Viva Português Vol. 3 PDF
Viva Português Vol. 3 PDF
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Apresentao
com muita satisfao e entusiasmo que apresentamos esta co-
leo. Ela o resultado de intensos trabalhos em sala de aula,
bem como de constantes pesquisas sobre metodologias de ensi-
no de leitura, anlise da linguagem e produo de textos. E o que isso
significa? Significa que voc encontrar aqui atividades elaboradas com
o objetivo de facilitar seu domnio de mecanismos da lngua portuguesa
necessrios boa compreenso de um texto e a uma comunicao oral e
escrita mais consciente. Portanto, o propsito das sugestes de trabalho
apresentadas que voc leia cada vez mais e melhor, escreva cada vez
mais e melhor, utilize os recursos da lngua cada vez mais e melhor.
Ao longo dos trs volumes desta coleo, voc vai ler textos de diver-
sos gneros e estudar alguns dos mecanismos lingusticos e textuais que
os organizam. Ter, ainda, a possibilidade de exercitar esse contedo e
aproveit-lo em suas prprias produes.
Perceba que nossa preocupao integrar leitura, anlise lingustica
e escrita. Isso para que cada parte do estudo faa sentido e possa am-
pliar sua competncia leitora e sua capacidade de escrever textos que
atinjam o pblico ao qual se destinam.
Considerando a importncia do interlocutor potencial dos textos,
pensamos tambm que as produes elaboradas ao trmino de cada
caracterizao de gnero textual poderiam no ficar restritas leitura
do professor, mas ser divulgadas para a comunidade escolar, ganhando,
assim, novos destinatrios. Da a proposta de um projeto anual para
cada volume, que envolver a elaborao de uma antologia no final
do primeiro ano , de um festival de cultura e informao no final
do segundo e de uma revista no final do terceiro. Em todas as si-
tuaes, parte dos textos produzidos ser resgatada e poder compor
o projeto.
Esperamos que voc goste das diferentes propostas de atividades e
que esta coleo se torne um instrumento significativo para aperfeioar
o uso de uma lngua que voc j conhece to bem.
Bom trabalho!
As autoras
Temas e cenas
seu livro
< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Ler e compreender textos dissertativos.
No incio de cada unidade, por meio de texto e imagem, Foto de 2009 que mostra detalhe da finalizao
Atender proposta de produo de um texto dissertativo.
Conceber um texto coeso, com ideias bem articuladas e con-
de um painel que integrou a exposio De dentro
voc conhecer os temas que sero estudados nos para fora, de fora para dentro, na galeria
subterrnea do Museu de Arte de So Paulo.
Artistas cobriram 1 500 metros quadrados do
local com tinta ltex e spray. A exposio levou a
cluses lgicas.
Saber argumentar.
Interpretar textos em prosa de autores contemporneos.
arte dos muros da cidade o grafite s salas
captulos. Alm disso, um quadro de objetivos do museu. Conhecer as caractersticas da prosa contempornea.
270 271
em todoS oS cAPtUloS
LNGUA E PRODUO DE TEXTO
A entrevista
> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Arte,
Fsica, Qumica, Biologia,
Matemtica.
Na seo Para comear so propostas
ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
atividades que ajudaro voc a ativar seu
P A R A C O M E A R
conhecimento de mundo e estabelecer a relao
Voc vai ler duas entrevistas com pessoas diferentes, cujas partes (entrevis-
tados, perguntas e respostas) foram separadas e misturadas. Sua tarefa ser
entre esse saber e os novos saberes.
relacion-las com base em elementos do prprio texto que marcam a continui-
dade do que se fala na entrevista e justificar oralmente sua resposta indicando
elementos do texto que permitem fazer a relao entre entrevistado e respecti-
vas perguntas e respostas. Para isso, consulte tambm as informaes das le- As caractersticas marcadamente modernistas na esttica literria de
gendas das imagens abaixo. Manuel Bandeira iriam aparecer em 1930 com a publicao do livro
Libertinagem. Leia o poema a seguir e compare-o, quanto ao contedo TEXTO 2
Os entrevistados e os suportes das entrevistas:
e forma, ao Madrigal melanclico.
Madrigal to
El Universal/ZumaPress/Easypix Brasil
textos dos mais diversos gneros, e no de BANDEIRA, Manuel, op. cit., p. 112.
ra Abril
ps-modernidade, que foi Henrique Cardoso, prtica de uma esttica literria bem diferente da esttica do poema Madrigal
entrevistado pela revista Vida entrevistado pela revista melanclico?
Simples, em novembro de Vida Simples, em
2005. Foto de maro de novembro de 2006. Foto
2012. de maio de 2010.
2. O poema surpreendente na composio; no entanto o que, em princpio,
parece ironia se torna uma expresso de grande lirismo.
58 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS a) O que pode ter representado, para o eu lrico, ganhar um porquinho-da-ndia
aos 6 anos?
b) Nesse contexto, por que a comparao de Teresa com o porquinho-da-ndia
sitados para a tradio potica brasileira vigente at o final dos anos 1910.
complementar sua leitura na construo dos Publicado em 1925, o livro Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, expres-
sa claramente a esttica modernista tal qual era defendida: valoriza ele-
sentidos do texto do captulo. mentos da prpria terra o Brasil ; usa o verso livre, curto; opta por
um jeito conciso e bem-humorado de relatar os fatos; revela grande li-
berdade no uso da lngua portuguesa, aproximando-a da lngua falada.
TEXTO 3
CONHECIMENTOS LINGUSTICOS
Oraes subordinadas adjetivas
Para relembrar
Nos perodos compostos, as oraes que desempenham a funo de adjetivo so chamadas
adjetivas ou relativas.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) decidiu cham-las de oraes adjetivas, mas
importante sabermos que o nome oraes relativas tambm vlido, j que, em sua forma
desenvolvida, essas oraes iniciam com um pronome relativo.
As oraes adjetivas classificam-se em:
1. Restritivas limitam o significado de um termo antecedente. Por exemplo:
[...] desdobrando-se em papis mltiplos, entre eles o de uma galinha que cacareja e pe ovos.
cAPtUloS de lnGUA e
2. Explicativas ampliam o significado de um termo antecedente. Geralmente vm separa-
das por vrgula ou travesso. Por exemplo:
or. adjetiva restritiva
ProdUo de texto
A iluminao, que ressignifica objetos, um ponto alto do espetculo.
or. adjetiva explicativa
Em geral, quando seu antecedente um substantivo prprio, a orao adjetiva explicativa.
Dani Barros, que recentemente arrebatou espectadores no solo Estamira, sobressai [...].
or. adjetiva explicativa
A seo Conhecimentos P R O D U O D E T E X T O
e propostas de atividades de produo que vo ajudar voc a filmes selecionados. Ateno: mantenha no primeiro pargrafo as caractersticas do restante do texto,
isto , limite-se ao assunto especificado; procure usar a linguagem no mesmo
Reproduo/Revista Bravo!/Editora Abril
praticar a escrita para ento produzir um texto autoral. Direo e roteiro: Heitor Dhalia.
Elenco: Dbora Bloch, Vincent Cassel, Laura Neiva (foto), Cau Reymond,
Camilla Belle.
A CRNICA 193
Fechando o primeiro captulo, a seo No mundo da Por que ver: Este primeiro filme internacional de Heitor Dhalia (de Nina e O
cheiro do ralo) teve produo cuidada e locaes em Bzios, alm de uma
premire mundial na seo Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2009.
Preste ateno: Ao ator francs Vincent Cassel (de Senhores do crime), defendendo o
oralidade apresenta o estudo de um gnero oral e uma principal papel masculino, s vezes falando um portugus bastante razovel. E tambm
norte-americana Camilla Belle (10.000 a.C.), que filha de uma brasileira.
Revista Bravo!, jul. 2009.
proposta real de produo. Deus, Dhalia o prximo diretor brasileiro a um passo de estourar. deriva
seu carto de visita (Alex Billington, FirstShowing.Net).
A RESENHA CRTICA 33
com
dialoga um lamento com o vento
retrata o homem e o seu lugar no mundo moderno. Leia a letra da msica
Meuateno.
corao sente-se muito alegre!
Daqui a duas horas queima Sol. Este friozinho arrebitado
diferentes pocas.
da commedia dellarte,
cuja funo, quando
poro, valorizar o que era local, brasileiro.
10 Ao menos umaDevez que maneira Mrio Aode Andrade
mesmo tempo trs 55 E s voc que tem
f) so os principais escritores desse perodo, e suas caractersticas mais importantes so: .
surgiu, era divertir o se revela moderno nesse poema? Esquecer que acreditei Esse mesmo Deus A cura do meu vcio
pblico; sua roupa
Que era por brincadeira Foi morto por vocs De insistir nessa saudade
tpica era feita de 3. Consulte no vocabulrio ao lado o significado de arlequim. Seu traje, de tecidos
trapos coloridos, muitas Que se cortava sempre s maldade ento Que eu sinto
coloridos em forma de losangos, um elemento que o destaca. O termo arle-
MODERNISMO NO BRASIL POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 103 vezes em formato de Um pano de cho 45 Deixar um Deus to triste. De tudo que eu ainda no vi.
losangos). quinal, neologismo criado por Mrio de Andrade, mistura-se a sua viso da
15 De linho nobre e pura seda
invernia: tempo frio e cidade de So Paulo. Considere essas informaes e a ideia geral do poema. Que
chuvoso; inverno.
Cesar Itiber/Folhapress
pltano: um tipo de elementos do arlequim podem ser notados na paisagem da cidade e nas emoes
Quem me dera
rvore. do eu lrico? Escreva a(s) alternativa(s) correta(s) no caderno.
Ao menos uma vez
a) A diversidade de cenas pode ser comparada diversidade de losangos da
Explicar o que ningum
roupa do arlequim.
Consegue entender:
b) A variedade dos trajes de um arlequim reflete-se na variedade de climas e
20 Que o que aconteceu
sentimentos conforme as cenas observadas.
Ainda est por vir
c) O olhar frio e direto sobre a paisagem, que no nica, fragmenta-se como
E o futuro no mais
a roupa do arlequim.
Como era antigamente.
d) Reflete-se nesse traje o repdio do eu lrico a uma cidade to cheia de
contrastes.
Quem me dera
E por falar em literatura contempornea... 104 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS
25 Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Em seu artigo O direito literatura, Antonio Candido, um dos mais impor- Quase sempre se convence
tantes estudiosos da literatura brasileira, defende que sem os textos literrios Que no tem o bastante
no h civilizao. 30 Fala demais
Leia algumas frases retiradas desse artigo: Por no ter nada a dizer.
Projeto AnUAl
grupo com mais facilidade para desenho, artes grficas e diagramao podem
ttulos, ilustraes,
legendas, os, etc.) se encarregar da tarefa de ilustrar as pginas, distribuir os textos, criar vinhetas
que devero fazer para as sees e montar a capa.
parte de uma Anotem no caderno o que for decidido para cada questo a seguir.
publicao, Na capa da revista:
geralmente com
que tipo de letra ser utilizado?
base em uma
O Projeto, apresentado logo no incio do livro, programao visual que imagens vo ser trabalhadas?
predeterminada. quantas e quais chamadas aparecero?
No miolo (ou seja, nas pginas que compem a revista):
os textos sero digitados ou escritos mo?
os textos sero organizados em quantas colunas? Uma, duas, trs?
concretiza no final do ano a proposta de dar haver boxes para complementar reportagens e outros textos?
sero usadas s fotos ou tambm ilustraes? De que tamanho em geral?
o nome dos autores vai aparecer no incio ou no fim dos textos?
Ortografia e
ginas de revistas que costumam chamar a ateno de vocs para que possam
utiliz-las como modelo.
cAderno de ortoGrAfiA
Sumrio
I. Pronomes relativos 328
II. Meio advrbio/adjetivo 331
O caderno Ortografia e outras
questes traz atividades de
III. Uso de por que/porque 332
IV. Verbos terminados em -jar e seus cognatos 332
V. Verbos defectivos 334
1. Em cada item a seguir, voc deve reunir as duas oraes em uma nica frase
utilizando os pronomes relativos. Para substituir sujeito ou objeto direto, pode-
mos usar que, o qual (e suas flexes) e quem (para pessoas). Lembre-se de que
o pronome relativo deve vir logo aps seu antecedente. Exemplos:
acentuao para que voc as utilize
Algumas pessoas so como o camaleo. O camaleo se esconde na paisagem.
sujeito
Algumas pessoas so como o camaleo, que (o qual) se esconde na paisagem.
quando precisar.
Foi a menina. A menina disse isso.
sujeito
Foi a menina quem disse isso.
a) Pedimos para assistir ao filme. O filme havia sido lanado no fim de semana.
sujeito
b) As folhas das rvores caem no inverno. O vento leva as folhas das rvores.
objeto direto
Ao longo deste ano, voc e seus colegas vo criar uma revista em que sero publicados os textos
produzidos: resenha (Unidade 1), entrevista (Unidade 2), carta argumentativa (Unidade 3), crnica
(Unidade 4), artigo de opinio (Unidade 5) e texto dissertativo (Unidade 6). Outros textos estudados
nos anos anteriores tambm podero entrar, se quiserem, mas primeiro preciso definir uma srie de
questes gerais sobre a publicao que vocs produziro.
Forme um grupo com alguns colegas e comecem a discutir que revista ser essa. Decidam com o
professor quantos grupos podero ser organizados e, portanto, quantas revistas sero feitas.
o projeto editorial
Com a equipe reunida, decidam qual ser o pblico-alvo da revista, que sees essa publicao vai
apresentar, de que contedos vai tratar e se a linguagem ser mais formal ou mais informal.
Propomos a seguir um pequeno roteiro que pode ajud-los a definir a publicao a ser criada e o
projeto editorial adequado para ela. Registrem suas decises no caderno. Lembrem-se de que prova-
velmente j h revistas destinadas ao mesmo pblico escolhido por vocs, por isso analisem vrias re-
vistas voltadas ao pblico selecionado para ter uma ideia de como so essas publicaes.
o roteiro
Que tipo de revista vocs querem editar? Quem sero os leitores?
A escolha do tipo de revista est ligada escolha do pblico-alvo. Qual esse pblico a quem vai
interessar a revista? Os colegas das outras turmas? Colegas de outro ano da escola? S os garotos? S
as garotas? Seus pais e familiares?
tora Trs
Reproduo/Editora Abril
Reproduo/Editora Globo
nto
Abril
ditora Segme
uo/Edi
o/Editora
Reprod
Reproduo/E
Reprodu
ento
itora Abril
Segmento
Reproduo/Fundao Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro
Reproduo/Editora Abril
Segm
Reproduo/Ed
Reproduo/Editora
o/Editora
Reprodu
Veja aqui algumas capas de revistas destinadas a diferentes leitores. A revista de vocs tem algo a ver com alguma delas?
Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Capricho, 14 fev. 2010; Galileu, fev. 2013; Isto, 13 jan. 2010; Superinteressante,
mar. 2010; Metfora, nov. 2012; Revista de Histria da Biblioteca Nacional, abr. 2010; Lngua Portuguesa, dez. 2012; Quatro Rodas,
jan. 2010; Educao, mar. 2010; Gadgets Info, fev. 2010.
8 projeto: revista
projeto: revista 9
Um olhar crtico
lbum/akg-images/Latinstock
Trois femmes, de Pablo Picasso, 1908. leo sobre tela. Museu Hermitage, So
Petersburgo, Rssia. Nessa tela, Picasso retrata a figura feminina de maneira
inusitada. As formas naturalmente arredondadas do lugar a figuras geomtricas
perfeitamente trabalhadas. Nos quadros de Picasso dessa poca, como em outros
artistas cubistas, h forte influncia da escultura africana.
10
11
p A R A C O M E A R
Leia, a seguir, um trecho de matria sobre uma enquete divulgada pela
Revista Bula, publicao eletrnica de jornalismo cultural.
Aps a leitura do texto, resolva as atividades propostas.
Bruna Oliveira - Produtora cultural Flvio Paranhos - Mdico e escritor Tacilda Aquino - Jornalista
Amarcord Federico Fellini Dodeskaden Akira Kurosawa A cor prpura Steven Spielberg
1900 Bernardo Bertolucci Crimes e pecados Woody Allen Fahrenheit 451 Franois Truffaut
A doce vida Federico Fellini O anjo exterminador Luis Adeus, meninos Louis Malle
Um estranho no ninho Milos Buuel Macunama Joaquim Pedro de
Forman Sacrifcio Tarkovski Andrade
Laranja mecnica Stanley Kubrick O stimo selo Ingmar Bergman 1900 Bernardo Bertolucci
O desprezo Jean-Luc Godard Short cuts Robert Altman Fanny e Alexander Ingmar Bergman
Short cuts Robert Altman Laranja mecnica Stanley Kubrick A garota do adeus Herbert Ross
Amor flor da pele Wong Kar Wai Pulp fiction Quentin Tarantino Mona Lisa Neil Jordan
Trainspotting Danny Boyle Amor flor da pele Wong Kar Wai Eu te amo Arnaldo Jabor
Tomates verdes fritos Jon Avnet A doce vida Federico Fellini Bye Bye Brasil Cac Diegues
Idem. Ibdem.
1. Converse com seus colegas para responder s questes a seguir. Alguns filmes Ateno: No escreva
No livro. Faa as
aparecem em pelo menos duas das trs listas, ainda que em posies diferentes atividades No caderNo.
no ranking.
O que justificaria essas diferentes posies de um mesmo filme? E o que levaria
as trs listas a serem diferentes?
2. Faa um levantamento dos melhores filmes a que voc assistiu nos ltimos anos.
Em seguida, coloque-os em ordem de importncia no caderno. Eleja para voc
mesmo os critrios de avaliao e monte sua lista com os dez melhores.
Depois que a lista estiver pronta verifique se sua avaliao est baseada em:
critrios objetivos: como qualidade tcnica do filme (fotografia, som, figu-
rino), originalidade do roteiro (sequncias criativas, inesperadas), atuao dos
atores, etc.;
critrios subjetivos: se voc apenas gosta do filme sem saber muito bem
quais so as qualidades que o agradam (o filme o emociona, o faz rir, cria
certo suspense que no o deixa pensar em mais nada, etc.).
Compare sua lista com a de outros colegas de classe, compartilhando com eles
seus critrios e verificando se h escolhas comuns.
Na foto, os atores Asa Butterfield e Chlo Grace Moretz nos papis de Hugo Cabret e Isabelle, 2011.
Nostalgia
Um dos momentos cinematogrficos mais famosos criados pelo francs
o olho da Lua atingido por um foguete. Essa imagem aparece em
A inveno de Hugo Cabret e vem repleta de significados especialmente
nostalgia. Nutrindo essa sensao de sentir falta daquilo que no vivemos,
Scorsese nos leva por um passeio pelos filmes antigos. Quando Hugo e
Isabelle folheiam um livro de histria do cinema, as figuras que eles veem se
materializam na tela na forma de antigos filmes mudos.
Ao mostrar o comeo do cinema, Scorsese tambm desmistifica a arte,
mostra que tudo desde Mlis at hoje no passa de truques, jogos de
espelhos para contar uma histria. A fotografia assinada por Robert
Richardson (Ilha do medo) , no entanto, no faz do 3D um mero
artifcio. O efeito serve para ampliar o campo de viso e produzir uma
imerso na narrativa. Poucos filmes foram capazes de usar o 3D com
A RESENHA CRTICA 15
INTERpRETAO DO TExTO
1. Ao longo da resenha, encontramos diversas informaes sobre a obra resenha-
da, a produo cinematogrfica norte-americana A inveno de Hugo Cabret.
Todas elas colaboram para a argumentao do redator, que, aos poucos, vai
tornando clara sua opinio sobre o filme. Entre essas informaes, h algumas
que, em geral, aparecem em todas as resenhas, ou seja, so dados que carac-
terizam o gnero resenha crtica:
resumo da obra;
referncia a prmios;
referncia a seu diretor, autor, roteirista, atores e outras obras dessas pes-
soas que sejam reconhecidas, caso as tenha;
citao de aspectos tcnicos que justifiquem a avaliao do redator.
Reproduo/Brian Selznick/Edies SM
a) Copie do texto trechos de cada um desses elementos.
b) Sublinhe no caderno as referncias a esses trechos que indicarem
algum tipo de avaliao do resenhista.
IML/SPL/Latinstock
a importantes cones do cinema: os ir-
mos Lumire, considerados os inven-
tores do cinematgrafo (o qual teria
sido inventado, na realidade, por Lon
Bouly trs anos antes de os irmos
Lumire registrarem a patente) e os
pais do cinema; George Mlis, que,
como a prpria resenha informa, foi o
cineasta que aprimorou o invento dos
irmos Lumire, adicionando-lhe ele-
mentos de fantasia; e o prprio diretor
do filme analisado, Martin Scorsese,
um dos mais aclamados diretores da
atualidade.
Observe que essas informaes co-
laboram para o reconhecimento do fil-
me como uma obra que destaca o valor
Gravura antiga de homem operando um cinematgrafo, invento
do cinema. patenteado pelos irmos Lumire em 1895.
A RESENHA CRTICA 17
Llia Cabral, na pea Maria do Carit, caracterizada como a personagem que d nome obra. Foto
de agosto de 2012.
A RESENHA CRTICA 19
2. Como j foi visto na resenha crtica do filme A inveno de Hugo Cabret, o re-
dator geralmente escolhe um ou alguns aspectos da obra para destacar. Releia
o ttulo, o subttulo e os pargrafos 3 e 4 do texto. Em seguida, identifique quais
foram os aspectos realados pelo autor em sua crtica.
TexTO
encantamento do texto potico
TTuLO Com o encanto
conserva o encanto
to sacra quanto profana, to sria e determinada quanto palhaa;
Comovente e divertida
SuBTTuLO Suas variadas rezas e simpatias para arrumar marido so infrutfe-
ras, mas isso no compromete sua f no amor
TTuLO e de outros tempos e leitura resgatar crenas e tradies nordestinas
SuBTTuLO contempornea das tradies
populares
5. O texto da crtica levaria voc a assistir a essa pea de teatro? Explique a razo
citando trechos do texto.
A RESENHA CRTICA 21
d) Leia mais uma vez o trecho destacado nesta atividade, agora retirando dele
as oraes adjetivas. Em seguida, responda: qual a importncia dessas
oraes no trecho?
5. Como voc observou at aqui, nas resenhas lidas aparecem vrias oraes ad-
jetivas. Anote no caderno as alternativas que justificam o uso desse recurso
gramatical.
a) As oraes representam uma forma de incluir informaes no texto.
b) por meio de acrscimo de adjetivos, locues adjetivas e oraes subordi-
nadas adjetivas que se d a expanso de uma ideia.
c) A presena das oraes adjetivas contribui para a ampliao dos anteceden-
tes (especificando, particularizando, precisando, caracterizando).
d) As oraes adjetivas tornam a linguagem do texto mais acessvel.
A RESENHA CRTICA 23
Atividades de fixao
1. Leia a resenha abaixo e responda s questes no caderno.
Agora crie um perodo em que aparea uma orao adjetiva antecedida por
um pronome demonstrativo, recuperando o assunto da orao dada.
Veja um exemplo:
Durante a festa, os jovens danavam, conversavam, comiam e bebiam. De-
pois de quatro horas, todos estavam bem entusiasmados, o que j se esperava.
3. Uma orao adjetiva ser sempre restritiva se o verbo dela estiver no modo
subjuntivo. Identifique quais das frases a seguir tm oraes desse tipo. Copie
as frases no caderno e sublinhe as oraes adjetivas restritivas com verbo no
subjuntivo.
a) Ontem conversei com o professor que me prometeu uma reviso da matria.
b) Os formandos queriam uma banda que animasse todos os convidados du-
rante a festa de formatura.
c) No existem pessoas que possam ajud-lo neste momento.
A RESENHA CRTICA 25
Atividades de aplicao
Leia a resenha a seguir e responda s questes no caderno.
Rogrio Caetano
O violo de sete cordas desenvolveu-se no Brasil contraponteando as melodias
dos nossos choros e teve como seu grande mestre Dino 7 Cordas (1918-2006). Mas
foi Rafael Rabello (1962-1995) quem trouxe o instrumento para a posio de prota-
gonista, como solista. esse o caminho seguido por novos talentos que despontam
como o brasiliense radicado no Rio, Rogrio Caetano.
Nesse lbum, as criativas sonoridades da escola violinstica brasileira de Joo Per-
contrapontear: nambuco, Garoto, Villa-Lobos e Marco Pereira, entre outros, so referendadas com a
executar (obra) mesma impressionante musicalidade e virtuosismo que Rogrio vem demonstrando
segundo as tcnicas do
nos trabalhos em que atua como coadjuvante. As participaes especiais contribuem
contraponto; pr em
contraponto. com variao timbrstica ao CD, destacando-se o piano bem dosado de Leandro Braga
timbrstica: que tem em Intuitiva e a expressividade da flauta de Eduardo Neves em Meu mundo.
qualidade de sons de
Nesse contexto, aquilo que j tiro certo e fato consumado no mbito da inter-
mesma altura e
intensidade resultando pretao ainda um esboo de paisagem na mira da composio. Se por um lado o
em maior ou menor intrprete expande as fronteiras tcnicas do violo sete cordas a territrios inimagi-
quantidade de sons
nveis, por outro, ao assinar todas as faixas, deixa a porta da criao apenas entrea-
harmnicos, pureza,
amplido ou riqueza berta. Mas a ltima faixa, Pel, coisa de craque.
sonora. Adaptado de: Guia da Folha. Folha de S.Paulo, 28 ago. 2009. Folhapress.
5. Releia o perodo:
Mas foi Rafael Rabello (1962-1995) quem trouxe o instrumento para a
posio de protagonista, como solista.
a) H uma orao subordinada nesse trecho. Identifique-a.
b) O pronome relativo quem o termo que relaciona as duas oraes. Ele
exerce a funo sinttica de sujeito da orao subordinada. Que palavra da
primeira orao esse termo representa?
c) Leia o perodo sem o pronome relativo (e sem a forma verbal foi):
Mas Rafael Rabello trouxe o instrumento para a posio de protagonista, como solista.
Escrito dessa forma, esse perodo causa no leitor o mesmo impacto que o pero-
do original? Por qu?
d) Na sua opinio, o uso de uma orao subordinada com o pronome quem
pelo autor da resenha foi propositado? Por qu?
A RESENHA CRTICA 27
p R O D U O D E T E x T O
Resenha crtica
A resenha crtica um texto que apresenta informaes fundamentais sobre
determinado objeto cultural, alm de comentrios e avaliaes sobre ele.
Se o objeto resenhado for um filme ou um romance, a parte de apresentao
da resenha ser uma sntese do enredo. No caso de ser um quadro, uma escultu-
ra, um cenrio, haver uma descrio. Muitas vezes o produtor do objeto cultu-
ral, seu autor, tambm comentado: pode-se dar uma ideia de sua produo,
indicar a opinio que ele j conquistou no meio de que faz parte e como essa
obra pode ser vista no conjunto de seu trabalho.
O resenhista em geral uma pessoa que tem certo conhecimento na rea,
uma vez que se espera dele um posicionamento crtico precisa amarrar todo
o texto. Vale lembrar que criticar no exatamente ressaltar os defeitos ou sim-
plesmente dizer que no se gosta de alguma coisa. preciso justificar sua opinio,
ir alm do acho isso ou gosto daquilo. Trata-se de uma avaliao construda
com argumentos e contra-argumentos capaz de constatar defeitos e qualidades
da obra, percebendo como ela se insere na produo do autor em questo e em
relao s demais obras da rea cultural da qual ela faz parte.
H diversas maneiras de se estruturar um texto desse gnero, mas geralmen-
te se parte de um plano: apresentao do objeto (texto mais descritivo), opinio
DeScriO AvALiAO
[...] a personagem-ttulo de Maria de Carit, pea Joo Moreira acerta o tom ao limitar-se ao es-
de Newton Moreno escrita para Llia Cabral, uma sencial para criar atmosferas, concentrando-se no
virgem fogosa de 50 anos, com fama de milagreira. trabalho dos atores.
A pesquisa de Moreno consiste em resgatar Dani Barros [...] sobressai, desdobrando-se em
crenas e tradies nordestinas [...]. papis mltiplos, entre eles uma galinha que cacare-
ja e pe ovos.
Repare que, no 1o pargrafo, o autor descreve a pea e, para isso, utiliza o
termo (verbo ser).
A RESENHA CRTICA 29
pelo descaso do pai, sendo esta relao o fio que puxa a narrativa para algo mais especfico Perceba que, nas
e pessoal, deixando o arco profissional em segundo plano e focando no drama familiar. avaliaes negativas, o
4 Luiz Gonzaga interpretado por trs atores diferentes, de acordo com as fases de resenhista desse texto
suaviza sua opinio por
sua vida: Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adelio Lima. Eles tm uma gran- meio de expresses
de semelhana fsica entre si, o que muito bem-vindo em casos como este. Todos polidas.
Ele no usa, em
so muito bons atuando, mas o destaque maior vai para os dois ltimos, que tm nenhum momento,
mais tempo de tela. Chambinho, msico sanfoneiro que faz sua estreia como ator alguma construo que
vivendo seu grande dolo, tem um enorme carisma e a vantagem de saber cantar e possa soar ofensiva.
Note que no texto no
tocar de verdade, contribuindo para o realismo das cenas musicais. Lima tem trejeitos aparecem expresses
de Antnio Fagundes que combinam de forma inusitada com a maturidade do per- negativas vazias, sem
argumentao, como:
sonagem, compondo a postura e presena exigidas por este. eu acho que ruim;
5 J Gonzaguinha, que tambm vivido por mais de um ator, consolidado apenas a obra fraca, no
gosto; a minha
por um: Julio Andrade, que alm de possuir dotes musicais de verdade, assim como opinio que o filme
Chambinho, tem uma semelhana espantosa com seu personagem. O ator encarna simples e chato, etc.
dignamente a mgoa do filho abandonado, sem parecer piegas ou forar o papel de
vtima, conseguindo a empatia do pblico facilmente.
6 Silveira mantm a cautela que teve em 2 filhos de Francisco, tentando ao mximo Comentrios negativos
fugir da linguagem novelesca imposta subliminarmente pela Globo Filmes em suas do resenhista feitos com
polidez.
produes, embora cometa alguns deslizes em momentos de carga dramtica propcia
a tal abordagem. A histria, que j interessante por si s, muito bem estruturada Observe a avaliao
pelo roteiro de Patrcia Andrade, que d dinamismo narrativa relativamente simples, negativa no pargrafo
7. Nela, o resenhista
pecando apenas pelos dilogos padronizados que marcam o incio e o final do longa. emprega uma estratgia
7 A fotografia de Adrian Teijido trabalha de forma interessante a variao de foco, interessante: primeiro
criando planos estilosos que valorizam os closes. Infelizmente, este elemento mais elogia o incio do longa
para, depois, fazer uma
presente no primeiro ato, perdendo-se ao longo do filme e limitando-se a planos mais ressalva sobre a perda da
convencionais. A montagem de Vicente Kubrusly se utiliza de imagens de arquivo caracterstica elogiada ao
longo do filme.
reais que ilustram alguns momentos da vida de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, crian-
A RESENHA CRTICA 31
1. Agora que leu o texto comentado, voc produzir com um colega de classe duas
partes de uma resenha. Na produo dessas partes, o trabalho ser tambm
dividido: um aluno far a sntese descritiva e o outro a avaliao.
Antes, decidam qual objeto cultural ser analisado na resenha de vocs. Poderia
ser escolhido, por exemplo:
um filme em cartaz no cinema da regio;
um lugar de passeio conhecido em sua cidade, como uma praa, um parque
ou uma sorveteria;
um livro trabalhado no ano em que voc est, mesmo que de outra disciplina;
uma pea teatral assistida com os colegas da escola.
Conversem sobre o objeto cultural (obra ou lugar) escolhido, troquem informaes
sobre ele e decidam quem far a sntese e quem far a avaliao desse objeto.
Numa resenha, a sntese e a avaliao no precisam aparecer no texto em mo-
mentos separados e, como voc viu nos textos analisados neste captulo, em
geral, mais comum que a avaliao do resenhista aparea em todo o texto.
Mas como esta uma atividade em dupla, com objetivos especficos, ser ne-
cessrio que cada aluno faa uma parte da tarefa separadamente.
pRODUO DE AUTORIA
Selecione um objeto cultural para resenhar. Pense no suporte de publicao (jornal,
revista, etc.) e no pblico leitor desse peridico. Reflita sobre o que vai escrever.
Em seu texto, apresente o objeto por meio de uma sntese do enredo ou de
uma descrio das partes que o formam.
Em seguida, apresente argumentos que convenam o leitor de que sua opinio
vlida. Sua avaliao pode estar presente desde o incio do texto, dependendo
de como voc quiser escrev-lo. O importante que seja consistente e polida.
Termine o texto com uma concluso significativa, coerente, com sua opinio,
ou seja, capaz de aproximar (ou afastar) o leitor do objeto cultural comentado.
Lembre-se de que seu texto poder ser utilizado no Projeto Revista, no fim do ano.
NO MUNDO DA ORALIDADE
Exposio e argumentao oral
sobre um objeto cultural
Muitas vezes, uma resenha crtica pode aparecer dividida em tpicos, e no
como um texto completo. Essa diviso pode ser feita para tornar a leitura mais
rpida, mais dinmica ou para chamar a ateno do leitor para diferentes aspec-
tos de um objeto cultural.
Veja uma pgina da revista Bravo! de 2009, na qual eram avaliados, segundo
a revista, os melhores filmes em cartaz naquele ano. Quadro a quadro, os reda-
tores do texto apresentam motivos pelos quais os leitores deveriam assistir aos
filmes selecionados.
Por que ver: Este primeiro filme internacional de Heitor Dhalia (de Nina e O
cheiro do ralo) teve produo cuidada e locaes em Bzios, alm de uma
premire mundial na seo Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2009.
Preste ateno: Ao ator francs Vincent Cassel (de Senhores do crime), defendendo o
Revista Bravo!, jul. 2009.
principal papel masculino, s vezes falando um portugus bastante razovel. E tambm
norte-americana Camilla Belle (10.000 a.C.), que filha de uma brasileira.
A RESENHA CRTICA 33
HABRDA/Shutterstock/Glow Images
LanKS/Shutterstock/Glow Images
... ler
Reproduo/Editora Globo
Jornalismo cultural, de Daniel Piza, editora Contexto.
Neste livro possvel encontrar vrias orientaes para a elaborao de resenhas
crticas.
... assistir a
A inveno de Hugo Cabret, de Martin Scorsese (EUA, 2011).
Adaptao para o cinema do livro homnimo do escritor americano Brian Selznick, o filme
apresenta a histria de um rfo que vive escondido, acertando os relgios de uma antiga estao
de trem. At que, entre suas aventuras, o pequeno Hugo Cabret ajuda um senhor desiludido e
ranzinza a reencontrar o orgulho por suas criaes.
Interfoto/Latinstock
Uma homenagem aos filmes antigos por meio da his-
tria de um ator do cinema mudo que no consegue se
adaptar aos novos tempos e da ascenso de uma jovem
e bela atriz. George Valentin (Jean Dujardin, foto) um
divertido e vaidoso astro do cinema mudo que v sua fama
desabar repentinamente com a chegada do som e dos di-
logos falados. Ao mesmo tempo, a aspirante a atriz Peppy
Miller (Brnice Bejo, foto) consegue papis cada vez mais
importantes, at se tornar uma das principais estrelas da
nova indstria audiovisual que se formava.
ver na internet
www.dicionariompb.com.br
Site de nomes fundamentais da MPB, com bibliografia crtica e artigos de importantes crti-
cos musicais. Acesso em: 21 nov. 2012.
www.adorocinema.com
Site com resenhas e informaes de filmes cujas crticas quem faz so os leitores. Acesso em:
21 nov. 2012.
www.omelete.com.br
www.homemnerd.com.br
Esses dois sites apresentam resenhas, crticas e novidades de seriados de TV, filmes, livros,
games e gibis. Acessos em: 21 dez. 2012.
A RESENHA CRTICA 35
P A R A C O M E A R
Ateno: No escreva 1. Faa uma leitura silenciosa dos poemas a seguir identificando o tom de cada um
No livro. Faa as
atividades No caderNo.
deles (triste, alegre, melanclico, otimista, pessimista, conformado, indignado).
Poema 2
Se quiserem que eu tenha um misticismo, est bem, tenho-o.
Sou mstico, mas s com o corpo.
A minha alma simples e no pensa.
O meu misticismo no querer saber.
viver e no pensar nisso.
No sei o que a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
cimo: alto, topo. Numa casa caiada e sozinha,
outeiro: colina. E essa a minha definio.
Poema 4 (fragmento)
Lisbon revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angstia de fome de carne
O que no sei que seja
Definidamente pelo indefinido
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
[...]
24/4/1926
5. Aps identificar o tom dos poemas e resolver as atividades sobre eles, voc j
est mais familiarizado com os seus diferentes significados. Prepare-se agora
para a leitura expressiva de cada um deles. Para isso, faa a associao entre o
tom do poema, o ritmo e o volume de voz que voc deve imprimir durante a
leitura. Por exemplo, se o tom for alegre, o ritmo dever ser mais veloz e a voz
mais alta; se for triste, o ritmo dever ser mais lento e a voz mais baixa; quando
o tom do poema estiver entre indignado e pessimista, d leitura certa agres-
sividade de modo que possa traduzir mais claramente seus significados.
Alberto Caeiro
Nasceu em 8 de maio de 1889. considerado o mestre dos demais. Alberto Caeiro um guardador
de rebanhos, o poeta das sensaes, que pretende ver e sentir sem pensar. Considera-se apenas poeta, por
isso foge para os campos com o intuito de viver como vivem as flores, as fontes, os prados. Sua poesia
desprovida de mtrica e rima. Sua simplicidade no permitiria a produo de uma poesia mediada por
elementos muito voltados para a racionalizao, como o rebuscamento da forma potica.
Ricardo Reis
Em carta ao poeta e crtico Adolfo Casais Monteiro, o prprio Fernando Pessoa apresenta Ricardo Reis: []
nasceu em 1887 (no me lembro do dia e ms, mas tenho-os algures), no Porto, mdico e est presentemente
no Brasil. [] educado num colgio de jesutas, , como disse, mdico. [] um latinista por educao alheia,
e um semi-helenista por educao prpria. Essa carta revela a formao cultural de Reis e seu gosto pela poesia
clssica. Seu mundo o do passado. Seus modelos poticos encontram-se na Grcia e na Roma antigas.
lvaro de Campos
Ao apresentar lvaro de Campos para Monteiro, Pessoa escreve: [] nasceu em Tavira, no dia 15 de
outubro de 1890 [] engenheiro naval, mas agora est aqui em Lisboa em inatividade []; teve uma
educao vulgar de liceu; depois foi mandado para a Esccia estudar engenharia, primeiro mecnica e
depois naval. lvaro de Campos, o mais moderno dos heternimos de Pessoa, um poeta futurista, das
mquinas e da fria demolidora. Para ele, a existncia no faz sentido em muitos aspectos, e isso o leva a
exploses de inconformismo e desespero.
1
Fontes dos poemas das pginas 36 e 37. Poema 1, 3 e 4: PESSOA, Fernando. O guardador de
rebanhos e outros poemas. So Paulo: Cultrix, 1991. Poema 2: PESSOA, Fernando. Poesia: Alberto
Caeiro. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.
7. Junte-se a dois colegas que tenham se identificado com o mesmo poema que
voc, pesquisem outro texto do mesmo heternimo ou do ortnimo e preparem
uma leitura expressiva, seguindo as orientaes apresentadas na atividade 5.
O poema que voc ler agora foi escrito sob o heternimo Alberto Caei-
ro. Acompanhe a viso de mundo de um eu lrico que se coloca no mesmo
TEXTO 1
plano de outros elementos da natureza, que abre mo do exerccio do
pensamento para se integrar s coisas, de ser com elas para ser parte delas.
O meu olhar
Alberto Caeiro
TEXTO 2 O poema que voc vai ler na pgina a seguir foi escrito sob o heter-
nimo Ricardo Reis. Durante a leitura, observe aspectos significativos rela-
cionados forma; note o tom de aconselhamento expresso nos versos.
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
15 Como ex-voto aos deuses.
INTERPRETAO DO TEXTO
1. Note que o poema de Ricardo Reis se situa em outro plano de composio po-
tica e abordagem de contedo. Trata-se tambm da viso de mundo do eu lri-
co. Segundo esse eu lrico, como deve ser vivida a vida?
2. O que o eu lrico aprende ao observar os deuses do Olimpo?
3. Observe a composio do poema.
a) Quantas so as slabas poticas de cada verso?
b) Leia os versos do 18 ao 20, na quarta estrofe do poema. Reescreva-os no
caderno, dividindo esses versos em duas frases.
c) Note que o verso 19 contm o final da primeira frase (Dizer-te.) e o incio
da segunda (A resposta). Em relao forma, explique o objetivo dessa
organizao incomum.
d) Comente o contedo da quarta estrofe e explique sua importncia no poema.
4. Perceba que, quanto forma, a construo potica de Ricardo Reis diferencia-se
da adotada por Alberto Caeiro. A biografia de ambos explica a diferena. Volte
seo Para comear e justifique a maior formalidade potica de Ricardo Reis.
5. Como voc viu na seo Para comear, Alberto Caeiro considerado mestre dos
demais heternimos de Fernando Pessoa.
a) Copie no caderno os versos do poema de Ricardo Reis que revelam a in-
fluncia de Alberto Caeiro.
b) Esses versos revelam que a influncia exercida est no campo da forma (com-
posio dos versos, mtrica, rimas, etc.) ou no campo do contedo (viso de
mundo do poeta)?
4. Por mais que o eu lrico no deseje que esse sentimento de tristeza o invada, ele
persiste na imagem de intil agonia, procurando descrev-la com detalhes.
Observa-se, portanto, um eu lrico j voltado para a anlise das sensaes (dife-
rente de Caeiro, que pretende apenas sentir sem pensar). No contexto de Pessoa,
o pensar (renegado por Caeiro) ganha importncia, no s ao se observar um
estado interior, mas tambm na organizao formal do poema. Note que a ex-
posio dessa tristeza no se d de forma espontnea, h uma preocupao
formal de construo. Analise o poema quanto forma.
a) Indique o nmero de estrofes, de versos em cada estrofe, o nmero de slabas
poticas e o esquema de rimas desse poema.
b) H outras duas caractersticas na construo desse poema que lhe do gran-
de beleza musical: 1 os acentos (slabas tnicas) caem sobre a quarta s-
laba, dando nfase na quarta e na ltima slabas tnicas de cada verso; 2 em
vrias estrofes h enjambement ou cavalgamento: transferncia da pausa
mtrica de um verso para a primeira slaba do verso seguinte (a unidade
sinttica excede o limite de um verso e monta o prximo), tornando a
leitura mais fluida e reforando um dado do poema. Levando isso em conta,
em casa releia o poema em voz alta, observando seus acentos, respeitando
a pontuao contida no interior das estrofes, dando nfase aos enjambe-
ments, para perceber a fluidez e a sonoridade dos versos.
Para entender
O modernismo portugus
As vanguardas europeias e o
cenrio do Modernismo
A arte moderna rompe com os valores artsticos dos sculos anteriores. Esse
novo modelo artstico impulsionado pelas vanguardas europeias do incio do
sculo XX, inquietas e revolucionrias, que representam diversas tendncias. Da
os inmeros manifestos artsticos que se lanam nesse perodo, procurando, em
geral, defender uma arte mais livre do controle da razo e mais prxima da
possibilidade de representar a vida em movimento.
Expressionismo
Queremos expressar nosso mundo interior.
Cubismo
Pela destruio das imagens convencionais e estticas! Que-
Reproduo/Museu de Arte Moderna de Nova York, EUA.
Futurismo
Acreditamos na coragem! Na revolta! No perigo!
Amamos a velocidade! O mundo moderno feito por mquinas!
Reproduo/Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA.
Segundo Modernismo
em Portugal (1927-1940)
Pgina de rosto do
primeiro nmero da A revista Presena, por sua vez, inaugura um perodo de ceticismo em relao
revista Orpheu, na qual aos ideais republicanos. O objetivo de seus integrantes dar continuidade ao
comea a ganhar corpo
a caracterstica projeto de modernidade iniciado com a Orpheu, mas sem os radicalismos que
fundamental do marcaram essa publicao e chocaram a burguesia.
primeiro Modernismo
Jos Rgio, grande escritor portugus da poca, um dos fundadores da
portugus: o esprito
contraditrio. revista. Sua obra representa as tendncias do grupo: inclinao ao psicologismo
e reflexo filosfica, seguindo a tendncia europeia geral.
Reconciliao de opostos
A ideia de unir os opostos no era nova. A novidade estava em tentar conci-
li-los. A inteno fundamental dos modernistas portugueses era estabelecer a
mais ntima relao entre os contrrios da vida. O poeta pretende-se os dois
opostos, como observamos neste trecho de um poema de Mrio de S-Carneiro:
Eu no sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermdio:
Pilar da ponte de tdio
Que vai de mim para o Outro.
S-CARNEIRO, Mrio de. In: MOISS, Massaud. Presena da literatura portuguesa.
2. ed. So Paulo: Difuso Europeia de Livros, 1971.
Principais autores
Fernando Pessoa
Retrato de Fernando Pessoa, de Almada
Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa. Vai para a Negreiros, 1954. leo sobre tela,
frica do Sul com a me e o padrasto aos 5 anos e vive em Durban 201 cm 201 cm. Experimentando nas
artes plsticas e na poesia muitas das
at concluir o colgio ingls. De volta a Lisboa, comea a frequen- possibilidades abertas pelas vanguardas do
tar a faculdade, mas no conclui os estudos. incio do sculo XX, Almada Negreiros foi o
Um dos produtores de Orpheu, Pessoa dirige o segundo n- modernista mais radical do grupo da
Orpheu.
mero da revista, que define as caractersticas do movimento.
Reproduo/Museu da Cidade de Lisboa, Portugal.
A por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me ideia escrever uns poemas de ndo-
le pag. Esbocei umas coisas em verso irregular (no no estilo lvaro de Campos, mas num estilo de
meia regularidade), e abandonei o caso. [...]
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao S-Carneiro de
inventar um poeta buclico, de espcie complicada, e apresentar-lho, j me no lembro como, em
qualquer espcie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que
finalmente desistira - foi em 8 de maro de 1914 - acerquei-me de uma cmoda alta, e, tomando
um papel, comecei a escrever, de p, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas
a fio, numa espcie de xtase cuja natureza no conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida,
e nunca poderei ter outro assim. Abri com o ttuloGuardador de rebanhos. E o que se seguiu foi o
aparecimento de algum em mim, a quem dei desde logo o nomeAlberto Caeiro. Desculpe-me o
absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensao imediata que tive. E tanto
assim que, escrito que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e es-
crevi, a fio, tambm, os seis poemas que constituem aChuva oblqua, de Fernando Pessoa. Imediata-
mente e totalmente. [...]
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente - uns dis-
cpulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-me a si
mesmo, porque nessa altura j o via. E, de repente, e em derivao oposta de Ricardo Reis, surgiu-me
impetuosamente um novo indivduo. Num jacto, e mquina de escrever, sem interrupo nem emenda,
surgiu aOde triunfalde lvaro de Campos - aOdecom esse nome e o homem com o nome que tem.
Disponvel em: <www.cfh.ufsc.br/~magno/cartaadolfocasais.htm>. Acesso em: 6 mar. 2008.
Mantivemos a acentuao e a grafia original.
Mrio de S-Carneiro
O lisboeta Mrio de S-Carneiro (1890-1916), filho de um engenheiro bem-
-sucedido, em 1912 publica seu primeiro livro de contos: Princpio. Em 1914 entra
em contato com Fernando Pessoa e outros artistas portugueses, fundando a
revista Orpheu. Aos 25 anos suicida-se.
O escritor tem uma produo significativa contos, narrativas, poesia, tea-
tro em apenas quatro anos de criao. quase impossvel separar o que pro-
duziu do que viveu.
S-Carneiro era excessivamente sensvel para trabalhar os sentimentos com
certo distanciamento. Sentia-se alheio vida, sem aptido para o mundo diante
Epgrafe
Mrio de S-Carneiro
Florbela Espanca
Figura feminina relevante da literatura portuguesa do perodo, Florbela Espan-
ca (1894-1930) no recebeu o devido reconhecimento em vida. Acusada de imoral,
foi discriminada pela sociedade burguesa. No poema que voc ler a seguir, procu-
re observar de que forma essa avaliao social conservadora sobre a poetisa pode
ser, de certo modo, comprovada. Por exemplo, ao ler versos como: Quem disser que
se pode amar algum/ Durante a vida inteira porque mente! possvel pensar na
reao dos leitores da poca, de acordo com suas crenas, suas regras. Numa socie-
dade em que as mulheres eram criadas para ter como principal objetivo na vida um
bom casamento, no acreditar em um amor para a vida inteira significava ir contra
comportamentos morais preestabelecidos e quase inquestionveis.
Marcados por fortes impulsos erticos, sentimentos de paixo incontrolvel,
confidncias amorosas, os sonetos de Florbela Espanca apresentam o drama de
um eu lrico em busca de emoo.
Amar!
Reproduo/Arquivo da editora
Florbela Espanca
Copie o esquema a seguir no caderno e complete-o com base no que foi estudado no captulo.
T E X T O E C O N T E X T O
O tom deste poema, do heternimo lvaro de Campos, bastante diferente
do que vimos nos poemas dos demais heternimos. Observe os recursos utilizados
por ele para deixar clara sua grande insatisfao.
No me tragam estticas!
No me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafsica!
No me apregoem sistemas completos, no me
[enfileirem conquistas
Das cincias (das cincias, Deus meu, das cincias!)
Das cincias, das artes, da civilizao moderna!
Se tm a verdade, guardem-na!
No me peguem no brao!
No gosto que me peguem no brao. Quero ser sozinho.
J disse que sou sozinho!
Ah, que maada quererem que eu seja da companhia!
1. Contra o que o eu lrico do poema Lisbon revisited (1923) expe sua opinio?
Ode Leucono
Horcio
TEXTO 1 TEXTO 2
As rosas amo do jardim de Adnis Ode Leucono
(Ricardo Reis) (Horcio)
O que craftivism?
um conceito que vem da unio das palavras craft (artesanato) e ativism (ativis-
mo). Lancei essa ideia porque acredito que o trabalho manual pode ser usado como
uma forma no tradicional de protesto.
Ao segurar um cartaz de no guerra em uma esquina, h grandes chances de
voc no conseguir engajar ningum em uma conversa produtiva em torno do tema.
Mas, quando voc tricota a mesma mensagem em um sweater, as pessoas pensam:
Espera a. Por que essa pessoa fez isso em sua roupa? Por estilo? Por revolta?. Isso
possibilita outro modo de ativismo, menos de confronto e mais de engajamento.
Existe uma reao ao hiperconsumismo?
O materialismo e o consumismo desenfreados tm tudo a ver
Betsy Greer/<http://etsy.com>
... ler
As vanguardas artsticas, de Mrio de Micheli, editora Martins Fontes.
O livro comenta as correntes artsticas que, no incio do sculo XX, marcam a ruptura com
a arte do passado.
... assistir a
Reds, de Warren Beatty (EUA, 1981).
Baseado na histria do jornalista norte-americano John
Reed, que vai Rssia para escrever sobre a Revoluo de 1917.
www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo1/mapeamentos/
index.html
Mapeamento das vanguardas europeias do incio do sculo XX, com links para mais infor-
maes sobre cada escola. Acesso em: 21 nov. 2012.
2 tecendo
conversas
Nesta unidade, voc vai conhecer o gnero entrevista e a produ-
o potica e em prosa das duas primeiras geraes do Modernismo
brasileiro. O captulo de Lngua e produo de texto mostra como
as entrevistas so estruturadas. E os dois captulos de Literatura
apresentam o processo de interlocuo de outra maneira: como o
dilogo entre diversas manifestaes culturais colabora para a cons-
truo de uma nova representao artstica.
56 UniDADe 2
57
A entrevista
> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Arte,
Fsica, Qumica, Biologia,
Matemtica.
ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
p A r A c o m e A r
Voc vai ler duas entrevistas com pessoas diferentes, cujas partes (entrevis-
tados, perguntas e respostas) foram separadas e misturadas. Sua tarefa ser
relacion-las com base em elementos do prprio texto que marcam a continui-
dade do que se fala na entrevista e justificar oralmente sua resposta indicando
elementos do texto que permitem fazer a relao entre entrevistado e respecti-
vas perguntas e respostas. Para isso, consulte tambm as informaes das le-
gendas das imagens abaixo.
ril
itora
A entrevistA 59
5. Considere que:
o suporte dessa entrevista uma revista semanal que publica reportagens
sobre poltica, economia, comportamento, sade, cultura, alm de notcias
sobre o que acontece no mundo;
o slogan adotado pela revista A mais combativa revista semanal de infor-
mao e interesse geral do Brasil.;
o pblico leitor pode ser composto de pessoas que buscam estar informadas
sobre um ou alguns desses temas.
Agora levante hipteses sobre quais seriam os objetivos de leitura do leitor que
se interessaria por essa entrevista.
A entrevistA 63
Qual desses expedientes exigiria maior grau de receptividade por parte do leitor
para evitar a controvrsia? Justifique sua resposta.
9. Releia:
Por que no gosta da expresso tirania da felicidade?
a) Qual o sentido da expresso tirania da felicidade?
b) Explique por que a viso do entrevistado sobre temas como modernidade,
consumo e busca pela juventude ajudam a explicar seu incmodo com a
expresso tirania da felicidade.
> Habilidades
Para resolver as questes propostas nesta seo, voc precisou: leitoras
mobilizar expedientes de compreenso externos ao texto, como aque-
les baseados no suporte, no conhecimento do autor e nos objetivos
de leitura;
reconhecer os recursos textuais de comunicao das ideias, entre os
quais a generalizao e suas caractersticas lingusticas;
verificar que a generalizao exige mais empatia do leitor para no
gerar controvrsia;
identificar as marcas de contrariedade nas falas do filsofo entrevis-
tado em relao a pensamentos difundidos na sociedade e refutados
por ele.
A entrevistA 65
O ativista poltico americano Eli Pariser From You (A bolha dos filtros: O que a internet
percebeu que sua pgina de Facebook estava est escondendo de voc), sem edio no Brasil .
democrata demais e que seus amigos republicanos Para o ativista, a previsibilidade na web nos
andavam quietos. Aps esmiuar as configuraes viciar nas mesmas ideias e impedir de discutir
da rede social, descobriu que o site, baseado em questes diversas: seu admirvel mundo novo
seu histrico de cliques, diminua a apario de s ter pessoas iguais a voc.
publicaes que no seguiam seus pontos de
vista. O caso ilustra o que Pariser fundador O que a bolha de filtros?
da comunidade antiterrorista MoveOn.org e do Eli Pariser:Costumamos ver a internet como
New Organizing Institute, que treina pessoas
uma enorme biblioteca em que os sites de busca
para aes polticas na web e fora dela considera
nos do o mapa a ser seguido. Na verdade, no
o novo e preocupante paradigma da internet: o
o que acontece. No s o Google, mas
excesso de personalizao.
tambm redes sociais como Facebook e portais
Nessa tendncia, O Grande Irmo da rede
de notcias, como Yahoo! News e o NYTimes,
fundamental. Desde 1997, o Google
esto cada vez mais personalizados. Eles filtram
desenvolve a PageRank, ferramenta que aplica
mais de 200 algoritmos para saber exatamente as informaes para mostrar para cada pessoa
o que queremos encontrar quando fazemos o que acreditam que elas querem ver e que
uma busca. Ele analisa cada letra, o contexto pode ser bem diferente do que elas precisariam
e at o lugar onde o usurio est. Esse tipo de ver. Esses filtros acabam criando uma bolha,
personalizao se baseia no que j fizemos, no um universo nico e pessoal de informaes
no que ainda queremos fazer, diz o ativista. que pode viciar nossas ideias. O excesso de
Pariser teme que o excesso de filtros personalizao enfraquece a proposta original
enfraquea a vocao da web para a diversidade da internet, de ser um espao aberto e
e troca de ideias. Essa tese est em seu novo livro democrtico. Deixa-nos em um mundo isolado
The Filter Bubble: What the Internet is Hiding com nossa prpria voz ecoando.
66 UniDADe 2 tecenDo conversAs
blockbuster: filme de grande sucesso que atrai enorme quantidade de espectadores e arrecada quantias recordes de bilheteria.
browser: programa que permite ao usurio de internet consultar pginas de hipertexto e navegar, passando de um ponto a outro da
mesma pgina ou de pginas diferentes, clicando em links de hipertexto.
cookie: pequeno arquivo de texto que fica gravado no computador do usurio e usado pelos sites para identificar e armazenar
informaes sobre os visitantes. Os sites geralmente utilizam os cookies para especificar usurios e memorizar suas preferncias.
cult: pessoa, objeto, ideia ou obra de arte que cultuado nos meios intelectuais e artsticos.
fast-food: tipo de comida preparada de acordo com um padro e servida com rapidez, geralmente, em lanchonetes.
link: trecho de texto em destaque que, quando acionado com o posicionamento do cursor sobre ele ou com um ou dois cliques de
mouse, permite a exibio de novo texto.
login: processo que inicia uma sesso de conexo com um computador, em que o usurio se identifica, em geral, por meio de nome e senha.
smartphone: telefone celular com funcionalidades avanadas que podem ser ampliadas por meio de programas executados por seu
sistema operacional.
web: (tambm conhecida como www World Wide Web) nome pelo qual a rede mundial de computadores, a internet, se tornou conhecida.
interpretAo Do teXto
1. O texto de apresentao da entrevista, alm de informar quem o entrevistado,
sintetiza o assunto desenvolvido. A partir de sua leitura, possvel conhecer o
ponto de vista do entrevistado com relao ao tpico considerado mais relevan-
te pelo entrevistador. Responda ao que se pede:
a) Quem o entrevistado e o que ele faz?
b) Que constatao feita pelo entrevistado motivou o interesse da revista
por ele?
c) Segundo o entrevistado, por que essa realidade constatada por ele
preocupante?
3. Suponha que voc precise expor para um grupo de professores e pais de alunos
o contedo dessa entrevista utilizando um grande esquema ou slides. Junte-se
a um colega e organizem a apresentao. Atentem para estas etapas a serem
consideradas na preparao do trabalho:
Leiam o texto inteiro com bastante ateno.
Selecionem as informaes mais importantes e depois as organizem em tpi-
cos para facilitar a exposio das ideias.
Se optarem por montar a apresentao em slides, selecionem tpicos com as ideias
gerais e apresentem o desenvolvimento delas oralmente. (Cuidado para no poluir
o slide com muito texto. Lembrem-se de que vocs podero comentar cada um
dos tpicos na apresentao e, assim, complement-los, se for o caso.)
Garantam o emprego de elementos lingusticos que estabeleam a coeso
entre as partes do texto.
conHecimentos lingUsticos
oraes subordinadas adverbiais
para relembrar
A orao subordinada adverbial funciona como adjunto adverbial da orao principal, acres-
centando-lhe circunstncias como: tempo, modo, condio, etc.
Introduzidas por conjunes subordinativas, essas oraes podem ser classificadas em:
temporais: indicam o tempo em que ocorreu o fato apresentado pela orao principal. Conjun-
es: quando, enquanto, logo que, assim que, depois que, sempre que, antes que, etc. Por exemplo:
No site [...], os blockbusters so rapidamente acessados, enquanto tramas mais densas ficam para trs.
subordinada adverbial temporal
Condicionais: indicam uma condio para que o fato da orao principal se realize. Conjunes:
se, caso, no caso de, se porventura, salvo se, desde que, etc. Por exemplo:
Se voc sai, tem de pegar o carro, o avio, e isso implica gastar dinheiro.
subordinada adverbial condicional
Finais: indicam propsito, a razo do fato apontado na orao principal. Conjunes: para que,
a fim de que. Por exemplo:
Os sites filtram as informaes para que seus usurios tenham suas dvidas solucionadas mais rapidamente.
subordinada adverbial final
A entrevistA 69
Consecutivas: indicam a consequncia do fato expresso pela orao principal. Conjuno: que
(antecedida de: to, tal, tanto, tamanho na orao principal). Por exemplo:
Esmiuou tanto as configuraes da rede que descobriu que o site restringia determinadas publicaes.
subordinada adverbial consecutiva
Causais: indicam a causa do que se afirma na orao principal. Conjunes: porque, como,
visto que, uma vez que, j que. Por exemplo:
Como pesquisava muito, percebeu que os sites limitavam seu acesso s informaes.
subordinada adverbial causal
A entrevistA 71
A entrevistA 73
4. As oraes subordinadas adverbiais nais costumam ser escritas na forma reduzida, mas tambm
aparecem na forma desenvolvida (conjunes: para que, a m de que). Por exemplo:
Busquei foras para consolar meus amigos naquele momento difcil.
(para + verbo no infinitivo)
A gua do mar refletia a beleza da Lua como o espelho de cristal mostrava a beleza da rainha.
A entrevistA 75
Reproduo/<http://veja.abril.com.br>
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
anunciaram a descoberta de uma estrela gmea do Sol, dois bilhes de anos
mais velha. A CoRoT Sol 1, como foi chamada, considerada um astro-irmo
por ter massa e composio qumica muito semelhantes ao Sol. Ela a gmea
solar mais madura e distante da Via Lctea j encontrada.
Observaes feitas com o uso do telescpio Subaru, operado pelo Obser-
vatrio Astronmico Nacional do Japo (NAOJ), sugerem que a estrela tem
cerca de 6,7 bilhes de anos, contra aproximadamente 4,5 bilhes do Sol.
Dados obtidos pelo satlite CoRoT (Convection, Rotation and planetary
Transits) indicam que o astro tem um perodo de rotao de aproximadamen-
te 29 dias, com cinco dias para mais ou para menos, enquanto o perodo de
rotao do Sol estimado em 27 dias, com dois dias e meio para mais ou para
menos.
A CoRoT Sol 1 se localiza na constelao de Unicrnio, a 2700 anos-luz
de distncia da Terra, e seu brilho relativamente fraco. Outras gmeas j des-
cobertas, mais novas do que o Sol, tm brilho 200 vezes maior do que ela.
Futuro do Sol A descoberta de uma irm mais velha pode ajudar os pes-
quisadores a estudar o futuro do Sol. Em dois bilhes de anos, quando o Sol
tiver a idade atual da CoRoT Sol 1, a radiao emitida por ele deve aumentar
e tornar a superfcie da Terra to quente que no haver mais gua no estado
lquido, afirma Jos Dias do Nascimento, professor do departamento de Fsi-
ca Terica e Experimental da UFRN e principal autor do estudo.
A notcia trata da descoberta de uma estrela gmea do Sol, a CoRoT Sol 1. Para
organiz-la, foram usados diferentes tipos de oraes subordinadas. Vamos
estudar as adverbiais que articulam algumas circunstncias que compem coe-
rentemente a notcia.
a) Releia o primeiro pargrafo que anuncia a descoberta da CoRoT Sol 1 e res-
ponda ao que se pede.
Que orao apresenta a causa de a estrela ser considerada irm gmea do Sol?
Que orao introduz uma informao que indica acordo, conformidade?
Reescreva o pargrafo, iniciando-o por uma orao adverbial. Faa as
adaptaes necessrias.
b) Explique a relao introduzida pela orao adverbial na frase: Dados obtidos
pelo satlite CoRoT (Convection, Rotation and planetary Transits) indicam que o
astro tem um perodo de rotao de aproximadamente 29 dias, com cinco dias
para mais ou para menos, enquanto o perodo de rotao do Sol estimado em
27 dias, com dois dias e meio para mais ou para menos.
A entrevista 77
Atividades de aplicao
Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images
Dan Ariely desconfia do dele. E de idiota ele no A que concluso voc chegou com os estudos?
tem nada. professor de economia comportamental Descobri que, sem perceber, deixamos de usar a ra-
da Universidade Duke e do Instituto de Tecnologia zo frequentemente. Isso acontece porque nossas
de Massachusetts, o MIT. Autor de Previsivelmente decises so guiadas por fatores que passam desper-
irracional, Ariely diz que as decises que tomamos cebidos pelo crebro quando calculamos nosso pr-
mesmo as mais milimetricamente calculadas ximo passo. possvel estimular as pessoas a ver a
so contaminadas por sentimentos ou influncias realidade de um jeito distorcido e elas acharo
que nem mesmo percebemos. E que estragam o tra- que esto vendo tudo da forma mais lgica possvel.
balho da razo.
Como assim?
Por que seu interesse nas nossas decises? Veja a influncia do hbito. Sentimos que estamos
Aos 18 anos, tive 70% do corpo queimado por uma sempre tomando decises mas, na verdade, repe-
exploso. Passei 3 anos no hospital. Todos os dias, as
timos a mesma deciso vrias vezes. Voc nem sem-
enfermeiras trocavam as bandagens que cobriam meu
pre pesa os prs e contras na hora de escolher. S
corpo puxando-as de uma vez. Meu sofrimento era
conclui que, se j agiu assim antes, sua deciso an-
terrvel. Quando eu perguntava se no seria melhor
terior deve ter sido razovel. Se comprou um carro
tirar as bandagens devagarinho o que aumentaria
grande, provvel que continue comprando.
a durao da dor, mas reduziria sua intensidade ,
as enfermeiras garantiam que no. Depois de sair de Como a nossa razo pode ser manipulada?
l, fiz testes com dor e conclu que aquele s era o Se estimulamos uma pessoa a adotar uma certa ti-
mtodo certo para as prprias enfermeiras, que tam- ca, ela pode acabar vendo o mundo de forma dife-
bm sofriam com a minha situao. Foi ento que rente o que se reflete em suas decises. Um
comecei a me interessar pelas decises que tomamos. exemplo: reunimos alunos do MIT para fazer uma
1. Identifique:
a) o assunto da entrevista;
b) quem o entrevistado;
c) a opinio dele a respeito do assunto.
2. Na primeira resposta da entrevista, Dan Ariely conta a razo que o levou a pesqui-
sar esse tema. Para isso, usou oraes adverbiais. Essas oraes so muito impor-
tantes, pois apresentam as circunstncias em que os fatos ocorrem. Verifique:
a) o fato;
b) as circunstncias de tempo em que os fatos aconteceram.
3. A segunda pergunta feita ao entrevistado tem o objetivo de faz-lo apresentar
seu ponto de vista sobre o assunto da entrevista. Na construo sinttica dessa
resposta, aparece a orao principal Descobri seguida de uma orao subor-
dinada substantiva que completa o sentido do verbo descobrir: que, sem
perceber, deixamos de usar a razo frequentemente.
De acordo com o contexto, indique qual dessas oraes apresenta a informao
em foco, isto , a orao que explora o ponto de vista do entrevistado. Qual
a classificao dessa orao?
4. Os mecanismos lingusticos ajudam a processar melhor as informaes de um
texto. Depois de apresentar sua opinio por meio da orao substantiva objeti-
va direta, o entrevistado explica por que ele acredita que as pessoas deixam de
usar a razo frequentemente. Para introduzir a explicao, usa uma orao su-
bordinada adverbial causal.
a) Identifique essa orao.
b) Para precisar a explicao dada pela causal, o entrevistado empregou mais
duas oraes: uma adjetiva restritiva e uma adverbial temporal. Identifique-as.
c) Releia o perodo dado e responda: para que serve a orao subordinada
adverbial causal?
5. Releia os perodos:
S conclui que, se j agiu assim antes, sua deciso anterior deve ter sido
razovel. Se comprou um carro grande, provvel que continue comprando.
a) Observe que, para continuar defendendo sua posio, o entrevistado recor-
re a exemplos. O exemplo acima, entretanto, construdo por hipteses, ou
seja, ideias, sugestes. Que oraes introduzem essas hipteses?
b) Classifique essas oraes.
A entrevistA 79
EntreLivros Como voc concebe sua poesia? mas prontos, mas no considero o livro concludo.
Ferreira Gullar a maneira que tenho de pensar Depois que publico um livro, no fico especulan-
na vida com mais profundidade. Quando a vida me do sobre como vai ser o prximo. Como nada
agarra, me fora a refletir sobre ela, ento que nas- planejado, tudo nasce da vida, dos momentos, das
ce o poema. [...] coisas que me tocam. [...] Meus livros nunca so
EL Sua poesia, formalmente, bastante rigorosa. iguais. [...]
Gullar Se no der forma ao discurso, ningum enten- EL Como organiza os poemas em livros?
de o que est dito. Sem ordenao sinttica, a linguagem Gullar Em todos os meus livros, sempre os dis-
no existe. No como a pintura, que no est preocupada ponho em ordem cronolgica, na sequncia dada pela
com a lgica, que no tem sintaxe. Uma frase tem que vida. Na preparao, a nica coisa que fao selecio-
ter sujeito, verbo e predicado. A lgica da pintura outra. nar o que vai ser publicado, embora eu seja muito
Tanto a poesia como a pintura procuram construir o exigente j no momento mesmo em que estou escre-
imaginrio e expressar emoes, ideias, uma srie de vendo o poema: se julgo o que est apenas mais ou
coisas que no so lgicas. [...] menos, no deixo nascer.
EL Seu livro j est pronto? [...]
Gullar Tenho um nmero considervel de poe- Revista Entrelivros. So Paulo: Duetto, ano 1, n. 1, p. 20-25.
p r o D U o D e t e X t o
entrevista o texto escrito
A entrevista um texto em que se estabelece um dilogo: h um entre-
vistado, que responde s perguntas feitas por um entrevistador, que geral-
mente representa um grupo, um jornal, uma revista, um canal de TV, etc. pauta: roteiro dos
fatos a ser tratados em
O entrevistado expe e defende sua opinio a respeito do que lhe per- uma reportagem e
guntado. Para isso, recorre a construes da lngua que ajudam a evidenciar sntese de como tratar
o que ele pensa. O entrevistador, por sua vez, comumente expressa suas opi- esses temas.
nies ao fazer perguntas, ainda que de maneira mais sutil.
Esse gnero de texto no termina no ato da entrevista em si (por escrito
ou oralmente) nem na simples transcrio, isto , ele passa por um processo
at ser publicado. O entrevistador edita o texto para adequ-lo estrutura
do gnero deve ter ttulo, olho, introduo, corpo do texto e ao pbli-
co-alvo do suporte responsvel pela publicao. Por exemplo, se a entrevista
for produzida para uma revista dirigida a adolescentes, usa-se uma variedade
lingustica que corresponda idade e aos interesses desse leitor, com uma
estrutura simples e despojada. Todavia, se for publicada em revista ou jornal
voltados para o pblico adulto e intelectual, por exemplo, a variedade lin-
gustica empregada mais formal.
O tema de uma entrevista determinado em parte pelo entrevistado (pelo
fato de ele ser uma personalidade de destaque a ponto de ter sido escolhido
para a entrevista) e em parte pelo suporte que publicar o texto (no caso de
uma revista ou um jornal de negcios, por exemplo, os assuntos a ser comen-
tados, j na pauta, sero definidos levando-se em conta os interesses desse
pblico).
A entrevistA 81
Um dos mais badalados e provocativos filsofos contemporneos, o francs Gilles Lipovetsky, 68 anos,
um especialista em analisar as questes que permeiam a sociedade consumista e de aparncias em que
vivemos. O homem moderno tem necessidade de emoo e, para a maioria das pessoas, isso passa pelo
consumo, diz ele. Quando voc no tem tantos amores ou grandes emoes, o consumo funciona como
um prazer fcil, que traz satisfao momentnea. Autor dos livros O imprio do efmero, Luxo eterno e A
sociedade da decepo, todos publicados no Brasil, ele prepara para 2013 uma obra sobre as relaes entre o
capitalismo e os fenmenos estticos. Nesta semana, Lipovetsky chega ao Brasil para participar da confe-
rncia internacional sobre luxo The New World of Luxury, e falou Isto de sua casa em Grenoble, na
Frana, onde leciona Filosofia.
tExto 2
O ativista poltico americano Eli Pariser percebeu que sua pgina de Facebook estava democrata
demais e que seus amigos republicanos andavam quietos. Aps esmiuar as configuraes da rede social,
descobriu que o site, baseado em seu histrico de cliques, diminua a apario de publicaes que no
seguiam seus pontos de vista. O caso ilustra o que Pariser fundador da comunidade antiterrorista
MoveOn.org e do New Organizing Institute, que treina pessoas para aes polticas na web e fora dela
considera o novo e preocupante paradigma da internet: o excesso de personalizao.
Nessa tendncia, O Grande Irmo da rede fundamental. Desde 1997, o Google desenvolve a PageRank,
ferramenta que aplica mais de 200 algoritmos para saber exatamente o que queremos encontrar quando faze-
mos uma busca. Ele analisa cada letra, o contexto e at o lugar onde o usurio est. Esse tipo de personaliza-
o se baseia no que j fizemos, no no que ainda queremos fazer, diz o ativista.
Pariser teme que o excesso de filtros enfraquea a vocao da web para a diversidade e troca de ideias.
Essa tese est em seu novo livro The Filter Bubble: What the Internet is Hiding From You (A bolha dos
filtros: O que a internet est escondendo de voc), sem edio no Brasil. Para o ativista, a previsibilidade
na web nos viciar nas mesmas ideias e impedir de discutir questes diversas: seu admirvel mundo novo
s ter pessoas iguais a voc.
Os dois textos introdutrios:
comeam com uma frase de apresentao especfica: quem so (filsofo/
ativista poltico) e o que fazem os entrevistados (especialista em [...]/desco-
briu que [...]);
trazem informaes que dialogam com o que a maioria das pessoas pen-
sa ou faz, o que as leva a se interessar pelo que vai dizer o entrevistado;
apresentam informaes que, em princpio, preocupam, chocam: sere-
mos guiados pela internet; somos levados pela paixo pelo luxo;
tratam apenas do assunto que ser discutido na entrevista em si. Note
que no h nenhuma informao dada que no tenha sido desenvolvida no
corpo (perguntas/respostas) da entrevista. Isso para atender ao objetivo real
da entrevista: divulgar o assunto abordado.
Na entrevista a seguir, falta o pargrafo de apresentao do entrevistado, isto ,
o texto introdutrio. Nesse texto, com base no estudo dos modelos, voc dever:
a) reconhecer o assunto da entrevista e deix-lo claro;
b) fornecer informaes sobre o entrevistado e falar um pouco sobre a expe-
rincia de fazer parte de seu projeto.
comentrios das pessoas que esto no 100Face. Pare- Quantas das pessoas que comearam no 100Face
cem com os de grupos de recuperao, de gente que ainda esto no projeto?
est sem usar uma droga. So sobre dependncia, abs-
Comeamos com 100 pessoas. Agora somos sessenta.
tinncia e recada.
Muitos no conseguiram passar da primeira semana. Eu
Voc se considerava viciado em Facebook? mesmo me vigio para no ter uma recada.
Claro. Eu acordava e j ligava o computador. Era a mes-
ma coisa quando chegava ao trabalho e quando voltava Sua vida melhorou sem o Face?
para casa. Uma vez, conversei pelo Face com um amigo Leio mais livros e notcias que antes. Quando vou a um
que estava ao meu lado no sof. show, aproveito mais, porque no me preocupo em ficar
contando que estou l. Ah, e ganhei tempo para fazer a
O que os seus amigos acharam da ideia de voc se decorao de casa. Meu apartamento s tinha um col-
desconectar? cho e uma prateleira. Agora est lindo.
Muitos no curtiram. Alguns dizem que eu sumi. Mas LOBEL, Fabricio. Revista Veja, 28 out. 2012. Disponvel em: <http://veja.abril.
eu continuo no mesmo lugar, s no estou no Facebook. com.br/noticia/vida-digital/a-vida-sem-facebook>. Acesso em: 18 dez. 2012.
A seguir voc ler uma reportagem que faz parte de uma srie de textos publicados
numa seo de jornal destinada a jovens. Nessa srie, alguns profissionais apresentam
sua profisso: o que eles fazem, o que precisam saber, etc. Ao ler o texto, voc vai
perceber que houve um bate-papo antes de ele ser escrito. Seu trabalho ser reescre-
ver esse texto reestruturando-o de acordo com as caractersticas do gnero entrevista.
A entrevista 83
Causa ganha
O criminalista Alberto Toron fala sobre as leis que devem reger a carreira de um
bom advogado
Millos Kaiser
proDUo De AUtoriA
Escolha uma pessoa que voc conhece e deseja saber mais sobre ela e so-
bre alguma atividade que ela pratique, um trabalho que ela realize ou al-
guma habilidade que ela tenha, entre outras possibilidades. Converse com
ela a respeito de sua inteno de entrevist-la, verifique se ela concorda
em conceder a entrevista e se permite que voc a divulgue na escola pos-
teriormente.
Elabore as perguntas relativas ao assunto e entreviste-a pessoalmente ou por
e-mail. Em seguida, retextualize a entrevista, edite seu texto e prepare-o para
ser divulgado nos murais da escola. Os leitores sero as pessoas que compem
a comunidade escolar: alunos, professores, inspetores, diretores, secretrios, pais
e funcionrios da escola em geral.
> preparando
releia seu texto e verifique se:
est estruturado adequadamente: com ttulo, olho, introduo e a segunda
corpo de texto; verso do
a construo dos perodos segue as normas gramaticais adequadas texto
ao gnero.
est retextualizado e se as marcas de oralidade foram retiradas, ou
se h marcas aceitas pelo pblico do veculo em que ser publicado.
Guarde seu texto para o projeto de fim de ano.
no mUnDo DA orAliDADe
entrevista ao vivo
Existe um programa chamado Roda Viva, que exibido pela TV Cultura, da
Fundao Padre Anchieta, e retransmitido em rede nacional por outras emissoras
A entrevistA 85
Com o objetivo de praticar sua competncia oral, vamos propor a vocs que
realizem uma entrevista desse tipo. Para isso, ser neces-
David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images
Organizao
Distribuam as perguntas mais ou menos dentro de uma sequncia entre os
alunos entrevistadores, j prevendo a insero ou a retirada de perguntas
constantes da pauta, conforme a necessidade.
Programem o tempo ideal para que o entrevistado responda s perguntas
e cuidem para que a conversa no se estenda a ponto de se perder o foco
da atividade, que conhecer a pessoa entrevistada e o que ela faz.
Se acharem interessante, vocs podero fazer a gravao da entrevista (em
udio e/ou vdeo), evidentemente com a permisso prvia do entrevistado. Se
A p r o v e i t e p A r A...
... ler
A arte da entrevista, organizao de Fbio Altman, editora Boitempo.
O livro rene 48 entrevistas interessantes, feitas de 1823 a 2000 (por exemplo, Karl Marx
sendo entrevistado pouco depois da Comuna de Paris; Freud discutindo o pessimismo em 1930).
... assistir a
Everett Collection/Latinstock
Renato Russo: entrevistas MTV, de Marcelo
Fres (Brasil, 2006).
O DVD rene entrevistas de Renato Russo, que fala
de suas origens, de seu tempo com a Legio Urbana e da
carreira solo.
http://programadojo.globo.com/
Site com arquivo em vdeo das entrevistas
realizadas no programa de J Soares. Acesso
em: 16 abr. 2013.
http://gnt.globo.com/Marilia-Gabriela-Entrevista/
Site com arquivo em vdeo das entrevistas realizadas no programa de Marlia Gabriela.
Acesso em: 16 abr. 2013.
A entrevistA 87
P A R A C O M E A R
Ateno: No escreva Em 1922, ocorreu no Teatro Municipal de So Paulo um evento para divulgar
No livro. Faa as as propostas dos modernistas brasileiros: a Semana de Arte Moderna. Neste incio
atividades No caderNo.
de captulo, voc vai conhecer algumas imagens e textos referentes a esse evento.
Observe as imagens e leia as legendas:
Reproduo/Arquivo da editora
Programa da primeira
Acervo Iconographia/Reminiscncias
14 15
13 Alguns membros da comisso organizadora do
evento modernista: 1 - o jornalista italiano
Francesco Pettinati; 2 - um annimo; 3 - Ren
Thiollier; 4 - Manuel Bandeira; 5 - Manuel
16 Vilaboim; 6 - Paulo Prado; 7 - Graa Aranha;
8 - Afonso Schmidt; 9 - Gofredo da Silva Teles;
10 - Couto de Barros; 11 - Mrio de Andrade;
12 - Cndido Mota Filho; 13 - Rubens Borba de
Morais; 14 - Luiz Aranha; 15 - Tcito de Almeida;
16 - Oswald de Andrade.
1
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 10. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1983. p. 46.
Sabendo agora um pouco mais sobre como se deu essa primeira amostra pbli-
ca das intenes dos modernistas brasileiros, rena-se com mais dois colegas e
escrevam uma notcia para ser publicada em um jornal-mural na sua escola, na
data de comemorao de aniversrio da Semana de Arte Moderna do prximo
ano. Relatem os acontecimentos do evento e destaquem a reao do pblico
da poca s conferncias ou leitura do poema de Manuel Bandeira. Terminem
a notcia comentando o que provavelmente significaram, para o futuro das artes,
as apresentaes daqueles dias (por exemplo, hoje voc ouve falar nesses artis-
tas? Os poetas que conhece parecem ter sofrido influncia dos modernistas?).
O poema a seguir foi lanado no livro Ritmo dissoluto, de Manuel Bandeira, vo-
lume posterior Carnaval, livro em que foi publicado o poema Os sapos. Em Ritmo
dissoluto possvel notar o uso do verso livre, certa liberdade no tratamento de temas TEXTO 1
tradicionalmente poticos, que fazem parte da esttica de Bandeira, como voc
observar agora pelo estudo do poema a seguir.
Madrigal melanclico
Manuel Bandeira
1 O que eu adoro em ti
No a tua beleza.
A beleza, em ns que ela existe.
A beleza um conceito.
5 E a beleza triste.
No triste em si,
Mas pelo que h nela de fragilidade e de incerteza.
INTERPRETAO DO TEXTO
1. No poema Madrigal melanclico h elementos:
formais que o inserem em uma tradio potica.
que rompem claramente com certos aspectos da tradio potica.
Escreva no caderno as alternativas que correspondem a cada opo acima.
a) Versos livres sem mtrica fixa.
b) Opo pelo madrigal para a composio potica.
c) Tema lrico-amoroso.
d) Repetio da estrutura dos dois primeiros versos de cada estrofe.
e) Nmero irregular de versos nas estrofes.
f) Tom melanclico que permeia alguns versos.
4. Interprete os versos:
a) 5 a 7.
b) 12.
Madrigal to
engraadinho
INTERPRETAO DO TEXTO
1. Que elementos presentes na forma e no contedo do poema acima revelam a
prtica de uma esttica literria bem diferente da esttica do poema Madrigal
melanclico?
relicrio
Oswald de Andrade
No baile da Corte
Foi o Conde dEu quem disse
INTERPRETAO DO TEXTO
1. Que elementos autenticamente brasileiros voc identifica no poema relicrio,
de Oswald de Andrade?
Um dos movimentos sociais da Repblica Velha, o tenentismo, objetivava acabar com o poder exces-
sivo dos fazendeiros. Oficiais de baixa patente, os tenentes estavam revoltados com os vcios do governo e
com os benefcios dados oligarquia cafeeira. Com objetivos bem definidos o voto secreto, por exemplo
e o apoio de outras vertentes da sociedade, a campanha tenentista comea a ganhar corpo.
Mas s em 1924 o movimento amadurece a ponto de promover em So Paulo sua mais violenta revolta:
a cidade tomada pelos tenentes lojas e casas so invadidas, saqueadas e depredadas. O povo adere
revolta em busca de igualdade. Entretanto, a fora federal, em maior nmero, invade a cidade e ataca os
revoltosos.
Mesmo com o insucesso de So Paulo, o movimento gera vrios motins em outros estados: Mato Gros-
so, Sergipe, Rio Grande do Sul. Derrotados em So Paulo, os tenentes rumam at o Paran, onde se encon-
tram com o grupo liderado por Lus Carlos Prestes, vindo do Rio Grande do Sul. Formam a Coluna Prestes,
que percorre mais de 25 mil quilmetros e passa por onze estados brasileiros incitando a luta contra as oli-
garquias. Sem resultados positivos, o tenentismo marcha em 1925 para o exlio, na Bolvia. Ainda assim
teriam importante papel no fim da Primeira Repblica, em outubro de 1930.
Guilherme Gaensly/Fundao Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ.
Caractersticas do Modernismo
primeiro momento
Valorizao do Brasil
Os artistas buscavam, acima de tudo, valorizar atributos locais, o que era
brasileiro. A partir desse objetivo, estabeleceram um interessante dilogo com
os escritores romnticos, tambm preocupados em dar valor ao passado e cul-
tura nacional. Entretanto, os modernistas faziam isso a seu modo, ou seja, ino-
vando no s a forma, mas tambm a maneira de dar importncia cultura do
Brasil: valorizando a natureza tropical; os tipos humanos, como o negro e o ca-
boclo; a tranquilidade das pequenas cidades; a linguagem falada pelos brasilei-
ros; a mistura de povos e costumes. A linguagem, o estilo, a leveza, os tipos
brasileiros, tudo era tema para as produes da poca.
Inovao esttica
experimentos
Poetas e prosadores buscavam liberdade de expres-
so, muitas vezes marcada pela utilizao do verso
livre, pela sintaxe mais solta, menos ortodoxa. Figuras
como eliso e parataxe (voc ver em Comparando
textos) so comuns na produo desse perodo, que
retrata uma sociedade caracterizada pela multiplici-
dade, em que indivduos tentam realizar vrias ativi-
dades ao mesmo tempo.
Muito mais do que inovar os temas da literatura
brasileira, o que vemos nessa fase modernista o de-
sejo de romper com a esttica reinante. Alm das ino-
vaes sintticas, h inovaes fnicas e lxicas, entre
O mamoeiro, de Tarsila do Amaral, 1925. Nesta tela, a
outras, como exemplificam os poemas que voc ver
artista retrata a natureza tropical, as pessoas simples das
pequenas cidades com intenso colorido e forte influncia a seguir.
cubista, representada nas formas geomtricas estilizadas.
Principais autores
Mrio de Andrade
Nascido no centro da cidade de So Paulo, Mrio de Andrade (1893-1945)
desde cedo demonstrou ter uma forte relao com a vida urbana e com tudo o
que ela oferece.
Autor de poemas, contos, romances e artigos, o escritor tambm ficou co-
nhecido pelas inmeras cartas trocadas com os mais diversos artistas da poca,
nas quais discorre sobre suas ideias estticas, sobre a lngua portuguesa, sobre
suas posies polticas, sobre o Brasil, etc.
Em seus poemas, logo percebemos sua relao prxima com a msica. Mrio
de Andrade, que estudou e lecionou no Conservatrio Dramtico e Musical,
procurava transpor para suas produes caractersticas prprias da composio
musical, incluindo os conceitos de melodia e harmonia.
Leia uma estrofe do poema Domingo, publicado em Pauliceia desvairada.
Nesse poema, os versos organizam-se em palavras soltas, sem ligao aparente,
sobrepondo-se umas s outras e formando harmonias.
V
Escola! Sen tido!
Mrio de Andrade
E a manh
noiva
invernal
umidecida,
Nvoas
Ventos
Gotas dgua,
Se desenrola que nem novelo de fofa l. Carnac: pequena
cidade francesa, na
Bretanha, conhecida
Que frio! pelas longas fileiras de
menhires (os
Quatro carreiras de menhires humanos. alinhamentos de
IMOBILIDADE ABSOLUTA. Carnac) erguidos por
Porm as almas tremem retransidas. volta de 2000 a.C.
menhir (ou menir):
monumento pr-
Cabeas levantadas! Ningum se mexa! -histrico que consiste
num bloco de pedra
levantado
E a neblina envereda ver garas batendo asas brancas verticalmente.
Pelos alinhamentos de Carnac. retransido: que
ANDRADE, Mrio de, Escola! Sen...tido!. Poesias completas. penetra at o ntimo;
Vila Rica: Belo Horizonte/Rio de Janeiro, 1993. transpassado.
2
WEISS, Frederico G. Edel. Estudos tupis e tupis-guaranis. Confrontos e revises. Rio de Janeiro:
Livraria Brasiliana, 1962. p. 220.
Pgina do Manifesto
Antropfago (ou Manifesto
Antropofgico), escrito por
Oswald de Andrade,
inspirado na tela Abaporu
(cujo desenho aparece no
centro da pgina do
manifesto), de Tarsila do
Amaral, 1928. Essas novas
ideias sobre arte foram
publicadas no primeiro
nmero da Revista de
Antropofagia, So Paulo,
maio de 1928, editada pelos
modernistas.
Manuel Bandeira
Reproduo/Coleo particular, Rio de Janeiro, RJ.
Alcntara Machado
Alcntara Machado (1901-1935), filho de uma tradicional famlia paulista,
tambm pde conhecer as tendncias artsticas europeias na poca. Sua produ-
o literria foi toda em prosa, principalmente contos. Foi um dos responsveis
pela transformao da prosa da poca.
De sensibilidade gil, soube captar e transmitir o que a figura do imigrante
trouxe para a paisagem da cidade de So Paulo. Os costumes e a fala passaram a ser
registrados nos contos de Brs, Bexiga e Barra Funda de forma divertida e pitoresca.
Suas caractersticas so a agilidade dos contos, o olhar sobre os novos
bairros operrios e at mesmo a percepo de sua limitao para retratar
esses bairros, uma vez que ele pertencia elite paulistana, e no gente
que vivia ali. Conhea um trecho do conto A sociedade, de Alcntara
Machado:
A sociedade
Alcntara Machado
Borsalino: fbrica italiana de acessrios Henri Ardel: romancista francs, teve seus
masculinos, especialmente de chapus. romances publicados no Brasil como literatura
carcamano: indivduo nascido na Itlia para moas por volta da metade do sculo XX.
(usado no sentido pejorativo). Lancia: marca italiana de automveis.
Clxon: ortografia aportuguesada de klaxon serpejar: arrastar-se como uma serpente;
(buzina de automvel). mostrar-se sinuoso.
b) Muitos dos artistas brasileiros desse perodo sofreram influncias europeias, pois .
d) O Brasil vivia .
Paisagem n 1
Mrio de Andrade
Minha Londres das neblinas finas! Passa um So Bobo, cantando, sob os pltanos,
Pleno vero. Os dez mil milhes de rosas paulistanas. um trall A guarda-cvica! Priso!
H neve de perfumes no ar. Necessidade a priso
Faz frio, muito frio para que haja civilizao?
E a ironia das pernas das costureirinhas Meu corao sente-se muito triste
parecidas com bailarinas Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas
O vento como uma navalha dialoga um lamento com o vento
nas mos dum espanhol. Arlequinal!
H duas horas queimou Sol. Meu corao sente-se muito alegre!
Daqui a duas horas queima Sol. Este friozinho arrebitado
d uma vontade de sorrir!
Andr Toma/Arquivo da editora
alacridade: grande 1. Observe que, muitas vezes, a instabilidade do clima se aproxima da instabilidade
alegria, animao
intensa.
dos sentimentos do eu lrico. Destaque os versos que comprovam essa afirmao.
arlequinal: adjetivo
formado a partir de 2. Uma das preocupaes dos modernistas era valorizar a liberdade de expresso,
arlequim (personagem muitas vezes marcada pelo verso livre, pela sintaxe mais solta e, na mesma pro-
da commedia dellarte,
cuja funo, quando
poro, valorizar o que era local, brasileiro. De que maneira Mrio de Andrade
surgiu, era divertir o se revela moderno nesse poema?
pblico; sua roupa
tpica era feita de 3. Consulte no vocabulrio ao lado o significado de arlequim. Seu traje, de tecidos
trapos coloridos, muitas
vezes em formato de
coloridos em forma de losangos, um elemento que o destaca. O termo arle-
losangos). quinal, neologismo criado por Mrio de Andrade, mistura-se a sua viso da
invernia: tempo frio e cidade de So Paulo. Considere essas informaes e a ideia geral do poema. Que
chuvoso; inverno.
pltano: um tipo de elementos do arlequim podem ser notados na paisagem da cidade e nas emoes
rvore. do eu lrico? Escreva a(s) alternativa(s) correta(s) no caderno.
a) A diversidade de cenas pode ser comparada diversidade de losangos da
roupa do arlequim.
b) A variedade dos trajes de um arlequim reflete-se na variedade de climas e
sentimentos conforme as cenas observadas.
c) O olhar frio e direto sobre a paisagem, que no nica, fragmenta-se como
a roupa do arlequim.
d) Reflete-se nesse traje o repdio do eu lrico a uma cidade to cheia de
contrastes.
So Paulo, So Paulo
A P R O V E I T E P A R A...
... ler
Melhores poemas de Mrio de Andrade, organizao de Gilda de Mello e
Souza, editora Global.
Este livro rene os melhores poemas de um dos principais autores da primeira gerao mo-
dernista brasileira.
Macunama, de Mrio de Andrade, editora Agir.
Mrio de Andrade lanou Macunama: o heri sem nenhum carter, em 1938. Por falta
de editora, a tiragem do romance foi pequena, mas a crtica modernista festejou o livro por sua
inovao narrativa e de linguagem.
Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, editora Globo.
Neste livro, Oswald de Andrade funde poema e prosa e aborda temas inusitados, estabele-
cendo assim os pontos principais de sua transgressora linguagem potica.
Melhores poemas de Manuel Bandeira, organizao de Francisco de Assis
Barbosa, editora Global.
O livro apresenta um panorama da obra desse grande modernista.
Contos reunidos: Brs, Bexiga e Barra Funda, Laranja da China e outros, de
Alcntara Machado, editora tica.
Esta coletnea rene a totalidade dos contos escritos por Alcntara Machado. Com muita
ironia e humor, o autor nos fala de So Paulo no incio de sua industrializao.
... assistir a
Tempos modernos, de Charles Chaplin (EUA, 1936).
Um operrio enlouquece com o ritmo intenso do trabalho braal com o qual tenta garantir
sua sobrevivncia.
Macunama, de Joaquim Pedro de Andrade (Brasil, 1969).
Inspirado na obra de Mrio de Andrade, o filme conta a histria de Macunama, que na cidade
conhece guerrilheiras e prostitutas, enfrenta viles milionrios e policiais.
Divulgao/Embrafilme
Lio de amor, de Eduardo Escorel (Brasil, 1975).
Adaptao do romance Amar, verbo intransitivo, de Mrio de Andrade. Na dcada
de 1920, uma governanta alem contratada por uma famlia rica para dar aulas aos
filhos do casal, o que tambm inclui iniciar sexualmente o filho mais velho.
ver na internet
www.tarsiladoamaral.com.br/
Site oficial da artista Tarsila do Amaral. Acesso em: 11 jan. 2013. Os atores Llian Lemmertz e Marcos
Taquechel em cena do filme Lio
www.dicavalcanti.com.br/ de amor.
Pgina oficial de Di Cavalcanti, pintor da primeira gerao modernista.
Acesso em: 11 jan. 2013.
www.mam.org.br/
O Museu de Arte Moderna de So Paulo oferece amplo acervo da pintura nacional, que atraves-
sou o sculo XX e chegou ao XXI influenciada pelos primeiros modernistas. Acesso em: 11 jan. 2013.
P A R A C O M E A R
A Semana de 22 deixou como legado para os prximos escritores a possibilidade de maiores expe-
rimentaes estticas, alm de um olhar mais voltado para as coisas autenticamente brasileiras. A ge-
rao seguinte, no entanto, no se restringiu aos limites desse legado e foi alm: soube usar e trans-
formar as conquistas literrias e estticas de at ento, tornando-se capaz de representar o local, mas
de maneira a revelar tambm o humano, o universal.
Veja as imagens.
Album/akg-images/Latinstock
Corbis/Latinstock
O cientista Albert
Einstein
ministrando aula
na Universidade
de Princeton, nos
Estados Unidos,
1930-1931.
Divulgao/United Artists
Guernica, do pintor catalo Pablo Picasso, 1937.
3. Na folha de papel entregue por seu professor, colem as figuras e os textos, pre- Ateno: No escreva
No livro. Faa as
viamente selecionados, referentes a alguma situao que, segundo vocs, de- atividades No caderNo.
veria levar as pessoas a se mobilizar. A classe toda deve expor essas escolhas
organizando um painel. Deixem um espao em branco embaixo ou ao lado de
cada imagem ou texto para posterior escrita.
Os homens no melhoraram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitvel, o mundo cada vez mais habitado.
5. Releia os versos:
Os homens no melhoraram
e matam-se como percevejos.
percevejo o nome dado a diversas famlias de insetos. Interprete essa compa-
rao, considerando a ideia geral do poema.
INTERPRETAO DO TEXTO
1. O verso a seguir dispara uma ideia que se repete de diferentes maneiras ao
longo do poema: Chega um tempo em que no se diz mais: meu Deus.
Responda no caderno:
a) Dentro da ideia geral do poema, dizer meu Deus equivale a:
pedir ajuda divindade.
no abandonar a relao entre o homem e a religio.
indignar-se com os problemas que nos cercam.
fugir dos verdadeiros problemas, recorrendo religio.
b) O verso seguinte, Tempo de absoluta depurao, refora a ideia apon-
tada no item anterior com uma agravante. Consulte na pgina anterior
os significados da palavra depurao e reflita sobre a questo a seguir.
Com esse verso, sugerido que:
o ser humano se sente culpado por no fazer nada contra os problemas
do mundo, por isso busca a purificao moral.
o ser humano perdeu sua capacidade de se indignar com os grandes pro-
blemas que o cercam e no sente culpa por isso.
3. Releia os versos a seguir. Observe sua fora potica (pense em fora potica
como o uso da palavra em seu potencial mximo de significao).
Teus ombros suportam o mundo
e ele no pesa mais que a mo de uma criana.
a) Escreva no caderno as duas expresses que se opem.
Ombros e pesam.
Suportam e mundo.
Mundo e pesa.
Ombros e mo de uma criana.
Suportam e mo de uma criana.
b) Nesse contexto, o que significa Teus ombros suportam o mundo?
c) O que significa, ento, suportar o que no pesa mais que a mo de uma
criana?
Habilidades >
leitoras Para compreender esse poema voc precisou:
perceber a relao entre as partes do poema e as reiteraes retoma-
das de ideias iniciais reforadas em outros versos do texto;
identificar a ideia geral do poema e interpretar seus versos luz dessa ideia;
fazer inferncias, relacionando informaes do texto ao seu conheci-
mento de mundo;
reconhecer, em certos versos, elementos que, participando da construo
do poema, o tornaram muito mais expressivo.
XXVI
INTERPRETAO DO TEXTO
1. O poema de Jorge de Lima repleto de metforas, que, combinadas, tratam de
certos eventos da vida e da maneira de lidar com eles. Indique, no caderno, o
que podem significar, dentro da ideia geral do poema, as palavras ou expresses
a seguir. Veja o exemplo.
a) chuva 5 1. os sonhos e as esperanas
b) campos 2. canto, arte
c) estios 3. a prpria vida
d) seres e fiis enganos 4. frustraes dos esforos
e) sonhos que restarem frios 5. dificuldades, problemas
f) ninhos imortais 6. espao de concretizao dos sonhos
g) pssaros 7. sonhos e iluses secretas
h) cnticos 8. sonhos e iluses desfeitas
i) bico 9. alegrias ou arte
j) asas depenadas 10. esperanas no realizadas
k) secretas penas 11. momentos bons, solues dos problemas
Contexto histrico
A dcada de 1930 foi, sem dvida, um perodo de intensas aflies sociais.
Pouco antes, a queda da Bolsa de Nova York, em 1929, atinge grandes for-
tunas internacionais e nacionais. A alegria do incio do sculo d lugar a muita
tristeza e a perda de valores.
O mundo assiste, logo aps a Primeira Guerra Mundial, ao desenrolar da guerra
seguinte, que se fecha com o lanamento da bomba atmica e a diviso do mundo
em dois blocos: socialista e capitalista.
No Brasil, a oligarquia cafeeira e a indstria sofrem os reflexos da quebra da
Bolsa de Nova York em 1929. A poltica do caf com leite (dominada por So
Paulo e Minas Gerais) entra em crise, sobretudo quando o governador mineiro
apoia o candidato do partido da Aliana Liberal, o gacho Getlio Vargas, para
a Presidncia da Repblica.
Bettmann/Corbis/Latinstock
luna Prestes avanava pelo territrio nacional, de-
fendendo o trabalho e opondo-se ao governo.
Getlio Vargas chega ao poder com a Revolu-
o de 1930, derrubando a oligarquia cafeeira e
a Repblica Velha. Defende a produo nacional
geral e no s a do caf, alm de reformas das leis
trabalhistas: regulamentao do trabalho do me-
nor de idade, exigncia de frias regulamentadas.
Ao mesmo tempo, persegue e prende os manifes-
Em foto de outubro de 1929, motivado pela quebra da
tantes contrrios ao seu governo, entre eles Lus Bolsa, o investidor Walter Thornton tenta vender seu luxuoso
Carlos Prestes. automvel por apenas cem dlares nas ruas de Nova York.
Em 1937, Vargas decreta o Estado
Iniciao amorosa
Carlos Drummond de Andrade
A rede entre duas mangueiras
balanava no mundo profundo.
O dia era quente, sem vento.
O sol l em cima,
as folhas no meio,
o dia era quente.
E como eu no tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas
[da lavadeira.
Um dia ela veio para a rede,
se enroscou nos meus braos,
me deu um abrao,
me deu as maminhas
que eram s minhas.
A rede virou,
o mundo afundou.
Depois fui para a cama
febre 40 graus febre.
Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espao verde.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2003. Graa Drummond. www.carlosdrummond.com.br
Seu mundo
Seus poemas mostram-nos tambm a falta de sentido da vida. Para ele, o mun-
do se mostrava como um nada, um conjunto de erros. Nota-se puro pessimismo.
So textos que mostram os questionamentos e as negaes da vida. Percebe-
-se certa recorrncia dessa temtica negativa de morte e no esperana em seus
poemas, como se pode ler em um trecho do poema A mquina do mundo, do
livro Claro enigma, de 1951.
A mquina do mundo
Carlos Drummond de Andrade
A flor e a nusea
Carlos Drummond de Andrade
Quero
Carlos Drummond de Andrade
Mos dadas
Carlos Drummond de Andrade
Ceclia Meireles
A carioca Ceclia Meireles (1901-1964) foi professora do Ensino Fundamental
(lecionou para as sries que correspondem hoje a 2o ao 5o ano). Publicou seu
primeiro livro de poemas aos 18 anos, com caractersticas adolescentes, mas
carregado de sugesto e musicalidade.
No incio do Modernismo, Ceclia publicou dois livros, mas
Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo/Agncia Estado
so da mesma condio...
J que no tem mais padrinho,
[posso fazer com desprezo
a minha declarao.
Bangu
Jorge de Lima
Murilo Mendes
Mineiro assim como Drummond, Murilo Mendes (1901-1975) nas-
ceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Irrequieto, participou do movi-
mento modernista, converteu-se ao catolicismo e tornou-se professor
de literatura.
Por causa de sua religiosidade pretende expressar o desejo do ser
humano de se unir totalidade , sua obra caracteriza-se fundamen-
talmente pelo misticismo.
Marcantes, as imagens criadas em seus textos acabam s vezes se
sobrepondo ao contedo. O poeta envereda pelo onrico, pelo sonho,
muitas vezes tentando fugir do mundo que o rodeia.
Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes (1913-1980), carioca proveniente de uma tpica famlia
catlica brasileira, imprime em seus primeiros textos forte carter religioso, na
linha de Murilo Mendes. Mas essa no se firmou como caracterstica fundamen-
tal de sua obra, j que Vinicius preferiu trabalhar a figura da mulher amada em
seus poemas e composies musicais.
Todavia, por causa de sua formao religiosa, em certos poemas notamos que
o poeta oscila entre o desejo e as angstias do pecado. Expe livremente sua
sexualidade, mas de forma sofrida, marcada pela inquietao e pela busca da
mulher predestinada.
Em seus poemas, trabalham-se ainda outros temas: a infncia, os amigos
muito importantes para ele , a ptria.
Poema enjoadinho
Vinicius de Moraes
Filhos... Filhos? Filhos? Filhos
Melhor no t-los! Melhor no t-los
Mas se no os temos Noites de insnia
Como sab-lo? Cs prematuras
Se no os temos Prantos convulsos
Que de consulta Meu Deus, salvai-o!
Quanto silncio Filhos so o demo
Como os queremos! Melhor no t-los...
Banho de mar Mas se no os temos
Diz que um porrete... Como sab-lo?
Cnjuge voa Como saber
Transpe o espao Que macieza
Engole gua Nos seus cabelos
Fica salgada Que cheiro morno
Se iodifica Na sua carne
Depois, que boa Que gosto doce
Que morenao Na sua boca!
Que a esposa fica! Chupam gilete
Resultado: filho. Bebem shampoo
E ento comea Ateiam fogo Andr Toma/Arquivo da editora
A aporrinhao: No quarteiro
Coc est branco Porm, que coisa
Coc est preto Que coisa louca
Bebe amonaco Que coisa linda
Comeu boto. Que os filhos so!
MORAES, Vinicius de. Disponvel em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.
php3?id_article=183>. Acesso em: 5 dez. 2012.
T E X T O E C O N T E X T O
Responda questo no caderno.
(Fuvest)
I II
Sobre esses versos, extrados de Alguma poesia [da segunda gerao modernista],
pode-se dizer que:
a) Os dois textos podem ser aproximados quanto ao tema (mecanizao do
cotidiano); entretanto, enquanto o primeiro apresenta uma viso crtica sobre
o tema, o segundo faz uma apologia bem-humorada do progresso urbano.
b) Os textos assemelham-se no apenas quanto ao tema (automatizao da vida
humana), mas tambm quanto linguagem: ambos apresentam a brevidade
e a descontinuidade sinttica caractersticas de Alguma poesia.
c) A crtica mecanizao excessiva que caracteriza a vida moderna evidencia-
-se, no texto I, especialmente no emprego da anttese no primeiro verso, e,
no texto II, no emprego do estrangeirismo ou barbarismo (stop).
d) O texto II apresenta, atravs de uma linguagem marcada pela conciso telegr-
fica, a crtica presente no texto I, uma vez que os termos zero, stop e parou
indicam a total dependncia da vida moderna em relao s mquinas.
e) A mquina como assunto potico pode ser verificada nos dois textos, o que
torna evidente a influncia exercida, sobre o autor, da vanguarda artstica
conhecida como futurismo.
ndios
Renato Russo
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ningum
Consegue entender:
20 Que o que aconteceu
Quem me dera
25 Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que no tem o bastante
30 Fala demais
Em 1978, estreava Ciranda Cirandinha. Era cenas, h uma espcie de efeito tnel do tempo: o
uma srie sobre quatro jovens, ensaiando entrar protagonista Fiuk, vivido pelo filho de Fbio Jr.,
na idade adulta, que acabam indo todos morar muitssimo parecido com o pai e, como ele, tam-
no mesmo apartamento. Ali, na virada dos anos bm ligado msica.
70 para os 80, a questo era: como entrar na vida Mas, de resto, quanta diferena! Como as ver-
adulta sem renegar a transgresso hippie? Ou, em ses anteriores, Malhao ID rene aquilo que a
outras palavras, como no encaretar e tomar os emissora acha que so jovens, de alguma forma,
pais conservadores como modelo? tpicos. E o so mesmo, mas no de grupos sociais
O autor principal era Paulo Mendes Campos, e juvenis concretos, com alguma referncia no real,
e entre os colaboradores estava, por exemplo, Do- e sim como representantes de uma agenda de ques-
mingos de Oliveira. Os jovens eram interpretados tes juvenis formulada pelo mundo adulto e publi-
por Luclia Santos, Fbio Jr., Denise Bandeira e citrio. Esses jovens vo estar, dizem, tambm s
Jorge Fernando. Era tima a srie. O dilema prin- voltas com questes de identidade mas como
cipal dos quatro personagens no era, de maneira falar em identidade se tudo o que h uma descri-
nenhuma, conduzido de forma a simplificar a o rasa de tipos?
questo. H diferenas gigantescas entre a srie dos
Em outras palavras, os personagens eram cin- anos 70 e a novelinha, claro. Os tempos so
didos entre uma identidade histrica e uma iden- mesmo outros o inconformismo saiu de moda,
tidade possvel. o modelo dos pais mais adotado e aperfeioado
Apesar da qualidade da srie (que foi lanada do que contestado, o mundo do consumo tem
em DVD no ano passado), ela no teve a audin- um tamanho e uma importncia inimaginveis
cia esperada e foi encerrada depois do stimo em relao a 30 anos atrs, s para citar alguns
episdio. Talvez fosse um tanto amarga para os pontos.
jovens aos quais se dirigia, talvez fosse careta de- Mas o fato de Malhao persistir no ar por d-
mais para os ainda hippies e avanada demais para cada e meia e Ciranda Cirandinha ter durado to
os que eram caretas. pouco fala muito sobre a televiso e sua averso
Na ltima semana, estreou uma nova encarna- quilo que menos simples.
o da novelinha adolescente que est h 14 anos Adaptado de: Folha de S.Paulo, 15 nov. 2009. Folhapress.
no ar, Malhao ID (de segunda a sexta, s 17h25; Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/
fsp/ilustrad/fq1511200919.htm>.
classificao no informada). Desde as primeiras Acesso em: 4 dez. 2012.
A P R O V E I T E P A R A...
... ler
Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, editora Record.
Publicado em 1940, este livro consagrou definitivamente Drummond como um dos maiores
poetas brasileiros.
... assistir a
Poeta das sete faces, de Paulo Thiago (Brasil, 2002).
Documentrio do diretor Paulo Thiago, que investiga e interpreta os diversos momentos da
vida e da obra de Carlos Drummond de Andrade.
Arquivo/Agncia Estado
ver na internet
www.viniciusdemoraes.com.br
Site oficial de Vinicius de Moraes, com dados importantes sobre o
poeta e vrios textos dele. Acesso em: 11 jan. 2013.
www.vivaitabira.com.br/viva-drummond
Site de Itabira, cidade onde nasceu Drummond, com espao dedicado
ao escritor. Acesso em: 11 jan. 2013.
http://www.carlosdrummond.com.br/
Neste site h um vdeo de Drummond falando sobre sua vida. Acesso
em: 11 jan. 2013.
O poeta Vinicius de Moraes
em foto de janeiro de 1972.
www.pitoresco.com
Site dedicado exposio das obras de grandes mestres da arte. Acesso em: 11 jan. 2013.
3
Os senhores das terras, de
Ccero Dias, dcada de
1920. Aquarela sobre
outra voz:
a voz do outro
132
133
P a r a c o m e a r
Ateno: No escreva Leia a seguir a letra de msica para responder s atividades.
no livro. Faa as
atividades no caderno.
Abaixo-assinado
Elzo Augusto
A msica Abaixo-assinado
foi gravada originalmente em
1959 pelo grupo Demnios da
Garoa, formado por cinco msicos.
Ao lado de Adoniran Barbosa, o
grupo ajudou a criar e dar fama
ao chamado samba paulista,
com letras que remetiam (e ainda
remetem) oralidade das pessoas
que vivem no estado de So Paulo
e, especialmente, em sua capital.
O grupo Demnios da
Garoa, em 1973. 1. Voc sabe o que um abaixo-assinado? Se souber, explique do que se trata.
O texto que voc vai ler uma carta aberta de alguns artistas brasileiros
sobre a devastao da Amaznia. O envolvimento com esse problema surgiu
enquanto gravavam, em 2005, a minissrie Amaznia de Galvez a Chico Men-
des, de Glria Perez.
Cristiane Torloni e Victor Fasano, alguns dos atores envolvidos no projeto,
resolveram produzir uma carta aberta, na qual, alm de fazer a denncia, tambm
convidavam a populao a uma tomada de posio.
O ator Juca de Oliveira foi incumbido de escrever o texto. Usando como ar-
gumento dados numricos sobre o desmatamento da floresta, ele tentou provo-
car nas pessoas um sentimento de indignao e, assim, envolv-las para tomar
partido na militncia por uma Amaznia preservada. Os artistas participantes do
1
SILVA, Marcos Virglio da. Debaixo do Pogrssio: urbanizao, cultura e experincia popular em
Joo Rubinato e outros sambistas paulistanos (1951-1969). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2011.
Fernando Donasci/Folhapress
Voc ler a seguir a carta aberta que destaca o problema do desma-
tamento sofrido pela Amaznia publicada pelo grupo de artistas da
tExto 1 minissrie Amaznia em um site desenvolvido especialmente para a di-
vulgao dessa causa. Por meio dela, feito um pedido de participao
de todas as pessoas interessadas em leis que garantam a proteo da
floresta.
pulmo do mundo
Durante algum tempo, a Floresta Amaznica foi chamada de pul-
mo do mundo. Isso acontecia porque se acreditava que a emisso de
oxignio pela floresta, advindo do processo de fotossntese, era maior
do que a emisso de gs carbnico. Aps diversas pesquisas, verificou-
-se que o oxignio liberado pela fotossntese alimentava apenas o
prprio ecossistema, ou seja, todos os organismos vivos da floresta.
Assim, ela no poderia ter esse papel de fornecedor de oxignio para
o planeta, mas certamente a Floresta Amaznica tem papel importan-
te na manuteno das temperaturas da regio, alm de se constituir
como um patrimnio natural bastante rico por sua biodiversidade.
6. No texto, os autores apontam uma razo para que no seja derrubada mais
nenhuma rvore da Floresta Amaznica.
a) Que razo essa?
b) Para voc, essa razo convincente? Explique sua opinio.
8. Em sua opinio, o fato de a carta aberta ter artistas brasileiros como au-
tores favorece a adeso causa a expressa? Converse com seus colegas so-
bre essa questo.
< Habilidades
Para resolver as questes de leitura e compreenso da carta aberta sobre
a devastao da Amaznia, voc precisou:
leitoras
identificar as diferentes formas de apresentao do problema abordado;
reconhecer alguns recursos argumentativos (comparaes, figuras de
linguagem, dados numricos, etc.) empregados na tentativa de chamar
a ateno do leitor para a gravidade do problema;
refletir sobre a situao de produo da carta e sobre a influncia de
seus autores para a eficcia da ao.
INtErprEtAo Do tExto
1. Qual a principal solicitao do manifesto?
6. Poderia haver algum tipo de contestao a uma solicitao como essa? De onde
ela poderia partir e com que finalidade?
7. O projeto de lei para o qual o manifesto pede aprovao foi apresentado em 2003.
Por que, em sua opinio, at a data em que o manifesto foi lanado (2010), esse
projeto ainda no tinha sido aprovado pelos rgos pblicos? Pensando nisso, a
produo de um manifesto como esse pode ser vista de que forma nesse processo?
Em textos argumentativos, muito comum o autor expressar sua opinio acerca de um assun-
to sem usar marcadores de primeira pessoa (como os pronomes pessoais eu e me ou os verbos
em primeira pessoa).
Veja um exemplo extrado do Texto 2:
[...] necessrio que as fontes renovveis sejam includas nas atividades de interesse da poltica
cientfica, tecnolgica e industrial do pas.
Esse trecho constitudo por uma orao principal ( necessrio) seguida de uma orao subor-
dinada substantiva subjetiva (que as fontes renovveis sejam [...]). Note que esse emprego tem
como efeito de sentido uma suposta neutralidade do texto advinda da impessoalizao. Por meio
da impessoalizao, um autor pode deixar de se colocar no texto e, dessa forma, dirigir toda a ateno
do leitor para a prpria informao enunciada, tomada como uma verdade universal.
No caso do trecho apresentado, como escrevem em nome de um grupo, os autores do manifes-
to poderiam ter utilizado o pronome pessoal ns e construdo uma frase como Ns julgamos
necessrio que as fontes renovveis sejam includas nas atividades de interesse da poltica.
Ao optar pela impessoalizao, alm de dar nfase ao que dito e no a quem diz, os autores
do manifesto tambm sugerem que a informao ali expressa exige um consenso, uma adeso
geral, pois se trata de uma questo que atinge a todos.
Ao ler outros textos argumentativos, procure observar se comum encontrar a impessoalizao
de uma ideia mediante o emprego de perodos com oraes subordinadas substantivas subjetivas.
coNHEcImENtos LINgUstIcos
perodo composto por coordenao
oraes coordenadas e conjunes
coordenativas
para relembrar
As conjunes tm por funo ligar elementos de um texto e estabelecer relaes de sentido
entre eles. Elas podem ligar oraes em um perodo ou ligar termos semelhantes, isto , que exer-
cem a mesma funo sinttica dentro de uma orao. Leia o exemplo:
a conjuno e liga termos semelhantes: a conjuno mas liga as oraes
os ncleos de um sujeito composto do perodo composto
Energia elica e energia solar so exemplos do potencial energtico brasileiro, mas o sucesso desses
projetos depende de poltica consistente.
Segundo a NGB2, um perodo que rene oraes sintaticamente completas conhecido como
perodo composto por coordenao, e suas oraes so coordenadas. Analisemos o exemplo
apresentado anteriormente:
1a orao: Energia elica e energia solar so 2a orao: mas o sucesso desses projetos de-
exemplos do potencial energtico brasileiro pende de poltica consistente
Sujeito: Energia elica e energia solar Sujeito: o sucesso desses projetos
Predicado nominal: so exemplos do poten- Predicado verbal: mas depende de poltica
cial energtico brasileiro consistente
Predicativo do sujeito: exemplos do poten- Ncleo do predicado verbal e verbo tran-
cial energtico brasileiro sitivo indireto: depende
Verbo de ligao: so Objeto indireto: de poltica consistente
Orao coordenada assindtica no tem
conjuno que se ligue a outra orao (nesse Orao coordenada sindtica ligada a ou-
exemplo, a conjuno e liga ncleos do sujeito, tra orao pela conjuno mas.
no oraes).
2
Nomenclatura Gramatical Brasileira.
aditivas: indicam que os termos ou as oraes esto ligados por uma relao de soma, se-
quncia (e, nem, etc.). Por exemplo:
Energias renovveis reduzem a emisso de gases de efeito estufa e evitam os grandes impactos am-
bientais causados pelas hidreltricas. orao coordenada sindtica aditiva
adversativas: indicam que os termos ou as oraes se ligam por uma relao de oposio
(mas, porm, todavia, contudo, entretanto, etc.). Por exemplo:
Energia elica e energia solar so exemplos do potencial energtico brasileiro, mas o sucesso desses
projetos depende de poltica consistente. orao coordenada
sindtica adversativa
alternativas: indicam alternncia, equivalncia entre dois termos ou duas oraes (ou, ou
ou, ora ora, quer quer, etc.). Por exemplo:
Ora a energia elica alvo de estudos, ora os pesquisadores se voltam para o potencial solar.
orao coordenada sindtica alternativa orao coordenada sindtica alternativa
conclusivas: indicam concluso em relao ao que j foi exposto (logo, portanto, por isso,
pois [posposto ao verbo], assim, etc.). Por exemplo:
explicativas: indicam explicao em relao ao que j foi exposto (porque, pois [anteposto
ao verbo], porquanto, etc.). Por exemplo:
A aprovao do projeto de lei permitir ao Brasil uma economia de baixo carbono no futuro,
pois compensar as emisses do pr-sal com incentivos ao uso de energias renovveis.
orao coordenada sindtica explicativa
1. Leia com ateno os seguintes trechos retirados da carta aberta (Texto 1).
III. Portanto, a nosso ver, como nico procedimento cabvel para desacelerar
os efeitos quase irreversveis da devastao, segundo o que determina o 4o,
do Artigo 225 da Constituio Federal [].
Escreva no caderno a opo que completa adequadamente a frase:
A conjuno portanto, que praticamente finaliza o texto, indica
uma explicao para os problemas expostos na carta.
a causa de todos os problemas expostos na carta.
uma concluso lgica para resolver todos os problemas expostos na carta.
2. Leia outro trecho da carta aberta.
Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amaznica dos
ltimos trs anos: 17 mil quilmetros quadrados. quase a metade da Holanda.
Nas frases que compem o trecho citado, possvel perceber uma relao de
contraste entre as informaes que nos faz refletir sobre o absurdo de tal come-
morao. Reescreva o trecho utilizando:
uma conjuno coordenativa que deixe a ideia de oposio clara;
uma pontuao que demonstre a ideia de indignao que pode ser percebida
na leitura da carta.
Se necessrio, faa as adaptaes cabveis.
2a frase:
Ou enxergamos a floresta como obstculo ao progresso, ou como fonte ines-
gotvel de madeira, peixe, ouro, minerais, energia eltrica.
a) Uma das frases lidas apresenta uma opo entre dois fatos. Reescreva-a utilizan-
do outra locuo conjuntiva, mas de forma que a informao continue a mesma.
b) Reescreva agora a frase em que a orao coordenada apresenta a concluso
de um raciocnio anterior de forma que a informao continue a mesma.
Atividades de fixao
1. Retiramos dos trechos das cartas de leitores a seguir as conjunes coordenati-
vas que davam coeso ao texto. Para que os trechos se tornem coerentes, rees-
creva-os em seu caderno utilizando as conjunes coordenativas adequadas.
a) No sou muito tolerante com baguna, ela inevitvel. Tambm no sou pessoa
sistemtica, consigo relaxar mesmo quando as coisas esto fora de ordem. Para
no virar desleixo, no deixo perdurar por mais de cinco dias. o meu limite.
Carta de s. R. D., pelo frum na internet. Revista Vida Simples, abr. 2009.
Para realar a ideia de que difcil nomear, descrever ou falar sobre o amor, a
autora repete algumas conjunes coordenativas.
a) Reescreva no caderno as frases em que as conjunes coordenativas acres-
centam novas informaes s j apresentadas.
b) Reescreva as frases em que as conjunes coordenativas criam um contraste
em relao informao apresentada anteriormente.
c) Releia a resposta dada questo b. Nela ser possvel notar que a sequncia
de ideias introduzidas pelas conjunes coordenativas aponta para uma con-
cluso importante. Qual essa concluso?
Atividade de aplicao
Leia o texto do anncio publicitrio para responder s questes a seguir.
Reproduo/Euro RSCG
Seu chefe
pega no seu p,
sua me
pega no seu p,
seu vizinho
pega no seu p.
Mas massagem,
que bom,
nada, n?
p r o D U o D E t E x t o
carta argumentativa
Enderear cartas a algum uma tradio. Todavia as cartas que estudamos
neste captulo no so fechadas em envelopes, no contm endereos e muito
menos recebem selos. Essas cartas, aqui chamadas de argumentativas por causa
das sequncias textuais predominantes, so publicadas em jornais, revistas ou na
internet.
Existem, como j vimos, diversos modelos de cartas e todos eles se organizam
conforme as caractersticas que apresentam e o espao em que circulam. Contudo,
mesmo com caractersticas peculiares a cada tipo ou meio de circulao, a estru-
tura desses textos costuma ser construda pelo ttulo, pelo corpo do texto (com a
apresentao do problema logo no incio) e pela assinatura.
Em relao ao estilo, percebem-se algumas caractersticas bsicas:
A linguagem, em geral, obedece variedade-padro. No entanto, o ideal
que se adapte variedade de quem l. Por exemplo, se sua carta endere-
ada a uma revista que se destina ao pblico jovem, pode ser utilizada uma
linguagem mais informal, que se aproxime do modo de falar desse pblico.
O produtor da carta argumentativa expe sua opinio sobre determinado
assunto e a defende por meio de argumentos de autoridade, de exemplos,
nmeros, estatsticas e estudos cientficos, entre outras coisas.
As referncias ao leitor como em um dilogo geralmente so feitas me-
diante pronomes (os denominados pessoais de tratamento), escolhidos de
acordo com o grau de formalidade que possa existir entre os interlocutores.
Os verbos podem ser usados no imperativo sempre que o produtor da carta
se dirigir ao leitor para dissuadi-lo a tomar alguma atitude, como se estivesse
diante dele.
As cartas argumentativas so de carter social, isto , apresentam temas comuns
a um grupo. Sero esses temas que determinaro os diferentes formatos de cada
carta. Observem:
carta ao leitor
Tambm chamada de editorial, essa carta apresenta ao leitor o ponto de
vista do jornal, da revista, do site, etc. sobre determinado assunto.
Coloque-se no lugar dos estudantes de uma escola que passou a monitorar as pginas de seus alunos
em redes sociais da internet (como o Orkut, o Facebook e o Twitter), aps um evento similar aos relatados
na matria reproduzida abaixo. Em funo da polmica provocada pelo monitoramento, voc resolve
escrever um manifesto e recebe o apoio de vrios colegas. Juntos, decidem l-lo na prxima reunio
de pais e professores com a direo da escola. Nesse manifesto, a ser redigido na modalidade oral
formal, voc dever necessariamente:
explicitar o evento que motivou a direo da escola a fazer o monitoramento;
declarar e sustentar o que voc e seus colegas defendem, convocando pais, professores e alunos a agir
em conformidade com o proposto no documento.
(unicamp, 2012, proposta de redao texto adaptado.)
Caros pais, professores e diretoria, ns, alunos desta escola, vimos nos manifestar
Apresente o
sobre o recente episdio em que . assunto.
Ns nos sentimos . Apresente sua
posio e a de
Acreditamos que . seus colegas.
proDUo DE AUtorIA
A revista semanal So Paulo, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, tem
uma seo denominada Criticidade. Nela so publicados textos que avaliam
a capital paulista.
Observe:
Vai bem
Museu a cu aberto
Uma rplica da esttua Emigrantes, feita pelo escultor Lasar Segall em 1930,
foi colocada neste ms no parque Buenos Aires, em Higienpolis (regio central).
Ela se junta a outras seis obras de diferentes autores existentes no local.
Vai mal
Corredor fechado
Uma faixa que deveria ser um corredor de nibus na av. Inajar de Souza, no
Limo (zona norte), est fechada. Diversos carros estacionam ali. A SPTrans diz
que a reforma do corredor est sendo licitada.
Vai indo
Longa reforma
O prdio da Umapaz, brao da Secretaria do Meio Ambiente que fica no parque
Ibirapuera (zona sul) e promove educao ambiental, est em obras desde maro. A
reforma deveria ter acabado em agosto, e no h previso para a concluso.
Revista So Paulo, 25 de nov. 2012.
Discusso em grupo
Com os colegas, decidam o que, na sua cidade, deve receber cada uma dessas
classificaes (vai mal, vai bem, vai indo). Produzam um pargrafo apresentando
cada situao.
Aps a discusso para se chegar a esses pontos, vocs vo produzir uma carta
aberta ou um manifesto sobre algum problema identificado. Para produzir esse
texto, vocs devem falar sobre o que vai mal na cidade.
preparando >
a segunda Releiam seu texto e reflita:
A opinio defendida est clara?
verso do
Os argumentos so lgicos, convincentes, no generalizantes?
texto
Foi estabelecido um dilogo com o leitor?
A linguagem utilizada est adequada ao leitor?
As orientaes estabelecidas no incio da produo do texto foram seguidas?
O texto est bem organizado?
Guarde sua carta aberta (ou manifesto) para o projeto do fim de ano.
No mUNDo DA orALIDADE
manifesto em vdeo
Os manifestos podem ser produzidos tanto por escrito quanto oralmente.
Hoje muitas pessoas tm se juntado a organizaes no governamentais para
convocar a populao a agir ou tomar providncias em relao a vrios assuntos
relevantes, o que tem elevado o nmero de vdeos de manifestos produzidos
para circular na rede.
Esses vdeos podem ter autoridades ou pessoas comuns que apresentam o
problema e convocam os espectadores participao por meio de argumentos.
A p r o v E I t E p A r A...
... ler
Jornais e revistas diversos.
Especialmente as cartas do leitor espao reservado, nesses veculos de comunicao, para o
leitor manifestar suas sugestes, crticas, opinies, reclamaes e as cartas ao leitor tambm
chamadas de editoriais, por apresentar o ponto de vista do jornal, da revista.
... assistir a
Uma verdade inconveniente, de Davis Guggenheim (EUA, 2006).
Neste documentrio, Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, faz um alerta sobre a
necessidade de uma ao imediata contra o aquecimento global e suas consequncias.
Warner Bros./Cortesia de Everett Collection/Keystone
ver na internet
http://planetasustentavel.com.br
Site com vrias informaes sobre o que se pode fazer para que o planeta seja susten-
tvel. Acesso em: 18 dez. 2012.
www.abaixoassinado.org/pages/novo
Este site apresenta diversos modelos de abaixo-assinado. Acesso em: 18 dez. 2012.
P A r A c o m E A r
Ateno: No escreva Leia atentamente os textos dos quadros a seguir.
No livro. Faa as
atividades No caderNo.
Quadro 1
O nmero de denncias de violao dos direi- cretos de violaes, de um total de 234839 chama-
tos humanos no Brasil entre janeiro e novembro das que incluam tambm pedidos de informao.
deste ano aumentou 77% em comparao com o A secretria de Direitos Humanos do Brasil,
mesmo perodo de 2011, segundo um relatrio di- Maria do Rosrio, justificou o aumento dos casos
vulgado nesta segunda-feira pelo governo por oca-
pela confiana que a populao ganhou para de-
sio da celebrao do Dia Internacional dos Direi-
tos Humanos. nunciar os casos, e assim muitas violaes que no
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidn- eram informadas deixaram de ser invisveis e co-
cia disse que a linha telefnica criada para atender mearam a ser investigadas pelas autoridades.
este tipo de denncia registrou 155336 casos con- [...]
Disponvel em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6369423-EI294,00-Denuncias+sobre+
violacoes+de+direitos+humanos+aumentam+no+Brasil+em.html>. Acesso em: 19 dez. 2012.
Quadro 3
SERTO CENTRAL
Mulheres discutem a seca
Convivncia com o semirido tema de debate em encontro que rene cerca de 120 mulheres em Quixad
O Quinze
II
Rachel de Queiroz
cabra: homem, de
Encostado a uma jurema seca, defronte ao juazeiro que a foice dos
maneira geral; homem cabras ia pouco a pouco mutilando, Vicente dirigia a distribuio de
que ou se considera
valente.
rama verde ao gado. Reses magras, com grandes ossos agudos furando o
juazeiro: rvore da couro das ancas, devoravam confiadamente os rebentes que a ponta dos
famlia das ramnceas,
de folhas serreadas.
terados espalhava pelo cho.
jurema: rvore da Era raro e alarmante, em maro, ainda se tratar de gado. Vicente
famlia das leguminosas,
de caule torto e casca pensava sombriamente no que seria de tanta rs, se de fato no viesse o
malhada. inverno. A rama j no dava nem para um ms.
rama: conjunto de
ramos de uma planta; Imaginara retirar uma poro de gado para a serra. Mas, sabia l? Na
pastagem usada para serra, tambm, o recurso falta Tambm o pasto seca Tambm a gua
alimentar o gado.
rebento: arbusto de dos riachos afina, afina, at se transformar num fio gotejante e
terreno no cultivado. transparente. Alm disso, a viagem sem pasto, sem bebida certa, havia de
rs: qualquer animal
quadrpede que se ser um horror, morreria tudo.
pode abater para o ser Uma vaca que se afastava chamou a ateno do rapaz, que deu um grito:
humano se alimentar.
tanger: instigar de Eh! menino, olha a Jandaia! Tange para c! E chamando o vaqueiro:
algum modo a marcha
de indivduos ou
Voc viu, compadre Joo, como a Jandaia tem carrapato? At
animais; tocar. no focinho!
terado: faco.
bere: mama de
O Joo Marreca olhou para o animal que todo se pontilhava de
animal. verrugas pretas, encaroando-lhe o bere, as pernas, o corpo inteiro:
156 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro
Vidas secas
O soldado amarelo
Graciliano Ramos
[]
Seguiu a direo que a gua havia tomado. Andara cerca de cem
braas quando o cabresto de cabelo que trazia no ombro se enganchou
num p de quip. Desembaraou o cabresto, puxou o faco, ps-se a
5 cortar as quips e as palmatrias que interrompiam a passagem.
Tinha feito um estrago feio, a terra se cobria de palmas espinhosas.
Deteve-se percebendo rumor de garranchos, voltou-se e deu de cara
com o soldado amarelo que, um ano antes, o levara a cadeia, onde ele
aguentara uma surra e passara a noite. Baixou a arma. Aquilo durou um
10 segundo. Menos: durou uma frao de segundo. Se houvesse durado
Para entender
A ProsA DA DcADA DE 1930
Os trechos narrativos que voc leu neste captulo ilustram o que se denomi-
nou a era do romance brasileiro e fazem parte da segunda fase do Modernis-
mo no Brasil. A preocupao com a documentao da realidade que notamos
nas obras do Pr-Modernismo (como em Os sertes, de Euclides da Cunha)
retomada pelos prosadores da dcada de 1930, mas agora com a influncia da
primeira fase modernista, que abriu caminho para novas formas de narrar a rea-
lidade cotidiana.
O primeiro livro a ser publicado com olhar mais crtico sobre a sociedade
brasileira foi A bagaceira, de Jos Amrico de Almeida. Nesse romance, a situao
do nordestino retratada com exatido para o leitor, que acompanha tambm
os poemas de 1930 e seu carter mais engajado.
O contexto histrico propiciou fices mais realistas, preocupadas em retratar
as regies mais castigadas do Brasil e denunciar sua condio. Viviam-se os anos
do Estado Novo de Getlio Vargas, com seu poder ditatorial centralizado e
opressor. O cenrio econmico internacional no era menos crtico, j que se
passava pelas consequncias da quebra da Bolsa de Nova York, pelo entreguerras
e pela desconfiana nos valores democrticos e burgueses, o que gerou espanto,
depresso e indignao.
Em novembro de 1937, o presidente Getlio Vargas anunciou, em cadeia de rdio, o Estado Novo. Ge-
tlio fechou o Congresso Nacional e imps ao pas uma nova Constituio, de tendncia fascista, alegando
que os comunistas iam tomar o pas.
Alm de contar com o apoio de militares, o golpe de Getlio Vargas foi bem recebido por boa parte da socieda-
de brasileira, j que desde o fim de 1935 o governo amedrontava a classe mdia ao reforar a propaganda antico-
munista. A partir da Vargas, por um lado, perseguiu e prendeu inimigos polticos e imps a censura aos meios de
comunicao; por outro, adotou medidas econmicas nacionalizantes e deu continuidade a sua poltica trabalhista.
O presidente criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsvel por centralizar e orien-
tar a propaganda nacional, censurar as artes e os meios de comunicao em geral, incentivar manifestaes
cvicas e expor as atividades do governo central. O DIP, uma das estruturas fundamentais do Estado Novo,
difundiu a imagem de progresso e desenvolvimento do perodo e associou-a diretamente figura de Vargas.
Linguagem simples
A gerao de 1930 buscava retratar os setores marginalizados do Brasil. Com
essa inteno, procura-se reproduzir na prosa uma linguagem mais prxima do
portugus falado por essas camadas sociais. nesse perodo que se conhece
melhor a diversidade da lngua portuguesa no Brasil. Jorge Amado, por exemplo,
um dos autores que registram em seus romances a variedade lingustica de uma
regio castigada pela misria e pela opresso.
rachel de Queiroz
Filha de famlia letrada de Fortaleza e descendente do escritor Jos Doidinho, romance de Jos Lins do
de Alencar, a jornalista Rachel de Queiroz (1910-2003) sempre esteve Rego de 1933. Trata-se do segundo
romance do ciclo da
prxima dos livros. cana-de-acar criado pelo autor.
Dona de uma prosa enxuta e viva, escreveu romances que documen-
tam um Nordeste decadente, num estilo menos literrio e mais docu-
Oscar Cabral/Arquivo da editora
A escritora Rachel de Queiroz em foto de 1996, no Rio de Janeiro. Conta-se que, na noite de
sua formatura, a jornalista, eleita Rainha dos Estudantes, largou a coroa, dispensou os
abraos e, dizendo que era reprter, abandonou a festa quando soube do assassinato do
poltico Joo Pessoa.
Jorge Amado
O autor Jorge Amado (1912-2001) costuma ser lembrado por repre-
sentar em seus livros a Bahia dos marginais, dos marinheiros, dos pesca-
dores e a Bahia da mulher sensual. Nascido em Itabuna, retrata esse amor
de forma crtica em relao sociedade e de forma admiradora e con-
templativa em relao mulher. Seus temas so os problemas de seu
Estado: a condio do negro, do menor de idade abandonado, do tra-
balhador das fazendas de cacau, do cais.
Considerado um excelente contador de histrias, Jorge Amado caiu
no gosto popular no Brasil e no mundo, tendo sido um dos autores
brasileiros mais conhecidos internacionalmente. Entre suas obras da
O escritor Jorge Amado em sua casa fase de crtica social, possvel destacar Terras do sem-fim e Capites
na cidade de Salvador, BA, em 1996.
da Areia. Nesta ltima, retrata a cidade de Salvador pela perspectiva
de meninos de rua abandonados e marginalizados. Pedro Bala
o chefe do grupo, que rouba para sobreviver. No incio do
Caryb/Acervo do artista
rico verssimo
O gacho rico Verssimo (1905-1975) tambm se tornou um autor bas-
tante popular. Retrata os costumes da burguesia gacha, trabalha figuras
comuns, mas representativas. Clarissa (personagem que d nome a um de
Ilustrao da capa do seus romances), por exemplo, representa a adolescente entregue aos sonhos e
livro Tereza Batista incapacidade de entender a infelicidade familiar.
cansada de guerra,
Orgulho e dio, paixes que ganham uma dimenso maior que a da vida pes-
romance lanado em
1972. O artista plstico soal das personagens e se fundem na histria da comunidade compem a trilogia
Caryb, criador dessa O tempo e o vento. Composta de trs partes O Continente, O Retrato e O Ar-
imagem, foi responsvel
pela ilustrao de quiplago , a obra mais significativa do autor. Narra a histria de geraes do
diversas obras de Jorge Rio Grande do Sul por meio das famlias Terra-Cambar e Amaral, registrando
Amado, contribuindo desde as Misses nos tempos coloniais at o Estado Novo no sculo XX.
para a construo de
suas personagens no Os trechos selecionados a seguir foram retirados de Ana Terra, captulo de O
imaginrio dos leitores. Continente. Por causa de seu valor, esse captulo foi lanado como livro indepen-
dente. A narrativa apresenta a famlia Terra o pai Maneco, a me d. Henrique-
ta e os filhos Ana, Horcio e Antnio , que vive em uma estncia no interior
gacho. Um dia Ana socorre um mestio indgena e o leva para sua casa. Mais
tarde, mesmo lutando contra a paixo que a domina, engravida do enigmtico
mestio e d luz Pedro Terra. Seus irmos, para honr-la, matam o indgena.
Tempos depois, num ataque de bandidos castelhanos, pai e irmos so mortos.
Ana, o filho Pedro Terra, a cunhada e a sobrinha ento partem para Santa F,
palco de O tempo e o vento.
Observe nestes trechos a conscincia do tempo como elemento da natureza
e a representao da garra e da capacidade de resistncia de um povo, o rio-
-grandense.
a) Durante muito tempo, o Brasil foi governado por presidentes dos estados de , a chamada poltica . Isso
contribuiu para que as questes especficas do Nordeste e de outras regies . Depois de enfraquecida a
poltica que apoiava esses dois estados, no se pode negar que houve .
t E X t o E c o N t E X t o
Publicada em 1942, a obra Terras do sem-fim foi considerada por alguns
crticos literrios uma das melhores de Jorge Amado. Narra, em trs partes, a
chegada e a permanncia do homem na terra do cacau, alm de relatar a dispu-
ta entre duas famlias, a do coronel Sinh Badar e a do coronel Horcio da
Silveira, pela posse de mais terras.
O fragmento abaixo relata o depoimento de um dos viajantes que se dirigem
a terras longnquas da Bahia procura de trabalho.
O navio
Captulo 6
Jorge Amado
A voz cantava e os homens se encolhiam com frio. O vento passava rpido, vinha do
sul e era violento. O navio jogava sobre as ondas, muitos daqueles homens nunca tinham
entrado num navio. Tinham atravessado as speras caatingas do serto num trem que
arrastava vages e vages de imigrantes. O velho os olhava com seus olhos duros.
To vendo essa modinha? Nessas terras vou morrer. T a uma coisa verda-
deira Quem vai pra essas terras nunca mais volta Tem uma coisa que parece
feitio, feito visgo de jaca. Segura a gente
Tem dinheiro fcil, no ? o jovem se atirou para a frente de olhos acesos.
Dinheiro T a o que prende a gente. A gente chega, faz algum dinheiro,
que dinheiro h mesmo, Deus seja servido. Mas dinheiro desgraado, um dinheiro
que parece que tem maldio. No dura na mo de ningum, a gente faz uma roa
A msica vinha em surdina, os jogadores haviam parado a ronda. O velho fitou
Rogrio Soud/Arquivo da editora
o jovem bem dentro dos olhos, depois relanceou a vista pelos demais homens e mu-
lheres que estavam presos s suas palavras:
J ouviram falar em caxixe?
Diz que um negcio de doutor que toma a terra dos outros
Vem um advogado com um coronel, faz caxixe, a gente nem sabe onde vai
parar os ps de cacau que a gente plantou
Espiou em volta novamente, mostrou as grandes mos calosas:
Rog
ri
o Sou
Na mesma noite que mataram ele, tavam bebendo numa venda, contando
como o caso tinha se dado d/Arq
uivo
Sete
itora
Mas o outro nem recolheu o dinheiro, absorto na figura do velho que agora es-
tava dobrado e parecia esquecido do mundo, sozinho na sua desgraa.
AMADO, Jorge. Terras do sem-fim. So Paulo: Crculo do Livro, [s.d.].
2. H nesse trecho algumas foras (ou poderes) contra as quais muitas pes-
soas no conseguem lutar, como o poder da autoridade legal e o da impunida-
de. Indique como essas foras so representadas no trecho. Procure explicar
tambm a importncia dessas foras nos conflitos vividos pelas personagens.
c o m P A r A N D o t E X t o s
tipos de discurso
Leia um trecho da primeira parte do romance Fogo morto, de Jos Lins do
Rego, que apresenta mestre Jos Amaro, homem revoltado, que trabalha como
seleiro em frente de sua casa, beira da estrada.
Pelas inmeras conversas com moradores do lugar, possvel perceber sua
revolta, seu ponto de vista sobre a sociedade que o cerca.
Fogo morto
Jos Lins do Rego
[]
Sentado no seu tamborete, o velho Jos Amaro parou de falar. Ali estavam seus
instrumentos de trabalho. Pegou no pedao de sola e foi alisando, dobrando-a, com
os dedos grossos. [] Pela estrada passava um comboio de aguardente. O matuto
chefe parou para conversar.
Deus guarde V. Sa, mestre Jos Amaro. Estamos na demanda do serto. E
sucede que se partiu uma cilha do meu animal. O mestre pode me ajudar?
O mestre Jos Amaro olhou para o homem, como se o quisesse identificar. Depois
foi lhe dizendo:
J quer ir mesmo, homem? Aqui a casa sua. Passando pela estrada, pare aqui.
[] Depois voltou para seu tamborete e comeou o servio outra vez. Pela estra-
da gemia um carro de boi, carregado de l. O carreiro parou para conversar com o
mestre. Estava precisando de correame para os bois. O coronel mandara encomendar
no Pilar. Ele gostava mais do trabalho de mestre Jos Amaro.
O mestre olhou para o homem. E lhe falou, com voz mansa, como se no esti-
vesse com alma pesada de mgoa.
encomenda do Santa Rosa? Pois, meu negro, para aquela gente no fao
nada. Todo mundo sabe que no corto uma tira para o Coronel Jos Paulino. Voc
me desculpe. juramento que fiz.
Me desculpe, seu mestre, respondeu o carreiro, meio perturbado. O homem
bom. No sabia da diferena de vosmec com ele.
Pois fique sabendo. Se fosse para voc, dava de graa. Para ele nem a peso de
libra. o que digo a todo mundo. No aguento grito. Mestre Jos Amaro pobre,
atrasado, um lambe-sola, mas grito no leva.
O carreiro saiu. [] Parou na sua porta um negro a cavalo.
Boas tardes, mestre.
Boa tarde, Leandro. Est de viagem?
Nada no, mestre Z. Vou levando um recado para o delegado do Pilar que o
seu Augusto do Oiteiro mandou.
assucedido: no
Houve crime por l? encontramos registro;
Duas mortes [] Vou dar a notcia ao Major Ambrsio do assucedido. provavelmente uma
variao de sucedido
Este Ambrsio um banana. Queria ser delegado nesta terra, um dia s. (ocorrido).
Mostrava como se metia gente na cadeia. Senhor de engenho, na minha unha, no cilha: cinta larga, de
couro ou tecido, que
falava de cima para baixo.
envolve a barriga das
[] cavalgaduras para
Mestre Z est zangado, vou saindo. apertar a sela ou a
carga.
No estou zangado, estou dizendo a verdade. Sou um oficial que no me correame: reunio de
entrego aos mandes. Quando a gente fala nestas coisas vem logo um pobre como correias.
lambe-sola: no
voc dizendo que estou zangado. Zangado por qu? Porque digo a verdade? Sou
encontramos registro;
eleitor, dou meu voto a quem quero. No voto em governo. provavelmente uma
REGO, Jos Lins do. Fogo morto. Rio de Janeiro: adaptao de lambe-
Jos Olympio, 1968. -botas (bajulador).
Um texto narrativo, em geral, pode reproduzir a fala de uma personagem de trs maneiras: por
discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre.
No discurso direto, as palavras da personagem so reproduzidas literalmente e, para introduzi-
-las, usam-se travesses ou aspas. Por exemplo:
Sinh Vitria disse:
As aves mataro o gado.
RAMOS, Graciliano, op. cit.
No discurso indireto, a fala da personagem reproduzida pelo narrador. Nesse tipo de discurso,
utilizam-se um verbo dicendi (dizer, falar, perguntar, responder, etc.) e uma orao subordinada
substantiva. Por exemplo:
Sinh Vitria disse que as aves matariam o gado.
verbo or. sub. substantiva obj. direta
dicendi
No discurso indireto livre, a fala da personagem no aparece destacada nem por aspas nem por tra-
vesso; ela surge de repente, no meio da narrativa, como se as palavras fossem do narrador. Por exemplo:
Fabiano estirou o beio e enrugou mais a testa suada: impossvel compreender a inteno da mulher.
No atinava. Um bicho to pequeno! Achou a coisa obscura e desistiu de aprofund-la.
discurso indireto livre
(fala da personagem)
RAMOS, Graciliano, op. cit.
1. Releia a seguir alguns trechos de Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Fogo mor-
to, de Jos Lins do Rego. Compare a fala das personagens (os destaques so
nossos) considerando o que voc leu no quadro acima. Depois, responda no
caderno s questes propostas.
I.
Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu to absurdo que se ps a rir. Medo
daquilo? Nunca vira uma pessoa tremer assim. Cachorro. Ele no era dunga na cidade? No pisava os
ps dos matutos, na feira? No botava gente na cadeia? Sem-vergonha, mofino.
RAMOS, Graciliano, op. cit.
II.
Lembrou-se da surra que levara e da noite passada na cadeia. Sim senhor. Aquilo ganhava dinheiro
para maltratar as criaturas inofensivas. Estava certo? O rosto de Fabiano contraa, medonho, mais feio que
um focinho. Hem? Estava certo? Bulir com as pessoas que no fazem mal a ningum. Por qu?
Ibidem.
III.
Fabiano tentou afastar a ideia absurda: Como a gente pensa coisas bestas!
Ibidem.
v.
E quando o comboio sumiu no fim da estrada, o mestre falou:
Bicho homem, este Alpio. [] Gosto de homem assim. Ele fora com o pai vender milho
verde na vila e o cabo do destacamento achou de desfazer do velho. Foi aquela desgraa. Alpio se fez
na faca, espalhou a feira. O cabo ficou para um canto de bofe de fora, e um soldado que se metera a
besta no ficou para contar histria. Foi no jri. Encontrou homem para livrar ele.
REGO, Jos Lins do, op. cit.
vI.
O mestre olhou para o homem. E lhe falou, com voz mansa, como se no estivesse com alma pesada
de mgoa.
encomenda do Santa Rosa? Pois, meu negro, para aquela gente no fao nada. Todo mundo
sabe que no corto uma tira para o Coronel Jos Paulino. Voc me desculpe. juramento que fiz.
Ibidem.
Maneco pigarreou mas no disse palavra. O Coronel Horcio fez um caxixe mais Dr.
Quando o pai saiu para fora, Ana ouviu Horcio Rui, tomaram a roa que ns havia plantado Que a
cochichar para a me: terra era dele, que Joaquim no era dono. Veio com os
Ela vai bem? jagunos mais uma certido do cartrio. Botou a gen-
Vai indo, graas a Deus respondeu d. Hen- te pra fora, ficaram at com o cacau que j tava secando,
riqueta. Est com os ubres cheios. Tem mais lei- prontinho pra vender. Joaquim era bom no trabalho,
te que uma vaca acrescentou com orgulho. no tinha mesmo medo do pesado. Ficou acabado com
RICO, Verssimo, op. cit. a tomada da roa, deu de beber. E uma vez, j bebido,
disse que ia se vingar, ia liquidar com o coronel. Tava
um cabra do coronel por perto, ouviu, foi contar. Man-
daram tocaiar Joaquim, mataram ele na outra noite,
quando vinha pra Ferradas
AMADO, Jorge, op. cit.
A P r o v E I t E P A r A...
... ler
So Bernardo, de Graciliano Ramos, editora Record.
A obra conta a histria de Paulo Honrio, homem simples que, movido por uma ambio
sem limites, acaba por se transformar num grande fazendeiro do serto alagoano.
Fogo morto, de Jos Lins do Rego, editora Jos Olympio.
A histria do romance desenrola-se em torno do engenho de Santa F, no Nordeste brasileiro.
Cenas brasileiras, de Rachel de Queiroz, editora tica.
Em um clima de conversa com o leitor, a autora desfia histrias tocantes da gente brasileira.
Terras do sem-fim, de Jorge Amado, editora Record.
Jorge Amado descreve o crescimento de cidades e a transformao dos costumes.
O tempo e o vento, de rico Verssimo, editora Companhia das Letras.
Conta a histria da famlia Terra-Cambar durante dois sculos. Sob o
Divulgao/Embrafilme
ponto de vista dessa famlia, relata a histria do Rio Grande do Sul e o drama
de seu povo, na cidade fictcia de Santa F.
... assistir a
Memrias do crcere, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil, 1984).
Retrata o Brasil da dcada de 1930, sob a perspectiva de Graciliano
Ramos, que foi preso por suas convices polticas e escreveu o romance no
qual o filme se baseia. Na foto, o ator Carlos Vereza.
Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto (Brasil, 1976).
Baseado em romance homnimo de Jorge Amado, o filme conta a histria de Flor, professora de
culinria em Salvador, que, depois de ficar viva de um bomio, casa com um farmacutico.
ver na internet
www.graciliano.com.br/
Site oficial do escritor alagoano Graciliano Ramos. Acesso em: 19 dez. 2012.
www.estado.rs.gov.br/erico/
Site do governo do Rio Grande do Sul em comemorao ao centenrio de rico Verssimo.
possvel ouvir trechos de O tempo e o vento, lidos pelo prprio escritor. Acesso em: 19 dez. 2012.
4 Do cotidiano ao
extraordinrio
Nesta unidade, voc vai estudar a crnica e a gerao de 1945, na poesia e na pro-
sa. No captulo sobre a crnica, voc ver como fatos simples do cotidiano podem ser
recriados, transformando-se em momentos de reflexo, de emoo, de alegria, o que
no ser diferente com a gerao de 1945, marcante tambm por usar a arte literria
como meio de incitar a reflexo sobre os mais diversos acontecimentos.
178
< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Identificar fatos que motivaram o desenvolvimento do assun-
to tratado na crnica.
Reconhecer o ponto de vista e as reflexes do cronista.
Observar o uso de sinais de pontuao na construo do
sentido do texto e utiliz-los adequadamente.
Escrever o primeiro pargrafo de uma crnica, empregando a
estrutura: tpico frasal, desenvolvimento e concluso.
Produzir uma crnica com base em uma notcia.
Conhecer o contexto histrico em que se instaurou a pro-
duo literria da gerao de 1945.
Caracterizar as produes literrias da gerao de 1945.
Ler e interpretar textos de autores desse momento literrio.
179
A crnica
> Interdisciplinaridade com:
Arte, Histria, Geografia,
Sociologia.
p A R A C O m E A R
ATENO: NO ESCREVA 1. provvel que voc j tenha lido algumas crnicas ou, pelo menos, ouvido falar delas.
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
Liste no caderno as ideias que lhe surgem quando ouve ou l a palavra crnica.
2. Leia a seguir trechos de trs textos de gneros diferentes. Somente um deles foi
retirado de uma crnica. Procure identific-lo, considerando a inteno comu-
nicativa aquilo que motiva o autor a escolher determinado gnero para se
expressar e algumas marcas de composio e estilo trechos comumen-
te utilizados em determinados gneros textuais e que ajudam a caracteriz-lo.
Depois, explique por que voc chegou a essa concluso.
Trecho 1
Comea hoje, em Belo Horizonte, o Festival Internacional de Bonecos
2005, que levar, at o prximo dia 21, quinze espetculos de companhias
da Alemanha, Blgica, Brasil, Chile e Peru aos palcos mineiros. Alm da
capital, onde acontece at o dia 15, neste ano o evento ter apresentaes
em Ipatinga (de 17 a 21/6).
Trecho 2
Trecho 3
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes:
infncia, adolescncia, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de
nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65) existe a
ENVELHESCNCIA.
Chega a notcia de que um casal de estrangeiros, nosso amigo, est se concubina: mulher
que vive maritalmente
separando. Mais um! tanta separao que um conhecido meu, que foi outro com um homem com
dia a um casamento gr-fino, me disse que, na hora de cumprimentar a noiva, quem no
legalmente casada.
teve a vontade idiota de lhe desejar felicidades pelo seu primeiro casamento. cnjuge: cada uma
E essas notcias de separao muito antes de sair nos jornais correm das pessoas ligadas
pelo casamento em
com uma velocidade espantosa. Algum nos conta sob segredo de morte, relao outra.
e em trs ou quatro dias percebemos que toda a cidade j sabe e ressaibo: mau sabor;
rano.
ningum morre por causa disso.
Uns acham graa em um detalhe ou outro. Mas o que fica, no fim,
um ressaibo amargo a ideia das aflies e melancolias desses casos.
Ah, os casais de antigamente! Como eram plcidos e sbios e felizes e
Cena de Kill Bill, volume
serenos... (principalmente vistos de longe. E as angstias e renncias, e as 2, com a atriz Uma
longas humilhaes caladas? Conheci um casal de velhos bem velhinhos, Thurman vestida de
noiva. Nesse filme,
que era doce ver os dois sempre juntos, quietos, delicados. Ele a dirigido por Quentin
desprezava. Ela o odiava.) Tarantino, em 2004,
podemos ter ideia de
Sim, direis, mas h os casos lindos de amor para toda vida, a paixo um caso de amor-
que vira ternura e amizade. Acaso no acreditais nisso, detestvel Braga, -desamor nico.
pessimista barato?
E eu vos direi que sim. J me contaram, j vi. bonito. Apenas
no entendo bem por que sempre falamos de um caso assim com
uma ponta de pena. (Eles so to unidos, coitados.) De
qualquer modo, mesmo muito bonito; consola ver. Mas, como
certos quadros, a gente deve olhar de uma certa distncia.
Eles se separaram pode ser uma frase triste, e s vezes nem
isso. Esto se separando triste mesmo.
Adultrio devia ser considerado palavra feia, j no digo pelo
que exprime, mas porque uma palavra feia. Concubina
tambm. Concubinagem devia ser simplesmente riscada do
Miramax/Cortesia de Everett
dicionrio; horrvel.
Collection/Keystone
A CRNICA 181
2. Releia:
Eles se separaram pode ser uma frase triste, e s vezes nem isso. Esto se
separando triste mesmo.
Compare as duas frases destacadas no trecho. Por que, para o autor, uma das
Rubem Braga (1913- frases sempre triste e a outra no? Qual a viso do cronista a respeito da
-1990), escritor e
jornalista nascido no
separao?
Esprito Santo,
considerado um dos 3. Algumas impresses que o cronista tem dos relacionamentos duradouros con-
maiores cronistas do firmam sua ideia sobre a separao.
Brasil.
Celio Junior/Agncia Estado
6. Releia:
Ele [o amor] como a lua, resiste a todos os sonetos
e abenoa todos os pntanos.
Explique a comparao feita pelo cronista nesse trecho. Se necessrio, pesquise
antes os sentidos que podem ser atribudos s palavras soneto e pntano.
Habilidades >
Para interpretar a crnica aqui apresentada, voc precisou:
leitoras
identificar o tema e as impresses do cronista sobre ele;
distinguir os fatos que serviram de ponto de partida para as reflexes
do autor;
reconhecer o ponto de vista do cronista;
perceber a concluso dada pelo autor e confront-la com as identifica-
es feitas anteriormente.
O amor acaba
Paulo Mendes Campos
A CRNICA 183
INTERpRETAO DO TEXTO
1. Paulo Mendes Campos parte de um evento pelo qual muitos j passaram o
fim de um amor para escrever uma crnica com diversos elementos poticos:
seu texto est repleto de termos empregados em linguagem figurada. Para
compreender as circunstncias em que, segundo o autor, o amor acaba, ne-
cessrio que o leitor:
tenha certo conhecimento de mundo, ou seja, tenha passado por alguma
Iugo Koyama/Arquivo da editora
Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro
e silncio [...]
[...] e acaba o amor no desenlace das mos no cinema, como tentculos
Paulo Mendes Campos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solido [...]
(1922-1991), cronista e
poeta mineiro, faz parte [...] em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas,
da gerao de Fernando onde h mais encanto que desejo [...]
Sabino (1923-2004),
outro importante [...] nos roteiros do tdio para o tdio, na barca, no trem, no nibus, ida
cronista brasileiro, de
quem foi muito amigo.
e volta de nada para nada [...]
3. No segundo perodo, entre um ponto e vrgula e outro, existe sempre uma his-
tria que se diferencia das demais. como se o cronista quisesse mostrar todas
as situaes em que o amor pode acabar. Sobre qual das circunstncias apre-
sentadas pelo cronista voc escreveria um texto? Por qu?
CONHECImENTOs lINgUsTICOs
pargrafo
pontuao: travesso, ponto e vrgula,
parnteses e reticncias
Trecho 1
do rapto de noivas ao casamento por amor homens e mulheres juntam os trapos
pelos mais diferentes motivos casamentos por sequestro eram comuns na Pr-
-Histria e vigoraram at o incio da era crist em locais como a Grcia Roma e
norte da Europa quando um homem via uma mulher que desejava geralmente
de uma tribo vizinha ele a tomava fora para raptar a noiva ele requisitava aju-
da de um amigo guerreiro afirma Diane Ackerman no livro Uma histria natural
do amor o mito de fundao de Roma fala sobre um dos mais famosos episdios
do gnero o rapto das sabinas segundo a lenda aps a fundao de Roma em 753
a C Rmulo decidiu povoar a cidade e para isso mandou raptar as jovens do povo
vizinho os sabinos revoltados eles resolveram revidar mas era tarde demais as
A CRNICA 185
Trecho 2
limo de cheiro: bola Algumas prticas amorosas do passado continuam fazendo sucesso at hoje.
de cera fina, cheia de o caso do French kiss, o beijo de lngua, que ganhou esse nome dos ingleses no
gua aromatizada, que
sculo 17. Na poca, os puritanos da Inglaterra ficaram impressionados com o
se usava no Carnaval
de antigamente. grau de libertinagem que caracterizava o beijo em terras gaulesas e batizaram o
voluptuoso gesto de beijo francs. O curioso que, na Frana, ele ficou conheci-
do como English kiss os franceses associavam a palavra importncia que os
ingleses davam quela carcia labial, que para eles, franceses, era to comum. No
Japo o beijo chamado de kissu (importado do ingls kiss) e s comeou a ser
feito em pblico pelos casais nas ltimas dcadas, com a influncia da cultura
norte-americana no pas. Outros gestos no fariam sucesso hoje. o caso das
pisadelas e dos belisces, prticas trazidas de Portugal que se tornaram populares
no Brasil no sculo 19. Tratava-se de pisadelas no p e belisces que deixavam
uma marca roxa no brao da amada, diz a historiadora Mary Del Priore.
Outra prtica comum era esmigalhar limes de cheiro no corpo da dama.
No faltaram pedidos de casamento que tiveram como motivo um limo de
cheiro comprimido contra um brao benfeito, afirma Mary Del Priore.
[...]
HAmA, Lia. Aventuras na Histria. so paulo: Abril, maio 2006.
1. Com base apenas em uma observao visual, voc percebe alguma diferena
entre os trechos 1 e 2? Justifique sua resposta.
2. Agora leia os textos, marcando o tempo que voc leva para fazer a leitura de
cada um deles. Depois, responda aos itens a e b.
a) Voc precisou de mais tempo para ler e compreender o trecho 1 ou o trecho 2?
Na sua opinio, por que isso aconteceu?
b) Voc julga que um texto organizado, com ttulos destacados, pontuao
adequada e distribuio das ideias em pargrafos, facilita sua leitura e
compreenso?
7. No tpico frasal de O amor acaba, o autor faz uma declarao que, no de-
senvolvimento do pargrafo, ser modificada/aperfeioada e levar o leitor a
uma concluso. Escreva no caderno a alternativa que indica essa concluso.
a) O amor sempre se modifica, mas no chega a acabar.
b) O amor acaba no silncio.
c) O amor acaba por causa do cotidiano.
d) O amor acaba de certa forma, mas renasce de outra.
A CRNICA 187
Tanto a pontuao como a organizao das frases em pargrafos so recursos de que dispomos
para tornar um texto escrito claro e expressivo.
O pargrafo composto de uma ou mais frases verbais ou nominais e, em geral, tem a se-
guinte estrutura: introduo (a frase que contm a ideia principal do pargrafo: o tpico frasal),
desenvolvimento (frase ou frases em que o tpico frasal desenvolvido) e concluso (a frase que
amarra as principais ideias do texto).
Frase um conjunto organizado de palavras. Na escrita, marcada por ponto, ponto de in-
terrogao ou de exclamao; na fala, pela entonao. Por exemplo:
Tambm as reticncias podem encerrar uma frase. Nesse caso, com frequncia a ideia expos-
ta na frase no tem sentido completo. Por exemplo:
Mas o que fica, no fim, um ressaibo amargo a ideia das aflies e melancolias desses casos.
O ponto e vrgula sempre empregado no interior das frases e indica uma pausa maior que
a apontada pela vrgula, porm menor que a representada pelo ponto. Entre outros empregos,
ele pode marcar uma enumerao de ideias, como em O amor acaba.
Os parnteses podem ser usados para intercalar na frase uma explicao, um comentrio, ou
mesmo para marcar o incio e o m de todo um trecho que componha um aparte no texto.
Por exemplo:
Apenas no entendo bem por que sempre falamos de um caso assim com uma ponta de pena.
( Eles so to unidos, coitados.)
Atividades de fixao
1. O texto a seguir um trecho da crnica Aconteceu na ilha de Cat, de
Rubem Braga. O assunto da crnica o seguinte: uma leitora pergunta ao
autor se fazer palavras cruzadas bom para enriquecer o vocabulrio. A
partir da, ele realiza um levantamento de perguntas e respostas tpicas des-
se passatempo.
a) Leia a seguir um fragmento dessa crnica. Depois, reescreva-o no caderno
acrescentando os onze pontos e vrgulas que o digitador no colocou. Lembre-
-se de que o ponto e vrgula pode servir para acrescentar novas informaes
a uma informao principal (reiterao de ideias).
A CRNICA 189
b) possvel deduzir a opinio do autor sobre palavras cruzadas por esse frag-
mento da crnica. Na opinio de Rubem Braga, fazer palavras cruzadas enri-
quece o vocabulrio?
c) Que efeito o cronista provoca ao separar os itens da enumerao com ponto
e vrgula em vez de vrgula?
2. A seguir, voc ler uma crnica curta de Paulo Mendes Campos. Todos os sinais de
pontuao foram colocados, mas ela no foi separada em cinco pargrafos, como
o texto original. Reescreva a crnica no caderno, organizando-a em pargrafos.
Continho
Paulo Mendes Campos
Tradies unidas
Depois de um ano morando juntos, Tatiana Ammar, 27 anos, e Urubatan
Salles Palhares Jnior, 24, decidiram se casar. Alm de unir seus coraes, queriam
uma festa que combinasse as tradies de suas famlias: judia e catlica. [...]
Para celebrar o casamento, eles chamaram um juiz de paz e rechearam a festa
com os rituais de cada religio. Tatiana entrou de branco, de braos dados com o
pai. A msica, cantada em hebraico, uniu os noivos em um altar feito no jardim do
espao alugado para a festa, em So Paulo. Perto deles, alm da famlia, os padrinhos.
Revista Bons Fluidos. so paulo: Abril, ago. 2004.
Casamento judaico.
A CRNICA 191
3. No trecho a seguir, o ponto e vrgula torna a leitura mais pausada, e, por essa
razo, o leitor ter tempo para refletir sobre cada uma das informaes enume-
radas. Releia-o com ateno.
[...] Eu andava pela rua e sua lembrana era alguma coisa encostada em
minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro brao que me faltava, e doa um
pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A
senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que
eu carregava o dia inteiro e qual eu dormia pregado; ento serei mais modesto
e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoo que de vez em
quando doa como bursite. [...]
Na crnica da pgina a seguir, falta o primeiro pargrafo, que cortamos propo-
sitadamente. Leia o texto e decida se seria melhor inici-lo com a narrao de
um fato ou com uma declarao. Crie no caderno um primeiro pargrafo utili-
zando a estrutura estudada: tpico frasal, desenvolvimento e concluso.
Ateno: mantenha no primeiro pargrafo as caractersticas do restante do texto,
isto , limite-se ao assunto especificado; procure usar a linguagem no mesmo
grau de formalidade/informalidade; conserve o tom bem-humorado do texto.
A CRNICA 193
.
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infncia,
adolescncia, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que
entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65) existe a ENVELHESCNCIA.
A envelhescncia nada mais que uma preparao para entrar na velhice, assim
como a adolescncia uma preparao para a maturidade. Engana-se quem acha que
o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. No. Antes, a enve-
lhescncia. E, se voc est em plena envelhescncia, j notou como ela parecida com
a adolescncia? Coloque os culos e veja como este nosso estgio maravilhoso:
J notou que andam nascendo algumas espinhas em voc? Notadamente na
bunda?
Assim como os adolescentes, os envelhescentes tambm gostam de meninas de
vinte anos.
Os adolescentes mudam a voz. Ns, envelhescentes, tambm. Mudamos o
nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rpido;
os envelhescentes querem falar mais lentamente.
Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar
do passado. Bons tempos...
Os adolescentes no tm ideia do que vai acontecer com eles daqui a vinte anos.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora
Note que a notcia lida desencadeia uma srie de reflexes, por exemplo: a su-
perao das dificuldades, a luta pela realizao de um sonho, o esforo, a criao
de possibilidades em meio s dificuldades, etc. A partir desses temas, que podem
ser suscitados na leitura e discusso com a classe, produza uma crnica tendo
como modelo o Texto 1 deste captulo.
Assim, comece com uma reflexo e, em seguida, apresente comentrios.
Sugerimos que sua crnica tenha pelo menos trs pargrafos. Como voc ter
vrios leitores, tente ser claro. Para isso, planeje bem a pontuao: travesses e
parnteses para inserir comentrios e explicaes complementares, reticncias
para deixar a reflexo a cargo do leitor (seus colegas de outras turmas), etc.
Utilize em seu texto uma linguagem mais informal, em que voc se dirija dire-
tamente ao leitor, como se estivesse conversando com ele.
pRODUO DE AUTORIA
Agora produza uma crnica, em trs ou quatro pargrafos, com o tema que
preferir. Comece pelo planejamento:
a) Organize o tempo disponvel para a produo da crnica. Verifique o prazo
dado pelo professor para a tarefa (nmero de aulas/dias). Defina um tempo
para o rascunho, um tempo para a escrita, um tempo para a reviso e para
passar o texto a limpo.
A CRNICA 195
preparando >
Troque de texto com os colegas e, no texto que voc ler, observe:
a segunda
a pontuao;
verso do
a adequao da linguagem ao estilo do gnero produzido;
texto
o desenvolvimento do tema de acordo com o gnero produzido.
Guarde sua crnica para o projeto do fim do ano.
NO mUNDO DA ORAlIDADE
seminrio
O seminrio um gnero oral que tem por objetivo compartilhar conheci-
mentos sobre algum assunto pesquisado. Para tanto, necessria a presena de
um apresentador o especialista no assunto e um pblico que queira conhe-
cer o que foi pesquisado.
A linguagem oral
Na apresentao do seminrio, dever ser utilizada a variedade-padro da lngua.
Para organizar o texto oral de forma que a plateia possa entend-lo e acompa-
nh-lo, o apresentador precisa:
evitar certas expresses comuns da linguagem oral, como tipo, t?, n?
e ahn, para no prejudicar a fluncia da exposio;
empregar palavras, expresses, ideias especficas do tema tratado e explicar
plateia, sempre que necessrio, seu significado;
usar alguns conectivos temticos, como as expresses: falemos agora,
preciso, neste momento, chegamos ao artista tal, etc.;
sinalizar o texto para a plateia, isto , explicar o que mais importante e o que
secundrio utilizando expresses, como: relevante ressaltar, esses auto-
res tm como caractersticas, importante conhecer, etc.
A CRNICA 197
... ler
Pequena antologia do Braga, organizao de Domcio Proena, editora Record.
O livro rene 28 crnicas do escritor Rubem Braga.
Comdias para se ler na escola, organizao de Ana Maria Machado, editora Objetiva.
Uma seleo de crnicas de Luis Fernando Verissimo.
... assistir a
O homem nu, de Hugo Carvana (Brasil, 1997).
Baseado em crnica homnima de Fernando Sabino, o filme
retrata a situao constrangedora de um homem (interpretado por
Cludio Marzo, foto) que fica totalmente nu do lado de fora do
apartamento.
www.almacarioca.com.br/cronicas.htm
Textos de grandes cronistas disponveis para leitura. Acesso em: 31 jan. 2013.
www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/index.htm
Saiba um pouco mais sobre a origem e as caractersticas do gnero crnica. Conhea modelos
de anlise e dicas para o desenvolvimento de uma crnica. Acesso em: 31 jan. 2013.
poesia e prosa
p A r A c o M E A r
Leia os fragmentos de textos crticos a seguir.
Joo Cabral de Melo Neto d categoria esttica a muito daquilo que, no cha-
mado romance nordestino, tinha apenas categoria documentria.
NUNES, Benedito. In: MELO NETO, Joo Cabral de, op. cit.
Esses fragmentos fazem referncia a trs importantes autores da literatura bra- ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
sileira, cujos textos sero lidos a seguir. Os comentrios sobre os autores apre- ATIVIDADES NO CADERNO.
sentam um ponto em comum. Escreva no caderno a alternativa que indica a que
ponto em comum eles se referem.
a) Ao contedo desenvolvido nas obras.
b) ousadia no modo de apresentar as informaes.
c) Ao descuido com a linguagem.
d) Ao cuidado artstico na composio do texto.
INtErprEtAo Do tExto
1. Releia as quatro primeiras falas do fragmento e responda no caderno.
a) Por que Severino quer saber se o rio fundo?
b) Seu Jos, mestre carpina, compreende imediatamente a inteno de Severi-
no? Justifique sua resposta.
3. Uma mulher interrompe a conversa entre mestre Jos e Severino, e todo o de-
senvolvimento da prosa muda de direo. Em que consiste essa mudana? O
que ela pode significar para Severino?
5. Na introduo ao texto, voc leu que o poema Morte e vida severina foi es-
crito por encomenda de uma diretora de teatro que queria montar um auto de
Natal. Que elementos do texto aproximam esse poema de um auto natalino?
O senhor, eu, ns, as pessoas todas. Por isso que se carece principalmente
de religio: para se desendoidecer, desdoidar. Reza que sara loucura. No
geral. Isso que a salvao-da-alma Muita religio, seu moo! Eu c,
no perco ocasio de religio. Aproveito de todas. Bebo gua de todo rio
Uma s, para mim, pouca, talvez no me chegue. Rezo cristo, catlico,
embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemm,
doutrina dele, de Cardque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde
um Matias crente, metodista: a gente se acusa de pecador, l alto a Bblia,
e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer
sombrinha me refresca. Mas s muito provisrio. Eu queria rezar o
tempo todo. Muita gente no me aprova, acham que lei de Deus
privilgios, invarivel. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? o que fao, que
quero, muito curial. E em cara de todos fao, executado. Eu no tresmalho!
INtErprEtAo Do tExto
1. Por que, segundo o narrador, todo o mundo carece de religio? Nesse contexto,
qual o papel da religio na vida das pessoas?
2. A forma como o texto foi escrito revolucionria. Note que o autor se vale de uma
linguagem muito prxima da fala. Com uma sintaxe diferente da que encontramos
nos manuais de gramtica e um vocabulrio cheio de neologismos isto , de
palavras e expresses criadas pelo autor , sua linguagem d um ritmo completa-
mente diferente narrativa, sem, evidentemente, subverter a lgica do texto.
Releia os trechos a seguir, volte ao texto para identificar o contexto do qual fazem
parte e proponha uma interpretao para eles.
a) Bebo gua de todo rio Uma s, para mim, pouca, talvez no me chegue.
b) Qualquer sombrinha me refresca. Mas s muito provisrio.
3. Releia:
4. No ltimo pargrafo do fragmento, fica clara a viso que o narrador tem da vida, o
que justifica, de certa forma, sua grande necessidade de religio, de rezas, de oraes.
a) Que viso essa?
b) Segundo o narrador, por que a religio, nesse contexto, tem papel fundamental?
Era uma vez uma menina que observava tanto as galinhas que lhes
conhecia a alma e os anseios ntimos. A galinha ansiosa, enquanto o
galo tem angstia quase humana: falta-lhe um amor verdadeiro naquele
seu harm, e ainda mais tem que vigiar a noite toda para no perder a
primeira das mais longquas claridades e cantar o mais sonoro possvel.
o seu dever e a sua arte. Voltando s galinhas, a menina possua duas s
dela. Uma se chamava Pedrina e a outra Petronilha.
Quando a menina achava que uma delas estava doente do fgado, ela
cheirava embaixo das asas delas, com uma simplicidade de enfermeira, o
que considerava ser o sintoma mximo de doenas, pois o cheiro de
galinha viva no de se brincar. Ento pedia um remdio a uma tia. E a
tia: Voc no tem coisa nenhuma no fgado. Ento, com a intimidade
que tinha com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remdio. A
menina achou de bom alvitre d-lo tanto a Pedrina quanto a Petronilha
para evitar contgios misteriosos. Era quase intil dar o remdio porque
Pedrina e Petronilha continuavam a passar o
dia ciscando o cho e comendo porcarias que
faziam mal ao fgado. E o cheiro debaixo das
asas era aquela morrinha mesmo. No lhe
Daniel Araujo/Arquivo da editora
INtErprEtAo Do tExto
1. Destaque do conto os elementos principais de uma narrativa: tipo de narrador
(narrador-personagem, narrador-observador ou narrador onisciente); persona-
gens; tempo de durao da histria; espao onde se desenrola a ao; conflito/
principal problema; clmax e desfecho.
2. Destaque do texto formas encontradas pela menina para expressar seu amor.
4. Releia:
Nessa refeio tinha cimes de quem tambm comia Eponina. A menina era
um ser feito para amar at que se tornou moa e havia os homens.
< Habilidades
Para interpretar esses trs textos, voc precisou: leitoras
identificar informaes importantes do contedo de cada um deles;
dedicar-se interpretao de certas frases dos excertos, considerando
o contexto em que esto inseridos;
observar o valor esttico dos textos;
reconhecer os elementos da narrativa em um conto;
interpretar uma narrativa como metfora de certo sentimento.
Na dcada de 1940, a empresa Lever lana uma campanha para vender seus produtos, com a imagem
de grandes estrelas do cinema, como vemos neste anncio, com a atriz Elizabeth Taylor, um mito na
poca. Veja o slogan da campanha: Usado por 9 entre 10 estrelas do cinema.
Urubu
Geir Campos
Daniel Araujo/Arquivo da editora
participao social
Os poetas incursionaram principalmente pela temtica social. Poemas com a
mesma preocupao formal e esttica que caracterizam o movimento tratam de
temas ligados poltica, s lutas do povo, opresso. So poemas que denunciam
o perodo histrico injusto e contraditrio que vivenciavam.
Ao tratar desses temas, percebe-se uma preocupao com a sociedade que
sofre com a m distribuio de renda e a concentrao de massas urbanas nos
grandes centros em razo da urbanizao acelerada que ocorria no momento.
severina.
H em sua poesia um primeiro momento em que se percebem
alguma ironia, um tom coloquial e at certo pessimismo. Note que,
nos versos a seguir, h elementos que se aproximam da poesia
simbolista, alm de certa ausncia de encadeamento lgico.
Poema
Joo Cabral de Melo Neto
jardins enfurecidos,
pensamentos palavras sortilgio
sob uma lua contemplada;
jardins de minha ausncia
imensa e vegetal;
jardins de um cu
viciosamente frequentado:
onde o mistrio maior
do sol da luz da sade?
Joo Cabral de Melo MELO NETO, Joo Cabral de. Poesias completas.
Neto, em 1972. Uma 3. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1979.
dor de cabea infernal by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.
o acompanhou durante
toda a vida, a ponto de
ser mencionada em
Mais tarde partiria para o seu prprio projeto literrio: elegendo a pedra
cartas aos amigos (a como o elemento que d a medida do poema, por ter, segundo ele, as caracte-
Clarice Lispector, por rsticas prprias da arte do criar (a dureza, a impessoalidade, sua resistncia fria
exemplo) e em seus
poemas (como em / ao que flui e a fluir, a ser maleada, conforme define o poeta em A educao
Num monumento pela pedra).
aspirina, publicado em
Sua composio caminha, dessa maneira, para a conteno, a sobriedade, a
A educao pela pedra).
exatido. A linguagem concisa, precisa. A arte no guiada pela intuio; ela
calculada. O poeta torna-se o engenheiro das palavras. Assim, o livro de
poemas que melhor exemplifica essa fase O engenheiro.
O co sem plumas
IV Discurso do Capibaribe
Joo Cabral de Melo Neto
Aquele rio
est na memria
como um co vivo
dentro de uma sala. Note o emprego da anfora as repeties
de certas expresses ao longo dos versos e
Como um co vivo a sua relao com o tema do poema o rio
dentro de um bolso. Capibaribe.
Como um co vivo Repare que a repetio pode ser associada ao
correr das guas do rio e sua presena na vida
debaixo dos lenis, do eu lrico.
debaixo da camisa, As comparaes como um co vivo / dentro
de uma sala. / Como um co vivo / dentro de
da pele. um bolso / Como um co vivo / debaixo dos
lenis, / debaixo da camisa, / da pele reforam
a presena do rio at naquilo que pode ser
Um co, porque vive, considerado mais abstrato, mas nem por isso
agudo. com menos influncia sobre o eu lrico, que a
O que vive sua memria do rio.
Perceba como a composio da estrofe seguinte,
no entorpece. bem como seu contedo, recuperam esses
O que vive fere. recursos e reforam o efeito do correr das guas
e da interao entre homem e rio.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
ir entre o que vive.
[]
MELO NETO, Joo Cabral de. O co sem plumas. Rio de Janeiro: Alfaguara, [s.d.].
by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.
Guimares rosa
O mineiro Joo Guimares Rosa (1908-1967), ainda estu-
Acervo Iconographia/Reminiscncias
[]
Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertar o consertado. Mas
cada um s v e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro, mais srio
foi Medeiro Vaz. Que um homem antigo Seu Joozinho Bem-Bem, o mais bra-
vo de todos, ningum nunca pde decifrar como ele por dentro consistia. Joca Ramiro
grande homem prncipe! era poltico. Z-Bebelo quis ser poltico, mas teve e no montante: que se
teve sorte: raposa que demorou. S Candelrio se endiabrou, por pensar que estava eleva, sobe.
supro: derivado de
com doena m. Tito Passos era o pelo preo de amigos: s por via deles, de suas
supra (acima).
mesmas amizades, foi que to alto se ajagunou. Antnio D severo bandido. Mas
por metade; grande maior metade que seja. Andalcio, no fundo um homem-de-bem,
estourado, raivoso em sua toda justia. Ricardo, mesmo, queria era ser rico em paz:
para isso guerreava. S o Hermgenes foi que nasceu formado tigre, e assassim.
[]
ROSA, Joo Guimares. Grande serto: veredas. 36. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
Clarice Lispector
Clarice Lispector (1920-1977) nasceu na Ucrnia e faleceu no Rio de Janeiro.
Sua famlia veio da Europa para o Recife quando ela ainda era beb. Mais tarde,
mudou-se para o Rio de Janeiro e l entrou para a faculdade de Direito, onde
conheceu diversos escritores da poca. Ainda estudante, produziu seu primeiro
romance, Perto do corao selvagem.
Amor
Clarice Lispector
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tric, Ana subiu
no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde comeou a andar. Recostou-se
ento no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfao.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, toma-
vam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha
era enfim espaosa, o fogo enguiado dava estouros. O calor era forte no apartamen-
to que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mes-
ma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mo, no
outras, mas essas apenas. E cresciam rvores. Crescia sua rpida conversa com o co-
brador de luz, crescia a gua enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa
com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto impor-
tuno das empregadas do edifcio. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mo peque-
na e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as rvores que planta-
ra riam dela. Quando nada mais precisava de sua fora, inquietava-se. No entanto
sentia-se mais slida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o
b) Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, instaura-se a nova ordem mundial denominada .
O mundo vive entre os ideais do , representado , e os do , liderado .
1. (PUC-SP)
E o tucano, o voo, reto, lento como se voou embora, x, x! mirvel, cores
pairantes, no garridir; fez sonho. Mas a gente nem podendo esfriar de ver. J para
o outro imenso lado apontavam. De l, o sol queria sair, na regio da estrela-dalva.
A beira do campo, escura, como um muro baixo, quebrava-se, num ponto, doura-
do rombo, de bordas estilhaadas. Por ali, se balanou para cima, suave, aos ligeiros
vagarinhos, o meio-sol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora, era a bola de
ouro a se equilibrar no azul de um fio. O Tio olhava no relgio. Tanto tempo que
isso, o Menino nem exclamava. Apanhava com o olhar cada slaba do horizonte.
Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guimares Rosa, incorreto
afirmar que:
a) texto descritivo caracterizador da natureza, representada pela presena da
ave e do amanhecer.
b) utiliza recursos de linguagem potica como a onomatopeia, a metfora e a
enumerao.
c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de encadeamento de palavras
com fora adjetiva.
d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o leitor e impede a manifestao
da fora potica do texto.
e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em dourado rombo, de
bordas estilhaadas, nasce o sol.
2. (Fuvest)
Devo registrar aqui uma alegria. que a moa num aflitivo domingo sem fa-
rofa teve uma inesperada felicidade que era inexplicvel: no cais do porto viu um
arco-ris. Experimentando o leve xtase, ambicionou logo outro: queria ver, como
uma vez em Macei, espocarem mudos fogos de artifcio. Ela quis mais porque
mesmo uma verdade que quando se d a mo, essa gentinha quer todo o resto, o
z-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois no ?
(Clarice Lispector, A hora da estrela)
c o M p A r A N D o t E x t o s
Patativa do Assar, conhecido poeta popular, apresenta em seus poemas fi-
guras do povo, como o campons, o mendigo, o sertanejo, ou seja, pessoas
simples, muitas vezes vtimas de injustias sociais.
A triste partida
Patativa do Assar
3. Nos dois textos os dilogos aparecem de forma clara, mas somente em Morte
e vida severina so indicados por travesses. Identifique os versos de A triste
partida em que o dilogo tambm se faz presente.
Estudantes montam
painis na escola Clark
High School, na cidade de
Plano, Texas, Estados
Unidos. Foto de 2009.
possuem textos curtos, posicionados na altura dos olhos. Esses textos no podem estar nem
muito altos nem muito baixos;
trazem o ttulo em destaque;
tm textos organizados em colunas, o que facilita a leitura.
Observe que faixas coloridas marcam os subttulos e as imagens facilitam a compreenso do
que lido.
Adaptado de: <http://sic.ufsc.br/fotos/fotos-22o-sic>. Acesso em: 20 dez. 2012.
A p r o v E I t E p A r A...
... ler
Primeiras estrias, de Guimares Rosa, editora Nova Fronteira.
Contos com a linguagem e as descries de personagens do serto de Minas Gerais.
Folha explica: Joo Cabral de Melo Neto, de Joo Alexandre Barbosa; Clarice Lispector,
de Yudith Rosenbaum; Guimares Rosa, de Walnice Nogueira Galvo, editora Publifolha.
A srie da Publifolha traz textos de professores e especialistas comentando as obras consagradas
de escritores conhecidos e renomados.
... assistir a
A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos (Brasil, 1965).
Baseado no conto de mesmo nome escrito por Guimares Rosa, o filme conta a histria de
Matraga, fazendeiro violento trado pela mulher, que tido como morto. Ele sobrevive, torna-se
religioso e vive o drama de decidir entre se vingar e pagar pelos crimes cometidos.
ver na internet
www.uol.com.br/augustodecampos/home.htm
Site com obras e biografia de um dos maiores autores concretistas do pas. Acesso em:
31 jan. 2013.
www.poiesis.org.br/mlp
Site do Museu da Lngua Portuguesa, localizado em So Paulo, que se dedica preservao
da nossa lngua e a obras que so escritas nela. No site, h biografia, curiosidades e listas dos livros
dos maiores autores do pas. Acesso em: 31 jan. 2013.
5 Pontos de vista
224
225
O artigo de
Sociologia, Filosofia, Arte,
Biologia, Fsica, Qumica.
opinio
P A R A C O M E A R
Observe a seguir um modelo de currculo.
(NOME COMPLETO)
(idade), (nacionalidade), (estado civil)
(endereo)
(telefone), (e-mail)
REA DE ATUAO
(rea em que deseja trabalhar)
FORMAO ACADMICA
(nome da instituio de ensino superior)
Graduao em (rea profissional) (ano de formao)
ESTGIO
Jo s L
(perodo em que fez estgio) (nome da empresa) u is
Pe l
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Co
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IDIOMA is
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EXPERINCIA PROFISSIONAL
(perodo em que trabalhou) (nome da
empresa)
Cargo:
Principais realizaes: (trabalhos
importantes feitos na empresa)
PRINCIPAIS CURSOS
Elaborar um currculo
nem sempre tarefa fcil.
A escolha da profisso
Tom Coelho
INTERPRETAO DO TEXTO
1. O autor inicia seu artigo com a apresentao de dados publicados pelo IBGE.
Que valor argumentativo tem essa escolha?
Enquanto 70% dos dentistas, 75% dos mdicos e 84% dos enfer-
meiros trabalham na mesma rea em que se formaram, apenas 10% dos
economistas e bilogos e 1% dos gegrafos seguem pelo mesmo caminho.
Nas frases lidas, ao empregar apenas, o articulista revela uma expectativa com
relao aos dados que apresenta. Qual essa expectativa subentendida nas frases?
5. Releia:
8. O autor do texto opta por escrever uma epgrafe, um trecho citado antes de
iniciar seu artigo.
a) Explique o contedo dessa epgrafe.
b) Esse trecho citado uma antecipao da linha argumentativa que o autor do
artigo vai seguir em seu texto? Justifique sua resposta.
O autor cita a personagem de uma sobre a terra (3o pargrafo) faz Referncia a uma
obra de Kafka que constri tneis e oposio a debaixo da terra. informao
2o passagens debaixo da terra e apresentada no
sobrevive acuada. pargrafo anterior.
[...] menos de dois anos depois do Pouca coisa mudou [...] depois da Referncia
golpe militar, o ento presidente redemocratizao faz referncia ltima informao
Humberto de Alencar Castelo Branco situao descrita no pargrafo anterior. O apresentada no
fez uma visita a Manaus, onde trecho [...] depois da democratizao pargrafo anterior.
4o
inaugurou um conjunto de casas aparece por ser o perodo posterior ao
populares financiadas pelo BNH. regime militar, momento histrico ao
qual o autor se referiu.
(5o pargrafo)
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
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5o |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
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o
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||(6 pargrafo) ||||||||||||||||||||||||||||||
< Habilidades
Ao interpretar os artigos de opinio, voc precisou: leitoras
identificar a posio adotada pelos articulistas;
observar os argumentos utilizados a favor da opinio deles;
verificar a trama textual do texto 2 e o modo de relacionar as informa-
es empregado pelo articulista do texto.
Nas frases a seguir, foram destacados alguns casos de concordncia. Leia-as com
ateno, retome a definio apresentada no quadro acima e diga se so casos
de concordncia nominal ou verbal. Justifique sua resposta usando a definio.
a) evidente que faltam vagas no mercado de trabalho.
b) A escola e a famlia devem propiciar ao aluno caminhos para o autoco-
nhecimento [].
c) Algo semelhante ocorre em outras grandes capitais [...].
Quadro 2
2o caso Quando aparecem as expresses cerca de, perto de, mais de,
o verbo concorda com o numeral.
II. O verbo ser concorda com muito, pouco e bastante quando o sujeito
indica preo, peso ou medida.
II. O verbo ser concorda com o predicativo quando o sujeito o pronome
interrogativo quem.
1. A pesquisadora est meio cansada das 2. A pesquisadora est meia cansada das
6o GRuPO
falhas no mercado de trabalho. falhas no mercado de trabalho.
1. Todos esto alerta contra os perigos de 2. Todos esto alertas contra os perigos de
7o GRuPO
uma m escolha profissional. uma m escolha profissional.
1. Os polticos esto quites com os pedidos 2. O poltico est quite com o pedido
10o GRuPO
dos eleitores. do eleitor.
A mata
Captulo 12
Jorge Amado
Jeremias se ergueu. Deu dois passos para a porta da cabana. Agora seus olhos
cegos viam perfeitamente a mata em todo seu esplendor. E via desde os dias mais
longnquos do passado at essa noite que marcava o seu fim. Sabia que os homens
iam derrubar a floresta, matar animais, plantar cacau na terra onde havia sido a mata
do Sequeiro Grande. [] Via agora era a mata devastada, derrubada, queimada, via
os cacaueiros nascendo, e estava possudo de um dio imenso. Sua voz no saiu como
num murmrio como sempre [] As palavras de Jeremias eram aos deuses que tinham
vindo das florestas da frica. Clamava por eles para que desencadeassem a sua clera
sobre aqueles que iam perturbar a paz de sua moradia. E disse:
Agora eles vai entrar na mata mas antes vai morrer homem e mulher, os
menino e at os bicho de pena. Vai morrer at no ter mais buraco onde enterrar,
at os urubu no dar conta de tanta carnia, at a terra t vermelha de sangue que
vire rio nas estrada e nele se afogue os parente, os vizinho, e as amizade deles, sem
faltar nenhum. Vo entrar na mata mas pisando carne de gente, pisando defun-
to. Cada p de pau que eles derrube vai ser um homem derrubado, e os urubu
vo ter tanto que vai esconder o sol. Carne vai ser estrume de p de cacau, cada
muda vai ser regada com sangue deles, deles tudo, tudo, sem faltar nenhum.
amaDo, Jorge. Terras do sem-fim. So Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Quando escreve, o autor pode controlar, entre outros fatores, a escolha do vo-
cabulrio e a aplicao das regras da variedade-padro da lngua adequadas a
seu texto. J na fala a realizao do texto imediata e no sofre, como no
texto escrito, intervenes como reviso ou reorganizao, podendo por isso
apresentar desvios em relao a regras gramaticais.
a) Compare as frases dos artigos de opinio lidos com as frases da fala de Jere-
mias, observe as diferenas e explique de que forma o autor do romance
Terras do sem-fim faz uso da concordncia na fala de sua personagem.
b) Estudamos que os artigos, os adjetivos, os pronomes, etc. concordam com o
substantivo ao qual se referem, mas nem sempre o que ocorre na linguagem
oral. Na fala de Jeremias, por exemplo, possvel encontrarmos marcas de plural
em uma das palavras de um bloco e sua ausncia em outra. Encontre, na fala da
personagem, exemplos de concordncia nominal em que isso ocorre.
c) Vimos que a principal regra de concordncia diz que o verbo deve concordar
com o sujeito; no entanto, diversos fatores podem intervir nessa regra. Quan-
do o sujeito est colocado depois do verbo, comum no haver concordn-
cia. Destaque da fala de Jeremias um exemplo para a afirmativa.
Atividades de aplicao
Veja abaixo uma foto da banda Ultraje a Rigor, que surgiu na dcada de 1980.
Entre seus sucessos, est a msica Intil, cuja letra est na pgina seguinte.
Leia-a atentamente e responda no caderno s questes.
Renato dos Anjos/Arquivo da editora
Da esquerda para a direita: Carlinhos, Leospa, Roger e Maurcio, componentes da banda Ultraje a
Rigor em foto de 1986.
3. Converse com seus colegas e procure explicar por que a concordncia est de
acordo com a norma gramatical em versos como A gente faz carro, A gen-
te faz trilho, A gente faz filho, A gente pede grana, A gente faz msica,
A gente escreve livro, A gente escreve pea, A gente joga bola e no
segue a norma em versos como A gente no sabemos, Tem gringo pensan-
do / Que nis indigente, A gente somos intil!?
Eugenio Mussak
O filme Corao valente, com Mel Gibson, conta, de forma romanceada, a his-
tria real do lder escocs William Wallace. Um dos momentos marcantes a batalha
de Stirling, em que o pobre e mal-armado exrcito escocs vence a autoproclamada
invencvel fora inglesa. Fica evidente a liderana de Wallace porque oferece a seus
homens trs coisas: uma causa a liberdade, o maior de todos os valores; um exem-
plo ele luta frente de seus homens; e os meios uma estratgia inteligente e
uma nova arma, capaz de anular a cavalaria dos bretes.
Trata-se de um excelente exemplo de liderana em que
Tomadas as decises iniciais, pense em seu leitor, que faz parte do pblico-alvo
da revista a ser produzida para o projeto.
Preparando >
a segunda Releia seu artigo de opinio, observando se dele constam:
verso do a variedade-padro da lngua, respeitando as concordncias necessrias;
texto a clareza na apresentao de sua ideia;
o desenvolvimento lgico e pautado nas estratgias estudadas.
Verifique se voc no desenvolveu vrios assuntos no texto, o que
seria inadequado ao objetivo da atividade.
Guarde seu artigo de opinio para o projeto do fim do ano.
NO mUNDO DA ORAlIDADE
Vamos verificar se, na linguagem oral, h o predomnio da concordncia verbal
ou no.
CREATISTA/Shutterstock/Glow Images
... ler
Atividades para orientao vocacional, de Lia Renata A. Giacaglia, editora Thomson
Learning.
O livro procura ajudar o leitor a refletir sobre o assunto e ter uma viso mais ampla e bem
fundamentada antes de tomar decises.
... assistir a
Anti-heri americano, de Robert Pulcini e Shari Springer Berman (EUA, 2003).
O filme conta como Harvey Pekar, que trabalha no arquivo de um hospital, passa a escrever
a srie de quadrinhos Anti-heri americano e bem-sucedido, apesar de no ter talento como
desenhista e de sua personagem, autobiogrfica, contar apenas com o charme do humor irnico.
Universal/Cortesia de Everett Collection/Keystone
ver na internet
http://guiadoestudante.abril.com.br
O site oferece dicas de cursos, faculdades e
profisses, alm de testes vocacionais para se-
rem feitos on-line. Acesso em: 25 jan. 2012.
www.curriculum.com.br
Se quiser fazer um currculo, voc pode aces-
sar este site ou outros semelhantes e montar
o seu de acordo com as diversas dicas e propostas
encontradas nele. Acesso em: 25 jan. 2012.
http://br.nget.com/Educacao/Listas_Discussao/
O endereo lista uma srie de fruns de discusso on-line para treinar argumentao.
Acesso em: 25 jan. 2012.
P A R A C O M E A R
Leia os trs poemas a seguir para responder questo.
Poema 1
Erra uma vez
Paulo Leminski
Poema 2
Onde
Rgis Bonvicino
Onde eu escrevo
h o rudo
do lixo da cidade depois
de recolhido
sendo triturado
Alberto De Stefano/Arquivo da editora
h um abajur
uma cmoda
com espelho
e uma cama
desarrumada
o outono est prximo
a janela fechada
um cansao sbito
toma conta das palavras.
BONVICINO, Rgis. Cu-Eclipse.
So Paulo: Editora 34, 1999.
Os poemas que voc acabou de ler foram publicados a partir da dcada de 1960.
Em sua opinio, considerando o que voc j estudou at aqui, que escola lite
rria parece mais influenciar essas composies? Por qu?
Homem comum
Ferreira Gullar
Reproduo/Coleo do artista
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se l quantos outros
braos do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa.
Homem comum, igual
a voc,
cruzo a Avenida sob a presso do imperialismo.
A sombra do latifndio
mancha a paisagem,
turva as guas do mar
e a infncia nos volta
boca, amarga,
suja de lama e de fome. Autorretrato, de Joo Cmara, 1990. Neste
Mas somos muitos milhes de homens autorretrato de corpo inteiro, frente e costas,
o paraibano Cmara tambm nos apresenta
comuns uma imagem de um homem comum. Ele
e podemos formar uma muralha trabalha o corpo humano preocupado em
ressaltar o realismo (temos a impresso de
com nossos corpos de sonho e margaridas. estarmos diante de um homem real), mas
FERREIRA GULLAR. Os melhores poemas de Ferreira Gullar. deixando uma ponta de estranhamento, pois
2. ed. So Paulo: Global, 1985. algo nessa figura nos inquieta.
3. Segundo o texto, qual a fora do homem comum? O que ele pode conseguir
com ela?
INTERPRETAO DO TEXTO
1. No poema so apresentados dois elementos antagnicos. Identifiqueos.
Perceba que nesses versos os dois seres passam a ocupar a mesma cena.
a) Que recursos o poeta usou para conseguir esse efeito?
b) Que elementos so destacados nas cenas descritas? Por que so escolhidos
esses elementos?
Para entender
A L I T E R A T U R A B R A S I-
L E I R A C O N T E M P O R N E A
O experimentalismo da gerao de 1922 serviu de base para a literatura
contempornea. Como a sociedade em que vivemos, a literatura de hoje est
fragmentada, em constante transformao. Defini-la talvez ainda no seja pos-
svel. E para compreend-la melhor, assim como a qualquer esttica literria, s
mesmo lendo o que se produz.
O crtico literrio italiano Alfonso Berardinelli, que v os best-sellers de maneira negativa (por vezes ele
expressa sua opinio de modo contundente), acredita que h uma verdadeira indstria pronta a fabric-los.
Leia a seguir o trecho de uma entrevista que ele deu Lucia Wataghin, do jornal Folha de S.Paulo.
[...]
Sobre o best-seller tenho duas ideias principais. A primeira : ele no amplia os horizontes do leitor,
um livro mata-livros, cria o deserto em torno de si, porque o leitor de best-seller no procura outros auto-
res, no curioso, espera a sada do prximo best-seller, porque quer o livro-sntese, que lhe permita no
ler mais nada e lhe d a iluso de ter lido o essencial. A segunda ideia a de que, antes, o best-seller era
frequentemente casual, ao passo que agora se trata de livros programados; h uma indstria do best-seller.
Cria-se um certo produto literrio de acordo com uma frmula considerada magntica, que tende a se
repetir, j que o leitor de best-seller ama a repetio, quer trilhar caminhos seguros.
[...]
WATAGHIN, Lucia. A multido solitria. Folha de S.Paulo, 6 nov. 2005. Folhapress.
Contexto histrico
Aps o suicdio de Getlio Vargas, em 1954, o Brasil enfrentou profundas
transformaes sociais. Do governo do mineiro Juscelino Kubitschek ao do nor-
destino Luiz Incio Lula da Silva, o pas passou por diversos acontecimentos que
interferiram bruscamente em sua produo artstica.
Com Kubitschek no poder, viveu-se uma efervescncia em diversos setores,
incluindo o cultural com seu lema 50 anos em 5, aquele presidente preten-
dia desenvolver cinquenta anos da histria do pas em cinco anos de governo. A
indstria nacional cresceu vertiginosamente nesse perodo. Marcas como Arno,
Reproduo/N. V. Cadena-Brasil
chegaram ao Brasil durante seu governo e provo-
caram profundas mudanas na cultura nacional,
gerando, assim, novos hbitos de consumo.
Na primeira metade da dcada de 1960, dois
presidentes da Repblica chegaram ao poder, mas
permaneceram pouco tempo na Presidncia: Jnio
Quadros e, na sequncia, seu vice-presidente, Joo
Goulart, que jamais conquistou a simpatia do Exr-
cito e da elite brasileira. Esses grupos comearam
a engendrar um golpe contra Goulart, o que de
fato ocorreu em maro de 1964, inserindo o Brasil
em um dos perodos mais obscuros da histria na-
cional: a ditadura militar.
A partir de 1964, os militares assumiram o po-
der. Em dezembro de 1968, pressionado por movi-
mentos contrrios ao regime militar, o presidente
em exerccio, o marechal Costa e Silva, fechou o
Congresso Nacional e decretou o Ato Institucional
n 5 (AI-5), que concedia ao poder Executivo o di-
reito de determinar medidas repressivas especficas,
como decretar o recesso do Congresso, das assem-
bleias legislativas estaduais e das cmaras munici-
pais. O governo podia tambm censurar os meios
de comunicao, eliminar garantias de estabilidade
Liquidificadores so uma novidade no Brasil da dcada de
do poder Judicirio e suspender a aplicao do ha- 1950. Neste anncio o eletrodomstico aparece agigantado
beas corpus em caso de crimes polticos. Essa atitu- diante da mulher.
de radical dos militares levou polticos e artistas a
se exilarem no estrangeiro.
Grupos de estudantes e operrios militantes fo-
Manifestaes artsticas
marcantes do perodo
Os concretistas uma influncia duradoura
Durante a dcada de 1950, um grupo de intelectuais costumava reunir-se
no chamado Clube de Poesia, de So Paulo. A partir desses encontros, os poe-
tas Haroldo de Campos (1929-2003), Dcio Pignatari (1927-2012) e Augusto
de Campos (1931) uniram-se em torno de um movimento potico denomina-
do concretismo, retomando algumas propostas dos modernistas de 1922.
Seus criadores recorrem linguagem dos cartazes, ao ideograma chins
e s artes plsticas para valorizar a estrutura verbal e visual do poema
Os poetas Augusto de Campos, segundo esse movimento, mais importante do que o prprio tema. Para
Dcio Pignatari e eles, o poema caracteriza-se pelo contraste das palavras dispostas no espa-
Haroldo de Campos,
em So Paulo, SP. Foto de
o em branco da pgina. Tambm vale formar imagens a partir de slabas
26 de novembro de 1996. e vocbulos, como no poema ovo novelo, de Augusto de Campos:
Reproduo/Editora Cultrix
Reproduo/Ateli Editorial
CAMPOS, Augusto de. Viva vaia: poesia 1949-1979. 3. ed. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2001.
Cidade/city/cit
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorgani
[periodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivora
cidade
city
cit
CAMPOS, Augusto de. Cidade/city/cit. In: AGUILAR, Gonzalo Moiss. Poesia concreta brasileira:
As vanguardas na encruzilhada modernista. So Paulo: Edusp, 2005. p. 264-265.
Divulgao/Philips
Nas dcadas de 1960 e 1970, a arte era o meio possvel
para denunciar os problemas sociais sobretudo em poe-
mas, que muitas vezes acabaram se tornando letra de
msica. Essas letras marcaram a poca, e muitas delas
foram cantadas e apreciadas pelos jovens. So represen-
tantes desse perodo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal
Costa, Tom Z, entre outros, dos quais muitos ainda con-
tinuam ativos.
Observe a seguir a letra de msica Homem bomba
(2002) e, se possvel, oua-a. Composta em ritmo de mar-
chinha de Carnaval, o que torna o contedo bastante
irnico ao retratar um tema to tenso, a msica toca em
feridas atuais e apresenta uma denncia daquilo que
chama de ideologia da agonia.
Capa do LP Tropicalia ou Panis et circencis, lanado
Homem bomba em 1968 pela Philips. Esse disco marca o movimento
tropicalista.
Caetano Veloso e Jorge Mautner
Mltiplas tendncias
Painel de poesia
Ora voltada para a questo social, ora para o mundo individual, a arte dos
dias atuais aponta para uma multiplicidade de temas e formas. Haicais, poemas
concretos, poemas tradicionais, experimentalismo, tudo isso convive muito bem
neste incio de sculo.
Conhea e saboreie a seguir um painel de poemas bem interessantes que
representam os diversos caminhos poticos trilhados pela literatura contempo-
rnea no Brasil.
Edner Morelli
Que brilha
Sempre tardia Edner Morelli (1978), poeta paulistano,
Volto-me. compositor, professor de Literatura.
MORELLI, Edner. Latncia. Estreou em poesia com a publicao de
So Paulo: A-temporal, 2002. Latncia em 2002, pela editora
Atemporal. Recebe influncias ntidas
da poesia lrica produzida no sculo XX,
especialmente a brasileira, ao unir
subjetividade e questes existenciais aos
motivos mais cotidianos.
Affonso vila
O poeta no esconde que sua poesia influenciada pela Affonso vila (19282012), ensasta e
linguagem de outros criadores poeta, destaca em seus poemas a
linguagem sinttica, de ritmo prprio e
fluente na construo de sentidos. Publicou
O poeta no faz segredo de que se utiliza da linguagem de estudos sobre a modernidade literria e,
outros poetas com particular nfase, sobre a natureza e o
impacto do Barroco no Brasil. A lgica do
erro, coletnea de poema, foi lanada pela
O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de editora Perspectiva e d uma ideia do
outros poetas trabalho desse poeta.
Adlia Prado
Luiz Abreu/Nextfoto
Eu queria trazer-te uns versos
muito lindos
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais ntimo de mim
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porm no sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas e que esto escritas
do lado de fora do papel No sei, eu nunca soube o que
dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia Mrio Quintana (19061994), tradutor e
como poeta gacho, em 1940 lanou Rua dos
cataventos, seu primeiro livro de poesias. Da
uma pobre lanterna que incendiou! vasta obra que produziu, podese ter uma
QUINTANA, Mrio. Apontamentos de histria sobrenatural. ideia de seu trabalho com a leitura de Nova
So Paulo: Globo, 2005. by Elena Quintana. antologia potica (editora Globo).
T E X T O E C O N T E X T O
Responda s questes no caderno.
I. O poema faz referncia poesia marginal, grupo do qual Leminski fez parte.
II. O humor, uma das marcas da poesia leminskiana, remete o leitor ao fazer
potico.
III. um haicai, nos moldes japoneses.
IV. No poema, Leminski faz uma crtica marginalizao do poeta na sociedade.
3. (Uerj)
Texto
C O M P A R A N D O T E X T O S
Leia a letra de msica , do compositor Gonzaguinha, e comparea ao poema
Homem comum, de Ferreira Gullar (na pgina 248).
Gonzaguinha
!
A gente quer valer o nosso amor
A gente quer valer nosso suor
A gente quer valer o nosso humor
A gente quer do bom e do melhor
!
A gente no tem cara de panaca
A gente no tem jeito de babaca
A gente no est
Com a bunda exposta na janela
Pra passar a mo nela
Alberto De Stefano/Arquivo da editora
!
A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nao
A gente quer ser um cidado
A gente quer viver uma nao
! ! ! ! ! ! !
GONZAGUINHA. Coraes marginais. Disponvel em:
<http://www.gonzaguinha.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=226:e&catid=
35:letras&Itemid=54>. Acesso em: 9 jan. 2013.
2. Os dois textos, com recursos bem diferentes, apresentam objetivos bem pareci
dos. Quais so eles?
Faa uma leitura atenta dos textos selecionados a seguir. Depois, renase com
trs colegas, escolham alguns dos poemas lidos no captulo e criem uma manei
ra de divulglos na escola. Vocs podem:
elaborar cartazes. Escrevam um ou mais poemas, ilustreos com desenhos ou
colagens que faam referncia a um dos sentidos sugeridos pelo texto;
preparar uma apresentao de performance potica. Leiam o poema mais
de uma vez, memorizem os versos e pensem em uma forma diferente de
apresentlo. No intervalo das aulas, atraiam as pessoas para algum lugar do
ptio e declamem o poema;
elaborar panfletos poticos. Digitem os poemas escolhidos ou escrevamnos
mo. Acrescentem ilustraes e uma sntese da biografia dos autores.
Ocupem apenas o equivalente a uma folha de sulfite. Imprimam, se tiverem
sido digitados, tirem cpias e distribuamnas entre os alunos da escola.
Seleo de poemas
I. II.
Mrio Bortolotto
No quero descobrir
Aprendizado
Fabrcio Corsaletti
Que te amo
Prefiro continuar ligando Aprender
E dizer que foi engano a ser sozinho
alm de toda
melancolia
III.
no esperar
Passagem nada das coisas
Bruna Beber nem de ningum
mas encantar-se
o beijo que espero vir com tudo o que
da coliso das retas vivo
paralelas e imprime
a caminho da festa um rastro fugaz
banho de lama o amor
na minha melhor roupa vir depois
de raspo passar como tiro como um sacramento
Alberto De Stefano/Arquivo da editora
em quem t do lado
esperando o nibus.
IV.
Da condio primeira
Alberto Pucheu
V.
Fabrcio Carpinejar
Enquanto te espero,
Sou chamado ao porto. No respondo. VI.
Elisa Andrade Buzzo
O nome ajuda a envelhecer.
Pela rua deserta, as pessoas passam, quando o meu amor
fechadas como as lojas. tira os olhos de mim
Enquanto te espero, eu no enxergo
Custo a recobrar o sono recente.
A nudez adormece
quando acordamos.
Amadurecem os dias
como se fossem meus. SARMATZ, Leandro (Org.). Poesia do dia: poetas de hoje para
leitores de agora. So Paulo: tica, 2008.
assistir a
O que isso, companheiro?, de Bruno Barreto (Brasil, 1997).
Durante a ditadura militar das dcadas de 1960 e 1970, grupo de jovens sequestra embaixa-
dor norte-americano para troc-lo por prisioneiros polticos.
O ano em que meus pais saram de frias, de Cao Hamburger (Brasil, 2006).
Mauro um garoto comum de 12 anos, mas tudo muda em sua vida quando seus pais,
perseguidos pela ditadura, resolvem fugir um dia, deixando-o com o av e uma nova realidade.
Divulgao/Buena Vista
ver na internet
www.releituras.com
O site oferece textos e dicas, alm de biografias de autores nacionais e internacionais conhe-
cidos. Acesso em: 9 jan. 2013.
http://www.literal.com.br
Site com notcias, matrias, crticas e comentrios sobre literatura brasileira, que d acesso
aos sites oficiais de escritores como Luis Fernando Verissimo, Lygia Fagundes Telles, Ferreira
Gullar, Rubem Fonseca e Zuenir Ventura. Acesso em: 9 jan. 2013.
Temas e cenas
270
< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Ler e compreender textos dissertativos.
Produzir textos dissertativos com base em temas propostos.
Elaborar perguntas e respostas sobre o tema.
Definir qual ser a tese de seu texto.
Criar um texto dissertativo com a estrutura adequada.
Atender proposta de produo de um texto dissertativo.
Conceber um texto coeso, com ideias bem articuladas e con-
cluses lgicas.
Saber argumentar.
Interpretar textos em prosa de autores contemporneos.
Conhecer as caractersticas da prosa contempornea.
271
p A r A C o M E A r
Observe os passos para a produo de um texto dissertativo sugeridos por
Antnio Surez Abreu em seu livro A arte de argumentar, publicado pela edito-
ra Ateli.
3o passo: Escolher a melhor hiptese que ser a sua tese. Por exemplo:
Tese: Muita gente j investe prevendo os lucros com o aquecimen-
to global.
Tomando por base esse modelo, copie o quadro a seguir no caderno e comple-
Ateno: No escreva
No livro. Faa as
atividades No caderNo.
te-o como se fosse planejar um texto dissertativo.
Hiptese 1: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||
Tema: O lixo nas grandes cidades
Hiptese 2: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | Tese: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
Problema: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
Hiptese 3: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||
Leia com ateno o texto dissertativo a seguir elaborado por um candidato dos
exames vestibulares da Fuvest em 2007.
Divina ddiva
A amizade, para os povos da Antiguidade clssica, era a melhor e mais
agradvel ddiva dos imortais. Esta face das relaes humanas valorizada
desde o incio da evoluo at a contemporaneidade.
complicado viver sem a felicidade de se encontrar num amigo.
Assim como no h nada mais doce do que confiar inteiramente em
algum. A felicidade seria desnecessria, se no houvesse com quem o
homem partilh-la, como o mestre e o discpulo, cujas vitrias e alegrias
de um, so tambm do outro. Os filsofos da Grcia Antiga, Scrates e
Plato, respectivamente mentor e aluno, cultivaram uma amizade to
profunda a ponto dessas condies se mesclarem. De seus conhecimentos
surgiram as bases da sociedade ocidental.
Outros casos de amizades verdadeiras geradoras de grandes ideias
ocorreram na histria. Como o dos economistas e filsofos Karl Marx e
Friederich Engels, que revolucionaram com O Manifesto Comunista,
plantando as ideologias de futuras grandes naes, como a extinta Unio
Sovitica. Pode-se lembrar inclusive dos franceses Roger Bastide e Pierre
Verger, de cuja amizade nasceram grandes teses antropolgicas sobre o
Brasil, em especial o Nordeste, e milhares de fotografias que rodam o
mundo em exposies apresentando o brasileiro de meados do sculo XX
para outras culturas.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora
INTErprETAo Do TExTo
A coerncia de um texto o resultado da organizao dos argumentos de
forma coesa somados ao conhecimento de mundo da pessoa que o escreve. Essa
organizao que leva o interlocutor a uma interpretao adequada.
Richard Melloul/Sygma/Corbis/Latinstock
1. O texto que voc leu recebeu nota 10 no vestibular da Fuvest de 2007. Sabendo
que, em geral, o texto dissertativo deve apresentar uma tese (uma ideia), iden-
tifique no texto a tese que o autor pretende defender.
2. A coerncia de um texto manifesta-se por uma rede coesiva que apresenta vrios
fatores importantes. Vamos analisar um deles.
a) Releia a resposta questo 1 e destaque da tese o substantivo que serve de
palavra-chave no texto.
b) Identifique nos demais pargrafos palavras semelhantes ou iguais quela que
voc destacou na questo a.
i.
Para se atingir o sucesso profissional, tem que estar bem preparado, ter uma boa
formao escolar, ter talento e coragem para superar os obstculos que vm pela frente
e se dedicar ao mximo na profisso. A felicidade na vida profissional ocorre quando
o talento nela empregado harmnico com a vocao. O mercado de trabalho assimi-
la o profissional no por causa de sua vocao, mas sim por causa de seu talento.
Disponvel em: <http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/ult4657u178.jhtm>.
Acesso em: 4 fev. 2012.
ii.
complicado viver sem a felicidade de se encontrar num amigo.
Assim como no h nada mais doce do que confiar inteiramente em
algum. A felicidade seria desnecessria, se no houvesse com quem o
homem partilh-la, como o mestre e o discpulo, cujas vitrias e alegrias
de um, so tambm do outro. Os filsofos da Grcia Antiga, Scrates e
Vaticano, Cidade do Vaticano, Itlia.
Busto do filsofo grego Plato (427 a.C.-347 a.C.), em cpia romana de escultura grega.
Plato foi amigo e discpulo do filsofo Scrates (470 a.C.-399 a.C.).
2o |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
3o ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
4o ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
p r o D U o D E T E x T o
o texto dissertativo
O texto dissertativo produzido em situaes que exigem do produtor a
apresentao do seu ponto de vista em relao a determinado assunto. Sua
produo comum, em especial no ambiente escolar, para desenvolver a com-
petncia comunicativa do aluno e prepar-lo para situaes de produo reais,
como processos seletivos de candidatos a vagas em universidades, concursos,
estgios, e a cargos em empresas pblicas e privadas.
A avaliao do texto pelo professor ou corretor ocorre em todos esses casos.
O bom desempenho do aluno lhe possibilitar a consolidao do aprendizado e
o do candidato lhe dar maior chance de ocupar a vaga.
Nessas situaes de produo, espera-se que o autor demonstre sua compe-
tncia para dissertar, ou seja, para discorrer logicamente, organizando um texto
com comeo, meio e fim sobre determinado assunto.
O leitor do texto quer saber a opinio do autor, o que ele pensa sobre o
assunto dado e como pensa. Para realizar uma produo que atenda a esse pro-
psito, preciso demonstrar maturidade intelectual ao se posicionar sobre o
tema e clareza na organizao desse pensamento.
O autor da dissertao deve expressar suas ideias e defend-las por meio de
argumentos prprios, construdos a partir de sua viso de mundo. Na interao
autor-leitor, o objetivo da dissertao convencer o leitor do ponto de vista do
autor, que, para persuadir e convencer, deve usar argumentos convincentes.
Toda informao, experincia de vida e conhecimento adquirido ao longo
do tempo podem ajudar a elaborar o texto dissertativo. Veja outro comentrio
da professora Maria Thereza para a mesma revista:
Pedimos temas que exijam que ele [o aluno] saiba refletir, julgar, analisar sob
diversos ngulos, e nunca tpicos referentes s notcias recentes de jornal. Os estu-
dantes ficam preocupados com a possibilidade de que caiam temas como a violncia
urbana, o aquecimento global, o gs natural da Bolvia. No vai cair nada disso, j
digo de cara!
Revista Guia do estudante, op. cit.
Em relao lngua, preciso ser claro e, para isso, o ideal usar frases de-
clarativas, vocabulrio simples e, de preferncia, objetivo conveniente evitar
os clichs, ou seja, as frases feitas, como a unio faz a fora, preciso saber
viver, etc. D preferncia ordem direta dos enunciados (primeiro sujeito, de-
pois verbo e, por fim, complementos). No se pode esquecer de usar termos que
articulem as partes, para a progresso do tema, como entretanto, assim, por
isso, logo, que contribuem para a coeso necessria a um texto.
A respeito do estilo, ou seja, o jeito de escrever uma dissertao, preciso
observar a presena de determinadas marcas gramaticais, como o verbo ser das
oraes subordinadas substantivas subjetivas. Por exemplo, comum que apa-
ream construes do tipo importante, intil, etc. Note que elas
ajudam a apresentar a opinio do autor de forma objetiva. O tempo verbal pre-
dominante o presente com valor atemporal, que transmite a ideia de que a
opinio dada vale generalizadamente.
Introduo 1
A amizade tem sido eleita por pensadores e artistas de diversos tempos como
uma das coisas mais importantes da vida. H quem lhe atribua importncia maior
que o amor.
Em nosso mundo contemporneo no faltam produes escritas ou audiovi-
suais que coloquem a amizade no mais alto patamar. Porm, tanto nas produes
dos tempos passados como nas dos tempos atuais, a amizade tratada como um
ideal, no sentido de que algo difcil de ser conseguido.
Revista Guia do estudante, op. cit.
Bettmann/Corbis/Latinstock
Introduo 2
Segundo o filsofo Nietszche, os inimigos tm grande importncia na vida
do homem, medida que um indivduo s se desenvolve a partir do embate com
quem tem opinies e condutas diferentes das suas. No entanto, sabido tambm
que o companheirismo, a cumplicidade e o apoio de um bom amigo so funda-
mentais para garantir a felicidade e o crescimento de cada um.
Idem.
Retrato do filsofo
alemo Friedrich W. Note que, mesmo sem conhecermos o tema proposto, compreendemos essas
Nietzsche (essa a introdues. Nos dois exemplos, os autores apresentam uma ideia comum, par-
grafia correta do
sobrenome dele). tilhada entre a maioria das pessoas para, em seguida, apresentar a ideia que ser
Viveu de 1844 a defendida ao longo do texto. Perceba que a estratgia usada em ambos os mo-
1900 e, em seus textos, delos a mesma:
foi crtico em relao
cultura ocidental e
suas religies. IDEIA COMUM IDEIA DEFENDIDA PELO AUTOR
Veja que, nos dois pargrafos, a parte que apresenta a opinio de quem
escreve iniciada com um conectivo de oposio: porm, no entanto.
Aprecio no mais alto grau a resposta daquele jovem soldado a quem Ciro
perguntava quanto queria pelo cavalo com o qual acabara de ganhar uma corrida
e se o trocaria por um reino: seguramente no, senhor, e no entanto eu o daria
de bom grado se com isso obtivesse a amizade de um homem que eu considerasse
digno de ser meu amigo. E estava certo ao dizer se, pois, se encontramos facil-
mente homens aptos a travar conosco relaes superficiais, o mesmo no acon-
tece quando procuramos uma intimidade sem reservas. Nesse caso, preciso que
tudo seja lmpido e oferea completa segurana.
Adaptado de: MONTAIGNE. Da amizade.
[]
E sei que a poesia est para a prosa
Assim como o amor est
Para a amizade.
E quem h de negar que esta
Lhe superior?
[]
VELOSO, Caetano. Lngua.
Introduo 1
A agricultura uma das culturas mais importantes para o desenvolvi-
mento do Brasil. Mesmo inconscientemente grande parte da populao con-
tribui para isso, j que a qualidade de vida, adquirida atravs do uso de
produtos naturais, um dos assuntos mais questionados atualmente, poden-
do at ser considerada um status para quem a tem ou quer ter.
Revista Guia do estudante, op. cit.
Introduo 2
Atualmente o Brasil um dos pases que mais vm se destacando na rea de
bionergia, que vem atraindo ateno e investimento crescente de todos os setores
da sociedade. Destinar a produo agrcola brasileira para atender gerao de
bionergia significa criar um cenrio propcio ao cultivo, armazenamento, trans-
porte, transformao e venda de bioenergticos, como lcool e leos vegetais,
tendo em vista o desenvolvimento econmico e social da populao.
Idem.
2 B
O trabalho a forma pela qual o Um prdio fruto de vrios profissionais, desde engenheiros e
homem transforma a natureza, geran- arquitetos que o projetaram aos pedreiros e mestre de obras que o
do toda a riqueza que possui. Desde executaram. Da mesma forma que uma obra de arte, como a es-
o trabalho primitivo do homem caa- cultura David de Michelangelo, produto de trabalho do artista
dor e coletor at o trabalho assalaria- que o concebeu. Desse modo, o trabalho possui vrias facetas,
do, tpico do sistema capitalista, as podendo ser classificado como trabalho intelectual, braal, artsti-
diferentes formas de trabalho acom- co ou produtivo.
panham as transformaes histricas Infelizmente, na sociedade atual, h formas de trabalho que so
e econmicas das diferentes socieda- mais valorizadas que outras. Por exemplo, o trabalho de um advogado
des, nas mais diversas pocas. atra- mais conceituado que o de um carpinteiro e pode ser visto na forma
vs do trabalho que o homem cons- de remunerao. Um advogado recebe mais pelas mesmas horas tra-
truiu sua histria e ainda assim acre- balhadas que um carpinteiro. Isso porque o pensamento contempo-
dita-se que o fim do trabalho pode rneo e capitalista enxerga que o advogado agrega mais valor cadeia
estar prximo. produtiva e, portanto, gera mais renda que o carpinteiro.
A essa primeira diferenciao, verifica-se que o progresso tcni-
co e capacidade produtiva ao longo dos sculos, ao invs de propor-
cionar mais tempo prpria humanidade, implicou o aumento do
trabalho e maior distncia entre os que dominam tais tcnicas e os
que esto margem delas. A era digital e o uso de computadores e
softwares modernos permitiu maior produtividade, corte de custos
e otimizao do processo produtivo aos que dela participam. Tam-
bm implica maior carga de trabalho. Porm, aos excludos, signifi-
cou desemprego e marginalizao.
[...]
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2006/bestred/503031.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.
Chocolate amigo
A amizade uma palavrinha bonita, e apenas isto. Inventada por floristas e
fazedores de cartes enfeitados de coraes e poemas hipcritas. Usada em dis-
cursos romnticos, sem significado algum, completamente banalizada.
Chocolate amigo. Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2007/bestred/516715.stm>. Acesso em: 4 fev. 2013.
Desenvolvimento
Identifique o ponto de vista do texto j na introduo.
Faa o assunto progredir de forma coerente, mesmo que seu ponto de vista
seja diferente.
Elabore argumentos pertinentes ideia apresentada.
Busque convencer o leitor pela lgica de seu texto, no pela panfletagem
(evite frases como: Somos o pas do amanh!, Faa a sua parte!, Seja
forte!, etc.).
Releia sua produo e confirme se a resposta o que o autor pensa a res-
peito disso foi dada.
Concluso
Pois somos todos pessoas, seres humanos; egocntricos, dissimulados e egostas.
S enxergamos a prpria vontade e acreditamos que cada um de ns o nico que
pode ser magoado. Mantemos relaes e gostamos de pessoas e coisas quando e
enquanto for conveniente. Usamos e pisamos em nossos amigos e nos escon-
demos. Atrs de msica, poemas, declaraes e discursos sobre sentimentos que
sabemos no ter.
Chocolate amigo, op. cit.
O Brasil envelheceu. o que provam dados numricos como os apontados
pela articulista do site Portal da Terceira Idade, Maria Terezinha Santellano:
Em 2025 sero 64 milhes e, em 2050, um em cada trs brasileiros ser
idoso. Sabendo disso, necessrio discutir esse tema e propor solues
para a realidade que se aproxima.
O tema de sua dissertao ser: A terceira idade no Brasil. Para que voc conhe-
a um pouco mais esse assunto, leia os textos a seguir.
Texto I
Ao longo dos ltimos 50 anos, a populao bra- proposta que extinguiu o fator foi vetada no governo
sileira quase triplicou: passou de 70 milhes, em do ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva.
1960, para 190,7 milhes, em 2010. O crescimento Segundo Brbara, a maioria da populao idosa
do nmero de idosos, no entanto, foi ainda maior. do pas est concentrada prxima a reas urbanas.
Em 1960, 3,3 milhes de brasileiros tinham 60 anos So regies com maior disponibilidade de servios
ou mais e representavam 4,7% da populao. Em mdicos qualificados e tambm uma rede social com
2000, 14,5 milhes, ou 8,5% dos brasileiros, estavam atividades de lazer, culturais e religiosas que permi-
nessa faixa etria. Na ltima dcada, o salto foi gran- tem maior envolvimento dessa faixa etria na socie-
de, e em 2010 a representao passou para 10,8% da dade diz.
populao (20,5 milhes). Um dos indicadores da mudana na pirmide etria
A comparao feita [...] se baseia nos censos de- a queda da taxa de fecundidade, publicada na ltima
mogrficos do Instituto Brasileiro de Geografia e sexta-feira (27), entre outros dados do Censo Demo-
Estatstica (IBGE) de 1960, de 2000 e de 2010. grfico 2010. A queda tem feito com que o grfico que
O envelhecimento da populao uma tendncia separa os habitantes por idade fique cada vez menos
to evidente que at mesmo os critrios do IBGE mu- triangular. Censo aps censo, ele fica mais volumoso na
daram. Em 1960, todas as pessoas com 70 anos ou mais parte central, que representa a populao adulta, e co-
eram colocadas na mesma categoria. J nas pirmides mea a diminuir na base, onde ficam os mais novos.
etrias de 2000 e 2010, as faixas etrias foram separadas O envelhecimento da populao uma tendn-
a partir dos 70 de cinco em cinco anos at os 100 [...]. cia e grande parte dos pases desenvolvidos j chegou
O Brasil ainda um pas com a maioria da po- nessa etapa, decorrente do maior desenvolvimento
pulao jovem, ainda temos elevado percentual de social e do aumento da expectativa de vida. Isso
jovens no mercado de trabalho, mas temos que nos fruto do avano da medicina, de melhorias nas con-
preparar para o envelhecimento da populao, prin- dies de saneamento nas cidades, da diminuio da
cipalmente em relao presso sobre a Previdncia. taxa de fecundidade, dentre outros fatores, diz Br-
Entre as iniciativas vlidas est a de apoiar a imple- bara Cobo, do IBGE.
mentao de recursos com previdncia complemen- Em 2010, cada brasileira tinha em mdia 1,9
tar. Precisamos pensar e criar mecanismos que tornem filho. Foi a primeira vez que o nmero ficou abaixo
o sistema mais sustentvel, diz Brbara Cobo, pes- do chamado nvel de reposio 2,1 por mulher ,
quisadora de indicadores sociais do IBGE. que garante a reposio das geraes. Em outras pa-
Ana Amlia Camarano, do Instituto de Pesquisa lavras, a manuteno dessa tendncia deve provocar
Econmica Aplicada (Ipea), concorda. O pas est a reduo da populao brasileira no futuro.
se preparando para esse futuro, mas ainda h muito O nmero caiu 20,1% ao longo da ltima dca-
a ser feito, diz. da. Em 2000, cada mulher tinha em mdia 2,38 fi-
Recentemente, o Congresso aprovou um novo lhos. H 50 anos, a taxa de fecundidade era de 6,3
fundo complementar para o servidor pblico federal filhos por mulher mais que o triplo do que hoje.
com o objetivo de reduzir o dficit da Previdncia. Nos prximos 30, 40 anos, essa tendncia de
O projeto ainda precisa ser sancionado pela presiden- envelhecimento da populao brasileira praticamen-
te Dilma Rousseff. H outro projeto em discusso no te irreversvel, a menos que a fecundidade volte a
Congresso para mudar o fator previdencirio, instru- aumentar e a aumentar muito, acredita a pesquisa-
mento que visa reduzir o valor do benefcio de quem dora Ana Amlia Camarano, do Ipea. Isso ocorre
se aposenta antes dos 65 anos, no caso de homens, porque a taxa de fecundidade caiu muito desde os
ou 60, no caso das mulheres. Esse projeto pode au- anos 1990 e a taxa de mortalidade nas idades avan-
mentar os gastos do governo e, por conta disso, uma adas tambm diminuiu, explica.
Texto III
Dalcio/Correio Popular
Os idosos j somam 10% da populao. Nesse novo cenrio, ser que o governo est preparado para
atender s necessidades bsicas dessa populao? Ser que haver servios pblicos especializados sendo
prestados eficientemente para os idosos? E, quanto sade, como garantir o devido atendimento a eles?
2o momento
Finalizado o rascunho, leia a seguir o que o editor de uma revista comenta sobre
a produo de textos.
Menos mais
Denis Russo Burgierman
O maior problema que aflige os textos deste Brasil o excesso. Por exemplo, tem
muita gente que padece de excesso de ideias. Acha que tem muita coisa importante
para dizer e que tudo essencial, nada pode ser cortado. A o texto fica parecendo
um depsito de frases apressadas, uma amontoada em cima da outra, e ningum
entende nada. Texto bom tem de ter uma ideia de cada vez cada pargrafo uma
ideia, cada ideia claramente conectada na ideia anterior e na seguinte. Tudo bem
explicadinho. Se no houver espao para explicar bem uma ideia, nem tente coloc-
-la no texto corte-a. Menos mais.
Outras pessoas sofrem do excesso de palavras. Abusam dos adjetivos, dos termos
de efeito que no acrescentam nada. Ou ficam repetindo duas, trs vezes a mesma
ideia se a ideia est clara, ela no precisa ser repetida nenhuma vez. Melhor seria
trabalhar cada frase at ela ficar perfeita, exata. E a voc pode cortar todas as repeti-
es. Menos mais.
Escrever bem mais uma questo de tirar do que de colocar palavras. Menos
mais. E vou parar por aqui, porque j estou me repetindo.
Revista Guia do estudante, op. cit.
preparando >
releia sua produo e verifique se ela:
a segunda
verso do
tem a estrutura de um texto dissertativo: introduo, desenvolvimento
texto e concluso;
est clara, com linguagem objetiva;
apresenta sua opinio logo no primeiro pargrafo, sem o leitor precisar
reler a proposta;
tem um desenvolvimento que progride;
expe argumentos bem encadeados.
feito isso, passe seu texto a limpo e guarde-o para o projeto do fim do ano.
isso que vamos propor que voc e seu grupo elaborem: dicas para serem dadas
aos demais alunos da classe.
Depois de terem estudado o texto dissertativo ao longo deste captulo, retomem
o que anotaram, releiam os textos, regulem o conhecimento construdo por meio
de conversas, apontamentos e retomadas. Discutido o assunto, pensem em
cinco itens que no podem faltar para se escrever bem um texto dissertativo.
A fim de facilitar a apresentao das dicas aos colegas, elaborem um cartaz bem
divertido e chamativo com os cinco itens, atentando para que o texto esteja ade-
quado ao pblico ouvinte. O texto dever ser breve, afinal vocs podero comple-
ment-lo oralmente no momento da apresentao.
Para ajud-los na elaborao do cartaz, leiam na sequncia mais dois exemplos
de dissertaes bem avaliadas no vestibular da Fuvest de 2009.
As fronteiras da vida
Quando pensamos na palavra fronteira, quase inevitvel relacion-la ao limi-
te geogrfico de uma regio; porm, se analisarmos este termo com mais cautela,
veremos que ele possui um significado muito mais amplo do que apenas o de divisa.
Por exemplo, dias atrs, meia-noite, atravessvamos a fronteira entre 2008 e 2009.
Atravessar uma fronteira no apenas ultrapassar o limite de um territrio, alcanar
objetivos, quebrar estigmas, vencer etapas, ou at mesmo, passar dos limites.
Em 2008 o Brasil e o Supremo Tribunal Federal, STF, romperam importantes
barreiras. Entre elas, podemos destacar duas: a liberao de pesquisas com clulas-
-tronco e a demarcao contnua do territrio Raposa Serra do Sol em benefcio dos
indgenas. Foi atravessada a fronteira de um dogma da Igreja catlica, a favor da
cincia; e a do interesse de uma minoria de fazendeiros, beneficiando representantes
de um povo, que aqui estava, antes da chegada dos portugueses em 1500.
Atravessar uma fronteira raramente uma tarefa fcil. O vestibular, por exem-
plo, algo que exige muita dedicao, estudo e horas de sono reduzidas. Vencer
uma etapa como essa, atravessar a divisa entre a adolescncia e a vida adulta, estu-
dando nas melhores universidades do pas; algo que poucos podero, um dia,
contar para seus netos.
Existem tambm as fronteiras cotidianas a serem atravessadas. Levantar cedo,
trabalhar muito, dormir pouco, pagar contas, cuidar dos filhos. Cada um de ns tem
inmeros exemplos. Infelizmente at as fronteiras do inimaginvel o ser humano
acaba ultrapassando. Recentemente, um policial do Rio de Janeiro alvejou com tiros
A p r o V E I T E p A r A
ler
Reproduo/Ed. Rocco
Dissertao no bicho-papo, de Simone Pessoa, editora Rocco.
Com linguagem clara e direta, a professora Simone Pessoa desmistifica o processo de
produo de uma dissertao, propondo solues inovadoras para as etapas.
assistir a
Mais estranho que a fico, de Marc Forster (EUA, 2006).
Harold um fiscal da receita pblica que tem uma vida montona. De repente comea
a ouvir uma voz narrando sua vida, inclusive seus sentimentos. Quando a voz anuncia sua
morte prxima, ele tenta mostrar que sua existncia no vazia e precisa ser preservada.
ver na internet
www.folha.uol.com.br/
http://jbonline.terra.com.br/
http://oglobo.globo.com/
www.atarde.com.br/capa/
Diversos endereos de jornais on-line para informaes e atualidades. A escrita jornalstica
tambm pode ser um bom exemplo de redao dissertativa. Acessos em: 4 fev. 2013.
http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/
Site com propostas de temas e redaes corrigidas, que servem de exemplo. O aluno pode
enviar sua prpria redao. No site tambm h dicas de outras disciplinas. Acesso em: 4 fev. 2013.
p a r a c o m e a r
Leia, a seguir, um trecho do livro Literatura brasileira hoje, escrito pelo jornalista
e crtico literrio Manuel da Costa Pinto.
ATENO: NO ESCREVA 1. Segundo o excerto, qual o espao em que esto instaladas as personagens da
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
fico brasileira contempornea?
O texto que voc vai ler na pgina a seguir chama-se Tio Galileu e
texto 1 foi escrito por um grande contista brasileiro da atualidade: Dalton Trevi-
san. Ao ler essa narrativa, preste ateno forma como revelada a
doena moral das personagens.
interpretao Do texto
1. O que levou Betinho casa de tio Galileu?
2. O texto sugere que o rapaz percebe sofrer algum tipo de explorao? Justifique
sua resposta.
4. Uma atitude de Betinho revela, de antemo, que ele estaria disposto a atender
todos os pedidos de Mercedes.
a) Que atitude essa?
b) Por que ele faz isso?
< Habilidades
Para interpretar o texto, voc precisou:
leitoras
identificar informaes que compem o enredo;
reconhecer e analisar caractersticas do comportamento das perso-
nagens;
inferir informaes a partir de dados presentes nas linhas do texto;
analisar elementos do estilo do autor.
Varandas da Eva
Milton Hatoum
Allberto De Stefano/
Arquivo da editora
passava pela avenida Sete de Setembro. Divagava. E j no era jovem.
A gente sente isso quando as complicaes se somam, as respostas se
esquivam das perguntas. Coisas ruins insinuavam-se, escondidas atrs da
porta. As gandaias, os gozos de no ter fim, aquele arrojo dissipador, tudo
vai se esvaindo. E a aspereza de cada cacto da vida surge como um cacto,
ou planta sem perfume. Algum que olha para trs e toma um susto: a
juventude passou.
Quando andava diante do Palcio do Governo, decidi descer a escadaria
que termina prxima margem do igarap; parei no meio da escada e me
distra com a viso dos pssaros pousados nas plantas que flutuavam no rio
cheio. Foi ento que vi, numa canoa, um rosto conhecido. Era Tarso.
Remou lentamente at a margem e saltou; depois tirou um cesto da canoa
e ps o fardo nas costas, a ala em volta da testa, como faz um ndio. O
corpo do meu amigo, curvado pelo peso, era o de um homem. Subiu uma
escadinha de madeira, deixou o cesto na porta de uma palafita, voltou
margem e puxou a canoa at a areia enlameada. porta apareceu uma
interpretao Do texto
1. Releia o primeiro pargrafo e identifique em que momento da juventude se
encontra o narrador-personagem.
4. Trs anos depois desse primeiro contato com o Varandas da Eva, os rapazes no
andavam mais juntos. Essa distncia entre eles informada de diversas maneiras,
e isso fica bem claro no reencontro do narrador com Minotauro.
a) O que, nessa conversa, revela a distncia entre eles?
b) Que frases destacam especificamente a distncia entre o narrador e Mi-
notauro?
c) O que, na fala de Minotauro, pode ter levado o narrador a ter uma opinio
to dura em relao ao colega de meninice?
Para entender
a p r o s a b r a s i L e i r a
c o n t e m p o r n e a
Assim como na poesia, a produo em prosa, no Brasil, marcada pela plu-
ralidade. So vrios os gneros que se destacam: o conto, a crnica, o texto
teatral, o romance. Todos se tornam produtos de consumo na nova sociedade.
Por esse motivo, as temticas mudam tambm. Se antes podamos dividir a
produo literria entre romances psicolgicos ou regionalistas, na contempo-
raneidade surgem os romances policiais, os de violncia urbana, os de personagens
socialmente desequilibradas.
A prosa busca retratar a urbanidade, a vida catica do indivduo nesse con-
texto. Como nunca, lemos uma literatura contaminada pelo jornalismo, pela
denncia social e pelas cidades. Se tivssemos de apresentar este captulo em
uma palavra, esta palavra seria: (re)inovaes.
caractersticas da prosa
contempornea
o imprio das narrativas curtas
No perodo entre 1980 e o incio do sculo XXI, a opo por textos curtos em
prosa reflete um mundo marcado pela rapidez e pela agitao.
A comunicao em ritmo acelerado e o sofisticado desenvolvimento tecnol-
gico alcanado em algumas reas s poderiam levar produo de gneros lite-
rrios relativamente curtos, como o conto e a crnica, que podem facilmente cir-
cular em jornais, sites e revistas, aproximando ainda mais as pessoas da literatura.
Com o surgimento dos blogs e das redes sociais, muitos passaram a escrever
suas produes on-line. Nunca antes na histria da humanidade se produziu um
nmero to grande de textos como os que circulam na rede nem se consumiu
tanta leitura como nos dias atuais. A rede encurtou o tempo entre o autor e o
leitor, e pode-se at mesmo dizer que desestruturou esses papis, os quais nun-
ca estiveram to ligados como agora.
cristovo tezza
Reconhecido por seu trabalho, Tezza recebeu, entre outros, o prmio Portu-
gal Telecom de Literatura e o prmio Jabuti com o romance Meu filho eterno,
que narra a histria de um pai cujo filho tem sndrome de Down. Muitos crticos
literrios comentam que se trata de uma obra autobiogrfica, que mistura rea-
lidade e fico. Todavia essa uma caracterstica da produo contempornea:
a linha entre a realidade e a fico torna-se muito tnue e escrever passa a ser
um retrato do real.
Leia um trecho do romance Meu filho eterno:
A manh mais brutal da vida dele comeou com o sono que se interrompe
chegavam os parentes. Ele est feliz, visvel, uma alegria meio dopada pela madru-
ricardo ramos
Ricardo Ramos nasceu com a literatura no san-
gue. Filho de Graciliano Ramos, formou-se em
Direito, mas logo se entregou literatura.
Segundo o prprio autor, sua obra tinha mui-
to de realidade; s havia um pouco de inveno.
Assim, o que podemos ler dele so contos e ro-
mances repletos de referncia ao cotidiano, numa
Ricardo Ramos (1929-1992) nasceu em Palmeira dos ndios,
denncia sutil daquilo que nos afoga nos afazeres Alagoas. Escritor, jornalista, professor de comunicao, seu
dirios. maior interesse estava nos contos, embora tenha escrito
Os contos do livro Circuito fechado so impor- romances, novelas, ensaios. Autor premiado, seus contos j
foram traduzidos para diversas lnguas. Entre suas publicaes,
tantes para a compreenso dessas caractersticas. destacamos Circuito fechado (contos), As frias invisveis
Leia um desses contos a seguir. (romance), Os sobreviventes (contos).
pequeno e ruivo. Chegou na casa ainda novo, com poucos dias e um nome dif-
cil. De boa raa, tinham dito, e assim fora comprado. Um cachorro para as crianas.
Passado o primeiro ms, a linhagem no se fizera. Ao contrrio, o focinho alon-
gara, o rabo se estendera, o corpo subira desengonado nas pernas altas, geis, que
trotavam por entre os mveis. Os olhos confirmavam a mistura, desvaliam o emba-
rao do princpio: eram vivos, alegres, inteligentes. Apesar do pelo avermelhado, do
peito largo, um vira-lata. Da a simpatia, talvez. Mudaram-lhe o nome.
A dona da casa, que resistira a um bicho para cuidar, sujando e criando caso com
as empregadas, que s a custo cedera no seu exerccio de atender aos filhos, logo se
lembrou do tempo de menina, de um outro cachorro, felpudo e preto, mas tambm
engraado, assim como esse.
O Toquinho mordeu um homem na rua.
As reclamaes de estilo. Como que deixam pela calada, solto, atacando quem
passa? O homem se controlava, ele o raivoso, grosso, malvestido, tropeando nas
palavras. As desculpas, de no se ouvir. Afinal o porto vazio. Mas s um intervalo,
com a radiopatrulha chegando em seguida, os guardas querendo ver o animal, a va-
cina. A dona da casa mostrou o papel, em ordem. O homem ainda aborrecido, como
que deixam, isso devia ser proibido. Ento aquilo aparecendo no jardim, mido,
bulioso, latindo esganiado. Os policiais rindo, vendo o homem to grande, o ca-
chorro to pequeno. E todos indo embora.
[]
A menina, que fizera a escolha do animal, do nome, e o considerava propriedade
sua, por isso mesmo tinha os modos imperiosos. Uma domadora. Andava pelos cin-
co anos e brincava, por vezes se surpreendendo com os movimentos do cachorro, um
grunhir, uma patada, afinal ele reagia. Feito gente, parecido. E no entanto pouco,
obedecendo quase sempre. Ela mandava, ele fazia, os dois no meio da zoada, cruzan-
do a sala e desarrumando, os gritos, os latidos, tudo misturado e treloso. A menina
treloso: estouvado,
travesso; inoportuno, passava, puxando o bicho pelas patas dianteiras, dizendo olha aqui, olha aqui, as
inconveniente. empregadas riam, a me brigava:
Deixe o Toquinho.
Ele meu.
Estou mandando.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora
O menino maior, festejado desde o chegar, punha
o cachorro para dar saltos, correr, depois o alisava sor-
rindo. Estalava os dedos. Um ia na frente, o outro seguia
atrs. Por toda a casa. O menino sentava-se para estudar,
o bicho parava ao seu lado. Cabea levantada, olhos
fixos at achar que tudo ficaria naquilo. Ento se ani-
nhava no tapete, em segurana, e dormia ressonando.
[]
O Toquinho tem medo de bomba.
Junho chegara com os fogos. Esses estouros que s
tm sentido no interior, fogueira, foguetes, as insistn-
cias de se aligeirar a cidade. Os bales subiam, vogavam
e criavam os seus pequenos incndios, muito amplia-
dos nas advertncias, nos comentrios. []
moacyr scliar
Neco Varella/Folhapress
Moacyr Scliar nasceu em 1937, no Rio Grande do Sul, e faleceu em
2011. Foi mdico, professor universitrio e membro da Academia Bra-
sileira de Letras.
Como mdico, fez uma reflexo profunda da realidade humana e
social. Em suas crnicas, romances, ensaios e fico infantojuvenil, Scliar
tratou de temas entre o fantstico e o cotidiano. Foi colaborador do
jornal Folha de S.Paulo, publicando semanalmente crnicas que, se-
gundo o prprio autor, eram desencadeadas por notcias do dia a dia.
Sua produo literria representa nos ltimos tempos o que se tem
produzido de melhor no Brasil.
Leia um de seus textos que trata do que, poca em que foi escrito,
era a grande novidade: as vendas pelo computador. Observe que, antes Moacyr Scliar em sua casa, em Porto
do texto, h uma referncia notcia que originou as reflexes do autor. Alegre, RS. Foto de 16 de setembro
de 2010.
Sof de dois lugares, seminovo: produtos como esse podem sair de sua casa e
serem vendidos com a ajuda da internet.
Folha Informtica, 23 mar. 2005.
Ele adorava o sof de dois lugares que estava no living. A mulher odiava o sof de
dois lugares que estava no living. Ele adorava o sof de dois lugares que estava no
living porque era ali que, todas as noites, se instalava para assistir TV at altas horas.
A mulher odiava o sof de dois lugares que estava no living porque era ali que, todas
as noites, o marido se instalava para assistir TV at altas horas. E, vendo TV, o
marido no queria fazer programas, no queria passear, no queria nem conversar.
Em desespero, ela ameaa vender o sof por qualquer preo.
O marido no acreditava. Porque a mulher no tinha jeito para negociar. No
sabia falar com as pessoas, no sabia apresentar seu produto. Se dependesse de sua
habilidade para a venda, o sof de dois lugares permaneceria no living por muitos e
muitos anos. De modo que ele ficou muito surpreso quando, voltando do trabalho,
no encontrou o sof. Vendi, disse a mulher, triunfante. Ele no quis acreditar, achou
que fosse brincadeira. Ela explicou: graas internet, tinha vendido a uma pessoa que
Marcos Michael/Folhapress
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de um programa de ps-graduao em Teoria
Psicanaltica. Alm de romances, escreveu livros sobre psicanlise e filosofia.
Por sua obra O silncio da chuva recebeu os prmios Nestl de Literatura e Jabuti.
Foto de 25 de junho de 2012.
Na multido
Luiz Garcia-Roza
Espinosa olhou para a mo dele e ela empunhava uma faca. Levou imediatamen-
te a mo s costas para sacar a arma, ao mesmo tempo que tentava dar um passo atrs
para evitar o golpe. A faca o atingiu do lado esquerdo do abdome, com toda a violncia.
Espinosa tinha conseguido sacar a arma e disparar, mas o tiro sara baixo, atingindo a
coxa de Hugo Breno, que caiu de joelhos no cho arenoso. Espinosa deu um passo e
desabou sobre o banco de ripas de madeira, deslizando pelo encosto curvo at tombar
de lado no assento. Hugo Breno estava sentado no cho de saibro, junto ao mesmo
banco, ainda com a faca na mo, a cala empapada de sangue. A pistola de Espinosa
cara no cho, ao alcance dos dois. Com a barra da camisa, Espinosa tentava tamponar
seu ferimento, que sangrava abundantemente. Ele estava sem ar, com a vista embaada,
e fazia um esforo enorme para no fechar os olhos. Foi quando viu Hugo Breno sen-
tado ao seu lado, uma das mos tentando deter o sangramento da perna e a outra esti-
cada para o delegado. A vista embaada no permitia que Espinosa distinguisse clara-
mente o que Hugo pretendia com seu gesto, at que percebeu que a mo estendida de
Hugo Breno segurava a pistola que ele pegara do cho.
GARCIA-ROZA, Luiz. Na multido. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Fernando bonassi
Fernando Bonassi a representao da contemporaneidade. Nascido na ci-
dade de So Paulo, o autor passeia pela produo de romances, contos, roteiros
de cinema, textos teatrais e crnicas jornalsticas.
Reconhecido a partir da dcada de 1990, sua obra tem uma caracterstica
prpria: a construo de personagens em situaes claustrofbicas, presas,
escondidas.
Relaes perigosas
Fernando Bonassi
O doutor Geraldo daqueles que sempre digita aquele abrao ao filho Eduardo,
mas tem uns dez anos que no lhe d nem a mo pessoalmente. J Eduardo, que tem
dezenove anos de idade, manda para a me, Dilma, e-mails com beijos que nunca
tem coragem, ou vontade, de dar. Dona Dilma, em pouco tempo, passou a dar beijos
pessoalmente no vizinho de porta, o Serginho, de dezoito aninhos, que este nem
sonha descrever para a namorada, Cssia, de vinte e um, que vive dizendo que no
quer compromisso, mas visita agncias de casamento na Finlndia, onde Haldor, de
vinte e trs, quer porque quer uma esposa brasileira. Haldor est entre Cssia e Selma,
que no diz a idade, viaja muito e passa o tempo lhe escrevendo que trabalha, mas
fica visitando sites de sacanagem. Sacanagem mesmo fez o chefe dela, o arquiteto
Arthur, que a pegou num blog em flagrante e deu advertncia s para manter as apa-
rncias, j que uns e outros sabem que eles se encontram muito bem um
com o outro por essas mensagens cifradas, senhas partilhadas e pedidos de
decoro, decorao ou sigilo. Marta, enciumada, trainee de rea de marketing,
at organizou um chat indignado para contarem-se esses segredos chatos.
O que nem todos sabem que nos dias de folga a prpria Marta prefere se
apresentar como Wanessa, a Devassa, despindo-se ao comentrio dos
outros numa sala de bate-papo furado com palavras safadas e gozando com
a admirao canastra de sua literatura impura. Um desses admiradores cheios
de culpa jamais ps a mo num livro que no fosse a Bblia! Diz estar ape-
nas curioso, mas pergunta como quem conhece o linguajar das respostas
Fernando Bonassi (1962), romancista, mais sujas. Trata-se do doutor Geraldo, que no s negou divrcio esposa
contista, dramaturgo, roteirista de como assegurou que vai permanecer-lhe fiel at que a morte os separe; o
cinema, transita com desenvoltura em que deu umas ideias dona Dilma e ao Serginho, que esto cada vez mais
diversos setores artsticos. Entre suas
publicaes, destacamos Violncia e apaixonados e passaram a fazer uns contatos estranhos com uns endereos
paixo. Foto de 23 de fevereiro esquisitos
de 2006. BONASSI, Fernando. Violncia e paixo. So Paulo: Scipione, 2007.
rubem braga
Nascido na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Esprito Santo,
Alexandre Sassaki/Arquivo da editora/EA
Rubem Braga (1913-1990) considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde
Machado de Assis. A marca registrada de seus textos, segundo Afrnio Coutinho, a
crnica potica, na qual alia um estilo prprio a um intenso lirismo, provocado pelos
acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela
natureza. Foto de 3 de janeiro de 1989.
Flor-de-maio
Alberto De Stefano/
Arquivo da editora
Rubem Braga
Fernando Sabino
Fernando Sabino nasceu em 1923, em Minas, e faleceu em
Flavio Ciro/Arquivo da editora
2004, no Rio de Janeiro. Como ele mesmo pediu, em seu tmulo
h a epgrafe: Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e
morreu menino.
Por influncia de Murilo Rubio, comea a trabalhar no jorna-
lismo mineiro e logo d incio s publicaes de seus contos e ro-
mances. Dono de uma fala de menino, Sabino faz um retrato da
sociedade brasileira da poca.
Leia um trecho do romance O menino no espelho, publica-
do em 1982.
Fernando Tavares Sabino escreveu romances, crnicas, contos, artigos para jornais e
revistas. O encontro marcado considerado seu romance de maior sucesso. Entre seus
romances, destacam-se: O homem nu, O menino no espelho e O grande mentecapto,
obra que recebeu o prmio Jabuti e foi adaptada para o cinema e o teatro. Foto de 1989.
Fernando Sabino
[]
Uma noite tive um sonho maravilhoso: sonhei que sabia
voar. Bastava movimentar os braos, mos abertas ao lado do
corpo fazendo crculos no ar, e eu me descolava do cho como
um passarinho, saa voando por cima das casas e pelos campos
sem fim.
Durante vrios dias aquele sonho no me saiu da cabea.
Acabei cismando que poderia torn-lo realidade. Ia para o
fundo do quintal e, longe da vista dos outros, ficava horas segui-
das ensaiando meu voo. Mexia com as mos, sem parar, como
fizera no sonho, e nada. Eu sabia que no era uma questo de
fora, mas de conseguir estabelecer, com o movimento harmonio-
so das mos, um misterioso equilbrio entre o meu peso e o peso
do ar. Como se estivesse dentro dgua e quisesse me manter
tona: qualquer gesto mais forte ou afobado e eu me afundava.
[]
SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1996.
Marina Colasanti
Nascida em 1937, na Eritreia ( poca pertencente Etipia),
Marcos de Paula/Agncia Estado
Apto 403
Marina Colasanti
patrcia melo
Uma das mais respeitadas escritoras na atualidade, Patrcia
Dalton trevisan
Conhecido como O Vampiro de Curitiba, nome de um de
seus livros, e sobretudo por ser avesso a entrevistas e fotgrafos,
Dalton Trevisan , de fato, o mais arredio dos autores contem-
porneos, tendo criado em torno de si um certo mistrio.
Ao contrrio dos demais autores atuais, sua produo baseia-
-se nos contos, gnero que atinge o ponto mximo com ele.
Os contos de Trevisan so cuidadosamente trabalhados,
em especial no que diz respeito economia, da seus textos
serem curtos e densos. Muito antes dos blogs e das redes
sociais, o autor j produzia micro-histrias, que levam os leito-
Dalton Trevisan (1925), escritor curitibano, res a profundas reflexes.
editou, na dcada de 1940, a revista
Joaquim, reunindo ensaios e poemas de
grandes nomes da crtica e da literatura
brasileira da poca. Ganhou o prmio
Jabuti com suas obras Novelas nada milton Hatoum
exemplares e Cemitrio de elefantes
(ambas publicadas pela editora Record). Nascido em Manaus, em 1952, Milton Hatoum considerado
hoje um dos maiores escritores brasileiros de sua gerao.
Henrique Manreza/Folhapress
Jos saramago
Carlos Alvarez/Getty Images
mia couto
Mia Couto nasceu em 1955, em Moambique, onde
Karime Xavier/Folhapress
Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos s as bambolento: no encontramos
registro; provavelmente uma
hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mes- variao de bamboleante (sem
tiara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam boca. Eram cores firmeza, que balana, oscila).
sujas, to sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de berma: passagem estreita.
brincriao: no encontramos
levantar asas pelo azul. Aqui, o cu se tornara impossvel. E os viventes se registro; provavelmente um
acostumaram ao cho, em resignada aprendizagem da morte. neologismo (brincadeira + criao).
A estrada que agora se abre a nossos olhos no se entrecruza com outra coxear: caminhar com dificuldade;
mancar.
nenhuma. Est mais deitada que os sculos, suportando sozinha toda a dis- embondeiro: rvore gigantesca da
tncia. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na famlia das bombacceas, muito
savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir. disseminada nas savanas africanas,
com flores brancas, s vezes com
Um velho e um mido vo seguindo a estrada. Andam bambolentos tons de lils.
como se caminhar fosse seu nico servio desde que nasceram. Vo para l
de nenhuma parte, dando o vindo por no ido, espera do adiante. Fogem
da guerra, essa guerra que contaminara toda sua terra. Vo na iluso de, mais
alm, haver um refgio tranquilo. Avanam descalos, suas vestes tm a
mesma cor do caminho.
O velho se chama Tuahir. magro, parece ter perdido toda a substn-
cia. O jovem se chama Muidinga. Caminha frente desde que sara do
campo de refugiados. Se nota nele um leve coxear, uma perna demorando
mais que o passo. Quem o recolhera fora o velho Tuahir, quando todos os
outros o haviam abandonado. O menino estava j sem estado, os ranhos
lhe saam no do nariz mas de toda a cabea. O velho teve que lhe ensinar
todos os incios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez.
Esta segunda infncia, porm, fora apressada pelos ditados da sobrevi-
vncia. Quando iniciara a viagem j ele se acostumava de cantar, dando vaga
a distradas brincriaes. No convvio com a solido, porm, o canto acabou
por migrar de si. Os dois caminheiros condiziam com a estrada, murchos e
desesperanados.
COUTO, Mia. Terra sonmbula. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
Angola, frica, aos 3 anos. Sua literatura sempre serviu na luta pela in-
dependncia do pas africano, o que o levou a ser preso inmeras vezes.
Luandino apresenta a lngua portuguesa cortada, atravessada pelo
quimbundo, a lngua do dia a dia angolano. Sua obra busca integrar uma
cultura a angolana desintegrada pela Histria.
Escreveu romances, contos, histrias infantojuvenis, novelas, poesias.
So exemplos de sua produo: Ns, os do Makulusu (romance), A cida-
de e a infncia e Luuanda (contos), A guerra dos fazedores de chuva com
os caadores de nuvens: guerra para crianas (infantojuvenil).
Luandino Vieira pseudnimo de Jos Vieira Mateus da Graa, escritor angolano nascido em
Portugal. Tornou-se cidado angolano por sua participao no movimento de libertao nacional
e escolheu o nome de Luandino em homenagem a Luanda, capital de Angola. Foto de 2007.
arreganhar: mostrar os
dentes com expresso de
Estria da galinha e do ovo
Jos Luandino Vieira
clera ou riso; irritar-se.
cabri (Angola): sem A estria da galinha e do ovo. Estes casos passaram no musseque Sambizanga,
raa determinada,
diz-se de ces e
nesta nossa terra de Luanda.
galinhas. Foi hora das quatro horas.
capoeira: gaiola Assim como, s vezes, dos lados onde o sol fimba no mar, uma pequena e gorda
grande, cesto ou
casinhola em que se
nuvem negra aparece para correr no cu azul e, na corrida, comea a ficar grande, a
criam e alojam aves estender braos para todos os lados, esses braos a ficarem outros braos e esse ainda
domsticas. outros mais finos, j no to negros, e todo esse apressado caminhar da nuvem no cu
fimba (termo do
quimbundo, lngua da
parece os ramos de muitas folhas de uma mulemba velha, com barbas e tudo, as folhas
famlia banta, falada de muitas cores, algumas secas com o colorido que o sol lhes pe e, no fim mesmo, j
em Angola): mergulho. ningum que sabe como nasceram, onde comearam, onde acabaram, onde acabam
jindungo (do
quimbundo):
essas malucas filhas da nuvem correndo sobre a cidade, largando gua pesada e quente
malagueta, espcie de que traziam, rindo compridos e tortos relmpagos, falando a voz grossa de seus troves,
pimenta. assim, nessa tarde calma, comeou a confuso.
mona (do quimbundo):
criana.
S Z da quitanda tinha visto passar nga Zefa rebocando mido Beto e avisando
monandengue (do para no adiantar falar mentira, seno ia-lhe pr mesmo jindungo na lngua. Mas o
quimbundo): menino, monandengue refilava, repetia:
garoto.
mulemba (do
Juro, sangue de Cristo! Vi-lhe bem, mam, a Cabri!
quimbundo): rvore Falava verdade como todas as vizinhas viram bem, uma gorda galinha de pequenas
frondosa. penas brancas e pretas, mirando toda a gente, desconfiada, debaixo do cesto ao contr-
musseque: bairro
pobre da periferia de
rio onde estava presa. Era essa a razo dos insultos que nga Zefa tinha posto em Bina,
Luanda, capital de chamando-lhe ladrona, feiticeira, queria lhe roubar ainda a galinha e mesmo que a
Angola. barriga da vizinha j se via com o mona l dentro, adiantaram pelejar.
ng (do quimbundo,
sem acento grfico):
Mido Xico que descobriu, andava na brincadeira com Beto, seu mais-novo, fa-
tratamento respeitoso zendo essas partidas vav Petelu tinha-lhes ensinado, de imitar as falas dos animais e
dispensado a homens e baralhar-lhes e quando vieram no quintal de mam Bina pararam admirados. A senhora
mulheres: senhor,
senhora, amo.
no tinha criao, como ouvia-se a voz dela, pi, pi, pi, chamar galinha, o barulho do
refilar: responder milho a cair no cho varrido? Mas Beto lembrou os casos j antigos, as palavras da me
grosseiramente; reagir. queixando no pai quando, sete horas, est voltar do servio:
s: mesmo que
senhor.
Rebento-lhe as fuas, Joo! Est ensinar a galinha a pr l!
vav: no encontramos Miguel Joo desculpava sempre, dizia a senhora andava assim de barriga voc sabe,
registro; provavelmente s vezes s essas manias as mulheres tm, no adianta fazer confuso, se a galinha
variao de vov.
volta sempre na nossa capoeira e os ovos voc que apanha Mas nga Zefa no ficava
satisfeita. Arreganhava o homem era um mole e jurava se a atrevida tocava na galinha
ia passar luta. []
VIEIRA, Jos Luandino. Luuanda. So Paulo: Companhia das Letras, 2006.
(UEL) Texto:
Se no havia ningum na casa, alm dele e Maria Intrigado, experimentou o
trinco: no quarto cor-de-rosa penteadeira oval.
Uma, duas, trs bonecas de luxo. E, da cama, sentadinha, sorria a gorda senhora.
Entre, seu moo.
Dois passos no reino das bonecas: ar adocicado de incenso, p de arroz, esmal-
te de unha.
parenta da Maria?
No adivinha? E sorria, faceira, lbio muito pintado. minha filha.
To jovem Bem a avozinha do Chapeuzinho Vermelho. Parece irm!
No canto do espelho alinhavam-se os gals de cinema.
Muito gentil. Voc quem ?
Amiguinho dela.
A gorda afastou o abajur, aninhada na sombra misteriosa.
Esqueceu no joelho a revista, em gesto pudico fechou o quimono encarnado.
Aceita um bombom? e retirou do lenol uma caixa dourada. Como
escondida
Lambeu o dedinho curto, a tinir o bracelete:
Segredo de ns dois!
De mim ela no vai saber e beliscava o cacho loiro da boneca.
O moo no quer sentar?
Ao v-lo correr o olho, encolheu-se no canto:
Lugar para mais um.
Respeitoso na beira da cama, apanhou a revista de fotonovela.
Os dois brigaram?
Sabe como ela .
Aborrecido virava as pginas: dedo peganhento de chocolate o olhinho gorducho.
recheado de licor! e oferecia na ponta da lngua um bocado meio derretido.
Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o prprio lobo?
Largou a revista ao p da cama voltar Maria e pedir mil perdes? Na mesinha
o retrato em moldura prateada.
Sou eu.
A menina com a cesta de amora.
J fui bonita.
Ainda retrucou alegre , ainda .
Muito srio ao dar na sombra com o olho arregalado de sapo debaixo da pedra.
Seu diabinho! agarrou-lhe o polegar na mo lambuzada e, antes de solt-lo,
um aperto e mais outro.
Nada de avozinha, mesmo o lobo. Ao mexer a cabea, girava a parede e, enxu-
gando o suor da testa, voltou-se para ela:
Tem alguma bebida?
Exibiu os dentes alvares de pouco uso:
Sou melhor que bebida.
II. Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o prprio lobo? Esta
frase corresponde a um momento em que o rapaz ratifica suas suspeitas an-
teriores quanto senhora e se sente emocionalmente fragilizado diante dela.
III. Nada de avozinha, mesmo o lobo. Esta frase corresponde a uma etapa
em que o rapaz sai de seu torpor, ressaltando que, a partir dali, ele estaria
recuperando o controle da situao.
c o m p a r a n D o t e x t o s
Leia a seguir um texto do escritor Fernando Bonassi e compare-o ao conto Tio
Galileu, de Dalton Trevisan (pgina 295).
Assistncia mdica
Fernando Bonassi
Devido ao fato de no estar aguentando mais levar teus desaforos em casa, chamei
uma dessas UTIs mveis pra te internar bem longe daqui. Eu tenho direito a quinze
minutos desse espetculo, no? Eles vo te amarrar numa maca, te entubar a seco,
espetar tua carne e sair correndo, fazendo aquele barulho de guerra pela cidade. Teu
coraozinho vaidoso vai aparecer em diversas televises que apitam de graa, lan-
ando sinais evidentes da tua maldita presuno. Tudo includo na mensalidade. J
vo chegar. No conhecem trnsito. Voc vai, finalmente, ter o caminho livre. Tuas
furiosas gripes espanholas sero cuidadas por outros trouxas profissionais. Voc vai
correr vontade. Ter viso de raio X. Dar de cara no poste.
BONASSI, Fernando. Entre vida e morte. So Paulo: FTD, 2004.
2. No excerto do texto de Manuel da Costa Pinto (pgina 294), indica-se uma carac-
terstica da prosa contempornea que podemos observar nesses dois contos.
a) Identifique essa caracterstica.
b) Aponte como cada uma das narrativas lidas expressa tal caracterstica.
... ler
Quem tem medo de vampiro?, de Dalton Trevisan, editora tica.
Livro de contos de Dalton Trevisan, que exemplificam o estilo conciso do autor e captam
aspectos profundos da alma humana.
... assistir a
ver na internet
www.releituras.com
O site oferece textos e dicas, alm de biografias de autores nacionais (e internacionais) conhe-
cidos. Acesso em: 31 jan. 2013.
portalliteral.terra.com.br
Site com notcias, matrias, crticas e comentrios sobre literatura brasileira, com links para
os sites oficiais de escritores como Luis Fernando Verissimo, Lygia Fagundes Telles, Ferreira
Gullar, Rubem Fonseca e Zuenir Ventura. Acesso em: 31 jan. 2013.
www.portaldaliteratura.com/literatura.php
Este site apresenta textos de literatura em lngua portuguesa, biografias de autores,
ttulos e editoras. Acesso em: 31 jan. 2013.
A voz de
Moambique, Um seu criado,
entrevista com o crnica do
escritor africano jornalista e
Mia Couto, comediante
revista Lngua americano Joel
Portuguesa, Stein, revista Piau,
n. 33, jul. 2008. 6 set. 2012.
Reviso e diagramao
Em uma revista, todos os textos so revisados antes de serem publicados, e
essa tarefa cabe aos revisores. Eles leem com muita ateno os textos, as legendas
das fotos, os ttulos das matrias e das sees, para detectar se no h desvios
de ortografia, de pontuao, de concordncia ou mesmo informaes equivoca-
das (datas erradas, grafia dos nomes prprios incorreta, etc.). Todos os desvios
encontrados devem ser corrigidos.
Revisem os textos de vocs. Lembrem-se de que o leitor da revista deve se
envolver com as matrias. Por isso, verifiquem na reviso se a linguagem usada
est adequada a ele. E, mesmo que esteja sendo empregada uma linguagem
informal, cuidem para que no ocorram os desvios indicados anteriormente.
Quando a revista de vocs estiver pronta, comecem a distribuio para o pblico.
Sumrio
I. Pronomes relativos 328
II. Meio advrbio/adjetivo 331
III. Uso de por que/porque 332
IV. Verbos terminados em -jar e seus cognatos 332
V. Verbos defectivos 334
I. PROnOmES RElATIVOS
Os pronomes relativos podem ser usados para substituir nomes (algo ou algum)
em uma orao, seja no singular seja no plural. Eles podem, portanto, desempenhar
diferentes funes nas oraes: sujeito, objeto direto, complemento nominal, etc.
1. Em cada item a seguir, voc deve reunir as duas oraes em uma nica frase
utilizando os pronomes relativos. Para substituir sujeito ou objeto direto, pode-
mos usar que, o qual (e suas flexes) e quem (para pessoas). Lembre-se de que
o pronome relativo deve vir logo aps seu antecedente. Exemplos:
a) Pedimos para assistir ao filme. O filme havia sido lanado no fim de semana.
sujeito
b) As folhas das rvores caem no inverno. O vento leva as folhas das rvores.
objeto direto
Muitas pessoas assistiram apenas a uma parte do filme. Elas falavam mal do filme.
objeto
indireto
Muitas pessoas assistiram apenas a uma parte do filme do qual falavam mal.
Ela queria morar em uma cidade. Na cidade haveria mais vida noturna.
adjunto adverbial
Ela queria morar em uma cidade onde (na qual/em que) houvesse mais vida
noturna.
4. Ainda reunindo duas oraes em uma nica frase, substitua os adjuntos adno-
minais. Para isso, utilize o pronome relativo cujo (e suas flexes). Esse pronome
sempre indica posse. Se houver preposio acompanhando o termo ao qual o
adjunto adnominal se refere, ela deve ser colocada antes do pronome. Exemplo:
Fazem sucesso alguns filmes. O assunto desses filmes o problema das gran-
des metrpoles. adjunto adnominal
Fazem sucesso alguns filmes cujo assunto o problema das grandes metrpoles.
Laerte/Acervo do cartunista
LAERTE.
Classificados.
So Paulo,
Devir, 2002.
Livro 2, p. 47.
a) No ttulo do texto, Por que est escrito em duas palavras. Explique esse uso.
b) No corpo do texto, no segundo perodo, porque est escrito em uma nica
palavra. Explique esse uso.
e) A safra de soja, que nem havia sido plantada no Mato Grosso, j estava mar-
cada para ser uma das mais atingidas da histria pela asitica. Ainda em
agosto, a previso foi anunciada por causa do indito volume encontrado de
plantas guaxas que traziam do ciclo anterior [...] o fungo causador da doena.
CLiMA vem ajudando em MT. Dirio de Cuiab,
edio on-line, 9 jan. 2013.
3. Escolha uma das duas formas de cada palavra e escreva-a no caderno. Em se-
guida, consulte um dicionrio e verifique se a palavra que voc escolheu a que
est grafada corretamente.
a) reivindicar ou reinvidicar? g) mortadela ou mortandela?
b) beneficente ou beneficiente? h) frustao ou frustrao?
c) cabelereiro ou cabeleireiro? i) previlgio ou privilgio?
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora
IndIcatIVo sUbjUntIVo
Eu (no flexionado) (no flexionado)
Ele abole (no flexionado)
Ns abolimos (no flexionado)
Eles abolem (no flexionado)
afeminar
brabo
berruga
cobarde
carroaria
desgelar
imundcia
louro
percentagem
quota
redemoinho
relampear
soprar
taberna
2. Observe os pares de palavras nas trs tabelas abaixo. Assim como na tabela an-
terior, todas as palavras das tabelas a seguir esto registradas nos dicionrios.
c d
tiroide tireoide
e f
caso causo
336 bIblIOGRAFIA
Lngua Portuguesa
Volume 3
AVALiAo 13
Parte geral 4
bibLiogrAfiA 14
PreSSuPoStoS tericoS 4
textoS PArA AtuALizAo tericA 15
O ensino de Lngua Portuguesa no Ensino Mdio 4
Texto 1
O ensino da leitura 4
A atividade de leitura no Ensino Mdio,
O estudo de textos literrios 4 de Angela B. Kleiman 15
O estudo da linguagem 4 Texto 2
A produo de texto 5 Como enfrentar a literatura nas sries superiores,
de Felipe Alliende e Mabel Condemarn 18
Percurso da produo textual 5
Texto 3
O projeto interdisciplinar 7
Noes de texto e lingustica de texto,
orgAnizAo e MetodoLogiA dA obrA 8 de Luiz Antnio Marcuschi 20
c
olaborar com a formao de um aluno leitor, produtor de texto e conhecedor
de muitos dos mecanismos implicados na comunicao mais eficiente nosso
objetivo.
Para alcanar tal propsito, nesta coleo para o Ensino Mdio apresentamos um con-
junto variado de gneros textuais em circulao na sociedade, bem como atividades de
leitura e escrita relevantes para a consolidao dos diversos conhecimentos adquiridos ao
longo da vida escolar.
Organizada em unidades de dois a trs captulos, a coleo prope ainda relacionar os
diversos tipos de conhecimentos implicados no estudo da lngua, de modo que cada infor-
mao seja no apenas complementar a outra, mas facilitadora da compreenso e da
apropriao do novo contedo.
Assim, o primeiro captulo de cada unidade conta com uma sequncia didtica envolven-
do a leitura e a interpretao de texto; a reflexo lingustica a partir de sentenas encon-
tradas nos textos em estudo; o trabalho com a oralidade por meio de produes que levam
em conta entonao, postura, gestos, etc. e, ainda, atividades de produo que, para alm
da simples apresentao de uma proposta de escrita, sugerem um percurso um pouco mais
longo, porm mais coerente com o objetivo de se formar bons produtores de texto. Esse
trabalho consiste em, inicialmente, destacar as caractersticas do gnero com o qual o aluno
j ter tomado contato nas atividades de leitura e de interpretao; sugerir, em seguida, a
aplicao de recursos textuais relevantes a uma comunicao mais eficiente, para s ento
apresentar uma proposta de produo de um texto completo de autoria. Tudo isso antecipan-
do o estudo dos textos literrios do(s) captulo(s) de Literatura, os quais tero atividades de
interpretao com uso de estratgias leitoras e verificao de recursos textuais j adotados nas
sequncias do captulo de Lngua e Produo de texto, que inicia cada unidade.
Os captulos de Literatura, portanto, propem um trabalho bastante sistemtico de
leitura de textos literrios objeto artstico fundamental para o exerccio da fruio esttica
e para o conhecimento da dinmica das sociedades e dos seres humanos atravs dos tempos.
Dessa forma, parte-se de uma breve contextualizao temtica para se chegar anlise do
texto propriamente, buscando-se destacar, sobretudo, seu valor artstico e no sua impor-
tncia apenas por fazer parte dessa ou daquela escola literria.
Ao longo da coleo, o aluno encontrar, ainda, propostas de trabalho que o incitem
busca de soluo para diferentes problemas, o que o levar a acionar, de maneira integrada,
diversos tipos de conhecimentos, alm de ampliar sua reflexo acerca das prprias concepes
de mundo e das concepes de mundo que orientam muitas das aes das pessoas a sua volta.
Esperamos, por meio dessa proposta de ensino, contribuir com a formao de seus
alunos e com a preparao de suas aulas, que, sabemos, precisam ser cada vez mais din-
micas e envolventes para atrair a escuta de um grupo de jovens que divide sua ateno entre
a escola, o trabalho e as diversas mdias presentes de modo to efetivo em nossa vida.
Neste manual, voc encontrar pressupostos tericos que norteiam o trabalho desenvol-
vido na coleo, uma indicao dos objetivos de cada seo do livro, comentrios que com-
plementam algumas das tarefas propostas ao longo dos captulos, alm de sugestes para um
trabalho efetivo entre as disciplinas do Ensino Mdio, partindo do ponto de vista de que o
dilogo entre os contedos ocorre pela leitura e pela produo de textos, orais e escritos.
As sugestes didticas, as propostas de entrada na leitura dos textos e as sugestes de
correo esto no prprio livro do professor.
Desejamos que nossa contribuio para a formao de seus alunos seja bastante til
para o desenvolvimento do seu trabalho.
As autoras
4 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 5
6 MAnuAL do ProfeSSor
1
GONALvES CARLOS, Jairo. Interdisciplinaridade: o que isso?, apndice da dissertao de mestrado Interdisciplinaridade no Ensino Mdio: desafios
e potencialidades, apresentada rea de Ensino de Fsica, da Universidade de Braslia, 2007, p. 163-164. Gonalves (2007), citando classificao
proposta por Eric Jantsch (1972 apud JAPIASS, 1976), descreve em sua dissertao quatro nveis de relao entre as disciplinas: multidisciplinarida-
de, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade. No apndice Interdisciplinaridade: o que isso?, Gonalves retoma as descries
e prope uma aproximao entre o conceito de interdisciplinaridade explicado por Japiass e as ideias sobre esse tema propostas nos PCN de Ensino
Mdio (BRASIL, 2002), por meio do conceito de eixo de integrao (GONALvES CARLOS, 2007, p. 163-164).
2
BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica. Parmetros Curriculares Nacionais: Ensino Mdio. Braslia: Ministrio
da Educao, 2002.
MAnuAL do ProfeSSor 7
3
Aqui se trata de alguns dos eixos cognitivos da Matriz de Referncia do Enem, a qual estabelece eixos comuns a todas as reas: o domnio das lin-
guagens; a compreenso dos fenmenos que se traduzem na construo e aplicao de conceitos de diversas reas do conhecimento; o enfrenta-
mento de situaes-problema, por meio da seleo, organizao, interpretao de dados e informaes representadas de diferentes formas; a
construo de argumentao, relacionando informaes e conhecimentos disponveis em situaes concretas; elaborao de propostas de interven-
o na realidade, tendo por base os conhecimentos desenvolvidos na escola e o respeito aos valores humanos, levando em considerao a diversi-
dade sociocultural.
8 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 9
10 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 11
Unidade de Abertura
UNIDADE DE
Linguagem e lngua
ABERTURA
Literatura: arte com palavras
Um olhar crtico
Trovas e trovadores A vida que se recria
Resenha crtica
Cordel Romance
Oraes subordinadas adjetivas
UNIDADE 1 variedades lingusticas Transitividade verbal e colocao
vanguardas europeias
Trovadorismo pronominal
Modernismo em Portugal 1-
Romantismo prosa
momento
Do amor, do nacionalismo e
A humanidade em cena Tecendo conversas
da denncia
Texto dramtico Entrevista
Letra de msica
A frase Oraes subordinadas adverbiais
UNIDADE 2 Figuras de sintaxe: paralelismo,
Linguagem oral versus lingua- Modernismo no Brasil
comparao, anfora, hiponmia e
gem escrita - 1- gerao poesia e prosa
hiperonmia
Humanismo - 2- gerao poesia
Romantismo poesia
Profuso de imagens
Pontos de vista
e significados O mundo em smbolos
Artigo de opinio
Poema Anncio publicitrio
UNIDADE 5 Concordncia verbal e nominal
Figuras de linguagem: metfora, vozes verbais
Literatura brasileira contempor-
hiprbole e anttese Simbolismo
nea poesia
Barroco
Investigar e documentar
Temas e cenas
Cincia e emoo um tema
Dissertao
O artigo jornalstico de divulga- Reportagem
Coeso por referncia
UNIDADE 6 o cientfica Perodo composto por subordi-
Progresso
Complementos verbais nao
Literatura brasileira contempor-
Arcadismo Oraes subordinadas substantivas
nea prosa
Pr-Modernismo
PROJETO
Antologia Festival de cultura e informao Revista
ANUAL
12 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 13
Contedos e O que j sei sobre o O que aprendi O que confirmei O que preciso rever
habilidades a assunto inicialmente sobre o contedo
serem trabalhados aprendido
[Informao apresenta- [Devem ser levantadas [Devem ser considerados [Devem ser acrescenta- [Devem ser consideradas
da pelo professor] informaes e conheci- os conhecimentos traba- das informaes a partir as habilidades e os con-
mentos prvios sobre os lhados a cada perodo, das avaliaes feitas por tedos que necessitam
+ contedos e habilidades de acordo com a prvia professores e colegas] ser retomados a fim de
apresentados na primei- organizao estabelecida se atingirem os objetivos
[Informaes encontra- ra coluna] entre professor e alunos] iniciais]
das nos materiais did-
ticos trabalhados; no
caso desta coleo, as
informaes do Qua-
dro de objetivos do
incio de cada unidade]
bibLiogrAfiA
ALLIENDE, Felipe; CONDEMARN, Mabel. A leitura: teoria, avaliao e desenvolvimento. 8. ed. Porto Alegre: Artmed,
2005.
COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.
FIORIN, Jos Luiz. Elementos de anlise do discurso. 13. ed. Contexto, 2005.
GONALvES CARLOS, Jairo. Interdisciplinaridade no Ensino Mdio: desafios e potencialidades. Braslia, Instituto de
Fsica, Universidade de Braslia, 2007. Dissertao de mestrado.
HADJI, Charles. Avaliao desmistificada. Traduo de Patrcia C. Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2001.
KLEIMAN, Angela B. Oficina de leitura: teoria e prtica. 14. ed. Campinas, Pontes, 2012.
MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. 4. ed. So Paulo: tica, 2003.
NBREGA, Maria Jos da. Autoria e processos de assimilao da palavra do outro. So Paulo, Faculdade de
Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, 2000. Dissertao de mestrado.
SNCHEZ, Emlio Miguel. Compreenso e redao de textos: dificuldades e ajudas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gneros orais e escritos na escola. Campinas, Mercado de Letras, 2004.
ZABALA, Antoni. Como trabalhar os contedos procedimentais em aula. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.
14 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 15
1
MARQUES, Luiz. Por que eles no conseguem ler?. In: Braudel Papers. So Paulo: Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, n. 16, 2002. p.
16-17. Disponvel em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/braudel-papers/downloads/portugues/bp31_pt.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2013.
2
Rio de Janeiro: Rocco, 1993. Traduo de Leny Werneck.
16 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 17
3
Gustavo Adolfo Bcquer (1836-1870), poeta e escritor do Romantismo espanhol.
18 MAnuAL do ProfeSSor
MAnuAL do ProfeSSor 19
4
Quanto ao problema de se considerar o texto uma unidade de anlise ou no, podem-se consultar as observaes de Anne Reboul & Jacques
Moeschler (1998). Pragmatique de discours. De linterprtation de lnonc linterprtation du discours. Paris: Armand Colin, em especial as pp. 21-27,
em que se discute que tipo de unidade o texto. Para os autores (p. 25), existem trs tipos de unidades lingusticas: (a) unidades indivisveis (por
exemplo: fonemas); (b) unidades emergentes e compostas (por exemplo: morfemas); e (c) unidades formais que emergem pelas regras (por exem-
plo: frases). O texto no nenhuma dessas e no pode ser tido como uma unidade lingustica para esses autores. Para eles (p. 26), o DISCURSO
tem caractersticas que no se explicam pelos elementos que o compem e pelas relaes entre esses elementos. A questo muito complexa e
no pode ser aqui resolvida, no entanto, num ponto os autores tm razo. No se pode dizer que o texto seja uma unidade do tipo frase ou mor-
fema, sintagma, etc. Caso fosse assim, poderamos dar-lhe uma gramtica rigorosa de boa formao, o que no possvel em hiptese alguma.
Assim, no caso do texto, estamos diante de uma unidade processual, uma unidade semntica, um evento.
5
Sugiro cuidado com o uso da expresso escrita, que aqui est sendo empregada de maneira tcnica. Refiro-me, nesse momento, aos problemas
de ordem lingustica em sentido mais restrito. H uma expresso que hoje se tornou comum e tem um uso muito mais amplo, isto , letramento.
Com a expresso letramento tm-se em mente os usos sociais da escrita numa dada sociedade. No h um letramento apenas, mas sim um contnuo
de letramentos. mais do que o simples domnio da escrita formal. No se confunde com a alfabetizao nem com o uso da escrita apenas. Na
segunda parte deste curso, teremos oportunidade de discutir alguns aspectos a esse respeito.
6
Alm desses estudos, podem-se ler, sobre as noes de LT e texto, os estudos de Leonor Fvero & Ingedore Koch (1983) Lingustica textual. So
Paulo: Cortez. Tambm o trabalho de Irand Antunes (1999) Coeso lexical. Recife: Editora da UFPE. Recentemente, saiu sobre o mesmo tema o
trabalho de Irand Antunes (2005), Lutar com palavras Coeso e coerncia. So Paulo: Parbola Editorial.
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De grande proveito nesse contexto so as observaes trazidas por Irand Antunes (2003), Aula de portugus: encontro e interao. So Paulo:
Parbola. Para a autora, toda escrita uma atividade interativa e isso implica sempre duas ou mais pessoas em interao real ou simulada.
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8
No h uma oposio dicotmica entre real e virtual, pois ambos so realidades. Cada qual a seu modo: uma a realidade virtual (realidade do
sistema) e outra a realidade concreta (realidade emprica). No h nada de paradoxal nessa formulao, pois a oposio se d entre virtual e
concreto e no entre virtual e real. O texto que voc est lendo agora, no seu monitor, acha-se num ambiente virtual, mas ele real, existe a seu
modo. Tanto assim que voc pode ler. Isto quer dizer que todo texto uma atualizao ou realizao do sistema lingustico. Por outro lado, quan-
do falamos em sistema e dizemos que ele virtual, isso no o mesmo que falar na virtualidade do texto no seu vdeo. Ou seja: quando dizemos
que um sistema um fenmeno virtual e como tal abstrato e independente das circunstncias de uso, tal como o sistema lingustico, falamos num
construto terico. Quando dizemos que o texto no seu vdeo virtual, falamos numa forma tpica de realizao que no se manifesta na concre-
tude do texto impresso e que tem vrias maneiras de ser operado, por exemplo, o hipertexto.
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9
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; DE PIETRO, J.-F.; ZAHND, G. (1998). Lexpos oral. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Pour un enseignement de Ioral: Inicia-
tion aux genres formels Icole. Paris: ESF diteur. pp. 141-162. [N.T.]
10
Jean-Franois de Pietro e Gabrielle Zahnd so membros pesquisadores e docentes do Grupo Graf, equipe de pesquisa do Departamento de Did-
tica do Francs Lngua Materna da Universidade de Genebra. [N.T.]
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As etapas da explicao se apresentam assim:
a) questo: evidente que todos os traos no podem mudar ao mesmo tempo / por qu?
b) resposta geral: porque a comunicao precisa ser preservada.
c) resposta desenvolvida (em forma de reformulao): podemos mudar um pequeno elemento / isso no muda nada na compreenso, mas se
mudamos tudo ao mesmo tempo tem uma ruptura / que preciso evitar.
d) concluso, que uma retomada de a, mas de uma forma mais geral: ento a mudana lingustica extremamente lenta / e imperceptvel.
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16
Entretanto, esse tipo de suporte nos parece mais caracterstico dos gneros assemelhados exposio, que so o discurso e a conferncia pblicos.
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Como a informao
Informao importante
Pargrafo retomada no pargrafo Recurso empregado
enunciada no pargrafo
seguinte
6o Mas no apenas na Amaznia O modelo Cingapura [...] mostra a Exemplificao de uma informao
que isso acontece. J vi conjuntos falncia de certo tipo de projeto de apresentada no pargrafo anterior.
habitacionais construdos em reas habitao social [...].
devastadas na periferia de cidades (7o pargrafo)
do Paran e de So Paulo [...].
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Disponvel em:
<www.fuvest.br/vest2006/provas/2fase/por/por2f.pdf>.
Acesso em: 22 abr. 2013. Proposta 3 Unicamp 2006
ORIENTAO GERAL: LEIA ATENTAMENTE
Proposta:
Proposta 2 Fuvest 2013 Escolha uma das trs propostas para a redao
Esta a reproduo (aqui, sem as marcas nor- (dissertao, narrao ou carta) e assinale sua
mais dos anunciantes, que foram substitudas por escolha no alto da pgina de resposta. Cada pro-
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2)
Em funo do caf, aparelharam-se portos, cria-
ram-se novos mecanismos de crdito, empregos,
revolucionaram-se os transportes. (...) Era preciso 4)
superar os inconvenientes resultantes dos caminhos O agronegcio o setor mais afetado pela pre-
precrios, das cargas em lombo de burro que enca- cariedade da infraestrutura de transporte no pas.
reciam custos e dificultavam o fluxo adequado dos Isso porque o surto de desenvolvimento das lavou-
produtos. Por volta de 1850, a economia cafeeira ras comercialmente mais rentveis se deu nas cha-
do vale do Paraba chegou ao auge. O problema do madas fronteiras agrcolas, no corao do pas, em
transporte foi em grande parte solucionado com a regies distantes da costa. Como o cultivo chegou
construo da Estrada de Ferro D. Pedro II, mais antes do asfalto, a maior parte da produo cruza
tarde denominada Central do Brasil. As maiores o pas chacoalhando em caminhes. No trajeto
iniciativas de construo de estradas de ferro decor- para a costa, nas estradas malconservadas, a trepi-
reram da necessidade de melhorar as condies de dao do veculo faz com que uma quantidade
transporte das principais mercadorias de exportao equivalente a cerca de 3% de toda a safra se extra-
para os portos mais importantes do pas. (...) O vie, calcula Paulo Tarso Resende, da Fundace. O
governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) ficou uso de hidrovias reduziria o desperdcio, mas faltam
associado instalao da indstria automobilstica, investimentos, diz ele. Perda de igual escala ocor-
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ser priorizado(s) para atender s necessida- download/comentadas/1fase.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.
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17
BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (PCN+): Linguagens, cdigos e suas tecnologias, 2007.
18
BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. Parte II: Linguagens, cdigos e suas tecnologias, 2000.
19
BRASIL. Ministrio da Educao. Matriz de referncia para o Enem, 2009.
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Entre outras ideias defendidas por Jantsch e Bianchetti (1995), destacamos a de que a interdisciplinaridade tambm pode ser exercida individual-
mente, ou seja, que apenas um professor, por exemplo, possa ministrar sua disciplina de forma interdisciplinar e, principalmente, que a aceitao e o
exerccio da interdisciplinaridade no implica na negao e/ou na anulao da disciplinaridade; antes, a interdisciplinaridade construda a partir do
conhecimento disciplinar. GONALVES CARLOS, Jairo. Interdisciplinaridade no Ensino Mdio: desafios e potencialidades. Dissertao (Mestrado em
Ensino de Fsica) Universidade de Braslia, Braslia, 2007, p. 42.
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Captulo: Lngua e produo de Arte, Educao Fsica, Histria, PCN+: informar e informar-se; argumentar
texto Geografia, Sociologia, Filosofia logicamente; manifestar preferncias; fazer uso
Produo de texto adequado de diferentes nomenclaturas; fazer
No mundo da oralidade avaliaes qualitativas em termos estticos.
p. 28 Enem: dominar diferentes linguagens;
construir argumentaes.
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Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCN+: informar-se; argumentar logicamente;
Interpretao dos textos 1 e 2 Filosofia, Informtica aceitar ou rejeitar argumentos; apontar
p. 63 contradies.
Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: investigar e compreender;
Produo de autoria Filosofia, Arte, Fsica, Qumica, contextualizar social ou historicamente os
No mundo da oralidade Biologia, Matemtica conhecimentos.
p. 85 PCN+: informar e informar-se; fazer uso
adequado de diferentes nomenclaturas, de
diferentes cdigos e de diferentes meios de
comunicao; argumentar logicamente;
apontar contradies; ser capaz de elaborar
crticas ou propostas.
Enem: dominar diferentes linguagens.
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Captulo: Literatura, parte 1 Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: comunicar e representar; investigar e
Texto e contexto Arte compreender.
Comparando textos PCN+: interpretar manifestaes culturais e
p. 104 artsticas; argumentar logicamente.
Captulo: Lngua e produo de texto Biologia, Fsica, Qumica, PCN+: informar-se; aceitar ou rejeitar
Interpretao dos textos 1 e 2 Geografia, Histria, Sociologia argumentos; compreender processos sociais;
p. 138 contextualizar social ou historicamente os
conhecimentos.
Enem: dominar diferentes linguagens.
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Captulo: Lngua e produo de texto Biologia, Fsica, Qumica, PCN+: informar-se e informar; argumentar
Produo de texto Geografia, Histria, Sociologia, logicamente; fazer uso adequado de diferentes
No mundo da oralidade Filosofia nomenclaturas e de diferentes meios de
p. 148 comunicao; equacionar e enfrentar
problemas coletivos.
Enem: diagnosticar e enfrentar problemas
reais; construir argumentaes; elaborar
proposies solidrias.
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Captulo: Lngua e produo de texto Arte, Histria, Geografia, PCNEM: contextualizar social ou
No mundo da oralidade Sociologia historicamente os conhecimentos.
p. 196 PCN+: investigar e compreender; manifestar
preferncias; comunicar-se; expressar-se.
Captulo: Literatura Arte, Informtica, Histria PCN+: representar; fazer uso adequado de
E por falar em geraes de novos diferentes cdigos e de diferentes meios de
escritores... comunicao; manifestar preferncias.
p. 221
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Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: contextualizar social ou
Interpretao dos textos 1 e 2 Filosofia historicamente os conhecimentos.
p. 229 PCN+: informar-se; aceitar ou rejeitar
argumentos; argumentar logicamente;
compreender processos sociais; diagnosticar e
enfrentar problemas pessoais e coletivos.
Captulo: Lngua e produo de Histria, Sociologia, Arte PCNEM: contextualizar social e historicamente
texto os conhecimentos.
Atividade de aplicao PCN+: informar-se; expressar-se; argumentar
p. 239 logicamente; aceitar ou rejeitar argumentos;
apontar contradies; interpretar
manifestaes culturais e artsticas.
Enem: dominar diferentes linguagens;
compreender processos sociais, naturais, culturais.
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o consumo do ch daimista para fins religiosos. Foi A psiquiatra mexicana Nora Volkow, 54 anos, uma
o primeiro de uma sucesso de erros que culminou com das mais importantes pesquisadoras sobre drogas no
a consagrao do ch como bebida sagrada, ttulo mundo. Quando, porm, o assunto so os danos neu-
concedido substncia alucingena pelo Estado bra- robiolgicos que essas substncias causam, Volkow
sileiro em janeiro passado. O advogado criminalista pode ser considerada a nmero 1. Foi a psiquiatra quem
Fernando Fragoso considera a interpretao casustica. primeiro usou a tomografia para comprovar as conse-
Uma droga no deixa de ser droga se for consumida quncias do uso de drogas no crebro e foi tambm ela
no meio de um ritual. A substncia lcita ou no , quem, nos anos 80, mostrou que, ao contrrio do que
diz. A Associao Brasileira de Psiquiatria tambm j se pensava at ento, a cocana , sim, capaz de viciar.
se manifestou contra a liberao do ch, sob o argu- Desde 2003 na direo do Instituto Nacional sobre
mento de que no existem estudos suficientes para Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow esteve
descrever em profundidade a ao no crebro da DMT no Brasil na semana passada para uma palestra na
presente na beberagem. Universidade Federal de So Paulo. Dias antes de che-
[...] gar, falou a Veja, por telefone, de seu escritrio em
Na semana passada, uma entidade da Bahia chama- Rockville, prximo a Washington.
da Associao Brasileira de Estudos Sociais do Uso de
Psicoativos entrou com uma petio no Supremo H quinze dias, um cartunista brasileiro e seu
Tribunal Federal pedindo a liberao da maconha para filho foram mortos por um jovem com sintomas de
uso teraputico e religioso. Caso a petio seja aceita, esquizofrenia e que usava constantemente maconha
so grandes as chances de outras drogas entrarem no e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um ch
rol de sagradas. Tolerncia em excesso, combinada conhecido como Santo Daime. Que efeitos essas
com negligncia na mesma medida e uma boa dose de drogas tm sobre um crebro esquizofrnico?
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Gramtica mnima para o domnio da lngua padro, de Antnio Surez Abreu. So Paulo: Ateli, 2003.
A leitura: teoria, avaliao e desenvolvimento, de Felipe Alliende e Mabel Condemarn. Porto Alegre: Artmed,
2005.
Uma gramtica de valncias para o portugus, de Francisco S. Borba. So Paulo: tica, 1996.
Cultura brasileira: temas e situaes, de Alfredo Bosi (Org.). So Paulo: tica, 2003.
Na sala de aula: caderno de anlise literria, de Antonio Candido. So Paulo: tica, 2002.
Gneros textuais e ensino, de ngela Paiva Dionisio e outros. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
Como analisar narrativas, de Cndida Vilares Gancho. 7. ed. So Paulo: tica, 2004.
Introduo semntica: brincando com a gramtica, de Rodolfo Ilari. So Paulo: Contexto, 2001.
O portugus da gente: a lngua que estudamos, a lngua que falamos, de Rodolfo Ilari e Renato Basso.
So Paulo: Contexto, 2006.
Uma histria da leitura, de Alberto Manguel. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Produo textual, anlise de gneros e compreenso, de Luiz Antnio Marcuschi. 2. ed. So Paulo: Parbola,
2008.
Da fala para a escrita: atividades de retextualizao, de Luiz Antnio Marcuschi. So Paulo: Cortez, 2001.
Gramtica de usos do portugus, de Maria Helena de Moura Neves. So Paulo: Unesp, 2000.
Que gramtica estudar na escola? Norma e uso na lngua portuguesa, de Maria Helena de Moura Neves.
So Paulo: Contexto, 2003.
Para entender o texto, de Francisco Plato Savioli e Jos L. Fiorin. So Paulo: tica, 1995.
Gneros orais e escritos na escola, de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz (Org.). Campinas: Mercado de Letras,
2004.
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