Um Estadista Do Império - Tomo Primeiro PDF

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UM ESTADISTA DO IMPERIO

NABUCO DE ARAUJO
DA VIDA

UAS OPI lIES, SU.\ POC

POR SEU FILHO

JOAQUIM NABUCO

TOMO PRIMEIRO
18131857

RIO DE J \.NEIRO
H. GARN I ER, LI VREIRO- EDI TOR
71, RUA MOREIRA- EZAR, 71
E

6 RUE DES SAINTS-P?:RES, 6


PARIS
UM ESTADIST A DO IMPERlO

NABUCO DE ARAUJO

. ... .
J.T. AJ3 DE RA J
U 1 E8T ADI8TA DO IMPERIO

NABUCO DE ARAUJO
UA VID \.
SUAS OPI IES, DA POCA

POR SEU FILHO

JOAQUIM NABUCO

TO 10 PR[~IEIRO

1813-1857

H. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR
7l7e, R A DO OUVIDOH, 71-7 6, RUE DES SAINTS-PHF.S, ()

RI Dr:: JANEIRO PARIZ


PREFACIO

Como li \ e occasio de dizcr no Instituto Historico, meu


Pac, o lerceil'O senador Tabuco, tinha o costume de de
joven de gu::mlar tudo que lbe dizia respeito, as cnrtas e
papeis pur elle recebido c a cOI ia da corre pondencia
que expedia; mai larde, para o eus trabalhos do
1'1inislerio, do enada, cio Con clbo de E lado, da advo-
cacia, foi formando o que elle chamaya pecuhos, grande
YOIUllle cm que colligia e repartia, sobre os differentes
a umptos ela aelmini lra o, da politica ou do direito,
opusculo", artigos de jornaes e de revistas, carta, manus-
cripta, nola . Tudo is o con tituia um va to material,
accumulaclo amo fra durante perto de quarenla annos
Com a sua Libliolhcca, es e archivo absorveu parcella
pai' pal'cella slla existencia, toda de gabinete, de pensa-
mento, de trabalho inlel1e lua1 incessante.. o podia eu
por minha vez manu e:11-0 sem enlir nesse pnpei a
pre. na do seu espirilu, sem c mprehender que ell .
eram os fragmentos de ua vidn, que eHa devia achar-se
VI rl1EFACIO

alli inteil'a, completa para quem a puele se reconsh'uir, e


que era preci o que alguem um dia u desprende se
1.1'e11es. }ioi o receio de que, se eu mesmo o no fizesse,
nunca fosse utilisuda e. sa para mim preeiosa collceo
que me decidiu a emprehencler u obra <la qual hoje con-
cluo o primeil'o 10mo .
O meu primeil'o trabalho foi ler todas as peas e doeu-
mentos e lirar d'elles o que pude e figurar na 'ida que
eu planejuva. Esse trabalho preparatorio oecupou-me de
1893 'u 1894, principalmente durante os mezes da
Revo1Ia, quando ao revol ver a poei l'n das nossas an liga
luctas pacificas eu ouvia fra o duello da artilheria do
mar e da terra n'e ta bania. Uma vez termina lo traI alho
ele separa~o ou de eliminao, tralei de reunir 'e dispr
chronologicamente o material e eolhido, ligando-o pe~a
por pea de moelo a formar o areabouo completo ela
obra. Depois de ter dado esta primeira frma, j de \'idn,
obra toda, foi que ame ei a apromptar para a imprensa
os primeiros capitulas, que me foram logo obsequio a-
mente pedidos pelo dislin to escriptor, o Sr Jos Veris-
simo, para a Re la Bm-=-ileim, em cuja paginas nlgun
d'elles nppareeel'am. Ao terminar o primeiro volume -
me gTato podeI' dizer que os dois outro esto promptos
em esboo, i to , que tm todo o malerll de factos e
idas que deve entrai' em sua composio olligido, s
lhes faltando a frma de liuo, que outra mo lhes poderia
dar sem prejuizo do fundo. O importante para Illim era
impedir que o arehivo de meu Pae tivesse a :orte dos
papeis de qua. i touo os homens qu flgural\ m nahisloria
do nosso palz.
PREFACIO VII

Escrevendo a vida c1oultimo senador Nabuco de Araujo,


no dou seno uma e peeie de "isla lateral da sua poea.
A no'ura centl'al do egundo reinado o proprio Impe-
rador, e s quem lhe escrevesse a Vida e n illustrasse
com os documento que eUe deve ter deixado, poderia
pr em fco, em seu ponto de cOI1\'er o'encia, a Grande
Era I3razileira, a qual lhe pertence. S d'e e modo se
poderia collocar cada um dos estadistas que o cercaram
no seu respeclivo plano e dar-lhe a suas propor es
reaes. A pre ente' ida apenas uma contribuio para a
hi toria lo reinado de D, Pedro 11, um e bao parcial para
el' convenientemente reduzido e aju (ado : perspccti\'a
do quadro, quando se tenha feito egual trabalho a res-
peito elas outra figura que o ho de compr. \.S propor-
Ces dadas n este livro figura de abuco, 'posso dizel-o
1

sincel'amellle, no so devidas a nenhum desejo de


cngl'ande cl-o : custa dos seus ontemporaneo, mas ao
\

facto de seI' a biographia cl'clle qu u e cre"ia, aos


.
numero os documentos que tive para documental-a, e tam-
bem circumslancia, que lastimo, de no se ter ninda
e 'cl'iplo na mesma escala a viCIa do.s outros homens de
E;;tauo.

Rio de Janeil'o, Dezembro de 1807.


UM ESTADISTA DO IMPERIO

NABUCO DE ARAUJO

LIVRO I
AT O MINISTERIO PARAN (1813-1853)

CAPITULO I
INFANCIA E IOCIDADE (1813-1842)

I. - Primeiros Annos.

Jos Thomaz Nabuco de Araujo nasceu em f4 de Agosto


de f8f3 na capital da Bahia, provincia que, durante mais de
llma gerao, pde Sei' chamada a Virginia brazileira, porque
sC\' a me dos nossos principaes estadistas, como a Virginia
foi para os Estados Unidos a me dos Presidentes, O
velho vigal'io padre Loureno de Magalhes, que o baptizou
cm casa do seu padrinho, o chanceller Pereira da Cunha,
depois l\1arquez de Inhambupe, baptizara em f78~ seu pae,
pl'imeil'o senador do mesmo nome, nascido na mesma fre-
guezia de S. Pedro Velho. O primeiro Jos Thomaz era filho
de Manoel Fernandes Nabuco, e irmo do chancellel' Jos
Joaquim Nabuco de Araujo, que falleccu Baro de Itapoan e
senador pelo Par, Nabuco repl'esenta assim a tel'ceil'a reno-
vao da estirpe portugueza em s610 bahiano. A familia, de
I. 1
2 Ul\I ESTADISTA DO IMPERIO

boa ol'igem, que tinha "indo de Portugal no meado do


seculo XVIII, era de posi o social modesta e vivia sombra
tio chanceller Jos Joaquim, o unico dos seu membros que
rompera a obscuridade que a envolvia ..
Quando lhe nasceu o pl'imeiro filho, Jus Thomaz e tava
exercendo o cal'go de guarda-mr da Relao, e doi' dos seu
irmos serviam na guarnio da cidade no me mo regimento.
Basta ter doi filho militares nesta praa pam viv [' sempre
afilicla, 1) queixava-se, em carta de 26 de Maro de 1813, a
me delles, D. lal'ianna Joaquina. O temor ne.. e anno pro-
vinha da insurreio dos negl'os Us s, 'everamente repri-
mida (1), mas que ainua ameaava conlagl'ar a escl'avatura
toda. No mais, a admini trao do Conde dos AI'cos de. li -aH
na esteim aberta em agua - da Bahia pela carta regia de 28 de
Janeiro de 1808 que franqueou aos navio, do mundo os
portos do Brazil. Dois aono' antes Jos Thomaz fI'a nom ado
secretario para l\Iatto-Grosso, e, animado com a e perana de
collocao mais pl'Oxima, contrara casamento com uma
joven baltiana filha de um doutor Costa Feneira, deixando-se
ficar na Bahia me mo. A situao do casal, como test munba
a carta de D. Marianna Joaquina, era apurada; elles no tinham
sino os recursos de um insignificante emprego; a viua,
entretanto, era facil naquelle tempo, o servio dome tico
fazia-se com alguns 0scravos, os parentes ajudavam- e uns
aos outros com as suas sobras, em cana chegavam con-
stantes presentes de as~ucar, de farinha, de cl'iao, de modo
que em casa no se conhecia a priva~o. POI' isso o cres i-
menta da familia no os assu tava. O numel'O de meus
filhos ainda pequeno, so pOI' ora tres , escl'evia Jos
Thomaz, no tel'ceiro anno do casamento, a seu tio o chan-
ccller, o homem notavel da familia, meu Tio e Senhor da
minha maior con 'idel'ao e respeito, como elle o tratava.
Em 1816 era elle d ~pachado em secl'elal'io do governo do

(1) O conde dos Arcos todavia. mandou reprehencler o major da


Legio da Tone qu.e bateu os negl'o matando muitos dellcs,
" pOI' haveI' obrado sem ol'dem empregando al'mas COIl{/'{t uns
misel'aceis, a

..
h\FAKOL\ E MOCLDADE

Pal'. Tinha Nahuco apena tl'e anno. quando deixou a


Bahia, onde nUllca mai yeio a l'e idi\'. i'lenhuma impl'e. 'o
podia gllal'dar d torro natal. Com mais algum temIa t01'-
Jhc-hia ficado indelevel na l'ecol'dao o panomma d Cidade
Alta no dia' de festa; o !Julcue da: junellas CO!JCl'tO de
colcha de duma. co; a cadci"inhas, dc alto docel e cOI,tinas
bordada', carrcO'ada. por negl'o esclllptul'ae, impol'tados
para e se servio como se importam hoje para Cc,\I'I'llagens
cavallo de raa; nos vastos pateo do. grandes con en tos,
ento em toda a riqueza da suas alfaia. dos eu' paramento ,
dos seus azulejos, m toda a pompa da liturgia, o acampa-
mento popular e pel'a da pro i o, sobre ahindo no m ia
da multido o bu tos das Africana de toda a edflde, que
di putavam a vi ta com a cores vivas das suas faixa e
turbante, carregadas de adereo , decotada em renda ; por
fim, ao e' lU ceI', o di 'peL'sar da romada pelas ladeiL'a e
telTao que dominam com a. sua ma as e cura d yege-
tao tropical a agua pl'ofunc1as e as bonJa gl'a ia a da
immensa bacia. O contacto das uas ll'imeim raize com
e.. c '610, aquccido pOI' um sol ql1e , com o da Arrica, um
re 'ervatorio de mocidade pel'petua, no foi e tranho COnl-
lllunica!Jiliuac1e, fundo do temperam nto de Nabuco. Elle ter
cm sua carreira politica, ainda que profundamente modificada,
uma forte caracteriza~o ballana. O e tadi tas bahiano
possuiam cm grau superior a todos os outro' a adaptao
prompta, a llexibilidade impes oal, que con titue o tempel'a-
menta politico. At o fim ser essa a di. po io intima de
.Tabuco. Apezar de obedecer tambem outra ordem de im-
pulsos de independencia e afflnna 'o indi idual, por cau a
do meio pernambucano em que se fOI'lllOU e da qualidades
de iniciativa e ol'iginalidade que possuia, no todo eH' pertence,
pelo equilibrio do seu e. pil ito tan to quanto pela' 'ua origens,
gmnde pleiade da Bahia.
Dos tre aos doze annos, Tabuco passa no Par, onde seu
pae devia representar um papel saliente nas lutas da Indcpen-
denciu. Comeando como secr tario do Conde de Villa-Flr,
depois duque da TCl'ceira, que se mostruu durante o movi-
M ESTADISTA D lMPERIO

mcnto constitucional amigo decidido dos paracnses (Raiol,


1Ilolins politicos, I, p. 58), Jos Thomaz no achou facil a
principio a carreira administrativa. Com a organizao do
Guyerno Provisorio em 1821 foi nomeado ou tro secretario,
mandando, entretanto, a Junta, que o antigo continua, e a
rccebel' o ordenado. A isto, no se prestou clIe. Educado no
cumprimcnto meticuloso da lei, pal'a elIe no havia pequena.
claudicaes. No quiz. o supplicante, dil'tl elle em seu
requerimento de 31 dc Julho de 1 22, csle beneficio da Junta,
[lorqu@ lhe parec no ser ju to gravai' a Fazenda Nacional,
pcrcebclldo ordenados quando no excl'citava os empregos
p:ll'a cuja remuncmo cl'am lcslinados. De l\Iaro dc '1822
lt Janeiro de 1823, em que obteve ser nomeado Juiz da
alfandega do Pal', esteve Jos Thomaz desempregado, vivendo
dc suas pequenas economias. No anno anteI'iol' soffl'era ell..:
um pl'ejuizo sensivel para um homem pobl'C, cal'l'egado de
familia. Indo cm servio a PCl'llambuco, foi aprisionado pOI'
um bergantim d'Al'tigas, tendo que pagar de rcsgatc, com o
descmbal'gadol' Banadas que yinha tambcm a bordo, 1:250$,
alm de perderem tudo que levavam. Com a nomeao de
juiz da alfandega a situao melhol'ou afinal. O empl'ego no
era I'etl'ibuido sino com emolumen tos pel'cebidos das p3rtes
e que sommayam 6005. A junta de fazenda da pro incia
assignara ao emprego o ordenado annual de 400S, mas o
Thesouro desappl'ovou a resoluo. O juiz da alfandega
l"ecorreu ao Corpo Legislativo, expondo o desar quc resulta
a fiscaes de dil'eitos de estal'em a olhar para a mos das
pal'tes que lhes ho de pagaI' os emolumento. Emquanto,
pOl'm', no se altel'a\a essc systema, tinha o chefe de familia
que se cingil' ii pequena renda do seu empl'ego
Se por um lado a necessidade desapparecel'a de casa, por
outro entrara o desassocego. O anno de 1823 foi no Pal' a
poca de maior conflicto entre o partido europeu e o bl'azileil'o
A posio dc Jos Thomaz era diWcil, olwigado como sc via,
na qualidade de procul'ador in tel'ino da Cora, a resistil' 11
requisies do governador das armas, I) brigadeiro Jos MaJ'ia
de Moura, reputado a ::I1ma da resistencia. sabido o estrata-
INF.\NCIA E MOCIDADE li

g ma, tirado, dir-se-hia, do Galo de botas, pelo qual o joven


Grenfell fez reconhecer o no\'o imperio pclas autol'idade e
povo do Par, apl'esentando-se ssinho no cu brigue e
fazendo crcr que estava barra a esquadra do almirante
Cochrnne, que elle apenas precedia. a acta em que foi regis-
traua a adheso ao impel'io a signou, poucas linhas abaixo
do no"o bispo D. Romualdo A. de Seixa', lo Thomaz Nabuco
de Araujo. Quando e conheceu o artiucio de Grenfell, houve
gl'ande agitao na cidade, a provocaes entre os partidos
tOI'naram- e continua , pl'oduzindo constantes di turbios.
Com a pequena populao de Belm, as commoes da
pl'aa publica alarmavam todas as famlia, pI'incipalmente
as dos pel'sonagen locaes. Na casa do juiz da alfandega era
natul'almente ainda mais forte a repercusso do que se passava
na cidade. Sua mulher, D. Maria I3al'bara, e tava ento nova-
mente em vesperas de dar luz. A revoluo triumphante
entregava-se a todo os excessos, excitada contl'a os portu-
gueze pelos especuladores politico. A acclamao do impe-
rador em 12 de Outub,'o deu logar a uma exploso demao-o-
gica do novo e 'pirito nacional, seguindo-se repre alia, pela
quaes se pl'enderam maior numero de u peitos do que a
pl'i es podiam comportai'. Pal'te desse, duzentos e cincoenta,
:oldados quasi todo , foram lanado no poro do briguc
Diligente, onde fechada a .scotilha p la pequena guarda de
bordo receiosa de ulla ublevao, morreram, em poucas
horas, a phyxiados. Ne se m srno dia 2l de Outubl'O de 1823,
que a 'siO'nala talvez amai tl'iste ca 'ualiuade das nos as pl'i-
es politica no tempo da enxovia. e das presigangas,
falleceu ue pal'to D. l\Iaria BaI bal'u, aos vinte e oito anno de
edade, colhida na sua d licada situao pelos abalo da guerra
eivil em quc seu marido se achava envolvido. As emoes
dos ultimo dias destruiram facilmente o organismo minado
por sete annos de residencia se,o-uida no equador, em condi-
es que para ella equivaliam s privaes de um verdadeiro
des tel'l'o.
Nabuco tinha s dez annos quando perdcu a me. O retrato
que. clle " veze::. fazia della era de uma joven . ('nltora
UM ESTADISTA DO UIPEHIO

de caracter expansivo, muito dedicada e extremosa, e que


soffl'ia com impaciencia a sua ausencia da Bahia e a . epal'ao
do :eus. A clla d eu Ue seguramente a parte imaginativa
a sua natureza; seu pae tinha a di po'io, ainda que muito
affectuosa e sensivel (1), l'esel'vada, methoclica, reo-rada, ele
um empregado antigo, a obediencia, a 'ubordinao, o gosLo
da mediania, o re peito hierarchic , a regularidade de habi-
tos; da me que elle tirou a iniciativa, a indepenelencia de
espirito, a ambio de gloria, o amor ela boa companhia, o
desejo de agradar, a seduco pe soaI. A perela da me na
infancia um acontecimento 'fundamental da vida dos qlle
transformam o homem, mesmo quando elle no tem cons-
ciencia do abalo. De de esse dia ficava dr idido quc Nabuco
pel'tencel'ia forte familia dos que se fazem a:peram nte por
si me mos, do' que anceam por deixar o e. ti' ito conchego
da casa e procuraI' abrigo no vasto de el'\O do mundo, em
oppo ioaosquecontraem na intimidade materna o in. tinct
domestico pl'edominante, ITel'cules no se J}I' occupava ti
deixar os filhos na OI'J handade, diz-nos Epicteto, pOl'qu
sabia que no ha orphos no mundo. Em nossa politica e em
no sa sociedade peJo menos tem sido e. sa a r gl'a; o os
orphos, os abandonados, que vencem a lucta, obem e
governam.
Com a mOI'te da me, Nabuco fica desde menino enlJ'egue
a si mesmo; as influencias que lhe t m de mocJelar o ca-
I'actel" no so mais as influ ncias do 11.11', o to las extcl'I1as.
Do pae viuvo para o filho no havia in inuao de senti-
mentos, havia o exemplo, nada mais. No fic.ou muiLo tempo
sem governo a casa em que se estavam ri ando os seis filhos
que deixara D. l\1al'ia Bal'bara, o mais velho dos quaes tinha

(1) " J e tou velho, meu Tio; muito depre... a pa~sam os anno",
mas elles no me tm feito esquecer do Vmc. ; ou me creia Oll
no, fique certo de que tenho ainda pre. ente a, lia "pes oa, apezar'
me deixaI to pequeno II. Carta de 11 de Junho de 1816 a lIm
irmo da me. Toda a corre pondencia com o filho, o .papl'is do
fanlilia, testemunham profunda sen ibilidade sob a (,alma appa-
rente de uma resignao educada.
I FANCIA E ~rnCIDAnE 7

apenas dez annos. Um anno depoi , ca 'ava Jos Thomn,


ento cOI'onel do 3" Regimento de 2a linha, em urna das fami-
lia, mai, con ideradas do Par. ua egunda mulher era,
porm, quasi uma criana j assumia a direco da famlia
numerosa do marido sem pratica da vida, e no podia infiuir
no e:pirito de Nabuco, quasi da mesma edade que ella, e
iII tellectualmente mais des .nvolvido. A autoridade que a
jo,' n madrata exerce e ol)l'e o enteado no podi':l sei e e
pre tigio da educao, da eXl riencia e do bom senso, que
as crianas reconhecem logo c ao qual se submettem instinc-
tivamente; 'm'ia smente o capl'icho doutra cl'iana como
'lIe, a quem o mal'iLlo dava empl'e razilo diante do. fllhos
para que elle a respeitassem.
Entl'e a inl1uencia que formaram a individualidade de
Nobuco, formao prcmatura como de ordinal'io acont ce com
o ol'pho de me, preci o CORlaI" ao me mo tempo que a
aco politica da Independencia no ponto onde esta abalou
mais tempo o' e pirito , a physionomia religio a de Belm.
,\. cidade no chegava nes a poca atei' 20,000 habitante,
deva tada como fora pela variola, e o cu principal tmo vra
religioso. Belm fI'a de um seculo atl'aZ (-l124) sde de um
bi 'pado' e um bispo, sobretuuo em uma pequena localidade
cOll1pacta, era naquelle tempo, em que tudo era respeito um
P I'sonagem mais imponente do que qualqllel' hoje. Para
tornai' maior es e a eendente, o bi. po el'a Dom Romualdo. O.
funccional'ios de alta categoria viam-se natul'almente chn-
mauo a tomar parte nas gl'ande cel'cmonia' de que elle era
a fiO'ura centl'al. O coronel Nabuco fora eleito d [lutado [ll'i-
meira !egi 'latma, seguindo-se-lhe em votos Dom Romualdo.
EntJ.'eo dois coll ga ueueputao a I'elaeseram estl'cita .
Em um menino intelligente e [lrecoce a admil'al~iio pelo
gl'ande l)I'elado bl'azileil'o no podia deixai' de impl'imil'-, e
pl'Ofundamente. Os edificio' publicos e religio 'o da' poca
apl'csen tavam em relao ao atrazado desen vol vi men to da
idade UI11 conll'asi imilhante ao da gl'ande' con:tl'uces
lapa, cas de A, 'ump com a pobreza da edificao particu-
lal'. A Egl'eja e a Meu'opole dominavam de cima esses imper-
8 UM ESTADISTA DO IMI"ETUO

feitos l'udimentos de cidade, como que para forar a popu-


lao a levan"tal' os olhos para ellas. A vida pal'aense nes es
annoseontiguos Independencia foi extremamente agitada.
Em nenhuma utra parte do paiz deixou a Independencia o
mesmo sulco profundo de odio. Desde '1823, a wmeal' pelos
acontecimentos antes referidos, at o combate de nove dia
dentro da cidade e s convul es de 1835, Belm foi theatl'o
de luctas politicas e nacionaes de um caraeter selvagem pecu-
liar. Isto causou o abandono da cidade por todos que podiam
fugil' della, o estrago e ruina das propriedades. o meio do
retraimento geral de tudo que era sociabilidade, as grande
solemnidades da Igr ja eram como que treguas guerra poli-
tica. o espirito do joven Nabuco a impresso dellas no
se devia apag.ar mais.
D facto, como se ver, conservou elle at a morte as uas
crenas catholicas. O seu espirito j eslava fechado a idas
novas na poca em que se deu no nosso paiz a prim il'a inva-
so da critica religiosa; pois natural no ter elle cunhecido
a crise moral das ultimas geraes; estava ainda, porm, em
pleno desenvolvimento no tempo em que dominava o indiffe-
rentismo e se perdia a f sem pa. sal' pela duvida. Apezar
disso conservou-se impenetravel. A explicao do facto que
a religio foi em Nabuco uma camada solida collocada imme-
diatamerite sobre a natureza moral, e no sobre a supedlcie
intellectual smente. Desse modo no existia neHe entre o
homem e o cI'ente o vasio que tantos descobrem em si mes-
mos. A adaptao da religio a todos os pontos da conscien-
cia era completa e perfeita. Nada do que elle viu ou ouviu
mais tarde conseguiu destruir a primeira argamaa da alma.
O segredo des'a construco inabalavel da infancia est na
impresso que elle recebeu do culto catholico, ~ em uma
poca de temor e incerteza e em um scenario que engl'andecia
a religio, - envolvendo como um fundo de ouro a imagem
de sua me morta. Uma segunda religio de amor e de sau-
dade manteve viva no orpho a f commum materna, no a
deixando pel:mear at tomal'-se indestructivel.
Ao mesmo tempo que era eleito deputado, Jos Thomaz
INFANCIA E MOCIDADE Ir

conseguia fazer eleger senador pelo Par a seu tio, o chan-


celler. Era o pagamento de uma divi la de O'ratido. No el
um pequeno resultauo para o antigo O'ual'da-mr da relao
da Bahia, chegado a Belm sem um conhecimento siquer.
Todo e'se caminho elle o fizera graas sua eriedade, sua
honl'adez, sua prudencia em toda as relaes da vida. O
facto do ser Dom Romualdo o seu companheiro de eputao
exclue a ida de qualquer al'tifi io na elei~o. aqu lia poca
o mandato legislatiyo tinha o aracter de uma olicitao do
povo, ninguem o fabricava pal'a i.
Com a el io do pae para a Camara o horizonte vai mudar
inteil'amente para o joven Nabuco. Em 28 de l\Ial'o de '182J
seguem todos pat'a o Rio de Janei!'o. Um apontamento de
Jos Thomaz mostra que no era tarefa facil nessa poca
viajar de to longe com familia. O novo deputado trazia em
sua companhia a mulhe!', sete filhos menOl'es, uma cl'iada
com um filho, e onze escravos. E!'a uma expedio. Depois
de treze dias de navegao foi foro o al't'ibar a Belm por
no ser possivel continuar a viagem em risco imminente em
I'azo do e tado da ma treao e agua abe!'ta na pra do pa-
tacho, cujos com modos eram pessimo . Desembarcando no
Par, teve elle que fl'etar o: camara de uma e. cuna at o
Maranho pelo preo de 600" fazendo ua cu ta a d s-
pezas precisas para a su tentao da famlia. Ao l\Iaran!lo
!legaram em 3'1 de Maio, mas ahi ti eram de demo!'ar- e
POI' falta de tran port at 5 de Julho, em que poderam em-
barcar em uma galera para o Rio. O patacho custara 360 ; o
segundo transpo!'te na escuna 600, , fra as comedoria ; no
l\Iaranho despendeu Jo ' TllOmaz com o rancho da viagnm
at crte 350$, sem contar a passagen , o que tuclo junto,
excedia de muito a pequena ajuda de custo, pelo que teve elle
de vendei' tres escI'avo dUI'ante a viagem.
Essas viagens em barco de ve1a affeioal'am . abuco ao
mar, e deixaram-lhe grande sauclade da vida de bI'clo. As
histOl'ias que elle contava das suas travessias entre o Par
e o Rio de Janeiro mostram que Livera na infancia e sa fami-
liariedade com as ondas que no conseguem os que s as
UM E 'TADISTA DO IMPERlO

vem da alta muralha dos gl'ande tran atlanticos, Mais


tard , na velhice, como um fresco movedi o nos vos do eu
gabinete de trabalho, o mal' eI' qua i dUI'antc vintc annos,
no Flamcngo, o companheiro con 'lante da ua lao. UI'a.
Nada opra a dilatao I'apida do spil'ito tanto como as
viagens, a mudana de costumes, de ,ociedade e de paiz. O
pel'igo das grandes de loca-es fl'equentes tornal'em o pi-
I'ito fluctuante, vel'saeil, desapegado. Do Pal' pal'a o Rio a
differena era considel'avel. No va to meio pal'a o qual o
tl'anspol'tavam ao doze annos de edade devia de 'abl'o haI' o
pl'imeiro germem de sua v J'dadeil'a v cao, - a politica.
Foi com esta cau. a permanente de de atteno no pil'ito
que elle fez os e. tudos de pl'eparatol'o 'Ie 182 a '1829. O
pae no o podia dil'igil' Delles, no t ndo I'ceibido outra in -
tl'uco sino a quc el'a indi:pensav I no seu t mpo a Glllo
de uma familia pobt'e destinado a pequenos mpl' 0'0" o
onhava Manoel Fernandes abuco que o Bl'azil e torna 'e
impel'io para o filho Vil' a seI' enadol', Nabu o UI' ava corno
externo as aula, da cidad , mas o que via uvia em ca a
do pae, f,'equentada pelas deputaes do ol'te, tinlla maior
intere 'se para elle do que o latim ou a mathcmatica. A familia
morou sempre no centro da cidade, em I'uas vizinha da
Camara, como a da Assembla e do I10spi ia; nas g"< ndes
occasie, , em vez de directamente .. guir para a ela 'se ou de
\ oltar para a casa, o joven JO' Thomaz cOI'ria gal ,,,ia da
Camat'a para ouvir Vasconcello ,Ledo, Calmon, Paula om.a,
Dom Romualclo, Lino Coutinho, aquelle r cinto, porm, no
qual se l'eunil'a a Constituinte, a moeidade via ;'obt'ctud o
vasio deixado pelos Andl'adas. Em '1829 ellcs e. tavam todo.
tre' no Bl'azil. O pl'e iigio da grande trindade da Indepen
dencia e da Constituinte tinha conquistado inteiramente os
jovens de imaginao exaltada, como abuco; mais taI'de o
ell'eito dessa admit'ao fal'-se-ha sen til' sobl'e elle na lu las ela
Rcgencia. (, O nome dos Andl'adas era um nome rasei nad()('
para toda a mocidade do meu tempo , diz o mais eloquente
do. seus interpl'etes , 1\1. de AI'aujo POI'to-Alegl'l'. Os debales
da lI'ibuna continuavam e completavam-se pelos da impl'ensa
INFA elA E MOCTDADE ii

politica. O jOl'nalismo brazileiro tomara uma feio comple-


tamente nova com o appar cimento da Aw'ol'a Fluminense
em 1827. O estylo da AltI'OI'a, como creao de uma s intel-
ligencia, realmente um phenomeno notavel. So os dois
acontecimentos intellectuae da poca: a penna de Evaristo
da Veiga e a palavra de Bemardo Pereira de Vasconcellos. Uma
c outra tm os me mos caracteri Lico de soli lez e de fora
que nenhum al'tiGcio pde sub titlliI'. Uma e outra so a ferra-
menta simples, mas podero a, que esculpe o primeiro e boo
do systema pal'iamen tal' no Brazil. A figura de Vasconcellos,
sobretudo, grava-se pal'a sempre na imaginao de abuco.
Do meio pal'a o fim da sua carreira parlamentar e te ultimo
fallou . empre entado, e os que o ouvil'am abem que e sa
postUl'a, em vz de privaI' o ol'ador do eu meio de aco
sobre o auditorio, augmenta"a a .olemnidade d ae to a
I' peTcu o da palavl'a, a animao do di UI' o. Ne dia,
empl'e de an iedade para eH" o 111 delo qu lh "inba
I mbran a era o bu to do gTande Yas on II ~ humbado
pela parai sia na :ua elll'ul, ma dominando d lh. m um
sal'casmo, uma pausa, um lamp jo de olhal' a amal'a 'U -
I ensa c mal'avilhada.
o el'a, porm, mentea tl'ibuna pudam ntar qu punba
m movimento as affinic1ade na nte do futUI'o I'ad I', A
g'1'ande tradio do pulpito l1uminen n hayia nto
apagado de todo: Mont' Alverne prga a ainda, O que cal'ae-
wriza principalmente o pl'gadore da poca, de d' 1 08,
que elles de facto o gl'andes tribn , como que propbetas
nacionae . Em ento, o palavra do pl'oprio 1Il0nt'Alvel'De,
a 6poca dos grallll s acontecimentos, e o sueees os que se
rcpl'oduziam dentro c fI'a cio paiz offereciam amplo mate-
riaes eloquencia do pulpito. O paiz entl'ara em uma pita e
de I'enaseimento em que tudo, cio pa o at ao tau tl'O, e
inspil'ava da nova esperana nacional. Essa frma supel'ior
de eloquencia dei'xou um sulco profundo em Nabuco; nos
s us diseul'sos se encontl'al'o sempl'e vest.igios della, alguma
cousa do rhythmo, do tom pI'ophetico, da elevao impessoal,
e do ornato littel'ario da Ol'atoria agl'ada.
t2 UM ESTADISTA DO IMPERIO

Em Dezembro de 1829, acabada a legi latura, o deputado


do PaI' tomava sua provincia, levando toda a familia.
Nabucopartia da crte familiarizado com os per onagen , a
linguagcm, as que. tes politicas da poca. O Rio de Janeil'O
eI'a ento uma feia larva de cidade no esplenelido envolucl'o
ele suas mattas. A difTerena entr a vida da capital e a da
proyincia em relativamente maiol' do que hoje. O Rio era a
residencia do Impel'adol' e ne. se tempo, em que havia ainda
uma seleco, a CI'te era o centI'o de toda a vida social.
natural que as grandes fe tas m que tomava parte o Impe-
rador as umissem ao olhos de um e pectador enthusia ta de
d zesei. annos pl'Opores de uma desluml rante maI'avilha.
As idas liberaes adiantada, que tinham penetrado no seu
eSI il'ito, encontravam o antagonismo dessa impresso irre-
sistivel da l'ealeza; diante delIa elle se sentira invadil' e
dominai' pelo susurro da adorao popular, al'l'ebataI' pela
onda da multido. A impI'esso que leva com. igo f::ll' com
que dUI'ante toda a mais bella pal'te ela vida, dos dezeseis
annos at os trinta, em que pde voltar ao Rio, elle se sinta
sempre, na estreiteza da viela de provincia, um ex.ilado da
corte. Era um senti men to esse de orgulho e superioridade pam
clle no meio de companheil'Os que nunca tinham vi to o Rio
de Janeil'o, e que o sonhavam como um vel'dadeil'o Paraizo.
A segunda eleio no Pal' foi contl'ria a Jos Thomaz,
nomeado presidente paI'a a Parahyb~. uma nova viagem
que elle faz com todos os filhos. Conta-se na familia que o
pae, muito aggredido na presidencia por uma folha local, foi
sUl'prehendido uma dia com uma ju. tificao cabal de todo.'
os 'eu' acto, vindo. mente mais tarde a saber quem era o
seu campeo anon mo. Era o filho. D-se muito fl'equente-
mente que o filho de um homem publico se identifique com
o pae pOl'que o v ou ouve atacar. Mais de uma posii1o
c\cfiniLiva em nos 'a politica foi assiri1 acceita por homens qu
em diversas circumstancias ter-se-hiam alistallo em outro par-
tido.
A de~ a do pae, feita por venerao e amizade filial, foi
talvcz a primeira occasio que teve abuco de encaI'ar a poli-
INFANCIA E r>IOCLDADE 13

tica do ponto de vista opposto s suas tendencias e aos seus


preconceitos, e de instaUl'ar perante si mesmo o processo do
audi altel'am partem, o unico pelo qual se f6rma o espirito
judicial do vel'dadeiro e tadista. Mais tarde ns o vel'en10S
assumir mais de uma vez esse papel de avocatus cliaboli em
relao a causas vencedoras no dia mesmo da sua con agra-
I;o.
Da Parahyba o joven estudante segue para Olinda, onde
poucos mezes d pois se matl'cla (1831). Nesse Lempo, qua. i
aos dezoito anno , Nabuco j um politico que e vai habi-
litar paI'a seguir a ua vocao, e que traz formada a ambio
de fallar um dia como Va concello e e cI'ever como Evaristo.
No fundo do eu e 'pil'ito ha duas correntes distincta : uma,
a mais forte, no sentido das nova aspiraes de libel'dade;
outra, a mais profunda, no entido da tradio do direito.
Quem o estudar bem, ver que elle se deixa arra tal' pelas
idas de ua gerao, mas que neHe ha pontos de re. istencia
que o tempo ha de de 'envolvel" ha a noo perptua de Estado
em opposio de povo, - exi Lencia di per a, cambiante,
qua i momentanea. As futuras deOciencias e incompatibili-
daeles do politico e to apontadas no estudante, assim como
as suas afilnidades e os seus talentos. elle j e ente a
necessidade de sympathia alheia, de fazeI' pl'O elyto , de con-
qui tal' a opinio que parece arro tal'; existe a incapacidade
de pen ar sino por si mesmo, de transmittir um pen amento
adquirido sem primeiro lhe imprimil' a sua marca individual;
a satisfao de conciliaI' por meio de syntheses o conllicto de
interesses e de paixes; a ambio de impr-se e de guiaI',
renunciando, p rm, a dil'eco matel'ialou o mando, i to ,
a pura ambi intellectual; existe, I ar fim, a mais illimitada
coragem para emittir idas propl'ias, por mai inespel'ada que
fossem, e que umas por sua subtileza eram tidas por esco-
la ticas, outras paI' sua originalidade eram reputadas para-
doxos, e outl'as finalmente por seu antagonismo com o:>
velhos prejuizos eram tidas por sophismas, mas que dentro
de pouco tempo entravam na circulut:o politica do paiz,
como moedas novas de cunho inalteravel.
14 UM E TADleTA DO 11llPERIO

II. - Estudante de Olinda.

Nabuco matriculou-se em Olinda m 183L DUl'ante o tempo


que Clll'SOU as aula pas avam pela A ademia Euscbio, Paola
Baptista, Ferraz, Urbano, Souza Franco, Sinimb, Cat'valho
l\fol'eira, Jeronymo Villela, Aprigio, Casimiro Madul'eil'a,
Victor de Oliveira, Alcofo/'ado, Saldanha Mal'inho, Zachal'ias,
Wanderley, Sergio, une Machado, Taques, esses eotl'e os
que elle devia ncontrar' mais tarde na vida publica; Luiz
Maria A. B. l\Ioniz Bal'relO, seu companheiro de casa, repu-
tado um dos brilhantes talentos da poca, ma que e encenou
toda a vida n'uma repal'Li da Bahia, e Teixeira de Fl'citas
que devia sei' seu gl'andc cmulo na jul'isprodencia, bahiano
calTI clle. (1) No el'am s os estuuante que eram jov n ,

(1) li A nossa vida em Olinda el'a completamente e cola ti 'a.


ConcoJ'l'ia pal'a is o a i olao da velha cidade, limitada cm
numel'o de habitantc , sem recul'sos nem distracc:es. ConlleciJ.-
mos paI' a..sim dizer quasi todos os moradores a comeaI' do 'l1al1-
tl'e da S. Socialmen te, as idas, os habito. , o e.. pit'ito de COl'[lO-
rao fOl'mavam para o acadellJicos uma exi tencia a partc.
Dominavamos completamente a cidade a titulo de corpo a 'ade-
mico. A vivenda el'a geralmente em COll1mum com algun. colle-
gas, quasi sempl'e comprovinciano , o que chamavamo. rejJLt-
licas. A Bahia dava ento maior contingente de e.. tudante do
que todo o NOI'te, o que talvez concol'l'ia pal'a o bail'l'i. mo de
pl'ovincia que ento existia, mas como academicos, el'am todo..
unisonos e solidarias. Olinda .. el1lelliava a antiga Coimbm donde
tinltam vindo alguns Brazileil'os findar o Bacharelado desde que
se haviam cI'eado em 1827 0- doi' CUI'SO jUl'idicos em Pel'l1all1-
buco e S. Paulo. Menos a batina e o gOl'l'O da vellta Univel' idade
foi tudo mais tl'azido por es 'es pri\uel'os incolas da nova Aca-
demia, os costame., o ditos chistosos ou cabalisticos, at a..
denominaes que ainda at hoje ficaram de caJageste efuit'icc..
li O e tudo acadclll ico el'a seria e provei toso. A freq uencia

obligatoria da. aulas no tempo lectivo e os exame' em gel'al de


algullla 'evel'idade tornavam o curso annual objecto de cuidado
pal'a o estudante cal'ccedor d'esse estimulo. O COl'PO de profe:-
sOl'es no el'a muito notavel em sua totalidade, lUas fi'cUe figu-
raram com gl'ande bl'ilho os doutol'es Pedl'o Autl'an, Moul'a
MagallJes e mais tal'de Paula Baptista, j filho da mesma Aca-
demia ... Sob c 'se regimen e com esses mesmos pl'ofessol'cs hU.Yia
n'es'() tempo cm yolumosos gl'Upos gl'andes estudantes de divel'-
lNFANCIA E MOCIDADE 16

a Faculdade tambem o era. Os que se tinham formado cm.


Coimbra desdenhavam d'esse anemedo da velha Universi-
dade.
A pleiade sahida, nos primeiro annos, <1os novo curso
Jl1ridicos plle-se dizer que no appI'endeu n'elles, mas por si
rpesma, o que mai tal'de mostl'Ou saber. A instt'Uco juri-
clica era quasi exclusivamente pratica; apprendiam-se as
ordenaes, rcgms e deunics d direito romano, o codigo
Napoleo, a pra 'e, principios de philo ophia do direito, POl'
ultimo as theOl'ia. con titucil.Jnaes de Benjamin Con tant, tudo
sob a inspimo o-eral de Bentham. -o tinham cur o ainda
entre o estudantes a serie de expo itore francezes do Codigo
Civil, do dil'eito penal e cio clil'cito I'omano que foram os
mestl'es de nossa moci<1acle de '18 O em deante, no periodo
V

que se pMe assignalar pelo nome de Troplong. o estava


ainda tl'aduzida em francez a obra dc 'avigny, que at
rev laes da no\ a escola italiana, encerrou para raro ini-
ciados os ultimos .my. teria do direito. Era o co-reinado de
l\'lello Freire e de Merlin .Nem Teixei,'a de Fl'eitas nem Nabuco
habilital'am-se em Olinda para a l)l'ofisso que exerceram. ua
bibliotheca de estudante b m pouco elemcntos encerrava que
lhe' pudes em er uteis. Nossos antigo' jUl'i con ultos for-
maI'am-se na pratica da magistratura, da advocacia e algun
da funco legi lativa.
A erudio juridica de Nabuco foi a a similao de lon'gos
anno , n'aqucllas tres carreil'as, a summa de sua expel'iencia;
eBe nunca fez estudos systernaticos ou geraes de direito, no
esquadi'inhou o direito comosciencia; viveu odircito, se se
pMe as 'im dizer, como juiz como advogado, como legislador,
como ministro. E. a falta de estudo methodico na mocidade
fal-o-ha at o fim tratar o dircito como um serie de questes
praticas c no ab ll'actas. As vi tas scienLificas e. evolutivas
no cnsino do dil'eito, a nova terminologia, no o acharam

sas provincia , taes como Teixeit'a le Freitas, abuco, Fel'l'az,


Cotcgipe, Souza Franco, Sinimb, Furtado e ouko . Rcmillis-
l)

cencias e15cl'iptas a pedido do autor pelo Baro do Penedo.


16 UM ESTADISTA DO I~IPERlO

preparado na velhice paJ'a as recebei'. Enganar-se-ha, porm,


muito quem elU qualquer arte quizer medil' a fOI'a creadora,
a concepo pela pel'feio da ferramenta ou pelo valor da
techni 'a do tempo. Em nenhuma poca a intuio juri-
dica de um Ulpiano ou ue um Mello Freil'e p I'der de valol'.
ma cousa, pertencente a uma ol'dem de c pil'ito . a orga-
nizao da vida juridica da sociedade, e outl'a muito clivei' a,
pertencente a outra ordem, a analyse ou a synthese dos
elementos componentes do lIireito. Entl' a critica e a eocal'-
nao do direito haver sempI'e grande distancia. Assim
como nem a historia, nem a thcoria da arte, foi nunca obra dos
grandes artista , no so tambem os legi. ladores que fazem
a systematisao dos factos e relaes jUl'iclicas.
No houve em tempo algum gosto em nossa mocidade
pelos exercicios do corpo. A distracc;.o em Olinda, alm da
palestra, das festas populal'es. dos pas. eios diarios ao Recife,
das estudantadas noctUl'l1as e do jogo. que de todas as po-
cas, eram fUDces theatl'aes. (1) Nabuco algumas vezes
tomou parte n'essas representaes academicas, mas o seu
espiJ'ito precisava de outl'a especie bem differente de activi-
dade : foi esta o jornalismo politico.

(1) " Sem nenhuma distrac,o intra-muros, em uma idade


habitada por mais de quin bentos estudanles essa mocidade sentia
a necessidade de um reel'eio... 'Um velho pardieiro clJumado
tiJeatro organizamos mais de uma vez repl'esenta"es com uma
companhia impl'ovisada. " Algumas vezes Nabuco fez parte d'esse
b1'UPO de actores. (I No Deserto I' Franca::, dl'ama muito apreciado
n'acjuelles tempo, abuco representava o Mujor FI'anca!. Tendo
de pl'esidir ao conselho de gue1'l'a e luctando fOI'lemente entl'e a
affeio e o dever, chegou elle a derramar lagl'i1nas, inleiramente
possuido do papel que repl'esenlava. Era d'e a scena que lodos
admiravam no tragico de occasio que eu algumas vezes lhe fali avo,
com saudosa recordao de nossa mocidade. - Elteu I JU[Jaces
labuntul' anni, me respondia eUe. " Reminiscencias do Baro do
Penedo.
INI'ANClA E MOCIDADE 17

III. - Jornalista Academico.

J ento as faculdades de direito eram antesalas da Camara.


l\'a Inglaterra as a soc:aes de estuuantes disc~l tem as
grandes questes politicas, votam mo2s de conla.na, "des-
tl'oem auministmcs, como faz o parlamento. Gladstone
nunca tomou mais a seria os gl'ande debates da Camara dos
COlUmuns do que os da Unio de Oxford, quando propunha
yotos de cenSLU'a ao governo de W llington ou ao de Lord
Grey. Em Olinda no havia esse simulacl'o de parlamento em
que se formam os estudantes inglez.es; os academicos exerci-
tavam-se para a politica em folhas volantes que fundavam.
Os que nunca tinham 'sahido da provincia sentiam-se aca-
nhados, insigniOcantes, diante da lite que tinha vivido na
Corte. Estes, que se iam imitar pelos outros, tomavam natu-
ralmen te a in iciativa. Por sua an terior residen ia no Rio e
por ter penetrado, como filho de deputado, no bastidores do
gl'ande thcatl'o politico do paiz, Nabuco pertencia ao grupo
clit'ector. Logo no plneiro anno do curso funda elle com Fer-
raz e Cansano o Echo de Olinda; Souza Franco, que aos
dczenove annos cstivel'a preso na barra do Tejo como conspi-
rador da Independencia e entrara tarde para a Academia,
redigia nesse tempo a Voz do Bebel'ibe; Sergio Teixeira de
Macedo, que passara pela Universidade de Coimbra, e crevia
o Olindense. Eram esses pequenos jornaes, folhas exclusiva-
men te poli ticas, contendo apenas dissertaes rhetoricas sobre
theses constitucionaes e as vezes, em paragTaphos soltos,
moda norte-americana, pequenas verrinas condensadas. A
poca era revolucionaria e a penna dos jovens escripto}'es
naturalmente desprendia chispas. Por isso no se encontra
ainda na produc.o academica a mais leve preoccupao desse
talento puramente litterario, que mais tarde se tornar, falsa-
mente, nas Academias a medida inteliecLual por excellencia.
A primeil'a folha que Nabuco compe com dois futuros pre-
sidentes do conselho de um federalismo exaltado, que no
L i
UM ESTADI TA DO IMPERIO

se p6de differenal' da a pil'ao republicana. O pen am nto


no tem ombras nem attenuao; a infallibilidade das opi-
nies que ainda no foram contrastadas. ne:te gene!' que
eIles escrevem, - as inverses repetida pal'ecem indicaI'
que o trecho de Cansanao, dos tres redactores, em lit-
teratura como em tudo mais, o qu se consel'vou por mais
tempo fiel ao estylo, moda, elegancia uu' eus inte
annos:
Brazileiros, ei' chegada a poca de sermos feliz .,. a
mais beIla poca em que pde"l:ie achar collocado um povo,
aquella em que, como diz Pags, sol l'e o dc:truus du ue:-
potismo se levanta o alta I' da lib rdade. omos amrl'it:an "
em extremo amamo a liberdade; a tyrannia extinguil'emos
de qualcluer parte que arrebente. Bourbon , no mai rei-
naro, e se, infelize:, no gozarmo do suave infllLxo ue um
govemo livre, se os inimigos fados fru tl'al'cm os nosso.
esforos, se a liberdade perdermo, ento, 6 uestino fatal, a
mOI'te, s6 ella, poder suavisar os de graad s dias de uma
existencia vel'gonlto a; ento na mOI'te a lla!'emo a liber-
dade, pOl'que s6 a mOI'te o que melhor p6de obter o homem
escravo.
Como se v, o federali mo da joven trindade olindense era,
em 1831 e 1832, girondino, americano, melodl'amatico. m
anno depois tudo i so havia mudado. A segunda f lha que
Nabuco redige desta vez sem comI anheiros, o Velho de 1817,
j francamente reaccionaria (1). A revolu~o, ardentemcnte
preconi ada dois annos antes, perdel'a todo o encanto pal'a
eIle e apresentava-se-lhe ao espirito como um movimcnto
infecundo, um esforo mal empregado. Mais tal'de attl'ibuiram
a phase exaltada de abuco ao desejo de fazer- e eleger depu-
tad,g logo que compl 'tasse o curso. Uma folha de '1841 (CoJ'-
1'eio da Noite, do Recife, de 18 de Dezembro), reproduzindo
um dos seus artigos fedCl'alistas de 1831, im llutava-l ilc

(1) ce Entrou na Academia muito liberal; no Velho de 1817 pl'-


gava idas retrograda ; depois e creveu o Al'istal'cho e a Ponta
da Boa Vista. " De uma ve1'l'ina da Praia.
INFANCIA E MOCIDADE 19

aquelle moveI: O Sr. Nabuco esperava seI' deplttado pela


Pa1'Clhyba, segnndo lhe pl'ometliam os Exaltados pa:rCl o
terem escrevendo destas coisas aqui e peores pam o - Raio
da Verdade (da Pal'ahyba), jttlzto com seu amigo lJa1'ticular o
S1'. padre Joo Ba1'bosa COI'deiro ('1) . Como o pae era pre-
sidente da Parahyba, e mais de um estudante, como FigueiI'a
deM:ello, devia sahir da faculdade para a camara, no de todo
impossivel que a ida de uma futura deputao se tenha insi-
nuado no espirito do jornalista de dezoito annos que apenas
acabava de matricular-se. Esse clculo denotal'ia, porm, de-
masiada antecipao. Pal'a xplicar o enthusia 'mo federalista
de Nabuco em 1.831 basta a corrente il'l'esistivel da poca,
assim como para a sua brusca mudana de 1833, - da qual
mais tarde os seus amigos faro datar a reaco monarchica
no Norte (2) - no preci O outl'a explicao sino a versa
tilidade intelleetual da adolescencia. As opinies o nessa
phase apenas impres es novas. As paixes cessam de repente
por motivo ignorado, ou transformam-se nas oppostas.
No comeo das revolues liberaes, esposaI-as o impulso
natural da mocidade; no assim abafar mais tarde as suas
indignaes e as suas af(Jnidades todas para se subjugar
inteiramente ao partido vencedor. O enthusiasmo do primeiro
momento uma expanso, e nada custa; cu ta, porm, muito
a solidariedade dos dias subsequen tes, quando a revoluo,
s primeiras difficuldades que s6 ella appe a si mesma,
arroga-se o direito de salvar o seu principio politico arl'a-

(1) Deputado por Pernambvco de 1834 a 1837 e redactor da.


Bllssola da Lierdade, orgo exaltado. Biographia na Memoria
do Clero Pernamucano.
(2) II Quando esses individuos que hoje so deputados da Praia
seguiam o carro da revoluo, adheriam aos qu bmmentos de
typographias, s Convenes de 30 de Julho de 1832, a primeira
voz generosa que no norte do Brazil appareceu su:tentando as
]Jl'crogativas da coroa, defendendo o Sr. D. Pedro I fundador do
Imperio, foi a do estudante do curso juridico de Olinda, Jos
Thomaz Nabuco de Araujo, no bem escriplo Velho de 1817, que
al'l'otou lodos o perigos e salvou a custo a sua vida ameaada
pelos chimango da poca. Correio Mercantil da Bahia, 29 de
Julho de 1847.
20 M E TADISTA DO 1~IPEHIO

Sllldo a sociedade, si tanto rr preciso. O assentimento


tyrannia, quando antes se proclamava a santidade do direiLo
de cada um; a resignao ao despoti. mo, um sacrificio
irnpo si\'el para certas natl11'ezas.
O primeil'o numero do Velho de '1817, editado em 20 de
Julho de 1833, mo tm o progre o feilo em dois annos pelo
redactor do Echo de Olinda. J no ha a mesma declamao
abstracta, a mesma emphase vazia; o cstylo procura lil11i--
tal'-se, o escriptor o que pretende b III formular os pl'inci-
pios e bem apre entar os factos. Como linguagem da poca
e refJexo do modo de sentil' de ento, o seguinte t.recho j
revela um espirito que procura nos acontecimentos a pro-
jeco moral :
Quem ~ino o Moderado poder sustentar que a revo-
luo de Abril nos foi favoravel? Appellemo pal'a um con-
t.raste da nossa posio actual com aquelIa que aI andonm s.
ahidos do jugo de um governo oppres<:ol'. ignomn le do sys-
tema constitucional, ns tinhamos nece sidade da pI'otecii.o
de um monarcha que domasse a amhil:i'lo, para que pudess -
mos nivelar o nosso caracter com o espil'ito da instituies
s quaes eeamos estranhos; careciamos est.ar abl'igados pela
fora da monarchia pal'a niio serm?s arrebatados pelo e pidt.o
innovador, que, tornando-nos versateis inquieto, de 'll'uil'a
certa adheso que um povo deve const\Tal . uas institui-
es, a qual se no pcle alcanai' sem tlue o tempo de logal'
ao desenvolvimento das suas vantagens. Aquelle que pa-
tl'iota ha de confessai que pal'a o:; pequeno. mles que sof-
friamos no devera buscar-se um remedio to violento, cujos
cffei los pesam mais 'em proporo que es me mos
males.
Eis aqui como elle cara teriza, comeando das origen " o
movimento em que se lanl'a com a maior confiana:
Depois de tantas com-ulses, r iteradas e funestas expe-
l'iencias (!'Crere-se aos factos de 182!~ e outl'OS). adhel'imos
l'nalmente Constituio que nos rege; enlrou cm sua mal'-
cha o governo representativo. Uma g'uel'l'a declarada ent.re.
os poderes politicos cm vez da harmonia que os dcye dirigir,
11 PANCIA E ~IOC1DADE 2t

dcssa reciproca e saudavel I'C istencia que os enfreia em eus


limitcs, foi o primeiro pas o errado que demos; o monarcha
inviolavel foi o alvo das settas dos partidarios; algun actos
d fl'aqueza foram attl'ibuidos maldade; a conducta de qual-
quer empregado lhe foi imputada como si elle pudesse ante-
'ipadamente preyenir as suas aberraes, C0mo si a re pon-
sabilidade desses mesmos empregados no pudes e remediaI'
o defeito da ua e colha; a liberdade de impren a, e a insti-
tui o alutar to compativel com o governo constitucional,
tornou-se um instrumento pernicio, o da de mOl'ali ao do
p vo; a c- nsura, que em eus termos produz a correco,
de arl'azoada it'l'ita, foi pretexto de quantos insultos se dil'i-
gil'am dig'uidade do monarcha, de quantos se teceram pal'a
a clegradao de eus agente. No houve enthusiasmo de
que se no apl'o citassem- os revolucionarios; a revoluo la
Frana, dil'igida sobre fundamentos diverso, produziu no
povo aquelle enthusiasiuo quc devera causal' em homens
livre a noticia da punio de um despota, de um rei que tra-
balha para extinguir a fonte de que mana a ua digniJade,
contl'a o pacto o ial onde, de mi 'tul'a com o dil'eito de
'cus sul ditos, elle v e cl'ipto e con agrados o eu dir itos.
O de, ejo de imitar, habil pal'a gel'minar no cora~o do homem
a il,tude, porm cap z de engcncll'al' o vicio, fez cI'er que a '
no' as cil'cumstancia eram a me ma da Frana. De ta
sorte illudi,'am o jacobino muita O' nLe que devera :el' gl'ata
. monarchia; su citou-se a mania da reformas; as oalhou- e
que D. Pedro era connivente com o fe'teiros de Mal'~o;
insubonlinou- e a tropa, at que D. Pedro no apuro de cir-
cumstancias, depois de haveI' nomeado tantos mini tl'OS que
I!a Camal'a dos deputados oceupavam o lado da oppo 'io,
I'~ cando a quda, temendo a tl'aio, chamou para eu lado
:1 ;uelle:; qe reputava seus amigo, es e ancios que com
t:de haviam concol'riclo para a formao de nos 'a Con ti-
tui o. Este pas o attl'ibuido a intenes sini tl'as e em
todo o' con enticulos soou o gl'ito da revoluo, o toque de
alarme paI'a a nossa de truio... Abdicou Dom Pedro I, e
alxli ou sustentando a Constituio que dera, no quiz
2l! UM ESTADISTA DO IMPERIO

dcmiLtir os ministros que nomeara, vorque bem conheceu


que dess.a maneim despia-se de um direito que lhe pertencia
e concorria para a degTadao da monarchia. Genel'Osa e
volunLariamente destituindo-se do throno de seus maiol' s,
ene no quiz trair a sua magnanimidade para conservar
custa de sangue o throno que lhe restava; ene no quiz
demandar algumas das outl'as provincias, onue seu nome cm
respeitado; mostrou-se avsso guerra civil. Porm, foi a
nao que o destituiu? Como se prova? a quem delegou seu
poder? Aos Limas, aos Paulas Vasconcellos, aos officiae fac-
ciosos, tl'opa, vil instrumento de elevao de qualquer sys-
tema? O Brazil podia confiar nesses escravos que tantas vezcs
affrontaram a nacionalidade? Uma faco, uma minoria en-
tregou o Brazil situao estacionaria a que o vemo:
reduzido.
Como escriptos de um joven de vinte annos em poca r vo-
lucionaria, esses arLigos tm algum mcrito. V-se nelles mais
do que o logar-commum, quc a. signala nos moos, qualquer
que seja o brilho das metaphoras, a incapacidauc de bscr\'al'
factos e estados sociaes em si mesmos, de rectificaI' pl'imeil'as
impresses. No se o pde tambem accusar de adulao a um
regimen tl'iumphante ou a um poder no fastigio; a sentena
que elle reforma em seu fro intimo no apl'oveital'ia 'iqucr
cau a vcncida, que ninguem mais p6de revivcl'. o mero
cotejo que elle faz de sua esperanas de hontem com a desil-
luso de hoje, uma especie de desforl'a que toma de si mcsmo.
A epigl'aphe do jornarsi nho, til'ada de Antonio Carlos,
expl'essiva da metamorphose que sc dera com o joven politico
e da fascinao que os Andl'auas exel'ciam sohre eUe. A
ing}'ata expeJ'iencia, dizia ella, convenceu-me qne nem a LibeJ~
dade, nem a lndependencia, se a'/'/'aigct}'iCt no Bl'azil sen(l
sombm da monal'chict. Dcpois do duello de generosidade de
Pedro I e Jos Bonifacio, o antagonismo dos Andl'adas com a
revoluo de Abril era pl'oprio vara amadurecer a reflexo
politica do seu joven admiladol' de Olinda. Em '1831 e 1832
Linha elle recebido dos acontecimentos do Recife um lio de
no se podelesquecer. Na chamada selembl'isada a cidade foi
INFANCIA E MOCIDADE 23

entregue anarchia e ao saque pela tropa que se apo sou


della (1). Argumentos dessa clareza objectiva no podiam
deixar de ferir um e pil'ito incero pOI' mai prevenido que se
acha se. O 1 elho de 18-17 a tanO'cnte pela qual o joven
Nabuco procura escapar de um movimento que se lhe afigu-
r:wa a pl'ecipitao vertiginosa de uma quda-.

IV, - O 7 de Abril

o fundo a revoluo de '1 de Abril foi um desquite ami-


"'avel entl'e o imperador e a nao, entendendo-se por nao
a minoria politica que a representa. Havia ele pal'te a parte
uma perfeita incapacidad de e compl'ehenderem, um de ac-
cordo que s6 e podia re olver pelo despoLi mo ou pela abdi-
cao. O despotismo era repugnante ao temperamento liberal

(1) ({ A edi o comeou pelo batalho n. 14 s 9 hora da noite


de 1-1 de Setembro (1831); pOI'm ao amanhecer do dia 15 j toda
a tl'opa estava completamente amotinada e . enl1ol'a da cidade,
commetlendo os maiol'es atLentados, arl'ombando a "'olpes de ma-
chado a pOI ta -. das lojas e al'mazen '. e pondo em aque toda
aquella rica capilal em que houve 'e meio de im pedir imilhante
bal'bal'idade, pois toda a I'ol'<;a al'mada . e tin ha I'ebellado e obrava
de commum accol'do. Finalmente no dia 10, tendo dado larga
sua ferocidade, j ebl'ios e disper o p la ruas, carregados com
os despojos do saque, pareciam o oldado exhau los de fOI'a e
de animo e pOI' i so meno. temivei que no dia antecedente. J
ento e haviam l'eunido em eedor da cidade alguma milcias e
cida.dos armado. pal'a occol'1'e1' commum defesa, e neste e tado
fOI'am aCjuelle. malvado acommettidos pela Boa Vi ta e pelo
H,ecil'e e c lI1agados pelo denodo civi o de tal maneil'a que mai.
de 300 mOI't'el'am mo' do po\'o, endo pr o mai ele 800 que
fOl'lllTI confinado. para a ilha ele Fet'l1ando ... " Genel'al Jo Ignacio
de AUI'eu e Lima, Compendio de Historia do Brazil, lI, pago 85
e Synopsis, pa.g. 353. O livl'os no tm valol' Itistoric, contendo
escandalo as apl'opl'iaes da obl'a de Armilage, mas ne se. acon-
tecimentos do Recifo o General da massas reproduzia apenas
o que ouvil'a. do seu compl'ovinciano. A nal'l'ao a mesma
cm Pereil'a da Silva, Hislori'3 do Bl'a~il de 1831 a 1840, pago 49
e seg,
24 UM ESTADISTA DO IMPERIO

do imperador e ao seu papel historico de hel'e dos dois


mundos.
O interesse absorvente de Pedl'o I, quando se deu a revo-
luo, era assegurar o throno de Portugal a D. Maria n. O
seu pensamento em Abril de 183'1 estava principGlmente na
Europa (1), nos meios de apl'oveitar em beneficio da causa de
sua filha, de que chegara a desesperar sob o legitimi 'mo de
Wellington e Polignac, o grande influxo ela Revoluo le
Julho. Essa deslocao do interesse elo impel'ador para a
questo da cora portugueza, a sua cuntinua correspondencia
com os emigrados, as relaes com Palmella, Saldanha, Villu-
fil" a presena no Rio de Janeiro de D. Mal'ia II attrainelo
parte da emigl'ao para o Brazil, tudo dava ao Impel'fldol'
grande popularidade entre os residentes portuguezes e a estes
uma im portancia, toda occasional e transitoria, no mundo
official brazileil'o de que a susceptibilidade nacional injusta-
mente se rcsentia.
Nada mais natural, com effeito, do que o esforo que
Pedl'o I fazia em favor da filha. D'ahi no podia vil' delJ'i-
menLo algum ao Brazil. Receou-se que elle quize 'se a r unio
das duas cOl'as, mas mesmo quando se tivesse dado C,SQ
anomalia de ser o imperador elo Brazil regentc cm POl'tugal,
pOI' meio de uma de~egao, na menorielacle da rainha, quc
mal poderia isso causal' autonomia politica do paiz, para
se duvidar da sinceridade de sua inteno? O intere se de
Pedro I nessa questo era, entretanto, primordial; rcconllc-

(1) II Eis a crise exaltada ao ultimo apuro I Eis o pretexto dupli


cado para ambos os pal'tidos oppostos! Para o . rebeldes Eval'istos
pela demisso dos cinco ministl'osj pua o lmpel'ador pela boa
occasi5.o que ha muito delineava para ii' a POl'Lugal reivindicar o
thl'ono de sua augnsta filha. II Apontamentos elestatclos ela Vida
Politica do Visconde de GO!Janna at 1837. O visconde de S. L o-
poldo (Reoi.~ta elo Instituto Histol'ico XXXV11I pal'te 2.") ou"iu
do pl'oprio Marquez de Cal'avellas que e 'le pouco antes do 7 ele
Abril tinha dado a entendeI' ao imperadol' as queixas qlle havia
contra elle. II Ento o impel'ador pl'ol'ompeu cm uma opposio
enel'gica e tocante dos sacl'ificios que fizel'a pelo Bl'a~.il, conclui nela
que estava decidido a retil'ar-se e fazia votos para que l'oss m
f':llizes e se regessem em paz. Il
INFA TCIA E MOCIDADE 25
cida, como ficou, a incompatibilidade con titucional de accu-
mular elle a Regencia portugueza, e sobl'cvindo a revolu o
de 1830 que deu au a liberal em toda a Europa o mais
extraordinario impul o, o que lhe restava era, depois que
tive e architectado uma Rcgen ia capaz de re ponder, du-
I'ante a longa menol'idade, pela cor6a de seu filho, leyar com-
sigo a joven rainha de POl'tugal e iI' empenhar na Europa
todos os seus esforos e todo o eu valimento e pI'estigio at
as enLal-a no lhl'ono que havia abdicado nel1a. A revoluo
de 'j de Abril, pde-s dizer, conseguiu apenas impr subita-
mente a P <11'0 I uma solu.o que j estava acceita POl' lIe e
pam a qual lhe faltava smente ombinar as ultimas p!'ovi-
dencias e e. colhrr o mOI11 nto,
A nomeao de lo Bonifacio para tutor de eus filhos faz
crer que eria d lle que o imperador se lembral'ia em pri-
meiro logar para a ReO' 'ncia que o deves e sub tituir; em
todo o ca o, sem o 'j de Abl'il, pde-se conj tUl'ar que o
BI'azil teria em '1 31 o mini terio Andrada, que Pedro I de e-
jou formal' m '1830 (1).
O regimen politico do paiz tinha-se d senvolvido con id -
ra\' lmente em poucos anno,'; o progre 'so ela id 'a liberae,
sensivel na admira el Constituio ele 1824, tinha chegado
maiol' expan, o no COlligo Penal ue 1830, A no ser a illlpa-
ciencia, o pe. imi mo, de politicos exaltado que "iam o
embl'yo do ele poti. mo em qualquer re i tencia elo imperauol'
a idas que no partilha a elesde logo, I;) ele3c lJ1'iam em
D, Peell'o I um segundo D. Miguel, a revoluo de 'i de Abril

() Martim Fl'anci co fMa convidado cm 1830. fi E como vodo-


riamos cr ambicio o', eu que, ainla pl'e o na ilha da. CObl'Il',
recu. ei pastas? que em 1 30 no quizcmo' organizaI' um minis-
tel'io e collocar-nos testa delJe? " Maio de 18J2, Era compl la
a ua recon iliao com PedI'/) I c o que cnlia um do: il'mo'
ep(\, o que, entiam os outl'OS; melhor ainda, o que enli., o Jos
Bonil'acio : - fi Soll'i'i-Ihe ofl'cnsa , ma. por e la no el'a, clle
rc 'pons:1\'ol ao. olho!': dll lei e oiJl'e esto cl'ime do cus agentes
"(':pon aveis, muito tompo ha que havemos lanado um e posso
vo. "
UM ESTADISTA DO IMPERTO

tCl'ia sido evitada com vantagem para a propl'ia causa demo-


cratica.
A interveno militar na revolur,o el'a ummamente in-
justa, porquanto o melhor amigo do cxercito cl'a o Impcracl r.
Pedro I, quaesquer que fo sem suas faltas, tinha em rela 5.0
ao exercito uma comprehenso muito mais lal'a da sua ne-
cessidade e do 'eu papel do que a legislatura cuja ho. liliclad
o derribou. Ao liberali mo brazileiJ'o a efficiencia militai' dl)
exel'cito pareceu empre secundaria; a sua funco primor-
dial, consagrada em 7 cle Abl'il e em 'Ui cle Nov mbro, a
grancle funco civica lib I'ladora. No (wim ,il'o I'einaclo nin-
guem levou a mal sinceramente o malIogro das armas brazi-
leil'a. no Prata, a serie de insuceessos liO'ados aos nomes cle
cada um dos genel'aes para l manelados. O histol'iador do
reinado atLl'ibue mesmo aos nossos cle astre' militare os
mais salutares effeiLos na ordem civil. cgundo lIe, a con -
tante m fOI'luna da armas lmlzileiras produziu o resullado
de desanimar a' vcae militare e de inclinar as energia'
da gerao nova pal'a as carreil'a. civi , o que pl'esel'vou o
Brazil de uma completa anarchia. Pelo contl'al'io, accre -
centa, r ferindo-se s l'epu1Jlicas do ui, onde a lu ta fora
sempl'e acompanhada ue yanlag n.. e onde uma. eri de i-
clOl'ias havia accendiJ o cnt.husiasmo do habilnntes, oull'o,;
elfeitos bem diversos se pr pal'ayam. Apenas Iwoclamada a
paz e C0l110 uma cOllscquencia da aureola om qu,~ e achavam
adornado', o. militares aclquil'il'am toda prepondel'ancia sobrc
as aulol'iclades livis; succederam- c di enes e cada pequeno
chefe recorreu sua e.. pada de maneira que as fcrt i' cam-
pinas elas mal'gens elo Rio da PI'ala, ele"de essa loca, nada
mais fOI'am do que o tlleatro da anarchia, da guel'ra civii, do
derramamen to de sangue fl'aternal t: cla devm:tao. ('1)
D. P dro n50 podia vel' o nos o de..cr dito militar com e. .'a
philo.'ophia deeconomisla. ElIe s nlia a neces 'iclaJc cle tornaI'
o x. l'cito aplo pal'a a guerra e para a victoria, de crcal-o de
novo.

(1) AI'milage, Historia do Brazil.


l PANCIA E MOCIDADE 27

A oppo. io que lhe lanava em rosto os no sos revezes era


a me ma que negava ao imperador os meio de abrigar
melhor a nao. ElIa receava- e do al'mamento da fora pu-
blica como 'endo um golpe de E. tado em pe!' pecti a. Quando
a Camara reduziu as fOl'as de mar de 7,000 a 1,OO homens,
o bom en o estava com o governo que re i tia. Uma
gl'ande corpo1'ao de homens, dizia ao deputados o mini tI'O
marquez de Paranagu, mais 11m e menos pel'igosa do que
uma pequena {OJ'a; pde esta seI' mais facilmente COI'l'om-
pida e edu. ida pcwa de I'}'i b(f}, a Constituio. ) e3ta a
verdade que o seI'vio militaI' ol)J'igatol'io levaI' mais tal'de
ultima eviden ia. No havia inceridade na alliana da oppo-
'io com o ex ('cito. A p!'opria defeco de te el' sevel'a-
mente julgada mais tarde p lo: que se sel'viI'am delle pa!'a os
seus fins. Esse mesmo exel'cito, dir Armitage, que
D. Pedl'o !lavia ol'ganiz,ado com tanto sacrificio, que havia
mantido com tamanho lJl'ej71i.. . o de sua lJOpu/al'idade e sobre
o qual hav{~ depositado mais confiana do que sobre o povo,
estava destinado a tralzil-o e aqllel/es que eUe havia enchido
de clisllnce e beneficias no (ol'am mais escl'ltlJulosos em
abandona l-o do que os ontros. Pouco tepoi. da re oluo o
pal,tido que havia apl'oveitado a aco do exeI'cito em 7 de
Abl'il ' tinha um des jo ; dispCI'sal-o, di. sol\'el-o, d portal-o
pal'a o confins. A gl'and reputao da H.egcncia ser a de
11m e tadi ta o PadI'c Feij, que revclou a maio\' fil'meza de
al'acter na rcpl'c' o da anarchia milita!', a qual obreveiu,
como sc devel'a e pcral" do pronunciamento do Campo. Da ea-
e emprc em alO'uma cquivocao, e por i o ephell1ero, o
pacto politico do exeI'cito com partido' ext!'em elementos
revolucionarios. Foi es a a p\'imel'a grande dec po do
7 de Abl'il ; a do exercito, condemnado, licenciado pelo pal'tido
que elle tinha posto no podeI'.
A segunda foi a dos Exaltados, isto , do homens que
haviam concebido, organizado, feito o movimento, e que no
dia seguinte tambem fOI'am lanados fra C0l,110 inimigos da
sociedarle pelo::; lllodemclos, que s e manifestUl'am depois da
victoI'ia. Para aquelles a revoluo foi uma veI'dadeira jou.rne
UM ESTADISTA no IMPERIO

r!es dupes (1). A fatalidade das revolue que sem os exal-


t tdos no possivel fazeI-a e com elle impos ivel governar.
Cada revoluo subcntende uma lucta posteriol' c alliana de
um dos alUado, quasi empre os exaltado, com os vencidos.
A irritao do Exaltados trar a gitao federalista extrema,
o perigo sepaJ'atista, que durante a Regencia ameaa o paiz do
norte ao sul, a anarchiza 'o das provincias.
Outl' desapontamento foi o dos patriotas. A fora motol'a
('O 1 de Abril a que deu impulso ao elemento militar, foi o
resentimento nacional. Em certo sentido o 1 de Abril uma
repetio, uma consolidao do 1 de 'etembl'o. O mp I'ador
cra um adoptivo, su peito de quel'cl' reuninls duas corn (2),
nccusado de cust ar com dinheiro do BI'azil a emigra~n ela
Terceira. O enthusiasmo da colonia pOI tngueza era assim
grande pelo principe dc quem cspel'ava a i toria da CDU. a
liberal em seu paiz; de se enthusiasmo re ultal'am ollflidos
com os inimigo do imperador, que o ficaJ'am sendo dos POl'-
tllouezes. O fermento politico da re oluo foi secundario, a
excitao real, calorosa, foi o antagonism de raa; entiio
f::lCilmente exploravel. O tpe nacional conCOl'l' u mais pal'a fi
revolta da tropa do que as exce sivas d clamac. da 0ppo-
sio. O exel'cito no era mai aquelIe cuja exacerba<;o, sete
annos antes (3), levam D. Pedro, ape;:'Cl1' da sua timidez, a
expresso do padre Feij, a dissolver a Constituinte e de -

(1) " O 7 de Abril foi uma verdadeil'a journe des dupes. PI'O-
jectado pOl' Ilomens de idas liberae. muito avanada', jUI'a lo
'obl'e o sanO'ue dos anecas e dos Ratcliffs, o movimento tinha
POI' fim o e:tabele imento do governo do po\'o pOl' i mesmo, na
significao mais lato. da palav1'a. " Theophilo Ottoni. Circular
aos Eleitores ele Minas Geraes, 1860, pago 10.
(2) IOS papeis do Visconde de S. Leopoldo achou-se um )JOl'
lJI.tl'a de Francisco Gome. da Silva, o Chalaa, entl'egue ao con-
selheiro pelo proprio imperador com a perguntas: - " Oppe-
se independancia do imperio que o impeJ'ador seja rei de
Portugal, governando-o do B1'azil? No caso de no convii', como
deve er feita a abdicar;o e em quem? " Revista do Instituto
Historico, Tomo 38, papte ;.,a.
(3) " Duas cousas se exigem (na representao do ol'ficia .).
lo, que se cobibisse a liberdade ele imprensa; 2 0 , j. que me obl'l-
INI7ANCLA E MOCIDADE 29

Cerrar os Andrada , acto que aquelle uma vez qualificou de


violento, mas necessal'io e como tendo dado paz e tranquilli-
dade ao paiz por dez a doze annos (1). A guena do Sul o
havia nacionalizado, o seu novos chefes el'am patriotas, e
elle trazia uma ferida que a exaltao estrangeira pelo impe-
rador devia natul'nlmente irritar. Feita, entreta.nto, a revo-
luo por uma expIo 'o do e pirito nacional, no tardou
muito que o vencidos levantassem conLl'a o novo governo a
me ma gl'ita e as me mas suspeita' de ubserviencia in-
Gueneia portugueza (2).
A maiol' decer u de toda foi, pOl'm, a da nao. A abdi-
ca.\o tinba-a pI'ofundamente UI prehendido, quando ella
e pel'ava do imperador mente uma mudana de ministel'io,
ou antes o abandono de uma camal'ilha que lhe era Stl peita.
O e I il'itos no se tinham pl'eparado par-a uma oluo que
no anteviam, c, como sempre acontece com o movimentos
que tomam o paiz de surpresa e vo alm do que se dese-
java, a e perana tornal'am-se exces 'iva o e. I iritos aba-
lados pelo choque exaltal'am-se, e deu-se ento este facL que
no nada singulal' na revolues: os mais ardent I'evo-
lucionarios tiveram que voltar, a toda pl'esso e sob a

gnm a r feeil' nomes de pe~. oas que ali przo, que fossem ex-
pulsos da A sembla o e5. Andl'adas, omo reclaclol'e. do
Tamo!Jo e collabol'adol'e da Sentinella Il lnte1'l'ogatol'io do mi-
nistl'o do impel'io pel'ante a onstituinte na e so pel'manente.
(1) " O ex-Jmperadol' apezal' da sua timidez, recorl'cu disso-
luo da epn lituinte e lanou estes homcn (os Andl'uda ) para
fl'a do Impel'io. As pl'ovincias vizinha felicitaram ao illlperadol'
pOl' este a lo violento, ma neces al'io, e, apezar de algun mal e
que teouxe a dis olu~o, tivemos paz e gozamos de tl'anquillidade
pOI' dez ou doze anno . Il Em fello MOl'aes, A lndependencic"
pago 2.23.
(2) " A maioria da camal'a era de demagogos yelldidos ao acel~o
por-tuguez. Pag:t1nentos mesquinhos a pes oa miseravei el'am
profundamente combatidos e negados como objecto financeiros
de calol'osa fiscalizao. Pagavam-se, porm, pl'olllptamente mi-
lhares de contos de ris pelos arma.mentos, pelas embarcae ,
petl'echos de guerra, officiaes militares, e tudo juanlo ser\iu
pal'a abatei' bl'azileiros em 1822. Era at onde podia chegaI'
u vennlidade Eval'isleil"a I I) Apontamentos do Visconde de
G0!Janl1a.
80 UM ESTADrSTA DO IMPERIO

in pi!'ao do momento, a machina para trs, pal'a impedil-a


de pl'ecipital'-se com a velocidade adquiriua. Foi es e o papel
de Evt'isto sustentando a todo t!'anse a mona!'chia consti-
tucional contra os seus alliados da vepera. Os revolucio-
nario pas avam assim de um momento para outro a consel'-
vado!'es, qua~i a reaccionarios, mas em condies muito mais
ing!'atas do que a do vel'dadeiro partido conservado!' quando
defende fi. ordem publica, porque tinham contra si pelas suas
rigens e pela sua obl'a I'evolucionaria o resentimcnto da
sociedad que eBes abalaram p!'ofundamente. Foi e a a
po iiio do partido Moderadu que govel'l1ou de '183-[ a 1831 e
que salvou a sociedade da ruina, certo, mas da ruina que
elle me mo lhe preparou.
A nao no podia esquecer num momento o que de ia a
Pcdl'O I. Ape::.m, ele loelos os elTOS do hnpel'adol', o BI'a:-:.il
ellll'ante os ele;:, annos ele sua aelministJ'Cto te'::. ceJ'lamellle
mais pl'ogl'essos em intelligencia elo qtte nos tl'es seculos
decoJ'I'idos elo seu descobl'imenlo ]ll'oclamao ela Consli-
lttico POI'tuguez,Ct de 1820. (Armitage). Do impel'ador ellu
tinha queixas, mas 'em elle via-se ne e estado de abatimento
em que as naes pel'dem a fora e o de:ejo de se queixar,
tantos so os seus males. O sentimento ge!'al era o que o
joven redactor do Vetho de 18'11 expI'essal'a deste modo :
cc PCt1'a os pequenas males que so{fl'iamos no devel'a buscal'-
se um 1'emedio to violento, mjos effeUos pesam l1wis, sem
P1'opo1'o, que esses mesmos males. }) A difficuldades do
paiz triplicaram num mom nto. Os homens de estado desa-
nimam, sentem todos a sua im potencia. Feij, delle o mais
energico, tem o pessimi mo incuravel do revolucionario de
boa f condemnado a governar. Fiz opposio no ao
SI'. Feij, dir em 1843 no Senado ('19 de Agosto) Hollanda
Cavalcanti, fiz 0PIJosio aos seus actos. Especialmente
0pP~tz-me aos sentimentos elo S,'. Feij ele quel'el' constante-
mente acha'I' o paiz submergido, de no tel' espm'ana em
coisa alguma, e tudo pintm' com ctes negms. (1)

(1) ai> documentos assignados por Feij resumbra\TI todos pl'O-


lNFANCIA E MOCLDADE Si
Por outro lado o e pirito con eI'vadol' da ociedade (1) tinl;a
pouca sympathia nova ela e que a umira o governo e
fizera do jovens principe seus refens (2). O homen que a
revolu<:.o produziu eram na sua maior parte homens novo
sem til'ocinio, cuja inexperiencia devia inspirar q,uasi com-
paixo ao grupo de e tadista provectos do primeiro reinado,
aos homens que tinham rediO'ido a Constituio. Os velhos
Anelraela , si no podiam com prazeI' ver o paiz eQtregue a
Feij que lhe guardava r:mcor ela persegui 50 soffrida
em 1823, no podiam to p uco tal )'aI' a dictadura da opinio
ex rcida por Eva('i 'to, o lual no pa aya para elles de um
mancebo inexpel'to e de um thevl'ista CI' (3). A ituao poli-
tica do 1artido l\1oelel'ado e('a lal que e no fo e o terr'OI' da
restaurao elle se tel'a e phacelado logo em comeo, e que
se no fos'e o mesmo ten r nenhuma I' forma teria elle
feito (4). A na o em desejar a volta de Pedro I el'a todavia

fundo abatimento, elle v em pl'e tudo pel'dido. Come typo ba ta


e -ta condio, aSa. dade 'lara<;o de Feij para acceital' a Regencia:
" TO ca. o de sepa rao das pl'ovi neia . do norte egurar a do sul
e di PUI' os animas pal'a apl'oveitl1l'em e--e momento pal'a as
refol'mas que a nece idades de ento reclamal'em. n Eval'isto
morreu de desO'osto.
(1) " Os con el'vadol'es no podiam olhal' para o livreiros e
chapus redondos seno como U uI'padores que se collocavam no
lagar do manai' ha. n Theophilo Ottoni, Circular, p. 28.
(2) O l)rincipes sentiam I elo l'evolucionario que os haviam
tOl'nado ol'phos verdadeit'o tenor. Toda a a. a impCl'ial de-eja"a
a volta do imperador. " ... ficar sempre debaixo de veu o
quadro tetrico do tutor Jos Bonifacio preso no pao sagrado,
invadido por wn sacrlego com fO/'a armada e sem respeito
innocencia da aUflusta d!Jllastia reinante que se salvou por pro-
di.qio do co. n Visconde de Goyanna, lbid. E a vel' iio exage-
l'ada de um cOl'tez~LO da vellJa ~cola que deseja agl'adal' ao novo
Imperador, entl'etanto I'epl'oduz o sentimento interior do pao
dUl'ante as luctas om o tulol'.
(3) n Doixando a mancebo inexpel'tos e theori ta:! CI'S chi-
mera sonOl'osas c inexelluiveis, que depoi de custal'em cam
hnmanidade, desejal'am elles mesmos, se ral'em dotados de sen-
sibilidade, expiar com lagl'imas ele sangue. II Re posta de Antonio
Cada a Eval'i. to.
(4) " O Duque de BI'agana falleceu a 24 de Setembro de 1 '34.
Se este faclo se tiyesse dado quatl'o mezes antes, no teria havido
reforma c{>nstitucional. I) Tlteaphilo Ottoni, Circular, p. 38.
UM EtiTADl~TA DO IMPERlO

cal'anut1'l" isto , voltava a sua sympathia e confiana parle


os homens que a l'evoluo tinha posto de parte (1.).
O que caracteriza a poca o abalo a um tp-mpo de todo o
ediflcio nacional. quasi um decennio de terremotos poli-
ticas. A reaco est no e pidto, no entimento de todos os
homens de governo; si no fosse o receio da voILa de Pedro I,
ella teria desde logo levado tudo de vencida. Ainda a sim o
que faz a grande reputao dos homens dessa quadra, Feij,
Eyal'i to, Vasconcellos, no o que elles fizeram pelo libera-
lismo, a resistencia que oppuzeram anarchia. A glOl'ia de
Feij ter firmado a supremacia do governo civil; a de Eva-
ri to ter salvado o principio monarchico; a de Vasconcellos
ter reconstruido a autoridade.
Visto de hoje o 7 de Abril figura-se urna dcs~as re olur:es
que podiam ser economizadas com immensa van Lagem, si em
certos temperamentos as loucuras da mocidade no fo em
necessarias para a mais elevada direco da vida. A aoiLa~5.o
desses dez annos produz a paz dos cincoenta que se lhe vo
seguir. O reinado em per pectiva de uma criana de seis
annos provou ser uma salvaguarda allmiravel para a demo-
cl'acia. Foi graas a essa p.ossibilidade longinqua que o go-
verno de uma camara s, vCl'dadeim Conven~o da qual tudo
emanava e qual tudo revertia, no se fraccionou em faces
ingovernaveis. proporo que a di LanCa da l\Iaioridade se
encurta, os sustos vo cedendo, a confiana renasce, a vida
suspensa rcomea, o corao dilata- e, como em um navio
de arvorado medida que se approxima do porto.
O homens tinham nesse tempo outro caracter, outm
solidez, outl'a tempera; os principias conservavam-se em
toda a sua f e pureza; os ligamentos montes que seguram
e apertam a communho estavam ainda fortes e intactos, e
por isso, apezar do desgoverno, mesmo por causa do des-
Governo, a Regencia apparece como uma grande poca

(I) " O que al'\'edava dos caramul'S 1\S ympatIJ ias da grande
massa nacio nal era a resta urao . Aco, Reaco, Transaco,
de J .-J. da Roclla.
L"lFANCIA E: MOCIDADE

nacional, animada, in pirada por um patdotismo que tem


alguma coi a do OpI'O puritano. ovos e gl'andes moldes se
fundiram ento. A na o agita- e, abala-s~, ma no treme
nem definha. Um padle t 111 a coragem de licenciar o exer-
r:ito que fizera a revoluo, depois de o bater nos ~eu re-
duetos e de o sitiar no 'eu quartei, isto sem appellar pal'a
o esirangeil'o, em basLilhas, em e pionagem, sem alapes
por onde desapparece cm os COI'pOS executado clande, Lina-
mente, sem pl' a ociedade inteira incommunicavel, appel-
lando para o ivismo no pal'a uma ordem de paixes que
tomam todo O' verno im po. iveI. Os homens de sa quadra
re\'eIam um geau de virilidade e energia uperior, enti~do-
c menLe incnpaze de organizar o chao ; ao mesmo tempo
todos possuem uma integriJade, um de prendimenLo abso-
luto (1). A Iucta, o. conllieto', a agitao dos club , todas
a feies da po a a de uma democracia antiga, antes
da orrupo invadil-a.
No todo a Regcncia pare e no ter Lido. outra funco his-
torica sino a de d S[ I' nd r o entimenLo Iibel'aI da aspirao
republicana, que m theol'ia a gradao mais forte daquelle
entimento, ma que na praLi a uI-americana oexclue. cm
esse inter\'allo democratico o pl'imeil'os estadistas do segundo
reinado no teriam a fOI'te convico que mo traram da
necessidade da monal' hia, con ico qu , para o fim, a
ol'Clem inalL I'a 'I, a paz pl'olllOgada, o funccionamento auto-
matico das inslituie livl' s foi apao'ando cm cada um delles,
a comeaI' pelo lmpel'adol', e que a perfl.Jita e tabilidade do
reinado no deixou amadul'ecer nos mai novos, os quaes s6
Linham a LI'adio daquelle' annos difficeis.
------_._--------_._-_._-
(1) Ver Hollanua Cavalcanti no Senado, di curso citado, sobre
Feij: - II a cle do ouro nunca entrou naqueJle cidado. " " Eva-
ri to, que fez pl'e idente , ministros,selladol'es e regentes, morl'Ou
simples livreiro. " Correio Mercantil.

1. 3
UM ESTADISTA DO IMPEHlO

v. - O Dr. Jos Eustaquio Gomes

Durante a Academia Nabuco viveu sempre como e tudallte


pobre. O pae no tinha seno a pequena renda do emprego
e s podia distrabir d'ella paea a mezada do filho em Olinda
uma paecella. Quando em '1837 foi nomeado senadol' pelo
Espil'ito-Santo o filho j eea promotoe. Como e tudante Ka-
buco sempre que ia ao Recife encontrava a mais feanca hos-
pitalidade na casa de um homem que lhe inspirou uma gl'a-
tido quasi filial. Era um velho medi o, o dr. Jos Eu taquio
Gomes, figura populae do Recife. O dI'. Maraes Sarmento, per-
feito conhecedor da profisso e dos cat'acteres que ella pl'oduz,
considera-o a um tempo um sabia e um santo. e pelo
lal'go espao de trinta annos, o dr. Gomes, occupou incontes-
tavelmente <? primeiro logal' entre os m dicas de Pel'nam-
buco, se at o fim de 'ua vida con ervou esse lagar, nl
foi s pelo saber e experiencia profissional, mas tanlbem
porque foi o homem mais bemfazejo que tem pi 'alto o
slo d'esta provincia. Na distl'ibuio do precioso t mpo,
verdadeiro e quasi unico patl'imonio dos medicos, nenhuma
distinco fazia entl'e rico e pobres, fidalgos e pI beus' o
perigo, a urgencia el'am a medida da sua escala (1) .. cria
preciso transcrever toda a noticia biographica pal'u dar a
conhecer o homem tal qual era. De sua populal idad cita
Sarmento um facto. Na l'evoluo do Equadol' foram demit-
tidos todos os na cidos em Poetugal. Lembl'ando-se do
dr. Gomes o povo cercou em attitude ameaadora o ho pital
militar. Pensou-se que era uma contl'a-revoluo. O pre.'i-
dente, porm, desde que oube do ajuntam nto, imao-inou a
causa e fez annunciar que o dr. Gom s no e tava incluido
na lista dos demittidos; i so bastou para di 'persar a mul-
tido. De sua dedicao pelos doentes contam-se diversos

(1) Noticia Biogl'apllica do de. Jose Eustaquio Gomes polo


de J. J. de Moraes SumenLo, Recife, 1854.
INFAJ'l"CIA E MOCIDADE 35

casos. Alta noite, achava-se elle em casa do marechal Andl'u


quandq lembrou-se que tinha deixado de visitar um pobre,
doente grave. Era uma noite feia de tempo l'al , quizeram
mandar preparar-lhe um c8:vallo ou urna cadciri nha, elle,
porm, no tinha tempo, tornou o ca aco de baeta de um
e 'cravo e foi fazer a visita e quecida. Todos quanto~ en-
tr'aram no eu gabinete viram que se algun do consultantes
retl'ibuiam, como bem lhes parecia, os eus sel'vios, antes de
findai' a co'nsulta j o dinheiro que havia recebido tinha
sahido pela maxima parte repartido em parcella entre a mul-
tido de inIelizes que o rodeavam, ,ocorrendo a uns pal'a
haverem os remedias, a outros para comprarem alimentos
tlpropriad s suas moles tias.
O d,', Gomes tinha a casa aberta ao estudantes de Olinda que
o di ertium o cercavam de toda especie de considerao;
no meio d'e a tUI'ba-multa de rapazes o velho, triste e oli-
lmio, sem a affeie de familia, e condendo por e e lado o
s gl'edo de uma ferida que s depois d'elle mOlto foi conhe-
cida, tomou-se por I abuco d'cs 'e interesse particular que os
h mens de sciencia, can ados da vida, mostram na velhice
pelo talento que se acolhe sua sombra e do qual elles adivi-
nham o futuro. Nabuco era uma figura notada da imrl'en a
e da a sociaes academicas e aos seus contemporaneo no
surprehendeu a crI'eira que elle t z em politica. ('1)

VI. - Primeiros Empregos

Logo ao sabir da Academia, abuco nomeado para o logar


aliente de pl'omotor publico do Recife (Abril de '1836). A
nomeao devia-a elle aos seus ataques contra o partido chi-

(1) II ... pois devea chegaste a pell ar que eu no applaudielU


e muito cordeai mente a tua enteada para o ministerio? S Loeia
as,'im succeclido o eu ignoeasse que de de a no a ociedades
(de famosa recordao I) j te peeparavas para e a a censo.
Can ano a Nabuco. Carta de 30 de Novembro de 1853.
86 m-I E'TAIJI TA DO IMPEHlO

17lcwgo ('1), do qual principalmente sahiu a Praia, e aos f'cr-


vios que pl'estara quando estudante, I'edigindo pequenos jor-
naes de occasio como o Al'istaJ'cho (183-36), orando nos
clubs e reunies politica', Era na administra o ele Francisco
de Paula Cavalcanti de Albuquerque, depoL visconde de uas-
suna. provincia acabava de pa, sal' por uma serie de sedi-
es que retardavam e mantinham embryunal'io o eu desen-
volvimento commercial e agricola. Em 1834 tomal'a conta do
governo depois de mais um tUlllulto o antigo pl'C 'ic\entc da
Confederao elo Equador, Manoel de Cal'valho. POI' mais apa
gadas que estive sem a, lembmnl:as de '1824, a r apparir,b
no governo de um rcpublicano hi tol'i o nio podia deixai' d'
congl'egar contra eHe o elementos con. crnld.ol'cs da pro-
vincia, A fraqueza, porem, dos guvern " direclamcnte demo-
craticos, como os que o pOYU de P l'Ilam buco cn 'aiou cm
diversas poca, manifestou-se logo na GUI'la pl'Csid ncia de
~Ianoel ele Carvalho, o seu proprio pal'tido fOI'moLl-,' , 'lll11
a sympathia do Cavalcanti', uma l'i,,~Jlid<~de de que re,'ullou
<'\ sublevao dos Cameiros, com a (Iual ca!Iiu (1835) COIllU
subira (2),
Sob a pl'esidencia de Franci '() de Paula, Pernambuco
achou-se em mos de um homem de pl'incipio' modem se
de tempera autiga. Seu pae, O velho (( coronel SU:lssuna >l.
fura um typode inlcmel'ato patriotismo na l'evolLII;nde lH17,
o compilheiro de Antonio Carla' na pl'i 'es da Baltia. O
filho sol1'reJ'3 com o pac c fra criado por elle na tradil:1o tlus
j'icos senhores ele engenho pernam :JUcanos que em pocas dif'-
fel'entes sacriflcaram bens, "ida e familia para 'cl'"ircm tI
causa nacional. Por ultimo, duranle perto le quarenta annos

(1) O pn.rtido chimaoQ'o roi em Pel'llallliJuco o nucleo da rll.cr;o


praieira. O Dr. NaLuco em seu discUI'SO", el11 seus escI'iplos,
tem sempre defendido as prel'ogativas dn. copoa, n. integridado do
imperio. E. te o seu crime, d'ahi daLn. o adio, que os indivic.1llo"
actualmente praieiros selllpI'e lhe voLal'am desdo 1833, o qua.l so
augmentou de 183 por diallte. " (Correio Mercantil da lJa!lia).
(2) Justa Apreciao du Prtdomillio Priciro, Rocifo, 1817. O
0]1usculo foi publicado anonyma.menlc, o autor, pOI'cm, Nabuco,
elllo redactor da Unio.
INFA 'elA E MOCIDADE 37

o d conde de Sua suna man t r- c-lia afastado da p li ticn,


dei'\ando qua i sempre ya.. ia a ua cadeira de senador,
pam encel'J'a.r-se no eu engenho, at aonde no chega a a
agitao das gerac:e novas com as quaes eHe no commu-
nicava em qua i nenhum entimento.
Smente demagogia podia um homem d'esse quilate moral
parecer dominado da ambio de fundar uma 01 garchia d
famlia, o ultimo dos pen amentos que elle confe al'ia a "i
me mo. natural que a tl'ansmis o do ascendente politico,
durante quarenta annos, de Franci 'co de Paula CavaI nnti
(, uassuna) a ,Rego Barros (Boa-Vi ta) e depoi' ao il'mo d'a-
queile, P dl'O Cavalcanti (Camaragibe) tenha parecido a for-
mao de uma dynastia no s ia de um partido, mas ha razes
mais pl'ofundas para explicaI' a coincidencia, Cada ~m de se'
tI' s homens tinha as qualidades que em concUJ' o livre lh
haviam de merecer na o casio a in~ign ia do commando,
, m duvida gl'ande a1 u o so inhel'cnLcs a todo predominio
d familia, mas a chamada familia CavaI anti comprehcndia
gl'ande parte da propl,j dade t l'I'itol'ial da p\'o incia e a ua
inl1uencia directol'a no paJ'tido on5ervador era leO'itima e
natu.ral, dado os elemento' da 50 iedade pernambuc?oa n'a-
quella poca, De facto, no ra uma familia s, mas diver o
circulas, formados pela antiga familia .
abueo dil' na Ordem em 1841, no eu e ,tylo pes oal a-
raetri Lico: Peroanbuco ante quer a e se prc. idellte(Boa-
Vi ta), que se apoia cm Vi) tos cil'culo, d familia e qu 111
orrel'ece e ta garantia de ordem e e tabilidade, do que a algum
qu , isolado 'dessas r la ' n'um tcmpo em que a fora pu-
IJli a nuHa, 11a de succumbil' 111 qun1luel' cri e e compro-
m Uel' a paz )l, Mais tarde elle xplicar em alguns tra o o
n:ccnd nt politico exer ido POI' aquella familia : A' in-
nu ncia da familia Cavai anti no um facto de 1835, ma
de tempo remotos; e sa inl1uencia no obra do poder ou
lh I'voluo, mas ,procede da natul'eza das coisas; a in-
l1ucncia que, empre teve e ha cI ter uma fumilia numerosa,
anti?'a, I'ica, e cujo membros sempI'e figul'al'am nas po i-es
so iaes mai vantajosa : na primeira Legislatura de 1826
S8 UM ESTADISTA DO r fPERlO

cinco membros d'essa familia foram eleitos deputados; nn


segunda e terceira Legislaturas seis Ca aI antis obtiYCl'al1l
essa honra popular; es a eleies foram an t l'iores pl'esi-
dencia do Sr. Baro de Suassuna ... E e Cavalcanti antes
da no sa emancipao politica j figuravam como capite -
mI'es, tenentes-coroneis, coroneis e officiacs de ordenana
e milicia e em todos os cargos da govemana; os engenho ,
que a maior parte delles tlTI, fram havidos por heran a.
transmittida. por seus maiores, e no adquiddo depois da
revoluo; enumerai os engenhos da provincia e vos damos
fiana de que um tel'o delle pel'tence ao Cavalcantis ... E
accre 'centa a: er. N'estas cil'cum tancia ,com e te predicados
e elementos, e no estado normal da sociedad , um impos-
sivel que essa familia no exera inf1uencia; uma familia
antiga, rica, numerosissima, compo ta de membros que
sempre occupal'am as melhore po i . so iae , e foram con~
decol'ados e afol'ados, s no ter inf1uen ia quando a ocie-
dade estiver tl'anstomada, quando todo es. c. elemento de
uma influencia regular e legitima estivel'e.m oblitel'ados pelo
predominio da violencia, pela confuso da anarchia, pelo
revlvimento da socieda le . (1)
Pedro de Araujo Lima havia uccedido a Feij como Re-
gente intel'ino e contl'a a ua eleio movia-se a candidatul'a
de llollanda Cavalcanti, il'mo de Suassuna. pl'ovavel que
as l'elaes intimas dp. abuco com este o tenham feito pal'ecel'
pouco orthodoxo reaco conservadol'a iniciada ob o novo
Regente pernambucano. S assim se explica o no haver
Francisco do Rego Bal'l'os cumprido a promessa que fizera no
Rio de Janeil'o de tomar a Nabuco para seu secretario. A
grande evoluo monar hica de 1837 s I adia, ntretanto,
satisfazer a Nabuco. As suas relae com Suas una no o
levariam at sophismar o eu claro instincto politico.
A diviso da familia Cavalcanti era um accidente pura-
mente local e passageil'O. A maioria dos votos Cavalcan tis
dada de preferencia a Maujo Lima. A posio de Hollanda

(1) Justa apreciao, pago 4.


lNFANCIA E MOCIDADE 39

corno chefe liberal no imperio creava uma situao especial


para O' 'eus ]laI'entes eamigos de Pel'l1ambuco, mas no apa-
gava a linha de demarcao entre o dois partido da pr -
"incia. A affinidade politica sobrepujava as dedicaes par-
ticulares. Pes.oalmente abuco devia entir-se inclinado
em 1831 a sel'vl' a influ ncia de Rollanda Cavalcanti em Per-
nalllbuco. Feij pouco antes tinha nomeado seu pae senador,
e elle achava-se politicamente liO'ado com Sua una. Duas
O'I'andes carl' ntes de opinio estavam, porm, formadas no
paiz e era preciso escolhei' uma ou nutra: ou passar-se para
o pal'tido popular, ou acompanhar a reaco conservadora,
quae. quer que fo em a pel'turbaes cau adas no partido,
at ento hamado cavalcanti, pel movimento' xcentl'icos
d lIollanda na CI'te. Foi a 'sim que Nabuco se achou to
pI' . o ao miui lel'io de 19 de Setembl'O de 1831 e nova si-
tua 10, d pai hamada bal'onista, que eIle inaugurava com
a nomea o d Rego Bal'ros para a pI'esidcncia de Pernam-
buco, como e tivera ate ento administra o Suassuna.
aquelle grande ministerio, do qual Va concello foi o in pi
mdor e que ter o nome de ministel'io das Capacidades, en-
II'ava111 doi deputados pernambucano com os quaes abuco
tinha ti' ita amizade, eba tio do Rego e l\laciel Monteiro.
Para um joven aspirante cal'l'eil'a politica teria ido um in-
gl rio suicidio sepaJ'ar-se, ment,0 por uma fidelidade pes-
soal, da cau a pela qual elle trabalhara no dia em que ella
vencia. Nem o pI'oprio uas una podia querer i soo
Do Cavalcanti para os chimangos a distancia era amesma
que do Rego Ban'os, tendo. at o lado cavalcanti, como o
futuro o vai dem n trai" Rollanda exceptuado, mai accen-
tuada C i o con' I'vadora do que O bal'oni la. Qualquel' que
fo' e o seu con trangimento pes oal, Nabuco tinha que reco-
nhecer na reaco de 1 37 a on llmmao da obra pela qual
eIle se tinha tanto esforado. Entl'e Suassuna e Rego Barro,
a ua dedica o era pelo pl'imeiro ; a sua razo politica e Lava
com o segundo.
Bastava, entretanto, essa diviso de entimentos para Na-
buco difficilmente poder fazer caminho em politica. A sua
40 UM ESTADISTA DO IMPERIO

amizade com Suassuna tornava-o su. peito aos parLielarios


acerrimos ela reaco, aos chamados corcundas, e quanto a
acompanhar elle os chimangos e tava fra ele que to. Por
isso sente-se deslocado na provincia e chega a pensar em um
cargo diplomatico ; o pae falia mesmo a }Iaei ,I Monteiro, mi-
nistro de e trangeiro . Elle era, porm, um auxiliar que
nenhuma aelministrao di pensaria. Rcgo Barros, sem fazcl'
delle um favorito, conserva-o na prolllotol'ia, e em 1838
reconduz. Em 1838 entrava elle para a Assembla Provincial
como supplente em exercieio.

VII. - Reaco monarchica de 1837 (1) -

Com a morte de Pedl'O I os elementos conser aelm'es qu'


concorreram para a revoluo de 7 de Abl'il, ou antes os e:::!li.
ritos liberae de 1831 que a anarchia havia de illuelido,
tinham comeado a elesaggregar-se do partido modcl'aclo e a
fundir-se com os restauradol'es. Essa concentl'ao conSel'V<l-
dora produz a gl'ande reaco monarchica de l837. Em no a
historia constitucional houve loi governo' forte, que appa-
recem ambos no fim de situaoes liberae agitada c impo-
tentes, como uma l'eaco da sociedade em perigo. Em ambos
os casos, porm, o esforo exhallre logo o organismo canael ,
incapaz de coheso. Um esse ministerio de 19 de Sctemlmi
de 1837; o outro, o ele 29 ele Setembro ele 181!8. Dos doi. o
contl'afol'te exteriOl' Bonol'io (Paran), que no quiz figlll'ar
em nenhum.

(1) " De 1822 a 1831, periodo de inexpel'iencia e de lucta dos ele-


mentos monarchico e democratico; de 1831 a 1831;, tl'ium pito de
lDocl'atico incontestado; de 1836 a 1840, lucta de reaco mona 1'-
chica, acabando pela maioridade; de 1840 at 1852, dominio elo
pl'incipio monarchico, reagindo contl'a a obra social do domillio
democratico, que no sabe defender-se seniio pela violencia, e
esmagado; de 1852 at hoje (1855), arrefecimento da paixes;
quietao no presente, anciedade do futuro, periodo de h'an-
saco. " Justiniano Jos da Rocha, Aco, Reaco, T,'ansaco,
pago 5. Para o estudo da evoluo monal'chica ler cada palavra
des. e opusculo.
INFA CIA E MOCIDADE

No mini. terio de 37 lia um gigante intellectual, Va con-


cellos, que 'e pa' 'a om imm n o esLI'onc!o para o campo da
reaco. (( Fui libel'al., dil' elle, ento a liberdade el'a'nova
no pai::., estava nas aspil'aes de todos, mas no nas leis,
no nas idias pl'alicas; o podei' el'a tudu : (ui libel'al. Hoje,
pOl'm, divel'so o aspecto da sociedade: os pl'iueipios demo-
cI'aticos tudo gunhaJ'CLln e muito compl'omellel'am; a socie-
dade, que ento corria 1'i co pelo podei', corre a{/ol'a 1'isco
lJela de;:;o/'{jaJJi-;::,ao e pela Cl1wI'chia. Como ento qniz,
qJJel'o hoje sel'viL-a, quel'o salvaI-a, e pOl' isso S01l j'egl'essista.
No SOIl tl'ansfu{Ja, no abandono a cansa q1le defendo, no
dia de sells pel'igos, da sua fl'aque::.a; dei,"co-a 110 dia em
qae to egw'o o Selt tl'illlnpho que at o excesso a com-
lJJ '011wtle, ))
A fOl'a da reaco era invencivel, uniam-se no me. mo
movimento os velhos raccionfll'ios do primeiro reinado, os
principa fautare: do 7 de Abril, e o grupo que em tomo
dos Andl'atlas pre[cntlia repl'e. entar a "ertladeira tl'ULli(~no
liberal d paiz. A monarchia !'tava em distancia de exercer
j a sua aco tranquilizadol'u. Hc~rirava-se no meio das
ondas agitadas a diluvio da t 1'1'<1 \'izinba. O. partidos come-
cavam a contar COIU o tlia do juizo, a considerar-se respon-
saveis. a legi. latuJ'a de 1838 ntrar uma forte phalange
libel'al; re usciLa a grande Ogma de \ntonio Carlos. FOI'-
mam-se ento o doi paI Lido que ho de governar o pa:z
aL '183, e di. puLaI' no tel'r no da lealdade monarchia
con 'tiLuciona1. um verdadeiro rena cimento da confian a
que se manifesta no desabro har quasi imultaneo dos mai
bcllos talentos da nossa literatura, A nao deixava-se sua-
vemerite de. li. ar pal'a a monarchia, FaI'-se-ha uma accusao
ao pal'tido libcl'al de haver apl'essado a maiol'itlade. O que
elle fez o que todo anceavam. Va concellos, o grande
advel'sal'io da Maioridade qlland ella se faz, havia pensado
antes na reg ncia de Dona Januaria (1), e a sua oppo io

(1)" uuca rui considel'udo inren o ao go"el'l10 de Sua fages-


tade Impel'ial o I', Dom Pedl'o 11, lendo al erv outra poca dv-
42 UM E TADI TA DO IMPERIO

ao movimento de Julho foi exclu ivamente uma dila<:50 par-


t.idaria no intuito de gaI'antir melhor o seu jJUI'Lido no dia
inevitavel do o tl'acismo, dando-lhe um Con. clho de Estado
em que se abrigaI'. (1)
De 1831 a 1840 (at mais tarde mesmo, poder-o -hia dizeI"
porque o Imperador ao tomar conta do throno era um menino
e no uma individualidade capaz de d fender uma in. ti-
tuio) de 1831 a 1840 a republica foi expel'imenlada em
nosso paiz nas condi es mais fav ravei: em que a expe-
riencia podia ser feita. Elia tinha diante de i pela Con ti-
tuio do imperio treze anno' para fm.er ua.. prova. ; du-
rante esse prazo, que o da madureza de uma gel'al,50, si o
governo do paiz tive 'se funccionado d modo satisfa torio,-
ba tava no produzil' abalos insupportaveis, - a desneccs-
siclad do elemento d nastico, que era um pe:adelo para o
espil'ito adiantado, teria ficado amplamente demon. trada.
Em Frana, em 1830, o de aponlam nto do. r publi anos
fra natural, porque, em vez do gO\' mo ele que j se jul-
gavam de posse com a queda de Cada X, Lafay tte lhes
dera como CL melho1' das republicas " UIU rei ai nda vigo-
roso e rodeado da mais numerosa e brilhante familia I\al da
Europa. No BI'azil, porm, a Re o' ncia foi a I'epublica ele
facto, a republica provisoria. Temos t['eze anno diant ue
n6s , era o consolo dos republicano' ao lastimarem a . ub-
tl'aco do habil tl'abalho que tinham feito nos qual'teis. Por
OUtl'O lado no se rompia a tl'adio nacional pal'a o caso de

sejado a regencia da augu ta princeza imperial, a Sra. D. Jua-


naria, de:ejo este que nunca excedeu os limite d um p nsa-
mento ... I) Exposio do Bet'Jlal'io Pet'eil'a de Va concello::;
sol I'e os acontecimento da maioridade.
(1) ti Nossas institui es no esto completas, faltam-no muitas
1 i. importantes, algumas das existent s exigem consideravei.
rcl'ortnas, e muito ha que vivemos sob o governo fraco de regen
cias. Falta-nos um COIl ellJo de Estado, no temos eminencias
. o 'iaes, ou por pobreza no . a, ou porque a inveja e as faces
ten liam caprichado em nivelar tudo. este e tado de coLas no
acclamara eu o SI'. Dom Pedto II maior desde j... B. P. de
I)

Va conceUos, lid.
INFANCIA E fOCIDADE

falhar a expel'iencia. Que monarchista de razo, dos que no


tinham a uper tio da realeza, desconheceria a sufficiencia
da prova, se ds e bom r ultado e sa experiencia da demo-
cracia apenas com o anteparo ficticio de um bel' o, entrcgue
a clla mesma?
O de a tl'e, pOI'm, fra completo. Si a maioridade no res-
o'uardas e a nao como um parapeito, ella ter- e-llia de -
penhado no ab smo. A unidade nacional, que se raso-al'a
m 183 pela ponta do Rio Grande do uI, ter-se-hia fcito
toda pedao . A experiencia foi to esmagadora que a opi-
nio republi ana de 1831 tinha desapparecido em 1837 da
face do paiz, como de apparecel'a em Fl'ana depoi do Tel'I'or.
J ne 'e tempo se fallava m completal'mos a uniformidade
politica da America, em estirpar cc a planta exotica . Anao,
porm, tinha a razo perfeitamente lu ida, e preferia um
rcgimen, quando mai no fo e, que pl'ocUl'ava aCI'edital-a
como nao livr aos olho d munelo c tinha intel'e se pro-
pl'io em que a luz da mais CI ua publicidade se projecta e
obre cada acto dos mini tros re pon avei , em que o chefe
do E tado era o confidente natural da oppositto, vanglol'ia
de er elas ificada en tre as republicas americana , com as
uas dyna tias de dictadore , (' meio bandidos, meio lJa-
lI'iolas ll, como foram chamados, e que formam, com ral'a
cxcep o, a mais exten a erie de govel'nos degradan l S en lre
po os de 01 igcm europa. o era po iVl'\I, quanelo o eu
instinclo liberal e taya ainda em todo o igor ela mo idade,
hypnor.isal-a com uma palavl'a para tirar-lhe at me mo a as-
pil'a o de er livre.

VIII. - Casamento. Primeira eleio de deputado.

Em 1837 o veihoJos Thomaz fl'aescolhidosenador, tendo


eoll'ado na lista triplice do E 'pirilo anta onde era presi-
dente. 'aquelle tempo no s pal'ecia naturalis ima a eleio
dos pl'C. idenles, como tambem o voto popular ingenuamenle
UM E TAO! TA no IMPERIO

os li~nn!'eava. ('1) Sedio pre isos dez annos mais dc clei~(j('s


I'epetida 'dc 'pre ic1ente para produzil' uma total invcl' o no
e pil'ito publico a e 'e re peito. Jo Thomaz no conta"a
com a e colha, Feij entl'etanto nomeou-o. Infelizmente de
pouco podia elle valer ao filho. ua po o no enado foi
sempre a de um homem mode to que se contentava com
acompanhar da ,ua obscmidade os vultos que enel'a"a,
como a Vasconcello. eu e 'pil'ito contrallil'a-se desde que
pel'deu um filho militaI' assas inado na revoluo do Pnr
em '1834. (2) Seu desejo sCI'ia poder sempre votar com o go-
verno, desinteressadamente, paI' e se horr r ti incerteza elo <.lia
scguinte que muitos dos que atravessal'am as revolucs no
comeo da viela contl'1hem na velhice como uma segunda na-
tUI'eza.
Pouco depois de entrar elle para o Senado Feij renun iava
a Hegencia. Jos Thomaz teve receio de que a no a situac;o
lhe tirasse a presidencill do E, pirito-Santo, o que no suc-
cedeu. Elle mesmo que devia deixai-a no anno seguinte p I'
se sentil' desarmado para reagir c ntra a impunidade e c
anal'chia que n'aquella poca de ju tia populat' ainda asso-
lJerbava tudo no paiz. (3) No Senaelo vive elle preoccupado

(1) Receando no seI' e colhido, Jos Thomaz escI'evia ao filho:


li Paciencia, tenlJO pouca fortuna, ficar-me-ha a "'Iopia de el' o
mais votado pelos povo' que governo. " (Cal'la de 13 d Fevereiro)
Um anno depois elle e crevep com outro humol': " \cccito os
parai ens pOI' ver-me livl'e da pre~i lencia do E~piI'ito-Sanlo,
porque hoje se no pde aturaI' povo '. "
(2) Carta ao filho em 27 de JanciI'o de 1835: li ..... o IIICU filho,
teu iI'mo ... Jos r.Ial'n.... j no exi te! eu o pel'di paI'a empl'e..
roi mOI'to no I'io Acar bal'baI'a, vil, atl'aioadamenlc, pelos infa-
l11e~ do partido do conego Campos e do Malche!'..... tendo o mell
de:gI'aado filho marchado pal'a aquelle 10gaI' pOl' ol'd ITI do Pre-
idente com muito pequena fOI'ca paea pl'endee o I'eJado!' lia
Sentinella Peraense flue rugindo da casa do dito Campos se
achava na elo Malcher. "
(3) I' Arllli vou luctando com os de.ol'deil'os d'e ta Pl'OViIlCil1,
de. cjando ver j chegado o tempo do meu eegee~. o palD:n. Cueta.
(O malvl1uos) esto apoiados na rl'l1Queza da lei e na ponca ou
nenhuma garantia dada aos hOITIen. de beJll pelos nos os codi-
gos ..... al sempee o vic~imas d'aquelle que por OUll'OS tae,,;
lNFANCIA E MOCIDADE

de adeantal' no pouco que estava ao seu alcanee a cal'reira


que filho ia fazendo em Pel'nambuco. Sentindo-se prema-
turamente alquebmlio, precisava de Cl'car uma proteeo pam
a familia. At '181,0, porm, nada conseguir seno pro-
messas pouco acreditaveis, dizia elle, segundo a experif:'ncia
que tenho d'ella . (Cal'ta de 23 dC)Ial'o d 1839.) Em -J 840,
com a Maioridade, elle julgou tudo pCI'elido; era, pelo con-
tral'io, uma oppol'tunidade que se abl'ia cal'reil'a de Nabuco.
As relaes em que e tava com seu partido obrigal'am Jos
Tltomaz a votaI' no enado eontra a Maioridade. E ta a ellc
em boa companhia pelo lado do pao, de de que vutava, otl'J
oull'os, com AI'aujo Vianna (apueahy) me tl'e e amigo do
Imperador. Elle porm, I'eceou algum tempo que esse \"oto
fu 'se a sua eonelcmnao, por tel' sido a Maiol'idaele desejada
p lo jlroprio monarclla. (1) Por isso falland dos mini 'lI'OS
tia Maiol'idad , cscrevia ao filho em 8 de 'etembro: l'iem
d'e1le posso e 'perar' cou a alguma em fieu beneficio, porCJue
valei no Senalio contl'a o pl'OjCCto ela Iaioriliach; o. bens
hoje so smente pam os que acompanharam a ilia do dito
projecto desde s u nascimento e fizel'am cau, a commul11
eolU seus autores, unico amigos da monal'chia. E mai~;
alieante e te pt'otesto de mi ni .. l dali mo systematico e que
apenas a expl'csso exagemda elo seu temor de futul'as e
maiol'e jlerllll'baes: o: Nunca fiz opposio au O'ovel'no,
nem o fUl'ei, porque de ejo ol'dem e a pro peridade do Bl'azi I
e 050 desejo por fl'll1a alguma animal' o briguenlos e desor-
deit'os. Sejam quaes fOl'em os novos ministro, eu os res-
peito, voto con: elles e lhe no de ejo mal algum; affirmn
que nenhum d'elles sel' mais do que eu amigo e respeitado;'
do 1m pCI'udor. Depois das cOl1vul 'es rOnlla-Se sempl'e entre

so de ordinal'io ab.olvidos pelo jury, quando por ventura ~o


encontl'e algulU juiz de paz que se anill10 a formal'-lhes culpa. II
(Carla. do 2l .do Janeil'o de 1835).
(1) " Eu no tive al'l'eatamento,. se no fo se aconselhado POI'
diversas pessoas (11Ie l11e cercavam lel'ia dilo qlle no quel'ia. "
Nota do lmpOl'adol' a. Tilo Pl'allco, - O Conselhei"ro Francisco
Jos Furtado.
46 UM El::;TADISTA DO IMPERIO

os homens de ordem esse proposito de deixaI' o governo,


qualquer que seja, em pazj as tregl1as, porm, cessam desde
que renasce a confiana. Felizmente para Nabuco a previso
do pae era erronea, o rninisterio da Maioridade ia acolhel-o
bem, figuravam n'elle Hollanda Cavalcante e o propl'io Suas-
suna, com quem as Tela es de Nabuco ram seguidas. Com
el'feito em pouco tempo obtinha elle a nomeao de juiz de
direito, despachado para Pau d'Alho.
Esse anno de 1840 devia seI' em certo sentido o mais im-
p l'tante de sua vida, porque foi o anno do seu casamento.
Durante os tl'inta e oito annos que lhe restam o facto domes-
rico ser o principal de todos para elle. Elle era um d'esses
organi 'mos morae que se completam e se de 'dobram pela
familia, que fica sendo como que sua circumf rencia xte-
rior, extremamente sensivel, mas ab 'olutamente [ ['otectora.
Por felicidade a SOl'te dos p liticos assim t itos s ezes
ombinada ele moela que a familia em vez de diminuir, pelo
c ntral'io augmenta e chega a tornar inten'o o seu intel'esse
pela causa publica.' Nunca se d com elles conOicto entl'e
suas al'reies intimas e seu papel politico. Seus sacrilicios na
funco social que preenchem so feitos por um accol'do ta-
cito com os que recebem toda a sua dedicao. No menOti
vel'dade, entl'etanto, que a menor fl'ic<;o no me(;hanism
intimo paralysal'ia n'elles a ambio, a coragem, o 'pil'ilo
puhlico e destl'l1iria de todo o estadista. FOI'tes elles so com
a condio de no se lhes tOcai' n'esse centl'O occulto de toda
a sua inspirao e actividade, de no sofll'er ste a mais insen-
sivel leso.
Nos jornaes Pl'aieiros encontl'a-se pai' vezes a verso de
que Nabuco deveu sua carreira politica a ter casado com uma
pal'enta do Bal'o de Suassuna e tel' assim enLmdo pal'a a cha-
mada olygarchia. A senhora com quem elle casou, filha ele
uma irm do mal'quez do Recife, pertencia a uma familia
ailiada dos Cavalcantcs. O Morgado do Cabo retil'ara-se d<;l
politica logo depois de acabada a revoluo de 1824, sel'vio
qu lhe valeu os titulas de visconde, marquez e armeiro-mr
do Imperio, a grcruz do Cruzeiro e a amizade de Peul'O 11
INFANCIA E MOCIDADE 47
Elle tinha com Sua una a relae proprias de homens oa
mesma po io so ial e que figuraram juntos na me ma
causa . Francisco Pae Barreto fI'a, com eITeito, em Pernam-
buco urna da pl'incipaes figura da Independencia; em 18 L1,
fundador da Academia do Pal'aizo, ociedade revolucionaI'ia
que funccionava no hospital vinculado em ua familia, elle
encorpol'a m 6 de Iaro sua foras do Cabo ao batalho
auxiliaI' do . ua 'SllOas e entra no dia seguinte na capital pel'-
pambucana para unir-se ao movimento nacional. Pela inde-
pendencia, elle soffl'eu quatro annos de cal'cere na Bahia e
depois d seI' posto m liberdade em 1821 foi novamente
pl'eso e mandaclo como ou piI'ad r pal'a a. prises do Tejo.
O velho uas 'una, o 'c pito-m!', e seu filho, o ministI'O da
H.gencia e da Maiol'idade, tinham o('fl'ido dUl'amente como
o Morgado do Cabo pela causa da eparao bl'azil ira; ell
repl'esentavam a mesma cla se de l'icos senhores de engenho
que em Pemambuc acrificaram fOl,tuna e familia pela ida
da indcpendencia amel'cana. Muitos anno , pOl'm, tinham
mediado de de esses tempos heroieos da pI'Ovincia; lucta
partidaI'ias, de caracter mai u menos faccioso, tinham apa-
gado a re ordao d'elle ,A familia Pae Barreto e Caval-
ante no eram nem to ligada, nem to intima, que ua-
suna se preoccupasse de dar uma adeil'a na Camara em dote
a uma sobl'inha do mal'quez do Recife. (1) N'este ca o no
havia a verosimelhana de um posl 'wc. em I abuco fi i
eleito na administl'ao ua una, nem mesmo figul'ou cm
lista nas eleies da Maioridade. na primeil'a elej(jo de de-
putado ser em 1842, na segunda presidencia de Boa Vista,

(1) Huyia cntl'cLanto motivo pam se acrediLar a ver o. Suas-


suna fUI'a testemulIlia de ca 'amento de Nabuco e tambem sem
essa c 'pecie ele geande natuI'alizao, omo era o casamento em
uma familia p rnambucana, difficilmente tel'ia Nabuco, que el'a
baliian~, conseguido vencei' o espirito I.mirrista e a competiiio
local. A amizade e proteco de Suassuna deveu elIe sua no-
meao de magistrado. Quando ca ou (Maro de 1840), era Na-
buco promotor publico do Recife j entrando para o mini tel'io cm
Julho elo me mo anoo, Francisco de Paula fel-o despachar juiz
do dil'eito.
48 UM ESTADiSTA DO IMPERIO

quando j era juiz do civel no Rccife e um dos principaes sus


tentaculas da administrao no jornali mo e na assembla
pro incial. No preciso imaginar nenhum motivo para o
acleantamento de 1 abuco em seu partido alm da utilidade
dos seus servios. Com a Maioridade a situao dos pal'tid s
Linha que se fixar o paiz ia ahir do provi 'orio revolucio-
nal'io, as .con ideraes locaes e pes oaes tinham que perdcl'
metade de sua importancia, a irre 'ponsabilidade dos chefes
politico cessa a, era preciso que cada partido se justif1ca e
perante o paiz no parlamento, se recommenda!3se cora no
governo; tudo isso importava a valol'iza das aI tides po-
liticas incontestaveis, das capacidades reconhecidas por todo
o Imperio.
O governo do Baro da Boa-Vista (Francisco do Rego Barros)
marca uma poca na histol'ia de Pernambuco. Foi uma s
administrao, pMe-se dizer, que "em dc 2 de Dezembro
de 183'7 a 3 de Abril de 181-1, sofTl'e uma interrupo n'esse
anno e depois prolonga-se at Junho de 18!j/f. uma IJI'e i-
dencia de sete annos, caso quasi sem semelhan le no Imperio.
Dispondo do principal lemento do administrador, de tempo,
o presidente conseguiu resultados que admini. trae ephe-
meras no podiam clar. O aspecto gel'al cio Recife modiflcou-
se muito com as construces cle Boa' i ta; a vida social
tOl'nou-se animada, a afluencia voltou. Rego Barros tinha- e
fUI'mado em Pal'iz e gual'clou as manei I'as da Restaul'ao, at
o fim da vida, o mesmo ar e tom de gmnd sei{jlleu1'. De
F!'ana tl'ouxe pal'a a administrao planos e idas europa .
EIIe aCI'editava que faz ndo do Recife uma bella cidade, a so-
iCllade p rnambucana, os ricos senhores d engenho e seu
filhos se affeioariam ida de viver em sua terra, no se
afastariam da pl'ovincia, o que era a causa, em todo o paiz.
do clepel'e imento ela vida local. Tambelll a maiol' accusao
eonU'a ell el'a de pCl'llula1'o, como s~ o pala io do Recife
lcmbra se i\IafI'a ou o theatl'o Santa I abel a Nova-OpeI'H cle
Pal'ir.. ~Jai , pOI"m, cio que o embJlezamenlo da cidade e o
impul '0 dado'i obn\s puiJJ:cns sob a dil' r:no do ngenheil'o
Louis-Lger Vauthier, bI'ilhante acquisil;o feita em Pariz,
INI!'A elA E MOCIDADE 49

concorreu p:lI'a illu traI' a presidencia de Rego Barros a pros-


peridade e a paz de que a provincia gozou em annos tormen-
to os para o paiz.
Uma circumstancia favoreceu-o. Os deputados chimangos
tinham su tentado fortemente na Camara, por suas conve-
niencias locues, o mini terio de 23 de Maro que fez a leis
conservadoras de 1841. O grupo Iibel'al de Pernambuco pro-
curava navegar nas agua de Aureliano; toda sua politica
at repentina viravolta de 1848, foi calculada, visaRdo
scmpre s boas graas do Imperador, que se suppunha iden-
tificado com Aureliano . .('.. no ser is o, Pernambuco, onde
estava o boto de descarga da batel'ia re olucionaria, nao
se tel'ia conservado immovel e indifferente quando o libera-
li mo de S. Paulo e Minas Geraes, apl'Oveitando a guel'ra
ci ii do Rio Grande, tentou levantar o sul do Imperio contra
os etembristas re u citados.
as eleies de 1840 chamada do cacete, luctando contl'a
o ministerio da laiol'idade, a oppo io conservadora, que
,"encera inteiramente no Rio de Janeiro, con eguiu elegei' em
Pernambuco o Bar da Boa-Vista, demittido da presidencia,
Seba tio do R go e Maciel Monteiro, mini tl'OS do 19 de
etembro. Es aCamara fra dis olvida antes mesmo de se
constituir (decreto de 1.0 de Maio de 1842), e sob o minis-
tCl'io de 23 de Maro, que reintegl'Ou Boa-' i ta, a de -forra do
pl\l'tido conservador em todo o Imperio foi completa.
C \PITULO li

A SESSO DE 1843

l. - ACamara.

Nabuco, eleito deputado, voltava aos tI'inta annos ao Rio


de Janeil'o que ueixra aos dezeseis. Como tudo e. lava trans-
formado! Entre a crte do primeiro l'einad , que clle conhe-
cera menino, e a que vinha encontrar homem fito tinham
mediado grandes acontecimentos. Uma nova camada social
alastrava tudo, o proprio Pao; as anligas familia', o resto
da sociedade que se reunia em torno de Pedro I, agOl'a Ua-
tavam de occultar do melhor modo que podiam sua irreme-
c1iavel decadencia. Aquella sociedade, em uma palavra, de ap-
parecera, com seu habitas, sua etiqueta, sua educao, seus
principias e os que figuravam agora no fasligio eram ou os
novos politicas sahidos da revolu~o ou os commerciantC's
enriquecidos. Tudo mais recuava para o segundo plano : a
politica e o dinheiro eram as duas nobrezas reconhecidas, as
duas rodas do carro social. Quando a primeira se desconcel'-
tava, vinham as revolue.', no fundo to offi 'iacs como o
proprio govel'l1o, imples 'phenomeno, como elle, da empre-
gomania, que se ia generalizando; quando era a scguncla,
vinham as crises commel'ciaes, que se re olviam pela intcr-
ven~.iio constante do. thesouro. No fundo OI'a uma sociedade
A 'ESSO DE '1843 51

moralizada e de extrema frugalidade; os principio tinham


ainda muita fora, o bone to e o de bone. to no e confun-
diam, sabia-se o que cada um tinha e como tivel'a; inquiria-
se da fortuna dos homens publico' como um censol' romano
da moralidade dos perionagens consulal'es; re I eitava-se o
que era re peitavel; os estadista de maior nome morriam
p bre , muitos tendo vivido sempre uma vida de privao
qua i ab oluta, em que mereCei' uma conde. cenden ia qual-
quer el'a quebrar a au teridade e provoear commentarioR. O
interior de sua ca a , sua me a, seu modo de iver, reve-
lando qua i indigencia, impressionava os e trangeiros que
tinham de tl'atar com elle . A invaso do luxo s se far
clez annos mais tarde com a prodigalidade das emisses ban-
carias (1). A deputao pernambucana eI'a desd ento ancio-
~'~m nte e 11 I'ada na crte. Em divel' as pocas os deputados
da provincia, reuni lo em t roo de Boa-' ista, eba tio do
\lCgO e Maciel 10n tiro del'am a lei ao sales tluminenses.
A chegada do lee do Norte, como el'am chamado , era
sempre um acontecimento social. ElIe pO' uiam uma tra-
dio ue maneiras e um tratamento fidalcro que os differen-
ava do resto do mundo politico, m geral to abandonado e
negligente no tom da vicia, como incliff'l'ente galanteria.
A sua l'l)ua compunlm- e de homen como elles, Abrantes 1
Rinimb, P dro Chaves, Lopes Gama. cortezia unida
legancia exige uma atteno de cada minuto e de cada
ge to, me mo quando se toroa uma egunda natureza. :0
s o e pil'ito que tem empl'e que estar alerta, o caracter
que tem qn estai' em guat'da. A igualdade que reina em
no sa so icdade um el1'cito da indolen ia e no uma virtude
que cu te o menor sacI'ficio ou revele genero idade de sen-
timento. A indolencia de maneiras torna-se facilmente em
indolencia de caracter e de corao.
A figura mais original d'essa primeira Camara a que

. (1) L \VI'ight e C depoimento perante a Commisso de Inque~


l'l~O obre a baixa do cambio, em 1859.
U 1 ESTADISTA DO IMPERIO

Nabuco pertenceu el'a o velho Rebouas ('1). Elle quasi o


unico representante do velho libel'ali mo Iii tOI'ico deante da
cel'l'ada pbalange reaccional'ia. Tudo n'elle recol'da outl'a
poca, passada e esquecida: e pirito, maneil'as, fl'mas de
al'gumentao; mais que tudo, p"l'lU, elle uma natw'eza
singulal', que reunia o l'efinamento al'i tOCI'atico e esse espi-
l'ito de igualdade pmpl'io dos que po ueIU no mesmo gl'au o
sentimento da altivez e o da equidade. Rebou<;as falla\'a
sempre em nome da d populao mulata )l. Homem de
duas raas, pel'tencendo raa branca, cvmo o mais puro
Caucasico, pela intelligencia, p 'Ia consciencia mOl'al, pela
intuio juridica, e tendo orgulho d'essa procedencia, elle
sentia-se o protector natUJ'al da l'aC;l infel'iol' de que lambem
lhe conia o sangue nas veias (2). Sua proQsso era de aclvo-

(1) Sobre o caracter politico do Rebour;a oncontl'am-so impol'-


tantes subsidios em duas obl'as Recordaes da nda Palriolica
do Advogado Reouas (18?!)) e Recorda.es da Vida Parla-
mentar do aclvogaclo Antonio Pereira Reow;as ([870) publica.-
es ambas de seu fillJO Andl' Hebow;;a. , bOllio malholllatico o
-llumanitario brazileiro, cuja formao mOl'al ba. tUl'ia s por i
para reHectl' b maior bl'ilho sobl'e o nome uo pae.
(2\ O discurso que elle pl'of'eriu om 20 de Abl'il de 1843 po-
dindo a representao da ra<,:a. de cOr no govel no do pai7- revela
bem essa pl'eoccupao. " Outl'a parte da. nac,;i:io, disso elle, caJ'(Jce
de tel' quem a. l'epl'esen te no con. elhos da. COl'ua, ficando a
administl'ao supl'ema completamente nacionalisada; a popu-
lao mulata. Estando identificada com todas as demais partes
da nao em lodos os ramos do publico servio, importa muito
que essa identificao tenha o seu complemento nos conselhos
da Cora. No ser to conveniente, meus senhore , que uhi so
con heam ingenuamente as opinies de todos os Brazileil'os e
pOI' um justo nexo se repl'esente a unidade nacional em todas aos
partes; de que realmente composta? " E esta. observao sobl'e
as tradies da monarchia a favol' da raa de cr e da loaldade
d'esta. ao pl'ncipio monarchico : " A cOl'te POI'tugueza di tinguia
naturaes de Portugal de n::l.lul'aes do Brazil; a - estes, porm,
considerava-os inclistinctamente, e os distinguia apenas quando
por meio de seu sabios dictames, promulgados em leis, PI'OCU-
rava, () favor dos homons de CUI', combalel' e extinguil' inteil'a-
mente toda ossa proveno contl'3. o seu accidente, cl'iada. o
posta em voga nos lJaizes coloniaos. Na caum sagrada da lndc-
pendoncia do Beazi! tommos todo_ parto, unidos sempre, e pa.!'~
A SES S O DE 18'13

aat!o e como advogado a opinio d'el1e competiu com a de


Teixeira de Frcitas. Ainda que no formado, o eu manu cal'
dos pI'axisLas e tudo do jurisconsultos deram-lhe um do
pI'im il'os logaJ'es em nosso fro. Na Camara,. onde era uma
tradio viva, sua conversao, sua attitude, sua linguagem
prendiam a attenfio dos novos.
Para o joven abueo, politico de provincia a feio da
Camara se no e.ra impunente como a ela primeira legislatura
cujos debates elle acompan hara quando estudan te, era so-
lemne. ACamara n'e e tempo conservava o antigo presti-
gio; no era mais, eomo fra na Regencia, a casa unica do
PaI'lamento, a c n tituinte nacional, ma tambem no tinh;]
a:nda menOI' importancia do que o Senado. a bancada f1u~
minen e cntavam-se os tres h mens que deviam formar II
poderoso triumvirato aquarema, Pnulino, Torl'es e Eu.'ebio,
que se no tinham o renome do chefe do enado Olinda,
Va concellos e nonorio, tinham j de facto a direco do
partido.
aCamara Nabuco encontrava alguns dos seus camaradas
da Academia, como Wamlcl'ley, Ii' lTaz e Cansano, estes
dois seus companheiros do Echo ele Olinda. O. jovens da
Camara no tinham m grau notavel o e. piI'ito de venera-
o; Bal'ro Pimentel, o Bcnjamin da pleiade, lembra Lord
Randolph Chur hill pl'incipianLe, exa pCl'ando o banco mini -
terial com seu talento, ua pelulancia, eu O'olpe pe"soaes;
Fcnaz no tambem re peitador das fama con agrada,
no recua lleante do nome hi. torico do adycl'sario.
Um de seus encontros com Macicl MonteiI'o, a quem
muito. dos que o ouvil'am deram at o fim da vida o primeiro

lil1Jado temos todos os pel'igos da patJ'ia, coopel'ando juntos para


:l sua alvao e com a mesma lealdade e intel'esse patl'io~co em
todas as occa ies sem excepo algu ma. Ainda os mulato ,meus
:cnIJol'es, tm de mai um intel'e se na gual'da e dereza da 1110-
n,t1'cllia constitucional repl'escntativa, que no to pI'eci a-
mcnte nece -al'ia a out!'os cidados Bl'azileil'o . Receio muito
obl'e a intenes d'es e l'epubJicanos, ectarios da ma a
bl'utas..... RecOI'elaes ela Viela Parlamentar do advogado
Antonio Pl1I'eil'u Rebou(;as 1,524.
UM ESTADISTA DO IMPERIO

logar entre os nos o oradol'e, oradoI' dal1dy, cuja phr~:(;


lltteral'ia elegante, natur-almente affectada, xCI'cia sobl'e a
Camal'a a scduco que os seus versos haI'mon iosos e a uas
maneiras estudadas exerciam nas ala. Ferraz, impetuo o,
espontaneo, informe, luctando com esse c gl'imidor fino, in-
diITerente, desdenhoso, um do. m~is intel'es. antes encontl'OS
da arena parlamentar. Este trecho d ida do estylo de cada um.
O primeiro golpe parte de Maciel. O !Deu patriotismo,
atira elle a Ferraz, no um patrioti '010 inquieto, agitado e
irl'itavel, que molesta e orfende tudo quanto me cerca, me
rodeia e se approxima de mim. O golpe CUI't , cal ulado,
intencionalmente superficial, mas Ferraz responde com a
exuberancia de sua constituio herculea : Para uns
patrioti~mo deixar tudo ir' por agua abaixo e no se importar
com cousa alO'uma, sacril1cando a: im todos o interes e
publicos pela unica vantagem de pa sarmo' por bons moo
no publico e no pal,ticular; e te patriotismo no d ejo de
maneira alguma. Considera:se tambem patl'iotismo o lan-
armo-nos no leito da cormpo, aproveitarmos tudo o que
do Estado pam ns e para os no sos, sacrificando assi m todos
os interesses do paiz pela unica vantagem de colhermo o
nome de bons amigos e parentes, e vivermos n'uma posi~o
feliz, e com cabedal e relaes que no. garant m da penas
que merecemos; deste patl'iotisillo fujo muito. Outl'o ha que
muito depende de coragem, o qual inflamma ao I'epre en-
tante zeloso que denuncia o actos mo , que no tem res-
peito a consid raes pessoaes, que n'esta casa falia contl'a
os abusos e no allia as suas arfeie e principios a mesqui-
nhos interesses de partido ou de outra qualquer natureza.
Este eonsidera- e um vioio; esse o fogo a que o nobre
deputado attribue o effeito de queimar' tudo o que o cel'ca.
Pde ser que eu tenha esta falta, ste vicio. Eu o ambiciono.
Posso-me inutilisar 'movido por elle; mas cl'eio que no deve
desmerecer nada na opinio dos meus con tituinte , creio
que fao um servio ao meu paiz. ))
Eram entretanto amigos que teravam. Maciel Monteiro
havia dito a Ferraz na sua linguagem cadenciada e habil-
A SESSO DE 18!.3 55

mente compo.'t : N'estas cir umstancias s me cabe dizei'


ao nobre deputado que muita occa ies teremos de encon-
tl'ar-nos no t I'reno a que elle me chama; e bem que, com um
e cudo mutilado pelo golpes d anti?,o adver ario , e uma
lan a enferrujada pelo de uso, eu me e forat' i por acudir ao
appello que me feito, ainda quando tenha que succumbir
por minha faltn de destreza e de vigor. " Parece um torneio
da cavallaria. O mestres de espda preta, re ponde-lhe
Ferraz no me mo tom de al'mando-o com o pigramma final,
combatem, luctam com os seus di cipul para adestral-os;
com e ta condi o acceito o eu desafio, com que muito me
honrou. Eu de ejo que ejamo camaradas como de de '1831 o
fomos; as minhas arma nunca lhe pod m ser infensas, pois
que j lh fOI'am favoraveis, no tempo m que fomos mode-
rados, chimal1gos na provincia de Pernambuco.
E e bom humor no imI edia alguma lio dada espiri-
tuo 'amente, e que aproveitava melhor por isso me mo.
'uma . o, Peixoto de BI'it , que tomou depoi pat'te na
r voluo de 18/t8, ma que foi empre palaciano as iduo, d
vivas ao Impemc1Ol' por ter cedido a quarta pal'te de sua
dota o para a ul'gen ia do Estado, e declara que pela sua
parte elle imitar o Imperador edendo um quarto do seu
subsidio e como que in ioua Camnra que faa o me m .
Talvez o I'. deputado, int rrompeu-o Carneiro da Cunha,
no seja ca ado; se fo se, julO'o que no poderia logo em o
consentim nto de ua mulher fazer esta cesso, porque a ella
pel'tence a metade. A Camam riu s gat'galhada e guardou
o subsidio. Havia, por'm, s vezes ch ques de caract l' vio-
lento; estes d ram- e pI'incipalmente com Ronodo. GaIvo
deixa a sua marca, sua garI'a de leo, fi phl'a e que e r pe-
timm pai' muito tempo. No ei, di se elle uma vez; o que
maioria. Financialmente fallando uma pagina do ora-
mento COm dua eolumnas, em uma a quantia arrecadada, em
outra a quantia paI' anecadal'.
A Camara eleita sob a i~spil'ao do ministerio de 23 de
Mal'o repre~ ntava o espirito reaccional'io do gabinete, cuja
figura saliente el'a Paulino. A politica d'esse gabinete fra,
UM ESTADISTA DO IMPERlO

porm, modiucada pela presena de Aureliano em quem o


espiritogenuinamente consel'vador via um inimigo perigoso.
Os deputados representantes d'esse espirita vinham dispostos
a purifie o partido do elemento perturbador. A influencia
pessoal de Aureliano de f840 a f848 constiLUe um dos
enigma~ da nossa historia con titucional. Aureliano pas ou
quasi directamente do primeiro ministerio do reinado, que
em liberal e maiori ta, para o segundo que era reaccionario;
foi excluido do terceil'o, o de 20 de Janeil'o de f843, mas
BODorio teve de demittir-se, ficando incompativel pai' algum
tempo com o Imperador, por causa da demi so de atumino,
irmo de Aureliano. ovamente, de f844 a 18/j.8 foi elle o
principal sustentaculo da situao libel'al, seu presidente no
Rio de Janeiro, balual'te que conquistou do partido saqua-
rema. Aureliano levava comsigo para onde ia a fortuna poli-
tica (f), mas tambem a fraqueza organica, pela crena de
que elle representava a inclinao pessoal do Impel'ador el'a
no governo o depositaria do seu pensamento resel'vado. E.'sa
crena no podia deixar de corresponder a um facto, porque
era geral, nnanime em ambos os partidos. O Imperadol' tinha
fascinao por Aureliano (2), e a verdade que e te reunia
um numero de qualidades e dotes politicas quc ral'amente

(1) O Sr. Ferl'az : - A que grupo pertence o SI'. AUl'eliano,


(f

cuja posio era e sempre excellente? O Sr. Seba tio do


Rego: - No sei. Uma voz: - Ao do pao. Sesso de 24 de
I)

Maio de 1843.
(2) A re peito de Aureli.no ha as seguintes notas do Imperador
ao livro de Tito Franco. Quanto . inclu o d'elle no ministerio
da Maioridade: li Dava-me com Aureliano; estimava-o por suas
qualidades; porm no o impuz como mini tro, nem, comeando
ento a governar com menos de quinze annos, fazia questo de
ministros. Sabil'am dentre os que me fizel'am maior. Quanto
subida do pal'tido conservadol' em 1841, attribuida a mero capri-
cho elo imperialismo: Se o impePialismo no o Impel'aclol',
mas o partido que se serviu da inexperiencia d'elle, concol'daI'e.i
embora cumpra recordaI' os erros commettidos pelo ministel'io
da Maioridade, ou antes pOI' alguns de seus membros, e as di -
cus es que houve ante' de ser dissolvida a primeil'a camuI'a da
Maioridade. 'I
A SESSO DE 1845 !'J7

se encontram juntos: era um adminisLradol\ um diplomata,


um homem de ac o, um obsel'vador; faltava-lhe, porm,
~mbio e as qualidades que derivam d'ella, que so as pri-
meiras dc todas no estadi ta.
a parLido liberal Linha tcnLado a revoluo em Minas e
S. Ptlulo, confiando no Rio Grande do Sul e tinha ido in[eliz,
yendo comprometiidos no de a Lre os seu doi nomes tl'adi-
cionaes, Feij6 e VCI'gueil'o. a gabinete de 23 de IaI'o subju-
gal'a facilmente e sas rebellies, - a de S. Paulo acabou em
um mez, a de Mina durou mai algum tempo, mas tambem
acabou em Junho d 1842 (1. J. da Rocha), - por isso se
di se d'ellc que viveu de 1'ebellies (J. de Barro Pimentel)'
as rebelli(j s, porm, nunca deram vida entre n6s aos gover-
nos que as venceram. A Camara eleita no trazia o animo de
SUo LenLal' o gabineLe, e de facLo mosLrou- e indcci a. a
minisLel'io, dizia Ju tiniano Jo da Rocha, que di olvenLlo
uma camara, tendo appcllado para o paiz v reunir- e uma
camal'a ind ci a, devia morrer immediatamente. As im foi.
Em 20 de Janeil'o de 1843 formava-se uma nova adminis-
tl'ao e o J01'llCll do Commm'cio annunciava que Honorio
fI'a encaneo'ado da organizao Llo novo gabinete, formula
nova que mo tmva da parte do Imperado!' o de. ejo de e capai'
:1 ensma ele inspiraI' a formao dos mini.tel'ios e de tel'
n'elles sempre pc . oa sua. a gabin te de 20 de Janeil'o el'a a
continuao da politica con enadora, mas sem o elemento
elTatico, movedi~ , f6m de toda ela, ificao partidal'ia,
repI'csentado pOl' Au!'eliano.
A maiol'ia da deputaopernambucana via com pl'azer a
queda do gabinete de 23 de l\Ial'~o, que os chimangos, de -
tacando-se dos Liberae do ui, apoial'am com enthusia, mo,
mesmo na repres o da revolues de S, Paulo e Mina.
Nunes Machado, lamentando (6 de Fevereiro) a queda do mi-
nistel'io, no escond o seu modo de pensar. Dua opinies
'e levantaI'am n'e ta casa, disse elle, uma, com a qual (ao
echo, que quer que se erijam ai tare ao govel'l1o pelo er-
vi os prestados a favor da Ol'dem em S. Paulo ... a no\"o
gabinete Ronorio no satisfez, porm, inteiramente, aos
5S UM ESTADISTA DO IMPERIO

Cavalcantis e depois com a eo trada de Pauli no tornou-se-lhes


po itivamente suspeito. Paulino fl'a a alma lo 23 de MartiO
e realizara o pensamento politico de Va concellos, fazendo
passaI' nas Camams as leis de 23 de Novembro e de 3 de
Dezembro de 1841 que reconstituiram as bases da autoridade
no paiz. Durante quarenta annos a lei d 3 de Dezembro man-
ter a solidez do Imperio, que acabou pde-se dizer com
elIa, ao passo que o Conselho de Estmlo em todo esse periodo
foi o cl'isol dos nossos estadistas e a al'ca das tl'adioes do
govern.o. Pelo e 'pil'ito conservador que encamava, Paulino
devia corresponder s idas e aos pl'econcei tos do pal,tido da
Ordem, mas a Pl'aia, que n'e se tempo se formou, tinlJa,
curiosamente, estl'eitas relaes com elIe. Na sesso ele '18H,
da qual sahiram as duas leis de Jeaco, unes Machado e
Urbano tinham prestado o mais decidido apoio ao gove1'l10.
A op?o.sio em Pemambuco ficru paralysacla; Sua:suna
queria que se fizes'e opposio ao mini teria reaccional'ia,
mas no a Rego Barros, e aquelles doi deputados, ligados ao
govel'llo.queriam exactamente o opposto, qu e combates. e
Boa Vista, sustentando o gabinete. Com a eotl'ada de Paulino
os Cavalcantis receiaram que o novo gabinete se inclinasse
para a completa neutralidade. Os dois lados di:putavam sobI'e
a presidencia; os chimangos exigiam a demisso de Boa
Vista, os calvacantis sua conservao; o governo oscillava e
POI' isso tinha contra si os dois pal'tidos da provincia. O'
chimangos, entretanto, accentuavam n'esse momento a sua
evoluo libeI'al, sua unio com os Liberaes do Sul dos quaes
se haviam extremado, e os cavalcantis, comprebendendo que
em Ronorio e seus amigos estava a fOI'a do partido con -'el'-
vadol', faziam ao governo uma opposio platoni a de simples
desagl'ado, quantmn satis para o impedil' de favorecer os
seus adversal'ios na pI'ovincia, e se deixasse leVaI' pelo pen-
samento politico de divictir o partido liberal, i:olando o
nOl'te do sul. Afinal, pOI'm, o ministel'io decidiu-se pclos
cavalcantis e pediu Camara a licena precisa pal'a Boa VisLa
ficai' na presidencia dLmtllte a se 'so, o que era mostI'al' que
o no pretendia mudar. O enthusiasmo pela administr[lo
A SE SO DE 1843 59
ele Boa Vista tinha diminuido muito por esse tempo; uma
administrao to longa no podia deixar de reunir contra
i uma colli o de desgo to dentro e fl'a do seu pal'tido,
os sati feitos el'am o pequeno grupo do palacio, tudo mais
fazia cro com a oppo io. As eleies de 1842 acabaram
com as reticencias e a Praia tornou-se na provincia violenta
e revolucionada.

II. - Estreia Parlamentar.

A conducta politica de I abuco n'essa pl'imeira legi. latura a


que pertenceu estava naturalmente traada; elle ti nha que
acompanhar a deputao Pernambucana, em procUI'al' pr-se
em evidencia. O costume parlamentaI'es da poca condem-
navam a exhibio, a offreguido d apparecer, que importa
em tomai' a vez dos homens de autoridade e de pre tiO'io
cuja j3alavl'a e e pera com inter e. Por mai que confia e
em i, Nabu o entia que no e devia impr Camal'a, ma
limitar-se a dar a sua opinio nos a umptos de sua provada
competencia, como ernm os de Pel'nambuco e a organizao
judiciaria. Seus di CUI' os sem pI' teno alO'uma revelaram,
porm, desde logo um cspirito lu ido, pratico, el'io, impar-
cial e ol'ganizador. Desde as suas pl'imeiras phrases na
camara o tl'ao positivo de sua indole politica ficou assentado.
eu discur o de H de Fevereiro (1 43) contm em embryo
a e tructl1l'a toda do futuro estadi ta.
N'elle abuco denuncia as cau. as da impunidade geral, a
parcialidade dos juize a in lirferena dos particulal'e , o
poderio das innuencia locaes. Como legi lador, entendia que
era pr~ci. o adoptaI' as' lei s condies do paiz. A lei devia
seI' para a ociedade como a medicina para o doente, applicar-
se a cada caso individual e no a um organi mo abstracto
physiologicamente peI'f ito. ElIe tin ha i to de dentl'o a admi-
nistl'a o da justia, conheci~-lhe o icios e a difficuldades,
tambem as vil,tudes, 'abia as causas da impunidade manifesta
60 8M ESTADISTA DO IMPERIO

e escandalosa, a conspirao de todos, bons e maus, pal'a


deixar livl'e campo ao criminoso, ao audaz, e em com esse
cstado de cousas que e1le se propunha lidar, procurando par-
a reconstl'uco do direito na sociedade os pontos sos c
fil'llleS que ella offerecesse.
Quando a fora social, dizia elle, no vem em SOCCOI'I'(
do cidado; quando os tl'ibunaes, em vez de punirem 0'-
crimes, insultam a dr do offendido, cada um tem o direito
de recorrer ao seu proprio brao e vingar as suas offensas.
Um I'aciocinio filho do outro, eu os condemno, porque no
possivel a existencia da sociedade civil, se elles vingarem.
Este dilem ma o seu pon to de partida: Ou organ izais a
justia publica vel'dadeira, real, completa, ou legitimais a
vindicta particular; no tendes pois escolha, preciso por-
tanto organizar justia publica. Mas como? olhai para n
,sociedade, o que vdes? Um longo habito de impunidade.
Da impunidade resulta a indiffel'ena com que a )lOpulno
assiste impassivel perpetl'ao de crimes os mail; atl'ozes,
lIinguem quer correr o risco de per~eguir o criminoso que ln\
de ficar incolume e impune. D'ahi a repugnancia de jurar;
segunc1f' a nossa frma de pl'ocesso o ro preso deve assisti I'
inquirio das testemunhas e estas ficam coactas. c( Uma
longa experiencia me convenceu le que em nosso pai7., ao
menos na maior parte d'elle, as testemunhas no tm a
necessaria coragem pam dizei' na presenc;a do ro : Vs com-
metLestes este crime. Observei que muitas ve7.es quando appa-
recia esta cOI'agem, ella eca fillla da an i1l10sidade ou de
outros motivos que tornavam o depoilm\Oto defeituoso.
Vecifieado isto, bem pouco se importando com a accusaflo
de reaccional'io, elle suggeria o remedio topico : Eu desejara
antes a legislao t'moceza que manda pl'oceder formao
da culpa em segredo e sem assistencia do ro. Outl'a
cou a deploravel. So certas inluencias lor.[\es dominadas de
brios facticios, e anti-sociaes, e at certo ponto do espil'ito da
antiga cavallaria, e 'sas influencias que tm por timbre pl'O-
tegel' a certo numero de inclividuos, que as cel'cam e sJ
instrumentos de seus capl'chos e vinganas. Estas influell'
A SESSO DE '1843 61

cias empre existiram mas adquiriram fOl'a com a fraqueza


do podei" fraqueza que resulta das leis que a revoluo nos
legou. II
No um theorico, um ideologo, um idealista pratico,
um espirito sempre com um grande objectivo deante de si,
s veze longinquo. difficil, complexo, ma pl'Ocedendo cm
tudo com e pil'ito po iti o, I gislando para a sociedade pre-
sente e PI'ocUl'ando n'ella seus pontos de apoio e seus meios
de aco. As suas primeiras propostas, como que tacteiam o
terreno, entindo-se elle ainda sem autoridade para lanaI'
grande pI'ojectos e agit r grandes que tes. o todas sobre
pontos m que a legi lao lhe parece iniqua ou deficiente
ou cadu a. Na se so de 1 de Julho elle formula tres curto
projectos. O primeiro revogava a ol'denao livl'O 4 tit 63, 7
segundo a qual o liberto, o cidado bl'azil iro, dizia elle, (este
enunciado Yale mais do que qualquer de envolvimento que
lhe ds e) podia ser revocado ao captiveiro por moti o de
ingratido, ordenao que s foi revogada em 1871 pela lei
de 28 de Setembl'o. O segundo pl'Oje to revogava a ordenao
livro 4, tit : 08, 2 que permitte ao esbulhado o desforo
incontinent . Eu no posso comprehendel', dizia elle, como
na sociedade civi [ aonde ha um pod r consti tuido para julgar
as contendas en tre o cidado , se lhes deixa livre o recurso
das armas e se legitimam as im as consequencias funestas
de uma lucta que muitas veze o capricho trava por amI' de
quatro ou cinco palmos de terreno, e o mai que a autori-
dade policial ha de re peitar essa guerra ci iI, ha de ser
in~passivel s suas consequencias, para no tornar-se arbitro
da posse dos dous contendores, para no privai os do tl r
desfol'o incontinenti. Quanto a mim bastam os interdictos
possessorios para que o cidado possa man tel' a sua posse e
evitar a turbao d'eIla. II
O tel'ceiro projecto era uma reol'ganizao do Supremo Tri-
bunal de justia alterando Lambem a fOl'ma do julgamento
das revistas. A frma actual, dizia Na buco, a respeito do
julgamento das revistas, no meu conceito, no pde sei' peior.
Eu no sou dos que tm mais f na garantia do numero para
62 U~r E 'TADI TA DO' lMPERIO

os julgamentos, e attendendo-se forma pela qual so jul-.


gadas as revista, v-se que essa garantia illusoria. Tres
smente o os juizes que vm e examinam os feito, o
demais so chamados de improviso para julgaI-os, e julgam
sem a neces al'ia madureza. que uma garantia maiol' para
o bom julgamento do que o numero. E ta frma , alm
disto, condemnada pela sua lentido e pelo gravame que
soffrem as partes, as quaes tm nece sidade de pl'ocuradol'es
na crte, e na provincia cuja Relao de ignada pal'a a
reviso. Com esta forma no possivel que tenhamos uma
jurisprudencia, e ns no a ternos. -o possivel, porque o
tribunal, que o primeiro na hieJ'aJ'cbia, e cujas decises
de\'iam te'l' autol'idade, decide de um modo, e as Relaes podem
decidir de outro, e contl'arial-o. Ol'a, ningu m desconhece a
nece. sidade de uma jUI,j prudencia no meio da' controversia
a que d JogaI' a legi la o. O juizes que examinam o feito
pal'a concedeI' a revista esto certamente habilitados para
reparar a injustia e nullidade que achl;ram, o tl'abalho o
me:mo. OespiJ'ilo de imilao nos fez transplantar da Frana
esta frma de julgamento defeituosa, e conln a. qual se levan-
tam os c1aml'e e a vozes de muitos jUI'isconsultos dessa
nao. })
(( Esta resoluo tambem declara que so irl'evogaveis as
sentenas de r~vista : ella fixa pai' conse juencia um dos
ponlos mai' controversos de no 'so dil' ito, ['esolve a du"ida
que se funda na ol'dcnao liv. 3 tit. '10, pl'incipio segundo
o qual a sentenlia nulla nunca passa em julgado; preci o
que os direito dos cidados, depois de reconhecidos e deci-
didos pelos lribunaes do paiz, no vacillem durante os
30 annos m lue prescl'eve a aco de nullidade ; preci o
que a decises do pl'imeiro tribunal de ju. tia faam caso
julgaelo, e no fiquem mel' ele um juiz da 1a in tancia
que; POl' meio ela aco de que fallei, ainda se pOde julg'.u'
autorisado [HU'a invalidai-as. }) (1).

(1) elle tambem quom prope para os bispos o privilegio de


f01'O.
A 'ESBO DE 1848 63

Na se so de 23 de Maio a propo ito da revogao de uma


lei provin ial d Pernambuco elle diz: Quando o legislador
tl'aLa de annullar uma lei que tem creado interesse no paiz
deve de pr vi lenciar sobre es es intere ses, sobl'e os direitos
adquiridos, e se no, imprudente.
ElIe d gl'ande relevo a ponto' que a Camara por si s
con ideraria in ignificante ; onverte em grave questes de
direito, em caso de con ciencia juridicos, o expedientes e
meios a que reconem o oramenti ta leigos como fontes
naturae de receita. As im, por exemplo, na se o de 10 de
Julho, impugnat' a nullidade propo ta de contl'actos de que
no se tive "e pago o imposto do sello. Quando mesmo
alguma vez a sua doutrina parea ele occa io, ella apoia-se
sempre em l'azes que pl'ima fade pelo menos so categol'i-
cas e devem ser pondcl'adas :
Eu me pl'Onuncio contl'a a pena de nullidad que este
arLigo impe a todos os actos e contl'actos dos quae e no
tiver pago o s 110 : esta pena, como todas a que o injusta
e despropOl'cionadas t' inexequiv l' a al'recadao do
imposto por meio della e tal' sempre na razo inversa da
pl'obidad do contractantes, quanto mai probo fr o con-
LI'actante, mais 11 concorr 'I' pal'a a imulao, porque
CCI'tamente no havel' um homem de honra que comparea
perante os tribunaes para desdiz r a sua palavl'a, e promover
a nuUidade de um contracto, ao qual elle presta sua a signa-
tura e seu consentimento; se no dizei-me, senhores, em que
conceito terieis ao individuo que vos propuzes e uma demanda
para annuUar um contl'acto valido e perfeito mente porqne
lhe faltou o sello?Vs o tel'i is na conta de um homem despe-
jado e "dllac , pois bem, esta dispo io ervir pal'a o
despejado, para o velhaco, esta dispo io anima, premeia
mesmo a m f de uma das pal'tes contractantes, esta di po-
'io no III u conceito immoraL Eu direi quc pOI' demons-
tl'aJa que estivesse a utilidade da medida, por maior que
fos e o proveito que lia til'a se da immoralidade que lavl'a
no paiz, eu a rejeitaria porque inju ta e in inua a immora-
lidade: sobre injusta e immoral, esta disposio qe combato
64 UM ESTADISTA DO IMPgRIO

traz o gravissimo inconveniente de tornar vacillantes e in-


certos os contl'actos particulal'es, s vezes muito importantes.
s por causa do pequeno interesse do fisco. Ha muita r pu-
gnancia em annullar um contracto revestido das qualidades
essenciaes s pela falta do sello, ou de um imposto qualquer;
a sociedade lucra mais com a validade do contractos e cel'teza
da' transaces do que com esse pequeno interes e fiscal, ao
qual se querem sacrificar interesses particulal'es da maiol'
importanc:a.
Em tode.::> os seus discul'sOS de 1843 v-se j formada a
combinao que caracteJ'iza o seu talento de ol'ado\' pada-
mentar, a combinao do espirito politico com o espil'itl
juridico. A cada passo o jurisconsulto e o e tadista se auxi-
liam;. sua politica e toda saturada de direito e seu dil'eito
ubedece s condies politicas do momento. No e um sophista
que amolde o direito segundo as conveniencias da politica; e
um politico para o qual nada do que e contl'ario ao direito
socialmente viaveI.
Em Julho de 1843 elle impugna o dil'eito da Assembla
geral de cumulativamente impr sobre os objectos que j
pagam impostos provinciaes, que j fomm colhidos pelo
diJ'eito ]Jl'imi Ga]Jienl'is da pl'ovincia, mas deixa es e terI'eno
paI'a encastellar-se no das fl'anquezas p1'Ovinciaes, combatendo
o principio emittido pelo mini tl'O da fazenda (Vianna) de que
ao governo compete suspender as leis provinciaes ;
Eu entendia, senhol'es, que a interpretao do Acto Addi-
cional el'a uma necessidade altamente reclamada pelo paiz:
os poderes provinciaes ameaavam de anniquilamento aos
podel'es geraes, os poderes geraes no exerciam aco e in-
Oueneia nas provincias, a monarch:a em incompativel com
esses desregTamentos das assembleas provinciaes, os quaes
clesnaturalisavam nossa frma de governo; mas eu sempre
pensei que interpretado o Acto Addicional os podel'es gel'aes
e os provinciaes ficariam adstl'ictos ao que estivesse expres-
<amente consignado no Acto Addicional; mas no e assim
o govel'l1o e o primeil'~ a infl'jngil' esse Acto Addicional, a1'l'o-
blindo-se um direito que no tem, e que certamente nnllificaI'
A SE' O DE 1843 G5

os poderes provinciaes : como isto? Quereis que os poderes


pI'O inciae no comm ltam exce so , e v6s os comm tleis!
Quet'ei qu os poderes provinciae no usul'pem attribuies,
e v6s dais o exemplo de u U1'pao? Eu pela minha parte
sempl' prote tarei contl'a esse direito de suspender as leis
provinciae , direito que destr6e as vai tagens !Jue as provin-
cia podem tiraI' dos seus poderes I caes.
Aqui e t um ex mplo do que muitos julga am argucioso
em seu e pil'ito, mas que apenn finUl'a, conhecimento do
mechani mo interno do direito. Elle ust ntava que a lei de
interpretao do Acto Addicional no fI'a exorbitant , de de
que a Assembla Geral tinha o dil' it ele intel'pl'etal' a leis e
que no havia dilTer na entre interpl'etao authentica e
refol'ma:
Tenho por certo que a interpretao authentica no
s no uma reforma da lei; a me ma cousa. (O sr. Mendes
da Cunha: T m alguma differena). Ao meno.. a pel' picacia
do nobl'e d putado no ser capaz de traar uma linha elivi-
Ol'ia entre a interpl' tao auth nti a e a reforma, ou sub ti-
tui<: da lei : a interpr tao logica tem suas regra, mas a
int I'pl'etao authentica no tem outra I'cgra eno a utilidade
publi a. e, pois, esta s6 a regra a que a legislao deve de
attendel" pOI' qu tambem ta a razo e o fim das leis,
claro que a inteq I'etao auth ntica no se pde li tinguil' ela
l'efol'fi1a ou sub tiLui da I i. Ol'a, aLl ndendo-se a que a
inteqJl'etao auth ntica s tem 10gaI' em um de dous casos:
ou quando a I i to obscUl'a que no pde ser entendida
pelas regias da hermeneutica, ou quando clara, mas conduz
a inconvenient s manife 'lo' contra a utilidade pblica, con-
clue-se que a interpretao authentica em um aso a sub, ti-
Lui d' uma lei inintelligivel, e no outl'O a, ubsLituio de
uma lci pI' judicial. !\Ia qual a r gTa que o legi ladol' tel'
em vista em qualquel' dos casos, sen(io a uLilidade publica,
ou as conveniencias da po a em que I gisla? Se esta ' a
regl'a, como distinguir a intet'pl'etao da reforma da lei?
eu espil'ito eonsel'vadol mnnifestava-se a pl'OpO ito de
pequeno rletalhe. que lhe pareciam concesses injuslifica\'eis
L i
G6 mI E TADISTA DO IMPERIO

gl'la dos advcI'sal'io', quebra de dio'niad ,despI'esligio dos


(;\1I'go , PI'opunha-se, por exemplo, que os d pUlados minis-
ll'os pel'des:em uma pat'lc do seu sub, idio : 1 to , dizia
clle, legislar conlra o espirilo da con liluio, que, pel'mil-
tindo a accumlllao desse empregos, pCI'millio por con 'e-
qllencia a ac umular:o dos ordenad r, pcctiyo . Se os ol'dc-
nados dos minisll'Os so exces ivos e maiol' s do que exige a
imp0l'lancia desse caJ'go, reduzamos esses ordcnados; se os
nobres ministl'Os acluaes entend 111 que csses ol'denauos Ihc'
'obejam, fac:am cess volun tal'ia delie ' ma: no prejut1iqu m
os seus 'ucces 01' , no uesliluam o cal'go que occupam de
uma vanlag m que a I i julgou necessal'ia,
Propunha-se tambem que o senadol' e depu lado pel'ue e
durante a se so as penses, tenas, apo entadol'ias e rer 1'-
mas: As pense', oppunha abuco, lena' aposentadorias
so o pagamento de ,ervi s j feilos ao E Cado e reconhe-
ciuo , no podemos pr s indir de pagai-os b qualqucr pl'e-
texlo, a menos quc no peoe damos por igual l'l'ma para
com os oulros cr dol'c do Estado.
A converso forada dos bens das confl'ul'ia em apoLices
suscilav::t-Ihe, este pl'oteslo cm nome do dil'eilo :
Eu no po so volar, 'e estes arligos n.o fOl'em em n-
dados no scntido em que eu vou propr, Quanto a mim,
es 'a converso no ad mi lle con le lao razoaveL : vanla-
josa, paI' Iue tende a melllOl'al'. o no so m io cil'culnnte;
vanlaj a, porque p- na 'il'cular:o muilas Ill'OPI'i dad
das quaes o Estad no pCI'cebe o impn to lue pod ria per-
cebcl'; vantajosa, por lue, pondu esse: bens m mo dos
parlicu IDres, elles sero apl'Oveitados, e llo fical'o, como
eSlo, abandonados, incullos e t1clel'iorados; mas cstas
vantagens no nos deviam induzil' a adoptai' essa medida,
se alis ella se no pudesse conciliar com a inviolabilidade
do direilo de propricdade e do dil'eito de terceiros. A mr
1al'te dos bens que as confrarias possuem esto gl'avados
dc onus pio que o' insliluidores lhes impuzeram; e podemos
n' I'cmillir, del'ogar esses onu::;? :lo iolamo: a '::;im a
Libcrdade de teslar, que um d,il'cilo im prescl'iplivel do
A SESSO DE 18/13 7

homem, as im como o dil'cito de pl'opriedade em que se


funda aquella liberdade? Se as leis civis garantem a liber-
dade de testaI', esta nossa lei no tel' em~ito retl'oaclivo,
destl'uindo um elfeito dessa liberdade? 1)
Autol'izava-se o governo a di pr das alfaias que I'ol'am
dos Jesuita . Nabuco oppe-se e adverte a Camal'a cm uma
phl'ase que l110sti'a a inteira madur 7.a a que ch gal'a o legis-
ladol': Que necessidade ha de despojar os altares dos
seus omamentos? Para que dispr ou vender e. as alfaias
do culto divino, e ses objectos da maior vcnel'ao do povo,
esses legados da piedade e devoo dos nos os maiol'es?
pI'eciso s vezes arl'ostal' a popularidade POI' amor d povo;
mas no convm al'l'ostar os . entimentos rcligio os do povo.
Se queremos legi lar 1'0 ndallos na' con ices e no na fora,
cumpre respeitar as conviccs do povo, os eu sentimentos,
e mesmo s vezes os seus pl'ejuizo . 1)
As qualidades do politico e tavam j bem definidas no
joven ol'adol' : a sagacidade, a penetl'ao, o de I rendimento
de questes e intel'esses pessoaes, a apresentao de pontos
de vista novos e mais elevados, de distinces quc pal'e-
cem meticulosas, mas que depois se reconhecem reaes, e
que ficam incol'pOl'adas linguagem e ao systema politico:
j ento elle contribue para o aperfeioamento do systema
parlamentar, introduz no 111 canismo constitucional molas
novas, idas que o tl'ansfol'mam. Assim, por exemplo. A
opposio Pemambucana ao ministcl'io Honodo em mode-
rada, estava sujeita ao vinculo do partido. Atacava o mini -
tel'io e sustentava o seu delegado na pl'ovincia; de facto
atacava o ministel'io, porque elle n10 sustentava ba tante o
seu delegado. Isso I arecia uma contradico. Defendendo-se
d'essa incohel'encia appal'ente, dizia Nabuco (sesso de 10
de Julho) :
Eu ainda no hasteei uma bandeil'a .nesta casa, ainda
no declal'ei que estava em um perfeito antagonismo de
principias com a administl'ao actual, POl' modo que esti-
vesse constituido na rigorosa ubrigao de rejeitar todos os
seus actos e guelT ar a touos seus delegados. Quando mesmo
68 UM E 'TA DI TA DO IMPERIO

eu s guisse o regimen da opposio de 1835 e de 1.81.[,


regimen que eu condcmno, e que smente julgo justifi ado
em uma colliso, e quando o mal que vem dos de:mandos
dessas opposies menOl' que o mal que o governo pde
fazer ou faz; mesmo sob esse ('egimen, eu no el'ia contl'a-
dictol'io defendendo o delegado do govel'no, que em meu
conceito pl'omovesse o bem da pI'ovincia que eu I'ep!'esen-
tasse. No tenho confiana n mini i rio acLual em I'azo da
sua ol'ganizao e da ua poli ti a, mas daqui se no seo'ue
que eu deva seI' um al'chiiecto de ruinas, que deva I':i ital'
tudo, mesmo aquillo qu~ necessal'io, que deva ncO'at' o
meios eStienciaes pal'a governar o paiz, que deva pl'cp:)I'al'
difficuldades e precipicios para os futul'os mini tI'S, en o
quaes talvez eu confie: aquilto que fI' de confiana u recu-
sarei, ~ecu arei tudo ao ministel'io, ma' ho ao ()' vemo.
assim tam bem que na s ssfio de 22 d cinm bl'o Ile
apresenta em nome da Commisso respe tiva uma " :oluo
autorizando os ministl'os que no fOI' 111 deputadu: a as istil'
s discusses das duas Camara', O mini, iro da fazenda
Jesentira-se de Nabuco tel' chamado :l llonOl'io o chefe do
gabinete, o existia ainda a Presidencia d Cons lho que
de 1847, mas Honorio tinha sido ell' ctivamente enC:ll'l' gado
d:'\ organizao do gabinete e pela prill1eiea vez, como vimos,
fra isso orl1cialmente annunciado. A discusso ver ou
sobl'e o modo de recon!lecel'-sc aos minisil'os o direito de
assistil'em s sesses: se devia ser consignado em lei ou no
Regimento. Nabuco opinava pela lei; do facto de preva-
leceI', mai tarde, a simples alterao do Regimento resultou
a anomalia de terem os ministl'os ingl' sso livre na Camara
e no o terem no Senado, Esta differena concorreu muito
para dar ao enado o caracter fechado e sobmnceiro que teve
essa casa do padamento em relao outra, como se lhe fosse
constitucionalmente superior, O modo por que Nabuco
defende a sua proposta mo, tra que elle j po suia a intui-
o do sy tema r~presentati vo :
Querel' o nobl'e clepJtado que esteja no podei' uma poli-
tica mystel'osa? Como ser essa politica conhecida, como
A E :::':\0 DE 1 1::1 69
podcl'o as CnnHll'U apreciar as vistas administrativas dos
mini tl' " e II nao "em s . 'ses e se no fazem ouvir?
Como n11 citlo um mini tro? cni pOl' ventura s no seu
o'abinet ? To, no padam nto, aqui que as di cus e o
do a conIH~c'r, e o ol)l'io'am a r \"Ial' o s u pcn amento. Alm
di. lo, o nobl" d 'pulado d '\'c sab I' qu a admi so dos minis-
tros no paI'lam nto e a. discuss s a qu Ile. :o chamados
l~m a gTande van l:lg m de tOI'nal' poder i na ces iv I
inhabilidade c inaptido; no gabinet todo pod m ser
cliriaiuo ; mas no ' a' im s 'ile vcm ao parlamento,
pOl'que o obrigado a c d I' pod I' s amiJi<;e legitimas.
se trata, pai, de uma pI' rogativa do mini lro, eno
de uma neccssidaue do systema r presentativo. SUPI onhamos
que um ministerio appar ce que no composto de mcmbl'os
da, camaras, e que os individuas que obem ao poder no
tm II'ec dentes e opini-e conhecidas; porque meio ero
apre iada a vi. tas admini trativas desse mini terio e a 'ua
politi a? EU pde viver com toda a politica: que domi-
naren, e pel'p tuar-se no poder. obl'e o que digo, acere ce
que Poder legislativo no pcl mnl'chaI' s 111 o SOCCOrI'O das
luzes que o Executivo t m ndquirido pela sua exp I'i ncia
adminislrati\a, smas infol'mae ol'(j iaes que no momento
e em d lona:! e em subtcl'fugio podem ser mini tl'adas
pelos membl'OS do mini terio pI' ente na camara.
O regmen parlamentar foi-se con titl1indo lentamente
entl'e ns. A c mpI'ch n. 50 da COl\ tituio variou fundamcl\-
talmente de gel'ao m g I'a\o. Eu creio que a ConsliLl1i-
o uma. lei que ainda no Lu bem nt ndida nem dt: 'en-
yolvida em I i I' gulamen lare que ho de ir' pouco a pouco
appare endo e pa 'ando m t mpo I" pl'io, l> dizia AI\-e
BI'anco no cnado (10 d Julho d 1841). El'a ~a m !lIa
ida que Antonio CaI'lelS expI'imia (Junho tle 1841) da se-
guinte fI'll1a: Senhol'es, a consli tu i o foi fei ta car-
reiras; quanto mai' n' l1a m dito, mais me per uado que
qu rn a fez no ententlia o que fazia. 11 A eon titui o no
tinha sido feita cal'l'eil'as; o ,'cgirn>n I arlarnental' que
tinha nascido de repente e precisava tempo para se de 'el1-
70 mI ESTADl TA DO IMPEnlO

vol r. Em UI'lJO'lIa , ElIsaio obre Direito Administ1'Cllivo,


p le-s acompanhar flS dir~ l'pnt S phasf's por que lIe pas ou
em come~o. At o nm, entl'etanto, nunca chegar p deita
inadureza. Ainda ~/jl '18 9 t r'ia pl'ecido paradoxal o d::;ide-
ratum que Vasconc 1I0s ex[wimia em '1841 e em que se baseia
a excellencia, fi supel'ior'idade pratica, o espirito de respon-
sabilidade do governo pal'1amentar Inglez, (ver em Bagehot o
~lesenvolvimento d'e. ta idCa) : Considero, dizia elle, a
iniciativa do COl'PO Legislati\'o como uma ameaa que p6de
empl'egar a Repl' sentar.o Nacional con tra o. de vios do
Minist "ia; se o Ministel'io re usai' ao paiz a' in tituies de
que elle nece:i:itaI" de\'e estar o representante da nao
aJ'mado de meios, de l'eClll~SOS pam obl'igar o Ministel'o a
confol'mar- e com a opinio publica. '6 n'este caso qu u
julgo lue deve tel' ex rcicio a iniciativa d r pl'esentant s
da ao. Nunca a dil'eco da Camara sel' tomada pelo
gabinete de modo a poder recalJiI' sobl'e este a respon 'abili-
dade 1I0 tempo pel' lido, das sesses e. tel'ilizadas. Para o
aperfeioamento do systema )'epl'esentativo Nabueo foi entl'e
os nossos estadistas um dos que trouxeram maiol' contin-
gente de idas novas. Entl'e outra, sel' d' lIe a .. peei de
subordinao politiea do Senado compl'eh ndicla na phl'as :
cc o Senado no faz politica; s r d' lIe a exigencia de que
os partidos se legitimem pOI' idas e a de que os gabi netes
como as situaes s6 existam em; virtude de algum compl'o-
-misso fOI'mal, duma bandeil'a com a qual tl'iumphem ou
sejam vencidos na Camara.
N'es a se. so de 1813 elle vem em SOCCOI'l'O do pal'tido
liberal, t mando a defe'a de Jos Pedl'o Dias de Carvalho,
compl'olDetti lo na l'evoluo de Minas e mandado d jury
a jury. d'elJe o mai' expl'essivo de todo' os pl'otestos
contl'a essa serie int l'lninavel de julgamentos aI pellados :
cc ITavel' uma tYI'annia como sta! sujeitar o ro a um
terceiro, a um qual'to ' quinto julgamentos, e a quantos
apl'Ouvel' ao seu ac usadol' e ao governo! Tel' o ro pl'eso s
oroens do eu accusadOI'! Fazl-o soffrel' as duvidas e ago-
as de tantos j ulg<lmentos?! Tarnal-o I'esponsavel pelos
A E. O DE 1843 71

factos do jui7.?! Pelas nullidac1cs d um pl'ocesso que no


POI' elle ol'O'nnizac1o, -m o qual elle .. l'equcl' e no manda!
ullidades, talvez comm ttidas m damno da I fesa?! Nulli-
dades talvez fabl'i adas de antemo adl'ede para fundam nto
da appellao? ! Em que paiz do mundo j se via o ru
absolvido suj ito a tantos e novos juJO'amentos? Me mo esse
segundo julgamento que a nos..a legislao pel'mitte, uma
anomalia, uma excepo do pl'incipio l' conhecido pOl' todos
o.. povos - non bis in idem - ; disto s6 acharemos um
exempl na Inglaterra, mas raro; aJli o segundo julgamento
s tem logal' quando reconhecida a cOl'I'upc;o dos juizes
que absolveram o I'CO. Onde que a lei da I' fOI'ma falIa de
um tel' eira jUI'Y? Onde d regTas sobr ell ? E d ix,wiH de
dl-as s o pel'mittisse? Se o al't. t)2 no quel' que () juiz
de dil'ito aJlp lIe segunda yez me..mo no ca'o do alt. 19,
quando o jLll'Y profcl'e uma ele iso contl'al'ia ii videncia que
resulta do d bates e das provas e depoimentos, se prohibe
o l' 'curso em um caso mai gl'aV c c i~11pOl'tal1le, como o
pel'mittiria em um caso meno. gl'av, mente pOI' causa da
f61'ma e de nullidades que j mais po I I'iam ser imputada ao
r'o, que no organiza o proc ,o? Se o pl'edito aJ,tigo pro-
Ilibe a appellao intel'posta pejo juiz de dir ilo m quem sr
pl'C ume impal'cialidaclc, om pel'mittiria ao accusatlol'?!
EmGm, ns no lCI'cm ;; POUl'l' judi i:"u'io m luanto os tl'ibu-
nae. fOI' m a al'cna onde o go rno Iwocura medil' a. sua.
I'ol'as. ,
Elle dil' em 1.813 no Senado, que ao comear sua cal'l' ira
no duvidou compl'ometteJ-a atacando os hOl110ns de ujo
patl'ocinio dependia ento o futmo dos jovens loliticos. E t
aqui llma pl'ova, o modo POl' que se dil'igia a Paulino, o
poderoso pet'sonagem do 23 de Mal'o, a propo 'ito da depol'-
tao pal'a o Espil'ito 'anto el- Feij6 e Vcrguero (so'so de
9 de Fevel'eiro) :
Eu anceava pOI' ouvir ao nO!)J'e x-ministro da Ju Li a,
des'java qu ell se c1efend sso das g'l'aves aceLlsa cs que
appal'ecel'am no ta Ceva eonLl'a lIe e contra o mini teria de
que elle fez pnl't' M'u desejo foi satisfcito, a voz eloquente
72 U 1 E TADISTA DO IMPERIO

do nobre ex-mini. lI'o foi ouvida neste recinto com religiosa


atteno, e o seu discurso energico, luminoso, fll'mou ainda
mais a convico em que stava da nece idade de certas
medida que o governo empl' gou pam salvar o paiz domar
essas ambies que, desprezando os I'C UI'SOS que o ..ystema
representativo lhes depal'a, queriam de mo armada invadil'
o podeI'. Mas, senhor s, ~sse discUl'sO quc nos 3rt'cbat u,
principalmente quando a habilidade do nobl'e ex-ministro nos
tl'ansportou ao campo. de Ln. Luzia e, ilveil'as, ainda salpi-
cados do sangue Il'azil il'O e no fez tl'aZC'I' memoria . sas
chammas que devoraram a ponte do Parahybuna, ess dis-
CUI'SO eloquente, pl'oferido com o as ento' de uma convic :10
profunda, foi embaciado, pcrd u pal't do seu bt'ilho, quando
o nobre ex-mini ti' se prop67. a provor no s a necessidade
seno a legitimidade dessa m dida violenta e anti-constitu-
cinal da deportao dos senad res.....
A maxima de que foi legitima a depol'tao do senadores
me assusta tanto como e' as ameaas de Santa Helena e
Holy-Rood, que outr'ora com estranheza de todos soaram
neste recinto .....
Se o nobl'C ex-ministro nos dissesse: a crise, o impe-
rio das circumstancias, a salvao publica exigimm a de-
portao dos senadores, com e ta medida salvamos paiz ;
representantes da nao, julgai-nos; bem. Mas qu o nobre
ex-ministro perante a repres ntao nacional p,'opalasse a
legitimidade da c1ep0l'tao, que tirasse gloria desse acto, que
rejeitasse o biU de indemnidade, que protestasse que eollo-
cado no poder sempre l'epetil'ia essa medida: causa estm-
nheza! Isto no digo que seja de re peito represenlr..o
nacional, mas essa fl'anqu za do nobre deputado, ex-ministro
da Justia, s6mente se explica pela confiana que clle t m no
prestigio que o cl'ca, na influencia que exerce pOI' suas
qualidades eminentes .....
O nobre ex-ministl'o no. disse que esse acto da depor-
ta o dos senadores no oITendia ao p der I gi lalivo, Iorque
o governo recommendou ao pl'esidente do E pirito-Santo que
conservasse alli os senadores at que se approximasse a ins-
A E" 'XO DE 1843 73

talla o do corpo legislativo: o nobre ex-mini ti'O leu ento


o omeio dil'igido ao presidente do E pirito- anta, em o qual,
depoi de declarm' qu os senadore ficavam debaixo da igi-
lan ia da alta policia (digo mal, aquillo foi uma relegao), de-
terminava om effeito que a mc<.lida s6 teria logal' at que se
approxima e a reunio do Ol'pO legi lativo; de modo que
bem se pde c l1iO'ir que os senador, no gozam do privi-
Icgi no internlllo das . nhore, que eria da I'epl'e-
entar:iio nuci nal, se os senadores e dcput~do sahi em do
por d navio <.lo gov rno pm'u tomar a ento na camara?
Q.u seria da J'epr senta , nacion'l!, se no inter alias das
se: os enadore pude's m flcnr debaixo da vigilancia da
alta pai icia, u r legados fra dos eus l:ll'e'? Esta pi nio
do nobl'e doputad d via I ,'()<.Iuzir tanto maiol' alarme quanto
as sua di:tincta quali lad faz m crer que elle 'e achal'a
ainda outra vez no pod r .....
enh "OS, no se pd ju:tifi ar o acto da deporta."io
do s nadares; e e privil O'io no uma o'urantia indivi-
dual, seno uma garantia do ystema rej,'esentati o, lo qual
ella uma neces idade, em a qual e ,e tema periga; se
no uma garantia individual, o go erno a no podia us-
penqel', autol'izado, como e in ulca, pelo artigo 1'19, 35;
se e e pl'ivilcgio e t con, ignado e CJ'ipto no artio'o 2'7
e 28, como diz o nobl'e ex-mini iro que o u p ndeu, porque
o 60 do artigo '1'19 estava uspen o? Me mo quando e e
pl'ivil gio fosse uma garantia individual, o govel'Oo para fazel-
o ce 'ar, do ia pr viamente su pender o 21 e 28; porque,
sub istindo e t s al,tig , o gbvel'Oo no podia, pai' vil,tude
dos outl'OS pal'ag,'aphos que susI endeu, obrar contra os sena-
dores, como obl'Ou .....
Quanto a n ces 'idade de depol'ta , s a medida foi to-
mada depois da victoria das armas da legalidade; foi tomada,
no d pl'e eno, e por con 'equencia ainda por esta consi-
derao con tl'aria Constitui o .....
Senllol'es, o governo carece o bill de indemnidade que
rejeit , porCJue no Brazil a re ponsabilidade iUusoria, e o
espirita publico quasi nuIlo,
74 UM E TADI TA DO IMPERIO

Sua op.inio em relao ao privil gio do' deputados no era


entretanto to ampla que o )'econhec aos ll1 mbro' de
uma Camara dis olvida como o queriam o liberacs: A
lettl'a da ConstiLui~o condemna a opinio do nobr deputado:
quando a Constituio concede ao d putado o privilegio,
suppe a existencia da camara a que elle pertence: a Consti-
tuio no d um privilegio de impunidade, mas uma garantia
para no sei' o deputado pre o sem ordem da ua camara,
para no ser accusdo sem licena da sua camara; ma', se a
camara no existe e no pde exi, Lir, como Ler:, logar o [l'i-
vilegio, que assim IIca sendo maiol' e mais odios do que a
Constituio e:tabeleceu? Portan Lo ...
A legislaLul'a dumu smentc a, dua' se ses do anno
de 18/.1:3; depois . guiJ'-Se-ha o dominio Lib I'al ('1 41.-1848)
durante o qual Nahuco fi ar na pl'o"incia, volLando Camara
smente em 18O, A imp"c' o qu deixa a 'ua e 'LI'eia a de
um espil'ito poliLico d' gl'ande promes~a, de inteira profi-
ciencia em maLcl'ia jUI'idica, circum pecto, infatiO'avel, dedi-
cado ao pal'Lido e destinado a exer I'um dia no ,cenaI'io poli-
tico verdadeil'a pl'imazia inLellectuaI. O, s u espiriLo po suia
a faculdade hoje rara de senLir silllultaneamenLe a gTandeza,
a belleza, da OI'dem e da I iberdade e no de uma d'ellas ~m nte
ou de cada vez, mas a ol'dem que fa 'cinava a 'ua imagina:lo
de jlll'ista el'a a ordem do dil'eito, a que r sulLava do 'lS n-
timenLo c no da compresso, POI' isso el'a ol'gani.camente
um lib ral, me mo quando dava todo o seu aroio ao pj in ipio
da autol'idade, ]uando se dizia e sentia conser "ador, s Jl1
duvida p lo intel' sse que lhe inspirava e 'se pl'incipio em uma
poca em qu a III II a 'sentimento no era espontaneo e a
socicel3f1e aincla prestava ouvido li seduc 50 d 183l, utopia
d engl'andeccl'-s', r! de envolvel'-se em todos os sentidos,
sem um gov~rno fOI'Le.
CAPITUI..O III

A 1.UCTA DA PRA1A

I. - A situao Liberal. - Eleies de Chichorro.

Em Maio cle 18H Nabuco volta ao Rio cI Janeil'o, mas


paJ'a a 'isLil' ne' e mesmo mez cli soluo da Camal'a. 'o
intel' alio da' e s-es tinha se dado o gl'ande choque entre o
Imperadol' e IIonorio, e o IiI I'a haviam feiLo com Aure-
!iano o me mo pa Lo que esLe fiz ra em [841 com os conser-
vadore . Alves Dntneo caraeterizara o programma cio novo
ministel'io cle um modo que no con. enLia duvida: ( flaI'eere
subjectis et debella1'B SltPB1'bos . A dcputa\o con" rvadora
de Pel'nambuco no podia deixar de a 'ompanhar o seu par-
tido. A indeciso de Almeida TOl'l'CS (Ma a116) dUI'al'a pouco;
a logica cios aconte imcntos, a nomeao de Aureliano pam
a pr idencia do Rio, imprimia ao pacto de 2 de Fevcl'eiro,
qualquel' que fos e a inteno dos eu collabOl'adores naquella
data, cal'actcl' de uma reaco contra a situao anteriOl'.
A pl'in 'ipia se quiz talvez fugir a uma inverso completa,
que neces 'itava mais uma di soluo, ma a lu ta e tava LI'a-
vada cntl'e o elemento palaciano, representado 101' AUI' liano,
e a reaco con crvadol'a, fortemente organizada de de 1837
pOI' Vasconccllos e Honor'io. Em taes condies re tava a
Macah completar o gabinete com libel'a s; foi o que elle fez,
70 UM ESTADISTA DO IMPERIO

tomando em Mflio, depois ue reunidas as Camaras, a Hallanda


CavaJcanti e Janoe) A. Gaivo.
A itua o tinha mudado ompletamente para os consel'-
vadores de Pernambuco. Pela primei('a yez elle iam entrar
em uma longa opIo io. eba, tino do Rego convidado pal'a
mini tI'O recusava para acoml anhal' seus amigos na adversi-
dade. A inten,o de HoIlanda el'a fundar um p~\I'lido em Per-
naml uco equidistante dos Pl'aieiros e uo, Guabirs, como ali
eram chamado os dois lado,. 'imilhante tenLntiva I'a ab '0-
lutamente improficua; no h3\ i, logar no m i das facc
agi tadas da pl'ovi ncia para es:e tel'tius gaudel moderndo.
Com a diss lu o a deputa~50 voltou pam P ('nambuco a
tl'at81' das elei e' convocadas. A prescna de llollanda no
ministel'io era at certo ponto ulTIa gal'antia; clle 'stava inte-
ressado em que a ua familia no fO~'e de todo e:magada
na provincia; a inl1uencia de seu il'lno Pedl'o Cavalcanti,
que mais tarde devia ser con, i lerado o chefe politico do
Jort , e, tava obreplljando, 011 j tinha sobrepujado no par-
tid da Ol'dem o prcstigio decadente de Boa-Vista. Pal'a dai'
alguma ro, si el gal'antia ao lado pro, cl'ipt , JT lIanda on-
seO'uiu que fO,.se nomeado para Pel'nambu o um presidente
de al'actel' moderado e imparcial, l\Iarc llino de Brito.
A ) osio deste el'a em extremo difficil; elle tinha qu
combater uma oppo io al'l'egimentada, podel'o. a, di 'posta a
atl'avessar unida o periodo chamado do ost}'acismo. 'cm
todavia confiar na deputao que ia elegeI" s m sympathizar
com o partido ao qual Uollanda Cavalcanti se via forado a
entl' gar a pI'ovincia, no podendo improvizar outl'O. Apezar
do meios empregado pelos agentes eleitol'aes a oppo io f z
tl'iumpbal' algun nome' entre os quaes o de Nabuco, qu no
se poupou viagem ao Rio. Sua eleio, como se esperava,
no foi appI'ovacla pela Camara. Os dois deputados ons I'va-
dOl'cs reconhecidos, Boa-Vista e Camal'agibe, no tomal'am
as entoo
E a im exclusivamente em P I'nambuco que o pal'tid da
Ordem vai combateI' de iS/J.'I at '18'.8, apoiauo apenas, na
crte, pelos chefes do Senado. Estabelece-se entt"o uma aIliana
A LUCTA DA PRAIA 77

estr ita entre elle e o pal,tido consel'vador do Rio, chamado


saquarema (pOI' tel' Rocll'igues Tone uma fazenda em Saqlla-
rema), e, como contl'aste, identica alIiana se d ntl'G os
Praieiros e a gente de AUI'eliano.
Apezar de lhe tel' dado a victol'ia eleitoral, que as depu-
raes completaram, a pl'esideneia de Mal'cellino de Brito no
agTadou Pl'aia; o cal'a "tel' do homem era por demais judi-
ciai pal'a ali fazeI' a p litico que s6 quel'iam l'epI'esalias.
lIollanda te e por i o que o ael"ifieal' deputao pemam-
bucana, a' im como sacl'ificou log d poi o novo pI' idente,
OUtl'O p I' onagem ao seu molde, pOI' i.. o me, mo improprio
pal'a o qu a Praia quel'ia delle, o con'_ llteiro Thomaz Xavier.
les. e tempo o milli tel'i de 2 de Fevel'eil'o tinha- e tornmlo
OUtl'O (cm 26 de Maio de 1845), apeZill' de terem ficado i\Ia-
cah c Hollanda, incompativeis entl'e si, e Alves Bl'anco.
O Vi conde de lbuqu I'que uma da figul'as ol'io-inaes ele
no. sa hi, tol'ia politica; de sas que e gnl am na lembrana
do povo, que se r v nellas, porque a sua I'iginalidade no
outra coisa seno a e 'pontanei lade dos instincto e im) ui os
populares. Dei e fie u apena a tradio de ua rigorosa pro-
bidade, de u franqu za mde, da 'ua natumliuade exeentl'ica.
Algumas das ua plm\. es no Senado ficaram provel'biaes. ElIe
possuia, porm, em gl'au notavel o c, pirito que o mais
ral'o de todos em politi a : o espil'ito de justia; ra um
e mbatente a Livo cd 'intel'e' 'auo do Dil'eito, onde quel' que
o reeonher,e, se, e tinha a. mais lal'ga vi tas conciliadoras,
o que no e alIia 'empl'e com o CaI'acter inOexivel, como era
o delle. Com tudo i to uma boa f excessiva, que constituia
paI'a o politico um defeito incul'avel de ingenuidade. o el'a
um homem de podel'O as faculdade, nem de ilIustl'ao, mas
de Uma penctl'ao aguda e grande lucidez de juizo, enCl'gico
e intcil'io. I ai c sineel'O, hOll1'ado e patl'iota, tudo isto em
gl'au pouco comrnum, ele uma simplicidad I'U tica e ao mesmo
tempo fidalga, cm uma palavl'a a combinao da antiga
nobl'eza tCl'I'itol'ial de Pel'l1ambuco com o espirita r pllblieano,
"f'lha moda I'omana, de 183'1 : um Feij-Cavalcanti, se se
pde assim definilo, nascido e creado no engenhos do ol"te.
78 UM ESTADISTA no rMPERIO

Apezar da sua resistencia, Rollanda teve afinal que ceder


na questo do presidente e dar Praia um homem <;01110 ella
queria. Foi este ChichorI'o, que se vai tomaI' em Pemam-
buco dUl'ante muitos annos o idolo dos libel'ae!:i. Ainda assim
ao deixar que o nomeassem, Hollan la acreditava que Chi-
chorro se mostraria moderado e conci liadol' e conteria os seu
alliados na pl'ovincia. El'a isto o que elle escrevia a seu irmo,
Pedro Cavalcanti.
E a pl'esidencia de Chichorl'o (L81: '-1848) que a 'ignnla o
pleno dominio da Praia. Mesmo dado o devido desconto
indignao dos partidos, quando a iolencin parte do adver-
sario, a pl'esidencia de ChichoL'ro foi em Pernambuco, como
a de Ameliano no Rio de Janeiro, a inverso de tudo que
existia offieialmente. pl'imeim ista falia contra elle o facto
de que grande parte das trOl)elia que lhe imputam, elle as
fez ou deixou praticar quando tratava de se fazer eleger, duas
vezes senador e de outra vez deputado, pela pr vin ia que
admini:tl'ava. Os costumes politico' da poca sanccionavam
ainda taes eleies: os abu os da administrao Chi horro
devem tel' sido gl'amles pal'a terem 'ido elles que acabal'am
quasi de repente com um sy tema de eandidatuI'a to l1l'aizado
nos costumes.
Pl'ovavelmente os methodos empregados el'am novos. Cri-
ticndo-os, escI'evia Nabuco :
A Praia que censUf'OU o ni.u'o dl noa ViRia pOl' ter dado
32 demisses dUl'ante sete annos, viu e ai plaudiu essas de-
misses em massa dadas pelo Sr. Manoel d Souza em nu-
mero de mais de 300 durante a sua admini!:itl'af,ll de 36 dias;
veiu o Sr. ChichorTo, consummou a obra da de astao, e
deu tambem eel'ca de 3O demis. es. os paizes monarehicos
representativos a opinio que sbe ao poder costuma remover
as summidades administrativas e politicas, e ubstituil-as por
pessoas habilitada pela conformidac.e de pl'ncipios para
desempenhar e desenvolver o pensamento c o progl'amma da
nova administrao; ma. es as demisses cm mas a, desde
o chefe at ao I ol'teil'o, desde o eOl'Onel at ao cabo, desde o
juiz at ao meirinho, essa amovibilidade dos empregados com
A LUCTA DA PRAIA 79

a qual impo 'ivel aJquil'il' a experiencia do servio publico


e con el'var as uas tl'aclies, com a qual impo sivet que
haja homens e 'p ciae e empregados expel'imentados, e' a
amovibilidade I'epugna com a estabilidade, que caL'acteriza a
monarchia. Essa amo ibilidade s6 propria dessa republicas
aonde 'e di puta o poder de mo armada, aonde ella uma
con equencia das vict ria alcan adas de seu turno pelos
generaes que olham o empr go como sua presa, como eles-
pojo da batalha, como pl'inci[li de conscrva<:o, mas in-
ol11pati\'cl, j no dizemos com a monaI'chia, seno com
qualqu I' gOVCl'OO rcgular. J)
Nabuco cl'a ainda juiz do civel no Recife ninguem tomou
parte mais activa do qu elle na gucl'l'a contra Chichol'l'o. N6s
veremos mais tarei a confiana qu elle inspil'ava como juiz
at aos scu mai intransigcntes adversarias. F61'a do tri-
bunal, por'm, na imj)I'cnsa c nos conselhos elo pal,tido ra o
mais fe undo e o mai infatiO'avcl dos politico da pI'O incia.
EI'a cllc ent5 o pl'incipal I'edactor do Lidado/', que
CI'Llzava os fogos com a cnlinella ela H/onal'chicl, na crte.
O Lidculo/' el'a a fonte onele a impl' n a con, en'mlom do lm-
pcrio tomava a infol'ma<:e de quc se ervia pal'a denun-
ciai' a oppl'es 50 dos eu COl'l' ligiona['ios no N ['te.
Foi a voz de c jOl'nal, no tempo em que a deputao per-
nambucana era unanime, que fcz ouvir a queixas ela oppo-
silo 'ontl'a o pl'oconsul quc u Praia sustentayu a todo tl'anse
no Recife. A I emoo de abuco pal'a uma comarca longinqua
foi con idel'uda uma pl'o\,id ncia indispensavel. A cs a ne-
ce idade veiu juntal'-se uma pl'Ovoca<:o special.
Chichol'fo e o seu companheil'o de chapa El'l1esto Fel'l'eira
Fl'ana tinham sido I itos senadol'es pOI' Pernamvueo. As
pCl'ipecias de sa lei<:50 fOl'mam um episodio saliente de nossa
historia constitucional, Duas vezes escolhidos, caso unico em
nossos annaes, fOl'am ell s duas vezes r pellidos pelo Senado.
.Em 5 de Maio de 1846, tinha-se consummado a diviso no
campo libel'al, Alves Dl'anco pal'ava- c ,li \landa, chefe
da nova admini tl'ao, pl'ocuI'a\a apuio na Pall'ulha, a oppo-
sio Saqual'ema, inimiga de Aureliano.
80 UM ESTADISTA DO IMPERIO

A primeira nomeao de ChicholTO e Frana foi attl'ibuida


pela opposio conservadol'a a uma intl'iga de AUI'eliano pal'a
fazer cahil' o gabinete de D de Maio ao qual os scus desaffe-
ctos favoreciam. lIollanda rctirou-se s, mas o resto do gabi-
nete no se pde recon truir. De fez-se assim em pouco tempo
a primeira Conciliao >l, a de 1816, que Theophilo Ottoni
chamou a fuso do bl'azileiros que conhcciam o governo pes-
soal, e na qual os inimigos conservadol'es da faco aulioa P,
Vasconc 1I0s, Ronorio, TOI'I'es, Eusebio, Pauli no, ligal'am-se
com os Luzias mineil'os de 1842 c com os advcrsados dos
Praieiros no nol'te.
Em 22 de Maio de 1847 Alves BI'anc , ento identificado
com a maioria liberal, voltava ao ministcl'i'l livl'e d 'embat'a-
. ado para reatar e acc ntuar a politica ti 2 de Fevel'ciro dc
1844. EI'a um ministel'io de combate. Ao lado de Alves Branco
reappareciam Vergu iJ'O, sempre animado do mesmo e, pirito
liberal de 31 e 42, (Paula Souza, que entl'ou depois, esteve
no ministerio apena o tempo indispensavel para sahir), e
atumino, o irmu de AUI'eliano, do Chichorro Ilumincnse,
inimigo declarado dos aqual'ema, cm quem us Praieil'os
encontt'avam o mais forte antagonismo. Para a' Praia em um
triumpho incontestavel a organizao do novo gabinete; o
facLo porm, de no ter Alves Bl'anco ('1) includo no minis-
terio nenhum deputado pl'aieiJ'O, emquanto qu.e lIollanda Ca-
valcanti havia pel'v~ncitlu al)S t/'cs ouLros gabinetes ela situao
liberal, devia tel-a advertido de que, se a sua alliana na
Camara cl'a valiosa, a sua presena no govl'no cra ainda
impl'aLicavel. A que Lo elo. Pl'aieiro era, pOJ'm, o govel'no
ti Pcrnambuco, e naua mais. Pam govcl'nal'cm a pl'ovincia,

(1) " Para organizar o novo gabinete chamado o SI'. Alves


BI'anco e o primeiro a quem procuI'a o Sr. Saturnino de Souza
e Oliveira. Quando o. sous amigos lho expI'obram es a alliana
com um advers:ll'io reconhecido, I'e. ponele que'esse candidato lho
viera do pao. Aos SI'S. UI'bano e oelho I'e omlllendados pelos
Praieil'os, e ao Sr. Machado de Oliveil'a, lelllbl'aclo pelos Vendas-
Gl'aneles, l'az constaI' que n5.o lhe l'l'r1 passivei conseguir que clles
fOSS0111 <!c(;citos. II A dissoluo do Gabinete de 5 de NJaio ou a
Faco A ~tlica.
A LUCTA DA PRAIA 81

l'lle acceitavam toda a combinaes na crte, deixavam-se


mesmo p\' de lado pelo eus alliados Luzia .
No se fez espel'al' muito a resposta dos Saquul'emas. A
'1 de Junho foi apresentado o pareceran nullando as eleies sena-
tOl'iacs de P rnambuco. A di:,cusso foi I'enhida; Alves Bl'anco
pI'otestou contl'u a cen uI'a que o Senado quel'ia exel'C l' ubl'e
a e 'colha imperial; B. Per ira de VasconceHos retol'quiu-lhe
com a circulaI' do enad I' Alencar, cm (lue este uizia que Fer-
I'eil'a Frana fOI'a acc ito por seI' vonlade tel'J)llanle e bem
jJl'ollunciacla do lmpe}'((clol', e com o abusos eleilol'ae , nunca
vi to , empl'egados por Chichorro pal'a se fazei' eleg-I'. Ainda
assim o intere princ:pal da lu ta no e lava na tribuna,
estava nos corredol'es do enado, no uso que abertamente se
fazia do nome do Imperauol' pal'a conseguir o reconhecimento
de ChicholTo e FI'ana. Que o Imperador devia desejar esse
reconhecimento, no paI' ce duvidoso, de de qu elle o havia
escolhido, fOl'ando a demi o do mini terio, c que um dos
e colhidos pa sava por ser indicao ua. Havia ai nda uma
razo melhor. A annullao da. cal'las d enador podia im-
portar em meno cabo cora, cm pl'incipio de 01 o-al'chia
senatorial. e o Imperador ti esse ido coagido e colha de
Pl'aieiros, ou por vir a lista sexlupla ele uma s pal'cialidade,
ou pelo uso das chamada cunhas, o Senado, annuHando as
eleies, iria at m soccorl'o da liberdade da cora; a escolha,
porm, tinha si lo livre e proposital, tanto que ChicholTO foi
conservado para presidil' sua segunda eleio, e novamente
escolbido depois de uma interveno ainda mai o tent9sa.
A annullao da cal'tas natol,iaes tornava a escolha impe-
rial dependente do p!acel du Senado, e isto no potliaagl'adul'
ao Impel'ador. O pre tigio do throno no valeu, enlretanto,
aos liberaes que o invocavam, mostl'ando assim, uma vez
mais, que entre a democracia e a monarchia no Bl'azil houve
por vezes desintelligencias e rupturas, mas nunca vel'dadeiro
antagonismo.
Entre os senadores, porm, a presso feita com o abllso do
nome do Imperador produzia funda il'l'itao. l\Iuito tem tra-
Lalhado o govemo para que no passe o parecer, escrevia o
L G
UM ESTADISTA DO IMPE:RIO

enndor Nabuco a seu filho, fazendo at que o Impel'adol' :;e


envolva nesse negocio, o que bem tri te >l. e o lmp l'adul'
se envolveu pessoalmente, - de que o envolvel'am, no lIa
duvida alo'uma, - fl-o com um ou OUtl'O intimo, talvez p n-
sando mais no abalo que ia causar em Pemambuco a oLa~i'\
do Senado do que em sua propria pl'eJ'ogaLiva. P la. annll\-
lao votal'am entre outros Vaseoncello , HonOI'io, Olinda,
Jos Clemente, Torres, Ca.,xias , Monte AlegI'e, IIollanda, Paula
Albuquerque, Araujo Vianna, abuco de AJ'aujo, e COllLl'a,
AUI'eliano, Alves Branco, Almeida Tones, Alencal', V 1'-
gueiro e Lopes Gama.
O effeito da annullao da cartas foi estrondoso, mas no
modificou de fI'ma alguma a 'ituao, nem provavcl que
tenha concorrido pal'a as medidas que o governo adopt u m
eguida contm os adver 'arios da Praia. ma de ta foi a
remoo de Iabuco para o Assu. E se a to foi attribllidu ao
voto dado pelo senadol' Nabuco : o Governo pretendia cnfo[n-a.t'
a independencia do senador no filho magistrado; a nlaue,
pOl'm, que Nabuco foi removido pOI' suas proFia culpas
com a PI'aia, e, se fos e preciso alguma razo mais, pela
necessidade de abril' mais um logar de juiz no Recife para
um Praieiro combatente. El'a e te Feli ' P ixoto.
A remoo de Nabuco provocou em favor delle um movi-
mento de sympathia da p8l'te de toda a ociedade pel'nam bu-
cana, sem di tinco de partidos, por seI' o magi tl'ad.o feriuo
um modelo na administl'a o da justia. Tambem nenhum
juiz nas mesmas circumstaIJcias re ebeu maiores te temunhos
de apreo publico. A Associ&o Commercial e o commercio
todo do Recif" tanto o nacional como o estl'angeiro, o advo-
gados, o propl'io Tribun.al da Relao (1), a.... i~naram pl'O-

(1) Sentinella da Monarcllia de 25 de agosto Diario de Per-


nambuco de 21 de Agosto de 1 .17 - Os d sembargadores da
Relaao attestavam uuanimemente que Nabu 'o mostpou sempl'e
li em todo os seus actos uma capacidadejuridi 'a eminentemente
di tiocta, exemplar diligencia e exaco no cumprimento elo
~eus deveres, notavel probidade, inteil'eza, affabilidade e desill-
tere se, Ill'bunidade e todas as ruais l[ualidades que constituem
um magistrado habil. e perfeito.
A LtJCTA DA rllArA 83

testos respeitoso a bem da permanencia do magi tratlo, cuja


I'eputao de juriscon ulLo j ento estava feita e cuja Impat'-
cialidade era reconhecida por tocios (1).
Os jornaes con ervadores do Impel'io prote tavam uni onos
contra a remoo, seguindo a Senli17ella da iJ/onaJ'chia. O
Mel'cantil ela Bahia contra tava O' pmcedimento havidos
com o juize' de dil'eito Praieiro : Quando o partido
pmieiro estava na opposio, quantlo os r. unes ~la 'hado,
Urbano abino, e Mende da Cunha na Camara ho tilizavam
o govel'llo, nunca soffl'eram nem amea<:as de remoo,
porque o govel'Oo I'espeitava neU a illllstl'ao e probidade
que os di tinO'uia. E por que no ha de o Govel'no actual res-
peitar e sa qualidatles que em grau mai ubido honram o
1.1'. abuco! O mais deve Sel' levado conta da linguagem
J)

de pal'tido. D po-i do ('. Bal'o da Boa Vi la O 1'. a-


lnl'o o m mi)\' proeminente do partido da oppo i~o mais
conciliadol', mn.i~ capaz de acalmaI' os animas de embaI'aar'
os xce o proprios do e tado de de c pel'a~o a que tem o
poder querido I vaI' a 01 posio pernnmbucana.
em meio' d vida eno o eu ordenado de juiz, abuco,
todavia, no 'e d ixou abat I'. Era-lhe impo , ivel sahir do
Recife naquelle momento, o mais ancioso da lucta, exacta-
mente quando e tratava da re leio de Chichorl'o. A situa-
o parecia ter p ol'ado para os conservadore em todo o
Tmperi . S a maioria do S nado se mo tmva ou ada, o
Go el'llO, pI I' seu lado, bla onava do apoio o tensivo da
cOI'6a. A annullao da artas senatol'iaes l'a apregoada
pelos Praieiros no seu orgo como uma revolta contl'a ella (2).

(1) O MeT'eantil (da Bahia) de 28 de Julho de 18,[7. Em direito


civil, commel'cial e criminal poucos juriscon ulto no Bt'azil o
podem exceder; em direito admini trativo, poucos podem hom-
bt'ear com elle. Sua eloquencia, energia e incorruptibilidade no
espinho o cargo de promotor publico da comal'ca do Recife dese.e
Abl'il de 1 3G at o fim do anno de 1810 el'am provel'biaes em Pel'-
)1ambllco, proverbial sua illll tl ada imparcialidade nos logal'
de juiz de direiLo do cl'imc de Pau d'Alho e do civel ela. cidade do
Recife. I)

(2) " Folgaram muito os fall.nhosos guabil's com o imprudente


84 UM ESTA DI TA DO IMPEI1IO

Ideo tificados com o gru po ao qual se deu o nome de Facf)


aulica, 9S pJ>aieiros presumiam ontar com a sympathia do
ImperadO!'. Com eff ito, deixando de e colher quando podia
o Baro da BoaVista, o Impel>ador mostrara no ter> ligaes
pessoaes com os chefes da Ol>dem em Pernambuco. Isto cau-
sara gl'ande desg8sto entre elles, dedicados como eJ'am mo-
narchia e convencidos da tenclencia r>epnblicana da PI'aia, de
que; ao pr>imeiro desagl'ado na crte e pr>imeira occa io, ella
chegaria aos extremos de 1831. Contando com o apoio do
governo geral, c na crena de que a reeleio dos andidatos
rejeitados pela faco saqllal'ema, aca tellada no Senaelo,
(lJiario l'iovo) era o desaggravo da cOI>a, o partido Praieiro,
que tinha incontestavelmente a gl'ande maioria da pro ineia,
podia julgnt'-se de antemo victol'ioso. A Praia no visa"a,
pOI>m, s6ment(} ao gov'lno; . e ella se contentasse com issu
podia dispensar a administrao Cllichol'l>o, cuja canclidaturcl
duas vezes a dividiu. Com os instincto que a democracia
mais custam a conter em si propr>ias, ella queria a unanimi-
dade, e a unanimidade em politica sem[11>e uma estrategia
fatal. Conjunctamente com a eleio de scnaclore ia clal>-se
nesse anno a de deputados, e o partido con cI'vaclur de Pel'-
nambuco prcpal>ava-se para um vel'lladeil'o exterminio.
No podia haver engano a esse respeito, Mais significativa
do que a l'emoo de Nabueo, era a nomeao para "ice-pre-
sidente' dos quatro candidatos pI'aieil'os que se tinham apl'e-
sentado com Chichor>l'o e Fl>ana. Mais significativa ainda,
talvez, fra a cmta pas..agem pejo gabinete de Paula Souza
OI1 as suas idas de moderao e a sua formula de jllslieb a
toelos sem seleco de pessoas, logo supplantada pela circulai'
de Alyes Branco, chamada dos direitos pl'opl'ios, impondo a
adheso dos funccionarios publico como clausula de sua con-
servao no empl'ego (1), O Visconde de Olinda, chefe no Se-

e acinto o parecer da commisso de poderes do Senado, e como


vissem com a annullao capl'ichosa das eleies, mcnosprezad:.l.
a vontade da cora... ;) (Dial'io Novo de 25 de Agoslo 18.17).
(1) " Assegul'ando justia a todos o' pal'tidos, j'espeitando a
liberdade de todas as opinies, irnporta ao mesmo tempo que os
A LUCTA DA PRAIA

nado dos c nservaclores pernambucanos, sabia quc se tratava


de anniquilm' o eus correligionarios, quando o animava
re isten ia legal em linguagem quasi revolucionaJ'ia : cc Os
descendcnte elaquelles que souberam resi t.il' ao R'i para
melhor servirem ao Rei, sabcl'o tambem r i til Opp1' so
dos mini tros p31'a m lhor ervirem ao Imperado!'. Era
essa a proclamao que elle lhe dirigia antes da batalha.
Ap zar dc tudo' O' contratempo o pal,tido da Ord ln, que
nunca se mo trou fraco de animo, era incapaz de fuO'il' no
momento da a o, c abuco entl'ou no pleito I iloral com a
ua reconhecida actividade. Tesse anno de '1841 fez ellc im-
pl'imir uma colleco de docum nto e' artigos que lana"am
muita luz obre a ituao da provincia. o anno fi O'uinte
publicou outro opu ulo, com o titulo As eleies pllm Sena-
dOl'es ua pl'oviucia de Peruambuco em 1847. D e opu culo
foi que a Commi. no do naclo se sel'viu pal'a p1'Ofligar a
interveno de Chi h 1'1'0. O' doi f lheto des revem quasi
imparcialm nt o e tado ocial da proYincia.
. Um do pl'incipae ataqu. da Pl'aia el'a contl'a o feuda-
lismo dos enhol' s de enoenho. Forte na capital, ella sentia
difflculdade ele a anal' no interior, fechado pela O'l'ande 1)1',)-
jll'iedade, a cuja ombra viviam a pcquena po, oa- e , 5e-
meatlas em suas c ('canias; d'ahi a guerra que clla movia
g'l'ande p1'Opl':edade, uperior ju ti a publica. Te. e pomo
a inva o Praieira era uma impo io n ce aria; d loi
viria, u no, a reconstruco elemocrati a, o e' cncial cI'a
do ele logo a conquista do interior pela lei. Tanto na Justa
Apl'eciao como na tl'ibuna da Camat'a, em 'l843 e em 183,
abnco de algum modo o reconhe e. Ell no COl'sta o
b n fi ia dessa cam panha, lastma 'men te que os actos no
01'" spondam palavras e que de uma obra social de vasto
alcance e faa uma e tl'eita persegui o pal'tidm'ia. Em 18!~3

dil'eito proprio' da admini tl'ao publica ~ejall1 defendido sem


lIe ilao e com Jirmeza... O emprego. o in tituido no fim
exclusivo do servio do E. tado e esse sel'vio exige, como con-
d~ 'o indeclinavel naquelles que so chamados a pre tal-os, uma.
Slllcel'a adheso ao plano.
86 mi E TADI TA DO HlIPEHIO

eBe enumerava ntre as cau a do e:tatlo violento ~ excep-


cional de Pernambuco e outras provincia do II1l[1el'io e as
influencias do interior, que tem paI' timb/'e protegeI' a ce1'to
1111 mel'O
de individuas que as ce/'cam e so ins tl'Wnel1 tos ele
seus capl'ichos e vinganas, Essa influencias, accr ficenla\'a
elle, sempre existil'am, mas adquiril'am fora .com a fraqueza
do poder, fl'aqueza que resulta da lei' que a revoluo nos
legou (1). Em 1847, deante dos acto de interven enel'-
gica eom que Chichorro a 'ombrou as influencia do interiol',
o e criptor do pal,tido da Ol'dem, que os devia mai tarde
positivamente elogiaI' no Parlamento, no ataca a intel'ven-
o, mas o modo e o e pil'ito partidal'io.
Fallai do feudali mo de', a familia e diz is que os lnem-
b/'os d'ella acastellaelos em suas P/'OlJl'iedades el'CtJn inacces-
siveis autol'ielade publica, mas esse feudali '1110, e e e 'pi-
rito alt.ivo e arrogante que quer SOtOpl' a autOI'idade publica,
ou dominar, ou desprezaI-a, s6 propl'io e exclusi o a alguns
Cavalcantis? No, mil vezes Ho, Es e e. pil'ito anti-so ial,
absurdo e perigo o um vicio radicado entl'e o lWOpl'i tarios
do interior de Pernambuco, e qui do Imperia, um vicio
que nasceu da antiga ol'ganizao e que as na. a.' I'evolul;es
e civilizao ainda no puderam acabai', No I'am :mcnte
alguns CavaIcantis que nutriam e e e 'pidto, eno muitos
outros, e alguns -xemplos vos citaremos de re istencias
oppostas autoridade publica pOI' homens que pertencem
vossa opinio, si as im o quizel'des, E 'se e pil'ito anti-social,
ou esse feudalismo, como chamais, v6. o terieis atacado mdi-
cn.ll1umlfl 1'endendo d'est'm'te um impOl'tante se-/'vio ao paiz,
se dominados pelo patl'ioti 'mo e por essas idas genel'osas que
apl'eogastes, vos tive seis aproveitado da l'evoluo que cau-
saste na sociedadf\ com o vosso trium pho e d( minao, se
vos tivesseis aproveitado da vs a populaI'idade para eS8e
fim .. , Mas no. Excitastes essas idas genel'osas para cal'ear
a popularidade e para triumphar, mas ao d pois e na pl'atica
tendes respeitado e con olidado es e feudalismo dos VI SSO , e

(1) A revoluo de bl'il. Discurso de 11 de Fevcrei 1'0 de 1843.


A LUCTA DA PRAIA 87

s6 combatido o dos adv'r al'ios; tendes dividido a provincia


em conqui Lador s e onquistados; "03 o esrol' os tm sido
para dar aos vo so aquillo que I'eprovai ao. outros; B6
tende ilTitado, e lanado os' elenwnLoS de uma reaco
fune ta; ten le obrado com o encarniameuto e odiosidade
de uma faco, e no com o patl'ioti mo e vistas de um pal'-
tido politico (1),
Approvando a bu ca dada em diver os engenhos, onde
f'ul'm appl' ltendido criminosos, Nabu o s6 pI'ote tava, no
Lidado}', contl'a o uso pal,tidario que se qu ria fazer da aco
da autoridade.
Qum l o e ripto da Praia, e notav lmente os do
anno corrente, quem v que todos elles se re umem em attri-
buil' ao pal'Lido da Ordem o facto criminoso de alguns indi-
viduos, erto ondemnar com recurso da fraqueza e da
I I'V l' idade e proposito firme de tornai' um partido gene-
1'0 o, influente, omposto da maior pal'te do homens gnldos
e rico da provincia, re pon avel pelo Cl'ime de se indivi-
duos que. 6 pertencem a elle pelo nom que tm, como e 0
nome qualificas e o homem. Embora protestemos que os
pl'incipio que nos caractel'izam, e no o individuos; em-
bora prote temo que no no pert ocem o homen crimi-
no os, quaesquer que elle sejam, qualquer que seja eu
nome e familia; embol'a prote, temo que a infamia des es
individuo' no transmi ivel sua familia, ou ao no o
partido, quando mesmo elles fossem no sos: no, esses pro-
testos no valem (2).
E aqui uma de. ta adduces impl'evi ta que lIe acha a
seml re pUl'a coagir o adversario tolerancia :
A fora de quererdes tomar odiosos os nosso adver a-
rios, levados somente peio desejo de infamaI-os, vs concol'-
reis pal'a embaciai' o merito da 'aces que pl'aticais (3), e
para diminui!' ou neutl'alizar at certo ponto a fora da sanc-

(1) Justa Apreciao, pago 10.


(:t) Lidador de 11 de Fevereiro de 184.6, cito na Justa Apre-
ciao,
(3) oro p. discul' o de 6 de Julho de 1853,
8i! UM ESTADISTA DO IMPElUO

o mOI'a\. .. Embora o espirito de partido vos guiasse o


animo e vo dsse actividade para mprehender a per"eguio
des es criminosos e a extirpao desses crime' abominaveis,
no devieis revelar esse espirito de partido, mas ostentai' o
inter~sse da sociedade e da justia; o vosso lJrocedimento
sel'ia ento olhado como um servio feito sociedad , e no
como uma vingana, como um desforo, como um meio d
infamar o vossos adversarios; a sanco moral obl'aria com
toda a sua fora, os criminosos no teriam a ousadia de con
sid I'at'-,'e martyres da politica.
Ap zar, porm, da' explorao politica feita com a. busca. e
apI rehen 'es nos engenhos-valhacoit , o primcil'o passo
para igualai' a sociedade no interior, o efl'eito dessa intel'-
veno recommendava-se ao espirito de juiz e de e tadista
que j se mostrava em abuco. D'ahj a approvao, que o
advel' arios scmpm apresentavam como um attestad insus-
peito, dada por elle a essas idas que hamou generosas.
S6mente a violencia e I. parcialidade dos proces os enlpre-
gados irritava o espil'ito do jurista, para quem as rela
saciaes esta] elecida e consagradas pelo i mpo s6 ram moui-
ficaveis com a sanc o do direito. A este r pito ha um tI' -
cho em um do opu culos ontra a Praia que mel'cce l'
citado porque uescl'eve o regimen agl'icola que Chi hOI'1'O
destruiu mo armada, sem o pensar nem talvez o qUeI' r :
Foi tal o tel'ror que se incutiu na populao que o m I'a-
dores dos engenhos, - que desde tempos immemoriaes tem
considerado aos sen hores de taes propriedad s como seu us-
tentaculos e protectores, que ho sempre ti lo J al'a com estes
um justo respeito reverencial, como para com aquelles que
lhes do terras para lavrar e caa para comeI'; que no pagam
por i so a menor retribuio pecunial'a, o menor el'vio
pessoal, a menol' pl'estao em generos, nem fazem o menol'
beneficio s terras pela plan tao de arvores fructi fel'as ou de
construco, - que esses homens, dizemos n6s, que se
uniam aos senhores de engenho pela fora do habito, pela
influencia dos costumes antigo, p los lao' da gl'atido,
antes qui'l.cram votar com a policia que os ate1'l'ava do que
A LUCTA DA rf1AIA 89

com os seus patl'onos nalUl aes que o sustentavam; e Gomo


() senhol'e d ngenho pelo I o'itimo uso de 'ua pl'Opl'iedade
tm o di!' ito de expellir de uas terras o moradol'e que lhes
no agrauam, a policia actual, vivendo sempre de illus-cs e
U'afican 'ias, no duvidou pl'opalar pOI' seu agentes que tal
direito no xi tia, e que ella intervil'ia pal'a o fazer ce . ar e
fOI'mal'ia I roces o ao enhores de engenho que u'clle lanas-
cm mo I al'a c n cO'uir seu On' e impur obre a opinio. A
policia destl'uiu as im a justa relao que existia entl'e os
pl'opl'ietal'ios do' nO'enho e os eu moradOJ'e, alteJ'Ou os
co tume. , .6 produziu males, pOI'que tae homens no
p dem mai ficaI' no engenho, que atraioaI'am de certo
modo (I). n
Era a 'sim, com effeito, no antigo sy tema tCl'ritorial; para
o mora<.lol" deixaI' d acompanhar o senhor de engenho, daI'
a vi toria ao inimigo delle era, pcla natureza do vinculo
que o ligava e do codigo moral que o garantia na falta de
I i, uma vel'daeleil'a traio. Data de a inva o tumultual'ia
da poli ia pl'ai il'a no' engenhos em '1846 a modif1cat\o que
foi gl'adualmente operando no cal'act r feudal ela O'rande
pI' pl'iedade a. ucal'eil'a.
O Pl'aieiros vencel'am as elei e de~se anno, elegendo
alm do ena<.l01'c8. uma deputao unanime, da qual fa7.ip
palte Chichorl' . A eleio cu. tava, entl'etanto, a diviso ela
Praia. Como a impo 'io de Chichol'l'o para a senatoria fizera
o pal'tido pel'd I' em Mon enhor Ioniz TavaI'e a ua reli-
quia ele 1817, a .. im a inclu o de Chichol'l'o na li ta de depu-
tados custou-lhe uma perda politica ainda mai sen ivel, a de
~Janoel de Souza Teix ira, d p i Barilo de Capibarihe, o
llomem que ell puzel'a na primeil'a vi e-pre idencia da pl'O-
vincia, como o eu mai important pel'sonaO'em.
A deput:Jo pel'l1ambucana, animada da confiana que d
a unanimi lad , teve que. ol'fl'er antes de abrir-se o parla-
mento um golpe tI' mendo. Alves Bl'anco tinha- e de avindo
com o podem. o Aureliano e o mini teria no podia resi til'

(1) As eleies para senadores, pago IX.


90 UM E'TADISTA DO IMPETllO

perda de, se apoio. Depois de uma futil t 'lltaLi\'a para viver


sem elle, Alves Branco .'econheceu que o chefe da Faco
Aulica era a columna da situao de 1844. Form u- 'c olltl'a
administrao presidida pelo Vi conde df. Macah, nu lual se
destacava Limpo de Ahreu. O escandalo da eleio de pre i-
dentes por si mesmos tinha chegado ao ponto que o governJ
decidiu substituir todos os que se haviam nomeado. ,Chichol'!'
era o mais celebre dentrc elles : o gabinete no recuou diante
da arrronta feita PI'aia, e o demittiu. A deputa o p.'aieil'a
"eiu paea a Camal'a exaspe!'ada. Alm ela demi so, Chiehol'ro
tivem que passar a administrao a um dissidente, a Manof.l
de Souza Teixeira, com o qual o chefe de poli ia praieil'o,
dr. Antonio Mfonso Ferreira, abriu logo um conflicto ..:em
precedente, intimando s autoridades que aquell demillia
que se conseevassem nos seus postos. O gabInete faculd~ no
podia resisti.' ao descontentamento geral do paJ'tido, a coa-
liso dos Praieiros com Aureliano, om os Pauli:t.a" om :
Cearenses e os Ottoni , e uccuml iu n'uma vota o de con-
fiana logo no voto de graas. S guiu-se-Ihe o gabinete Paula
Souza, o ultimo da situao libel'al.
Uma vez mais se organizava um ministel'io sem se pedi I'
P.'aia um ministl'o. Pesava um interdicto sobre ella. Em Per-
nambuco mesmo a situao tinha peorado,' O presidente
nomeado por Jos Carlos pal'a sub, tituil' a Chichorro, o con-
elheil'o Pires da Motta, incorrera no resentimento dos
Praieil'Os, por no haver reintegl'ado as ~lutorida.cles policiaes a
qnem o chefe de poli ia OI'denara que no se dssem pOl' de-
miuidas, Havia causado em todo o paiz g.'ande sensao o
I elatol'io aCI'imonioso do vice-pre identl=i, expondo o estado em
que Chichono lhe passal'a a administ.'ai3io (1). Logo nos seus
primeiros dias, porm, o novo ministel'io deu 'satisfao
Praia, demittindo o Pl'esidente que no a satisfazia e o vice-
presidente que a denuncira; ainda assim no conseguiu elIa
indicai' o novo Presidente. Parece que se formara nas altas

(1) Vide relatorio em Chl'onica ela Reellio PraieiJ'a em 1849


POI' J. Mal'tiniano Figueira de Mello.
_A LUCTA DA PHAJA

rCO'loes O PI'OPO ito de no deixaI' admini. tl'ar mai a 1)1'0-


"ineia de Pernambuco a inteil'o contento da Pl'aia. Quem
f(u r que fo e o Pre idente, tinha que preencher condi-es
de mod rao c de independ ncia. I to qlieria dizei' que
. cmpl'e valera alguma coi a a opposio conservadora do
. nado j apezar de afastada, a monal'chia a considel'ava a
ua re erva.

o novo Presid nte e colhido para Pernambuco, o dc. em-


bi:ll'gadol' Antonio da Co ta Pinto, foi quasi tido pelos Praiei-
1'0. amo um adver. al'io. A ua pI' idencia desgo tau-os
pr' fundamente pela impal' ialielade que elle affectou entre o
partidos.
Apezal', pOl'm, de mal satisfeita e de alguns encontl'os
oe a ionaes com o govel'no, Praia foi ministel'ial no gabi-
n te Paula ouza. EUa presentia a situa o no occa o j os
chefe: lib ra no. c nt ndiam mai entre i e no podiam,
diyidido , faz I' fI' nte rrada phalange consel'vadol'a do
S nado. Paula Souza revelara o seu inv neivel de animo com
a celebr imaO'em em que elle,. o libeml mai incero e maio
puro da no a politica, e fiO'ul'ava tomo o illllio que no
podendo mai luctal' contl'a a olTente largava o remo e cruzava'
o bra o . O pre idente do con lho no el'a feit.o para domi-
naI' a ituao; a proclama\o da republica em FI'ana havia
aO'itado o no '0 mundo lolitico em sua profundezas. De -
go toso e doente, Paula Souza entre ara a dil'eco da Camara
a ouza Franco, que no tinha ainda o pI'e tigia de um vel'-
uUllcil'o -II fe. .
A P liti a compli 'ava- e com um fermento o iali ta. Os
PI'aieil'os I'eclamavaro a nacionalizao do commer io a I' lalho.
EI'a a bandeira do Re ife hasl ada agol'a na propria Camal a.
A m smo tempo, Nunes Machado punha-se fl'enle do povo
nas ruidosas elei-es muni 'ipaes da crte e a opposio pre-
valecia-se da agita o das rua pam fazeI' crel' que iam
I'ecomear os dias de 1831.
De tl'Opeo cm tl'ope~o, sem nada con gUil', no pod ndo
sati 'fazer os 5P.U. amigo.. levando altUl'a de uma que to
0.2 mI ESTADISTA DO IMPERIO

constitucional o epigramma de um aclver ario (1), o ministerio


Paula Souza succurnbiu no parlamento quando apresentava o
projecto pam a represso do trafico. Em vez de cahir sob es a
gl'ande bandeim em campo aberto, elle cahia desa.1l'Osamente
n'uma encruzilhada, insistindo pelo artigo quc I'evogava
expressamente a lei de 7 de Novembro de 1831. Aos Libel'aes
declarados contra o tmflco era impossivel acceitar e 'sa revo-
gao; quanto aos Conservadol'es, o caminho para derribar
o governo e o projecto estava indicado. Desse moelo o minis-
teria, qe tinha levantado contl'a si o odio dos poel r s s tra-
ficantes, mone s mos d'elles, quando propunha a leo'iti-
mao da sua obra criminosa. Com o gabinete Paula Souza
cahia a situao libeml, quela attribuida por Theophilo Ottoni,
no, como era notorio, ao esphacelamento elo pal,til!o, sua
falta de coheso, s incompatibilidades pes oaes dos seus che-
fes, mas ao CtJ'J'efecimento das boas gl'aas elo palaeio (2). Os
denunciantes, 'no mais da faco anlica, pOI'que e 'a agora
se dispersa e clesappat'ece, mas do govern'} pe soaI, passam
a ser os liberaes, que negavam a ua existencia quando o
Saqual'emas explicavam as evoluc de 181,4 a 1848 p lo'
manejos occultos dos reposteiros ela loanna, a resielencia do
mOl'domo Paulo Barbosa.

II. - A Revoluo de 1848.

Com a quda da situao lilLl'al Pernambuco eSlava fa(.!tll!a


a sei o campo de uma revoluo sanguillol nta. Nem .pOI'
tradies, nem por pl'incipios, os Praieiros tet'iarn a fOI'a elc

(1) li Aquillo de que no havia ainda exemplo nas monal'chias


modernas, a criadagem da casa do 7'ei ultrajar impunemente
os depositarios do governo da nao. estava reservado a esta
triste poca. " Es. a vCl'bel'ao de Timandro, ainda sol a impl'e -
so da poca, applica-.'e a uma phrase do deputado Jobim, medico
do pao: li Apl'esenteime no paJacio de S. Clui tovo, abri um
reposteiro, encontl'ei wn grupo, cumprimenteio e dirigi-me pal'!l.
diante. " O grapo era o ministeria,
(2) Circular, pago 139.
A LUCTA DA PRAIA 93

animo precisa pal'a esperarem a sua vez, como tinha feito o


outro partido. Os Conservadores sempre tinham esperana
no dia seguinte pela convico de seI' o seu partido um dos
bnlual'tes do throno e de no poder haver entre elle e a COI'a
desintelligencia que durasse. Alm disso, ao contrario do
pal,tido chamado da Ordem, a Praia di pu nha da massa
popular e tinha sempre pl'omptos, esperando um seu aceno,
os elementos pl'ei os pal'a um revoluo, Quando os liberaes
foram dispensado. do governo em '1841. fizel'am as I'evolues
de S. Paulo e de Minas. Nes e tempo os Chimangos faziam
lJolitica sua, pal'te do grupo liberal do Sul, que se 'ficou
chamando Luzia, e apoiavam com todas as foras o minis-
terio que abafou aqucllas revoltas. E,ra.agora a sua vez; tinha
chegado a occa io de Ie 'gatarem perante o partido a sua
culpa de -1842. O Pre 'idente do conselho do n \'0 gabineLc
(de 2!l de setembl'o tle 18/i8) era o Visconde de Olinda, exa-
ctam nteo ch fe mai gl'aduado dos Guabil'lls. Ao resentimento
queo. PI'uieil'os experimental'am vendo te. ta da administl'a-
o o homem que com o seu prestigio pe soaI, durante os
cinco annos da ituao liberal, os estorvou e s vezes para-
lizou no governo e que impediu os seus chefes de entl'arem
para o ministerio e de se acasteIlarem no Senado, juntava-se
paJ'a movei-os aco a confiana do partido libel'al no
Imperio de quc PeJ'llambuco no toleraria o domnio saqua-
rema e que dc ta vez o paiz assi tiria a um movimento como
fra o do Ri Gl'ande e no ao espectaculo da V nda Grande
ou de Santa Luzia. Sob tal influencia no havia pal'a a Praia
freio que a puclesse con tel'; a revoluo era inevilavel.
DUl'Unte esse pvf'odo, o mais agitado da pl'ovincia, abuco
escrevia na Unio, que substituira o Lidado}' em '1848. N'este
mesmo anno fra elle nomeado juiz do cl'ime do B.ecife, Em
Outubro o pae lhe escrevia: Disse-me o desembm'gaclvl'
E1lsebio, 'I11.inist1'O da Ju.stia, qlle te mandasse dize'/' que elle
o teu pJ'oell/'ado)'. O despacho seguiu-se logo. As relaes
de Nabuco e Eusebio, comeadas na Academia, tinham-se
estreitado na Camara em 1843. Nabuco era agora no B.ecife
homem da confiana de Eusebio. Achei to ajlzculas as
94 UM ESTADI8T A DO IMPERlO

suas 1'eflexes, e cI'evia-Ihe este em Dezembro d f8!~8, que


apl'esentei sua cal'ta ao lJnpel'ac!ol'.
A Revoluo de 48 provavelm~llte s rebentou por se tel'
tido medo de mandar pal'a a provincia, vista da sua situa-
o melindrosa, um homem forte. Se em vez de Penna tives-
sem mandatlo logo Tosta, ou melhol' do que To ta, que era
ainda um pel'sonagem secundario e portanto menos 01 "an-
ceiro a influencias de partido, Honol'io, ter-se-hia talvez evitado
a revolta. O cstado da pl'ovincia era quasi revolucionario. A
Praia, que tinha querido revoltaI'-se durante a propria situa-
o liberal, quando se deu a sub tituio de Chichorro, no
vacillaria em fazeI-o estando no govemo os eus adversa rio, .
O que podia impedil' o rompimento era a pl'C ena no Rccife
dc um homcm dc pI'csligio nacional, como Bonorio, que s
foi mandado depoi da revolu<:o, ou Caxia,. O ministel'io
de 29 de Setembl'o era um mini terio cnergico, mas qu I'ia , er
fino, e a finura muito diffi ii de aliial' com a fOJ'a. A I vo-
luo de Pernambuco, tanto quanto e pde conje 'tUl'ar ulH'
um fa lo que se deu em oull'Ui'i cil'cumslancia.. , no tCl'ia
aconlecido seo ministel'io, em vcz de adial-a pal'a Abl'il tivcssc
di solvido logo em Outubl'O a Camara do' Depu lados que s
veiu a dissolvcl' em Fevercil'O do anno :eguinte. A demol'a da
di soluo fazia os mais incredulo duvidal'em da solidez dcfi-
nitiva da nova situao c conscl'vava aos chefe' da agitao
em Pernambuco o pI'esligio peJ'igoso de deputados. Alm
disso o govel'Oo salJia que a ultima situai'io praieira tinha
armado os seus partidarios pal'a qualquer movimento quc
fosse preciso pr em campo. s autoridades da II'0vincia
tinham sido di tribuidas 5,000 armas com '3"0,000 Cal'lu-
chos (1) c foi om esse armamento que 'c fez fi )' voluo,
A nomea o de Pcnna foi inspirada na ida tl moderao.
O nomcldo era to moderado que Paula Souza tinha qucI'ido
mandai-o pal'u Pernambuco. A politica, insinuao elo Poder
~rotlel'atlol', eI'a a me 'ma que tinha pl'esiditlo, ex. cplo i: de
---- --------------------------
(l) 'iguCit\1 de Mello, Discurso nu. Camara dos Deputados em
24 de Janeiro de 1850.
A LUCTA .DA PRAtA 95

Chichorro, s nomea es na situao libeml; isto , a de nne


mandar para o Recife pl'e idente con 'ignado ao partido domi-
nante, .mandar homens qu pudes em mod rar e conter os
amigos e ati fazer as reclamaes razoavei. da opposio (1).
Penna no era o homem pal'a a . ituao de Pel'Oambuco.
cntindo-lhe a fraqueza, a PI'aia julgou- e s nhora do terreno
e a revolu rebentou na sua presidencia, endo pI'eciso
ub tituil-o por quem a pude 'se dominai'. Foi ento nomeado
To ta.

A hi tOl'ia da revolta pI'ai ira foi e cl'ipta, do dois ponto


de vi ta oppo to ,por ebano, O leadel' parlamentar da
Praia, e Figueira de l\fello, chefe de policia da poca.
Homem ele um ol'gu.lho incommenslt'/'a1 el, de lt11W il'[lS-'
cibilidade p'/'ocellosa, levado ao flt1'01' e cw delil'io, de um C01'll-
o fino e anguincu'io, homem que na Camam tempol'al'ia
tinha manifestado instinctos indomitos de odio e Vil1:/Clllfn'
que em sellS discll1'sOS apm'tes e gestos, lanava faiscas de
colera; e te o retrato do novo Pre idente gundo o
e cl'iptor pl'ai iro (2). Por eu lado diz o c11l'oni ta guabie:
Quem conhecen de pel'to o novo administradol', e viu a,
wnenidade das suas mal;ei1'Cls, a tolel'ancia das sltas opi-
nies, a sensibiliclade do seu como, a indepenelencia do
seu cal'actel' e a elevao dos sezts sentimentos, (icon logo
convencido de que elle no podia p,'esta'I'-se ao papel de algo-:,
ele uma pl'ovincia e que empl'egCll'ia todos os meio bfndos
pal'a 1'estabelecel' a' ordem publica, antes ele lanaI' mo dos

(1) " O minisl rio tinha vi. to, e todos o eu membros abiam,
que o paiz e tanl. em perfeita revolta, e Pel'nambuco e pecial-
mente. EnLl'etanlo, como que e no capacitou de que a agu<t_
lo diluyio revolll'JOnario tive sem na altura em que lavam e
procul'ou pomba, a mais inofi'ensiva que pudesse a ha!', para
mandai-a a Pornalldluco o j Ile d e noticia do pon to a que tin ham
clJegado a ondas rev lucionaria . E ta pomba no voltou com
ramo verde; as onda I'ovolucional'ias j tudo iam alagan lo. II
J. J. DA ROCRA, na se so de 24 de Janeil'o de 1850. Annaes da
Call1ll.1'3.
(2) Apreeia.:'o da flcJulta Praieira, pago GS.
93 U f ESTADl TA DO IMPERIO

enel'gicos que lhe aco~lselhava Ct ext1'aOl'dinara situao dos


negocios. l> (1)
preciso escolher c fundir alguns des e traos pal'a se ter
o homem. Tosta era um con!ervad r, tios ral' , que tinha a
rc1io-io, a monal' hia, a ordem publica, a I i, como dogma
indi cutiveis. Intolel'ante, quando se tratava delle ; exclu i-
vi ta, no sentido de julg-aI' impropl'io para as funce do
E "lado quem os no pI'of sava, el1e confo 'sadamente o era:
ma: com es. e afeno ao 'Y tema politico, fm do qual tudo
p:ll'a el1e el'a anal'chia e talvez at sacrilegio, po suia um
e pil'ito justiceil'o. A mo do p litico era pc ada e de ferI' ,
mas a con:ciencia do magi trado cI'a delicada e e' rupulosa.
Como Pre 'idcnte que dominou a 'Revolu\o, lle dcsenvolv u
'grande enel'gia, mas no houve ele sua parte nenhuma peI' e
guio nem abuso de autoriuaue; no concedeu uma gotla
de sangue ao espirito de paI,tido; tutIo que fez, f6!0 para
salvar a cidade, e lembrando-se que as suas delibel'aef.;,
tomadas no calor da aco e no tumulto dos successos, seriam
depois examinadas a sangue fl'o pelo Imperador, o qual no
perdoava a menor vindicta nem repre. o escusada.
Segundo Urbano a deputao Praieira embal'cou paI'a o
necife, depois de se assentar em r unio plenal'ia do pal,ticlo
que no recorrel'iam a meios matel'iaes. O novo pl'e idente,
HCI'culano Penna, tinha porm que desmontar a machina
eleitoral de Chichorro e a Praia no pde toleI'al' eS'a derI'u-
bacIa igual que el1a havia feito em 1.844 e 18M>' O' depu-
tatIos pernambucanos escreviam para o Rio ao seu chefo
que ficra, chamando-o pl'ovincia para cont r a exaltao
dos seus paI,tidal'ios. Nunes Machado acudiu logo ao chamado,
mas ao chegaI' s Alagas teve a noticia do rompimcnt .
To puras el'am suas intenes, diz Ul'bano, tanto estava
a l'evolta (I'Ct ele suas vistas e esperanas, qlle nos assomos
ela sUl1J1'esa lanoll imprecaes contl'a sells amigos e allia-
elos, e partiu na firme 1'esolu.o ele fazei' desarma'/' o pal'-

(I) Chronica da Rebellio Praieira, p:lg. 179.


A LUCTA DA PRAIA 97

tido. (1) Nada mais pl'Ovaveldo quearelucLancia de Nunes


Machado' em em peohar-se em uma aveo Lura dessa ordem.
A revolta el'a inevilavel, no pOl'que os chefes politicos da
Pl'aia a promovessem, mas porque el'am impoteo tes para
dominar os seus cOI'religionarios. Nunes Machado tem tocla~
CLS co/'agens, dizia Paran, menos a de resistir aos amigos. ),
Ao partir para Pernambuco elle que conhecia perfeita-
mente o temperamen Lo do seu partidp tinha o pres ntimenLo
do desastre commum. No vou pam Pernambuco, pol'que
se fr, sel'ei victima, o as palavras que lhe emll'esLa a
tradio conservada entre seus amigos. (2) Ellc Linha cel'teza
de qU0 a resistencia armada el'a inevitavel e de que o resul-
tado seria fatal.
Ao pisar o slo pemambucano o chefe que ia tudo aplacar
sentiu-se vencido pelas circumstancia locaes, enleado pelas
intrigas do partido. Havia j corrido sangue, os Praieiros
estavam em al'mas, a attiLude conciliadol'a aLtribuida a Nunes
Ma hado foi considel'ada I elos combatentes com9 uma ten-
btiva de desel'o, e eSI alhou-se.logo o boaLo de que elle se
Linha passado. Essa suspeita bastou pal'a lanaI-o com dupla
violencia no caminho da revoluo. Pde-se lei' no avulso
publicado por elle, logo depois da sua chegada, a h!storia do
que se passou LU s u espirito, a sua resoluo de evitai' a
lu La, dominada pela sua incapacidade de alfrontal' uma sus-
peiLa dcshonrosa (3).
------
(1) Apreciao, pago 5.
(2) Mace lo, Jiberal tradicionalista', Anno Bio[J'raphico.
(3) Tendose e paUlada de hontem para c:'L depois de minha
(f

chegada, a maio infame noticia, ofensiva da lealdade de meu


cal'actel', como a de que me acho inteiranumte mudado de meus
principios e aclhiro causa saquarema, que por tanto tempo
tenho combatido; juJgo do meu rio0t' o dever declarar perante
os m llS comprovincianos que estou cada vez. mai Iil'me em mi-
nha opinie'; e vi to com a malvadez.a do Pl'esidente da Pro-
vincia, o SI'. Herculano Ferreira Penna, tem feito derl'amar' em
nenhum motivo legitimo o angue de meu patricia., e e dispe
a leval' minha cara Patria a f rt' e fogo, eRtou pe olvido a conel'
mdas as vicissitude, a que porventum pos a ser Jevada esta bella
Provincia, e nem duvido olrel'eccr minha vida se tanto fr preciso,
J 7
\:JS UM ETAOISTA no IMPERlO

ESLava empenhada as im com a sua approvao a gucrra


civil que Ue tinha todos os motivos para no qu I' r. Elle
sabia qe seu parLido se achava em po io fl'aca para tentar
o movimento revolucionario. O effeito da Revoluo de Feve-
reiro em Frana eSLava gasto. O paiz vira a ituao liberal
ele 1844-'1848 nada realizar do que pl'omeLLera; no tocaI'
sequer nas leis de '1 'd, por causa das quae o partido fizera
as duas revolues de Mina e S. Paulo. O chefes libera s
tinham cahido do poder mortalmente desalentados, de crentes
uns dos Outl'OS e de si mesmos. Os Prai iros 6 tinham um
progl'amma conhecido de todo o paiz : a ida reLl'Ograda da
nacionalizao do commercio. Essa ida, e f se levada a
effeito, significava o retroces:o do Bl'azil ao estado em que
se achava antes da abel'tura dos portos POI' D. Joo VI. Alm
dessa inscripo no tinham nenhuma OULra em sua bandeira.
Elles negavam com todas as fOl'as que a l'evoluo tive se
cal'acter republicano, e r almente unes Machado entrou nella
accentuando as suas convices monarchicas e dizendo quc
s6 o fazia 'por fora maior, pal'a libertar' a Cora da tutela
de uma faco; mas era evidente que a revoluo, se dur'a se,
tinha que sei' forosamente, como a do Rio Grande d ui,
um movimento republicano de epara.-10. Ora, nada enl'l'a-
quece mais os movimentos politico do que a certeza de que
a bandeira sob a qual elles se iniciam impl'opria pam dar-
lhcs a victol'ia e de que mesmo em plena lucla ser preciso
subsLituil-a por OULra que no se quiz de de o principio arvo-
ra!'. De facto, como alliado conspicuo de Nunes, apparecia
agora o mesmo Borges da Fonieca que a Praia havia pren-
dido e processado POI' injurias ao Imperador no tempo cm
que os Ordeiros eram accusados por ella de adheses repu-
blicanas. Desta nova alliana resultou o programma, redigido
por Borges, em que figuravam entre outros estes compro-
missos socialistas, imitao das idas de 1848 em Frana,-

pal'a salvar Pel'naml,u o tias d sgl'a.a que lhe e to propinquas.


H.ecil'e, 18 de NO\'embl'o de ISIS. - Joaquim Nunes Machado .
(Avulso impresso na Typ. Illlp. 1848, por S. Caminha.)
A LUCTA DA PHAIA 99
toda as nossas revolues foram, dir-se-hia, ondulaes
comcadas em Pariz - : O trabalho como gal'antia de vida
lJlll'll o cidado bm~ilei1'O, o commel'cio a l'etalho s lJa1'a os
cidados bl'Clzileil'os. A PI'aia no inteiramente respon~
savel por esse programma, nada mais certo do que a incom-
patibilidade pessoal dos dois homens, Nunes Machado e Borg'es
da Fonseca; mas tambem no se pde ella eximil' de o ter
tolerado, nem se p6de negar que os Praieiros tinham a nacio-
nalizao do pequeno commercio no angue.
unes Machado julgava e pl'eva bem. A revoluo no
tinha nenhum pretexto que satisfizesse opinio; o pre i-
dente Hcrculano Penna no praticara acto algum que pare-
ces eex essivo, compal'ado com o da administl'aflo Chichorro,
, assim como elle no tinha pretexto ba tante, Lambem no
tinha um principi pOl' cau a do qual fosse .legitimo ensan-
guentar a provincia. ultima hora, quando foi preciso le-
vantar urna bandeira, cedendo aos e.ugerados, elle levantou
essa da Constituinte, que nas mos de um pal'tido em armas
era a subverso da obra que se estava concluindo da conso-
lida~o do Imperio.
E tuuando imparcialmente a marcha do paiz, no se pde
deixar de estimai' o desfecho que teve o combate de 2 de Fe-
vereil'o (i). Se o Recife tivesse sido tOJ1;lado naquelle dia; se a
eolumna da Boa Vista tivesse poc! ido unir-se, vietoriosa,
que occupuu o bairl'lI de Santo Antonio, ter-se-hia daelo apenas
uma tremenda e inutil mortand:Jde, sobretudo verificada a

(L) N'esso ataque de 2 de Fevereil'o foram feridos, segnndo


Tosta, (discurso de 2() de Janeiro de 1850) cerca de duzentos le~n
lisLa~ e mortos mais de oitenta. " Os imperiaes, diz Borges da
Fonseca (O Republico de 2 de Fevereiro de 18M) perderam entre
mortos e feridos novecenLo homens. II O mappa organizado por
Figueil'a de Mello d como mortos cinco officiaes e oitenta e
cinco praas e como feridos nove ofciaes e cento e oitenta e oito
praas, do lado da legalidade; do lado da revolta d como mortos
duzentos homens e quatrocentos fel'idos. O calculo total nos di-
versos combates da rcvolur;o , segundo elIe, por parte do go-
verno 10 ol':ficiaes mOI'Los e 21 feridos, 303 praas de pret mortas
e 492 feridas; da pal'te da revolta 502 mortos, 1188 feridos, ou
mortos de ambos os lados 815, feridos 1701.
1GO UM ESTADISTA DO IMPERIO

morte de Nunes Machado (1). Na falta de um chefe de maior


ascendente, Borges de Fonseca teria ficaclo senhor da cidade.
A revoluo no tinha foras para sustentar-se muito tempo.
O ministerio estava tranquillo quanto ao resto cio Impel'io. A
qt!ietao do Rio Grande cio ui era profunda depoi de tantos
soffrimentos. Nem cm Minas, nem m S. Paulo, milito menos
na crte, o partido libel'al pensava em reCOITel' s armas. A
reaco deSetembl'o de 1848, como a de 1837, correspondia
a uma necessidade invencivel de repouso; o organismo aba-
lado precisava refazer-se peJo somno. O 1'esto do Impel'io,
escrevia Eusebio de Queiroz a abuco em Dezembro de 1848.
cnnsel'va.-se tranquillo apezar do mail exemplo dado pela
Praia; j se v que no paI' (alla ele vontade de certos
cabecilhas, que mito desejal'iclIn fazei' divel'so em (avor
dos seus amigos Pl'aieiros. Presentiu-se que essa seria a
ultima das revolue ; vja-se neHa a lio da experiencia que
faltava ao Norte, mas que j tivera o -'ul, experiencia ncces-
saria ao partido liberal para resignar-se vez do adver-
sario (2).

(1) Urbano repete por vezes no seu livro que Nunes Machado
foi assassinado ..... " Este assassinato fl'io, ha muito decl'e-
tado,' covarde e tl'aioeil'amente precl ispo to ... " p. 84. Figueira
de Mello discute a accu ao pg. 316. BOI'ae da Fon eca (no
Republico de 2 de Fevel'eiro de 185<1, Rio de Janeiro) conta assim
a morte de Nune :" O deseml al'gador Joaquim un Macllaelo,
que se achava nos Al'flictos, ao sabeI' que a columna da Boa Vista
estava sem aco, apl'esenla-se e no seu vivaz arl'el atamento no
attendenelo que fOI'a maior a inutili 'ava, avana, pl'oclama aos
cidados em armas, e 110 nobl'e Pl'oposito de ajudal'-nos pl'eci-
pita-se sobre o inimigo emboscado no Hospicio da Soledaele e
ahi recebe um peloul'o e mOI'l'e. "
(2) O sentimento da impl'olicuidaele das revolues e da neces-
sidade ele encenaI' o perioelo I'evolucional'io, s tornou-se geral
entre os libel'aes depois do 2 de Fevel'eil'o. Aquelle sentimento
foi expl'essaelo em 1850 com todo o vigol' da sincerdade e elo arre-
pendimento em nome do pal,tido pelo seu ])"incipal ol'ador na
Camara, Gabl'iel Roelrigue' do Sautos, no debate da lei chamada
ele corta-cabeas. " A esse respeito, disse o deputado paulista,
eu no tenho o minimo acanhamento em proclamar bem alto
(lue deve reputar-se muito firme e sincero o designio de PI'OS-
c~ever o::. meios violentos e as revoltas, q uallclo ti mallifestado por
A LUC'l'A DA FRAIA 101

No desenlace da revoluo I raicil'a o que ha a l.astimar


mente a perda de Nunes Machado (-l), obl'igado como vimos

aqt1elles que j tiveram parte n'ellas, que j vir'am de perto seus


pel'igos, que j puderam apre iar o atl'azos que ellas causam ao
paiz e . IroJ)l'ia opinio em cujo n me e pa!'a cuja defeza se
fizel'am. (Apoiados geraes e repelidos.) Sim, enhore, deveis ter
pOI' incei':! e tas de larae', po!'que"'\'o a' eguro que ellas
partem de um entimento de dI' quando contemplo o continuo
I'e""re o da publica liberdade' toda a vezes que a PI'ovoca-
es do pode!', a exacer'bao do offrimen to, ou as a Ilucina es
da olera e do de e. pel'o, tm levado e ta ou aqueIla provincia a
movimento materiae . (Se o de 30 de Ago to.)
I)

(1) Devo obsequio.idade do S!'. Bal'o de E trelIa a commu-


ni ao das t!'es caltas ineditas que se eguem e criptas por
Nunes Macha lo sua mui h I' a .-I'a D. l\laria Joan na Gomes ele
Machado que ficn.ra na crte. E ta cartas pintam bem o estado
de e pirito do chefe popula!' condemnado a uma lucta q1l3 no
approvava, ma de que a 'umia a respou abilidade : " Pernam-
buco, 15 de Dezembl'o de 1848. Filha, Recebi a tua carta que veio
ainda mai augmentar as minhas atribulaes por vel' o estado
affiictivo em que e t. o te consumas tanto e confia em Deus
que ei!e me lIa de alval', poi que no lenho feito mal a ninguem
e defendo a mai anta das causas. Estou felizmente de sade e
meus t!'abalilo , min has fadigas e suore , dou-os por bem pagos
uma "ez que consiga salva!' a minlla Provincia da ignominia e
da oppl'es o. -me mais facil monel' no ampo pelejando do que
con enti!' que se leve meus patricios a fel'ro e fogo como o est
I'llzendo o infame que nos gove1'l1a. Adeus, recommenda-me a
todos, tod . de no sa amizade e tu tem I'e ignao, pois est che-
gado o Lepmo de teus de. gosto. ; este o ultimo servio que devo
ti. minha Patl'ia : o pesto de minha vida para minha familia de
quem tenho ido muito de cuidado. PerdOa-me, minha Filha. I)

" Filha, Nem sade, nem ocego tenho. Vivo entl'e mil affiic-
r;e , cuidado e de 0'05tOS e tanto sofl'ro que j prefiro a mOl'te.
1 o fazes uma i lu do e tado d'esta terrai as per eguies, os
1Iol'rol'es, a matana POI' toda a parte, hOl'riyel; corre o sangue
em jorros e o govemo em vez de usar de clemencia s6 tem pa"!'a
o Pernambucanos polvol'a, bala, foras e pl'i. e ! Pois bem,
Dou est no Co e no deixal' que dure pOI' muito tempo a obra
da malvadeza. Estou compl'omettido at os 01110., no sei qual
sel' minha sOl'te, mas seja quatrOI', estou I'e ignado. TI, poi , tem
tu resigna o e confia na Divina Pl'ovidencia que no ha de um
dia dar descan o. Adeu . Pernambuco 28 de Dezembro de 1848. n
" Pel'namhuco, 30 de Dezembro de 1848. Filha, Ainda te CI'eyo
lI'esta cidade do Recife aonde me conservo I'odeado de aft1ic~es
e pel'igo . As coi as e to cada vez peol'es e eu no ei ajuizar
qual ser 0o/termo de tudo i:sto i seja, porm, qual rI' geealmente
102 UM ESTAnI TA DO IMPERIO

a entrar nella contra o scus prc 'entimentos e a sua razo,


pOI' um falo pundon r de chefe popular que no quel' er sus-
peito democl'acia.

III. - Caracter da agitao Praieira

No se pde deixar de reconhecer no movimento praieil'o


a fora de um turbilho popular. Violento, indifferente a lcis
e a principios, incapaz de pel'mittir em seu seio o minimo
desaccordo, empregando .'cmpre meio. muito mais energicns
do que as resisten ia' cxigiam, embriagando-se dos seus
excessos de autoridade : LuLiu i:;to exacLo do dominio da
Pl'aia, e esses so os cal'act'l'isticos pr prios da democl'a ia.
Ma a vCI'dade quc a PI'aia era a maioria, cl'a qua i o p ,-o
pe1'l1ambucano todo ('I), e o I ovo julga o seu dil"ito to
extenso como a sua vontade, 'obretudo quando lucta om a
ela ses que se servem das. delongas infiniLa da lei pal':\ con-
sel'val'em os seus pl'ivilegios e pel'petual'em os s us abu o .
Muito pl'ovavelmente a Praia I'epl'e entava a qu ixa de uma
pORulao adiantada de instin Los contra a sua triste conclir.fio.
O povo pel'nambucano fonuava uma democl'acia de fidalO'o ;
havia nessa plebe o sangue de muitas familias que e illu'-
traram, durante a guerra hollandeza uma outra. na Ind '-
pendencia, outras finalmente pela riqu 'za e posio so 'ia I.
Pela altma das sua. origens .'sa democl'acia tendia a . ubil"
sentia necessidade de elevar-se e as condics da provin ia o
------------------------
ha de haver muita de graas, muita lagrimas, muito lucto.
Deus te queira daI' 1'e ignao pal'a sotfrel'es os teus desgo. tos,
que se sou eu que te o causo, affil'mo-te que n110 e a a
miI1ha vontade, mais. im a fOl'a i1'l'esistivel de uma sOl'te ty-
l'anna. A.deus. II
As cal'tas so escripta com peculiaridades de ort1Jogl'aphia, e
assignadas - Nunes Maxarlo.
(1) O visconde de Ca.lna.l'agibe disse uma. vez ao con elheil'o
Joo Alfl'eelo que a Praia tinha til'aelo aos consel'vadol'es nove
d cimos ele populao, e que o cavalcanti_lllo tinha degenel'ado
pelo crime dos I'c.uqa.ta.ro , sen1Jol'es de engenho.
A LUCTA DA PRAIA 108

no permittiam . d'ahi a sua tendencia revolucionaria pcrma-


n nte.
O povo acreditava ter doi. inimigos que o impediam de
ganhai' a vida e adquirir algum bem-es tal' : esses inimigos
eram os Porluguezes, que monopolizavam o commercio nas
cidades, e os senhol' de enO'enho, que monopolizavam a
tel'ra no interior. A guerra dos Praieiros era feita a esses dois
elementos - o estrangeiro e o territorial (1); mais que um mo-
vimento politico, era a sim um movimento social. Ora, a dif-
ficuldade desse mo imento quanelo se organizam em par-
tido est em descobrirem uma formula que os :'1lisfaa em
seI' anti- ocia\. Uma ez I anLada a bandeil'a, a OJ"ganizao
tOI'na-se luasi impos ivel, p rque o interesses individuaes
se lhe oppem. O pal,tido Praieil'o foi um partido sem direco
e sem disciplina, pOI'que propl'iamente no foi eno um mo-
vimento de xpan o popular. Os chefes deixa am levar-se
pelo in lincto das multides que formavam o seu equito, em
vez de guiaI-a e de pI'Ocurar o modo pratico de :atisfazer, na
medida do po siv 1, o mal-e tal' que ellas sentiam sem o saber
exprimir.
Os Praieiros tm uma historia politica singular. Elle no
eram liberaes doutrinados, como foram posteJ'iormente os
liberaes de Pernambuco. DUl'ante a sil.uao liberal de 1844-
1818 a sua princi paI e mai imima alliana na crte foi com
a chamada faco aulica. Quando o Con lheiro Luiz Antonio
Barbo. a profel'iu na Camara a ua orao contra o cil'culo
lmarlo pelos corlezos em 1'ocla do thl'on5 , foi Nunes Ma-
chado (2), foi ()l'!)ano, Iuem lhe sahiu ao encontro, dizendo

(1) " A abe-~e ele uma vez com a introeluco de africano e


com a influencia politica que exerce no paiz es a raa de e tran-
oeiros q\le o Brazil ser alvo." unes Machado dissera na
Camal'a.
(2) E mais turde, na sesso de 1848, a famosa tirada: " O paiz
no aCI'edita nes e mexerico, o paiz s reconhece os podel'es
pstabeleci'dos na Con tituio, tudo is o a que e d o nome de
entidades de repo teil'os, todas essa impo turas e mentira, toda
es a joanna, ,e es farl'icocos, fl'n.des, padl'e , adherente , tudo
104 UM ESTADISTA no IMPERlO

que no aCl'editavam em nada disso. A c!l'putao praieira


votou as lei. do Conselho de "Estado e de 3 de Dezembro, que
os Luzias c nsicleravam o padro do de poti mo retrogrado e
contra as quaes os Feijs e os Vergueil'os acons Ihlram a
revoluo al'mada. Ellr.s guiavam-se pela e trella I olitica d
Au reJ:a no-. Tinham e. sa mistul'a de impul o elemocraticos e
de instinctos palaciano' to .commum em nossa I'aa. Apezal'
do talento de alguns elos seus chefe, nunca se viu um par-
tido mai inexpel'iente. Da incapacidade politica da Praia no
pr ci o ou tr'a prova seno a de s se ter ella ind nti fi aelo
com o rI' conceito vulgal' da nacionalizao dD c mmer io.
Foi essa a unica ida que ella nos deixou. o t do n eram
nem os re to do antigo republicanismo ele 1824 ed 183'1,
nem um nucleo liberal; o que elIes encal'l1avam el'a o descon-
tentamento sem formula concreta, s ln con. ciencia do que o
pde satisfazer. Por isso a democracia pemambucana pde
sempre ser facilmente captada e iIIudida, mas no achou nunca
quem a encaminhasse para o seu destino. Fazendo unes
Machado commetter um suicidio inglol'io n'uma revoluo que
elle I'eproval'a, elIa fel'e-se a si mesma mortalmente.
unes Machado fiC0U sendo at hoje o idolo popular per-
rwmbucano, a m mOI'ia querida por excellencia. Pedro Ivo,
na tradio republicana, o eclipsa, mas no cOI'ao do povo
no compete com elle, cujo nom ser o ultim a mOlT I'. E
que () povo pel' la aos que se parecem com elle, e unes
Machado n expresso das lualidaeles c dos defeito. pel'l1am-
bucanos. A sua roliti a, e lh tivesSl'm deixa,elo livre o
campo, nunca tr,l'ia melhol'ado, por'm, s peol'ado a con-
dio cio povo. A Praia morl'eu com elle, por ser lIe de todos
os seus homen" o unico que podia imprimir ao movimento
um cunho de genel' ,idade.
De um ponto de vista superior, Nunes Machado no mel'ece
vivei' no cOl'ao pernambucano mi"lis paI' exemplo do que o
eu advel', ario de tantos annos, o bal'o da Boa Vi, ta. Para
o Pernambu ano que se c01l0car fra dos partid s, o pl'eito
irnultaneo a um e a outro to natural como a Fel'l1and s
Vieira e a Mauricio de Nassau. Houve por certo exc1usivi mo
A LUCTA DA PilArA 105

no dominio Ca alcanti, e pOI' es e motivo o partido pel'lleu a


fOl'a 0111 que comeou, mas os homens que ahi1'uu dessa
e cola politi a el'am o, mai aptos para diriO'ir uma ociedade
b m composta. O que caracteriza es e pal'tido no a descon-
fiana do povo da democracia; o mais velhos desses ho-
men tinham ido at revolucional'ios. e um l\luniz Tavares
ou um V nancio de Rezende, conh ciclos pOI' sua tracli es
de 1817 e da Con tituinte, passava pal'U o partido da Ordem,
o Pl'aieil'os O"l'itavam contra a aposlasia; entl'etanto, e ses
hom n no muuavam de sentimentos, tl'ocando de partido;
II 8 o qlle faziam era mostrar qu o partido populal' perdia
o eu primitivo caracter e mudava a uas affinidade toda.
Em 18'17, por exemplo, fl'a a amada supel'ior da sociedaue
pel'Oambu ana, a antigas familias, 08 enhores de engenho,
os ricos pl'opri lal'ios, os que mai se apaixonaram pela Inde-
pendencia e pela re oluo. O que re tavam de sa gerao
no podiam pal,tilhar os prin ipio nem adoptar as maneiras
da eco extr ma da Pl'aia. Cada palmo que os jacobinos con-
qui tavam obr o libel'ali mo consel'vador, em que se for-
maram o homens do pel'i do constitucional, produzia uma
defeco das l1Ieiro' pl'aieil'a para a da Ol'Clem. duvido o
se a ma sa do pal,tido em 1 1:8 no estava j convencida da
insurnciencia dos us ch fe . Mais tarde os pri ncipaes Pra-
eif'os ou sentif'i', l/lmo UI'bano, o canao e o desgosto da
politica, ou, orno L pes et(.o e F lix PeixoLO deixal'- e-ho
fascinaI' pela educcs da realeza a que 'empl'e foram en-
siveis, ou finalmente, se l'econciliaro com os eus antigos
adver arios, como Abreu e Lima, Feitosa, Luiz Cesario do
Rego e tantos outm.
A I' voluo p rnambucana foi um el'ro depois unanime-
mente la tima<.lo. Elia foi c ndemnada antecipadamente por
unes Machado (1), julgada prematul'a pelo proprio Borges

(1) " Tanto estava a revolta fra. de ua vi tas e esperanas,


qll~ nos assomos da ul'pl'esa lanou ill1pl'eca~es contra o eus
all1lO'OS e alliados c pal,tiu na fieme le oluc'iio de fazer de al'mal'
o pal'Lido. II Urbano, pago 5.
100 UM ESTADISTA no nWERIO

da Fonseca (t), pelos Praieiros todo quc, accusando-se uns


aos outl'O'S de pel'fidia, afasLavam de i a ee. ponsabilidad (2).
Para o partidl liberal do Imperio eHa foi UI11 gl'iLO O'el'al de-
saltve qui peut. ElIe separou a sua oeLe da sOl'te dos Praieiro. ,
no momento quasi em que acabavam de defendeI' a revoluo
na Assembla Provincial do Rio e no C07'/'eio lJfercantiL os
seus mais hrilhan Les talen tos como alIes e Paranhos (3). Foi
o desastre de 2 de Fevereil'o que di. olveu o partido liberal
antigo, que de facto o fez desappal'eceI' da cena durante o
espao de uma gerao, e, quando resuscitou tran 'fol'mado,
elIe tinha POI' chefc os seu adver arios de 1848.
A revoluo de 181~8 em Pernambuco podia seI' des jada
pelo parLido conservador, to proveitosa Ih foi. O erro poli-
tico foi enorme. Se os Liberaes se tive" 'em implesmenLe I'e~i
gnado a esperar' a sua vez, a iLuao para o parLido que
subira teria sido quasi insu'stentavel na provincia. O exclu. i-
vismo da pequena aristocracia CavalcanLi era detestaLio m
Pel'llambucano. As exigencias do pal,tido eram excessiva.. e
no el'iam attendidas na Crte, O d putado con I' mJol'c
de Pel'llambuco Leriam que I'epre 'enLaI' na Camara o mesmo
pnpel de incontentaveis, d clem nto OuctuanLe, que os
Praieil'os desempenharam no pl'im i.,o de ennio do l'einado.
Com alguma habilidade, a Praia .tol'llar-se-hi.a o cen tI'O da oppo-

(1) II Quando se quiz tratar a revoluo que rompeu no dia 7 de


Novembl'O de 1 48 'onsuJtado por meus amigos dis 'e-lhes: pre-
matura, porqne nem temos munio de guerra, e nem ao menos
o accrdo da Pal'alJyua e de Alagas. " Maniresto de 27 de Mal'o
de 1846, em Fi<~LLeil'a de Mello, p. 386.
(2) II A co\urnna occupa o bairl'O desde a ponte da Boa Vista
at a ponte do Recire e espel'a j. pelo concurso que lhe promet-
tel'a o pedido l'etippe Lopes Netio que rOl'a o que mui' olicitrll.
I> ataque da capital, jlL pela colul11na da Boa Vista, que tinha
meno' obstaculo a vencer, " BOl'ges da Fonseca, O Repulico,
2 de Fevel'eil'o de 1 51.
(3) "No e podia j usti ficaI' a revolta, a nao no ap Pl'ovoua;
meus lesgl'al'a lo amin-os tm pOl'tanto de cedeI'. " Di curso na
A. 'embla do Rio, do di'. TlJomaz Gomes dos Santos, em 19 de
Mal'o de 18l!J, Tliornaz Gomes tinha ido indicado para pr si-
dente de Pe1'l1ambuco pela Pl'aia quando foi nomeado Custa I into.
A LUCTA DA PI1A1A 107

sic;o lib raI, O nucleo da situao fuLura. Em vez dis o a


infeliz I'evoluo veiu li enciar o pal'Lido no resto do ,paiz e
di 'olvel-o na provincia.
O efl'eiLo do 2 de Fevereiro em Pel'nambuco foi pI'ofundo e
dmadoul'o; os capitaes e o braos fugil'Um; os portuguezes
julgaI'am-se ameaados vendo-se suspeitos; as incluo trias
ficaram pal'ulizada ; a mi eria augmentou entre a pobreza.
Diante da nova situao os homens aba ~ado., tendo visto
que os PI'[)ieil' el'am indilTel'enLe SOI'te de sua propl'ie-
dade e de uas vida', pen 'al'am em appl'oximal'-se uns dos
ouLI'O. 111 P cLadol' da lu Las da provincia cujo e pil'ito
lucido o on~er ou s mpr impal'cial 11LI'e o pal'Lido, me 111
quando o ae mi anhava, de. cl'cve assim a tl'ansfol'll1ao que
e deu m Pernambuco, d po: de a signalar o odio da lIlaiol'ia
d{t pl'ovincia ao pl'edominio exclu ivo de meia dua de
homens:
A tolel'ancia gel'al do p,'edominio abusivo que lhe suc-
cedeu, (oi pOl' muito annos 1'esul.tado lIatural 'do cataclisma
com que os 1'evolucionw'ios constituinte ameaavam oB1'{I':.il.
Os homens pacificos e desapaixonados da lavom'a e do cOJn-
mercio, o desinteressados nas lides pessoaes da politica,
vimm as fontes da pl'oduco ameaadas, temel'am, qne as
paixes ad}'ede sobl'eexciladas chegassem a p I' em 1'isco a
p,'op"iedade, p,'esencia}'am afugentmnento do braos e dos
capitaes e o sttbseqnente definltamento das indnst1'ias, ca-
hil'am em ~i, vimm o caminho el'mdo pOl' onde estl'anhas
ambies os guiavam, 1'esi{fnamm-se l pl'epotenCt adminis-
t1'aliva, como anlidoto de veneno que girava na atmo phem
1'evoluciona1'ia. Elles e s elle ,pelo al'}'ependimento de uns,
pela inercia de muito e peta valiosa coadjuvaro de algnns,
fOl'am, os vel'{iadeiJ'os vencedol'es da Revolllo (1) .
O pl'cuominio ab oluLo cl pal'tido conservador em Pel'nam-
buco at IBM fui () resulLado do de a tl'e de 2 de fevel'eil'o (2).

(I) oticia bio{Jraphica do Conselheiro F. X. ele Paes Bar-


feito, pelo dr. J. J. d MOl'aes Sal'll1enLO, pa"'. 25.
" No se ds e a. 1'6voluo de 18,18 c os pl'eclominios pes-
iOS M ESTADI TA DO IMPEmO

IV. - O Julgamento dos Rebeldes.

Como juiz dc d;l'eito do cl'ime cabia a Nabco presidir o


jUI'Y que tinha dcjulgarosrcbelde do Recife e que se reuniu
em 11 de Agosto de 1849. Devia ellc recusar esse posto e
dar-se de 'U peito? Adversaria lolitico dos presos, erta-
mcnte elle o el'a e convencido de que s I'ia um desa tl'e para
a causa da ol'd m e tambem para o seu panido a ab olvio
dus ros, N'e sas cil'cumstaocias estada obrigado a abandonaI'
dUl'ante ,) proces o a cadeira de Juiz? Elle entendeu que no,
que pclo c::>ntl'aro tl'ahil'ia o seu devcl" ac itanc10 a u peio.
A que 't&0 era (las mais comrlicadas e dirnceis pal'a as idas
do tempo e o estado social de nUlo. A pl'imeil'a concluso
a que se chega que se de era e tabelec I' a mais abso-
luta incompatibilidade entl'e a judicatlll'a e a politi a. Como
conseguir, porm, de UIO magistrado rue deixe de ,entil' vi-
vamente como os OUtl'OS cidados sol)J'c a cau a I ublica? A
incompatibilidade, qualluel' que fos e, no fal'ia om quc
o juiz de tal pI' cesso no tive~sc ao OCCU! aI' a pl'c:;iden 'ia d
jul'Y opinio PI'opt'ia. e no fosse um juiz conservadol" sus-
pcito aos accusados, sel'a um juiz lbel'al, su peito auto-
ridade.
Em um processo sobre o qual a 01 inio tocla se achava
dividida em dois partido'. O 'I'os p diam fallal' ao scntimento
do jury, justificai' o scu pl'ocec1imento individual, a re\'olu o
me mo, e tinham o direito de exigil' do juiz pr 'idente a
maior impal'cialidade e respeito absoluto s libel'dadcs da
defesa; no podiam exigir, porm, que elle fosse um indifrc-
rente ou um amigo polili o e no regimcn da magi tl'atul'a po-
litica tinham de sujeitar-o e a que 1'0 se um advel'saI'io. D'es e
regmen de magi tratura politica os pl'aicil'os ainda cl'am
mai culpados. Se na pl'csidencia do jUI'Y o juiz esqueccssc
o mini teria que descmpenhava para influil' no julgamento,

soaes de quaLol'zc annos sel'iam absoluLa.mente Impossiveis. "


Sal'JJ1enLo, Ibid. pago 26.
A LUCTA DA PRAIA 109


ento teriam os aeeusados os reeursos da lei e direito de
infamaI' perante o paiz o juiz perseguidor. -abuco conhecia-
se bem como magi trado e no temia de sua parte a Illenor
quebra do seu dever e imparcialidade. Adversal'ios politicos,
o rbs e tavam longe de ser seus inimigos pessoaes. O crime
d'elles perante a I i el'a um crime meramente politico, su-
jeito portanto qualquer que fo se a pena do codigo sentena
da opinio e reviso do Poder Ioderador. E e crime no
podia el' negado, era ao contrario confe. sado por honra
me mo do accu ado, ua unica e peranc;a, se houve e,
consistindo m podeI' formal' um tl'ibural de correligionarios
seu. Em tae circum lan ia. abuco dnha perfeiLa cons-
iencia de que no ia aggravar com a sua presidencia a po-
sio dos accusado. m pr ce' o recente em Fran a, o do ge-
neral Buulangel', mostl'a qu a consciencia no repelle que se
eja juiz do adver al'io politi o. abuco, porm; no ia el' juiz.
Para jura lo, elle teria jUl'ado uspeio; no posto de presi-
dente do jUl'Y, sentia- e cima d' lia. ua dignidade de juiz
e tava mpenhada em uma impar ialiclade pel'feita. Era habil
e licitu da palte do accusado denunciai' a qualidade lio
proces o pela pe soa ao juiz de direi to. ElIe abia, por,m que
nenhum d'es es homens lhe in pirava I'esentimento pessoal ou
odio politico j cada um d'elle qua i ser indicado por elle
depois pal'a alguma 1osio e nenhum Ih retieal' a estima.
Da onel mnao ele Abl'eu Lima, redactoe do Dia'rio lYovo, o
oego violento da Praia, elle app lIar na entena. Os outros
tinham id os ch fes da I'evoluo, m linguagem cl'iminal
os cabea. A pena que ao pre idente do jury cabia iillpI'
el'a a de pei o perpetua, mas, apezar da lei no Ih deixai'
outro arbtrio, no devia a mo de Nabuco tl'emel' ao cscI'evel-
a : elle sabia b m que essa pl'iso pel'pelua dUl'aria apenas o
tempo de se acalmarem os animos e de deixaI' de seI' peri-
gosa para a ord m publica a liberdade elos chefes praieil'os. Ao
ser lavrada a sentena j diversas amni tias tinham sido on-
cedidas p lo pI'oprio Tosro estava a peo i ncia sob a Il'e i-
dencia de Carneiro L o, mandado a P rnambu o pal'a im-
pedil' os excessos da reaco. Proferindo as sentenas que a
110 UM ESTADISTA DO I. [PEHlO

lei impunha ao presidente do jury ou ao auditOl' de guelTa,


abuc tinha cerLeza de que a condemnac;o seria em pouco
tempo nullificada pela amnistia. O l;empo da priso cra pra-
ticamente indiffeI'ente, fosse pel'peLua (no maximo), de vinte
annos (no media) ou de dez anno (no minimo), pOl'que s6
dlll'aria, de facto, o curto tempo preciso paea se esquecei' a
revoluo (1).
Fra melhor para Nabuco ter elle podido deixar sua
cadeil'a de juiz n'esse processo, mas segundo as ida do
tempo seria isso uma deserc;,o que animaria todos a aban-
donarem do mesmo modo a defesa da sociellade. Em um
d'esses caSliS em que a opinio cio individuo envolvida e
dominada pela opinio do pal,tido e pelo entimento da
poca. (2) Se Nabuco reeu 'asse, o seu substiLuto sel'ia

(1) Urbano diz no cu li'l1'o (pag. 228) que os accusado foram


todos condemnado :i pena de ])('iso perl ctua com trabalho. TO
mesmo livro, porm, vem tt-anscl'ipt::L (pag. 40D) a entena" (i
(lena de priso perpetua simples, gl'au maximo do art. 110 do
Codigo criminal, combinado com o artigo 4D do mesmo codigo o
nas custas. O grau maximo do al't. 110 cI'a realmentc a pl'i o
I)

pCl'petua com tl'abalho, mas o juiz do dil'eito para impul' a pl'i o


simples ref61'iu-se ao al'L. 49 cuja disposio cra esta: " Em quanto
se no estauelecerem a pl'i -es com as com modidades e alTanjo
l1ecess~\;I'ios pal'a o tl'abalho dos ro , as penas de pl'i o com tra-
halho sel'o substituidas pela de pl'iso simples... I)

(2) A dilrel'ona das idas da poca I ara as dagcl'a(;o seguinte


exemplifica-se bem com a ordem de HonoJ'io offel'ec ndo um
pl'emio para a captul'a de Pedro Ivo e Caetano Alves. Eis como
Eusebio, ministl'o da Ju tir;a, sustentava cm 1850 na amal'a o
acto do Presidente: " Leia o nobl'e deputado' a pOI'tal'ia do
Sr. Honol'io e convenccl'-se-ba de que cm vez de pl'ovocac.'
ao assa sinato, ha um estudo muito sensivel, um esfol'o muito
patente, para desvanecer qualquer ida imilhante. Se o nobre
deputado entende que tres contos so estimulo Eufficiente para
conduzir ao assassinato, deve ento reconhecer que outros tres
contos so estimulo mais que sufficiente para impedil-o, e n'cste
sentido, se quem o trouxesse morto recebia tres contos, mais tl'es
recebia se tr'ouxesse vivo. Mas o Sr. Bonorio no se contentou
com isto: a simples apresentao do homem vi"o bastante
pa1'a immediatamente se pagai' o premio, mas p.l'a pagar a
metade na outra hypothese o Sr. Honorio exigiu como condio
indispensavel a prvia e com pIela jusli(-jcao da resistencia para
excluir o assassinato. " Pal'a Bonorio Pedl'o Ivo no fazia mais
A LUCTA DA PRMA 111

um adversaI'ia que no se dada, esse, por suspeito (1).

obl'a de I'ebelde. A guel'l'a civil da. matla, como elle chamou


re i tencia do Agua Pl'eta no tinha pal'a elle caracter politico.
A respeito de Honorio e Podl'O Ivo ver ainda capitulo V.
(1) A que to do jUI'.Y do Recife foi levada Camara na ses o
de 1S-0. Discutiu- e pOl'm, principalmente a compotencia do
jUI'Y dacapital pal'a conhocol' da rebellio que alli mesmo se del'a,
fundan lo-se a opposio no ai ts. 93 da loi de 3 de Dezem bro. N'esse
dehato abu o deu a razo por que no 'e tivera por su peito:
o me doi de suspeito, di e ello, porque entendo que trabiria
o meu devei'. A dif rcnc;:a de opinio politi a no me inhabilitava
pam el' juiz, a meno que no e tabelea o principio de que
cada partido dova ter o . eu juize. Darei mai uma razo pal'a
no me con idel'ar uspeito. Algun' dos 1'60 que compal'eciam
bal'l'a do tribunal, quando eu Ola juiz do Civel da Comarca do
Recire, tinham pl'omovido a uas demandas perante mim,
havendo ali outl'O juiz do Cvel da sua par ialidade, e pois
eIles mesmos reconheciam que por causa de dilferena politica
no I'a eu su peito. (O SI'. Souza Fl'al1co . - Eu s6 fallei na
incompetencia). Fallou na mo da presidencia, o que quer dizer
isto seno que a predencia havia. influido no jury?
CAPITULO IV

A LEGISLATURA DE 1850-1852

I. - A Sesso de 1850.

Nas eleies de 1849 Nabuco obteve o quarto logar da


lista. Antes delle vinham mente o Baro da Boa Vista,
chefe do partido, lUaciel Monteiro e eha tio do Rego,
ministros do 19 de .etembl'o ('1837)0 esse tempo a sua
inlluencia no partido da Ordem el'a gl'ande. EI'a a elle que
se dirigia Paulin pal'a que fizesse incluil' o nome de To ta
na lista senatorial; a elle tambem que este ultimo mandava
a sua desistencia, ao vel'i "lI' qu a sua el io desgu tava
Boa Vista e os outros candidatos pernambucanoso
A opposio ao nome ele Tosta era geral; alem da com-
petio elos personagens politico da pl'ovincia, ancio os por
ntrar no Senaelo, ('1) obstava a essa cundidalul'u o muito
que se havia escripto contl'a a apresenlao de Chichorro e
Ernesto Frana no tempo da Pl'aiao Nabuco entendia que
Tosta devia sei' incluido na chapa por julo-al' que os seu
servios em 2 de Fevereiro tinllan sido incompal'Uvei 'o

(1) Excepto Maciel Monteiro, cujo tl'ao el'a o dandJ'smo e que


renunciava a senatoria pal'a o no suspeital'em de iel' a eduele
le3:l1. Elle nasceu em 1804; ail'azava apenas seis annos.
A LEGISLATURA DE 1850-1 52 H3

Es revendo a Eusebio a proposito das graas pela defesa do


Recife dizia elle : - ([ O Tosta no devia sei' equiparado a
ninO'uem . As difficuldades da candidatUl'a eram, pOJ'm,
invenciveis; elle previa celta a sci o do pa1'tido pelas
militas ambies que esta.vain em campo e o 1'isco de uma
clel'l'ota que sel'ia fatal
l). Por outro lado, escrevia elle a
Paulino,no me considero o mais proprio para faze?' essa
sciso e pr-me f1'ente do negocio p01'que sou Bahiano l)

- como Tosta, - cc p01' consequencia suspeito, e impotente


cont'ra o bai1'I'i mo que s poderia se1' a1'J'ostado pelos filhos
de PenLambllco.
Em Dezembro de 1849, Nabuco parte do Recife para tomar
assento na Camara.
A sesso abriu-se em 1 de Janeiro de 18O. Era uma
Gamara conservadora, tendo apenas pal'a quebrar a unani-
midade a figura de Souza Franco. A Camara para abuc era
muito differente j da de 1843. Tambem nesta ultima o par-
tido liberal e Lava representado qua i s mente por uma indi-
yitlualidade, o velho Rebouas, mas n'aquel1E: tempo os libe-
ra sentiam-se fortes, tinham uma alliana poderosa na
faco alllica, chefes prestigiosos no enado: Alves Branco e
Paula Souza, que agol'a se extinguiam. Por outro lado, o
partido con e!'va lar tinha m '1843 na Camara alguns dos
scus pel'sonageo' consulares, Tones, Paulino e Eusebio,
Agol'a em ahi Eusebio a personalidade unica; o manto de
Vascoocellos, levado pela febre amarella no 1 0 de l\1llio, ia
cahir-lhe sobre os hombros, Ouvia-se apenas de vez em
quando alguma voz do puro timbre antigo, como a de Maciel
Monteiro, que recordava os dias' da Regencia; os sobrevi-
ventes do primeiro reinado, como Abrantes, Olinda, estavam
no Senado; a Camara era toda segundo reinado, os moos
que tinham comeado depois da Maioridade representavam
os primeiros papeis. .
O gabinete era um dos mais fortes e mais homogeneos
que o paiz teve; fazia lembrar o de 1837. Com a retirada de
Olinda a coheso se firmou ainda mais. Olinda no podia
ser chefe de chefes, uem servil' com o 1111 pCI'ador seno pouco
1. a
ii4 UM E~TAOlSTA DO IMPERlO

tempo; faltava-lhe a flexibilidade preci a para ceder. Elle


tinha em tudo idas propl'ias, sentimento ou antes precon-
ceitos que ninguem podia modificar. Da ua situao de
Regente ficara-lhe um orgulho natural de :er o primeiro
idado abaixo do Imperador, uma especie de Vice-ImpeI'adol'
permanente, e com a sua illustl'ao, as tradies de govemo
que repl'esentava de de 1823, o i ncompal'avel repel'torio ad-
mini trativo que possuia, esse orgulho tolhia-o de abdi ar em
homens que, quando elle j estava no fastigio, ainda no
tinham ntrado em politica.
Elle, todavia, no podia exercer o com mando por se sen-
tir, apezar de tudo) homerQ de outra poca. N'cs e, como DOS
outro gabinetes que desde ento elle preside, o seu poder
todo nominal ; em '1848, em '1857, em 1862, em '1865, elle tem
o primeiro logar, nada mais; a politica faz-se em redor de
outros, a quem elle a deixa. At ao (lm elle 'e mostra fiel s
boas tradies: assim que os mini t I'ios so todos com-
postos de homens feitos, de primeira ordem, independentes,
influentes; no procul'a cel'car-se de individuas secundarias
que o no oITusquem ou se mostrem obedientes por lhe
deverem a. promoo ; governa com os chefes de partido,
com todos os que querem servil'; no por culpa sua se
algum dos mais notaveis fica de fl'a, mal encobl'indo o
desejo de substitui l-o mais tarde; todos os que esto na
l)l'imeil'a linha, elle os convida.
Foi realmente um mini teria forte esse que suppl'imiu o
tl'auca, dominou a revoluo de Pernambuco, dr-rrubou
Rosas, e ao mesmo tempo lanou a base de gl'andes refOI'mas
e melhoramentos que mais tarde se realizaram. Politicamente
o anno de 1850 caracterizado por grandes contratempos,
nesse anno que o cruzeiro Inglez comea a fazer presas
em nossos portos e aguas territol'iaes em cumpl'imento da
lei Aberdeen, o que mo tra que a Legao lngleza estava
onvencida de que com o partido consel'vador tinham subido
[:0 poder os protectores do trafico e que el'a preciso fazer

maiol' pl'esso sobre elles do que sobre os Liberaes, que


tinham provocado no governo o adio dos gl'andes tI'aOcantes.
A LEGISLATURA DE 1850-1852 115

o gabinete conservador, entretanto, respondeu a essa inter-


veno Ingleza tomando as mais energicas medidas, fazendo
votar a lei de 4 de Setembro de 1850 e extel'minando de um
golpe o pujante comm l'cio afl'icano. A opposio, bem como
o Foreign Omce, attl'ibuir a aLtitude do gabinete pres o
do cr~zeiro lJ.lglez; Eusebio, porm, affirma que essa presso
apenas tornou mais difficil a execuo do pensamento as-
sentado antes em conselho de ministros. A verdade que
sem o intel'esse tomado pela Inglaterra na questo do trafico
este teria tido foras para inutilizar qualquer vigilancia do
governo, e lue depois de cel'ta poca a aco conjuncta do
cruzeiro Ingl z no AtbnLico e da autoridade brazileira em
terra concorreu, em pal'tes iguaes, pde-se talvez dizer, para
impedir o renascimento da sCI'avido no mar.
Ao mesmo temp , no Rio da Prata surgia uma grave
complicao. Rosas no se contentava de ul'calmsar em
Palermo los salvajes unitlt1'ios, tinha plano. mai: ambiciosos
do que a suppe sso dos seus inimigos, mesmo para fazeI-a
e:quec.er. Em gel'al essas crueldades monstruosas correspon-'
dom nos tYl'annos moderno, a sonhos naciones extrava-
gantes .. Rosas visava a recon, truco do 'vice-I'einado e
Oribe no que tocava a Montevido era o instl'umento dessa
aspirao, que est no fundo do pat)'iotislUo argentino. Essa
attitude de Rosas ameaava o Rio Grande do Sul e tomava-
se intoleravel pal'a o Brazil j por isso, o governo resolveu
. assumir uma attituae enel'gica, que podia chegar at guerl'a.
A l'esoluo tomada pelo minjsterio com o Imperador, (1)
determinou a retirada do Visconde de Olinda, que no via

(1) O Imperador tinha manife tado antes a Eusebio estar satis-


feiLo com o ministel'io, mas no com o Presidente do Con:elho.
" Quer V. M. que eu communique isto aos meus collegas?
perguntou-lhe Eu 'ebio. O Imperado!' disse-lhe que no. Dias
depoi " porm, fez-lhe a mesma declarao e dessa vez auto!'izou
o a fallar aos collegas. Olinda declarou ao ministerio que confi!'-
mario. qualquer explicao que dssem da silo. sahida menos a !lI!
doena. Concordou-se em allega!' a di.vergencia, que era real,
obl'e a I olilica no P!'ata. O conselheiro Joo Alfredo teve esta
revelao do pl'Oprio Eusebio.
116 UM ESTADISTA no IMPERIO

('om prazer uma interveno de resullaelo incerto e que, se


fosse infeliz, podia abalar o thl'Ono. Eram as recordaes do
primeiro reinado o que enlibiava o velho estadista. Paulino
de Souza, sectario da politica de interveno e de influencia
no PI'ata, entrou para a pasta de Estrangeiros, passando a
presidencia do Conselho ao minislro do Imperio, o Visconde
de Monte Alegre (8 de Outubro ele 1849).
Monte Alegre era um homem muito elifferente de Olinda.
No tinha nem a mesma intelligencia nem a mesma instruc-
o que elle, to pouco a sua autoridade e a sua posio;
tinha, porm, um caracter muito mais agradavel e insi-
nuante, uma ealma desprevenida no julgar dos factos e apre-
ciar os homens, propria de um homem do mundo para quem
a politica se figurasse um salo e no um campo de balalha
ou uma casa de jogo. Cotegipe, que perlenceu sua roda,
costumava dizer que Monte Alegl'e foi o melho1' bom senso
que elle conhecera, pondo em segundo logar a Caxias. Esse
ex bom senso era a combinao do sangue-frio com a expe-
.riencia, uma disposio optimista, que fazia tomar os homens
pelo que cada um tinha de melhor e no pelo que elles pro-
curaiam disfal'ar e esconder. Olintla era um solitario de
gabinete, que a surdez ainda mais isolava e concentl'ava;
Monte Alegre um homem de sociedade, cercado sempre de
uma roda de amigos, na qual no havia atlritos nem a pe-
rezas. ElIe no tinha nenhuma dessa electricidade que os
politicos doutl'inarios descarregam sobre o infeliz a quem
acontece atravessar algum fio invisivel da sua rede de idas.
Nabuco apoiava o ministel'io com interesse, sobretudo por
causa de Eusebio que lhe mostrava a maior confiana. Entre
os dois havia muito de commum : o mesmo espirito conser-
vador sem pa1'ti-p1'is, a mesma especialidade administrativa,
a mesma benignidade de caracter. As suas faculdades eram
differentes. Nabuco em primeiro logar lidava com idas ou
principios, em segundo logar com factos, era assim um
idealista, idealista positivo; Eusehio lidava exclusivamente
com factos. Nabuco era um pensador, tinha uma imaginao
creadora em constante actividade, o que o inhabilitava de
A LEGISLATURA DE 1850-1852 117

alguma f6rma para o lado pessoal da politica, para attender,


o ql!-e 6 tudo em politica nos paizes pequenos, aos interesses,
neces idades e exigenciaes locaes; Ellsebio era um chefe de
partido, um arregimentador paciente e systematico, um
conhecedor de homens, feito para agradar a uma Camara de
politicos; tinha qualidades femininas de voz, de maneiras,
de seduco e de caract r, alliadas a uma grande energia;
era um homem de gabinete, de funda intuio politica, (1)
que sabia supel'iol'mente fazer trabalhar, impulsar, tirar de
cada um o que podia dar de melhor. A preponderancia das
faculdades superficiae extel'iores far com que elle .se torne
exclu i amente um chefe de partido aquarema, por i so a
intelligencia e retrahir, perdel' a elasticidade, o movimen to,
o podei' de renovar-se, estagnal'. A vida de Nabuco toela
interiOl" cel'ebral, e at o fim a intelligencia que se desen-
volve, que trabalha, que o faz viver, o que pela fora das
coi as o tOI'nal' improprio pal'a tudo que em politica com-
petio pessoal, lucta ephemera pelo poder, conflicto de inte-
resses secundai ios.

(1) O eguinte trecho de Eusebio em 1851 mostl'a bem a aILura


a que elle se podia elevar na tribuna. So palavras que fariam
honra a qualquel' gl'ande e tadi ta do mundo: II Pela minha
parte declaro, 1'. PI'e idente, que o principio do salus populi, o
pl'incipio da dictadura aconselhada pela circumstancias extl'a-
?I'dinal'ia , no mai qu o te temunho "ivo da impeefeio das
instituies humana, sempre incompletas, sempre imprevi-
denle. ; elle I'evela a imperfeio da' leis; por consequencia
tanto mai lJeef'eita a legislao do paiz quanto menos numero o
so os ca o em que os homens de poder se achem aulol'izados
paea recol'rer ao salus populi, pal'a occorrer- e . dictadul'lL
das Cil'cllln. tancia extraordinarias. dever do corpo legislativo
regular e sa hypothe e. empre que po ivel prevl-us, por-
que, SI'. PI'e idente, pal'a o. homens di po to empl'e a temer os
abusos do poder pI'eci o confe ar que muito mm' pel'igoso o
governo desde o momen lo que elle pde dizer ao paiz : - As leis
no so sl~ffleientes, a Constituio no basta, trata-se da sal-
vao pulica, eu tomo sore mim a responsabilidade, do que
quando, chegadas e sas circumstancia" extl'aordinal'ia~, o go-
"el'no, de larando o e lado de guerra, v ampliados os seus
podere pela lei. mas encontra. neIJas Iam bem limites que no
pde tl'Unspr.
118 UM ESTADISTA DO IMIJERJO

A evoluo politica dos dois espil'ito ser tambem di'ITe-


rente: Eusebio torna-se cada vez mais conservador, isto ,
resume-se, aperta-se cada vez mai$ nas ideas familiares, no
principios profes ados na sua madureza, como um genel'al
que se concentra e se entl'incheira medida que perde ter-
reno, Nabuco, pelo contrario, cada vez se expande mais,
tendo como todos os que vivem ss um campo muito mais
vasto para as suas combinaes. Maiores do que as diCfel'cn-
a 'eram, porm, as semclhanas. Um e ou(,ro so exclu 'i-
vam nte minisl1'OS da Jus l'ia , conecntram a ua a li\'idade
no direito; um e outro so pOI' na(,ureza reformadol'es;
ainda que preferindo pI'Qcessos differentes, Eusebio e Nabuco
em seus dois longos ministerios tocam m tudo e Nabuco
em muita coi a no faz seno seguir as pi adas de Eusebio,
realizai idas que o outro apenas lanou; um e ou(,ro do
mais importancia aos factos sociaes de ordem e cal'a (,er
fundamental, como a justia, a ol'ganiza o do direito, a
religio, a moral publica, do que aos accidcntes da politica,
- o que quel' dizer que 'o ambos estl'uc(,uras conserva-
doras solidas e Jal'gas, qualquer quc fosse o gl'au do seu
libcralismo, o libel'alismo no sendo, eno o contl'af rte nc-
cessario das altas pcrpendiculares do edificio, ou lambem um
espao) maiol' de arejamento, de de afogo para as ma' 'U
accumuladas dentro.
Nessa Camara de IBM Nabuco, mais do que na de 1843,
visa a uma e pecialidade e se encerra nelJa. Alguma vez que
tl'ata de politica desculpando-se de tel' sahido de seu tel'reno.
O seu papel sustentar as reformas de Eusebio, os pequenos
projectos parciaes, chamados na poca cal'fetilhas, com que
elle queria evitar, como acontece com as grandes refol'mas
complexas, a colligao fortuita de interesses hetel'ogenens
contra cada medida. Tambem nas camaras unanimes os
gl'andes estimulos desapparecem, deixa de haver lucta" o que
pde existir smente o desejo de sobresahir. Ha no retrahi-
mento de Nabuco uma certa timidez mOI'al, elle deseja no
ser tido por ambicioso, mas ha tambem uma desconfiana
invencivel do seu talento e dos seus I'ecursos, que o
A LEGl 'LATURA pE 18 0-1852 119

grande defeito da sua organizao, ElIe parece achar que


no vale a pena dizer o que todos pensam, - o que ,
entretanto, a grande opportunidade do orador, - e que
perigoso dizer aquillo em que ninguem pensou, E sa pre-
occupao de tal ord m que para o fim da vida elIe prefe-
I'ir no dizer nada que no po sa cOl'l'Oborar com uma
citao. Qualquer receio que se in. inua em um omdor de:-
tre a metade da sua aco. Apezar disso, porm, desde que
o dever ou as circumstancias do momento o arra tam
tribuna, a. originalidade do seu pen amento vence sempre
as suas hesitaes. A sua faculdade de iniciativa triumphar
em todas as occa ies, ma fazrndo-o ol'fl'er.
O segl'edo de a timidez talvez, com certeza o foi na
ultima phase da sua vida, que lhe faltava certa frma littera-
ria D, e elle que tinha outra fI'ma muito upel'ior de pen a-
mento, a frma juridi a, que se expl'imia natUl'almente em
linguagem de direito improvizava em sentenas ou oraculos,
he itava em ompetir om a declamao ephemera de ora-
dore de momento, curva a-se aos triumphos de occasio. A
ua organizao de juiz inhabilitava-o tambem para as tiradas
eloqu nt da paixo politica. A sua eloquencia era toda feita
de pen 'amentos, de conceitos; para ser apreciada em eu
valor na tl'ibuna exiO'iria uma longa pau a entl'e o periodos,
que o auditorio tive se tempo de pen ar o que ouvia, assim
orno o leilor pil'a em cada phra e que le; a eloquencia falIada
, pOI'm, pOI' sua natureza uma torrente e quanto mais turva
e bat'l'en la mai' forte.
a se o .de 1850 como nas seguintes de a legislatUl'a
os seus discursos ver arn todos sobl' queste' de direito ou
de ju. tia. De um dellcs transpal'ece a resolu o, que j se
e lava formando no seu espil'ito, de deixar a magistratura e
fazer-se advogado. ElIe sentia a anomalia de ua posio.
No ba la que o magi trado seja recto, justo, dizia elle na
esso de 10 de Abl'il, pl'eciso que elle seja tido como tal
aos olhos do povo para que a ua autol'idade tenha o respeito
de todos. O magi ll'ado politico pOI' mais esforos que faa
para ser justo, pal'a ser recto, paira sempre uma certa SU5-
120 UM E~TA[)JSTA DO IMPERIO

peita de pareialidade sobre eu actos que destr6e a Cora


moral que lhe mister. )) Alm da anomalia havia injustia:
A magistratUl'a vive d acorooada fi sua vocao, em
seu futuro, por causa dos nJogistrados poli ti o ,porque o
estes 6 que gozam das vantagens; mas desde que as hOl11'as
evantagens da magistratura forem exclusivamente da magis-
tl'atura, a magistl'atura ha de ter uma vocao. 1>
Desde ento elle torna-se o procurador da magistratura na
Camara. Quando se discute o projecto para a classificao das
comarcas, o qual deve garantir os magistrados contl'a r mo-
6es onerosas, occorre-Ihe a sua propl'ia xperiencia, a remo-
o do Recife para o Ass : cc A utilidade publica exige m
certas circumstancias que o magistrado seja removido, mas
no que seja incommodado, opprimido e desterrado. A
Constituio admitte as remoes nos casos e na f6rma por
que uma lei regulamen tal' o determinar; por consequencia
a Constituio no' consagrou a inamovibilidade dos juizes.
Se este principio da inamovibilidade fosse estabelecido em um
paiz como o nosso, onde a responsabilidade ilhJSOl'a, onde
a sanco moral nulla, a magistratUl'a assoJ.Jerbaria Lodo.
os poderes do Estado, seria um poder terl'ivel e perigoso.
Partidario da independencia da magistratUl'a, ninguem todavia
conhecia melhor do que elle a resi. teneia que ella podia 0PPl'
autoridade, e nesse tempo, em que a reorganizao da auto-
ridade era a principal pI'eoccupao, a e 'cola conscl'vadol'a
julgava indispcnsavel acautelaI-a contra todos os advcl'sarios
possiveis, mesmo contl'a o juiz.
Supponde um magistrado que no conspi~'a, vcrdade,
que no toma pal'te mesmo em uma rebellio, mas que domi-
nado pelo espirito de faco nullifique a policia, impe a a
aco da autoridade administrativa, etc., llizei-me : esse
magistrado pde continuar a ser juiz no mesmo 100'al'? Em
um raiz como o nosso, onde a sanco moral est oblitel'8da
pelo espirito de partido, onde por essa razo no ha empl'e-
gado algum preval'icador que no seja um anjo de pureza,
dizei-me: n'um paiz como este deve-se tirar toda a aco do
governo sobre a magistratnl'u? Til'ai ao govcl'no o dir-eito de
A LEGISLATURA DE 1850-1852 121

remover os magistrados nestes ca os e teremos um statlls ll


statn, uma maO'i tratura terrivel tanto mais terriyel quanto
n abcmos que a maior parte della est envol\"ida nas luctn.
do' partidos, extl'aviada pOI' ambies politica. abeis o que
um poder as im con tituido, scm contl'apeso, em relao
de dependencia, e ubordinao e harmonia com os Out1'OS
podel'es? uma provocao constante de desol'dcns e revo-
lue', um gel'men de conllictos e reace . (Sesso de
17 de Abl'il).
Da mngi tl'atura elle trazia assim a consciencia do vasto
poder qu lia tinha em suas mo, do e pirito partidario
qu a viciava e da ncces idade d al'mar o goyel'no contra o
seu ahu o. ; ma lIe queria tambem pl-a a abrigo das
rcac- c. politicas, do acto de pel' eguio, isolal-a da poli-
tica, tomaI-a dc facto independente para a administrao da
lei, superior aos poderes quaesquer I[Ue fossem.

Nabuco mostrava-se de de 1843 um legi lador prtico, que


procurava resultados po itivos para a sociedade. El'a com
este intuito que elle invocava ol'a um, ol'a OUtl'O prin ip:o
c nfol'me o p I'igo el'a o exce o de autoridade ou deanal'chia;
cone I'me a pr potencia lhe par cia pl'ovir do O'OVCI'no, ou
do mlO'i~tl'ado ; o que lIe no , e 'cravo de nenhuma thcol'ia,
de ncnhum systema abstracto. A sua mobilidade espanto a;
o. que o v"m indicai' o pel'igo d um la<.1.o e logo <.1.0 lado
oppo. to, julgam-n'o incoh I' nte, ma que a e trada cone
entl'c pl'C 'ipicio e que elle olha dil'eita e esquel'Cla e no
v6 os ai y mos s6mente d - uma mal'gem. O que vm es e
jUl'isconsulto pedil' ora .uma medida ol'a ouU'a qe lhes parece
diam tl'almente contl'al'ia, esquec m que o dil'cito, como todas
a exi t ncias humanas, sobl'etudo as creaes de moral
social, tm antrs de tudo bl'igao de viveI'. Mais longe
tel'emo occasio de julgar' detidamentc essa dualidade de
conce( o quc faz com que Nabuco, o defen 01' e patl'Ono
constante da indep nclen ia e pl'edominio da magistl'atUI'<.1,
seja o maior do intcl'pl'etad I'es da lei pOI' aviso, o llbju-
gadol' . ol'lhodoxia ministel'ial do livI'c-exame dos magis-
122 UM ESTADlSTA no nlPERlO

trados, pOI' ultimo o aposentador e principal u tentador da


aposentadorias fOI'adas de juize italicios.
Em 1850 elle ct nas mesmas idas de '1843, ida a que
d pois no ministerio de ia dar grande proeminencia. De uma
\' z Lrata- e dos crimes de aco parti 'ular a pl'OpO 'it do
flll'tO de gado que se ha ia tornado cm algumas provin ias
um pel'igoconstante para a Ol'dem puLlica, e clle a. ignala o
me 'mo mal profundo, a indifferena, a apathia perante o
crime, que caracterizara em 1843 :
" A minha opinio que a accl1sa<;o de iodos os crimes, em
listincl}o de pulJlicos, pal"liculal'es ou policiaes, deve pertencer
ju Lil}a publica, - com excep o do. crimes contr'a a 1J0nl'a. cm
"ioleucia, - porque a ~ociedade tem tanto inlel' 'se na puni 'o
le um crime como na de outl'OS. Se a punir;o no tem pOl' fim,
como todo abem, a vill"'an a, ma', sim, a egur'anl}a da ,o i -
dade, porque que a u,ccusa o lia de ficaI' merc de con ide-
ml}es e especular;e individuae'? O legi'laclor do Codigo do
Pl'oces o no contou com um vicio que e t radicado na no sa
sociedad~ : este vicio a indifferenl}a, o temol' de com pl'ometii-
menlos que domina em todo, o ha quem queira accu ar o
cl'imioosos; no lJa quem queirajuru'l' contl'a elle ; no lia quem
queil'a pel'seguil-o , e ne ta circumstancias ore, ultado que os
crimes parLiculare, ficam impune e se pdem riscai' do calaloO'o
dos crimes II. (Sesso de 18 de Julho de 1850).

o jmy no lhe in pira a confiana. Mais taI'de. como mi-


ni LI'O, elle por bem em cvid ncia a fraqueza ela in Litui o,
sua impoLencia para reprimir' o rime, a impunidade que
resultava della ; ma desde ento elle apoia com enLhu iasmo
a lei que tira ao jUI'Y e passa aos juiz de dil'eito o julga-
mento de cel'tos cl'imes de grande im(9ortancia social ou fre-
qucncia, orno o da I'esistencia, a retirada de presos, a mo da
fal 'a, lista a que prope que se accrescente a bancarrota. O eu
modo de entendeI' o liberalismo a proposito do jury po itiyo
e no theorico :
A maiol' parte dos crimes especiaes que esto ref ridos
no projecto 'o crime que ordinariamente ,'o comll1ettidos
pOl' uma cel'ta cla 'e da sociedade que exel'ce inl1uencia obre
OjUI'Y, e contra a qual o jmy impot nte; I'enl'o-me pal,ti-
culal'mente aos crimes de resi Lencia, tirada de presos, os
A LEGI LATUflA DE 1 50-1852 123

quaes o pela maiol' pal'te perpetrados pOl' certos potentados


que til'am gloria de assobel'bar e meno cabal' a autoridade
publica, de I'esi til'-Ihe, d oltar IJl'esos. e o nobre deputado
liberal como e aprcO'a, devia dai' o seu apoio a uma me-
dida que tende a dar garantia societlade contra os pode-
1'0. os. ])
:\c sa. que tes genuina e sin era a repugnancia que
Ue tem dc yer eoyolver a politica.
No ha m dida, dizia elle, por mais e tranha que eja
politica, pOl' mais pCI'man nte lU eja, e na qual a ocicdadc
tenha mais interesse, que o nobres deputados logo no
attril uam a motivo ini ti' , no a 00 idel'em omo tendo
uma CLI'I'iel'epeuse , e aecr s ntava e ta ad\' l'tencia: e
o ystema repre ntativo fos e te, cel'tameo te no ha eria
um yst ma mais pl'ejudicial, no havel'ia um sy tema em
que fo em menos possi eis as medida de utilidade publica,
pOI'que toda ellas se suppol'iam sem pl'e ditadas por intere ses
m quinllos e facciosos, e no teriam a fOl'a moral de que
careccm.
Dc de ento a sua e perana e t na magistratura, nos
juize de direito (( que offm'ecem 1JWi01' ga1'Ctntia em 1'azo de
serem magistrados perpetuo:; (se. so de 16 de Julho). Por
isso apl'esenta um projecto pas ando aos juizes de direito a
attribuio, que ti nham os juize munici paes, de julo'ar
afinal; por i so apoia, ,como relator da commi 'so de
Ju ti a Civil, amplia o projecto de Eusebio entI'egando-lhes,
como s Vill, o julgamentos de cI'ime e pecia ,cuja impu-
nidade alarmava go erno; por isso torna-se como que o
pro urador tia elas e que e tava decidido a deixar, e da qual
era o seu sonho I 01' mei de uma reforma faZeI' o brao forte,
intelligente e activo da sociedade.

II. - A Morte do Pae.

Um acontecimento dolol'oso que abuco de de muito


receava. veiu enlutar-lhe n'es e anno a vida ; seu pac foi
124 UM ESTADISTA no IMPERIO

uma das victimas da febl'e amarella que pela pr"imeira vez


penetrava no paiz. Nabuco fl'a sempre um filho respeitoso,
nem poderia deixar de sensil ilisal-o a mode~tia e a dedicao
com que o velho senador o acompanhava desde que elle
entrara para a Camara em 1843. O filho tornara-se o chefe
politico do pae que se desvanecia d'isso e lhe reconhecia a
superioridade. Na questo, por duas vezes, da eleio de Chi-
charro, o obscuro senador pelo Espirita Santo desenvolvera,
por causa do filho, gl'ande actividade entre os seus 'colIegas
e at fra, ao principio, um dos poucos que julgaram prati-
caveI a segunda excluso. Conscio de sua insufflciencia pal'a
a tribuna em que se debatiam Vasconcellos e AI es BraT)co,
por isso retl'ahido d'ella, elle eJ'a reputado um caract I' sin-
cero, seguro nas relaes pessoaes, delicado e dedicaelo nas
de familia e parentesco, servial nos deveres ele amizade, e
estricto cumpridor ele toelas a suas oll'igaes. O v lho
Nabuco possuia com effeito os dois grandes temores, o de
Deus e o da opinio, que s'o as unicas salvaguardas da vida.
A hierarchia consolidara-se n'elle como um sentimento do
qual toclos os outros recebiam o calor e por isso a viela para
elIe era o respeito; as sati faes que a pratica d'esse senti-
mento pcle dar fOI'am o seu maior gozo. Como se v, lIe
tinha a alma no extremo opposto ela actual gerao, icono-
clasta ele instincto e que s se expande na chamaela indcpen-
dencia, isto na desobeeliencia, no desrespeito. Elle fez tudo
sempl'e com a correco, a calma, a sisudez adquiridas na
escola de seriedaele elo antigo funccionalismo, sobretudo em
familias ligadas com a magistl'atura. Suas cal'tas, religiosa-
men te conservadas pelo filhu, L'evelam, extel'iormente, desde
a inteno de cada lettra at a obreia, o seu til'ocinio buro-
cratico; nas lies que ellas contm, nos seus tmos intimas
porm, desenha-se uma natureza terna e carinhosa, .ainda
que sujeita desde a infancia a regl'as de grande circums-
peco e reserva.
uma triste I ituJ'a a d'essas cartas nos ultimos annos,
quando todas respiram o mais profundo pessimi mo, o abati-
mento do chefe de numerosa familia que se sente decahir e
A LEGISLATURA, DE 1850~'1852 125

v o infortunio condensando-se sabre sua casa. Presa d'esse


LI'cmor constante pela sorte da familia, o velho senador foi
alTebataclo pela epidemia no dia 18 de Maro, dia para elle
de boa morte, porque era a vigilia de S. Jos cujo nome dera
aos seus oito filhos. Foi tim perfeito homem de bem ,
escrevia por occasio do seu passamento um parente que de
perto e de muito joven o havia tratado, o conselheiro Jos
Paulo, o colleccionadol' da legislao.
O espectaculo a que assistiu em torno do leito mortuario
do pae fez senti I' a Nabuco com toda a fora de um choque
material o que era a situao da familia de um simples func-
cional'io quando faltava o chefe. Seus recursos eram n'esse
tempo o ordenado de juiz de dil'eito e durante a Sesso o
subsidio parlamentar. Para ol'ganizar o Regulamento Com-
mel'cial teve de ficai' na crte no intervallo das sesses de
18O e 1851, vencendo a gratificao de 266$ que pel'fazia
com o ol'denado de juiz de dil'eito 400$. No el'a essa para
um deputado que deixara a familia no Recife uma brilhanto
situao. A morte do pae v io amadUl'ecer n'clle a resoluo
de deixaI' a magistratUl'a c seguir no Rio de Janeil'o a pro-
fisso de advogado para ri qual o indicava a sua reputao
de jurisconsulto, j ento fil'mada em todo o paiz. As exigen-
cias da vida politica faro, entl'etanto, que elle no possa
levar sua resoluo a effeito seno sete annos mais tarJe, isto
depois de deixar o ministel'io.

III. - Regulamentos do Codigo Commercial.

Um tr'abalho considel'avel occUPOU ao mesmo tempo a


atteno de Nabuco durante par'te do anno de 1850. Em Maro
elle fra nomeado membro da ommisso encarl'egada de
organizar os regulamentos do Codigo do Commercio. A com-
misso compunha-se, alm do ministro da Justi<;-a, que era o
seu presidente, de Jos Clemente Pereira, Nabucol Carvalho
126 UM ESTADISTA DO IMPERIO

loreira, Caetano Alberto e Baro de l\lau (1). Foi distri-


buida a tarefa, refere Carvalho 101' ira (baro do Penedo),
enll'e os membros da commi ..10 tomando cada qual a parte
que escolhia ou que lhe era de ignada. Coube ao tre advo-
gados preparaI' os us I'espectivos trabalhos com relao
materia contida no Codigo Commercial (1 a 2a e 3a Parte) de
sorte que reunidos fOI'ma em um projecto completo le I'egu-
lamento ... que foi o decl'eto n 737 de 20 de N vembl'O de 1850.
Do titulo unico do Codigo, materia relativa aos tribunaes c
juizo com01erciaes incumbio-se Jos Clemente, de cujo tl'a-
balho sahio o segundo decreto n 73 da mesma data. Todos
esses trabalhos eram expostos e discutidos na commis o que
durou cerca de tres mezes. Restava a redaco final de todo
o nosso trabalho, quando por indicao te Nabuco foi Cal'
valho Moreira exclusivamente encal'l'cgado d'ella, convindo,
dizia elle, que fosse um 6 o redactor para haveI' identidade
de linguagem e de estylo na I' da l\o. (2)
No exi te no archivo de abu () a pal'te especial dos eus
trabalhos para o regulamen to ; no Co/'/'eio Mercantil, porm
em ,1857 eIle revelou ter fcito de collaborao com Cal'vallt
l\'Iol'eim o titulo do Juizo Arbitl'al e ter e cripto todo o titulo
da Nullidades (3).

(1) ti Jos Clemente havia sido o lidador infatigavel d'e o


Codigo COlTImel'cial que desde alguns <1nnos havia passado pola.
fi C i1'<1 de varia commisses do parlamento ... Caetano lbol,to
oaro_, velho praxista de primeira plana no fro da ca pital. ..
Cal'valho Moreira foi o segundo pl'osidente do Instituto dos Advo-
ga lo ,sllccedendo a MontCllllllla. El'a entiio deputado e, na ses. ,'io
da Cam ara em que a opposi,~.o pelo 'eu maior repl'esentante
Souza Franco reclamava a disclI 'so elo Codi 0'0 pOI' artigos ou
pOI' titulos, pl'OpOZ e obteve que fosse dificlltit!o em globo o a. sim
pa sou n'uma s discusso ... O Bal';lo de Man ol'a POI' esse tempo
gel'almento considerado de gl'ande imp0l'tancia na praa do Rio
de Janeil'o. Nota do Bal'o do Penedo.
I)

(2) Me mos apontamentos escl'iptos a pedido do autol'.


(3) O Regulamen to nO 737 de 1850 passa pOI' ser a mais pel'feita-
mente LI'abalhada de uos..a. leis. 1 abuco em uma de suas refor-
mas judiciarias propoz que o pl'oce so adoptado n'elle fo se
seguido nos julgamentos do .. upI'emo Tribunal. O Governo Pro-
vi orio mandou observar esse Regulamento no pl'Ocesso das
causas civeis em geral. DeCl'eto de 19 de setembro de 1890.
A LEGISLATURA DE 1850-1852 127

Alm d'es es trabalho Eusebio est s mpre mandando a


Nabuco questes pal'a estudar, acompanhadas de bilhetes
n'este g nel'O : Tenha V. Ex. paciencia com tanta importu-
nao , Rogo o fa DI' de dar-me com a possivel brevidade
seu parecer sobre QS papeis inclusos. Em Abril '18(H trata-
se de um proj cto de lei sobl'e a impl'ensa. A opinio decla-
rada de abuco em que se deviam repl'imir os excessos da
impI'ensa. Certcunente, dis era elle na Camara em 1843,
essencial e urgente no nosso paiz a repl'esso da imprensa;
bem fataes tm sido as consequencias da licena da im-
prensa. O pt'Ojecto de Eu cbio era inspimdo na legislao
pI'cventiva do Terceiro Impel'io em FI'anca. Queria-se regu-
lamentar os direitos da impI'en a, de f6rma que eIla tivesse
toda a liberdade de pensamento sem se poder tornar pel'igosa
ordem publica, o que inconciliavel. O plano era vexatorio
sem ser proficuo, pOl'que comeava por e te artigo: O jul-
gamento dos abu os da liberdade de impl'ensa compete exclu-
sivamente ao Jury )), o que era autorizar todos os abusos.
e augmental-os ainda com a repel'cusso do pl'ocesso, as
declamaes da d,fe a e a cen ura 11101'al da absolvio. O
systema era inviavel e no passou de proje to. O Imperador
pracava o pl'incipio de que o melhor meio de inutilisar a
imprensa politica era entl'egal-a a si me ma ('1).
Comea a 'sim para Nabuco desde 18O esse papel de con-
SUltOI' de tocIos os governos, papel que eIle ha de pl'eencher
quasi sem intel'l'upo at mOl'te, com sacrificio d seu
tempo que era toda. a sua fortuna, e por vezes at em favor

(1) Em conversao com o autol', o Impel'ador refel'iu que uma


vez um ministl'o lhe apl'esentara um projecto de lei de imprensa,
elle dissera que examinuia: - " o ministro que era homem de
muito bom senso, comprehendeu a minha repugnancia e no
voltou a fallar-me sobre o as -umpttl. Es a reminiscencia deve
I)

referir-se ao projecto de Eusebio. O Imperador no distinguia


entre jornal politico e os propl-ios pasquin. de occasio, como o
Corsario de Apulchl'o de Castro. A imprensa tinha para elle como
que o sacramento da opinio. Desde que o escl'ipto, qualquer que
~osse, passava pelo prelo adqul'ia aos seus olhos o privilegio da
mviolabilidade.
t2B UM ESTADISTA DO HIPEIIIO

de administraes que elle no sust ntaV::l. ElIe, pOI'm, con-


siderava um servio publico de primeira ol'd m o collaborar,
sempre que pudesse na legislao do paiz para que ella
sahisse to perfeita quanto possivel das mos do govemo,
para que as leis no fossem desfiguradas ou annulladas pelo.
seu regulamentos, e esse sel'vio desintem 'ado, em honra
e proveito da reputao de outros, preteriu sempre, quaes~
quer que fossem, as suas proprias occupaes.

IV. - Presidencia de S. Paulo.

Em Junho de 1851 Nabuco era nomeado presidente de


S. Paulo, pal'a onde segue em Agosto. Essa presiclencia (1851
a 1852) foi um episodio na sua carreira de que lhe 1 rovieram
no pequenos dissabores e que ameaou corLaI-a. Ia ter logar
uma eleio senatorial. O Visconde de Monte Alegre, presi-
dente do conselho, rccommendava-lhe a candiuaLura de
Pimenta Bueno, depois lVIarquez de S. Vicente, candidatura
repellida pelos chefes saquaremas de S. Paulo como e tranha
ao partido local. Nabuco eSCl'eveu logo ao pre. idente do con-
selho, reluctando : .Quanto ao Pimenta Bueno fora dizer~
lhe que seu nome repellido pOl' todos os chefes governi ta ,
que o tm como imposio ocliosa; no impossivel, mas o
governo ficar talvez alienado ele quasi toda a deputao pau-
listana. Se clifficil a eleio cio Pimenta, muito mais o ser
acompanhada da excluso do Pacheco. Adoptada clefiniLiva-
mente a canclidaLul'a do Pimenta, no obstante o que levo
dito, convm ao governo no fazer chapa, deix[ r a eleio
correr livremente. Monte Alegre no se conformou com
esse alvitre. O governo, escreve elle a Nabuco, quer que se
faa a eleio dos dois senadores que faltam por essa pI'ovincia
usando cle toda a inOuencia l"giLima que lhe do o podeI' e a
opinio. No deseja que a opposio vena nem um candidato,
e tem como seu pl'ncipal adversario Joaquim Jos Pacheco,
que o tem guerreado dentro de suas propl'ias fileiras mais e
A LEGI LAT RA DE 11>50-1832 '129

fazendo-lhe mais darnno do que os seu' de 'cobertos adver-


sarios. J abia de tudo qu, nto V. Ex. me diz cel'ca do
Pimenta Bueno, mas elle no pde deixai' de fazer parte da
chapa do governo.
No era pl'opriamente candidatura de Pimenta BueHo
mesmo que abuco re i tia; elle e tava convencido de que
e. a eleio era inspirada nas mai altas conveniencia do
partido e do paiz, ao qual Pimenta Bueno acabava de pl'e tal'
ervios de pI'imeira ordem na pre i I ncia do Rio Grande;
era sobl'etudo exclu o de outros. O que elle receava el'a o
antagonismo entre o 'partido e o 'ovel'no, as consequencia
da el io e no a pl'Opria lei~o.
Os partido em no a terra, escrevia-lhe porm l\Ionte-
Alegre, animando-o (2'1 de Dezembl'O), no podem coi'a
alguma contra a vontade do govel'l1o, e s6 a fl'aqueza do
poder e a pouca vontade de os sujeitar di 'ciplina que
tl'aZ as del'l'ota , quandQ as tem havido D. E Nabuco repli-
ca a-lhe (31 de Dezembro) : O principio da autoridade vale
tudo no Brazil, p6de muito aqui, mas V. Ex. ha de concordai'
commigo que no to ab oluto e se pre upposto que chegue
at impo io e ex lu ivismo, at o ponto de alienar-se o
go erno de todos, de pre indir de todos. Esse principio vale
tudo e pode muito e 101' i o a c1ei~. do Pimenta e a exclu-
so do Pache o so po. ivei talv'z [I'ovu\'eis, ma so
difficei , I rincipalmente porque pondo- e em lucIa o principio
da. autol'idade om O' dois pal,tido militantes na provincia,
o govel'OO cal' ce de e for.os dohrado e de l1111a o tentao
que ho de compl'Omettel' a ua f I' a moral. .. Convm que
V. Ex. saiba qual a situao: As inOuencia' locaes taes
quae esto estabelecidas o em parte duvidosa cm um
eonOicl entre o governo e o chefes do p:H'lido dominanle ...
Di ffi iI Lambem fazeI' calai' e se instincto do pal'tiLl que v
no Pimenta um advel'sal'io desde 18'~2 e no Pach o um
amigo, tanto mais dirticil quanto o antagonismo politico
contl'a o Pimenta ajudado p la inveja e ciume que a cer-
teza de sua escolha inspira ... Seja como rr, os dados esto
lanados, porque considerando a difflculdade da minha sub-
I 9
130 U~[ ESTADISTA DO D(PEHIO

sLituio nestaoccasio, acccito O sacl'ificio dc pre idir a esta


eleio que me ha de e 'LI'agar completamente; resignado,
paciente e leal, levarei esta CI'UZ ao Calval'io.
abuco, como se v, tinha sido leal com o partido conscr-
vador de S. Paulo; com a deputao I aulista sacl'ifieada 11
Pimenta Bueno, que no fazia parte delb. ElIe no e quecia
cm S. Paulo os principios de autonomia que sustentava em
Pel'llambuco; procedia pam com a' inUuencias I caes como
quizera que procedesse o pre idente de Pernam buco pal'a com
os seus amigos da pl'ovincia, mas tambem como em Per-
nambuco elle no admiLLia que os partidal'ios Lla 'itua na
provincia a compromettessenl, de fei.teando o gabinete que a
representava. Eu no queria a chalJa, expli ava alie depois
a Torres, que succedeu a MQnte AI gre, de qu mera eollega
nesse gabinete, repugnei a ella eOIl1 eneI'gia e ehell1encia,
o Governo 1m perial me a im poz - que devia fazeI' eu? Demit-
tir-me em Janeiro, sendo a eleio a 2 de Fevereiro? O governo
acharia quem me sub tituis e n'aquella cireum Laneia', nas
vesperas da eleil;o, elei.o difficil e al'l'iscada pOI' tantos
eompromettimentos? Se eu me demittisse n'aquella oceasio
qual seria a verso natural cl'esse meu proceder? O presid nte
demittia-se para no acceitar a imposio. Fieal'ia eu muito
bem, o ministerio muito mal e desairado; leal como 'ou,
preferi antes ficai' mal, solIrer o que estou soffrendo, do que
expr o ministerio ao <.lesar e reprovao. l)

O que elle soffria era a guerra dos dissidentes pauli 'tas, a


animadverso pessoal de Pacheco, cuja eleio alis elle
tinha advogado perante Monte Alegre, e sobretudo a pre-
veno do Imperador que ignorava as orden' que elle rece-
bera, mas que no podia revelar. Insistindo Monte Alegl'e na
incluso de Pimenta Bueno e impondo a excluso de Pa-
checo, tratou Nabuco de fortificar a chapa de moelo a vencei' o
desgosto do partido.
A chapa me par'ece boa, communit;a a elIe a Monte
Alegre, substituindo-se o Nebias pelo monsenhur namalho :
aquelle nada vale na elcil,:o, no contribue para ella com
coisa alguma, este influencia importante, e tenho razo
A LEGISLATURA DE 1850-1852 1S1

para aber que elle no go tar da excluso, porque tinha


cxp tath'a. O nome daquelle ser facilmente furado, ou subs-
tituido pelo do Pacheco, o de te firme e merece a venera-
r.o de todos os eleitores. e e ponto, lonte Alegre res-
pondia-lhe logo: Pde V. Ex. altel'ar a chapa que lhe
remetti e ub tituil' ao nome do cbia o do Ramalho.
Durante a lucta q!le foi viYa entl'e o amigos do go\'erno e
os dos chefes excluido , pOI' vezes abuco communicou ao
pl'(~ id nt do on elho os 'eus I' ceio. Monte AI gre, pOl'm,
tinha i to' dia agitados da Regencia e observado quanto
de de ento o paiz se acalmal'a' Linha ab oluta confiana na
fOlc'l. da rea r.o conservadol'a el '1818 e na disciplina do
paltido, c om a sua laJ'ga xp riencia politica e o cu sangue
frio n dava asse epi adio pI'O in ial a importancia que lhe
ela a o pl'e:idente, que come~ava o .. u lirucinio admini tra-
tvo. Por i o (29 ele' Janeiro de lB52) escrevia eIle a Nabuco
com pel'feita tl'anquillidaele d animo: Tudo quanto V. Ex.
m diz na duas cartas a que r 'pond so coisas sabidas em
loua as el i c". Emquanto se percebe que o governo hesita,
va 'illa, trabalham, intrigam, amC[l.(;am, arrufalll- c, despei-
tam- c, tc., cl ., mas tudo is..o ou ql1asi tudo is'o se e' aece
com a fil'meza calma, polida e digna da auturidade. ]) Depois,
ainda, em 8 de Maro : Ardua e grande tem sido a sua
tarefa, ma por celto muito gloriosa, qualquer que eja o
I' ultado. o olho s para a pl'esente eleio, olho para o
futUI'o, pai neIle vejo o govemo firmul1l1o a ua int1uencia
legitima 'obre o seu pal'tido, d b Ilados esses chefes que o
escravizavam c tolhiam, e amofinavam em pUI'O prejuizo da
cau 'a publica.
A victoI'a da chapa ofcial foi completa, mas o I'esenti-
mento dos excludos tambem foi c troncloso. Um deBes,
sobl'etuelo, o elr. Pacheco, tomou-se inimigo implacavel do
presidente. Alguns dos propl'ios ministl'os acreditavam que
Nabuco havia provocado essa ci..o dos saquaremas I aulistas
Com o gove1'l1o I al'a satisfaz I um duplo capricho proprio : o
de eliminar Pacheco, cuja excluso, entretanto, elle mostrara
no ser politica, e o de eleger Pimenta Bueno, que elle dizia
iS:! UM ESTADI TA DO 1 IPEHlO

ao presidente do conselho ser um candidato mal visto na


provincia. A tarefa fora-lhe quanto passivei ingeata e ingloria,
ElIe a havia desempenhado smente por solidariedade com
o ministerio e a situao.
Reunidas as Camaras em '1852 o procedimento do presi-
dente de S. Paulo foi um dos pl'incipaes incidentes da Sesso.
O longo ministel'io de '1848 demittiu-se logo nos primeiros
dias, sendo substitudo por J. J. Rodrigues Torres, que delle
fizera parte. Eusebio no achava outra explicao para dr
Camara de sua retirada seno o desejo to natu1'al de cles-
cano (1). Logo em 26 de Junho Pacheco peonuneia a sua e, pe-
rada orao contra o proconsul de S. Paulo, que lhe r sponde
em 28 de Junho. Alm dessa accusao perante a Camara a
opposio Paulista ini iou o proce so do presidente no
Supremo Tribunal.
Os vicios descobertos na eleio de Pimenta Bueno e mon-
senhor Ramalho foram muitos, mas d facto a eleio no
foi em nada differente das ou tra.' eleil,es do regimen indi-
recto. A eleio popular, a do pl'imcil'o grau, no foi siquer
disputada pelo governo, a intel'ven o versou sobl'e os coJle-
gios eleitol'aes, isto , concentrou-se na conquista por Pel'-
suaso dos chefes politicos das local ida les. A ma sa destes
ficou tiel ao governo, em vez de insul'gil'-se. A odiosidade
das excluses rccahiu no sobl'e i\lonte-Alegee, e sim sobee o
presidente, que as havia impugnado, mas que paI' lealdade
no podia descobl'ir o gov rno. Nos debates da Camal'iJ,
apezal' de tel' sido substitudo o ministerio de que fora man-
datario, Nabuco assumiu para si s a responsabilidade da
administrao.
O ponto mais vivamente discutido na Camara foi uma cil'-
cular do presidente a alguns dos chefes governistas. A cir-
cular no se concilia com o systema da absteno do govel'llo

(1) " No fui causa da dissoluo do ministel'io. O Eusebio


devia dize!' os motivos verdadeiros e no allega!' canao. "
Nota do Impe!'ado!' 'Biog!'aphia de Furtado por Tito Franco de
.\lmeida.
A LEGI LAT RA DE i850-'18i2 133

nas elei es, porque n'e te o gover!1o de e abstel'-se at de


parecer ter candidatos' no excedia, todavia, em nada os
dil'eitos da autoridade no s tema de facto da candidatura
omcial. Pelo contrario, a circular revestia o caracter de um
appello do governo ao seu adherentes, em nome do parLido
cm uma cm I'g ncia dirficil antes do que de uma imposio
ou am aa,
D fencl nelo-se abuco formula a fl'aneamente o direito do
gov rno U e.'tab J er a questo de onriana perante o elei-
tOI'ado, d dizer om fl'anqueza ao scu partido quem elle
considerava seu amigo' e qum Linha pOI' seu inimigos,
O principio de qu o govemo p6de inl1uil' na clcio
como opinio foi pl'oclamallo do alto de ta tribuua por uma
das maiores illu tl'a~ do partido lib I'al, o r. Antonio
Cado Ribeiro de Andrada, e, re ebiclo m 18/d sem a mcnor
c nt sta o, passou em julgauo; es e pl'in ipio foi levado
ainda s ultimas on quen ,ias pOI' uma circular denomi-
nada DO DIIlEITO pnOPIlIO, o)))'a cle um dos homens mais
emincnte do pal,tido libcl'al, o sr. lanoel Alves Branco ...
Desde que o nobl'c llcputado pOI' . Paulo (Pacheco) publicou
uma circulai" intiLulando-se chefe do pal'Lido que apoia o
govel'no n'aqu lia pl'oyin ia, qu I' ndo dil'igil' se partido
contl'a o govel'no, o SI', d pULado que s entendia com a
oppo io, que e tava com ella c coopeI'a a no mcsmo ,en-
tido, de.'de logo vi a n e i lade de fazer e, ta ouLl'a cir ulal'.
Deveria u deiXaI' que o sc pti i, mo sub titui se o antago-
ni. m , que as cI'enas se confundi, em, e pel'vertc cm cm
favor da opposi o onLl'a o govemo, e que te rc ultado
fosse dcvido no onvico, ma' il1uso?.. e o go"crno
pde vivcl' em 01 inio, indifferente ,'CI ia fluC o partido quc
o apoia fo' e com mandado p lo nobl'e deputado ou por outro;
mas n 'indiffer nte que o pal,tido cio govcl'l1o eja COffi-
manclado 101' um amigo ou inimigo. A circulai' tinha POI'
fim tomaI' as posi s clal'a.', deflnidas e fl'anca .
FOl'a absul'clo quc o govemo deixa', e os eus amiO'os
extl'aviac1 , merce, di 'posio dos seus inimigos cle 'Ia-
rados; fra absurdo ainda que o governo no intervic e
134 ~r E. TADr TA no IMPEI1IO

para neutl'alizar as ambir,es que podem uar ganho dp, causa


opposio por causa de divergencia . Isto importaria em
um suicidio, ou importaria o principio de que o governo deve
viver independente da opinies politicas; mas semclhant
principio sCI-ia uma coisa nova, uma coisa extl'anha... Se-
nhores, 6 um epigl'amma que 'e me faz, accusando--sc-me pr
este motiv.o; nem sei mesmo como poderemos traLar de La
materia sem nos rirmos uns com os outl'OS e uns elo outros,
porque em verdade no fiz coisa que todo ou qua i Lodos
no tenham feito.
No fu nelo a cI fesa era esta : no era uma questo com o
publico, el'a uma questo dome, tica de pal,ti lo; o pl'esidente
no se tinha envolvido nas Icies primarias; feito o elei-
torado, e1le se tinha, sim, dil'igido s innuencias locaes
permanentes e lhe 11a ia dito: Cl E tes 5.0 os que o govel'l1o
considel'a seus amigos e ste o que elle reputa eu ini-
migo'. No fI'a uma impos:o feita provincia; quanlo
muito fra uma impo 'io ao partido, que j tinha vencido
as eleies primal'ias, as desse anno como as anLeriore , com
os meios, os recursos, a influencia do governo. Os elei-
tores )), votantes du , egundo grau, da provincia de . Paulo
s5.o os mesmos nesta eleio de senadores, dizia Nabuco, que
sempre foram, com rarissimas excepes, nas eleie' fitas
'ob a denominao do partido saquarema; so as mesmas
iniluencias locaes. O presidente da provincia no t z eleito!' s
seus, o COl'pO el iL()l'al 6 o me mo. So as mc. ma' inilu n-
cia' locues, so o, me, mos eleitores saquaremas, Pois bem,
esLes eleiLol' s pOI' mais de dois ter os acolheram es. e, 11 me
que o sr: deI utado suppe odiosos e repugnantes IWo-
vincia. Ora no possivel que todo esses eleitol'E", es as
inOuencia' I cae', es.'e homen abastados esse fazend ,i 1'0.',
fos em .'uburnados, fo em cOl'l'ompidos I elo pre 'idente da
pl'ovincia, Este resultado pl'otesta conLra sses desaccordo ,
contra essa' diverg n ia: que o sr. deputado suppoz, e o que
apparece confol'midade, a " entimento, cooperao.
Para pI'eench "e xecutal' o pensamento do governo,
escI'evia Nabuco a Torre. , o novo Presidente do Conselho, no
A LEGI8LATUflA DE 185(;-1852

obrei uma immoralidade, no fiz uma transaco, no pro-


meui (como alis outros tm feito eom feliz successo) com-
mendas, habitos, empregos e po tos da gual'da nacional;
apenas me preyale i du antagonismo dAs opinie. , do vinculo
poliLi o a que estavaUl mlsLl"i Los aquelles que apoiavam o
goyerno; n50 fiz e no toler i v:ulcncias, mas preveni~
reprimi aquclla que me con:laV3m. Sigo rigorosamente o
pl'incipio de que no sou solidario com o.' meus agentes
sllbalLrnos, e pOl' i. o no obslante a el io fui sempre aus-
tero e inflexvel para e III ell s. ])
Pemnte o Supl'emo Tribunal di abria a, ua defe a baseado
nos me mos principi s. Na eleio primaria, quando a
autol'idade est em r la50 lirrrLa com o povo, quando ella
t rn nece. 'idade de ex I'cel' inf1uellcia, porque e5. a'a questo
pl'ineipal e eleci 'i a, ento, quando essa inf1uencia mais
pel'igo 'a, mais efficaz, pOI'qlle menor a indepcneleneia elos
votantes c mai I' a :ua incapacidade, na el io l)I'imal'ia o
Iwoecdimento do pre ielenL tal que no mCI'cce e 'pecifi-
cao, O cI'ime do presidenLc e', a Cil'CUIaI', que alis no
podia exercer inf111 ncia sobl'e o povo, pOI'que se I'cfel'ia
eleio secundal'ia c no pI'imal'ia em quc o povo inLervcm
dil'ectamcnte; essa circulai" que se no dil'igia opposio,
mo ao: eleitores amigos d governo,
Depois entrando na materia da accu 'ao, isto " a vio-
lar;o ln nruLmlidmle completa que () govel'no dcye guardaI'
na el 'i,:io como ccndir;o da libel'(lade ll, Nnbuco examinava
os di I'ei Lo!'; e deveres do govef'no em relacfLo opi nio
poli Licl1.
Se o govemo no sys1.ema representativo symbolizn uma
f1pinino politica, nbslll'llo e. -'a neull'alillade do gvcI'no na
eleil:lio como n C::uwlI'a l\illnicipnl (luer; absul'do quc o
gov1.lI'no scja esLI'anho c indirfcl'ente ao tl'iumpho tIa opinio
pulitica de que depende a sua exi 'tel'\cia, Essa ncuLI'alidndc
fI't\ um deveI' de J'ccipt'oeitlade, 'ie a opposio tambem a
O'unl'Classe, mas se 11 OPPOSil;o fucLa pal'a venc I' e d !'J'ol,lI' 11
gOVCl'l10, como pdc li :3'0vcl'no SCI' impas 'ivel scm suil:i-
daNe, sem obli Lerar o insLi nclO da propria conservao? Ao
13 UM ESTADISTA DO lMPERIO

r:l~ O que a opposio CeiTa as ua, fileil'n. fOI'tifJeando-se


pela unidade de pensamento e dominando a, ambi\()c' do
seus, orno condi o da victoria; ao pa so que a opposio
pile em aco o antagoni mo politico, a e perana, e excita o
spirito de contl'adie\o e de I'e i. tencia, que so natura. em
uma parte da so iedade contra qualquer governo, o governo
no pde nem ao menos communicar seus pensam ntos aos
seus amigo e agentes, de 'pertar a adheso de uns, a con-
fiana e a lealdad' d outl'O, inspirar a unidade para evitai'
o r l'igo da diverg ncia, desmentir a calumnia e a simulao,
d sal'mar a tt'aio CJu inculca como amioo.' aquelle qu so
inimigo. , a peI'fJdia que se ajuda do nome dos recursos do
gOyel'nO contra o O'ovel'no. O governo p6de, todo os gover-

nos que tm consciencia de si e eonvices fazem: os que
o no fazem, porque ou querem sui idar-se pOI' imbecili-
dade, ou contam com Outl'O apoio que no o da opinio.
So intere santes . pl'ecedente nesta qu to e abu o
os adduzia assim ;-cc O pl'incipio ela interferencia elo governo
na eleio, sobre ser funelado na boa razo e consentaneo m
o y. tema repr sentativo que suppe a lllcta da opinie. e
con iele1'a o gavel'no como opinio e n qu l' ndo ';iv I' a .
sobl'e. i e contrahido no mundo official, tem sido o'el'almenLe
seguido por tOllo. o pal,tido qu tm tado no podeI' tem
pOI' i a alltol'idade e apoio dos homens mais eminent. do
paiz no ele uma como le outl'a opinio politica.
cc Eu vou mosLI'al" dizia o sabia Andrada Ma hado, em uma
oa es 'e de '1841 (Jo1'nal do C01nmel'cio de 23 de laio),
que os ministl'os tambem podem cabalar como o Outl'O pal'-
tido, seu opposto. O que no p6de ninguem calcar as leis
que regulam a eleies. Atlenda-me o nobre deputado: eu
pi'etendo mostrar-lhe que apezar dos seu conhecim nLos o
nobl'e deputado n dos mais classicos no sy tema I' pre-
sentativo. Seria mister que o governo fosse uma cafila de
estupidos se di sse ao ouLl'Os: - V6 pod'i apl'esentar a
lista dos Vus os candidatos e o minit I'io no p6d fazer
Outl'O tanto. No, no pde er vedado au govel'llo o dizei' as
pessoas que o apoiam; - Eu desejava Laes e taes candida-
A LEGI"LATLJRA DE L[i~-1852 137

tos; vs que profes ai. a doutl'inas que e to no poder, fazei


com quc s jam e colhidos. !\Ias fazei, cQmo? Pcr uadindo aos
vo o concidado tanto quanto a Lei no vos veda, no
u ando da fraude e da violencia. Isto nem um. nem outro
partido de fazeI'.
( O cminente Sr. CaI'neiI'OLeo, Vi conde de Paran, assim
e exprimiu (Jo?'nal do Commel'cio d 27 elc Maio de 1841) :
Eu digo qu a ohl'igao do O'o"erno vedar todas as
fl'auu , toela as fal 'if1ca~e , mantel' a obsel'"ancia das lei ;
no v nh proclamar a doutl'na de que o governo no deve
tel' andidato , no nego ao governo interveno. Eu empl'e
fui de opinio qu o governo tem o direito de influir na elei-
o; e ta doutI'ina que prot . ei nos annos ant l'iore a
me ma que l)l'ofcs o e pro~ ci durante a administl'ao do
nobre deputado.
E abuco on luia a ill1 a sua ex ulpa o : li: Ha mais de
vinte anno qu lemo el ie , ha mai de vinte que e. t
em execuo nc. tc Impel'io o Codigo CI'iminal, ainda no
houv , e n5 p' d hav r, go\'el'llo c oppo i(;o que no soli-
cila em voto e todavia este o primeiro proce o que o
ann'l fOI' n es I'egi. tmm I' lativo a e te suppo to cl'ime.
pOI' um esf'ol' do .'[rito, s por meio da subtileza e das
conjectlll'a 'e pael chegar c ndu o da cl'imi nalidadc, mas
a cl'iminalidade, enllol'c, como y abeis ame ll'ados como
oi , no pde <JS ental' s no em factos cel'los e positivo, )
E itava Carnot : D sde que lJI'eci o raciocinaI' para fazer
prevaleceI' a di po i 'o de uma lei, nada mai prcci o paI'a
demonstrar que e sa Lei no. tcm a clareza ner.e aria para
autorizai' uma applica o de pena , . .
O ll'bunal (U de DezE'mbl'O de '1852) jUl o'Oll impl'ocedentc
a d nuncia, no encontrando, diz o Ac ol'do, promes a de
I' 'comp n a. ou am a~as nos termo da cat'ta confidencial
instl'UCliva da d nun ia. l"abuco. por'cm, leve com esse infeliz
in i lente gl'ande conll'al'ieuade. A lcgi lalura lava n eu
ultimo anno e elle no podia ontal' com a boa vontade do
novo gabinete, de ejoso de agl'adal' deputa o pauli ta, Em
sua carreiJ'a politica sUI'gia um obstaculo imprevisto. A volta
UM ESTADT TA DO IMPERIO

para S. Paulo era impo:siyel. O Imperadol" que alis no


podia seno desejar a eleio de Pimenta Bueno, 111ostl'ava
severidade em ]'ela<:o a tuclo que parecia intel'veno ind bila
nas elei\iks, e no reconhecia a dislinc\o queNal 1..1 'o havia
pl'oelnmado entre as primaI'ias e as secundarias. o todo,
ent!' tanto, elle no podia desconheceI' o facto da candidatUl'a
orficial, que durou todo o reinado, e provavelmente o pre. i-
dente de S. Paulo exagerava o que o Imperador deve ter-lhe
dito, quando escrevia ao PI'esidente do Conselho do novo
gabinete neste tom desenganado:
Sinto o anaLhema que do alto do thl'Ono pe'a sobre mim,
reconheo a minha condemnao. Para ser sobl'anceil'lJ a e te
revez n50 me bastam a consciencia de haver sido leal ao
Governo Imperial e mais que tudo a cnnvic<:-o profullda d

que no eI'rei, mas procedi conforme meu dever e a politica
exigiam; tenho necessida le do conceito uos homen ju tos,
como V. Ex. , um dos poucos, cal'acteres nobres, iguaes,
auslel'os e inOexiveis da nos. a rioca. S ja V. Ex, o 111 u
juiz, depois cle ver a expo 'io que vou fazer, a qual servil'
smenle pal'a justiflcUl'-mc aos olhos ue V. Ex., pOI'm nunca,
jamais, para por ella fazer-se obra em qualquer sentillo poli-
Lico e principalmente no da minha conservao como p"esi-
dente de S. Paul() : assim espero de V. Ex. como cavalheil'o e
homem de honra. Fui sacl'iflcado pela minha lealdade, mas
no quero que outl'em seja compI'Omettielo para que eu fique
rehabililaelo : o tempo me rehabilitar.
Nem ao Imperador lIe I evelal'a o segl'edo da eleio de
S. PaulI), a sua relucLancia imposit;o de Pimenta Bueno,
f>rlTIao da chapa e excluso de Pacheco. A Torres,'
porm, elle podia Ludo l'cfel'iJ', pOl'que esle havia sielo mem-
bro do gabinele l\Ionte Alegl'C. A lealdade do prcsidcnte cle
S. Paulo pal'a com o seu amigo ex-pl'e 'idenle do c n, elllo
nem lIe leve som'ia com essa ju:tiflcao sob o sigill da
homa. Monte Alegl'e el'a incapaz cle subtl'ahiJ' a um scu col-
lega fjllf11qu 'I' fncto ela vida milli:Lel'ial. Nabucd I'epetia
apenas a TOI'I'';: LI que este tinha ouvido m ncional' em con-
ferencia. Nem lhe I'ecul'uava esse facto para condemnalo
A LEGl LATURA DE 18(;0-18';2 1~[)

Fora dizeI', s 'I'evia lIe nessa mcsmn carta, quc o I cn-


. amcnto do 1'. Vi conde d ~Iontc Alcgl'c e do Governo 1111-
p rial era o que mais convinha situa10 da provincia de
. Paulo, em relno politica, para dominar e di ciplinar a
es e eh f s, que qucrcm imp!' ao gov~rno, que entendem o
ente partido como omnipotente, cxclusivo, superior autori-
chde, e c~ta como dependente delk.
O uC'cessor dc Nabuco m .. Paulo foi lcbia. dizcI' que
o mini tcI'io tava r conciliado com o grupo di siuente. Gon-
ah'cs MaI,tins orrel' u-Ihc entretanto outl'a pl'ovincia, que
Ile rej itou como um ludibl'io ('I) depois daquclla cond 'm-
nao official d sua I residencia de , . Paulo.

(I) II Depoi de al""uma refl xo o vi la do pp cedonte:- hu"i


do d \'0 dizei' com fl'unquoza a V. Ex. quo tonho '01110 um me-
nos a.bo, como um ludibrio, a pl'OpO ta quo V. Ex. me foz, ndo
COl'to, a!"m di. lo que a minha candidatuI'a, ainda mai arri cada
CI'ia do que , e ou fical'ia pal'a Il1pl'O opullado e annullado.
Nio .. isto o q \lO V. Ex. quol" no j to o que m 1'01)0, apezal' de
lodo: os muu' pecl.:a.llo . Fico conlente com a minha 01'10. \I
CAPITULO V

A OPPOSIAO " PARLA1"lENT..\R

1. - A Situao em Pernambuco.

Nas eleies de 182 abuco, que em 1849 havia sido o


quarto votado, s alcana o decimo logal' na li .. ti:t: Ausente da
provincia teJ'-se-hia elle feito esquecer ou havia receio em
torno d'elle de uma c3l'reil'a demasiado I'apida com ,,I pI'e-
terio de outl'Os? Podia sei' uma e outra cousa e tambem a
tl'ansfornlao por que estava elIe .passando de politico de
provincia a estadista do Impel'io. Sua convivencia na CUI'to
com os chefes politicos elo paiz, o par el que so 111 ofTcl'ceia
em maiO!' scenario, a resoluo ele pI'ofessal' a ac1"ocacia,
iam-n'o emancipando da quasi tutcla loeal a que c tivcI'a
sujeito. O seu idealismo cal'actel'istico, sua imparcialidade de
jurisconsulto, sua indole eclectica, seu espil'ito de transaco
nunca podel'iam tel' medl'ado na atmosphel'a da pro"incia, e
elle no podia mais adar tal'-se s paixes, aos I'cscnti men to.',
aos preconceitos dos bailTos politicos. Alm d'isso Nabuco
sentia-se, apezar ele sua longa residencia, e decl"ica50 parti-
dal'ia, no obstante o seu casam nto, lto 'pede em Pernam-
buco. Se no in tel'viesse a in Onen ia lal'ga e plenal'ia do Pal'-
lamento, onele elIe tinha o pI'imeil'o pap 1 na deputao pel'-
nambucana, sua carreira teria de certo sitio retardada pela
A OPPO~IO PARLA IE TAR lU

liga de famlia que dominava a provincia e que tinha a suas


promoes de senador e ministro de antemo assentadas
segundo uas conv niencias. Seus amigo e emulo' no
esqueciam que elle era filho de outra provincia, da Bahia
contra a qual o re to do paiz alimentou sempre uma especie
de ciume e Pel'nambuco uma rivalidade de dominio no orte.
Apezar de tudo entre lIe e a deputao havia ainda perfeita
solidariedade.
AR pre idencia con ervadora tinham-se succedido desde
1848 sem cont ntar o partido na provincia. Apenas a de
Manoel Vieil'a Tosta, por causa da defesa do Recife, despertou
cnLhu ia mo, a outras fOI'am todas fl'iamente sustentadas,
quando no francamente combatida por elle. O partido
queria assegurar o . eu dominio definitivo. Tosta fl'a substi-
tuido por Honario. O governo entendeu' que o homem que
tinha esmagado a revoluo no era o 'mais pI'oprio para paci-
ficaI' politicamente a provincia e deu-lhe por uccessor o esta-
dista ento de maior vulto no Imperio. Os partidos no esti-
mam na provncias pl'esid ntes cujo nome os eclyp a e que
tem o dil'eito de exigir submisso dos seus amigos. Honol'io
entrou em Pemambuco com o PI'OPO ito de governar por sua
conta e de dai' aos liberaes vencidos toda a proteco devida.
Com erreito cc logo depois de sua pos e, diz o propl'io chefe
Pl'aiel'o, r stabeleceu em toda a plenitude a liberdade de
impl'ensa, transfel'iu os pI'eso para terra, oltou o que o
estavam illegalmente sem culpa fOI'mada, rnandou regl'essar
os desterrados de Fernando, fez cessaI' de facto o recruta-
mento que continuava com a mesma sanha e as prise pre-
ventivas que ainda estavam eni uso quatro mezes depois da
pacifi~ao ('1). A revolta de Pedro Ivo perturbou alguns
dos planos de Ronorio e fez naufeagal' a politica de apazigua-
mento por amor da qual smente elle fizera aos eus amigos
elo governo o sacl'ificio de acceitar a presidencia. Os Praieil'os
estavam to convencidos d'sso que apezal' de Honol'io ter
posto a pl'emio, como diziam, a cabea de Peell'o Ivo no

(1) Urbano, pago 252.


142 mI E TADISTA DO DIPEHIO

gual'daram I'esentimento de sua administrao, pelo contrario


fallavam sempre d'ella favoravelmente ('1).
o se del'a, entretanto, nenhuma de intelligencia aberta
entre o pl'esidente e o partido, apenas aquelle algumas vezes
eontl'al'iava o pensamento d'este e no dominava o seu genio
impetuoso (2). A impOl'tancia politica de HonoJ'io, sua ituao

(1) Urbano elogia em seu livl'o e c6pto em 1849 a pI'e 'iden 'ia
de Bonorio. O Liberal Pernambucano de Feito,a, eSCI'eve anno
depois: "A cou as . e iam cada vez mai, IJal'arustando pl'oporo
que o SI'. Honol'io ia amnistiando aos comprornettidos, quando
por circumslancias especiaes ao hel' , Pedl'o Ivo Velloso da
Silyeil'a, e s a bem da se""urant:a, cI'e 'te appareceu a revolta de
Sel mbl'o de 1849. (30 de Julllo de 1853.) " E ainda em OUtl'O
numel'o (2 de Agosto) : " O SI'. BOllorio e lava inlimamenle con
yencido ele que na reyolta de elcmbl'o tiniram tido gl'anue pal'le
as i ntl'igas dos gClirs e di . 'e a mais de uma pes oa q u O. I'. Jo '
Pedl'o Velloso da Silyeil'a no el':1 estl'anl1o a e,. e 1Il0vilnento. "
Os praieiros considel'avam a ::\,\'cntUl':1 de Pedl'o Ivo um desastre
polilio que s sel'yiu para congraal' BODorio om o Cavalcantis.
A amnistia offerecida ao valente pel'naml ucano pelo govel'no
gel'alo confil'maya na, cl'en<;a de que elle tinira in cienlement
,ervido ao: lJlanos da l'cac<;o. " Todo o mnndo sallC como e. le
movimento acabou-se. T ln o I'. Honol'io, neln o,' Cavalcanti ,
tiveram n'elle (oln acabai-o) :t menol' p:Ji'te. O , I'. Eusebio jo"ou
ao SI'. Honorio a lIIais cnn'l'a~ll(l:1 pe~a, Inandou aLtl'al1il' o l1eJ'()e
Pedro Ivo, e quando o SI'. Vi,'conde de Pal'anil acol'dou estava
pel'feitamente codill1ado. Ao pas o mc:mo que o Sr. Bonol'io
punha a premio a cabe~a do me. mo hel'e, apl'egoando-o como
salteado 1', o gO\'el'no lho ol1'orccia uma amnistia. " O Liberal
Pernambucano, 30 do Jull10 de 1853. No seu Relalorio Bonol'io
queixa-se amargamente d'es a revolta que lanlo contl'al'iou sua
politica em favol' cios vencid os : " Con, piravam abel'ta men te pal'a
uma revolta, diz eUe, ao tempo em que por actos de ju, lia, tole-
Tancia e impal'cialidade, eu me esrOl'ava pOI' conciliaI' os animos,
re,'tabeleceI' a eguranc;a e con(]anr;a e repal'al' os males cau auos
pela rebeJlio te1'lninada; ao tempo em que, cI'endo que lazendo
pal'te de um partido politico, de ejariam di 'putaI' a seus aclvOl" a-
Tio' o triumpho na eleio que e ia fazeI', eu tomava toda as
medidas de pl'ecallo que me papeciam nece sal'ias papa estimulai'
o pal'tido vencido a conCOl'1'er s urnas, e para que o pudesse
fazeI' cheio de segul'idade e cm plena liberdade. "
(2) Scena em palacio com Paes Bal'reto, pro\l1otol' do Recife, e
ela qua.l roi te. tel11UlliJa o dI'., al'lI1ento: " HOIlOI'io Hel'rneto Cal'-
neil'o Leo no yeio a Pel'llambuco pal'a seI' levado pelo cabl'e to
POI' pe soa alguma quanto mais pelo seniJoI'. alicia io[jra-
phica de Paes Bal'l'eto pelo di'. Sal'mento.
A OPPO lO " PARLA~IE TAR 143

pessoal era ele tal orei m que um partielo local, aecu aelo no
p'liz ele ser uma olygarchia de familia, no ou aria queixal'-se
d'elle aos chefes da cl'te.
Com o seu suecessol', ouza Ramos (Maio de 1850 a Junho
de 1851), no se dava o mesmo, E te no em ainda sequer
pel'sonagem senatol'ial. O I en amento lue elle levava pal'a a
pl'ovincia era o me mo que in pil'ara Hon rio: ua mi .. o
I'a manter o governo superiol' influencias do pm'tido, re-
'istil' exigencias. S uza Hamo , porm, que no tinha a
arte e a paci n 'ia do diplomata e era brusc em sei' franco,
como HonOl'io, canava e il'l'itava o partidu. Tas admini, tl'U-
~e s guint", de Vi 'tal' de ali cim (Junho 1851) e Fran-
ei co Antonio Rib it'o (Mar~o 1852), ainda mai se aecenta
o antagonismo elo pl'e idente com o seu lado politico ('1). A
verdade 6 que a ada pl'e idente nomeado o Impel'ador fazia
a me ma recommenda~ , que le aram empl'e os pl'esidentes
<la situao Praieira, de no consentir em nad'} que pal'ecesse
pCl'seguio e extel'minio, Era essa, pde- 'e dizer, a monita
imperial, pel'}) tua, qualquel' que fo e o governo. Alm
d' 'ssa I'ecomm ndao, o pre 'id nte eon 'C1'vadores om'iam
da Corua qu I'a conveni nte alargar na provincia o circulo
do gUYCl'nO, no o deixai' reduzir a um interes 'e ele fnmilia.
Os pI'esidentes no se sentiam por is o fortes bastante para
su lentai' os seus amigos como elles queriam e vezes os

(I) O ratIco Pinto do 'alllpo' que se pI'odigalizava no ataques


por conlauo pal'lido, o que 1110 foi pago como empl'e, com o mai
com pleto aha ndono, occupou-so na Camam d'e te tl'es pI'O 'idenles,
PI'imeiro, Souza Ramos: "'Seu porte sempre re ervado, sou ca-
ractor de uma imulao }Jl'ovoI'bial eram inlei!'ame'nto oppostos
conciliao dos animos o da s;ympatll ias, " De Viclo!' d'Oliveira
elle dir: " Camcte!' a' omado, o pirito frivolo, cOl'ao recto. "
O que lhe parecia fl'ivolo em Victor de Oliveira el'a provavel-
mente o de go lo que cau ou a este a fl'ivolidade das intl'igas
partidarias. E o aborrecimento foi to grande que elle deixou
muito cedo a politica, indo viver isolado na Sui. a. POI' vezes o
Impel'udor lembl'ou-se d'eUe pal'a a lministl'u 'e' difflcei ,quanno
lodos o uppunbam morto o lhe haviam esquecido o nome, pl'ova
do que a sua pl'e, idenciu sali fizera o I mperador. De F. A. Ri-
beiro queixou-se ambem, mas sem pl'oclll'ar caruclel'izal-o a seu
modo.
UM ESTADISTA DO ItllPEHIO

contrariavam em pretenes legitimas. O que se v todo o


tempo a imprensa liberal elogiando o presidentes um aps
outro, e a coo eI'VadOI'a cen urando-o, ou pelo menos
queixosa: a opposi o eonsigna as migalhas de prote o e
equidade que elles lhe dispensam, ao pa' o que partido da
situao exagera como obstaculos ao 1'0 tabelecimento da
ordem, como in entivo para novas I' bcllies, as menOI'es
concesses qu elles fazem Praia de ahida.
Era essa a situao da provincia quando os deputados par-
tiram para a Cl'te em 1853. ElIes iam r pl'esentar na Camara
consCI'vadora o papel que os Praieil'os desempenharam na
situao Jibel'al at conseguirem a completa entl'ega da ad-
mioistl'ao provincial em suas mos.

II. - A Camara e o Ministerio

A Camara era qua i a mesma de 18'0; o predomnio,


pOI'1l1, da gel'ao que despontal'a politicamente em 1810 se
havia ainda mai .. accentuado, ra uma perfeita camal'a se-
gundo 1'einado, os recl'utas da poca da Iaiol'idad appare-
ciam agora como veteranos testa de suas deputaes: Na-
buco distinguia-se na de Pernambuco, Ferl'az, Wandedey,
Zacharias na da Bahia, Pedreira e Pal'anhos na do Rio de
Janeil'o, Cansano em Alagas. Os velhos politicos de 1837
j tinham quasi todo deixad,) a Cam3.m ou estavam a pJn to
de deixaI-a. A situao intcma tinha-se modificado sensivel-
mente, a reaco con ervadOl'a tinha gastado sua fora, a calma
entl'ara nos espil'itos, as fronteil'as dos partid(/s se iam, de
facto'), ubliterando. A revoluo de Pernambucn, em vez de
exaltar s animos, os havia repentinamente sercnad,); () e.'pi-
rito I'evolucional'io tinha feito bancal'I'ota. Com scmpl'e acon-
teceu com as nossas guerl'as do Sul, a recente c::ll1lpanha,
d'esta vez bem succedida e que destl'Uira a tYl'anni _ cI Rosa.,
tinha ab3rto novos hOI'izont0'3 aopiz, de pel'latlo ~lmbies
mais lrgas, e &.0 mesmo tempo o grande abalo comlller-
A OPPOSIO (( PARLAMENTAR H5

ial da suppl'es o subita do trafico, phenomeno que se r~pe


liu com o ouLros dois grande golpes na escl'avido, a lei de
28 de Setembro e a lei de 13 de Maio, 10nO'e de dar razo aos
pl'e agios de alamidarles, foi um impulso salutar podel'oso
dado s energias lat ntes do paiz e o sio'nal de uma phase
nova e diffel'enLe de actividade economica.
O gabinete que e achava no pod r e que ubstituira o de
J\Ionte-Alegl'e-Eu 'ebi era o de 11 de Maio, con tituido ob
a pl'esidencia de Torres, que ficara do anLerior ministerio e
conservara como seu collega a Paulino, tambem ministl'O de
J\IonLe-Alcgre, como clle. o era a im um novo mini terio
de politica differenle, mas uma recompo io mini teria!. 1a-
noel F lizardo, outro mini tl'O, espil'iLO de asta capacidade,
vinha Lambem da administl'a o anterior. A differena entre o
goycrno pr sidido pOI' Torl'e8 e o de que elle fizel'a parLe sob
J\IonLc-Alegl'e, era a differena smenLe que se dava enLl'e o
caJ'actel' ou o grau de flexibilidade politica e de re istencia
pal'tidaria dos dois chefes. Torres om Paulino el'a uma com-
binao dilTerenLe de Torres com Monte-Alegre: o espil'ito
conservad I' estava consolidado, unifol'me, homogeneo na
admini trao.
abuco d sde logo tomou uma po io independente. Tra-
tando-se da verificao dos I odel'es, elle pede o reconheci-
mento de Souza Franco, causa perdida perante aCamara
unanime.
A soluo d'esta questo, diz elle, pde importar a exclu-
so do unico repl'esentante da oppo io do paiz, pOI' ventura
eleito pal'a esta legislaLul'a. O ,nome do SI'. Souza Franco
notavel e signiOcaLivo, a elle esto associados os votos e idas
da opposio; a excluso d'elle , pois, a excluso da oppo i-
50 do paiz, e isto conLra todas as conveniencias politicas..
Eu Lenho uma opinio singular talvez, a re peito da oppo ie)
quanto leio. Eu enLendo que sendo, como vel'dade, que
o unico lemento da inGuencia que ha no paiz, com poucas
excepe a autoridade, pOl'que no ha outl'OS inLere' 'es que
I

a possam sotopr, organizado como e t o paiz, e dominando


como domina o scepticismo, era do interesse do governo insi-
L 10
UM E ''rAbI TA DO BIPERIO

nuar, apoiar mesmo a eleio de oppo icionistas escllll'ecidos


e moderados, porque d'esta maneira se dava um passo para a
apPl'oximao e conciliao do pal'tidos; d'esta manr.il'a se
collocava o paiz nas vel'dadeil'as condie do systema mpl'e-
sentativo que no pde deixar de mOI'reI', se ficar falseado
pela unanimidade. A Camara sente bem os perigos da unani-
midade, sente que no de pequena monta o mal que d'ella
pde provir, porque em vel'dade, alm de tudo o mais, quando
no tivel'mos o inimigo em frente n'aqueHas cadeiras, have-
mos de dilacel'al'-no.' e dar um tri te espectaculo opposio.
Eu sigo o principio, e o tenho manife, Lado por vez ,
que se no deve sacrifical' o fundo s formulas; que a verdade
no deve deixar de ser conhecida apezar das fOI'U1ulas; que
smente se devem annuHar as eleies pela pl'eterio de f 1'-
mulas substanciaes.
Accusado de ter querido fazer entl'ar para aCamara pOl'
genel'Osidade politica um adversario que no tinha sido ffec-
tivamente eleito, elle ju tifica- e e e tabelece alguns princi-
pios de jurispmdencia pal'lamental' (14 !\laio)
veI'dade que eu trouxe considel'ao d'esta august
CamaI'a algumas conveniencias politicas no para x luir a
justia, lorm antes pam ajudaI-a e auxiliaI-a. Tl'Ouxe ssa
conveniencia para fazeI' sentir a neces idade ele 'ermos illl-
parciaes e circumspectos em uma questo que affecta a oppo-
si.o, em uma questo a respeito da qual o paiz todo tem os
olhos fitos sobre ns. Em vel'dade me parece que no pde
haver maior inimigo da justia do que o antagonismo poli ico,
e foi para combateI' esse antagoni mo e pal'a nos no li,on-
gearmos com a ida de unanimidade que eu me esforrei em
mostrar que a unanimidade, em vez de ser um interesse, era
um perigo pal'a a opinio dominante e tambem era uma ano-
malia pam o systema reI resentativo. A politica no foi invo-
cada seno para auxiliar a ju tia e para detel'minar a neces-
sidade de sermos imparciaes, porque no podemos ser justos
sem ser impal'ciaes, Tomo, pois, queslo, e creio que fao
um servil/o politica a que p rteno, porque quero antes de-
sagradal'-lhe do que compl'omettel-a e desmOl'alisal-a. J
A OPPOS1O PARLAMENTAR ~ 147

No qualquer juiz da terl'a, nem me mo os do Oriente,


obl'igado a reconhecei' um acto nuHo, um facto que no existe;
ns, porm, a Camara dos I'S. Deputados, cuja soberania na
vel'ificao dos poderes ninguem conte ta, esl.amos adstrictos
a certo ponto, que o nobl'es deputados arbitrariamente pres-
crevem que no tem fundamento na legislao do paiz, nem
no no so direito administrativo. A eleio a expresso da
qualificao, a qualificao a ba'e da eleio; entretanto, os
nobl'e deputado admitt m o absurdo que pde haver uma
leio "alida, tendo por ba e uma qualificao fi ticia, nulla
e fraudulenta. O nobres deputados d'e t'arte derogam a ju-
I'isprudencia univer ai, egundo a qual aquillo que nullo
no p le I roduzir crfeito.
Di cutindo a eleic;o de Goyaz elIe fil'mou ua objeco
contagem dos voto duvido o . Que em caso de duvida e
de 'ida a favor do ros nas cau as crimes; que em caso de
dvida c mantenha a po. e nas cau a civ i , bem; mas que
a I'cprcsenta nacional se funde na duvida, no po n
admitti,'. c ha principias de direito applicaveis repre en-
tac;o na ional, ti os que reg m o mandato; o mandato no
se pre Ulue, nii.o pde ser duvidoso.l)

III. - A Ponte de Ouro. :t

Oseu gt'ande di curso da se so, e um do melhores que


elle pronunciou no parlamento, o discul'so de 6 Julho, que
foi chamado da ponte de ouro ll. A impres o cau, ada
pelos di. CUI'SOS dc Nabuco ,"vela- pelo facto dc que todos
elles qua i tinham um appellido. Como Ql'ao parlamentar
e a talvcz a mais perfeita de Nabuco. o ha em toda clIa
uma phl'a e que no seja pen ada, nenhuma que seja pel'dida,
qua i nenhuma que no 'eja de effeito. Esse di~cul' o d ida
exacl.a do que eram n'e sa poca as idas, as inclinaes, a
previses do orador, e talvez a pea qne se deveria de pre-
UM ESTADIStA DO tMPERlO

ferencia sujeitar a quem quizesse estudar-lhe a physionomia


intellectual e a individualidade politica. abuco tinha chegado
n'essa poca ao completo desenvolvimento de seu talento, e
esse discurso pe em reI vo os seus imos pI'incipaes: a ima-
ginao que adivinha a projeco dos acontecimentos, a
manifestao espontanea do pensamento por formulas syn-
theticas, a novidade elo pontos de vista, o dom de fOI'ar a
acquie cencia do auditorio pela plausibilidade dos motivos
allegdos, o habito de tratar o facto como symptomas do
estado social que compete modificar pl'Uelentemente, o idea-
lismo optimista caractel'izaelo pela confiana excessiva em
medidas legislativas, em exemplos e ielas mome', e tambem
pela importancia menor attribuiua ao elemento pessoal, ao
conflicto das ambies e ~o concurso dos inter sses. Esse
discurso tambem como composio aquelle em que u forma
mais apurada; no o estylo litteraJ'iamellte ornaelo, a
alta rhetorica de Salles Torre -Homem; o estylo do juris-
consulto e pensadol" que pl'ocura pal'a o elireito a xpres-
so perfeita e para suas intuies a fOI'mula ao mesmo
tempo a mais larga e a mais concisa. Nunca abuco escreveu
um discurso ou parte de um discUl' o, a sua vigorosa preci-
so era natural, como a do oraculo.
Para bem se compreheneler esse discurso, que ser' de-
IKJis muitas vezes citado na Camara, preciso considerar
a situao da deputao de Pernambuco. Esta formava o
nucleo de uma opposio a que se deu o nome de partido
Parlamel1tar. Os conservador 3 de Pel'l1ambuco estavam para
com o seu partido no Imperio omo a deputao Praieira
estivera nos legislaturas de 184-1848 pal'a com o paNido
liberal. Diversos membros d'aquella deputao tinham j
guerreado abertamente o ministel'io, que lhe sacrificara,
tal\'ez pela interveno elo Visconde de Olinda, o ministro da
Justia, Souza Ramos. Nabnco tomou a palavra para caracte-
rizaI' a sua posio excepcional, ligado aos seus amigos de
Pel'l1ambuco pelo vinculo local, e ligado ainda ao ministerio
pclo \'inculo ele partido.
As pausas e a voz argentina de Nauuco davam sua deda-
A <WPO IO PARLAMENTAR 149

mao na tribuna uma solemnidade especial: os que o ouviram


n'e a ses o r tiveram, por exemplo, o effeito oratorio d'e te
contraste que se vai vel' adeante: Entend m meus amigos,
entendo eu com eIle .. _ ntendem meus amigos, mas no eu
com eIle , e da repetio inv rtida: ... com todas as suas
aspiJ'aes, com todas as uas tradies, com todos os seus
pI'incipios. Vde bem, com todos os seus pl'incipios, com
todas as suas tradie , com todas as suas aspiraes. li
No trecho que e segue as phrases em ilalico I'epresentam os
pontos que eIle procurava de tacal" por assim dizer, sublinhar
com a voz e com as pau -as:
Entendem meu amigo, en tendo eu com eIles, que a
politica seguida na pI'ovincia de Pernambuco de um tempo a
(' ta pal'te inconvenient , c pde ser fun sta monarchia,
institui s do paiz, porque c -'a politica tende a neut/'a-
lisal', seno a matai' os e/ementas e a {o/'a do partido con-
se/'vado/'; tende a tOI'nal' em s e universal o partido liberal
cIaqueIla pl'ovincia com todas as suas aspi/'aes, com todas
as suas t1'aclies, com todos os se.us 1J/'incipios, vde bem
cJln tod{js os seus p1'incipios com todas as sllas t'/'adies,
com todas as suas aspiraes, porque e se pal'tido pde I'eunil'
s convice , s adhe es que lhe so natUl'aes a fora que
pl'ocede do ceptici mo, do abandono, do de animo, do des-
corooamento da opinio contraria, e la fora vs sabei~
que s vezes maiol' que apropria fOJ'a. A historia nos diz
que factos de muita importancia que t'm mudado a face dos
e lado , que tem decidido da vi la do povo." e tm operado
e con ummado, no porque todos quizes em, no pOl'que a
maioria quizes e, mas pOI'que, sel'vindo-me da phl'a e de \1
'facil ,nullo adversante, pOI'que ninguem se 0ppz.
Entendem os meus amigos, ma no eu com eIles, que
e sa politica um proposito fil'me, uma inteno calculada.
Eu entendo que um el'['O proc.edente de informaes inex~
las e de pessoas suspeita . Entendem os meus amigo , mas
no eu com eIles, que a modificao d'e ta politica cousa
dcse peraua ; eu ntendo que passiveI, e' larecido o govemo
imp l'ial, mediante a di u tio da tribuna e da imprensa.
f50 UM E TADlSTA DO IMPEIUO

Por uma consequencia das .'nas onvice' csto os mcus


nobTes amigo na opposio j pOI' uma consqu neia do pl'in-
cipio que estabcleci ainda me acho na maiol'ia j entendo que
ainda p1'eciso Pe1'C01'1'e1' muitos turnos pal'a chegaI' a essa
situao que elles toma1'a1n~ situao que me parece anoma{a~
cu/stJ'lctos como somos ao vinculo lJolilico que nos pl'elule ao
pal'lidrJ conse1'vad01' em todo o impel'io.
Todavia, eu fao justia aos sentimentos nobl'es egencl'o-
sos dos meus amigos. Se eu estivessc, como eH s, convencido
que a politica do governo tal qual parece, eu me collocaria
na opposio como eIles, porque tenho em gl'anelc apl'co a
honra que a provincia ele Pernambuco me confcl'io de rcprc-
sentaI-a, eu cooperal'ia mesmo para que subissc uma outra
politica ao poder, afim de que estas cadcil'as fossem occupadas
por quem melhor do que ns, por quem mais t mido por sua
popularidade e tl'auic;es, pudcsse vindi ar a provincia de
Pernambuco do oppl'obl'io e do aviltamcnto.
Mas cI'eio, senhores, que no estamos em circumstancias
to desespcradas, no chcgado ainda ocas/Is belli,. entendo
que o governo imperial deve estudai" deve apl'cciat' bem as
Crcumstanci,ls da provincia de PC1'I1am buco, ai nda no estu-
dadas, ainda no apreciadas at hoje. Entcnuo que o govcrno
deve attender a que no se t1'ata alli smente de quesles
politicas; a estas questes politicas esto associctdas quesles
sociaes, e as questes sociaes so de gI'Cmde alcance~ so de
gl'ctnde lJel'igo...
na no discurso um trecho que se pde chamar o evangelho
'da Conciliao e a que durante o ministel'io Pal'an a oppo-
sio recorl'er por vezes para oppr o deputado ao ministl'o
da Justia ou melhor o ministro da Justia ao pl'esidentc do
Conselho. a esse trecho que aIludia Ferraz, em 3 de Agosto
do anno seguinte, dizendo: II No argumentem com o exem-
plo do nobre ministro da Justia e a sua entrada no circulo
que se vai abrindo, segunda a sua expl'esso, (Nabuco dissera
como ministro que a Conciliao era um circulo que se devia
alargai') II o nobre mini tro pertencia o anno passado a um
grupo iLl1portant~ dcsta casa j tinha lanado a sua ponte de
A opposro u PARLAMENTAR.

ouro n'csse magnifico discur o que recitou nesta casa; es a


ponte de ouro salvou-o; por ella mar haram os nobres depu-
tados ento em oppo~io para o circulo, sahiram do inferno
de Dan te, mas p6de er que ai nda para elle '"01 tem . D
Esta a parte do di UI' o que lhe fez dar o nome de
ponte de ouro. D
Qual a polit.ica a que me refiro? No penseis que nesta
poca, em que todo o e I iritos genero o e patriot.icos mos-
tram tendencias pal'a concilia~o, eu vies e hoje queixar-m~
d governo do paiz pOI'que no opprime, porque no persegue
o nos os adver aI'ios lolitico. N st.a t.l'ibuna ainda no
pl'Ofcl'i, desde que tenho a homa dc perl n r ao corpo legis-
lativo, uma 6 palavra de intolerancia cont.ra meus adver-
sal'io polit.icos na provincia de Pel'l1ambuco; 'empre entendi
qu I'a pou o generoso fCl'il-os e tando ellc au entes; sempre
ntendi rue era um ob. taculo pal'a a pacificao moral da
P1'0\ incia I'evol"cr e e pa ado que l)J'oduzio as . cenas san-
guinolent.as que ns todos delloramo .
o ou su pcit.o, e em v rdade vo digo, senhores, se
po ivel, como eu ntendo, sem desllizer os principio carac-
t.el'ist.icos do paJ,t.ido conservadol" sem faz r a menol' tran-
saco sobl' o pt'incipio da autol'idade, que o primeiro dos
no sos principi s; se po sivel, digo, fazeI' alguma conces-
so ao e:pil'ito de r forma para hamar a no os homens
honesto, int 'Iligent.es e moderado do pat't.ido adverso, eu
estou prompt.o a conC01'rel' om o meu vot.o para esse gl'ande
fim.
Eu entendo que precio fazer alguma concesso no
sentido que o progresso e a experiencia I'eclamam, pal'a que
me 'mo o ol'golho e o amol' pl'oprio no se embaracem ant.e
a ida da apo la ia; para que a tl'an 'formao ja expli ada
pelo novo pl'incipio, p la modiflc3o da ida . A conciliao
como coalio e fuso dos pal't.idos, para que. e confundam
os pl'incipios, paI'a que 'e oblit.crcm as 1.1 adies, impraLi-
cavei, e mesmo pel'igo a, e pOl' todos o pl'incipios inadmis-
'ivel: pOl'que de tl'uidas as barreiras do antagoni mo poli-
tico que as 01 inics se oppem recipl'ucamenle, po t.as em
152 UM ESTADIBTA DO IMPERIO

commum as idas conservadol'as e as exageradas, e tas ho


de ab orver aquellas; a idas exageradas ho de tl'iumphal'
sol)l'e as' idas consel'vadol'a ; as idas exageradas tm pOI'
si o enthusiasmo, as idas conservadoras s6mente a reGexo ;
o .enthu iasmo do maior numeI'O, a reflexo de poucos;
aqueIlas seduzem e coaO'em, estas s6mente convencem. A
historia nos diz que n'estas coalies a opinio exagemda ganha
mais do que a opinio conservadora .....
Ouvi com repugnancia, SI'. pre idente, uma ida pl'ofe-
rida nesta casa, que os partidos por si que se deviam con-
ciliar; que o governo devia e peral' que o partidos se onci-
liassem. Entendo ao contl;ario que a concilia,o de\'e 01'
a obra do govemo e no dos p~ rticlos, pOI'que no est~l lo
aetual, se os partidos por si mesmos se conciliarem sel' em
odio e despeito ao governo, e a tran aco, v r:ando sobl'
o pl'incipio da autol'idade, no pde deixar de . er funes-
ti sima ordem 'publica c ao futuro do paiz. Se a ida bon ,
o governo no deye (0:1 entir que outI'OS se aprov item d'clla
em seu prejuizo, no se deve deixaI' surprehendel' e c1il';gil'
pelos acontecimento, mas deve ii' frepte d'cIles e dil'igil-os.
A seguinte apreciao do ol'go praieil'O faz bem COI11-
prehendel' o mecani mo politico d'e. se di 'cur'o : (( De todos
quantos di 'cursos tm sido pl'onunciados pelos lJar[wnen-
tares de Pernambuco, nenhum compete com o do SI'. Nn-
buco em habilidade e engenllo ... PI'ocmou quanto pude
appI'OximaJ'-se da impal'cialidac1e; confessou yel'dades dUI'a.
aos guabirs; fez alguma ju tia oppo 'io; houve-se para
com elIa como cavalheiro; achou que el'a neces ario fomen-
taI' o pensamento da conciliao; explicou a conciliao de
maneira a conservar o antagoni mo dos principios; nten-
deu que e sa ida devia partir do governo e no dos parLi-
dlJS olligados; foi ao lonto de rCCOIt..ccer que se devia fazei'
concesses ao partido libel'al de Pel'DaOlbuco, pondo-se o
governo testa' das refomas reclamadas pelo progres'o e
necessidades do paiz. Magistrado, eIle declarou alto e bom
som a necessidade de uma reforma na mngi tratura e os p -
rigos que havia em sel'em os magistrados ao mesmo tempo
A OPPOSJO PARLAr.m TAR 153

politicos. Sempre que o r. Nabuco se desprendeu dos la,:os


do pUl'tido para dizeI' a verdade, el you-se a toda a altul'a
do ol'ador e foi I'ealmente eloquente. (O Libel'al Pemam-
bucano de 28 de Julho).
So estes o pI'incipaes topicos I'efel'entes politica de Pel'-
nambuco. Primeiro as queixas que a deputao tinha do
O'overno:
No pensei que nos queixamos, porque nada valemo ,
porque no o cri las as nossas infor'maes ou no se nos
pedem infol'mae . O govel'no e. t no seu dil' ito j a con-
flan(:a no e imp ,adquil'e- . Ogo\'el'no e t no eu direito,
con'idl'ando u p itoseincapazC'. e t souaqu II s;oO'ovemo
t m os seus delegado , a quem ouve, com o quaes quer errai'
antes do que om outro.
SI'. prc idente, queixamo-nos, e entendo que com razo,
de a politi a de de onflana e pI'evenes contl'a todas as
influencia d partido da OI'dcm em Pernambuco, d'e~ a
politica, que em em lernpos ({?/tel'iol'es u.ma conjeclll/'a, ma
que se torn u uma vel'osimilhana sob a administrao do
nobre deputado que foi pl'Csiden te daquella provincia (Ribeiro).
Oua o e sa influencia que se tm como exagerada. ,
intolel'ante ' pemiciosa ? Essa influencia, enhol'e, O
os homens que, pela sua I'iqueza pela ua po. io, p la. suu
l)J'opricdad, o int ressados na ordem publica e e to iden-
tificado com a monarchia e com as in tituies do paiz j so
o homens que por eus seI'vios e tradies deviam mel'eCfW
do govemo impel'ial toda a con iderao. Senliol'e., e as
influencias so exageradas? Pois bem, corrigi, n utralizai,
I'efl'eai as suas tendencias, incompativeis corn as condi
da .'0 iedade ivil ma vd bem: n'esta relao convm no
olhal' mente pam Pernambuco ou para c e pal,tido; extcn-
dei as vos as vi tas para todo o Blazil, pOI'que em todo o
i nt riOI' d'elle ha pot ntados mai' ou menos fOI'tes, que as 0-
bel'bam a autoridade e quer m dominai-a, um vicio O' ral e
de ol'ganizao j convm pOI' cansequencia adoptar uma eri
de medida que, I'e tab lecendo o pI'in ipia da autol'idad ,
revoque esses potentados s condies da ociedade ivil j
'1M UM E TADISTA DO D1PERIO

convm, entre outras medida radica , que os maO'i trados


deixem de ser politico . Eu sou magi trado, ma' nfi po. o
deixai' Je 'reconhecei' essa necessidadc. E convm muil is o,
afim de que elles possam tcr fora nccessal'ia pal'a no serem
dominados por essas influencias. pI' ci o que' o poder judi-
cial'io seja reorganizado, que a nossa legisla~o ja adaptada
ao paiz.
Senhol'es, alguma dessas influencia. s50 cI'imin03as?
Pois bem, puni-as; penetrai, . eja como fl', o.' seus antl'o.
e condel'ijos; fazei e. te en'io justil,a publica, que serei
abenoados pelos homens honestos d todo' os pal,tido ; ma.
POI' amorde algumas dessas influencia. , n50 c nvm inquinar
todas, infamar todas, infamar um paI'lido, infamar uma pl'O-
vincia; no faais a Pernambuco a injul'ia de a I' ditai' que
ella se comI e de a sassino' e umplices.
Este o trecho, a que se refere Feitosa no al'tiO'o d Liberal
Pemambucano, em que Nabuco appl' va a intel'venuo de
Chichol'l'o nos engenho. m que se acoitavam riminosos s b
a garantia, dizia-se, de. ua rela s de familia :
Quel'ei', senhol'es, uma pI'ova de moralidade d'es e par-
tido que e quer depl'i mii' e meno cal ar'? Ouvi. O partido
praieiro, subindo ao poder em 1844 com toda a fOI'a de sua
popularidade, peneLJ'Ou nos engenho de alguns homens que
se dizia nossos alliados; alli prendeu cI'iminosos, e appl'c-
hendeu escravos furtados. O orgo do pal'tido da Ordem, sem
desconhecer o servio que a Pl'aia tinha feito justia publica,
em resposta :is folhas d'esse partido que nos re pon abili-
ayam pOI' esses homens que diziam ser nos'o', sel'vio-se
d'estas ou de expre se. equivalentes: No mancheis a glol'irt
e o mel'ilo da vossa ob'1'll, no nenl1'Clli~eis a sanco l1w1'al
(a-:encZo l1ul/'lYl'es da]Jolicia homens cl'iminosos, elles lIu so
nossos ... Senhol'es, a misso do govel'l1o, e pI'incipalmenle
do governo que repI'esenta o pI'ineipio consel'VadOI" no
guel'real' e exterminal' familias, antipathisar com nomes, des-
u'Llil' influencias que se fundam na grande propl'iedade, na
riqueza, nas imp0l'tancias sociaes; a misso de um govel'no
con ervadol' deve ser aproveitar essas influencias no inte-
A OPPOSIO " PARLAMENTAR lt 155

resse publico, identificaI-as com a monarchia e com as in-


tituie , dando-lhes pro a de confiana para que possa
dominaI-as, dirigil-as e neutralizar as suas exageraes. Se
representais o principio conservadol', como quereis destruir
a influencia que se funda na grande pl'opriedade?..
Pela minha pal'te, como legisladol', como magi trado,
como politico e homem da ol'dem, estou prompto, como
sempl'e estive, para ajudar ao governo no empenho glOl'ioso
de extilpaJ'a impunidade. Ser este, dentro de pouco o prin-
cipal empenho da sua administl'a\o, de arte que n'esse dis-
urso, em que c ti t.ambem lanado o pensam nto da conci-
liao como ella eio a realizar-se, pde-se dizer que estava
de antemo o seu progl'amma, como ministro da Justia. O
discurso encerrava este ultimatwn :
Convm, SI'. pl'Csidente, rcs Iver de alguma maneira o
problema da ituao da pl'Ovincia de Pernambuco. Se que-
I'eis a con iliao, pre i o fazei' conce es ao partido da
opposio; ma , vede bem, pal'a es a conciliao no podem
deixar de sei' con ideradas e chamadas es as influencias do
pal'tido da 01'llem, porque ellas so partes no litigio e no
pde haver accommodao sem intel'veno de uma das
paJ'tes; e, poi " convm acarear a uns e ou tl'OS, o contl'ario ser
I'eaco e no conciliao; reaco chamar os inimigos e
guel'rear aos amigus. Quel'eis poJ'm, a 1'erwo) convm a
li'anque';,a, pOl'que os individuos do pal'tido da UI'clem, rtlTe-
pendidos de wlla dedicao qne to cam lhes custou, ou se
1'etil'ClI'o da scena polilicrt, ou acomprmhal'o o enlTO tl'um-
phante do venceciol', pOl' onde. elle 10/', at onde elle fOl', e como
ellefl'.l\fasse o governo o quequel" como pei1so que quer,
fortificar o principio Conservadol" extendendo o seu circulo,
ento deve dar mostms de confiana aos eus amigos, no de-
senganai' e desacol'ooar a, dedicaes e actividades do pfll'lido
Consel' ado!', no neutl'alizul' os eus elementos, mas dil'igil-os
e aproveitai-os; ele mentil' esses factos que gel'aram a descon-
fiana e as suspeitas. Dev I'eol'ganizar o paI'tido se est mal
ol'ganizado, deve pl'oeul'ar dominai-o.
A pel'Orao uma bella pagina de sciencia politica, cheia
156 UM ESTADI TA no IMPERIO

d' sse fervor eom que alJUco tratava empre a defesa social,
da . el'i clade com qne encarava o enfraquecimento das foras
mOJ'ac ell1 que ella dc\c assentai'. Toda ella foi sublinhada,
quasi pl1l'ase por phra e, com o assentimento geral da casa:
era com erfeito uma bl'ilhante reivindicao do dever lue
ainda incumbia ao partido con ervador, ao mesmo tempo que
um appello a favor das novas idas de conciliao, a que pro-
cmava dar COI'pO e pal'a cuja dil'ec o reclamava a iniciativa
e a responsabilidade do governo:
Senhol'es, entendo que um gabinete no pde ser apl'e-
ciado seno pelo com plexo le. eus actos e do actual gabi nete
eu no vejo que os actos sejam bastan tes e taes para me
det rminarem a fazel'-Ihe opposio. Todos os governos tm
erros; no passiveI quc haja um govemo sem'erros. Tem-
se dito: Somos livres, a ol'dem publica est 1'estabelecicln,
as inslilnies esto salvas, podemos fa e1' hoje o que m/'o
podiamos fazei' honl,em. Mas eu entendo, senhol'es, qu o
que podemos fazeI' hoje podiamo fazeI' hontem, e o qll
no podemos fazcl' hoje no podiamos fazer hontem, porque a
nos a mi. o como partido conservador no est preen-
chida.....
Dou a razo: entendo que a politica conservadora no
um 'entimento que tenha mente o alcance da occa io e que
devc desappal'ecer com a cl'ise que o motivou. Se c ta fura a
politica conservadora, ento seria a politica at d s estran-
geiros que vivem entl'e n6s, e que no querem a desordem;
seria o instincto. A politica consel'vadora parece-me que
um pI'incipio, pl'incipio complexo que suppe outl'OS ll'in i-
pios e os compl'Omi 'sos a quc e. tamos obrigados aos olho'
do paiz; no s um principio do presente, ma tambem
do futuI'o; no se refere s6mente defeza, mas tambcm
reo rga nizao .....
No basta que a ordem pullica esteja restabelecida mate-
rialmentc, pI'eciso que desappal'ea o receio de que ella
alguma v z seja compram ttida. No basta que as instituil;cs
e tejam sal\'as do pel'igo que correram, preciso que sejam dc-
senvolvidfls tie1as leis essenClaes a sua "xi tencia, e fil'111UdiJ:-i
A opposro PARLAMEl TAR .. 157

pela reforma d'aquelIas que lhe o pl'ejudiciaes e iDcongl'uente .


To podemes, poi , (l.e ligar-nos do vinculo politico sem preeD-
chel'mos os compromissos que temos com o paiz. Por isso cu
vos disse que no podemos hoje mai do que podiamos hon-
tem. Senhores, ha segurana no paiz, todavia no vejo segu-
ridade, c segurana e segUl'ldade no so a mesma cousa;
a cgul'ana relativamente actualidade, material; a segu-
ridade do futuro, mOI'al, a ausencia de receios.
u No penso, como alO'uns Dobres deputados, que liSOD-
geiro o quadl'O que no offerece o paiz. Quando eu vejo que a
fe politica e a sanco moral esto quasi obliteradas; os pl'in-
cipios politicas substituido pela intrigas; quando o scepli-
cismo domina tudo; quando o pl'incipio da autoridade o
alvo do amigo e inimigos; quando o sophi 'ma o typo da
nossa 'poca e pe em contl'oversia todo o pl'inci pio. ; quando
ahi vemos a impunidade, diremo que o quadro do paiz
lisongeiro ~ Quanuo c tes elementos de di' oluo existem, eu
no pos o diz I' que o quadro que oITel'ece o paiz li ongeiro
quanto relaes mOl'ae . Que importa que esses elementos
no estejam em acl,~o, se de um momento para Outl'O elles
podem pOl' qualquer ci rcum tancia pl'oduzil' uma exploso ~
Eu tenho, senhores, mais medo da anarchia surda, d'essa
desintelligencia, d'es a desconflana, d'e se scepticismo que
ahi I'einam que dos pronunciamentos. ))
Em concluso declarava que daria o seu apoio ao gabinete,
- seno por outros motivo, porque elIe el'a uma necessi-
dade da situao. Oerrelto d'esse disc~lI"o na Camal'a foi muito
gl'ande. Nabuco avanou com elle para o pl'imeiro plano, sua
flgura politica tomou de repente ou tras proporcs (1). em

(1) Rel'el'indo- e em 1856 a e e di CUI' o (nO de 14 de Janeiro)


o Liberal Pernambucano mo Ll'ava bem como foi por esse
/!;olpe de L::denLo e de imn.gina~o politica flue abuco conquistou
o seu logal' de mini LI'o no gabinete Pal'Un : Uma vez na
C.amara, e creve Feito a tl'es annos depois, recol'dando es e
lilscur. o com a viveza com que e recordam. mente impI'e se
pl'ol'undamente gl'avadas na mel110l'ia, uma vez na Camal'a tra-
vada a lucta entl'e os Parlamentares e o mini tel'io Tone':, o
sr. abuco fez ostenLao de medianeiro j modificou o p-:Jl~:L-
UM ESTADISTA DO IMPERIO

era passiveI deixar de admil'ar a aI'te, a mestria do ata-


que: elle no se separava do mini teria, pai' ser o do par-
tido, mas vibrava pOl' isso mesmo em nome da unidade do
partido um golpe cel'teil'o na politica do gabinete em Pernam-
buco. Por agora o nobl'e deputado vota a favor do gabinete,
dir a Justia, o orgo ministerial no Recife, mas o seu
discurso, em quanto aos negocios de Pernambuco Q mi
calculado que se tem profel'ido, feriu o governo mai do que
.qualquer dos seus collegas. )) POl' Outl'O lado era iml ossivel
no admirar o tacto e a delicadeza com que, afastando o gabi-
nete, elle tieava dos elementos contrarias da situa o i to
dI) dominio conservador e da idas de con iliao, o pro-
gramma de uma situao non, acceitavel pal'a todos.
Para fazer face opposio pcvl'lamenla1' e diminuir a im-
pl'esso do discmso de Nabuco, o governo reCOl'l'e palavl'a
Eempl'e prompta do seu leadel', Wandedey. No havia, com
eIT ito, na Camara, como foi bem dito ento no Jomal do Com-
mel'cio, wn la/enlo mais al'guio, 1l1na phl'Clse mais suave) umct
vo;:; mais sympalhica. A capacidade politica de WandeJ'l y
foi verdadeil'amente prematul'a e desde o comeo notavel,
razo pela qual muito joven tinha autoridade e pre tigio d
chefe; elle pertencia ao numero das aguias que S. Louren\o
se gabava de haver creado. Entl'e Wandedey e Nabuco a dif-
ferena de physionomia politica el'a grande. Wanderley era
um poliLico homem do mundo e um ol'adol' homem de espi-
rita. Tudo n'eIle em talento, espirita, agudeza, no devia nada
aos livro:. Seu mal'avilhoso talento natural tratava a politica
como uma meada enredada que fosse preciso deslindar s

menlo Parlamentar, como que seguindo-o em pal'te, defencl u


o mini tepio 1'OI'l'es em parte, pal'a que d eBe e no separa e,
e elogiou o pal'tido pl'aieipo para fazer crel' que e tava animado
dos melhores sentimentos conciliatorio., e para que essa conci-
liao no fosse con .. idel'ada uma burla; checou ao ponto de dizeI'
que era mi tel' fazerem-se concesses ao pal,tido contrario pal'a
e\'itar o inteil'o apal'tamento dos adversarios, que l'ecual'iam ante
a pecha ele renegados. Esse discUl' o calculado o collocou frente
da deputao de I 6i'nambuco, e na ol'ganizao do novo minis-
terio entrou o'sr Nabuco pal'3. a pasta da Justia. II
A OrrOSlAO PARLAMENTAR 159

com a delicadeza dos dedo . Sua bagagem in tellectual era to


pequena quanto po sivel; no se cal'regava de livros, omnia
mea mecwn porto podia lle dizeI' em qualquer debate que se
levantasse. Um espirito a im desdenhava tudo que em poli-
tica pareccsse pensamento puro, theoria ou sciencia, de facto
elle re 'peitava no estadi ta a experiencia e o ucces o; para
a politica era preci o mente um bom sen o apurauo, como
o d Mont Alegre, pou a c usa mai', seno meno , do que
para dirigil' qualquel' grande estabelecimento. abuco tinha
pela intelligencia lucida de Wanderley grande admirao
desde estudante, c mo pela de Ferraz; as suas organizaes
ram, porm, pl'ofundamente differente . Wanderley no se
entia na citlo para reformaI' a sociedade; o in tincto que e
in 'inuara n' lle de reformadol', como o accusam seus pro-
jecto', in tincto to forte em Nabuco elle depressa o eli-
mina (1.).
Wanderley combate a conciliao. D'essl vez a sua saga- (Ct-
cidade trahiu-o, em pouco temi o elle ser pre idente e mi-
ni tI'O da Con iliao. ex O que devemos de ejal', di e elle,
que o nos os partido encal'l'eirem a enda legal, a e tl'ada
onstitueional. Deixai que os hom ns model'ado de um e
outl'O pal,tido, em que os mais exaltados' pos am confiar e a
pinio publica Lambem, deixai que es es homens governem,
quando fr tempo, quando a isso forem chamados pela
mal' ha ordinal'ia dos negocios; deixai que elles realisem
suas ida e seus plano', quando isso fI' de utilidade publica;
no queil'aes formar um amalgama incompl'ehensiveI, uma
esphinge. o' esta uma ida nova; os partidos so um
pouco ... direi, atilados, para conhecel'em a fraqueza da al'ma-
dura do partido advel' o; seguem diversos systemas de guel'l'a,
egundo as phases pOl'que ae pa ando a politica que com-
batem; primeil'amente uma opposio de pl'incipio , depois
vo-se modificando, at que chega o tempo em que pl'gam
conciliao. o que succedeu com o pal,tido actual, quando

(1) Sobre vVanderley ver no capitulo seguinte outros traos


politicos e pessoaes.
1GO UM ESTADISTA DO IMPERlO

estava no poder a opposio, faI10 da oppo io Liberal, no


da opposio pa1'Lamenta1', que enLo no exi tia. Em '1848
tambem o pal,tido prgou muit a concilia o, mas a conciliao
que tornou-se em lograo quando subiu ao podei'. justa-
mente o que ha de succeder, a realisar- oe a nova politica de
eoncilia~o, que chamarei tambem de logl'aoo \)
Como e v, o golpe el'a to leve que no podia offendel'
a esplJinge l>. Para havei' a conciliao era pI'eeiso que os
liberaes se quizes em chegar para os seu ad versarios. Wan-
del'ley em um trecho do seu discurso corteja essa oppo io
decahidn, insinua que e1la tem mais que lucrar c rrendo pal'a
o go\'erno do que para o pal'lamental'es, acena-lhe com uma
situao liberal pura em que o pal'tido proscl'ipto pos a subil'
ao podei' com toda a fora que deve tel' uma aspil'ao quc
aspil'a a govel'nal' 0 Por i.. o como quc supplica aos chefes
natnl'aes, s cabeas pensantes da oppo io liberal que no
se de taquem do seu partido, e I'eferindo-se ao sceptici mo
de que fali ara Nabuco : I em eu supponho que haja e e
scepticismo na opinio politica, quel' de um, quer de outro
partido cio Impel'io. lIa pocas de agitao, ha poca de mo-
vimento, ha pocas de tranquillidade, e ha como que uma
poca de marasmo ou de somno dos partidos. O governo
l)l'ecisava ter o partido liberal vivo, fazei' crcr que e1le el'a
ainda o mesmo, pal'a conteI' o motim e sujeitaI' os rebeldes
de suas proprias fileil'as. Era, porm, trabalho pel'didoo A
Conciliao, como vamos vel', estava feita nos espil'itos e o
ministel'io, porque fl'a o mesmo, que inicial'a e dirigil'a a
reaco conservadora e vibl'ara o golpe de morte no espirito
de revoluo e no antigo pal'tido liberal, estava gasto pelo seu
relativamente longo dominio e no podia inspil'al' confiana
aos mesmos que destl'uil'u politicamente. Antes de acabada a
scs~o retil'ava-se, com effeito, o ministel'io Torres e era cha-
mado ao pao o visconde de Paran.
LIVRO II
o l\1IN ISTEH,IO PARA A ('1853-'1857)

CAPITULO I

o GABINETE E O SEU PROGRAMMA

1.. - O Presidente do Conselho.

Em 6 de Setembro de 1853 (1) organizava o Visconde de


Paran o seu gabinete da seguinte fI'ma : elle, na Presi-
dencia do Conselho e com a pa ta da Fazenda, Pedreira na do
Imperia, Nabuco na Justia, Limpo de Abreu em Estrangeiros
e Bellegarde na Guerra. Em Dezembro Paranhos entrava para
n Marinha. Os motivos dados por Tones no senado para u
retirada do ministerio nada esclareciam. Tall1bcm ninguem
tinha interesse em apuraI' a verdade. O ministerio de 29 de
Setembro de 1848, de tacto frn um s rninisterio tinha
durado cinco annos; :3e Eusebio se declal'a\'a canado (2) em

(1) Os ministl'oS por vezes chamaram o gabinete - O gabinete


de 7 de Setembro. Em geral, porm, o ministerio era eonheciuo
pcln. data da assignatul';1 dos deel'etos.
(2) " O Eusebio devia dizei' os motivos verdadeil'os e no al1el?;Ut'
canao, Il Nota do Imperador Biogl'aphia de Furtado por Tito
Fl'aneo.
I. 11
mI ESTADISTA DO IMPElUO

Maio de 1852, Hodl'igues To!'res tinha direito de allegar o


mesmo pretexto em Setembro de 1853. C1 Allegal'ei lambem
essa causa, re pondia elle a D. Manoel que lhe uggeria a
de culpa de Eu ebio, e explicarei que especie de canao foi.
Podia t.er dito que era o canao dos que estavam impacientes
por ser ministl'Os e do paiz que desejava mudana de scena.
A fonTIa1io do novo ministerio foi notavel; todos os mi-
ni tI'O excepto Paran e Limpo de Abl' u, o antiO'o mini tI'O
de Feij e da Maioridade, que pal'ecia e tal' ao lado do Pre. i-
dente do Conselho como U_01 programma vivo, eram homen
novos, as im como Caxias e Wand rIey, que elle devia
chamar mais tarde. Via-se o pensamento de Paran de go-
vernaI' s, - Limpo no tinha sequito entre os aquarema',
- com homens capazes e competentes em suas reparties,
mas que no pudessem a pil'ar a dividir com elle o mando.
Provavelmente no passaI'am despcrcebidBs ao ol'O'anizador
umas palavras que o Visconde de Olinda tinha deixado cahil'
n'esse anno mesmo no senado (sesso de 20 de Junho) : N..
pl'ecisamos de administradores; onde a cora os achai" os \"'}
chamar, quer sejam ou no membl'os da reprcsentao nacio-
nal; eu contento-me com uma cabea politica no ministel'io,
os mais sejam administradores. Pal'an seguiu esse me-
thodo; f6ra das camal'as, porm, s foi buscaI', na falta de
Caxias, o ministro da Guerra.
O novo Presidente do Con elho el'a nesse tempo o homem
politico de maiol' ascendente no paiz. Da sua categoria s6 res-
tava Olinda, o qual, se tinha uma intelligencia SUl erior a
Paran, no tinha as suas qualidades de dominio e tinha o
espirito muito mais estreito, de facto opposto a frmas e idas
novas. Com uma intelligencia natUl'almente prompta e pers-
picaz, Paran era dotado de raro tino politico, de uma dispo-
sio pl'atica e positiva que o fazia observar fl'iamente o
homens, accumulal' as pequenas observaes de cada dia, de
prefereneia a procUl'al' idas gemes, pl'incipios syntheticos le
politica. Elle deixava a Outl'OS a historia, a imaginao, a
sciencia, os livros, e contentava-se em trabalhar com a sua
simples ferramenta, que no el'a outl'a coisa mais do que a
o GADI ETE E O SEU PROGRA~JMA iB'l

cautela, o bom senso, a penetl'ao mineil'a, aperfci<:oada paI'


uma longa experiencia do altos negocias e trato do. homen
notaveis do paiz. lla\'ia n'elle um certo de dem pela natureza,
em gel'al, dos politi os; el'a um conhecedor de caracteres, e
por isso no tomava 0- homens pelo que el.les me:mo pre-
tendiam val~r, ma, sempl'e com gl'ande de conto. Viera ua
Regencia e da Maioridade com uma grande reputao de
encl'gia que a sua scena com o 1m pel'ador em 1844 ai nda
mais augmenlara. Dmante os anno da oppo'j 3.0 os seus
golpes tinham chegado at ii cora que elle tl'ataI'a me mo
com,obrancel'ia.
A unio ue Pal'an com Va concellos fra uma cOI1\'er-
gencia de foras rara em politica, l'e sas que armam a dil'e -
o de um pal'tido de toda' a qualidades pl'ecisas pal'a a lucIa.
Entre elles que se di ide a respon abilidad ainda que o
estylo litteral'io parea er de terceiro, do opu culo A disSolu-
o do gabinete de 5 de ~laio e a faco anlica, que o paiz
todo tomou como um de afio COl'a pela olygarchia do
senado. II Os che~ s olliO'ados tratanlll1 o eleitol' do mini-
tros como o pri ioneil'O da Con tituio e a sua fora em
to real que este no pensa a em affrontal-o . \ ubida do
partido conservador em 181,8 o resentimento cio Impel'ador
e tava ainda demasiado vivo para entregai' a Ronorio a suc-
ces 'o de Paula Souza; o seu partido, porm, no podia dis-
pensai-o, e sem fazer parte do gabinete elle foi o dil'ector da
nova situao. 10 mini teI'io de 29 de S tembro, dua "ezes
os mini tros pediram-lhe que os auxilia se em commi se
difOceis, primeil'o apre iclencia de Pel'11ambu o, depois a
misso ao Rio da Prata. Em ambas Ilonorio reyelou a sua
indole imperio a, a sua l'e oluo prompta, a ~ua intuio de
estadista, mas tambem a suas deflciencias, que consistiam
em acreditar demasiado em si e tomai' as ua imposies
como solues uefiniti\'as. A mo cI'a fort ,ma o lacto nem
sempre era pel'feito; faltava-lhe em habilida le o que lhe
sobrava em energia; sabia destl'uil' as resi tencia , melhor do
que as sabia de fazei'. Assim, por exemplo, e91l1 maior flexi-
Lilidado e paciencia. menos pouco caso , a expI'esso
fM VII ESTADI TA DO lMPERIO

clle teria talvez conseguido em Pernambuco evitar a segunda


revolta de Setembro de 1849 e em Montevido impedil' o
triumpho de Oribe. A maxima de Cesar, o nil actU1n 1'epu-
tans si quid supel'esset agendu1n, no era de certo a sua;
elle dava por completa a victoria d de que o inimigo fra-
qucava, no se preoccupava com difficuldades !:iecundarias
nem com pequenos advel'sarios.
Algumas de suas qualidades politicas eram de primeira
ordem : assim, possuia a mais val'Onil de todlls, a for\<l de
separar-se de seus amigos no momento em que elle. iam I' '0.-
liz<Jr um gl'ande plano que elle autorizara, mas que depois se
lhe flgurava pl'ejudicial, como o capito que repentinamente
muda de rumo no meio de uma manobra diffJciJ por ter des-
coberto o .pel'igo em fl'ente. Revelou esse p der sobre si
mesmo em mais de uma occasio, em 181:0, em 184 /.,
em 1803, e de modo notavel no golpe de Estado de 30 de
Julho (1832) que a sua defeco no pl'oprio campo de batalha
inutilizou (1). A essa resoluo, que se pd bem ehamar a
integridade do instincto politico, alliava outra qualidade supe-
rior : a de no ambicionaI' o poder, se outros no goyerno
podiam fazeI' mais do que elle, ou se os podia melhor ajudaI'
de fra. Havia nesse seu procedimento, que foi o de 1831, o
de 184'1, o de '1848, o cunho da mais altiva e legitima ambi-
o, mas tambem revelava-se em grau no menor espil'to
publico, lealdade pessoal, generosidade e desinteresse.
Honol'io, como se v, era feito no s6mente para dominar,
mas tambem pal'a dirigir. O seu espil'ito lwatico deixou-se
seduzir na ultima phase por idas de pl'ogl'esso e melhora-
mentos, a que, entretanto, a escola flnanceira em que se
----------------
(1) A moderao que me impunha para com meus adversal'ios
(t

no era uma novidade na minha carreil'a politica; quando encetei


esta carreira foi ligando-me a um partido que se imp0z esta con-
dio, e desvaneo-me de que quando esse partido, arrebatado
pela torrente de successos que pareciam chamar uma maior
energia, julgou dever separar-se desse principio para ter meios
mais adequados de represso, cu lhe disse; Alto; contino a
(t

ser moderado. Paran, 26 de Maio de 1855.


I)
o CADll ETE E O SEU PROCRAMMA

cl'cara lhe fazia sempl'e oppr a preliminar da economia.


Nabuco, pOI' exemplo, parecia-lhe um mini tI'O gastadol'; a
todas as reformas e idas d'este aquelle objecta sempre o cal-
culo do que ellas podem cu tal'. A sim tambem esse cstadi ta,
a quem coube presidir um gabinete reformi ta, e jmais
houvc 1 que foi o verda leiro destruidor da antiga 01 garchia
saquarema de que fizera parte, o cl'Eador da situa o de qua
sahiu a fuso dos partido e, portanto, toda a vida ulteriol' elo
nosso systema politico, mo trar-se-ha sempre eivado dn yelbos
preconceito contl'a o cspirito de reforma e sel' de alO'uma
frma o primeiro vencido da ua propria victoria. :\o s6
cm rela s reformas ele Nabuco que i so se d; na propl'ia
lei do irculo o discur o de Eusebio lhe cau ar'l ao mesmo
tempo que irril.ao, a mais pertmbadOl'a admirao; em nin-
guem a. prophecias e lamentae elo velho e pirito con 'Cl'-
vaelol' diante da novidade de eleitorados independentes pro-
duzil'am ao cahir dos labio de Eusebio to forte abalo como
no proprio autor ela reforma.

II. - Os Ministros.

Os eollegas de 110norio PI'am todos, como vimos, homens


novos, excepto Limpo de Abreu, j ento aciado e desligado
da politi a, sceptico a respeito dos homens qua i um mero
e pectador dos partidos. Pedreira, mini tI'O do Imperio, trazia
da I residencia lo Rio de Janeiro a reputao de um espil'ito
innovador, ancio. o por intl'oduzir em no o paiz o grandes
melhoramentos modemo ; fra elle quecontractara a primeil'a
estrada de ferro do Imperio, a pequena linha de Mau raiz
da serra de Pett'opolis. Era um administmdor de uma mobi-
lidade infatigavel, que mexia em tudo e entendia de tudo,
refOI'mador de instincto. Apezal' de possuil' grande abun-
dancia de expre o e clareza de idas, tinha um medo inven-
cvel da tl'ibnna e para obrigai-o a tomai' a palavra o cal
166 U~[ E~TADISTA no DIPEI1IO

legas recorriam a toda a especie ue al'di (1). Sem paixo


partiuaria, e itando comprometter- e e ser fallado tanto corno
falI aI" no era de cel'to um temperamento politico. Era um
desse homens que vivem na politica como no melhor club
do paiz, a quem s a poli tica interessa e distrahe, mas que no
foram feitos para as luctas que ella impe, parecidos com os
frequentadores de camarins, que no podem viver seno na
atmosphera dos bastidores, na companhia dos actol'es e
actrizes da moela, mas que nem paI' is o sentem a menol' dis-
posic:o pal'a o palco. A sua verdaeleil'a po:io eria a de um
administrador que dispuzesse de amplos meios e de um pes-
soal incanavel em redor de si, ou de um con ultol' gel'al elo
Estado, dispensado de re idencia fixa. Com elTeito, uma sin-
gularidade de Pedreil'a era a ubiquidade ou melhol' o seu con-
,'tante alibi de residencia, o prazeI' ele esconder-se para tl'aba-
lhar em solides pittorescas e longinqua , sendo talvez a sua
favoeita a da Boa-Vista na Tijuca. Conta-se que s vezes che-
gava a tomar um escaleI' no Al'senal de Mal'inha pal'a despa-
chaI' a pastas ministel'iaes no silencio ela balda. Devel'-se-hia
astimal', tl'atando-se de uma natuI'eza assim to precisada de
actividade e movimento, que tives'e vindo antes da poca do
velocipede e do telephone, se no fos 'e a consolao p:ll'a ellc,
to am'igo de isolal'-se, de te I' vivido quando ai nda cl'a pos-
sivcl um Bom Reli/'o li na vizinhana da cidade. Pedrcira
era um homem sempre apl'cssado. A julgaI' pclas canas que
dial'iamcnte escl'cvia a Nabuco sel'ia prcciso um gabincte
smente paI'a atlcntlcl' S suas l'ecol1lmcnuaiies em duplicata.
Talvez pai' no saber neg:ll'-se que sc occu\ta a c no apl'e-

(1) O SI'. ministro do Impel'io explical'i ", di,:ia ti" vezes


Nabul;o, obl'igando-o assim a appal'ct:cl' no. tribuna. (C Tem a
palano. o SI'. ministl'o do Impel'io ", annunr:iavo. o Pl'eslllenle da
Camo.ra a quem algum ministl'o 1IH1lidal'a rallal' em nomo de
Pedl'eira. PClll'eil'a tinha expcdicntes promptos. Uma vez Pal'an
ia levantando um gl'ande tumulto por tCI' dcixado escapaI', em
uma l'espo.'ta a um deputndo do. Pal'ali~1.Jn, a palal'l'a desaforo.
Pedl'eil'a intel'\'eio, pOI'cm, a lcmpo com cslc upal'le : O Clue o
SI'. PI'esidcnle do Conselho diz que roi um desafogo do nobre
dcputado ..,
o GAlllNETE E O SEU PROGRAMMA f67

cinnt O poder. E pil'ito conservadol', mas amigo dos ultimos


aperfei oamento em tudo, conhecendo e acompanhando as
modificaes introduzidas nos servios publicos dos paizes
mais adiantados, era um auxiliaI' de primeil'a ordem n'um
govemo reformista. A sua cal'l'eira mini 'terial limitou-se
'estra' prefeI'iu em politica ficar na lua de mel, no quiz
expeI'imentar o poder com outros collegas, At o fim se recor-
danl com ternma e audade des e temJ30 de governo, desse
mini terio, escreve elIe vinte annos depois a abuco, que
nunca mai teve igual. A confiana e a amizade do Impe-
rador con tituiam para elle um privilegio que preferia po-
sio de mini tro; sabia bem que o Imperador tinha a preoc-
cupao de no ter valido e para aspirar a uma posio
politica proeminente, direco politica, er-Ihe-hia preciso
pelo meno renunciar por vezes a suas entl'ada franca em
, Clll'i toio, Mais leal, vereladeiro e di cI'eto amigo o Impe-
rad (' no t ve nunca' na difficil situao de confidente im-
pel'ial con 'elheil'o intimo elle nunca e quec u que a sua
lealdade on i tia em no favoreccr o eu partido, em inspi-
l'ar-, e nos intel'esses do Poder Moderador, em no prejudicar
nenhum do seus collegas da duas Camal'as no animo do
sob I'ano, O Impel'adol' e Pedreil'a el'am feitos pa('a e enten-
dercm, tinham a mesma mouemo, a me ma prudencia, os
me mos processos de c n el'vao e melhoramento, a mesma
m'le de deixar a:s difficuldade resolverem- e por i me mas
evitando smente aggl'U\'al-as, o mesmo r speito opinio,
a me ma ym pat1l hs e c1eferencia " qua i que o, me mos
gostos e aII'eo I elas mesmas pes.'oa , A morte de Bom
Retil'o foi para o segund0 reiado no BI'azil unIa perda multo
pal'ccida com a do duque de UIomy para o segundo Imperio
em Fl'ana,
Outl'O mini tr'o em Paranhos, que Pal'an leval'a comsigo
na misso ao Prata e adquirira pal'a o partido conservador,
Pal'anho era um homem de talentos e faculdades diver a ,
gl'uncle tl'abalhaclol', adaptavel a quasi todos o ramos da
admini tl'ao. Como jomalista mo trara- e natUl'al, simples,
pl'cl'el'indo a lucidez do pensamento ao omato litterario; sua
1ll u~r ESTADISTA DO IMPERIO

palavl'a na tribuna tinha os mesmos attributos : era pl'ompta,


cortez, lcxivel como um flol'cte, mas Lambem impropria pal'a
tndo apparato de eloquencia. Elle preferia ao brilho, orio'i-
:lalidade e subtileza da phl'a e a novidade e a penetrao elo
~Jrgumen to; a estructura logica do discurso era vigorosa, a
linguagem perfeita de propriedade e clareza, corrente e e..pon-
tanea. Mai diplomata ainda do que politico, eram os nego-
cios exteriores sobretudo que o attrahiam. o tinha sequito,
no era um arregimentador nem dominador de homens, mas
um homem de gabinete, por isso no chegou vel'dadeira-
mente a ser nunca um chefe de parlido ; sua cal'reira foi feita
fo~a de trabalho e de talento, impondo-se pOI' sua e'p ia-
lidade a lodos o governos, e tambem pela confiana, pl'imciro
de Paran, e1epois, de Caxias, por ultimo do Imperador. PaI'
muito tempo elle guardou alguma coisa da renuncia dos pri-
meiros papeis e retrahimento proprio, por mais elevada que
seja a categoria, do homem de emprego; havia nelle uma finfl
combinao de funccionario, diplomata e paJ'larnental, sobl'e-
lavada pela ambio de ligai' o seu nome a um acto que o illus-
tl'asse na historia. Com effeilo, na ultima pha 'e da sua vida
veiu a caber-lhe essa grande fortuna do estadi ta. A o)ygm'-
chia conservadora, que elle sustentou com todas as foras e
serviu com toda a lealdade, nunca o reputou um dos seu ,
tratu-o at em 1871 como um intruso que ella no de ,tinava
direco supI'ema. Paranhos era um pre 'Limoso e solido
companheil'o, susceptivel, mas leal; lalvez intelleclualmenlc
timido, no declinava porm nenhuma respon abilidade;
sabendo apagar-se para evitar attl'itos, mas nada cedendo do
que interessava o seu amor pI'oprio, em elle do ministerio,
seno quem mais go to Linha pelo podei', quem melhol' se
conful'HJava a elle. P6de-se suppr que elle conCOl'l'eu pal'a
IJrplollgar, m(' _to Paran, a vida do gabinete. Deve havei'
mais do lIue urna singulal'idade de coincidencia no faclo de
terem sido dois ministel'ios de que Paranhos fez parte os que
mais duraram em nos. a historia pal'1amentar.
Wandcl'!ey, que entr'a em 1855, cl'a um e pil'ito diffel'cnte :
he,nhum Linha a sua vivacidade, a sua adivinhao, a sua
o GAD[j ETE E O SEU PROGRAMMA 169
gl'aa, a sua facilidade e com prehenso das coisas; ao lado
delle os outros parecem morosos, carregado , trio tes, de
outl'a I'aa, como jurisconsultos ou senadores romanos diante
de um leve sophi ta atheniense. eu prazer em resolver as
questes as mai complicada pela inspirao do momento,
trataI-as na tl'ibuna la minute. Seu desejo de subil' foi
grande na mocidade, e na velhice a ambio politica tor-
nou- e sua paixo dominante; elle conservou-se entl'etanto
quasi U1I1 decennio afastado da scena, recolhiLlo ao seu en-
genh da Bahia, moralizando com o humor pe simista,
gel'al em no o mundo politico, o espectaculo a que de longe
assisLia (1). Wanderley produziu nos homens do. ua poca a
impre' o de er ornai intelligenle de todo o que no
Lluer diz r que elle tive se a inten idade mental de OULros ;
por mai intelligente deve-o e entendei' o e pirilo que per-
eebia melhor e mais depressa o ponto sen jyel ao maior
numero e abia tirar partido de' e a ano que levava aos
demais. Ao passo que o discurso de outros era feilo com uma
lonelada de erudio e talvez, quando havia, uma ona de
espirito, o delle era fei to com uma tonelada de espirito e,
quando havia, uma ona de erudio. Alm de que o e 'pirito
estabelece entl'e o orador e o auditorio uma familiUl'idade que
a eloquencia at impede, o improviso desenvol\"e entre elles
ympathias que nenhum trabalho meditado con egue des-
pel'tar. Lan ar a ida no momento em que ella nos vcm e
a medida que nos vo surpI'ehendenclo a n mesmo', coi a
muito c1irferente de elaborarmos a impl'esso que queremos
l)l'ocluzir nos Outl'OS.
Ao onu'al'o dos demais membros do gabinete Paran,
Wandedey el'a um partidario, imbuido at do pl'econceito de
pattido, no podendo deixai' de ver no liberal um typo infe-
riOl' de homem. por isso que at o fim elle ficar sempre o

(1) u Quanto politica, escI'evill. elle em 1804 a Nabuco, vivam


pOI' l muitos UlInOS sem mim ... de longe que se conhece cjuanto
tu~o e l cOITompido e que nojenta hYPocI'isia la\Ta de alto a
baIxo! AndaI' assim que bom andai'. "
170 UM E TADISTA no IMPERIO

mesmo consel'vadol' e tCl'minal' os seus dias encarnando o


ultra-con el'Yatismo. E te um ca o em que e v di tincta-
mente o habito da convi\'cncia, o espirito de cil'culo modifi-
cando a tendeneia natural, porquanto Wanderley no era
talhado para a re 'istencia, mas para guiar as tI'an fom1aes.
O seu afTcclado desdem pelo liberali mo tomou-se com o
tempo uma segunda natureza e acabou fazendo deHe a Cas-
andl'a da cscl'avido, quando dependeu talvez de pouco tel'
sido elIe o verdadeiro iniciador do movimento abolicionista
com o seu projecto de '1804 prohibindo o commercio e trans-
porte inter-provincial de escravos. Impul ivo, por veze ris-
pido no debate e nas relaes politicas, a sua generosidade na-
tUI'al curava logo as feridas que o seu espirito ou impaciencia
causavam. Wanderley era dotado em alto grau do sentido da
propor o entl'e os grandes ideaes o estado ocial e isso
ebva-lhe ao e pil'ilO e se tom, esse geito de duvida e incl'e-
dulidade que tomavam em torno d'elIe por escarneo e s pti-
cismo. EI'a um politico que se tinha formado em Le age,
homem de estado realista e no romantico, oradOI' estudada-
mente cho, s vezes vulgar para ficar ao ni\' I do ma:or
numero, da educao mediana, rudimental' mesmo, onde esco-
lhera o seu publico, mas dispondo de tal habilidade de bom
senso, naturalidade de malicia, plausibilidade de motivos,
que a arte a mais consummada sentia-se incapaz de re istiI'
ao, seus golpe. A sua mimica, que os adversarios temiam
ainda mais do que a palavra, transformava-se de de que se
tratava da susc ptibilidade ou da primazia nacional. 'esse
ponto o riso interior cede o logar exaltao, a indiffel'ena
habitual torna-se em preoccupao, em tel'ror prophetico, e
um fundo cavalleil'Oso, genuinamente quicbote co, revela-se
como a vel'rlmlcil'a natUl'eza do homem a quem todos tinham
tULDndo, e que se tinha tomado talvez a si mesmo, por um
zombadO!' alegl'e e in ensivel da comedia politica. Duas ques-
tes elle tomou profundamente a peito em sua vida: a das
Mis es, ou antes a do pre tigio do Brazil no Prata, e a da
indemnisao, depois de lei de 13 de Maio. O esforo que
eUe fez n'este ultimo episodio de sua carreira o pendanl pel'-
o GADINETE E O SEU PROGRAlIIMA 171
eito do que fizera n'aquelle mesmo enado Jos~ Bonifacio
em 1885 em favor da abolio: tanto um como outro foram
veJ'Cladei,'o suicidios, dedicaes do ultimo alcnto dc vida
cau a que cada um aCl'edi lava nacional. A assignatlll'a de
Cotrgipc nos tratado em separado da A umpc;o um trao
,ufficielJte paea caracterizai' o seu tempeeamenlo diplomatico
e a nSI il'cc;o que elIe tinha pela hegemonia bl'azileil'a d'p.ste
lado da Ameri a do Sul.
O outeos mini tros de Honorio el'am Limpo de Abreu c
Pedl'o de Alcantaea Bellegarde, indi ado por CL"Xia que no
pde entrar 100'0 pai' doente. Limpo era j ento um sobrevi-
vente do pI'imeil'o Reinado e da ReO"encia; a politica 'que o
havia fa ci nado na ua mocidade era agora para elIe um
obje to, de estudo, de analyse, de satyra, - um theatro onde
elle ainda con entia em figuml' e qu usas em do seu nome
no cUl'tazcs, ma' de que no entia mai. o prazcI' e o en-
cant . A . ua alma chega indiffer na: no jogo da ambio
em qu o fizel'am pal'ceil'O elle qua i um mil'on e no lhe
importa pcnJel'. A on idel'ao, a po i 'o, o respeito bas-
tam-lhe inteimmente; o poder no o t nta. ElI parece pen ar
que o podee, quando no 'e tem mai o mando, l1iminue o
pl'e 'ligia, As ua vistas e Lavam ta]" z desde ento voltada,
pal'a a IWC idencia do senatl , qual eheO"ar em '1861 pal'a
fazeI' della tlul'ante tl'eze filmo uma "recie de pl'esidencia da
camara do' Lonl.. ~ politi 'a tinha :e tOl'nado pal'a clle uma
disponibilidade activa, da qual apreciava mente o l)I'ivilegio
de daI' o seu voto cm conselho de mini-tl'o ou no Con elho
de Estado fazendo 'Ul1tie a autoridade da sua expCl'iencia s
no\'a' gel'al;lcs d~ estadista ..
Bellegal'dc (1) no cI'a um homem poliLico, el'a um militar
de mel'ito c mpetentc na sua especialidade, que recebeu a
l'd m de entl'al' pal'a o ll1inist I'io como. oIdado, como teria
recebido a de s guir de \10\'0 para o Pal'aguay donde havia
rr.r.ent mente chegadu, e cuja melhor reeommemlaJo essa

(1) Paran dil'igiu- e tambem a Seba tio do Rego Banas que


so rocu'ou, lI.ccoitando, POJ'6111, li. pro 'iclencia. do Pari.
112 UI E~T OISTA no HIPEmo

de tel-o Caxias dado em seu logar a um homem como


Bonorio ('1).
PaI'andisse na camara que ao seu ministerio tinha presi-
dido a meditao. Com effeito, a solidez da organiza o se pro-
al' pelo facto de tel' esse ministerio continuado o me mo
depois da morte de Honorio para realizaI' o sen progl'amma, e
tambem pelo facto de terem os homens que elle reuniu em
tOl'no de si mostmdo as qualidades de aelminisll'adol' que elle
tanto apl'eciava e occupado todos mais tal'de a pl'imeira
posio.

III. - A Conciliao.

Estava assim, annal, acabado o afastamento pessoal entre o


Imperador e o chefe mais poderoso dos consel'vadOl'es llesd
a morte de Vasconcellos (2). O pl'OO'l'amma elo mini, tel'io
resumia-se n'uma palavra - conciliao. Pela primeira vez
depois ele tan tas perseguies um governo fazia solemne-
mente da conciliao o seu compl'omisso minislerial. Paran
explicava que os ministros no abandonavam pOI' isso os
seus pl'incipios nem pretendiam creur pal'lido novo, que ape-
nas iam impl'mir na sua politica aquelle cal'aClel' de mode-
rao que con entaneo com as opinies eon el'vadol'as, A
fOI'mao do mini, terio era homogenea; Abaet, Pedl'eil'a e
Pal'anhos tinham sido liberaes, mas anles de entrapem pam
o gabinete haviam mudado de aIlianas, - no se deve dizer

(1) Honol'io queixou-se a Caxias de l1avel'-lhe indicado BeJle-


garde. li POl'que? o acceitou? II Pelo conll'ario, respondeu
Pal'an com a sua habil~al vivacidade, acceilou logo, no pediu
sequei' pal'a I'eflecti!'. II E que Bonol'io lhe fallal'a em nomo de
Caxia '. No Pal'aguay, BelIegal'de deixal'a a melhol' impI'o ' o.
Era visivel a }Jl'edile,co pOI' elle do pI'imeil'o Lo! ez, que repolia
a Pedro Fel'l'oil'a : li Ninguem veio ainda ao Pal'[lO'uay com me-
lhol'os desejos e que mais juslifie~sse as s'ympathias que in, pi-
rava. Ol'fieio de Pedl'o Fel'l'oiI'a em 11 do Abl'il 1 55,
(2) li O marfJlte~ de Paran I'elevou-me de qualquer facto que
eu houvesse commellido em I'elar;o a Carneiro Leo. E mais:
O Pal'an no se cUl'vava. II otas do Impcl'aclol', iid.
o GADINETE E O EU rI10GRAM IA 173

mudado de crenas, porque entre os dois partitlos no havia


differena sen ivel; o dito de Hollanda Cayalcanti : 'o ha
nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no
podei' 1>, era a verdade entida pOl' todos. .
A conciliao era uma ida que estava sendo advogada com
muito applau o na imprensa e no parlamento, principalmente
pelos liberaes. Ode'a tre da revoluo de Pernambueo, anni-
quilando esse partido na sua frma revolucionaria e tendo
fechado o pel'iodo das revolues, havia creado um de ejo
g ral de paz e tl,tlOquillidade. Os partidos e tayam preparados
para fazer e receber pl'opostas de concordia e a opinio im-
punha model'ao aos vencedol'eS, senhores ab olutos do
campo. No paI'lamento a oppo.:io ao mini terio Torres tinha
adoptado . 'a bandei,'a; na impren a ella era fortemente sus-
tentada. SaBes TOl'l'es-Homem, com a me ma penna com quc
escl'evera o LibeUo do Povo, tomara-se no jornalismo o pala-
dino da conciliao. Em -1848 no ministerio flIacah tentou o
governo uma politica que se chamou ento de justia e tale-
mncia e Paula Souza chegou a peno ar em appellar Lambem
para o concurso dos adversal'io , mas os animos estavam
ainda muito apaixonados, a situao liberal triumphante na
urnas tinha exigencias inconciliaveis com a' pretenes sa-
qual' mas. E Lava-se ento no periodo aquem da revoluo.
Accu ado em '1855 por ter repellido a conciliao em 181:8,
Paran defendeu-se com a diffel'ena das pocas: Os parti-
dos, disse elle, se achavam ento irritados; a conciliao,
lJ.uero dizer, esse socego de e pirito, essa tl'anquillidade dos-
partidos, essa calma das paixes, no p6cle ser impI'imida
seno por brao mui forte. Era uma alluso muito clara
hesitao e fl'aqueza de que se accusava Paula ouza ('1). De
ordinario ns acceitamos a sociedade no e tado em que ella se
acha. O ministerio de '181:8 no achou uma sociedade tran-

(1) Lembre-se do mini tCI'io Paula Sou;:a, alis homem de


excellentes qualidades, e do estado dos espil'itos nas pl'ovincia
do NOl'te. A falta de energia conLl'a os amolinadol'es de Setembro
tambem concorrcu para a retimda d'esse ministerio. Notas do-
Impel'udor, ibid.
174 UM E TAOISTA DO HIPEHIO

quilla na qual pudesse imprimir uma politica mais moderada


c conciliadora'; ns achamos, pelo contrario, um e tado social
e circumstancias em que e a politica era me mo uma neces-
sidade, era uma nece' iclade para se poderem realizar, como
j disse, os melhoramentos em que o corpo lcgi lativo havia
empenhado o govemo. ])
Em Paran a conciliao encon traya aquelle brao fOl'te de
que elle mesmo fallava; com elTeito, a influencia do cu nomc
foi tal que se oblitel'al'am inteiramente a djyi~as cios parti-
dos; durantc, pde-sedizer, dezannos antio-o libel'ac: eanti-
gos consel'vac!ores vo appal'ecer mistura(los nos mesmos
gabinetes, at que com a fOl'lnao cio partido Pt'Ogl'CS ita
os conservadOl'es puro sc extl'emam outl'a vez e dc novo
recomea o antagoni mo dos dois partidos.
Accusou-se a Conciliao de teI' sido uma concep ela
COl'a para baralhar, confundir e annullaI' o::; antigo. partido,
cujas tradies lhe faziam sombm e de cuja organizar;o clh
tinha queixas : do Conscrvadol" a lucta contl'a a Faco .\.u-
lica; do Liberal, os . cus dois appellos, m 18'12 e 1 1:8, ela
dissoluo para a reyolta. Nem PaI'an tcria ido o homem
cscolhido pelo Impcl'ador para realizaI' ss pensamcnto
occulto da COl'l'U pu elos partidos ('1), l1em eU s tClitlm accci-
tado a concilia~fto se ella 11:10 lhes fosse imposto. prlo CSpil'jt

(1) O conselheit'o Joo, Ifl"do possue uma clll'la iJllill1a do Im-


perador, dil'igida a um do :::eu~ amigo:; mui' dedir;aL1o , o "i -
conde de Itana, enlo (1 IjG) em viagem na EUl' pu. _-'os'a eal'La
eseripta na expanso da mai . segura amizade o Impel'ador de-
fende-se da aecusao ele pretender desmorali'al' oslJomcn' e
annullar os partido, aecu ac:o que se renovou durante todo o
reinado : " A impacielJcia. de alguns leva-o a u.ttl'iiJuir-llle o
desejo de anniquilal' os pal"lidos e seus homens mn.is impol'La.nLc ;
mas cOlno poderia eu sem alies dirigir o govel'no? A minha aec;iio
sempre a tenllO PI'ocul'ado conservar no limites ele il1lplc mente
moderadora e no ella as~im util aos partidos? Talvez que no
caream d'ella e muiLo (!. timarei que tal succeda e o parLido no
poder respeite sempre os dil'eitos da opposio e este s Pl'ocUl'e
derribae o outro combatendo conscienciosamente seus er1'OS pe-
rante a opinio publica. :'Icu amOl' Constituio e caeacter no
ambicioso assim como G annos de experiencia creio que no me
tero deixado illudie no que digo. "
o GABINETE E O SEU PROGHAmIA 175

publico, ou, como Paran to hem o definiu, pelo estado em


que se acllavct a sociedade. Os testemunhos da poca o unu
nimes a favor da oncol'dia, do congraamento, em yo de e-
jado desde 1831. Salle Torres-Homem descreveu cm 187,
como se figUl'ava ao e pirito contempol'aneo, esse periodo de
de cano politico: Entre a elecadencia elo' pal'tido yelhos
que acabaram seu tempo e o appal'ecimento do partidos
novos a quem o porvir pel't nce, vil' a im mtcl'pl'- e uma
cpoca sem phy ionomia, sem emoes, em l'enas enthu ias-
tica , ma que teI' a inapreciavel vantagem de rompeI' a COD-
tinuidade da cadei'U de tradies funestas e de favoreceI' pela
ua calma e por seu silencio o trabalho interior de I'eorgani-
zao aumini trativa e industl'ial do paiz. c( Todos o povos,
continuava elle, ainda os mais cheios de seiva e de vigor pl'e-
cisam desta intermittencia na sua actividade politica para
I'eparar e fortificar os outros elementos de ua italidade. As
nae nova, que, como o Brazil, ainda no fim1aram ele todo
os alicerce de 'aua civilizao, nec"''' itam mai que outras
dessa parada, e no podem de perdiar . uas fora vivas
Gill lucta ince santes e e terei sem exporem- e ao errei tos
de uma caducidade prematura. (Ses o de '12 de Junho
de 1857).
Que a Conciliao teve todo o assentim~nto do Imperador e
que foi com vel'dade qualificada de 1JenSamento augusto pelo
marquez de Olinua, no ponto duvido o. O Impel'adol' era
por as im dizer a unica pessoa no Impel'io que conhe ia a ver-
dade inteira sobre as disposies recipl'ocas dos paJ'tidos,
porque ora govel'Oava com um, ora com outt'O. De ninguem
a fora destl'u tiva, a intoleI'ancia, a pel'seguio implacavc!
do vandalismo partidario el'a to sabida como delle. Por is o
era natural que de ejasse alguma model'8o, alguma medida
de justia nas relaes dos partidos; que abandona cm a
pnixo do exterminio reciproco. Nada, pOI'cm, mais dirficil
do que pUI' em pl'atica uma no\'a politica de que se lJ'aou a
linha geral: em primeiI'o logar, cada um a entende a seu
modo; em segundo lagar, a nova opinio que se frma tem
muito mais fora do que os que a CI'earam. Com a Conciliar:o
tiG UM ESTADISTA DO IMPERIO

viu-se uma e ontra coi a : no s ella foi um palavra que


teve tantos sentidos differentes quantos os interpretes, como
tambem ueterminou, pelo encontro inesperado e confuso dos
antigos partidos, uma babel em que ninguem se entendia.
Com tudo isso, foi visivelmente uma poca de renascimento,
de expanso, de recomeo, em que se renovou o antigo sys-
tema politico decrepito, em que se creou o apparelho model'no
de governo, e se dilatou extensivamente, no para a classe
politica smente, mas para todas as classes, o horizonte que
as comprimia (f) ..

(1) A palavra conciliao, que s no ga1 inete PaPa,n ser uma


politica, determinando a desaggregao dos antigo elementos
partidarios e novas combinaes futul'a , tinha muito flgul'ado em
]Jrogrammas ministeriaes. Os gabinetes anteriores quasi todos
diziam-se conciliadores. O de 5 de Maio (181G) e o de 8 de Maro
(1848, Ivlacah), sabido que se prevaleceram d'esi"e pl'incipio
pam acobertaI' o apoio saquarema que recebel'am; os outros ga-
binetes libel'aes sustentados por Aureliano, in"ocavam-n'o tam-
bem por sua "ez para disfal'ar o apoio do elemento" aulico II.
aproprio Saturnino chamava conciliador o gr.binete de 22 do
Maio (1847) e at o de 2 do Fevel'eil'O \18-1-1). A nossa politica,
dizia elle, em nome d'aquelle gabinete" 6 a politica da Conci-
liao, a qual ns nunca rejeitamos, pelo ontl'al'io fomos ns os
primeit'os que a iniciamo pOI' factos e no por palavras, a po-
litica da conciliar.o, mas no d'e ,a conciliar;o dos pactos e das
transaces; a politica da conciliao dos principios, da conci
liao que se firma paI' actos legislativos e administrativos .... "
CAPITULO II

A 8E88AO DE 1854

I. - A Defeco de Ferraz.

A imprcs. 50 causada pelo ministcrio foi cxcellente; a sesso


de '1853 e tava nos seus ullimo:> dias, todo queriam fazer
credito ao estadista que yollava ao podcr, depois da sua ru-
ptura de 1844, com o Imperador pl'ecedido da maior nomeada e
ccrcado do maior prestigio que al ento sc tinha fOI'mado em
tomo dc um nome. A vida parlamental' do gabinete s Jevia
portanto comear na sesso seguinte. No intervallo das es-
'es que os ministl's, sobretudo os novos, tinham que lre-
pal'ar as reformas com que dcviam dar a medida da sua capa-
cidade. abuco, como veremos depois, emprega todo o tempo
(IUelhc sobra da administrao da sua pasta, que n'esse tempo
comprehendia os cultos, em construir a serie de inedidas que
deviam figurar no seu primeiro Relataria. A sesso de IBM
, cal'acterizada parlamentarmente pela defeco de Ferraz.
a 27 de junho que se d a ruptura de Fel'l'az com Pa-
ran. At ento a vida do mi.nisterio tinha sido facil, a joven
opposio no contava um aradai' que dominasse acamara;
l)

COlll Ferraz ella adquiria o primciro de todos. Foi um en-


contro pessoal violento deque os contemporaneos se recordam
ainda. Ferraz era na tribuna uma especie de gladiador an-
I U
178 UM ESfADI8TA DO lMPERIO

tigo, armado da rede que deyia lanar sobre o adversario e


do tridente com que proc"J.raria atravessar-lhe a armadul'a.
Ao contrario de Pal'an, possuia va ta erudio e uma com-
petencia administrativa excepcional. Talvez de todos os ho-
mens de Estado da monarchia tenha sido o unico apto para
occupal' qualquer das pastas com a mesma proficiencia e
mesmo, se as circumstancias o obrigassem a tanto, todas a
um tempo. A. sua actividade era igual sua capacidade. a
tribuna da Camara era um adversaria temivel. Tinha a pa-
lavra naturalmente facil, abundante, expressiva, modulada,
vigorosa, de ordinario commum, por vezes fulminante; era
um mestre de e grima a quem raros golpes tocavam, e que
pelo seu modo de atacai' sempre a fundo, descobrindo-se todo,
ainda mais arrebatava o espectador. Ardente, impetuoso, s
vezes rude, corajoso sempre, Ferraz era tambem uma natu-
reza generosa e facil de captar. No havia adversario que elle
no tratasse do mesmo modo, e foi assim que a Camara o viu
de repente romper contra Paran com a sua vehemencia, o
seu brio, o seu exaltamento de sempre.
Naquella sesso elle comeou accusando o Presidente do
Conselho de an nullar os seus collegas, de reduzl-o a mel'os
cargueiros de pastas, ao passo que na sua repartio, a da
Fazenda, no era elle o verdadeiro ministro, havia alli um kit-
chen cabinet; denunciou a Conciliao como no sendo outra
coisa mais do que uma compra de adheses, citou palavras de
Nabuco sobre a conciliao, oppondo-o de algum modo ao
Presidente do Conselho, com quem se o suppunha em diver-
gencia; chamou-o o grande orado/' da deputao Pe1'1lambu-
cana, um homem a quem voto de corao a maior affeio,
e perorando sobre aquellas palavras atiraya a Paran esta
serie de golpes pessoaes:
Se pois esta a opinio do nobre ministro da Justia, e
elle uma gl'ande autoridade para mim, como no devo re-
peIlir similhantepolitica ?Equal o seu fim, meus senhores?
Eu enxergo um grande fim : - a satisfao do espil'ito de
clienLela, o desmoronamento de tudo em proveito de poucos,
em proveito' de um cil'culo ...
A SSSO DE 1854 179

E quem , Sr. pre idente, o r,hefe dessa escola e desse


cil'culo? Ne se momento todos os olhares o indicam, o nobre
Pre idente do Conselho ... TIa H annos achava-se o partido da
ordem na pujana de toda a sua fora e gloria ... e a um ca-
pricho foi sacrificado o seu destino ... a um capricho, digo?
Sim, a um capricho, se no in eja de um grande talento,
de um homem di tincto ... D'ahi todos os males que soffremos
por muitos annos... as margens do Prata tinhamos inte-
re ses importantes a amparar e a defender; era preci o alli
um homem, um homem de nome; elle para l foi. .. Oribe
foi derrotado, capitulou, mas Oribe venceu por incUl'ia de e
homem, dominou as assembla , o poder; d'abi, como em
i844, datam todas as desgraas, todas a despezas, todos os
sacrificios por que temos passado. E actualmente, senhores,
o que nos espel'a? O que espera a maioria de ta Camara? J
no so nece sarios vossos e foros, o susto da Constituinte
desappareceu, a vossa hora vai soar: - Jacta est alea.
A resposta de Paran no se fez e peral', elle deix:ou-a para
o dia seguinte para ter tempo de moderar-se, ainda as im
no evitou a lucta com o retiario. Paran tinha sobre Ferraz o
prestigio da posio, da sua grande calTeira, de haver tratado
e conhecido por longa experiencia o caracter dos homens; a
camara procurava interpretar suas palavras e at suas reti-
cencias como outros tantos oraculos politicas. De certo no
tinha a palavra e a elocuo de Fel'l'az; no era um orador,
excepto irritado, que pudessE: interessar um auditorio que pri-
mel'o no (asse subjugado" pelo caracter, pela vOijtade, pelo
passado do homem. Os seus recursos nos encontros parla-
mentares eram, porm, grandes; elle possuia antes de tudo
a mais temivel de todas as qualidades do luctadlJr, o conheci-
mento do ponto vulneravel do adversaria e a coragem de des-
fechar o golpe mortal; havia acompanhado quasi todos aquelles
homens desde o comeo da sua cal'reira, sabia o que valiam,
como se tinham formado, as influencias que os elevaram, os
seus vinculos pessoaes, as suas intenes occultas e aspiraes
inconfessadas.
Comeou fallando do constrangimento com que apanhava a
f80 UM ESTADI TA no nrPERIO

luva de Fefl'az, porquanto havia pouco que este deixara o Tt'i-


bunal do thesouro e por isso a sua opposio podia pal'eccr,
alm de conscienciosa, deci iva contra o mini tel'io, Cada um
desses sarcasmo era atirado no tom habitual do orador. Dc-
fendeu-se de ser o ministro dos ministl'os, de fazer tudo, elle
a quem no se d uma gl'ande capacidade, ptle tudo ab 01'-
vel'! )' Incommoda ao!; seus adversal'io a intima unio que
existe entre elle e os seus collegas. Esta unio, porm,
nasce de tel' presidido organizao deste ministel'io a medi-
tao, de ser elle composto de homens que se e 'limam reci-
procamente, de homens que esto perfeitamente accordes em
todos os principios politicos. E mais adiante l'espondendo a
Ferraz que o julgara na pasta da Fazenda um ministl'o mera-
mente figurante: A fatuidade no conhece merito na mo-
destia. )) Como? )) pergunta-lhe Ferraz. Levantando a voz
e com pausa, diz a tachygraphia do Jornal elo CommeJ'cio:
- A fatuidade n conhece merito na modestia. E 'tava
travada a lucta corpo a corpo. O nobre deputado frequentes
vezes me declarou - ninguem ha que lhe po sa pre tal' melhor
auxilio na repartio da Fazenda do que eu." )) O SI'. Ferraz:
- Eu? JJ O SI'. Visconde de Paran: - Sim, muitas vezes
me disse: Ninguem ha que lhe possa prestar melhor auxilio
na repl'lio da Fazenda do que eu, mas o SI'. mini tl'O no
tem confiana em mim. Cada palavra um golpe cruel,
impiedoso, desdenhoso, ao modo de Paran.
Uma das censuras mais fortes de Ferraz versara sobre a
distribuio das aces do npvo Banco do Brazil. Paran man-
dara distribuil' as trinta mil aces de que o govel'no dis-
punha a quem subscl'evesse para os melhoramentos da cidade.
O agio das aces seria empregado em tl'ansf01'mal' as velhas
caladas do Rio de Janeiro. Fenaz tinha denunciado esse ex-
pediente singular em termos de invectiva. Paran conta com
franqueza o que succedera; uma recordao curiosa dos ano
tigos tempos:
O governo tinha o direito de distribuir as 30 mil aces;
ao governo pel'tencia regulai' a maneil'a pOl'que deviam ser
distribuidas. Um concurso inesperado appareceu a pretender
A SESSO DE 1854 181

e sa aces; no eram s accionistas Erios, no eram s ca-


pitali ta que quizessem tirar uma renda'de seu~ capitaes coi
locando-os no banco; el'am 'especuladores que as alariavam a
muita pc soa em capitaes para irem subscrever taes aces,
com o fim de til'al'em o lucro que ellas j apresentavam, o
Incro vantajo. o. Pois bem, senhol'es, a administrao podia,
se tos e COl'rOl11 pida e se quizesse corromper, ter procurado
(li tribuil' c as a e pelos amigo , pelos parentes, pelos afi-
lhados; podia enriqueceI-os. lUas a administrao julgou que
fazia um acto meritOI'io, quando, em ,;ez' de dar similhante
pa o, convidava aquelle que tivessem o desejo de ser pre-
fel'idos a ubs rever m pal'a obras publicas de interesse trans-
cendente para e ta cidade.
Agora o a(h'el' aI'io offendido: a: No,' no pos ivel; o
nobre deputado no considerou como usurpao do poder le-
gi lativo e ta medida, porque seno o seu nome no podia
fiO'urar de modo algum entl'e os contl'ibuintes para a di tri-
buio de tae ace .... o possivel, senhores, que depu-
tados e senadoI'es, que no preferem sem duvida a moral do
interes e moral do dever, quizessem aproveitar o lucros
que podiam havei' da distribuio de taes aces pagando
esse premio, para depois dizerem que c~se premio era um
impo to lanado sobl'e o povo. o, senhores, elles no con-
sidel'aram isto como imposto, mas sim como uma subscripo
voluntal'ia. lJ
Por ultimo, a defesa no ponto talvez para elle sensivel da
accu ao, o pretendido mallogl'O da sua mis o ao Prata :
cc Pelo que toca. minha misso ao Rio da Prata, devo de-
clarar Camara que o pri nci paI fim dessa misso era fazer-se
uma conveno com o governador de Entre-Rios afim de que
esse governador pudesse levar a guerra margem direita do
Rio da Prata e fazeI' desapparecer o governo do dictador Rosa .
E a parte da minha mi so foi concluida e terminada com
feliz exito, e da minha parte estava o voltar crte ne se
momento. Mas por zelo do servio tambem quiz tratar da
acceitao e reconhecimento dos tratados de 12 de Outubro de
1851 e no quiz ausental'-me antes do Rio da Prata. Tambem
182 UM E"':TADISTA DO Il\lP~RIO

me glorio de haver con eguido i o. Pelo que toca ao facto


dos partidarios de Oribe terem triumphado e conseguido obter
maioria nas eleies que se fizeI'am, devo informai' camara
que quando cheguei a l\lontevido no ultimo dia do mez ele
Outubro de 1851 j estava feito o acc6rdo ntre o general Ur-
quiza, Oribe e suas tropas, e o governo da praa de Monte-
vido; desse accrdo, datado de 9 de Outubro, resultou o pl'O-
cedimentodo governo oriental, e suas consequencias.
Devo declarar Camara e ao nobre deputado que j achei
publicado o decreto do governo que marcava o dia para as
eleies no 10 de Dezembro; devo declarar ao nobre d putado
e Camara que o mini trQ que ento dil'igia os negocios, o
Sr. Berrera, quando se lhe fazia alguma ob ervao sobre a
solidez dos laos que uniam os Colorados ao Ol'ibistas, ou se
exprimia o receio de que aquclles perdessem a eleies nos de-
partamentos entregues direco de Blancos, o que destI'uiria
a igualdade de fora entre ambos os partidos, igualdade que
os obrigal'ia a coBigarem-se e a manter os principios em que
se baseou o accrdo, esse ministro respondia: - Eu co-
nheo o meu paiz.
Devo declarar Camara e ao nobre deputado que todas
essas occurrencias que tm apparecido na Republica do Prata
no teriam provavelmente existido e o general Garzon no
houvesse fallecido, porque elle era o lo que unia um partido
ao outro, e como elle morreu, a concordia desappareceu.
Ias,. senhores, o ministro do Brazil no tinha essa mis-
so; a sua misso em smente prestar ao general Urquiza os
auxilios necessarios para derribar a Rosas; essa misso foi
executada e o resultado todos ns sabemos quanto nos foi
grato. Se permaneci no Rio da Prata at a ratificao dos TI'a-
tados foi unicamente por zelo do servio.
A impresso dessa replica foi profunda na Camara e no au-
ditorio. Paran Eahiu da tribuna rindo-se , contava uma
testemunha da scena resuminclo Des e tl'ao o effeito causado
nelle me mo pelo seu tI'iumpho. a vespera elle fechara-se
com SaBes, a quem tinha levado para o Thesouro como seu
auxiliar, e SaBes admirava-se do.partido que Ronorio tinha ti
A E SO DE 185~ 183

rado de algun pontos que elle lhe suggerira em materia fi-


nanceira. A nomeao do antigo jornalista liberal era uma
das accnsaes de corrupo politica levantadas contra o
mini terio.
Nabuco, e pecialmente visado por Ferraz nesse di curso,
teve tambem que re ponder ao seu antigo camarada de Aca-
d mia, redactor com elle no Echo de Olinda. Aqui esto al-
gun dos trechos da sua resposta (de 30 ele Junho). Primeiro,
a impo ibilidade de restaurar o antigo exclu ivi mo conser-
yador c a n ce idade que as monarchia tem de tolerancia,
de r unir em torno de , i toda' a capacidades:
( . eria, nhore, um anacbroni mo hoje um aquarema
deJ 1-3 a 181~9, como um Luzia dessa ra, o e t me mo
no poder le ninguem fazer que volte o tempo que j. pa sou.
11111 tl'abalho insano, mas um tl'abalho sem fructo, querer
eon tituir uma opinio real do paiz contra as ida , contra os
intere e., con tl'a a circum tancias da actualidade. Seria
imitar a tenacidade e re i tencia elo Tories contra ir Robert
Peel, para cahir como elles ob o peso da opinio publica. a
pre ena de uma crise, quando ha aggl'esso, quando ha receio.
pde-se, por necessidade da defe a, por nece sidaele da segu-
ran a publica, ter sob su peita, pde-se excluil' da concur-
rencia da po ics officiaes, aquelles que o adver arios da
situao; mas quando o horizonte se mo tra em manchas,
quando, como o mesmo nobre deputado confessou, no ha as
pil'ae ao poder por meio da revolta, quando mesmo custa
hoje a distinguil'-se o antagonismo politico, quando os indi-
viduos ainda os mais encarniados se approximam, essa ex-
cluso eria um ostracismo odioso, seria um' germen de
reace funestas.
Bem di se o nobre PI'esiden te do Conselho, quando fallou
ante-hontem, que o partido dominante obrava contra seu in-
tere se e pretendesse manter o x~lu ivismo e a intolerancia;
cel'to, o instincto da propria conservao repelle es a politica.
Podem essas divises conviI' a uma republica, porque a auto-
ridade ahi mais fraca, o o tracismo um meio de Sl'gu-
rana, os empregos se con ideram despojo da batalha poli-
1 I UM ESTADISTA no BIPEmo

tica; no cOlwm, no pMe com-ir a uma monarchia esse


exclusi ismo, porquc a monarchia tem n cessidade de esLabi-
lidade,e por consequencia de principios pel'manenlc no
sujeitos s vicis. itudes politicas; deve e no pde d ixal' de
apreciar os servios e as tradies ainda que se no refil'am a
uma opinio politica, ou no obstante a opinio politica do
individuo_ uma gr'ande vantagem da monarchia um mo-
nal'cha clemente e generoso. Eslamos, senhorer, em urna
poca de tran io, de tranformao, convm aproyeital-a para
reorganizar e consolidar o paiz, convm reunil' para e se fim
as intelligcncias do paiz, quebrar os odios passados, e esperaI'
e prevenir assim as reaces futura , as que podem vir.
Quanto accusao de ter corrompido os homens distinclos
a quem chamou sem apmar procedencias :
Para que o nobre deputado possa considerar o govel'l1o
corruptor necessario considerar corrompidos e 'ses que o
governo tem chamado para as posies oro iaes; a discusso
neste terreno odiosa, porque pde ser reduzida s mesquinhas
propore do lucro calJiendo e damno vilando. V ja bem a
camal'a que o nobre deputado no seu primeiro di cur o sUl poz
a todos esses caracteres de que fallou taes que podiam sei'
comprados por um prato de lentilhas, ao depois disse que
eram elles caracteres nobres...
Agora esta caracterizao do systema : A corrupo, alm
de immOl'alidade, porque perverte e anniquila os sentimentos
do brio c do dever, um meio ephemero, visto como pI'oduz
a insaciedade e multiplica os adversarios, que se tomam ou
fingem taes para gozal'em ou merecerem os favOl'cs e a
graas; s um governo imbecil poder lan~aI' mo de simi-
lhante meio como systema de governar, porque em uILima
analyse esse systema mata uma difficuldade, porm cria ou
fz renasceI' muitas outras.
Sustenta as idas do seu discurso de 1853, no quel' a
conciliao como a substitui~.o de um circulo por outro; o
que o paiz quel' no que os vencidos se tornem vencedore ,
no uma inyer o, mas uma transformao. o quel' to
pouco a fuso, porque dessa fuso ephemera podia resultar v
A SE O DE 1854 185

triuIl1[Jho ela opinio exaltada. Elle j o tinha dito antes n'esta


plll'ase definitiva, - no se acha duas vezes para um pensa-
mento a expresso igualmente pel'feita :
Destruidas as barreiras do antagonismo politico que as
opinies e oppem reciprocamente, postas em commum as
idas conservadoI'as e as ic1as exageradas, estas ho de ab-
sorver aquellas. As idas exaget'adas ho de triumphar sobre
as ida conservadoras. A idas exagel'adas tm por si o
enthusia mo, a idas conset'vadoras smente a t'etlexo; o
enthusia mo do maiot' l) umem, a relexo de poucos; .
nquellas seduzem e coagem, e tas smente convencem.
Sobl'e e se discur o ele Nabuco, escrevia-lhe Saraiva, da pl'e-
sidencia de S. Paulo (2 de Agosto) : cc Dou-lhe os pambens
pelo seu di curso em resposta ao Fenaz. V. Ex. o publi-
cista do gabinete e portanto os seus discmsos elevem sempre
pt'imat', quando tiverem por objecto mostrar perante aCamara
a uniformidade da maI'cha da administrao com os princi-
pios essenciaes do systema representativo. pena que o
Fcmlz no e tcja convencido do papel que o seu talento o
fat'ia representar, se elle pudesse demoraI' a exploso do seu
amol' pt'opl'io e do seu resentimento.

II. - A reforma judiciaria

o pl'incipal assumpto da sesso de 1854 foi a reforma judi-


ciaria ele Nabuco, Paran reserva a para o anno seguinte a
refol'ma eleitot'al afim de no inquietar a Camara DO comeo
logo da legislatura. Nabuco einpregara o intet'vallo das se -
ses em preparar os seus projectos; estava ainda nesse engano
dos ministro, dotados de grande actividade, que se e tl'eiam
com vontade de innovat' ou de aperfeioar o que existe, up-
pondo que os relatorios so lidos pelas Camaras e que ellas
esto anciosas por se tornarem collaboradoras de seus nume-
I'OSOS pmjcctos.
O Relatol'io da Justia de 1.854 um verdadeit'o manancial
de refol'llluS nos dil'ferentes ramos da repartio, que ento
186 UM E TADI TA DO HlIPElUO

comprehendia tambem os negocios eccle ia ticos. O mini tro


era visivelmente marinheiro de primeira viagem, no tinha
ida da re istencia que a inercia legi lativa lhe havia de
oppr, do conflicto de intere es que su citava. Elle e 'Ludava
as reformas que queria propr, redigia o projectos, mandava-
o imprimir e dpois sujeitava-os confidencialmente ao juizo
dos homens que lhe pal'eciam mais competentes na especia-
lidade ou a quem elle queria mo traI' deferencia. a lista
figmavam s vezes jovens juri consulto , que se li ongeavam
no comeo da sua carreira com a distinco que lhes fazia o
ministro da Justia ('1). Esse systema tinha alm de outra a
vantagem de promover o estudo da grandes questes admi-
nistrativas em um cl'culo mais largo do que o parlamento,
entre os homens de talento e capacidade que o ministro asso-
ciava aos seus trabalhos. Desse modo Nabuco em '1851, deu
gl'ande impulso aos est,udos de legislao comparada, pondo
em exame e discusso a organizao de quasi todos os ervios
do seu mioisterio. Jos de Alencar assignalou e e despertar
do estudos jul'idicos .ob o patl'ocinio de Jabuco.
obl'e a reforma judiciaria elle fez um verdadeil'o inqu rito.
Entre os pareceres recebidos ha um ba tante curioso que 1)1'0-
CUl'a retratar a poca, mas que desenha ainda melhor a pode-
rosa physionomia do autor. o de Gome de Campos, depois
Baro de Campo Grande. um partidario incon olavel do
antio'o regimen esse procurador da Cora que confessa. no
ler seno o 1Ilemo1'ial de Santa Helena; a memoria que redige
uma longa denuncia de tudo que se tinha feito de de a
ra constitucional inclusive a Constituio. Prometteram
fazeI', diz elle, de Portugal e do Brazil um novo paraizo de
delicias, esquecendo-se que no unico verdadeiro paraizo houve
uma arvore e um pomo que o fez desapparecer e o transformou
in hoo la01'i1na1'u1n valle ... Basta olhar para o acervo de
volumes de leis que se tm publicado de '182'1 para e! Ahi

(1) Pel'cligo Malheiro consultado sobre a reforma hypothe-


cUI'ia : " Que pde dizer um princi piante em exame de um projecto
elaborado por V. Ex ... ? II
A E AO DE 1854 187

e t o corpo de delicto, que dcmon tra authenticamente uma


yel'dade de desenO'ano I'uel: del'ribado o antigo edificio, nada
mais se tem feito que derribal' hoje o que se levantou hontem,
levantar hoje para derribar amanh. Tambem, ene se
tinlm opposto a todas as leis feitas, sem excepo de nenhuma.
\( Declarei-me abertamente contra o Codigo Criminal pelo me-
thodo cientifico, doutrinario e dr, d finies, no qual todavia
no e fazia di tinco entl'e o crime e a culpa, ficando as im
contradi torio e alm di to patentemente incompleto. Di se
que o y tema apreO'oado pelo Doutores do seculo pas ado,
adyel' arios das lei casui tica , no tinha ainda por i a expe-
riencia, e que a adthmetica da graduao e da imputao
da pena tomaria mais facil a arbitrariedade no julgamentos
que elles pl'esumiam evitar, e diariamente mostl'am os audi-
torias da ju tia que nunca houve tanta al'hitl'al'iedade no
fro cOI'l'eccional nem tanto ah urdos.
Com ao Codigo CI'iminal 0ppoz- e com tocIa a foras ao
do Proce o. \( llorrori ei-me com a intI'oduco de jurados
franceza. Em 1841 foi bl'igado a dar pareceI' sobre um
pl'ojecto de lei de terl'as repl'OVOU-O em todo os pontos.
a lei de t I'ra de 18 de etembro de 1850. Tratando- e do
Codigo do Com mel' io, bradei que o Brazil j no podia com
tanto codigos e leis, nAo tinhamos commercio, nem nave-
gao que valessem ses 'liomes; para esse trafico Pl'O-
priamente de retalhos que tinhamos e a nossa cab tagem,
tinhamos as melhores lei j conhecidas e rcc biclas na pra-
tica. II
E ta pagina uma curio a recapitulao de epi odios conhe-
cido da no sa historia pal'lamentar :
llffocou-se nos peitos o intel'esse publico, reinou o
cgoi mo e o proprio to inculcado patl'iotismo tornou-se
moeda to falsa e desprezivel que veiu a prestar s6mente para
motejo e opprobI'io, l1inguem mais quer ser patriota... ubiu
a relaxao ao ponto de no s6 se no procurar salvar as
apparencias e evitar o escancIalo, mas at de se fazer alarido
do que devia envergonhar. Dizia, por exemplo, um mini tI'O
de Estado em pleno Parlamento que desprezava maioi'ias art-
188 UiII ESTADISTA DO IMPEfUO

ficiaes; outro explicava ainda mais claramente, definia as


maiorias: lJaginas da lei do oramento. E te, de no suspeita
autoriDade, dizia na Camara dos Deputados aquelles mesmo
por quem subiea aos logal'es que occupava, que a sua elei~o
no era genuina; aquelle, de no infel'ior celebridade, no s
pejava de repetir, talvez por escarneo, aos que nelle creram:
Se o G1'o- TU1'CO soubesse o que o systema 1'epl'esenlivo
seria o primeiro a pl'oclamal--o aos seus povos. Outro, outro,
outro ... Para que mais? as proprias camaras legislativa,
geraes e provinciaes, ao passo que na lei do oramento e vo
enxertando (phrase parlamentar) os indefinidos artigos addi-
tivos, profere-se com estl'epitosa hilaridade : - L se vo
embm'cando e passando as biscas.
A marcha, o engrandecimento do paiz desde 1822 um
facto incontestavel, mas quem no sentir, deante des!a
qua i inedita figura de sebastianista, saudo o elo tempo colo-
nial, que realmente os co tumes tm outl'a seriedade, a vida
outra dignidade, a sociedade outros vinculas, o caracter outra
tempel'a, medida que se remonta ao passado (1).
Em Maro de 18~ l Tabuco est debaL\':o de forte presso,
atm'efado com a 1'efo1'ma judicia1'ia e a hypothecaria) car-
regado de grande tmbalho de expediente e detalhes de aclmi-
nistmo. (CaI'ta a Josino do Nascimento). Os parec res
sobre a reforma judiciaria e to quasi todos em suas mos. e
o projecto j lhe apparece telTivelmente mutilado, talvez in-
viavel. O projecto til'ava os juizes de direito do nada para
collocal-os no pinaculo. (( Os juizes de direito, dizia Paulino
de ouza no seu parecei', julgam afinal nas causas civeis,
conhecem por aggravo de petio ou instl'umento de todos os
despachos em que tem logar esse rec.urso, conhecem pOl'

(1) Ainda quanto phj'..;ionomia poliLi a de Gomes de Campos


yer a resposta dada por elle a outra consulta de Nabuco pago 330
e sego A publicao em volume dos parecere~ assignados POl' elle
durante seu longo tirocillio de procUl'ador da CorOa daria singu-
lar relevo ol'iginal pel'sonalidade, hoje completamente e quc-
cida, d'esse notavel magistl'ado, que procura imitar os Ramos e
os Godinhos.
A SESSO DE 1 54 18'J

nppelho de tudo o. crimes poli iaes, julgam o recursos


da prununcia em cl'imes inafianaveis, pI'oce am e julgam
afinal os afianavei e d respon abilidade e Outl'O , etc.;
ficam a meu ver talvez carregadi simos. Actualmente nada
lm que fazer, pa sa-se ao extremo 0prosto. ~o julgo
perfeita a lei de 3 de D zembl'o, accre centava eHe, eHa no
CSt"1 cm pel'feita hal'monia com os principias ab tractos da
ticncia. Est, porm, em mais harmonia com as nossas pc-
culial'e. cil'cumstancia . Um edificio levantado em um tel'l'eno
de igual cheio de alto e baixo_, no pde apresentar a syme-
tl'a e regularidade e ter a belJeza de outm levan tado em ter-
reno igual e plano.
O edillcio judiciaria propo to PI' Nabuco no era to pouco
ymetrico ou levantado sobre teJ'l'eno nivelado, era pelo eon-
ll'al'io uma obl'U de ajustamento ao s610, to capl' 'hosa e to
indiffel' nte lei ela unidaele como a de Vasconcellos c Pau-
lino, mas era um plano novo a experimentar, e como e perU!'
"encel' contl'a a re istencia fOl'mal do ministro que fizel'a
votar a lei d~ 3 de Dezembro? A.s respostas que chegam dos
presidentes so em geral animadoras, mas a ele Wanderlcy
annulla o effeito de todas. O pl'ojecto uma revoluo!
Recebi o projecto d refol'ma e von examinaI-o: uma
I\~\oluo completa e eu tenho muito medo de re\'olu~e ,
e cI'eve-lhe em 4 de Maro o pre idente da Bahia, eu futuro
collega de gabinete; a elhice torna-me desconfiado e faz-me
partic1ario dos pa.nnos quentes. Wanderley tinha apenas
quarenta annos e no qu ria mais I'eformas; estava velho.
cs a s mpre a linguagem entl'e ns dos estadistas em for~
mao. Ferraz devia receber na Camara o projecto com a
mesma preveno: Senhores, eu j fui muito reformi ta,
paguei es e tributo da mocidade ... porm hoje que o feu'do
dos annos, - Ferraz era quasi da edade de Wanderley, -
e a expel'iencia me tm mostrado a vereda que devo seguir,
julgo que as reformas se devem operai' com muito tento...
Nabuco recebe como Ulll mau signal a reserva de WandeIley
c responde-lhe: Sinto que a minha refol'll1a te achasse pre-
'"enido e desconfiado, um escolho que encontro. Outro
190 UM ESTADISTA DO lMPERIO

bahiano, araiva, tambem pre idente, adheria inteiramente


reforma (1), revelando L1esde ento amnidades cal'acteri ticas
com o espirito e a intuio politica de abllco: O projecto
me agradou muito e muito e entendo que elle, se passar
como est, ha de dar ao paiz e s uas instituies as melhore
garantias de paz e permanencia. Dou a V. Ex. os parabens
por essa obl'a que o honra e que lhe dar um nome entl'0 os
benemeritos do paiz. (Cal'ta de 16 de Mal'o i8M.) E abuco
respondia : Muito me lisongeia o seu conceito a respeito
do meu projecto, que pl'aza a Deus no seja lanado no olvido
pelo espirito de inel'cia que nos domina e que um dos typos
da nossa poca. D
Na sesso de 26 de Maio de i854 Nabuco apresentou, simul-
taneamente com um pl'Ojecto sobre tribunaes do commercio,
a sua reforma judiciaria. Era o pl'ojecto quc e1le tinha elabo-
rado no intel'vallo das sesses, pOl'm, mutilado, incompleto,
sacrificado s exigencias politicas. Ainda nas vesperas de
abrir-se a sesso o projecto estava sendo podado. Em 28 de
Abril Pedl'eira escl'evia a Nabuco : Sua l\Iagestade di . e-me
hoje que talvez amanh no despacho se resolve se a discuti e
alguns pontos pl'incipaes da sua reforma judiciaria afim de
decidir-se o que se deve a tal respeito dizer na falIa do throno.
As questes que elIe quer discutil' so: i,o as incompatibili-
dades, por estar ainda na ida de preferir a tudo o que est
no seu projecto, isto , a opo por parte do magistrado entre
o seu cargo e o de deputado; 2,0 a faculdade dada pela lei de

(1) Saraiva louva iodos os pontos: II A incompatibilidade foi


estabelecida da melhol' fl'ma possivel, porque tirou mugisLra-
tura o intel'esse que a obl'igava a fazer mal, sem votaI-a ao ostra
cismo politico, deixou um campo vasto para legitimas e razoaveis
ambie . A competencia dos juizes de dil'eito para o julgamento
final das causas cveis em meu fl'aco entender a melhor coisa
do pl'ojecLo. A restl'ico da competencia do jury um vel'da-
deit'o servio fei to justia. A creao dos corl'egedores um
verdadeiro acto de conLrico, pois que exprime uma volta para
a legi 'lao antiga que era opLima a semelhante respeito. A
creao dos chefes civis opLima, porq ue o pr-imeiro passo para
uma organizao adminisLraLiva. "
1!li

3 de Dezembro ao juiz s municipaes de decidirem as questes


judiciarias definitivamente; tem duvidas sobre a constitucio-
nalidade de taes juizes, como esto hoje constituidos; 3, in-
siste na separao das funces policiaes das judiciadas.
Os pontos a que e a carta allude como idas do Imperadol'
estavam todos no projecto primitivo e no figuram, entretanto,
excepto o terceiro, mas de modo imperfeito, no que foi apre-
sentado Camal'a. O que teria determinado a eliminao?
Prova, elmente a influencia no espirito de Paran do pare-
ceres dos seus amigos do Senado, mantenedores da lei de
3 de Dezembl'o e quanto s incompatibilidades da magi tl'a-
tura o interesse parlamentar, o voto dos deputados magis-
trados. Paran n tomou verdadeiro intere se pela reforma
judiciaI'ia, ella parecia-lhe talvez boa para occupar a sesso
legi lativa, no foi, porm, uma lei que elle tiye se nunca a
peito (I). Por sua vez. abuco mais tarde (1858) confessou
que n con iderava como seu o projecto desfigurado que
tinha sido forado a apresental' como ministro.
As diffcrena principaes entre o primitivo projecto e a
Pl'OPO ta el'am que o projecto attribuia aos juizes de direito o
julgamento final nas cau as civeis, estabelecia indirectamente
a incompatibilidade poliLica dos magistrados, pre umindo que
renunciavam a magistratura os juizes de direito eleitos pelas
provincias onde exercessem jmisdico, instituia paL'a cada
comarca um chefe civil, autorizava a nomeao dos juizes de
dil'eito dentl'e os advogados notaveis. Tudo isso tinha sido
cortado.
No seu conjuncto, como fMa concebido, a reforma orga-
niza, a a magistratura de modo que ella pudesse' preencher
todas as funces da justia publica, mas ao mesmo tempo
organizava a policia de modo que no lhe escapasse a perse-

(1) "o ministerio queria acertar; quelles que me pergunta,am,


eu dizia: - Queremos dar garantia e segurana sociedade e
aos individuas; acceitamos quaesquer modificaes necessarias
neste sentido; admitto a discu so. De tal maneira me expliquei
~ue at se me pintou, como j oh ervei, como inimigo do pro-
Jecto. II - Discurso de Paran, em 26. de Maio de 1855.
H)3 mi E'TADI~TA no IMPElUO

guio dos cl'iminoss e a vigilancia ocia!. De~meml)J'ado,


porm, o sysLema do pl'OjecLo, a refol'Lua parecia uma tenta-
tiva pum enthl'onizar o juiz de direito, desol'ganizando o
apparelho preventivo e policial que tanto custara montar.
De se modo a faculdade con tmctora do mini tI'O appal'ecia
sac\'illcada; era como se 'e quizesse julga\' da capacidade de
um al'chitecto pOl' uma obra da qual tives. em ao aea. o mu-
tilado a planta. Para bem comp\'ehcncle\' o sentido desses
debates preciso lanar um olhar sobre as anteriores tenta-
tivas de reforma judiciaria.
O Codigo do Processo havia feito dos juizes de paz o ele-
mento activo da ju tia criminal; a reaco conservadora
substituira esse mecanismo e1cctivo popula\' pell.l poli ia, que
foi cent\'alizada nas capitaes, com a c\'eao dos chefe', c
unificada nas mos do ministro da Justia.
Quando se votou a lei de 3 de dezembl'O que assim tl'ans-
fo\'mra completamente o systema da justia, o pUl'tido libe-
ral protestou en nome das conquistas populares da R gencia,
e levantou-se em armas em S. Paulo e Minas. No govcmo,
porm, de 18B a 181,8, elle nunca seriamente pensou cm
reformar a lei de 1841; fez apenas algumas tentativas sem
insistencia. Uma dessas foi a proposta de Femandes Tones
em '1846. Por esse projecto a attribuio de julgar era tirada
aos agentes policiaes, delegados e ou tl'OS, em quem a lei de
3 de Dezembro a investira, mas no era restituida, como alis
tinham proposto as com misses da Camara em 18U>, aos
juizes de paz; passava pam os juizes municipaes, como um
meio termo entre a autoridade electiva e demi sivel adnntllln.
A jurisdico destes era reduzida de simples preparadores
do processo, ficando a cargo dos juizes de dil'eito a deciso
final de todas as aces civeis. O numel'O das Relac;l1s el'a
augmentado de 4 a 10, a incompatibilidade politica da 111a-
gistraturael'aresolvida pela aposentadoria. Outras dispo 'ic;es
revelam que o partido liberal ainda pensava em ter as suas
linhas de c0lUmunicafio intactas para o caso de nova revo-
luo, preoccupava-o instinctivamente a sorte dos futuros
rebeldes. Assim se propunha que em nenhum processo
A SESSO DE 1854 193

puciesse haver duas appellaes da deciso do jury. Era uma


relerencia ao incidente recente da revoluo de Mina. (1)
Dispunha-se tambem que a designao da comarca ou Plovin-
cia em que teria de ser julgado o indiciado em crime de re-
bellio ou sedio coubesse ao presidente da Relao a cujo
district~ pertencesse a comarca ou provincia rebr.llada.
Oprojecto no obedeciaj corrente liberal de 1831 ; a im
o artigo ql1e prohibia a conce so de ordem de habeas-coJ'pltS
por nullidade do processo. A justia se horrol'isa, dizia o
ministl'o, de que po sam por similhante pretexto e adir- e
punio criminosos do mais atl'Ozes deli tos. A com-
misso (Reboua , Limpo de Abl'eu, A. J. da Veiga) achou
que a medida proposta tinha certo caracter reaccional'io sus-
peito:
E verdade que s gundo a Legi lao em vigor, casos ha
em que se permitte a pri o antes de culpa formada; porm
como uma tal permisso no pde subsisti!' seno emquanto
se fl'ma o processo em prazo determinado, julgou a com-
mi so que na hypothesc de er nuBo o processo, tinha expirado
o tempo e deixado de existir a aLlsa que podia legitimar a
pl'iso e que em tal hypoth no podia con eguintemente
excluir-se a conces o de lima ordem de habeas-co1'pUS, paI'e-
cendo-lhe por isso que o [\\,tigo da proposta devia ser substi-
tuido pOI' outro. E te utl'O, qu lia pl'Ope, era a con a-
grao do pleno direito da magistratura de conceder habea -
cm'pus: As Relaes nos eus districtos e o Supremo Tribunal
em ,odo o Imperio, so competente para mandar pa sal' ordens
de habeas-co1'PUS, quando a priso tiver sido determinada
por autoridades civis, militaI'cs ou ecclesiasticas de qualquer
gl'aduao ou categol'ia que seja, que no est jam sujeitas
como inrcI'iores jurisdice1.o dos juiz s de dircito.
Em 1848 ollLl'O ministl'o da Justia do gabinete de 8 de

(1) A Jo Pedro Dias de Cal'valho, ab olvido mais de uma vez


e .con el'vado preso por se daI' ap pellao da deciso do j Ul'Y,
Ja se vio na sesso de 1843 a altitude de Nabuco em face d'esse
abuso.
I. 13
t94 UM E TADISTA DO lMPERIO

Mal'o, Pimenta Bueno, apresentou novo projecto de reforma


com cerLs re tl'ices indirectas: desta vez as attl'ibuies
de formar culpa, conceder fiana e julgar passam da autol'i-
dades policiae para os juizes de paz, confol'me a tradio
orthodoxa do pal'tido. O ministerio clmou apenas doi' mez.e,
o seu successol' no a ceitou a reforma e as commisses ue
Ju ,ti<;a formulal'am no o p1'Ojecto. Neste sepal'ava-se a polic.ia
admini tl'ativa gel'al da policia judiciaria; aquella pas a,a
pal'a o ministerio do Impel'io e era entregue a intendentes,
e . ubintendellte " cabenuo-Ihe alem de outras funces espr;-
ciaes prendei' os criminosos remettendo-os logo autoridades
criminaes. A policia judiciaJ'ia era ol'ganizada sob a fl'lna
do ministerio publico, orgo exclusivo do governo pel'ante o
poder judicial; as attribuies judi iaes dos d legados eram
repartidas {,J)tre os juizes de paz e s municipaes, ao passo
qu a jurisdico civil e criminal destes ultimos pas ava para
o juiz de direito e juiz de direito substituto. Os juizes muni-
cipaes, passavam a el' nomeados pelo go erno de uma li, ta
de seis I)l'OpI'ietal'io' apresentada pelas camal'as municipacs,
Como se v, reinava grande confuso nas ideas, alm do
antagonismo na,tural dos partidos. Cada ministro tinha o
seu plano e a difficuldade parlamental' aggravava-se pelo nu-
mero de juizes e bachareis que havia na Camal'a, cada um
com idas propl'ias. Eu pre 'entia que o projecto, dizia Na-
buco il'onicamente, fallando da sua reforma, havia de encon-
tl'al' algumas adversidades, uma dellas e que a matel'ia de
que e tl'ata familiar a muitos membl'os lesta casa que tm
a p1'Ous:o de legistas, o tat capita, tat senlenli(8.
Foi por saber disto que em 18~>O Eusebio, que tanto re-
formou, no se atreveu a apl'esentar um pl'Ojecto de I'eforma
ju liciaria; seu systema el'a apresentar pequenos projectos
isolados, a que se deu o nome de ca7Telilhas, como que insi-
llllando a medo um assumpto de cada vez. Esse systema,
[Jurm, s podia convii' a uma Camara unanime e precisava
jLle o govemo contasse com um Senado amigo; de outl'a
fl'ma el'a impl'aticavel, cada pequeno pl'ojecto prestando-se
tom os turnos do regimento a longas manobras da opposio.
A SESSO DE 1854 195
Para um governo que dispuzesse do tempo das Camara' no
ha duvida que aquelle . ystema tinha a vantagem de evitar a
confuso na maio1'a, como acontece com os projectos em que
o englobadas mCllidas differentes. Os partidarios de uma3
no acceitam outra' e o conjun to da lei tem contra si a somma
das opposics pa1'ciacs, quando alis cada ponto isolado
reune a grande maioria dos votos.
O projecto d abuco apl'e entado Camara cra por sua
vez a reforma da lei dc 3 de Uezcmbro dc '1841, mas no para
reSlaUl'al' a magistl'atura electiva, cra a reforma da lei no
sentido de collocar a justia criminal j que era obrigado de
d istir quantO ci ii tambem (1), na. mo do magistl'ado
vitali io. e a policia r l'(lia a attl'ibuio de formal' pr ce o
c de julgar, Lil'wa-sc ao jUI'Y o julO'amento dc uma classe nu-
mel'osa de crimc. , Os afianavci . Com o que e til'ava assim
ao elemento policial pai' um lado c por outro ao popular con-
stituia- e a omnipotencia do juiz de dil'eito. O projecto apre-
sentado Camara no era o que aI uco havia composto, era
apenas a metade de te, ma ainda as im era ou ado bastante,
pal'a pal'ecer, como li is 'cra Wandel'1ey, uma revoluo. O
jury era concentl'ado nas cabeas de comal'ca; o principio
da promoo por antiguidade substituido pela e colha dentl'e
uma li ta de juize com quinze annos de exercicio; os chefes
de policia podiam no ser bacharis formados, e o Regula-
mento Commercial n. '13'1 na parte das nullidade era appli-
caveI ao Supremo Tribunal. Nabuco tivera que sacrificar
politica das economias a cl'eao de novas Relaes, a reor-
ganizao toda da magistl'atura.

(1) Em 12 de Julho de 1850 Nabuco propuzera uma carretilha :


~ ~rt. 1 O julO'amento final das causas civeis fica compelindo aos
JUIzes de direito. Aos juizes municipaes smente compete: 1 o
preparo e processo do feito at a sentena final; ~ 2 o julga-
mento definitivo dos incidentes da causa. I) Nas relaes em
que eUe e tava com Eusebio e. e projecto foi sem duvida apre-
~en~a~o deaccOrdo com este. Nabuco incorporou-o ua reforma
Judiciaria: " a melhor coisa do projecto li, disse Sal'aiva, eUe foi,
porm, obrigado a sacl'ificar a ida. Smente em 1871, pela lei
~e. 20 de Setembro, as causas civeis foram julgadas a. final pelos
JUizes pel'petuos da Constituio.
f96 UM ESTADISTA DO IMPERIO

Era um projecto reaccionario ou um projecto IiI eraI ? Tudo


depende do modo de entender as duas expresses. Antes de
tudo, no era um projecto politico ou pat,tidario; de boa f,
era uma tentativa, se exequivel ou no ver-se-ha depoi , para
occorrer a um estado social grave com um systema judicial
apropriado. Por circumstancias especiaes o projecto em vez
de apresentar-se como um systema completo de reorganizao
judicial, como fra concebido, affectava o caracter de uma re-
forma criminal, de um plano pam a represso dos crimes.
A opinio conservadOl'a foi-lhe hostil, porque elle destl'uia a
grande macbina policial de 184'1 sem pr no lagar ~ella seno
o juiz de dil'eito isolado na sde de sua comarca, como uma
autoridade quasi absoluta, mas sem meio de aco para
exerceI-a.
e O projecto d aos cen ll'os de autoridade uma circumfe-
rencia immensa , dizia Paulino, que notava ao mesmo
tempo o excessivo retrabimento da autoridade. A opinio li-
beral pelo contrario s6 via no projecto a organizao de uma
nova machina administrativa cuja roda seria uma magistl'a-
tura ferrenha, em vez da policia de Vasconcellos. Todo o
partido libeml, dizia o orgo praieiro do Recife, pedia a re-
forma da lei de 3 de Dezem bro de '184l e o r. Nabuco fazia
cho com aquelle pal,tido, mas ernquanto o partido lib ral do
sul e do norte queria a reforma da lei de Dezembro para que
se libertasse o paiz real do jugo do partido official ou do po-
der executivo,' o sr. Nabuco com a sua reconhecida sagaci-
dade procurava empalmal' a opinio pam dil'igil-a a seu bel-
p azer, isto , ao reforo do pl'incipio da autoridade. Seu plano
de reforma foi substituir a policia pelo podeI' judici!ll, e POl'-
tanto creal' uma magistratura omnipotente sobre o paiz l'eal e
submetter essa magistratura aco disericionaria do poder
executivo.
E tudado em si mesmo esse fragmento ele refol'ma COlTes-
pondia a um pensamento diverso do que tinha dictado os Pl'O-
jectos anteriores. A lei de 3 de Dezembm ti era por fim al'mar
a autoridade contra a revoluo, e as reformas dessa lei pro-
jectadas at ento, mesmo por Vasconcellos, propunham-se
A SESSO DE 1854 197

libeJ'tar a sociedade de to excessiva tutelJa; o projecto re-


duzido de abuco, tinha, pOI'm por fim armar a sociedade
ainda mais podeI'Osamente contra o crime. No era como a
I i de 3 de Dezembro uma reaco contra anarchia, era uma
reaco contra a impunidade e contra o exclusivismo parti-
dario. Em paginas anteriores vio-se, como tra,:.o saliente,
a sua preoccupao de prover a sociedade contra as foras
anti-sociaes que a paralysavam; como ministro, elJe estava
pI'ompto a destruir as armas exce sivas do governo, mas
nunca de modo a augmental' a impunidade. O numero de:
crimes impunes era com effeito aterrador, o jury pratica-
mente mostrara sei' uma inutilidade, a policia estava con-
fundida com a politica; abuco pI'oclamava a necessidade
de sepaI'al-as, mas no paI'a entregar a justia a mos
inerte que deixassem a lei e a civilizao fugirem e pavoridas
diante do crime.
O proj cto f i fortem nte ata ado na Camara; pelos saqua-
remas atacou-o ayo, pIos lib racs Eduardo Frana. ('1).
o o pos o ap iar um projecto, dizia e te, que acaba inteira-
mente com a libel'dade de imprensa, - o pl'ojecto tirava ao
jury o julgamento do cI'ime de calumnia e injuria por meio
da imprensa -, om a beIJa instituio do jury, 1> - o
projecto concenlrava o jlll'y em cidades populosas e tirava-
lhe como vimo o julgamento do crime afianaveis.
r abuco em 13 de Julho d fendeu a sua reforma. Comeou
consideI'ando o feti h politico dos con el'vadores, a lei de
3 de DezembI'o. No se deve empl'chender uma refoI'ma,
di o nobre d putado, sem que. s ja bem justifi ada a sua
necessidade. Concordo nisto; j em tempos muito I'cmotos

(1) A reforma foi atacada, primeiro, em nome do prioClplO


~e auJ;oridade, depois em nome dos principios liberaes. Paran
faz notar essa inconsistencia no ataque, referindo-se a Say.o
~obato : Pretendiase ento que o projecto era contrario auto-
rl.'\a.de, que a deixava desarmada; hoje em um volta-face diz-se,
nuo que a autoridade fica sem fora, mas que a reforma fere a
Con tituio, porq ue re tringe a jurisdico do jury. Discurso
de 28 de Junho de 1855.
'19 U 1 ERTADI8TA DO IMPERIO

U1piano dizia - in lIovis 1'ebus llfilitas clebet esse evidens.



Mas esta no a questo, a quest; se a reforma TI ce -
saria. O nobre deputado antes de tratar da necessidade da
refol'ma quiz inspirar-nos como uma religio a conservao
da lei de 3 de Dezembro de 1841. com todos os seu pontos e

virgulas; esta lei para nobre deputado o noZi me tange1'e...
Senhores, eu consagro esta r ligio, levada mesmo at o fa-
natismo, em favor das leis constitucionaes; a prudencia
manda tolerar e supportar os defeito d lias por causa da.
contingencias e perigos que so inherentes s r fOl'mas poli-
tica ; mas uma lei de processo no pMe ser levada cate-
goria de lei fundamental. E . e e a lei immutavel, se se
faz uma religio da sua immutabilidade, no ou eu o pri-
meiro que com a mo tenpraria violo essa immutabilidade.
Mostra ento como o pl'oprio Vaseoncello e Eusebio, os
chefes conservadores, pl'opuzel'am reforma na lei. Toda as
leis com o tempo deixam de adaptar-se A exigencias da so-
ciedade, aconteceu i 'so com a de 3 de D zembro :
Por mais perfeita que eja uma lei, ainda que ella seja de
natureza ol'ganica e perman nte, no pde deixar de resen-
ti r-se das idas covas, dos intelc. ::iCS e noce siuades da si-
tua0 em que foi feita. Ora, a lei ue3 ue Dezembro o r n xo
da sua poca. O mesmo nobrc deputado no. di se : Todo.
ns sabemos que essa lei significou a reaco contra as id' as
subversivas nascidas da revoluo de 7 de Abril, as quac.
ameaavam o imperio de anmquilao. Em verdade e tava
ento o poder radicalmente combatido e minado por ~s as
idas subversivas: a lei 3 de Dezembro por consequencia foi
a necessidade da situao; a par das medidas permanentes
eontm, e no podia deixai' de conter, outras que 'e ref I' m
poca em que foi feita. E quando uma nova poca de ponta,
quando estamos em uma nova situao, quando temo pas-
sado por uma longa cxperiencia, no ser pOl'ventura licita a
modificao dessa lei na parte em que transitaria, na pal'te
em que excepcional? Quereis saber' uma parte em que essa
lei excepcional, em que no pde deixar ele con idel'ai'-se
smente applicavel sua situao? a confuso ou accu-
A SE O DE 1854 199

mulao do poder de prend I' 'om o pod r de julgar. Certa-


ment r pugna que em um paiz bem ol'ganizndo a policia
e teja confundida com a jU,'lia. Em todo,' logal'es, de de
que comea a aco da justia, cessa a aco da policia;
mas entre ns todos podem prender e ao mesmo tempo jul-
gar...
Estabelece o caracter politico da lei de 3 de Dezembro: era
uma al'ma de partido. A lei de 3 de Dezembro dava fora
ao poder, uma verdade' ma a I i de 3 de Dezl'mbro tomou
o podei' dep nd nte do antagoni mo politico; por e sa lei o
O'overno no pde ter fOl'a s m que tenha antagonismo poli-
tico. Tirai-lhe antagoni mo politico e cll no pde 0-
vemar,ouhadesel'cmbaJ'a auo na sua marcha, constituindo
um pessoal hetel'Ogeneo e repugnante. Hoje, pOl'm, no
convm que a fora do poder seja mente contra os adver-
a1'ios politicos' a necessidade da poca con olidar o prin-
cipio da autoridade em relao a todas a influencias, a todos
os partidos, em relao a toda a soei dade; preciso que a
autoridade adquira o re peito de todos, para que pos a er
poderosa para com todos e contra todo. E preciso que os
intel'e es individuacs no pos am dominar os interesses
coIlectivo , que o potentados no a oberbem a autori-
dade publica, valendo mais do que eIla. E e ta a neces idade
da situa o; csta a organizao que o paiz dc cja. :o
O trao quc se segue caractel'i tico do modo por que Na-
buco toma e apl'oveita as armas do adversal'io : {( O nobr
deputado pel Rio de Janeiro nos disse qu ,pal'a CI' bem
c nhecida a vantagem da Ici de 3 de Dezembl'o I al'a que elIa
no seja alterada, basta attcndei' que a opinio que a comba-
teu quando sc achava em opposio, subindo ao podeI' govel'-
nou com ella, considel'ou-a satisfactoria, e disse-nos que no
bastava ainda a expel'iencia delIa para se conheccrem us
defeito. Cl'eio que este argumento no procede, mas con-
tl'a-pl'oducente. Se ha um pl'ncipio cognoRcitivo para demon -
traI' quc uma lei cal'ecc de I'efol'ma, que elIa agrada a todos
o. partidos, quando 'e acham n pod 'r, e desagl'ada a todos,
quando se acham em opp.osir.o.
200 UM E TADISTA DO IMPERIO

Agol'a a base da defesa do projecto : Vamos bem, se-


nhores? Vamos bem ne 'ta terra onde cerca de 800 de seu;;
habilantes so todos os annos imm lados pelo pUllhal do
assa ino? Estamos bem, senhores? Entretanto as rc ,i t n-
'ios se multiplicam contra a autOJ'idac1e pOI' pal'te de amigo
c inimigos. Estamos hem, e as absolvies '5.0 qUq i na J'Gzo
de doi teros dos crimes eommettido, ... E e quadl'o sangui-
nolento que nos oITereee a estatstica criminal no pde el'
nos indifferente. Ou deveis adoptar o I'emedio que o governo
vos pl'ope, ou sois obrigado I 01' vosso patl'iotismo a pro
curar um meio satisfaetorio em sub tituio de t meios pro-
postos. Niio vos po sivel cerrar os olhos a este quadro me-
lancolico que vos apl'esento ...
Sobl'e a insufflceneia, a quasi inutilid'lCle do jury para asse-
gUI' r a punio dos cl'imes, Ile no he. ita : Eu j vos
disse que um dos instl'umentos com que o potentados faziam
proselytismo contra a justia e contra a autoridade era o jury.
Certamente que a coneentl'ao do jury um remedio neste
sentido muito poderoso ... Convm sal ar o jury, e pal'a sal-
vai-o importa concentrai-o nos logar'e mais populosos onde
ha concUl'rencia e o contl'astede cliveI' os intere ses e influen-
cias, onde a opinio se faz sentir mais, onde os jurados tm
mais garantia e liberdade. Para salvar o jury neeessario
retirai-o dos logal'ejos aonde elle no pde ser seno a expl'es-
so da vingana e do patronato, o instl'umento das influencias
anti-sociaes, e onde os jurados por seu pequeno numel'o so
juizes certos-...
Na sesso de 1 de Agosto insiste na importancia da impu-
niJade que lavl'a no paiz; das causas que a alimentam faz o
seguinte quadro:
(C A impunidade a causa principal do augmento de cl'imes

entl'e ns; a impunidade, que facilita a vingan a, porque


destre o t moI' das p nas, provoca-a e at certo ponto a jus-
tifica, porque, desde que a autoridade publica no pune, o
off ndido reassume como dir-ito o sentimento da vingana.
Admitto es as causas coneurrentes a que o nobre deputad allu-
<liu : a sanco moral obliterada pelo espirito de partid , que
A SESSO DE 1854 201

con idem anjo todos o eu, demonios todos os adversal'ios j


a sanc( o moral obli terada pela p I' el' o dos no os cos-
tumes, que admitte o contacto dI riminoso e lhe d acce so
nas pl'im il'a' I'oda ; o habito d cal'I"o-al' armas, o qual p-e
o individuo na contingen ia de commettel' crime; os in tin-
clOs das I'a<:as de que procedemo ; a~ inl1uencia politicas no
legitimas lue, . gundo o n bl'e deputado, o gov rno tolera,
mas lalel'a em quanto no pde destl'llir, pOI'que, nhore, a
conqui ta se faz de viva fora, mas a regenerao moral de-
pende de lento, de prudencia; a policia de armada de dinheiro
e d ~ I'a; as circum tancias phy 'j as do nosso paiz e da sua
populao. E no so essa smente as causas dos crimes,
ainda lla outl'as, e no pouca , que con pil'am I ara este e tado
de coisas, mas o que eu quero 6 que o nobl'e deputado admitla,
ao menos omo on uITent'e, como uma d 'lias, a impuni-
dade,
Como se viu, Nabu o incluil'a no pl'oje to primitivo a ida
da in ompatibilidade, que por tactica parlam nLaI' rum limi-
nada na pl'OpO ta. No havia ne '0\ eliminao abandono de
um l)('in ipio cal'deal da refol'ma, porque a ida cabia tambem
na reforma el itoral que e tava pendente. Todavia sem a
incompatibilidade a magi tratUl'a apparecia na reforma como
um poder politico inconLl'a tavel.
A refol'ma iniciada, diziam os Praieiro, um pl'e ente
greO'o, um acto de reaco dign da de poLica politica el'guida
em 1848, porqu alem de cerceai' a liber lade da imprensa e
tirai' ao jUl'Y uma gl'ande parte de sua jUl'i dico, submettc
o paiz ao lespoti mo de uma magistratura togada, que sem o
grande principio das incompatibilidades fica constituida em
cego instrumento do poder executivo.
Ferraz aproveitou-se habilmen te da omisso para estimular
os partidarios das incompatibilidades e lanar um germen
de desintelligen ia entre o ministerio e os magistrados da
Camara. A intriga levantou gl'ande celeuma.
O nobl'e mini tro, disse elle, um homem de bas-
tante tino, bastante perspicaz; este projecto uma ba e,
uma grande base das incompatibilidades. (Apoiados e no
202 UM ESTADISTA no IMPERTO

apoiados). Senhores, no conhecei tanto o nobre ministro


como eu; eu o conheo de de que eramos jovens; o nol)l'e
ministro muito pel'severante em suas idas; o nobre minis-
tro o anno pas 'ado fallou-nos nas incompatibilidades como
necessarias. (O SR. SILVEmA DA MOTTA: - At pl'ometteu.)
O nobre ministl'O, que quer ir com as coisas palllatim, apre-
sentou este anno este jJrojecto janelo ao magi. tl'ados gTandc
poder; porm, o coroIlario disso haveis d vel' qual na s-
o vindoura. (O Su. SILVEIRA nA MorTA E OUTUOS : - J-Ja de
ser nesta sesso. (Apoiados e 1eclamaes.) Senhores, eu
interpreto a opinio do nobre ministro; mas s o nobre depu-
tado quer apresentar esta ida e 'te anno mesmo ... (O Su, SIL-
VElHA DA Mo'rTA : - Hei de apre' ntar). O nobl'e mini.tro e. L
calado; reservado, politico, no deve-se malquistar com a
:;ua maioria, para com a qual no exerce agora ..eno aquelIa
benefica influencia que os paes de familia ex~rcem no meio
de seus filhos contra cujos instinctos no so capaz s de ir
directamente; os ir amansando, e depois os tornar doc is ...
Os magistl'ados vo ser agora flIhos do SI'. ministl'O, mas ao
depois ho de andar com casaca azul em logal' de .asaca
verde... No quero que o nobre mini tI'O se contradiga, no
passiveI que transija, da essencia de seu projecto esta
ida. (O Su. PAULA BAPTI TA : - homem de systema.) Apl'e-
sente-se a emenda, e vero os nobres deputados se o nobl'e
ministro se ha de contl'adizer. (O Su, SILVEIRA DA MO'I"I'A :
- Hei de apresentaI-a nesta discusso ou na terceira.) D
A emenda j estava redigida de accrdo com o ministl'o; o
effeito causado pela reforma sem as incompatibilidades tinha
sido mau. .
No proponho a ida, mas se fr proposta, eu a acceito ,
diss ra antes Nabuco. o qucl'ia eUe, entretanto, excluil'
da Cam ara os magistl'ados superiores. A magistratura da
primeira instancia est em contacto com o povo e dissemi-
nada pOI' toda a parte, a outra muito remota e centralizada;
uma singular, caela juiz de dirrito obra por si, a outl'a
collectiva. Con m ttcndcr que o parlamento tem tambem
necessidade do auxilio da jurispl'Llelencia .. , AssusLa-o o
A SES. O DE 1854 ~os

absoluto ostl'acismo da magistl'atura : Cumpl'e attendC'r a


uma 00 iderao; desd que a magistralul'a ..e tornai' incom-
pativel, sem a pira es politica, ha de reao-il'" convm, poi ,
ao mesmo pa so organizar e prepaI'ar o pod I' admioistl'ativo,
dar-III gaI an tias contra a resist ncia ou a inercia da magi. tl'a-
tUI'a; d de Jue a maO'i tl'atura no puder ter a. pirac poli-
tica. ,pad ,er rival, e ella tudo nas comarcas, nella o go-
YCI'no no t m hoje delegados proprio ,o poder admini trativo
rsL ainda d smontaelo, s6 tem aco propria na capitae' da'
pl'Ovi ncia...
A reforma para ser util tem que er prudente: Uma re-
fOl'ma de. la ordem no. e faz ab olutamcntc, i to eria Ol'lat'
o n com a e 'pada d I xandre. Adoptada, pOI'm, om as
caut las e eondies qu' digo, me parece que ella um O'rande
b 'neOcio, uma nece sidade.
A ida. afinal votada, mas 1 taeam-n'a do projecto no
ultimo momento, ainda pela neee idades da taetica parla-
mentar. O mini tro da Ju. Lia teve que faz I' que. to de gabi-
nete para cons guir a pa "~\O'em da reforma na Camara; a sua
sorte esteve em periO'o, um momento pen ou- e me mo que
elle sel'ia alijado. 'rs a oeca 'io al'aiva e cr ye-Ihe da pre-
sideneia ele . Paulo, mandando a sua demisso, par'a acom-
panhai-o se elle m01'l'esse com o seI/. pl'ojeclo ('1).
Qual foi, pOI'm, a orte fi nal da reforma? No i ntel'vallo da .
ses e' de 1 tH par'a 1855 appare u umJ DTO 'a nuvem no
horizonte do mini trio. A politica do gabin te no agl'aela
a alguns figul'lJC de c, o. algun. do n . o y'lhos nmigo..
A linO'uagcm elo Bl'a""if. I' vela alguma coisa, t:i'evia Na-
buco em ovembro a Boa-Vi ta. O que estava por tl'az do
B,'azil (2) el'a o chamado movimento de Va 'Olll'a , onde

(1) " Hojo, dizia elle, 6:sp:t1hou-. e qllo V. E' s:lllia elo mini te-
ria. Essa noticia, pOI'lll, no tem 'ido [lcI'editada. Peo-lhe que
no me deix ficar [lqui . 6. e l'e801\'01' a mo/'rer com o seu pro-
jecto, pOI'que e tou I'e-olvido a no. el'vir com qualquel' mudana
mini.tol'ial. "
(2) O mini tel'io el'a i'ol'temente apoiado pela impl'ensa liberal.
Em 1854 Octaviano punha o Correio Mercantil s orden do
204 UM ESTADISTA no 11PERIO

tinha sua sde a opulenta familia Teixeira Leite; tomara as


propores de um acontecimento a representao ele algun,'
fazendeiros vassourenses con Lra o pr jecLo de lei que ti I'ava
s pequenas localidades o seu embryo ele jul'Y (1), e a esse
veto da grande pl'Opl'iedade fiumin nsc foi sacrificada a re-
forma no Senado. Adiam-n'a indeOnidam nte.

go\"el'no; .Jos de Alollcal' redigil'ia a pUl'Le fOI'en. e, Salles 1'orl'es


Homem a finanGeil'a. II As camal'as esto !'eelIaelas, e Cl'evia elle
a Nabueo em Setembro, o mini-lel'io pde agol'a ellidal' ell1 coi-
sas serias. II
(1) Quanto a esse ponto, irl'itava a abueo a accu at;o de LeI'
queridoannullarojurYP0l'que o eoncenLmva nas grandes povoa-
e . Ainda na sesso de 18 5 alie 1'e pondia a essa can.IHa
( esso de 10 de Julho), feiLa em nome dos pl'incipios libera s:
II Vs tendes conhecido a fra lueza de vossa al'gumentao, vos
sacco1'restes ao libeealismo; falia 'tes em nome da libel'dade, ves-
ti tes as pennas do pavo pal'a combater o pl'ojecto. Ma' qual
o liberal que, tendo con ciencia de seus pl'incipios, pde querer
que a honra, a liberdade e a vida elo cidado e.,tejam merc das
influencias perniciosas dos peflllenos logal'es? Ao cOlltl'al'io o
principio liberal, o pl'incipio O'eneroso, que o jUI'y para bem
cumpj'ir a sua mis. o . eja collocado entre as gl'andes popula-
e., ahi aonde os juizes podem sei' incel'tos.
\I As condies es enciae. 10jul'yqueosjuizessejamince1'tos
e L nham liuer la,<.le; e que libel'dade Lem e ses pobl'es jllrados
do interior do paiz? C0ll10 podem seI' inc I'to os jurados, aonde
o numero delles pequeno, aon la o sanl pre os me mo e co-
nlIecidos? O principio Iii el'al e genel'oso que CI jury seja' cha-
mado para os lagares em que ha concul' o de influencia e inte-
re es, pal'a que fiquem neulrali adas as paixes e os intel'e s.es
da !'amilia e da aldeia; o pr'in ipio libel'al e generoso que o
jUI'Y f'ul1ccione no' logal'es em que a opinio I ublica se pde fazer
sentil', aonde a sanco 11101':11 seja correctivo contl'll. as opinies
e paLl'Onato da aldeia.
CAPITULO III

A ESSA DE ld,5

I. - Justiniano Jos da Rocha e Paran.


Debate sobre a Conciliao.

A sesso foi bastante trabalho a. Fen'az, em 26 de Junho,


pl'ocUl'a explorar as divergencias de que se fallava entl'e o
ministro da Justia e Paran. Para isto desfaz-se m amabi-
lidades com aquelle, criva este de illuses mordente, ao fazer
o r tl'ato dos homens p liticos do tempo :
Parece-me que o ministerio da Justia est em uma ver-
dacleil'a crise, cl'eio que lanado aos lobos e com razo, pOI'-
que o nobre ministro t m-se avantajad muit ... Senhore.,
o hom m que tl'abalha, que estuda no nosso I aiz, no pde
viver muito bem com os dominadores da poca, ha de resi-
gom'-se sua sorte, porque os nossos velho que estudaram
de '1826 a '1832 contentam-se com o que ento estudaram,
entendem que depois disso nada ha melhor... elles no estu-
dam. Vai-se casa da maior pal'te dos no sos estadistas, com
excepo de alguns que capl'icham em andar a par da sei n-
cia, e no seu gabinete se v apena uma estante deserta, s
vezes dois guarda-louas pequenos com algumas brochura ,
talvez esses Relatorios que aqui se distribuem. Esses homens
que no estudam, que no lm nada, mas que tm uma me-
UM E TADI8TA DO IMPERIO

maria e um ouvido muito felizes, quando qualquer rapaz como


o nobre ministl'o da Ju Li a, apezar do seu quarenta annos,
quer fazer essas fili trias de regulamenL s, etc. dizem: - o,
voc vai muito longe, no tem licena de saber mais do que
ns, pmci o conter-se..... A reforma judiciaria est no
. Senado feita roupa de fl'ancczes, cada um tira-lhe o seu
naco ... ; o que se nota no nobre mini LI' ser um pouco
reformista li, e acaba o discUl'so aconsclhando que se eSLude :
- Estudemos Lodos, e ao homem com tal(\l1LO quc mai' se
di 'nguir no paiz caiba a gloria de dil'igil-o. Mas qu I' r dl'i-
gir o paiz pelo seu ego! No, o no o tempo no Lalcru isso.
A discu 'so mais acalorada versava so\)re a conciliao, o
modo pOl'que ella era entendida pelo govc1'l10. A opp 'io
consel'vadora (1) fino-ia vl" nas acqui 'ies quc o O'ovcl'no
fazia, cOl'l'upo politica. Salles To1'l' .'-Homcm, quc fI'a um
dos preparadore' da situa-o, enU'ava pam o The ouro, el'a
um conciliado, na inteno vulgar da palavra. o c 'queciam
o Libello do Povo, nem se compl'chendia que, amacluI'eceado
rapiunmenLe, um gl'ande talenLo como o delle Illuessc de um
dia para OULro traLat' como declamao rheLol'ica sem valor
o pa01pldeto, inaclo de plagios, que escrcvera (2).

(1) A politica da Conciliao foi sempl'e muito favoravelmente


julgada pelo libel'aes. fartinho Campos em 1859 no tinha eno
louvores para o pensamento de Paran de abljl' ao advel' al'ios
as porta da administl'ao e do Padamento, isso que no t mpo
se tinha chamado corrupo. II Politica de onciliat;, dizia e11e,
foi aquella que o minislet'io Paran fez e executou, dando ao paiz
o exemplo de chamar para o seu lado a V. Ex. (Paranlto ); cha-
mando para o Thesouro pelos seus talentos o actual SI'. minis-
tro da Fazenda ( alle )... (O Sr. Silveira Loo : - Quebrando o
circulo de ferro lue ento existia...) Foi aquella que o sr. mar-
quez de Paran poz por obra promulgando a refol'ma eleitoI'al,
com a qual muitos brazileiros, como V. Ex., j ouviu desta tri-
buna, til'aram cal'ta de naturalizao. (O SI'. Silveira Lobo: -
Apoiadissimo.) "
(2) Em altigo que e creveu em 185(1, reunidos em opusculo
sob o titulo Questes sobre impostos, Salles re ponde assim s
continuas refel'en ias, que at hoje no cessaram, aposta ia de
Timandro : II Os desvios de imprensa, a que allude (Ferraz),
tinham origem nas circumstancias de uma quadra anormal em
A ~ESSO DE 1855 207

Um dos mais curioso incid lHes que essas questes pes-


soaes produziram foi o que se deu ntl'e Ju tiniano Jos da
Rocha e o Peesidente do Conselho. Aquelle havia n'um dis-
Clll'SO brilhante, ainda que descurado, desigual, atacado o
gabinete. Paean no aceeclitou que a defeco do jornalista
do go erno fo e sincee;}; viu nessa tean io bmsca motivos
occultos e tratou com dureza o seu incen ador da vespera.
to fiagl'ante a conteadico em que o sr. deputado se
acha com igo me mo, que longe de ter eu d ju 'Lificar' o go-
\'el'11o perante o r. deputauo, elle que se tem de justificar
da pha e to extraoeuinal'ia, to inexplicavel que apee enta.
Eu poetanto di p n o-me de mai longa re po ta.
Fel'l'az acudiu cm d fe a do u novo oldado: Ser de
chefe de um paltido injuriai' a um eu coereligionario qu ,
apartandu-se da nova politica, no seu di CUI' o guaedou a
maiol' moderao, re peitou a eonvice ? Quem vos cl'el'
de a:sol'a em deante? I O momento em que se apartarem ue
vs, es as caricia que hoje despendeis, e as prome as que
tende feito, tudo, tudo ser lanado no tapete de ta sala.
(Sensao, S/I Sltl'l'O). Quem vo crer? Diz i I
J. J. da Hocha teve que Vil' a tribuna d I' oder- e, explicae-
se, e peonunciou, s veze' entre soluo que no podia contei'
e vezes entl'e ri adas da Camaea, um do mais ingulal'e
e commoventes discursos que se encontnuu nos Annae . Con-
tou o que tinha .. ido a ua caereira de jOl'llali ta de de os Re-
gentes, como auxiliava o governo, como o haviam l'etl'ibuido.
Eis um teeeho dessa confi o geral, como contado pela
tach) graphia :
s veze , senhores, eu que tinha familia, e familia nume-

que a allucina<;o estava em toda a po.l'te e a intempeJ'3.n '0. da


palavra coincidia com os de \'egl'amcnto da i'OI'a. Gl'a<;a <i. poli-
tica magnanima do mais justo dos monal'cila', de el1lelhante
poca apena l'emanescem I'ecol'dae pal'a el'em de quando
em quando xploradas pOI' algun erudito mais realista que o
rei, mais principes que os principe , a quem ell s se propem
dar lies de dignidade implacavel. Omnia pro dominalione ser-
viliter, diz Tacito.
208 UM ESTADISTA DO IMPERIO

rosa (o orado?' comea soluando), pois que alm de ter Deus


abenoado o meu consorcio com nUIDeI'OSa pt'ole, taml em a
desgraa veiu pairar sobre a minha familia, levando-me meu
pae... (A voz, do o1'ador fica suspensa pela commoo, e va-
?'ios S1'8. depnlados lhe dil'igem palavra consoladoras.)
Ento o Sr. Paulino, em remunerao do t.I'abalho insano da
sustentao de um periodi o, dava-me de vez em juando um
papel dobrado e nelles algLlmas notas de 200 . (O omdol'
conlina em pl'al1tOS.) E, enhores (com fOI'a), eu vi ia com
familia numerosissima, e digo e ta veJ'dade, que no me p6d
ficar mal (apoiados), nunca me suppuz rebaixado quando o
Sr. Paulino, em troca de um t.rabalho aturado de 14 ho,'a ,
me dizia: - Rocha, aqui t.ens. (Apoiados.) ')
Aqui est outra curiosa illustrao dos nossos costumes
politicos. Elle conta como em 1836 fundra o Chronisla com
Josino do Nascimento Silva e outro (Firmino Rodrigues Silva).
Chegou para a reaco o dia do triumpho : 6s tres abun-
davamos nas idas do ministerio, sustentavamos a lucta na
imp,'ensa, e nesse tempo nem um favor ministe"ial me foi
feito, nem n6s pcnsavamos em favores ministeriaes ... E j
que fallo nisto, v uma pequena revela:'io. Di tribuiam-se
africanos, e estava eu conversando com o ministl'O que os
distribuia, e S. E '. me disse: Ento, SI'. Rocha, no quel'
algum africano? Um africano me fazia onta, respondi-
lhe. Ento porque o no pede? e V. Ex. quer, d-me
um para mim e um para cada um dOR meus collcgas.
(Wsadas.) O ministro chamou immediatamente o ofIJ ial de
gabinete, e disse-lhe: Lance na lista um af"icano para o
dr. Rocha, um pal'a o dr. Fulano e OUtl'O para o dr. Fu-
lano. .
Referindo-se sua separao do gabinete Paran ao qual
havia at ento sido fiel, explicou-a deste modo: - Se as
deli ias do omo comprado por vilania, se as delicias do omo
havido pelo aviltamento da intelligencia me pudessem do-
minar, que importava que o governo orf ndes e talou tal
in tituio? O que tinha eu com isto? l\Ias, no; no dia em
que a minha consciencia no pde ir com o governo sepa-
A SE SO DE 1855 209

rei-me me delle. Eu poderia invocar o testemunho de um


nobre ministro, de um nobre ministro que sempre me hon-
rou com a sua amizade, de um nobre ministro por quem sem-
pre tive sympathia, e com o qual sinto que a posio excep-
cional em que nesses debates me collocou o Sr. Presidente do
Conselho me obrigue a interromper, acredito que temporaria-
mente, velhas relaes; eu poderia invoeal-o para que decla-
ra e quantas vezes lhe dis e : cc Isto no pde continuar
a sim, eu me retil'o. Mas essa mudana no pde ser repen-
tina, foi lenta, amm'gurava-me e por fim separei-me. (1.)
O ministl'o a quem J. J. da Rocha assim se l'eferia era -a-
buco. Por vezes o ministl'o da Justia havia mandado entre-
gar a Rocha, como fizeram Paulino e Eusebio, pequenas quan-
tias para a sustentao de sua folha e o chefe de policia tinha
os recibos dessas sommas. O Presidente do Conselho uma ez
pediu-lhe esses recibos e elle formal:nente os negou; insis-
tindo Paran em declarar na Camara que Rocha recebera
dinheil'os da policia, Nabuco chegou a dizer ao chefe do Ga-
binete que, se tal fizesse, elle se veria forado a affil'mar o
contrario. Passado Q primeiro impeto, Paran, generoso
como era, desistiu da ida e, depois das revelaes de .T. J. da
Rocha na Camara, deu em termos dignos uma satisfao ao
seu collega offendido, ",,{plicando as palavras que o haviam
magoado lJela emoo da sepm'ao inju.stificada de um
alliado lJ1'esthnoso .
A questo da subveno imprensa uma das mais deli
cadas que se podem dar para um ministro. Nas contas da
yel'ba secI'eta dos dlfferentes ministerios a que Nabuco perten
ceu (1853-1.857, 1858-1859, 1.865-1866), ha recibos dc
jornalistas a quem o governo auxiliava. No era esse servio
nada comparavel s grandes despezas que foram feitas em
poca posterior com o systema dos a pedidos e no tinha

.(1) Pedindo a V4 concellos um tabellionato para elle, abuco


dll'u que Justiniano Jos da Rocha, " defensor na imprensa como
o qual outro no ha ", II indispoz-se com os seus velhos amigos,
p.erdeu os interesses que tinha fundado na profisso do magiste-
1'10 que abandonou por causa d'essa redaco 1), do Brazil.

I. li
210 mI ESTADI TA DO 11lIPERIO

seguramente o cal'acter de uma compl'a de con ci ncias. Obe-


decia necessidade de def sa fI u as administraes todas sen-
tiam. Paran .confessou (26 de Maio de '18o que o seu minis-
V

tel'io no era differente dos outros nesse ponto: II. O r. uepu-


tado reconhece que sabido geralmente que em toda a pal'te
onde ha systema repre entati\'o o goyerno no pde cImal'
muito luctando com a impl'en a, se em face de a imprensa
no houver quem o d fenda, quem o ju tifique 'e qu m ex-
plique a sua politica. abido, e o SI'. dcpntauo o a signa-
lon, qu\:; essa tarefa de que acabo de fallar cu ta sacrificios que
no so lucrativos, e por conseguinte necessario que cssa
tarefa seja recompensada. To pretendo que o meu ministcrio
seja differente dos outro .
A defesa da politica do minislel'io na Camal'a cabi, prin-
cipalmente a abuco. Mais de uma vez cm '18JG Ile teve que
justificaI-a. O seu principal discar o foi o de 29 de -laio cm
resposta a J. J. da Rocha. Foi nesse di:curso que elle falIou
da bande'a de Vassou/'as. A expl'e so foi tomada como
desdenhosa e feriu o melindre dos ricos proprielal'io do
logar; a inteno do ministl'o da Justi a no fra es a, mas
no havia meio de desfazer a imprcsso causada. Quando a
palavra tem dois sentidos, o publico toma o que quer, se
por acaso eIla tem ponta, uma farpa de c 'pil'ito involun-
taria, impensada que seja, ha de ferir fatalmentc. Aqui esto
aJguns trechos desse di curso: Eu no duvido que a reaco
que se operou em favor da autoridade no tempo que decorreu
de 1838 por deante tivesse alguma exagerao; mas o Cel'LO
, senhores, que pela maior pal'te as conquistas que a auto-
ridade fez ne sa poca, que eu chamal'ei de patl'ioticos esfol'os,
so essenciaes pal'a a sua manuteno e da socicdade e que
devem ser conservadas se no queremos tOl'nar queIJc ponto
de partida, se no quel'emos arriscar de novo a sociedade
anarchia e desord m. Eu ainda estou falIando da bandeira
de Vassouras (risadas), e vos direi, senhol'es, que esta ban-
deil'a no vossa, isto , de vs que a proclamastes nesta
casa; esta bandeira com pequena diffel'ena de inscripo
de par,tido, radical, que com eIla sempre combateu. Esta
A E O DE 1.55 211

bandeira, elle ha de retomal-a de de que derde um pa so


para deant ,desde que conseguil'des alO'um tl'iumpho, alguma
vantagem, porque s nomes proprios tm muita, significao,
mais do que pensai .
Resume com traos seus a accusao que Ju tiniano Jos
da Rocha depois de engrandecer a obra cio pel'ioclo democra-
tico fizel'a ao gabinete, chamanclo-o reaccional'io :
O nobre cleputado a quem me tenho referido comme-
morou as conqui tas da clamoCl'acia. ElIe nos di se como ella
upprimiu o exercito que considerava rival, como se armou
por m i da guarda nacional, como goyemou por meio dos
vice-pre id .nte eleito, como legislou por meio da a sem-
blas pl'oYinciaes, como julgou por meio do jury, como
policiou por meio do juizes de paz. Ao dcpoi o nobre depu-
tado nos refcl'iu como se operou a reaco em 1'ayor da auto-
ridade, como a aut()I'idade militarizou a gual'Cla nacional,
como tomou sua a magistratura e a poli ia, como restringiu
o j ury e a gUal'da nacional; e nto nos d i e o nobre depu-
tado : - tudo i to convinha, havia nggresso, ha ia pel'igo.
Em 1803 cessou a aggre. so, ces ou o perigo; o desideralwn
de todos era uma transaco a respei to dos exce sos da aco
e da reaco. Ne tas circum tancias s6be ao poder o minis-
tcrio de 7 de Setembro, estabeleceu o seu programma de
con eryadOl' e progressista. O nobre deputado ento esperou;
O' factos, porm, vieram desmentir as suas previ es, as
suas esperanas. O mini. teria actual, que tinha promettido
er progressi ta, completou a obl'a da reaco por meio da lei
da reforma judiciaria. Esta lei da reforma jucliciaria, entre
pat'enthesi , que foi o anno passado impugnada por de armar
a autoridade, boje o complemento cle reaco no sentido da
autoridade!
O a pecto da sociedade , porm, outro, o paiz quer paz,
progresso, conciliao, treguas s luctas estereis : No meu
entender o que vejo a tran formao dos partido , ... o que
vejo a vida e o incremento da industl'ia, o que vejo o
arclente desejo de melhoramentos ... O paiz quer paz, quer
industl'ia, quer esses melhoramentos que tendem a engran-
212 UM ESTADISTA DO lMPEl1IO

decC:1-o. Os politicos, porm, (Iuerem objecto para sua acti-


vidade e impo!'tancia, querem valer, querem lucta, e_meri-
lbam motivos, inventam bandeiras; entretanto, no al'voram
nenhuma que posEa dominar a situao. Ainda, senhol'es,
que ns nos tornassemos, como queria hontem o nobl'e depu-
tado, em vez de governo, agitador, no teriamos filo nada;
terial1?os, vista do estado da sociedade, cahido sob o peso ela
maldio de todos. O systema representativo ser to incom-
patvel com a Ol'dern publica, com a sociedade civil, que seja
da sua natureza, da sua essencia, que a politica com todo o
cortejo da intolerancia e encarnecimento, sempre com a
mesma intensidade, preoccupe tudo, domine tudo, exclua
tudo? preciso para que eHe viva que haja uma lueta, seja
pelo que rI', seja como f6r, ainda que seja preciso elevar os
resentimentos pessoaes categoria de motivos politicas? No
pMe chegar uma situao em que os partidos se tl'ansfol'mem,
em que cesse a lucta, succeda a calma tempestade, e a indus-
tda e os grandes interesses sociaes venham pl'eoecupm' a
poca? D
A situao era a mesma da Inglaterra: Certo, senhores,
no devemos admirar que o estado do paiz seja este, quando
os nobres deputados sabem que na Inglaterra o mesmo estado
de coisas se est dando. Eu ainda o anno passado tive occa-
sio de ler as palavras eloquentes de lord Aberdeen, que
presidira o minist<\rio passado, as quaes demonstram isto:
,;hegou a poca em que esses nomes de whigs e tOl'ies no
tm mais significao. D
O trecho que se segue expl'ime o receio de que no meio de
todo o progl'esso feito continue o solapamento da autoridade
pelos habitos adquiridos dos partidos:
O que eu vejo, senhores, um campo vazio de idas
politicas que neHe 110receram e que nelle murcharam, um
campo semeado de elementos de grandeza, prosperidade e
futuro, abrolhado, porm aqui e acol, do germen da anal'clJia,
que o patriotismo manda destruir e extirpar para que aquelles
elementos possam prosperar. Estes germens no so seno os
residuos dessa aco e reaco a que se referio o nobre depu-,
A SESSO DE 1855 213

tnuo ue Minas, no so seno os desmandos dos partidos para


alcanarem o triumpho, no so seno os elementos que todos
os dias accumulamos, porque, querendo ferir os individuos
que se acham em uma posio, n6s ferimos essencialmente
as posies. E porque ha uma fatalidade, e que todos
pen am que to facil conquistar como conservar a conquista;
que to facil desmoralizar a autoridade como restaurar-lhe
o pre tigio; cada um pensa que um 1 eptuno, que p6de com
() seu tl'idente dominar as ondas que subleva, quando a his-
tOl'ia ahi est para demonstrar que os demagogos so inhabeis
para manterem a autoridade que minaram, para carearem o
respeito que de truiram... Os factos ahi esto, senhores,
paI'a demo traI' esta verdade, que por uma fatalidade quando
ferimos os indi iduos no reparamos que ferimos essencial-
mente as po ies que elles occupam e a que legitimamente
a:;pil amos. li

II. - A Lei dos Circulos

A scsso de '185 pal'a o ministerio a da lei eleitoral. A


rcforma eleitoral iniciada por PaI'an no Senauo no era seno
o pl'ojecto do gabinete Paula Souza, que este no pudera
fazer pa. ar. A eleio por circulos de um deputado era a ida
fixa de Paran; no preciso procurar para explicar a sua
rcforma nenhum estI'atagema de agradar aos Liberaes (1),
basta a fa cinao que a ida dos circulos tinha produzido
nclle. Elle estava pl'Ompto a acceitar a elei\o directa uma yez
que tive se o circulo (discur o de 8 de Agosto). Era a mesml\
confiana que vimos em 1880 no Sr. Saraiva, de que a mu-
dana do systema de voto, havendo sincel'idade no governo,
daria a ycrdade das eleie . No senado, PaI'an encontrou
a opposio de Eusebio e de Olinda, e dos Conservadores
tluutl'inarios. E sa reforma eleitoral, disse mais tarde um

(1) F. Beli ario, O S!Jstema Eleitoral no IJral, pago 63.


214 UM ESTADI';TA DO lMPERIO

jornalista do orLc, o Sr. Feitosa, era dominada pelo pI'in-


cipio opposto ao que predominava no p\'ojecto de refo\'l11as
do Sr. mini tI'O da Justia, pois emquanto este reforaYa o
paiz official e dava uma aco mais decidida ao que elle cha-
mou principia da autol'idade, aquella pelo contl'ario refora
o paiz real, d vigor ao principio territorial, e dcsccntralisand
a aco do poder diametralmente adverso ao tal lJrincipio
da autol'idade.
Foi uma batalha, contina elle, immen a c man-esto a

na qual se viram de um lado o I'. Mal'qucz de Olinda, o
SI'. Eusebio e outros, e do ouLI'o o Sr. Iarquez de Paran com
os defensores da au a territorial. O Sr. l\Ialquez de Pal'an6.
auxiliado com a gicle iml erial com o pre tigio do poel [' e
de enyolvendo toda a fora de sua vo'ntade, tl'iumphou, c
com elle triumphou a cau a territorial contl'a o entrin hci-
ramento beira-mar do velho regimen. ACamara temporaria,
filha quasi toda do sy tema de compre o, quiz reVOlyel'-Se,
mas uma palavra forte do Presidente do Con elho a fez ent['al'
no exame de ua situao e a grande lei pa ou. fa :I de
yer o teITeno que pel'deu o velho regimen e quanto adeanLou-
se a monarchia para a causa nacional. )J

A opposio do Senado era baseada, alm dos pre~exto


constiLucionaes que a acobertavam, no receio de que a eleio
por cil'culos vies c destruir a di 'ciplina, a cohcso dos pa\'-
tido e por Outl'O lauo rebaiXai' o ni,-el intellectual e politico
uo Parlamento. Os deputados e senadores, dizia a commis o
do Senado, no sahiro mais dentl'e as pessoas notayei e ba -
tante conhecidas para se fazerem acceitas por uma provincia
inteira; os empregados subalternos, as notabilidades de
aldeia, os protegidos de alguma inOuencia local, sero o
escolhidos. II Paran no se preoccupava disso; queria a re-
presentao do paiz real; que a eleio fosse uma verdade,
a expresso das maiorias locaes, fos c quem fo e o deputado.
abuco era por indole mais inclinado a desejai' uma Camara
de homens capazes, eleitos como quer que fo' em, do que
urna Camara verdadeir?, mas incompetente para a func.o
legislativa. Elle propunha em conselho uma tmnsaco, os
A E. O DE 1855 2[5

districtos de tre , mas o Pre iden te do Conselho queda a


physionomia fiel e exacta do paiz no Parlamento. -a Camara
a lei encontraya gmnd p rc i t ncia, os Jiberaes pediam-n'a,
mas grande parte da maioria lhe era contraria. Amigos da
situa~o, como Zacharia , Sarah-a, tiveram que se separar.
Na sesso de 27 de Ago to Paran e tabelece a que to de
confiana com a fl'anqueza imperiosa, a seccura de phrase que
lhe pl'opria : No duyido que o'projecto seja uma embaa-
(l

dellet para aquelles que se queiram alyar sobre a chusma,


para o que no, pude em apl'e ntar- e isoladamente a um
cir ulo. Mas aquelle que di puzerem de influencia legitima,
podem- eapre ental'pclome momodo.Aschu ma , enhore,
conym muito a algun , porque yerdade que sendo eu eleitor,
ten lo de yotal obre 10 ou '12, e examinando uma' chapa
de 20, po o d ixar e capar um ou outro de menos capaci-
dade : ma quando e yotar o])I'e um , h i de e colher com
cautela, hei de \'otar com e cmpulo, procurando que aquelle
a quem t nho de lar o meu voto reuna as qualidades precisas
pal'a er votado ... Eu no inbibo ao goyerno de e interes ar
POl' eleie incel'a e ln'e ; o que no pel'mtto ao gaverno
so as fl'aude , a Ll'Ocas, e a immoralitlade. O governo
assaz intere ado na mar ha da sociedade para ser de inte-
ressado na elei e, ... Conheo que a solu o da que to pOI'
meio do adiamento' indil'ecta, ma u a tornarei directa: o
nobre deputado que e pl'onuneiem do modo que lhe pal'ecel'
preferivel, porque eu acceito toda as .solues. ))
A oppo io Liberal apoia triumphante o projecto, que lhe
dal' pelo m nos a minOI'ia a. Con el'vadora propala, como
em 1871 que se faz u o'da vontade do Impemlol' para armn-
cal' voto . O dilettanti do Rio de Janeiro, dizia Araujo
Lima, en'indo- e de uma impres o da poca, a raa deo-e-
nerada do baixo Imperio, retil'am o cavallo, prendem os
til'antes ao pescoo, e puxam os carros tl'iumphaes de uas
cantoras e bailaI'inas.... Votando pela reforma u fal'a to
trio te papel, tiraria o carro triumphal dos meus adversario ,.. I)
PaI'an teve um encontro com o relator da commi o, que
era Zacharias, na f1e 50 tle 28 ele Agosto. Dizendo Zacharias
216 UM ESTADISTA DO IMPEnIO

A commisso pl'escindiu do dil'eito que lhe competia


dc estudaI' o projecto mais pau adamente, Pal'an inter-
rompe-o vivamente; Eu viria Camara pedil' ul'gencia,
no espel'aria pela apl'esentao do pareceI' da commisso.
O incidente contina assim nos Annaes; O SI'. ZachCl1'ias:
o passe despel'cebida, SI'. presidente, a dec1al'ao do
nobre Presidente do Conselho! - O S1'. Pl'esidente do Con-
selho : - Sim, senhor, eu no a fiz para que ficas e occulta.
se a com misso no quizesse dar seu parecer em tempo de se
poder discutir nesta sesso, eu vil'ia Cam ara e proporia a
urgencia. E mais este aparte de Pal'an : Q Esta opinie
vem d'aquelles que no so capazes de affl'ontal' uma pl'va
de eleio por circulo, por que so deputados de enxurrada. II
Por M votos contra 36. a Camara decidia-se pelo projccto.
FCl'raz figura do lado do governo.
CAPITULO IV

POLITICA EXTERIOR

1. - A misso Pedro Ferreira

AO ministerio Parana cabia no Rio da Prata uma delicada


turefa, a de 'garantir os resultados da jornada de Casel'os e
da politica do ministel'io de 29 de Setembro (1). Do Ul'uguay,
cuja ind pcndencia tinhamos ajudado a salvar; da Confede-
rao Argentina e de Buenos-Ayres que tinhamos auxiliado
--------------------_. ---
(1) E sa politica foi assim esbo~ada por Salles Torres Homem
na Camara. (12 de Junho de 1857) : II Com os no sos esforos e
theSOlll'OS, com o valor e disciplina dos nos os soldados, concor-
rmos para o tl'iumpho da causa da Iibel'dade e da civili ao na
jornada do lonte Caseros. Salvamos e firmamos a independencia
do E tado Ol'iental no momento em que a Frana, canada de
Juctal' com a tenacidade indomita do moderno Jugul'tha a ia aban-
donar como llma victima indefe a sua ambio invasora. Fize-
mo cahil' as barreil'as que fechavam gl'ande parte deste conti-
nente ao pa, sos ardentes da indu tl'ia e do commel'cio do mundo,
(lue aspil'u.vam a pel'corl'l-o. Chamamos um candidato no'\ o, o
mal agradecido pupillo dos Je uita ,a tomai' a sento entl'e os E
tados Americano. e a fl'uir os beneficio do de envolvimento in-
tel'nacional e da civili ao hospitaleil'u..
II Houve em dllvidu. em tudo i to muita gloria para que repu-
dIemos e se pa , ado, suppo to no fossemos bastante ricos pal'a
compl'n.!a por to alto preo, e bem que do muito que fizemos
poucas sejam as vantagens reae que havemos colhido at hoje. "
218 UlI ESTADI TA no IMPERIO

a libertarcm- e de uma tyrannia esmagadora; do Pa1'aguay,


cuja antonomia tinhamos tambem protegiuo pOI'uma alliana,
no quel'iamo outra cou a seno ser bon e Icae vizi ohos;
no em entr tanto facil vivei' em paz com qualquer d ellcs ;
o chamado cquilibrio do PI'ata ameaava a 'ada momcnto
ligai-os todos contl'a ns. A paz s podia ser o fructo de
uma contoua vigilancia e de uma consnmmada prudencia.
Um momento e teve ella ameaada. Com effeito, no PaI'a-
guay o gabin te herdava uma ituao perigosa. Em Ago to
de 183 Lopez I tinha mandado os pa saportes ao minis-
tro brazileiro, Leal, acen. anuo-o em nota de dedicar- e
intriO'f). e impostura em oelio ao upI'emo Governo elo
E tado e ue levan tal' atroze' calumnia 00 tra lle. E tava
assim ab I'ta entre os doi' paizes uma questo que podia le-
var guel'ra, e ele facto, ba tava ter sido encaminhada de
outro modo pelos propl'ios acon tecimcnto , pal'a ter levado
guerra. Para exigir uma satisfao do PI'csid nte do Para-
guay pela offensa feita ao no o ministl'o o governo mao-
110u a Assumpo uma e quadra sob o com mondo do chefe
Pedl'o Ferreira, que ia como plenipotenciario. A e quadl'a
parou, por intimao, na emboccadura do Paraguay, e-
guindo o chefe m um vapol', o Amazona,.o qual en-
calhou antes de A . umpo. Trocou- e ento uma ingu1aI'
corre.. pondencia entre o Enviado Brazil il'o e o govel'l1o Pa-
raguayo, acabando e te por permittir a subida de vapol'es
m nores pal'a safar o Amazonas. Com tae' comeos a mis-
so e tava fadada a nada con eguil'. A attitude do chefe Pedro
Ferreira foi muito cen urada na poca: provavelm nte:
porm, elle fez o que era mais prudente e avi. ado quando
elesi tiu de forai' a ubida do ParaO'uay diante da intimao
de Lopez. As instruces autorizavam llill procedimcnto
energico e militar da parte do no so negociado!' e Almil'ante,
dadas certas hypotheses, e. cleveu mais tarde Paranho . De
outro modo no se esforaria eBe por j ustifi ar-se, om tan-
tas ponderaes, de se ter ado tl'cto ao procedimento que ob-
servou desde as Tres Boccas ... Negada a satisfao ou recu-
sado o livre transito ao nos os navios para Matto- Gros o, o
POLITICA EXTERIOR 219

Almil'ante tinha no s6 autol'izao mas ate ol'dem de fOJ'(;ar


a pas agem, fazeI' subil' para as agua brazileieas do Alto Pa-
ragu::ty dois ou tl'e elos navios pequeno que compnnham a
expedio e n'esta attitude aO'uardar novas ordens elo 0'0\"1"1'00
Imperial (1). As l'azes que inOuiram no animo de Peelro Fel"
reira para ele de o principio con iderar a ua mi o como
sendo ele paz e no de guel'ra, deu-as ene no seu officio I'e-
sen'ado ele 11 de Abril de 1850. O facto e que elle eO'uiu
pal'a o Pal'aguay levando toda ordem de prevenes contra o
goyemo de Bueno -AFe , que suppunha conninote com
os ioimigo da intel'\"eno l)I'azileil'D no E tado Ol'iental;
de conlado tambem eno de Urquiza me m , de quem em
toclo o caso p n aya que no tinhamos nada que e peral" de
Plljollo, presidente da provincia de Corrientes, fronteira dQ
Pal'aguR), a quem tom u, ou a elle ou ao vice-pr idente da
Confederac- o como orl'e ponden te secreto de Lopez. Ia tam-
bem cel'lo Ir qu a Fran a e a Inglaterl'a tratariam em
ca. o de conai to de neutralizai' a politica do BI'azil dando
fora moral a Lopez. E ta ultima razo parece ser me mo a
que mais pl'cdominou em seu espil'ito : Por i so, escrcye
clle ao mini ti' de E trangeil'os, quando medito na importan-
cia e alcance los pas os daelos pela ameio a diplomacia an-
glo-fl'anceza, no he ito em acreditr que V. Ex. approval' a
conde cendencia com que me pre tei a subir em um 6 navio
e a mandar que a e quadea . e afasta se meia legua da agua
do I'io Pal'aouay. O espirita do gabinete era de aco e ener-
gia; as difOculdades, porm, de uma campanha cont1'3 o
Pal'agnay, me mo n'esse tempo,foram melhol' apreciada pelo
pl'OpI'io Almirante que prefel'io a condescendenci ao rompi-
mento. A mis o Pedro Ferreil'u foi, cm todo o ca o, um de~
sa tl'e diplomatico. E e desastre o ministerio o reconheceu,
I'ccusanclo ratificar as convene qu elle celebrou, allegando
lerem ido feitas sem haver elle, pI'imeiro, obtido o livre tran-

.(1) Citado do Correio Mel'cantil (Fe'vereiro de 1 68), cm Pereira.


PlOto, Colleeo eOlnnleta dos tratados celebrados pelo Brazil,
tomo IV, pago 102.
UM ESTADISTA DO nrPEmO

sito do Pal'oguay, garantido ao Brazil no tratado de 20 de


Dezembro de 18O.
O uesastre, felizmente para o O'abinete no el'a irrepara\"el.
P,1I'anhos, co.m a competencia que desde cmo mostl'ava
n'c sas questes, tomou a si acabar a antiga p ndencia com
o Paraguay, do qual j em 183 dizia Paulino no seu rc-
Iatorio, canado dos esforos empregados para con. eguir a
realidade dos compromissos solemnes Je ~8O : Smente a
guerra poder no desatar, mas cortar as di f[jculuades do
Impedo com a Republica. ) Em Abril de 1856 elle fil'lnar
com Berges, plenipotenciario mandado ao Rio de Janeiro
em logar de Francisco Solano Lopez que adoecera gl'a"c-
mente, um tl'atado de amizade, navegao e commercio, em
que s estipula o livre transito fluvial. Um governo tenaz e
tOl'tuO o como o de Lopez no podia logo de uma yez abl'ir
mu francamente de um pl'ivilegio de que estava de po, e e
que julgava essencial aos seus planos e aspit'acs. Por isso
ratificao do tratado seguiu-se a promulgac;o de I'egula-
mentos que tinham por fim inutili!3al-o. Tuuo o que um
genio fiscal sombrio e hostil podia fanta. iar para fechar o
rio foi incluido n'esses regulamentos, uisse na CanHll'u alies
Torres Homem, que condemnam nossos navios destinados
directamente a Albuquerque a tocal'em em oit logaI'es diITe-
rentes e ouriados todos de registos e vigias, a soffl'el'em oito
fiscalisaes successivas, com desembarque de passageiros,
com exame de documentos, com visto de passaportes, e a pa-
garem na ida e volt!,! pesadas fintas nos di versos pon tos desta
extensa escala, que at comprehende aguas sobre que a pe.-
quena Republica no tem dominio exclusivo, como so as que
correm entre o Apa e o forte Olympo ('1). 1)

(1) u O pellsamen to secreto de Lopez sempre foi que apezar dos


l1'atados fil'mados com os estados vizin 1I0s, era necessal'io ficaI'
senhol' absoluto do seu paiz e dono tambem da navegao do Pa-
raguay, do Bel'mejo e do Pilcomayo. Para esse fim decidiu a

constl'llco de dois f0.t'les : ao norte o de Olympia, ao sul de
HUlllait. TIl'a uma guerra de annexao que elle meditava, de-
vendo seI' sua pl'esa por um lado a pl'Ovincia bl'azileil'a de :Matto
POLITICA EXTEHIOR 221

Os regulamentos contrariaram profundamente o aabinete,


que faz seguil' em misso especial para Assumpo o con-
selheil'o Jos Maria do Amaral, ministro em Pal'an. A aLL-i-
tude ue Lopez no se modificou entretanto (1), de modo que
o mini terio ao reLil'at'-se no deixava ainda em estado satis-
facLol'io as no sas relaes com o Paraguay a I'espeito da li-
berdade fluvial, que cl'a o que mais nos intcre sava por
cau a de Iatto-Grosso. Ainda assim ao espil'ito d'esse gabi-
nete que se dever a soluo final, porque o seu ministro
de ESLrangcil'os que o novo ministel'io mandar ao Paraguay
concluil' as negociaes interrompidas. A conveno de 12 de
Fevereiro de 1858, assignada por Paranhos e Francisco So-
lano Lopez em As umpo, pz termo antiga desintelli-
gencia c franqueou ao commel'cio de todas as naes a nave-
gao do Paraguay e do Pal'an na parte em que pertencem
ao Brazil e Republica do Paraguay, ao mesmo tempo que
estipulava o livre transito dos navios de guel'ra das duas
naes (2).

Gros. o e por outro as Misses de Corrientes. n Historia de los


Gobernantes del Para[JLLa!J por Antonio Zinn!J.
(1) " Com tanta arrogancia sustentaya o Paraguay suas exorbi-
t:J.ntes pretenes policia do rio que na propl'ia presena do
ministro Amaral, dirigindo-se a Matto-G1'OSSO o vapor de guerra
br:J.zileil'o Parar;uass, interrogara ao dito mini tI'O por nota de
7 de Abl'il de 1857 sobre un gran armamento, ademas ele la arti
leria de grueso calibre, del buque, elos obuses ele montaiia ele
5 a 6 pulr;aelas ele calibre, eloseientos pares de pistolas, fulmi-
nantes de seis tiros, seteeientos refies a la mini!J otra poreion
de armas !J 7Julnieiones. A semelhante interpellao I espondeu
o Con elheiro Amaral com a maior propriedade que - o comman-
dante d'aquelle vapor que pertencia armada imperial lhe infor-
mara que seu navio estava com elfeito armado do modo o mais
completo possi 'leI e nada mais. Pereil'a Pinto, ibid, pago 119.
I)

(2) N'essas negociaes a respeito da libel'dade do rio da Pmt:J.


~ governo Brazileiro insiste em (Iue seu principio foi sempre a
!lHe navegao dos rios communs em favor dos I'ibeirinhos e de-
pois nas instruces que Iaranguape d a Paranhos recom-
menda que demonstre ao governo do I arl.1guay " o empenho que
tem o governo Imperial em no reclamar outl'as facilidades para
a navegao do Paraguay que no esteja disposto a. conceder
222 :Yr E TADI TA no r~lPEl !O

II. - Montevido.

No Estado Oriental tambem a situao no fim de 1853 era


cheia de difficuldade. O governo Uruguayo solicitava cm
Fevereiro de IBM a intel'veno do Imperio invocando o tra-
tado de alliana de 12 de Outubro de 18Jl. Depois de muito
hesitar o govemo consentiu em mandaI' e tacion' r em )lon-
tevideo uma diviso nossa s ordens do general Francisco
Felix. Da pl'e ena d'e :la fora brazileira na capital vizinha
no resultou, felizment , nenhum desagrado pal'a n ; em
AO'osto de '180o, l)OI'm, a Republica entl'ava novamente em
cl'ise, o Presidente, o General Flore, era fOl'allo a abandonar
a capital onde logo se estabelecia um governo ele facto. Surgia
assim pal'a o Brazil o p rigo de uma guerra civil, que nos
podia envolveI' e envolver a Confederao Argentina e Bue-
no~AYl'es. Durante todo o ministerio Paran a Republica Al'-
gentina esteve dividida em dois governos: ao da Confedera-
o, com sde em Paran, sob a presidencia de Urquiza, obe-
deciam as treze provincia ; ao lle Buenos-Ayres a provincia
de Buenos-Ayre. 'essas condies fez-se o que era mais cau-
telo. o : Limpo de Abreu, que deixara pouco antes o minis-
terio de Estrangeiro:>, foi mandado em misso especial ao
Prata. Ante, porm, de chegar elle ao seu destino estava
composta a desintelligencia que dera causa a sua partida. O
Cenel'al Flores renunciara a Presidencia, e na f6rma da Cons-
tituio era substituido pelo presidente uo Senatlo, Busta-
mante. a esse episodio que se refere Nabuco n'esta felicita-
o ao seu ex-collega de Estrangeiros : Digne-se V. Ex.
de acceitar as minhas felicitaes pela lisongeira soluo

para a nli.vegao dos rios do Brazil. " Esses compromi sos nos
obrigavam no Amazonas a muito mais do que cediamos.
O Visconde de Abaet celebra na cidade de Pal'ana um tratado
e amizade, commercio e navegao com a Confederao Argen-
tina (7 de Maro de 1856), ficando consagrado e desenvolvendose
o pI'incipio da livre navegao do Rio da Prata e dos seus amuen
tes, virtualmente estipulado em convenes anteriores, mas qU~
no fl'a tom ado effectivo.
POLITICA EXTERIOH

quc tivel'a antes de sua chcgada a pendencia politica que


detcl'minaI'a a rniss=i.o de V. Ex. A fOI'tuna no s acom-
panha, scno precede me 1110 O' passos de ,. Ex. O se
guintc tl'echo de uma carta intima a Boa-' i ta mostl'a em
toda a inccl'idade a politica do Impel'io no Prata o pen a-
mento de desintcl'csse que a animaya ; No foi de maromba,
seno de obscrvao, a politica quc seguimo a respeito da
Rcpublica OJ'iental. Com-inha, SI'. BaI'o, julgar- se era che-
gado o caSllS frederis, ou a obl'igao de pl'estar o auxilio ao
governo leo-al' convinha saber aonde estava o pl'incipio de
e tabilidadc; convinha quc no fossemo , enganados pelas
sympathia , id ntificar-no com um partido e tl'angeiro I
ac mpanhal-o, ('om prcjuizo das rela<:e cio BI'azil, na sua for-
tuna e ad\'cr idade, ou il11]J61-0 Republica' convinha no
tcmer smente a ambio dos Blancos, mas tambem a am-
bies dos Colol'Cldos, cuja rivalidade nasceu e se ostentou
logo com o tl'iumpho; convinha que no se olhas e a inter-
"cno do Bl'azil como impo io, como cumpli idade na re-
voluo, como parcialidade a favor dos Colol'ados, mas como
urna neces idade, um de idel'atum de todos, Blancos e Colo-
?'adas, como um I rincipio de egurana para lIe, Brazil, e
para o Estado Oriental. O tempo e s6 o tempo poderia cara-
cterizar a conducta do Brazil. O tempo j nos justificou e tu
nos justificaste quando disseste: - cc preci o ~lue o Brazil
no esteja disposio dos ambiciosos do ruguay.

III. - A Abolio do Corso.

Foi no gabinete Pal'an que o Brazil adheriu aos quatro


pl'incipios de direito maritimo proclamados no Congresso de
Pariz de 18D6, a sabei' ; a abolio do corso a inviolabilidade
da mercadoria inimiga, excepto o contrabando de guerra,
sob bandeira neutra, a inviolabilidade da mercadoria neutra
mesmo sob bandeil'a inimiga, e a necessidade de sei' o blo-
queio effectivo para sei' I'espeitaclo. A adheso do Brazil foi
censurada como sendo o abandono do unico recurso de
224 UM E TADISTA DO lMPEnIO

guerra que teriam os em caso de ho til idades de qualquer 1'0-


tencia naval, mas a verdade que os prill&ipios do Congres.'o
de Pariz eram um beneficio sobretudo para as naes fraca e
sem marinha de guerra. A attitude mesma dos Estados Unidos
no era seno um estratagema diplomatico para obter o que
elle pedia: a completa immunidade da propriedade particulal'
no mal'. ('1) politica exterior do gabinete prende-se tambem
a questo, ou como veremos mais longe, as dilIerentes ques-
tes do trafico de Africanos, assumpto de constante intcr-
yeniio da Legao I ngleza.

(1) Paranhos na ses. o de 1857 (15 de Junho) defendeu por e te


modo o acto do seu mini tel'io : II Os Estados-Unidos no pre -
taram sua adheso ' novas maximas e tipuladas pelo conol'esso
de Pariz, porque queria que o principio da inviolabilidade da
propriedade inoffensiva fosse seguido em toda a sua extenso i
que assim como era abolido o corso, a propriedade p.articulUJ' de
um dos belligerantes no alto mal' fosse posta ao abl'igo do direito
maritimo contra os cruzadores de guena. Os E tados-Unidos no
sustentaram que o cor o seja um reCUl' o pI'oprio da civilisao
lJ.t::tual, ou que no tenha o cal'acter de uma pirataria organizada
e legal. .... Segundo as estipulaes das potencies signatal'ias do
tratado de Pariz, os quatro pI'incipios devem ser considerados
insepUl'ayeis. No se admitte uma adheso parcial, e sim uma
adheso integral; a potencia que se no prestar a este accordo
ficar privada da sua applicao. (O .sr. Nabuco; - Apoiado).
Assim, pois, se no adherissemos ao convite que nos foi dirigido,
dada uma guerra em que fosse parte alguma das potencias signa-
tarias do tratado de 30 de maro de 1856, ou alguma das outras
que tm adhel'ido aos mesmos principios, as mel'cadol'ias bl'azi-
leil'us seriam boa presa sob o pavilho inimigo, as mel'cadorias
inimigas no seriam protegidas, no ficariam isentas sob o pavi-
lho brazileil'o. Ora, deviamos ns sacrifical' as vantagens da paz
a um recul'so de guerra? Es(a politica seria a que convinha ao
Imperio, que em todas as suas relaes exteriores tem por ba e
a justia e a moderao? (O SI'. Jacintho de Mendona; - E qUEl
nem mesmo apoiada nas conveniencias do Imperio. A !Jistori:l
da guerra do Sul que o digno O sr. F. Octaviano; - Apoiado).
II Conviria este procedimento ao Imperio, que tem uma marinh~

mercante ainda muito limitada, cuja exportao se faz quas l


toda em navios esll'allg'il'OS? Creio que no ..... Senhores, os
vapores reduzil'am a muito pouco os servios que hoje pode1l1
prestai' os corsarios. E as na es que tm uma gl'ande fora ma-
rtima, tcm tambem uma marinha mercante numerosa; se ellas
quizerem usar desse reCUl'SO, levaro de certo vantagem s na-
es mais fl'acas sob o ponto de vista da fOl'a naval.
I)
CAPITULO V

o TRAFICO E A ESCRAVIDO

I. A lei de 5 de Junho de 1854.

Eusebio desfechal'a em 1850 o seu tl'emendo golpe contra


o commel'cio de Africanos. Em Maro daquelle anno o consul
inglez no Rio de Janeil'O envia a Lord Palmerston uma extensa
lista dos individuos que na capital negociavam com a costa
da Africa; os principaes delle el'am Bernardino de S e
Uanocl Pinto da Fonseca. A influenci:l desse alto commercio
afl'canista era preponderante, as fazendas estavam-lhe hypo-
thecadas e iam cahindo de dia a dia em seu poder (1). A antiga
classe dos pl'oprietaris te1'l'itoriaes mudava assim rapida-
rnenle de constituio e de cal'acter, ao passo que a fora do
africanismo duplicava pOI' essa solidal'iedade da agricultura
devcdol'a no interiOl' com o commercio credor da capital. A
attitude, porm, da Inglaterra tornal'a-se de repente ameaa-
dora, ella resolvera perseguir os navios negreiros, que no
oceano lhe escapavam, dentro mesmo dos nossos por-

(1) " \.ssim a nossa propriedade territorial ia passando das


mos dos agricultol'es para os e peuladores e tl'ancantes. I)

Eusebio, discurso de 16 de Julho de 1852. Os especula.dores eram


os que compl'avc-m Afl'icanos aos h'aficantes para os re"endel' aos
lavradores.
I. 15
2~6 UM ESTADl TA no lMPEnJO

tos, nas aguas territoriaes da coo ta onde se prcpal'avu o


desembarque. querer illudir-nos a ns me 'mos por uma
fico de patl'iotismo dizer-se que em cssa attilude da Ingla-
tel'ra no mar o tl'ufico tCl'ia sido pal'ado repenLinamente em
1850 como o foi. O gl'ande mel'ecimento de Eusebio con 'iste
em ter affl'ontado o poder todo dos capitae'; na sincel'idade
da sua energia que no recuava dcante de nenhuma con 'ide-
rao, e sobretudo na coragem de ter emprehendido (,s a obl'a
no momento mesmo em que o patl'iotismo nacional, suscepti-
bilizado pelo pl'oce~imento do cl'Uzeiro Inglez, estimaI'ia tah'cz
que o govel'l1o pude 'e adiaI' a sua aco deci iva pUl'a quando
a Inglatel'l'a se sentis e impotente ou appellasse para elle, em
vez de se lhe quel'er impr. , pOl'm, irrisol'io pensai' que
sem o tenor do cruzei1'O Inglez tel'iamos lodido anniquilar o
poder do trafico quasi de um gol pc.
O tl'afico era uma especulao entre ns, quasi cxclusiva.:..
mente POl'tugueza; a medida mais erncaz contl'a clle cI'a
assim a deportao, e Eusebio, depol'tando os principaes tra-
ficantes c de ol'ganizando dcsse modo o comm rcio, conse-
1:j'uiu ainda mai do que com as medidas cl'iminaes da lei de
4 de Setembro. Se, porm, o trafico cstava subjugado, no
cstava ainda morto; a menor mostra de indiffcl'ena por parle
do governo fal-o-hia de repen te renasceI' com mais fora; elle
conservava ainda .os seus quadros, o seu va~lo apparelho nau-
tico, o seu mechanismo commel'cial tanto no Brazil como na
costa d'Afl'ica; o capital ainda no havia abandonado a e pe-
culao por impraticavel, acompanhava os n~ovimentos do
Cl'UZeil'O Inglez, mas sobretudo observava o governo. Ainda
cm 7 de Abril de 186 o chefe de policia da crte, Sinimbt,
l'elatava assim as foras conhecidas do tl'ufico :
li. No porto de Ambl'iz da costa d'Africa ha tres feitorias de

escravos, uma pertencente a Manoel Pinto da Fonseca, outra


a Fel'l'aZ Correia, negociantes da Bahia, e a terceira a
Thomaz Ramos conhecido por antonomasia Maneta, por s
ter um brao. Esta ultima a mais poderosa, o referido Ma-
nela est em Lisba, mas tem na Costa o seu correspondente,
cujo appellido Fonseca. No rio Congo existem duas feitorias,
o THAFlCO E A E 'Cf1AVIDAO 22

uma que prepal'a e cl'avos para JIavana e pertencen te a


Zulucta, cujo cOl'l'espondente na Costa Jos Ojea, e outra
que pertencia ao me mo Manoel Pinto da Fonseca. No rio
Quicombo ha uma f itoria pel'tencente a Rival'osa. 'o Cabo
Lopes ha tl'es feitol'ja , uma pertenc nte Havana dirigida
por um tal Jo Pe1'fla, a outra era ele Jos Bemardino de
e a terceira do mesmo Rivaro a, cujo il'mn reside na
Havana. Dizem que Jo Autunes de Carvalllo e Cortes foi
algum tempo admini teador e sacio ele RiVaI'O a, e que seelle
no estiver nesta crte provavel que e ache na feitoria. No
Porto ovo o unico proprietal'io e que exclusivamente pre-
para africanos para importar no Imperio, Domingos Jos
Martins, . obre o qual ha razes de su peitar que continue a
fazer novas tentativas ele trafico. Em Onin o mais notavel
traficante Luiz Lami nier que sendo fl'ancez de nascimento
naturalizou-se he panhol. O pontos da nossa costa em que
mais numeroso de embarques se tem effectuaelo so Rio de
Ostras, Macah, Cabo~Frio, Ponta do Busios e Hapemirim.
Consta que ultimament ele Lisboa tem sahido varias navios
para a Costa e que d'css s eloi. del'am de embarque em
Havana e os ou tl'OS e destina"am ao 1mperio.
Por i 'sq o pI'imeiro acto do ministerio, pde-se elizel', foi o
projecto ele lei, redigido ele accol'do com o ministro ela Justia
c apresentado por Paran no enaelo, logo em '1853, (1) am-
pliando a competencia dos auditores ele marinha para pro-
cessar e julgar os tmfi ante' de escravos e cus cumplices,
lUe"mO quanelo a per eguio fosse postel'iol' ao desembarque
e longe da costa. A lei de Eusebio, de 4 de Setembt,o ele '1850
no bastava, o mechanismo elo crime em outl'O, era preci o
al'mal' de outro modo a autoridade. Em '18tH foi esta uma
das medidas que abuco conseguiu da Camara, su tentando-a
como indispensavel (17 de Maio):
----------------------- -
(1) O projecto foi apl'cscntll.clo no 8enodo com da.ta de 16 de
Setcl~1bl'O de 185~, as ignll.dq POl' Pal'ani, A l)l'untcs ~Iontc Alegl'c,
~aulll1o e Jos Clcmente. E dizer a i1l1pol'tancia que o gabinete
ligava, liledida pl'oposta dias dt:pois de sua ascenso.
228 UM E 'TADISTA DO lMPErHO

Em 1850, vs o sabeis, o granele mel'cado elos escravos


era nas costas; ahi que havia gl'aneles armaz ns ele deposito,
onde todos' iam comprar; mediante es a lei de 4 de Setembro
de 1850 essas cil'cumstancias se tornaram outras, o trafi-
cantes mudaram de plano. Apenas desembarcados os Afl'icanos
so pal'a logo, por caminhos impervios e pOI' atalho desco-
nhecidos, levados ao interior do paiz. face destas novas
circumstancias, que pde o governo fazeI' com a lei dlJ 4 Se-
tembl'o de '1800, cuja aco smente I'estl'icta ao littol'al?
Se des~jamos sinceramente a repl'es o, se no queremos
sophi mal-a, elevemos, senhores, seguir os afl':canistas em
seus novos planos; convm que contl'a elle o governo n
fique imp.otente, que no seja o responsavcI sem os meio
necessarios para pel'seguil-os.
Neste tl'echo reOecte-se bem o espil'ito do homem politico ~
Fallaram os nobres deputados nos perigos que as dispo-
es deste projecto podem produzir. No 1Ia medida pOI' van-
tajosa e neces. aria que no tenha inconvenientes; conym
confiar na execu\o. pol'que, senhore , o governo uma
gal'antia desses pel'igos, o govel'no que faz pal'te do paiz, e
que, dada uma subverso, sel' victima tambem responsaveI.
m gove1'l1o, a menos que desconhea a sua misso, no pde
pOI' amor de um interesse compromettel' os Outl'OS intel'esse
da sociedade; na combinao de todos elles que con iste (}
grande problema da administrao publica. No 6 para abusai'
que o governo quer estas disposies, porque para abusar
el'am bastantes e poderosos os m ios que esto hoje sua
disposio. ')
Ainda uma vez Nabuco se pronuncia ento pela effectivi-
dade da justia, de preferencia sllpel'stio da frma populal'
do jUl'Y :
Eu vos disse, senhores, que o governo tinha o desejo
sinco de I'ept'irnir o tra@co e no queria sophismar a repres-
so; no er sophismar a I'epresso o encal'l'egar ao jury o
julgamento deste crime? Sem querer fazer in~Jria ao tribuna.l
do jury, dir-vos-hei que no elIe o mais propl'io para punir
esses crime ; o jury ser habilitado para punir os crimes que:
o TRAFICO E A E CRAVlDAO 229

o setlso intimo reconhece, que repugnam ao corao, que S0


para as i111 dizeI' fulminados vela lei natul'al e imp ,rtam
infamia; no, pOl'm, o mais PI'opl'io para punil' aquellcs
que so creados pelas nece sidades e intere e da ,ocietlade.
Senhores,' os africani tas no ho de deixar de pI'OCUJ'al' paI'a
o desembarque aquelles sitios em que a opinio fr favol'avcl
ao tl'afico, no ho de intemal' os africanos seno pal'a o
logare em que acham pl'OLeco e o jury de e 100'al'c~, os
cumplices, os intercs ado, os conniventes no cl'ime podem
julgai-o? Dil'emos 'is naes que comnosco cooperam para es e
empenho da ci ilizao e da humanidade que o jury sati -
factorio? Isto seria um epiOTamma, isto no querer a repl'e.-
o, sophi mal-a.
A lei de de Junho de IBM completa a serie da: medida
legi lativa contra o trafico. O fim de toda e a pl'e"i o, de-, e
I'eforo da lei repl' s, ivas, era impedir que se I' pI'oduzi se
o facto de Bracuhy em que Africanos fOl'am de embal'cados e
logo int rnado , mi turados com o resto da escravatura; era
conseguir a revogao da lei Aberdeen, de tI uindo as u-
peitas e mo trando ao mundo que era impo ivel em no o
vasto littoral a I'enovao do contl'abando humano.
O ministro da Ju tia era obrigado por eus agente a uma
vigilancia contnua para evitar que se dsse um de embarque,
porque bastava um desembarque pam produzir complicae.
da maior gl'avidade, comprometter tudo quanto se tinha feito,
fazer duvidar da fil'meza do' govemo ou da sua inc ridade.
Por isso tambem Nabuco esta sempre a recommendar aos
agentes elo govemo uma actividade incanavel, e preciso
I'econhecer que elle se viu quaj sempl'e admii'a elmente
auxiliado, sem fallar dos pl'esidentes e chefes de policia, pelo
magi teados a quem se confiava, entre es e Jo Cuetano
de Andrade Pinto, Pindahyba de Mattos, Barbo a da Cunha,
BernaI'do Gavio, Jo Ta ares Basto . " Dou o pal'aben a
V. Ex. pelo seu triumr ho; escrevia elle a e te ultimo, que tal
p(>de on idel'uI' es e pl'oce so fOl'mado apezar de tudo e con-
tra todo. D (Maio de 18G) O Imperadol', os ministlo , os
pre iuentes, os juizes de direito de comarcas do littol'al mais
233 UI ESTADI~TA DO IMPEmO

expo tas a desernbaI'ques, vivem em ontinuo aleita; nem a


Legao lngleza os deixa de eanar. Com os seus consules, os
seus agentes seereto , os seus navio', as informae que
lhe transmiUem ela costa Africana, ella est constantemente
a elenu nciUl' ten tati vas, tI'amas urdido. uentl'O e fra do paiz,
movimentos ele embarcnes estl'Ungeil'as u. peitas ou de in-
dividuos a soldo elos traficantes.
Nabuco, escrevendo aos pre idente , formulava o seu pro-
gramma n'estes termos: Se(Jll./'Ctna illdiviclual e lmfico,
conte com toela a minha coadjuvao e apoio. (Cal'ta a S e
Albuquel'que, 21: ele Outul)['o de 1854). Elle dilata o podei' elas
autoridade' n'essa que to. A araiva, por ex mplo, diz (carta
de 31 de Dezembl'o de 1854) : Appl'O o o arbitl'io que
V. Ex. prope ele fnzel' sentir a... a resoluo em que est
o governo de pel'seguil' com a lei e fra ela lei, pela lei e
contra ou alm elella, aquelle , quaesquer que 'ejam, que se
empregarem no tl'auco ... ]) Avisando a Pindahyba de que um
palhabote se approxima ela Mal'ambaia : V ja bem que en-
carrego a V. S. ele provideneiar em qualquer paeagem que
seja, ainda que fm de sua jl1l'isdicr:o. (17 OVo 1855) Os
ministros no descanavam, se o ela Ju ti(;a re ponelia pela
policia elo li Ltoral, o d< Iarinlta tinha que tel' seml I'e navios
promptos ao primeil' signal e era o lle Estrangeil'os que
tinha de responder aos avisos diaI'ios da Legao Ingleza.
Valha-me Deus com os seus lJatachos! e crevia n'uma dessas
occasies "anderley a abuco. No v que no crivel simi-
lhante coisa? Comtudo logo que recebi a sua pI'imcira carta
(s 2 hoeas) dei ol'dem para sahir uma eml arcao que fosse
visitar o patacho suspeito ... Tranquillise-se que no ha de
ser nada. O Imperador est tambem sempl'e inquieto, um
novo de embarque queria dizer recrudescr.ncia da actividade
Ingleza, novas humilhaes. De uma vez elle escreve a a-
buco : preciso muito cuidado para que o traficantes de
escravos no faam algum desembarque, e a carta do chefe de
p.llicia da Bahia no me tranquilliza. Pela pl'imeil'a vez
talvez a Legao Ingleza escrevenelo ao Foreign 01'f1ce reco-
nhecia os e foros feitJG pelo governo 13I'azi1eiro para a sup-
o THAFr'CO E A E 'ellAVlDO 231

preso o do trafico, ma ainda assim ella tinha choques


repetido com o gabinete.
Uma vez, por exemplo, 1\11'. Jerningham queria que se man-
das e apprehender um vapor Norte-americano, e abuco
escl'evia familial'mente ao seu collega de Estl'3ngeiros que lhe
tl'an. mittira odes jo da Legao: Que gl'ande entalao!
Mandai' eu pl'oceder a uma bu ca e deteno do vapor Amel'i-
cano implesmente por uma denuncia veri)al paI'a ao depois
ser eu cau a d, reclamaes e indemni a es! Jo, senhor.
Apoiado na de i o do nosso Pro idente nada farei sem a cel'-
teza do facto. O ministel'io era unanime n'e se sentimento.
Infelizmente no e pde impedir que ainda houves e um de-
sembarque, o qual yeio enfraquecer muito a posio do
govel'llo pel'ante a lnglaterm.

II. - O Desembarque de Serinhaem.

Em 13 cle Outubl'o de 18 foi, com eITeito, appl'ehendiclo


na bana de Sel'inhaem, em Pel'nambuco, um palhabote por-
tuguez com 209 Africanos, dos quaes entre a appl'ehenso
e a chegada do dcstacamento do Rio Formoso foram rouba-
dos 47. O capito do palhabote ao chegaI' a Sel'inhaem tinha-
e dirigido logo ao engenho do coron I Dmmmond, que
elle p nsava seI' o tenente-col'onel Joo 1\1anoel de Barl'Os
Wandedey, a quem procul'ava. Drummond que era delegado,
mas no se achava em exel'cicio,rea sumiu a autol'idade, deu
orden pam a appl'ehen o, deixando, entretanto, que o capi
to se retil'ass em paz. A ll'ipula fugiu e desapparecel'am
o papeis de bOI'do. O chefe ele poli ia tran portou-se ao 10gaI',
pl'ocecleu ao varejo de engenhos su peitos, apprehendeu nove
dos iVl'icanos subtrallido , e organizou proce o, no qual no
compl'ehendeu nem Drummond nem Joo 1anoeI. E te re ul-
tado no ati fez ao governo, e Nabuco ol'denou: a demisso
de Dl'ummond; que se in taurasse processo de re pou abi-
lidade contra elle; a pr: o d'elIe e de Joo Manoel; novos
UM E-'TADI 'TA no IMPERlO

varejos nos engenhos, a priso de todos os Africanos boaes


que se encontrassem, offel'ecendo-se prem:os vantajosos
a quem- denunciasse ou apprehendesse outros. Por m ia dos
premias promettidos foram entregues mais doze dos importa-
dos.
Este processo, pela importancia das familias relacionadas
com os presos e p la severidade das buscas e pe quiza' feita ,
causou o maior al\'oroo em Pernambuco. No Rio dc Janeiro,
porm, o Encarregado de negocias da Inglaterl'a as umia
uma attitude de desconfiana perante o goverIlo. o ha nota
!Dais dura na triste historia diplomalica do trafio do que n
de 1\11'. Jeminghal11, em 7 de 1\1arco de 1856. PaI'anhos com-
munka-a a abuco, pedindo-lhe que o habilite com os facto
a responder. Aqui est a minu~ do ministro da Ju tia:
Responda ao incluso l'eseJ'vado do SI'. ministro de Estl'an-
geiros de 1-1 de Maro corrente sob o qual Uan mitLe a nota
da Legao Britannica relativa ao estado do proce so e dili-
gencias contra os autores e cumplices do contrabando de
Afl'i anos apprehendidos em S rinhaem, na qual nota n
me 'ma Legao intima que se o Govemo no fizer o.' maiores
esforos para descobrir os delinquente n'e 5a ou em qual-
quer outra negociao do tl'afico e perseguil-os com todo o
rigor das leis, punindo a todos como empregados n'aquelle
comll1~rcio, o govemo BI'itannico ser fOI'ado a mais uma
vez pr em pratica as disposies do acto do Parlamento do
anno de 1845 e emquanto os cl'Uzadores Bl'ilannicos exerce-
ro nas co tas, nos rios e nos pOl'tOS do Brazil aquella vigi-
lancia e actividade que negligenceiam o agentes officiaes do
governo Bl'azileiro, os tl'ibunaes Bl'iLannicos de justia PI'O-
nunciaro aquellas sentenas de condemnao que se abs-
tenham de proferil' os tribunaes Brazileiros.
Que fico inteirado; que nenhuns outros dados posso
fornecer a S. Ex. alm d'aquelles que lhe tenho communi-
cada, informando-o de todas as o currencias que d'esta
repartio constam, assim (;omo tla: ordens expedidas sobre
este negocio, ordens que por sua energia, severidade, as im
como r:e:a importancia das pessoa contra as quaes se uil'-
o Tl1AFICO E A ESCRAYm.~O

gem, revelam de sobejo o animo que domina o govel'l1o


Imperial na repl'esso do trafico.
Cl. Que nenhuma obseI'vao posso fazer a S. Ex. a e te re

peito seno aquellas me mas que o patriotismo deve suggerir


a . Ex. para protestar perante o mundo contra as expl'esses
violentas e desabrida que na mesma nota e contm, as
quae provocam a nossa justa indignao e pl'ofundo resen-
timento, e bem pI'oprias e capazes seriam de nos fazer desaeo-
l'ooar de pI'O eguir no empenho da repres 'o e a repres o
fo se para ns apenas uma obra de humanidade e civili-
sao) e no, como , um dos principaes interesses politicos
do Imperio, uma que to de Ol'dem publica e de futuro.
para sentil' que a Legao Britannica, esquecida de que
a confiana a primeira condio da cooperao dos dois
paize , a e te empenho humanitario, politico e diplomatico,
nos trate com esse dcsabI'imento, com es a animo idade,
pondo em duvida a nossa lealdade, contrariando o nosso pro-
c~dimento to. incero como e forado, popularizando indi-
l'ectamente e pOI' menoscabos do brio nacional e se commer-
cio infame que o governo tem conseguido de popularizar.
A extensa nota de Paranhos (6 de Abril) enquadra todas
essas phra es indignada do seu collega da Justia e acom-
panha a exposio dos factos com recriminaes mOI'dentes
em que se sentem, alm do brio 'nacional ferido, os estimulos
do gO\ el'no humilhados: a Os traficantes cuja negociaes
o pl'emeditadas e comeada no territorio dos E tados-
Cnido , um dos golpes que Paranhos atil'a Inglaterra,
no r'c ariam os cruzadores Britannicos. m ou outro
indi, iduo implicado no tl'afico pMe escapar aco das lei,
e:n que e sa circumstancia prove frouxido da parte do
g'ovcmo 1m perial. As na- es mais adian tada do que o Brazil
no e Iodem desvanecer de que suas leis alcancem todos os
deli to e seus tribunae punam todos os delinquentes.
Todos os ministros entem deante d'essa attitude dura no
fundo e na frma amai profu nda con tl'aI'iedade;' elles sabem
que tm efIectivamen te repl'imido o trafico; que apenas um
'ou outro fncto acontece, e vm a Inglaterra achando tudo
2~.H UM ESTADISTA DO nII'EI:IO

ponco, dizendo que nada se faz e ameaando o paiz com uma


intel'veno, que converteria os tl'aficantes em victimas da
dignidade nacional, e a elles mini tl'OS em cumrlice sel'v do
estrangei1'O! D'ahi tambem o de 'ejo de esmagar de uma vez,
violentamente, fos e como fosse, esse commercio sOl'dido que
acal'retava tantas humilhaes paJ'a o paiz; es a especulao
de estl'angeiros que deixava o Brazil oITendido sem o direito
sequei' de protestar, porque a civilizao a essa hora j tinha
proclamado o tl'afico de eSCI'avos uma f1'ma de piratal'ia, e
porque, de facto, era um roubo de homens de um para outro
con ti nen te.
POI' is'o tambem ninguem tomava maior interesse do que
o Imperadol' n'essa questo, - foi o tl'afico que o fez cortir
os maiores desgostos do seu reinado - ; elle lia tudo, era o
prim il'o a indagar de tudo, nenhum incidente lhe escapava.
Aqui est uma das cartas que elle escl'evia a abuco sobre
esse ultimo episodio do trafico, cal'ta em que se v a atteno
minuciosa que eIle !)I'estava aos detalhes de cada negocio:
A defesa do COl'onel Drummond, se no faz suspeitar de
sua cumplicidade, pouco abona o seu zelo ou a sua intelli-
gencia: se tivesse montado a cavallo, no no dia '13, ma
logo que foi ter com elle o com mandante do palhabote, a
apprehen o seria completa, mas espera pelo filho at o
meio-dia do dia 12 e na madrugada anteriol' foge o comman-
dande do palhabote e elle, confiado nas medidas que tomal'a
pal'a que o commandante no fosse pal'a bordo - e nem diz
quaes ES as fossem, nem -que se vedasse qualquer communi-
cao entre o navio negreiFo e o seu commandante - s6
ordena a apprehenso quando est pal'a anoitecer. A priso
do commC\ndante do palhabote na cadeia poc!eI'ia pr de
sobl'eaviso os criminosos, mas 'sa medida deveria ser acom-
panhada da appl'ehenso, e se o engano que deu causa s
revelaes do comrnandante p6de justifiCaI' os escl'l1pulos de
Dl'ummond, que procederia alis como autol'idade n'es 'e caso,
tinha elle o meio d'embal'aat' a fuga do cOll11l1andante, sel'-
vindo-se dos e:;cravos da fazenda, emquanto se fazia a
appl'ehenso, facilitando uepois, ou quando j no impedisse
o TI\Al'lCO E A E~CIU VIDAO 285

a rcnlizao da diligencia policial, a evaso do lJl'isioneiro.


Cumpre ou\'il' o Jos Bento e o Paiva Teixeira sobre a sub-
s.titui~o proposta do ornci de pal'ticipao da appl'ehenso, e
agora tlil'ei que me pill'ece, I'e me no falha a memoria que o'
Jose Bento rectificou o primeiro numero noticiado de Afri-
cano appl'ehentlitlos, dal1l10 pal'te de que se haviam tomado
'1G2, e que no 'eu relatOl'io o numel'o de extt'aviados de 47,
quando o Dmmmond falia de /!8, Quando que o Drummond
rcfel'iu tudo o que lhe di el'a o commandante do palhabote?
Este negocio sempre foi pal'a mim mystel'io o, e se na ver-
dade houve a pl'Opo. la da substituio de pal'ticipao feita
ao Dl'llm monu pOl' duas veze , e cste no an nuiu a ella nos
termos em qu arnrma to tenazmente que tivera logar a
tran aco intentada cumpl'e reconhecCl' que se deu unica-
mente falta de zelo ou d'intelligencia, ou, c rto elle de que
nenhuma prova exi 'te contra o fJlho, quiz conqui tal' sem.
lJel'igo a fama cle homem le cal'actcI' inabalayel . j di , e : ha
pam mim muita ou 'curidade em tudo is o, e no sei o que
alcanal'o de 1'ectl os no~so;~ PI'C, idente e Chefe de Policia.
A diffjculdad . de se aI anar algum re ullado el'am, com
effeito, grandes, exio'iam um bl'ao ~ rte, um homem alheio
a provincia e que de ejass distinguil'-se n'es a causa da
uppI'csso do tmflco. At a nomeao d'e e homem, que se
ncontl'al', o n o'ocio de l'inhaem pal'ecc, na expl'es o
d abuco, defunto e consll1nnuulo. As medidas que elle
rccommendava encontravam ,9pposio na Iropl'i dade terri-
tOl'ial e no p'u'tido dominanM~ e o pl'esidente (Jo Bento)
I'eecava-se d!cllas, Por is o Nab~,;o lhe e ercye cm fin de
Dezembl'o: Pde el' que ame das e doutrinas que ella
consagTa, refcl'e-se sua confidencial dc 8 de Dez mbro
ejam fOI'te e rigoro as, mas o ella as unicas rncazes. Se
no houver medidas fortes e enel'giea , fique' . Ex. celto quc,
augmentando como se vai augmcntal' a nece idade dos
brao i, o trafico vvltal' e sel'emos impotentes para luctm'
Com os in teres es que o proteo'em.
N.'essa questo a po io do governo era tanto mais dirneil
quanto o consul Inglez no Recife elogiava altamente o pro
236 :\! ESTAm TA DO n!PEnIO

cedimento do coronel Drummond. Em 10 de Abril ('18G),


o mini tl'O da Ju,tia ('eclama em um re el'vado ao de Estran-
geiros contra e. ses elogios: cc o 10uvoI' barateado a DI'Unl-
IBhd, que confe ou ao consul ter dado escapula ao capito
d' palhabote negl'eil'o, prejudica a r presso. Em 1 de
Novembro, con cgue a policia prendcl' em ictheroy Antonio
Severino de Avellal'; a legao Ingleza pret nde que essa
priso foi suggel'ida por ella. A c se respeito abuco eSCl'eve
em Dezembl'O a seguinte cart ao chcfe de policia da crte:
cc A pl'iso de AvelJal' foi executada no dia 1 de Novembro,
como V. abe, d'ahi til'a o mini tl'O Inglez o arO'umento que
esse acto no foi c pontaneo, scno provocado e indicado por
elle; quem desm ntil-o, c por isso me convem que V. diga
em f61'ma que possa constm"ao SI'. mini tl'O d'E tl'angeil'os sc
a dita priso no e tava ha mais de oito dias ordenada pelo
governo e quaes as raze. qu dcmol'aram a sua execuo.
Cumpre que V. me diga tambem a data da requisio pOI'
V. feita ao chefe de policia de Nicthel'oy.
. No contente com i to Nabuco cxpedc Ql'dem pal'a qu
Avellar, no caso de soltura por virtudc de habea -coi'pus ou
dede pronuncia, seja deportado do ImpcI'io. Com effcito, \.vcl-
lar fui depOl'Lado, eguindo o govel'llo, diz um cor1'C pondcnte
da poca add icto ao tl'auco, o fu nesto excm pIo dado pelos
gabinetes de 29 de Setembro e 1'1 d Maio de depol'tarcm os
Pintos da Fonseca, os Coimbras, os BI'andos, os Co 'La
Ramo e tantos outros que levaram comsigo capitacs enOl'-
mes com os quaes esto enriquecendo Portugal no commer-
cio, na indu tl'ia, agricultura, vias-ferI' as, banco et.c.
Em fins de ~Iaio, porm, Sergio de Macedo toma conta ua
presidencia de P l'llam buco. As in tmces que elle leva o
para daI' um exemplo n'essc caso melindroso para a Lranquil-
lidade e pal'a a dignidade do 1m perio, perseguindo om a
maior enel'gia os autores do crim dc Serinhaem. rgio, que
servira na legao de Londl'es, tinha em materia de trafico
idas firmes e decididas: elle scn tia-se to em pen hado como
<> governo em destruir para 'cmprc es a causa pCl'manente
de perigosos attritos nas' relaes do Brazil com a Inglatcl'l'a,
o TRAFICO E A E CRAVlIJ.\O ~37

mercado moneLario a que o nosso paiz ia pedir os capitaes


indispensaveis ao seu desenvolvimento. Sel'gio imprime, com
effcito, ao processo de Serinhaem uma vida nova, de facto o
I' suscita. abuco cria alma nova.
Como vimo , fra o coronel Drummond quem apprehen-
dera os Africanos, deixando, porm, fugir o commandante.
do palhabote. O mel'ito da apprehenso era assim de Dl'Um-
mond; depoi d'ella, pOI'm, tinham desapparecido muitos
MI'canos e o filho de Dl'Ummond, Menezes Filho, era accu-
sado de ter parLe no l'Oubo, de modo que a thcoria do go-
verno era que Dl'Ummond realizava a apprehen o para tel>
pal'te no despojo. Contl'a Drummond no se tinha, porm,
in Laurado proce. so e, no proce o instaurado contra os
outros, foram pelo chefe de policia absolvidos Menezes Filho
e Fidelis e ondemnado Chico Caador, Accioli c ilya
Pereil'a, nada se decidindo soble Joo Ianoel, ainda escon-
dido. Como o consul Ing1ez sempre sustentara que Drum-
moneI era innocente e que o filho sel'ia ab olvido, come-
ou-se a dizei' entre os parentes dos ros condemnados que
a senLena do ch fe de policia fra dictada pelo ministro
da Justia. Poucos dia, pOI'm, durou e e rumor; cum-
prindo a in truces que levava, Sel'gio, respondeu ab 01-
vio de l\1eneze Filho com a priso e o proces~o de Drum-
mondo (1) ([ em lisonja e s penetl'ado de reconhecimento e
de sentimento de justia, escreve Nabuco a Sel'gio (carta de
26 de Julho), dil'ei que V. Ex. nos salvou de gl'a i imu
diCficuldades pela direco que deu a esse negocio que parecia
defunto e onsummado. A l)l'i o de Joo Manoel ou as dili-
gencias e e for os pal'a con eguil-a no podem deixar de
produzir um elTeit exemplul'.

(1) " Os parente do Dr. AlvaI'o e do Chico Caador se mostl'am


muito exasperados. - O Con ui lnglez sempre sustentou que
Chico Caador havia de sei' condemnado e o Drummond filho
absolvido. Dizem que e sa sentena veiu dictada d'ahi por V. Ex.
sempre para fazer a crte ao inglez. - Como se arl'anjaro elles
a~ora com a priso e pI'ocesso do Coronel Drull11TIond, o pro te-
gldo do Consul e o louvado pelo Govel'no lnglez? " (Carla de.
Sergio a abuco em 28 de ;J un lIo).
UM E TAOISTA DO lMPElHO

Sergio assume no Hecife a responsabilitlaele exclusiva


d'essa altitude, pensando, talvez, alliviar assim Nabuco das
indispo ies e odios que ella suscitava em pal'te da proprie-
dade tel'l'itol'ial e nas ilulortantes familias a que pertenciam
os pel'seouido. Em 30 de Junho e creye elle a abuco:
e. Dizem que ha aqui uma carta tle V. Ex. e ouU'as ele depu-
tados d'esta provincia dizendo que por V. Ex. fra dada
ordem de er tirada toda a escrava tum de certos engenhos
para s ser entl'egue quando os proprietal'ios apl'esentar m
os pretos boaes furtados, e aITectam metlo que eu faa execu-
tas essa ordem. A Nabuco, entl'etanto, no convem e sa
attitude do presidente: Agradeo a fineza, mas lhe digo
que estou disposto como sempre a cal'regar com as c n (j-
quencias dos meus actos. A represso implacauel do trafico
para elle, no uma re ponsabilitlade, mas uma glol'ia. Por
isso trocam-se entre o tl is a. eguintes explica es : i\o
quero attribuir a mim s a gloria do govel'l1o na represso
implacavel, escl'eve o presidente ao ministl'o da Ju:tia. A
tactica dos desbaratados negl'eil'os el'a assestar' toda a al'li-
ULuia contra V. Ex., porque era o unico qu julgayam vulne-
ravel pelas sua:i setlas. Sem pre cri que vulnerado no seria,
porm que era vulneravel no ha a menor duvida, pois de
ns todo o unico que tem aqui de pleitear uma eleiiio. ElIes
absol iam a mim e ao Deo como in tl'Lunentos e executorcs
moderados e at modificadores de ordens violentas de V. Ex:
attribuiam ao Pamnt. uma decidida opposio e reprovao
d'essas ol'clens ; e Nabuco pOI' sua \'ez explica o sentitlo em
que reclamara: Quando tl'atei da repl'essfio implacavel no
me referi a uma questo de glOl'ia, mas necessidade de ser
ella tida como o pens:uuento do Go\'emo Imperial pal'a ter
assim mais fora mOI'al : a solidariedade um elemento de
autoriLlade, tem um gl'anLle valol'. )
A questo, pOI'm, estava affccta ti. Relao de Pernambuco
e em em torno tl'es 'e tl'ibunal que fCl'viam os empenhos, as
intrigas e os manejo dos implicados no desembal'quc de
Africanos. No dia oH> de Novembro a Relao absolveu os
ros pelo voto de MineI' a. Para o goremo foi um profundo
o TI1AFICO E A li CI1AYlDO 2:13

choque essa abs I io que podia reanimar a audacia dos


Il'afican tes, com a circum taneia que a absolvio fora faci-
litada pelas manife taes do consul Inglez, 1'11'. Cowper, a
favor ela innocencia ele alguns elos p rseguidos.
Sergio, cujo temI !'amento era ardido e prompto, presen-
tindo o effeito que es a absolvio ia cau ai' em 1'\abuco, o
golpe com que havia elIe de responder, vai ao encontl'o do
seu pensamento, e em 27 de Novembro pede a demis o do
procuradol' da Coroa e a aposentadoria de um dos desembar-
gadores, ajuntando um officio reservado pal'a abuco usar ou
deixar de usar d'eIle conforme se decidisse ou no a fulminai'
os magisLi'ado . Era e te o teor elo omcio com que o pre-
sidente dividiria a re ponsabilidade do golpe dado pelo
mini tl'O : (( N'e ta data escl'evo a V. Ex. um officio reservado
pedindo a apo entadoria do desembargador ... Se o governo
Imperial pOI' qualquel' motivo entender que deve negar-me
ou demorar estas medida, peo que no demore a exonel'a-
o immediata do cal'go que occupo. d O officio, explicava
Sergio em cal'la, vai pOI' minha lettI'a e no o darei ao regis-
tro seno depoi que ouber que V. Ex. teve de o empre-
gaI'. Quando a- artas e o offieio de 'ergio chegaram ao
Rio de Janeil'o o golpe j tinha sido desfechadu sobre a Rela-
o do Recife: a CaI'ta e o omcio tm a data de 21 de
Novembro c os d cl'etos de Nabuco so de 29. Em nenhum
caso, pOl'm, denunciado perante a Camal'a pelas aposenta-
dOl'ias, como o f i, tel'ia eIle feito u. o da der sa que Sergio
lhe quel'ia propol'cional' : a responsabilidade el'a sua , c elIe
no a repal'lil'ia CO!U o scu pl'csiclente.
As medidas de abuco, entr tanto, no fOl'am exactamente
as mesmas que pcdiea cl'gio; cste qucl'ia a demi so do
pl'ocuradol' da Coroa, Fio'ueil'a de l\IcIlo, c a aposentadol'ia de
um d03 juiz s. Quando o pl'ocmador da Cor(,a elefende os
ros, todo magistrad0 pde julgar-se no devei' de absolveI'.
Nabuco evitou.demittir d'essc modo Figueira, aposentou, po-
rm, o dezembal'gadol' indicado por SeJ'gio e mais outl'O e
I'emoveu um tel'ceil'o. Veremos a impl'esso e o effeito politico,
d'esses decretos. Hoje ('13 de Dezembl'o), cahiu aqui o raio
mI E TADI 'TA no IMPEfUO

sobre os desembargadores, escreve Sel'gio a abuco. A noti-


cia logo se diyulgou e produziu um effeito immenso e salu-
tar. Entre os amigos e defensores dos processados gl'ita-
va-se a uma voz que o govel'llo tinha praticado o acto em
subsel'viencia imposio Ingleza. O propl'io Bua-Vista consi-
dera as aposentadorias uma humilhao ao estrangeiro, uma
fl'aqueza, uma cobardia. O aflieio do Encarregado de negocios
ua Inglatel'l'a, MI'. Scadett a Lord Clarendon, dando conta
da absolvio dos accusados no Recife e do acto de NalJuco
(Slave Trade Papel's em Notes on BJ'azilian Queslions de
W. D. Christie) a melhor prova de que elle no insinuou
uma palavra ao mini tl'O da Justia no entillo da aposenta-
doria, sem o que no deixaria de alludir sua intel'veno
escrevendo ao Foreign Oflice, e no attribuiria o acto
firme opinio que o Sr. Nabuco tem da injustia da sen.-
tena e do mau erIeito que produzir a absolrio dos in-
dividuos que o govel'llo acredita criminosos. D Nem era facil
ao govel'llo inglez indignar-se contra a absolvio dcsde que
seu consul no Recife sustentava fortemente a innocencia de
alguns dos processados, pOI'quanto a absolvio d'estes acar-
retava a dos outros.
abuco responde a Boa-Vista (29 de Dezembl'o), se no
magoado, pezaI'oso por se ver abandonado por elle em uma
questo d'es a ordem: o fallarei das aposentadorias,
porque no podemos estar de accrdo sobl'e este ponto capi-
tal: lamentas que eu refel'endasse este acto, e eu tenho esse
acto como o maiOI' seI'vio que tenho prestado ao meu paiz.
Em vez de seI' elle uma humilhao ao e tl'angei 1'0 , que o
no exigiu, que soube delle s6mente depois de pl'aticado,
um acto decisivo, uma prova de que o gverno com os seu
recursos e sem o tul' do bill Aberdeen, pde reprimir o tra-
fico, ainda contra quaesquer inluencias, ainLia cootl'a a
magistratura. Bem pouco valho eu, mas a questo est nestes
termos: - ou eu ou os desembargadores. O que que daqui me
pde vir? DeixUl' o poder pela opposio qlJe esse acto deve
suscitai'? Se as 'im fora, tinha eu conseguido o que desejava
de ha muito tempo, e conseguido pOI' um modo glorioso c
o THAPICO E A ESCRAVIDO 2H

assignalado. Boa-Vista explica-se, attena as suas censura ,


protc ta a sua velha amizade inalteravel e Nabuco re ponele-
lhe (23 de Fevel' iro): cc No me offendi com as expresses
vehementes da tua cal'ta cm que me fallaste das aposentado-
rias e eleic . Senti que o homem de vistas largas e patrio-
ticas, fOI'Le pelo principios contra os individuos quae quer
que fossem, o!Jranceil'o a cssas pequenas considel'aes que
doruinam a nossa poca e arrastam a patria para a dissolu-
o, aquell cujas iJa s mpre coincidiram com a minhas,
diyel'gi se de mim e me tratasse com tanto desabrimento.
No fallemos mais ni sO. A e Albuquel'que, porm, elle
L.

escrcveu agradccido (9 de FeVel'cil'O) : Muito saLisfl-lito


fiquei com o teu conceito a respeito da aposentaJoria dos
de3embargadol'e . infelizmente a nossa gente de Pernambuco
no pcnsa as im. 111 teli:~Jnellte, porque en tendo que ella pen-
ando assim se desmol'aliza, torna-se suspeita e se sui-
cida. I o queria dizei' que o Imperador cstava fil'me, deci-
dio pelo decreto. Qualquel' que fosse a impl'esse no mundo
politico, a attitude vigorosa e decidida do governo impediu
a resurreio do tl'afico e tambem a do Bill Aberdeen.

III. - Os Africanos da lei de 7 de Novembro.

Ao tl'afico prendiam-se numerosas qucstes rclativas a


Africanos c mesmo escravatura j nascida no paiz. A Lega-
o Ingleza assumira no Bt'alil o papel da Anti-Sla,'ery So-
ciety, rebater a escl,tlViJo cI'a a sua funco unica, o logar de
mini tro da Rainha quadral'ia talvez mclhor entl'c ns a I1lU
dil'ector daquella socicdade do que a um diplomata de carreira.
Continuava sempl'c a grande questo a l'espcito dos Afl'icanos
importados depois da lei de '183'J, que a InglatCl'J'a con ide-
rava livres em vil'tude da conveno Je '1826. O governo
tratava ainda a escravido como uma especie de noTi me tan-
gere da fortuna publica e da scgurana individual, como uma
anomalia consagTada, ou uma chaga que, interessando org(\S
r. 1C
242 mI E~T.\Ol TA no 1~IPEnLO

vitaes do systema politieo, 'nem sequei' podia sei' explorada.


a eguinte confidencial dirigida por l\abuco a arai\a, pre-
sidente de S. Paulo, a questo ela lei de 1 de Novem bl'o
exposta em sua, difflculdades in uperaveis p<'1.1'a o governo
e:: sua prescripo convertiela m razo de Estado. um
documento que exprime o moelo de sentir de get'aes succes-
sivas de estadistas : p6c1e-se dizer mesmo que pareceu
sempt'e mais facil abolit' a esct'aYido de um golpe do que
fazer cumpt'ir retro 'peetivamente a lei de 1 ele Novembl' :
Con Gdencial. lllmo. Ex mo sr. Accu O n' sta data o reser-
vado de V. Ex, n 10 ele '18 ele Julho antecedente sobt'e o
Aft'icano Bento, apprehendido pela Policia de Jundiahy, como
escravo fUo'ielo e reclamado por uma pes 'oa que se eliz seu
senhor por titulo de compl'a, sendo que o Juiz ele Dil'eito na
visita das prises reconheceu ter sido elle intruduziuo depois
da cessao elo Trafico e o enviou ao Chefe ue Policia com o
interrogatOl'io, exame, etc. Deploro c 111 V. l!.x. que o Juiz
de Direito por um rigor contrario utilielad publi a e pen-
samento elo Governo levasse as coi a ao ponto a que chega-
ram. Louvo os escrupulos e hesitao do Ch f tle Policia e
de V. Ex. na colli o que se d entre a Lei e a pr scripr:o
que o Governo se impoz com a approvao gel'al do paiz e
por pl'incipios de ordem publica e alta politica alllni lianelo
esse passado cuja liquidao fura diffl iI, cujo revolvimento
fra uma cri e (1). O Goyerno E'stabel ceu Cv a prescl'ipo
para si e seus agentes e at onele chega a 'ua aco; nada
p6c1e elle em relao ao PodeI' Judiciario, O impcl'io das Cil'-
cumstancias o obl'iga, porm) a fazer alguma coi a seno

(1) A prescrip~o de que faila Nabuco fra formulada pOl'


Paran no Senado em 20 de Setembro de 1853 tr.anquillisando
os possuidores de Afl'icanos ... " Os pacificos fazendeiros que tm
escravos anteriormente adquiridos - anteriormente data do
projecto que defendia e no lei de 7 de oveml 1'0 - " qualquer
que tenha sido a maneira por que os comprarac\, no devem
esperar perseguio alguma da parte do governo, pOl'que est(}
tem em considerao o estado do paiz e as desordens que pode-
l'ia suscitaI' uma inquirio imprudente obre o passado em que
lia to geande numcro de compre]lcndidos, I)
o TRAFICO E A ESCRA"!DO 2~3

directa, ao menos indirectamente, a bem dos interes es col-


lectivos da sociedade, cuja defesa incumbe ao Goyerno. :'\o
convem que se profira um julgamento co-ntra a Lei, mas
convem evitar um julgamento em prejuizo e com perigo
d'esses interesse, um julgamento que cau al'ia alarme e
exa perao aos proprietarios. E t dito o meu pensamento,
a execuo de V. Ex. (22 de Setembro de 1804).

IV. Os Africanos livres.

Alm dessa havia a questo do Afl'icanos reconhecidos


livres pelo governo por terem sido apprehendidos no acto
do de embarque, questo que se decompunha em duas: a
dos Africanos entl' gues, de facto, dauos a particulares e a dos
que e tavam ainda a sCl'vio do governo.
A hi toria .dos Africanos livres de uma e outra cat goria
uma das paginas mais triste da e Cl'a"vido entre n , alm
do mais, porque tudo se fazia em violao de tl'atado , de 0-
lemnes compromi sos, que o go erno tomam d garantir a
liberdade dos Afri anos que lhe eram entregues pelas Commis-
se' lIIista . A di tl'ibuio de muitos d'elles entre homens
politieos impol'tantes facilitava os abusos, abusos que se pde
resumi!' dizendo que em gl'ande parte aquell s Africanos
livres foram fraudulentamente incorporados escravatura.
Tudo que a esse respeito all gaya a Legao Ingleza nas suas
reclamaes por mais de trinta annos, pum yel'Clade: touos os
al'Liucios eram empregados para converter os escl;avisaLlos de
facto em e. cravos legaes, que tivessem, elles e sua de cenden-
cia, touo o valor venal (1). O govel'no no podia ainda, quando

(1) II Todos os ardis so empregados com esse Africanos, tmus-


ferindose os de um enhor a outro, at ficarem perdidos de "ista
e esquecidos; mandando-se-os paro. gl'andes di tancia fl'a do
Rio de Janeiro; distribuindo-se-os a certos politicas influentes
Como meio de conseguir uma certa complacencia; negociando-
se Com enes, de um modo ou de outro, por meio de attestados de
244 UM ESTAD13TA DO nrPEfllO

a ferida do trafico estava por cicatl'izar, intentar pl'ocessos e


aces por causa d'esses Africanos perdidos em mo::; de par-
ticulares. Os interesses fundados na propriedade escrava no
seriam, talvez, mas el'am tidos como mais fOl'tes do que o
govemo. A escravido era o fundamento da olygarchia poli-
tica domimnte, olygarchia consolidada, intelligent c patl'io-
tica, mas cujo sentimento em relao a propl'iedade sobre o
homem estava to longe de ter accordado como na demo-
cracia escl'avi 'ta da America do NOl'te. Os Africano livl'es
eram uma fl'ma do socialismo de E tado, que depois revestiu
tantas outras; o Estado distl'ibuia esses escravos -livres a
quem queria favorecer, elles passavam de paes a filhos, como
se fizessem parte da successo, e com o tempo, perdendo-se
o vestigio do destino que tinham tido, o go emo e os juiz~s
de orphos esquecendo-os, a prescl'ipo estava constituida e
muitos d'eUes pas avam ao rol dos e cravo~.
Nabuco, entl'etanto, expediu o decreto de 28 ele D zembro
de 1853 concedendo a emancipao aos Afl'icanos livres que
houvessem prestado sel'vios a particulares por espao de qua-
torze annos. Esse decreto devia libel'tar desde logo um
gl'ande numero d'elles e annualmente operaria a emancipao
dos que fossem completando o pl'azo. A reclamao da Legao
Ingleza contra a medida tomada fundava-se em que ella no
abrangia os Africanos ao servio do Estado, mas a respeito
d'esses o governo no precisava marcar tempo, podia-os '
emancipando a pl'oporo que julgasse opportuno : um pI'azo
certo seria uma restrico do dil'eito do goyerno ele eman-
cipaI-os e como compromisso de liberdaele seria o prazo dema-
siado extenso. Em 186~, quando Furtado (decreto de 24 de e
tembro) deu porvencielos os quatorze annos, marcados em 183,
no restavam legalmente Africanos pOI' emancipar: o elecl'eto
de abuco ja os devel'a ter gradualmente emancipado a todos.
El'am, com effeito tlecorrielos quatorze annos de ,de a lei de
4 de Setembro de 1850, que prohibira concedei' os servios de

morto ou de fuga. li Despacho de MI'. Hudson a LOl'd Palmel'stOll


em 18-16.
o TRAFICO E A E CRAVLDO 245

Africanos apprehendidos a particulares. No havia Africano


livre que no estivesse comprehendido no decreto de Jabuco.

V. - Commercio interprovincial

Tudo que interessava os escravos pal'ecia entrar no dominio


da Legao Britannica. assim que vemos em 1857 MI'. Scar-
lett empenhando-se com Paranhos por onlem de Lord Cla-
rendon a favol' de uma medida contra o commercio costeiro de
e~cravos. PaI'anhos c cl'ev a abuco (12 de JaneiI'o de 1857) :
Diz- e que ha maior de humani9ade nesse II aflco que a im
alim nta o e pirito do que com elle se parece e as lcis con-
demnam. o podemos fazer alguma cou a em nosso proprio
int I'es e, vi to que o 1 orte vai ficando sem brao, e que ao
mesmo tempo nos livre de a' importunaes do Foreign
Ofl1ce? O trafico, meu caro collega, ha de ser por muito tempo
a alavanca InO'leza contra n . Til'emos a essa alavanca o
maior numero de pontos de apoio que nos fr possivel tirar. \)
Era o pl'ojecto que Wanderley apre entara em 1854 pl'ohi-
bindo o tl'an porte de 'escravos de uma provincia pal'a outl'a,
e que fundamentara com a mais penetrante intuio do futuro
cm todavia, infelizmente, instar pela i la.
A linguagem de "anderley (Cotegipe) a re peito da escra-
vido PI'a nes'e tempo to humanital'ia quanto politica:
um horl'ol" senhores, dizia elle ('[O de eternbro de 18lS4),
vl' cl'ianas al'l'ancadas das mes, mal'idos separados das
mulhel'es, os paes dos filho ! Ide rua Direita, e e novo
Valongo, e fical'eis indignados e compungidos com o espe-
ctacLllo de tantas mi el'ias! E i 'to pa sa-se na crte do Im-
perio!. .. Eu mesmo, que no propendo muito para o senti-
mentali mo, confesso que me irrito, que me horroriso, quando
consiclel'O em t das as consequencias de te traflco to bal'-
bal'o , k'1O inhumano, e direi ainda mais bal'baro, mais inhu-
mano, do que era o trafico da co ta d' \.fl'ica. Referindo-se
impossibilidade de colonizar o Sul ernquanto este tivesse o
2G mI ESTADISTA DO IMPEIUO

mercado de escravo do Norte e perspectiva do Norte empo-


brecido, sem escravos e sem os meios de promoyel' a colo-
niza o, difflcil com o seu clima, esboava cl1e e te quadro
que talyez por bem pouco tenha deixado de realiz:u'-se em
todas as suas previses: cc A consequencia de uma mudana
radical nas condies do tl'abalho da provincias ser o anta-
gonismo politico entI'e as provineias do Sul c as provincias
do Norte, porque estas, logo que n.o tiverem escravos, se
empenharo para que os no haja no Sul, as provincias do Sul
quel'ero o contral'io, e veriamos saltar deste hoque de inte-
resses entre ns os mesmos peI'igos que tem am aado a
Unio dos Estados-Unidos da America; e esses perigos no
se antolham aos illustres deputados em um futuro mais ou
menos remoto? ('1)
cc enhuma duvida tenho hoje de propr a medida legis-
lativa, respondia Nabueo a Paranhos, ou de faze!' adoptar o
projecto do nosso collega Wanderley que exi 'te na Camara,
se nisso assentarmos. Se o ministel'io Paran-Caxias no se
tivesse retirado, seria essa uma das leis da ses o de 18t>7, e
o problema servil, mais tarde, seria mais facil de resolveI',
graas antecedencia daquelIa medida preparatoria que o
decompor'ia e, por assim dizeI" distril uiria igualmente pOI'
todo o paiz os impulsos e as resistencias.

(1) Ao mesmo tempo (1 de Setembro) apresentava elle outra


me lida tambem de caracter plJilanthropico, ainda que mais res-
tI'icta, declal ando que a alfonia concedida a e cravo que se no
pudessem su tentar por si mesmo, em consequencia de yelIJice
o.u doena, no isentava os senhore da obriga o de os alimentar.
E talvez a "Vanderley que se referia Sir Henry Howard, e 'cre-
"Vendo a Lord Clarendon que um dos homens publicas mais dis-
tindos do Bra:Jil lhe dis. era que a primeira coisa a fazer era
parar o tl'unsporte de escravos de uma provncia para outl'U,
depoi removei-os das cidades para o interior e ligai-o. ""Ieba,
preparando a 'sim o caminho para a emancipa o. Christe,
Notes on Brazilian Queslions, 97.
o TRAFICO E A E.CBAYIDO 247

VI. - Idas da poca

No se deve entretanto uppr que as idas do governo em


matel'ia de escravido eram as me. ma que dez annos mais
tarde pI'evaleciam no I aiz. As deci s de ;\Iabuco n'e e
assumpto ainda se re entiam de certa 'ubmi o s idas
con cl'\'adol'a. do antigo conselheit'os de E tado e razo
de E Lado que lhe servia d e pantalha. Uma d'essas (Avi o
de 21 d Dezembro de 1 55) a que 'e rerel'e ao direito de
re gate. A que t levantada 'cra se, no ca '0 de se vender em
hasta publica um e I'avo pertencente a vario herdeiro, podia
o es ra\'o, ou algum licitante por lIe, ofrerecer O pl'e da
avaliao para a sua lib l'dad . Fl'anci co Jos FUI'tad , ento
juiz de dil' ito no Par, manire ta1'U- e abeJ'tamente fa\"ora\'el
ao dir ilO do cravo de lib rtar-'e m mo com oppo io
do enhor, uma vez que o indemnisa se. A eco deJu tia,
Paulino, Lope Gama e Abl'ante , in pil'a- e, porem, no receio
de anarchi ar a escravatul'a e no immutabili 'mo, que j co-
nhecemos, do Pl'ocUl'adol' da COI'a, Gome, de Campos. A
Seco Cl'e que em ca algum oppondo- e alo'um do intel'es-
sados, se p6de aceitaI' dil'ectamente do e:cl'a"o ou de um
terceiro (no intere sado) o preo da avaliai:"o paPa conferir
a liberdade. Isto duro, em duvida, ma' e uma con equencia
da e cravido. Raz s de Estado o exigem para que e sa cra-
vido no 'e tome mai pel'igosa do qu e. e a razo do
estadi ta ainda a e e pon to fJ'ia, o cra do homem j
n'elles sen 'ivcl : No ha lei que ol)J'igue o enhor a forrar
e que lllal'que, como talvez on ies e, os ca o ) as condie ,
modos e formal idades com que i to teria de fazer-se."
muito duro, sem duvida, por exem t lo, recu ar o pl'eo da
avaliao do e cl'a,;o que s rviu 101' longo annos e com
fidelidade o fallecido senltor, que o a ompanhou at seu
ultimos momento, 6m nte pOl'que a avi<.lez <.lo herdeil'os a
iSlio se oppP,. Um priyilegio a im <.lado a 10nO'o I'vio,
fidelidade e a unl b0111 pi'oceJimento, poderia 'er uti!. O mi-
248 UM E TADI::;TA DO I~JPERIO

ni tI'O conforma-se ao parecer, que a signala bem o espirito


da poca. (1)
Tambem de Nabuco o decreto de 2 de Janeiro de '18~4,
declarando que a lei de '10 de Junho de 1835 deve ser execu-
tada sem recurso algum (excepto o elo Poder l\Iodemdor) no
caso de sentena condemnatoria contm escravos, no s6 pelos
Cl'imes mencionados no artigo 10, mas tambem pelo de in-
surreio e qua quer outros em que caiba a pena de morte (1).

(1) II Em 1 5.2 o Con, elho de E tado teve que considel'ar os lDeios


de pl'oteger os escravo;' contm a bal'bat'idaue do en hor. Diver. os
eSI;l'a:vos no Rio Grande do Sul denunciaram o seu ell110r COIU-
1l1um pela mOI'te de um uos escravos da casa. O senhol' flil'a
preso e e tava sendo processado, e tl'atava-se de garantir os
infol'mantes cntl'a qua!quel' vingana futura da familia. A seco
de Justia propoz que se ],Jedisse ao Poder Legi lativo uma medida
para que a aco do e. CI'avo, em ca o de sevicias, para obrigar
o senhor a vendel-o, fosse intentada ex-offlci. O Con elho de
Estado (Olinda, Abrantes, Jos Clemente, Rollanda Cavalcanti,
Alves Bl'anco e Lima e Silva) votou contra a proposta da Seco
(Limpo de Abreu, Paran, Lopes Gama) II por ter em con ide-
rao o perigo que pde ter o le".i 'lal' sobl'e a materia, pondo em
ri co a segurana ou ao menos a lranquillidade da familia; por
convl' nada altel'ar a respeito da escl'avido entre ns, con el'-
van do-se tal qual se acha; e por evitat' a discusso no Corpo L gis-
lativo sobre quaesquer novas medidas a respeito' de escravos,
quando j se tinha feito quanto se podia e convinha fazer na
effectiva repres o do tt'afico. J Paran cedeu maioria. Al'aujo
Vianna tambem, e os conselhe~l'os Maia" Lopes Gama e Limpo
de Abreu formal'am a minoria. E justo no omittl' que Rollanda
Canl.\canti suggel'iu a desapl'opl'ia 'o do escravo seviciado, pelo
Governo e o Cons'elho de Estado. O I mperador conformou-se com o
parecer da maioria. II (Vide O Abolicionismo, por Joaq uim Nabuco,
pago 129). No ministerio Pal'an absolvido um senhor contl'a
quem depoz uma e crava sua. Paran incommodado com a absol-
vico eSCl'eve a Nabuco em Dezembro de 1853 : Precisamos
qu'anto ante' conversar a respeito. Ou novo processo se deve
formar, ou ... deve volun tariamente fazer uma viagem Eut'opa
e quanto antes forrar a escr'ava que contra elle depoz e que o
chefe de Policia deve desde j proteger para evitar a vingana
do enltor que infallivel. II
(1) TO Con el ho de Estado mais tarde aI uco Pl'opol' a abo-
.lio da lei de 10 de Junho de 1835 omo prope tambem a do
aI'tO 60 do Codigo Criminal que e tabe!eceu a pena de aoite,.
Su 'tentando a r vogao d'aquella lei de excepo, revogao
iniciada pela com misso da o ual era relator, o consel h eiro la
o TRAFICO E A ESCRAVIDAO 249

a intel'pretao litteral da lei, mas a razo que teve abuco


para decretai-a, quando podia parecer desnecessario repetil' o
term s da lei, que elle via mais garantia para o escravo no
recur o ex-aftieia ao poder Moderador do que n'um segundo
jur : um jury de senhores julgando os e cravo era a negac;.o
da ida de jUl'y, que o julgamento d accusado por seus pares.
Data com elfeito do ll1inistel'io Paran, instituida por Nabuco,
a pratica, que to favoravel foi ao eSCl'ayOS e que de facto
acabou com a pena de morte no Brazil, de serem as peties
de .gl'aa dos rus condell1nados morte coll1panhadas do
traslado de todo o processo, relatodo do juiz de dil'eito e
informao do presidente da pl'ovincia. (Decreto de '16 de
Dezembl'O de 18 3). Na: histol'a da escravido ver-se-ha que
V

o jUl'Ys ele nhores pl'imeil'O conelemnavam systematica-


mente os e cl'avos,depois conluiavam-se para absolveI-o, em
uns casos pal'a no ser lesada a pl'opriedade, em outl'OS
pal'a elles sel'em castigados exemplal'mente perante os outros
escravos. Nada irrital' tanto o Impel'ador como es es con-
luios de jUl'ados pal'a sub tituirem a justia publica pela dos
pl'oprios enhOl'es.
As leis contl'arias natureza humana no podem existir
com o dil'eito, como a m moeda no pMe exi til' juntamente
com a boa. A escravido no podia yivel' na me ma socie-
dade com o espirito de libel'dade, e s a' im se explica o ter

buco fez algumas considel'ae as im rc umida na acla da sesso


de 30 Abril de 1 68: - " O con-elheil'o abuco su tenta a neces-
sidade da abolio da lei excepcional de 10 de Junho de 1835.
Que ella tem sido inerJicaz e l provado pela est,ali' tica criminal;
os crimes que ella previne tm augmentado, E uma lei inju ta
por que destre todas as regras da imputao criminal, toda a
pl'oporo das penas, porquanto o facto graves e menos graves
so confundidos, e no se considel'am circum tancias aggravantes
e attenuantcs, como se o escl'avos no ros em homens, no
tivessem paix e o instincto de conservao. Que a pena de
mOl'te, e sempre a morte, no uma pena exemplar para o
escl'aVO, quc 6 v nella a ccs a 'o dos males da escravido. Que
o suicidio fl'cquente entre os e ceavo , e a facilidade com que
conCe' am os cl'imes, e e entr gam depois de commettel-os,
pl'ovam bem que elle no temem a morte. "
250 mI E TADISTA DO mPElHO

ella durado tanto tempo, incolume, quando jmic1icamente a sua


condemnao estava escI'ipta em tantos tl'echos de lei e o 111 nm'
ardil bastaria pal'a destruil-a. Estava n'esfe caso a ol'dem de
Paran, de '12 de Junho de 18;)4, que no outl'a cou a seno
o propl'io aI't. 28 '1 do CodiO'o Criminal que obriga satis-
fao o senhor pelo eSCl'avo at o valor d'este. Ao escravo
para tornar-se uma pl'opri dade ruina. a sel'ia suffici nte
incorrer em pena pecuniaria superior ao seu preo. Como
esta, a legislao estava cheia de outras cilada pl'opriedade
servil, nenhuma das quaes o escravo se atl'eveu, entr tanto,
a armar pela certeza de que a legi ino em tudo que lhe m'a
favoravel estava de facto prescl'ipta.
Por causa das idas e costumes da poca abuco veio em
um ponto a soffl'er, mais tarde, uma censura que deixou
correr revelia. Elle sabia que o seu procedimento s :e jus-
tificava, como em relao lei de '1 de Novembl'o, pelo privilegio
creado para a escravido, sob todas as administra . do Im-
pedo, pelo supposto perigo social de se tocai' na menor
das suas regalias anomalas e extra-con. titucionae. o ter-
reno do direito e da lei a attitude de governo e magistratura
para com o escravos nunca fui sus e{ tivel de defesa. Era
sempre preciso all gar o precedente, inspirado n'aquelle espan-
talho negro, que paraly ava as autOl'idades e fazia caducar as
leis. Quando a cen 'ma lhe foi feita, Nabuco comprehendeu
que no era mais tempo de a lduzil' em seu favor aquelle ge-
nero de defesa, que claria azo a' novo alJu os con tl'a os es-
cravos. Elle e tava emp nhado n'e', e momento (-1810) cm
uma campanha para destl'uil' o direito divino da escl'avido e
o odioso foral que d'esse direi to eUa del'ivava.
O facto foi e.. te. Na Opinio Libe/'al, jOI'nal republi ano da
Crte, foi formulada, em Dezembro de '1869, sob o titulo Bel/'-
ba/'idade ImlJe1'ial, a seguinte ac 'u.'ao dirigida pessoal-
mente contra o Impel'a 101': cc Ocr oulo Gabl'i I Davi I, eSCl'avo
do Imperador, ha quinze annos jaz ferropeado nas gals, sem
proccs o nem sentena condemnatoria, mas por mero arbitrio
do seu imperial senhOI'. (Opinio Libeml n 'H). A essa
accusao a Mordomia da Casa Impel-iall'espondeu (lomal do
o TRAFICO E A E 'CRAVIDAO 251

Commel'cio de '13 de Dezembro) da seguinte frma: Decla-


ra-se para conhecimento dos que paI' ventura ainda o ignorem
que S. 1. o Imperadol' no po ue e cravos e s tem o u 0-
fl'ucto dos da na o de ha muito empregados no seu servio.
O de nome Gabriel David, de que trata o artigo do periodico
Opinio Liberal de 27 de _ ovembro ob o titulo - BClI'bari-
dade impel'ial- entl'ou em pI'oces o como cumplice de Ma-
noel Ignacio, outro eseravo condemnado pelo jUl'Y como autor
de um a 'assinato; endo GabJ'iel David ab oh-ido, entendeu
a Mordomia qu , vista dos mos preced ntes e genio rixoso
des e es l'avo, no onvinha a . ua conservao na Quinta Im-
perial, ond perturbava a regularidade do ser io e ameaava
a cguran,a do OUtl'O escravos, e at me mo do empre-
gados; pelo que fez em nome da Ca a Imperial d sistencia
I CI'pcLua do' l'vios de Gabriel David, como mo tra o aviso
do mini Leria da Ju tia de 1 lie tembro de 1851, abaixo
tmn cripta; e, pai , de de e a poca, nem uma autol'idade
t m a admini tl'ao lia Casa Iml erial obI'e o reC rido es-
cravo.
este o avi o: - 3" seco. - Mini teria dos Negocias
da Ju Lia. - Hio de Janeil'o, em de etembro de 18M. -
Illm. e Exm. I'. Partici po a v. ex., para ua intelligencia, e
m resposta ao seu omcio de 18 de Maio do conente anno,
que ne ta data expediu~ e aviso ao chefe de policia intel'ino
da crte, para que, entendendo-se om v. ex. obre o modo
de verifical'-se a de i t ncia perpetua que a ca a imperial faz
do u ofructo dos dois e CI'avos da nao de nome Manoel
Ignacio e Gall'i I David, pelos. motivos expendidos no itado
amcio de v. ex., os remettes'e depois para a ilha da Cobras,
afim de trabalharem ali na calceta, at ordens po teriol'e , re-
comm ndando-se ao directol' da Ca a de COl'l'eco, vi to exi -
til'em elles naquelle e tabelecimento, que o puze e dispo-
si o do chefe de Policia pal'a tel' m o d tino indicado. -
Deus gual'de a v, ex. - Jos Thoma:~ Nabuco de Aml/jo. -
1'. Jo Maria Velho da Silva.
A cen ura dirio-ida contra o Imperadol' en olvia a sim Na-
buco, mini tro da Ju tia que expedira o a iso com o qual a
252 l!~! E 'TADI-:TA no IMPERIO

l\IOl'domia se, innocentava. Qual era, porm, a responsabili-


dade de Nabuco? Pela desisteneia que o Imperador fazia dos
servios de Manoel Ignacio e ele Gabriel David ficavam elles,
como escrayos que eram da nao, ao servio da .adminis-
trao publica. Manoel Ignacio fI'a condemnado pelo jury a
aoites David; seu cumplice fra absolvido. O ministro man-
dando-os trabalhaI' na ilha das Cobras na calcta queria evi-
dentemente punil-os pelo crime que fizera um ser sentenciado,
mas de que o outro fra absolvido. O r. conselheiro Nabuco,
diz a Opinio Libera.l, no pde eximir-se da cumplicidade
n'esse facto bal'baro. Se esse aviso verdadeiro S. Ex. no se
justificar de tel' lanado nas gal um homem absolvido pelo
jury s por attenes Casa Imperial. -o! no crivei que
S. Ex. o chefe dos Liberaes, tenha anojado nas gal' s lIA QU[NZE
Af\'NOS (sic) um homem sem processo, nem senten-a, um ho-
mem absolvido pelo jury:
o era, porm, o ministro da Justia que se deveria
assim incriminar com essa justa indignao; era o systema,
o regimen da escravido como elle ento existia. A Opi1lio
Liberal accusa a abuco do que no pde correI' pela sua
conta, como era esse prazo de quinze annos de gals. O aviso
mandava trabalhai' na calceta, na ilha das Cobras, at orclens
posteriores. TrabalhaI' na calceta, em comI anhia dos gals
era um destino que e dava administratiYamente aos e cravos
reputados incorrigiveis: no envolvia ida de s n tena a ga-
ls ('1). Nabuco, entretanto, s podia ser aceusado de ter con '(,1'-
vado na gals os dois e cravos durante o tempo do eu mini
terio; acabado este, a re ponsabiliJade d os conservar na cal-
ceta pa sava ao seu successor. Um d'clles, porm, Manoel

(1) Da mesma poca este aviso de Pal'anhos reproduzido na


Opinio Lieral: II Rio de Janeiro. - Ministerio dos N go ios
daMarinha, em 29 de Dezembro de 1854. - Receba V. Sa, e mande
pr na calceta com os presos que esto cumprindo sentena na
Ilha das Cob','as o pardo Felippe, escrayo do visconde de Ipa-
nema para correco do di to escl'ayo, que sel' tl'atado em tudo
como os gals. - Deux Guarde a V. So. - Jos ~Ial'ia da Silva
Paranhos. - Sr. Joaquim Marques LisLOa.
o TH.\.FICO E A ESCRAVIDO 253

Ignucio, no chcgou a scrvir na calceta: condemnado a duzen-


ts Hoite , fallccera de gangrena e de e corbuto na enfer-
mada da CU'a de Corl'eeo, depois de ter completado o cas-
tigo. Quando o aviso foi expedido, elle j tinha fallecido.
Era outra atrocidade da e cravido, que le"ou ainda trinta
anno pal'a ser abolida ('1). O regimen, todo elle el'a de uma
sc"cI'idade cru I, para conter no l'espeito dos enhores i 0-
lado, indolente., incapazes de se defendeI" as mas as de cs-
cravatul'a que o cercavam. O Estado esti\'era sempre no ha-
bito de ca tigar por con ta dos donos o e cravo reputados
pel'igoso ; no ca o de David a presumpo legal de innoccn-
cia, em que importava a ab olvio do jury, no de truia na
consciencia do enhor a convico de que elle ti\'era parte
no a assinato. O senhor era a nao, isto , na falta do uso-
fructuario que de istia. o governo que a repl'esenlava. Na ilha
das Cobras, para onde o mandou Nabuco, David ficou at 28 de
Novembro de 18'7, quando foi removido para a fOl'taleza de
Santa CI uz; d'ahi voltou para a Casa de COI'reco em 17 de
Junho de 189 como conclemnaclo a gals pel'petuas, diz o
officio elo direclor da me ma Ca 'a, tambem publicado na Opi-
nio Libej'al; depoi (26 de Dezembro) pa ou para o cala-
boio por se verificar que no tinha havido sentena. No
calaboio os eSCI'avo pel'maneciam di po io dos seus
senbol'e POI' tempo illimitado. O tempo que David seI'viu na

(1) A pena de aoitcs para os escravos foi abolida pela lei de


l(jde Outubro de 1'86. Em 186 sustentando a abolio d'aquella
pena em nome da commisso especial do Conselho de Estado
de (lue foi relator e de cujos trabalbos sabiu o pI'Qjecto que se
com'crteu mais tarde na lei de 28 de Setembro de 1 71, dizia 1 a-
I ueo na csso de 30 de Abril do me mo Con elho pleno: " A
pena de aoites nfLO pde existir na nossa lei penal, desde que a
Constitui 'o, :l.l'tigo 179 li), aboliu esta pena e a considerou
pena cruel. um castigo que no cOl'l'ige, mas desmoraliza.
alm d'isto uma pena que no mantem o pl'incipio da proporo
das penas, sendo que o mesmo numero de aoites sub titue a.
priso perpetua, a pri o por 30, 20 e 10 annos. _ s foras do
escravo que regulam o maximo dos aoites e pois o maximo
vem a ser o mesmo para os casos graves e os menos graves. Que
a execuo d'essa pena d lagar a mlLos abusos, sendo que em
muitos c'\sos ilLudida, em outros tem causado a morte.
254 UM ESTAOI TA DO J~JPERIO

calceta foi assim de cinco annos (Setembro IBM a Dezembro


1859); a pri o que durou quinze,- porque no calaboio
esteve at se chamar a atteno para a sua sorte, em 1869.
Assim a responsabilidade de Nabuco de ter exercido uma
faculdade de que o podei' publico eSLava de posse desde os
tempos coloniaes, e em virtude da qual os escravo' tilios por
perigosos e recalcitrante eram I'ecolhidos por tempo ill.imi-
tado ao calaboio, e ahi castigados ou mandados servir com
os presos p0r sentena. Era es e o regimen da escravido,
por sua natmeza barbaI'o, um como que estado de sitio per-
manente para a escravatura, porque s6 pelo ri~or se podia
manter a submisso de grandes massas de homens ao poder
absoluto de uma s6 pessoa. Em todos os tempos homens do
cOl'ao o mais brando e compassivo impuzeram penas cl'ueis;
as penas que n6s impomos hoje parecero igualmente bar-
baras geraes que ho de vir depois. Todos os homens de
goyerno entre n6s, todos os depo itarios de uma pal'ceUa que
fosse de autoridade, durante o I el'iodo da escl'avido, concor-
reram, liirecta ou indirectamente, para sustentar uma tyran-
Dia pedida, in luisitorial, torturante. Mandar um escravo que
elle tinha por um assassino absolvido trabalhar at segunda
ordem Da calceta, era para o ministro da Justia um acto de
pmo expediente, que elle apenas as ignava; a lei no havia
pl'oviLlenciado de outra frma, o que estava em vigor era a
rotina quasi immemoria1. De facto, ou ene desistia em nome
do E tado do servios d'e se e Cl'avo, o que seria anarchi-
sal', pOI' causa do cl'ime havido, a escravatura toda da nao;
ou elle o fazia trabalhar para o Estado nas condies em que
a sua presena em ol)ra ou repartio I ublica era com pativel
com a s o'urana dos outros trabalhadores, isto debaixo de
guarda. Tudo is'o estava de antemo resolvido pelo costume
e pela pratica da casa de Corr co ou da policia: era ella
que dava destino ao escl'avo posto ao seu servio, e o ministro
no tomava iniciativa alguma. O mechanismo da instituio
servil estava todo montado e funccionava automaticamente. A
autoridade era requi itada a toda hora a prestar brao fOI'te
escravido.
CAPlT LO VI

POLITICA FINA CElRA

I. - O Governo e a Praa. O Oramento.

o gabinete na CeI'a em uma phase de expanso, de vida


nova, como foi a que e seguiu extinco do tl'aflco. At
ento o espirito commel'cial e indu tria! do paiz parecia resu-
mir-se na importao e venda de Africano . Com a extinco
deu-se uma tl'ansformao maI'avilhosa. E-'te facto, como
sabido, diz o Relatorio d'} Commi so de Inquerito sobl'e o
meio circulante em 1860, tevo um immenso alcance, mu-
dando completamente a face de todas a coi a na agl'icul-
tUI'a, no commercio, na industria. Os capitaes que eram em-
pregados n'essa iIlicitas transac e aflluiram praa, do que
resultou uma baixa consideravel nos desconto ; o dinheiro
abundaya e uma subida extraordinaria teve logarnos preos
das aces de quasi todas as companhia (1) ... l) D'ahi a

(1) Como a AboJ.:o, que o pe imi ta suppunbam seria a


paraly,ao completa da produco nacional, a extinco do tra-
fico foi seguida de esplendidas colheita. Uma successo no
(l

interrompida de arras ma"'nificas do principal artigo que envia-


mo aos mercados do mundo veio como que gl'atificar a obra aben-
oada da extinco do trafico ... ", escreyeu alies Torres-Homem.
Questes sobre Impostos, Rio de Janeiro, 1856.
256

0reao de novos Bancos, e, com a creao de um banco de


emisso, o papel-moeda abundante ele que carecia a especu-
lao. J sobl'e as aces elo Banco do BI'azil tinha havido
grande jogo de praa em que se perderam e se fizeram rapi-
damente muitas fortunas ('1).
A poca era caractel'izaela pela ancia de enriqueceI' de re-
pente, por um golpe ele audacia. O Relataria ela Commisso
de Inquerito nomeada em 1809 por Ferraz (Aras, ele Bem e
Pereira ele Barros), um dos mais luminosos documentos offi-
ciaes publicados no tempo do Imperio, contm entre outros o
seguinte depoimento de uma antiga firma commercial, a .::asa
M. Wl'ight e Cla. um desafogo elo espirita conservador que
s via perelio nos-novos costumes; ha ao mesmo tempo
muita verdade na observao do modo por que desappareceu
a antiga frugalidade nacional: .
II Quando finalmente acabou de todo a introduco dos Afri-

canos n'este paiz, o paiz achou-se senhor dos recUl'SOS que at


ento tinham sido applicados ao pagamento dos negros im-
portados. Os costumes dos Brazileiros, pela maior parte, eram
simples no extremo, de uma fl'Ugalidade exemplar. No era
passivei 'que a cobia commercial, esse monstro COl'l'uptor,
corl'Ompesse por um COltp ele main os bem fundauos habi-
tC\S de seculos. Seguiu-se por consequencia que no hav.endo
necessidades verdadeiras ou artificiaes em que empregar o
producto do excesso de nossa exportao, veiu-nos de retorno
metal. Mal avisados financeiros que no profundavam abaixo
ua supel'ficie logo julgaram que se o paiz achava-se senhor
desse metal, era porque precisava d'eIle para servil' de meio
cL'culante. Nunca houve engano mais fatal. Tinha vindo
como mel'cadoria em retorno do excesso de nossa expol'tao
e males indisiveis tinha poupado ao nosso paiz, se se tive:se
consel'vado como mercadoria e se tivesse sido exportado na.

(1) Se a febre do jogo no tocou ento ao extremo do delrio,


(I

foi todavia sobremodo intensa e gl'andes perdas causou aos ,in-


caULOS ou ignol'antes que se deixavam al'l'astar pelo prospecto de
considel'aveis lUCl'OS. ') Relatol'io da commisso de Inquel'ito sobre
CI'ise Commel'cial de 186,1. Typ. Nac. 18G5.
POLITlCA FmANCELRA 257

mesma frma. Ma no. Prevaleceram outras idas. Fra


induzido o govemo, guiado por maus con lhos, a cunhar
e3 c metal e desta rnaneil'a a facilitar a sua introdut:'.o como
um veneno activo na eias da circulao. No contente com
esse gl'ande mal qur. faziam ao paiz, u citou-se a malfadada
lcmbl'ana de Bancos de emi o. No era uffieiente para
satisfazei' o maldito app tite <.lo monstro, cobi a cOD1mereial,
o cunhal' o metal, que alis se deveria tel' eon ervado relativa-
m~nte inl1ocuo no seu cal'actel' de mel'cadol'ia. No; o veneno
no era a az activo a corru p<:o moral e ocial marchava
lentamente, el'(1 pl'e i o outro estimulante e orientou (sic) o
Banco do Brazil. E podemos aflll'mal' que a hi tOl'ia do mundo,
a no sei' o epi adio na hi toda da Hespanha na poca em
que se fizeram as famo a descobertas de ouro e prata nas
sua colonia d'este ontinente, no apresenta OUtl'O exemplc
de uma desl110l'ali ao social to repentina, de uma COITUpo
d habito, santificado por eculos de dUl'ao, to assu ta-
tlora como temos pre enciado no Brazil de '1804 para c : um
mal que reclama o mais as iduo cuidado de toelo patl'iota,
para se 0ppl' de alguma maneil'a uma barreit'a a esta tor-
I'ente deva tadora, que alis ameaa no seu CUl'SO a ruina de
todas as fortunas. Antes bons negl'os da costa d'Afl'ica para
fclicidade sua e nos. a a despeito de toda a morbida philan-
tlll'opia Britannica, que esquecida da sua PI'opI'ia casa deixa
morler de fome o pobl'e il'mo branco, escravo sem senhor
que d'elle se compadca, e hypocrita ou estolida chora, exposta
ao ridculo da vel'dadeil'a philantl11'opia o fado do nosso
escravo feliz. Antes bons negl'os da costa d'Afl'ica pal'a cul-
tivar os nossos campos fel'teis do que toela as tetias ela ma
do Ouvidor, do que vestidos de um conto e quinhentos mil
ris para as nossas mulheres; <.lo que laranja a quatl'o vin-
tens cada uma em um paiz que as prodnz quasi espontanea-
mente, do que milho e arl'OZ, e quasi tudo que se necessita
pal'a o sustento da vida humana, do estrangeil'o; do que final-
mente emprezas mal avisadas, muito alm das legitimas
foras do paiz, as quaes, perturbando as relaes da socie-
dade, pl'oduzindo uma deslocao de trabalho, tm promovido
17
258 UM E "fADlSTA no lMPERIO

mais que tudo a escassez e alto pl'el{ d~ todo' os vivel'es,


1'\50 I'efel:imos essas empl'ezas como cau a l)l'inHu'ia, Elias
so, em pl'imeil'o logar, eITeitos da violao dos pl'incipios
mais simples e salientes da verdadeira economia, porm, a
seu turno, fazem-se coisas bem activas e maleficas, Suf/i-
ciente tel'ia sido a aco, de que el'a impos ivel que o Brazil
se esquivasse, da descobel'ta de oiro na Galifomia e na Aus-
tI'alia para pertmbar de uma maneil'a a daI' cuida lo as
id:as de fl'Ugaliuade, que lhes faziam hOl1l'a, dos Bmzileil'os.
Demasiada, a aco da gl'ande importao de metal que se
seguiu suspenso do tl'afico de negl'os; quanto mais no
de lastimar que o nosso povo fosse ainda mai nycnenado
moralmente pela introduco do detestayel y tema de Bancos
de Emisso, Cl'eatul'a do monstl'o - colJil;a commel'cial! No
vimos sem gl'ande I'eceio a facilidade com que os govemo ,
Impel'ial e pl'ovincial, pl'estal'am n'estes ultimos annos a sua
gaeantia a vaI'ias empl'ezas. No anno de -1832 e alguns annos
depois os governos da Unio dos Estados !WeSLavam, no
gal'antias de dividendo~, pOl'm, o seu cI'edito na fl'fna de
apolices, a val'ias empl'ezas e essa Iegi la\o f i fe, t jada pOI'
toda a pal'te com fogueil'as e grande regozijo : todavia no
decOITel'am mais que cinco annos que varias dos Estado sc
,"iram na humilhante posio de fazer bancarl'ota. Queil'a
Deus que no nos acontea o mesmo no Brazil. D
A admini trao do l\Iarquez de Paran, que, em finanas
ouvia os conselhos de ItaborallY, no r aO'iu conlra o mercan-
cantilismo da poca, no combateu a COl'l'ente que se fOl'mava
desde, sobretudo, a cl'cao do novo Banco lo BI'azil; tambem
uo entl'egou-se inteiramente a ella, Seu prgramma era
encaminhar Q nova actividade do paiz, resistindo, por'111,
aos que queriam dinheiro a fal'tar, a baixo preo, denamado
na circulao por um sem numero de bancos. Pal'an, firme
partidario da unidade de emisso, quel'ia lue o novo Banco
emissor fosse o regulador do meio Cil'culante, e s6 elle. O
Banco tinha sido creado com o capital de 30 mil contos e o
direito de emittir pelo duplo ou, com autorizn~o do governo
illimitadamcnte. Havia assim pOI' lei uma esperana de
POLITICA FI A CErRA 219

dinheiro barato pal'a todos os quc' desejavam a regorgitao


do papel-moeda, para a agiotagem que comeara com o jogo
das aces dos bancos e companhias, fundados depois da ces-
ao do trafico, e que tomal'a gl'ande impul o com a creao
do Banco do Brazil em '1853 ('1).
Em 1850, Paran autorizara o Banco a elevar a sua emisso
at o triplo do fundo disponivel (decreto de 2 de AI)('il). Em
toda a exi tencia do gabinete o cambio conserva-se ao par,
ou cima, apenas com uma curta differcna de meio -pont
paI'a menos em '18M (2). A aco do gabinete, pde-se dizer
limitou-sc a reo'ular a emi so de fl'ma que o cambio no
cahi' e abaixo do paI' e o Banco do Brazil no su pendes e o
troc em oiro de suas notas. Dcntro d'esse limite o governo,
confol'me o acto de 1853, estava prompt0 a favorecer e auxi-
liai' o no o espirito da praa. Ainda a'. im a politica finan-
ceil'a do gabinete no foi inteil'amente cautelosa c prudente,
cun entindo na elevao da emisso do Banco ao triplo.
PLIe-se talvez dizei' que o gabinete com esse acto pl'eparou a
baixa do cambio, que veio a dar-se mezes depois da sua
sahida, quand OCCOITeu a cl'i c ele '1807, PI'oyocada pela
gl'ande baixa dos no sos productos e quebra de importantes
casas exportadol'as, mas causada no fundo pelo excesso da

(1)" Pai' e. te tempo (1853), e d'a.lIi con ecutivamente, o espirita


de agiotagem que com timidez tinl1a comeado nos annos ante-
!iOl't)S pelas transaces das acc;es dos Banco. do BI'azil (o se-
gundo) e Commel'cial, pa _andos da E trada de Ferro de fau
e Companhia de Navegao a Vapor se foi extendendo a. todos os
titulas e se propagando por todos os modos ou f~l'mas e principal-
mente sobl'e a ac e do actual Banco do Bl'azL1, sobre as quaes
o governo havia exigido Ulll "premio de 20$ na razo de cad:-. uma
d'aquella que el"'am solicitada na occa io da ua distl'ibuio. "
Relatol'io da Commisso de Inquel'ito sobre a Cri e de 180,1. O
relataI' Fel'1'::tz. A respeito d'e se pl'CI'nio de 20$ ver a.ntes a'
respo ta de Para.n. ao propl'io Ferraz na se s de 1 5,1.
(2) Cotae extl'emas do cambio estl'angol o : 1853, 2D 1/4-
271/2; 1851, 28 1/2 - 26 1/2; 185;), 28 - 27; 1856,28 1/4 - 27;
1857,28 - 231/2 (esta ultima c0ta~o j no pertence ao llel'iodo
do gabinete Pa l'un.)
260 UM ESTADISTA DO IMI'ERIO

emisso e sobrctudo pela latitude indefinida da faculdane


emissora ('1).
O meio circulante existente em 1854 sommava 67,268 con-
tos; em 1857, com a emisso.do novo Banco do Brazil subia
elle a 9'1,96'1. Era um augmento con id ravel como se v.
A emisso do Banco e de suas caixas filiaes no valaI' dc
49,691 contos excedia o papel mocda do Estado, do valor
de 43,000. Ainda assim a pertUl'bao sob o systema ela uni-
dade bancal'ia, ao qual o gabinete Paran firmemente adheriu,
no podia ser to grande como sob o systema da pluralidadc
seguido pelo seu successor. O monopolio do Banco do Brazil,
facultando-lhe o govemo, medida que escoava o oi1'O de
seus corres, augmentar as suas emisses, no podia de certo
regular de modo normal e efflciente a circulao fiduciaria do
paiz; commercialmente, finaneialmente, o systema era rui-
noso, ainda assim deve-se ao gabinete Paran tel' impedido o
incendio de lavrar com a intensidade que a espcculat;o des~
java e que um momento sob o seguinte mini. t ['io ameaal'a
tudo conOagrar.
Quanto administrao do Thesomo, o gabinete teve a feli-
cidade de ver augmenta[' a renda publica, o que diminuiu os
seus deficits de 1853-54, 1854-55, 1855-56, e deu-lhe no exer-
cicio de 1856-5'1 um saldo que os compcnsou (2).

(1) II A baixa do cambio de de 1857 at esta data tem origem


na crise commercial de ento e na altera~o do e tatutos do
B:LnCO do Brazil, allera.o que perrnittiu a e. te au""mental' a lia
emisso ao triplo do valor metallico nos seus cofpe . Uma vez
alterados os estatutos, podem ser altel'ados sempre. No IJa cel'teza
nem segurana e estas alteraes fazem nascer de confiana e
depreciai' as notas, que d'ellas dependem. Sem esta alterao, o
desconto do Banco havia e ter diminuido e em proporo a ahida
do oiro llelo simples facto de no haver notas disponiveis. Il H.es
postn. de Jol1. Gottf. Hasenclevel' no inquerito de 185\). Yel' H.eJa-
tOl'io da Commisso .
. (2) 1853-54, despeza effectuada 37,330 contos, receita 37,018, de-
ficit 28~; 1854-55, despeza 40,572 contos, receita 38,57G, defi it 1,9!JG;
1855-50, despeza 42,864 contos, receita 41,942, deficit 922; total dos
dficits 3,199 contos. 1856-57, despeza 41,920 con tos, receita 52,750,
saldo 10,830. A Grande Politica por Tito Franco de Almeida.
II No dia 30 de Abril 1857 existia nos cofl'es do Estade, Thesouro
POLITICA PINANCElRA 2:i1

II. - As Commanditas por Aces.

o que 'e deu com relao preteno do Baro de Mau de


converter a sua sociedade commercial, o Banco Mau, l\Iac-
GregO!' e Cia, em uma commanllita pai' aces um exemplo
clal'i . imo da desconfiana com que Paran olhava o de ell-
vol im nto que ia tomando o jogo das ace . de "abuco,
o decreto na 1481 de 13 de Dezembl'O de 1854, que veda
s socedacJes em commandila dividir o seu capital em,
aces. E. se decreto no revelava ainda as idas do governo
a re peito das commandiLas por ace. , era de caeactel' pura-,
mente inlerpretativo j para a sua publicao infiuil'am, porf}l"
os receios da poca. Assim, dir abuco em 1856 (21 de
Junho), na poca cm que foi o decreto expedido pretendia- e
qu a ociedades commanditas fossem assemelhada s socie-
dads anonyma , com a differena de no dependerem da
aI provao do governo. A consequencia que a tran ferencia
da' ace.. eria pela mesm f6rma que a das sociedades ano-
nymas, i to , nominativamente e ao pOI'lador. Dahi os peri-
go que o govel'no antolhl'a e que determinaram o decreto
de '18M; e ses perigos seriam os que occorrel'am em Frana
de 1,32 a 1834 : o abuso da crcdulidade publica, os abalos da
cl'culao, o l)l'ejuizo dos terceiros no ca o de fallimento, no
est.ando ainda realisado o fundo commanditario, e finalmente
a de 'naturaIi ao das sociedades commandita , porque no
m'ia po. iveI verificai' a prohibio do CodiO'o Commercial
quanto aos a tos de gesto e de mandato a re peito dos socios
commandit.arios, que se no saberia quaes eram ou quando
linllam sido.

e Tlle OUI'RI'ias de Fazenda, o enOI'me saldo de 12.0G2:085$DOO,


captivo a despezas, mas na maiol' parte di. ponivel. .. cm podei'
lia Agentes cm Londres um saldo de 2.40 :9555008. "A Receita
e a Despe.m do lmperio durante a Administrao dos gabinetes
de .J de 'Maio, 12 de Dezembro e 10 de Agosto. Typograpbia a-
ciolJaJ,1861.
202 Sl\! E TADI!:iTA no IMPE[{\O

Em 186 a que to da diviso do capital das sociedaues em


cummandita toma gmnde importanaia. Carneiro de Campos
formla lim projccto a respeito, exigindo quando as socie-
dades fossem bancarias que pudessem dividir o seu fundo-
capital depois de integralmente realisado e com prvia auto-
rizao do govel'no, As outras no dependiam de autorizao
e as ace eram: tl'ansferivei depois de realizada metade do
seu valor nominal. O gabinete apoia o pr jecto e Nabuco
defende-o na Camar'a. O goveeno, diz elle, referindo- 'e ao
seu anterior decI'eto, no queria a pI'ohibio da clivL. o do
capital, ma garantias e condies para essa diviso. E 'tas
garantias o projecto e tabeIec , e pOI' con~equencia o governo
no repeIle, mas acolhe a ida. E sas gal'antias quanto s
ctnmanditas indu triaes so: 1 a reali ao de m tade cio
0
,

fundo social; 20 , transfel'encia das aces smenle nomin' tiva


e com a responsabilidade do cedente; 30, a r ponsabilidade
solidaria dos socios ostensivos. Quanto s commanditas ban-
carias: 10 , realisao integl'al do capital; 20 , approvano
pr' ia do governo; 30, tl'ansferencia nomi na ti va; 40, re"pon-
sabilidade solidal'ia dos socios ostensivos.
(( Ora, em vista de tas garantias ce 'am os inconvenientes
e perigos que o d creto receava, e s o terror panico p6dc
in pirar a opposio ao projecto. Em verdade, no licito
al'gumentar contra o projecto, que contm essas gUl'antia ,
por causa uos males que produziu o codigo Francez (al't. 38),
que nenhuma gal'antia estabelece e concede toda a J'I'anqucza.
Adoptado o projecto, as sociedades commanditas olTel'ecem
mais garantia do Jue as anonymas, inspil'am maior confiana
do que e ta ; a sociedade anonyma s tem uma gal'an tia, e
a approvao do goveeno, mas a sociedade commandita ban-'
caria tem no s es a garantia, seno as outl'as que refel'i :
realisao integral do capital, tl'ansferencia s6mente nomina-
tiva; se, pois, so reae' esses perigos que o nobre deputado
expoz, eIles se do em maiol' escala nas sociedades anonymas,
e a consequencia que nem commanditas, nem anonymas.
Senhol'es, preci 'o tCI' em grande conta como gal'antia das
sociedades commanclitas a responsabilidade solidaria' dos
POLlTlCA FI1'IANCEIRA 203

gCI'cntes ou "ocios O tensivos; O presentimentCJ e perspicacia


do interes e. privados farejam para assim dizer qualquer
t1uvida de solvabilidade, qualquer indicio de mudana de
eSlado.
Quando o projecto j havia sido votado em dua di cu.-
ses chega o pl'ojecto de lei . obre as sociedades em com-
mandita por ace apl'e entado em Junho d'c e anno ao
COI'PO Legi lativo FI'ancez pelo mini:;tl'o DaI'oche. este um
exemplo da r p rcu o immediata da idas Franceza em
nos o modo de pen ar. A reaco opeI'ada em Fl'ana tran.-
mittiu-sc logo ao BI'azil; os pel'igos d'e sas socieda les fOl'am
vistos en tl'C n luz da xpeJ'iencia Franceza c o i'Ilarquez
dc 'paran fazia rcdigir' um projecto substilutivo ao dc Cal'-
neiro dc Campos, que inteil'amcnte o a1Lerava, tl'iumphando
as itlas c cautela a mais I'cstl'icli \'a . ~abuco ujeita
cs. e projecto ao Bari'io de Mau.
Dc olvo a V. Ex., ,'cspondc estc cm de Agosto (l856)
o Pl'Oj cto obl'e commanditas obl'c que "\. Ex. me fez' a
honl'a de con ullar c devo declal'aJ' com a fl'3oqueza que
costumo quc no todo llo o aclto adaptatlo cil'cumslancias
do no o paiz, bem que ntcllda quc seria convenicnt ado-
ptm' algumas de ua dispo ics. A. Frana adopta ta di3-
po ic agora, depois que a libel'datle n'este ponto, ub.. i tiu
pOI' 53 anno , sombra da qual e estabeleceram innumel'a
sociedades comman lital'ias, existindo actualmente maio de
mil com um fundo quc cxcede de um milhal' e cem milhe
dc fran os! no confando a que se estabeleceram e te anno
que sobem a um algari mo forte, porque em Maio c Junho
se fundaram muita' e uma bancaria com o capital de ccm
milhes de I'anco. (maior do CJ.ue o do Banco de Frana).
Estou mesmo inclinado a aCl'editar que a !'e trices agoJ'a
impostas organizao de sociedade commandital'ias cm
FI'ana nasceram do desenvolvimento que ella tomal'al11,
illudindo o decreto do governo que prohibiu em Abril pa -
sado a organizao de novas companhias at o fim d'e 'te
anno, porque o pil'ito industrial alli no se a ob::\l'Clou cm
presen.a do decreto: como tinha o pI'incipio da eomman-
UM ESTADl 'TA DO Dll'EHlO

ditas, seguiu eu caminho e apeZaI' de serem taes sociedades


"erdadeim oml anllias com o seu fundo dividido em aces
ao portador, o govemo de Lui-::, Napoleo no e julgou auto-
rizado a atacaI dil'eitos inelivicluae fazendo applicao do
elecI'eto de Abl'il a taes socieelade~; formulou e fez "otar lei
a
nova, estabelecendo garantia' e restrices maior parte das
quaes j cu ti n,ha aqui adoptado em '1854.
ma le o'; 'lao, porm, que applica"el a um paiz satu-
rado de com pan hias commanditaI'ia . que se cI'caram sombra
da liberda le, elifflcilmente pde ter applicao em toelas as
suas disposi es restrictivas a um paiz novo que pre i a de
creaI' taes sociedades. A pena de' fJl'i o, por exempl , esta-
belecida a respeito dos fiscaes equivaleria a uma pI'ohibio
ele se poderem encontl'ar homens de bem que quizessem
occupar es a posi(l; semelhante disl o i o seria equivalente
(no estado d no sa sociedade) a dizel'- e: Ficam pI'ohi-
oiJas as companhias commanditalia., quando ellas forem
compostas de pessoas de bem; so, pOI m, permittidas
quando projectadas por tratantes e frau lulentos, que ligando-
se pal'a fi n3 I'eprovados estabeleam entre si (g rentes e
fi. cae ) ~olidal'iedade no crime J). A lei no dil'ia estas pa1a-
vra , porm, alcanaria esse fim. A pI'ohibio ab 'oluta dilS
Jettras ao portadol' sem distinco de prazo, enxertada tambem
na lei que V. Ex. deseja.ria apresentar em sub titui o do
projecto que passou na Camam dos Deputados em segunda
discusso, me parece tambem inadmissivel, como lisse a
V. Ex., como disse ao Sr. Paran; estaria e estou di po to a
apoiar me mo a interveno do Governo, regulada rOl' lei
ainda mesmo UI'bitraI'ia, por mais alguns annos, no que toca
emi 'so. As lettras ao portador emittidas por transaco,
por'm, no tm pOl' que ficar debaixo da alada do Governo.
Apena cnheo um Codigo, o Hespanhol, que no lhes d
aco em juizo. No supponho mesmo que seria facil arl'ancar
ao COI'PO Leo-islativo um voto' que l)l'ivasse ao commel'cio
BraziJeiro de um direito ou de um in trumento de commercio
de que o Brazil, quando colonia de um governo absoluto,
estava de posse.
POLITICA FINANCEIltA 265

li: O que me parecia razoavel na actualidade era que se

deixasse passai' o projecto original apre entado na Camara


dos Deputados, pCI'mitLindo a divi o do capital das sociedades
em commandita por ac es com as garantia e tabelecidas a
re peito do fundo recolhido (que o e pecial). Sob e 'sa
solida gamntia, integl'ali 'ao do eapital antes de sua diviso.
por ac- C', o pJ'incipio tel'ia nec ssariamen te de mal'char
com cautela c l'cOectidarnente; quem no pudes e tel; ace
pal'a di pr eno d pai d'inteirado o capital d'ella , s
faria parte de ta s sociedades quando o pessoal, (a outra e a
melhor gal'antia), lhe mel'ecesse inteira confiana; as iro ver-
e-hia o principio commanditario desenvoh'iJo com "aO'ar e
com inteira segl11'an~'a para o publico, at que se julgas e
conveniente ir-lhe dando mais laI'gucza medida que os bene-
I1cios ao paiz e fossem patenteando. O jogo I1caria em grande
pal'te eoarctado; em regra o jooo perigoso e de envolve
obl'e ace de pouco capital realisado. As aces do Banco
do BI'azil quando t.inham s 20$ J'entmda foram objecto de
um jogo fUl'io o; hoje' quc tm l!~0$ so ainda objecto de
agi tao-em, porm, muito mais moderada. A im pois as idas
cal itaes do projecto original davam as nece sarias garantias;
a dispo 'ies regulamental'es do projecto de V. Ex. seriam
em gl'ande parte adoptada pela oeiedades que aspiras em
a merecer grande d e de confiana' do publico, na formao
de seu e tatu tos e assim iriamos II)archando e bem; do
contrario fi amos com o brao atados.
Direi a , . Ex. com franqueza qual 'era o meu plano em
refel' ncia so icdade de que DU chefe. o di cardando da
opinio d'aqueIles que sustentam que carecemo de capital
fluctuante para d~r vida e fazeI' pI'oduzir o clpital inel'te que
supcl'abunda no paiz, entretenho eu corre pondencia a perto
d um anno com individuo dinheil'O o da Inglatel'ra sobrc
a ida de dobl'al' o fundo da sociedade, mediante a emisso de
aces em Londres com um premio de 20 a 2 O/O, endo o
premio em beneficio do fundo de re el'va do e tabelecimento.
D ,cL que a paz aI pareceu, deram-me egumna de que com
o pt' mio de 20 O/O era no s realisavel, mas infalli\'el a
2G6 UM ESTADI TA DO DIPE no
realisao do meu plano, e mesmo com 25 % no seria
duvidoso com algum e fOI'o. As condi e' m que se yai
pondo <> mel'ca lo monetal'io de Londres me cHio a cel't zu de
que votada a divi o do capital das sociedade em comman-
d:ta por aees, sendo-me permittida cssa faculdad , a im-
portao de 7,200 a 7,500 contos de capital r am o paiz, sel'ia,
s em referencia soeiedade de que s u cher, um faclo
consummado. Com um fundo de '12,000 conto l'cali ado e
1,200 a 1,500 contos do fundo de resel'va no JIC 'ilal'ia Cl1um
momento em fundar filiaes do meu banco no Hio GI'lllde,
Santos, Bahia, Pe1'llambuco e Par. Elias e:tariam todas
funeeionando no 1 de Janeiro do anno que vcm. A, sim fOI'-
taleeido o e tabelecimento de que sou 'hefe, era-me faeil
dl1l'ante uma resitle.ncia de um a dois anno' na Europa com a
filial j creada e aCI'editada em Londre , daI' gl'Unde desenvol-
vimento a tl'ansaces baneal'ia legitimas e 'ans, sem a
minima duvida em vantagem do nosso paiz PI'ovocando POI'
diversos modos a importao de capitaes europeu'. bem
possivel que Outl'OS individuos desde logo ou em seguida
procurassem tamb m crea!' ouU'as institui-'s sob o me mo
pl'incipio, e assim a lei votada morte no al'chivo da Camal'a
dos D putados podia realmente fazei' grandes bens dotando
o paiz de estabel cimentos melhor constituidos do que e. sas
machinae , essas fabl'icas de ace , que ahi se procuram
levantar pal'a funccionar com' responsabilidad~ anonyma.
c( Para o anno as circumstancias podem estaI' mudada, e
provavelmente o estaro; pela minha parte pos i\'d que
me chegue afinal o canao, que no queil'a continuaI' a
luctal" pOI'que . o desejo de poder fazer algum bcm me
mantem no campo.
cc Em vez, pOI'rn, de cstabelecimentos fOl'tement consti-
tuidos pelo capital e pela mOI'alidad , tel' mos oci dadcs
anonyma' que no importaro capitaes, antes, talvez PCl'tLlI'-
bem a circulao do capital fluctuante do paiz. Ter- 'e-ha,
pOI'01, conseguido um fim : uma individualidade poderia vir
a tcr grande inOuen ia, b m que alheia esph~l'a da politica,
cm que essa individualidade no quer tcr inf1ucncia; no
POLLTICA FINANCEIRA 2117

talvez inconveniente que isso se de, mesmo vendo-se que essa


me 'quinha individualidade s se occupa em fazer bem! Resi-
gno-me.
Influil'am no animo do l\Iarquez de Paran o receios dos
me mos ahu o. c espe~ulaes que em Frana fIzeram cercar
de todas as garantias possiveis a fOl'luao e o funcc:onamento
d'e sa p cic de sociedades. O projecto formulado por _ abuco,
'cgllndo o pen amento de Paran, no chcgou a ser aprc-
cntado' na s sso de 1857, sob outro mini.tel'io, acamara
mIai tar um sllb titutivo em que e contm muitas das
cautelas e 'cxigencias d'aquelle projecto, mas a ida no ter
andament no Senado. A lei de 22 de Aao to d '1860,
rcac~o contl'a os de mandos de '1858, . n\ durante mais cle
vinte annos, em matcl'ia de companhia. ~ a cal'tilha do nosso
Icai lador, que no reconhl?ce meio ba 'tante eff1caz pal'a pro-
teger contra os aI,tilici03 da agiotawm os capitaes seduzidos.
CAPITULO VllI

o MINISTRO DA JUSTIA

I. - Marcha das Reformas. Reforma hypothecaria.

J vimos em suas linhas geraes e na marcha que tevc nas


Camaras a pI'imeira da refol'mas apresenk'l.das por Nabuco,
a judicial'ia. Esse projecto resentia-se das concesses que
elle teve de fazer ao Presidente elo Conselho, inteqJI'etc das
prevenes elos eus amigos do Senado contl'a a di posic;o
reformadora do ministl'o ela Justia, e por isso Nabuco mesmo
o considel'a incompleto. As suas idas ele 1854 levam umas
dez annos, outras de dezesete a vinte, para se tornarem lei,
poucas ero rejeitadas: pde-se dizeI' que cm materia ju-
diciaria tudo quanto se fez foi segundo a inspil'ao dos seus
Relatorios de '18M a 1857 e de 1866 e do progl'amma libeI'al
'de 1869 por elle formulado. O) abuco todns as vezes que
foi ministro tomou a pasta da Justia; era a sua esphel'a pro-
pria, sentia q~le podia fazeI' mais nella do que em clua!clUel'
outra; tinha sido juiz, era jurisconsulto, e pam. elle a repa 1'-

(1) O cotejo das difl'el'entes idas sobre refol'ma judicial'ia


at 1869 foi habilmente feito por Figueil'a de :'vfello nos esclal'eci-
mentos que acompanliam um seu pl'ojeclo daquelle anno na Ca
mara. Ver a colleco de projectos com o titulo Reforma Ju
dicia/'ia, publicada em 1869 na Typogl'apliia Nacional.
o ~IJ:\I Tno DA JUSTIA 269

tio pde~se dizeI' da liberdade individual el'a em nosso paiz


a mais impOI'tante de todas: as outras lhe deviam ser secun-
darias. E. sa identificao cio mini tro com as materias de sua
pa ta, o amor com que elle trabalhava esses assumptos, ereou
para elle uma especialidade em tudo que dizia respeito
administrao da justia.
Infelizm nte a lentido extl'ema do antigo tl'amites legis-
lativo fazia com que bem poucos esladi Las con egui sem
no scu mini ll'io a adopo das reforma que promoviam.
A 'reforma da I i de 3 de Dezembro, pleiteada de de '1844, s
CI' levada a ffeito m 1871. O projecto de 1841, ue
Lopes Gama, autol'izando , upremo Tribunal a tomar a sen-
tos como a anliga Ca a de upplicao s se tornar lei
cm 187. Eu ebio para 01 ter algum resulLado adoptou, como
vimos, o systema chamado das carf'etilhas, que c n i tia cm
propr de cada vez uma s di po io de lei evitando o en-
contl'O de intel'e e oppo to que se fl'llla conLl'a as medi-
da complexa. l\Iuita' da idea apre entada por Nabuco
o ero in orpol'ada leO'i lao longos anno d poi. ,a. irn
a reforma judiciaria, a hypothecaria, a lei sobre crimes
commeuido no e trangeiro. E sa demora tinha grandes van-
tagens, deixava amadul'ecel' a refol'ma, ma em muitos casos
ol'a veI'dadeira pel'da ele tempo, pUl'a indolencia leo'i lativa.
A segunda gl"lnde reforma d que Nabuco se occupou foi a
hypothecaria. Pode-se dizer que entl'OU para o gabinete com
e sa idea, porque no primeil'o in'tervallo parlamentar tinha
l'ediO'ido o proj cto. egunclo seu methodo sujeitou logo o
e boo de ref>rma a divel' a autoridades. Teixeira de Freitas
manda um extenso parecer. CI No projecto orO'anizado, diz
elle, eu divi o o minucioso tmbalho do paciente juri con-
sulto, os eonhe imentos do legista, e sobretudo as noes de
economia social, as lal'gas vi tas do homem de E tado, que
sabe comprehendel' as vel'dadeil'as nece. sidades de seu p:lz.
Uma nao p culial'mente agl'icola, que pde tirar o melhol'
paI'Lido de sua immensa riqueza territorial, cuja propriedaue
immovel e rural se acha am I'tecida e, no inspil'ando a ne-
cessaria confiana, torna a condio dos proprietarios summa-
270 li~I ESTADISTA DO lMPEI,1O

mente desvantajosa em relao de outms cla,'ses da socie-


d1de, que maior bene{}cio pde esperar do seu governo do
que uma boa legislao hypothecal'ia?,.", j)

E na vel'clade quando se observa qu o nosso direito


patrio jmais conhecel'a o systema da publicidade das hypo-
thecas, apenas um cios no sos 'juriscon uhos deu noticia delle
(Mello Frei l'e) , quando se sabe que s em 1:1: de Novembro
cL 1846 tivemos um mesquinho regulamento para o registl'o
das hypothecas, ao qual sobl'evem a invasora legislao do
abundante Codigo do Commercio, onele apparece a cel'ebl'ina
denominao de bypotheca e penhor mel'cantil, natural o
desejo ele melhorar sem demora a nossa l~gi 'lao hypo-
thecaria, O remedio, porm, tem que vil' de mais longe,
preciso refu ndit' a lei civil toela para se ter depois uma boa
lei hypothecaria, Alm ele que tuelo o que pele occllpar a
inlelligellcia humana se liga e se encadeia, em matel'ia de
legislao, cujo {}m se l'eduz a marcar o ju to limite ele todos
os direitos, assegul'anelo a cada um delles seu legitimo exer-
cicio, a alliana se torna mais pronunciada. , pl'eciso I'etel'
a phrase em italico, porque contm o segredo da organizao
mental ele Teixeira de FI'eitas, a planta do seu systema jur-
dico, e tambvm a futura fenda da sua poderosa Intelligenca,
cc Se pum ter uma boa lei hypothecaria cumpre que no variado
concu I'SO de di l'eitos haja dados seguros e c rtos que as
outras materias da legislao nos devem fomecer, como ser
passiveI desempenhai' bem a pl'etendida reforma sem revel'
ao mesmo tempo toda a legislao civil que nos rege, alte-
rando-a profundamente, fixando-a em muitos pontos, e sup-
primindo todas as suas lacunas? II
Nabuco era um espirita de ordem differentej bem ou muI,
desde que era preciso melhorai' uma parte do edificio apenas,
clle resumia o seu esforo e a sua atteno nesse ponto e PI'-
curava desempenhar a sua tarefa o melhor possivcl. S se
fosse esperar pelo Codigo Civil para introduzir qualquer
melhol'amento na legislao, elIa nunc teria sido reformada
at boje. De certo, uma reviso completa da legislao ci\'jl
scda preferivel j no se deycI'a tratar de gal'antir do modo c
o MIJ\l:STRO DA JUSTIA. 271

mui ff]caz nenhum direito, sem primeiro e ter fh'mado a


'oa yerdad il'a conc po' abo o, pOI'm, no qoel'ia e pe-
ral' in lefinidamenL e entendia bem que se podia pl'otcgel' so-
lidamente os dil' ito' acLoaes, ficando livre ao c.;odificador
futoro fundil-o em outros molde mai pedeitos.
-o f i difficil au mini tro da Justia jtUifical' o pI'ojecto.
Seu primcil'o di~cur o de 20 de Agosto de 1856 :
Dil'ei tudo, dizendo-vos que o nosso contracto hypothe-
cario um contl'a L aleatorio, sujeito contingencias de
II pothecas cculta , posteriores, infinitas e al'bitraria . Digo
v

infinita arbitl'al'ias, pOI'que j a voo a Commisso vos de-


mon tl'OU qu a lei de 20 de Julho de 1774 n50 d pri\il O'io s-
mente hypotheca' quc ella rcfere, seno tambem a todas
aquellas que pOI' identidade de razo se acharem no mc mo
r:a '0. Lobo no seu tl'atado de execues cnumcl'a muitos
ca o COIl1l)l'ehendidos na id nticlade de razo da lei de 1714,
e vs abei que muito Outl'OS caso se podem ainda admit-
tir, porque a . ubtileza do raciocinio, as argucias da chicana
ho de acltar Ilece 'sal'iamente pel'feita analogia cm cada hypo-
the. e, em toda~ as hypothe es.
([ Temos vC\'llnde um regi tI'O creado pelo decreto de '1846
para a. hypotheca coo\ encionaes, ma este reo'j tl'O no
seno um pio'!'amma; que importa que elle advirta ao em-
prestado!' que n5 ha outras hypothecas coo\ encionae., se
podem oc OITel' com d emboscada hypotheca pI'ivilegiadas
e occu1tas? T mos um l'egistl'o que nos diz que a pl'opriedade
que se ni hyp thccar j est hypothecada, mas no temos
um regi tl'O que nos dio'a que a pI'opriednde que se vai hy-
pothccar e.'t ali nada, que a propriedade hypothecada foi
depois alienada pal'a que o credor possa exel'cel' o seu di-
l'(:iLo de sequela c excuLil' o immovel onde quel' que elle se
ache. Tcmos um r o'i:;;tro que previne uma e pecie de estel-
lionato, lue onsi Le na hypotheca da cousa j hypothecada,
mas no tem s um r gistl'O que previna outl'a especie de estel-
lionalo mai [l'ejud(cial, que consiste em hypothecar a coisa j
ulheada.
a: Poucas palavras, aCCl'escentou elle, cal'actel'izam a nossa
UM ESTADI TA DO IMPERlO

situao: a presumpo ele insolvabilidade, o descredito e o


desar acompanham o agl'icultor e o proprietio que hypo-
theca os seus bens. muito comesinho dizer- e : - Fulano
e t perdido, porque hypothecou os seus bens. O inverso
deste quadro o que deyemos de ejar.
EI'a demasiado desejar que a lavolll'a pudesse e tal' toda
hypothecada e pro pera, cOl'l'espondendo o eu empenho a
novas clllll'as; pI eei o, porm) no esquecer que abuco
se pl'opunha a sei' o fumladol' de um genem de cl'edito ainda
desconhecido e que, como paI'a todos os que imaginam um
novo systema de ['euito, a m di iua era pal'a elle um mel'O
accidente sem impol'tancia em uma vasta expanso. Depois
de longos debates a reforma pas ou na Camara e foi remet-
tida para o Senado em SetembI'o de 1856. Ali permanecenl
at 1864, quando enfim se torna lei, ('1)

II. - Tribunaes de Commercio.

Outl'a reforma de Nabuco foi a dos tribunaes de commercio,


tornando-os tl'ibunaes de 2' instancia. delle a lei e o regu-
lamento que organizou a nova jurisdico contenciosa. A
instituio de negociantes juizes foi combatida na Camam
por Ferraz e outros como inconstitucional; l'iabuco tinha, po-
rm, muita esperana nes a especialidade, a reditava que o
tribunal assim composto seria mais pratico e competente,
que o commerciante teria menos motivo de qucixaI'-se sendo
iulgado por seus pares, e que estes no seriam menos inde-
pendentes do que os juizes vitalicios. Em '1871 eno rendia-se

(1) Veremos ao estudar esta ultima phase da reformada qual foi


Nabuco o relator das Com misses que a aperf'eioal'am, a sim
como o autol' dos Regulamentos que a puzeram em vigol'assigna-
dos por Furtado e Dias de Carvalho. A refol'llla llypothecal'ia foi
toda de Nabuco. Vel'-s'J-ha tambem que creando o cl'edito terri-
torial em nosso paiz elle foi smpre hostil s deturpaes d'esso
gmnde motor da actividade agricola.
a !lIlNISTRO DA JUSTIA 272

na materia mais por e pirito de uniformidade judicial do que


por supel'stio da lettra da Constituio. Advertido pela expe-
riencia, dir elle, no quero hoje os tl'ibunaes de commercio
que institui em '1855, e no quero esses tl'ibuuaes por con-
formidade e cherencia com um principio que constitue
o grande desidel'atll1n de nosso povo, isto , que a juris-
dico defini tiva no paiz eja exercida por juizes vitalicios. l)
(e o de 3 de Agosto de '1871) (1).

III. - Crimes commettidos no estrangeiro.

Tambem consegue abuco fazer passar na Camara em 1854


o eu projecto pal'a a punio de crimes commettidos em paiz
e trangeiro. O projecto primitivo era um de Wanderley,
de '1850, um a1'tigo curto: As leis criminaes do Imperio
so applicayeis quelles de seus subditos que commetterem
qualcruer delicto em paiz eSt1'angeil'o e se refugiarem no ter-
ritorio do me mo Impedo. No se pde, entretanto, legis-
lar assim, com e sa facilidade appal'ente; e ao leigo o pro-
jecto parece habil por ser curto, para o juriscon uIto suscita
questes intel'minaveis. aquellas poucas linhas, por exemplo,
estava revogada boa parte do direito internacional.
A commis o de Justia teve que reduzir a generalidade
da medida a certos crimes contra a nao e aos de falsidade
e moeda falsa e mais crimes particulares contra Brazi1eiros,
excluindo os casos em que tivesse havido processo e julga-
mento no outro paiz. A questo, porm, ainda a sim no era
to simples; de facto uma das mais complicadas que se
po sam figurar, sendo praticamente desconhecido at hoje

(1) Para o regulamento dos tribunaes de commercio ouviu


como sempre grande numero de autoridades da poca. Marcellino
de Brito, Machado Nunes, Eusebio, Teixeira de Freitas, Bulhes
Ribeiro, Souza Franco, Jos de Alencar e principalmente Vaz
Vieira.
1. 18
274 UM ESTADISTA no IMPERlO

o proce so desses crimes pl'aticados no estl'angeiro. Na ter-


ceira discu ,o Nabuco e Ferraz assignam com a commi so
uma emenda substitutiva que adoptada. Tambem es c pro-
jecto ter que esperar no Senado onze anno at seI' conver-
tido em I i e, como se ver, ainda a abuco principalmente
que ha de caber o t1'abalho de emendaI-o e de sustentai-o.
Conforme o seu co tume, o projecto de IBM in ha inado de
autorizaes ao governo para legislai' sobre materias connexus,
como, por exemplo, sobre a execuo das sentenas civeis dos
tribunaes estrangeiros, sobre o julgamento dos crimes com-
mettiuos no alto mar ou em porto estrungeil'o a bOI'uo de na-
.fios braziieims, sobre o modo de preparar no estrangeil'o o pl'O-
cesso de re ponsabilidaue dos agentes do governo. Ambicioso
de trabalho e sabendo que el'a impraticavel apTes ntar projectos
especiaes sobre todas as lacunas de nos a legislao e mui
ainda englobaI-os, Nabuco pedia logo de uma vez em cada
lei autorizao para pl'over a tudo que lhe fosse referen te.
Esses projectos todos, entretanto, n manifestavam seno
para algum observador superficial de ejo de tudo l'efDl'mar;
cada um delles correspondia a urna diffi uldude in, uperavel
que o ministro havia encontrado, nece 'siducle ele remover
algum obstaculo na administrao do paiz.
Essa lei, por exem pIo, da represso elos crimes commettidos
por Brazileims f6ra do paiz entl'ava no systema geral d'l re-
presso do crime que para Nabuco, segundo vamos vl' e
em pal'te j vimos por occasio da reforma judicial'ia, for-
mava um dos gl'andes objectos do ministerio. Defendendo-a
em 3 de Junho de 1854, elle dir: As cedulas falsas proce- '
dem d paizes estrangeiros, principalmente de Portugal, onde
ha fabricas de moeda fal. a em grande escala; para ahi vo
os Bl'azileiros ioteres 'ar-se neste fabric criminoso e de l
vm pessoas in~eressadas especular a respeito das facilidades
e meios de importao e circlao da moecla falsa que fabri-
cam. preciso por conseguinte punir rigorosamente os Brazi-
leiros e os estl'angeiros que desta maneira transtornam e
compromettem a fortuna social e particulal' do Imperio.
Como a m6ecla falsa, assim o trafico de Afl'icanos. Ninguem
o MiNI TRO DA JV:3nA 275

dil''que O projecto um luxo de leg-i lar, que as hypotheses


so raras e gratuitas. l)

IV. - Titulos de residencia de estrangeiros.


Passaportes.

Em tudo que no dependia das Camaras a aco reforma-


dora do mini tro era prompta c decisiva. Elle encontrava
ainda cm vigol' velhos u os que formavam anachl'onismo com
o e tado ocial da poca. Um d'es3es eI'a a exigencia do titulo
de !'e iuencia que se impunha aos e trangeil'os. abuco por
dCcl'eto de 10 de janeiro de 1855 i cnta os e trangeil'o d'essa
formalidade, uspicaz e peI'mitte que viajem dentl'o do Imperio
com o pa aparte que trouxeram ou na falta d'esse com o
da re p ctiva Legao ou Con ulado, vi ado pela autoridade
bl'azilcil'a.
At ento () estrangeiro vivia sujeito a um regimen de des-
conf]ana. Apenas chegado tinha que perder dois ou tres dias
porta da Policia esperando pelo bilhete de residencia e nada
conseguia seno por meio do corl'etores. Descrevendo esse
ystema dizia abuco: cc O titulo de residencia vexatorio,
pela de peza, pelo abuso dos corretore , pIas difflculdades de
fazer cessar a corretagem e pelos ob taculo e demora e.m
conseguil-o. inutil, porque elle ap~nas ubstitue o pas aporte
c nenhuma informao accrescenta quella. que do passaporte
constam; funda-se na palavra de quem pede. E odioso,
pOl'que se funda na suspeita doestrangeil'o, na presumpo
de que em regra geral so maus. A suspeio, que deve sei'
uma excepo, regea geral, presumpo. Est em har-
monia com a lei Franceza do anno 'jU da Revoluo, mas
essa lei do tempo da Revoluo, quando a segurana pu-
blica exigia medidas extraordinarias, quando os estl'angeiros
eeam suspeitos. Esta e outeas proyidencias s convm ou
so justificadas pelo estado de guel'l'a ou de perturbao ci-
vil. Vexa, arreda os estl'angeil'os de um paiz que tem neces-
sidade de chamaI-os, de careal-os. l)
~76 UM ESTADISTA DO IMPERIO

Alm da difficuldade em obtel-o, o titulo de residencia era


dado por um anno, com obrigao de o fazer visar pelo ins-
pector do quarteil'o, a cada mudana de domicilio. Por
sua vez o passaporte s el'a passado sobl'e o titulo de resi-
dencia, com attestado, do inspector, do consul, do escrivo
do j ury, do subdelegado, de que no havia nem pendia queixa
ou demanda contra o requel'ente; tudo tornava tambem ne-
cessaria o emprego repetido do C01'l'etOl'.
O acto do ministro da Justia foi applaudido pelos estl'an-
geiros todos; o ministro Inglez considera-o um grande passo
liberal, lastimando smente que se exija um passaporte bra-
zileiro para o estrangeiro sahir do paiz. Infelizmente no se
julgava habilitado o governo pal'a supprimir a exigencia do
Codigo do Processo; se a supprimisse, 03 estrangeil'os fica-
vam em melhor condio do que os nacionaes, foi" a resposta
de Nabuco a Limpo de Abl'eu. Sonnleithner, ministl'o d'Aus-
tl'ia, d'outro ponto de vista, reclama que o passaporte dado
aos Austriacos seja s pal'a sahir do Imperio sem se indicaI'
o destino O/t paiz para onde os viajantes se di1'igem. abuco
responde a Pal'anhos : O mesmo Augusto Senhol' houve por
bem no attendel' refel'ida nota porquanto o passaporte
habilita o individuo s6mente para sahir do Impel'io e esta-
belece uma pl'esumpo a faval' de sua conducta e inculpa-
bilidade, mas no d dil'eito a elle entraI' em ouUo Estado
aonde lhe defeso ir ou estar, sendo que tal direito s pde
ser regulado pela legislao d'esse Estado em virtude de so-
berania tel'ritol'ial.
A Legao Portugueza a unica a reclamaI' contl'a a alte-
rao do systema. O decl'eto mandava que os passaportes
dos estrangeiros uma vez visados a bordo lhes fossem logo
1lntregues; isto no convinha ao consulado Portuguez, pOl'que
Portuguez, senhor do seu passaporte e no precisando mais
do titulo de residencia, tinha tudo que lhe era preciso pal'a
permanecer no Brazil e assim deixava de iI' matl'icular-se no
Consulado, como no tempo em qne essa matricula era essen-
cial para ter o seu bilhete de residencia e passaporte. A alte-
rao causava transtorno s autoridades portuguezas na fis-
o MINISTRO DA JUSTIA 271

calisao da emigrao para o Brazil e tambem diminuia o


rendimento dos consulados. Por isto o governo Portuguez
pediu que no se puzesse o visto em passaporte de subdito
Portuguez que se no tivesse matriculado primeiro no consu-
lado. Assentou-se, porm, em confrencia no attender a es a
reclamao. A entrada dos Portuguezes no Brazil tinha que
se reger pelas leis do Brazil e no pela lei Portugueza; no
podia o governo d'e te paiz sujeitar os Portuguezes a med~das
vexatol'as de que os subditos' de outras naes ficavam i~nn
tos, nem tinha elle que auxiliar os consules Portuguezes na
policia da emigra o para o Brazil ('1).
A marcha da idas n'e sa questo dos passaportes ser um
tanto rctrograda. O artigo 12 da lei de 3 de Dezembro
de 1841 di punha: ioguem poder viajar por mar ou por
terra dentro do Imperio sem passapol'te. A lei de '17 de
Agosto de 186'1 extende essa dispo io s viagens para f6ra
do Imperio. certo, entl'etanto, que o decreto de 6 de Maio
dt: '1868, regulamentando es~a lei, limita a formalidade do
passaporte s viagens do menor, do filho-familias, da mulher
casada e do eEcravo (2).

V. - Interpretao das Leis. - Assentos


do Supremo Tribunal. - Aposentadorias foradas.

organizao do Poder Judiciario prendia-se a questo da


interpl'etao das leis que elle ti nha do applicar. Essa questo

(1) Em Ou tubl'o de 1856 depois de aberta a livre navegao dos


rios Paraguay e Paran, Nabuco manda pr em execuo para
Matto Gros o o decreto de 10 de Janeiro de 1855 excepto quanto
Bolivia. Para es a subsistia o regulamento Leverger : " Conti-
na a ficar prohibida toda communicao entre esta provincia
a ~epublica de Bolivia por outl'a via que no seja a estrada pu-
blIca que passa por Casalvasco no districto de Malto-Grosso. "
(2) O novo regimen (decreto de 22 de Fevereiro de 1890) aboliu
o~.pa aporte em tempo de paz; creou, porm, com o estado de
SI.tI? o alvo-conducto, que no foi conhecido durante a:; guerras
CIVIS do 1m perio.
2JE UM ESTADISTA DO IMPERIO

dcu Yogar a um acto de abuco que foi muito discutido. J


vimos que em 1843 elle apresentara um projecto alterando a
organizao do Supremo Tl'ibllnal, a frma dos seus julga-
mentos, e estabelecendo o seu direito de julgar definitiva-
mente as cau 'as em que concedesse revista ('1). A e se pro-
jecto de Nabuco seguiram-se um de FI'ana Leite em 18!f5 c
outm de C8I'valho Moreil'a em ,1847. o seu Rclatol'io de 1854
Na1JUco insiste na anomalia que os tl'ibunaes infel'iol'es
pOf'3am julgai' em materia de dil'eito o contrario do que deci-
diu o primeiro tl'lbunal do Imperio. Sobreleva sllbvel'so das
idas de gel'archias, infl'ingidas por esse presllppo to, a des-
ordem da jurisprudencia, que no pde existir sem unifor-
midade e aonde se acham arestos para tudo. a reforma
judici?-ria elle havia proposto que o direito de interpretao
coubesse ao Supremo Tribunal, como centro da jurispl'u-
dencia e maior categoria na gerarchia judiciaria. Em '1806,
entretanto, pela sua circular de 7 de Fevel'eiI'O, e tabe-
lece um systema provisorio para o exercicio , pelo governo,
do dil'eito de interpl'eta,o, direito, declara elle no seu Relato-
rio s Camaras, (( que no entendo que seja mantido, mas
que o governo no pde deixar de exercer, emquanto no o
encarregaes ao Supl'emo Tribunal de Justia,
Essa circulal' um documento importante para quem qui-
zel' estudar a indole e a tendencia de abuco e a sua escola
jUT'idica. Elia ordena que os juizes nunca deixem de decidil'
os :::a o.' OCCUl'rentes para sujeitaI-os como duvidas deci-
so do governo, sobl'eestando e demorando assim a adminis-

(1) ArL.o G. " Concedida a revista, os mesmos juizes que a jul-


garam tl'atar1io logo do merecimento da causa, reformal'o a en
tena recorrida, e os autos sel'o remettidos para o juizo do qual
se recorreu, a fim de seI' executada a sentena de revi. La. II 11.
questo do julgamenLo definitivo pelo SUp'remo Tl'ibunal encon-
trava o art.O 158 da ConsLituio que dizia: II Para julgar a cau-
sa em segunda e ultima i{lSLancia haver nas provincias do J mpe-
J'io as Relaes que forem neces arias para commodidade dos
povos. II O Supremo TI'ibunal, allegava-se, no uma in tancia.
Cal'valho Moreira apresenta ao ln 'tituto tIos Advogados em 1847
uma Memoria sobre o Supremo Tribunal.
o MlXI THO DA JUSTIA 279

trao da justia que cabe em sua autoridade e pri\'ando os


tribunae~ superiores de decidirem em grau de recur o e com-
petentemente as duvida que occorrerem na apreciao dos
factos e applicao das leis. As decises do governo no
podem versar sobre ca~os individuaes, affecto ao poder judi-
ciaI'io, mas sobre a colleco de casOS e por frma geral
e reO'ulamentar. l) As decises do governo sero tomadas
sobre consulta do Con elho de E tado, median',e a Imperial
Resoluo que tem fora de decreto, e precedendo parecer dos
pre identes da Relao, do Tribunal de Commercio do pro-
curador da Cf)ra e de ou tras pessoas doutas a re~ peito dos
are to e praxe seguida; por ultimo, o governo devel'ia no
decidir, mas sujeitar ,ao Poder LeO'islativo, o caso cuja deci-
'o estabelece se direito novo. Com todas essas cautelas e
limitac e os numerosos precedente de sujeitar o goyerno
as qu te, cm que o Conselho de Estado se divide ao Poder
LcO'i lativo, qu e re lama o direito do Podei' Executivo
de interpl'etal' a lei que o Judicial'io tem de applicar.
Ei como abuco no Relatol'io de 186 expunha o plano e
justificava o pl'incipio ela sua cil'cular :
A Constituio do Imperio, no artigo '102 '12, confere
ao Poder Executivo a attl'ibuio de expedir decreto', in truc-
es e regulamen tos aeleq uados boa execuo das leis. Por
vil,tude d' ssa dispo i o o Govel'llo, sob o imperio ucces-
sivo Ie toda a opinies politica , com a sentimento Jos
demai Podere, tem ex rcido o dil'eito de intel'pretal' a leis
paI' via de autoridade. C rto, es e facto, qualquer que seja a
sua censura, uma conelu o plausivel d'aquella disposio
Con titucional, attendendo-se que nenhuma condio mais
es encial execuo do que a uniformidade. Sobi'eleva que
entre ns, como em outl'O paize con titucionae. , fl'cquentes
vezes' o PodeI' Legislativo deleo'a ap Executivo a mi o de
desenvolveI' e completar por m ia de !legu;amentos o pcn a-
mento do lrgi ladol'. A sim que uma grande parte da no 'a
legislao cou i te n'e e Regulamentos, sendo entre elles
os de nOS 120 e ,143 de'181:2, nOS 131 e 138 de 18O e nO 1591
de 1855. Ora, nenhuma autoridade ,mais propl'ia para illter
280 UM E 'TADISTA DO IMPERIO

pretal' O acto duvidoso do que aquelIa que o fez; no sel'


mais exorbitante interpretal-o do que fazeI-o. Sabeis pela
correlao que esses Regulamentos tm com as leis das quaes
so complemento, que interpretar aquelles interpretar estas.
o proseguirei, porm, sem dizer-vos como entendo e
distingo essa interpretao por via de autoridade da qual vos
tenho falIado. Esta interpretao no a do juiz, no tam-
bem ati authentica ou do legislador : a interpretao do
juiz refere-se smente ao caso individual que lhe sujeito,
esta de que trato ao con traria em frma geral e regulamen-
tal'; a interpretao do juiz e a do Governo tm de commum
que uma e outra a interpretao logica, dependente das re-
gras da Hermeneutica, mas tem logar quando por via d'essas
regras no passivei attingir com a vontade do legislador,
ou quando, posto que seja a lei clara, encontra obstaculos
invenciveis por motivos de ordem ou tranquiJlidade publica,
Fra desnecessaria a Hermeneutica se ella no servis e para
os casos de duvida, se se devesse recorl'er ao legislador
quando por meio da interpretao logica esses casos pudes-
sem ser resolvidos. A interpretao do governo, poi's, a
:nesma intel'pI'etao do juiz com differena de ser esta por
trma geral e regulamentar, condio essencial da execuo;
a mesma interpretao logica com a differena de valer
pela autoridade do decreto, das instruces, do regulamento.
" Concebeis que a Constituio conferisse a attl'ibuio de
fazer o decreto, as instruces, o regulamento para boa exe-
cuo das leis sem que implicita e virtualmente conferisse
tambem e como consequencia do principio a faculdade de
determinar e uniformizar a intelligencia da lei? Que confe-
risse essa attribuio sem fora de autoridade, sem vinculo
de obediencia, podendo cada um entender a lei por modo
diver o do que entendem esses decretos, instruces e regue,
lamentos e destruil-os pela base, que o sentido ou a intel-
ligencia da lei?
Referir ao Poder Legislativfl todas as duvidas que occor-
rem querer o impossivel, desconhecer a natureza dos COI"
pos deliberantes preoccupados com as questes politicas ou
o MI] ISTRO DA JUSTIA 231

complexas. Presumir que as diversas e successivas organiza-


es judiciarias que no Imperio tm havido pudessem cami-
nhar e firmar-se, se no fra e se recurso ao Governo contra
as duvidas e os sophismas que embaraam as novas leis, seria
negar os facto que atte tam os milhares de duvidas e decises
que fazem avultar a nossas collece. e d J plicariam os seus
volumes e fos 'em todas colligidas. O Corpo Legi lativo no
pMe decidir essas duvidas innumeraveis porque no tem
tempo; porque sua existencia no permanente, seno pe-
riodica; porque as uas decises so por meio de lei , cuja
formao, em razo da natureza da deliberao, e t su-
eita a formulas lentas; porque sua interpretao ne-
ces aria, quando a sua vontade no pMe ser sabida, mediante
a Hermeneutica, ou quando encontra manifestamente com a
utilidade publica, que lia alis deve exprimir.
O remedio seria deixar essa duvidas sem soluo? Este
arbitrio fra facil e a controver ia no arfectasse, como mui-
ta vezes affecta, a order:n publica e o interes e collp.ctivos
da sociedade. e no aITectam, fra imprudencia no esperar
-a jUl'isprudencia, e assim devra pl~oceder sempre o Governo.
Se affectam, se embaraam a execuo e prejudicam a causa
publica, no se pde razoavelmente deixar de considerar legi-
tima a interpretao do Governo para uniformizar e regular a
execuo.
o possivel em uma sociedade bem ol'ganizada a au-
sencia d'esse dir'eito exercido por alguma autoridade supl'ema
e pel'manente, que occorra com declarao prompta contro-
versia, que pde tornar-se funesta. Em Frana, no obstante
as duvidas de legitimidade e competencia, o Con'elho de E -
tado exerceu esse dil'eito at que a lei do 1.0 de Setembro de
1837 o conferiu ao Tribunal de Ca sao. Se essa interpreta-
o, que o Governo tem t:xercido por via de autoridade , posto
que dependente da Hermenutica, a mesma interpretao au-
thentica que ao Poder Legislativo compete, a consequencia
que o mal que todos deploramos, essas duvidas de todos os
dias e sobre tutIo, no tm remedia por er praticamente
impo~jvel que o Poder Legislativo as decida, e to inconsti-
282 UM ESTADI TA DO 1~IPEIUO

tucional que a deciso compita ao Poder Executivo como a


qualquer OUtl'O Podei" que no o Legi lativo. Seja como fr,
o GoveJ'no tem exercido esse direito de interpI'etao por meio
de decI'etos, instruces, regulamentos, at pOI' avi o . O
que venho de dizer porm no significa que entendo que seja
mantielo esse diI'eito. a RefoI'ma JueliciaI'ia eu o attl'ibuia ao
Supremo Tribunal de Justia, como ccntm ela Juri pl'uden-
cia e maior categoria na gerarchia judicial'ia, por que reco-o
nheo os inconvenientes e o perigo ele que esse dil'eito, que ao
Poder Executivo compete, se extenda s lei judiciarias, as
quaes dizem respeito propriedade, liberdade, honra @ vida
do cidado, endo qu , desde que se tI'ata de qualquer d'esses
objectos saO'rados, comea a'competencia do Poder Judicial'io.
Em quanto, porm, no encarregaes esse direito ao upremo
Tribunal de Justia, o Governo no pode deixaI' de exercei-o,
poI'que, como j vos disse, alguma autm'idade o deve exercer,
pOI' que no possivel sacrifical' a lei contI'over ia, ao
sOl hi ma e anarchia. Presuppondo sse direito, julgou o Go-
vemo Impel'ial conveniente faZei' cessar o seu abu '0, o qual
alis no dissimulo podel'ia impoI'taI' gl'avis imos conilicto ,
provocanelo contra elIe uma reaco funesta e pI'ejudicial
divi o e haI'monia dos Poderes Politico'. Assim que pela Cir-
culai" que se segue, providenciou o Governo sobre esta mate-
ria, impondo-'e as regras que devel'ia seguiI' no exel'cicio
d'aquelle direito, em quanto lhe competir e no fI' attl'i-
buido, como alis convem que seja, ao Supl'emo Tl'ibunaJ.
({ CiI'cular de 7 de FevereiI'o de '1856 aos Presidentes das
Provincias. - S. 1\1. o Impemdol' ha por bem que d'ora em
deante V. Ex. no faa subir Sua Augusta Presena quaes-
quer repl'esentaes ou omcio de Chefe de Policia, Juizes de
Dil'eito, Juizes Muriicipaes, Delegados e SubeleleO'ados dessa
Provincia, expondo as duvidas, ob taculos e lacunas que en-
contram na execuo do Codigo CI'iminal e do Processo, sem
que venham competentemente instl'lJidos e infol'maelos, se-
gunuo prescrevem os artigos 495,496 e 497 elo Regulamento
n. O 120 ele 31 ele Janeil'o ele '1842. Manda outrosim o Me mo
Augusto Senhor : 10 Que a fonua estabelecida pelos citados
o MINI TRO DA J ~TIA 283

artigos seja applicavel a todas as autol'idades e extensiva tam-


bem s Leis Civis e do processo respectivo, sendo ouvido,
quanto s Leis Commel'ciaes, o Presid nte do Tribunal do
Commer io do Di tricto em vez do Pre idente da Rel~o.
2. Que come etindo ao Poder Judiciario a applicao aos
casos OCCOl'l'entes da Leis Penaes, Civis Commel'ciae e dos
proce~ o respecti, o , cesse o abu o que commettem muitas
autol'idades judiciaria deixando ele decidil' os caso occor-
rente, suj itando-os como duvidas deci o do Cavemo
lmpm'ial, pela qual e p ,'am, ainda que tardia eja, obr'e-
tando e demorando a dmini tra<;o da Ju ti<;a, que cabe em
sua autoridade, e privando a im aos TI'ibunae up riores
de de idirem em grao de I'ecurso e competentemente as duvi-
das que occonerem na apreciao dos fa to e applica~o das
Leis.3.0 Que V. Ex. f- a sentil' s ditas autorida les que os
citados al,tigos 495, 496 e '.97 do Regulament n.O L20 de
31 de Janeiro de 1842 no e I'erel'em ae nenhuma maneil'a
aos casos pendentes da juri dico das me mas autoridades,
~eno aos que tm havido, e em uja deci 50 ha occorrido
duvidas e e tem onhecido ob taculos ou lacuna. ; sendo que
oCo, el'no 1m perial n5:o pde seno por modo g ralou regu-
lamentaI' decidir sobl'e e sa duvidas, obstculo lacunas,
que e encontl am na execuo da di tas Leis relativas ao
Direito Civil ou Penal e proce o re pecLivo , pai' quanto, e
as suas deci es versa sem sobl'e os ca. o indivieluues e
OCCOI'l'entcs, dariam azo a conf1ictos e collise c lU o PodeI'
Judiciaria, ao qual essencialmente compete por ua natureza
a applicao las sobreditas Leis e a apreciao dos casos
Occorrentes. 4. Que em consequencia, e e alO'uma autori-
dade, em vez de decidir o ca o que lhe so ujeito, quizer
sob pretexto de duvida, submettel-os ao CoveJ'no 1m pel'ial,
deve V. Ex. devolver-lhe as repl' entaes e omcios re pec-
tivos, para que ella julgue conforme a Lei e Juri. pI'uuencia,
dandoosrccUl'so quecoubel'empal'ao Tribunaes upl'emos.
" Dimanam d' ta circulai', combinada com os al,tigos 495,
496 e 497 do Regulamento n.O 120 de 31 ele Janeil'o le 181,2,
a qu~ se elJa refere, os seguin,l.es princip'ios : 1.0 ~o basta,
284 UM ESTADISTA no IMPERIO

para que o governo de a sua deciso, que se lhe apresente a


duvida proro . '1 pOI' alguma autoridade, preciso verificar a
materii. da du\ ida, que alis bem pde ser a.opinio singular
d'essa autoridade contra a Jurisprudencia estabelecida, cuja
erogao fra um abuso. 2. 0 Para que o Governo de a Slla
deciso, devem preceder-lhe as informaes e pareceres do
Presidente da Relac;.o ou do Tribunal do Commercio, do Pro-
curador da Cora, e de outras pessoas doutas e competente a
respeito dos arestos e praxe seguida. 3. 0 A deciso no por
meio de Aviso, se no sobre Consulta da Seco de Justia ou
do Conselho de Estado, mediante a Impel'ial Resoluo, que
tem fora de Decreto, cuja autoridade procede do artigo '102
12 da Constituio. 4 0 As decises no pdem versar sobre
casos individuae', sujeitos ou aITectos ao Poder Judiciario,
seno sobre a col\eeo de casos que tenham occorrido e por
frma geral ou regulamentar. D. O As decises no devem trans-
pr as regras que a Hermeneutica tem estabelecido para co-
nhecer a vontade do Legislador, sendo que se devem referir
ao Poder Legislativo os casos que dependem de providencias,
ou cuja decis'O estabeleceria direito novo, isto contra ou
alm da disposio.
Esta materia, Senhores, grave e digna de vossa consi-
derao. Adoptai a respeito d'ella uma providencia consenta-
nea com o principio constitucional da harmonia e diviso dos
Poderes Politicos. As regras que o Governo se impoz mostram
de sobejo o respeito que elle consagra a esse principio, e certo
deixaria ell~ de exercer como tem exel'cido o direito de inter-
pretar, se no tivesse a responsabilidade de sacl'ificar o impe-
rio da Lei s subtilezas do sophisma, os int'ressC's collecti-
vos aos individuaes, a unidade da execuo s duvidas de
cada um.
Ambos os partidos por seus vultos mais notaveis haviam
de uma frma ou de outl'a, em algum tempo, assentido
ida da interpretao provisoria das leis pelo Executivo.
Assim em 14 de ovembro de 18oD, opinando sobre um con-
flicto judiciario causado por uma ordem de habeas-col'Pus
'concedida pela Relao da Bahia a um reo que cumpria a pena
o MI ISTRO DA JUSTIA 285

de priso, a seco de Justia do Conselho de Estado (Eusebio,


Maranguape, Abrantes) emittia este voto: E porque em
consequencia de outras (duvidas) semelhantes, os tribunaes
ejuizes do frequentes exemplos de arestos contradictorios,
o que de certo uma grande calamidade pela incerteza dos
direitos que d'ahi resulta, a Seco toma a liberdade de lem-
braI' a conveniencia de uma medida legi lativa que auto-
rizas~e o Governo a consultar sobl'e as duvidas su citadas no
fro o Supl'emo Tl'ibunal de Justia e os differentes tl'ibunaes
de segl.lJlda instancia, e quando os votos da maioria fossem
conformes, estabelecer uma interpretao com a fora dos
antigos assentos da Ca a de Supplicao. Talvez conviesse
mesmo autol'izar o Govemo para deliberar em vista Bas con-
sultas do Supremo Tribunal e da Relao da Cl'te nos casos
urgentes, e em que se seguissem graves inconvenientes de
aguardar as consultas dos outl'OS tribunaes.
Em conferencia do Conselho de E tado pleno a proposta de
se fixar provisoriamente o sentido das leis judiciarias pelo
concurso das Relaes e Supl'emo Tl'ibunal de Justia, com a
approvao do Governo, s teve entretanto dois votos de onze
presentes. O voto em contral'o de Maranguape , ao mesmo
tempo que largo de doutrina, singular na explicao que d
de figurar Maranguape no parecer da Seco: II Quanto
ultima pal'te do parecer, isto , a que tl'ata da intel'pretao
das leis judiciarias, observa que por estar assignado n'esse
pal'ecer no se pde entender que elle o approva sem se lhe
attl'ibuir a mais completa contradico com o seu voto to
solemnemente pl'Onunciado n'este Conselho quando se dis-
cutiu outro parecer em que se aconselhava a proposta de
uma lei que autorizasse o Conselho de Estado a dar authen-
tica inteJ'pl'etao s leis judiciarias. Ento mostrou que esta
intel'pretao no pde sem subverso dos principios consti-
tutivos do nosso direito publico, pertencer a outl'O Poder que
no seja o Legislativo, cabendo a interpretao doutrinal
inteira e necessal'iamente ao magistrado na applicao da lei
ao f<lcto, ~ por isso que os assentos so vedados aos nossos
tribunaes de justia. (Depois d'esse voto pensa o mesmo
280 UM ESTADI TA DO lMPERIO

Visconde que toda declal'ao que fizesse em pareceres da


seco de Justia sobre semelhante objecto seria uma super-
fluidade e POI' esta razo assignou sem ob 'ervaes o pare-
ceI' de que se tt'ata. EI'a de lUaranguape entl'etanto o
projecto de lei de '181-'1 autol'izando o Supremo Tl'ibunal a
tomai' assento . Olinda tambem mostra-se advel'so s id6as
de Nabuco em seu Relatorio, de intel'pl'etao logica e intel'-
pretao authentica. ([ Quanto intel'pl'etao da leis, entende
que a Assem bla Gel'al no pde daI' ao Governo essa dele-
gao. vel'uade que nos l'egulamentos se tem feito isso,
mas no sabe que tal pl'ocedel' constitua dil'eito. Ell mesmo,
pOl'm, tinha dito no Senado no anno antel'iol' (4 d Agosto
de 18M): Se vou Constituio acho que o Pouel' Exe-
cutivo tem pal'te na proposio e confeco elas I is; !TIas
tambem collige-se da mesma Constituio que so leis aquel-
las detel'minaes com f6rma de codigo que dimanam do
Podei' ~xecutivo. POI' outro lado, se quando se do estas
autql'izHes ao Govel'l1o elle obl'a, no por si, mas em virtude
de um acto legislativo, podemos dizer que a manif~stao da
sua vontade ou do seu entendimento se contm em uma lei
e uma lei. POl'tanto, ainda que se al'gumente com o pl'eceito
rigol'oso de que as leis pel'tencem s ao- COI po Legislativo, os
regulamentos n'esse caso emanam da lei e por isso so leis,
pOl'que s6 em vil'tude d'estas que elles tm vigor e autori-
dade. D
Do Conslho de Estado s6 Eusebio e Abrantes, signatarios
do pal'ecel' da Seco, fOl'am favoraveis ao dil'eito do Govel'no
de intel'pretal' pl'ovisol'iamen te as leis de accordo com os tri-
hunaes superiol'es. Entretanto em IBM (4 de Julho) a seco
tIe Fazenda (lUontezuma, Tones, Alves Branco) formulal'a
um projecto de lei tornando independentes entl'e si as auto-
ridades aSiIlll1istrativa e judicial'ia, e dividindo !lquella em
pUl'amente administl'ativa e r.ontenciosa. O projecto creava
cm cada uma pl'ovincia um Tribunal do Contencioso Admi-
nistl'ativo, constituindo o Conselho de Estado a segunda
instancia da j Ul'isdico contenciosa administl'ativa. Pal'a esse
fim era reformado o ConselllO de Estado, augmentado o
o Mll'lISTRO DA JUsnA 287

numero das Seces. EnlI'e as attribuies do Conselho de


E tado figurava a de con ultar sobl'e a intclligencia dou-
(J.

trinai da I j civil sobre que divirjam dua Relaes do lmperio


em a me ma causa, ou cerca d'ella represente o Supremo
Tribunal de Justia. A intelligencia da lei as im decretada
subsi tir e ter fora de obrigar at que o Corpo Legislativo,
a quem cl' presente na primeil'a sesso, a intel'prete ap.then-
ticamente. (1)
Que fazia constantemente o Con elho de Estado e o Go-
Yel'no en~o interpretar a lei? Aqui e t um cl'esses casos
de todo' os dias, de toda a admini traes, interes ante
pela luz que dcrrama sobre as ida. de monarchia federativa
que domi nal'am ob as pl'imei I'a RcO'encias. Sobre a questo:
Qual o poder competente para annexar ou desannexar os

(1) Em UIU ponto a Circulai' elogiada pelo. mesmos que no


reconltecem, nem me 'IUO provisoriamente, o direito do Executivo
de intel'pl'elal' a lei :
"A 'il'cular de 7 de Fevereil'o cOI'rente, expedida pelo mini -
teria da Juslia yeiu dar providencia acerca da maneira de
dirigi!' ao Podei' Execulivo a representa es de que faliam os
art .495,l190 e 497 do regulamento n. 120 de 31 Janeiro de 1812, e
pr um teemo pratica erronea e illegal seguida pelos emprega-
do' do Po leI' J u liciario de sobre tal' e demorar a admini trao
daju tic;a que cabe em sua autol'idade, al que o governo deci-
dis e a. duvida que lhe pI'opunham obl'e a maneira de julgar os
ca os OCCUI'I'entes e pI'oce os pendenle quando a lei era obscura,
ou quando no se havia ainda firmado o modo pratico de sua
eXCCUr-rLO.
O goYemo, vergado sob a afanosa tarefa de eu expediente, e
tendo de acudir aos negocios de sua repartio, nem sempre podia
dar uma re po ta prompta e immediata multiplicidade de con-
ulla que 11le eram endereada ; e emquan to es are. po ta no
'hegava, o feitos jaziam na conclu o com grave detl'imento da
parle, mi erandas victima de to inqualificavel abuso.
" O SI'. conselheil'o Nabuco fechou a porla a esse reprovado
co tume, prollibiu que d'ora avante se fizes em consulta obre
q~eSles que ainda estavam sujeitas a um julgamento, e limitou o
du'ello de consulla aos casos julgados e aos processos fiodos, sobre
Qg quaes e bouves em suscitado duvidas e embaraos.
II S. Ex. credor de elogio por ter feito cessar esse escandalo,
offensivo dignidade da justia, e degl'adan te pam o magis-
lI'ados que o pmlicavam. Jomal do Commercio de IS Ii' ve-
veu'o 1850).
188 U~l ESTADISTA DO BIPERl1

.officios de Justia? O Geral ou o Provincial? - ouvida a


seco do Conselho de Estado. Sapucahy, l\1aranguape,
Abrantes respondem que o poder provincial; cc verdade,
accrescentam, que o governo Imperial no anteriores gabi-
netes, tendo ol'denado taes desannexaes tanto n'esta crte
como nas provincias, parece no ter considel'ado o acto como
creao de em prego ll, que pel'tencia pelo Acto Addicional s
Assemblas Provinciaes, muito principalmente porque para
isto no solicitou a interveno do Poder Legislativo sobre
esse modo de entender. II Nabuco formula nove quesitos.
Reune-se o Conselho de Estado pleno em 2 de Outubro de
1856. Albuquerque, adversaria da lei de interpretao, pal'ti-
dal'io do Acto Addicional. diz que sempre lhe pareceu que uma
nova ol'ganizao judicial e administrativa diversa da ento
existente, e pela qual ficassem extl'emadas as attribuies pl'O-
viflciaes das nacionaes, era a consequencia do Acto Addi-
cional. l\1aranguape pronuncia-se d'este modo: No COlll-
prehende a explicao que se deu na lei de t2 Maio de '1840
a alguns artigos do Acto Addicional. Uma Federao como a
que por meio d'elle se quiz introduzil' na nossa organizao
politica s com o fim de enfraquecer os poderes do Estado, no
podia deixar de conter absurdos que existem em toda a intel'-
pl'etao com que se pretenda pr em harmonia algnns d'esses
al'tigos com a fl'ma de governo que ficou subsistindo. To
tratar, porm, seno dos que se referem ao Poder JudiciaI'io.
Este Poder continuou a ser um s em todo o Impel'io e n'este
sentido deve elle ser ol'ganizado por uma lei gel'al que abranja
toda a escala de jUl'isdices e todos os elementos essenciaes
administrao da justia. Dois Podel'es Legislativos legis-
lando sobre esses diversos elementos repugnam com a uni-
dade subsistente do Poder Judiciaria; mas foi assim que no
Acto Addicional se quiz mantel' essa unidade. Portanto, as
duvidas sobre a competencia, j de uma, j de outra Assembla
Legislativa, n'este objecto continuam a assaI Lar o Govel'no,
apezar da lei que intel'pretou aquelle Acto, e como preciso
resolvei-as e elle Conselheiro no possa ter opinio segul'a
sobl'e -to confusas disposies d'essas novas instiLUies
o MiJ'l"ISTHO DA JUSTIA 289

politicas, vota pelo parecer que subscreve por se persuadir


lue o seu illustre relator apresenta um arbitrio to razoavel
quanto pos ivel havei' em tal materia. Elle tinha comeado
admirando a habilidade com que Eusebio p1'OcUJ'ou conciliar
as disposies do Acto Addicional com a da Constituio
sobre o Poder Judiciario. O que para admirar que o Acto
Acldicional no fosse ainda mais conforme com as idas revo-
lucionarias da poca. A histol'ia talvez explical' opportuna-
mente o motivo d'esse commedimento. Eu, porm, no careo
d'ella; fui um dos deputados que, comprehendendo bem a
ituao em que se a hava a sociedade, votaram contl'a o
Acto Addicional, apezal' de reconhecer que a Cnstituio
m.~ito ganhal'ia, com um aperfeioamento que s6 e pil'itos
calmos, a livre cOllcurrencia de todos os Poderes do E tado
lhe podiam assegUl'ar (1).
Mais importante do que todas essas discusses, mais ou
menos theoricas, no Coos lho de Estado, eram as decises do
Executivo, de que esto cheios os volumes da legi lao, inter-
pretando as leis e praLi amente at cas ando os arestos dos
tl'ibunaes desde a pI'imeira ia 'tancia at o tribunal supremo.
Pde havei' precedente mais formal a esse respeito do que,
por exemplo, o aviso de Eusebio cm 1. de Janeiro de 181
sobre os cI'imes de impren a? O Supremo Tribunal, por accor-
do de 22 de Agosto de 1848, tinha votado que o julgamento
no crime de injUl'ia, por abuso da libm'dade de impl'en a,
pertencia aos jurados e no ao chefe de policia. Eusebio,
ouvida a seco de Justia (Honorio, Limpo de Abreu, Lopes
Gama), declal'a falsa a dontl'ina adoptada n'aquelle julgado
lJelo Supremo T'l'ibunal de Justia, paI' quanto no pde

(1) Nabuco conformando-se com as re postas aos seus quesitos


expede ao presidentes a circulaI' de 30 de Janeiro de 1857 em
que de facto se estabelece o principio de que compete ao Poder
Geral toda a organiza o judiciaria, reduzindo-se o direito das
A emblas Provinciaes de legi lal' obre a creao e suppres o
dos officios de justi,a (Acto addicional Ar. 10 10 7), ao est,ricto
da lei de 12 de Maio de 18-10, le.i de interpretao, isto , a uma
pura conformidade com os actos do poder central.
I. 19
:l:JO UM ESTADISTA DO IMPERIO

entra1' em duvida que a lei de 20 de Setembl'o de 1830, em


que principalmente se firmou, se acha revogada. A Sw:5.o
chega at a alludir como meio ef(icaz re ponsabilidad do
juizes que de futmo con 'idel' m o. cl'imes de liberdade de
impr nsa como ainda regido. por uma lei especial r vogada
pelo Codigo Cl'imina1. No podia haver assumpto mais deli-
cado do que esse da juri 'dico criminal da impr nsa, se do
jury, se da policia e autol'idades da lei de 3 de Dezembro. O
governo, entretanto, repl'imia quasi como uma subverso, do
accordo de dous tribunaes : a Relao revisora adoptou a
intelligencia mai. liberal dada lei pelo Supremo Tribunal.
A ida de Nabuco el'a, entretanto, como systema provisorio
para a uniformidade de jurisprudencia, a interpretao pelo
Supremo Tribunal (1). Em 4 de Junho de 1841 Lopes Gama e
Paula Albuquerque inicial'am no Senado um projecto de lei
autorizando esse tribunal para tomar assentos obrigatorios
sobre a interpretao das leis. O pen amento era que os
assentos fossem tomad06 com a me ma latitude e ao mesmo
tempo as mesmas limitaes que os da antiga Casa de Sup-
plicao. Estes assentos da Casa de Supplicao faziam parte da
antiga legislao com toda a autoridade da I i pela lei de 18 de
Agosto de 1769, Ol'd. U 1. tit. DO DO. Pelos assentos, diz
aquella lei, no deve com tudo ampliai' ou restringil'-se a
lei fl'a do seu verdadeil'o sentido, pois nenhum tribunal pde
alterar a lei ( 13). 'endo a interpretal;o da I i todo o objecto
dos assentos, elle no constituem direito novo e pai' tanto os
casos omissos nas leis os Regedores devem pm'ticipar a EI-Rei.
(Mesma lei . 11.) A Constituio no tinha, pOl'm, dado
igual direito ao Su pl'cmo Tribunal. O pl'Ojecto de Lopes
Gama apresentado em 1841 s se tomar lei do lmperio mais
dc trinta annos mais tarde; a lei de 23 de Outubro de -l815.
Como aconteccu com quasi todas as idas por elle advogadas
em 18M, ser Nabuco (1861) no Senado o relator d'essa re-
forma.

(~) o parecer que redigiu em 1867 como relator da Commi ~o


de Legislao do Senado abuco acceJltua o caracLer proviSOJ'lO
o MINi 'TRO DA JUSTiA 291

Apezal' dc tudo, de todo o seu sentimento da independencia


da magistratura, Nabuco um regulamentador, um espirita
unitario, Francez, que confia mais na interpretao do direito
pelo governo com as uas secretarias, o seu Conselho de
Estado, os eus consultores officiosos, do que na formao da
jurisprudencia pela col1aborao dos juizes. Tem mais medo
da anarchia dos tribunaes, da degenerao da lei pela diveI'-
sidade dos aresto , do que da interferencia parcial do Execu-
tivo na cxplicao das leis. No fundo elle tinha talvez razo.
No nosso systema cm que o governo tinha- e tornado de facto
por delegaes constantes o apparelho legislativo do Estado,
o governo devia aber melhor do que os juize qual fra a
inteno, o entido da palavra do legislador no casos duvi-
dosos. II O Poder Executivo, disse o !\:Ial'quez de Olinda
em 1854, tem pela Con tituio parte na proposio e con-
feco da leis, e tambcm se collige da me ma Constituio
que so I i aquella determinaes com fl'ma de codigo que
dimanam do Poder Executivo. Ogoverno , com effeito, parte

na lei, da qual expede regulamento.

das interpl'etaes judiciaes. A Commi so no pde dissimu-


(l

lar pel'ante o Senado que e ta interpl'etao em frma geral


e obrigatol'ia no e eno a intcl'pretao pOI' via da autoridade
ou a interpl'etao authentica que pela Con tituio do Imperio
compete ao Poder Legi lativo. E ta autorizao, pOI'em, concedida
com a clau 'ula de - provisoria, .ou emquanto o Poder Legisla-
tivo no decide o contrario, - sel' semelhante s autorizaes
todo o dia. concedidas ao PodeI' Executivo afim de fazer regu-
lamentos pal'a o complemento das leis, el' outl'O im ju tificada
pela impo sibilidade em que se acham as Camaras Legi lativas
pl'eoccupada com as queste politicas e grandes intcl'esses do
Estado, de pI'ovidenciar sobre as difficuldades que' fl'equente-
mente OCCOI'I'em na applicao da lei; finalmente ser a me ma
autorizao da qual com menos razo esto de po e os tpibunaes
do Commel'cio pelo Regulamento nO 738. A razo porque se
J)

deu a es e tribunaes a autorizao de tomar as ento obri~ato


rios para clles, - ainda que no para o Supremo TI'ibunal, o
que estabelecia a anarchia seno na jurisprudencia commercial
pelo menos na sua applicao, - foi, segundo Nabuco, que per-
tencel'a respectiva Com misso, o temor de que I' o novo Codigo
tivesse a sorte das outras leis desvirtuadas e annulladas por uma
applicao contradictoria, inspirada as mais das vezes por motivos
de occasio. "
292 UM ESTADISTA DO IMPERIO

o que preoccupava Nabuco eI'a a unidade da jurisprudencia.


O seu principio era e te : No ba ta que haja unidade de
legi.lio, preciso unidade dejuri 'pl'udencia; sem unidade
de juri prudencia no ha unidade na legislao; sem unidade
na legislao, no ha unidade nacional. Elle pensa como
.Portali : (( On ne peut pas plus se passeI' de jurisprudence
que de lois. II preciso que haja uma jurisprudencia e que
esta seja certa. Qualquer que seja o interprete, o indi 'pensavel
que no se d a fluctuao da lei. Em principio, abuco
optav pela creao de um tribunal de cassao promulgadol'
de arestos obrigatorios; via, porm, a difficuldade de se tornai'
elle em todos os casos inclispensaveis e cle modo geral o ~Ii
minador das duvidas. Emquanto, no se tratava de creal-o,
com a sua reforma judiciaI'ia embargada no Senado, elle
precisava regular o exercicio do direito de que o govel'llo
estava de posse. A circulaI' de '1 de Fevereiro cle 1856 no
dava ao Executivo nenhuma attI'ibuio nova, impunha-lIw
regra de pl'Udencia, ma , p la prim ira vez talvez, elle amr-
mava, andaque a titulo provisorio, a faculdade cle que as auto
rizaes do Poder Legislativo e os appell s da quasi totali-
dade dos juizes o tinham investido e que elle sempre foi aug
mentando. o trao saliente do nos o systema politico essa
omnipotencia do Executivo, de facto o Poder unico do regmen.
Nabuco, apezal'lie todo o antagonismo de muitas de suas idaH
com esse systema, principalmente em materia de gal'antias
individuaes, e apezal' da gueI'ra que moveu invaso franccza
do contencioso aclministI'ativo, foi um do::; fundadores da
omnipotencia do goveI'no, convertido em ultima instancia dos
Poderes publicos.
Assim como preciso procurar a concordancia, a conver-
gencia das idas de N'abuco sobre a independencia da magis-
tratura e sobI'e a interveno do governo na interpretao das
leis, preciso tambem harmonisar aquellas ida' de indc-
pendencia que n'elle eram um fOI'te e arraigado sentimento.
espirito de corporao, dignidade pI'opria, com os seus golpes
na perpetuidade dos magistrados. J vimos com referencia
ao desembarque de Serinhaem quaes foram essas medidas,
o MINISTRO DA JU TIA 29;}

as cil'cum tancias cm que foram tomadas, e em outro vo-


II100e e encontrar a dere a de Nabuco com todo o de en-
volvimento lU elle lhe deu quando denunciado perante a
Camal'a. Mai longe, er- e-ha, POl' uma expresso sua,
o limite m que elle encel'l'a a e a capilis minutio de que
Ul'mava o govel'l1o para fulminar algun. magistrados no
int I'e e uperiol' da maO'i't1'atura, para alvar, pde-se dizer,
o prprio pl'in ipi da, ua inviolabilida le.
Es as contl'adice' appal'entes mostl'am que o seu espirito
no el'a de um theori o, d um utopista, creador de verda-
d ii' s archetypos, que, no podendo ser realizado ,.0 deixa sem
indil'f I' nte, alheio a tudo mais, um e 'pil'ito, em uma palavra,
pal'aly ado por uma idealidade invencivel, vivendo em um
mundo imaginaI'io. o ha ia n'elle essa especie de anar-
chia que a perfeio produz em. cel'tas naturezas. Os reforma-
dOI'es tem que t r alguma ou a de bl'U co, de rude mesmo
cm seus pr cessas, corno todos os qu tem de tratar mise-
I'ia humanas preci 'am de certo gl'au de insensibilidade para
o con eguir m. Elle el'a um e pil'ito lucido e energico : POI'
i o, quer ndo os fins, o O'rande fins que lhe fascinavam a
imaginao, queria tambem os meios apropl'iaclos; empe-
nhado em conferir gl'andes beneficias, estava prompto a cal'-
I'('gar com o odioso, que, de outro ponto de vista, lhe pudes e
I'esultar.

VI. - Casamentos Mixtos

Jutro a sumpto que muito occupa a I aI uco em seu mini.-


.aio o dos casamentos mixtos. O e tado clefici nte da legis-
lao do paiz n'es a materia importante foi pela primeira vez
posto em gl'ande evidencia I ela on ulta da seco de Jus-
tir;u de 27 de Abl'i! de '1 ()li. Em '1847 Cathal'ina Scheid, AlIem,
casou em Petl'Opoli na igl'eja evangelica a que pel'tencia com
um POI'Luguez, ,Franci 'co Fa~undes, que no fim de um anno
294 UM ESTADISTA no IMPERIO

a abandonava, indo viver com out.ra mulher em Cantagallo.


Catharina dirigiu-se s autoridades pal'a saber que passos
devia dar para desfazer o seu ea amento poder casar ~egunda
vez, como a religio evangelica pel'mitte ,nos casos de adul-
teria e mal intencionado abandono. O cura protestante de
Petropolis respondeu que na ABemanha a investigao de
que tes matrimoniaes, que pertenceu antigamente aos consi -
tOI'ios ecclesiasticos, das autoridades judiciaes; que ao padre
pl'ote tante s pertence declarar na igl eja que o casamento
~ i dissolvido depois de publicar o julgamento da autoridade
competente. O Bispo do Rio considel'ou o casamento de
Catharina Scheid como clandestino, portanto, evident mente
nuBo, s6 faltando vel' o modo de tomar effectiva es a nulli-
dade pat'a que o. supposlos conjuges I uelessem legitimamente
e no s6 no fro da consciencia contrahir novas nupcias. Pela
pal'te de Francisca, que era catholico, accrescentava D. ManDeI
do Mon te; se fo e eIle que o requ -re. e, eu no pOI'ia
duvida em abreviar a frma ,declarando livre o mesmo FI'an-
cisco para contractal' outro casamento ll.
Para a seco ele Justia o problema em praticamente
insoluvel : No caso em questo no houve matrimonio para
o contl'ahente catholico; as nossas lei no suppem sepal'a-
o entre o contl'acto e o sacramento; o casam nto em que to,
evidentemente nuIlo, no existe para o m:1I'ido de CathaI'ina
Scheid, que catholico, p6de ser declarado nuIlo ou n nhuJ11
pelo Rev. Bispo. Quanto a Catharina, as nos. a leis no
reconhecem o casamento evang lico de Catharina, nem como
contracto, porque. emelhante contracto seria feito perante
uma entidade, o pastor evangelico, que ellas de conhecem;
nem Catharina p6de pl'ovar o adulterio perante os nossos tl'i-
bunaes, o aclulterio smente se prova, entre n6s, p~rante os
tribunaes ecclesiasticos para a separao do thoro e habitao,
e no para dissoluo do matl'imonio, e pel'ante os trihunaes
criminaes pela aco criminal, que Cathal'illa no tem, pol'que
eIla se funda no casamento celebrado segundo as nossas leis.
o ha remedia algum, portanto, para ella no nos O tl'ibu-
naes, nem na nos a legi 'lao to pouco. A Seco no pde
o MI ISTRO DA JUSTI 295

admittir que a supplicante v requerer a consi. torios estabe-


lecido fra do Brazil ou a tribunaes strangeiros a soluo
de um caso que se deu no Imperio e que pde n'elle affectar
direito civi .
A cco pa sa ento a considerar as consequencias d'es e
facto, a posio desagradavel e incerta no Imperio daquelIes
que no o catholico , com o paiz ainda re tricto antiga
e intolerante legi lao Portugucza, onde e tado civil prova-
se p la certido do parocho catholico, e quem no foi casado
ou baptizado por elle no tem prova legal. No ba tar a
intolerancia com que a C nstituio exclue o Bl'azileiro que
no fr catholico do dir ito de ser deputado? - Isto era
dito em '18M P I' Paulino, Abrantes, Mal'anguape; em 1819
um mini tel'io libel'i:l1 scindia-se pOI' essa questo julgada pre-
matura. - e elle quizel' ca ar no ImpcI'io com uma mulher
catholica ou mesmo prote tante, e se matl'monio no encon-
trar gal'antias nas nossas leis, ser como um acto particular
que ellas no reconhecem ... estado de c u 'as repugnante... "
II A exi tencia de uma religio do E tado no tolhe que

sejam regulados e garantido todo o dil'eitos civi dos que


n'elle residem pertencentes a outra I'eligio. Cita o edicto
de 178'i em Frana.
\. ecularizao do matrimonio como contracto, de modo
que os eus effeito civis fo m independente da pal'te'reli-
giosa 'cria um remedio complcto, que fal'ia desapparecer os
inconycn icn tc pondcl'ados, 'cm oITcndcr o mais levemente
a religio .....
Entl'ctanto, a Seco no se anima a propl-o. Sel'ia neces-
sal'io uma I'efol'ma para a qual no estamos pl'epal'ados nas
nos as leis e habitos, iria cntender com concilio' ou canones
e com a prevenes e intere e de pal'te do nosso clero.
Ainda no foram exploradas entl'e n as ida' l' ligio as e
convem no dar pI'etexto a que o sejam e a que se pl'ocul'e
fazer acreditar que a religio, a santidade do casamentos, a
arte dos conjuge e do filho', o sacI'iflcado a e tl'angeiros
c a hel'eges. Por is o l'eduz-se a Seco a propl' as eguintes
medidas : Regulai' os casamentos dos protestantes entre si
296 UM ESTADISTA DO IMPERIO

ou com catholico dando-lhe o mesmos effeitos civis; regulaI'


o regi tI'O e a prova d'e ses casamentos, bem como do nasci-
mento dos individuos no catholicos e regular o exerccio c
a administrao dos cultos tolerados.
Es e par'eeel' as ignado por Paulino, Abrante e Lopes Gama
(21. de Abril de '18M) no ati faz a Nabuco. Repugna-lhe
que um dil'eito claro e pl'ovado possa ficar sem reivindicao
leO'al; as p\'Ovidencia suggel'idas so insufficientes. No
ha quem julgue, diz a Seco! e cl'evia elle n'uma d'essa
suas paginas concisas em que os golpes CUl'tos e successivos
do jul'iscon ulto cahem sem paraI' sobr a opinio contrar'ia.
o ha quem julgue, diz a Seco. bem triste e excede a
toda cl'edibilidacle esta situao em que a eco colloca a
infeliz estrangeil'a. ElIa tem dir'eito, no pde pOl'm recorrei'
aos nossos tlibunaes, menos aos e tra~g il'os : soffr'a e
resigne-se com a sua sorte. Isto no po sivel, no . A
verdade a seguinte. o ltemos consistori s evangelicos,
que os tivessemos? El'am incompetentes, porque a jul'isdico
compete pelo clil'eito dos protestantes aos tribunaes judiciaes
nem deixal'amos que elles, compostos de estr'ang il'os e no
tendo ainda organiza o legitima, julgassem questes qu
pdem prejuclicar dir~itos civis ... Secular' como entre os
protestantes a jurisdico em mateI ia de matri monio, e compe-
tindo essa jUl'isdico aos tribunaes judiciaes, a questo de
facil soluo. Pclem ser os tribunaes estrangeir'os? No. Logo
so os nossos tl'ibunaes. Se os nossos tribunaes so incompe-
tentes para resolveI" rescindir, dissolver este contl'acto, so
incompetentes para todos os outros casos em que os estran-
geiros [Jt.:rante elles demandam a qualquer nacional ou estran-
geil'o. o ha juiz incompetente para apreciar qualquer facto
per modum causce, ou quando elle interesse questo e inci-
dente. A jUl'isdico dos no 150' tribunaes est firmada no
mesmo facto de no haver out\'O que julgue, de no haver' ju-
risdico especial a quem o negocio compita. Se Catharina tem
direito, tem aco conespondente para fazei-o valer. E com
a sua habitual resoluo de jUl'isconsulto, sempre prompto
a ir at o extremo limite do direito : ( Nenhuma duvida
o MINISTRO DA JUSTIA 297

trnho de declal'ar a competeneia dos tribunae ejuize do Im-


perio para este fim.
Que fazeI', porm? Quaes as providencia gel'aes e de futuro?
A consequencia d sei' m pel'mittida no Imp rio as outras
I'clio'ies que os a amentos que onforme ellas so cele-
bmdcs no p6dem deixar de ser recebidos como factos legi-
timos e iI'recu aveis ... Fra facil declarar que, verificados e
pI'ovados os ca amento evangeli o e mixtos, os contrahentes
O'oza 'sem e tambem seus filhos dos direito. ivi, fra tambem
facil UaI' f publica aos atte tados dos pa tores, etc. E tas
pl'ovidencias seriam inuteis e sem re ultado quanto aos ca a-
mentos mixtos. O Breve das Faculdade' vigente de 18/i8
apenas autoriza os Bisl paI'a dispensar 25 ca o. er po -
sivel impetrar da Cl'te de Roma que a disparidade do culto
no seja um imp dimento? Que os Di pos ejam autorizado'
a conceder di pen as ln numel'o? A con e . 50 s ria to
exol'bitante aos olhos do mundo catholico como sel'ia temc-
raria a PI'OPO ta... os os hal ito ,no a educa , o inte-
I'e es estabeleeidos, as prevene , no acolheriam uma
reforma radical que tornas e o ca amento um contracto sem
categol'ia ou sanco de sacI'amento. o ha mesmo necessi-
dade de emprehendel' uma r forma extensiva aos casamentos
eatholicos. A reforma s6 convem e altamente necessaria
quanto aos casamentos mixtos e evangelico . A nn e a
outros convem a providencia seguinte : o distinguiI' o con-
tracto do sa I'amento, tornando-os su c sivos. No o ca a-
mentI) FI'allCeZ que se reduz ao contI'acto sem razo de acra-
mento; no o ca amento actual em que o contracto se on-
funde 001 o sacramento; o meio termo de que temos
exemplo na legislao da icilia e Napoles : o casament'o ali
civil e religioso, o civil pl'e ede o r ligio '0.
e sa a saIu 'o que elle acon 'elha no seu Relatol'io de 18~5 ;
pl'eci I) dar exi. Len ia I gal a es. a famlias, garantil'
O' direitos civis dos espo o , dos filhos, orno pertencentes
com mn nho bl'azilei l'a, da Ci L1al no p6dem estar alienados por
cau a d'neligio que egu m. Confel'iraos casament,)s mixto
e pl'ote tantes os mesmos etl'eitos civis que competem ao
29 UM ESTADI TA no IMPERIO

casamento celebrado conforme o costume do Imperio seria


uma providencia no ba tante, mas defectiva quanto aos
mixtos, para os quae a gl'ande dif[jculelade a sua verificao
pela parte catholica, isto pelo impedimentl) cult~tS dispal'itrts,
pal'a o qual em vinte e cinco annos s llOuve trinta di 'pen a .
O remedio do mal aplainar as difficuldades, tl1l'nal' fa~eis
esses ca. amentos. Assim, e no con eguindo-se da Santa S
a dispensa indefinida e no limitada no impedim nto CUltllS
disparilas, como o exige o intere se da eoloni. a50, que
vital para ns, a providencia que cumpre tomar 6 a seguinte:
distinguir o casamento evangelico e o mixto como civil e
religioso, pal'a que aquelle preceda a e te, e seja logo seguido
de direitos civis, ainda que se no verifique o religio o, sendo
todavia indissoluvel pela parte catholica. Outra provid ncia
e sencial declarar os nossos tribunaes competentes pal'ajulg~l'
as qu.estes matl'imoniaes, como a nullidade, a existencia e
a dissoluo do casamento protestante, pOI'que s m .'la pI' -
videncia ba denegao de justia. li
Sobl'e essa base l'edige um pl'ojecto de lei, o primeil'
sobre casamento civil que tenha sido elaborado pelo gov I'no
e que submette a Paran em Ablil de '(855. .
([ Art. 1.0 O casamento evangeli o e o mixto ntl'c catho-
licos e protestantes considel'a- e distincto, como civil e l'cli-
gioso.
1." O civil precede ao religioso; este no p6d seI' cele-
bl'auo seno depois daquelle, 'ob as p nas estabelecidas no
alto 147 do Cocligo Criminal.
2.0 Verificado o contl'acto pela frma uetel'minada no
Regulamcnto do Governo, o casamcnto, ainda mcsmo no
seguiuo elo acto l'eligioso, surtir todos os (feitos civis que
re 'ultam do ca amento contrahido conforme o costume do
Impel'io.
3.0 So competentes os Tribunaes e Juizcs do Imperio
para decidirem as questes da dissoluo ou nuIlidade dos
casamentos evangelicos e mixtos, quanto aos protestantes
smentc.
4.0 Nos casamentos mixtos os casos de divorcio sero re-
o MI TI TRO DA JUSTIA i99

guIados pelo Direito Canonico a re 'peito de ambas as parte,


e o divor io no impol'tar nunca di oIuo do contracto de
ca amento pela PaJ'tc cvang lica.
D. o O Juizo Ecclesia tico do Imperio julgar como at
hoje a nullidade do ca amento e o divorcio da parte catho-
lica.
6. 0 A nullidade do contracto nos ca amentos mixlos s
pde ser pronunciada pelos Juiz se Tribunae civis.
Art. 2. o o Governo autorizado:
f. o Para organizar e reO'ular o l'eO'j tI'O dos referido ca a-
mcnto , a sim como dos na cimento que delles provi I'em.
2. 0 Para permittir a in tituio de Con. storio, ynodos,
Pl'e byterios e Pastores Evangelico', detel'll1i nando as con-
dies de sua existencia e, ercicio, assim como a regl'a
de fi. ali ao e inspeco a que ficam sujeitos. II
Como se v, n'e se proj to no se trata do ca amento de
pe oas sem religio ou de outras religi - e , mas smen te do
casamento do catholico com protestante ou de protestantes
entre si. Era a:. im o casamento ci iI I ara pessoas de certas
communhes religiosas. Eu. ebio d'esta vez est na seco de
Justia, em Iogar de Pauli no, e d'elle o pal'ecel" a que 1Ua-
I'unguape oppe voto em separado.
um pareccr esse em que ha muita id 'a tem raria para a
poca e que desmente a reputao de uIt,'a con ervador dada
a Eu cbio. ElIe concede como questo em impol'tancia o
casameuto civil para todos os que no pl'ofe am a religio
catholica: Quanto aos casamentos de pessoas que esto
fl'a do gl'emio do catholicismo, que no encaram no matri-
monio um sacl'amento, nem reconhecem a autoridade da
Igreja, nenhuma difficuldade religiosa pde fundadamente
apparecer em estabeleceI-os como contracto civis. A Igreja
nada tcm com ellas. o quel" porm, o casamento civil
para a massa da popula~o, que catholica. Seria pl'Udente
e. tabelecel' no meio de uma populao. que at bem pouco
tempo no conhecia seno a religio catholica om a anti-
daLle do seu casamento enumel'a lo entre os aCI'amentos,
uma l'egl'a geral que em todos clles distinguisse e sepal'asse
soo UM E TADI8TA DO IMPERIO

o contracto civil do rcligio o? A ec o conclue oITerecendo


l)

ao [J1'ojecto de Nabuco um substitutivo em que se e tabelece


o casamento civil para todos os que no professarem a reli-
gio catholica, em vez de fazer do casamento civil, corno
ento se contentava fabuco, urna frma apenas do casamento
evangelico e do mixto. Havia outl'as diff rena , entretanto;
a ~eco, pOl' exemplo, admittia que o casamento mixto conti-
nuas e a ter, querendo os contrahentes, a rrma exclusiva-
mente religiosa, caso em que sel'ia regulado a respeito de am-
bas a' partes pelo direito canoni o nas queste' d divorcio
e nullit.lade, ao passo que Nabuco impunha a e 'es casamentos
a pl'ecedencia do contracto civil pelo qual seriam regulados.
'obre o projecto do mini tro da Ju tia os votos no Con-
selho de Estado pleno encontra-se nos papeis de Nabuco, pOl'
copia, a seguinte opinio do Imperador:
([ A unica doutrina, que me parece logica em todas as suas
partes, a do Codigo Civil Francez, que s d eIT..:itos civis ao
conll'acto civil de casamento, e por consequencia faz pl'ecedcI'
o casamento religioso pOl' aquclle, separando assim o quc
compete ao podeI' civil regular do que pertence ao fro da
cunsciencia individual.
([ O l\lamnguape diz: ({ O que a PI'ovidencia so/fJ'e, 00. e
que cada 1tm siga a 1'eligio que quizel'oo. Em quanto, 1JO-
1'm, se conservCl1' catholico a P/'ovidencia no soffi'e que o
Poder Temporal o dispense d'esse sacramento mas per-
l);

guntarei, pde forar a sua consciencia, e Deus acceita um


culto s externo?
A doutrina que adoptam Outl'OS codigos, como os citados
no parecer do l\Jaranguape, e que restringe em outrus casos
os ffeitos civis do casamento religioso, ficando alis a sua
realizao independente do contracto civil, a qual pde assim
produzir resultados muito lamentaveis, no protege comple-
tamente a sociedade, reconhecendo cOl1ltudo o direito quc
tem o poder civil de regulai' essa materia e no attencle
diversidade de I'eligi s. Da nossa legi lao no fallemo ,
que nada por assim dizei' providenceia sobre tal assull1pto,
carccendo de prompta reforma.
o MINISTRO DA JUSTIA SOi
O projecto da maioria da Seco remedeia em parte esse
mal, qnanto aos casamentos entre os que no professam
n religio Catholica Apostolica Romana e aos mixtos; mas os
conjuO'es Brazileiros ficaro, segnndo a sua crena, _ou sujei-
tos em todas as questGe' maLl'imoniaes s leis civis ou em
parte d'ellas aos canones, o que no sei se muito con titu-
cional, porque se o casamento um acto meramente religio '0
deve regular-se pelos canones, se meramente civil pelas leis
civis, e se religioso e civil pelos canones e leis civis, mas
pam todos os brazileiros.
Com tudo o e tado da nossa civilisao no pel'mitte
que se adopte a primeim doutrina, e preciso providenciar
obre os casamentos enLI' O' que no profe sam a nossa reli-
gio e os mixtos; portanto no haver ramedio seno apre-
sentar s Camaras o proj 'ClO da maioria da Seco om as
modificaes adiante indicadas, no caso em que pOl' meio de
uma negociao com a Santa S no se obtenha algu.ma con-
cesso que nos satisfaa; a pl'/uiencia assim o e.'cge pl'in-
cipalmente depois do voto do Conselho de Estado.
Artigo -to 2. pI'eciso- talvez prever a hypothese em
que um conjuge se queira ca ar ante a Igl'eja Catholica, e o
outro no repute valido esse casamento em sua consciencia, e
queira ocontracto civil, nl) deixando duvidosa como lembrou
o Olinda, a intelligencia das palavras ante a Igreja Catholica.
Depois das palavras casamento mixto accrescentaria feito
ante a Igl'eja Calholicl~ com a clareza j aponta la. No caso
de no sei' preciso prever a hypothese acima lembrada, dever-
se-ha dizei', em logal' de pod8l'o fazer, fal,au.
A reflexo do Maranguape a respeito de sepal'ao' por
mutuo consentimento dos esposos me parece aproveitavel.
IX O copista ~squeceu-se do 4. 5. As reflexes do Ma-

ranguape a este paragl'apho so justas; o titulo 6 do Codigo


Civil FI'ancez s trata do divorcio, e preciso harmonisar
quan to rI' possi vel a I gislao que fl' adoptada para o
casamento civil com os canones, e a legislao civil e crimi-
nal existent-:s.
Artigo 2 . 2. Tenho duvidas a respeito da .:;onstituciona-
302 UM E 'TADISTA no IMPERlO

lidade dos Consi torio, ynodo, etc, po!' causa das relaes
officiae que se e tabelecel'o entre elles e o governo, A
constituio pe'l'lnitte, com effeito, todas as religies, mas sem
nenhuma publicidade, e, quanto mais, caracter official,
segundo o e pirito de seu a!'tigo 5, no me parecendo p!'o-
cedente o al'gumento do Eusebio dp, que a nossa Constitui-
o j reconheceu officialmente todas as religies; porque
ella no fez seno reconhecer a possibilidade da sua exi ten-
cia legal sob as condies que ella impe.
Vnico. Concol'do com as reflexes do Olinda e elo
Maranguape, entendendo tambem que o prin 'ipi da indis-
solubilidade do casamento deve ser con aO"I'ado dil'ectamente
por lei.
Devem-se dedal'ar validos pal'a todos os effeito civis os
mat!'imonios fl'a do Impel'io uma vez que o t nham sido
conforme as leis dos paizes em que houverem tido logar.
Creio de urgen ia !'egular os ca ameotos entl'e os catho-
licos, segundo propem o lal'anguape, o Olinda e o Joo
Paulo, e lembra a maioria da eco.
_ Foram estes os ,"otos do Con 'elho de E tado, em 19 de
- Junho (-1856), a que se l'efere o Impe!'ador. Olinda admitte
o casamento civil smente pa!'a as pessoas que no profes-
sam a religio catholica, e por uma ('azo muito singular:
pOl' no se poder exigi!' d'ellas o matl'imonio !'eligioso, pDr-
que seria isto dar caracter de culto publico s sua' commu-
nhes; no quer innovao alguma nos casamentos mixtos;
se fr preciso alguma, seja por intermedio da Santa S. Ao
Marquez de Olinda reunem-se Maranguape, Mello e Alvim,
Abaet, Itaborahy, Joo Paulo. Eusebio defende isolado o
seu pa!'ecer, mas elle tambem acaba concordando com Olinda
que p!'eciso pedir Santa S a dispensa canonica, admit-
tindo por excepo o casamento civil corno um mal meno!',
um mal necessario. P!'aticamente o Conselho de Estado
unanime em que se [J1'erira a interveno do Papa.
vista do re ultado da !'eunio no restava ao governo
seno tenta!' uma negociao com a Santa S. O Relatorio
da Justia de 1851 expressa no assumpto o ultimo pensa-
o l\UNISTRO DA JUSTIA 803

mento do gabinete; isto pronuncia-se francamente pelo


ca 'amento civil para os nno-cath lico : A respeito dos
ca amento mixtos tem o governo Impel'ial a inteno de
reclamar de ua Santidade a conce ses indi 'pen aveis para
que sejam elles facilitados pela parte catholica. A respeito,
porm, das pessoas que profes am as outras l'eligies, so
urgentes e essenciae providencia legi laLivas para que
sejam lIes recebido no Imperio, para que tenham todos
os cffeito civis que pela nos a legi lao comp tem ao casa-
mento catholico, tendo elle como este a clausula de indis-
s luvei .
O projecto como sahiu do Conselho de Estado, com peque-
nas alteraes, er apre entado s Camara em '188 por
Va 'concellos (1), ministro da lu ti a no gabinetE' presidido
POl' Olinda, o qual havia com mandado a opposio no Conselho
de Estado ida da reforma e que veremos en 1866 no
gabinete de 12 de laio impugnando outra vez as idas de
l\'1bu'0 a l'eSpeilo de casamento ciTil (2).

(1) abuco ouvido por Va. concel1o responde-lhe:" Vi o projecto


do casamentos ulixtos a respeito dos quaes V. Ex. se dignou de
consultar-me, e meu parecer: 1 Que no dito projecto se deve
declarar que aos Tribunae Civis compete o julgamento das
questes occurl'entes a respeito dos ca amentos das outras Reli-
gies quanto ao divorcio e pal'tilhas, assim como a re peito da
parte catholica no casamentos mixtos, quanto ao divol'cio e
partilhas. 2 Que no adoptavel a autorizao do Artigo 6 1,
pOl'm a do meu projecto primitivo, i'to , que l'eja o Dit'eito Ca-
nonico quanto aos impedimentos e divorcio, como se pratica em
alguns paizes prot stantes, e que reja o nosso Dil'eito Civil, bom
ou mau, quanto . pal'tilha.. "
(2) No gabinete 12 de Maio presidido por Olinda e de que faz
pal'te Nabuco trocam-se entl'e este e Silveira Lobo, mini tl'O da
M"1l'inha, as eguinte cartas que por terem referencia s idas
de abuco em 1854 antecipo n'este primeiro volume. Em 29 de
Abl'il (1866) Lobo e creve a abuco:. Leio no Diario do Rio de
hoje que vai ser apresentado o projecto dos ca amento civis.
Como j tive occasio de ponderar a V. Ex., o Sr. Marquez de
Olinda no esti de accordo e faz questo d'isso. Acho indispensavel
como em conferencia di se a V. Ex. que adiemos e se projecto,
at se ver em que combinamos todos, e vamos adeantando, en-
tl'etanto, Outl'OS projectos, como o da reforma judiciaria. Eslou
304 UM ESTADISTA DO IMPERlO

VII. - Administrao Ecclesiastica : - Reforma


dos Conventos. - Projecto de Concordata. -
Converso dos bens das Ordens. - Recurso
Cora. - Regenerao do Clero. - Faculdades
Theologicas.

A administrao dos cultos estava ainda ligada a pasta da


Justia e pela politica ecclesiastica de Nabuco pde- e aqui-
latar a sua reputao de estadista (1). Elle entrava para o
ministel'io convencido de que a primeil'a e mais impol'-
tante nece sidade na 'ituao moral de nos o paiz el'a a
diffuso do principio I'eligioso no interesse da familia e da
sociedade, como disse annos depois no Senado (2). Infe-
lizmente o estado do c1e1'9 no perrnitLia que a sociedade
pudesse colheI' todo o beneficio do principio religioso; o
esforo do governo devia como que se conceutl'al' ante. de'
a
tudo na formao de um clero capaz de servil' I'eligio, e
como o escandalo publico era tanto maior quanto mais se-

convencido de que a apresentao do refel'ido projecto dos casa-


menLos civis traz a dissoluo elo ministel'io e por isto julgo do
meu dever escrever esta a V. Ex. "
Nabucoresponde, no lIlesmo dia: "Recebiacartade V. Ex. e
fico certo do que me diz sol re o pl'ojecto do casamento civil,
sendo que o Sr. Marquez est. disposto a deixar o ministerio se
fr eUe apl'esentado.
" Como havemos de sa1lir d'esta difficuldade? Se o Sr. Marquez
sahe do ministerio por ser apresentado o projecto, eu sahirei pOI'
no poder apresentai-o, visto como tenho essa ida desde 1854
e me comprometti perante o Parlamento a apresentai-a... O Sr.
Marquez foi Presidente de Conselho do Ministerio de 4 de Maio
e o ministro da Justia d'esse Gabinete apl'0Sentou s Cam aras
um igual projecto. Porque se oppe hoje sua ida de 1858?
Assim que no me possivel ceder: adiarei a apresentao at
ver a melhor occasio de sahirmos... "
(1) Pelos Bispos ella foi sempre calorosamente elogiada. O
clero da diocese de Cuyab dirige-se a elle louvando o govel'll'o
pelo " incanavel zelo que tem mostrado duran te a gloriosa
administrao de V. Ex. a respeito dos negocios ecclesiasticos ".
Ver adeante demonstraes e'f1'usivas dos diversos Prelados.
(2) Discurso de 2 de Agosto de 1860.
o iIlL'\I 'TRO DA JUSTIA 805
,'cl'a a regea. cea principalmente para a Ordens, cahi-
das, algumas d ella , na mai completa relaxao, que o espi-
rito de reforma se devia peimeil'o voltar. Foi e se pensa-
mento que in pieou o acto de abuco su -pendendo a recep-
o dc novio' no conventos. Nenhum acto de ua admini -
trao ecclesia tica foi, entretanto, to impugnado do lado
catholico como e e. A medida provisoria ficou definitiva;
succedeeam-se mai de vinte gabinetes, nenhum a I'eyogou
e mente com a . parao da Igl'eja e do Estado, no noVf
regimen, reabriu-se o noviciado nos com-entos. l'\abuco
por i so tratado, ainda hoj , na polemica da impren a e do
furo como o de truidor da Ordens r ligiosa . O hi torico
d'esse incidente esquecido mostrara com a maior' eyidencia
que o e pirito que o animava no era de hostilidade s in-
stituie mona tica do paiz, mas verdadeiro e sincero e pi-
rito de reforma.
Logo no Relatorio de 18"4, mezes depois de tomar conta
da pa ta da Justia, abuco exprime-se d'esta fl'ma em
relao aos conventos: Os conventos e acham pela maior
parte em e tado deploravel quanto a disciplina e administra-
o; algun. esto abandonados e sem ulto divino, entre-
O'ues a um religioso que desbarata ou no aproyeita os
seus ricos bens, e vive sem inspeco alguma; Outl'OS con-
ventos mais numel'osos do o td te espectaculo da intriga,
que os dilacera com prejuizo de sua santa in tituio e essa
intl'iga procede em geral, como sou informado, da cabalas
que sem pejo de simonia ahi se agitam por amor dos cargos;
pl'ovidencias enel'gicas so urgen tes para restitu' os con-'
ventos a sua primitiva santidade afim de que se no tornem
f?cos de immol'alidade, sendo preciso que n'elles penetre a
policia como aconteceu no convento do Carmo do Maeanho.
Sobre essas providencias consultei os pal'ecel'es do Arcebispo
e Bispos do Imperio, e quando es e pareceee vierem, o
governo Imperial tomar aquellas medida que conberem em
sua autoridade, peopora as que de vs dependem, e impetrara
do SS. Padre algumas que s d'elle pde1l1 provir. A refoema
dos conventos deve consistir; 1. 0 em serem elles na paI'te
1. 20
306 UM ESTADISTA DO DIPEI1IO

espil'ital sujeitos aos Di po ,ao quae deve competil' a


nomeao e demis o do' pJ'elados e uperiores re_pectivos;
2. 0 em pl'estarem contas da administrao temporal ao juizo
competente.
Deixemos de parte o plano da reforma, retendo mente que
no pensamento do ministro da Justia ella devia er feita de
accordo com a Santa S, o que sanaria o seu tlefeitos,
quaesquer que fossem. Um anno depois, no Helatorio ue 1855,
este o paragrapll'o a respeito do conventos:
c( o me mo e tal como vos referi no pa sado Relatol'io,

o estall0 d'esses estabelecimentos que fOl'am outl"oI'a o a sento


da piedade, da disciplina e da au tel'idatle l'eliU'iosa : a reforma
de uns e a suppl'es o de outros, sendo seu edificios
e bens applicados, como diss., paI'a regen i'ao do clel'O,
so objecto' em que o govel'l1o Imperial tem fixado sua atten-
o. As tl'es provitlencias seguintes so em resumo aquella
que pal'ecem essenciaes ao fim propo to : 1. 0 uppr so dos
conventos do intel'iol', que no tiverem pelo menos quatl'O
religiosos e dos das capitaes que no tiverem dez, pal'a a
celebrao e exerccio do culto; devolll~o de seu. etlificios e
bens pam os s minal'io3. 2. a Reforma ou I'eg nera do'
outl'OS m que ha communidades, ficando dllmnte a reforma
e fI.t sua conclu 'o sob a plena juri 'dico dos D:spos, que
alis devem fi Cal' ol'dinal'iamente investido tia autoridade de
presidir s eleies capitulares e annulIal-as Cjuamlo contrarias
s constituies. Applicao de uma pal'te de sua renda liquida
pal'a os seminUl'ios. 3. a Convers~b do bens l'uraes e escravos
dos conventos em apolices da divida publica dentro de dous
annos sob pena de commisso a bem dos seminarios. A admi-
nistrao d'es 'es bens distrae os l'eligiosos de sua mi so
sagrada e espil'itual e os torna aferrados aos intereses tel1l-
poraes.
Reservemos ainda o nosso juizo sobre a converso dos
bens, no esquecendo, porm, o que se mostrar mais longe,
que essa parte da reforma tambem carecia, no pensamento
do ministro, do assentimento do Santo Paure, que a podia
fazer boa. A essas declaraes do Relatorio segue-se logo
o MINl8THO DA JUSTIA 301

depois a ol'dem pl'Ohibitol'ia de novas admisses nas Ordens.


o avi o de 19 cle Maio de 1855, constantemente citado, mas
pouco conhecido em sua integra:
CirculaI'. - La Seco - Mini tel'o dos Negocios da
Ju tia, Rio de Janeiro em 19 de Maio ue 1855. . 1'1. o Impe-
rador' ha por bem cas aI' as licenas concedidas para a entrada
de Novios n'essa Ordem Religiosa at que seja resolYida a
Concol'data que anta vai o Governo Impel'ial propr,
Deus Gual'de a V. P. Revma. - Jos Thomaz Nabuco de
Araujo. - Sr. Provincial dos Religioso Franciscans da
Crte. (Na me ma cont rmidade aos de mais Ordens Religio-
sas do Imperio.) :o
Dando conta d'e e acto ao Parlamento, elle dir (Relatorio
de 1856) : Emquanto se no reorganizam os conventos de
um modo conv niente religio e ao Estado, pareceu ao
goyemo Impel'ial que a admisso de novio eria uma difll
culdade ele futmo pal'a a refol'ma, tanto mais quanto o noYi,
ciado sem a pro ana e estud s queas l'e pectivas Constituies
pre CI'evem e de facto se no praticam na maior pal'te dos
conventos, uma especulao e n "\ ocao e habilitao
para a vida mona tiea. Em con equencia detel'minou I;
go emo aos Prelados das Ordens que nenhum novio fosse
admittitlo s_m expressa licena d'elle.
O a i o de Nabuco no o acto de um inimigo das Ordens
religiosa , que as quizesse supprimil'; qualquer que eja a
melhor opinio sobl'e as suas idcas para a reforma dos con-
ventos, o que elle quer ver restaurada a gl'andeza moral da
concepo, fi scvel'idade das regras; sol retudo, o pensamento
a que obedece, o de uma intelligencia perfeita com a anta
S. As licenas eram cassadas at que fo se r'sohida a Con-
cOI'data; a r~f rma projectada no em a in \'en<;.o de um
refol'mauol leigo, in pil'ava-se nos precetlentes da Igreja; a
extinco dos pequenos convento, por exemplo, no el'a seno
a rea~izao de um pensamento de Innocen 'io X, (l) as_'111

(1) Innocencio X havia ol'denado a suppl'esso dos perluenos


CQl1\'entos P01' no confiaI' na. rCrOl'ma: li Que espel'una podo
S03 UM ESTADISTA DO lMPERlO

como a maiol' autol'idade dos Bispos subl'e as elcies capitu-


lal'es el'a no sentido manifestado paI' c][cs mesmos e no da
corl'enteunital'ia que a pl'oclamao do doo'ma da Immacu-
lada Conceio fizel'a as ignaladamcntc u'iumphal', ou antes
tOl'nal'a unanime, na 19l' Ja no anno antel'iol'.
O Bispo de S. Paulo, D. Antonio, escl'evia a Nabuco, logo,
em Outubro de 1853 : Estando em visita na Pal'allybuna
tive a honl'a de reccbcl' a confidencial de 4 do COl'l'ente cm
que V. Ex. indica a necessidade de adoptar- e alguma pl'ovi-
dencia pal'a que nas Ordens Religio as se l'e tabelea a disci-
plina em total esquecim nto. EXll1. SI'" eu louvo a Divina
Providencia n'esta inspirao ou luz que d a V. Ex. o
estado em que se acham no Sel'elll inutcis, o muito pl'eju-
diciaes. O Bispo quel' a pel'feita seculal'isao os l'eligiosos,
ficando com uma diaria para a sua ubsistcncia; que as casas
deixadas pelos seculal'izados fossem occupadas pOI' outros
vindos da EUl'opa, como os Redemptoristas de Slo. Affon o
dc Liguori, os Dominicanos; que se tl'ansplantasscm tambcm
os Lazaristas, os de S, Felippe ery, e outl'OS CIu" puuessem
-dar mestres para os Seminario , e ento, dizia, cc fonuado o
espirito ecclesiastico, se abl'iI'iam os noviciados no Brazil.
cr: Eu sei que V. Ex. tem uma penetrao excel1ente, tel' por
isso notado que <> espirito do Gatholicisll1o cst quasi extincto
no Brazil. ... Os bens cios religiosos, mesmo vindo OUtl'OS
suppril-os, sobejal'iam para se edificarem seminarios onde os
no ha e dotai-os com patrimonios firmes. O concilio de
Tl'ento autoriza os Bispos pal'a cotizar os bens dos religiosos
a beneficio dos seminarios diocesanos, mas como hoje tuc10
tudo est debaixo da inspeco do Poder Tempol'al nada pode-
mos fazer sobre elles, e concluia: c( minha intima con-
vico que o Bl'azil no dar bons feades' emquanto se no
l'~formal' seu espil'ito. j) Como sc v, est ahi a voz de um

haver de restituir a sade a um corpo languido e enfermo, se


grande parte d'elle se a,cha incapaz de curativo e antes. pro-
prio para infeccionar e contaminar a parte restante? E um fer-
mento que corrompe toda a massa. II
o '!lNISTRO DA JUSTIA 309

Bi po sustentando a ida apresentada pelo ministro da Ju tia,


de applicar aos seminarios celtas bens dos conventos.
O Bi po do Pal', D. Jo , atte ta o estado de decadencia
e irl'egulaI'idade dc algumas das Ol'dens. A do Cal'mo, cm
Belm, era govemada, havia annos, por um s6 rcligioso que
na qualidade de pI'iol" diz elle scapava yigilancia de toJes
as autoridade, e a . im desfructava s6 um patl'imonio l'e
mais de trezento e Gravas com importantes fazendas s f i
utilidade alguma para a Igr ja. )) En tende, porm, que se nao
d ve tocar nas Ordens que rparcham na exacta observancia
de uas regras; o mai acel'tauo lhe parece que eria impetrar
da anta S o dil'eito para o Bi. po de in. peco ou isita,
sempre que fo se nec ario. O do Maranho, D. lanuel,
descI' ve o lastimav I e tado llo CICI'O religioso em sua dio-
cese, como c impede que hflja um bom clero secular; no
cre, porm, que o anto Padre conceda cc uma inverso,
ainda que pro i or'ia, nu di ciplina clau trai, J) accrescen-
tando: c( todavia ser bom pedir-se-Ihe. D O Dispo de Cuyab,
D. Jo , concorda inteil'amente com a id6a de abuco de im-
petrar da Santa 6 a derogao dos pri ileo'io que i 'entam
a Ol'd n da juri uico do Diocesano. O Bi po de Pernam-
buco, n. Joo, opina pela in tituio de Refol'madore idoneos;
a reforma ba tar; quanto a elle, sentia a impossibilidade de
reger subdito espirituaes que pouco ou nenhum ca o fariam
da sua juri 'dico sobre elles. O Bispo de Goyaz, D. Francisco,
applaude sinceramente a reforma, com que muito lucl'aria a
religio, se o gOyel'nO a eon egui se da an ta R.
A carta do Di po de l\Ial'anna, Dom \.ntonio, representa
bem o estado da Igl'eja. ~( Eu me alegl'o, e creve elle a abuco,
porquanto vejo que occupam a ua mente, logo de de o prin-
cipio, os negoe~o da religio. Deus o encha de luzes para
levar ao fim to bom comeo. D primeira vi ta parece-lhe
acertado o projecto de reformar as Orden , c( mas i to que se
diz em dua palavras, que diffieuldacles no soffl'er!
Quanto aos regulares, qua i lhes perco a esperana. Fui
mandado reformar os Carmelitas da Bahia, qua i no ache~
. quem nomear 1ara Prelados e entregues elles a I, tudo
810 ~I E 'fAOlSTA DO DIPERIO

ficaI'ia como d'antes. Parece, pois, acertado o pensamento de


V. Ex. Mas porque lhe chamo eu quasi impossivel? Porque
os Di pos, em dioceses to extensas, tm muito que fazer;
nem todos foram novios de corporaes refol'luadas; se
acham apoio em V. Ex., talvez no o achaJ'o em outl'OS: as
astucias dos relaxados, com a liberdade de imprensa, os
Recur o ao. governo que no fI' do mesmo parecer, e mil
outl'a cou a , fazem perdei' o anim-o e a e perana. O Sr.
Arcebi po me disse que lhe davam mais que fazer tres ou
quatro conventos de f['eiras que todo o resto do bispado,
sla. Thereza, no meio do seculo XVI, com touo o seu animo e
prudencia mais que varonil obteve refol'mar os Carmelitas,
mas como? funuando nova' casas e recebendo novos sujeitos,
no tomando dos velhos seno dois que achou dos seus
entimentos. Lembt'o-me que se o governo pedi se ao Santo
Padre 12 reljgiosos dos mais refOl'mados da Ordem, que se
naturalisassem no Dl'azil, que com o seu exemplo e luzes edi-
ficassem os nossos, talvez obter-se-hia alguma vantag m junta-
mente com o pI'ojecto de V. Ex. Outra leml)('ana : os Carme-
litas e Fl'anciscanos esto div!didos no D,'azil em divel'sas
pI'ovincias com o seu Provincial, mas cada uma com poucos
religiosos, uns poucos nas capitaes e o rcsto dos conventos com
um s, que o Prelado dos escravos.; que far o Prior? Anda
pelas fazendas govel nando os escl'aVos. E o Guardio? Nada,
ou ganhando dinheil'o para se secularisar. Isso no Ordem
Religio a, nem nada. Talvez ser melhor juntar touas as
provincias de cada oruem em uma s, pal'a haver mais sujei-
tos pm'a escolher Prelados e a communicao facil por mar,
iunto ao qual quasi todas tm seus conventos.
1\Ias, Exm. Sr., tudo isto me parece palliativo. O n
cortava-se de um golpe, no, acabando com estas corpomes
to uteis quando reformadas, como eram em seus melhores
dias, mas juntando-as em um ou dois conventos, com uma
tl)tal e indispensavel prohibio de recebei' novios, emquanto
no melhora sem de conducta, (que, t~)('no a dizer, me parece
impo sivel) e chamar algumas das corpora<;es que abundam
na Fl'ana, v. g. Ligoristas, Lazaristas, Trappista., da Dou-
o ~fl:\1 THO D.\ J U TlA. :lil

ll'ina Chl'ist. Estes homcns edificam e so tQ uteis n~.


[<I'an.;) to dedicado ao bem publico, civil e religioso, to
estimado como Y. Ex. v que o so as II'ms de Caridade
no Rio. Que c1 1'0 no apre enta hoje a FI'ana educada com
e tes homen ! Junto ao no sos religioso em poucos coo-
"ellto , sou ]avam beBos e e paoso edificio para accom-
modm' as nova corporaes que logo, pela admi o de can-
ditlatos brazileiro , se tomavam na ionaes, om tanto que e
ihe d e toda a libel'dade de obsel'\'al'cm sua regra e a
unio com a ua cabea onde quer que e~tive se. D Corta-
r.os o orao, accre centava, ter andado a pouca leguas de
di tancia de aldeias de crentio nas margen do uas llhy
Gl'ande, que el1tI'a no Doce pelo lado esquerdo, e aber que
vivendo em uma extr ma penuI'ia no COl'pO e na alma entmga-
se a sua duca o ou a ninguem por s l'em pau o conhecid s
at ng !'a, ou a seculal'e inter sseil'o que o tornam em
peor e tudo do que e tavam, e os no o bOll fl'ades pa -
seando pela ruas do Rio de Janeiro! Quanto ganhariam
esses pobres Indios, se houve se quem preenche~se o vacuo
que deixou aquella cOI'porao cujos mem I)('os el'am o P. 0-
bl'ega e Anchieta. ) E terminava : V. Ex, quiz ouvil'
e te pobre vclho, que no sabe se di .. e alcruma cou a acer-
tada. Ao menos tenho bon dcsejos e com sinceridade peo
a Deu que lhe d luzes para acertar na sua carreira, assi-
l)

t
gnando- e ( Servo muito apaixonado A1Itonio. ])
O Arcebispo da Bahia, D. Romualdo, s6 em Julho do anno
seguinte responde confi lencial de Outubl'O. Demorou a
resposta, diz elle, pel'suadidode que fical'ia habilitado a dar
informa s mais O'ul'as depoi de ua intel'veno, como
pre itlente, no Capitulo Gel'al da concrregao Benedictina.
o me en'o'anei n'e' a minha expectao sobre as ida' que
poderia fomecel'-me o referido capitulo porque o seu resul-
tado mostrou evidentemente quanto acertada a opinio de
V. Ex. obre a conveniencia de derogar~s , ao menos provi-
soriamente, a omnimoda iseno de que O'ozam as Ordens
da autOl'idade dos Bispos, porquanto, exi tindo a predita
congl'egao Benedictina acrphala, anarchica e agitada por
Ui\"[ ESTADISTA DO IMPERlO

uma minoria turbul nta, que a todo o custo esperava vencer,


nem os mais antigos e prudentes religiosos compareceriam,
nem as eleies se fariam to pacificamlwte, recahindo em
religio os idoneos e extranhos s precedentes intrigas, nem
emfim a conciliao e a paz, que felizmente se in taul'ou, se
poderiam realizar sem a lwesena do Prelado Diocesano pela
confiana e respeito que se lhe tributa. Retenho d'e as
p11l'ases o desideratum suggerido no Relataria de 18[l de que
os Bispos presidam s eleies capitulares.
O Bispo do Rio Grande cOI1tl'ario jurisdico dos Bispos:
"
elle tinha reformado os Carmelitas do Rio Grande do Sul
e cc a instituio mUl'chou- e mais; )) os conventos de freiras
esto sujeitos aos Bispos: porque (C se rela,'(avam '? Explica
d'este modo curioso o no havei' mais arnuencia de novios
como em outros tempos: cc os tempos eoloniaes fugiam os
mancehos para o abl'igo dos claustros pela mesma )'azo
porque os homens no comeo do christianismo fugiam para
os desertos: paea escapal'em 0ppl'esso e tyeannia. Nos
tempos ~oloniaes os mancebos fugiam da tYl'annia do re TU-
tamento e da affronta da chibata, com (lue um inlprudentc
insteuctoe feria em publico as costas de um moo recruta,
ainda amai' docil e de melhol' educao. I 5.0 ha ia seno
armas ou letteas que seguir no Beazil, e as lettras aqui no
tinham academias, lyceus, collegios, professoratos, como hoje,
no havia aqui reparties publicas num rosas, onde os
incli'viduos se emlwegassem vantajosamente para a sociedaue
e para si, Qual ser o prestigio de um Bispo que possa hoje
moyer um mancebo a trocai' as van tagens d'estes modos de
existi I', pela vida elos c1austl'oS, dUI'a e obscUl'a, submettida
a pI'ivaes e abnegao de tudo'? No julgo que o Bi 'pa
possa ter' o dom cl'este milagre ). Jo lhe parece seI' ainda Q
occasio de abolir totalmelite as Ol'dens monachaes; prefere
que se destine a cada uma um unico convento, para o qul
se apal'tem bens de rendiq1ento suff1cien te, sendo a pl'oprip-
dades que sobrarem l)atrimonio ,de uma Universidade BI'azi-
leira na qual se eu inem todas as sciencias ..
A Opillilo do Internuncio concorria com a dos bispos pae:l
o l\!L'\I"THO DA JU 'TIA.

a reforma dos com' ntos, O que lhe parecia pl'eferivel era


reunir o relio'io os em pouco convento', re idindo nelle
de familia ao menos quatl'o religiosos sacel'dotcs e nas capitaes
dez, e tabel cendo- e regl'a sobre a admis o, e tudo , 01'-
denao, et . O predio ru ticos dos conventos poderiam el'
vendido e on eJ'Lido em apolices. Tudo, porm, de acc61'do
com a Santa S, ~ a quem pel'tence decretar em taes mate-
ria li.

orno e v, a p litica d Nabuco em relao aos con entos


no foi a cle um adver aI'io da in t;tuie da IO'reja ' pelo con-
t,ral'io, ua iniciativa 9a }'efol'llla cOl'respondia nece~ 'idad ge-
ralmente sentida pelo Bi pos, cada uma da meclida que
acon lhou ou. a I I tou baseava-se sobre a recommencloo de
alO'uns d'elle (1).
abuco, uma yez 'u pen a a recepo de nm ios, no con-
ente em abrir nenhuma excepo. O seu velho amiO'o Casi-
miro i\Iadur ira, deputado baltiano, inter em em fayor elo
Abbacle Grl'al cio Ben di tino, e elIe responde-lhe (13 cle Ou-
tubro ele '18~6): E e fa, 01' deJ'ogaria uma ida qu tenho
ustentado e pela qual estou compromettido; esta ida pam
mim de tal impol'tancia que della fao que to de O'abinete.
Pal'a mim a I'egen I'a o do clero e a I'efol'ma dos conventos
'o neces idades e enciaes para o futuro do paiz .
PaI'anhos intel'pe tambem o seu valimento a favOl' de uma
postulante. Meu al'o collega, responde-lhe o mini tI'O cla
Ju Lia, o Al'cebi po da Ballia pediu-me com grande in tancia

1) Se 1'0 se preciso ao mini. tI'O da Justia Uilla ,~ liqo de coi-


'as" do estado em que tinham cahido a Ordens, ellea teria n'ul11
incidente sujeito ua deci o occorrido no com'ento de anto
Antonio entre um x'Pl'ovincial e o Guardio. Pelas palavra de
Iont'AI\'eroe, a respeito do conflicto, a disciplina havia inte~ra
mente de appal'ecido no clau tl'O. li I 'e tes tempos calamito o ,
dizia clle no seu officio apl'esentado a Nabuco pelo Provincial,
Corao de ifal'ia, em que a corporao mai re peitada e que
pos ue as recordaes mai "lorio as e debate agoni ante no meio
das mai horrivei' provaes e ferida por filhos ingrato a quem
ella al'l'ancou das priva~e e miserias do cculo e que e quccido
do que fOl'am e do que eriam sem o seu auxilio se COll tituira:n
seus mais cl'ueis yerdugos ... "
UJI E 'TADlSTA DO DIPEIllO

que eu autOl'izasse a profisso de reI igiosas e eu recusei esta


autorizao; pediu elle depois que ao menos permittis 'e o no-
viciado, concedi-lhe com as clausulas que constam do aviso
por cpia incluso, Pensei que V. Ex. queria um noviciado,
mas vejo pelo requel'imento da sua Exma. AnIhacla que ella
pretende aprofis 'o: e posso fazeI-o em desgostar ao Arce-
bispo, sem fazer desabaI' o grande plano que tenho em vista
e que verteJ' em honra deste ministerio?
Em 185'1, o D. Abbade de S. B nto, em nome da congl'e-
gao Benedictina, volta novament a pedir a admisso de no-
vios, para isto enumeI'a os servios prestaclo desde '1668,
na invaso dos llollandezes, em 1710 na dos Franceze. ; cm
1817 para combater a rebellio de Pernambuco a Ol'dem or-
fereceu e fOl'am acceitos 2:000$ ; menciona as gmndes obras
que se esto fazendo na Bahia, em Pernambuco, o aformosea-
men(.o dos l\:Iosteil'OS cio.. Crte e de S. Paulo, e isto em q~lC
e. tejam empenhados, antes em augmento seus patl'ill1onios ...
. Quanto s sciencias, apezar dos poucos homens aptos para
o ensino, que lhe ficaram depois da separao da congl'e-
gao da cle Portugal, no ultimo capitulo se ordenou que pam
o futul'o os collegios da cong'l'egao tenham um CUl'SO cle
seis annos.
Nabuco, em despacho reservado, mancla devolver ao D.
Abbade o seu requel'ill1ento, dizendo-lhe que o governo Im-
perial persiste em no conceder a admis. o elos novios e111-
quanto os conventos no fOI'em r formados como projecta.
ElIe quizel'a, ntl'etanto, poder abl'il; uma excepo a fav'or
dos Benedictinos. Em '18 cle Junho de 18'10 dir, com ffeito, no
Senado, a proposito dos novios: ( preciso confessar nesta
occasio que a Ordem de S. Bento no estava relaxada e de-
cadente como algumas outl'aS, mas estava anarchisada pai'
causa da eleio cI s cargos, sendo que foi preciso ento que
a Santa S a puzesse, em vil,tude de repre 'entao do Arce-
bispo da Bahia, sob a jurisdico do Ordinario. 1>
O aviso de 1855 foi accusado de illegal e Tabuco teve que
o defender d'essa censura. (( Sempl'e se considerou, disse elle,
n'esse m..S1110 discurso de 1810, comprehendiclo no .7uS C(l-
o 11:\1 "rno DA JUC::TI.\. 315

V811di que ao E tado compete sobre a IOTeja, a adms o de


novio nas Ordens r ligiosas. As im o diz Dorg s CaI'neil'G ;
diversas jJl'Ohibies de entrada de novi 'os refere Fernandes
Thomaz no seu Repertorio, sendo enU'e ella a do avi o de
23 de Joyembro de 1162. ConfoI'me as leis de 29 de 1 ovem-
bro de '1791, D de Setembl'o de 1'197 e muita autol"idadcs que
eu podia itar, o Poder civil intervinha na admi o do no-
vio:, no pOI' modo gemI concedendo o nunwl'o d' 11 . ,
ma p r modo especial concedendo as licena individuae.
, e a IOTeja pOI' sua I arte deve zelar as vocaes sin eI'as, o
E:tado t m intcre. se em que seus ubdito no concorram
jJ:1l'a o claustl'o ment~ para eximir-se do onu da vida so-
cial, para evadir- e do ervio do exercito.
enhum govel'l1o autorisou novamente o noviciado, ape-
zar d 'Cl' a prohib:ii do avi o de '1855, di e Nabuco,
como a do avi o anteriores, provisoria e smente emquanto
dUI'a m o motivo que a determinaram. Quando o avi o
foi expedido, havia nece sidade da reforma, que o governo
proje tava, e portanto o avi o era logico prohibindo a ad-
misso do novio at a l'eforma: ess.a probibio era tam-
bem exigida pelo tado de relaxao e decadencia da OI'dens.
Portanto, a questo est sob o juizo do govel'l1o; se entender
que j' no se do os mesmos motivos, que ali pesaram em
meu animo, del'ogue o aviso: elle no lei, cada um tome a
sua re pon abilidade.
O espiritodosantigos e:tadi tas era n'essan1ateriaomesmo
e a verdade que oincidia com o do Di poso A' im, con-
sultada a re peito de dilapidaes e combinao com credores
fantastico~ para consumil' o bens da Ordem, de que se quei-
xava a propo ito do convento das Mel'ce no Maranho o
Di po da Diocese, a seco d Ju tia do Conselho de E tado
(Eu cbio, l\IaranD'uap, ruguay) opinava do eguinte modo
em 22 de Dezembro de 1856: Quanto providencias g-
raes que se devem adoptar paI'a caso emclhante a cco
cl'e que podem COD i til': '10 na suppres o da Ordens reli-
gio as que se acharem em ciI'cum tancia analogas a es a de
Nossa Senhol'a das l\Icrces; 2 em reformar as ontl'as que
316 mI ESTADl 'TA DO HlIPEnIO

ainda forem apl'oveitavei , de modo que se habilitem para


prestar instruco religio a e caridade christ os servios
que tanto as recommendaram, e recommendam ainda, em
diversos tempos e paize ; 3 em simplificar a administraio
dos seu bens temporaes, convertcndos-os, por exemplo, cm
apolices inalienaveis ou (se n'isso houver difficuhlade) cm
'predios urb~no , por ser a dilapidao da receita mais dif-
ficil; 4 em facilitar a seculari 'aio dos monges actuaes que
no e tiverem no caso de sel'vil' de bom nucleo pal'a os novos
adepto, ainda' que para isso eja necessario estipulal'-lhes
penses vitalicias; 5 em seI' muito cauteloso na admisso
dos no',os e na organizao de suas administl'aes intel'-
nas.
A defesa de Nabuco pel'an te as proprias Ol'dens religiosas
que lle quiz sempre que tudo se fizesse de accordo com os
Bispos e com a Santa (1). O seu plano obedecia ao pensa-
mento de uma Concordata com esta, E sa Concordata, o li-
ni tel'io Pal'an no chegou, entl'etanto, a reali ai-a; que elle
a drsl'java, no ha duvida alguma, Tanto na questo da
reforma dos conventos e da converso dos bens reljgiosos,
como na dos casamentos mixtos, o governo tinha decidido
procul'ar o accordo com a Santa S, Porque no se levou a
effeito a propo 'io de uma ConcOl'data no mini terio Parana ~
A razo est talvez n'este trecho de uma ca!'ta de abuco:
Devolvo a V. Ex., escrevia elle a Pal'anhos em '13 de Ja-
fiei 1'0 de '1857, a carta de S. S. com a tmduco, depois de
tel-a lido e bem inteil'ado do seu contetido: os pios desejos
de Sua Santidade so as idas do Ministerio, constantes dos
Relatorios da Justia; estamos todos de aecordo, e tudo es-

(1) At o fim elle insi tir para que a reforma se faa de


accordo com a Santa S. Em '1870 elle dil' no Senado: " A situa-
o dos no. sos convento' exige medidas definitivas; estas me-
dida no podem ser outl'US eno aquellas que o Relatorio de
1855 indica, isto , a suppresso de umas Ordens e a regenerao
de outl'as; insista- e com a Santa S. Entl'etanto, ,em quanto su
trata com a Santa , tome o govel'no as medi'das consel'vc:torias
nece saria para os bens no serem de bal'atados e extravi'ldos,
o ~Il I TRO DA J STI.\ 317

tai'ia hoje feito, se no fura a tal lembmna do deficit imagi-


nario, que, corno a cahva de reduza, nos petrificou a todos,
e corno o e tupor DOS impedio de andar. Foi esse talvez o
veI'dad ,il'O motivo de no se pensar em e colheI' outro nome
quando o vi conde de ruguay declinou a mis o a Roma.
Ainda a im Ue foi'a Roma na Semana Santa de '1856 e
procurou somlaI: animo do Papa l'elativlmente ida do ga-
binete, Sua antidade, eSCl'eve Ul'uguay a Pal'anhos em
carta particular, disse-me que tinha as melhol'es disposies
de se entcnder com o governo Brazileil'o obre o ponto de-
pendentes da Santa , mas occorreu a seguinte mui notavel
circumslancia. Di e-me que tinha feito ultimamente uma
Concordata com o r. Blanco, mini tI'O do Chile. Blanco,
dis e-me elle, tl'ouxe uma proposta que no pu le appl'Ovar,
dei-lhe em sub tituio outl'a que continha tudo o que eu podia
conceder; no tendo Blanco pndeees pma a admitlie, I'emet-
teu-a ao seu governo, mas duvido muito d que este a appl'Ove.
Paulino deu-se por avi ado. O que contel' e sa ConcOl'data?
perguntava elle intrigado na caeta a Pal'anho . A Legao de
Roma mezes d pois enviava eopia d'es e pl'ojecto, obtido pelo
no o representante Figueiredo, o velho amigo de Pio IX,
de quem este costumava dizer aos BeazileiI'os que elle lhe
apresentava: Este um amigo velho que no me abando-
nou nos dias da desgl'aa ]), alludi ndo presena de Figuei-
I'edo em Gaeta. (Citada earta de Uruguay.)
o era a primeira vez que se teatava de'velebral' uma Con-
cordata com a Santa S. Em 26 de Junho de '1837 l\Iontezuma,
Ipii1istJ'o de Estrangeil'os, d instruces para esse fim a Ma-
noel Antonio GaIvo, no se esquecendo n'unca, dIZ elle, que
o governo Imperial considerava esta Misso como de todas at
aqui confiadas ao zelo extremado dos seus seevidores a mais
importante e melindl'osa. O objecto da Concordata el'a re-
solver a questo da confirmao do Bispo eleito do Rio de
modo e cortar para o futuro outl'as contestaes. A denega-
o da confirma do dr. Antonio Maria de Moura como
Bispo da diocese do Rio de Janeieo, dizia l\fontezuma, tem j
poderosamente servido aos interessados em anarchisar o Im~
318 UM ESTADl TA DO D/PEIUO

perio, A este resl eito tem o govemo pl'Ova a que nao pde
recusat'-se de que no so smente infiuencins nacionaes as
que projectam a nossa total sepat'ao com Roma, E tl'augeiros
poderosos, reunido. em associaes religio a, ystematica-
mente trabalham por desflO'urar no juizo do povo a contro-
ver ia da confirmac:iio do Di po eleito, ao mesmo tempo que
yo inundando o Brazil de mi sional'io prote tantes .... , ) O
governo tem medo do que possam fazer os inimigos das insti
tuies monal'ehicas e o partido irreligionario fanatico .... ,
e candecido pelas suggestes estrangeiras. li A Concordata
que queria i\Iontezuma nenhuma relao tinha com a idas
de abuco; l\Iontezuma quel'ia, por exemplo, regulamentar os
dit'eitos do Papa quanto confil'mao dos Bispos, definir
quaes as doutl'inas que podiam ser consideradas impedimento
canonico pat'a o candidato; cI'eavam-se t/'es metl'opoles, tendo
os Metropolitanos entt'e outros o dil'eito de confil'mar os Bi pos
a que o Papa, passado um anno, recu asse a c nfil'luao, e
de prover O' beneficios nos apl'e cntado quando os Bi pos
S2US suffraganeo passados tl'e meze recusassem faz l-o. Os
Bispos ficavam autorizados a dispensaI' em todos os impedi-
mento', a providenciar em todos os casos reservados Santa
S; os Bispos eleitos teriam o pleno governo do Bispado antes
de serem confit'mados. Et'a uma Concot'data pde-se dizeI' para
a abolio do Primado do Summo Pontifice no Brazil, a pre-
texto de reconhecI-o. Ao mesmo tempo l\Iontezuma pedia a
nomeao de um Cal'deal Brazileiro, de um Auditor ele roda e
de um membl'O ela Congt'egao elo Concilio na seco ncal're-
gada da residencia dos Bispos. Nabuco desejava pelocontral'io,
uma soluo inspirada pelo mais pUl'O e pirito catholico.
Na sesso de 18 de Junho de 1870 abuco refere ao Senado
o que se deu corri esse pl'ojecto e tentati va de Concordata:
A reforma de 1855, que cu projectava, j referi ao Senado,
foi incluida em um projecto de Concorelata offereciclo Santa
S pelo distincto diplomata o SI'. Carvalho l\Iot'eira em 1858,
quando em misso especial na crte de Roma. Eu chamo obre
este ponto a atteno do nobre ministt'o dos Negocios Estran-
geiros. "' ou refel'i I' o que di ~ia este clistincto di plomata, como
o ~Ill"l THO DA JU 'TIA 319

resultado da refol'ma propo ta. Em 14 de Janeiro de 'lS9 dizia


elle: Quanto <1 materia da suppres o e refol'ma dos con-
ventos e a applicao de cus edificios e bens em favol' dos
seminarios - ( lue eu havia PI'OPOSto no meu pr'ojecto pre-
ci amente nos termo~ indicado no Relatorio da Ju tia de
1S;$ ; eram e te' os termos: Suppre, so dos conventos do
interiol' que no tiverem pelo menos quatl'o religiosos e dos
da capitaes que no ti\,el'em dez para celebl'ao e exercicio
do culto; devolu o do seus edificios e bens pal'a os semi-
nal'ios) - foi acolhida a ida em si me ma, mas no adop-
tando-se pal'a logo como regTa pam suppl'e. o cios conventos
a exigen ia de certo numel'O de religio 'os; semelhanto~ up-
pI'e fio e refol'ma ficam dependente da vi ita e infol'mao
que, de accordo com o governo Imperial, houvel' de dar o
lnt l'l1un io nomeado pal'a o Hio de Janeiro, i\Ionsenhol' Falci-
nelli.Quanto:convel':>odaspl'0pl'i dadcsmrae eo e cravo,
[l l'tencentes s Ordens religio as, em titulo da divicla pu-
lJlica , - (que igualmente pl'OpUZ n'aquelle meu pl'ojecto cle
Concol'data de accol'do com o Rclatorio de 18~O) - (, muito
in isti n'essa ida .... obl'e a vencia de e cravos abundal'am
todo, 10n enhor FelTaI'i, o CanIeal Anton lIi, a re peito da
impl'opriedade de po uil'em. escl'avo a Orden religiosas,
mo 'tl'al'am-se muito I'eceio o dos perigo a que ficavam ex-
postos os fundos capitae , cm que fos em convertidas tacs
I rOl)l'i cladcs em um momento de rise financeil'a, e por qual-
quel' olll'a eventualidade. Deixoume, porm, ainda o Cardeal
Antonelli a esperana de se t mar alguma medida no sentido
proposto, depois da infol'mao do lnte1'lluncio Falcinelli. ])
At a~ui as informaes de Cal'Val~lO Moreira. A nego-
ciao, senhol'es, accre centa Nabuco, foi declarada termi-
nada pela resoluo impel'ial de 4 de Dezembro de '1858, -
no gabineLe Olinda, poucos dias depois, no dia '12 de De-
zembl'o, abuco entl'ava outl'a vez para o ministerio, -
tomada sobl'e con ulta da seco de Justia e dos egocios
Estl'angeil'os, pOl'que na ConcOl'data se incluiam questes que
porventura implicavam com o no so Dil'eito Publico. Fica-
ram, porm, reservadas as questes da suppl'e so dos coo-
UM E TADISTA DO DlPFqro

ventos, as im como a convel' o do bens religio os em apo-


~lice da divida publica, porque dizia a S Romana, que estas
que tes no eram proprias de Concordata, mas deviam ser
.re olvidas por Breve, e o seriam confom1e as informaes
de Mon 'enhor Falcinelli A verdade que Monsenhor Falci-
nelli aqui esteve, mas no se tratou com elle; no se seguiu
c negocio; o governo esqueceu a tradies delle; de repente
appaI'ece, senhores, e ta medida bru ca, que qualificarei de
.revolucionada. II
E insistindo pela Concordata: enhores, no estado da
que to, pergu nto eu : no est o gov mo ad 'lri-::to a reatar
a negociao, que no foi repellida pela Santa S, mas apena
adiada? Podemos na diplomaCia, como todos os dias fazemo
na politica interioI', quebrar a solidmiedade moral, que deve
haver entl'e os ministerios que se succ dem? Em todos os
paizes civilisados, as questes di plomaticas mostram ao . olhos
cio mundo unidade e coherencia, qualquer que seja a politica
interior; pois bem, vamos dar e te exemplo de contradico:
um ministerio querendo, e pro ocando o accordo da anta
S para as l'efol'mas da Igl'eja, outl'O ministerio prescindindo
ebsse accordo, interrompendo, e cortando sse accol'do j
pendente.
ex Oadiamento, disse ellen'esse discurso, no nasceu daSanLa
S, nasceu de no termos dado seguim nto ao negocio. Elia
disse: Ahi vae lVIonsenhol' FalcineJli, tl'atae com elle. Veio
Monsenhor Falcinelli, mas o govel'llo pal'ece que, ignorando as
tradies, perdendo o fio deste negocio, no tratou delle. A
culpa no da Santa S, porm, nossa. l) Foi e 8a a razo por
que da reforma dos conventos ficou existindo a medida
pl'eparatoria da suspenso do noviciado, pendente a Concordata.
Perdeu-se o fio da negociao, as administraes posteriores
no cogitaram d'ella, e o pen amento do governo de '18i.i
ficou incompleto, reduzido prohibio de novas admisses nas
Ordens.
Nabuco tanto no era inimigo que sustentou sempre a
!nviolabilidade da propriedade d'essas Ordens. certo que
em '1855 elle queria a converso dos bens ruraes e escraV08
o MINI TRO DA JU TlA 331

dos Conventos em apolices da di,ida publica, dentro de dois


annos (sob pena de commisso a bem dos seminados), mas,
preciso repelir. queria a converso assentindo a Santa S.
Por isso, quando se pl'OpOZ em 1810 a convel'so forada dos
bens das Ol'dens reliO'iosas, fiel a suas idas de 1854-51, elle
a combateu vivamente, julgando o govemo mOl'almente obl'i-
gad , como acabamos de ver, a realal' a negociao interrom-
pida com a Santa (1).
TI'atando da PI'opI'iedade das Ordens, diz elle n'esse discurso
de 18O (18 de Junho) :
Para mim, senhol'es, o dil'eito de propriedade, seja de
quem fl', o dil'eito de cada um e de todos, deve seI' egual-
mente respeitado pelo I gisladol'. (O SI'. Dantas: o confunda
associaes relig-iosas com as outras associaes.) I o sei em
que se funda a distinco, se ha distinco, em favor das
associaes religiosas.
Essa propl'iedade adquil'ida pela associao. inviolavel
como a do individuo; essa propriedade reconhecida pela lei,
a lei no pde mais tirar sem effeito retroactivo, sem violao
do direito adquil'ido. E seno, senhol'es, eu vou alludir a um
facto que convence o vosso espirito : supponde que eu e
aquelles que pl'etendem, como eu pl'etendo, a emancipao
dos eSCl'a,os, nos soccorressemos a' essa distinco de proprie-
dade creada pela 10i nalul'al e propl'iedade Cl'eada pela lei
social; acceital'ieis essa dis'linco? Se eu dissesse: A proprie-
dade que tem pOI' objeclo o homem uma propriedade con-

(1) este n.rt. 18 da lei de 28 de Junho de 1870 a que mais longo


se allude : li Os predios rustico e urbanos, terl'enos e escravo.,
que as Ordens ~'ehgiosas pos uem sero convertidos no prazo de
dez annos em apolices intransferiveis da di,'ida publica interna.
NiLO se' comprehendem n'esla disposio os com'entos e depen-
dencias dos conventos em que residirem as communidades, nem
os escravos que as mesmas ordens libertarem sem clausula ou
com reserva de prestao de servios no excedente de cinco
annos e as escravas cujos filhos declararem que nascem livres,
A.s alienaes que se tm de fazer par~ realizao do disposto
n'este artigo sel'o alliviadas de metade do imposto de transmisso
de propriedade, KO 1704, - Lei de 28 de Junho de 1870.
I. 21
UM ESTADISTA DO IMPERlO

traria ao dil'eito natural e divino' a lei a creou, a lei a pdr.


destruiJ:'; acceiLarieis e ta doull'ina? No; mas havieis de
atroar co e tena com vosso clamores ....'.
Pois bem; fazei applicao da me ma ju tia, com mai I'
fora de razo, s OI'den religio as; a pl'Opriedade que el\as
adquil'iram, obra da lei, ou do direito natlll'al, corno qui-
zerdes, propriedade que no podeis deixar de re peitar.
E ainda:
Ronlem, o meu nobre amigo senador pela Ba!lia, alludiu
a uma p l'taria, no sei de que ministerio, con id rando as
Oruens I\~ligiosas como meras admini tradoras. Senhores, esta
qualificao vae muito alm da doutl'ina que predominou na
Constituinte Fl'anceza, que pela voz de Le Chapeliel' e l\Iir'a-
beau concedia que ellas eram usufl'uctuarias, posto que inl 1'-
prelasse mala usufl'Uclo : so meras administradoras. Mas,
administl'adol'as, isto c, mandatadas, de quem? Concebe-se
administrao sem a condio essencial de prestar conta? A
quem prestam contas essas Ordens? Que administl'ao es a
que gasta as suas rendas conforme o seu aJ,bitrio, e no d
contas seno a si mesma? Que administl'ao essa, que
vendendo os seu bens, posto que com as garantias da lei
de 1830, eUa que receue o preo dessas vendas, e dispe
tlclle como quer?
So usufructuarias. Concedo, mas dizei-me: Qual o
jUl'isconsullo que jmais disse que o usufl'ucto no constitue
uma propriedade, po to que limitada? Quem dis e que no
propriedad , posto que resoluvel, a pl'opl'edade dos herdeil'os
'I'avados de fideicommissos, ou substituies? Propriedatle
limitada, resoluvel, gravada, affectada, no deixa de ser PI'O-
priednd , e deve sei' re peilada.
Notae que a re. peito do usufructo das Ordens religiosas
I-la uma especialidade; que em vez de ser o usu(ru to dessas
Ordens, como o usufruclo na vida cotnmum, um USUfl'llClO
tempol'ario, c um USUfl'llCto pel'lJetuo, uma propriedade per-
petua, porque no usufl'ucto vo suecedendo as Ordens infini-
tamente, POI' meio dos seus titulares, ou administradores.
Mais direis: no so proprietm'ios, porque no podem
o MINISTl10 DA JUS1'IA 323

vender em licena e formalidades. Oh! enhore, quereis


assim contestaI' a propriedade do Estado, do municipio, dos
orpbos, po"que para sua venda, ou alienao, o precisas
formalidades? ])
E com o julgassem incoherente por ter querido a con-
verso, dir elle em outro discurso:
A contl'adico que o nobre senador me attribuiu, eu a
no ejo. Eu disse que a propriedade da Igl'eja em inviolaycl,
como a do indi iduo, isto , a propriedade adquirida com dis-
pensa das leis da amortisao; mas que es a pl'oprieelade
podia ser resolvida, ou pela suppres o dos com'entos perten-
cendo ella ento ao E tado pelo seu direito eminente, ou
podia sen'esol vida tmn formada, ou applicada a outro des-
tino com o accordo da anta : ni to que est a contl'a-
dico? Se a p,'op"iet.lacl da Igreja inviolav I contraelico
que o Papa possa autol'isar a ua alienao'? .. Para mim
no ba duviela ne' e pollel' da Santa S, porque o Chefe da
Jgl'eja, e a representa; Ue o competente pam'ol\'cl' o \'in-
culo ele' a propl'i dade : Et quodcunque solveritis super ler-
mm et e/'U sO{lllllll ln creIo. A verdade que na ConcOl'data
de '1801, que legitimou a alienaes dos bens da Igl' .ia,
decretadas pela Conveno FI'aneeza, flgul'a como parte lcgi-
til1111 o Papa; foi elle que em nome da Igl'eja fez e sa ConcOl'-
data.
Sua convico da necc~sielade do accordo com a Santa S
era to viva que no s vota contra a medida propo ta pai'
yiolar esse pensament como recu a, na qualidade ele con. e-
Illeiro de Estado, r gulamcntar o art. 18 da lei de 28 eI Junho
ele '1870, alleganelo a opinio systematica que'manifestal'a no
Senado.
A converso, como elle a quel'ia no gabinete Paran, era de
accordo com as idas do episcopado. O arceb: po ela Bahia,
D. Romualdo, depois l\Iarquez de Santa-Cruz, ouvido por
Nabuco elizia (of(jeio ele 18 de Maio de 1851,) : Eu' e tOll
persuadido que igual venda ou alienao das fazenda ou pl'e-
dias rustieos das Ordens religiosas, convertendo-se em apo-
lices o seu valaI', seria pI'efel'i el ao actual systema de admi-
3~4 UM ESTADISTA DO IMPEl1l0

nistrao exercidl pelos religiosos, no porque estes, s~ndo


bem escolhidos, no tenham a necessaJ'ia sufficencia e capa-
cidade para bem reger ou administl'ar os seus bens; mas
porque, separados do claustro e distrahidos de suas obdga-
es religiosas, elles perdem ordinariamente o respeito e os
habitos da regularidade monastica e no "oltam, sem grande
repugnancia e tedio, ao silencio e repouso da cella que
haviam deixado. Este empl'ego de religiosos, pI'ncipalmcnte
moos, em taes administraes indubitavelmente uma das
causas da decadencia e relaxao da di ciplina regular.
Os documentos citados no deixaro duvida sobl'c a inten-
o de Nabuco : sua medida era a de um estadista catholico,
inspirado no desejo de levantar as instituies da Igreja, e no
no de derrocai-as, Em poca posterior, cm '1813, elle pode
ter dado motivo de queixa Igreja, pareccndo, elle, nm
fervente catholico, o que no era, um adversa rio d'ella, em
tempo consideraremos esta sua attitude; em 1855, pOl'm,
ministro da Justia, a sua pl'eoccupao , exclusivamente,
restaurai' o prestigio, as fOI'.as vivas da religio no seio da
sociedade que fallecia mingua d' lla, mal que elle tantas
vezes apontou. Para provai-o basta recordai' que foi elle o
autor do decreto de 28 de l\Iaro de 1851, que firmou em
nossa legislao o principio de que no havia recurso das
suspenses ou interdices que os Bispos extra-judicialmente
ou ex-infol'mata conscielltia impuzessem aos clerigos paJ'a
sua emenda e cOl'reco, Esse decI'eto foi sem contestao
alguma o facto de todos o mais importante em nossa historia
eeclesiastica para o governo da Igreja pelos seus Prelados.
Sem elle o cleI'O secular teria cahido no mesmo grau de anar-
chia que o religioso. A seguinte carta do Bispo de S. Paulo
mostra bem que no era um advcrsario da IgTeja o ministro
que teve a coragem dc con olidar o que se chamou, o poder
autocratico dos Bispos.
11m. Exm. Sr. - Uma voz imperativa, filha do meu
re~onhecimento, me impelle a dil'igir a V. Ex. esta carta em
CJ ue, grato a to grande bem, vou como posso agl'adecer o
decreto de 28 de Maro p. p. sobre os Recursos Cor6a.
o :'I11:'\! THO DA JUSTIA 825

Todos os bispos recebem o bem, mas talvez fosse eu com


meus irmo acenfotes que dsse occa io, por i so sou o
primeiro obrigado. Eu sei, Exm. Sr., que S. 1\1. a fonte,
mas no ei se convil'ia dil'igir-me a ElIa dil'ectamente. Eu sei
que o Conselho de E tado tem paI'te em to neces ario de-
creto, mas no sei o meio de lhe manifestar o meu reconhe-
cimento. To assim com V. Ex., que no s tem tomado
tanto interes. e nos negocios da Igreja, e por i so no mesmo
decreto, como, sendo nosso ministro, nos d caminho franco
pai a levarmos no as neces idades e nossos agl'adecimentos.
Digne-se pois V. Ex. acceilar este testemunho de minha cor-
dial gratido. V. Ex. no tema que eu abuse. Assim meus
Irmo me comprehcndam. - 6 de Abril de 187. -
+ ANTONIO,_Bispo de 8. Paulo. n
Com cffeito, uspendendo de todas as ordens por tempo
indefinido um dos sacel'dote de. ua diocese independente-
mente de lhe fOl'mar processo e s e.'lJ-l1fol'l1wta conscientia,
o Bispo de . Paulo tinha dado 10gaI' questo de que se ori-
ginou o de Teto. O Conselho de Estado pleno foi ouvido.
Olinda pen a que a leoj la\o do paiz que os recursos esto
admittidos quando ha abu o, ainda mesmo em materia eccle-
siastica. Do me mo modo opinam Albuquerque, Sapucahy,
Joo Paulo, Jequitinhonha, em nome do direito de defesa que
a condemnal;o ex-nfol'Jnata conscienlia exclue, anteriol' fJ
Constituio pelas Ordenaes do R ino, e Abaet. D'essa
frma o Conselho de Estado (19 de Junho de 1806) dividia-se
n que to da admisso do recurso por seis votos contra seis.
O decI'eto de 28 de l\1al'o de 1.87 cortou de um golpe a
questo que o Conselho de Estado no resolvera.
E te decreto, disse o Visconde de Bom-Retiro em seu
pal'ecel' no Conselho de Estado sobre o proce 'sO do Bispo
D. Frei Vital, foi redigido com tanto e pirito de ju tia que o
senador Candido Mendes de Almeida, embora muito opposto
ao recUI'So COI'a, em seu 1htlado de Dil'eito Publico Eccle-
siastico B}'azileil'o, diz pago 1282 que, se no fra o con-
sidel'ar o principio em que se baseia o dito decI'eto contrario
libel'dade da Igreja, no deixaria de confessai' que as provi~
326 Ur-I ESTA[)l~TA DO IMPERlO

dencias neHe eXaI'ada fazem honra ao legi lador seculal',


por tel' mostrado alguma equidade e certo cl' ejo de dar fOI'~a
e /lJ'etigio autol'icladc episcopal, seja excluindo os l'ecl1l'SOS
nos casos de su I enso e intel'dicto ex-infol'J1~ala conscienlia,
seja permittindo tambem o remedio do recurso contl'a as
invases elas autol'idade:; tempomes, quando pl'etendam USUI'-
paI' a jUl'isclico espiljtual, principio que a antiga legislao
nunca autol'izou pois que, como e v do decI'eto de '7 de
Maio ele '1699, dos tl'ibunaes regio' no se admittia re-
CUJ'so (1).
At o fim elle continua a ser o campeo d'esse cu decreto
de 18~'7, fm tl'ando todas a tentativas feitas pal'a re\'ogar o
al't. 2. Em 186'7 sel' elle o relator das commis es elo
Senado que rejeitam o projecto da Camal'a elos Deputaclos
revogando aquelle al,tigo, em que estava a fOI' ,a do decI'eto e
a chave da disciplina ecele iastica. s Commi ses final-
mente ponde'am, escI'eve elle, que o e fOl'o com que e com-
bate essa jl1l'i elico di ciplinar conferilla aos Di po pat'a
regenerao do seu clero, um anac.hronismo hoje que a
Igreja j n tem e no poder ter o podeI" os pI'ivilegios, a
I'iquezas temporaes, as vocaes e a inDu ncia politica que
ti"el'a outl,'ora nos. seculos a que pel'tence a legi fao 'itada:
hoje o poder da Igl'eja ' e piritual e este poder s inOue
nas consciencias. O clil'eito de inspeco do Estado sobl'e a
Igreja no pde ir at o ponto de violal' a . ua independ ncia,
)'omper o nexo de suas in. tituie , perturbar as relaes do
clel'o com os seus chefes.
O pensamento que inspil'ou o avi o de '19 de Maio de 1855
est. c:spl'esso em um dos Relatorios de Nubuco na plll'ilse que
Pio XI J'f\t.eve ele memoria e repetia mais turclt: a Carvalho

il) Bam Rt:lliro ('OIlIII1Ua assim: Tambem o Rev. Bispo do


Rio de Janeil'o, o fi111ccido Conde de 11'aj, declarou no sclJolion
do 1430 de cus Elementos de Direilo Ecclesiastico, lue o
Decl'et.o de 1 '57 contm uma especie noca que um favor a~s
Bispos emlJuanto os livra da importunidade e dissabor de I1WLS
de um a[j!Jl'Cwo Cora quando eUes suspendem os c/erigo pro-
cedendo cx-infol'mata conscicnt.ia.. o
o !III:-.II TRO DA.' TIA 327

l\Iol'cira : E pr ci o um 1Ill1l'0 de bronze que epaI'e o clero


actual do clel'o futuro. Para o elero secular esse muro de
bronze el'a o internato. Era indi pen avel que o seminal'in
fos e uma e 'cola donde sahis em I ad,'e perfeito. Para isso
abuco, resi tindo solieitae de um falo patl'iotismo,
a que hoje e d o nome de nativi mo, nio heSitava em con'-
fh1l' a dil'ec~o do no seminarios a padl'e estl'angeit'o
que os pudessem el1'eetivamente organizai' e daI'-lhes o
CUI'acter erdadeiro de casa de formao religio a. Entenuo,
e pela tCI'ceil'a vez vo digo, reI etia elle no eu Relatorio
de 1856, que o maior ben fieio que podeis fazeI' s gel'aes
futueas a educao do el 1'0, mas esta no po si\-el seno
por meio de seminal'ios, e e te no con guiro seu fins
. eno com o internato mais rigol'o o, pal'a o C{ual a principal
condi o eja a mai tema idade. S-m e le internato, ser!1
esle mUl'O de bl'Onze que separe o lm'o actual do clero
futuro, a reo'enera sel' uma ida v, a YU 'ao do sacer-
docio conlinual' a S:l' a hypocrisia, um calculo, um meio de
viua. D'estas I' l1exe r 'ulta a neces i lade da ereao d
pequeno eminarios, como principal habilitao pam o sa er-
docio. A realizao d'esta grande rel'ol'ma, que marcar uma
poca distincta no nosso paiz depende e encialmente da
d il'ec~::io. A quem devel'emo encaI'regal-a? Achar'emos en tl'e
n funuadores para esta instituio? CeJ'to vos no cau al'
e tl'unheza o arbitl'io de confiar e a direco ao Padres Laza
ri tas, ou da i\li o ... Senti como eu into, que nenhuma
I

injuria faz mos ao no so eleI' quando reconhecemo uma


vCl'uade que temo deante dos .olhos. IIa entre ns c1crigo
que criam pOl' ua illustrao e santidade capaze d'e, ta
mis ' gloriosa, mas esses, alem de no terem os habitos e a
peatica essenciaes e sa direco e en ino, so em pequeno
numero e destinados para outl'a fun e ao'i'ada impor-
lantes, impropl'ias do estl'angeiro pela relaes politicas. Em
toda a pal'te o en ino e a pl'elica fm'am sempre accessivei ao
e tl'angeil'o, pOl'que o Evangelho univer aI e a sua diffu o
nno eleve enconlrar limite ou I'estl'ico em todo o orbe.
O sem inario de l\Iarianna j estava sob a direco dos
mI r:STADI 'TA DO DIPERIO

padres da Congl'egao e o Bispo Dom Antonio mostrava-se


muito satisfeito (I). POI' sua vez o Bispo de S. Paulo escrevia
a Nabuco (30 de Outubro de 1855) :
Haver seminados smente, sem um bom Regulamento,
sem mestl'es e directol' dedicados pOl' motivo de religio,
uma gangl'ena e no um remedia; ha muitos seminarios no
Brazil, mas que bens tm operado? Elles tm dado a sciencia,
que sem a piedade maior mal que bem. V. Ex. tem muita e
muita penetl'ao e vel' que tenho razo; nunca meL'cenados
fazem grandes coi as. ])
A refol'ma dos seminarios ligava-se cl'eao de Facul-
dades Theologicas. Eusebio j tinha pensado em fundar Facul-
dades de theologia, porm, nos proprios seminarios, o que
era reduzir, estreitar, o plano d'essas Faculdades. Em IBM
as Camaras votaram para a creao a verba de 15:000$000.
Era dizer ao ministl'o que procurasse levantaI' l'eCUI'SOS de
outro modo. O menor calculo de despezas era de 55:000$000.
Infelizmente surgia uma questo mais gI'ave : como oI'ga-
nizar o ensino n'essas Faculdades? Devia elle sei' entregue
Igreja ou ficar nas mos da autol'idade temporal?
Foi a primeiI'a questo que abuco teve que resolver. Para
isso, submettendo a certo r.umero de pessoas os estatutos que
organizaI'a para as Faculdades, formulava-lhes o seguinte
questionario : LO A instituio das Faculdades Theologicas
depenue da interveno do poder espiritual? 2 Esta inter-
veno no fica satisfeita e preenchida sendo os Bispos os
directoI'es dessas Faculdades? 3 Sendo essencial a intel'-
veno de S. Santidade e no bastante a dos Bispos, pde ella
se.1' posterior instituio das Faculdades? !~O E contra os
eanom,:) recebidos no ImpeI'io a fuso das Faculdades e semi-

(1) Tenllo o llJeu GI'ande Seminario entl'egue aos Lazaristas da


Serra do Caraad'este Bispado e provincia que o regem optima-
mente. " (17 de Fevereil'O de 1855)... li A V. Ex., como to in.te-
l'essado no melhol'amento do clero, rogo, e torno a rogar que se
digne de me obter este muito gl'ande favor que eu tenho pelo
maior possivel .. ; o de conseguil' pela Legao em Pariz que vies-
sem mais seis padres Lazaristas para \'egel'ell1 o eminario Menol'.
o :mNlSTRO DA JUSTIA s:u
narios? 5 No ficam respeitados os canones e conciliados e
combinados com a lei, sendo as Faculdades instituidas em
separado, mas no mesmo edificio, sem prejuizo do intel'Oato,
disciplina e economia dos mesmos seminarios e do poder e
direco dos Bi pos? O projecto de estatutus comeava
assim: Art. 1.0 O Governo do Brazil, de acem'do com a
Santa S, tem instituido duas Faculdades com o fim de
conferir o grau de doutor nas sciencias theologicas )).
O Bispos consideravam indispensavel a interveno do
Poder F.cclesiastico e oppunham-se ti fuso. Por lettra do
Imperador, acham-se margen do questionario de abuco as
seguintes notas. Junto primeira questo: Sim, Bispos
do Par e Rio e Arcebispo da Bahia, o do Maranho nada
diz ; junto terceil'a : O do Pcll' diz clal'amente qe deve
ser prvia )); junto quarta : S o do Maranho que a
~dmitte sem maior repugnancia, o do Rio no a quer de
modo algum ; junto quinta: No discutem os do Par,
Maranho e l'cebispo da Bahia )). Depois do questionaria,
Nabuco accrescentava :
O bispos consid ravam necessaria a interveno do
Poder Ecclesiastico - 1, por estar confiada a elles Bispos a
misso de ensinar a sciencia da salvao; 2, pelo cal'acter
mixto da instituio; 3, pOl'que em todos os tempos assim se
pl'aticou. A fuso oppem-se: 1, pOl' ser o seminario uma
instituio ml'amente ecclesiastica, confiada exclusivamente
aos Bispos pelo Concilio de Trento, e a Faculdade ser commllm
ao secular e ao sacerdote e estar sujeita aco temporal;
2, porque o ensino dessas FaG!1ldades superior e necessario
s6mente aos que aspiram aos graus mais elevados da hierar-
chia ecclesiastica no accessivel a todos, en tretan to que
convm mantel' os seminarios para a habilitao dos curas
d'alma.
Entre as pessoas consultadas estavam Gomes cl"e Campos,
procurador da Cora, e Olinda. Os pal'eceres d'estes so duas
c6pias fieis do antigo espiri~o univel'sitario. O de Gomes de
Campos de um l'~galista e absolutista, cioso dos direitos da
Cora, que pl'ecedem a Constitui0 e se fundam para elle
830 mr E 'TAor 'TA DO DIPEP..TO

na sua propria antiguidade, reivinLlicando-os com o me mo


ardor contl'a o Iiberal i mo e coo tm a pretene uI tramon
tflna , vindas da Bahia li - allus[1O ao Al'cebi po, lue sup-
pe testa do movimento invasol',
Como da ou tras veze', o paI'ecer do Baro ele Campo
Grande urna espe ie de satyra politica, elle nunca se c nci-
liou inteil'amente, seno com a Independen ia, pelo menos
com a Constituio. O antigo regimen colonial no con 0.l'\'OU
entl'e ns um adhel'ente mais intelligente nem mui incon o
lavei, e pod.ia gabar- 'e delle. (1)
A opinio de Gomes de Campo a de um juri coa ulto
POl'tuo'uez antigo, isto , real i ta e regalista. Tem queixas
profundas do modo pOI'que o elero recebeu o Sete de Abl'il; a
pl'imeira queixa de se ter supprimido da classe ti s fel'iado
o dia de S. Pecll'o de Alcantara. Immolal'a-se no Campo ela
HonJ'a aquelle a quem devemos o no estarmos hoj fazendo
a mesma figura que a America IIespanhola, e o hoje os
mesmos qu~ se pl'ocuram mais distinguil' na projectada idu
de uma estatua, no no campo da Acclamao, ma na praa
da Constituio; no pOl' "Voto e cu ta da nao, ma por
esmolas meneligadds aos devoto ; no por obl'a Il'iYativa e
exclu ivamente brazileira, mas por empreitada po ta em leilo
na Europa. PI'oh dolo?'! Da estatoa ,de Pedro I s Faculdad s
de Theologia a volta era com pl'ida; elle, porm, gostava de
parar em caminho. cc Seguiu-se logo a propaganda contra o
celibato clerical. No foi o philosophi mo que i nspirou este
pl'otestantismo : foi um luzeil'o do nos o sacerdocio 1). Agora
esta cal'icatma de Feij : cc ol'thodoxo, santo, levado pelas
melhores intenes politicas e pias, to propugnador das
libel'dade do 'povo, como dantes fra da sal ao eterna do
povo de It. Pelos seus talentos e vil'tudes OCCUPOll os mais
eminente CaI'gos do EstaLlo, foi mini tl'O de E 'tado, Regente
do Imperio, senador do Impel'io, e aunai nomead.o Bispo de
uma dioce e. Foi e te insigne sacel'dote aqllelle mesmo que

:1) VOl' anle~, Obl'C Gome de Campos, pago 18G e seg" o seu
-pal'eccl' cOllll'a a l'erOl'l11a judicial'ia.
o !lfrNISTRO DA JUSTIA :J31

agastado, com ardor patl'iotico e catholico, porque o Santo


Padre negou a confirmao de um Bispo por elle nomeado e
Ide sua nova seita, no t.eve o menor embarao em propr ao
'Gorpo Legislativo, indil'ectamente sim, mas muito expressa e
c1al'amente, a convocao de um Concilio Nacional, visto que,
dizia elle, Sua Santidade obedecia sua consciencict. Por for-
tuna o Senado Brazileil'o ainda,contava no seu gremio uma
I'espeitavel pluralidade de vares, venladeit'os senadores da
primitiva creao, e o padre contl'al'iado em sua. optimas in-
tenes por este e outl'O revezes teve de retirar-se sem estrtl-
pito: o melhor de todo os seus actos. E poderia talvez legar
aos seus apaixonados a mais pura memoria, se o seu mau
raelo no o levasse por ulLimo ao aca mpamento de Sorocaba,
coberto de suor e de lama, como aqui o pintaram os jorna-
li tas, capitaneando uma quadrilha de Padres Vigal'ios.
Tambem e te pel'fl de Mont'Alverne : Por este mesmo
tempo on pouco antes florescia e conqui tava indisputavel
reputao ele sabio, eloquente orador e patriota, acenimo
defensol' las liberdades temporaes do povo um Franciscano,
que, tend; professado pobreza, ol~ediencia e clau ura, fazia o
ouro sacl'ifi ia de seus votos para dar expanso e livre exel'"
cicio s nlais hel'oicas vil,tudes que nutria e que o impelliam a
Ludo abandonar pelo bem do povo contra o e.xcommungaclo
fundador do Imperio, contl'a quem fulminava toda as iras,
como o causador de todos os male da patria, no numel'o dos
luaes occupava o pl'imeiro logar a imputaco de no havei'
feito caso algum do prgador, nem do seu merit cientifico.
A 'sevel'ou a chronica do tempo que pal'a alcanai' a mitl'a
pl'Omettida deixava o convento e com o habito . Franci co
e:'u o primeiro ol'adol' em uma sociedade Jacobinica que aqui
no Pao Munici[ aI celebl'ava publ icamente as suas repetidas
seSS0S la fl'anaise, e ali, as im como nos pulpitos sa-
gl'ados, avantajava-se em concitai' a multido, a titulo de res-
tamadol'es caramuns, conl.:'a todos os homens fieis s leis e
aos seus deveres, QlW1'll'Jn pa1's magna fui. Foi, porm, infeliz
o Frade em seus calculas. Accusado de infiel, por ter tido a
lem bl'[lna de fazel'-se apologista dos Andradas, incurso 110
Ui"1 E...:TADlSTA no I 1PERJO

mesmo anathema de re taUl'adol', perdeu a graa e os servios


feitos e teve de retirar-se ao claustro sem mitl'a e sem
baculo.
-o esquece to pouco a famosa di puta da sagl'ao im-
perial.
Houve por algum tempo tl'eguas ou indiflerena nos ec-
desiasticos, porm no anno de '18M veiu de pCl'lar a cUl'iosi-
elade publica um dl'ama, budesco ao pl'ineipio, mas que podel'ia
findar serio, se no interviesse um val'o por tantos titulos
f'espeitaveI. FaIlo da lueta entl'e dois Prelados, empenhado
ambos na com petencia ou pl'efel'encia para a celebrao ela
'COroao e sagmo Impel'iaI. Nenhum deIles julgou neces-
saria a intel'venl;o Pontificia. (E engano de Gomes de
Campos. O Bispo do Rio intel'poz recurso para a Santa S,
<:omo se v na lIfemol'ia Apologelica do AI'cebispo da Bahia em
resposta ao Opllscillo elo Bispo-Conde CapeIlo-ml'). Um,
forte, on vacilIante em seu direito, entendeu dever descanal'
neIle; o outro, mais dextl'o e expedito houve por melhor e
mais curto caminho apadrinhar- e influencia palaciana, bem
inteirado de quanto valera esse expediente para pr a mitra
na cabea sem o escrupulo lle simonia, e obteve sem custo,
em precesso summal'issimo, o desejado triul11pho por sentena
<tue logo passou em julgado e a que llebalde pretendeu oppr
embargos o seu contendor, depois de lhe lanar o cmnp?'Cl-se,
implorando por levianos conselhos o pod roso auxilio do
Cabido para uma formal resisteneia que feliz1l1ent~ abortou.
No mais Gomes de Campos um defensor exaltado das
prerogativas da Cora, e dil-o sem rebuo a Nabueo; para eIle
VilIela Tavare pl'eston um assignalado servio combatendo
as idas e pretenes ultramontanas levantadas na Bahia, e .
das quaes re ultam esses novos projectos (os projectos de
abuco) de seminaI'ios franeezes e de Faculdades theologicas
sujeitas CUl'ia Romana. Os nossos Bispos no deviam tel'
sido excluidos da Repl'esentao Nacional, onde em outro
tempo tinham assento. E o proprio elel'o que e est perdendo
<:om essa lisonja CUI'ia, para subi 1', como antes perdeu-se,
lisongeando as paixes populaI'es. :D
o MINlclTRO DA. JUSTIA

Observador attento, de interessado e de apaixonado sobre


1'\'5coisas do Brazil, como elle se caracteriza a si mesmo.
Ei uma de suas obsel'vaes : Orfel'ece-se ntre outros um
phenomeno que eu presumo poder explicar, ma que no
me recordo tel' occorrido nas gl'andes ou pequenas revolu-
es dos outros POyos. Consiste em que entre ns os mais
implacaveis inimigo , os inexoraveis perseguidores de cada
uma das classes publicas da sociedade tm surgido das
me mas classes a que tm pertencido. Assim achamos que a
clas e ecclesiastica tem sido destruida pelos propl'ios eccIe-
sia ticos, a militar pelos militares ... o que direi da magi tra-
tura? Do seu proprio gremio tm manado os seus mai
cruentos assassinos. Se esta ultima allu o tivesse sido
feita em 1857 poder-se-hia entendp.l-a como dirigida contra
o propl'io ministl'o da Justia; lanc:ando-a em 1855, elle podia
visar mais aHo, o Pr sidente do Conselho, que tinha apo-
sentado magi trados. .
Gomes de Campos refere-se ao pl'ecioso escl'i1!to de mo de
mestl'e do seu velho amigo o Mal'quez de Olinda. O parecer
deste , com eITeito, um extenso trabalho escripto no smente
ex-pl'ofesso, mas vi ivelmente com interesse e aI'dor. Olinda
era um canonista, e o trao pl'incipal da sua intelligencia poli-
tica o distingllo theologico. es e um formidavel ataque,
do ponto de vista do direito temporal, contra a situao em
que abuco se collocra.
O questionario expressava uma duvida; e sa duvida, tor-
nada publi 'a pelo Relatol'io, era uma concesso.
( A duvida que V. Ex. suscita, dizia o l\Iarquez, encerra
em si uma concesso immensa, ella ha de ser devidamente
apreciada e altamente applaudida. E pela maneir'a solemne por
que V. Ex. a pI'oclamou, pde V. Ex. fiar cel'to de que ha de
ser interpretada como a vel'dadeira expresso, debaixo de
uma frmula honesta, da intima convico em que est, e, o
que peor, em que est o proprio governo Imperial, de que
ao Poder Temporal fallece o direi to de estatuir por si s sobre
aquelIas materias. E como sob o imperio destas idas que
vai ser diligenciada a Concordata que V. Ex. annuncia, na
mI ESTADI TA no DIPERlO

qual, segundo espel'o,' ho de scr hem d'finida. as rclaes


entre a Igreja e o Estado, no posso deixar dc manifestar
meus tristes pl'esentimentos sobre es as ncgociaes. Exm., o
governo que duvida dos seus direito, pOl' i SO Lem perdido
toda a fora pam os susten tal' .
Eu no esperava, contina elle, mostrando bem a sua
impaciencia, que hoje depois de tantos actos e to termi-
nantes dos Soberanos de POl'tugal, os quaes legisla am sobre
os estudos thcologicos scm o concl1l'SO ncm interveno do
Poder espil'itual, se puzesse em duvida, sendo o direito pu-
blico ecclesiastico do Brazil o me mo que o de POl'tugal, se a
Cora Brazileira goza dos mesmos dil'eitos que a POI'tugucza
to livremente exerceu e est excI'ccndo na ol'ganizaiio
daquelles estudos. Na carta l'~gia de 28 de Agosto de '1772,
que reformou os estudos da nivel' iLlade de Coimbl'a, com-
pre11endido' os da Faculdade de Theologia, diz E1-H i que
na Temporalidadc no reconhece nenhum superior D, ..
Olinda toma a dcfesa do philosophismo : Niio fui o phi-
losophismo que seculaI'isou as nivel'sidades l)

Todo o pareccr caracteri 'Uco. Olinda um rt:galista, mas,


ao contmrio de Gomes dc Campos, tambem um c lOonista
e tem tanto ciume das pI'crogativas da COl'a, como dos dircitos
que reconhece Igreja. J o vimos quanto aos casamento
mixtos, quer'ndo que nadase fizesse scno com a illter\'('n~o
da Santa S, no a lmiltindo quc reconhecessem os casamen los
de outras religies, porquc isso equivalia a dar-lhes cullo
publico; o seu ideal a cstl'cila unio da' Igrcja e do Estado,
unio que nada estl'cmc~a intel'iol'll1entc, muito menos aos
olhos do publico, fundada no respeilo rcciproco dos dircitos
e obrigac, de cada um, com tanto que no se sacrifique
uma pal'cella dos antigos dil'eitos da Cora. l'abuco j uma
compleio differente ; no foi cducado cm Coimbra, no tcm
as ida8 Portuguczas de um regalismo extremo, sem religio
ou supel'ior religio; no um canonista de escola. Para
elle a l'elig'io urna necessidade social de primeira ordem e
preciso forUfit:al-a, cnraizal-a o mais profundamente ps-
o MINI 'TIW DA J SnA 3~5

si,'el no paiz, e palhal' por todo elle a melhor emente ca-


tholiea.
Julgando-o nessa poca e sem relao . ua attitude na
questo 1'eli(jiosa de i873, e tudalla e'm outra paI'te desta
obra, p6de-s defini!' a im o que elle foi como mini tro dos
culto : regaI i ta, com os Outl'O jUI'iscon ultos da sua poca,
mas um regali ta I'eligioso, ainda mais, preoccupado de forti-
ficaI' a religio; elle no faz que to de dil'eitos da Cora em
i mesmos, mas s6 da oeca io ao motivo pOl'que esses di-
reito "o exercidos: se no intel'esse da religio, como elle
o entende, elle os rei indica; se sem obje to pratico, no
os faz "aleI" no o invoca. Emquanto a Santa 'se mo tra
nci!iatlol'u, do inter . se do E tado mo trar- e conde cen-
dente.
As opi nies de Olinda fOI'am toda su ten tadas na Camam
por Pl~reil'a da Sih'a, quasi com os mI1S1110. ll'gumentos. l\"a-
buco descobriu a inspil'ac;o e disse que ia responder tambcm
ao apien lissimo v{t}'o cuja infallibilidade no }eco/lhecia.
era ironi amente que abuco ehamaya de apientis-
imo a Olinda. O mal'quez d Olinda, dir elle anrio depois
no Con elho de Estado, cra um dos nossos melhores pu-
blici, tas ... Alguns tl'eehos d'esse discurso revelam com
a maiol' preci .. o o ponto tle vi ta de Nabuco : seu regali mo
POI' a im dizei' profi ional, mas ao mesmo tempo :.ue. "r~di
leco religio a.
PI'j meiro, . te golpe na ida de Faculdades Theologieas
independentes e leigas: Podeis subordinar ao regimen uni-
I' itario todas as sciencias physieas e morae , porque a ph i-

losophia acompanha o I rogresso; mas subor linar ao me. mo


regimen do progl'esso e da razo a theologia, que a revela ,
a revelao que a f, admittir sobre elIa a contl'over 'ia e
a duvida .
Mais uma vez a affil'mao de que a primeira da poiiticas
para U111 estado mOI'al como o do nos'o paiz, de 'envolver e
fOl'tinear a religio: Creio que no aventuro uma propo-
sio temeraria dizendo que hoje temos neces.:idade das idas
religiosas como um correctivo da eorrup<:o que lavra, e felizes
UM E TADI 'TA DO IMPEHIO

seramos se chegassemos a uma poca em que as idas reli-


giosas carecessem de correcti vo .
As Faculdades Theologicas de nada serviriam se o ensino
no tivesse o cunho da autoridade: Tenho como certeza
que a doutrina nada vale sem a autoridade, que a doutrina
vacilla sem a autol'idade; ninguem aCI'edita na doutrina que
no tem por i a prof} so e a competencia; ninguem acredita
na doutrina sagrada que no nsinada sob a direco da
Igrp-ja, que recebeu esta misso de Jesus-Chri to !l.
No , infelizmente, do podei' do clero que nos devemos
acautelar; esse poder tinha pl'imeiro que existir para podcr
amcaal' a sociedade civil: Quem visse os receio's do nobl'e
deputado pcnsaria ,que o clero entl'c ns, dc repente tOI'naelo
poderoso, tinha concebido a preteno de dil'igil' e dominar o
ensino publico. No se tl'ata disto: trata-se simplesmente dc
uma quest9 de concurrencia, de uma questo dc interveno
no ensino religioso, no ensino theologico. o , por con-
sequencia, uma questo de dominao do ensino ou exclusi-
vi mo do cle1'0 , como cssas que tm havjdo na Frana e em
outros lagares, onde o clero podel'Oso, onde a influencia
politica do clero pde ser funesta >l.

Sobre o direito exclusivo do Est.ado na questo do ensino,


invocado por Oli nela, em face dos precedentes c do Padroad
diz elle : O nobre deputado invocou a Igreja Lusitana; mas,
senhores, d'ahi no tiramos certeza, porque essa Igreja no
como a Gallicana que tem os seus direitos definidos, fil'-
mados por meio de Concordatas. o, a Igreja LusitUl.J
funda-se principalmente no Padroado, e o Padroallo uma
concesso, uma faculdade da Santa S. O nobre deputado
apenas citou fucto ; o que se fez devemos fazCl" eis ahi o
argumento do nohl'c; deputado.
Assim, senhores, eu no vim a saber, pelo que o nobre
deputado disse, seno o quej sabia, equeareforma da Uni-
YCI'sidade de Coimbl'u foi feita sem a interveno da Santa
S. Eu no julgo improcedente e te facto, mas o que digo
que este facto isolado no era bastante para resal ver l
o 1\IL,1 TR DA JUSTIA 337

questo. Eu entendo, senhores, que o Estado pde instituir


as Faculdades Theologicas sem interveno da Igreja, que a
Igl'eja pde por igual instituil-as; entendo que esse direito
reciproco, ou cumulativo, que compete ao Estado e que
compete tambem Igreja. Compete- ao Estado, porque o
E tado tem interesse na diITuso tIa f, tem interesse na esta-
I ilidade da f, tem intere e na formao dos acerdotes que
se destinam aos alto gros da geraIChia eccle ia tica; com-
pele Igreja, porque e te direito lhe foi dado pela palavra de
Deus. Entendo, purm', (rUe a direco do en 'iDO que o Estado
in titue no pde pre:cindir da interveno da Igl'eja, .para
que este eD ino tenha autoridade, para que tenha unidade e
para que tenha f. Entendo tambem que o ensino que a Igreja
in ti Luir e t sujeito in peco do Estado, porque o Estado
tem inauferiv 1 direito de inspeccionar os actos da Igreja,
afim de que no sejam pr judiciaes ao Estado.
Onde a Igreja e o E tado esto confundido, faeil pre-
venil' pela unidade o scepticismo; onde a Igl'eja e o Estado
so Poderes independentes como entre ns, cada um ensinando
sem intel'v'no do outru, a duvida ha de ir, e em vo
sujeitat'ieis o ensino I'eligioso Univel'sitIade, no lograrieis
vosso intento. A Igeeja, cuja voz muito poderosa, clamaria
todos os dias contra o esbulho de ua misso divim e espe-'
eial; levantal'a todos os dias duvidas sobl'e a legitimidade
do en ina uni el'sital'io; a Univer idade por seu lado deveria
I'eagir contra a Igreja, e dahi? Dahi o scepticismo, mas o
scepticismo mata a f e o Estado trm necessidade da f como
uma base de estabilidade, como fundamento da religio que
o pl'ineipal elemento, o moveI poderoso da eivilisao e da
moral.
o: E no ha necessidade nenhuma de estabelecer esta riva-
lidade entre a Igreja e o Estado. A Igreja tem sido at hoje
auxiliar do Estado, ella no revela preteno alguma. Rontem
disse muito bem um nobre deputado pela Bahia, meu amigo:
No po sivel que haja receio do cI 1'0 entre ns. em
possivel que haja, porCJue o c1el'o entre ns no tem poder,
no tem vocao; ns, ao contrario, que lhe devemos dai'
1. 22
S38 UM E TAO! TA DO !MPElUO

poder e vocao pal'a que po' 'a atisfazer a sua mi so, para
que possa tambem ervil' ao E tado 1>. (l)
As boas di posies de Nabuco foram, porm, completa-
mente inutilizada ; as Faculdades Theologicas no chegaram
a I' cl'eadas paI' falta de fundos, o credito votado era insuf-
ficiente pal'a constituil-as, como elle disse em 18'10, ainda
nas propores as mai modestas, ainda com o que era abso-
lutamente essencial pal'a o ensino. Pal'a a vocao ecc1e-
sia tica, pal'a os altos estudos religiosos, e em geral para a
po 'io e o flscendente do clero, deve-se considerar um gl'ande
revez o abandono em que de de ento eahio a tentativa d}
fundar em nosso paiz Faculdades de Theologia.

'VII. - Laboriosidade de Nabuco. - Estreiteza do


Oramento. - Consolidao das Leis Civis

A laboriosidade de Nabuco era gl'ande; a sua actividade


iuteUectual, que lhe pel'mittil' at o fim da vida um tl'abalho
assiduo de dez a doze hOl'as paI' dia, sem interrupo nem
descano excepto nas molestias, concentrava-se nos trabalhos
da sua pasta. O Pre idenle do Conselho queixava-se continua-
mente de ter que o desculpar com o Imperador, tanto falhava
elle ao despacho e s cerimonias da cl'te; os pretendentes
queixavam-se de sei' eUe invisivel, I arque no lhes dava seno

(I) Tabuco todavia no chegou a con uHar a Santa S SObl'C a


materia. Outl'O engano, disse elle em 1870 no Senado, que
pal'a se ol'ganizar as Faculdades Theologicas autorisudas pelo Po-
der Legi lativo, eu tinha consultado a Sant.a S, como dependendo
esta materia de seu accol'do. No exacto: as Faculdades Theo-
logicas que o Poder Leo'islativo au torizou, como consta dos meu,'
Relatorios de 1856 e ]857 e cios Relatol'ios seguintes, no l'orUl11
creadas pOI' falta cle fundos; o crcdito que o Corpo Legislati\'o
votou no el'a suf'ficiente para se constituir essas Faculdades, ainda
nas propol'es as mais modestas, ainda com o que el'a absoluta.-
mente essencial pal'a o ensino. Portanto, o nobre senador lam-
bem n'este segundo ponto baseou-se em uma pl'emissa falsa. II
o 1\1[,\1 'IRO DA JUSTIA 33~

o tempo indi pensaval para saber o que queriam; em com-


pen ao, a Secretaria queixava-se de o no poder acom-
panhar. Os papei no se demOl'avam em seu poder, e no des-
canando, elle no deixava ciescanar.
Em todo os assumptos do ministerio da Justia, que,
sabemos, abrangia o Negocios Ecclesiasticos, elle de 'enyol-
veu a mesma actividade; os yolumes da legi lao perten-
centes a esse periodo esto cheios de tlecI'etos e avia expe-
didos por elle. O oramento geral no exercicio de 1854-~5 eru
de 31 mil contos e o da Justia de 2.427 conto. PaI'a um mi-
nistro emprehendedor como abuco a estreiteza de taes recur-
sos ser um verdadeiro eeuleo e por mais que se reduzi se elle
teve paI' vezes que exceder a veI'ba. PO;' isso, ao passo que os
ultra con 'er adol'Cs diziam, phrase ou ida paI' PaI'anhos, que
se elle continuasse no governo em capa::, de 1'ef0I'l1Ul1' a
Bblia j), os censores d todo augmento na despeza publica
tinham-n'o por gastador. Paran queixava-se da despezas
do ministI'o da Justia e o ImpeI'ador tomava sempre o paI'-
tido mesmo das pequenas economias. Sob o imperio de idas
to re trictas era impossivel a abuco reformar conyenien-
temente qualquer servio dos muitos que tinha a seu CaI'go,
como a secretaria, a policia a magistratura, as prise , a ilIu-
minao publica, os telegmphos, a guarda nacional, a legis-
lao, os seminarios o culto publico (1).
A historia dos telegraphos significativa. Em 1854 o mi-
nistro da Justia pen a cm estabelecer o telegI'apho electrico
centml para o sen'io da policia, imitao de Berlim, li-
gando a Secretaria com os ..\i'senaes e os telegraphos da
barra, a Policia, os Permanente , o Pao de S. Christovam,
PetI'opolis e o quartel de Permanentes em Nictheroy. O tele-
grapho se extenderia fMa da cidade pelo caminho de Bol:;).-
fogo at Laga, pela estrada do Andarahy at Tijuca, pela

(1) Basta dizeI' que a policia eCl'eta se fazia com 130$ mensaes,
um dos agentes vencendo lOaS e o outro 30$; a secretal'ia no
consumia seno 35 contos, I) que no impedia que dsse conta do
enorme massa de tl'abalho; p;na as eventulLes o ol'amento mal'~
cava 10 contos.
UM ESTADISTA no gll'E~1l0

de S. Christovam at a Venda GI'tmde e Ponta do Cajll, pelas


Larangeims at o Corcovado. O calculo da de 'peza foi feito
n'esse tempo pelo capito Capanema, que flli o iniciadol' dos
telegl'aphos entl'e ns; as linhas aereas, dizia elle, seriam
menos dispendiosas, mas muito precal"ias. Nabuco em 1805
encarrega Capanema da compra de appaeelhos ubtelTaneos e
submarinos e arbitl'a-lhe uma pequena gl'Utifia<:o. Esse
avi'o impugnado paI' Pal'an que tem as chayes do The-
somo, allegando que a quantia di poniyel I aecce in uf-
ficjente para completm' o systema adoptado que se diz ol'<:ado
em oitenta e tantos contos de ris.
Iethodico como era, Nabuco sentiu logo a ncces idade de
colligir os principias admini trativo do ministerio da Justia
espaesos e esquecidos. Para esse fim expediu cm l\Iaro de
1805 a seguinte ordem:
O Sr. Conselheiro omcial maior fica encarregado de col-
ligil' os principias admini teativos do l\linistel'io da Justia
conforme a Legislao, stylo e pratica seguida. Para este
fim examinar os actos do l\linistel'io da Justia, as Con ultas
dos Tribunaes Extinctos e da seco de Ju Lia do Conselho
de Estado, reduzindo o ito trabalho a um Repertoriu Alpha-
betico por materias. Attender no s concluses das ditas
Consultas, seno tambem aos seus fundamentos e que tes
incidentes. Outrosim, notar e dar conhecimento ao de. Au-
gusto Teixeira de Freitas de todos os actos do mesmo M-
nistel'io ainda ineditos. Os principios administrativos sero
divididos em duas partes: Judicial'ia e Ecclesiastica, e cada
uma das partes em tres series : 1. a Deslle a creao da Secre-
taria at 1830; 2." Desde 1831 at 1840 ; 3." Desde '18U at
hoje.
J n'esse tempo elle pensava no Codigo Civil, mas como
conseguir, com o espirito de restrico da poca, autorizao
para semelhante peojecto, que alis elle m 5mo dccI'etar em
seu seguinte ministerio? (Decreto de 22 ele Dezembro de '18(8)
O mais que lhe era pos ivel el'a fazer proceder a uma classi-
fica<:o das leis do paiz, que servisse PI'OViSOl'iamente, seno
de codigo civil pelo menos de indice autorizado da legislao
o illlNISTRO DA JUSTIA 341

em viaOl', D'es a commi so encarregou elle (contracto de 15


de F \'ereiro d 185~'), como encarregou depois do Codigo
Civil, a seu emulo Teixeira de Freitas, o jurisconsulto que na
opinio geral dispu~ava com elle o primeiro lagar. D'aquelle
contracto re ultou a Consolidao das Leis Civis, que at
hoje tem feito as vezes de Codigo Civil.

IX. - Consultas diversas. - Reclamaes


diplomaticas.

Alm cio' innumeJ'o detalhes de uma admini trao com-


plicada, Nabuco cra o juri consulto do gabinete; eram-lhe
submeltida toda a queste que env.olve sem principias d
juri prudencia, O Impel'ador ouvia-o, como a um advogado,
obr nco'ocio. que entendiam com o direito e que por qual-
quer motivo fo 'em levado Cora. Elle est assim con-
stantemente a redigil'longo parecel'es juridicos para a dil'ec-
o do go rno no genero d'e teso
A Pal'an : Devolvo a V. Ex. o parecer do Fiscal do The-
souro em que, notando a contl'adico que se d nas decises
junta do mini terios da Fazenda e Justic;,a a respeito da du-
vida uscitada obre a execuo do art. 32 do Codigo Crimi
nal ('1), opina que a do mini tCl'io da Justia deve prevaleceI'
como po ,teI'ior. Em verdade, concordes as duas deci es
quanto ao ponto pl'incipal, i3to , quanto competencia do
Juizo do Civel, ou do Feitos da Fa7enda, a respeito da in
<lemnisao, divero'em na h pothese de no tel' o condemnado
ben para a sati fa o do damno, e de chegar o ponto em que
a quantia da cond mnao e deva conyerter em pl'i 5.0 : a
dccis~ do mini t rio da Fazcn la uppe o Juiz dos Feitos

(1) Alt. 39 . Em todo o caso no lendo o d linquente meios para


a satisfao dentro de oito dia que lhe ero a ignado er
conc).cmnado pri~o com trabalho pelo tempo nece sario pal'a
ganlJal' a qua.ntia da sati ,rao.
mi ESTADI TA no DJPEnIO

competente, mesmo n'este caso; a deciso do ministerio (la


Justia no reconhece a competencia do Juizo do Civel e
manda que a sentena para ser executada seja devolvida ao
Juizo das execue. criminae .
Uma e outra decises se fundam em Resoluo de Con-
sulta. Qual deve prevaleceI'? A do ministerio da Justia por
ser posterior, diz o PUl'ecer :Viscal. No penso a sim, porque
a razo de ser posterior no vale seno quando o acto do
mesmo podeI" ou, por outl'a, se elle tem competencia para
o derogar. E ef;ta a questo. O ministerio da Justia no pde
derogal' os actos do ministerio da Fazenda. ~m ha antinomia
em que o Juizo dos Feitos se reja por modo divel'so do que
se rege o Juizo commum. Que tem que o Juizodas Execues
seja sujeito ao ministel'io da Justia? No se pcle dai' con-
flicto entre as jurisdices do Juizo dos Feitos e do Juizo das
Execue , pOl'que mesmo pelos principios e disposies da
deciso do ministerio da Justia, a jUl'isdico do Juizo das
Execue' s6 tom 10gaI' pela devoluo da execuo; se esta
devoluo no houver, no chega o p0nto da competencia
cl'esse Juizo. No ,"ejo, portanto, colliso alguma: emquanto
no houver lei que definitivamente detel'mine o negocio, po-
dem subsi til' uma e outra decises, uma para o Juizo dos
Feitos, outra para o Juizo geral.
Pal'anho pede a opinio de abuco em uma questo sobre
Juri dico dos con ules 'quanto a salal'ios da tripulao dos
respectivos navios e artigo 13 do Regulamento e DeCI'oto
na 855 de 8 de ovembro de 1855. Na conferencia de minis-
tI'OS, escreve Paranhos a Nabuco, opinou-se em favor da ('e-
clamao, mas ficou dependente do que dissesse o doutissimo
ministro da Ju lia. Tahueo em re posta mostl'[\-se inteira-
mente contrario ao voto da conferencia e opina:
Penso como o presidente de Santa Catharina na nota de
8 de Janeiro de 18~6 que acompanhou o officio de 8 diri-
gido a . Ex. o SI'. ministro de Estrangeiros. A clausula final
d'esse artigo: - Quando estes no prefiram recorrer s auto-
ridades do Impel'io e no se achem envolvidos em tae ques-
tes direito de qualquer.habitante do Impelio de diversa na-
o mKrSTRO DA JU TrA 343

cionalidade, applicavel a todas a partes da disposio d'esse


artigo, i to , aos salarios das tl'ipulaes, causas civeis,
cau as commerciaes. Se no applicavel, segue-se que o con-
sul tem jurisdico con tencio a n'e te paiz, quanto a alarios:
1.0 contra os reinicolas ou cidados do Imperio, com exclu o
dos eu juizes natUl'aes e violao da Con tituio do Impe-
rio; 2. 0 contra os e tl'angeil'os das outras naes, aos quaes
impomo e sa jurisdico que no tel'l'itorial, que no tem
fundamento algum, que ab. urda. Absurda, porque pode-
I'iamo dizcl' como dizem os Francezes : Hespanhol, as no sas
jUI'i dices so pam ns; mas no podemo dizer-lhe:
\C Hespanhol, n'este territorio, que no dos Amel'icanos,

ns te ntregamos jUl'isdico do consul Americano.


Se a clausula de que se trata no applicavel primeira
part do artigo- Salarios, no appli 'avel segunda - Cau'sas
Civei ; a consequencia que contl'a todos os principios, sem
haveI' um tratado, ns cuncedcmo aos consules Ullla jmis-
di \o c ntenciosa abre o ubllitos de sua nao;jurisdico
que I ela leis de seu paiz elle no tm, juri dico de que
cm g ral gozam os con ules do Levante, e que s se pde
fundai' em tratado expresso e que entre ns carece de inter-
\cno do Poder Legislativo. No ha escriptor do Dil'eito In-
temacional que no reconhea a nece . idade de um tratado
expre so para que os consules tenham jUI i dic\o contenciosa
ou litigio a, sendo entre elles o proprio Wheaton, que no
s ':peito.
A quc to de facil solu\o, e certo no pde ser resol-
vida mente pela collocao da dita clau ula. A redaco do
artigo m'i, mas o seu e pil'to o que consta dbS princi-
pios expo to..
Podemos dizeI' aos Brazileiros que tm uma aco de sol-
dada fundada expressamente no Codigo Commercial : - O
vo 'so juizo ainda contra a vo sa vontade o consul Ameri-
cano? No podemos e os TI'ibunaes no no obedecem.
E ahi est a Constituio a favor do BI'azileiro.
no podemos a respeito do BI'azileiro, no podemos a
respeito do IIc panhol de qucm e trata:
L:.l ;:: 'fADISTA. DO IMPEl1IO

1.0 Porque no podemos impr-Ihe uma jUI'isdico qne


no te1'l'i torial ;
2. POI'que o principio at hoje seguido no Imperio e no
mundo, com excepo da Frana e dos paizes que seguiram
o seu Codigo, que a jurisdices do paiz comprehendem os
estrangeiros, e as im tm sempre procedido os nossos tl'ibu-
naes, ou seja o estl'angeit'o autor ou ro, ou da mesma, ou de
diversa nacionalidade.
({ Tambem no podemos recusar essa jUI'isdico aos mes-
mos concidados do consul que a procuram, por que nenhum
tratado ha que con agre e estabelea a sua juri dico con-
tenciosa. No brinque, sr. Paranhos; v.eja bem que se trata
de jurisdico contencio"i:l estrangeil'a, exercida no Imperio
com excluso da jurisdico dos tl'ibunaes do paiz. O pl'in-
cipio que aS leis de um paiz no se extendem a outro salvo
os tratados e as leis expl'essas. Assim pensa o seu amigo e
collega - Nabuco.
P. S. Ainda reconhecendo que os consules tm jul'i -
dico contenciosa sobre os seus subditos, jUI'isdio fun-
dada em tl'atados, no podemos reconhecer que essa jUI'is-
dico extensiva aos subditos do Impel'io ou aos estl'un-
geiros de outl'as naes.
Ainda a Pal'anho :
Examinei a questo das indemni aes a que e to obri-
gados o rnestl'e de nau F. e o fiel do commi ario do Ama-
zonas pelo fUI'to que commettel'am e pelo qual tum bem fOI'am
condemnados priso. Como se fal' effectiva a indemni. a-
o? eis a que to. V. Ex. pergunta se no tem applica o o
Codigo CI'iminal, pal'a ser commutada em priso (Art. 32 e
51 do Cod. Crim.) verdade que endo omis a a legislao
militar, se deve l'eC01'l'er sub itlial'iamente ao dil'eito commum
e o direito commum so os ditos artigos 32 e 57 no caso su-
jei.to. Mas este principio, em regl'a geral verdadeil'o, no pre-
valece na pl'esena de outl'O, que domina a questo, e que
no se ampliam di 10 ie' odiosas como essa do no,so Di-
reito Cl'irninal. Para que se commute em pena corporal uma
pena que a lei applicou aos bens pl'eci o que haja di po-
o ML'\1 TRO DA JU TlA 345

slao expressa, como e a dos artigo citadus. egundo o


direito antigo coevo ou a !egi~!ao' militar a execuo da
sentena que condemnava em pena pecunial'ia se fazia por
meio da appI'ehen. o de penhores e sua arl'ematao como
nas causas civeis. esse o direito quando no ha lei expressa
cm contl'ario : a sim e por n haver essa lei se procede na
arrecadao das multas por contl'aveno de posturas munici-
pae .
No p n o tambem como as Seces; entendo que se
deve proced r a re peito do mestre de nau como e mandar
proceder contra o x-fiel. Averiguado que no ha ben , nada
ha que fazer, porquanto o ol'denados, emolumentos, soldo
ou e tipendio' dos s'oldad s no so susceptiveis de penhora
pela leo'i lao aCLUal, que os manda respeitar como alimentos,
como coi a sagrada. Se um pat'ticular no teria a o lU
juizo pal'a fazei' p nhora n'esses alaria a fim de applical-os
ao seu pagam nto, por que razo ter o E tado es e direito?
t r porque, corno eU mesmo quem paga, pde deixar
de pagar. Ante demitlir o me tre do que deixa!-o penhol'ado,
servindo 'em alado.
Em outm avi o ao mini teria de E tl'angeiros sobr a re-
clamao do mini. tro Amel'icano a re peito da venda do bl'i-
gue CUl'oli na , reclamao q-ue se tornou c lebl'e, a-
buco, ao mesmo tempo que affil'ma na questo de facto que as
autoridades pl'ocederam conforme a lei do Imperio, estabelece
o principio: - que o governo no acceila a 1'esponsabilidade
pelos actos dos seus empregados seno emquanto estes obl'am
denlro dos preceitos ela lei ou segundo as oNlens do governo.
A ba e da I'cclamao con i te no pr;ncipio da I'e pan-
al ilidade e obl'igao de indemnisar que o mini tl'O do E-
tado. - nido faz pe a!' obl'e o govel'l1o ou obl' o Estado
pelo actos do juiz Brazi!eil'o, pai' Cl'em elles de nomea-
-o Impel'ial. Este principio, corno V. Ex. j reconheceo,
no pde de certo sei' acc ito pelo governo Imp I'ia!, como
no seria em ca o emelhante pelo dos Estado -Unidos. O di-
reito repclle-o, no ha um pl'ecedente p lo qual se po a
dizer admittido. O governo Impel'ial no a ita a re pon 'abi-
84G UM ESTADISTA no HIPERIO

lidade pelos actos dos seus empregados seno em quanto es-


tes obl'am dentro dos pl~eceitos da lei ou segundo as ordens
do governo: dos abusos, dos crimes das autoridades no re-
sulta responsabilidade e obrigao de indemnisal' seno para
aquelles que o commettem. Engana-se pois o ministro dos
Estados-Unidos quando affirma que o governo responsn-
vel pelos actos dos j,uizes de sua nomeao pal'a com os es-
tl'angeil'Os e para com os subditos do Imperio, quando sof-
fl'em prejuizos ('1).

X. - Relaes com o Imperador. - Candidaturas


ao Senado : Recusa.

Durante e se mllllstel'i o Imperador, ento na nr da


idade, tinha chegado madureza do espirito politico. J no
era o e pi l'i to hesi tan te, ti mido e por i so mesmo s ezes
temerario, que rl'a nos primeiros gabinetes do reinado, des-
confiado de que e o pudesse acreditai' pupillo dos seus minis-
tl'OS e dal'-llte um favorito. Segurava as redeas com a mo
firme e tmnquiJla de um antigo bolieiro. Tambem o~ maus
caminhos e tavam passados; o reinado entrava a final na
larga estl'ada real; no havia mais que olhar, nem' dil'eica
nem e 'quel'da, pam o atoleiros e paI'a os I recipicios. O
carro rodava sobl'e o mais suave e o mais li o empedl'auo
pal'lamental'. No depunha pouco em favor do monarcha viver
elle em pere ita harmonia com o Presidente do Conselho,
homem de vontade c deliberao, que no podia nunca ser
um instrumento.
A verdade que o Imperador nunca quiz fazer de seus
m~ni ll'oS in trumentos; para isto seria preciso que eJle qui-
zcssa gov mal' pOI' si, o que elle no podia fazei'. Faltavam-
lhe pal'a qua'i todos os ramos da administl'ao as qualidades
especiacs do administrador. O Impel'adol' exercia, sim, uma

(1) A"iso de 1.0 de Julho de lS5G.


o MlNlSTHO DA J 'nA 347
especie de cen ma e de upel'intendencia geral; era o critico
do eu O'ovemo mas para governar, elle me. mo, ser-Ihe-hia
pre i o a faculdade que no tm os criticas, de fazei' obras
como as que anal. am. O que elle queria nos ministro,
para tcr e e dil'eito de fiscalizai', de suggel'ir e de ob tal',
que li'l'emente exercia, era docilidade em escuta]' e con-
formidade com a prerogativa que a Constituio lhe confe-
rira. Kiio o queria obel'1Jo, no o con ervaria servis. Os
Pl'e id ntes de Con. elho no eu reinado formam, nos anno
sO!JI'etudo em que se lhe Iod ria imputar ambio de mando,
amai perf ila li ta de homens incapaze de adulao e ser-
viIi. m que e possa compr. O que havia n'elles todos
el'a a elef'rencia I'azoavel do mini tl'O de Estado para com a
Cora, o macio de ouvil' respeito. o, a diligencia de attender,
dentl'o dos intel'esses publicas e das onveniencias e compro-
mi so elo partido, observaes do Imperador. Isto, de
certo, o Imperador exigia dos. eu mini tros, mas isso no
era r duzil-o ao papel de instrumentos. Em certos pontos o
Imperador. entia, por veze , de modo imperioso e inflexivel;
mais d um teve que d ixar o pod l' por ver que lhe falta a
a confianr;a da Cora por motivo de desacordo com ella. De
algum modo, p6de-..e dizer que foi elle, in pirando-se na opi-
nio, quem traou a linha gel'al do reinado, isto , da histo-
ria politi a e em parte social do BI'azil durante quasi meio
eculo; mas e a dil'ecno continua, e suppunha s vezes
mudan n de homen., eO'uindo o e pirito do tempo, por is o
me mo r,'p Ilia a ida de ubserviencia e automati mo por
parte do e tadi tas chamados. O go erno era d'elles em todo
os seu letalhes, limitando-se o Imperador a ob ervaes e
indicae que elles acceitavam na medida que lhes parecia
conveniente, porque nunca tinham o cal'acter de imposies.
O qu se da a que perante o governo era elle o pro-
curador da opposi\o no que tinham de legitimo e de fun-
dado a' queixa c cen UI':\S d'esta; queelle no se identificava
com o pal'ticlo dominante e revestia-se sempl'e da impal'ciali-
dade e frieza elo PodeI' que a Consti tdio me ma chal11U1'a ele
Moclerador. Ba. tava isto para tl'aar em conselho u,na linha
UM E TADl TA DO IMPERIO

divisOl'ia sensivel entl'e elIe e os ministros. Em vir,tude d'es e


cal'acter al'biLral supremo de que no se despia nunca, o
Imperado'I' tomava-'c o fi cal sevel'o e exigente do pacto, para
.assim dizei" que fazia com cada ministeJio; todos elles subiam
ao poder com um cel'lo compromi so ou tacito ou expl'e o
~om eUe, com o Parlamento ou com o paiz, e d'e se compro-
mi so elle no deixava nenhum escapar. El'a assim uma ,'5-
pecie de gUfll'da, ao mesmo tempo, de uma ccrta tl'acli de
governo supel'iol' aos partidos e protector das opposies, da
qual fazia uma Monita constitucional no e:cripta e do pro-
gramma politico a que dera sua appl'oYao. DUt'ante o
ministel'io Pal'an es e pl'ogramma set' a conciliao e a
libel'dade eleitol'al. ma vez que os gabinetes e consel'vassem
fieis ida em nome da qual se tinham ol'ganizado, eIle rele-
vava-lhes todas a faltas e insufficiencias' a sua dcsconfiana
comeava no momento em que 0S via dispo tos a queul'ar a
escada de que e servil'am paea hegal' ao poder.
As suas relaes com aquelle mini:tel'io foram to cor-
diaes que, morto Paran, elle deixou o miuisteI'io continuar o
mesmo pl'Ogeamma sob a pl'esidencia de um de seus membros,
prova de que confiava na lealdade d'elles para a realizao do
pensamento do seu finado chefe. Quando se dava lma identi-
ficao assim, era que o lmpel'ador havia ou in inuado ou
esposado com enthusia 'mo o pensamento do gabinete. e- a
prova bastal'ia, para s uffil'mal' que a conciliao e, comple-
mento d'ella, a expel'iencia de uma elci\o livre, tinha sido,
seno sua pl'opria, uma ida que o Impel'ador tomara a peito
como se o i'ra. No mais a sua intel'veno nos actos da admi-
ni. trao limitava-se a impedil' ms escolhas, com o conhe-
cimento quc desde joven elle linha do pcssoal e que em parte
eram as informaes que em todas as vagas lhe mandavam,
do Amazonas ao Hio Grande do Sul, o amigos de cada p,'c-
tendente a I'espeito de todos os outros candidatos possiv'is.
O reinado d'elle no sentido que os ministl'os, os conse-
Iheil'os de Estado, a opposio estij.o sempl'e attentos ao que
clle quer, ao que elle prefel' , ao que ell repelle ou I'epl'ova.
Uma antipathia, um tl'ao seu eliminal'ia da politica o candi-
o 1I1li'HSTRO DA J TIA 3'19,

dato infeliz ou nunca o deixaria subir s pOSloes, mas O,


capricho to raro n'elle que no se pMe qua i indicar um
nome sobre o qual tenha recahido esse veto fatal. Yerdadei-
ramente, porm, o reinado do seu tempo, da opinio, da
formao politica espontanea do paiz; elle no uma vontade-
a modificai' uma poca, uma inspirac; a actuar nos co tumes.
e tendencias do seu tempo; e um moderador, agaz e bem
intencionado, em prev nes nem intl'ansig ncia pes oaes,
das correntes oppostas de sentimento publico que os aconte-
cimentos e a personalidades vo creando. O regimen ver-
dadeil'amente- parlamentar, no ha em S. Chl';stovo um
gabinete occuILo, mudas mini teriaes promptas pam os dias.
de cri e; a politica faz-se nas Camaras, na imprensa, nOs.
comicios e dil'ectorios eleitoraes, pel'ante o paiz, Em toda essa
ida e movimento da opinio, que lucta e vence pela palavra,
pela penna, pelo con elho, elle no apparece; seu papel .
ou tro, sua influencia enorme, incontestavel, mas para que o-
seja, o seu segl'edo apagai-a o mais pos ivel, no violar a
esphera da pesponsabilidade ministepial. N'e se sentido, o
caractel' la sua influencia, p6de- e dizer que antes passivo
do que activo; as iniciati as que elle toma so sempl'e dentro
do regmen, das ida da epoca, do assentimento e ambio.
de gloria dos pal,tidos; ene no fl'a quasi a evoluo de
uma iela, no a retarda to pouco; um modificadol' insen-
sivel, porque modifica no sentido da tl'an fonDao latente_
O seu 'temor de papecer usurpar bastal'ia para impedil-o de
ter no governo uma acc;o pe soaI dil'ecta : no ha um gabi-
nete no reinado do qual se possa dizei' que foi um instru-
mento em suas mos, assim como a ve1'llade que todos
vi el'am ela sua approvao, porque lhe parecia cada um a
representao da actualidade politica, o que mais convinha
nas cil'cumstancias,
Nabuco teve sempl'e, como os seus collegas, os mais respei-
tosos sentimentos para com o Imper'adol ; na sua aco prin-
cipal, que eram as reformas e os actos refel'entes legi lao,
o Imperador pouco intel'vinha, o Direito nunca fra sua espe-
cialidade, e elle l'econhec;a e respeitava ~s especialid.ades ~
850 UM ESTADISTA DO IMPEl1.lO

quanto ao pessoal, como Nabuco, em geral, inspil'ava-se nas


conveniencias da magistl'atura e da administl'ao, o Impe-
radol' acceitava-Ihe os despachos quasi sem excepo. clal'o
que um ministl'O desejoso de deixar signal de sua vassag m
pelo podeI' comeava por fazeI' a pal'tilha do Impel'ador em
sua pasta to lal'ga e genel'osa quanto passiveI; Nabuco, de
cel'to, no recusaria 'indicao do' Imperador que lhe parecesse
mais acertada ou feliz do que a sua, smcnte por ter elle, como
ministro, feito outl'a proposta; fazia-se de bom grado c01la-
borador do Impel'ador, .ou acceitava a collaborao d'elle do
modo o mais franco, com pel'feita sinceridade e boa f.
O Imperador quel'ia ser informado de tudo e informava os
ministl'oS de quanto tl'aziam directamente a elLe; no havia
censura na imprensa local do maislonginquo e ob curo muni-
cipio a qualquer acto insigl iflcal}te da admini. trac:o central
que elle no fizesse constm' ao ministl'O cl'iticado. Como tudo
isso era direito seu pela Constituio, nenhum mini tro, que
se quizesse conformar sua posio constitucional, tomaria
como intruso e i lU perti nencia o modo p lo qual o 1m pel'ador
julgava dever desempenhar-se de suas obrigaes e exel'CC1'
as suas attl'ibuies magestaticas. As cartas de Dom Pedl'o II
a Nabuco mostram bem at onde pal'a o soberano chegava de
direito sua interferencia e onde ella parava. ElIe tinha igual-
mente distinctas a noo da sna responsabilidade, moral,
nacional e a da responsabilidade politica e legal do ministro.
Quasi todas essas cartas revelam desprendimento de iriteresse
e favor pessoal, alm do zelo com que elle preenchia suas
funces; algumas mostram smente o desejo de no ser tido
por cstl'anho a nenhuma matoria (1).
No Rio de Janeil'o em 1800 e 1806 oceupou muito a
atteno publica um pl'Ocesso crime de gl'ande sensao, o
do testamento falso do visconde de Villa Nova do nlinho. Na

~1) Assim, por exemplo, esta: (lNo se esquet;a de mandal'-me


os parecel'es que me prometteu a respeito da re['orma hypothe-
caria, pois que talvez tenha de apresental-a brevemente ao Corpo
Legislativo e. desejava poder, antes d'isso te!' lagar, formal" ao
menos, uma lda clara de todas as suas van tagens. "
o ML:\I:TRO DA JUi:TI.\ S!

apul'ao da autolia do incriminado testamento e do a sento


do ca amento dc Jo Del'nal'dino de S (1), o Imperadol'
mostra-sc empenha lo. Em 29 de D.ezemb1'O (1S) abuco
escreve ao chefe de policia: Est<\ paI' terra o testamento
nuncupatiyo, todos os rus confessaram que elle era fal-
so ..... D FigmaYam ju ta e injustamente en olyidos n'esse
processo homens muito conhecidos na sociedade fluminense,
at mesmo um deputado. O Imperadol' como se v pela se-
guinte cal'la, sente o alcance moral e social da causa:
Sr. abuco, a primeira declal'ao no tcm importancia,
a segunda eleixa a me ma incel'teza a respeito do casamento
do Villa- Jova elo Minho; a terceil'a contradiz as do Manoel
Jacques e do tabellio Castl'o, achando eu notaycl a pertur-
bao do Souza RibeilO, e que .s6 pela manh do dia S sou-
besse que o Ogl'O estava em perigo, quando a mulher assistiu
declat'ao do Visconde, segundo alguns elos intenogatorios
e estivesse em casa do pae es a noite confomle todos, om-
tudo ainda se podem explicar fayoravelmente ao indiciados
os moti os de meus reparos, e a quarta tambem 6 d meros
indicios, convindo alm d'isto obserVai' que o Vigario da
Candelal'ia, predeces 01' do actual, sempl'e ia algumas ve es
Igl'eja, e d'alguma d'es as poderia ter feito o casamento,
esquecendo- e depois de lan ar o assento, ou no querendo
ter esse trabalho, mesmo pelo seu estado valetudinario. As
confisses que me tinham tranquillisado, e apczar ela replica,
acho que do juiz, receio outra vez do jury. Quando estaro
copiados os intel'l'ogatorios a que me refiro e a declarao de
coaco c seducio e replica? i\tS no demore o- desejo que
tenho de ver semelhantes documentos o .andamento do pro-
cesso da pl'Onuncia, aquelle convem que tenha 10gaI' quanto

(1) Quando o governo Portuguez deu o titulo de Bl11'o de Villa


Nova do l\liuho a Jos BC1'nal'dino ele S e o governo BraziIeil'o
lhe concedeu autol'izao para. usaIo, o ministro Inglez,l\1r. Hud
san, dil'igio duas noLas ao nosso ministerio de Estl'angeiros pro-
testando contra a concesso de llonl'as II a tl'aficanle de esc!'avos
to notarias II como este roubado!' de homens (kidnapper)
ennobrecido. II Em Christie, No~es on Bra.oilian Questions.
UM ESTADISTA DO lMPERIO

antes mesmo para o possivel esclarecimento do publico que


muito s'incommoda com a incerteza em um negocio de to
grande impol'tancia para os interesses pal'ticulaI'es e gel'aes.-
D. Pedro 2 (1).
Era gl'ande o interesse qu~ elle tomava na pel'seguio do
trafico (2), nas incompatibilidades, na conciliao, na sepa-
rao da politica dos servios administrativos de toda ordem,
na equidade e sobranceria da autoridade entre as pl'etenes,
levantadas em nome dos partidos. A todos os governos elle
prgou os mesmos principios de elevada impal'cialil1ade, tanto
quanto o pel'mittia o vinculo politico elo ministerio; o seu
esforo constan te foi pal'a l'estringit o mais possivel em toda
a administl'ao, sobretudo na magistl'atura, no exercito e
armada, na instruco public~, a parte do leo que tocava ao
partido dominante, a excluso dos vcneiJos. No gabinete

(1) O jury da crte, dando, dir Nabuco (Relatorio de 1856),


" ullla liC;o de moralidade, um exemplo de justia ", condemna
os indiciado', absolve, porm a Viscondessa; em novo iul'Y so
todos absolvidos. Nabuco demitte o Promotol'. Depois do primeil'o
julgamento um dos rus confessou tudo ao jUI'Y, dizendo que
tinham sido levados pelas lag'l'imas da Viscondessa. O Jorn.al elo
Commereio, A1Jl'il e Dezembl'o de 185G, publicou os debates.
(2) " Que a aco llldividual do Imperadol' foi empregada, sobre-
tudo depois de 1845, at 1851) em favol' da uppl'esso do tl'afico,
resultando n'aquelle ultimo anno nas medidas de Eusebio de
Queiroz, e de 18GG a 1871 em favor da emancipao dos nasciLuI'os,
resultando n'esse ultimo anno na lei Rio Bl'anco, um facto que
o Imperador, se quizes e escI'ever l\'lemol'ias e contar o que se
passou com os divel'sos gabinetes dos dois pel'iodos, poderia fil'mar'
historicamente com um sem numel'O de provas. li O Abolicio-
nismo, pago 33. O Imperador no periodo em que parecia mais
perigo a a destruio do poderio Afl'icanista dizia a um ministl'o,
o qual alludira segul'idade do tl1rono, que estava prompto
por tal 11"0tivo a sacl'ificar a cor0a. S elle gal'dou resentimento
contra os (lue a opinio apontava como envolvidos nos l}ltimos
desembarques. Em 1859 Abl'antes escreve a Nabuco: " A vista
dos papeis existentes na secrelal'a. relativos questo negl'eira
do Bl'acuhy e examinados por occa.3io de preteno identica
d'outra pessoa, foi-me insinuado que no propl.lzesse I)(Abran-
tes era Provedor da Santa Casa.) individuo algum que tivesse
sido 'pI'onunciado n'aquella questo, embora despl'onunciado ou
absolvido d.epois.
o ~[Ll\'l TRO DA JUSTI~ 353

PaI'an como no gabinete Samiva em 1881, em que se en-


saia a eleio uir cta, elle entrega-se e perana de uma
cleio rcal, um tanto ingenuamente, ainda que os resul-
tados excede sem expectativa de todos e, um momento,
curasscm o cepticismo, a desilluso do paiz a respeito da
libcl'dade do voto e da pureza dos e crutinio . Veremos depois
como, dUl'ante o processo eleitoral, elle mo tra-se, seno
nervoso, inquieto; fiscaliza quanto pde a attitude do presi-
d nles, dos mini tros mesmos; di cule a e pontaneidade das
candidaturas patrocinadas por elles, observando-lhes o que
julga e o que nojulga conforme s idasem quese assentou.
No todo, o modo de administrar de Jabuco, sua moderao
cm impl' e sua i eno em soffrer o jugo partidal'io, seu
a 'scntimento s idas de imparcialidade, seu senso juridico
e perfeita madureza de tino politico, sua fecundidade de re-
cU!' os e de cxpedientes assim como de razes plausiveis e
quasi irrecusaveis para o justificai" conquistaram para a-
buco a mais elevada opinio do Imperador.
E sa opinio manifestou-se na e colha que d'elle fez pam
senadol' a primeira vz em que foi eleito. O que o Impera-
dOI" assim mais que tudo reconhecia era talvez o facto de ter
tido Nabuco, emquanto ministl'o, diversas occasies de en-
trar para o Senado e nunca se ter pl'evalecido de sua posi-
o para apresentar-se. At '1880 elle lembl'ar-se-ha d'esse
facto como de um exemplo (-1). Poucos exemplos desses
se encontram na nossa histol'ia politica, poueos homens no
ministerio tel'o deixauo passar-lhes pelas mos tres cadeiras
de senadol" em mandar collocal' uma d'ellas junto do seu
bureau-ministre )), dizia o jornal da opposio, o Dia7'io do

(1) Quando, para cohibir o abuso que se tinha tornado frequente


de eleies de lOinish'os por provincias a que eram estranhos,
Saraiva incluo na sua reforma eleitoral a prohiLJio d'essas elei-
es, ouvi de tres ministros que o Impel'ador a respeito d'esse
artigo da lei recordara em despacho o procedimento de Nabuco.
Os senhores tm razo de pr isso na lei, teria elle dito, no ha
mais cl'esses homens. " O Imperador, quanto podia, depois de
certo tempo sobretudo, mostrou-se sempre contrario a taes can-
didaturas.
1. 23
UM ESTADISTA no IMPERIO

Rio (4 de Maro de 1806). No foram, pOl'm, trcs as vagas


no disputadas por abuco, fOI'am nove, ainda que, segundo
o codigo da poca, sua candidatUl'a fosse natural em quatro
s6mente d'essas eleies. Rejeitei quatro senatorias POI'
lealdade aos pl'incipios, por conveniencias politicas. Porque
has de he ital'? escrevia Nabuco a S.e Albuquel'que, insis-
tindo par;). que acceitasse a presidencia de Pernambuco que
recusaYa pela pos ibilidade de se dar uma \ aga no Se-
nado. o havia plano da parte de Nabuco de no se apl'e-
sentar candidato durante o seu mini tel'io, houve s6mente o
de no fOl'al' sua candidatura, de no impl-a. Ao pr sidente
de Sel'gipe elle escrever em 20 de Setembl'o ele 1856 : o
me apresento senador POl' essa provincia, porque estou deci-
dido a apresentar-me sll1ente por aquella em que tiver ele-
mentos (lue no sejam s6mente os do poder que exel'o. O
retrabimento de Nabuco era tanto mais honl'Oso para elle,
dir depois Zacharias no Senado, quanto elle tinha offerLas e
solicitaes para apl'esenLar-se da pal'te do propl'io l\Iarquez
de Paran) isto , certeza de bom exito (1).

(1) O testemunho de Zacharias tanto mais significativo quanto,


vindo Zacharia em 1858 em primel'o lagar na li la triplice e pela
segunda vez, e tendo sido ministl'o primeiro que Nabuco, o
Imperador e 'colheu a este. Discutindo em 1877 a Juesto da
apresentao de ministl'os por provincias estranha, Zacllaria
disse no Senado: " Ora, ita,eria a respeito da candidatul'a de
ministl'oS ao Senado, algulU precedente, alguma jUl'isprudencia?
Esta a questo. O ol'ador pensa que havia e muito 1Ionl'osa pal'a
a COl'a, e esta praxe j conta UlUas dezenas de anno . A sim, em
1855, apresentaram-se candidatos pela Bahia o r.. Fel'J'az e
Wandel'ley. O Sr. Nabuco estava no mini tel'io; of1'erecia- e-lhe
ensejo de se apre en tal' candidato e elle possuia tanta capacidade
como os dois cidados que disputavam a li ta sextupla. Teria o
Sr. abuco offel'tas? Teria muito quem lhe mettes e ao rosto a
candidatura? Teve-as e teve uma ,ontade de ferro, como o paiz
no tivera outra. Teve a vontade de fel'ro do grande estadista
mal'quez de Paran. O minist1'o da Justia de ento, to distincto
e illustre, sendo filho da Bahia, podia apresental'-se com o me mo
direito com que se apresentaram Ferraz e Wanderley; mas recu-
o MI ISTR DA J 'nA 355

XI. - Relaes com os Collegas. - Relaes com


os Presidentes de Provincia. - Represso do
Crime. - Guarda Nacional. - As Aposentado-
rias. - Conselhos para administrar.

As relaes de Nabuco com os seus collegas foram sempre


as mais affectuo, as; com excepo de Paran, que mOI're
dueante o mini terio, de B IIegal'lle, que scr ministl'O da
Liga, e ue Abaet que no fim da vida volta, ainda que pla-
tonicamente, aos alTaiaes em que comeou, elIes fical'o
Con 'eevadol'es ao pa. so que Nabuco desde a Conciliao ~t
pel'dido paea o partido con el'vador puro, e de tina lo a ser o
Cl'eadOl' do novo pat'tido liberal. Ap zar d'essa divi o no
al'r fecero nunca o laos que o prendiam aos seu collcO'as
de 1853-185'7. A todos elIe , em todas as Situaes, mo tl'ar
a mesma sympathia do tempo cm que subiam junto as
escadas de S. Chl'i tovam e fazial'l, como camal'ada', as uas
primeil'as armas mihi t riae. Tanto elIe como Caxias, como
.Pedeeira, como Pal'anho , como Wanderley, como Bellegal'de
fOl'am mini tros pela primeira vez n'esse gabinete e todos con-
servaram d'essa e treia a.mais grata lembrana, como se tivesse
sido pal'a elIes a ua lua de mel em politica. No decur o da vida
de Nabllco veremos que ficou fiel at o fim a essas recol'daes,
leal a essas amizades como se o cc Vil'tllOSO existisse sempl'e
pal'a elIe ('1). Abaet6, encal'l'egado de organizai' gabinete cm

sou e recu ou pel'tnazll1ente. Es a recusa foi tomada pela Cora


a boa conta, tanto que, louvando a sua absteno, di se-lhe que
no faltal'ia occa io. Com efTei to, em 1858, no endo ministl'o o
SI'. Nabuco, deu-se uma vaga de enador pela Bahia, e elle apl'e-
sentou-se. Na respectiva lista, el'a elle o ultimo contemplado, mas
a COl'a, reconhecida . sua absteno, que, alias, no el'a estabe-
lecida pela Constituio ou pela lei I'egulamental' das eleies, e
tarnbem attendendo aos seus SUL eriol'es talentos, o nomeou e-
nador do Imperio. O pl'ecedente honrosis imo papa a Cora e
pal'a quem f6l'a seu mini tl'O.
(1) Os ministl'o de Pal'anti, gl'acejando na intimidade, sobl'e
o seu bem compol'tamento dal'iio sempl'e o nome de virtuoso ao
gabinete de 6 de Retembro.
35G UM ESTADISTA DO I~IPERIO

1868 o convidat' para a Justia, e nos ultimas annos, vizinhos


na mesma rua Bella da Princeza, visital' todos os dias a a-
buco, a quem gostava de, chamar - o mestre ela lei. Os bi-
lhetes de Abaet revelam o homem : pl'eciso, meticuloso
na expresso, apUl'ando rigol'osamente cada minudencia, quer
se tratasse de um projecto de lei, quer de um cumpl'imento ao
Imperador, sarcastico sem ser offensivo, procUl'ando o. COI'-
reco em tudo, fOl'malista ao ponto de parecer que se l'ia
intel'iormente do symbolismo que quel'iar levar ao ultimo gomu
de tran.cendcncia ou de futilidade (1). Pedl'eira c cl'cye
sempre, continuamente, para pedir mil nomeaes, cmpe-
nhando-sc por todos, com o mesmo interesse e insistencia
como se tl'atasse em cada caso de sua propl'ia existencia poli-
tica. Paranhos, politico, diplumata, resel'vado; Cot gipe,
indifferente, homem do mundo, abOl'recido do ofllcialismo;
Caxias, attencioso, affectuoso, terno me mo nas expresses.
De Bellegarde ha poucas cartas nos papeis de Nabuco. Pal'an,
es e mostra bem em sua corl'e pondencia o homem que era:
no abdica nem renuncia a primazia, no esquece nem deixa
esquecer que o ministerio eUc; r speita, porm, os seus
collegas, no lhes d ordens, manifesta-lhes o seu pensa-
mento com firmeza quando no pretende reconsiderar, faci-
lita-lhes o governo das suas pasts, sustenta-os ante o
Imperador, trata-os com franqueza e amizade, sem accentuar
de modo algum o que elles todos sentem to bem, o espao
entre eUe e elles, cxcepto Abaet e Caxias, homens novos,

(1) Pedreira tendo dado um aviso el'raelo aos collegas para com-
parecerem em S. Christovam pede a Nabuco que previna elo
engano a Limpo de Abreu ~ para que no leve logro. Abaet )I

re"ponele : Visto. No levava logl'o; era sempre uma grande


e subida honra a que o erro do Omcial faior intel'ino nos pro-
porcionava. Diga isto ao nosso amigo e collega e espero que elle
convir commigo. Este o genel'o dos bilhetes de Abaet :
<l Por no querer incorrer na censura feita por V. Ex. ao seu her-

deil'o e successor presumptivo, o Sr. Pimenta Bueno, -dizia-se


que Nabuco ia deixar o ministerio, - apresso-me a restituir a.
V. Ex. o projecto de decreto que me enviou para eu examinar,
relativo a passaportes e bilhetes de residencia com as observaes
que me occorreram. )I
o MINISTRO DA JUSTIA 37

que precisavam ainda para fazer carreira do placet dos chefes.


Paran dirige o mini teria com suavidade e ao me mo tempu
com deciso. Os seus collegas sentem que elle lhes leal e
que os sustenta contl'a todos os ataques de fra, venham
d'onde vierem; que elle deseja a carreira de cada um, leval-
os no partido, dar-lhes posio no Senado. Com relao a
abuco suas cal'ta mo tram sentimenr.os de apreo de defe-
reneia e de confiana; est sempre a repal'ar nas falha que
Nabuco d em Llespacho e em conferencia, a estranbar-lh'o,
em frma de gl'acejo. Tabuco por eu lado era grato a Paran
e admirava a tenacidade, a per everana, a iniciativa, a quali-
dades de que dava pro as t do os dias para a reali ao de
uma politica que o chefes Con ervadol'es olha,-am com pre~
veno e de faval' que era o pacto de dons homens apena "
prevalecendo-se do poder e do prestigio um do outro: o Impe-
rador e Pal'an (1).
Em to extensa correspondencia particular, como foi
n'e e gabinete a de abuco com os pre identes de provincia,
tm-se a revelao do espirito, qne go ernava os nossos esta-
distas no tempo em que o systema parlamentar estava entre
n em todo seu vigor e desenvolvimento. E e espirita
ainda o espil'o de autoridade, gradualmente penetl'ado de
libel'alismo, isto , de tolerancia e de equidade, ma equipa-
I'ando sempre as aspil'aes e processos revolucionarias de
i83i pma anarchia e subverso social. A autoridade sente-
se mOl'almente responsavel; o ministro no um de pata
que possa levar de rajo Camaras e partido, cima d'elJe est a
Cora, est a opinio dos seus pares, esto os principias ge-
ralmente acceitos, est o espirita de moderao e a I'otina dos
precedentes. Por outras palavras, a sociedade ainda tem cos-
tumes, tem uma mOl'al obrigatoria, como um coLligo de honra,
para os homens politicos, e o Impel'ador quem repre enta

(1) E 'a situao dc Paran. no comeo do eu mini tel'io acha


se fielmente expostH. ainda que de modo muito re umic!o em um
pequeno opusculo de Jos de Alencal', O Marquez ele Paran,
publicad~ por occasio da moete do Pl'e idellte do Conselho em
1856.
UM E TAO! 'TA DO DIPERIO

essc pacto tacito cntre os advcl' al'ios, como entre os emulos,


de nunca ultrapassarem ccrtas' bal'reiras. Com effeito, a lei.
o costllll1e, a opinio, so bal'l'eiras, ainda que fossem d(;
simples decoro, que nenhuma ambio pensaria em tl'anspr.
]o ha to pouco d'essas ambie , desl'egradas, illimitadas;
a sociedade no as compol'taria; sel'ia de mau tom affectal-as.
O mundo politico ainda um salo onde as maneiras so
indi. pen aveis. com o enfl'aquecimento gradual mas rapil10
da autoridade qu(: as individualidades ho de crescei' a
ponto de fazerem sombra dyna. tia, de eliminarem o Parla-
mento : n'aquella poca seriam impossiveis taes ambies,
s mptoma de anarchia imminente, prenuncio na autoridade
da revoluo, que a ha de em breve derribar. Ao passo que os
homens diminuem, que a ambio cresce; em uma socie-
dade onde todas as partes do ol'ganismo tm vida propria e
adherem apcrtaclamente entre si por um principio de unidade
moral ainda intacto, a ambio pessoal nunca toma as pro-
pores, que nas pocas de dissoluo fazem d'ella a ameaa
constante, e s vezes tambem a unica esperana, da sociedade
em rui nas.
Alguns d'esses presidentes esto destinado s mais altas
po ie . Um d'elles Sal'aiva, cuja homogeneidade de idas
com abuco j vimos a proposito da refl'ma judicial'ia e se
l' notando mais e mais. Saraiva era presidente de S. Paulo,
para onde viera da presidencia das Alagas, tendo antes
es'tado no Piauhy. Em cada provincia, sua administrao se
distinguil'a pela energia, bom senso, moderao e impar-
cialidade. Ao chegai' a S. Paulo elle d conta a abuco
d'essa pl'imeira phase, a que se pde chamar a lua de mel dos
presidentes, em que ambos os lados cooOam nas suas inten-
es : \( A opposio, diz-lhe elle (2 de Agosto de 18M), est
na sua phase de cumpI'imentos, de conselhos, de doc s amea-
as; diz que V. Ex. foi o diabo, porque quiz dominar a pro-
vincia, c que eu nem queria dominar, nem ser dominado,
para evitar aquelle escolho em que V. Ex. cahiu e o outro
onde ella metteu o SI'. Jo ino. Domina!', no o quero eu,
por Jue tenho muito pouca ambio; ser doJminado Lambem
o Mil 15TRO DA JUSTIA S59

diff1cil, porque tenho um pouco de vel'gonha, e pois o conse-


lho da opposio um conselho de amigo ... Caminhemos e
faa-me V. Ex. caminhar com regurana, que darei conta da
mo, ainda que incorra no desagrado dos grandes, que me
no ho de fazer mal com o sangue que tirar eu das minhas
yeias para os nuLI'ir.
Em Janeiro de 186 elle est ainda identificado com o mi-
nistro da Justia e escreve-lhe: ex Devo ser minisLI'o da Jus-
tia aqui por trinta dias para organizar a magi tratura muni-
cipal crear at algum novo tel'mo; prometto, porm, que
terminada com succe so essa dictadura, V. Ex. continuar a
no ser incommodado pela provincia de S. Paulo ..... Pre-
ciso de convel' ar com "y. Ex., finalmente, como preciso de
sangue para viver.
E como Nabuco cxtranhasse o modo de fallar, que lhe pare-
cia encol rir alguma queixa, Saraiva rcsponde-Ihe gracejando:
cc ou melhor do que pareo por minha linguagem; se os
mini tro me ds em alguma mis o diplomatica, ainda
me mo que fo e para conquistai' as boa gl'aas de Lopez no
Paraguay, po sivel que perde se esse rigor ou antes essa
selvageI'ia ele e Lylo e de phrase, que tem j por duas vezes
merecido a atLeno de V. Ex. )J

Outro era inimb, seu amigo de Olinda, que elle encon-


trava na pre idencia do Rio Grande do ui, e a quem depois
nomeou chefe de policia da crte, prova da amizade e con-
ftanc;a que os ligava um ao ouLm. inimb era um typo
diverso de Saraiva; no tinha a ind i vielualiclaele, a imaginao,
nem a adivinhao d'este, o que de indomito, de selvagem
e de origi nal quc o caracterizava; tinha, porm, uma correc-
o e uma COf'aO'em a toda prova, uma tenue e uma calma
que con Lituiam m nosso meio poliLico, todo familiar e in-
timo, verdadeira distinc o. Apaixonado ~ governando-se
sempre pai' prevenes que lhe era impossivel vencer, elle
encobl'ia todavia o ardor do seu temperamento sob o agl'ado
polido de suas manel'as, como que d'antemo compostas e
grfl.duada. no remanso do lar. Sua vida de familia era, com
eITeito, um m-odelo e ao tom que n ella reinava conformava-se
UM ESTADISTA DO IMPERlO

inteiramente o homem publico. Nabuco, como Wanderley,


conhecia profundamente o seu camarada da Academia, o ca-
racter impulsivo, impetuoso, cheio de assomas e desconfian-
as, que a cultura dos sentimentos domesticas havia, com o
poder da sua vontade forte, tl'ansformado n'esse typo gra-
cioso, quasi estrangeiro, de politico impertmbavel, sereno,
affa el e benigno. Sinimb, com tudo isso, era homem dc
inspirar ao lado de grandes affeies, antipathias cegas e
intransigentes. Uma d'estas foi a que lhe votou Pedro Chavcs
(Baro de Quarahim) e de que muito se falIou pela violencia
dos ataques de Pedt'o Chaves contra elle quando PI'C idente do
Rio Grande Sul ('1). Agl'icultor de vocao, Sinimb preoccu-
pava-se mais que tudo do desenvolvimento matel'ial do paiz;
no em homem de estudos, nem d gabinete; el'a um espi-
rita pratico que sabia dos negocias publicas o essencial para
poder occupar qualquer posio; seus gostos, porm, desde
moo, quando chegou a fazer em Pal'iz um cmso de chi mica
industrial e viajou na Allemanha para estudar o pl'oblema ela
colonizao, eram antes pelo aproveitamento dos nosso
grandes recursos abandonados. Na corre pondancia entre elle
e abuco encontl'am-se por vezes trechos como e te, que mos-
tra o que que elIc, como pI'esiclente, pI'ocurava ver de pl'e-
ferencia e o lJue mais lhe prendia a atteno :

(1) Essa pre idencia do Rio Grande do Sul foi uma trabalhosa
empreza para Sinimb, que teve durante ella, que fazer seguir
para Montevido uma diviso de 5,000 ltomen . II Faz hoje um
anno, escrevia elle a Nabuco em Dezembro de 1853, que arribei
a esta terra e vim luctar com a mais pesada e emmal'anhada de
quantas administraes tem o Imperio. Com um exercito inteiro,
cujo unico expediente seria bastante para occupar uma presi-
dencia; com as fl'onteiras em guarda contl'a a mais incommoda
de quantas vizinhanas lia no mundo, com a correspondencia das
RetJUbliquetas ", era no tempo em que Buenos Ayres e a Con
federao formavam governos separados, II e com todos os ramos
da administrao (pl'incipalmente a justi a! tome nota, SI'. Conse-
lheiro!) no peol' estado passivei, de maio a mais obl'igado a aturar
o teu ex-parlamentar Pedro Chayes, tenho-mo vi to em um
inferno de tl'abalho, que levantarei a mos ao co quando d'ellc
me vil' livre... "
o 1I1U,ISTRO DA JUSTIA 301

O reconcavo da Bahia a mais larga, mai igual, e


mi bella ao mesmo tempo, bacia de terreno a ucal'eiro
que conheo no Brazil, mas seu estado de iao tal que
no mez de Abril o senhol' de engenho ou vem pas ar u
linverno em anta ocio na cidade, ou encel'rado no eu cas-
tello diz adeus ao vizinho e se despede d'elle at o mez ue
Outubl'o. Quem dei' estl'adas ao Reconcavo e quem der aos
nosso rotinei1'Os lavradores um engenho modelo em que
apprenda a tiraI' dos instrumentos do campo e do' appa-
relhos de fabricao e distillao todo o valor que em si con-
tm a canna, duplical' em pouco tempo a pl'oducc:o da pro-
vincia daI' famlias abastana e commodo, que no podem
tel' no i olamento em que ol'a vivem. Quo vagaroso o pro-
gresso em que marcham as nossas provincias - quantos re-
cur os naturacs tm ella para mat'chal'em rapidam nte Que
que falta? rai zelo da coi as do que das pe oa.
\. todos o pl'e iuente abuco e cre e empre que devem
cuidar ante de tudo da repres o dos cl'imes. A intliITel'ena
da paI ulao diante dos crimes os mais atl'ozes, a conviven-
cia de todos com cI'iminoso de mOl'te, os stcma de vingana,
o barbaro feudalismo, que transformava o morauor em capanga
ou em espoleta do potentado local, colloca am a sociedade
em muitos pontos do interior em uma e 'pecie de e tado de
sitio permanente. abuco por 'veze esboara na Camara e se
quad1'O de impunidade, a sobranceria das influencias que se
encastellavam nas suas propriedades, e desafiavam a justia
que l no ousava penetl'ar. Contra esse Estado no Estado o
mini tecio estava disposto a reagir. A Jos B nto( 21 de Se-
tembl'o de '18M) recommenda Nabuco : G: Aonde as influencia
frem hostis ou indifferentes a e te gl'ande pen amento do
govel'llo nomeia delegados estl'anhos com gl'atificaes razoa
veis. ) O gl'ande pensamento era a repl'e s a todo cu to (1).

(1) Paranagu diz na Camal'a : " Empenhado CO)11O e acha o


govel'l1o do paiz na evel'a I'epl'e o do cl'ill1es no que de tem-
pos a e ta parte inconte tavelmente tem e feito muito (apoia-
dos), n'es a grande cl'uzada. que se teU! levantado em todas 33
provincias contra o crime.
8G2 UM ESTADISTA DO IMPEIUO

A Costa Pinto, pre idente da Parahyba, (10 de Dezembro de


1800) elIe escreve: Fico inteil'ado da noticia que me d de
uma morte commettida pela famigel'ada farnilia ... da Laga
Nova e da indifferena com que se houve a autoridade na pre-
sena desse facto. J est demittida e substituida essa auto-
ridade? Conym antes no ter autoridades, que teI-as desse
caracter.
Era preciso, com effeito, attender situao moral do paiz
que as cartas dos presidentes revelavam. No ha nada de
novo nesta santa terra, escrevia-lhe por exemplo Wanderley,
seno um ou out1'O li1'inho l paI' fNL, o que ha de continuar,
porque todos sabem que no sero punidos; o taes jurados
ho de nos daI' cabo da pelIe. ))
Quando a sociedade fica assim paralyzada, dominada pelo
poder do cl'ime, desmoralizada por effeito da impunidade,
preci o autol'idade de qualquel' modo quebrai' o pl'estigio
dos facinoras. Nabuco incitava os presidentes a preoccupa-
rem-se sobretudo dos resultados, a no terem escrupulo de
algum excesso que pudessem commetter. Alguns presidentes
comprehendern a necessidade de subordinar tudo, melhora-
mentos materiae , intemsses de partido e at as frmas da
lei, a esse pensamento capital. A Saraiva, por exemplo, quando
pmsidente das Alagas, abuco escreve (12 de Dezembro
de 1853) : A energia e actividade que V. Ex. tem ostentado
na perseguio do cl'ime, o tino politico com que vai mar-

chando em sua administrao, muito me tem agradado, e
certo e sem lisonja lhe digo que muito contentes estamos com
V. Ex.; A em 22 de Dezembro, ainda: Aflrmo-lhe que
no ser pOl' falta de meu apoio que V. Ex. al'l"efecer o pa-
triotico ardimento e a actividade com que tem tomado sobre
si o empenho de fazer punil' o crime e perseguir os crimino-
sos. Saraiva tanto sabe que essa a ida fixa do ministro
da Justia que, removido no anno seguinte para S. Paulo,
escreve a abuco: cc Quando encetar a minha aco acerca da
segul'ana indivitlual eu hei de gastar dinheiro, e portanto
diga-me V. Ex. se pos contar com toda a sua disposio a
respeito.
o ME"I "flW DA J STIA 3:;3

E-ta carta de Saraiva, de 31 ele Dezembl'O de 183, mostra


quan to elle estava com penetl'aelo do seu papel:
J disse a V. Ex. alguma coi a a I' peito da comarca da
Atalaia, de que faz parte o municipio da Imperatriz. E sa
comarca tem sido o quartel general de todos os movimentos
sediciosos desta provincia, nella que apparece o primeiro
gl'ito de revolta e resistencia aco da autoridade....
Comecando a minha admini trao demitti o delegado de poli-
cia que achei, por fraco substituindo-o p lo juiz municipal
nomeado ultimamente pelo meu antecessor. Em menos de
um mez demitti a esse juiz da delegacia, porque era tambem
fraco e vi-me na neces idade de ir s fontes do mal, porque,
emquanto a sua origem pel'manecesse, eu achaI'ia fI'acos e
ruins quantos delegados e commandantes de destacamento
mandasse para ali, pois que os delegados nomeados soffI'iam
como todo o povo o mal: que al'ruinava aquelles logares o
medo de meia duzia ele mis I'Rvei . Assim combinei com o
chefe de pulicia a pl'iso de todos os facinoro os influentes e
protectores de cI'iminosos dos municipios da Impel'atl'iz e da
Atalaia, e POI' ol'a smente daquelles que embaraavam a mar-
cha da admini tI'ao, pOI'qne, til'ados estes, tud'o mais el'a ven-
cido pela marcha regulaI' da policia local, exercida pelas auto-
ridades tI'anhas, que eu tenho o propo ito de consel'Val' ali.
l\Ieu antecessor aplainou o tel'reno pal'a mim, pois que mode-
rou o antigos odio e nulliucou os partidos velho, sem
deixar novos, porque no con idem partido politico uma sucia
de capado ios a quem alguns antigos cabelludos e lisos des-
ontente agl'adam, como a muita gente ngrada o instrumento
que fere os seu inimigos. ,
abuo de ceI'to no admittia que a parcialidade politica
fosse nm privilegio nem confiava na sinceridade dos que se
diziam amigos da f3ituao paI'a u~ufI'uil-o. Assente, porm,
Y. Ex., escrevia elle a Costa Pinto (Janeiro 18G) que em
geral ser governista . uma e. peculao, como outl'a pro-
tegei' o crime : o typo da nossa poca ficaI' bem e no se
compl'ometteI' com quem p6d fazer mal.
A s guinte confidencial ao presidente de S. Paulo, Josino
u r ESTADISTA DO D1PERIO

<lo Nascimento Silva, merece ser citada, pOI'que. mostra que


havia espirito n'elle de prudencia unido a tenacidade de pro-
posito :
A situao de Lorena parece anormal e tanto mais dif(jcil
quanto os actos do govemo por innocentes que sejam ho
de seI' attribuidos ao proposito de intervir na pl'oxima elei-
o : todavia pelo receio do que se dir e pelo temor ele con-
-cei tos odiosos e temerarios no ha de o govemo tl'ahir o seu
dever e sacrificar a ordem publica.
A soluo do pl'Oblema que a situao de Lorena orferece
est a meu ver no completo abandono da eleio, em ceder-se
o campo opposio, para que a autol'idade possa pI'oceder
n'esta conjunctura com liberdade e sejam mantidos os inte-
resses da ordem publica e administrao.
Fallando de LOI'ena, refiro-me ao municipio e compre-
hendo a fl'eguezia de Emba, que e perto d'elle. A opposio e
n'esse municipio poderosa, audaz, violenta, e systematica,
est acostumada a vencer, e pI'eciso respeitaI-a; a inf1uen-
cia principal que a dirige, ardente, encarniada, e capaz de
reCOl'l'er aos meios extremos, tenelo sua disposio muitos
capangas e criminosos, que pl'otege e acolhe para vencer ou
para manchar a eleio, no hesitaria em reproduzi!' ahi as
scenas de S. Jos de Pinhaes. De todos os municipios da pro-
vincia, segundo as obse!'vaes que fiz quando fui ahi presi-
dente, os de Lorena e Silveiras so aquelles que mais elemen
tos e predisposio tm para a desordem e para a l'esisten-
cia.: convem desmontar essas influencias perniciosas, repu-
gnantes com o estado social e com a civilisao; convem
revocar esses municipios ao imperio da lei; mas no isto
obra de momento, os esforos das autoridades n'estas cir-
cumstancias, na vespera de uma eleio, seriam desvil'tuaclos
pelo espirito de pal'tid~, que lhes emprestaria um caracter e
intenes sinistras.
~ V. Ex. deve pois influir para que o delegado e os amigos
do governo se abstenham el'essa eleio, que elles no pdem
vencer seno ajudado dos esforos e interveno manifesta
da autoridade. Assim desembaraado, pde V. Ex. providen-
o MIKISTRO DA JUSTIA 36;>

cial' livl'eme nte sobl'e os factos occonidos n'aquelIa villa, os


quaes passo a apreciai'.
O pensamento de abuco juntamente com a repres o,
manteI' o principio da autoridade sem exclu ivi mo. J
vimos que era esse o programma do governo. A Paes Bar-
reto, seu amigo, mais joven do que elle e de quem elle e faz
mentor, d n'esse sentido muito conselhos para governar
sem enfeudal'- e a nenhum .gI'UPO e sem abdicar a autonomia
da funco que lhe est confiada : ... confia em todos,
referia-se aos chefes locaes, de confiando de todos; ouve a
todos, mas goven1a tu s. Ests habilitado para tudo quanto
convem ordem publica e I'epres o do cl'ime; aonde as
inOuencias locacs forem hostis ou indil'ferentes ao pensa-
mento da repl'e 'so, nomeia pes oas estI'anhas ao IogaI' com
gt'atifi ao razoavel. Lembra-te do nosso progl'amma e exe-
cuta-o e antes que tudo, primeiro que tudo, est o principio
da autoridade; pl'ocul'a extender o circulo do partido da
ordem, mas no ub tituil-o (-1); distingue e cara o mereci-
m nto, onde quer que esteja. (6 de Outubro de 1,804).
Alguns dos seus con elho merecem ser lembrados por-
podel'em ser sempre uteis ao administrador. Ao presidente
do Rio Gl'ande do Sul, por exemplo, elle escrevia: Em
orncio.reseI'vado respondo a V. Ex. a re peito da rebellio
Republicana d que d noticia a caI'ta que de um morador da
CI uz Alta obteve o Baro de Jacuhy. Fra desnecessado
recommendar a um homem de E tado, como V. Ex. o , a

(1) A recommendao de no substituir o circulo explica-so


pela idLa que concebeu em toda a parte a opposio de que o
ministel'io seria forado a entregar-se a elIa. Em Sergipe, por
exemplo, o presidente 19nacio Joaquim Barbosa escreve a Na-
buco : (I Achei os homens que se diziam da opposio, aqui deno-
minados rapinas ou luzias, llm tanto prevenidos em meu favor ",
e aLtl'ibue o facLo a e. peranas exageradas no progl'amma do-
governo. Os partidos tinham d'essas alcunhas locaes em todas
as l)l'ovincla : em Sel'gipe os luzias eram chamados rapinas e os
saquaremas camondongos,. no Cear havia chimangos e caran-
guejos, em Santa Catharina, christos e judeus, na Parahylia.
baetu.s e rasgados em Pernambuco praieiros e guabir8.
8~6 UM ESTADISTA DO HIPERIO

prudencia que este negocio reclama, convem no revelar des-


confiana, averiguar os factos com muita reserva e segr do,
observar os passos e relaes dos compeomel.Lldos, e no
acceitar sem critica o que disse o Baro e os da sua parciali-
dade. Para muita gente d'ahi a pl'ovincia no est bem sem
guerra, que lhes parece o estado normal; n5.o dieei mais.
V. Ex. subentende as razes cl'esse desejo, assini. que muito
p2.l'a recear a provocao. V. Ex. tem a confiana do Impe-
rador, o Governo descana em v: Ex. n
Elle no hesita em aconselhar aos peesidentes que faam
calar por bem ou por maIos perioclicos que se peopunham
fomentaI' o odio e a animosidade ent1'e Bl'azileil'os e Portu-
guezes e que soltavam no Norte o grito conhecido ele mala-
11Ul1'inhei1'o : Faze calaI' por bem ou por maios jornaes ou
periodieos que ahi, com inj uria ela nossa civilisao, elesaco-
rooamento da immigrao, e perigo da ordem publica, e ,to
provocando o odio popular contm os POI'tuguezes. :o (A Jos
Bento, 1.0 de Janeil'o de 18nn).
A respeito ela gual'da nacional encontram-se estas confi-
denciaes entre outeas. Eusebio expediu em 18nO (22 de Feve-
reiro) um regulamento provisorio paJ'a a guarda nacional do
Rio Grande do Sul. Nabuco pede infol'maes, querendo fazeI'
o regulamento definitivo e pergunl.a : A organizao da
guarda nacional deve ser identica para toda a provincia ou
especial para os municpios da fronteira? Concordam cm
que deve ser identica Porto Alegl'e, Luiz Manoel de Lima e
Silva, Joo da Silva Tavares, 1\lanoel Lucas de Oliveira, Jos
Gomes Portinho, Vicente Paulo d'Oliveil'a Villas-B6as, Jos
Joaquim de Andl'ade Neves, Manoel Peeeira Vargas, Ismael
Soares da Silva. Discordam David Canabarro, Thomaz Jos de
Campos. Uns queeem, outros no querem corpos moveis.
Nabuco redige um projecto' de de~l'eto a que o Imperador
suggere algumas emendas. Sobre esse projecto consulta a
Jeronymo Francisco do Coelho, presidente do Rio Grande:
O ponto essencial o das condies exigidas paea ser o
cidado alistado. A lei geral de 19 de Setembro de 1830 esta-
belece como requisito para o alistamento, a renda necessarla
o m TI 'TnO DA JUSTIA. 3",7

para votar nas eleie pl'imal'ias, Mas o decl'eto n 671 de


22 de Fe, ereiro de '1850, que ainda e t em vigor nas fl'on-
teim , detel'mina que nas provincias fl'onteil'as sejam qua-
lificaveis todos os cicia los BI'azileil'os maiol'es de 18 annos
e menol'es de 60 que no tenham impossibilidade para servir.
Assim que o qualifi avei os cidados ainda que no tenham
renda, O pl'ojecto n !~ - o d'elle - , mantem e contina
e ta di 'posio... As infol'maes so que a provincia do
Rio Gl'ande do Sul se compe pl'incipalmente de estancieiros
e pee , que e tes no tm a I'enda exigida pela lei de 1850 e
que em elIes no existil' ou no ser po i\'el a gual'da
nacional. Ma es a gente no se pode fal'dal' e su:::Ln ta I' ;
preciso fal'dal-os cusla do Estado, a despeza com os fat'da-
mentos e a etape impossivcl de ser fiscalizada, suscepti\'el
de abuso. -fio e p6cle adoptaI' o al'bitl'io de el'em esscs
guardas, cm I'enda obl'igados ao sel'vio dos COl'pOS destaca-
dos? Ento scriam ellcs faI'dado e susten tado , mas o abu o
scria menor e a fi cali. aco mai faeil por causa da organi-
zao. O l\larquC'z de Caxias oppunba-se ao alistamento
d'c ses homen , porque es e ali tamento um de~falque
para o exetcito cuja cavalIaria s p6cle ser composta d'e ses
pee . impolitico, diz cllc, no Rio Geandc do Sul recrutar
os gUaI'das nacionaes ali tados, que para logo sobl'evem o
despeito, os mo'tivos de pundonor, de bl'io c amor pt'Opl'io,
os quaes podem pI' a guarda nacional em conGicto com o
ex rcito. Alis seria o ali tamento da gual'da nacional um
auxiliar do exercito, sCl'vindo como de recen eamcnto para
um re l'Utamento rcgulal" e menos cego e aventureiro do que
o actual. Confesso a V. Ex. os l'eceios que tenho de que pl'e-
valeam e ses pensamento do meu nobl'e colIeo'a os quaes
eu reduzo a duas palavras nem Exei'cilo 1Iem Gual'da i\acio-
nal. Se e ses individuos sem I'cnda fossem effectivamenLe
I'ecrutados e a caval1aria ficasse completa e pl'cenchida, cnto,
tollitlll' queslio, era desneccssario o alistamento d'clIes, porque
era desnecessario auxilio da guarda nacional; temo, porm,
que elles pelas dif'ficuldades do recrutamen to no sejam
l'ecrutallos, que os COl'pOS continuem desfalcados, que elles
~G8 UM ESTADISTA DO IMPERIO

no prestem servio nem como guardas nacionaes nem como


soldados ... No smente no Rio Grande do Sul que domina
a ida de que se no deve ou se no pMe recrutar na guarda
nacional. Em meu conceito preciso no tl'ansigir com essa
ida, mas destruil-a, porque alis no teremos exercito
pelos abusos das qualificaes, as quaes tm por incen tivo
essa mesma ida funesta e destruidora do exercito; desde que
no houvel' o interesse da qualificao como exclusivo do
recrutamento, o abuso diminuir. Il

Sobre a guarda nacional, no mais no Rio Grande do Sul


smente, onde clla tem um caracter peculiar, mas em todo o
Impel'io, a seguinte confidencial a Paes Barl'eto (em 10 de
Dezembro de 1855) contm o pensamento intimo do governo,
a necessidade de conciliai' a efciencia militar e o caractel'
nacional da insLituio com a lei do partido, nosso direito
publico essencial. V-se bem n'estas instru;:es o espirito,
como elle chamava eclectico, do ministro da Justia.
cc Quanto guarda nacional preciso ol'ganizal-a de modo
que ella seja uma fora publica, e no fora de um partido.
Repugna que uma parte dos Brazileil'os seja destinada para
officiaes, e a outra s para soldados. Convm, pois, contem-
plaI' as inluencias legitimas de ambos os lados, comLanto
que tenham merecimento, e no sejam hosti ordem pu-
blica. O commandante superior pMe ser a infiuencia de um
lado, o chefe do estado-maior pde ser a influencia do outro
lado, assim ficam equilibradas as infiuencias e sati feitos os
animos, entretanto que o governo pela faculdade que tem de
dispensar qualquer d'essas patentes neutmliza o mal que ellas
podem fazer. Quanto aos corpos a difficuldade digna de
considerao, pOl'quanto a disciplina e a ordem publica exigem
que os officiaes do mesmo corpo vivam em harmonia e se
no hostilizem e desmoralizem; exigem tambem que o com-
mandante seja por todos respeitado e coadjuvado. Como
resolver o problema? Pelo modo segu'nte :
1 A nomeao do commandante decide da nomeao dos
officiaes subaltemos : quando o commandante nomeado para
o IL '[ 'TRO DA JUSTIA 369

um corpo fr caral1{jltejo, caranguejos e de sua confiana


devem sei' os re pecLivos officiaes;
2 Todavia a regl'a antecedente no deve ser absoluta e
ha utilidade em que para cada companhia haja um official do
outro lado, porque bem pde acontecer que o O'overno tenha
nece 'idade de di pensar o com mandante, e os officiaes que
so do mesmo pensamento pOl' despeito podem fazer parede e
de am parar os po lo , etc., a sim que pde cada companhia
ter um om ial no ho til, mas do outro lado;
3 Aonde h uver doi batalhes podem ser contempladas
as inl1u n ias de ambos os lados;
'*0 Aonde houver um s batalho e inl1uencias rivaes, a
mai forte, legitima e que mais O'arantias offerece de lealdadc,
dedicao e aptido deve ser prefel'ida.
Estas rcgras podem sofrl'el' as modificaes que as cir-
cum tancia imperio as e impl'evistas houverem de detel'mi-
nar entl'ctanto guiando-te por ella' creio que ali fars
nossa politica.
E novamente, em 26 de Janeiro de 1806 : Queremos antes
de tudo que os postos sejam preenchidos por pessoas de me-
recimento, qualquel' que seja a sua opinio; no queremos
gente m, qualquer que seja sua opinio: assim que queremos
a harmonia, mas no cu ta da moralidade e do mereci-
mento. Em resumo, cmtel'is pa7'ibllS, e em igualdade de cir-
cumstancias, a confiana do commandante uma condio
de preferencia, quando, attenta a animosidade que domina a
localidade e divide as pes oas, se deva recear conOieto entre
o dito commandante e officiaes. Seria tambem talvez boa
poliLica que V. chamasse aos commandantes nomeados e,
fazendo-lhes sentir os principios exposto', os induzisse e
aconselha e a no olharem a parcialidade, seno e princi-
palmente o merecimento e considerao pes oal dos indivi-
duos propostos. Penetl'ado como V. deve estar do nosso pen-
samento, confiamos que a execuo e applicao seja con-
forme s nossas vistas, fugindo quanto ser possa dos dois
escolhos: reaco, exclusivismo.
Tambem sobre as aposentadorias de magistl'ados corres
I. U
370 UM E TADI TA DO DIPERIO

ponde-se elle, no s com Sergio, como vimos, mas tambem


com Sioim b. Dos presidentes, Si nim b quem appro, a o
acto com' mai -enthusia mo, achando que devera ter COl11-
prehcodido outras Rela -es. cc D te, com effeito, um gol[ e
de Estado, de que nioguem podel' aceusar-te seno por ter
sido dado com can ivete. A Relao da BaIJ ia n e t em
melhores condie- do que a de Pel'l1ambuc . Vou clnl' pressa
em mandar-te a cpia do proce o de moeda faLa que de
P}'Oposito tem sido demorado. (Car'la de 19 de Dezembl'o).
E Nabuco respondia logo ao receber a carta (2G de Dezem-
bro) : cc Em verdade sel'ia de canivete, como bem di t ,o
golpe contra os desembargadol'e', se elle pal'a 'e em tl'e.
Desejo que para ii, alm como meu propo. ito remettas o
traslado que exigi e digas com energia a tua 01 inio contra
os desembargadores dessa, indicando-os, na CUlta confiden-
-cial que deve acompanhar ao dito traslado.
A moeda falsa reclamava, como o tl'8fico uma mr.diJa
exemplar. O caso da Baltia era escandalo o. A Relao n'um
processo d'aquelle crime no se limital'a a absolveI' os con-
demnados, responsabilizou o chefe de policia. SI'ia bonito,
escl'evia Sinimb a Nabuco, que o Wanderley e o lono-
cencio Goes fossem occupar na tarimba da Correco os
logares ... dos moedeil'os falsos!... Em que progresso va-
mos! E n'um reseI'vado (ti de Abr'il de 1807), deante
do pl'ocedimento do tl'ibunal que absolve o moedeiras falsos
e prolluncia a autori lade que os pel'seguiu, reclama providen-
cia do governo. Dois dias depois pal'ece tremel'-lhe, talvez
por Nabuco, a mo (lue devia em 18G1: fulminar mais alto
que as Relaes, o proprio Supremo Tribunal, porquanto diz
ao seu amigo ministl'o da Justia: Se dres algum golpe,
v as cabeas em que descal'rega!J e attende se a occa io a
mais OppOl'tu na, porque em verdade ln nocencio foi descui-
dado Ia policia e no se usou sempre dos meios mais morali-
sados par'a a descoberta do cl'ime. Nabuco tinha opinio
formada. Se os documentos que elle requisitara de Cansano
tivessem chegado a tempo, muito l)l'ovavelmente elle teria
feito na DalI ia contra a moellu falsa o que fizera no Recife
o t1IINI TRO DA JUSTI<,.A il71

para atel'rar o trafico. No volume em que encadel'nou esses


pap i o dossiel' do. moedeiros falsos figUl'a sob e te titulo :
cc Aposentadoria dos desembargadores da Relao da Bahia.
Se abuco tivesse continuado no ministerio ter-se-hiam assim
visto outl'as execues na alta magistratura. CI A absolvio
dos traficantes de Sel'inhaem, escrevera elIe a Sergio (5 de
Janeiro 1851) apenas deu occasio a um acto que o governo
pl'emeditou ha muito tempo; no coisa unica e isolada ...
ElIe formulava o systema, a condio, das aposentadorias for-
adas d'e te modo: c( '" Dependendo es a medida especial de
um bill de indemnidade, ella s6 de"ve recabir sobre magistra-
dos, cujo nome eja pronunciado como unica defesa do mi-
nistro que appella para a consciencia publica ('1). Il O acto no
era assim do Poder Executivo s6mente j era do governo, do
Parlamento da opinio que o innocentava.

XII. - Politica Pernambucana

Uma correspondencia considel'avel de abuco a que se


refere politica Pel'nambucana, em que elle era directamente
inleres ado. A situao em Pernambuco durante o ministerio
Torres-Paulino fra esta: os Praieil'os tinham rompido com o
IJle idente Jos Bento; os Saquaremas estavam descontentes
por se per uadil'em que o governo geral os abandonara ao pa3so
que o pl'ovincial os hostilizava; por ultimo, os Guabirs
sustentavam o presiclente e combatiam o gabinete, sob o nome
de parlamel1tm'es. O governo no tinha partido na provincia.
Os seus amigos, chamados saqual'emas e representados pelo
jornal a Justia, el'am um pequeno grupo. Uma reuni9 qu~
elles projectaI'am foi prohibicla por ter sido convocada para um
edificio publico, apezal' de eslarem te ta d'elles homens de
irnportancia como Muniz Tavares, Pel'etti, ]\Jendes ela Cunha.
Os fidalgos guabirs, dizia um corre:pondente, desprezam

(1) Mesma carta a Sergio de 5 de Janeiro.


~72 mI E TAOlSTA DO IMPEIUO

esse pal,tida (I). Com effeito era elle uma formao ofl1cial,
que e di.ssolveu com a enteada de Nabuco para o mi ni terio (2).
A impresso causada na provincia pela entraua de Kabuco
foi que pela primeira vez o partido alli chamudo C[ da Ordem )
estava representado no govemo. Esse partido conseguia
assim o que no tinha conseguido a Praia na antel'iol' ituu~o.
Kabuco, entretanto, no devia no mini tel'io in:pil'uI'-Sc
em antigo preconceitos locaes; seu centro de aco havia
passado d provincia para a cl'te; elle no el'a mais rn sen-
tido nenlJUm um politico de provincia. POI' isso mesmo que
estivera em lucta encamiada com a Pmia durante os pri-
meil'o annos de sua carl'eira, que pl'ecisava agol'u dar
arrhas de impal'c:alidade, tolerancia c genel'osidade politica,
e se o progl'amma da concilia~o era sincel'O como um ponto
de hOl1l'a) cm sobr'etudo provincia onde a lueta dos partidos
chegara at a guerra civil que elle se devia mai particular-
mente applicar, Acontecia que o Presidente do Conselho era
lIonorio, o qual tinha mostrado em Pemambuco quel'er para
a provincia uma politica de apaziguamento, de e 'quecimento,
de vida nova, e que podia acompanhar com conhecimento de
causa a attitude alli <lo seu ministl'O da Justia.
Da perfeita conrol'll1idade de vistas de abuco com o seu
chefe resultaram alguns desaccordos entre elle e o partido, mas
nenhuma d'essas di\'el'gencias teve alcance e importancia.
A Praia estava esmagada, ,dispersa, e sem chefes, no fazia
mais sombra ao partido dominante, a resurl'eio do dominio
pl'aieil'O era impossivel; as desintelligencias eram quanto ao
grau de moderao que se devia mostl'ar, sobre as pessoas que
convinha chamar, sol re a extenso que convinha dar ao pen-
samento conciliador. Em '10 de Janeil'o de f81: elle escreve

(1) Carta escripta ao antecessor de Nabuco, conselheiro Antonio


\uiz Barbosa.
(2) O pl'esidente Jos Bento d conta assim do efTeito da noti-
cia: II Todos osguabirs mo. tl'am-se satisfeitos; todos os justiceiros
ficaram desapontados e os praieiros como que estuporados. n
" Que fazer da gen te da Justia? perguntava eUe. RecebeI-os ou
deixai-os ir para a Pmia?
o ~IlNI TRO D. JU~TIA 373
a Boa Vista, o qual se queixam do inditre1'entisl1W que come-
ava a lavrar em politica: O indiCferentismo de que me
falias coisa natural depois de uma grande lucta, depois de
uma victoria to dccisiva, e, por maiores que ejam os e foros
humanos, nada capaz de fazer gerar o enthu iasmo aonde as
idas so as mesmas, velhas, j decididas e julgadas, aonde
no occorre uma iela nova, um interesse novo. Este estado
de coisas ha d mudar, ma cheganelo a occa io propria;
convem apr veital-o para no vil' ahi uma reaco lue se
torne um remedio peol' que o mal. li
Por occasio da gI'aas elo 2 ele Dezembl'o, em 18M, os
chefes cavalcantis protestam perante Nabuco contl'l a incli-
clu o de antigo Praieil'os no despachos. e V., respondia
Nabuco a Boa Vista o qual cOO1pal'ava os nomes elos rebeldes
agraciaelos com os do c1 Cen 01' da ordem e quecidos, se
V., pcnetl'ou o c pil'ito e. tema que pl'e idil'am a e sc acto,
no tem razo de condemnal-o. Concedo que V. po a con i-
deral' crrada a applicao do principio quanto a uma ou outra
individualidade, mas no pd cm inju tia negar o prin-
cipio. O principio foi que no conyinha que as graas s
coube em exclu ivamente a um pUl'tido, e que a munificencia
Imperial s de eria extender a todas as opini-e. Como, sem
contrariar o principio e o acto da amni tia, e poderia excom-
mungal' todo o:> Praieil'o e tornaI-ps inimigos naturaes da
monarchia? Identificar a monarchia com um pal'tido? A com-
]Jal'~c;o dcve er pois dos nossos com os nos os, dos Liberaes
com o Libcl'aes, mas no do no so com os Liberaes, porque
esta compal'ao importa o exclusivi mo das graas. (Carta
de 8 de Janeiro de 1856).
E de novo ao mesmo em 18 Fevereil'o : cc No fallemos mais
nos despachos do dia 2; ei que do no os fo te aquelle que
os olhou com mais tolel'ancia e reflexo. A carta do nosso
Pedro (Camal'agibe) me pa mou por tal modo que pensei que
era escri I ta no dia 2 de Fevereiro de 1849, ha seis annos
atl' (1).

(1) Em I'C posta a um repa 10 do Cumaragibe sobre o grande


374 mI ESTADISTA no lMPERIO

Com effeito a lembrana do 2 de Fevcl'eiro s6 existia entl'c


os partidaL'ios extremados de um e Outl'O lado, e politica do
governo con inha uma politica que correspondesse ao pen-
samento da conciliao, que el'a a mais completa das amnis-
tias, pOl'que era a partilha do poder e das posies. O que
eram em relao amnistia as idas da poca v-se bem na
questo Felix Peixoto. Felix Peixoto, antigo juiz de direito, que
tomara parte na revoluo de PCl'llambuco, fra condemnado
e depois amn istiado, pedia o pagamento do seu ordenado
desde que o deixou de perceber, em Dezembro de 181:8. Entl'e
o precedente que allegava, o mais concludente era o occor-
rido com o coronel Jos de Barros Falco. Com mandando a
armas na provincia de Pel'llambuco, adherira este I'~voluo
do Equador, fugil'a para o Estados-Unidos c fl'a sentenciado
morte. Amnistiado, voltou ao Brazil e recebeu todo~ os
soldos que se lhe deviam, levando-se-Ihe tambem cm conta
a sua antiguidade sem nenhuma inteI'l'uI o. Em 1851 Hol-
landa CavalcanLi e Alves Branco firmal'am juntos o eguinte
voto em separado em favo I' do capito da 4' classe do exercito,
Manoel Joaquim de Lemos: ..... O artigo unico do Decreto'
n 31:2 de 14 de Mal' o de '18'~4 que diz a sim - Ficam amnis-
tiados todos os crimes polticos commeltidos em o anno de
18-12 nas p1'ovincias de S. Paulo e Minas Gemes e em pel'-
petuo silencio os pl'ocessos que p01' motivos d'elles se tenham

merecimento dos que prestaram servio nas cri es a1'l'i cadas J,


in~inuando que muito' d'e ses tinham sido sacl'ificados: II Re 0-
nheo isto e i .. to tambem um elemento do problema, a resoluo
do problema deve ter em vista este elemento ..... esta con 'iderao
no e quecida na politica eclectica que seguimos. Se fosse assim,
no havia problema, tudo seria facil; a difiiculdade est. justa-
mente na combinao e no na unidade, no campo to e no no
imples. li O problema do gabinete era goyernar com os Caval-
cantes, attrahindo, porm, os Pl'aieil'os. Perguntando ao mesmq
Pedro Cavalcante em cnfian ao que pensa sobre a administra o
de Jos Bento, escreve-lhe abuco: Sati 'faz eUe a uns e attl'ae
a outros? Combinar e'ta dua coisas o pl'oblema que queremos
1'8 oh-er. Ex.tender o circulo, mas no sul. tituil-o; unir 11ns e
outrJ , mas no pel'del' uns paI' outl'OS, eis ainda mais cla.ro o pen-
samento.
o ~I['\l~ TItO D,\. JU'-'TlA 375

instaurado, no. estabeleceu que no 'e tomasse conhe<.:i-


mento de taes cl'imc como impoz silencio aos processos
instamados pOI' moti"? d'esse mesmos cl'imes. Ora, se a
perda, ainda tcmpol'aria, do 'oluo militares uma pena;
e pal'a r impo ta uma pena requer-o e um pl'ocesso, como
podera se i n taUl'al' proces.'o a alguem por crimes que o decreto
de 'H ele l\Ial'o de 18 H manda amnistiar? XI o ca o Clue-
Ihante d capito reformado FI'anci co Fernandes de Iaceelo
del'am e con. Iheil'os de E. tado o me~mo parecer, pleva-
lecendo, porm, o da maioria das Seces que s fu ndava nas
instruces mandada executar pai' decl'eto n 263 de 10 de
Janeiro de 18/~3, artigo 11 : a: O om iae quel' e[fectivo quer
reforma lo ou da 3 cla se envolvidos em crimes politicos
no tm direito ao pagamento do soldo pelo tempo que tive-
rem lado au ente do en"io, e, e fUI'em amni tiado , sero
pacro mente de de o dia em que forem restitui I s ao en'io
pOI' rfeito da a !1111 i tia na conformidade da Re olues de
Con 'ulta de 6 de Outubl'o de 183~ e '7 de Ago to da -181,1"
Decreto nO l de 9 de Abril de 181,2 e Avi o n 31 de 30 de
Maro do me mo anno.

m preceden te, pOl'm, ai nda mai adequado ao caso de


Felix Peixoto do que o que elle citou el'a o acontecido om o
di'. Antonio Arfoo o Fel'l'eil'a, que, tendo ido chefe de po-
licia, abraam a causa da rebellio em Plwnambuco. Este
facto adduzido pelo mcial de gabinete de Nabu o Pel'eiI'a
Pinto, em uma informao que lhe !we ta. Tendo falle-
cido antes de ser concedida a amni tia, te 'e em eu fa, 01' uma
Re oluo Imperial (( que o declarou compl'ehendido n'}S
amnistias concedida aos OUtl'O ro. da revolta Pernambucana
para o effeito de competil'em ua "iuva e filhos os rdenados
,que a elle como juiz de direito pertencel'iam, e a amni. tia
lhe houvesse sido concedida , e em consequ n ia d'e e
decreto mandou-se pagar viuva o ol'clenado do eu marido
desde o dia cm que elle deixara de perc bel-o at a morte. A
resoluo tem a data cle 2!~ de Fevereil'o de '1806. Tambem o
dr. Jel'onymo Villela, condemnado pI'i 'fio perpetua, p~lo que
376 UM E TADI5TA DO 1;\J PERIO

perdera o seu logar de lente na Academia de Olinda, foi


reintegrado depois da amnistia.
O desejo de I abuco attrahir para os mais altos postos da
provincia os chefes politicos de maior responsabilidade. POI'
isso nomeia Boa-Visa commandante superior da guarda na-
cional e pede-lhe que no recuse; offerece com in. tancia aPedro
Cavalcanti o cargo de director do Cur o Juridico, que elle
acceita com a condio de se removei' a Academia para o
Recife. E sa identificao dos chefes do partido com o governo
dava fora moral ao governo na cl'te e sel'via ao mesmo
tempo pal'a moderar' o dominio partidario na provincia. O
gabinete no queria que se o suspeitas e de no ter partido,
o que qlleria el'a alargaI' o partido do governo.
A Jose Bento, por exemplo, Nabuco escl'eve em 1 de Ja-
neiro de 'J8M : A imprensa ahi no vai bem; o altruismo
do Dia1'io quanto aos partidos, querendo que o governo se
considere extranho a elle , independente ab. olutamcnte d'elles,
e por consequencia da opinio pal'a a qual o~ me mos par-
tidos ::oncol'rem; a animo idade e exagerao da Unio no
antagonismo e recriminaes, no condizem absolutamente
com a politica do govel'llo. E 'ao dr. Braz FlOI'entino, insis-
tindo nas mesmas idas: ..... Devo dizer-lhe, meu amigo,
que ha exagerao na doutrina que o Dim'io tem pI'oclamado
e que consiste em ser o governo alheio e indilTcl'cnte a todos
os partidos, em no ter o governo um partido. Era o mesmo
que I'enunciar o governo opinio par'a a qual concol'l'em os
partidos. Quer o governo um partido, mas um partido mora-
lizado, que mantenha as idas conservadoras e de progresso ...
quer o governo esqueccr os odios e animosidades politicos,
extender, ampliar e regenerar o partido conscl'vador, mas
no substituil-o. Se exagerada a doutrina do Dia1'io, peor
me parece a da Unio, que ainda quer conservar o exclusi-
vismo e intolerancia das outras pocas. A doutl'ina do Diado
tende confuso das crenas, ao scepticismo i a da Unio torna
as crenas prejudiciaes, exageradas.
nas elcies de 1856 que se dcve accentuar a disposio
de Jabuco favor da antiga opposio Praieil'a. Veremo
o i\'II TI TRO DA J STIA 877

mais longe o que elle consegue do seu partido na provincia


na execu o da lei do circulos. Em Maio de '1806, entretanto
as umim a presidencia Sergio de Maceuo, succe 01' de .To
Bento. O que dcterminal'a a nomeao de Sel'gio fl'a princi-
palmente o facto de 'erinhaem; no concorrera menos, porm,
para i o o peno amento eleitoral de Paran, a ida de que
pl'e idi e e]>j~o um homem in 'u peito provincia. Sergio,
porm, apaixonou-se pela empreza generosa cuja pel' pectiva
e lhe ia O'l'adualmente descobrindo medida que a oppo. io
cobrava animo com a prote o que elle lhe dava e quer
fundar m Pe1'llambuco um pal,tido liberal constitucional,
util ao governo qualquer que elle seja .
V clem nto' pat'a es e pal'tido. O Villela Tavares a
pedra angulal" o Netto (Lopes NeLto) o usten ta e an ima.
(Cartas de Janeiro de '1857). Villela pela importancia que
lhe do :eu talcn to , sua vida privada sem macula e a po io
de d putad videntemente bem acceito (mas no bandeado)
pelo g v rno, era o unico homem que podia servil' para alguma
coi aao antiO'o Pl'aieil'os. ElIe o ho tilizam edescompoem.
O re t da Pl'aia estavam unido em torno de Feitosa, 01-
tando contra todo que e approximavam do pre idente o grito
de vendido ao governo.
E. ta gente, eSCl'eve Sergio a Nabuco, no est acostumada
a vel' maneiras como as minhas e junto a um angue frio
imI el'tul'bavel, humor alegre, frmas attenciosa. Elle
tinha vi ivelmente ido pal'a o Recife continuai' a sua carreil'a
de diplomata, com o pl'OpO ito firme de tomar tudo do melhor
modo e de figuI'ar em qualquer' revolta da Praia, se por aca. o
f'urgisse algum", to COITectamente como em uma quadri-
lha das Tulhel'ia . O palacio da pre idencia voltava ani-
mao dos tempo de Boa Vista, com um tom, porm, e tran
geiro de etiqu la e ceremonial. Sua graeiosa filha ajudava-o
a conservaI' na provincia os seus habitos de vida uropa,
fazendo as homas da presidencia como se f6ra a Legao de
Londres. Cl'eio, e crevia Sergio, de vanecido d'ella, CJue
um dos maiores elementos de civili ao que tm vindo a
esta t ITa.
378 U~l ESTADISTA DO DIPEilIO

Nabuco, porm, no acreditava na obra dc Sergio. Para


elIe este na provincia um diplomata em disponibilidade,
politico de occasio, portanto simples tOll'l'iste que passa pela
presidencia, como pas ar pela Camara e pelo ministerio,
pensando na futura legao que ha de occupar quando se
puder vr 'livI'e de tudo isso. Assim escI'eve-lhe: Vi os arti-
gos do Diario de 27 e 31 de Dezembro, )) al,tigos inspirados, se
no escriptos por Sel'gio, tendentes nova direco e rcge-
nel'ao do partido Liberal d'essa provincia : louvo e applaudo
as vistas largas e eminentemente politicas com que V. Ex.
pl'ocecle, entendo mesmo que seria um grande l)l'incipio de
estabilidade.e de ol'dem a organizao de um partido Libel'al
nas eondies que V. Ex. define, partido intermedial'io entl'e
os conservadores e os radicaes e anal'cllistas, mas luvido
que isto seja possivel e efIlcaz pclo modo que V. Ex. quer e
inspil'u.
Era preciso que houvesse a convico de um chefe, a f
cio' pro 'elytos; a sLl 'peita mala toda a esperana; a populaa
v no Villela no a propria convico, mas a in pil'a o de
V. Ex., que no pde querer o interesse d'elles contl'a os seus
intel'csses politicos. A coi. a, poi , se reduz a uma qu to de
individuillidades ; .se V. Ex. fosse o chefe, o pal'tido taria
formado ou extremado; no tem V. Ex. essas idas, no as
pde inspirar. Infelizmente no cel'tame vencer o Feito 'a, que
tem mais f do que o Villela, que suspeito; infelizmente
dominar ainda o Feitosa e com elle a anarchia. Em vel'dade
ahi no ha mais I al'tido Ubel'al; ha anarchi.. tas, demagogos
que conspiram contra qualquer actualidade, que querem
denubal' tudo, inelu ive o poder que elles pl'etendem e qu~
tornam impossivel. )
E, como se sentia do mau acolhimento que em ambos os
campos politicos tivel'a o golpe que elle desfechal'a contl'a a
magistratUI'a, deixa escapaI' esta queixa: (( Pal'a prva do que
digo basta considerar que o antigo partido Libel'al tinha 1)01'
sentimento e enthusiasmo o antagonismo contra os Caval-
cantis e O' senhores da tena, e hoje o partido que se diz libe-
ral, no seu furor de guerrear o govemo, cenSUI'a as aposen-
o MINISTRO DA JUSTIA 379
tadorias dos desembal'gadores que absolveram os Cavalcantis
compromettiuos no uaDco de Serinhaem. II

XIII. - Borges da Fonseca.


,.
Prende-s de algum modo poli tiea Pcmam bucana, ou antes
mo tra quanto tinham arrefecido os antigos odios da Praia,
o epi odio, dUI'ante a administrao de Nabuco, do Repnblico,
de Borges da Fon e a, folha cuja propaganda era ainda mais
dil'igida contra os Portuguezes do que contl'a a monarchia.
Depois de 2 de Fevel'eiro no tinha Borges o que fazer no
Recife e, revolucionario cm di ponibilidade, voltava crte:
onde em '1831 tanto inf1uil'a nos qual'teis para o '1 de Abril.
O momento no era, pOI"m, favOl'avel para os prgadores de
ida.. exaltadas; o descI'euito d'ellas el'a profundo, os in-
stinctos de conserva<;o estavam em guarda, ensinad pela
expeI'iencia dc tempos calamitosos em que o Imperio esteve a
ponto de dissolver-se em pequenos estados entregues ao espi-.
rito de faco. Ainda assim, o governo no via com inc1il'fe-
rena a aco de um tribu no de raa e de I rofi so, como
Borges da Fonseca, agitando o preconceito nacional entre a
tropa c as classes popula'es : a onda que elle levantasse con~I'a
os Portuguezes investiria, victoriosa, as insti tuies mais
altas. Nas provincias havia certa inquietao. Antes mil
Republicas nas provincias do que um s no Hio , escrevia
Wanderleya Nabuco.
As informae da policia eram que casa de Borges,
chamado o Republico, concorriam soldados, especialment~
do batalho de al'tilheria; que elle tivera uma conferencia
com o ministro Americano para a proclamao da Republica
em Pel'llambuco. Nabuco conhecia de longa data a Borges da
Fonseca, dcfendera-o pela imprensa quando a Praia movcu
processo contra elle; devido a es.sas antigas relae', uma
vez que se encon traram, insinuou-lhe que fizesse alguma
modificao em sua propaganda No tinha grande illus50 a-
soo !VI E~TADI TA DO IMPElUO

c se re peito o mini tro da Justia, ninguem melhor do que


elle conhecia o tem.peramen to e a natureza do agitador per-
nambucano. Em qualquer combinao que enteassem BOI'ges
lhes levaria vantagem porque pertencia escola dos que para
servir cau'a Popular reputam todos os meios legitimas.
O gl'ito ue Republica, le Constituinte, de com mel' ia a re-
ta]110 naciona I, de mala 111a1'il1hei1'o! havia sempre de reper-
cutir n'elle. Elle no se podia trahir a si me mo, mas Borges
no duvidal'ia cm se alliar ao governo, a qualquer governo,
ma o governo que se alliasse a elle seria um governo
prisioneil'o da revolu<;o, um governo po to ao servi<;o da
anarchia.
Pell' algumas cartas e cripta por BOJ'ges a abuco v-se
bem do que conversavam. Ellas fazem conhecei' o homem, seu
grau de cultura, sua disposi<;o revolucional'ia; so docu-
mentos interessantes do antigo espiJ'ito nativi ta e da am-
nidade que elle tinha com as idas republicana'. Por clIas e
v como Borges era igualmente minucioso, tanto nointel'cs'e
que tomava pelos seus camaradas e auxilial'es, como na inqui-
sio que exercia. obre a vida dos Portuguezes no Brazil. Por
esse motivo mel'ccem ser conhecidas: '[io a photogl'aphia
do velho Jacobini mo de que Borges da Fonseca foi s m du-
vida a principal cneal'l1ao.
A primeira carta de 3 de Maro (todas de 18;)],) : Ex mo
tal a preponderaneia que V. Ex. tem obre mim que mais
temo a minha fl'aqueza do que as pretenes de V. Ex. Uma
surpre'a no d logal' a refiexo, e a im, pen ando madu-
ramente, cumpre que hoje nos vejamos, mas sem o concurso
de outrem paea que possamos pensar com madureza e discutir
a ss.
V. Ex. procede como um cavalheiro que sabe apreciar a
posio em que est; be110 ouvil-o dizer: - Tudo contra
ns os ministro , nada que se refira ao monarcha, que
constitucional e muito constitucional.
No carecemos de tanta constitucionalidade; ns pl'eci-
ci amos de mais brazileirismo, dc mais e. pirito nacionaL
Para mim o rei deve ser rei, i to , no compl'chendo rei
o ML'\I TnO DA JUSTIA 8:>1

constitucional; o l'ei deve seI' absoluto: ou ento o povo


dcve goYcmar-se.
Disse-lhe cu hontem que S. M. el'a muito Pol'tuguez, que
os seu criado so abjectos, c V. Ex. l'epellio esta mi nha asse-
verar.o : attenda. Antonio Joaquim da Silveil'a particular,
valido do Impel'adol', principiou cozinheil'o em 1831, passou
a [lI'eadOI' do cobre, por ser pessimo eozinheil'o : hoje est
s nhor da boI a do Impel'adol', e da sua bibliotheca sem
saber lei', e temido no pao. Seu irmo, cozinheiro da costa
d'Africa, foi engajado como cozinheil'o da Cou lituio,
quando foi buscai' a Impel'atl'iz a apoIe; hoje pal'ticulal'
elo Imperadol', casado com a retl'eta da Impel'Utl'iz e goza de
immen. os favol'es.
E este dois il'mos se apl'opl'iam tIa mesa do Impcl'ador
que os mantem, ostentando gl'ande luxo.
Manoel Joaquim de Paiva em 1831 el'a canegador de
caixas; hoje pal'ticulal' com bom ol'denado, empl'ega seus
filhos no sel'vi() do qual'to do Imperadol', com grande ca a
pUI'a mOl'al', com e cra os ele Santa Cl'UZ para el'vil-o,
casado com uma Portugueza que vence 'l'8nde ol'denado a
titulo de engommadeira do Pao.
Jr)s Mal'ia dos Anjos EsposeI, pal'ticulal' de S. 1\1. a
Impel'atriz, antigo tambor do batalho de al'tilhal'ia do Corrmel
Bois, tambol' da guarda de archeiros, vence grandes ol'de-
nados, boa casa pal'a moral' na cidade, ajudante do porteiro
do gabinete do Imperador, hoje casado com a retl'eta do
quarto da Pl'inceza.
Alexand!'e Fortuna, em 1828 alfaiate do Pao, hoje
almoxarife, com poro de casas de grande valOl'; tem
gl'ande ca a para mOl'al' ao lado do Pao.
Jos Joaquim da Cunha, almoxarife do Pao da cidade,
com grande poderio sobre os criados, grande ordenado e
valimento, boa casa pa!'a mora!', escravos de Santa Cruz para
servil-o; veio de administrador do Itanhaem para pal'ticular
do Imperadol',' e d'esse emprego passou para o que est.
Pamplona Cl'te Real, oflicial da mo!'domia, com gl'ande
ordenado, muito poderio com a Impel'atl'iz e damas, com boa
U1\1 ESTADl TA DO IMPERIO

chacara pertencente ao pao para sua moradia, com escravos


de Santa Cruz para seus servios, carro, etc. Em 1828 era
servente de cozinha.
Joaquim Sachrista, moo da pl'ata, tendo-se mandado
fazer excellente casa para elle morar, bons ordenado , tendo
sido antes moo da estribeira.
Manoel Vicente, moo de estl'ibeil'a em 1830, carpin-
teiro das cavallarias, hoje particular, porteiro do gaLi-
nete Imperial, com boas esmolas ou penses. E todos e tes
Portuguezes. A maior parte dos outros creados 'o POl'tu-
guezes; e apenas ha alguns Brazileiros no emprego de
vassouras e de moos para carregal' caixas. Ora, sabendo
V. Ex. a influencia que naturalmer.te os creado alcanam e
o adeantamento que ousam, o que se pde esperar de um
monarcha assim cerr,ado de gente to baixa, e que a im
abandona os brazileiros?
(~ preciso bem meditai' tudo; os factos ahi esto todos'
os dias, e V. Ex. sabe que a Inglaterl'a, sendo o modelo das
monarchias, como dizem os reali tas, - no soffre seme-
lhante procedei' de seus reis, e ultimamente i\Ielboume, se
bem me recordo, impoz Rainha purincar a sua casa e eHa
se sujeitou.
Amo-o, mas quanto lhe possa fazer, deve estar na
altura do meu caracter, nc nelo certo que, costumado com a
pel'seguio desde 1824, no a temo, e antes pLlc ser que
ella me adeante. E s porque o amo fUl'ei por V. Ex. tudo
quanto puder depois de tudo friamente pensado e calculado.
A segunda carta de 9 de Abril:
Ex"'o. No esquea V. Ex. a necessidade de cimentar um
accordo, que p6de muito ser proficuo patria. O throno Por-
tuguez tem hoje por principal esteio o partido republicano.
mas o governo Portuguez uperintende em tudo quanto possa
elevar o cal'acter nacional, cura da educao do po\'o, dos
interesses materiaes, de modo que todos os ramos do pro-
gresso social vo caminhando segundo a actualidade do neino,
sem exageraes nem saltos.
I: Bem que para ir mais pl'ompto, a discusso sobre o prin-
o llt\rTfW DA JU:3TJ':A

cipio monal'chico ea pe soa do monal'cha era de indi pensavel


necessidade, como V. Ex. muito comprehende, e assim endo
grande o sa I'ificio que fa o tratando s da doutrina; a crise
em que nos achamo , e o desejo de ir a caminho sem apro-
veitar a paixes ruin do povo, me aconselharam o accordo
em que ficamo de considerar fI'a de discusso a pessoa do
Sr. D. Pedro II.
E te sacI'ifici tambem feito a Pernambuco, e, como lhe
dis e, a V. Ex. me rn , pam quem muito podero as sempre
foram a minhas ympalhia.
tio tenelo, quando me com pl'ometto, intenes alheias
aos meus compromi so e de ejando que a no a posiO
fique bem definida pal'a que cada um de ns po sa reclamar,
havendo falla, fl'ancamenle lhe e crevo.
lt V. Ex. j reconheceu que o cabeas da revoluo de Per-

nambuco esto l. UOS de embaraado , mas o meio para a


per eguio est aberto; aconselhando, porm, V. Ex. uma
amnistia geral dar-meha occasio de manifestai' meu pro-
fundo rcconhecimento ao monarcha, e d'ahi minha dedicao
p r sua pe .oa. I to dil'eilo, juslo, humano; - nem
Y. Ex. deve hesitar cm propl-o nem S. i\I. recusar. Assim,
de canados os 10YOS de Pernambuco, Parahyba e Alagas,
muito frte se toma a minha posio; e quanto maior fr o
conceilo mOl'al que eu gOZai', mais lucI'aro os que eu sus-
ten tal' e def nUcl'.
Scnl em tal caso politico decl'etar a amni Lia para todos
os crimcs Jloliticos at dala do decreto; por que n'essa
gcncralidade iriam o desgraado Vicente de Paula e o mise-
ravel Vinagre: a isto deyer acompanhar decreto de perdo
aos desertores do exer ito e policiaes pOl' causas politicas.
. Taes homens nada influil'o para pertUl'bar a ordem
publica; entl'etanto, emquanto V. Ex. estiver no ministerio,
e os actos do governo forem conformes para reslaurar a
na ionalidade, o governo Impcrial me considerar como sol-
dado e com prazer tomarei a direco contra os que quizerem
anarchisar o paiz.
No eSlado em que nos achamos pde V. Ex., eSlanclo de
S34 mI ESTADISTA DO IMPERlO

accrdo com o Sr. Paran fazer o bem, e esse bem est em


acabar a influencia estrangeira, e se restribarem VV. EE. nos
nacionaes: eu no temeria n'este caso obrar discricionaria-
mente; e nem temo ajudaI-os, quando o faam, para o que
lhes entrego a minha curta intelligencia e todos or:; meus
esfol'OS.
V. Ex. sabe que iniluencia estrangeira se tem devido
quasi todas as crises ministel'iaes, e se deve o dia 29 de Setem-
bro de 1848, e essa influencia ousa hoje manifestar-se contra
o governo do Estado; sem que ainda nos houvessemos en-
tendido, repelli logo essa tentativa. O governo e a monarchia
s ha de ser forte quando ns os Brazileiros os sustentar-
mos.
Esta Constituio no presta, nos trar sempre em
anal'chia ; vou dar a ultima vista em um tl'abalho que
empl'ehendi em Femando, de ol'ganizao con:titucional,
e lhe mostrarei, porque, substituida uma a outI'a, tudo
entrar na ordem e o throno ser tranquillo e segu'I'o, por-
que aeabar-se-ho as divergencias, e ns todos nos f1'aterni-
saremos.
V. Ex. vio o poder da nacionalidade na Belgica ; esse
ponto quasi imperceptivel na carta da Europa resistio ao
furaco de 1848, quando todas as testas coradas se viram
abarbadas. Leopoldo rei, goza de considerao; mas l
seguia-se a regra - cada coisa no seu logar, cada um para
seu objecto. Faamos assim tambem, e estaremos descanados
e serei o mais fervoroso amigo da nova ordem de coisas.
barbaro ver os Portuguezes senhores do Bl'azil, vel-os
importando africanGs e moeda falsa, vel-os saqueando-nos,
e ns os Brazileiros reduzidos miseria; - acabem com isto
e se vero cel'cados de todos os Brazileieos. Y. Ex. sabe que
para ahi vamos, no deixem pois essa gloria aos adversarios,
ou a um grande abalo social; faam o bem e sejam heI'oes.
N'este caminho serei o mais dedicado monarchista; porque o
meu anhelo a paz e a prosperidade cl'esta nossa teera.
O Se. D. Pedro d'aqui; sacrifique-se pelos seus, isto lhe
muito decoroso.
o MI I8TRO DA JUSTIA 885

Pudesse eu estar na Camara esta Sesso e en trassem os


Srs. n'e te caminho e me teriam na estacada contl'a todos os
seus advel'sarios' mas me tel'o infallivelmente na impren a,
onde vou inicial' medidas que encaminhem para alli a opinio.
Creio muito na ua lealdade e na do r. P~lI'an e pois
caminhemo, sendo muito conveniente guardar pai' ora
inteil'a l'e. erva, para que os no sos communs inimigos no
tirem argumento ontra nosso accol'do ante de c lar segUl'O
o tl'abalho ...
,( to franco o meu pI'oceLlimento, to onhecida a
minha lealda le, quc a ningllem pel'miLtido duvidai' um
in tante do meu cal'actel' e por tanto estamos fe hado em
um circulo; - no fat'ei mais outra conce o a V. Ex.,
salvo e o actual governo propuzer medidas jue tirem o
BI'azil d'e te meio ocial, e o nacionali em .....
A ultima cal'ta de '11 de Abl'il :
Ex Quando convinhamo , cedendo eu o deixar cm paz
lllO

o Impel'ador, e c dendo em aLteno tambem amizade que


Ihc consagro, contava eu que V. Ex. me tl'ata a com fl'an-
queza e lealdade; mas as uIti mas noticia do Norte provam
que a im no era o eu proceder; pOl' quanto, quando pro-
curava modiflcal' a opposi\o, mandava o ministerio ordens
secretas para assolar e devastar a pl'ovineia pOI' um barbara
recrutamento em tempo de paz, cabendo Parahyba
600 recrutas, o que bem mostl'a que ha da parte do governo
intene ini 'tras, quando as im procede e pOl' urpre:a.
N'esta situao, e quando o Norte as im ma sacrado,
quando o presidente da Parahyba barbaramente. derrama
sangue para fazer recI'utas, no posso deixaI' de fazeI' a mais
rigorosa oppo io. E como a cau a primordial o Impe-
radol', no po 80 deixar de dil'igir-me directamente a elle
pal'a as im convencer a nao da necessidade em que est de
acabar com a monal'chia.
N'este pre uppo to, sou feliz quando a no a conveno
no se tem comeado a reduzir a arte. o querendo sur-
prehendel-o, como o fui agora por e sas ordens barbaras do
ministerio, a minha lealdade e franqueza me impem esta noti
I. ::5
386 UM E -'fADISTA DO DIPEIUO

ficao a V. Ex. E poi - que o - facto_ que me mini3tr-am as


noticias do Norte me deixam convencer que V. Ex. no
tratava com sinceridade commigo e deslealmente I rOCUl'ava
embal'car-me em uma empreza que me manietasse no futuro,
pen o que ningu m de cobril' a menor falta de minha
pal'te, se a situao tornar onyeniente a publicao das
nossas negociaes e das minutas que n respeito lhe tenho
escripto, eXI)ondo fielmente quanto se passou entre n .
A entrevi ta de abuco com Borges ficou a ,im sem re-
sultado; elle continuou a publicar a sua pequena folha at
convencer-se de que o Rio de Janeico de -J 801, no era o de
1831; a tranquillidade da atmo phcl'a, de alguma fl'ma,
o asph xiava, a elle que s re pirava bem o ar de tempestade,
e em pouco tempo voltava paca o flecifc, cujo caracter nacio-
nalista e democratico o confocta a mais do que o indifferen-
tismo fluminense, duas veze viciado pal'a elle: de cortezanice
e de e trangeiri mo. Em 18;)6 surge novamente na Pal'ahyba
do Xorte inspil'amlo a Socieuade Popular e a nlalJ'CLca e publi-
cal1Llo o Pl'omelheu ('1). Sua decadencia, porm, el'a scnsivel

(1) " Supponho que ahi j no existem a Matraca e a tal


Populal', e::iCI' \'0 _ ab;.lc a Paes Bal'l'eto, pl'esitlente da Pttl'ahylHl.
em 10 de 1 0vembl'o de 1854; se ainda existem, cumpre que
desapparec;am es e focos de anarchia e imll101'alidade. /I A
Popular el'a uma _ociedade como se dil'ia hoje jacobina, animada
e dirigida pOl' Borges da FOII eca, de quem Bento Ponteiro el'a o
logal' tenente na Pal'ahyba. O al,tigo 7. 0 dos seus estatutos dizia:
" O fim da sociedade mantel' a integl'idade da nao, e pl'omo-
ver o desenvolvimento do governo democratico e {azer esforos
pal'a que se nacionalize o commercio a retalho, e tambem
defendeI' a todos os BI'azileiros que soffl'em pI'epotencias, e prin-
cipalment os 'ocios; assim como promoveI' a lenta manumi so
dos escl'avos. /I A NJatraea, o Prometheu eram pequenas folhas
volante", segundo o s)'stema do pa quim, que o que lCiUpel'uva
ulItio-amente a prepotencia da autol'idade. O pasquim exerceu
consideravel influencia el1 nossa politica e foi um dos pI'incipaes
instrumentos da sua pl'ofunda democl'atisao. Todos os partidos e
gl'UpOS serviam-se d'essa arma de deslUoralisao contra os advel'-
:Jarios. O systema foi Jielll1ente descripto polo dI'. Sarmento, que
o observou durante longos annos em Pernambuco. \1 Assim que
vem chegando o fim do quatriennio legislativo, ou quando ha clis-
Golu\io das Cam aras, a maior palte dos poriodieos existentes no
o MINI~TRO DA JU TrA 387
n'e se tempo; estavam pa sados os dias de 1831 e de 1848
em que se podel'a imaginar inv ~ tiuo ue uma e. pecie de rea-
leza tribunicia c julgar- e o Rienzi Bl'azileil'o (1). Era um
sobl'evivente da revoluo no meio de uma sociedade que

llecife tomam logo linguagem de in olita acrimonia, expro-


In'ando-'e os ol'g<io do grupos recipl'ocamente quanto defeito,
quanta m ten~fl e at quanto crime podem imaginar.. e os
l'cdactol'es d'e sos periodicos siio con hecidos e no quel'em per-
der-se no conceito do cidados hone to. de cendo para o' con-
vicio e insultos po soae , o gl'UpO a que pertencem, para no lhes
comprometter a hone'Lidade, faz 11.[ pal'ecer um ou mais pu quins
todos os dia, ou de dias em dia, confiando-o ol'dinariamente a
homen que nada mais tm que pel'del' na opinio publica e
muitas vozes a yel'dadeiro l'u de policia. A linguagem e os sen-
timentos osLenta,do n'o 'e pasquins o de todos conhocido., e
cllegam ao requinte da mai~ a tuta pel'vel'sidade. Basta dizeI' que
cheo-al'am elles a PUI' em leilo as innocen te filhas de um dos
no, o pre. idente ,indicando no annuncio a flualidades que
tin ham e para que poderiam servir. BasLa lembrai' que levaram
milito tempo a hamar ladl'o ao Ex mo Con. elheil'o Antonio
Pinto Chicborl'o da Gama, pal'tidi ta exaltado, sem duvida,
porm, magistrado e pl'esidente. integerrimo, de cuja notol'ia pro-
bidade nunca duvidal'am o desalmados pasquineiros, nem os
jUI'ados que levaram a audacia da impudencia a dizeI' que um
do nos 0- pl'esidente' era ince tuo o com ua propria filha. No
se poupava embu te, mentl'a, alei\"o ia, nem infamia que pudesse
'onvir ao, cher s do gl'llpOS pal'a apan haI' a plebe I'ude e a levar
ao aCI'iti io pal'a a l'ealizao de sua a pil'fl e. Pl'eparava- e
cuidado 'amente a pel'ver o da intelli",encia, con ummava-se
a orl'upo do cOl'ae, no intuito de tOl'nal' al'dente , e at
furioso, o. quadl'ilh l'os eleitol'aes, os quae iII capazes de com-
pl'ehenderem qualquer ida um tanto ab Lracta, Li leitavam-se nas
torpezas da calumnia saboreavam com d licia o matel'iali mo da
infamia. II (Em Reforma Eleitoral, Eleio Directa, colleco de
al'Ligo. ediLada pOI' Antonio Herculano de ouza Bandeil'a,
Re ife 185.-.,).
(1) Figueil'a de Mello faz no seu livro Chronica da Rebellio
Praieira um retl'ato de BOl'ges em que !Ia tl'ao verdad il'o
bem delincado~, l'esentindo-se, pOI'm, o retl'ato da in apaci-
dade dos espil'iLo' genuinamente conseI'VadOl'e, como o de
Figueira de Mello, pal'a comprehendel'em os tomperamentos
oppostos, como era o de BOl'ges: II Dotado de alO'uma intelligen ia
e cOl'agom; aco 'LlImado desde a sua mocidado a plan ar de'ol'-
clens, I'e 'stencias e revolu es, que pal'eciam t 1'- e torna lo um
elemento de sua inquieta exisll:ncia; el fUl'in!lnuo na d Utl'illll'
UM ESTADISTA DO IMPERIO

sentia to pouco o nacionalismo exaltado de 1830 como o


jacobinismo regicida de 1793. a galet'ia dos nossos tribunos
republicanos Borges da Fonseca figura, porm, como o que
mais distinclamente possuio a envergauura revolucionaria.

inexequiveis de escl~ptores demagogicos, desde Rousseau at


Cabet, que tinha por raculos; pertinaz sobl'e modo em susten-
taI-as pela impl'ensa e pela palavra ent!'e as elas e baixas da
sor.iedade..... a quem fallava sempre em estylo 1'a teiro e apaixo-
nado ao mesmo tempo; tendo extraordinaria obstinao em seus
planos de proclamar o governo republicano, a qual parecia au-
gmental'-se pelos trabalhos que tinha. soffrido de de que entrara
na carreira politica.. ,era esse caudilho depois da morte do dezem-
bal'gador Nunes Machado a cabea que dil'igia a revolta e o
braf;o que a sustentava..... To prompto a esquecer os beneficios
como as injul'ias, os homens mais inc1i"'nos e infames emm por
ellu elogiados como Cates, os mais honestos elevado e vir-
tusos rebaixados clas e dos grandes cl'iminosos, embol'a os
pri meiros j o tivessem offendido, ou aos segundos devesse bene-
ticios, embol'a o contrario de tudo isso j tivesse afflrmado cerca
de uns e de outros, com tanto que concol'ressem 011 se oppuzessem
aos sens damnados intentos I
CA PITULO VlJI

Trao geral da Administrao. -Morte de Paran.


- Eleies de 1856. - Fim do Gabinete.

A a tividade do ministerio Paran exerceu-se em quasi


todos os ramos da administrao; longa a lista das suas
fundae e I'eformas. Considerando como uma s adminis-
trao os dois gabinetes de 29 de Setembl'o e 11 de Maio em
que sel'vil'am Torres, Paulino e Manoel Felizardo, pde-se
dizeI' que no coube ao ministel'io Paran uma iniciativa to
fecunda c b,'ilhante como a do governo anteriol', que comeou
as e lradas ele ferl'o, a navegao a vapor elo Amazonas, a
illuminao a gaz e que alm d'isso extinguiu com tant.a
enel'gia como felicidade o trafico ele escravos; tambem na
politica exterior- no teve elle nenhum l'asgo comparavel
aI!iana contl'a Rosas, nem successo que de longe se pal'ecesse
com a victoria ele Caseros : financeil'amente, ainda nas aguas
d'esse outl'O ministerio que elle vai, porque o seu papel
dirigil' a experiencia e servir de gual'da-freio politica da
emisso bancaria da lei ele 1) de Julho de 1853, Se accre cen-
turmos ainda o Codigo Commel'cial e seus dois regulamentos,
a lei de terras, a creao das provincias do Amazonas e do
Pal'an e dos bispados de Diamantina e Cear, a reorga-
nizao da gual'da nacional, a reforma do thesouro e das
thesoural'ias, a administrao militaI' de Manoel Felizardo.
S!JO mI l~ TADl TA no IMPElUO

que por as im dizer fundiu de novo, em outros moldes, (.1


antes animou de outro espirito, o nosso exercito, por ultim.)
a organizao do corpo diplomatico, pMe-se dizer que o
governo de 1848 a 1853 esteve entregue a homens yerdadei
ramente de primeira ordem e que nunca elle attingin a mais
elevado grau de e 'pirito governamental unido competencia
admini tl'ativa (1).
A feio do mini terio Paran outra; no tem, como o
primeiro dos gabinetes da situao Conservadora, uma politica
exterior ambiciosa e hel'Oica. no elltra no seu programma
a supremacia no Prata; no tambem, como o segundo,
um governo que se pl'Oponha a grandes commettimentos
industria~ e. gl'ande~ surtos financeiros:., ua caracteriz~o
antes moral do que material, o trao predominante da ua
politica a conciliao, o congraamenLo, o arre~ cimenLo
das paixes que produziam as guerras ivis; a sua ambio f:,
fazer uma eleio liHe, na ordem administl'ativa fil'mar o
principio do direito em todas as relaes sociae:;, desen\"olver
e aperfeioar a itistruco publica, qual Pedreil'a deu notavel
impul o (2). Tem assim um SOpt'O liberal mais inten o, um
temperamento mais generoso, um e 'pirito mais clectico. O
homem que o preside o brao mais forLe que a no sa poli-
tica produziu. Os ministl'oS que o compem, compal'ado' aos

1. O ministl'o do lmperio do gabinete Torre. 1 Gonalves Martins,


depois Baro de S. Louren(;o, o mini. tro do gl'andes emprehen-
dimentos e iniciativas, e pil'ito audaz, resoluto, pl'ogl'e sivo,
creadol', que, entJ'elanto, desappal'ece do pl'imeiro plano da poli-
tica depoi. d'e ~a bl'illIante e fecundis ima passagem pelo .::;overno.
S. Loureno mais conhecido hoje pela sua ultima uppal'i~o no
Senado duraote o gabinete de 3 de Ago. to, isto como um dos
gl'andes improvisadores e humoristas da nossa tl'ibuna parla-
mentar do qu~ pelos seu. I'U gos de administl'adol' na pasta do
lmperio. A elevao e nobl'eza do seu camcter politico est em
synthese 00 f1rgullIo CJ ue ellc tinha de tel' cI'eado aguias, refe-
rindo-se pleiade bahiana cuja carreira favoreceu.
(2) E de Pedl'eiJ'a a refol'ma do ensino l1rimario e .:ecundal'iu,
do municipio da cl'te (decreto de 17 de Fevel'eil'o de 1 51), a
creao do Instituto do Cegos, a reforma das faculdade de
dil'eito e de I Jediciou, da academia de Bellas l'tes e outl'a .
FIM DO GAillNETE 391

seus anteces ores, repre entam a nova dil'eco das ida-, ao


pa o que aquelle , a despeito de poderoso concurso que pres-
taram aos melhol'amentos industriaes e mesmo em grande
scala ao de nvolvimento intellectual elo paiz, j esto poli-
ticamente estacionarios, ou antes so francamente I' gres-
si tas, perderam o contacto, a communicao com a phase
nova na qual elle me mos fizel'am o paiz entl'ar, upprimintlo
o trafico e abafando o e pil'ito revolucional'io (l).

(1) I a publicao official Organizaes Ministeriaes col\io-ida


pelo Bal'o de Jal'al'Y em 1 9 encontl'[l' e um resumo do pI'inci-
pae decl'eto da administl'ur:o Paran.. EI tl'e elles fio-uram eles:
Decreto nO 1293 de 16 de Dezem bro de 1853 (a ignado pOI'
Nabuco de Araujo, ministro da Ju tia) declul'ando que as peti\es
de gl'aa do ru. condem nado . morte devem seI' instl'uidas
com o h'a lado de todo o pl'oce soo
Decreto nO 1303 de 28 de D zembro de 1853 (as io-nado pelo
me mo) declal'ando que os Afl'icanos livres cujo serYic:o fOl'an\
uI'l'ematado pOI' parliculal'e' ficam emancipados depoi de
H anno , quando o requeil'am e providenciando obre o de'tino
dos me mo Afl'icano.
DecI'eto nO 1318 de 30 de Janeiro de 1 54 (a io-nado por Ped,'eil'a)
mandando executaI' U lei nO 601 de 18 de Setembl'o de 1 50 (lei
de terl'a ).
Decreto no 1331 A de 17 de Fevel'eil'o de 1 5~ (a ignado pelo
me mo) appl'ovando o regulamento para r'efol'ma do ell 'ino pri-
mal'io e ecundal'io do municipio da c()]'(e.
Decreto nO 13 de 2 de ALril de 1851 (a jgnado pelo me mo)
dando novos Estatutos ao. CUI'SOS J uridico .
Decreto nO 13 7 de 2 d Ab1 ii de 1 51 (a ignado pelo me mo)
dando novo E tatu to .1' Faculdades de :\iedicina.
De I'eto nO 14 9 8 de 12 de etembl'o de 1 5.1. (a. .io-nado pelo
me mo) CI'e[l ndo n'esta cUI'le um instituto denominado Impel'ial
]n tituto do 1eninos Cegos.
De I'elo nO 1-145 de 2 de Outubro de 1 54 (as jo-nado pelo me mo)
innovando o ontl'acto cel bmdo pelo governo impel'ia] com a
Compall hia d avega o e Commercio do Amazona .
Decreto nO 1458 de 14 de Outubl'O de 1 54 (as igllado }lor abu o
de Al'aujo) regulando o modo POI' que ele,vem . el' pl'esenies ao
PodeI' lV1oderadol' as peli 'e: de gl'aa e os relatorios dos Juizes
nos ca os ele pena capital e eletel'minando como e devem julgar
confol'mes as amnistas, perdo ou com mutao da pena.
Decl'eto II O 156 de 2-1 de Fevel'eil'o de 1855 (a ignado por
Pedreira) appl'ovando o regulamento complementaI' dos estatutos
UM E TADISTA DO DIPERIO

Encenada a sesso, o pensamento de todos voltou-se pal'a


.as fU~U1'as elci es. Segundo as idas de hoje a Camara, uma
vez volada a reforma eleitoral, devel'ia ter-se por di sohida.
Tesse tempo prevalecia o sentimento oppo to, o mesmo
expl'es, o por abuco em 1860 no Senado em termos que em
1880 teriam parecido contraproducente : Que fora moral
pdc ter um~ lei feita no anno da eleio, nas ve pel'as da

da Faculdade de Dieeito do Impeeio para a execuo de 3 do


aet. 21 do decl'eto nO 138 de 28 de Abl'il de 185-1.
Decl'eto nO 15m de 3 de t-.1aI'CO de 1855 (as~ignarlo pOI' Nabuco
de Araujo) appl'ovando o reo-i men to de custa. judic~arias, mandado
organizaI' pela lei nO 604 de 3 ele Junho ele 1 5l.
Decreto nO 1599 do 9 de Maio ele 1855 (as..ignado por Pedl'eira)
nppl'ovando o. Estatutos da Companhia Estrada de Ferro Dom
Pedro II.
Decl'eto nO 1664 ele 27 de Outubl'o ele 1855 (assignado pelo me. mo)
dando regulamento }Jara execuo elo decreto nO 816 de 10 de
Julho de 1855 sobre de, apl'opl'iac;o para con tl'ucc;o ele obl'as e
servicos das esteadas de rel'ro do Bl'azil.
Decl'eto nO 1707 de 29 de Dezembro de 1855 (as ign3do POl'
Silva Pal'anhos) promulgando a conveno celebrada entre Brazil
e PorLugal para punir e reprimir o cl'iIne ele moeela falsa.
Lei nO 874 ue 23 ele Agosto de 185B (as ignaela por '~'anderley)
cl'eando na capital do Impel'io um Conselho aval.
Decreto nO 1774 de 2 de Julho de 1 56 (a ignaelo por abuco)
elanelo regulamento para a casa de Detenco da Crte.
Decl'eto nO 1'"'81 de 14 de Julho de 1856 (a signado por Paranho )
promulgando o Lmtado de amizaele, commol'cio e navegao entre
o Bl'azil e a Confedeeao Argentina.
Decl'eto da mesma data (as ignado pelo mesmo) sobl'e limites
enlI'e BI'azil e Paraguay.
Decl'eto nO 1881 de 31 de Janeil'o de 1857 (assignado pelo l1al'-
quez ele Caxia ) approvando o regullll11en to para a repal,tio do
ajudante genel'al elo exercito (creada em vil'tuele ela autoeisao
da lei ele 30 ele Julllo 1856).
Decreto nO 1900 ele 7 de Maro de 1857 (assignaelo pelo mesmo
appl'ovnelo o novo regulamento do COl'pO de Sade do exel'~ito.
OS~I'-O nO 1929 ele 2 de Abl'L! de 1857 (assignaelo por Pedl'eira)
pprovando o contracto para o servio do esgoto na cidade do
Hi0 d'l Janeiro.
Decret aO 1930 da mesma data (assignado pelo mesmo) appro-
vanuo o regulamento para a fiscalisao de segurana, conser-
vaO e policia das estradas de ferro, em vil'tude do decreto
nO f\41 de 2G de Jun!lo de 1852, 14 do flrt. 1.
N'esse resumo foralT: omittidos leis e decl'etos mpol'tantes
FIM no GABINETE 3:.13

eleio, sob a p,'e' o da eleio? Que fora moral pdc ter


a el io que de sa lei provier e aCamara creatura della?
A fic ento era I)utra : no se deve uspeitar que aCamara
~ z a lei eleitoral para se fazer reeleger por meio d'clla.
o intel'valIa da es es o governo no se preoccupa seno
da divi 'o do irculo; o pensaipento de Paran fazer uma
el io livre, submettcl' a Conciliao ao voto do paiz e dc-

como a lei de 5 de Junho de 1854 contra o trafico, o decreto de


10 de Janeiro de 1 55 (Ju lia) abolindo os titulo de residencia,
a lei de 23 de Junho de 1 55 (lmpel'io) que estabeleceu o principio
da natul'ali ao do colonos que a signassem a declarao de
ser e sa ua vontade; o decreto de 2 de Julho ele 1 ~6 (Justia),
que regulou o el'vio da extinco de incendios na capital de
Imperio, I'eando o corpo de bombeiro.
r a historia ela admini tl'ao Pamn no se deve omitlir as
medidas e sobl'etudo a dedicao com quo elle (o Imperador,
Pedreira, e o di'. Paula Candido) luctou contra a epidemia do
cholera.
Apezal' de tel' sido Paran um dos incredulos quando os Teixei-
ras Leite de Vassoul'as e Outl'O faziam a propaganda de ulm!:
e. tl'ada de ferI'O en tI e a Cl'te, Minas Gel'aes e S. Paulo, foi no
eu miui tel'io que se organizou a Companhia da E tl'ada de
Fel'ro Dom Pedro II, a qual tomou a i a execuo do contracto ce-
lebrado em Londres por Sel'gio do :Macedo e deu comer;o n,f;
oOI'as da E trada.
Em seu Esboo Historico das Estradas ele Ferro elo Bra.. il
l1l'i tiano Oltoni diz que o Marquez de Olinda" de todo os
no, o e tadi ta aq~lelle a quem mais deve a E tl'ada de Ferro
do Dom Pedro II. " E difficil aber como e a conta de gr-atido
foi feita; a principal pal'cella el' talvoz o emprestimo de 12,1)66
contos da loi do 26 de Agosto de 1 ~7. Sel' dil'ficil, pbrm,
apul'l1l'-se m?ior sel'vio . Estl'ada do lue a lei de 26 de Junho
de 1 52 quo a autori ou com 'gal'antia de jul'os e o decreto ele
9 de Maio de 1855 que incol'porou a companhia sombra do
E. tad .
. obl'e Paran me mo, ver tambem a Circular de Theophilo
Otloni, um da mai impol'tantes depoimento pes oaes obre o
segundo reinado, no qual e pde ver a affinidade da antiga
fronde ou olygarchia con. el'vudol'u. com o espil'ito republicano;
a.brochura de Jos de Alencal', pl'incipiante, O iVlarque.~ de
Pal'an, Traos Biographico (Typ. do Diario, 1 56), e, impor-
tante documento auto-biogl'aphico, o discul' o que Paran PI'O-
forio no -enado em 31 de Julho de 1854, referindo uns ;1I('l:lfJl'CS
pal'cellas a lt i. lOI ia do sua fOI'tuna.
394 U [ E 'TADISTA no IMPElilO

monstrar pmticamente as vantagens de a politica pelos seus


resultados; isto , pcla reunio em '1857 de uma Cumara em
que todos reconhecessem a livre escolha tio eleitorad .
a divi o dos circulos o mini terio estuda minuciosa-
mente o interesse da opposio; Nabuco pl'ocura o modo de
dar entrada aos PraielI'os. Escrevendo em Janeiro de '1856
a Boa-Vista; diz-lhe: Quanto aos circulos, tenho muita
confiana nelles como uma regenerao do parlamento desmo-
ralizado por todos, sem prestigio, sem confian<:a. No di' i-
mulo os inconveniente da medida, a I'evoluo moral que
ella vai operai' nas relaes do govcI'no com o parlamento,
mas sobrepe-se a tudo a necessidade pOI' todos sen tida de
popularizai' a repl'esentao, tornal-a mais cI'ida, apaz de
dirigil' a opinio e de dai' autol'idadc um apoio, quando pOl'
ella fr ou se decidil'. Vil'a talvez o peol', mas ,il' a el'dade
ou ao menos a presump o da vel'llade. Que f e confiana
pde inspiraI' uma clei o que todos "encedores e vencidos
dizem que no sincera e genuina ?
. A Araujo Lima, o fogo o deputado ceal'ense (em Novembl'o
de '18"5): Ainda dis ute os circulos, ou j O' acceitou como
facto consuml1lado? No lhe parcce melhol' cste cgundo
al'bitrio, quc pOl' assim dizer a situao de quasi todos os
problemas politicos? A situao politica era boa, mas cel'-
cada de elementos de pCl'igo. Que penso, porm, desta
coisa ? escl'evia elle a Boa-Vista em Janeiro de '185G. esta
a difficuldade, pen'o que no e. tamos bem, que ha um con-
cul'so de phenomenos sociaes, cujas con equencia no podem
seI' pl'evi tas em toda a ua extenso, o quae podem influir
podel'o amente para tran tornaI' a politica amai bcm calcu-
lada e segura. Refiro-me, como devcs pensar, a agl'i ultlll'a
sem bl'aos, depreciao da moeda, in. uf'ficiencia d capitaes,
dinlinuio de I'endas, fome, etc. O e1tolel'a agg'l'avuu muito
a nossa situao, d stI'uindo braos, difficultando o u up-
pl'imento, etc., etc. Apalpando este estado de coi a to pouco
li ongeil'o c ujei to a con tingen eias teni"ci , no elesc pel'
do remedio; muito pI'eci '0, pOI'1l1, ao O'O\'emo tI'abalhar, e
trabalhaI' muito, invocaI' e careal' o auxilio e a ajuda de todo.
l)
FIM DO GABINETE 895

A sesso de 1856 correu toda sob a pres o da eleio immi-


nente. As questes politicas perderam de valol'. Ferraz,
incluido pela Bahia na lista senatorial, foi escolhido pelo
Imperador, e ninguem estranhou qne o Imperador o fizesse.
O proprio Paran, se fos' e consultado, reconheceria o direito
do seu eminente adveI'sario de passaI' para a Camal'a vitalicia,
nem e havia ellc esforado contra a eleio de F~rr'az, que
figul'ava na lista do partido ao lado de Wanderley, o joven
min-istro da Marinha.
Infelizmente, porm, para a Conciliao e para o governo
o mal'quez de Paran fallece em 3 de Setembro de 1806,
mezes ante ela eleio.
O e tl'onc1o, o e panto de e acontecimento foi immenso
em todo o paiz, a 'ituao fica a sem chefe, a politica do-
minante em apoio, a opposio sem um bra o forte para
garnn ti l-a e enelo preci o pam favOl'ecel-a. Se profund0
toi o abalo, no f i menOI' o pezar; era, com effeito, uma
decepo nacional vel" quasi repentinamente, desapparecer da
scena o protogonista da Conciliao no momento em que o
paiz ia til'al' a prova da sua politica. Houve uma exploso de
cntimento; no se vira cortejo funebl'e igual no Rio de
JaneiJ'o, seno o elc Jos Clemente Pereira; mas o que nenhuma
pompa nem manifestao e~1:erior podia exprimir em o vacuo
que sentiam todos. E sa impre '5.0 durar por muito temp!);
o momento d'essa morte, na vespera das eleies, ser embrado
POl' amigo e adver 'ario . um elo' enigmas indecifl'avcis
da no sa hi tOI'ia parlamen tal' 'aber qual teria_ sido o cunho
das eleies de '1856 se Paran tem podido presidi!', elle mesmo,
a e sa primeil;a tentativa ele eleio livl'e. O resultado, segundo
toda pl'obabilidade, excec1e!'ia de muito o que se con eguiu
sem lIe. Smente vinte e cinco annos depois apparecer outro
estarlista, Jos Antonio Samiva, com animo e fOI'a 1ara
dominar o seu paI,tielo e o seu propl'io mini.tel'io e fazer da
verdade da eleio a qUI~ preside a pedra de toque da sua honra
e lealdade politica.
A situao fI'a um momento de grande anciedade pal'a os
ministros de Pa!'an. (\ Eu e o nosso collega o I'. Pedreil'a
UM ESTADISTA DO IMPEHIO

estivemos em casa do Sr. l\Ial'quez de Paran at s 8 horas


e meia da noite, escl'eve em 31 de Agosto Paranhos a abuco.
O no so l\Iarquez est em pel'igo imminente, posto que no
estejam perdidas todas as esperanas. A tri te -eventualidade
que pde occorrer de hoje para amanh, a qualquel' ins-
tante, exige, na minha opinio e no do Sr. Pedreira, que nos
reunamos amanh s 7 horas da manh. Entre outros
assumptos devemos tratar da urgencia que talvez haja em
pedil' a Sua Magestade que I'esolva as divises de circulas
ainda pendentes. Parece que nos ficaria muito mal que o
re to dessa delicada tal'efa ficasse a outros ... A reticencia
pde querer dizer, alm do mais, a outros que nos guerl'eas-
sem. A posio dos mini 'tros el'(l difficil no seu pal,tido; esta-
vam entregues lealdade do Impel'ador. Se nessa 110l'a elle
chamasse outl'OS homens, no s o pensamento da Conciliao
estava sacrificado, como, victimas delle, os ministros demit-
tidos no achal'iam talvez eirculo onde se abl'igar. O Impe-
rador, porm, tinha a peito a reforma, e fez-se gal'ante da ua
execuo sincel'a. Para obtel-a era mais segur continuar com
os collegas de Pal'an, deixar o espirita de Paran pl'e idir
s eleies, do que recorrei' aos chefes do Senado, nenhum
dos quae prtilhava o pensamento do grande estadista mOl'to.
O ministro da Guerra, o ~1arquez de Caxias, passou a ser o
Presidente do Conselho. Caxias no era um politico resoluto
e que se pudesse impr ao seu partido; a in pirao politica
do gabinete pre umia-se que devia vil', principalmente, de
abuco (-I), o qual no tinha ainda a posio pl'ecisa, os chefes
do pal'tido fl'a do rninisterio el'am mais fortes do que o
gabinete. Morreu o Paran, escrevia Nabuco a Cansano
('18 de Setembl'o), e nos legou difficuldades que no esto
removidas e que talvez sejam invenc:iveis.

(1) Infelizmente mane o Sr. Pal'ani antes que se realize o


ensaio pal'lamental', o gabinete de 6 de Setem b]'o pel'deu seu
ceotl'o de actividade, o Sr. abuco assume o primcil'o logal' no
gabinete "... "O mini. teria Nabuco, como chama o Liberal
I)

Pernambucano. (27 de Maio de 1858.)


FIM no GABINETE f:s97

Dem ou mal, sem inteirJ. homogeneidade nem direco


superior, pl'Ocurando, porm, desempenhar-se perante o Im-
pel'ador do seu solemne compromisso de fazer uma eleio
livre, sentindo-se em consciencia o testamenteiro politico do
seu ill u tre chefe, o gabinete fal' as eleies.
O seguinte cc pI'ogramma )l, ol'ganizado depois da morte de
Paran para a dil'eco do gabinete, lana muita luz sobre o
caracter d'essa administrao. Em nenhum ontro compro-
misso ministp.rial foi lanada de modo to formal e solemne
a conclemnao do systema Norte-americano dos cc despojos ,
o desprendimento da pl'eoccupao partidaria na distribui-
o dos empl'egos e commisses. Esse programma, ao' qual
por vezes se refere o Imperador, parece sei' o protoeollo
lavrado pOI' elle mesmo das suas conferencias com os minis-
tros, das reformas que estes propunham e de idas por elIe
suggeridas. Quem falIa n'esse papel o proprio Imperador:
elle quem toma pOI' escripto as pl'omessas a elle feitas e as
condies acceitas pelo gabinete, para podei' reclamar o seu
cumprimento e protestar contra as violaes que viessem a
soffrer. Cumpre notar n'esse documento uma serie de idas
que o ministerio no pde levar a eITeito, como a creao de
uma Faculdade de sciencias administrativas na crte, ne-
cessidade real em um paiz onde o funccionalisino j cra
ento a principal carreil' dos ,.bachareis, e a colonisao' e
fortificao das mal'gens da 'Amazonas; deve:-se assignalar
tambem a sinceridade com que est formulada para uso do
gabinete a politica de. no-interveno no Prata.
Politica geral: Execuo conscienciosa da lei eleitoral.
Quanlo o permittirem suas disposies deve-se evitaI' que
vena um s parLido nas eleies. Estas devem ter logal' com
toda liberdade de voto, cingindo-se a aco do govel'llo aos
seguintes principios : Nenhuma intervenc;.o directa de qual-
quer men'ibro do ministerio e ainda menos d'este, podendo
comtudo os ministros pedil' em favor de canditatos, cujas
relaes com elIes tirem todo e qualquel' caracter officiaI ao
pedido. P6de haver interveno indirecta por meio dos presi-
dentes, entendendo-se estes com as influencias locaes 'que
398 UM E;:iTADl::jTA 00 DIPEHlO

no fOI'em autol'idae e no casos'c sob as condies


seguintes.: quando convenha oppor a um candiuato pouco
digno de tomar as eoto entre o Repl'e entante da nao, ou
que dcfenda idas contrarias base ele nosso systemo poli-
tico, outro que no esteja em taes circum. tancias, comtanlo
que este seja acceito pelo districto eleitoral e no se t01 ne pre-
ciso empregaI' meio de coaco de qualquer genel'O pare
evitaI' a eleiao do adver al'io; ou quando no se tenha apre-
sent,<:ldo candidato por algum districto eleitoral, ou e 'le n5.e>
o tenha naturalmen te e aquelle cuja eleio lembra!' o governe>
fOr bem acceito. No fallo da eleio primaria particular-
mente pOI'que se deve regular pelo pl'incipios adoptado pam
a secundal'ia.
O provimento dos empl'egos que no fOl'em de confiana
sc far attendendo- e unicamente qualidade do e. colhido, c
em igualdade de circumstancias convil' sati-fazer ambo os
partidos. O de confiana tambem no s I'o vedado ao. cio
partido opposto, desde que os nomeados mostrarem inccra-
mente abl'aar a politica do governo.
Deve-se combateI' a impI'ensa pOI' meio tia imprensa e
no pl'OcuI'ando fazei-a calaI' pelo interc..e. Seu' abuso:;
puna-os a lei, a qual no convem que contin'ue inefficaz como
at agol'a.
Impel,jo. - Colonisao segundo as i las apI'esentadas
no Rclatol'io deste anno, e Lodos o melhoI'amentos que a
fU\'oI'ecem, permittindo-o o estado do ThesouI'o. Attenc1el'-
se-ha, quanto fl' passiveI, s di I'sas provincias.
lnstl'uco Publica. - Vigilancia na ex.ecuo das l;efOI'-
mas fitas; a organizaao da aula do CommeI'cio me p'aI'ece
(Je,J'eituosa; cl'eao de uma FaculdadA de sciencias. adminis-
tl'ali vas na Cl'le; estabelecimento do Ex.ternato independente
do ntemato. Lei regulando a' aposentadoria e pen es quc
entl'etanto s se concedcI'o em casos ex'traordinarios. Dimi-
nuio nas ajudas de custo,. nas gI'a,tificaes c no numera-
dos empl'egados tanto quanto o peI'mitlirem as neces idade
do seI'vio. Reforma do Conselho do E Lado.no sentido .defaci--
!:lar-lhe o exanle dos negocias e CI'ear um tirociIo de admi.,.
FIM no GADIi\ETE

ni trar;.o. Favorecei' quanLO o con entirem no ~o recursos a


cr.!oni ao elas mal'gens <.lo Amazonas e sua navegao pOl'
naYios no sos. Lembrarei tambem a limpeza da cidade pelo
ystcma do Russell; pouco falta para se decidir e te negocio.
Ju Lia. - Lei lIypotbecal'ia. ln 'truco elo ciero, segunelo
a idas do Relatorio. epat'ao da autol'idade policial da
judiciaria, e algumas outras ida ela rerol'ma juuiciaria que
esto no Senado apresentadas I elo ministro da Justia. A
me ma eliminui Io da de peza com o pes oal, que a menos
ju. tific1\"el.
Faz nua. - Projecto de lei separando o contencioso
admini Ll'ativo do judicialio. Regulamento de defuntos e au-
'cnte e ollLI'OS quc r guIem a cobl'ana de diver os impo tos
e que o ministl'o c t autorisado pal'a refol'mal'. Tarifa se-
gundo as ida da eco. Dos novo impo tos consenti no
re tabclecimento dos 2 O/O (1), porque se me pro\"ou que no
ha ia outro meio de tOl'nat' meno a uhado o deficit, a tel' de
se pr cm execu~o a nova tal'ifa. As de pezas mais impol'-
tantes ou j e to decI'etada uu, omo o juros e amarti ao
do emprc tim pal'a a colonisao e a gal'antia de 2 OiO da
sirada elo Lage, me parecem ser apenas adeantamentos sobl'e
recuI' o de no l'emot. futuro.
{( E t1'angeil'os. - Politica de no interveno relativa aos
Estado do Pl'ata e ele expectativa quanto fi abel'tllra elo Ama-
zonas. A re'p ito da negociao com a Frana cumpre pel'-
istil' na resolue cOl11municadas ao Vi, conde do Uru,,uay.
Guerl'a. - Hefol'ma da Escola Militar, e tabelecimentos
ann xos . al'scnae.. Fortificae do Amazonas.
{( Marinha. - R forma da Aead mia.
Durante o pl'oce so eleitoral, com e disse anles, o lmpe-
melar mo, LI'a o maior empenho em que o progl'amma seja
cumprido om I'igol'; di cute com o mini tm o termos e
os casos em que elIe podem pedir pai' alO'um aneliuato, apu-
rando a clauyula do I rogramma que lhes dava essa libel'elaele.

(1) Os c!il'C'iLos de e;xpol'tao que eram de 5 % fOI'um cobrados


na l'ilZO de 7 % Ilda lei ele 1.0 de Outubl'O ele 1856.
40::J UN E TADl:;TA DO DIPEnIO

Com Paran mesmo conta-se que tivcm uma dcsagradavel


discusso a I'espeito da andidatum, que no julgava legi-
tima, do filho do PI'esidente do Conselho , ao que Pamn
lhe re pondera: Eu, como Honol'io Hel'meto Cameiro Leo,
no preciso do fa, 01' do PI'esiden te do Conselho para eleger
um deputado por Minas. Um il'mo de abuco pensa em
apresental'-se pelo Par, o Imperadol' pede a corl'e pondencia
pal'a ler e escreve a Nabuco : Li a corl'espond ncia que teve
para o Por a respeito da candidatUl'a de eu mano e s tcnho
de observar que a inITuencia do pl'e 'itlente a haver outro can-
didato dignos no seria conforme ao progl'amma.
O empl'ego da fora publica durante a eleio ' pUl'a ell
uma contnua preoccupao como se v d'estes bilhetes que
manda ao ministl'o da Justia:
Fico sciente do pensamento do aviso e confol'lno-me
inteimmente com elle, recommcndando ainda outra vez a
maior prudencia em accedel' s requi. ies de fora da pal'Lc
de certas autol'idades ...
Creio que os factos se passal'am como os refel' m a auto-
ridades, mas o emprego da fora publica qua i em[)!'
causa de lamentaveis successos dUI'ante as eleies por i
que poucas autoridades tm a necessU!'ia prudencia para u r'
convenientemente d'esse meio. Seria bom esclal'ccel' ao publico
sobl'e o que aconteceu no Cl'ato e cumpre ordenar que os sol-
dados no levem as armas embalada desdc que o chama-
do para resistir aos actos violentos do povo, e ainda mais
quando apenas tm de fazer exccutar as ordens das autol"i-
dades ...
c( O aviso reservado parece-me dar providencias ajustadas;
mas no julgo que esteja bem claro quc s as autol'idades
mencionadas ou as mesas, dirigindo-se a ella , podcl'o requi-
sitar fOl'a ...
A interveno official, qualquel' quc s ja, contral'a-o c,
quando do magistrado, it'rita-o (1) : cc Sci que alguns eh f s

(1) " Cada vez me conveno mais ela perniciosa inOuencia do.'
nosso magistl'ados nas eleies, escrevo elte a Nabuco a pro-
I)

lJ c~ito de conflictos no Cear.


FIM DO GADU ETE 401
de repartio tm espalhado listas pelos seus subordinados,
{) que contra o programma.
Ao ministro da Justia cabia a parte principal na execuo
da lei e a maior respon abiJidade, por estarem sob suas
01' len a policia, a magistratura e a guarda-nacional. tam-
bem com elle que o Imperador mais se corresponde em ma-
teria eleitoral. Nabuco escreve numerosa cartas recommen-
dando candidatos em distinco de partido; entre Ol1tl'OS
recommenda no Rio-ele-Janeiro Octaviano, em S. Paulo
Gabriel Rodl'igues elos antos. A re l)eito d'e te escreve a
araiva : entirei muito que elle no venha porque muito
aprecio o seu talento superior (1). Sustenta tambem
o di'. Pacheco, eu antigo adversal'io. No Cear empenha- e
por Jos de Alencar. Em Minas por Vasconcellos e Paula
Candido. Ahi a conciliao era difficil. O partido Conser-
vador, ob crvava o con elheiro Luiz Antonio Barbosa, tem
acccitado em diversos logal'es a conciliao, admittindo aonde
tem inOuencia os individuos do outl'O lado; o partido luzia
aonde inOue no tl'ansige, cel'ra a fileiras, repelle a conci-
lia\o.
J em 185'1: elle se havia esforado pela eleio de ouza
Fl'anco, que effectivamente entrou pal'a o Senado. O que o
governo desejava era que a futura Camara tivesse uma forte
maioda conciliadora, sem exclu o, pOl'm, da opposio
Liberal; por ou tras palavras, que a legislatul'a no fosse carrc-
gadamente Saquarema. E se resultado se can eguir por tal
frma que Souza Franco, o antigo leadel' da situao Liberal,
far pal'te do primeiro ministerio sahido el'essa Camara.
El'a, porm, em Pernambuco que o ministl;o da Justia
devia dar prova da sincel'idade com que servia a causa mini -
terial, o programma da eleio tambem de adversarios. Com
effeito, na diviso dos circulos da provincia abuco tomou

(1) Saraiva escreve a Nabuco : " A oppo io vai mais branda. As


nomeaes de lentes a tm mQdficado, e o Gabriel no .seu cavaco
de Jente como que elogia a actualidade. E podera no elogiar; o
que elle mais desejava era uma cadeira na Academia, e essa lua
foi dada pela imparcialidade do governo . (2 de Ago to.)
L ~
U I E TADISTA DO lMPEnlO

muito em considerao (carta a Paran em 28 de Abril) o


ihteressse Praieiro. Trabalhara para es e fim, tinha n'c~se
resultado empenhada no s6 a sua lealdade para com o Pre-
sidente do Con elho, como tambem, pde-se dizer, o seu
desejo natural de corresponder confiana' do Imperador.
D'esse seu desejo de collocar os advel'sarios de outr'ora na
posio de podeI'em luctar prova de toda a politica da Conci-
liao na provincia, chegando Sergio a querer crear um par-
tido liberal de governo, como foi mais tarde o partido Pro-
gressista.
Em 19 de Setembro, - Paran havia morrido dias antes e
Caxias assumida a Presidencia do Conselho.- Nabuco escreve
a Sel'gio :
Por' este vapor deve V. Ex., receber uma cil'cular do sr.
Presidente do, Conselho expondo o pensamento do governo
Imperial. Esta circular o principio, a minha carta ser a
applicao ou a hypothese; previno a V. Ex., que no posso
nem quero sophismar o principio, seno executaI-o, e pois 6
licito a V. Ex., notar a incoherencia e contradico que achar
na applicao que insinuo apenas. Dois escolhos vejo n'esta
eleio contl'a o pensamento generoso do governo Imperial:
1. 0 a competencia de muitas candidaduras, e d'ahi, como con-
Gequencia, o perigo de que venha o peor, tl'iumphando o inte-
resse individual contl'a os interesses collectivos do nosso paiz;
2.0 ainda a proscripo absoluta da opinio liberal, montado
corno est o paiz official no sentido da opinio conservadora
e sendo, como certo, que a autoridade tudo no Brazil e que
por melhores que sejam as intenes do governo no est em
seu poder prevenir os abusos e exorbitancias de seus agentes.
A situao , pois, difficil; preciso muito tento para dominal-
ai, preciso dirigil-a : sabe V. Ex., que mais custa dil'igir que
-conquistar. Como dirigir tantas ambies? como refrear a
ntolerancia que quer o exclusivismo? Pois, esta a nossa
'tarefa; dar apoio moral a algumas candidaturas, que so
dividas' sagradas, reconhecimento de sel'vios prestados, e a'
outras que muito promettem ao paiz ; exigir da opinio con-
servadora que no embargue, mas tolere que o Parlamento
FIM DO GAD! ETE 403
seja aceessivel aos adversarios. este o sentido da carta
que n'esta data dirijo ao Bar'o de Camaragibe e que por copia
remetto a V. Ex.; tem por fim essa carta: Loque elIe inter-
pondo sua reconhecida inlluencia l'egule a distribuio dos
circulos conforme as probabilidades e recursos individuaes,
desenganando as ambie impertinentes e dando apoio
quellas que so legitimas; 2. 0 que deixe saio e sem comp:r
tencia o cit'culo de Bonito e Outl'O em que a Praia possa ven-
ceI': n'e a carta pedi-lhe que, se lhe no fosse repugnante,
protege 'se a caodidatUt'a do Jel'onymo VilIela ...
As animosidades antiga- parecem querer renascer e appa-
recem nas eleies municipaes do Recife, em Setembro d'esse
anno; Aprigio Guimares, depois ardente democrata, d conta
a abuco d'esse mau signal que este, entretanto, julga na-
tUt'al dado o tempel'amento do' Liberaes : Vejo o que me
diz, responde elle a Aprigio, sobre as eleies de Setembro,
nas quaes a Praia no esqueceu uma lettra da sua antiga
Caltilha. Assim , meu cal'O collega, mas no me causa estra-
nheza o que e da natureza das coisas. Os Liberaes no podem
fazer eleies sem enthu 'iasmo e intimidao, mas elIes no
podem deixar de ter parte n'elIas porque a sim procedem. O
remedio est em que a autoridade intervenha para que a liber-
dade do voto no chegue ate perturbao da ordem. Se ua.
partido no de e prevalecer- e do abuso ~a autoridade para
vencer, o Outl'O no pde tambem tornar-se senhor do campo
pela intimidao. Estes dois exce sos, isto e o abuso ou des-
potismo, de um lado, e a intimidao ou ameaa de desordens
e violencia', pelo outro, so igualmente inimigos da liberdade
ou concurrencia das opinies. Convem prevenir ambas as
coisas, e se isto se con eguir, a nova era - expresso a
que elie procUl'a dar cunho - est significada ou em cami-
nho. ('13 de Outubro).
A interveno de abuco deu em resultado a eleio de
Jeronymo Villela. EI'a um resultado muito diminuto para elei
es, pde-se dizer, duplas, porque eram eleitos alem dos
deputados os respectivos supplentes, assim mesmo no tinha
custado pecIucno esforo ao pl'esidente e aos amigos do
~04 UM ESTADISTA DO IMPETUO

govemo.A pl'imeira noticia, porm, foi que nem essa eleio


protegida tinha vingado, e ao recebel-a abuco escreve a um
amigo da provincia : Vejo as noticias que me ds da eleio.
Sinto que os Praieiros no tenham um s repl'e,entante, o
exclusivismo reaco que ha de vir mais cedo ou mais tarde.
No me queixo dos Conservadores, que naturalmente quizel'am
ostentar sua influencia, e no lhes incumbia, mas seria repu-
gnante que elegessem os inimigos; queixo-me de mim mesmo,
ou do ministerio, que commetteu um erro no dil'igindo a
eleio, para que as opinies fossem representadas e se com-
puzessem as divergencias e ambies dos amigos. Vimos
antes como Nabuco recusal'a por divel'sas vezes entrar pal'a o
Senado sendo ministl'o; por i so me mo que sabia resistir a
tal arrastamento irrita-se elle contra presidentes que no que-
rem perder a feliz occasio que a presidencia lhes depara de
arranjar uma eleio. Os expedientes que lhes OCC01'l'em so um
exemplo da inutilidade das leis sem os costumes. Um quel'
fazer eleger na provincia que preside um candidato extranho
que o fad. por sua vez eleger em outra POI' onde est incom-
pativel, como juiz. isto, escreve-lhe fl'ancamenLe abuco,
o que se ehama uma bal'ganha, uma immoralidade indigna
de mim e de V. Ex., uma illuso das incompatibilidades que
a lei estabeleceu e o governo tem como principio e cal'acLe-
ristico de sua politica. Outro, quel" pl'ope demittir-se
para se apresentar candidato pela pI'ovincia, qual era intei-
ramenLe extranho antes de presidil-a. cc Custa-me a crel"
escreve-lhe Nabuco, como V. Ex., concebeu essa ida porqul:
ella seria um verdadeil'O estellionato poLitico, que prejudicaria
toda a vida de V. Ex., e condemnaria com justia este gabi-
nete de que V. Ex. delegado. O facto que o goVel'nll
intel'veio em escala muito limitada na eleio. A eleio fui
feita pelo partido da situao em nome do governo e com os
recursos do governo, mas a despeito do govemo (:I).

(1) Um revez sensivel e suggestivo foi o do filho de Paran, o


dI'. Honol'io CUl'neiro Leo pela Campanha. O presidente de l\li-
lias dava a eleio cQmo a mais provave!.
FIM DO GADINETE 405

Morto Parana, no podia, com effeito, o mtnlsterio ter a


preteno de dirigi!' o partido Conservador contra a vontade
dos chefes do Senado (i), e no podia pr-se te ta do par-
lido Liberal. Ainda assim o pensamento da, Conciliao, o
pacto entre Paran e o Impel'adol" pacto a que o gnbinete,
apezar de enfmquecido pela perda do seu chefe, ficou fiel,
prevalecera na constituio da nova Camara.
O resultado de. sas eleies no foi talvez o que seria se
Paran fosse vivo, porque a ida e)'a delle, como foi nas elei-
es de 1881 do I'. Saraiva, e s6 uma vontade podero. a, obe-
decendo como a de Paran a uma inspirao propria, a uma
especie de I evelao moral, podia CUI'var mini tros e presi-
dentes, os seus correligionarios, os chefes do seu partido,
e impr a este uma politi a de tamanho sacrificio, como a
da liberdade eleitoral. Ainda assim, o resultado foi o que no
seria se a eleio ti\ esse sido entI'egne a outt'OS mos, e tal
como no se viu igual seno na primeira elei<;o dil'ecta,
quando a vontade e a el'cvao de vistas de Paran reencar-
enrnou-se em Sal'aiva. Ao Imperador o I'esultado I areceu um
progl'es o consideravel nos nossos costumes politicos. D'ahi
por deante, escreveu elle uma vez, no houve s6 lJat'l'ltlhas,
mas minorias (2) .

(1) O' pI" tendentes apl'c ntayam- e nas pl'ovincia levando


cal'tas de Paulino, Eusebio e Torre e dando-os como futuros mi-
nistl'os. Ver antes Nabuco : " ... queixo-me de mim me mo ou do
mini tel'io que commetteu um el'l'o no dil'igindo a eleio ... I)

(2) Nota Biogl'aphia de FUI'ta.do pOl' Tito Franco. Todos os


gl'upos politioJS e todo os homen de Estado reconhecem que a
lei queul'ou a antiga unanimidade, que fazia diz81' a 'a concel-
los: " Que infeliz no a condio do governo que acha uma
camal'a unifo1'lue! " "Ante da lei dos cil'cuJos, e Cl'eyeu um dos
mais attentos e e clarecido ob ervadore de no as eleie , o
<11'. Sal'mento, de Pernambuco, o partido apoiado pelo governo,
ros e elle qual fosse, dava con tantemente camara unnime ...
Bastou a lei dos circulos, lei incompleta, como seus Il'0pl'ios au-
tores reconheciam e declaravam, mas lei que j continha o O' [ ' -
men da elei:o dil'ccta, ba tou es a lei, no ob tante o vicio radical
da eleio de doi gl'aus, b;1 tou ella para os cidados hone tos
no serem mai cont.!'istado pelo e pectaculo de prorunda immo-
ralidade publica patenteado na unanimidade das camaras, qnal-
403 U~f ESTADI TA DO I~IPERIO

Feitas as eleies, Nabuco sente que o ministerio no pde


ir muito alm; a ida conciliadora, porm, est trium-
phante (1).
Cl Que lhe hei de dizer de politica? Que estou canado, dese-

joso de sacudir o fardo que tanto me pesa, ma que, amal'-


rado por consideraes que se no podem escrever, vou indo
e irei no sei at onde e at quando? A politica eclectica ou
moderada e t firme e cada vez dominando mais. (Carta a
Camaragibe em 23 de Fevereiro.) O ministerio, para o fim,
estava interiol'Iuente arruinado; os menores attritos produ-
ziam grandes abalos. Um destes foi um incidente entre
abuco e Paranhos em 2 de Fevel'eil'o. Paranhos irrita-se por
uma communicao de despachos feita ao J01'nal do Com-
mel'cio, est brigado com o seu amigo Castro, falIa em deixar
esse canado ministe1'io, se taes desconchavos continuam;
suspeita Nabuco de ter favol'ecido o Jornal. Nabuco explica-
se, ma aCCl'escenta : Cl eja como fr, feliz fra eu se este
facto me livrasse da cal'ga. Saiba V. Ex. que to grande o
desgosto que eu tenho do ministerio que ha muito tempo o
teria deixado, se no fossem certas consideraes, mas tenho
por felicidade deixaI-o em qualquer momento. II Paranhos
reconhece logo a injustia: Cl No me zanguei com V. Ex. ; o
vinculo de amizade, de admirao, e gl'atido que me pI'ende
a V. Ex., no obstante V. Ex., no se q1lcbral' por qualquer
accidente como este. Estas susceptibilidades e desconfianas

luer que fo se o partido que estivesse no poder. " Na colleco


citada, ReIo/'ma Eleitoral, Eleio Directa do dI'. A. H. de
Souza Bandeira, Recife, 1862.
(1) Escrevendo a Boa Vista (24 deNovem bro) elle diz: "A Cam ara
renovada em mais do tero . .o partido Liberal ter cel'ca de vinte
repl'esentantes . .o partido Saquarema talvez trinta a quarenta. A
politica dominante tem maioria. No ser possivel talvez uma
maioria que apoie aos Liberaes ou aos Saquaremas, PUI'OS: tudo
})romette a durao da actualidade por mais algum tempo. A
actualidade, que ao Marquez d'Olinda parecia scepticismo, no
meu conceito o rumo mais seguro, o sentimento do paiz. Essa
actualidade, porm, deve ser mais decidida e definida. Sabes o
proposito em que estou de deixar o poder e pois posso fallar-te
assim. tl
FIl\! DO G.\l3li'\ETE 4L7

entre amigos eram o signal de que o gabinete eslava enervado


e sentia que no podia durar, que no teria maioria.
A Paes Bal'l'eLo, que presidia o Cear, Nabueo escreve (9 de
Fevereiro de 1801) : Sobre a mudana ou reorganizao do
gabinete tudo por ora muito duvidoso,; estou, porm,
muito canado e incapaz de ir alm de Maio... Demais, fal-
ta-me o apoio decidido da nossa deputao, que com uma
impolitica inqualificavel protege em odio e meno cabo do
ministerio o de embargadores ...
Vimos os motivos d'esse acto de Nabuco, aposentando, eal
Dez mbro, os doi de embargadores da Relao do Recife,
a repercusso da medida inconstitucional no seio da deputa~
o pernambucana. Boa-Vista, sobretudo, reprovou-a energica-
mente. Tambem no agradou ella a Camaragibe. Dos amigos de
Pernambuco mente a apoia com firmeza S e Albuquerque
i abuco do-se d'essa oppo io inesperada do seu partido nal
provinda. EUe era, porm, homem de jogar toda a sua car-'
l'eira sem hesitar por um d'esses impulsos de consciencia. A-
de peito do chefes pernambucanos, porm no pensaria em
~ontinual' no mini terio; reeu ava a lucta, me mo, como
ainda no era senador, renunciando a reeleio. 1 o impor-
tava. No havia escolha. Com a reunio da nova Camara ('1)
o ministerio tinha que cedei' o logar a homens contl'a os
quacs no militassem os de go tos causados p la eleie,
alm de que era preciso abl'ir espao a outras ambies. A
physionomia dos deputados que iam chegando no era ani-
madora. cc Em uns, e crevia ene a Paes Barreto (21 de Abril),
rcsumbram de ejos de ver-nos fra quanto antes, em outros
domina o temor cle compromettimento com os novos astl'os. ])

(1) A i ngulal'idade d'e sa Camal'a ser a exi tencia de sup-


plentes. O deputado fazia- c sub tituir pelo upplente como o
queria, de modo que era uma Camal'a fluctuante, dupla, que e
renovava de se o em se o, como os theatl'o he panhoes da
acto em acto do e peclaculo. Depulados e upplente houve que
antes da eleio e tipulal'am o tempo que cada um exarcel'ia o
mandato. Os mini t1'OS tinham que aI tender a deputados e sup-
plantes igualmente.
408 III E~TADJSTA DO IMPERIO

Fallava-se nas rodas mini teriaes que abuco desejava fi ar


dada uma recompo i<;o que eIle inspil'asse. E ses rumores
incommodavam-n'o, e,X1Jl~nham-n'o, dizia eIle em uma carta,
a intel'p1'etaes sinist1'as. Para aparar o golpe, conhecendo
a fraqueza ministerial, resolveu-se a tomar a iniciativa de
provocar a franca demisso do ministeI'io ante da eleio da
l\Iesa, isto sem se expr a um revez pelo desejo de son-
dar aCamara.
Para isso escreye em 28 de Abl'il a seguinte carta ao Pre-
sidente do Conselho: o: Repito a V. Ex. o que lhe di se
verbalmente e vista do estado da Camara do Deputad ,
e Lamos mortos, e preciso que tratemos elo nos o ent rI'O
..antes que venha a putrefac\o que p6de prejudicai' a todos.
\T. Ex. comprehenele bem as consequencias funestas que
podem vir de uma crise to prolongada como esta, o que
seI' governo sem sl-o, o que dil'eco sem fora moral, o
que responsabilidade sem aco. A ida que se tem a..s a-
lhado de que pretendo continuai', ida que me afflige por-
que supp uma deslealdade de que no sou capaz, tem me
embaraado de apresentar a resuluo da cri. e, sacudir a
carga; porm o fiI'me proposito em que estou de no conti-
nuar, de no reentrar mesmo, me da coraO'em paI'a dizeI' a_
V. Ex. que no devemos e no podemos iI' at 1.0 de Maio
como pI'ojectaI'amos; que no vou. Que f6I'lTIula essa to
substancial e sacI'amental da leitul'a dos Relatorios que no
.obriga a supportaI' os menoscabos do amor pI'opI'io, as conse-
.quencias de uma desmol'alizao manifesta, compromettendo
a ns, aos succeSSOI'es, ao systema e talvez a ordem publica?
Que inconveniente ha de que entreguemos os Relatorios aos
successores, ou os remettamos aCamara? No temos fOI'a
para vencer a Mesa e as com misses : e ta derrota no
nos a smente, dos succ SSOJ'es que com ella podem soffl'eI'
muito. Entendo que V. Ex. deve na quinta-feira dil'igil'-se a
S. M. I. para expr-Ihe o que tenho dito e o mai que a V.
Ex. convier, instando por nossas demi es. II
Caxias est nas mesmas idas : o: V. Ex. sabe qual a
minha vontade desde que se concluiram as eleies, e que
FDl no GABINETE 409

'bem a meu pezar tenho arrastado esta pesada cruz, muito


superior s minhas foras. Houve, entretanto, ainda uma
demora de dias na apresentao da demi so; Caxia s v
o Impel'aclor a 30, de modo que as Camara foram abertas
cm 3 de Maio sem ministerio, o Imperador leu uma Falla do
Throno, da qual se podia dizer que era o te tamento cio mini -
lerio demittido em te tamenteiro para executaI-o. O minis-
11'0 demi sionarios incommodavam-se com a anomalia havida
,e ausentavam-se da Camara de que eram membros para no
screm interpvllados sobre as causas da retI'ada.
a: Este final e t pes imo (4 de Maio), escrevia a Nabuco
Pedreira, que era um espirito timido. Jo theatro s compa-
I'e 'emo fazendo crte Sua Magestade dois mini tI'O , eu e
o sr. Wanderley. Hoje dia de Camara e ns no nos enten-
demo obre coi a alguma. Como explicai' a leitura da FalIa
do Throuo quando se apresentar o argumento: ou se reti-
raI'am muito cedo, ou muito tarde? o coi a a que cada
um abe o que ha de re ponder, individualmente fallando, mas
. o coisas a que nenhum de ns abe como todos querem
que se re ponda. abuco re ronde-lh~: a: No vejo razo
para sua ancicdade e afllico. Eu no vou Camal'a, quer
haja, quer no haja ses o, emquanto no formo effectiva-
mente demittidos e no se perfizer a organizao do g::lbinete,
salvo se a extraordinaria demora della o exigil'... O no os
~ntccessores no foram Camara; porque vamos? Quanto
nossa retirada, devemos fundal-a na fraqueza do gabinete pela
perda do seu primeiro chefe, e proposito que manife tou o 1'.
'Caxias, quando assumiu esse cargo, de retirar- e em razo
dos seus incommodos, circumstancias que determinariam
uma recomposio que no seria facil, mas cercada de incon-
venientes, etc. Se concordarem nesta razo, manuem dizel'-
me, porque pen o que a organizao e completar hoje e
nmanh no devemo faltar Camara.
Em 4 de Maio o Marquez de Olinda tem organizado o novo
ministerio. O Sr. Pal'anhos, escreve Pedreira a Nabuco
{1> de Maio), di. se-me que tinha combinado ser V. quem
jizessc o speech de nossa morte. Assim eu e elle, contando
410 UM E3TADISTA DO 1MPERIO

com isto, esperamos que no falte Camara hoje, porque


consta que o Sr. Olinda l vai e depois delle expr o seu
pl'Ogramma natural que nos chamem a terreit'o. J o dia
6 que o marquez de Olinda comparece Camara, nenhuma
pergunta dirigida aos ministros demissionarios. nova
Camara pouco interessava o velho ministerio, ella est entre-
gue verificao dos poderes e procurando entender a inver-
so que se operou. Assim, no meio da transformao da scena,
o antigo gabinete Paran, um dos mais prestigiosos que Q.
paiz conheceu, esquiva-se e desapparece em silencio, des-
percebido, por entre os deputados.

!,'l M DO TOMO PRIMEIHO


I DICE
DO PRIMEIRO TOMO (1813-1857)

Pl1.t:F.\CIO o ., " ...

LIVRO PRIMEIRO
AT O ,MINISTERIO PARANA
(lS13-18S3>

CAPITULO I
Infancia e Mocidade (1813-1842).

1. - Primeiros Annos. . . t
II. - E tudante de Olinda. . .U-
lU. - Jor'nali ta Academico . 17
IV. - O 7 de Abril . . . . _ 23
V. - O Dr Jos Eustaquio Gomes. 31
VI, - Primeiros empregos. . . . . 35
VII. - Reao Monarchica ele 1837 -lO
VIU. - Ca amento. Primeira eleio de deputado. 43

CAPITULO II
A Sesso de 1843.

I. -
II. -
A Gamara .
Estreia Parlamentar. ..
412 INDlCE

CAPITULO III
A Lucta da Praia.

I. - A Situao Liberal. Eleies de Chichol'ro. 75


II. - A Revoluo de 184 . . . . . 92
III. - Caracter da. Agitao Praieir!'.. 102
IV. - O Julgamento dos Rebeldes . 108

CAPITULO IV
A Legislatura de 18501852.

L - .A Sesso de 1850 . 112


II. - A Morte 'do Pete . 1?3
111. -- Re.!;ulamen tos do Cocligo Com mel'CiaJ . 125
IV. - Presidencia de S. Paulo . 128

CAPITULO V
A Opposio " Parlamentar" (1853).

I. -- A Situao em Pernambuco. 140


II. - A Camara e o Mini teria. 144
UI. - u A Ponte de Ouro" . . . . 147

LIVRO SEGU DO
O MINISTERIO PARAN
(l53-18j7)

CAPITULO I
o Gabinete e seu Programma.

1. - O Presidente do Conselho .. 12
] I. - Os Ministros .. 105
III. - A Conciliao. . . . . . . . 172
INDICE 413

CAPITULO II

A Sesso de 1854.

L - A Defeco de Ferraz. 177


II. - A Reforma Judiciaria .. 185

CAPITULO 1lI

A Sesso de 1855.

I. -- Justiniano Jos da Rocha e Paran. Debate sobre a


Conciliar;o. . . . . ,205
II. - A Lei dos CiJ'ClI!O , , , . " 213

CAPJTULO IV

Politica Exterior.

1. - A Misso Pedro Fel'rel'a. 217


II. - J\lontevido . 2')0)
m. -- A Abolio do Corso. 223

CAPITULO V

o Trafico e a Escravido.

I. - A Lei de 5 de Junho de 1851 . . , . 225


II. - O desemhal'CJue de Serinhaem . . . . 231
m. - Os Africanos da lei de 7 de ovembro. 241
IV. - Os Africanos livres. , . 243
V. - Commercio Intel'pro,incial de E ceavos. 245
VI. - Idas da poca. . . . . . 247

CAPJTULO VI-

Politica Financeira.

1. - O Governo e a Praa. O oramento. 25-1


11. - As Commanditas por aces, . , , . 2G1
lNDICE

CAPITULO VJI

() Ministro da Justia.

I. - Mal'cha das Hel'ormas Reforma Judicia,.~a e By


pothecal'ia. . . . . " . . . . . '. . , .. 268
II. - TI'ibunaes de CommercJO . . . . ' 272
111. - Cl'lmes comrnetlldos JJO eSll'angcli'(). . 273
IV. - Titulos de r-esldeo0iu de estrangeiros. Passa portes. 275
V. - Interpretaao das Leis. J\s~entos tiu Supremo
TI'ibunal. Aposentadorias Foradas. 217
VJ. - Casamentos l\'llxtos. . .. . . . . . . . .. 293
VII. _. Administra.o EcC!e~:a:llca: Rcfo!'l11a dos Con-
ventos. Projeclo do L:nco.l'data. Couvel'suo dos
bens das Ol'dens. Hecul'so :i COI'a. Regcnemo
do Clero. Faculdades Theologicas ..... 301
VIU. - Laboriosidade de Nabuco. Esll'elleza do Ol'a-
mento. Consolidao das Leis Civis . . . . . . 338
IX. - Consultas diversas. Reclamaes' Dlplomatlcas. . 341
X. - Relaes com o Impel'ador. CandidatL1l'as ao Se-
nado: Recusa. . . . . . . . . . . . . . . . . 346
XI. - Relaes com os CoUegas. Relaes com os Pl'e-
sidentes de Pl'ovincia. Represso do Crime.
Guarda Nacional. As Aposen tadol'ias. Conselhos
para adrninistl'ar. . . . 355
XII. - Politica Pernambucana . 372
XIII.. - Borges da Fonseca. . . 37~

CAPITULO VIII

Trao Geral da Administrao. Morte de Paran.


Eleies de 1856. Fim -do Gabinete. . . . . . . . . 389

Pariz. - T)'p. GARl.'ilER IRlIljnS, G, rua dos Sainls-l'urcs. 356.8.1900

055
HISTORIA DO BRAZIL
Por ROnErtT SOUTnEY, tradu7.ida do ingle7. pelo Dr LUI7. JOAQUIM UE OLIVEIRA E
CASTRO, e annotada pelo conego J. C. FElll'ANnES Pll\llElRO. 6 mngoniAcos \'olume
pl'imorosamente impressos e encadramentos em Pari7.. . . . . . . . . . . . 36$000
A obl'a de outhey sobre o Brazil um monumento historico de que se deve ufa-
nar a terra de Sant.a-CI'uz. O autol' um dos eseriptLlres mais elistinctos da Ingla-
terra. A ua hi. toria, e. cripta imparcialment e vista de numero os d cumentos
ineditos lue seu tio obtivera em Portul.!:al, alm das melhol'es obras dos autol'es
rorf.ug"uezes e brazileil'o., vem proeneher ullla fa.Ita sensivel, e que descuido fra
deixai' existir por mais tempo.
A traduc\:o, devida penna do SI'. DI'. Luiz de Castro, digna do CI' a.preciada
pelos puristas da lingua portugueza.
Apezar de ter b biuo as suas infol'ma(:ies em fontes pUI'as, a obm de Robert Sou-
they resente-.c de alguns erros devido,:; li f:dt:t de infol'ma,es que foram reveladas
posteriormente. E ses pequenos i"o!1e. dei"appal'ecem ante as eluciua,es do . r. J.
FEIlNANnEs PINIIEIRO, alalisado archeologo bl'azdeir'o.

HISTORIA DO BRAZIL-REINO E DO BRAZIL-IMPERIO


Comprehendendo : a histol'ia cir'cumstanciada elo ministerio ,pela ordem chronologica
elo gabindes ministeriaes, seus PIog"lamllla.', revolues politicas que se dp.l'am. e
cure.' com que a pparecel'alll de~de o da -10 de Mal',o de I O at 187L; a da conquista
de Cayenna, da independencia do BI'n.zil e das constitlLies politicas desde 1739 at
I 1831, e acompanhada da lista nominal e pOl' . uccei"s<io dos ~enndores desde a cl'ea,io,
do Senado e da Camara dos Deputados, por A. J. nE MEI.L.O MonAEs. 2 v. in-folio
ene. . .. li${)(}O. bl'......... 15 000
O tomo II oene/e-se separr.Gdamente. br. . . . . . . . . . . . . 5$000
...
HISTORIA DA FUNDAAO DO IMPERIO BRAZILEIRO
Pelo Censelheiro J. M. PEREIRA DA SII.VA. 2' edic:fio revista, cOl'reek'l. e augmen-
tada. 3 vs. in-l.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 20$000
A J!istol'iCG da fundao do Imperio Bra:.ileil'o um livro patrioticn, e~cl'ipto com
eleganeia e impal'eialidllde, e que contm factos curiosos, nDITac:es anil111l,das e noti-
cias de acontecimel~tos impol'tantes que intel'essnm muito de pel'to a PJ'!ugal e ao
Brazil. -

HISTORIA DO BRAZIL
De t831-1840, pelo Conselheiro J. M. PEREIRA n.\ ILVA. 1 Y. in-4' bl'. 5S000,
cne.. 6$000

HISTORIA NAVAL BRAZILEIRO


Por TI1EOTONIO MEIRELLES DA Sn.VA. orRcial refLll'lllado da armada. 1 grosso volume
in nitidamente illll resso, br. 3$000, enc. . . . . . . . . . 4$000
Este trabalho do autor, que fura em 1881 encalTegado pelo Ministerio da Mal'inha
de " ol'ganisar e eserever a Hi. toria da Marinha de Guel'ra Brl:lzileira. li, abl'ange o
periodo de 1808 a 1870 e, se no completo, con titue valio. osi simo sub idin para essa
hi toria. Nenhum brazileil:o deixl:lI', de ler com gorande interesse a suel'inta narrao
dos brilhantes e heroieo. feitos que tem ennobrecido a a.rmada naniona1.

~,:::::======:;;~::::::::::::::::::::::=:~~~:::::::::::~====~::::::;~~
Typ. Garnicr Irmuos, li, I'ue ues Saillls-]Jre~.
Paris.
======;

J J.\ Q 1M N.\ IJ UCO

l
u~r

E. TADI TA DO

H.IPERIO

NABUCO
DE

, \RA UJO

"

l,mIQ PHnIEIIW

1813-1857

, .

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H. GARNIER
LIVREIRD- EDITOR
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