAEE). Guia prtico para projetos de
pequenas obras hidrulicas. So Paulo: DAEE, 2005.

Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica 55


U1

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: cincia e aplicao. 3. ed. Porto Alegre: ABRH, 2004.


UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE. Planos de recuperao de reas
degradadas pela minerao do carvo, no Estado de Santa Catarina, correspondentes
s reas da Ex-Treviso S.A., de responsabilidade da unio. Cricima, abr. 2011. Disponvel
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sideropolis.htm>. Acesso em: 29 dez. 2016.
WILKEN, P. S. Engenharia de drenagem superficial. So Paulo: Cetesb, 1978.

56 Introduo hidrologia, ciclo hidrolgico e bacia hidrogrfica


Unidade 2

Sistema de recursos hdricos:


enchentes, estiagens e guas
subterrneas

Convite ao estudo

Caro aluno, seja bem-vindo! Nesta unidade, voc vai estudar o regime
hidrolgico dos cursos dgua, que neste contexto ser definido pelos seus
perodos de cheias e estiagens. Para ilustrar esta unidade, voc ser um
engenheiro civil de projetos, e dever utilizar os estudos a serem abordados
neste material para dimensionar obras hidrulicas, incluindo as de drenagem
urbana.

Alm disso, voc ter condies de entender por que ocorrem as falhas
hidrulicas em consequncia de grandes cheias, geradas pelo transbordamento
dos cursos dgua. Voc tambm estudar sobre a importncia dos sistemas de
previso de cheias nas grandes cidades, alm das consequncias de estiagens
severas.

Adicionalmente, ser apresentado o conceito de regularizao de vazes


com o objetivo de atenuar os impactos causados nas situaes de vazes
extremas, tanto nas cheias quanto no perodo de estiagem.

Para avanar em seus estudos, voc precisar dos conhecimentos aprendidos


na Unidade 1, como: ciclo hidrolgico; precipitao; vazo; perodo de retorno
para obras hidrulicas; dimensionamentos hidrulicos; e tambm o processo
de escoamento superficial. Esses itens serviro de base para o aprendizado do
regime hidrolgico dos cursos dgua superficiais.

Nesta unidade, voc tambm aprender alguns conceitos importantes sobre


as guas subterrneas e sua utilizao. Tambm abordaremos a definio de
aquferos e recargas, alm dos problemas da qualidade das guas subterrneas
U2

em funo de contaminaes. Para se aprofundar neste item, voc precisar


compreender o processo de infiltrao, estudado tambm na Unidade 1.

Ao fim desta unidade, voc compreender como os regimes de cheias e


estiagens esto associados ao dimensionamento da capacidade hidrulica de
um rio ou canal. Voc entender que projetos de obras hidrulicas so sempre
dimensionados, admitindo probabilidade de falhas, que esto relacionadas aos
tipos de obras e seus respectivos impactos. Voc tambm estudar sobre a
regularizao de vazes e sua importncia. E, por fim, compreender os conceitos
de guas subterrneas e seus usos, aquferos e os respectivos problemas de
contaminao.

A unidade est dividida da seguinte forma: na Seo 2.1, abordaremos o tema


de vazes mximas (obtidas nos perodos de cheias) para dimensionamento de
obras hidrulicas; possibilidade de falhas hidrulicas; e os sistemas de previso de
enchentes.

Na Seo 2.2, veremos o conceito de vazes mnimas (perodo de estiagem);


regularizao de vazes dos cursos dgua e sua importncia para os eventos de
cheias e perodos de estiagem.

Por fim, na Seo 2.3, estudaremos sobre noes das guas subterrneas;
conceitos de aquferos e suas recargas; e problemas de contaminao da gua
subterrnea.

Voc, aluno, foi contratado para elaborar um parecer tcnico sobre o


regime do Rio Ribeirinha em uma rea denominada Seo A. O parecer tcnico
dever conter a identificao dos perodos de cheias e estiagens na Seo
A e o dimensionamento de um canal a ser construdo. Voc deve analisar a
possibilidade de falhas hidrulicas de acordo com o perodo de retorno adotado.
Dever, tambm, incluir o estudo da necessidade ou no de regularizao do rio
a partir dessa seo. Complementarmente, com relao s guas subterrneas,
voc dever verificar se h algum aqufero na regio e informar qual a qualidade
da gua do aqufero.

58 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Seo 2.1

Regime de cursos dgua; previso de enchentes

Dilogo aberto

Para iniciar a elaborao do parecer tcnico, o primeiro passo a visita ao local de


estudo. Voc deve estar atento com relao ao regime do Rio Ribeirinha na Seo A.
Antes de ir a campo, voc deve se preparar, solicitando ao contratante as coordenadas
do local (latitude e longitude). Localize a seo do rio numa carta topogrfica, delimite
a bacia hidrogrfica e obtenha a rea de drenagem correspondente ao local solicitado.
Assim, voc ter noo da rea e da rede de drenagem. Isso contribui com o estudo
da seo de interesse. Voc dever receber tambm o mapa do uso e ocupao do
solo na rea de interesse. O objetivo que voc observe como a bacia ocupada e
quais so seus usos predominantes. Essa tarefa lhe proporcionar uma sensibilidade
em relao permeabilidade do solo, ou seja, voc ter uma noo se o solo da bacia
hidrogrfica ter maior ou menor capacidade para infiltrar a gua da chuva ou se a gua
ir gerar o escoamento superficial direto, indo diretamente para os rios, antecipando a
ocorrncia de cheias. Com esse conhecimento prvio, voc estar preparado para ir a
campo e observar a seo do rio em termos de escoamento.

No campo, voc dever estar atento a todas as variveis do ciclo hidrolgico que
esto envolvidas na gerao do escoamento, bem como importncia da cobertura
da bacia hidrogrfica formada na Seo A, utilizando os conhecimentos obtidos na
Unidade 1. Alm disso, voc poder verificar o comportamento da seo do rio na
poca das chuvas.

Aps o perodo de observaes, voc ser capaz de verificar e diagnosticar os


perodos de cheia e estiagem do Rio Ribeirinha na Seo A, identificando as possveis
falhas hidrulicas em caso de transbordamento do rio no perodo de cheias ou as
consequncias locais em caso de estiagem severa.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 59


U2

No pode faltar
A avaliao ou estudo do regime hidrolgico de um curso de gua (rio, crrego,
canal natural ou artificial) exige o conhecimento da quantidade de gua que passa
pelo curso ao longo do tempo. A quantidade ou volume de gua que passa pela seo
do curso de gua denominada vazo, e expressa em unidades de volume (m ou
litros) pela unidade de tempo (segundos).

De acordo com Collischonn e Dornelles (2013), o regime hidrolgico de um curso


de gua compreende os seguintes perodos:

- Cheias: perodo em que o volume de gua que passa pelo curso aumenta em
funo da ocorrncia das chuvas de longa ou de curta durao, mas com grande
intensidade. Essas chuvas geram o escoamento superficial, que responsvel pela
ocorrncia das cheias, ou seja, a ocorrncia de vazes de grande magnitude, ou
vazes mximas. Voc j aprendeu esse conceito na Seo 1.2.

- Estiagem: perodo em que o volume de gua que passa pelo curso diminui em
funo da ausncia de chuvas. Nesse perodo, o nvel de gua no rio se encontra
abaixo do seu nvel normal, onde so observadas as vazes mnimas.

- Normal: perodo em que o volume de gua que escoa pelo curso se mantm
estvel: nem muito cheio e nem muito seco. Para essa situao, diz-se que o nvel
dgua normal.

A Figura 2.1 ilustra como o nvel de gua se comporta na seo do rio para os
diferentes perodos de um regime hidrolgico.

Figura 2.1 | Esquema do processo de enchente e inundao

INEQUAO
ENCHENTE Regime de cheias
SITUAO
Regime normal de vazes
NORMAL

Fonte: adaptada de Brasil (2007, p. 92).

60 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Para que esses perodos possam ser melhor caracterizados, importante que os
nveis de gua e as vazes sejam medidos na seo de interesse do curso de gua
ao longo do tempo. A seo de interesse utilizada para medies frequentes no rio
chamada de posto ou estao. Por exemplo, um posto fluviomtrico designa o
local onde se medem os nveis e as vazes de um rio ao longo do tempo. Os registros
de dados de nveis e vazes ao longo do tempo definem a srie histrica de uma
determinada seo de um rio.

importante ressaltar que as medies de vazes nos rios so relativamente caras e


complexas, o que impede medies muito frequentes. Sendo assim, para cada seo
do rio onde localiza-se o posto fluviomtrico, definida uma relao entre o nvel de
gua e a sua vazo, com o objetivo de tornar o processo de determinao de vazo
mais barato. Essa relao chamada de curva-chave ou curva de descarga da seo
(vide Figura 2.2). Dessa forma, com a curva-chave, possvel transformar as medies
de cotas ou nveis dos rios em vazo. As medies de cotas ou nveis representam um
procedimento mais barato de monitoramento, ao contrrio das medies de vazes,
que so mais caras e, por isso, realizadas com menor frequncia.

Figura 2.2 | Ilustrao de uma curva-chave

Relao Cota x Descarga de Rio XXXXX no Posto Fluviomtrico YYYYYYY


- (01/12/1944 a 16/10/1974)
1000

900

800

700

600
600
Cota (cm)

500

400

300

200 Curva - Chave Ajustada


Medies de descarga lquida
100

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Vazo (m3/s)
Fonte: elaborada pelo autor.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 61


U2

Por que importante fazer a medio dos registros ao longo do tempo?

Porque isso permite conhecer o comportamento dos nveis e vazes,


identificando os perodos de cheias e estiagens atravs de uma simples anlise
visual de um grfico (vide Figura 2.3). A representao grfica da Figura 2.3
chamada de hidrograma, que apresenta a vazo ao longo do tempo.

Porque com a srie histrica dos dados possvel elaborar uma anlise das
vazes extremas, no caso, as cheias e as estiagens. Essa anlise tratada em
detalhe em hidrologia estatstica.

Figura 2.3 | Srie histrica de vazes destacadas as vazes mximas

2500

2000
Vazo (m3/s)

1500

1000

500

0
jan-84 jan-85 jan-86 jan-87 jan-88 jan-89 jan-90 jan-91 jan-92
Fonte: elaborada pelo autor.

Assimile
Para que o engenheiro caracterize e quantifique os regimes dos cursos de
gua (cheias e estiagens) e, a partir disso tenha condies de dimensionar
as obras hidrulicas, importante estimar a vazo que passa pela seo.
Para isso, necessrio medir as vazes e tambm as cotas dos nveis de
gua. Por meio de medidas sistemticas, deve-se elaborar uma relao
chamada curva-chave (que relaciona as vazes com os respectivos nveis).
Essa relao utilizada para definir as sries de vazes ao longo do tempo
na seo de interesse. A representao das vazes ao longo do tempo
realizada atravs de grficos chamados fluviogramas ou hidrogramas.
Esses grficos mostram o comportamento das vazes tanto nos perodos
chuvosos (perodos de ocorrncia das cheias) quanto nos perodos mais
secos (perodos de estiagem).

62 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Para que voc consiga desenvolver e avaliar os projetos das obras hidrulicas com
base tcnica adequada, importante que as bacias hidrogrficas sejam monitoradas
em termos de quantidade e qualidade da gua. No caso da quantidade da gua, o
monitoramento dos dados refere-se principalmente a chuva e vazo. Nesse caso,
a rede de monitoramento em solo constituda pelos postos fluviomtricos e
pluviomtricos, alm de outras variveis (CARVALHO, 2008). Com a srie dos dados
monitorados no espao e no tempo, possvel analisar o comportamento hidrolgico
da bacia hidrogrfica ao longo dos anos, incluindo a anlise dos perodos de cheias e
estiagens. Essa anlise pode ser desenvolvida tanto de forma visual (como apresentada
na Figura 2.3) quanto pela anlise estatstica. Essas anlises tambm daro subsdio ao
engenheiro para estimar a capacidade hidrulica de determinada seo do rio com
base nos dados monitorados.

Com o avano das tecnologias e a melhoria do monitoramento dos dados


hidrolgicos tanto em solo, com o uso de postos hidrolgicos, quanto na atmosfera,
por meio de radares meteorolgicos e imagens de satlite, os sistemas de previso e
alerta de cheias puderam ser implantados. Esses sistemas permitem ao poder pblico
e populao tomar medidas preventivas que atenuem os impactos negativos, seja
em termos de perdas de vidas humanas ou em termos de prejuzos ocasionados
por perdas materiais. Outra medida preventiva a realizao de campanhas de
conscientizao da populao, que devem alertar para o papel da populao no uso
e ocupao da bacia hidrogrfica. Voc ver em detalhes este assunto na Seo 2.2
desta unidade, na qual sero tratadas as medidas no estruturais de controle de cheias.

Pesquise mais
Sobre hidrologia estatstica, h uma publicao disponvel para download
no link indicado. Disponvel em: <http://www.cprm.gov.br/publique/
Hidrologia/Mapas-e-Publicacoes/Livro-%22Hidrologia-Estatistica%22-981.
html>. Acesso em: 31 jan. 2017.

Reflita
Os projetos de obras hidrulicas so sempre desenvolvidos admitindo-
se probabilidades de falha. A probabilidade assumida pode ser maior ou
menor, dependendo do tipo de obra que se vai projetar. Caso a falha da
obra provoque grandes prejuzos econmicos ou mortes de pessoas,
deve-se admitir uma probabilidade de falha menor. Essa probabilidade
implica em maior garantia da capacidade hidrulica da obra, ou seja,
garantia de que a obra no falhe em qualquer evento chuvoso, o que trar
transtornos frequentes. Mas a obra poder falhar em eventos mais raros.
O que isso significa em termos de engenharia? Que quanto mais segura

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 63


U2

a obra, maior o seu custo, e isso muitas vezes pode tornar a obra
invivel economicamente. Por isso, na anlise do sistema de drenagem,
importante que uma srie de medidas (estruturais e no estruturais)
sejam avaliadas para que elas diminuam os impactos das cheias urbanas
(COLLISCHONN; DORNELLES, 2013).

Exemplificando
A seguir, ilustrada uma anlise simples de vazes mximas que apresenta
o conceito de probabilidade de excedncia e de tempo de retorno de uma
vazo. A probabilidade anual de excedncia de uma determinada vazo
a probabilidade de que essa vazo venha a ser igualada ou superada
em um ano qualquer. O tempo de retorno de uma vazo mxima o
intervalo mdio de tempo, em anos, decorrido entre duas ocorrncias
sucessivas de um dado evento ou sua superao. O perodo de retorno
(TR) o inverso da probabilidade de excedncia (P): (TR=1/P). No Quadro
2.1 apresentado o clculo da probabilidade anual e do perodo de
retorno de uma srie curta de vazes mximas, com o objetivo apenas
de demonstrar o conceito. A relao de vazes apresentada na ordem
cronolgica em que ocorre e, posteriormente, deve ser organizada
em ordem decrescente, para que possam ser efetuados os clculos da
probabilidade e tempo de retorno, conforme apresentado no Quadro 2.2.
Na srie indicada, a maior vazo encontrada tem perodo de retorno de 11
anos e probabilidade de 9%.

Quadro 2.1 | Srie de vazes mximas

Ordem cronolgica Ordem decrescente de Qmx.


Ano Qmx. Ano Qmx. ordem
1990 1445 1995 3089 1
1991 1747 1997 2234 2
1992 1287 1993 1887 3
1993 1887 1991 1747 4
1994 1490 1996 1737 5
1995 3089 1999 1517 6
1996 1737 1994 1490 7
1997 2234 1998 1454 8
1998 1454 1990 1445 9
1999 1517 1992 1287 10
Fonte: elaborado pelo autor.

64 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Quadro 2.2 | Determinao do perodo de retorno

m m = ordem 1
P= TR =
N+1 N = nmero de anos P
Probabili- Tempo de re-
Ano Qmx. ordem
dade torno
1995 3089 1 0,09 11,0
1997 2234 2 0,18 5,5
1993 1887 3 0,27 3,7
1991 1747 4 0,36 2,8
1996 1737 5 0,45 2,2
1999 1517 6 0,55 1,8
1994 1490 7 0,64 1,6
1998 1454 8 0,73 1,4
1990 1445 9 0,82 1,2
1992 1287 10 0,91 1,1
Fonte: elaborado pelo autor.

Este exemplo tem o objetivo de mostrar a voc que a ocorrncia de


uma vazo extrema, obtida de uma grande cheia, tem probabilidade
de ocorrncia menor do que uma vazo de um evento de cheia de
menor magnitude. Simplificadamente, so estudos desta natureza que
permitem a utilizao do perodo de retorno como determinantes no
dimensionamento de obras hidrulicas.

Por que importante que o engenheiro saiba relacionar os regimes de


cheia e estiagem capacidade hidrulica de um rio ou canal?

A capacidade hidrulica de um canal o volume de gua que o canal pode


transportar pela calha principal sem a ocorrncia do transbordamento.
Quando a capacidade hidrulica superada, ocorre o transbordamento da
calha. Essa ocorrncia gera prejuzos que podem ser expressivos ou no,
depender do entorno do local. Com esse conhecimento, o engenheiro
dever avaliar qual o perodo de retorno que ele dever assumir para
dimensionar a obra hidrulica concebida para atenuar a cheia numa
determinada regio de interesse. Como j visto na Unidade 1, os valores
de perodo de retorno so tabelados em funo do tipo de obra, e isso
decorre da experincia dos engenheiros.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 65


U2

Pesquise mais
Para assimilar os conceitos sobre hidrologia e drenagem urbana, veja o
documentrio Entre rios: a urbanizao de So Paulo. Disponvel em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc>. Acesso em: 25 jan.
2017.

Sem medo de errar

Para que voc adquira sensibilidade sobre como as variveis do ciclo hidrolgico,
responsveis pela gerao do escoamento nos rios, juntamente com a cobertura
do uso e ocupao do solo da bacia hidrogrfica, podem interferir na capacidade
hidrulica da seo de interesse, voc deve observar os processos que influenciam
no escoamento, conforme Figura 2.4. A Figura 2.5 ilustra uma bacia hidrogrfica
hipottica para uma seo de interesse, com o objetivo de ajud-lo na compreenso
do sistema envolvido para a elaborao do seu parecer tcnico. Para entender o que
acontece numa bacia hidrogrfica, necessrio treinar a sensibilidade de observao
dos processos, num primeiro momento, de forma muito simples, como apresentado
na Figura 2.4.

Figura 2.4 | Processos que influenciam no escoamento

Armazenamento em
depresses
Escoamento
Escoamento
supercial
supercial direto
Inltrao
Nvel fretico Escoamento
subsupercial

Percolao Escoamento
Percolao bsico

Fonte: elaborada pelo autor.

A Figura 2.5 mostra de forma simplificada o que voc elaborou no escritrio:


a delimitao da bacia para a seo de interesse. Isso permite que voc tenha
conhecimento da rea de abrangncia do seu projeto e dos principais elementos
contidos nele, que podero influenciar o escoamento na seo em que voc, como
engenheiro responsvel, tem interesse, por exemplo: a cobertura do solo, o tipo
de solo, as caractersticas fisiogrficas da bacia (forma, declividade dos canais, entre
outros). Todos esses elementos iro influenciar na quantidade de gua que passar
pela seo de interesse a cada momento e que, aps as medies ao longo do tempo,

66 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

lhe permitiro preparar os hidrogramas (grficos de vazo no tempo). A cada evento


de cheia haver uma vazo mxima que ir passar pela seo. Algumas podero
ocasionar o transbordamento na seo, outras, no. O seu papel, como engenheiro,
avaliar esse comportamento das vazes e analisar quais sero as medidas que devero
ser tomadas para uma eventual obra hidrulica na seo de interesse. As decises a
serem tomadas devero estar baseadas tanto em medidas estruturais quanto em no
estruturais, que sero apresentadas nas prximas sees.

Figura 2.5 | Viso geral da bacia hidrogrfica para a seo de interesse

Rede de drenagem
(rios)

Observar o uso e
ocupao do solo

Bacia Hidrogrca Seo de


interesse
Q max
Vazo (m3/S)

Hidrograma

V max

Tempo (h)
Fonte: adaptada de <http://echo2.epfl.ch/e-drologie/chapitres/chapitre2/main.html>. Acesso em: 12 jan. 2017.

Avanando na prtica

Processo de urbanizao e impacto nas cheias


Descrio da situao-problema

Ainda com o objetivo de estimular a sua sensibilidade para a compreenso do


que acontece em termos do comportamento das vazes, numa determinada seo
de interesse de um rio apresentada a seguinte situao hipottica: analise a seo
de um rio de uma bacia hidrogrfica que est em processo de urbanizao, com
destaque para trs fases distintas: pr-urbanizao, urbanizao atual e urbanizao
futura, admitido-se que nenhuma medida estrutural ou no estrutural adotada para
mitigar o processo de urbanizao na referida bacia hidrogrfica.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 67


U2

O que significa urbanizar uma bacia hidrogrfica? Construir edifcios, casas,


indstrias, enfim, todo tipo de construo encontrado em cidades e que interfere no
fluxo natural da gua no solo.

Pois bem, o processo de urbanizao tende a diminuir a infiltrao do escoamento


superficial, pois vai impermeabilizando o solo, permitindo, dessa forma, que o
escoamento corra rapidamente para os canais at chegar aos rios principais. Como
voc poderia avaliar esse processo de urbanizao e o impacto nas cheias?

Resoluo da situao-problema

Para as trs situaes indicadas so gerados os hidrogramas na seo de sada.


Lembre-se de que a rea da bacia hidrogrfica a mesma para as trs situaes. A
chuva tambm ser a mesma. O que muda o uso e a ocupao do solo, que afetam
diretamente o processo de infiltrao da gua no solo e impactam justamente o
escoamento superficial.

Mas como os hidrogramas podem ser gerados? Para essa situao, foram utilizados
modelos hidrolgicos que simulam os hidrogramas ou as vazes ao longo do tempo,
com base nos principais processos do ciclo hidrolgico, j vistos na Unidade 1. Na
Seo 1.3 foram apresentados alguns modelos hidrolgicos que simulam os processos
hidrolgicos e geram os hidrogramas de sada nas bacias hidrogrficas. Admitindo-se
que um desses modelos foi utilizado para gerar os hidrogramas para as trs situaes,
os hidrogramas resultantes so ilustrados na Figura 2.6.

Figura 2.6 | Viso geral da bacia hidrogrfica para a seo de interesse

Fonte: elaborada pelo autor.

68 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

A anlise dos hidrogramas ilustrados mostra que num processo de urbanizao


desordenado, por exemplo, as vazes de cheia tendem a ocorrer de forma cada vez
maior (a vazo mxima vai aumentando porque o escoamento superficial aumenta,
em funo da impermeabilizao cada vez maior da bacia hidrogrfica) e de forma
muito mais rpida, ou seja, o pico da vazo, ou vazo mxima, sempre antecipado,
o que normalmente observado nas cidades e causa grandes transtornos e prejuzos.

Faa valer a pena

1. O engenheiro responsvel da empresa para a qual voc trabalha solicita


que voc elabore um plano de monitoramento de vazo da seo do rio
correspondente obra hidrulica que a empresa est projetando. Porm,
ele bem claro ao informar que a verba disponvel para o monitoramento
restrita e que as medies devem comear ainda este ms. Voc deve
atentar falta de recurso financeiro e, portanto, a escolha do tipo de
monitoramento deve ter baixo custo.
Assinale a alternativa que corresponde deciso correta.
a) Planeja a utilizao dos dados de vazes j existentes de um posto
fluviomtrico muito prximo seo de interesse.
b) Planeja a determinao da medio de vazes na seo de interesse
e posterior instalao de rguas e monitoramento dos nveis.
c) Planeja a contratao da instalao de rguas para a medio dos
nveis dgua no rio na seo de interesse.
d) Planeja a contratao apenas da medio de vazes na seo de
interesse.
e) Planeja a utilizao dos dados de vazes j existentes de um posto
fluviomtrico muito distante da seo de interesse.

2. Os projetos de obras hidrulicas so desenvolvidos admitindo-se a


probabilidade de falhas hidrulicas.
Com base nessa afirmao, correto afirmar que:
a) Se a falha implica em grandes prejuzos econmicos ou na morte de
pessoas, deve-se admitir uma probabilidade de falha maior.
b) Se a falha implica em pequenos transbordamentos do rio sem afetar
os moradores mais prximos, deve-se admitir uma probabilidade alta
de falha.
c) A probabilidade de falhas no est relacionada ao perodo de retorno,
em anos, de ocorrncia de eventos de vazes mximas.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 69


U2

d) Todas as obras hidrulicas tm a mesma probabilidade de ocorrncia


de falhas.
e) Os projetos consideram as falhas hidrulicas com maior ou menor
probabilidade de ocorrncia dependendo do impacto que essa falha
possa causar, caso venha a ocorrer.

3. Com a chegada do vero, a populao da cidade de So Paulo entra


em alerta com relao aos temporais ocorrem, geralmente, nos nos finais
de tarde e causam alagamentos nas regies prximas aos rios e crregos
do municpio. A cidade conta com o Sistema de Preveno de Enchentes,
em que a prefeitura, a defesa civil e os moradores das reas de riscos
de alagamentos esto conectados, com o objetivo de evitar a morte de
pessoas.
Qual das informaes a seguir a mais utilizada pelo Sistema de
Preveno de Enchentes?
a) Os dados das sries histricas de evaporao.
b) Os dados de monitoramento do uso e ocupao do solo da bacia
hidrogrfica.
c) Os radares meteorolgicos que enviam dados, em tempo real, aos
rgos pblicos responsveis.
d) Os dados das sries histricas de precipitao.
e) Os aparelhos automticos de registram radiao solar.

70 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Seo 2.2

Regularizao de vazo e controle de estiagens

Dilogo aberto

Caro aluno, dando continuidade elaborao do parecer tcnico sobre o Rio


Ribeirinha, voc dever observar em campo o comportamento do rio nos perodos sem
chuva. A cada ida ao campo, voc dever acompanhar os nveis dgua na rgua do
posto fluviomtrico instalado na Seo A; verificar as possveis alteraes identificadas;
e documentar o fluxo da gua, a cor, o odor, a ocorrncia de lixo e a vegetao local.

As atividades no escritrio consistiro em coletar e analisar os dados hidrolgicos,


as cotas, as respectivas vazes, alm dos grficos relativos seo do rio que ilustrem
a variao das cotas e das vazes ao longo do tempo para os perodos de cheias e
estiagens que voc teve a oportunidade de acompanhar naquele local visitado.

Ao final desta seo, voc dever ser capaz de analisar os dados de cheias e estiagem
que foram observados no campo e verificar a necessidade ou no de regularizao da
vazo do rio. E caso seja necessria a regularizao do Rio Ribeirinha, voc estar apto
a dimensionar o volume mnimo do reservatrio a ser construdo.

No pode faltar
Com os conhecimentos adquiridos na Unidade 1 e na seo anterior desta unidade,
voc dever ser capaz de entender como a gua chega nos cursos dgua; de que
forma possvel monitorar o nvel e a quantidade ou volume de gua que passa
numa determinada seo do rio; e quais so os principais fatores que influenciam
essas variveis. Caso no esteja seguro desse processo, retorne Unidade 1 e seo
anterior desta unidade e releia o contedo.

Mesmo sem conhecer profundamente de hidrologia, voc tem conscincia de que


h perodos do ano em que chove mais, que outros so mais secos e outros, ainda,
so intermedirios (no chove muito e nem so observadas estiagens prolongadas).
No Brasil, so observadas variaes tanto na ocorrncia quanto na extenso desses

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 71


U2

perodos em funo de cada regio. Por exemplo, na regio Nordeste, o regime


hidrolgico apresenta perodos de seca mais prolongados, chegando a at seis meses
sem chuva. Por outro lado, na regio Sul, o regime hidrolgico mais equilibrado: a
ocorrncia de chuvas bem distribuda ao longo do ano. O que caracteriza ou define
esses perodos a variabilidade temporal das chuvas e, em consequncia, as vazes
que escoam nos rios.

Quando a gua que escoa nos rios no suficiente para atender aos diversos usos
da gua (abastecimento humano, dessedentao animal, irrigao para a agricultura,
gerao de energia hidreltrica, indstrias, navegao, recreao, entre outros) diz-se
que um perodo de estiagem, escassez hdrica, seca ou dficit hdrico.

Em termos de obras de engenharia, o que pode ser feito para controlar os dficits
hdricos no atendimento dos diversos usos?

A principal obra de engenharia concebida e utilizada desde antes de Cristo (a.C)


com a finalidade de armazenar gua e controlar a sua distribuio para atendimento
aos diversos usos a barragem. A barragem uma estrutura ou barreira que cruza
os cursos dgua. Ela permite o armazenamento de gua e o controle da vazo
que liberada a jusante para os cursos. As barragens variam de tamanho e material
utilizado na construo. So encontradas na forma desde pequenos macios de terra
(barragens muito comuns em fazendas, utilizadas para abastecimento de gua) at
grandes estruturas em concreto, como a barragem principal de Itaipu, por exemplo,
cuja finalidade principal gerao de energia eltrica. Itaipu tambm apresenta
barragens auxiliares de terra e enrocamento. a segunda maior barragem do mundo,
menor apenas que a barragem de Trs Gargantas, na China.

Vocabulrio
Os termos a seguir, jusante e montante, so locais de referncia nos rios
que dependem da localizao do observador.

Jusante o termo para o fluxo natural do rio: a gua vem do ponto mais
alto (cota mais alta) para um ponto (ou cota) mais baixo.

Montante a direo de um ponto mais baixo para um ponto mais alto.

Esses termos so utilizados para a localizao a partir de um ponto de


referncia, que pode ser uma rgua de medio em uma seo do rio ou
a seo de uma barragem, entre outros.

72 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

A acumulao de gua ao longo do tempo forma os reservatrios ou represas.


Os reservatrios podem ter funo nica, por exemplo: o fornecimento de gua para
abastecimento; ou ento, podem ser utilizados para diversas funes, conhecidas
como usos mltiplos, entre eles abastecimento humano, animal (dessedentao
animal), irrigao na agricultura, gerao de energia eltrica, controle de cheias,
regularizao de nvel para navegao fluvial etc.

A formao dos reservatrios e os dispositivos hidrulicos instalados na estrutura


da barragem permitem controlar as vazes, ou seja, regularizar as vazes que sero
liberadas para o curso dgua novamente. A regularizao de vazes diminui a
variabilidade temporal da vazo.

Como possvel entender como isso funciona? Nos perodos de chuvas, o


reservatrio acumula gua, ou seja, guarda parte da gua para utiliz-la nos perodos
em que ocorrem poucas chuvas. Outra funo importante dos reservatrios
amortecer as cheias, isto , controlar as vazes nos perodos de muita chuva para
proteger as reas localizadas a jusante das barragens. O que ocorre com o reservatrio
pode ser entendido como um mecanismo de compensao da quantidade de gua:
acumula-a para evitar danos a jusante da barragem ao mesmo tempo que guarda-a
para utilizar na poca de estiagem.

Vocabulrio
Alguns termos citados neste texto so conhecidos como termos tcnicos
da rea. Eles sero utilizados com bastante frequncia, e podem ser
consultados na publicao da Agncia Nacional de guas (AGNCIA...,
2014).

Entre os termos, esto os que seguem:

Afluente: curso d'gua que flui para outro curso d'gua que possui maior
rea de drenagem a montante, ou para um lago, ou para um reservatrio
AGNCIA..., 2014.

Dessedentao: satisfao da sede (AGNCIA..., 2014). mais utilizado


para designar a dessedentao animal.

Nascente: local de incio de um curso dgua, caracterizado pelo lugar


de maior altitude desse curso, onde seu trecho de drenagem mais a
montante (primeiro trecho) surge no terreno com ou sem escoamento
superficial de gua (AGNCIA..., 2014).

Voc poder pesquisar mais termos na referncia indicada medida que


os conceitos no estiverem bem entendidos.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 73


U2

Como os reservatrios so formados? Como j apresentado no texto, o barramento


de um rio permite o acmulo da gua. Em consequncia, forma-se o reservatrio. A
capacidade de armazenamento, ou seja, o volume do reservatrio, ser em funo
da escolha da seo do rio, das caractersticas topogrficas do local e da altura da
barragem.

De forma preliminar e simplificada: para a construo de um barramento na seo


de um rio com o objetivo de formar um reservatrio, inicialmente pr-estabelecido
um volume de armazenamento, que corresponde a uma cota do nvel dgua que
ser atingida. Para esse procedimento, necessrio utilizar o grfico da curva cota
x rea do espelho dgua formado. Para a elaborao do grfico, necessrio que
se disponha do mapa topogrfico da regio (mapa com as curvas de nvel). Deve-se
planimetrar, ou seja, medir no mapa a rea inundada limitada pela curva de nvel para
cada cota correspondente. Prepara-se uma tabela com os pares cota x rea, sendo
as cotas (em m) e as reas (em m, km ou ha), depois lana-se os valores em um
grfico. Nota-se o esboo de uma curva atravs dos pontos (que poder ser definida
por uma equao). A Figura 2.7 ilustra de forma simplificada a regio com a seo da
barragem no rio, as curvas de nvel que atravessam o rio e o grfico com a cota x rea
gerada pelo espelho de gua formado.

O grfico da relao cota x volume obtido pela integrao da relao cota x


rea. Calculam-se numericamente os volumes entre curvas de nvel consecutivas.
Multiplica-se a mdia das reas das curvas pela diferena de de suas cotas. A Figura 2.8
mostra um exemplo.

Figura 2.7 | Ilustrao da relao cota x rea do espelho dgua

Fonte: elaborada pelo autor.

74 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Figura 2.8 | Ilustrao da relao cota x volume

Fonte: elaborada pelo autor.

Atualmente, existem tecnologias mais modernas para a determinao destas


relaes. Entre eles, est o mapeamento a laser.

Voc j adquiriu a cincia de como o reservatrio formado. A seguir, so


apresentadas as principais caractersticas dos reservatrios com suas terminologias
adequadas.

A capacidade de um reservatrio descrita por seus nveis e volumes caractersticos.


Entre eles: volume mximo; volume mnimo; volume til e volume morto; nvel
mnimo operacional; nvel mximo operacional; e nvel mximo maximorum. A Figura
2.9 apresenta um corte com uma vista esquemtica de uma barragem localizada na
seo de um rio, ilustrando os nveis e volumes.

Figura 2.9 | Vista esquemtica do corte de uma barragem

Fonte: elaborada pelo autor.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 75


U2

Nvel mnimo operacional: o nvel mais baixo da gua no qual as tomadas


de gua ainda podem operar normalmente. Abaixo disso, a gua no se
encontra disponvel para captao. O volume morto corresponde ao volume
armazenado quando o reservatrio se encontra no nvel mnimo operacional.

Nvel mximo operacional: corresponde cota mxima permitida para


operaes normais dos reservatrios. O nvel mximo operacional define o
volume mximo do reservatrio. Nveis superiores ao mximo operacional
podem ocorrer excepcionalmente, mas podem comprometer a segurana
da barragem.

Nvel mximo maximorum: corresponde ao nvel de gua atingido quando


ocorrem eventos de cheia excepcionais. Nessa situao, o nvel mximo
operacional superado por um curto perodo de tempo.

Volume til de um reservatrio: compreendido entre o volume mximo


operacional do reservatrio e o volume mnimo operacional. Esse volume o
que pode ser utilizado para regularizar as vazes.

O volume ou capacidade de reservao de um reservatrio determinado pela


equao do balano hdrico (COLLISCHONN; DORNELLES, 2013). A equao do
balano hdrico no reservatrio para um dado intervalo de tempo pode ser apresentada
pela seguinte expresso:

V = P . A + Qa . t . E . A Qd . t QS . t I . A

onde:

V = variao do volume do reservatrio.

P = precipitao observada no espelho dgua do reservatrio.

A = rea do espelho dgua do reservatrio.

Qa = vazes afluentes ao reservatrio.

E = evaporao observada na rea do espelho do reservatrio.

QS = somatrio das demandas consuntivas retiradas do reservatrio.

QS = vazo liberada a jusante do reservatrio.

I = perdas por infiltrao.

t = intervalo de tempo considerado.

76 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Esta equao pode ser apresentada da seguinte forma:

t = Q Q ,
t a s

em que:

V = a variao de volume do reservatrio em m.

t = tempo em segundos.

Qa = vazo aflluente ao reservatrio em (m/s).

QS = vazo que sai do reservatrio em (m/s). Inclui as perdas por evaporao, as


vazes retiradas para atender aos usos na bacia hidrogrfica e a vazo que dever
ser vertida quando o reservatrio estiver cheio.

A vazo afluente ao reservatrio inclui todos os fluxos de gua que escoam para o
reservatrio, como as vazes superficiais dos rios e crregos, alm do fluxo de gua
subterrnea dos aquferos prximos, e tambm da precipitao direta na superfcie
do espelho de gua do reservatrio. A vazo de sada do reservatrio inclui as
retiradas de gua para atender s demandas (abastecimento urbano e irrigao, entre
outros); vazes controladas a jusante, exigidas para atender demandas ambientais; de
navegao; ou para outros usos.

O dimensionamento e a anlise da capacidade dos reservatrios podem ser


realizados por meio da estimativa das vazes de entrada e sada dos reservatrios
e de suas caractersticas. Entre os mtodos utilizados nesta anlise esto o mtodo
identificado como diagrama de Rippl, ou diagrama de massas (WURBS, 1996) e os
mtodos de simulao, entre eles o apresentado em Lanna (1993).

Assimile
A barragem uma estrutura ou obra hidrulica que tem como funo
principal acumular ou represar gua, formando uma represa ou
reservatrio. O projeto de uma barragem feito para atender a um objetivo
ou a vrios, tais como: captao de gua para abastecimento ou irrigao;
controle de cheias; gerao de energia eltrica em aproveitamentos
hidreltricos; regularizao de nveis para navegao fluvial; atividades de
recreao; pesca; enfim, para mltiplos usos. Por esse motivo, algumas
barragens so conhecidas como barragens de usos mltiplos: so obras
hidrulicas projetadas para atender a diversos usos. Com certeza, voc j
entendeu a importncia e a complexidade de um empreendimento dessa

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 77


U2

natureza. Voc j parou para refletir sobre quantos engenheiros de vrias


especialidades esto envolvidos numa obra de tamanha grandeza? Vamos
citar algumas dessas especialidades: profissionais da rea de hidrulica;
de hidrologia; de topografia; de geotecnia; de estruturas; de materiais; de
engenharia civil; alm da eventual participao de engenheiros mecnicos
e eletricistas. No podemos nos esquecer tambm dos engenheiros
ambientais, visto que a formao do lago do reservatrio envolve questes
ambientais.

O assunto complexo e extenso, no mesmo? Portanto, voc no


pode parar de pesquisar nem de estudar. Somente assim voc poder ser
um profissional capacitado.

Reflita
Ser que o reservatrio ser sempre necessrio? Qual a anlise bsica
a ser realizada para responder a esta questo? Inicialmente, lembre-se
da sua primeira atividade como estagirio: observar o comportamento
da seo de interesse no campo, depois, verificar e analisar os dados
observados no escritrio. Da mesma forma, inicialmente, importante
verificar a disponibilidade de dados hidrolgicos na bacia hidrogrfica de
interesse e em regies vizinhas.

A disponibilidade de dados condicionar a escolha da metodologia a


ser adotada para resolver o seu problema. O assunto bastante extenso
e amplo. No momento, o que voc precisa ter noo que no
necessariamente toda retirada de gua para um eventual uso requer a
formao de um reservatrio.

Antes de prosseguir, importante que voc entenda o conceito de vazo


natural: a vazo que ocorreria em uma seo do rio se no houvesse a
montante; as captaes para diversos fins; as aes antrpicas na bacia,
como a regularizao de reservatrios; as transposies de vazo; entre
outros.

Inicialmente, voc precisa definir o quanto necessrio captar de gua


do rio para que o uso seja atendido. Depois, deve-se comparar esse valor
com as vazes naturais afluentes seo. Se as vazes naturais forem
expressivamente superiores s retiradas, mesmo nos perodos crticos
de estiagem (na ocorrncia de mnimas), no haver a necessidade de
regularizar as vazes. Sendo assim, a implantao de um reservatrio de
acumulao s seria justificada para atender a outra necessidade, por
exemplo, reduzir os efeitos das inundaes a jusante (para controlar as

78 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

vazes mximas). Caso contrrio, se a vazo a ser captada for superior


s vazes mnimas do rio, ento, ser essencial reservar os excessos
para atender aos perodos em que as vazes naturais disponveis forem
menores que as retiradas.

Exemplificando
A seguir, ilustramos de forma simples um procedimento de anlise
preliminar envolvido na observao do volume mnimo de um
reservatrio e a vazo de regularizao por meio da lei de regularizao,
conforme equao a seguir:

y(t) = Qr(t) ,
Qmed

em que:

y(t) = funo ou lei de regularizao.

Qr(t) = vazo de regularizao, que pode ser obtida pela soma de todas
as vazes que devero ser atendidas ou fornecidas pelo reservatrio num
determinado tempo.

Qmed = mdia das vazes naturais afluentes (at a seo escolhida para a
instalao da barragem) para o nmero de meses escolhido para a anlise.

Conhecendo-se as vazes naturais e a funo de regularizao Y(t),


possvel determinar a vazo de regularizao e a capacidade mnima
do reservatrio. De forma bastante simples de entender, verifique o
hidrograma da Figura 2.10, que representa o perodo de janeiro (J) a
dezembro (D). Sobre ele, lanada uma vazo que representa a vazo a
ser regularizada, necessria para atender s demandas:

Figura 2.10 | Hidrograma das vazes naturais

Fonte: elaborada pelo autor.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 79


U2

No grfico da Figura 2.11 possvel observar quais so os meses em que


as vazes so inferiores vazo a ser atendida.

Figura 2.11 | Identificao do perodo crtico

Fonte: elaborada pelo autor.

Simplificadamente, o volume que dever ser armazenado no reservatrio


aquele representado pela rea hachurada no grfico da Figura 2.11. Esse
volume, que representa a capacidade do reservatrio, pode ser expresso
pela rea do retngulo definido pela vazo de regularizao menos a
rea sob a curva das vazes. A rea do retngulo definida pela seguinte
expresso matemtica, que representa o volume necessrio para atender
vazo regularizada (Vnec):

Vn = Qr(tabr + tmai + tjun + tjul + tago + tset),

em que t representado pelo nmero de segundos no ms, por


exemplo.

A expresso matemtica da rea sob a curva das vazes, volume afluente


(Va) ao reservatrio no perodo, dada por:

Va = Qabrxtabr + Qmaixtmai + Qjunxtjun + Qjulxtjul + Qagoxtago + Qsetxtset,

em que Qms so as vazes afluentes ms a ms.

A capacidade mnima do reservatrio (Cr) pode ser definida como:

Cr = Vn Va.

Cabe observar que a mxima vazo constante regularizvel a vazo


mdia de longo perodo, supondo um reservatrio com volume mximo
ilimitado e sem perdas por evaporao.

80 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Pesquise mais
Para adquirir conhecimento sobre a complexidade que envolve as questes
do enfrentamento dos perodos de estiagem principalmente em grandes
cidades, pesquise sobre o caso de So Paulo e seu principal sistema de
abastecimento de gua, o Sistema Cantareira, atravs do link indicado.
Disponvel em: <http://www.sspcj.org.br/index.php/sistemacantareira>.
Acesso em: 27 jan. 2017.

Consulte tambm os relatrios da Agncia Nacional de guas, que


apresentam as diferenas regionais de disponibilidade hdrica no Brasil:
<http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh/centrais-de-conteudos/conjuntura-
dos-recursos-hidricos>. Acesso em: 27 jan. 2017.

Sem medo de errar

Para elaborar as anlises de estiagem e regulao de vazo para o Rio Ribeirinha,


voc acompanhou os processos naturais que ocorrem na Seo A do rio, decorrentes
da variabilidade temporal das chuvas em cada perodo do ano. Pois bem, o trabalho de
campo desempenhado na seo, tanto no perodo de chuvas como no de estiagem,
tem como objetivo observar as principais variveis do ciclo hidrolgico, entender o
seu comportamento na superfcie e o impacto na bacia hidrogrfica. O resultado
dessa atividade gera o diagnstico hidrolgico/hidrulico da bacia hidrogrfica,
tendo como ponto de anlise principal os resultados observados na seo para o seu
parecer tcnico. A anlise do volume que passa na seo depende da observao e
de todos os processos do ciclo hidrolgico, do tipo de solo e de seu uso e ocupao
da bacia hidrogrfica, alm de todas as retiradas de gua que eventualmente existiro a
montante, representadas pelas demandas para abastecimento urbano, industrial, entre
outros. Todo o processo envolvido muito complexo e os fenmenos hidrolgicos
esto integrados.

Voc dever indicar no seu parecer tcnico o clculo do volume necessrio


para que o reservatrio sirva como regularizador das vazes, conforme exemplos j
apresentados.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 81


U2

Avanando na prtica

Dimensionamento preliminar do volume mnimo de um reservatrio


Descrio da situao-problema

Caro aluno, o engenheiro de projetos do escritrio para o qual voc trabalha pede
que voc verifique a srie de vazes naturais mensais do Rio So Marcos, na seo
onde est instalada a barragem de Serra do Faco. Ele precisa de um valor preliminar
do volume mnimo do reservatrio, considerando as vazes naturais mdias no
perodo entre 2013 e 2014. Deve-se considerar a lei de regulao e que o valor de
evaporao seja igual a zero.

Resoluo da situao-problema

Para iniciar esse clculo, voc deve buscar a srie de vazes naturais mdias para o
Rio So Marcos na seo da barragem Serra do Faco, no site do Operador Nacional
do Sistema Eltrico (ONS). O ONS o rgo que opera todas as barragens que geram
energia hidreltrica no pas, e indica os nveis de operao dos reservatrios com base
horria, ou seja, informa de hora em hora qual reservatrio deve reservar mais gua
e qual reservatrio liberar mais gua para jusante, obtendo, assim, a otimizao da
gerao de energia do pas. O ONS disponibiliza as sries de vazes naturais dos rios
nas sees dos reservatrios no perodo de 1931 at 2015. O contedo est disponvel
em: <http://www.ons.org.br/operacao/vazoes_naturais.aspx>. Acesso em: 17 jan.
2017.

Aps a obteno dos dados, montamos um grfico da vazo (m3/s) versus tempo
(meses) para os anos de 2013 e 2014. A partir dos dados plotados no grfico, ficar
fcil identificarmos qual foi o perodo de estiagem (perodo crtico) em relao
vazo mdia do perodo. Observe que os valores das vazes mdias mensais so
apresentados no prprio grfico, incluindo a vazo mdia da srie histrica.

82 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Figura 2.12 | Srie de vazes naturais - Rio So Marcos UHE Serra do faco

Fonte: elaborada pelo autor.

Conforme observado no grfico, os meses crticos foram os meses de maio a


novembro de 2014, nos quais a vazo que chegou ao reservatrio foi menor do que
a vazo a ser regularizada.

A lei de regularizao calculada a partir da seguinte expresso:

y(t) = Qr(t) ,
Qmed(t)

em que:

Qr = vazo regularizada em funo do tempo (t).

Qmed = vazo mdia no perodo considerado.

Se a lei de regularizao igual a 1, ento Qr = Qmed.

A capacidade mnima do reservatrio calculada por meio da frmula

Cr = Vn Va,

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 83


U2

em que:

Vn = volume necessrio.

Va = volume afluente.

O Vn calculado da seguinte forma:

Vn = Qmed(tmai + tjun + tjul + tago + tset + tout + tnov).

A variao do tempo em cada ms calculada em segundos. Portanto,

tmai = 31 dias x 86.400s = 2,68 x 106s no ms de maio.

tjun 30 dias x 86.400s = 2,59 x 106s no ms de junho.

Vn = 142(2,68 x 106 + 2,59 x 106 + 2,68 x 106 + 2,68 x 106 + 2,59 x 106 + 2,68 x
10 + 2,59 x 106)
6

Vn = 2,62 x 106m3
Considerando que o perodo crtico compreende os meses de maio a novembro
de 2014, calcula-se:

Va = (Qmai x tmai) + (Qjun x tjun) + (Qjul x tjul) + (Qago x tago) + (Qset x tset) + (Qout x tout).+ (Qnov x tnox).

Va = (131 x 2,59 x 106) + (88 x 2,59 x 106) + (62 x 2,68 x 106) + (45 x 2,68 x 106) +
(33 x 2,59 x 106) + (15 x 268 x 106) + (72 x 2,59 x 106)

Va + 1,18 x 109 m3

Cr = 2,68 x 109 1,18 x 109 = 1,44 x 109 m3

Para que o rio esteja 100% regularizado durante o perodo estudado, o volume
mnimo do reservatrio dever ser igual a 1,44 x 109 m3.

Faa valer a pena

1. Para analisar a necessidade de regularizao das vazes de um rio X em


uma determinada seo Y de estudo, devemos dispor de alguns dados
necessrios para iniciar a avaliao.
Quais so esses dados? Assinale a alternativa correta.
a) Dados de infiltrao e uso do solo.
b) Srie de vazes naturais mdias e dados de evaporao.
c) Demanda hdrica para atendimento dos usos mltiplos do rio.

84 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

d) Srie de vazes mdias naturais e valores de vazo afluente para


atendimento dos usos mltiplos.
e) Dados de qualidade do rio.

2. Para regularizar as vazes de um rio que apresenta grande variabilidade


temporal com cheias intensas e severas estiagens, a soluo utilizada a
construo de uma barragem. O reservatrio formado tem como principal
objetivo reter as guas excedentes na poca de cheias de maneira a
reservar gua para os perodos de estiagens. O reservatrio possui nveis
e volumes caractersticos.
Com base no texto, correto afirmar que:
a) O volume morto do reservatrio igual ao volume correspondente
ao nvel mnimo operacional.
b) O volume til do reservatrio corresponde diferena entre o nvel
mximo maximorum e o nvel mximo operacional.
c) O volume morto sempre utilizado no perodo de estiagem.
d) O nvel mximo operacional dimensionado para eventos de cheias
excepcionais.
e) O volume til do reservatrio corresponde diferena entre o nvel
mximo maximorum e o nvel mnimo operacional.

3. No clculo do balano hdrico, necessrio para o dimensionamento


da capacidade de um reservatrio, importante que sejam utilizadas as
vazes naturais.
O que correto afirmar sobre vazo natural?
a) a vazo mnima afluente ao reservatrio.
b) a vazo mdia afluente ao reservatrio.
c) a vazo resultante da diferena entre a vazo afluente e a vazo
que sai do reservatrio.
d) a vazo que ocorreria em uma seo do rio se no houvesse, a
montante, captaes para diversos fins.
e) a vazo total que passa na seo do rio e corresponde vazo
lquida mais a vazo slida.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 85


U2

86 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Seo 2.3

guas subterrneas

Dilogo aberto

Ol, aluno! Para finalizar o parecer tcnico sobre regime hidrolgico do Rio
Ribeirinha, foi solicitado que voc pesquise qual ou quais aquferos est(o) presente(s)
nessa bacia hidrogrfica. O importante compreender que as guas subterrneas
esto armazenadas em grandes reservatrios, chamados de aquferos. Os aquferos
no tm o mesmo tamanho da bacia hidrogrfica. Pelo contrrio, eles tm abrangncia
superior extenso da bacia, e podem ultrapassar limites entre estados e pases. A sua
distribuio geogrfica est relacionada com a geologia do local.

A hidrogeologia a cincia que estuda as guas subterrneas e a sua relao com


o ciclo hidrolgico. Levando isso em considerao, o primeiro passo adquirir o
mapa hidrogeolgico da rea da bacia para verificar qual aqufero est localizado sob
a bacia do Rio Ribeirinha. A partir dessa informao, voc deve verificar se h pontos
de monitoramento na regio ou informaes da qualidade da gua.

No Brasil, h muito a ser feito com relao ao monitoramento de guas subterrneas.


O monitoramento foi iniciado apenas em 1990, pela Companhia Ambiental do
Estado de So Paulo (Cetesb), e depois foi realizado em outras reas do pas. Mas
diferentemente da rede de monitoramento extensa para as guas superficiais, a rede
de monitoramento de guas subterrneas esparsa e at inexistente em vrias bacias
brasileiras.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 87


U2

No pode faltar
As guas subterrneas so parte do ciclo hidrolgico. A gua precipitada que no
evapora ou interceptada seguir dois caminhos: escoar pela superfcie at atingir
cursos dgua, rios, lagos ou at mesmo o mar, formando o escoamento superficial;
ou ento infiltrar no solo e atingir o escoamento subterrneo. A gua infiltrada percola
pelos vazios do solo e pelas pores geolgicas atravs de um movimento vertical,
em funo da ao da gravidade, da presso e da capilaridade.

Vocabulrio
Capilaridade: propriedade fsica que os fluidos tm de subirem ou
descerem em tubos extremamente finos ou em corpos porosos. Essa
ao pode fazer com que lquidos fluam mesmo contra a fora da
gravidade, devido tenso superficial da gua.

Percolao: movimento de penetrao da gua entre os vazios do solo.


Esse movimento geralmente lento, e d origem ao lenol fretico.

Esse movimento bem lento e ocorre at a gua precipitada atingir uma zona
onde todos os vazios j esto preenchidos com gua: a zona saturada.

Na zona saturada, o movimento da gua passa a ser predominantemente horizontal,


atravs das rochas e sedimentos. Esse movimento bem lento, como o movimento
de percolao, sendo que a velocidade da ordem de cm/dia. A zona saturada o
que chamamos de aqufero.

Um aqufero uma formao geolgica permevel que se constitui num


reservatrio de gua subterrnea. Por sua natureza geolgica, o aqufero permite o
fluxo e o armazenamento de gua em seu interior. Quando a formao geolgica
semipermevel, ela denominada de aquitarde: armazena gua, mas o fluxo de gua
em seu interior muito lento. Quando de formao geolgica praticamente sem
permeabilidade, denominada de aquiclude: tanto o fluxo quanto o armazenamento
de gua so muito reduzidos.

88 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Assimile
O aqufero pode ser classificado de acordo com a presso na sua camada
limtrofe em livre, semiconfinado e confinado. As definies desses
aquferos so dadas da seguinte forma, segundo Porto (2012):

a) O aqufero livre (Figura 2.13) situa-se prximo superfcie, onde


a unidade geolgica aflora na superfcie. Nele, a zona saturada
tem contato direto com a zona no saturada. O nvel fretico
(superfcie superior da zona de saturao) fica submetido
presso atmosfrica. Dessa forma, a gua que infiltra no solo
atravessa a zona no saturada e recarrega diretamente o
aqufero livre.

b) O aqufero confinado limitado nas partes superior e inferior


por aquicludes e aquitardes (Figura 2.13). Nesse caso, o
aqufero submetido a uma presso maior que a atmosfrica,
em funo da existncia de uma camada confinante. Devido
ao confinamento, o nvel de gua do aqufero pode estar em
uma posio superior ao seu topo. Se o nvel ocorre acima
da superfcie, o poo chamado de artesiano ou jorrante.
A recarga desse tipo de aqufero realizada pela poro
aflorante (ou quando ele livre) ou por infiltrao de unidades
geolgicas sobrepostas.

c) O aqufero semiconfinado semelhante ao confinado. No


entanto, uma das camadas que o confina apresenta uma
permeabilidade que permite a infiltrao.
Figura 2.13 | Esquema ilustrativo de aquferos

Fonte: adaptada de Borghetti et al. (2004).

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 89


U2

Os poos artesianos so aqueles em que a gua jorrada atravs do furo, ou seja,


quando o nvel potenciomtrico do aqufero superior superfcie do terreno em um
dado ponto (Figura 2.14). O termo tambm usado popularmente, embora de forma
incorreta, como sinnimo de poo tubular. J o termo poo semiartesiano, nessa
acepo popular, refere-se a poos tubulares de profundidades no superiores a 80-
100 m (PORTO, 2012).

Figura 2.14 | Aquferos rea de recarga e poos

Fonte: adaptada de <http://1papacaio.com.br/modules.php?op=modload&name=Sala_aula&file=index&do=showpic&pid=6


259&orderby=titleA>. Acesso em: 31 jan. 2017.

Os aquferos tambm so classificados de acordo com a porosidade das rochas


em: poroso, fissural e crstico (Figura 2.15).

Os aquferos porosos apresentam gua nos vazios formados entre o solo. So


encontrados em rochas sedimentares, por exemplo: arenitos do Aqufero Guarani e
do Aqufero Botucatu.

Nos aquferos do tipo fissural, a gua percorre as fissuras formadas em decorrncia


do fraturamento das rochas destitudas de vazios, por exemplo: os basaltos sobre os
arenitos do Aqufero Guarani.

90 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Os aquferos do tipo crstico surgem em rochas carbonticas, como as rochas


calcrias (sedimentares). um aqufero que apresenta fraturas que so originadas
quando a gua dissolve o carbonato presente nas rochas, que podem atingir aberturas
muito grandes, criando rios subterrneos. Podem ser encontrados no Vale do Ribeira,
no interior de So Paulo, e em Bonito, no Mato Grosso do Sul.

Figura 2.15 | Classificao dos aquferos quanto porosidade

Fonte: adaptada de Brasil (2007, p. 12).

Reflita
Como os aquferos so reabastecidos? A gua que o aqufero recebe para
o seu reabastecimento denominada de recarga.

A grande maioria dos aquferos reabastecida continuamente. O processo


de recarga natural funo basicamente do montante de chuvas, alm
do processo de interao entre os demais processos do ciclo hidrolgico:
infiltrao, escoamento e evaporao.

Isso significa que o relevo da rea, o tipo de solo e a cobertura da vegetao


influenciam e so muito importantes para a recarga.

A recarga dita direta quando os aquferos so alimentados diretamente


pela infiltrao das guas na superfcie exposta do solo ou rocha em toda
extenso dos aquferos livres. Nos aquferos confinados, a recarga se d na
extenso onde as rochas afloram na superfcie (Figura 2.14).

H situaes em que os aquferos so recarregados atravs de outras


rochas. Nesse caso, a recarga dita indireta. Os locais de recarga direta
normalmente situam-se em pontos altos do terreno (morros, serras,
entre outros). Esses locais devem ser protegidos e so de fundamental
importncia para garantir a qualidade e o volume das guas subterrneas.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 91


U2

As guas subterrneas so utilizadas para o abastecimento pblico, onde no h


rede de abastecimento de gua, alm de suprir indstrias, agricultura e tambm o
turismo, como o caso das estncias termais.

A contaminao das guas subterrneas ocorre principalmente por meio de trs


fontes de poluio: urbana e domstica; agrcola; e industrial. H tambm a poluio
por intruso salina. Com isso, notamos que a atividade humana a principal fonte de
poluio e, portanto, a gesto da qualidade da gua subterrnea est associada ao
controle da atividade humana.

Para guas subterrneas, h o conceito de vulnerabilidade do aqufero poluio,


que significa sua menor ou maior suscetibilidade de ser afetado por uma carga
contaminante.

O risco potencial de contaminao tem relao com o tipo de contaminante e


suas caractersticas, e pode ocorrer por meio de fontes diretas ou indiretas.

As fontes diretas so: resduos slidos; vazamento das redes de esgoto ou fossas;
chorume proveniente de aterros sanitrios mal planejados; atividades agrcolas, como
o uso de fertilizantes, pesticidas e agrotxicos; atividades de minerao; e o vazamento
de substncias txicas, como tanques em postos de gasolina ou de oleodutos e
cemitrios.

As fontes indiretas so: filtragem vertical descendente (que quando a poluio


de aquferos prximos superfcie do solo contaminam os aquferos mais profundos);
contaminao natural (provocada pela transformao qumica e dissoluo de
minerais); poos mal construdos e/ou abandonados); e a salinizao do aqufero.

Exemplificando
A contaminao dos aquferos gera um impacto enorme nas guas
subterrneas. O tempo para recuperao dos aquferos extremamente
lento e nem sempre a despoluio acontece de forma natural.

O processo de despoluio e minimizao dos impactos negativos gera


um custo muito alto, o que, na maioria das vezes, torna o processo invivel
economicamente, alm da complexidade tcnica e falta de mo de obra
especializada para esse processo.

Os estudos de proteo das guas subterrneas dependem de polticas


pblicas em que as atividades geradoras de poluio sejam incorporadas
em planos diretores e planos de uso e ocupao do solo.

92 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Pesquise mais
Para complementar sua leitura, visite o site da Associao Brasileira de
guas Subterrneas. Disponvel em: <http://www.abas.org/#>. Acesso
em: 2 fev. 2017.

Para entender os procedimentos necessrios para se obter a permisso


para captao e uso de guas subterrneas, consulte o link indicado.
Disponvel em: <http://www.daee.sp.gov.br/index.php?option=com_
content&id=68:outorga>. Acesso em: 31 jan. 2017

Sem medo de errar

Para finalizar o parecer tcnico sobre regime hidrolgico do Rio Ribeirinha, em


primeiro lugar, voc deve utilizar os mapas hidrogeolgicos para identificao do
aqufero na localizao estudada, disponibilizados pelo Servio Geolgico do Brasil
(CPRM) (Disponvel em: <http://www.cprm.gov.br/publique/Hidrologia/Mapas-e-
Publicacoes/Mapa-Hidrogeologico-do-Brasil-ao-Milionesimo-756.html>. Acesso em:
2 fev. 2017) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) (Disponvel
em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/informacoes_ambientais/geologia/levantamento_
hidrogeologico_e_hidroquimico/mapas/unidades_da_federacao/rn_hidrogeologia.
pdf>. Acesso em: 2 fev. 2017).

Posteriormente, voc deve verificar as suas caractersticas com relao geologia


do local, tipo de aqufero e se h pontos de monitoramento. Voc deve buscar o
mapa de uso e ocupao do solo, conforme Figura 2.16, e verificar quais usos geram
riscos de contaminao aos aquferos. Como resultado, indique em seu parecer qual
a vulnerabilidade poluio em funo dos usos dentro da bacia do Rio Ribeirinha.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 93


U2

Figura 2.16 | Mapa de uso e ocupao

Fonte: <http://mundogeo.com/blog/2009/07/09/mapeamento-de-uso-e-ocupacao-do-solo/>. Acesso em: 2 fev. 2017.

importante que voc sugira que aes de proteo devem ser incorporadas
ao plano diretor local, alm de pontos de monitoramento em locais com maior
vulnerabilidade poluio.

94 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Avanando na prtica

Explorao de gua subterrnea para abastecimento pblico


Descrio da situao-problema

A cidade de So Paulo passou recentemente por uma crise hdrica grave, decorrente
de um perodo de estiagem prolongado. Em consequncia disso, foi necessrio
fazer o racionamento do uso da gua. Sendo assim, alguns condomnios buscaram
complementar a gua disponvel por meio da perfurao de poos para captao de
gua subterrnea. Para essa finalidade, o que deve ser feito inicialmente?

Resoluo da situao-problema

Inicialmente, importante investigar se na regio onde se quer perfurar o poo


possvel captar gua subterrnea sem restries legais e se h disponibilidade de
gua. Para isso, muito importante que se consulte o rgo do estado responsvel
por conceder a permisso da captao para uso da gua (procedimento conhecido
como outorga). No estado de So Paulo, o rgo responsvel o Departamento de
guas e Energia Eltrica (DAEE). Esse rgo dever orientar e esclarecer quanto aos
principais procedimentos necessrios para a perfurao do poo, desde a contratao
de profissionais/empresa especializados na perfurao de poos at a vazo permitida
para captao, incluindo a anlise da qualidade da gua disponvel.

Faa valer a pena

1. Voc j aprendeu sobre o ciclo hidrolgico, sobre suas fases e sobre


a funo especfica de cada uma delas. Lembre-se das vrias fases e
do caminho da gua at chegar nos cursos dgua. Voc j observou o
escoamento de um rio? J observou que mesmo em perodos de grande
estiagem alguns rios continuam tendo gua escoando?
De onde vem a gua que continua escoando no rio? Assinale a
alternativa correta:
a) Da evaporao.
b) Da transpirao das plantas.
c) Da precipitao.
d) Do escoamento superficial.
e) Das guas subterrneas.

Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 95


U2

2. H algumas formas de se classificar os aquferos. Quando a classificao


realizada de acordo com a presso exercida sobre as guas nas suas
camadas limtrofes, h uma designao especfica.
Como esses aquferos so conhecidos? Assinale a alternativa correta:
a) Aquicludes.
b) Freticos ou livres e artesianos ou confinados.
c) Aquitardes.
d) Porosos e crsticos.
e) Fissurais e porosos.

3. A contaminao da qualidade da gua subterrnea pode ocorrer


por meio de diversas fontes, que geralmente esto relacionadas com a
atividade humana.
De acordo com o contexto, correto afirmar que:
a) O processo de despoluio de um aqufero simples e barato.
b) O processo de despoluio de um aqufero exige mo de obra
especializada e seu custo baixo.
c) O processo de despoluio de um aqufero, na maioria das vezes,
ocorre naturalmente.
d) O processo de despoluio de um aqufero tem custos elevados,
porm, de fcil execuo.
e) O processo de despoluio de um aqufero exige mo de obra
especializada e seu custo extremamente alto.

96 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


U2

Referncias

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Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas 97


U2

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WURBS, R. A. Modeling and analysis of reservoir system operations. New Jersey:
Prentice Hall, 1996. 356 p.

98 Sistema de recursos hdricos: enchentes, estiagens e guas subterrneas


Unidade 3

Sistemas de micro e
macrodrenagem

Convite ao estudo

Ol, aluno. Seja bem-vindo de volta! Com base no seu conhecimento


prvio adquirido no tema de hidrologia nas unidades anteriores, nesta unidade,
abordaremos a aplicao da hidrologia no meio urbano, mais especificamente
no que se refere drenagem urbana. Ela pode ser dividida em dois subtemas:
microdrenagem e macrodrenagem. Ao final desta unidade, voc estar apto a
identificar, calcular e projetar os principais dispositivos que compem a drenagem
urbana, alm de refletir sobre a importncia deste tema no desenvolvimento
urbano.

Esta unidade est dividida em trs sees (3.1; 3.2; e 3.3). Na Seo 3.1
abordaremos os principais dispositivos que compem a microdrenagem e
os critrios de projeto; os problemas comuns encontrados no sistema de
microdrenagem, bem como seus controles; e o dimensionamento de sarjetas
e sarjetes.

Na Seo 3.2, o assunto continua sendo a microdrenagem:


compreenderemos os assuntos de alocao e dimensionamento dos variados
tipos de bocas de lobo e poos de visita, bem como o dimensionamento e
traado de galerias.

J na Seo 3.3, o assunto abordado ser a macrodrenagem.


Desenvolveremos nosso aprendizado com relao aos dispositivos e critrios
de projetos; drenagem em talvegues; bueiros e vos livres de pontes; e tambm
problemas comuns em sistemas de macrodrenagem.

Voc ter, nesta unidade, o papel de engenheiro civil do rgo pblico


U3

responsvel pela gesto das guas pluviais urbanas de uma grande cidade. Voc
ser responsvel por planejar e projetar os dispositivos de drenagem da cidade,
solucionando problemas de alagamentos, que atrapalham o fluxo normal da
cidade em dias chuvosos, causam danos aos patrimnios pblicos e privados e
tambm transtornos aos muncipes.

Voc foi designado para analisar um pr-projeto de drenagem urbana


que ser implantado em um trecho da cidade que sofre com problemas de
alagamento. Esse pr-projeto j conta com a locao das bocas de lobo, o
lanamento do traado das galerias pluviais e a alocao de poos de visita.
Figura 3.1 | Projeto inicial de uma rea que sofrer interveno para melhoria na
drenagem urbana

Fonte: Gribbin (2014, p. 259).

A partir do ponto 9, representado na Figura 3.1, ocorre o lanamento final


das guas coletadas no riacho que corta a regio. Esse riacho tem seu leito
preservado, porm, prevista a retificao desse curso dgua. Est prevista,
tambm, a construo de um bueiro para passagem de veculos leves.

100 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Seo 3.1

Microdrenagem: conceitos gerais e introduo a


dimensionamento

Dilogo aberto

Como engenheiro civil do rgo pblico responsvel pela gesto das guas pluviais
urbanas de uma grande cidade, voc foi designado para analisar um pr-projeto de
drenagem urbana que ser implantado em um trecho da cidade que sofre com
problemas de alagamento.

Analise os dados obtidos e sintetizados, apresentados a seguir, e verifique se os


fluxos nas sarjetas atendem s recomendaes de projeto, como altura mxima da
lmina de gua. Determine tambm o espalhamento mximo permitido.

Os dados coletados so apresentados a seguir:


502,47 . Tr0,1431
Equao da chuva: i = .
(t + 10,8)0,606
Altura mxima da lmina de gua das sarjetas: 10 cm.

Coeficiente de rugosidade de Manning: 0,015.

Declividade transversal das vias: 0,03.

Declividade longitudinal da Avenida 1: 0,005.

Declividade longitudinal da Avenida 1: 0,006.

Demais dados, j calculados, esto apresentados no quadro a seguir:

Sistemas de micro e macrodrenagem 101


U3

Tabela 3.1 | Dados da rea de anlise

Boca rea de con- Tempo de Coecien- Intensidade Vazo de


de tribuio (km) concentrao te de de- pluviomtri- projeto
lobo (tc, min.) vio (C) ca (i, mm/h) (Q, m/s)
1 0,000567 6 0,95 114,44 0,01712
2 0,003723 10 0,60 100,55 0,06244
3 0,004856 10 0,50 100,55 0,06787
4 0,005666 9 0,45 103,60 0,07343
6 0,000809 6 0,95 114,44 0,02446
7 0,001214 6 0,95 114,44 0,03669
8 0,005261 14 0,38 90,38 0,05023
Fonte: elaborada pelo autor.

No pode faltar
Com base no seu conhecimento de hidrologia adquirido nas unidades anteriores,
estudaremos agora o tema da drenagem urbana: uma aplicao da hidrologia no
meio urbano.

Esta seo tem como objetivo explanar os critrios de projeto para a drenagem
urbana, os principais dispositivos pertencentes microdrenagem, os problemas
apresentados na prtica em relao drenagem urbana e o dimensionamento dos
dispositivos de encaminhamento de vazes, como as sarjetas e os sarjetes.

O propsito do gerenciamento de guas pluviais melhorar a qualidade de vida


nas reas urbanas por meio da:

Proteo da vida humana e reduo de enchentes.

Preveno de danos s propriedades privadas e pblicas.

Minimizao da interrupo das atividades urbanas cotidianas.

Proteo dos corpos hdricos.

Dispositivos e critrios de projetos

Em reas urbanas, as guas pluviais escoam pelas ruas e so coletadas e


transportadas pelas sarjetas ao longo das vias, sendo, ento, drenadas pelas bocas de
lobo, que as encaminham s galerias subterrneas que, por sua vez, tm o objetivo de
transportar a gua at o local do lanamento, geralmente cursos dgua, lagos, rios e
o oceano (WURBS; JAMES, 2002).

102 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

O sistema pluvial pode ainda ser dividido em micro e macrodrenagem.

A microdrenagem a parte do sistema que inicia nos limites dos lotes e das
edificaes, no qual recebe as instalaes prediais de coleta de guas pluviais, prossegue
no escoamento das sarjetas e coletado pelas bocas de lobo, que direcionam essas
guas para as galerias pluviais.

A macrodrenagem a parte do sistema que recebe gua coletada pelos sistemas


da microdrenagem, cuidando dos fundos de vales e que interessa mais a rea total
da bacia, seu escoamento natural, sua ocupao, a cobertura vegetal, os fundos de
vale e os cursos dgua urbanos (AZEVEDO NETTO, 2015).

O sistema pluvial abrange calhas das ruas, galerias, bueiros, bocas de lobo,
dispositivos de infiltrao, escadarias e rampas at a chegada das guas aos crregos,
riachos e rios, com o objetivo de evitar: eroses do terreno; do pavimento; alagamento
da calha viria, e tambm com a funo de eliminar pontos baixos sem escoamento,
a fim de promover a chegada ordenada das guas aos cursos de gua da regio
(BOTELHO, 2006; HOUGHTALEN; HWANG; AKAN, 2012).

Critrios de projeto

a) Tempo de recorrncia ou de retorno (Tr)

Sendo a microdrenagem a soluo para o escoamento das vazes de chuvas mais


frequentes, portanto, com menores recorrncias e menores intensidades, admitida
a ocorrncia de alagamentos pontuais quando a intensidade das chuvas aumenta
(AZEVEDO NETTO, 2015).

Valores de tempo de retorno so estabelecidos por legislaes locais mas, em


geral, tempo de retorno de 10 anos para microdrenagem tem sido adotado. Sendo
assim, na mdia, o sistema ficar sobrecarregado uma vez a cada dez anos, o que
resultar em pequena enchente HOUGHTALEN; HWANG; AKAN, 2012).

b) Tempo de concentrao (tc)

O tempo de concentrao de uma bacia hidrogrfica definido como o tempo


de percurso da gua desde o ponto mais afastado da bacia at a seo de interesse, a
partir do instante de incio da precipitao (CANHOLI, 2015).

O tempo de concentrao (tc) a soma dos tempos de entrada (te), que definido
como o tempo do percurso gasto pela gua da chuva ao atingir o terreno nos pontos
mais distantes at alcanar a primeira seo de captao (boca de lobo), e o tempo de
percurso (tp), que o tempo de escoamento no interior das galerias.

tc = te + tp

Sistemas de micro e macrodrenagem 103


U3

c) Coeficiente de escoamento superficial ou deflvio (C)

a parcela da chuva precipitada que efetivamente chega ao sistema de drenagem,


descontado-se as parcelas perdidas por infiltrao, interceptao, armazenamento e
evaporao. Sendo assim, o coeficiente de deflvio depende da permeabilidade do
solo, da cobertura vegetal, umidade antecedente do solo, da textura superficial do solo
e da dimenso da bacia. Valores de deflvio usualmente adotados so tabelados de
acordo com o tipo de terreno, especialmente seu revestimento. Em terrenos mistos,
utiliza-se mdias ponderadas dos coeficientes tabelados. Em reas cobertas, utiliza-se
valores prximos a 0,8, podendo chegar a 0,9 e a 0,95; e, em reas descobertas, os
valores corriqueiros so da ordem de 0,3.

Reflita
Dada a urbanizao das cidades, que ocorre muitas vezes de maneira
desordenada e com alteraes de terrenos e reduo da permeabilidade
por revestimento artificial, como voc acha que isso interfere na gesto
das guas pluviais urbanas?

d) Intensidade (i)

geralmente baseada em dados locais, e normalmente decorre da utilizao de


equaes ou curvas do tipo durao x intensidade x recorrncia. A unidade de medida
adotada o mm/h.

e) Vazo de projeto (Q)

Para pequenas bacias, ou seja, com reas inferiores a 50 ha, mais comuns em
estudos de microdrenagem, utiliza-se o mtodo racional de clculo de vazes, por
meio da equao:

C.i.A
Q= ,
3,6

em que:

Q = vazo de projeto (m/s).

A = rea drenada (km).

i = intensidade de chuva (mm/h).

C = coeficiente de deflvio.

104 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Dispositivos da microdrenagem

a) Guias ou meio-fio

Tm a funo de definir os limites do passeio e do leito carrovel (rua) (BOTELHO,


2006).

b) Sarjetas e sarjetes

Sarjetas so canais na lateral da rua. Nelas, as guas pluviais so transportadas


para as bocas de lobo e galerias pluviais. O espalhamento, ou invaso do pavimento,
a largura superior da gua que escoa na rua, medida a partir da guia ou meio-fio
(SHAMMAS et al., 2013).

Os sarjetes e os rasgos, apresentados na Figura 3.2, so dispositivos de


encaminhamento de fluxo superficiais, assim como as sarjetas. So utilizados para
interligar pontos baixos prximos e contnuos sem a necessidade de bocas de lobo
e galerias subterrneas. Os sarjetes so formados pela prpria pavimentao nos
cruzamentos das vias pblicas, formando calhas, que servem para orientar o fluxo das
guas que escoam pelas sarjetas (AZEVEDO NETTO, 2015).

Figura 3.2 | Seo transversal de um sarjeto e de um rasgo

Fonte: Botelho (2006, p. 33).

Sistemas de micro e macrodrenagem 105


U3

As sarjetas (Figura 3.3) e os sarjetes comportam-se como canais de seo


triangular. Geralmente, so dimensionados por critrios que no consideram sua
funo hidrulica. Deve-se determinar sua capacidade hidrulica (mxima vazo de
escoamento) para comparao com a vazo originada da chuva de projeto e decidir
sobre as posies das bocas de lobo que retiram essas guas da superfcie das ruas
(AZEVEDO NETTO, 2015).

Figura 3.3 | Seo transversal de uma sarjeta

Meio-o ou guia 4,30


Calada
N.A.

0,15 0,13
i 3%

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 479).

O comprimento tolervel do espalhamento ou invaso do pavimento, que


determinado por normas locais, se baseia na classificao da rua. Uma rua com um
limite de velocidade mais alto deve ter um espalhamento tolervel menor do que uma
rua concebida para velocidades mais baixas, devido ao maior risco de aquaplanagem
(SHAMMAS et al., 2013).

c) Bocas de lobo

As bocas de lobo (Figura 3.4) recebem as guas pluviais para o sistema de drenagem.
Elas so posicionadas e projetadas de modo a concentrar e remover o escoamento
nas sarjetas, quando se esgota sua capacidade hidrulica, a um custo mnimo e com
interferncia mnima, tanto para o pedestre quanto para o trfego veicular. O objetivo
principal desses dispositivos minimizar o espalhamento de gua pela rua, levando-a
para as galerias (AZEVEDO NETTO, 2015; SHAMMAS et al., 2013).

106 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Figura 3.4 | Esquema de uma boca de lobo

Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 479).

Quanto ao tipo de entrada, as bocas de lobo podem ser de: entradas com abertura
na guia; entradas de sarjeta; e entradas conjuntas, que combinam aberturas na guia
com aberturas na sarjeta (Figura 3.5). Apenas onde o trfego forado a se mover
lentamente, as superfcies e entradas com abertura na guia podem ser rebaixadas, para
aumentar a capacidade de tomada dgua (capacidade de engolimento) (SHAMMAS
et al., 2013).

Sistemas de micro e macrodrenagem 107


U3

Figura 3.5 | Tipos de bocas de lobo

Entradas com abertura na guia

(a) Nivelada (b) Rebaixada (c) Com desvio

Entradas de sarjeta

(d) Nivelada (e) Rebaixada

Boca de lobo combina com Entrada dgua mltipla com


abertura na guia e sarjeta abertura na guia e sarjeta

(f) Rebaixada (g) Nivelada


Fonte: Shammas et al. (2013, p. 439).

As configuraes mais comuns para as bocas de lobo so as com grelhas, as com


abertura na guia (lateral) e as bocas de lobo combinadas.

Normalmente, a capacidade de engolimento de projeto de uma boca de lobo


fixada em 40 a 60 L/s por unidade (BOTELHO, 2006).

d) Tubos de ligao (TL)

So ligaes entre as bocas de lobo e os poos de visita ou caixas de ligao. A


Figura 3.6 apresenta alguns dispositivos de microdrenagem em detalhe, inclusive os
tubos de ligao.

e) Caixas de ligao (CL)

So utilizadas para receber tubos de ligao de bocas de lobo intermedirias ou


para evitar excesso de ligaes no mesmo poo de visita. No so visitveis (AZEVEDO
NETTO, 2015).

108 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

f) Poos de visita (PV)

So cmaras visitveis com a funo principal de permitir o acesso s galerias


para inspeo e manuteno (desobstruo), alm de receber ligaes de bocas de
lobo. Para otimizar esses objetivos, costumam ser alocados nos pontos de reunio
dos condutos (cruzamento de ruas), mudanas de seo, de declividade e de direo
(AZEVEDO NETTO, 2015; BOTELHO, 2006).

Figura 3.6 | Dispositivos de microdrenagem

PV - poo de visita; CL - caixa de ligao; BL - boca de lobo


Fonte: Azevedo Netto (2015, p. 480).

Problemas comuns em sistemas de microdrenagem e seus controles

Quanto mais superficial e livre for o sistema pluvial, menores sero os problemas de
uso. Por exemplo, sempre prefervel usar sarjetes e rasgos s solues de captao
por bocas de lobo e galeria enterrada (BOTELHO, 2006).

As guas pluviais devem ser direcionadas s bocas de lobo. Um problema comum


nos sistemas de microdrenagem a boca de lobo no captar as guas afluentes,
causando danos. Muitas vezes, as bocas de lobo esto mal locadas, fora do fluxo
normal de drenagem. Por isso, para que o sistema funcione bem, o fluxo deve ser
direcionado como projetado, atravs das sarjetas, sarjetes, rasgos etc.

A limpeza urbana um fator de extrema importncia no sistema de microdrenagem.


O acmulo de resduos slidos como sacolas plsticas, galhos, folhas e at areia
podem comprometer a microdrenagem. Assim, os dispositivos de direcionamento,
como sarjetas e sarjetes, podem no encaminhar as guas adequadamente para
as bocas de lobo, e estas, uma vez obstrudas, tm sua capacidade de engolimento
comprometida, no funcionando como projetadas, o que pode causar prejuzos.

Sistemas de micro e macrodrenagem 109


U3

Assimile
O sistema de drenagem urbana no funciona de forma adequada se
gerenciado isoladamente dos outros componentes da infraestrutura
urbana, especialmente de toda a redes subterrnea e, principalmente, do
gerenciamento municipal de resduos slidos urbanos.

O mal funcionamento dos dispositivos de drenagem que permitem o acmulo de


gua tambm pode ser um problema de sade pblica, j que promove um ambiente
favorvel ao desenvolvimento de vetores de diversas doenas, por exemplo, a dengue.
Verificar a declividade natural do terreno e os caminhos preferenciais de fluxo
fundamental no projeto de drenagem.

Reflita
Lembre-se de que a funo da drenagem urbana coletar as guas
evitando o empoamento duradouro. Caso ocorram empoamentos
recorrentes, porque o sistema foi mal projetado.

Alm disso, um sistema de drenagem mal projetado e mal executado pode


acarretar problemas mais graves que aqueles para os quais foram desenvolvidos para
resolver. E o risco de eroses pode aumentar com o seu rompimento, o que soma
danos ao patrimnio e s vidas humanas.

Segundo Botelho (2006), outros problemas que ocorrem com frequncia no


sistema de drenagem urbana so:

Ligao clandestina de efluentes sanitrios.

Ligaes clandestinas de despejos industriais.

Resduos slidos.

guas de rebaixamento de lenol fretico.

Extravaso de reservatrios de gua.

Descargas de piscinas.

110 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Pesquise mais
O link indicado contm uma notcia que relata os problemas enfrentados
pelos moradores de um conjunto habitacional na cidade de Itatinga, SP,
devido falta de drenagem urbana adequada. Diante da situao, os
prprios moradores tentaram minimizar o problema construindo valas
para facilitar o escoamento da gua de chuva.

Disponvel em: <http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2017/01/


falta-de-infraestrutura-causa-alagamento-em-conjunto-habitacional.
html>. Acesso em: 24 jan. 2017.

Dimensionamento e traado de sarjetas e sarjetes

A localizao dos coletores de modo a evitar que a gua invada a rua combina a
equao de Manning para a capacidade da sarjeta e a equao racional para a taxa de
escoamento superficial. Dados a geometria da rua (informao da seo transversal
e da declividade da rua), os critrios de invaso do pavimento (ou altura da sarjeta,
dependendo dos limites de profundidade do fluxo no meio-fio) e o coeficiente de
rugosidade de Manning, a capacidade da sarjeta calculada.

Para o clculo da sarjeta, pode-se utilizar toda a caixa da rua como condutora ou
apenas das laterais das sarjetas. Nesse caso, a rua no poder ser totalmente ocupada
pelas guas. A capacidade de transporte das ruas com as guas escoando s pelas
laterais das sarjetas evidentemente inferior ao transporte de gua ocupando toda a
rua.
5,0 3 /8 15,0 3/8 1 11 8/3 0,5 10,5 8/3 0,5
0S 0yQ
Q=0,375 0S 5
= 0,375 ,0.=Qy0y8/3
.07y3Q=0,375 5S73. ,S0=Q y0 S0
Para sarjetas triangulares, a expresso 0 0
xS n nSxxSxn n S0x
n S
apresentada para verificao da capacidade de encaminhamento de gua levando em
considerao a altura do meio fio, visto que a gua no pode transbordar, sendo que:

Q = vazo da sarjeta (m/s).

y0 = altura da lmina dgua na sarjeta (m).

S0 = declividade longitudinal da sarjeta.

Sx = declividade transversal da sarjeta.

Usualmente, nas questes prticas de engenharia que envolvem a anlise do fluxo


em sarjetas, pela altura da lmina dgua verifica-se se a sarjeta est adequada. Sendo
5,0 3 /8 1 n . Sx . Q 3/81 8/3 0,5
assim, a expresso das sarjetas em funo 0S y 0:
de
y yo = Q=0,375

573,0=8,5
Q
. . 0
y S0

0
xS n 0,375 S0 n Sx

Sistemas de micro e macrodrenagem 111


U3

A expresso para as sarjetas triangulares pode ser relacionada ao espalhamento da


gua (T), que se relaciona com a altura mxima da lmina de gua da seguinte forma:

y0 = T . Sx

Q = 0,375 . S5/3
x
. S0,5 . T8/3.
0
n

Exemplificando
Calcular a vazo de uma sarjeta na seguinte situao:

y0 = altura da lmina dgua na sarjeta (m).

S0 = 0,005; Sx = 0,02

T = 3,66 m.

n = 0,016.

Clculo da altura mxima da lmina dgua:

y0 = T . Sx = 366 x 0,02 = 7,32cm.

Clculo da vazo:

5,0 3 /8 1 1 8/3 10,5 8/3 0,5


0S Q0y =
0,375 x57 3
Q=0,375
,0=Q y0 xS0 y0 S0

xS n nx Sx n Sx

5,0 3 /8 1 1 1 8/3 8/3 0,5


Q0S 0y
= 0,375 . Q=0,375
57x3,0,02 y S0. 0,005
0= Q 0,0732 0,5
0,0777m3/S.
S 0,016
n n S 0

x x

Para os sarjetes, a Figura 3.7 apresenta um esquema da seo transversal para


melhor compreenso do processo de clculo do seu dimensionamento.

112 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Figura 3.7 | Esquema de sarjeto

Fonte: elaborada pelo autor.

Na expresso de Nicklow (2001), a largura do sarjeto pode ser calculada da


seguinte forma:

573,0 0,375
Q Qn n
. Q
n 0,375
TT=
= =T ,
.S67.S3S,0
0,376
lS x S
0,376 S xx l I

em que:
5,0 3 /8 1 S . S 1
0S Sx10ey Sx2 SQ=0,375
Sx = mdia das declividades transversais = 57x1
x
3,0 =
Q . y8/3
x2 0,5
0 S0

xS n Sx1 + Snx2Sx
T = largura do sarjeto (m).

Q = vazo de projeto (m/s).

n = coeficiente de Manning.

SI = declividade longitudinal do sarjeto (m/m).

Sem medo de errar

Voc foi designado para analisar um pr-projeto de drenagem urbana que ser
implantado em um trecho da cidade que sofre com problemas de alagamento.

Analise os dados obtidos e sintetizados, apresentados a seguir, e verifique que os


fluxos nas sarjetas atendem recomendao de projeto, como altura mxima da
lmina de gua. Determine tambm o espalhamento mximo permitido.

Os dados coletados so apresentados a seguir:

Sistemas de micro e macrodrenagem 113


U3

0,1431
.
Equao da chuva: i = 502,47 Tr .
(t + 10,8)0,606
Altura mxima da lmina de gua das sarjetas: 10 cm.

Coeficiente de rugosidade de Manning: 0,015.

Declividade transversal das vias (Sx): 0,03.

Declividade longitudinal da Avenida 1 (S0): 0,005.

Declividade longitudinal da Avenida 1 (S0): 0,006.

Demais dados, j calculados, esto apresentados no quadro a seguir.

Tabela 3.2 | Dados da rea de anlise.

rea de Tempo de Coeciente Intensidade Vazo de


Boca de
contribuio concentrao de devio pluviomtrica (i, projeto
lobo
(km) (tc, min) (C) mm/h) (Q, m/s)
1 0,000567 6 0,95 114,44 0,01712
2 0,003723 10 0,60 100,55 0,06244
3 0,004856 10 0,50 100,55 0,06787
4 0,005666 9 0,45 103,60 0,07343
6 0,000809 6 0,95 114,44 0,02446
7 0,001214 6 0,95 114,44 0,03669
8 0,005261 14 0,38 90,38 0,05023
Fonte: elaborada pelo autor.

Soluo:

Clculo do espalhamento mximo permitido para as vias:


y
y0 = T . Sx ... T 0 = ... T = 0,1 ... T = 3,33m.
Sx 0,03

Para verificar se o fluxo nas sarjetas atende ao valor de projeto recomendado (no
caso, a altura da lmina de gua deve ser inferior a 10 cm), basta calcular as alturas
das lminas de gua para as maiores vazes de cada uma das avenidas atravs da
5,0 3 /8 1 n . Sx . Q 3/8 1 8/3 0,5
0S 0yy0 = Q=0,375
573.,0=0,5
Q . Atendendo
y S0 s maiores vazes, atender a todas as
S0 n Sx 0
expresso
xS n0,375

outras. As maiores vazes so de 0,06787 m/s e 0,07343 m/s para as Avenidas 1 e 2,

114 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

respectivamente. As bocas de lobo 3 e 4 so as vazes afluentes.

Para verificao, usando a expresso anterior, o que ir mudar entre as duas


situaes a vazo e a declividade longitudinal da via, que de 0,005 m/m para a
Avenida 1 e de 0,006 m/m para a Avenida 2.

Verificao da altura da lmina de gua para a maior vazo da Avenida 1 (yo1):

5,0 0,015 . 0,03 8/3 3/8


1 . 10,06787
3 /80y
yo1 =0S Q=0,375 . 5730,5
,y00=Q S 0,5
0 = 0,0791 m ou 7,91 cm.
xS n0,005
0,375 n
Sx

Como yo1 yo OK!

Verificao da altura da lmina de gua para a maior vazo da Avenida 1 ( ):

5,0 0,015 . 0,03 8/3 3/8


1 . 10,07343
3 /80y
yo2 =0S Q=0,375 . 5730,5
,y00=Q S 0,5
0 = 0,0787 m ou 7,87 cm.
0,375S n
x x n
0,006S

Como yo2 yo OK!

Como a verificao foi satisfatria para as maiores vazes de cada avenida, todas
as outras sarjetas das mesmas avenidas tambm tm condio de fluxo satisfatrio, ou
seja, no necessrio fazer alteraes nos projetos das sarjetas.

Avanando na prtica

Comprimento mximo da sarjeta que permite o fluxo superficial


Descrio da situao-problema

Como engenheiro projetista especializado em drenagem, voc foi contratado para


dimensionar o sistema de drenagem de uma via urbana vital para o bom funcionamento
da cidade. A via em questo possui quatro faixas (duas em cada sentido), cada uma com
3,5 m de largura, declividade transversal de 2% e longitudinal de 0,5%, com pavimento
asfltico n = 0,016. O sistema de drenagem superficial consiste de sarjetas triangulares,
que foram dimensionadas para uma intensidade de chuva de 120 mm/h. A legislao
local requer que pelo menos uma faixa de cada direo esteja livre do espalhamento de
gua. Determine o comprimento mximo das sarjetas sem necessidade de coletores,
como bocas de lobo.

Resoluo da situao-problema

Como a legislao local requer que pelo menos uma faixa em cada sentido esteja
livre do espalhamento, ento, o espalhamento mximo a largura de uma faixa em

Sistemas de micro e macrodrenagem 115


U3

cada sentido, ou seja, T = 3,50 m.

Para o clculo da altura da lmina dgua na sarjeta, temos:

y0 = T . Sx ... y0 = 3,50 . 0,02 ... y0 = 0,07 ou 7,00 cm.

Ento, calcula-se a mxima vazo na sarjeta:

5,0 3 /8 1 1 8/3 10,5 8/3 0,5


0S 0yQ = 0,375 5.73Q=0,375
,0=Q y . S0 . y0 S0
n . Sx 0 n S
x S n x

5,0 3 /8 1 1 1 8/3 0,5 .


Q0S= 0,375 . Q=0,375 y0 . S
8/3 0,5
0y 573. ,0,02
0=Q 0,07
0
0,005 . . Q = 0,0689 m3/s.
x S
n
0,016
n
S x

Agora, calcula-se a rea de contribuio necessria para produzir a vazo Q


calculada. Para isso, utiliza-se a intensidade pluviomtrica, que de 120 mm/h
(3,33 x 10-5 m/s).
.
Q = V = A h , como a intensidade pluviomtrica (i) a altura pluviomtrica por
t t
unidade de tempo:
.
Q = A . i A = Q . . A = 0,0689 ... A = 2067,29 m2.
i 3,33 . 105
Como as duas faixas em cada sentido contribuem para o escoamento na sarjeta, a
largura da rea de contribuio de 2 . 3,50 = 7,00m .Ento, o comprimento mximo
.
da sarjeta (L) de: L = 2067,29 m . . L = 295,32 m.
2

7,00 m
Portanto, 295,32 m a distncia que promove a mxima vazo, ou seja, o
espaamento mximo dos coletores, como as bocas de lobo, que sero estudadas
na prxima seo.

Faa valer a pena

1. O propsito geral da drenagem urbana e da gesto das guas pluviais


melhorar a qualidade de vida nas reas urbanas. A drenagem urbana
umas das disciplinas que compem o saneamento bsico. Com base
nisso, avalie as afirmaes correspondentes aos seus propsitos.
I. Proteo da vida humana.
II. Preveno de danos s propriedades privadas e pblicas.
III. Reduo de enchentes.

116 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

IV. Tratamento dos efluentes sanitrios.


V. Proteo dos corpos hdricos.
So afirmativas corretas:
a) II e V, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, IV e V, apenas.
d) I, II ,III e V, apenas.
e) I, II, III, IV e V.

2. Em reas urbanas, as guas pluviais escoam pelas ruas e so coletadas


e transportadas pelos dispositivos de microdrenagem at o lanamento
final em corpos dgua ou em redes de macrodrenagem.
A opo que contm apenas dispositivos de microdrenagem :
a) Sarjeta, meio-fio e piscino.
b) Sarjeta, sarjeto e boca de lobo.
c) Boca de lobo, plder e sarjeta.
d) Sarjeta, boca de lobo e dique.
e) Rasgo, sarjeta e lagoa de reteno.

3. Dentre os critrios hidrolgicos para projeto dos dispositivos de


drenagem esto o tempo de retorno ou recorrncia, intensidade da
chuva, coeficiente de deflvio, tempo de concentrao da bacia e vazo
de projeto.
O perodo em que uma chuva de projeto superada pelo menos uma
vez chamado de:
a) Tempo de concentrao da bacia.
b) Tempo de entrada no sistema de drenagem.
c) Tempo de retorno.
d) Tempo de percurso da galeria.
e) Tempo de precipitao.

Sistemas de micro e macrodrenagem 117


U3

118 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Seo 3.2

Microdrenagem: dimensionamento

Dilogo aberto

Aps termos estudado as sarjetas na seo anterior, faremos, agora, a verificao


da capacidade de coleta da vazo transportada pelas sarjetas paras as bocas de lobo.
Verifique se as quantidades de bocas de lobo so suficientes, sabendo que a boca
de lobo padro adotada pela prefeitura do tipo de abertura na guia com largura de
abertura de 1,0 m.

Os dados coletados so os seguintes:

Altura mxima da lmina de gua das sarjetas: 10 cm.

Coeficiente de rugosidade de Manning: 0,015.

Declividade transversal das vias: 0,03.

Declividade longitudinal da Avenida 1: 0,005.

Declividade longitudinal da Avenida 1: 0,006.

Demais dados, j calculados, esto apresentados na tabela a seguir:

Sistemas de micro e macrodrenagem 119


U3

Tabela 3.3 | Dados da rea de anlise

rea de Tempo de Coeciente Intensidade Vazo de


Boca de
contribui- concentra- de devio pluviomtrica projeto (Q,
lobo
o (km) o (tc, min) (C) (i, mm/h) m/s)
1 0,000567 6 0,95 114,44 0,01712
2 0,003723 10 0,60 100,55 0,06244
3 0,004856 10 0,50 100,55 0,06787
4 0,005666 9 0,45 103,60 0,07343
6 0,000809 6 0,95 114,44 0,02446
7 0,001214 6 0,95 114,44 0,03669
8 0,005261 14 0,38 90,38 0,05023
Fonte: elaborada pelo autor.

No pode faltar
Continuando o estudo dos dispositivos de microdrenagem urbana, nesta seo,
iremos estudar mais profundamente os tipos de bocas de lobo; o dimensionamento
de bocas de lobo; os poos de visita e sua alocao; e o dimensionamento das galerias
de guas pluviais.

Dimensionamento e capacidade de bocas de lobo

Como j definido na seo anterior, as bocas de lobo so dispositivos localizados


em pontos estratgicos, geralmente nas sarjetas, para captao das aguas pluviais.

Segundo Botelho (2006), a capacidade de cada captor se d em funo de sua


largura; da existncia ou no de rebaixo na sarjeta; da altura da lmina dgua; da
declividade longitudinal da rua; e, principalmente, do grau de limpeza (obstrues) da
boca de lobo (BOTELHO, 2006).

Deve-se conferir a capacidade da grelha/boca de lobo de entrada de gua pluvial.


Se a vazo exceder a capacidade de engolimento da boca de lobo, preciso adicionar
outra entrada (boca de lobo dupla) ou diminuir a distncia entre as bocas de lobo,
reduzindo a rea de drenagem (outra boca de lobo posicionada mais a montante).

Pode-se associar a cada boca de lobo a capacidade de engolimento de 50 L/s e,


quando se usa uma boca de lobo acoplada a caixas com grelhas, a capacidade de
engolimento fixada em 80 L/s (BOTELHO, 2006).

Hidraulicamente, a capacidade de engolimento das bocas de lobo de meio-fio


podem ser calculadas considerando-as como um vertedor de parede espessa, cuja
expresso :

Q = 1,71 . L . H3/2,

120 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

em que:

Q = vazo de engolimento da boca de lobo (m/s).

L = comprimento da abertura (m).

H = altura da lmina de gua (m) (0,13 m como sugesto).

Para a boca de lobo de sarjeta, pode ser utilizada a mesma expresso, substituindo-
se L por P (em que P o permetro da rea livre do orifcio em metro).

Localizao das bocas de lobo

Segundo Azevedo Netto (2015) e Houghtalen, Hwang e Akan (2012) as bocas de


lobo devem ser alocadas em:

Todos os pontos baixos onde a gua se acumule e no haja outra sada.

Ao longo do meio-fio, quando a capacidade da sarjeta excedida.

Ao longo do meio-fio, quando a gua se espalha pela rua a uma distncia


capaz de atrapalhar o fluxo ou a segurana do trfego (critrio local para
invaso do pavimento).

Ao longo do meio-fio, antes de um cruzamento. Por razes de segurana de


trnsito, devem estar a montante do vrtice de interseo das sarjetas, para
evitar enxurradas convergentes, com prejuzo para o trnsito de pedestres.

Para Gribbin (2014), alm de escolher os pontos baixos, outros fatores so


importantes, como:

Nivelamento: posicionamento das bocas de lobo no sentido do fluxo,


utilizando-se os meios-fios, sarjetas, sarjetes e modelamento do solo para o
encaminhamento do fluxo.

Espaamento: devem estar prximas o suficiente para funcionar na


capacidade ideal de engolimento e afastadas o suficiente para no encarecer
desnecessariamente o sistema. Devem estar espaadas em torno de 75 m
a 100 m quando alinhadas, permitindo acesso aos tubos para inspeo e
manuteno.

Mudana de direo: como os tubos de coletores pluviais devem ser retos,


precisam formar ngulos pronunciados (acentuados) em cada mudana de
direo. Para prevenir obstruo nos pontos de curva e fornecer acesso aos
tubos, so instalados os poos de visita ou bocas de lobo.

Mudana de declividade ou de dimetro do tubo: pelas mesmas razes da


mudana de direo, bocas de lobo ou poos de visita devem ser colocados

Sistemas de micro e macrodrenagem 121


U3

em cada ponto onde houver mudana de declividade ou de dimetro do


tubo.

Tipos de bocas de lobo e seus dimensionamentos

Bocas de lobo com grelhas:

As bocas de lobo de drenagem capturam tipicamente o escoamento frontal ( ) com


mais eficincia do que o escoamento lateral. No projeto da boca de lobo de drenagem,
aconselhvel maximizar a eficincia da grelha da boca de lobo, aumentando a
declividade transversal da sarjeta ou aumentando a largura do rebaixamento da sarjeta
ou da grelha que se estende para a rua (SHAMMAS et al., 2013).

Bocas de lobo com grelha (Figura 3.8) so mais eficientes que bocas de lobo com
abertura na guia quando a rua nivelada. Para isso, o engenheiro precisa escolher um
tipo de grelha adequado para a rua que est sendo projetada, mas as entradas com
grelhas tm maior facilidade de entupimento do que outros tipos de bocas de lobo
(SHAMMAS et al., 2013).

Figura 3.8 | Bocas de lobo com grelhas

Reticulina

P-50 mm P-50 mm x 100 mm


Fonte: Shammas et al. (2013, p. 443).

Reflita
As vias urbanas fazem parte da infraestrutura urbana compartilhada pelos
diversos modais de mobilidade, como os automveis, pedestres e ciclistas.
Uma pergunta para reflexo: Em uma via com alto trfego de ciclistas,
prudente instalar bocas de lobo com grelhas longitudinais no sentido da
via?

122 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Bocas de lobo com abertura na guia

As bocas de lobo com abertura na guia (Figura 3.9) so aberturas dentro da prpria
guia e so mais eficientes em reas onde as bocas de lobo com grelha estariam
mais propensas ao entupimento. A eficincia de uma boca de lobo com abertura
na guia se baseia na proporo do comprimento real da boca de lobo para que seu
comprimento necessrio capture 100% do escoamento total. Esse tipo de boca de
lobo corriqueiramente instalado no pavimento, criando uma pequena declividade
no local.

Figura 3.9 | Boca de lobo com abertura na guia

Fonte: Shammas et al. (2013, p. 446).

O comprimento da abertura na guia LT, necessrio para interceptar todo a vazo


de escoamento QI em uma seo da rua com uma declividade transversal uniforme,
definida por:

5,0 3 /8 0,42 1 0,6 1 8/3 0,5


0,814 . 1 . S0,3
0S 0 y Q L 57. 3,Q=0,375
0=Q y0 S0
LT = nS
xS n x n Sx

em que:

SL = declividade longitudinal da via.

Sx = declividade transversal da via.

n = coeficiente de rugosidade de Manning.

Sistemas de micro e macrodrenagem 123


U3

Bocas de lobo combinadas

As bocas de lobo combinadas (Figura 3.10) so a combinao de bocas de lobo


com grelhas e de abertura na guia. A boca de lobo com abertura na guia funciona
como uma varredura, removendo os detritos do escoamento antes que eles possam
obstruir a boca de lobo com grelha.

Figura 3.10 | Bocas de lobo combinadas

Fonte: Shammas et al. (2013, p. 448).

O escoamento total interceptado calculado pela soma do escoamento


interceptado pela poro da abertura na guia localizada a montante da grelha e do
escoamento que ultrapassou a abertura na guia a montante, e interceptado apenas
pela grelha.

Poos de visita (PV)

Como visto na seo anterior, PV so cmaras que permitem a visita humana, cuja
funo principal a de permitir o acesso de pessoas s galerias para a inspeo e
desobstruo, alm de receber ligaes de bocas de lobo. Para otimizar esses objetivos,
eles costumam ser alocados nos pontos de reunio dos condutos (BOTELHO, 2006;
AZEVEDO NETTO, 2015).

Os poos de visita devem atender s mudanas de direo, de dimetro e de


declividade, ligao das bocas de lobo, ao entroncamento dos diversos trechos e
ao afastamento mximo admissvel, que deve ser em mdia de 100 m para facilitar a
inspeo e limpeza, alm de ser o ponto inicial das galerias (GRIBBIN, 2014; BOTELHO,
2006).

124 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

A gua captada em bocas de lobo e/ou outros dispositivos de captao precisa


ser conduzida canalizao principal via PV. Normalmente, o dimetro utilizado de
300 mm, como apresentado na Figura 3.11.

Figura 3.11 | Esquema da ligao boca de lobo/poos de visita

Bocas de lobo
Tubo de ligao
minimo: 0,30 m

Fonte: Botelho (2006, p. 76).

Redes de guas pluviais

A rede de drenagem urbana pode ser alocada no eixo das vias ou junto ao meio
fio, e tem prioridade na hierarquizao da locao da infraestrutura subterrnea devido
aos grandes dimetros das tubulaes.

Para o dimensionamento da tubulao para guas pluviais, a anlise comea


no primeiro coletor (cota mais alta) e segue at o ponto de sada (HOUGHTALEN;
HWANG; AKAN, 2012).

Azevedo Netto (2015) afirma que o mtodo racional utilizado para se definirem
as vazes de projeto de cada trecho da galeria. Para isso, o autor pressupe que:

A durao da chuva que resulta na vazo mxima igual ao tempo de


concentrao.

A intensidade permanece constante na durao da chuva.

A permeabilidade da superfcie no se altera na durao da chuva.

O escoamento nas galerias por meio de conduto livre em regime


permanente e uniforme.

Para os projetos de galerias de guas pluviais, as seguintes condies devem ser


atendidas, sabendo-se que possvel que haja variaes de local para local:

O dimetro mnimo da canalizao principal ser de DN 300 mm. Para a


cidade de So Paulo, o dimetro mnimo de 500 mm.

Sistemas de micro e macrodrenagem 125


U3

O recobrimento mnimo de 1,0 m em relao s arestas superiores externas


(AZEVEDO NETTO, 2015). Botelho (2006) sugere as seguintes alturas de
recobrimento, apresentadas no Quadro 3.1:

Quadro 3.1 | Alturas dos recobrimentos

Tubo Recobrimento
(m)
Concreto Simples 0,6
Concreto Armado:
DN 700 mm 0,7
DN 800 mm 1
DN 1000 mm 1
DN 1200 mm 1,2
DN 1500 mm 1,5
Fonte: Botelho (2006, p. 76).

Profundidade mxima de 3,50 m em relao s arestas inferiores externas.

Sempre que possvel, as declividades do tubo se combinam com as


declividades sobrejacentes do solo para facilitar a manuteno e minimizar os
custos em escavao, reposio, compactao, escoramento de valas e, em
alguns casos, o rebaixamento do lenol fretico (HOUGHTALEN et al., 2012;
BOTELHO, 2006).

Botelho (2006) sugere as seguintes declividades mnimas em relao ao dimetro


da galeria, apresentadas no Quadro 3.2:

126 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Quadro 3.2 | Declividades mnimas sugeridas

Dimetro (mm) Declividade mnima (m/m)


300 0,0030
350 0,0023
400 0,0019
500 0,0014
600 0,0011
700 0,0009
800 0,0007
900 0,0006
1000 0,0005
1200 0,0004
Fonte: Botelho (2006, p. 77).

A velocidade mnima de escoamento de 0,75 m/s (evitar a sedimentao), e


a velocidade mxima de 5,0 m/s (AZEVEDO NETTO, 2015).

Os dimetros dos tubos nunca so reduzidos a jusante (Figura 3.12), mesmo se


as declividades acentuadas oferecerem a capacidade de fluxo ideal (GRIBBIN,
2014).

Figura 3.12 | Corte transversal esquemtico de uma galeria de guas pluviais

Greide da via
Entrada
(boca de lobo)

300 mm
400 mm
500 mm
600 mm
700 mm

Fonte: Gribbin (2014, p. 254).

Ao fazer a transio de um tubo de menor dimetro para outro de maior


dimetro, o alinhamento deve ser feito pela geratriz superior, e no pelas soleiras. Veja
um esquema correto na Figura 3.13.

Sistemas de micro e macrodrenagem 127


U3

Figura 3.13 | Esquema da transio de dimetros

Geratriz
superior
Igualar as
coroas

400mm
500mm
Geratriz inferior
ou soleira

Fonte: Gribbin (2014, p. 254).

A equao de Manning usada para se obter o dimetro do tubo capaz de


transportar a vazo de escoamento sem que esteja totalmente cheio, para que ele no
esteja sob presso. As redes de guas pluviais devem suportar as contribuies locais,
bem como os fluxos coletados a montante. O tempo de concentrao calculado
usando-se a combinao mais longa do tempo de fluxo do coletor e do tempo de
fluxo do tubo at o ponto de projeto (GRIBBIN, 2014).

Dados de entrada para o dimensionamento das galerias de guas pluviais:

Cotas do terreno de montante CTM e de jusante CTJ do trecho.

Comprimento do trecho L (m).


CTm CTj
Declividade do terreno no trecho (m/m): S = .
L

Exemplificando
Calcule a declividade do terreno, sabendo que a cota de montante
823 m e a cota de jusante 819 m, considerando que o trecho tem
extenso de 64 m.
CTm CTj . 823 819 .
S= ..S= . . S = 0,063.
L 64

Coeficiente de deflvio (C) da rea contribuinte, podendo ser uma mdia


ponderada de coeficientes de deflvio no trecho.

rea de drenagem da rea contribuinte.

Tempo de concentrao do ponto a montante dos trechos. Nos demais

128 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

trechos, no tempo de concentrao ser includo o tempo de escoamento dos


trechos anteriores.

Curva ou equao de chuvas intensas (IDF) para a localidade.


C.i.A
Clculo da vazo mtodo racional: Q = , com Q em m/s; i em
3,6
mm/h e A em km.

Dimetro da galeria calculado por meio da frmula de Manning:

5,0 3 /8 1 3,21
. n . Q 3/81 8/3 0,5
0S 0y D = Q=0,375
5730,5,0=Q
, y0 S0
xS n
S n Sx

em que:

D = dimetro (m).

n = coeficiente de rugosidade.

Q = vazo do trecho (m/s).

S = declividade (m/m).

A profundidade dos tubos das galerias determinada pela soma da altura do


cobrimento mais o dimetro do tubo.

Assimile
Para uma certa vazo calculada, o dimensionamento da tubulao
uma relao entre dimetro e declividade, com o objetivo de se manter a
velocidade do fluxo sempre dentro da faixa determinada.

L
Tempo de escoamento na galeria no trecho (te): te = 60 . v .
plena

Pesquise mais
Para saber mais detalhadamente sobre como dimensionar a rede de
drenagem urbana com todos os elementos de clculo, assista ao vdeo
disponvel em: <https://youtu.be/_IiBQchOKBw? list=PL2AWvQX4E2wCv
l2rZPkELjdInDd5aWVFJ>. Acesso em: 30 jan. 2017.

Sistemas de micro e macrodrenagem 129


U3

Sem medo de errar

Aps a anlise das sarjetas na seo anterior, verifique se as quantidades de bocas


de lobo so suficientes, sabendo que a boca de lobo padro adotada pela prefeitura
do tipo de abertura na guia com largura de abertura de 1,0 m.

Inicialmente, deve-se calcular a vazo mxima de interceptao das bocas de lobo


utilizando-se a expresso geral da boca de lobo, Q = 1,71 . L . H3/2 , com abertura de
1 ,0 m e altura da lmina da gua de 10 cm. Conhecendo a vazo mxima das bocas
de lobo e comparando-a com as vazes afluentes j calculadas, determina-se se a
quantidade de bocas de lobo propostas suficiente.

Vazo das bocas de lobo: QBLP = 1,71 . L . H3/2 0,053759 m3/s

Dividindo a vazo de projeto, fornecida no quadro, pela vazo da boca de lobo,


chega-se ao nmero necessrio de bocas de lobo nos pontos escolhidos.

Quadro 3.3 | Determinao da quantidade de bocas de lobo

Vazo de Nmero de bocas


Boca de Vazo da boca de lobo
projeto de lobo necess-
lobo padro (QBLP), m/s)
(Q, m/s) rias (Q/QBLP)
1 0,01712 0,053759 0,32
2 0,06244 0,053759 1,16
3 0,06787 0,053759 1,26
4 0,07343 0,053759 1,37
6 0,02446 0,053759 0,46
7 0,03669 0,053759 0,68
8 0,05023 0,053759 0,93
Fonte: elaborado pelo autor.

As bocas de lobo BL2, BL3 e BL4 esto subdimensionadas. Como a boca de lobo
padro nica e possui 1 m de largura, nos pontos 2, 3 e 4 devero ser adotadas bocas
de lobo duplas.

130 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Avanando na prtica
Problema de dimensionamento do dimetro e declividade da galeria
Descrio da situao-problema

Voc, como engenheiro projetista, especializado em solucionar problemas


relacionados drenagem urbana, designado a dar continuidade a uma rede de
drenagem j existente. O novo trecho ter 65 m de comprimento e transportar
uma vazo de 0,5 m/s. A declividade para manter a cobertura mnima necessria
de 0,001 m/m. O dimetro da galeria do trecho anterior de 600 mm e a faixa de
velocidade permitida de 0,7 m/s a 5,0 m/s. Determine o dimetro e a declividade
correspondentes do novo trecho da galeria. Use n = 0,013.

Resoluo da situao-problema

A declividade para atender cobertura mnima dada como: Sref 1 = 0,001.

Assumindo D = 600 mm, que igual ao dimetro da galeria a montante, e usando


5,0 3 /8 1 3,21 . . 3/8 1 8/3 0,5
0S 0 y D =
a equao deManning 5730,5n,0=Q
Q=0,375 Q
que y0explicita
S0 a declividade, temos:

xS n
S n Sx
5,0 3 /8 1 n . Q 2 0,013
5,0 3 / 8 1 1 8/3 . 1 2 8/3 0,5
0S 0Syref 2 = Q=0,375
573.,00S
=8/3
Q
0y= Q=0,375 7. 30,5
y0 S500,5 ,0=Q y S0 m/m .

n n8/3 S = 00,00660

xS n 0,312
D n Sx xS 0,312 0,6
x
Para determinar a declividade, Sref 3 necessria para alcanar a velocidade mnima
requerida sob condio de seo plena, a equao de Manning fornece:
5,0 13 /8 2/3 1 1/2 D 1/2 1 8/3 0,5
Vmin0= 5713,.0=Q=0,375
S 0. yR . Sref3 = Q . Sref 3 . Rearranjando
y0 S0a equao para determinao
n xS n n 4 n Sx
5,0 3 /8 1 n . Vmin 0,013
5,0 3 / 8 1 1. 8/3

0,5 . 0,7 21 8/3 0,5
de Sref 3, temos: 30y=6,35 . Q=0,375
0SSref 573,2/3
0 = QS =0y6,35
y0 Q=0,375
S50732/3
,0=Q y0 S0 m/m
= 0,00104 .
0
xS n D n Sx xS n 0,6 n Sx
Ento, a declividade mnima (So) para um tubo de 600 mm o maior entre as
declividades calculadas, ou seja, So = Sref 3 = 0,00660 m/m.

Com a declividade de 0,00660, a velocidade calculada por:


Vplena = Q = 0,5 2 = 1,77 m/s . Sob essas condies de projeto, a velocidade
A . 0,6
4
menor que a velocidade mxima permitida.

Os clculos mostram que usando-se um dimetro de 600 mm e declividade de


0,0066 m/m, as exigncias de projeto so atendidas. A declividade de 0,0066 m/m
maior que a declividade do terreno de 0,001 m/m, e a cobertura mnima necessria
excedida no final da tubulao.

Sistemas de micro e macrodrenagem 131


U3

Faa valer a pena

1. Em um projeto de drenagem urbana, para escolher o tipo de boca de


lobo a ser implantada na localidade, preciso aliar tcnica e economia,
adotando-se a melhor configurao para a situao. As configuraes
mais comuns para as bocas de lobo so as com grelhas, as com abertura
na guia (lateral) e as bocas de lobo combinadas.

Fonte: <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/8/imagens/i300789.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2017.

Dessa forma, em relao s bocas de lobo, correto afirmar que:


a) As bocas de lobo combinadas so as que possuem menor capacidade
de interceptao da vazo afluente.
b) As bocas de lobo com abertura na guia so mais eficientes quando
instaladas em vias niveladas.
c) Em vias com alto trfego de ciclistas, no devem ser instaladas bocas
de lobo com abertura na guia.
d) As bocas de lobo com grelhas so menos suscetveis ao entupimento.
e) As bocas de lobo com grelha so mais eficientes em ruas niveladas.

2. Os poos de visita (PV) so cmaras, e so adotados em projetos de


drenagem urbana que permitem a visita humana, cuja funo principal
permitir o acesso de pessoas s galerias para a inspeo e desobstruo,
alm de receber ligaes de bocas de lobo. Sobre a localizao dos poos
de visita, afirma-se:
I. No devem ser alocados em cruzamentos de vias.

132 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

II. Devem ser instalados sempre que houver mudana de dimetro da


tubulao.
III. Devem ser instalados a montante da rede, no seu ponto inicial.
IV. So dispensados em locais com apenas mudana de declividade.
correto o que se afirma em:
a) I e IV, apenas.
b) I, II e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) II e III, apenas.
e) II e IV, apenas.

3. As galerias de guas pluviais ou rede de drenagem urbana so


responsveis por transportar as guas pluviais coletadas nos dispositivos
superficiais, como as bocas de lobo. Para o dimensionamento da rede,
utilizado o mtodo racional. Para isso, pressupe-se que:
I. A intensidade da chuva no permanece constante.
II. O escoamento nas galerias em conduto livre em regime permanente
e uniforme.
III. A durao da chuva igual ao tempo de concentrao da bacia,
resultando na vazo mxima.
IV. A permeabilidade da superfcie se mantm constante durante a chuva.
So afirmativas corretas:
a) I, II e IV, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

Sistemas de micro e macrodrenagem 133


U3

134 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Seo 3.3

Macrodrenagem: conceitos gerais

Dilogo aberto

Depois de coletadas e transportadas, as guas pluviais so lanadas em um curso


dgua que tem fluxo de 3,00 m/s e declividade de 0,30%. A vazo acrescida do
sistema de microdrenagem de 0,33 m/s. Pretende-se construir uma passagem de
veculos no curso dgua. Para isso, foi proposto um sistema de bueiros duplos, cada
um com 1,00 m de dimetro, que ser instalado em um aterro com altura de 4,00 m.

Figura 3.14 | Bueiro tipo canal livre

Fonte: Tomaz (2015, p. 7-1).

Verifique se o sistema com dois bueiros de 1,00 m de dimetro suficiente para a


vazo afluente, sabendo que o bueiro deve funcionar como canal livre. O coeficiente
de rugosidade de Manning 0,015.

Sistemas de micro e macrodrenagem 135


U3

No pode faltar
A macrodrenagem consiste nas intervenes em fundos de vales que coletam
guas pluviais de reas providas de microdrenagem ou no. A macrodrenagem busca
evitar as enchentes devido bacia urbana, isto , por meio da construo de canais,
revestidos ou no, com maior capacidade de transporte que o canal natural e tambm
por meio de reservatrios de amortecimento de ondas de cheias (TUCCI, 2012).

Critrio de projetos

Para as obras de macrodrenagem, a canalizao projetada deve ser capaz


de conduzir a chuva de projeto, que deve considerar a ocupao futura da bacia,
um perodo de retorno de 100 anos e durao da chuva de 24 horas nos clculos
hidrolgicos, que devem ser realizados utilizando-se o hidrograma e modelos de
simulao matemtica. Por carncia de dados, normalmente so adotados modelos
matemticos tipo chuva x vazo para a definio dos hidrogramas de projeto (TUCCI,
2012; CANHOLI, 2015).

Para Canholi (2015), os principais dados necessrios para a elaborao de estudos


de drenagem compreendem as caractersticas hidrulicas e geomorfolgicas da
bacia, as condies de impermeabilizao local, os tempos de concentrao e as
precipitaes de projeto. Para os dados pluviomtricos devem ser utilizados, onde for
disponvel, as relaes I-D-F (intensidade durao - frequncia).

Dispositivos

Canais: so estruturas hidrulicas que possuem o objetivo de conduzir as guas


de forma a compatibilizar as necessidades com os volumes disponveis no tempo
e no espao. No caso da macrodrenagem, incluem-se os cursos dagua nos canais,
revestidos artificialmente ou no. Os canais podem ser no revestidos, como no caso
de cursos dgua naturais, ou revestidos com solos, gramados, rochas, concreto e
gabies. Os canais podem ainda funcionar como um dispositivo de armazenamento,
atrasando a onda de cheia.

Pesquise mais
Um tnel para transporte de veculos em Kuala Lumpur, Singapura,
funciona, em caso de possibilidade de enchentes, como uma grande
galeria de guas pluviais. De acordo com a intensidade da chuva, trechos
do tnel so disponibilizados para o transporte da enxurrada.

Disponvel em: <http://impeller.xyleminc.com/pt-br/smart-uma-solucao-


inteligente-para-as-aguas-pluviais/>. Acesso em: 4 fev. 2017.

136 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Reservatrios: podem ser diferenciados entre bacias de reteno e bacias de


deteno e, em alguns casos, em bacias de sedimentao. A utilizao de reservatrios,
popularmente conhecidos como piscines, deve levar em conta a fundamental
importncia paisagstica e de lazer, especialmente no que diz respeito aceitao
dessas obras pelas comunidades (CANHOLI, 2015).

Bacias de deteno: so medidas estruturais que visam o armazenamento de


gua de curtos perodos, reduzindo as vazes de pico dos hidrogramas de cheia e
aumentando o tempo de base desses hidrogramas. Esses reservatrios no reduzem
o volume de escoamento direto, mas redistribuem as vazes ao longo do tempo. Eles
so totalmente drenados em menos de um dia, e tm o objetivo de reduzir problemas
de inundaes localizadas; reduzir os custos de um sistema de galerias de drenagem
(reduo das dimenses das galerias); melhorar a qualidade da gua; aumentar o
tempo de resposta do escoamento superficial; melhorar as condies para reuso da
gua e recarga dos aquferos; e reduzir as vazes mximas de inundao a jusante.

Bacias de reteno: so reservatrios superficiais que armazenam um certo


volume de gua permanentemente para servir a finalidades recreacionais, paisagsticas
ou at para abastecimento de gua (CANHOLI, 2015). Podem ser, tambm, pequenos
reservatrios com vegetao ao longo do permetro (wetland). Tm grande valor
paisagstico, e so incorporados ao lazer da comunidade onde esto inseridos. Os
reservatrios de deteno podem ser usados para melhorar a qualidade da gua,
projetados para remover poluentes das guas pluviais por meio de processos de
tratamento fsico (sedimentao), qumico (floculao qumica, em casos especficos)
e biolgico (filtrao atravs da vegetao), podendo remover de 70 a 90% dos slidos
suspensos no afluente do reservatrio (WURBS; JAMES, 2002).

Reflita
A principal funo dos reservatrios reter/deter um certo volume de
gua para atrasar a onda de cheia a jusante, mas se o reservatrio de
reteno estiver sempre na cota mxima no perodo seco, o que ocorre
no caso de uma chuva intensa?

Bacias de sedimentao: so reservatrios com funo principal de reter slidos


em suspenso ou absorver poluentes carregados pelas guas pluviais drenadas
(CANHOLI, 2015).

Plders: so sistemas compostos por diques de proteo, redes de drenagem e


sistema de bombeamento, que visam a proteger reas ribeirinhas ou litorneas que se
situam em cotas inferiores s dos nveis dgua durante os perodos de enchentes ou
mars (CANHOLI, 2015).

Sistemas de micro e macrodrenagem 137


U3

Bueiros: so estruturas hidrulicas, construdas nos pontos baixos dos vales, com o
objetivo de permitir a passagem das guas dos talvegues sob as obras de terraplenagem.
Os bueiros sero tratados mais especificamente no item a seguir.

Drenagem de talvegues bueiros

Como definido anteriormente, os bueiros so estruturas hidrulicas com o objetivo


de permitir a transposio de cursos dagua sob as obras de terraplenagem.

So condutos simples, em geral retilneos e com curta extenso, compostos por:


boca de entrada, a montante; pelo corpo da obra; e, a jusante, pela boca de sada.
Tm trs funcionamentos hidrulicos (Figura 3.15) distintos, como: canal (escoamento
livre), como orifcio (carga hidrulica a montante) e conduto forado (submergncia
das duas extremidades).

Figura 3.15 | Condies de funcionamento hidrulico dos bueiros: (a) como conduto
forado; (b) e (c) como orifcio; (d), (e) e (f) como canal

Fonte: Baptista e Coelho (2010, p. 359).

Quanto forma, os bueiros podem ser tubulares (sees circulares) ou celulares


(seo transversal retangular ou quadrada) (BAPTISTA; COELHO, 2010).

O dimensionamento de obras novas realizado considerando-se a hiptese de


funcionamento do bueiro como canal, ou seja, sem admitir-se carga hidrulica a
montante, sendo aceitvel uma pequena carga hidrulica, limitada a 20% da dimenso
vertical da obra. As velocidades dos escoamentos so limitadas a 4,5 m/s para bueiros
em concreto e 6,0 m/s para bueiros em material metlico. A condio de no formao
se carga hidrulica a montante, indicando que a vazo afluente igual ou inferior
vazo admissvel na obra, verificada usualmente para profundidades a montante (Hm)
at 20% superior dimenso vertical do bueiro (D ou H) (BAPTISTA; COELHO, 2010).

138 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

O primeiro passo para o dimensionamento do bueiro determinar o regime


de funcionamento, que feito por meio da comparao da declividade de
assentamento do bueiro com a declividade crtica (SC), calculada para bueiros
5,0 3 /8 1 1 n2 8/3 0,5
0SQ=0,375
tubulares por SC0y=32,82 . 573,0y=0 QS;0 e, para bueiros celulares, por meio de

x S nn S3xD

5,03./8n231/8 1 8/3
5,02,6 1 40,5. H 1 4/3 8/3 0,5
Q=0,375
0S
SC = 0S
0y 0y. Q=0,375
3y0+n57035,07
S 3Q
= ,0= Q y. 0O S 0
regime
subcrtico quando a declividade
3
H n
S x S
x

n
x S B n Sx
de implantao for inferior crtica e, para declividades superiores crtica, o
funcionamento se dar no regime supercrtico.

Para o dimensionamento subcrtico (escoamento uniforme), incluindo a folga de


20%, a vazo admissvel (Qadm) e a velocidade do fluxo (V), para bueiros tubulares, so
5,0 3 /8 0,305
11 . 8/38/3 . 0,51/2 5,0 3 /8 0,452 11 . 8/3
0,5
Q=0,375
calculadas por: Q S = y n y5
D073,S
0S
=
0 Q e Q=0,375
Vadm
0S = 0 y yD072/3
5 .SS
3,0 =01/2
Q .
0 0
S
xS nx
xnSS

adm n n nx
2 /15S
3 /1 1/3
/8 )H
(3(0,8
0,8 5
1.BBB1H. 8)H)
5
,05( 1/30,5
S1/2 1/2
.0S=QQ e
so: Q=0,375
,0 8/3
=
Para os bueiros celulares, as expresses QQadm
= S y
02+ 1,6. H) y 0 5
S
7 3=,
0 (B ) B ( n n
0 da
n (B +)H
adm 2 2 m
n SxS
1,6 6 1 n+
x ,
H
5,0 3 /8 1 Q 1 8/3 0,5
0S 0y Q=0,375 ,0.=Q . y0 S0
V = 57.3adm
xS n 0,8 B n HSx
No dimensionamento para o regime supercrtico, deve-se limitar a vazo admissvel
vazo correspondente ao regime crtico, com altura caracterstica da energia
especfica igual ao seu dimetro ou altura. Sendo assim, as expresses para os bueiros
tubulares so: (Qadm = 1,533 . D5/2) e (V = 2,56 . D ).

Para os bueiros celulares, as expresses so:

(Qadm = 1,705 . B . H3/2) e (V = 2,56 . H ).

Para todas as expresses,

D = dimetro dos bueiros, em metros.

B = base e H a altura dos bueiros celulares, tambm em metros.

n = coeficiente de rugosidade de Manning.

A vazo (Q) dada em m/s; a velocidade (V), em m/s; e as declividades (S), em


m/m.

No caso de associaes de bueiros duplos, triplos etc., adota-se uma reduo da


capacidade de vazo de 5% para cada acrscimo.

Sistemas de micro e macrodrenagem 139


U3

Exemplificando
Exemplo: dois bueiros de 1,0 m esto alinhados e a vazo admissvel
calculada para um bueiro de 1,1 m3/s. Qual ser a vazo de projeto para
os dois bueiros?

Considerando-se a reduo de 5% por bueiro alinhado, tem-se:

Qadm = 2 . 0,95 . 1,10 = 2,090 m3/s.

Drenagem de talvagues - vos livres de pontes

As pontes so estruturas de obras de arte especiais destinadas transposio de


cursos dgua de porte mais significativo, que no poderiam ser vencidas por outras
estruturas, como os bueiros, por exemplo.

Neste texto, ser abordada a anlise hidrulica referente definio da seo


de vazo necessria transposio adequada de curso dgua, considerando-se o
escoamento como sendo uniforme.

Segundo Baptista e Coelho (2010), para a anlise hidrulica das pontes, se


fazem necessrios estudos hidrolgicos para determinao da vazo afluente a
ser considerada no projeto, alm de levantamentos topogrficos e batimtricos do
local para determinao da declividade e das caractersticas geomtricas da seo
de clculo; e tambm a caracterizao geotcnica do local da obra. Alm disso,
importante determinar, atravs de inspeo de campo, a rugosidade do local.

Para o clculo do vo da ponte, necessria a determinao em campo da cota


mxima j atingida pelo nvel dgua (NA) no local da obra. Essa cota chamada de
mxima cheia de vestgio (MCV).

Com os dados de campo j determinados, aplica-se a equao de Manning,


5,0 3 /8 Q 1 . n 1 8/3 0,5
0S 0y Q=0,375
agrupando-se as variveis hidrulicas e geomtricas: 1/2
57A3,.0R=2/3
= . yTodas
hQ 0 S0 as

xSS n n Sx
variveis do lado esquerdo da equao so conhecidas previamente, assim como a
seo do curso dgua. A determinao da rea (A) e do permetro molhado, necessrio
para determinao do Rh da seo feito para cada nvel dgua, conforme Figuras
3.16 e 3.17:

140 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Figura 3.16 | Esquema de estudo hidrulico de uma ponte

Nn

N2
N1

Fonte: Baptista e Coelho (2010, p. 353).

Com isso, so calculados os produtos (A . R2/3


h ) para diferentes nveis. tambm

traado o grfico auxiliar de clculo.

Assimile
Grficos auxiliares so valores padronizados em tabelas e grficos que
so calculados a partir dos dados geomtricos da seo para auxiliar
nos clculos, reduzindo-se os clculos interativos necessrios para o
dimensionamento dos tamanhos dos canais.

E com o valor conhecido da velocidade, determina-se o nvel atingido pelo NA para


a mxima cheia de clculo (MCC). Os valores determinados de MCV e MCC devem ser
analisados e confrontados a fim de se determinar a cota de mxima cheia de projeto
(MCP). Assim, determina-se a cota correspondente face inferior da longarina da
ponte. Para a cota da longarina, deve ser considerado o valor da borda livre (BL) ou
folga, que funo do grau de segurana desejado. Porm, usualmente, adota-se
2 m, em funo da possibilidade de transporte de materiais pelos cursos dgua
passveis de ficarem retidos na estrutura.

Figura 3.17 | Perfil longitudinal esquemtico de uma ponte

Fonte: Baptista e Coelho (2010, p. 354).

Sistemas de micro e macrodrenagem 141


U3

Problemas comuns em sistemas de macrodrenagem

Em muitos casos, a acelerao dos escoamentos resultante das canalizaes


convencionais dos sistemas de drenagem tornam-se mais deletria quanto ao potencial
de provocar inundaes do que a prpria impermeabilizao da bacia (CANHOLI,
2015). A implantao de sistemas de drenagem, que normalmente consideram
velocidades elevadas para o escoamento nos condutos, provoca grande aumento
nas vazes drenadas. Em contraposio, se a drenagem fosse realizada de forma a
manter-se em condies prximas s naturais, o impacto da impermeabilizao seria
bem menor.

Vocabulrio
Deletria: prejudicial, nociva.

Gabio: sistema de conteno formado por caixas ou sacos metlicos,


preenchidos com pedregulhos. Disponvel em: <http://techne.pini.com.
br/engenharia-civil/108/artigo287069-1.aspx>. Acesso em: 9 fev. 2017.

Para Canholi (2015), as seguintes recomendaes devem ser seguidas para melhor
desempenho do sistema de macrodrenagem:

Manuteno, tanto quanto possvel, do traado natural do crrego original,


fixando-se as curvas e eventuais alargamentos existentes. Caso se necessite
majorar a capacidade de vazo, pode-se promover a ampliao das calhas.

Reduo das declividades a partir da introduo de degraus ou a manuteno


das declividades naturais.

Adoo de revestimento naturais, sempre que possvel, como vegetao e


grama, desde que compatveis com as velocidades que se pretenda manter.

Insero de patamares (sees mistas) na seo hidrulica, mantendo as


vazes mais frequentes contidas no leito menor. No leito maior, devem ser
previstos parques e reas de lazer, implantando-se vegetao arbustiva e
gramados.

Alm disso, outro problema comum que ocorre nas bacias de deteno a ligao
clandestina de esgoto. Os reservatrios se tornam lagoas de esgoto, proliferando
vetores, exalando mau cheiro, degradando a vizinhana. Os reservatrios de reteno
tm que permanecer vazios para cumprir sua principal funo, que a de reter a onda
de cheia. Os reservatrios de deteno tambm tm que permanecer com o nvel de
gua mximo para o qual foi projetado. Caso contrrio, no amortecer a chuva.

142 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Sem medo de errar

Sabendo que o bueiro deve funcionar como canal livre, temos a verificao da
condio de funcionamento hidrulico:
n2 0,0152
SC = 32,82 . = 32,82 . 3 = 0,00738 ou 0,74% .
3
D 1
S(0,30%) < Sc (0,74%). OK! Ento, o canal est no funcionamento subcrtico.

Clculo da vazo admissvel:


0,305 . 8/3 . 1/2 0,305 . 8/3 .
Qadm = n D S = 0,015 1 0,0031/2 = 1,114 m3/s .

Bueiro duplo, reduo de 5%: Qadm = 2 . 0,95 . 1,114 = 2,116 m3/s.

A vazo afluente a soma da vazo do crrego e da vazo adicional do sistema de


microdrenagem: Qafl = 3 + 0,33 = 3,33 m3/s .

Como Qafl = (3,33 m3/s) > Qadm (2,116 m3/s), a estrutura proposta no suficiente
para essa vazo. Portanto, aumenta-se o dimetro para 1,20 m e faz-se as verificaes.

Verificao da condio de funcionamento hidrulico:


n2 0,0152
SC = 32,82 . = 32,82 . 3 = 0,00694 ou 0,69%.
3
D 1,20
S(0,30%) < Sc (0,69%). OK! Ento, o canal est no funcionamento subcrtico.

Clculo da vazo admissvel:


0,305 . 8/3 . 1/2 0,305 .
Qadm = n D S = 0,015 1,208/3 . 0,0031/2 = 1,811 m3/s.

Bueiro duplo, reduo de 5%: Qadm = 2 . 0,95 . 1,811 = 3,441 m3/s.

Como Qafl(3,33 m3/s) < Qadm(3,441 m3/s), a estrutura proposta, contendo dois
bueiros, com dimetros de 1,20 m feitos em concreto, suficiente para essa vazo
afluente.

Sistemas de micro e macrodrenagem 143


U3

Avanando na prtica

Dimensionamento de vo de ponte
Descrio da situao-problema

Voc, como engenheiro, precisa avaliar a qual altura pode-se construir uma ponte
sobre um canal retificado e revestido com placas de concreto (n = 0,015), com seo
transversal composta, conforme a Figura 3.18. O canal tem 12 m de largura e altura
total de 5 m. A vazo mxima do fluxo de 110 m/s e declividade local de 0,001 m/m.
O projeto exige uma borda livre mnima de 1,00 m. Determine a cota com a qual a
ponte pode ser construda. Utilize o grfico auxiliar fornecido.

Figura 3.18 | Seo transversal do canal

12,0 m

3,0 m

2,0 m
1:3

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 3.19 | Grfico auxiliar

4
3,70
3

1.82 11.59 33.41 52.18 60.35 90.43 A Rh2/3


Fonte: elaborada pelo autor.

144 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Resoluo da situao-problema

Utiliza-se o grfico auxiliar para determinao da lmina dgua. Para isso,


Q.n
necessrio calcular S1/2 :
Q.n 110 . 0,015
S1/2 = 0,0011/2 = 52,18

Entrando no grfico com o valor de 52,18, encontra-se a lmina dagua


correspondente de 3,70 m, sendo esse o valor de MCP.

Como o canal tem 5,00 m de profundidade total, a viga pode ser posicionada
na cota correspondente ao topo do canal e garantir a borda livre mnima de 1,00 m,
exigida no projeto.

BL = 5,0 m 3,70 m = 1,3 0m > 1,00 m. OK!

Faa valer a pena

1. Juntamente com a microdrenagem, a macrodrenagem compe a


gesto de guas pluviais urbanas. A microdrenagem a responsvel pela
primeira coleta e encaminhamento das guas pluviais em pequenas e
mdias bacias urbanas.
Sobre a microdrenagem e a macrodrenagem, correto afirmar:
a) A microdrenagem trata de eventos com precipitaes pequenas,
enquanto a macrodrenagem trata de grandes precipitaes.
b) A microdrenagem tem a funo primordial de evitar enchentes.
c) A macrodrenagem consiste nas intervenes em fundos de vales
que coletam guas pluviais de reas providas de microdrenagem ou
no.
d) O perodo de retorno mais adotado em obras de macrodrenagem
de 10 anos.
e) Canais, bacias de sedimentao e bocas de lobo so dispositivos da
macrodrenagem.

Sistemas de micro e macrodrenagem 145


U3

2. Com relao aos dispositivos pertencentes macrodrenagem, analise


as afirmaes a seguir:
I. Os canais, alm da funo de transporte, podem servir como dispositivo
de amortecimento da onda de cheia.
II. Entende-se por canais os condutos construdos artificialmente, apenas,
e revestidos para melhor conduzir o fluxo de montante a jusante.
III. Os plders so sistemas que tm a funo principal de proteo de
reas ribeirinhas e costeiras.
IV. A principal funo dos reservatrios de reteno a de armazenar
gua para futuro abastecimento com fins potveis.
correto o que se afirma em:
a) I e IV, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) I e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

3. Os reservatrios so unidades hidrulicas de acumulao e passagem


de gua instalados em pontos estratgicos para atender a objetivos
diversos. Sobre os reservatrios de amortecimento de enxurradas, analise
as afirmaes a seguir:
I. Os reservatrios so obras de engenharia com funo fundamental
na gesto de guas pluviais. Sendo assim, a implantao deve ser
somente tcnica.
II. Os reservatrios (ou bacias) de deteno tm funo de
armazenamento de curto perodo, reduzindo a vazo de pico dos
hidrogramas de cheia.
III. Os reservatrios de reteno e sedimentao tm a funo de
sedimentar partculas slidas, melhorando a qualidade da gua a
jusante. Ambos devem ser drenados por completo em menos de um
dia.
IV. Os reservatrios de reteno tm como vantagem, em relao aos
reservatrios de deteno, a melhor qualidade de gua disposta
jusante, e a melhor integrao ao meio urbano.
V. Os reservatrios de reteno devem ser mantidos secos entre
precipitaes. Caso contrrio, no tero funo de amortecer os picos
de vazo.

146 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Sobre as afirmaes dadas, correto o que se afirma em:


a) II, IV e V, apenas.
b) I, II e V, apenas.
c) IV e V, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III, IV e V.

Sistemas de micro e macrodrenagem 147


U3

148 Sistemas de micro e macrodrenagem


U3

Referncias

AZEVEDO NETTO, Jos M. de. Manual de hidrulica. 9. ed. So Paulo: Edgard Blucher,
2015.
BAPTISTA, Mrcio Benedito; COELHO, Mrcia M. Lara Pinto. Fundamentos de
engenharia hidrulica. 4. ed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.
BOTELHO, Manoel Henrique Campos. guas de chuva: engenharia das guas pluviais
nas cidades. So Paulo: Edgard Blucher, 2006.
CANHOLI, Alusio. Drenagem urbana e controle de enchentes. So Paulo: Oficina de
Textos, 2015.
CRUZ, Tiago. guas pluviais dimensionamento: planilha atualizada.. 2015. Disponvel
em: <https://youtu.be/_IiBQchOKBw?list=PL2AWvQX4E2wCvl2rZPkELjdInDd5aWVFJ>.
Acesso em: 30 jan. 2017.
G1 Bauru e Marilia. Falta de infraestrutura causa alagamento em conjunto habitacional.
G1, 4 jan. 2017. Disponvel em: <http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2017/01/
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24 jan. 2017.
GRIBBIN, John E. Introduo hidrulica, hidrologia e gesto de guas pluviais. 4. ed.
So Paulo: Cengage Learning, 2014.
HOUGHTALEN, Robert J.; HWANG, NHC; AKAN, A. O. Engenharia hidrulica. 4. ed. So
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
IMPELLER. SMART, uma soluo inteligente para as guas pluviais. 29 ago. 2012.
Disponvel em: <http://impeller.xyleminc.com/pt-br/smart-uma-solucao-inteligente-
para-as-aguas-pluviais/>. Acesso em: 4 fev. 2017.
NICKLOW, JOHN W. Design of stormwater inlets. In: MAYS, Larry W. Stormwater
collection systems design handbook. New York: McGraw-Hill Professional, 2001.
SHAMMAS, N. K. et al. Abastecimento de gua e remoo de resduos. 3. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2013.
TOMAZ, P. Bueiros ou travessias. In: ____. Curso de manejo de guas pluviais.
[s.l.: s.n.], 2015. Disponvel em: <http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/Novos_livros/
bueiros_travessia/capitulo_07_Bueiros_ou_travessias.pdf>. Acesso em: 9 fev. 2017.

Sistemas de micro e macrodrenagem 149


U3

TUCCI, Carlos E. M. Hidrologia: cincia e aplicao. 4. ed. Porto Alegre: Editora da


UFRGS/ABRH, 2012.
WURBS, Ralph Allen; JAMES, Wesley P. Water resources engineering. New Jersey:
Prentice Hall, 2002.

150 Sistemas de micro e macrodrenagem


Unidade 4

Tcnicas compensatrias em
drenagem urbana

Convite ao estudo
Ol, aluno! Seja bem-vindo!

Embasados no conhecimento prvio adquirido no tema de hidrologia,


micro e macrodrenagem, nesta unidade estudaremos a aplicao da
drenagem no meio como um todo, incluindo os sistemas estruturais e no
estruturais. Ao final desta voc estar apto a elaborar um relatrio com a
soluo de redimensionamento de canal, e de outras solues estruturais
cabveis e no estruturais.

O estudo da drenagem urbana abrangente, mas, pensando em uma


situao comum da realidade, imagine voc trabalhando em uma incorporadora
que lanar um grande loteamento. Um empreendimento como esse exige um
estudo profundo dos impactos ambientais e urbanos. Voc ficou responsvel
por preparar um relatrio, importante na legalizao do loteamento, com todo
o levantamento do sistema de drenagem urbana existente para estimar quais
sero as estruturas que devero ser redimensionadas ou recuperadas e quais
so as obras estruturais e no estruturais que devero ser executadas.

Esta unidade est dividida em trs sees. Na Seo 4.1 sero abordados
os temas referentes estabilidade de taludes, restaurao de canais
naturais, ao controle do processo de eroso e ao assoreamento de canais,
retificao e renaturalizao de canais, alm das formas de controle do
escoamento na fonte.

Na Seo 4.2, abordaremos a retificao e o consequente aumento da


capacidade de hidrulica dos canais e as medidas de reteno e deteno de
guas pluviais para amortecimento das ondas de cheia, captao e detritos e a
melhoria na qualidade da gua.
U4

J na Seo 4.3, sero abordadas as medidas no estruturais em drenagem


urbana, como o controle de ocupao urbana, o sistema de alerta e seguros, os
sistemas de educao ambiental e a integrao do plano diretor de drenagem
urbana com os outros planos diretores municipais.

152 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Seo 4.1

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana:


conceitos gerais e introduo s medidas
estruturais

Dilogo aberto
Voc, como engenheiro projetista responsvel pela legalizao de um novo
loteamento, informado pelo poder pblico municipal que, para ter a obra autorizada
ser necessrio adotar medidas sustentveis de gesto das guas pluviais, desonerando
a infraestrutura pblica local. O ambiente no qual o loteamento ser inserido rodeado
por crregos e rios que sofrem com processos erosivos e transbordamento das calhas
em perodos de cheias.

Proponha medidas de controle de escoamento na fonte para que o loteamento


atenda s exigncias municipais e o mnimo do escoamento superficial seja lanado
na rede pblica de drenagem.

No pode faltar

1. Estabilidade de taludes e de restauraes de canais naturais

O propsito fundamental da estabilizao e proteo de margens, sob o ponto


de vista hidrulico, manter a seo do curso dgua estvel e dentro dos limites
estabelecidos para sua utilizao, seja como via de navegao, componente de
um sistema de drenagem, aproveitamento hidreltrico ou abastecimento de gua
(BRIGHETTI; MARTINS, 2001).

Segundo Brighetti e Martins (2001), os principais objetivos da estabilizao dos


taludes e margens so:

Evitar a eroso das margens com perda de material e dados aos terrenos
adjacentes;

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 153


U4

Melhorar o alinhamento do fluxo, manter a forma da seo transversal;

Contribuir com a estabilidade geotcnica;

Contribuir com a manuteno, aspectos visuais e paisagsticos, limpeza etc.

A ao hidrulica sobre as margens ocorre na forma de correntes, que arrastam


o material constituinte, e na forma de ondas, provocadas pelo prprio escoamento,
vento, pela operao de estruturas hidrulicas ou pelo movimento das embarcaes.

As formas de proteo usualmente empregadas contra a ao hidrulica so


classificadas em dois grupos, os revestimentos ou protees diretas ou contnuas e os
diques e espiges, tambm considerados como protees indiretas ou descontnuas
(BRIGHETTI; MARTINS, 2001).

As protees diretas ou contnuas so normalmente apoiadas ou executadas


diretamente no talude das margens e consistem na reduo do ngulo de talude, do
revestimento das margens com pedregulhos, cascalhos, pedras britadas, vegetao,
revestimento asfltico, enrocamento com pedras lanadas, gabies, cortinas contnuas
e muros. Elas tm a vantagem de no necessitar da diminuio da rea hidrulica do
rio; so normalmente mais eficientes e garantem a fixao definitiva das margens.
No entanto, apresentam a desvantagem de necessitar de uma construo mais
complicada e precisa, podendo encarecer a obra, alm de manuteno cuidadosa
para no pr em perigo toda proteo.

As protees indiretas ou descontnuas so obras construdas a uma certa distncia


da margem para desviar as correntes e provocar a decantao de material slido
transportado pela gua, sendo constitudas de espiges e diques de proteo. Tm
como vantagem serem normalmente mais econmicas, os custos da manuteno
diminuem no tempo, a destruio em um trecho da obra no pe em perigo todo o
resto, podem ser construdas por etapas e a reteno de sedimentos proporciona uma
proteo adicional. E suas desvantagens so a menor eficincia e menor garantia da
proteo, diminuio da rea hidrulica do rio, aumento da rugosidade das margens,
produo de perdas de carga adicionais, no so aconselhadas para raios hidrulicos
menores ou iguais a duas vezes a largura do curso d'gua e podem no fixar a margem
entre elas (BRIGHETTI; MARTINS, 2001).

Controle do processo de eroso e assoreamento em canais

A eroso das margens e o transporte de sedimentos podem causar o assoreamento


nos canais. As aes erosivas das correntes consideram as foras erosivas crticas
sobre o material constituinte do leito e das margens. Se a fora erosiva atuante for
superior erosiva crtica ou ao limite do material, ocorrer a eroso. Segundo Brighetti
e Martins (2001), os recuos das margens ocorrem quando h a eroso do p do talude,

154 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

provocando seu solapamento, o que pode provocar o assoreamento nos canais,


dependendo do grau da eroso e da geometria do canal.

As guas dos rios e canais transportam slidos, desde muito finos at granulares.
Os slidos que os rios transportam seguem apenas um sentido, o da gravidade, e no
retornam, naturalmente, s cabeceiras das bacias ou das partes superiores dos leitos
(VIDE, 2016).

O transporte de sedimento por um rio pode ser classificado segundo o critrio


do mtodo de transporte, que pode ser em suspenso ou pelo fundo (rodando ou
saltando), e de acordo com o mtodo da origem do material, que a bacia hidrogrfica.
O transporte total de sedimentos a soma dos sedimentos transportados por arraste e
os transportados em suspenso.

A tenso de arraste corresponde tenso de cisalhamento exercida pela gua em


escoamento junto ao leito e s margens do curso dgua. Na hiptese de escoamento
uniforme, pode ser obtida por:
= Rh S

Em que a tenso de arraste, em kgf/m; o peso especfico da gua em


kgf/m, Rh o raio hidrulico, em m; e S a declividade, em m/m.

Porm, as tenses de arraste no se distribuem igualmente na seo transversal


do canal, sendo maior no fundo que nos taludes dos canais. Em sees de forma
trapezoidal, forma aproximada para a maioria dos cursos naturais, podem ser definidas
duas expresses para tenso de arraste (BAPTISTA; COELHO, 2010). Para o leito, a
tenso de arraste calculada por 0 = y S e, para os taludes, ela calculada por
t = 0, 76 ( y S ) , em que y a altura do canal, em m.
Quando as duas tenses de arraste efetivas forem inferiores a uma tenso de
arraste crtica ( ), o canal estar estvel (BAPTISTA; COELHO, 2010).

A tenso de arraste crtica a funo do material constituinte do canal e das


caractersticas do sedimento eventualmente transportado pela gua.

O processo de assoreamento numa bacia hidrogrfica encontra-se intimamente


relacionado aos processos erosivos, uma vez que so estes que fornecem os materiais
que, ao serem transportados e depositados, daro origem ao assoreamento.

Este ocorre em regies rebaixadas, como o fundo de vales, rios, mares ou qualquer
outro lugar em que o nvel de base da drenagem permita um processo de deposio.

A quantidade e a granulometria do material transportado pelas guas so em funo


de sua velocidade (energia) e de seu volume. guas com pouca energia transportam
material mais fino, enquanto que energias mais altas transportam, alm do material

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 155


U4

fino em suspenso, material grosseiro que arrastado e desce aos saltos por meio
do talvegue do rio

medida que a gua perde energia, o material mais grosseiro comea a assentar-
se (depositar) na calha dos rios ou nos remansos dos meandros, dando origem aos
depsitos fluviais.

Os sedimentos que atingem os dispositivos de drenagem se depositam no leito,


devido reduo da declividade e da capacidade de transporte. Os sedimentos
depositados reduzem a capacidade de escoamento de cheias dos canais da
macrodrenagem e as inundaes se tornam mais frequentes. O reparo para esse
problema, na maioria dos casos, feito utilizando o processo de dragagem. No
entanto, problemas como os o alto custo da operao, a necessidade de uma rea
para depositar o material dragado, a degradao das margens e as interrupes no
trnsito que ocorrem, se o material retirado por caminhes, esto associados a estas
atividades. A reduo da capacidade dos condutos um problema mais srio, j que a
limpeza deles representa custos significativos (TUCCI; COLLISCHONN, 1998).

Retificao, renaturalizao e desvios

A retificao, a renaturalizao e os desvios so tcnicas de interveno em canais


ou rios.

A renaturalizao consiste na interveno em canais (Figura 4.1), nos quais se busca


voltar s condies naturais do rio tal qual era antes da retificao. Voltar ao que era tal
qual era antes da interveno humana impossvel, mas se busca voltar s condies
mais prximas, considerando a capacidade de transporte, o revestimento natural e
a inclinao do leito natural e, como consequncia disso, buscar a revitalizao do
ecossistema natural.
Figura 4.1 | Sees tpicas antes e depois da renaturalizao

Seo tpica existente

Coletor de esgotos
Seo futura
Fonte: Canholi (2005, p. 64)

156 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Pesquise mais
A tendncia atual a renaturalizao dos rios urbanos. Um exemplo
disso a recuperao do Rio Cheonggyecheon, em Seul. Disponvel em:
<http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/234/restauracao-do-
cheonggyecheon-seul-coreia-do-sul-296126-1.aspx>. Acesso em: 22 mar.
2017.

Com a retificao de um rio, alm da mudana geomtrica do traado, procura-se


melhorar as condies de escoamento e estabilidade, possibilitar o rebaixamento da
linha dgua das cheias, viabilizar a navegao e recuperar o terreno marginal.

Segundo Canholi (2005), para diminuio dos impactos no meio, a retificao ou


canalizao deve:

Manter, o quanto possvel, o traado natural do crrego original, ficando-


se as curvas e eventuais alargamentos existentes. Caso necessite majorar a
capacidade de vazo, pode-se promover a ampliao da calha.

A reduo das declividades a partir de incluso de degraus, ou preferencialmente,


a manuteno das declividades naturais.

A adoo de revestimentos rugosos, como gabies e enrocamento, ou de


revestimento naturais, como vegetao e grama, desde que compatveis com
as velocidades que se pretenda manter.

Adotar seo hidrulica de patamares (sees mistas), mantendo as vazes


mais frequentes contidas no leito menor. No leito maior devem ser previstos
parques e reas de lazer.

J os desvios so canais artificiais, revestidos ou no, adjacentes ao rio ou ao canal


existente, que transportar parte da vazo afluente do canal para uma outra finalidade.

Assimile
Retificao: interveno em curso dgua natural, alterao no percurso
natural do curso, tornando-o mais retilneo, na maioria dos casos, alterando
o revestimento natural.

Renaturalizao: interveno em curso dgua j modificado anteriormente


com o objetivo de retornar caractersticas (percurso, revestimento e
declividade) prximas s naturais.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 157


U4

Controle de escoamento na fonte

De forma geral, so dispositivos de pequenas dimenses e localizados prximos


aos locais nos quais os escoamentos so gerados, ou seja, na fonte do problema.
Apesar dos custos de implementao poderem ser simplificados, por causa da menor
sobrecarga para cada rea controlada e da relao direta que possvel estabelecer
entre rea urbanizada e deflvio, os custos de manuteno e operao podem elevar-
se devido multiplicao das unidades implementadas (CANHOLI, 2005).

A disposio no local voltada ao controle em lotes residenciais e vias de circulao,


no qual se promove ou incrementa a infiltrao e percolao das guas coletadas
(CANHOLI, 2005).

O objetivo reduzir os picos de vazes veiculadas para a rede de drenagem. Alm


disso, a conteno na fonte pode promover a recarga de aquferos e possibilitar o
aproveitamento das guas reservadas para usos diversos (CANHOLI, 2005).

A capacidade de absoro do solo depende de fatores, como: cobertura vegetal,


tipo de solo, condies do nvel fretico e qualidade das guas de drenagem.

Mtodos:

Superfcies de infiltrao: a forma mais simples de disposio na fonte, que


permite que as guas superficiais escoem em um terreno vegetado possibilitando a
infiltrao no solo (CANHOLI, 2005; WILSON et al., 2009). Sendo necessrio apenas
a desconexo dos dispositivos de captao do sistema, permitindo que a gua infiltre
no terreno (Figura 4.2).

Figura 4.2 | Superfcies de infiltrao

Fonte: <https://goo.gl/Ta1Jg7>. Acesso em: 22 mar. 2017.

158 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Valas abertas de infiltrao: so valetas que podem ser revestidas ou no com


vegetao, locadas nas adjacncias das vias e estradas, ou em estacionamentos,
que permitem a infiltrao. A vegetao ajuda a proteger o solo da colmatao das
partculas finas decantadas, mantendo a capacidade de percolao do solo (Figura 4.3).

Figura 4.3 | Valas abertas de infiltrao

Inclinao Declividade
lateral
Nvel mximo

Nvel da base
Comprimento

Largura da base

Fonte: adaptada de <https://goo.gl/4PF1i4>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Lagoas de infiltrao: so pequenos reservatrios de deteno (Figura 4.4),


projetados para permanecer com um nvel permanente de gua. Muito utilizado para
compor paisagismo de loteamentos e condomnios (WILSON et al., 2009).

Figura 4.4 | Lagoas de infiltrao

Nvel
mximo
Nvel permanente
Nvel do leito

Fonte: adaptada de <https://goo.gl/Qlwge3>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 159


U4

Bacias e trincheiras de percolao: constitui-se de uma escavao de uma valeta


que preenchida com material granular, como brita ou cascalho, e sua superfcie
reaterrada (Figura 4.5). O material granular promove a reservao temporria do
escoamento, enquanto ocorre a percolao da gua para o subsolo (CANHOLI, 2005).

Figura 4.5 | Bacias e trincheiras de percolao

Nvel mximo Declividade


Profundidade da Porosidade %
trincheira
Comprimento
Nvel da base
Profundidade
da base
Largura
ao tubo

Fonte: adaptada de <https://goo.gl/4zctlH>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Poos de infiltrao: so poos escavados, como sumidouros, que permitem


a infiltrao das guas pluviais para o subsolo (Figura 4.6). a medida mais
recomendada, quando no se dispe de espao ou quando a urbanizao existente,
j consolidada, inviabiliza a implantao das medidas dispersivas de aumento da
infiltrao (CANHOLI, 2005).

Figura 4.6 | Poos de infiltrao

Fonte: <https://goo.gl/35OTYN>. Acesso em: 22 mar. 2017.

160 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Reservatrios domiciliares: os reservatrios domiciliares, ou as piscininhas,


permitem a reservao de uma parcela das guas de chuva, que se infiltram lentamente
no solo ou ainda podem ser reaproveitadas para usos diversos, enquadrando-se nesse
sistema as cisternas (Figura 4.7).

Figura 4.7 | Reservatrios domiciliares

Fonte: <https://goo.gl/OugWJW>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Reflita
Em meio a escassez de gua de boa qualidade, os reservatrios domiciliares
no seriam uma tima soluo para o uso menos nobre da gua?

Para a cidade de So Paulo, a Lei Municipal n 13.276/2002, regulamentada pelo


Decreto n 41.814/2002, torna obrigatria a execuo de reservatrios para guas
coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou no, que tenham rea
impermeabilizada superior a 500 m. O volume a ser armazenado proporcional
rea impermeabilizada do terreno, de acordo com a seguinte formulao:

Vres = 0,15 AI P t
Em que Vres o volume do reservatrio (m), AI a rea impermevel do terreno
(m), t a durao da chuva (1h) e P a precipitao de 60 mm/h.

Exemplificando
Calcule o volume do reservatrio necessrio para atender uma residncia
com 250 m de rea impermevel. Adotar durao de chuva de 1h e
precipitao de 60 mm/h.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 161


U4

Vres = 0,15 AI P t
60
Vres = 0,15 250 1
1000
Vres = 0,15 250 0, 06(m / h ) 1
Vres = 2,25m 3

Pesquise mais

As cisternas so um dispositivo de mltiplos benefcios. Alm de retardar as


ondas de cheias, elas permitem o reaproveitamento da gua armazenada.
Para isso, necessrio o descarte do primeiro milmetro do escoamento
responsvel pela lavagem da superfcie. O vdeo a seguir exemplifica o
dimensionamento desse dispositivo:

ROBERTO CARVALHO. gua de chuva: desviUFPE guia de


dimensionamento e montagem. 2014. Disponvel em: <https://youtu.be/
tgvv06essYs>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Sem medo de errar

Voc, como engenheiro projetista responsvel pela legalizao de um novo


loteamento, informado pelo poder pblico municipal que para ter a obra autorizada
ser necessrio adotar medidas sustentveis de gesto das guas pluviais, desonerando
a infraestrutura pblica local. O ambiente no qual o loteamento ser inserido rodeado
por crregos e rios que sofrem com processos erosivos e transbordamento da calha
em perodos de cheias.

Como soluo, voc deve propor medidas de controle de escoamento na fonte


para que o loteamento atenda s exigncias municipais e o mnimo do escoamento
superficial seja lanado na rede pblica de drenagem.

Portanto, a fim de atender s exigncias do poder pblico municipal, o loteamento


adotar diversas medidas de controle do escoamento na fonte objetivando o mximo
reaproveitamento da gua e minimizando o lanamento na rede pblica de drenagem.

Para isso, ser obrigatrio o uso de cisternas em cada lote construdo, possibilitando
o reaproveitamento das guas pluviais para os usos menos nobres nas atividades
domsticas, como irrigao, lavagem de piso ou ainda o reaproveitamento em bacias
sanitrias. O excesso no coletado nas cisternas dever ser infiltrado no solo atravs de
poos ou trincheiras de infiltrao.

162 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Valas abertas de infiltrao sero construdas ao longo das vias internas do


loteamento com o objetivo de coletar e transportar o excesso do escoamento no
infiltrado nos lotes, funcionando como sarjetas que permitem a infiltrao, coletando
tambm a parte da precipitao que escoa sobre as vias. Todo excesso de gua que no
foi infiltrado nas valas ser coletado por bocas de lobo posicionadas estrategicamente.
O excesso do escoamento coletado pelas bocas de lobo ser transportado por tubos
perfurados, que permitem a infiltrao no solo, at a lagoa de infiltrao localizada no
centro do loteamento que, alm da funo estrutural na drenagem do loteamento,
tem tambm funo paisagstica que permitir atividades de lazer para os moradores.

Para as reas comuns do loteamento, as guas pluviais devem ser encaminhadas


para as reas verdes, permitindo a infiltrao. Em locais sem reas verdes prximas
devero ser construdos poos e trincheiras de infiltrao. O excesso deve ser
encaminhado para a lagoa de infiltrao.

Avanando na prtica
Canais

Descrio da situao-problema

Voc, como engenheiro especialista em restaurao e recuperao de canais,


contratado para apresentar solues para cursos dgua urbanos que oneram o
oramento municipal com servios de recuperao de margens, que sofrem com
a eroso, com a dragagem dos sedimentos acumulados e inundaes de reas a
jusante. Esses problemas foram intensificados com a urbanizao descontrolada na
rea mais a montante, nesse trecho do crrego ocorreu a retificao do curso d'gua,
utilizando revestimento em concreto liso nos taludes e leito, diminuindo a rugosidade
e aumentando a velocidade do fluxo. O acmulo de sedimentos ocorre no trecho de
mudana de declividade natural do curso dgua.

Apresente solues econmicas e duradoras para esse problema.

Resoluo da situao-problema

Como descrito, os problemas apresentados se agravaram com a urbanizao, a


retificao e a mudana do revestimento do trecho do curso dgua a montante. Para
uma soluo definitiva, deve ser feito a renaturalizao do trecho a montante, ou seja,
retornar as caractersticas prximas s naturais do percurso do canal, e do revestimento.
Com a retificao, e retirada das curvas naturais, os cursos dgua tm o comprimento

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 163


U4

efetivo reduzido, diminuindo as perdas de carga, aumentando a velocidade do fluxo; a


mudana do revestimento natural para um revestimento liso tambm contribui com o
aumento da velocidade. Esta causa inundaes a jusante e eroso das margens, que,
como consequncia, intensifica o assoreamento do canal.

Lista-se a seguir procedimentos que devem ser adotados para soluo do problema:

Renaturalizao do trecho retificado: mudana do revestimento liso por um


revestimento rugoso prximo ao natural, retornando o percurso natural do
crrego nos trechos ainda no urbanizados.

Proteo das margens do curso dgua a jusante com material rugoso.

Preservao da declividade natural do curso dgua.

Preservao das margens do curso dgua e desocupao dos locais j


urbanizados ilegalmente que ocupem a calha de maior cheia do curso dgua.

Faa valer a pena


1. A tenso de arraste corresponde tenso de cisalhamento exercida
pela gua em escoamento junto ao leito e s margens do curso dgua.
Analisando um canal trapezoidal com Rh = 1,20 m e declividade de
0,05 m/m e considerando peso especfico da gua igual a 1000 kfg/m.
Sendo: = Rh S .
Calcule e assinale a alternativa correspondente tenso de arraste.

a) 120 kgf/m.
b) 60 kgf/m.
c) 66 kgf/m.
d) 50 kgf/m.
e) 36 kgf/m.

164 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

2. Em um canal, as tenses de arraste no se distribuem igualmente na


seo transversal, sendo maior no fundo (no leito) que nos taludes dos
canais.
Sendo: 0 = y S e t = 0, 76 ( y S ) .
Para um canal com 2,0 m de profundidade e declividade de 0,05 m/m,
considerando o peso especfico da gua igual 1000 kgf/m, pede-se:
Calcule e assinale a alternativa correspondente s tenses de arraste no
leito e nos taludes do canal, respectivamente.

a) 120 e 38 kgf/m.
b) 100 e 38 kgf/m.
c) 100 e 76 kgf/m.
d) 76 e 50 kgf/m.
e) 76 e 100 kgf/m.

3. Para a cidade de So Paulo, a Lei Municipal n 13.276/2002,


regulamentada pelo Decreto n 41.814/2002, obriga que construes
com rea impermeabilizada superior a 500 m retenha parte da gua
precipitada sobre o lote.
Sendo: Vres = 0,15 AI P t
Para um lote com rea total de 1000 m, dos quais 70% impermeabilizado
e, para uma precipitao de 60 mm/h com durao de 1h, pede-se:
Calcule e assinale a alternativa correspondente ao volume mnimo exigido
por lei a ser armazenado.

a) 6,3 m.
b) 9,0 m.
c) 9,3 m.
d) 6,9 m.
e) 3,3 m.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 165


U4

166 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Seo 4.2

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana:


medidas estruturais

Dilogo aberto
Caro aluno,

Voc e toda a equipe de engenharia esto batalhando para viabilizar o novo


loteamento e, como visto na seo anterior, o local rodeado por pequenos
cursos dgua. Para utiliz-los como canais de drenagem de guas pluviais do futuro
loteamento, os tcnicos da prefeitura solicitaram um estudo de estabilidade dos canais.

necessrio determinar a altura mxima permissvel da lmina dgua e a


estabilidade do canal por meio do mtodo das tenses de arraste.

As seguintes caractersticas locais foram fornecidas:

Canal em cascalho aluvionar no coloidal, com partculas medianamente


angulosas, apresentando sinuosidade mediana e declividade de 0,16%.

O canal destina-se a transportar gua com sedimentos coloidais.

Caractersticas locais:

Tenso de arraste crtica inicial de 1,56 kgf/m.

Taludes com inclinao mxima 2:1 ( = 26, 6 ).

ngulo de repouso do material = 34 .

No pode faltar

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: medidas estruturais

Dentre os aspectos relevantes do projeto hidrulico para as medidas


estruturais, para os reservatrios a determinao dos volumes a reservar e do

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 167


U4

dimensionamento das respectivas estruturas das bacias de deteno e, para os


canais, o dimensionamento da geometria e estrutura (CANHOLI, 2005).

Portanto, nesta seo, voc ver o dimensionamento dos canais e a


determinao do volume a reservar nos reservatrios e refletir sobre tcnicas
compensatrias em drenagem urbana por meio de medidas estruturais, como o
aumento da capacidade hidrulica dos canais.

Os canais so estruturas hidrulicas que tm os objetivos bsicos de conduzir


as guas e possibilitar ou favorecer a navegao (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Para a correta readequao dos canais, importante avaliar a capacidade


de vazo das sees existentes, identificando os eventuais pontos de gargalos
(CANHOLI, 2005).

Para o estudo dos canais, algumas definies se fazem importantes (Figura 4.8):

Seo ou rea molhada (A): parte da seo transversal que ocupada pela gua.

Permetro molhado (P): comprimento relativo ao contato da gua com as


paredes do conduto.

Largura superficial (B): largura da superfcie em contato com a atmosfera.

Profundidade (y): altura da lmina dagua acima do fundo do canal.

Profundidade hidrulica ( yh ): razo entre a rea molhada e a largura superficial:


y h
=AB

Raio hidrulico ( Rh ) razo entre a rea molhada e o permetro molhado:


Rh = A P .

Figura 4.8 | Seo tipo de um canal

Fonte: Baptista e Pdua (2016. p. 119).

O Quadro 4.1 apresenta as caractersticas hidrulicas para sees usuais e o Quadro


4.2 lista caractersticas de mxima eficincia hidrulica para essas sees.

168 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Quadro 4.1 | Parmetros caractersticos de algumas sees tipo

rea Permetro Raio Largura Profundidade


molhado hidrulico supercial hidrulica

by
by b + 2y b y
b + 2y

( b + Zy ) y b + 2Z y
( b + Zy ) y
(b + Zy)y b + 2y 1 + z 2
b + 2y 1 + Z 2 b + 2Zy

Zy
Zy 2 2y 1 + Z 2 2Z y 0,5y
2 1+ Z2


sen sen
0,125 ( sen ) D 2
0, 5 D 0, 25 D 2 y ( D y ) 0,125 D
sen 1
2

Fonte: Baptista e Coelho (2010. p. 299).

Quadro 4.2 | Caractersticas das sees de mxima eficincia hidrulica

Forma Seo Geometria tima Profundidade rea A


normal (y)
Trapezoidal
= 60o 3/8 3/ 4
Q Q
2 0, 968 1/n2 1, 622 1/n2
b= y l l
3
Retangular
3/8 3/ 4
Q Q
B = 2y 0, 917 1/n2 1, 682 1/n2
l l

Triangular
3/8 3/ 4
Q Q
= 45 o
1, 297 1/n2 1, 682 1/n2
l l

Circular
3/8 3/ 4
Q Q
D = 2y 1, 000 1/n2 1, 583 1/n2
l l
Fonte: Baptista e Coelho (2010. p. 330).

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 169


U4

Exemplificando
Calcular a rea molhada, o permetro molhado e o raio hidrulico para um
canal retangular com 2,0 m de base e 1,0 m de profundidade:

Permetro molhado = 2 + 1 + 1 = 4, 0 m

rea molhada: 2 1 = 2 ,0 m 2

Raio hidrulico: =h
2= R
4 0, 5

Em muitos casos, os canais existentes so constitudos por trechos de diferentes


tipos de revestimento e diversas sees transversais, ou seja, com redues ou
ampliaes das sees hidrulicas, contnuas ou abruptas, bem como declividades de
fundo no uniformes (CANHOLI, 2005).

O problema de dimensionamento e adequao de canais reduz-se otimizao


da seo transversal (dimenses e revestimento) para transportar a vazo de projeto.
Para melhor otimizao e reduo de custos, procura-se a minimizao da rea a ser
revestida e o volume de escavao, buscando sees transversais que apresentem
mximo rendimento, ou seja, para uma dada rea, declividade e rugosidade, transportam
mxima vazo (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Para o clculo das sees, utiliza-se a frmula de Manning:

5/3
1 A 1/ 2
Q= 2 / 3 S , em que n coeficiente de rugosidade, A a rea molhada
n P
da seo (m), P o permetro molhado (m) e S a declividade (m/m).

A mxima eficincia hidrulica alcanada quando o permetro molhado mnimo


e todos as outras variveis se mantm constante.

Assimile

A mxima eficincia hidrulica alcanada utilizando os parmetros


geomtricos apresentados no Quadro 4.2, assim, para um canal retangular
a eficincia mxima quando a base o dobro da altura da lmina dgua.

Para canais no revestidos (materiais erodveis), pode-se efetuar o dimensionamento


hidrulico dos canais segundo o mtodo da velocidade permissvel e o mtodo das
tenses de arraste. Em ambos os mtodos, essencial a verificao das inclinaes
dos taludes laterais, que limitada em funo das caractersticas geotcnicas locais.

170 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Rochas ss permitem uma inclinao mxima vertical, enquanto solos argilosos porosos
permitem uma inclinao mxima do talude de 3H:1V (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Mtodo da velocidade permissvel

Consiste no dimensionamento respeitando-se as limitaes de velocidade para que


no ocorra a eroso do canal. O limite da velocidade mxima de operao funo
do material constituinte do canal, bem como da carga de material slido transportada
pelo canal (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Os clculos hidrulicos para o dimensionamento dos canais so efetuados com


aplicao da frmula de Manning, limitando-se a velocidade mdia de escoamento
aos valores estabelecidos como mximos.

Mtodo das tenses de arraste

Diferentemente do mtodo das velocidades permissveis, o mtodo das tenses


de arraste leva em considerao a forma da seo, importante para avaliao dos
processos erosivos.

Segundo Baptista e Coelho (2010), o mtodo das tenses de arraste consiste em


dimensionar o canal de forma a manter as tenses de cisalhamento junto s paredes
e ao fundo do canal inferiores a uma tenso admissvel, a partir da qual podem ocorrer
processos erosivos. O mtodo consiste em:

Definir o valor da tenso crtica de arraste, o valor do ngulo de repouso e a


declividade mxima do talude de acordo com o material do canal (esses dados
so encontrados em tabelas).

Aplicar a reduo da tenso crtica de arraste em funo da sinuosidade: 1,00


para canais retilneos a 0,60 para canais extremamente sinuosos.
sen 2
Determinar K para a declividade do talude pr-fixada: K = , em
sen 2
que " " o ngulo do talude com a horizontal e " " o ngulo de repouso
do material.

Determinar a tenso crtica de arraste nos taludes: c ,t = K t .

Determinar y a partir da equao da tenso crtica de arraste nos taludes:


t = 0, 76 ( y S )
Verificar a tenso crtica de arraste no fundo: 0 = y S .

Calcular a base do canal por meio da equao de Manning.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 171


U4

Sees e revestimento:

Segundo Baptista e Coelho (2010), a escolha da forma e do revestimento do canal


dependem de vrios aspectos, como:

Hidrulico: vazes de projeto, velocidades de funcionamento e altura da


lmina dgua.

Tecnolgico e operacional: topografia local, faixa disponvel para implantao,


disponibilidade de materiais, equipamentos, mo de obra, rea para bota-fora,
possibilidade e facilidade para manuteno etc.

Ambientais: impacto das obras e servios, nos aspectos ecolgicos e de


qualidade das guas, como da prpria insero ambiental, em funo da
ocupao das reas adjacentes, paisagismo etc.

Sociais: insero no sistema virio, possibilidade de recreao e lazer etc.

Reflita

Apenas as questes hidrulicas no podem ser decisivas na interveno


em canais, especialmente no meio urbano. A mxima integrao ao meio
deve ser contemplada.

Vrios tipos de revestimentos podem ser usados nos canais, indo dos revestimentos
naturais, passando pelo concreto e at revestimentos geossintticos, como plsticos e
geotxteis, sendo os principais tipos de revestimento discutidos a seguir.

Canais em solos

Como pontos positivos esto o baixo custo de implantao (escavao e transporte


de materiais) e menor impacto ambiental. O crescimento da vegetao natural nas
margens confere um aspecto mais natural ao canal, favorecendo o ecossistema.

Porm, velocidades mais baixas so admissveis implicando na necessidade de sees


de maior porte, alm de poder implicar em processos erosivos e assoreamento, caso
as condies crticas sejam ultrapassadas. Isto implica na necessidade de manuteno
frequente (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Canais gramados

So interessantes devido ao baixo custo de implantao assim como pelo aspecto


esttico. Como os canais de solo, sua maior desvantagem est na manuteno

172 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

frequente e as baixas velocidades de escoamento admissvel. As velocidades mximas


permissveis variam com as espcies vegetais utilizadas. Outros critrios de projeto
devem ser respeitados, como: raios de curvatura sendo o dobro da largura do canal; a
borda livre mnima de 0,30 m e a inclinao dos taludes deve ser compatvel com as
caractersticas dos solos (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Revestimento em concreto

Podem ser em concreto pr-moldado, moldado in loco ou concreto projetado.


O revestimento em concreto mais apropriado para locais com faixa de implantao
reduzida nos quais se pode trabalhar com velocidades mais altas, possibilitando maior
capacidade de vazo. Tem a vantagem de exigir pouca manuteno. No entanto, tem
como desvantagem os maiores custos e pior insero no meio ambiente. Alm dos
aspectos hidrulicos/hidrolgico de antecipao dos hidrogramas de cheia devido ao
aumento das velocidades de escoamento (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Gabies

So os revestimentos mais comuns e consistem em estruturas em grades metlicas


preenchidas com pedras, podem ser do tipo colcho ou do tipo caixa.

Como critrio de projeto, para os gabies do tipo colcho, as velocidades mximas


admissveis variam de 2 a 3,5 m/s para colcho com espessura de 150 mm e de 4
a 5,5 m/s para espessura de 300 mm. Para os gabies do tipo caixa, as velocidades
admissveis so de 5 a 6 m/s. Os gabies caixas permitem taludes com altas inclinaes
podendo at mesmo ser verticais. Os que fazem a manuteno devem atentar-se para
a retirada de resduos slidos retidos nos gabies e o crescimento desordenado de
vegetao (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Pesquise mais
O mtodo para o dimensionamento de estruturas com gabies ofertado
em materiais disponibilizados pelos fabricantes.

Assista ao vdeo do tempo 00:06:14 ao 1:01:00, disponvel em: <https://


www.youtube.com/watch?v=96_g35YDk5A>. Acesso em: 22 mar. 2017.

Canais revestidos com enrocamentos

Os enrocamentos ou rip-raps consistem no simples revestimento de taludes com


pedras lanadas ou arrumadas, com dimenses compatveis com as velocidades de
escoamento. Sua estabilidade funo da velocidade de escoamento, das condies

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 173


U4

de turbulncia do fluxo e das propriedades fsicas das rochas utilizadas. A espessura dos
enrocamentos deve ser correspondente a cerca de 1,5 vezes o dimetro mximo das
pedras ou 2 vezes o dimetro mdio. Os taludes devem ter ngulo de acordo com o
ngulo de repouso natural do material que de cerca de 35 a 42. Como os gabies,
os enrocamentos apresentam boa insero ambiental e social, adquirindo um aspecto
de canal natural (BAPTISTA; COELHO, 2010).

Segundo Escarameia (1998), para o dimensionamento do dimetro mdio das


2

pedras pode ser utilizado a expresso: D p = k s C t


V b
, em que D p o dimetro
2g ( s 1)
k
mdio das pedras (m); s o fator de correo granulomtrica (valor adotado de 1,15);
C t coeficiente de turbulncia do escoamento (
t C
= 12, 3 IT 0, 20 , em que IT
a intensidade da turbulncia); V velocidade de escoamento junto ao leito (m/s); s
a densidade mdia das pedras (entre 2,5 e 2,7); e g a acelerao da gravidade (m/s).

Determinao do coeficiente de rugosidade de Manning para sees simples


com rugosidade varivel e para sees compostas

Segundo Coelho e Baptista (2016), em canais, especialmente nos naturais,


frequentemente ocorre variabilidade do coeficiente de rugosidade de Manning ao
longo da seo transversal, sendo necessria a estimativa de valores representativos.

Em situaes em que as sees so simples (inclusive as trapezoidais) e a rugosidade


varia ao longo do permetro, a rugosidade calculada utilizando uma sistemtica
de ponderao da rugosidade, podendo adotar a seguinte forma de ponderao:
2/3
m 3/2
P i n i , em que n o coeficiente de rugosidade global, P o permetro
(
n = i =1
P

molhado total (m), Pi o permetro molhado associado superfcie i (m) e ni o
coeficiente de rugosidade associado superfcie i.

J para as sees compostas, o clculo do coeficiente de rugosidade equivalente


m
( Ain i
calculado por ne = , em que n o coeficiente de rugosidade global,
i =1

A e

A a rea total (m), A i a rea associada superfcie i (m) e ni o coeficiente de


rugosidade associado superfcie i.

174 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: medidas estruturais - reteno


e deteno

A reteno (Figura 4.9) e deteno (Figura 4.10) de guas pluviais baseada no


conceito de armazenar parte do escoamento temporariamente para, ento, liberar de
maneira controlada de modo a limitar a vazo afluente a uma rea ocupada e abrandar
seus efeitos destrutivos. Alm disso, a reteno de guas pluviais tem o objetivo de
recarga dos aquferos e controle da qualidade da gua (GRIBBIN, 2014).

Figura 4.9 | Reservatrio de reteno

Fonte: Shammas et al. (2013. p. 383).

Figura 4.10 | Reservatrio de deteno

Fonte: Shammas et al. (2013. p. 381).

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 175


U4

Os reservatrios so projetados para que o pico de descarga depois da


urbanizao no seja maior que o anterior. Isso requer que o hidrograma de
escoamento seja computado para as condies antes e depois da urbanizao,
para enchentes de 2 a 100 anos de perodo de retorno. Normalmente, perodos de
retorno para 2, 10 e 100 anos so utilizados para computar os requerimentos de
armazenamento e os dispositivos de sada (WURBS; JAMES, 2002).

O total acumulado geralmente calculado pela diferena do escoamento dos


hidrogramas antes e depois da urbanizao.

O armazenamento e a liberao controlada de guas pluviais so descritos


matematicamente com a propagao de um hidrograma de escoamento.

O mtodo comum para calcular o volume de armazenamento o cota-rea,


que consiste no traado de linhas de contorno ao redor da bacia proposta, sendo,
ento, medida a rea em cada contorno. O volume contido entre quaisquer dos
contornos adjacentes estimado como a mdia das duas reas multiplicada pela
distncia vertical entre elas. O volume total a soma dos volumes incrementais
calculados anteriormente (GRIBBIN, 2014).

Os taludes dos reservatrios, se construdos em solo, devem ser relativamente


pouco inclinados (4:1) para segurana e corte da vegetao (manuteno). O fundo
do reservatrio deve ter uma declividade para evitar o acumulo de gua, quando
isso no atendido, h a proliferao de mosquitos. Acesso para a manuteno
necessrio para a retirada de resduos e sedimentos acumulados.

Dispositivo de sada do reservatrio.

Geralmente, o dispositivo de sada dos reservatrios so orifcios ou uma


combinao entre orifcio e vertedouros que liberam a gua armazenada lentamente.

Os reservatrios devem ter pelo menos um dispositivo de sada e um vertedor


de emergncia. Em alguns casos, mltiplas sadas a diferentes alturas so utilizadas
para facilitar a descarga (CHIN et al., 2000).

A estrutura de sada mais simples consiste em um nico tubo com a soleira


posicionada na cota mais baixa da bacia chamada de sada de nico estgio.
Pode haver ainda um outro tubo em cota mais elevada alm de um vertedor de
emergncia (GRIBBIN, 2014).

A sada de nico estgio se assemelha, hidraulicamente, a um bueiro, com


controle de entrada. Porm, a modelagem hidrulica desse dispositivo feita como
um orifcio, porque o modelo deste produz descargas muitos similares a um bueiro,
agindo com controle de entrada, especialmente para profundidades de reservatrio
acima da coroa do tubo.

176 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

A vazo de sada calculada em funo dos nveis hipotticos da gua no


reservatrio, por meio da equao Q = c a 2 g h , em que Q a vazo de
descarga (m/s), c o coeficiente de descarga (0,62), a a rea da seo transversal
do orifcio (m) e h a carga total (m).

A funo primordial dos reservatrios de deteno e reteno minimizar ondas


de cheia a jusante. Ao adentrar na bacia de deteno ou reteno, o escoamento
temporariamente armazenado e depois deslocado por meio do dispositivo de
sada, a vazo mxima efluente menor que a vazo mxima afluente. Essa reduo
chama-se atenuao (GRIBBIN, 2014).

Parmetros de projeto

Um dos benefcios da utilizao de reservatrios a possibilidade da melhoria de


qualidade da gua afluente do sistema. Incluindo a qualidade da gua como critrio
de projeto, temos os seguintes parmetros importantes para reservatrios: volume
de qualidade da gua (WQV), tempo de evacuao ( Te ) e, para reservatrios de
reteno, o tempo de deteno ( Td ).

Volume de qualidade da gua (WQV): o volume inicial do escoamento


superficial que deve ser armazenado e tratado antes da descarga.

Tempo de evacuao ( Te ) o tempo para que o WQV a ser descarregado


do reservatrio, dado pela relao:
Te

O(t )dt = WQV , em que O (t) o hidrograma de descarga.


0

Tempo de deteno ( Td ): o parmetro aplicvel apenas a reservatrios


de reteno, que mede o tempo mdio que o escoamento superficial
Vpond , em que V o volume de
permanece no reservatrio.
T d
=
Q
pond

reteno, Q o escoamento mdio anual,determinado pela multiplicao


da precipitao mdia anual pelo coeficiente de deflvio.

Para o clculo do hidrograma de sada do reservatrio, utiliza-se dos conceitos


da conservao da massa de gua entrando e saindo do reservatrio.
S
A expresso pode ser escrita da seguinte forma: O = ,
t
Em que: a vazo mdia afluente ao reservatrio durante o tempo t (m/s);
O a vazo mdia efluente ao reservatrio durante o tempo t (m/s); S a
variao no volume do reservatrio durante o tempo t (m), e o t o perodo
incremental (s).

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 177


U4

A soluo numrica um processo de iterao no qual um pequeno incremento


de tempo escolhido e o balano do volume calculado no final de cada perodo.
(GRIBBIN, 2014)

A expresso pode ser melhor escrita da seguinte forma:

O1
+ O2
+ = S 2 S1
1 2

2 2 t

Em que os subscritos 1 e 2 denotam o incio e o fim, respectivamente, do perodo


t escolhido. Ainda podemos organizar a expresso como:

( + ) + 2St O = 2St + O
1 2
1
1
2
2

Para isso, supe-se implicitamente, nesse mtodo de propagao, que:

A superfcie da gua do reservatrio seja horizontal.

A vazo efluente seja uma funo nica do volume de armazenamento.

A vazo efluente varie linearmente com o tempo, durante cada perodo t .

A expresso fornece como resposta um hidrograma de sada ( O2 ), ou seja, uma


lista completa de vazes efluentes da bacia de deteno durante a precipitao
de projeto. A equao ser resolvida muitas vezes, uma vez para cada perodo
escolhido durante a precipitao.

Sem medo de errar


O loteamento em questo, como visto na seo anterior, rodeado por pequenos
cursos dgua. Para utiliz-los como canais de drenagem de guas pluviais do futuro
loteamento, os tcnicos da prefeitura solicitaram um estudo de estabilidade dos canais.

necessrio determinar a altura mxima permissvel da lmina dgua e a estabilidade


do canal atravs do mtodo das tenses de arraste.

As seguintes caractersticas locais foram fornecidas (BAPTISTA; COELHO, 2010):

Canal em cascalho aluvionar no coloidal, com partculas medianamente angulosas,


apresentando sinuosidade mediana e declividade de 0,16%. O canal destina-se a
transportar gua com sedimentos coloidais.

178 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Caractersticas locais:

Tenso de arraste crtica inicial de 1,56 kgf/m

Taludes com inclinao mxima 2:1 ( = 26, 6 )

ngulo de repouso do material = 34

SOLUO:

De acordo com Baptista e Coelho (2010), estimando-se um fator de correo


devido sinuosidade de 75% determina-se a tenso crtica de arraste:
c = 1, 56kgf / m 2 0 75
c = 117
, kgf / m2

Clculo da tenso crtica nos taludes:

Sendo = 26, 6 e = 34

sen 2
K = 1
sen2
sen 2 26 6
K = 1 = 0, 60
sen 2 34
c ,t = K t
c ,t = 0, 60 117
, = 70 kgf m2

Clculo da profundidade em funo da tenso crtica nos taludes:

Para que o canal seja estvel, t c ,t 0, 76 y S 0, 70 kgf m


2

0, 70
y
0, 76 1000 0, 0016
y = 0, 58m
Verificao da tenso no fundo:
0 = y S
0 = 1000 0, 58 0, 0016
0 = 0, 96 kgf / m2

Como a tenso no fundo menor que a crtica, o canal estvel para a profundidade
de 0,58 m.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 179


U4

Avanando na prtica
Volume de um reservatrio

Descrio da situao-problema

Uma das fases do projeto de um reservatrio a determinao do volume a ser


armazenado. Voc est projetando um reservatrio de reteno em uma regio
muito castigada por inundaes. Para o clculo do volume do reservatrio, voc
deve conhecer o hidrograma antes e depois da urbanizao, sendo o volume
armazenado a diferena entre os dois hidrogramas, dependendo do tempo de
deteno determinado.

A Tabela 4.1 apresenta as vazes de escoamento, resultado dos hidrogramas


antes e depois da urbanizao.

Para minimizar os efeitos da onda de cheia, determine o volume do reservatrio


para um tempo de deteno de 10 min.

Tabela 4.1 | Vazes de escoamento

Tempo (horas) Q1 Inicial (m/s) Q2 Final (m/s)


0,00 0,00 0,00
0,17 0,14 0,14
0,33 0,54 0,28
0,50 1,32 0,42
0,67 2,15 0,57
0,83 2,74 0,71
1,00 2,74 0,85
1,17 2,22 0,99
1,33 1,47 1,13
1,50 1,23 1,23

Fonte: elaborada pelo autor.

Resoluo da situao-problema

Inicialmente, necessrio calcular a vazo total, para isso, calcula-se a diferena das
vazes horrias e soma-se no final.

180 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Tabela 4.2 | Diferena horria das vazes

Tempo (horas) Q1 Inicial (m/s) Q2 Final (m/s) Q (m/s)


0,00 0,00 0,00 0,00
0,17 0,14 0,14 0,00
0,33 0,54 0,28 0,26
0,50 1,32 0,42 0,90
0,67 2,15 0,57 1,58
0,83 2,74 0,71 2,03
1,00 2,74 0,85 1,89
1,17 2,22 0,99 1,23
1,33 1,47 1,13 0,34
1,50 1,23 1,23 0,00
Total 8,23

Fonte: elaborada pelo autor.

A vazo total de 8,23 m/s, para isso, necessrio:


Volume = Q t = 8, 23 (10 min 60s ) = 4938m 3

Faa valer a pena

1. Dimensione uma proteo em enrocamento junto aos taludes de um


canal, sabendo-se que a velocidade de escoamento junto s pedras
de 0,94 m/s, o IT de 0,45; Ks 1,15 e a densidade mdia das pedras s
de 2,60. 2
V
Sendo: C t = 12, 3 IT 0, 20 e D p k s C t 2g s 1
= b

( )
Calcule e assinale a alternativa correspondente ao dimetro mdio das
pedras.

a) 0,20 m.
b) 0,32 m.
c) 0,25 m.
d) 0,14 m.
e) 0,27 m.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 181


U4

2. Considere a seo apresentada na figura seguinte, na qual parte da seo


revestida por gabies (n = 0,030) e parte com solo com revestimento
vegetal (n = 0,040).

Fonte: elaborada pelo autor.

2/3
m 3/2
(P i n i
Sendo: n = i =1
P

Calcule o coeficiente de rugosidade global para a seo.

a) 0,054.
b) 0,023.
c) 0,033.
d) 0,042.
e) 0,063.

3. Para um canal com seo trapezoidal com largura de fundo igual a


2,0 m, altura da lmina dgua de 1,50 m e declividade (z) do talude de
1,00 m. Calcule a rea molhada, o permetro molhado e o raio hidrulico
para a seo.
Sendo:
A = (b + Zy)y
P = b + 2y 1 + z 2

Rh =
( b + Zy ) y
b + 2y 1 + Z 2
A rea molhada, o permetro molhado e o raio hidrulico para essa seo
so, respectivamente:

182 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

a) 8,25 m, 3,24 m e 1,84 m.


b) 5,25 m, 6,24 m e 0,84 m.
c) 6,24 m, 0,84 m e 5,25 m.
d) 3,25 m, 7,00 m e 3,0 m.
e) 5,52 m, 6,42 m e 0,84 m.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 183


U4

184 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Seo 4.3

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana:


medidas no estruturais

Dilogo aberto
Continuando o projeto do loteamento abordado na Seo 4.2, em que voc foi
designado a elaborar um relatrio destinado viabilizao do empreendimento, focado
no estudo do impacto da construo nas estruturas existentes de drenagem urbana.
Foi solicitado, pelo rgo municipal de gesto de guas urbanas, a apresentao de
medidas no estruturais para minimizao de danos no caso de enchente dos cursos
dgua que cruzam o terreno do loteamento, permitindo, assim, o desenvolvimento
adequado para a regio diminuindo futuras despesas.

No pode faltar

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana: medidas no estruturais

O controle de inundaes obtido por meio do conjunto de medidas estruturais


e no estruturais que permite populao ribeirinha minimizar suas perdas e manter
uma convivncia harmnica com o rio, incluindo medidas de engenharia, de cunho
social, econmico e administrativo (ANDRADE FILHO; SZLIGA; ENOMOTO, 2000).
Os mtodos no estruturais incluem a restrio da urbanizao em reas de risco,
evacuao temporria de reas sujeitas a inundaes e reduo do escoamento
superficial com medidas de gesto da bacia hidrogrfica. Comunidades desenvolvidas
tm sistemas de alerta de enchentes, com sondas de medio do nvel de cursos
dgua e guas pluviais que so locadas em reas crticas da bacia hidrogrfica (WURBS;
JAMES, 2002).

Nos itens a seguir sero estudadas algumas formas de medidas no estruturais para
mitigao de danos provocados por enchentes.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 185


U4

Controle da ocupao urbana

Por zoneamento, entende-se que o conjunto de regras para a ocupao das


reas de maior risco de inundao, visando a minimizao futura das perdas materiais
e humanas em face das grandes cheias e permitindo o desenvolvimento racional
das reas ribeirinhas. Para isso, a regulamentao das reas apoia-se em mapas com
demarcao de reas de diferentes riscos e nos critrios de ocupao, tanto ao uso
quanto aos aspectos construtivos (TUCCI, 2012).

Para Barros (2005), a ocupao do solo est diretamente ligada ao processo de


infiltrao e, por conseguinte, produo de escoamento superficial. As leis de uso e
ocupao do solo, na maioria dos casos, dependem do plano diretor do municpio que,
por sua vez, deve conter como partes dos seus objetivos bsicos a minimizao dos
impactos da impermeabilizao do solo, a proteo de reas marginais que compem
o leito maior dos crregos e rios e a proteo de reas sujeitas a deslizamentos,
encostas ngremes etc.

A preservao de reas verdes e ribeirinhas uma medida fundamental para no


agravar o desempenho do sistema de drenagem e evitar o crescimento das vazes no
tempo (BARROS, 2005).

Segundo Tucci (2012), o zoneamento das reas sujeitas a inundaes engloba as


seguintes etapas:

Determinao do risco de enchentes.

Mapeamento das reas de inundao.

Zoneamento propriamente dito: uso e ocupao das reas.

O risco de ocorrncia de inundao varia com a cota topogrfica da vrzea. reas


mais baixas esto sujeitas a maior frequncia de ocorrncia de enchentes.

Quando o leito menor dos rios passa por um perodo maior que dois anos sem
extravasar, existe a tendncia de ocupao, de diferentes formas, das reas de vrzea
pela populao. Essa ocupao, em caso de cheias, gera danos de grande impacto
nos ocupantes dessas reas, e tambm para a populao mais a montante, uma vez
que ocorre a elevao dos nveis dgua decorrentes da obstruo ao escoamento
natural causada pelos ocupantes a jusante (TUCCI, 2012).

Para Tucci (2012), a seo de escoamento do rio pode ser dividida em trs partes
principais, ilustradas, esquematicamente, na Figura 4.11.

Na faixa 1 dessa figura, chamada de zona de passagem de enchente, parte da seo


funciona hidraulicamente e permite o escoamento da enchente. Qualquer construo

186 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

nessa rea reduzir a rea de escoamento, elevando os nveis a montante da seo.


A faixa 2, zona com restries, a rea restante da superfcie inundvel que deve ser
regulamentada. Essa zona fica inundada, mas, devido s pequenas profundidades e
baixas velocidades, no contribui muito para a drenagem da enchente. A zona de baixo
risco, faixa 3, tem pequena probabilidade de ocorrncia de inundaes, sendo atingida
apenas por vazes excepcionais, com pequena altura de lmina dgua e baixas
velocidades. Essa rea no necessita regulamentao quanto s cheias (TUCCI, 2012).

Figura 4.11 | Esquema de zoneamento

Fonte: Tucci (2012, p. 645)

Sistemas de alerta

Para um sistema de alerta ser eficaz, medies em tempo real da precipitao e


dos nveis dos cursos dgua crticos devem ser monitorados, e a informao deve ser
transmitida para todos os muncipes de forma rpida e precisa atravs de televiso,
rdio, internet, telefone etc. As previses devem ser feitas baseando-se na precipitao
projetada, relacionando os efeitos por causa de tempestades anteriores para a bacia em
questo (WURBS; JAMES, 2002).

Pesquise mais
O monitoramento de rios urbanos a finalidade do sistema que detecta
enchentes em rios e crregos por meio de uma rede de sensores sem fio,
permitindo que a populao seja avisada sobre eventuais riscos.

Disponvel em: <http://www.icmc.usp.br/noticias/851-sistema-


desenvolvido-no-icmc-monitora-enchentes-em-sao-carlos>. Acesso em:
23 mar. 2017.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 187


U4

As cidades devem ter um plano de ao, um de contingncias, para agir de forma


integrada e eficiente a fim de minimizar os impactos das inundaes. Os radares
permitem a previso quantitativa de chuva em curtssimo prazo, com poucas
horas de antecedncia, possibilitando tambm a previso de cheias e inundaes
(BARROS, 2005).

Barros (2005) ressalta que o sistema de alerta deve ser acompanhando de um


sistema de drenagem eficiente e que este sistema uma medida no estrutural,
voltada minimizao dos impactos das chuvas intensas que caem em regies com
sistema deficiente de drenagem.

Reflita
O sistema de alerta uma forma de minimizao dos danos causados
pelas enchentes. No pode ser visto como uma soluo para a drenagem
ineficiente do local.

Seguros

O Seguro Enchente uma proposta com bastante utilizao no exterior, para


habitantes em regies de vrzea. Esta, em geral, formada a partir de um fundo
criado pela prpria comunidade, em que cada proprietrio paga uma quantia, em
razo do dano esperado em seu lote em caso de inundao. A fixao dos valores
de aplice e do prmio depende de estudos hidrolgicos, de avaliao de risco e de
levantamento detalhado dos danos (BARROS, 2005).

Segundo Righetto et al. (2007), os modelos de seguro contra enchentes tm as


seguintes etapas:

1) Identificao do prmio inicial, taxa de juros, mximo valor do fundo do seguro


e massa de assegurados.

2) Simulaes sintticas de cenrios para diferentes tempos de retorno diante da


ocorrncia de enchentes.

3) Otimizao de prmios.

4) Anlise de sensibilidade para diferentes coberturas de seguro.

Convivncia e educao ambiental

Para Barros (2005), a educao ambiental um instrumento fundamental para


desencadear uma nova postura em relao interao do homem com o meio de
forma harmnica e sustentvel. Segundo Andrade Filho, Szliga e Enomoto (2000),

188 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

deve ser realizado junto populao um programa de educao ambiental, sendo


primordial a conservao das margens dos cursos dgua, sua vegetao nativa e
conservao dos taludes naturais, para minimizar os riscos de enchentes.

Nos programas de educao ambiental, a participao da comunidade


indispensvel para o sucesso do programa, criando atividades nas quais o objetivo
a conscientizao da populao ribeirinha, mostrando a importncia da interao
do homem com o seu habitat.

Assimile

A educao ambiental deve atingir todos os nveis de escolaridade,


oferecendo instrues tericas de temas, como ciclo hidrolgico, gesto
de bacias hidrogrficas, influncia da interveno do homem no meio
para o agravamento de enchentes etc. No entanto, alm de tudo, a
educao ambiental deve ter programas de ordem prtica, nos quais toda
a comunidade possa participar, incluindo qualquer nvel de escolaridade.

Integrao do plano diretor de drenagem urbana ou plano diretor de manejo


de guas pluviais urbanos e sua relao com os demais planos urbanos

A consolidao das medidas do sistema de drenagem urbana, com a definio das


medidas estruturais e no estruturais, ocorre por meio do plano diretor de drenagem
da cidade e/ou de uma bacia hidrogrfica, sendo este o principal instrumento de
planejamento e gesto da drenagem do municpio (BARROS, 2005).

Para Tucci (1997), nos planos diretores de drenagem deve ser dado maior nfase
ao controle, por meio de medidas no estruturais, como o zoneamento de reas de
inundao, tema j discutido anteriormente.

Um plano de drenagem urbana deve buscar:

(i) Planejar a distribuio da gua no tempo e no espao, com base na tendncia


de ocupao urbana, compatibilizando esse desenvolvimento e a infraestrutura para
evitar prejuzos econmicos e ambientais.

(ii) Controlar a ocupao de reas de risco de inundao propondo restries s


reas de alto risco e convivncia com as enchentes nas reas de baixo risco (TUCCI,
1997).

O plano diretor municipal de drenagem deve ser conduzido em consonncia


com o plano diretor urbano, que representa um dos mais importantes documentos
da gesto do municpio. ESTE estabelece todos os critrios de ocupao da rea
urbana e, portanto, guarda relao direta com a drenagem (BARROS, 2005).

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 189


U4

Devido interferncia que a ocupao do solo tem sobre a drenagem, existem


elementos do plano de drenagem que so introduzidos no plano diretor urbano ou
na legislao de ocupao do solo. Portanto, o plano de drenagem urbana (PDU)
deve ser um componente do plano diretor de planejamento urbano de uma cidade
(TUCCI, 1997).

O plano de drenagem se relaciona ainda com os demais planos diretores de


saneamento bsico, podendo, inclusive, ser um captulo desse plano maior, o de
saneamento bsico do municpio. importante essa relao com os sistemas de
coleta, tratamento e disposio dos resduos slidos, alm da integrao com as
demais infraestruturas do municpio, especialmente as subterrneas.

O plano de drenagem tambm est relacionado com as legislaes locais de


proteo de reas sujeitas a deslizamentos, que pode ser um plano prprio ou estar
contido nos planos diretores urbanos. Para Barros (2005), essas reas, por serem
instveis, sofrem processos de eroso acelerada, gerando grandes volumes de
sedimentos, que, por sua vez, assoreiam galerias e rios, diminuindo o desempenho
do sistema de drenagem.

Os planos diretores de drenagem devem prever medidas de curto (mximo


2 anos), mdio (4 anos) e longo prazo (10 anos). Alm disso, o plano deve ser
constantemente revisado, o mais comum que isso ocorra a cada 4 anos.

Segundo Barros (2005), a estrutura desse plano diretor no fixa e depende


da sua rea de abrangncia, do seu grau de detalhamento e do modo pelo qual a
gesto administra a cidade. Esse autor apresenta as seguintes fases para elaborao
do plano municipal de drenagem:

Fase 1 definies bsicas, coleta de informaes e diagnstico preliminar da


situao do sistema de drenagem:

So definidas as premissas bsicas para desenvolver o plano.

Determinao dos objetivos bsicos, da rea de estudo e dos horizontes de


tempo para implantao das medidas propostas.

Levantamento de todos os dados bsicos: ocupao do solo, habitao,


sistema virio, informaes hidrolgicas e hidrulicas, caractersticas fsicas
da bacia, geologia, inventrio das redes e galerias existentes e determinao
de reas sujeitas a inundao.

Fase 2 - proposies de medidas de curto prazo, incluindo monitoramento e


outros levantamentos de campo:

Com os dados e diagnstico prontos so feitas propostas imediatas e/ou de


curto prazo.

190 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Dependendo da situao, faz-se necessrio obras emergenciais.

Fase 3 elaborao de cenrios e definio de medidas de mdio e longo prazo


e anlise econmica:

So propostas medidas de prazo mais longo.

Identificao dos vetores de crescimento da cidade e os cenrios de


ocupao da bacia para mdio e longo prazo.

Estudo de propostas de medidas estruturais e no estruturais necessrias a


cada tempo.

Avaliao dos custos e benefcios para verificar a viabilidade econmica e


dar suporte hierarquizao das prioridades e ao estabelecimento dos
cronogramas.

Fase 4 hierarquizao das propostas, proposio de medidas de carter legal e


institucional e outros programas:

Implementao do plano, em que as obras e as medidas so hierarquizadas


segundo critrios estabelecidos pelo gestor da drenagem para execuo.

As medidas definidas pelo plano devem ser sintetizadas em projeto de lei


para garantir a implementao pelo poder pblico.

O plano deve propor tambm programas especficos de ao contnua,


como sistema de monitoramento hidrolgico, sistema de alerta, automao
das operaes, educao ambiental, campanhas publicitrias etc.

Exemplificando
Um exemplo de relevncia o plano diretor de macrodrenagem da
Bacia Hidrogrfica do Alto Tiet (PDAT), no qual localiza-se a regio
metropolitana de So Paulo. A proteo da rea a montante da cidade
de So Paulo fundamental para no agravar as inundaes e preservar a
capacidade das obras atuais em implantao.

Sem medo de errar

Continuando o projeto do loteamento em questo, foi solicitado, pelo rgo


municipal de gesto de guas urbanas, a apresentao de medidas no estruturais
para minimizao de danos no caso de enchente dos cursos dgua que cruzam

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 191


U4

o terreno do loteamento, permitindo, assim, o desenvolvimento adequado para a


regio e diminuindo futuras despesas.

Soluo:

Dentre as medidas a serem tomadas para minimizar danos, o zoneamento da


ocupao do solo sem dvida a mais importante. Visto isso, o loteamento em
questo dever ter toda a rea de vrzea preservada. O relevo natural do terreno ser
preservado na sua essncia. Como o loteamento no est em uma rea acidentada,
no existe risco de deslizamentos. Alm do zoneamento, sero instaladas sondas
com deteco e aviso em tempo real e alertas sobre o nvel dos cursos dgua.
Todos os moradores sero cadastrados para que a informao seja recebida com
eficincia. O loteamento j conta com plano de gesto sustentvel de drenagem,
obrigando a reteno das guas no prprio lote dos moradores e nas reas comuns
do loteamento. Como forma de intensificar e massificar a importncia da gesto
adequada das guas urbanas, ser desenvolvido, entre os moradores do loteamento,
um programa permanente de educao ambiental, com aes tericas e prticas
na rea. Incluir os moradores no sistema de gesto de guas pluviais fundamental
para que a infraestrutura de drenagem funcione adequadamente.

Avanando na prtica

Planos de drenagem

Descrio da situao-problema

Voc, como engenheiro especialista em gesto de guas pluviais, foi contratado


pela prefeitura municipal para apresentar um anteprojeto do futuro plano diretor
de drenagem urbana.

Foi solicitado um relatrio reduzido mostrando os principais pontos de um


plano diretor de drenagem urbana e sua estrutura, que ser enviado a todos os
envolvidos no projeto.

Apresente, resumidamente, a estrutura essencial de um plano diretor de


drenagem urbana.

Resoluo da situao-problema

De acordo Tucci e Silveira (2002), os planos de drenagem devem contemplar


a seguinte estrutura:

192 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Informaes: levantamento de dados bsicos, como o cadastro de rede


pluvial, dados fsicos da bacia hidrogrfica, dados hidrulicos e hidrolgicos,
uso e tipo do solo e levantamento de planos municipais, como o de
saneamento bsico.

Fundamentos: definies bases do plano, incluindo os princpios e objetivos,


as estratgias e os cenrios de estudo e diagnstico.

Desenvolvimento do plano: definem-se as medidas estruturais e no


estruturais, em funo de objetivos, estratgias, cenrios e riscos definidos
anteriormente, e a avaliao econmica, em que se desenvolvem os estudos
de avaliao das alternativas propostas e os mecanismos financeiros para
viabilizar as diferentes medidas.

Produtos: estabelecimento de planos de ao, projetos de lei e o manual


de drenagem.

Programas de mdio e longo prazo: estudos adicionais, programas de


educao ambiental e monitoramento.

Faa valer a pena


1. Sobre as tcnicas compensatrias em drenagem urbana, pode-se
afirmar:
I- Dentre as medidas estruturais destacam-se obras de engenharia, como
os canais e os reservatrios.
II- As medidas no estruturais so medidas de gesto que visam a melhor
convivncia e a minimizao de perdas em caso de enchentes.
III- So medidas no estruturais: sistema de alerta, zoneamento urbano,
cisternas e educao ambiental.
IV- O zoneamento urbano relaciona-se com o sistema de drenagem,
uma vez que influencia o processo de infiltrao e, por conseguinte, a
produo de escoamento superficial.

correto o que se afirma em:


a) I e II.
b) II e III.
c) I, III e IV.
d) I, II e IV.
e) I, II, III e IV.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 193


U4

2. Sobre o zoneamento urbano, o uso e a ocupao do solo, dentro dos


conceitos de drenagem urbana, afirma-se:
I. O zoneamento urbano importante para a gesto das guas pluviais
e atua visando a minimizao de perdas em virtude, principalmente, das
enchentes.
II. A limitao da ocupao urbana inibi o desenvolvimento da regio,
sendo um grande prejuzo para a populao local.
III. A regulamentao das reas apoia-se em mapas com demarcao de
reas de diferentes riscos e nos critrios de ocupao.
IV. A impermeabilizao da bacia e dos revestimentos artificiais lisos
nos canais urbanos facilita o escoamento, aumentando a velocidade e
diminuindo o risco de enchentes a jusante.

correto o que se afirma em:


a) I e IV.
b) I e III.
c) I, II e III.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.

3. O zoneamento urbano, os sistemas de alerta e a educao ambiental


so aes que esto diretamente inter-relacionadas. Sobre essas
medidas, afirma-se:
I. A preservao de reas verdes e ribeirinhas uma medida fundamental
para no sobrecarregar a infraestrutura de drenagem.
II. O risco de ocorrncia de inundao varia com a cota topogrfica da
vrzea. reas mais altas esto sujeitas a maior frequncia de ocorrncia
de enchentes.
III. Para um sistema de alerta ser eficiente, medies em tempo real
da precipitao e dos nveis dos cursos dgua crticos devem ser
monitoradas e a informao deve ser transmitida.
IV. A educao ambiental um instrumento fundamental para
desencadear uma nova postura em relao interao do homem com
o meio de forma harmnica e sustentvel.

194 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

correto o que se afirma em:


a) I e IV.
b) I e II.
c) I, III e IV.
d) II e III.
e) I, II, III e IV.

Tcnicas compensatrias em drenagem urbana 195


U4

196 Tcnicas compensatrias em drenagem urbana


U4

Referncias

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estruturais para controle de inundaes urbanas. Revista Publicatio UEPG: Cincias
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Belo Horizonte: UFMG, 2010.
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BARROS, M. T. L. Drenagem urbana: bases conceituais e planejamento. In: PHILIPPI,
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