Direito Do Consumidor e Seus Aspectos Penais

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FACULDADES INTEGRADAS

ANTNIO EUFRSIO DE TOLEDO

FACULDADE DE DIREITO DE PRESIDENTE PRUDENTE

DIREITO DO CONSUMIDOR E SEUS ASPECTOS PENAIS

Maria Joelma Leite Bravo

Presidente Prudente/SP
2012
FACULDADES INTEGRADAS
ANTNIO EUFRSIO DE TOLEDO

FACULDADE DE DIREITO DE PRESIDENTE PRUDENTE

DIREITO DO CONSUMIDOR E SEUS ASPECTOS PENAIS

Maria Joelma Leite Bravo

Monografia apresentada como requisito


parcial de Concluso de Curso para
obteno do grau de Bacharel em Direito,
sob orientao do Professor Jurandir Jos
dos Santos.

Presidente Prudente/SP
2012
DIREITO DO CONSUMIDOR E SEUS ASPECTOS PENAIS

Monografia/TC aprovada como requisito parcial


para obteno do Grau em Bacharel em
Direito.

JURANDIR JOS DOS SANTOS


Orientador

FABIANA JUNQUEIRA TAMAOKI


Examinadora

ANA PAULA ATAYDE SETTI


Examinadora

Presidente Prudente, 20 de novembro de 2012.


Toda e qualquer legislao de proteo ao
consumidor tem, portanto, a mesma ratio, vale dizer,
reequilibrar a relao de consumo, seja reforando,
quando possvel, a posio do consumidor, seja
proibindo ou limitando certas prticas no mercado.

Ada Pellegrini Grinover e

Antnio Herman de V. Benjamin

Dedico aos meus pais, Joo Vital Leite e


Elena de Pontes Leite, exemplos de
sabedoria e dignidade. Ao meu marido,
Marcio Cesar Areias Bravo, pelo
companheirismo e constante estmulo na
luta por meus ideais.
AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus, a quem tudo devo e Senhor da minha vida,


principalmente por no ter me deixado desistir do curso e ter colocado em minha
vida pessoas maravilhosas sem as quais eu no teria tido, sequer, a oportunidade
de concretizar este trabalho.
Agradeo aos meus pais, Joo Vital Leite e Elena de Pontes Leite, ao
meu irmo Jos Gilmar Leite e minha sobrinha Ana Beatriz, base de toda minha
vida, pelo apoio e amor incondicional, e por terem me ensinado a trilhar sempre pelo
caminho da verdade, honestidade e simplicidade.
Ao meu marido Marcio Cesar Areias Bravo, meu amigo e companheiro,
gostaria de anotar aqui que no tenho palavras pra lhe agradecer por todo amor,
compreenso e incentivo transmitido em meus estudos... Te amo!
Jefferson e Fran Barcello aproveito para registrar que com vocs
aprendi o significado da verdadeira amizade e agradeo pela fora e incentivo que
sempre me transmitiram...
Aos meus amigos (as) e familiares aos quais no citarei nomes para
no cometer a injustia de me esquecer de algum - deixo aqui meus
agradecimentos e tambm minhas singelas desculpas, por ter me ausentado
durante este perodo e no ter lhes dado, talvez, a ateno merecida.
Ao Professor Gilberto Notrio Ligero e sua esposa Adriana, que
tambm contriburam significativamente em minha formao acadmica, muito
obrigada.
Ao Coordenador do curso e Prof. Dr. Srgio Tibiri Amaral, registro
aqui minha gratido, pelo apoio despendido durante o curso.
Em especial, agradeo ao meu Orientador e Prof. Jurandir Jos dos
Santos, pela slida orientao, ateno e pelo estmulo intelectual transmitido
durante a elaborao deste trabalho.
Prof e Mestre Fabiana Junqueira Tamaoki e Dra. Ana Paula Atayde
Setti, muito obrigada, por aceitarem compor a banca examinadora deste singelo
trabalho, e por terem reservado, parte do tempo de suas vidas, contribuindo
significativamente com a concluso do meu curso.
Agradeo ao Programa Escola da Famlia pelas pessoas maravilhosas
com quem convivi nestes ltimos trs anos de minha vida.
Finalmente, Instituio Toledo de Ensino, professores e funcionrios,
ao qual tenho a imensa honra e orgulho de fazer parte, deixo meus sinceros
agradecimentos pelas portas que me foram abertas at hoje, bem como por todas as
conquistas alcanadas, em especial minha aprovao no VI Exame de Ordem dos
advogados do Brasil, enquanto ainda cursava o 9 termo do Curso de Direito.
RESUMO

O presente trabalho analisa as infraes penais, descrevendo as figuras delituosas e


a aplicao das penas na lei penal do consumidor. Tem como objetivo de estudo a
abordagem das principais consideraes e crticas nascidas na doutrina em relao
tcnica legislativa pautadas aos tipos penais ali previstos, desde a poca de sua
edio (1990), com especial nfase possibilidade de responsabilizao penal da
pessoa jurdica, no mbito do Cdigo de Defesa do Consumidor-CDC. A pesquisa
faz uso de legislaes, Constituio Federal, doutrina de especialistas na rea
consumerista, em peculiar pelos Autores do Anteprojeto do CDC e jurisprudncias. A
anlise abrange no s a aplicao de sanes penais, como tambm a aplicao
de sanes civis e administrativas na busca pela proteo integral do consumidor
contra o fornecedor que pratica atos ilcitos no mercado de consumo, como meio de
promover a total eficcia de seus preceitos. Sob o aspecto histrico, demonstra que
com o fortalecimento das indstrias, aps a Revoluo Industrial, o fornecedor se
aprimorou constantemente no fornecimento de seus produtos, colocando o
consumidor em desvantagem, ocasio em que a proteo jurdica ao consumidor
passou a ser tema supranacional. Apresenta discusso que permeia na doutrina e
na jurisprudncia em relao definio do conceito de consumidor, fornecedor,
produtos e servios, para se estabelecer uma relao de consumo e garantir aos
sujeitos envolvidos (pessoas fsicas ou jurdicas) a proteo das normas do CDC. O
trabalho alcana tambm na anlise primordiais, princpios apontados pela Lei
8.078/90 que regem a Poltica Nacional das Relaes de Consumo. Neste contexto,
chega-se concluso que as penas impostas pelo legislador, por serem inferior ou
igual a dois anos, so adequadas para a efetiva tutela da defesa dos consumidores,
e o fato de se submeter competncia do Juizado Especial Criminal no motivo
para severas crticas, considerando que o CDC anterior criao dos Juizados
Especiais e os benefcios trazidos pela referida Lei refletem um direito pblico
subjetivo do ru. Conclui tambm que, necessria a existncia do ttulo das
infraes penais no Cdigo em comento e pela responsabilizao da pessoa jurdica
na pessoa de seus prepostos. Prope uma efetiva atuao de entidades que atuam
na defesa do consumidor nos Estados/Municpios em que no possuem Delegacias
especializadas na apurao de delitos contra as relaes de consumo, bem como,
sejam criadas Defensorias Pblicas para a tutela de carter individual dos interesses
dos consumidores em todos os entes federativos do pas.

Palavras-chave: Aspectos penais. Crimes em espcie. Direito do consumidor.


Proteo relao de consumo. Viso crtica.
ABSTRACT

The present study analyzes the criminal offenses, describing the figures and the
application of criminal penalties in the penal law of the consumer. It aims to study the
approach of the main considerations and criticisms born in doctrine regarding the
legislative technique guided the criminal types contemplated therein, from the time of
his edition (1990), with special emphasis on the possibility of criminal liability of legal
entities in under the Code of Consumer-CDC. The research makes use of the laws,
Constitution, doctrine of experts in consumer, in particular by the Authors Draft CDC
and jurisprudence. The analysis covers not only criminal penalties, as well as the
application of civil and administrative sanctions in the quest for full protection of the
consumer against the supplier who practices unlawful acts in the consumer market,
as a means of promoting the overall effectiveness of its precepts. Under the historical
aspect, demonstrates that with the strengthening of industries, after the Industrial
Revolution, the supplier has improved steadily in the supply of its products by placing
the consumer at a disadvantage, at which consumer protection law became
supranational theme. Presents discussion that permeates the doctrine and
jurisprudence regarding the definition of consumer, provider, products and services,
to establish a relationship of consumption and ensuring that individuals involved
(individuals or entities) to protect the standards of the CDC. The work also reaches
the primary analysis, appointed by Law 8.078/90 principles governing the National
Consumer Relations. In this context, one comes to the conclusion that the penalties
imposed by the legislature, being not more than two years, are adequate for the
effective protection of the consumer, and the fact of submitting to the jurisdiction of
the Special Criminal Court is no reason to severe criticism, considering that the CDC
is prior to the creation of Special Courts and the benefits brought by this law reflect a
public right of defendant. It also concludes that it is necessary to have the title of
criminal offenses in the Code under discussion and the accountability of the
corporation in the person of its representatives. Proposes an effective performance of
entities that operate in consumer protection in states / municipalities that do not have
specialized Police in the investigation of crimes against consumer relations, as well
as Public Defenders are created for the protection of an individual consumer interests
in all federal entities in the country.

Keywords: Criminal aspects. Crimes in kind. Consumer law. Protection the


consumption ratio. Critical Vision.
SUMRIO

1 INTRODUO................................................................................................... 10

2 EVOLUO HISTRICA ...............................................................................13


2.1 As Relaes de Consumo e o seu Surgimento no Perodo Precedente a
Revoluo Industrial .................................................................................................. 13
2.2 As Relaes de Consumo e a Organizao do Fornecedor em Perodo Posterior
a Revoluo Industrial ............................................................................................... 13
2.3 A Preocupao com a Defesa do Consumidor no Mundo .................................. 16
2.4 Antecedentes Histricos no Brasil ...................................................................... 19
2.5 Tratamento Constitucional .................................................................................. 20

3 AS DEFINIES DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR E A


ANLISE DOS ELEMENTOS DA RELAO DE CONSUMO ............... 22
3.1 Consideraes Preliminares ............................................................................... 22
3.2 Relaes de Consumo ........................................................................................ 22
3.3 Conceitos de Consumidor ................................................................................... 23
3.3.1 Consumidores equiparados ............................................................................. 27
3.3.2 A coletividade de consumidores ..................................................................... 29
3.3.3 A pessoa jurdica de direito privado como consumidora............................... 29
3.3.4 A pessoa jurdica de direito pblico como consumidora .............................. 31
3.4 Conceito de Fornecedor ...................................................................................... 31
3.5 Objetos dos Interesses Produtos e Servios ................................................... 32
3.5.1 Produtos ........................................................................................................... 32
3.5.2 Servios ............................................................................................................33

4 PRINCPIOS GERAIS NORTEADORES DAS RELAES DE


CONSUMO ............................................................................................................ 35
4.1 Consideraes Gerais ........................................................................................ 35
4.2 Princpio da Vulnerabilidade do Consumidor (art. 4, inciso I) ............................ 35
4.3 Princpio do Dever Governamental (art. 4, inciso II) ....................................... 37
4.4 Princpio da Harmonizao dos Interesses dos Participantes das Relaes de
Consumo e da Garantia de Adequao (art. 4, inciso III) ........................................ 38
4.5 Princpio do Equilbrio nas Relaes de Consumo (art. 4, inciso III) .............. 38
4.6 Princpio da Boa-f Objetiva (art. 4, inciso III) ................................................ 39
4.7 Princpio da Educao e Informao dos Consumidores (art. 4, inciso IV) ... 39
4.8 Princpio do Controle de Qualidade e Segurana dos Produtos e Servios (art.
4, inciso V) ............................................................................................................... 40
4.9 Princpio da Coibio e Represso das Prticas Abusivas (art. 4, inciso VI)
................................................................................................................................... 41
4.10 Princpio da Racionalizao e Melhoria dos Servios Pblicos (art. 4, inciso
VII).............................................................................................................................. 41
4.11 Princpio do Estudo das Modificaes do Mercado de Consumo (art. 4, inciso
VIII) ............................................................................................................................ 41
4.12 Princpio do Acesso Justia ........................................................................ 42
5 DIREITO PENAL DO CONSUMIDOR ........................................................ 43
5.1 Consideraes Gerais.......................................................................................... 43
5.2 Referncias Histricas do Direito Penal do Consumidor ................................. 45
5.3 Cdigo Penal e o Consumidor ......................................................................... 45
5.4 Objeto Jurdico e Material do Crime ................................................................... 46
5.5 Resultado e Crimes de Perigo ......................................................................... 49
5.6 Sujeitos: Ativo e Passivo dos Crimes Contra as Relaes de Consumo ....... 50
5.7 Responsabilidade Penal da Pessoa Jurdica ..................................................... 53

6 DOS CRIMES EM ESPCIE ......................................................................... 57


6.1 Art. 61 Conflito Aparente de Normas ............................................................... 57
6.2 Art. 63 Omisso Sobre Nocividade e Periculosidade ................................... 58
6.3 Art. 64 Omisso de Comunicao da Nocividade ou Periculosidade de
produtos .................................................................................................................... 61
6.4 Art. 65 Execuo de Servio de Alto Grau de Periculosidade ...................... 64
6.5 Art. 66 Oferta no Publicitria Enganosa ...................................................... 66
6.6 Art. 67 Publicidade Enganosa ou Abusiva .................................................... 70
6.7 Art. 68 Induo a Comportamento Prejudicial ou Perigoso .......................... 71
6.8 Art. 69 Publicidade sem Base Ftica, Tcnica ou Cientfica ........................ 72
6.9 Art. 70 Troca de Peas Usadas sem Autorizao ........................................ 74
6.10 Art. 71 Cobrana Abusiva de Dvidas ........................................................... 75
6.11 Art. 72 Impedimento de Acesso a Informaes Cadastrais ........................ 78
6.12 Art. 73 Omisso de Correo de Informaes em Bancos de Dados e
Cadastros .................................................................................................................. 80
6.13 Art. 74 Omisso na Entrega do Termo de Garantia .................................... 82

7 ANLISE SUCINTA DA APLICAO DAS PENAS NA LEI PENAL


DO CONSUMIDOR ..............................................................................................84

8 CRTICAS A CRIMINALIZAO DE CONDUTAS NO CDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR ........................................................................... 89

9 CONCLUSO ....................................................................................................95

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................... 98


10

1 INTRODUO

O presente trabalho teve como campo de interesse o estudo do direito


do consumidor e as infraes penais previstas na Lei 8.078/90. A escolha do tema
surgiu com a constatao da ausncia de informaes sobre a previso das
infraes penais do Cdigo de Defesa do Consumidor, tanto pelo lado dos
consumidores e como por muitos operadores do direito que desconhecem a parte
Penal da Lei 8.078/90.

Destarte, o trabalho monogrfico por ausncia de Delegacia


Especializada de Proteo ao Consumidor no municpio de Presidente Prudente e
na Regio, teve prejudicado a possibilidade de pesquisa estatstica das aberturas de
termos circunstanciados e inquritos, impedindo uma anlise quantitativa das
infraes corriqueiras aos direitos do consumidor, fato que no impediu um estudo
cientfico sobre o tema.

Primeiramente, o trabalho abordou a evoluo histrica do direito do


consumidor, onde para uma melhor compreenso do estudo iniciou-se por uma
correlao das relaes de consumo desde o seu surgimento no perodo precedente
a Revoluo Industrial at a organizao do fornecedor em perodo posterior a
revoluo industrial, tratando da questo do surgimento do direito do consumidor no
mundo.

Em um segundo momento, demonstrou-se que a preocupao com a


defesa do consumidor no mundo acabou por refletir no direito brasileiro, servindo
como antecedentes histricos do direito do consumidor no Brasil. No Brasil,
seguindo a tendncia Internacional do Direito do Consumidor atendendo as
diretrizes da ONU, ao proclamar a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de
1988, o legislador constituinte nos Atos das Disposies Constitucionais Transitrias
determinou que fosse criado um Cdigo de Defesa do Consumidor dentro do prazo
de 120 (cento e vinte) dias, elevando o direito do consumidor a princpio
fundamental, incluindo-o como garantia ptrea do ncleo imodificvel da CRFB/88.

Seguindo a determinao constitucional, de proteo ao consumidor,


foi analisada a composio dos elementos da relao de consumo. Sendo
necessrio discorrer sobre quem o consumidor conceituado pela Lei 8.078/90,
11

discorrendo-se sobre o consumidor padro, por equiparao e o consumidor por


decorrncia de acidente de consumo, bem como sobre as teorias que definem o
conceito de consumidor. Tambm, foi conceituado o fornecedor, analisando os
elementos da relao de consumo, em especial se possvel aplicao das
disposies criminais a pessoa jurdica como fornecedora. Ainda, foram estudados
os objetos tutelados na relao de consumo (produtos e servios).

Como toda cincia prpria, como o caso do Direito do Consumidor,


possui seus princpios e regramentos prprios, sendo estudados os mais
importantes, destacando-se o princpio da vulnerabilidade; princpio do dever
governamental; princpio da harmonizao dos interesses dos participantes das
relaes de consumo e da garantia de adequao; princpio do equilbrio nas
relaes de consumo; princpio da boa-f objetiva; princpio da educao e
informao dos consumidores; princpio do controle de qualidade e segurana dos
produtos e servios; princpio da coibio e represso das prticas abusivas;
princpio da racionalizao e melhoria dos servios pblicos; princpio do estudo das
modificaes do mercado de consumo, e o princpio do acesso justia.

O estudo afirmou a opo legislativa de assegurar os direitos dos


consumidores como uma proteo social a desigualdade imposta pelos
fornecedores que detm o domnio econmico, sem deixar de lado o objeto principal
de estudo, o qual seja o Direito Penal do Consumidor.

Assim, analisaram-se as infraes penais previstas nos artigo 61 a 74,


apresentando suas caractersticas peculiaridades, distinguindo a aplicao do
Cdigo Penal e de outras leis das previstas nos tipos penais trazidos pelo CDC.
Sendo, alm do direito material, abordado o direito processual penal do consumidor,
no deixando de fora o estudo das penas aplicadas as infraes penais, e seus
agravantes e atenuantes.

Durante o estudo foi constatado que alguns doutrinadores criticam a


criminalizao das condutas previstas no CDC. Os argumentos das crticas so
diversos, ora alegando que os dispositivos criminais so muito abertos e do tipo
comissivo puro, o que dificulta a aplicao em um caso concreto da Lei 8.078/90, ora
que os dispositivos penais estabelecidos pelo CDC no so necessrios, pois h
outros mecanismos criados pelo legislador para proteger os consumidores.
12

O presente trabalho utilizou-se de mtodos de dedutivo indutivo, ao


serem analisadas doutrinas e jurisprudncias.

Aps o estudo pode-se concluir que, o consumidor deve ser protegido


pelo PROCON, Ministrio Pblico, Defensoria Pblica e por demais entidades de
defesa ao consumidor. Afinal, o consumidor o sujeito vulnervel da relao de
consumo, devendo o Estado garantir a sua total proteo.

Contudo, mesmo com as crticas existentes na doutrina desde a edio


do CDC, pode-se chegar a uma concluso que os rgos de proteo ao
consumidor devem continuar a respeitvel atuao na defesa do consumidor; neste
sentido, protegendo-o, proporcionando uma melhor efetividade dos dispositivos
penais do CDC, realizando campanhas e divulgando os direitos da Lei 8.078/90,
para que em um futuro os fornecedores sejam mais cautelosos, visando no s o
lucro, mas a igualdade e a proteo do consumidor na relao jurdica consumidor-
fornecedor.
13

2 EVOLUO HISTRICA

2.1 As Relaes de Consumo e o seu Surgimento no Perodo Precedente a


Revoluo Industrial

No cenrio mundial, por volta do sculo XII at metade do sculo XVIII,


em perodo anterior s corporaes de ofcio, no existia uma estrutura empresarial
organizada. O que existia, eram operaes de simples troca de mercadoria, ou ainda
a compra e venda de produtos simples entre o comerciante e adquirente.
Nessa relao comercial, o arteso (fornecedor) se adaptava s
necessidades do adquirente (consumidor), resultando em um produto final
totalmente diferenciado, havendo, portanto, uma mera relao comercial entre os
particulares.

Conforme preconiza Eliana Passarelli (2002), apud Murilo Nogueira


(2006, p. 11):

As relaes de consumo tm seu marco inicial aps o advento da


Revoluo Industrial, que surgiu em meados do sculo XVIII, na Inglaterra.
A partir de ento, iniciou-se uma espcie de relao que se enquadra no
conceito de relao de consumo contemporneo, ou seja, com requintes de
impessoalidade, larga escala de produo, no interveno do consumidor
no processo de manufatura.

Neste conjunto histrico, o consumidor determinava o produto a ser


manufaturado pelo arteso e intervinha diretamente naquilo que estava sendo
produzido, havendo, portanto, um equilbrio contratual entre os sujeitos envolvidos.

2.2 As Relaes de Consumo e a Organizao do Fornecedor em Perodo


Posterior a Revoluo Industrial

Com a chegada da Revoluo Industrial e a introduo do uso das


mquinas no dia a dia na vida do Homem, iniciou-se um acelerado processo de
14

evoluo das relaes de consumo. Frente a isto, segundo pesquisa de Monique


Mosca (2008, p. 12/13):

[...] culminou com a premente necessidade de tutela do consumidor, ante o


surgimento da chamada sociedade em massa, sofisticada e complexa, onde
o fornecedor assumiu uma notvel posio de superioridade na relao,
avanando de forma extraordinria, enquanto o consumidor permaneceu
inerte, ficando hipossuficiente do ponto de vista tcnico e econmico.

No entanto, com a mecanizao da agricultura no incio do sculo XIX


e o consequente xodo rural, formou-se os grandes centros urbanos, possibilitando
uma maior oferta de produtos, ocasionando um significativo aumento na capacidade
de produo das indstrias. Surge ento, a denominada sociedade de massa.
Nesse sentido, na dico de Joo Batista de Almeida (2011, p.18):

[...] a populao rural migrou para a periferia das grandes cidades,


causando o inchao populacional, a conturbao e a deteriorao dos
servios pblicos essenciais. Os bens de consumo passaram a ser
produzidos em srie, para um nmero cada vez maior de consumidores. Os
servios se ampliaram largamente. O comrcio experimentou extraordinrio
ampliando a utilizao da publicidade como meio de divulgao dos
produtos e atrao de novos consumidores e usurios. A produo e o
consumo em massa geraram a sociedade de massa, sofisticada e
complexa.

Diante disso, as relaes de consumo deixaram de ser pessoais e


diretas, passando o fornecedor a se organizar, profissionalizar seu empreendimento
e desenvolver tcnicas e com isto, auferir maiores lucros, j que havia em seu favor
uma maior estrutura para fornecimento de seus bens.
Neste sentido, as normas existentes, onde tendiam proteger o
adquirente, j no se apresentavam adequadas para proteger o consumidor, j que
no poderia intervir nas fases de produo. Portanto, o adquirente s consumia o
que era inserido no mercado.

Com o invento da mquina a vapor e o descobrimento do ao, na


primeira e na segunda fase da Revoluo Industrial, atingiu-se uma potencialidade
tamanha que ocasionou uma produo em larga escala.

O arteso se viu incapaz de concorrer com as indstrias, tendo que


trabalhar como empregado para os capitalistas. Neste momento, abriu mo de sua
autonomia, na medida em que a onerosidade do processo de produo da mesma
mercadoria era absurdamente dispare em comparao ao trajeto percorrido pela
indstria e pelo arteso.
15

Posteriormente, na terceira fase da Revoluo Industrial, houve a


necessidade de se investir na prpria administrao da empresa, estruturando todos
os setores de produo, desigualando a relao de consumo em comparao a
primeira e segunda fase da Revoluo Industrial.

Com efeito, as indstrias se fortaleceram atravs de propagandas que


influenciaram mudando hbitos dos consumidores, culminando, portanto numa
relao bem desequilibrada entre consumidor e fornecedor.

Neste aspecto, Ada Pellegrini Grinover e Herman Benjamin (2001,


p.06):

A sociedade de consumo, ao contrrio de que se imagina, no trouxe


apenas benefcios para os seus atores. Muito ao revs, em certos casos, a
posio de consumidor, dentro desse modelo, piorou em vez de melhorar.
Se antes fornecedor e consumidor encontravam-se em uma situao de
relativo equilbrio de poder de barganha (at porque se conheciam), agora
o fornecedor (fabricante, produtor, construtor, importador ou comerciante)
que, inegavelmente, assume a posio de fora na relao de consumo e
que, por isso mesmo, dita as regras. E o direito no pode ficar alheio a tal
fenmeno.

Por consequncia, essa relao desequilibrada colocou o consumidor


em desvantagem no s em relao aos produtos que os fornecedores produziam
unilateralmente (j que estes eram feitos em larga escala, e dificultavam a
individualizao dos produtos em srie, sendo impostos aos consumidores), como
tambm em relao aos contratos. Neste sentido, se originou o chamado contrato de
adeso.
Para Hlio Zaghetto Gama (1999) apud Monique Mosca Gonalves
(2008, p. 14):

O surgimento desse novo modelo contratual, por mitigar o elemento


vontade, antes considerado o mais importante na relao contratual, tendo
em vista as noes tradicionais do direito privado, se contraps ao
liberalismo do Sculo XIX, ocasionando a decadncia do voluntarismo no
direito privado, uma vez que deixou evidente a necessidade de interveno
do Estado nas relaes de consumo para proteger o consumidor, cada vez
mais vulnervel na relao.

Nesta linha de raciocnio, se por um lado o fornecedor se aprimorou


constantemente no fornecimento de seus produtos, principalmente com o
surgimento da tecnologia, da informtica, dentre outras situaes que surgiram em
decorrncia do desenvolvimento, de outro lado, o consumidor passou a ser mais
agravado frente esta relao, portanto, vulnervel.
16

O fornecedor valendo-se dessa situao passou a cometer abusos em


detrimento dos consumidores, na medida em que o consumo passou a fazer parte
do cotidiano de todas as pessoas, constituindo-se em uma sociedade tpica de
consumo. Isto porque, na maioria das vezes, o consumidor era praticamente
obrigado a contratar, no mais por opo, mas por necessidade.

Almeida (2011, p. 18), assevera que essa modificao das relaes de


consumo culminou por influir na tomada de conscincia de que o consumidor estava
desprotegido e necessitava, portanto, de resposta legal protetiva.

2.3 A Preocupao Com a Defesa do Consumidor no Mundo

Inegvel que as relaes de consumo evoluram nos ltimos tempos,


refletindo nas relaes sociais, econmicas e jurdicas. Nesse sentido:

Era natural que a evoluo das relaes de consumo acabasse por refletir
nas relaes sociais, econmicas e jurdicas. Pode-se afirmar que a
proteo do consumidor consequncia direta das modificaes havidas
nos ltimos tempos nas relaes de consumo, representando reao ao
avano rpido do fenmeno que deixou o consumidor desprotegido diante
das novas situaes decorrentes do desenvolvimento (ALMEIDA, 2011, p.
19).

Sobre o assunto, Camargo Ferraz, dis Milar e Nelson Nery Junior


(1984) apud Joo Batista de Almeida (2011, p. 19), afirmam que a tutela do
consumidor deriva das modificaes das relaes de consumo e demonstram que:

O surgimento dos grandes conglomerados urbanos das metrpoles, a


exploso demogrfica, a revoluo industrial, o desmesurado
desenvolvimento das relaes econmicas, com a produo e consumo de
massa, o nascimento dos cartis, holdings, multinacionais e das atividades
monopolsticas, a hipertrofia da interveno do Estado na esfera social e
econmica, o aparecimento dos meios de comunicao de massa, e, com
eles, o fenmeno da propaganda macia, entre outras coisas, por terem
escapado do controle do homem, muitas vezes contra ele prprio,
repercutindo de forma negativa sobre a qualidade de vida e atingindo
inevitavelmente os interesses difusos. Todos esses fenmenos, que se
precipitaram num espao de tempo relativamente pequeno trouxeram a
lume a prpria realidade dos interesses coletivos, at ento existente de
forma latente, despercebidos.

E complementa mencionado doutrinador:


17

O consenso internacional em relao vulnerabilidade do consumidor no


mercado de consumo representou fator importante para o surgimento da
tutela em cada pas. O reconhecimento de que o consumidor estava
desprotegido em termos educacionais, informativos, materiais e legislativo
determinou maior ateno para o problema e o aparecimento de legislao
protetiva em vrios pases.

Como se v, a proteo jurdica do consumidor passou a ser tema


supranacional, pois compreendeu todos os pases. Todas as modificaes nas
relaes de consumo acabaram levando a ONU (Organizao das Naes Unidas),
a se preocupar com a defesa do consumidor, por uma melhoria na qualidade de vida
das povoaes.

Os primeiros passos nesse sentido foram dados anteriormente, com a


proclamao da Declarao das Naes Unidas sobre o progresso e
desenvolvimento social, ao aprovar-se a Resoluo n. 2.542, de 11 de dezembro de
1969, e, em seguida, aos 1973, a Comisso de Direitos Humanos da Organizao
das Naes Unidas anunciou o reconhecimento dos direitos fundamentais e
universais do consumidor.

Em 1985 a ONU (Organizao das Naes Unidas), baixou normas


sobre a proteo do consumidor trazendo esclarecimentos detalhados sobre o tema
atravs da Resoluo n. 39/248/85.

Reconheceu tambm expressamente que os consumidores se


apresentam com desequilbrios em questes econmicas, educacionais e poder
aquisitivo. o que dispe Joo Batista de Almeida (2011, p. 21).

Jos Geraldo Brito Filomeno (2001, p. 25), assim dispe:

A Resoluo n 39/248, em ltima anlise, traou uma poltica geral de


proteo ao consumidor destinada aos Estados filiados, tendo em conta
seus interesses e necessidades em todos os pases e, particularmente, nos
em desenvolvimento, reconhecendo que o consumidor enfrenta, amide,
desequilbrio em face da capacidade econmica, nvel de educao e poder
de negociao. Reconhece, ainda que, que todos os consumidores devem
ter o direito de acesso a produtos que no sejam perigosos, assim como o
de promover um desenvolvimento econmico e social justo, equitativo e
seguro.

Referidas normas, segundo as Naes Unidas, trariam como


finalidades o auxlio a pases a atingir ou manter uma proteo adequada para a sua
populao consumidora, dentre outros objetivos, conforme anuncia Joo Batista de
Almeida (2011, p. 21).
18

Mencionada resoluo cuidou em se preocupar tambm dos princpios


gerais, ordenando aos governos para que primassem pelo desenvolvimento, reforo
e manuteno de uma poltica firme de proteo ao consumidor para atender suas
necessidades.

Segundo Joo Batista de Almeida (2011, p.22):

Tais necessidades, tal qual como a atualidade, objetivava a proteo do


consumidor quanto aos prejuzos sua segurana, bem como o
ressarcimento a eventuais prejuzos sofridos; a proteo aos interesses
econmicos; fornecimento aos consumidores de informaes adequadas
para capacit-los a fazer escolhas acertadas de acordo com as
necessidades individuais e, garantir a liberdade para formar grupos de
consumidores e outros grupos ou organizaes de relevncia e
oportunidades para que estas organizaes possam apresentar seus
enfoques nos processos decisrios a elas referentes.

Depois disso, a ONU impe aos Estados filiados a obrigao de


promoverem ou manterem infraestrutura adequada de desenvolvimento para
implementao de uma poltica efetiva de proteo ao consumidor, buscando
engajar nesse movimento as universidades, as empresas e as entidades de
pesquisa pblicas e privadas.

Quanto s empresas, concita-as obedincia das leis e regulamentos dos


pases com os quais mantm transaes comerciais, bem como sujeio s
determinaes quanto aos padres internacionais para a proteo de
consumidores, com as quais as autoridades dos pases em questo tenham
concordado. Deve-se ainda aproveitar a potencialidade das universidades e
das empresas de pesquisas pblicas e privadas, passando, aps o elenco
dos princpios fundamentais, s diretrizes e aos caminhos para a sua
realizao, dando especial nfase legislao de cada pas, de forma
sistemtica e no necessariamente minuciosa, e sempre guardadas as
condies e peculiaridades de cada Estado-membro (FILOMENO, 2001, p.
26).

Joo Batista de Almeida (2011, p. 23) destaca que:

A ONU mantm como rgo consultivo a IOCU Organizao Internacional


das Associaes de Consumidores, que congrega mais de cento e
cinquenta entidades de vrios pases, com sede em Haia e escritrio
regional em Montevidu, Uruguai.
O louvvel trabalho da ONU constitui resultado de constante verificao das
dificuldades que afligiam os consumidores e de como se processavam as
polticas protetivas em diversos pases, em especial os da Europa.
Entretanto, antes mesmo da preocupao da ONU, vrios pases j
cuidavam do tema, quer seja elaborando legislao pertinente, quer seja
criando instrumentos que pudessem garantir efetivamente a sua proteo.

Nas palavras de Cludia Lima Marques, Herman Benjamin e Leonardo


Bessa (2009, p. 26):
19

[...] considera-se que foi um discurso de John F. Kennedy, em 15 de maro


do ano de 1962 (data que se comemora o dia internacional do
consumidor), em que este presidente norte americano enumerou os direitos
do consumidor e os considerou como novo desafio necessrio para o
mercado, o incio da reflexo jurdica mais profunda sobre este tema. O
novo aqui foi considerar que todos somos consumidores, em algum
momento de nossas vidas temos esse status, este papel social e
econmico, estes direitos ou interesses legtimos, que so individuais, mas
tambm so os mesmos no grupo identificvel (coletivo) ou no (difuso),
que ocupa aquela posio de consumidor. [...] do seu aparecimento nos
Estados Unidos, os direitos do consumidor levou certo tempo para surgir
legislativamente no Brasil, apesar de ter conquistado facilmente a Europa e
todos os pases de sociedade capitalista consolidada na poca. Ademais, o
direito do consumidor direito social tpico das sociedades capitalistas
industrializadas, onde os riscos do progresso devem ser compensados por
uma legislao tutelar e subjetivamente especial (para aquele sujeito ou
grupo de sujeitos). [...] A ONU (Organizao das Naes Unidas), em 1985
estabeleceu diretrizes para esta legislao e consolidou a ideia de que se
trata de um direito humano de nova gerao (ou dimenso), um direito
social e econmico, um direito de igualdade material do mais fraco, do leigo,
do cidado civil nas suas relaes privadas frente aos profissionais, os
empresrios, as empresas, os fornecedores de produtos e servios, que
nesta posio so experts, parceiros considerados fortes ou em posio
de poder (MARQUES, 2009, p. 26).

Como se v, a preocupao com a defesa do consumidor universal e,


insere-se especialmente diante da perspectiva dos prprios direitos humanos.

2.4 Antecedentes Histricos no Brasil

A defesa do consumidor no Brasil, como tema especfico, nova.


Segundo Joo Batista de Almeida (2011, p. 25-26):

So de 1971 a 1973 os discursos proferidos pelo ento Deputado Nina


Ribeiro, alertando para a gravidade do problema, densamente de natureza
social, e para a necessidade de uma atuao mais energtica no setor. Em
1978 surgiu, em mbito estadual, o primeiro rgo de defesa do
consumidor, o Procon Grupo Executivo de Proteo e Orientao ao
Consumidor de So Paulo, criado pela Lei n 1.903, de 1978. Em mbito
federal, s em 1985 foi criado o Conselho Nacional de Defesa do
Consumidor (Decreto n 91.469) posteriormente extinto e substitudo pela
SNDE Secretaria Nacional de Direito Econmico.

Indiretamente, constata-se a existncia de legislaes esparsas que


tutelavam o consumidor, embora este no houvesse sido o objetivo principal do
legislador. Podemos citar como exemplo, o Decreto n 22.626, de 07 de abril de
1933, que foi editado com o intento de reprimir a usura.
20

Na Constituio de 1934 surgiram as primeiras normas constitucionais


de proteo economia popular, em seus artigos 115 e 117. Em 1951, sobreveio a
Lei de Economia Popular, at hoje vigente.

Outro exemplo a chamada Lei de Represso ao Abuso do Poder


Econmico editada em 1962 (Lei n 4.137), que alm de haver criado o CADE
Conselho Administrativo de Defesa Econmica, reflexamente beneficiou o
consumidor.

Joo Batista de Almeida (2011, p. 26) assevera que:

[...] passos importantes foram dados a partir de 1985. Em 24 de julho de


1985 foi promulgada a Lei n 7.347, que disciplina a ao civil pblica de
responsabilidade por danos causados ao consumidor, alm de outros bem
tutelados, iniciando, dessa forma, a tutela jurisdicional dos interesses
difusos em nosso pas. Na mesma data foi assinado o Decreto federal n
91.469, alterado pelo de n 94.508, de 23-6-1987, criando o CNDF
Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, que tinha como funo
assessorar o Presidente da Repblica na formao e conduo da poltica
nacional de defesa do consumidor, com competncia bastante extensa, mas
sem poder coercitivo.

Para o mencionado doutrinador (ALMEIDA, 2011, p. 27):

A vitria mais importante neste campo, fruto dos reclamos da sociedade e


de ingente trabalho dos rgos e entidades de defesa do consumidor, foi
insero, na Constituio da Repblica promulgada em 5 de outubro de
1988, de quatro dispositivos especficos sobre o tema. O primeiro deles,
mais importante porque reflete toda a concepo do movimento, proclama:
O Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5,
XXXII). Em outra passagem, atribuda competncia concorrente para
legislar sobre danos ao consumidor (art. 24, VIII). No captulo da Ordem
Econmica, a defesa do consumidor apresentada como uma das faces
justificadoras da interveno do Estado na economia (art. 170, V). E o artigo
48 do Ato das Disposies Transitrias anunciava a edio do to almejado
Cdigo de Defesa do Consumidor, que se tornou realidade pela Lei n.
8.078, de 11 de setembro de 1990.

Infere-se que o consumidor alcanou grande vitria com o advento do


Cdigo de Defesa do Consumidor.

2.5 Tratamento Constitucional

A Constituio brasileira de 1988 reconheceu o consumidor (individual


e coletivo), como um novo sujeito de direitos, assegurando sua proteo
21

constitucionalmente como direito fundamental no artigo 5, inciso XXXII, e tambm


como princpio da ordem econmica nacional no artigo 170, inciso V.
Noutras palavras, dada a incluso da defesa do consumidor como
princpio fundamental e princpio da ordem econmica, foi que a prpria Constituio
Federal de 1988 estabeleceu a imposio de prazo para que o legislador ordinrio
elaborasse um Cdigo de Defesa do Consumidor, inserindo tal propsito no artigo
48 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, com o seguinte teor: Art.
48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao da
Constituio, elaborar Cdigo de Defesa do Consumidor.

Claudia Lima Marques (2009, p. 27) nos informa que:

O direito do consumidor seria, assim, o conjunto de normas e princpios


especiais que visam cumprir com este triplo mandamento constitucional: 1)
de promover a defesa dos consumidores (art. 5, XXXII, da Constituio
Federal de 1988: O Estado promover, na forma da lei, a defesa do
consumidor); 2) de observar e assegurar como princpio geral da atividade
econmica, como princpio imperativo da ordem econmica constitucional, a
necessria defesa do sujeito de direitos consumidor (art. 170 da
Constituio Federal de 1988: A ordem econmica, fundada na valorizao
do trabalho humano e na iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia
digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes
princpios: (...) V defesa do consumidor; (...); 3) de sistematizar e ordenar
esta tutela especial infraconstitucionalmente atravs de um Cdigo
(microcodificao), que rena e organize as normas tutelares, de direito
privado e pblico, com base na idia de proteo do sujeito de direitos (e
no da relao de consumo ou do mercado de consumo), um cdigo de
proteo e defesa do consumidor (art. 48, ADCT).

E assim, em atendimento ao mandamento do constituinte, nasceu a Lei


n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, chamada de Cdigo de Defesa do
Consumidor e abreviada por CDC.
Na lio dos juristas Fbio e Simone Figueiredo (2009, p.283), sobre a
edio do Cdigo de Defesa do Consumidor:

Significa dizer que a incluso da defesa do consumidor como direito


fundamental na Constituio Federal vincula o Estado e todos os demais
operadores a aplic-la e efetiv-la. Por ser a defesa do consumidor princpio
fundamental, considerada clusula ptrea e, portanto, no pode ser
suprimida pelo legislador.

Seguindo as diretrizes da ONU, a partir da Constituio Federativa do


Brasil de 1988, que se originou a codificao tutelar dos consumidores em nosso
pas.
22

3 AS DEFINIES DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR E A


ANLISE DOS ELEMENTOS DA RELAO DE CONSUMO

3.1 Consideraes Preliminares

Visando facilitar o entendimento e o alcance das infraes penais


inseridas nos artigos 61 a 80 do Cdigo de Defesa do Consumidor, como se ver a
seguir, que se faz necessria a realizao de um breve esboo do ordenamento
jurdico consumerista no que tange aos principais pontos conceituais dos elementos
da relao de consumo.
Conforme preconizam Claudia Lima Marques, Benjamin e Leonardo
Bessa (2009, p. 67):

O grande desafio do intrprete e aplicador do CDC, como Cdigo que


regula uma relao jurdica entre privados, saber diferenciar e saber ver
quem comerciante, quem civil, quem consumidor, quem fornecedor,
quem faz parte da cadeia de produo e de distribuio e quem retira o bem
do mercado como destinatrio final, quem equiparado a este, seja porque
uma coletividade que intervm na relao, porque vtima de um acidente
de consumo ou porque foi quem criou o risco no mercado.

Assim, embora no seja este o enfoque deste trabalho, para se pensar


na aplicao de sano pela prtica abusiva ou at mesmo uma infrao penal
cometida por um fornecedor, no h como fugir definio dos elementos da
relao de consumo, conforme veremos.

3.2 Relaes de Consumo

cedio que toda relao de consumo envolve dois protagonistas,


sendo eles o consumidor que retratado por todo aquele que adquire ou utiliza um
produto ou um servio, bem como o fornecedor que todo aquele responsvel
pela colocao de produtos e servios disposio dos consumidores.
Atualmente tanto na doutrina quanto na jurisprudncia muito se tem
discutido sobre a amplitude do conceito de consumidor. Necessrio, portanto
23

identificar o sujeito a ser protegido pelo Cdigo de Defesa do Consumidor para


assim restar estabelecido uma relao de consumo entre as partes.

3.3 Conceitos de Consumidor

Pela definio do artigo 2 da Lei 8.078/90 consumidor toda pessoa


fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio final.
Observa-se que, a conceituao trazida pelo Cdigo de Defesa do
Consumidor se acentua to somente em seu aspecto econmico jurdico do termo.
Noutras palavras, consumidor aquele que adquire ou utiliza produto ou servio
destinado ao seu uso privado. Todavia, a redao supracitada no responde o que
significa destinatrio final, gerando, em algumas situaes incertezas se
determinada relao estaria ou no sob a proteo da Lei 8.078/1990.

A soluo buscar o auxlio da doutrina, para assim, definir o conceito


de consumidor.

Na doutrina consumerista, em busca desta definio duas correntes se


formaram: as chamadas finalistas e maximalistas.

A doutrina finalista (tambm conhecida como subjetiva), partindo do


conceito econmico de consumidor, alude que a interpretao da expresso
destinatrio final seja restrita, abalizada no fato de que somente o
consumidor, parte mais vulnervel na relao contratual, merece a especial
tutela (GARCIA, 2011, p. 13).

Fbio Vieira Figueiredo e Simone Diogo Carvalho Figueiredo (2009, p.


285), esclarecem que:

[...] se Joo adquire um automvel, numa determinada concessionria, para


sua prpria utilizao, estaremos diante de tpica relao de consumo,
figurando de um lado a concessionria enquanto fornecedora e, de outro
Joo como consumidor. Da mesma forma, se uma concessionria adquire
veculos de uma montadora para revend-los, no se estar diante de
relao consumerista, pois a concessionria no destinatria final do
produto (automvel), e sim intermediria para posterior venda ao
consumidor

Podero surgir dvidas quanto abrangncia do conceito, no caso em


que, por exemplo, a concessionria adquire veculo da montadora como bem de
24

produo, no para revend-lo, mas para transportar seus funcionrios. o que se


extrai da doutrina de Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 285).

Cludia Lima Marques (2009, p. 71):

O destinatrio final aquele destinatrio ftico e econmico do bem ou


servio. Neste sentido, seja pessoa jurdica ou fsica. Logo, segundo esta
interpretao teleolgica no basta ser destinatrio ftico do produto. Sendo
assim, necessrio retir-lo da cadeia de produo, lev-lo para o escritrio
ou residncia, e ser destinatrio final econmico do bem, no adquiri-lo para
revenda, no adquiri-lo para o uso profissional, pois o bem seria novamente
um instrumento de produo cujo preo ser includo no preo final do
profissional que o adquiriu. Neste caso no haveria a exigida destinao
final do produto ou servio.

Assim, para a teoria finalista consumidor seria o no profissional, ou


seja, aquele que adquire ou utiliza um produto ou servio retirando o bem do
mercado, para uso prprio, e que coloca um fim na cadeia de produo.
J para a teoria maximalista (ou objetiva), ensinam Fbio e Simone
Figueiredo (2009, p. 285), que:

[...] a expresso destinatrio final, puramente objetiva e, com base no


conceito jurdico de consumidor deve ser interpretada da maneira mais
ampla possvel, abarcando maior nmero de relaes, pouco importando se
a pessoa fsica ou jurdica adquiriu ou utilizou produto ou servio com o fim
de obter lucro. Assim, se o advogado adquire computadores para seu
escritrio, ser considerado consumidor, no importando se a aquisio e
utilizao do bem (computador) se deram para prestao de seus servios
profissionais.

Para os maximalistas o Cdigo de Defesa do Consumidor seria um


cdigo geral, ou seja, um cdigo para a sociedade de consumo, sendo suas normas
e princpios institudas para todos os agentes do mercado (BENJAMIN, 2009, p. 71).
De forma majoritria, a jurisprudncia adota a teoria finalista acerca do
alcance do conceito de consumidor como destinatrio final, mas, admite certa
mitigao dessa teoria para atender situaes em que a vulnerabilidade se encontra
demonstrada no caso concreto nos moldes do pensamento de Claudia Lima
Marques. Nesse sentido, cita Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 20 e 21) teor
do v. acrdo prolatado nos autos do Recurso Especial n 476428/SC:

Para se caracterizar o consumidor, portanto, no basta ser, o adquirente ou


utente, destinatrio final ftico do bem ou servio: deve ser tambm o seu
destinatrio final econmico, isto , a utilizao deve romper a atividade
econmica para o atendimento de necessidade privada, pessoal, no
podendo ser reutilizado, o bem ou servio, no processo produtivo, ainda que
25

de forma indireta. Nesse prisma, a expresso destinatrio final no


compreenderia a pessoa jurdica empresria. Por outro lado, a
jurisprudncia deste STJ, ao mesmo tempo em que consagra o conceito
finalista, reconhece a necessidade de mitigao do critrio para atender
situaes em que a vulnerabilidade se encontra demonstrada no caso
concreto. Isso ocorre, todavia, porque a relao jurdica qualificada por ser
de consumo no se caracteriza pela presena de pessoa fsica ou jurdica
em seus plos, mas pela presena de uma parte vulnervel de um lado
(consumidor), e de um fornecedor, de outro. Porque essncia do Cdigo o
reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado, princpio-
motor da poltica nacional das relaes de consumo (art. 4, I). Em relao a
esse componente informador do subsistema das relaes de consumo,
inclusive, no se pode olvidar que a vulnerabilidade no se define to
somente pela capacidade econmica, nvel de informao, cultura ou valor
do contrato em exame.Todos esses elementos podem estar presentes e o
comprador ainda ser vulnervel pela dependncia do produto; pela natureza
adesiva do contrato imposto; pelo monoplio da produo do bem ou sua
qualidade insupervel; pela extremada necessidade do bem ou servio;
pelas exigncias da modernidade atinentes atividade, dentre outros
fatores. Por isso mesmo, ao consagrar o critrio finalista para a
interpretao do conceito de fornecedor, a jurisprudncia deste STJ tambm
reconhece a necessidade de, em situaes especficas, abrandar o rigor do
critrio subjetivo do conceito de consumidor, para admitir a aplicabilidade do
CDC nas relaes entre fornecedores e consumidores-empresrios em que
fique evidenciada a relao de consumo, isto , a relao formada entre
fornecedor e consumidor vulnervel, presumidamente ou no. Cite-se, a
respeito, recente precedente da 4 Turma, pioneira na adoo do critrio
finalista: o REsp. 661.145, de relatoria do Min. Jorge Scartezzini, j.
22/02;2005, do qual transcrevo o seguinte excerto, porque ilustrativo: Com
vistas, porm, ao esgotamento da questo, cumpre consignar a
existncia de certo abrandamento na interpretao finalista, na medida
em que se admite, excepcionalmente e desde que demonstrada in
concreto a vulnerabilidade tcnica, jurdica ou econmica, a aplicao
das normas do Cdigo de Defesa do Consumidor a determinados
consumidores profissionais, como pequenas empresas e profissionais
liberais. Quer dizer, no se deixa de perquirir acerca do uso, profissional ou
no, do bem ou servio; apenas, como exceo, e vista da
hipossuficincia concreta de determinado adquirente ou utente, no
obstante seja um profissional, passa-se a consider-lo consumidor. (STJ, 3
T. Resp. n 476428/SC rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 09-05-2005).

Marques (2009, p. 72-73), afirma que depois da entrada em vigor do


Cdigo Civil/2002, a viso maximalista diminuiu em fora, tendo sido muito
importante para isto a atuao do STJ.

Para a autora cresce uma nova tendncia na jurisprudncia,


concentrada na noo de consumidor final imediato e de vulnerabilidade nos termos
do art. 4 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Em resumo, existem trs tipos de
vulnerabilidade: a tcnica, a jurdica e a ftica, e um quarto tipo de vulnerabilidade
bsica ou intrnseca do consumidor, a informacional.

Assim, entende-se que na vulnerabilidade tcnica o comprador no possui


conhecimentos especficos sobre o objeto que est adquirindo e, portanto,
mais facilmente enganado quanto utilidade ou quanto s caractersticas o
26

bem, o mesmo ocorrendo em matria de servios. A vulnerabilidade tcnica


no sistema do CDC presumida para o consumidor no-profissional, mas
tambm pode atingir excepcionalmente o profissional, destinatrio final
ftico do bem (MARQUES, p. 74)

A vulnerabilidade jurdica consiste em ser basicamente a falta de


conhecimentos jurdicos especficos. Trata-se de vulnerabilidade presumida para o
consumidor no profissional e para o consumidor pessoa fsica.

H ainda a vulnerabilidade ftica ou socioeconmica, onde o ponto de


concentrao o outro parceiro contratual. Neste caso, o fornecedor que,
perante sua posio de monoplio, ftico ou jurdico, por seu grande poder
econmico ou em razo da essencialidade do servio, impe sua
superioridade a todos que o contratam. Podemos citar, por exemplo, um
mdico adquire um automvel, atravs do sistema de consrcios para poder
atender suas consultas, e se submete as condies fixadas pela
administradora de consrcios, ou pelo prprio Estado. [...] a vulnerabilidade
informacional a vulnerabilidade bsica do consumidor, intrnseca e
caracterstica deste papel na sociedade. Hoje merece uma meno
especial, pois na sociedade atual so de grande importncia a aparncia, a
confiana, a comunicao e a informao. Nosso mundo de consumo
cada vez mais visual, rpido e de risco, da a importncia da informao
(MARQUES, 2009, p. 75-77).

Na viso de Filomeno (2001, p. 31/32), o conceito de consumidor pode


ser analisado sob vrios aspectos, quais sejam: econmico, psicolgico, sociolgico
e, ainda assinala consideraes de ordem literria e filosfica:

Consumidor sob o ponto de vista econmico considerado todo indivduo


que se faz destinatrio da produo de bens, seja ele ou no adquirente, e
seja ou no, o seu turno, tambm produtor de outros bens. [...] Do ponto de
vista psicolgico, considera que consumidor o sujeito sobre o qual se
estudam as reaes a fim de se individualizar os critrios para a produo e
as motivaes internas que o levam ao consumo. Nesse aspecto,
consequentemente, um indivduo ou determinado grupo de pessoas buscam
a preferncia por este ou aquele tipo de servio ou produto.[...] J do ponto
de vista sociolgico considerado consumidor todo indivduo que fru ou se
utiliza de bens ou servios pertencentes a uma determinada categoria ou
classe social. Isto , o elo de ligao entre o chamado movimento
trabalhista ou obreiro, ou ainda, os sindicalistas e o movimento
consumerista, vez que, por razes evidentes, a noo de melhor qualidade
de vida pressupe certamente poder aquisitivo para dar vazo vontade de
consumir produtos e contratar servios, em maior escala e igualmente
qualidade. [...] Em relao s consideraes de ordem literria e filosfica, o
vocbulo consumidor repleto de valores ideolgicos, e, o termo quase
sempre associado denominada sociedade de consumo tambm
denominado de consumismo, ou ao prprio consumerismo. Em outras
palavras, o consumidor consume bens e servios em razo de haver
veiculao publicitria dos bens e produtos que se almeja adquiri-los.

Acerca dessas consideraes de ordem literria e filosfica,


exemplifica Filomeno (2001, p. 32), que:
27

[...] j no to recente filme mostrado pela televiso, tal circunstncia, ainda


que caricaturalmente, demonstrada no instante em que aparece uma
senhora idosa, frente de seu indefectvel aparelho de televiso, a dar
importncia exclusiva aos comerciais veiculados, e cumprindo risca suas
mensagens, elevadas a verdadeiras ordens incontestveis: use shampoo
marca x (e ela se levanta automaticamente e se dirige ao banheiro para
atender ordem incontrastvel); coma flocos de milho marca y (e ela
cegamente cumpre tal comando) e assim sucessivamente, at a exausto.

Conclui Filomeno (2001, p. 34) que:

[...] abstradas todas as conotaes de ordem filosfica, to somente


econmica, psicolgica ou sociolgica, e concentrando-se basicamente na
acepo jurdica, consumidor vem a ser qualquer pessoa fsica que, isolada
ou coletivamente, contrate para consumo final, em benefcio prprio ou de
outrem, a aquisio ou a locao de bens, bem como a prestao de
servios. Alm disso, h que se equiparar a consumidor, a coletividade que,
potencialmente, esteja sujeita ou propensa referida contratao. Caso
contrrio, se deixaria prpria sorte, por exemplo, o pblico alvo de
campanhas publicitrias enganosas ou abusivas, ou ento sujeito ao
consumo de produtos e servios perigosos ou nocivos a sua sade ou
segurana.

Desde logo, no h como escapar da conceituao de consumidor


como um participante das relaes de consumo, procurando tratar desigualmente
pessoas desiguais, no caso, partimos do princpio que todas as pessoas no so
iguais, ento no seria necessrio levando-se em conta que o consumidor est em
situao inferior ante o fornecedor de produtos e servios.

3.3.1 Consumidores equiparados

Determina o pargrafo nico do art. 2 do Cdigo de Defesa do


Consumidor que so consumidores equiparados a coletividade de pessoas, ainda
que indeterminveis, que haja intervindo nas relaes de consumo.

Essa extenso do campo de aplicao do CDC a observao de que


muitas pessoas, mesmo no sendo consumidores stricto sensu, podem ser
atingidas ou prejudicadas pelas atividades dos fornecedores no mercado.
Essas pessoas, grupos e mesmo profissionais podem intervir nas relaes
de consumo de outra forma, a ocupar uma posio de vulnerabilidade
(MARQUES, 2009, p. 79).

Assim, exemplifica Claudia Lima Marques (2009, p. 80), que:


28

[...] apesar de no se caracterizar como consumidor stricto sensu, a criana,


filha do adquirente, que ingere produto defeituoso e vem adoecer por fato
do produto, consumidor equiparado e se beneficia de todas as normas
protetivas do CDC aplicveis ao caso. A importncia do pargrafo nico do
art. 2 seu carter de norma genrica, interpretadora, aplicvel a todos os
captulos e sees do Cdigo.

Com isso, temos que no somente podem se valer das normas


protetivas do CDC a pessoa que contratou determinado servio ou adquiriu
determinado produto.

Da mesma forma tambm podem se valer das normas do CDC a seu


favor a vtima do acidente de consumo, independentemente da posio jurdica que
ocupa assim prevista no artigo 17 do CDC.

Claudia Lima Marques (2009, p. 80) elucida que:

Basta ser vtima de um produto ou servio para ser privilegiado com a


posio de consumidor legalmente protegido pelas normas sobre
responsabilidade objetiva pelo fato do produto presentes no CDC no
necessrio ser destinatrio final, ser consumidor concreto, basta o acidente
de consumo oriundo deste defeito do produto e do servio que causa o
dano.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justia:

Em consonncia com o artigo 17 do Cdigo de Defesa do Consumidor,


equiparam-se aos consumidores todas as pessoas que, embora no tendo
participado diretamente da relao de consumo, vem a sofrer as
consequncias do evento danoso, dada a potencial gravidade que pode
atingir o fato do produto ou do servio, na modalidade vcio de qualidade por
insegurana (STJ, REsp 181.580-SP, Min. Castro Filho, j. 09.12.2003).

O artigo 29 do CDC inicia-se no captulo das prticas comerciais e,


conceitua os consumidores por equiparao dispondo serem todas as pessoas
determinveis ou no, expostas s prticas comerciais, inerente oferta,
publicidade, cobrana de dvidas, etc., previstas no Cdigo de Defesa do
Consumidor.
Numa anlise mais profunda, segundo ensina Fbio Vieira Figueiredo e
Simone Diogo Carvalho Figueiredo (2009, p. 287):

[...] todos os consumidores que esto expostos a publicidade enganosa ou


abusiva, mesmo que no tenham adquirido ou utilizado o produto ou servio
divulgado, podero, na condio de consumidores equiparados, se valerem
das regras de proteo do CDC.

Portanto, de ser levado em considerao que o legislador no faz


distino entre o consumidor que efetua a compra daquele que apenas se dirige ao
29

local sem nada adquirir ou consumir. Isto significa que, na ocorrncia de um


acidente de consumo como, por exemplo, se um transeunte for atropelado por um
veculo de uma transportadora em razo da falha no sistema de freios do automvel,
este poder promover a respectiva ao pleiteando a devida reparao de seus
prejuzos decorrentes do evento danoso, figurando como consumidor por
equiparao.

3.3.2 A coletividade de consumidores

O pargrafo nico do artigo 2 do Cdigo de Defesa do Consumidor


equipara a coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo
nas relaes de consumo. Em referncia a este dispositivo, acrescenta Filomeno
(2001, p. 44-45), que:

[...] as referidas circunstncias de tutela coletiva do consumidor ficam ainda


mais evidenciadas quando se levam em considerao, por exemplo, os
danos causados por um produto alimentcio ou medicinal nocivo sade, ou
ento por um automvel com graves defeitos de fabricao no sistema de
freios, expondo as vtimas situao de total impotncia e desamparo [...]

O alvo aqui segundo o referido autor a universalidade, o conjunto de


consumidores de produtos e servios.

3.3.3 A pessoa jurdica de direito privado como consumidora

Ao cuidar dessa questo, Jos Reinaldo de Lima Lopes (1992:78-79)


apud Filomeno (2001, p. 35) pondera que:

[...] tendo o artigo 2 do Cdigo definido como consumidor toda pessoa


fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio como destinatrio
final, tal enfoque pode perder, a seu ver, um elemento essencial, onde no
fundo o justifica a existncia da prpria disciplina da relao de consumo: a
subordinao econmica do consumidor. [...] Em primeiro lugar, o fato de
que os bens adquiridos devem ser bens de consumo e no bens de capital.
Em segundo lugar, que haja entre fornecedor e consumidor um
desequilbrio que favorea o primeiro. Em outras palavras: o Cdigo de
30

Defesa do Consumidor no veio para revogar o Cdigo Comercial ou o


Cdigo Civil no que diz respeito a relaes jurdicas entre partes iguais, do
ponto de vista econmico. Uma grande empresa oligopolista no pode
valer-se do Cdigo de Defesa do Consumidor da mesma forma que um
microempresrio. Este critrio, cuja explicitao na lei insuficiente, , no
entanto, o nico que d sentido a todo o texto. Sem ele teramos um sem
sentido jurdico.

Diante disso, menciona referido doutrinador que, ao contemplar a


pessoa jurdica como consumidora de produtos e servios, o artigo 2 do CDC
discorda do prprio critrio jurdico conceitual, justamente porque o consumidor
enquanto pessoa fsica vulnervel, na maioria das vezes em razo de se
defrontar com o poder econmico dos fornecedores em geral.

Isto porque, quando houver impasses e conflitos de interesses, a


pessoa jurdica, bem ou mal, tender maior informao e meios de se defender uns
contra os outros.

essencial, seja dada, uma interpretao objetiva ao caso em concreto,


verificando se: o consumidor adquiriu bem de capital ou no ou se contratou
o servio para satisfazer a uma necessidade sem qualquer ligao com os
insumos de produo. [...] trazemos como exemplo a aquisio de
alimentos, preparados ou no, para fornecimento aos operrios de uma
indstria, ou ento a compra de mscaras protetoras contra poeiras txicas.
No segundo, a contratao de servios de dedetizao de um galpo
industrial ou servios de educao para a creche construda para os filhos
dos operrios. Resta evidente, nesses casos, que eventuais deteriorizao
ou contaminao dos mencionados alimentos em prejuzo da economia da
empresa adquirente e da sade dos operrios-consumidores-finais
transformam-na em manifesta consumidora. E assim tambm na hiptese
de descumprimento das normas atinentes fabricao das referidas
mscaras contra poeiras txicas. Ou, ainda, e por fim, no caso de prestao
de servios de educao de forma insuficiente ou em desacordo com o que
ficara estipulado em contrato. Pouco importa desde que haja manifesta
destinao final, que se cuide de despesa ou custos da pessoa jurdica. O
que importa indagar se referidos itens so adquiridos ou no para
destinao final. Diferentemente, porm, no pode ser considerada
consumidora final a empresa que adquire mquinas para a fabricao de
seus produtos ou mesmo uma copiadora para seu escritrio, que venham a
apresentar algum vcio ou defeito. Isso porque referidos bens, certamente
entram na cadeia produtiva e nada tm a ver com o conceito de destinao
final. Resta-lhes, evidentemente, socorrerem-se das normas comerciais
existentes, e no s do Cdigo de Defesa do Consumidor. A vulnerabilidade
econmica tambm deve ser levada em conta para a mencionada distino.
Suponha-se, ainda no campo dos exemplos, e casuisticamente, uma
fundao ou associao sem fins lucrativos e beneficentes. Ningum por
certo lhes negar a condio de consumidoras ao adquirirem produtos
defeituosos ou contratarem servios deficientes (FILOMENO, 2001, p.37)

Assim, poder a pessoa jurdica ser consumidora a depender de dois


elementos no especificados no artigo 2 do Cdigo de Defesa do Consumidor,
conforme assinalado linhas atrs.
31

De fato, no podemos perder de vista que para aqueles que adotam a


teoria maximalista (ou objetiva), o conceito jurdico de consumidor abrange maior
nmero de relaes, sequer importando se a pessoa jurdica adquiriu ou utilizou
produto ou servio com o fim de obter lucros.

3.3.4 A pessoa jurdica de direito pblico como consumidora

cedio que no se pode recusar a proteo legal pessoa jurdica de


direito pblico como reparao por danos patrimoniais ou por defeitos relativos
prestao de servios pblicos, quando for usuria ou consumidora.
Com nfase, afirma Filomeno (2001, p. 42- 43):

A lgica est no fato de que o Estado consumidor representa a prpria


sociedade organizada. Nenhum dos dispositivos previstos na Lei de
Licitaes e Contratos municia a especfica proteo, quando a
Administrao Pblica estiver na posio de consumidora final, com
exceo do 5 do artigo 65 da Lei 8.666/93.

Ademais, estar na posio de fornecedora quando prestar servios


pblicos, sendo aplicadas as regras do artigo 22 e seu pargrafo nico do Cdigo de
Defesa do Consumidor.

3.4 Conceito de Fornecedor

Segundo dispe o artigo 3, caput do Cdigo de Defesa do


Consumidor, fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao,
exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios.

Fbio Vieira Figueiredo e Simone Diogo Carvalho Figueiredo (2009, p.


288) afirmam que:

A expresso fornecedor tratada como gnero, do qual so consideradas


espcies o produtor, o montador, o criador, o fabricante, o construtor, o
32

transformador, o importador, o exportador, o distribuidor, o comerciante e o


prestador de servio. Frise-se, no entanto, que referido rol apenas
exemplificativo.

Para Joo Batista de Almeida (2011, p. 63):

Diferentemente do que ocorre com o consumidor, o conceito de fornecedor


no debatido com frequncia pelos autores, talvez em decorrncia do
vasto leque de atividades econmicas e da amplitude da rea de prestao
de servios. Embora seja mais cmodo definir-se por excluso, ou seja,
dizer quem no pode ser considerado fornecedor. Em princpio, portanto, s
estariam excludos do conceito de fornecedor aqueles que exeram ou
pratiquem transaes tpicas de direito privado e sem o carter de profisso
ou atividade, como a compra e venda de pessoas fsicas particulares, por
acerto direto e sem qualquer influencia de publicidade. [...] A definio legal
praticamente esgotou todas as formas de atuao no mercado de consumo
[...]. Nesse ponto, portanto, a definio de fornecedor se distancia da
definio de consumidor, pois enquanto este h de ser o destinatrio final,
tal exigncia j no se verifica quanto ao fornecedor, que pode ser o
fabricante originrio, o intermedirio ou o comerciante, bastando que faa
disso sua profisso ou atividade principal.

Assim, nos termos expostos pelo legislador, o conceito de fornecedor


deve ser interpretado em sentido amplo, de modo que nenhuma pessoa jurdica
(seja ela de direito pblico ou privado, entes despersonalizados, etc.) fique fora de
se enquadrar na hiptese legal.

3.5 Objetos dos Interesses Produtos e Servios

Como vimos, o Cdigo de Defesa do Consumidor se preocupou em


conceituar os dois principais sujeitos da relao de consumo, o consumidor (art.2,
CDC) e o fornecedor (art. 3, caput, CDC). Trataremos agora, dos elementos
relacionais desta relao jurdica: produto e servio.

3.5.1 Produtos

Estabelece o 1 do artigo 3 do Cdigo de Defesa do Consumidor que


produto qualquer bem, mvel ou imvel, material ou imaterial.
Nas palavras de Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 26):
33

O artigo delimita para fins de definio tanto de consumidor, como de


fornecedor, o que produto e servio. Produto definido de modo bem
amplo pela lei, sendo qualquer bem amplo pela lei, sendo qualquer bem,
mvel ou imvel, material ou imaterial (1). No foi o objetivo do legislador
limitar o que seria produto. Pelo contrrio, contemplou as diversas formas
possveis, inserindo tanto os mveis (carros, objetos em geral etc.), como os
imveis (apartamentos etc.). No bastasse, ainda contemplou, ao lado dos
materiais, como os programas de computador, por exemplo. Ou seja, no
h no Cdigo um limitador para se identificar o que produto. Como visto,
foi tratado de forma ampla.

Para Cludia Lima Marques (2009, p. 82):

O critrio caracterizador desenvolver atividades tipicamente profissionais,


como a comercializao, a produo, a importao, indicando tambm a
necessidade de certa habitualidade, como a transformao, a distribuio
de produtos. Essas caractersticas vo excluir da aplicao das normas do
CDC todos os contratos firmados entre dois consumidores, no-
profissionais, que so relaes puramente civis s quais se aplica o
CC/2002.

Portanto, infere-se da conceituao do texto legal, que desde que seja


objeto de relao de consumo, qualquer bem pode ser produto. O legislador foi
mais abrangente neste aspecto.

3.5.2 Servios

Afirma o legislador que servio qualquer atividade fornecida no


mercado de consumo, mediante remunerao, inclusive as de natureza bancria,
financeira, de crdito e securitria, salvo as decorrentes das relaes de carter
trabalhista (artigo 3, 2, CDC).
Como se v, so duas as condies impostas pelo legislador: a
primeira a de que o servio prestado tem de se dar mediante remunerao.
Significa dizer que as atividades desempenhadas a ttulo gratuito, no esto
inseridas na proteo do Cdigo de Defesa de Consumidor.

Entretanto, Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 288) esclarecem que:

[...] se o servio aparentemente gratuito ensejar uma remunerao indireta


ao fornecedor, haver a incidncia das regras do CDC. Exemplo clssico
dessa situao so os estabelecimentos gratuitos oferecidos pelos bancos,
shopping centers, supermercados etc. Em todos esses casos, a gratuidade
apenas aparente, pois h uma remunerao indireta aos fornecedores,
34

que se valem do oferecimento do respectivo servio para atrair


consumidores aos seus estabelecimentos.

Nesse sentido, dispe a Smula 130 do Superior Tribunal de Justia


que a empresa responde, perante o cliente, pela reparao de dano ou furto de
veculo ocorridos em seu estacionamento.

Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 27) nos diz que:

Para a aplicao da Smula n 130, a jurisprudncia do STJ no faz


distino entre o consumidor que efetua compra e aquele que apenas vai ao
local sem nada dispender. Em ambos os casos, entende-se pelo cabimento
da indenizao em decorrncia do furto ou dano causado ao veculo.
Ademais, a responsabilidade pela indenizao no decorre de contrato de
depsito, mas da obrigao de zelar pela guarda e segurana dos veculos
estacionados no local, presumivelmente seguro.

Da mesma forma, o legislador determinou expressamente que as


atividades realizadas pelas instituies financeiras se amoldariam no conceito de
servio, merecendo, portanto, seus contratos serem regrados pela legislao
consumerista.
Por fim, a segunda condio a de que o servio prestado no
advenha de uma relao de carter trabalhista, ocasio em que, os impasses de
interesses devero ser tutelados pela legislao trabalhista.

Segundo observao de Bruno Miragem (2008, p.31), apud Leonardo


de Medeiros Garcia (2011, p. 30):

Os elementos que compem a relao de consumo so consumidor e


fornecedor, negociando um produto e/ou servio [...]. Ou seja, faltando
qualquer dos elementos, no se ter relao de consumo. E mais, ainda
que a princpio, se considere algum consumidor, percebendo depois que o
outro polo da relao no fornecedor, no mais existir a figura do
consumidor. Um elemento depende do outro para existir, ou seja, somente
haver consumidor se do outro lado houver fornecedor. Da mesma forma,
somente haver consumidor e fornecedor se, obrigatoriamente, existir
produto (que pelo Cdigo tratado de forma ampla) ou servio (que precisa
ser remunerado e no pode envolver relao trabalhista).

Assim, consumidor, fornecedor, produto e/ou servio, so elementos


essenciais das relaes de consumo, portanto, devem estar relacionados.
35

4 PRINCPIOS GERAIS NORTEADORES DAS RELAES DE


CONSUMO

4.1 Consideraes Gerais

O legislador enuncia nos incisos do artigo 4 do Cdigo de Defesa do


Consumidor os princpios informadores que devem ser observados e efetivados no
s pelo Poder Pblico, mas tambm pelos fornecedores, nas relaes de consumo.

4.2 Princpio da Vulnerabilidade do Consumidor (art. 4, inciso I)

Conforme j abordado linhas atrs, o reconhecimento de que o


consumidor figura como sendo parte mais vulnervel na relao de consumo surgiu
por manifestao da Organizao das Naes Unidas - ONU.
Alm de encontrar fundamento constitucional, no plano interno, o artigo
4 do Cdigo de Defesa do Consumidor, em seu inciso I reconhece expressamente a
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.

Garcia (2011, p. 42), preconiza ser justamente a vulnerabilidade


presente nos consumidores que justifica a existncia do Cdigo de Defesa do
Consumidor. Sua finalidade promover o equilbrio contratual, buscando solues
justas e harmnicas na tutela do consumidor.

Para Joo Batista de Almeida (2011, p. 70):

Os consumidores devem ser tratados de forma desigual pelo CDC e pela


legislao em geral a fim de que consigam chegar igualdade real. Nos
termos da Constituio Federal todos so iguais perante a lei, entendendo-
se da que deve os desiguais ser tratados desigualmente na exata medida
de suas desigualdades.

No mesmo sentido, na dico de Fbio Vieira Figueiredo e Simone


Diogo Carvalho Figueiredo (2009, p. 289):

O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor a principal razo do


CDC, preponderantemente protecionista. Assim, se o consumidor a parte
36

vulnervel (mais fraca), deve-se equacionar sua relao perante o


fornecedor (isonomia) e, portanto, deve ele ser protegido.

Assim, o consumidor considerado parte mais fraca nas relaes de


consumo, justamente em razo de no dispor de domnio sobre os bens de
produo, e por no haver ele participado de forma igualitria perante o fornecedor
no processo de fabricao dos produtos e servios que so colocados na cadeia do
mercado de consumo.

Outra questo que se faz importante destacar que a doutrina


diferencia vulnerabilidade de hipossuficincia, de maneira que todo consumidor
vulnervel, entretanto, nem todo consumidor ser considerado hipossuficiente.

Segundo Claudia Lima Marques (2002), apud Leonardo Medeiros de


Garcia (2011, p. 16-17), trs tipos de vulnerabilidade so identificveis: a tcnica, a
jurdica (ou cientfica) e a ftica (ou socioeconmica):

Resumidamente, a vulnerabilidade tcnica seria aquela na qual o


comprador no possui conhecimentos especficos sobre o produto ou o
servio, podendo, portanto, ser mais facilmente iludido no momento da
contratao.
A vulnerabilidade jurdica seria a prpria falta de conhecimentos jurdicos,
ou de outros pertinentes relao, como contabilidade, matemtica
financeira e economia.
J a vulnerabilidade ftica a vulnerabilidade real diante do parceiro
contratual, seja em decorrncia do grande poderio econmico deste ltimo,
seja pela sua posio de monoplio, ou em razo da essencialidade do
servio que presta, impondo, numa relao contratual, uma posio de
superioridade.

Esclarece mencionado doutrinador (GARCIA, 2011, p. 18), que:

Recentemente Cludia Lima Marques ainda aponta outro tipo de


vulnerabilidade: a informacional. Embora conhea como espcie de
vulnerabilidade tcnica, a autora d nfase necessidade de informao na
sociedade atual. [...] deve o fornecedor procurar dar o mximo de
informaes ao consumidor sobre a relao contratual, bem como sobre os
produtos e servios a serem adquiridos.

De qualquer maneira, hoje, o fornecedor deve prestar informaes


claras e acompanhar todos os produtos e embalagens colocados no comrcio.
37

4.3 Princpio do Dever Governamental (art. 4, inciso II)

O princpio do dever governamental corolrio do princpio da


vulnerabilidade do consumidor, pois se o consumidor considerado a parte mais
fraca da relao de consumo, obviamente o necessita de tutela estatal, para garantir
no s a defesa, mas tambm o respeito aos seus interesses.

autorizao constitucional (art. 5, XXXII) que, ao Estado compete o


efetivo dever de promover a proteo do consumidor intervindo no mercado para
evitar distores e desequilbrios entre consumidor e fornecedor, mediante
instituio de rgos pblicos de defesa do consumidor por meios legislativos e
administrativos.

A ao governamental feita pela instituio de rgos de defesa do


consumidor (PROCON, IDEC), da Secretaria de Direito Econmico (SDE), do
Ministrio Pblico, do Sistema Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade
Industrial (SINMETRO), entre outros (FIGUEIREDO, 2009, p. 290).

O art.5 do CDC de fundamental importncia na execuo dessa


ao governamental:

Art. 5 Para a execuo da Poltica Nacional das Relaes de Consumo,


contar o poder pblico com os seguintes instrumentos, entre outros:
I manuteno de assistncia jurdica, integral e gratuita para o consumidor
carente;
II instituio de Promotorias de Justia de Defesa do Consumidor, no
mbito do Ministrio Pblico;
III criao de delegacias de polcia especializadas no atendimento de
consumidores vtimas de infraes penais de consumo;
IV criao de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas
Especializadas para a soluo de litgios de consumo;
V concesso de estmulos criao e desenvolvimento das Associaes
de Defesa do Consumidor.
1 e 2 VETADOS

Portanto, artigo 5do CDC traz os instrumentos que o Poder Pblico


dever observar para o cumprimento dos objetivos e princpios estatudos no Cdigo
na defesa e interesse dos consumidores.
38

4.4 Princpio da Harmonizao dos Interesses dos Participantes das Relaes


de Consumo e da Garantia de Adequao (art. 4, inciso III)

Em toda relao de consumo deve haver uma harmonizao entre os


interesses dos consumidores e dos fornecedores. Nesse sentido, Joo Batista de
Almeida (2011, p. 35) nos diz que:

O objetivo da Poltica Nacional de Relaes do Consumo deve ser a


harmonizao dos interesses envolvidos e no o confronto ou o acirramento
de nimos. Portanto, interessa s partes, ou seja, aos consumidores e
fornecedores, o implemento das relaes de consumo, com o atendimento
das necessidades dos primeiros e o cumprimento do objeto principal que
justifica a existncia do fornecedor: fornecer bens e servios. Colima-se,
assim, o equilbrio entre as partes. [...] por outro lado, a proteo do
consumidor deve ser compatibilizada com a necessidade de
desenvolvimento econmico e tecnolgico, em face da dinmica prpria das
relaes de consumo, que no podem ficar obsoletas e entravadas, em
nome da defesa do consumidor. Novos produtos e novas tecnologias so
bem vindos, desde que seguros e eficientes.

O princpio da garantia da adequao prescreve que o fornecedor


dever ser responsvel pela efetivao da adequao dos produtos e servios
atendendo as necessidades dos consumidores em segurana e qualidade, bem
como respeitando sade, segurana, dignidade e interesses econmicos.
Em sntese, harmonizar os interesses dos consumidores com os
interesses dos fornecedores significa compatibilizar as necessidades de ambos.

4.5 Princpio do Equilbrio nas Relaes de Consumo (art. 4, inciso III)

O equilbrio contratual, por ser um dos valores fundamentais do


sistema de proteo contratual, deve sempre nortear o intrprete. O legislador deixa
evidente sua preocupao com a busca pela relao equilibrada, vedando, por
exemplo, obrigaes abusivas (FIGUEIREDO, 2009, p. 291).
Conforme anota Monique Mosca (2008, p. 27), este princpio tem
incidncia sobre as relaes contratuais e veda as clusulas abusivas, bem como
daquelas que proporcionam vantagem exagerada para o fornecedor ou oneram
excessivamente o consumidor.
39

4.6 Princpio da Boa-f Objetiva (art. 4, inciso III)

Expressamente previsto no artigo 4, inciso III do Cdigo de Defesa do


Consumidor, este princpio norteia grande parte dos dispositivos e funciona como
um princpio geral do sistema consumerista. O legislador pretendeu assegurar o
equilbrio entre as partes exigindo uma atuao sincera, leal e transparente de
ambos os contratantes.

Tanto assim que, no Cdigo de Defesa do Consumidor h diversas


disposies legais que visam conter o abuso do direito subjetivo ocasionado pelo
fornecedor que age no intento de burlar os dispositivos do Cdigo.

Conforme anota Joo Batista de Almeida (2011, p. 71):

O CDC repleto dessas presunes, como a que prev a responsabilidade


objetiva do fornecedor pelo fato do produto e do servio (CDC, art. 12) e a
que autoriza a inverso do nus da prova em favor do consumidor, no
processo civil (art. 6, VIII). O captulo VI, do ttulo I, relativo proteo
contratual, , no entanto, o campo mais propcio para disposies desse
jaez. Note-se, por exemplo, a nulidade absoluta das clusulas abusivas
elencadas nos incisos do art. 51, bem como a presuno de exagero em
clausulas que instituam determinadas vantagens (art. 51, 1) e de nulidade
daquelas clausulas que estabeleam a perda total das prestaes pagas em
benefcio do credor, na compra e venda de mveis ou imveis mediante
pagamento parcelado (art. 53).

Doutrina Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 46) que:

A boa-f objetiva estabelece um dever de conduta entre fornecedores e


consumidores no sentido de agirem com lealdade e confiana na busca do
fim em comum, que o adimplemento do contrato, protegendo, assim, as
expectativas de ambas as partes.

Trata-se de princpio basilar, que deve ser efetivamente aplicado e


observado no campo das obrigaes entre consumidor e fornecedor. A
inobservncia do referido princpio implica em inadimplemento contratual.

4.7 Princpio da Educao e Informao dos Consumidores (art. 4, inciso IV)

O consumidor deve ser informado acerca de seus direitos e deveres, e


essa obrigao incumbe no s as partes envolvidas, como tambm ao Estado,
conforme destacam Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 291):
40

Estabelece o legislador que dever do Estado, das entidades privadas de


defesa do consumidor, entre outros, educar e informar os fornecedores e os
consumidores sobre seus direitos e deveres, afim de que possam,
conscientemente, exercer livremente suas manifestaes de vontade,
diminuindo o nmero de conflitos nas relaes de consumo.

Ressalta Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 55), a Lei n 12.


291/2010 que tornou obrigatria a manuteno de exemplar do Cdigo de Defesa do
Consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestao de servio. Conclui
referido doutrinador:

A experincia mostra que quando se tem uma sociedade bem informada


sobre seus direitos e deveres, menos abusos so verificados, uma vez que
o consumidor passa a ser aliado na busca do equilbrio, seja ajuizando
aes, seja reclamando nos PROCONS ou ainda reclamando na prpria
empresa.

Com isso, o consumidor poder exigir o CDC nos estabelecimentos


comerciais, podendo verificar os seus direitos antes de realizar as transaes
comerciais, evitando possveis abusos praticados pelos fornecedores.

4.8 Princpio do Controle de Qualidade e Segurana dos Produtos e Servios


(art. 4, inciso V)

Este princpio tambm denominado pela doutrina como princpio do


incentivo ao autocontrole.

A poltica nacional de consumo prev a necessidade de o Estado


incentivar os fornecedores na adoo de providncias consistentes na manuteno
de um controle de qualidade e segurana de seus produtos e servios.

Frente a isso, o prprio fornecedor tem a oportunidade de elucidar ou


solucionar conflitos sempre que estiver diante de uma queixa ou reclamao
formulada pelo consumidor.
41

4.9 Princpio da Coibio e Represso das Prticas Abusivas (art. 4, inciso VI)

O consumidor deve atuar de maneira livre e consciente no mercado de


consumo quando do momento da aquisio de um produto ou servio. Assim, a
Poltica Nacional das Relaes de Consumo probe e reprime prticas abusivas
cometidas pelos fornecedores, como por exemplo, no pode o fornecedor valer-se
de marca semelhante com outra marca famosa, para enganar e confundir o
consumidor.

4.10 Princpio da Racionalizao e Melhoria dos Servios Pblicos (art. 4,


inciso VII)

Na dico de Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 292):

O Poder Pblico, quando atua como fornecedor na relao de consumo,


tambm deve respeitar a regra geral de proteo ao consumidor. Assim, os
servios de transporte coletivo, energia eltrica, gua, gs, entre outros,
devem ser prestados com qualidade, presteza, pontualidade e adequao.

A Lei 8.078/90 garante aos consumidores que os servios prestados


pelos entes pblicos ou por seus representantes respeitem os direitos dos
consumidores. Ademais, em razo dos princpios da administrao pblica, quando
se tratar de servios em que o usurio/consumidor pague tarifa pelos servios
prestados, as obrigaes e garantias previstas no CDC so aplicveis aos princpios
em estudo.

4.11 Princpio do Estudo das Modificaes do Mercado de Consumo (art. 4,


inciso VIII)

Este princpio visa evitar que as normas consumeristas se tornem


ultrapassadas e ineficazes, sendo necessrio um constante estudo das modificaes
havidas no mercado de consumo.
42

Sobre o tema, Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 293), trazem como


exemplos dessas modificaes, a venda de produtos pela Internet, que necessita de
estudo e regulamentao legal para a efetiva proteo do consumidor.

4.12 Princpio do Acesso Justia

Este princpio no est includo expressamente no rol dos incisos do


artigo 4 do Cdigo de Defesa do Consumidor, mas, o legislador implicitamente se
preocupou com o acesso a justia dos consumidores para a defesa de seus direitos.

Vejamos alguns exemplos:

Prescreve o artigo 6, inciso VIII do CDC, que direito bsico do


consumidor a facilitao da defesa de seus direitos, utilizando-se como ferramenta
a chamada inverso do nus da prova quando, a critrio do juiz, for verossmil a
alegao ou quando for hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de
experincia.

Leonardo de Medeiros Garcia (2011, p. 60), ressalta que:

[...] de forma a facilitar ainda mais o acesso justia, no Ttulo III do Cdigo
de Defesa do Consumidor esto destacadas as aes coletivas de modo
geral, que visam, principalmente, tutelar os interesses difusos (artigo 81,
pargrafo nico, I), interesses coletivos (artigo 81, pargrafo nico, II) e os
interesses individuais homogneos de origem comum (art. 81, pargrafo
nico, III do CDC). [...] o artigo 5, do CDC dispe sobre os instrumentos de
execuo nacional das relaes de consumo, como a manuteno de
assistncia jurdica integral e gratuita para o consumidor carente; a
instituio de Promotorias de Justia de Defesa do Consumidor, no mbito
do Ministrio Pblico; a criao de Juizados Especiais de Pequenas Causas
e Varas Especializadas para a soluo de litgios de consumo; a criao de
delegacias de polcia especializadas no atendimento de consumidores
vtimas de infraes penais de consumo e a concesso de estmulos
criao e desenvolvimento das Associaes de Defesa do Consumidor.

O artigo 83 do CDC tambm contempla este princpio ao estabelecer


que para a defesa dos direitos e interesses protegidos pelo Cdigo so admissveis
todas as espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
43

5 DIREITO PENAL DO CONSUMIDOR

5.1 Consideraes Gerais

O direito penal do consumo surgiu como uma resposta social aos


comportamentos ilcitos praticados no mercado de consumo pelos fornecedores de
produtos e servios, em razo de o direito penal clssico perder de vista a relao
de consumo como um bem jurdico, se ocupando na tutela de bens jurdicos
atinentes vida, ao patrimnio e liberdade dos indivduos. A consumao do crime
era entendida com a ocorrncia de um resultado naturalstico e, com isto,
dificilmente o consumidor estaria protegido.

Da mesma forma, por no ter o consumidor, o reconhecimento


merecido como sendo sujeito prprio de direito, no eram criadas normas penais
severas e adequadas realidade empresarial e, nas normas existentes, havia
lacunas para certas situaes.

Monique Mosca Gonalves em sua pesquisa cientfica (2008, p. 39),


ressalta que:

O extraordinrio avano tecnolgico e industrial, aliado ao constante


processo de complexidade das relaes sociais, veio acompanhado da
crescente produo de riscos. Estes riscos, provenientes de decises
humanas no manejo dos avanos tcnicos, so referentes a danos no
delimitveis, globais, e, com frequncia, irreparveis, que afetam a todos os
cidados.

Por corolrio, esta sociedade de riscos, trouxe insegurana por parte


dos cidados, que no tinha controle sobre os acontecimentos da acelerao dos
avanos tecnolgicos e industriais.

Nesse sentido, assevera Silva Snches (2002, p. 41):

A soluo para a insegurana, ademais, no se busca em seu, digamos,


lugar natural clssico o direito de polcia -, seno no Direito Penal. Assim
pode-se afirmar que, ante os movimentos sociais clssicos de restrio do
Direito Penal, aparecem cada vez com maior claridade demandas de uma
ampliao da proteo penal que ponha fim, ao menos nominalmente, a
angustia derivada da insegurana.
44

O processo de complexidade dos meios de produo e fornecimento


de bens e, pelo desmedido poder econmico que tinham os comerciantes, ora
fornecedores, foi que ocasionou essa insegurana da sociedade de consumo. Os
consumidores, sem alternativa, passaram a se socorrerem do poder Estatal, atravs
do Direito Penal visando reduzir riscos ocasionados pelos avanos tecnolgicos e
industriais.

Neste contexto histrico, surgiu a necessidade de se punir os delitos


relacionados com a atividade econmica para que fossem regradas as diversas
relaes entre os agentes econmicos (fornecedores) e os consumidores.

Antnio Herman V. Benjamin (2011, p. 1191) leciona que a funo do


direito penal econmico assegurar um mercado transparente, honesto e seguro,
orientado para o desenvolvimento social.

As sanes impostas pelo direito penal econmico trazia sensveis


consequncias ao fornecedor delinquente, de maneira que a exposio de sua
imagem, na maioria das vezes representava um preo alto demais para ser pago.
Nesse sentido, dispe Benjamin (2011, p. 1192).

Neste contexto, com o desenvolvimento do direito penal econmico


foram apresentados os crimes de consumo, e com eles nasceu o direito penal do
consumidor, antes mesmo do movimento consumerista, passando a regrar a
segurana e adequao de produtos e servios, publicidades enganosa e abusiva,
informao do consumidor, arquivos de consumo e cobrana de dvidas de
consumo. Nas palavras de Nelson Nery Jnior (1991, p. 272), o direito penal do
consumidor passou a ser um microssistema de Direito das Relaes de Consumo.

O objetivo principal do direito penal do consumidor punir condutas


desconformes que ocorrem nas relaes jurdicas entre fornecedores e
consumidores.

Os abusos de consumo afetam toda uma sociedade e deve, portanto,


ser imposta a interveno do direito penal. Historicamente, o fornecedor profissional
ficou forte com a produo e distribuio em massa, e foi esta situao que
contribuiu para que tipos penais de consumo fossem elaborados, visando uma tutela
penal do consumidor.
45

5.2 Referncias Histricas do Direito Penal do Consumidor

A doutrina traa algumas referncias histricas do direito penal do


consumidor que devem ser registradas. Segundo Marques, Benjamin e Leonardo
Roscoe Bessa (2009, p. 350):

[...] embora seja inadequado falar de direito penal do consumidor antes da


formao de uma cadeia de produo e circulao de bens fundada no
consumo de massa, possvel indicar antecedentes legislativos que
tutelaram interesses relacionados ao consumo de bens e servios. [...] o
Cdigo do Imprio de 1930 punia como estelionato a substituio de coisas
que se deveriam ser entregue, por outras diversas. Depois, em 1875, foi
editado o Decreto 2.682, que tipificava condutas que consistiam em
armadilha aos adquirentes de mercadorias, ou seja, surgiu ento, o direito
aos fabricantes e ao negociante de marcar os produtos de sua manufatura,
bem como de seu comrcio. [...] O Cdigo Penal Republicano de 1890
tambm conferiu uma proteo, mesmo que indireta, a adquirentes que
adquiriam produtos e servios, tipificando alguns crimes contra a sade
pblica em seus artigos 156 a 164.

Joo Batista de Almeida (2011, p. 201-202), ressalta que:

[...] a defesa do consumidor antecedeu em muito ao regime codificado. Em


1933, o Decreto-Lei n. 22.626 punia a usura pecuniria. J o Cdigo Penal,
de 1940, vigente a partir de 1942, contm onze tipos penais, que se
relacionam com a proteo do consumidor. Pouco tempo depois, era
editada a Lei n. 1.521, de 1951, que define os crimes e contravenes
contra a economia popular. De l para c, vrias outras leis agregaram
novos tipos de proteo ao consumidor, ainda que de forma indireta. Mas s
em 1990, com a sano e publicao do Cdigo de Defesa do Consumidor,
que se chegou a uma definio mais especfica das condutas penalmente
tipificadas praticadas contra o consumidor e as relaes de consumo, em
detrimento de seus direitos enumerados na parte inicial do mesmo Cdigo.

A preocupao do legislador ao tratar dos crimes contra as


relaes de consumo no CDC, foi exatamente tipificar condutas no contempladas
na legislao penal, tanto a codificada quanto a extravagante (FILOMENO, 2001, p.
216-217).

5.3 Cdigo Penal e o Consumidor

Embora este no seja o enfoque principal desta pesquisa, de forma


sucinta se faz necessrio observar a correlao existente com o direito penal do
46

consumidor e demonstrar que o legislador tambm visou tutelar o consumidor, direta


ou indiretamente, em outras legislaes penais e extravagantes, as quais sero
abordadas as que merecem maior destaque.
O Cdigo Penal, Decreto-lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940, possui
alguns tipos que protegem o consumidor. O tipo mais comum o estelionato, pois
inmeras prticas realizadas pelos fornecedores enquadram na descrio do caput
do artigo 171 do Cdigo Penal.

No h dvidas que o consumidor possa ser o elemento algum


descrito no artigo 171 do CP: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em
prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento.

Alm do caput do artigo 171, as condutas descritas nos incisos I, II e IV


do pargrafo 2 ocorrem em detrimento do consumidor de produtos e servios.

Tambm encontramos nos crimes contra o patrimnio, prticas que


protegem o consumidor, como o descrito no artigo 175 do CP, verbis:

Art. 175. Enganar, no exerccio de atividade comercial, o adquirente ou


consumidor:
I vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou
deteriorada;
II entregando uma mercadoria por outra.
Pena deteno, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
1 Alterar em obra que lhe encomendada a qualidade a quantidade ou
peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira, por falsa ou
por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como
precioso, metal de outra qualidade.
Pena - recluso, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

ainda protegido o consumidor no Cdigo Penal com tipificao de


infraes contra a sade pblica, onde encontramos nos artigos 273 a 276 e 280 do
CP os tipos que mais interessam ao estudo.

5.4 Objeto Jurdico e Material do Crime

Segundo Damsio Evangelista de Jesus (2011, p.1266), o objeto


jurdico do delito o bem, interesse tutelado pela norma, sendo tudo aquilo que
47

integra as necessidades humanas, de carter material ou imaterial como, por


exemplo, a vida, a honra, o patrimnio, etc.
O objeto material pode ser a pessoa ou a coisa contra a qual a conduta
delituosa recai. Em algumas situaes, pode ocorrer hiptese de dois sujeitos
passivos diversos, e o exemplo clssico no caso do roubo em que h a violncia
fsica e a patrimonial.

O bem jurdico do direito penal do consumidor so as relaes de


consumo, como expressamente indicam o artigo 61 do CDC e o art. 7, caput, da Lei
8.137/90 (BENJAMIN, MARQUES & BESSA, 2009, p. 347).

As relaes de consumo devem ser vistas de modo coletivo no


ambiente de produo, distribuio e comercializao de produtos e servios
possuindo, segundo Leonardo Rosco e Bessa (2009, p. 347), sentido de modelo
ideal de mercado pautado pela honestidade, lealdade, transparncia e respeito aos
interesses existenciais e materiais do consumidor, parte vulnervel da relao
jurdica.

Herman Benjamin (1992, p. 119-120) destaca que o objetivo primeiro


no proteger a pessoa do consumidor ou seu patrimnio, mas a integridade da
relao de consumo.

A doutrina, ao fixar os critrios para escolha dos bens e valores


fundamentais da sociedade merecedores de tutela penal, com a funo de fazer
com que o bem jurdico penal cumpra sua funo de garantia do postulado da
liberdade e de um Direito Penal democrtico, se posicionou de forma contraditria,
fazendo surgir trs correntes sobre o que vem a ser o bem jurdico penal do
consumidor.

Dessas trs correntes, as que merecem maior ateno so: as teorias


constitucionais e as teorias sociolgicas, uma vez que a teoria tico-social tem
pouca repercusso.

As teorias sociolgicas caracterizam-se pelo fato do bem jurdico estar


situado diretamente na realidade social. So duas as principais teorias que
representam esta corrente, sendo a teoria funcionalista-sistmica, que ressalta o
aspecto da danosidade social, apresentando uma concepo do injusto como uma
disfuncionalidade do sistema social, e a segunda a teoria do conflito, que atribui ao
48

Direito Penal funo de controle social e manuteno das estruturas


socioeconmicas de uma dada sociedade.

Sobre essa ltima teoria, importa ressaltar o posicionamento de Nilo


Batista (1990, p. 96) que, em sua obra Introduo Crtica ao Direito Penal
Brasileiro, desenvolveu uma concepo classista do bem jurdico penal, onde
afirma que:

Numa sociedade de classes, os bem jurdicos ho de expressar, de modo


mais ou menos explcito, porm inevitavelmente, os interesses da classe
dominante, e o sentido geral de sua seleo ser o de garantir a reproduo
das relaes de dominao vigentes, muito especialmente das relaes
econmicas estruturais.

Apesar das teorias sociolgicas procurarem determinar o contedo


material do bem jurdico, elas no obtiveram muito sucesso, no sendo capazes de
oferecer critrios seguros para a seleo dos bem jurdicos dignos de proteo pelo
Direito Penal.
Para os que defendem s teorias constitucionais, as de maior
repercusso na doutrina, e procuraram formular melhores critrios capazes de se
impor de modo necessrio ao legislador ordinrio, limitando o momento de criar o
ilcito penal.

Os adeptos dessas teorias defendem que o conceito de bem jurdico


deve ser traado a partir de princpios e valores da Constituio Federal.

Luiz Regis Prado (2003, p. 92) ensina que as teorias


constitucionalistas:

Encontram-se, portanto, na norma constitucional, as linhas substanciais


prioritrias para a incriminao ou no de condutas. O fundamento primeiro
da ilicitude material deita, pois, suas razes no Texto Magno. S assim a
noo de bem jurdico pode desempenhar uma funo verdadeiramente
restritiva. A conceituao material de bem jurdico implica o reconhecimento
de que o legislador eleva categoria de bem jurdico o que j na realidade
social se mostra como um valor. Esta circunstncia intrnseca norma
constitucional, cuja virtude no outra seno a de retratar o que constitui os
fundamentos e os valores de uma determinada poca. No cria os valores a
que se refere, mas limita-se a proclam-los e a dar-lhes um especial
tratamento jurdico.

No mesmo sentido, comenta Janana Conceio Paschoal (2003, p.


50), onde aduz que:

Se a liberdade um bem constitucionalmente relevante, o bem cujo


ferimento pode ensejar a privao da liberdade necessariamente h de ter
49

relevncia constitucional, ou, como se vem asseverando pela doutrina, o


bem h de merecer tutela penal ou ser digno dela.

Muito embora adotar de forma predominante o entendimento que o


bem jurdico tutelado penalmente deve ter por base o valor constitucional, deve ser
levado em considerao que, nem todos os valores que esto descritos na
Constituio merecem a tutela penal, salvo aqueles de fundamental relevncia. o
que se extrai da pesquisa de Monique Mosca Gonalves (2008, p. 48).

Os crimes definidos no Cdigo do Consumidor visam tutelar da prpria


relao de consumo, sendo de natureza supraindividuais. Neste sentido, a lio de
Antnio Herman de Vasconcellos e Benjamin (2007, p.110) onde acentua que o
Direito Penal do Consumo [...] visa garantir o respeito aos direitos e deveres
decorrentes do regramento civil e administrativo que orienta as relaes entre
fornecedores e consumidores.

5.5 Resultado e Crimes de Perigo

Para a existncia do crime, necessria uma ao ou omisso, e que


esta conduta seja tpica, ou seja, que esteja descrita na lei como uma infrao penal,
de maneira que, s haver crime se o fato for antijurdico, contrrio ao direito
(MIRABETE, 2010, p. 84), por no estar protegido por nenhuma causa excludente
de sua injuridicidade.

Outro elemento do crime de fundamental importncia o resultado,


que conceituado pela doutrina como sendo a modificao do mundo exterior
provocado pelo comportamento em desconforme ao direito, ligado por uma relao
de causalidade. Podem ser materiais, formais ou de mera conduta.

Jlio Fabbrini Mirabete (2010, p. 119) explica que no crime material, h


a necessidade de um resultado externo ao, descrito na lei, e que se destaca
lgica e cronologicamente da conduta, como por exemplo, o homicdio (morte).

J no crime formal Manoel Pedro Pimentel (1983, p. 40) assevera que


h uma separao lgica e no cronolgica entre a conduta e o resultado.
50

Nos crimes de mera conduta a lei no exige qualquer resultado


naturalstico, contentando-se com a ao ou omisso do agente, o que h uma
ofensa presumida pela lei diante da prtica da conduta (MIRABETE, 2010, p. 120).

Em regra, os crimes contra as relaes de consumo so crimes de


perigo no estando sua consumao condicionada a um resultado naturalstico.
Esto classificados em crimes de perigo abstrato e de perigo concreto. Nesse
sentido, na lio de Benjamin, Marques e Bessa (2009, p. 352):

Os crimes de perigo classificam-se, ainda, em crimes de perigo abstrato e


de perigo concreto. No primeiro caso, h descrio da conduta e presuno
de que o sujeito ativo, ao realiz-la, expe o bem jurdico a perigo. De outro
lado, nos crimes de perigo concreto, h necessidade de se demonstrar que
o bem jurdico foi exposto a uma situao de risco como consequncia da
conduta do agente. A diretriz, portanto, prevenir, antecipar-se ao resultado
material.

O crime de perigo se consuma com o simples perigo criado ao bem


jurdico, podendo o perigo ser individual , quando expe ao risco o interesse de uma
s ou de um nmero determinado de pessoas, ou coletivo, representado por um
nmero indeterminado de pessoas (MIRABETE, 2010, p. 120).

Apesar de no se exigir um resultado naturalstico para a consumao


dos crimes de consumo, Antonio Herman Benjamin (2011, p. 1198), enfatiza que
uma vez presente qualquer consequncia gravosa (dano fsico, mental ou
econmico do indivduo consumidor), impe-se como derivao da autonomia do
bem jurdico de consumo (CDC, art. 61), o concurso com tipos comuns, como por
exemplo, art. 121 do Cdigo Penal.

Como se v, o direito penal do consumidor tem carter repressivo, com


uma funo de se evitar o dano mesmo quando no h a probabilidade de ocorrer.

5.6 Sujeitos: Ativo e Passivo dos Crimes Contra as Relaes de Consumo

Por disposio expressa do legislador em seu art. 61 do CDC, o bem


jurdico tutelado nos crimes contra as relaes de consumo, a relao de
consumo, sob uma perspectiva supraindividual.
51

A identificao no direito penal do consumidor dos sujeitos ativo e


passivo das infraes penais ponto fundamental. H nesse sentido divergncias
doutrinrias, como visto, na conceituao de ambos os sujeitos.

Para Leonardo Bessa (2009, p. 353), os conceitos de consumidor,


fornecedor, produto e servio devem, em princpio, ser considerados no exame
da incidncia penal dos tipos institudos pelo CDC. E, complementa mencionado
doutrinador:

O melhor caminho para identificao dos sujeitos ativo e passivo a


compreenso, alm do alcance da atividade regrada (fato do produto,
cobrana de dvida, publicidade, arquivo de consumo), das prprias
elementares constantes no tipo incriminador. Em algumas situaes, o
campo de incidncia do CDC, seja pela tcnica de equiparao a
consumidor de terceiros, seja pela agressividade implcita de determinadas
atividades (exemplo, arquivos de consumo, publicidade), bastante amplo,
com reflexos na rea penal.

Conforme j mencionado, o bem jurdico indicado pelo art. 61 do CDC,


indica uma proteo de interesse metaindividual. Com isso, no se pode sustentar
que a proteo penal do CDC ocorrer sempre que envolver relao entre
fornecedor e consumidor. Nesse sentido:

O prprio CDC, em diversos aspectos, confere proteo alm da relao de


consumo, ou seja, a tutela decorre mais da atividade em si do que dos
sujeitos envolvidos. Excelentes exemplos so as disciplinas da publicidade
abusiva e dos bancos de dados de cadastros de consumidores (art. 43).
Nestes casos, mais do que ampliao do conceito de consumidor (art. 29),
pode-se afirmar que o objetivo maior foi disciplinar a atividade em si, que,
pela prpria natureza, necessariamente ofensiva a direitos de
personalidade (BESSA, 2009, p. 353).

Os servios de proteo ao crdito (SPC e SERASA) no configuram o


fornecedor na definio do caput do art. 3 do CDC, pois so vinculados a
associaes civis de fornecedores, bem como, no fornecem nenhum produto ou
servio.

Alguns tipos penais no fazem expressa referncia a consumidor ou


fornecedor, mas, fazem meno a produtos, como por exemplo, a infrao
descrita no artigo 63 do CDC: Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a
nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invlucros,
recipientes ou publicidade.

Nesse sentido, Leonardo Bessa (2009, p. 354), destaca que:


52

[...] no caso, tais conceitos esto implcitos em razo da referncia a


produtos e, principalmente, pelo fato de a infrao penal ter conexo direta
com a disciplina que o CDC confere tutela da sade e segurana.
(incolumidade psicofsica), do consumidor.

Em suma, embora discordando deste entendimento doutrinrio, os


conceitos de consumidor e de fornecedor, bem como de produtos e servios,
nem sempre sero imprescindveis para a caracterizao dos crimes previstos no
Cdigo de Defesa do Consumidor, em razo de a identificao dos sujeitos ativo e
passivos dependeram da elementar e da natureza da atividade descrita no tipo.
Por outro lado, na viso de Benjamin (2011, p. 1119 e 1204), a que nos
parece a mais correta, no que se refere ao sujeito ativo, diferencia o sujeito ativo nos
crimes de consumo prprios e nos crimes de consumo imprprios:

Os crimes de consumo imprprios, alguns bastante antigos, no foram


moldados com os olhos postos no consumidor e no fornecedor, tal qual os
enxergamos modernamente. Neles nos deparamos com uma tipologia
flexvel, podendo o agente do delito ser algum que no se identifique com
a qualidade de fornecedor, nos termos da legislao de consumo base. Por
outro lado, igual flexibilidade tipolgica tambm se d quanto ao sujeito
passivo da infrao, no se exigindo o ttulo de consumidor para
preenchimento do tipo. [...] No que se refere ao seu sujeito ativo, os crimes
de consumo prprios tambm exibem particularidades. Como regra, no
podem ser praticados por qualquer pessoa. Exige-se do agente uma
posio jurdica determinada: a de fornecedor, mesmo que por fico (nos
casos dos arts. 72 e 73 do CDC, por exemplo). S fornecedores (art. 3,
caput) podem ser sujeitos ativos dos delitos de consumo prprios, sendo
isso, chamados de sujeitos ativos qualificados.

O titular do bem jurdico o sujeito passivo, e a doutrina (BENJAMIN,


2011, p. 1204), chega concluso de que na forma codificada (CDC), as relaes
de consumo tm uma titularidade hbrida, ou seja, pertencem a um s tempo, ao
consumidor individual e a coletividade de consumidores. Mais a esta que quele.

Para Damsio Evangelista de Jesus (2011, p. 1254), se o delito , sob


o aspecto material, a violao de um interesse protegido do Estado, em toda
infrao penal sempre haver um sujeito passivo, titular desse interesse. E o Estado,
chamado sujeito passivo constante ou formal.

Significa dizer que, a coletividade tambm figurar como sujeito


passivo, naqueles delitos que ofendem a sade pblica, por exemplo. Atingem
interesses que pertencem a todos os cidados, sendo, portanto, interesses meta
individuais.
53

5.7 Responsabilidade Penal da Pessoa Jurdica

Antes de iniciar o estudo dos crimes em espcie das relaes de


consumo, necessrio discutir a viabilidade da responsabilidade criminal da pessoa
jurdica.
O Cdigo de Defesa do Consumidor, quando trata das infraes
penais, no prev a responsabilidade da pessoa jurdica pela prtica dos delitos das
relaes de consumo.

Na doutrina muito se discute a viabilidade ou no de responsabilizao


penal da pessoa jurdica. De fato, constatam-se pensamentos de que por ausncia
de previso legal, no haveria tal possibilidade, principalmente porque se estaria
ferindo princpios constitucionais, como por exemplo, o descrito no art. 5, inciso
XLV, que dispe que nenhuma pena passar da pessoa do condenado [...].

Por bvio, caso seja legislado sobre o assunto, advindo determinada lei
imputando responsabilidade pessoa jurdica a questo estar encerrada, como
ocorre nas sanes penais dos crimes ambientais, onde a lei 9.605/98, assim
determina:

[...] seria possvel, ainda, prever outras figuras tpicas contemplando a


pessoa jurdica como autora de crime, mormente no contexto dos delitos
contra a ordem econmica e financeira e contra a economia popular [...]
(NUCCI, p.164)

Entretanto, h um objeto a ser discutido abstratamente acerca da


juridicidade deste tema. Devendo ser analisados os motivos da criao da fico
jurdica e a personificao de um ente, que no existe no mundo real.

Os empresrios so pessoas naturais, detentores de responsabilidade


no mercado de consumo, viabilidade econmica, incentivo, investimento e
empreendimento.

A criao da pessoa jurdica decorre da associao das pessoas


naturais, mas em verdade quem corre os riscos do fracasso a pessoa jurdica, e
em regra somente os scios respondem com o patrimnio investido para a formao
da sociedade. Salvo quando for comprovada fraude, a pessoa jurdica, responder
54

perante os credores, e, mesmo sem capacidade volitiva alguma, pois simples


instrumento nas mos dos scios. Sendo responsvel perante os credores por fora
da obrigao imposta por lei.

Diferentemente do que ocorre no mbito do direito civil, quando


necessrio o elemento vontade para validade do negcio jurdico. Caso esta vontade
seja viciada, a consequncia a nulidade do negcio jurdico, contudo, esta
violao aos princpios bsicos norteadores do direito civil aceita como causa de
excluso de responsabilidade, em decorrncia do fomento econmico (teoria do
risco da atividade) e principalmente porque assim previu a lei.

Pode se concluir que a pessoa jurdica foi criada para arcar com
responsabilidades, e, reduzir em regra leses ao patrimnio pessoal dos scios, ou,
ao menos, dirimir o tamanho de sua responsabilidade.

Destarte, observando neste enfoque a pessoa jurdica poderia


perfeitamente figurar como sujeito ativo na ao penal. Afinal, nasceu para
responder as consequncias de violaes a direito, e a sano penal decorre do
risco da atividade empresarial.

H fortes argumentos dos adeptos da irresponsabilidade criminal da


pessoa jurdica, que quase derrubam a pretenso de se imputar responsabilidade
penal ao ente fictcio, onde alegam que estaria pessoa jurdica impossibilitada de
cumprimento de pena privativa de liberdade, e que a incapacidade da pessoa
jurdica no possui seu prprio elemento volitivo (dolo ou culpa), e, inexistindo tais
elementos, o Estado estaria impedido de exercer o jus puniendi.

Nesse sentido, Filomeno (2000, p.37), elenca que os crimes


econmicos previstos na legislao penal, no cdigo do consumidor e na legislao
penal especial se faro mediante a imposio de penas acessrias:

Adverte o mencionado autor, entretanto, que convm salientar que apesar


de a responsabilidade penal da pessoa jurdica ser uma realidade de direito
positivo, a doutrina ainda permanece em grande parte reticente quanto ao
seu fundamento jurdico sobretudo num sistema que se diz lastreado no
princpio da culpabilidade (nullum crimen sine culpa) -, aplicabilidade e
eficcia; para estes ltimos aspectos, s o futuro poder dar a verdadeira
resposta. Por enquanto, portanto, em nosso sistema jurdico o que temos
o elenco de crimes econmicos na legislao penal propriamente dita, no
cdigo do consumidor e na legislao penal especial, prevalecendo a idia
de que eventuais reflexos na pessoa jurdica, cujos responsveis praticaram
um deles, notadamente no mbito dos crimes contra a economia popular,
relaes de consumo, ordem econmica e tributria, se faro mediante a
55

imposio de penas acessrias, tal como estatudo pelas Leis n 1.521/51 e


8.078/90. Ou ento, mediante sanes de cunho civil, como a dissoluo de
sociedades (art. 1.218, inc. VII, do Cdigo de Processo Civil de 1.973),
mediante o procedimento previsto pelos arts. 655 a 674 do Cdigo de
Processo Civil de 1.939.

Murilo Nogueira (2006, 39), em sua pesquisa ressalta que a pessoa


jurdica, criada para que os scios possam atuar no mundo jurdico, e a vontade da
pessoa jurdica est atrelada vontade dos scios.

Guilherme Nucci (2006, p. 164) tambm segue esse entendimento:


cremos estar a razo com aqueles que sustentam a viabilidade de a pessoa jurdica
responder por crime no Brasil, aps a edio da Lei 9.605/98.

Respeitadas opinies contrrias que defendem a impossibilidade de se


responsabilizar penalmente pessoas jurdicas, as quais so providas de
fortssimo embasamento jurdico, inclusive desta opinio comunga um dos
autores do Cdigo de Defesa do Consumidor, Dr. Zelmo Denari, o qual ao
ser questionado sobre a possibilidade de responsabilizao penal da
pessoa jurdica, deu a seguinte resposta: societas delinquere non potest,
defendendo a idia de que somente a pessoa fsica pode ser destinatria do
direito penal, uma vez que somente a pessoa natural dotada de vontade
prpria, ainda assim se defende a viabilidade da discutida
responsabilizao, por obvio, desde que haja prvia cominao legal, de
forma alguma admite-se responsabilizaes penais mediante construes
jurdicas, o tipo deve preexistir (NOGUEIRA, 2006, p. 39).

A responsabilidade penal da pessoa jurdica, no se confunde com a


responsabilidade penal da pessoa (fsica) que a represente, podendo ser diretor,
gerente ou empregado, sendo coisas absolutamente distintas.

Para Leonardo Bessa (2009, p. 355), afirma que os fornecedores so,


em sua maioria, pessoas jurdicas, e, com objetivo de racionalizar o trabalho, h
uma organizao de setores, departamentos e divises de especializao e
distribuio de servios no mbito interno da pessoa jurdica.

Conforme bem assinala Leonardo Bessa (2009 p. 355/356):

Deve-se perquirir exatamente, na linha do disposto no art. 29 do Cdigo


Penal, quem, de qualquer modo, concorreu para o crime. A resposta pode
apontar o presidente da empresa, o diretor de marketing, o gerente, o chefe
de setor e, at mesmo, o secretrio ou despachante. A resposta pode
indicar que todos eles, cada qual com tarefa especfica, agiram de modo
concertado para o sucesso da infrao penal.
A prtica demonstra a existncia de casos em que o sujeito ativo do crime
pessoa que, embora tenha poder gerencial na empresa, no integra o
estatuto social como scio nem est regularmente contratado. Em outras
palavras, devem-se averiguar em concreto as circunstancias do fato e
apurar as pessoas naturais que colaboraram para a sua realizao.
56

Portanto, a responsabilidade penal pode recair, inclusive, sobre pessoa


formalmente desvinculada da pessoa jurdica.
[...] Em outros termos, o art. 75 do CDC apenas refora a regra geral do art.
29 do Cdigo Penal. No representa exatamente uma novidade. Assim, o
diretor de determinada empresa de telefonia que promoveu publicidade
enganosa (art. 67 do CDC) ser apenado no em virtude de redao do art.
75, mas, pelo fato de haver - na situao concreta colaborado, de
qualquer modo, com a consecuo do resultado criminoso.

Assim, a atribuio penal de fatos praticados pela pessoa jurdica aos


seus diretores, gerentes, scios e empregados vincula-se disciplina do concurso
de pessoas previsto nos artigos 29 do Cdigo Penal e do artigo 75 do Cdigo de
Defesa do Consumidor (BESSA, 2009, p. 357).
A discusso em comento centraliza-se na possibilidade de
responsabilidade penal da pessoa jurdica (empresa), e no em quem atua em seu
nome.
57

6 DOS CRIMES EM ESPCIE

Como j mencionado, o Cdigo de Defesa do Consumidor possui um


Ttulo dedicado criminalizao de condutas praticadas contra as relaes de
consumo.
Nesse diapaso, leciona Joo Batista de Almeida que:

O legislador optou por criminalizar doze condutas contra o consumidor, em


correspondncia com o desrespeito aos seus direitos, abrangendo as reas
de nocividade e periculosidade de produtos e servios, fraude em oferta,
publicidade enganosa e abusiva, fraudes e prticas abusivas. [...] As
condutas delituosas do sistema codificado constituem crimes de perigo, ou
seja, no se exige para a sua caracterizao, nem elemento constitutivo
do delito, a ocorrncia de efetivo dano ao consumidor. (ALMEIDA, 2011, p.
203):

A par dessas premissas, passaremos anlise de cada tipo, bem


como do conflito aparente de normas, em face do que dispe o art. 61, do CDC.

6.1 Art. 61 Conflito Aparente de Normas

Diz o artigo 61 do Cdigo de Defesa do Consumidor que constituem


crimes contra as relaes de consumo previstas neste cdigo, sem prejuzo do
disposto no Cdigo Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos
seguintes.
Conforme preciosa lio da Fbio Vieira Figueiredo (2009, p. 421):

O Ttulo II do CDC inicia o captulo das infraes penais no mbito das


relaes de consumo a que o fornecedor est sujeito quando praticar ou
deixar de praticar certas condutas contra o consumidor. Visam assegurar o
efetivo cumprimento das normas e princpios estabelecidos na legislao
consumerista, j que, por vezes, apenas as sanes civis e administrativas
mostram-se insuficientes.

Filomeno (2007, p. 142), ressalta que:

[...] a tutela do consumidor no se resume aos delitos tratados no Cdigo de


Defesa do Consumidor, at pelo enunciado de seu art. 61, ao estatuir,
claramente, que os tipos penais criados pelo legislador, no caso, no
excluem outros j existentes, quer na legislao penal ordinria, quer na
legislao penal especial.
58

Corroborando com o entendimento do doutrinador acima mencionado,


podemos citar como exemplo os crimes previstos na Lei n 8.884/1994 (Lei do
Conselho Administrativo de Defesa Econmica - CADE), e na Lei 8.137/1990
(Crimes contra a Ordem Tributria, Econmica e Relaes de Consumo). No mbito
do Cdigo Penal, temos o artigo 175 que trata do crime de fraude no comrcio e os
artigos 267 a 285 que tratam dos crimes contra a sade pblica, dentre outras
disposies que visam punir condutas lesivas ao consumidor.

Por fora do princpio da especialidade, bom lembrar que o Cdigo


de Defesa do Consumidor lei especial, e, suas disposies prevalecero sobre
aquelas normas descritas no Cdigo Penal e legislaes esparsas.

Nesse sentido, Paulo Jos da Costa Jr. (1991, p. 219), diz que, no caso
em concreto, a norma especial, dotada de um maior nmero de requisitos que a
norma geral a nica aplicvel espcie concreta, prevalecendo, na disputa, a
norma especial.

6.2 Art. 63 Omisso Sobre Nocividade e Periculosidade

O artigo 63 do Cdigo de Defesa do Consumidor o primeiro que trata


das infraes penais:

Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou


periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invlucros, recipientes ou
publicidade:
Pena Deteno de seis meses a dois anos e multa.
1 Incorrer nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante
recomendaes escritas ostensivas, sobre a periculosidade do servio a ser
prestado.
2 Se o crime culposo:
Pena Deteno de um a seis meses ou multa.

O art. 6, incisos I e III do CDC que, assegura ao consumidor como um


direito bsico o direito proteo vida, sade e a segurana, bem como o direito
de o consumidor ter a clara e adequada informao sobre os produtos e servios
que por ele venham a ser adquiridos.

Da mesma forma, o artigo 9 do CDC impe ao fornecedor o dever de


transmitir ao consumidor de seus produtos e servios todas as informaes
59

indispensveis para a correta utilizao do produto ou servio, potencialmente


nocivo ou perigoso, no prprio produto ou impresso que o acompanha.

Noutras palavras, o legislador permite a comercializao de produtos


ou servios que, por sua natureza, trazem alguma periculosidade ou nocividade,
desde que esta periculosidade ou nocividade seja informada de maneira ostensiva e
adequada ao consumidor.

Havendo omisso, pelos fornecedores, de informaes de advertncia


ou de ateno sobre produtos e servios que podem trazer males a sade, vida ou
a segurana dos consumidores, restar configurado a conduta definida no caput do
artigo 63.

Segundo Leonardo Bessa (2009, p. 358):

O tipo, portanto, abrange os chamados riscos inerentes (exemplo, riscos de


leso pelo uso de uma motosserra), bem como os riscos decorrentes de
defeitos (exemplo: por falta de informao adequada, o consumidor vem a
sofrer choques eltricos ao ligar uma geladeira).

Ainda e com o costumeiro acerto, ressalta mencionado doutrinador:

Por se tratar de crime de conduta varivel ou mltipla ao, vez que se


admitem duas formas de conduta omissiva omisso em relao a dizeres
ou sinais ostensivos -, o agente que deixar de apresentar tanto os dizeres
ou sinais ostensivos pratica apenas um crime, embora tal circunstncia, em
homenagem ao princpio da culpabilidade, deva ser considerada na fixao
judicial da pena (art. 59 do CP). (BESSA, 2009, p. 359).

Com relao ao 1 do artigo, o legislador tambm inseriu neste


contexto o prestador de servios, o qual tambm est obrigado a alertar o
consumidor sobre os riscos inerentes do seu servio, ilao que se extrai da
pesquisa de Murilo Nogueira (2006, p. 49). Ao contrrio do caput do artigo 63, aqui
h uma ressalva a ser considerada pela falta de propriedade tcnica do legislador
que no 1 do artigo citado, nada mencionou acerca da palavra nocividade,
exigindo do prestador de servios somente cautela do dever de informar
claramente, sobre a periculosidade do servio a ser prestado.

Obviamente que, no razovel pensar que o prestador de servios


esteja desonerado de informar sobre servios que prejudiquem a sade
(nocividade).
60

Sobre a questo, com muita propriedade ainda assinala Murilo


Nogueira (2006, p. 49), que:

A palavra nocividade faz aluso sade, enquanto que periculosidade


refere-se segurana do consumidor, logo, se levada s ltimas
consequncias a interpretao literal do texto, o profissional somente seria
responsabilizado penalmente se no informasse sobre a periculosidade dos
servios [...].

Entretanto, visando atender as necessidades do consumidor, por uma


questo de isonomia deve se imputar tambm o dever ao prestador de servios de
alertar, mediante recomendaes escritas ostensivas, sobre a nocividade do servio
a ser prestado.

Nesse sentido, leciona Fbio Vieira Figueiredo (2009, p. 422).

O sujeito ativo do delito em comento o prprio fornecedor que deixa de


cumprir o dever de informao sobre a periculosidade dos produtos ou
servios, e o sujeito passivo o consumidor, abrangendo-se a coletividade
de consumo e os consumidores por equiparao.

Segundo Antnio da Fonseca (1996) apud Leonardo Bessa (2009, p.


359):

Dizer-se antecipadamente quem o sujeito ativo no art. 63 tarefa por


demais arriscada, uma vez que a hiptese ftica, ou seja, o inqurito policial
deve apurar quem o responsvel criminalmente pela omisso. Desta
maneira, em regra, sero sujeitos ativos as pessoas integrantes da estrutura
administrativa do fabricante ou produtor que teriam o dever de fazer constar
os dizeres ou sinais sobre a nocividade ou periculosidade do produto ou
que, de algum modo, concorreram para o crime (art. 29 do Cdigo Penal c/c
art. 75 do CDC).

Conforme doutrina Joo Batista de Almeida (2011, p. 204).

No que tange ao elemento objetivo do delito, trata-se de crime omissivo


puro tambm chamado de crime de mera conduta ou crime formal. Pune-se
a omisso de dizeres ou sinais ostensivos por aquele que tem o dever
legal de informar sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, bem
como a omisso de alertar sobre a periculosidade do servio, Logo,
inadmissvel sua modalidade tentada.

Para a configurao do delito em comento, no h maiores


consideraes a abordar, bastando que o fornecedor tenha a vontade livre e
consciente de praticar a omisso, qual seja, o dolo.
Entretanto, apesar de o 2 do artigo 63 admitir a modalidade culposa,
reduzindo a pena cominada para deteno de um a seis meses, existe divergncia
61

doutrinria quanto admisso da modalidade culposa, por se tratar de crime de


mera conduta.

Para Leonardo Roscoe Bessa (2009, p.360):

Existe divergncia doutrinria em relao possibilidade de conciliar a


configurao de crimes culposos com crimes de mera conduta. Discorda-se
deste posicionamento: os exemplos reais de hipteses de modalidade
culposa so suficientes para evidenciar o contrrio. Essas divergncias
foram transportadas para a convenincia ou no de admisso de
modalidade culposa para alguns crimes previstos na Lei 8.078/90. Todavia,
em face da expressa previso legal e da possibilidade de se vislumbrarem
inmeras e reprovveis situaes reais que, de fato, configuram
condutas culposas de crimes omissivos prprios, o debate deve ser
conduzido para o plano legislativo, vale dizer, a discusso de lege
ferenda.

A pena para os incursos no crime de omisso sobre nocividade e


periculosidade na modalidade dolosa de deteno (privativa de liberdade) de seis
meses a dois anos, cumulada com multa, enquanto que na modalidade culposa
alternativa (deteno de um a seis meses ou multa).

6.3 Art. 64 Omisso de Comunicao da Nocividade ou Periculosidade de


Produtos

do seguinte teor o art. 64 do Cdigo que define referido crime:

Art. 64. Deixar de comunicar autoridade competente e aos consumidores


a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja
posterior sua colocao no mercado:
Pena Deteno de seis meses a dois anos e multa.
Pargrafo nico. Incorrer nas mesmas penas quem deixar de retirar do
mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente,
os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.

Com o objetivo de proteger as relaes de consumo, o caput deste


artigo trata da omisso pelos fornecedores de informaes sobre a nocividade ou
periculosidade de produtos ou servios. No entanto, para caracterizao da infrao
em comento no basta o conhecimento superveniente do fornecedor acerca da
nocividade ou periculosidade de produtos e servios colocados no mercado de
consumo. Sendo assim, aps este conhecimento, o fornecedor infrinja o dever legal
de imediatamente comunicar aos consumidores e as autoridades competentes sobre
62

a nocividade e periculosidade existentes nos produtos e servios por ele colocados


no mercado de consumo.
Nesse sentido, mencionam Fbio Vieira Figueiredo e Simone Diogo
Carvalho Figueiredo (2009, p. 422) que os produtos ou servios cujo risco venha a
ser conhecido depois da colocao no mercado de consumo obrigam o fornecedor a
comunicar, pela imprensa, os consumidores e informar a autoridade competente.

Essa obrigatoriedade de comunicao proporciona ao Poder Pblico o


exerccio de fiscalizao, inclusive, o poder de retirar do mercado o produto ou
servio que se tornar nocivo ou perigoso ao consumidor. Nada impede tambm que
o prprio Poder Pblico promova a comunicao aos consumidores.

Leonardo Roscoe Bessa (2009, p. 360), ressalta que, mais uma vez o
tratamento penal conferido pelo Cdigo de Defesa do Consumidor refora as
disposies e os preceitos da prpria lei. Para ele, assim , uma vez que o 1 do
art. 10 estabelece que:

O fornecedor de produtos e servios que, posteriormente sua introduo


no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que
apresentem, dever comunicar o fato imediatamente s autoridades
competentes e aos consumidores, mediante anncios publicitrios. (BESSA,
2009, p. 360).

O pargrafo nico do art. 64 dispe que, tambm comete o crime o


fornecedor que deixar de retirar do mercado, imediatamente, produtos nocivos ou
perigosos quando determinado pela autoridade competente.

O sujeito ativo do delito qualquer fornecedor (pessoa fsica: diretor,


gerente, empregado), que tenha conhecimento de nocividade ou
periculosidade superveniente colocao de produto no mercado e que
deixa de comunicar o fato autoridade competente ou que, instado por
esta, deixa de faz-lo imediatamente (ALMEIDA, 2011, p. 204).

O sujeito passivo o consumidor difusamente considerado bem como


a coletividade de consumidores e os consumidores por equiparao.

Trata-se de crime omissivo prprio (puro), que se consuma com a


absteno da comunicao, ou quando o fornecedor deixa de providenciar a retirada
imediata de produto nocivo ou perigoso j inserido no mercado.
63

O elemento subjetivo se faz presente no dolo consistente na vontade


livre e consciente de praticar a omisso, no havendo necessidade de
caracterizao de efetivo dano ao consumidor, bastando apenas, a exposio do
consumidor difusamente considerado (ou a coletividade de consumidores), para
consumar o delito ora discutido. No existe modalidade culposa.

Por fora da aplicao do artigo 61 do CDC, como j mencionado, no


caso de leso ou morte de consumidores, haver concursos de crimes (artigos 121 e
129 ambos do Cdigo Penal).

Embora o preceito normativo exija para a caracterizao do crime a


comunicao cumulativa aos consumidores e s autoridades, h dissenso na
doutrina. Costa Jr. (1999, p. 25) dissente ao afirmar que, para a consumao do
delito, necessria uma dplice omisso, ou seja, que a comunicao deve ser feita
tanto autoridade quanto aos consumidores: se o agente, embora no
comunicando o fato autoridade, venha a faz-lo aos consumidores, no se perfaz
o crime.

Rebatendo o entendimento de Costa Jr., Antnio da Fonseca (1996, p.


174) entende ser equivocado esse raciocnio, assim lecionando:

Eis que a norma no est impondo nenhum comportamento, pois se trata


de crime omissivo puro, que pressupe a desobedincia a um comando
normativo; desobedece-se a um dever imposto por lei [...]. Nem teria sentido
esperar uma omisso dplice, porque evidente que o fornecedor seguiria
sempre pelo menos oneroso economicamente, que seria enviar uma
simples carta com AR autoridade, deixando, assim, de comunicar
verdadeiros destinatrios da proteo, que so os consumidores.

O melhor entendimento nos parece a de Antnio da Fonseca, at pela


prpria finalidade do CDC que visa efetiva proteo do consumidor.

Quanto forma de comunicao aos consumidores, no h,


expressamente, no texto legal, previso de qual meio deve o fornecedor
utilizar para atender ao comando, bastando que o meio utilizado (seja por
revistas, rdio, televiso, jornais, internet, dentre outros), alcance a
finalidade de atingir de modo coletivo todos consumidores daqueles
produtos ou servios nocivos ou perigosos inseridos no mercado de
consumo. Todavia, orienta a doutrina que o fornecedor deve se acautelar,
sendo a melhor forma de comunicao aquela por escrito e com
comprovante de recebimento, para posterior necessidade de prova (BESSA,
2009, p. 361).

A pena deteno de seis meses a dois anos, e multa.


64

6.4 Art. 65 Execuo de Servio de Alto Grau de Periculosidade

Estabelece o artigo 65 e seu pargrafo nico do Cdigo, o seguinte:

Art. 65. Executar servio de alto grau de periculosidade, contrariando


determinao de autoridade competente:
Pena Deteno de seis meses a dois anos e multa.
Pargrafo nico. As penas deste artigo so aplicveis sem prejuzo das
correspondentes a leso corporal e morte.

Este dispositivo tipifica como crime a execuo de servios altamente


perigosos que contrarie determinao de autoridade competente.

Neste caso, proibida at mesmo a prpria execuo do servio. Isto


significa que no haver diminuio dos riscos o prvio conhecimento dos
consumidores.

Servios de alto grau de periculosidade so aqueles que exigem


ateno, cuidado, equipamentos e instalaes especiais.

Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 423), aduzem que, por tratar-se


de norma penal em branco, necessria a complementao pelas autoridades
competentes, a fim de se definir o alto grau de periculosidade do servio.

O bem jurdico o direito ao consumidor de proteo de sua vida, sade e


segurana (art. 6, I), no sentido de que os servios que lhe so prestados,
principalmente os de alto grau de periculosidade, devem obedecer a
normas, regulamentos e padres expedidos pelo Poder Pblico (ALMEIDA,
2011, p. 205).

Examina Leonardo Bessa (2009, p. 363), que o tipo do art. 65 do CDC,


decorre da aparente contradio com o disposto no caput do artigo 10, do CDC.

Art. 10. O fornecedor no poder colocar no mercado de consumo produto


ou servio que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade sade ou segurana.

Segundo o doutrinador citado, h uma contradio, por entender que


h de um lado a vedao de realizao de servio de alto grau de periculosidade
(art. 10), e, de outro, a permisso de tais servios, desde que no se contrarie a
determinao de autoridade competente. Entende que:
65

A falta de coerncia da lei neste ponto deve ser corrigida pelo intrprete. A
soluo possvel considerar, apenas da redao semelhante dos dois
dispositivos (arts. 10 e 65) alto grau de periculosidade -, que h uma
gradao, uma hierarquia, de gravidade. Os servios com altssimo grau de
gravidade esto vedados (art. 10): no compete sequer a autoridade
administrativa autorizar a sua realizao. De outro lado, h servios com
alto grau de gravidade que no se confundem com os referidos pelo art.
10 que podem ser realizados, desde que se atendam s disposies do
CDC (arts. 8 e 9) e s determinaes da autoridade competente.

Antnio da Fonseca (1996) citado por Leonardo Bessa (2009, p. 363),


sustenta que o artigo 65 completa o disposto no artigo 10, ao mencionar
determinao da autoridade competente como um prius execuo de servios
perigosos. E pontifica o citado autor:

Isto significa que os servios perigosos ou de alto grau de periculosidade


podem ser prestados desde que obedientes normatizao da autoridade
competente. Tais servios, portanto, esto jungidos autoridade fiscal, que
edita normas seja para serem prestados, seja para seu funcionamento,
utilizao ou modus operandi.

Embora haja ausncia de tcnica legislativa, correto dizer que o


preceito da norma penal objetiva a proibio de prestao de servios sem
observncia das normas administrativas e legais pertinentes.
A doutrina tambm aponta falta de tcnica legislativa ao observar que o
pargrafo nico do artigo 65 dispe que as penas so aplicveis sem prejuzo das
correspondentes leso corporal e morte.

Para Antnio da Fonseca (1996) citado por Leonardo Bessa (2009, p.


363-364):

[...] aqui tambm se viu falta de tcnica legislativa ou ferimento ao princpio


da absoro, porque refere regra de concurso formal especializada, no
sentido de afastar o clculo da pena utilizado pelo art. 70 do Cdigo Penal.
Aqui, supondo que ocorra um resultado material, como a morte do
consumidor, as penas devem ser aplicadas independentemente. Isso
significa que esse crime contra a relao de consumo jamais ser absorvido
pelo homicdio ou leso corporal.

Ao que parece, o legislador determinou uma aplicao cumulativa de


sanes penais, exceo regra da aplicao de concurso formal de delitos na qual
deve ser aplicada a pena mais grave do delito. Todavia, devem as penas dos crimes
em concurso serem somadas.

O sujeito ativo deste delito o fornecedor prestador de servios, na


pessoa do gerente, diretor, empregado, que executa servio de alto grau de
66

periculosidade, contrariando a determinao de autoridade competente. O sujeito


passivo do delito so o consumidor difusamente considerado, bem como o Poder
Pblico, este ltimo em razo do descumprimento das normas por ele estabelecidas.

Da mesma forma que os artigos anteriores, no h necessidade de


resultado naturalstico para que se caracterize o crime, bastando, apenas a
execuo de servios, contrariando determinao de autoridade competente.

O dolo o elemento subjetivo, consistente na vontade livre e


consciente de executar o servio altamente perigoso, bem como estar o prestador
de servios (fornecedor), ciente de estar contrariando determinao de autoridade
competente.

No h modalidade culposa e a tentativa de difcil realizao.

A pena prevista de seis meses a dois anos e multa.

6.5 Art. 66 Oferta No Publicitria Enganosa

Como vimos linhas atrs, um dos princpios contemplados pelo CDC


(art. 4, IV), o dever de informao, que implica ao fornecedor a obrigao de,
claramente e de forma ostensiva, informar aos consumidores questes pertinentes
ao produto ou servio colocado no mercado de consumo.
O artigo 66 do Cdigo assim dispe:

Art. 66. Fazer afirmao falsa ou enganosa, ou omitir informao relevante


sobre a natureza, caracterstica, qualidade, quantidade, segurana,
desempenho, durabilidade, preo ou garantia de produtos ou servios:
Pena Deteno de trs meses a um ano e multa.
1 Incorrer nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
2 Se o crime culposo:
Pena Deteno de um a seis meses ou multa.

Este dispositivo est diretamente ligado ao disposto sobre as prticas


abusivas e enganosas previstas no Cdigo, e, antes de falarmos dos elementos do
tipo, importante tecer algumas consideraes acerca de publicidade enganosa e
abusiva. Tal conceituao oferecida pelo art. 37 e pargrafos do CDC, vejamos:

Nos termos do 1 do artigo 37:


67

Art. 37 [...]
[...]
1 enganosa qualquer modalidade de informao ou comunicao de
carter publicitrio, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omisso, capaz de induzir em erro o consumidor a
respeito da natureza, caractersticas, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preo e quaisquer outros dados sobre produtos e servios.

Doutrinariamente, a publicidade enganosa pode ser por omisso como


por comisso.
Joo Batista de Almeida (2008), apud Fbio e Simone Figueiredo
(2009, 387), esclarece que a publicidade enganosa por comisso vicia a vontade do
consumidor, que, iludido, acaba adquirindo produto ou servio em desconformidade
com o pretendido. A falsidade est diretamente ligada ao erro, numa relao de
causalidade.

A publicidade enganosa pelo CDC decorre do princpio da veracidade da


informao veiculada ao consumidor e objetiva reprimir danos aos
consumidores, garantindo-lhe a possibilidade de efetuar livremente, mas
conscientemente, suas escolhas (FIGUEIREDO, 2009, p. 386).
A publicidade falsa no pode ser confundida com a enganosa. A publicidade
enganosa nem sempre ser considerada falsa, de modo que ser enganosa
toda publicidade falsa. Pode ocorrer de o fornecedor veicular uma
mensagem com dados absolutamente corretos e verdicos, mas omitir
alguma informao relevante ou, ainda, veicular a referida mensagem de tal
forma que acabe por induzir o consumidor em erro. (FIGUEIREDO, 2009, p.
386).

Assim, corroborando com o entendimento do doutrinador citado, a


publicidade enganosa por comisso aparece por uma afirmativa inteira ou
parcialmente falsa sobre produto ou servio, que se o consumidor soubesse que a
afirmao era falsa no adquiria o produto ou servio colocado no mercado de
consumo.
Como vigora na espcie a responsabilidade objetiva, na esfera cvel,
no pode o fornecedor esquivar de sua responsabilidade sob o argumento de que
no tinha a inteno de induzir em erro o consumidor. Da mesma forma, o que nos
interessa que, a informao falsa ou enganosa, bem como a omisso de
informao relevante sobre o produto ou servio tipificada como crime contra as
relaes de consumo, seja por dolo ou culpa.

J a publicidade enganosa por omisso ocorre quando o fornecedor


omite dados essenciais do produto ou servio. Conforme asseveram Benjamin,
Marques e Bessa (2009, p. 207):
68

A enganosidade por omisso varia conforme o caso, j que no se exige


que o anncio informe o consumidor sobre todas as qualidades e
caractersticas do produto ou servio. O fundamental aqui que a parcela
omitida tenha o condo de influenciar a deciso do consumidor.

No h no 2 do artigo 37, uma conceituao clara do que seria


publicidade abusiva, mas, o legislador optou em enumerar um rol exemplificativo do
que seria considerado, assim dispondo:

abusiva, dentre outras a publicidade discriminatria de qualquer natureza,


a que incite violncia, explore o medo ou a superstio, se aproveite da
deficincia de julgamento e experincia da criana, desrespeita valores
ambientais, ou seja, capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa sua sade ou segurana.

Sobre o tema, concluem Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 389):

[...] toda e qualquer publicidade que explore a vulnerabilidade do


consumidor, com ofensa a valores que so caros a sociedade, ser
considerada abusiva.
Assim, considerada abusiva a publicidade que, de qualquer maneira,
discrimine as pessoas em decorrncia de sexo, raa, idade, condio social
ou religio; que incite atos contrrios proteo do meio ambiente; que
explore o medo das crianas, dos pais, dos idosos, entre outras hipteses.
Preocupou-se o legislador, expressamente, com relao proteo das
crianas, em razo de sua extremada vulnerabilidade e inexperincia.
Qualquer publicidade que traga sentimentos de inferioridade (eu tenho;
voc no tem, as meninas mais lindas da escola usam sapatilha tal); que
conduza as crianas a praticarem atos de destruio ou que as estimulem a
constranger seus pais para que adquiram determinado produto ou servio
ser considerada abusiva.
Ficou conhecida em nosso pas a publicidade de um determinado tnis,
divulgada por uma conhecida apresentadora infantil, em que havia a
sugesto para que as crianas destrussem seus tnis antigos como forma
de forar seus pais a lhe comprarem o novo tnis. Por ser abusiva, a
publicidade foi retirada do ar.

Havendo publicidade enganosa ou abusiva por parte do fornecedor,


permite o legislador a oportunidade ao fornecedor de veicular, da mesma forma,
frequncia e dimenso, e, preferencialmente no mesmo veculo, local e espao e
horrio, mensagem capaz de desfazer o malefcio da publicidade enganosa ou
abusiva, a chamada contrapropaganda (art. 60, caput e 1).

Por se tratar de crime de conduta varivel ou de mltiplas aes que


aquele em que o tipo contempla mais de um verbo, convm destacar que a
realizao de qualquer ao ou omisso j suficiente para configurar o delito em
questo, no necessitando da existncia de um resultado naturalstico.
69

Se a publicidade falsa ou enganosa for veiculada por meio de


publicidade h o crime descrito no artigo 67. Do contrrio, se a conduta afetar
somente o consumidor individual, ou seja, entre fornecedor e consumidor, a conduta
estar enquadrada no artigo em comento (art. 66). Da a importncia de se delimitar
os sujeitos ativo e passivos do delito, pois se aplicar o CDC apenas nos vnculos
econmicos entre consumidor e fornecedor.

Para Bessa (2009, p. 364):

No h uma delimitao legal, nem doutrinria acerca dos limites da oferta


publicitria, como no caso de informaes falsas constantes em rtulos ou
manuais ou pequenos anncios em interior de estabelecimento, muitas
vezes poder surgir dvida quanto ao tipo penal incidente. A prpria noo
de publicidade decorre da caracterstica de ser uma forma de comunicao
de massa, dirigida a um nmero indeterminado de consumidores, como no
caso de anncios em jornais, na televiso e em outdoors. A oferta no
publicitria tem objetivo mais restrito: ora se dirige unicamente ao
comprador (informaes orais prestadas pelo vendedor, informaes em
rtulos ou manuais), ora se apresenta em locais de acesso limitado a
consumidores, como no caso de pequenos cartazes no interior de um
supermercado.

De qualquer forma, como bem menciona o autor supracitado, apesar


de no ser muito fcil a tarefa de classificar a oferta ou informao como sendo
publicitria ou no, certo que, tal conduta estar abrangida entre os tipos penais
descritos nos artigos 66 e 67 do CDC.
Caso uma pessoa no se caracterize no conceito de fornecedor
descrito no art. 3, caput, do CDC, sua conduta restar amoldada pela prtica de
crime de estelionato com previso no art. 171, caput, do CP.

Nesse sentido, dispe Leonardo Bessa (2009, p. 365):

Se uma pessoa que no se caracterize como fornecedor (art. 3, caput, do


CDC) realizar afirmao falsa ou enganosa sobre, por exemplo, o carro
prprio que deseja vender, ou ainda, omitir informao relevante sobre o
estado do motor, como a necessidade de fazer retfica, sua conduta, caso o
negcio jurdico no se concretize, no configura qualquer infrao penal.
Se houver a venda do carro, com prejuzo do comprador, haver em tese,
pratica de crime de estelionato (art. 171, caput, do CP).
Todavia, se o vendedor for fornecedor, um gerente de vendas de agencia
de veculos, e fizer a mesma afirmao falsa ou omitir a relevantssima
informao de que o motor precisa ser retificado, independentemente da
compra do veculo haver prtica do crime descrito no art. 66.

O 1 do artigo 66 estipula que incorrer nas mesmas penas quem


patrocinar a oferta. Ento, todo aquele que oferecer patrocnio custeando a oferta,
70

proporcionando condies materiais para que a oferta seja apresentada ou


veiculada incorrer neste dispositivo, com as mesmas penas previstas no caput
(pena de deteno, de trs meses a um ano e multa).

O elemento subjetivo o dolo, que se caracteriza pela vontade livre e


consciente de fazer afirmao falsa ou enganosa, omitir informao relevante ou
patrocinar a oferta que sabe ser fraudulenta.

Apesar de haver controvrsia, o 2 deste artigo permite a modalidade


culposa, cuja pena cominada de deteno, de um a seis meses, ou multa.

6.6 Art. 67 Publicidade Enganosa ou Abusiva

No artigo 67, o legislador sanciona com pena de deteno de trs


meses a um ano e multa, a conduta de fazer ou promover publicidade que sabe ou
deveria saber ser enganosa ou abusiva.
Conforme j exposto acima, os pargrafos do artigo 37 trazem o
conceito legal do que seria publicidade enganosa e abusiva.

O critrio para aferio da capacidade de enganar deve ser analisada a


depender do caso em concreto, verificando principalmente, o pblico alvo da
publicidade (crianas, idosos, etc.) .

O crime de mera conduta, j que o tipo no prev qualquer resultado


naturalstico (dano material ou moral), apenas a conduta consistente em
fazer ou promover publicidade enganosa ou abusiva suficiente para a
consumao do crime. Caso se verifique que, a par da veiculao da
publicidade enganosa, houve efetiva induo a erro de consumidores, h,
pelo princpio da subsidiariedade, apenas o crime descrito no art. 7, VII da
Lei 8.137/90. (BESSA, 2009, p. 367).

Leonardo Bessa (2009, p. 367), nos diz que:

Normalmente a realizao de uma publicidade envolve trs sujeitos: 1) o


fornecedor, comerciante ou fabricante (anunciante), que deseja expor seu
produto ou servio; 2) a agncia contratada pelo fornecedor para criao da
publicidade, baseando-se em dados fticos e tcnicos repassados para o
prprio anunciante; 3) o veculo, que o meio pelo qual se difunde a
publicidade (jornal, revista, televiso etc.). Portanto, podem, em tese, serem
sujeitos ativos do crime as pessoas fsicas que agem pelo anunciante, pela
71

agncia e pelo veculo, j que todos concorrem para a realizao e


veiculao da publicidade.

Em que pese doutrina, sem razo, ter procurado distinguir as


expresses fazer ou promover, convm destacar que os verbos do tipo, tm o
mesmo significado.
Isto porque o objetivo do CDC ser didtico, evitando assim, que
condutas diversas que caracterizem infrao penal no sejam consideradas atpicas.

Fazer ou promover a publicidade tem o sentido de realizar todos os atos


necessrios que envolvem o fornecedor, a agncia e o veculo, desde a
criao at a veiculao por meio de comunicao de massa, o que refora
a possibilidade de o veculo e a agncia tambm responderem pelo delito,
independentemente de serem considerados fornecedores. (BESSA,
BENJAMIN & MARQUES, 2009, p. 367).

Quanto ao elemento subjetivo, divergncia h na doutrina com relao


expresso deveria saber, havendo trs correntes: a primeira corrente entende
que o tipo somente prev a modalidade culposa; um segundo entendimento que
s h previso para a modalidade dolosa; e a terceira corrente entende que o tipo
prev a modalidade culposa e dolosa.
Entretanto, a melhor interpretao quando ocorre dolo direto que
sabe, ou seja, quando o agente quer praticar a conduta descrita no tipo, e o dolo
eventual que deveria saber, na qual o agente assume riscos de produzi-lo, com
fundamento no art. 18 do CP, que prev o princpio da reserva legal, j que a
modalidade culposa deveria estar descrita no pargrafo.

Assim, o sujeito ativo que incorre neste delito os profissionais que cuidam
da criao e produo de publicidade e os responsveis pela sua
veiculao. Sujeito passivo o consumidor difusamente considerado e
aquele exposto diretamente publicidade enganosa ou abusiva (ALMEIDA,
2011, p. 207).

A pena de deteno, de trs meses a um ano, e multa (cumulativa).

6.7 Art. 68 Induo a Comportamento Prejudicial ou Perigoso

Nos termos do artigo 68 da Lei n 8.078/90:


72

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser
capaz de induzir, o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou
perigosa a sua sade ou segurana:
Pena Deteno de seis meses a dois anos e multa.
Pargrafo nico. VETADO.

Aqui a publicidade ser abusiva quando for capaz de induzir o


consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa sua sade ou
segurana. O legislador, visando garantir o cumprimento deste preceito normativo,
tipificou como crime a elaborao ou promoo dolosa de publicidade abusiva.

O sujeito ativo do delito poder ser o publicitrio, os responsveis pela sua


veiculao nos meios de comunicao, bem como o fornecedor que
contratou a agncia de publicidade para elaborar a publicidade prejudicial
ou perigosa. O sujeito passivo o consumidor exposto publicidade
prejudicial ou perigosa (FIGUEIREDO, 2009, p. 425).

Mais uma vez, tratando-se de crime de mera conduta, o consumidor


no precisa ser induzido, bastando feitura ou promoo da publicidade enganosa.
Vale ressaltar que, tambm so aplicadas as mesmas observaes j
assinaladas anteriormente (art. 67), quanto aos verbos fazer ou promover e
expresso deveria saber.

Por fim, a pena cominada de deteno de seis meses a dois anos e,


representa maior gravidade, ou seja, considerando as penas dos artigos
antecedentes (arts. 66 e 67), pretendeu o legislador dar uma reprovabilidade maior
conduta, que potencialmente ofensiva sade e segurana do seu destinatrio,
qual seja, o consumidor.

6.8 Art. 69 Publicidade sem Base Ftica, Tcnica ou Cientfica

O tipo penal em comento sanciona com pena de deteno de um a seis


meses ou multa, a conduta daquele que deixar de organizar dados fticos, tcnicos
e cientficos que do base publicidade.
O delito sob anlise aproxima-se do disposto no pargrafo nico do
artigo 36 do CDC, verbis: O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou servio,
73

manter, em seu poder, para informao dos legtimos interessados, os dados


fticos, tcnicos e cientficos que do sustentao mensagem.

Essa determinao do legislador privilegia o princpio da transparncia


e da boa-f objetiva, ou seja, exige que a publicidade do fornecedor de seus
produtos ou servios seja dotada de veracidade, correo e transparncia.

Assim, por exemplo, quando um curso preparatrio para concursos pblicos


noticia que determinado nmero de vagas foram preenchidas, por exemplo,
para o cargo de Procurador de determinado Estado, por alunos seus, poder-
se- exigir-lhe a demonstrao e comprovao da veracidade de tal
informao (FIGUEIREDO, 2009, p. 385).

Segundo Leonardo Bessa (2009, p. 368):

[...] dados fticos se relacionam com informaes empricas, decorrentes de


observao e pesquisa do mercado (exemplo, produto mais vendido, mais
procurado etc.), dados tcnicos e cientficos devem ser compreendidos
como os relativos s qualidades de adequao s finalidades prprias do
bem.

O fornecedor anunciante que deixa de organizar dados fticos, tcnicos


e cientficos, que embasam a publicidade, incorre no tipo penal em anlise,
figurando, portanto como sujeito ativo da relao de consumo. Por consequncia, o
sujeito passivo, ser o consumidor exposto publicidade.
A consumao do delito se verificar no momento em que o fornecedor
for omisso, ou seja, basta deixar de organizar os dados fticos, tcnicos e
cientficos, descumprindo a norma contida no pargrafo nico do art. 36.

Saliente-se que os dados cientficos, por vezes, constituem segredo


industrial, como por exemplo, o segredo da frmula do refrigerante Coca Cola.
Nesses casos, continua o fornecedor a ter o dever de organizar os dados, mas no
ter o dever de exibi-lo, salvo por determinao judicial (FIGUEIREDO, 2009, p.
425).

Inexiste punio na modalidade culposa. Por se tratar de crime


omissivo prprio, no se admite a forma tentada.

A pena de deteno, de um a seis meses e multa.


74

6.9 Art. 70 Troca de Peas Usadas sem Autorizao

O artigo 70 do CDC tipifica como crime o ato de empregar na


reparao de produtos, pea ou componentes de reposio usados, sem
autorizao do consumidor. A pena de deteno, de trs meses a um ano e
multa.

Para a reparao de produtos, o fornecedor deve utilizar componentes de


reposio adequados e novos, salvo autorizao em contrrio. O fornecedor
que no cumpre tal determinao legal comete, segundo o artigo em
comento, infrao penal (FIGUEIREDO, 2009, p. 426).

H duas observaes importantes: a primeira a de que s figurar


como sujeito ativo deste crime aquele (pessoa que gerencia o estabelecimento ou
empregado autorizado) que empregar peas ou componentes usados; e a segunda
observao que este emprego tenha sido sem a autorizao do consumidor.
Nesse sentido, dispe Leonardo Roscoe Bessa (2009, p. 369), que [...]
o crime s ocorre quando, sem autorizao do consumidor, h emprego de peas ou
componentes usados. Assim, se a pea no as especificaes do fabricante, mas
nunca foi usada, no se configura o delito do art. 70.

Para Antnio Csar da Fonseca (1996, p. 242), possvel a


autorizao implcita, velada, silente, como quando o consumidor chega em um
prestador de servios que s trabalhe com peas usadas, recondicionadas.

Consoante disposio expressa do art. 21 do CDC, no fornecimento


de servios que tenham por objeto a reparao de qualquer produto considerar-se-
implcita a obrigao do fornecedor de empregar componentes de reposio
originais adequados e novos, ou que mantenham as especificaes tcnicas do
fabricante, salvo, quanto a estes ltimos, autorizao em contrrio do consumidor.

Como se v, o objeto jurdico tutelado o direito de o consumidor obter


a reparao de produto com a utilizao de componentes de reposio adequados e
novos.

Observa Filomeno (2001, p. 267), que este delito vem a complementar


a figura do art. 175 do Cdigo Penal (Fraude no Comrcio).
75

O sujeito ativo quem gerencia o estabelecimento ou empregado


autorizado que emprega na reparao de produtos, pea ou componentes de
reposio usados. J o sujeito passivo o consumidor enganado, que teve seus
produtos reparados com peas ou componentes usados, sem a devida autorizao
para tanto.

Assim, nas palavras de Joo Batista de Almeida (2011, p. 210), o


elemento objetivo o desrespeito norma do art. 21, por meio da conduta de utilizar
produtos, peas ou componentes usados, sem a autorizao do consumidor.

Porquanto, para caracterizao deste crime, o sujeito ativo deve agir


com dolo, ou seja, com a vontade livre e consciente de empregar peas ou
componentes usados, sem a autorizao do consumidor.

Por ausncia de previso legal, no h tipificao na modalidade


culposa.

A consumao do delito se d quando o fornecedor emprega as peas


ou componentes usados para a reparao de produto, sem a devida autorizao do
consumidor (FIGUEIREDO, 2009, p. 426).

6.10 Art. 71 Cobrana Abusiva de Dvidas

O artigo 71 do CDC tipifica a seguinte conduta:

Art. 71. Utilizar, na cobrana de dvidas, de ameaa, coao,


constrangimento fsico ou moral, afirmaes falsas incorretas ou enganosas
ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor,
injustificadamente, a ridculo ou interfira com seu trabalho, descanso ou
lazer:
Pena Deteno de trs meses a um ano e multa.

Este delito est diretamente ligado ao disposto no caput do artigo 42 do


CDC, no captulo das prticas comerciais, a saber: Na cobrana de dvidas o
consumidor inadimplente no ser exposto ao ridculo, nem ser submetido a
qualquer tipo de constrangimento ou ameaa.
76

Da anlise conjugada dos dispositivos transcritos, extrai-se a lio de que o


credor possui direito de cobrar as dvidas existentes e vencidas. Entretanto,
em face da noo de abuso de direito (art. 187 do CC), o CDC cuida de
estabelecer determinados parmetros e limites para a ao do
credor/fornecedor (BESSA, 2009, p. 370).

Jos Geraldo Brito Filomeno (2001, p. 270-271) assim dispe:

Trata-se, ainda, no que tange ao exerccio regular do direito de cobrar,


porquanto os comportamentos vedados so evidenciados pelo
constrangimento vil e covarde, de tipo anormal, visto que muitas vezes pode
se justificar a divulgao do nome do consumidor relapso ou inadimplente
contumaz, mediante protesto de ttulos e insero de seu nome no cadastro
dos servios de proteo ao crdito, no havendo como prpria lei (no caso
de protestos em cartrios) ou da praxe e costumes comerciais (servios de
proteo ao crdito).

Joo Batista de Almeida (2011, p. 210) afirma que o legislador buscou


tutelar os direitos do consumidor de proteo sade, segurana e vida, bem
como contra prticas abusivas e mtodos comerciais coercitivos ou desleais (art. 6,
I e IV do CDC).
Noutras palavras, determina o legislador que o fornecedor no exponha
o consumidor ao ridculo, ou at mesmo se utilize de qualquer tipo de ameaa ou
constrangimento de forma injustificada, cuja inobservncia configurar o crime em
anlise.

Esclarece Leonardo Roscoe Bessa (2009, p. 370), que:

A elementar ameaa, tambm utilizada em outros tipos penais, nos


artigos 146, 157 e 213 do Cdigo Penal, significa expressar, por qualquer
meio, o intuito de fazer um mal iminente a algum, ou seja, a promessa de
causar um mal. J a coao a violncia fsica, ou seja, o prprio
constrangimento fsico indicado no tipo, ou o constrangimento moral,
qual seja a intimidao, que acaba se confundindo com a prpria ameaa.
Bastaria, portanto, a utilizao das elementares ameaa e coao para
abranger todas as situaes que se pretendeu proteger. O legislador,
entretanto, preferiu pecar pelo excesso, utilizando termos com o mesmo
significado.

O sujeito ativo aquele que efetua a cobrana (podendo ser qualquer


pessoa que tenha sido por ele contratada para efetuar a cobrana dos dbitos). J o
sujeito passivo o consumidor prejudicado (FIGUEIREDO, 2009, p. 426). Importante
destacar que a caracterizao deste delito somente restar configurada se a relao
for oriunda de relao de consumo.
77

O legislador quis ao utilizar a expresso ou qualquer outro


procedimento possibilitar que outras atividades sejam consideradas abusivas.

Nesse sentido, destaca Luiz Luisi (1991, p. 69):

O qualquer outro procedimento constante do tipo em causa , sem dvida,


uma forma genrica abrangente de todo o processo que, embora no sendo
expresso de fora material ou violncia moral, tenha condies de reduzir
a capacidade de resistncia do consumidor para sujeit-lo vontade do
agente. O uso desses meios deve levar o consumidor a ser exposto ao
ridculo, ou deve implicar na interferncia, de forma negativa, tanto do seu
trabalho, como no seu lazer e descanso.

Para a configurao deste delito, faz-se necessrio que haja dolo


(vontade livre e consciente de praticar o crime), utilizando na cobrana de dvidas
por meio vexatrio de um exagero considervel por parte do fornecedor ou quem o
represente quando da ocasio da cobrana.

O advrbio injustificadamente, embora criticado em sede doutrinria pela


sua abertura, possui o importante objetivo de clarear que, como o
constrangimento inerente a qualquer cobrana, apenas aqueles atos
desproporcionais, considerando a relao entre meio e fim, possuem
relevncia penal. Portanto, uma ligao para o telefone pessoal (celular),
residencial ou de trabalho, so condutas legitimas tanto sob o aspecto cvel
quanto penal. (BESSA, BENJAMIN & MARQUES, 2009, p. 370).

A doutrina aponta como exemplo a realizao de trs ligaes numa


tarde, o xingamento, a divulgao de informaes sobre a dvida aos colegas de
trabalho e ao chefe (BESSA, BENJAMIN & MARQUES, 2009, p. 370).

No h punio para a modalidade culposa.

A consumao deste crime se d com a efetiva utilizao de meios


vexatrios na cobrana de dvidas, independentemente do resultado (pagamento do
dbito). inadmissvel a tentativa (ALMEIDA, 2011, p. 211).

Havendo leso corporal (art. 129 do CP), h concurso formal. Se constatada


a presena de desgnios autnomos, ou seja, a pretenso de praticar dois
delitos, deve as penas ser aplicadas cumulativamente, conforme previso
do art. 70 do Cdigo Penal (BESSA, BENJAMIN & MARQUES, 2009, p.
371).

Por fim, a pena aplicada para este delito de deteno, de trs meses
a um ano, e multa.
78

6.11 Art. 72 Impedimento de Acesso a Informaes Cadastrais

O art. 72 da Lei 8.078/90 tipifica, com pena de deteno, de seis meses


a um ano, ou multa, a conduta consistente em impedir ou dificultar o acesso do
consumidor s informaes que sobre ele constem em cadastros, banco de dados,
fichas e registros.
Para melhor clareza do delito em questo, a distino jurdica entre
banco de dados e os cadastros de consumo que nos bancos de dados, a
origem de informaes pertence aos fornecedores, exemplo disso o servio de
proteo ao crdito.

J nos cadastros de consumo, esclarece Leonardo Bessa (2009, p.


371), que:

[...] o prprio consumidor que oferece informaes pessoais para o


fornecedor, normalmente no momento de aquisio de produtos e servios.
A utilizao legtima dos dados realizada pelo prprio fornecedor que
deseja, com o procedimento, manter constante comunicao com o
consumidor, seja para indicar promoes na loja, seja para encaminhar
cartes para o consumidor na data de seu aniversrio, Natal, Dia dos Pais,
etc..

A doutrina, de modo geral ressalta que as expresses cadastro,


banco de dados, fichas e registros referem-se a essas duas realidades. Nesse
sentido, confira-se a lio de Leonardo Roscoe Bessa, Antnio Herman V. Benjamin
e Claudia Lima Marques (2009, p. 371).
Como bem destaca Leonardo Bessa, (2009, p. 371):

O acesso do consumidor a informaes pessoais constantes tanto em


banco de dados como em cadastros de consumo direito garantido pelo
caput do art. 43 do CDC que assim dispe: O consumidor, sem prejuzo do
disposto no art. 86, ter acesso s informaes existentes em cadastros,
fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem
como sobre as suas respectivas fontes.

Complementa mencionado doutrinador acima citado:

Qualquer pessoa pode se dirigir entidade responsvel pela administrao


dos bancos de dados de consumo (SPC, Serasa, CCF) ou dos cadastros de
consumo (agencia bancria, seguradora, lojas diversas) e exigir informao
sobre a existncia e o contedo de registros pessoais, bem como a
indicao da respectiva fonte.
79

Como se v, o consumidor que tenha em seu nome apontamento


restritivo deve ser-lhe garantido o livre acesso aos respectivos arquivos de consumo.
Tal faculdade se mostra indispensvel, pois, com o exerccio deste direito, poder o
consumidor impedir ou fazer cessar ofensa a direitos de personalidade, tais como a
honra, a privacidade.
Jos Geraldo Brito Filomeno (2001, p. 277), assim destaca:

[...] no justo que o nome do outrora mau consumidor-pagador fique


constando dos cadastros do SPC sem negativao e, o que pior, no
possa saber o que realmente dali conste contra si para a devida correo
mediante a providencia administrativa ou judicial competente. Da porque o
tipo de que ora se cuida, do art. 72 do Cdigo do Consumidor utiliza os
verbos impedir ou dificultar o acesso do consumidor quelas informaes
dos SPC ou outros bancos de dados com a mesma finalidade de resguardo
dos fornecedores, quanto a prejuzos futuros ou calotes dos maus
pagadores. Trata-se de salutar preceito, por razes mais que bvias alm
das j elencadas, o delito meramente formal, independentemente de
qualquer resultado que possa advir em detrimento do consumidor, quer no
seu patrimnio quer no que concerne ao seu conceito moral,
caracterizando-se tal impedimento por qualquer atitude que obste referido
acesso.

O impedimento de acesso a cadastros e banco de dados a que se


refere neste tipo penal sob anlise, est diretamente ligado aos artigos 72 e 73 do
CDC, que sero estudados na sequencia, pois dizem respeito sistematizao dos
bancos de dados e cadastros de consumo. Sistematizao porque, o consumidor
no pode ser vedado ou dificultado somente o acesso a tais informaes, como
tambm a gratuidade do acesso, a correes, comunicao. Situaes como estas
so direitos inerentes aos consumidores.
Quanto s condutas impedir ou dificultar, esclarece Leonardo Bessa
(2009, p. 372):

Impedir tem o sentido de impossibilitar, proibir, vedar. Dificultar significa


apresentar exigncias ilegais, exageradas, desproporcionais. A tentativa de
impedir o acesso, com cobrana de valores ou apresentao de outras
exigncias ilegais, j configura o crime consumado, vez que tentar impedir
j significa dificultar.
O acesso gratuito, assim como a expedio de documento que retrate a
situao do consumidor (...). Portanto, a cobrana, independentemente do
posterior pagamento bem como, antes disso, da identificao de vtima
especfica configuram, em tese, o crime, sob a modalidade dificultar.

Portanto, trata-se de crime de mera conduta.


80

O sujeito ativo, da mesma forma que o artigo anterior, no


necessariamente o fornecedor-credor que ser incurso nesta infrao, conforme
conceito no caput do artigo 3 do CDC. Isto porque, apenas exemplificando, o
servio de proteo ao crdito (SPC e Serasa), administrado por associao civil
de fornecedores, e, por tal razo, no atuam diretamente no mercado de consumo.

J o sujeito passivo qualquer consumidor interessado nos dados


existentes em cadastros, banco de dados, fichas e registros no que diz seu respeito.

Da mesma forma, deve haver dolo na conduta de impedir ou dificultar o


acesso a informaes, aps solicitao do consumidor.

A consumao deste delito se d no momento em que negado ao


consumidor o acesso s informaes sobre ele que constem no banco de dados,
cadastros ou fichas e registros (FIGUEIREDO, 2009, p. 427).

6.12 Art. 73 Omisso de Correo de Informaes em Bancos de Dados e


Cadastros

O art. 73 do CDC expe o segundo tipo penal relativo aos arquivos de


consumo apenando em deteno de um a seis meses, ou multa a conduta
consistente em deixar de corrigir imediatamente informao sobre consumidor
constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria
saber ser inexata.
O 1 do art. 43 exige que as informaes de consumidores
constantes pelos arquivos de consumo sejam verdadeiras. Informaes inexatas
ocasionam potencialmente transtornos na vida pessoal e patrimonial do consumidor.

Ainda, em razo da importncia que exercem na sociedade, todas as


informaes relativas a arquivos de consumo e mantidas por entidades oficiais ou
privadas, so consideradas de carter pblico, e por isso confere ao fornecedor e
futuro contratante o direito de saber se determinado consumidor bom ou mau
pagador.
81

o que dispe o 4 do art. 43: Os bancos de dados e cadastros


relativos a consumidores, os servios de proteo ao crdito e congneres so
considerados entidades de carter pblico.

Entretanto deve obedecer a parmetros de lealdade, transparncia e


cooperao (FIGUEIREDO, 2009, p. 395). Tambm, estabelece o 3 do mesmo
dispositivo que, sempre que o consumidor encontrar inexatido nestas informaes
poder ele exigir sua imediata correo devendo o arquivista, no prazo de cinco dias
teis.

Significa dizer, que o consumidor tem o direito atualizao e correo


das informaes a seu respeito em bancos de dados dos fornecedores ou empresas
que mantm cadastros de consumidores. A no atualizao ou correo de tais
informaes, dolosa, constitui infrao penal (FIGUEIREDO, 2009, p. 427).

Segundo Bessa (2009, p. 373):

cedio que o consumidor que tenha informaes inexatas mantidas em


rgos de proteo ao crdito, no tem avaliado corretamente sua solvncia
da pessoa interessada na obteno do crdito. O principal exemplo nesta
rea decorre, sem dvida, do pagamento de dvidas inscritas em bancos de
dados de proteo ao crdito e a posterior manuteno do registro negativo
do consumidor.

Assim, torna-se sujeito ativo do delito o arquivista ou responsvel pela


manuteno dos dados constantes do cadastro, e o consumidor o sujeito passivo
que deixa de ter seus dados corrigidos e atualizados pelo arquivista (FIGUEIREDO,
2009, P. 427).
Por fim, com relao expresso deveria saber, tambm utilizada
nos tipos descritos nos artigos 67 e 68, Bessa (2009, p. 374) ressalta que, cabem as
mesmas observaes.

Apesar de Filomeno (2011, p. 212) destacar que h a modalidade


culposa, a melhor interpretao, segundo Bessa (2009, p. 374) configura no sentido
de tratar de hiptese onde o tipo penal, destaca o dolo direto (que sabe), e o dolo
eventual (que deveria saber).

Bessa (2009, p. 427), dispe que a consumao se d no momento em


que o agente deixa de corrigir as informaes que sabe ou deveria saber incorretas
a respeito do consumidor, no havendo necessidade de efetivo dano ao consumidor.
82

6.13 Art. 74 Omisso na Entrega do Termo de Garantia

A ltima infrao penal prevista no Cdigo de Defesa do Consumidor


diz respeito garantia contratual dos produtos e servios. Constitui crime, cuja pena
deteno, de um a seis meses, ou multa, deixar de entregar ao consumidor o
termo de garantia adequadamente preenchido e com especificao clara de seu
contedo.
No se trata o presente dispositivo de garantia legal, tendo em vista
que esta diretamente vinculada lei e, independe de manifestao de vontade do
fornecedor. J a garantia contratual depende de iniciativa do fornecedor. Nesse
sentido, dispe Bessa (2009, p. 374):

[...] a denominada garantia contratual depende de iniciativa do fornecedor,


normalmente o fabricante do produto. Ela , como esclarece o art. 50 do
CDC, complementar legal e ser conferida mediante termo escrito. As
exigncias do termo de garantia contratual esto indicadas no pargrafo
nico do art. 50, verbis: O termo de garantia ou equivalente deve ser
padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que consiste a mesma
garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada
e os nus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente
preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de
manual de instruo, de instalao e uso do produto em linguagem didtica,
com ilustraes.

O objeto jurdico assegurar efetividade garantia contratual prevista


no art. 50 e pargrafo nico, buscando com isso resguardar reflexamente o
patrimnio do consumidor (ALMEIDA, 2011, p. 212). Trata-se de crime omissivo puro
e de mera conduta, na qual o sujeito ativo deixa de entregar ao consumidor o termo
de garantia ou, alternativamente, entreg-lo sem o preenchimento adequado
(BESSA, 2009, p. 374).
Joo Batista de Almeida (2009, p. 212), enfatiza que o sujeito passivo
o consumidor de bens de consumo durveis a qual se outorga garantia contratual.

Deve haver dolo na conduta do agente que omite na providncia do


comando legal, consistente em deixar de entregar ao consumidor termo de garantia,
preenchido, com especificaes claras de seu contedo, no se admitindo a
modalidade culposa.
83

Joo Batista de Almeida (2011, p. 213), quanto consumao ressalta


que:

A consumao se d com a venda e entrega ao consumidor de bens de


consumo durveis, sem o acompanhamento do termo de garantia contratual
preenchido e especificado, ou seja, omitindo-se o fornecedor ou preposto na
entrega do mesmo termo.

Assim, nos parece que no remanesce dvida de que o crime se


consuma com a venda ao consumidor sem que esta seja acompanhada da
respectiva garantia, quando necessria e exigvel.
84

7 ANLISE SUCINTA DA APLICAO DAS PENAS NA LEI PENAL


DO CONSUMIDOR

Feitas as consideraes dos tipos penais em espcies constantes nos


artigos 63 a 74 do CDC, passemos ao exame dos artigos 75, 76, 77, 78, 79 e 80 da
Lei 8.078/90, que abordam disposies atinentes aplicao das penas.
O artigo 75 da Lei 8.078/90 estabelece que:

Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
Cdigo, incide nas penas a esses cominadas na medida de sua
culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente de pessoa
jurdica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o
fornecimento, oferta, exposio venda ou manuteno em depsito de
produto ou a oferta e prestao de servios nas condies por ele proibidas.

De uma forma bastante ampla, o legislador, neste art. 75, tratou do


concurso de pessoas, enfatizando a possibilidade de responderem por infrao
penal todos aqueles em que concorrerem para os crimes previsto no CDC, na
medida de sua culpabilidade.
Entretanto, h crticas em relao a este dispositivo no que tange ao
reconhecimento da responsabilidade objetiva do diretor, administrador ou gerente da
pessoa jurdica, que sero abordadas em captulo prprio.

Os artigos 76, 77 e 78 indicam agravantes judiciais, critrios para a


individualizao da pena pecuniria e espcies de sanes penais, as quais sero
levadas em considerao pelo magistrado para a fixao da pena. Nesse sentido,
Leonardo Bessa, Benjamin e Marques (2009, p. 374):

Inicialmente, cabe ao legislador, ao valorar condutas, estabelecer o


contedo e os limites mximo e mnimo da sano penal (cominao penal).
A pena deve ser proporcional ao grau de reprovabilidade (censurabilidade)
da conduta. Teoricamente, quanto mais grave o fato, quanto mais valioso o
bem jurdico, maior e mais severa a sano penal. Aps investigao
policial (inqurito policial ou termo circunstanciado) e devido processo legal,
comprovada a prtica de infrao penal, cabe ao julgador fixar a pena-base
entre os limites mximo e mnimo cominados ao crime, seguindo as
diretrizes indicadas pelos artigos 59 e 68 do Cdigo Penal.

Dispe o art. 76 do Cdigo de Defesa do Consumidor:

Art. 76. So circunstncias agravantes dos crimes tipificados neste Cdigo:


85

I serem cometidos em poca de grave crise econmica ou por ocasio de


calamidade;
II ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III dissimular-se a natureza ilcita do procedimento;
IV quando cometidos:
a) por servidor pblico, ou por pessoa cuja condio econmico-social
seja manifestamente superior da vtima;
b) em detrimento de operrio ou rurcola; de menor de dezoito ou maior
de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficincia mental
interditadas ou no;
V serem praticados em operaes que envolvam alimentos,
medicamentos ou quaisquer outros produtos ou servios essenciais.

Neste sentido, so circunstncias agravantes ligadas a personalidade


do sujeito ativo (fornecedor de produtos e servios). A leitura do dispositivo em
comento clara, no sentido de apenar severamente pessoas que se aproveitam da
prpria condio de hipossuficiente do consumidor.
Segundo Jos Geraldo Brito Filomeno (2001, p. 284), deve se levar em
conta efetivamente a absoluta desigualdade, sobretudo de natureza econmica
entre os dois protagonistas das relaes de consumo o consumidor e o fornecedor
de produtos e servios.
Importante observar que as condies agravantes descritas neste
artigo so situaes especficas, assim consideradas pela doutrina, e o rol
taxativo.
Diante disso, elucida Ricardo Antnio Andreucci (2007, p. 339), que a
aplicao dessas circunstncias agravantes especficas dos crimes contra as
relaes de consumo no impede a das situaes agravantes genricas dos artigos
65 e 66 do Cdigo Penal.
O art. 77 cuida da pena pecuniria, assim dispondo:

Art. 77. A pena pecuniria prevista nesta Seo ser fixada em dias-multa,
correspondente ao mnimo e ao mximo de dias de durao da pena
privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualizao desta multa, o
juiz observar o disposto no art. 60, 1, do Cdigo Penal.

Filomeno (2009, p. 285) observa que, o dispositivo acima transcrito


tornou mais enftica correta aplicao dos critrios j fixados no Cdigo Penal pela
Lei n. 7.209/84, havendo perfeita lgica entre o critrio de converso de pena
pecuniria em detentiva, e o mnimo e mximo estabelecido para a pena corporal
para efeito de aplicao dos dias-multa.
86

A pena pecuniria arbitrada deve ser correspondente situao


econmica do ru, para que, em muitos casos a mesma no se torne incua,
principalmente porque, em se tratando de penas de deteno, sempre haver a
concesso de sursis, atendidos os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95.
O artigo 78 se reporta aos critrios e disciplinao dos arts. 44 a 47 do
Cdigo Penal, que versam sobre as penas restritivas de direito:

Art. 78. Alm das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser
impostas, cumulativa ou alternativamente, observado o disposto nos arts. 44
a 47, do Cdigo Penal:
I a interdio temporria de direitos;
II a publicao em rgos de comunicao de grande circulao ou
audincia, s expensas do condenado, de notcia sobre os fatos e a
condenao;
III a prestao de servio comunidade.

Benjamin, Marques e Bessa (2009, p. 376) dispem que:

Os crimes tipificados no CDC possuem pena de multa cumulada ou


alternada com deteno, que nunca superior a dois anos. Assim, salvo
hiptese de concurso de crimes e observados os demais requisitos do art.
44 do CP, possvel a converso da pena em restritiva de direitos [...].

Determina o art. 79 do CDC que o valor da fiana ser afixado pelo juiz
ou pela autoridade que presidir o inqurito, e dever compreender um valor entre
cem e duzentas mil vezes o valor do Bnus do Tesouro Nacional (BTN) ou ndice
que venha a substitu-lo. o que dispem Fbio e Simone Figueiredo (2009, p. 429).
Como o BTN foi extinto pela Lei n. 8.177/91, sustenta-se na doutrina
que para efeitos de aplicao legal, a atualizao deve ser pela taxa referencial
(TR), por ser taxa de juros oficiais e no indexador, e tambm por estar prevista sua
utilizao no art. 6 da mencionada lei, para fins de correo monetria substitutiva.

Ademais, assinala Benjamin, Marques e Bessa (2009, p. 377), que o


CDC foi editado em 1990, poca em que se convivia com altos ndices de inflao.

Pelo referido dispositivo, se assim recomendar a situao econmica


do indiciado ou ru, a fiana poder ser reduzida at a metade do seu valor mnimo
ou aumentada pelo magistrado at vinte vezes (art. 79, pargrafo nico, a e b, do
CDC).
87

Por fim, o art. 80 encerra o Ttulo II que trata das Infraes Penais,
dispondo que:

Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste cdigo, bem
como a outros crimes e contravenes que envolvam relaes de consumo,
podero intervir, como assistentes do Ministrio Pblico, os legitimados
indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais tambm facultado propor
ao penal subsidiria, se a denncia no for oferecida no prazo legal.

Da anlise deste dispositivo, encontramos o regramento de interveno


de assistentes de acusao e ao penal subsidiria.
O prazo para o oferecimento da denncia pelo Ministrio Pblico de
15 dias, se o ru estiver solto, e de 5 dias, se estiver preso. Assim, a ao penal
subsidiria s tem lugar na hiptese de inrcia do Ministrio Pblico.

So legitimados as entidades e rgos da administrao pblica,


direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinada
defesa dos interesses e direito protegidos pelo Cdigo (inc. III do art. 82 do
Cdigo de Defesa do Consumidor), e as associaes legalmente constitudas h
pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos
interesses e direitos, tambm protegidas pelo Cdigo, onde dispensa a autorizao
assemblear (inc. IV tambm do mencionado art. 82).

A diferena principal que entidades de proteo ao consumidor,


pblicas (por exemplo, PROCONs) ou privadas (por exemplo, IDEC), tambm so
legitimadas propositura das chamadas aes coletivas para fazer valer a
efetividade s normas estabelecidas no Cdigo, especialmente no que diz respeito
aos campos civil e administrativo.

Neste particular, vlido o comentrio de Benjamin, Denari, Filomeno,


Fink, Grinover, Nery Jr. & Watanabe (2005, p. 774), Autores do Anteprojeto do
Cdigo de Defesa do Consumidor:

Embora o Ministrio Pblico seja o dominus litis e venha se especializando


na matria especfica de que ora se cuida, -lhe impossvel saber de todos
os pormenores, por exemplo, relativos a um determinado produto ou
servio, ou ento sobre eventuais pesquisas que j tenham sido feitas a seu
respeito, devendo, por conseguinte, contar com a assistncia de entidades
que lhe possam propiciar, e certamente ao juzo criminal competente, os
elementos de que se necessita para uma deciso justa e correta.
88

Esta legitimidade, leva em conta o princpio previsto pelo art. 4 do


Cdigo de Defesa do Consumidor, j examinado anteriormente, que trata da
Poltica Nacional de Relaes de Consumo, que tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, em especial o reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.
Importante registrar a preciosa lio de Eduardo Espnola Filho (1966,
p. 269):

[...] ao mesmo tempo que atinge, na sua pessoa ou nos seus bens, um ou
mais indivduos que se apresentam assim, como ofendido, ou ofendidos, o
crime causa um dano social, e, apenas em homenagem predominncia do
interesse social sobre o particular, estabelecida a preferncia de iniciativa
do rgo pblico, para instaurao de ao penal, somente sendo lcito
parte privada apresentar sua queixa, se, no prazo legal, o Ministrio Pblico
deixou de manifestar-se sobre o inqurito, a representao ou a pea de
informaes.

Sendo assim, quando mencionadas entidades ajuzam ao penal


pblica subsidiria, importante consignar que a apurao do fato no est ligada ao
interesse da vtima, e respectiva punio dos agentes, mas sim ao interesse de toda
uma coletividade de consumidores. Por se tratarem de interesse pblico, devem ser
preservadas as relaes de consumo.
89

8 CRTICAS A CRIMINALIZAO DE CONDUTAS NO CDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR

Segundo Joo Batista de Almeida (2011, p. 202):

A poca da tramitao do Anteprojeto e do Projeto de Lei do Cdigo de


Defesa do Consumidor sustentou-se a no criminalizao de condutas, ao
argumento de que as demais penalidades previstas (punio administrativa
e ressarcimento civil) seriam suficientes represso. O Congresso
Nacional, no entanto, assim no entendeu e preferiu incluir tambm a
tipificao penal. Com isso, sem dvida, o legislador reconhece ser ela
necessria completa proteo do consumidor e outorgando maior
efetividade legislao protetiva.

Entretanto, aps a sano e promulgao do Cdigo de Defesa do


Consumidor, a concepo tangente criminalizao de condutas sofreu severas
crticas por parte da doutrina, desde a poca de sua edio (1990).
As crticas, em sua maioria, esto relacionadas tcnica legislativa
empregada acerca dos tipos penais previsto da legislao consumerista.

Nelson Nery Jnior apud Passarelli (2002, p. 40), explana sobre o


tema, na defesa do segmento penal do Cdigo de Defesa do Consumidor e assinala
que:

[...] criticam a parte penal, por conter muitos tipos abertos, sem atentarem
para o fato de que, em matria de crimes contra o sistema financeiro (do
colarinho branco) e contra as relaes de consumo; portanto, tm esses
tipos, necessariamente, de serem abertos, ou melhor, de conter elementos
normativos (tipos anormais, elementos subjetivos do injusto), que pedem
valorao normativa pelo juiz, conforme acentuado na mais moderna
doutrina do direito penal.

Conforme acentua Murilo Nogueira (2006, p. 28), a maioria das crticas


decorrem de que os crimes descritos no CDC so de competncia do Juizado
Especial Criminal, vejamos:

[...] muitas das crticas a respeito dos dispositivos penais inseridos no


Cdigo de Defesa do Consumidor tambm decorrem dos crimes ali
previstos serem crimes de menor potencial ofensivo, punidos com pena
inferior ou igual a dois anos, logo de competncia do Juizado Especial
Criminal, concluindo que o consumidor ficaria impossibilitado, na maioria
das situaes, de manejar ao civil ex delito.
90

Por isso, os crimes praticados contra as relaes de consumo so


passveis dos benefcios da transao penal e dos sursis processual, previstos nos
artigos 76 e 89 da Lei 9.099/1995.

Por tal razo, correto afirmar que alguns doutrinadores entendem que
o consumidor seria lesado pela no punio das condutas tipificadas no Cdigo de
Defesa do Consumidor, tendo em vista que os benefcios trazidos pela Lei 9.099/95
impediriam uma sentena penal condenatria. A crtica estaria consubstanciada,
principalmente no fato de que os benefcios trazidos pela transao penal e sursis,
gerariam mais um desestmulo aos consumidores do que uma efetiva punio aos
seus destinatrios (fornecedores), acarretando em muitos casos, a inexistncia de
comunicao do fato criminoso ao Ministrio Pblico, Delegado de Polcia, o que
impediria a abertura de um Termo Circunstanciado.

Nesse sentido, segundo Eliana Passarelli (2002) apud Monique Mosca


Gonalves (2008, p. 57): no que tange s penas, aduzem alguns pensadores serem
as reprimendas cominadas pelo legislador nos delitos de consumo muito brandas,
no chegando sequer a atender o aspecto intimidativo da sano penal.

A aplicao aos delitos previstos no CDC e da Lei 9.099/95 no deve


ser entendida como um esvaziamento da pretenso de punir os fornecedores,
apesar do CDC ser anterior a Lei 9.099/95.

Afinal no razovel atribuir uma falha ao legislador, trata-se de uma


mudana da poltica criminal, que deve ser mais analisada. E, a criminalizao das
condutas do CDC trata-se de situaes vivenciadas diariamente pelos
consumidores, e, na maioria das vezes provocadas pelos representantes dos
fornecedores (empresrios ou empregados).

No que toca a dosagem das penas, segundo Murilo Nogueira (2006, p.


30/31) apud Passarelli (2002, p. 41):

Sob outro prisma, as reprimendas cominadas pelo legislador foram muito


brandas, no chegando sequer a atender o aspecto intimidativo da sano
penal.
Grande parte dos delitos previstos na Lei federal n. 8.078/90 so infraes
de menor potencial ofensivo, consoante o disposto no art. 61 da Lei federal
n. 9099/95. Portanto, os crimes previstos nos arts. 63, 2, 66, caput, 1 e
2, 67,69,70,71,72,73 e 74, todos do Cdigo de Defesa do Consumidor, por
preconizarem pena mxima igual ou inferior a um ano e por no existir
previso de procedimento especial, so passveis da aplicao de
transao penal, uma vez preenchidos os requisitos legais previstos no art.
91

76 da Lei dos Juizados Especiais Cveis e Criminais. [...] No tocante aos


demais delitos, em razo de a pena mnima prevista ser igual ou inferior a
um ano, facultado ao Ministrio Pblico propor a suspenso condicional
do processo, uma vez atendidas as exigncias preconizadas no artigo 89 da
Lei federal n. 9.099/95.

Cumpre assinalar que, na poca em que o Cdigo de Defesa passou a


viger, no havia a possibilidade de aplicao dos benefcios previstos na Lei
9.099/95. Assim, respeitando entendimentos contrrios, no h razo para atribuir
falhas ao legislador consumerista nesse aspecto.
Sobre o tema, Murilo Nogueira (2006, p. 34) elogia a dosagem das
penas empregadas pelo legislador, por serem compatveis com as situaes ali
previstas, e continua, acertadamente:

Sendo assim, descarta-se a argumentao de que os Juizados Especiais


Criminais possa ter influenciado de forma perniciosa a proteo do
consumidor, j que a priso efetiva do empresrio no seria capaz de
proteger a classe consumerista, pois a empresa poderia continuar nas mos
de outra pessoa. Neste sentindo, um instrumento eficaz foi encontrado pelo
legislador, ou seja, a informao e exposio do empresrio publicamente,
forando, que, de forma artificial, a seleo natural do mercado.

De fato, o Congresso Nacional entendeu pela insero dos tipos penais


no Cdigo de Defesa do Consumidor, reconhecendo ser necessria a tutela penal
na efetivao da proteo ao consumidor.
Ainda, para alguns doutrinadores, o argumento da no criminalizao
seria o fato de que sanes administrativas e civis, em especial no mbito da
responsabilizao, j seriam suficientes coibio.

Discordando deste entendimento, Jos Geraldo Brito Filomeno (2001,


p. 233), com a autoridade de quem participou da elaborao do anteprojeto de lei
que procedeu na edio do CDC, salienta que:

No se deve esquecer que um fato pode ter implicaes administrativas e


civis to somente, mas pode tambm esbarrar no ilcito penal; portanto no
sendo raras as hipteses em que os trs aspectos (civil, administrativo e
penal) concorrem, dando margem a diversos tipos de providncias.

Nesse sentido, complementa referido autor em sua obra:

Fica evidente, por conseguinte, e esta foi a preocupao da comisso


incumbida da elaborao do anteprojeto, que determinados
comportamentos definidos nos captulos relativos s normas de natureza
92

civil e administrativas so de tal ordem graves, que no estariam a merecer


apenas sanes naqueles mbitos, mas igualmente de natureza penal, at
para o cumprimento daquelas outras normas e garantir-se a incolumidade
dos consumidores e a lisura das relaes de consumo, alm do patrimnio
daqueles (2001, p. 234).

Tambm recebe crticas o fato de alguns tipos previstos no Cdigo de


Defesa do Consumidor ser omissivos puros e ao mesmo tempo de mera conduta,
ficando difcil a caracterizao, e tambm por serem tipos penais muito abertos, no
conferindo certeza aos destinatrios (NOGUEIRA, 2006, p. 29).

Todavia, no se pode negar que as crticas realizadas em face aos


crimes definidos no Cdigo de Defesa do Consumidor so pertinentes. O direito
como produto cultural da sociedade, atravs dos seus legisladores, visando
pacificao da sociedade brasileira, criminalizou os crimes contra os consumidores,
e a aplicao da parte criminal do CDC no algo que deve ser esquecido.

bvio que, o Cdigo de Defesa do Consumidor para garantir o


cumprimento de seus preceitos, alm das sanes penais, criou outros meios
administrativos e civis, que so mais utilizados devido rapidez e a grande eficcia
na proteo do consumidor; sendo assim, a responsabilidade penal do agente no
pode ser descartada, vez que so feridos direitos constitucionalmente protegidos,
tais como, vida, segurana, sade, o direito de informao, dentre outros.

Outra questo a ser discutida na aplicao do CDC , sem dvida, a


sano de pena privativa de liberdade, de maneira que a imposio desta levaria
aos empresrios a se reeducarem e reestruturarem suas empresas, para que no
incorressem mais em infraes do CDC, inclusive nos ilcitos civis e administrativos,
evitando usurpar a vulnerabilidade e confiana do consumidor.

O consumidor na condio de hipossuficiente, facilmente vtima dos


atos ilcitos praticados pelos fornecedores. Destarte, em razo da exposio dos
consumidores a sociedade consumista em que vivemos, foi necessria a criao dos
tipos penais do Cdigo de Defesa do Consumidor, razo pela qual se defende a
insero dos tipos penais do Cdigo de Defesa do Consumidor.

Para Alberto Zacharias Toron (1995), a aplicao das sanes civis e


administrativas seriam medidas coercitivas suficientes para represso de condutas
lesivas praticadas pelos fornecedores, e, por corolrio, o captulo que trata das
93

infraes de consumo inseridas no CDC ofenderia o princpio da interveno


mnima.

Em que pese contrrios entendimentos, at mesmo pelos autores do


anteprojeto do Cdigo de Defesa do Consumidor, essa questo est superada.
Pacfica entre os operadores do direito a independncia de responsabilidades no
mbito civil, administrativo e penal, tendo em vista cada um tutelar bens jurdicos
distintos.

Outro importante ponto que a doutrina tambm critica registrado por


Monique Mosca Gonalves (2008, p. 56), refere-se ao sujeito ativo dos delitos da
legislao consumerista:

[...] os delitos de consumo so delitos prprios, uma vez que requerem uma
condio especial do sujeito ativo, qual seja, a de fornecedor de bens e
servios, e considerando que os fornecedores, na ampla maioria das vezes,
constituem-se em empresas, alguns pensadores questionam quanto
possibilidade de responsabilizao da pessoa jurdica.

A norma prevista no art. 75 do Cdigo de Defesa do Consumidor trata


da responsabilidade e concurso de pessoas, verbis:

Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste
Cdigo incide nas penas a esses cominadas na medida de sua
culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa
jurdica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o
fornecimento, oferta, exposio venda ou manuteno em depsito de
produtos ou a oferta e prestao de servios nas condies por ele
proibidas.

Segundo melhor doutrina, a norma em questo se mostra redundante,


em razo de repetir a regra geral do chamado concurso de pessoas, j prevista
pela parte geral do Cdigo Penal, em seu art. 29.

Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
1 Se a participao for de menor importncia, a pena pode ser diminuda
de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um tero).
2 Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-
lhe- aplicada a pena deste; essa pena ser aumentada at (metade), na
hiptese de ter sido previsvel o resultado mais grave.
94

Para Filomeno (2005, p. 753):

[...] estar-se-ia criando uma espcie de responsabilidade objetiva dos


diretores, administradores ou gerentes de pessoas jurdicas que venham a
promover, permitir ou por qualquer outro modo aprovar o fornecimento,
oferta, exposio venda ou manuteno em depsito de produtos ou a
prestao de servios nas condies por ele proibidas Verdadeiramente, se
o Cdigo Penal tem aplicao subsidiria ao Cdigo de Defesa do
Consumidor, sobretudo em relao ao concurso de pessoas, concurso de
crimes, etc., no haveria necessidade da incluso desta norma no Cdigo
de Defesa do Consumidor. Ademais, os 1 e 2 do art. 29 do Cdigo
Penal so bastante claros no que tange ao grau de participao de cada um
dos envolvidos.

Agora, contra este dispositivo paira na doutrina outra crtica de


considervel relevncia uma vez que o legislador tende a uma responsabilidade
objetiva em matria penal, onde seria um absurdo, conforme bem destaca Jos
Geraldo Brito Filomeno (2005, p. 753/754):

[...] improcede, na medida em que seria rematado absurdo ressuscitar-se


uma espcie de responsabilidade objetiva em matria penal, em odioso
retrocesso Santa Inquisio da Idade Mdia. [...] Vale mais o mencionado
dispositivo, contudo, pelo seu carter explicativo ou didtico, lembrando-se
a propsito que a chamada lei dos crimes do colarinho branco (Lei n
7.492/86), semelhantemente ao mencionado art. 75 do Cdigo de Defesa
do Consumidor, chama-se a ateno dos diretores e administradores de
entidades econmicas, quanto sua aprovao de atividades que
redundem em prejuzo a investidores e outras pessoas interessadas, donde
sua responsabilizao tambm criminal (art.25).

Por fim, a questo da tentativa, que por sua vez, cingem-se ao fato
onde, constituindo-se quase todos os crimes contra o consumo em delitos de mera
conduta, nos quais a consumao ocorre com a simples atividade do agente;
portanto, independentemente da existncia de um resultado naturalstico posterior, e
uma vez que esses delitos so unissubsistentes, por no comportarem
fracionamento em seus processos executivos, a tentativa neste delito impossvel.
95

9 CONCLUSO

O estudo do presente trabalho teve como resultado, sob o aspecto


histrico, que a proteo do consumidor eclodiu mundialmente em razo do reflexo
social, econmico e jurdico trazido pela mecanizao da agricultura no incio do
sculo XIX, que o colocava em situao desfavorvel frente ao fornecedor. Neste
momento, foi observado que a defesa do consumidor ganhou destaque universal,
sendo traada uma poltica geral de proteo ao consumidor, especialmente atravs
das normas baixadas pela Organizao das Naes Unidas ONU, impostas aos
Estados filiados.
Por consequncia, se conclui que os direitos do consumidor foram
vistos como um direito humano fundamental na sociedade consumerista, e neste
ponto, elogia-se a insero na Constituio da Repblica Federativa do Brasil de
1988, dos artigos 5, XXXII; 24, VIII; 170, V e, art. 48 do ADCT Ato das
Disposies Transitrias, e consequente edio do Cdigo de Defesa do
Consumidor, Lei n 8.078/90.

Conforme se destacou, o Cdigo de Defesa do Consumidor foi inserido


no atual sistema jurdico brasileiro como norma principiolgica, e, com relao ao
ttulo de infraes penais inseridas no CDC, em que pese sustentarem alguns
doutrinadores pela no criminalizao de condutas nesta seara, sob o argumento de
que se estaria ferindo o princpio da interveno mnima; diante disso, chegou-se a
concluso de que este no o melhor entendimento.

A dispensa da criminalizao no mbito do CDC, em razo as esferas


cveis e administrativas haverem sanes como meio a promover a absoluta eficcia
de seus preceitos, no deve ser aceita, concluindo que, o que se est protegendo
so as relaes de consumo, seja em carter individual ou coletivo. Ademais, o bem
jurdico penal distinto dos bens tutelados na seara civil e administrativa.

O consumidor est constantemente submetido a abusos praticados no


mercado de consumo, que surge a necessidade de uma tutela efetiva desta
relao, no somente no mbito civil e administrativo, como tambm, no mbito
penal. Com louvor, o reconhecimento do legislador da necessidade de
96

criminalizao de condutas praticadas no mercado de consumo, visando


necessria e completa proteo do consumidor.

Quanto s teorias existentes na doutrina relativa conceituao dos


sujeitos das relaes de consumo, o consumidor e o fornecedor, deve ser
prestigiado o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justia que vem
abrandando o rigor da aplicao na busca do equilbrio entre as partes. Neste
sentido, possibilitando assim, ser considerado consumidor o adquirente
profissional, seja pessoa fsica ou jurdica de direito pblico ou de direito privado,
desde que presente in concreto inegvel vulnerabilidade, seja tcnica, jurdica, ftica
ou mesmo a informacional.

Entretanto, a conceituao do sujeito ativo e passivo nos crimes contra


as relaes de consumo, para muitos, est limitada ao exame da elementar do tipo
institudo pelo CDC, onde nem todas as situaes envolvero a relao entre
consumidor e fornecedor. de se concluir que, a viso de Antnio Herman V.
Benjamin a mais correta, por diferenciar o sujeito ativo nos crimes de consumo
prprios e imprprios, e tambm pelo simples fato de estarem sob a proteo da lei
aqueles que se enquadram na conceituao de consumidor e fornecedor,
trazidos pelos artigos 2 e 3 da Lei 8.078/90.

Foram trazidos em debate argumentos contrrios e favorveis acerca


da viabilidade da pessoa jurdica ser responsabilizada penalmente. A concluso que
se chegou seria que, a pessoa jurdica por ser um ente que no existe no mundo
real, decorrendo da associao de pessoas naturais, no pode ser responsabilizada
penalmente por uma razo lgica: estaria impossibilitada de cumprimento de pena
privativa de liberdade, como tambm no possui elemento volitivo (dolo ou culpa)
prprio. No entanto, no poderia ficar impune, j que a atribuio da
responsabilidade penal poderia recair sobre os scios, desde que se atenda ao
princpio da culpabilidade e haja norma nesse sentido.

No que se refere aos crimes em espcie serem de competncia do


Juizado Especial Criminal, previstos nos artigos 62 ao 74 do CDC, chegou-se a
entendimento de que, no h razo para tantas crticas a respeito das sanes
impostas pelo legislador. Os benefcios dos institutos da transao penal e da
suspenso condicional do processo, no podem ser vistos como uma hiptese de
no punio das condutas ali tipificadas, justamente por serem direitos inerentes aos
97

acusados que devem ser respeitados. E mais, quanto a esta anlise, no h de se


falar em ausncia de tcnica do legislador porque a Lei 9.099/95 posterior ao
prprio Cdigo de Defesa do Consumidor.

Por fim, como resultado desta pesquisa, sugere-se para um efetivo


cumprimento da tutela penal do consumidor individual e difusamente considerado, a
efetiva implantao de Delegacias de Polcia Especializadas e Defensorias Pblicas
na defesa do consumidor no Municpio de Presidente Prudente/SP, e regio, para
que se instrumentalize a execuo dos objetivos e princpios previstos na Lei
8.078/90.
98

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