Apostila Manejo PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 270

PARTE I

O MNIMO DE ECOLOGIA PARA O MANEJO


FLORESTAL
A floresta o conjunto de rvores. Algumas so bem conhecidas e so amplamente
utilizadas na indstria florestal. A maioria, nem tanto. Da rvore, tudo poderia ser aproveitado
(raiz, caule, casca, galhos, folhas e frutos). No entanto, a madeira do caule o principal
produto atualmente; tem escala de mercado e liquidez financeira.

Aproveitvel ou no, a rvore para sobreviver e se desenvolver tem que interagir com
os outros seres vivos, sem perder de vista a relao intrnseca com os fatores do ambiente e do
solo. Tentar manejar uma floresta sem este conhecimento, apostar no fracasso. A floresta
que est sendo explorada na Amaznia tem, aproximadamente, 1500 anos de idade, que foi
desenvolvida sobre solos pobres em nutrientes. A exuberncia da floresta em contraste com a
fertilidade dos solos pode ser explicada pela capacidade da floresta em conservar e reciclar
nutrientes.

Entender o que apresentado na Parte I da apostila de manejo florestal no significa


que voc vai se transformar em eclogo. No entanto, se voc considerar este mnimo de
conhecimento ecolgico, antes e durante o manejo florestal, voc poder minimizar os
impactos ambientais ... e isto econmico.

A combinao de economia e minimizao de impactos ambientais pode ser obtida


utilizando-se das melhores tcnicas de manejo florestal, da explorao florestal at a
industrializao. A grade curricular dos cursos de engenharia florestal j contempla todas
essas etapas ... tudo uma questo de foco. Portanto, dos quatro pilares da sustentabilidade do
manejo florestal (tcnico, econmico, ecolgico e social), fica faltando apenas o social.
Infelizmente, este tema no ser abordado nesta apostila. A recomendao colocar como
questo de fundo para o seu manejo florestal, o conceito de desenvolvimento sustentvel, que
apresentado na Parte III. Assuma o compromisso em deixar para as futuras geraes, a
mesma oportunidade que voc est tendo, hoje, em aproveitar os recursos florestais.

1
Captulo 1 - conceitos bsicos
1. Ecologia: o estudo dos organismos vivos e suas relaes com o meio ambiente.

2. Meio ambiente: a soma de todos os fatores biticos (vivos) e abiticos que rodeiam e
potencialmente influenciam um organismo.

3. Ecossistema: a soma das comunidades de plantas e de animais e o meio ambiente, numa


regio particular ou habitat ou fatores biticos + abiticos.

4. Fisiologia da planta: o estudo dos processos da vida de vrias partes da planta.

5. Citologia da planta: a investigao dos eventos que ocorrem dentro das clulas.

6. Bioqumica: a anlise da estrutura qumica final dos seres vivos e os processos da vida.

7. Auto-ecologia: lida com a adaptao e comportamento da espcie individual ou populao


em relao ao seu meio ambiente. Pode ser interpretado como sinnimo de ecologia
fisiolgica ou ecofisiologia.

8. Sinecologia: o estudo das comunidades em relao ao meio ambiente. Sinnimos:


ecologia de comunidade, fitossociologia, geobotnica ou ecologia da vegetao.

9. Vegetao: consiste de todas as espcies de plantas numa regio (flora) e se refere ao


padro de como todas as espcies esto espacial e temporalmente distribuda.

10. Forma de vida: (i) o tamanho, a durao da vida, a presena de lenho de um txon; (ii) o
grau de independncia de um txon; (iii) a morfologia de um txon; (iv) os traos das folhas
do txon; (v) a localizao dos brotos perenes e (vi) fenologia

11. Fisionomia: a combinao da aparncia externa + estrutura vertical incluindo arquitetura


de copas + forma de vida das taxa dominantes.

12. Formao: um tipo de vegetao que se estende sobre uma grande regio. A formao
pode ser subdividida em associaes.

13. Associao: a coleo de todas as populaes de plantas co-existindo com um dado


ambiente. A associao tem os seguintes atributos: (i) composio florstica relativamente
fixa; (ii) exibe uma fisionomia relativamente uniforme e (iii) ocorre num tipo de habitat
relativamente consistente.

14. Populao: um grupo de indivduos de mesma espcie ocupando um pequeno habitat


capaz de permitir o cruzamento entre todos os membros do grupo.

15. Sociologia de plantas: a descrio e o mapeamento dos tipos de vegetao e comunidades.

2
16. Dinmica de comunidades: uma outra fase de sinecologia que inclui processos como
transferncia de nutrientes e energia entre membros, relaes antagnicas e simbiticas entre
membros e os processos e causas da sucesso.

3
Captulo 2 A rvore
Para Hall et al. (1978), a rvore no pode considerada meramente como um indivduo
num determinado ponto no tempo, mas como um indivduo geneticamente diverso em
processo de desenvolvimento e mudanas, que responde, de vrias maneiras, s flutuaes do
clima e micro-clima, incidncia de insetos, fungos e outros parasitas, particularmente s
mudanas ao redor dela mesma. A rvore ento vista como uma unidade ativa e adaptvel e,
a floresta, feita de um vasto nmero de tais unidades interagindo entre si e com os fatores do
solo e do clima.

A funo de uma rvore em sua eco-unidade (unidade de regenerao) florestal deve


ser considerada, pois a rvore participa na construo da eco-unidade e contribui com a
sobrevivncia da mesma, ou seja, a rvore reage a todos os inputs biticos e abiticos vindos
de seu bitipo natural (Oldeman, 1991). O ambiente da rvore no consiste apenas de fatores
abiticos determinados pelos fatores climticos e de solos (Oldeman, 1991). Esses fatores so
filtrados pela vegetao circundante composta de um mosaico de fragmentos (manchas) de
floresta jovem, em construo, madura e em decomposio. E, dentro de uma particular
mancha, os nutrientes e a energia so filtrados novamente por vrios organismos, antes de
alcanar a rvore sob considerao.

2.1. A espcie vegetal no complexo ambiental:

(i) A Lei do Mnimo

A presena e o sucesso de um organismo ou de um grupo de organismo dependem de


um complexo de condies. Diz-se que qualquer condio que se aproxime de ou exceda os
limites de tolerncia uma condio limitante ou um fator limitante.

O crescimento e/ou a distribuio da espcie dependente de um fator ambiental mais


criticamente em demanda.

(ii) A teoria da tolerncia

Toda espcie de planta capaz de existir e reproduzir com sucesso somente dentro de
um limite definido de condies ambientais.

Os organismos podem apresentar uma larga faixa de tolerncia para um fator e uma
estreita para outro; os organismos que tenham faixas de tolerncia longas para todos os fatores
sero provavelmente os mais amplamente distribudos; quando as condies no so timas
para uma determinada espcie em relao a um fator ecolgico, os limites de tolerncia

4
podero ser reduzidos para outros fatores ecolgicos. Os limites de tolerncia no podem ser
determinados a partir de um exame dos fatores morfolgicos; em vez disso, eles so
relacionados com os fatores fisiolgicos que podem ser somente medidos experimentalmente.

A distribuio relativa da espcie com limites similares de tolerncia aos fatores


fsicos determinada finalmente pelo resultado da competio (ou outra interao bitica)
entre as espcies. Ex: testes de estresse, realizados em laboratrios ou no campo, nos quais os
organismos so submetidos a uma variedade experimental de condies.

(iii) A espcie taxonmica:

Uma espcie consiste de grupos de indivduos morfolgica e ecologicamente similares


que podem ou no ser cruzados, mas que so reprodutivamente isolados de outros grupos. O
taxonomista tradicional enfatiza a morfologia (aparncias externas), mas os biosistematas do
mais nfase isolao reprodutiva.

(iv) A espcie ecolgica:

o produto da resposta gentica de uma populao a um habitat ectipo ou tipo


ecolgico ou raa ecolgica. So populaes de uma mesma espcie que apresentam grande
disperso geogrfica, mas que esto fisicamente separadas.

(v) Populao:

Conjunto de indivduos da mesma espcie que vive em um territrio cujos limites so


em geral delimitados pelo ecossistema no qual essa populao est presente. As populaes
so entidades reais cujos atributos distribuio espacial, densidade, estrutura etria, taxas de
crescimento (produto lquido entre taxas de natalidade, mortalidade e migrao) bem como
suas relaes de interdependncia (simbioses) podem ser estimadas quantitativamente em
condies naturais ou experimentais.

(vi) Habitat

Lugar onde uma espcie (ou mais de uma) vive. Neste local, os organismos
encontraro, alm do abrigo das intempries do meio fsico e de eventuais ameaas biolgicas
(predao), alimento e condies para reproduo.

(vii) Nicho ecolgico:

Papel que determinada espcie desempenha em um habitat; papel funcional na


comunidade. Na realidade, o conceito pode ser desdobrado em vrios outros, dependendo do
modo como descrita a distribuio da espcie. Podem ser usados critrios ligados ao uso do

5
espao, posio do organismo na cadeia alimentar ou ainda um conjunto de diferentes
fatores ambientais, ex: temperatura, umidade, pH, solo, etc.

2.2. Fatores ambientais:

(i) Radiao solar:

Do sol vem, direta ou indiretamente, a luz que torna possvel a fotossntese, e o calor
que aquece o ar e o solo permitindo a continuao dos processos de vida da planta. A rvore
precisa de, pelo menos, 1 a 2% de plena luz para se manter. A briga permanente ter o
mximo de luz para acentuar os ganhos pela fotossntese em cima das perdas pela respirao.
Por meio do processo fotossinttico, a energia radiante fixada em energia qumica potencial
utilizada por todos os componentes da cadeia alimentar para realizar os processos vitais.

a) A natureza da radiao solar que atinge a Terra:

A radiao solar fundamentalmente governa a temperatura do ar e, desse modo,


indiretamente determina as condies trmicas ao redor e dentro da planta. A quantidade e a
qualidade de luz so muito importantes para a fotossntese. A radiao solar controla muitos
processos do desenvolvimento, agindo como um sinal para, por exemplo, a germinao, o
crescimento direcionado e a forma externa da planta.

b) O balano de energia:

O ambiente por meio dos fatores climticos, transfere energia para todos os seres
vivos. Este fluxo de energia que determina o balano de energia da planta e que afeta a sua
temperatura acompanhado primariamente pela radiao solar e terrestre, conveco e
transpirao. Cada processo pelo qual a energia transferida entre uma planta e o meio
ambiente pode causar ganho ou perda de energia, mas a soma total da energia transferida tem
que estar equilibrada. A energia ganhada pela planta do ambiente pode ser armazenada como
calor ou convertida em energia fotoqumica pela fotossntese; e pode ser perdida ao ambiente
pela radiao da planta, pela conduo do calor ou conveco ou pela evapotranspirao
(combinao da evaporao da superfcie do solo e a transpirao das plantas).

c) A luz e o crescimento das rvores

A biosfera recebe a radiao solar em comprimentos de onda de 0.3m a


aproximadamente 3.0m. Em mdia, 45% da radiao proveniente do Sol se encontra dentro
de uma faixa espectral de 0.18-0.71m, a qual utilizada para a fotossntese das plantas
(radiao fotossinteticamente ativa, RFA).

6
A importncia mais bvia da radiao solar a dependncia da vida em relao
fotossntese, a qual, por sua vez, depende da luz. A luz a radiao solar nas bandas do
visvel do espectro eletromagntico. As bandas do visvel vo de 0,4 a 0,7m (1 m = 1 x 10-6
m), com as cores visveis entre 0,4-0,5 (azul); 0,5-0,6 (verde) e 0,6-0,7 (vermelho). A cor, a
forma e o arranjo das folhas afetam a habilidade relativa de diferentes espcies em competir
sob dada condio de luz.

Ponto de compensao => o nvel de CO2 que est em perfeito equilbrio (nem tira e
nem coloca), ou seja, o ponto que os ganhos fotossintticos se equilibram com as perdas
pela respirao.

d) A luz e a morfologia da rvore

As plantas que crescem sob sombra desenvolvem estrutura e aparncia diferentes


daquelas que crescem sob plena luz. Quando as folhas sob sombra so repentinamente
expostas plena luz, no caso de desmatamento (por exemplo), elas so incapazes de
sobreviver.

A parte area das plantas recebe radiao de vrios tipos e por todos os lados: radiao
solar direta, radiao que sofre espalhamento na atmosfera, radiao difusa em dias nublados
e radiao refletida da superfcie do solo. A forma de crescimento, tipo de ramificao, e a
posio da folha condicionam a luminosidade da copa. A maioria das plantas ordena sua
superfcie de assimilao de forma que poucas folhas recebam radiao solar direta
permanentemente, assim a maior parte das folhas se encontra parcialmente sombreada
(Lacher, 2000).

As plantas se adaptam de forma modificativa de acordo com as condies de radiao


preponderante durante a morfognese. A diferenciao fenotpica de rgos e tecidos
geralmente no reversvel. Se as condies de radiao mudam no caso de desmatamento
(por exemplo), posteriormente, novos ramos so produzidos e as folhas dos ramos originais
no adaptadas senescem e sofrem absciso.

e) Fotocontrole e a resposta da planta

Fotoperiodismo => a resposta da planta ao comprimento relativo do dia e da noite e


as mudanas neste relacionamento ao longo do ano. A durao do perodo luminoso de um
dia denominada fotoperodo enquanto que o perodo escuro corresponde ao nictoperodo. As
respostas sazonais so possveis porque os organismos vegetais so capazes de perceber o
perodo do ano em que se encontram, pela deteco do comprimento do dia.

7
(ii) Temperatura

Pouca atividade biolgica ocorre abaixo de zero e acima de 50 C. Os fatores que


influenciam a variao em temperatura so: latitude, altitude, topografia, proximidade gua,
cobertura de nuvem e vegetao. A capacidade de grandes corpos dgua de absorver a
energia solar e re-transmitir mais lentamente faz com que os extremos de temperaturas do dia
e da noite no sejam to acentuados, ou seja, vero e inverno menos rigorosos. O oposto
ocorre no deserto, por exemplo, aonde a reflectncia da luz maior e a absoro menor,
deixando o dia muito quente e a noite muita fria, ou seja, da mesma maneira (velocidade) que
o ambiente aquecido, a dissipao do calor, quando cessa a incidncia de luz, igualmente
rpida.

As plantas regulam as suas temperaturas pela dissipao da energia absorvida e, dessa


maneira, previnem-se da excessiva acumulao de calor e morte. Os 3 principais mecanismos
so: re-radiao, transpirao e conveco.

a) Temperatura na superfcie do solo

A exata temperatura da superfcie do solo depende da taxa de absoro da energia


solar e a taxa com que dissipada, uma vez absorvida. Isto, por sua vez, depende
primariamente da quantidade de vegetao e cobertura da serapilheira e, em segundo, da cor,
contedo de gua e outros fatores fsicos do solo, se exposto.

b) Temperatura dentro da floresta

Quando as rvores esto com todas as folhas, os extremos dentro da floresta so


geralmente menores do que fora da mesma e a diminuio da radiao dentro da floresta pode
resultar em menores mdias da temperatura do ar.

c) A temperatura e o crescimento da planta

Os processos mais influenciados pela temperatura so:

- a atividade enzimtica que catalisa as reaes bioqumicas, especialmente


fotossntese e respirao.

- a solubilidade do CO2 e o O nas clulas das plantas

- transpirao

- a habilidade de razes em absorver gua e minerais do solo.

8
Todas as fases dos diferentes regimes de temperatura temperatura do dia,
temperatura da noite, somas de calor e termoperiodismo (diferena entre as temperaturas do
dia e da noite) tambm afetam o crescimento da planta.

O arranjo das folhas e a orientao das mesmas, uma resposta intensidade da luz,
podem reduzir a quantidade de energia solar absorvida podendo impedir o superaquecimento
da folha.

d) Formas de vida

A importncia da sobrevivncia durante os perodos desfavorveis tem levado a uma


classificao ecolgica das formas de vida baseada na condio de dormncia da planta sob
condies climticas desfavorveis para o crescimento. Exemplo de classificao: sempre
verde, decduas, perenes e anuais.

(iii) gua

A gua a substncia inorgnica mais requisitada pelas plantas e a sua presena nas
mesmas muito grande, em mdia 40% de seu peso total. A precipitao a principal fonte
da umidade do solo, que a principal fonte dgua que alcana a rvore. Na atmosfera, a gua
est sempre presente na forma de vapor dgua. A troca de vapor dgua entre a planta e a
atmosfera acontece ao longo dos gradientes da presso do vapor. A transpirao ocorre
quando a gua vaporizada e se move para fora das folhas (alta presso) e se misturando com
o ar circundante (baixa presso).

A precipitao ocorre quando a massa de ar quente esfriada abaixo do seu ponto


condensao. Este esfriamento pode resultar de correntes de ar que chegam a altas elevaes
como ocorre quando as massas de ar frio esto presas sob o ar quente ou quando o ar quente
avana sobre o ar frio (frente quente); isto ocorre quando o ar mido passa por cima das
superfcies quentes da Terra (precipitao convencional) e quando as correntes de ar passam
por cima das massas de terra elevada (precipitao orogrfica). Se a condensao ocorre
abaixo do ponto de congelamento, a neve formada; se acima deste ponto, ocorre a chuva.

A proximidade ao oceano, a temperatura e os teores de umidade das massas de ar, a


elevao, latitude e o relacionamento entre as mudanas sazonais determinam a quantidade,
tipo e distribuio da precipitao. Na floresta, 20% da chuva comumente interceptada pela
copa, de onde pode ser absorvida pela folhagem, ser evaporada, pode pingar diretamente para
o solo ou escorrer pelo tronco.

9
A gua no solo disponvel planta existe na categoria gravitacional. O fornecimento
da gua planta realizado pela matriz slida e a gua do material poroso interagindo com a
capilaridade (conjunto de fenmenos que se passam quando num capilar se forma uma
interface lquido-vapor) e a adsoro (fixao das molculas de uma substncia na superfcie
de outra substncia). O movimento da gua no solo depende da interao entre o potencial da
gua no solo e condutividade hidrulica.

Alguns mecanismos que as plantas usam para minimizar o efeito do estresse hdrico:
(i) decduas de seca (folhas presentes somente durante os perodos de baixo estresse), (ii)
efmeras (dormentes, como sementes, durante o perodo de estresse), (iii) riprias (aquelas
que crescem perto de reas com grande disponibilidade de gua); (iv) sempre verde (quando
h uma fonte perene de gua).

a) As relaes da gua da planta

O solo vai secando gradualmente conforme a gua removida das razes adjacentes;
dessa maneira, restringe a absoro at que a planta no pode mais extrair a gua do solo
(potencial osmtico da planta = potencial da gua do solo) isto o ponto que a planta
alcana uma presso de turgescncia igual a zero e murcha.

Mantendo este processo de secagem do solo, a fotossntese gradualmente diminui


como uma resistncia ao aumento da tomada de CO2 por causa do fechamento dos estmatos.
Isso vai causar a diminuio do crescimento porque a presso de turgescncia necessria
para a expanso total de novas clulas.

Sob severo estresse hdrico, so inibidas: a respirao, a sntese de protenas e vrios


outros processos envolvendo as reaes qumicas por causa da desnaturao da protena.

b) Troca de vapor dgua entre a planta e a atmosfera

A gua se mover da planta para a atmosfera quando a presso do vapor da planta


maior do que a da atmosfera. Isto normal durante o dia sem chuvas. A gua pode tambm
mover da atmosfera para a planta quando as presses de vapor so inversas, como num dia
chuvoso ou quando o orvalho cobrir uma planta que no esteja completamente trgida.
Normalmente, no h troca de vapor dgua durante a noite.

Como o ar dentro da folha normalmente saturado sob condies de crescimento, o


vapor mover das folhas para o ar circundante a menos que o ar externo esteja tambm
saturado na mesma ou numa temperatura maior => a transpirao acaba ocorrendo.

10
A taxa de transpirao diretamente dependente da planta e da temperatura do ar, da
umidade relativa do ar e o movimento do ar que afeta a espessura da camada de ar que
circunda a superfcie da folha.

A transpirao similar a evaporao, exceto quando o movimento do vapor dgua


da clula da planta controlado a ponto de afetar a resistncia das folhas que no esto
envolvidas na evaporao. Este o processo dominante na relao da gua das plantas porque
assim que fornecido o gradiente de energia que causa o movimento para dentro e por meio
das plantas.

(iv) A floresta e o clima da Amaznia

A floresta tem uma relao intrnseca com o clima. Os processos biolgicos e


ecolgicos que determinam a produo e a produtividade de uma floresta dependem do clima
e dos solos. O clima, por sua vez, influenciado pela floresta da seguinte maneira:
diminuio da temperatura em seu interior e acima dela; diminuio da umidade relativa do
ar e possvel alterao no regime de chuvas em reas com cobertura florestal. Atualmente,
sob as chancelas da Conveno do Clima e Protocolo de Quioto, a interao floresta x clima
passou a ser oportunidades de negcios e motivos de disputas polticas entre pases ricos e
pobres.

As plantas que originalmente se desenvolveram graas s condies primrias do


ecossistema em evoluo, hoje so partes integrantes e fundamentais para o equilbrio
estabelecido, fornecendo por meio da evapotranspirao os 50% do vapor d'gua necessrio
para gerar o atual nvel de precipitao. Outros 50% vm do Oceano Atlntico (Salati e
Ribeiro, 1979).

Para esses autores, embora no se tenham ainda dados que permitam prever com
preciso as conseqncias da substituio ou simples destruio da cobertura florestal da
regio, algumas previses so possveis:

- O desmatamento reduzir o tempo de permanncia da gua na bacia, por diminuir a


permeabilidade do solo e conseqentemente o seu armazenamento em reservatrios
subterrneos. A reduo do perodo de trnsito das guas determinar inundaes mais
intensas durante os perodos chuvosos, enquanto que a diminuio dos reservatrios
subterrneos, reduzir a vazo dos rios nos perodos secos.

- 50% da precipitao da regio proveniente da evapotranspirao da floresta. Por


meio deste processo, a floresta aumenta o tempo de permanncia da gua no sistema,

11
devolvendo para a atmosfera na forma de vapor, a gua presente no solo. Uma outra
cobertura, cuja evapotranspirao no substitua a inicial da regio determinar uma menor
disponibilidade de vapor na atmosfera e, em conseqncia, uma reduo na precipitao,
especialmente nos perodos mais secos.

- Uma reduo da precipitao de 10 a 20% ser suficiente para induzir profundas


modificaes nos atuais ecossistemas.

- A energia solar que incide na regio em mdia 425 cal/cm2/dia e , em grande parte
(50 a 60%), utilizada no trabalho de evaporao das guas, por meio de da transpirao das
plantas. No caso de desmatamento em grande escala, o balano de energia ser alterado.
Dessa maneira, parte da energia que hoje utilizada neste processo, ser utilizada no processo
de aquecimento do solo e do ar, fazendo aumentar a temperatura do ar.

- As regies tropicais absorvem mais radiao solar do que perdem por emisso de
ondas longas. No caso de desmatamento, os padres de evapotranspirao iro se alterar
(provavelmente diminuiro). Tais mudanas acarretaro sensveis modificaes no micro,
meso e clima global por meio da alterao do balano de energia de circulao (transporte do
calor dos trpicos para os plos - clulas de Hadley).

- A presso parcial do CO2 na atmosfera determinada pela interao deste gs com o


oceano que libera e absorve CO2 numa velocidade muito grande. Em apenas algumas dezenas
de anos, todo o CO2 da atmosfera renovado por meio deste dinmico processo de interao
por troca molecular com o oceano. No entanto, a partir do incio deste sculo, o equilbrio
deste processo foi rompido pela atividade humana. As causas deste aumento so
principalmente a queima de combustveis fsseis, o aumento populacional e a destruio das
florestas. A floresta amaznica representa aproximadamente 20% do reservatrio de carbono
da biomassa do planeta.

De acordo com Victria et al. (1991), do total de gases causadores do efeito estufa
emitidos para a atmosfera, o CO2 contribui com cerca de 50% que, por sua vez, o gs que
tem as fontes de origem mais bem definidas e estudadas. Do total de CO2 emitido, cerca de
80% vem da queima de combustveis fsseis e 20% da queima de florestas, principalmente de
pases tropicais em desenvolvimento.

(v) Fatores do solo

O solo tem um papel de fundamental importncia nos ciclos da natureza, participando,


direta e indiretamente da maioria das atividades que ocorrem no planeta. A qualidade do solo

12
pode ser amplamente definida como a capacidade do solo de aceitar, estocar e reciclar gua,
nutrientes e energia.

O solo alm de sustentar fisicamente as plantas, intermedirio no fornecimento de


gua, oxignio e nutrientes s plantas, atravs das razes. Seus componentes so: gros
minerais, matria orgnica, gua e ar. A primeira fase da formao do solo a intemperizao
da rocha matriz e, a segunda, a intemperizao bioqumica. A formao do solo depende do
clima, organismos, topografia, rocha matriz e tempo, conforme o desenvolvimento do perfil
do solo, que se fecha com o desenvolvimento dos horizontes do solo.

Em regies temperadas, 4 horizontes so tpicos em perfil de solo bem drenado:


orgnico (O), lixiviado (A), enriquecido (B) e o horizonte no afetado (C).

Os solos de regies tropicais so normalmente altamente intemperizados e laterizados,


ou seja, os horizontes no so ntidos ou paraticamente no existem. Os solos da Amaznia,
por exemplo, so antigos, intemperizados e pobres em nutrientes, possuindo uma baixa
capacidade de troca catinica.

A biota do solo composta pela macrobiota (participam da estruturao do solo


facilitando a infiltrao de gua e a aerao do solo; composta em sua maioria por aneldeos
e cupins); a mesobiota (fragmentadores de matria orgnica, facilitam a decomposio;
composta por protozorios, nematides, formigas e colmbolas) microbiota (da qual fazem
parte fungos e bactrias, so responsveis pela decomposio de matria orgnica,
transformando-a quimicamente). A biota do solo pode refletir o equilbrio biolgico resultante
da ao de todas as propriedades fsicas e qumicas do solo e do ambiente.

A principal rota de ciclagem de nutrientes da floresta amaznica se d pela


decomposio da serapilheira, cuja velocidade depende principalmente da poca do ano. Na
estao seca a decomposio mais lenta, e ocorre acmulo da matria orgnica, enquanto
que na estao chuvosa a decomposio mais rpida. Outros fatores que podem influenciar
na velocidade da decomposio so: a natureza da matria orgnica, pH do solo, natureza da
frao mineral, umidade e acessibilidade dos decompositores.

2.3. Interaes

As interaes das espcies podem ser negativas ou positivas; a distribuio espacial da


planta pode dar uma boa pista para certificar-se da interao v. quadro 1.

13
Quadro 1 tipos de interaes, interao e exemplos.
TIPOS DEFINIO EXEMPLOS
COMPETIO INTER- Ambas as espcies so prejudicadas. Para GAFANHOTO/GADO (-) (-)
ESPECFICA diminuir a competio as espcies ocupam Vivem em um campo alimentando-se de capim, competem por esse recurso.
nichos ecolgicos diferentes.
COMPETIO INTRA- Competio entre indivduos da mesma PLANTAS ENDMICAS (-)(-)
ESPECFICA espcie. Competem entre si, mas so restritas aos habitats severos porque elas so
competidoras fracas em stios menos severos.
AMENSALISMO uma interao que prejudica um organismo FUNGOS/BACTRIAS (0)(-)
enquanto o outro permanece estvel. O fungo libera substncias antibiticas que matam bactrias, assim o fungo evita
que as bactrias venham a competir com ele por alimento.
COMENSALISMO (alimento) Apenas os indivduos de uma das espcies so HIENAS/LEES (+)(+)
beneficiados, e os de outra espcie no tm, As hienas acompanham, distncia, os bandos de lees, servindo-se dos restos da
aparentemente, nenhum prejuzo ou benefcio. caa abandonados por eles.
INQUILINISMO (local) EPFITAS/RVORES (+)(+)
As epfitas vivem habitualmente instaladas como inquilinas sobre rvores de
grande porte que no sofrem qualquer prejuzo, e as epfitas conseguem, dessa
maneira luminosidade. So verdes e fotossintetizantes.
PROTOCOOPERAO Benefcios para ambas as espcies ainda que AVE/CAVALO (+) (+)
no seja obrigatria, ou seja, o crescimento A ave come os carrapatos do cavalo.
continua ... mesmo na ausncia da interao
MUTUALISMO uma interao obrigatria, ou seja, a ausncia MICORRIZAS/PLANTAS (+)(+)
da interao prejudica os dois parceiros. Fixao simbitica do nitrognio (bactria do gnero Rhyzobium) em plantas
leguminosas.

HERBIVORISMO o consumo de parte ou do total de uma planta GIRAFA/PLANTAS (+) (-)


por um consumidor. As girafas se alimentam das plantas, existindo, ento, prejuzo para as plantas, que
so devoradas parcial ou totalmente por eles.

14
Captulo 3 - Comunidades florestais (conceitos)
Comunidade um termo geral usado para designar as unidades sociolgicas de certo
grau de extenso e de complexidade. Formao a maior e o mais compreensivo tipo de
comunidade de plantas, como boreal, temperada, tropical etc. Cada formao composta de
vrias outras comunidades distintas denominadas de associaes (ex.: beech-maple, oak-
hickory, pinheiro-imbuia etc.).

O termo tipo florestal se refere a uma comunidade florestal definida somente pela
composio do dossel. Como a comunidade ou associao pode ou no ser definida pela soma
total do ecossistema, a sua designao normalmente leva em conta as caractersticas das
plantas inferiores tambm ou, alternativamente, as caractersticas do stio.

As comunidades no so compostas de arranjos de espcies sucessivos e mutuamente


exclusivos. Espcies individuais tm diferentes tolerncias fisiolgicas e genticas e podem
existir em vrias comunidades diferentes.

A natureza de uma dada comunidade florestal governada pela interao de 3 grupos


de fatores:

(a) o stio ou habitat disponvel para o crescimento da planta;

(b) as plantas e os animais disponveis para colonizar e ocupar o stio;

(c) as mudanas no stio e na biota durante um certo perodo de tempo, capaz de


influenciar as estaes do ano, os climas, os solos, a vegetao e os animais => em outras
palavras, a histria do habitat.

As descries de comunidades baseadas na fisionomia, forma de vida, superposio de


nicho e outros traos funcionais so teis porque permitem comparaes de povoamentos bem
separados que tem pouco ou nenhuma similaridade florstica. Os tipos de chaparral da
Califrnia e do Chile, por ex., tm poucas similaridades florsticas, mesmo em nvel de
famlia, mas exibem similares nmeros de espcies, formas de crescimento, tamanho e
fenologia das folhas e a % de cobertura do dossel pelas espcies suculentas e espinhentas.

(i) Associao:

Associao um tipo, particular, de comunidade, que tem: (a) uma composio


florstica relativamente consistente, (b) uma fisionomia uniforme e (c) uma distribuio que
caracterstica de um habitat particular.

(a) A viso discreta:

15
As espcies numa associao tm os limites similares de distribuio ao longo de eixo
horizontal e a maioria delas se eleva mxima abundncia no mesmo ponto MODA. Os
ectonos (cintures de transio) entre associaes adjacentes so estreitos com uma pequena
superposio do limite das espcies, exceto para poucos taxa onipresentes em vrias
associaes.

(b) A viso do continuum:

Continuum significa que todas as comunidades de tipo de vegetao, por ex., floresta
ou campo, poderiam ser organizadas ou ordenadas numa srie abstrata da qual a composio
de espcies muda gradual-tipicamente ao longo de um ou mais gradientes ambientais.

A vegetao num continuum o produto de um continuum no espao (espcies e


comunidades influenciadas pelos fatores ambientais e biticos) e um continuum em tempo
(sucesso). Entretanto, h objees substantivas abordagem do continuum. Alguns estudos
mostram que nem a dominncia de um txon simples e nem a presena e abundncia de
grupos de espcies mudam abruptamente ao longo do gradiente ambiental.

(ii) Mtodos de amostragem de comunidades de plantas:

(a) Mtodo releve

Cada povoamento representado por um grande quadrado cujo tamanho tem que
encontrar a exigncia da rea mnima. Os dados coletados incluem: cobertura, sociabilidade,
vitalidade e periodicidade (importncia estacional). A tabela resumo revela os traos
sintetizados (presena e constncia). Se a espcie X ocorre em 8 dos 10 quadrados, esta
espcie tem 80% de presena. Constncia, em contraste, baseada nas espcies encontradas
em transectos. A espcie X estando presente em 8 quadrados, mas em somente 6 dos 10
transectos, a constncia ser de 60%.

(b) Mtodos dos quadrados aleatrios

(c) Mtodo da distncia

(iii) Mtodos para descrever a comunidade de plantas:

(a) Tabelas

As associaes so definidas na base dos diferenciais ou nas espcies caractersticas


que tm altos valores confiveis e consistentes. As associaes so apresentadas numa grande
tabela diferenciada que manejada para preservar a maioria dos dados originais das espcies
e dos povoamentos.

16
(b) Ordenao

Os dados amostrados so reduzidos em 1 ou 2 grficos que mostra os povoamentos


como pontos no espao. Algumas limitaes da forma mais simples de ordenao so
parcialmente corrigidas, mas a um custo mais elevado e, s vezes, o resultado difcil de ser
interpretado ecologicamente.

(c) Gradiente direto

A importncia das espcies uma funo de cada posio do povoamento no


gradiente. Geralmente, curvas no-sincronizadas para todas espcies so produzidas. Sendo
assim, o grfico no serve para a classificao.

(d) Anlise de agrupamentos

o uso dos pares de coeficientes dos povoamentos para construir o dendrograma


(padres de similaridade).

(e) Anlise de associao

Tambm produz um dendrograma dos relacionamentos povoamento a povoamento,


mas a sua construo baseada nas espcies diferenciais em vez dos valores dos coeficientes
da comunidade.

17
Captulo 4 - Dinmica florestal (introduo)
A populao de plantas tem atributos que permite us-los como ferramentas para
avaliar o meio ambiente. Esses fatores incluem o arranjo dos indivduos no espao dentro de
uma dada comunidade, o arranjo dos indivduos no tempo, que a estrutura de idade e a taxa
de crescimento de uma populao e o padro de alocao de recursos dos indivduos que
caracteriza o modo de sobrevivncia de uma populao em um ambiente particular.

Depois do corte raso, o espao antes ocupado pela floresta, passa pelas seguintes fases:
reorganizao, acumulao, transio e steady-state (estabilizao).

(i) O arranjo dos indivduos no espao

a) Densidade

o nmero de indivduos por unidade de rea.

Da = ni/A

b) Padro de distribuio

O padro de distribuio espacial de uma espcie refere-se distribuio no espao


dos indivduos pertencentes dita espcie. Os indivduos de uma espcie podem apresentar-
se: aleatoriamente distribudos, regularmente distribudos e em grupos ou agregados.

A distribuio do Poisson usada para verificar se a distribuio aleatria ou no. Se


o teste qui-quadrado for no significante, o padro aleatrio; caso contrrio, pode ser
agregado ou regular (ou uniforme). Se a populao for agregada, vrios quadrados poderiam
ter zero ou mais do que uma planta e poucas poderia ter uma planta. Por deduo, se a
populao no aleatria e nem agregada, ela regular. O tipo de distribuio pode refletir o
tipo de reproduo, irregularidade no micro-clima, os graus de competitividade e o estgio da
sucesso.

Uma vez que as comunidades vegetais so constitudas por um conjunto de variveis


com maior ou menor grau de inter-relao e com densidade absoluta (abundncia) varivel,
desde comuns at raras, e dado que a maioria dos estudos fitossociolgicos, se baseia em
anlises florsticas provenientes de amostras de comunidades que se estudam, importante
conhecer algumas das caractersticas da vegetao vinculadas ao padro espacial das espcies
e distribuio de freqncias.

(ii) Arranjo dos indivduos no tempo: demografia

18
Demografia a cincia ou estudo das estatsticas vitais: nascimentos, mortes, taxas
reprodutivas e idades dos indivduos na populao.

Diferentemente dos animais, que cessa o crescimento quando maduro (adulto), as


plantas perenes possuem os meristemas primrio e secundrio, que, teoricamente, permitem o
crescimento contnuo em comprimento e largura para sempre. Alm disso, muitas plantas tm
a habilidade de reproduzir-se assexuadamente.

a) Ciclos de vida

- Plantas anuais

- Plantas bianuais

- Herbceas perenes

- Arbreas perenes

- Arbustos

b) Distribuies de idade

1) sementes viveis

2) mudas

3) juvenis

4) imatura, vegetativa

5) madura, vegetativa

6) reprodutiva inicial

7) mximo vigor (reprodutiva e vegetativa)

8) senescente

- se uma populao apresentar apenas os primeiros 4 ou 5 estados, bvio que ela


invasora e parte de uma comunidade seral (em evoluo).

- se uma populao apresentar todos os 8 estados, ela estvel e muito provvel que
seja parte de uma comunidade clmax (comunidade que ganha ocupao permanente do
habitat e se perpetua por si s nesse local indefinidamente).

- se ela apresentar apenas os 4 ltimos estados, ela pode no manter sozinha e pode ser
parte de uma comunidade seral.

c) Tabelas de vida

19
- Tipo I: populaes tm baixa mortalidade quando jovem

- Tipo II: mortalidade constante em todas idades

- Tipo III: alta mortalidade quando jovem.

(iii) Comportamento dos indivduos: alocao de recursos

A espcie de planta tem um padro de alocao de recursos que minimiza as suas


chances de extino. Tais padres tm sido mantidos e melhorados durante o processo de
seleo natural. O padro de alocao determina, em parte, o nicho de uma espcie seu
endereo funcional numa comunidade.

Os organismos tm uma quantidade limitada de tempo e energia para completar o


ciclo de vida. O tempo, por si s, no alocado, mas importante no ganho de energia
fotossinttica e na utilizao de energia para a sua manuteno. Uma frao da energia total
disponvel distribuda para cada atividade no ciclo de vida: a quantidade de tempo gasto no
estado de dormncia, na fase juvenil, no estgio vegetativo ou na fase madura etc.

O organismo parece ficar sobre um continuum entre dois extremos de alocao de


recursos: r e k.

Seleo r => planta de vida curta que amadurece rapidamente, ocupa um habitat
aberto numa comunidade seral e gasta uma grande frao de seus recursos fotossintticos para
produzir flores, frutos e sementes. O tamanho de suas populaes densidade-independente,
isto , elas so reguladas por fatores fsicos como fogo, inundao, congelamento, seca etc.

Seleo k => planta de vida longa que tem um prolongado estgio vegetativo, ocupa
uma comunidade fechada, seral tardia ou clmax e gasta uma pequena frao de seus recursos
para reproduo. O tamanho de suas populaes densidade-dependente, isto , elas so
reguladas por interaes biticas como a competio.

20
Caractersticas morfofisiolgicas das estratgias evolutivas r e k (OBRIEN & OBRIEN, 1985)
Seleo r Seleo k
Oportunistas Equilbrio
Habitat Florestas sujeitas a mudanas bruscas, instveis, Florestas estveis e previsveis, com teia
de teia alimentar simples alimentar complexa
Estgio de sucesso Incio Final
Mortalidade Densidade, independente, no direcionada ou Densidade, dependente, mais direcionada
catastrfica
Tamanho da populao No mostra equilbrio, usualmente abaixo da Em equilbrio, constante ao longo do tempo,
capacidade de suporte do ambiente, prximo da capacidade de suporte do
comunidades insaturadas, recolonizao ambiente, sem necessidade de recolonizao
peridica
Competio Varivel, usualmente frouxa Usualmente forte
O que a seleo favorece - Crescimento rpido - Crescimento lento
- Alto ndice de aumento populacional - Baixo ndice de aumento populacional
- Reproduo cedo - Reproduo tardia
- Porte menor - Porte maior
- Reproduo sem padro determinado - Reproduo cclica, repetida
- Disporas pequenas em grande quantidade - Disporas grandes em pequena quantidade
Disperso Longa distncia Local
Longevidade Curta, poucos anos Longa, mais de 20 anos
Leva Produtividade Eficincia

21
Captulo 5 - Dinmica florestal (sucesso)
Aos olhos dos seres humanos, a floresta amaznica parece ser esttica, sem nenhuma
mudana perceptvel, resultando em uma paisagem montona. Entretanto, incrveis mudanas so
processadas, a todo instante, dentro de um ecossistema florestal.

Seguindo a morte natural de uma rvore e sua queda, muitas outras so envolvidas e, ao
final, aparece uma clareira. Na seqncia, h um aumento em quantidade e mudana de qualidade
de luz, aumento na temperatura do solo, diminuio na umidade relativa e umidade da superfcie
do solo, mudanas nas propriedades do solo incluindo o aumento no processo de decomposio e
disponibilidade de nutrientes, o solo mineral exposto, mudas estabelecidas morrem, plntulas
comeam a surgir, varas e arvoretas so injuriadas, outras respondem positivamente s mudanas,
as rvores crescem, a floresta reconstruda naquela clareira, o dossel se fecha, a clareira
desaparece etc. (Shuggart, 1984).

Tudo muda numa clareira. A primeira resposta s mudanas o aparecimento de mudas.


Algumas so provenientes do banco de sementes, que ficam adormecidas at que as condies
microclimticas sejam favorveis germinao. Outras so trazidas pelo vento e encontram as
condies favorveis e germinam. E tem tambm a rebrota a partir de razes ou de troncos
danificados. Atrs das folhas novas e brotos surgem os animais herbvoros e atrs desses, os
carnvoros .... e, o resto como no final do filme O Rei Leo.

Para muitos eclogos, a sucesso envolve a mudana no sistema natural e o entendimento


das causas e das direes de tal mudana. A sucesso da planta uma mudana cumulativa
direcional (em direo ao clmax) na espcie que ocupa uma dada rea, com o tempo (Barbour
et al., 1980).

Se mudanas significativas na composio de espcies para uma dada rea no ocorrer


dentro de um certo perodo, a comunidade considerada MADURA ou CLIMAX. Comunidades
clmax no so estticas. As mudanas ocorrem, mas elas no so cumulativas nos seus efeitos.

Se uma comunidade exibe alguma mudana direcional, cumulativa e no aleatria em um


perodo de 1 a 500 anos, ela considerada SUCESSIONAL ou SERAL. As comunidades serais
ou espcies sero substitudas at que a comunidade CLIMAX alcanada. A progresso inteira
dos estgios serais, da primeira espcie que ocupa o cho desnudo (comunidade pioneira) at a
clmax, chamada de SUCESSO.

22
Os estdios sucessionais podem ser iniciais mdios e avanados, nos quais pode-se
observar diferentes fisionomias, distribuio diamtrica, ausncia ou presena de sub-bosque,
espessura da serrapilheira e diversidade biolgica.

(i) Tipos de sucesso:

a) Primria versus secundria

Primria => estabelecimento de plantas sobre reas previamente no vegetadas.

Secundria => a invaso da terra que foi previamente vegetada; a vegetao pr-
existente tendo sido destruda por perturbaes naturais ou humanas.

b) Autgena versus algena

Autgena (bitica) => quando a mudana do ambiente e da comunidade causada pelas


atividades dos organismos da prpria comunidade.

Algena => causada pelas mudanas ambientais que vo alm do controle dos organismos
nativos.

c) Progressiva versus regressiva

Progressiva => quando a sucesso leva s comunidades a uma maior complexidade e


maior acmulo de biomassa; os habitats com mais e mais umidade (mesfilo).

Regressiva => leva direo oposta, em direo a algo mais simples, a uma comunidade
mais empobrecida (com poucas espcies) e em direo a um habitat mais hidrfilo (mido) ou a
um mais xerfilo (seco)

d) Cclica versus direcional

Direcional caracterizada por uma acumulao de mudanas que levam s mudanas de


comunidades amplas.

Mesmo em comunidade clmax, entretanto, as mudanas sucessionais cclicas ocorrem em


uma escala muito local. Essas mudanas ocorrem porque o ciclo de vida das plantas de dossel
finito e o desaparecimento delas do dossel podem abrir o stio para invaso de novas espcies.

Em algumas comunidades clmax, as formas juvenis das plantas de dossel so bem


adaptadas vida sob a rvore matriz e, quando esta morrer, ela a substituir no dossel; em tal
situao, no h sucesso local (ou cclica). Quando o dossel pode inibir o crescimento de juvenis

23
sob o mesmo de sua prpria espcie ou de outras vai ocorrer a sucesso local quando a matriz
morrer.

e) Cronosseqncia versus toposseqncia

Cronosseqncia => quando o mosaico reflete uma perturbao local e peridica ou


quando reflete a exposio progressiva da nova terra, como a retrao glacial representa
diferentes estgios de recuperao (estgios serais) do fogo, ventanias ou outro tipo de
perturbao.

Toposseqncia => quando o mosaico reflete as diferenas topogrficas, como as encostas


frente-sul versus frente-norte, bacias com drenagens pobres e solos de textura fina versus
encostas altas com boa drenagem e solos de textura grossa etc.

(ii) Mtodos para documentar a sucesso

A sucesso pode ser documentada usando medidas repetidas numa parcela simples ou
pela referncia do histrico da parcela (stio). Um mtodo indireto amostragem da vegetao
em vrias parcelas separadas de diferentes idades. Tambm, a composio de espcies de mudas
e arvoretas pode ser comparada com o estrato do dossel.

(iii) Tendncias gerais durante a sucesso

a) Vegetao e qualidade do stio

- A biomassa aumenta durante a sucesso

- A fisionomia aumenta em complexidade porque a variao das formas de crescimento


aumenta conforme a sucesso vai avanando.

- A maior armazenagem de nutrientes do stio se move do solo para a biomassa da planta.

- O papel dos desintegradores no ciclo de nutrientes potencializado durante a sucesso


porque os nutrientes do solo so empobrecidos e vo ser armazenados por longo perodo de
tempo na biomassa da planta.

- A velocidade do ciclo de nutrientes do solo planta e vice-versa diminui durante a


sucesso porque vrios nutrientes so armazenados em partes, ainda que inertes, das plantas de
longa vida.

- A produo primria diminui com a sucesso

- O ambiente se torna mais mesfilo (mido) durante a sucesso.


24
b) Estabilidade e diversidade

Estabilidade = falta de mudanas => aumenta com a sucesso.

Estabilidade = resistncia s menores mudanas no micro-ambiente => aumenta

Estabilidade = a habilidade para retornar rapidamente ao ponto de equilbrio (homeostase)


seguindo a perturbao recorrente => as comunidades pr-clmax so mais estveis; as clmax
so menos estveis e podem levar sculos para retornar.

A diversidade de espcies de plantas aumenta no incio da sucesso, mas decresce em


zonas temperadas na sucesso tardia conforme o dossel se fecha e um pequeno nmero de
espcies domina o dossel.

c) Autoecologia

Em geral, as interaes planta-animal, planta-planta e planta-micrbios ocorrem mais na


sucesso tardia do que na inicial.

(iv) Foras motrizes da sucesso

O revezamento florstico pode ser descrito por um processo de 6 passos:

1) Desnudamento => a exposio de uma nova superfcie na sucesso primria ou de corte


raso na sucesso secundria.

2) Migrao => de sementes, de esporos, propgulos vegetativos de reas adjacentes; na


secundria muito desses materiais j esto presentes no solo.

3) Germinao, crescimento inicial e estabelecimento de plantas.

4) Competio => entre as plantas estabelecidas

5) Reao => os efeitos autgenos das plantas sobre o habitat

6) Estabilizao => clmax

O conceito mais simples de sucesso aquele que a considera como um fenmeno da


populao que envolve a substituio gradual e inevitvel de espcies oportunistas (seleo r)
com espcies de equilbrio (seleo k). Na ausncia de qualquer perturbao, as espcies k
esto sempre em vantagem competitiva, como dominantes, sobre as espcies r. A freqncia de
perturbao espacial e temporal, entretanto, tem sido suficientemente grande para manter as
espcies oportunistas e as clmax.

25
(v) Modelos estatsticos para a sucesso florestal

A maioria dos modelos tem as seguintes variveis:

- Recrutamento => brotao, produo de sementes, disperso de sementes, germinao e


crescimento de mudas at que a planta seja suficientemente grande para ser considerada como
rvore.

- Crescimento => aumento em altura e dimetro da rvore

- Competio geomtrica => interaes espaciais das rvores relacionadas geometria


atual da estrutura da rvore. Em geral, os indivduos maiores so favorecidos na competio
geomtrica.

- Competio por recursos => fatores limitantes de crescimento que podem limitar o
desenvolvimento de todas as rvores numa floresta em um dado stio.

- Mortalidade => a morte da rvore.

(vi) Modelos de clareiras

Este tipo de modelo lida com nascimento ou recrutamento, crescimento e mortalidade.


muito usado para simular a composio de espcies e comportamento com o passar do tempo, em
resposta s condies ambientais alteradas e para fornecer informaes qualitativas das florestas.

Clareira se refere a uma abertura na floresta criada pela morte de uma rvore de dossel. O
ecossistema florestal maduro poderia ser visto como uma mdia das respostas da dinmica de tais
clareiras. A floresta composta de um mosaico de clareiras; portanto, entendendo a dinmica da
clareira, fica mais fcil entender a dinmica da floresta.

As clareiras variam em tamanho (que influencia as condies microclimticas dentro da


clareira) e nas freqncias de ocorrncias temporais e espaciais (que afetam a probabilidade de
um propgulo alcanar uma clareira de um tamanho particular).

a) Regenerao e tamanho da clareira

A queda de uma grande rvore produz uma mudana abrupta no cho da floresta em
relao s seguintes variveis:

- a luz dramaticamente aumentada em quantidade e tambm alterada a qualidade com


mais radiao no vermelho final do espectro eletromagntico e menos no azul final.

26
- aumento na temperatura do solo e diminuio da umidade relativa e da superfcie do
solo.

- mudanas nas propriedades do solo depois da formao da clareira incluindo o aumento


da decomposio e a disponibilidade de nutrientes. O solo mineral exposto.

A mudana repentina nessas e em outras importantes variveis podem matar mudas j


estabelecidas que se adaptaram ao micro-clima e favorecer novas mudas, provavelmente de
outras espcies.

Quando uma pequena rvore cai, a clareira pequena e pode ser preenchida pelo
crescimento de rvores que esto presentes na rea.

Em florestas tropicais, h 3 categorias de clareira:

1) Especialistas de clareiras grandes => a semente germina sob alta temperatura e luz de
grandes clareiras as sementes so altamente intolerantes.

2) Especialistas de clareiras pequenas => as sementes so capazes de germinar sob


sombra, mas exige a presena de uma clareira para crescer at o dossel.

3) Especialistas de sub-bosque => aparentemente no exigem clareiras para germinar e


nem para crescer at os tamanhos reprodutivos.

b) O papel das espcies na determinao dos tamanhos de clareira

O tamanho da rvore que morre e produz a clareira influencia a regenerao (que


influencia a composio do dossel). Portanto, h influncia entre a composio do dossel e o
tamanho da clareira; logo, os traos das espcies fecham este ciclo (loop) causal. Por ex., de uma
espcie de rvore que exige grande clareira para regenerao espera-se um crescimento
diferenciado (grande) at a sua morte.

27
Captulo 6 - Anlise de dimenso e produo primria lquida e
Ciclagem de minerais
Este captulo paraticamente dedicado aos estudos de biomassa (acima do nvel do solo e
abaixo do nvel do solo) e a sua dinmica. Neste caso, o grupo de manejo florestal superou o da
ecologia. H vrios trabalhos publicados e sero discutidos na Parte III (Manejo Florestal) desta
apostila.

6.1. Importncia dos estudos de biomassa

6.2. Como estimar a biomassa

6.3. Modelos alomtricos

6.4. Produo primria lquida (NPP)

a) Estimativa de biomassa

b) Produo abaixo do nvel do solo

6.5. Distribuio da biomassa

6.6. Ciclagem de nutrientes

Grande parte da floresta amaznica desenvolve-se sobre solos muito pobres em nutrientes
e a sua manuteno depende, fundamentalmente de sua capacidade de conservar e reciclar os
principais elementos que necessita por meio de mecanismos capazes de compensar as perdas de
nutrientes (Schubart et al., 1984).

Essas caractersticas podem dar, primeira vista, a impresso de uma contradio com a
sua exuberante cobertura florestal (Walter, 1979). De fato, quase todas as reservas de nutrientes
exigidas pela floresta esto contidas na fitomassa acima do nvel do solo. Cada ano, uma parte
dessa fitomassa cai, rapidamente mineralizada e, os nutrientes liberados, so imediatamente
reabsorvidos pelas razes. As grandes reservas nutricionais contidas na fitomassa das florestas
virgens dependem de seu capital acumulado durante o tempo que a rocha matriz no estava ainda
intemperizada.

A elevada eficincia na reciclagem de nutrientes minerais correlacionada com alta


diversidade biolgica. A reciclagem de nutrientes se contrape lixiviao dos solos, pois
representa um mecanismo de conservao de nutrientes no ecossistema; ao mesmo tempo,

28
promove a produtividade biolgica, mantendo o bom estado nutricional das plantas. O
conhecimento disponvel permite concluir que a manipulao dos recursos florestais da
Amaznia no sentido de uma reduo drstica da sua diversidade biolgica poder ter
conseqncias indesejveis, tanto ecolgicas quanto econmicas (Schubart et al., 1984).

Diante dessas condies, Jordan (1991) questiona: como as florestas tropicais midas
sobrevivem num ambiente que tem um grande potencial para perdas de nutrientes? Parece que
um nmero de mecanismos se desenvolveu nas espcies tropicais que as capacitam a minimizar
as perdas. Alguns dos mais importantes mecanismos de conservao de nutrientes de espcies
tropicais so as rvores e o ecossistema subterrneo.

Das rvores, os mecanismos so: (i) grande biomassa das razes; (ii) concentrao de
razes perto da superfcie; (iii) razes areas; (iv) o relacionamento simbitico entre as razes de
plantas superiores e os fungos micorrzicos; (v) tolerncia aos solos cidos; (vi) a cintica da
tomada de nutrientes - como a disponibilidade de nutrientes no solo baixa, as espcies com
baixa exigncia sobrevivero e crescero, ao contrrio de espcies com alta exigncia como
culturas anuais e pastagens; (vii) longa vida das espcies tropicais, que permite a tomada de
nutrientes alm de suas necessidades imediatas durante as estaes de abundncia de nutrientes,
para usar mais tarde em perodos de escassez; (viii) morfologia e fisiologia da folha que reduzem
a necessidade de absoro de nutrientes em substituio de folhas que caram ou foram comidas;
(ix) alelopatia; (x) translocao rpida de nutrientes das folhas para os ramos; (xi) eficincia do
uso de nutrientes; (xii) padro reprodutivo que no somente regula o uso de nutrientes como
tambm pode manter populaes de predadores de sementes em nveis relativamente baixos;
(xiii) alta concentrao de slica na superfcie do solo pode ser um importante mecanismo para
assegurar um suprimento de fosfato para as razes superficiais; (xiv) epfitas que tm um
relacionamento mutualstico com as rvores, de tal maneira que as folhas fornecem suporte fsico
para as epfitas que, por sua vez, aumentam a disponibilidade de nutrientes para as folhas; (xv)
"drip tips" que podem reduzir a quantidade de gua sobre a folha e, conseqentemente, a
lixiviao potencial.

Segundo ainda Jordan (1991), o mecanismo anterior de conservao de nutrientes parece


ter evoludo em espcies como um resultado das presses de seleo em ambientes pobres em
nutrientes. Os mecanismos parecem capacitar indivduos para superar, em parte, as limitaes
impostas pela baixa fertilidade do solo e baixo pH. H um outro mecanismo em florestas naturais
que tambm conserva nutrientes. Em contraste com os mecanismos associados com espcies de
29
rvores, este mecanismo pode ou no ter sido desenvolvido como um resultado das presses
seletivas num ambiente de baixa fertilidade. Independente disso, ele serve para reduzir as perdas
de nutrientes do ecossistema inteiro e parece ser mais importante em solos pobres em nutrientes
do que em solos ricos em nutrientes. Este mecanismo a comunidade de organismos que vivem
sobre a superfcie do solo e dentro do ambiente do solo mineral.

Em florestas no perturbadas, os nutrientes liberados pelas plantas e animais mortos


normalmente no movem diretamente as micorrizas e razes das rvores, mas, em vez disso,
passam por uma srie inteira de ciclos de pequena escala ou "espirais" dentro da poro de
matria orgnica do solo, similares aos espirais de nutrientes em igaraps. Os ciclos s vezes
comeam com os artrpodes. As partculas passam pelos seus sistemas digestivos, os compostos
orgnicos so trocados, freqentemente por simbiose, por compostos mais simples que so mais
facilmente utilizados por outros organismos do solo. A decomposio pode tambm comear com
a invaso do tecido por bactrias e fungos. Se as concentraes de nutrientes nos tecidos so
baixas, os fungos podem ser os primeiros invasores. Como as exoenzimas excretadas das hifas
dos fungos quebram os compostos orgnicos complexos, a colonizao de bacteriana pode ser
favorecida.

Os nutrientes no solo so relativamente susceptveis a perdas quando eles esto na soluo


do solo, ou quando so adsorvidos sobre superfcies de argila mineral. Em contraste, os nutrientes
incorporados nos tecidos de organismos da comunidade subterrnea podem no ser facilmente
perdidos pela lixiviao, volatilizao ou reao com ferro e alumnio, no caso do fsforo.

30
Bibliografia:
Barbour, M.G., Burk, J.H. e Pitts, W.D. 1980. Terrestrial plant ecology. The Benjamin/ Cummings
Publishing Co. 604p.
Hall, F., Oldeman, R.A.A. e Tomlinson, P.B. 1978. Tropical Trees and Forests: An Architectural
Analysis. Springer-Verlag Berlin Heidelberg New York. 441 p.
Jordan, C.F. 1991. Nutrient Cycling Processes and Tropical Forest Management. In: Rain Forest
Regeneration and Management, A. Gmez-Pompa, T.C. Whitmore e M. Hadley (eds.).
UNESCO. The Parthenon Publishing Group Limited. pp.159-180.
Lacher, W. 2000. Ecofisiologia Vegetal. So Carlos. Rima. 532p.
OBRIEN, M.J.P, OBRIEN. 1985. Aspectos Evolutivos da Fenologia Reprodutiva
das rvores Tropicais. pp. 6-23.
Oldeman, R.A.A. e van Dijk, J.. 1991. Diagnosis of the Temperament of Tropical Rain Forest
Trees.In: Rain Forest Regeneration and Management, A. Gmez-Pompa, T.C. Whitmore e M.
Hadley (eds.). UNESCO. The Parthenon Publishing Group Limited. pp.21-66.
Pinto-Coelho, R.M. 2000. Fundamentos em ecologia. Editora Artes Mdicas Sul Ltda. 252 p.
Salati, E., Ribeiro, M.N.G, Absy, M.L e Nelson, B.W. 1991. Clima da Amaznia: Presente, Passado
e Futuro. In: Bases Cientficas para Estratgias de Preservao e Desenvolvimento da
Amaznia - Fatos e Perspectivas, A.L. Val, R. Figliuolo e E. Feldberg (eds.). pp.21-34.
Schubart, H.O.R., Franken, W. e Luizo, F.J. 1984. Uma Floresta sobre Solos Pobres. Cincia Hoje
2(10):26-32.
Shuggart, H.H. 1984. A Theory of Forest Dynamics: The Ecological for Succession Model.
Springer-Verlag Inc. New York. 278p.
Victria, R.L., Brown, I.F., Martinelli, L.A e Salati, E.. 1991. In: Bases Cientficas para Estratgias
de Preservao e Desenvolvimento da Amaznia - Fatos e Perspectivas, A.L. Val, R. Figliuolo
e E. Feldberg (eds.). pp.9-20.
Walter, H. 1979. Vegetation of the Earth and Ecological Systems of the Geo-Biosphere.
Springer-Verlag. New York. 274 p.

31
Captulo 7 - Desenvolvimento e crescimento de plantas
Normalmente as plantas da floresta para chegar ao estgio de corte devem um dia ter
comeado como sementes viveis, germinado passando pelo estgio de planta juvenil, depois de
algum tempo alcanado a maturidade e finalmente chegando a senescncia. E como se d este
processo crescer, desenvolver e morrer?

GERMINAO

Existem dois tipos de sementes uma com reservas de acares e outra com reservas de
gorduras, que so chamadas recalcitrantes e ortodoxas, respectivamente. As primeiras podem, sob
condies de baixa umidade no tecido, suprir energia para o embrio por um grande perodo,
enquanto a ltima devido a sua composio, perde pouca umidade e sua principal fonte de
energia utilizada rapidamente pelo o embrio.

Considerando as condies climticas da floresta amaznica que apresentam temperaturas


elevadas, altas umidades relativas do ar e altos ndices de precipitao, seria pouco sensato do
ponto de vista evolutivo se a floresta investisse em um banco de sementes que precisam estar
secas para dispersar propgulos. Assim, geralmente a floresta investe em sementes grandes ricas
em reservas de gordura com algum tipo de dormncia (geralmente mecnica) e ao invs de um
banco de semente na floresta mais comum um banco de plntulas.

Para chegar plntula a semente precisa germinar. A germinao comea com o


intumescimento da semente que embebida de gua aumenta a respirao dos tecidos
cotiledonares e fornece energia e esqueletos de carbono para o desenvolvimento do embrio, que
promove o desenvolvimento de caulculo e radcula. E at que a reserva da semente se esgote, o
caulculo e a radcula crescero a ponto de mudas quando podero comear a obter energia do
meio ambiente.

BANCO DE PLNTULAS

Alcanando o estgio de plntulas os indivduos na floresta comeam a fazer a


fotossntese para fornecer acares que sero respirados para os processos de manuteno dos
tecidos, principais vias metablicas e o que sobra pode ser direcionado para o CRESCIMENTO
da muda. Pensando em uma plntula da floresta podemos verificar que h um sombreamento
natural devido s copas das rvores adultas e isso diminui as taxas fotossintticas e, dependendo

32
da situao, muitas vezes a fotossntese insuficiente at mesmo para gerar energia para a
manuteno.

Algumas plntulas privilegiadas tm a possibilidade de ter um balano de taxas de


assimilao e liberao do CO2 nulo ou pouco maior que zero; para o primeiro caso, as plantas
permanecem neste estado at que alguma condio ambiental favorea o seu crescimento,
enquanto as segundas crescem lentamente e, na medida em que se desenvolvem, alcanam
melhores condies para suprimento de energia para manuteno de tecidos, processos e
crescimento. Os dois processos levam a um indivduo que ir compor o dossel florestal, cada qual
no seu nicho ecolgico.

PLANTAS QUE ALCANAM O DOSSEL

Quando damos uma volta na floresta podemos observar os diferentes nveis de


desenvolvimento das plantas. Olhando com cuidado encontramos sementes dispersas no solo,
sem muita ateno possvel matar algumas plntulas, aquelas do banco de plntulas, pois so
muito comuns no solo e so menos plantas que alcanam o nvel de dossel, entre estas se pode
notar que nem todas possuem o mesmo dimetro. Estas plantas que alcanam a parte superior do
dossel tambm tm que desenvolver para chegar a senescer.

O desenvolvimento das plantas no dossel passa pelos processos de juvenilidade at


alcanar a maturidade, quando desempenham o principal papel do ser vivo que a reproduo e
finalmente chegam a senescer. Na busca pela manuteno dos seus genes as plantas precisam
disputar recursos e espao. Portanto necessrio DESENVOLVER para completar o seu ciclo.

Os diferentes tamanhos de rvores o resultado do desenvolvimento das plantas no meio,


por exemplo, rvores de grande porte so rodeadas de outras vrias de pequeno porte que esto
tentando desenvolver mais para completar seu ciclo perpetuando seus genes, ou seja, cada uma
querendo seu lugar ao sol literalmente falando.

Isto relata o qu e como ocorre o processo de desenvolvimento, mas explica muito pouco
sobre a soma de processos que levam uma semente a se tornar um indivduo adulto complexo (e
grande o suficiente para que possa ser manejado). Assim necessrio falar destes processos que
esto envolvidos com o desenvolvimento das plantas.

CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

33
O crescimento todo aumento em volume que seja irreversvel. Quando se fala de
plantas importante lembrar o carter irreversvel, pois muitas das variaes de volume dos
tecidos podem no ser permanente e ocorrem principalmente devido ao estado de turgidez do
tecido vegetal.

H2O

Variao da turgidez celular

Ocorrendo o fenmeno como na figura acima no crescimento, pois conforme as setas


indicam as clulas podem voltar ao volume inicial se houver a perda de gua dos vacolos.

H2O + outras
substancias

Crescimento por alongamento

Diviso
celular

Crescimento por diviso celular

Basicamente o crescimento com o processo de alongamento celular e diviso celular


simples. Os tecidos da planta que so responsveis por este crescimento so os meristemas que
podem ser primrios ou secundrios. O meristema primrio aquele que est nas gemas apicais
de galhos e razes, promovendo o aumento em comprimento destes tecidos, enquanto o
secundrio o que promove o crescimento em dimetro e se localiza abaixo da casca das plantas.

34
Meristema Apical Meristema secundrio
(Circulo pontilhado)

Assim o crescimento nada mais que uma seqncia de divises seguidas de


alongamento celular, causando o aumento de massa e volume dos tecidos em questo.

O DESENVOLVIMENTO o processo de crescimento adicionando os processos de


diferenciao, pois uma planta precisa de diferentes tipos de tecido para manter suas funes.
Assim para o aparecimento de uma nova folha, ou flor e fruto necessrio que o meristema se
diferencie para compor o novo tecido. Para que ocorra o desenvolvimento necessrio o
funcionamento de todo o metabolismo da planta, principalmente fotossntese e respirao, que
so os eixos centrais do metabolismo.

FOTOSSNTESE

As plantas precisam se alimentar para poder crescer e a fotossntese a forma com que
elas fazem isto. Este processo na realidade a soma de aes metablicas que ocorrem ao nvel
de cloroplastos das partes verdes da planta que compreendem reaes luminosas e bioqumicas da
fotossntese, que utilizando H2O, CO2 e luz formam glicose e liberam O2.

A luz absorvida por uma antena de pigmentos compostos por carotenides e clorofilas a
e b, que conduzem a energia para um centro de reao, fotossistema II e I (PS II e PS I). Esta
transferncia de energia do fton conduzido pela antena at o PS II e posteriormente ao PS I
ocorre ao nvel de parede do tilacide. E basicamente um conjunto de reaes de xido-
reduo, que pela hidrlise libera eltrons que segue conforme o esquema em Z aumentando o
valor de reduo das molculas, possibilitando a formao de molculas ricas em energia.

Esse eltron passa pela feofitina que o transfere para as plastoquinonas (Qa e Qb), o
complexo citocromo b6f, plastocianina que reduz o PS I, este caminhamento de eltrons por um
diferencial de energia torna o sistema capaz de reduzir o nicotinamida-di-fosfato (NADP+) a

35
nicotinamida-di-fosfato reduzida (NADPH) e formao de dois grupamentos adenosinas
trifosfatos (ATP) a partir de dois adenosina di-fosfato (ADP).

Estes compostos energticos formados na fase "clara" da fotossntese sero utilizados para
as fases bioqumicas que so: a carboxilao, reduo e regenerao da ribulose 1,5 bis-fosfato
(RUBP). Estas fases ocorrem no estroma dos cloroplastos.

A carboxilao do CO2 mediada pela atividade da ribulose 1,5 bis-fosfato carboxilase-


oxigenase (RUBISCO) e no utiliza energia formada na fase luminosa da fotossntese. A
RUBISCO utiliza 1 RUBP e fixa a este 1 CO2, formando 2 fosfoglicerato que com o gasto de 1
ATP e 1 NADPH so levados a uma molcula de gliceraldeido-3-fosfato liberando um grupo
CH2O que com seis voltas deste ciclo formam glicose (C6H12O6), a reduo do CO2 a carboidrato.
E finalmente utilizando o ltimo ATP criado na fase luminosa da fotossntese h a sntese da
RUBP, a regenerao.

Desta forma, a planta pode formar acares para ser utilizados como energia nos
processos de manuteno de tecidos ou atividades metablicas e para o crescimento e
desenvolvimento da planta.

RESPIRAO

A fotossntese fornece as unidades orgnicas bsicas das quais dependem as plantas (e


quase todos os tipos de vida). Com o seu metabolismo de carbono associado, a respirao libera,
de maneira controlada, a energia armazenada nos compostos de carbono para uso celular.

Grosseiramente a respirao um processo de xido-reduo, que fornece energia na


forma de ATP, nicotinamida dinucleotdeo reduzida (NADH) e flavina adenina di-nucleotdeo
reduzido (FADH) gerando energia de 2880 kJ/mol de glicose. E libera tambm esqueletos de
carbono para formao de compostos do metabolismo secundrio do carbono e demais aes
metablicas da planta.

A respirao celular ocorre em trs etapas: (i) a gliclise, catalisada por enzimas solveis
localizadas no citoplasma, permite a oxidao de uma glicose, produzindo 2 piruvatos, ATP e
gerando NADH; (ii) o ciclo dos cidos tricarboxlicos (Ciclo de Krebs ou ciclo do cido ctrico),
que ocorre na matriz mitocondrial, por meio do qual o piruvato oxidado completamente
liberando CO2 gerando ATP e uma considervel quantidade de NADH e (iii) a cadeia de
transporte de eltrons que ocorre na membrana interna das mitocndrias, atravs da qual so

36
transferidos eltrons do NADH para o O2 gerando-se um gradiente eletroqumico de prtons, que
permite a sntese de ATP via enzima ATP-sintase.

A respirao de manuteno dos tecidos o direcionamento da energia para manter a


integridade das membranas dos tecidos vivos da planta; a respirao de manuteno das aes
metablicas a energia que gasta para manter a pr-sntese de enzimas e metablitos para que
possam ocorrer todos os processos e haver a sntese de novo das enzimas com menor gasto de
energia. Esta respirao tambm chamada de respirao de perda, pois no se pode calcular o
quanto gasto de energia para este fim; e a energia que utilizada para formao de novos
tecidos chamada de respirao de crescimento.

37
PARTE II
O MNIMO DE ESTATSTICA PARA O MANEJO
FLORESTAL
Captulo 8 Conceitos gerais
A estatstica uma ferramenta importante para o manejo florestal, seja pra quem est
interessado em trabalhar em pesquisas ou pra quem tem a responsabilidade de planejar, executar
e acompanhar um projeto. Difcil separar a estatstica pra essas duas frentes. O objetivo desta
Parte da apostila aprofundar em conceitos dos indicadores estatsticos mais freqentemente
utilizados pelos florestais e ajudar na interpretao dos resultados.

Estatstica um ramo do conhecimento cientfico que consta de conjunto de processos


que tm por objeto a observao, a classificao formal e a anlise dos fenmenos coletivos ou de
massa (finalidade descritiva) e, por fim, investigar a possibilidade de fazer inferncias indutivas
vlidas a partir dos dados observados e buscar mtodos capazes de permitir esta inferncia
(finalidade indutiva).

Em inventrio florestal, produto sem estatstica no produto. Em inventrios, o principal


produto o intervalo de confiana para a mdia estimada. Na pesquisa cientfica, a estatstica
pode ser vista como um instrumento de comunicao. O seu uso absolutamente opcional.
Quanto mais voc a usa, mais voc se comunica e, quanto melhor voc a usa, melhor a sua
comunicao no meio cientfico. s vezes, o seu uso desnecessrio, mas isso raro. Assim
como a revoluo industrial mexeu com as comunicaes, mexeu tambm com a estatstica, na
mesma proporo. Como dizia grande Chacrinha quem no se comunica, se trumbica.

J foi o tempo que a estatstica consistia meramente de coleta de dados e apresentaes


em grficos e tabelas. Hoje ela parte da cincia que se baseia em dados observados,
processamento e anlise, os quais so fundamentais em tomadas de decises, face s incertezas
inerentes ao universo que trabalhamos. Isso vlido para um leque enorme de atuao, desde
incertezas no cara-e-coroa ou quando o professor compara a habilidade de diferentes estudantes,

38
quando o controle de qualidade aceita ou rejeita um produto manufaturado, quando um jornal ou
revista faz previso de uma eleio, quando um pesquisador projeta a dinmica de uma floresta
etc.

evidente que a estatstica no , por si s, capaz de resolver todos os problemas que


envolvem incertezas, mas novas tcnicas so constantemente desenvolvidas e a estatstica
moderna pode, pelo menos, te ajudar a olhar essas incertezas de uma maneira mais lgica e
sistemtica. Em outras palavras, a estatstica fornece os modelos que so necessrios para estudar
as situaes que envolvem incertezas, mas a palavra final sua.

O exerccio, a anlise e a interpretao do pensamento cientfico normalmente so feitos


por meio da linguagem operacional dos conceitos e hipteses cientficas. Isso implica na
formulao de hipteses estatsticas e estabelecimento dos procedimentos de observaes diretas
ou de medies.

Linguagem terica: quanto mais grossa a rvore, mais madeira ser oferecida
indstria de transformao. Neste caso, dois conceitos so envolvidos: espessura e madeira.
Com definir esses dois conceitos? Espessura pode ser o dimetro de uma rvore. Madeira pode
ser a quantidade de material lenhoso disponvel para a indstria.

E da? Que fazemos agora? Temos que operacionalizar as observaes e medies de


espessura e madeira. Espessura pode ser traduzida operacionalmente, por exemplo, em
centmetros de dimetro altura do peito (DAP), medido a 1,3 m do solo. E a madeira, por sua
vez, pode ser traduzida como volume cbico da rvore.

Agora, a hiptese cientfica pode ser enunciada, em termos de hiptese estatstica, da


seguinte maneira: Quanto maior o DAP, maior ser o volume da rvore. Dessa forma, o pica-
pau fica mais vontade.

Depois de formulada a hiptese, o passo seguinte consiste em test-la. Para se testar as


hipteses sero precisos: planejar a coleta de dados, coletar os dados, tratar os dados, processar os
dados, analisar os resultados e, finalmente, tomar decises para rejeitar ou no a hiptese
estatstica formulada.

O papel da estatstica na pesquisa cientfica ajudar o pesquisador pica-pau a formular


as hipteses e a fixar as regras de deciso. Entretanto, importante no perder de vista que a
estatstica de inferncia no obrigatria. Quando voc sentir que, empiricamente, capaz de

39
separar o bom do ruim, o bonito do feio, do quente do frio .. voc pode dispensar os testes
estatsticos.

Um pouco de filosofia.

- Aristteles escreveu: A verdade um alvo to grande que dificilmente algum deixar


de toc-lo, mas, ao mesmo tempo, ningum ser capaz de acert-lo em cheio, num s
tiro.

- A meta da cincia a organizao sistemtica do conhecimento sobre o universo,


baseado nos princpios explanatrios que so genuinamente testveis.

- O pesquisador tem os dons da instituio e criatividade para saber que o


problema importante e quais questes devem ser levantadas; a estatstica, por sua vez,
o assistir por meio da maximizao de output no ambguos enquanto minimiza os
inputs.

- O pesquisador tem que ter em mente que a pesquisa freqentemente levanta


mais questes do que respostas. Os resultados quase sempre so meramente uma
demonstrao de nossa ignorncia e uma declarao mais clara do que no sabemos.

- O pesquisador tem que manter os olhos abertos, sua mente flexvel e estar
preparado para surpresas.

- A pesquisa est na cabea do pesquisador; o laboratrio ou o campo meramente


confirma ou rejeita o que a sua mente concebeu. A sabedoria consiste em conhecer mais
as questes certas para fazer e no nas certas respostas.

- A aplicao indiscriminada dos mtodos quantitativos sobre inesgotveis


quantidades de dados no significa que o entendimento cientfico vai emergir s por causa
disso.

8.1. A Natureza da Estatstica:

Basicamente, so dois tipos de estatstica: descritiva e de inferncia.

A cincia da estatstica inclui ambas, descritiva e de inferncia. A estatstica


descritiva apareceu primeiro, nos censos feitos na poca do imprio romano. A de
Inferncia mais recente e baseada na teoria da probabilidade que, por sua vez, no se
estabeleceu antes da metade do sculo XVII.

40
a) Estatstica descritiva => consiste de mtodos para organizar e sumarizar as
informaes.

O propsito da organizao e sumarizao te ajudar na interpretao de um monte de


informaes. Os mtodos descritivos incluem a construo de grficos, figuras e tabelas,
como tambm, o clculo de vrios tipos de mdias e ndices. Exemplo: resultado final de
uma eleio apresentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), censo do IBGE etc.

b) Estatstica de inferncia => consiste de mtodos para inferir sobre uma populao
baseada na informao de uma amostra da populao.

A estatstica de inferncia moderna praticamente surgiu aps as publicaes


cientficas de Karl Pearson e Ronald Fisher, no incio do sculo passado (XX). Depois
disso, houve uma evoluo fantstica dessa cincia, tornando-se aplicvel a vrias reas
de conhecimento, tais como: Eng. Florestal, Agronomia, Biologia, Histria, Fsica,
Qumica, Psicologia etc.

Exemplo 1: Pesquisas de opinio realizadas pelas empresas (DATAFOLHA, IBOPE, VOX


POPULI etc), pouco antes de eleies.

Esta parte da estatstica de inferncia evoluiu muito no Brasil. A prova disso so os


resultados finais do primeiro e do segundo turno da eleio presidencial de 2002 que tem
muito a ver com as previses feitas pelas pesquisas de opinio dos vrios institutos. O
sucesso tem que ser creditado principalmente pela escolha correta do tipo de
amostragem, coleta de dados e processamento & anlise dos resultados A evoluo da
informtica tambm contribuiu muito para o sucesso das pesquisas; o rpido
processamento e, conseqente, anlise dos resultados, permitiu a repetio em intervalos
de tempo menores isso fundamental para a validao dos mtodos utilizados que, por
sua vez, d a robustez necessria para a pesquisa e a sociedade ganha com a maior
preciso e confiabilidade das pesquisas de opinio.

Exemplo 2: Resultados de inventrios florestais.

Exemplo 3: Todos os trabalhos de equaes de volume que utilizam os modelos


destrutivos (na maioria das vezes) para ajustar os dados de volume real observado em
modelos matemticos que sero utilizados, posteriormente, para estimar o volume da
rvore em p.

41
Para concluir a discusso, em torno da natureza da estatstica, importante no perder de
vista que a opo por uma das duas estatsticas pode ser pessoal. Entretanto, se a
escolha recair sobre a de inferncia, o pesquisador deve se sujeitar as suas regras e
condicionantes. A estatstica de inferncia, por sua vez, deve ficar sob as condicionantes
da teoria da probabilidade, da normalidade e da independncia; a violao de uma dessas
condicionantes implica em um comprometimento muito srio de todo o seu trabalho.

8.2. Conceitos Bsicos:

Talvez, os conceitos mais importantes para os florestais so erros amostrais e no


amostrais. Se voc conseguir distinguir esses dois conceitos, voc sempre far um
trabalho confivel e, por conseguinte, a estatstica ser uma ferramenta til na execuo
de seus trabalhos de pesquisa, encurtando caminhos para a produo de cincia e de
resultados de inventrio florestal.

(i) Erro Amostral => o erro que voc comete por no medir toda a populao.
Este parmetro mensurvel e, dependendo da escolha dos mtodos, voc tem
condies de aumentar ou diminuir este erro. De qualquer modo, trata-se de um
parmetro que pode ser controlado e avaliado por voc. o desvio padro da mdia ou,
simplesmente, erro padro e tem frmula para o seu clculo. a nica medida de
preciso, por mais paradoxal que possa parecer, em qualquer trabalho de pesquisa ou de
inventrio florestal.

(ii) Erro no-amostral => o erro humano, que pode ser cometido acidental ou
deliberadamente. o tipo de erro que voc comete ao alocar uma amostra no lugar
errado ex.: no escritrio voc faz a opo pela amostragem inteiramente aleatria e
sorteia as unidades amostrais e distribui em sua rea estudo; no campo, entretanto, voc
no consegue aloc-las de acordo com as coordenadas pr-estabelecidas e aloc-as em
outro lugar. Voc tambm comete erro no-amostral quando utiliza um equipamento
defeituoso ou, por preguia, voc chuta as medidas de uma determinada varivel. O
problema desse erro que voc no consegue dimension-lo e, neste caso, no h
estatstica que d jeito para consertar o mal-feito. A estatstica e o computador s so
teis na interpretao de fenmenos observados quando os dados so de absoluta
confiana e sem erros no-amostrais.
42
Moral: Busque sempre a melhor metodologia para conseguir a maior preciso de
seu trabalho sem, contudo, aumentar a possibilidade de cometer erros no-amostrais.
BOM PESQUISADOR aquele que no entrega sua coleta de dados para qualquer
PEO.

(iii) Populaes, Parmetros e Estimativas

A noo central em qualquer problema de amostragem a existncia de uma populao.


Pense em uma populao como um agregado de valores unitrios, onde a unidade a
coisa sobre a qual a observao feita e o valor a propriedade observada sobre
aquela coisa. Populao ento o conjunto de todos os indivduos ou itens sob
considerao. Ou ainda: populao o universo de seu interesse.

Ilustrando:

- se voc est interessado em estudar o potencial quantitativo da floresta da Reserva


Ducke, a POPULAO o conjunto de todas as rvores acima de um determinado DAP,
existentes naquela rea de 10.000 hectares.

- se para voc potencial quantitativo significa volume cbico obtido de equaes


simples (DAP como varivel independente), o volume mdio (por hectare, por ex.) de
todas as rvores da Reserva Ducke o PARMETRO.

- se voc, no entanto, decidir pela avaliao por amostragem e lanar naquela rea
algumas amostras (ex.: 10 amostras de 1000 m2, aleatoriamente distribudas), o volume
mdio dessas amostras a ESTIMATIVA.

AMOSTRA aquela parte da populao da qual a informao coletada.

(iv) Tendncia (bias), Exatido e Preciso

TENDNCIA ou VIS (bias, em ingls) uma distoro sistemtica. Ela pode ser devido
a alguma falha na medio, ou no mtodo de selecionar a amostra, ou na tcnica de
estimar o parmetro.

Se voc medir o DAP com uma fita diamtrica faltando um pedao na ponta (2 cm),
voc medir todas as rvores com 2 cm a mais, ou seja, voc superestimar esta varivel.
Uma maneira prtica de minimizar as tendncias em medies por meio de checagens
peridicas dos instrumentos, treinamento adequado para o pessoal que usa os
instrumentos e cuidado com eles.
43
Tendncia devido o mtodo de amostragem ocorre quando certas unidades ganham
maior ou menor representao na amostra do que na populao. Ex.: se voc excluir 20
metros de bordadura do lado oeste da Reserva Ducke por causa de um igarap. Neste
caso, voc est introduzindo tendncia em sua avaliao simplesmente porque voc no
deu a mesma oportunidade, para as rvores que ocorrem naquela faixa, em aparecer no
seu trabalho. Outro exemplo: quando a equipe econmica faz uma pesquisa nos
supermercados do centro- sul e extrapola o custo de vida para todo o Brasil; isso uma
medida tendenciosa que no reflete o que se passa em Manaus.

Tendncia na forma de estimar determinado parmetro pode ser introduzida quando voc,
por exemplo, toma o volume mdio da Reserva Ducke e junta com o volume mdio do
Distrito Agropecurio da SUFRAMA (600.000 hectares), para avaliar o potencial
madeireiro da regio de Manaus. Um volume mdio no tendencioso seria uma mdia
ponderada considerando os diferentes tamanhos de cada rea, em vez de usar a mdia
aritmtica simples (tendenciosa, neste caso).

Importante: A tendncia a me do erro no-amostral, por esta razo, evit-la sinal de


prudncia e sensatez.

PRECISO E EXATIDO uma estimativa tendenciosa pode ser PRECISA, mas nunca
EXATA. Ainda que o Aurlio (dicionrio) pense diferente, para os estatsticos, EXATIDO
refere-se ao sucesso em estimar o valor verdadeiro de uma quantidade; PRECISO
refere-se distribuio dos valores amostrais em torno de sua prpria mdia que, se for
tendenciosa, no pode ser o valor verdadeiro. Exatido ou estreiteza ao valor verdadeiro
pode estar ausente por causa da tendncia, falta de preciso ou por causa de ambas.

44
Captulo 9 Organizao dos dados
9.1 Dados:

A informao coletada e analisada pelo estatstico chamada de DADOS. H vrios tipos


de dados e a escolha da metodologia, pelo estatstico , parcialmente, determinada pelo tipo de
dados que ele tem em mos.

Exemplo 1: No exame de seleo para turma 90/91 do Manejo Florestal, tivemos 15


candidatos, 13 homens e 2 mulheres. Do total, apenas 7 fizeram o exame. Foram aprovados 6
candidatos, 5 homens e 1 mulher. Joo da Silva tirou o primeiro lugar com nota 6,7 e Joaquim
Moreira tirou o ltimo lugar com a nota 5,0.

No exemplo acima, ns podemos destacar os seguintes tipos de dados:

QUALITATIVO o tipo mais simples de dados, a informao que coloca cada


candidato em uma das duas categorias homem ou mulher ou tipo florestal I ou tipo II ou
estocada ou no estocada etc. Esses dados do informaes sobre um indivduo ou um item.

ORDINAL A informao sobre classificao, dados que colocam os indivduos ou


objetos em ordem, rankeados. No exemplo, as classificaes de Joo e Joaquim so dados
ordinais.

MTRICO O termo mtrico se refere aos dados mensurveis e no deve ser


confundido com os dados em unidades mtricas. No exemplo, as notas dos candidatos (6,7 e 5,0 e
outras notas) so dados mtricos.

Resumindo:

Dados qualitativos: dados que se referem qualidade no numricas ou atributos, tais


como: tipo florestal, gnero ou espcie florestal, cor de alguma coisa etc.

Dados ordinais: dados sobre classificao, ordem ou rank, tais como: classificao de
toras, ordem de chegada etc.

Dados mtricos: dados obtidos de medies de certas quantidades como: tempo, altura,
DAP, volume, peso etc.

Um outro importante tipo de dados o chamado DADOS CONTVEIS. A contagem do


numero de indivduos ou itens que caem em vrias categorias, tais como homem e mulher

45
fornece os dados contveis. Por exemplo, a informao dada no exemplo anterior que foram
aprovados 5 homens e 1 mulher, so dados contveis.

DADOS CONTVEIS so dados sobre o nmero de indivduos ou itens que caem em


certas categorias ou classes, que podem ser obtidos de quaisquer tipos de dados (qualitativo,
ordinal ou mtrico).

Os dados QUALITATIVO e ORDINAL so referidos pelos estatsticos como dados


DISCRETOS porque eles classificam coisas em classes separadas e discretas. Na classificao
dos candidatos ao mestrado no h como colocar ningum entre o primeiro lugar e o segundo.
Tambm no h como classificar ningum entre homem e mulher. So exemplos tpicos de
dados discretos, porque no h como dizer que algum ficou em primeiro lugar e meio ou o
que fulano homem e meio. No caso de ordem de chegada ou rank h possibilidade de
empate, mas isso outra coisa e ser discutido na estatstica no-paramtrica.

Por outro lado, a maioria dos dados mtricos considerada DADOS CONTNUOS
porque eles envolvem medies sobre uma escala contnua. A escala fica por conta da preciso
do aparelho de medio: na suta ou na fita diamtrica, o mximo que podemos chegar dcimo
de centmetros, ou seja, entre os DAPs 20 e 21 cm ns podemos ter DAPs com 20.1, 20.2, ... ,
20.9; nos cronmetros da Frmula 1, no entanto, o nvel de preciso impensvel para os
nossos relgios de pulso.

9.2 Dados grupados:

A quantidade de dados que pode ser coletada do mundo-real simplesmente fantstica.

Exemplo 1: O censo brasileiro. Voc j imaginou a trabalheira que d para cadastrar


aproximadamente 180 milhes de pessoas, anotando o nome, sexo, idade, ocupao, escolaridade
etc. Apenas para ilustrar, se voc usar qualquer software (Excel ou Word) para listar toda essa
gente, voc gastar mais de 600 quilmetros de papel apenas para imprimir as informaes
bsicas, Manaus-Itacoatiara-Manaus. Com todo esse papel, dificilmente voc teria uma boa
fotografia da populao brasileira. Ento, o que fazem os especialistas do IBGE? Eles nos
proporcionam variadas informaes: quantidades de homens e de mulheres (X1); X1 por classe
idade (X2); X2 por estado e por regio; X1 por nvel de escolaridade; populao ativa etc.

Isso um exemplo tpico da aplicao da estatstica DESCRITIVA, por meio da


organizao e simplificao dos dados.

46
Exemplo 2: Dados sobre DAP das rvores da parcela-testemunha do bloco 2 (apenas as
40 primeiras rvores).

Os pica-paus normalmente pensam no DAP em classes de 10, 20, 30, 40 cm etc. Para
ver quantos DAPs h em cada classe voc faz o seguinte:

Quadro 9.1. Dados de DAPs de 40 rvores.

rv. n DAP rv. n DAP rv. n DAP rv. n DAP


1 25.0 11 33.0 21 32.0 31 37.0
2 27.0 12 38.5 22 63.0 32 41.0
3 45.0 13 31.8 23 34.0 33 40.0
4 36.0 14 52.0 24 30.0 34 32.0
5 39.0 15 37.0 25 29.0 35 58.0
6 36.0 16 27.7 26 32.0 36 28.0
7 33.0 17 35.0 27 27.0 37 58.0
8 47.0 18 33.0 28 28.0 38 58.0
9 34.0 19 47.0 29 27,0 39 43.0
10 53.0 20 33.0 30 40.0 40 30.0

Quadro 9.2. Clculo de freqncia de cada classe de dimetro.

classes de DAP contagem n de rvores (f)


20 < 30 IIIII III 8
30 < 40 IIIII IIIII IIIII IIII 19
40 < 50 IIIII II 7
50 < 60 IIII 4
60 < 70 I 1
70 < 80 I 1
total 40

O nmero de indivduos (rvores) em cada categoria ou de DAP chamada de


FREQUNCIA daquela classe. O quadro 9.2 uma tabela de distribuio de freqncia. No
confundir distribuio de freqncia em estatstica com o termo freqncia da Ecologia Vegetal.

Algumas dicas para estabelecer distribuies de freqncia:

- o nmero de classes no deve ser nem muito pequeno e nem muito grande, ao contrrio,
no meio. Sugere-se um nmero entre 5 e 12 regra do olhmetro. Outra forma atravs da
seguinte frmula:

n classes 1 + 3,33 log N (N = nmero de dados)

47
- cada classe tem que ter a mesma dimenso. Do quadro 9.2, as dimenses so: 20 a 29.9,
30 a 39.9 etc.

- cada pedao de dados tem que pertencer a apenas a uma nica classe.

Essa lista poderia continuar, mas isso seria artificial. O propsito de grupar dados
distribu-los em um nmero razovel de classes de igual tamanho para facilitar a interpretao
dos mesmos. Se possvel, os intervalos que tem uma interpretao natural, devem ser utilizados,
como por exemplo: dados em DAP que so normalmente divididos em mltiplos de 10.

A freqncia pode ser tambm apresentada em porcentagem ou decimal, conhecida como


FREQUNCIA RELATIVA. No quadro 9.3 para obter a freqncia relativa de cada classe,
bastou dividir a freqncia de cada classe por 40 (nmero total de indivduos contados). Se
multiplicarmos essas fraes por 100, teremos a freqncia em %, caso contrrio, em decimais.

Quadro 9.3. - Distribuio de Freqncia relativa.

classes DAP pt mdio freq freq rel


20 < 30 25 8 0,200
30 < 40 35 19 0,475
40 < 50 45 7 0,175
50 < 60 55 4 0,100
60 < 70 65 1 0,025
70 < 80 75 1 0,025

Algumas terminologias:

Classe uma categoria para o grupamento de dados.

Freqncia o nmero de indivduos ou objetos numa classe. A freqncia da classe 30-


39.9 19.

Freqncia relativa a porcentagem, expressa como um decimal, do nmero total de


indivduos de uma determinada classe. A freqncia relativa da classe 50-59.9 0.1 ou 10%.

Freqncia acumulada a soma das freqncias dos valores inferiores ou iguais a


valor dado.

Distribuio de Freqncia a listagem das classes com suas freqncias.

Limite inferior da classe o menor valor que pode ir dentro de uma classe. Na classe 20-
29.9 o limite inferior 20.
48
Limite superior da classe o maior valor que pode ir dentro de uma classe. Na classe
20-29.9 o limite superior 29.9. Se a preciso fosse de duas casas decimais, o limite superior
poderia ser 29.99 e assim por diante.

Intervalo de classe a diferena entre o limite superior e o limite inferior de uma dada
classe. No nosso exemplo, o intervalo 10, ou seja, 30 20 =10.

Ponto mdio da classe a mdia aritmtica entre o limite superior e limite inferior da
classe. Assim, se a classe for: (20+29.99)/2 = 25. Da classe 30-39.9 o ponto mdio 35 e assim
por diante.

9.3 Grficos e figuras:

Uma outra maneira de dar sentido a um conjunto de dados por meio da representao
grfica dos mesmos.

O grfico mais simples dos dados o HISTOGRAMA DE FREQUNCIA. A altura de


cada barra igual a freqncia que ela representa. Tem tambm o HISTOGRAMA DE
FREQUNCIA RELATIVA. H muitas outras formas de representao grfica de seus dados.
Hoje em dia, uma forma muito usada a PIE (torta). De qualquer modo, fique a vontade e use de
sua imaginao para dar a representao mais conveniente dos seus dados.

49
Captulo 10 Medidas descritivas
H muitos critrios, por sinal, bem avanados, para a descrio sucinta dos fenmenos
naturais. Apesar disso, a maioria das caractersticas usadas na estatstica, para descrever as
variveis aleatrias, em populaes particulares, caem em uma das trs categorias: (1) medidas da
tendncia central (alocao de um valor ordinrio); (2) medidas de disperso (distncia relativa
de valores extremos de um valor central); (3) medidas de relacionamento entre as variveis (grau
de similaridade ou dissimilaridade em magnitude).

Em geral, o volume de dados de uma pesquisa muito grande. Os mtodos de grficos e


grupamento de dados so teis no manuseio de um grande conjunto de dados. Uma outra forma
de sumarizar os dados por meio da computao de um nmero, tal como a mdia, a qual
substitui um grande volume de dados por um simples nmero.

10.1 Medidas de tendncia central:

As medidas de alocao mais comumente utilizadas so mdia aritmtica e a mediana.


Menos freqentemente usadas so: moda, percentil, mdia geomtrica e mdia harmnica.

A mdia comum ou mdia aritmtica ou simplesmente mdia, a mais freqentemente


usada de todas as medidas estatsticas.

Mdia simplesmente a soma de todas observaes (DAP, altura, idade) dividida pelo
nmero total de observaes. a medida que tem a menor variabilidade de amostra para amostra,
fcil de ser manuseada matematicamente e tem as propriedades mais desejveis em conexo
com as distribuies de probabilidade.

Mediana o valor de uma varivel aleatria que, em ordem crescente ou decrescente,


est rankeado no meio, entre os valores maiores e menores. Em amostras com nmero par de
observaes, a mediana a mdia aritmtica dos 2 valores que esto rankeados no meio.
Estimativas da mediana de pequenas amostras no so muito confiveis.

Moda o valor mais freqente, ou seja, a categoria ou classe com a maior freqncia.
uma medida fcil e rpida de ser obtida, mas, pr outro lado, fica sempre sujeita a variao
extrema de uma amostra para outra, ao menos que a amostra seja bem grande.

Percentil para um melhor entendimento pense na mediana como o 50-simo percentil.

50
Mdia geomtrica a n-sima raiz de um produto de n valores, ou antilog da mdia
aritmtica dos logs de um conjunto de valores e sempre to pequeno ou menor que a mdia do
mesmo conjunto de dados.

Mdia harmnica a recproca da mdia de um conjunto de dados recprocos e to


pequena ou menor que a mdia geomtrica para um mesmo conjunto de dados.

Para dados ordinais, prefervel utilizar-se da mediana, apesar de que a mdia , as vezes,
utilizada.

Para dados mtricos pode ser usada a mdia ou a mediana. Como com dados ordinais, a
mediana preferida para propsitos descritivos. A maioria das teorias estatsticas para dados
mtricos usa a mdia.

Computao de Mdia, Mediana e Moda

Mdia a estimativa da mdia, x ou y, do parmetro , obtida da seguinte maneira:

Dos dados do quadro 9.1, a mdia ser:

( x 1 + x 2 + .... + x 40 )
x =
40
x = 38.225

Mediana do quadro 9.1, primeiro preciso ordenar em ordem crescente,

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
25 27 27 27 27.7 28 28 29 30 30

(11) (12) (13) (14) (15) (16) (17) (18) (19) (20)
31.8 32 32 32 33 33 33 33 34 34

(21) (22) (23) (24) (25) (26) (27) (28) (29) (30)
35 36 36 37 37 38.5 39 40 40 41

(31) (32) (33) (34) (35) (36) (37) (38) (39) (40)
43 45 47 47 52 53 58 58 63 77

51
Neste caso, o nmero total de observaes, n, par, a mediana ser a mdia aritmtica dos
vigsimo e vigsimo-primeiro valores, ou seja, (34 + 35)/2 = 34.5.

Moda simplesmente o ponto mdio da classe que tem a maior freqncia, que no
nosso caso, quadro 9.2, 35, que tem a freqncia = 19.

Resumo das estimativas das medidas:

Mdia = 38.225

Mediana = 34.5

Moda = 35.0

Interpretao: um conjunto de dados pode ter mais de uma moda, mas sempre ter
somente uma mdia ou mediana. Como voc pode ver, de um mesmo conjunto de dados, voc
tem diferentes medidas de tendncia central. Qual delas a melhor? A deciso vai depender,
principalmente, do objetivo de sua informao. Quando a gente vende madeira em volume,
normalmente truncada a um determinado dimetro mnimo, a mdia deve prevalecer tendo em
vista a maior facilidade para os clculos posteriores. Se a rvore vendida em p, a moda pode
ser mais interessante, porque ela d uma noo tambm da distribuio de freqncia. A
utilizao da mediana mais prtica na tomada de decises quanto a tratamentos silviculturais,
desbastes etc., quando voc precisa priorizar o tamanho que precisa sofrer intervenes.

10.2. Medidas de disperso:

Uma medida de disperso um nmero usado para mostrar quanto de variao existe num
conjunto de dados.

At agora discutimos somente as medidas de tendncia central. Entretanto, 2 conjuntos de


dados podem ter a mesma mdia ou a mesma mediana e, mesmo assim, ser bastante diferente.

Exemplo 1: Dois conjuntos de dados (turmas de Manejo e Ecologia), no quadro 10.1

52
Quadro 10.1. Idades de alunos dos cursos de manejo e ecologia do INPA
Manejo (CFT) Ecologia
aluno idade aluno idade
1 25 1 22
2 28 2 30
3 30 3 28
4 29 4 21
5 28 5 39
mdia 28 mdia 28

As mdias dos dois grupos so iguais. No entanto, claro que estamos nos referindo a
dois grupos diferentes em idade. D para perceber que o grupo do Manejo mais uniforme em
termos de idade. Neste caso, para ver a variao que h dentro de cada conjunto de dados,
podemos usar a amplitude total ou o desvio padro, as duas medidas de disperso mais
comuns.

AMPLITUDE TOTAL a medida da variao olhando apenas a diferena entre o maior


e o menor valor. Esta medida de fcil computao porque depende apenas do maior e do menor
valor, mas, em compensao ela no diz o que acontece entre esses dois valores. Alm disso,
considerada muito limita, sendo uma medida que depende apenas dos valores externos, instvel,
no sendo afetada pela disperso dos valores internos.

Do quadro 10.1, as amplitudes so:

- Manejo: 30 25 = 5

- Ecologia: 39 21 = 18

DESVIO PADRO nos d a disperso dos indivduos em relao mdia. Ele nos d
uma idia se os dados esto prximos da mdia ou muito longe. O desvio padro dos indivduos
de uma populao freqentemente simbolizado pela letra grega minscula (). Dificilmente a
gente trabalha com o parmetro. Entretanto, dado uma amostra de valores individuais de uma
populao, podemos fazer uma estimativa de que comumente simbolizada por s.

53
n
2
(x i - x)
i =1
Frmula : s =
n -1
n 2 n
2
x i - (( x i ) ) / n
i =1 i =1
ou , mais simples : s =
n -1

_
Por que o denominador (n-1) em vez (n)? Porque os n desvios, (xi x ), so
_ _
necessariamente conectados pela relao linear ( xi x ) = 0. Se voc especifica o valor de x
e os ( n-1 ) valores de xi, ento o valor do ltimo xi fixo; isto , uma informao redundante.
_
Por esta razo, ao usar a mdia amostral x em vez da mdia da populao como um ponto
central no clculo de s, voc perde um grau de liberdade (gl) e a estimativa de dita ter ( n 1 )
gl associados com ela. O uso de (n 1) em vez de (n) no clculo de s tambm fornece uma
estimativa no-tendenciosa; isto , em uma srie infinita de amostras aleatrias, o valor mdio do
estimador igual a .

Os desvios padres dos dados do quadro 10.1 so:

- Manejo: s = 1.87

- Ecologia: s = 7.25

Resumindo: quanto maior a variao dentro de um conjunto de dados, maior ser o desvio
padro. Do exemplo 2 ns constatamos agora, que apesar dos dois terem as mesmas medidas de
tendncia central, mdia e mediana, as medidas de disperso so totalmente diferentes. Isto quer
dizer que o grupo de Manejo mais homogneo em idade, comprovada pela menor variao
encontrada.

Clculo da mdia e desvio dos dados grupados:

A mdia calculada da seguinte maneira:


_
x = ( xi * fi ) / n

onde: xi = ponto mdio da classe, fi = freqncia de cada classe e n = nmero de classes

E o desvio padro segue o mesmo princpio da mdia em relao s classes.


54
Do quadro 9.2, essas medidas sero:
_
x = 38,5 e s = 11,45

10.3. Medidas de relacionamento:

As medidas mais comumente utilizadas para relacionamento so correlao e regresso.


Vrios tipos de correlao podem ser usados para medir o grau de associao (similaridade ou
dissimilaridade) entre 2 (ou mais) variveis aleatrias, independente das unidades de medida e
mudanas lineares em escala. Estas medidas sero vistas, em detalhe, num captulo especfico.

10.4 Percentil:

Ns j vimos um exemplo de percentil. A mediana divide um conjunto de dados em duas


partes, 50% de um lado e 50% de outro, depois de coloc-los em ordem crescente. Por esta razo
ela se refere ao qinquagsimo percentil de um conjunto de dados. Alm dos percentils, que pode
dividir os dados de acordo com qualquer valor percentual, o pesquisador pode tambm querer
encontrar o quartil e o decil.

Quartil a separatriz que divide a rea de uma distribuio de freqncia em domnios de


rea igual a mltiplos inteiros de um quarto da rea total.

Decil a separatriz correspondente ao valor do argumento que divide a distribuio numa


razo decimal.

Exemplo: dados do quadro 9.1 em ordem crescente.

Primeiro quarto
25 27 27 27 27.7 28 28 29 30 30
Segundo quarto
31.8 32 32 32 33 33 33 33 34 34
Terceiro quarto
35 36 36 37 37 38.5 39 40 40 41
Quarto quarto
43 45 47 47 52 53 58 58 63 77

Computaes:

Primeiro quartil = (30 + 31.8) / 2 = 30.9

55
Segundo quartil = (34 + 35) / 2 = 34.5

Terceiro quartil = (41 + 43) / 2 = 42.0

10.5. Consideraes finais:

Neste captulo no poderamos deixar de mencionar trs outros conceitos muito


importantes na nossa rea de conhecimento, coeficiente de variao, varincia e
covarincia.

COEFICIENTE DE VARIAO a razo entre o desvio padro e a mdia. Ele nos d


uma idia de variao relativa de nossa populao, permitindo a comparao de 2 populaes
diferentes independentes das unidades de medida.

Do quadro 10.1, estimamos as mdias (28 para manejo e 28 para Ecologia) e os desvios
padres (1.87 e 7.25). Agora temos o coeficiente de variao (CV),

CV = 1.87/28 = 0.0668 ou 6.68 % - Manejo

CV = 7.25/28 = 0.2589 ou 25.89 % - Ecologia

Do nosso exemplo do quadro 10.1, temos uma populao de rvores, com as seguintes
estimativas: mdia = 38.225 e desvio = 11.28.

CV = 11.28/38.225 = 0.2951 ou 29.51 %

Mesmo se tratando de populaes diferentes podemos concluir com base nos CVs: A
populao Manejo mais homognea e a mais heterognea a Ecologia. Isto possvel porque o
CV uma medida relativa, que independente da unidade de medida utilizada.

VARINCIA - Varincia uma medida da disperso dos valores unitrios individuais em


torno de sua mdia. A varincia no s parece com o desvio padro, como o prprio, apenas ao
quadrado . Se voc tirar da frmula do desvio, a raiz quadrada, voc tem a frmula da varincia.
Por que ao quadrado? Simplesmente porque a soma de todos os desvios tem que se anular,
tendendo a zero e, da, voc no teria condies de ver a amplitude de variao dos seus dados
em relao a mdia.

COVARINCIA - uma medida de como 2 variveis variam juntas, em relacionamento


(covariabilidade). Suponha duas variveis x e y. Se os maiores valores de x tende a ser associados
com os maiores valores y, ns dizemos que a covarincia positiva. Quando os maiores se

56
associam com os menores, ou vice-versa, a covarincia negativa. Quando no h uma
associao particular de x e y, a covarincia tende a zero.

As frmulas so:

Varincia, s2 = SQCx /(n-1)

Covarincia, sxy = SPCxy / (n-1)

57
Frmulas teis

Mdia aritmtica Varincia


n n
xi ( xi - x )2
i=1 s2 = i=1
x =
n n-1

Desvio padro Erro padro


s = s2 sx = s / n

n n
( xi ) 2 ( yi ) 2
n i= n i=
2 2
SQCx = xi - 1 SQCy = yi - 1
i= i=
1
n 1
n

n ( xi ) ( yi )
SPCxy = xi y i -
i=1 n

Coeficiente de correlao
SPCxy
r =
SQCx SQCy

58
_
Captulo 11 Distribuio amostral da mdia ( x )
Todo eng florestal sabe que o inventrio florestal o primeiro passo para planejar o
manejo sentido lato de uma floresta, nativa ou artificial. O inventrio, por sua vez, consiste
em obter uma mdia representativa da populao de interesse, seja em termos de volume, rea
basal ou outra varivel de interesse.

O que uma mdia representativa?

Por analogia, mdia (volume) de uma floresta o mesmo que a mdia usada para
definir caf-com-leite em muitos bares do sul e sudeste do Brasil. Em um copo de 100 ml,
uma mdia deveria ter 50 ml de caf e 50 de leite. Certo? Errado ... porque se fosse assim, o
balconista no teria na ponta da lngua aquela pergunta: mais caf ou mais leite? Mais leite
ou mais caf vai depender do gosto do fregus e da mo do balconista. Voc tem que confiar
ou parar de tomar aquela mdia naquele bar. De qualquer modo, o total do copo no passar
de 100 ml, ou seja, o excedente de caf (+) ser anulado pelo que falta de leite (-) ou vice-
versa.

Vamos mostrar neste captulo que a estimativa de uma mdia tende sempre a ser
parecida com a mdia verdadeira da populao. O que muda o desvio padro, que base de
clculo da incerteza. A tendncia diminuir a incerteza (que bom) com o aumento da
intensidade de amostragem. Portanto, mdia representativa aquela que proporciona
confiana (incerteza sob controle) e conforto ($) pra quem vai us-la.

11.1 Amostras aleatrias

Amostra pode ser um nico indivduo ou um conjunto deles. No caso de pesquisas de


opinio, cada eleitor uma amostra. No caso de inventrio florestal, um conjunto de rvores
corresponde a uma amostra. Na Amaznia, vrios estudos apontam que parcela de 2.500 m2
suficiente para cobrir as variaes (volume) de uma determinada rea florestal com DAP 20
cm, ou seja, um conjunto com aproximadamente 50 rvores.

Em geral, as amostras tm que ser tomadas de forma aleatria, pois foi assim que a
estatstica de inferncia foi concebida. No entanto, a amostragem aleatria pode ser
desdobrada em: inteiramente aleatria e aleatria restrita. Tanto nos inventrios, como em
pesquisas de opinio, a aleatria restrita a mais utilizada por causa dos custos de coletas de
dados e tem produzido bons resultados. No caso de eleies presidenciais, a populao de
eleitores brasileiros estratificada por sexo, idade e, principalmente, por densidade eleitoral.

59
Em inventrios na Amaznia, a maioria utiliza a amostragem em dois estgios, ou seja,
seleciona aleatoriamente a unidade primria e distribui as unidades secundrias de forma
sistemtica.

Intensidade de amostragem o nmero total de amostras ( n ) dividido pelo nmero


total de possveis amostras em uma populao ( N ). Por exemplo: os institutos de pesquisas
(Ibope, Datafolha etc.) ao realizar uma pesquisa de opinio sobre eleies presidenciais no
Brasil, tm utilizado em torno de 4.000 eleitores de um total de 115 milhes; neste caso, n =
4.000 e N = 115 milhes. No nosso caso, se voc tem uma rea de 1.000 hectares e quer
instalar 100 amostras de 2.500 m2 cada ( hectare) para realizar o inventrio florestal; neste
caso n = 100 e N = 4.000 (n total de possveis amostras de, ha, ou seja, 20x125m).
_
Do ponto de vista terico, vamos mostrar como calcular as probabilidades de x
usando as reas sob as curvas normais. Isso quer dizer que temos que determinar a
_ _
distribuio da probabilidade da varivel aleatria x . A distribuio de probabilidade de x
chamada de distribuio amostral da mdia.
_ _
11.2 A mdia da mdia ( x ) e o desvio padro de ( x )

O primeiro passo para descrever a distribuio amostral da mdia saber como


_
encontrar a mdia e o desvio padro da varivel aleatria x . Isto necessrio para usar os
_
mtodos da curva normal para encontrar as probabilidades para x .

As frmulas para calcular essas duas variveis so:

_ _ _
x = (xi ) ( p xi )
e
_ _ _ _
x = ( x i - x )2 (p x i )

Vamos ver isso por meio de um exemplo meio irreal. Vamos considerar as idades
(congelada em 2003) de cada membro de minha famlia (eu, mulher e 3 filhos) como uma
populao, ou seja, N = 5. Esta situao nunca ser encontrada na vida real porque pra saber a
idade mdia dessa famlia basta somar as 5 idades e dividir por 5 ... ningum vai utilizar os
recursos da amostragem. No entanto, se voc entender o significado da estimativa da mdia
da populao e o comportamento do erro padro da mdia conforme se aumenta intensidade
de amostragem, para uma pequena populao (N = 5), fica mais fcil entender essas duas

60
variveis aleatrias quando for trabalhar com uma populao grande ou infinita (nmero de
eleitores do Brasil, N = 115 milhes, floresta da ZF-2 etc.).

Temos 3 situaes ilustrando a utilizao de 3 intensidades diferentes de amostragem


anexos 1, 2 e 3. A situao 1 se refere a uma amostragem considerando n = 2, ou seja,
escolha aleatria de 2 pessoas para estimar a mdia da populao. Primeiro voc tem que
saber quantas combinaes so possveis ao sortear 2 (n) de um conjunto de 5 (N) pessoas. S
pra lembrar: fatorial de zero (0!) igual a 1 e fatorial de nmeros negativos ou no inteiros
no existe. Isto mostrado na pgina que ilustra a situao 1. Depois disso, voc tem que
_
estimar a mdia de cada combinao possvel. Aplicando a frmula de x voc vai encontrar
a mdia da mdia de todas as possveis combinaes. Voc vai notar que a mdia da mdia
exatamente igual mdia verdadeira da populao.

Repetindo as mesmas operaes para as situaes 2 e 3, respectivamente, amostragens


de n = 3 e n = 4, voc vai notar que a mdia da mdia ser sempre igual mdia da
populao, mudando apenas o desvio padro da mdia. Resumindo: a mdia da amostra ser
sempre muito parecida com a da populao e conforme voc aumenta o n, o desvio padro da
mdia (ou erro ou incerteza) diminui. Voc se convenceu desta afirmativa? Se no, melhor
tentar a vida em outra praia.

Se sim, vamos pensar agora em termos de populao de verdade. Vamos falar de


eleitores brasileiros. Em geral, os institutos utilizam aproximadamente 4.000 eleitores para
inferir sobre a populao de 115 milhes de eleitores brasileiros. Quantas possveis
combinaes so possveis quando a gente utiliza n = 4000 de N = 115 milhes? s fazer as
contas ... mas no as faa.
115.000.000 115.000.000!
= ------------------------------------- possveis combinaes

4.000 4.000! (115.000.000-4.000)!

bvio que ningum vai fazer todas as possveis combinaes. Se fizesse, a mdia da
mdia seria exatamente igual mdia da populao. Ento, o que feito? As empresas tomam
apenas uma nica combinao de 4000 eleitores pra inferir sobre a populao de eleitores
pressupondo que a mdia estimada na pesquisa ser igual da populao e que n = 4000
produzir uma incerteza (erro) menor que n = 3.999.

Em uma floresta de porte mdio como a da ZF-2, por exemplo, com 21.000 hectares,
temos N = 84.000 (21000 x 4) de amostras possveis de ha cada. Se a gente usar n = 50,

61
quantas possveis combinaes seriam possveis? Vrias. Quantas combinaes a gente faria
no caso de um inventrio florestal? Certamente, apenas uma. A nossa expectativa ter uma
mdia (volume ou outra varivel) representativa da populao com uma margem de erro
aceitvel.

A mdia importante porque sem ela no h planejamento. No entanto, mais


importante mesmo saber com que margem de erro (incerteza) a gente est trabalhando.
importante tambm no perder de vista que a intensidade de amostragem est diretamente
relacionada com os custos. No caso de inventrios, voc tem duas alternativas: (1) fixa a
incerteza e libera os custos ou (2) fixa os custos e libera a incerteza. Em geral, a segunda
alternativa a mais freqente. H meios para se prevenir de incertezas indesejadas.

Em inventrios florestais, voc pode se prevenir utilizando boas imagens, bons mapas,
bons equipamentos e mtodos adequados de amostragem, em combinao com planejamento
de coleta e processamento dos dados. Estamos falando de erros de amostragem (o erro que
voc comete por medir apenas parte da populao). No confundir com erros no-amostrais
(humanos, principalmente), que no so tratados aqui. No esquecer tambm que n
denominador.

11.3. Teorema do limite central

Vimos at aqui que a confiana na mdia passa pela confiana nas probabilidades que
a gente trabalha. No prximo captulo vamos ver como calcula a incerteza de uma estimativa.
Aqui, vamos nos concentrar nas probabilidades obtidas usando as reas sob as curvas
normais.

Temos a curva normal padro com = 0 e = 1. Com a integrao da funo que


descreve esta curva, a gente obtm as probabilidades. Estas reas j foram calculadas por
vrios autores e esto disponveis em apndices de livros de estatstica, tabela-z. No mundo
real, a curva normal com estas caractersticas no existe. Por esta razo, a gente tem que
padronizar as possveis curvas normais pra utilizar a tabela-z. As curvas normais podem ser,
dentro de limites bem definidos, assimtricas ou achatadas, diferentes da forma de sino. Para
isso, h testes pra saber se as suas variveis de interesse esto dentro desses limites.

Difcil mesmo fazer a nossa varivel ficar dentro dos limites da distribuio normal.
No entre em pnico ainda! O remdio para essa situao o teorema do limite central. O
que diz este teorema?

62
Quando uma amostragem aleatria de tamanho n (onde n pelo menos igual a 30)
_ _
tomada de uma populao, a x aproximadamente normalmente distribuda com x = e
_ _
desvio padro da mdia x = / n . Nestas condies, as probabilidades para x podem ser
encontradas, aproximadamente, utilizando as reas sob a curva normal com os parmetros e
_
x .

Isto quer dizer que: independentemente da forma que a distribuio de sua varivel
aleatria assumir, voc pode calcular as probabilidades usando a tabela-z, desde que n 30.
Significa tambm que para as amostras aleatrias de qualquer distribuio com mdia e
_
desvio padro x , a mdia amostral dessas unidades de tamanho n aproximadamente
normal e esta aproximao melhora conforme se aumenta o n. Para se chegar a este nmero
mgico igual a 30, foram feitas inmeras simulaes at constatar que acima deste nmero
no se percebe diferenas entre as reas sob a curva normal e de outras funes.

Tanto em trabalhos de pesquisas ou de inventrios florestais, o ideal utilizar uma


amostragem com, pelo menos, 30 unidades amostrais. Se voc fizer assim, a incerteza que
voc encontrar, consistente; caso contrrio, voc ter que comprovar a normalidade antes de
inferir. A propsito, uma amostragem com n < 30 considerada pequena e a curva-t a que
tem que ser utilizada para a obteno das probabilidades.

63
Anexo 1
Situao 1
Tomando uma amostragem com n = 2 de uma populao com N = 5
Quantas combinaes so possveis?

N N! 5! 120
= -------------- = --------------- = --------- = 10 combinaes
n n! (N-n)! 2! (5 2)! 12

Populao Amostragem
_ _
nome idade comb. idade1 idade2 x p x* p desvio
NH 51 1 51 46 48,5 0,1 4,85 33,49
MIGH 46 2 51 22 36,5 0,1 3,65 3,97
IGH 22 3 51 20 35,5 0,1 3,55 2,81
FGH 20 4 51 12 31,5 0,1 3,15 0,17
GGH 12 5 46 22 34,0 0,1 3,40 1,44
mdia 30,2 6 46 20 33,0 0,1 3,30 0,78
desvio 17,21 7 46 12 29,0 0,1 2,90 0,14
8 22 20 21,0 0,1 2,10 8,46
9 22 12 17,0 0,1 1,70 17,42
10 20 12 16,0 0,1 1,60 20,16
_
x 30,2 88,86
_
x 9,43

= 30,2

_
x = 30,2

Coincidncia? No!

64
Anexo 2
Situao 2
Amostragem de n = 3 da populao com N = 5
Quantas combinaes so possveis?

N N! 5! 120
= -------------- = --------------- = --------- = 10 combinaes
n n! (N-n)! 3! (5 3)! 12

Populao Amostragem
_ _
nome idade comb. idade1 idade2 idade3 x x* p desvio

NH 51 1 51 46 22 39,67 3,97 8,96


MIGH 46 2 51 46 20 39,00 3,90 7,74
IGH 22 3 51 46 12 36,33 3,63 3,76
FGH 20 4 51 22 20 31,00 3,10 0,06
GGH 12 5 51 22 12 28,33 2,83 0,35
mdia 30,2 6 51 20 12 27,67 2,77 0,64
desvio 17,21 7 46 22 20 29,33 2,93 0,08
8 46 22 12 26,67 2,67 1,25
9 46 20 12 26,00 2,60 1,76
10 22 20 12 18,00 1,80 14,88
_
x 30,20 39,49
_
x 6,28

= 30,2

_
x = 30,2

Coincidncia de novo? No!

65
Anexo 3

Situao 3

Amostragem de n = 4 da populao de N = 5

Quantas combinaes so possveis?


N N! 5! 120
= -------------- = --------------- = --------- = 5 combinaes
n n! (N-n)! 4! (5 4)! 24

Populao Amostragem
_ _
nome idade idade1 idade2 idade3 idade4 x x* p desvio
NH 51 51 46 22 20 34,75 6,95 4,141
MIGH 46 51 46 22 12 32,75 6,55 1,301
IGH 22 51 46 20 12 32,25 6,45 0,841
FGH 20 51 22 20 12 26,25 5,25 3,121
GGH 12 46 22 20 12 25 5 5,408
_
mdia 30,2 x 30,2 14,810
desvio 17,21 _
x 3,85

= 30,2

_
x = 30,2

Coincidncia? No! Por que no?


_
1) Se voc usar todas as possveis combinaes, a mdia da mdia x ser sempre igual
a mdia da populao , independentemente do tamanho da amostragem.

2) O que muda o desvio padro da mdia ou erro padro, ou seja, conforme aumenta a
intensidade de amostragem, diminui o erro, aumenta a preciso e diminui a incerteza
da sua estimativa.

66
Captulo 12 - Estimando a mdia da populao
As duas curvas, normal e t, tm em comum as seguintes caractersticas: (i) so
simtricas em torno de zero e (ii) se estendem indefinidamente em ambas s direes
(caudas). A principal diferena entre as duas curvas a forma; a normal mesma
independentemente da intensidade de amostragem (n) e a t varia conforme varia n. Para
intervalo de confiana, isto quer dizer que a rea sob a curva tem que ser obtida olhando as
duas caudas, ou seja, para inferir usando um determinado nvel crtico (por ex., = 0,05),
voc tem que procurar o valor de z ou t para a rea igual a /2 (ou 0,025 do exemplo). Em
geral, os livros textos de estatstica apresentam uma tabela bi-caudal, para /2; os de
inventrio florestal, em geral, do direto a rea sob a curva para . Como voc est
acostumado com livros de inventrio, preciso prestar muita ateno quando for utilizar
livros de estatstica.

Em inventrios, voc utiliza n < 30 ou n 30, pequenas ou grandes amostras. Sob o


preciosismo da estatstica, estas duas intensidades so distintas e, por esta razo, voc tem que
usar tabelas diferentes, ou seja, tabela-t e tabela-z, respectivamente para n < 30 e n 30. Veja
isso: usando n = 30 e = 0,05, t = 2,04 e z = 1,96. Muita diferena? Nem tanto! De qualquer
modo, importante ter conscincia dessa diferena. No esquecer tambm que t ou z a
constante que multiplica o erro padro e este produto dividido pela mdia de sua varivel
aleatria o nvel de incerteza de seu trabalho de inventrio.

Cochran (1977)1, uma das principais fontes da teoria de amostragem para inventrios,
diz o seguinte: "Se n < 50, o valor t pode ser tirado da tabela-t com n-1 graus de liberdade. A
distribuio t perfeita somente se a varivel aleatria for normalmente distribuda e N
infinito. Afastamentos moderados da normalidade no afetam muito o resultado final."

Conselho final: use sempre n 30 pra evitar o teste da normalidade. E vou fornecer os
valores de z para os nveis crticos mais freqentes, = 0,10, = 0,05 e = 0,01, que so,
respectivamente, 1,64, 1,96 e 2,57. No esquecer tambm que n (tamanho da amostragem)
denominador, ou seja, aumentando n voc estar forando o erro pra baixo ... e este o
objetivo final de seu trabalho de inventrio, que fornecer uma estimativa da mdia parecida
com a mdia verdadeira da populao com o mnimo de incerteza.

12.1. Intervalos de confiana:

1
Cochran, W.G. 1977. Sampling Techniques. 3 edio. John Wiley & Sons. 428p.

67
_
Vimos que razovel usar uma mdia amostral x para estimar a mdia da populao (
). Especificamente, a Lei dos Grandes Nmeros diz que: se uma grande amostragem
_
aleatria tomada de uma populao, a x tende a ser parecida com .

No captulo anterior discutimos o Teorema de Limite Central que diz: se uma


amostragem aleatria de tamanho n ( n 30) tomada de uma populao com mdia e
_ _
desvio padro x , ento x (aproximadamente) normalmente distribuda e, por esta razo,
_
podemos encontrar as probabilidades para x usando as reas sob a curva normal com
parmetros e / n.

E AGORA??
_
Qual a confiana sobre a preciso envolvida ao usar x para estimar ?

Estamos falando do Intervalo de Confiana (IC), que ser definido com exemplos.

Exemplo 1: Um florestal est interessado em obter informaes sobre a mdia em


DAP de uma populao, , de todos os indivduos dos dois transectos da ZF-2.

Com base em experincia anterior ele sabe que o igual a 11,91 cm. Se ele tomar
_
uma amostragem aleatria de 30 indivduos, qual a probabilidade do DAP mdio x estar
dentro de 5 cm do DAP mdio da populao, ?
_
Soluo: Queremos encontrar a probabilidade da x estar dentro de 5 cm de ; que ,
_
P(-5< x < + 5 ). Como n > 30, recorremos ao Teorema de Limite Central para
_
encontrar as probabilidades para x usando as reas sob a curva normal com parmetros

(que no conhecemos) e / n = 11,91 / 30 = 2,17.

_
Ento, para encontrar P ( - 5 < x < + 5 ), precisamos encontrar a rea sob a
curva normal (com parmetros e 2,17) entre - 5 e + 5.

Podemos resolver o problema pela padronizao de nossa varivel aleatria, da


seguinte maneira:
_
z = [ x - ] / 2,17

68
_
O valor de z para x = - 5

z = [ ( - 5) - ] / 2,17 = -5 / 2,17 = -2,30


_
E o valor de z para x = + 5

z = [ ( + 5) - ] / 2,17 = 5 / 2,17 = 2,30

Da tabela 1, tiramos as reas sob a curva para z = -2,30 e z = 2,30, que so


respectivamente 0,0107 e 0,9893. A rea, ento, compreendida entre -2,17 e 2,17 :

rea = 0,9893 - 0,0107 = 0,9786

Conseqentemente,
_
P ( - 5 < x < + 5 ) = 0,9786
_
Quer dizer: a probabilidade da x estar entre 5 cm da de 0,9786 ou 97,86%.
_
Vamos colocar a expresso anterior de outra maneira: que a x deve estar 5 cm da
_
, que o mesmo que dizer que est entre 5 cm de x . Isto pode ser re-escrito da
seguinte maneira:
_ _
P ( x - 5 < < x + 5) = 0,9786

Em outras palavras, sabemos que se uma amostragem aleatria de 30 indivduos arbreos da


_ _
ZF-2 tomada, ento a probabilidade do intervalo de x - 5 a x + 5 conter de 0,9786.

Suponha, agora, por exemplo, que o florestal ao tomar uma amostragem aleatria, ele
_
consegue x = 25 cm, ento
_ _
x - 5 = 25 5 = 20 e x + 5 = 25 + 5 = 30

Ele sabe que, 97,86% destes intervalos contero e, por esta razo, ele pode estar 97,86%
certo de que a estar entre 20 e 30 cm. Desta forma, o intervalo de 20 a 30 chamado de
IC 97,86% para .

12.2. Especificando o nvel de confiana:

69
Na seo anterior vimos como encontrar o IC para uma mdia da populao , com
_
base na informao obtida de mdia amostral x . No exemplo anterior especificamos o
tamanho da amostragem e a forma do IC e, com estas especificaes, calculamos a confiana.
Entretanto, freqentemente desejvel especificar a confiana a priori.

Exemplo 2: A companhia de telefone est interessada em obter informaes sobre o


tempo mdio, , de cada chamada. Um levantamento preliminar indicou que o desvio padro
das chamadas = 4,4 minutos. Ao monitorar (no grampear) aleatoriamente 100
_
chamadas, n = 100, chegou-se a um tempo mdio x = 5,8 minutos.

_
Sabendo que x = 5,8, encontrar o IC 95% para

Nesta questo (ao contrrio das questes consideradas previamente) a confiana


especificada a priori: queremos um IC a 95%. A soluo para este problema o inverso do
procedimento usado para resolver o exemplo 1, o que implica em usar a tabela 1 no sentido
inverso, ou seja, voc tem a rea sob a curva (rea = 0,05) e precisa encontrar o valor de z.

Soluo: Encontrar o valor-z, para o qual a rea sob a CNP (curva normal padro)
direita deste z, 0,025 (rea/2) e esquerda de z. Note que a rea total sob a CNP 1, ento
estamos falando de uma rea equivalente a [1 - 0,025 ] = 0,975 e 0,025. Dessa maneira, para
resolver este problema precisamos encontrar o valor-z que tem uma rea entre 0,975 e 0,025
sua esquerda.

Na tabela 1, o valor-z que tem uma rea de 0,975 sua esquerda 1,96 - no encontro
da linha 1,9 com a coluna 6, voc tem uma rea de 0,9750. Neste caso, voc tem o valor
exato de 0,9750 (1 - 0,025) na tabela. Se o valor exato no for encontrado, faa interpolaes.
O valor-z que tem uma rea de 0,025 sua esquerda -1,96.

Agora, voltando companhia telefnica: sabemos que n = 100 e, em funo podemos


_
recorrer ao TLC (teorema de limite central) para assumir que x aproximadamente
_
normalmente distribuda com x = (que no conhecemos) e o desvio padro:

_
x = / n = 4,4 / 100 = 0,44

Assim, a varivel aleatria z ter a seguinte frmula


_
z = [ x - ] / 0,44

70
e ter aproximadamente uma distribuio normal padro.

Como queremos o IC 95% para , podemos coloc-lo da seguinte maneira:

P ( -1,96 < z < 1,96 ) = 0,95


_
P ( -1,96 < [ x - ] / 0,44 < 1,96 ) = 0,95
_ _
P ( x - 1,96*0,44 < < x + 1,96*0,44 ) = 0,95
_ _
P ( x - 0,86 < < x + 0,86 ) = 0,95
_
substituindo o valor de x = 5,8, teremos os seguintes intervalos:
_
x - 0,86 = 5,8 - 0,86 = 4,94

e
_
x + 0,86 = 5,8 + 0,86 = 6,66

Concluindo que o intervalo entre 4,94 e 6,66 minutos o IC 95% para . A companhia pode
ter 95% de confiana que a durao mdia de uma chamada, , da cidade est entre 4,94 e
6,66 minutos.

12.3. Intervalos de confiana para mdias: grandes amostras

No exemplo anterior encontramos o IC 95%. O nmero 0,95 conhecido como o nvel


de confiana ou coeficiente de confiana. Em estatstica, costuma-se escrever 0,95 como 1 -
0,05. Este nmero subtrado de 1 para obter o nvel de confiana que representado pela
letra grega . Para IC 95%, = 0,05; para IC 90%, o nvel de confiana = 0,10 e assim
por diante.

_
Procedimento para encontrar o IC para , baseado em x :
Requisitos: (1) n 30 e (2) conhecido
Passo 1: Se o nvel de confiana desejado 1 - , use a tabela 1 para encontrar z /2

Passo 2: O IC desejado para :


_ _
x -z /2 *(/ n ) para x + z /2 *(/ n )
onde z /2 obtido seguindo o passo 1, n o tamanho da amostragem e
_
x obtida dos dados da amostragem.

71
Exemplo 3: Uma empresa florestal est interessada em obter informaes sobre o
dimetro mdio, , de sua floresta. Um estudo preliminar indicou que = 10 cm. O
empresrio decidiu verificar esta informao com base em uma amostragem de 30 rvores.
_
Ele encontrou uma mdia amostral das 30 rvores, x = 40 cm. Baseado nestas informaes,
vamos encontrar o IC 90% para a .

Soluo: Checando primeiro: n 30 - OK!; e conhecido. Podemos, ento,


aplicar os passos necessrios:

1. O nvel de confiana 0,90 = 1 - 0,90; logo = 0,10 e da tabela 1 tiramos

z /2 = z 0,05 = 1,64
_
2. Desde que z /2 = 1,64, n = 30, = 10 e x = 40, o IC 90% para ser:
_ _
x - z /2* / n a x + z /2* / n

substituindo os valores conhecidos

40 - 1,64 * 10 / 30 a 40 + 1,64 * 10 / 30

37 a 43

Concluindo: o empresrio pode ter 90% de confiana que o dimetro mdio, , de sua

floresta est entre 37 a 43 cm. O produto, 1,64 * 10 / 30 ou 2,99, dividido pela mdia
de sua varivel aleatria ser a incerteza do seu trabalho.

At agora assumimos que o conhecido. Entretanto, na maioria dos casos, isto


no possvel. Uma maneira de lidar com isto fazer um levantamento piloto para estimar
o . Quer dizer: podemos usar o desvio padro amostral s no lugar do . Isto aceitvel
porque, para grandes amostras ( n 30 ), o valor de s extremamente parecido a ser uma
boa aproximao de . A conseqncia matemtica disso a seguinte (recorrendo tambm
aoTLC):
_ _
x - x -
-------- em vez de ---------
s/ n / n

E os outros procedimentos so os mesmos apresentados no quadro anterior, substituindo


apenas por s .

72
12.4. A distribuio t (de Student):

Nas sees anteriores deste captulo vimos como encontrar o IC para , quando
lidamos com grandes amostras ( n 30 ). Entretanto, em muitos casos, quando grandes
amostras no esto disponveis, extremamente caras ou, por alguma razo, simplesmente
indesejveis, voc tem que dar outro jeito porque a curva-z no se aplica nestas condies.

Neste caso, recorremos curva-t em vez da curva-z.

Detalhe importante: para obter IC para a mdia da populao, a partir de pequenas


amostras ( n < 30 ), a populao, por si s, tem que ser aproximadamente normalmente
distribuda.

Se n < 30, no podemos usar a CNP para encontrar as probabilidades para o IC.
Entretanto, um pesquisador chamado W.S. Gosset desenvolveu curvas de probabilidade que
podem ser usadas, em vez da CNP. Estas curvas so conhecidas como curvas-t de student ou
simplesmente curvas-t. A forma de uma curva-t depende do tamanho da amostra. Se a
amostra de tamanho n, ns identificamos a curva-t em questo dizendo que a curva-t com
(n-1) graus de liberdade.

Se tomarmos uma amostra aleatria de tamanho n de uma populao que


aproximadamente normalmente distribuda com mdia , a varivel aleatria
_
t = [x -]/ [s/ n ]

tem a distribuio-t com (n - 1) graus de liberdade. As probabilidades para esta varivel


aleatria podem ser encontradas usando as reas sob a curva-t com (n - 1) graus de liberdade -
tabela 2.

As curvas-t variam conforme os graus de liberdade. As curvas-t tm as seguintes


propriedades:

1. A rea total sob qualquer curva-t igual a 1.

2. As curvas-t so simtricas em torno de zero.

3. As curvas-t se estendem indefinidamente em ambas s direes.

4. Conforme aumenta o nmero de graus de liberdade, as curvas-t ficam mais


parecidas com a CNP.

A maneira de encontrar a rea sob a curva-t a mesma usada na CNP.

73
12.5. Intervalos de confiana para mdias - pequenas amostras:
_
Vamos ver agora os procedimentos para encontrar os IC para baseada em x,
quando o tamanho da amostra menor que 30 ( n < 30 ). Vamos ilustrar o procedimento com
um exemplo.

_
Procedimento para encontrar o IC para , baseado em x :

Requisitos: Populao normal

Passo 1: Se o nvel de confiana desejado 1 - , use a tabela 2 para encontrar

t /2

Passo 2: O IC desejado para :


_ _
x -t /2 *(s/ n ) para x + t /2 *(s/ n )

_
onde t /2 obtido seguindo o passo 1, n o tamanho da amostragem e x e s
so obtidas dos dados da amostragem.

Exemplo 4: Um vendedor de pneus est interessado em obter informaes a respeito


da durabilidade mdia ( ) de uma nova marca. O fabricante diz que a nova marca foi feita
para aguentar 40.000 milhas, ou seja, = 40.000. O vendedor quer testar, por sua conta, a
durabilidade dos pneus.

Para isto, ele decide tomar uma amostragem aleatria de 16 pneus e conferiu a
milhagem de cada um.Os resultados deste teste o seguinte:
pneu milhagem pneu milhagem pneu milhagem
1 43.725 7 37.396 13 39.686
2 40.652 8 42.200 14 44.019
3 37.732 9 39.783 15 40.220
4 41.868 10 44.652 16 40.742
5 44.473 11 38.740
6 43.097 12 39.385
Usando estes dados, vamos encontrar o IC 95% para , considerando que a
durabilidade do pneu normalmente distribuda.

Soluo: Vamos usar o procedimento definido anteriormente; neste caso com n = 16.

1. O nvel de confiana desejado 0.95, isto , = 0,05. Usando a tabela 2 para (16-1)
= 15 graus de liberdade.

74
t /2 = t 0,025 = 2,13

2. O IC 95% :
_ _
x - 2,13*( s / n ) para x + 2,13*( s / n )

Dos dados deste exemplo (dos pneus) temos:


_
x = 41.148,13

s = 2.360,32

Conseqentemente
_
x - 2,13*( s / n ) = 41.148,13 - 2,13 * (2.360,32/ 16 = 39.891,26
_
x + 2,13*( s / n ) = 41.148,13 + 2,13 * (2.360,32/ 16 = 42.405,00

Isto quer dizer que o vendedor pode ter 95% de confiana que a (durabilidade mdia
da nova marca) est entre 39.891 a 42.405 milhas. Desta forma, o fabricante est correto em
afirmar que a nova marca tem = 40.000 milhas.

75
Captulo 13 Algumas variveis aleatrias utilizadas em manejo
florestal
13.1 Dimetro altura do peito (DAP)

13.1.1 Notas preliminares

Na engenharia florestal, o dimetro da rvore DAP e ponto final. DAP se mede a 1,3
m acima do nvel do solo. O objetivo desta seo no ensinar como medir o DAP porque
isto est muito bem explicado nos livros de Machado & Figueiredo Filho (2003)2 e Campos &
Leite (2002)3. Em plantios de eucalipto, o DAP tende a ser medido quase sempre a 1,3 m do
solo. Na Amaznia, a situao um pouco diferente porque h sapopemas e outras
irregularidades no tronco que nem sempre a parte a 1,3 m do solo est disponvel para medir.

Em inventrios em uma nica ocasio, esta situao pode ser superada utilizando
equipamentos especiais ou a projeo do dimetro altura do DAP. Por compensao de
erros, o resultado final no ser afetado. Em inventrios contnuos, a subjetividade na
medio de um mesmo indivduo em ocasies sucessivas, no bem-vinda. Neste caso,
necessrio medir sempre no mesmo local (altura em relao ao solo) e a o recurso medir
aonde possvel e marcar (com tinta) este ponto da medio. Dessa forma, ser possvel
estimar as mudanas ocorridas entre duas ou mais ocasies.

Como a pronncia correta desta varivel to importante para a engenharia florestal;


D-A-P ou Dape ou Dapi? Segundo o Manual de Estilos da Abril, temos os seguintes
conceitos:

Sigla a reunio das iniciais de um nome prprio composto de vrias palavras e deve
ir, quase sempre, em caixa alta: CNBB, CPI, CPMF, IBGE, BNDS, CBF etc. Certas siglas
silabveis, mesmo estrangeira, so escritas em caixa alta e baixa: Vasp, Ibope, Inpa, Incra,
Aids etc.

Diante disso, o nosso dimetro altura do peito tem que ser pronunciado como Dape
ou Dapi. Certos esto os bilogos, eclogos e outros no florestais e errados esto os
engenheiros florestais. Por conta disso, quero dedicar esta seo queles que pronunciam
errado esta varivel, D-A-P. No critiquem (e nem tripudiem) queles que falam Dape ou

2
Machado, S.A. e Figueiredo Filho, A. 2003. Dendrometria. 309p.
3
Campos, J.C.C. e Leite, H.G. 2002. Mensurao florestal. UFV. 407p.

76
Dapi porque eles esto certos, mas continuem pronunciando D-A-P., que uma tradio
florestal de mais de 40 anos no Brasil.

Acrnimo a reunio de elementos (iniciais, primeiras letras e slabas) dos


componentes de um nome, com a inteno de formar uma palavra silabvel e, deve ir, sempre,
em caixa alta e baixa: Ibama, Cacex, Varig etc. Chichu um acrnimo.

13.1.2 DAP usado na estrutura da floresta

A curva do tipo J-invertido a que melhor descreve a estrutura diamtrica das


florestas da regio amaznica. Os valores observados de DAP podem ser ajustados por
funes matemticas que produzem curvas que se assemelham ao tipo J-invertido. A mais
popular na Amaznia a funo de Weibull. No anexo 4 est disponvel uma reviso sobre as
funes Weibull e exponencial.

Como o DAP a principal varivel independente para o setor florestal da Amaznia,


uma funo de distribuio bem ajustada pode facilitar o inventrio florestal sem perder a
preciso. Com uma boa funo, que apresenta a distribuio de probabilidade de cada classe
de DAP, o inventrio usando a contagem de indivduos por unidade de rea perfeitamente
possvel. Dessa forma, o tempo de coleta seria muito mais rpido e, conseqentemente, o
inventrio ficaria mais barato.

13.1.3 DAP como varivel independente de equaes de volume e de


biomassa

Tanto para volume e biomassa os seguintes modelos logartmicos podem ser utilizados
para descrever a relao entre volume e DAP e ou H e biomassa e DAP e ou HT:

1) ln V = a + b ln D ou ln PF = a + b ln D

2) ln V = a + b ln D + c ln H ou ln PF = a + b ln D + c ln HT

onde: V = volume do tronco em m3

D = DAP em cm

H = altura comercial ou comprimento do tronco em m

PF = peso fresco da parte area em kg

HT = altura total da rvore em m

ln = logaritmo natural

77
Todo o desenvolvimento desses modelos ser detalhado na prxima seo. Aqui,
queremos apenas mostrar os indicadores usados na escolha do melhor modelo, como erro
padro da estimativa syx, coeficiente de correlao (r) e coeficiente de determinao (r2), para
advogar em favor do uso do DAP apenas. Vamos considerar modelo 1 como aquele que tem
apenas o DAP como varivel independente e modelo 2 o que tem DAP e altura (comercial ou
total), separadamente para volume e biomassa.

Volume (n = 959):

Modelo 1: syx = 1,46% r = 0,971 r2 = 0,943

Modelo 2: syx = 1,04% r = 0,988 r2 = 0,977

Biomassa (n = 498):

Modelo 1: syx = 6,54% r = 0,984 r2 = 0,967

Modelo 2: syx = 5,32% r = 0,989 r2 = 0,978

Voc v alguma diferena entre os modelos 1 e 2, para volume e biomassa? Neste


captulo queremos enfatizar apenas essas diferenas, sem se preocupar com o significado de
cada indicador (ser explicado na prxima seo). No caso do volume, acrescentar a varivel
H significa um ganho muito pequeno na preciso. O mesmo acontece com a biomassa.

Entretanto, acrescentar a altura (H ou HT) ao modelo uma outra coisa. Em um


hectare de floresta amaznica primria podemos ter: (i) 600-700 indivduos arbreos com
DAP 10 cm dividindo o espao com lianas, epfitas e palmeiras; (ii) alta diversidade em
espcies; (iii) arquitetura de copa de mltiplas formas; (iv) dossel com vrios estratos em
altura; (v) espcies com idades diferentes, que podem variar de 1 a 1400 anos.

Como medir a altura desses indivduos? Para o desenvolvimento dos modelos, o


mtodo destrutivo empregado; portanto, temos as rvores no cho e medimos as alturas
(comprimentos) com trena. Durante o inventrio florestal, a situao outra, ou seja, temos
que medir as alturas da rvore em p. Mesmo com equipamentos sofisticados, muito difcil,
seno impossvel, medir precisamente a altura total. A altura comercial pode at ser medida
precisamente com equipamentos, mas diferentes medidores podem apresentar diferentes
medidas para a mesma rvore por causa da subjetividade em definir o que "altura
comercial". Nunca, mas nunca mesmo, "chutar" a altura para utilizar o modelo 2.

Nos exemplos com equaes de volume e de biomassa, temos o seguinte: (i)


acrescentar a altura comercial (H) ao modelo 1, significa melhorar a preciso em 0,42% (1,46

78
1,04) e (ii) acrescentar altura total (HT) ao modelo, significa melhorar a preciso em 1,22%
(6,54 5,32). Vale a pena acrescentar a altura? Pense nisso, sobretudo, nos custos de coleta de
dados para o inventrio florestal.

13.2. rea basal

a projeo dos DAPs ao solo, que indica a densidade da floresta. Do ponto de vista
tcnico, a soma da rea transversal de todos os indivduos em um hectare. rea transversal
a rea do crculo altura do DAP. Isto conseguido fazendo (imaginrio) um corte
transversal no DAP e medindo o raio ou o dimetro do crculo. a rea de um plano sobre o
tronco, disposto em ngulo reto ao eixo longitudinal. Portanto, a rea transversal
(classicamente representada pela letra "g") obtida da seguinte maneira:

g = (/4) d2

e a rea basal, ento:

AB = gi (i = 1, 2, ... n)

Na rea experimental de manejo florestal da ZF-2, a rea basal mdia est em torno de
30 m2/ha. Isso quer dizer que se projetarmos todos os DAPs 10 cm sobre uma rea de
10.000 m2 (um hectare), as rvores ocuparo 30 m2. Algumas estimativas (m2/ha) para
diferentes stios na Amaznia: UHE de Santa Izabel (regio do Araguaia) = 15,2; Projeto Rio
Arinos (norte de MT) = 13,6; Floresta Estadual do Antimary (Acre) = 15,2, Trombetas (Par)
= 24,8; PIC Altamira (Par) = 22, Sul de Roraima = 20,9 e Alto Solimes (Fonte Boa e Juta
no AM) = 27 m2/ha.

Com esses poucos exemplos, podemos dizer que a floresta da ZF-2 mais densa do
que as outras florestas. A estimativa de rea basal, de forma isolada, diz muito pouco sobre
uma determinada floresta. Com esses poucos exemplos, difcil afirmar que a floresta da ZF-
2, por exemplo, muito densa ou pouco ou mdio, porque deve haver florestas mais densas
do que esta. De qualquer modo, no custa nada estimar a rea basal da rea inventariada j
que as medies de DAP so obrigatrias em inventrios florestais.

Antigamente (at incio dos anos 90), era comum ver inventrios florestais com
volumes estimados a partir da rea basal, ou seja, AB x altura x fator de forma. O fator de
forma utilizado era igual a 0,7 proposto por peritos da FAO (Food and Agriculture
Organization) que realizaram os primeiros inventrios na Amaznia nas dcadas de 50 e 60. A

79
altura era, invariavelmente, "chutada". O engenheiro florestal deve utilizar-se de equaes
prprias para estimar o volume de madeira.

13.3. Volume

No setor florestal, as decises so tomadas baseadas no volume de madeira. Isto to


forte que, muitas vezes, o engenheiro florestal at se esquece que numa floresta h muitas
outras coisas alm da madeira. Aqui, o objetivo mostrar como se estima o volume de
madeira nos inventrios florestais. Para isto, voc precisa ter equaes confiveis e us-las
para estimar o volume de rvores em p medidas em parcelas fixas do inventrio florestal.

Volume real

Para desenvolver equaes de volume, voc precisa ter o volume real de vrios
indivduos. Este volume pode ser obtido por meio do mtodo destrutivo (aproveitando reas
exploradas ou desmatadas, autorizadas pelo Ibama) ou utilizando o relascpio de Bitterlich
(por exemplo). O mais comum o mtodo destrutivo. Antes de derrubar a rvore, o DAP
medido. Com a rvore no cho, as alturas ou comprimentos (comercial e total) so
determinados e o tronco dividido em pequenas toras, tentando se aproximar forma do
cilindro.

Em geral, o tronco dividido em 10 toras (ou sees) e duas medidas de DAP so


tomadas em cada tora, na base e no topo. Com estas duas medidas, voc tem condies de
calcular as reas transversais da base e do topo; a, voc estima a mdia (g da base + g do topo
dividido por 2) e multiplica pelo comprimento da tora < m2 de g vezes m do comprimento,
voc ter m3 > para ter o volume da tora ou seo. A soma dos volumes das 10 toras
considerada "volume real" da rvore. Melhores explicaes voc vai encontrar nos livros de
Machado & Figueiredo Filho (2003) e Campos & Leite (2002).

Quantas rvores so necessrias para desenvolver os modelos estatsticos para


volume ou equaes de volume ou modelos alomtricos?

Alometria => (do grego: allos outra e metron medida) => o estudo das variaes
das formas e dos processos dos organismos e tem dois significados: (i) o crescimento de uma
parte do organismo em relao ao crescimento do organismo inteiro ou de parte dele e (ii) o
estudo das conseqncias do tamanho sobre as formas e os processos.

Voc pode usar uma funo conhecida de distribuio em dimetro (Weibull, por
exemplo) e ver se os dados j coletados se ajustam a esta funo. Teste simples como o qui-

80
quadrado (confrontao entre freqncia esperada e freqncia observada) d conta disso. Se
o teste for significante, colete mais dados das classes que esto faltando e refaa o teste qui-
quadrado. Se o resultado for no significante, voc tem, em mos, uma amostra representativa
de sua populao de interesse. H tambm a possibilidade de utilizar-se do recurso do
inventrio florestal quanto intensidade de amostragem; neste caso, cada indivduo uma
amostra. A frmula a seguinte:

n = ( t2 s2 ) / 2

sendo: t = valor obtido na tabela-t ( p = 0,05 ou outro e n-1 graus de liberdade)

s2 = estimativa da varincia

2 = expectativa do erro = (LE x mdia)2. Em geral, o LE (limite de erro) igual a


0,10 ou 10%.

Observaes: use z em vez de t. Como vimos anteriormente, os valores de z para os nveis


crticos mais freqentes, = 0,10, = 0,05 e = 0,01 so, respectivamente, 1,64, 1,96 e
2,57. Outra coisa: h tambm o fator de correo para populaes finitas, ou seja, neste caso
ao denominador da frmula (2) deve ser acrescentado ( 1 n/N ). A populao considerada
finita quando a frao n/N menor do que 0,05, segundo Freese (1962)4.

Equaes de volume ou modelo alomtrico

O passo seguinte testar modelos matemticos. Antigamente (fim dos anos 70), o
grande desafio era encontrar o melhor modelo para descrever a funo V = f (DAP, H).
Depois de vrias dissertaes e artigos cientficos, verificou-se que qualquer modelo, seja de
simples entrada (apenas DAP como varivel independente) ou de dupla entrada (DAP e H
como variveis independentes, combinadas ou no) produzem bons ajustes. A deciso para
escolher o melhor modelo ficou nos detalhes.

Hoje em dia, qualquer modelo que voc venha a testar, utilizando DAP e H, voc vai
conseguir uma alta e significativa correlao, um modelo que explica mais de 75% da
variao de seus dados (r2) e um erro padro de estimativa aceitvel. O padro de hoje o
modelo que apresenta r > 0,90, r2 > 0,90 e syx (%) < 10. Alm disso, o modelo tem que ter
uma boa distribuio de resduos, que : as diferenas entre os valores estimados e
observados, positivos e negativos, tm que se distribuir uniformemente ao longo da curva (ou
reta) estimada, ou seja, estas diferenas no podem aumentar (ou diminuir) conforme aumenta

4
Freese, F. 1962. Elementary forest sampling. Agriculture Handbook n 232. USDA-Forest Service. 91p.

81
o tamanho da rvore. Por exemplo: se o seu modelo produzir uma diferena de 0,5 m3 para
uma rvore com DAP = 10 cm, esta mesma diferena (mais ou menos) tem que ser verificada
para outra rvore com DAP = 70 cm ou DAP = 150 m.

Os modelos que apresentam as melhores distribuies de resduos so os modelos


logartmicos. Os mais usados so os seguintes, do item 13.1.3:

1) ln V = a + b ln D

2) ln V = a + b ln D + c ln H

A abordagem para estimar os coeficientes de regresso a do mtodo dos mnimos


quadrticos (MMQ) e depois da obteno das equaes normais, os coeficientes podem ser
estimados usando o mtodo da substituio ou por meio do clculo matricial. As explicaes
sobre as operaes necessrias para se chegar aos coeficientes podem ser encontradas em
qualquer livro de estatstica bsica. No computador, basta entrar com as variveis ln V, ln D e
ln H e voc ter, alm dos coeficientes de regresso, erro padro de estimativa, coeficiente de
correlao, coeficiente de determinao e distribuio de resduos.

Regresso => descreve apenas o relacionamento linear entre uma varivel dependente
(Y) e uma ou mais variveis independentes (X1 = DAP, X2 = altura etc.).

Antes de derivar a equao em relao a a e b, primeiro preciso linearizar as


variveis aleatrias, da seguinte maneira: ln V = Y, ln D = X1 e ln H = X2. Para o modelo 1, as
equaes normais so:

an + b X1 = Y

a X1 + b X12 = X1Y

Pelo mtodo de substituio, os coeficientes sero:

a = [ Y - b X1 ] / n

b = [ SPCX1Y ] / [ SQCX1 ]

Para o modelo 2, as equaes normais so

an + b X1 + c X2 = Y

a X1 + b X12 + c X1 X2 = X1 Y

a X2 + b X1 X2 + b X22 = X2 Y

Neste caso, melhor estimar os coeficientes apelando para o clculo matricial.

82
matriz de Y (nx1) = matriz de X (nxp) x matriz de coeficientes "b" (px1)

(X'X) b = X'Y

b = (X'X)-1 X'Y

Hoje, com o Excel ficou fcil inverter matrizes de qualquer tamanho e a multiplicao
mais fcil ainda. Mesmo assim, no h necessidade de trabalhar com matrizes para a
obteno dos coeficientes. Os programas de estatstica, em geral, calculam automaticamente
os coeficientes. Sei que para regresses simples (com dois coeficientes), o Excel d conta do
recado. Para regresses mltiplas e as no lineares, melhor usar outro software (Systat, SAS
etc.).

Vamos aproveitar as sadas (outputs) do Systat, por exemplo, para explicar os


significados de alguns indicadores da regresso.

1) Coeficiente de correlao => r => a regresso descreve o relacionamento e este


coeficiente mostra o grau de estreiteza que existe entre as variveis Y e X1, X2 etc.. Este
coeficiente varia de -1 a +1. Igual a -1 ou +1, h uma correlao perfeita, ou seja, a cada
unidade acrescentada X, haver um aumento proporcional em Y (uma, duas, ou menos 2
unidades). Sinal (-) significa que os menores valores de Y tendem aos maiores valores de X
ou vice-versa. Sinal (+) significa que os menores Y tendem aos menores X e os maiores Y
tendem aos maiores X. O teste-t geralmente utilizado para testar a significncia de r.

2) Coeficiente de determinao => r2 => multiplicado por 100 mostra a percentagem


da variao dos dados que explicada pelo modelo testado. No caso de regresso mltipla,
prefira sempre o coeficiente ajustado.

3) Erro padro de estimativa => syx => a raiz quadrada da mdia quadrtica dos
resduos (MQR), logo o desvio padro da relao. Ao comparar duas equaes, o uso deste
indicador direto, ou seja, aquela que apresentar o menor erro a melhor. Isoladamente,
preciso ainda alguns clculos. Dividindo syx pela raiz quadrada de n voc ter o erro padro da
mdia e dividindo o mesmo pela mdia da varivel dependente Y, voc ter o seu erro em
percentagem. Melhor ainda apresentar a incerteza de seu modelo. Neste caso, voc tem
estimar o intervalo de confiana (IC) e aquela poro (z * erro padro) dividida pela mdia
vai te fornecer a incerteza de seu modelo. Em geral, uma incerteza de 10% considerada
aceitvel.

83
4) Coeficientes de regresso => O Systat apresenta a constante ( a ) e os coeficientes
associados s outras variveis independentes (b, c, d etc.) => o Systat apresenta tambm a
significncia de cada coeficiente; se for no significante, voc remov-lo do modelo.

5) Anlise de varincia (ANOVA) => a regresso descreve, a correlao mostra a


estreiteza entre as variveis e a ANOVA mostra a significncia do seu modelo de regresso. O
teste-F o que determina se o modelo significante ou no. No Systat, o valor p o mesmo
que , ou seja, o valor crtico para a tomada de deciso. Os valores clssicos de p so 0,01,
0,05 e 0,10; portanto quando o p < 0,01, o modelo testado significante para os trs nveis.

6) Durbin-Watson D Statistics e First Order Autocorrelation => No caso de


equaes de volume (e biomassa), no h envolvimento de sries temporais. Portanto, no
precisa se preocupar com isto. Estes dois testes so usados para verificar se os termos dos
erros no modelo de regresso no so correlacionados e nem dependentes. Os termos dos
erros correlacionados com o passar do tempo so conhecidos como "autocorrelacionados" ou
"serialmente correlacionados".

7) Distribuio de resduos => o grfico pode ser interpretado diferentemente por


diferentes eng florestais, mas ele fundamental para a deciso final do melhor modelo
conforme foi explicado anteriormente.

Aplicao da equao de volume

Com o melhor modelo em mos, voc vai aplic-lo em inventrios florestais. Num
inventrio na Amaznia, para rvores com DAP 10 cm, voc deve utilizar uma parcela de,
no mnimo, 2.500 m2 (10 x 250 m ou 20 x 125 m). Numa parcela deste tamanho, voc deve
encontrar entre 100 e 150 indivduos. Lembre-se que, de acordo com o conceito de intervalo
de confiana (IC), em 95 vezes (se o seu p = 0,05, por exemplo) a sua estimativa estar dentro
do seu IC e em 5 vezes, a estimativa estar fora do IC. Portanto, no se surpreenda e confie na
estatstica (na incerteza que o seu modelo declarou). No esquecer que os seus modelos so
logartmicos e, por esta razo, ao estimar o volume de madeira voc tem que usar o inverso do
logaritmo natural que a exponencial.

13.4. Biomassa

Estimar a biomassa importante para compreender a produo primria de um


ecossistema e avaliar o potencial de uma floresta para produo de energia. No manejo
florestal sustentvel na Amaznia, a biomassa usada para estimar a quantidade de nutrientes

84
que exportada do sistema via explorao de madeira e que devolvida via inputs
atmosfricos. No entanto, depois da Rio-92, a biomassa ganhou uma nova dimenso. O
carbono da vegetao passou a ser um elemento importante nas mudanas climticas globais.
O eng florestal sabe (ou deveria saber) que aproximadamente 50% da madeira secada (em
estufa) carbono e que os compostos de carbono so: celulose (45%), hemicelulose (28%) e
lignina (25%).

De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas), os


componentes de biomassa e carbono da vegetao so: (i) biomassa ou C na matria viva
acima do nvel do solo (tronco, galhos, folhas, frutos e flores); (ii) biomassa ou C na matria
viva abaixo do nvel do solo (razes) e (iii) biomassa ou C na matria morta em p ou no cho.

Quem foi treinado para estimar o volume de madeira tem todas as condies para
estimar a biomassa tambm. O anexo 5 um artigo (manuscrito) sobre biomassa que j foi
publicado na Acta Amazonica5. Este artigo cobre o componente 1 do IPCC.

O componente 2 envolve razes e isto est sendo realizado pelo LMF (laboratrio de
manejo florestal do INPA) e ser includo em uma tese de doutorado. O trabalho de campo
para obteno do peso de razes muito trabalhoso, mas nada que assuste o verdadeiro eng
florestal. Como o solo da Amaznia muito pobre em nutrientes, as rvores tendem a
desenvolver razes superficiais raramente ultrapassam 50 cm de profundidade. Mesmo na
Amaznia, em regies que tm as estaes do ano (chuvosa e seca) bem definidas, as rvores
tendem a desenvolver razes mais profundas para procurar gua, o que no o caso da
Amaznia Central.

O componente 3 pode ser estimado com preciso combinando as taxas de mortalidade


com os modelos usados no componente 1.

Coleta de dados => verdade de campo => mtodo destrutivo

Os procedimentos para o componente 1 so apresentados no Anexo 2. Ao incluir o


componente 2 em coletas de biomassa, preciso incluir as razes. preciso escavar, separar
as razes do tronco e pes-las. A metodologia de coleta de amostras para as determinaes dos
teores (concentraes) de gua e carbono a mesma utilizada na parte area. Aqui tambm,
exige-se mais transpirao do que inspirao.

Equaes de biomassa

5
Higuchi, N., Santos, J. dos, Ribeiro, R.J., Minette, L. e Biot, Y. 1998. Biomassa da parte area da vegetao da
floresta tropical mida de terra-firme da Amaznia brasileira. Acta Amazonica, 28(2):152-166.

85
Procedimentos iguais aos de volume.

Aplicao da equao de biomassa

O pargrafo apresentado para o volume deve ser repetido aqui.

Para o caso de biomassa, cabem ainda as seguintes consideraes: (i) voc estima o
peso fresco; portanto, voc tem que transform-lo em peso seco e depois em carbono basta
multiplicar o peso pelas concentraes de gua e carbono obtidas em laboratrio; (ii) o
carbono como commodity (mercadoria) em bolsas de mercadorias significa estoque e
diferena de estoque; portanto, voc precisa trabalha com inventrio florestal contnuo com,
pelo menos, duas ocasies; (iii) voc precisa separar o peso nos trs componentes definidos
pelo IPCC.

86
Anexo 4
Distribuio de dimetro: Weibull versus Exponencial

1. Introduo:

Como a altura da rvore difcil de ser medida, com preciso, o dimetro passa a ser a
varivel mais importante e mais segura para estimar o volume e a biomassa de florestas
tropicais de uma regio como a Amaznia. Alm disso, o dimetro consagrou-se como uma
varivel importante na descrio da estrutura florestal, como tambm na comercializao de
madeira. Assim, a quantificao de distribuies de dimetro fundamental para o
entendimento da estrutura da floresta e do estoque da floresta, que so pr-requisitos nas
decises do manejo florestal.

Bailey and Dell (1973), Clutter et al. (1983) e Higuchi (1987) apresentam revises
compreensivas sobre distribuies de dimetro. De acordo com Clutter et al. (1983) e
Lawrence e Shier (1981), entre as vrias distribuies estatsticas, a distribuio Weibull tem
sido a mais usada pelo setor florestal, depois da distribuio exponencial.

A introduo da funo de distribuio Weibull aos problemas relacionados com


silvicultura e manejo florestal, atribuda Bailey e Dell em 1973 (Zarnoch et al., 1982;
Little, 1983; Clutter et al., 1983 e Zarnoch e Dell, 1985). Desde ento, esta distribuio tem
sido extensivamente utilizada para descrever a distribuio de dimetro, tanto em
povoamentos equianos como multianos, especialmente nos Estados Unidos.

No Brasil, especialmente na floresta amaznica, a Weibull foi utilizada por Higuchi


(1987), Umana (1998), mas segundo Barros et al. (1979) e Hosokawa (1981), a distribuio
mais popular a exponencial.

2. As funes de distribuio de dimetro:

Nesta comparao entre Weibull e exponencial, usaremos a metodologia proposta por


Zarnoch e Dell (1985), Cohen (1965) e Einsensmith (1985), respectivamente tcnica dos
percentis, da mxima verossimilhana e exponencial, para a obteno estimadores
(coeficientes) das funes.

(i) Weibull Mxima Verossimilhana (WMV)

A distribuio Weibull, que tem a seguinte funo de densidade probabilstica:

87
f(x) = (c/b)xc-1 exp (-(x)c/b; para x0, c>0 e b>0

= 0, em outras circunstncias

tem a seguinte funo de verossimilhana para uma amostragem de n observaes

L (xi, ....., xn; c, b) = n (c/b) xic-1 exp (-xic/b) (1)

Tirando o logaritmo de (1), teremos

ln L = ln [(c/b)xic-1 exp (-xic/b)]

ln L = [ln (c/b) + ln xic-1 (xic/b)]

ln L = n ln (c/b) + (c-1) ln xi (1/b) xic

Por meio da diferenciao em relao a c e b e igualando a zero as derivadas, as


seguintes equaes sero obtidas:

d ln L/d c = n/c + ln xi (1/b) xic ln xi = 0 (2)

d ln L/d b = -(n/b) + (1/b2) xic = 0 (3)

Tirando b de (3), temos

b = ( xic ) / n (4)

e substituindo em (2), temos

n/c + ln xi [1/(xic/n)] xic ln xi = 0

n [(1/c) ( xic ln xi) / xic] = - ln xi

[( xic ln xi) / xic] (1/c) = (1/n) ln xi (5)

Dessa forma, o coeficiente c pode ser estimado por meio de qualquer processo
iterativo ou via tentativa-e-erro para igualar os dois lados da equao (5). O coeficiente b
pode ser estimado pela equao (4), depois de estimado o c.

A freqncia esperada pode ser determinada atravs da seguinte funo de distribuio


cumulativa de Weibul, F(x), que, por sua vez, pode ser encontrada integrando a sua funo de
densidade probabilstica, f(x), do DAP mnimo at o mximo (Zarnoch et al., 1982)

F(x) = 1 exp { - [ ( x - a ) / b ] c

88
ii. Weibull Percentis (PERC):

A funo de Weibull usando o mtodo dos percentis, tem a seguinte funo de


densidade probabilstica

f (x) = (c/b) [(x-a)/b)c-1 exp {-[(x-a)/b]c; para xa0, b>0 e c>0

f (x) = 0, em outras circunstncias

Os parmetros a, b e c so estimados da seguinte maneira:

a = [ x1 xn x22 ] / [ x1 + xn 2x2 ]

b = - a + x (0,63n)

ln { [ ln (1 pk )]/ [ ln (1 pi ) ] }

c = -----------------------------------------

ln { [ x n*pk a ] / [x n*pi a ] }

onde:

x i ( i = 1, 2, ... n) = o i-simo DAP em ordem crescente

x 1 = o menor DAP e x n = o ltimo DAP, ou seja, o maior DAP.

x (0,63n) = o DAP rankeado em ( 0,63 * nmero total de DAP observados). Exemplo: num
conjunto de dados de 100 DAPs, x (0,63n) o 63 DAP.

p i = 0,16731 e p k = 0,97366

A freqncia esperada pode ser determinada por meio da seguinte funo de


distribuio cumulativa de Weibul, F(x), que, por sua vez, pode ser encontrada integrando a
sua funo de densidade probabilstica, f(x), do DAP mnimo at o mximo (Zarnoch et al.,
1982).

F(x) = 1 exp { - [ ( x a ) / b ] c

(iii) Exponencial:

As estimativas dos parmetros da primeira ordem da funo exponencial

Y = a e bx

podem ser obtidos pela linearizao (srie de Taylor) ou por meio do mtodo iterativo
(Marquardt, por exemplo), segundo Draper e Smith (1981). O software Systat pode calcular
os coeficientes pelos dois mtodos.

89
3. Clculo das probabilidades (freqncia esperada): caso Weibull percentis para DAP10
cm

P (x < 10) = 1 {exp [(10 a)/b]c}

P ( 10 x < 20 ) = {exp [(10 a)/b]c} - {exp [(20 a)/b]c}

P ( 20 x < 30 ) = {exp [(20 a)/b]c} - {exp [(30 a)/b]c}

P ( 30 x < 40 ) = {exp [(30 a)/b]c} - {exp [(40 a)/b]c}

etc at o ltimo intervalo.

90
Bibliografia:

Bailey, R.L. e T.R. Dell. 1973. Quantifying Diameter Distributions with the Weibull
Function. Forest Science 19:97-104.

Barros, P.L.C., S.A. Machado, D. Burger e J.D.P. Siqueira. 1979. Comparao de Modelos
Descritivos da Distribuio Diamtrica em uma Floresta Tropical. Floresta 10(2):19-31.

Clutter, J.L., J.C. Fortson, L.V. Pienaar, G.H. Brister e R.L. Bailey. 1983. Timber
Management: A Quantitative Approach. John Wiley and Sons, Inc. New York. 333p.

Cohen, A.C. 1965. Maximum Likelihood Estimation in the Weibull Distribution Based on
Complete and on Censored Samples. Technometrics 7(4):579-588.

Draper, N.R. e H. Smith. 1981. Applied Regression Analysis. John Wiley and Sons, Inc. New
York. Segunda edio. 709p.

Einsesmith, S.P. 1985. PLOTIT: Users Guide.

Higuchi, N. 1987. Short-term Growth of an Undisturbed Tropical Moist Forest in the


Brazilian Amazon. Tese de Doutor, Michigan State University. 129p.

Hosokawa, R.T. 1981. Manejo de Florestas Tropicais midas em Regime de Rendimento


Sustentado. UFPr, Relatrio Tcnico.

Lawrence, K.D. e D.R. Shier. 1981. A Comparison of Least Squares and Least Absolute
Deviation Regression Models for Estimating Weibull Parameters. Commun. Statist.
Simula Computa. B10(3):315-326.

Little, S.N. 1983. Weibull Diameter Distribution for Mixed Stands of Western Confiers.
Can.J.For.Res. 13:85-88.

Umana, C.L.A. e Alencar, J.C. 1998. Distribuies Diamtricas da Floresta Tropical


mida em uma rea no Municpio de Itacoatiara AM. Acta Amazonica 28(2):167-
190.

Zarnoch, S.J., C.W. Ramm, V.J. Rudolph e MW. Day. 1982. The effects of Red Pine
Thinning Regimes on Diameter Distribution Fitterd to Weibull Function. MSU
Agricultural Experiment Station East Lansing. RI-423. 11p.

Zarnoch, S.J. e T.R. Dell. 1973. An Evaluation of Percentile and Maximum Likelihood
Estimators of Weibull Parameters.

91
Anexo 5
Biomassa da Parte Area da Vegetao da Floresta Tropical mida de Terra-
Firme da Amaznia Brasileira.

Niro Higuchi1 , Joaquim dos Santos1 , Ralfh Joo Ribeiro1,


Luciano Minette1 e Yvan Biot2

Resumo
Usando um banco de dados com 315 rvores, com DAP5 cm, foram testados quatro
modelos estatsticos - linear, no linear e dois logartmicos - para estimar a biomassa de
rvores em p. Os dados foram coletados, de forma destrutiva, na regio de Manaus, Estado
do Amazonas, em um stio coberto por floresta de terra-firme sobre plats de latossolo
amarelo. Em diferentes simulaes com diferentes intensidades de amostragem, os quatro
modelos estimam precisamente a biomassa, sendo que o afastamento entre a mdia observada
e a estimada, em nenhuma ocasio ultrapassou 5%. As equaes para estimar a biomassa de
rvores individuais em uma parcela fixa, distintamente para rvores com 5DAP<20 cm e
com DAP20 cm, so mais consistentes do que o uso de uma nica equao para estimar,
genericamente, todas as rvores com DAP5 cm. O modelo logartmico com apenas uma
varivel independente, o DAP, apresenta resultados to consistentes e precisos quanto os
modelos que se utilizam tambm da varivel altura total da rvore. Alm do modelo
estatstico para estimar o peso da massa fresca total de uma rvore, outras informaes so
apresentadas, estratificadas nos diferentes compartimentos (tronco, galho grosso, galho fino,
folhas e, eventualmente, flores e frutos) de uma rvore, como: concentrao de gua para
estimar o peso da massa seca, concentrao carbono e a contribuio do peso de cada
compartimento no peso total.
palavras-chaves: Carbono, manejo florestal, modelo estatstico.
Aboveground Biomass of the Brazilian Amazon Rainforest
Abstract
Data set with 315 trees with diameter at breast height (dbh) greater than 5 cm was used to
test four statistical models - linear, non-linear and two logarithmics - to estimate aboveground
biomass of standing trees. The data were collected destructively in Manaus region, Central
Amazonia, in a site covered by a typical dense terra-firme moist forest on plateaus
dominated by yellow latosols. The difference between observed and estimated biomass was
always below 5%. The logarithmic model using a single independent variable (dbh) produced
results as consistent and precise as those with double-entry (dbh and total height). Besides
statistical models to estimate aboveground biomass, the following information are also
presented in this paper: the contribution of each tree compartment (stem, branch, twigs, leaves
and flowers or fruits) to the total weight of a standing tree, water concentration to estimate the
dry weight and carbon concentration of each tree compartment.
Key words: Carbon, forest management, statistical model

1
Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia - Cx. Postal, 478 - Manaus - Am.
2
U. K. Overseas Development Administration (ODA). Victoria Street, 94 - London. SW1E5JL - England.

92
Introduo:
O objetivo deste trabalho o desenvolvimento de modelos estatsticos para estimar a
biomassa individual, de rvores em p, de espcies da floresta densa de terra-firme, regio de
Manaus (AM), assim como a apresentao de informaes necessrias para a converso de
massa fresca para massa seca e de biomassa para estoque de carbono. So testados quatro
modelos, linear, no-linear e dois logartmicos, tendo como varivel dependente, o peso da
massa fresca (no seca) e, como variveis independentes, dimetro altura do peito (DAP) e
altura total, de rvores individuais. O principal atributo dos modelos testados o tamanho da
rvore e, por esta razo, tm que absorver a alta diversidade florstica e as diferentes
associaes botnicas, distribuies espaciais e densidades da madeira (intra e
interespecficas), da vegetao de terra-firme.
As estimativas de biomassa florestal so informaes imprescindveis nas questes
ligadas, entre outras, s reas de manejo florestal e de clima. No primeiro caso, a biomassa
est relacionada com os estoques de macro e micronutrientes da vegetao, que so obtidos
pelo produto da massa pelas concentraes de cada mineral. No caso do clima, a biomassa
usada para estimar os estoques de Carbono, que, por sua vez, so utilizados para estimar a
quantidade de CO2 que liberada atmosfera durante um processo de queimadas.
O manejo florestal est associado ao uso sustentvel dos recursos florestais existentes,
para atender s demandas da sociedade, por produtos madeireiros e no-madeireiros.
Tratando-se de Amaznia, os cuidados tm que ser redobrados porque estes recursos esto em
ecossistemas heterogneos, complexos e frgeis. Os solos da Amaznia so antigos e, em sua
maioria, pobres em nutrientes (especialmente para a agropecuria) e cidos. A contrastante
exuberncia de sua cobertura florestal est associada s estratgias de conservao e de
ciclagem de nutrientes dentro do prprio sistema. importante conhecer a distribuio de
nutrientes nos diferentes compartimentos (tronco, galho, casca, folha), para controlar a
exportao dos mesmos pela colheita florestal e entrada via inputs atmosfricos e, com isto,
minimizar os impactos ambientais da produo madeireira.
Para as questes climticas, h grande interesse em quantificar a biomassa que
convertida, principalmente em dixido de carbono, pelas diferentes formas de uso do solo
amaznico (Fearnside et al., 1993, Foster Brown et al., 1995, Higuchi & Carvalho Jr., 1994,
Skole et al., 1994, Schroeder & Winjum, 1995 e Fearnside, 1996). Esta informao
necessria para uma correta avaliao da contribuio dos projetos de desenvolvimento da
regio, no processo de mudanas climticas globais, no mbito da Conveno do Clima,
assinada pelo Governo Brasileiro durante a Conferncia das Naes Unidas sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rio-92.
As estimativas de biomassa, atualmente disponveis na literatura, dos diversos tipos
florestais da Amaznia, vm de estudos que se utilizam de mtodos diretos e indiretos. O
mtodo direto consiste na derrubada e pesagem de todas as rvores que ocorrem em parcelas
fixas, fornecendo estimativas, que segundo Brown et al. (1989), no so confiveis porque
baseiam-se em poucas parcelas, pequenas e tendenciosamente escolhidas. No mtodo indireto,
as estimativas tm sido produzidas a partir de dados de inventrios florestais, que foram
executados com a finalidade de planejar a explorao e o manejo florestal, sendo o volume da
madeira, a principal varivel. Neste mtodo, a biomassa estimada a partir do volume da
madeira, usando-se a densidade mdia da madeira e um fator de correo para rvores com
DAP < 25 cm.
Estes dois mtodos ainda geram muita polmica e controvrsias e produzem
estimativas desencontradas, mesmo quando se usa o mesmo banco de dados (Fearnside et al.,
1993, Brown et al., 1989 e Higuchi et al., 1994 e Foster Brown et al., 1995). A tabela 1 ilustra

93
o que foi posto anteriormente. Esta tabela foi parcialmente reproduzida de FEARNSIDE et al.
(1993), considerando apenas a biomassa viva acima do nvel do solo. So produzidas
estimativas diferentes, com o passar do tempo, pelos mesmos autores e para o mesmo banco
de dados (montado nos anos 70). Alm disso, Foster Brown et al. (1995) criticam estes
bancos de dados, afirmando que as alturas das rvores foram obtidas sem aparelhos de
medio e que, estes erros no amostrais no so mencionados.
O consenso existente entre os pesquisadores que trabalham com biomassa de que
praticamente impossvel determinar a biomassa de cada rvore, pelo mtodo direto, ao
executar um inventrio florestal. Por esta razo, os recursos da anlise de regresso para o
desenvolvimento de modelos estatsticos, para estimar a biomassa de rvores em p, devem
ser empregados para superar este problema. Salomo et al. (1996) citam apenas dois modelos
estatsticos utilizados na Amaznia; um proposto por Sandra Brown e colaboradores e, outro,
proposto por Christopher Uhl e colaboradores. O primeiro requer o conhecimento da
densidade da madeira de cada indivduo, que praticamente impossvel obte-la durante o
inventrio; e o segundo, recomendado para florestas secundrias. Alm destes, h o modelo
de Overman et al. (1994), para a floresta amaznica colombiana, desenvolvido principalmente
para rvores de pequenos dimetros.
Materiais e Mtodos
(i) Coleta de Dados:
Os dados foram coletados na Estao Experimental de Silvicultura Tropical (EEST)
do INPA, aproximadamente 90 km ao norte de Manaus, em reas derrubadas para
experimentos com liberao de dixido de carbono, usando-se queimadas tradicionalmente
praticadas por pequenos produtores da regio, e em reas especialmente designadas para esta
pesquisa. Nos dois casos foram escolhidas reas de plats sobre latossolo amarelo. Estes
dados constituem o banco de dados de biomassa do INPA.
No total, foram derrubadas e pesadas 315 rvores-amostras com DAP5 cm. O peso
total de todos os indivduos amostrados foi compartimentado em tronco e copa (incluindo
galhos e folhas e, eventualmente, frutos). Alm do peso da rvore, foram tambm medidos o
DAP, altura total, altura comercial, altura da copa e dimetro da copa. A distribuio de
freqncia e a estatstica descritiva dos dados observados encontram-se nas tabelas 2a e 2b).
Na tabela 2c observam-se as estatsticas descritivas para as variveis DAP, altura total e peso
total, quando os dados so divididos em algumas classes de dimetro. Nesta tabela fica
evidente que a varivel peso total tem uma variabilidade natural bem maior que as outras duas
variveis, mesmo em mais classes de dimetro.
Para obteno das concentraes de gua e nutrientes de cada compartimento da
rvores, 38 indivduos (dos 315 amostrados) foram coletados diferentemente, baseando-se no
esquema apresentado por Higuchi & Carvalho Jr. (1994) e Santos (1996). Foram retiradas
amostras (discos) a 0% (base), 25, 50, 75 e 100% (topo) do tronco e do galho grosso
(dimetro de base10 cm). Do tronco foi retirado tambm um disco altura do DAP. Todos
os discos retirados foram imediatamente pesados e enviados ao laboratrio para secagem em
estufas calibradas a 105o C. O mesmo procedimento foi adotado para os galhos finos e folhas,
mas que em vez de discos, foram retiradas, de vrias partes da copa, amostras de 5 e 3 kg,
respectivamente. A estimativa da concentrao de carbono na vegetao das espcies mais
abundantes, no stio estudado, foi feita tendo ainda as amostras coletadas por Higuchi &
Carvalho Jr. (1994).
O peso total de cada uma destas 38 rvores foi compartimentado em tronco, casca,
galho grosso, galho fino (dimetro<10 cm), folha e, eventualmente, flores e frutos. Alm

94
destas concentraes, a coleta compartimentada permite ainda a determinao da contribuio
de cada um dos compartimentos no peso total da rvore. A estatstica descritiva destes dados e
a contribuio de cada compartimento no peso total e a porcentagem do Peso da massa fresca
que transformado em Peso da massa seca, visualizam-se nas tabelas 3a e 3b.
Um desdobramento da pesquisa de Nutrientes o estudo de densidade da madeira
3
(g/cm ), nos sentidos base-topo e casca-medula da rvore (utilizando-se das amostras
coletadas a 0, 25, 50, 75 e 100% da altura comercial e do DAP). Resultados preliminares
deste estudo encontram-se na tabela 4, de 12 rvores analisadas.
O banco de dados de biomassa do INPA vem sendo completado ao longo do tempo e
j foi utilizado preliminarmente por Higuchi et al. (1994), Higuchi & Carvalho Jr. (1994),
Arajo (1995) e Santos (1996).
(ii) Modelos Testados:
Os modelos estatsticos foram selecionados a partir do trabalho de SANTOS (1996),
que testou 34 diferentes modelos em diferentes combinaes.
O banco de dados foi dividido em dois, para rvores com 5DAP<20 cm e DAP20
cm. Foram testados os seguintes modelos estatsticos, para todas as rvores com DAP5 cm,
equao nica, e para as duas classes de tamanho, (a) 5DAP<20 cm e (b) DAP20 cm:
1. ln Pi = 0 + 1 ln Di + ln i
2. ln Pi = 0 + 1 ln Di + 2 ln Hi + ln i
3. Pi = 0 + 1 Di2Hi + i
4. Pi = 0 D 1 H 2 + i
para i = 1, 2, ... 315 - equao nica
i = 1, 2, ... 244 - equao (a)
i = 1, 2, ... 71 - equao (b)
onde:
Pi = peso da massa fresca de cada rvore, em quilograma (para modelos 1, 2 e 4) e em
toneladas mtricas (para o modelo 3).
Di= dimetro altura do peito de cada rvore, DAP, em centmetros (para modelos 1,
2 e 4) e em metros (para o modelo 3)
Hi = altura total de cada rvore, em metros
0, 1 e 2 = coeficientes de regresso
i = erro aleatrio
ln = logartimo natural
Os modelos estatsticos propostos por Brown e Lugo (Foster Brown et al., 1995,
Salomo et al., 1996) e aqueles que apresentaram os melhores resultados no trabalho de
Saldarriaga et al. (1988), que incluem densidade da madeira, no foram testados porque esta
varivel de difcil obteno para cada indivduo em p. Alm disso, segundo Higuchi &
Carvalho Jr. (1994), a densidade da madeira (g/cm3) apresenta significativas variaes intra e
inter-especficas. Pelas mesmas razes, Overman et al. (1994) descartam esta varivel, apesar
do bom desempenho dos modelos que a contm.

95
Na tabela 4, onde visualizam-se as densidades de 12 rvores, observa-se que: a menor
densidade de 0,480 e a maior de 1,031; a densidade tende a diminuir no sentido base-topo;
a densidade mdia, considerando base-topo, de 0,756; e esta ltima varivel sempre menor
que a densidade mdia obtida na altura do DAP. A densidade mdia do DAP igual a 0,803,
que, por sua vez, diferente de todas as estimativas fornecidas por Foster Brown et al. (1995)
e a de Saldarriaga et al. (1988). As variaes no sentido casca-medula tambm so
significativas (Higuchi & Carvalho Jr., 1994).
(iii) Escolha do Melhor Modelo Estatstico:
Para a escolha do melhor modelo estatstico visando-se estimar a biomassa em p da
rea em estudo, foram adotados os procedimentos tradicionais da cincia florestal, que so:
maior coeficiente de determinao, menor erro padro de estimativa e melhor distribuio dos
resduos (Santos, 1996). Alm destes procedimentos, foram simuladas amostras de diferentes
intensidades, para testar a consistncia dos modelos na estimativa da biomassa. Foram
tomadas 15 amostras com 50 rvores selecionadas aleatoriamente do banco de dados original;
10 amostras com n = 100; 5 amostras com n = 200; e 5 amostras com n = 300.
Resultados e Discusso:
Do trabalho de Higuchi & Carvalho Jr. (1994), as seguintes informaes quantitativas
do stio estudado so importantes para uma melhor interpretao destes resultados e para
futuras comparaes com outros stios:
- Em uma parcela fixa de 2.000 m2, o peso da biomassa fresca distribui-se da seguinte
maneira, em relao ao peso total: a vegetao (exceto cips) com DAP5 cm contribui com
86,9% do peso total; a vegetao com DAP<5 cm contribui com 2,4%; os cips contribuem
com 1,3% e a liteira (toda a vegetao morta sobre a superfcie do solo) contribui com 9,4%.
- Os teores mdios de carbono so os seguintes: tronco (48%), galhos grossos (48%),
galhos finos (47%), folhas (39%), plntulas - at 50 cm de altura - (47%), mudas - altura>50
cm e DAP<5 cm - (49%), cips (48%) e liteira (39%).
Os coeficientes de regresso e de determinao e os erros padres de estimativa de
todos os quatro modelos estatsticos testados (rvores com DAP5 cm), incluindo as
variaes (a) para rvores com 5DAP<20 cm e (b) DAP20 cm, verificam-se na tabela 5. De
um modo geral, os quatro modelos (incluindo as variaes a e b) esto aprovados nos quesitos
coeficiente de determinao (r2) e erro padro de estimativa (sy.x) e, por esta razo, poderiam
ser utilizados para estimar a biomassa de rvores em p da rea em estudo.
Todos os modelos apresentam coeficientes de correlao (r) altamente significantes
(<0,01). De um modo geral, os modelos nicos para rvores com DAP 5 cm apresentam
os maiores coeficientes de determinao (r2), exceto para o modelo 3. Com relao ao (sy.x), o
modelo 4 o que tem o melhor desempenho, apresentado os menores erros, seguido do
modelo 2. Combinando as equaes a e b, no mesmo banco de dados, os erros (em
quilogramas) produzidos foram: 949, 693, 356 e 537, respectivamente para os modelos 1, 2, 3
e 4. Nesta situao, o melhor desempenho do modelo 3, seguido do modelo 4.
O exame da distribuio dos resduos mostra que os modelos 1, 2 e 3 no apresentam
nenhum padro, distribuindo-se aleatoriamente ao longo do eixo da biomassa observada e
estimada, ordenada de forma crescente pela varivel DAP. O modelo 4, no entanto, apresenta
um claro padro, aumentando os desvios conforme aumentam os DAPs.
As equaes resultantes so:
Modelo 1:

96
- Equaes a & b: (a) ln P = -1,754 + 2,665 ln D; para 5DAP<20 cm
(b) ln P = -0,151 + 2,170 ln D; para DAP20 cm
- Equao nica: ln P = -1,497 + 2,548 ln D; para para DAP5 cm
Modelo2:
- Equaes a & b: (a) ln P = -2,668 + 2,081 ln D + 0,852 ln H; para 5DAP<20
(b) ln P = -2,088 + 1,837 ln D + 0,939 ln H; para DAP20 cm
- Equao nica: ln P = -2,694 + 2,038 ln D + 0,902 ln H; para DAP5 cm
Modelo 3:
- Equaes a & b: (a) P = 0,0056 + 0,621 D2H; para 0,05DAP<0,20 m
(b) P = 0,393 + 0,473 D2H; para DAP0,20 m
- Equao nica: P = 0,077 + 0,492 D2H; para DAP0,05 m
Modelo 4:
- Equaes a & b: (a) P = 0,0336 * D2,171*H1,038; para 5DAP<20 cm
(b) P = 0,0009 * D1,585*H2,651; para DAP20 cm
- Equao nica: P = 0,001 * D1,579*H2,621; para DAP5 cm
A verificao da consistncia de cada um dos modelos estatsticos para estimar a
biomassa em p, sobre amostras simuladas (tiradas aleatoriamente do banco de dados
original), encontram-se na tabela 6. Nesta tabela verificam-se as mdias observadas e
estimadas em cada simulao. A anlise feita sobre o afastamento da mdia estimada em
relao observada, em percentagem, utilizando-se equaes distintas para estimar a
biomassa de rvores com 5DAP<20 cm e DAP20 cm e uma nica equao para todas as
rvores contidas na amostra com DAP5 cm.
(i) Modelo 1:
- Usando as equaes a e b, para estimar a biomassa do banco de dados original, a
mdia estimada afasta-se -1,9% da mdia observada, ou seja, o desvio6 de -1,9%. Quando
utiliza-se uma s equao para estimar a biomassa das duas classes de dimetro, o
desempenho anterior no repetido, apresentando um desvio de +16%. Excepcionalmente, na
simulao com n = 50, o uso de uma s equao resulta em um desvio mdio de +2,8%, que
poderia ser considerado bom se no fosse a amplitude de variao entre o menor e o maior
desvio, que foi de 0,1 a 24,9%.
- Este modelo (equaes a e b) demonstra a mesma consistncia nas simulaes com n
= 300, n = 200 e n = 100, respectivamente, com desvios de -1,9% (1,6 e 2,3, menor e maior
desvio, em valores absolutos), +0,5% (2,7 e 11,6) e +2,6% (3,7 e 22,1). A simulao com n =
50, o desvio mdio de -10,2%.
- A equao nica para estimar a biomassa, usando este modelo estatstico, no
alternativa para as duas equaes, ou seja, o uso deste modelo requer as duas equaes para
estimar a biomassa de rvores com 5DAP<20 cm e DAP20 cm, separadamente.
6
Desvio afastamento, em %, do peso mdio estimado pelas diferentes equaes, em relao ao peso mdio
observado. Entre parntesis, os desvios aparecem em valores absolutos e o primeiro sempre o menor e, o
segundo, o maior desvio.

97
- Trata-se de um modelo com apenas o DAP como varivel independente, que uma
varivel fcil de ser medida no campo, sem erros no amostrais. O nico problema deste
modelo que o peso ser sempre o mesmo, para um determinado dimetro,
independentemente da altura da rvore, da espcie e de outros atributos da rvore.
(ii) Modelo 2:
- Usando as equaes a e b, para estimar a biomassa do banco de dados original, a
mdia estimada afasta-se -3,6% da mdia observada. Quando utiliza-se uma s equao para
estimar a biomassa das duas classes de dimetro, o seu desempenho melhor do que o
anterior, com desvio de +2,9%.
- Este modelo (equaes a e b) demonstra a mesma consistncia nas simulaes com n
= 300, n = 200 e n = 100, respectivamente, com desvios de -3,6% (3,2 e 4,3, menor e maior
desvio, em valores absolutos), -1,8% (5,2 e 6,7) e -1,1% (0,9 e 12,7). A simulao com n =
50, o desvio mdio de 9,4%. O uso de uma s equao tem um desempenho razovel para
todas as simulaes, que exceto para n = 50, apresenta desvio menor do que quando se
utilizam as equaes a e b.
- Apesar do bom desempenho da equao nica, em relao aos desvios mdios, onde
as diferenas so negligveis, as amplitudes de variao dos mesmos nas equaes a e b so
menores, sendo, por esta razo, mais apropriadas para a estimativa da biomassa.
- A incorporao da altura total neste modelo permite estimar diferentes pesos para
iguais DAPs, ao contrrio do modelo 1.
(iii) Modelo 3:
- Usando as equaes a e b, para estimar a biomassa do banco de dados original, a
mdia estimada afasta-se +1,2% da mdia observada. Quando se utiliza uma s equao para
estimar a biomassa das duas classes de dimetro, o seu desempenho melhor do que o
anterior, com desvio de +0,1%. Apesar de um claro padro na distribuio dos resduos, este
modelo tem uma boa capacidade de compensao quando se utiliza todo o banco de dados,
tanto com as equaes a e b como com a equao nica para as duas classes de dimetro.
- Este modelo (equaes a e b) demonstra a mesma consistncia nas simulaes com n
= 300, n = 200, n = 100 e n = 50, respectivamente, com desvios de +1,2% (0,4 e 1,6, menor e
maior desvio, em valores absolutos), +3,1% (1,1 e 13,7), +3,8% (0,8 e 20,3) e -4,8% (0,4 e
19,4). O uso de uma s equao tem um desempenho to consistente quanto ao anterior, com
desvios de +0,1% (0,2 e 0,9), +2,2% (0,6 e 11,5), +2,4% (0,7 e 17,6) e -6,8% (0,4 e 16,2),
respectivamente para n = 300, n = 200, n = 100 e n = 50.
- A equao nica para este modelo a melhor alternativa para estimar a biomassa,
principalmente considerando apenas a estimativa da biomassa mdia de uma parcela fixa, sem
preocupar-se com as estimativas individuais. Em todos os tamanhos da amostragem, esta
equao demonstrou-se bastante consistente e precisa.
- Sem preocupar-se com as estimativas individuais, prestando ateno apenas no total
ou na mdia das parcelas fixas, este o melhor modelo entre os testados. De um modo geral,
este modelo superestima o peso das menores classes de dimetro. Para grandes inventrios
para estimativa de biomassa, este modelo o mais preciso.
(iv) Modelo 4:
- Usando as equaes a e b, para estimar a biomassa do banco de dados original, a
mdia estimada afasta-se -4,6% da mdia observada. Quando utiliza-se uma s equao para

98
estimar a biomassa das duas classes de dimetro, o desempenho anterior no repetido, com
desvio de -7,3%.
- Este modelo (equaes a e b) demonstra a mesma consistncia nas simulaes com n
= 300, n = 200, n = 100 e n = 50, respectivamente, com desvios de -4,3% (3,4 e 5,1, menor e
maior desvio, em valores absolutos), +0,3% (0,6 e 3,7), -4,0% (1,2 e 7,6) e -7,7% (4,2 e 16,1).
O uso de uma s equao tem um desempenho inferior a todos os outros modelos testados e,
por esta razo, no uma alternativa para as duas equaes. Neste caso, a opo tem que ser
pelas duas equaes, 4 a para rvores com 5DAP<20 cm e 4b para DAP20 cm.
- De todos os modelos testados, este modelo o que apresenta as menores amplitudes
de variao, demonstrando uma boa consistncia na estimativa da biomassa. um modelo
bastante conservador e que apresenta poucas surpresas na estimativa da biomassa das
diferentes classes de dimetro.
Consideraes finais:
1. Os quatro modelos estatsticos testados produzem estimativas confiveis de
biomassa de rvore em p, todos com desvios inferiores a 5% em relao mdia.
2. As equaes distintas para rvores com 5DAP<20 cm e com DAP20 cm so
mais consistentes que a equao nica para todas as rvores com DAP5 cm.
3. Dentre os modelos testados, os melhores so os modelos 1 e 4, respectivamente com
as seguintes equaes:
(a) ln P = -1,754 + 2,665 ln D; para 5DAP<20 cm
(b) ln P = -0,151 + 2,170 ln D; para DAP20 cm
e
(a) P = 0,0336 * D2,171*H1,038; para 5DAP<20 cm
(b) P = 0,0009 * D1,585*H2,651; para DAP20 cm
- O modelo 1 tem a vantagem de ser dependente de apenas uma varivel, o
DAP, que uma varivel fcil de ser medida no campo, com poucos riscos de erros no
amostrais;
- O modelo 4 tem a vantagem de ser muito consistente e de poder estimar mais
realisticamente rvores individuais, com mesmos DAPs e diferentes alturas. Alm disso, este
modelo j foi preliminarmente utilizado por ARAUJO (1995), em Tom-Au (Par), para
confrontar com os resultados obtidos pelo mtodo direto. Em Tom-Au, a biomassa estimada
por este modelo ficou tambm a menos de 5% da observada.
4. A eficincia das equaes est associada utilizao de parcelas fixas para o
inventrio de biomassa de um determinado stio, com as dimenses mnimas recomendadas
para os inventrios florestais na Amaznia.
5. O peso do tronco seco corresponde a 61% de seu peso antes da secagem; e o da
copa corresponde a 58% de seu peso fresco.
6. Do peso total de uma rvore, 65,6% tronco e 34,4% copa. A contribuio de
cada compartimento da rvore em seu peso total a seguinte: tronco (65,6%), galho grosso
(17,8%), galho fino (14,5%), folhas (2,03%) e flores/frutos (0,01%).
7. Os teores mdios de carbono so os seguintes: tronco (48%), galhos grossos (48%),
galhos finos (47%) e folhas (39%).

99
Tabela 1: Algumas estimativas de biomassa para a floresta densa da Amaznia brasileira*.

Tipo de floresta local biomassa (t) fonte


Densa (RADAMBRASIL) Amaznia 268 Brown & Lugo (1992a) ) cf.
fonte*
Densa (FAO) Amaznia 162 Brown & Lugo (1992a) - cf.
fonte*
Densa (RADAMBRASIL) Amaznia 289 Brown & Lugo (1992b) - cf.
fonte*
Densa (FAO) Amaznia 227 Brown & Lugo (1992b) - cf.
fonte*
Densa (presente) Amaznia 142.3 Fearnside (1992a) - cf. fonte*
Densa (presente) Amaznia 319.9 Fearnside (unpub. 1993) - cf.
fonte*
(*) Fonte: parcialmente reproduzida de Fearnside et al. (1993)

Tabela 2: Banco de Dados de Biomassa, do INPA (n = 315).


(a) Distribuio de Freqncia dos Dados Observados (n = 315).

Limites de classe Freq. %


5 < 10 154 48,89
10 < 20 90 28,57
20< 30 28 8,89
30< 40 18 5,71
40< 50 9 2,86
50< 60 8 2,54
60< 70 3 0,95
70< 80 3 0,95
80< 90 0 -
90< 100 1 0,32
100< 110 0 -
110< 120 0 -
120< 130 1 0,32
total 315 100

(b) Estatstica Descritiva dos Dados Observados:

varivel mdia desvio CV(%) mnimo mximo


DAP (cm) 16,0 15,3 96 5,0 120,0
H-total (m) 17,0 7,7 45 5,6 41,4
H-com (m) 10,7 5,2 49 2,4 26,1
P-tronco (kg) 476,3 1299,3 273 4,5 12736,5
P-copa (kg) 306,4 1031,5 337 0,6 12897,9
P-total (kg) 782,7 2271,1 290 9,1 25634,4
copa (%) 31 14 45 2 70

100
(c) Estatstica Descritiva dos Dados Observados, Divididos em Algumas Classes de Dimetro:

Classes de nmero DAP altura Total Peso Total


dimetro casos mdia CV(%) mdia CV(%) mdia CV(%)
5 < 10 154 7,0 20 11,4 27 35,7 68
10 < 15 62 12,0 12 16,4 20 135,0 42
15 < 20 28 17,5 9 20,8 18 407,5 34
20 < 30 28 23,6 11 23,7 13 852,0 43
30 < 50 27 37,2 14 29,3 11 2449,2 35
>= 50 16 65,9 29 34,1 10 8205,4 72

Tabela 3: Dados Utilizados para estudos de Nutrientes (n = 38).

(a) Estatstica Descritiva dos Dados Observados:

varivel mdia desvio CV(%) mnimo mximo


DAP (cm) 39,9 20,3 51 9,5 98,0
alt. total (m) 28,8 6,0 56 11,4 41,4
alt. com (m) 17,3 3,7 22 7,5 25,0
P-tronco (kg) 2147,4 2449,1 114 48,7 12736,5
P-copa (kg) 1595,3 2429,5 152 15,2 12898,3
P-total (kg) 3742,6 3005,4 128 63,9 25634,4
copa (%) 34 14 22 9 63

(b) Contribuio de cada compartimento (tronco, galho grosso, galho fino, folhas e flor/frutos)
no peso total de uma rvore e % do PF de cada um que transformado em PS:

PESOS tronco g.grosso g.fino folhas flor/frutos TOTAL


m 2147,36 1109,68 434,24 50,30 1,07 3742,61
VERDE s 2449,14 1985,66 432,65 48,87 5,41 4793,77
n 38 38(34) 38 38 38(8) 38
m 65,60 17,83 14,52 2,03 0,01
% total s 14,19 13,43 7,21 1,28 0,03
n 38 38(34) 38 38 38(8)
m 1301,65 665,63 246,64 23,58 0,80 2238,30
SECO s 1552,45 1243,55 253,6 23,01 4,60 3005,38
n 38 38(34) 38 38 38(8) 38
m 61,11 60,56 57,22 47,56 36,73 60,28
% PF s 8,27 7,98 5,75 7,21 20,62 7,41
n 38 34 38 38 8 38
m = mdia aritmtica; s = desvio padro amostral; n = nmero de observaes.
% total = contribuio do peso de cada compartimento da rvore em relao ao seu peso total.
% PF = % do Peso Fresco da rvore ou do compartimento que corresponde ao Peso Seco.

101
Tabela 4: Informaes sobre Densidade da Madeira.

Espcie 0% 25% 50% 75% 100% mdia DAP


1 0,856 0,790 0,757 0,753 0,718 0,775 0,824
2 0,696 0,697 0,683 0,650 0,684 0,682 0,706
3 0,879 0,903 0,866 0,741 0,724 0,823 0,913
4 0,536 0,521 0,509 0,499 0,471 0,507 0,546
5 0,681 0,678 0,640 0,640 0,615 0,651 0,700
6 0,818 0,807 0,806 0,653 0,704 0,758 0,838
7 0,725 0,707 0,711 0,693 0,704 0,708 0,717
8 1,027 0,990 0,946 0,929 0,961 0,971 1,015
9 0,891 0,870 0,862 0,862 0,846 0,866 0,896
10 0,571 0,533 0,485 0,445 0,367 0,480 0,528
11 1,077 1,033 1,000 0,987 1,056 1,031 1,059
12 0,891 0,870 0,807 0,716 0,846 0,826 0,896
mdia 0,804 0,783 0,756 0,714 0,725 0,756 0,803
desvio 0,167 0,163 0,159 0,159 0,191 0,165 0,168
mn. 0,536 0,521 0,485 0,445 0,367 0,480 0,528
mx. 1,077 1,033 1,000 0,987 1,056 1,031 1,059

Tabela 5: Coeficientes de Regresso e de Determinao, Erro Padro de Estimativa dos


Modelos Estatsticos para Estimar a Biomassa (Peso total) de rvores em p.

Modelo b0 b1 b2 r2 sy.x
1 -1,497 2,548 0,97 1729
1a -1,754 2,665 0,92 43
1b -0,151 2,170 0,90 2035
2 -2,694 2,038 0,902 0,98 812
2a -2,668 2,081 0,852 0,95 35
2b -2,088 1,837 0,939 0,91 1497
3 0,077 0,492 0,90 716
3a 0,0056 0,621 0,94 34
3b 0,393 0,473 0,86 1508
4 0,001 1,579 2,621 0,94 540
4a 0,0336 2,171 1,038 0,94 31
4b 0,0009 1,585 2,651 0,92 1159
b0, b1 e b2 = estimadores dos parmetros 0, 1 e 2, respectivamente.
r 2 = coeficiente de determinao ajustado
ry.x = erro padro de estimativa.
- modelo 1: ln Pi = b0 + b1 ln Di; sendo (1) para DAP5 cm e i = 1,..., 315; (1a) para
5DAP<20 cm e i = 1,..., 244; e (1b) para DAP20 cm e i = 1,..., 71.
- modelo 2: ln Pi = b0 + b1 ln Di + b2 ln Hi; sendo (2) para DAP5 cm e i = 1,..., 315; (2a) para
5DAP<20 cm e i = 1,..., 244; e (2b) para DAP20 cm e i = 1,..., 71.
- modelo 3: Pi = b0 + b1 Di2Hi; sendo (3) para DAP0,05 m e i = 1,..., 315; (3a) para
0,05DAP<0,20 m e i = 1,..., 244; e (3b) para DAP 0,20 m e i = 1,..., 71.
- modelo 4: Pi = b0 D b1 H b2; sendo (1) para DAP5 cm e i = 1,..., 315; (1a) para 5DAP<20
cm e i = 1,..., 244; e (1b) para DAP20 cm e i = 1,..., 71.

102
Tabela 6: Resumo das simulaes utilizando diferentes intensidades de amostragem (tomadas
aleatoriamente do banco de dados).

Biomassa observada
(observada e estimada) equaes a & b equao nica
observada 782,7
banco de dados modelo 1 768,2 [ -1,9 ] 907,7 [+16,0 ]
modelo 2 754,6 [ -3,6 ] 805,2 [ +2,9 ]
(n = 315) modelo 3 792,1 [ +1,2 ] 783,3 [ +0,1 ]
modelo 4 746,9 [ -4,6 ] 725,3 [ -7,3 ]
observada 794,1
amostra com n = 300 modelo 1 779,1 [ -1,9 ] 924,1 [ +16,4 ]
modelo 2 765,5 [ -3,6 ] 817,0 [ +2,9 ]
(5 repeties) modelo 3 803,3 [ +1,2 ] 794,7 [ +0,1 ]
modelo 4 760,2 [ -4,3 ] 738,9 [ -7,0 ]
observada 784,2
amostra com n = 200 modelo 1 788,3 [ +0,5 ] 944,2 [ +20,4 ]
modelo 2 770,0 [ -1,8 ] 826,4 [ +5,4 ]
(5 repeties) modelo 3 808,1 [ +3,1 ] 801,3 [ +2,2 ]
modelo 4 786,3 [ +0,3 ] 740,2 [ -5,6 ]
observada 844,8
amostra com n = 100 modelo 1 866,9 [ +2,6 ] 1052,4 [ +24,6 ]
modelo 2 835,4 [ -1,1 ] 900,5 [ +6,6 ]
(10 repeties) modelo 3 876,6 [+3,8 ] 865,1 [ +2,4 ]
modelo 4 811,3 [ -4,0 ] 790,8 [ -6,4 ]
observada 836,2
amostra com n = 50 modelo 1 750,8 [ -10,2 ] 859,3 [ +2,8 ]
modelo 2 757,2 [ -9,4 ] 799,8 [ -4,4 ]
(15 repeties) modelo 3 795,8 [ -4,8 ] 779,1 [ -6,8 ]
modelo 4 771,8 [ -7,7 ] 750,8 [ -10,2 ]

103
Bibliografia
Arajo, T.M. 1995. Investigao das Taxas de Dixido de Carbono Gerado em Queimadas na
Regio Amaznica. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Engenharia de Guaratinguet, 212 p..
Brown, S., A.J.R. Gillespie e A.E. Lugo. 1989. Biomass Estimation Methods for Tropical
Forests with Applications to Forest Inventory Data. Forest Science, 35(4):881-902.
Carvalho Jr., J.A., J.M. Santos, J.C. Santos, M.M. Leito e N. Higuchi. 1995. A Tropical
Rainforest Clearing Experiment by Biomass Burning in the Manaus Region. Atmospheric
Environment 29(17):2301-2309.
Fearnside, P.M., N. Leal Filho e F.M Fernandes. 1993. Rainforest Burning and the Global
Budget: Biomass, Combustion Efficiency, and Charcoal Formation in the Brazilian
Amazon. J. of Geophysical Research, 98(D9):16733-16743.
Fearnside, P.M. 1996. Amazonian Deforestation and Global Warming: Carbon Stocks in
Vegetation Replacing Brazils Amazon Forest. Forest Ecology and Management 80:21-
34.
Foster Brown, I., D.C. Nepstad, I.O. Pires, L.M. Luz e A.S. Alechandre. 1992. Carbon
Storage and Land-use in Extractive Reserves, Acre, Brazil. Environmental Conservation
19(4):307-315.
Foster Brown, I., L.A. Martinelli, W. Wayt Thomas, M.Z. Moreira, C.A. Cid Ferreira e R.A.
Victoria. 1995. Uncertainty in the Biomass of Amazonian Forests: an Example from
Rondnia, Brazil. Forest Ecology and Management, 75:175-189.
Higuchi, N. e J.A. Carvalho Jr. 1994. Fitomassa e Contedo de Carbono de Espcies Arbreas
da Amaznia. Em: Anais do Seminrio Emisso x Seqestro de CO2 - Uma Nova
Oportunidade de Negcios para o Brasil:127-153.
Higuchi, N., J.M. dos Santos, M. Imanaga e S. Yoshida. 1994. Aboveground Biomass
Estimate for Amazonian Dense Tropical Moist Forests. Memoirs of the Faculty of
Agriculture, Kagoshima, 30(39):43-54.
Overman, J.P.M., H.J.L. Witte e J.G. Saldarriaga. 1994. Evaluation of Regression Models for
Above-ground Biomass Determination in Amazonia Rainforest. Forest Ecology and
Management, 10:207-218.
Saldarriaga, J.G., D.C. West, M.L. Tharp e C. Uhl. 1988. Long-term Chronosequence of
Forest Sucession in the Upper Rio Negro of Colombia and Venezuela. Journal of Ecology
76:938-958.
Salomo, R.P., D.C. Nepstad e I.C.G. Vieira. 1996. Como a Biomassa de Florestas Tropicais
Influi no Efeito Estufa. Cincia Hoje, 21(122):38-47.
Santos, J. dos. 1996. Anlise de Modelos de Regresso para Estimar a Fitomassa da Floresta
Tropical mida de Terra-firme da Amaznia Brasileira. Tese de Doutorado,
Universidade Federal de Viosa, 121 p..
Schroeder, P.E. e J.K. Winjum. 1995. Assessing Brazils Carbon Budget: II. Biotic Fluxes
and Net Carbon Balance. Forest Ecology and Management, 75(87-99).
Skole, D.L., W.H. Chomentowski, W.A. Salas e A.D. Nobre. 1994. Physical and Human
Dimensions of Deforestation in Amazonia. BioScience, 44(5):314-321.

104
Captulo 14
Cadeia de Markov para predizer a dinmica da floresta amaznica

1. Introduo:

Estudar a dinmica da floresta tropical mida amaznica, manejada ou no, um


grande desafio para os florestais. Os modelos clssicos de produo florestal foram
desenvolvidos para florestas temperadas e tm como principais variveis, o ndice de stio e
idade da rvore ou do povoamento (Sullivan e Clutter, 1972; Ferguson e Leech, 1978; Alder,
1980; Smith, 1983 e Clutter et al., 1983). Essas duas variveis so limitantes para o
desenvolvimento de modelos de produo para as florestas da Amaznia porque so
praticamente indisponveis para o setor florestal, num curto prazo. Apesar de inmeras
tentativas, por meio da dendrocronologia ou da datao com 14C, a determinao das idades
das inmeras espcies que ocorrem numa determinada rea, continua sendo um grande
obstculo para a cincia florestal.

Sem a idade da rvore ou do povoamento ou com muita dificuldade para obte-la, a


alternativa prognosticar a dinmica da floresta com o uso de parcelas permanentes. Na
Amaznia, entretanto, as parcelas instaladas e devidamente monitoradas so poucas, mal
distribudas e recentes (as mais antigas esto na Flona de Tapajs, desde 1978). Considerando
que as idades de rvores com DAP > 50 cm, na regio de Manaus, podem variar de 200 a
1400 anos, segundo Chambers et al. (1998), 20-30 anos de observaes podem parecer
insuficientes para descrever, com confiana, a dinmica de uma floresta da Amaznia.

Apesar de todas essas dificuldades, aproximadamente 1 milho de hectares de floresta


amaznica so manejados, anualmente, para produo madeireira sob algum tipo de manejo
em regime de rendimento sustentvel. difcil imaginar como os empresrios florestais vo
planejar os ciclos de corte subseqentes, sem um modelo de produo. Se nada for feito, o
manejo florestal tomar a mesma forma da agricultura itinerante. A melhor sada para esta
situao usar modelos de curto prazo que dependem exclusivamente da situao
imediatamente anterior ao atual, tendo como objetivo a projeo apenas para uma situao
imediatamente posterior. Dentre os vrios modelos disponveis, o que melhor se ajusta s
caractersticas das florestas da Amaznia, a cadeia de Markov.

105
2. Cadeia de Markov:

A cadeia de Markov de primeira ordem um processo estocstico no qual as


probabilidades de transio durante o intervalo de tempo (t e t+1) dependem apenas no estado
do indivduo no tempo t ou no conhecimento do passado imediato no tempo t+1 e no em
qualquer outro estado prvio (Horn, 1975; Chiang, 1980 e Bruner e Moser, 1973). Shugart
(1984) enfatiza que a natureza invarivel em tempo de cada uma das probabilidades de
transio uma importante caracterstica da cadeia de Markov, tendo muita afinidade com o
comportamento dos ecossistemas florestais.

De acordo com Bierzychudek (1982), um modelo de matriz de transio um


modelo classificado em tamanho ou uma forma da matriz de Leslie. A nica exigncia
deste modelo divisibilidade da populao em grupo de estados e que existam
probabilidades de movimento de um estado para outro, com o passar do tempo
(Enright e Ogden, 1979).

Shugart e West (1981) apontam que a importncia do entendimento dos ecossistemas


florestais no baseada nas idades, mas sim nas mudanas conhecidas no presente. Os
modelos determinsticos consistindo de uma simples funo matemtica (linear, polinomial ou
exponencial) no demonstraram ainda que so comprovadamente adequados, quando sries de
tempo so envolvidas (Morrison, 1976).

Segundo Enright e Ogden (1979), nas florestas tropicais, o atributo tamanho pode ser
mais importante do que a idade. Uma razo para isso que o tamanho pode ser mais
ecologicamente informativo do que a idade, quando esta difcil de ser obtida com preciso.
Alm disso, segundo ainda os mesmos autores, a diviso de ciclos de vida em estgios de
desenvolvimento pode permitir a predio do comportamento futuro mais precisamente do
que a diviso em puras classes de idade. Usher (1966) usou o atributo tamanho no lugar da
idade para desenvolver um modelo para o manejo de recursos renovveis. Ele afirma que um
organismo que est na i-sima classe no tempo t, pode permanecer na mesma classe, mudar
para a classe seguinte (mais de uma classe tambm) ou morrer, no tempo t+1.

Os modelos que usam matriz de transio so apropriados para anlise de muitos


problemas biolgicos, principalmente em estudos relacionados com a dinmica da floresta
(Enright e Ogden, 1979). Esses modelos tm sido usados intensivamente em estudos de
dinmica de populaes de plantas ou animais em vrias regies do mundo. Alguns exemplos
so: a demografia do jack-in-the-pulpit em Nova York (Bierzychudek, 1982); dinmica

106
florestal de uma populao de Araucaria numa floresta tropical mida de Papua Nova Guinea
e Nothofagus em floresta montana temperada da Nova Zelndia (Enright e Ogden, 1979);
sucesso de trmitas em Gana (Usher, 1979); sucesso florestal na Nova Jersey (Horn, 1975);
aplicao da Cadeia de Markov em estudos de dinmica florestal em florestas tropicais
(Acevedo, 1981) e a aplicao de Markov para predizer o desenvolvimento de um
povoamento florestal (Usher, 1966; Usher, 1969, Bruner e Moser, 1973; Peden et al., 1973 e
Buogiorno e Michie, 1980).

Alder (1980) tambm descreve a matriz de transio como uma possvel ferramenta
para anlise de dados de crescimento e incremento de povoamentos multianos de florestas
tropicais mistas. Na regio de Manaus, Higuchi (1987) usou Markov para estudar a dinmica
das parcelas testemunhas do projeto de manejo florestal (Projeto Bionte) e Rocha (2001) nos
transectos do projeto Jacaranda. A maioria dos trabalhos citados anteriormente inclui revises
razoveis da teoria do mtodo de Markov. H tambm outras leituras teis sobre o assunto,
como Grossman e Turner (1974), Chiang (1980) e Anderson e Goodman (1957).

3. Aplicao de Markov aos dados das parcelas permanentes da ZF-2:

Primeiro vamos considerar: (i) estados i e j = 1, 2, ..., m; (ii) tempos de observao t =


0, 1, .., T; (iii) p ij (t+1) (i, j = 1, 2, ..., m) = probabilidade do estado j no tempo t+1, dado o
estado i no tempo t.

Um processo Markov considerado homogneo em relao ao tempo ou tempo


homogneo, se a probabilidade de transio

p ij (t, t+1) = Pr [x(t+1) = j | x(t) = i], para i, j = 1, 2, ...., m.

depender apenas da diferena entre t e t+1, mas no de t e t+1 separadamente (Chiang, 1980).

A montagem da matriz comea com o clculo de

p ij = n ij / n j

onde: n ij = nmero de indivduos na classe j no tempo t+1, dada a classe i no tempo t e n j =


nmero total de indivduos na classe i no tempo t.

107
A matriz de transio probabilstica de uma cadeia de Markov para um processo de n
estados pode ser montada da seguinte maneira:

j=1 j=2 j=3 ...... j=m


i=1 p11 p12 p13 ...... p1m
i=2 p21 p22 p23 ...... p2m
P = (p ij) = i =3 p31 p32 p33 ...... p3m
. . . . . .
. . . . . .
i=m pm1 pm2 pm3 ...... pmm

sendo que as probabilidades p ij so no-negativos e a soma de pi1 + pi2 + ... + pim deve ser
igual a 1.

A probabilidade de transio p ij pode ser de n passos, tomando a forma de p ij (n) onde


n indica o nmero de tentativas, ou seja, a probabilidade que a populao vai de um estado i
de uma tentativa para o estado j, n tentativas depois.

Exemplo didtico: Projees da dinmica do Bionte usando Markov (base: tratamento


intermedirio, T2, do bloco 2, sub-bloco 4 T2-B2SB4)

No caso dos dados da parcela permanente do exemplo, vamos considerar 15 estados (i,
j = 1, 2, ...15), onde:

estado 1 = recrutamento (R)

estados de 2 a 14 = classes de dimetro. As classes de DAP so de 5-5 cm e vo de 10,


passando pela classe truncada DAP 65 e a classe prxima depois de DAP 65. A
movimentao de uma classe para outra, no caso da classe DAP 65, pode ser uma rvore
com DAP = 78, em 1990, que passou para a classe seguinte (podendo ser DAP = 80 ou DAP
= 81), em 1997 ou tambm uma com DAP = 119, em 1990, que passou para a classe seguinte,
em 1997.

estado 15 = mortalidade (M)

so considerados: t = 1990 e t+1 = 1997.

Passos para o clculo matricial:

1. Matriz A (Quadro 1) => transio entre a 1 ocasio (1990) e 2 ocasio (1997) =>
tabelas dinmicas do Excel (V. Box). Daqui uns 10 anos, bem provvel que algum no veja

108
nenhuma importncia nas instrues contidas no Box por achar completamente obsoleta.
Hoje, em 2005, apesar deste recurso ser pouco conhecido pelos florestais, um poderoso e
prtico instrumento para organizar os dados. Quando se trabalha com parcelas permanentes,
re-medidas em vrias ocasies sucessivas, a tabela dinmica serve tambm para conferir o
arquivo de dados. A matriz A simtrica; portanto, h 17 colunas e 17 linhas.

1.1. => total 1 ocasio = (total, freqncia da linha 17 e coluna 17 ou f17,17 = 673)
menos recrutas (R, linha 1 e coluna 17 ou f1,17 = 189) = 484

1.2. => total 2 ocasio = (total, f17,17 = 673) menos mortas (M, f17,16 = 45) = 628

2. Matriz B1 e B2 (Quadro 2) => probabilidades de mudanas de um estado (i) para outro (j).
A matriz de probabilidade repetida pra facilitar a multiplicao de matrizes no Excel.
Portanto B1 = B2.

2.1. Recrutas (R) => das 189 rvores recrutadas em 1997 => 160, 22, 3, 3 e 1,
respectivamente, foram recrutadas para a 1 classe (10<15), 2 (15<20), 3 (20<25), 4
(25<30) e 5 classe (30<35).

2.2. Probabilidades de 2.1. => 160/189, 22/189, ... 1/189.

2.3. 1 classe (10<15) => das 180 rvores que estavam na 1 classe na 1 ocasio
(1990) => na 2 ocasio (1997), 116 permaneceram na 1 classe, 48 mudaram para a 2
classe, 1 passou para a 3 classe e 15 morreram.

2.4. Probabilidades de 2.3. => 116/180, 48/180, 1/180 e 15/180.

2.5. 2 classe (15<20) => das 101 rvores que estavam na 2 classe na 1 ocasio
(1990) => na 2 ocasio (1997), 69 permaneceram na 2 classe, 21 mudaram para a 3
classe, 1 passou para a 4 classe e 10 morreram.

2.6. Probabilidades de 2.5. => 69/101, 21/101, 1/101 e 10/101.

3. Matriz de probabilidade 2 passos adiante (Quadro 3) => at 2004 => matriz de transio
probabilstica elevada ao quadrado (2) => Se quiser 3 passos adiante, a matriz de transio
probabilstica ser elevada ao cubo (3) => Matriz C

3.1. Multiplicao de matrizes (B1*B2) => No Excel:

- antes ir funo, blocar um espao igual matriz que ser multiplicada (B1
ou B2).

109
- definir matriz 1 (B1) blocando-a (passando o cursor em toda a sua
extenso).

- definir matriz 2 (B2) e OK

- truque pra ver o resultado (matriz C) => segurar juntos Ctrl e Shift e apertar
Enter mantendo o cursor sobre a funo (Fx).

4. Projeo para 2004 => Matriz D (Quadro 4) =>

4.1. Copiar os totais da coluna Q (Q4 a Q 16) ao final da matriz C (recriando a coluna
Q para esta matriz).

4.2. Freqncia da classe 10<15 => C63*Q63 + C64*Q64 = 0,545561 * 189 +


0,415309 * 180 = 103,1111 + 74,75556 = 177,8667.

4.3. Freqncia da classe 15<20 => D63*Q63 + D64*Q64 + D65*Q65 = 0,305272 *


189 + 0,35403 * 180 + 0,466719 * 101 = 168,5604

5. Ajustes necessrios (5a) => a cadeia de Markov no faz projees do recrutamento.


Portanto, h necessidade de fazer ajustes para o recrutamento e mortalidade das rvores
recrutas.

5.1. Recrutamento (em diferentes classes de dimetro) => Enquanto no tiver uma
srie histrica de recrutamento, o nico recurso usar o n de indivduos recrutados de
uma ocasio para outra. Se 3 ocasies esto disponveis, o certo usar a mdia [ R =
(R1+R2)/2 ], sendo que R1 o n indivduos recrutados entre a 1 e 2 ocasio e R2 o
n entre a 2 e 3 ocasio.

Exemplo: usando trs ocasies => duas medidas de recrutamento

R1 => 10<15, 15<20, 20<25, 25<30 => 160, 22, 3, 3 e 1

R2 => 10<15 e 15<20 => 122 e 8

Resultados => ajuste R => 1 CD = (160+122)/2 = 141

2 CD = (22+8)/2 = 15

3 CD = (3+0)/2 = 1,5

4 CD = (3+0)/2 = 1,5

5 CD = (1+0)/2 = 0,5

110
5.2. Classe PRX. => esta classe criada apenas para descrever a dinmica das
rvores truncadas ao DAP 65 cm. Na tabela com as freqncias esperadas (E), a
freqncia da classe PRX deve ser acrescentada classe DAP 65 cm.

6. Freqncias esperadas (E) para a 3 ocasio (Quadro 5b) => Projeo feita + recrutamento
ajustado.

7. Comparao entre freqncias esperadas (E), para 2004, fornecida pela Cadeia de Markov
e as freqncias observadas de fato em 2004 (Quadro 6) => uso do teste qui-quadrado ( 2 ).

Este quadro final apenas para ilustrar a eficincia da Cadeia de Markov para fazer
projees. Isso foi feito porque h uma srie histrica longa o suficiente para este tipo de
exerccio. Como se tem verdade de campo, que so as re-medies realizadas em 2004,
possvel comparar a projeo com os valores observados de fato. Neste exemplo, como o 2
tabelado com 11 graus de liberdade e p = 0,10 igual a 17,28, isso significa dizer que h
fracas evidncias para afirmar que E seja diferente de O. Usando p = 0,05, o valor de 2
igual a 19,68 e, do ponto de vista de estatstica, pode-se afirmar que o teste no significante.

O certo seria usar a transio probabilstica de 1990 a 2004 (e no 1997) para fazer
projees para um perodo imediatamente posterior, de 14 anos, ou seja, para 2028 e acreditar
na eficincia de Markov. O exemplo foi usado para comprovar que Markov eficiente para
fazer projees da dinmica de uma floresta manejada. Essa comprovao j tinha sido
realizada em florestas no perturbadas (Rocha, 2001).

111
Bibliografia:
Acevedo, M.F. 1981. On Horns Markovian Model of Forest Dynamics with Particular
Reference to Tropical Forests. Theoretical Population Biology 19:230-250.
Alder, D. 1980. Forest Volume Estimation and Yield Prediction. V.2 Yield Prediction.
FAO Forestry Paper 22/2. 194 p.
Anderson, T.W. e L.A. Goodman. 1957. Statistical Inference about Markov Chains. Annals
of Mathematical Statistics 28:89-110.
Bierzychudek, P. 1982. The Demography of Jack-in-the-pulpit, a Forest Perennial that
Changes Sex. Ecol. Monographs 52(4):333-351.
Bruner, H.D. e J.W. Moser Jr.. 1973. A Markov Chain Approach to the Prediction of
Diameter Distributions in Uneven-aged Forest Stands. Can.J.For.Res. 3:409-417.
Buogiorno, J. e B.C. Michie. 1980. A Matrix Model of Unever-aged Forest Management.
Forest Science 26:609-625.
Chambers, J.Q., N. Higuchi e J.P. Schimel. 1998. Ancient Trees in Amazonia. Nature,
391:135-136.
Chiang, C.L. 1980. An Introduction to Stochastic Processes and their Applications. Robert E.
Krieger Publ. Co., Huntington, New York.
Clutter, J.L., J.C. Fortson, L.V. Pienaar, G.H. Brister e R.L. Bailey. 1983. Timber
Management: A Quantitative Approach. John Wiley and Sons, Inc. New York. 333p.
Enright, N. e J. Ogden. 1979. Applications of Transition Matrix Models in Forest Dynamics:
Araucaria in Papua New Guinea and Nothofagus in New Zealand. Australian J. of
Ecology 4:3-23.
Ferguson, I.S. e J.W. Leech. 1978. Generalized Least Squares Estimation of Yield Functions.
Forest Science 24:27-42.
Grossman, S.I. e J.E. Turner. 1974. Mathematics for the Biological Sciences. Macmillan Publ.
Co., Inc. New York. 512p.
Higuchi. N. 1987. Short-term Growth of an Undisturbed Tropical Moist Forest in the
Brazilian Amazon. Tese de Doutor. MSU. 129p.
Horn, H.S. 1975. Markovian Properties of Forest Succession. In: Ecology and Evolution of
Communities (M. Cody e J. Diamond, editores), pp.196-211. Harvard University Press.
Cambridge, Mass.
Morrison, D.F. 1976. Multivariate Statistical Methods. McGraw-Hill Inc.. 415p.
Peden, L.M., J.S. Williams e W.E. Frayer. 1973. A Markov Model for Stand Projection.
Forest Science 19:303-314.
Rocha, R.M. 2001. Taxas de recrutamento e mortalidade da floresta de terra-firme da bacia do
rio Cueiras na regio de Manaus-AM. Dissertao de mestrado CFT-INPA. 49p.
Shugart, H.H. 1984. A Theory of Forest Dynamics: The Ecological Forest Succession
Models. Springer-Verlag Inc. New York. 278p.
Shugart, H.H. e D.C. West. 1981. Long-term Dynamics of Forest Ecosystems. Am. Scientist
69:647-652.

112
Smith, V.G. 1983. Compatible Basal Area Growth and Yield Models Consistent with Forest
Growth Theory. Forest Science 29:279-288.
Sullivan, A.D. e J.L. Clutter. 1972. A Simultaneous Growth and Yield Model for Loblolly
Pine. Forest Science 18:76-86.
Usher, M.B. 1966. A Matrix Approach to the Management of Renewable Resources, with
Special Reference to Selection Forests. J. of Applied Ecology 3(2):355-367.
Usher, M.B. 1969. A Matrix Model for Forest Management. Biometrics, June:309-315.
Usher, M.B. 1979. Markovian Approaches to Ecological Succession. J. of Animal Ecology
48:413-426.

113
Box 1
Tabela dinmica do Excel usando o mesmo arquivo de dados do T2-B2SB4.
Passos necessrios:
1. Neste arquivo h as seguintes colunas: nome comum da espcie, DAP90, DAP97 e DAP04
2. Inserir trs novas colunas entre DAP90 e DAP97, entre DAP97 e DAP04 e depois de
DAP04 e nomear como CD1, CD2 e CD3, respectivamente.
3. Clicar em DADOS => FILTRAR => AUTO-FILTRO => apenas para a transio entre
1990 e 1997. Para a transio entre 1997e 2004, o procedimento o mesmo.
4. Identificar as recrutas => so clulas que aparecem em branco ou zero na coluna do
DAP90 em DAPs registrados na coluna DAP97 => clicar em DAP90 e procurar branco e
zero e nomear com R na prpria coluna DAP90 e na coluna CD1 atribuir o cdigo 1 =>
para todas as rvores nessas condies.
5. Calcular as freqncias das classes 10<15, 15<20 ... at 65 => continuar com o
FILTRAR nas colunas DAP90 e DAP97. Comear com 1990 clicando em DAP90 e ir para
PERSONALIZAR. Lembrar que a primeira classe (10<15) o segundo estado. Em
PERSONALIZAR, a primeira condio maior ou igual a 10 (digitando) e a segunda
menor do que 15 (digitando). Depois de OK, digitar em CD1 o nmero da classe (2, neste
caso). Repetir isso at a ltima classe ( 65), que ser a classe nmero 13.
6. Identificar as mortas => so clulas que aparecem em branco ou zero na coluna do
DAP97 e tinham DAPs na coluna DAP90 => clicar em DAP97 e nomear com M na prpria
coluna DAP97 e na coluna CD2 atribuir o cdigo 15 => para todas as rvores nessas
condies.
7. Repetir passo 5 para DAP97. Em DAP97 tem que incluir a classe 14 (PRX). Neste caso, o
trabalho tem que ser feito manualmente (no olho), ou seja, tem que olhar para as colunas
DAP90 e DAP97 e verificar quais rvores que estavam na classe 13 em 1990 e mudaram de
classe em 1997.
8. Ir pra DADOS, clicar em FILTRAR e retirar o AUTO-FILTRO.
9. Em DADOS, clicar em RELATRIOS DE TABELA E GRFICOS DINMICOS e
seguir as instrues lgicas.
10. Pra ter a tabela dinmica:
- arrastar CD1 at a coluna onde est escrito solte campos de linha aqui
- arrastar CD2 at a linha onde est escrito solte campos de coluna aqui
- arrastar DAP97 em cima de solte itens de dados aqui

114
Quadro 1: Matriz (A) => transio do estado i para o estado j durante o perodo de 1990 e 1997.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
R 10<15 15<20 20<25 25<30 30<35 35<40 40<45 45<50 50<55 55<60 60<65 >=65 PRX M TOT
1 R 160 22 3 3 1 189
2 10<15 116 48 1 15 180
3 15<20 69 21 1 10 101
4 20<25 33 25 6 64
5 25<30 19 15 1 4 39
6 30<35 21 10 7 38
7 35<40 19 5 1 25
8 40<45 8 2 10
9 45<50 7 6 1 14
10 50<55 2 2 1 5
11 55<60 1 1 1 1 4
12 60<65 2 2
13 >=65 1 1 2
14 PRX
15 M
16 TOT 276 139 58 48 37 30 13 10 8 3 3 2 1 45 673

115
Quadro 2: Matriz B (B1 e B2) transio probabilstica do estado i para o estado j durante o perodo de 1990 e 1997.

R 10<15 15<20 20<25 25<30 30<35 35<40 40<45 45<50 50<55 55<60 60<65 >=65 prx M
R 0 0,8466 0,1164 0,0159 0,0159 0,0053 0 0 0 0 0 0 0 0 0
10<15 0 0,6444 0,2667 0,0056 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0833
15<20 0 0 0,6832 0,2079 0,0099 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,099
20<25 0 0 0 0,5156 0,3906 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0938
25<30 0 0 0 0 0,4872 0,3846 0,0256 0 0 0 0 0 0 0 0,1026
30<35 0 0 0 0 0 0,5526 0,2632 0 0 0 0 0 0 0 0,1842
35<40 0 0 0 0 0 0 0,76 0,2 0,04 0 0 0 0 0 0
40<45 0 0 0 0 0 0 0 0,8 0,2 0 0 0 0 0 0
45<50 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5 0,4286 0 0 0 0 0,0714
50<55 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,4 0,4 0 0 0 0,2
55<60 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,25 0,25 0,25 0 0,25
60<65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0
>=65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5 0,5 0
prx 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

116
Quadro 3: Matriz C ou [ B ]2 transio probabilstica dois passos adiante, at 2004.

R 10<15 15<20 20<25 25<30 30<35 35<40 40<45 45<50 50<55 55<60 60<65 >=65 prx M tot
R 0 0,5456 0,3053 0,0371 0,0151 0,009 0,0018 0 0 0 0 0 0 0 0,0862 189
10<15 0 0,4153 0,354 0,0619 0,0048 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0806 180
15<20 0 0 0,4667 0,2493 0,0928 0,0038 0,0003 0 0 0 0 0 0 0 0,0881 101
20<25 0 0 0 0,2659 0,3917 0,1502 0,01 0 0 0 0 0 0 0 0,0884 64
25<30 0 0 0 0 0,2373 0,3999 0,1332 0,0051 0,001 0 0 0 0 0 0,1208 39
30<35 0 0 0 0 0 0,3054 0,3454 0,0526 0,0105 0 0 0 0 0 0,1018 38
35<40 0 0 0 0 0 0 0,5776 0,312 0,0904 0,0171 0 0 0 0 0,0029 25
40<45 0 0 0 0 0 0 0 0,64 0,26 0,0857 0 0 0 0 0,0143 10
45<50 0 0 0 0 0 0 0 0 0,25 0,3857 0,1714 0 0 0 0,1214 14
50<55 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,16 0,26 0,1 0,1 0 0,18 5
55<60 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0625 0,3125 0,1875 0,125 0,0625 4
60<65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2
>=65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,25 0,25 0 2
prx 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

117
Quadro 4: Matriz D Clculo das freqncias esperadas de cada classe ou estado

10<15 15<20 20<25 25<30 30<35 35<40 40<45 45<50 50<55 55<60 60<65 >=65 prx M
R 103,11 57,696 7,01 2,8512 1,7065 0,3401 0 0 0 0 0 0 0 16,285
10<15 74,756 63,725 11,14 0,8659 0 0 0 0 0 0 0 0 0 14,513
15<20 0 47,139 25,175 9,3735 0,3846 0,0256 0 0 0 0 0 0 0 8,903
20<25 0 0 17,016 25,07 9,6154 0,641 0 0 0 0 0 0 0 5,6579
25<30 0 0 0 9,2564 15,597 5,1945 0,2 0,04 0 0 0 0 0 4,7119
30<35 0 0 0 0 11,605 13,126 2 0,4 0 0 0 0 0 3,8684
35<40 0 0 0 0 0 14,44 7,8 2,26 0,4286 0 0 0 0 0,0714
40<45 0 0 0 0 0 0 6,4 2,6 0,8571 0 0 0 0 0,1429
45<50 0 0 0 0 0 0 0 3,5 5,4 2,4 0 0 0 1,7
50<55 0 0 0 0 0 0 0 0 0,8 1,3 0,5 0,5 0 0,9
55<60 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,25 1,25 0,75 0,5 0,25
60<65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0
>=65 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5 0,5 0
prx 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
tot 177,87 168,56 60,341 47,417 38,909 33,768 16,4 8,8 7,4857 3,95 3,75 1,75 1 57,003

118
Quadro 5a: Ajustes aplicados para R em diferentes classes de dimetro (CD).

CD R-1997 R-2004 mdia


10<15 160 122 141
15<20 22 8 15
20<25 3 0 1,5
25<30 3 0 1,5
30<35 1 0 0,5

Quadro 5b: Freqncias esperadas (E) para 2004 incluindo ajustes feitos para o recrutamento (R)

estado projeo recrut E(2004)

10<15 177,87 141 318,87

15<20 168,56 15 183,56

20<25 60,341 1,5 61,841

25<30 47,417 1,5 48,917

30<35 38,909 0,5 39,409

35<40 33,768 33,768

40<45 16,4 16,4

45<50 8,8 8,8

50<55 7,4857 7,4857

55<60 3,95 3,95

60<65 3,75 3,75

>=65 2,75 2,75

tot 570 729,5

119
Quadro 6: Comparao entre freqncias observadas (O) e esperadas (E) em 2004.

estado 1990 1997 O(2004) E(2004) 2

10<15 180 276 281 319 4,496

15<20 101 139 166 184 1,679

20<25 64 58 71 62 1,356

25<30 39 48 52 49 0,194

30<35 38 37 37 39 0,147

35<40 25 30 21 34 4,827

40<45 10 13 21 16 1,290

45<50 14 10 11 9 0,550

50<55 5 8 9 7 0,306

55<60 4 3 2 4 0,962

60<65 2 3 3 4 0,150

65 2 3 4 3 0,568

total 484 628 678 729 16,529

20,10, 11 gl = 17,28 e 20,05, 11 gl = 19,68

120
Parte III
Manejo florestal na Amaznia
Esta Parte ainda est em construo, assim como as Partes I e II. Aqui, as principais
lacunas esto ligadas explorao florestal e aos aspectos scio-econmicos do manejo florestal.
O nosso desafio preencher estas lacunas j na prxima verso da apostila. No ltimo captulo
desta apostila estamos incluindo a primeira verso sobre a explorao florestal. A parte terica da
explorao est sendo elaborada pelo Prof. Luciano Minette da UFV. Se ele entregar antes do
incio do curso, ns mandaremos aos alunos que devero imprimi-lo novamente, sem prejudicar a
seqncia da apostila. Depois de revisada, ns vamos inserir na apostila numa seqncia lgica.

121
Captulo 15
Amaznia7: Mitos, as vrias Amaznias e Potencialidades
1. Introduo:

Para os seres humanos, a Amaznia um smbolo nostlgico de um mundo muito


modificado; rios e igaraps retos completamente urbanizados, florestas uniformes com uma nica
espcie, avanada desertificao em vrios lugares do Planeta, poluio do ar e das guas e
extino de muitas formas de vida. Grande parte das presses para proteger a Amaznia, a
qualquer custo, tem origem nesse sentimento.

A regio sempre viveu de mitos; comeando pelo nome que deriva das mticas Amazonas
as mulheres mais fortes e mais corajosas nunca vistas. O qu essas mulheres ofereciam aos
antigos, a regio oferece aos modernos: um pacote de mal-entendidos e sonhos, um objeto de
meias-verdades e desejos em sntese, uma terra de mitos, de desejos e de sonhos.

O papel da cincia & tecnologia produzir conhecimentos primrios sobre a estrutura e


funcionamento dos ecossistemas amaznicos, em condies naturais. Sabendo disso, a avaliao
dos impactos causados por projetos de desenvolvimento regional pode ser ordenada e
sistematizada, sem paixo.

2. Alguns Mitos:

(i) Mito da Homogeneidade:

Quase sempre a Amaznia vista apenas como um grande tapete verde cortado por rios e
igaraps. No entanto, ela contm uma fantstica diversidade (biolgica, social e cultural). Da
mesma forma, imagina-se que a Amaznia plana isso meia-verdade. Exemplo: a altitude do
municpio de Manaus de aproximadamente 100 m acima do nvel do mar (a.n.m.), mas tem
depresses que chegam quase ao nvel do mar; os plats dessa regio variam em torno de 500 m
de raio.

comum ouvir mundo afora que a Amaznia Brasil e o Brasil a prpria Amaznia.
Por essa razo, nas cidades do Brasil encontram-se cobras, onas e outros bichos; desmatamento
e queimadas por toda parte; o nico responsvel pela destruio da floresta amaznica, perda da

7
Tirado parcialmente do livro Amazonia Without Miths, editado em 1992 pela Comission on Development and
Environment for Amazonia, do Tratado de Cooperao Amaznica.
122
biodiversidade e alterao do clima global. Apesar de responder por quase 60% do territrio
nacional, o Brasil tm outros 17 estados; da mesma forma, apesar de responder por mais de 65 %
do territrio amaznico, h outros 7 pases que compem a regio.

(ii) Mito da Riqueza e da Pobreza:

A exuberncia da floresta amaznica criou o mito de que os solos fossem igualmente ricos
e apropriados para a agropecuria. Isso foi o principal argumento para se tentar resolver os
problemas fundirios e da produo de gros e protenas do Brasil. Depois de alguns fracassos,
radicalizou-se de novo, ou seja, a Amaznia no serve para nada e o seu desenvolvimento
impossvel.

Enquanto o mito riqueza diz que a regio um paraso que transborda abundncia e
riquezas o eldorado o da pobreza pinta tambm com cores exageradas contemplao
apenas -; cada lado engajado em meias-verdades para defender a sua posio.

(iii) Pulmo do Mundo:

O planeta Terra envolto por uma camada gasosa conhecida como atmosfera. A
atmosfera composta de Nitrognio (78,1%), Oxignio (21%) e traos de muitos outros gases
(inclusive CO2 0,033%) que so extremamente importantes para a manuteno da vida na
Terra. No processo de fotossntese & respirao, as plantas tm a capacidade de absorver gs
carbnico e liberar oxignio. Em condies naturais, a tendncia de equilbrio entre absoro e
liberao.

Estudos recentes sobre a interao biosfera e atmosfera, realizados na Amaznia, indicam


que nos ltimos 20 anos, a floresta primria tem seqestrado mais carbono do que emitido.
Algum desavisado poderia at ressuscitar o mito do pulmo do mundo pelo tamanho da floresta
amaznica. No entanto, tudo uma questo de escala. As propores de Oxignio e Carbono na
atmosfera so completamente diferentes; qualquer grande liberao de Oxignio na Amaznia,
ainda seria insignificante para alterar o estoque na atmosfera.

(iv) O Mito da Amaznia vazia:

Apesar da densidade populacional ser baixa, se comparada com outras regies do Brasil e
do mundo, a Amaznia no vazia. No Estado de So Paulo, por exemplo, a densidade
populacional de 120 habitantes por km2, enquanto que no Amazonas, de 2 habitantes por km2.
Os quadros 15.1 e 15.2 do uma idia da ocupao da Amaznia. Os grupos indgenas esto

123
distribudos em toda a regio, sem uma clara correlao entre densidade e tipos de vegetao ou
solos ou gua. O Estado do Acre praticamente todo ocupado por seringueiros. Ocupaes
recentes mostram concentraes de acordo com a capacidade de suporte dos stios.

(v) O Mito da Internacionalizao:

Hoje, isso mais mito do que realidade. No entanto, no comeo deste sculo e logo
depois da Segunda Guerra, importantes movimentos aconteceram em direo
internacionalizao da Amaznia. O INPA, por exemplo, uma resposta do Governo Brasileiro
proposta de criao de um instituto internacional da Hilia Amaznica. Internacionalizar significa
transformar a Amaznia naquilo que hoje a Antrtica. importante no confundir
internacionalizao com invaso ou ocupao ou imperialismo.

(vi) Mito do Boto Tucuxi e do Mapinguari:

Ser o Boto Tucuxi apenas um mito ou uma lenda ou uma realidade? Quanto ao
Mapinguari8, depois que um pesquisador do MPEG saiu caando-o pelas florestas do Acre,
acompanhado pela mdia, esta figura perdeu o status de lenda ou mito.

3. As Vrias Amaznias:

Na Amrica do Sul h duas Amaznias: o territrio amaznico e a bacia amaznica. O


territrio estende-se alm da bacia, at a regio do Orinoco e nas Guianas. O quadro 15.1
apresenta o tamanho do territrio amaznico e a contribuio de cada pas ao territrio e o qu a
Amaznia representa em cada territrio nacional. Olhando essas estatsticas, fcil entender
porqu a Amaznia confundida com o Brasil e Brasil confundido com a Amaznia. Outro
detalhe o fato que a Amaznia cobre quase 60% do territrio nacional.

No Brasil, temos duas Amaznias tambm: a Legal, diviso geopoltica cobrindo uma
rea de 4.988.939 km2 e a Bacia cobrindo uma rea de 3.940.000 km2. O quadro 15.3 apresenta a
rea de cada Estado da Amaznia Legal, com suas coberturas originais, floresta e cerrado. O
quadro 15.4 apresenta a Bacia Amaznica estratificada pelos diferentes tipos florestais e no
florestais.

(i) A Heterogeneidade Fsica da Amaznia:

8
Segundo o Dic. Aurlio, Mapinguari gigante lendrio semelhante ao homem, porm coberto de plos, e que usa
uma armadura de casca de tartaruga o dono da floresta.
124
O rio principal da Bacia composto pelo eixo Amazonas-Solimes-Ucayali, que nasce no
Monte Huagra, Peru, a 5.281 m. a.n.m., 195 km da costa do Pacfico. O eixo tem 6.762 km de
comprimento e, nos primeiros 965 km de sua nascente, ele cai 4.786 m, enquanto que, nos
restantes 5.797 km, a queda at o nvel do mar de apenas 306 m. O eixo Amazonas-Solimes-
Ucayali tem a maior descarga de gua doce do mundo, contribuindo sozinho com quase 15% com
descarga total quadro 15.5.

(ii) Clima e Solos da Amaznia Brasileira:

As temperaturas no variam muito na Amaznia. Belm, a 100 km do Atlntico, a


temperatura mdia anual de 25 C; Manaus, a 1500 km da costa, a temperatura mdia de 27
C e Taraqu, 3000 km da costa, a temperatura de 25 C. As temperaturas mximas ficam em
torno de 37-40 C com variao diurna de 10 C.

A precipitao mostra mais variabilidade do que a temperatura. A precipitao anual


mdia na costa do Atlntico em torno de 3000 mm/ano; 3500 mm em Taraqu; 2000 mm em
Manaus; 1500 mm em Boa Vista (RR) e 1600 mm em Conceio do Araguaia (PA). As variaes
sazonais so determinadas pela quantidade de chuva; distinguindo apenas duas estaes, seca e
chuvosa.

Os solos na Amaznia so antigos, alcanando a era Paleozica. A regio composta por


uma bacia sedimentar (vale amaznico), entre os escudos guianense e brasileiro. Os escudos so
compostos de rochas gneas do pr-Cambriano e metamrficas do Cambriano-Ordoviciano, que
contm algumas manchas de sedimentos da Paleozica-Mesozica (60 a 400 milhes de anos
atrs). O Vale formado por sedimentos fluviais de textura grossa, depositados entre o Cretceo
e Tercirio. Em sntese, este o processo de formao dos solos de terra-firme.

As vrzeas so formadas pelas plancies holocnicas dos rios Solimes e Amazonas e dos
seus afluentes de gua branca (ou barrenta). Onde a regio inundada por guas negras ou claras,
a formao chamada de igap.

As principais ordens do solo so: latossolos amarelos (46%) e podzlicos vermelho-


amarelo (30%). Os solos so cidos (pH de 4,5 a 5,5) e pobres em nutrientes.

4. Potencialidades da Amaznia:

A seguir, sero apresentadas estatsticas dos principais recursos naturais da Amaznia e


discutidas as suas potencialidades. Antes de pensar nos cifres que podem gerados com o

125
aproveitamento desses recursos, importante refletir sobre as seguintes questes: (1) Pra quem
vamos produzir? e (2) Como sero investidos os cifres gerados? De qualquer modo, o
aproveitamento dos recursos amaznicos tem que estar apoiado nos 4 pilares da sustentabilidade:
tcnico, econmico, ecolgico e social.

Estudos de benefcios e custos de qualquer atividade envolvendo o aproveitamento dos


recursos naturais so imprescindveis para tomadas de deciso. Em nome do desenvolvimento
regional e da produo de alimentos, principalmente, j foram desmatados quase 60 milhes de
hectares de florestas primrias. A regio auto-suficiente em alimentos e em outros artigos de
primeira necessidade? A quantidade de gases de efeito estufa emitida para a atmosfera pelo uso
do solo amaznico justifica a contribuio regional ao PIB nacional?

No Amazonas, por exemplo, a emisso de Carbono para atmosfera, mdia anual dos
ltimos 20 anos, de aproximadamente 10 milhes de toneladas via desmatamento, enquanto que
a emisso via queima de combustvel fssil de aproximadamente 1,5 milho. Grande parte do
combustvel queimado usada para funcionar o distrito industrial de Manaus, que, por sua vez,
contribui com aproximadamente US$ 10 milhes ao PIB do Amazonas. Usando regra de trs
simples, o setor primrio deveria contribuir com aproximadamente US$ 65 milhes. Se isso est
acontecendo, ningum percebeu.

(i) Madeira:

Entre os vrios recursos naturais da Amaznia, a madeira , sem dvida, o que tem a maior
liquidez. A madeira deve ser considerada como produto de primeira necessidade; importante
quando a gente nasce (beros) e quando a gente morre (urnas funerrias). Ver captulos
Principais Tipos Florestais da Amaznia Brasileira e O Setor Florestal da Amaznia
Brasileira: Explorao Florestal Seletiva e o Mercado Internacional de Madeira Dura Tropical.
O Quadro 15.4 apresenta os tipos florestais e no florestais da Bacia Amaznica.

Segundo o cenrio de Grainger (1987), a situao do setor de madeira tropical a


seguinte: a produo do sudeste asitico alcanar o seu pico em meados dos anos 90, sendo,
a seguir, substituda pela Amrica Latina, especialmente a Amaznia, para suprir os mercados
da Europa, Japo e Amrica do Norte. Esse cenrio comea a fazer algum sentido ao analisar a
dinmica da exportao de madeira tropical no perodo 1989-1995, pelos maiores produtores
mundiais; o suprimento de madeira pelos pases asiticos vem diminuindo com o passar do
tempo, enquanto que cresce a participao do Brasil no mercado internacional.

126
Alm disso, juntando as estimativas de reas florestais fornecidas pela FAO (Schmidt,
1991) e os nveis mdios de produo, obtidos durante o perodo 1988-95, razovel prever que
os estoques de madeira da Malsia e Indonsia podero ser exauridos em menos de 10 e 20 anos,
respectivamente. A demanda mundial por madeira tropical de aproximadamente 60 milhes de
m3 de madeira em toras por ano. O estoque de madeira comercial da Amaznia de
aproximadamente 4 bilhes m3.

Neste ritmo, ainda na primeira dcada de 2000, a Amaznia passar a figurar na lista dos
maiores produtores de madeira dura tropical e, rapidamente, lider-la. Isso pode ser sentido com a
presena de empresrios madeireiros na Amaznia, principalmente do sudeste asitico, procura
de terras para comprar na regio. Por causa de sua grande extenso territorial ainda no
explorada, atualmente o Estado do Amazonas o mais visado pelos empresrios madeireiros, no
s pelos estrangeiros, como tambm por brasileiros que comeam a abandonar outras regies da
Amaznia, especialmente sul do Par.

(ii) Biodiversidade:

A biodiversidade da Amaznia produto de um processo evolutivo de milhes de anos.


Sobre o valor da biodiversidade, aparentemente, ningum tem dvidas. Difcil e caro
transformar a biodiversidade em recurso (produto) natural. Quando se fala da fantstica
biodiversidade da Amaznia, imediatamente vem cabea de qualquer brasileiro, a simples
transformao da mesma em remdios para todos os males e drogas. Nos EUA, por exemplo,
25% das receitas mdicas so de remdios derivados de plantas tropicais, num mercado de
aproximadamente US$ 8 bilhes por ano. O Brasil no tem nenhum remdio patenteado.

Segundo Macilwain (1998)9, grosso modo, 100 amostras em 100.000 apresentam alguma
atividade promissora; 10 dessas 100 amostras promissoras podem chegar aos testes clnicos; e 1
dessas 10 podem chegar ao mercado. Esse autor estima que apenas uma amostra em 250.000
produzir uma droga comercial. Segundo uma companhia qumica, consultada pelo autor, uma
amostra tem que ter pelo menos 1 kg e pode custar US$ 500 para coletar, transportar e armazenar.
Outra possibilidade de uso da biodiversidade, igualmente cara, como informao gentica tanto
para a medicina como para a biotecnologia agrcola. Portanto, a copaba, por exemplo, para
alcanar a condio de droga comercial, haver necessidade de um investimento lquido (sem
pessoal e infra-estrutura laboratorial) de aproximadamente US$ 125 milhes.

9
Macilwain, C. 1998. When Rhetoric Hits Reality in Debate on Bioprospecting. Nature 392:535-540.
127
Mesmo com poucos recursos, o Brasil no tem outra sada a no ser proteger a
biodiversidade. Enquanto aguarda recursos financeiros para investir em bioprospeces, o Brasil
deveria tentar entender o qu a evoluo tem produzido. Temos que priorizar o entendimento da
biodiversidade como modelos genticos para inovaes tecnolgicas em qumica, farmacologia,
medicina e agricultura.

O Quadro 15.6 apresenta a diversidade de alguns grupos importantes (mamferos,


pssaros, rpteis, anfbios, borboletas e angiospermas), principalmente do mundo tropical. O
Brasil est em primeiro lugar em relao aos anfbios e as Angiospermas. importante ressaltar
que a biodiversidade no se encerra com esses grupos; a maior diversidade se encontra entre os
microorganismos e, para esses, no h ainda estatsticas confiveis.

(iii) Recursos Minerais e energticos da Amaznia brasileira:

Alguns minrios importantes e recursos energticos so apresentados no Quadro 15.7. Ao


contrrio de projetos agropecurios, os projetos de minerao geralmente no cobrem grandes
extenses de rea, mas, em compensao, o impacto muito maior. Alguns impactos so diretos,
enquanto que outros so indiretos e, s vezes, fora do controle do Estado (garimpo de pedras
preciosas, por exemplo).

(iv) Recursos Pesqueiros:

Segundo Pereira Filho10, a ictiofauna de gua doce mais rica do mundo se encontra na
Amaznia, com mais de 1300 espcies j descritas. Apesar da grande diversidade da ictiofauna e
de sua importncia como fonte de alimentos, ainda so poucas espcies comercializadas. No
Amazonas, por exemplo, apenas 36 espcies apresentam algum interesse econmico e, dessas,
apenas 13 apresentam produo em escala comercial. No Amazonas, as principais espcies
comercializadas so: tambaqui, jaraqui, curimat, pirarucu, tucunar, sardinha e pacu.

Os peixes ornamentais tm tambm grande importncia econmica para a regio. O


Amazonas responsvel sozinho por 90% da exportao de peixes ornamentais da regio. Os
peixes mais explorados so: cardinal e disco.

(v) Recursos no madeireiros:

10
Pereira Filho, M., S.F. Guimares, A. Storti Filho e E.W. Graef. 1991. Piscicultura na Amaznia Brasileira:
Entraves ao seu Desenvolvimento. Em: Bases Cientficas para Estratgias de Preservao e Desenvolvimento da
Amaznia: Fatos e Perspectivas. Editado por A.L. Val, R. Figlioulo e E. Feldberg. pp.373-380.
128
So vrios recursos no madeireiros valiosos na Amaznia, como: leos de copaba e de
andiroba, linalol do pau-rosa, castanha-do-par, borracha, vrios cips usados em artesanatos e
em chs, orqudeas e bromlias, taninos, corantes, frutos variados. Como to caro para obter
esses produtos, por que os mesmos tm contribuies insignificantes ao produto interno bruto
(PIB) da regio?

(vi) Paisagem & Turismo:

Ao contrrio de outros recursos, a explorao da paisagem & turismo requer baixos


investimentos em infra-estrutura. Tantos os amazonenses nascidos no bairro da Cachoeirinha,
como os brasileiros de outras regies e os estrangeiros esto interessados em ver a natureza como
ela . Esse tipo de visitante no est interessado em shopping e outros luxos do mundo
globalizado. Pra ver animais exticos, este tipo de turista vai ao CIGS (turista nascido na
Cachoeirinha) ou nos grandes zoolgicos do Brasil e do mundo; os mais abastados participam de
safri na frica.

No Amazonas, h vrias expedies de turistas que passam poucos dias na cidade de


Manaus pra ver o Teatro Amazonas e o Mercado e, vrias semanas no interior, pescando e
contemplando a natureza h grupos de turista que aproveitam a viagem para executar algum
tipo de trabalho social com os ribeirinhos. A pesca esportiva no Amazonas tem crescido
significativamente no Amazonas, mas a organizao , normalmente, feita fora do pas. Esse tipo
de turismo no est preocupado com infra-estrutura sofisticada; bastam barcos limpos e gente
educada para acompanhamento, considerando que o Eduardo Gomes suficiente para o
desembarque e os satlites sofisticados garantem a comunicao necessria.

O comrcio de qualquer produto , invariavelmente, feito base de trocas, ou seja, uma


estrada de mo dupla; uma pista para levar os nossos produtos e outra para trazer alguma coisa
produzida em outra regio (para minimizar e racionalizar o custo do transporte). No caso do
turismo, no h essa troca; o mesmo turista vem e volta sem colocar em risco os estoques de
nossos recursos naturais. O turismo , talvez, a atividade com maior chance de ser sustentvel na
regio porque requer o desenvolvimento de outros setores para que o mesmo prospere.

(vii) Servios Ambientais:

Os principais servios ambientais da floresta amaznica so:

- Abrigo s outras formas de vida

129
- Regulao de cheias e enchentes

- Controle da eroso do solo

- Proteo de bacias hidrogrficas e reas de coleta dgua

- Recargas dos aqferos subterrneos

- Conservao dos recursos genticos e da biodiversidade

- Oportunidades recreacionais

- Valores estticos

Infelizmente, essas riquezas s so percebidas quando so perdidas ou quando se fala dos


custos de recuperao de reas degradadas, de despoluio de rios e igaraps, de um
eletrodomstico perdido durante uma enchente etc.. Geralmente, a populao local nem chega a
perceber os benefcios efmeros de alguns projetos de desenvolvimento.

No caso do ouro de Serra Pelada, por exemplo: o qu ficou para a populao?


Provavelmente mais doenas, ruptura das tradies locais, degradao ambiental etc. O qu dizer
dos mais de 60 milhes hectares desmatados em toda a Amaznia? Aumentou a renda per capita
do Estados campees de desmatamento, como Par e Rondnia? Certamente, no. Por enquanto,
no h um plano concreto para recuperao de reas degradadas e, por essa razo, no temos
noo exata de quanto custar para a recuperao.

A Amaznia, especialmente o Estado do Amazonas, precisa ter sabedoria para propor


medidas de manuteno dos servios ambientais, enquanto h fartura. Os argumentos mais
importantes so os exemplos de pases desenvolvidos e, mesmo no Brasil, dos estados mais
industrializados, que gastaram verdadeiras fortunas para recuperar reas degradadas e despoluir
rios e igaraps.

5. Usos do Solo:

Os principais usos do solo amaznico so: agropecuria, explorao seletiva de madeira,


produo de energia (hidreltricas, petrleo e gs natural) e extrativismo. Esses diferentes usos do
solo j provocaram desmatamento total na Amaznia Legal (at 2006) de 66.439.500 hectares. O
Quadro 15.8 apresenta as reas desmatadas de cada Estado da regio, at 2000. As taxas tm
picos cclicos, sem uma definio clara do motivo para os altos ou para os baixos picos. O
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) fornece as reas desmatadas, anualmente, por

130
Estado da Amaznia, em seu site www.inpe.br. O desmatamento anual corresponde o perodo de
agosto de um ano a julho do ano seguinte. Normalmente, a rea do ano em questo provisria e
corrigida no ano seguinte. Exemplo: a rea desmatada de 13.000 km2 de 2006 (agosto de 1005 a
julho de 2006) ser corrigida em 2007 (agosto 2006 a julho 2007).

Logo aps a primeira avaliao oficial em 1989, quando o mundo foi surpreendido com a
fantstica taxa anual de 21.130 km2, a reao do Brasil foi a introduo de vrias medidas para
conteno do desmatamento na Amaznia, entre elas, o Programa Nossa Natureza (criao do
Ibama). Durante o Governo Collor, antecedendo a Rio-92, praticamente todos os incentivos
fiscais para projetos de desenvolvimento na Amaznia foram extintos. Com o Programa Nossa
Natureza e mais as medidas do Governo Collor, o desmatamento foi reduzido substancialmente.

A partir de 1992, com o afrouxamento no cumprimento da legislao ambiental


combinado com consolidao do Plano Real, as reas desmatadas voltam a crescer, com um pico
de 29.059 km2, em 1995. Novamente o Governo Brasileiro toma medidas duras para conter o
desmatamento com a edio de uma medida provisria, em 1996 (ainda vlida em 2004), que
alterou a rea permitida de corte raso, de 50% para 20%. Ao final do Governo FHC, novo pico de
23.266 km2 ocorreu em 2002. No primeiro ano do Governo Lula, novo pico de 27.200 km2
ocorreu em 2003; ao final deste Governo, o desmatamento era de 13.000 km2 (informao tirada
da campanha presidencial).

5.1. Pastagem e Agricultura:

- A partir da dcada de 60, a agricultura e pecuria incentivadas comeam a desempenhar


papel importante na alterao da paisagem da Amaznia.

- Preparo de solo para agropecuria inclui derrubada e queimada.

- Esses usos do solo, certamente so os maiores responsveis (em torno de 80%) pelo alto
desmatamento na Amaznia Legal, 66.439.500 hectares at 2006, e destes, 50% podem ser, hoje,
reas abandonadas cobertas por vegetao secundria (capoeiras).

Impactos:

- Perda da biodiversidade

- Emisso de gases de efeito estufa (principalmente CO e CO2).

- Ameaa aos servios ambientais (controle de eroso, temperatura, umidade,


assoreamento etc.).
131
5.2. Explorao Seletiva de Madeira:

- Apesar da falta de estatsticas confiveis, a produo de madeira na Amaznia tem


crescido substancialmente. Atualmente, a produo madeireira anual de aproximadamente 30
milhes m3 em toras. O Quadro 9 apresenta a produo madeireira de cada Estado da Amaznia,
no perodo 1975 a 1985.

- At a dcada de 80, a madeira era considerada como subproduto de projetos


agropecurios. Hoje, em regies como a do Sul do Par, a madeira atua como pr-investimento
aos projetos agropecurios, substituindo os subsdios oficiais que desapareceram.

- Artigo 15 do Cdigo Florestal (Lei n 4771 de 15/9/65), finalmente regulamentado em


1991 (IN/80), mais tarde transformada em Decreto, n 2788 (28/9/98) que altera diversos artigos
do Decreto n 1282 (19/10/94). Em 2007, com aprovao da Lei de Gesto de Florestas Pblicas
(Lei 11.284 de 02/03/06), o Decreto 2.788 foi substitudo pelo Decreto 5.975 de 30/11/06.

Impactos:

- Eroso gentica

- Riscos de incndios

5.3. Hidreltricas:

- O plano ELN 2010 previa vrias hidreltricas na Amaznia totalizando 10 milhes


hectares de lagos.

- Hoje temos: Tucuru, Balbina, Samuel.

Impactos:

- Emisso de GEEs.

- Perda da biodiversidade

- Ameaa aos servios ambientais (controle de eroso, temperatura, umidade,


assoreamento etc.).

5.4. Minerao:

- Alguns impactos so diretos, enquanto que outros so indiretos.

- Ao contrrio de projetos agropecurios, os projetos de minerao geralmente no


cobrem grandes extenses de rea, mas, em compensao, o impacto muito maior.

132
- Ferro: Carajs, grandes extenses de florestas primrias so derrubadas para produo
de carvo.

- Ouro: Serra Pelada e nos rios da Amaznia.

- Cassiterita, Bauxita, Mangans etc.

Impactos:

- Poluio do ar e dos rios (Mercrio).

- Sociais, principalmente do garimpo.

- Indiretos de longo prazo perigosos.

133
Quadro 15.1: Amaznia na Amrica do Sul: rea e populao de cada Pas.

Pas rea (km2) % TN % TA Populao


Bolvia 824.000 75.0 10.9 344.000
Brasil 4.988.939 58.7 65.7 17.000.000
Colmbia 406.000 36.0 5.3 450.000
Equador 123.000 45.0 1.6 410.000
Guiana 5.870 2.7 0.1 798.000
Peru 956.751 74.4 12.6 2.400.000
Venezuela 53.000 5.8 0.7 9.000
Suriname(*) 142.800 100 1.9 352.000
Guiana Francesa(*) 91.000 100 1.2 90.000
Total 7.591.360 100 21.853.000
Fonte: TCA (1992).
(*) no influenciado pela Bacia Amaznica.
TN = territrio nacional
TA = territrio amaznico

Quadro 15.2: Grupos tnicos, populaes indgenas da Amaznia.

Pas Grupos Popul. indgena rea ocupada (ha)


Bolvia 31 171.827 2.053.000
Brasil 200 213.352 74.466.149
Colmbia 52 70.000 18.507.793
Equador 6 94.700 1.918.706
Peru 60 300.000 3.822.302
Guiana 9 40.000 nd
Suriname 5 7.400 nd
Venezuela 16 386.700 8.870.000
Total 379 935.949
Fonte: TCA (1992).

134
Quadro 15.3: Amaznia Legal - rea florestal (em km2) de cada estado brasileiro.

ESTADO VEGETAO ORIGINAL


FLORESTA CERRADO
Acre 152.589 -
Amap 99.525 42.834
Amazonas 1.562.488 5.465
Maranho 139.215 121.017
Mato Grosso 572.669 308.332
Par 1.180.004 66.829
Rondnia 215.259 27.785
Roraima 173.282 51.735
Tocantins/Gois 100.629 169.282
TOTAL 4.195.660 793.279
Fonte: Fearnside et al. (1990)

Quadro 15.4: Bacia Amaznica - rea (em km2) dos principais tipos florestais e no florestais.

TIPOS FLORESTAIS E NO FLORESTAIS REA (km2)


1. Florestas de Terra-Firme
- Florestas Densas 3.303.000
- Florestas Densas com lianas 100.000
- Florestas Abertas com bambus 85.000
- Florestas de Encosta 10.000
- Campina Alta ou Campinarana 30.000
- Florestas Secas 15.000
2. Florestas de Vrzea 55.000
3. Florestas de Igap 15.000
4. Florestas de Mangue 1.000
5. Campinas 34.000
sub-total (reas florestais) 3.648.000
6. Campos de Vrzea 15.000
7. Campos de Terra-Firme 150.000
8. Vegetao Serrana 26.000
9. Vegetao de Restinga 1.000
10. gua 100.000
sub-total (reas no florestais) 292.000
TOTAL BACIA AMAZNICA 3.940.000
Fonte: Braga (1979).

135
Quadro 15.5: Descargas (m3/sec.) dos principais rios do mundo.

Rio descarga %
Amazonas 176.000 14,97
Zaire 40.000 3,40
Orinoco 36.000 3,06
Mississipi 17.000 1,44
Outros 907.000 77,13
Total 1.176.000
Fonte: TCA (1992).

Quadro 15.6: Pases com as maiores diversidades (nmero de espcies).

Mamferos Pssaros Rpteis


1. Indonsia 515 1. Colmbia 1721 1. Mxico 717
2. Mxico 449 2. Peru 1703 2. Austrlia 686
3. Brasil 428 3. Brasil 1622 3. Indonsia 600
4. Zaire 409 4. Indonsia 1519 4. Brasil 467
5. China 394 5. Equador 1447 5. ndia 453
6. Peru 361 6. Venezuela 1275 6. Colmbia 383
7. Colmbia 359 7. Bolvia 1250 7. Equador 345
8. ndia 350 8. ndia 1200 8. Peru 297
9. Uganda 311 9. Malsia 1200 9. Malsia 294
10. Tanznia 310 10. China 1195 10. Tailndia 282

Anfbios Borboletas Angiospermas


1. Brasil 516 1. Indonsia 121 1. Brasil 55.000
2. Colmbia 407 2. China 104 2. Colmbia 45.000
3. Equador 358 3. ndia 77 3. China 27.000
4. Mxico 282 4. Brasil 74 4. Mxico 25.000
5. Indonsia 270 5. Birmnia 68 5. Austrlia 23.000
6. China 265 6. Equador 64 6. frica do Sul 21.000
7. Peru 251 7. Colmbia 59 7. Indonsia 20.000
8. Zaire 216 8. Peru 59 8. Venezuela 20.000
9. EUA 216 9. Malsia 56 9. Peru 20.000
10. Venezuela 197 10. Mxico 52 10. Rssia 20.000
Fonte: TCA (1992).

136
Quadro 15.7: Alguns Minerais e Recursos Energticos da Amaznia Brasileira.

Minrio Localizao Reserva (Produo)


Sal-Gema Manaus e Santarm no determinada (nd)
Gipsita Altamira 1 bi toneladas (t)
Itaituba 1,3 bi t
Bauxita Xingu e Manaus 4 bi t
Paragominas 1 bi t
Caolim Manaus 500 mi t
Rio Jari (Amap) 365 mi t
Ferro Jatapu 80 mi t
Amap 100 mi t
Carajs 19 bi t
Xingu 100 mi t
Lignita Rio Javari nd
Mangans Serra do Navio 50 mi t
Carajs 60 mi t
Cobre Carajs 1 bi t
Nquel Carajs 120 mi t
Diamante Marab nd
Zinco Rio Madeira (RO) 100 mil t
Cassiterita PF (AM) e Javari (RO) nd
Gs natural Urucu (AM) 1,3 bi t
Pirapema (AP) 1,3 bi t
Petrleo Urucu (AM) 6 bi t
Nibio 81 mi t
Clcio 950 mi t
Potssio 335 mi t
Fonte: TCA (1992).

137
Quadro 15.8: Desmatamento bruto (km2/ano) na Amaznia Legal, de 1978 a 2000.

Estado 78/87 87-89 89/90 90/91 91/92 92/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00

Acre 620 540 550 380 400 482 1.208 433 358 536 441 547

Amap 60 130 250 410 36 0 9 0 18 30 0 0

Amazonas 1.510 1.180 520 980 799 370 2.114 1.023 589 670 720 612

Maranho 2.450 1.420 1.100 670 1.135 372 1.745 1.061 409 1.012 1.230 1.065

Mt Grosso 5.140 5.960 4.020 2.840 4.674 6.220 10.391 6.543 5.271 6.466 6.963 6.369

Par 6.990 5.750 4.890 3.780 3.787 4.284 7.845 6.135 4.139 5.829 5.111 6.671

Rondnia 2.340 1.430 1.670 1.110 2.665 2.595 4.730 2.432 1.986 2.041 2.368 2.465

Roraima 290 630 150 420 281 240 220 214 184 223 220 253

Tocantins 1.650 730 580 440 409 333 797 320 273 576 216 244

TOTAL 21.130 17.860 13.810 11.130 13.786 14.896 29.059 18.161 13.227 17.383 17.269 18.226
Fontes: INPE (2002). Atualizar no www.inpe.br
Obs.: Nos anos 00/01, 01/02 e 02/03, as reas desmatadas foram, respectivamente, 18.165 km2, 23.266 e 24.497
km2. Em 03/04, 04/05 e 05/06, as reas desmatadas foram, respectivamente, 27.200 km2, 18.900 e 13.000 km2.

Quadro 15.9: Produo de Madeira em toras de Florestas Nativas da Amaznia para Fins
Industriais, por Estado, entre 1975 a 1985 (em 1.000 m3).

ESTADO 1975 1980 1985


Acre 31 87 23
Amap 330 400 413
Amazonas 135 325 1.382
Par 3.942 10.283 16.361
Rondnia 60 307 1.320
Roraima 14 72 39
Tocantins - - -
TOTAL 4.512 11.474 19.538

Fonte: IBGE (1992) e Deusdar Filho (1996).

138
Bibliografia
Braga, P.I.S. 1979. Subdiviso Fitogeogrfica, Tipos de Vegetao, Conservao e Inventrio
Florstico da Floresta Amaznica. Acta Amazonica 9(4):53-80.
Deusdar Filho, R. 1996. Diagnstico e Avaliao do Setor Florestal Brasileiro - Regio Norte.
Relatrio Preliminar (Sumrio Executivo). 59p.
Fearnside, P.M., A.T.Tardin e L.G. Meira Filho. 1990. Deforestation Rate in Brazilian Amazon. 8p.
Grainger, A. 1987. Tropform: A Model of Future Tropical Timber Hardwood Supplies. Em:
CINTRAFOR Symposium in Forest Sector and Trade Models. University of Washington, Seattle.
IBGE (Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). 1992. Anurio Estatstico, Captulo
44: Extrao Vegetal e Silvicultura.
INPE. 2002. Projeto de Desflorestamento (PRODES) Desflorestamento da Amaznia. Homepage
INPE (www.inpe.br).
Schmidt, R.C. 1991. Tropical Rainforest Management: a Status Report. Em: Rainforest Regeneration
and Management. A. Gomez-Pompa, T.C. Whitmore e M. Hadlely (editores). UNESCO, vol. 6,
pp. 181-203.
TCA (Tratado de Cooperao Amaznica). 1992. Amazonia without miths. Comission on
Development and Environment for Amaznia. 99 p.

139
CAPTULO 16
Principais tipos florestais da Amaznia brasileira

TIPOLOGIA FLORESTAL

Caractersticas fisionmicas:

A principal caracterstica da floresta amaznica a sua considervel diversidade


vegetacional, apesar de, primeira vista, dar impresso de homogeneidade. A maioria da
literatura reporta que h em torno de 10.000 diferentes espcies de plantas, das quais 1/4 so
espcies de rvores que atingem tamanho comercial. H muitas teorias para explicar esta
diversidade. Uma delas a isolao gentica dentro de populaes separadas depois de um
longo perodo seco que ocorreu no final do Pleistoceno e ps-Pleistoceno. Outra o processo
evolutivo descrito por trs principais categorias de fatores: geogrficos, interaes dentro das
prprias comunidades e instabilidade dinmica. Outros fatores que podem explicar a alta
diversidade so: amenidade do clima, alto grau de especiao em relao extino, fortes
interaes competitivas, diversidade ambiental, freqncia da perturbao e herbivoria.

H uma evidente correlao entre tipos florestais e bacias hidrogrficas, levando


indicao que a diviso florstica da hilia amaznica associada aos rios, solos e topografia.
As classificaes das florestas tendem a ser feitas de acordo com padres fisionmicos ou da
paisagem que so praticamente diferenciados e nomeados pelas populaes locais.

A classificao prtica que usada regionalmente baseada primariamente no relevo,


sendo reconhecidos dois principais tipos de floresta: terra-firme e florestas inundveis (vrzea
e igap). E de acordo com a classificao de Holdridge e as observaes climatolgicas do
IBGE, duas formas de vida podem ser encontradas na Amaznia: floresta tropical mida
(biotemperatura mdia anual superior a 24oC e precipitao mdia anual entre 2.000 e 4.000
mm) e floresta tropical semi-mida (biotemperatura mdia anual superior a 24oC e
precipitao entre 1.000 a 2.000 mm).

Peculiaridades da floresta amaznica:

O estrato superior pode alcanar 40 m, ocasionalmente 50 m, com dificuldades para


distinguir os estratos superior, mdio e inferior. Como regra, o estrato superior no
compacto, mas consiste de solitrias rvores emergentes. O sub-bosque normalmente limpo.
O tronco geralmente cilndrico, reto e com casca fina; a copa relativamente pequena

140
devido ao elevado nmero de indivduos por unidade de rea. Poucas razes (em torno de 5%)
atingem profundidades superiores a 2,5 m. Algumas rvores grandes conseguem se manter em
p com ajuda das sapopemas. Quanto mais mido e mais quente o clima, maior a folha das
rvores. A fenofase uma particularidade de cada espcie e, mesmo dentro da mesma,
algumas variaes so observadas, o que significa, por exemplo, que o perodo de florao da
floresta amaznica no definido, apesar de ter sempre uma ou outra rvore florescendo. H
espcies que florescem uma nica vez e morrem como a Tachigalia myrmecophila. As flores
so grandes e bonitas, mas inconspcuas, predominando o verde na paisagem. Muitas espcies
exibem o fenmeno da caulifloria onde as flores se desenvolvem em galhos velhos ou sobre
os troncos.

Na floresta amaznica no se observa uma dominncia absoluta por uma ou outra


espcie, mas sim por meio de grupo de espcies, ou morfo-espcies de duas ou trs famlias
botnicas diferentes. Outra peculiaridade a abundncia e a diversidade de palmeiras, lianas e
epfitas.

Principais tipos florestais e respectivas reas:

O Quadro 16.1 apresenta o sumrio das reas florestais e no florestais da bacia


amaznica. As tipologias florestais definidas so produtos de vrios trabalhos de fitogeografia
e de inventrios florestais na Amaznia, realizados por diferentes autores, como IBGE (1977),
Braga (1979), Silva et al. (1977) e Pires e Prance (1985). As estimativas das reas de cada
tipo florestal foram obtidas de mapas disponveis de vegetao, planimetradas por Braga
(1979).

Descrio dos Principais Tipos Florestais:

(i) Florestas de Terra-Firme:

Nessa forma de vida predomina o tipo florestal: floresta densa ou floresta ombrfila
densa, tambm denominada de floresta pluvial tropical latifoliada. Estende-se por vasta rea
da Depresso da Amaznia Setentrional, grande parte do Planalto do Amazonas-Orinoco ao
Norte de Roraima e recobre praticamente toda a superfcie da Amaznia Central, abrangendo
grande parte dos estados do Par, Amazonas, Rondnia, Amap e Roraima.

Floresta densa:

O estrato superior deste tipo florestal composto de rvores cujas alturas variam de 30
a 40 m, com apenas poucas espcies que podem ultrapassar este limite. As excees so

141
Cedrelinga catenaeformis (Cedrorana), Dinizia excelsa (Angelim pedra) e Bertholletia
excelsa (Castanha do Par), que alcanam mais de 50 m de altura. O sub-bosque geralmente
limpo, sem emaranhados de cips. Para rvores com dimetro maior ou igual a 20 cm, este
tipo florestal apresenta volume mdio comercial entre 150 a 400 m3/ha e rea basal mdia
entre 20 a 40 m2/ha.

As espcies florestais que caracterizam este tipo florestal so: Dinizia excelsa
(Angelim pedra), Bowdichia nitida (Sucupira preta), Anacardium giganteum (Cajuau),
Caryocar villosum (Piqui), vrias espcies de Manilkara (Maaranduba), Parkia pendula
(Visgueiro), Pithecolobium racemosum (Angelim rajado), Vochysia maxima (Quaruba),
Bertholletia excelsa, vrias espcies de Diplotropis (Sucupiras), Clarisia racemosa
(Guariba), Scleronema micranthum (Cardeiro), vrias espcies de Tabebuia (Ip ou Pau
d'arco), vrias espcies de Ocotea (Louros), vrias espcies de Protium e Tetragastris
(Breus), vrias espcies de Eschweilera (Mat-mat), Minquartia guianensis (Acariquara-
roxa), Aniba rosaedora (Pau-rosa) e vrias espcies de Abiurana (Sapotaceae).

As espcies que caracterizam as sub-regies so:

Delta do rio Amazonas: vrias espcies de Parkia, Vatairea guianensis, Erisma


fuscum, Vochysia guianensis e vrias espcies de Manilkara e Pradosia.

Nordeste da Amaznia: vrias espcies de Micropholis, Ecclinusa, Chrysophylum,


Manilkara, Eperua, Swartzia, Ormosia, Tachigalia, Inga, Iryanthera, Qualea e Goupia
glabra (Cupiba).

Rios Tocantins e Gurupi: Swietenia macrophylla (Mogno), Cedrela odorata (Cedro),


Carapa guianensis (Andiroba), Hevea brasiliensis (Seringueira), Platymiscium duckei,
Vouacapoua americana (Acapu), Cordia goeldiana (Freij), Mezilaurus itauba (Itaba),
Jacaranda copaia (Par-Par ou Caroba) e vrias espcies de Piptadenia, Peltogyne e
Astronium.

Rios Xingu e Tapajs: as espcies que caracterizam esta sub-regio so as mesmas da


anterior.

Rios Madeira e Purus: Swietenia macrophylla, Carapa guianensis, Hymenolobium


excelsum, Peltogyne densiflora, Cordia goeldiana, Manilkara huberi (Maaranduba),
Cariniana micrantha (Castanha de Macaco), Hevea brasiliensis e algumas espcies de
Eperua e Elizabetha.

142
Hilia Ocidental (do rio Juru at os limites do territrio brasileiro): vrias espcies de
Leguminosae, Myristicaceae, Bombacaceae, Lauraceae, Vochysiaceae e Rubiaceae.

Noroeste da Hilia (rio Negro ao Trombetas): Carapa guianensis, Cedrela odorata,


Cariniana micrantha e espcies dos gneros Dimorphandra, Peltogyne, Eperua,
Heterostomon, Elizabetha, Dicorynia, Aldina, Macrolobium, Swartzia.

Acre: Torresea acreana (Cerejeira), Hevea brasiliensis e Swietenia macrophylla.

Floresta com Cips:

Caracterizada por uma fitomassa mediana, sub-bosque obstrudo por cips e pobres
em epfitas. Este tipo florestal ocorre em abundncia ao longo da Rodovia Transamaznica,
de Marab at o rio Xingu e, em menor freqncia, at o rio Tapajs. Ao Sul, estende-se at o
limite da Amaznia com o Brasil Central. Manchas deste tipo ocorre ocasionalmente nos
estados do Amazonas, Rondnia e Roraima. A floresta com cips est associada com terrenos
antigos de altitude elevada e ricos em depsitos minerais como ferro, alumnio, mangans,
nquel e ouro.

As famlias de cips tpicos e mais importantes so Leguminosae, Bignoniaceae,


Malpighiaceae e Menispermaceae. O gnero Bauhinia (Leguminosae) o mais representativo.

Espcies arbreas gigantes ocorrem esporadicamente nesse tipo florestal. As principais


so: Bertholletia excelsa, Hymenaea parvifolia, Bagassa guianensis, Tetragastris altissima,
Astronium gracile e Ampuleia molaris. Em lugares mais baixos e mais midos, pertos de
pequenos igaraps, Swietenia macrophylla ocorre com certa freqncia. Outras espcies
comuns so: Acacia polyphylla, Sapium marmieri, Castilla ulei e Myrocarpus frondosus.

Floresta Aberta com Bambu:

Fitomassa mediana com presena espordica de espcies como Hevea brasiliensis,


Bertholletia excelsa, Swietenia macrophylla, Torresea acreana e Manilkara huberi, alm das
vrias espcies de Breus dos gneros Tetragastris e Protium. Este tipo ocorre nos estados do
Acre, Rondnia e Sudeste do estado do Amazonas.

O bambu do gnero Bambusa dominante neste tipo florestal, tendo dois subgneros
Guadua e Myrostachis. No estado do Acre predomina Guadua werberbaueri com densidade
especfica de 0,49 g/cm3, que pode ser utilizado em papel e celulose, construo civil,
artesanato, mveis e carvo.

Floresta de Encosta:

143
o prprio contraste com a altitude predominante da regio que, apesar de haver
extensas reas sobre terrenos ondulados, no ultrapassa 200 m s.n.m. As formaes da floresta
de encosta so caracterizadas e diferenciadas conforme a altitude e pelos solos rochosos. A
vegetao tpica de lugares rochosos e pode ser floresta ou formaes abertas. Quanto maior
a altitude, mais esparsa a vegetao por causa da reduzida capacidade de reteno de gua.
significante o endemismo neste tipo florestal.

Algumas espcies caractersticas da floresta de encosta so: algumas espcies de


Dydimopanax, Manilkara e Tabebuia, Ocotea roraimae e Qualea schomburkiana.

Campina Alta ou Campinarana:

Contm muitas espcies endmicas, adaptadas em solos Podzol hidromrfico e Areias


Quartzosas hidromrficas. Esse tipo rico em epfitas. Tem uma flora bastante peculiar que
refletida em sua fisionomia diferente dos outros tipos florestais amaznicos. O nmero de
espcies por unidade de rea relativamente baixo, mas desde que a Campinarana oferece
uma grande variedade de diferentes habitats de um local para outro, a soma total uma flora
extremamente rica. A Campinarana tem um aspecto xeromrfico, folhas e cascas espessas e
uma abundncia de lquens e musgos sobre os galhos e sobre a superfcie do solo.

As campinaranas se distribuem em forma de "ilhas" no meio da floresta densa,


contrastando pelo tamanho das rvores, estrutura e fisionomia. Essas "ilhas" so comuns na
bacia do rio Negro e em outras reas ao Norte do rio Amazonas, mas praticamente ausentes ao
Sul deste rio.

As espcies florestais que caracterizam este tipo florestal so: Aldina discolor, Eperua
leucantha, Hymenolobium nitidum, Clusia spathulaefolia, Couma catingae, Hevea rigidifolia,
Sacoglottis heterocarpa e Scleronema spruceanum.

Floresta Seca:

Essa uma formao de transio que ocasionalmente encontrada ao Sudeste da


Amaznia nos limites desta com o Brasil Central. Pode ser encontrada tambm no estado de
Roraima. Nessas regies o clima mais sazonal e, por esta razo, a tendncia ter florestas
semi-deciduais. Ao longo dos rios ou igaraps, em reas inundveis, a vegetao parecida
com a da "vrzea" e no decdua. Este tipo no rico em espcies endmicas.

Algumas espcies comuns na floresta seca so: Geissospermum sericeum, Cenostigma


macrophyllum, Physocalymma scaberrimum, Lafoensia pacari, Magonia glabrescens,

144
Sterculia striata, Erythrina ulei, Vochysia haenkeana, Vochysia pyramidata, Combretum
leprosum, Bowdichia virgilioides. Em Roraima, ainda que bastante similar fisionomicamente,
a floresta seca apresenta as seguintes espcies mais comuns: Centrolobium paraensi, Mimosa
schomburgkii, Richardella surumuensis e Cassia moschata.

(ii) Floresta de Vrzea:

Fitomassa mediana, menor que a floresta densa de terra-firme, com sub-bosque


relativamente limpo. As razes tabulares so comuns, como tambm certas razes
pneumatforas ou respiratrias. A vrzea formada pela inundao de rios de guas barrentas
como do Solimes, Amazonas e Madeira.

As vrzeas tm solos muito mais frteis do que a maioria dos solos amaznicos porque
so originados da regio andina. Os solos so Aluviais e Hidromrficos Gleizados,
desenvolvidos em sedimentos argilo-siltosos referidos ao Holoceno. As vrzeas do Alto
Amazonas (Rio Solimes) so mais ricas do que as do Baixo Amazonas. Entre os rios Japur
e I h uma grande rea dessas vrzeas que so ligadas entre si por parans, igaraps, furos e
um grande nmero de lagos, transformando os rios principais mais largos durante a estao
chuvosa.

As espcies das vrzeas tendem a ter madeiras mais moles do que as de terra-firme.
Predominam as espcies de rpido crescimento e de casca lisa. As sementes so geralmente
leves e tm diferentes mecanismos para flutuar como tecido esponjoso ou reas ocas ou um
leve mesocarpo. Em alguns casos a prpria semente que flutua como o caso da Hevea
brasiliensis. Em outros casos, o fruto inteiro que flutua como o caso da Montrichardia,
uma Araceae ribeirinha. Algumas dessas sementes flutuantes so coletadas comercialmente
como Carapa guianensis (Andiroba) e Iryanthera surinamensis (Ucuba).

As espcies florestais que caracterizam as florestas de vrzea em toda a sua extenso


so: Ceiba petandra (Sumama), Copaifera sp. (Copaba), Virola surinamensis (Virola ou
Ucuba), Hura crepitans (Aacu), Carapa guianensis (Andiroba), Calophyllum brasiliense
(Jacareba), Naucleopsis caloneura (Muiratinga), Pseudobombax munguba (Munguba), Mora
paraensis (Pracuba), Nectandra amazonum (Louro da Vrzea), Piranhea trifoliata
(Piranheira), Vochysia maxima (Quaruba), Hevea brasiliensis (Seringueira), Manilkara
amazonica (Maparajuba), Aldina heterophylla (Macucu de Paca), Aspidosperma album
(Araracanga ou Piqui-marfim), Pithecolobium racemosum (Angelim-rajado), Salix
humboldtiana var. martiana (oeirana), Platymiscium paraense (Macacaba da Vrzea),

145
Cedrelinga cateniformis (Cedrorana), Hymenaea courbaril (Juta-au), Tabebuia sp., Parkia
sp.

(iii) Floresta de Igap:

O Igap formado pela inundao pelos rios de guas claras ou negras sem
sedimentos como o Negro, Tapajs e Arapiuns. Trata-se de um tipo florestal relativamente
pobre em biomassa, com vegetao bastante especializada e com pouca diversidade especfica
e, em algumas reas, ricas em endemismos.

Entre as espcies mais comuns do igap esto os vrios membros da famlia


Myrtaceae, Triplaris surinamensis (Tachi) e as espcies Piranhea trifoliata (Piranheira),
Copaifera martii (Copaba) e Alchornea castaniifolia.

(iv) Floresta de Manguezal:

Fitomassa baixa, vegetao muito uniforme sem grande interesse florstico e pobre em
epfitas. Acompanha toda a costa brasileira, no s da Amaznia. Nos locais onde o mangue
vermelho substitudo pelo siriba, o manguezal passa a ser Siriubal.

(v) Campina:

Vegetao raqutica com escleromorfismo acentuado sobre solos extremamente


arenoso e lavado (Podzol Hidromrfico ou areias quartzosas). Fisionomicamente se assemelha
s restingas litorneas, mas muito diferente do ponto de composio e origem. Em geral, em
cada regio, as campinas apresentam um grande nmero de epfitas e endemismo muito
peculiar.

As espcies tpicas desse tipo florestal so: Aldina heterophylla, Clusia grandiflora,
Eugenia patrisii, Manilkara amazonica, Protium heptaphyllum, Qualea retusa e Swartzia
dolichopoda.

146
Bibliografia:

Braga, P.I.S. 1979. Subdiviso Fitogeogrfica, Tipos de Vegetao, Conservao e Inventrio


Florstico da Floresta Amaznica. Supl Acta Amazonica 9(4):53-80.
Huek, K. 1978. Los Bosques de Sudamrica. GTZ. Hoehl-Druck. 476p.
IBGE. 1977. Geografia do Brasil. Sergraf-IBGE. volumes 1 e 4.
Pires, J.M. e G.T. Prance. 1985. The Vegetation Types of the Brazilian Amazon. In: Key
Environments - AMAZONIA by Prance, G.T. e T.E. Lovejoy (eds.). Pergamon Press.
442p.
Silva, M.F., Lisboa, P.L. e Lisboa, R.C.L. 1977. Nomes vulgares de plantas amaznicas.
INPA. 222p.
Walter, H. 1979. Vegetation of the Earth and Ecological Systems of the Geo-biosphere.
Springer-Verlag. New York. 2nd. Ed. 274p.

147
CAPTULO 17
Desenvolvimento sustentvel: a experincia do setor madeireiro11
Resumo

O setor madeireiro um exemplo bem sugestivo para discutir e refletir sobre o


conceito de desenvolvimento sustentvel. Tanto a matria-prima madeira, como todos os
outros produtos que dependem do abrigo da floresta, tm tido uma forte interao com os
seres humanos, desde o surgimento do gnero Homo neste planeta. Em todos os pases, sem
exceo, esta coexistncia teve um incio muito parecido; a floresta era usada para caa e
coleta de outros produtos extrativistas, de lenha para energia e de material para moradias e
outras construes. Com o aumento da populao, o gnero Homo foi forado a aprender a
domesticar determinadas plantas e animais e, em funo disso, a floresta transformou-se em
obstculo, sendo, invariavelmente, derrubada e queimada. Em conseqncia do mau uso das
florestas, algumas civilizaes praticamente desapareceram da face da Terra. Nos pases
tropicais, h quase dois sculos, o desafio da sustentabilidade da produo madeireira vem
sendo tentada, somando mais fracassos do que sucessos. Neste trabalho, apresentamos um
pouco do histrico do setor florestal, tentando inseri-lo no contexto do desenvolvimento
sustentvel.

1. Introduo:

O conceito Desenvolvimento Sustentvel, popularizado a partir do relatrio intitulado


Our Common Future da WCED12 (WCED, 1987), e ratificado pela UNCED13, em 1992
(Johnson, 1993), tem a seguinte definio: desenvolvimento que atenda as necessidades
atuais, sem comprometer a habilidade das futuras geraes de atender as suas prprias
necessidades. O documento da WCED, tambm conhecido como Relatrio de Brundtland
(nome da coordenadora da Comisso), tem o crdito para a definio de desenvolvimento
sustentvel, segundo Gow (1992), Dykstra e Heinrich (1992), Maini (1992), Lanly (1995),
Reid (1995), Hurka (1996) e WWF (1996).

Segundo Hurka (1996), desenvolvimento sustentvel uma tentativa de equilibrar


duas demandas morais; sendo a primeira por desenvolvimento, principalmente para os mais

11
Projeto BIONTE (Convnio INPA/ODA)
12
WCED = World Comission on Environment and Development
13
UNCED = United Nations Conference on Environment and Development, Rio-92.

148
necessitados e a segunda por sustentabilidade, para assegurar que no sacrifique o futuro
em nome dos ganhos do presente. Hurka considera muita vaga a definio da WCED e sugere
a separao entre necessidades de suprfluos ou luxos e que, a gerao atual deixe para a
futura, oportunidades para atender as suas necessidades.

O respeito pelos recursos naturais deve ser acompanhado pelo respeito para as
necessidades humanas (Gow, 1992). Segundo este autor, o conceito de desenvolvimento
sustentvel deve considerar a dinmica do comportamento do recurso em questo,
particularmente em resposta s condies ambientais, s atividades humanas e s interaes
entre os diferentes usos e os aspectos do mesmo recurso; combinando, de um lado, a proteo
do recurso e, de outro, a qualidade de vida. Em sntese, o desenvolvimento economicamente
vivel, ecologicamente sadio e socialmente justo.

2. Desenvolvimento Sustentvel e Manejo Florestal:

Durante a UNCED, Rio-92, o conceito de desenvolvimento sustentvel foi


especificado para as questes florestais na Declarao de Princpios para um Consenso
Mundial sobre o Manejo, Conservao e Desenvolvimento Sustentvel de todos os Tipos
Florestais. Em relao s florestas tropicais, este documento complementa outros importantes
acordos internacionais estabelecidos para disciplinar o manejo florestal, tais como: ITTO-
2000, que estabelece que a partir do ano 2000, somente a madeira oriunda de planos de
manejo florestal sustentvel ser comercializada sob os auspcios desta organizao,
apresentando, ao mesmo tempo, os critrios de avaliao dos mesmos (ITTO, 1992); e o
acordo de Tapapoto, que estabelece critrios e indicadores de sustentabilidade,
especificamente para a regio amaznica (TCA, 1995).

A certificao florestal, que vem sendo coordenada pelo FSC14, surge como uma
conseqncia natural, tendo em vista a necessidade de cumprir todos os acordos
estabelecidos. Segundo Baharuddin (1995), a certificao um atestado de origem da
matria-prima madeira, que inclui dois componentes: certificao da sustentabilidade lato
sensu do manejo florestal (sade da floresta) e a certificao do produto (qualidade do
produto comercializado). A FAO (Food and Agriculture Organization) sugere que os critrios
para certificao devam contemplar os seguintes conceitos fundamentais: recursos florestais,
funes da floresta, necessidades sociais e de desenvolvimento e questes institucionais
(Lowe, 1995).

14
FSC = The Forest Stewardship Council, Conselho do Guardio da Floresta, organizao no governamental
que tem o papel de credenciar empresas de certificao florestal.

149
Segundo WWF (1996), a certificao no obrigatria, portanto, no substitui as
legislaes existentes em cada pas. Segundo ainda esta fonte, quatro organizaes no
governamentais j foram credenciadas pelo FSC: Forest Conservation Program of Scientific
Certification Systems (americana, com fins lucrativos), SGS Forestry Program (britnica, com
fins lucrativos), Smart Wood Certification Program of Rainforest Alliance (americana, sem
fins lucrativos) e Woodmark of the Soil Association (britnica, sem fins lucrativos). No
Brasil, desde 1992 o setor privado vem desenvolvendo, com o apoio de instituies de
pesquisa tecnolgica, a metodologia de um processo de certificao relacionado com a origem
da matria prima plantada (Deusdar, 1997). Este trabalho resultou no Conselho de
Certificao Florestal - CERFLOR, o qual seguir orientaes da Associao Brasileira de
Normas Tcnicas - ABNT. Existe ainda, o Grupo de Trabalho do WWF, que agrega as
organizaes no governamentais responsveis pela discusso da certificao seguindo os
princpios da FSC.

Segundo Viana (1997), na dcada de 90, com o advento da certificao, surgiu a


necessidade de traduzir o conceito de manejo florestal sustentvel para algo mais prtico,
passvel de passar por uma avaliao objetiva e replicvel. Surgiu, ento, o conceito de bom
manejo florestal (good forest management ou forest stewardship), que representa as
melhores prticas de manejo capazes de promover a conservao ambiental e a melhoria da
qualidade de vida das comunidades locais, considerando a viabilidade econmica e o estado
da arte do conhecimento cientfico e tradicional. Este conceito importante desde que
preserve todos princpios e regras contidas no Decreto 1.282, e que, efetivamente, no seja
usado como subterfgio para proliferao da indstria de certificao.

Segundo Kiekens (1995), apesar da certificao florestal ser inevitvel, no h


nenhuma garantia que isto melhorar o manejo florestal. Alm disso, errado levantar falsa
expectativa de que os critrios e indicadores de sustentabilidade da certificao, nvel
nacional, tero influncias diretas no manejo florestal (Lowe, 1995).

Alm de documentos, acordos e instrumentos de medida, no obrigatrios, todos os


pases tm suas prprias legislaes ambientais ou florestais. No Brasil, por exemplo, o
Cdigo Florestal o instrumento legal que disciplina o uso de seus recursos florestais. No
caso da Amaznia, o artigo 15 do Cdigo Florestal, que trata do manejo florestal da regio,
foi regulamentado em 1994, Decreto no 1.282, definindo as regras e as condies para o
aproveitamento de seus recursos florestais, que so baseadas nos princpios do
desenvolvimento sustentvel; no entanto, com eficcia bastante limitada. V. Captulo 22

150
(Legislao florestal brasileira atualizada em 2007). Estima-se que menos de 1% da produo
madeireira oriunda de reas onde se pratica o manejo florestal (MMA/IBAMA, 1997).

Segundo Leslie (1994), a transio de manejo em regime de produo sustentvel


(madeira) para um sistema mais amplo, que combina produo madeireira e produtos no
madeireiros com a preservao e conservao de muitos outros produtos no madeireiros,
servios ambientais e funes ecolgicas da floresta - manejo florestal sustentvel -, o novo
paradigma do setor florestal.

O setor florestal est, de certa forma, acostumado a trabalhar numa perspectiva de


longo prazo; est relativamente bem familiarizado com os princpios de produo sustentvel;
tem alguma noo sobre as respostas do meio ambiente s perturbaes naturais e antrpicas;
e, em alguns casos, tem tentado praticar o uso mltiplo e integrado da floresta (Maini, 1994).
Comparado com outros setores produtivos, o setor florestal no teria grandes dificuldades
para ampliar o conceito de produo sustentvel para desenvolvimento sustentvel, bastando
transformar manejo florestal em manejo do ecossistema florestal. Para Maini,
desenvolvimento florestal sustentvel, por estas razes, significa reconhecimento dos limites
da floresta s mudanas ambientais, individualmente ou coletivamente, e o manejo das
atividades humanas para produzir o mximo nvel de benefcios obtveis dentro destes limites.

Segundo Dykstra e Heinrich (1992), a definio de manejo florestal sustentvel da


FAO a seguinte: manejo e conservao da base dos recursos naturais e a orientao
tecnolgica, que proporcionem a realizao e a satisfao contnua das necessidades humanas
para a atual e futuras geraes. Segundo estes autores, as operaes delineadas para
atenderem os requisitos de sustentabilidade pode, simultaneamente, reduzir custos em funo
de um planejamento melhorado e controle tcnico. A chave para promover a sustentabilidade
da floresta tropical durante a explorao florestal utilizar o melhor conhecimento disponvel
em relao a 5 crticos elementos: planejamento da explorao, estradas florestais, derrubada,
arraste e avaliaes ps-explorao.

Para Lanly (1995), desenvolvimento sustentvel na rea florestal significa tambm a


conservao da terra, gua e o patrimnio gentico, e a utilizao de mtodos tecnicamente
apropriados, economicamente viveis e socialmente aceitveis. Segundo ainda este autor, so
os seguintes critrios da FAO na caracterizao do manejo florestal sustentvel: (i)
concernentes qualidade e quantidade do ecossistema florestal: extenso dos recursos
florestais; conservao da diversidade biolgica (nveis de ecossistema, espcie e
intraespecfica); sade da floresta e vitalidade; (ii) concernentes s funes do ecossistema

151
florestal: funes produtivas da floresta; funes protetivas da floresta; (iii) ligado economia
florestal e s necessidades sociais.

De acordo com Leslie (1994), o manejo sustentvel tem que incluir a produo
madeireira sustentvel com colheita de baixo impacto. Isto pode ser alcanado seguindo as
seguintes condies: (i) derrubada de poucas rvores por ha; (ii) danos negligveis floresta
residual (rvores designadas para o corte subseqente e regenerao natural estabelecida); (iii)
reteno e proteo de todos os tipos de vegetao que tm papel importante no
funcionamento do ecossistema e nos processos ecolgicos. Estas trs condies dependem das
seguintes condies: (1) no usar mquinas pesadas para arraste; (2) derrubada orientada; (3)
estradas e trilhas de escoamento e arraste devem ser bem planejadas; (4) no trabalhar durante
o perodo chuvoso. Uma conseqncia inevitvel ser o aumento dos custos de explorao
florestal, quando comparados com os mtodos usuais na maioria dos pases tropicais.
Contudo, esses custos adicionais, podem ser abatidos com o aumento da eficincia da
explorao (Uhl et al. 1996)

O manejo florestal para ser sustentvel tem que contemplar tambm a conservao dos
recursos genticos. Isto requer a manuteno dos componentes essenciais de funcionamento
do ecossistema (Kemp, 1992) e, por conseguinte, vrias complexas interaes, como por
exemplo, a interao entre a espcie de rvore e seus animais polinizadores e dispersores de
sementes. O no cumprimento de prescries adequadas para a conservao gentica, durante
a execuo de um plano de manejo florestal, compromete imediatamente o estoque em
crescimento e a capacidade de regenerao natural da floresta residual. A diversidade gentica
dos ecossistemas florestais a base para o desenvolvimento sustentvel e para o manejo
florestal, e o tampo para tais ecossistemas contra as mudanas ambientais (Kemp e
Palmberg-Lerche, 1994). Associada s variaes dentro e entre espcies, a diversidade
gentica a base para a adaptao das espcies ao stress ambiental.

Os sistemas de manejo florestal que tm intenes de combinar produo madeireira


com conservao dos recursos genticos requerem algum entendimento da dinmica da
floresta e da estrutura gentica de espcies e de populaes. Segundo Kemp e Palmberg-
Lerche (1994), as informaes sobre estrutura gentica so praticamente inexistentes em
florestas tropicais. Segundo ainda estes autores, a estrutura gentica de uma espcie resulta de
migrao, mutao, seleo e fluxo de genes entre populaes separadas, e fortemente
influenciada pelo sistema gentico (sistema de reproduo e mecanismos de disperso de
plen ou semente).

152
Kageyama & Gandara (1993) mencionam que o manejo florestal sustentvel, no
decorrer do processo, deve considerar tanto a manuteno da produtividade como a
manuteno da integridade gentica das populaes. Desta forma, a explorao do recurso de
uma ou mais espcies da mata deve ter sob controle as populaes das espcies sob manejo,
como tambm considerar um mnimo de monitoramento sobre as outras muitas espcies que
coexistem no local, principalmente aquelas raras e de difcil controle.

O desafio da conservao dos recursos genticos no selecionar, estabelecer e


guardar as reas contendo recursos genticos, nem s preservar semente, plen ou tecido no
banco de sementes; mas sim, a manuteno da variabilidade gentica de espcies-alvos dentro
de um mosaico de opes de uso do solo, econmica e socialmente aceitveis, e reservas
florestais manejadas (Kemp e Palmberg-Lerche, 1994). Segundo Kemp e Palmberg-Lerche
(1994), no absolutamente necessrio conservar todos os nveis da diversidade gentica em
todas as reas; podendo conservar uma parte para a conservao do ecossistema, enquanto,
outras poderiam ser manejadas para conservar as variaes intraespecficas como parte de
uma rede de conservao de reas contendo espcies-alvos ou populaes. A conservao
gentica in situ dentro de um ecossistema florestal natural parece ser a nica estratgia
possvel para a grande maioria das espcies em florestas complexas como as tropicais midas
(Kemp e Palmberg-Lerche, 1994).

Dependendo do sistema de manejo florestal e do grau de entendimento da dinmica


florestal, a diversidade gentica e os recursos genticos especficos podem ser melhorados ou
reduzidos pela interveno humana (Kemp e Palmberg-Larche, 1994). Onde a demanda do
mercado extremamente seletiva, concentrada em algumas espcies, na extrao nos
melhores fentipos das espcies mais desejveis, a tendncia resultar numa progressiva
deteriorao na qualidade gentica do povoamento (Kemp e Palmberg-Lerche, 1994). Alm
disso, Segundo Kemp (1992), o florestal deve estar atento s questes da biologia reprodutiva
(polinizao, disperso e predao de sementes) e da dinmica da regenerao natural (bancos
de sementes, plntulas e mudas estabelecidas), ao elaborar um plano de manejo florestal.

Para Leslie (1994), os seguintes elementos precisam ser coordenados para alcanar a
sustentabilidade: incremento; distribuio das classes de tamanho e idade das espcies
manejadas; a definio dos mtodos de substituio das rvores que sero retiradas durante a
explorao florestal e salvaguardar o suprimento de outros produtos e servios,
principalmente durante a explorao e as operaes de tratamentos silviculturais. De acordo
com Leslie (1994), no h muitas alternativas disponveis para obteno de incremento de

153
floresta tropical; parcelas permanentes so as mais apropriadas formas de obter estimativas
confiveis de incremento. No entanto, no qualquer pas que pode bancar a manuteno de
parcelas permanentes; por esta razo, a aproximao, estimativa e extrapolao de poucos
bancos de dados tornaram-se o procedimento padro, do tipo incremento mdio anual
variando de 1 a 3 m3/ha.

As florestas sero, de forma crescente, manejadas em situaes de complexas


interaes e interdependncias com outros usos do solo e parmetros scio-econmicos. Isto
implica que o manejo florestal sustentvel s pode ser implementado e perseguido atravs de
abordagens interdisciplinares, bem coordenadas, dentro das polticas e regulamentaes do
desenvolvimento rural (Montalembert e Schmithsen, 1993). Segundo ainda estes autores,
nenhum manejo florestal sustentvel ser vivel se os benefcios no ocorrerem nos setores
correlatos.

Quando a expresso sustentabilidade comeou a aparecer no papel, houve uma


exploso geral de alegria: agora sabemos o qu e como fazer, agora temos a chave para
soluo do problema - sustentando a produtividade da terra, o desenvolvimento ser
sustentvel e isto levar uma sociedade sustentvel. Isto foi uma memorvel surpresa para
todos, menos para os florestais que conhecem bem esta estria, mas que foram incapazes (ou
desinteressados) de vend-la. - Declarao feita em 1994, contida em Lanly (1994), de um
experiente engenheiro florestal, Oscar Fugalli, que trabalhou na FAO entre 1951 a 1982.

Este pretensioso depoimento de um profissional da antiga escola de Engenharia


Florestal no coincide com a situao do setor florestal em todo o mundo. A freqncia com
que o termo usado no meio florestal incompatvel com as aes tomadas em direo
sustentabilidade, mesmo apenas em termos de rendimento sustentvel (Gane, 1992). Para
Leslie (1994), o princpio do manejo florestal sustentvel mais fcil declarar do que aplicar.
Segundo ainda o mesmo autor, se a produo madeireira sustentvel tem tido dificuldades
para ser implementada, a concretizao do conceito de desenvolvimento sustentvel no setor
florestal, parece mais distante ainda. A avaliao de Lamprecht (1990) de que o mundo
tropical carente de experincias de longo prazo e, pelo passado histrico da silvicultura
tropical, os resultados prticos so poucos e incipientes. Historicamente, a explorao
florestal realizada dentro dos princpios de manejo florestal sustentvel tem demonstrado ser
incompatvel com a sustentabilidade quanto regenerao natural e aos outros servios e
funes da floresta tropical (Dykstra e Heinrich, 1992).

154
Shah (1994a), ao analisar os 150 anos de manejo florestal na ndia, conclui: o sistema
de corte raso falhou; o manejo florestal das agncias governamentais falhou; os objetivos da
produo sustentada de madeira e da proteo das florestas no foram alcanados; a prtica
isolada (desarticulada) da silvicultura falhou; os sistemas silviculturais empregados at agora,
entre outras mazelas, criou uma tragdia humana para 60 milhes de tribais. Por ltimo, o
autor incita os peritos a reiventarem a silvicultura tropical.

Segundo Maser (1994), liquidar as florestas maduras no manejo florestal;


simplesmente espoliar a nossa herana e roubar das futuras geraes. Da mesma forma,
monocultura tambm no manejo. Manejo florestal sustentvel significa, enfim, que o total
maior que a soma de suas partes.

3. Experincias de alguns pases no trato com os seus recursos florestais:

Maser (1994) usa os exemplos do Canyon Chaco (Arizona, EUA), Ilha da Pscoa
(pequena ilha no Pacfico Sul, aproximadamente 3.500 km da costa da Amrica do Sul) e a
regio de Petn (norte da Guatemala), para ilustrar como os efeitos do desmatamento podem
ser irreversveis. A histria da Ilha da Pscoa tambm mencionada por Ponting (1991), que
concorda com a abordagem de Maser. Maser (1994) e Pontig (1991) fazem um histrico
compreensivo sobre o uso (e, principalmente, abuso) das florestas de vrias regies do
mundo, mostrando que a decadncia dos povos est diretamente relacionada com o mau uso
de seus recursos florestais.

Lanly (1995) chama a ateno para necessidade de analisar historicamente as florestas


j desaparecidas, que s foram notadas quando as necessidades humanas j no eram mais
possveis de serem atendidas; a abundncia de floresta foi sempre uma pssima referncia e a
sociedade, em geral, tem sido pouco eficiente na antecipao da escassez. Alguns pases
reagiram pro-ativamente para superar este problema como Japo, Alemanha, Sucia, Frana,
mas a maioria, nada fez; alguns acentuaram o estado de pobreza geral e outros, mais
abastados, preferiram importar de pases com abundantes recursos florestais.

3.2. Pases Temperados:

Maser (1994) faz uma especial nfase na Alemanha, que no incio do sculo passado,
as suas florestas mistas (conferas e folhosas) foram substitudas por plantios de conferas de
rpido crescimento, numa tentativa de re-equilibrar a oferta-procura de madeira. Os grandes
reflorestamentos da Alemanha sempre usados como bons exemplos de silvicultura,
principalmente pelo bom desempenho e alta produtividade do Spruce noruegus durante a

155
primeira rotao. Na segunda rotao, segundo ainda Maser (1994), esta espcie no consegue
repetir a mesma performance, mostrando os primeiros sinais de declnio e de stress, aps mais
de um sculo do primeiro plantio puro.

Na Sucia, segundo Hgglund (1994), apesar de problemas de super-explorao de


suas florestas, no sculo passado, atualmente tem uma situao bem equilibrada em termos de
madeira; a produo anual de 65 milhes de m3, de um estoque de crescimento equivalente a
85 milhes de m3, ou seja, h uma sobra de aproximadamente 30% por ano do estoque
necessrio para manter a sustentabilidade da produo de madeira do Pas.

No Japo, em meados do sculo XVII o desmatamento atingia 80% do territrio


nacional; quando foi dado incio aos grandes plantios de conferas, principalmente
Cryptomeria japonica D. Don e Chamaecyparis obtusa S. et Z. (Higuchi, 1995). Atualmente,
o Japo tem mais de 2/3 do territrio coberto por florestas, sendo que, deste, 1/3 de
reflorestamento. Por razes prprias, o Japo importa aproximadamente 80% de sua demanda
domstica por produtos madeireiros (estimada em 120 milhes de m3 equivalentes em toras,
por ano). Em funo desta dependncia externa para atender a sua demanda interna, o Japo
pode ser usado como exemplo de como recuperar reas desmatadas, dentro de um horizonte
de 250-300 anos, mas no como um pas que maneja os seus recursos florestais de forma
sustentvel.

3.1. Pases Tropicais:

Nos pases tropicais, manejo florestal sustentvel sempre esteve associado ao conceito
de silvicultura tropical, que nada mais do que uma adaptao, nos trpicos, da silvicultura
desenvolvida na Europa Central. Os sistemas silviculturais foram desenvolvidos tendo como
pressuposto a produo sustentada de madeira. Segundo Lamprecht (1990), o botnico alemo
Dietrich Brandis foi o autor do primeiro plano de ordenamento da teca (Tectona grandis), em
1860, na ndia, sendo, por esta razo, considerado como o criador do manejo florestal tropical.
Na frica e Amrica tropicais, as primeiras atividades de silvicultura tropical aconteceram no
incio do sculo XX, e intensificadas aps a segunda guerra mundial.

Segundo Palmer (1989), pouca coisa evoluiu desde ento, no havendo nada novo na
literatura relacionada com manejo florestal; a maioria das recentes publicaes so meras
revises. Os velhos manuais de silvicultura e manejo, escritos no final dos anos 50 e incio
dos anos 70, na frica e Sudeste Asitico, continuam sendo as mais relevantes publicaes
para o setor florestal. As experincias com aplicao de sistemas silviculturais em florestas

156
tropicais somam-se mais fracassos do que sucessos. Em geral, o culpado tem sido a mudana
da poltica do uso do solo, de floresta para agricultura. Teoricamente, no h um s caso de
insucesso atribudo s questes tcnicas, mas sempre s polticas. Como resultado, o
abastecimento de madeira dura tropical tem sido feito com o primeiro corte de florestas
primrias (Poore, 1989) ou de secundrias quando novas espcies so introduzidas no
mercado madeireiro.

Leslie (1994) estima que no mais de 5% das florestas tropicais midas esto sendo
manejadas de forma sustentvel. Laird (1995), com base em reviso de literatura, apresenta
esta estimativa em valores absolutos, ou seja, 1 milho de hectares esto sendo manejados de
forma sustentvel no mundo tropical; sendo que no neotrpico, para cada 35.000 hectares no
manejados, h um hectare sendo manejado em regime de rendimento sustentado. Wadsworth
(1987) afirma que 37 milhes hectares de florestas da sia e frica estavam sob alguma
forma de manejo florestal, at provavelmente 1987. Estas informaes conflitantes
exemplificam como as estatsticas so tratadas nas regies tropicais. Usando as estatsticas de
Laird (1995) ou de Wadsworth (1987) com a taxa estimada por Leslie (1994), o mundo teria,
na pior das hipteses, pelo menos um milho de hectares manejados de forma sustentvel. O
qu ningum diz onde esto estes hectares e nem quando comearam estes projetos. Num
mundo carente e ansioso por informaes sobre a sustentabilidade do manejo florestal, um
milho de hectares, no passariam to despercebidos assim.

Shah (1994b) faz uma anlise dos aspectos ecolgicos do manejo florestal empregado
na ndia, desde o perodo pr-colonial at 1993-94. O autor chega s mesmas concluses de
Shah (1994a) e, com ironia, diz que os florestais indianos no admitem a crise no setor
florestal e o mximo que eles fazem, como os polticos, culpar o crescimento da populao
por qualquer problema no setor. O autor aponta ainda algumas falcias que o manejo florestal
na ndia baseou-se: (i) tudo aquilo que no tem mercado, no merece ser preservado; (ii) as
florestas podem ser manejadas em regime de produo sustentada para um nmero limitado
de espcies; (iii) os reflorestamentos do a mxima produo; (iv) o Governo quem melhor
sabe de manejo florestal; (v) as prticas tradicionais so primitivas e no cientficas; (vi) os
povos da florestas so analfabetos e ignorantes; no sabem nada de ecologia das florestas;
(vii) as florestas podem ser manejadas independentemente da vida silvestre e do bem-estar
tribal; (viii) floresta e agricultura so dois usos do solo mutuamente independentes; (ix) a
pesquisa florestal importante para preservar os departamentos florestais e os institutos de
pesquisa; (x) todos os problemas florestais tm solues puramente tcnicas.

157
Na Malsia (Peninsular, Sabah e Sarawak), o setor florestal contribuiu com 6.8% do
PIB nacional, em 1983, e apesar da longa experincia com manejo florestal baseado nos
princpios do rendimento sustentvel, a regenerao de suas florestas est ainda coberta de
incertezas (Tang, 1987). Apesar de acumular quase um sculo de experincia, o autor
reconhece que a incerteza sobre o manejo e a renovao das florestas de Dipterocarpaceae
ainda devida basicamente falta de evidncias experimentais sobre a natureza e a dinmica
destas florestas, antes e depois da explorao florestal. Tang sugere que a prioridade
resolver a discrepncia entre os sistemas silviculturais concebidos, que so sadios, e os
sistemas que de fato praticados na Malsia, que no so sadios. A sua previso, mantida a taxa
de explorao florestal poca, as reservas de florestas produtivas da Malsia estariam
esgotadas em 18 anos, aproximadamente em 2005.

Daryadi (1994) apresenta uma reviso compreensiva do setor florestal da Indonsia,


que exportou em 1989, US$ 4 bilhes e, produziu neste mesmo ano, 31.4 milhes m3 de
madeira. Trata-se de um setor que tem uma expressiva participao, tanto no produto interno
bruto como na gerao de empregos. Desde 1970, a Indonsia vem trabalhando com base em
planos nacionais qinqenais, que so parcialmente revises do plano nacional para o perodo
de 1975-2000, que contemplam no s o manejo das florestas, como tambm as questes
ambientais e sociais. Segundo ainda este autor, as florestas da Indonsia tm sido,
historicamente, associadas com seu povo; a floresta tem contribudo significativamente
economia e ao bem-estar da populao, especialmente nos ltimos 25 anos; e que o manejo da
floresta natural tem melhorado consideravelmente, apesar de reconhecer que h desafios pela
frente e problemas para serem resolvidos. No entanto, ao analisar os ltimos 25 anos do setor
florestal, o autor critica o baixo retorno dos lucros produzidos pelo madeira, em forma de
reinvestimento, na manuteno e desenvolvimento das florestas naturais. A maior parte do
lucro vai para o setor industrial como de laminado, polpa e papel e serraria. As razes para o
baixo investimento na floresta so: a falta de conhecimento e tecnologia de manejo florestal
do setor privado; oportunidades de melhores negcios fora do setor florestal; baixa qualidade
e quantidade de mo-de-obra nas reas de explorao florestal; fraca superviso do governo; e
pouco interesse internacional em valorizar os recursos naturais de pases em desenvolvimento.
Para Daryadi (1994), nos anos 70 o setor florestal negligenciou os objetivos do
desenvolvimento nacional: harmonizar desenvolvimento florestal com meio ambiente;
manejar de forma sustentvel; distribuir renda eqitativamente, principalmente aos povos
locais; aumentar o emprego e oportunidades de negcios para toda a populao; melhorar o

158
conhecimento e a tecnologia de manejo florestal; melhorar a produo florestal; e desenvolver
as indstrias de base florestal. Alm disso, a nfase em extrao de madeira em vez de manejo
florestal, reduziu o potencial de oportunidade de empregos, como tambm, a oportunidade de
desenvolver a habilidade e capacidade gerencial na rea de manejo florestal.

Na frica, as florestas tropicais produtivas concentram-se na parte oeste do


continente. Segundo Asabere (1987), em Gana, os sistemas silviculturais praticados tm
pouco a ver com os sistemas preconizados, apesar de ser considerado por Leslie (1994) como
uma exceo dentro do continente africano em termos de manejo florestal. Leslie (1994)
refere-se s reas designadas como reservas florestais, incluindo parques nacionais, que,
segundo Sargent et al. (1994), representam menos de 10% de seu territrio. Asabere (1987)
critica a falta de confiabilidade dos resultados de crescimento e incremento das florestas
manejadas, considera o ciclo de corte muito curto (15 anos) e que o sistema de seleo
adotado uma negao aos princpios silviculturais porque permite a remoo dos melhores
fentipos e gentipos. Na Nigria, a aplicao de mtodos de regenerao natural para
melhorar a produtividade das florestas nativas no tem produzido resultados satisfatrios e,
alguns casos, em vez de favorecer as espcies desejveis, tem favorecido as espcies no
comerciais e a proliferao de cips (Kio e Ekwebelan, 1987).

No Brasil, apesar da legislao ambiental preconizar o manejo florestal desde meados


da dcada de 60, as iniciativas promissoras de manejo florestal na regio amaznica so raras.
As principais causas da explorao insustentvel incluem (i) a falta de polticas adequadas e
sistema de estmulos para manejo sustentvel; (ii) a ineficcia e ineficincia do
monitoramento e controle da explorao madeireira; (iii) a oferta clandestina associada ao
aumento da fronteira agrcola; (iv) abundncia do recurso florestal; e (v) a falta de modelos
demonstrativos (MMA/IBAMA, 1997). Em recente avaliao dos projetos de manejo
florestal, na microrregio de Paragominas (PA), coordenada pela EMBRAPA/CPATU, em
relatrio preparado por Silva et. al (1996), a concluso muito clara: a situao
simplesmente catica. Poucas diferenas em relao execuo dos planos de manejo sero
encontradas em outras microrregies do Par, ou mesmo em outros estados amaznicos;
provavelmente, mudam apenas a intensidade e a durao da interveno.

Segundo Prado (1997), a atual equao econmica do uso dos recursos florestais na
Amaznia se compe da superabundncia de estoques; da disponibilizao do recurso pelo
desmatamento; pelo acesso itinerante, predatrio, descontrolado em terras privadas, pblicas,
e em terras que, em sua maioria, no so uma coisa nem outra; de elevados ndices de

159
desperdcio, tanto na explorao florestal, como no processamento industrial; da resultante de
um preo vil da madeira e de outros produtos no madeireiros e, por consequncia, de um
baixo retorno econmico, social e ambiental.

4. Concluso:

Pelo tempo que se pratica a explorao de madeira, sob algum tipo de sistema que
preconiza o manejo sustentvel, na sia tropical, pelo menos, grande parte do abastecimento
deveria ser feito por florestas secundrias (segundo ou terceiro ciclo de corte). Se isto est
acontecendo, no h registros. O qu observa-se a pratica do nomadismo tambm neste
setor; com o esgotamento das reservas, procura-se uma nova fonte de abastecimento.
Atualmente, o alvo a Amaznia, que , aparentemente, a ltima fronteira florestal. O
abastecimento de madeira dura tropical, centrado na floresta primria, um indicativo
irrefutvel contra a prtica de manejo sustentvel das florestas tropicais.

possvel produzir a madeira de forma sustentvel? A resposta sim, mas tudo tem
que ser modificado para que isto acontea. A conscientizao per se da necessidade de
praticar o manejo florestal sustentvel no suficiente; preciso assumir o compromisso
em pratic-lo. Alm disso, preciso saber se realmente vale a pena (esforo e dinheiro)
investir no manejo sustentvel. Na Amaznia precisamos ainda fazer uma anlise de
custo/benefcio e responder a pergunta para quem estaremos produzindo?. De um modo
geral, os pases que priorizaram a exportao de seus recursos florestais, continuam pobres e
sem as suas reservas florestais. Ao Poder Pblico, cabe a responsabilidade de fazer cumprir a
legislao vigente e remover os obstculos que dificultam a implementao do manejo
florestal sustentvel.

160
Bibliografia

Asabere, P.K. 1987. Attempts at Sustained Yield Management in the Tropical High Forests
of Ghana. Em: Natural Management of Tropical Moist Forests - Silvicultural and
Management Prospects of Sustained Utilization (editado por F. Mergen e J.R. Vincent).
Yale University, pp. 47-69.
Baharuddin, H.G. 1995. Timber Certification: an Overview. Unasylva, 183(46):18-24.
Daryadi, L. 1994. Indonesias Experience in Sustainable Forest Management. Em: Readings
in Sustainable Forest Management. FAO Forestry Paper 122:201-213.
Deusdar Filho, R. (1997). Certificao de produtos Florestais Uma Perspectiva Brasileira.
In: Seminrio sobre Certificao Florestal. Braslia.DF. Setembro/97, mimeo. 4p.
Dykstra, D.P. e R. Heinirch. 1992. Sustaining Tropical Forests through Environmentally
Sound Harvesting Practices. Unasylva, 169(43):9-15.
Gane, M.. 1992. Sustainable Forestry. Commonwealth Forestry Review, 71(2):83-90.
Gow, D.D. 1992. Forestry for Sustainable Development: the Social Dimension. Unasylva,
169(43):41-45.
Hgglund, B. Sweden: Using the Forest as a Renewable Resource. Em: Readings in
Sustainable Forest Management. FAO Forestry Paper 122:215-224.
Higuchi, N. 1995. O Setor Florestal Japons. Palestra apresentada durante a Semana do Meio
Ambiente, como parte da Comemorao do Centenrio de Amizade Brasil e Japo,
promovida pelo Consulado Geral do Japo em Manaus. Manaus, Am.
Hurka, T. 1996. Sustainable Development: What do we Owe to Future Generations?
Unasylva, 187(47):38-43.
ITTO (International Tropical Timber Organization), 1992. Criterios para la Evaluacion de la
Ordenacion Sostenible de los Bosques Tropicales. Srie ITTO de Desarrollo de Polticas
no 3, 6p.
Johnson, S.P. 1993. The Earth Summit: The United Nations Conference on Environment and
Development (UNCED). Editora Graham & Trotman/Martinus Nijhoff, Srie
International Environmental Law and Policy.
Kageyama, P. & F.B. Gandara. 1993. Dinmica de Populaes de Espcies Arbreas:
Implicaes para o manejo e a conservao. Em: III Simpsio de Ecossistemas da Costa
Brasileira. Anais. Volume II. Serra Negra-SP. p. 2-9.
Kemp, R.H. 1992. The Conservation of Genetic Resources in Managed Tropical Forests.
Unsylva, 169(43):34-40.
Kemp, R.H. e C. Palmberg-Lerche. 1994. Conserving Genetic Resources in Forest
Ecosystems. Em: Readings in Sustainable Forest Management. FAO Forestry Paper
122:101-117.
Kiekens, J.P. 1995. Timber Certification: a Critique. Unasylva, 183(46):27-28.
Kio, P.R.O. e S.A. Ekwebelan. 1987. Plantations versus Natural Forests for Meeting Nigerias
Wood Needs. Em: Natural Management of Tropical Moist Forests - Silvicultural and
Management Prospects of Sustained Utilization (editado por F. Mergen e J.R. Vincent).
Yale University, pp. 149-176.

161
Laird, S. 1995. The Natural Management of Tropical Forests for Timber and Non-Timber
Products. O.F.I. Occasional Papers nmero 49. 63p.
Lamprecht, H. 1990. Silvicultura nos Trpicos: Ecossistemas Florestais e Respectivas
Espcies Arbreas - Possibilidades e Mtodos de Aproveitamento Sustentado. GTZ
GmbH, Eschborn. 343p.
Lanly, J.P. 1995. Sustainable Forest Management: Lessons of History and Recent
Developments. Unasylva, 182(46):38-45.
Leslie, A . J. 1994. Sustainable Management of Tropical Moist Forest for Wood. In:
Readings in Sustainable Forest Management. FAO Forestry Paper 122:17-32.
Lowe, P.D.. 1995. The Limits to the Use of Criteria and Indicators for Sustainable Forest
Management. Commonwealth Forestry Review, 74(4):343-349.
Maini, J.S. 1992. Sustainable Development of Forests. Unasylva, 169(43):3-8.
Maser, C. 1994. Sustainable Forestry: Philosophy, Science, and Economics. St. Lucie Press.
373p.
MMA/IBAMA. 1997. Documentos do Projeto Apoio ao Manejo Florestal na Amaznia
(ProManejo). Mimeografado.
Montalembert, M.R. e F. Schmithsen. 1993. Policy and Legal Aspects of Sustainable Forest
Management. Unasylva, 175(44):3-9.
Palmer, J. 1989. Management of Natural Forest for Sustainable Timber Production. Em: No
Timber Without Trees - Sustainability in the Tropical Forest (Poore, D., P. Burgess, J.
Palmer, S. Rietbergen e T. Synnott - editores). Earthscan Publications Ltd., London. Pp
154-189.
Ponting, C. 1991. A Green History of the World: the Environment and the Collapse of Great
Civilizations. Penguin Books, New York. 430p.
Poore, D. 1989. The Sustainable Management of Tropical Forest: the Issues. Em: No Timber
Without Trees - Sustainability in the Tropical Forest (Poore, D., P. Burgess, J. Palmer, S.
Rietbergen e T. Synnott - editores). Earthscan Publications Ltd., London. pp. 1-27.
Prado, A. C. 1997. Uso sustentvel dos recursos florestais no Brasil. mimeo. 27p.
Reid, D. 1995. Sustainable Development: na Introductory Guide. Earthscan Publications Ltd..
London. 261p.
Sargent, C., T. Husain, N.A. Kotey, J. Mayers, E. Prah, M. Richards e T. Treue. Incentives for
the Sustainable Management of the Tropical High Forest in Ghana. Commonwealth
Forestry Review, 73(3):155-163.
Shah, S.A. 1994a. Reinventing Tropical Forest Management in India. The Indian Forester,
June:471-476.
Shah, S.A. 1994b. Ecological Aspects of Tropical Forest Management (the Case of India).
The Indian Forester, November:981-999.
Silva, J.N.M. et al. 1996. Diagnstico dos Projetos de Manejo Florestal no Estado do Par.
Fase Paragominas. 87 p.
Tang, H.T. 1987. Problems and Strategies for Regenerating Dipterocarp Forests in Malaysia.
Em: Natural Management of Tropical Moist Forests - Silvicultural and Management

162
Prospects of Sustained Utilization (editado por F. Mergen e J.R. Vincent). Yale
University, pp. 24-45.
TCA (Tratado de Cooperao Amaznica), 1995. Proposal of Criteria and Indicators for
Sustainability of the Amazon Forest (Results of the Regional Workshop in Tarapoto).
149p.
Uhl et al. 1996. Uma Abordagem Integrada de Pesquisa sobre o Manejo dos Recursos
Naturais na Amaznia. Em: A Expanso da Atividade Madeireira na Amaznia: Impactos
e Perspectivas para o Desenvolvimento do Setor Florestal no Par. Belm. IMAZON.
143-164p.
Viana, V.M. 1997. Certificao Socioambiental, Bom Manejo Florestal e Polticas Pblicas.
Workshop Polticas Florestais e Desenvolvimento Sustentvel na Amaznia. Rio de
Janeiro. FBDS. mimeo. 15 p.
Wadsworth, F.H. 1987. Applicability of Asian and African Silviculture Systems to Naturally
Regenerated Forests of the Neotropics. Em: Natural Management of Tropical Moist
Forests - Silvicultural and Management Prospects of Sustained Utilization (editado por F.
Mergen e J.R. Vincent). Yale University, pp.93-111.
WCED. 1987. Our Common Future. Oxford University Press. 400p.
WWF (World Wildlife Fund for Nature). 1996. Structural Adjustment, the Environment, and
Sustainable Development. Editado por David Reed. Earthscan Publications Ltd.. London.
386p.
WWF (World Wildlife Fund for Nature). 1996. WWF Guide to Forest Certification. WWF-
UK. 36p.

163
CAPTULO 18
Manejo florestal sustentvel na Amaznia brasileira

Resumo

Neste trabalho apresentada uma reviso das atividades de manejo de florestas tropicais
midas, incluindo conceitos, histrico, aplicaes e pesquisas experimentais sobre o tema, em
importantes pases tropicais da sia, frica e Amrica, com nfase na Amaznia brasileira.
tambm apresentada uma anlise da situao das florestas tropicais midas e das perspectivas
quanto ao desenvolvimento florestal da regio amaznica, depois da Rio-92 e de outros
importantes movimentos ambientalistas que ocorreram nos ltimos anos. Manejar a floresta sob
regime de rendimento sustentado uma forma inteligente de uso do solo amaznico. aplicvel
em muitas sub-regies da Amaznia, mas no para a regio toda. No h modelo especfico de
manejo para as distintas indstrias madeireiras e, a tendncia atual, a diversificao de produtos
para que a sustentabilidade econmica do manejo seja mais facilmente alcanada.

1. CONCEITOS

Manejo Florestal parte da cincia florestal que trata do conjunto de princpios,


tcnicas e normas, que tem por fim ORGANIZAR as aes necessrias para ORDENAR os
fatores de produo e CONTROLAR a sua produtividade e eficincia, para alcanar objetivos
definidos. Detalhes tcnicos deste conceito so apresentados no Captulo 19.

Princpios:

Produo contnua e sustentada dos produtos madeireiros por meio do


desenvolvimento cognitivo, dinmico e iterativo. Isto significa admitir que a floresta contm
algo mais do que rvores e, o seu potencial, representa algo mais do que madeira. Dentro de
uma floresta h inmeros organismos vivos (homens, inclusive) que se interagem e interagem
com o ambiente natural e que precisam ser, cuidadosamente, considerados antes de qualquer
interveno. O prximo captulo faz uma abordagem compreensiva sobre o conceito de
sustentabilidade e desenvolvimento sustentvel e como o setor florestal tem lidado como este
conceito ao longo de quase 150 anos de existncia.

Tcnicas:

Uso de sistemas silviculturais apropriados para a regio amaznica. Esses sistemas sero
discutidos com mais detalhes na apresentao da evoluo histrica e de alguns resultados de

164
pesquisas sobre o manejo de florestas tropicais midas, neste captulo. Alm disso, temos no
Captulo 22, resultados de pesquisas de manejo florestal e de ecologia que devem auxiliar na
elaborao de planos de manejo florestal.

Normas:

Na Amaznia, o artigo 15 do Cdigo Florestal (Lei n 4.771, de 15 de setembro de


1965), que trata do manejo florestal da regio, foi regulamentado em 1994, Decreto no 1.282 e
alterado em 28/09/98 (Decreto 2.788), definindo as regras e as condies para o
aproveitamento de seus recursos florestais, que so baseadas nos princpios do
desenvolvimento sustentvel. A Portaria n 48, de 10 de julho de 1995 regulamenta os
Decretos e apresenta um roteiro bsico para apresentao de planos de manejo florestal. Em
2007, as normas so outras. O Captulo 21 destaca pontos importantes desses documentos
federais obrigatrios atualizados em 2007. H tambm documentos no obrigatrios como
Convenes assinadas durante a Rio-92 e outros acordos internacionais e a certificao
florestal, que so apresentados no Captulo 20.

MANEJO FLORESTAL SUSTENTVEL - MFS - tambm MANEJO FLORESTAL


SOB REGIME DE RENDIMENTO SUSTENTVEL, a conduo de um povoamento
florestal aproveitando apenas aquilo que ele capaz de produzir, ao longo de um determinado
perodo de tempo, sem comprometer a sua estrutura natural e o seu capital inicial.

O Manejo Florestal Sustentvel, s vezes, confundido como SILVICULTURA


TROPICAL, tem tido esta conotao porque praticamente no h como manejar de forma
sustentada sem a aplicao dos clssicos sistemas silviculturais adaptados aos pases tropicais.
MFS visto tambm como sinnimo de manejo da regenerao natural do povoamento
remanescente da explorao comercial.

MFS , enfim, a aplicao de sistemas silviculturais em florestas destinadas produo


madeireira e a conduo da regenerao natural do povoamento remanescente, de modo a
garantir a contnua operao da capacidade instalada para o desdobro do produto da floresta. O
Engenheiro Florestal ou assemelhado, no exerccio de sua profisso, objetiva por meio do MFS a
converso de uma floresta heterognea, complexa e irregular, a uma mais homognea (sem
colocar em risco a biodiversidade), menos complexa e que tenha uma quantidade maior de
espcies comercialmente desejveis.

H dois tipos de MFS: monocclico (uniforme) e policclico (cortes sucessivos). MFS


monocclico, praticamente extinto, pressupe a explorao florestal em um nico corte e o

165
retorno aps cumprido o perodo de rotao da floresta. O Sistema Uniforme Malaio o exemplo
de MFS monocclico. MFS policclico, geralmente bicclico, pressupe cortes sucessivos com
retorno de acordo com o ciclo de corte arbitrado.

2. HISTRICO DO MFS

Os sistemas silviculturais utilizados para o MFS nos pases com florestas tropicais so, na
realidade, adaptaes dos modelos clssicos (principalmente europeus) desenvolvidos para as
florestas temperadas. As primeiras experincias silviculturais voltadas ao MFS foram executadas
na ndia e Myanmar (antiga Birmnia), em meados do sculo XIX.

Segundo Lamprecht (1990), a histria do MFS nos trpicos s comeou a ser contada
depois do surgimento dos reinos coloniais europeus. O botnico alemo Dietrich Brandis
escreveu em 1860, na ndia, o primeiro plano de ordenamento para a Teca (Tectona grandis) de
Myanmar, desenvolve o mtodo de "taungya" e funda o servio florestal indiano. A revista "The
Indian Forester" comeou a ser publicada em 1875. O primeiro manual de silvicultura tropical
foi publicado em 1888, na ndia.

Em 1883 foi criado o primeiro Servio Florestal na Malsia, que tinha como principais
atividades: controle do extrativismo madeireiro, manuteno de reservas florestais, legislao e
administrao, no tendo praticamente nada de manejo florestal. Na Malsia Peninsular, entre
1910 e 1922, uma srie de tratamentos silviculturais, conhecidos como Cortes de Melhoramento,
foram implementados para favorecer uma nica espcie, Palaquium gutta. O ltex desta espcie
tinha uma participao significativa na economia do pas. As rvores eram derrubadas para fazer
a extrao. J naquela poca foi observado que em vez de plantios, a conduo da regenerao
natural pr-existente era muito mais conveniente.

Este sistema foi o precursor do Sistema Uniforme Malaio (SUM), que se consolidou em
1948, depois de aposentar o Sistema de Corte de Melhoramento da Regenerao. Isto aconteceu
durante o perodo de reaquecimento da economia mundial e, em particular, com a alta da
demanda de produtos madeireiros de florestas tropicais.

O desenvolvimento do SMU se deu, fortuitamente, quando foi verificada a regenerao


abundante de espcies desejveis, depois de um longo perodo de ocupao militar japonesa e
conseqente destruio de florestas naturais, por meio de cortes rasos ou aberturas de grandes
clareiras. Foi ento concludo que as espcies desejveis necessitavam de grandes aberturas para
o desenvolvimento da RN. A primeira verso do SMU preconizava o corte de todas as rvores

166
com DAP > 45 cm e a eliminao, posterior, de todas as indesejveis que competiam com a
regenerao natural (RN) das desejveis.

Nas florestas com predominncia da famlia botnica Dipterocarpaceae, o SMU foi,


inicialmente, executado com xito na Malsia Peninsular. At 1976, aproximadamente 300.000
hectares tinham sido manejados pelo SMU. Em florestas altas, onde espcies da
Dipterocarpaceae no eram abundantes, o SMU fracassou. Em funo disso, vrias alternativas
foram introduzidas para o manejo dessas florestas.

Segundo FAO (1989), na frica, as experincias silviculturais so registradas desde o


incio do sculo XX. As primeiras pesquisas foram implantadas em Togo e Camares, colnias
alems, em 1908. Entre 1920 e 1930, na frica Ocidental Britnica, os ingleses instalaram os
primeiros experimentos florestais na regio. Os franceses atuaram mais na Costa do Marfim, em
1930. O Sistema Tropical Shelterwood (STS) consolidou-se em 1944, na Nigria. Este sistema
foi inspirado em sistemas que favoreciam a RN de espcies desejveis, sob as rvores matrizes,
por meio de corte de cips e eliminao de indesejveis. A primeira verso do STS era uma
adaptao do SMU.

O STS consistia de abertura gradual do dossel por meio de envenenamento (com arsenito
de sdio) de espcies no comerciais e tambm corte de cips e limpezas para controlar a
infestao de cips e ervas daninhas, para promover a sobrevivncia e o crescimento da RN de
espcies desejveis. Depois de manejar, aproximadamente, 200.000 hectares de florestas
primrias nigerianas com STS, este sistema foi abandonado. A razo principal foi que a
produo de madeira no competia com outras formas de uso do solo. Onde havia alguma
preocupao com o uso mltiplo da floresta, o STS conseguiu se consolidar.

Os sistemas seletivos vieram depois e hoje so os que predominam no MFS. Uma rara
exceo o Sistema de Faixas de Colheita, utilizado experimentalmente no Vale do Rio Palcazu,
no Peru - mais recentemente.

A evoluo histrica do MFS apresentada na Figura 18.1. Os Quadros 18.1, 18.2, 18.3
e 18.4 apresentam, respectivamente, resumos das operaes do SMU, do STS, de um sistema
seletivo e do sistema CPATU-EMBRAPA.

No continente americano, o exemplo vem das experincias silviculturais, primeiramente,


instaladas em Trinidade, entre 1890 e 1900, pelos florestais ingleses. Entretanto, segundo
Budowski (1976), no h um s exemplo de floresta tropical mida da Amrica que est sendo
manejada sob regime de rendimento sustentado, se comparado com as condies do sudeste

167
asitico e do oeste africano. Nos pases amaznicos, no incio da dcada de 80, foram planejadas
vrias reas de demonstrao de manejo florestal, totalizando aproximadamente um milho de
hectares, mas que at hoje no foram implementadas.

No Brasil, o conceito de manejo florestal em regime de rendimento sustentado foi,


primeiramente, introduzido com a realizao dos primeiros inventrios florestais, executados por
peritos da FAO, em fins de 1950s. O primeiro e nico plano de manejo foi feito para a FLONA
de Tapajs, em 1978, para uma rea de 130.000 ha, mas que ainda no foi implementado. A
principal razo foi falta de competitividade com outras formas de uso do solo. Provavelmente, h
algum plano de manejo em regime de rendimento sustentado sendo executado na Amaznia,
porm sem registros.

3. MFS NO MUNDO TROPICAL UMA AVALIAO

Os principais sistemas silviculturais utilizados no manejo florestal em regime de


rendimento sustentado foram: Malaio Uniforme (original), Tropical Shelterwood (original),
Seletivo (original), Malaio Uniforme Modificado das Filipinas, Malaio Uniforme Modificado da
Indonsia, Malaio Uniforme Modificado de Sabah, Desbaste de Liberao de Sarawak, Seletivo
Modificado da Malsia Peninsular, Seletivo Modificado das Filipinas, Seletivo Modificado da
Indonsia, Dimetro Mnimo, Seletivo da Tailndia, Tropical Shelterwood de Gana, Seletivo
Modificado de Gana, Melhoramento da Populao Natural da Costa do Marfim, Seletivo de
Porto Rico, Tropical Shelterwood de Trinidade, CELOS do Suriname, Melhoramento da
Populao Natural da Guiana Francesa e Faixas de Colheita do Peru.

Depois de quase um sculo de experincia: qual o sistema mais bem sucedido durante
todo este tempo? A resposta nenhum. Em reunio ocorrida na Universidade de Yale, Estados
Unidos, os especialistas em Manejo Florestal do uma boa viso de como est a situao das
atividades florestais em vrios pases do sudeste asitico e do oeste africano, mas nenhum deles
aponta um caso confirmado de sucesso da prtica de manejo florestal (Mergen e Vincent, 1987).
As razes so as mais variadas possveis, como invases pelos sem-terra, mudana de poltica de
uso do solo, catstrofes naturais ou artificiais (guerras e guerrilhas), golpes de Estado (militares
ou no), falta de pessoal treinado, falta de financiamentos etc. Entretanto, praticamente no h
registros de insucesso creditado aos aspectos tcnicos na aplicao desses sistemas no MFS.

Do ponto de vista financeiro, a atividade florestal representa para os pases produtores do


sudeste asitico e do oeste africano, aproximadamente 10% do PIB daqueles pases. Na
Amaznia brasileira, as indstrias exportadoras de madeira faturaram, em 1990, US$ 170

168
milhes, do qual o Estado do Par sozinho contribuiu com 80% (segundo AIMEX, Associao
das Indstrias Exportadoras de Madeira do Estado do Par e Territrio Federal do Amap). No
Estado do Amazonas, praticamente 100% das exportaes so de laminado e compensado. No
Amazonas, o setor florestal contribuiu, em 2000, com apenas 0,4% do PIB Estadual. Segundo
Higuchi et al. (2006), a atividade madeireira na regio amaznica tem correlao direta com o
desmatamento (r = 0,99, p < 0,00001) e quase nenhuma com a distribuio de renda (r = 0,17, p
> 0,9999).

Enquanto isso, verifica-se uma diminuio constante dos estoques de madeira tropical,
concomitante a um aumento preocupante de reas degradadas em todo o mundo tropical. O
Quadro 18.5 d uma idia de como est o estoque de florestas tropicais, at 1985, nos principais
pases produtores de madeira. A situao nos pases do sudeste asitico e oeste africano deve ter
agravado nos ltimos 15 anos, porque a demanda por produtos madeireiros tropicais no
diminuiu durante este perodo, ao contrrio, tem-se aumentado exponencialmente. No Captulo 4
temos uma anlise do setor florestal e da perspectiva do MFS no mundo tropical.

No Brasil, na regio amaznica, a situao tambm no nada confortvel, apesar do


tamanho de nossas reservas florestais. Segundo Fearnside et al. (1990), at 1989, 478.882 km2
(47.888.200 hectares) de florestas nativas foram transformados em outras formas de uso do
solo, na Amaznia Legal, em nome do desenvolvimento da regio. Em 2006, o desmatamento
acumulado alcanou 66.439.500 de hectares (www.inpe.br). Os principais projetos de
desenvolvimento, normalmente incentivados (subsidiados) pelo Governo Federal, com
recursos levantados junto comunidade financeira internacional, foram: agropecuria,
minerao e hidreltricas. At o final dos anos 90, os florestais e os madeireiros ainda
conseguiam eximir-se da responsabilidade pelos desmatamentos na Amaznia. Hoje, entretanto,
a explorao florestal tem uma participao significativa para o crescimento de reas degradadas
da regio. A explorao florestal deixou, definitivamente, de ser subproduto de projetos de
desenvolvimento. No sul do Par, por exemplo, a explorao, vem servindo como subsdio para
a implantao de pastagens e projetos agrcolas. Mesmo onde h explorao seletiva,
praticamente, no nenhuma indicao que est sendo praticado o manejo florestal em regime de
rendimento sustentado.

Durante a Rio-92, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou as


seguintes estatsticas de desmatamento na regio, atualizadas at 1991: perodo de 1978 a
1988, 21.130 km2 por ano; em 1989, 17.860 km2/ano; em 1990, 13.810 km2/ano; e em 1991,
11.130 km2/ano (INPE, 1992). Neste trabalho so tambm apresentadas as taxas de

169
desmatamento para cada Estado. Houve uma queda das taxas de desmatamento, a partir de
1988, estabilizando-se, a partir de 1990, em torno de 12.000 km2 anuais. As razes para a
queda de 21.130 km2 (1978-1988) para 11.130 km2/ano (1991), foram principalmente:
poltica ambiental do Brasil e falta de recursos financeiros como forma de subsdios para
projetos de desenvolvimento na Amaznia. Segundo Nepstad et al. (1999), a explorao
seletiva de madeira alterou entre 9.730 e 15.090 km2, na safra de 1996-97, de cobertura
florestal original da Amaznia brasileira, que, provavelmente, no est contabilizada como
desmatamento pelo INPE. V. quadro 15.8 (Captulo 15), que no tem as reas desmatadas de
cada Estado a partir de 2000, mas tem os acumulados de toda regio at 2006. Asner et al.
(2005) afirmaram que a explorao seletiva de madeira poderia aumentar de 60 a 123% a rea
desmatada na Amaznia, com base em estudos no perodo de 1999 a 2002.

4. PESQUISAS COM MFS

Nesse aspecto, o Brasil no fica devendo nada aos pases do sudeste asitico e oeste
africano. Na Amaznia brasileira h registros de pesquisas desde fins dos anos 50. De modo
geral, as pesquisas florestais quase que, invariavelmente, so multidisciplinares, com um
crescente aumento de conscientizao quanto aos aspectos ecolgicos e sociais do manejo
florestal.

Especificamente sobre sistemas silviculturais, as pesquisas iniciaram-se em fins dos anos


70 e comeo dos anos 80. As principais experincias esto sendo executadas nas seguintes
regies: FLONA de Tapajs (CPATU-EMBRAPA), Curu-Una (SUDAM/FCAP), Projeto Jari
(JARI/ CPATU-EMBRAPA), Buriticupu e Marab (CVRD), Manaus (INPA), Abufari
(CAROLINA), Antimari (FUNTAC), Comunidade Pedro Peixoto no Acre (EMBRAPA) e em
Paragominas (Imazon). Em 2007, so mantidas apenas as da FLONA, Jar, Manaus, Pedro
Peixoto e Paragominas.

H vrias revises sobre este assunto, publicadas em revistas cientficas e anais de


encontros e congressos florestais. Uma das mais recentes de Higuchi (1991), publicada nos
anais do Seminrio "O Desafio das Floresta Neotropicais," pela Universidade Federal do Paran.
Outras revises importantes esto disponveis em Pandolfo (1979), Carvalho (1987), Yared et
al. (1988), Synnott (1989), Souza (1989), Siqueira (1989) e Barros (1990).

Essas experincias inspiraram dois sistemas silviculturais para a Amaznia Brasileira,


sendo um sugerido por Silva e Whitmore (1990) e, outro, o sistema SEL (Seleo de Espcies
Listadas), desenvolvido pelo INPA (Higuchi et al., 1991a). Esses dois sistemas so do tipo

170
policclico e de uso mltiplo e tm em comum os princpios dos sistemas precursores, Malaio e
Shelterwood Tropical, que utilizam a regenerao natural para garantir ciclos de corte
subseqentes.

Os pases vizinhos, politicamente includos na regio amaznica, tm tambm feito


grandes investimentos em pesquisas florestais. Os sistemas investigados no Suriname (CELOS)
e na Guiana Francesa (Melhoramento da Populao Natural) devem ser considerados em
qualquer tomada de deciso quanto escolha de sistemas silviculturais para o manejo da floresta
amaznica. Outros pases como Peru, Costa Rica e Honduras, tambm investiram em pesquisas
com manejo florestal nos ltimos anos.

Na Amaznia brasileira, alm das pesquisas silviculturais e de manejo florestal, muitos


estudos bsicos tm sido realizados na regio, principalmente em reas de conhecimento como
ecofisiologia, fenologia, sistemas de reproduo, estrutura natural da floresta, balanos de gua e
nutrientes, fitossociologia e outros - das principais espcies arbreas amaznicas (BIONTE,
1997 e EMBRAPA-CPATU, 1999). O sumrio executivo do Projeto BIONTE apresentado no
Captulo 22. Depois do Congresso Florestal Mundial da IUFRO, em 1990 no Canad, a rea de
sociologia florestal est tambm se integrando ao conceito de manejo florestal na Amaznia.

5. CONCLUSO:

Apesar da quantidade de sistemas silviculturais desenvolvidos com base nos princpios


do manejo florestal sob regime de rendimento sustentado, os resultados prticos so
desanimadores. Isto um contra-senso se consideradas todas as pesquisas desenvolvidas e o
papel que a floresta desempenha na manuteno da qualidade de vida do planeta terra.

No sudeste asitico, a maioria das ricas florestas, principalmente de Dipterocarpaceae,


que foram submetidas explorao florestal sob qualquer tipo de sistema silvicultural, esto hoje
degradadas. A cada dia que passa aumenta a produo e diminui o ciclo de corte. O mesmo
ocorre no oeste africano. Ao contrrio da Amaznia brasileira, nessas duas regies h grandes
densidades demogrficas, que tm contribudo significativamente para o insucesso do manejo
florestal.

No Brasil, outra vantagem que nunca se falou que estava utilizando este ou aquele
sistema para o manejo florestal, at 1989. Mesmo assim temos hoje cerca de 65 milhes de
hectares de floresta amaznica, se no totalmente degradados, pelo menos seriamente
comprometidos em termos de sucesso florestal. A partir de 1989, com a exigncia do plano de
manejo (OS no 001/89-DIREN de 7/8/89) e outras instrues por parte do IBAMA, milhares de

171
hectares de floresta amaznica j foram explorados sob algum nome de algum sistema
silvicultural clssico.

A floresta amaznica remanescente ainda muito grande, mas seria muita irresponsabilidade dos
florestais e madeireiros acharem que isto seja suficiente para acomodao. Por outro lado, apesar de todos os
"defeitos" impostos floresta amaznica, como cor da madeira, peso especfico e m distribuio espacial, a
procura por madeira tropical se voltar para esta regio, ainda na primeira dcada deste sculo. Usando com
inteligncia as reas vocacionadas para produo madeireira, a floresta amaznica ser conservada. As pesquisas
indicam que as injrias causadas pelas exploraes florestais so rapidamente cicatrizadas, as clareiras so
colonizadas de acordo com orientaes tcnicas, a floresta residual responde positivamente aos tratamentos
silviculturais e que o manejo florestal, enfim, pode fazer bem a floresta natural.

Outro aspecto alvissareiro a conscientizao ecolgica e, conseqente presso dos


consumidores de madeira tropical do mundo todo e tambm do Brasil. Muito em breve, o
consumo se restringir ao produto oriundo de reas manejadas sob regime de rendimento
sustentvel. Quando isto acontecer, apenas aqueles que trabalham com base no conhecimento,
sobrevivero. Os empresrios florestais tm que ter em mente, no exerccio de suas atividades,
no s as exigncias do IBAMA, mas tambm o bem-estar das futuras geraes.
Definitivamente, apenas por meio do conhecimento se chegar a to almejada sustentabilidade
dos projetos de manejo florestal.

172
Figura 18.1: Evoluo histrica do Manejo Florestal sob Regime de Rendimento Sustentado, de forma esquemtica.

ndia e Birmnia
(Experincias Silviculturais, Sculo XIX)

Ilhas Andanan, 1930s Malsia, 1930s Sri Lanka, 1933


(Bosques Abrigados) (Cortes de Melhoramento) (Corte Seletivo)

Trinidade, 1939 Malsia, 1927 Nigria, 1944


STS (Cortes Melhoramento RN) 1 STS

Porto Rico, 1948 Filipinas, 1953 Borneo do Norte Indonsia, 1972 Nigria, 1953 Gana, 1945
Seletivo Seletivo SUM, 1955 Seletivo 2 STS STS

Sabah/Sarawak Nigria, 1961 Gana,


SUM modificado, 1968 3 STS Seletivo

Sabah/Sarawak
Bi-cclico, 1980

Fonte: Wyatt-Smith (1986).

173
Quadro 18.1: Seqncia de Operaes do Sistema Malaio Uniforme (SMU), verso original.

Cronologia Operaes
7 ou 2 anos antes de Anelamento e Envenenamento de Indesejveis com copas densas
E (n-7 ou n-2) dos dosseis inferior e mdio (indesejveis do dossel superior, se
necessrio). Corte de cips.
n-1.5 Avaliao da RN (plntulas e mudas estabelecidas, mtodo de
Milliacre, LSM, quadrados de 2 x 2m.
n-0.5 IF das rvores grandes
E Explorao Florestal (a concluir em menos de dois anos)
logo aps E Anelamento e Envenenamento de rvores Indesejveis e Corte de
cips
n+2 at n+3 Limpeza do sub-bosque para favorecer RN de desejveis e Corte de
cips.
n+4 at n+5 Inventrio das varas usando LS l/4, quadrados de 5 x 5m.
logo aps LS 1/4 Tratamentos silviculturais incluindo anelamento e envenenamento
de indesejveis, corte de cips e semear desejveis, se necessrio.
n+10 Inventrio das arvoretas, LS 1/2, quadrados de 10 x 10m.

logo aps LS 1/2 Tratamentos silviculturais, se necessrios. Considerar regenerado se


o IE > 60%.
n+20 Desbaste. A ser executado depois em intervalos de 10 a 15 anos, at
a rotao final.

Fonte: Wyatt-Smith, J. (1986).

LS = Linear Sampling; IE = ndice de Estoque; E = Explorao


IF = Inventrio Florestal; RN = Regenerao Natural

Obs.: A rotao inicial era de 70 anos.

174
Quadro 18.2: Seqncia de operaes do Sistema Tropical Shelterwood (STS), verso original.

CRONOLOGIA OPERAES
E-5 Marcao da rea. Corte de lianas e de indesejveis, arbustos e
herbceas do estrato inferior.
E-4 Segundo corte de lianas etc. Envenenamento do estrato
intermedirio (estao seca). Primeira Contagem da RN (estao
chuvosa).
E-3 Segunda abertura do dossel (estao seca). Primeira e Segunda
Limpezas (estao chuvosa).
E-2 Terceira Limpeza. Segunda Contagem da RN. Quarta Limpeza.
E-1 Quinta Limpeza (estao chuvosa)
E Explorao florestal. Primeira Limpeza ps-explorao.
E+9 Segunda Limpeza ps-explorao.
E+10 Remoo das rvores que serviram de abrigo para a RN de
desejveis. Quarta contagem da RN.
E+14 Terceira Limpeza ps-explorao.
E+19 Quarta Limpeza ps-explorao.
etc Nova explorao florestal 100 anos depois.

Fonte: Lowe, R.G. (1978).

Quadro 18.3: Seqncia de Operaes de um Sistema Seletivo.

CRONOLOGIA OPERAES
E-1 a E-2 Inventrio Florestal pr-exploratrio usando amostragem
sistemtica. Determinao dos ciclos de corte.
E a E-1 Corte de cips para reduzir danos durante a explorao florestal.
Marcao das rvores que sero derrubadas de acordo com direo
de queda.
E Corte de todas as rvores marcadas conforme o plano de corte.
E+2 a E+5 Inventrio Florestal ps-exploratrio usando amostragem
sistemtica para avaliar o estoque residual e para prescrever os
tratamentos silviculturais.

Fonte: Leslie, A.J. 1986.

175
Quadro 18.4: Seqncia de Operaes do Sistema CPATU-EMBRAPA.

CRONOLOGIA OPERAES
E-2 Inventrio pr-exploratrio a 100% das rvores com DAP60 cm.
Preparao dos mapas de explorao
E-1 Seleo das rvores que sero derrubadas. Evitar grandes clareiras.
Marcar rvores que sero derrubadas e que sero reservadas para as
prximas colheitas. Corte de cips, se necessrio. Instalao das
parcelas permanentes (PP).
E Explorao Florestal. Observar direo de queda. Intensidade de
explorao = 30-40 m3/ha e DAP mnimo de 60 cm.
E+1 Re-medio das PPs para estimar os danos de explorao e o
estoque da floresta residual
E+2 Envenamento/anelamento de espcies no comerciais ou comerciais
severamente danificadas. Reduzir rea basal em 1/3 da original.
Incluir as redues devidas explorao e aos danos da explorao.
E+3 Re-medio das PPs.
E+5 Re-medio das PPs.
E+10 Refinamento para melhorar o crescimento das espcies comerciais
remanescentes. Re-medio das PPs. Repetir as medies cada 5
anos e aplicar tratamentos silviculturais cada 10 anos.

Fonte: Silva e Whitmore (1990).

176
Quadro 18.5: reas de florestas produtivas dos principais pases produtores de madeira tropical
(em milhes de hectares), at 1985.

PAS REA TOTAL EXPLORADA % REMANESCENTE


Brasil 295,5 13,5 95,4
Malsia 14,4 5,7 60,4
Indonsia 67,5 34,5 48,9
Filipinas 6,3 3,7 41,3
Birmnia 21,8 5,5 74,8
Vietn 3,5 2,3 34,3
Tailndia 2,9 2,9 0
Laos 2,4 2,4 0
India 37,8 3,9 89,2
Sri Lanka 1,0 1,0 0
Zaire 79,2 0,4 99,5
Gabo 19,8 9,9 50,0
Congo 13,6 3,4 75,0
Mdagascar 6,0 4,6 23,3
Rep. frica Central 3,4 0,4 88,2
Costa do Marfim 1,8 1,8 0
Nigria 1,6 1,5 6,3
Camares 16,6 10,6 36,1
Peru 42,8 6,4 85,0
Colmbia 36,0 0,8 97,8
Venezuela 18,8 11,4 39,4
Guiana 13,5 1,4 89,6
Suriname 11,4 0,5 95,6
Equador 9,7 0,1 99,0
Bolvia 17,0 2,0 88,2
Guiana Francesa 7,6 0,2 97,4

Fonte: Schmidt, R.C. (1991).

177
6. Bibliografia:
Asner, G.P., Knapp, D.E., Broadbent, E.N., Oliveira, P.J.C., Keller, M. e Silva, J.N.M. 2005.
Selective logging in the Brazilian Amazon. Science, 310: 480-482.
Barros, P.L.C. 1990. As Atividades de Pesquisa dos Convnios SUDAM/FCAP como Suporte
as Atividades em Silvicultura e Manejo Florestal. Trabalho apresentado no treinamento em
"Manejo de Florestas Tropicais Naturais," SUDAM/FCAP, 3 a 14 de Dezembro/90. Balm,
Par. 15p.
BIONTE. 1997. Biomassa e Nutrientes Florestais Relatrio Final. INPA/DFID. 345p.
Budowski, G. 1976. Los Recursos Naturales en el Desarrollo del Tropico Humedo. Reunion
sobre Desarrollo Regional del Tropico Americano. IICA-Tropicos. Belm, Par, Brasil.
Carvalho, J.O.P. 1987. Subsdios para o Manejo de Florestas Naturais na Amaznia
Brasileira: Resultados de Pesquisa da EMBRAPA/IBDF-PNPF. EMBRAPA-CPATU,
Documentos, 43. 35p.
EMBRAPA-CPATU. 1999. Silvicultura na Amaznia Central: Contribuies do Projeto
Embrapa/DFID. 304p.
FAO. 1989. Management of Tropical Moist Forests in Africa. FAO Forestry Paper 88. 165p.
Fearnside, P.M., A.T. Tardin e L.G. Meira Filho. 1990. Deforestation Rate in the Brazilian
Amazonia. INPE/INPA. 8p.
Higuchi, N. e T.W.W. Wood. 1987. The Management of Natural Regeneration in the Tropical
Moist Forests. Acta For. Bras., 2:81-91.
Higuchi, N. e G. Vieira. 1990. Manejo Sustentado da Floresta Tropical mida de Terra-firme na
Regio de Manaus - um projeto de pesquisa do INPA. Em: Anais do 6o. Congresso Florestal
Brasileiro. pp 34-37. Campos do Jordo, SP.
Higuchi, N. 1991. Experincias e Resultados de Intervenes Silviculturais na Floresta Tropical
mida Brasileira. Em: Anais do Seminrio "O Desafio das Florestas Neotropicais." pp
138-151. Curitiba, PR.
Higuchi, N., G. Vieira, L.J. Minette, J.V. de Freitas e F.C.S. Jardim. 1991a. Sistema SEL
(Seleo de Espcies Listadas) para Manejar a Floresta Tropical mida de Terra-firme da
Amaznia. Em: Val, A.L., R. Figlioulo e E. Feldberg (editores). Bases Cientficas para
Estratgias de Preservao e Desenvolvimento: Fatos e Perspectivas. Volume I: 197-206.
Higuchi, N., Santos, J., Teixeira, L.M. e Lima, A.J.N. 2006. O mercado internacional de
madeira tropical est beira do colapso. SBPN Scientific Journal, (1-2): 33-41.
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). 1992. Deforestation in Brazilian Amazon.
Poster apresentado durante a Conferncia de Meio Ambiente das Naes Unidas, Rio-92.
INPE. 1998. Projeto de Desflorestamento (PRODES) Desflorestamento da Amaznia
(1995-1997). Homepage INPE.
Lamprecht, H. 1990. Silvicultura nos Trpicos: Ecossistemas Florestais e Respectivas Espcies
Arbreas - Possibilidades e Mtodo de Aproveitamento Sustentado. GTZ, Eschborn. 343p.
Leslie, A.J. 1986. Forest Management Systems in the Tropical Mixed Forests of Asia. FAO
Report 01/86. 230p.
Lowe, R.G. 1978. Experience with the Tropical Shelterwood System of Regeneration in
Natural Forest in Nigeria. Forest Ecology and Management, 1: 193-212.

178
Mergen, F. e J.R. Vincent (editores). 1987. Natural Management of Tropical Moist Forests:
Silvicultural and Management Prospects of Sustained Utilization. 211p.
Nepstad, D.C., A. Verssimo, A. Alencar, C. Nobre, E. Lima, P. Lefebvre, P. Schlesinger, C.
Potter, P. Moutinho, E. Mendonza. M. Cochrane e V. Brooks. 1999. Large-Scale
Impoverishment of Amazonian Forests by Logging and Fire. Nature, 398:505-508.
Pandolfo, C. 1979. A Amaznia Brasileira e suas Potencialidades. SUDAM. Belm, Par. 74p.
Schmidt, R.C. 1991. Tropical Rainforest Management: a Status Report. Em: Rainforest
Regeneration and Management. A. Gomez-Pompa, T.C. Whitmore e M. Hadley (editores).
UNESCO, Vol. 6. pp 181-203.
Silva, J.N.M. e T.C. Whitmore. 1990. Prospects of Sustained Yield Management in the
Brazilian Amazon. Em: Anais do "Atelier sur l'amnagement et la conservation l'cosysteme
forestier tropical humide." Cayena, Guiana Francesa.
Siqueira, J.D.P. 1989. Sustained Forest Management in the Amazon: Needs versus Research.
Em: Anais do Simpsio Internacional sobre "Amazonia: Facts, Problems and Solutions:
372-413. SP.
Souza, A.L. 1989. Anlise Multivariada para Manejo de Florestas Naturais: Alternativas de
Produo Sustentada de Madeiras para Serrarias. Tese de Doutor pela UFPr. 255p.
Synnott, T. 1989. South America and the Caribbean. In: No Timber Without Trees -
Sustainability in the Tropical Forest. Duncan Poore (editor). Earthscan Publications Ltd.
London. 252p.
Wyatt-Smith, J. 1986. Sistemas de Manejo (Silvicultural) de Asia sur-este y Africa Usando Regeneracion
Natural. Em: Anais do Primeiro Seminario Internacional "Manejo de Bosque Tropical Humedo en la
Region Centro America." Tegucicalpa, Honduras.
Yared, J.A.G., S. Brienza Jr., J.O.P. Carvalho, J.C. Lopes, O.J.R. Aguiar e P.P. Costa Filho.
Silvicultura como Atividade Econmica na Regio Amaznica. Em: Anais do I Encontro
Brasileiro de Economia Florestal: 15-41. Curitiba.

179
CAPTULO 19
O Setor Florestal da Amaznia Brasileira: Explorao Florestal
Seletiva e o Mercado Internacional de Madeira Dura Tropical15
Resumo

A explorao seletiva de madeira comea a desempenhar papel importante, tanto na


alterao da paisagem, como na manuteno das atuais taxas de desmatamento na Amaznia.
At recentemente, fins dos anos 80 e incio dos anos 90, a madeira era considerada como
subproduto de projetos de desenvolvimento na Amaznia, principalmente agropecurios.
Pouco antes e em seguida ao advento Rio-92, os incentivos fiscais para a agropecuria na
regio foram escasseando, chegando, inclusive, a quase extino dos mesmos, nos dias atuais.
Em funo destas medidas governamentais, a expectativa era manter as taxas de
desmatamento inferiores s de 1990 e 1991. Entretanto, a madeira dura amaznica comeou a
valorizar-se, tanto no mercado nacional como no internacional, substituindo os extintos
subsdios e, por conseguinte, contribuindo no s para a manuteno das taxas de 1990 e
1991, como para o recrudescimento do desmatamento. Hoje, o dono da terra vende a madeira
em p; o madeireiro faz a explorao seletiva; o dono completa a derrubada e implanta o seu
projeto agropecurio. Este trabalho faz uma abordagem sobre a questo madeireira da
Amaznia, o mercado internacional de madeira dura tropical, o manejo florestal sustentvel e
a relao entre este uso do solo e o desmatamento. O fundo desta abordagem tem: de um lado,
um mercado internacional de madeira dura tropical praticamente estvel, em torno de 65
milhes de m3 equivalentes em toras, por ano; de outro, uma diminuio inexorvel das
reservas florestais dos principais fornecedores de madeira tropical; e, entre estes dois lados, a
Amaznia brasileira, praticamente intacta e ainda sem uma participao significativa neste
mercado.

Introduo

Hoje, as discusses sobre a biodiversidade, mudanas climticas globais e sobre o


abastecimento do mercado de madeira dura tropical do planeta Terra, passam,
invariavelmente pela Amaznia. Esta regio, considerada como a maior reserva contnua de
floresta tropical mida do mundo, cobre uma rea de aproximadamente 5 milhes km2, que

15
Trabalho financiado pelo Projeto BIONTE (Convnio INPA/DFID), Em: BIONTE Relatrio Final; pp. 15-
30.

180
corresponde a 60% do territrio brasileiro. At 2006, o desmatamento acumulado era de mais
de 650.000 km2, 65 milhes de hectares, incluindo reas de Cerrado (quadro 15.8 do Captulo
15).

A rea florestal da Amaznia brasileira de 3.648.000 km2 ou 364.800.000 de


hectares (Quadro 19.2). Predominam-se as florestas densas de terra-firme, apesar das florestas
de vrzea desempenharem um papel importante na economia de vrios estados amaznicos.
As famlias botnicas dominantes so Leguminosae, Lecythidaceae e Sapotaceae - na terra-
firme - e Myristicaceae nas vrzeas. O mogno (Swietenia macrophylla) a mais importante
espcie madeireira, do ponto de vista comercial. A castanha-do-par (Bertholletia excelsa) e a
seringueira (Hevea sp) so tambm importantes, porm como produtos no madeireiros. O
volume total de madeira na Amaznia estimado em 50 bilhes de m3, dos quais 10% tm
condies de serem aproveitados pela indstria madeireira.

Trata-se de uma regio que desperta ainda muita curiosidade, paixo, cobia, respeito
e um legtimo interesse em proteg-la. J h algum tempo, as florestas deixaram de ser
empecilhos para o desenvolvimento econmico regional, ao contrrio, a madeira disponvel
tem sido usada no lugar dos incentivos fiscais que desapareceram. Alm disso, o mercado
internacional de madeira dura tropical comea a mover-se do sudeste asitico para a regio
amaznica.

Desmatamento na Amaznia brasileira

Segundo Fearnside et al. (1990), at 1989, 478.882 km2 (47.888.200 hectares) de


florestas nativas tinham sido transformados em outras formas de uso do solo, na Amaznia
Legal, em nome do desenvolvimento da regio. Os principais projetos de desenvolvimento,
normalmente incentivados (subsidiados) pelo Governo Federal, com recursos levantados junto
comunidade financeira internacional, foram: agropecuria, minerao e hidreltricas. Em
2006, o desmatamento acumulado j era de 66.439.500 hectares (www.inpe.br).

Durante a Rio-92, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou as


seguintes estatsticas de desmatamento na regio, atualizadas at 1991: perodo de 1978 a
1988, 21.130 km2 por ano; em 1989, 17.860 km2/ano; em 1990, 13.810 km2/ano; e em 1991,
11.130 km2/ano (INPE, 1992). Neste trabalho so tambm apresentadas as taxas de
desmatamento para cada Estado amaznico V. Quadro 15.8 do Captulo 15. Houve uma
queda das taxas de desmatamento, a partir de 1988, estabilizando-se, a partir de 1990, em
torno de 12.000 km2 anuais. As razes para a queda de 21.130 km2 (1978-1988) para 11.130
km2/ano (1991), foram principalmente: poltica ambiental do Brasil e falta de recursos

181
financeiros como forma de subsdios para projetos de desenvolvimento na Amaznia. As
estatsticas atualizadas at 1997, segundo o INPE (1998) so as seguintes: 13.786 km2/ano
para o perodo 91/92, 14.896 km2/ano para 92/94, 29.059 km2/ano para 94/95 e 18.161
km2/ano para 95/96. Nos 3 primeiros anos do Governo Lula, as reas foram 27.200 km2,
18.900 km2 e 13.000 km2, respectivamente, 03/04, 04/05 e 05/06.

Produo de Madeira Dura Tropical (Tropical Hardwood)

No Brasil, at meados dos anos 80, os madeireiros e o setor florestal, conseguiam


eximir-se da responsabilidade pelo mau uso do solo amaznico, porque a madeira era
considerada como subproduto dos outros projetos de desenvolvimento. No incio dos anos
90, entretanto, a situao mudou completamente, ou seja, a madeira passou a ser o substituto
dos incentivos fiscais oficiais que desapareceram. Alm disso, este produto comeou a ter
uma maior liquidez, tanto no mercado nacional como no mercado internacional.

No entanto, analisar a produo de madeira na Amaznia uma tarefa muito difcil.


As estatsticas mais organizadas so fornecidas por duas organizaes multilaterais: (1) ITTO
(International Tropical Timber Organization), que congrega produtores e consumidores de
madeira tropical e (2) FAO (Food and Agriculture Organization) da ONU (Organizao das
Naes Unidas). O problema com quem abastece estas organizaes, que o Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis), que nunca
sistematizou a coleta e anlise da produo de madeira amaznica. No Brasil, o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) mantm, com relativa atualizao, a dinmica
da produo de madeira; at 1989, por meio de anurio estatstico impresso e de 1990 at o
presente, eletronicamente no endereo www.ibge.gov.br. Ocasionalmente, h trabalhos
individuais de pesquisadores, como os de Nepstad et al. (1999) sobre a safra de 1996-97 e de
Lentini et al. (2005) sobre a safra de 2004.

O Quadro 19.2 apresenta a evoluo da produo de madeira em toras para uso


industrial, da regio amaznica, durante o perodo 1975-2004, em intervalos de 4-5 anos. Este
quadro foi montado com as melhores estatsticas disponveis. Em que pesem todas as
dificuldades em se obter estatsticas confiveis deste setor, possvel observar crescimento da
produo de madeira at 1991 e com tendncia de queda de 1991 at 2004. Considerando os
trabalhos de Nepstad et al. (1999) e Lentini et al. (2005), que envolveram verdade de
campo, razovel adotar como produo anual atual de madeira em tora como
aproximadamente 25 milhes de m3.

Mercado Mundial de Madeira Dura Tropical

182
A ITTO consolida anualmente, desde 1988, as estatsticas florestais dos pases
signatrios, incluindo dados de produo, consumo, exportao e valores de mercado. At
1995, a ITTO apresentava estas estatsticas em relatrios impressos anuais ou bianuais; a
partir de ento, as estatsticas podem ser obtidas no endereo www.itto.or.jp. So
consideradas trs grandes regies tropicais: (1) frica, (2) Amrica Latina e Caribe e (3) sia
e Pacfico. As estatsticas sobre o volume da madeira so fornecidas em metros cbicos
equivalentes em tora, usando os seguintes fatores de converso:

1,82 para madeira serrada, ou seja, o volume de madeira serrada que cada pas
produz multiplicado por este fator para ter a estimativa do equivalente em toras que foi
retirado da floresta; ou ainda, 55% do volume de uma tora, mdia mundial, transformado em
tbuas ou outro produto serrado;

2,3 para compensado, ou seja, 43% do volume de uma tora, mdia mundial,
transformado em compensado;

1,9 para laminados, ou seja, 53% do volume de uma tora, mdia mundial,
transformado em laminado.

(i) Produtores:

As estatsticas apresentadas a seguir foram montadas a partir de consultas nos volumes


dos anos 1990-91, 1992, 1993-94 e 1995 do Annual Review and Assessment of the World
Tropical Timber Situation da ITTO e, de 1995 a 2004, usando o site da organizao. A
produo anual do mundo tropical, ao longo do perodo (1988-2004), tem se mantido estvel,
igual a 134,4 milhes de m3 2,4 mi (IC 95%) em toras incerteza de 1,7%. As produes
anuais de serrado, compensado e laminado foram, respectivamente, 40 milhes de m3 1,35
mi (IC 95%), 14,7 mi m3 0,75 mi (IC 95%) e 2,2 milhes de m3 0,26 mi (IC 95%).

A regio sia/Pacfico, apesar de uma queda de produo de 7,5%, de 1988 para 2004,
em equivalentes em tora, ainda a maior produtora de madeira dura tropical. As duas outras
regies, Amrica Latina/Caribe e frica, mantiveram-se estveis, porm, com uma
participao bem inferior da sia/Pacfico. A participao de cada grande regio tropical
produo mdia (1988-2004) anual a seguinte: sia/Pacfico (67%), Amrica Latina/Caribe
(25%) e frica (8%).

Com base na mdia anual (1988-2004), os trs maiores produtores individuais tm


sido: Indonsia com 66.143.000 m3/ano (27%), Malsia com 52.168.000 m3/ano (21%) e
Brasil com 48.598.000 m3/ano (20%). Aqui, importante ressaltar que a produo brasileira

183
vai alm da regio amaznica. Estes trs pases representam 68% da produo mundial de
madeira dura tropical. A Figura 19.1 apresenta a dinmica de produo destes produtores
durante o perodo 1988-2004. H uma clara tendncia de queda (28% de queda), em relao
ao pico de produo da Indonsia e Malsia (35%) e um aumento (em relao ao mnimo) do
Brasil, em torno de 75% da produo de 1988.

(ii) Exportao (e importao) de madeira tropical:

Os pases exportam praticamente 50% das produes, na forma de serrados,


compensados e laminados e, ocasionalmente, toras sem nenhum beneficiamento. o Brasil
exporta aproximadamente 5% de sua produo anual. Com base na exportao mdia anual
do perodo 1988-2004, a regio sia/Pacfico participou com 81% de toda a exportao do
mundo tropical enquanto que as regies Amrica Latina/Caribe e frica participaram,
respectivamente, com 6% e 13%. Os dois maiores exportadores individuais foram Malsia
com 23.883.000 m3 2.723.000 (IC 95%) e Indonsia com 16.770.000 m3 1.543.000 (IC
95%), contribuindo sozinhos com 70% do total exportado pelos pases tropicais.

A importao anual mdia do perodo foi de 51.763.000 m3 1.421.000 (IC 95%)


equivalentes em tora. Os principais importadores individuais foram: Japo (33,3%), Unio
Europia (21,3%), China (17,5%), Coria do Sul (9,2%), Taiwan (8,7%) e EUA (6,4%). Estes
pases respondem com mais de 90% das importaes de madeira tropical. A Figura 19.2
ilustra o comportamento da importao do Japo, Unio Europia e China, aonde se pode
observar que a China superou o Japo em 2001, passando a ser o maior importador individual
de madeira tropical; a UE se mantm estvel.

Em 1993, os pases tropicais faturaram com exportao de madeira o montante de US$


12 bilhes. Malsia e Indonsia faturaram respectivamente US$ 4,45 (37%) e US$ 4,59
bilhes (38%). O Brasil faturou apenas US$ 560 milhes (4,5%), segundo Carvalho (1995).

A contribuio da Amaznia ao mercado internacional tem sido muito modesta,


apesar de produzir, aproximadamente, 25 milhes m3 por ano. Isto significa que, em um
mercado internacional de, aproximadamente, 50 milhes m3 de madeira (equivalente em tora),
a Amaznia contribui com pouco mais de 5%. As razes para isto so vrias, podendo ser
destacadas as seguintes: melhor acesso e infra-estrutura dos pases do sudeste asitico,
predominncia de poucas famlias de grande valor comercial das florestas asiticas e,
principalmente, a baixa qualidade da madeira produzida na Amaznia. Como no Brasil
proibida a exportao de toras, a tecnologia utilizada para a transformao das mesmas, no

184
consegue atingir os padres de qualidade exigidos pelo mercado internacional, principalmente
Europa, Estados Unidos e Japo.

Uma nica espcie da Amaznia, mogno (Swietenia macrophylla), contribui sozinha


com 10% do volume total de madeira, comercializado no exterior (Carvalho, 1995). A
contribuio s no maior porque, desde 1990, a quantidade permitida para exportao da
mesma contingenciada pelo Poder Pblico. O volume de madeira contingenciado vem
decrescendo gradativamente, iniciando com 150.000 m3, em 1990, e havendo em 1995, a
exportao limitada em 90.000 m3 por ano. Mais recentemente, foi decretada moratria para a
extrao do mogno de florestas nativas do Brasil. Geralmente, o estado do Par contribui com
2/3 da produo de mogno exportada para outros pases.

(iii) Tendncias do Mercado Internacional de Madeira Dura Tropical:

Segundo o cenrio de Grainger (1987), a situao do setor de madeira dura tropical a


seguinte: a produo do sudeste asitico alcanar o seu pico em meados dos anos 90,
sendo, a seguir, substituda pela Amrica Latina, especialmente a Amaznia, para suprir os
mercados da Europa, Japo e Amrica do Norte. Este cenrio comea a fazer algum
sentido ao prestar ateno na dinmica de produo de madeira tropical no perodo 1989-
2004, pelos maiores produtores mundiais (Figura 19.2); apenas no confirmando o papel do
Brasil no mercado internacional.

De acordo com www.rainforests.mongabay.com (consultado em outubro 2005):


Durante as ltimas duas dcadas de explorao das florestas da Malsia, o manejo florestal
tem sido no-existente. A poltica florestal, Ato Florestal Nacional de 1984, falhou
completamente por falta de aplicao da lei. As florestas primrias da Malsia Peninsular j
foram completamente dizimadas e as secundrias, cobrem apenas uma frao das antigas
reas de florestas tropicais midas. Nas partes da Malsia na Ilha de Borneo, Sabah e
Sarawak, ainda h florestas primrias, mas devem desaparecer em 5 8 anos.

No mesmo site, no relatrio dos pases tropicais, a situao da Indonsia, em 1995, era
a seguinte: floresta remanescente = 63 milhes de hectares sob concesses florestais;
explorao autorizada = 700 mil ha por ano; explorao no autorizada = 500 mil por ano;
desmatamento anual = 5,4 milhes de ha. Hoje, em 2005, quase certo que as reservas
florestais nativas da Indonsia estejam praticamente dizimadas.

Ajustando os dados de exportao dos trs principais produtores atuais (Malsia,


Indonsia e Brasil) e de importao (demanda do mercado internacional), durante o perodo
1988-2004, os seguintes modelos foram produzidos por Higuchi et al. (2006):

185
Malsia => Y = 32.204 1035,74 X => r = 0,91 e sy.x = 2412

Indonsia => Y = 21091 480,14 X => r = 0,75 e sy.x = 2227

Brasil => Y = 1418 + 151,59 X => r = 0,75 e sy.x = 695

Mercado => Y 54578 331 X => r = 0,54 e sy.x = 2518

sendo: Y = volume em milhes de m3 equivalente em tora e X = ano

A figura 19.3 ilustra o uso dos modelos para projees at 2036. Em termos de
exportao de madeira, o Brasil supera a Malsia em 2012 e a Indonsia em 2017. Em 2018, a
Malsia deixa de exportar e a Indonsia em 2030. O Brasil s conseguir atender a demanda
internacional em 2097. Este cenrio indica que o mercado entra em colapso antes de 2010.

Manejo Florestal na Amaznia Brasileira: avaliaes

Apesar da legislao ambiental brasileira ser moderna e o artigo 15 (manejo florestal


na Amaznia) ter sido finalmente regulamentado em 1994, difcil encontrar um plano de
manejo florestal em regime de rendimento sustentado sendo executado na regio. Os planos
so aprovados pelas superintendncias estaduais do IBAMA, mas com problemas de falta de
pessoal e recursos para deslocamentos de fiscais, poucos projetos so devidamente
fiscalizados.

(i) Estado do Par:

Em recente avaliao dos projetos de manejo florestal aprovados pelo IBAMA, na


microrregio de Paragominas (PA), coordenada pela EMBRAPA-CPATU, a concluso
muito clara: a situao nesta microrregio simplesmente catica; as estimativas de volume
dos projetos no batem com as de campo e nem com os volumes realmente extrados da rea
do projeto; os projetos so mal formulados; as equipes tcnicas das empresas no esto
devidamente preparados para praticar silvicultura tropical; nenhum projeto avaliado atende as
exigncias do Decreto 1282 (Manejo Florestal Sustentado para a Amaznia) e nem as da
ITTO-2000 (meta da Organizao Internacional de Madeira Tropical), que s vai
comercializar madeira oriunda de planos de manejo em regime de rendimento sustentado. O
relatrio preliminar deste trabalho, preparado por Silva et al. (1996), foi discutido com todos
os setores envolvidos, em Paragominas, em maro/96. A microrregio Paragominas
representa 40,3% dos projetos de manejo florestal, dos 576 aprovados pelo IBAMA, entre
1981 a julho/1995, para o estado do Par.

186
Poucas diferenas em relao execuo dos planos de manejo florestal sero
encontradas em outras microrregies do Par, ou mesmo em outros estados amaznicos.
Provavelmente, mudam apenas a intensidade e a durao da interveno. Nas vrzeas do
estado do Amazonas, onde se concentram a principal fonte de abastecimento da matria-prima
madeira do estado, por exemplo, as questes tcnicas e legais envolvidas em um plano de
manejo, so similares s de Paragominas. Nas vrzeas do Amazonas, a explorao muito
mais seletiva e, por esta razo, o volume extrado por unidade de rea menor do que o de
Paragominas.

(ii) Estado do Amazonas:

Na Figura 19.4 apresentado um fluxograma do sumrio da anlise de problemas do


setor florestal do estado do Amazonas, ainda no consolidado, produzido a partir de um
brain storm ou tor de palpites promovido pelo Projeto BIONTE (INPA/ODA), em
Manaus, abrill/96, com pesquisadores, professores, Poder Pblico, empresrios, associaes
de classes e ONGs ambientais.

Desta reunio foi concludo que o problema central do manejo florestal no estado do
Amazonas que a produo madeireira no est sendo feita de forma sustentvel. Como
conseqncia, tem-se de um lado, o risco de faltar o produto madeireiro no mercado, e de
outro, a ameaa integridade dos ecossistemas amaznicos. A causa principal o fato que os
planos de manejo florestal sustentvel no so devidamente implementados.

As principais razes para a no implementao dos planos de manejo so:

Domnio implementao: a) explorao florestal mal feita (falta de pessoal


qualificado em todos os nveis, remunerao baixa, equipamentos inadequados, falta de
assistncia tcnica); b) investidores s pensam em uma colheita (cultura imediatista, o
tamanho da reserva florestal disponvel, dificuldades naturais, estatsticas no confiveis,
baixo conhecimento tecnolgico, falta de conhecimento sobre o mercado, inexistncia de
anlise Custo/Benefcio, falta de incentivos para o setor); c) fiscalizao/monitoramento
inexistente (faltam recursos, equipamentos, orientaes e pessoal).

Domnio conhecimento: a) currculo das escolas de engenharia florestal


inadequado; b) comunicao entre ensino & pesquisa e setor produtivo ruim (linhas de
pesquisas so definidas por pesquisadores - de universidades e de institutos de pesquisa -,
pesquisadores publicam para colegas, no h programas de extenso, empresrios investem
muito pouco em pesquisas); c) falta de conhecimento bsico e aplicado (silvicultura tropical,

187
tecnologia da madeira, ergonomia, economia, comercializao & mercado, impactos
ambientais, impactos sociais e culturais).

Domnio poltica setorial: a) poltica setorial fragmentada (falta do zoneamento


ecolgico-econmico, conflitos entre as diferentes regras do uso do solo, estatsticas no
confiveis); b) legislaes no cumpridas (normas mudam com muita facilidade, falta de
sistema de validao das normas estabelecidas, falta de fiscalizao).

Concluso

O velho e surrado chavo Os recursos naturais da Amaznia so super-explorados e


sub-utilizados, ainda bastante atual e apropriado para esta regio. So impostas alteraes
em vrios hectares de florestas primrias, para retirar uma nica rvore para produzir madeira;
so feitos cortes rasos em extensas reas para projetos agropecurios de baixa produtividade;
so inundados vrios hectares de floresta para formao de lagos para a produo de energia
eltrica; e so desnudados totalmente os solos florestais para a produo de minrios, com o
mnimo de beneficiamento. Poucas dessas formas de uso do solo seriam aprovadas em uma
anlise de custo/benefcio. A rea desmatada na Amaznia, mais de 50 milhes de hectares j
desmatados, no a fez mais rica e nem a ser o celeiro do mundo.

Por outro lado, os impactos ambientais so bem conhecidos e tm preocupado toda a


sociedade. Os mais importantes impactos so: emisso de gases do efeito-estufa atmosfera,
principalmente pelas queimadas e pela decomposio de rvores em p nos lagos das
hidreltricas; potencial alterao no ciclo dgua pela retirada da cobertura florestal; eroso
gentica, tanto pelo corte raso, como pela explorao seletiva de madeira; perda da
biodiversidade; e sedimentao e poluio dos rios e igaraps.

Menos conhecidos que os impactos ambientais, os impactos sociais e culturais so,


porm, igualmente importantes. H casos de imposio de indenizaes e de transferncias
para outras reas, aos povos autctones, em nome de um projeto de desenvolvimento. Tanto
o intercmbio de doenas, como a disseminao das mesmas so problemas srios na regio.
Doenas comuns como gripe e sarampo, so devastadoras aos povos autctones. Da mesma
forma, doenas endmicas como malria e leishimaniose causam problemas srios aos
colonizadores. Problemas de terra (e sem-terra) na Amaznia, apesar do tamanho de seu
territrio, tm tambm aumentado na regio e repercutido no mundo inteiro.

Com a drstica reduo dos incentivos fiscais, em 1990, principalmente para os


projetos agropecurios, a expectativa era ter eliminado a principal causa do desmatamento na
Amaznia. Em tese, a agropecuria na regio, sem subsdios, tornar-se-ia pouco atraente e no

188
competitiva, com a mesma atividade, em outras regies do Brasil. O freio, no entanto, durou
muito pouco porque, enquanto reduziam-se os incentivos, o aproveitamento da madeira
viabilizava-se operacional e economicamente, transformando-se, inclusive, em pr-
investimentos para a agropecuria. A madeira comeou a cobrir, pelo menos, os investimentos
mnimos em infra-estrutura, feitos para a sua explorao. Com isto, o madeireiro contribua
duplamente com o agropecuarista, ou seja, com a prpria infra-estrutura viria e com a
reduo da densidade e volume da floresta primria, facilitando o corte raso e preparao do
solo para a implantao de pastagens.

Em menos de 10 anos, o mercado internacional de madeira dura tropical entra em


colapso e muita gente vai ficar sem madeira. Alguns pases importadores vo ter que apelar
para as suas prprias reservas, mas a grande maioria, inclusive, os antigos fornecedores vo
ter que buscar alternativas. Isto vai acontecer porque os principais fornecedores no
praticaram manejo florestal e foram at a exausto de suas reservas. importante no perder
de vista que a madeira um artigo de primeira necessidade; ela importante quando a gente
nasce (bero) e quando morre (urna funerria), alm de ser matria-prima do papel.

Em condies normais, a Amaznia Legal no conseguir atender a demanda do


mercado porque no tem tecnologia de manejo e nem de transformao de toras em produtos
madeireiros (serrado, laminado e compensado). Alm disso, o mercado internacional no
gosta de negociar produtos ilegalmente produzidos. Isto outro gargalo na Amaznia porque
para ser legal, o empreendedor precisa ter a posse da terra e isto est ficando cada dia mais
difcil. Grosso modo, na Amaznia h 25% de terras sob domnio privado e 75% de terras
pblicas. As terras privadas esto praticamente no fim e, sem posse, no h plano de manejo
florestal.

Para o Brasil, este cenrio oportunidade ou ameaa? Olhando as repercusses do


histrico de uso do solo amaznico, atender a demanda do mercado internacional mais uma
ameaa do que oportunidade. Apesar de j ter desmatado mais de 60 milhes de hectares e
produzir, anualmente, 25 milhes de m3 de madeira, a Amaznia Legal participou com apenas
7,2% (ano-base 2002) na composio do produto interno bruto (PIB) brasileiro
(www.ibge.gov.br). Menos de 10% da madeira produzida vem de plano de manejo florestal
(Higuchi et al., 2003). Nesta regio, a correlao quase perfeita entre produo de madeira e
desmatamento (r = 0,99, p < 0,00001), ao contrrio da correlao (r = 0,17, p = 0,999) entre
produo e PIB per capita. Portanto, baseado nestas estatsticas, melhor deixar a floresta
amaznica para as futuras geraes e esquecer o mercado enquanto no dominar a tecnologia
de manejo florestal sustentvel.

189
Neste momento preciso ter sabedoria para antecipar-se eminente escassez. Como
vantagem, o Brasil tem todos os instrumentos de medida necessrios para a correta utilizao
dos recursos florestais da Amaznia. O manejo florestal e o uso alternativo esto
regulamentados (Decretos 1.282, 2.788 e 5.975), com normas claras (IN 05) e penas definidas
para aqueles que descumprem as leis e as normas (Lei 9605, crimes ambientais).

Por ltimo, no se pode perder de vista a imperiosa necessidade de concluir o


zoneamento ecolgico-econmico para a regio, com reas especialmente designadas para
determinados fins (produo madeireira, por exemplo). Alm disso, tem-se que repensar
(principalmente unificar) as polticas de outros usos do solo amaznico e de explorao dos
recursos minerais. Da mesma forma, preciso tambm repensar a questo de liquidez,
principalmente no curto prazo e de valores agregados, para determinados produtos
amaznicos. Aes estratgicas so necessrias para valorizar a madeira em p, nem que seja
pela brusca diminuio da oferta deste produto. Enquanto isso, as rvores cadas poderiam
entrar como oferta de madeira ou de matria-prima para obras de arte e artesanato.

190
Quadro 19.1: Bacia Amaznica - rea (em km2) dos principais tipos florestais e no florestais.

TIPOS FLORESTAIS E NO FLORESTAIS REA (km2)


1. Florestas de Terra-Firme
- Florestas Densas 3.303.000
- Florestas Densas com lianas 100.000
- Florestas Abertas com bambus 85.000
- Florestas de Encosta 10.000
- Campina Alta ou Campinarana 30.000
- Florestas Secas 15.000
2. Florestas de Vrzea 55.000
3. Florestas de Igap 15.000
4. Florestas de Mangue 1.000
5. Campinas 34.000
sub-total (reas florestais) 3.648.000
6. Campos de Vrzea 15.000
7. Campos de Terra-Firme 150.000
8. Vegetao Serrana 26.000
9. Vegetao de Restinga 1.000
10. gua 100.000
sub-total (reas no florestais) 292.000
TOTAL BACIA AMAZNICA 3.940.000

Fonte: Braga (1979).

Quadro 19.2: Produo de madeira em tora de florestas nativas da Amaznia para fins industriais, por
Estado, entre 1975 a 2004 (em 1.000 m3).

Estado 19751 19801 19852 19911 19963 19994 20045


Acre 31 87 23 305 300 210 420
Amap 330 400 413 353 200 83 130
Amazonas 135 325 1.382 181 700 793 490
Maranho 931 700 541 430
Mato Grosso 2.875 9.800 2.637 8.010
Par 3.942 10.283 16.361 28.370 11.900 11.325 11.150
Rondnia 60 307 1.320 1.027 3.900 750 3.700
Roraima 14 72 39 36 200 27 130
Tocantins 483 100 100 0
Amaznia 4.512 11.474 19.538 34.561 27.800 16.464 24.460
Fontes: 1/ IBGE (1992), 2/ Deusdar Filho (1996), 3/ Nepstad (1999), 4/www.ibge.gov.br (14/09/05) e
5
/Lentini et al. (2005)

191
Figura 19.1: Dinmica da produo de madeira tropical (em 1.000 m3 equivalente em tora) dos trs
principais produtores individuais.

90.000

80.000

70.000
volume (1.000 m3)

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000
1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
ano

Brasil Malsia Indonsia

Fonte: Higuchi et al. (2006)

192
Figura 19.2: Dinmica (1989-2004) da importao de madeira equivalente em toras dos trs principais
consumidores.

25000

20000
volume (1000 m3)

15000

10000

5000

0
1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004
ano

China Japo UE

Fonte: Higuchi et al. (2006)

193
Figura 19.3: Projees sobre o suprimento de madeira tropical ao mercado internacional.

60.000

50.000
mercado
40.000

30.000 Mal
sia
volume (1.000 m3)

20.000 Indonsia

10.000
Brasil
Brasil Indons
0 ia

-10.000
Mal
sia
-20.000

-30.000
1988

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2012

2014

2016

2018

2020

2022

2024

2026

2028

2030

2032

2034

2036
ano

Fonte: Higuchi et al. (2006)

194
Figura 19.4: Sumrio da Anlise de Problemas de Manejo Florestal no Estado do Amazonas.

EFEITOS

ATIVIDADE INVIABILIZADA, FALTA DO PRODUTO NO


MERCADO, AMEAA INTEGRIDADE DOS ECOSSISTEMAS
AMAZNICOS

PROBLEMA CENTRAL

A PRODUO MADEIREIRA NO AMAZONAS NO EST


SENDO FEITA DE FORMA SUSTENTVEL

CAUSAS

OS PLANOS DE MFS NO SO DEVIDAMENTE


IMPLEMENTADOS

195
Bibliografia:
Braga, P.I.S. 1979. Subdiviso Fitogeogrfica, Tipos de Vegetao, Conservao e Inventrio
Florstico da Floresta Amaznica. Acta Amazonica 9(4):53-80.
Carvalho, G. 1995. Comercializao e Exportao de Madeiras. Em: Anais do I Simpsio de
Poltica Florestal no Estado do Amazonas. pp. 69-73.
Deusdar Filho, R. 1996. Diagnstico e Avaliao do Setor Florestal Brasileiro - Regio
Norte. Relatrio Preliminar (Sumrio Executivo). 59p.
Fearnside, P.M., A.T.Tardin e L.G. Meira Filho. 1990. Deforestation Rate in Brazilian
Amazon. 8p.
Grainger, A. 1987. Tropform: A Model of Future Tropical Timber Hardwood Supplies. Em:
CINTRAFOR Symposium in Forest Sector and Trade Models. University of
Washington, Seattle.
Higuchi, N., Santos, J., Sampaio, P.T.B. e Marenco, R.A. 2003. Projeto Jacaranda Fase II
Pesquisas Florestais na Amaznia Central. N. Higuchi (editor). 252 p.
Higuchi, N., Santos, J., Teixeira, L.M. e Lima, A.J.N. 2006. O mercado internacional de
madeira tropical est beira do colapso. SBPN Scientific Journal, (1-2): 33-41.
IBGE (Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). 1992. Anurio Estatstico,
Captulo 44: Extrao Vegetal e Silvicultura.
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). 1992. Deforestation in Brazilian Amazon.
Poster apresentado durante a Conferncia de Meio Ambiente das Naes Unidas, Rio-92.
Lentini, M., Verssimo, A. e Pereira, D. 2005. A expanso madeireira na Amaznia. O Estado
da Amaznia, 2:1-4.
Nepstad, D.C., A. Verssimo, A. Alencar, C. Nobre, E. Lima, P. Lefebvre, P. Schlesinger, C.
Potter, P. Moutinho, E. Mendonza. M. Cochrane e V. Brooks. 1999. Large-Scale
Impoverishment of Amazonian Forests by Logging and Fire. Nature, 398:505-508.
Silva, J.N.M. et al.. 1996. Diagnstico dos Projetos de Manejo Florestal no Estado do Par -
Fase Paragominas. 87p.

196
CAPTULO 20
CONVENES, ACORDOS INTERNACIONAIS E CERTIFICAO
Neste captulo inclumos as Convenes (trechos mais relacionados com o setor florestal) sobre o Clima
(e o Protocolo de Kyoto) e da Biodiversidade, assinadas por mais de 150 pases, durante a Rio-92. Depois de
ratificadas pelo Senado Federal, essas Convenes se transformaram em leis internacionais. Temos tambm o
acordo informal sobre os princpios para a conservao e manejo sustentvel de todos os tipos florestais, que
apesar de no fora de lei, tem o desejo poltico de todos os pases signatrios. Alm disso, apresentamos um
resumo de outros acordos no obrigatrios como ITTO-2000 e Acordo de Tarapoto. Por ltimo, apresentamos
sucintamente algumas informaes sobre certificao florestal.

Em todos casos, o engenheiro florestal tem importante papel na implementao dos acordos,
especialmente, naqueles relacionados com as questes climticas. Na interao biosfera-atmosfera, a floresta a
protagonista; ora no papel de mocinha seqestrando Carbono da atmosfera, ora como vil emitindo
Carbono, principalmente, via desmatamento. O eng florestal treinado para realizar inventrios florestais,
estimar o volume da madeira e manejar a floresta. Quem sabe tudo isto, saber tambm trabalhar com o Carbono
da vegetao. A adaptao muito simples, talvez, um pouco mais trabalhosa; basta trocar o volume por
biomassa e estimar o Carbono. Talvez, a principal modificao esteja na cabea do eng florestal, ou seja, a
mxima fixao do Carbono no poder ficar apenas no tronco; a fixao tem que ser analisada para a rvore
toda. A principal unidade de medida tonelada mtrica de Carbono; mais tarde, feita a transformao para os
gases especficos (CO, CO2, CH4 etc.).

197
7.1. CONVENO-QUADRO INTERNACIONAL SOBRE MUDANAS
CLIMTICAS (UNFCCC)

Esta Conveno foi assinada no dia 4/6/92, durante a Rio-92. O objetivo desta
Conveno estabilizar as concentraes de gases de efeito estufa (GEE) aos nveis que
impeam que as atividades humanas afetem perigosamente o sistema climtico global. A data
de ratificao pelo Senado da Repblica e publicao no Dirio Oficial da Unio do Texto da
Conveno - D.O.U - 04/02/1994 - Seo - Decreto Legislativo n 01. O texto completo, em
Portugus, pode ser encontrado no link abaixo:

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4069.html

No site do Ministrio de Cincia e Tecnologia - MCT (www.mct.gov.br), na seo de


mudanas climticas possvel encontrar documentos obrigatrios e no obrigatrios
relacionados com as mudanas climticas globais. H, inclusive, importantes publicaes
como: (i) inventrio nacional de emisses; (ii) relatrios de referncias; (iii) guia de
orientao para o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e (iv) manual de
procedimentos para submeter projetos sob o MDL.

No plano internacional, a estrutura de comando da Conveno a seguinte:

9 O Secretrio-Geral das Naes Unidas o fiel depositrio da Conveno.

9 O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanas do Clima), que


subordinado WWO (Organizao Mundial de Meteorologia) e UNEP
(Programa de Meio Ambiente) ambas da ONU o responsvel pela parte
cientfica da Conveno. No Brasil, o MCT a correspondncia do IPCC.

9 As decises so tomadas em Conferncias das Partes (COP). Uma parte pode


um pas isolado (Brasil, EUA etc.) ou grupo (Comunidade Europia).

Um outro site importante (alis, o mais importante) sobre as questes climticas o


www.ipcc.ch. Alm dos textos originais da Conveno e do Protocolo de Kyoto, h vrias
outras informaes e publicaes. Entre as principais publicaes, so destacadas: (i) 1, 2 e
3 relatrios de avaliao; (ii) do polmico 4 relatrio, apenas o sumrio executivo est
disponvel no site do IPCC (em maio de 2007); (iii) guia de inventrios nacionais de emisses
e (iv) relatrio especial de uso do solo, mudanas de uso do solo e silvicultura. O eng florestal
que quiser trabalhar em projetos de mudanas climticas precisa estar atento s informaes
contidas nos sites do MCT e do IPCC.

198
O mundo se mobilizou no Rio de Janeiro, em 1992, motivado pela publicao do ciclo
global do Carbono do perodo 1980 a 1989 quadro 20.1. Hoje, o tamanho do C perdido j
diminuiu bastante por conta das absores das florestas boreais e tropicais. A absoro pela
atmosfera causou um aumento da concentrao de CO2; atualmente, os estudos indicam que
as concentraes deste gs saltaram de 280 ppm, antes da revoluo industrial iniciada em
1850, para 379 ppm, em 2005.

Quadro 20.1. Ciclo global do Carbono do perodo 1980 1989 em Pg (Pg = peta grama = 1 x
1015 g).

EMISSO ABSORO

Fonte Quantidade Destinao Quantidade

Combustvel fssil 5,4 0,5 Bacia ocenica 2,0 0,5

Uso do solo 1,6 1,0 Atmosfera 3,2 0,2

Total 7,0 C perdido (?) 1,8 1,2

fcil imaginar o papel da floresta amaznica no contexto das mudanas climticas


globais. O estoque de Carbono na floresta amaznica estimado em mais de 70 bilhes de
toneladas ou 70 Pg. Se 7 Pg mobilizou o mundo inteiro para aprovar uma Conveno
Internacional, 70 Pg podem dar a dimenso do papel e da preocupao que a Amaznia
proporciona ao clima global.

O principal objetivo desta Conveno e de todo instrumento jurdico adotado pela Conferncia
das Partes, conseguir, de acordo com os dispositivos pertinentes Conveno, a
estabilizao das concentraes de GEEs na atmosfera a um nvel que impea as
interferncias antrpicas no sistema climtico. Este nvel dever acontecer dentro de um
prazo suficiente para permitir que os ecossistemas se adaptem naturalmente mudana
climtica, assegurar que a produo de alimentos no seja ameaada e permitir que o
desenvolvimento econmico prossiga de maneira sustentvel.

A seguir, apresentamos pontos importantes contidos na Conveno.

(i) O princpio da Conveno o da responsabilidade comum, mas diferenciada.


Quer dizer: todos os pases (ricos e pobres) so responsveis pela proteo do clima global,
mas os pases que emitiram mais tm obrigaes diferenciadas.

199
(ii) H os pases que tm obrigaes de redues e aqueles que no obrigaes
(Brasil, por ex.). Mesmo os pases que tm obrigaes, h duas categorias baseadas em
obrigaes diferenciadas, definidas no Anexo I16 e Anexo II17.

(iii) . Por sistema climtico se entende a totalidade da atmosfera, hidrosfera,


biosfera e a geosfera e as suas interaes.

(iv) Os gases de efeito estufa (GEEs) considerados pela Conveno so: Dixido de
Carbono (CO2), Metano (CH4), xido Nitroso (N2O), Hidrofluocarbonos (HFCs),
Perfluocarbonos (PFCs) e Sulfurhexafluoride (SF6). A Conveno trata os gases
diferentemente, mas os principais so CO2, CH4 e N2O, com maior nfase emisso antrpica
do CO2.

(v) O Oznio tratado na Conveno de Viena para a proteo da camada de Oznio


(1985) e o Protocolo de Montreal (1987), ajustado e emendado em 29/06/90.

(vi) Por fonte se entende como qualquer processo ou atividade que libera um
GEE, um aerosol ou um precursor de um GEE da atmosfera.

(vii) Por sumidouro se entende como qualquer processo, atividade ou mecanismo


que absorve um GEE, um aerosol ou um precursor de um GEE da atmosfera.

(viii) As Partes que so pases desenvolvidos e as demais Partes desenvolvidas que


figuram no Anexo II tomaro todas as medidas possveis para promover, facilitar e financiar,
segundo se proceda, a transferncia de tecnologias e conhecimentos prticos ambientalmente
sadios, ou o acesso aos mesmos, a outras Partes, especialmente as Partes que so pases em
desenvolvimento, a fim de possam aplicar as disposies desta Conveno. Neste processo, as
Partes que so pases desenvolvidos apoiaro o desenvolvimento e melhoramento das
capacidades e tecnologias endgenas das Partes que so pases em desenvolvimento.

16
Anexo I: Alemanha, Austrlia, Austria, Belaurus, Blgica, Bulgria, Canad, Comunidade Europia,
Checoslovaquia, Dinamarca, Espanha, EUA, Estnia, Rssia, Finlndia, Frana, Grcia, Hungria, Irlanda,
Islndia, Itlia, Japo, Letnia, Litunia, Luxemburgo, Noruega, Nova Zelndia, Pases Baixos, Polnia,
Portugal, Reino Unido, Romnia, Sucia, Suia, Turquia e Ucrnia.

17
Anexo II: Alemanha, Austrlia, Austria, Blgica, Canad, Comunidade Europia, Dinamarca, Espanha, EUA,
Finlndia, Frana, Grcia, Irlanda, Islndia, Itlia, Japo, Luxemburgo, Noruega, Nova Zelndia, Pases Baixos,
Portugal, Reino Unido, Sucia, Suia e Turquia.

200
7.2. PROTOCOLO DE KYOTO SOBRE MUDANAS CLIMTICAS :
uma viso geral
Resumo:

O Protocolo de Kyoto UNFCCC foi adotado por mais de 160 naes em 11/12/97.
As providncias mais importantes do Protocolo foram os limites para emisses de GEEs pelos
pases desenvolvidos (PDs), os maiores responsveis pelo atual nvel de poluio do ar. Ao
mesmo tempo, o Protocolo cria significantes incentivos para os pases em desenvolvimento
(PEDs) para controlarem as suas emisses em consonncia ao crescimento econmico.
Fazendo isso, o Protocolo estabeleceu s naes, um caminho em direo ao uso de energia
limpa, renovvel e eficiente, que fortalecer a economia global e proteger o meio ambiente
global.

O texto completo, em Portugus, pode ser encontrado no link abaixo

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/28739.html

Apesar do significante avano do Protocolo, h muito trabalho pela frente. As Naes


precisam definir manuais para importantes componentes do Tratado, incluindo um regime
intl de negcio com a poluio e medidas para resolver disputas (concordncia ou
compliances). A maneira como estes componentes sero definidos, determinar a efetividade
do Protocolo em alcanar o objetivo de longo prazo sobre a proteo do meio ambiente e do
crescimento econmico sustentvel.

Aspectos Institucionais:

O Secretrio Geral da ONU o fiel depositrio deste Protocolo. A COP (Conference


of the Parties) a encarregada pela implementao deste Protocolo e da UNFCCC. Este
Protocolo entrou em vigor 90 dias depois que pelo menos 55 Partes da Conveno -
incorporando as Partes consideradas PDs que contriburam com 55% das emisses de CO2 em
1990 depositaram seus instrumentos de ratificao, aceite e aprovao. Isto acabou
acontecendo em fevereiro de 2005. Somente a partir do 3 ano em vigor, a Parte pode sair do
Protocolo atravs de notificao escrita ao Depositrio.

O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) foi requisitado pelo SBSTA


(Subsidiary Body for Scientific and Technological Advice) da COP, para a UNFCCC, para
preparar um relatrio especial sobre Uso do Solo, Mudana no Uso do Solo e Floresta, para
subsidiar a COP na tomada de decises quanto s questes relacionadas com estoques e
mudanas de estoques de Carbono. Este relatrio, entre outras coisas, abordar as implicaes

201
de diferentes definies, mtodos de avaliao de emisso e seqestro de Carbono e questes
relacionadas com contabilidade.

Metas e Cronogramas:

O Protocolo estabelece limites de emisses de GEEs para 38 PDs, chamados de


Partes do Anexo B. Uma Parte do Protocolo pode ser uma simples nao como EUA, como
um grupo de naes como a Comunidade Europia. Os Pases aceitaram metas variadas
baseadas no princpio da diferenciao, que reconhece que alguns pases so mais capazes
de reduzir suas emisses do que outros, na maneira como eles produzem e usam energia, no
acesso s tecnologias limpas e aos seus nveis de poluio, entre outros numerosos fatores.

As metas de emisses (geralmente de reduo) emisses antrpicas principalmente


de CO2 - so apresentadas no Quadro 1, para cada Pas considerado PD. O cronograma o
seguinte: a mdia do perodo 2008-2012 ser comparada com a emisso de 1990. Exemplo: os
EUA tm que reduzir em mdia 7% durante o perodo, em relao quilo que eles emitiram
em 1990. Em geral, os PDs diminuiro as emisses, em mdia 5,2% durante o perodo
comprometido, em relao s emisses de 1990.

Gases Considerados:

O Protocolo restringe as emisses de 6 GEEs. So eles: Dixido de Carbono (CO2),


Metano (CH4), xido Nitroso (N2O), Hidrofluocarbonos (HFCs), Perfluocarbonos (PFCs) e
Sulfurhexafluoride (SF6). O Protocolo trata os gases diferentemente, mas os principais so
CO2, CH4 e N2O, com maior nfase emisso antrpica do CO2.

Diminuindo o Custo da Disputa (mecanismos de flexibilizao):

O Protocolo inclui vrias providncias (mecanismos de flexibilizao) com base no


mercado, para diminuir o custo ou reduzir as emisses e acelerar a criao de tecnologia
limpa, incluindo o negcio com emisses (bnus), crdito com base em projetos e CDM
(Clean Development Mechanism). Apesar de que tudo que est estabelecido no Protocolo, as
regras para implementao sero definidas posteriormente.

(i) Negcio com Bnus para Emisso: Grande parte por causa da insistncia dos EUA,
o Protocolo permite a criao de sistema intl de negcio de bnus entre as Partes do Anexo
B, similar ao Clean Air Act nos EUA. Sob esta providncia, uma Parte do Anexo B com
emisses excedendo os seus limites, ser capaz de comprar bnus de uma Parte do Anexo B
com emisses inferiores aos seus limites.

202
(ii) Negcio de Crdito Baseado em Projetos: Tambm referido como implementao
conjunta, estabelecido sob o Protocolo para as Partes do Anexo B. Atravs desta
providncia, uma Parte do Anexo B receber crditos quando estiver apoiando projetos
especficos que reduzem emisses em uma outra Parte do Anexo B. Aqui, so includos
projetos que aumentam a eficincia de uma fbrica ou usina atravs de assistncia financeira
ou transferncia de tecnologia, ou projetos que seqestram emisses como conservao de
florestas.

(iii) Clean Development Mechanism (CDM): O CDM designado para diminuir o


custo de disputa entre as Partes do Anexo B e promover a participao dos PEDs atravs da
difuso tecnologias limpas. As Partes do Anexo B (igualmente as companhias especficas)
tero 2 opes para adquirir reduo atravs do CDM. Primeiro, o CDM estende-se a
implementao conjunta aos PEDs permitindo s Partes do Anexo B ganhar crdito em
direo as suas metas de emisses pela parceria com um PED, num projeto para reduzir
emisses neste PED. Exemplo: uma Parte do Anexo B pode adquirir redues ao ajudar um
PED distribuir energia solar aos cidados que de alguma forma dependem de combustveis
poluentes para a produo de energia. Segundo, as Partes do Anexo B podero comprar
redues diretamente do CDM. Neste caso, os PDs podem financiar projetos para reduzir
emisses nos PEDs, assistir as naes ameaadas pelos impactos das mudanas climticas e
pagar custos administrativos. O CDM tambm cria um significante incentivo para aes
antecipadas permitindo s Partes do Anexo B a contar redues adquiridas atravs do CDM j
a partir de 2000.

Pases em Desenvolvimento (PEDs):

O Protocolo inclui providncias adicionais que requer e encoraja a participao dos


PEDs para desacelerar o crescimento de suas emisses num curto prazo, e cria um roteiro para
aqueles que eventualmente aceitam estabelecer limites. As polticas do Protocolo, baseadas no
mercado, se designadas adequadamente, criar incentivos para os PEDs participarem mais
ativamente, ao providenciar capital, tecnologia e manejo dos recursos naturais que possam
ajuda-los no crescimento econmico sustentvel. Os PEDs podem participar no CDM
imediatamente, bastando adotar os limites de emisses. Para estabelecer limites, os PEDs
precisam fazer os seus inventrios de estoques e seus relatrios de emisses, e que definam
programas nacionais para mitigar e adaptar mudana climtica.

Sumidouros:

203
Florestas, agricultura e outros sistemas que podem absorver e armazenar Carbono so
chamados de sumidouros. O Protocolo reconhece a importncia deles ao incluir a
preservao e desenvolvimento de sumidouros como passos que uma Parte do Anexo B
pode tomar para alcanar as suas metas de emisses. Enquanto que a incluso de
sumidouros pode ter um impacto positivo sobre a proteo da atmosfera e das florestas, a
linguagem do Protocolo ambgua e cria tanto incentivos e desincentivos ao MFS. Em
particular, o Protocolo poderia promover a explorao (talvez, a eliminao) de floresta
madura, em favor de outros tipos de uso do solo (reflorestamento ou manejo de capoeiras) que
podem seqestrar CO2. As Partes concordaram em resolver esta ambigidade desenvolvendo
manuais para avaliao de sumidouros.

204
Pases Desenvolvidos (Partes do Anexo B) e Metas

Pas metas
Austrlia 8% acima 1990
ustria 8% abaixo 1990
Blgica 8% abaixo 1990
Bulgria 8% abaixo 1990
Canad 6% abaixo 1990
Crocia 5% abaixo (ano-base)
Repblica Checa 8% abaixo (ano-base)
Dinamarca 8% abaixo 1990
Estnia 8% abaixo (ano-base)
Comunidade Europia 8% abaixo 1990
Finlndia 8% abaixo 1990
Frana 8% abaixo 1990
Alemanha 8% abaixo 1990
Grcia 8% abaixo 1990
Hungria 6% abaixo 1990
Iceland igual 1990
Irlanda 8% abaixo 1990
Itlia 8% abaixo 1990
Japo 6% abaixo 1990
Latvia 8% abaixo (ano-base)
Liechtenstein 8% abaixo 1990
Litunia 8% abaixo (ano-base)
Luxemburgo 8% abaixo 1990
Mnaco 8% abaixo 1990
Pases Baixos 8% abaixo 1990
Nova Zelndia igual 1990
Noruega 1% acima 1990
Polnia 6% abaixo 1990
Portugal 8% abaixo 1990
Romnia 8% abaixo 1990
Federao Russa igual ano-base
Eslovquia 8% abaixo (ano-base)
Eslovnia 8% abaixo (ano-base)
Espanha 8% abaixo 1990
Sucia 8% abaixo 1990
Sua 8% abaixo 1990
Ucrnia igual (ano-base)
Reino Unido 8% abaixo 1990
EUA 7% abaixo 1990

205
7.3. CONVENO INTERNACIONAL SOBRE A BIODIVERSIDADE

A Conveno Internacional da Biodiversidade, assinada por Brasil em 5/06/92, em


vigor internacionalmente desde 29/12/93, ratificada pelo Congresso Nacional do Brasil em
03/02/94, e promulgada pelo Dec. 2.519, de 16/03/98.

Prembulo

As Partes,

Conscientes do valor intrnseco da diversidade biolgica e dos valores ecolgico,


gentico, social, econmico, cientfico, educacional, cultural, recreativo e esttico da
diversidade biolgica e de seus componentes,

Conscientes, tambm, da importncia da diversidade biolgica para a evoluo e para


a manuteno dos sistemas necessrios a vida da biosfera,

Afirmando que a conservao da diversidade biolgica uma preocupao comum a


humanidade,

Reafirmando que os Estados tm direitos soberanos sobre os seus prprios recursos


biolgicos,

.......

Preocupados com a sensvel reduo da diversidade biolgica causada por


determinadas atividades humanas,

.....

....

Conscientes de que a conservao e a utilizao sustentvel da diversidade biolgica


de importncia absoluta para atender as necessidades de alimentao, de sade e de outra
natureza da crescente populao mundial, para o que so essenciais o acesso e a repartio de
recursos genticos e tecnologia,

Observando, enfim, que a conservao e a utilizao sustentvel da diversidade


biolgica fortalecero as relaes de amizade entre os Estados e contribuiro para a paz da
humanidade,

.....

Determinadas a conservar e utilizar de forma sustentvel a diversidade biolgica para


benefcio das geraes presentes e futuras,

206
Convieram no seguinte:

Artigo 1. Objetivos

Os objetivos desta Conveno, a serem cumpridos de acordo com as disposies pertinentes, so a


conservao da diversidade biolgica, a utilizao sustentvel de seus componentes e a repartio justa e
eqitativa dos benefcios derivados da utilizao dos recursos genticos, mediante, inclusive, o acesso adequado
aos recursos genticos e a transferncia adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos
sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado.

Artigo 2. Utilizao dos Termos

Para os propsitos desta Conveno:

rea protegida significa uma rea definida geograficamente que destinada, ou


regulamentada, e administrada para alcanar objetivos especficos de conservao.

Biotecnologia significa qualquer aplicao tecnolgica que utilize sistemas biolgicos,


organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processo para
utilizao especfica.

Condies in-situ significa as condies em que recursos genticos existem em ecossistemas


e habitats naturais e, no caso de espcies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham
desenvolvido suas propriedades caractersticas.

Conservao ex-situ significa a conservao de componentes da diversidade biolgica fora de


seus habitats naturais.

Conservao in-situ significa a conservao de ecossistemas e habitats naturais e a


manuteno e recuperao de populaes viveis de espcies em seus meios naturais e, no
caso de espcies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas
propriedades caractersticas.

Diversidade biolgica significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,


compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas
aquticos e os complexos ecolgicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade
dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas.

Ecossistema significa um complexo dinmico de comunidades vegetais, animais e de


microorganismos e o seu meio inorgnico que interagem como uma unidade funcional.

Espcie domesticada ou cultivada significa espcie em cujo processo de evoluo influiu o


ser humano para atender suas necessidades.

207
Habitat significa o lugar ou tipo de local onde um organismo ou populao ocorre
naturalmente.

Material gentico significa todo material de origem vegetal, animal, microbiana ou outra que
contenha unidades funcionais de hereditariedade.

Organizao regional de integrao econmica significa uma organizao constituda de


Estados soberanos de uma determinada regio, a que os Estados membros transferiram
competncia em relao a assuntos regidos por esta Conveno, e que foi devidamente
autorizada, conforme seus procedimentos internos, a assinar, ratificar, aceitar, aprovar a
mesma e a ela aderir.

Pas de origem de recursos genticos significa o pas que possui esses recursos genticos em condies in-situ.

Pas provedor de recursos genticos significa o pas que prov recursos genticos coletados
de fontes in-situ, incluindo populaes de espcies domesticadas e silvestres, ou obtidas de
fontes ex-situ, que possam ou no ter sido originados nesse pas.

Recursos biolgicos compreende recursos genticos, organismos ou partes destes,


populaes, ou qualquer outro componente bitico de ecossistemas, de real ou potencial
utilidade ou valor para a humanidade.

Recursos genticos significa material gentico de valor real ou potencial.

Utilizao sustentvel significa a utilizao de componentes da diversidade biolgica de


modo e em ritmo tais que no levem, no longo prazo, diminuio da diversidade biolgica,
mantendo assim seu potencial para atender as necessidades e aspiraes das geraes
presentes e futuras.

Artigo 3. Princpio

Os Estados, em conformidade com a Carta das Naes Unidas e com os princpios de


Direito Internacional, tm o direito soberano de explorar seus prprios recursos segundo suas
polticas ambientais, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdio ou
controle no causem dano ao meio ambiente de outros Estados ou de reas alm dos limites
da jurisdio nacional.

Artigo 4. mbito Jurisdicional

Artigo 5. Cooperao

Artigo 6. Medidas Gerais para a Conservao e a Utilizao Sustentvel

Cada Parte deve, de acordo com suas prprias condies e capacidades:

208
(a) Desenvolver estratgias, planos ou programas para a conservao e a utilizao sustentvel
da diversidade biolgica ou adaptar para esse fim estratgias, planos ou programas existentes
que devem refletir, entre outros aspectos, as medidas estabelecidas nesta Conveno
concernentes a Parte interessada; e

(b) Integrar, na medida do possvel e conforme o caso, a conservao e a utilizao


sustentvel da diversidade biolgica em planos, programas e polticas setoriais ou
intersetoriais pertinentes.

Artigo 7. Identificao e Monitoramento

Artigo 8. Conservao In-situ

Artigo 9. Conservao Ex-situ

Artigo 10. Utilizao Sustentvel de Componentes da Diversidade Biolgica

Cada Parte deve, na medida do possvel e conforme o caso:

(a) Incorporar o exame da conservao e utilizao sustentvel de recursos biolgicos no


processo decisrio nacional;

(b) Adotar medidas relacionadas utilizao de recursos biolgicos para evitar ou minimizar
impactos negativos na diversidade biolgica;

(c) Proteger e encorajar a utilizao costumeira de recursos biolgicos de acordo com prticas
culturais tradicionais compatveis com a exigncia de conservao ou utilizao sustentvel;

(d) Apoiar populaes locais na elaborao e aplicao de medidas corretivas em reas


degradadas onde a diversidade biolgica tenha sido reduzida;

(e) Estimular a cooperao entre suas autoridades governamentais e seu setor privado na
elaborao de mtodos de utilizao sustentvel de recursos biolgicos.

Artigo 11. Incentivos

Artigo 12. Pesquisa e Treinamento

As Partes, levando em conta as necessidades especiais dos pases em desenvolvimento, devem:

(a) Estabelecer programas de educao e treinamento cientfico e tcnico sobre medidas para
a identificao, conservao e utilizao sustentvel da diversidade biolgica e seus
componentes, e proporcionar apoio a esses programas de educao e treinamento destinados
s necessidades especficas dos pases em desenvolvimento;

209
(b) Promover e estimular pesquisas que contribuam para a conservao e a utilizao
sustentvel da diversidade biolgica, especialmente nos pases em desenvolvimento,
conforme, entre outras, as decises da Conferncia das Partes tomadas em conseqncia das
recomendaes do rgo Subsidirio de Assessoramento Cientfico, Tcnico e Tecnolgico;

(c)

Artigo 13. Educao e Conscientizao Pblica

Artigo 14. Avaliao de Impacto e Minimizao de Impactos Negativos

Artigo 15. Acesso a Recursos Genticos

1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos naturais, a
autoridade para determinar o acesso a recursos genticos pertence aos governos nacionais e
est sujeita legislao nacional.

Artigo 16. Acesso Tecnologia e Transferncia de Tecnologia

Artigo 17. Intercmbio de Informaes

1.

2. Esse intercmbio de informaes deve incluir o intercmbio dos resultados de pesquisas


tcnicas, cientficas, e scio-econmicas, como tambm informaes sobre programas de
treinamento e de pesquisa, conhecimento especializado, conhecimento indgena e tradicional
como tais e associados s tecnologias a que se refere o pargrafo 1 do artigo 16. Deve
tambm, quando possvel, incluir a repatriao das informaes.

Artigo 18. Cooperao Tcnica e Cientfica

1. As Partes devem promover a cooperao tcnica e cientfica internacional no campo da conservao e


utilizao sustentvel da diversidade biolgica, caso necessrio, por meio de instituies nacionais e
internacionais competentes.

2. Cada Parte deve, ao implementar esta Conveno, promover a cooperao tcnica e


cientfica com outras Partes, em particular pases em desenvolvimento, por meio, entre outros,
da elaborao e implementao de polticas nacionais. Ao promover essa cooperao, deve
ser dada especial ateno ao desenvolvimento e fortalecimento dos meios nacionais mediante
a capacitao de recursos humanos e fortalecimento institucional.

3. 4. 5.

Artigo 19. Gesto da Biotecnologia e Distribuio de seus Benefcios

210
1. Cada Parte deve adotar medidas legislativas, administrativas ou polticas, conforme o caso, para permitir a
participao efetiva, em atividades de pesquisa biotecnolgica, das Partes, especialmente pases em
desenvolvimento, que provem os recursos genticos para essa pesquisa, e se possvel nessas Partes.

2. Cada Parte deve adotar todas as medidas possveis para promover e antecipar acesso
prioritrio, em base justa e eqitativa das Partes, especialmente pases em desenvolvimento,
aos resultados e benefcios derivados de biotecnologias baseadas em recursos genticos
providos por essas Partes. Esse acesso deve ser de comum acordo.

3.

4.

Artigo 20. Recursos Financeiros

1. Cada Parte compromete-se a proporcionar, de acordo com a sua capacidade, apoio financeiro e incentivos
respectivos s atividades nacionais destinadas a alcanar os objetivos desta Conveno em conformidade com
seus planos, prioridades e programas nacionais.

2. As Partes pases desenvolvidos devem prover recursos financeiros novos e adicionais para
que as Partes pases em desenvolvimento possam cobrir integralmente os custos adicionais
por elas concordados decorrentes da implementao de medidas em cumprimento das
obrigaes desta Conveno, bem como para que se beneficiem de seus dispositivos.

3. 4. 5. 6. 7.

Artigo 21. Mecanismos Financeiros

Artigo 22. Relao com outras Convenes Internacionais

Artigo 23. Conferncia das Partes

Artigo 24. Secretariado

Artigo 25. rgo Subsidirio de Assessoramento Cientfico, Tcnico e Tecnolgico

Artigo 26. Relatrios

Artigo 27. Solues de Controvrsias

Artigo 28. Adoo dos Protocolos

Artigo 29. Emendas Conveno ou Protocolos

Artigo 30. Adoo de Anexos e Emendas a Anexos

Artigo 31. Direito de Voto

Artigo 32. Assinatura

211
Artigo 34. Ratificao, Aceitao ou Aprovao

1. Esta Conveno e seus protocolos esto sujeitos ratificao, aceitao ou aprovao, pelos Estados e por
organizaes de integrao econmica regional. Os instrumentos de ratificao, aceitao ou aprovao devem
ser depositados junto ao Depositrio.

Artigo 35. Adeso

Artigo 36. Entrada em Vigor

1. Esta Conveno entra em vigor no nonagsimo dia aps a data de depsito do trigsimo instrumento de
ratificao, aceitao ou aprovao ou adeso.

Artigo 37. Reservas

Artigo 38. Denncias

Artigo 39. Disposies Financeiras Provisrias

Artigo 40. Disposies Transitrias para o Secretariado

Artigo 41. Depositrio

O Secretrio-Geral da ONU deve assumir as funes de Depositrio desta Conveno e de seus protocolos.

Artigo 42. Textos Autnticos

212
7.4. ACORDO INFORMAL SOBRE OS PRINCPIOS PARA A
CONSERVAO E MANEJO SUSTENTVEL DE TODOS OS TIPOS
FLORESTAIS

PRINCPIOS / ELEMENTOS

1. Cada Pas tem, de acordo com a Carta das Naes Unidas e os princpios das leis
internacionais, o direito soberano de explorar os seus recursos conforme as suas prprias
polticas ambientais, mas tem a responsabilidade de assegurar que as atividades dentro de sua
jurisdio ou controles no causem danos ao ambiente de outros Pases.

(a) O custo adicional para alcanar os benefcios associados com a conservao e


desenvolvimento sustentvel exige um aumento na cooperao internacional e deve ser
igualmente dividido pela comunidade internacional.

2. Cada Pas tem o soberano e indiscutvel direito de utilizar, manejar e desenvolver as


suas florestas de acordo com as suas necessidades e condies scio-econmicas, com base
nas polticas nacionais e legislaes consistentes com o desenvolvimento sustentvel,
incluindo a converso de tais reas para outros usos previstos no plano nacional de
desenvolvimento scio-econmico.

(a) Os recursos florestais e as terras florestais devem ser manejadas sustentavelmente


quanto aos aspectos sociais, econmicos, ecolgicos, culturais e espirituais, visando as
necessidades humanas das geraes atual e futura.

3. As polticas e estratgias nacionais devem fornecer um programa com aumento


gradual de esforos, incluindo a consolidao e fortalecimento de instituies e programas de
manejo, conservao e desenvolvimento sustentvel das florestas e terras florestais.

4. DEVE SER RECONHECIDO o papel vital de todos os tipos florestais na


manuteno dos processos e equilbrios ecolgicos, em nveis local, nacional, regional e
global, para a proteo de ecossistemas frgeis, bacias hidrogrficas, mananciais de gua
doce, biodiversidade, fotossntese, recursos biolgicos e material gentico para os produtos
biotecnolgicos.

5. As polticas nacionais devem reconhecer e, no devido tempo, apoiar a manuteno


da identidade, cultura e os direitos dos povos indgenas, suas comunidades, assim como os
povos da floresta. Condies apropriadas devem ser promovidas para capacitar estes grupos
para que possam ter interesses econmicos no uso florestal, desempenhar as atividades

213
econmicas e perseguir e manter a suas identidades culturais e organizaes sociais, bem
como adequados nveis de vida e bem-estar por meio da posse da terra.

(a) DEVE SER ATIVAMENTE PROMOVIDO a participao total das mulheres em


todos os aspectos do manejo, conservao e desenvolvimento sustentvel das florestas.

6. Todos os tipos florestais desempenham papel importante no fornecimento de


energia por meio da proviso de recursos renovveis de bio-energia, particularmente nos
pases em desenvolvimento, e os suprimentos para lenha para uso domstico ou industrial
devem ser feitos via manejo florestal sustentvel e reflorestamento.

7. Devem ser feitos esforos para promover uma conduta internacional para o
desenvolvimento sustentvel e ambientalmente sadio das florestas em todos os pases,
incluindo, entre outras medidas, a promoo de padres de sustentabilidade de produo e
consumo, erradicao da pobreza e a promoo da segurana alimentar.

8. Devem ser feitos esforos para tornar o mundo mais verde. Todos os pases,
principalmente os desenvolvidos, devem tomar aes positivas e transparentes visando o
reflorestamento, conservao das florestas nativas e outras medidas.

9. Os esforos dos pases em desenvolvimento para fortalecer o manejo, a conservao


e o desenvolvimento sustentvel de seus recursos florestais devem ser apoiados pela
comunidade internacional, levando em considerao a importncia de suas dvidas externas,
particularmente quando agravado pela transferncia lquida de seus recursos aos pases
desenvolvidos.

10. Novos e adicionais recursos financeiros devem ser fornecidos aos pases em
desenvolvimento.

11. Para melhorar a capacidade local dos pases em desenvolvimento em manejar,


conservar e desenvolver o setor florestal, DEVEM SER PROMOVIDOS, FACILITADOS E
FINANCIADOS o acesso e a transferncia de tecnologias ambientalmente sadias e os
correspondentes know-how, em condies favorveis.

12. Pesquisa cientfica, inventrios florestais e levantamentos executados por


instituies nacionais que levam em considerao, quando relevantes, as variveis biolgicas,
fsicas, sociais e econmicas, assim como o desenvolvimento tecnolgico e sua aplicao no
campo de manejo florestal sustentvel, conservao e desenvolvimento DEVEM SER
FORTALECIDAS, incluindo cooperao internacional. Neste contexto, ateno deve ser
tambm dada pesquisa sobre produtos no-madeireiros.

214
13. O comrcio de produtos florestais deve ser baseado em regras no discriminatrias e procedimentos
consistentes com prticas e leis de comrcio internacional. Neste contexto, comrcio internacional aberto e livre
de produtos florestais deve ser facilitado.

14. Medidas unilaterais, incompatveis com as obrigaes internacionais ou acordos,


para restringir e/ou boicotar o comrcio internacional de madeira ou outros produtos florestais
DEVEM SER REMOVIDOS OU EVITADOS, para atingir o manejo florestal sustentvel ao
longo-prazo.

15. Poluentes, particularmente no ar, incluindo queles responsveis pela deposio


cida, que so ameaas sade do ecossistema florestal, em nveis local, nacional, regional e
global DEVEM SER CONTROLADOS.

215
7.5. ITTO-2000
ITTO (International Tropical Timber Organization) quer dizer Organizao Internacional das Madeiras
Tropicais e congrega produtores e consumidores de madeira dura tropical. Os pases que mais consomem e que
mais produzem madeira tropical so os que tm maior poder dentro da organizao. No incio dos anos 90,
representantes da ITTO e do comrcio de madeiras tropicais e as ONGs ambientalistas reuniram-se em Haia,
estabelecendo a meta da ITTO para o ano 2000. Ficou acordado que a ITTO somente comercializaria produtos
madeireiros oriundos de planos de manejo florestal sustentvel.

Os critrios para avaliar a sustentabilidade do manejo florestal so os seguintes:

(i) Sustentabilidade (Nvel Nacional);

Critrio 1: A base dos recursos florestais:

Exemplos de indicadores Possveis:

- Plano global de aproveitamento de terras e disposies para estabelecer o ZEE


(Zoneamento Econmico e Ecolgico).

- rea existente de ZEE com respeito s metas e objetivos nacionais.

- Metas para o estabelecimento de plantaes, distribuio vigente de classes de idade


e regimes anuais de plantao.

- reas de florestas de proteo e florestas de produo dentro do ZEE.

- Representatividade da rede de reas protegidas e o programa de reservas existente


dentro do planejado.

Critrio 2: A continuidade do fluxo de produtos florestais:

Exemplos de indicadores possveis:

- Estatsticas sobre a produo nacional com o passar do tempo.

- Documentao da explorao florestal (rea) com o passar do tempo.

- Ciclos de corte propostos para os principais tipos florestais e o perodo de concesso


padro.

- Regulamentao dos ndices iniciais de corte com respeito aos ciclos de corte
definidos e a rea (lquida) das florestas de produo.

- Regulamentao dos cortes subseqentes em relao aos ciclos de corte definidos,


dados sobre o incremento e a rea lquida de florestas de produo.

216
- Medidas tomadas para compatibilizar o primeiro ciclo de corte e os ciclos
subseqentes e controlar a transio do primeiro ao segundo ciclo de corte.

- Metas para a produo madeireira de diversas fontes com o passar do tempo.

- Disponibilidade de normas silviculturais para os principais tipos florestais.

Critrio 3: Nvel de controle ambiental:

Indicadores:

- Normas de manejo para outros componentes do ZEE no relacionados com a


produo.

- Disponibilidade de normas para obras de engenharia, proteo de bacias


hidrogrficas e outras regras de manejo ambiental para as florestas de produo.

- Disponibilidade de procedimentos para a avaliao do impacto ambiental.

Critrio 4: Efeitos Scio-econmicos:

Indicadores:

- Padres e tendncias de emprego

- Padres de gerao e distribuio de renda.

- Oramentos nacionais de gastos com o manejo florestal.

- Disponibilidade de procedimentos para avaliar o impacto ambiental.

Critrio 5: Estrutura Institucional:

Indicadores:

- Existncia de uma poltica florestal nacional.

- Compatibilidade da poltica nacional com as diretrizes da ITTO.

- Existncia de uma estrutura legislativa adequada para por em prtica as polticas


florestais nacionais e os planos de manejo florestal.

- Existncia de legislao adequada para regulamentar a explorao e administrar


documentos especficos (acordos de concesso florestal, por ex.).

- Disponibilidade de recursos humanos e financeiros adequados para satisfazer as


responsabilidades legislativas e administrativas em termos de manejo florestal sustentvel.

- Consultas comunidade

217
- Existncia de planos de manejo e disposies para sua execuo.

(ii) Sustentabilidade (Nvel de Unidade de Manejo Florestal):

Critrio 1: Segurana dos recursos:

Indicadores:

- Estabelecimento legal de zonas florestais ou unidades de manejo.

- Existncia de um plano de manejo.

- Demarcao clara dos limites no campo.

- Presena ou ausncia de explorao ilegal ou usurpao.

- Durao dos acordos de concesso.

Critrio 2: A continuidade da produo madeireira:

Indicadores:

- Presena de normas de extrao claras e oficiais.

- Produtividade do solo a longo prazo.

- Inventrio florestal anterior ao corte.

- Nmero de rvores e/ou volume de madeira a ser extrado por hectare.

- Dispositivos para controlar o povoamento residual em p depois da explorao.

- Registros de rendimento anual de produtos com o passar do tempo.

- rea produtiva lquida.

- Registros das reas de corte anuais com o passar do tempo.

Critrio 3: Conservao da Flora e Fauna:

Indicadores:

- Proteo de ecossistemas na concesso ou unidade de manejo.

- Grau de perturbao sobre a vegetao depois da explorao.

Critrio 4: Um nvel aceitvel de impacto ambiental:

Indicadores:

- Grau de perturbao no solo.

218
- rea e distribuio geogrfica das matas ciliares e outras reas de proteo de bacias
hidrogrficas.

- Grau e gravidade da eroso do solo.

- Dispositivos para a proteo de corpos dgua.

Critrio 5: Benefcios Scio-Econmicos:

Indicadores:

- Nmero de pessoas empregadas.

- Natureza e quantidade de benefcios derivados das atividades florestais.

Critrio 6: Planejamento e Adaptao Experincia:

Indicadores:

- Consultas comunidade

- Dispositivos para que o manejo florestal tenha em conta o aproveitamento tradicional


da floresta.

219
7.6. Acordo de TARAPOTO

Este Acordo foi tirado de uma reunio promovida pelo TCA (Tratado de Cooperao
Amaznica), em Tarapoto (Peru), 1995, com apoio da FAO, PNUD e CIDA (Canadian
International Development Agency).

A relao de critrios e indicadores de sustentabilidade da floresta amaznica


colocada da seguinte maneira:

I. NVEL NACIONAL

Critrio 1: Benefcios Scio-Econmicos:

- Indicadores de Ingresso, Produo e Consumo:

- Indicadores sobre Investimento e Crescimento Econmico no Setor Florestal

- Indicadores sobre Necessidades e Valores Culturais, Sociais e Espirituais.

Critrio 2: Polticas e Padres Jurdicos e Institucionais para o Desenvolvimento


Sustentvel das Florestas:

- Indicadores

Critrio 3: Produo Florestal Sustentvel:

- Indicadores

Critrio 4: Conservao da Cobertura Florestal e da Diversidade Biolgica

- Indicadores

Critrio 5: Conservao e Manejo Integral dos Recursos de gua e Solo

- Indicadores

Critrio 6: Cincia e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentvel das Florestas

- Indicadores

Critrio 7: Capacidade Institucional para Fomentar o Desenvolvimento Sustentvel da


Amaznia

- Indicadores

II. NVEL DE UNIDADE DE MANEJO:

Critrio 8: Padro Jurdico e Institucional

- Indicadores

220
Critrio 9: Produo Florestal Sustentada

- Indicadores

Critrio 10: Conservao dos Ecossistemas Florestais

- Indicadores

Critrio 11: Benefcios Scio-Econmicos

- Indicadores

III. SERVIOS (NVEL GLOBAL):

Critrio 12: Servios Econmicos, Sociais e Ambientais da Floresta Amaznica

- Indicadores

221
7.7. CERTIFICAO FLORESTAL:

A certificao florestal, que vem sendo coordenada pelo FSC18, surge como uma
conseqncia natural, tendo em vista a necessidade de cumprir todos os acordos
estabelecidos. A certificao um atestado de origem da matria-prima madeira, que inclui
dois componentes: certificao da sustentabilidade lato sensu do manejo florestal (sade da
floresta) e a certificao do produto (qualidade do produto comercializado). A FAO (Food
and Agriculture Organization) sugere que os critrios para certificao devam contemplar os
seguintes conceitos fundamentais: recursos florestais, funes da floresta, necessidades
sociais e de desenvolvimento e questes institucionais.

Segundo WWF19 (1996), a certificao no obrigatria, portanto, no substitui as


legislaes existentes em cada pas. Segundo ainda esta fonte, quatro organizaes no
governamentais j foram credenciadas pelo FSC: Forest Conservation Program of Scientific
Certification Systems (americana, com fins lucrativos), SGS Forestry Program (britnica, com
fins lucrativos), Smart Wood Certification Program of Rainforest Alliance (americana, sem
fins lucrativos) e Woodmark of the Soil Association (britnica, sem fins lucrativos). No
Brasil, desde 1992 o setor privado vem desenvolvendo, com o apoio de instituies de
pesquisa tecnolgica, a metodologia de um processo de certificao relacionado com a origem
da matria prima plantada. Este trabalho resultou no Conselho de Certificao Florestal -
CERFLOR, o qual seguir orientaes da Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT.
Existe ainda, o Grupo de Trabalho do WWF, que agrega as organizaes no governamentais
responsveis pela discusso da certificao seguindo os princpios da FSC.

18
FSC = The Forest Stewardship Council, Conselho do Guardio da Floresta, organizao no governamental
que tem o papel de credenciar empresas de certificao florestal.
19
WWW Guide to Forest Certification 96. 36p.

222
CAPTULO 21
LEGISLAES FLORESTAIS BRASILEIRAS

Resumo:
O Cdigo Florestal ainda est em vigor, apesar de inmeras alteraes. Hoje, para
submeter um projeto de manejo florestal sustentvel (PMFS), seja de baixa intensidade ou
pleno, o engenheiro florestal precisa estar atento s normas e orientaes contidas na Lei de
Gesto de Florestas Pblicas, Decreto de regulamentao desta Lei, o novo Decreto que
regulamenta o Art 15 do Cdigo Florestal e a Instruo Normativa n 5. Na parte central da
Amaznia, h rvores com at 1500 anos de idade. H uma enorme diferena entre o tempo
gasto para formar uma rvore para a indstria de serraria e a velocidade empregada nas
alteraes das normas de manejo florestal. Certamente, as alteraes no so realizadas com
base no conhecimento. Esta atualizao da legislao florestal de maio de 2007. Isto pode
ser considerado, em grande parte, desatualizado daqui um ano. O Art 15, por exemplo, que
regulamenta o manejo florestal na Amaznia, ficou adormecido durante 29 anos. Assim que
foi regulamentado, em 1994, este artigo j foi alterado 2 vezes. Instrues normativas,
portarias e outras resolues internas do Ibama, do MMA ou do rgo estadual de meio
ambiente so, igualmente, alteradas em alta velocidade. As legislaes estaduais precisam ser
consideradas porque estas leis podem ser mais restritivas do que as federais, mas, jamais, mais
permissivas. No Estado do Amazonas, por exemplo, o EIA/RIMA ainda exigido em planos
de manejo industrial. Portanto, o engenheiro florestal deve estar sempre atento s alteraes
consultando os sites do Ibama ou do rgo estadual de meio ambiente.

21.1. Introduo:
A lei que disciplina o setor florestal brasileiro a Lei 4.771 de 15 de setembro de
1965, que introduziu o Novo Cdigo Florestal. O Art 1 desta Lei diz o seguinte: As florestas
existentes no territrio nacional e as demais formas de vegetao, reconhecidas de utilidade s
terras que revestem, so bens de interesse comum a todos os habitantes do Pas, exercendo-
se os direitos de propriedade, com as limitaes que a legislao em geral e especialmente
esta Lei estabelecem. Isto quer dizer que, legalmente, a floresta no apenas madeira; so
todos os processos evolutivos resultantes que desempenham papis importantes no
funcionamento e manuteno dos ecossistemas e na proteo de outras formas de vida.

223
O texto do Art 1 amparado pela Constituio brasileira de 1988. O Art 225 do
Captulo de Meio Ambiente diz o seguinte: Todos tm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para
as presentes e futuras geraes. O MFS um poderoso instrumento para defender a floresta
em p, desde que a legislao seja cumprida. Neste caso, o engenheiro florestal tem papel
fundamental na implementao do MFS. O Ibama ou o rgo estadual de meio ambiente no
podem terceirizar este papel fundamental do Estado e devem monitorar o trabalho do
engenheiro florestal. Se estes atores falharem, h o Ministrio Pblico para cobrar o
cumprimento da Lei Florestal e, caso necessrio, aplicar a Lei de Crimes Ambientais.

No que diz respeito Amaznia, antes de tudo preciso ter em mente o 4 do Art
225 da Constituio, que declara a floresta amaznica, como patrimnio nacional e a sua
utilizao far-se- na forma da lei, dentro de condies que assegurem a preservao do meio
ambiente. A questo do manejo florestal na Amaznia foi tratada, principalmente, no Art 15
do Cdigo Florestal, que deveria ser regulamentado um ano aps a aprovao da Lei em 1965.
Esta regulamentao ficou adormecida durante 29 anos e somente, em 1994, o Art 15 foi
regulamentado.

Em 2006, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei de Gesto de Florestas


Pblicas. Apesar de ser federal, esta Lei foi inspirada nos problemas de usos do solo
amaznico. A principal novidade desta Lei a introduo do sistema de concesso florestal
para o manejo florestal sustentvel (MFS). Para adequar-se Lei de Gesto, o Decreto 2.788
(regulamentao do Art 15 do Cdigo Florestal) foi substitudo pelo Decreto n 5.975 de 30
de novembro de 2006.

Neste captulo sero apresentadas todas as normas inerentes ao MFS na Amaznia.


So tambm apresentados os decretos j revogados para que se possa entender melhor a
dinmica da legislao florestal na Amaznia. Os textos completos de cada documento
obrigatrio podem ser obtidos clicando nos sites indicados. Hoje, para submeter um plano de
MFS, o florestal tem que ter em mente os seguintes documentos obrigatrios: Cdigo
Florestal, Lei de Gesto de Florestas Pblicas, Decreto n 5.975 e Instruo Normativa n 5 do
Ministrio do Meio Ambiente (MMA). A IN cobre vrios pontos do Cdigo Florestal, da Lei
de Gesto e da Lei de Crimes Ambientais e apresenta o roteiro para a elaborao do plano de
manejo florestal sustentvel (PMFS). Por estas razes, a IN apresentada, na ntegra, no
Anexo 21.1.

224
Sero destacados e discutidos alguns pontos da legislao florestal. Todo o vis da
discusso para a regio amaznica. A Lei de Gesto de Florestas Pblicas ganhar mais
destaques porque a mais recente e que gerou muito polmica.

21.2. Cdigo Florestal: Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965.


No endereo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm apresentado o
texto original da Lei. O bom de ler o texto original neste site o fato que todas as alteraes
da Lei so destacadas (riscadas) ou remetidas para outros sites (no caso de revogao). Os
destaques aqui so os Artigos 15 e 44, alm do Art 1 que foi comentado na Introduo.

Art. 15 Fica proibida a explorao sob forma emprica das florestas primitivas da
bacia amaznica que s podero ser utilizadas em observncia a planos tcnicos de conduo
e manejo a serem estabelecidos por ato do Poder Pblico, a ser baixado dentro do prazo de
um ano.

Este artigo deveria ser regulamentado em 1966, mas acabou ocorrendo apenas em
1994, ou seja, 28 anos alm do prazo. Esta regulamentao foi realizada pelo Decreto n 1.282
(1994), alterado e substitudo pelo Decreto n 2.788 (1998) que, por sua vez, deu lugar ao
Decreto n 5.975 (2006), que o que est em vigor em 2007. Os pontos relevantes destes
decretos sero discutidos nos itens posteriores.

Art. 44 Na Regio Norte e na Parte Norte da regio Centro-Oeste, enquanto no for


estabelecido o decreto de que trata o Art. 15, a explorao a corte raso s permissvel desde
que permanea com cobertura arbrea, pelo menos 50% da rea de cada propriedade.

Esta razo foi alterada para 20% (corte raso) e 80% (reserva legal), em 1996, por meio
da MP n 2.166. A motivao foi o pico de desmatamento que ocorreu durante a safra de
1995-1996, na Amaznia. Nos primeiros dois anos, a medida governamental obteve o sucesso
esperado. Com o passar do tempo, o desmatamento voltou a ficar fora de controle. A ltima
republicao desta MP, a 67, ocorreu em 24/08/01, MP n 2166-67.

21.3. Decretos e instrues revogados:


(i) Decreto n 1.282 de 19/10/94

Em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D1282.htm h o texto
completo deste documento. Este Decreto regulamenta os artigos 15, 19, 20 e 21, da Lei n
4.771, de 15/09/1965 e d outras providncias.

225
O Capitulo I trata da a explorao das Florestas Primitivas e Demais Formas de
Vegetao Arbrea na Amaznia.

Art. 1. A explorao das florestas primitivas da bacia amaznica de que trata o artigo
15 da Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965 (Cdigo Florestal), e demais formas de
vegetao arbrea natural, somente ser permitida sob a forma de manejo florestal sustentvel
(MFS), segundo os princpios gerais e fundamentos tcnicos estabelecidos neste Decreto.

1. Para efeito deste Decreto, considera-se bacia amaznica a rea abrangida pelos
Estados do Acre, Amap, Amazonas, Mato Grosso, Par, Rondnia e Roraima, alm das
regies situadas ao Norte do paralelo de 13S, nos Estados de Tocantins e Gois, e a Oeste do
meridiano de 44W, no Estado do Maranho.

2. Entende-se por MFS a administrao da floresta para a obteno de benefcios


econmicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentao do ecossistema objeto do
manejo.

Art. 2. O plano de MFS a que se refere o artigo 1 deste Decreto, atender aos
seguintes princpios gerais e fundamentos tcnicos:

I princpios gerais:

a) conservao dos recursos naturais;

b) conservao da estrutura da floresta e de suas funes;

c) manuteno da diversidade biolgica;

d) desenvolvimento scio-econmico da regio.

Pargrafo nico. A aprovao pelo Ibama, do plano de manejo de que trata o caput
deste artigo dispensa a apresentao do Estudo de Impacto Ambiental EIA e Relatrio de
Impacto Ambiental RIMA, para projetos com rea inferior a 2.000 ha.

O Ibama regulamentou este Decreto por meio de uma portaria (Portaria n 48)
introduzindo, ao mesmo tempo, o roteiro bsico para apresentao do plano de manejo
florestal sustentvel (PMFS). Este Decreto ficou adormecido durante 29 anos e teve vida
curta, de pouco mais de 4 anos. A exigncia contida no pargrafo nico do Art. 2 (dispensa
de EIA/RIMA para projetos com rea inferior a 2.000 ha) era burlada com projetos em reas
de 1.999 ha.

(ii) Portaria n 48 de 10/08/95

226
O Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Ibama, no
uso de suas atribuies previstas no artigo 24, incisos I e III da Estrutura Regimental anexa ao Decreto n 78, de
5 de abril de 1991, e no art. 83, inciso XIV, do Regimento Interno aprovado pela Portaria Ministerial GM/Minter
n 445, de 16 de agosto de 1989, tendo em vista o disposto no Decreto n 1.282, de 19 de outubro de 1994, que
regulamenta os artigos 15, 19, 20 e 21 da Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965 e considerando a necessidade
de disciplinar a explorao florestal na Bacia Amaznica, resolve:

Art. 3 - Para o cumprimento do disposto no artigo 2, o PMFS deve conter o


estabelecido no Roteiro Bsico para Elaborao de PMFS (Anexo I) e as exigncias
constantes do Quadro de Documentos (Anexo II).

1 - O PMFS deve ser protocolado em 2 (duas) vias na Superintendncia Estadual do


IBAMA - SUPES ou em sua Unidade Descentralizada.

2 - Por ocasio da apresentao do PMFS, deve ser includo o Termo de


Responsabilidade de Manuteno de Floresta Manejada (Anexo III), quando se tratar de
rea titulada, e o Termo de Compromisso para averbao do PMFS (Anexo IV) quando se
tratar de rea de justa posse.

5 - Oficializado da aprovao do PMFS, o interessado deve apresentar na SUPES o


Termo de Responsabilidade de Manuteno de Floresta Manejada (Anexo III),
devidamente averbado margem da matrcula do imvel competente, no prazo mximo de
45 (quarenta e cinco) dias, contados da data do recebimento da comunicao, ocasio em que
ser expedida a Autorizao para Explorao do PMFS.

Art. 3. Para o cumprimento do disposto no artigo 2, o PMFS deve conter o


estabelecido no Roteiro Bsico para elaborao de PMFS (Anexo I) e as exigncias constantes
no Quadro de Documentos (anexo II).

Alm do roteiro bsico, esta Portaria deixava claro que o PMFS somente poderia ser
implementado em terras de domnio privado. No fundo, este pargrafo era o instrumento de
medida para impedir a grilagem de terras pblicas. Talvez, a capacidade institucional no
fosse suficiente para o devido cumprimento deste pargrafo, mas o instrumento de medida
persistia. Por exemplo, o gerente do Ibama, que autorizar a implementao de PMFS em reas
griladas, pode ser punido de acordo com o Art. 67 e Art. 68 da Lei n 9.605 de 12/02/98 (Lei
de Crimes Ambientais), que trata da autorizao em desacordo com as normas e omisso
sobre a violao consumada.

(iii) Decreto n 2.788 de 28/09/98

227
Neste endereo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2788.htm, o texto completo original
apresentado. Este decreto altera dispositivos do Decreto n 1.282, de 19 de outubro de 1994 e d outras
providncias.

A principal alterao feita no pargrafo nico do Art. 2, retirando a necessidade de apresentao de


EIA/RIMA para qualquer projeto de manejo. Este Decreto explicita melhor os planos de manejo para pequenos
produtores e comunidades de pequenos produtores. No mais, todos os princpios gerais e tcnicos so mantidos e
no revoga a Portaria n 48.

21.4. Lei de Gesto de Florestas Pblicas: Lei n 11.284, de 2 de


maro de 2006
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11284.htm o
endereo eletrnico que disponibiliza o texto original desta Lei. Esta Lei dispe sobre a gesto
de florestas pblicas para a produo sustentvel; institui, na estrutura do Ministrio do Meio
Ambiente, o Servio Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Florestal - FNDF; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, 5.868, de 12 de dezembro
de 1972, 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, 4.771, de 15 de setembro de 1965, 6.938, de 31 de
agosto de 1981, e 6.015, de 31 de dezembro de 1973; e d outras providncias.

O Art. 3o apresenta, entre outras, as seguintes definies:

Florestas pblicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas


brasileiros, em bens sob o domnio da Unio, dos Estados, dos Municpios, do Distrito
Federal ou das entidades da administrao indireta;

Concesso florestal: delegao onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de


praticar MFS para explorao de produtos e servios numa unidade de manejo, mediante
licitao, pessoa jurdica, em consrcio ou no, que atenda s exigncias do respectivo edital
de licitao e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo
determinado;

A Seo XI trata do Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF), que de


natureza contbil, gerido pelo rgo gestor federal, destinado a fomentar o desenvolvimento
de atividades sustentveis de base florestal no Brasil e a promover a inovao tecnolgica do
setor. Os recursos do FNDF sero aplicados prioritariamente em projetos nas seguintes reas:
(i) pesquisa e desenvolvimento tecnolgico em manejo florestal; (ii) assistncia tcnica e
extenso florestal; (iii) recuperao de reas degradadas com espcies nativas; (iv)
aproveitamento econmico racional e sustentvel dos recursos florestais; (v) controle e
monitoramento das atividades florestais e desmatamentos; (vi) capacitao em manejo

228
florestal e formao de agentes multiplicadores em atividades florestais; (vii) educao
ambiental; (viii) proteo ao meio ambiente e conservao dos recursos naturais.

O Captulo I do Ttulo IV da Lei trata da criao do Servio Florestal Brasileiro (SFB),


na estrutura bsica do MMA. O SFB atua exclusivamente na gesto das florestas pblicas e
tem por competncia: (i) exercer a funo de rgo gestor das florestas pblicas, bem como
de rgo gestor do FNDF; (ii) apoiar a criao e gesto de programas de treinamento,
capacitao, pesquisa e assistncia tcnica para a implementao de atividades florestais,
incluindo manejo florestal, processamento de produtos florestais e explorao de servios
florestais; (iii) estimular e fomentar a prtica de atividades florestais sustentveis madeireira,
no madeireira e de servios; (iv) promover estudos de mercado para produtos e servios
gerados pelas florestas; (v) propor planos de produo florestal sustentvel de forma
compatvel com as demandas da sociedade; (vi) criar e manter o Sistema Nacional de
Informaes Florestais integrado ao Sistema Nacional de Informaes sobre o Meio
Ambiente; (vii) gerenciar o Cadastro Nacional de Florestas Pblicas; (viii) apoiar e atuar em
parceria com os seus congneres estaduais e municipais

21.5. Concesses florestais


Convm no perder de vista que os pases tropicais que priorizaram a exportao de
madeira continuam pobres e sem as suas florestas. E aqueles que adotaram o sistema de
concesses florestais, como os pases do oeste africano (Camares, Nigria, Gabo, Gana,
Costa do Marfim, Libria, Repblica Centro-africana e Repblica Democrtica do Congo), da
regio sia/Pacfico (Malsia, Indonsia, Filipinas, Camboja, Tailndia, Fiji e Papua Nova
Guin) e da Amrica tropical (Nicargua, Guiana, Suriname, Bolvia, Venezuela e Honduras)
esto igualmente pobres. Destes pases, a Malsia se encontra em melhor posio; o 55 no
ranking do IDH de 176 pases. De acordo com o Greenpeace, na maior parte desses pases, a
explorao florestal esteve sempre ligada corrupo, conflitos sociais e destruio
ambiental.

Os idealizadores do PL argumentam que h pases onde as concesses deram certo e,


invariavelmente, citam a Nova Zelndia e Canad. Manejar as florestas destes dois pases
completamente diferente de manejar as da Amaznia; no servem de comparaes. Dos pases
tropicais que adotaram os sistemas de concesses, no h contestao sobre os fracassos
resultantes; h apenas o ltimo argumento que no Brasil ser adotado a Lei 8.666 de 21/06/93
(licitaes e contratos da Administrao Pblica) na outorga das concesses. Infelizmente, os

229
mensales, sanguessugas e outras mazelas da poltica brasileira aconteceram sob as normas
vigentes nesta Lei de Licitaes.

Do ponto de vista legal, a introduo da concesso florestal em florestas pblicas gera


controvrsias. Fernando Borges da Silva, analista processual da Procuradoria Geral da
Repblica (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8013), analisando o projeto de lei (PL)
comea citando o disposto no Art 1 do Cdigo Florestal para afirmar que as florestas
pblicas so bens de interesse comum a todos os habitantes. Sendo bens de interesse comum,
as florestas so plenamente afetadas ao interesse pblico e, por conseqncia, inalienveis. A
floresta no pode ser vista apenas como produtos e servios ou como m3 de madeira, mas sim,
como uma pea importante na conservao e funcionamento dos ecossistemas. Este analista
conclui assim o PL, nas suas linhas atuais, visa maquiar a incapacidade gerencial de se
enfrentar com eficcia a devastao da floresta brasileira, notadamente da floresta amaznica.
Se aprovado, ser um retrocesso na Poltica Nacional do Meio Ambiente. Melhor seria manter
a poltica atual, a institucionalizar a devastao.

Tecnicamente falando, estes bens de interesse comum levaram, pelo menos, 1500
anos para se estabelecerem (Revista Nature de 1998), sendo produto da interao entre solo,
clima e outros seres vivos, que ainda no foi explicada pela cincia. De outro lado, a pesquisa
sobre MFS mais antiga na Amaznia tem 29 anos; tempo insuficiente para prescrever medidas
que garantam a sustentabilidade lato sensu do manejo florestal. Mesmo assim, a meta do
Governo colocar 13 milhes de hectares em 10 anos, sob concesso florestal, para o MFS.

Na Amaznia, 25% das terras so privadas e 75% so pblicas. O desmatamento j


atingiu 13% da regio, que, obviamente, deveria ocorrer em terras privadas. Considerando as
reas sob planos de MFS, mais as reservas legais (50% at 1996 e 80% a partir desta) e as
reas de preservao permanente, muita terra pblica j foi envolvida tambm. Resumindo, as
terras privadas esto se acabado. Sem escrituras, no h plano de MFS porque a sua
aprovao depende da apresentao do Termo de Responsabilidade de Manuteno da
Floresta, devidamente averbado margem da matrcula do imvel competente. Sem plano,
no h certificao florestal. Sem certificao, vai faltar madeira tropical no mercado
internacional. Ser que foi este o combustvel que empurrou a mquina que atropelou o Art.
1 do Cdigo Florestal e aprovou to rapidamente o PL?

21.6. Regulamentao da Lei 11.284: Decreto n 6063 de 20/03/07


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6063.htm contm o
texto original deste Decreto. Este decreto regulamenta a Lei 11.284 (Lei de Gesto de

230
Florestas Pblicas). O decreto trata do Cadastro Nacional de Florestas Pblicas, considerando
apenas as reas cobertas por florestas at o dia 02/03/06 (aprovao da Lei). Este cadastro
constar de 3 estgios: identificao, delimitao e demarcao. Importante lembrar que o
Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF) somente considerar florestas pblicas inscritas no
Cadastro Nacional.

O decreto regulamenta tambm, em mbito federal, a destinao de florestas pblicas


s comunidades locais. O Art. 14. diz que: antes da realizao das licitaes para concesso
florestal, as florestas pblicas, em que sero alocadas as unidades de manejo, quando
ocupadas ou utilizadas por comunidades locais, sero identificadas para destinao a essas
comunidades. O planejamento das dimenses das florestas pblicas a serem destinadas
comunidade local, individual ou coletivamente, deve considerar o uso sustentvel dos recursos
florestais, bem como o beneficiamento dos produtos extrados, como a principal fonte de
sustentabilidade dos beneficirios.

21.7. Adequao Lei de Gesto: Decreto n 5.975 de 30/11/2006


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5975.htm contm o
texto original deste Decreto. Este decreto alterou o Decreto 2.788 para ajust-lo a Lei de
Gesto de Florestas Pblicas. A principal novidade a retirada dos princpios do texto do
Decreto.

A Instruo Normativa IN 05 de 11/12/2006, do Ministrio do Meio Ambiente,


disciplina o Decreto. Esta IN introduz a Autorizao Prvia Anlise Tcnica de Plano de
Manejo Florestal Sustentvel Autorizao Prvia Anlise Tcnica de Plano de Manejo
Florestal Sustentvel APAT. introduzida tambm a Autorizao para Explorao
AUTEX, documento expedido pelo rgo competente que autoriza o incio da explorao da
UPA e especifica o volume mximo por espcie permitido para explorao, com a validade de
12 meses. O Documento de Origem Florestal-DOF ser requerido em relao ao volume
efetivamente explorado, observados os limites definidos na AUTEX. Este documento
substitui, em parte, a extinta ATPF (Autorizao de Transporte de Produtos Florestais). Este
documento apresentado, na ntegra, no Anexo 8.1.

21.8. Lei de Crimes Ambientais Lei n 9.605 de 12/02/98


Neste endereo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm h o texto
original desta Lei. Esta Lei dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e d outras providncias.

231
Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto 3.179 de 21/09/99. O endereo eletrnico
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm contm o texto original deste
Decreto.

CAPTULO - DAS DISPOSIES PRELIMINARES DECRETO 3.179

Art. 2o As infraes administrativas so punidas com as seguintes sanes:

11. Nos casos de desmatamento ilegal de vegetao natural, o agente autuante,


verificando a necessidade, embargar a prtica de atividades econmicas na rea ilegalmente
desmatada simultaneamente lavratura do auto de infrao.

12. O embargo do Plano de Manejo Florestal Sustentvel - PMFS no exonera seu


detentor da execuo de atividades de manuteno ou recuperao da floresta, permanecendo
o Termo de Responsabilidade de Manuteno da Floresta vlido at o prazo final da vigncia
estabelecida no PMFS.

Art. 4o A multa ter por base a unidade, o hectare, o metro cbico, o quilograma ou
outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurdico lesado.

Art. 5o O valor da multa de que trata este Decreto ser corrigido, periodicamente,
com base nos ndices estabelecidos na legislao pertinente, sendo o mnimo de R$ 50,00
(cinqenta reais), e o mximo de R$ 50.000.000,00 (cinqenta milhes de reais).

CAPTULO II - DAS SANES APLICVEIS S INFRAES COMETIDAS


CONTRA O MEIO AMBIENTE

Seo II - Das Sanes Aplicveis s Infraes Contra a Flora

Art. 25. Destruir ou danificar floresta considerada de preservao permanente,


mesmo que em formao, ou utiliz-la com infringncia das normas de proteo:

Multa de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) a R$ 50.000,00 (cinqenta mil reais),


por hectare ou frao.

Art. 26. Cortar rvores em floresta considerada de preservao permanente, sem


permisso da autoridade competente:

Multa de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por
hectare ou frao, ou R$ 500,00 (quinhentos reais), por metro cbico.

Art. 31. Cortar ou transformar em carvo madeira de lei, assim classificada em ato do
Poder Pblico, para fins industriais, energticos ou para qualquer outra explorao,
econmica ou no, em desacordo com as determinaes legais:

232
Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), por metro cbico.

Art. 32. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha,
carvo e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibio de licena do vendedor,
outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que dever acompanhar o
produto at final beneficiamento:

Multa simples de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais), por unidade,
estreo, quilo, mdc ou metro cbico.

Pargrafo nico. Incorre nas mesmas multas, quem vende, expe venda, tem em
depsito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvo e outros produtos de origem vegetal,
sem licena vlida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela
autoridade competente.

Art. 35. Comercializar motosserra ou utiliz-la em floresta ou demais formas de


vegetao, sem licena ou registro da autoridade ambiental competente:

Multa simples de R$ 500,00 (quinhentos reais), por unidade comercializada.

Art. 38. Explorar vegetao arbrea de origem nativa, localizada em rea de reserva
legal ou fora dela, de domnio pblico ou privado, sem aprovao prvia do rgo ambiental
competente ou em desacordo com a aprovao concedida.

Multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 300,00 (trezentos reais), por hectare ou frao,
ou por unidade, estreo, quilo, mdc ou metro cbico.

Art. 39. Desmatar, a corte raso, rea de reserva legal:

Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por hectare ou frao.

Pargrafo nico. Incorre na mesma multa quem desmatar vegetao nativa em


percentual superior ao permitido pela Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, ainda que no
tenha sido realizada a averbao da rea de reserva legal obrigatria exigida na citada Lei.

21.9. Siglas mais comuns:


PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente
ZEE Zoneamento Ecolgico-Econmico
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza
MMA Ministrio de Meio Ambiente
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

233
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
SFB Servio Florestal Brasileiro
PAOF Plano Anual de Outorga Florestal
FNDF Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal
EIA Estudo Prvio de Impacto Ambiental
RIMA Relatrio de Impacto Ambiental
MFS Manejo Florestal Sustentvel
PMFS Plano de Manejo Florestal Sustentvel
DMC Dimetro Mnimo de Corte
APAT Autorizao Prvia Anlise Tcnica de PMFS
POA Plano Operacional Anual
UPA Unidade de Produo Anual
AMF rea de Manejo Florestal
UMF Unidade de Manejo Florestal
UT Unidade de Trabalho
AUTEX Autorizao para Explorao
DOF Documento de Origem Florestal (substituiu ATPF)
ATPF Autorizao para Transporte de Produtos Florestais

234
Anexo 21.1
INSTRUO NORMATIVA N 5, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2006
[ DIRIO OFICIAL DA UNIO Seo 1 n 228 de 13/12/06 (pp. 154-159) ]
Dispe sobre procedimentos tcnicos para elaborao, apresentao,
execuo e avaliao tcnica de Planos de Manejo Florestal Sustentvel-
PMFSs nas florestas primitivas e suas formas de sucesso na Amaznia
Legal, e d outras providncias.
A MINISTRA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE, no uso das atribuies que lhe confere o art. 87, pargrafo
nico, inciso II, da Constituio, e tendo em vista o disposto nos arts. 15 e 19 da Lei n 4.771, de 15 de setembro
de 1965, no Decreto n 5.975, de 30 de novembro de 2006, no art. 70 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, e no art. 38 do Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, resolve:
CAPTULO I
DISPOSIES PRELIMINARES
Art. 1 Os procedimentos tcnicos para elaborao, apresentao, execuo e avaliao tcnica de Planos de
Manejo Florestal Sustentvel-PMFSs nas florestas primitivas e suas formas de sucesso na Amaznia Legal
observaro o disposto nesta Instruo Normativa.
Pargrafo nico. A avaliao tcnica do PMFS em florestas privadas somente ser iniciada aps a emisso da
Autorizao Prvia Anlise Tcnica de Plano de Manejo Florestal Sustentvel-APAT.
Art. 2 Para os fins desta Instruo Normativa, consideram-se:
I - Proponente: pessoa fsica ou jurdica que solicita ao rgo ambiental competente a anlise e aprovao do
PMFS e que aps a aprovao tornar-se- detentora do PMFS;
II - Detentor: pessoa fsica ou jurdica, ou seus sucessores no caso de transferncia, em nome da qual aprovado
o PMFS e que se responsabiliza por sua execuo;
III - Ciclo de corte: perodo de tempo, em anos, entre sucessivas colheitas de produtos florestais madeireiros ou
no-madeireiros numa mesma rea;
IV - Intensidade de corte: volume comercial das rvores derrubadas para aproveitamento, estimado por meio de
equaes volumtricas previstas no PMFS e com base nos dados do inventrio florestal a 100%, expresso em
metros cbicos por unidade de rea (m3/ha) de efetiva explorao florestal, calculada para cada unidade de
trabalho (UT);
V - rea de Manejo Florestal-AMF: conjunto de Unidades de Manejo Florestal que compe o PMFS, contguas
ou no, localizadas em um nico Estado;
VI - Unidade de Manejo Florestal-UMF: rea do imvel rural a ser utilizada no manejo florestal;
VII - Unidade de Produo Anual-UPA: subdiviso da rea de Manejo Florestal, destinada a ser explorada em
um ano;
VIII - Unidade de Trabalho-UT: subdiviso operacional da Unidade de Produo Anual;
IX - rea de efetiva explorao florestal: a rea efetivamente explorada na UPA, considerando a excluso das
reas de preservao permanente, inacessveis, de infra-estrutura e outras eventualmente protegidas;
X - Plano Operacional Anual-POA: documento a ser apresentado ao rgo ambiental competente, contendo as
informaes definidas em suas diretrizes tcnicas, com a especificao das atividades a serem realizadas no
perodo de 12 meses;
XI - Autorizao para Explorao-AUTEX: documento expedido pelo rgo competente que autoriza o incio da
explorao da UPA e especifica o volume mximo por espcie permitido para explorao, com a validade de 12
meses;
XII - Relatrio de Atividades: documento encaminhado ao rgo ambiental competente, conforme especificado
em suas diretrizes tcnicas, com a descrio das atividades realizadas em toda a AMF, o volume explorado na
UPA anterior e informaes sobre cada uma das Uts;
XIII - Vistoria Tcnica: a avaliao de campo para subsidiar a anlise, acompanhar e controlar rotineiramente
as operaes e atividades envolvidas na AMF, realizada pelo rgo ambiental competente;
XIV - Resduos da explorao florestal: galhos, sapopemas e restos de troncos e rvores cadas, provenientes da
explorao florestal, que podem ser utilizados como produtos secundrios do manejo florestal para a produo
de madeira e energia.
XV - Regulao da produo florestal: procedimento que permite estabelecer um equilbrio entre a intensidade
de corte e o tempo necessrio para o restabelecimento do volume extrado da floresta, de modo a garantir a
produo florestal contnua.

235
Art. 3 Os PMFSs e os respectivos POAs, em florestas de domnio pblico ou privado, dependero de prvia
aprovao pelo rgo estadual competente integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA, nos
termos do art. 19 da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965.
1 Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA a
aprovao de que trata o caput deste artigo:
I - nas florestas pblicas de domnio da Unio;
II - nas unidades de conservao criadas pela Unio;
III - nos empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional, definidos em
resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.
2 O PMFS e os POAs, cuja atribuio couber ao IBAMA nos termos do 1o deste artigo, sero submetidos s
unidade do IBAMA, na jurisdio do imvel.
3 Excepcionalmente, quando as UMFs se localizarem em mais de uma jurisdio, o PMFS e os POAs,
especificados no 2 deste artigo, sero submetidos unidade do IBAMA mais acessvel.
4 Compete ao rgo ambiental municipal a aprovao de que trata o caput deste artigo:
I - nas florestas pblicas de domnio do Municpio;
II - nas unidades de conservao criadas pelo Municpio;
III - nos casos que lhe forem delegados por convnio ou outro instrumento admissvel, ouvidos, quando couber,
os rgos competentes da Unio, dos Estados e do Distrito Federal.
CAPTULO II
DO PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTVEL
Seo I - Das categorias de Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS
Art. 4 Para fins desta Instruo Normativa, das diretrizes tcnicas dela decorrentes e para fins de cadastramento,
os PMFSs se classificam nas seguintes categorias:
I - quanto dominialidade da floresta:
a) PMFS em floresta pblica;
b) PMFS em floresta privada.
II - quanto ao detentor:
a) PMFS individual, nos termos do art. 4, inciso I, alnea a, da Instruo Normativa que trata da APAT;
b) PMFS empresarial, nos termos do art. 4, inciso I, alnea b, da Instruo Normativa que trata da APAT;
c) PMFS comunitrio, nos termos do art. 4, inciso I, alnea c, da Instruo Normativa que trata da APAT;
d) PMFS em floresta pblica, executado pelo concessionrio em contratos de concesso florestal, nos termos do
Captulo IV da Lei no 11.284, de 2 de maro de 2006;
e) PMFS em Floresta Nacional, Estadual ou Municipal, executado pelo rgo ambiental competente, nos termos
do Captulo III da Lei no 11.284, de 2006.
III - quanto aos produtos decorrentes do manejo:
a) PMFS para a produo madeireira;
b) PMFS para a produo de produtos florestais no-madeireiro (PFNM);
c) PMFS para mltiplos produtos.
IV - quanto intensidade da explorao no manejo florestal para a produo de madeira:
a) PMFS de baixa intensidade;
b) PMFS Pleno.
V - quanto ao ambiente predominante:
a) PMFS em floresta de terra-firme;
b) PMFS em floresta de vrzea.
VI - quanto ao estado natural da floresta manejada:
a) PMFS de floresta primria;
b) PMFS de floresta secundria.
1 As categorias em que se adequa sero indicadas no PMFS, que ser elaborado e avaliado em observao s
normas correspondentes, previstas nesta Instruo Normativa e nas diretrizes tcnicas dela decorrentes.
2 Enquadra-se na categoria de PMFS de Baixa Intensidade, para a produo de madeira, aquele que no utiliza
mquinas para o arraste de toras e observar requisitos tcnicos previstos nesta Instruo Normativa, em
especial, no Anexo I desta Instruo Normativa e nas diretrizes tcnicas dela decorrentes.

236
3 Enquadra-se na categoria de PMFS Pleno, para a produo de madeira, aquele que prev a utilizao de
mquinas para o arraste de toras e observar requisitos tcnicos previstos nesta Instruo Normativa, em
especial, no Anexo II desta Instruo Normativa e nas diretrizes tcnicas dela decorrentes.

CAPTULO III
DO PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTVEL PARA A PRODUO DE MADEIRA
Seo I - Dos parmetros de limitao e controle da produo para a promoo da sustentabilidade
Art. 5 A intensidade de corte proposta no PMFS ser definida de forma a propiciar a regulao da produo
florestal, visando garantir a sua sustentabilidade, e levar em considerao os seguintes aspectos:
I - estimativa da produtividade anual da floresta manejada (m3/ha/ano), para o grupo de espcies comerciais, com
base em estudos disponveis na regio;
II - ciclo de corte inicial de no mnimo 25 anos e de no mximo 35 anos para o PMFS Pleno e de, no mnimo,
10 anos para o PMFS de Baixa Intensidade;
III - estimativa da capacidade produtiva da floresta, definida pelo estoque comercial disponvel (m3/ha), com a
considerao do seguinte:
a) os resultados do inventrio florestal da UMF;
b) os critrios de seleo de rvores para o corte, previstos no PMFS; e
c) os parmetros que determinam a manuteno de rvores por espcie, estabelecidos nos arts. 6 e 7 desta
Instruo Normativa.
1 Ficam estabelecidas as seguintes intensidades mximas de corte a serem autorizadas pelo rgo ambiental
competente:
I - 30 m3/ha para o PMFS Pleno com ciclo de corte inicial de 35 anos;
II - 10 m3/ha para o PMFS de Baixa Intensidade com ciclo de corte inicial de 10 anos;
2 Alm dos critrios estabelecidos neste artigo, o rgo ambiental competente analisar a intensidade de corte
proposta no PMFS Pleno, considerando os meios e a capacidade tcnica de execuo demonstradas no PMFS,
necessrios para a reduo dos impactos ambientais, conforme as diretrizes tcnicas.
3 Para os efeitos do disposto no 2 deste artigo, entende-se por:
I - capacidade tcnica de execuo: disponibilidade do detentor em manter equipe tcnica prpria ou de terceiros,
treinada e em nmero adequado para a execuo de todas as atividades anuais previstas no PMFS e nos Planos
Operacionais Anuais-POAs, conforme diretrizes tcnicas;
II - meios de execuo: a capacidade comprovada, no PMFS e nos POAs, do detentor em utilizar tipos e
quantidade de mquinas adequadas intensidade e rea anual de explorao especificadas no PMFS e no POA.
Art. 6 Para os PMFSs de Baixa Iintensidade em reas de vrzea, o rgo ambiental competente, com base em
estudos sobre o volume mdio por rvore, poder autorizar a intensidade de corte acima de 10 m3/ha, limitada a
trs rvores por hectare.
Art. 7 O Dimetro Mnimo de Corte (DMC) ser estabelecido por espcie comercial manejada, mediante
estudos, que observem as diretrizes tcnicas disponveis, considerando conjuntamente os seguintes aspectos:
I - distribuio diamtrica do nmero de rvores por unidade de rea (n/ha), a partir de 10 cm de Dimetro
Altura do Peito (DAP), resultado do inventrio florestal da UMF;
II - outras caractersticas ecolgicas que sejam relevantes para a sua regenerao natural;
III - o uso a que se destinam.
1 O rgo ambiental competente poder adotar DMC por espcies quando dispor de estudos tcnicos
realizados na regio do PMFS, por meio de notas tcnicas.
2 Fica estabelecido o DMC de 50 cm para todas as espcies, para as quais ainda no se estabeleceu o DMC
especfico, observado o disposto nos incisos I e II deste artigo.
Art. 8 Quando do planejamento da explorao de cada UPA, a intensidade de corte de que trata o art. 5 desta
Instruo Normativa ser estipulada observando tambm os seguintes critrios por espcie:
I - manuteno de pelo menos 10% do nmero de rvores por espcie, na rea de efetiva explorao da UPA,
que atendam aos critrios de seleo para corte indicados no PMFS, respeitado o limite mnimo de manuteno
de 3 rvores por espcie por 100 ha;
II - manuteno de todas as rvores das espcies cuja abundncia de indivduos com DAP superior ao DMC seja
igual ou inferior a 3 rvores por 100 hectares de rea de efetiva explorao da UPA.

237
Pargrafo nico. O rgo ambiental competente poder acatar a definio de percentuais de manuteno por
espcie que sejam inferiores aos 10% previstos no inciso I do caput deste artigo, bem como determinar
percentuais superiores a 10%, desde que observado o disposto nos incisos I e II do art. 7o desta Instruo
Normativa.
Art. 9 Podero ser apresentados estudos tcnicos para a alterao dos parmetros definidos nos arts. 5 a 8 no
PMFS ou de forma avulsa, mediante justificativas elaboradas por seu responsvel tcnico, que comprovem a
observncia do disposto no art. 3 do Decreto no 5.975, de 30 de novembro de 2006.
1 Os estudos tcnicos mencionados no caput devero considerar as especificidades locais e apresentar o
fundamento tcnico-cientfico utilizado em sua elaborao.
2 O rgo ambiental competente analisar as propostas de alteraes dos parmetros previstos nos arts. 5 a 8
desta Instruo Normativa, com amparo em suas diretrizes tcnicas.
3 Somente poder ser requerida a reduo do ciclo de corte, especificado no art. 5 desta Instruo Normativa,
quando comprovada a recuperao da floresta.
4 As Cmaras Tcnicas de Floresta subsidiaro os rgos ambientais competentes na anlise da alterao dos
parmetros definidos nos arts. 5 a 8 desta Instruo Normativa.
Art. 10. obrigatria a adoo de procedimentos que possibilitem o controle da origem da produo por meio do
rastreamento da madeira das rvores exploradas, desde a sua localizao na floresta at o seu local de
desdobramento.
Pargrafo nico. Os procedimentos mencionados no caput deste artigo sero definidos em diretrizes tcnicas.
Art. 11. O rgo ambiental competente definir perodos de restrio das atividades de corte e extrao florestal
no perodo chuvoso, para os PMFSs em floresta de terra-firme, observada a sazonalidade local.
Seo II - Da apresentao do Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS e do Planos Operacionais Anuais-
POAs Art. 12. O PMFS, seus respectivos POA e o Relatrio de Atividades sero entregues nas seguintes formas,
cumulativamente:
I - em meio digital (CD-rom): todo o contedo, incluindo textos, tabelas, planilhas eletrnicas e mapas,
conforme diretrizes tcnicas.
II - em forma impressa: todos os itens citados no inciso anterior, com exceo do corpo das tabelas e planilhas
eletrnicas, contendo os dados originais de campo dos inventrios florestais.
Pargrafo nico. Quando disponibilizados sistemas eletrnicos pelos rgos ambientais competentes, a entrega
por meio digital dos PMFSs e dos respectivos POAs dar-se- por formulrio eletrnico, pela Rede Mundial de
Computadores-Internet, conforme regulamentao.
Seo III - Da analise tcnica do Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS
Art. 13. A anlise tcnica do PMFS observar as diretrizes tcnicas expedidas pelo IBAMA e concluir no
seguinte:
I - aprovao do PMFS; ou
II - indicao de pendncias a serem cumpridas para a seqncia da anlise do PMFS.
Seo IV - Da responsabilidade pelo Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS
Art. 14. Aprovado o PMFS, dever ser apresentado pelo detentor o Termo de Responsabilidade de
Manuteno da Floresta, conforme Anexo III desta Instruo Normativa, devidamente averbado margem
da matrcula do imvel competente.
1 O rgo ambiental competente somente emitir a primeira AUTEX aps a apresentao do Termo de
Responsabilidade de Manuteno de Floresta, conforme disposto no caput deste artigo.
2 O Termo de Responsabilidade de Manuteno de Floresta vincula o uso da floresta ao uso sustentvel pelo
perodo de durao do PMFS e no poder ser desaverbado at o trmino desse perodo.
Art. 15. A paralisao temporria da execuo do PMFS no exime o detentor do PMFS da responsabilidade
pela manuteno da floresta e da apresentao anual do POA e do Relatrio de Atividades.
Subseo nica - Da responsabilidade tcnica pelo Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS
Art. 16. O proponente ou detentor de PMFS, conforme o caso, dever apresentar notao de Responsabilidade
Tcnica-ART, registrada junto ao respectivo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia-
CREA, dos responsveis pela elaborao e pela execuo do PMFS, com a indicao dos respectivos prazos de
validade.
1 As atividades do PMFS no sero executadas sem um responsvel tcnico.
2 A substituio do responsvel tcnico e da respectiva ART deve ser comunicada oficialmente ao rgo
ambiental competente, no prazo de 30 dias aps sua efetivao, pelo detentor do PMFS.

238
3 O profissional responsvel que efetuar a baixa em sua ART no CREA deve comunic-la oficialmente ao
rgo ambiental competente, no prazo de 10 dias, sob pena de serem tomadas as providncias previstas no art. 36
desta Instruo Normativa.
Seo V - Da reformulao e da transferncia do Plano de Manejo Florestal Sustentvel
Art. 17. A reformulao do PMFS depender de prvia anlise tcnica e aprovao do rgo competente e
poder decorrer de:
I - incluso de novas reas na AMF;
II - alterao na categoria de PMFS; e
III - da reviso tcnica peridica, a ser realizada a cada 5 anos.
Pargrafo nico. A incluso de novas reas na AMF somente ser permitida em florestas privadas e aps a
apresentao de APAT, referente ao imvel em que se localizar a nova rea.
Art. 18. A transferncia do PMFS para outro detentor depender de:
I - apresentao de documento comprobatrio da transferncia, firmado entre as partes envolvidas, incluindo
clusula de transferncia de responsabilidade pela execuo do PMFS;
II - da anlise jurdica quanto ao atendimento do disposto na Instruo Normativa relativa a APAT.
Seo VI - Do Plano Operacional Anual-POA
Art. 19. Anualmente, o detentor do PMFS dever apresentar o Plano Operacional Anual-POA, referente s
prximas atividades que realizar, como condio para receber a AUTEX.
1 O formato do POA ser definido em diretriz tcnica emitida pelo rgo ambiental competente.
2 O POA ser avaliado pelo rgo ambiental competente, o qual informar as eventuais pendncias ao
detentor do PMFS.
3 A emisso da AUTEX est condicionada aprovao do POA pelo rgo ambiental competente.
4 A partir do segundo POA, o rgo ambiental competente poder optar pelo POA declaratrio, em que a
emisso da AUTEX no est condicionada aprovao do POA, por at dois POAs consecutivos.
5 Quando adotado o procedimento previsto no 4 deste artigo e forem verificadas pendncias no POA, o
detentor do PMFS ter o prazo de 30 dias para a correo, findo o qual poder ser suspensa a AUTEX.
Art. 20. A AUTEX ser emitida considerando o PMFS e os parmetros definidos nos arts. 5 a 8 desta Instruo
Normativa e indicar, no mnimo, o seguinte:
I - a lista das espcies autorizadas e seus respectivos volumes e nmeros de rvores, mdios por hectare e total;
II - nome e CPF ou CNPJ do detentor do PMFS;
III - nome, CPF e registro no CREA do responsvel tcnico;
IV - nmero do PMFS;
V - municpio e Estado de localizao do PMFS;
VI - coordenadas geogrficas do PMFS que permitam identificar sua localizao;
VII - seu nmero, ano e datas de emisso e de validade;
VIII - rea total das propriedades que compoem o PMFS;
IX - rea do PMFS;
X - rea da respectiva UPA; e
XI - volume de resduos da explorao florestal autorizado para aproveitamento, total e mdio por hectare,
quando for o caso.
Art. 21. A incluso de novas espcies florestais na lista autorizada depender de prvia alterao do POA e
aprovao do rgo ambiental competente.
Pargrafo nico. A incluso de novas espcies para a produo madeireira s ser autorizada em reas ainda no
exploradas, respeitada a intensidade de corte estabelecida para o ciclo de corte vigente.

Art. 22. O Documento de Origem Florestal-DOF ser requerido em relao ao volume efetivamente
explorado, observados os limites definidos na AUTEX.

239
Art. 23. A emisso do DOF poder se dar em at 90 dias aps o fim da vigncia da AUTEX.
Seo VII - Do Relatrio de Atividades
Art. 24. O Relatrio de Atividades ser apresentado anualmente pelo detentor do PMFS, com as informaes
sobre toda a rea de manejo florestal sustentvel, a descrio das atividades j realizadas e o volume
efetivamente explorado no perodo anterior de doze meses.
1 O formato do Relatrio de Atividades ser definido em diretriz tcnica emitida pelo rgo ambiental
competente.
2 O Relatrio de Atividades ser avaliado pelo rgo ambiental competente, que informar ao detentor do
PMFS a eventual necessidade de esclarecimentos para a expedio da Autex.
Art. 25. O Relatrio de Atividades ser apresentado at 60 dias aps o trmino das atividades descritas no POA
anterior.
Art. 26. O Relatrio de Atividades conter os requisitos especificados em diretrizes tcnicas e apresentar a
intensidade de corte efetiva, computada por rvore cortada.
Seo VIII - Da vistoria tcnica do Plano de Manejo Florestal Sustentvel-PMFS
Art. 27. Os PMFSs sero vistoriados, por amostragem, com intervalos no superiores a 3 anos por PMFS.
Pargrafo nico. As vistorias tcnicas sero realizadas por profissionais habilitados do quadro tcnico do
IBAMA ou rgos estaduais competentes.
Seo IX - Do aproveitamento de resduos da explorao florestal
Art. 28. Somente ser permitido o aproveitamento de resduos das rvores exploradas e daquelas derrubadas em
funo da explorao florestal;
1 Os mtodos e procedimentos a serem adotados para a extrao e mensurao dos resduos da explorao
florestal devero ser descritos no PMFS, assim como o uso a que se destinam.
2 No primeiro ano, a autorizao para aproveitamento de resduos da explorao florestal dever ser solicitada
junto ao rgo ambiental competente, com base em cubagem pelos mtodos mencionados no pargrafo primeiro
deste artigo, ou em estudos disponveis na regio quando indicados pelo rgo competente.
3 A partir do segundo ano de aproveitamento dos resduos da explorao florestal, a autorizao somente ser
emitida com base em relao dendromtrica desenvolvida para a rea de manejo ou em inventrio de resduos,
definidos conforme diretriz tcnica.
4 O volume de produtos secundrios autorizado no ser computado na intensidade de corte prevista no PMFS
e no POA para a produo de madeira.
CAPTULO IV
Seo XI - Do PMFS de Produtos Florestais No-Madeireiros
Art. 29. Para a explorao dos produtos no-madeireiros que no necessitam de autorizao de transporte,
conforme regulamentao especfica, o proprietrio ou possuidor rural apenas informar ao rgo ambiental
competente, por meio de relatrios anuais, as atividades realizadas, inclusive espcies, produtos e quantidades
extradas, at a edio de regulamentao especfica para o seu manejo.
Pargrafo nico. As empresas, associaes comunitrias, proprietrios ou possuidores rurais devero cadastrar-se
no Cadastro Tcnico Federal, apresentando os respectivos relatrios anuais, conforme legislao vigente.
CAPTULO V
DAS SANES ADMINISTRATIVAS
Art. 30. Aquele que explorar vegetao arbrea de origem nativa, localizada em rea de reserva legal ou fora
dela, de domnio pblico ou privado, sem aprovao prvia do rgo ambiental competente ou em desacordo
com a aprovao concedida, sujeitar-se- a multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 300,00 (trezentos reais), por
hectare ou frao, ou por unidade, estreo, quilo, mdc ou metro cbico, por infrao administrativa, nos termos
do 70 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e do art. 38 do Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999.
Art. 31. O detentor do PMFS sujeita-se s seguintes sanes administrativas:
I - advertncia nas hipteses de descumprimento de diretrizes tcnicas de conduo do PMFS;
II - suspenso da execuo do PMFS, nos casos de:
a) reincidncia em conduta j sancionada com advertncia, no perodo de dois anos da data da aplicao da
sano;
b) executar a explorao sem possuir a necessria AUTEX;
c) prtica de ato que embarace, dificulte ou impea a realizao da Vistoria Tcnica;
d) deixar de cumprir os requisitos estabelecidos em diretrizes tcnicas pelo rgo ambiental competente no POA
ou prestar informaes incorretas;

240
e) executar o PMFS em desacordo com o autorizado ou sem a aprovao de sua reformulao pelo rgo
ambiental competente;
f) deixar de encaminhar o Relatrio de Atividades no prazo previsto no art. 24 ou encaminh-lo com
informaes fraudulentas;
g) transferir o PMFS sem atendimento dos requisitos previstos no art. 18 desta Instruo Normativa;
h) substituir os responsveis pela execuo do PMFS e das ARTs sem atendimento dos requisitos previstos no
art. 16 desta Instruo Normativa;
III - embargo do PMFS, nos casos de:
a) permanecer suspenso por perodo superior a 5 anos;
b) ao ou omisso dolosa que cause dano aos recursos florestais na AMF, que extrapolem aos danos inerentes
ao manejo florestal;
c) utilizar a AUTEX para explorar recursos florestais fora da AMF.
Art. 32. Nos casos de advertncia, o rgo ambiental competente estabelecer medidas corretivas e prazos para
suas execues, sem determinar a interrupo na execuo do PMFS.
Art. 33. A suspenso interrompe a execuo do PMFS, includa a explorao de recursos florestais e o transporte
de produto florestal, at o cumprimento de condicionantes estabelecidas no ato de suspenso.
1 Findo o prazo da suspenso, sem o devido cumprimento das condicionantes ou a apresentao de
justificativa no prazo estabelecido, devero ser iniciados os procedimentos para a embargo do Plano.
2 A suspenso no dispensa o detentor sancionado do cumprimento das obrigaes pertinentes conservao
da floresta.
Art. 34. O embargo do PMFS impede a execuo de qualquer atividade de explorao florestal e no exonera seu
detentor da execuo de atividades de manuteno da floresta, permanecendo o Termo de Responsabilidade de
Manuteno da Floresta vlido at o prazo final da vigncia estabelecida no PMFS.
Pargrafo nico. O detentor do PMFS embargado somente poder solicitar nova aprovao de autorizao para a
execuo de explorao floresta no POA depois de transcorridos dois anos da data de publicao da deciso que
aplicar a sano.
Art. 35. A suspenso e o embargo do PMFS tero efeito a partir da cincia do detentor do correspondente
processo administrativo.
Art. 36. Na suspenso e no embargo do PMFS, o rgo ambiental competente poder determinar, isoladas ou
cumulativamente, as seguintes medidas:
I - a recuperao da rea irregularmente explorada, mediante a apresentao e a execuo, aps a aprovao pelo
rgo ambiental competente, de um Plano de Recuperao de rea Degradada-PRAD;
II - a reposio florestal correspondente matria-prima extrada irregularmente, na forma da legislao
pertinente;
III - a suspenso do fornecimento do documento hbil para o transporte e armazenamento da matria-prima
florestal.
1 No embargo do PMFS imposto pelos casos previstos nas alneas b e c do inciso III do art. 31 desta
Instruo Normativa, sero obrigatoriamente impostas todas as medidas estabelecidas nos incisos I a III do caput
deste artigo.
2 O desembargo do PMFS s se efetivar aps o cumprimento das obrigaes determinadas nos termos dos
incisos I a III do caput deste artigo.
Art. 37. Verificadas irregularidades na execuo do PMFS, o rgo ambiental competente aplicar as sanes
previstas nesta Instruo Normativa e, quando couber:
I - oficiar ao Ministrio Pblico;
II - representar ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura-CREA, em que estiver registrado o
responsvel tcnico pelo PMFS; e
III - efetuar a inibio do registro no Cadastro Tcnico Federal- CTF.
CAPTULO VI
DAS DISPOSIES FINAIS
Art. 38. Fica institudo o Cadastro Nacional de Planos de Manejo Florestal Sustentvel-CNPM, no mbito do
IBAMA, que o organizar e manter, com a colaborao dos rgos estaduais competentes.
Pargrafo nico. obrigatrio o registro de todo PMFS no CNPM, no prazo de 10 (dez) dias, contados da data
de sua aprovao.

241
Art. 39. Todas as informaes disponveis no CNPM sero disponibilizadas na Rede Mundial de Computadores-
Internet.
Art. 40. A taxa de vistoria de acompanhamento, prevista na legislao vigente, ser calculada considerando a
rea a ser explorada no ano, de acordo com o POA.
Art. 41. O rgo ambiental competente expedir as diretrizes tcnicas sobre os procedimentos e parmetros a
serem adotados para a implementao desta Instruo Normativa.
Art. 42. Todas as informaes georreferenciadas apresentadas no PMFS e no POA, cuja competncia caiba ao
IBAMA, observaro o disposto as Instrues Normativas do IBAMA no 93, de 3 de maro de 2006, e no 101, de
19 de junho de 2006.
Art. 43. Esta Instruo Normativa entra em vigor na data de sua publicao e se aplica aos novos PMFSs e aos
POAs de 2007 dos PMFSs em vigor.
MARINA SILVA

242
ANEXO I
Estrutura bsica para elaborao de Documentos Tcnicos
Categoria de PMFS: de baixa intensidade
Produto: Madeira
1. Plano de Manejo Florestal Sustentvel
1.-INFORMAES GERAIS
1.1 - Categorias de PMFS
-Quanto titularidade da floresta:
PMFS em floresta privada ( ) PMFS em floresta pblica ( )
-Quanto ao detentor:
PMFS individual ( ) PMFS comunitrio ( )
PMFS empresarial ( ) PMFS em floresta pblica ( )
PMFS pblico em Floresta Nacional ( )
-Quanto ao ambiente predominante:
PMFS de terra-firme ( ) PMFS de vrzea ( )
-Quanto ao estado natural da floresta manejada:
PMFS de floresta primria ( ) PMFS de floresta secundria ( )
1.2-Responsveis pelo PMFS
Proponente
Responsvel Tcnico elaborao do PMFS
Responsvel Tcnico execuo do PMFS
Pessoa Jurdica (se for o caso)
1.3 - Objetivos do PMFS
2. INFORMAES SOBRE A PROPRIEDADE
2.1 Localizao geogrfica
Municpio
Acesso
2.2 - Descrio do ambiente
Vegetao (tipologia florestal predominante)
Uso atual da terra
2.3 - Macrozoneamento da(s) propriedade(s)
reas produtivas para fins de manejo florestal
reas de preservao permanente (APP)
rea de reserva legal
Localizao das UPAS
3. INFORMAES SOBRE O MANEJO FLORESTAL
3.1 Sistema Silvicultural
3.2 Espcies florestais a manejar e a proteger
Lista de espcies e grupos de uso
Lista de espcies protegidas
3.3 Regulao da produo
Ciclo de corte
Intensidade de corte prevista (m3/ha)
Tamanho das UPAs
Produo anual programada (m3)
3.4 Descrio das atividades pr-exploratrias em cada UPA
Delimitao permanente da UPA
Inventrio florestal a 100%
Corte de cips

243
Critrios de seleo de rvores
3.5 Descrio das atividades de explorao
Mtodos de corte e derrubada
Mtodos de extrao da madeira
Procedimentos de controle da origem da madeira
Mtodos de extrao de resduos florestais (quando previsto)
4. INFORMAES COMPLEMENTARES
4.1 Relaes dendromtricas utilizadas
Equao de volume utilizada
4.2 Mapas requeridos
Localizao da propriedade
Macrozoneamento da propriedade
PMFS de Baixa Intensidade
2. Plano Operacional Anual-POA
1. INFORMAES GERAIS
-Requerente
-Responsvel pela elaborao
-Responsvel pela execuo
2. INFORMAES SOBRE O PLANO DE MANEJO FLORESTAL
-Identificao
-Nmero do protocolo do PMFS
-rea de Manejo Florestal (ha)
3. DADOS DA PROPRIEDADE
-Nome da propriedade
-Localizao
-Municpio
-Estado
4. INFORMAES SOBRE A UPA
-Localizao e identificao (nomes, nmeros ou cdigos)
-Area total (ha)
-rea de preservao permanente (ha)
-rea de efetiva explorao florestal (ha)
5. PRODUO FLORESTAL PLANEJADA
5.1-Lista das espcies a serem exploradas indicando:
-Nome da espcie
-Dimetro Mnimo de Corte (cm) considerado
-Nmero de rvores acima do DMC da espcie que atendam aos critrios de seleo para corte(UPA)
-Porcentagem do nmero de rvores a serem mantidas na rea de efetiva explorao
- Volume e nmero de rvores a serem exploradas(UPA)
5.2 Volume de resduos florestais a serem explorados (quando previsto)
6. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES NA AMF (PARA O ANO DO POA)
6.1-Especificao de todas as atividades previstas para o ano do POA e respectivo cronograma de
execuo, agrupadas por:
-Atividades pr-explorao florestal
-Atividades de explorao florestal
-Atividades ps-explorao florestal
7. ANEXOS
-Resultados do inventrio a 100%: Tabela resumo do inventrio a 100% contendo: Nmero de rvores por
espcie inventariada, por classe de DAP de 10cm de amplitude.
PMFS de Baixa Intensidade

244
3. Relatrio de Atividades
1. INFORMAES GERAIS
-Requerente:
-Responsvel pela elaborao:
-Responsvel pela execuo
2. INFORMAES SOBRE O PLANO DE MANEJO FLORESTAL
-Identificao
-Nmero do protocolo do PMFS
-rea de Manejo Florestal (ha)
3. DADOS DA(S) PROPRIEDADE(S)
-Nome da propriedade
-Localizao
-Municpio
-Estado
4. RESUMO DAS ATIVIDADES PLANEJADAS E EXECUTADAS NO ANO DO POA (INDICAR O
ANO)
-Atividades pr-explorao florestal
-Atividades de explorao florestal
-Atividades ps-explorao florestal
5. RESUMO DOS RESULTADOS DA EXPLORAO POR UNIDADE DE TRABALHO (UPA)
- rea de efetiva explorao (ha), volume explorado (m3 e m3/ha), volume romaneiado (m3)
6. RESUMO DOS RESULTADOS DA EXPLORAO POR ESPCIE (UPA)
-Volume e nmero de rvores autorizado (m3), volume e nmero de rvores explorado (m3)
7-Resumo da produo de madeira explorada e transportada indstria-Espcie, volume e nmero de
rvores autorizados, volume de madeira transportado
8. DESCRIO DE INFORMAES E ATIVIDADES COMPLEMENTARES
-Descrever suscintamente atividades complementares previstas ou no no POA, quando houver
ANEXO II
Estrutura bsica para elaborao de Documentos Tcnicos
Categoria de PMFS: Pleno
Produto: Madeira
1. Plano de Manejo Florestal Sustentvel
1. INFORMAES GERAIS
1.1 Categorias de PMFS
Quanto titularidade da floresta:
( ) PMFS em floresta privada ( ) PMFS em floresta pblica
Quanto ao detentor:
( ) PMFS individual ( ) PMFS comunitrio
( ) PMFS empresarial ( ) PMFS em floresta pblica
( ) PMFS pblico em Floresta Nacional
Quanto ao ambiente predominante:
( ) PMFS de terra-firme ( ) PMFS de vrzea
Quanto ao estado natural da floresta manejada:
( ) PMFS de floresta primria ( ) PMFS de floresta secundria
1.2 Responsveis pelo PMFS
Proponente
Responsvel Tcnico elaborao do PMFS
Responsvel Tcnico execuo do PMFS
Pessoa Jurdica (se for o caso)
1.3 Objetivos do PMFS

245
Objetivo geral
Objetivos especficos
2 INFORMAES SOBRE A PROPRIEDADE
2.1 Localizao geogrfica
Municpio
Acesso
Regio
2.2 Descrio do ambiente
Clima
Geologia
Topografia e solos
Hidrologia
Vegetao
Vida silvestre
Meio socioeconmico
Infraestrutura e servios
Uso atual da terra
2.3 Macrozoneamento da(s) propriedade(s)
reas produtivas para fins de manejo florestal
reas no produtivas ou destinadas a outros usos
reas de preservao permanente (rea de Preservao Permanente-APP)
reas reservadas (por exemplo: reas de Alto Valor para Conservao; reserva absoluta)
rea de reserva legal
Tipologias florestais
Localizao das UPAS
Estradas permanentes e de acesso
2.4 Descrio dos recursos florestais (inventrio florestal amostral)
Mtodos utilizados no inventrio
Composio florstica
Distribuio diamtrica das espcies (Dimetro altura do peito = 10 cm) para as variveis
nmero de rvores, rea basal e volume, por classe de qualidade de fuste
Estimativa da capacidade produtiva da floresta (anlise estatstica)
3. INFORMAES SOBRE O MANEJO FLORESTAL
3.1 Sistema Silvicultural
Cronologia das principais atividades do manejo florestal
3.2 Espcies florestais a manejar e a proteger
Lista de espcies e grupos de uso
Estratgia de identificao botnica das espcies
Dimetros Mnimos de Corte
Justificativas tcnicas para DMC < 50 cm (quando necessrio)
Espcies com caractersticas ecolgicas especiais
Lista de espcies protegidas
3.3 Regulao da produo
Ciclo de corte
Intensidade de corte prevista (m3/ha)
Justificativas (quando diferentes do estabelecido nesta Instruo Normativa)
Estimativa de produo anual (m3)
3.4 Descrio das atividades pr-exploratrias em cada UPA
Delimitao permanente da UPA

246
Subdiviso em UT
Inventrio florestal a 100%
Microzoneamento
Corte de cips
Critrios de seleo de rvores para corte e manuteno
Planejamento da rede viria
3.5 Descrio das atividades de explorao
Mtodos de corte e derrubada
Mtodo de extrao da madeira
Equipamentos utilizados na extrao
Carregamento e transporte
Descarregamento
Procedimentos de controle da origem da madeira
Mtodos de extrao de resduos florestais (quando previsto)
3.6 Descrio das atividades ps-exploratrias
Avaliao de danos (quanto previsto)
Tratamentos silviculturais ps-colheita (quando previsto)
Monitoramento do crescimento e produo (quanto previsto)
4 INFORMAES COMPLEMENTARES
4.1 Relaes de dendromtricas utilizadas
Equaes de volume utilizadas
Outras equaes
Ajuste de equaes de volume com dados locais
4.2 Dimensionamento da Equipe Tcnica em relao ao tamanho da UPA (nmero, composio, funes,
estrutura organizacional e hierrquica)
Inventrio florestal a 100%
Corte
Extrao florestal
Outras equipes
Diretrizes de segurana no trabalho
Critrios de remunerao da produtividade das equipes (quando previsto)
4.3 Dimensionamento de mquinas e equipamentos em relao ao tamanho da UPA
Corte
Extrao florestal
Carregamento e transporte
4.4 Investimentos financeiros e custos para a execuo do manejo florestal
Mquinas e equipamentos
Infraestrutura
Equipe tcnica permanente
Terceirizao de atividades
Treinamento e capacitao (situao atual e previso para os prximos 5 anos)
Estimativa de custos e receitas anuais do manejo florestal
4.5 Diretrizes para reduo de impactos
Floresta
Solo
gua
Fauna
Sociais (mecanismos de comunicao e gerenciamento de conflitos com vizinhos)
4.6 Descrio de medidas de proteo da floresta

247
Manuteno das UPAs em pousio
Preveno e combate a incndios
Preveno contra invases
4.7 Mapas requeridos
Localizao da propriedade
Macrozoneamento da propriedade
4.8 - Acampamento e infraestrutura
Critrios para escolha da localizao de acampamentos e oficinas
Medidas de destinao de resduos orgnicos e inorgnicos
Medidas para organizao e higiene de acampamentos
Categoria de PMFS: Pleno
2- Plano Operacional Anual
1. INFORMAES GERAIS
-Requerente:
-Responsvel pela elaborao:
-Responsvel pela execuo
2. INFORMAES SOBRE O PLANO DE MANEJO FLORESTAL
-Identificao
-Nmero do protocolo do PMFS
-rea de Manejo Florestal (ha)
3. DADOS DA(S) PROPRIEDADE(S)
-Nome da propriedade
-Localizao
-Municpio
-Estado
4. OBJETIVOS ESPECFICOS DO POA
5. INFORMAES SOBRE A UPA
-Identificao (nomes, nmeros ou cdigos)
-Localizao: Coordenadas geogrficas dos limites
-Subdivises em UTs (quando previsto)
-Resultados do microzoneamento
-Area total (ha) e percentual em relao AMF
-rea efetiva de explorao florestal (ha) e percentual em relao rea da UPA
-rea de preservao permanente (ha)
-reas inacessveis (ha)
-reas reservadas (ha)
-reas de infraestrutura (ha)
6. PRODUO FLORESTAL PLANEJADA
6.1-Especificao do potencial de produo por espcie, considerando a rea de efetiva explorao
florestal indicando:
-Nome da espcie
-Dimetro Mnimo de Corte (cm) considerado
-Volume e nmero de rvores acima do DMC da espcie (UPA)
-Volume e nmero de rvores acima do DMC da espcie que atendam critrios de seleo para corte (UPA)
-Porcentagem do nmero de rvores a serem mantidas na rea de efetiva explorao
-Nmero de rvores e volume de rvores de espcies com baixa densidade (UPA)
Volume e nmero de rvores passveis de serem exploradas (UPA)
Volume de resduos florestais a serem explorados (quando previsto)
6.2-Resumo com volume e nmero de rvores passveis de serem exploradas(ha) por UT

248
7. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES NA AMF PARA O ANO DO POA
7.1-Especificao de todas as atividades previstas para o ano do POA e respectivo cronograma de
execuo, com indicao dos equipamentos e equipes a serem empregados, e as respectivas quantidades,
agrupadas por:
-Atividades pr-explorao florestal
-Atividades de explorao florestal
-Atividades ps-explorao florestal
8. ATIVIDADES COMPLEMENTARES (QUANDO PREVISTO)
-Coleta de dados para ajuste de equaes
-Avaliao de danos e outros estudos tcnicos
- Treinamentos
-Aes de melhoria da logstica e segurana de trabalho
9. ANEXOS
9.1-Mapas florestais
-Mapa(s) de uso atual do solo na UPA: Escala mnima de 1:10:000 para reas de at 5.000ha, contendo os limites
da UPA, tipologias florestais, rede hidrogrfica, rede viria e infra-estrutura, reas reservadas, reas inacessveis
e reas de preservao permanente
-Mapa(s) de localizao das rvores (mapa de explorao) em cada UT da UPA: Escala de no mnimo 1:25.500
para reas de at 100ha, contendo os limites da UT, rede hidrogrfica, rede viria e infraestrutura atual e
planejada, reas reservadas, reas inacessveis e reas de preservao permanente.
9.2-Resultados do inventrio a 100%
-Tabela resumo do inventrio a 100% contendo: Nmero de rvores, rea basal e volume comercial por espcie
inventariada, por classe de DAP de 10 cm de amplitude e por classe de qualidade de fuste Dados coletados
(arquivo digital contendo a tabela com os dados primrios coletados durante o inventrio a 100%, tratados
conforme diretrizes tcnicas)
Categoria de PMFS: Pleno
3. Relatrio de Atividades
1. INFORMAES GERAIS
- Requerente:
- Responsvel pela elaborao:
- Responsvel pela execuo
2. INFORMAES SOBRE O PLANO DE MANEJO FLORESTAL
- Identificao
- Nmero do protocolo do PMFS
- rea de Manejo Florestal (ha)
3. DADOS DA(S) PROPRIEDADE(S)
- Nome da propriedade
- Localizao
- Municpio
- Estado
4. RESUMO DAS ATIVIDADES PLANEJADAS E EXECUTADAS NO ANO DO POA (INDICAR O
ANO)
- Atividades pr-explorao florestal
- Atividades de explorao florestal
- Atividades ps-explorao florestal
5. RESUMO DOS RESULTADOS DA EXPLORAO POR UNIDADE DE TRABALHO (UT)
5.1-Tabela(s) com as seguintes informaes por unidade de trabalho (UT):
- rea de efetiva explorao (ha), volume explorado (m3 e m3/ha), nmero de rvores exploradas (n e n/ha),
volume romaneiado (m3 e m3/ha)
- Volume selecionado para corte (VS), Volume explorado (VE), Volume romaneiado (VR), VE/VS(%),
VR/VS(%) e VR/VE(%)
6. RESUMO DOS RESULTADOS DA EXPLORAO POR ESPCIE

249
- Volume e nmero de rvores autorizado (m3), volume e nmero de rvores explorado (m3) e respectivos saldos
em p (m3)
- Volume e nmero de rvores derrubadas e no arrastadas
- Volume e nmero de toras arrastadas mas no transportadas, deixadas em ptios ou na floresta
7-Resumo da produo de madeira explorada e transportada indstria
- Espcie, nmero de rvores exploradas, nmero e volume de toras transportados
8. DESCRIO DE INFORMAES E ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Descrever suscintamente atividades complementares previstas ou no no POA

ANEXO III
Termo de Responsabilidade de Manuteno da Floresta
Ao rgo ambiental competente
Aos ... dias do ms de ... do ano de ..., ...... (NOME), .... (NACIONALIDADE), ...(ESTADO CIVIL),
...(PROFISSO), residente ...(endereo), inscrito no CPF/MF ..., portador do RG/rgo Emissor/ UF,
proprietrio (ou legtimo possuidor) do imvel denominado ...municpio de ... neste Estado, registrado sob o n ...
fls ... do Livro ..., pelo presente Termo de Responsabilidade de Manuteno da Floresta, assume o compromisso
de destinar a floresta ou outra forma de vegetao existente na rea de Manejo Florestal-AMF a atividades que
mantenham a estrutura da floresta, nos termos autorizados pelo rgo ambiental competente e em conformidade
com a legislao pertinente.
Fica a rea referida vinculada ao PMFS pelo perodo de vigncia especificado no Plano.
Os mapas de delimitao imvel e a rea de Manejo Florestal-AMF encontram-se na averbao do presente
termo, no Cartrio de Registro de Imveis.
DECLARA, finalmente, possuir pleno conhecimento das sanes a que fica sujeito pelo descumprimento deste
TERMO.
Firma o presente TERMO, em trs vias de igual teor e forma, na presena do rgo ambiental competente, que
tambm o assina, e das testemunhas abaixo qualificadas, rubricando todos os mapas, anexos a cada via.
CARACTERSTICAS E SITUAO DO IMVEL
LIMITES DA AMF
So anexados a este Termo os mapas do imvel e da AMF.
______________________________
Assinatura do Proprietrio ou legtimo possuidor
De acordo,
_____________________________________
Assinatura do Representante do rgo ambiental competente
Testemunhas:
_____________________________
CPF/MF n
_____________________________
CPF/MF n

250
CAPTULO 22
LEI ESTADUAL DE MUDANAS CLIMTICAS
Governo do Estado do Amazonas

LEI N. 3.135, DE 05 DE JUNHO DE 2.007

INSTITUI a Poltica Estadual sobre Mudanas Climticas, Conservao Ambiental e


Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas, e estabelece outras providncias.

A ntegra da Lei pode ser obtida no seguinte link

http://www.amazonas.am.gov.br/adm/imgeditor/File/LEI_3135_05_2007_CLIMA_assinatura.pdf

Considerando ...

Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima e Protocolo de Kyoto e as
subseqentes decises editadas

Em consonncia com a Poltica Estadual sobre Mudanas Climticas, Conservao Ambiental


e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas

Considerando ...

Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima e Protocolo de Kyoto e as
subseqentes decises editadas

Em consonncia com a Poltica Estadual sobre Mudanas Climticas, Conservao Ambiental


e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas

CAPTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 2. So objetivos da Poltica Estadual sobre Mudanas Climticas, Conservao


Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel do Amazonas:

I -

II - o fomento e a criao de instrumentos de mercado que viabilizem a execuo de projetos


de reduo de emisses do desmatamento (RED), energia limpa (EL), e de emisses lquidas
de GEEs, dentro ou fora do PK - MDL, ou outros;

III - a realizao de inventrio estadual de emisses, biodiversidade e estoque dos gases que
causam efeito estufa de forma sistematizada e peridica;

251
IV

V - o estmulo aos modelos regionais de desenvolvimento sustentvel do Estado do


Amazonas, mediante incentivos de natureza financeira e no financeira;

VI

VII - a promoo de aes para ampliao da educao ambiental sobre os impactos e as


conseqncias das mudanas climticas para as comunidades tradicionais, comunidades
carentes e alunos da rede pblica escolar, por meio de cursos, publicaes impressas e da
utilizao da rede mundial de computadores;

VIII IX X XI

XII - a implementao de projetos de pesquisa em Unidades de Conservao, utilizando-se


dos instrumentos administrativos legais em vigor;

XIII

XIV -

CAPTULO IV

DOS PROGRAMAS E SISTEMAS

Art. 5 Para a implementao da Poltica Estadual de que trata esta Lei, ficam criados os
seguintes Programas:

I - Programa Estadual de Educao sobre Mudanas Climticas, com a finalidade de


promover a difuso do conhecimento sobre o aquecimento global junto rede estadual
escolar, s instituies de ensino existentes no Estado e rede mundial de computadores;

II - Programa Bolsa Floresta, com o objetivo de instituir o pagamento por servios e produtos
ambientais s comunidades tradicionais pelo uso sustentvel dos recursos naturais,
conservao, proteo ambiental e incentivo s polticas voluntrias de reduo de
desmatamento;

III - Programa Estadual de Monitoramento Ambiental;

IV - Programa Estadual de Proteo Ambiental;

V - Programa Estadual de Intercmbio de Tecnologias Limpas e Ambientalmente


Responsveis;

252
VI - Programa Estadual de Capacitao de Organismos Pblicos e Instituies Privadas,
objetivando a difuso da educao ambiental e o conhecimento tcnico na rea de mudanas
climticas, conservao ambiental e desenvolvimento sustentvel;

VII - Programa Estadual de Incentivo Utilizao de Energias Alternativas Limpas e


Redutoras da Emisso de Gases de Efeito Estufa.

Pargrafo nico. A estrutura, a regulamentao e a execuo dos Programas de que trata este
artigo sero definidas por meio de Decreto, no prazo de noventa dias contados da publicao
desta Lei.

253
CAPTULO 23
EXPLORAO FLORESTAL NA AMAZNIA
Niro Higuchi, Luciano Minette e Joaquim dos Santos
1. Introduo:
No dicionrio Aurlio, o verbo explorar tem vrios sentidos. O sentido que mais se
aproxima da prtica de madeireiros na Amaznia : tirar proveito de, fazer produzir,
empreender, cultivar: explorar uma mina. Para leigos e newcomer da rea florestal, este o
sentido de explorar a floresta, ou seja, retirar tudo, abandonar e seguir em frente. Este sentido
pejorativo da explorao florestal tem se alastrado pelo Brasil, especialmente, na
Amaznia. A conseqncia disto o aparecimento de apelidos como explorao de impacto
reduzido, explorao de baixo impacto, quase sempre para contrapor com a prtica de
explorao convencional das florestas amaznicas.
No entanto, explorao florestal uma disciplina da Engenharia Florestal. Esta
disciplina foi introduzida com nome de explorao florestal, em 1970, no currculo pleno do
curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paran (Macedo e Machado, 2003).
Em algumas universidades do Sul e Sudeste do Brasil (UFPr, Esalq, UFV, UFLA e UFES),
explorao florestal foi transformada em colheita florestal. De qualquer modo, a ementa de
explorao ou colheita inclui, no mnimo: planejamento (ptios, estradas etc.), corte
(direcionamento de queda, desgalhamento, destopamento etc.), arraste (anlise da
produtividade dos equipamentos, impactos no solo etc.), transporte florestal e anlise de
custos. Alm disso, a maioria dos cursos de Engenharia Florestal tem enfatizado nesta
disciplina as questes relacionadas com ergonomia e segurana no trabalho.
Explorao florestal recebe o cdigo de 01.12-7 do Setor 02.1 (Silvicultura,
Explorao Florestal e servios relacionados com estas atividades) da Classificao Nacional
de Atividades Econmicas. Esta classificao utilizada pelo IBGE e CNPq. No CNPq,
explorao florestal recebe o cdigo de 5.02.03.01-0 da grande rea 5.00.00.00-4 (Cincias
Agrrias). Este termo est explicitado na legislao florestal brasileira comeando pelo Artigo
15 do Cdigo Florestal, que disciplina a explorao florestal na Amaznia. A IN n 5 do
MMA de 11/12/06, que a ltima palavra em termos de normas do manejo florestal na
Amaznia, introduziu a AUTEX (autorizao para explorao) aos planos de manejo florestal.
Portanto, apesar do sentido ambguo da palavra, a atividade ou disciplina explorao
florestal est bem amparada legalmente e bem estruturada nas ementas dos cursos de
Engenharia Florestal. Diante disto, as comparaes entre explorao de impacto reduzido e
explorao convencional, no tm sentido. Na Amaznia existe explorao florestal
aprovada e a ilegal. A aprovada deveria ser executada de acordo com os fundamentos
trazidos da academia e com o plano de manejo aprovado. Se isto no est ocorrendo, somente
os rgos de fiscalizao poderiam responder. Para os engenheiros florestais, para o CNPq e
para o Ibama, explorao florestal o conjunto de tcnicas que do forma ao aproveitamento
da madeira da floresta, sem comprometer a estrutura da floresta, o piso florestal e a sucesso
florestal.
Na Amaznia, h uma relao intrnseca entre explorao florestal e manejo florestal.
O Art. 15 do Cdigo Florestal determina que a explorao florestal na Amaznia seja
permitida somente acompanhada de um plano de manejo florestal. Este artigo foi
regulamentado em 1994 (Decreto 1.282), quando introduziu o termo manejo florestal
sustentvel (MFS), ou seja, para explorar a floresta amaznica no basta ter um plano

254
qualquer de manejo, mas sim um sustentvel. No Cap. 1 deste decreto foram definidos os
princpios gerais e os fundamentos tcnicos que deveriam acompanhar qualquer plano de
MFS (PMFS).
Os princpios do MFS so: (i) conservao dos recursos naturais, (ii) conservao da
estrutura da floresta e de suas funes, (iii) manuteno da diversidade biolgica e (iv)
desenvolvimento scio-econmico da regio. E os fundamentos tcnicos e cientficos so:
(i) caracterizao do meio fsico e biolgico, (ii) determinao do estoque existente, (iii)
intensidade de explorao compatvel com a capacidade da floresta, (iv) ciclo de corte
compatvel com o tempo de restabelecimento do volume de produto extrado da floresta, (v)
promoo da regenerao natural da floresta, (vi) adoo de sistema silvicultural adequado,
(vii) adoo de sistema de explorao adequado, (viii) monitoramento do desenvolvimento da
floresta remanescente e (ix) adoo de medidas mitigadoras dos impactos ambientais e
sociais.
Alm das exigncias legais da explorao florestal planejada, resultados preliminares
de pesquisas indicam que os impactos da explorao so determinantes na sustentabilidade
ecolgica do manejo florestal. Uma explorao florestal executada sem os fundamentos
tcnicos pode provocar: (i) mais danos floresta remanescente; (ii) maior compactao do
solo; (iii) alteraes irreversveis na biologia, fsica e na qumica (hidroqumica, em especial)
do solo; (iv) alteraes no ciclo hidrolgico; (v) comprometimento do trabalho da fauna
decompositora e (vi) alteraes no estoque e dinmica dos nutrientes necessrios para garantir
o segundo ciclo de corte e os ciclos subseqentes. Da mesma maneira, parece bvio tambm
que tudo que ecolgico econmico tambm.
A principal estratgia para garantir o MFS na Amaznia a aplicao correta das
tcnicas aprendidas nas universidades. As tcnicas mais importantes so: inventrio florestal,
explorao florestal, tecnologia da madeira, comercializao e inventrio florestal contnuo.
Se isto for realizado, a lei estar sendo cumprida e o cumprimento lato sensu das leis e
normas a garantia da sustentabilidade do manejo florestal. papel fundamental do Estado
fazer cumprir as leis e normas vigentes. O engenheiro florestal, no exerccio de sua profisso,
tem que estar preocupado em aplicar os seus conhecimentos sem se preocupar com rtulos e
apelidos do tipo explorao de baixo impacto e bom manejo florestal.
Neste captulo, sero abordados: (i) a teoria da Explorao Florestal como disciplina
da Engenharia Florestal e (ii) a prtica da teoria em planos de manejo florestal na Amaznia.
A teoria envolver do planejamento aos estudos ergonmicos da explorao. No item sobre a
prtica, sero apresentados resultados de alguns estudos implementados na regio amaznica.
2. A teoria da Explorao Florestal:
2.1. Inventrio Florestal:
(i) Inventrio florestal por amostragem:
O inventrio florestal de uma Unidade de Manejo Florestal (UMF) a principal
ferramenta utilizada na preparao do plano de manejo florestal sustentvel (PMFS) e, por
conseguinte, no planejamento da explorao florestal. O inventrio vai estimar os estoques de
madeira. Os estoques so utilizados para definir para definir os tamanhos das UPAs (Unidade
de Produo Anual) e o ciclo de corte, respeitando os limites para os volumes explorados. Se
o PMFS pleno, o limite de 30 m3/ha.
Alm dos estoques, o inventrio florestal fornece a base de dados para a anlise
estrutural, principalmente, na definio do ndice de Valor de Importncia (IVI) de cada
espcie. Para isto, a IN n 005 recomenda que este inventrio florestal seja executado em toda
a UMF considerando todos os indivduos arbreos com DAP 10 cm. Esta base pode ser

255
utilizada tambm para montar a distribuio de dimetros da UMF. Estas duas informaes
juntas so chaves na hora da escolha das espcies que sero exploradas e daquelas que
devero ser protegidas para observaes ou para aproveitamento em ciclos de corte
subseqentes.
A identificao de espcies crtica para um bom planejamento da explorao
florestal. Neste caso, h necessidade de juntar o conhecimento emprico com o cientfico
(botnico). O importante saber se o nome comercial da espcie envolve uma nica espcie
ou de um grupo de espcies (morfo-espcies). O engenheiro florestal tem tambm que estar
atento as diferentes sinonmias dos nomes comerciais; da, a importncia de saber a espcies
ou espcies que levam aquele determinado nome comercial. A coleta botnica torn-se
imprescindvel para este tipo de confirmao.
(ii) Inventrio florestal a 100%:
Depois de definidas as UPAs, o passo seguinte a realizao do inventrio florestal a
100% nelas. Neste caso, so levantados apenas os indivduos com DAP 50 cm em
subdivises da UPA, que so as UTs (Unidade de Trabalho). As informaes resultantes do IF
100% so utilizadas para conseguir a AUTEX (Autorizao para Explorao) e so
determinantes no planejamento da explorao florestal, principalmente, na definio das
trilhas de arraste e dos ptios de estocagem das toras. Um IF 100% deve informar
corretamente a espcie, a localizao (coordenadas geogrficas), direo natural de queda,
presena de cips e a classificao do fuste (quantas toras de 4-5 metros, cilndrico, tortuoso,
sem defeitos aparentes etc.).
2.1.1. Produtos cartogrficos:
(i) Mapas da propriedade e da cobertura do solo:
Mapas plani-altimtricos combinados com mapas de cobertura do solo da AMF (rea
de Manejo Florestal) so imprescindveis para a definio da UMF (Unidade de Manejo
Florestal) dentro da propriedade. Hoje, com a evoluo dos processos de aquisio de
imagens, sejam de satlite ou de radar, estes tipos de mapas so bem mais acessveis. Alm
disso, h uma intensa preocupao com o desenvolvimento de algoritmos para racionalizar o
uso das diferentes imagens. A evoluo e a popularizao do GPS tm ajudado muito no
melhor aproveitamento das imagens e nas verificaes de campo.
O planejamento do PMFS e, por conseguinte, da explorao florestal dependem do uso
adequado dos produtos cartogrficos. Estes produtos podem ser produzidos a partir da
combinao de imagens de satlites ou de radar com a verdade de campo (inventrio
florestal). O correto planejamento das estradas primrias, secundrias e trilhas de arraste
dependem tambm de bons mapas. Da mesma maneira, o dimensionamento correto dos
equipamentos e das equipes de trabalho, utilizados na explorao florestal, depende tambm
deste tipo de produto. Sem isto, estas operaes sero mais onerosas e, certamente, vo
provocar mais impactos ambientais. A utilizao de bons mapas vai ajudar tambm no
planejamento do escoamento da produo.
Os mapas contendo as reas de drenagem so essenciais para o cumprimento da lei de
manejo florestal. As reas de preservao permanente dentro da AMF podem ser definidas a
priori. Da mesma maneira, estes mapas podem ser utilizados para estudos de viabilidade para
o aproveitamento de rios e igaraps no escoamento da produo, da AMF a um centro
consumidor.

256
(ii) Mapas da vegetao:
O uso correto de mapas da vegetao crtico na definio das UPAs, que no
precisam ser, necessariamente, de mesmo tamanho. Alm disso, a produo da serraria (por
ex.) que depender apenas da mdia e do desvio padro das estimativas de volume pode ser
surpreendida todos os anos. As estimativas baseadas em estratificao por tipos florestais so
mais confiveis e consistentes. Um bom mapa da vegetao melhora a preciso do inventrio
e diminui os custos de coletas.
2.1.2. Mtodos de inventrio florestal:
(equaes, tamanho de parcelas, tipos de amostragem, variveis coletadas, resultados
incluindo tabela de sortimento).
2.1.3. Tabela de sortimento:
2.2. Planejamento e organizao do trabalho de explorao florestal:
2.2.1. volume a ser explorado anualmente, por espcie
2.2.2. estudo de tempos e movimentos,
2.2.3. trilhas de arraste,
2.2.4. estradas
2.2.5. escoamento da produo.
2.3. Explorao florestal:
2.3.1. corte,
2.3.2. arraste,
2.3.3. transporte (carregamento e descarregamento),
2.3.4. tempo e rendimento, impactos sobre o solo,
2.3.5. Impactos sobre a floresta residual:
Ver item 3 (Explorao Florestal na Amaznia). Em todos os casos so apresentados
alguns impactos ambientais. Preste ateno no caso do BIONTE que conclui que a trilha de
arraste classe de perturbao praticamente irrecupervel.
2.4. Anlise de custos:
2.4.1. custos reais,
2.4.2. custos contbeis
2.4.3. avaliao scio-econmica.
(i) Viabilidade econmica da explorao florestal na Amaznia:
A matria-prima madeira pode ser considerada com um artigo de primeira
necessidade. Ela importante quando a gente nasce (beros) e quando a gente morre (urnas
funerrias). No mercado internacional, temos softwood e hardwood. Traduzindo literalmente
poderiam ser madeira mole e madeira dura, mas no tm estes significados. Na verdade, o
mercado est distinguindo a madeira de conferas (softwood) e de folhosas (hardwood).
Portanto, temos softwood dura (araucria) e hardwood mole (amap, caroba, pau-de-balsa).
Assim, de acordo com o mercado internacional de madeira, na Amaznia s temos hardwood.

257
O trabalho de Higuchi et al. (2006)20 apontam que os dois principais fornecedores de
madeira tropical (hardwood) - Malsia e Indonsia - desaparecero do mercado internacional,
respectivamente, em 2012 e 2017. Ento, a partir de 2017, a Amaznia ser a nica em
condies de abastecer o mercado internacional de madeira tropical. Neste momento, o
tamanho deste mercado gira em torno de 55 milhes de m3 de madeira em toras.
Apesar da imensa rea desmatada at o presente, a rea remanescente coberta por
florestas primrias ainda muito grande. Uma estimativa conservadora aponta para uma rea
de, aproximadamente, 300 milhes de hectares. Com uma mdia de 20 m3/ha de madeira
comercial, o estoque da Amaznia de, aproximadamente, 6 bilhes de m3, o que daria para
abastecer o atual mercado internacional durante 109 anos. Os dois atuais fornecedores no
praticaram manejo florestal sustentvel; por esta razo, eles vo desaparecer do mercado
internacional. A Amaznia, se cumprir a Lei, poder perpetuar a produo e atender o
mercado internacional indefinidamente.
Hoje em dia, a madeira amaznica comercializada a preos muito baixos. Com a
diminuio da oferta, os preos tendem a melhorar. Com preos mais justos, os empresrios
vo dar mais valor a floresta amaznica. Temos florestas, leis rigorosas, um monte de cursos
de engenharia florestal, mercado e muita presso da sociedade para manejar de forma
sustentvel. Portanto, a Amaznia tem tudo para transformar a atividade florestal em uma
atividade econmica com grande peso na formao de riquezas desta regio, qui do Pas.
2.5. Plano operacional anual (POA).
3. Explorao Florestal na Amaznia:
Na Amaznia, temos que distinguir a explorao florestal nas vrzeas da explorao
em florestas de terra-firme. Nos dois tipos de vegetao, temos ainda que considerar a
explorao mecanizada da no mecanizada. Nas vrzeas, a explorao predominante a no
mecanizada. Na terra-firme predominam a explorao mecanizada. Grande parte das
informaes sobre explorao florestal na Amaznia est em literatura cinza, de difcil
acesso.
3.1. Estudo da SUDAM (Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia, j extinta)
em Curu-Una - 1977:
Em terra-firme, o estudo pioneiro sobre explorao florestal foi realizado em Curu-
Una pela SUDAM (SUDAM, 1978). Este estudo foi uma aplicao da teoria completa de
explorao florestal em uma floresta amaznica. Foram utilizados 100 hectares de floresta
primria da Estao Experimental de Curu-Una, no Estado do Par. As avaliaes foram
realizadas para: (i) operaes florestais (planejamento, inventrios, estradas, picadas de
arraste, ptios, derrubada, extrao, traamento, transporte, carregamento, descarregamento,
transporte fluvial, carregamento de balsas e descarregamento de balsas); (ii) tcnicas de
execuo (inventrio pr-exploratrio, diretrizes para construo de estradas, tcnicas de
derrubada, operao de skidder); (iii) estrutura bsica para a execuo da explorao (pessoal,
equipamento, manuteno e reparos, segurana e edificao); (iv) produo e (v) custos.
O experimento foi realizado em 1977. O trabalho foi executado por peritos da FAO e
do PRODEPEF (Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal) do IBDF (atualmente,
Ibama). O estoque disponvel para a explorao florestal era de: 8 rvores por ha e volume
comercial com casca de 48 m3/ha.
Para a extrao da madeira foram testados dois equipamentos (skidder): Clark Ranger
668B de pneus e o Caterpillar D6 de esteiras com arco de arraste. O primeiro foi mais

20
Higuchi, N., Santos, J., Teixeira, L.M. e Lima, A.J.N. 2006. O mercado internacional de madeira tropical est
beira do colapso. SBPN Scientific Journal, 1-2:33-41.

258
produtivo do que o de esteiras com as seguintes produes por dia e por hora,
respectivamente: 160 m 3 de madeira em tora (dia) e 26,7 m3 (hora) e 105 m3 e 17,5 m3. A
distncia mdia percorrida em picadas pelo skidder Clark Ranger foi de 293 m e a da D6 foi
de 358 m.
O custo total por m3 da madeira entregue na indstria foi de R$ 76,43 para um volume
mdio comercial de 40 m3/ha; para um volume de 20 m3/ha, o custo passa a ser de R$ 93,54.
O quadro 1 apresenta a reproduo dos custos de explorao do estudo da SUDAM. Os
clculos dos custos foram realizados em maio de 1977. Os custos do quadro 1 foram
atualizados para abril de 2008 utilizando um divisor de 1,817399 de acordo com os clculos
de correo monetria obtidos no seguinte link:
http://www.calculoexato.com.br/adel/indices/atualizacaoCJuros/calc.asp
Esta atualizao no inclui juros.
As consideraes finais deste estudo destacaram as seguintes condies necessrias
para a execuo da explorao florestal:
(i) Um melhor planejamento baseado em bons conhecimentos da rea: volume a
extrair e as caractersticas do terreno.
(ii) Uma melhor administrao e superviso para assegurar o uso eficiente da floresta,
das mquinas e de mo-de-obra.
(iii) Uma rede de estrada bem planejada e bem construda: (a) espaamento correto;
(b) fazer diferena entre estrada permanente e estrada temporria; (c) boa drenagem; (d) boa
manuteno; (e) construo de estradas bem antes das operaes de extrao (se for possvel,
um ano antes).
(iv) Uma melhor tcnica de derrubada e traamento, especialmente, quanto: (a)
derrubada orientada; (b) o melhor aproveitamento das rvores deixando menos desperdcio na
floresta; (c) melhor afiao da corrente; (d) ao adequado comprimento do sabre (sendo que a
tendncia usar sabres muito compridos).
(v) A melhor utilizao do skidder por meio de: (a) extrao em distncias corretas;
(b) melhor coordenao entre a derrubada e a extrao (derrubada orientada); (c) boa rede de
picadas de extrao preparada pouco antes da derrubada; (d) uso de estropos; (e) utilizao
integral da capacidade de carga da mquina e possibilidade de trabalhar durante o ano todo.
(vi) Uma melhor manuteno e reparao das mquinas para poder reduzir ao mnimo
o tempo que estas ficam paradas.
3.2. Explorao florestal do experimento de manejo florestal do INPA - 1987:
Este componente do manejo florestal foi executado em anos distintos: 24 hectares em
1987, 12 ha em 1988 e 12 ha em 1993. A explorao seletiva de madeira foi realizada com
base em trs diferentes intensidades de corte: (i) T1 - leve (derrubada de 1/3 da rea basal
comercial); (ii) T2 - moderada (derrubada de da rea basal) e (iii) T3 - pesada (derrubada
de 2/3 da rea basal). Em 1987 foram executados T1 e T3; em 1988, o T3 e, em 1993, o T2
foi repetido para estabelecer o tempo-zero da explorao em um projeto de pesquisas sobre
biomassa e nutrientes (projeto BIONTE).
Um resgate histrico do projeto que, hoje, conhecido como BIONTE o fato que a
equipe da SUDAM quem deveria executar a explorao florestal. Isto acabou no
acontecendo por causa de agendas e, de certa maneira, por problemas institucionais. Desde o
incio, o BIONTE no tinha como objetivo estudar a explorao florestal. O objetivo principal
sempre foi avaliar os impactos ambientais da explorao seletiva de madeira. Outra tentativa
para terceirizar a explorao foi com os fazendeiros do Distrito Agropecurio da Suframa.

259
Naquele tempo, por conta dos incentivos fiscais, preparar o terreno para a agropecuria era
mais importante do que o aproveitamento da madeira. Juntando-se aos problemas de
cronogramas de pesquisas em ecologia e de tecnologia, em cima do BIONTE, a explorao
florestal s ocorreu em 1987 neste projeto que iniciou em 1980.
A explorao florestal do BIONTE foi executada pela prpria equipe do laboratrio de
manejo florestal (LMF) do INPA, com reforo de um engenheiro florestal cedido pelo
Convnio CNPq-Cirad Foret. A descrio e os resultados desta operao est no artigo de
Coic et al. (1990). As operaes executadas foram: (i) inventrio florestal, (ii) planejamento
(ptios e trilhas de arraste), (iii) derrubada (orientada) e (iv) arraste at o ptio de estocagem.
A madeira retirada foi subutilizada e desperdiada. Algumas foram aproveitadas pela
Coordenao de Pesquisas em Produtos Florestais para estudos de caracterizao tecnolgica
da madeira. Outras foram desdobradas com uma serraria porttil. Foram doadas tambm para
as Foras Armadas.
Uma nica mquina, Catterpillar D6 de esteiras com 140 HP equipado com um tree
pusher e guincho, fez os trabalhos de aberturas de estradas secundrias, trilhas de arraste e
arraste das toras. A derrubada e o traamento foram executados com uma motosserra Stihl
051 AVE de 90 cc. O transporte das toras, do ptio para Manaus, foi realizado com um
caminho Mercedez Bens 11.13 equipado com um chassi de 5 m e um MUNCK. As equipes
foram constitudas de: 1 operador do trator + 1 ajudante, 1 operador de motosserra + 1
ajudante e 1 motorista do caminho + 1 ajudante.
Originalmente, as trs intensidades de corte eram a derrubada de 1/3 da rea basal
comercial (T1), 50% da rea basal (T2) e de 2/3 da rea basal (T3). O T4 o T2 repetido em
1993. O quadro 2 apresenta os resultados da explorao florestal, em termos de rea basal e
volume de madeira. Os nveis de corte atingidos de fato foram: 32% para T1 (OK), 42% para
T2 (deveria ser 50%), 59% para T3 (deveria ser 66%) e 49% para T4 (OK). As razes entre
volume explorado e volume de rvores danificadas ou mortas foram: 1 : 1,2 m3, 1 : 0,7, 1 : 0,7
e 1 : 1, respectivamente, para T1, T2, T3 e T4. Os melhores resultados foram obtidos no T2 e
T3, ou seja, para cada m3 explorado h uma perda de 0,7 m3 de madeira. Do ponto de vista de
nmero de rvores, as razes foram as seguintes: 1 : 13, 1 : 11, 1: 7 e 1 : 12, respectivamente,
T1, T2, T3 e T4. Quer dizer, por exemplo, que no T1 para cada rvore derrubada outras 13
com DAP 10 cm foram danificadas ou mortas.
Com a incorporao das questes ecolgicas ao projeto de manejo florestal, a partir de
1992, o T2 foi repetido em 1993. Para caracterizao dos impactos ambientais da explorao
florestal, as seguintes categorias de perturbao foram consideradas no levantamento ps-
exploratrio:
(1) Extremamente perturbado trilha de arraste (estrada secundria)
(2) Muito perturbado arraste da tora at a trilha
(3) Perturbado clareira de tronco e copa
(4) Pouco perturbado pequenas clareiras (galhos)
(5) No perturbado transio entre floresta e clareira
A categoria (1) , praticamente, irrecupervel (BIONTE, 1997). A ocorrncia desta categoria
variou de 5,9% a 17,7% da rea explorada, com mdia igual a 12,2%. As demais categorias
so recuperveis dentro de um horizonte compatvel com o ciclo de corte (25 a 30 anos).
Outros resultados:
- Clareiras: as clareiras variaram de 36 m2 a 2500 m2, com mdia de,
aproximadamente, 600 m2.

260
- O custo operacional da motosserra foi de US$ 12 por hora de trabalho total ou US$
0,90 por m3 derrubado e cortado na ponta mais fina da rvore.
- 30% das rvores derrubadas (DAP 50 cm) eram ocas; espcies como tanimbuca
(Buchenavia parvifolia) e angelim pedra (Dinizia excelsa) apresentaram ndices de oco de
73% e 66%, respectivamente.
Por falta de comparadores, estes resultados podem servir de sinais ou metas para
rgos de fiscalizao, tomadores de deciso e empresrios florestais, como:
(i) Um ndice de perturbao inferior a 5,9% para a categoria (1) trilhas de
arraste. Isto significa tambm, fazer as trilhas de arraste as mais
permanentes possveis, ou seja, que nos ciclos de corte subseqentes as
mesmas trilhas sejam utilizadas.
(ii) Tamanho mximo de clareira inferior a 600 m2. Derrubar duas rvores
comerciais com direes de queda diferentes vai provocar clareira de
tamanho indesejvel. No primeiro ciclo, derrubar apenas uma delas e
guardar a outra para o segundo ciclo.
(iii) No permitir danos superiores a 7 rvores com DAP 10 cm para cada
rvore explorada.
(iv) As rvores ocas, certamente, emitem mais do que seqestram C da
atmosfera. Desta forma, estas rvores precisam ser derrubadas para abrir
espaos e aumentar a oferta de gua, luz e nutrientes para indivduos mais
jovens e saudveis. Portanto, o primeiro ciclo de corte dever ser
considerado como corte de melhoramento.
O relatrio final do BIONTE (BIONTE, 1997) apontou, claramente, que a explorao
florestal tem que ser planejada. O planejamento tem que cobrir todas as operaes envolvidas
na explorao, do inventrio ao transporte. Exceto as trilhas de arraste, as demais
perturbaes so recuperveis no horizonte do ciclo de corte. Nestas categorias de
perturbao, o tempo de recuperao depende da intensidade e da durao da perturbao e da
sazonalidade (Mello Ivo et al., 1996, Guilherme e Cintra, 2001 e Costa e Magnusson, 2002).
Em sntese, a sustentabilidade ecolgica do manejo florestal altamente dependente da
qualidade da explorao florestal.
3.3. Explorao florestal na Fazenda Cauaxi, Paragominas Fundao Floresta
Tropical (FFT) 1995 a 1997: EXPLORAO DE IMPACTO REDUZIDO.
um trabalho muito importante para o desenvolvimento do setor florestal da
Amaznia, principalmente, diante dos resultados do BIONTE que indicaram que a
sustentabilidade do manejo florestal dependente da explorao florestal. O objetivo deste
trabalho foi comparar os custos e benefcios financeiros da explorao de impacto reduzido
(EIR) e a explorao convencional. Este trabalho foi publicado por Homes et al. (2002).
Apesar do termo EIR ter aparecido antes desta publicao em boletins do CIFOR, na prtica
Homes e colaboradores podem ser considerados como pais da nova modalidade de explorao
florestal. Uma curiosidade deste trabalho a omisso completa da referncia SUDAM (1978).
Este trabalho foi executado na Fazenda Cauaxi de propriedade da empresa CIKEL
Brasil Verde S.A., em Paragominas, Par. Dos 6 talhes demonstrativos da FFT, neste
trabalho foram utilizados 3, sendo um com EIR, um com explorao convencional (EC) e um
como controle. Os talhes so de 100 ha cada. A estimativa do volume comercial do talho
foi de 25,3 m3/ha. A pesquisa foi executada pela FFT e contou com apoio da USAID, Servio
Florestal Americano e Promanejo (projeto coordenado pelo Ibama e financiado pelo PPG7). O
trabalho de campo foi realizado em 1996.

261
O que considerado como EIR incluiu o planejamento, treinamento de pessoal,
inventrio florestal a 100%, corte de cips e corte direcionado. O planejamento foi definido 8
meses antes do incio das operaes de explorao florestal. Os equipamentos utilizados
foram: motosserra Stihl AV51, trator de esteiras Catterpillar D6 SR para construo de
estradas, skidder de pneus Catterpillar 525 com guincho e gancho para arraste de toras e a
carregadeira Catterpillar 938F para carregamento e descarregamento. Tudo muito parecido
com o trabalho da SUDAM (1978), exceto para o caso das estradas que a SUDAM utilizou,
alm do trator de esteiras D6, escavadeira, motoniveladora e rolo compressor.
Naquilo que chamado de explorao convencional (EC), os equipamentos foram
praticamente os mesmos, com a diferena que os operadores no foram treinados para EIR.
A execuo ficou por conta de parceiro industrial da FFT. O Catterpillar D6 Logger com
guincho no era adaptado para construir estradas ou ptios e para o arraste. As rvores
comerciais foram identificadas na floresta por um mateiro que trabalhava com o operador da
motosserra. As tcnicas de corte direcionado no foram utilizadas. Os operadores de
motosserra foram remunerados por tora cortada, o que encorajou o corte rpido sem se
preocupar com os danos. As equipes de arraste no receberam informaes precisas da equipe
de corte sobre a localizao das rvores cortadas.
O que chamado de explorao convencional (EC) trat-se de uma aberrao legal.
Na ocasio deste estudo, a norma vigente era a Portaria n 48 de 10/07/95. No Box 1
apresentada a seqncia de procedimentos relacionados com a explorao florestal, exigidos
pelo Ibama para aprovao de um PMFS. Comparando a descrio deste estudo envolvendo
EC com o Box 1, percebe-se que no h nada em comum entre o EC (objeto deste estudo) e a
norma vigente.
Um resumo dos resultados desta pesquisa apresentado no quadro 3. Exceto para os
custos relacionados com as atividades pr-exploratrias e preparao da infra-estrutura, a EC
tem desempenho melhor do que a EIR. Em todos os demais itens pesquisados, a EIR tem
desempenho melhor do que a EC. Por ltimo, os custos de 1 m3 colocado no ptio so,
respectivamente, US$ 15,68 e US$ 13,64, para EC e EIR. No cmbio de 17/04/08, o custo de
1 m3 colocado no ptio obtido pela SUDAM seria de US$ 20,54. Fica difcil ter uma noo
exata das diferenas de custos dos dois estudos porque o Homes (2002) foi realizado em 1996
e da SUDAM (1978) foi realizado em 1977. De qualquer modo, fica claro que a explorao
florestal de acordo com as ementas dos cursos de engenharia florestal causa menos impacto
ambiental e mais barata do que a explorao clandestina.
3.4. Explorao florestal na vrzea estudo de caso em Lbrea (AM):
No incio dos anos 90, as indstrias (laminado e compensado) do Estado do Amazonas
eram abastecidas por 3 principais fornecedores (conhecidos como compradores) de madeira
de vrzea. O sistema era o de aviamento. O comprador trabalhava com, aproximadamente, 20
prepostos. Cada preposto comandava a explorao florestal, da derrubada ao transporte at os
principais centros consumidores. O preposto, por sua vez, trabalhava com 30-40 ribeirinhos,
principalmente, durante a derrubada.
Este estudo envolveu o monitoramento de um preposto trabalhando com 33 ribeirinhos
na regio do Rio Mamori, regio Alto Rio Purus, municpio de Lbrea, Amazonas. As trs
fases deste estudo foram: derrubada (de 5 a 27 de outubro de 1992), extrao das toras (de 19
a 31 de maro de 1993) e chegada da jangada em Manaus (julho 1993). Na safra de 1992-93,
as 3 principais espcies exploradas foram: sumama (Ceiba petandra), Muiratinga
(Naucleopsis caloneura) e copaba (Copaifera sp.). Detalhes deste estudo foram publicados
por Higuchi et al. (1994). Equipamentos utilizados: motosserra Stihl 051 AVE, barco de 33
HP e rebocador de 340 HP.

262
Planejamento no existe. O preposto tem apenas uma direo a seguir e explorar o
mximo que for possvel dentro daquilo que a estao do ano permitir. A derrubada
realizada durante o perodo seco. A nica pista que apia a deciso de derrubar ou no uma
rvore a marca dgua no tronco da enchente do ano anterior; se a marca est a 3 m de
altura, o motosserrista derruba aquela rvore. A derrubada tem que ser orientada, caso
contrrio, a tora no sai da floresta. Ao mesmo tempo da derrubada, aberta uma picada por
onde, durante a cheia, o barco vai passar para recolher as toras derrubadas no perodo seco.
Durante a cheia, pequenas embarcaes (motor de 33 HP) entram na floresta alagada
para recolher as rvores derrubadas durante o vero. As toras so trazidas para a margem de
um rio ou para um lago, onde so montadas as jangadas. Dependendo da distncia entre a rea
de explorao e a indstria, as jangadas V. figura 1 - podem assumir 3 formas diferentes: (a)
espinha de peixe para pequenas e mdias distncias em rios no cauldalosos; (b) pente ou
paralela para grandes distncias em rios caudalosos, altamente recomendado para Belm por
causa do efeito da mar e (c) cabea para longas distncias em rios caudalosos.
Os principais resultados deste estudo foram:
(i) O corte de uma rvore consumiu 721 e uma equipe conseguiu cortar 29,4
m3 por hora de efetivo trabalho.
(ii) A jangada monitorada transportou, aproximadamente, 5.000 m3 de toras at
Manaus.
(iii) O tempo gasto da rea de explorao at Manaus foi de 20 dias
ininterruptos.
(iv) O custo de produo da madeira foi de US$ 6 por m3.
(v) Os preos mdios alcanados do m3 colocado em Manaus foram: sumama
(US$ 35), copaba (US$ 25) e muiratinga (US$ 20).
3.5. Outros trabalhos:
3.5.1. Flona de Tapajs:
A explorao florestal do experimento de manejo florestal conduzido pela Embrapa-
CPATU ocorreu em 1979, na Floresta Nacional (Flona) do Tapajs, no municpio de
Santarm, Par. Segundo Silva e Whitmore (1990), foram removidas 16 rvores por ha e um
volume de 75 m3/ha. Esta explorao foi considerada pelos prprios autores como uma
explorao pesada. Segundo ainda os autores, detalhes das operaes da explorao florestal
podem ser encontrados na Circular Tcnica n 9 da Embrapa-CPATU de autoria do Dr.
Permnio Costa Filho.
3.5.2. CPAF-Acre:
Este experimento foi executado em rea de 20 ha da Estao Experimental da
Embrapa-Acre, na regio de Rio Branco, Acre, em 1992. Segundo Oliveira e Braz (1995), as
operaes realizadas foram: (i) inventrio florestal a 100%, (ii) elaborao de um mapa plani-
altimtrico para construo de estradas e trilhas de arraste; (iii) derrubada orientada e (v)
arraste. O volume comercial retirado foi de 20 m3/ha.

263
Os resultados relevantes foram: (i) para cada rvore comercial explorada, 5,3 rvores
por ha com DAP 10 cm foram danificadas; (ii) para cada m3 de madeira explorada, 0,27 m3
foi danificado; (iii) os danos ao dossel causados pela explorao contriburam com 15%.

264
Quadro 1 produo e custos de explorao florestal em Curu-Una durante um ano (250 dias de trabalho),
terreno plano, solo argiloso, 40 m3 comercial por ha utilizando o skidder Clark Ranger 668B.

Atividade Equipe Equipamento Capacidade Consumo/hr produo Custo/m3


Inventrio de campo 1 mateiro 40 ha/dia
Picadas para inventrio 1 capataz 4 km/dia
6 braais 0,28
Construo de estradas 5 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 32 m/h
Permanente principal 5 ajudantes 1 Escav. Fiat Allis 0,7 m3 9,8 l 90 m/h
2 motoristas 1 Motoniv. HWB 140 140 HP 18,8 l 1 km/10 hs
1 tcnico 1 Rolo Comp TTVP 15 1420 VPM 7l 105 m/h
3 braais 1 Carreg. Case W 20 3,5 t 6,1 l 72 m3/h
1 motosserrista 2 Caambas Dodge 3 m3 3,5 km/l 4,3 m/h
1 Motosserra Alpina 90 cc 2l 32 m3/h 1,65
Construo de estradas 5 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 46 m/h
Permanente Secundria 5 ajudantes 1 Escav. Fiat Allis 0,7 m3 9,8 l 25 m/h
2 motoristas 1 Motoniv. HWB 140 140 HP 18,8 l 1 km/ 8 hs
1 tcnico 1 Rolo Comp TTVP 15 1420 VPM 7l 7,35hs/km
3 braais 1 Carreg. Case W 20 3,5 t 6,1 l 72 m3/h
1 motosserrista 2 Caambas Dodge 3 m3 3,5 km/l 4,3 m/h
1 Motosserra Alpina 90 cc 2l 46 m3/h 3,30
Construo de estradas 2 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 80 m/h
Secundria temporria 2 ajudantes 1 Motoniv. HWB 140 140 HP 18,8 l 4 h/km
3 braais
1 tcnico 0,41
Manuteno de estradas 2 oper. Maq 1 Motoniv. HWB 140 140 HP 18,8 l
2 ajudantes 1 Carreg. Case W 20 3,5 t 6,1 l
2 motoristas 2 Caambas Dodge 3,5 m3 3,5 km/l
3 braais 0,54
Abrir ptios na mata 2 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 420 m2/h
2 ajudantes 1 Motosserra Alpina 90 cc 2l 1250 m2/h
2 motoristas
5 braais 4,02
Abri ptio beira rio 1 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 300 m2/h
2 ajudantes 1 Motosserra Alpina 90 cc 2l 1000 m2/h
1 motorista 0,47
Abrir picadas principais 1 oper. Maq 1 Catterpillar D6 140 HP 25,9 l 500 m2/ha
2 ajudantes 1 Motosserra Alpina 90 cc 2l 1000 m2/h
1 motosserrista 0,56
Derrubada 2 motosserr 2 Motoss. Alpina 90 cc 2 14 m3/h
2 ajudantes 2,95
Extrao (arraste) 1 oper. Maq 1 skidder 668 B 160 HP 12 l 25 m3/h
3 ajudantes 9,31
Toramento nos ptios 1 motosserrista 1 motoss. Alpina 90 cc 2 litros 50 m3/h
Na Floresta 1 ajudante 0,90
Carregamento caminho 1 operador 1 Carregad. Michigan 85 7,5 t 15 litros 108 m3/h 2,21
Transporte rodovirio 1 motorista 1 Scania Vabis 260 HP 2,5 km/l 28 m3/h
1 ajudante com semi reboque 35 t 7,43
Toramento ptio 1 motosserrista 1 motoss. Alpina 90 cc 2 litros 50 m3/h
Beira rio 1 ajudante 0,90
Empilhamento toras 1 oper. Mq. 1 Carreg. Case W20 3,5 t 6,1 l 100 m3
Beira rio 1,82
Soma dos custos at o ptio beira rio 36,85
Imprevistos (10%) 3,69
Custo de administrao e infra-estrutura (30% 12,16
Custo total at beira rio 52,59
Carregamento balsa 1 operador 1 Carreg. Case W20 3,5 t 6,1 l 50 m3/h
E transporte fluvial 1 rebocador 153 HP 801 l 19,81
1 balsa 80 t
Soma dos custos de transporte fluviial 19,81
Administrao e imprevistos (20%) 4,03
Custo total do transporte fluvial 23,84
Custo total da madeira (em m3) entregue na indstria 76,43
Custo corrigido para 2008.

265
Quadro 2 Estatstica descritiva dos tratamentos do BIONTE.

(a) rea basal (m2/ha)

Tratamentos T1 T2 T3 T4 (*)
Explorada (E) 2,50 3,50 4,91 3,56
Estoque EL (DAP25 cm) 7,87 8,37 8,44 7,37
Intensidade (**) 32 % 42 % 59 % 49 %
Razo E : M/D 1,33 0,80 0,77 1,07
Morta ou danificada (M/D) 3,33 3,33 2,88 3,84
Morta EL (M) 0,85 0,98 0,90 1,00
Morta OUT (M) 2,30 1,76 2,60 2,84
Danificada (D) 0,18 0,14 0,27 -

(b) Volume comercial com casca (m3/ha)

Tratamentos T1 T2 T3 T4 (*)
Explorada (E) 34,3 49,0 67,5 49,7
Estoque EL (DAP25 cm) 103,5 112,2 112,8 98,8
Intensidade (**) 33 % 44 % 60 % 51 %
Razo E : M/D 1,2 0,7 0,7 1,0
Morta ou danificada (M/D) 40,8 35,2 46,4 47,7
Morta EL (M) 10,3 12,1 10,8 12,2
Morta OUT (M) 28,4 21,4 32,2 35,5
Danificada (D) 2,2 1,6 3,4 -

(*) T2 repetido em 1993


(**) intensidade de corte = (E estoque EL) x 100
EL = espcies listadas; OUT = espcies no listadas

266
Box 1

Portaria n 48, de 10 de julho de 1995

4.3. Sistema de Explorao:


4.3.1. Caracterizao da rea:
4.3.1.1. Volume a ser explorado, por espcie;
4.3.1.2. Dimetro mnimo de corte;
4.3.1.3. Levantamento expedito com a marcao das rvores que sero
derrubadas;
4.3.1.4. Marcao das rvores que sero reservadas para a segunda colheita
(nmero suficiente que garanta a sustentabilidade do manejo, com dimetro
entre 15 cm e o dimetro de corte).
4.3.2. Estrutura da rede de estradas, ptios para estocagem de toras e picadas
de arraste.
4.3.3. Dimensionamento do pessoal envolvido na explorao florestal.
4.3.4. Dimensionamento dos equipamentos.
4.3.5. Apresentao da metodologia das operaes de explorao florestal
quanto a derrubada, arraste e transporte.
4.3.6. Cronograma de execuo das operaes de explorao.
4.3.7. Avaliao dos custos e rendimento das operaes de explorao
florestal.

267
Quadro 3 Resultados do trabalho de Homes et al. (2002) em talhes de 100 ha.

Item pesquisado EC EIR


rvores rejeitadas, defeitos marcao (n) 0 217
rvores rejeitadas aps teste de defeitos derrubada (n) 15 126
Total de rvores cortadas (n) 425 331
Total de rvores no retiradas da floresta (n) 28 3
Total de rvores arrastadas at o ptio (n) 397 328
Danos no solo trilhas de arraste (%) 7,66 3,9
Danos fatais s rvores remanescentes, DAP 35 cm (%) 38 17
Desperdcio (madeira esquecida) em m3/ha 6,05 1,92
Custos pr-explorao (planejamento e infra-estr) em US$/m3 0,73 1,93
Custos de extrao em US$/m3 4,49 3,14
Custo total de produo em US$/m3 15,68 13,84

268
Figura 1 (a) Jangada tipo pente para longas distncias e rios influenciados por mars.

Figura 1 (b) Jangada tipo espinha de peixe para curtas distncias e rios calmos

Figura 1 (c) Jangada tipo cabea para longas distncias e rios caudalosos.

269
Bibliografia:
BIONTE (Biomassa e Nutrientes). 1997. Relatrio Final do Projeto Biomassa e Nutrientes
Florestais. Convnio INPA/DFID. 344p.
Coic, A., Vieira, G. e Minette, L. 1990. Degats causes par lexploitation forestiere sur l
dispositif ZF2, Manaus, Bresil. Em: Anais do Atelier sur lamnagement et la
conservation de lcosystme forestier tropical humide. MAB/UNESCO, IUFRO E
FAO, Cayenne, Guiana Francesa. Pp. 62-73.
Costa, F. e Magnusson, W. 2002. Selective logging effects on abundance, diversity, and
composition of tropical understory herbs. Ecological Applications, 12(3):807-819.
Guilherme, E. e Cintra, R. 2001. Effects of intensity and age of selective logging and tree
girdling on an understory bird community composition in Central Amazonia, Brazil.
Biotropica, 7: 77-92.
Higuchi, N., Hummel, A.C., Freitas, J.V., Malinovski, J.R. e Stokes, B.J. 1994. Explorao
florestal nas vrzeas do Estado do Amazonas: seleo de rvores, derrubada e
transporte. Em: Anais do VIII Seminrio de Atualizao sobre sistemas de colheita de
madeira e transporte florestal. UFPr/IUFRO, Curitiba, Pr. Pp. 168-193.
Homes, T.P., Blate, G.M., Zweede, J.C., Pereira Jr., R., Barreto, P. e Boltz, F. Custos e
benefcios financeiros da explorao florestal de impacto reduzido em comparao
explorao florestal convencional na Amaznia Oriental. Fundao Floresta Tropical.
69p.
Macedo, J.H.P. e Machado, S.A. 2003. A Engenharia Florestal da Universidade Federal do
Paran: histria e evoluo da primeira do Brasil. Editado pelos autores, UFPr. 513p.
Mello Ivo, W., Ferreira, S., Biot, Y. e Ross, S. 1996. Nutrients in soil solution following
selective logging of a humid tropical terra-firme forest north of Manaus, Brazil.
Enviornmental Geochemistry and Health, 18: 69-75.
Oliveira, M.V.N. e Braz, E.M. 1995. Reduction of damage to tropical moist Forest through
planned harvesting. Commonwealth Forestry Review, 74(3): 208-210.
Silva, J.N.M. e Whitmore, T.C. 1990. Prospects of sustained yield management in the
Brazilian Amazon. Em: Anais do Atelier sur lamnagement et la conservation de
lcosystme forestier tropical humide. MAB/UNESCO, IUFRO E FAO, Cayenne,
Guiana Francesa. Pp. 86-117.
SUDAM. 1978. Estudo de viabilidade tcnico-econmica da explorao mecanizada em
floresta de terra-firme na regio de Curu-Una. PNUD/FAO/IBDF/BRA-76/027. 131 p.

270

Você também pode gostar