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MANUAL DO PROFESSOR

Apresentao


com muita satisfao e entusiasmo que apresentamos esta co-
leo. Ela o resultado de intensos trabalhos em sala de aula,
bem como de constantes pesquisas sobre metodologias de ensi-
no de leitura, anlise da linguagem e produo de textos. E o que isso
significa? Significa que voc encontrar aqui atividades elaboradas com
o objetivo de facilitar seu domnio de mecanismos da lngua portuguesa
necessrios boa compreenso de um texto e a uma comunicao oral e
escrita mais consciente. Portanto, o propsito das sugestes de trabalho
apresentadas que voc leia cada vez mais e melhor, escreva cada vez
mais e melhor, utilize os recursos da lngua cada vez mais e melhor.
Ao longo dos trs volumes desta coleo, voc vai ler textos de diver-
sos gneros e estudar alguns dos mecanismos lingusticos e textuais que
os organizam. Ter, ainda, a possibilidade de exercitar esse contedo e
aproveit-lo em suas prprias produes.
Perceba que nossa preocupao integrar leitura, anlise lingustica
e escrita. Isso para que cada parte do estudo faa sentido e possa am-
pliar sua competncia leitora e sua capacidade de escrever textos que
atinjam o pblico ao qual se destinam.
Considerando a importncia do interlocutor potencial dos textos,
pensamos tambm que as produes elaboradas ao trmino de cada
caracterizao de gnero textual poderiam no ficar restritas leitura
do professor, mas ser divulgadas para a comunidade escolar, ganhando,
assim, novos destinatrios. Da a proposta de um projeto anual para
cada volume, que envolver a elaborao de uma antologia no final
do primeiro ano , de um festival de cultura e informao no final
do segundo e de uma revista no final do terceiro. Em todas as si-
tuaes, parte dos textos produzidos ser resgatada e poder compor
o projeto.
Esperamos que voc goste das diferentes propostas de atividades e
que esta coleo se torne um instrumento significativo para aperfeioar
o uso de uma lngua que voc j conhece to bem.
Bom trabalho!

As autoras

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conhea 6
UNIDADE

Temas e cenas

seu livro

Rogrio Soud/Arquivo da editora


Nesta unidade, voc vai estudar o texto dissertativo e tambm
tomar contato com alguns textos em prosa, pequenos exemplos
das produes literrias brasileiras contemporneas.
Marlene Bergamo/Folhapress

< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Ler e compreender textos dissertativos.

ABertUrA de UnidAde Produzir textos dissertativos com base em temas propostos.


Elaborar perguntas e respostas sobre o tema.
Definir qual ser a tese de seu texto.
Criar um texto dissertativo com a estrutura adequada.

No incio de cada unidade, por meio de texto e imagem, Foto de 2009 que mostra detalhe da finalizao
Atender proposta de produo de um texto dissertativo.
Conceber um texto coeso, com ideias bem articuladas e con-
de um painel que integrou a exposio De dentro

voc conhecer os temas que sero estudados nos para fora, de fora para dentro, na galeria
subterrnea do Museu de Arte de So Paulo.
Artistas cobriram 1 500 metros quadrados do
local com tinta ltex e spray. A exposio levou a
cluses lgicas.
Saber argumentar.
Interpretar textos em prosa de autores contemporneos.
arte dos muros da cidade o grafite s salas

captulos. Alm disso, um quadro de objetivos do museu. Conhecer as caractersticas da prosa contempornea.

270 271

apresentado para ajud-lo a administrar seus estudos.

em todoS oS cAPtUloS
LNGUA E PRODUO DE TEXTO

A entrevista
> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Arte,
Fsica, Qumica, Biologia,
Matemtica.
Na seo Para comear so propostas
ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
atividades que ajudaro voc a ativar seu
P A R A C O M E A R
conhecimento de mundo e estabelecer a relao
Voc vai ler duas entrevistas com pessoas diferentes, cujas partes (entrevis-
tados, perguntas e respostas) foram separadas e misturadas. Sua tarefa ser
entre esse saber e os novos saberes.
relacion-las com base em elementos do prprio texto que marcam a continui-
dade do que se fala na entrevista e justificar oralmente sua resposta indicando
elementos do texto que permitem fazer a relao entre entrevistado e respecti-
vas perguntas e respostas. Para isso, consulte tambm as informaes das le- As caractersticas marcadamente modernistas na esttica literria de
gendas das imagens abaixo. Manuel Bandeira iriam aparecer em 1930 com a publicao do livro
Libertinagem. Leia o poema a seguir e compare-o, quanto ao contedo TEXTO 2
Os entrevistados e os suportes das entrevistas:
e forma, ao Madrigal melanclico.

Madrigal to
El Universal/ZumaPress/Easypix Brasil

Reproduo/Garapa - Coletivo Multimdia

Texto 1, Texto 2, Texto 3... No captulo de engraadinho

Andr Toma/Arquivo da editora


Manuel Bandeira

Lngua e produo de texto, voc vai ler


Teresa, voc a coisa mais bonita que eu
[vi at hoje na minha vida, inclusive o
[porquinho-da-ndia que me deram
[quando eu tinha seis anos.

textos dos mais diversos gneros, e no de BANDEIRA, Manuel, op. cit., p. 112.

Literatura, textos representativos das INTERPRETAO DO TEXTO


ra Abril

ra Abril

Gilles Lipovetsky, professor de Francisco Weffort,


/Edito

Filosofia e socilogo francs, cientista poltico e ex-


/Edito
duo

um dos mais importantes -ministro da Cultura do


duo

1. Que elementos presentes na forma e no contedo do poema acima revelam a


Repro

diferentes escolas literrias.


tericos da modernidade e da governo de Fernando
Repro

ps-modernidade, que foi Henrique Cardoso, prtica de uma esttica literria bem diferente da esttica do poema Madrigal
entrevistado pela revista Vida entrevistado pela revista melanclico?
Simples, em novembro de Vida Simples, em
2005. Foto de maro de novembro de 2006. Foto
2012. de maio de 2010.
2. O poema surpreendente na composio; no entanto o que, em princpio,
parece ironia se torna uma expresso de grande lirismo.
58 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS a) O que pode ter representado, para o eu lrico, ganhar um porquinho-da-ndia
aos 6 anos?
b) Nesse contexto, por que a comparao de Teresa com o porquinho-da-ndia

Na seo Interpretao do texto se torna uma linda declarao?

Para resolver as questes dessa seo, voc precisou: < Habilidades

voc encontra atividades que vo guiar e


identificar elementos formais e de contedo que aproximaram ou afas-
taram os poemas de uma tradio esttica mais acadmica;

interpretar versos dos poemas, observando sua fora lrica e elementos inu-
leitoras

sitados para a tradio potica brasileira vigente at o final dos anos 1910.

complementar sua leitura na construo dos Publicado em 1925, o livro Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, expres-
sa claramente a esttica modernista tal qual era defendida: valoriza ele-

sentidos do texto do captulo. mentos da prpria terra o Brasil ; usa o verso livre, curto; opta por
um jeito conciso e bem-humorado de relatar os fatos; revela grande li-
berdade no uso da lngua portuguesa, aproximando-a da lngua falada.
TEXTO 3

MODERNISMO NO BRASIL POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 93

CONHECIMENTOS LINGUSTICOS
Oraes subordinadas adjetivas
Para relembrar
Nos perodos compostos, as oraes que desempenham a funo de adjetivo so chamadas
adjetivas ou relativas.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) decidiu cham-las de oraes adjetivas, mas
importante sabermos que o nome oraes relativas tambm vlido, j que, em sua forma
desenvolvida, essas oraes iniciam com um pronome relativo.
As oraes adjetivas classificam-se em:
1. Restritivas limitam o significado de um termo antecedente. Por exemplo:
[...] desdobrando-se em papis mltiplos, entre eles o de uma galinha que cacareja e pe ovos.
cAPtUloS de lnGUA e
2. Explicativas ampliam o significado de um termo antecedente. Geralmente vm separa-
das por vrgula ou travesso. Por exemplo:
or. adjetiva restritiva

ProdUo de texto
A iluminao, que ressignifica objetos, um ponto alto do espetculo.
or. adjetiva explicativa
Em geral, quando seu antecedente um substantivo prprio, a orao adjetiva explicativa.
Dani Barros, que recentemente arrebatou espectadores no solo Estamira, sobressai [...].
or. adjetiva explicativa
A seo Conhecimentos P R O D U O D E T E X T O

lingusticos trabalha conceitos da


O pronome relativo que inicia a orao adjetiva se refere a um termo antecedente e faz parte
da orao subordinada. Crnica
Os pronomes relativos so: que, quem, o qual, cujo (sempre com funo adjetiva). Pode-se
A crnica um gnero hbrido, uma mistura de texto jornalstico e literrio.
empregar ainda como pronome relativo, quando se trata de espao, o advrbio onde (em vez de:
Por isso, se costuma dizer que o cronista um reprter escritor ou um escri-

lngua com base na reflexo sobre


em que, de que, no qual).
tor reprter. Assim, a crnica tanto pode ser produzida para publicao diria
As oraes adjetivas podem se apresentar na forma reduzida de gerndio, infinitivo ou parti-
ou semanal em jornais e revistas (e depois publicada em livro, numa coletnea
cpio. Note que a escolha por cada uma das possveis formas reduzidas pode enfatizar um sentido
de crnicas, por exemplo) como pode ser produzida especialmente para publi-
diferente:
cao em livro.
Newton Moreno constri uma personagem que carrega sonhos amorosos.

Newton Moreno constri uma personagem carregando sonhos amorosos.


or. adj. restritiva
os textos em estudo. O assunto das crnicas varia muito, mas, na maior parte, o autor mostra seu
ponto de vista a respeito do cotidiano (encontros, desencontros, sentimentos,
situaes embaraosas, etc.) ou reflete sobre o que acontece na poltica, nos
or. adj. reduzida de gerndio esportes, nas artes, na vida em sociedade.
Newton Moreno constri uma personagem a carregar sonhos amorosos. Textos geralmente curtos e sempre escritos em prosa, as crnicas trazem ind-
or. adj. reduzida de infinitivo cios de informalidade na escolha das palavras e das expresses, nos comentrios
Newton Moreno constri uma personagem carregada de sonhos amorosos. feitos diretamente ao leitor, como se se tratasse de uma conversa. Alis, o tom de
or. adj. reduzida de particpio conversa uma das caractersticas que permitem classificar um texto como crnica.
< Preparando Voc pode confirmar as caractersticas desse gnero relendo as crnicas es-
Releia o texto produzido analisando algumas questes: tudadas
a segunda neste captulo.
1. Releia o primeiro pargrafo do Texto 1 para resolver as questes a seguir no
A estrutura do texto est clara? verso do
caderno:
Os verbos foram empregados de maneira coerente?

Os argumentos utilizados so adequados ao pblico que leria esse tex-
texto
ATIVIDADE 1 Como compor uma crnica
Conta-se que quando os irmos Lumire mostraram pela primeira vez, em
to se ele fosse publicado?
1895, seu filme de 50 segundos, A chegada do trem na estao, o pblico temeu As crnicas apresentam um tipo caracterstico de composio. Normalmente

As palavras sugerem o que pensa o resenhista, sem o uso de expresses
que o trem sasse da tela e o atropelasse. Em A inveno de Hugo Cabret, novo elas se iniciam pela narrativa de um fato ou por uma declarao que servir de
na minha opinio ou eu acho que?
filme de Martin Scorsese, que estreia no Brasil nesta sexta (17), essa cena recria- apoio para a reflexo do autor. Note que isso se confirma no incio (ou primeiro

O texto polido, isto , respeitoso na apresentao das opinies?
pargrafo) das crnicas lidas neste captulo:
Guarde sua resenha para o projeto do fim do ano.
A RESENHA CRTICA 21
Sobre o amor, desamor O amor acaba
Chega a notcia de que um casal de estrangeiros, nosso O amor acaba. Numa esquina, por
NO MUNDO DA ORALIDAD Eest se separando. Mais um! tanta separao que um
amigo, exemplo, num domingo de lua nova,
conhecido meu, que foi outro dia a um casamento gr-fino, me depois de teatro e silncio; acaba em ca-
disse que, na hora de cumprimentar a noiva, teve a vontade fs engordurados, diferentes dos parques
Exposio e argumentao oral idiota de lhe desejar felicidades pelo seu primeiro casamento. de ouro onde comeou a pulsar [...]
sobre um objeto cultural
Narrao de um fato: separao de um casal amigo. Declarao: o amor acaba.
Muitas vezes, uma resenha crtica pode aparecer dividida em tpicos, e no
como um texto completo. Essa diviso pode ser feita para tornar a leitura mais
rpida, mais dinmica ou para chamar a ateno do leitor para diferentes aspec-

Na Produo de texto so apresentados o gnero em estudo tos de um objeto cultural.


Veja uma pgina da revista Bravo! de 2009, na qual eram avaliados, segundo
a revista, os melhores filmes em cartaz naquele ano. Quadro a quadro, os reda-
Na crnica da pgina a seguir, falta o primeiro pargrafo, que cortamos propo-
sitadamente. Leia o texto e decida se seria melhor inici-lo com a narrao de
um fato ou com uma declarao. Crie no caderno um primeiro pargrafo utili-
tores do texto apresentam motivos pelos quais os leitores deveriam assistir aos zando a estrutura estudada: tpico frasal, desenvolvimento e concluso.

e propostas de atividades de produo que vo ajudar voc a filmes selecionados. Ateno: mantenha no primeiro pargrafo as caractersticas do restante do texto,
isto , limite-se ao assunto especificado; procure usar a linguagem no mesmo
Reproduo/Revista Bravo!/Editora Abril

DERIVA grau de formalidade/informalidade; conserve o tom bem-humorado do texto.


(Brasil/EUA, 2009). 1h37. Drama.

praticar a escrita para ento produzir um texto autoral. Direo e roteiro: Heitor Dhalia.
Elenco: Dbora Bloch, Vincent Cassel, Laura Neiva (foto), Cau Reymond,
Camilla Belle.
A CRNICA 193

Enredo: Casal maduro vive os ltimos captulos de uma crise matrimonial


diante dos olhos da filha mais velha, uma adolescente que est a um passo de
iniciar-se na vida adulta e amorosa.

Fechando o primeiro captulo, a seo No mundo da Por que ver: Este primeiro filme internacional de Heitor Dhalia (de Nina e O
cheiro do ralo) teve produo cuidada e locaes em Bzios, alm de uma
premire mundial na seo Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2009.

Preste ateno: Ao ator francs Vincent Cassel (de Senhores do crime), defendendo o

oralidade apresenta o estudo de um gnero oral e uma principal papel masculino, s vezes falando um portugus bastante razovel. E tambm
norte-americana Camilla Belle (10.000 a.C.), que filha de uma brasileira.
Revista Bravo!, jul. 2009.

O que j se disse: Seguindo os passos de Fernando Meirelles, de Cidade de

proposta real de produo. Deus, Dhalia o prximo diretor brasileiro a um passo de estourar. deriva
seu carto de visita (Alex Billington, FirstShowing.Net).

A RESENHA CRTICA 33

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cAPtUloS de literAtUrA
Para entender
A G E R A O D E 1 9 4 5 O perodo literrio em destaque apresentado na
seo Para entender o..., na qual voc
A produo literria de 1945 inicia-se com a publicao de Rosa extinta, de
Domingos Carvalho da Silva, O engenheiro, de Joo Cabral de Melo Neto, Pre-
destinao, de Geraldo Vidigal, e Ode e elegia, de Ledo Ivo. Trata-se de um pe-
rodo marcado pelo fim de uma guerra mundial e pela renovao do movimen-

encontra uma breve sntese do contexto histrico


to modernista.
Os textos lidos neste captulo do uma ideia de renovao, de esprito inte-
ligente, mas, sobretudo, de preocupao com os problemas humanos. Esses
textos nos ajudam a perceber tambm que os autores da poca estavam com-
prometidos com a pesquisa e a experimentao esttica, ainda que no propu-
sessem outro movimento literrio.
A gerao de 1945 ficou marcada pelo desejo de conciliar modernidade e tradi-
o. Proclamava a arte livre, o amor pelos ideais e a necessidade de sentir e criar.
que propiciou as produes literrias estudadas.
Ao lermos, neste captulo, alguns trechos da obra de Guimares Rosa,
Joo Cabral e Clarice Lispector, autores que se debruaram sobre as tradies
locais e/ou questes do cotidiano e sobre os problemas da existncia huma-
na, temos uma ideia do que essa produo queria alcanar.
Terminada a Segunda Guerra e instaurada certa tranquilidade no cenrio mun-
dial, os artistas voltam-se para a pesquisa esttica, para o trabalho com a linguagem.
Nas artes plsticas, ganha espao a composio abstrata, que no se preocu-
Teresa Rita
pa em retratar fielmente a realidade. misturou lgrimas
Na literatura, a pesquisacomda gemidos
linguagem e entrou
li- no seu quarto batendo
Na seo Sintetizando..., voc convidado
a porta. Odos
terria torna-se o foco do trabalho Conselheiro
escritores. Jos Bonifcio
E isso limpou
ao lado das as unhas com o palito, suspirou e
produes
da dcada de 1930, voltadas

poesia) o tom da geraodo


saiu de acasa
para
tes regionais. Assim, a preocupao
O esperado
deescritrio
1945.
abotoando
denncia
comgrito
o fraque. sociais e para ques-
dos problemas
o aspecto
para o terrao.
formal
do clxon do texto
fechou o livro(prosa ou Ardel e trouxe Teresa Rita
de Henri a registrar o que aprendeu a fim de consolidar
Alguns poetas cultuam a esttica
O Lancia textual,
passouenveredando
como quem por noum caminho
quer. Quase se-parando.
A melhante
mo enluvadaao dos parnasianos; outros
cumprimentou com o se concen-
chapu Borsalino.
os conhecimentos adquiridos.
Reproduo/Coleo particular, So Paulo, SP.

tram em buscar uma linguagem mais racional,


Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a
essencial, sinttica. Destacam-se, no perodo, a
curva. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros.
obra potica de Joo Cabral de Melo Neto, Geir
Outra
Camposcurva. Sempre
e Ledo Ivo. na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade.
Pouco antes do nmero 259-C sabe: uiiiiia-uiiiiia!
Alguns contistas e romancistas buscam apro-
fundar
O quea voc est fazendo
sondagem a noenquanto
psicolgica, terrao, menina?
outros
procuram
Ento nem tomar
uma via um pouco de ar
diferenciada eu posso
para mais?
retratar
Lancia Lambda,
questes vermelhinho,
regionais. Sobressaem,resplendente,
na primeirapompeando
cor- na rua. Vestido de
Camilo, verde,
rente,
giaEntre
grudadode
o trabalho
j paraTelles.
dentro
pele, serpejando
Clarice Lispector noe oterrao.
de Ly- T E X T O E C O N T E X T O
Fagundes Naou eu falo
outra, com seuopai
evidente quando ele chegar!
mar-
coAh meu Deus, pelos
representado meu Deus,
textosque vida,Guimares
de Joo meu Deus!
Adriano O poema a seguir, escrito por Mrio de Andrade, integra o livro Pauliceia des-
Rosa e Melli
Mriopassou outras vezes ainda. Estranhou. Desapontou. Tocou para
Palmrio.
a Avenida Paulista. vairada, publicado em 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Acompanhe o
olhar do eu lrico e verifique a que elementos a cidade de So Paulo comparada.
[...]
Tringulos com movimento diagonal, de HermelindoMACHADO, Antnio Alcntara. Brs, Bexiga e Barra Funda.
Fiaminghi, 1956. Nas artes plsticas, a tendncia do perodo
So Paulo: Nova Alexandria, 1995. Paisagem n 1
Mrio de Andrade
o abstracionismo, a pesquisa esttica, como nessa obra
do pintor, fbrica
Borsalino: artista italiana
grfico,delitgrafo e publicitrio.
acessrios Henri Ardel: romancista francs, teve seus Minha Londres das neblinas finas! Passa um So Bobo, cantando, sob os pltanos,
masculinos, especialmente de chapus. romances publicados no Brasil como literatura
208 carcamano: indivduo nascido na Itlia
UNIDADE 4 DO COTIDIANO AO EXTRAORDINRIO
(usado no sentido pejorativo).
Clxon: ortografia aportuguesada de klaxon
(buzina de automvel).
para moas por volta da metade do sculo XX.
Lancia: marca italiana de automveis.
serpejar: arrastar-se como uma serpente;
mostrar-se sinuoso.
Nas sees Texto e contexto e Pleno vero. Os dez mil milhes de rosas paulistanas.
H neve de perfumes no ar.
Faz frio, muito frio
E a ironia das pernas das costureirinhas
C O
um trall A guarda-cvica! Priso!
M aP
Necessidade prisoA R A N D O
para que haja civilizao?
Meu corao sente-se muito triste
T E X T O S
A letra da msica a seguir, da banda Legio Urbana, escrita aproximadamen-
parecidas com bailarinas Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas

Sintetizando o Modernismo no Brasil poesia e prosa da primeira


gerao
Comparando textos so apresentadas O vento como uma navalha
nas mos dum espanhol. Arlequinal!
H duas horas queimou Sol.
te quarenta anos depois do poema Os ombros suportam o mundo, tambm

com
dialoga um lamento com o vento
retrata o homem e o seu lugar no mundo moderno. Leia a letra da msica
Meuateno.
corao sente-se muito alegre!
Daqui a duas horas queima Sol. Este friozinho arrebitado

novas questes de interpretao tanto de um ndios


d uma vontade de sorrir!

Andr Toma/Arquivo da editora


Copie as frases a seguir no caderno e complete-as com base no que foi estudado no captulo. Renato Russo
E sigo.
Quem
1 meE dera
vou sentindo, Quem me dera Eu quis o perigo
a) No incio do sculo XX, formava-se, na literatura brasileira, .
Ao inquieta
menos uma alacridade
vez da invernia, Ao menos uma vez E at sangrei sozinho

dos textos representativos da esttica literria


como um gosto de lgrimas na boca
Ter de volta todo o ouro Que o mais simples fosse visto Entenda!
b) Muitos dos artistas brasileiros desse perodo sofreram influncias europeias, pois . ANDRADE, Mrio de. Poesias completas.
Que entreguei a quem 35 Como
Belo Horizonte: o mais
Villa Rica, 1993.importante Assim pude trazer
5 Conseguiu me convencer Mas nos deram espelhos 50 Voc de volta pra mim
c) O ponto de encontro de todas essas ideias foi .
alacridade: grande Que era prova
1. Observe que, muitas vezes, a instabilidade dode amizade
clima se aproxima daE instabilidade
vimos um mundo doente. Quando descobri
d) O Brasil vivia .

e) So caractersticas do Modernismo brasileiro: .


estudada quanto de textos de alegria, animao
intensa.
arlequinal: adjetivo
formado a partir de
Se algum
dos sentimentos do eu lrico. Destaque os levasse
At o que eu no tinha
embora
versos que comprovam essa afirmao.

2. Uma das preocupaes dos modernistas era valorizar a liberdadeAo


Quem me dera
de menos
expresso, uma vez
Que sempre s voc
Que me entende
Do incio ao fim.
arlequim (personagem muitas vezes marcada pelo verso Quemlivre,me
pela sintaxe mais solta e,40na
dera mesma como
Entender pro- um s Deus

diferentes pocas.
da commedia dellarte,
cuja funo, quando
poro, valorizar o que era local, brasileiro.
10 Ao menos umaDevez que maneira Mrio Aode Andrade
mesmo tempo trs 55 E s voc que tem
f) so os principais escritores desse perodo, e suas caractersticas mais importantes so: .
surgiu, era divertir o se revela moderno nesse poema? Esquecer que acreditei Esse mesmo Deus A cura do meu vcio
pblico; sua roupa
Que era por brincadeira Foi morto por vocs De insistir nessa saudade
tpica era feita de 3. Consulte no vocabulrio ao lado o significado de arlequim. Seu traje, de tecidos
trapos coloridos, muitas Que se cortava sempre s maldade ento Que eu sinto
coloridos em forma de losangos, um elemento que o destaca. O termo arle-
MODERNISMO NO BRASIL POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 103 vezes em formato de Um pano de cho 45 Deixar um Deus to triste. De tudo que eu ainda no vi.
losangos). quinal, neologismo criado por Mrio de Andrade, mistura-se a sua viso da
15 De linho nobre e pura seda
invernia: tempo frio e cidade de So Paulo. Considere essas informaes e a ideia geral do poema. Que
chuvoso; inverno.

Cesar Itiber/Folhapress
pltano: um tipo de elementos do arlequim podem ser notados na paisagem da cidade e nas emoes
Quem me dera
rvore. do eu lrico? Escreva a(s) alternativa(s) correta(s) no caderno.
Ao menos uma vez
a) A diversidade de cenas pode ser comparada diversidade de losangos da
Explicar o que ningum
roupa do arlequim.
Consegue entender:
b) A variedade dos trajes de um arlequim reflete-se na variedade de climas e
20 Que o que aconteceu
sentimentos conforme as cenas observadas.
Ainda est por vir
c) O olhar frio e direto sobre a paisagem, que no nica, fragmenta-se como
E o futuro no mais
a roupa do arlequim.
Como era antigamente.
d) Reflete-se nesse traje o repdio do eu lrico a uma cidade to cheia de
contrastes.
Quem me dera
E por falar em literatura contempornea... 104 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS
25 Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Em seu artigo O direito literatura, Antonio Candido, um dos mais impor- Quase sempre se convence
tantes estudiosos da literatura brasileira, defende que sem os textos literrios Que no tem o bastante
no h civilizao. 30 Fala demais
Leia algumas frases retiradas desse artigo: Por no ter nada a dizer.

A banda Legio Urbana durante


No h povo e no h homem que possa viver sem ela (literatura), isto , apresentao na programao
sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espcie de fabulao. da MTV, em 1992.
[] ela (a literatura) no corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo
livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza
em sentido profundo, porque faz viver.
[] fru-la um direito das pessoas de qualquer sociedade, desde o ndio
Fechando o captulo de Literatura, a MODERNISMO NO BRASIL POESIA DA SEGUNDA GERAO (1930-1945) 127

seo E por falar em... apresenta


que canta as suas proezas de caa ou evoca danando a lua cheia at o mais re-
quintado erudito.
[] quanto mais igualitria for a sociedade, e quanto mais lazer proporcio-
nar, maior dever ser a difuso humanizadora das obras literrias e, portanto, a

uma proposta de reflexo ou de ao


possibilidade de contriburem para o amadurecimento de cada um.
CANDIDO, Antonio. Vrios escritos. 3. ed. rev. So Paulo: Duas Cidades, 1995.

prtica sobre os diversos temas


Como voc pde perceber, Antonio Candido acredita na literatura como
caminho no s de fruio, mas, sobretudo, de formao civil, isto , de formao
de um ser humano que se relacione com os demais por meio do respeito.

Candido acredita tambm na difuso literria e, pensando no papel da lite-


ratura e na importncia da divulgao dessa arte, propomos a voc que apre-
sente classe o livro contemporneo de que mais gosta. E se voc no tiver um
abordados.
livro, mas um texto, como um conto, uma crnica, um poema, etc., traga-o para
a classe assim mesmo. O objetivo da atividade divulgar a literatura, criar
novos leitores literrios com inteno de melhorar o convvio social.
Para ajud-lo na elaborao dessa atividade, veja o passo a passo a seguir.
No dia combinado com o professor, traga o material que voc selecionou e
apresente-o aos colegas de sala.
Para a apresentao do livro ou do texto classe, leve em conta o contexto de
produo: quem produz, para quem e com que inteno. Como voc sabe, tudo
isso resultar em como ser elaborado seu texto oral. Considere que, de acordo
com esse contexto, o ideal seja voc usar uma variedade lingustica mais formal,
que evite grias, que no brinque durante sua fala e que expresse seu texto em
tom adequado e ritmado.
PROJETO Revista
Inicie sua exposio apresentando o ttulo do livro ou do texto e o autor. Mostre
a capa e as ilustraes se forem significativas , caso seja um livro. Se for
um texto, mostre o suporte em que ele foi publicado. Em seguida, apresente
uma sntese do enredo. S no conte o final para que a classe no perca o de-
sejo de conhecer a obra.
diagramar: dispor Chegou o momento de concretizar a publicao de vocs. Planejem o aspec-
324 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS gracamente os to grfico da revista pensando no leitor a que ela se destina. Os participantes do
elementos (textos,

Projeto AnUAl
grupo com mais facilidade para desenho, artes grficas e diagramao podem
ttulos, ilustraes,
legendas, os, etc.) se encarregar da tarefa de ilustrar as pginas, distribuir os textos, criar vinhetas
que devero fazer para as sees e montar a capa.
parte de uma Anotem no caderno o que for decidido para cada questo a seguir.
publicao, Na capa da revista:
geralmente com
que tipo de letra ser utilizado?
base em uma

O Projeto, apresentado logo no incio do livro, programao visual que imagens vo ser trabalhadas?
predeterminada. quantas e quais chamadas aparecero?
No miolo (ou seja, nas pginas que compem a revista):
os textos sero digitados ou escritos mo?
os textos sero organizados em quantas colunas? Uma, duas, trs?

concretiza no final do ano a proposta de dar haver boxes para complementar reportagens e outros textos?
sero usadas s fotos ou tambm ilustraes? De que tamanho em geral?
o nome dos autores vai aparecer no incio ou no fim dos textos?

circulao social s suas produes de texto.


Nas pginas iniciais e finais:
em que parte da revista entraro os crditos (ou o expediente: o nome
das pessoas que trabalharam na revista) e o sumrio?

Criao do prottipo (ou boneco)


Prottipo ou boneco, para quem trabalha em editora e com artes grficas em
geral, uma espcie de rascunho da revista ou do livro que est sendo produzido.
Faam o boneco da revista de vocs para se ter uma ideia de qual ser seu
aspecto depois de pronta, de quantas pginas ter, etc.
Coloquem algumas folhas de papel sulfite uma em cima da outra e dobrem-
-nas ao meio. Inicia-se assim o livreto que servir de boneco.
Na capa, escrevam a lpis o ttulo, j com o tipo de letra que ele ter na revis-
ta. Em seguida, marquem nas pginas internas os espaos onde ficaro as fotos,
as ilustraes, as cartas ao/do leitor, os artigos de opinio, as crnicas, as rese-
nhas, as entrevistas e os textos dissertativos. Produzam, nessa etapa do processo,
textos de outros gneros para incrementar a publicao reportagens, tirinhas,
charges, dicas culturais, curiosidades, sinopses de filmes ou peas de teatro, etc.
(A ordem dos textos deve ser definida nesse momento.)
Observem nas revistas a seguir os diferentes tipos de diagramao de texto
e imagem. Voc e seus colegas de grupo tambm podero consultar outras p-

Ortografia e
ginas de revistas que costumam chamar a ateno de vocs para que possam
utiliz-las como modelo.

outras questes 326 PROJETO: REVISTA

cAderno de ortoGrAfiA
Sumrio
I. Pronomes relativos 328
II. Meio advrbio/adjetivo 331
O caderno Ortografia e outras
questes traz atividades de
III. Uso de por que/porque 332
IV. Verbos terminados em -jar e seus cognatos 332
V. Verbos defectivos 334

I. PRONOMES RELATIVOS reconhecimento e de aplicao de


certas regras de ortografia e de
Os pronomes relativos podem ser usados para substituir nomes (algo ou algum)
em uma orao, seja no singular seja no plural. Eles podem, portanto, desempenhar
diferentes funes nas oraes: sujeito, objeto direto, complemento nominal, etc.

1. Em cada item a seguir, voc deve reunir as duas oraes em uma nica frase
utilizando os pronomes relativos. Para substituir sujeito ou objeto direto, pode-
mos usar que, o qual (e suas flexes) e quem (para pessoas). Lembre-se de que
o pronome relativo deve vir logo aps seu antecedente. Exemplos:
acentuao para que voc as utilize
Algumas pessoas so como o camaleo. O camaleo se esconde na paisagem.
sujeito
Algumas pessoas so como o camaleo, que (o qual) se esconde na paisagem.
quando precisar.
Foi a menina. A menina disse isso.
sujeito
Foi a menina quem disse isso.

a) Pedimos para assistir ao filme. O filme havia sido lanado no fim de semana.
sujeito

b) As folhas das rvores caem no inverno. O vento leva as folhas das rvores.
objeto direto

c) O processo finalmente foi julgado. O processo estava engavetado.


sujeito

d) Cumprimentaram as cantoras. As cantoras representaram a pera Carmen.


sujeito

328 ORTOGRAFIA E OUTRAS QUESTES

Este cone indica Objetos


Educacionais Digitais relacionados
aos contedos do livro.

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Sumrio Texto 2. Madrigal to engraadinho, Manuel Bandeira 93
Texto 3. relicrio, Oswald de Andrade 94
Para entender o Modernismo em seu primeiro
Projeto reviStA momento 95
Contexto histrico e social 95
UnidAde 1 Um olhAr crtico 10 A Semana de Arte Moderna 97
lngua e produo de texto A resenha Caractersticas do Modernismo primeiro momento 97
crtica 12 Valorizao do Brasil 97
Texto 1. Em Hugo Cabret, Scorsese faz homenagem ao Inovao esttica experimentos 98
cinema, Alysson Oliveira 13 Principais autores 98
Texto 2. Com o encanto de outros tempos, Gabriela Mrio de Andrade 98
Melo 18 Oswald de Andrade 101
Conhecimentos lingusticos 21 Manuel Bandeira 102
Alcntara Machado 102
Oraes subordinadas adjetivas 21
Produo de texto Resenha crtica 28 Texto e contexto 104
No mundo da oralidade 33 Paisagem no 1, Mrio de Andrade 104
Exposio e argumentao oral sobre um objeto cultural 33 Comparando textos 105
So Paulo, So Paulo, Premeditando o Breque 105
literatura vanguardas europeias e o
E por falar em Modernismo 106
primeiro momento do modernismo em
Identidade 106
Portugal 36
Texto 1. O meu olhar, Fernando Pessoa (heternimo literatura modernismo no Brasil poesia
Alberto Caeiro) 39 da segunda gerao (1930-1945) 108
Texto 2. Segue o teu destino, Fernando Pessoa Texto 1. O sobrevivente, Carlos Drummond
(heternimo Ricardo Reis) 40 de Andrade 110
Texto 3. Chove? Nenhuma chuva cai, Fernando Texto 2. Os ombros suportam o mundo, Carlos
Pessoa (ortnimo) 42 Drummond de Andrade 112
Para entender o Modernismo portugus 43 Texto 3. Inveno de Orfeu, Jorge de Lima 115
Vanguardas europeias e o cenrio do Modernismo 43 Para entender a poesia da segunda gerao do
Expressionismo 44 Modernismo 116
Cubismo 44 Contexto histrico 116
Futurismo 44 Caractersticas da poesia da segunda gerao do
Surrealismo 45 Modernismo 117
Portugal 46 Aprofundamento das conquistas da gerao
Primeiro Modernismo em Portugal (1915-1927) 46 de 1922 117
Segundo Modernismo em Portugal (1927-1940) 46 Conquista de novas temticas 117
Caractersticas do Modernismo portugus 47 Sentimento de estar no mundo 117
Crise de valores e necessidade de provocao 47 Principais autores 118
Reconciliao de opostos 47 Carlos Drummond de Andrade 118
Principais autores 47 Ceclia Meireles 122
Fernando Pessoa 47 Jorge de Lima 124
Heteronmia 48 Murilo Mendes 124
Mrio de S-Carneiro 48 Vinicius de Moraes 125
Florbela Espanca 49 Texto e contexto 126
Texto e contexto 50 O sobrevivente, Carlos Drummond de Andrade 126
Lisbon revisited (1923), Fernando Pessoa (heternimo Cota zero, Carlos Drummond de Andrade 126
lvaro de Campos) 50 Comparando textos 127
Comparando textos 52 ndios, Renato Russo 127
Ode a Leucono, Horcio 52 E por falar em segunda gerao modernista 129
E por falar em vanguardas europeias 53 Juventude em dois tempos, Bia Abramo 130
Craftivism, Priscilla Santos 54
UnidAde 3 oUtrA voz:
UnidAde 2 tecendo converSAS 56 A voz do oUtro 132
lngua e produo de texto A entrevista 58 lngua e produo de texto A carta
Texto 1. O brasileiro tem paixo pelo luxo (Gilles argumentativa 134
Lipovetsky), Paula Rocha 60 Texto 1. Carta aberta de artistas brasileiros sobre a
Texto 2. A web ser nossa bolha, Leonardo Martins 66 devastao da Amaznia, diversos artistas 136
Conhecimentos lingusticos 69 Texto 2. Manifesto por uma poltica nacional para
Oraes subordinadas adverbiais 69 energias renovveis, diversas empresas 140
Produo de texto Entrevista o texto escrito 81 Conhecimentos lingusticos 143
No mundo da oralidade 85 Perodo composto por coordenao oraes
Entrevista ao vivo 85 coordenadas e conjunes coordenativas 143
literatura modernismo no Brasil poesia e Produo de texto Carta argumentativa 148
prosa da primeira gerao 88 No mundo da oralidade 152
Texto 1. Madrigal melanclico, Manuel Bandeira 91 Manifesto em vdeo 152

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literatura Prosa modernista gerao de UnidAde 5 PontoS de viStA 224
1930 154
Texto 1. O Quinze, II, Rachel de Queiroz 156
lngua e produo de texto o artigo de
opinio 226
Texto 2. Vidas secas, O soldado amarelo, Graciliano
Texto 1. A escolha da profisso, Tom Coelho 227
Ramos 159
Para entender a prosa da dcada de 1930 163 Texto 2. Morar, no ilhar e prender, Milton Hatoum 230
Conhecimentos lingusticos 234
Caractersticas da prosa brasileira de 1930 165
Regionalismo 165
Concordncia (nominal e verbal) 234
Casos de concordncia verbal 234
Temtica social e neorrealismo 165
Casos de concordncia nominal 237
Linguagem simples 165
Produo de texto Artigo de opinio 241
Principais autores 166
No mundo da oralidade 244
Graciliano Ramos 166
A concordncia na linguagem oral 244
Jos Lins do Rego 167
Rachel de Queiroz 167 literatura literatura brasileira
Jorge Amado 168 contempornea poesia 247
rico Verssimo 168 Texto 1. Homem comum, Ferreira Gullar 248
Texto e contexto 170 Texto 2. Torneio, Armando Freitas Filho 251
O navio, Captulo 6, Jorge Amado 170 Texto 3. Pensamento vem de fora, Arnaldo Antunes 252
So Bernardo, cap. 1 (fragmento), Graciliano Ramos 172 Para entender a literatura brasileira contempornea 253
Comparando textos 172 Contexto histrico 254
Tipos de discurso 172 Manifestaes artsticas marcantes do perodo 256
Fogo morto, Jos Lins do Rego 172 Os concretistas uma influncia duradoura 256
E por falar em regionalismo 175 Bossas, jovens guardas, tropicalismos, marginalidade 258
Variedades lingusticas 175 Caractersticas importantes 259
Vozes da denncia 259
Mltiplas tendncias 259
UnidAde 4 do cotidiAno Ao Painel de poesia 259
extrAordinrio 178 Texto e contexto 264
lngua e produo de texto A crnica 180 Marginal quem escreve margem, Paulo Leminski 264
Texto 1. Sobre o amor, desamor, Rubem Braga 181 Luxo/Lixo, Augusto de Campos 265
Texto 2. O amor acaba, Paulo Mendes Campos 183 O dia abriu seu parassol bordado, Mrio Quintana 265
Conhecimentos lingusticos 185 Comparando textos 266
Pargrafo 185 , Gonzaguinha 266
Pontuao: travesso, ponto e vrgula, parnteses e E por falar em poesia contempornea 267
reticncias 185 Outros poetas da nova gerao 267
Produo de texto Crnica 193
No mundo da oralidade 196 UnidAde 6 temAS e cenAS 270
Seminrio 196 lngua e produo de texto
A organizao do texto do seminrio 196
o texto dissertativo 272
A linguagem oral 197
Texto 1. Divina ddiva, redao 273
literatura Gerao de 1945 poesia e Produo de texto O texto dissertativo 277
prosa 199 No mundo da oralidade 291
Texto 1. Morte e vida severina, Joo Cabral de Exposio oral: dicas para uma boa dissertao 291
Melo Neto 200 literatura literatura brasileira
Texto 2. Grande serto: veredas, Joo Guimares Rosa 203 contempornea prosa 294
Texto 3. Uma histria de tanto amor, Clarice Lispector 205 Texto 1. Tio Galileu, Dalton Trevisan 295
Para entender a gerao de 1945 208 Texto 2. Varandas da Eva, Milton Hatoum 298
Contexto histrico 209 Para entender a prosa brasileira contempornea 303
Caractersticas da literatura da gerao de 1945 211 Caractersticas da prosa contempornea 303
Exatido na forma e na palavra sugestiva 211 O imprio das narrativas curtas 303
Participao social 211 Crnicas e contos reflexos de nossos tempos 304
Interesse por exploraes 211 Romance o eterno gnero 304
Principais autores 212 Autores da prosa contempornea em lngua portuguesa 304
Joo Cabral de Melo Neto 212 Texto e contexto 321
Guimares Rosa 214 Chapeuzinho vermelho, Dalton Trevisan 321
Clarice Lispector 215 Comparando textos 323
Texto e contexto 218 Assistncia mdica, Fernando Bonassi 323
Os cimos (fragmento), de Guimares Rosa 218 E por falar em literatura contempornea 324
A hora da estrela (fragmento), Clarice Lispector 218 Literatura como formadora do ser humano 324
Comparando textos 219
A triste partida, Patativa do Assar 220 Projeto reviStA 326
E por falar em geraes de novos escritores 221 ortoGrAfiA e oUtrAS qUeSteS 328
Painel: poetas que formam a gerao de 2010 221 BiBlioGrAfiA 336

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projeto revista

Ao longo deste ano, voc e seus colegas vo criar uma revista em que sero publicados os textos
produzidos: resenha (Unidade 1), entrevista (Unidade 2), carta argumentativa (Unidade 3), crnica
(Unidade 4), artigo de opinio (Unidade 5) e texto dissertativo (Unidade 6). Outros textos estudados
nos anos anteriores tambm podero entrar, se quiserem, mas primeiro preciso definir uma srie de
questes gerais sobre a publicao que vocs produziro.
Forme um grupo com alguns colegas e comecem a discutir que revista ser essa. Decidam com o
professor quantos grupos podero ser organizados e, portanto, quantas revistas sero feitas.

o projeto editorial
Com a equipe reunida, decidam qual ser o pblico-alvo da revista, que sees essa publicao vai
apresentar, de que contedos vai tratar e se a linguagem ser mais formal ou mais informal.
Propomos a seguir um pequeno roteiro que pode ajud-los a definir a publicao a ser criada e o
projeto editorial adequado para ela. Registrem suas decises no caderno. Lembrem-se de que prova-
velmente j h revistas destinadas ao mesmo pblico escolhido por vocs, por isso analisem vrias re-
vistas voltadas ao pblico selecionado para ter uma ideia de como so essas publicaes.

o roteiro
Que tipo de revista vocs querem editar? Quem sero os leitores?
A escolha do tipo de revista est ligada escolha do pblico-alvo. Qual esse pblico a quem vai
interessar a revista? Os colegas das outras turmas? Colegas de outro ano da escola? S os garotos? S
as garotas? Seus pais e familiares?
tora Trs

Reproduo/Editora Abril
Reproduo/Editora Globo

nto
Abril

ditora Segme
uo/Edi
o/Editora

Reprod

Reproduo/E
Reprodu

ento

itora Abril
Segmento
Reproduo/Fundao Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro

Reproduo/Editora Abril
Segm

Reproduo/Ed
Reproduo/Editora

o/Editora
Reprodu

Veja aqui algumas capas de revistas destinadas a diferentes leitores. A revista de vocs tem algo a ver com alguma delas?
Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Capricho, 14 fev. 2010; Galileu, fev. 2013; Isto, 13 jan. 2010; Superinteressante,
mar. 2010; Metfora, nov. 2012; Revista de Histria da Biblioteca Nacional, abr. 2010; Lngua Portuguesa, dez. 2012; Quatro Rodas,
jan. 2010; Educao, mar. 2010; Gadgets Info, fev. 2010.

8 projeto: revista

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Que assuntos, em geral, a revista pretende abordar?
Agora que vocs definiram de que tipo ser a revista e qual seu pblico-alvo, decidam os assuntos
a serem tratados nela. A maneira mais eficiente de descobrir os assuntos preferidos do pblico a que
ela se destina fazendo uma pesquisa.
Organizem um questionrio como o do modelo
sugerido a seguir e apliquem-no com os colegas da Modelo para questionrio de pesquisa
escola. Depois de entrevistarem as pessoas, renam- 1. O que voc costuma fazer nas horas vagas?
-se novamente e verifiquem se o que haviam plane- 2. Alm da escola, que lugares voc frequenta?
jado trabalhar na revista parece realmente interes- 3. O que voc gosta de ler?
sar a esse pblico e se vale a pena mudar alguma
4. Voc costuma ler revistas? Por qu?
seo ou algum tipo de enfoque.
5. Se voc l revistas, que tipo prefere?
Na medida do possvel, criem uma revista ino-
vadora, que traga informaes diferenciadas e vol- De moda?
tadas s expectativas do pblico-alvo, que apresente De esporte?
diversos movimentos culturais, trate do comporta- De assuntos gerais?
mento juvenil em suas vrias manifestaes, reflita De educao?
sobre o impacto da poltica e da economia na vida De msica?
dos jovens, etc.
De cincias?
Sugerimos que, definido o pblico da revista que
De informaes histricas?
vocs produziro, o grupo selecione pelo menos dez
participantes desse conjunto de pessoas e pea a eles De cinema?
que respondam ao questionrio. Fiquem vontade De informtica?
para adaptar as perguntas ou criar outras de acor- Outra? Cite qual: .
do com o que considerarem mais importante , a fim 6. Que tipo de assunto voc gostaria que uma
de descobrir do que as pessoas entrevistadas gostam revista abordasse?
e, assim, o que a revista precisa contemplar.
Qual ser o nome da revista?
O nome da revista deve refletir o tipo de assunto sobre o qual ela trata, seus leitores, sua linguagem, etc.
Alm disso, precisa ser atraente e original para despertar no leitor o desejo de folhe-la, de ler suas matrias.
Que sees a revista ter?
Este ano vocs vo estudar e produzir artigos de opinio, crnicas, resenhas, cartas argumentativas,
textos dissertativos e entrevistas. Portanto, a revista obrigatoriamente dever ter uma seo para cada
um desses gneros.
Para tornar a publicao bem atraente, no entanto, interessante criar sees de outros gneros tex-
tuais, como quadrinhos, curiosidades, dicas culturais, letras de msica, poemas, reportagens, etc. Nesse
caso, vocs tero de elaborar esses textos especialmente para a revista ou reaproveit-los, fazendo as adap-
taes necessrias, de produes realizadas em outros anos ou em atividades de outras disciplinas.
Como a revista chegar at o pblico?
Pensem em como ser a distribuio da revista, quantas sero produzidas e de que maneira a reprodu-
o ser feita. Se a revista for feita pelo computador, possvel pensar em formas de publicao na internet.

projeto: revista 9

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1
UNIDADE

Um olhar crtico

Nesta unidade, voc vai conhecer o gnero resenha crtica e o


perodo literrio marcado pelas inovaes artsticas das vanguardas
europeias. Ver que o olhar crtico sobre o que h no mundo carac-
terizar o estudo dos dois captulos.

lbum/akg-images/Latinstock

Trois femmes, de Pablo Picasso, 1908. leo sobre tela. Museu Hermitage, So
Petersburgo, Rssia. Nessa tela, Picasso retrata a figura feminina de maneira
inusitada. As formas naturalmente arredondadas do lugar a figuras geomtricas
perfeitamente trabalhadas. Nos quadros de Picasso dessa poca, como em outros
artistas cubistas, h forte influncia da escultura africana.

10

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Rogrio Soud/Arquivo da editora
< Quadro de
objetivos
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em
relao aos seguintes objetivos:
Identificar informaes que, em geral, aparecem em resenhas
crticas publicadas em jornais ou revistas, destacando o pon-
to de vista adotado pelo redator para a avaliao da obra,
bem como os exemplos que reforam sua crtica.
Verificar se a crtica favorvel ou desfavorvel ao objeto
resenhado e quais so os recursos utilizados nessa avaliao.
Conhecer os valores semnticos advindos da diferena entre
as oraes subordinadas adjetivas explicativas e as oraes
subordinadas adjetivas restritivas.
Refletir sobre algumas formas de utilizao dos verbos que
apresentam e avaliam a obra resenhada.
Usar recursos para expor a avaliao de um objeto.
Produzir uma resenha crtica mobilizando os recursos estu-
dados ao longo do captulo.
Preparar uma exposio oral.
Reconhecer as vanguardas europeias e o primeiro momento
do Modernismo em Portugal.
Relacionar a esttica literria do primeiro momento do Mo-
dernismo em Portugal ao contexto social e histrico em que
ela se desenvolve.

11

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LNgUA E pRODUO DE TExTO
> Interdisciplinaridade com:
Todas as disciplinas. A resenha crtica

p A R A C O M E A R
Leia, a seguir, um trecho de matria sobre uma enquete divulgada pela
Revista Bula, publicao eletrnica de jornalismo cultural.
Aps a leitura do texto, resolva as atividades propostas.

Os dez maiores filmes de todos os tempos


Pedimos a dez convidados, dos mais dspares perfis (em comum apenas o fato de
todos serem aficionados por cinema), para que apontassem os dez grandes filmes de
todos os tempos. Como toda lista, essa tambm provocar questionamentos sobre o
resultado. Primeiro, pela subjetividade da pergunta: Quais soos dez grandesfilmes
de todos os tempos?. Como definir o que maior, se o critrio de avaliao pessoal,
sendo altamente varivel de acordo com preferncias individuais, em que o gostopesa
mais do que um suposto valor objetivo ou crtico de cada um dos dez escolhidos?
Entretanto, a pergunta foi respondida. Se o resultado no chega a ser surpreendente,
de certa forma, tambm foge um pouco do comum. Alguns filmes-marcos,
comoCidado Kane,CasablancaeA regra do jogo, no aparecem na lista.
Os dez maiores filmes de todos os tempos. Revista Bula: Literatura e Jornalismo Cultural. Copyright 2013.
Disponvel em: <www.revistabula.com/posts/filmes/os-dez-maiores-filmes-de-todos-os-tempos>.
Acesso em: 11 jan. 2013.

No texto, o redator comenta o peso do gosto pessoal na escolha feita pelos


convidados e o resultado, um tanto inesperado, a que se chegou.
Leia agora as listas elaboradas por trs dos dez convidados da Revista Bula e
confira suas preferncias.

Bruna Oliveira - Produtora cultural Flvio Paranhos - Mdico e escritor Tacilda Aquino - Jornalista
Amarcord Federico Fellini Dodeskaden Akira Kurosawa A cor prpura Steven Spielberg
1900 Bernardo Bertolucci Crimes e pecados Woody Allen Fahrenheit 451 Franois Truffaut
A doce vida Federico Fellini O anjo exterminador Luis Adeus, meninos Louis Malle
Um estranho no ninho Milos Buuel Macunama Joaquim Pedro de
Forman Sacrifcio Tarkovski Andrade
Laranja mecnica Stanley Kubrick O stimo selo Ingmar Bergman 1900 Bernardo Bertolucci
O desprezo Jean-Luc Godard Short cuts Robert Altman Fanny e Alexander Ingmar Bergman
Short cuts Robert Altman Laranja mecnica Stanley Kubrick A garota do adeus Herbert Ross
Amor flor da pele Wong Kar Wai Pulp fiction Quentin Tarantino Mona Lisa Neil Jordan
Trainspotting Danny Boyle Amor flor da pele Wong Kar Wai Eu te amo Arnaldo Jabor
Tomates verdes fritos Jon Avnet A doce vida Federico Fellini Bye Bye Brasil Cac Diegues
Idem. Ibdem.

12 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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No final da enquete, o filme Laranja mecnica foi o mais votado, com oito
indicaes, e o filme O poderoso chefo ficou em segundo lugar, com cinco in-
dicaes dos convidados.
Voc conhece algum dos filmes apontados entre os maiores de todos os
tempos pelos convidados da revista?

1. Converse com seus colegas para responder s questes a seguir. Alguns filmes Ateno: No escreva
No livro. Faa as
aparecem em pelo menos duas das trs listas, ainda que em posies diferentes atividades No caderNo.
no ranking.
O que justificaria essas diferentes posies de um mesmo filme? E o que levaria
as trs listas a serem diferentes?

2. Faa um levantamento dos melhores filmes a que voc assistiu nos ltimos anos.
Em seguida, coloque-os em ordem de importncia no caderno. Eleja para voc
mesmo os critrios de avaliao e monte sua lista com os dez melhores.
Depois que a lista estiver pronta verifique se sua avaliao est baseada em:
critrios objetivos: como qualidade tcnica do filme (fotografia, som, figu-
rino), originalidade do roteiro (sequncias criativas, inesperadas), atuao dos
atores, etc.;
critrios subjetivos: se voc apenas gosta do filme sem saber muito bem
quais so as qualidades que o agradam (o filme o emociona, o faz rir, cria
certo suspense que no o deixa pensar em mais nada, etc.).
Compare sua lista com a de outros colegas de classe, compartilhando com eles
seus critrios e verificando se h escolhas comuns.

Apresentamos, a seguir, um exemplo do gnero de texto prprio para


comentar um objeto cultural: a resenha crtica. Com base na leitura des-
se texto, o leitor pode se informar e decidir se deseja ou no conhecer o TExTO 1
objeto, reforar a opinio que tem sobre ele ou aproveitar os argumentos
apresentados no texto para rever seus critrios de apreciao.

Em Hugo Cabret, Scorsese faz


homenagem ao cinema
Filme lidera indicaes ao Oscar 2012, concorrendo em
11 categorias. Diretor usa a mais avanada tecnologia
para contar histria retr.
Alysson Oliveira

Conta-se que quando os irmos Lumire mostraram pela primeira


vez, em 1895, seu filme de 50 segundos, A chegada do trem na estao, o
pblico temeu que o trem sasse da tela e o atropelasse. Em A inveno de
Hugo Cabret, novo filme de Martin Scorsese, que estreia no Brasil nesta
sexta (17), essa cena recriada. improvvel que, nos dias de hoje,
algum se assuste com ela. Mas h outra no longa que pode causar algum
A RESENHA CRTICA 13

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susto, quando um trem descarrilado parece realmente avanar para fora
da tela. Um susto causado especialmente pela qualidade do 3D e pela
incrvel capacidade de seduo do longa.
A inveno de Hugo Cabret um filme infantil o que acontece pela
primeira vez na carreira de Scorsese mas no necessariamente apenas
para o pblico infantil. , acima de tudo, a obra de um cineasta
completamente apaixonado pelo cinema, que v nele o combustvel para
sua vida. O longa foi campeo de indicaes ao Oscar, com 11 entre
elas, melhor filme, diretor, roteiro adaptado e fotografia. Estreia nos
formatos 3D e convencional ambos em verses dubladas e legendadas.
Scorsese usa o mximo da tecnologia que o cinema oferece atualmente
para contar uma histria com ar retr, sobre um perodo de quase um
sculo atrs, os anos 1930, e falar dos primrdios do cinema entre
outras coisas. O roteiro, assinado por John Logan (O aviador), adapta o
magnfico livro infantil de Brian Selznick, que j era uma homenagem ao
cinema no s pelo tema como por suas ilustraes. Tambm assinadas
por Selznick, elas mais parecem um story board cinematogrfico,
mostrando detalhes e recortes entre planos de imagens.
Na histria do pequeno Hugo (Asa Butterfield, de O menino do
pijama listrado),h muito em comum com a infncia do prprio
Scorsese,que descobriu a paixo pelo cinema quando ainda criana. Mas
tambm h algo que ressoa no Scorsese de hoje, que alm de cineasta
um dos profissionais mais empenhados na restaurao, preservao e
difuso de filmes antigos. No por acaso, o livro de Selznick tocou fundo
no diretor de Taxi driver. Com A inveno de Hugo Cabret, ele realiza um
filme que, ao mesmo tempo, a soma de tudo que fez e aponta novos
caminhos, no s para o seu cinema, mas para a arte como um todo.
NG Collection/Interfoto/Latinstock

Na foto, os atores Asa Butterfield e Chlo Grace Moretz nos papis de Hugo Cabret e Isabelle, 2011.

14 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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H algo de Charles Dickens na trajetria do pequeno rfo que, desde a
morte do pai (Jude Law), vive escondido numa grande estao de trem em
Paris, onde seria criado pelo tio beberro (Ray Winstone), que desapareceu.
Para no ser descoberto e mandado para um orfanato, o garoto executa
secretamente o trabalho do tio: dar corda em todos os relgios da estao
todos os dias. Seu maior inimigo o Agente (Sacha Baron Cohen),
obcecado por manter a ordem no local, que, ferido na guerra, manca de
uma perna e sempre circula acompanhado de um feroz dobermann.
A vida de Hugo pautada por mquinas e mecanismos. A nica
lembrana que o garoto guarda do pai um boneco autmato, que foi
salvo do esquecimento no poro de um museu em que ele trabalhava,
antes de morrer no incndio que destruiu o local. O menino tem certeza
de que o boneco capaz de escrever algo, uma mensagem deixada por seu
pai. Mas, para tanto, precisa terminar o seu conserto. Faltam-lhe peas, e
essas so supridas por meio de pequenos furtos da loja de brinquedos
dentro da estao, de propriedade de um velho ranzinza, conhecido como
Papa Georges (Ben Kingsley).
A amizade entre Hugo e a filha adotiva de Papa Georges e Mama
Jeanne (Helen McCrory), Isabelle (Chlo Grace Moretz, de Deixe-me
entrar), poder ajudar no apenas o garoto a trazer o autmato de volta
vida e assim descobrir a mensagem secreta de seu pai como tambm
resgatar o passado de Georges. Essa trama remeter A inveno de Hugo
Cabret aos primeiros tempos do cinema, quando era pura diverso, algo
pueril cujo conceito de arte ainda estava sendo descoberto. Ao menos at
a chegada de Georges Mlis, que soube aprimorar o invento dos irmos
Lumire, adicionando-lhe elementos de fantasia e produzindo verdadeiras
obras-primas.

Nostalgia
Um dos momentos cinematogrficos mais famosos criados pelo francs
o olho da Lua atingido por um foguete. Essa imagem aparece em
A inveno de Hugo Cabret e vem repleta de significados especialmente
nostalgia. Nutrindo essa sensao de sentir falta daquilo que no vivemos,
Scorsese nos leva por um passeio pelos filmes antigos. Quando Hugo e
Isabelle folheiam um livro de histria do cinema, as figuras que eles veem se
materializam na tela na forma de antigos filmes mudos.
Ao mostrar o comeo do cinema, Scorsese tambm desmistifica a arte,
mostra que tudo desde Mlis at hoje no passa de truques, jogos de
espelhos para contar uma histria. A fotografia assinada por Robert
Richardson (Ilha do medo) , no entanto, no faz do 3D um mero
artifcio. O efeito serve para ampliar o campo de viso e produzir uma
imerso na narrativa. Poucos filmes foram capazes de usar o 3D com
A RESENHA CRTICA 15

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tanta propriedade. James Cameron em Avatar criou um novo mundo por
meio de efeitos grficos. Aqui, Scorsese e Richardson reinventam o nosso
mundo real. E, no por acaso, h um clima artificial semelhante a
ilustraes de livros infantis nos cenrios, na direo de arte, tudo isso
para remeter s criaes do prprio Mlis.
Quando, numa das primeiras cenas, Hugo v a cidade enquadrada
por uma abertura no mostrador de um relgio da estao, impossvel
no pensar em Scorsese, menino asmtico e solitrio, vendo a vida passar
diante da janela de sua casa, de onde ele observava o mundo e sonhava
participar da vida. O triunfo da imaginao de Scorsese, de Mlis, de
Hugo o antdoto solido e mesmice. Como diz o personagem de
Humphrey Bogart em O falco malts (1941), esse o material de que os
sonhos so feitos.
OLIveIrA, Alysson. Disponvel em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/02/
estreia-em-hugo-cabret-scorsese-faz-homenagem-ao-cinema.html>.
Acesso em: 18 out. 2012.

INTERpRETAO DO TExTO
1. Ao longo da resenha, encontramos diversas informaes sobre a obra resenha-
da, a produo cinematogrfica norte-americana A inveno de Hugo Cabret.
Todas elas colaboram para a argumentao do redator, que, aos poucos, vai
tornando clara sua opinio sobre o filme. Entre essas informaes, h algumas
que, em geral, aparecem em todas as resenhas, ou seja, so dados que carac-
terizam o gnero resenha crtica:
resumo da obra;
referncia a prmios;
referncia a seu diretor, autor, roteirista, atores e outras obras dessas pes-
soas que sejam reconhecidas, caso as tenha;
citao de aspectos tcnicos que justifiquem a avaliao do redator.
Reproduo/Brian Selznick/Edies SM
a) Copie do texto trechos de cada um desses elementos.
b) Sublinhe no caderno as referncias a esses trechos que indicarem
algum tipo de avaliao do resenhista.

2. O redator, a fim de tornar claro o ponto de vista adotado para apre-


sentar sua avaliao da obra, pode eleger um ou alguns dos aspec-
tos apontados na questo 1. Colaboram para a identificao desse
vis a leitura do ttulo, do subttulo e a organizao geral do texto:
ordem de apresentao das informaes, dos contedos mais re-
correntes, etc.
Releia o ttulo, o subttulo e o primeiro pargrafo do texto; identifique
Ilustrao do livro A inveno de Hugo
e escreva no caderno qual elemento do filme o redator da resenha
Cabret, de Brian Selznick, editora SM. escolheu como destaque.

16 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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3. Escreva no caderno de que modo o elemento que se destaca no texto, conforme
voc observou na questo anterior, recuperado ao longo da resenha na referncia:
a) ao diretor do filme;
b) a aspectos tcnicos do filme;
c) ao livro no qual o filme est baseado.

4. Ao expor as mais diferentes informaes sobre o filme, o redator da resenha vai


revelando sua opinio sobre a obra.
a) A crtica favorvel ou desfavorvel ao filme?
b) Recupere do texto e copie no caderno expresses e frases que justifiquem
sua resposta ao item anterior.

O texto da resenha faz referncia

IML/SPL/Latinstock
a importantes cones do cinema: os ir-
mos Lumire, considerados os inven-
tores do cinematgrafo (o qual teria
sido inventado, na realidade, por Lon
Bouly trs anos antes de os irmos
Lumire registrarem a patente) e os
pais do cinema; George Mlis, que,
como a prpria resenha informa, foi o
cineasta que aprimorou o invento dos
irmos Lumire, adicionando-lhe ele-
mentos de fantasia; e o prprio diretor
do filme analisado, Martin Scorsese,
um dos mais aclamados diretores da
atualidade.
Observe que essas informaes co-
laboram para o reconhecimento do fil-
me como uma obra que destaca o valor
Gravura antiga de homem operando um cinematgrafo, invento
do cinema. patenteado pelos irmos Lumire em 1895.

5. Ao ler a resenha, descobrimos que o filme A inveno de Hugo Cabret a adap-


tao de um livro infantil de Brian Selznick. Em um livro, a histria contada
principalmente por meio da linguagem verbal (o texto escrito) e, muitas vezes,
tambm com o uso da linguagem no verbal (ilustraes ou fotos). No cinema,
a linguagem verbal tambm aparece (falas de personagem, do narrador, uma
palavra lida numa placa ou uma frase num bilhete), mas a linguagem no
verbal que caracteriza a linguagem do cinema: imagens em movimento, quan-
tidade de luz na cena, foco da cmera no rosto dos atores, efeitos 3D, msicas,
efeitos sonoros, etc.
a) Voc conhece algum filme que tambm seja a adaptao de um livro que
voc j leu? Caso no conhea, converse com seus colegas e professor sobre
filmes que sejam adaptaes de obras literrias.
b) Se conhecer, responda: o que voc achou da adaptao da linguagem lite-
rria para a linguagem do cinema? Ficou adequada, est fiel ao livro, apre-
senta ideias criativas?

A RESENHA CRTICA 17

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Habilidades >
leitoras Para resolver as questes dessa seo, voc precisou:

identificar no texto as informaes que, em geral, aparecem nas resenhas
crticas publicadas em jornais ou revistas;

em meio a essas informaes, identificar aquelas que o redator usou
para avaliar o objeto da resenha;

reconhecer o ponto de vista adotado para a avaliao da obra e os
exemplos que reforam sua crtica;

verificar se a crtica ao filme favorvel ou desfavorvel;

determinar alguns dos recursos lingusticos responsveis pela ampliao
(explicao) de uma ideia ou pelo acrscimo de um comentrio.

A seguir voc ler a resenha crtica de outro produto cultural: a pea


de teatro. Na leitura do texto, observe a importncia de se referir a ele-
TExTO 2 mentos gerais que so prprios desse tipo de arte (como o desempenho
dos atores e a composio do cenrio) ao mesmo tempo em que se des-
tacam particularidades da pea.

Com o encanto de outros


tempos
Comovente e divertida, a pea Maria do Carit se destaca na cena
teatral brasileira ao propor uma leitura contempornea das tradies
populares, com atuaes memorveis
Gabriela Melo
1 Estar no carit uma expresso conhecida no Nordeste. Significa
ficar para titia. A personagem-ttulo de Maria do Carit, pea de Newton
Moreno escrita para Llia Cabral, uma virgem fogosa de quase 50 anos,
com fama de milagreira. Prometida em casamento para um santo, faz o
que pode para sentir os prazeres da carne ainda nesta vida. Suas variadas
rezas e simpatias para arrumar marido so infrutferas, mas isso no
compromete sua f no amor.
antagnico: contrrio. 2 Servindo-se de arqutipos femininos antagnicos, Newton Moreno
arqutipo: modelo ou
padro que pode ser constri uma personagem rara. Sua Maria do Carit to sacra quanto
reproduzido.
arrebatar: provocar
profana, to sria e determinada quanto palhaa. Llia baila com graa entre
reaes emocionadas. esses extremos. Auxiliada pelo encantamento do texto potico, que se vale
profana: que no
pertence ao campo do da musicalidade do sotaque nordestino, a atriz expe seu talento de um
sagrado. modo nunca antes visto em sua carreira, seja na televiso, seja no teatro.
3 A qualidade da interpretao de seus companheiros de palco ilumina
os papis secundrios da trama. Dani Barros, que recentemente arrebatou
espectadores no solo Estamira, sobressai, desdobrando-se em papis
mltiplos, entre eles o de uma galinha que cacareja e pe ovos.
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Gal de circo
4 Maria do Carit est em cartaz no teatro Faap, mas poderia ser
apresentada sob uma lona de circo. A observao, encontrada nas rubricas
do texto, explica tanto as opes do diretor Joo Fonseca quanto as de
Newton Moreno, pernambucano que se tornou um dos principais
dramaturgos do pas. A pesquisa de Moreno consiste em resgatar crenas
e tradies nordestinas como fez em Agreste (prmio Shell e APCA na
categoria melhor autor, em 2007), As centenrias e Terra de Santo, seu
novo trabalho, que deve estrear neste ms em So Paulo.
5 Inspirada na linguagem do circo-teatro, importante no pas na
primeira metade do sculo 20, Maria do Carit consegue estabelecer uma
comunicao direta com o pblico. Na trama, o mundo do picadeiro
surge quando Maria se apaixona por um gal circense, que, como os
demais personagens, tenta tirar proveito de sua ingenuidade.
6 Joo Fonseca acerta o tom ao limitar-se ao essencial para criar
atmosferas, concentrando-se no trabalho dos atores. Transforma palco em
picadeiro com o apoio de alguns pilares de madeira, fios de luzes
coloridas e outros poucos ornamentos. A casa de Maria do Carit aparece
com a alterao da luz e a ressignificao de um ba, que, ao ser coberto
por uma manta, transforma-se em cama. Sem abdicar das formas do
teatro contemporneo, o espetculo conserva o encanto das festas
populares de tempos remotos.
Melo, Gabriela. Bravo!. Edio especial de aniversrio 15 anos, out. 2012. p. 94.

Claudia Ribeiro/Arquivo da editora

Llia Cabral, na pea Maria do Carit, caracterizada como a personagem que d nome obra. Foto
de agosto de 2012.

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INTERpRETAO DO TExTO
1. A crtica pea Maria do Carit positiva ou negativa? Justifique sua resposta
com elementos do texto.

2. Como j foi visto na resenha crtica do filme A inveno de Hugo Cabret, o re-
dator geralmente escolhe um ou alguns aspectos da obra para destacar. Releia
o ttulo, o subttulo e os pargrafos 3 e 4 do texto. Em seguida, identifique quais
foram os aspectos realados pelo autor em sua crtica.

3. Ttulo e subttulo devem antecipar o vis de leitura escolhido pelo redator da


resenha. Isso possibilita certa preparao do leitor para o que encontrar no
texto. Observe, a partir da leitura da primeira linha do quadro a seguir, como a
correspondncia entre essas partes (ttulo, subttulo, texto) garantida na rese-
nha crtica em estudo. Depois, copie o quadro no caderno e complete-o com
trechos do texto que justifiquem as demais informaes do ttulo e do subttulo.

TexTO
encantamento do texto potico
TTuLO Com o encanto
conserva o encanto
to sacra quanto profana, to sria e determinada quanto palhaa;
Comovente e divertida
SuBTTuLO Suas variadas rezas e simpatias para arrumar marido so infrutfe-
ras, mas isso no compromete sua f no amor
TTuLO e de outros tempos e leitura resgatar crenas e tradies nordestinas
SuBTTuLO contempornea das tradies
populares

SuBTTuLO com atuaes memorveis

4. Voc j sabe que, em geral, h elementos que aparecem em todas as resenhas.


So eles:
um resumo da obra;
referncia a prmios ou reconhecimento de outros crticos;
referncia a seu diretor, autor, atores e outras obras dessas pessoas que sejam
reconhecidas, caso existam;
referncia a aspectos tcnicos que justifiquem a avaliao do redator.
Na resenha Com o encanto de outros tempos, aparecem quase todos esses
itens. Pensando nisso, resolva as questes a seguir.
a) Faa uma parfrase (modo de apresentar a mesma informao com outras
palavras) do resumo.
b) Na resenha, alm das referncias s atrizes Llia Cabral e Dani Barros, o rese-
nhista destaca e avalia tambm o trabalho do autor e o do diretor. A avalia-
o do trabalho deles positiva ou negativa? Indique as informaes sobre
esses dois profissionais que confirmam sua resposta.
c) Quais so as referncias aos aspectos tcnicos no texto? Elas tambm esto
em consonncia com a avaliao crtica? Justifique sua resposta.

5. O texto da crtica levaria voc a assistir a essa pea de teatro? Explique a razo
citando trechos do texto.

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CONHECIMENTOS LINgUSTICOS
Oraes subordinadas adjetivas
para relembrar
Nos perodos compostos, as oraes que desempenham a funo de adjetivo so chamadas
adjetivas ou relativas.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) decidiu cham-las de oraes adjetivas, mas
importante sabermos que o nome oraes relativas tambm vlido, j que, em sua forma
desenvolvida, essas oraes iniciam com um pronome relativo.
As oraes adjetivas classificam-se em:
1. Restritivas limitam o significado de um termo antecedente. Por exemplo:
[...] desdobrando-se em papis mltiplos, entre eles o de uma galinha que cacareja e pe ovos.
or. adjetiva restritiva
2. Explicativas ampliam o significado de um termo antecedente. Geralmente vm separa-
das por vrgula ou travesso. Por exemplo:
A iluminao, que ressignifica objetos, um ponto alto do espetculo.
or. adjetiva explicativa
Em geral, quando seu antecedente um substantivo prprio, a orao adjetiva explicativa.
Dani Barros, que recentemente arrebatou espectadores no solo Estamira, sobressai [...].
or. adjetiva explicativa
O pronome relativo que inicia a orao adjetiva se refere a um termo antecedente e faz parte
da orao subordinada.
Os pronomes relativos so: que, quem, o qual, cujo (sempre com funo adjetiva). Pode-se
empregar ainda como pronome relativo, quando se trata de espao, o advrbio onde (em vez de:
em que, de que, no qual).
As oraes adjetivas podem se apresentar na forma reduzida de gerndio, infinitivo ou parti-
cpio. Note que a escolha por cada uma das possveis formas reduzidas pode enfatizar um sentido
diferente:
Newton Moreno constri uma personagem que carrega sonhos amorosos.
or. adj. restritiva

Newton Moreno constri uma personagem carregando sonhos amorosos.


or. adj. reduzida de gerndio

Newton Moreno constri uma personagem a carregar sonhos amorosos.


or. adj. reduzida de infinitivo
Newton Moreno constri uma personagem carregada de sonhos amorosos.
or. adj. reduzida de particpio

1. Releia o primeiro pargrafo do Texto 1 para resolver as questes a seguir no


caderno:
Conta-se que quando os irmos Lumire mostraram pela primeira vez, em
1895, seu filme de 50 segundos, A chegada do trem na estao, o pblico temeu
que o trem sasse da tela e o atropelasse. Em A inveno de Hugo Cabret, novo
filme de Martin Scorsese, que estreia no Brasil nesta sexta (17), essa cena recria-

A RESENHA CRTICA 21

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da. improvvel que, nos dias de hoje, algum se assuste com ela. Mas h outra
no longa que pode causar algum susto, quando um trem descarrilado parece
realmente avanar para fora da tela. Um susto causado especialmente pela quali-
dade do 3D e pela incrvel capacidade de seduo do longa.
a) Conforme voc leu nessa resenha, a estreia de Hugo Cabret, de Scorsese,
recria a cena do filme dos irmos Lumire. Copie o perodo que contm essa
informao.
b) Identifique no pargrafo uma orao adjetiva explicativa e uma restritiva.
c) A qual termo se refere o pronome relativo que introduz as oraes destaca-
das no item anterior?

2. Releia agora este trecho:


NG Collection/Interfoto/Latinstock

Na histria do pequeno Hugo


[...],h muito em comum com a
infncia do prprio Scorsese,que
descobriu a paixo pelo cinema
quando ainda criana. Mas tambm
h algo que ressoa no Scorsese de
hoje, que alm de cineasta um dos
profissionais mais empenhados na
restaurao, preservao e difuso
de filmes antigos. No por acaso, o
livro de Selznick tocou fundo no
diretor de Taxi driver. [...]
H algo de Charles Dickens na
trajetria do pequeno rfo que,
desde a morte do pai, [...] vive es-
condido numa grande estao de
trem em Paris, onde seria criado pelo
tio beberro [...], que desapareceu.
Jude Law e Martin
Scorsese, respectivamente, a) Entre as oraes sublinhadas, escreva em seu caderno as oraes adjetivas
ator e diretor do filme A explicativas que acrescentam informaes sobre o diretor do filme, Martin
inveno de Hugo Cabret,
em 2011.
Scorsese.
b) Escreva as outras oraes adjetivas explicativas que ocorrem no trecho.
c) A que termos do texto as oraes adjetivas restritivas destacadas a seguir
acrescentam informaes?

[...] que ressoa no Scorsese de hoje


[...] que, desde a morte do pai, [...] vive escondido numa grande
estao de trem em Paris

d) Leia mais uma vez o trecho destacado nesta atividade, agora retirando dele
as oraes adjetivas. Em seguida, responda: qual a importncia dessas
oraes no trecho?

22 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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3. Entre outros objetivos, possvel reorganizar um pargrafo para dar destaque a
novas informaes. O pargrafo a seguir iniciado pelo sujeito Scorsese para
enfatizar o fato de esse diretor utilizar uma tecnologia avanada em A inveno
de Hugo Cabret.
Scorsese usa o mximo da tecnologia que o cinema oferece atualmente para
contar uma histria com ar retr, sobre um perodo de quase um sculo atrs, os
anos 1930, e falar dos primrdios do cinema entre outras coisas. O roteiro, assina-
do por John Logan (O aviador), adapta o magnfico livro infantil de Brian Selznick,
que j era uma homenagem ao cinema no s pelo tema como por suas ilustraes.

Destacamos em negrito o pronome relativo que introduz a orao subordinada


adjetiva, colorimos outras oraes subordinadas do trecho e sublinhamos a
orao adjetiva reduzida de particpio.
a) Reescreva o pargrafo acima seguindo estas instrues:
Inicie o pargrafo pelas outras oraes subordinadas do trecho.
Transforme a orao adjetiva introduzida pelo pronome relativo em orao
reduzida de particpio.
Transforme a orao adjetiva reduzida em orao desenvolvida utilizando
um pronome relativo.
Faa as adaptaes que julgar necessrias.
b) Na verso a que voc chegou no item anterior, o que ficou em destaque?

4. Identifique as oraes subordinadas adjetivas nos perodos a seguir. Escreva


no caderno a classificao de cada uma e identifique o termo ao qual elas se
referem.
a) A nica lembrana que o garoto guarda do pai um boneco autmato, que
foi salvo do esquecimento no poro de um museu em que ele trabalhava,
antes de morrer no incndio que destruiu o local.
b) Essa trama remeter A inveno de Hugo Cabret aos primeiros tempos do
cinema, quando era pura diverso, algo pueril cujo conceito de arte ainda
estava sendo descoberto.
c) Ao menos at a chegada de Georges Mlis, que soube aprimorar o inven-
to dos irmos Lumire, adicionando-lhe elementos de fantasia e produzindo
verdadeiras obras-primas.
d) Nutrindo essa sensao de sentir falta daquilo que no vivemos, Scorsese
nos leva por um passeio pelos filmes antigos.
e) Quando Hugo e Isabelle folheiam um livro de histria do cinema, as figuras
que eles veem se materializam na tela na forma de antigos filmes mudos.

5. Como voc observou at aqui, nas resenhas lidas aparecem vrias oraes ad-
jetivas. Anote no caderno as alternativas que justificam o uso desse recurso
gramatical.
a) As oraes representam uma forma de incluir informaes no texto.
b) por meio de acrscimo de adjetivos, locues adjetivas e oraes subordi-
nadas adjetivas que se d a expanso de uma ideia.
c) A presena das oraes adjetivas contribui para a ampliao dos anteceden-
tes (especificando, particularizando, precisando, caracterizando).
d) As oraes adjetivas tornam a linguagem do texto mais acessvel.

A RESENHA CRTICA 23

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Concluso >
As oraes adjetivas ampliam as informaes sobre um termo da
orao principal. Elas podem especic-lo ou simplesmente explic-lo.
As oraes adjetivas restritivas, ao acrescentar informao ao termo
antecedente, acabam tambm por limitar o signicado dele. Por exemplo:
Alguns autores sofrem nas mos de crticos incompetentes, um grupo que
no cr no poder da imaginao. (refere-se a um grupo especfico)
As oraes adjetivas explicativas acrescentam informaes ao an-
tecedente sem delimit-lo, explicando o que ele signica ou generalizando
a ideia. Por exemplo:
A casa de Maria do Carit aparece com a alterao da luz e a ressignificao
de um ba, que se transforma em cama ao ser coberto por uma manta. (acres-
centa uma informao para explicar a originalidade do ba)

Atividades de fixao
1. Leia a resenha abaixo e responda s questes no caderno.

Cultura do skate direciona festa jovem


Fabio Rigobelo

Em sua terceira edio, o Guaran Antarctica Street Festival, que acontece


amanh (dia 29), na Chcara do Jockey, vem ainda maior.
Uma grande pista de skate com formato de piscina vazia, trazida dos Estados
Unidos (a pista soul bowl ), performances de skatistas renomados, como Bob Burnquist
e Sandro Dias, e shows de Charlie Brown Jr., Fresno, Voltz, Vivendo do cio e da
banda californiana de hardcore Face to Face so algumas das principais atividades.
O evento, que preza pela interatividade e por atraes de forte identificao
com o pblico jovem, ter tambm batalhas de grafite com comisso julgadora,
tenda de games com consoles X-Box, competies
Buda Mendes/LatinContent/Getty Images

de skate e patins e exibio de fotos e trailer do do-


cumentrio Vida sobre rodas, que conta a histria da
cultura do skate no Brasil e tem previso de lana-
mento para 2010.
Chcara do Jockey R. Pirajussara, s/n, Bu-
tant, regio oeste, tel. 2846-6000, 15 mil pessoas.
Sb. (dia 29): 12h s 24h. No recomendado para
menores de 12 anos. Ingr.: R$ 60 (estudantes: R$ 30).
CC: AE, D, M e V.
rIGObeLO, Fabio. Guia da Folha. Folha de S.Paulo.
verso on-line, 29 ago. 2009.

a) Identifique as trs oraes subordinadas adje-


tivas desenvolvidas presentes na resenha.
b) Identifique os termos ou expresses a que se
referem as oraes encontradas no item a.
O esqueitista Bob Burnquist comemora aps executar suas manobras
c) Localize, no trecho, uma orao subordinada
durante competio em uma pista vertical no Rio de Janeiro, RJ, em 2012. adjetiva reduzida de particpio.

24 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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2. Leia a definio a seguir.

Os pronomes o, os, a, as so demonstrativos quando podem ser subs-


titudos por aquele(s), aquela(s),aquilo, isso.
No entendo o que voc pretende fazer. (isso/aquilo)
No entendo isso que voc pretende fazer.

Agora crie um perodo em que aparea uma orao adjetiva antecedida por
um pronome demonstrativo, recuperando o assunto da orao dada.
Veja um exemplo:
Durante a festa, os jovens danavam, conversavam, comiam e bebiam. De-
pois de quatro horas, todos estavam bem entusiasmados, o que j se esperava.

3. Uma orao adjetiva ser sempre restritiva se o verbo dela estiver no modo
subjuntivo. Identifique quais das frases a seguir tm oraes desse tipo. Copie
as frases no caderno e sublinhe as oraes adjetivas restritivas com verbo no
subjuntivo.
a) Ontem conversei com o professor que me prometeu uma reviso da matria.
b) Os formandos queriam uma banda que animasse todos os convidados du-
rante a festa de formatura.
c) No existem pessoas que possam ajud-lo neste momento.

Quando o verbo da orao subordinada adjetiva est no modo indicativo,


h duas possibilidades de se interpretar a orao adjetiva:
sem vrgula indica apenas uma parte; portanto, orao restritiva.
com vrgula indica o todo; portanto, orao explicativa.

4. Identifique as oraes adjetivas e interprete o significado de cada uma delas nos


perodos a seguir.
a) Os alunos do Ensino Mdio que participaram da competio sero premiados.
b) Os alunos do Ensino Mdio, que participaram da competio, sero premiados.
c) Neste batalho, os soldados que ingressam na tropa de elite passaro uma
temporada no inferno.
d) Neste batalho, os soldados, que ingressam na tropa de elite, passaro uma
temporada no inferno.

5. Reescreva no caderno as frases seguintes separando com vrgula as oraes


adjetivas explicativas.
a) O cinematgrafo que foi patenteado pelos irmos Lumire tinha sido inven-
tado por Lon Bouly.
b) As ltimas notcias so de que Carlos, Pedro e Jos que eram muito amigos
haviam viajado juntos para o Peru.
c) Voc conhece o rapaz que me procurou?
d) A criana ouviu o barulho de um corpo que caa.
e) A casa em que o rfo vivia foi invadida pelo Agente e seu cachorro.

A RESENHA CRTICA 25

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6. Leia atentamente o texto a seguir.
Alberto De Stefano/Arquivo da editora

Congresso internacional do medo


Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente no cantaremos o amor,


que se refugiou mais abaixo dos subterrneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraos,
no cantaremos o dio porque esse no existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertes, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mes, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo,
e sobre nossos tmulos nascero flores amarelas e medrosas.
ANDrADe, Carlos Drummond de. Reunio. rio de Janeiro: Jos Olympio, 1974. Graa Drummond.
<www.carlosdrummond.com.br> Acesso em: 15 nov. 2012.

a) Escreva no caderno as oraes adjetivas desse poema e indique os elementos


que elas caracterizam.
b) As oraes adjetivas encontradas no item a so explicativas, acrescentam
informaes para explicar o que o termo anterior significa naquele contexto.
Pensando na sua resposta ao item a e na leitura que voc fez de cada verso,
responda: que tipo de relao pode existir entre os dois elementos que voc
citou anteriormente, considerando os seus significados em todo o poema?
Converse com seus colegas sobre isso.

Atividades de aplicao
Leia a resenha a seguir e responda s questes no caderno.

Rogrio Caetano
O violo de sete cordas desenvolveu-se no Brasil contraponteando as melodias
dos nossos choros e teve como seu grande mestre Dino 7 Cordas (1918-2006). Mas
foi Rafael Rabello (1962-1995) quem trouxe o instrumento para a posio de prota-
gonista, como solista. esse o caminho seguido por novos talentos que despontam
como o brasiliense radicado no Rio, Rogrio Caetano.
Nesse lbum, as criativas sonoridades da escola violinstica brasileira de Joo Per-
contrapontear: nambuco, Garoto, Villa-Lobos e Marco Pereira, entre outros, so referendadas com a
executar (obra) mesma impressionante musicalidade e virtuosismo que Rogrio vem demonstrando
segundo as tcnicas do
nos trabalhos em que atua como coadjuvante. As participaes especiais contribuem
contraponto; pr em
contraponto. com variao timbrstica ao CD, destacando-se o piano bem dosado de Leandro Braga
timbrstica: que tem em Intuitiva e a expressividade da flauta de Eduardo Neves em Meu mundo.
qualidade de sons de
Nesse contexto, aquilo que j tiro certo e fato consumado no mbito da inter-
mesma altura e
intensidade resultando pretao ainda um esboo de paisagem na mira da composio. Se por um lado o
em maior ou menor intrprete expande as fronteiras tcnicas do violo sete cordas a territrios inimagi-
quantidade de sons
nveis, por outro, ao assinar todas as faixas, deixa a porta da criao apenas entrea-
harmnicos, pureza,
amplido ou riqueza berta. Mas a ltima faixa, Pel, coisa de craque.
sonora. Adaptado de: Guia da Folha. Folha de S.Paulo, 28 ago. 2009. Folhapress.

26 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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1. Qual o objeto resenhado?
2. O autor da resenha inicia seu texto apresentando a diversidade musical de nos-
so pas. Sabendo disso, identifique:
a) o instrumento que o objeto de anlise da resenha;
b) um ritmo musical citado.

3. Sabendo que contraponto, de onde vem o verbo contrapontear, est ligado a


polifonia musical, que a simultaneidade de vrias melodias que se desen-
volvem independentemente, mas dentro da mesma tonalidade1, explique o
significado sugerido pela frase:
O violo de sete cordas desenvolveu-se no Brasil contraponteando as melo-
dias dos nossos choros [...].
4. Para apresentar o artista cujo lbum o tema da resenha, o redator do texto faz
um breve histrico sobre o estilo musical em questo. Sintetize essa apresenta-
o com suas palavras.

5. Releia o perodo:
Mas foi Rafael Rabello (1962-1995) quem trouxe o instrumento para a
posio de protagonista, como solista.
a) H uma orao subordinada nesse trecho. Identifique-a.
b) O pronome relativo quem o termo que relaciona as duas oraes. Ele
exerce a funo sinttica de sujeito da orao subordinada. Que palavra da
primeira orao esse termo representa?
c) Leia o perodo sem o pronome relativo (e sem a forma verbal foi):
Mas Rafael Rabello trouxe o instrumento para a posio de protagonista, como solista.
Escrito dessa forma, esse perodo causa no leitor o mesmo impacto que o pero-
do original? Por qu?
d) Na sua opinio, o uso de uma orao subordinada com o pronome quem
pelo autor da resenha foi propositado? Por qu?

6. Releia outro perodo do texto:


esse o caminho seguido por novos talentos que despontam como o brasi-
liense radicado no Rio Rogrio Caetano.
a) Esse perodo composto por quatro oraes, sendo trs delas subordinadas
Reproduo/Fub Music

adjetivas restritivas. Identifique-as.


b) Todas essas oraes subordinadas adjetivas restritivas se referem ao compositor
Rogrio Caetano. Por meio delas, escreva um pargrafo caracterizando-o.
c) Para Ingedore Koch, uma autoridade nos estudos de lngua portuguesa, as
oraes subordinadas adjetivas explicativas so informaes suplementares,
que podem ser retiradas sem que a frase perca o sentido. Ao contrrio, as
subordinadas adjetivas restritivas so responsveis por delimitar um indivduo Rogrio Caetano
violonista e lanou seu
ou um grupo ou ainda uma ideia. So elas que apresentam informaes CD Rogrio Caetano,
necessrias para delimitar o sentido das palavras s quais se relacionam ou com as canes
para atribuir-lhes novas informaes. Intuitiva e Pel,
pela gravadora Fub
1
Novo Dicionrio Eletrnico Aurlio verso 6.1. 4a Edio. Music em 2009.

A RESENHA CRTICA 27

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Para entender essa funo das oraes adjetivas restritivas, reescreva o perodo
lido nesta atividade eliminando a orao subordinada.
O que aconteceu com o perodo?
7. Releia mais um perodo do texto:
Nesse lbum, as criativas sonoridades da escola violinstica brasileira de Joo
Pernambuco, Garoto, Villa-Lobos e Marco Pereira, entre outros, so referendadas
com a mesma impressionante musicalidade e virtuosismo que Rogrio vem de-
monstrando nos trabalhos [].
a) O pronome relativo que substitui o alvo da expresso vem demonstrando.
Releia o trecho e identifique o que o artista vem demonstrando.
b) Continuando o perodo, o autor do texto completa:
[] em que atua como coadjuvante.
Classifique a nova orao subordinada acrescida ao perodo.
c) Sabendo que esse tipo de orao subordinada essencial s apresentaes
de atributos, responda: qual a importncia dessas oraes para o desen-
volvimento de resenhas?

8. Depois de observada a subordinao das oraes nesse texto e observado, por-


tanto, os atributos do artista resenhado, responda: qual a opinio do autor da
resenha?

p R O D U O D E T E x T O
Resenha crtica
A resenha crtica um texto que apresenta informaes fundamentais sobre
determinado objeto cultural, alm de comentrios e avaliaes sobre ele.
Se o objeto resenhado for um filme ou um romance, a parte de apresentao
da resenha ser uma sntese do enredo. No caso de ser um quadro, uma escultu-
ra, um cenrio, haver uma descrio. Muitas vezes o produtor do objeto cultu-
ral, seu autor, tambm comentado: pode-se dar uma ideia de sua produo,
indicar a opinio que ele j conquistou no meio de que faz parte e como essa
obra pode ser vista no conjunto de seu trabalho.
O resenhista em geral uma pessoa que tem certo conhecimento na rea,
uma vez que se espera dele um posicionamento crtico precisa amarrar todo
o texto. Vale lembrar que criticar no exatamente ressaltar os defeitos ou sim-
plesmente dizer que no se gosta de alguma coisa. preciso justificar sua opinio,
ir alm do acho isso ou gosto daquilo. Trata-se de uma avaliao construda
com argumentos e contra-argumentos capaz de constatar defeitos e qualidades
da obra, percebendo como ela se insere na produo do autor em questo e em
relao s demais obras da rea cultural da qual ela faz parte.
H diversas maneiras de se estruturar um texto desse gnero, mas geralmen-
te se parte de um plano: apresentao do objeto (texto mais descritivo), opinio

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do produtor do texto a respeito do objeto resenhado (parte mais argumentativa,
em que so expostos os argumentos que justificam a opinio do resenhista) e
concluso (trecho mais curto e significativo que refora a ideia exposta).
As diferenas de estilo muitas vezes esto relacionadas ao pblico-alvo e ao
suporte em que vai ser publicado o texto. Por exemplo, uma resenha sobre um
salo internacional de histrias em quadrinhos a ser publicada numa revista para
adolescentes ter um enfoque direcionado a esse pblico texto objetivo, com
informaes bsicas para quem pretende ir ao local, mostrando quais so os
autores mais conceituados do evento, os lanamentos mais interessantes e de-
poimentos de adolescentes que gostam de ler esse gnero de texto. Se algum
for escrever sobre esse mesmo evento para ser publicado em um caderno cultural
de um jornal de grande circulao, dirigido a leitores mais maduros, as exigncias
de enfoque e aprofundamento sero diferentes talvez o resenhista precise
preparar uma sntese de como as histrias em quadrinhos se desenvolveram ao
longo dos anos, que papel elas desempenham na sociedade atual, sua simbologia,
quais so os grandes autores e por que so considerados relevantes, etc.

ATIvIDADE 1 Como utilizar verbos


que apresentem e avaliem a obra
A resenha um texto escrito que apresenta e avalia, de forma sucinta, uma
obra. Pode ser sobre um texto, uma obra de arte, um filme, uma pea teatral,
um livro ou qualquer objeto cultural. Isso quer dizer que, ao se produzir esse
gnero, o autor dever referir-se obra escolhida informando ao leitor, de forma
clara, sua apreciao a respeito dela.
E os verbos so fundamentais para informar os atos realizados pelo autor
do objeto resenhado. Reveja um trecho do Texto 2 analisado neste captulo:
Servindo-se de arqutipos femininos antagnicos, Newton Moreno constri uma
personagem rara. Sua Maria do Carit to sacra quanto profana, to sria e determina-
da quanto palhaa. Llia baila com graa nesses extremos. Auxiliada pelo encantamento
do texto potico, que se vale da musicalidade do sotaque nordestino, a atriz expe seu
talento de um modo nunca antes visto em sua carreira, seja na televiso, seja no teatro.
Observe que os verbos destacados no texto mostram o papel desempenhado
pelo autor e pela atriz na realizao da pea (objeto avaliado).
Se voc voltar ao Texto 2, vai perceber que alguns verbos so utilizados para
descrever a obra avaliada enquanto outros j sugerem a opinio, a avaliao do
autor. Veja:

DeScriO AvALiAO
[...] a personagem-ttulo de Maria de Carit, pea Joo Moreira acerta o tom ao limitar-se ao es-
de Newton Moreno escrita para Llia Cabral, uma sencial para criar atmosferas, concentrando-se no
virgem fogosa de 50 anos, com fama de milagreira. trabalho dos atores.
A pesquisa de Moreno consiste em resgatar Dani Barros [...] sobressai, desdobrando-se em
crenas e tradies nordestinas [...]. papis mltiplos, entre eles uma galinha que cacare-
ja e pe ovos.
Repare que, no 1o pargrafo, o autor descreve a pea e, para isso, utiliza o
termo (verbo ser).

A RESENHA CRTICA 29

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Agora voc vai ler a resenha a seguir para observar a importncia dos verbos em
sua construo. Seu trabalho ser o de reescrev-la, substituindo o smbolo
por um verbo (ou locuo verbal) adequado.

Chef do Bistr da Sara comanda Caf do Theatro, no


Municipal
Josimar Melo

Esse certamente no o buf de almoo mais barato do centro, mas poucos


lugares da regio o mesmo charme. Portanto, vale a pena o Caf do Theatro,
no Theatro Municipal.
Ele h pouco mais de um ano, com a reabertura do teatro. Adornado com
detalhes de poca, o local pelos irmos Campana. Sem tirar certa solenidade
antiga, elementos modernos, que com tranquilidade a vizinhana de cadei-
ras e mveis que ao primeiro restaurante de l, de cem anos atrs.
A cozinha a cargo da chef Sandra Valeria, do Bistr da Sara. Como l, ela
sistema de buf, com saladas bem trabalhadas, pratos corretos (ou especial-
mente benfeitos, como a rabada) e alguns convencionais.
A eles um menu com trs pratos, como salmo caramelado ao molho de
laranja e gengibre e medalho de fil na mostarda e mel com arroz de funghi.
Melo, Josimar. Folha de S.Paulo, 24 out. 2012. Folhapress.

ATIvIDADE 2 Como avaliar um


objeto cultural
Resenhar um livro, um filme ou qualquer outro objeto cultural exige do es-
critor competncias de leitura, sntese e, principalmente, argumentao. Isso
porque o resenhista deve, alm de apresentar trechos descritivos que resumam
a obra, produzir comentrios que a avaliem. E a est o trabalho do resenhista:
apresentar e justificar sua viso at mesmo para aqueles que no tenham a mes-
ma opinio sobre o valor (positivo ou negativo) do objeto avaliado.
Na resenha que voc vai ler a seguir h trechos descritivos que do uma ideia
sobre a histria do filme analisado. Perceba que, propositadamente, esses trechos
so sintticos e objetivos para que o leitor no saiba a histria inteira e tambm
no perca o interesse em ir ao cinema. Nos demais trechos, pintados de diferen-
tes cores, temos os comentrios do resenhista, feitos com polidez e respeito.

Para escrever sua resenha, o autor precisou atentar:


maneira de apresentar sua opinio sobre o objeto
analisado (no caso, um filme) logo no incio do texto;
ao uso das palavras que sugerem sua opinio;
utilizao de opinies favorveis e desfavorveis
a respeito do objeto de anlise sempre apontadas
com polidez;
ao emprego de informaes que supe que sejam
de conhecimento do leitor;
apresentao de informaes que supe que o lei-
tor possa no conhecer.

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Gonzaga: de pai pra filho (2012): cinebiografia nacional Note o uso do
substantivo competncia:
fonte de informao e de entretenimento ele tem valor positivo e
sugere o que pensa o
Longa do mesmo diretor de 2 filhos de Francisco repete a competncia deste com autor a respeito do filme:
uma obra focada no mbito pessoal/familiar ele vai defender a ideia
de que o filme bom.
Thiago Csar Pense em outros
substantivos com a
1 Pai e filho vivem relacionamento conturbado durante dcadas at que fazem as mesma funo.
pazes em um final feliz. Essa histria no seria to interessante se no dissesse respeito a
dois grandes nomes da msica brasileira. Luiz Gonzaga, o pai, foi responsvel por po- Veja o uso dos adjetivos
interessante, conveniente
pularizar ritmos nordestinos que at ento no encontravam praticamente nenhum e competente. Todos tm
espao em outras terras, tendo seu trabalho reconhecido mundialmente. No muito valor positivo e tambm
sugerem o que pensa o
diferente foi seu filho Gonzaguinha, que, embora explorasse um estilo musical diferen- autor a respeito do filme.
te do regionalismo do pai, tambm garantiu seu espao no corao do pblico brasileiro. Observe outros adjetivos
com a mesma funo.
2 Gonzaga: de pai pra filho conta a difcil jornada profissional e pessoal desses dois
Note ainda as oraes
artistas, separados pela vida, unidos pela msica, como destaca o pster. Ningum adjetivas que intercalam
mais conveniente para dirigir a obra do que Breno Silveira, que h sete anos realizou informaes sobre o
diretor Breno Silveira e seu
outra cinebiografia sobre msicos brasileiros o competente 2 filhos de Francisco, que filme antigo, 2 filhos de
conta a trajetria da dupla sertaneja Zez de Camargo e Luciano. Francisco, supondo que o
leitor no as conhea.
3 A histria do Rei do Baio o esteretipo do sertanejo pobre que vai para a cidade
grande em busca de um sonho, com direito a romance impossvel com uma garota de fa- Trechos descritivos,
mlia rica. A trama comea a se estabelecer melhor quando entra a figura do filho magoado de sntese.

pelo descaso do pai, sendo esta relao o fio que puxa a narrativa para algo mais especfico Perceba que, nas
e pessoal, deixando o arco profissional em segundo plano e focando no drama familiar. avaliaes negativas, o
4 Luiz Gonzaga interpretado por trs atores diferentes, de acordo com as fases de resenhista desse texto
suaviza sua opinio por
sua vida: Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adelio Lima. Eles tm uma gran- meio de expresses
de semelhana fsica entre si, o que muito bem-vindo em casos como este. Todos polidas.
Ele no usa, em
so muito bons atuando, mas o destaque maior vai para os dois ltimos, que tm nenhum momento,
mais tempo de tela. Chambinho, msico sanfoneiro que faz sua estreia como ator alguma construo que
vivendo seu grande dolo, tem um enorme carisma e a vantagem de saber cantar e possa soar ofensiva.
Note que no texto no
tocar de verdade, contribuindo para o realismo das cenas musicais. Lima tem trejeitos aparecem expresses
de Antnio Fagundes que combinam de forma inusitada com a maturidade do per- negativas vazias, sem
argumentao, como:
sonagem, compondo a postura e presena exigidas por este. eu acho que ruim;
5 J Gonzaguinha, que tambm vivido por mais de um ator, consolidado apenas a obra fraca, no
gosto; a minha
por um: Julio Andrade, que alm de possuir dotes musicais de verdade, assim como opinio que o filme
Chambinho, tem uma semelhana espantosa com seu personagem. O ator encarna simples e chato, etc.
dignamente a mgoa do filho abandonado, sem parecer piegas ou forar o papel de
vtima, conseguindo a empatia do pblico facilmente.
6 Silveira mantm a cautela que teve em 2 filhos de Francisco, tentando ao mximo Comentrios negativos
fugir da linguagem novelesca imposta subliminarmente pela Globo Filmes em suas do resenhista feitos com
polidez.
produes, embora cometa alguns deslizes em momentos de carga dramtica propcia
a tal abordagem. A histria, que j interessante por si s, muito bem estruturada Observe a avaliao
pelo roteiro de Patrcia Andrade, que d dinamismo narrativa relativamente simples, negativa no pargrafo
7. Nela, o resenhista
pecando apenas pelos dilogos padronizados que marcam o incio e o final do longa. emprega uma estratgia
7 A fotografia de Adrian Teijido trabalha de forma interessante a variao de foco, interessante: primeiro
criando planos estilosos que valorizam os closes. Infelizmente, este elemento mais elogia o incio do longa
para, depois, fazer uma
presente no primeiro ato, perdendo-se ao longo do filme e limitando-se a planos mais ressalva sobre a perda da
convencionais. A montagem de Vicente Kubrusly se utiliza de imagens de arquivo caracterstica elogiada ao
longo do filme.
reais que ilustram alguns momentos da vida de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, crian-

A RESENHA CRTICA 31

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Note que, no ltimo do um subtexto documental sempre integrado narrativa do filme que supre a
pargrafo, os advrbios curiosidade do espectador sobre a histria real.
bem, muito, apenas
so usados para reforar
8 Gonzaga: de pai pra filho apresenta bem as figuras em questo sem se apoiar em um
a opinio do resenhista conhecimento prvio do pblico sobre eles. Alm disso, cria um vnculo afetivo muito
sobre o filme: o filme grande ao dar maior importncia vida pessoal dos artistas em vez de apenas descrever
um bom entretenimento.
suas carreiras profissionais, servindo como entretenimento e como informao cultural.
Comentrio positivo na CsAr, Thiago. Disponvel em: <http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/283321/gonzaga-de-pai-pra-filho-2012-
concluso do texto. cinebiografia-nacional-e-fonte-de-informacao-e-entretenimento>.
Acesso em: 29 out. 2012.

1. Agora que leu o texto comentado, voc produzir com um colega de classe duas
partes de uma resenha. Na produo dessas partes, o trabalho ser tambm
dividido: um aluno far a sntese descritiva e o outro a avaliao.
Antes, decidam qual objeto cultural ser analisado na resenha de vocs. Poderia
ser escolhido, por exemplo:
um filme em cartaz no cinema da regio;
um lugar de passeio conhecido em sua cidade, como uma praa, um parque
ou uma sorveteria;
um livro trabalhado no ano em que voc est, mesmo que de outra disciplina;
uma pea teatral assistida com os colegas da escola.
Conversem sobre o objeto cultural (obra ou lugar) escolhido, troquem informaes
sobre ele e decidam quem far a sntese e quem far a avaliao desse objeto.
Numa resenha, a sntese e a avaliao no precisam aparecer no texto em mo-
mentos separados e, como voc viu nos textos analisados neste captulo, em
geral, mais comum que a avaliao do resenhista aparea em todo o texto.
Mas como esta uma atividade em dupla, com objetivos especficos, ser ne-
cessrio que cada aluno faa uma parte da tarefa separadamente.

2. Tomadas as decises, comecem a produo:


Um aluno da dupla deve elaborar o trecho de sntese, com a descrio da obra
ou do lugar, sem fazer nenhum comentrio avaliativo. Ser importante utilizar
verbos de ao.
Quando este aluno terminar, o outro deve, com base na sntese descritiva do
colega, compor um trecho avaliativo, utilizando palavras e expresses que
sugiram, com polidez, a avaliao feita da obra e incluir tambm informaes
que possam ser desconhecidas pelo leitor.
Cada parte deve estar em pargrafos separados.

pRODUO DE AUTORIA
Selecione um objeto cultural para resenhar. Pense no suporte de publicao (jornal,
revista, etc.) e no pblico leitor desse peridico. Reflita sobre o que vai escrever.
Em seu texto, apresente o objeto por meio de uma sntese do enredo ou de
uma descrio das partes que o formam.
Em seguida, apresente argumentos que convenam o leitor de que sua opinio
vlida. Sua avaliao pode estar presente desde o incio do texto, dependendo
de como voc quiser escrev-lo. O importante que seja consistente e polida.
Termine o texto com uma concluso significativa, coerente, com sua opinio,
ou seja, capaz de aproximar (ou afastar) o leitor do objeto cultural comentado.
Lembre-se de que seu texto poder ser utilizado no Projeto Revista, no fim do ano.

32 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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< preparando
releia o texto produzido analisando algumas questes: a segunda

A estrutura do texto est clara? verso do

Os verbos foram empregados de maneira coerente? texto

Os argumentos utilizados so adequados ao pblico que leria esse tex-
to se ele fosse publicado?

As palavras sugerem o que pensa o resenhista, sem o uso de expresses
na minha opinio ou eu acho que?

O texto polido, isto , respeitoso na apresentao das opinies?
Guarde sua resenha para o projeto do fim do ano.

NO MUNDO DA ORALIDADE
Exposio e argumentao oral
sobre um objeto cultural
Muitas vezes, uma resenha crtica pode aparecer dividida em tpicos, e no
como um texto completo. Essa diviso pode ser feita para tornar a leitura mais
rpida, mais dinmica ou para chamar a ateno do leitor para diferentes aspec-
tos de um objeto cultural.
Veja uma pgina da revista Bravo! de 2009, na qual eram avaliados, segundo
a revista, os melhores filmes em cartaz naquele ano. Quadro a quadro, os reda-
tores do texto apresentam motivos pelos quais os leitores deveriam assistir aos
filmes selecionados.

Reproduo/Revista Bravo!/Editora Abril


DERIVA
(Brasil/EUA, 2009). 1h37. Drama.

Direo e roteiro: Heitor Dhalia.


Elenco: Dbora Bloch, Vincent Cassel, Laura Neiva (foto), Cau Reymond,
Camilla Belle.

Enredo: Casal maduro vive os ltimos captulos de uma crise matrimonial


diante dos olhos da filha mais velha, uma adolescente que est a um passo de
iniciar-se na vida adulta e amorosa.

Por que ver: Este primeiro filme internacional de Heitor Dhalia (de Nina e O
cheiro do ralo) teve produo cuidada e locaes em Bzios, alm de uma
premire mundial na seo Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2009.

Preste ateno: Ao ator francs Vincent Cassel (de Senhores do crime), defendendo o
Revista Bravo!, jul. 2009.
principal papel masculino, s vezes falando um portugus bastante razovel. E tambm
norte-americana Camilla Belle (10.000 a.C.), que filha de uma brasileira.

O que j se disse: Seguindo os passos de Fernando Meirelles, de Cidade de


Deus, Dhalia o prximo diretor brasileiro a um passo de estourar. deriva
seu carto de visita (Alex Billington, FirstShowing.Net).

A RESENHA CRTICA 33

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Rena-se em grupo com os colegas e, de acordo com a lista elaborada por vocs
na seo Para comear, selecionem trs objetos (filmes, livros, exposies, shows
ou CDs) que vocs gostariam de divulgar na classe. Desenhem um quadro como
o apresentado na revista Bravo! e, de acordo com a avaliao do grupo sobre
os objetos selecionados, produzam uma resenha em tpicos, com um pargra-
fo para cada linha.
Aps a produo dos tpicos da resenha, preparem a apresentao oral do
quadro. Cada aluno do grupo dever escolher um objeto cultural. Vocs podem
selecionar uma msica de fundo adequada ao objeto cultural escolhido e, se
possvel, lev-lo para a classe (se for um CD de msica, um livro de contos ou
um DVD de um filme, por exemplo).
Como a inteno de vocs convencer os colegas de classe da avaliao
feita pelo grupo, produzam um texto oral adequado ao pblico e ao objeto
resenhado. Por exemplo, se o objeto escolhido for um CD de rap, vocs po-
dero falar (produzir o texto oral) pensando nas pessoas que ouvem e apreciam
esse ritmo e, se possvel, usar algumas palavras tpicas do universo hip-hop.

Exposio e argumentao oral


Cada aluno do grupo deve apresentar o quadro desenvolvido por todos e argu-
mentar a favor ou contra o objeto cultural escolhido. Para isso, observem as
etapas sugeridas a seguir.
Ao falar sobre o objeto cultural deem todas as informaes necessrias sobre
ele (a descrio da aparncia do objeto, para que serve, onde encontrado,
qual sua histria, etc.).
Aps a exposio das caractersticas do objeto escolhido, usem argumentos
que possam convencer a classe a conhec-lo (se a avaliao feita for positiva)
ou a v-lo com desconfiana (se a avaliao for negativa). Usem argumentos
com informaes que possam ser comprovadas.
Procurem manter um tom de voz adequado (nem muito alto, nem muito
baixo) e uma boa dico, para que todas as palavras sejam compreendidas
pelos colegas.
Lembrem-se de que no se trata da leitura da resenha, mas da apresentao
oral do quadro, por meio de exposio e argumentao. Por isso, no levem
papel para a frente da classe; apresentem o que discutiram em grupo durante
a preparao do quadro com a resenha em tpicos.
BaLL LunLa/Shutterstock/Glow Images

HABRDA/Shutterstock/Glow Images
LanKS/Shutterstock/Glow Images

34 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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A p R O v E I T E p A R A...

... ler

Reproduo/Editora Globo
Jornalismo cultural, de Daniel Piza, editora Contexto.
Neste livro possvel encontrar vrias orientaes para a elaborao de resenhas
crticas.

1 001 livros para ler antes de morrer, de Peter Boxall, editora


Lisma.
Uma equipe de apaixonados por livros rene os ttulos das obras que mais im-
pactaram a literatura e a cultura mundial.

1 001 discos para ouvir antes de morrer, editora GMT.


Jornalistas e crticos de msica internacionalmente reconhecidos selecionaram ima-
gens de lbuns, bandas e artistas inesquecveis dos anos 50 at o lanamento do livro.

300 filmes para ver antes de morrer, editora Globo.


Trezentos filmes escolhidos e com explicao de por que vale a pena assistir a eles.

... assistir a
A inveno de Hugo Cabret, de Martin Scorsese (EUA, 2011).
Adaptao para o cinema do livro homnimo do escritor americano Brian Selznick, o filme
apresenta a histria de um rfo que vive escondido, acertando os relgios de uma antiga estao
de trem. At que, entre suas aventuras, o pequeno Hugo Cabret ajuda um senhor desiludido e
ranzinza a reencontrar o orgulho por suas criaes.

O artista, de Michel Hazanavicius (Frana, 2011).

Interfoto/Latinstock
Uma homenagem aos filmes antigos por meio da his-
tria de um ator do cinema mudo que no consegue se
adaptar aos novos tempos e da ascenso de uma jovem
e bela atriz. George Valentin (Jean Dujardin, foto) um
divertido e vaidoso astro do cinema mudo que v sua fama
desabar repentinamente com a chegada do som e dos di-
logos falados. Ao mesmo tempo, a aspirante a atriz Peppy
Miller (Brnice Bejo, foto) consegue papis cada vez mais
importantes, at se tornar uma das principais estrelas da
nova indstria audiovisual que se formava.

ver na internet
www.dicionariompb.com.br
Site de nomes fundamentais da MPB, com bibliografia crtica e artigos de importantes crti-
cos musicais. Acesso em: 21 nov. 2012.

www.adorocinema.com
Site com resenhas e informaes de filmes cujas crticas quem faz so os leitores. Acesso em:
21 nov. 2012.

www.omelete.com.br
www.homemnerd.com.br
Esses dois sites apresentam resenhas, crticas e novidades de seriados de TV, filmes, livros,
games e gibis. Acessos em: 21 dez. 2012.

A RESENHA CRTICA 35

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LITERATURA
> Interdisciplinaridade com:
Sociologia, Filosofia,
Histria, Geografia, Arte,
Vanguardas europeias
Biologia, Fsica, Qumica.
e o primeiro momento
do Modernismo em
Portugal

P A R A C O M E A R
Ateno: No escreva 1. Faa uma leitura silenciosa dos poemas a seguir identificando o tom de cada um
No livro. Faa as
atividades No caderNo.
deles (triste, alegre, melanclico, otimista, pessimista, conformado, indignado).

dossel: armao de Poema 1


madeira ornamentada, Dorme, que a vida nada!

Alberto De Stefano/Arquivo da editora


usada sobre altares,
tronos, leitos.
Dorme, que tudo vo!
Se algum achou a estrada,
Achou-a em confuso,
Com a alma enganada.
No h lugar nem dia
Para quem quer achar,
Nem paz nem alegria
Para quem, por amar,
Em quem ama confia.
Melhor entre onde os ramos
Tecem dossis sem ser
Ficar como ficamos,
Sem pensar nem querer,
Dando o que nunca damos.
10/10/1933

Poema 2
Se quiserem que eu tenha um misticismo, est bem, tenho-o.
Sou mstico, mas s com o corpo.
A minha alma simples e no pensa.
O meu misticismo no querer saber.
viver e no pensar nisso.
No sei o que a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
cimo: alto, topo. Numa casa caiada e sozinha,
outeiro: colina. E essa a minha definio.

36 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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Poema 3

Alberto De Stefano/Arquivo da editora


As rosas amo dos jardins de Adnis,
Essas volucres amo, Ldia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas eterna, porque
Nascem nascido j o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visvel
Assim faamos nossa vida um dia,
Inscientes, Ldia, voluntariamente insciente: ignorante.
Que h noite antes e aps volucre: que tem vida
O pouco que duramos. curta.

Poema 4 (fragmento)
Lisbon revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angstia de fome de carne
O que no sei que seja
Definidamente pelo indefinido
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessrias.


Correram cortinas por dentro de todas as hipteses que eu poderia ver na rua.
No h na travessa achada o nmero da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.


At os meus exrcitos sonhados sofreram derrota.
At os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados. Lisbon revisited:
At a vida s desejada me farta at essa vida Lisboa revisitada.

[...]
24/4/1926

2. Relacione as ideias a seguir aos poemas lidos e escreva a resposta no caderno.


a) Valoriza o momento presente.
b) Deseja a integrao com a natureza.
c) Traduz grande angstia.
d) Revela grande desconcerto diante das opes do mundo.
e) pessimista.
f) Revela grande liberdade potica na adoo de versos livres.
g) Apresenta grande musicalidade devido mtrica fixa de seis slabas e do
esquema de rimas ABABA.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 37

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3. Pode-se afirmar que cada eu lrico em questo experimenta a vida de modo
distinto? Justifique sua resposta.

4. Com qual dos poemas voc mais se identifica. Por qu?

5. Aps identificar o tom dos poemas e resolver as atividades sobre eles, voc j
est mais familiarizado com os seus diferentes significados. Prepare-se agora
para a leitura expressiva de cada um deles. Para isso, faa a associao entre o
tom do poema, o ritmo e o volume de voz que voc deve imprimir durante a
leitura. Por exemplo, se o tom for alegre, o ritmo dever ser mais veloz e a voz
mais alta; se for triste, o ritmo dever ser mais lento e a voz mais baixa; quando
o tom do poema estiver entre indignado e pessimista, d leitura certa agres-
sividade de modo que possa traduzir mais claramente seus significados.

Os poemas apresentados foram escritos pelo poeta lisboeta Fernando Pessoa,


a partir de um projeto potico singular na literatura portuguesa: a heteronmia.
Cada poema1 pertence a uma diferente identidade potica criada por Pessoa,
com personalidade e histria prprias. Segue uma caracterizao dos trs mais
importantes heternimos e do prprio Fernando Pessoa (ortnimo). Os trechos
entre aspas, transcritos de carta (de 1935) do prprio Pessoa a Adolfo Casais
Monteiro, encontram-se na introduo do professor Massaud Moiss ao livro
O guardador de rebanhos e outros poemas.

Alberto Caeiro
Nasceu em 8 de maio de 1889. considerado o mestre dos demais. Alberto Caeiro um guardador
de rebanhos, o poeta das sensaes, que pretende ver e sentir sem pensar. Considera-se apenas poeta, por
isso foge para os campos com o intuito de viver como vivem as flores, as fontes, os prados. Sua poesia
desprovida de mtrica e rima. Sua simplicidade no permitiria a produo de uma poesia mediada por
elementos muito voltados para a racionalizao, como o rebuscamento da forma potica.

Ricardo Reis
Em carta ao poeta e crtico Adolfo Casais Monteiro, o prprio Fernando Pessoa apresenta Ricardo Reis: []
nasceu em 1887 (no me lembro do dia e ms, mas tenho-os algures), no Porto, mdico e est presentemente
no Brasil. [] educado num colgio de jesutas, , como disse, mdico. [] um latinista por educao alheia,
e um semi-helenista por educao prpria. Essa carta revela a formao cultural de Reis e seu gosto pela poesia
clssica. Seu mundo o do passado. Seus modelos poticos encontram-se na Grcia e na Roma antigas.

lvaro de Campos
Ao apresentar lvaro de Campos para Monteiro, Pessoa escreve: [] nasceu em Tavira, no dia 15 de
outubro de 1890 [] engenheiro naval, mas agora est aqui em Lisboa em inatividade []; teve uma
educao vulgar de liceu; depois foi mandado para a Esccia estudar engenharia, primeiro mecnica e
depois naval. lvaro de Campos, o mais moderno dos heternimos de Pessoa, um poeta futurista, das
mquinas e da fria demolidora. Para ele, a existncia no faz sentido em muitos aspectos, e isso o leva a
exploses de inconformismo e desespero.

1
Fontes dos poemas das pginas 36 e 37. Poema 1, 3 e 4: PESSOA, Fernando. O guardador de
rebanhos e outros poemas. So Paulo: Cultrix, 1991. Poema 2: PESSOA, Fernando. Poesia: Alberto
Caeiro. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.

38 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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Fernando Pessoa (ortnimo)
Fernando Pessoa promove a ligao entre o passado lrico portugus e a modernidade europeia,
reunindo a tradio s inovaes artsticas do incio do sculo XX. um poeta melanclico, sentimen-
tal, nostlgico, que, embora por vezes no encontre grandes razes para a existncia, no traduz essa
ideia de modo inconformado e agressivo, como faz lvaro de Campos.

6. Levando em conta as informaes desses quadros, na sua opinio quem so os


autores de cada um dos poemas apresentados?

7. Junte-se a dois colegas que tenham se identificado com o mesmo poema que
voc, pesquisem outro texto do mesmo heternimo ou do ortnimo e preparem
uma leitura expressiva, seguindo as orientaes apresentadas na atividade 5.

O poema que voc ler agora foi escrito sob o heternimo Alberto Caei-
ro. Acompanhe a viso de mundo de um eu lrico que se coloca no mesmo
TEXTO 1
plano de outros elementos da natureza, que abre mo do exerccio do
pensamento para se integrar s coisas, de ser com elas para ser parte delas.

O meu olhar
Alberto Caeiro

O meu olhar ntido como um girassol. Eu no tenho filosofia; tenho sentidos


Tenho o costume de andar pelas estradas Se falo na Natureza no porque saiba o que
Olhando para a direita e para a esquerda, [ela ,
E de vez em quando olhando para trs Mas porque a amo, e amo-a por isso
E o que vejo a cada momento Porque quem ama nunca sabe o que ama
aquilo que nunca antes eu tinha visto, Nem sabe por que ama, nem o que amar
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial Amar a eterna inocncia,
Que tem uma criana se, ao nascer, E a nica inocncia no pensar
Reparasse que nascera deveras
Sinto-me nascido a cada momento PESSOA, Fernando. Poesia: Alberto Caeiro. So Paulo:
Companhia das Letras, 2001. p. 26-27. (Alberto Caeiro, heternimo).
Para a eterna novidade do Mundo

Creio no mundo como num malmequer,


Porque o vejo. Mas no penso nele
Porque pensar no compreender
O Mundo no se fez para pensarmos nele
(Pensar estar doente dos olhos) pasmo: espanto,
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo surpresa.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 39

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INTERPRETAO DO TEXTO
1. Esse poema traduz uma inteno de ser e estar no mundo. Pode ser considera-
do a expresso de uma filosofia de vida, de uma ideia que explique o que, para
certa pessoa, deve ser sua existncia. Verifique nos itens que seguem como o
poeta constri essa ideia.
Observe as comparaes feitas nestes versos: O meu olhar ntido como um
girassol; Creio no mundo como num malmequer.
a) Pesquise o significado da palavra ntido e, em seguida, explique o que se
espera de um olhar ntido.
b) O girassol uma planta cujas flores se voltam para o Sol. Aponte que seme-
lhana com o girassol, num primeiro momento, tem o olhar do eu lrico.
c) Um girassol volta-se para o Sol porque essa ao faz parte de sua natureza.
Como o eu lrico pretende, portanto, olhar para as coisas ao seu redor?
d) O malmequer uma flor, um elemento concreto da natureza. Para o eu lrico,
crer no mundo corresponde a crer num malmequer. Que tipo de crena no
mundo, portanto, tem o eu lrico? Copie a resposta certa no caderno.
O eu lrico cr apenas nas flores e na natureza, no acredita nas pessoas,
que considera cegas para a realidade.
O eu lrico cr naquilo que concreto e palpvel. O mundo para ele corres-
ponde quilo que pode ser observado, experimentado pelos sentidos.
O eu lrico cr nas flores, mas se aborrece com o fato de no compreend-
-las. Ele gostaria de ser capaz de pens-las.
e) Destaque o(s) verso(s) da quarta estrofe que justifica(m) a resposta ao item d.

Alberto De Stefano/Arquivo da editora

2. Releia os seguintes versos:


Porque pensar no compreender / [] / (Pensar estar doente dos olhos) /
[] / E a nica inocncia no pensar.
a) Se olharmos para os elementos que esto a nossa volta e pensarmos neles,
que tipo de informaes certamente viro tona?
b) Nesse sentido, o que pode significar nesse poema os versos Pensar estar
doente dos olhos ou [...] pensar no compreender?
c) Que relao com os elementos que o cercam, portanto, o eu lrico Alberto
Caeiro deseja alcanar?

TEXTO 2 O poema que voc vai ler na pgina a seguir foi escrito sob o heter-
nimo Ricardo Reis. Durante a leitura, observe aspectos significativos rela-
cionados forma; note o tom de aconselhamento expresso nos versos.

40 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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1 Segue o teu destino, V de longe a vida. ara: para os antigos
pagos, mesa em que
Rega as tuas plantas, Nunca a interrogues. se faziam os sacrifcios;
Ama as tuas rosas. Ela nada pode para os catlicos, mesa
em que se colocam a
O resto a sombra Dizer-te. A resposta hstia e o clice
durante as cerimnias
5 De rvores alheias. 20 Est alm dos deuses. religiosas.
ex-voto: objeto com
A realidade Mas serenamente inscrio que se coloca
Sempre mais ou menos Imita o Olimpo em igreja ou capela
para pagamento de
Do que ns queremos. No teu corao. promessa ou para
S ns somos sempre Os deuses so deuses agradecer uma graa
alcanada.
10 Iguais a ns prprios. 25 Porque no se pensam.
PESSOA, Fernando. Poesias. Porto Alegre: L&PM,
Suave viver s. 1996. p. 107-108. (Ricardo Reis, heternimo).

Grande e nobre sempre


Alberto De Stefano/Arquivo da editora

Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
15 Como ex-voto aos deuses.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. Note que o poema de Ricardo Reis se situa em outro plano de composio po-
tica e abordagem de contedo. Trata-se tambm da viso de mundo do eu lri-
co. Segundo esse eu lrico, como deve ser vivida a vida?
2. O que o eu lrico aprende ao observar os deuses do Olimpo?
3. Observe a composio do poema.
a) Quantas so as slabas poticas de cada verso?
b) Leia os versos do 18 ao 20, na quarta estrofe do poema. Reescreva-os no
caderno, dividindo esses versos em duas frases.
c) Note que o verso 19 contm o final da primeira frase (Dizer-te.) e o incio
da segunda (A resposta). Em relao forma, explique o objetivo dessa
organizao incomum.
d) Comente o contedo da quarta estrofe e explique sua importncia no poema.
4. Perceba que, quanto forma, a construo potica de Ricardo Reis diferencia-se
da adotada por Alberto Caeiro. A biografia de ambos explica a diferena. Volte
seo Para comear e justifique a maior formalidade potica de Ricardo Reis.
5. Como voc viu na seo Para comear, Alberto Caeiro considerado mestre dos
demais heternimos de Fernando Pessoa.
a) Copie no caderno os versos do poema de Ricardo Reis que revelam a in-
fluncia de Alberto Caeiro.
b) Esses versos revelam que a influncia exercida est no campo da forma (com-
posio dos versos, mtrica, rimas, etc.) ou no campo do contedo (viso de
mundo do poeta)?

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 41

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Habilidades >
leitoras Para resolver as questes da atividade de leitura, voc precisou:

identificar e analisar comparaes presentes nos versos do poema;

reconhecer e comparar a viso de mundo de cada eu lrico, constatando
semelhanas (influncias) e diferenas;

analisar a forma e o contedo dos dois poemas.

O poema a seguir assinado pelo prprio Fernando Pessoa. Observe


TEXTO 3 os pontos comuns com os poemas estudados e procure identificar uma
caracterstica que o singularize.

Chove? Nenhuma chuva cai

Ilustraes: Alberto De Stefano/Arquivo da editora


Ento onde que eu sinto um dia
Em que o rudo da chuva atrai
A minha intil agonia?

Onde que chove, que eu ouo?


Onde que triste, claro cu?
Eu quero sorrir-te, e no posso,
cu azul, chamar-te meu

E o escuro rudo da chuva


constante em meu pensamento.
Meu ser a invisvel curva
Traada pelo som do vento

E eis que ante o sol e o azul do dia,


Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro E a lua e a sua alegria
Cai aos meus ps como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.


H sempre escuro dentro em mim.
Se escuto, algum dentro em mim ouve
A chuva, como a voz de um fim

Quando que eu serei da tua cor,


Do teu plcido e azul encanto,
estorvar: importunar,
incomodar.
claro dia exterior,
plcido: sereno, suave. cu mais til que o meu pranto?
PESSOA, Fernando. Poesias. Porto Alegre:
L&PM, 1996. p. 22-23. (Fernando Pessoa, ortnimo).

42 UNIDADE 1 UM OLHAR CRTICO

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Interpretao do texto
1. O estado de esprito do eu lrico do poema em estudo bem diferente do estado
de esprito do eu lrico de cada um dos poemas vistos antes. Que diferena essa?

2. Est clara, no poema, a oposio entre o mundo interior do eu lrico e a paisagem


que o envolve. Em que consiste essa oposio?

3. Levante hipteses: por que o eu lrico considera sua agonia intil?

4. Por mais que o eu lrico no deseje que esse sentimento de tristeza o invada, ele
persiste na imagem de intil agonia, procurando descrev-la com detalhes.
Observa-se, portanto, um eu lrico j voltado para a anlise das sensaes (dife-
rente de Caeiro, que pretende apenas sentir sem pensar). No contexto de Pessoa,
o pensar (renegado por Caeiro) ganha importncia, no s ao se observar um
estado interior, mas tambm na organizao formal do poema. Note que a ex-
posio dessa tristeza no se d de forma espontnea, h uma preocupao
formal de construo. Analise o poema quanto forma.
a) Indique o nmero de estrofes, de versos em cada estrofe, o nmero de slabas
poticas e o esquema de rimas desse poema.
b) H outras duas caractersticas na construo desse poema que lhe do gran-
de beleza musical: 1 os acentos (slabas tnicas) caem sobre a quarta s-
laba, dando nfase na quarta e na ltima slabas tnicas de cada verso; 2 em
vrias estrofes h enjambement ou cavalgamento: transferncia da pausa
mtrica de um verso para a primeira slaba do verso seguinte (a unidade
sinttica excede o limite de um verso e monta o prximo), tornando a
leitura mais fluida e reforando um dado do poema. Levando isso em conta,
em casa releia o poema em voz alta, observando seus acentos, respeitando
a pontuao contida no interior das estrofes, dando nfase aos enjambe-
ments, para perceber a fluidez e a sonoridade dos versos.

Para entender
O modernismo portugus
As vanguardas europeias e o
cenrio do Modernismo
A arte moderna rompe com os valores artsticos dos sculos anteriores. Esse
novo modelo artstico impulsionado pelas vanguardas europeias do incio do
sculo XX, inquietas e revolucionrias, que representam diversas tendncias. Da
os inmeros manifestos artsticos que se lanam nesse perodo, procurando, em
geral, defender uma arte mais livre do controle da razo e mais prxima da
possibilidade de representar a vida em movimento.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 43

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Entre os muitos movimentos inovadores dessa poca, destacam-se os seguintes:

Expressionismo
Queremos expressar nosso mundo interior.

Reproduo/Galeria Nacional de Arte, Oslo, Noruega.


Nossas sensaes!!!
Visionrios, queremos liberar as energias
humanas acumuladas!
Abaixo as preocupaes banais do mundo industrial!

O grito, de Edvard Munch, 1893. leo sobre tela, tmpera e


pastel sobre carto. 83,5 cm 66,0 cm. Essa tela seria a
principal influncia para os artistas do expressionismo.
Formado na Alemanha por volta de 1904, esse movimento
tem como inteno principal retratar, na obra de arte, as
sensaes do artista. Perceba como, em contraste com as
linhas finas, as pinceladas grossas, sinuosas e em cores fortes
de Munch parecem ecoar o assunto do quadro: o grito,
produzido pela personagem fora do centro do quadro.

Cubismo
Pela destruio das imagens convencionais e estticas! Que-
Reproduo/Museu de Arte Moderna de Nova York, EUA.

remos retratar a fragmentao do mundo de hoje! Buscamos a


ironia e a perturbao na obra. Colamos nela recortes de jornais,
bilhetes, pedaos de tecidos, letras impressas!

Les demoiselles dAvignon, de Pablo Picasso, 1907. leo sobre tela.


243,9 cm 233,7 cm. Esse quadro simboliza bem as ideias cubistas:
rompe com a perspectiva renascentista e procura uma soluo para o
problema do artista plstico de ento: como, num nico quadro, dar a
ideia de vrios olhares sobre uma mesma figura? Para atingir esse
objetivo, Picasso prope decompor e recompor a figura em seus vrios
ngulos, simultaneamente. Observe, por exemplo, a mulher direita,
na parte mais baixa da obra: seu rosto est de frente, o nariz de perfil
e cada olho parece ser visto de um ngulo diferente.

Futurismo
Acreditamos na coragem! Na revolta! No perigo!
Amamos a velocidade! O mundo moderno feito por mquinas!
Reproduo/Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA.

Velocidade abstrata, de Giacomo Balla, 1913-1914. leo sobre


tela. 50,2 cm 65,4 cm. Veja como Balla cria a noo de
velocidade: com poucas cores, misturando planos e dimenses
(repare no caracol que permeia todo o quadro com as cores azul
e branco e como a pintura ultrapassa as bordas da tela), constri
a impresso de movimento. Assim, esse artista procura responder
questo futurista: como representar, num meio fixo, como uma
tela, a velocidade? O primeiro manifesto futurista foi publicado
em Paris, em 1909, pelo italiano Marinetti, lder do movimento.

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Surrealismo
Abaixo a razo! Queremos ser livres e nos guiar

Reproduo/Museu de Arte Metropolitano, Nova York, EUA.


pelo inconsciente! Viva a loucura!
Pela escrita automtica escrevemos sem pensar!

A persistncia da memria, de Salvador Dal, 1931. leo sobre


tela. 24cm 33cm. Na obra desse famoso representante do
surrealismo, note o clima de fantasia e sonho nessa
representao da memria, na figura de relgios que derretem
sob um cu azul, em meio areia de um deserto. Esse
movimento teve incio na dcada de 1920, sob a liderana de
Andr Breton, e envolveu poetas e artistas plsticos que, em
parte influenciados pelas descobertas de Freud, se interessavam
em desenvolver as possibilidades do inconsciente.

O Modernismo, que comea a se formar a partir dessas primeiras tendncias,


misturando-as, expressa uma nova forma de o homem ocidental observar, sentir
e interpretar a vida experimentada nas cidades do incio do sculo XX. O espri-
to moderno produto das ambguas experincias que o ser humano passa a vi-
venciar as metrpoles oferecem ao indivduo
diversas possibilidades de realizao pessoal, inte- Entre 1914 e 1918, as grandes potncias europeias
lectual, amorosa, econmica, etc., ao mesmo tempo envolvem-se num confronto, a Primeira Guerra
que desencadeiam sensaes de desconforto, insa- Mundial, desencadeado pela ambio imperialista.
tisfao, solido e desespero existencial. Divulgada como uma aventura sem precedentes, a
O panorama europeu que constitui o centro guerra leva pais a alistarem seus filhos, reservistas
das preocupaes expressas nas artes formado a aflurem aos postos de recrutamento voluntrio.
pelos vertiginosos acontecimentos da Primeira Com o morticnio que ocorre de fato, a euforia e a
Guerra Mundial e da Revoluo Russa, que acele- autoconfiana cedem lugar ao desespero e crise
ram a ruptura com as ideias do passado, e pela generalizada. A ideia da Europa como modelo de
civilizao e progresso, acalentada pelo esprito da
radicalizao, tanto ideolgica quanto esttica,
belle poque, comea a ruir.
de uma srie de inovaes.

A Revoluo Russa baixas patentes, nas camadas mdias e pobres da


Os desastres dos exrcitos russos na Primeira populao.
Guerra Mundial levam o czarismo ao colapso. Em Os sovietes conselhos de trabalhadores que
1917, um governo republicano de coalizo assume tomam fbricas, fazendas, quartis e reparties
o comando do pas. A continuao dos conflitos, promovem por toda a Rssia a chamada Revoluo
entretanto, gera descontentamento popular. Revol- Russa. Trotski negocia um acordo em separado com
tas de soldados irrompem, e o pequeno partido a Alemanha, retirando seu pas da guerra.
bolchevique composto de intelectuais e lideran- Se essa revoluo representava a possibilidade
as proletrias aproveita-se da crise para, em de concretizar o sonho de quem acreditava nos
outubro desse ano, desferir com sucesso um golpe ideais socialistas e na classe trabalhadora no po-
contra a monaquia russa. Sob o comando de Lenin, der, ela tambm amedrontava a burguesia. Isso
bandeiras vermelhas tremulam nas ruas, divulgan- colaborou para destruir a confiana nos valores e
do o desejo de Po, terra e liberdade. O levante na estabilidade do mundo ocidental como ele en-
bolchevista encontra apoio entre os soldados de to era conhecido.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 45

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Portugal
Portugal vivia o perodo inicial da Repblica, proclamada em 1910, em que
atuam dois grupos: os que aceitam a Repblica (Partido Democrtico) e os incon-
formados, que fundam o Integralismo Portugus, responsvel pelo desencadea-
mento das reaes polticas que levariam o pas ditadura em 1928. Essa situao
provoca discusses e em muitos fortalece o esprito nacionalista.
No poder, os integralistas convidam, para desenvolver uma poltica de medi-
das austeras, o professor de Finanas da Universidade de Coimbra, Antnio de
Oliveira Salazar. Ao assumir em 1928, Salazar d incio a uma ditadura que s
terminaria com a Revoluo dos Cravos, em 1974.
Costuma-se dividir o movimento modernista portugus em duas fases:
o orfismo, iniciado em 1915, com a publicao da revista Orpheu; e o presen-
cismo, iniciado em 1927, com o lanamento da revista Presena. Meio de
comunicao mais significativo desse perodo, as revistas literrias foram as
responsveis por informar, divulgar, valorar e consagrar o que se produziu em
literatura nessa poca.

Primeiro Modernismo em Portugal


(1915-1927)
Lanada em 1915, a revista Orpheu decreta o fim dos
Reproduo/Arquivo da editora

valores artsticos do sculo XIX. por meio dela que o


sculo XX e suas experimentaes literrias ganham es-
pao em Portugal. Nos textos de dois de seus participan-
tes, como Fernando Pessoa e Mrio de S-Carneiro, j
se identificavam aspectos que marcariam a literatura
modernista.
Movimento tpico de Lisboa, o orfismo organiza-se
com o objetivo de escandalizar o burgus. Os artistas
afirmavam-se contra o provincianismo e a literatura
estereotipada dos perodos anteriores. Embora tenha
chocado a sociedade, o orfismo no conquistou grande
pblico.

Segundo Modernismo
em Portugal (1927-1940)
Pgina de rosto do
primeiro nmero da A revista Presena, por sua vez, inaugura um perodo de ceticismo em relao
revista Orpheu, na qual aos ideais republicanos. O objetivo de seus integrantes dar continuidade ao
comea a ganhar corpo
a caracterstica projeto de modernidade iniciado com a Orpheu, mas sem os radicalismos que
fundamental do marcaram essa publicao e chocaram a burguesia.
primeiro Modernismo
Jos Rgio, grande escritor portugus da poca, um dos fundadores da
portugus: o esprito
contraditrio. revista. Sua obra representa as tendncias do grupo: inclinao ao psicologismo
e reflexo filosfica, seguindo a tendncia europeia geral.

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Caractersticas do Modernismo
portugus
Crise de valores e necessidade de provocao
A obra do primeiro momento modernista apresentava-se estranha e aliena-
da, evidenciando uma crise de valores. A poesia repudiava toda ideia pronta, s
aceitava a anarquia. Essa poesia se queria chocante, irreverente. Para ser moder-
no, o poeta precisava romper com o passado. A contradio entre o cosmopoli-
tismo modernista e o nacionalismo, de carter simbolista, ainda era grande.

Reconciliao de opostos
A ideia de unir os opostos no era nova. A novidade estava em tentar conci-
li-los. A inteno fundamental dos modernistas portugueses era estabelecer a
mais ntima relao entre os contrrios da vida. O poeta pretende-se os dois
opostos, como observamos neste trecho de um poema de Mrio de S-Carneiro:
Eu no sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermdio:
Pilar da ponte de tdio
Que vai de mim para o Outro.
S-CARNEIRO, Mrio de. In: MOISS, Massaud. Presena da literatura portuguesa.
2. ed. So Paulo: Difuso Europeia de Livros, 1971.

Principais autores
Fernando Pessoa
Retrato de Fernando Pessoa, de Almada
Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa. Vai para a Negreiros, 1954. leo sobre tela,
frica do Sul com a me e o padrasto aos 5 anos e vive em Durban 201 cm 201 cm. Experimentando nas
artes plsticas e na poesia muitas das
at concluir o colgio ingls. De volta a Lisboa, comea a frequen- possibilidades abertas pelas vanguardas do
tar a faculdade, mas no conclui os estudos. incio do sculo XX, Almada Negreiros foi o
Um dos produtores de Orpheu, Pessoa dirige o segundo n- modernista mais radical do grupo da
Orpheu.
mero da revista, que define as caractersticas do movimento.
Reproduo/Museu da Cidade de Lisboa, Portugal.

O artista publica em vida apenas um livro, Mensagem, ganhan-


do com ele o segundo lugar no concurso institudo pelo Secreta-
riado de Propaganda Nacional de Lisboa.
Fernando Pessoa, um dos maiores nomes da literatura portu-
guesa, rene em sua produo caractersticas de marcantes nomes
das letras de seu pas, como Cames, Bocage, Camilo Pessanha. Em
Cames, por exemplo, que cantou as glrias de Portugal, Pessoa v
a inspirao maior para seu projeto de valorizar a cultura do pas.
Homem de seu tempo, Pessoa cria um modelo prprio para trans-
mitir a conturbao do sculo XX. Soube como ningum casar tradio
com modernidade, tradio com angstia pr-guerra. Deu voz s
grandes inquietaes, aos medos e aos sentimentos mais obscuros do
homem do incio do sculo e sua nova organizao social.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 47

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Heteronmia
Em um processo muito singular na literatura portuguesa, Fernando Pessoa
multiplica-se, divide-se e cria os heternimos. Estes se caracterizam por terem
identidade prpria, como se fossem outras pessoas.
Por meio deles, Pessoa consegue ver e sentir o que outros sentem. Formas
arquetpicas representam padres ou modelos de diversos tipos de indivduos.
De alguma maneira, em geral possvel se identificar com um de seus heterni-
mos mais conhecidos: lvaro de Campos (revoltado, representa o homem em
desespero), Ricardo Reis (humanista, representa a valorizao dos ideais greco-
-latinos) e Alberto Caeiro (apegado natureza e simplicidade, representa o
homem que se recusa a racionalizar).
Sobre esse fenmeno, leia o trecho de uma carta (de 1935) de Pessoa a
Adolfo Casais Monteiro:

A por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me ideia escrever uns poemas de ndo-
le pag. Esbocei umas coisas em verso irregular (no no estilo lvaro de Campos, mas num estilo de
meia regularidade), e abandonei o caso. [...]
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao S-Carneiro de
inventar um poeta buclico, de espcie complicada, e apresentar-lho, j me no lembro como, em
qualquer espcie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que
finalmente desistira - foi em 8 de maro de 1914 - acerquei-me de uma cmoda alta, e, tomando
um papel, comecei a escrever, de p, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas
a fio, numa espcie de xtase cuja natureza no conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida,
e nunca poderei ter outro assim. Abri com o ttuloGuardador de rebanhos. E o que se seguiu foi o
aparecimento de algum em mim, a quem dei desde logo o nomeAlberto Caeiro. Desculpe-me o
absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensao imediata que tive. E tanto
assim que, escrito que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e es-
crevi, a fio, tambm, os seis poemas que constituem aChuva oblqua, de Fernando Pessoa. Imediata-
mente e totalmente. [...]
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente - uns dis-
cpulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-me a si
mesmo, porque nessa altura j o via. E, de repente, e em derivao oposta de Ricardo Reis, surgiu-me
impetuosamente um novo indivduo. Num jacto, e mquina de escrever, sem interrupo nem emenda,
surgiu aOde triunfalde lvaro de Campos - aOdecom esse nome e o homem com o nome que tem.
Disponvel em: <www.cfh.ufsc.br/~magno/cartaadolfocasais.htm>. Acesso em: 6 mar. 2008.
Mantivemos a acentuao e a grafia original.

Mrio de S-Carneiro
O lisboeta Mrio de S-Carneiro (1890-1916), filho de um engenheiro bem-
-sucedido, em 1912 publica seu primeiro livro de contos: Princpio. Em 1914 entra
em contato com Fernando Pessoa e outros artistas portugueses, fundando a
revista Orpheu. Aos 25 anos suicida-se.
O escritor tem uma produo significativa contos, narrativas, poesia, tea-
tro em apenas quatro anos de criao. quase impossvel separar o que pro-
duziu do que viveu.
S-Carneiro era excessivamente sensvel para trabalhar os sentimentos com
certo distanciamento. Sentia-se alheio vida, sem aptido para o mundo diante

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dele. Assim, o poeta volta-se para si mesmo e vive em quase total solido. Sua
obra revela um eu lrico depressivo, derrotado, sem existncia material alma
perdida num labirinto procura de um eu mais profundo.

Epgrafe
Mrio de S-Carneiro

A sala do castelo deserta e espelhada. A cor morreu e at o ar uma runa


Tenho medo de Mim. Quem sou? Vem de outro tempo a luz que me ilumina
De onde cheguei? Um som opaco me dilui em Rei
Aqui, tudo j foi Em sombra estilizada, S-CARNEIRO, Mrio de. Poesia. So Paulo: Iluminuras, 1995.

Florbela Espanca
Figura feminina relevante da literatura portuguesa do perodo, Florbela Espan-
ca (1894-1930) no recebeu o devido reconhecimento em vida. Acusada de imoral,
foi discriminada pela sociedade burguesa. No poema que voc ler a seguir, procu-
re observar de que forma essa avaliao social conservadora sobre a poetisa pode
ser, de certo modo, comprovada. Por exemplo, ao ler versos como: Quem disser que
se pode amar algum/ Durante a vida inteira porque mente! possvel pensar na
reao dos leitores da poca, de acordo com suas crenas, suas regras. Numa socie-
dade em que as mulheres eram criadas para ter como principal objetivo na vida um
bom casamento, no acreditar em um amor para a vida inteira significava ir contra
comportamentos morais preestabelecidos e quase inquestionveis.
Marcados por fortes impulsos erticos, sentimentos de paixo incontrolvel,
confidncias amorosas, os sonetos de Florbela Espanca apresentam o drama de
um eu lrico em busca de emoo.

Amar!
Reproduo/Arquivo da editora

Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente!


Amar s por amar: Aqui alm
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E no amar ningum!

Recordar? Esquecer? Indiferente!


Prender ou desprender? mal? bem?
Quem disser que se pode amar algum
Durante a vida inteira porque mente!

H uma Primavera em cada vida:


preciso cant-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser p, cinza e nada


Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder pra me encontrar
ESPANCA, Florbela. Poemas de Florbela Espanca. Florbela Espanca em foto da dcada
So Paulo: Martins Fontes, 1996. de 1920.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 49

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Sintetizando as vanguardas europeias e o Modernismo portugus

Copie o esquema a seguir no caderno e complete-o com base no que foi estudado no captulo.

a) Historicamente, o mundo vivia no incio do sculo XX: .

b) So caractersticas do Modernismo portugus: .

c) As vanguardas europeias representavam .

d) Os escritores mais importantes do perodo so: .

T E X T O E C O N T E X T O
O tom deste poema, do heternimo lvaro de Campos, bastante diferente
do que vimos nos poemas dos demais heternimos. Observe os recursos utilizados
por ele para deixar clara sua grande insatisfao.

Alberto De Stefano/Arquivo da editora

Lisbon revisited (1923)


lvaro de Campos

No: no quero nada.


J disse que no quero nada.

No me venham com concluses!


A nica concluso morrer!

No me tragam estticas!
No me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafsica!
No me apregoem sistemas completos, no me
[enfileirem conquistas
Das cincias (das cincias, Deus meu, das cincias!)
Das cincias, das artes, da civilizao moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se tm a verdade, guardem-na!

Sou um tcnico, mas tenho tcnica s dentro da tcnica.


Fora disso sou doido, com todo o direito a s-lo.
Com todo o direito a s-lo, ouviram?

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No me macem, por amor de Deus! maar: aborrecer com
repetio ou conversa
enfadonha.

Inacio Pires/Shutterstock/Glow Images


Queriam-me casado, ftil, quotidiano e tributvel?
Queriam-me o contrrio disto, o contrrio de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham pacincia!
Vo para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

No me peguem no brao!
No gosto que me peguem no brao. Quero ser sozinho.
J disse que sou sozinho!
Ah, que maada quererem que eu seja da companhia!

cu azul o mesmo da minha infncia


Eterna verdade vazia e perfeita!
macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o cu se reflete!
mgoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! No tardo, que eu nunca tardo


E enquanto tarda o Abismo e o Silncio quero estar sozinho! Lisboa, margem do rio Tejo, 2010.
PESSOA, Fernando. O guardador de rebanhos e outros poemas. So Paulo:
Cultrix. p. 178-179. (lvaro de Campos, heternimo).

1. Contra o que o eu lrico do poema Lisbon revisited (1923) expe sua opinio?

2. Observe a pontuao do texto, o nmero de slabas poticas em cada verso e


outros elementos expressivos do poema. Indique quais so os recursos usados
pelo poeta para traduzir sua insatisfao, sua inquietao.

3. Para quem o eu lrico fala?

4. A sensao de estar no mundo de lvaro de Campos assemelha-se de Fernan-


do Pessoa (ortnimo).
a) Justifique essa afirmao.
b) H, no entanto, uma diferena no modo de experimentar e expor essa sen-
sao. Nos poemas isso aparece tanto no plano do contedo como no plano
da forma. Aponte essa diferena.

5. O poema Lisbon revisited (1923), do heternimo lvaro de Campos, apresen-


ta algumas das inquietaes e dos medos da sociedade moderna do incio do
sculo XX. Voc reconhece nessas inquietaes semelhanas com certas preo-
cupaes das pessoas do sculo XXI? Justifique sua resposta com exemplos. .

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 51

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C O M P A R A N D O T E X T O S
Releia o poema As rosas amo dos jardins de Adnis, pgina 37, do heter-
nimo Ricardo Reis, e compare seu contedo a uma das odes do poeta latino
Horcio (65 a.C. 8 a.C.).

Ode Leucono
Horcio

Tu no indagues ( mpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses


tenham dado, Leucono, nem recorras aos nmeros babilnios.
To melhor suportar o que ser! Quer Jpiter te haja concedido muitos
invernos, quer seja o ltimo o que agora debilita o mar Tirreno nas
rochas contrapostas, que sejas sbia, coes os vinhos e, no espao
breve, cortes a longa esperana. Enquanto estamos falando, ter
fugido o tempo invejoso; colhe o dia, quanto menos confiada no de amanh.
HORCIO. Ode Leucono. In: ACHCAR, Francisco (trad.).
Lrica e lugar-comum: alguns temas de Horcio e sua presena em portugus.
So Paulo: Edusp, 1994. p. 88.

coar os vinhos: o antigo hbito nmeros babilnios: clculos


de coar o vinho antes de beb-lo astrolgicos (os babilnios so
para eliminar possveis impurezas. conhecidos por suas observaes
da movimentao dos astros e por
confiado: confiante, aquele que
terem desenvolvido diferentes
acredita.
clculos sobre esses fenmenos).
mpio: nefasto, nocivo, prejudicial.

Leucono: nome feminino


formado, provavelmente, a partir
dos vocbulos gregos leukos,
branco, cndido, e nous,
esprito, alma.

Voc j sabe que os modelos poticos de Ricardo Reis encontram-se na anti-


guidade grega e romana. Podemos afirmar, portanto, que Horcio, considerado
um dos mais importantes poetas da Roma antiga, certamente inspirou a produ-
o literria desse heternimo de Fernando Pessoa.

1. Identifique o interlocutor do eu lrico (a quem ele se dirige) em cada um dos


poemas.

2. Nos dois poemas, o que representam esses interlocutores?

3. Por meio de percursos argumentativos diferentes, cada eu lrico procura


convencer seu interlocutor de uma ideia semelhante. Que ideia essa?

4. No incio da ode de Horcio, a fala do interlocutor est pressuposta, e em


torno dessa fala que se desenvolve a argumentao do eu lrico. Com quais ideias
o eu lrico discute?

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5. Parafraseie o conselho do eu lrico a Leucono.

6. O percurso argumentativo do eu lrico do poema As rosas amo dos jardins de


Adnis diferente daquele adotado no poema Ode Leucono, de Horcio.
a) O que o eu lrico do poema de Ricardo Reis afirma inicialmente para Ldia?
b) Essa afirmao pretexto para qu?

7. Em que consiste a diferena de estratgias argumentativas?

8. Observe as formas verbais do texto:

TEXTO 1 TEXTO 2
As rosas amo do jardim de Adnis Ode Leucono
(Ricardo Reis) (Horcio)

MODO INDICATIVO MODO INDICATIVO


amo, nascem, morrem, , , ser, estamos (falando),
acabam, h, duramos ter (fugido)
MODO SUBJUNTIVO MODO SUBJUNTIVO
deixe tenham (dado), haja (concedido),
sejam
MODO IMPERATIVO
faamos MODO IMPERATIVO
indagues, recorras, sejas,
coes, cortes, colhe

a) Identifique qual(is) modo(s) verbal(is) predomina(m) em cada um dos textos.


b) De que modo esses empregos confirmam as estratgias argumentativas
adotadas?

9. Em sua opinio, qual das duas estratgias mais convincente? Justifique.

E por falar em vanguardas europeias...


Certamente, voc conhece alguns movimentos artsticos ou de jovens que
querem chamar a ateno das pessoas para o que fazem. Ora esses movimentos
agradam, ora desagradam, ora chegam mesmo a provocar reaes inesperadas
das pessoas. Foi uma situao assim que ocorreu no incio do sculo XX, na Eu-
ropa, quando surgiram os movimentos de vanguarda. Os artistas eram conside-
rados por muitos como inadequados, atrevidos, e a obra deles era pouco com-
preendida. No se pode negar, no entanto, que a arte produzida por eles tambm
era valorizada por muita gente.
Voc vai conhecer agora uma ideia denominada craftivism. Ela foi idealiza-
da pela norte-americana Betsy Greer e defende o artesanato como forma de
protesto. Segundo a criadora, esse movimento nasceu de um contexto espec-
fico, ou seja, foi a situao em que vive que a motivou a pensar em uma atitu-
de desse tipo.
Leia na prxima pgina uma entrevista que Betsy Greer concedeu revista
Vida Simples, para saber o que esse movimento.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 53

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Craftivism
Priscilla Santos

O que craftivism?
um conceito que vem da unio das palavras craft (artesanato) e ativism (ativis-
mo). Lancei essa ideia porque acredito que o trabalho manual pode ser usado como
uma forma no tradicional de protesto.
Ao segurar um cartaz de no guerra em uma esquina, h grandes chances de
voc no conseguir engajar ningum em uma conversa produtiva em torno do tema.
Mas, quando voc tricota a mesma mensagem em um sweater, as pessoas pensam:
Espera a. Por que essa pessoa fez isso em sua roupa? Por estilo? Por revolta?. Isso
possibilita outro modo de ativismo, menos de confronto e mais de engajamento.
Existe uma reao ao hiperconsumismo?
O materialismo e o consumismo desenfreados tm tudo a ver
Betsy Greer/<http://etsy.com>

com o aumento do interesse por produtos artesanais. As pessoas


esto comeando a se questionar sobre como e por quem os produ-
tos so realmente feitos e de onde vm as matrias-primas. Quando
voc comea a fazer cachecis e chapus, subitamente percebe que
necessrio muito mais dinheiro para fazer essas peas do que para
compr-las. Por qu? Como isso se torna vivel economicamente?
Nos damos conta de que em algum lugar algum no est sendo
justamente pago por seu trabalho ou os materiais so de baixa qua-
lidade. Manufaturar um ato poltico na medida em que desapon-
ta o atual sistema de consumo. Em vez de ir ao shopping comprar os
cachecis do momento, estamos fazendo os nossos prprios.
Autora do livro Knitting Revista Vida Simples, fev. 2010.
for good (Tric pelo
bem, em livre traduo),
a norte-americana Betsy 1. Em grupo, conversem sobre o contexto social em que vocs vivem. O que a
Greer acredita que os sociedade est enfrentando? O que vocs poderiam fazer? De que movimento
trabalhos artesanais
podem mudar o mundo. a sociedade precisaria? Pensem e discutam sobre essas questes. Em seguida,
criem um movimento, um conceito, uma ideia. Deem um nome a ele e pensem
no que esse movimento poderia propor.
Depois das discusses e das decises tomadas, comecem a produo de um texto
como o que vocs leram sobre craftivism: primeiro, respondam questo: O que
? Em seguida, elaborem uma pergunta que represente a situao para a qual o
movimento de vocs seria a resposta. Por exemplo: Seria uma resposta violncia?

2. Depois de elaborado o texto, apresentem oralmente classe o conceito, a ideia


do movimento criado por vocs. Para essa apresentao oral, produzam:
trechos expositivos, em que fique clara a ideia do movimento, o que essa
ideia em que vocs acreditam;
trechos argumentativos, em que sejam defendidas as opinies de vocs.
Lembrem-se de usar argumentos, ideias convincentes e reais para a classe
aceitar o movimento que vocs criaram. Utilizem como exemplos notcias,
dados numricos, falas de autoridades, trechos de msicas, etc. O ideal que
vocs usem uma variedade lingustica mais formal e tenham objetividade.

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A P R O V E I T E P A R A...

... ler
As vanguardas artsticas, de Mrio de Micheli, editora Martins Fontes.
O livro comenta as correntes artsticas que, no incio do sculo XX, marcam a ruptura com
a arte do passado.

Poemas de Florbela Espanca: estudo introdutrio, de Florbela Espanca,


editora Martins Fontes.

Reproduo/Editora Companhia das Letras


Obra com diversos poemas da escritora portuguesa.

A confisso de Lcio, de Mrio de S-Carneiro, editora Ncleo.


Romance portugus que conta a histria de Lcio, um jovem escritor acusado de ma-
tar um homem e que, apesar de sua possvel inocncia, passa dez anos na priso.

Poesias, de Fernando Pessoa, editora L&PM.


Poemas de Fernando Pessoa e seus principais heternimos.

O ano da morte de Ricardo Reis, de Jos Saramago, editora


Companhia das Letras.
Neste livro do premiado escritor portugus Jos Saramago, Ricardo Reis confronta-se
com os acontecimentos histricos de 1936.

Fernando Pessoa: o menino da sua me, de Amlia


Everett Collection/Keystone

Pinto Pais, editora Companhia das Letras.


Livro composto de duas partes. Na primeira, a autora d
voz personagem Fernando Pessoa, que conta sua histria
numa espcie de autobiografia. Na segunda, so apresentados
poemas que tratam da infncia e dos heternimos de Fernan-
do Pessoa.

... assistir a
Reds, de Warren Beatty (EUA, 1981).
Baseado na histria do jornalista norte-americano John
Reed, que vai Rssia para escrever sobre a Revoluo de 1917.

Metrpolis, de Fritz Lang (Alemanha, 1927).


Em Metrpolis, no ano 2026, os indivduos dividem-se em
duas castas: a dos intelectuais e a dos operrios. Nesse cenrio, o
filho do prefeito apaixona-se por uma operria.

... ver na internet


www.vestibulandoweb.com.br/vestibular-obras-completas.asp
Textos de Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Mrio de S-Carneiro. Acesso em: 15 nov. 2012.

www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo1/mapeamentos/
index.html
Mapeamento das vanguardas europeias do incio do sculo XX, com links para mais infor-
maes sobre cada escola. Acesso em: 21 nov. 2012.

VANGUARDAS EUROPEIAS E O PRIMEIRO MOMENTO DO MODERNISMO EM PORTUGAL 55

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UniDADe

2 tecendo
conversas
Nesta unidade, voc vai conhecer o gnero entrevista e a produ-
o potica e em prosa das duas primeiras geraes do Modernismo
brasileiro. O captulo de Lngua e produo de texto mostra como
as entrevistas so estruturadas. E os dois captulos de Literatura
apresentam o processo de interlocuo de outra maneira: como o
dilogo entre diversas manifestaes culturais colabora para a cons-
truo de uma nova representao artstica.

Robert Daly/Stone/Getty Images

So muitos os elementos que podem nos


remeter ao gnero entrevista: um microfone,
uma cmera de TV (as ferramentas), um
grupo de fs (o pblico), uma figura pblica
(o entrevistado), uma reprter (a
entrevistadora). Mas um elemento
fundamental: o dilogo. por meio de uma
conversa direcionada um interlocutor tem
muito para falar, e o outro, pronto para ouvi-
-lo, traz uma lista de perguntas a fazer que
se estrutura a entrevista.

56 UniDADe 2

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Rogrio Soud/Arquivo da editora

Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em


< Quadro de
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Interpretar textos do gnero entrevista, observando o suporte
e os diferentes recursos textuais para comunicao das ideias.
Reconhecer as oraes subordinadas adverbais, analisando
como so construdas e o que expressam.
Produzir um texto introdutrio para uma entrevista.
Entrevistar uma pessoa e fazer a retextualizao para a pu-
blicao da entrevista.
Ler e interpretar textos de diferentes representantes da pri-
meira e da segunda gerao do Modernismo brasileiro.
Conhecer o contexto histrico e social em que se desenvol-
veram as duas geraes modernistas no Brasil.
Identificar caractersticas da prosa e da poesia da primeira
gerao modernista e da poesia da segunda gerao
modernista.
Constatar caractersticas do Modernismo revela-
das em poemas de representantes desse movi-
mento literrio.

57

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lngUA e proDUo De teXto

A entrevista
> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Arte,
Fsica, Qumica, Biologia,
Matemtica.

ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.

p A r A c o m e A r
Voc vai ler duas entrevistas com pessoas diferentes, cujas partes (entrevis-
tados, perguntas e respostas) foram separadas e misturadas. Sua tarefa ser
relacion-las com base em elementos do prprio texto que marcam a continui-
dade do que se fala na entrevista e justificar oralmente sua resposta indicando
elementos do texto que permitem fazer a relao entre entrevistado e respecti-
vas perguntas e respostas. Para isso, consulte tambm as informaes das le-
gendas das imagens abaixo.

Os entrevistados e os suportes das entrevistas:


El Universal/ZumaPress/Easypix Brasil

Reproduo/Garapa - Coletivo Multimdia


Abril

ril
itora

Gilles Lipovetsky, professor de Francisco Weffort,


ra Ab
o/Ed

Filosofia e socilogo francs, cientista poltico e ex-


/Edito
du

um dos mais importantes -ministro da Cultura do


uo
Repro

tericos da modernidade e da governo de Fernando


d
Repro

ps-modernidade, que foi Henrique Cardoso,


entrevistado pela revista Vida entrevistado pela revista
Simples, em novembro de Vida Simples, em
2005. Foto de maro de novembro de 2006. Foto
2012. de maio de 2010.

58 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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As perguntas feitas
1. O que hipermodernidade?
2. O que a poltica em sua essncia?
3. Alm das eleies, quando o cidado pode participar?
4. Quais as consequncias disso?
5. Por isso procuramos cada vez mais respostas na Filosofia?
6. E na comunidade?
7. Como assim?
8. A histria poltica brasileira estimula a participao das pessoas?

As respostas dos entrevistados

A. um tipo de ao que se compromete com a direo dos destinos da comuni-


dade. Quando essa comunidade um estado democrtico ela se faz atravs de partidos.
B. Condomnios e associaes de bairro so pequenas instituies polticas. Se voc
mora em prdios caros, com poucos moradores, corre o risco de no poder pagar o
condomnio, que alto. Ento, ou voc vai reunio de condminos ou vai ter que
pagar a taxa sem chiar. O sujeito que decide os gastos o que fala na reunio. Isso
poltica. Querendo ou no, voc tem que exerc-la, ou pagar o preo da omisso.
C. um conceito que criei para falar da sociedade em que vivemos hoje, caracte-
rizada pelo crescimento do individualismo e da sociedade de mercado exacerbada, onde
todas as relaes ficaram pautadas pelo consumo capitalista.
D. As pessoas acabam ficando desorientadas, porque poucas dcadas atrs ramos
guiados verticalmente pela famlia e pela religio essas instituies davam o norte.
Na globalizao, o lao social se horizontalizou, os ideais se pulverizaram. Se antes o
problema existencial era como vou chegar l?, hoje passou a ser aonde devo ir, quem
d o caminho entre tantos possveis?.
E. Existem vrias possibilidades de ao alm do sistema institucional, dos partidos.
Sindicatos, revistas e jornais so meios de expresso poltica. Se voc no tem acesso a
eles, pode lanar mo da literatura, da arte. Com a internet, voc escreve uma carta e
distribui para o mundo.
F. Com o enfraquecimento da religio e das tradies, a Filosofia virou um dos
caminhos mais procurados para nos ajudar a encontrar a tal da felicidade. Os antigos
gregos j falavam que ela era a melhor maneira de a gente compreender o mundo,
porque nos ensina a distinguir o essencial do que no essencial.
G. Para mim, ela til para organizar as informaes do mundo. Mas ela no
soluo para os problemas, como anunciam os livros de autoajuda. Voc tambm pode
transformar seu mundo ao ler um romance, assistir a um bom filme ou mesmo con-
versar com algum interessante.
H. De 1985 para c, sim. Mas o que ocorre nos ltimos anos um desnimo nas
pessoas. Elas tm que comear a ler e ouvir sobre propostas de mudanas. Vamos
continuar com voto obrigatrio? Os governos devem gastar mais do que recebem?
Enfim, pensar sobre essas questes, pois um dia ns teremos que resolv-las.
Adaptado de: Revista Vida Simples, So Paulo: Abril, ed. 34, nov. 2005, e ed. 47, nov. 2006.

A entrevistA 59

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A seguir, transcrevemos outra entrevista concedida pelo filsofo fran-
cs Gilles Lipovetsky, que justamente um dos entrevistados da seo
teXto 1 Para comear deste captulo.

O brasileiro tem paixo pelo luxo


(Gilles Lipovetsky)
O filsofo francs, um dos mais polmicos da atualidade, afirma que
as pessoas dizem quem so por meio do consumo e prev a ascenso
de marcas nacionais em cinco anos
Paula Rocha
Um dos mais badalados e provocativos que seja luxo. E a que entram as expresses
filsofos contemporneos, o francs Gilles culturais das camadas populares e experincias
Lipovetsky, 68 anos, um especialista em analisar singulares, como, por exemplo, comer um
as questes que permeiam a sociedade consumista prato tpico em uma favela do Rio de Janeiro,
e de aparncias em que vivemos. O homem o que j se tornou um programa turstico ou
moderno tem necessidade de emoo e, para a de ricos excntricos. O que as pessoas querem
maioria das pessoas, isso passa pelo consumo, dizer por meio do consumo hoje quem elas
diz ele. Quando voc no tem tantos amores so. Querem afirmar sua identidade, e isso vai
ou grandes emoes, o consumo funciona como alm do gosto esttico. E os desejos das pessoas
um prazer fcil, que traz satisfao momentnea. no esto mais fechados em cdigos ligados a
Autor dos livros O imprio do efmero, Luxo determinadas classes sociais.
eterno e A sociedade da decepo, todos publicados
no Brasil, ele prepara para 2013 uma obra sobre Isto Todas as classes sociais desejam o
as relaes entre o capitalismo e os fenmenos luxo?
estticos. Nesta semana, Lipovetsky chega ao Gilles Lipovetsky Sim. A populao pobre
Brasil para participar da conferncia internacional brasileira tambm deseja muito o luxo. O Brasil
sobre luxo The New World of Luxury, e falou um dos pases onde a paixo pelo luxo mais
Isto de sua casa em Grenoble, na Frana, onde evidente. Analisado filosoficamente, ele uma
leciona Filosofia. vitrine do status sensual, e a questo da
sensualidade ainda est muito arraigada na
Isto No Brasil, a classe C tem estabelecido cultura brasileira. Vocs se mostram mais e tm
padres culturais, como na msica, que esto paixo por tudo o que aparncia: o corpo, a
sendo adotados pelos mais ricos. Como o sr. riqueza, o prazer. Acredito que nos prximos
v esse fenmeno? cinco ou dez anos veremos uma ascenso das
Gilles Lipovetsky Esse fenmeno no marcas brasileiras de luxo, tanto na moda
exclusivo do Brasil. Ele acontece em outros quanto no mercado de cosmticos. O Brasil
pases tambm, a exemplo da China, e um tambm apresenta um potencial muito grande
reflexo do novo significado do luxo. Hoje, no para o turismo nesse segmento, que ainda deve
h mais regras para o consumo do luxo, j que ser explorado. E o nmero de consumidores de
ele se traduz como uma expresso do luxo no pas vai aumentar. um mercado em
individualismo. Cada um tem a sua ideia do plena ascenso.
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Isto A origem dos produtos ainda para alcanar essa felicidade. Mas todo mundo
importa? sabe que o consumo no faz ningum feliz.
Gilles Lipovetsky O consumidor moderno Consumir traz satisfao, que no a mesma
no mais tradicional. Hoje as pessoas so coisa que felicidade. Se voc compra um carro,
mveis, ento por que os produtos no seriam? se faz uma viagem, o consumo lhe proporciona
No faz diferena para um comprador se aquele uma sensao de evaso, o faz esquecer seus
sapato foi feito na Itlia ou na China, desde problemas, mas esse sentimento temporrio.
que ele tenha uma marca, o que, teoricamente, Ento a civilizao hipermoderna tem algo de
garantiria sua qualidade. J as grifes respondem paradoxal. Corremos atrs de algo que no d
de formas diferentes a isso. A Chanel, por felicidade, nem infelicidade. Mas no devemos
exemplo, faz questo de que todos os seus diabolizar o consumo. fcil criticar o
produtos sejam fabricados na Frana, enquanto consumo quando temos muito, mas os mais
a tambm francesa Herms acaba de fechar pobres aspiram ao consumo, pois ele significa
uma parceria com uma empresa chinesa para progresso. As pessoas vivem melhor com boa
fabricar suas famosas bolsas e artigos de luxo l sade, e isso no pode ser desassociado do
na China. E eu acho que essas parcerias sero consumo, pois precisamos comprar remdios e
cada vez mais comuns nesse mercado. ir ao mdico para vivermos saudveis. O
consumo tambm capaz de abrir um leque de
Isto Qual o limite para essa globalizao? possibilidades culturais. Por meio dele podemos
Gilles Lipovetsky A globalizao no tem um conhecer o mundo e outras culturas, e isso nos
limite, mas o crescimento econmico sim. E esse ajuda a conhecer melhor a ns mesmos.
teto determinado pelo limite do nosso planeta.
Os ecologistas defendem que preciso mudar Isto Como as novas tecnologias e as
nosso modo de vida, consumir menos, ou ento mdias sociais esto afetando a forma como
imaginar processos de produo que sejam menos nos vemos e lidamos com nossa aparncia?
gulosos. Podemos consumir menos produtos Gilles Lipovetsky A coisa mais surpreendente
materiais e mais servios, limitar o desperdcio e das novas mdias sociais o paradoxo do
ir atrs de coisas mais sustentveis. No acredito, individualismo. As pessoas adoram dizer que
porm, que o consumo v diminuir. O homem querem manter sua autonomia e individualidade,
moderno tem necessidade de emoo e, para a mas no isso que transparece nas redes sociais.
maioria das pessoas, isso passa pelo consumo. Ali, o indivduo autnomo se revela dependente
Quando voc no tem tantos amores ou grandes dos outros e da aceitao alheia. Por que as pessoas
escrevem no Facebook? Cada um que escreve
emoes, o consumo funciona como um prazer
espera um retorno. Espera que algum curta sua
fcil, que lhe traz satisfao momentnea. Por isso
foto ou espera comentrios positivos, espera,
no vejo o desejo pelo consumo recuar.
enfim, a aprovao dos outros. Nas redes sociais
todos somos exemplares. Colocamos apenas
Isto At que ponto o consumo pode nossas melhores imagens e exibimos nossas
satisfazer algum? Ou determinar sua melhores qualidades, justamente porque
identidade? queremos que as pessoas nos aprovem. Por outro
Gilles Lipovetsky Vivemos em uma poca lado, preciso ser otimista em relao a essas novas
em que a grande utopia a busca da felicidade formas de comunicao. Muitos crticos afirmam
privada, e o consumo visto como um dos meios que hoje as pessoas s tm relaes virtuais, online,
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e que no h mais relaes reais. Mas isso no amos aos rios. Agora precisamos pagar para
verdade. As pessoas que esto conectadas tambm frequentar piscinas. Antes, quando tnhamos
se encontram fisicamente. Ento claro que a problemas pessoais, falvamos com o padre e ele
relao virtual no destri o desejo de ligao dizia o que fazer. Hoje falamos com o psiclogo.
fsica. Isso um mito. O gesto mais elementar da vida, que conversar,
pedir conselhos, virou consumo, pagamento.
Isto Na sociedade atual, mais importante
ser rico ou jovem? Isto O sr. diz que vivemos na sociedade
Gilles Lipovetsky Nas classes mdia e alta, da decepo. Por que, apesar de todo o
h hoje em dia um desejo feroz por manter-se progresso, estamos mais tristes do que nunca?
jovem. Fao muitas conferncias sobre a beleza Gilles Lipovetsky O problema da sociedade
e, no Brasil, as mulheres vm me falar que, com da decepo que sentimos que nunca estamos
40 anos, esto velhas. A exigncia de parecer consumindo o suficiente. O lado ruim do
jovem se tornou algo importante. Antes o consumo no somente o excesso, mas tambm
importante era mostrar que era rico, agora o fato de que muitas pessoas sofrem porque acham
parecer jovial. Nos EUA e na Europa as mulheres que no consomem o suficiente. Se voc no tem
j gastam mais com hidratao, ou com botox internet ou telefone celular, se sente infeliz. O
e cirurgias estticas, do que com produtos de mundo no qual estamos entrando um mundo
maquiagem. No Brasil voc v mulheres com competitivo e difcil. As necessidades so enormes,
cabelo branco (risos)? A cultura brasileira ensina e as pessoas no podem pagar por todas elas. A
que as mulheres precisam esconder a idade o dficit de consumo vira um drama. Antes, as
tingindo os cabelos. Alguns estudiosos dizem pessoas ficavam em casa nas frias e no sofriam
que esse fenmeno uma tirania e no vai durar; com isso. Hoje, se voc nunca sair de seu bairro,
vamos ter de aceitar nossa idade. No acredito voc ficar triste. Mudar tornou-se essencial. Mas,
nisso, essa a cultura moderna. No acredito como o dinheiro no proporcional aos desejos
que vamos recuar com a cultura da juventude. de consumo, h uma frustrao.
Penso que um dia teremos tcnicas muito mais
avanadas para nos manter sempre jovens. Isto Por que no gosta da expresso
tirania da felicidade?
Isto Como descreveria, citando uma Gilles Lipovetsky Eu penso que a expresso
expresso sua, o mundo de hiperconsumismo excessiva. A verdadeira tirania hoje acontece na
em que vivemos? Sria, onde o Estado massacra sua prpria
Gilles Lipovetsky Tudo no dia a dia depende populao. No podemos esquecer que a sociedade
de uma compra. Somos constantemente de consumo contribuiu para pacificar a populao,
obrigados a comprar. Se voc sai, tem de pegar pois, por meio do consumo nos sentimos mais
o carro, o avio, e isso implica gastar dinheiro. cidados, mais parte de algo comum. Isso
Pense em coisas que antes no eram consumidas. verdade na Europa, e tambm no Brasil, apesar
Da ltima vez que estive em So Paulo o de a sociedade brasileira ainda apresentar nveis
motorista me levava ao hotel, e, no caminho, via altos de desigualdade e violncia.
as pessoas correndo em academias, em esteiras. [...]
As pessoas hoje pagam para correr, sendo que ROCHA, Paula. Revista Isto. So Paulo: Editora Trs, ed. 2231, ago. 2012.
Disponvel em: <http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/228717_
antes corramos de graa. Antes, para nadar, O+BRASILEIRO+TEM+PAIXAO+PELO+LUXO+>. Acesso em: 10 dez. 2012.

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interpretAo Do teXto
No processo de compreenso de um texto, alm da correta leitura das infor-
maes, ou seja, da sequncia de palavras organizadas em funo da comunica-
o de uma ideia, devem ser mobilizados outros conhecimentos externos ao
texto que, de alguma maneira, direcionam ou ampliam a sua interpretao.
Entre eles, podemos considerar:
aqueles baseados na publicao e circulao do texto quais os objetivos de
publicao de um texto, qual o suporte (jornal, revista, livro, blog), quem o
pblico leitor potencial;
aqueles baseados no prprio autor quem , que ideias defende;
aqueles baseados no leitor quais so suas intenes com a leitura, o que
sabe sobre o autor, o que sabe sobre o assunto discutido.
A conscincia desses expedientes pode colaborar para que a leitura do
texto seja feita de modo mais crtico, o que favorece uma discusso mais pro-
veitosa das ideias.
Por ser uma entrevista, o texto em estudo apresenta, sem dvida, o ponto
de vista do entrevistado. Contudo, a forma de apresent-lo, o recorte temtico
e o direcionamento da discusso so feitos pela entrevistadora. A observao
do conjunto que envolve perguntas realizadas pela entrevistadora e respostas
dadas pelo entrevistado colabora para a compreenso geral da entrevista.

1. Identifique, no texto, as expresses utilizadas pela entrevistadora para apre-


sentar o entrevistado e escreva-as no caderno.

2. Aponte tambm o possvel recorte temtico anunciado no ttulo, no subttulo e


na apresentao da entrevista.

3. Em que medida as referncias ao entrevistado do credibilidade s ideias que


ele apresenta?

4. Considere as expresses usadas pela entrevistadora para a apresentao do


entrevistado. Que expectativa se cria no leitor com relao abordagem que
Lipovetsky far do tema?

5. Considere que:
o suporte dessa entrevista uma revista semanal que publica reportagens
sobre poltica, economia, comportamento, sade, cultura, alm de notcias
sobre o que acontece no mundo;
o slogan adotado pela revista A mais combativa revista semanal de infor-
mao e interesse geral do Brasil.;
o pblico leitor pode ser composto de pessoas que buscam estar informadas
sobre um ou alguns desses temas.

Agora levante hipteses sobre quais seriam os objetivos de leitura do leitor que
se interessaria por essa entrevista.

A entrevistA 63

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6. Ao longo da leitura, voc encontrou afirmaes do entrevistado que, em sua
opinio, puderam atender expectativa criada pela entrevistadora no subttulo
e no texto de apresentao? Se sim, registre-as no caderno e justifique suas
escolhas. Se no, explique a razo.
7. Para responder s questes formuladas pela entrevistadora, o filsofo ado-
ta diversos expedientes para a comunicao de suas ideias, como a genera-
lizao, a comparao, os exemplos extrados do cotidiano e as avaliaes
acerca de comportamentos vistos como comuns hoje na sociedade. Veja
alguns exemplos:

Generalizao A populao pobre brasileira tambm deseja muito o


luxo. O Brasil um dos pases onde a paixo pelo luxo mais evidente.
Comparao No faz diferena para um comprador se aquele sapato
foi feito na Itlia ou na China, desde que ele tenha uma marca, o que,
teoricamente, garantiria sua qualidade. J as grifes respondem de formas
diferentes a isso. A Chanel, por exemplo, faz questo de que todos os seus
produtos sejam fabricados na Frana, enquanto a tambm francesa Herms
acaba de fechar uma parceria com uma empresa chinesa para fabricar suas
famosas bolsas e artigos de luxo l na China.
Exemplo extrado do cotidiano Fao muitas conferncias sobre a
beleza e, no Brasil, as mulheres vm me falar que, com 40 anos, esto velhas.
Avaliao de comportamento As pessoas adoram dizer que querem
manter sua autonomia e individualidade, mas no isso que transparece
nas redes sociais. Ali, o indivduo autnomo se revela dependente dos
outros e da aceitao alheia. [...] Cada um que escreve espera um retorno.
Espera que algum curta sua foto ou espera comentrios positivos, espera,
enfim, a aprovao dos outros.

Qual desses expedientes exigiria maior grau de receptividade por parte do leitor
para evitar a controvrsia? Justifique sua resposta.

Existem estruturas lingusticas que favorecem as generalizaes. Veja algumas


dessas estruturas:
artigos definidos seguidos de hipernimos termos que englobam outros mais
especficos (as pessoas, as mulheres, os homens, os animais, os polticos, os m-
dicos, etc.);
pronomes indefinidos e as locues pronominais com sentido de totalidade, como
tudo, todos, nenhum, cada um, etc.;
verbos empregados no presente do indicativo.
importante, assim, verificar se a informao apresentada traduz uma generali-
zao e se dever, portanto, ser questionada.

8. Ao longo da entrevista, h diversas passagens que explicam por que Gilles


Lipovetsky considerado um filsofo polmico. Ele recupera afirmaes do
senso comum, de crticos e de estudiosos para refut-las e apresentar sua posi-
o acerca do tema.

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a) Leia o quadro abaixo e complete-o no caderno com informaes retiradas do
texto em estudo. Atente para elementos que marcam a contrariedade na fala
do filsofo e indique-o(s) em cada caso. Veja o modelo:

AFirmAEs Do sEnso Comum ou


Ponto DE VistA DE GillEs liPoVEtsky
DE CrtiCos E EstuDiosos

mas os mais pobres aspiram ao consumo, pois ele significa


progresso.
i. fcil criticar o consumo quando
marca(s) de contrariedade: A conjuno mas indica a
temos muito, contrariedade informao anterior, de que fcil criticar o
consumo quando se tem muito sem se colocar no lugar do que
no tem e aspira a ter.

Mas isso no verdade. As pessoas que esto conectadas


tambm se encontram fisicamente. Ento claro que a
ii. relao virtual no destri o desejo de ligao fsica. Isso
um mito.
marca(s) de contrariedade:

iii. marca(s) de contrariedade:

b) Considerando suas experincias e seu conhecimento de mundo, com quais


ideias voc tende a concordar? Fundamente sua opinio.

9. Releia:
Por que no gosta da expresso tirania da felicidade?
a) Qual o sentido da expresso tirania da felicidade?
b) Explique por que a viso do entrevistado sobre temas como modernidade,
consumo e busca pela juventude ajudam a explicar seu incmodo com a
expresso tirania da felicidade.

> Habilidades
Para resolver as questes propostas nesta seo, voc precisou: leitoras
mobilizar expedientes de compreenso externos ao texto, como aque-
les baseados no suporte, no conhecimento do autor e nos objetivos
de leitura;
reconhecer os recursos textuais de comunicao das ideias, entre os
quais a generalizao e suas caractersticas lingusticas;
verificar que a generalizao exige mais empatia do leitor para no
gerar controvrsia;
identificar as marcas de contrariedade nas falas do filsofo entrevis-
tado em relao a pensamentos difundidos na sociedade e refutados
por ele.

A entrevistA 65

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Leia a seguir uma entrevista do ativista digital norte-americano Eli
Pariser, que alerta contra o perigo do excesso de personalizao de con-
teXto 2 tedo em sites de busca e redes sociais por meio de filtros, que acabam
confinando as pessoas em verdadeiras bolhas virtuais e, assim, enfraque-
cem a diversidade e a troca de ideias.

A web ser nossa bolha


Os filtros de busca na internet vo nos viciar em nossas prprias
ideias. E daro fim a uma das melhores coisas da rede: ser um espao
diverso em que se encontra at o que no se procura. o que diz o
ativista poltico Eli Pariser
Leonardo Martins

O ativista poltico americano Eli Pariser From You (A bolha dos filtros: O que a internet
percebeu que sua pgina de Facebook estava est escondendo de voc), sem edio no Brasil .
democrata demais e que seus amigos republicanos Para o ativista, a previsibilidade na web nos
andavam quietos. Aps esmiuar as configuraes viciar nas mesmas ideias e impedir de discutir
da rede social, descobriu que o site, baseado em questes diversas: seu admirvel mundo novo
seu histrico de cliques, diminua a apario de s ter pessoas iguais a voc.
publicaes que no seguiam seus pontos de
vista. O caso ilustra o que Pariser fundador O que a bolha de filtros?
da comunidade antiterrorista MoveOn.org e do Eli Pariser:Costumamos ver a internet como
New Organizing Institute, que treina pessoas
uma enorme biblioteca em que os sites de busca
para aes polticas na web e fora dela considera
nos do o mapa a ser seguido. Na verdade, no
o novo e preocupante paradigma da internet: o
o que acontece. No s o Google, mas
excesso de personalizao.
tambm redes sociais como Facebook e portais
Nessa tendncia, O Grande Irmo da rede
de notcias, como Yahoo! News e o NYTimes,
fundamental. Desde 1997, o Google
esto cada vez mais personalizados. Eles filtram
desenvolve a PageRank, ferramenta que aplica
mais de 200 algoritmos para saber exatamente as informaes para mostrar para cada pessoa
o que queremos encontrar quando fazemos o que acreditam que elas querem ver e que
uma busca. Ele analisa cada letra, o contexto pode ser bem diferente do que elas precisariam
e at o lugar onde o usurio est. Esse tipo de ver. Esses filtros acabam criando uma bolha,
personalizao se baseia no que j fizemos, no um universo nico e pessoal de informaes
no que ainda queremos fazer, diz o ativista. que pode viciar nossas ideias. O excesso de
Pariser teme que o excesso de filtros personalizao enfraquece a proposta original
enfraquea a vocao da web para a diversidade da internet, de ser um espao aberto e
e troca de ideias. Essa tese est em seu novo livro democrtico. Deixa-nos em um mundo isolado
The Filter Bubble: What the Internet is Hiding com nossa prpria voz ecoando.
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Os dez sites mais visitados dos Estados devem ser construdas para nos informar de
Unidos corresponderam, em 2010, a 75% de forma genuna no apenas para nos
todo o trfego da internet naquele pas. Isso manter compulsivamente entretidos ou
mostra que estamos presos s mesmas fontes aprisionados em uma bolha com nossos
de informao? prprios pontos de vista.
Pariser:Antes da internet acreditvamos que
os editores dos jornais e os produtores de Quais as consequncias de uma gerao
televiso decidiam o que precisvamos saber. que s ouve e l o que lhe agrada?
Quando a web surgiu, esse mito caiu. Pensou- Pariser:Uma delas a fragmentao: o mundo
-se que esses imponentes guardies da que cada um de ns v se parece cada vez mais
informao no existiriam mais. No foi bem com o nosso prprio mundo. O resultado disso
assim. A maior parte da informao que que aquilo que chama ateno para uma pessoa
consumimos na internet hoje vem de cada vez mais diferente do que importante
pouqussimas empresas Google e Facebook para outra. Assim, nos tornamos cada vez mais
so as mais importantes no momento. Essas isolados. Fica difcil identificar ou resolver
duas companhias tm enorme poder de grandes questes pblicas, que afetam a todos,
determinar o que sociedades inteiras prestaro porque no estamos todos prestando ateno
ateno. Mas essa influncia invisvel. nelas. Outra consequncia o que chamo de
informao fast-food. Filtros personalizados so
Existe uma maneira mais clara de conduzir criados para nos mostrar contedos similares
o usurio, sem impedir que ele navegue aos que mais costumamos acessar. Mas isso no
livremente? significa necessariamente que aquelas so as
Pariser: H vrias maneiras de as grandes coisas mais importantes para ns. Muitas vezes,
empresas continuarem o que esto fazendo, so links triviais ou sensacionalistas em que
mas de forma mais transparente. Por exemplo, clicamos por mera curiosidade. No site
colocar uma barra no topo das pginas. Em americano de aluguel de filmes Netflix, por
um canto estariam os resultados para pessoas exemplo, os blockbusters so rapidamente
que se parecem com voc. Do outro, acessados e assistidos, enquanto tramas mais
resultados para pessoas que no se parecem densas ficam para trs. Isso porque existe um
com voc. Assim, o usurio teria a autonomia conflito entre nossa impulsividade e aquilo que
de decidir para que lado ir ou clicar nos realmente gostaramos de ser. Afinal, todos ns
dois para ver ideias diversas e encontrar o queremos ser algum que assistiu a Rashomon
equilbrio. (clssico de 1950 dirigido pelo cineasta cult
japons Akira Kurosawa) mas, talvez, em um
Mas, com a quantidade e diversidade de determinado momento, por um motivo
informao que temos hoje na rede, como qualquer, preferimos assistir pela quarta vez a
garantir acesso rpido ao que se procura? Ace Ventura (comdia com Jim Carrey, de 1994).
Pariser: No sou contra os filtros Os algoritmos que levam em considerao esses
personalizados. E, mesmo que fosse, acredito impulsos acabam deixando o mais superficial e
que eles seriam inevitveis, pois h muita descartvel no topo. Em vez de termos uma
informao para ser filtrada. Ns precisamos dieta balanceada de informao, ficamos apenas
da ajuda desses cdigos. Mas essas ferramentas com a gordura e o acar.
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possvel escapar da bolha? no tenha feito login em conta alguma. Por isso, a
Pariser:Difcil. Desativar itens como os cookies de discusso mais sobre a responsabilidade que essas
seu browser, que ajudam a identificar de onde voc empresas tm com tanto poder nas mos e sobre
acessa a internet, no resolve muito. O Google a necessidade de os governos as fiscalizarem.
personaliza sua experincia de busca mesmo sem Precisamos que a internet viva sua promessa original
saber exatamente sua posio geogrfica. Ele utiliza de conectividade. A web pode nos ajudar a solucionar
vrios outros sinais, como o tipo de mquina que problemas globais, como mudanas climticas, que
voc usa, para criar uma personalizao. H no podem ser resolvidos por uma ou duas pessoas,
tecnologias em desenvolvimento que tornaro mas requerem a participao de vrias sociedades
possvel criar uma espcie de impresso digital para unidas. Isso no vai acontecer se todos ns estivermos
cada aparelho com acesso internet. Assim, os sites isolados em uma internet de uma pessoa s.
podero saber de qual computador ou smartphone MARTINS, Leonardo. Revista Galileu, Rio de Janeiro: Globo, ed. 251, jun.
2012. Disponvel em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/
o usurio est acessando a pgina, mesmo que ele Common/0,,EMI236627-17771,00.html>. Acesso em: 11 dez. 2012.

blockbuster: filme de grande sucesso que atrai enorme quantidade de espectadores e arrecada quantias recordes de bilheteria.
browser: programa que permite ao usurio de internet consultar pginas de hipertexto e navegar, passando de um ponto a outro da
mesma pgina ou de pginas diferentes, clicando em links de hipertexto.
cookie: pequeno arquivo de texto que fica gravado no computador do usurio e usado pelos sites para identificar e armazenar
informaes sobre os visitantes. Os sites geralmente utilizam os cookies para especificar usurios e memorizar suas preferncias.
cult: pessoa, objeto, ideia ou obra de arte que cultuado nos meios intelectuais e artsticos.
fast-food: tipo de comida preparada de acordo com um padro e servida com rapidez, geralmente, em lanchonetes.
link: trecho de texto em destaque que, quando acionado com o posicionamento do cursor sobre ele ou com um ou dois cliques de
mouse, permite a exibio de novo texto.
login: processo que inicia uma sesso de conexo com um computador, em que o usurio se identifica, em geral, por meio de nome e senha.
smartphone: telefone celular com funcionalidades avanadas que podem ser ampliadas por meio de programas executados por seu
sistema operacional.
web: (tambm conhecida como www World Wide Web) nome pelo qual a rede mundial de computadores, a internet, se tornou conhecida.

interpretAo Do teXto
1. O texto de apresentao da entrevista, alm de informar quem o entrevistado,
sintetiza o assunto desenvolvido. A partir de sua leitura, possvel conhecer o
ponto de vista do entrevistado com relao ao tpico considerado mais relevan-
te pelo entrevistador. Responda ao que se pede:
a) Quem o entrevistado e o que ele faz?
b) Que constatao feita pelo entrevistado motivou o interesse da revista
por ele?
c) Segundo o entrevistado, por que essa realidade constatada por ele
preocupante?

2. Ao longo do texto de apresentao da entrevista h informaes que so con-


sideradas novas pelo entrevistador, por isso vm acompanhadas de esclareci-
mentos. A explicao para PageRank, por exemplo, est no texto (trata-se de
uma ferramenta que aplica mais de 200 algoritmos para saber o que queremos
encontrar quando fazemos uma busca). Mas h tambm dados que ele pressu-
pe serem de conhecimento do seu provvel leitor. Releia esta frase:
Nessa tendncia, O Grande Irmo da rede fundamental.

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a) Se no souber, pesquise o que significa O Grande Irmo.
b) Com que sentido a expresso O Grande Irmo empregada nesse trecho?
c) A que tendncia o redator se refere ao escrever Nessa tendncia e como isso
se relaciona com o significado da expresso O Grande Irmo nesse fragmento?

3. Suponha que voc precise expor para um grupo de professores e pais de alunos
o contedo dessa entrevista utilizando um grande esquema ou slides. Junte-se
a um colega e organizem a apresentao. Atentem para estas etapas a serem
consideradas na preparao do trabalho:
Leiam o texto inteiro com bastante ateno.
Selecionem as informaes mais importantes e depois as organizem em tpi-
cos para facilitar a exposio das ideias.
Se optarem por montar a apresentao em slides, selecionem tpicos com as ideias
gerais e apresentem o desenvolvimento delas oralmente. (Cuidado para no poluir
o slide com muito texto. Lembrem-se de que vocs podero comentar cada um
dos tpicos na apresentao e, assim, complement-los, se for o caso.)
Garantam o emprego de elementos lingusticos que estabeleam a coeso
entre as partes do texto.

Encerrem a apresentao declarando se a preocupao do entrevistado perti-


nente ou no.

conHecimentos lingUsticos
oraes subordinadas adverbiais

para relembrar
A orao subordinada adverbial funciona como adjunto adverbial da orao principal, acres-
centando-lhe circunstncias como: tempo, modo, condio, etc.
Introduzidas por conjunes subordinativas, essas oraes podem ser classificadas em:
temporais: indicam o tempo em que ocorreu o fato apresentado pela orao principal. Conjun-
es: quando, enquanto, logo que, assim que, depois que, sempre que, antes que, etc. Por exemplo:
No site [...], os blockbusters so rapidamente acessados, enquanto tramas mais densas ficam para trs.
subordinada adverbial temporal

Condicionais: indicam uma condio para que o fato da orao principal se realize. Conjunes:
se, caso, no caso de, se porventura, salvo se, desde que, etc. Por exemplo:
Se voc sai, tem de pegar o carro, o avio, e isso implica gastar dinheiro.
subordinada adverbial condicional

Finais: indicam propsito, a razo do fato apontado na orao principal. Conjunes: para que,
a fim de que. Por exemplo:
Os sites filtram as informaes para que seus usurios tenham suas dvidas solucionadas mais rapidamente.
subordinada adverbial final

A entrevistA 69

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Comparativas: essas oraes correspondem ao segundo elemento de uma comparao. Con-
junes: como, que, quanto ou do que (precedidas de to, tanto, mais, menos, melhor, pior, maior,
menor, na orao principal), etc. Por exemplo:
Sites de busca pareciam ser to acessados quanto os de redes sociais.
subordinada adverbial comparativa

Concessivas: indicam oposio ao expressa na orao principal, mas no impedem a realiza-


o dela. Conjunes: embora, mesmo que, ainda que, se bem que, apesar de que, etc. Por exemplo:
Embora os filtros auxiliem o trabalho de pesquisa, limitam informaes.
subordinada adverbial concessiva

Conformativas: indicam acordo, concordncia, conformidade com a ideia expressa na orao


principal. Conjunes: como, conforme, consoante, segundo, etc. Por exemplo:
Buscamos informaes, conforme a pesquisa exigia.
subordinada adverbial conformativa

Consecutivas: indicam a consequncia do fato expresso pela orao principal. Conjuno: que
(antecedida de: to, tal, tanto, tamanho na orao principal). Por exemplo:
Esmiuou tanto as configuraes da rede que descobriu que o site restringia determinadas publicaes.
subordinada adverbial consecutiva

Causais: indicam a causa do que se afirma na orao principal. Conjunes: porque, como,
visto que, uma vez que, j que. Por exemplo:
Como pesquisava muito, percebeu que os sites limitavam seu acesso s informaes.
subordinada adverbial causal

Proporcionais: indicam um fato simultneo ao fato expresso na orao principal. Conjunes:


medida que, proporo que, etc. Por exemplo:
medida que a pesquisa na internet avanava, todos ficavam mais interessados pelo assunto.
subordinada adverbial proporcional

As oraes adverbiais podem se apresentar na forma desenvolvida (conjuno + verbo no


modo indicativo ou subjuntivo) ou na forma reduzida (sem conjuno com verbo em uma das
formas nominais infinitivo, gerndio, particpio). Por exemplo:
Logo que comearam a pesquisa, todos se interessaram pelo assunto.
conjuno + verbo no indicativo (subord. adv. temporal)

Ao comear a pesquisa, todos se interessaram pelo assunto.


sem conjuno com verbo no infinitivo (subord. adv. temporal reduzida de infinitivo)

Comeando a pesquisa, todos se interessaram pelo assunto.


sem conjuno com verbo no gerndio (subord. adv. temporal reduzida de gerndio)

Comeada a pesquisa, todos se interessaram pelo assunto.


sem conjuno com verbo no particpio (subord. adv. temporal reduzida de particpio)

70 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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1. Responda s perguntas a seguir no caderno utilizando oraes subordinadas
adverbiais retiradas da entrevista de Gilles Lipovetsky revista Isto, indicadas
entre parnteses. Depois, sublinhe a conjuno e classifique essas oraes.
a) Em que circunstncia o consumo funciona como um prazer fcil? (resposta
pergunta 4)
b) Por que colocamos apenas nossas melhores imagens e exibimos nossas me-
lhores qualidades no Facebook? (resposta pergunta 6)
c) Qual a condio para que no faa diferena a um comprador se um sapa-
to foi feito na Itlia ou na China? (resposta pergunta 3)
d) verdade que a sociedade de consumo contribuiu para pacificar a populao
na Europa e tambm no Brasil? (resposta pergunta 10)
2. Produza um perodo formado por uma orao principal e uma subordinada
adverbial. Crie a orao principal com base na pergunta formulada no item d
da questo 1 e use a resposta como orao subordinada adverbial. Escolha
outra conjuno e, se necessrio, faa as adaptaes solicitadas.
3. Leia os perodos com ateno e faa, no caderno, o que se pede a seguir.

Escolhi minha melhor imagem porque no gosto de crticas.


Muitas pessoas sofrem porque acham que no consomem o suficiente.
Os mais pobres aspiram ao consumo por ele significar progresso.

a) Reescreva esses perodos iniciando-os pela orao subordinada adverbial


causal. Utilize a conjuno como e no se esquea da vrgula obrigatria
note que o
no caso da inverso da ordem do perodo.
emprego da
b) Qual o modo dos verbos destacados nas oraes adverbiais? Que orao conjuno como
adverbial causal no apresenta conjuno? exige que a ordem
c) Reescreva o perodo em que a orao adverbial causal tem verbo no do perodo seja
infinitivo, transformando a orao reduzida em desenvolvida. Depois, inversa, isto ,
diga em que modo est o verbo da orao subordinada. que a orao
adverbial causal
4. As conjunes temporais podem indicar:
anteceda a orao
i. a ocasio ou o tempo em que um fato ocorre; principal e, nesse
ii. a durao ou a simultaneidade de um fato; caso, seja separada
iii. o imediatismo de um fato em relao a outro; da principal por
iV. a repetio peridica de um fato; vrgula.
V. um fato anterior ou posterior ao da orao principal;
Vi. o trmino de um fato duradouro.
Identifique o que exprime cada uma das oraes adverbiais temporais abaixo e
escreva a resposta no caderno com base no que expressa cada conjuno.
a) Assim que a web surgiu, alguns mitos caram.
b) fcil criticar o consumo quando temos muito [...]
c) No site americano de aluguel de filmes Netflix, por exemplo, os blockbusters
so rapidamente acessados e assistidos, enquanto tramas mais densas ficam
para trs.
d) Antes de entrar em shoppings para consumir, preciso refletir.
e) Gastou fortunas consumindo desenfreadamente at que ficou sem um tosto.
f) Toda vez que o usurio entra na internet, um filtro invisvel de busca
acionado.

A entrevistA 71

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5. Encontre, nas respostas indicadas entre parnteses, as oraes adverbiais tem-
porais que respondam s perguntas a seguir.
a) Em que momento caiu o mito de que os editores dos jornais e os produtores
de televiso decidiam o que as pessoas precisavam saber? (resposta de Eli
Pariser pergunta 2, Texto 2)
b) Em que situao falvamos com o padre e ele dizia o que fazer? (resposta de
Gilles Lipovetsky pergunta 8, Texto 1)

6. A orao subordinada adverbial condicional pode indicar a condio para que


o fato expresso na orao principal se realize.
a) Identifique nos perodos a seguir as oraes com essas caractersticas e es-
creva-as no caderno.

Se voc compra um carro, se faz uma viagem, o consumo lhe propor-


ciona uma sensao de evaso, o faz esquecer seus problemas, mas esse
sentimento temporrio.
Se voc no tem internet ou telefone celular, se sente infeliz.
b) Escreva no caderno a opo que melhor completa a frase a seguir.
As oraes destacadas no item anterior
so descries feitas por Gilles Lipovetsky durante a entrevista.
so hipteses levantadas por Gilles Lipovetsky.
contam fatos vividos por Gilles Lipovetsky.
7. Leia no quadro abaixo algumas construes com oraes adverbiais condicionais.

No caso de fatos reais, seguidos de um esclarecimento, temos orao


principal e orao condicional com verbos no mesmo tempo. Por exemplo:
Se voc compra um carro, se faz uma viagem, o consumo lhe propor-
ciona uma sensao de evaso [...] (verbos no presente)

No caso de fatos improvveis, a orao condicional tem verbo no pret-


rito imperfeito do subjuntivo e a orao principal tem verbo no futuro do
pretrito. Por exemplo:
Se voc comprasse um carro, se fizesse uma viagem, o consumo lhe pro-
Andr Toma/Arquivo da editora

porcionaria uma sensao de evaso.

No caso de um fato que pode acontecer, a orao condicional tem verbo


no futuro do subjuntivo e a orao principal tem verbo no futuro do presen-
te. Por exemplo:
Se comprar um carro, se fizer uma viagem, o consumo lhe proporcio-
nar uma sensao de evaso.

No caso de um fato eventual, a orao condicional tem verbo no futuro


do subjuntivo e a orao principal tem verbo no presente. Por exemplo:
Se voc comprar um carro, se fizer uma viagem, uma alegria indescritvel.

72 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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Agora, verifique os tempos verbais empregados nas oraes condicionais a
seguir e complete o perodo com a orao principal de forma que se expresse o
que se pede nos parnteses.
a) Se o consumo traz alegria, (fato real com um esclarecimento).
b) Se as redes sociais no lhe trouxeram amigos verdadeiros, (fato eventual).
c) Se voc nunca procurar saber a verdade, (fato que pode acontecer futu-
ramente).
d) Se todas as pessoas s se relacionassem com amigos virtuais, (fato improvvel).

8. As oraes adverbiais finais servem para indicar o objetivo, o intento ou o pro-


psito do fato expresso pela orao principal. Veja:
[...] essas ferramentas devem ser construdas para nos informar de forma
genuna no apenas para nos manter compulsivamente entretidos ou
aprisionados em uma bolha com nossos prprios pontos de vista.
[...] a sociedade de consumo contribuiu para pacificar a populao, pois, por
meio do consumo nos sentimos mais cidados, mais parte de algo comum.
Penso que um dia teremos tcnicas muito mais avanadas para nos manter
sempre jovens.
As pessoas hoje pagam para correr, sendo que antes corramos de gra-
a. Antes, para nadar, amos aos rios. Agora precisamos pagar para fre-
quentar piscinas.
a) Identifique a orao subordinada final que indica o objetivo da orao prin-
cipal sublinhada e copie-a no caderno.
b) Em que forma nominal esto os verbos das oraes que voc copiou?
c) Escreva no caderno a opo que completa adequadamente a frase a seguir:
Em razo da forma verbal vista nas frases dos itens anteriores e da ausncia
de conjuno, possvel dizer que as oraes so
subordinadas adverbiais finais reduzidas de infinitivo.
subordinadas adverbiais finais reduzidas de gerndio.
subordinadas adverbiais finais reduzidas de particpio.

d) Reescreva, na forma desenvolvida, as oraes subordinadas destacadas nas


respostas do item a desta questo. Use a locuo conjuntiva para que ou a
fim de que e coloque os verbos no modo subjuntivo.
9. As oraes adverbiais concessivas opem-se ao da principal sem impedir
sua realizao. Elas podem se apresentar na forma simples, por meio de conjun-
es prprias, ou na forma intensiva, quando a conjuno que antecedida de
expresses como por mais, por maior, por pior. Nas duas situaes, o verbo
estar no modo subjuntivo.

No sou contra os filtros personalizados. E, mesmo que fosse, acredito


que eles seriam inevitveis, pois h muita informao para ser filtrada. (forma
simples)
No sou contra os filtros personalizados. E, por mais que fosse, acredito
que eles seriam invitveis. (forma intensiva)

A entrevistA 73

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Identifique com 1 as oraes concessivas simples e com 2 as oraes concessivas
intensivas. Escreva as respostas no caderno.
a) Ainda que todos se divirtam em um espetculo, algum no ficar satisfeito.
b) Embora estivesse beira da morte, conseguiu foras para a ltima piada.
c) Por pior que seja a piada, algum sempre a achar engraada.
d) Por mais chato que seja o ser humano, sempre lhe restar algum humor.

10. As oraes adverbiais comparativas funcionam como segundo membro de uma


comparao, por isso no costumam aparecer antes da principal nem repetir
ideias expostas anteriormente. Observe:

Algumas marcas brasileiras de luxo j so to famosas quanto as tradicionais


francesas.
Crie no caderno comparaes para as seguintes oraes:
a) Nosso crebro funciona o tempo inteiro como
b) No Brasil de hoje h tantos internautas quanto

11. A conjuno como pode expressar acordo ou conformidade em relao ao


fato anterior. Nesse caso, poder ser substituda por conforme, consoante,
segundo. Identifique, entre as frases destacadas, as que apresentam oraes
subordinadas adverbiais conformativas e escreva-as no caderno.
a) Como tenho o hbito de implicar com alguns convidados, agora me policio.
b) A iluminao natalina to bela como a de Carnaval.
c) Como disse Gilles Lipovetsky, o consumo ajudou na pacificao do povo.
d) As crianas tambm podem ser cruis, como todos sabem.
e) Todos ficaram satisfeitos por tudo ter acontecido como o esperado.

12. So proporcionais as oraes que apresentam fatos simultneos ao da orao


principal. Copie no caderno os perodos com oraes proporcionais.
a) Quanto mais leio sobre consumo, mais o temo.
b) Quanto mais as pessoas consomem, mais ficam insatisfeitas.
c) Ningum sabe o que ele pensa realmente sobre consumismo.
d) As pessoas se tornam menos consumistas proporo que tentam levar uma
vida mais simples.
e) medida que a entrevista se aproximava do fim, eu refletia sobre o tema.

13. Assim como as oraes comparativas, algumas consecutivas esto associadas


a um adjetivo, por isso no aparecem antes da principal. Classifique no caderno
os perodos de acordo com o tipo de orao adverbial.
(1) a orao comparativa o segundo membro de uma comparao
(2) a orao consecutiva indica a consequncia do fato expresso pela principal
a) Eli Pariser foi to contundente que nos fez refletir sobre algo inesperado.
b) O consumo to antigo quanto a humanidade.
c) A posio dele to surpreendente que nos assusta.
d) A vida to imprevisvel quanto a morte.
e) A entrevista tratou de um assunto to interessante que nos amedrontou.

74 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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concluso

1. As oraes adverbiais causais introduzidas por conjunes costumam apresentar verbos no


modo indicativo. Por exemplo:
A energia eltrica foi cortada porque houve um problema na rede de transmisso.

2. As conjunes temporais que iniciam as subordinadas adverbiais temporais exprimem:


a) a ocasio ou o tempo em que um fato ocorre (conjuno: quando).
Quando Alberto entrou no clube, os jogadores se preparavam para entrar em campo.
b) a durao ou a simultaneidade de um fato (conjunes: enquanto, no momento em que).
No momento em que Alberto entrava no clube, os jogadores dirigiam-se ao campo.
c) o imediatismo de um fato em relao a outro (conjunes: logo que, assim que, mal, apenas).
Assim que me viu, correu em minha direo.
d) um fato que ocorreu repentinamente (conjuno: eis que).
Num dia ensolarado e quente, eis que um trovo estrondou no cu e a chuva desabou sobre a cidade.
e) a repetio peridica de um fato (conjunes: sempre que, todas as vezes que, cada vez que).
Sempre que me dirijo ao colgio, passo primeiro pela casa de um colega para irmos juntos.
f) um fato anterior ou posterior ao da orao subordinada (conjunes: antes que, depois que).
Depois que a tempestade virou o navio, o oceano viveu horas de calmaria e silncio.
g) um fato duradouro (conjuno: desde que).
Gosto dele desde que tinha 13 anos; hoje estou com 60 e continuo amando-o.
h) o trmino de um fato duradouro (conjuno: at que).
Vivi feliz naquela casa at que uma ordem de despejo tirou-me de l.

3. As oraes subordinadas adverbais condicionais exprimem uma hiptese, um acontecimento


eventual. Por exemplo:
Se as pessoas rirem de si mesmas, podero ser mais felizes.

4. As oraes subordinadas adverbiais nais costumam ser escritas na forma reduzida, mas tambm
aparecem na forma desenvolvida (conjunes: para que, a m de que). Por exemplo:
Busquei foras para consolar meus amigos naquele momento difcil.
(para + verbo no infinitivo)

Comprei mais ingressos para que todos assistissem ao espetculo.


(para que + verbo no pretrito imperfeito do subjuntivo)

5. As oraes subordinadas adverbiais concessivas podem se apresentar na forma simples (con-


junes: embora, ainda que, mesmo que, se bem que, etc.) ou na forma intensiva (por meio de
expresses como: por mais, por maior, por pior). Por exemplo:
Embora o filme tenha sido interessante, muitas pessoas dormiram durante a seo.
Por mais bem-intencionado que seja o professor, ele no capaz de aprender por seu aluno.

6. As oraes subordinadas adverbiais comparativas no costumam aparecer antes da principal e


tambm comum que as ideias j expostas anteriormente no se repitam. Por exemplo:

A gua do mar refletia a beleza da Lua como o espelho de cristal mostrava a beleza da rainha.

A entrevistA 75

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Atividades de fixao
1. Leia o texto a seguir para responder s questes.

Brasileiros descobrem estrela gmea do Sol


Dois bilhes de anos mais velha que o Sol, a estrela CoRoT Sol 1 pode
fornecer pistas sobre o futuro do Sistema Solar

Reproduo/<http://veja.abril.com.br>
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
anunciaram a descoberta de uma estrela gmea do Sol, dois bilhes de anos
mais velha. A CoRoT Sol 1, como foi chamada, considerada um astro-irmo
por ter massa e composio qumica muito semelhantes ao Sol. Ela a gmea
solar mais madura e distante da Via Lctea j encontrada.
Observaes feitas com o uso do telescpio Subaru, operado pelo Obser-
vatrio Astronmico Nacional do Japo (NAOJ), sugerem que a estrela tem
cerca de 6,7 bilhes de anos, contra aproximadamente 4,5 bilhes do Sol.
Dados obtidos pelo satlite CoRoT (Convection, Rotation and planetary
Transits) indicam que o astro tem um perodo de rotao de aproximadamen-
te 29 dias, com cinco dias para mais ou para menos, enquanto o perodo de
rotao do Sol estimado em 27 dias, com dois dias e meio para mais ou para
menos.
A CoRoT Sol 1 se localiza na constelao de Unicrnio, a 2700 anos-luz
de distncia da Terra, e seu brilho relativamente fraco. Outras gmeas j des-
cobertas, mais novas do que o Sol, tm brilho 200 vezes maior do que ela.
Futuro do Sol A descoberta de uma irm mais velha pode ajudar os pes-
quisadores a estudar o futuro do Sol. Em dois bilhes de anos, quando o Sol
tiver a idade atual da CoRoT Sol 1, a radiao emitida por ele deve aumentar
e tornar a superfcie da Terra to quente que no haver mais gua no estado
lquido, afirma Jos Dias do Nascimento, professor do departamento de Fsi-
ca Terica e Experimental da UFRN e principal autor do estudo.

76 UNIDADE 2 tecendo conversas

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O satlite CoRoT forneceu informaes sobre mais de 250000 estrelas.
A partir desse material, os pesquisadores da UFRN criaram mtodos de seleo,
at reduzir o nmero de candidatas a gmeas solares a quatro, para que apenas
uma, a CoRoT Sol 1, fosse escolhida. O nmero 1 indica que os pesquisadores
esperam encontrar mais astros semelhantes ao Sol. Temos uma lista de cem boas
candidatas, alm de trinta que foram descritas no artigo, explica Nascimento.
A descoberta foi descrita em um artigo intitulado The Future of the Sun:
An Evolved Solar Twin Revealed by CoRoT, que foi aceito para publicao
no peridico Astrophysical Journal Letters.
Revista Veja, So Paulo: Abril, 22 maio 2013.
Disponvel em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/brasileiros-descobrem-estrela-gemea-do-sol>.
Acesso em: maio 2013.

A notcia trata da descoberta de uma estrela gmea do Sol, a CoRoT Sol 1. Para
organiz-la, foram usados diferentes tipos de oraes subordinadas. Vamos
estudar as adverbiais que articulam algumas circunstncias que compem coe-
rentemente a notcia.
a) Releia o primeiro pargrafo que anuncia a descoberta da CoRoT Sol 1 e res-
ponda ao que se pede.
Que orao apresenta a causa de a estrela ser considerada irm gmea do Sol?
Que orao introduz uma informao que indica acordo, conformidade?
Reescreva o pargrafo, iniciando-o por uma orao adverbial. Faa as
adaptaes necessrias.
b) Explique a relao introduzida pela orao adverbial na frase: Dados obtidos
pelo satlite CoRoT (Convection, Rotation and planetary Transits) indicam que o
astro tem um perodo de rotao de aproximadamente 29 dias, com cinco dias
para mais ou para menos, enquanto o perodo de rotao do Sol estimado em
27 dias, com dois dias e meio para mais ou para menos.

c) O quarto pargrafo trata da importncia da descoberta. Para confirmar a in-


formao, o texto recorre ao depoimento de um especialista. Em sua fala, o
professor do departamento de Fsica Terica e Experimental da UFRN, autor do
estudo, faz projeo de mudanas que podero ocorrer com o Sol e de suas
consequncias. Que circunstncias so expressas na fala do especialista pelas
oraes subordinadas?

d) Indique, no ltimo pargrafo, a orao adverbial que mostra a inteno, o


objetivo da seleo das estrelas e reduo da quantidade de estrelas gmeas.

2. Leia um trecho da entrevista A Filosofia Pop, feita com o filsofo Mario


Rogrio Cassimiro/Folhapress

Sergio Cortella, publicada em maio de 2013.


Apesar de interessante, a Filosofia costuma parecer chata. Alm do seu
dom de oratria, como transformou a matria em algo instigante?
Agradeo o elogio, mas quero fazer um reparo filosfico. Quando voc
diz que eu tenho o dom, est dizendo que no tenho mrito algum, porque
dom algo que se recebe de fora. Ocorre que Deus no me escolheu e
disse voc vai ser o cara. Tudo bem, sei que no foi isso que voc quis
dizer. Mas eu diria que tenho a prtica, a inteno e o gosto. Minha inten-
o fazer com que a filosofia seja simples sem ser simplria. Em outras

A entrevista 77

VivaPort_V3_PNLD2015_056a087_U2.indd 77 31/05/2013 08:21


palavras, que seja compreensvel sem ser banalizvel. Por exemplo, na sema-
na da Rio+20, eu participei do programa da Xuxa sobre sustentabilidade.
Antes de entrar no ar, uma pessoa da produo me pediu para no usar o
termo biocdio [eliminao de variao das formas de vida, inclusive a
humana], porque no ia ser entendido. Ento eu disse: Lamento, no ajo
dessa forma. Vou explicar. Se eu recuso o uso, furto das pessoas o acesso
a um conceito importante. Se uso sem explicar, estou dando uma demons-
trao tola de sabedoria. Mas, se uso e traduzo, estou partilhando. Eu
quero que a filosofia seja compreensvel.
MESQUITA, Renata Valrio. A Filosofia Pop. Revista Planeta. So Paulo: Trs, ed. 487, ano 1, maio 2013.

As oraes em destaque no texto so subordinadas adverbiais. Entre essas oraes,


a) quais indicam a causa do que se declara na orao principal?
b) que orao exprime tempo?
c) Quais oraes exprimem hiptese ou condio do fato expresso pela
principal?
d) Reescreva o segundo perodo do texto, substituindo as oraes desenvolvidas
destacadas por reduzidas.

Atividades de aplicao
Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images

Leia a entrevista de um professor de economia comportamental revista Super-


interessante e responda, no caderno, s questes de 1 a 7.

Duvide do seu crebro


Eduardo Szklarz

Dan Ariely desconfia do dele. E de idiota ele no A que concluso voc chegou com os estudos?
tem nada. professor de economia comportamental Descobri que, sem perceber, deixamos de usar a ra-
da Universidade Duke e do Instituto de Tecnologia zo frequentemente. Isso acontece porque nossas
de Massachusetts, o MIT. Autor de Previsivelmente decises so guiadas por fatores que passam desper-
irracional, Ariely diz que as decises que tomamos cebidos pelo crebro quando calculamos nosso pr-
mesmo as mais milimetricamente calculadas ximo passo. possvel estimular as pessoas a ver a
so contaminadas por sentimentos ou influncias realidade de um jeito distorcido e elas acharo
que nem mesmo percebemos. E que estragam o tra- que esto vendo tudo da forma mais lgica possvel.
balho da razo.
Como assim?
Por que seu interesse nas nossas decises? Veja a influncia do hbito. Sentimos que estamos
Aos 18 anos, tive 70% do corpo queimado por uma sempre tomando decises mas, na verdade, repe-
exploso. Passei 3 anos no hospital. Todos os dias, as
timos a mesma deciso vrias vezes. Voc nem sem-
enfermeiras trocavam as bandagens que cobriam meu
pre pesa os prs e contras na hora de escolher. S
corpo puxando-as de uma vez. Meu sofrimento era
conclui que, se j agiu assim antes, sua deciso an-
terrvel. Quando eu perguntava se no seria melhor
terior deve ter sido razovel. Se comprou um carro
tirar as bandagens devagarinho o que aumentaria
grande, provvel que continue comprando.
a durao da dor, mas reduziria sua intensidade ,
as enfermeiras garantiam que no. Depois de sair de Como a nossa razo pode ser manipulada?
l, fiz testes com dor e conclu que aquele s era o Se estimulamos uma pessoa a adotar uma certa ti-
mtodo certo para as prprias enfermeiras, que tam- ca, ela pode acabar vendo o mundo de forma dife-
bm sofriam com a minha situao. Foi ento que rente o que se reflete em suas decises. Um
comecei a me interessar pelas decises que tomamos. exemplo: reunimos alunos do MIT para fazer uma

78 UNIDADE 2 tecendo conversas

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prova de Matemtica. Eles tinham 5 minutos para inclui aqueles que supostamente nem acreditam na
resolver vrios problemas. Ao fim do tempo, deve- Bblia.
riam rasgar a prova, dizer quantas questes haviam D para se prevenir contra essas fraquezas?
feito e ganhar dinheiro por elas. O resultado: vrios Sim, com mecanismos que as eliminem. duro eco-
alunos mentiram, porque sabiam que no seriam nomizar todo ms, no ? Em vez de confiar em ns
pegos. Mas, num dos testes seguintes, fizemos os mesmos, podemos criar um sistema que retire uma
alunos jurar sobre a Bblia que no iam nos enganar. parte do nosso salrio e a deposite na conta de apo-
E eles no mentiram nem mesmo os ateus. Ou sentadoria. Afinal, se o crebro prega peas, temos de
seja, no tiraram uma concluso em funo dos abandonar a confiana cega nele.
benefcios do dinheiro e do risco de serem pegos. SZKLARZ, Eduardo. Revista Superinteressante, So Paulo: Abril, set.
O raciocnio deles foi orientado pela moral, e isso 2009. Disponvel em: <http://super.abril.com.br/ciencia/papo-
duvide-seu-cerebro-497261.shtml>. Acesso em: 17 dez. 2012.

1. Identifique:
a) o assunto da entrevista;
b) quem o entrevistado;
c) a opinio dele a respeito do assunto.

2. Na primeira resposta da entrevista, Dan Ariely conta a razo que o levou a pesqui-
sar esse tema. Para isso, usou oraes adverbiais. Essas oraes so muito impor-
tantes, pois apresentam as circunstncias em que os fatos ocorrem. Verifique:
a) o fato;
b) as circunstncias de tempo em que os fatos aconteceram.
3. A segunda pergunta feita ao entrevistado tem o objetivo de faz-lo apresentar
seu ponto de vista sobre o assunto da entrevista. Na construo sinttica dessa
resposta, aparece a orao principal Descobri seguida de uma orao subor-
dinada substantiva que completa o sentido do verbo descobrir: que, sem
perceber, deixamos de usar a razo frequentemente.
De acordo com o contexto, indique qual dessas oraes apresenta a informao
em foco, isto , a orao que explora o ponto de vista do entrevistado. Qual
a classificao dessa orao?
4. Os mecanismos lingusticos ajudam a processar melhor as informaes de um
texto. Depois de apresentar sua opinio por meio da orao substantiva objeti-
va direta, o entrevistado explica por que ele acredita que as pessoas deixam de
usar a razo frequentemente. Para introduzir a explicao, usa uma orao su-
bordinada adverbial causal.
a) Identifique essa orao.
b) Para precisar a explicao dada pela causal, o entrevistado empregou mais
duas oraes: uma adjetiva restritiva e uma adverbial temporal. Identifique-as.
c) Releia o perodo dado e responda: para que serve a orao subordinada
adverbial causal?
5. Releia os perodos:
S conclui que, se j agiu assim antes, sua deciso anterior deve ter sido
razovel. Se comprou um carro grande, provvel que continue comprando.
a) Observe que, para continuar defendendo sua posio, o entrevistado recor-
re a exemplos. O exemplo acima, entretanto, construdo por hipteses, ou
seja, ideias, sugestes. Que oraes introduzem essas hipteses?
b) Classifique essas oraes.
A entrevistA 79

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6. No perodo a seguir, o entrevistado apresenta uma condio que resume a opi-
nio que ele defende. Veja:
Se estimulamos uma pessoa a adotar uma certa tica, ela pode acabar vendo
o mundo de forma diferente o que se reflete em suas decises.
a) Identifique a orao subordinada adverbial que transmite essa informao e
classifique-a.
b) Explique de que forma essa orao sintetiza a opinio defendida por ele.

7. Reescreva no caderno o perodo a seguir transformando a orao coordena-


iago/Arquivo da editora

da sindtica adversativa em subordinada adverbial concessiva. Use a forma


intensiva.
Sentimos que estamos sempre tomando decises mas, na verdade, repeti-
rs o n San t

mos a mesma deciso vrias vezes.


W eb e

Ferreira Gullar concedeu revista EntreLivros uma entrevista em que fala


sobre sua vida, seus poemas e sobre o ato de escrever. Leia alguns trechos dela.

EntreLivros Como voc concebe sua poesia? mas prontos, mas no considero o livro concludo.
Ferreira Gullar a maneira que tenho de pensar Depois que publico um livro, no fico especulan-
na vida com mais profundidade. Quando a vida me do sobre como vai ser o prximo. Como nada
agarra, me fora a refletir sobre ela, ento que nas- planejado, tudo nasce da vida, dos momentos, das
ce o poema. [...] coisas que me tocam. [...] Meus livros nunca so
EL Sua poesia, formalmente, bastante rigorosa. iguais. [...]
Gullar Se no der forma ao discurso, ningum enten- EL Como organiza os poemas em livros?
de o que est dito. Sem ordenao sinttica, a linguagem Gullar Em todos os meus livros, sempre os dis-
no existe. No como a pintura, que no est preocupada ponho em ordem cronolgica, na sequncia dada pela
com a lgica, que no tem sintaxe. Uma frase tem que vida. Na preparao, a nica coisa que fao selecio-
ter sujeito, verbo e predicado. A lgica da pintura outra. nar o que vai ser publicado, embora eu seja muito
Tanto a poesia como a pintura procuram construir o exigente j no momento mesmo em que estou escre-
imaginrio e expressar emoes, ideias, uma srie de vendo o poema: se julgo o que est apenas mais ou
coisas que no so lgicas. [...] menos, no deixo nascer.
EL Seu livro j est pronto? [...]
Gullar Tenho um nmero considervel de poe- Revista Entrelivros. So Paulo: Duetto, ano 1, n. 1, p. 20-25.

8. Classifique, no caderno, as oraes subordinadas adverbiais destacadas.


a) Se no der forma ao discurso, ningum entende o que est dito.
b) Depois que publico um livro, no fico especulando sobre como vai ser o
prximo.
c) Como nada planejado, tudo nasce da vida, dos momentos, das coisas [...]
d) Na preparao, a nica coisa que fao selecionar o que vai ser publicado,
embora eu seja muito exigente j no momento mesmo em que estou escre-
vendo o poema: se julgo o que est apenas mais ou menos, no deixo nascer.

9. Reescreva os perodos a seguir no caderno fazendo o que se pede.


[] Depois que publico um livro, no fico especulando sobre como vai ser
o prximo. Como nada planejado, tudo nasce da vida, dos momentos, das
coisas que me tocam.

80 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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a) Escreva a orao adverbial temporal na forma reduzida.
b) Escreva o segundo perodo organizando as oraes para que fiquem na ordem
direta. Use a conjuno porque e fique atento pontuao.
c) Identifique a orao adjetiva e classifique-a em explicativa ou restritiva.
d) Na preparao, a nica coisa que fao selecionar o que vai ser publicado,
embora eu seja muito exigente j no momento mesmo em que estou escre-
vendo o poema: se julgo o que est apenas mais ou menos, no deixo nascer.

p r o D U o D e t e X t o
entrevista o texto escrito
A entrevista um texto em que se estabelece um dilogo: h um entre-
vistado, que responde s perguntas feitas por um entrevistador, que geral-
mente representa um grupo, um jornal, uma revista, um canal de TV, etc. pauta: roteiro dos
fatos a ser tratados em
O entrevistado expe e defende sua opinio a respeito do que lhe per- uma reportagem e
guntado. Para isso, recorre a construes da lngua que ajudam a evidenciar sntese de como tratar
o que ele pensa. O entrevistador, por sua vez, comumente expressa suas opi- esses temas.
nies ao fazer perguntas, ainda que de maneira mais sutil.
Esse gnero de texto no termina no ato da entrevista em si (por escrito
ou oralmente) nem na simples transcrio, isto , ele passa por um processo
at ser publicado. O entrevistador edita o texto para adequ-lo estrutura
do gnero deve ter ttulo, olho, introduo, corpo do texto e ao pbli-
co-alvo do suporte responsvel pela publicao. Por exemplo, se a entrevista
for produzida para uma revista dirigida a adolescentes, usa-se uma variedade
lingustica que corresponda idade e aos interesses desse leitor, com uma
estrutura simples e despojada. Todavia, se for publicada em revista ou jornal
voltados para o pblico adulto e intelectual, por exemplo, a variedade lin-
gustica empregada mais formal.
O tema de uma entrevista determinado em parte pelo entrevistado (pelo
fato de ele ser uma personalidade de destaque a ponto de ter sido escolhido
para a entrevista) e em parte pelo suporte que publicar o texto (no caso de
uma revista ou um jornal de negcios, por exemplo, os assuntos a ser comen-
tados, j na pauta, sero definidos levando-se em conta os interesses desse
pblico).

AtiviDADe 1 Como produzir o texto


de introduo
Estruturalmente as entrevistas apresentam um texto introdutrio, que no
apenas um resumo sobre quem o entrevistado ou sobre o que ele faz, mas,
em especial, uma sntese da entrevista. Portanto, o entrevistador pode elabo-
r-lo depois de a entrevista ter sido realizada e retextualizada.
Esse texto introdutrio tem a inteno de fazer um convite, de fisgar o
leitor para a leitura. Para isso, o ideal que sejam empregadas algumas estra-
tgias. Releia abaixo o texto introdutrio das entrevistas em estudo.

A entrevistA 81

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tExto 1

Um dos mais badalados e provocativos filsofos contemporneos, o francs Gilles Lipovetsky, 68 anos,
um especialista em analisar as questes que permeiam a sociedade consumista e de aparncias em que
vivemos. O homem moderno tem necessidade de emoo e, para a maioria das pessoas, isso passa pelo
consumo, diz ele. Quando voc no tem tantos amores ou grandes emoes, o consumo funciona como
um prazer fcil, que traz satisfao momentnea. Autor dos livros O imprio do efmero, Luxo eterno e A
sociedade da decepo, todos publicados no Brasil, ele prepara para 2013 uma obra sobre as relaes entre o
capitalismo e os fenmenos estticos. Nesta semana, Lipovetsky chega ao Brasil para participar da confe-
rncia internacional sobre luxo The New World of Luxury, e falou Isto de sua casa em Grenoble, na
Frana, onde leciona Filosofia.

tExto 2

O ativista poltico americano Eli Pariser percebeu que sua pgina de Facebook estava democrata
demais e que seus amigos republicanos andavam quietos. Aps esmiuar as configuraes da rede social,
descobriu que o site, baseado em seu histrico de cliques, diminua a apario de publicaes que no
seguiam seus pontos de vista. O caso ilustra o que Pariser fundador da comunidade antiterrorista
MoveOn.org e do New Organizing Institute, que treina pessoas para aes polticas na web e fora dela
considera o novo e preocupante paradigma da internet: o excesso de personalizao.
Nessa tendncia, O Grande Irmo da rede fundamental. Desde 1997, o Google desenvolve a PageRank,
ferramenta que aplica mais de 200 algoritmos para saber exatamente o que queremos encontrar quando faze-
mos uma busca. Ele analisa cada letra, o contexto e at o lugar onde o usurio est. Esse tipo de personaliza-
o se baseia no que j fizemos, no no que ainda queremos fazer, diz o ativista.
Pariser teme que o excesso de filtros enfraquea a vocao da web para a diversidade e troca de ideias.
Essa tese est em seu novo livro The Filter Bubble: What the Internet is Hiding From You (A bolha dos
filtros: O que a internet est escondendo de voc), sem edio no Brasil. Para o ativista, a previsibilidade
na web nos viciar nas mesmas ideias e impedir de discutir questes diversas: seu admirvel mundo novo
s ter pessoas iguais a voc.
Os dois textos introdutrios:
comeam com uma frase de apresentao especfica: quem so (filsofo/
ativista poltico) e o que fazem os entrevistados (especialista em [...]/desco-
briu que [...]);
trazem informaes que dialogam com o que a maioria das pessoas pen-
sa ou faz, o que as leva a se interessar pelo que vai dizer o entrevistado;
apresentam informaes que, em princpio, preocupam, chocam: sere-
mos guiados pela internet; somos levados pela paixo pelo luxo;
tratam apenas do assunto que ser discutido na entrevista em si. Note
que no h nenhuma informao dada que no tenha sido desenvolvida no
corpo (perguntas/respostas) da entrevista. Isso para atender ao objetivo real
da entrevista: divulgar o assunto abordado.
Na entrevista a seguir, falta o pargrafo de apresentao do entrevistado, isto ,
o texto introdutrio. Nesse texto, com base no estudo dos modelos, voc dever:
a) reconhecer o assunto da entrevista e deix-lo claro;
b) fornecer informaes sobre o entrevistado e falar um pouco sobre a expe-
rincia de fazer parte de seu projeto.

82 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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Jovem conta como ficar 100 dias sem acessar

Lailson Santos/Arquivo da editora


o Facebook
Texto introdutrio

Por que voc resolveu sair do Facebook? s vezes, parece que eu no exis-
A gente passa o dia todo online e nem percebe que to mais. Antes, toda sexta-feira
pode estar viciado. Eu queria saber como seria minha eu recebia cinco convites para
vida sem isso. festas. Hoje, sou eu que tenho Felipe Teobaldo,
publicitrio que criou
E como ? de telefonar para agitar alguma o blog 100Face,
Um inferno, pelo menos no comeo. Voc v pelos coisa. outubro de 2010.

comentrios das pessoas que esto no 100Face. Pare- Quantas das pessoas que comearam no 100Face
cem com os de grupos de recuperao, de gente que ainda esto no projeto?
est sem usar uma droga. So sobre dependncia, abs-
Comeamos com 100 pessoas. Agora somos sessenta.
tinncia e recada.
Muitos no conseguiram passar da primeira semana. Eu
Voc se considerava viciado em Facebook? mesmo me vigio para no ter uma recada.
Claro. Eu acordava e j ligava o computador. Era a mes-
ma coisa quando chegava ao trabalho e quando voltava Sua vida melhorou sem o Face?
para casa. Uma vez, conversei pelo Face com um amigo Leio mais livros e notcias que antes. Quando vou a um
que estava ao meu lado no sof. show, aproveito mais, porque no me preocupo em ficar
contando que estou l. Ah, e ganhei tempo para fazer a
O que os seus amigos acharam da ideia de voc se decorao de casa. Meu apartamento s tinha um col-
desconectar? cho e uma prateleira. Agora est lindo.
Muitos no curtiram. Alguns dizem que eu sumi. Mas LOBEL, Fabricio. Revista Veja, 28 out. 2012. Disponvel em: <http://veja.abril.
eu continuo no mesmo lugar, s no estou no Facebook. com.br/noticia/vida-digital/a-vida-sem-facebook>. Acesso em: 18 dez. 2012.

Atividade 2 Como retextualizar


a entrevista escrita
Entrevistas so concedidas em diversas situaes e podem integrar outros tex-
tos jornalsticos, como a notcia e a reportagem. Para compor a matria, os jorna-
listas podem usar informaes obtidas em entrevista dada por algum envolvido
no assunto ou que tenha testemunhado um fato. Os dados coletados podem ser
utilizados, por exemplo, como argumento de autoridade, testemunho, exemplifi-
cao de algum tipo de experincia vivida pelo entrevistado a respeito do assunto
tratado, entre outros.
Para conferir credibilidade ao texto, o jornalista tanto pode destacar as decla-
raes do entrevistado de forma direta, por meio do uso de aspas, ou indireta,
fazendo uma parfrase do que o entrevistado disse. De um modo ou de outro,
necessrio indicar quem fez a declarao e, se for uma fala usada como argumen-
to de autoridade, por exemplo, o cargo que a pessoa ocupa ou a profisso.

A seguir voc ler uma reportagem que faz parte de uma srie de textos publicados
numa seo de jornal destinada a jovens. Nessa srie, alguns profissionais apresentam
sua profisso: o que eles fazem, o que precisam saber, etc. Ao ler o texto, voc vai
perceber que houve um bate-papo antes de ele ser escrito. Seu trabalho ser reescre-
ver esse texto reestruturando-o de acordo com as caractersticas do gnero entrevista.

A entrevista 83

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Nesse processo, crie um ttulo, um texto de apresentao e, baseando-se no
texto original, elabore as perguntas de acordo com as respostas dadas e respon-
da a elas. Note que o texto tem caractersticas de relato, ou seja, o jornalista vai
relatando o que aconteceu durante a conversa entre os jovens e o entrevistado.
Por isso, h respostas representadas diretamente e por meio de aspas, assim
como h respostas indiretas e apresentadas pela voz do jornalista. exatamen-
te este cuidado que voc dever ter: ler o texto para identificar quais poderiam
ser as perguntas e respectivas respostas.

Causa ganha
O criminalista Alberto Toron fala sobre as leis que devem reger a carreira de um
bom advogado
Millos Kaiser

Antes de comear o papo, Alberto To- Culpados e inocentes


ron, 53, pede um minuto para ir escovar os Em seu quinto e ltimo ano de facul-
dentes. que almocei um quibe e uma dade, Toron comeou a estagiar no escrit-
coxinha hoje. O almoo de todo advogado rio de Mrcio Thomaz Bastos, ex-ministro
bem-sucedido, brinca. da Justia e tambm advogado criminalista.
Caio Felga, 20, Patrcia Curci, 21, Jlia Foi quando comearam as adequaes
Arajo, 18, e Manoela Pratti, 19, do risada. a que todo estudante de direito tem de pas-
Os quatro, que recm entraram na fa- sar j no comeo da carreira.
culdade de direito, participaram da srie Eu tinha um puta cabelo, uma barba
Choque de Realidade, em que o Folha- enorme. Tive que cortar tudo e ficar com
teen leva estudantes para esmiuarem de- o visual caretinha de advogado.
talhes de vrias profisses com expoentes Apesar do terno e da gravata, direito
das respectivas reas. nada tem a ver com glamour. Prova disso
Toron, que tem 30 anos de carreira, so os casos escabrosos que um advogado
um dos advogados criminalistas mais co- tem de defender.
Toron gosta de lembrar de um deles
nhecidos do Brasil. Auxiliou, por exemplo,
em especial, em que atuou como defensor
o Ministrio Pblico na acusao contra
pblico de um pai que supostamente havia
Suzane von Richthofen, condenada pelo
estuprado e jogado a filha de apenas sete
assassinato dos pais, em outubro de 2002.
anos pela janela do 18o andar. Enojado,
E por que direito criminal?, foi a pri-
Toron tinha dificuldade at em conversar
meira pergunta dos jovens. De famlia ju-
com o homem.
dia, filho de um imigrante grego com uma O suspeito passou dois anos e meio
brasileira, Toron cresceu no bairro do Bom preso, at que, conversando com uma
Retiro, em So Paulo. testemunha, o advogado teve uma reve-
Da minha sacada, via muito policial lao: o homem era inocente. Convicto
batendo no povo. A violncia, sobretudo a disso, convenceu o jri com sua tese. O
praticada por agentes do Estado, me mar- pai foi absolvido.
cou para sempre. Por isso escolhi a rea Foi quando aprendi que o papel do
criminal, revela. advogado defender e acreditar na inocn-
Sua graduao foi feita na PUC-SP. cia de seu cliente. No nos cabe acusar nem
Ele hoje disputa a presidncia da OAB-SP. julgar. Para que se cumpra o devido pro-

84 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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cesso legal, temos que defender um cliente E ele confessa: j livrou gente culpada
at se esgotarem as possibilidades. de ir em cana.
Muita gente diz que advogado Processualmente, se possvel defen-
tudo malandro. O que acha disso?, pro- der a pessoa, dever do advogado faz-lo.
voca Jlia. Para ele, fatores ideolgicos podem in-
Fiz uma pesquisa que mostrou que fluenciar a conduta de um advogado. Mas
at certo limite, ressalta. No vo matar
advogados so mais detestados do que po-
uma testemunha para provar seu ponto de
lticos. Realmente, h muitos profissionais
vista, pelo amor de Deus, encerra, rindo.
que mentem para seus clientes. Cabe
KAISER, Millos. Folha de S.Paulo, 23 jul. 2012.
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Folhateen. Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.
br/fsp/ilustrada/55991-causa-ganha.shtml>.
puni-los, responde. Acesso em: 18 dez. 2012.

proDUo De AUtoriA
Escolha uma pessoa que voc conhece e deseja saber mais sobre ela e so-
bre alguma atividade que ela pratique, um trabalho que ela realize ou al-
guma habilidade que ela tenha, entre outras possibilidades. Converse com
ela a respeito de sua inteno de entrevist-la, verifique se ela concorda
em conceder a entrevista e se permite que voc a divulgue na escola pos-
teriormente.
Elabore as perguntas relativas ao assunto e entreviste-a pessoalmente ou por
e-mail. Em seguida, retextualize a entrevista, edite seu texto e prepare-o para
ser divulgado nos murais da escola. Os leitores sero as pessoas que compem
a comunidade escolar: alunos, professores, inspetores, diretores, secretrios, pais
e funcionrios da escola em geral.

> preparando
releia seu texto e verifique se:
est estruturado adequadamente: com ttulo, olho, introduo e a segunda
corpo de texto; verso do
a construo dos perodos segue as normas gramaticais adequadas texto
ao gnero.
est retextualizado e se as marcas de oralidade foram retiradas, ou
se h marcas aceitas pelo pblico do veculo em que ser publicado.
Guarde seu texto para o projeto de fim de ano.

no mUnDo DA orAliDADe

entrevista ao vivo
Existe um programa chamado Roda Viva, que exibido pela TV Cultura, da
Fundao Padre Anchieta, e retransmitido em rede nacional por outras emissoras

A entrevistA 85

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de todos os estados brasileiros. Esse programa abre espao para a apresentao
de ideias, conceitos e anlises sobre temas de interesse da populao.
Nele, um entrevistado fica sentado no centro de um cenrio circular, res-
ponde a perguntas de jornalistas e convidados especializados que ficam ao
seu redor , expe suas opinies e esclarece questes relevantes para a so-
ciedade brasileira. Tambm h convidados que colaboram com a realizao
do programa fazendo coberturas por meio do Twitter e outras mdias.
possvel assistir a vdeos com entrevistas desse programa no site <http://
tvcultura.cmais.com.br/rodaviva> (acesso em: jan. 2013).

Com o objetivo de praticar sua competncia oral, vamos propor a vocs que
realizem uma entrevista desse tipo. Para isso, ser neces-
David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images

srio pensar em um tema e convidar uma pessoa que se


destaque nessa rea ou, se preferirem, escolher e convidar
um dos entrevistados da Produo de autoria para ser
entrevistado ao vivo.
Definida a pessoa a ser entrevistada, combinem uma data
para a concesso da entrevista e procurem se informar o
mximo possvel sobre o que ser tratado, lendo e pes-
quisando a respeito do assunto. Estar informado impor-
tante para que seja possvel conduzir bem a entrevista.
Timothy Chang, diretor
de uma empresa de
investimentos,
esquerda, fala sobre
preparao e escuta atenta
jogos sociais durante
A preparao prvia da entrevista oral contribuir muito para que ela seja
uma entrevista ao canal
de televiso Bloomberg bem-sucedida. Para isso, antes do dia combinado, elaborem uma pauta com
Oeste em So Francisco, perguntas que devero orientar o trabalho do entrevistador. Isso no quer
Califrnia, EUA, em 14
de fevereiro, 2013. dizer que outras perguntas no possam ser feitas no momento da entrevis-
ta. Alis, a escuta atenta fala do entrevistado fundamental para a con-
duo da entrevista, j que ela determinar a necessidade de se fazer novas
perguntas para melhorar ou ampliar a compreenso do que foi dito e tam-
bm evitar que se faam perguntas que j tenham sido respondidas pelo
entrevistado. Da escuta atenta tambm depende a percepo do momento
em que se deve fazer nova pergunta. Quando o entrevistado estiver encer-
rando sua fala, uma nova pergunta j dever estar pronta para ser feita a
fim de garantir o ritmo da interao.

Organizao
Distribuam as perguntas mais ou menos dentro de uma sequncia entre os
alunos entrevistadores, j prevendo a insero ou a retirada de perguntas
constantes da pauta, conforme a necessidade.
Programem o tempo ideal para que o entrevistado responda s perguntas
e cuidem para que a conversa no se estenda a ponto de se perder o foco
da atividade, que conhecer a pessoa entrevistada e o que ela faz.
Se acharem interessante, vocs podero fazer a gravao da entrevista (em
udio e/ou vdeo), evidentemente com a permisso prvia do entrevistado. Se

86 UniDADe 2 tecenDo conversAs

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isso for feito, no deixem de assistir ao trabalho em classe para observar as
marcas de interao, as repeties, as marcas de tempo e espao da entrevis-
ta (aqui, agora, hoje, l, etc.) e as marcas de hesitao tpicas da fala.

A p r o v e i t e p A r A...

... ler
A arte da entrevista, organizao de Fbio Altman, editora Boitempo.
O livro rene 48 entrevistas interessantes, feitas de 1823 a 2000 (por exemplo, Karl Marx
sendo entrevistado pouco depois da Comuna de Paris; Freud discutindo o pessimismo em 1930).

Entrevistas, de Clarice Lispector, editora Rocco.


O livro traz entrevistas feitas por Clarice Lispector e publicadas na revista Manchete entre
1968 e 1969, revelando informaes a respeito de famosos como Nelson Rodrigues e Oscar Nie-
meyer, assim como sobre a prpria entrevistadora.

Sobre entrevistas: teoria, prtica e experincias, de Stela Guedes Caputo,


editora Vozes.
Este livro procura resolver possveis dvidas sobre a produo de entrevistas.

... assistir a

Everett Collection/Latinstock
Renato Russo: entrevistas MTV, de Marcelo
Fres (Brasil, 2006).
O DVD rene entrevistas de Renato Russo, que fala
de suas origens, de seu tempo com a Legio Urbana e da
carreira solo.

Entrevista, de Federico Fellini (Itlia, 1987).


Fellini comenta personagens criadas por ele ao longo
de sua carreira de cineasta. Ao mesmo tempo, o filme mar-
ca sua desolao pelo futuro do cinema. Na foto, o ator
Marcello Mastroianni em cena do filme La dolce vita, uma
das obras de Fellini.

... ver na internet


www.tvcultura.com.br/rodaviva/ Reproduo/Cultura Marcas

Com o programa Roda Viva, desde 1986


a TV Cultura oferece aos telespectadores
algumas das mais intrigantes entrevistas da
TV brasileira. Na foto, o escritor Mia Couto
em programa exibido no dia 5 de nov. 2012.
Acesso em: 16 abr. 2013.

http://programadojo.globo.com/
Site com arquivo em vdeo das entrevistas
realizadas no programa de J Soares. Acesso
em: 16 abr. 2013.

http://gnt.globo.com/Marilia-Gabriela-Entrevista/
Site com arquivo em vdeo das entrevistas realizadas no programa de Marlia Gabriela.
Acesso em: 16 abr. 2013.

A entrevistA 87

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lITERATURA
> Interdisciplinaridade com:
Arte, Histria, Geografia,
Sociologia. Modernismo no Brasil
poesia e prosa da
primeira gerao

P A R A C O M E A R
Ateno: No escreva Em 1922, ocorreu no Teatro Municipal de So Paulo um evento para divulgar
No livro. Faa as as propostas dos modernistas brasileiros: a Semana de Arte Moderna. Neste incio
atividades No caderNo.
de captulo, voc vai conhecer algumas imagens e textos referentes a esse evento.
Observe as imagens e leia as legendas:
Reproduo/Arquivo da editora

Programa da primeira
Acervo Iconographia/Reminiscncias

noite da Semana de Arte


Moderna, de 1922,
realizada no Teatro
1 Municipal de So Paulo.
2 8
5
4
3 9
7
11 6 10
12

14 15
13 Alguns membros da comisso organizadora do
evento modernista: 1 - o jornalista italiano
Francesco Pettinati; 2 - um annimo; 3 - Ren
Thiollier; 4 - Manuel Bandeira; 5 - Manuel
16 Vilaboim; 6 - Paulo Prado; 7 - Graa Aranha;
8 - Afonso Schmidt; 9 - Gofredo da Silva Teles;
10 - Couto de Barros; 11 - Mrio de Andrade;
12 - Cndido Mota Filho; 13 - Rubens Borba de
Morais; 14 - Luiz Aranha; 15 - Tcito de Almeida;
16 - Oswald de Andrade.

88 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Reproduo/Coleo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, So Paulo, SP.

Coleo Mrio de Andrade/Instituto de Estudos Brasileiros da USP, So Paulo, SP


O homem amarelo, de Anita Malfatti, 1915-
-1916. leo sobre tela, 61 cm x 51 cm.
Coleo Mrio de Andrade do Instituto de
Estudos Brasileiros da USP, So Paulo, SP. Este
quadro de Anita Malfatti esteve entre as
diversas obras expostas no Teatro Municipal de
So Paulo durante a Semana da Arte Moderna.
Representantes de um modo novo e moderno
Catlogo da Exposio da Semana de Arte de olhar para a arte, essas obras apresentavam-
Moderna, criado por Di Cavalcanti, em 1922. -se em oposio cultura acadmica da poca.

Leia a seguir um trecho da conferncia de Graa Aranha, membro da Acade-


mia Brasileira de Letras e, portanto, personalidade capaz de emprestar aos mo-
dernistas um ar de respeitabilidade conveniente queles que desejam ser ouvidos. cnon: norma,
princpio geral.
Ela foi proferida no primeiro dia do evento.
inexorvel: inflexvel,
inabalvel.
A emoo esttica na arte moderna nefando: abominvel;
perverso.
Graa Aranha

Cada homem um pensamento independente, cada artista exprimir livremen-


te, sem compromissos, a sua interpretao da vida, a emoo esttica que lhe vem
dos seus contatos com a natureza. E toda a magia interior do esp-
rito se traduz na poesia, na msica e nas artes plsticas. Cada um
se julga livre de revelar a natureza segundo o prprio sentimento
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

libertado. Cada um livre de criar e manifestar o seu sonho, a sua


fantasia ntima desencadeada de toda a regra, de toda a sano.
O cnon e a lei so substitudos pela liberdade absoluta que os
revela, por entre mil extravagncias, maravilhas que s a li-
berdade sabe gerar. Ningum pode dizer com segurana onde
est o erro ou a loucura na arte, que a expresso do es-
tranho mundo subjetivo do homem. O nosso julga-
mento est subordinado aos nossos variveis precon-
ceitos. O gnio se manifestar livremente, e esta inde-
pendncia uma magnfica fatalidade e contra ela no
prevalecero as academias, as escolas, as arbitrrias
regras do nefando bom gosto, e do infecundo bom
senso. Temos que aceitar como uma fora inexorvel a

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 89

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arte libertada. A nossa atividade espiritual se limitar a sentir na arte moderna a es-
sncia da arte, aquelas emoes vagas transmitidas pelos sentidos e que levam o
nosso esprito a se fundir no Todo infinito.
ARANHA, Graa. O esprito moderno.
Apud: <http://www.casadobruxo.com.br/poesia/g/graca03.htm>. Acesso em: 3 dez. 2012.

Leia um trecho do discurso do escritor Menotti del Picchia, orador da segun-


da noite da Semana de Arte Moderna e que se distinguiria como divulgador de
novas tendncias estticas.

Demais, ao nosso individualismo esttico repugna a jaula de uma escola.


Procuramos, cada um, atuar de acordo com nosso temperamento, dentro da
mais arrojada sinceridade.
DEL PICCHIA, Menotti et al. O curupira e o caro. Apud COUTINHO, Afrnio.
A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1986.

Imagine agora como foi a recepo do poema Os sapos1, do poeta Manuel


Bandeira, lido pelo escritor Ronald de Carvalho na segunda noite do evento.
Saiba que ele enfrentou assobios, vaias e uma gritaria de Foi, no foi de gran-
de parte da plateia.
O poema declamado aquela noite trazia versos como Saem da penumbra, /
Aos pulos, os sapos e Berra o sapo-boi: / Meu pai foi guerra! / No
foi! Foi! No foi!, que apresentam personagens incomuns e descon-
certantemente corriqueiros como protagonistas. Esses sapos que aparecem no
poema no tm a superioridade dos temas clssicos nem a beleza de objetos
ornamentais, entretanto foram eleitos por Bandeira para representar o prprio
fazer potico.
Em versos como O sapo-tanoeiro,/ Parnasiano aguado, / Diz: Meu can-
cioneiro / bem martelado a comparao clara: a poesia parnasiana e suas
preocupaes formais so satirizadas no poema modernista. Entretanto, pode-se
dizer que a escolha de sapos como personagens, ainda que irnica, no pura-
mente depreciativa. Afinal, em suas ltimas estrofes, o poema traz a delicada
figura do Sapo-cururu / Da beira do rio que, segundo crticos, representaria o
prprio Bandeira e sua poesia simples e terna.
Chocando, com sua irreverncia, a plateia do Teatro Municipal, afinada com
a arte parnasiana, os primeiros modernistas mostraram a que vinham. Na se-
gunda dcada do sculo XX, influenciados pelas vanguardas europeias, artistas
brasileiros defendiam uma esttica marcada pela oposio s tcnicas de arte
vigentes at ento (em literatura, so contra o modo de produzir de parnasia-
nos e simbolistas, por exemplo). Havia, sobretudo, duas novas tendncias que
chamavam a ateno dos poetas e prosadores em formao: produzir sem se
prender aos rigores das regras de construo do registro mais culto da lngua
e imprimir caractersticas mais autenticamente brasileiras em sua arte.
Em torno dessas afinidades, formou-se um grupo de amigos, poetas e artistas
plsticos, que, em fevereiro de 1922, organizaram a Semana de Arte Moderna
no Teatro Municipal de So Paulo para apresentar ao pblico sua produo. Esse
evento se tornou o grande marco da transformao artstica do pas.

1
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 10. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1983. p. 46.

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Com versos que desabafavam Estou farto do lirismo que para e vai ave-
riguar no dicionrio / o cunho vernculo de um vocbulo, de Potica, do
poeta Manuel Bandeira , os modernistas escandalizaram as pessoas.

Sabendo agora um pouco mais sobre como se deu essa primeira amostra pbli-
ca das intenes dos modernistas brasileiros, rena-se com mais dois colegas e
escrevam uma notcia para ser publicada em um jornal-mural na sua escola, na
data de comemorao de aniversrio da Semana de Arte Moderna do prximo
ano. Relatem os acontecimentos do evento e destaquem a reao do pblico
da poca s conferncias ou leitura do poema de Manuel Bandeira. Terminem
a notcia comentando o que provavelmente significaram, para o futuro das artes,
as apresentaes daqueles dias (por exemplo, hoje voc ouve falar nesses artis-
tas? Os poetas que conhece parecem ter sofrido influncia dos modernistas?).

O poema a seguir foi lanado no livro Ritmo dissoluto, de Manuel Bandeira, vo-
lume posterior Carnaval, livro em que foi publicado o poema Os sapos. Em Ritmo
dissoluto possvel notar o uso do verso livre, certa liberdade no tratamento de temas TEXTO 1
tradicionalmente poticos, que fazem parte da esttica de Bandeira, como voc
observar agora pelo estudo do poema a seguir.

Madrigal melanclico
Manuel Bandeira

1 O que eu adoro em ti
No a tua beleza.
A beleza, em ns que ela existe.
A beleza um conceito.
5 E a beleza triste.
No triste em si,
Mas pelo que h nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,


No a tua inteligncia.
10 No o teu esprito sutil,
To gil, to luminoso,
Ave solta no cu matinal da montanha.
Andr Toma/Arquivo da editora

Nem a tua cincia


Do corao dos homens e das coisas.

15 O que eu adoro em ti,


No a tua graa musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graa area como o teu prprio pensamento,
Graa que perturba e que satisfaz.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 91

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madrigal: composio 20 O que eu adoro em ti,
potica que exprime
um pensamento fino, No a me que j perdi.
galante, e que, em No a irm que j perdi.
geral, se destina a ser
musicada; surgiu na E meu pai.
Itlia do sculo XIV e
teve sua poca de
maior difuso no sculo O que eu adoro em tua natureza,
XVI; fala marcada pela
galantaria afetada;
25 No o profundo instinto maternal
cumprimento lisonjeiro; Em teu flanco aberto como uma ferida.
galanteio.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, a vida.
11 de julho de 1920.
BANDEIRA, Manuel, op. cit., p. 83.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. No poema Madrigal melanclico h elementos:
formais que o inserem em uma tradio potica.
que rompem claramente com certos aspectos da tradio potica.
Escreva no caderno as alternativas que correspondem a cada opo acima.
a) Versos livres sem mtrica fixa.
b) Opo pelo madrigal para a composio potica.
c) Tema lrico-amoroso.
d) Repetio da estrutura dos dois primeiros versos de cada estrofe.
e) Nmero irregular de versos nas estrofes.
f) Tom melanclico que permeia alguns versos.

2. No poema, o eu lrico criou um esquema argumentativo para exaltar a pessoa a


quem se refere. Descreva esse esquema.

3. Releia atentamente o poema e verifique o que o eu lrico destaca em cada estrofe.

4. Interprete os versos:
a) 5 a 7.
b) 12.

5. Releia os versos 28 e 29 e responda no caderno:


a) O que lastima e consola o eu lrico?
b) Por qu?

6. Volte ao significado da palavra madrigal e reveja sua resposta primeira ativi-


dade. Explique, ento, o ttulo do poema, Madrigal melanclico. O que h no
texto de madrigal e de melanclico?

92 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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As caractersticas marcadamente modernistas na esttica literria de
Manuel Bandeira iriam aparecer em 1930 com a publicao do livro
Libertinagem. Leia o poema a seguir e compare-o, quanto ao contedo TEXTO 2
e forma, ao Madrigal melanclico.

Madrigal to
engraadinho

Andr Toma/Arquivo da editora


Manuel Bandeira

Teresa, voc a coisa mais bonita que eu


[vi at hoje na minha vida, inclusive o
[porquinho-da-ndia que me deram
[quando eu tinha seis anos.
BANDEIRA, Manuel, op. cit., p. 112.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. Que elementos presentes na forma e no contedo do poema acima revelam a
prtica de uma esttica literria bem diferente da esttica do poema Madrigal
melanclico?

2. O poema surpreendente na composio; no entanto o que, em princpio,


parece ironia se torna uma expresso de grande lirismo.
a) O que pode ter representado, para o eu lrico, ganhar um porquinho-da-ndia
aos 6 anos?
b) Nesse contexto, por que a comparao de Teresa com o porquinho-da-ndia
se torna uma linda declarao?

Para resolver as questes dessa seo, voc precisou: < Habilidades



identificar elementos formais e de contedo que aproximaram ou afas- leitoras
taram os poemas de uma tradio esttica mais acadmica;

interpretar versos dos poemas, observando sua fora lrica e elementos inu-
sitados para a tradio potica brasileira vigente at o final dos anos 1910.

Publicado em 1925, o livro Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, expres-


sa claramente a esttica modernista tal qual era defendida: valoriza ele-
mentos da prpria terra o Brasil ; usa o verso livre, curto; opta por TEXTO 3
um jeito conciso e bem-humorado de relatar os fatos; revela grande li-
berdade no uso da lngua portuguesa, aproximando-a da lngua falada.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 93

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No poema que voc vai ler a seguir, Oswald usou letras minsculas no
ttulo e aboliu os sinais de pontuao.

relicrio
Oswald de Andrade

No baile da Corte
Foi o Conde dEu quem disse

Andr Toma/Arquivo da editora


Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suru
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
com beb pit e ca
ANDRADE, Oswald de. Pau-Brasil. 5. ed. So Paulo: Globo, 1991.

Baependi: cidade de Minas Gerais que teve importante participao na


que ligava, no tempo do ouro, Parati Guerra do Paraguai, e Leopoldina
ao Rio de Janeiro. com o segundo.
Conde dEu: dom Pedro II, farinha de Suru: farinha de
preocupado em casar suas filhas, mandioca fina muito usada na
Leopoldina e Isabel, com homens de culinria brasileira.
importantes dinastias reais, foi Parati: cidade do Rio de Janeiro de
aconselhado a procurar pretendentes participao ativa na economia do
entre os prncipes da Casa Real sculo XVII, quando se exploravam
Francesa. Chegaram ento ao Brasil ouro e pedras preciosas no Brasil;
em 1864 os primos Lus Filipe Gasto fabrica pingas famosas.
de Orlans (o conde dEu) e Augusto relicrio: lugar prprio para guardar
de Saxe. Isabel casou com o primeiro, relquias; algo de grande valor.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. Que elementos autenticamente brasileiros voc identifica no poema relicrio,
de Oswald de Andrade?

2. Nesse curto e sinttico poema h informaes que revelam, em alguma medida,


o contraste entre os elementos da Corte e os elementos considerados autenti-
camente brasileiros.
a) Que relao o conde dEu, na viso do eu lrico, trava com os elementos
autenticamente brasileiros?
b) Em que medida essa relao subverte o comportamento que se espera de
um nobre?
c) Que ideias os ltimos versos sintetizam?

3. Consulte no vocabulrio acima o significado da palavra relicrio. No poema,


o que o relicrio? Como isso se relaciona viso que o eu lrico parece ter
do Brasil?

94 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Para entender
O M O D E R N I S M O E M S E U P R I M EI R O M O M E N T O
Os textos deste captulo mostram que no incio do sculo XX se formava na lite-
ratura brasileira outro cdigo, outra maneira de produzir arte. Muitos dos artistas
brasileiros desse perodo costumavam viajar para a Europa e trazer de l os princpios
do Modernismo portugus e as ideias dos movimentos vanguardistas cubismo,
expressionismo e, principalmente, futurismo: Oswald de Andrade, em Paris, conhe-
ceu o futurismo e a ousadia dos versos livres; Manuel Bandeira ficara marcado pelos
poemas de Paul Eluard na Sua; Ronald de Carvalho contribuiu na formao da
revista modernista portuguesa Orpheu. Todos esses artistas no s inovaram como
tambm marcaram definitivamente a maneira de produzir arte no Brasil.
verdade que, embora a maioria deles fosse de origem abastada, havia os
que no eram, como o prprio Mrio de Andrade, que contribuiu imensamente
com sua sensibilidade, sua vasta cultura e suas viagens pelo Brasil.
O ponto de encontro de todas essas ideias foi a Semana de Arte Moderna,
de 1922. Todavia, antes do famoso evento, outros acontecimentos contriburam
para que a arte brasileira abandonasse os modelos portugueses e buscasse temas
tratados de maneira mais moderna e formas inovadoras.

Contexto histrico e social


Na Europa, os movimentos de vanguarda ocorriam em pleno incio da Pri-
meira Guerra Mundial e em meio s transformaes desencadeadas pela Revo-
luo Russa. Com o cansao e o descrdito que esses acontecimentos imprimiam
aos valores europeus, as pessoas comearam a buscar na frica e na sia, conti-
nentes ainda no to contaminados pela cultura ocidental dominante, outros
olhares sobre o mundo. Valorizava-se, ento, a arte primitiva.
O Brasil, em razo de seu passado colonial, de sua economia que continua-
va baseada no caf e de seu desenvolvimento desigual, vivia uma situao de
desequilbrios diversos de norte a sul do territrio nacional e a consequente
tenso gerada por essa realidade.
Reproduo/Museu dOrsay, Paris, Frana.

Arearea (O co vermelho), de Paul


Gauguin, 1892. Escolha uma das
cores e acompanhe como na
pintura ela ocupa reas bem
delimitadas. A obra retrata um
lugar tranquilo, embalado por uma
msica suave, com seres integrados
natureza. Ansiando por
simplicidade, o francs Gauguin
desenvolveu sua arte no Taiti, longe
dos centros urbanos, influenciando
os artistas modernos a buscar o
primitivismo.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 95

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Nesse contexto, durante a Repblica Velha (1889-1930) surgiram movimen-
tos sociais como o tenentismo, que buscavam mais igualdade e diminuio do
poder da oligarquia cafeeira.

Um dos movimentos sociais da Repblica Velha, o tenentismo, objetivava acabar com o poder exces-
sivo dos fazendeiros. Oficiais de baixa patente, os tenentes estavam revoltados com os vcios do governo e
com os benefcios dados oligarquia cafeeira. Com objetivos bem definidos o voto secreto, por exemplo
e o apoio de outras vertentes da sociedade, a campanha tenentista comea a ganhar corpo.
Mas s em 1924 o movimento amadurece a ponto de promover em So Paulo sua mais violenta revolta:
a cidade tomada pelos tenentes lojas e casas so invadidas, saqueadas e depredadas. O povo adere
revolta em busca de igualdade. Entretanto, a fora federal, em maior nmero, invade a cidade e ataca os
revoltosos.
Mesmo com o insucesso de So Paulo, o movimento gera vrios motins em outros estados: Mato Gros-
so, Sergipe, Rio Grande do Sul. Derrotados em So Paulo, os tenentes rumam at o Paran, onde se encon-
tram com o grupo liderado por Lus Carlos Prestes, vindo do Rio Grande do Sul. Formam a Coluna Prestes,
que percorre mais de 25 mil quilmetros e passa por onze estados brasileiros incitando a luta contra as oli-
garquias. Sem resultados positivos, o tenentismo marcha em 1925 para o exlio, na Bolvia. Ainda assim
teriam importante papel no fim da Primeira Repblica, em outubro de 1930.
Guilherme Gaensly/Fundao Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ.

Theodor Priesing/Arquivo da editora


Na foto, imigrantes italianos na colheita de caf em fazenda da
cidade de Araraquara, So Paulo, c. 1902. Sobretudo no
ambiente rural, os imigrantes europeus que se instalavam no
incio do sculo XX em So Paulo traziam ideias que
reforavam o desejo de mudana.
Arquivo Fratelli Alinari/TopFoto/Keystone

Foto da rua Quinze de Novembro no centro de So


Paulo, c. 1929. Nas cidades, abriam-se bancos e
indstrias, o que tornava a vida urbana mais sofisticada.
Geravam-se empregos e outras formas de lazer.

Na foto, operrias trabalhando em fbrica na cidade de


So Paulo, c. 1930. Sem leis trabalhistas que
regulassem essa nova atividade, trabalhava-se nas
fbricas at catorze horas por dia em troca de salrios
miserveis e sob ameaa de castigos fsicos.

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A Semana de Arte

Reproduo/Coleo particular, So Paulo, SP.


Moderna
Em dezembro de 1917, a pintora Anita Mal-
fatti inaugurou uma exposio de pinturas com
fortes traos expressionistas e cubistas que trans-
formavam e rompiam definitivamente com a
ideia de retrato e descrio da natureza.
Malfatti recebeu severas crticas de Mon-
teiro Lobato, que escreveu um artigo sobre a
exposio no jornal O Estado de S. Paulo, em
20 de dezembro de 1917. Lobato dizia que,
por meio da denominao arte moderna,
esses artistas permitiam-se chamar o que fa-
ziam de arte. Ainda que contrrio s inova-
es, Lobato acabou chamando a ateno do
pblico ao movimento em ascenso.
Em 1921, j formado, o grupo modernista
brasileiro apresentava mltiplas tendncias,
mas com o mesmo objetivo de renovar a arte
brasileira: Mrio de Andrade publica Pauliceia A mulher de cabelos verdes, de Anita Malfatti, 1915. Aps
desvairada; Oswald de Andrade e Menotti del estudar pintura em Berlim e voltar ao Brasil, Malfatti faria, antes
da Semana de 22, a exposio que, embora criticada por
Picchia divulgam e defendem a nova arte. Lobato, revelou novos caminhos para a arte brasileira, sobretudo
Em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal no uso da cor.
de So Paulo ocorrem, ento, os eventos da Se-
mana de Arte Moderna: leem-se poemas e trechos de romances na escadaria do
teatro; Oswald de Andrade critica Castro Alves; Guilherme de Almeida declama
poemas lricos bem ao gosto do pblico; Ronald de Carvalho l Os sapos. Alm
das apresentaes literrias, havia exposies de artes plsticas. Villa-Lobos rege
um concerto com instrumentos tradicionais e outros inesperados, como tambor,
folha de zinco, etc.

Caractersticas do Modernismo
primeiro momento
Valorizao do Brasil
Os artistas buscavam, acima de tudo, valorizar atributos locais, o que era
brasileiro. A partir desse objetivo, estabeleceram um interessante dilogo com
os escritores romnticos, tambm preocupados em dar valor ao passado e cul-
tura nacional. Entretanto, os modernistas faziam isso a seu modo, ou seja, ino-
vando no s a forma, mas tambm a maneira de dar importncia cultura do
Brasil: valorizando a natureza tropical; os tipos humanos, como o negro e o ca-
boclo; a tranquilidade das pequenas cidades; a linguagem falada pelos brasilei-
ros; a mistura de povos e costumes. A linguagem, o estilo, a leveza, os tipos
brasileiros, tudo era tema para as produes da poca.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 97

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Cedida por Tarsila Educao/<www.tarsiladoamaral.com.br>/Coleo do
Instituto de Estudos Brasileiros da USP, So Paulo, SP.

Inovao esttica
experimentos
Poetas e prosadores buscavam liberdade de expres-
so, muitas vezes marcada pela utilizao do verso
livre, pela sintaxe mais solta, menos ortodoxa. Figuras
como eliso e parataxe (voc ver em Comparando
textos) so comuns na produo desse perodo, que
retrata uma sociedade caracterizada pela multiplici-
dade, em que indivduos tentam realizar vrias ativi-
dades ao mesmo tempo.
Muito mais do que inovar os temas da literatura
brasileira, o que vemos nessa fase modernista o de-
sejo de romper com a esttica reinante. Alm das ino-
vaes sintticas, h inovaes fnicas e lxicas, entre
O mamoeiro, de Tarsila do Amaral, 1925. Nesta tela, a
outras, como exemplificam os poemas que voc ver
artista retrata a natureza tropical, as pessoas simples das
pequenas cidades com intenso colorido e forte influncia a seguir.
cubista, representada nas formas geomtricas estilizadas.

Principais autores
Mrio de Andrade
Nascido no centro da cidade de So Paulo, Mrio de Andrade (1893-1945)
desde cedo demonstrou ter uma forte relao com a vida urbana e com tudo o
que ela oferece.
Autor de poemas, contos, romances e artigos, o escritor tambm ficou co-
nhecido pelas inmeras cartas trocadas com os mais diversos artistas da poca,
nas quais discorre sobre suas ideias estticas, sobre a lngua portuguesa, sobre
suas posies polticas, sobre o Brasil, etc.

[] E agora um pedido. Tenho uma fome pelo norte, no imagina.


Mande-me umas fotografias de sua terra. H por a obras de arte coloniais?
Imagens de madeira, igrejas interessantes? Conhecem-se os seus autores? H
fotografias? Acredite: tudo isso me interessa mais que a vida. No tenha
medo de me mandar um retrato de tapera que seja. Ou de rio, ou de rvore
comum. So as delcias de minha vida essas fotografias de pedaos mesmo
corriqueiros do Brasil. No por sentimentalismo. Mas sei surpreender o
segredo das coisas comesinhas da minha terra. E minha terra ainda o Bra-
sil. No sou bairrista. []
Fragmento de carta a Lus da Cmara Cascudo. Disponvel em:
<http://www.historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/mario/mariofragmentos.htm>.
Acesso em: 3 dez. 2012.

Em seus poemas, logo percebemos sua relao prxima com a msica. Mrio
de Andrade, que estudou e lecionou no Conservatrio Dramtico e Musical,
procurava transpor para suas produes caractersticas prprias da composio
musical, incluindo os conceitos de melodia e harmonia.
Leia uma estrofe do poema Domingo, publicado em Pauliceia desvairada.
Nesse poema, os versos organizam-se em palavras soltas, sem ligao aparente,
sobrepondo-se umas s outras e formando harmonias.

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Domingo

Reproduo/Coleo do Instituto de Estudos


Brasileiros da USP, So Paulo, SP.
Mrio de Andrade

Missas de chegar tarde, em rendas, confiteor: orao


e dos olhares acrobticos recitada pelos catlicos
antes de confessarem
Tantos telgrafos sem fio! seus pecados ao
Santa Ceclia regurgita de corpos lavados padre.
e de sacrilgios picturais pictural: relativo ou
prprio da pintura.
Mas Jesus Cristo nos desertos, regurgitar:
Mas o sacerdote no Confiteor Contrastar! transbordar.
Futilidade, civilizao Retrato de Mrio de Andrade
[...] por Lasar Segall, 1927.
ANDRADE, Mrio de, Domingo. In: LOPEz, Tel Ancona; FIGUEIREDO, Tatiana Longo (Org.).
So Paulo! comoo de minha vida.... So Paulo: Ed. Unesp; Prefeitura Municipal;
Imprensa Oficial do Estado de So Paulo: So Paulo, 2012. (Projeto De Mo Em Mo).

Um dos responsveis pela Semana de Arte Moderna, Mrio


de Andrade tambm participou da produo de revistas mo-
dernistas: Klaxon, Esttica, Terra Roxa e Outras Terras. De modo

Andr Toma/Arquivo da editora


geral, seus textos descrevem vivncias, percepes e sensaes
desencadeadas pela modernizao de So Paulo.
Essa modernizao se d na sintaxe no se preocupava
em produzir oraes; seu desejo era demonstrar sentimentos por
meio de frases mais marcadas por adjetivos, por sons e no
lxico. Com os neologismos, criava palavras procurando acom-
panhar o desenvolvimento das cidades, como em os progredi-
res, sonambulando, retratificado ou at mesmo arlequinal.

V
Escola! Sen tido!
Mrio de Andrade
E a manh
noiva
invernal
umidecida,
Nvoas
Ventos
Gotas dgua,
Se desenrola que nem novelo de fofa l. Carnac: pequena
cidade francesa, na
Bretanha, conhecida
Que frio! pelas longas fileiras de
menhires (os
Quatro carreiras de menhires humanos. alinhamentos de
IMOBILIDADE ABSOLUTA. Carnac) erguidos por
Porm as almas tremem retransidas. volta de 2000 a.C.
menhir (ou menir):
monumento pr-
Cabeas levantadas! Ningum se mexa! -histrico que consiste
num bloco de pedra
levantado
E a neblina envereda ver garas batendo asas brancas verticalmente.
Pelos alinhamentos de Carnac. retransido: que
ANDRADE, Mrio de, Escola! Sen...tido!. Poesias completas. penetra at o ntimo;
Vila Rica: Belo Horizonte/Rio de Janeiro, 1993. transpassado.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 99

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Mrio vivia a cidade. De sua janela avistava os bondes, o movimento dos
carros e das pessoas. Assim, diante da viso de uma cidade que se urbanizava,
sua obra no poderia retratar nada diferente. Dizia ter produzido Pauliceia des-
vairada de uma s vez, olhando pela janela de seu quarto. Nesse livro, a palavra
ganha liberdade em poemas curtos, de complexa significao. Por exemplo:
O bonde abre a viagem,
No banco ningum,
Estou s, stou sem.
Depois sobe um homem,
No banco sentou,
Companheiro vou.
O bonde est cheio,
De novo porm
No sou mais ningum.
ANDRADE, Mrio de. In: MASSAUD, Moiss. A literatura brasileira atravs dos textos. So Paulo: Cultrix, 1984.

Interessado pelos costumes brasileiros, o poeta e prosador excursiona pelo


Brasil a fim de conhecer sua produo e sua gente. Excelente folclorista, pes-
quisa nossa arte mais primitiva, nossa caracterstica mais brasileira, o que re-
sulta em uma de suas mais importantes obras: Macunama, que retrata o heri
brasileiro sem nenhum carter, que nasce na selva amaznica e chega a So
Paulo, em busca de um talism furtado por um gigante estrangeiro. Leia o
pargrafo inicial:
No fundo do Mato-Virgem nasceu Macunama, heri de nossa gente. Era preto
retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silncio foi to
grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a ndia tapanhumas pariu uma
criana feia. Essa criana que chamaram de Macunama.
J na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos
no falando. Si o incitavam a falar exclamava:
Ai! que preguia!...
e no dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiba,
espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape
j velhinho e Jigu na fora de homem. O divertimento dele era decepar cabea
de sava. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunama dandava
pra ganhar vintm. E tambm espertava quando a famlia ia tomar banho no rio,
todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres
soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a gua-doce
por l. [...]
ANDRADE, Mrio de. Macunama. So Paulo: Agir, 2008.

dandar (dandava): a palavra andar sava: designao comum a vrios tipos


imitando linguagem infantil. de formigas cortadeiras e carregadeiras.
guaimum: caranguejo. si: conjuno se.
jirau de paxiba: estrado de varas tapanhumas: povo indgena inventado
(jirau) feito com tipo de palmeira pelo autor para fazer referncia cor
de madeira escura e fibrosa da pele de Macunama, que era negra.
(paxiba). A palavra tupi tapyy-una2, vocbulo
sarapantar: espantar; assustar, de onde teria vindo tapanhuma,
aturdir. significa povo de pele negra.

2
WEISS, Frederico G. Edel. Estudos tupis e tupis-guaranis. Confrontos e revises. Rio de Janeiro:
Livraria Brasiliana, 1962. p. 220.

100 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Oswald de Andrade
Nascido em famlia rica, Oswald de Andrade (1890-1954) uma das figuras
mais importantes do Modernismo brasileiro. Trata-se do grande articulador da
Semana de Arte Moderna.
Sempre em contato com o que ocorre nas artes europeias, interessa-se pelas
vanguardas surrealistas. A partir da amadurece sua produo moderna no ro-
mance, na poesia e nos manifestos Pau-Brasil e Antropfago (ou Antropofgico).
Reproduo/Arquivo da editora

Pgina do Manifesto
Antropfago (ou Manifesto
Antropofgico), escrito por
Oswald de Andrade,
inspirado na tela Abaporu
(cujo desenho aparece no
centro da pgina do
manifesto), de Tarsila do
Amaral, 1928. Essas novas
ideias sobre arte foram
publicadas no primeiro
nmero da Revista de
Antropofagia, So Paulo,
maio de 1928, editada pelos
modernistas.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 101

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Oswald foi um dos autores que melhor representaram o conflito vivido pela
burguesia da poca: evidenciou questes sociais e psicolgicas, criticou a elite
cafeeira das grandes capitais, produziu textos divertidos a partir da contradio
do homem da cidade.
Constituem marcas de sua produo: o humor, a crtica na ponta da lngua e
grande admirao pelo Brasil, pas to contraditrio e rico. Como Mrio de An-
drade elabora os poemas-telegrama, Oswald fica conhecido pelos poemas-piada
textos curtos em que um trocadilho exprime humor diante da situao apre-
sentada.
De sua melhor produo em prosa, temos Memrias sentimentais de Joo
Miramar e Serafim Ponte-Grande, romances que inovam na forma, com captulos
curtos ou em versos, como se fossem poesias ou colagens.

Manuel Bandeira
Reproduo/Coleo particular, Rio de Janeiro, RJ.

Manuel Bandeira (1886-1968) nasceu no Recife, em Pernambuco. Viaja vrias


vezes para o Rio de Janeiro antes de se instalar em So Paulo, onde inicia a fa-
culdade de arquitetura.
Em 1904, aos 18 anos, descobre que sofria de tuberculose e parte para o Rio
de Janeiro em busca de condies climticas melhores. A doena o leva Europa,
onde entra em contato com o Simbolismo e as vanguardas artsticas.
Mais tarde, fixando-se no Rio de Janeiro, torna-se amigo de poetas que, como
ele, passaram do Simbolismo ao Modernismo. Seus poemas apresentam caracte-
rsticas bem definidas do movimento modernista, como o humor e o olhar agu-
Retrato de Manuel ado sobre tudo que o cerca.
Bandeira pintado por
Cndido Portinari, Bandeira, um dos maiores poetas brasileiros de versos livres, em tudo encon-
1931. trou temas para sua poesia. Irnico, escreve com ritmo leve e livre.

Alcntara Machado
Alcntara Machado (1901-1935), filho de uma tradicional famlia paulista,
tambm pde conhecer as tendncias artsticas europeias na poca. Sua produ-
o literria foi toda em prosa, principalmente contos. Foi um dos responsveis
pela transformao da prosa da poca.
De sensibilidade gil, soube captar e transmitir o que a figura do imigrante
trouxe para a paisagem da cidade de So Paulo. Os costumes e a fala passaram a ser
registrados nos contos de Brs, Bexiga e Barra Funda de forma divertida e pitoresca.
Suas caractersticas so a agilidade dos contos, o olhar sobre os novos
bairros operrios e at mesmo a percepo de sua limitao para retratar
esses bairros, uma vez que ele pertencia elite paulistana, e no gente
que vivia ali. Conhea um trecho do conto A sociedade, de Alcntara
Machado:

A sociedade
Alcntara Machado

Filha minha no casa com filho de carcamano!


A esposa do Conselheiro Jos Bonifcio de Matos e Arruda disse isso e foi
brigar com o italiano das batatas.

102 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Teresa Rita misturou lgrimas com gemidos e entrou no seu quarto batendo
a porta. O Conselheiro Jos Bonifcio limpou as unhas com o palito, suspirou e
saiu de casa abotoando o fraque.
O esperado grito do clxon fechou o livro de Henri Ardel e trouxe Teresa Rita
do escritrio para o terrao.
O Lancia passou como quem no quer. Quase parando.
A mo enluvada cumprimentou com o chapu Borsalino.
Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a
curva. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros.
Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade.
Pouco antes do nmero 259-C sabe: uiiiiia-uiiiiia!
O que voc est fazendo a no terrao, menina?
Ento nem tomar um pouco de ar eu posso mais?
Lancia Lambda, vermelhinho, resplendente, pompeando na rua. Vestido de
Camilo, verde, grudado pele, serpejando no terrao.
Entre j para dentro ou eu falo com seu pai quando ele chegar!
Ah meu Deus, meu Deus, que vida, meu Deus!
Adriano Melli passou outras vezes ainda. Estranhou. Desapontou. Tocou para
a Avenida Paulista.
[...]
MACHADO, Antnio Alcntara. Brs, Bexiga e Barra Funda.
So Paulo: Nova Alexandria, 1995.

Borsalino: fbrica italiana de acessrios Henri Ardel: romancista francs, teve seus
masculinos, especialmente de chapus. romances publicados no Brasil como literatura
carcamano: indivduo nascido na Itlia para moas por volta da metade do sculo XX.
(usado no sentido pejorativo). Lancia: marca italiana de automveis.
Clxon: ortografia aportuguesada de klaxon serpejar: arrastar-se como uma serpente;
(buzina de automvel). mostrar-se sinuoso.

Sintetizando o Modernismo no Brasil poesia e prosa da primeira


gerao
Copie as frases a seguir no caderno e complete-as com base no que foi estudado no captulo.

a) No incio do sculo XX, formava-se, na literatura brasileira, .

b) Muitos dos artistas brasileiros desse perodo sofreram influncias europeias, pois .

c) O ponto de encontro de todas essas ideias foi .

d) O Brasil vivia .

e) So caractersticas do Modernismo brasileiro: .

f) so os principais escritores desse perodo, e suas caractersticas mais importantes so: .

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 103

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T E X T O E C O N T E X T O
O poema a seguir, escrito por Mrio de Andrade, integra o livro Pauliceia des-
vairada, publicado em 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Acompanhe o
olhar do eu lrico e verifique a que elementos a cidade de So Paulo comparada.

Paisagem n 1
Mrio de Andrade

Minha Londres das neblinas finas! Passa um So Bobo, cantando, sob os pltanos,
Pleno vero. Os dez mil milhes de rosas paulistanas. um trall A guarda-cvica! Priso!
H neve de perfumes no ar. Necessidade a priso
Faz frio, muito frio para que haja civilizao?
E a ironia das pernas das costureirinhas Meu corao sente-se muito triste
parecidas com bailarinas Enquanto o cinzento das ruas arrepiadas
O vento como uma navalha dialoga um lamento com o vento
nas mos dum espanhol. Arlequinal!
H duas horas queimou Sol. Meu corao sente-se muito alegre!
Daqui a duas horas queima Sol. Este friozinho arrebitado
d uma vontade de sorrir!
Andr Toma/Arquivo da editora

E sigo. E vou sentindo,


inquieta alacridade da invernia,
como um gosto de lgrimas na boca
ANDRADE, Mrio de. Poesias completas.
Belo Horizonte: Villa Rica, 1993.

alacridade: grande 1. Observe que, muitas vezes, a instabilidade do clima se aproxima da instabilidade
alegria, animao
intensa.
dos sentimentos do eu lrico. Destaque os versos que comprovam essa afirmao.
arlequinal: adjetivo
formado a partir de 2. Uma das preocupaes dos modernistas era valorizar a liberdade de expresso,
arlequim (personagem muitas vezes marcada pelo verso livre, pela sintaxe mais solta e, na mesma pro-
da commedia dellarte,
cuja funo, quando
poro, valorizar o que era local, brasileiro. De que maneira Mrio de Andrade
surgiu, era divertir o se revela moderno nesse poema?
pblico; sua roupa
tpica era feita de 3. Consulte no vocabulrio ao lado o significado de arlequim. Seu traje, de tecidos
trapos coloridos, muitas
vezes em formato de
coloridos em forma de losangos, um elemento que o destaca. O termo arle-
losangos). quinal, neologismo criado por Mrio de Andrade, mistura-se a sua viso da
invernia: tempo frio e cidade de So Paulo. Considere essas informaes e a ideia geral do poema. Que
chuvoso; inverno.
pltano: um tipo de elementos do arlequim podem ser notados na paisagem da cidade e nas emoes
rvore. do eu lrico? Escreva a(s) alternativa(s) correta(s) no caderno.
a) A diversidade de cenas pode ser comparada diversidade de losangos da
roupa do arlequim.
b) A variedade dos trajes de um arlequim reflete-se na variedade de climas e
sentimentos conforme as cenas observadas.
c) O olhar frio e direto sobre a paisagem, que no nica, fragmenta-se como
a roupa do arlequim.
d) Reflete-se nesse traje o repdio do eu lrico a uma cidade to cheia de
contrastes.

104 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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C O M P A R A N D O T E X T O S
Compare o poema Paisagem no 1, de Mrio de Andrade, com um trecho da letra
da msica So Paulo, So Paulo, da banda paulistana Premeditando o Breque.

So Paulo, So Paulo

Cesar Diniz/Agncia Estado


Premeditando o Breque

sempre lindo andar na cidade de So Paulo


O clima engana, a vida grana em So Paulo
A japonesa loira, a nordestina moura de So Paulo
Gatinhas punks, com jeito ianque de So Paulo

Na grande cidade me realizar, morando num BNH


Na periferia a fbrica escurece o dia

No v se incomodar com a fauna humana


de So Paulo (de So Paulo)
Show do Premeditando o Breque, realizado em
Pardais, baratas, ratos na rota So Paulo, em 1986.
de So Paulo (de So Paulo...)
E pra voc, criana, muita diverso e poluio
Tomar um banho no Tiet ou ver TV
Na grande cidade me realizar, morando num BNH
Na periferia a fbrica escurece o dia
[]
Premeditando o Breque. So Paulo, So Paulo. In: Prem vivo. So Paulo: Velas, 1994. 1 CD. Faixa 11.

1. Escreva no caderno a alternativa que completa a frase abaixo:


Mrio de Andrade dedica o poema Paisagem no 1
a) aos poetas modernistas.
b) aos brasileiros.
c) cidade de So Paulo.
2. A letra de So Paulo, So Paulo traz certa ironia ao falar de algumas das be-
lezas da cidade de So Paulo.
Copie no caderno o verso em que, considerando o contexto, existe ironia.
Explique sua resposta.
sempre lindo andar na cidade de So Paulo
O clima engana
Na periferia a fbrica escurece o dia
3. Conforme voc viu ao interpretar o poema de Mrio de Andrade, o eu lrico faz
referncia ao clima da cidade, aproximando muitas vezes a instabilidade do
clima instabilidade de suas emoes. Escreva no caderno o verso da msica da
banda Premeditando o Breque em que h uma referncia semelhante ao trecho
cinzento das ruas arrepiadas do poema de Mrio de Andrade.
sempre lindo andar na cidade de So Paulo
Na grande cidade me realizar, morando num BNH
Na periferia a fbrica escurece o dia
MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 105

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4. Releia o poema e a letra de msica observando a sequncia de versos.
a) Escreva no caderno a opo que completa a frase: A organizao dos versos
nesses textos
mostra uma sequncia temporal de ideias, criando poemas narrativos.
mostra a juno de uma sequncia de ideias, sem que se verifique inicial-
mente um sentido entre elas.
mostra uma sequncia espacial de ideias, criando poemas narrativos.
b) A parataxe, que consiste na organizao de uma sequncia de frases justapostas
(sem conjuno coordenativa), um recurso muito usado nos poemas modernis-
tas, uma vez que o poeta procura lutar contra o senso comum. Considere estes
versos da letra de msica estudada: sempre lindo andar na cidade de So
Paulo / O clima engana, a vida grana em So Paulo / A japonesa loira, a nordes-
tina moura de So Paulo. Temos nesse trecho apenas uma juno sequencial de
fatos, sem que entre os versos haja uma dependncia estrutural, como se teria
em, por exemplo: Andar pela cidade lindo, por causa do clima, do jeito de viver
do paulistano, por causa dos diversos tipos tnicos que compem o seu povo, etc.
Encontre um caso de parataxe no poema Paisagem no 1.

E por falar em Modernismo


Mrio de Andrade levou a srio seu trabalho de pesquisador da cultura bra-
sileira. Viajou o pas inteiro para pesquisar quais eram os ritmos, as danas, as
lendas, as canes, as festas, enfim, tudo o que poderia caracterizar nossos cos-
tumes. Na verdade, Mrio de Andrade buscava nossa identidade, e isso que
voc e seu grupo vo fazer: procurar a identidade de sua classe em relao s
danas, s msicas, aos ritmos, s brincadeiras que faziam quando eram crianas
e s atividades fsicas que realizam hoje.

1. Em classe, dividam-se em quatro grupos. Cada grupo escolhe um tema e orga-


niza-se para levantar a identidade da classe em relao a cada um deles.
1o momento Levantamento de respostas
Cada grupo faz a pergunta correspondente ao tema escolhido a todos os cole-
gas da classe:
a) De que tipo de dana voc mais gosta?
b) De que tipo de msica/ritmo voc mais gosta?
c) Quais as brincadeiras de que voc gostava quando era criana?
d) De que atividade fsica voc mais gosta?

2o momento Conhecendo a identidade da classe


Feitas as perguntas, hora de organizar as respostas. Por exemplo:
Os ritmos de que mais gostam na classe so: samba e funk.
Contem quantos alunos escolheram cada um dos ritmos e tabulem o resultado.
Por exemplo:
SAMBA Funk OUtROS RitMOS
30 12 3

3o momento Apresentando a identidade da classe


Como cada grupo fez o levantamento sobre um tema diferente, dever escolher
um representante para apresentar oralmente a resposta para a classe.

106 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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2. Para apresentao dos resultados, o representante deve produzir um texto oral
exposio. Considere que os alunos da classe e o professor so seus interlocutores. Seu
objetivo mostrar para a classe a identidade do grupo em relao a cada um dos temas.

A P R O V E I T E P A R A...

... ler
Melhores poemas de Mrio de Andrade, organizao de Gilda de Mello e
Souza, editora Global.
Este livro rene os melhores poemas de um dos principais autores da primeira gerao mo-
dernista brasileira.
Macunama, de Mrio de Andrade, editora Agir.
Mrio de Andrade lanou Macunama: o heri sem nenhum carter, em 1938. Por falta
de editora, a tiragem do romance foi pequena, mas a crtica modernista festejou o livro por sua
inovao narrativa e de linguagem.
Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, editora Globo.
Neste livro, Oswald de Andrade funde poema e prosa e aborda temas inusitados, estabele-
cendo assim os pontos principais de sua transgressora linguagem potica.
Melhores poemas de Manuel Bandeira, organizao de Francisco de Assis
Barbosa, editora Global.
O livro apresenta um panorama da obra desse grande modernista.
Contos reunidos: Brs, Bexiga e Barra Funda, Laranja da China e outros, de
Alcntara Machado, editora tica.
Esta coletnea rene a totalidade dos contos escritos por Alcntara Machado. Com muita
ironia e humor, o autor nos fala de So Paulo no incio de sua industrializao.

... assistir a
Tempos modernos, de Charles Chaplin (EUA, 1936).
Um operrio enlouquece com o ritmo intenso do trabalho braal com o qual tenta garantir
sua sobrevivncia.
Macunama, de Joaquim Pedro de Andrade (Brasil, 1969).
Inspirado na obra de Mrio de Andrade, o filme conta a histria de Macunama, que na cidade
conhece guerrilheiras e prostitutas, enfrenta viles milionrios e policiais.
Divulgao/Embrafilme
Lio de amor, de Eduardo Escorel (Brasil, 1975).
Adaptao do romance Amar, verbo intransitivo, de Mrio de Andrade. Na dcada
de 1920, uma governanta alem contratada por uma famlia rica para dar aulas aos
filhos do casal, o que tambm inclui iniciar sexualmente o filho mais velho.

ver na internet
www.tarsiladoamaral.com.br/
Site oficial da artista Tarsila do Amaral. Acesso em: 11 jan. 2013. Os atores Llian Lemmertz e Marcos
Taquechel em cena do filme Lio
www.dicavalcanti.com.br/ de amor.
Pgina oficial de Di Cavalcanti, pintor da primeira gerao modernista.
Acesso em: 11 jan. 2013.
www.mam.org.br/
O Museu de Arte Moderna de So Paulo oferece amplo acervo da pintura nacional, que atraves-
sou o sculo XX e chegou ao XXI influenciada pelos primeiros modernistas. Acesso em: 11 jan. 2013.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA E PROSA DA PRIMEIRA GERAO 107

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lITERATURA

> Interdisciplinaridade com: Modernismo no Brasil


Arte, Histria, Sociologia.
poesia da segunda
gerao (1930-1945)

P A R A C O M E A R
A Semana de 22 deixou como legado para os prximos escritores a possibilidade de maiores expe-
rimentaes estticas, alm de um olhar mais voltado para as coisas autenticamente brasileiras. A ge-
rao seguinte, no entanto, no se restringiu aos limites desse legado e foi alm: soube usar e trans-
formar as conquistas literrias e estticas de at ento, tornando-se capaz de representar o local, mas
de maneira a revelar tambm o humano, o universal.
Veja as imagens.
Album/akg-images/Latinstock

Corbis/Latinstock
O cientista Albert
Einstein
ministrando aula
na Universidade
de Princeton, nos
Estados Unidos,
1930-1931.

Soldados bolcheviques marchando pelas ruas de Moscou. c. 1917.


FPG/Hulton Archive/Getty Images

Joe Rosenthal/Associated Press

Soldados norte-americanos colocando a bandeira de seu


Primeira pgina do jornal Brooklyn Daily Eagle, em que se l a pas na ilha de Iwo Jima, em fevereiro de 1945, smbolo
manchete Wall Street em pnico devido quebra da Bolsa, da vitria dos Aliados na maior batalha da Segunda
edio de 24/10/1929, dia da quebra da Bolsa em Nova York. Guerra Mundial contra as foras japonesas.

108 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Bettmann/Corbis/Latinstock

CPDOC/Fundao Getlio Vargas


O presidente Getlio Vargas fala nao por ocasio da instaurao
do Estado Novo, na presena de outras autoridades, no palcio do
Um dos primeiros aparelhos de TV sendo testado numa Catete, em novembro de 1937.
residncia na Filadlfia, Estados Unidos, em 1935.
Reproduo/Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia,
Madri, Espanha.

Divulgao/United Artists
Guernica, do pintor catalo Pablo Picasso, 1937.

Rena-se com dois ou trs colegas e respondam s questes a seguir.

1. Na opinio do grupo, a arte deve ter um papel social, ou seja, deve


ser um veculo de denncia dos problemas locais e da humanida-
de? Por qu? Cena de O grande
ditador, filme dirigido e
2. A arte pode mobilizar as pessoas, levar a sociedade a algum tipo de transforma- interpretado por
Charles Chaplin, 1940.
o? Por qu?

3. Na folha de papel entregue por seu professor, colem as figuras e os textos, pre- Ateno: No escreva
No livro. Faa as
viamente selecionados, referentes a alguma situao que, segundo vocs, de- atividades No caderNo.
veria levar as pessoas a se mobilizar. A classe toda deve expor essas escolhas
organizando um painel. Deixem um espao em branco embaixo ou ao lado de
cada imagem ou texto para posterior escrita.

4. Analisando o painel que vocs fizeram, vocs se lembram de alguma obra de


arte que tenha retratado uma dessas cenas? Ao longo do ms, medida que
forem se lembrando de expresses artsticas relacionadas a um dos temas sele-
cionados, preencham com os dados dela (ttulo, autor e data de lanamento) o
espao em branco prximo cena retratada.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 109

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O poema que voc vai ler foi publicado no primeiro livro de poemas
de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, de 1930. Note como
TEXTO 1 o legado deixado pelos primeiros modernistas j se faz presente na liber-
dade esttica e na abordagem temtica. Note tambm que, acima dessas
influncias, emerge um poeta sensvel s questes que envolvem o homem
de seu tempo.

Cyro dos Anjos: escritor


mineiro, contemporneo
de Drummond, que
O sobrevivente
foi reconhecido por Carlos Drummond de Andrade
seus romances de
crtica social.
A Cyro dos Anjos
Impossvel compor um poema a essa altura da evoluo da humanidade.
Impossvel escrever um poema uma linha que seja de verdadeira poesia.
O ltimo trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ningum se lembra mais.
H mquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.

Se quer fumar um charuto aperte um boto.


Palets abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
No precisa estmago para digesto.

Um sbio declarou a O Jornal que ainda falta muito para


atingirmos um nvel razovel de cultura. Mas at l,
felizmente, estarei morto.

Os homens no melhoraram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitvel, o mundo cada vez mais habitado.

E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)


ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro:
Record, [s.d.]. Graa Drummond. www.carlosdrummond.com.br
Andr Toma/Arquivo da editora

110 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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INTERPRETAO DO TEXTO
1. O poema O sobrevivente pode ser dividido em trs partes. Embora entre
as estrofes no haja nenhum conectivo estabelecendo de forma explcita a
relao entre elas, todas esto cuidadosamente relacionadas. De que natu-
reza seria essa relao? Observe o quadro a seguir e resolva as questes
propostas.

1a pArte 2a pArte 3a pArte

estrofe(s) estrofe(s) estrofe(s)

Impossibilidade de fazer poesia Apresentao das causas da Desfecho irnico. Contradiz o


Contedo no momento histrico em que se impossibilidade de fazer que o eu lrico desenvolvera
encontra o eu lrico. poesia. at ento.

a) Copie o quadro no caderno e complete-o indicando a que estrofe(s) se refe-


re cada uma das partes.
b) Concentre-se nas causas da impossibilidade de fazer poesia. Identificamos
abaixo os problemas apontados pelo eu lrico em cada uma das estrofes da
segunda parte, porm os colocamos fora da ordem em que aparecem no
poema. Escreva no caderno a que estrofe se refere cada um deles e justifique
sua resposta.
Apesar de todos esses problemas, a humanidade cresce sem a menor ca-
pacidade de sensibilizar-se com todas essas dificuldades.
A tecnologia torna complexas as coisas mais simples.
Mesmo com todo o legado tecnolgico existente, a humanidade
est distante de um nvel razovel de cultura.
A tecnologia e a cultura tambm no garantiram que os homens melho-
rassem e deixassem de se matar.
c) Se o estgio em que se encontra a humanidade impede a composio de um
poema, qual, ento, seria a condio mais adequada para a produo
de poesia?

2. Outros dados no to explcitos esto na organizao geral do poema, parcial-


mente interpretado at aqui. Releia:
O ltimo trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ningum se lembra mais.
Veja que a nica informao realmente clara nesses dois versos o ano de 1914.
O nome do ltimo trovador no lembrado.
a) Qual foi o acontecimento mais marcante para o mundo em 1914?
b) Diante disso, que importncia teria o nome de um poeta?
c) Que importncia o eu lrico d poesia diante dos grandes acontecimentos
da humanidade?

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 111

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3. Na segunda estrofe, o poeta aponta o lugar que a tecnologia passa a ocupar na
vida das pessoas. Escreva no caderno os versos que correspondem s afirmaes
a seguir e explique-os resumidamente.
a) As verdadeiras relaes humanas esto fragilizadas.
b) Existe cada vez mais a conteno dos movimentos fsicos humanos.

4. Releia a terceira estrofe. Nela o eu lrico afirma Mas at l, felizmente, es-


tarei morto. Em que consiste a ironia contida em felizmente, ou seja, por
que para ele melhor estar morto quando a humanidade atingir um nvel
razovel de cultura?

5. Releia os versos:
Os homens no melhoraram
e matam-se como percevejos.
percevejo o nome dado a diversas famlias de insetos. Interprete essa compa-
rao, considerando a ideia geral do poema.

6. Releia o ltimo verso. Perceba que ele, ironicamente, contradiz o afirmado


inicialmente na primeira estrofe, mas recupera todas as informaes apresen-
tadas ao longo do poema.
Nesse novo contexto, qual , ento, a nova temtica para a poesia?

7. O ttulo do poema O sobrevivente. Ao dar esse ttulo ao texto, o eu lrico,


mais uma vez, contradiz o que escrevera nos trs primeiros versos.
Explique essa contradio, esclarecendo quem o sobrevivente.

O poema a seguir tambm foi escrito por Carlos Drummond de An-


drade e encontra-se no livro Sentimento do mundo, de 1940. Nos poemas
TEXTO 2 desse livro, o senso de humor e a ironia, que so uma constante em textos
anteriores, do lugar a um olhar pessimista por conta da impossibilidade
de reagir diante da realidade que o angustia.

Os ombros suportam o mundo


Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que no se diz mais: meu Deus.


Tempo de absoluta depurao.
depurao: limpeza;
puricao moral;
Tempo em que no se diz mais: meu amor.
aperfeioamento. Porque o amor resultou intil.
E os olhos no choram.
E as mos tecem apenas o rude trabalho.
E o corao est seco.
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Em vo mulheres batem porta, no abrirs.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
s todo certeza, j no sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que a velhice?


Teus ombros suportam o mundo
e ele no pesa mais que a mo de uma criana.
As guerras, as fomes, as discusses dentro dos edifcios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando brbaro o espetculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que no adianta morrer.

Andr Toma/Arquivo da editora


Chegou um tempo em que a vida uma ordem.
A vida apenas, sem mistificao.
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond.
www.carlosdrummond.com.br

INTERPRETAO DO TEXTO
1. O verso a seguir dispara uma ideia que se repete de diferentes maneiras ao
longo do poema: Chega um tempo em que no se diz mais: meu Deus.
Responda no caderno:
a) Dentro da ideia geral do poema, dizer meu Deus equivale a:
pedir ajuda divindade.
no abandonar a relao entre o homem e a religio.
indignar-se com os problemas que nos cercam.
fugir dos verdadeiros problemas, recorrendo religio.
b) O verso seguinte, Tempo de absoluta depurao, refora a ideia apon-
tada no item anterior com uma agravante. Consulte na pgina anterior
os significados da palavra depurao e reflita sobre a questo a seguir.
Com esse verso, sugerido que:
o ser humano se sente culpado por no fazer nada contra os problemas
do mundo, por isso busca a purificao moral.
o ser humano perdeu sua capacidade de se indignar com os grandes pro-
blemas que o cercam e no sente culpa por isso.

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2. A viso pessimista do comportamento do ser humano diante dos problemas do
mundo continua a ser marcada pelos prximos versos: Tempo em que no se
diz mais: meu amor. / Porque o amor resultou intil.
a) Que esperanas geralmente so colocadas no amor?
b) O que significa, portanto, o amor resultar intil?

3. Releia os versos a seguir. Observe sua fora potica (pense em fora potica
como o uso da palavra em seu potencial mximo de significao).
Teus ombros suportam o mundo
e ele no pesa mais que a mo de uma criana.
a) Escreva no caderno as duas expresses que se opem.
Ombros e pesam.
Suportam e mundo.
Mundo e pesa.
Ombros e mo de uma criana.
Suportam e mo de uma criana.
b) Nesse contexto, o que significa Teus ombros suportam o mundo?
c) O que significa, ento, suportar o que no pesa mais que a mo de uma
criana?

4. A capacidade de indignao vislumbrada em dois versos da terceira estrofe.


a) Identifique-os.
b) O que, segundo o eu lrico, h de errado na atitude dos que se comovem
com os problemas?

5. Interprete os dois ltimos versos do poema.

Habilidades >
leitoras Para compreender esse poema voc precisou:
perceber a relao entre as partes do poema e as reiteraes retoma-

das de ideias iniciais reforadas em outros versos do texto;
identificar a ideia geral do poema e interpretar seus versos luz dessa ideia;

fazer inferncias, relacionando informaes do texto ao seu conheci-

mento de mundo;
reconhecer, em certos versos, elementos que, participando da construo

do poema, o tornaram muito mais expressivo.

O soneto a seguir foi tirado do primeiro canto da obra potica de


Jorge de Lima, Inveno de Orfeu. Publicado em 1952, um ano antes da
TEXTO 3 morte do poeta, at hoje o livro um enigma para os que procuram in-
terpret-lo. Apesar do hermetismo, da dificuldade de encontrar unidade
no todo, h, nessa obra, poemas que, lidos isoladamente, so de grande
beleza, como o soneto a seguir.

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Inveno de Orfeu
Jorge de Lima

XXVI

Andr Toma/Arquivo da editora


Qualquer que seja a chuva desses campos
Devemos esperar pelos estios;
E ao chegar os seres e os fiis enganos
Amar os sonhos que restarem frios.
Porm se no surgir o que sonhamos
E os ninhos imortais forem vazios,
estio: vero; idade
H de haver pelo menos por ali madura.
Os pssaros que ns idealizamos. Orfeu: na mitologia
grega, Orfeu, poeta e
msico, casa-se com a
Feliz de quem com cnticos se esconde bela Eurdice, que
E julga t-los em seus prprios bicos, morre. Inconformado
com a perda, o poeta
E ao bico alheio em cnticos responde. desce aos infernos e
implora para que sua
E vendo em torno as mais terrveis cenas, amada reviva.
sero: trabalho ou
Possa mirar-se as asas depenadas tarefa extraordinria;
E contentar-se com as secretas penas. tempo que decorre
entre a refeio noturna
LIMA, Jorge de. In: MOISS, Massaud. A literatura brasileira atravs dos
textos. So Paulo: Cultrix, 1995, p. 462. e a hora de dormir.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. O poema de Jorge de Lima repleto de metforas, que, combinadas, tratam de
certos eventos da vida e da maneira de lidar com eles. Indique, no caderno, o
que podem significar, dentro da ideia geral do poema, as palavras ou expresses
a seguir. Veja o exemplo.
a) chuva 5 1. os sonhos e as esperanas
b) campos 2. canto, arte
c) estios 3. a prpria vida
d) seres e fiis enganos 4. frustraes dos esforos
e) sonhos que restarem frios 5. dificuldades, problemas
f) ninhos imortais 6. espao de concretizao dos sonhos
g) pssaros 7. sonhos e iluses secretas
h) cnticos 8. sonhos e iluses desfeitas
i) bico 9. alegrias ou arte
j) asas depenadas 10. esperanas no realizadas
k) secretas penas 11. momentos bons, solues dos problemas

2. Elabore uma parfrase do poema.

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Para entender
A P O E S I A D A S E g U N D A
gERAO DO MODERNISMO
A segunda gerao modernista reconhecida pelo amadurecimento e pelo
aprofundamento literrio das novidades estticas desenvolvidas a partir da Se-
mana de Arte Moderna. Na poesia, os autores tratam da guerra, da vida, da
morte, da sensao de estar no mundo.
Agncia France-Presse/Arquivo da editora

A literatura desse perodo marcada por fatos histricos que


abalaram as estruturas de quem viveu nessa poca. Segundo o
professor de literatura Joo Luiz Lafet, se os autores da Sema-
na de Arte Moderna foram responsveis pela revoluo na lite-
ratura, a gerao de 1930 representada pelos autores que vi-
vem na revoluo. Menos preocupados em romper a tradio
literria e mais seguros da liberdade proporcionada pelo novo
estilo, os autores desse perodo deram o tom da participao,
ou seja, mostraram-se interessados na vida contempornea e
Jean-Paul Sartre (1905-1980), filsofo e
escreveram sobre o sentimento de participar da sociedade.
escritor francs, em foto de 1948. Ele O experimentalismo da primeira gerao ocorreu num gru-
influenciou geraes com suas ideias, po restrito de pessoas que frequentavam os crculos literrios de
sobretudo a partir do romance A nusea
(editora Nova Fronteira), publicado em 1937,
So Paulo e Paris. A esses artistas, importava a ideia de ruptura.
em que as questes do cotidiano, do viver Na dcada de 1930, a literatura passa a incorporar, direta ou
simplesmente, ganham importncia nas indiretamente, eventos sociais do Brasil e do mundo. Drummond,
reflexes filosficas.
Ceclia Meireles, Jorge de Lima continuaram a luta pelo ideal de
liberdade esttica do primeiro momento. Contudo, no se percebe mais na pro-
duo deles a brincadeira pura e simples de Oswald de Andrade, por exemplo.
Se com os primeiros modernistas a forma e a expresso ganharam destaque,
com a segunda gerao, temas polticos, existenciais ou religiosos vm tona,
no desejo de expressar e discutir as angstias do ser humano.

Contexto histrico
A dcada de 1930 foi, sem dvida, um perodo de intensas aflies sociais.
Pouco antes, a queda da Bolsa de Nova York, em 1929, atinge grandes for-
tunas internacionais e nacionais. A alegria do incio do sculo d lugar a muita
tristeza e a perda de valores.
O mundo assiste, logo aps a Primeira Guerra Mundial, ao desenrolar da guerra
seguinte, que se fecha com o lanamento da bomba atmica e a diviso do mundo
em dois blocos: socialista e capitalista.
No Brasil, a oligarquia cafeeira e a indstria sofrem os reflexos da quebra da
Bolsa de Nova York em 1929. A poltica do caf com leite (dominada por So
Paulo e Minas Gerais) entra em crise, sobretudo quando o governador mineiro
apoia o candidato do partido da Aliana Liberal, o gacho Getlio Vargas, para
a Presidncia da Repblica.

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As revoltas expressam a insatisfao social. A Co-

Bettmann/Corbis/Latinstock
luna Prestes avanava pelo territrio nacional, de-
fendendo o trabalho e opondo-se ao governo.
Getlio Vargas chega ao poder com a Revolu-
o de 1930, derrubando a oligarquia cafeeira e
a Repblica Velha. Defende a produo nacional
geral e no s a do caf, alm de reformas das leis
trabalhistas: regulamentao do trabalho do me-
nor de idade, exigncia de frias regulamentadas.
Ao mesmo tempo, persegue e prende os manifes-
Em foto de outubro de 1929, motivado pela quebra da
tantes contrrios ao seu governo, entre eles Lus Bolsa, o investidor Walter Thornton tenta vender seu luxuoso
Carlos Prestes. automvel por apenas cem dlares nas ruas de Nova York.
Em 1937, Vargas decreta o Estado

Arquivo Nosso Sculo/Arquivo da editora


Novo, governo autoritrio, nos moldes do
fascismo italiano, instituindo no Brasil um
poder centralizador e ditatorial, que dimi-
nui a liberdade de expresso de maneira
geral, espalhando desconforto e medo.
Getlio Vargas comanda o pas de 1930
a 1954, quando se suicida. As mudanas
polticas geradas a partir de seu governo
levam a movimentos revolucionrios e a
reaes contrarrevolucionrias.
Manifestao estudantil
contra Getlio Vargas e a
favor da candidatura de
Eduardo Gomes para
Caractersticas da poesia da presidente do pas, em 1944.

segunda gerao do Modernismo


Aprofundamento das conquistas da
gerao de 1922
A gerao de 1922 rompeu com a estrutura acadmica e incorporou outros
modelos de produo. Mais maduros e com o caminho aberto, os poetas da
gerao de 1930 no precisavam romper com o modelo vigente. Com isso, ga-
nharam liberdade para se concentrar em outras preocupaes alm da forma.

Conquista de novas temticas


Na poesia da segunda gerao modernista, h liberdade para tratar do mun-
do que se descortina, da sociedade cheia de horrores, do medo e da negativida-
de que isso traz. Os poetas dessa fase voltam-se para temas existenciais, polticos
ou religiosos: a guerra, o medo, a infncia, o envelhecimento, as bombas, o
horror, em razo do contexto histrico vivido.

Sentimento de estar no mundo


O mais forte sentimento da segunda gerao o de viver, de estar no mundo.
Com a liberdade de expresso controlada, em um cenrio de guerras e ditadura,
no Brasil os poetas utilizam a produo textual para se manifestar e refletir.

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Principais autores
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu e passou a infncia em Itabi-
ra, Minas Gerais. Formou-se em Farmcia, mas preferiu lecionar Portugus e Geo-
grafia. Exerceu as funes de jornalista e funcionrio pblico ao longo de sua vida.
Drummond o poeta que mais se destaca na segunda gerao modernista. Ficou
conhecido pela riqueza de seu estilo pessoal, por suas temticas e pela expresso
dos seus sentimentos diante do mundo que o cercava. Para ele, era um desafio cap-
tar a poesia de um mundo como o que se descortinava, segundo ele, caduco.
Sua fora era a palavra. Por meio dela declarava seu amor, refletia a sociedade,
cantava os monstros da infncia, da saudade, da injustia. Marca sua obra a sensao
de ser um pouco estranho na sociedade e ser responsvel pelo contexto social em
que vive.
Em relao forma, Drummond ainda primou pela liberdade: tanto podia pro-
duzir um verso livre como elaborar um soneto. Autor maduro desde suas primeiras
produes, o poeta recria nela o seu viver.
Histria pessoal
Em seus versos, Drummond canta sua histria pessoal. Muitas vezes, mostra-
-se tmido, irnico, complicado, cansado da vida interiorana, mas temeroso do
progresso e da metrpole.
Essa sensao no percebida em uma fase nem em um poema, mas no
conjunto da obra. Drummond era um poeta em processo de conhecimento.
Sua infncia, sua origem social e seu gosto pela leitura muitas vezes se tornam
tema de poemas. Em algumas produes, chega a comentar a tenso do incio
de sua vida sexual:

Iniciao amorosa
Carlos Drummond de Andrade
A rede entre duas mangueiras
balanava no mundo profundo.
O dia era quente, sem vento.
O sol l em cima,
as folhas no meio,
o dia era quente.
E como eu no tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas
[da lavadeira.
Um dia ela veio para a rede,
se enroscou nos meus braos,
me deu um abrao,
me deu as maminhas
que eram s minhas.
A rede virou,
o mundo afundou.
Depois fui para a cama
febre 40 graus febre.
Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espao verde.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2003. Graa Drummond. www.carlosdrummond.com.br

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Infncia
Carlos Drummond de Andrade
A Abgar Renault

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.


Minha me ficava sentada cosendo.

Chico Nelson/Arquivo da editora


Meu irmo pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a histria de Robinson Cruso,
comprida histria que no acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu


a ninar nos longes da senzala e nunca se esqueceu
chamava para o caf.
Caf preto que nem a preta velha
caf gostoso
caf bom.

Minha me ficava sentada cosendo


olhando para mim: O escritor Carlos
Drummond de
Psiu... No acorde o menino. Andrade em seu
apartamento na
Para o bero onde pousou um mosquito.
cidade do Rio de
E dava um suspiro... que fundo! Janeiro, em 1978.

L longe meu pai campeava


no mato sem fim da fazenda.

E eu no sabia que minha histria


era mais bonita que a de Robinson Cruso.
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond.
www.carlosdrummond.com.br

Na estrofe a seguir, de um poema de seu primeiro livro (de 1930), Alguma


poesia, o poeta apresenta-se e coloca at mesmo seu nome:

Poema das sete faces


Carlos Drummond de Andrade
gauche: adjetivo
francs, no caso,
Quando nasci, um anjo torto sem jeito.
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond.
www.carlosdrummond.com.br

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 119

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Sua Minas gerais
O poeta apresenta-nos sua viso do estado de Minas Gerais e do pas. Retra-
ta as igrejas, as cidadezinhas, as festas, as personagens tpicas de Minas, tudo o
que o ajudou a construir seu modo de ver as coisas.
Era a poesia que o aproximava de temas to distantes geograficamente, e
era Minas que lhe dava um jeito especial de ver a vida.
Ao apresentar sua cidade, o tom discretamente irnico. O poeta e cronista
no idealiza seu estado, revela tanto os pontos positivos como os negativos.

Seu mundo
Seus poemas mostram-nos tambm a falta de sentido da vida. Para ele, o mun-
do se mostrava como um nada, um conjunto de erros. Nota-se puro pessimismo.
So textos que mostram os questionamentos e as negaes da vida. Percebe-
-se certa recorrncia dessa temtica negativa de morte e no esperana em seus
poemas, como se pode ler em um trecho do poema A mquina do mundo, do
livro Claro enigma, de 1951.

A mquina do mundo
Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente

Andr Toma/Arquivo da editora


carpir: lamentar-se.
esquivar: escapar; uma estrada de Minas, pedregosa,
subtrair-se.
palmilhar: percorrer
e no fecho da tarde um sino rouco
a p.
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no cu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo


na escurido maior, vinda dos montes
e de meu prprio ser desenganado,

a mquina do mundo se entreabriu


para quem de a romper j se esquivava
e s de o ter pensado se carpia.
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond. www.carlosdrummond.com.br

De difcil compreenso, o mundo apresenta-se confuso e o poeta retrata sua


insatisfao e angstia. Leia um trecho do poema A flor e a nusea, do livro A
rosa do povo, de 1945, voltado para questes polticas e sociais daquele momento:

A flor e a nusea
Carlos Drummond de Andrade

Preso minha classe e a algumas roupas,


vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir at o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

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Olhos sujos no relgio da torre:
No, o tempo no chegou de completa justia.
O tempo ainda de fezes, maus poemas, alucinaes e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vo me tento explicar, os muros so surdos.


Sob a pele das palavras h cifras e cdigos.
O sol consola os doentes e no os renova.
As coisas. Que triste so as coisas, consideradas sem nfase.

Vomitar este tdio sobre a cidade.


Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Esto menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond.
www.carlosdrummond.com.br

Implacvel, o tempo mostra ao poeta que ningum poupado. O futuro


parece indiferente e neutro, como o presente.

A vida feita de palavras


Diante do pessimismo que lhe provoca a vida real, resta a vida recriada pela pala-
vra, como no poema Quero, do livro As impurezas do branco, lanado em 1973:

Quero
Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano


todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
[...]
Quero que me repitas at a exausto
que me amas que me amas que me amas.
Do contrrio evapora-se a amao
pois ao no dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond.
www.carlosdrummond.com.br

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 121

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De mos dadas com a humanidade
Drummond adverte-nos sobre o medo e o poder que nos oprime. Para venc-
-los, sugere a solidariedade construda pela palavra, como no poema Mos
dadas, do livro Sentimento do mundo:

Mos dadas
Carlos Drummond de Andrade

seram: anjo. No serei o poeta de um mundo caduco.


taciturno: calado, Tambm no cantarei o mundo futuro.
triste, melanclico.
Estou preso vida e olho meus companheiros.
Esto taciturnos mas nutrem grandes esperanas.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente to grande, no nos afastemos.
No nos afastemos muito, vamos de mos dadas.

No serei o cantor de uma mulher, de uma histria,


no serei os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
no distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
no fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo a minha matria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de, op. cit. Graa Drummond. www.carlosdrummond.com.br

Ceclia Meireles
A carioca Ceclia Meireles (1901-1964) foi professora do Ensino Fundamental
(lecionou para as sries que correspondem hoje a 2o ao 5o ano). Publicou seu
primeiro livro de poemas aos 18 anos, com caractersticas adolescentes, mas
carregado de sugesto e musicalidade.
No incio do Modernismo, Ceclia publicou dois livros, mas
Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo/Agncia Estado

em 1939 que o livro Viagem registra o amadurecimento da artista.


O que se destaca logo na primeira leitura a fluidez dos versos,
ritmicamente bem construdos.
Contudo, o que marca de forma definitiva sua produo a
conscincia da transitoriedade da vida. A prpria Ceclia Meireles,
em entrevista extinta revista Manchete, diz que a vida passa-
geira e que o importante so os momentos e as impresses que
temos desses instantes. Assim, seus poemas captam determinado
momento por meio dos sentidos que se misturam ao recriar o real.
Fazendo um exerccio de contemplao, produz poemas descritivos
que mais parecem retratos.
comum perceber em seus poemas certa fuso entre a natu-
reza contemplada e o eu lrico, que, sentindo-se elemento da
natureza, se integra a ela.
A histria tambm se transforma em temtica para Ceclia
Meireles. Ela escreve, entre outros fatos, sobre a Inconfidncia
A escritora Ceclia Meireles, que tambm Mineira, em Romanceiro da Inconfidncia. Esse poema, uma
foi educadora, em foto sem data. narrativa em versos ritmados, representa um desejo de homena-

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gear os inconfidentes, ressaltando o herosmo e a nsia por liberdade. No poema,
alternam-se os romances compem o fio narrativo da reconstituio histrica;
os cenrios localizam os ambientes onde se desenrolam os acontecimentos; as
falas representam a interveno do poeta-narrador, fazendo comentrios e
convidando o leitor a refletir sobre os fatos histricos relembrados.
Leia um romance em que, no final, se percebe uma velada aluso ao de-
lator dos inconfidentes Joaquim Silvrio dos Reis.

Romance XLI ou Dos Delatores


Ceclia Meireles

O que andou preso me disse A minha denncia breve, meirinho: antigo


funcionrio da justia,
que dissera o Carcereiro, pois nem sei se houve delito, correspondente ao
que dissera o Capito... nem se era conspirao. ocial de justia atual.
(Mas pareceu-lhe parvoce, Mas, se ningum os escreve, ouvidor: magistrado
dos tempos coloniais
e no delatou primeiro aqui deixo por escrito, com funes
porque no teve ocasio...) os nomes que adiante vo. semelhantes s do atual
juiz de direito.
parvoce: idiotice,
E mais: porque o Carcereiro Haja ou no haja delito, tolice.
sedio: revolta,
depois passara a Meirinho... esses nomes assinalo, rebelio, conspirao.
E o Capito, do Ouvidor e escrevo esta relao. suspeio: suspeita,
fora sempre companheiro... O que outros dizem, repito. dvida, desconana.

E que, por esse caminho, E apenas meu nome calo,


ia-se o Governador... por ser o mais fiel vassalo,
acima de suspeio.
MEIRELES, Ceclia. In: Literatura comentada.
Mas agora, que o Meirinho, Sel. de textos de GOLDSTEIN, Norma Seltzer; BARBOSA,
o Capito mais o preso Rita de Cssia. So Paulo: Abril Educao, 1982.

so da mesma condio...
J que no tem mais padrinho,
[posso fazer com desprezo
a minha declarao.

Diga o que me disse o preso,


que de outro j o tinha ouvido,
que ouvira de outro... No so
mximas de grande peso:
Andr Toma/Arquivo da editora

mas tudo, bem entendido,


pode envolver sedio.

Eu digo por ter ouvido


que os filhos do Reino, em breve,
cativos aqui sero.
Tenha ou no tenha sentido,
quem a diz-lo se atreve
merece averiguao.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 123

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Jorge de lima
Mdico de Alagoas, Jorge de Lima (1895-1953) tem seus poemas divididos
sobretudo por duas preocupaes: a social e a religiosa. Nos poemas de tem-
tica social, muitas vezes se vale da tcnica de alinhar nomes para sugerir a
evocao.
O poeta busca retratar os costumes do Nordeste, assim como fazem os pro-
sadores modernistas da segunda gerao.

Bangu
Jorge de Lima

Cad voc meu pas do Nordeste


que eu no vi nessa Usina Central Leo de minha terra?
Ah! Usina, voc engoliu os banguezinhos do pas das Alagoas!
Voc grande, Usina Leo!
Voc forte, Usina Leo! As suas turbinas tm o diabo no corpo!
Voc uiva!
Voc geme!
Voc grita!
[...]
LIMA, Jorge de. In: CANDIDO, A.; CASTELLO, J. A. Presena da literatura brasileira:
Modernismo. Rio de Janeiro; So Paulo: Difel, [s.d.].

Seu objetivo maior, entretanto, restaurar a poesia em Cristo. De forte cunho


religioso, seus poemas lembram preces carregadas de afetividade.
Reproduo/Museu de Arte Contempornea da USP, So Paulo, SP.

Murilo Mendes
Mineiro assim como Drummond, Murilo Mendes (1901-1975) nas-
ceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Irrequieto, participou do movi-
mento modernista, converteu-se ao catolicismo e tornou-se professor
de literatura.
Por causa de sua religiosidade pretende expressar o desejo do ser
humano de se unir totalidade , sua obra caracteriza-se fundamen-
talmente pelo misticismo.
Marcantes, as imagens criadas em seus textos acabam s vezes se
sobrepondo ao contedo. O poeta envereda pelo onrico, pelo sonho,
muitas vezes tentando fugir do mundo que o rodeia.

O homem, a luta e a eternidade


Murilo Mendes

Figura, do pintor Ismael Nery, 1927.


Adivinho nos planos da conscincia
Amigo de Murilo Mendes, Nery (1900- dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
-1934) dividia com o poeta a profunda mundo de planetas em fogo
crena no cristianismo e o gosto por
questes msticas. Observe nessa obra,
vertigem
que segue a influncia surrealista da desequilbrio de foras,
poca, o jogo de sombra e luz na matria em convulso ardendo pra se definir.
figura feminina, que contribui para a
construo de um lado mais escuro,
alma que no conhece todas as suas possibilidades,
misterioso dessa imagem. o mundo ainda pequeno pra te encher.

124 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que esto dormindo.
guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!
[...]
MENDES, Murilo. Disponvel em:
<www.releituras.com/mmendes_homem.asp>. Acesso em: 5 dez. 2012.

Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes (1913-1980), carioca proveniente de uma tpica famlia
catlica brasileira, imprime em seus primeiros textos forte carter religioso, na
linha de Murilo Mendes. Mas essa no se firmou como caracterstica fundamen-
tal de sua obra, j que Vinicius preferiu trabalhar a figura da mulher amada em
seus poemas e composies musicais.
Todavia, por causa de sua formao religiosa, em certos poemas notamos que
o poeta oscila entre o desejo e as angstias do pecado. Expe livremente sua
sexualidade, mas de forma sofrida, marcada pela inquietao e pela busca da
mulher predestinada.
Em seus poemas, trabalham-se ainda outros temas: a infncia, os amigos
muito importantes para ele , a ptria.

Poema enjoadinho
Vinicius de Moraes
Filhos... Filhos? Filhos? Filhos
Melhor no t-los! Melhor no t-los
Mas se no os temos Noites de insnia
Como sab-lo? Cs prematuras
Se no os temos Prantos convulsos
Que de consulta Meu Deus, salvai-o!
Quanto silncio Filhos so o demo
Como os queremos! Melhor no t-los...
Banho de mar Mas se no os temos
Diz que um porrete... Como sab-lo?
Cnjuge voa Como saber
Transpe o espao Que macieza
Engole gua Nos seus cabelos
Fica salgada Que cheiro morno
Se iodifica Na sua carne
Depois, que boa Que gosto doce
Que morenao Na sua boca!
Que a esposa fica! Chupam gilete
Resultado: filho. Bebem shampoo
E ento comea Ateiam fogo Andr Toma/Arquivo da editora

A aporrinhao: No quarteiro
Coc est branco Porm, que coisa
Coc est preto Que coisa louca
Bebe amonaco Que coisa linda
Comeu boto. Que os filhos so!
MORAES, Vinicius de. Disponvel em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.
php3?id_article=183>. Acesso em: 5 dez. 2012.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 125

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Sintetizando o Modernismo no Brasil poesia da segunda gerao
Copie as frases a seguir no caderno e complete-as com base no que foi estudado no captulo.

a) Historicamente, o mundo vivia . No Brasil, .

b) So caractersticas da segunda gerao da poesia no Modernismo brasileiro: .

c) Os escritores mais importantes do perodo so: Carlos Drummond de Andrade, .

T E X T O E C O N T E X T O
Responda questo no caderno.

(Fuvest)

I II

O sobrevivente Cota zero


[...] Stop.
H mquinas terrivelmente complicadas para A vida parou.
[as necessidades mais simples. Ou foi o automvel?
Se quer fumar um charuto aperte um boto.
Palets abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
No precisa estmago para digesto.
[...]

Sobre esses versos, extrados de Alguma poesia [da segunda gerao modernista],
pode-se dizer que:
a) Os dois textos podem ser aproximados quanto ao tema (mecanizao do
cotidiano); entretanto, enquanto o primeiro apresenta uma viso crtica sobre
o tema, o segundo faz uma apologia bem-humorada do progresso urbano.
b) Os textos assemelham-se no apenas quanto ao tema (automatizao da vida
humana), mas tambm quanto linguagem: ambos apresentam a brevidade
e a descontinuidade sinttica caractersticas de Alguma poesia.
c) A crtica mecanizao excessiva que caracteriza a vida moderna evidencia-
-se, no texto I, especialmente no emprego da anttese no primeiro verso, e,
no texto II, no emprego do estrangeirismo ou barbarismo (stop).
d) O texto II apresenta, atravs de uma linguagem marcada pela conciso telegr-
fica, a crtica presente no texto I, uma vez que os termos zero, stop e parou
indicam a total dependncia da vida moderna em relao s mquinas.
e) A mquina como assunto potico pode ser verificada nos dois textos, o que
torna evidente a influncia exercida, sobre o autor, da vanguarda artstica
conhecida como futurismo.

126 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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C O M P A R A N D O T E X T O S
A letra da msica a seguir, da banda Legio Urbana, escrita aproximadamen-
te quarenta anos depois do poema Os ombros suportam o mundo, tambm
retrata o homem e o seu lugar no mundo moderno. Leia a letra da msica
com ateno.

ndios
Renato Russo

1 Quem me dera Quem me dera Eu quis o perigo


Ao menos uma vez Ao menos uma vez E at sangrei sozinho
Ter de volta todo o ouro Que o mais simples fosse visto Entenda!
Que entreguei a quem 35 Como o mais importante Assim pude trazer
5 Conseguiu me convencer Mas nos deram espelhos 50 Voc de volta pra mim

Que era prova de amizade E vimos um mundo doente. Quando descobri


Se algum levasse embora Que sempre s voc
At o que eu no tinha Quem me dera Que me entende
Ao menos uma vez Do incio ao fim.
Quem me dera 40 Entender como um s Deus

10 Ao menos uma vez Ao mesmo tempo trs 55 E s voc que tem


Esquecer que acreditei Esse mesmo Deus A cura do meu vcio
Que era por brincadeira Foi morto por vocs De insistir nessa saudade
Que se cortava sempre s maldade ento Que eu sinto
Um pano de cho 45 Deixar um Deus to triste. De tudo que eu ainda no vi.
15 De linho nobre e pura seda
Cesar Itiber/Folhapress

Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ningum
Consegue entender:
20 Que o que aconteceu

Ainda est por vir


E o futuro no mais
Como era antigamente.

Quem me dera
25 Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que no tem o bastante
30 Fala demais

Por no ter nada a dizer.

A banda Legio Urbana durante


apresentao na programao
da MTV, em 1992.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 127

VivaPort_V3_PNLD2015_108a131_U2.indd 127 5/2/13 1:53 PM


60 Quem me dera No ser atacado
Ao menos uma vez 80 Por ser inocente
Acreditar por um instante
Em tudo que existe Eu quis o perigo
E acreditar E at sangrei sozinho
65 Que o mundo perfeito Entenda!
Que todas as pessoas Assim pude trazer
85 Voc de volta pra mim
So felizes...
Quando descobri
Quem me dera Que sempre s voc
Ao menos uma vez Que me entende
70 Fazer com que o mundo Do incio ao fim.
Saiba que seu nome 90 E s voc que tem
Est em tudo e mesmo assim A cura pro meu vcio
Ningum lhe diz De insistir nessa saudade
Ao menos obrigado. Que eu sinto
De tudo que eu ainda no vi.
75 Quem me dera
Ao menos uma vez 95 Nos deram espelhos
Como a mais bela tribo E vimos um mundo doente
Dos mais belos ndios Tentei chorar e no consegui.
RUSSO, Renato. ndios. Intrprete: Legio Urbana. In:
Dois. [S.l.]: EMI, 1986. Faixa 12. 1 CD.

Como a realidade apresentada pela banda Legio Urbana? Em que pontos


possvel comparar a viso da banda nessa cano com a viso de Drummond
em Os ombros suportam o mundo? As atividades a seguir podem ajudar a
refletir sobre isso.

1. O primeiro verso do poema de Drummond marca temporalmente um evento.


H nele quase um tom proftico: Chega um tempo em que no se diz mais:
meu Deus. Na letra de msica da banda, h dois versos que evocam diversos
acontecimentos que, ao longo do tempo, apesar da expectativa, no ocorrem.
Que versos so esses?

2. O eu lrico do poema em estudo afirma: E nada esperas de teus amigos. Que


versos da letra da msica ndios correspondem aos problemas que o ser hu-
mano pode ter com os amigos? Escreva a opo certa no caderno.
a) Os versos das linhas 1 a 8.
b) Os versos das linhas 26 a 31.
c) Os versos das linhas 51 a 54.

3. Na primeira metade do sculo XX, o poeta diz E os olhos no choram. Por


sua vez, na msica ndios o compositor diz: Tentei chorar e no consegui.
Na sua opinio, a que corresponde o verso da letra de msica e o do poema?
Justifique sua resposta.

4. Chega um tempo em que no se diz mais: meu Deus. Indique os versos da


cano que exemplificam o questionamento da f feito pelo eu lrico e procure
explic-los.

128 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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5. No poema Os ombros suportam o mundo, o eu lrico v-se sozinho no escu-
ro por ser incapaz de criar laos de amor, de amizade. Que versos de ndios
tambm tratam da solido, que parece afligir sempre o homem moderno?

6. Na ltima estrofe do poema de Drummond h uma enorme carga pessimista.


Qual o tom da ltima estrofe de ndios?

7. Ao usar o recurso da anfora ao longo das estrofes com os versos Quem me


dera / Ao menos uma vez, o eu lrico da cano contesta ou confirma o pessi-
mismo? Justifique sua resposta.

E por falar em segunda gerao modernista


Os poetas dessa gerao viviam um perodo histrico conturbado: no plano
internacional, a grande depresso econmica, o avano do nazifascismo, a Segun-
da Guerra Mundial, a bomba de Hiroshima. No plano nacional, o estouro da Re-
voluo de 1930 e a instalao do Estado Novo. A produo artstica densa,
profunda e fala com um dos mais ntimos sentimentos humanos: o medo.
O medo o sentimento que resulta da guerra, das revolues e das incerte-
zas. O poeta modernista da segunda gerao vive esse momento. E vocs, o que
vivem e de que tm medo?
pensando no temor do jovem que muitas emissoras de televiso elaboram
seus programas. O programa Malhao, por exemplo, pela Globo, uma srie
voltada para o pblico jovem.
Vocs vo ler uma resenha que trata de dois programas destinados a esse
pblico: um da dcada de 1970 (Ciranda Cirandinha) e

Jill Press/Agncia France-Presse


outro de 2009 (Malhao). Nos dois, o assunto o mesmo:
os medos comuns juventude. Todavia, para a autora do
texto, o segundo programa no consegue tratar com
profundidade os temas juvenis. Leiam a resenha e des-
cubram por qu.
Reproduo/Ncleo de Pesquisa e Documentao da Poltica Rio-grandense

Memorial da Paz, em Hiroshima, construdo nessa


cidade em homenagem s vtimas da bomba
atmica que atingiu a regio durante a Segunda
Campanha do ouro no Brasil. Na foto, mulheres recolhem fundos para Guerra Mundial, em agosto de 1945.
famlias de combatentes durante a Revoluo de 1930. Foto de 6 de agosto de 2011.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 129

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Juventude em dois tempos
Malhao ID coloca jovens tpicos s voltas com questes de uma identidade impossvel
Bia Abramo

Em 1978, estreava Ciranda Cirandinha. Era cenas, h uma espcie de efeito tnel do tempo: o
uma srie sobre quatro jovens, ensaiando entrar protagonista Fiuk, vivido pelo filho de Fbio Jr.,
na idade adulta, que acabam indo todos morar muitssimo parecido com o pai e, como ele, tam-
no mesmo apartamento. Ali, na virada dos anos bm ligado msica.
70 para os 80, a questo era: como entrar na vida Mas, de resto, quanta diferena! Como as ver-
adulta sem renegar a transgresso hippie? Ou, em ses anteriores, Malhao ID rene aquilo que a
outras palavras, como no encaretar e tomar os emissora acha que so jovens, de alguma forma,
pais conservadores como modelo? tpicos. E o so mesmo, mas no de grupos sociais
O autor principal era Paulo Mendes Campos, e juvenis concretos, com alguma referncia no real,
e entre os colaboradores estava, por exemplo, Do- e sim como representantes de uma agenda de ques-
mingos de Oliveira. Os jovens eram interpretados tes juvenis formulada pelo mundo adulto e publi-
por Luclia Santos, Fbio Jr., Denise Bandeira e citrio. Esses jovens vo estar, dizem, tambm s
Jorge Fernando. Era tima a srie. O dilema prin- voltas com questes de identidade mas como
cipal dos quatro personagens no era, de maneira falar em identidade se tudo o que h uma descri-
nenhuma, conduzido de forma a simplificar a o rasa de tipos?
questo. H diferenas gigantescas entre a srie dos
Em outras palavras, os personagens eram cin- anos 70 e a novelinha, claro. Os tempos so
didos entre uma identidade histrica e uma iden- mesmo outros o inconformismo saiu de moda,
tidade possvel. o modelo dos pais mais adotado e aperfeioado
Apesar da qualidade da srie (que foi lanada do que contestado, o mundo do consumo tem
em DVD no ano passado), ela no teve a audin- um tamanho e uma importncia inimaginveis
cia esperada e foi encerrada depois do stimo em relao a 30 anos atrs, s para citar alguns
episdio. Talvez fosse um tanto amarga para os pontos.
jovens aos quais se dirigia, talvez fosse careta de- Mas o fato de Malhao persistir no ar por d-
mais para os ainda hippies e avanada demais para cada e meia e Ciranda Cirandinha ter durado to
os que eram caretas. pouco fala muito sobre a televiso e sua averso
Na ltima semana, estreou uma nova encarna- quilo que menos simples.
o da novelinha adolescente que est h 14 anos Adaptado de: Folha de S.Paulo, 15 nov. 2009. Folhapress.
no ar, Malhao ID (de segunda a sexta, s 17h25; Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/
fsp/ilustrad/fq1511200919.htm>.
classificao no informada). Desde as primeiras Acesso em: 4 dez. 2012.

1. Agora que vocs j conhecem a opinio da autora da resenha, organizem-se para


conversar um pouco sobre o assunto e realizar uma atividade em grupo. Leiam as
perguntas a seguir, pensem nas respostas, faam anotaes e preparem-se para
a produo de um texto escrito.
a) Segundo a autora do texto, quais eram os medos dos jovens no passado e
quais so os medos dos jovens da atualidade?
b) Voc concorda com a opinio dela sobre o medo dos jovens atualmente?
c) Ainda segundo a autora, a TV escolhe aquilo que mais simples, mais agra-
dvel de ver. No caso do medo dos jovens, voc acredita que a TV disfara
os perigos?
d) Do que o jovem tem medo?

130 UNIDADE 2 TECENDO CONVERSAS

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2. Terminada a conversa, preparem-se para a atividade em grupo.
Vocs vo produzir um texto para o Twitter. O texto dever ter no mximo 140
caracteres e apresentar o que vocs pensam sobre os medos que atingem os
jovens de sua comunidade.
Em seguida, digitem o texto na rede ou, se no tiverem acesso a esse recurso,
registrem por escrito em folhas de papel pardo e espalhem-nas pelo ptio do
colgio.

A P R O V E I T E P A R A...

... ler
Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, editora Record.
Publicado em 1940, este livro consagrou definitivamente Drummond como um dos maiores
poetas brasileiros.

Melhores poemas de Ceclia Meireles, organizado por Maria Fernanda, Global


Editora.
O livro traz os melhores poemas de Ceclia Meireles, apresentados pelas mos de sua filha
Maria Fernanda.

Poemas, de Jorge de Lima, editora Record.


Jorge de Lima comps uma obra de crtica social, sentido religioso e clara pulso metafsica,
com um apelo ao surrealismo.

Vinicius de Moraes: nova antologia potica, organizada por Antonio Ccero e


Eucana Ferraz, editora Companhia das Letras.
A seleo dos poemas foi feita a partir de um olhar contemporneo sobre a obra de Vinicius
de Moraes.

... assistir a
Poeta das sete faces, de Paulo Thiago (Brasil, 2002).
Documentrio do diretor Paulo Thiago, que investiga e interpreta os diversos momentos da
vida e da obra de Carlos Drummond de Andrade.
Arquivo/Agncia Estado

ver na internet
www.viniciusdemoraes.com.br
Site oficial de Vinicius de Moraes, com dados importantes sobre o
poeta e vrios textos dele. Acesso em: 11 jan. 2013.

www.vivaitabira.com.br/viva-drummond
Site de Itabira, cidade onde nasceu Drummond, com espao dedicado
ao escritor. Acesso em: 11 jan. 2013.

http://www.carlosdrummond.com.br/
Neste site h um vdeo de Drummond falando sobre sua vida. Acesso
em: 11 jan. 2013.
O poeta Vinicius de Moraes
em foto de janeiro de 1972.
www.pitoresco.com
Site dedicado exposio das obras de grandes mestres da arte. Acesso em: 11 jan. 2013.

MODERNISMO NO BRASIl POESIA DA SEgUNDA gERAO (1930-1945) 131

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UNIDADE

3
Os senhores das terras, de
Ccero Dias, dcada de
1920. Aquarela sobre
outra voz:
a voz do outro

Nesta unidade, voc vai conhecer textos argumentativos de inci-


tao adeso a uma causa: a carta aberta e o manifesto. Alm
papel. Coleo particular.
Segundo o escritor Jos disso, vai conhecer a prosa modernista da gerao de 1930 no
Lins do Rego, em crnica
intitulada Ccero Dias em
Brasil. Os dois captulos mostram manifestaes de linguagem com
1929, o pintor era um contedos que valorizam a crtica e que tm a inteno de denunciar
menino de engenho com
a loucura da arte. Neto o que incomoda, o que impede as pessoas de viver com dignidade.
de senhor de engenho, o
artista pernambucano
trouxe para muitas de
suas telas as cores e os
temas regionais que
marcaram sua infncia.
Reproduo/Coleo particular, Rio de Janeiro, RJ

132

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Rogrio Soud/Arquivo da editora

Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em


< Quadro de
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Conhecer a situao de produo do abaixo-assinado.
Ler e interpretar textos do gnero carta-aberta e manifesto
identificando alguns recursos argumentativos utilizados nes-
ses gneros.
Refletir sobre a situao de produo dos gneros aqui apre-
sentados e tambm sobre a influncia dos autores para a
concretizao da ao proposta.
Reconhecer oraes coordenadas e interpretar seus
diversos sentidos nos textos lidos.
Produzir, a partir de dada situao, uma carta aber-
ta ou um manifesto, observando as caractersticas
do gnero e os modelos estudados.
Identificar caractersticas comuns da prosa moder-
nista.
Conhecer o contexto histrico em que se desenvol-
veram essas produes.
Interpretar diversos textos produzidos nesse perodo.

133

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Lngua e produo de texto
> Interdisciplinaridade com:
Biologia, Fsica, Qumica,
Geografia, Histria, A carta
argumentativa
Sociologia, Filosofia.

P a r a c o m e a r
Ateno: No escreva Leia a seguir a letra de msica para responder s atividades.
no livro. Faa as
atividades no caderno.

Abaixo-assinado
Elzo Augusto

tir samba: tocar Dot, os abaixo assinado


samba, fazer um
samba.
com a sua licena
a muque: fora, por vem presena do sinh
meio de briga. Nis qu tir samba
l no Bairro do Bixiga
E tudas noites, nis tem samba
Mais nis briga
[...]
o vizinho, que no gosta de batuque
E quer acabar com o nosso samba a muque
Dot delegado, vem pedir difirimento
os que assina, cinco cruiz no dicumento
(nis qu porvidena!)
Augusto, Elzo. Abaixo-assinado. Intrprete: Demnios da Garoa. In: Srie nova bis:
Demnios da Garoa. [S.l.]: EMI, 2005. 2 CDs. Faixa 7.

Paulo Salomo/Arquivo da editora

A msica Abaixo-assinado
foi gravada originalmente em
1959 pelo grupo Demnios da
Garoa, formado por cinco msicos.
Ao lado de Adoniran Barbosa, o
grupo ajudou a criar e dar fama
ao chamado samba paulista,
com letras que remetiam (e ainda
remetem) oralidade das pessoas
que vivem no estado de So Paulo
e, especialmente, em sua capital.

O grupo Demnios da
Garoa, em 1973. 1. Voc sabe o que um abaixo-assinado? Se souber, explique do que se trata.

134 UNIDADE 3 outra voz: a voz do outro

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2. Considerando sua leitura dessa letra de msica, responda:
qual o problema que motiva o abaixo-assinado?
a quem o documento encaminhado?
qual a soluo requerida pelos assinantes?
quem assina o documento? Considere o eu lrico (nico ou coletivo) do tex-
to e copie trechos que justifiquem sua resposta.

3. De acordo com a tese de doutorado do urbanista Marcos Virglio da Silva, havia


grande represso, at mesmo por parte da polcia, contra o samba tocado nas
ruas da capital paulista nos anos 19501, poca em que a msica Abaixo-assinado
foi lanada. Tendo por base essa informao histrica e a situao descrita no
texto, possvel dizer que o modo como o abaixo-assinado empregado pelo eu
lrico pode ser considerado inusitado, surpreendente.
a) Por que esse uso do abaixo-assinado da msica surpreendente?
b) O abaixo-assinado feito pelos sambistas da msica pode ser considerado
irnico. Explique como se d a ironia no texto.

4. Voc j assinou ou participou da criao de algum abaixo-assinado? Se a res-


posta for positiva, responda:
a) Qual(is) era(m) o(s) tema(s)?
b) Como voc soube do abaixo-assinado?
c) Por que resolveu participar?
d) Voc soube do resultado da solicitao? Interessou-se em saber?

5. Em sua opinio, por que as pessoas fazem abaixo-assinado?

6. Se hoje voc tivesse de elaborar um abaixo-assinado:


a) que tipo de solicitao faria?
b) que argumentos usaria para convencer as pessoas da importncia de sua
solicitao para a comunidade?
c) que meios empregaria para divulgar seu texto ao maior nmero de pessoas?
d) a quais autoridades encaminharia o documento com a solicitao e as
assinaturas?

O texto que voc vai ler uma carta aberta de alguns artistas brasileiros
sobre a devastao da Amaznia. O envolvimento com esse problema surgiu
enquanto gravavam, em 2005, a minissrie Amaznia de Galvez a Chico Men-
des, de Glria Perez.
Cristiane Torloni e Victor Fasano, alguns dos atores envolvidos no projeto,
resolveram produzir uma carta aberta, na qual, alm de fazer a denncia, tambm
convidavam a populao a uma tomada de posio.
O ator Juca de Oliveira foi incumbido de escrever o texto. Usando como ar-
gumento dados numricos sobre o desmatamento da floresta, ele tentou provo-
car nas pessoas um sentimento de indignao e, assim, envolv-las para tomar
partido na militncia por uma Amaznia preservada. Os artistas participantes do

1
SILVA, Marcos Virglio da. Debaixo do Pogrssio: urbanizao, cultura e experincia popular em
Joo Rubinato e outros sambistas paulistanos (1951-1969). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2011.

A cArtA ArgUmENtAtIvA 135

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Vista area de rea projeto esperavam conseguir, com essa carta, 1 milho de assinaturas de brasilei-
queimada, ainda com ros dispostos a ajudar e, assim, exigir o cumprimento do Pargrafo 4o, do Artigo
fumaa, em Nova
Ubirat, regio do 225 da Constituio Federal, que determina a preservao da Floresta Amaznica.
Mdio-Norte de Mato Ao longo do captulo, voc conhecer os gneros carta aberta e manifesto.
Grosso, municpio
que mais sofreu
Por meio deles, ter instrumentos que podero auxili-lo a exercer sua cidadania
desflorestamento na em prol de causas importantes para todos.
Amaznia em 2005.

Fernando Donasci/Folhapress
Voc ler a seguir a carta aberta que destaca o problema do desma-
tamento sofrido pela Amaznia publicada pelo grupo de artistas da
tExto 1 minissrie Amaznia em um site desenvolvido especialmente para a di-
vulgao dessa causa. Por meio dela, feito um pedido de participao
de todas as pessoas interessadas em leis que garantam a proteo da
floresta.

Carta aberta de artistas brasileiros


sobre a devastao da Amaznia
Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta
Amaznica dos ltimos trs anos: 17 mil quilmetros quadrados. quase
a metade da Holanda. Da rea total j desmatamos 16%, o equivalente a
duas vezes a Alemanha e trs estados de So Paulo. No h motivo para
comemoraes. A Amaznia no o pulmo do mundo, mas presta
servios ambientais importantssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastido
136 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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verde que se estende por mais de cinco milhes de quilmetros quadrados engendrado: criado,
concebido, gerado.
um lenol trmico engendrado pela natureza para que os raios solares pujana: grande fora,
vigor, robustez.
no atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da
terra e auxiliando na regulao da temperatura do Planeta.
Depois de tombada na sua pujana, estuprada por madeireiros
sem escrpulos, ateiam fogo s suas vestes de esmeralda abrindo
passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas
cinzas de castanheiras centenrias. Apesar do extraordinrio esforo
de implantarmos unidades de conservao como alternativas de
desenvolvimento sustentvel, a devastao continua. Mesmo depois
do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/
natureza, entre seringueiros e indgenas, mesmo depois da aliana
dos povos da floresta pelo direito de manter nossas florestas em p,
porque delas dependemos para viver, mesmo depois de inmeras
sagas cheias de herosmo, morte e paixo pela Amaznia, a
devastao continua.
Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstculo ao
progresso, como rea a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de
terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espcies
vegetais para combustveis alternativos ou ento uma fonte inesgotvel de
madeira, peixe, ouro, minerais e energia eltrica. Continuamos um povo
irresponsvel. O desmatamento e o incndio so o smbolo da nossa
incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do
ecossistema amaznico e como trat-lo.
Um pas que tem 165 000 km2 de rea desflorestada, abandonada ou
semiabandonada, pode dobrar a sua produo de gros sem a
necessidade de derrubar uma nica rvore. urgente que nos tornemos
responsveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos
recursos naturais.
Portanto, a nosso ver, como nico procedimento cabvel para
desacelerar os efeitos quase irreversveis da devastao, segundo o que
determina o 4o, do Artigo 225 da Constituio Federal, onde se l:
A Floresta Amaznica patrimnio nacional, e sua utilizao far-se-,
na forma da lei, dentro de condies que assegurem a preservao do
meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Assim, deve-se implementar em nveis Federal, Estadual e Municipal
A INTERRUPO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA
FLORESTA AMAZNICA. J!
hora de enxergarmos nossas rvores como monumentos de nossa
cultura e histria.
SOMOS UM POVO DA FLORESTA!
Disponvel em: <www.amazoniaparasempre.com.br>. Acesso em: 5 nov. 2012.

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INtErprEtAo Do tExto
1. Releia o trecho inicial da carta dos artistas brasileiros:
Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amaznica
dos ltimos trs anos: 17 mil quilmetros quadrados. quase a metade da Ho-
landa. Da rea total j desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha
e trs estados de So Paulo. No h motivo para comemoraes.
a) Segundo o trecho, por que no h motivos para comemoraes?
b) Qual foi o recurso utilizado para destacar o problema do desmatamento e,
consequentemente, a razo de no haver motivos para comemoraes?
c) Alm do destaque dado ao desmatamento, que objetivo se pretende alcan-
ar com o uso desse recurso?

2. Os autores da carta so claramente contra o desmatamento. Entretanto, empregou-se


a primeira pessoa do plural em frases como Da rea total j desmatamos 16%.
a) A quem se refere a primeira pessoa do plural empregada nesse contexto?
b) O que eles sugerem ao escrever j desmatamos em lugar de j desmataram?

3. A partir da frase A Amaznia no o pulmo do mundo at o final do pri-


meiro pargrafo, h mudana de recurso argumentativo: no se fala mais no
tamanho da rea desmatada, mas de outras questes. Que caracterstica da
floresta destacada nesse trecho?

4. Releia o incio do segundo pargrafo:


Depois de tombada na sua pujana, estuprada por madeireiros sem escr-
pulos, ateiam fogo s suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros
que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenrias.
a) Nesse pargrafo, empregou-se uma linguagem figurada com o objetivo de
chamar a ateno do leitor e destacar as diversas agresses sofridas pela
floresta. Escreva no caderno qual foi, entre as opes a seguir, a figura de
linguagem utilizada para fazer referncia floresta e justifique sua resposta.
Papa-cacau (ou ironia anttese personificao eufemismo
papagaio-da-vrzea) b) Explique as metforas presentes nesse trecho, indicando quais so as agres-
comendo bacuri,
ses sofridas pela floresta.
um fruto tpico da
regio amaznica.
Manaus, AM, 2012.
Fabio Colombini/Acervo do fotgrafo

pulmo do mundo
Durante algum tempo, a Floresta Amaznica foi chamada de pul-
mo do mundo. Isso acontecia porque se acreditava que a emisso de
oxignio pela floresta, advindo do processo de fotossntese, era maior
do que a emisso de gs carbnico. Aps diversas pesquisas, verificou-
-se que o oxignio liberado pela fotossntese alimentava apenas o
prprio ecossistema, ou seja, todos os organismos vivos da floresta.
Assim, ela no poderia ter esse papel de fornecedor de oxignio para
o planeta, mas certamente a Floresta Amaznica tem papel importan-
te na manuteno das temperaturas da regio, alm de se constituir
como um patrimnio natural bastante rico por sua biodiversidade.

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5. As informaes presentes no incio do segundo pargrafo so recuperadas no
terceiro. Dessa vez, entretanto, os autores destacam que essas aes so con-
sequncia de uma viso que ainda se tem da Amaznia. Que viso essa?

6. No texto, os autores apontam uma razo para que no seja derrubada mais
nenhuma rvore da Floresta Amaznica.
a) Que razo essa?
b) Para voc, essa razo convincente? Explique sua opinio.

7. A carta aberta pede a interrupo imediata do desmatamento da Floresta


Amaznica e, no site em que est publicada, prope um abaixo-assinado para
que esse fim seja alcanado.
a) Em sua opinio, os argumentos empregados no texto, de modo geral, foram
convincentes? Explique sua resposta.
b) Voc assinaria esse abaixo-assinado?

8. Em sua opinio, o fato de a carta aberta ter artistas brasileiros como au-
tores favorece a adeso causa a expressa? Converse com seus colegas so-
bre essa questo.

Leia os trechos a seguir e conhea o resultado do movimento iniciado pela re-


dao da carta aberta em estudo.

Parabns Amaznia para sempre


No dia 04 de junho de 2009 conseguimos finalmente cumprir nosso objetivo.
Fomos recebidos em audincia pelo Presidente Luiz Incio Lula da Silva a
quem tivemos a honra de entregar as 1 117 993 assinaturas colhidas at o mo-
mento pelo nosso movimento.
[]
Queremos agradecer a todos os brasileiros que contriburam para que esta
entrega se realizasse. A cada um que assinou nosso manifesto, a cada um que
nos ajudou a colher as assinaturas, queles que divulgaram nossa causa, enfim,
a todos que de uma maneira ou de outra estiveram ao nosso lado nesta luta.
Disponvel em: <www.amazoniaparasempre.com.br>. Acesso em: 5 nov. 2012.

< Habilidades
Para resolver as questes de leitura e compreenso da carta aberta sobre
a devastao da Amaznia, voc precisou:
leitoras
identificar as diferentes formas de apresentao do problema abordado;
reconhecer alguns recursos argumentativos (comparaes, figuras de
linguagem, dados numricos, etc.) empregados na tentativa de chamar
a ateno do leitor para a gravidade do problema;
refletir sobre a situao de produo da carta e sobre a influncia de
seus autores para a eficcia da ao.

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Assim como as cartas abertas, que podem ser escritas por qualquer
cidado que pretenda se dirigir publicamente a algum por meio de r-
tExto 2 gos de mdia, existem outros gneros textuais argumentativos que tm
como objetivo sensibilizar o leitor e conseguir sua adeso a uma causa.
Um deles o manifesto, o qual pode tambm ser bastante semelhante
carta aberta em relao ao contedo e forma de divulgao.
Leia a seguir um manifesto assinado por diversas instituies e pesso-
as ligadas preservao do meio ambiente em 2010.

Manifesto por uma poltica nacional


para energias renovveis
Nosso pas possui um enorme potencial a explorar em energias
renovveis, com o qual poder gerar energia limpa para as atuais e futuras
geraes, garantir empregos e ajudar no combate s mudanas climticas,
com a reduo da emisso de gases de efeito estufa.
Em 2009, o potencial energtico proporcionado por fontes
renovveis no passou de oito por cento do total de energia gerada no
Brasil, exceo feita s grandes hidreltricas, cuja implantao causa
impactos enormes e desnecessrios ao meio ambiente e s populaes do
entorno dos reservatrios.
Para inverter esse cenrio, necessrio que as fontes renovveis sejam
includas nas atividades de interesse da poltica cientfica, tecnolgica e
industrial do pas. Para tanto, deve-se estabelecer uma estrutura
regulatria slida, vinculada criao de uma poltica consistente de
incentivo que permita o seu crescimento constante nas prximas dcadas,
contemplando parques elicos, energia solar, centrais termeltricas, com
uso da biomassa e de gases provenientes do tratamento de esgotos e
resduos urbanos slidos.
A consolidao de um mercado de energia renovvel consistente s ser
Mauricio simonetti/Pulsar Imagens
possvel com o estabelecimento de uma poltica nacional para energias
renovveis. Esta poltica j foi
proposta em setembro em formato
de lei pela Comisso Especial de
Energias Renovveis, mas o projeto
de lei PL 630/2003, relatado pelo
atual lder do Partido dos
Trabalhadores, o deputado federal
Fernando Ferro, est paralisado na
Cmara dos Deputados.
Exemplo de energia renovvel: gerao de
energia a partir da fora dos ventos. Parque
elico, em 2012. Rio do Fogo, RN.

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Aprovar o projeto de lei permitir ao Brasil preparar-se para uma
economia de baixo carbono no futuro, compensar as emisses do pr-sal
e proporcionar s geraes futuras uma segurana energtica com sade
ambiental e econmica.
Ns, organizaes no governamentais, pesquisadores, sindicatos,
associaes de classe e setores produtivos, reivindicamos publicamente a
aprovao do Projeto de Lei 630/2003, por um Brasil forte e sustentvel.
[...]
Disponvel em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Manifesto-pela-energia-limpa>. Acesso em: 5 nov. 2012.

INtErprEtAo Do tExto
1. Qual a principal solicitao do manifesto?

2. Antes de expor a principal solicitao do manifesto, os autores do texto escrevem


uma introduo que possa justificar, em princpio, as razes do pedido. Consi-
dere os dois primeiros pargrafos e responda:
a) Por que pensar em energias renovveis para o Brasil to importante?
b) De acordo com a quantidade, qual o espao ocupado pelas fontes renovveis
na gerao da energia brasileira em 2009, sem considerar as hidreltricas?
c) No clculo sobre fontes renovveis, os redatores no incluram as grandes hi-
dreltricas. Por que, segundo o texto, elas no foram consideradas? Explique
sua resposta.

3. O terceiro pargrafo comea assim:


Para inverter esse cenrio [...]
a) A que cenrio esse pargrafo se refere?
b) O que proposto para que haja a mudana citada?

4. Copie no caderno a resposta que completa corretamente a frase a seguir.


O texto como um todo e o terceiro pargrafo, mais especificamente, sugerem que .
a) fontes renovveis de energia podem substituir as hidreltricas, reduzindo
assim o impacto ao meio ambiente e s populaes.
b) as fontes renovveis foram responsveis por 8% do total de energia gerada
no Brasil graas criao de uma poltica consistente de incentivo a esse tipo
de gerao de energia.
c) nas prximas dcadas, parques elicos, energia solar e centrais termeltricas
devero ser as principais fontes de energia do Brasil.
d) embora o Brasil tenha gerado 8% da energia total produzida por meio de
fontes renovveis (sem contar as hidreltricas), no h uma poltica efetiva
de incentivo ao crescimento dessas fontes.
e) no h interesse no pas por fontes renovveis de energia, prova disso que
rgos cientficos, tecnolgicos e industriais insistem em ignorar essas pos-
sibilidades energticas.

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5. Releia:
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

Aprovar o projeto de lei permitir ao Brasil preparar-se


para uma economia de baixo carbono no futuro, compen-
sar as emisses do pr-sal e proporcionar s geraes
futuras uma segurana energtica com sade ambiental e
econmica.

Plataforma petrolfera localizada no campo de Tupi, na rea do


pr-sal, litoral do Rio de Janeiro, RJ. Foto de outubro de 2010.

As razes para a aprovao do projeto podem ser mais bem compreendidas se o


leitor souber o significado de algumas das informaes colocadas nesse trecho, as
relaes dessas informaes com a aprovao desse projeto e suas implicaes para
o Brasil. Assim ser possvel, at mesmo, formar uma opinio acerca desse tema.
Em livros, revistas e sites especializados, entre outras fontes confiveis de consulta,
faa uma pesquisa sobre os temas contidos no pargrafo destacado nesta atividade.
Depois de feita essa pesquisa, responda:
a) O que uma economia de baixo carbono?
b) O que o pr-sal e o que significa compensar as emisses do pr-sal?
c) O que significa segurana energtica?
d) Em sua opinio, de que modo uma poltica nacional para energias renovveis
pode preparar o Brasil para uma economia de baixo carbono e ser relaciona-
da compensao das emisses do pr-sal e segurana energtica?

6. Poderia haver algum tipo de contestao a uma solicitao como essa? De onde
ela poderia partir e com que finalidade?

7. O projeto de lei para o qual o manifesto pede aprovao foi apresentado em 2003.
Por que, em sua opinio, at a data em que o manifesto foi lanado (2010), esse
projeto ainda no tinha sido aprovado pelos rgos pblicos? Pensando nisso, a
produo de um manifesto como esse pode ser vista de que forma nesse processo?

Em textos argumentativos, muito comum o autor expressar sua opinio acerca de um assun-
to sem usar marcadores de primeira pessoa (como os pronomes pessoais eu e me ou os verbos
em primeira pessoa).
Veja um exemplo extrado do Texto 2:
[...] necessrio que as fontes renovveis sejam includas nas atividades de interesse da poltica
cientfica, tecnolgica e industrial do pas.
Esse trecho constitudo por uma orao principal ( necessrio) seguida de uma orao subor-
dinada substantiva subjetiva (que as fontes renovveis sejam [...]). Note que esse emprego tem
como efeito de sentido uma suposta neutralidade do texto advinda da impessoalizao. Por meio
da impessoalizao, um autor pode deixar de se colocar no texto e, dessa forma, dirigir toda a ateno
do leitor para a prpria informao enunciada, tomada como uma verdade universal.
No caso do trecho apresentado, como escrevem em nome de um grupo, os autores do manifes-
to poderiam ter utilizado o pronome pessoal ns e construdo uma frase como Ns julgamos
necessrio que as fontes renovveis sejam includas nas atividades de interesse da poltica.

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Ao optar pela impessoalizao, alm de dar nfase ao que dito e no a quem diz, os autores
do manifesto tambm sugerem que a informao ali expressa exige um consenso, uma adeso
geral, pois se trata de uma questo que atinge a todos.
Ao ler outros textos argumentativos, procure observar se comum encontrar a impessoalizao
de uma ideia mediante o emprego de perodos com oraes subordinadas substantivas subjetivas.

coNHEcImENtos LINgUstIcos
perodo composto por coordenao
oraes coordenadas e conjunes
coordenativas
para relembrar
As conjunes tm por funo ligar elementos de um texto e estabelecer relaes de sentido
entre eles. Elas podem ligar oraes em um perodo ou ligar termos semelhantes, isto , que exer-
cem a mesma funo sinttica dentro de uma orao. Leia o exemplo:
a conjuno e liga termos semelhantes: a conjuno mas liga as oraes
os ncleos de um sujeito composto do perodo composto

Energia elica e energia solar so exemplos do potencial energtico brasileiro, mas o sucesso desses
projetos depende de poltica consistente.
Segundo a NGB2, um perodo que rene oraes sintaticamente completas conhecido como
perodo composto por coordenao, e suas oraes so coordenadas. Analisemos o exemplo
apresentado anteriormente:

1a orao: Energia elica e energia solar so 2a orao: mas o sucesso desses projetos de-
exemplos do potencial energtico brasileiro pende de poltica consistente
Sujeito: Energia elica e energia solar Sujeito: o sucesso desses projetos
Predicado nominal: so exemplos do poten- Predicado verbal: mas depende de poltica
cial energtico brasileiro consistente
Predicativo do sujeito: exemplos do poten- Ncleo do predicado verbal e verbo tran-
cial energtico brasileiro sitivo indireto: depende
Verbo de ligao: so Objeto indireto: de poltica consistente
Orao coordenada assindtica no tem
conjuno que se ligue a outra orao (nesse Orao coordenada sindtica ligada a ou-
exemplo, a conjuno e liga ncleos do sujeito, tra orao pela conjuno mas.
no oraes).

importante perceber o contexto de produo e as ideias que as conjunes apresentam para


classificar as coordenadas sindticas.

2
Nomenclatura Gramatical Brasileira.

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As conjunes coordenativas podem ser:

aditivas: indicam que os termos ou as oraes esto ligados por uma relao de soma, se-
quncia (e, nem, etc.). Por exemplo:

Energias renovveis reduzem a emisso de gases de efeito estufa e evitam os grandes impactos am-
bientais causados pelas hidreltricas. orao coordenada sindtica aditiva

adversativas: indicam que os termos ou as oraes se ligam por uma relao de oposio
(mas, porm, todavia, contudo, entretanto, etc.). Por exemplo:

Energia elica e energia solar so exemplos do potencial energtico brasileiro, mas o sucesso desses
projetos depende de poltica consistente. orao coordenada
sindtica adversativa

alternativas: indicam alternncia, equivalncia entre dois termos ou duas oraes (ou, ou
ou, ora ora, quer quer, etc.). Por exemplo:

Ora a energia elica alvo de estudos, ora os pesquisadores se voltam para o potencial solar.
orao coordenada sindtica alternativa orao coordenada sindtica alternativa

conclusivas: indicam concluso em relao ao que j foi exposto (logo, portanto, por isso,
pois [posposto ao verbo], assim, etc.). Por exemplo:

O Brasil um pas tropical, por isso o potencial solar significativo.


orao coordenada sindtica conclusiva

explicativas: indicam explicao em relao ao que j foi exposto (porque, pois [anteposto
ao verbo], porquanto, etc.). Por exemplo:

A aprovao do projeto de lei permitir ao Brasil uma economia de baixo carbono no futuro,
pois compensar as emisses do pr-sal com incentivos ao uso de energias renovveis.
orao coordenada sindtica explicativa

Os conectores (conjunes) exercem importante funo na organizao dos


textos, pois so responsveis pelas relaes de sentido entre palavras, entre ora-
es e entre pargrafos. Assim, ao estabelecer relaes de sentido entre as partes
do texto, os conectores no s explicitam o tipo de relao que se quer elaborar
como tambm contribuem para que essas partes se liguem umas s outras, tor-
nando o texto coeso.

1. Leia com ateno os seguintes trechos retirados da carta aberta (Texto 1).

I. A Amaznia no o pulmo do mundo, mas presta servios ambientais


importantssimos ao Brasil e ao Planeta.
A conjuno em destaque indica ressalva de um pensamento que pode revelar
oposio, retificao, restrio, compensao, advertncia, contraste. O que o
conectivo em destaque revela?

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II. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, cam-
pos de soja e espcies vegetais para combustveis alternativos ou ento uma
fonte inesgotvel de madeira, peixe, ouro, minerais e energia eltrica. Continua-
mos um povo irresponsvel.
A conjuno ou liga ideias disjuntas, ou seja, pensamentos que parecem se
excluir. Que excluso se pretende ressaltar?

III. Portanto, a nosso ver, como nico procedimento cabvel para desacelerar
os efeitos quase irreversveis da devastao, segundo o que determina o 4o,
do Artigo 225 da Constituio Federal [].
Escreva no caderno a opo que completa adequadamente a frase:
A conjuno portanto, que praticamente finaliza o texto, indica
uma explicao para os problemas expostos na carta.
a causa de todos os problemas expostos na carta.
uma concluso lgica para resolver todos os problemas expostos na carta.
2. Leia outro trecho da carta aberta.
Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amaznica dos
ltimos trs anos: 17 mil quilmetros quadrados. quase a metade da Holanda.
Nas frases que compem o trecho citado, possvel perceber uma relao de
contraste entre as informaes que nos faz refletir sobre o absurdo de tal come-
morao. Reescreva o trecho utilizando:
uma conjuno coordenativa que deixe a ideia de oposio clara;
uma pontuao que demonstre a ideia de indignao que pode ser percebida
na leitura da carta.
Se necessrio, faa as adaptaes cabveis.

3. A conjuno em destaque no 1o pargrafo do manifesto (Texto 2) coordena-


tiva. Que tipo de relao de sentido ela estabelece? Escolha a(s) alternativa(s)
correta(s) e anote-a(s) no caderno.
Nosso pas possui um enorme potencial a explorar em energias renovveis, com
o qual poder gerar energia limpa para as atuais e futuras geraes, garantir empregos
e ajudar no combate s mudanas climticas, com a reduo da emisso de gases de
efeito estufa.
soma, adio concluso de informaes
sequncia de ideias explicao
4. Leia um trecho do manifesto e faa o que se pede.
A consolidao de um mercado de energia renovvel consistente s ser poss-
vel com o estabelecimento de uma poltica nacional para energias renovveis. Esta
poltica j foi proposta em setembro em formato de lei pela Comisso Especial de
Energias Renovveis, mas o projeto de lei PL 630/2003, relatado pelo atual lder
do Partido dos Trabalhadores, o deputado federal Fernando Ferro, est paralisado
na Cmara dos Deputados.
Copie a frase a seguir no caderno e complete-a.
A conjuno adversativa mas indica uma ideia de contraste entre
a consolidao de um mercado produtor de renovveis e o estabelecimento
de uma poltica nacional para energias renovveis.

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a existncia de uma poltica de recursos renovveis j proposta e a paralisao
desse projeto de lei na Cmara dos Deputados.
a importncia da poltica de energias renovveis e a consolidao de um
mercado consistente.

5. Leia as frases a seguir para responder, em seu caderno, s questes.


1a frase:
O desmatamento e o incndio so o smbolo de nossa incapacidade, no
compreendemos a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amaznico; no o
tratamos, pois, corretamente.

2a frase:
Ou enxergamos a floresta como obstculo ao progresso, ou como fonte ines-
gotvel de madeira, peixe, ouro, minerais, energia eltrica.
a) Uma das frases lidas apresenta uma opo entre dois fatos. Reescreva-a utilizan-
do outra locuo conjuntiva, mas de forma que a informao continue a mesma.
b) Reescreva agora a frase em que a orao coordenada apresenta a concluso
de um raciocnio anterior de forma que a informao continue a mesma.

6. Considere a seguinte frase:


Mantenha nossas florestas em p, porque nossa vida depende delas.
Nessa frase, temos uma orao coordenada sindtica:
explicativa. conclusiva. adversativa. alternativa.

Atividades de fixao
1. Retiramos dos trechos das cartas de leitores a seguir as conjunes coordenati-
vas que davam coeso ao texto. Para que os trechos se tornem coerentes, rees-
creva-os em seu caderno utilizando as conjunes coordenativas adequadas.
a) No sou muito tolerante com baguna, ela inevitvel. Tambm no sou pessoa
sistemtica, consigo relaxar mesmo quando as coisas esto fora de ordem. Para
no virar desleixo, no deixo perdurar por mais de cinco dias. o meu limite.
Carta de s. R. D., pelo frum na internet. Revista Vida Simples, abr. 2009.

b) Fiquei entusiasmada ao ver a proposta da capa de novembro, trabalho com


formao continuada de professoras de crianas de 2 a 5 anos. , ao ler a
reportagem, senti falta de trabalhos com Matemtica []
Carta de A. D. g., por e-mail. Revista Nova Escola, dez. 2008.

2. Leia a notcia para responder s questes a seguir.


A festa de posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Joaquim Barbosa, na noite dessa quinta-feira foi marcada por homenagens e
descontrao. Em um dos momentos mais descontrados, o ministro Luiz Fux
pegou a guitarra e cantou em homenagem a Joaquim Barbosa.
Disponvel em: <www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2012/11/23/interna_politica,335391/
festa-de-posse-joaquim-barbosa-e-marcada-por-homenagens-e-descontracao.shtml>. Acesso em: 5 nov. 2012.

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Copie no caderno:
a frase em que a conjuno e liga termos semelhantes indicando adio.
a frase em que a conjuno e liga oraes para indicar uma sequncia de
fatos.

3. Leia a seguir um fragmento do texto de introduo de uma coletnea de contos


de amor.
Desde que o primeiro ser humano foi atingido pelo amor-paixo, sentiu
necessidade de dar nome ao fenmeno que o deixava sem palavras. Mas logo o
amante percebeu que o nome no bastava. Era preciso compreender o amor. E
vieram as metforas (como se o cho fugisse debaixo de meus ps, como se meu
corao saltasse pela boca, como se o cu partisse em mil pedaos...). Mas com-
preender no bastava, faltava o outro, aquele que despertava to agradvel deses-
pero. E nasceu a fala amorosa. Mas nem mesmo o outro bastava. [...]
No existe amor mudo o amor no se completa no outro, mas na palavra.
O amor pede a palavra. In: Treze dos melhores contos de amor da literatura brasileira.
Organizao de Rosa Amanda Strausz. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. p. 9.

Para realar a ideia de que difcil nomear, descrever ou falar sobre o amor, a
autora repete algumas conjunes coordenativas.
a) Reescreva no caderno as frases em que as conjunes coordenativas acres-
centam novas informaes s j apresentadas.
b) Reescreva as frases em que as conjunes coordenativas criam um contraste
em relao informao apresentada anteriormente.
c) Releia a resposta dada questo b. Nela ser possvel notar que a sequncia
de ideias introduzidas pelas conjunes coordenativas aponta para uma con-
cluso importante. Qual essa concluso?

Atividade de aplicao
Leia o texto do anncio publicitrio para responder s questes a seguir.

Reproduo/Euro RSCG
Seu chefe
pega no seu p,
sua me
pega no seu p,
seu vizinho
pega no seu p.
Mas massagem,
que bom,
nada, n?

Revista Veja, 3 mar. 2010. Suplemento especial Carnaval.

A CARTA ARGUMENTATIVA 147

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a) A expresso pegar no p habitualmente empregada com valor conota-
tivo. O que essa expresso significa?
b) A surpresa do anncio est no final, quando se percebe que a expresso pegar
no p foi utilizada no sentido denotativo. Que significado ela passou a ter?
c) Que conjuno marca a mudana de significado da expresso? Que tipo de
relao essa conjuno estabelece entre as ideias expostas antes e depois dela?
d) Qual a relao entre o produto que o anncio pretende vender ao consu-
midor (uma palmilha para massagear os ps) e o texto publicitrio? Explique
sua resposta.

p r o D U o D E t E x t o

carta argumentativa
Enderear cartas a algum uma tradio. Todavia as cartas que estudamos
neste captulo no so fechadas em envelopes, no contm endereos e muito
menos recebem selos. Essas cartas, aqui chamadas de argumentativas por causa
das sequncias textuais predominantes, so publicadas em jornais, revistas ou na
internet.
Existem, como j vimos, diversos modelos de cartas e todos eles se organizam
conforme as caractersticas que apresentam e o espao em que circulam. Contudo,
mesmo com caractersticas peculiares a cada tipo ou meio de circulao, a estru-
tura desses textos costuma ser construda pelo ttulo, pelo corpo do texto (com a
apresentao do problema logo no incio) e pela assinatura.
Em relao ao estilo, percebem-se algumas caractersticas bsicas:
A linguagem, em geral, obedece variedade-padro. No entanto, o ideal
que se adapte variedade de quem l. Por exemplo, se sua carta endere-
ada a uma revista que se destina ao pblico jovem, pode ser utilizada uma
linguagem mais informal, que se aproxime do modo de falar desse pblico.
O produtor da carta argumentativa expe sua opinio sobre determinado
assunto e a defende por meio de argumentos de autoridade, de exemplos,
nmeros, estatsticas e estudos cientficos, entre outras coisas.
As referncias ao leitor como em um dilogo geralmente so feitas me-
diante pronomes (os denominados pessoais de tratamento), escolhidos de
acordo com o grau de formalidade que possa existir entre os interlocutores.
Os verbos podem ser usados no imperativo sempre que o produtor da carta
se dirigir ao leitor para dissuadi-lo a tomar alguma atitude, como se estivesse
diante dele.
As cartas argumentativas so de carter social, isto , apresentam temas comuns
a um grupo. Sero esses temas que determinaro os diferentes formatos de cada
carta. Observem:

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carta do leitor
Este formato de carta um texto enviado pelo leitor a um meio de comuni-
cao especfico para manifestar seu ponto de vista sobre alguma matria ali
publicada. A carta do leitor costuma ser curta e objetiva: apresenta o texto a que
faz referncia pelo ttulo ou pelo assunto; mostra a opinio defendida por um ou
dois argumentos; e apresenta sugestes, perguntas, reflexes, elogios, etc. sobre
o assunto tratado na matria.

carta aberta e manifesto


A carta aberta, como o prprio nome indica, pode ser lida por qualquer pessoa.
Conforme estudamos ao longo do captulo, ela pode se dirigir a um grupo uma
autoridade, uma comunidade ou uma pessoa por meio da mdia escrita ou falada:
jornal, revista, internet, rdio, televiso. Muitas vezes segue uma estrutura mais fixa,
com o nome da pessoa ou da instituio a quem endereada, a apresentao formal
do(s) remetente(s), a apresentao do problema, a sugesto de soluo e a assinatu-
ra dos interessados. Em outros casos, pode ter um formato mais livre e informal.
A carta aberta utilizada para denunciar a situao de um grupo, divulgar
as ideias de uma comunidade e pode ser assinada por uma pessoa ou um con-
junto de pessoas. Em sua estrutura, costuma constar argumentos em favor de
uma proposta e/ou contra um problema. Os verbos so, normalmente, empre-
gados no presente do indicativo, na 1a ou na 3a pessoa.
O manifesto, assim como a carta aberta, caracteriza-se por sua natureza exposi-
tiva e, sobretudo, argumentativa. Isso significa dizer que, alm de apresentar um
tema, uma ideia ou uma inteno, o autor pode se posicionar diante dele e conven-
cer seu leitor da pertinncia do assunto e da necessidade de adeso quela ideia.
O ttulo de um manifesto ou carta aberta em geral longo, uma vez que
apresenta o assunto em nome do qual o autor est se manifestando.
Ao escrever um manifesto ou uma carta aberta, temos de ter em mente o obje-
tivo maior desses textos: convocar o leitor reflexo e adeso. Por isso, na hora
de redigir o corpo desse texto, preciso apresentar o assunto logo nos primeiros
pargrafos. Esse assunto , na maioria das vezes, uma constatao ou um fato. A
partir da, sugere-se uma soluo para o item apresentado e, por fim, faz-se o con-
vite ao. Para isso, o autor precisa usar bons argumentos para convencer o leitor.

carta ao leitor
Tambm chamada de editorial, essa carta apresenta ao leitor o ponto de
vista do jornal, da revista, do site, etc. sobre determinado assunto.

AtIvIDADE 1 como produzir uma


carta aberta seguindo um modelo
Considere o esquema da prxima pgina como modelo para produzir uma
carta aberta. Organizem-se em grupos e copiem no caderno os trechos do
esquema. Vocs devero escrever uma carta destinada aos moradores da cida-
de ou da regio. Antes, conversem e indiquem um problema da regio, da ci-
dade ou do bairro de vocs que precise ser discutido por todos, e apenas depois
disso preencham os espaos.

A cArtA ArgUmENtAtIvA 149

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Apresentem o grupo em nome do qual a carta
Carta aberta de aberta produzida.

Relatem como a deciso


foi tomada.
Ns, alunos da escola e moradores do municpio de , vimos manifestar nosso .

No dia , realizamos um encontro em , em que discutimos .


Reforcem o fato que no
aceito por vocs e iniciem Nele, contamos com a presena de .
a defesa, apresentando
por que no possvel
aceitar tal fato.
Nessa reunio, foi decidido, por unanimidade, que a .
Apresentem a regio em que vivem de
No aceitamos , visto que . forma positiva, usando essa descrio como
argumento para a defesa da ideia de vocs.
Concluam a carta aberta
reforando a ideia com Estamos em uma regio com . Alm disso, .
a qual no concordam e
Se houver, apresentem um
apresentando o que de fato a
regio de vocs precisa.
O argumento apresentado pelo . argumento contrrio ao de vocs e
escrevam o contra-argumento.
Completem com o nome da
cidade e data em que a carta No precisamos de , mas sim de .
foi escrita.
, . [Cidade, data.]

AtIvIDADE 2 como produzir um manifesto


seguindo uma proposta de vestibular
A Universidade de Campinas (Unicamp), j h alguns anos, tem trabalhado
com a produo de gneros diversos em seu vestibular. Isso porque acredita que
a exigncia de um nico modelo de texto (a maioria dos vestibulares cobra a dis-
sertao) engessa as escolas, que passam a focar seu trabalho apenas nesse gnero.
As produes sempre vm acompanhadas de outros textos que o aluno deve ler
e compreender para produzir. Apresentamos a seguir a proposta da prova de 2012.

Coloque-se no lugar dos estudantes de uma escola que passou a monitorar as pginas de seus alunos
em redes sociais da internet (como o Orkut, o Facebook e o Twitter), aps um evento similar aos relatados
na matria reproduzida abaixo. Em funo da polmica provocada pelo monitoramento, voc resolve
escrever um manifesto e recebe o apoio de vrios colegas. Juntos, decidem l-lo na prxima reunio
de pais e professores com a direo da escola. Nesse manifesto, a ser redigido na modalidade oral
formal, voc dever necessariamente:
explicitar o evento que motivou a direo da escola a fazer o monitoramento;
declarar e sustentar o que voc e seus colegas defendem, convocando pais, professores e alunos a agir
em conformidade com o proposto no documento.
(unicamp, 2012, proposta de redao texto adaptado.)

Escolas monitoram o que aluno faz em rede social


Durante uma aula vaga em uma escola da Grande Transformar o problema em tema de discusso
So Paulo, os alunos decidiram tirar fotos deitados em para as aulas considerado o ideal por educadores. A
colchonetes deixados no ptio para a aula de Educao atitude da escola no pode ser policialesca, tem que
Fsica. Um deles colocou uma imagem no Facebook ser preventiva e negociadora no sentido de formar
com uma legenda irnica, em que dizia: Vejam as conscincia crtica, diz Slvia Colello, professora de
aulas que temos na escola. Uma professora viu a foto pedagogia da USP.
e avisou a diretora. Resultado: o aluno teve de apag- Adaptado de: BEDINELLI, talita; REWALD, Fabiana, Folha de S.Paulo,
-la e todos levaram uma bronca. 19 jun. 2011. Disponvel em: <http://www.comvest.unicamp.br/
vest_anteriores/2013/download/comentadas/redacao.pdf>.
[...] Acesso em: 18 dez. 2012.

150 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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Leia, agora, um modelo de produo de manifesto e, em seguida, prepare o seu,
expressando-se a respeito da mesma notcia apresentada na proposta de redao
da Unicamp. Para redigir seu texto, analise as dicas que colocamos junto ao
modelo. Neste caso, voc no deve apenas copiar o modelo e preench-lo, mas,
sim, us-lo como referncia para escrever seu texto.

Vocativo: evoque os provveis


leitores e procure nome-los.
Manifesto por Use a 1a pessoa do plural.

Caros pais, professores e diretoria, ns, alunos desta escola, vimos nos manifestar
Apresente o
sobre o recente episdio em que . assunto.
Ns nos sentimos . Apresente sua
posio e a de
Acreditamos que . seus colegas.

A escola uma instituio educacional e que promove a , logo .


O monitoramento dos alunos na rede social, na forma como foi instalado em Argumente.

nossa escola, algo .


Reforce o que o
E por isso que defendemos que . grupo defende.

proDUo DE AUtorIA
A revista semanal So Paulo, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, tem
uma seo denominada Criticidade. Nela so publicados textos que avaliam
a capital paulista.
Observe:

Vai bem
Museu a cu aberto
Uma rplica da esttua Emigrantes, feita pelo escultor Lasar Segall em 1930,
foi colocada neste ms no parque Buenos Aires, em Higienpolis (regio central).
Ela se junta a outras seis obras de diferentes autores existentes no local.

Vai mal
Corredor fechado
Uma faixa que deveria ser um corredor de nibus na av. Inajar de Souza, no
Limo (zona norte), est fechada. Diversos carros estacionam ali. A SPTrans diz
que a reforma do corredor est sendo licitada.

Vai indo
Longa reforma
O prdio da Umapaz, brao da Secretaria do Meio Ambiente que fica no parque
Ibirapuera (zona sul) e promove educao ambiental, est em obras desde maro. A
reforma deveria ter acabado em agosto, e no h previso para a concluso.
Revista So Paulo, 25 de nov. 2012.

A cArtA ArgUmENtAtIvA 151

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Os ttulos de cada pargrafo mostram a posio dos editores da revista em
relao s situaes apresentadas. Assim, se algo vai bem, porque, na opinio
da revista, aquela situao est sendo cuidada, resolvida. Se vai mal, porque
est abandonada, maltratada, no est sendo resolvida. Se vai indo, porque
o assunto est estacionado: no melhora nem piora.

Discusso em grupo
Com os colegas, decidam o que, na sua cidade, deve receber cada uma dessas
classificaes (vai mal, vai bem, vai indo). Produzam um pargrafo apresentando
cada situao.
Aps a discusso para se chegar a esses pontos, vocs vo produzir uma carta
aberta ou um manifesto sobre algum problema identificado. Para produzir esse
texto, vocs devem falar sobre o que vai mal na cidade.

carta aberta ou manifesto


Tomada essa deciso, cada um de vocs vai elaborar um texto, considerando o
contexto de produo a seguir: os leitores sero o professor, seus colegas, a
diretoria da escola e os pais. Para isso, alm da estrutura estudada nas atividades
de produo, utilize a linguagem formal e argumentos pertinentes.
Guarde sua produo para o projeto do fim de ano.

preparando >
a segunda Releiam seu texto e reflita:

A opinio defendida est clara?
verso do
Os argumentos so lgicos, convincentes, no generalizantes?
texto
Foi estabelecido um dilogo com o leitor?

A linguagem utilizada est adequada ao leitor?

As orientaes estabelecidas no incio da produo do texto foram seguidas?

O texto est bem organizado?
Guarde sua carta aberta (ou manifesto) para o projeto do fim de ano.

No mUNDo DA orALIDADE

manifesto em vdeo
Os manifestos podem ser produzidos tanto por escrito quanto oralmente.
Hoje muitas pessoas tm se juntado a organizaes no governamentais para
convocar a populao a agir ou tomar providncias em relao a vrios assuntos
relevantes, o que tem elevado o nmero de vdeos de manifestos produzidos
para circular na rede.
Esses vdeos podem ter autoridades ou pessoas comuns que apresentam o
problema e convocam os espectadores participao por meio de argumentos.

152 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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Se possvel, assistam a alguns vdeos que contenham manifestos e observem o volume
e o tom de voz utilizados pelo enunciador. Em seguida, vocs devero se preparar para
criar um vdeo3 de manifesto a partir de um dos textos produzidos neste captulo.
Na produo do vdeo de manifesto, o ideal que a voz de vocs seja prepara-
da para falar tambm de forma convincente. No adianta apenas mostrar o que
vocs constataram e pedir ajuda. preciso, pela expresso corporal e pela voz,
convencer a quem assiste.
Por isso, use o mesmo texto da produo de autoria e inicie a produo do mani-
festo oral, que tanto pode ser gravado como apresentado ao vivo para a classe.
Para fazer isso, sigam as instrues:
Releiam o texto produzido e marquem com cores diferentes os trechos de
exposio, os trechos de argumentao e os de convocao.
Grifem os trechos de convocao para que, na hora de falar, vocs deem mais
nfase melodia, invocao.
Treinem antes de gravar ou de apresentar para a classe.
3
Vdeo ou exposio oral da produo feita, dependendo das condies materiais disponveis para a
confeco e a exibio de vdeos na escola.

A p r o v E I t E p A r A...

... ler
Jornais e revistas diversos.
Especialmente as cartas do leitor espao reservado, nesses veculos de comunicao, para o
leitor manifestar suas sugestes, crticas, opinies, reclamaes e as cartas ao leitor tambm
chamadas de editoriais, por apresentar o ponto de vista do jornal, da revista.

Joo Guimares Rosa Correspondncia com seu tradutor italiano Edoardo


Bizzarri, de Edoardo Bizzarri, editora T. A. Queiroz.
Guimares Rosa conversava com todos os seus editores, mas com o italiano as discusses sobre
a palavra se aprofundavam e servem para entender um pouco mais a obra do grande escritor.

... assistir a
Uma verdade inconveniente, de Davis Guggenheim (EUA, 2006).
Neste documentrio, Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, faz um alerta sobre a
necessidade de uma ao imediata contra o aquecimento global e suas consequncias.
Warner Bros./Cortesia de Everett Collection/Keystone

Mensagem para voc, de Nora Ephron (EUA, 1998).


Dona de uma pequena livraria, que h anos pertence sua famlia, Kathleen (Meg Ryan)
troca e-mails com um misterioso amigo (Tom Hanks), sem imaginar que ele a mesma pessoa
que comanda a enorme livraria que se instala em sua cidade e que pode acabar com o seu negcio.

ver na internet
http://planetasustentavel.com.br
Site com vrias informaes sobre o que se pode fazer para que o planeta seja susten-
tvel. Acesso em: 18 dez. 2012.

www.abaixoassinado.org/pages/novo
Este site apresenta diversos modelos de abaixo-assinado. Acesso em: 18 dez. 2012.

A cArtA ArgUmENtAtIvA 153

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LItErAtUrA
> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
Sociologia, Filosofia, Arte.
Prosa modernista
gerao de 1930

P A r A c o m E A r
Ateno: No escreva Leia atentamente os textos dos quadros a seguir.
No livro. Faa as
atividades No caderNo.

Daniel Cymbalista/Pulsar Imagens


Caminho-pipa
abastecendo um aude
para ajudar pessoas em
situao de seca na zona
rural de Paramirim, BA,
janeiro de 2013.

Quadro 1

Com seca no Cear, populao bebe gua contaminada


e contrai doenas
Sem chuva, 174 das 184 cidades do Cear esto em estado de emergncia. Crianas bebem gua
contaminada e sofrem doenas no interior.
A seca que afeta a agricultura e negcios noCea- Em cinco municpios do Cear, os audes esto com-
ratinge tambm a sade da populao, com pro- pletamente secos, e a populao depende da gua de
blemas relacionados qualidade da gua e atendi- carro-pipa. Como a gua insuficiente, a prioridade
mento precrio nos postos de sade, que esto sem abastecer escolas e postos de sade.
gua encanada em algumas cidades do Cear. Minha filha estava vomitando, vomitando.
Por conta da estiagem, 174 cidades das 184 do Dei o soro, mas no adiantou, diz a me Fran-
Cear decretaram estado de emergncia. Os audes cisca Sousa Rodrigues. A filha foi contaminada
do estado tm menos de 40% da reserva de gua. e sofre diarreia por beber gua contaminada. Se-
Nmero considerado crtico pelo governo. gundo a me, era a nica opo de gua que ha-
Em Irauuba, a 150 quilmetros deFortaleza,os via disponvel.
22 mil habitantes dependem de um aude quase seco. [...]
Disponvel em: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/12/com-seca-no-ceara-populacao-bebe-agua-
contaminada-e-contrai-doencas.html>. Acesso em: 19 dez. 2012.

154 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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Quadro 2
Denncias sobre violaes de direitos humanos
aumentam no Brasil em 2012
10 de dezembro de 201221h18

O nmero de denncias de violao dos direi- cretos de violaes, de um total de 234839 chama-
tos humanos no Brasil entre janeiro e novembro das que incluam tambm pedidos de informao.
deste ano aumentou 77% em comparao com o A secretria de Direitos Humanos do Brasil,
mesmo perodo de 2011, segundo um relatrio di- Maria do Rosrio, justificou o aumento dos casos
vulgado nesta segunda-feira pelo governo por oca-
pela confiana que a populao ganhou para de-
sio da celebrao do Dia Internacional dos Direi-
tos Humanos. nunciar os casos, e assim muitas violaes que no
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidn- eram informadas deixaram de ser invisveis e co-
cia disse que a linha telefnica criada para atender mearam a ser investigadas pelas autoridades.
este tipo de denncia registrou 155336 casos con- [...]
Disponvel em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6369423-EI294,00-Denuncias+sobre+
violacoes+de+direitos+humanos+aumentam+no+Brasil+em.html>. Acesso em: 19 dez. 2012.

Quadro 3

SERTO CENTRAL
Mulheres discutem a seca
Convivncia com o semirido tema de debate em encontro que rene cerca de 120 mulheres em Quixad

Acelerar os programas pblicos de amparo ao Periferia) e Esplar Centro de Pesquisa e Asses-


convvio com a seca. Nessa perspectiva, aproxima- soria, com financiamento da Unio Europeia.
damente, 120 mulheres de Quixad, Pacatuba, Oca- De acordo com a assistente tcnica do projeto,
ra e ainda Quixeramobim, Chor e Senador Pompeu Pastora Almeida, a ao tem por objetivo contribuir
esto reunidas, desde ontem, em Quixad. Tambm para o fortalecimento poltico e econmico de gru-
discutem alternativas produtivas e de enfrentamen- pos de mulheres no interior do Cear e, ao mesmo
to da estiagem no Cear. So produtoras rurais, tempo, favorecer o desenvolvimento local susten-
engajadas no programa A fora da mulher, uma tvel, a gerao de renda e a garantia de direitos
iniciativa do Centro de Estudos, Articulao e Re- sociais.
ferncia sobre Assentamentos Humanos (Cearah [...]
Disponvel em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1213957>. Acesso em: 19 dez. 2012.

1. Agora reflita: qual o assunto principal tratado em cada um desses textos?


Explique sua resposta.

2. Hoje em dia muito comum os rgos da mdia funcionarem como veculo de


denncia de problemas sociais e polticos em vrios lugares do mundo. Voc
acredita que a literatura tambm possa exercer esse papel social no meio em
que se insere, ou seja, que tambm possa ser uma forma de denncia dos pro-
blemas de um pas?

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 155

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Transcrevemos, a seguir, um fragmen-
Em 1915, uma intensa seca atin-
to do segundo captulo do livro O Quinze.
giu o Nordeste brasileiro, levando o
tEXto 1 Publicado em 1930, esse romance foi es-
presidente da Repblica, Hermes da
crito por Rachel de Queiroz quando ela Fonseca, a reestruturar o Instituto
tinha 20 anos. A obra chama a ateno de Obras contra as Secas, que pas-
sobretudo por ser uma narrativa bastante sou a construir audes de grande
enxuta e realista da seca que assolou o porte na regio.
Para impedir que os retirantes se
Nordeste do Brasil em 1915. A preocupa-
dirigissem s cidades, criou-se nas
o social divide espao com a caracteriza-
praias nordestinas algo parecido com
o psicolgica das personagens, baseada campos de concentrao, nos quais
principalmente no embate do homem com a populao faminta era recolhida.
o meio em que vive, ideia muito comum Por causa da perda das condi-
na prosa regionalista da dcada de 1930. es bsicas de subsistncia ocasio-
nada pela seca, muitos nordestinos
No trecho selecionado, note a preo-
tiveram de enfrentar a fome e at
cupao da romancista em descrever o
mesmo, em algumas reas, um surto
cenrio da seca e, ao mesmo tempo, re- de varola.
velar os sentimentos das personagens.

O Quinze
II
Rachel de Queiroz

cabra: homem, de
Encostado a uma jurema seca, defronte ao juazeiro que a foice dos
maneira geral; homem cabras ia pouco a pouco mutilando, Vicente dirigia a distribuio de
que ou se considera
valente.
rama verde ao gado. Reses magras, com grandes ossos agudos furando o
juazeiro: rvore da couro das ancas, devoravam confiadamente os rebentes que a ponta dos
famlia das ramnceas,
de folhas serreadas.
terados espalhava pelo cho.
jurema: rvore da Era raro e alarmante, em maro, ainda se tratar de gado. Vicente
famlia das leguminosas,
de caule torto e casca pensava sombriamente no que seria de tanta rs, se de fato no viesse o
malhada. inverno. A rama j no dava nem para um ms.
rama: conjunto de
ramos de uma planta; Imaginara retirar uma poro de gado para a serra. Mas, sabia l? Na
pastagem usada para serra, tambm, o recurso falta Tambm o pasto seca Tambm a gua
alimentar o gado.
rebento: arbusto de dos riachos afina, afina, at se transformar num fio gotejante e
terreno no cultivado. transparente. Alm disso, a viagem sem pasto, sem bebida certa, havia de
rs: qualquer animal
quadrpede que se ser um horror, morreria tudo.
pode abater para o ser Uma vaca que se afastava chamou a ateno do rapaz, que deu um grito:
humano se alimentar.
tanger: instigar de Eh! menino, olha a Jandaia! Tange para c! E chamando o vaqueiro:
algum modo a marcha
de indivduos ou
Voc viu, compadre Joo, como a Jandaia tem carrapato? At
animais; tocar. no focinho!
terado: faco.
bere: mama de
O Joo Marreca olhou para o animal que todo se pontilhava de
animal. verrugas pretas, encaroando-lhe o bere, as pernas, o corpo inteiro:
156 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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Tem umas ainda pior Carece carrapaticida muito E as reses carecer: no ter algo;
ter necessidade de,
assim fracas precisar de.
Vicente lastimou-se: carrapaticida: que
serve para matar
Inda por cima do verozo, diabo de tanto carrapato D carrapatos.
Cear: nessa fala, o
vontade de deixar morrer logo! vocbulo Cear faz
Por falar em deixar morrer O compadre j soube que a Dona referncia cidade de
Fortaleza, a capital do
Maroca das Aroeiras deu ordem pra, se no chover at o dia de S. Jos, estado do Cear.
abrir as porteiras do curral? E o pessoal dela que ganhe o mundo No esbater: adquirir tons
plidos.
tem mais servio pra ningum. mandacaru: planta da
Escandalizado, indignado, Vicente saltou de junto da jurema onde famlia das cactceas.
pedrs: animal (nesse
se encostava: caso, um cavalo) de
Pois eu, no! Enquanto houver juazeiro e mandacaru em p e gua pelos polvilhados de
branco e preto
no aude, trato do que meu! Aquela velha doida! Mal empregado quartau: cavalo
tanto gado bom! manso.
rutilante: brilhante,
E depois de uma pausa, fitando um farrapo de nuvem que se esbatia cintilante.
no cu longnquo:
E se a rama faltar, ento, se pensa noutra coisa. Tambm no vou
abandonar meus cabras numa desgraa dessas Quem comeu a carne
tem de roer os ossos
O vaqueiro bateu o cachimbo num tronco e pigarreou um
assentimento. Vicente continuou:
Do que tenho pena do vaqueiro dela Pobre do Chico Bento,
ter de ganhar o mundo num tempo destes, com tanta famlia!
Ele j est fazendo a trouxa. Diz que vai pro Cear e de l embora
pro Norte
Vicente se dirigiu ao seu velho pedrs, enquanto o vaqueiro
comentava:
Nem parece que este bicho come milho todo dia J to
descarnado! Vicente montou:
Vocs fiquem por aqui, at acabar. Eu tenho que fazer l em casa.
Sacudido pela estrada larga do quartau, seguiu rpido, o peito entreaberto
na blusa, todo vermelho e tostado do sol, que l no cu, sozinho, rutilante,
espalhava sobre a terra cinzenta e seca uma luz que era quase como fogo.
QUEIROz, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1988.
Rogrio Soud/Arquivo da editora

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 157

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INtErPrEtAo Do tEXto
1. O trecho aqui citado do romance O Quinze descreve um cenrio de seca. Fun-
damentado nesse contexto, responda: quais so os principais problemas apon-
tados pela autora?

2. No fragmento lido h trechos de discurso do narrador e de dilogos entre duas


personagens.
a) Quem so as duas personagens que dialogam? Que tipo de relao parece
haver entre essas personagens?
b) Descreva Vicente com base no discurso do narrador e nas falas do rapaz.

3. O discurso das personagens (direto) e o do narrador, muitas vezes, so parecidos.


Nos trechos de narrao, isso acontece tanto nos momentos em que o narrador
trata mais a fundo dos pensamentos e sentimentos de uma das personagens,
quase se misturando a ela (discurso indireto livre), como nos momentos em
que apenas conta os fatos ou descreve o ambiente e as pessoas.
Em ambos os discursos (do narrador e das personagens) so utilizados vocbu-
los e expresses prprios dos habitantes do ambiente descrito.
a) Que ambiente esse? possvel identificar sua localizao (municpio, vila,
estado)?
b) As falas do narrador e das personagens revelam a preocupao da autora em
expressar diretamente os elementos regionais, buscando evitar uma linguagem
artificial, distante do contexto narrado. Copie no caderno pelo menos dois
vocbulos ou expresses que possam ser considerados prprios de uma va-
riante regional da lngua:
na fala do narrador.
nas falas das personagens.

Publicado em 1938, o livro Vidas secas uma das mais conhecidas


obras da literatura brasileira. Centra-se em um perodo da vida das per-
tEXto 2 sonagens Fabiano, sua esposa (Sinh Vitria), os dois filhos e a cachorra
Baleia, seres que experimentam na pele as agruras da seca do serto
nordestino. Um dos grandes valores do romance est na linguagem seca,
dura, de poucos adjetivos, de frases curtas e diretas, com diversas oraes
coordenadas.
O captulo transcrito a seguir traz a personagem Fabiano no momen-
to em que se depara mais uma vez com o soldado amarelo, um ano depois
de ter tido o desprazer de conhec-lo em uma de suas idas cidade,
quando ambos participaram de um mesmo jogo. Nessa ocasio, Fabiano
perdera dinheiro e sara sem se despedir. Ao encontrar pela segunda vez
o soldado, o sertanejo foi provocado, apanhou de outros soldados e foi
jogado na cadeia, bastante humilhado.

158 UNIDADE 3 oUtrA voz: A voz Do oUtro

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Leia agora como se deu o terceiro encontro entre eles.

Vidas secas
O soldado amarelo
Graciliano Ramos

[]
Seguiu a direo que a gua havia tomado. Andara cerca de cem
braas quando o cabresto de cabelo que trazia no ombro se enganchou
num p de quip. Desembaraou o cabresto, puxou o faco, ps-se a
5 cortar as quips e as palmatrias que interrompiam a passagem.
Tinha feito um estrago feio, a terra se cobria de palmas espinhosas.
Deteve-se percebendo rumor de garranchos, voltou-se e deu de cara
com o soldado amarelo que, um ano antes, o levara a cadeia, onde ele
aguentara uma surra e passara a noite. Baixou a arma. Aquilo durou um
10 segundo. Menos: durou uma frao de segundo. Se houvesse durado

Rogrio Soud/Arquivo da editora


mais tempo, o amarelo teria cado esperneando na poeira, com o
quengo rachado. Como o impulso que moveu o brao de Fabiano foi
muito forte, o gesto que ele fez teria sido bastante para um homicdio
se outro impulso no lhe dirigisse o brao em sentido contrrio. A
15 lmina parou de chofre, junto cabea do intruso, bem em cima do
bon vermelho. A princpio o vaqueiro no compreendeu nada. Viu
apenas que estava ali um inimigo. De repente notou que aquilo era um
homem e, coisa mais grave, uma autoridade. Sentiu um choque
violento, deteve-se, o brao ficou irresoluto, bambo, inclinando-se para
20 um lado e para outro.
O soldado, magrinho, enfezadinho, tremia. E Fabiano tinha vontade
de levantar o faco de novo. Tinha vontade, mas os msculos
afrouxavam. Realmente no quisera matar um cristo: procedera como
quando, a montar brabo, evitava galhos e espinhos. Ignorava os
braa: antiga medida
25 movimentos que fazia na sela. Alguma coisa o empurrava para a direita de comprimento que
ou para a esquerda. Era essa coisa que ia partindo a cabea do amarelo. equivale a 10 palmos
(c. 1,8 metro).
Se ela tivesse demorado um minuto, Fabiano seria um cabra valente. dunga: sujeito
No demorara. A certeza do perigo surgira e ele estava indeciso, de corajoso; valento.
matuto: sujeito que
olho arregalado, respirando com dificuldade, um espanto verdadeiro no vive no campo e cuja
personalidade revela
30 rosto barbudo coberto de suor, o cabo do faco malseguro entre os dois falta de traquejo social.
dedos midos. mofino: infeliz;
covarde.
Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu to palmatria: planta da
absurdo que se ps a rir. Medo daquilo? Nunca vira uma pessoa tremer famlia das cactceas.
quengo: cabea.
assim. Cachorro. Ele no era dunga na cidade? No pisava os ps dos quip: planta da
35 matutos, na feira? No botava gente na cadeia? Sem-vergonha, mofino. famlia das cactceas.

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 159

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arreliar: aborrecer-se. Irritou-se. Por que seria que aquele safado batia os dentes como um
caititu: mamfero
encontrado na Amrica, caititu? No via que ele era incapaz de vingar-se? No via? Fechou a cara. A
com pelagem
cinza-escuro e faixa
ideia do perigo ia-se sumindo. Que perigo? Contra aquilo nem precisava
branca no pescoo em faco, bastavam as unhas. Agitando os chocalhos e os ltegos, chegou a mo
forma de colar.
40 esquerda, grossa e cabeluda, cara do polcia, que recuou e se encostou a
catingueira: rvore ou
arbusto da famlia das uma catingueira. Se no fosse a catingueira, o infeliz teria cado.
leguminosas.
ltego: chicote, aoite. Fabiano pregou nele os olhos ensanguentados, meteu o faco na bainha.
reiuna: botina com Podia mat-lo com as unhas. Lembrou-se da surra que levara e da noite
elstico usada por
soldados. passada na cadeia. Sim senhor. Aquilo ganhava dinheiro para maltratar as
sarapatel: confuso, 45 criaturas inofensivas. Estava certo? O rosto de Fabiano contraa-se, medonho,
algazarra.
zinco: arma branca mais feio que um focinho. Hem? Estava certo? Bulir com as pessoas que no
(faca, navalha, punhal,
etc.).
fazem mal a ningum. Por qu? Sufocava-se, as rugas da testa aprofundavam-se,
os pequenos olhos azuis abriam-se demais, numa interrogao dolorosa.
O soldado encolhia-se, escondia-se por detrs da rvore. E Fabiano
50 cravava as unhas nas palmas calosas. Desejava ficar cego outra vez.
Impossvel readquirir aquele instante de inconscincia. Repetia que a
arma era desnecessria, mas tinha a certeza de que no conseguiria utiliz-la
e apenas queria enganar-se. Durante um minuto a clera que sentia
por se considerar impotente foi to grande que recuperou a fora e
55 avanou para o inimigo.
A raiva cessou, os dedos que feriam a palma descerraram-se e
Fabiano estacou desajeitado, como um pato, o corpo amolecido.
Grudando-se catingueira, o soldado apresentava apenas um brao,
uma perna e um pedao da cara, mas esta banda de homem comeava a
60 crescer aos olhos do vaqueiro. E a outra parte, a que estava escondida,
devia ser maior. Fabiano tentou afastar a ideia absurda:
Como a gente pensa coisas bestas!
Alguns minutos antes no pensava em nada, mas agora suava frio e
tinha lembranas insuportveis. Era um sujeito violento, de corao perto
65 da goela. No, era um cabra que se arreliava algumas vezes e quando
isto acontecia, sempre se dava mal. Naquela tarde, por exemplo, se no
tivesse perdido a pacincia e xingado a me da autoridade, no teria
dormido na cadeia depois de aguentar zinco no lombo. Dois
excomungados tinham-lhe cado em cima, um ferro batera-lhe no peito,
70 outro nas costas, ele se arrastara tiritando como um frango molhado.
Tudo porque se esquentara e dissera uma palavra inconsideradamente.
Falta de criao. Tinha l culpa? O sarapatel se formara, o cabo abrira
caminho entre os feirantes que se apertavam em redor: Toca pra
frente. Depois surra e cadeia, por causa de uma tolice. Ele, Fabiano,
75 tinha sido provocado. Tinha ou no tinha? Salto de reiuna em cima da

alpercata. Impacientara-se e largara o palavro. Natural, xingar a me de


uma pessoa no vale nada, porque todo o mundo v logo que a gente no
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tem a inteno de maltratar ningum. Um ditrio sem importncia. O
amarelo devia saber isso. No sabia. Sara-se com quatro pedras figura
80 na mo, apitara. E Fabiano comera da banda podre. Desafasta.
Deu um passo para a catingueira. Se ele gritasse agora desafasta, que
faria o polcia? No se afastaria, ficaria colado ao p de pau. Uma lazeira,
a gente podia xingar a me dele. Mas ento Fabiano estirava o beio e
rosnava. Aquela coisa arriada e achacada metia as pessoas na cadeia,
85 dava-lhes surra. No entendia. Se fosse uma criatura de sade e muque,
estava certo. Enfim apanhar do governo no desfeita, e Fabiano at
sentiria orgulho ao recordar-se da aventura. Mas aquilo Soltou uns
grunhidos. Por que motivo o governo aproveitava gente assim? S se ele
tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada s servia para
90 morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano, seria to ruim se andasse

fardado? Iria pisar os ps dos trabalhadores e dar pancada neles? No iria.


Aproximou-se lento, fez uma volta, achou-se em frente do polcia, que
embasbacou, apoiado ao tronco, a pistola e o punhal inteis. Esperou que
ele se mexesse. Era uma lazeira, certamente, mas vestia farda e no ia ficar
95 assim, os olhos arregalados, os beios brancos, os dentes chocalhando como

bilros. Ia bater o p, gritar, levantar a espinha, plantar-lhe o salto da reiuna


em cima da alpercata. Desejava que ele fizesse isso. A ideia de ter sido
insultado, preso, modo por uma criatura mofina era insuportvel.
Mirava-se naquela covardia, via-se mais lastimoso e miservel que o outro.
100 Baixou a cabea, coou os pelos ruivos do queixo. Se o soldado
no puxasse o faco, no gritasse, ele, Fabiano, seria um vivente
muito desgraado.
Devia sujeitar-se quela tremura, quela amarelido? Era um bicho
resistente, calejado. Tinha nervo, queria brigar, metera-se em espalhafatos e
105 sara de crista levantada. Recordou-se de lutas antigas, em danas com

fmea e cachaa. Uma vez, de lambedeira em punho, espalhara a negrada.


A Sinh Vitria comeara a gostar dele. Sempre fora reimoso. Iria
esfriando com a idade? Quantos anos teria? Ignorava, mas certamente achacado: que sofre
de achaques (mal-estar)
envelhecia e fraquejava. Se possusse espelhos, veria rugas e cabelos brancos. ou se encontra doente.
110 Arruinado, um caco. No sentira a transformao, mas estava-se acabando. alpercata: sandlia
que se prende ao p
O suor umedeceu-lhe as mos duras. Ento? Suando com medo de por tira de couro ou de
uma peste que se escondia tremendo? No era uma infelicidade grande, a pano.
bilro: instrumento
maior das infelicidades? Provavelmente no se esquentaria nunca mais, similar a um fuso, para
passaria o resto da vida assim mole e ronceiro. Como a gente muda! Era. fazer rendas.
ditrio: mexerico.
115 Estava mudado. Outro indivduo, muito diferente do Fabiano que figura: diabo.
lambedeira: faca
levantava poeira nas salas de dana. Um Fabiano bom para aguentar faco pontuda e estreita.
no lombo e dormir na cadeia. lazeira: preguia.
reimoso: genioso.
Virou a cara, enxergou o faco de rasto. Aquilo nem era faco, no ronceiro: lento,
servia para nada. Ora no servia! preguioso.

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120 Quem disse que no servia?
[]
Aprumou-se, fixou os olhos nos olhos do polcia, que se desviaram. Um
homem. Besteira pensar que ia ficar murcho o resto da vida. Estava acabado?
No estava. Mas para que suprimir aquele doente que bambeava e s queria ir
125 para baixo? Inutilizar-se por causa de uma fraqueza fardada que vadiava na
feira e insultava os pobres! No se inutilizava, no valia a pena inutilizar-se.
Guardava a sua fora. Vacilou e coou a testa. Havia muitos bichinhos assim
ruins, havia um horror de bichinhos assim fracos e ruins. Afastou-se, inquieto.
Vendo-o acanalhado e ordeiro, o soldado ganhou coragem, avanou, pisou
130 firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou o chapu de couro.
Governo governo.
Tirou o chapu de couro, curvou-se e ensinou o caminho ao
soldado amarelo.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 51. ed.
Rio de Janeiro: Record, 1983.

Rogrio Soud/Arquivo da editora


INtErPrEtAo Do tEXto
Entre o encontro de Fabiano com o soldado amarelo e o momento em que
o sertanejo decide ensinar o caminho para o oficial, uma enxurrada de pensa-
mentos do sertanejo invade a narrativa: ele se lembra de um acontecimento que
envolve o mesmo soldado, reflete sobre o medo, sobre ser ou no valente e sobre
o passar do tempo e o envelhecer, entre outras coisas.

1. Usando o discurso indireto livre, o narrador d-nos acesso a reflexes da persona-


gem e, assim, ao conjunto de valores que rege o comportamento desse sertanejo.
a) Copie no caderno pelo menos um trecho em que haja o discurso indireto
livre, justificando sua escolha.
b) Assim como no Texto 1, no fragmento do texto de Graciliano Ramos aqui
citado tambm podemos perceber o uso de vocbulos e expresses prprios
dos falantes da regio descrita. Esse uso de vocbulos e expresses que per-
tencem a variedades regionais da lngua mais comum no discurso do nar-
rador ou no discurso da personagem? Explique sua resposta e comprove-a
com exemplos do texto.

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2. Considerando todo o contexto que envolve o encontro entre o sertanejo e o
soldado amarelo, responda:
a) Que razes Fabiano tinha para desejar se vingar do soldado?
b) Fabiano encontra caractersticas em si mesmo que justificariam a vingana.
Quais so elas?
c) Que caractersticas da situao tornam a vingana plenamente possvel?
d) Como Fabiano enxerga o soldado no momento em que se sente humilhado?
e) Qual o dilema de Fabiano diante do soldado perdido? Justifique sua res-
posta com trechos do texto.

3. Releia os trechos das linhas 21 a 24 (at o trecho galhos e espinhos), 36 a 41,


100 a 102. Depois, reflita: o medo e o comportamento do soldado amarelo
fazem Fabiano, que entre a vegetao da caatinga teria condies de se vingar,
sentir-se humilhado por duas razes opostas. Quais so elas?

4. Depois de toda sua reflexo, no penltimo pargrafo, a fala de Fabiano, em


discurso direto, sintetiza uma escolha de ao: a opo por no se vingar. Escre-
va no caderno a alternativa que, no contexto, justifica essa escolha.
a) O medo que sente do soldado amarelo.
b) O peso de uma instituio o governo que, no texto, se caracteriza pela
capacidade de represso arbitrria.
c) Sua incapacidade de reagir diante de um homem fraco e amedrontado como
aquele.
d) Sua bondade natural, sua compaixo.

Para entender
A ProsA DA DcADA DE 1930
Os trechos narrativos que voc leu neste captulo ilustram o que se denomi-
nou a era do romance brasileiro e fazem parte da segunda fase do Modernis-
mo no Brasil. A preocupao com a documentao da realidade que notamos
nas obras do Pr-Modernismo (como em Os sertes, de Euclides da Cunha)
retomada pelos prosadores da dcada de 1930, mas agora com a influncia da
primeira fase modernista, que abriu caminho para novas formas de narrar a rea-
lidade cotidiana.
O primeiro livro a ser publicado com olhar mais crtico sobre a sociedade
brasileira foi A bagaceira, de Jos Amrico de Almeida. Nesse romance, a situao
do nordestino retratada com exatido para o leitor, que acompanha tambm
os poemas de 1930 e seu carter mais engajado.
O contexto histrico propiciou fices mais realistas, preocupadas em retratar
as regies mais castigadas do Brasil e denunciar sua condio. Viviam-se os anos
do Estado Novo de Getlio Vargas, com seu poder ditatorial centralizado e
opressor. O cenrio econmico internacional no era menos crtico, j que se
passava pelas consequncias da quebra da Bolsa de Nova York, pelo entreguerras
e pela desconfiana nos valores democrticos e burgueses, o que gerou espanto,
depresso e indignao.

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Durante muito tempo, o Brasil havia sido governado por presidentes de So
Paulo e Minas Gerais (poltica do caf com leite), contribuindo para que fossem
deixadas de lado questes especficas do Nordeste e de outras regies do pas. En-
fraquecida a poltica que apoiava esses dois estados, no se pode negar que houve
certo avano na economia brasileira: maior diversificao dos produtos de exporta-
o (algodo, frutas, leos vegetais, minrios) e desenvolvimento da indstria.
O centro literrio desse perodo fecundo sai de foco da regio Sudeste, mais
especificamente de So Paulo, e passa para o Nordeste, onde se destacam Jos
Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, e para o Sul, onde sobressai
rico Verssimo.
Marcadamente dominada por autores nordestinos que conhecem a realida-
de que retratam porque a viviam ou viveram, a prosa do perodo trata de temas
especficos das regies brasileiras mais distantes do poder central.
Por serem marcados por uma linguagem que utiliza variantes regionais e, em
geral, de fcil acesso, assim como por apresentarem um Brasil desconhecido
pelos leitores das grandes capitais (So Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro),
os romances desse perodo foram bem aceitos e representaram um enorme salto
de vendas no mercado literrio brasileiro.

Reproduo/Museu Nacional de Belas Artes - Iphan/MinC, Rio de Janeiro, RJ.


Caf, de Candido
Portinari, 1934. leo sobre
tela, 130 cm 195 cm.
Museu Nacional de Belas
Artes, Rio de Janeiro, RJ.
As artes plsticas
brasileiras, que tambm
refletem a conscientizao
poltica dos artistas da
dcada de 1930, procuram
denunciar as sofridas
condies dos
trabalhadores, a situao
opressora da sociedade de
massas, entre tantas
outras injustias.

Em novembro de 1937, o presidente Getlio Vargas anunciou, em cadeia de rdio, o Estado Novo. Ge-
tlio fechou o Congresso Nacional e imps ao pas uma nova Constituio, de tendncia fascista, alegando
que os comunistas iam tomar o pas.
Alm de contar com o apoio de militares, o golpe de Getlio Vargas foi bem recebido por boa parte da socieda-
de brasileira, j que desde o fim de 1935 o governo amedrontava a classe mdia ao reforar a propaganda antico-
munista. A partir da Vargas, por um lado, perseguiu e prendeu inimigos polticos e imps a censura aos meios de
comunicao; por outro, adotou medidas econmicas nacionalizantes e deu continuidade a sua poltica trabalhista.
O presidente criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsvel por centralizar e orien-
tar a propaganda nacional, censurar as artes e os meios de comunicao em geral, incentivar manifestaes
cvicas e expor as atividades do governo central. O DIP, uma das estruturas fundamentais do Estado Novo,
difundiu a imagem de progresso e desenvolvimento do perodo e associou-a diretamente figura de Vargas.

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caractersticas da prosa
brasileira de 1930
regionalismo
A imensido do territrio brasileiro colabora para a existncia de inmeras
diferenas econmicas e culturais entre as populaes das regies do pas e suas
subdivises. Quem o nordestino? Quem o gacho? Quem so os brasileiros?
Ainda hoje muitos intelectuais buscam formar um retrato dos indivduos que vivem
em regies to distintas e compem um povo com identidade nacional, os brasileiros.
E os escritores da dcada de 1930 no fugiram a essa questo. Contudo buscaram
desvendar no apenas as regies, mas tambm o Brasil, preocupando-se em retratar
o pas por meio da denncia das situaes que aconteciam nas regies brasileiras.
Com essa inteno, os romancistas e contistas dessa fase procuraram tratar
em seus textos sobretudo da relao humana com o meio e do impacto desse
meio na formao da personalidade das personagens.

temtica social e neorrealismo


Com tantas inquietaes sociais que marcaram esse perodo, a literatura
precisava apresentar a realidade, a vida do povo nas mais diversas situaes.
Todavia, ao contrrio da concepo realista do sculo XIX, que buscava re-
tratar a realidade tal qual ela se mostrava, a
Divulgao/Sino Filmes, Riofilme e Sagres Vdeo.

concepo modernista da gerao de 1930


tentou interpretar a vida dessas personagens
levando em conta a situao espacial e social
que enfrentavam.
Graciliano Ramos, Jorge Amado, Jos Lins
do Rego e os demais romancistas e contistas
desse perodo tinham uma viso madura, mais
crtica das relaes sociais.
Os romances desse perodo no se limita-
vam a apresentar a realidade. Os escritores
preocupavam-se com seu papel social: pre-
tendiam, com sua arte, participar do momen-
to histrico que viviam. Da o tom de anlise Cena do filme Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, 1963,
e protesto das produes do perodo. baseado no romance homnimo de Graciliano Ramos.

Linguagem simples
A gerao de 1930 buscava retratar os setores marginalizados do Brasil. Com
essa inteno, procura-se reproduzir na prosa uma linguagem mais prxima do
portugus falado por essas camadas sociais. nesse perodo que se conhece
melhor a diversidade da lngua portuguesa no Brasil. Jorge Amado, por exemplo,
um dos autores que registram em seus romances a variedade lingustica de uma
regio castigada pela misria e pela opresso.

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Principais autores
graciliano ramos
A obra do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) representa o conflito en-
tre o escritor e a sociedade que o formou. Em seus romances as personagens so
marcadas pela dor e pela opresso exercida pelo meio.
Nascido em Quebrangulo, Alagoas, numa famlia de classe mdia com quinze filhos,
Graciliano Ramos foi o retrato dessa falta de adaptao: doente e fraco, enfrentou
sempre a zombaria dos irmos e costumava ser humilhado pelo pai, que queria fazer
dele um homem duro. Prefeito de Palmeira dos ndios de 1928 a 1930, fez dessa cida-
de palco dos fatos do cotidiano narrados em seu primeiro romance, Caets.
De 1930 a 1936, trabalhando como dirigente da Imprensa e da Instruo do
Estado em Macei, escreveu So Bernardo e Angstia, alm de fortalecer os laos
de amizade com autores nordestinos de sua gerao.
Preso em 1936 como subversivo, Graciliano Ramos enfrentou diversas humi-
lhaes. O romance mais uma vez lhe serviu de documento: em seu livro Mem-
rias do crcere, considerado um dos mais tensos depoimentos da poca, retratou
sua experincia na priso.
Sua obra marcada pela economia verbal, pela sntese. Reescreveu seus ro-
mances vrias vezes, buscando sempre enxugar o texto, eliminando palavras des-
necessrias. Graciliano pensava que a palavra no deveria ilustrar, e sim dizer de
forma objetiva. Em entrevista concedida em 1948, o escritor comentou o assunto:
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras l de Alagoas fazem seu
ofcio. Elas comeam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa
ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil,
ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxguam, do mais uma molhada, ago-
ra jogando a gua com a mo. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e do mais uma
torcida e mais outra, torcem at no pingar do pano uma s gota. Somente depois de
feito tudo isso que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra no foi feita
para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Disponvel em: <www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Graciliano+
Ramos&ltr=g&id_perso=224>. Acesso em: 19 dez. 2012.
Acervo Iconographia/Reminiscncias

Seus romances apresentam heris inadaptados, que


tm conscincia de no pertencerem a este mundo, a esta
sociedade. No se aceitam e no aceitam os outros. essa
a primeira tenso de seus romances, a que gera todos os
comportamentos. Em So Bernardo, por exemplo, conhe-
cemos Paulo Honrio, personagem que luta contra o meio
para sobreviver e, em seu longo percurso, endurece em
razo da rdua competio capitalista. Casa com Mada-
lena, professora idealista, situao que abre espao para
se construir uma interessante narrativa em torno do con-
flito entre o ter (representado por Paulo Honrio) e o ser
(representado por Madalena).
O escritor Graciliano Ramos em foto de 1948. Muitas vezes, durante a
releitura de um texto, ele queimava com o cigarro as palavras que achava
melhor cortar, furando o papel.

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Jos Lins do rego
Jos Lins do Rego (1901-1957), paraibano, passou a infncia no en-

Acervo ltima Hora/Folhapress


genho do av, por quem foi criado. Cursou faculdade de Direito em
Recife, onde entrou em contato com intelectuais que contriburam para
a busca da identidade nacional, como o socilogo e antroplogo Gilber-
to Freyre. Em Macei, conheceu Graciliano Ramos e Jorge de Lima. Em
1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a escrever fico
procurando denunciar os problemas de sua regio de origem.
Durante a infncia, vivenciou a passagem dos engenhos de acar
para as usinas e o impacto dessa mudana numa regio j castigada pela
seca. Conheceu tambm os cantadores de feira nordestina, forte influn-
cia em sua obra, marcada por certo ritmo que faz lembrar o das narra-
tivas de cordel.
Adotou, em seus textos, uma linguagem simples e mais oral, procu- O escritor Jos Lins do Rego (
direita) durante entrevista com o
rando aproximar as personagens do comportamento real. Na busca pelo reprter do jornal ltima Hora.
aspecto documental de seu trabalho, narrava o que e como ouvia, mas
principalmente o que vivia.

Reproduo/Jos Olympio Editores


A partir de sua experincia, comps em seus romances os conflitos
humanos, o cenrio do engenho decadente, assim como a regio, as
histrias contadas oralmente por mulheres negras escravizadas, as
angstias sexuais da puberdade e o mal-estar prprio daquele pero-
do histrico. Por isso, seus romances so considerados narrativas me-
morialistas.
Fogo morto, sua obra mais representativa, narra o declnio do ciclo
da cana-de-acar, ao contar a histria do poderoso engenho Santa Rosa,
desde a fundao at sua queda.

rachel de Queiroz
Filha de famlia letrada de Fortaleza e descendente do escritor Jos Doidinho, romance de Jos Lins do
de Alencar, a jornalista Rachel de Queiroz (1910-2003) sempre esteve Rego de 1933. Trata-se do segundo
romance do ciclo da
prxima dos livros. cana-de-acar criado pelo autor.
Dona de uma prosa enxuta e viva, escreveu romances que documen-
tam um Nordeste decadente, num estilo menos literrio e mais docu-
Oscar Cabral/Arquivo da editora

mental. Um dos fatores que contriburam para a intensa aceitao de


seus romances foi a naturalidade dos dilogos.
Com forte inteno poltica, ainda jovem publicou O Quinze, roman-
ce que narra a seca de 1915. Nesse livro, a autora no se contentou com
a simples observao, procurando fazer uma anlise psicolgica das
personagens do serto. De forma harmoniosa, relaciona o aspecto social
ao psicolgico, tratando tambm de temas sociopolticos, como o do
papel da mulher na sociedade nordestina.

A escritora Rachel de Queiroz em foto de 1996, no Rio de Janeiro. Conta-se que, na noite de
sua formatura, a jornalista, eleita Rainha dos Estudantes, largou a coroa, dispensou os
abraos e, dizendo que era reprter, abandonou a festa quando soube do assassinato do
poltico Joo Pessoa.

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Luiz Prado/Agncia Estado

Jorge Amado
O autor Jorge Amado (1912-2001) costuma ser lembrado por repre-
sentar em seus livros a Bahia dos marginais, dos marinheiros, dos pesca-
dores e a Bahia da mulher sensual. Nascido em Itabuna, retrata esse amor
de forma crtica em relao sociedade e de forma admiradora e con-
templativa em relao mulher. Seus temas so os problemas de seu
Estado: a condio do negro, do menor de idade abandonado, do tra-
balhador das fazendas de cacau, do cais.
Considerado um excelente contador de histrias, Jorge Amado caiu
no gosto popular no Brasil e no mundo, tendo sido um dos autores
brasileiros mais conhecidos internacionalmente. Entre suas obras da
O escritor Jorge Amado em sua casa fase de crtica social, possvel destacar Terras do sem-fim e Capites
na cidade de Salvador, BA, em 1996.
da Areia. Nesta ltima, retrata a cidade de Salvador pela perspectiva
de meninos de rua abandonados e marginalizados. Pedro Bala
o chefe do grupo, que rouba para sobreviver. No incio do
Caryb/Acervo do artista

romance, o autor apresenta notcias e reportagens com a


inteno de emprestar veracidade aos fatos da fico e assim
reforar, na narrativa, o carter de denncia da opresso
sofrida por tipos humanos menos favorecidos.

rico verssimo
O gacho rico Verssimo (1905-1975) tambm se tornou um autor bas-
tante popular. Retrata os costumes da burguesia gacha, trabalha figuras
comuns, mas representativas. Clarissa (personagem que d nome a um de
Ilustrao da capa do seus romances), por exemplo, representa a adolescente entregue aos sonhos e
livro Tereza Batista incapacidade de entender a infelicidade familiar.
cansada de guerra,
Orgulho e dio, paixes que ganham uma dimenso maior que a da vida pes-
romance lanado em
1972. O artista plstico soal das personagens e se fundem na histria da comunidade compem a trilogia
Caryb, criador dessa O tempo e o vento. Composta de trs partes O Continente, O Retrato e O Ar-
imagem, foi responsvel
pela ilustrao de quiplago , a obra mais significativa do autor. Narra a histria de geraes do
diversas obras de Jorge Rio Grande do Sul por meio das famlias Terra-Cambar e Amaral, registrando
Amado, contribuindo desde as Misses nos tempos coloniais at o Estado Novo no sculo XX.
para a construo de
suas personagens no Os trechos selecionados a seguir foram retirados de Ana Terra, captulo de O
imaginrio dos leitores. Continente. Por causa de seu valor, esse captulo foi lanado como livro indepen-
dente. A narrativa apresenta a famlia Terra o pai Maneco, a me d. Henrique-
ta e os filhos Ana, Horcio e Antnio , que vive em uma estncia no interior
gacho. Um dia Ana socorre um mestio indgena e o leva para sua casa. Mais
tarde, mesmo lutando contra a paixo que a domina, engravida do enigmtico
mestio e d luz Pedro Terra. Seus irmos, para honr-la, matam o indgena.
Tempos depois, num ataque de bandidos castelhanos, pai e irmos so mortos.
Ana, o filho Pedro Terra, a cunhada e a sobrinha ento partem para Santa F,
palco de O tempo e o vento.
Observe nestes trechos a conscincia do tempo como elemento da natureza
e a representao da garra e da capacidade de resistncia de um povo, o rio-
-grandense.

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Ana Terra

Acervo ltima Hora/Folhapress


rico Verssimo

Naquela noite nasceu o filho de Ana Terra. A av cortou-lhe o cordo


umbilical com a velha tesoura de podar. E o sol j estava alto quando os
homens voltaram, apearam e vieram tomar mate. Ouviram o choro de crian-
a na cabana, mas no perguntaram nada nem foram olhar o recm-nascido.
um menino! disse d. Henriqueta ao marido, sem poder conter
um contentamento nervoso.
Maneco pigarreou mas no disse palavra. Quando o pai saiu para fora,
O escritor rico Verssimo
Ana ouviu Horcio cochichar para a me: em foto de 1963.
Ela vai bem?
Vai indo, graas a Deus respondeu d. Henriqueta. Est com os ubres
cheios. Tem mais leite que uma vaca acrescentou com orgulho.
Naquele instante Ana dava de mamar ao filho. Estava serena, duma serenidade
de cu despejado, depois de uma grande chuva.
Trs dias depois j se achava de p, trabalhando. E sempre que ia lavar roupa
levava o filho dentro da cesta, e enquanto batia nas pedras as camisas e calas e
vestidos, deixava a criana deitada a seu lado. E cantava para ela velhas cantigas que
aprendera quando menina em Sorocaba, cantigas que julgava esquecidas, mas que
agora lhe brotavam milagrosamente na memria. E a gua corria, e a criana ficava
de olhos muito abertos, com a sombra mvel dos ramos a danar-lhe no rostinho
cor de marfim.
Pelos clculos de Antnio deviam estar no ano-novo. Uma noite, depois do jan-
tar, Horcio disse:
Se no me engano, estamos agora no 79.
Maneco Terra suspirou.
Eu s queria saber que nova desgraa este ano vai nos trazer
[]
Ana sentia-se animada, com vontade de viver. Sabia que por piores que fossem
as coisas que estavam por vir, no podiam ser to horrveis como as que j tinha so-
frido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. Ali deitada no cho a olhar
para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignao que chegava quase a
ser indiferena. Tinha dentro de si uma espcie de vazio: sabia que nunca mais teria
vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa
de Pedrinho, que afinal de contas no tinha pedido a ningum para vir ao mundo.
Mas queria viver tambm de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela.
Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em
que deixara Sorocaba para vir morar no Continente. Vezes sem conta tinha chorado
de tristeza e de saudade naqueles cafunds. Vivia com o medo no corao, sem ne-
nhuma esperana de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma
negra, e passando frio e desconforto Tudo isso por qu? Porque era a sua sina. Mas cafund: lugar
uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enter- afastado, de difcil
acesso.
rado o pai e o irmo e ali estava, sem casa, sem amigos, sem iluses, sem nada, mas ubre: bere, mama,
teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado seio.
do pai o gnio de mula.
VERSSIMO, rico. Ana Terra. So Paulo: Companhia das Letras, 2005.

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 169

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sintetizando a prosa modernista gerao de 1930
Copie o esquema a seguir no caderno e complete-o com base no que foi estudado no captulo.

a) Durante muito tempo, o Brasil foi governado por presidentes dos estados de , a chamada poltica . Isso
contribuiu para que as questes especficas do Nordeste e de outras regies . Depois de enfraquecida a
poltica que apoiava esses dois estados, no se pode negar que houve .

b) So caractersticas da prosa modernista de 1930: .

c) Os escritores mais importantes desse perodo so: .

t E X t o E c o N t E X t o
Publicada em 1942, a obra Terras do sem-fim foi considerada por alguns
crticos literrios uma das melhores de Jorge Amado. Narra, em trs partes, a
chegada e a permanncia do homem na terra do cacau, alm de relatar a dispu-
ta entre duas famlias, a do coronel Sinh Badar e a do coronel Horcio da
Silveira, pela posse de mais terras.
O fragmento abaixo relata o depoimento de um dos viajantes que se dirigem
a terras longnquas da Bahia procura de trabalho.

O navio
Captulo 6
Jorge Amado

A voz cantava e os homens se encolhiam com frio. O vento passava rpido, vinha do
sul e era violento. O navio jogava sobre as ondas, muitos daqueles homens nunca tinham
entrado num navio. Tinham atravessado as speras caatingas do serto num trem que
arrastava vages e vages de imigrantes. O velho os olhava com seus olhos duros.
To vendo essa modinha? Nessas terras vou morrer. T a uma coisa verda-
deira Quem vai pra essas terras nunca mais volta Tem uma coisa que parece
feitio, feito visgo de jaca. Segura a gente
Tem dinheiro fcil, no ? o jovem se atirou para a frente de olhos acesos.
Dinheiro T a o que prende a gente. A gente chega, faz algum dinheiro,
que dinheiro h mesmo, Deus seja servido. Mas dinheiro desgraado, um dinheiro
que parece que tem maldio. No dura na mo de ningum, a gente faz uma roa
A msica vinha em surdina, os jogadores haviam parado a ronda. O velho fitou
Rogrio Soud/Arquivo da editora

o jovem bem dentro dos olhos, depois relanceou a vista pelos demais homens e mu-
lheres que estavam presos s suas palavras:
J ouviram falar em caxixe?
Diz que um negcio de doutor que toma a terra dos outros
Vem um advogado com um coronel, faz caxixe, a gente nem sabe onde vai
parar os ps de cacau que a gente plantou
Espiou em volta novamente, mostrou as grandes mos calosas:

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To vendo? Plantei muito cacaueiro com essas mos que to aqui Eu e
Joaquim enchemos mata e mata de cacau, plantamos mais que mesmo um bando de
caxixe: negociata feita
jupar que bicho que planta cacau Que adiantou? perguntava a todos, aos em torno de terras
jogadores, mulher grvida, ao jovem. produtoras de cacau.
Ficou novamente ouvindo a msica, fitou longamente a lua: jupar: mamfero da
famlia dos
Diz que a lua quando t assim cor de sangue que desgraa na estrada prociondeos.
nessa noite. Tava assim quando mataram Joaquim. No tinha por qu, mataram visgo: viscosidade.
s de malvadez.
Por que mataram ele? perguntou a mulher.
O Coronel Horcio fez um caxixe mais Dr. Rui, tomaram a roa que ns
havia plantado Que a terra era dele, que Joaquim no era dono. Veio com os ja-
gunos mais uma certido do cartrio. Botou a gente pra fora, ficaram at com o
cacau que j tava secando, prontinho pra vender. Joaquim era bom no trabalho, no
tinha mesmo medo do pesado. Ficou acabado com a tomada da roa, deu de beber.
E uma vez, j bebido, disse que ia se vingar, ia liquidar com o coronel. Tava um cabra
do coronel por perto, ouviu, foi contar. Mandaram tocaiar Joaquim, mataram ele na
outra noite, quando vinha pra Ferradas
O velho silenciou, os homens no perguntaram mais nada. Os jogadores voltaram
ao seu jogo, o que estava com o baralho botou duas cartas no cho, os outros apos-
taram. A msica morria aos poucos na noite. O vento aumentava de minuto a mi-
nuto. O velho voltou a falar:
Joaquim era um homem de paz, ele no ia matar ningum. O Coronel Ho-
rcio bem sabia, os cabras tambm sabiam. Ele disse aquilo porque tava bbedo, no
ia matar ningum. Era um homem do trabalho, queria era ganhar com que viver
Sentiu que tomassem a roa, isso sentiu. Mas s falou porque tinha bebido No
era homem pra matar Liquidaram ele pelas costas
Foram presos?
O velho olhou com raiva:

Rog
ri
o Sou
Na mesma noite que mataram ele, tavam bebendo numa venda, contando
como o caso tinha se dado d/Arq
uivo

Fez-se silncio no grupo, s um jogador falou:


da ed

Sete
itora

Mas o outro nem recolheu o dinheiro, absorto na figura do velho que agora es-
tava dobrado e parecia esquecido do mundo, sozinho na sua desgraa.
AMADO, Jorge. Terras do sem-fim. So Paulo: Crculo do Livro, [s.d.].

1. A amargura do velho est baseada em uma experincia de injustia e impuni-


dade vivida no passado. Relate, em poucas palavras, o que aconteceu para que
ele se sentisse assim to desgostoso.

2. H nesse trecho algumas foras (ou poderes) contra as quais muitas pes-
soas no conseguem lutar, como o poder da autoridade legal e o da impunida-
de. Indique como essas foras so representadas no trecho. Procure explicar
tambm a importncia dessas foras nos conflitos vividos pelas personagens.

3. No trecho apresentado h caractersticas comuns a outras produes que foram


includas no conjunto literrio da prosa modernista da dcada de 1930. Indique
quais so elas.

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Responda no caderno questo de vestibular a seguir.

4. (Cefet, 2002) O dilogo a seguir entre Paulo Honrio, narrador, e Gondim,


jornalista contratado inicialmente por Paulo para escrever o romance:
V para o inferno, Gondim. Voc acanalhou o troo. Est pernstico,
Na obra So Bernardo, o est safado, est idiota. H l ningum que fale dessa forma! Azevedo Gondim
protagonista Paulo Honrio uma apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vai-
vez convidou alguns de seus dade e replicou amuado que um artista no pode escrever como fala.
amigos para escrever um roman- No pode? Perguntei com assombro. E por qu?
ce que contasse a histria de sua Azevedo Gondim respondeu que no pode porque no pode.
vida. Tempos depois, decidiu es- Foi assim que sempre se fez. A literatura a literatura, seu Paulo. A
crever ele mesmo o livro. gente discute, briga, trata de negcios naturalmente, mas arranjar palavras
com tinta outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ningum me lia.
(Graciliano Ramos: So Bernardo, cap. 1).

Com base no texto, pode-se afirmar que:


a) a concepo de literatura da 1a fase do Modernismo se expressa na opinio
de Gondim.
b) as ideias de Paulo se aplicam obra de Graciliano, no a outros autores modernos.
c) as buscas da prosa da 2a fase do Modernismo no aparecem no ponto de
vista de Paulo.
d) a divergncia entre Gondim e Paulo antes temtica que estilstica.
e) a concepo de literatura da 1a e 2a fases do Modernismo est no parecer
de Paulo.

c o m P A r A N D o t E X t o s
tipos de discurso
Leia um trecho da primeira parte do romance Fogo morto, de Jos Lins do
Rego, que apresenta mestre Jos Amaro, homem revoltado, que trabalha como
seleiro em frente de sua casa, beira da estrada.
Pelas inmeras conversas com moradores do lugar, possvel perceber sua
revolta, seu ponto de vista sobre a sociedade que o cerca.

Fogo morto
Jos Lins do Rego

[]
Sentado no seu tamborete, o velho Jos Amaro parou de falar. Ali estavam seus
instrumentos de trabalho. Pegou no pedao de sola e foi alisando, dobrando-a, com
os dedos grossos. [] Pela estrada passava um comboio de aguardente. O matuto
chefe parou para conversar.
Deus guarde V. Sa, mestre Jos Amaro. Estamos na demanda do serto. E
sucede que se partiu uma cilha do meu animal. O mestre pode me ajudar?
O mestre Jos Amaro olhou para o homem, como se o quisesse identificar. Depois
foi lhe dizendo:

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Voc no o Alpio, do Ing?
Sim, senhor, mestre Jos Amaro. []
O mestre Jos Amaro tomou a cilha partida, fez a emenda e o homem quis puxar
dinheiro para lhe pagar.
No nada, Seu Alpio. No nada.
E quando o comboio sumiu no fim da estrada, o mestre falou:
Bicho homem, este Alpio. [] Gosto de homem assim. Ele fora com o pai
vender milho verde na vila e o cabo do destacamento achou de desfazer do velho. Foi
aquela desgraa. Alpio se fez na faca, espalhou a feira. O cabo ficou para um canto
de bofe de fora, e um soldado que se metera a besta no ficou para contar histria.
Foi no jri. Encontrou homem para livrar ele. Se fosse aqui do Santa F, morreria de
podre na cadeia. Nem bom falar.
O pintor Laurentino levantou-se para sair.
Rogrio Soud/
Bem, mestre Z, muito obrigado, mas o sol est caindo. Arquivo da editora

J quer ir mesmo, homem? Aqui a casa sua. Passando pela estrada, pare aqui.
[] Depois voltou para seu tamborete e comeou o servio outra vez. Pela estra-
da gemia um carro de boi, carregado de l. O carreiro parou para conversar com o
mestre. Estava precisando de correame para os bois. O coronel mandara encomendar
no Pilar. Ele gostava mais do trabalho de mestre Jos Amaro.
O mestre olhou para o homem. E lhe falou, com voz mansa, como se no esti-
vesse com alma pesada de mgoa.
encomenda do Santa Rosa? Pois, meu negro, para aquela gente no fao
nada. Todo mundo sabe que no corto uma tira para o Coronel Jos Paulino. Voc
me desculpe. juramento que fiz.
Me desculpe, seu mestre, respondeu o carreiro, meio perturbado. O homem
bom. No sabia da diferena de vosmec com ele.
Pois fique sabendo. Se fosse para voc, dava de graa. Para ele nem a peso de
libra. o que digo a todo mundo. No aguento grito. Mestre Jos Amaro pobre,
atrasado, um lambe-sola, mas grito no leva.
O carreiro saiu. [] Parou na sua porta um negro a cavalo.
Boas tardes, mestre.
Boa tarde, Leandro. Est de viagem?
Nada no, mestre Z. Vou levando um recado para o delegado do Pilar que o
seu Augusto do Oiteiro mandou.
assucedido: no
Houve crime por l? encontramos registro;
Duas mortes [] Vou dar a notcia ao Major Ambrsio do assucedido. provavelmente uma
variao de sucedido
Este Ambrsio um banana. Queria ser delegado nesta terra, um dia s. (ocorrido).
Mostrava como se metia gente na cadeia. Senhor de engenho, na minha unha, no cilha: cinta larga, de
couro ou tecido, que
falava de cima para baixo.
envolve a barriga das
[] cavalgaduras para
Mestre Z est zangado, vou saindo. apertar a sela ou a
carga.
No estou zangado, estou dizendo a verdade. Sou um oficial que no me correame: reunio de
entrego aos mandes. Quando a gente fala nestas coisas vem logo um pobre como correias.
lambe-sola: no
voc dizendo que estou zangado. Zangado por qu? Porque digo a verdade? Sou
encontramos registro;
eleitor, dou meu voto a quem quero. No voto em governo. provavelmente uma
REGO, Jos Lins do. Fogo morto. Rio de Janeiro: adaptao de lambe-
Jos Olympio, 1968. -botas (bajulador).

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 173

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Veja um resumo dos tipos de discurso empregados no texto no quadro a seguir.

Um texto narrativo, em geral, pode reproduzir a fala de uma personagem de trs maneiras: por
discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre.
No discurso direto, as palavras da personagem so reproduzidas literalmente e, para introduzi-
-las, usam-se travesses ou aspas. Por exemplo:
Sinh Vitria disse:
As aves mataro o gado.
RAMOS, Graciliano, op. cit.

No discurso indireto, a fala da personagem reproduzida pelo narrador. Nesse tipo de discurso,
utilizam-se um verbo dicendi (dizer, falar, perguntar, responder, etc.) e uma orao subordinada
substantiva. Por exemplo:
Sinh Vitria disse que as aves matariam o gado.
verbo or. sub. substantiva obj. direta
dicendi

No discurso indireto livre, a fala da personagem no aparece destacada nem por aspas nem por tra-
vesso; ela surge de repente, no meio da narrativa, como se as palavras fossem do narrador. Por exemplo:
Fabiano estirou o beio e enrugou mais a testa suada: impossvel compreender a inteno da mulher.
No atinava. Um bicho to pequeno! Achou a coisa obscura e desistiu de aprofund-la.
discurso indireto livre
(fala da personagem)
RAMOS, Graciliano, op. cit.

1. Releia a seguir alguns trechos de Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Fogo mor-
to, de Jos Lins do Rego. Compare a fala das personagens (os destaques so
nossos) considerando o que voc leu no quadro acima. Depois, responda no
caderno s questes propostas.

I.
Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu to absurdo que se ps a rir. Medo
daquilo? Nunca vira uma pessoa tremer assim. Cachorro. Ele no era dunga na cidade? No pisava os
ps dos matutos, na feira? No botava gente na cadeia? Sem-vergonha, mofino.
RAMOS, Graciliano, op. cit.

II.
Lembrou-se da surra que levara e da noite passada na cadeia. Sim senhor. Aquilo ganhava dinheiro
para maltratar as criaturas inofensivas. Estava certo? O rosto de Fabiano contraa, medonho, mais feio que
um focinho. Hem? Estava certo? Bulir com as pessoas que no fazem mal a ningum. Por qu?
Ibidem.

III.
Fabiano tentou afastar a ideia absurda: Como a gente pensa coisas bestas!
Ibidem.

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Iv.
Tinha medo e repetia que estava em perigo, mas isto lhe pareceu to absurdo que se ps a rir.
Ibidem.

v.
E quando o comboio sumiu no fim da estrada, o mestre falou:
Bicho homem, este Alpio. [] Gosto de homem assim. Ele fora com o pai vender milho
verde na vila e o cabo do destacamento achou de desfazer do velho. Foi aquela desgraa. Alpio se fez
na faca, espalhou a feira. O cabo ficou para um canto de bofe de fora, e um soldado que se metera a
besta no ficou para contar histria. Foi no jri. Encontrou homem para livrar ele.
REGO, Jos Lins do, op. cit.

vI.
O mestre olhou para o homem. E lhe falou, com voz mansa, como se no estivesse com alma pesada
de mgoa.
encomenda do Santa Rosa? Pois, meu negro, para aquela gente no fao nada. Todo mundo
sabe que no corto uma tira para o Coronel Jos Paulino. Voc me desculpe. juramento que fiz.
Ibidem.

a) Quais dos trechos reproduzem a fala da personagem por meio de discurso


indireto livre?
b) Em quais trechos as falas das personagens so reproduzidas literalmente?
c) Quais dos trechos reproduzem a fala da personagem por meio de discurso
indireto?

2. No caderno, relacione as afirmaes a seguir ao discurso que caracteriza as


personagens dos textos lidos: Fabiano ou Jos Amaro.
a) O narrador apresenta a personagem e a deixa expressar-se com suas prprias
palavras. Assim, por meio do discurso direto, ela mostra seu orgulho, seu
valor humano, sua conscincia sobre seus direitos e deveres.
b) Sem grandes recursos expressivos, a personagem precisa de algum que fale
por ela, que expresse sua indignao, sua decepo com o mundo, com as
autoridades. Dessa maneira, por meio do discurso indireto livre, o narrador
torna-se porta-voz do fluxo de conscincia da personagem.

E por falar em regionalismo...


Empregar a lngua adequadamente nas mais diversas situaes funda-
mental se quisermos garantir o mximo de compreenso no jogo interacional,
isto , nos eventos em que necessrio entender a informao passada pelo
outro ao mesmo tempo que pretendemos fazer que o outro entenda o que
desejamos expressar.

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Por meio do conhecimento das variedades lingusticas, podemos conhecer a
cultura das pessoas que as utilizam.
Assim, ao estudarmos os romances regionalistas da gerao de 30, conhece-
mos tambm um pouco da cultura de cada povo pelo uso que os autores fazem
da lngua. Observe dois trechos que apresentam vocabulrio e estruturas de
frases representativos das personagens que ocupam o espao descrito e perten-
cem condio social retratada.

Maneco pigarreou mas no disse palavra. O Coronel Horcio fez um caxixe mais Dr.
Quando o pai saiu para fora, Ana ouviu Horcio Rui, tomaram a roa que ns havia plantado Que a
cochichar para a me: terra era dele, que Joaquim no era dono. Veio com os
Ela vai bem? jagunos mais uma certido do cartrio. Botou a gen-
Vai indo, graas a Deus respondeu d. Hen- te pra fora, ficaram at com o cacau que j tava secando,
riqueta. Est com os ubres cheios. Tem mais lei- prontinho pra vender. Joaquim era bom no trabalho,
te que uma vaca acrescentou com orgulho. no tinha mesmo medo do pesado. Ficou acabado com
RICO, Verssimo, op. cit. a tomada da roa, deu de beber. E uma vez, j bebido,
disse que ia se vingar, ia liquidar com o coronel. Tava
um cabra do coronel por perto, ouviu, foi contar. Man-
daram tocaiar Joaquim, mataram ele na outra noite,
quando vinha pra Ferradas
AMADO, Jorge, op. cit.

Na leitura dos trechos acima, percebemos palavras e expresses comuns


regio das pessoas que as empregam. Mediante a literatura, entramos em con-
tato com algumas das muitas variedades lingusticas que ocorrem nas diferentes
regies brasileiras. Mas voc j parou para pensar que tambm existem diferen-
tes variedades lingusticas em sua prpria escola? Cada variedade representa uma
identidade, um conjunto de pessoas, e esse uso especfico que cada grupo faz da
lngua o diferencia dos demais grupos.

Vocs vo se organizar em equipes para pesquisar as variedades lingusticas


presentes na escola. Sigam as etapas indicadas.
organizao do material pesquisado
Cada equipe deve escolher algum grupo de sua escola (ou de seu bairro, de
sua comunidade) que faa um uso especfico da lngua (por exemplo: um
grupo de sambistas, de funk (funqueiros), de surfistas, esqueitistas, blogueiros,
internautas, etc.).
Levantem exemplos reais do uso especfico que esse grupo faz da lngua.
Vocs podem selecionar msicas, poemas, gravar no celular alguma entrevis-
ta ou depoimento, enfim, reunir o maior nmero de exemplos possvel, lem-
brando que essas informaes devem ser autnticas, ou seja, no podem ser
exemplos que vocs conhecem de memria, e sim usos da lngua encontrados
em fontes verdadeiras e confiveis.
No caso das gravaes feitas por vocs, lembrem-se de antecipadamente
pedir autorizao escrita das pessoas participantes e de explicar a elas como
vocs vo utilizar a gravao em sala de aula.
Organizem o material encontrado e preparem-se para a apresentao oral das
descobertas do grupo de vocs.

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Exposio oral
Para a exposio oral, decidam na equipe quem ser o responsvel pelos seguin-
tes momentos:
apresentao do grupo social escolhido quem so eles, qual a sua
histria, sua origem, entre outras questes semelhantes e dos motivos
dessa escolha (Escolhemos esse grupo de pessoas porque , Acreditamos
que esse grupo , por isso o escolhemos, etc.);
exposio dos exemplos de uso da lngua recolhidos por equipe;
concluso, reforando o respeito s pessoas e s diversas formas de utilizao
da lngua (Nesse trabalho, foi possvel concluir que ; Depois de partici-
parmos dessa pesquisa, conclumos / chegamos concluso de que ).

A P r o v E I t E P A r A...

... ler
So Bernardo, de Graciliano Ramos, editora Record.
A obra conta a histria de Paulo Honrio, homem simples que, movido por uma ambio
sem limites, acaba por se transformar num grande fazendeiro do serto alagoano.
Fogo morto, de Jos Lins do Rego, editora Jos Olympio.
A histria do romance desenrola-se em torno do engenho de Santa F, no Nordeste brasileiro.
Cenas brasileiras, de Rachel de Queiroz, editora tica.
Em um clima de conversa com o leitor, a autora desfia histrias tocantes da gente brasileira.
Terras do sem-fim, de Jorge Amado, editora Record.
Jorge Amado descreve o crescimento de cidades e a transformao dos costumes.
O tempo e o vento, de rico Verssimo, editora Companhia das Letras.
Conta a histria da famlia Terra-Cambar durante dois sculos. Sob o

Divulgao/Embrafilme
ponto de vista dessa famlia, relata a histria do Rio Grande do Sul e o drama
de seu povo, na cidade fictcia de Santa F.

... assistir a
Memrias do crcere, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil, 1984).
Retrata o Brasil da dcada de 1930, sob a perspectiva de Graciliano
Ramos, que foi preso por suas convices polticas e escreveu o romance no
qual o filme se baseia. Na foto, o ator Carlos Vereza.
Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto (Brasil, 1976).
Baseado em romance homnimo de Jorge Amado, o filme conta a histria de Flor, professora de
culinria em Salvador, que, depois de ficar viva de um bomio, casa com um farmacutico.

ver na internet
www.graciliano.com.br/
Site oficial do escritor alagoano Graciliano Ramos. Acesso em: 19 dez. 2012.

www.estado.rs.gov.br/erico/
Site do governo do Rio Grande do Sul em comemorao ao centenrio de rico Verssimo.
possvel ouvir trechos de O tempo e o vento, lidos pelo prprio escritor. Acesso em: 19 dez. 2012.

ProsA moDErNIstA gErAo DE 1930 177

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UNIDADE

4 Do cotidiano ao
extraordinrio

Nesta unidade, voc vai estudar a crnica e a gerao de 1945, na poesia e na pro-
sa. No captulo sobre a crnica, voc ver como fatos simples do cotidiano podem ser
recriados, transformando-se em momentos de reflexo, de emoo, de alegria, o que
no ser diferente com a gerao de 1945, marcante tambm por usar a arte literria
como meio de incitar a reflexo sobre os mais diversos acontecimentos.

Caminhando por uma calada na


cidade de Los Angeles, Estados
Timothy A. Clary/Agncia France-Presse/Getty Images

Unidos, os cidados dificilmente


esperariam encontrar com o
Batman ou o Flash em um
passeio matinal. A dupla,
entretanto, mistura-se na
paisagem, j que no parece
chamar a ateno dos demais
pedestres. Realidade e fantasia
podem caminhar, afinal, na
mesma direo.

178

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Rogrio Soud/Arquivo da editora

< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Identificar fatos que motivaram o desenvolvimento do assun-
to tratado na crnica.
Reconhecer o ponto de vista e as reflexes do cronista.
Observar o uso de sinais de pontuao na construo do
sentido do texto e utiliz-los adequadamente.
Escrever o primeiro pargrafo de uma crnica, empregando a
estrutura: tpico frasal, desenvolvimento e concluso.
Produzir uma crnica com base em uma notcia.
Conhecer o contexto histrico em que se instaurou a pro-
duo literria da gerao de 1945.
Caracterizar as produes literrias da gerao de 1945.
Ler e interpretar textos de autores desse momento literrio.

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lNgUA E pRODUO DE TEXTO

A crnica
> Interdisciplinaridade com:
Arte, Histria, Geografia,
Sociologia.

p A R A C O m E A R
ATENO: NO ESCREVA 1. provvel que voc j tenha lido algumas crnicas ou, pelo menos, ouvido falar delas.
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
Liste no caderno as ideias que lhe surgem quando ouve ou l a palavra crnica.

2. Leia a seguir trechos de trs textos de gneros diferentes. Somente um deles foi
retirado de uma crnica. Procure identific-lo, considerando a inteno comu-
nicativa aquilo que motiva o autor a escolher determinado gnero para se
expressar e algumas marcas de composio e estilo trechos comumen-
te utilizados em determinados gneros textuais e que ajudam a caracteriz-lo.
Depois, explique por que voc chegou a essa concluso.

Trecho 1
Comea hoje, em Belo Horizonte, o Festival Internacional de Bonecos
2005, que levar, at o prximo dia 21, quinze espetculos de companhias
da Alemanha, Blgica, Brasil, Chile e Peru aos palcos mineiros. Alm da
capital, onde acontece at o dia 15, neste ano o evento ter apresentaes
em Ipatinga (de 17 a 21/6).

Trecho 2

Era um 15 de abril. O ano, 1865.


Os dias de outono eram sempre assim: ensolarados, estagnados, previsveis.
Micaela bem cedo atravessou a cozinha principal, a varanda dos fundos e
desceu a escada at o cho de terra batida. Sair da casa-grande pela portinho-
la dos escravos era o caminho mais rpido para atingir o seu refgio matinal.

Trecho 3
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes:
infncia, adolescncia, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de
nos dizer que entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65) existe a
ENVELHESCNCIA.

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No texto a seguir, o escritor Rubem Braga apresenta sua viso do amor
e da separao.
TEXTO 1

Sobre o amor, desamor


Rubem Braga

Chega a notcia de que um casal de estrangeiros, nosso amigo, est se concubina: mulher
que vive maritalmente
separando. Mais um! tanta separao que um conhecido meu, que foi outro com um homem com
dia a um casamento gr-fino, me disse que, na hora de cumprimentar a noiva, quem no
legalmente casada.
teve a vontade idiota de lhe desejar felicidades pelo seu primeiro casamento. cnjuge: cada uma
E essas notcias de separao muito antes de sair nos jornais correm das pessoas ligadas
pelo casamento em
com uma velocidade espantosa. Algum nos conta sob segredo de morte, relao outra.
e em trs ou quatro dias percebemos que toda a cidade j sabe e ressaibo: mau sabor;
rano.
ningum morre por causa disso.
Uns acham graa em um detalhe ou outro. Mas o que fica, no fim,
um ressaibo amargo a ideia das aflies e melancolias desses casos.
Ah, os casais de antigamente! Como eram plcidos e sbios e felizes e
Cena de Kill Bill, volume
serenos... (principalmente vistos de longe. E as angstias e renncias, e as 2, com a atriz Uma
longas humilhaes caladas? Conheci um casal de velhos bem velhinhos, Thurman vestida de
noiva. Nesse filme,
que era doce ver os dois sempre juntos, quietos, delicados. Ele a dirigido por Quentin
desprezava. Ela o odiava.) Tarantino, em 2004,
podemos ter ideia de
Sim, direis, mas h os casos lindos de amor para toda vida, a paixo um caso de amor-
que vira ternura e amizade. Acaso no acreditais nisso, detestvel Braga, -desamor nico.
pessimista barato?
E eu vos direi que sim. J me contaram, j vi. bonito. Apenas
no entendo bem por que sempre falamos de um caso assim com
uma ponta de pena. (Eles so to unidos, coitados.) De
qualquer modo, mesmo muito bonito; consola ver. Mas, como
certos quadros, a gente deve olhar de uma certa distncia.
Eles se separaram pode ser uma frase triste, e s vezes nem
isso. Esto se separando triste mesmo.
Adultrio devia ser considerado palavra feia, j no digo pelo
que exprime, mas porque uma palavra feia. Concubina
tambm. Concubinagem devia ser simplesmente riscada do
Miramax/Cortesia de Everett

dicionrio; horrvel.
Collection/Keystone

Mas do lado legal est a pior palavra: cnjuge. No dia em que a


mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu
marido, seu cnjuge, coitado dele.
Mas no meio de tudo isso, fora disso, atravs disso,
apesar disso tudo h o amor. Ele como a lua,
resiste a todos os sonetos e abenoa todos os pntanos.
BRAGA, Rubem. Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.

A CRNICA 181

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INTERpRETAO DO TEXTO
1. Partindo do tema amor, o cronista pretende tratar do desamor. No texto, por
meio de que fatos ele comenta esse assunto?

2. Releia:
Eles se separaram pode ser uma frase triste, e s vezes nem isso. Esto se
separando triste mesmo.
Compare as duas frases destacadas no trecho. Por que, para o autor, uma das
Rubem Braga (1913- frases sempre triste e a outra no? Qual a viso do cronista a respeito da
-1990), escritor e
jornalista nascido no
separao?
Esprito Santo,
considerado um dos 3. Algumas impresses que o cronista tem dos relacionamentos duradouros con-
maiores cronistas do firmam sua ideia sobre a separao.
Brasil.
Celio Junior/Agncia Estado

a) Que impresses so essas?


b) Nessa crnica, algumas vezes, sugere-se que os relacio-
namentos duradouros contm a semente do fim do
amor. Voc concorda com essa ideia? Justifique sua
opinio.

4. Antes de concluir seu texto, o autor brinca com o som e


o sentido de algumas palavras. Na sua opinio, por que
um homem pode se tornar um coitado no momento em
que sua mulher descobre que ele seu cnjuge?

5. A concluso do texto, contida no ltimo pargrafo, des-


taca aquilo que, para o cronista, mais importante e sig-
nificativo: o amor. Releia a forma como o pargrafo foi
organizado e indique a viso que o cronista demonstra ter
a respeito desse sentimento.

6. Releia:
Ele [o amor] como a lua, resiste a todos os sonetos
e abenoa todos os pntanos.
Explique a comparao feita pelo cronista nesse trecho. Se necessrio, pesquise
antes os sentidos que podem ser atribudos s palavras soneto e pntano.

Habilidades >
Para interpretar a crnica aqui apresentada, voc precisou:
leitoras
identificar o tema e as impresses do cronista sobre ele;

distinguir os fatos que serviram de ponto de partida para as reflexes
do autor;

reconhecer o ponto de vista do cronista;

perceber a concluso dada pelo autor e confront-la com as identifica-
es feitas anteriormente.

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No texto que voc vai ler a seguir, o jornalista e escritor mineiro Pau-
lo Mendes Campos traz o seu olhar sobre alguns dos elementos que
acompanham o fim do amor. TEXTO 2

O amor acaba
Paulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua


nova, depois de teatro e silncio; acaba em cafs engordurados, diferentes aturdido: atordoado.
dos parques de ouro onde comeou a pulsar; de repente, ao meio do aurora: claridade que
aponta o incio da
cigarro que ele atira de raiva contra um automvel ou que ela esmaga no manh, antes do
cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da nascer do Sol.
bruma: nvoa,
aurora tropical, depois duma noite votada alegria pstuma, que no neblina.
dissonncia: falta de
veio; e acaba o amor no desenlace das mos no cinema, como tentculos harmonia,
saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solido; discordncia.
epifania:
como se as mos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insnia manifestao ou
dos braos luminosos do relgio; e acaba o amor nas sorveterias diante do percepo do
significado essencial de
colorido iceberg, entre frisos de alumnio e espelhos montonos; e no uma coisa.
olhar do cavaleiro errante que passou pela penso; s vezes acaba o amor eriar(-se): arrepiar-se.
escarlate: de cor
nos braos torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; vermelha muito viva.
mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar frivolidade: futilidade,
superficialidade.
diferente da irm dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da libido: instinto sexual.
pretenso ridcula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas priplo: navegao ao
redor de um
silabadas femininas; quando a alma se habitua s provncias empoeiradas continente.
da sia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na polvilhar: cobrir de
p.
compulso da simplicidade simplesmente; no sbado, depois de trs goles pstumo: que se
mornos de gim beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, s vezes passa depois da morte
de algum.
vingado por alguns dias, mas que no floresceu, abrindo pargrafos de provncia: regio mais
dio inexplicvel entre o plen e o gineceu de duas flores; em afastada do governo
central; interior.
apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde h reverberar: refletir
mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os (luz ou calor);
resplandecer.
crepsculos, caindo imperceptvel no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas silabada: erro de
com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tdio para o tdio, na pronncia, sobretudo
o que resulta do
barca, no trem, no nibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de deslocamento do
acento tnico de uma
sala e quarto conjugados o amor se eria e acaba; no inferno o amor no palavra (lbido em
comea; na usura o amor se dissolve; em Braslia o amor pode virar p; vez de libido, por
exemplo).
no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em So Paulo, tentculo: cada um
dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que dos apndices
delgados e flexveis
chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; s encontrados em
vezes acaba na mesma msica que comeou, com o mesmo drinque, diversos invertebrados
aquticos.
diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, usura: juro excessivo;
dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova avareza, mesquinharia.

A CRNICA 183

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Focus Features/Cortesia de Everett Collection/Keystone

Iorque; no corao que se dilata e quebra, e o


mdico sentencia imprestvel para o amor; e acaba
no longo priplo, tocando em todos os portos, at
se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se
viu a bruma que veste o mundo; na janela que
se abre, na janela que se fecha; s vezes no acaba e
simplesmente esquecido como um espelho de
bolsa, que continua reverberando sem razo at
que algum, humilde, o carregue consigo; s vezes
o amor acaba como se fora melhor nunca ter
existido; mas pode acabar com doura e esperana;
uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor;
na verdade; o lcool; de manh, de tarde, de noite;
Cena do filme Brilho na florao excessiva da primavera; no abuso do vero; na dissonncia do
eterno de uma mente
sem lembranas, dirigido outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a
por Michael Gondry, em
2004. Nessa histria, h
qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para
uma luta por manter ao recomear em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
menos as lembranas de CAmpos, paulo mendes. In: WERNECK, Humberto (org.). Boa companhia:
um amor que, de alguma crnicas. so paulo: Companhia das Letras, 2005.
forma, terminou.

INTERpRETAO DO TEXTO
1. Paulo Mendes Campos parte de um evento pelo qual muitos j passaram o
fim de um amor para escrever uma crnica com diversos elementos poticos:
seu texto est repleto de termos empregados em linguagem figurada. Para
compreender as circunstncias em que, segundo o autor, o amor acaba, ne-
cessrio que o leitor:
tenha certo conhecimento de mundo, ou seja, tenha passado por alguma
Iugo Koyama/Arquivo da editora

experincia amorosa, tenha lido sobre o assunto ou ouvido relatos de sepa-


rao de algum casal;
associe esse conhecimento s imagens poticas criadas pelo cronista;
relacione as diversas circunstncias comentadas umas com as outras.
Releia estes trechos:

Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro
e silncio [...]
[...] e acaba o amor no desenlace das mos no cinema, como tentculos
Paulo Mendes Campos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solido [...]
(1922-1991), cronista e
poeta mineiro, faz parte [...] em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas,
da gerao de Fernando onde h mais encanto que desejo [...]
Sabino (1923-2004),
outro importante [...] nos roteiros do tdio para o tdio, na barca, no trem, no nibus, ida
cronista brasileiro, de
quem foi muito amigo.
e volta de nada para nada [...]

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a) Que sensaes ou sentimentos podem ser comuns s quatro situaes desta-
cadas?
b) Escolha uma dessas circunstncias em que o amor pode acabar e imagine uma
situao que a exemplifique, procurando explicar as imagens metafricas
criadas pelo cronista.

2. A crnica O amor acaba formada por um s pargrafo com dois perodos


(considere perodo uma frase que se inicia com letra maiscula e termina no
ponto-final): O amor acaba (primeiro perodo) e todo o restante do texto
(segundo perodo). No segundo perodo, as pausas mais fortes so marcadas
apenas por ponto e vrgula. Reflita sobre essas informaes, sobre o tema e
sobre o desfecho da crnica e levante uma hiptese de por que o autor optou
por organizar o texto dessa maneira.

3. No segundo perodo, entre um ponto e vrgula e outro, existe sempre uma his-
tria que se diferencia das demais. como se o cronista quisesse mostrar todas
as situaes em que o amor pode acabar. Sobre qual das circunstncias apre-
sentadas pelo cronista voc escreveria um texto? Por qu?

4. Compare as crnicas Sobre o amor, desamor e O amor acaba.


a) Cada autor inicia sua crnica de uma forma. O que serve de ponto de partida
para as reflexes desenvolvidas em cada texto?
b) Qual a viso do amor de cada um dos cronistas?

CONHECImENTOs lINgUsTICOs
pargrafo
pontuao: travesso, ponto e vrgula,
parnteses e reticncias

Durante alguns segundos, apenas observe a aparncia do trecho 1 e do trecho 2,


sem l-los.

Trecho 1
do rapto de noivas ao casamento por amor homens e mulheres juntam os trapos
pelos mais diferentes motivos casamentos por sequestro eram comuns na Pr-
-Histria e vigoraram at o incio da era crist em locais como a Grcia Roma e
norte da Europa quando um homem via uma mulher que desejava geralmente
de uma tribo vizinha ele a tomava fora para raptar a noiva ele requisitava aju-
da de um amigo guerreiro afirma Diane Ackerman no livro Uma histria natural
do amor o mito de fundao de Roma fala sobre um dos mais famosos episdios
do gnero o rapto das sabinas segundo a lenda aps a fundao de Roma em 753
a C Rmulo decidiu povoar a cidade e para isso mandou raptar as jovens do povo
vizinho os sabinos revoltados eles resolveram revidar mas era tarde demais as

A CRNICA 185

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moas j haviam se enamorado dos romanos e graas interveno delas assina-
ram um tratado de paz na Roma antiga o casamento foi institudo como forma
de garantir uma linhagem legtima havia dois tipos de casamento o com manus
e o sem manus no primeiro o matrimnio supunha a transmisso da autoridade
paternal ao marido que se tornava o tutor da mulher no segundo no havia trans-
misso da autoridade paternal e a mulher assim como o homem podia pedir o
divrcio em ambos os casos o casamento no envolvia o Estado tratava-se de uma
cerimnia privada sem juiz de paz ou papis a serem assinados o noivo oferecia
um anel noiva que o usava no mesmo dedo dos dias de hoje os convidados
jogavam sementes no casal smbolo da fertilidade rituais bastante familiares para
ns j que muitos desses costumes pagos foram incorporados pelo casamento
cristo e se mantm at hoje [...]
Adaptado de: HAmA, Lia. Aventuras na Histria. so paulo: Abril, maio 2006.

Trecho 2

Beijos, beliscos e pisadelas


As incrveis histrias dos gestos de amor

limo de cheiro: bola Algumas prticas amorosas do passado continuam fazendo sucesso at hoje.
de cera fina, cheia de o caso do French kiss, o beijo de lngua, que ganhou esse nome dos ingleses no
gua aromatizada, que
sculo 17. Na poca, os puritanos da Inglaterra ficaram impressionados com o
se usava no Carnaval
de antigamente. grau de libertinagem que caracterizava o beijo em terras gaulesas e batizaram o
voluptuoso gesto de beijo francs. O curioso que, na Frana, ele ficou conheci-
do como English kiss os franceses associavam a palavra importncia que os
ingleses davam quela carcia labial, que para eles, franceses, era to comum. No
Japo o beijo chamado de kissu (importado do ingls kiss) e s comeou a ser
feito em pblico pelos casais nas ltimas dcadas, com a influncia da cultura
norte-americana no pas. Outros gestos no fariam sucesso hoje. o caso das
pisadelas e dos belisces, prticas trazidas de Portugal que se tornaram populares
no Brasil no sculo 19. Tratava-se de pisadelas no p e belisces que deixavam
uma marca roxa no brao da amada, diz a historiadora Mary Del Priore.
Outra prtica comum era esmigalhar limes de cheiro no corpo da dama.
No faltaram pedidos de casamento que tiveram como motivo um limo de
cheiro comprimido contra um brao benfeito, afirma Mary Del Priore.
[...]
HAmA, Lia. Aventuras na Histria. so paulo: Abril, maio 2006.

Responda oralmente aos itens abaixo.

1. Com base apenas em uma observao visual, voc percebe alguma diferena
entre os trechos 1 e 2? Justifique sua resposta.

2. Agora leia os textos, marcando o tempo que voc leva para fazer a leitura de
cada um deles. Depois, responda aos itens a e b.
a) Voc precisou de mais tempo para ler e compreender o trecho 1 ou o trecho 2?
Na sua opinio, por que isso aconteceu?
b) Voc julga que um texto organizado, com ttulos destacados, pontuao
adequada e distribuio das ideias em pargrafos, facilita sua leitura e
compreenso?

186 UNIDADE 4 DO COTIDIANO AO EXTRAORDINRIO

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Heritage Images/Other Images/Biblioteca Britnica, Londres, Inglaterra
Voc sabia...
que os sinais de pontuao so relativamente novos?
que eles se desenvolveram com o advento da imprensa,
no sculo XV?
que, de 320 a.C. a 240 a.C., a escrita era contnua?
que, na Idade Mdia, os escribas ou escravos copiavam o
que os autores ditavam sem marcar pausa alguma?
que, ainda na Idade Mdia, o jogral (ou trovador), ao
preparar os textos que declamaria, era quem fazia as di-
vises consideradas importantes leitura em voz alta?
que o pargrafo foi o primeiro sinal de pontuao que existiu?
Na Idade Mdia, os monges copistas dedicavam-se a copiar
os livros mo. Na imagem, escriba do sculo XIV, em sua
mesa de trabalho, faz o cotejo entre dois livros.

3. Os pargrafos marcados na primeira linha por um pequeno afastamento da


margem esquerda da pgina so compostos de frases verbais (que apresentam Tpico frasal
verbo) e/ou nominais (que no apresentam verbo). a frase
Responda no caderno: quantos pargrafos compem a crnica O amor acaba? que traz a
ideia mais
4. A crnica O amor acaba apresenta a mesma dificuldade de leitura que o trecho 1 importante de
(do rapto de noivas ao casamento por amor)? um pargrafo.
Em geral
5. Leia: apresentado
na introduo,
Em geral, o pargrafo formado por trs partes: mas pode
introduo normalmente apresenta o tpico frasal, isto , a ideia aparecer em
central do pargrafo; qualquer parte
do pargrafo.
desenvolvimento explora o tpico frasal (nessa parte esto os perodos
que confirmam, especificam, fundamentam ou exemplificam o tpico frasal);
c oncluso retoma a ideia central, condensando os pontos principais da
discusso e resumindo o posicionamento do autor. Nem sempre ela aparece.

6. O tpico frasal orienta os perodos que vm na sequncia, garantindo a objeti-


vidade e a coerncia do pargrafo. Identifique o tpico frasal do nico pargra-
fo da crnica O amor acaba.

7. No tpico frasal de O amor acaba, o autor faz uma declarao que, no de-
senvolvimento do pargrafo, ser modificada/aperfeioada e levar o leitor a
uma concluso. Escreva no caderno a alternativa que indica essa concluso.
a) O amor sempre se modifica, mas no chega a acabar.
b) O amor acaba no silncio.
c) O amor acaba por causa do cotidiano.
d) O amor acaba de certa forma, mas renasce de outra.

8. Por meio da pontuao, organizamos melhor o texto e, consequentemente, ele se


torna mais claro; portanto, ela tambm ajuda o leitor, durante o processo de leitura,
a compreender com mais facilidade o que l. Observe o pargrafo e a pontuao
do texto O amor acaba. Que sinal de pontuao ocorre com mais frequncia?

A CRNICA 187

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A pontuao contribui para tornar coesas ou seja, ligadas harmonicamen-
te, com lgica as ideias expostas em um texto, garantindo que ele seja fiel
inteno do autor e orientando a leitura.
A frequncia maior ou menor de alguns sinais de pontuao pode contribuir
para tornar mais expressiva uma ideia. Volte segunda questo de interpretao
do texto O amor acaba (na pgina 185) e verifique que o emprego repetitivo
do ponto e vrgula confirma a ideia de que o amor, na realidade, no tem um
fim: acaba apenas para recomear de outra forma.

9. Ao omitirmos algum termo de uma orao, podemos indicar a elipse (supresso)


desse termo por meio da vrgula. Por exemplo:
O amor saiu h pouco: eu sa antes dele.
O amor saiu h pouco: eu, antes dele.
Na crnica O amor acaba, possvel notar que o ponto e vrgula foi empre-
gado para marcar, ao mesmo tempo, uma pausa e a omisso de um termo.
a) Reescreva no caderno o trecho a seguir, acrescentando o termo que foi omi-
tido e usando ponto no lugar do ponto e vrgula.
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num do-
O ponto e vrgula um sinal mingo de lua nova, depois de teatro e silncio; acaba em
intermedirio entre o ponto e a vrgula, cafs engordurados, diferentes dos parques de ouro onde
que indica que a frase no est finalizada. comeou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele
Usa-se, entre outras situaes, em frases atira de raiva contra um automvel ou que ela esmaga no
formadas por vrias oraes, dentro das cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;
quais j existe uma ou mais vrgulas. na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada
alegria pstuma, que no veio [...].
b) Ao utilizar o ponto em lugar do ponto e vrgula, que efeito de sentido voc
conseguiu? Ainda se tem a impresso de continuidade, de que o amor acaba
para recomear de outro modo?

10.Volte crnica Sobre o amor, desamor e faa, no caderno, o que se pede.


a) Emprega-se um s travesso para acrescentar uma ideia no final de um
perodo. Identifique exemplos desse uso na crnica.
b) Os parnteses so excelente recurso em um texto para acrescentar explica-
es, comentrios, informaes complementares, etc. Identifique pelo menos
um exemplo nessa crnica e copie-o.
c) Rubem Braga empregou reticncias em sua crnica. Identifique a frase que
tem esse sinal de pontuao e diga que efeito de sentido ele causa.
d) Na frase Como eram plcidos e sbios e felizes e serenos..., houve repetio
da conjuno e. O que lhe sugere essa repetio?
e) Imagine que voc tenha de reescrever a frase Como eram plcidos e sbios
e felizes e serenos... tornando-a mais neutra, de tal modo que um leitor no
tivesse muitos indcios para subentender algo alm do que est escrito. Que
sinais de pontuao voc empregaria para substituir tanto a conjuno e
quanto as reticncias finais? Reescreva a frase no caderno com esses sinais de
pontuao e confirme se conseguiu o efeito desejado.

188 UNIDADE 4 DO COTIDIANO AO EXTRAORDINRIO

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Concluso

Tanto a pontuao como a organizao das frases em pargrafos so recursos de que dispomos
para tornar um texto escrito claro e expressivo.
O pargrafo composto de uma ou mais frases verbais ou nominais e, em geral, tem a se-
guinte estrutura: introduo (a frase que contm a ideia principal do pargrafo: o tpico frasal),
desenvolvimento (frase ou frases em que o tpico frasal desenvolvido) e concluso (a frase que
amarra as principais ideias do texto).
Frase um conjunto organizado de palavras. Na escrita, marcada por ponto, ponto de in-
terrogao ou de exclamao; na fala, pela entonao. Por exemplo:

Mas do lado legal est a pior palavra: cnjuge.

Tambm as reticncias podem encerrar uma frase. Nesse caso, com frequncia a ideia expos-
ta na frase no tem sentido completo. Por exemplo:

Ela no viu que Bem, no importa.

O travesso usado para indicar mudana de interlocutor em um dilogo ou para indicar o


comeo e o m de uma informao intercalada na frase. Se a informao estiver no m da frase,
utiliza-se apenas um travesso. Por exemplo:

Mas o que fica, no fim, um ressaibo amargo a ideia das aflies e melancolias desses casos.

O ponto e vrgula sempre empregado no interior das frases e indica uma pausa maior que
a apontada pela vrgula, porm menor que a representada pelo ponto. Entre outros empregos,
ele pode marcar uma enumerao de ideias, como em O amor acaba.
Os parnteses podem ser usados para intercalar na frase uma explicao, um comentrio, ou
mesmo para marcar o incio e o m de todo um trecho que componha um aparte no texto.
Por exemplo:

Apenas no entendo bem por que sempre falamos de um caso assim com uma ponta de pena.
( Eles so to unidos, coitados.)

Atividades de fixao
1. O texto a seguir um trecho da crnica Aconteceu na ilha de Cat, de
Rubem Braga. O assunto da crnica o seguinte: uma leitora pergunta ao
autor se fazer palavras cruzadas bom para enriquecer o vocabulrio. A
partir da, ele realiza um levantamento de perguntas e respostas tpicas des-
se passatempo.
a) Leia a seguir um fragmento dessa crnica. Depois, reescreva-o no caderno
acrescentando os onze pontos e vrgulas que o digitador no colocou. Lembre-
-se de que o ponto e vrgula pode servir para acrescentar novas informaes
a uma informao principal (reiterao de ideias).

A CRNICA 189

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Aconteceu na ilha de Cat
Rubem Braga

[...] as pessoas que fazem palavras cruzadas tm um vocabulrio especial, e


no apenas um vocabulrio como uma Histria, uma Geografia e todo um tipo
de cultura. Para elas as palavras no tm o sentido comum que ns, os leigos,
entendemos, mas um sentido especial, cavado no dicionrio, de preferncia em
um dicionrio especializado em palavras cruzadas. A princpio a gente acha dif-
cil antigo navio de combate ram arrieira m filho de Jac Gad rio da
Sibria Om da Polnia Ros da Holanda Aa afluente do Reno Aar 10a letra
do alfabeto rabe ra medida de Amsterd para lquidos aam medida sueca
s am e coisa espantosa! luz que emana da ponta dos dedos od dificuldade
como se v. [...]
BRAGA, Rubem. Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.

b) possvel deduzir a opinio do autor sobre palavras cruzadas por esse frag-
mento da crnica. Na opinio de Rubem Braga, fazer palavras cruzadas enri-
quece o vocabulrio?
c) Que efeito o cronista provoca ao separar os itens da enumerao com ponto
e vrgula em vez de vrgula?

2. A seguir, voc ler uma crnica curta de Paulo Mendes Campos. Todos os sinais de
pontuao foram colocados, mas ela no foi separada em cinco pargrafos, como
o texto original. Reescreva a crnica no caderno, organizando-a em pargrafos.

Continho
Paulo Mendes Campos

Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do serto de Per-


Amaro Borges/Coleo

nambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do


Giuseppe Baccaro

caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigrio a cavalo:


Voc a, menino, para onde vai essa estrada? Ela no vai no: ns que vamos
nela. Engraadinho duma figa! Como voc se chama? Eu no me chamo
no, os outros que me chamam de Z.
Detalhe de O plantio da
CAmpos, paulo mendes. Crnicas I. so paulo: tica, 1991. (para Gostar de Ler).
cana, de Amaro Borges,
dcada de 1970.
Xilogravura, 3. O travesso pode ser usado para isolar uma palavra, uma expresso ou uma
50 cm 61 cm.
Pinacoteca do Estado
orao no interior de um texto. Utilize travesses e introduza adequadamente
de So Paulo, So Paulo. no trecho a seguir as frases uma tradio seguida tanto no casamento catlico
Buccina Studios/Getty Images quanto no judeu e tradio catlica que no faz parte dos ritos judaicos.

Tradies unidas
Depois de um ano morando juntos, Tatiana Ammar, 27 anos, e Urubatan
Salles Palhares Jnior, 24, decidiram se casar. Alm de unir seus coraes, queriam
uma festa que combinasse as tradies de suas famlias: judia e catlica. [...]
Para celebrar o casamento, eles chamaram um juiz de paz e rechearam a festa
com os rituais de cada religio. Tatiana entrou de branco, de braos dados com o
pai. A msica, cantada em hebraico, uniu os noivos em um altar feito no jardim do
espao alugado para a festa, em So Paulo. Perto deles, alm da famlia, os padrinhos.
Revista Bons Fluidos. so paulo: Abril, ago. 2004.
Casamento judaico.

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Atividades de aplicao
Leia a crnica a seguir com ateno e responda s questes no caderno.

Amor e outros males


Rubem Braga

Uma delicada leitora me escreve: no gostou de uma crnica minha de outro


dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ningum gostou dessa
crnica; pacincia. Mas o que a leitora estranha que o cronista qualifique o amor,
o principal sentimento da humanidade, de coisa to incmoda. E diz mais: No
possvel que o senhor no ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal gran-
deza incmodo.
No, minha senhora, no amo ningum; o corao est velho e cansado. Mas a
lembrana que tenho de meu ltimo amor, anos atrs, foi exatamente isso que me
inspirou esse vulgar adjetivo incmodo. Na poca eu usaria talvez adjetivo mais
bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas uma das tristes coisas desta
vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrana mesquinha;
daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu.
No sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; no, no a des-
creverei, porque s de rev-la em pensamento alguma coisa di dentro de mim. Era
linda, inteligente, pura e sensvel e no me tinha, nem de longe, amor algum;
apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a vrias.
A histria acaba aqui; , como v, uma histria terrivelmente sem graa, e que eu
poderia ter contado em uma s frase. Mas o pior que no foi curta. Durou, doeu e
perdoe, minha delicada leitora incomodou. Eu andava pela rua e sua lembran-
a era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro
brao que me faltava, e doa um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar,
suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele
amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e qual eu dormia pregado; ento
serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoo
que de vez em quando doa como bursite. Eu j tive um ms de bursite, minha se-
nhora; di de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha
outra bursite, mas no volte nunca um amor como aquele. Bursite uma dor burra,
que di, di, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doura, um
instante de sonho que mesmo sabendo que no se tem esperana alguma a gente fica
sonhando, como um menino bobo que vai andando distrado e de repente d uma
topada numa pedra. E a angstia lenta de quem parece que est morrendo afogado
no ar, e o humilde sentimento de ridculo e de impotncia, e o desnimo que s vezes
invade o corpo e a alma, e a vontade de chorar e de morrer, de que fala o samba?
Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima,
por favor: me deseje uma boa bursite.
BRAGA, Rubem. Disponvel em: <www.uepg.br/cps/provas/1_2005/Lingua_portuguesa.pdf>. Acesso: 19 dez. 2012.

1. (UEPG) Quanto significao textual, esto corretas as afirmaes:


01) O cronista defende a ideia de que o amor um sentimento incmodo.
02) O cronista objetivou contar a histria de seu ltimo amor.
04) O autor mostra que a dor do amor e uma dor fsica ocasionam sofrimento
em igual medida.

A CRNICA 191

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08) O autor demonstra ser masoquista, pois deseja ter bursite, como deixa cla-
ro no ltimo pargrafo.
16) Na viso do cronista, a dor do amor superior dor ocasionada por bursite.

2. Ao empregar trs vezes o ponto e vrgula no segundo pargrafo, o autor enfa-


tiza seu sofrimento. Releia o pargrafo e faa o que se pede.
a) comum o emprego do ponto e vrgula para separar oraes coordenadas
adversativas quando se deseja realar a oposio. Indique em qual trecho se
aplica essa regra.
b) Explique o que o autor pretende realar ao fazer essa pausa antes da orao
adversativa.

3. No trecho a seguir, o ponto e vrgula torna a leitura mais pausada, e, por essa
razo, o leitor ter tempo para refletir sobre cada uma das informaes enume-
radas. Releia-o com ateno.
[...] Eu andava pela rua e sua lembrana era alguma coisa encostada em
minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro brao que me faltava, e doa um
pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A
senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que
eu carregava o dia inteiro e qual eu dormia pregado; ento serei mais modesto
e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoo que de vez em
quando doa como bursite. [...]

O que as pausas marcadas pelo ponto e vrgula levam o leitor a sentir?

4. (UEPG) So tambm significaes presentes no texto, relativamente leitora


citada:
01) O adjetivo constituinte do sintagma delicada leitora, vrias vezes em-
pregado pelo autor em relao leitora indignada, deixa entrever uma
ironia sutil.
02) Na forma de entender o amor, a viso da leitora se contrape do autor.
04) O adjetivo constituinte do sintagma delicada leitora revela a postura ro-
mntica da leitora pela forma como ela julga o amor.
08) Nos sintagmas minha senhora e minha delicada leitora, o pronome
minha no expressa relao de posse, mas indica afetividade.
16) O autor se desculpa com a leitora por ter qualificado o amor de incmodo.

5. Os travesses so usados quando se quer acrescentar uma explicao, um


comentrio a uma informao j apresentada. Na frase Durou, doeu e
perdoe, minha delicada leitora incomodou, o acrscimo destacado pelos
travesses refere-se:
a) leitora, que foi incapaz de perceber o sofrimento do autor.
b) ao verbo doer, que enfatiza o sofrimento do autor.
c) ao verbo incomodar, que, aplicado ao substantivo amor, pode ser um pon-
to de discordncia da leitora.

6. Utiliza-se travesso para acrescentar uma ideia no final de um perodo. Encontre


na crnica lida um exemplo e explique qual a informao importante que se
apresenta para o leitor.

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P r o d u o d e t e x t o
Crnica
A crnica um gnero hbrido, uma mistura de texto jornalstico e literrio.
Por isso, se costuma dizer que o cronista um reprter escritor ou um escri-
tor reprter. Assim, a crnica tanto pode ser produzida para publicao diria
ou semanal em jornais e revistas (e depois publicada em livro, numa coletnea
de crnicas, por exemplo) como pode ser produzida especialmente para publi-
cao em livro.
O assunto das crnicas varia muito, mas, na maior parte, o autor mostra seu
ponto de vista a respeito do cotidiano (encontros, desencontros, sentimentos,
situaes embaraosas, etc.) ou reflete sobre o que acontece na poltica, nos
esportes, nas artes, na vida em sociedade.
Textos geralmente curtos e sempre escritos em prosa, as crnicas trazem ind-
cios de informalidade na escolha das palavras e das expresses, nos comentrios
feitos diretamente ao leitor, como se se tratasse de uma conversa. Alis, o tom de
conversa uma das caractersticas que permitem classificar um texto como crnica.
Voc pode confirmar as caractersticas desse gnero relendo as crnicas es-
tudadas neste captulo.

Atividade 1 Como compor uma crnica


As crnicas apresentam um tipo caracterstico de composio. Normalmente
elas se iniciam pela narrativa de um fato ou por uma declarao que servir de
apoio para a reflexo do autor. Note que isso se confirma no incio (ou primeiro
pargrafo) das crnicas lidas neste captulo:

Sobre o amor, desamor O amor acaba


Chega a notcia de que um casal de estrangeiros, nosso O amor acaba. Numa esquina, por
amigo, est se separando. Mais um! tanta separao que um exemplo, num domingo de lua nova,
conhecido meu, que foi outro dia a um casamento gr-fino, me depois de teatro e silncio; acaba em ca-
disse que, na hora de cumprimentar a noiva, teve a vontade fs engordurados, diferentes dos parques
idiota de lhe desejar felicidades pelo seu primeiro casamento. de ouro onde comeou a pulsar [...]

Narrao de um fato: separao de um casal amigo. Declarao: o amor acaba.

Na crnica da pgina a seguir, falta o primeiro pargrafo, que cortamos propo-
sitadamente. Leia o texto e decida se seria melhor inici-lo com a narrao de
um fato ou com uma declarao. Crie no caderno um primeiro pargrafo utili-
zando a estrutura estudada: tpico frasal, desenvolvimento e concluso.
Ateno: mantenha no primeiro pargrafo as caractersticas do restante do texto,
isto , limite-se ao assunto especificado; procure usar a linguagem no mesmo
grau de formalidade/informalidade; conserve o tom bem-humorado do texto.

A CRNICA 193

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Voc um envelhescente?
Mrio Prata


.
Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infncia,
adolescncia, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que
entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65) existe a ENVELHESCNCIA.
A envelhescncia nada mais que uma preparao para entrar na velhice, assim
como a adolescncia uma preparao para a maturidade. Engana-se quem acha que
o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. No. Antes, a enve-
lhescncia. E, se voc est em plena envelhescncia, j notou como ela parecida com
a adolescncia? Coloque os culos e veja como este nosso estgio maravilhoso:
J notou que andam nascendo algumas espinhas em voc? Notadamente na
bunda?
Assim como os adolescentes, os envelhescentes tambm gostam de meninas de
vinte anos.
Os adolescentes mudam a voz. Ns, envelhescentes, tambm. Mudamos o
nosso ritmo de falar, o nosso timbre. Os adolescentes querem falar mais rpido;
os envelhescentes querem falar mais lentamente.
Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar
do passado. Bons tempos...
Os adolescentes no tm ideia do que vai acontecer com eles daqui a vinte anos.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

Os envelhescentes at evitam pensar nisso.


Ningum entende os adolescentes... Ningum entende os envelhescentes...
Ambos so irritadios, se enervam com pouco. Acham que j sabem de tudo e
no querem palpites nas suas vidas.
s vezes, um adolescente tem um filho: uma coisa precoce. s vezes, um
envelhescente tem um filho: uma coisa ps-coce.
Os adolescentes no entendem os adultos e acham que ningum os entende.
Ns, envelhescentes, tambm no entendemos eles. Ningum me entende
uma frase tpica de envelhescente.
Quase todos os adolescentes acabam sentados na poltrona do dentista e no div
do analista. Os envelhescentes, tambm a contragosto, idem.
O adolescente adora usar uns tnis e uns cabelos. O envelhescente tambm.
Sem falar nos brincos.
Ambos adoram deitar e acordar tarde.
O adolescente ama assistir a um show de um artista envelhescente (Caetano,
Chico, Mick Jagger). O envelhescente ama assistir a um show de um artista
adolescente (Rita Lee).
[...]
A adolescncia vai dos 10 aos 20 anos: a envelhescncia vai dos 45 aos 65. Depois
sim, vir a velhice, que nada mais que a maturidade do envelhescente.
Daqui a alguns anos, quando insistirmos em no sair da envelhescncia para
entrar na velhice, vo dizer:
um eterno envelhescente!
Que bom.
pRATA, mrio. 100 crnicas. so paulo: Cartaz Editorial, 1997.

194 UNIDADE 4 DO COTIDIANO AO EXTRAORDINRIO

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ATIVIDADE 2 Como produzir crnicas
a partir de notcias
As crnicas nascem da observao do dia a dia, do cotidiano, dos costumes,
da vida social e poltica. Assim, elas frequentemente tratam do que noticiado
nos jornais.
Leia a notcia a seguir.

Catadora cria biblioteca com obras encontradas no lixo


Augusto Fiorin
A catadora de reciclveis Cleuza Aparecida A biblioteca no cobra pelo emprstimo das
Branco de Oliveira, 47, sempre cultivou o sonho obras, mas quem quiser compr-las h ttulos
de ter uma biblioteca em sua casa, em Mirassol repetidos paga R$ 0,50 por livro. A renda vai para
(a 455 km de So Paulo). Apaixonada por leitura, a prpria associao. O local tambm faz trocas.
queria poder emprestar livros a pessoas sem condi- No tem burocracia e no precisa preencher
es de compr-los. nada. Alguns levam para casa e outros optam por ler
De tanto ver obras jogadas no lixo de escritores no prprio barraco, afirmou o bilogo Luiz Fer-
como Machado de Assis, Jos Saramago e rico Ve- nando Cireia, 31, incentivador e usurio do projeto.
rssimo, Cleuza, ento semianalfabeta, passou a l-las Empresas de Mirassol tambm tm feito doaes,
e pde, neste ano, realizar seu sonho. que vo possibilitar, inclusive, a ampliao da rea,
Foi guardando livros e inaugurou a biblioteca de acordo com Cleuza.
no em casa, mas na associao de catadores, da qual Com salrio de R$ 500 mensais, os catadores
participa, localizada no centro de triagem do lixo. tero um pequeno acrscimo de renda, ainda no
O acervo j conta com trezentos ttulos. Criado calculado, graas venda de alguns ttulos.
e administrado por onze catadores, o espao tem um Mas Cleuza garante que o objetivo no financei-
canto de leitura, uma brinquedoteca, uma rea para ro, dar aos colegas a oportunidade de ler esses livros.
discos, brech e, claro, os livros. FIoRIN, Augusto. Folha de S.Paulo, 6 nov. 2012. Cotidiano.

Note que a notcia lida desencadeia uma srie de reflexes, por exemplo: a su-
perao das dificuldades, a luta pela realizao de um sonho, o esforo, a criao
de possibilidades em meio s dificuldades, etc. A partir desses temas, que podem
ser suscitados na leitura e discusso com a classe, produza uma crnica tendo
como modelo o Texto 1 deste captulo.
Assim, comece com uma reflexo e, em seguida, apresente comentrios.
Sugerimos que sua crnica tenha pelo menos trs pargrafos. Como voc ter
vrios leitores, tente ser claro. Para isso, planeje bem a pontuao: travesses e
parnteses para inserir comentrios e explicaes complementares, reticncias
para deixar a reflexo a cargo do leitor (seus colegas de outras turmas), etc.
Utilize em seu texto uma linguagem mais informal, em que voc se dirija dire-
tamente ao leitor, como se estivesse conversando com ele.

pRODUO DE AUTORIA
Agora produza uma crnica, em trs ou quatro pargrafos, com o tema que
preferir. Comece pelo planejamento:
a) Organize o tempo disponvel para a produo da crnica. Verifique o prazo
dado pelo professor para a tarefa (nmero de aulas/dias). Defina um tempo
para o rascunho, um tempo para a escrita, um tempo para a reviso e para
passar o texto a limpo.

A CRNICA 195

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b) Identifique a situao comunicativa:
Seus leitores sero os colegas de outras turmas. (Para isso, defina com o
professor e com seus colegas em que local da escola as crnicas ficaro
expostas.)
Existem crnicas esportivas, da vida social, da vida poltica, artsticas, etc. E
existem aquelas que tomam por base o cotidiano. Sua crnica vai fazer par-
te desse segundo grupo. Note, entretanto, que o cotidiano comporta uma
infinidade de assuntos que podem ser tratados em uma crnica: o dia a dia
da escola, do bairro, da rua, da casa, a vivncia das pessoas em relao aos
sentimentos mais diversos, o comportamento delas em relao ao outro, etc.
Sua inteno ser levar o leitor a pensar sobre o tema escolhido. Deixe-o,
portanto, bem claro.
No se esquea das caractersticas da estrutura do gnero. Inicie por uma
declarao ou pela narrao de um fato. Em seguida, reflita sobre o assun-
to, apresentando seu ponto de vista, sua vivncia e comentrios.
c) Conhea os critrios que o professor usar para corrigir seu texto.
d) D um ttulo crnica. Releia o texto pronto, levando em conta os critrios
de avaliao apresentados pelo professor como referncia e fazendo as alte-
raes necessrias.
Por fim, passe seu texto a limpo.

preparando >
Troque de texto com os colegas e, no texto que voc ler, observe:
a segunda

a pontuao;
verso do

a adequao da linguagem ao estilo do gnero produzido;
texto

o desenvolvimento do tema de acordo com o gnero produzido.
Guarde sua crnica para o projeto do fim do ano.

NO mUNDO DA ORAlIDADE
seminrio
O seminrio um gnero oral que tem por objetivo compartilhar conheci-
mentos sobre algum assunto pesquisado. Para tanto, necessria a presena de
um apresentador o especialista no assunto e um pblico que queira conhe-
cer o que foi pesquisado.

A organizao do texto do seminrio


Sugerimos a vocs que preparem um seminrio sobre cronistas contemporne-
os de lngua portuguesa. Para isso, dividam-se em grupos e escolham um (uma)
cronista para pesquisar sua vida e obra a fim de apresent-lo(a) aos demais
colegas. Para garantir que esse objetivo seja atingido, o grupo dever pensar em
uma organizao textual que ajude a plateia a compreender o que ser exposto:

196 UNIDADE 4 DO COTIDIANO AO EXTRAORDINRIO

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Em primeiro lugar, o apresentador deve situar os ouvintes, logo na abertura
do seminrio: Hoje falaremos/estamos aqui para falar sobre. Essa apre-
sentao deve ser seguida de uma problemtica, ou seja, importante partir
do que j sabem para identificar as expectativas quanto ao novo assunto (o
apresentador l uma crnica e faz uma pergunta, como: Vocs diriam que
um texto como este considerado literatura?).
Em segundo lugar, ele apresenta o plano de exposio: em que partes o se-
minrio est dividido, que alunos apresentaro cada parte e qual o objetivo
dessa exposio. Para desenvolver o tema, cada aluno do grupo poder apre-
sentar uma parte: a vida, a obra, falar das caractersticas do cronista que foram
pesquisadas, mostrar exemplos dessas caractersticas, ler crnicas, etc.
importante que entre a exposio de um aluno e a de outro haja coeso, ou
seja, no paream falas independentes, mas que acrescentem, ampliem, reto-
mem o que j foi dito pelo colega. Para isso, podem ser usados elementos
lingusticos de coeso, como: Alm das caractersticas que o colega comen-
tou, vejamos agora nesta crnica; Vocs ouviram a leitura da crnica que
evidencia essas caractersticas. Ouam, agora este texto
Para que a apresentao do grupo no perca o foco, preciso que, enquanto
um dos apresentadores expe sua parte, os demais se mantenham em silncio,
sem conversas paralelas (com um colega do grupo ou mesmo da plateia), e
procurem contribuir auxiliando o apresentador com algum comentrio perti-
nente, fazendo uma anotao importante na lousa, ajudando com cartazes
ou, simplesmente, acompanhando a apresentao com ateno.
Os apresentadores do grupo que estiver expondo devem prestar ateno aos
sinais dos ouvintes: se esto atentos, se parecem interessados, se tm dvidas,
etc. Caso tenham, verifiquem a necessidade de retomar algum trecho da expo-
sio que possa no ter ficado claro, de apresentar a informao de outra ma-
neira, de paralelamente formular perguntas que os ajudem a compreender o
que foi dito, entre outras medidas que acharem eficazes. claro que, para isso,
importante que todos tenham se preparado para expor o assunto, que conhe-
am bem o contedo e que no estejam apenas lendo o texto da apresentao.

A linguagem oral
Na apresentao do seminrio, dever ser utilizada a variedade-padro da lngua.
Para organizar o texto oral de forma que a plateia possa entend-lo e acompa-
nh-lo, o apresentador precisa:
evitar certas expresses comuns da linguagem oral, como tipo, t?, n?
e ahn, para no prejudicar a fluncia da exposio;
empregar palavras, expresses, ideias especficas do tema tratado e explicar
plateia, sempre que necessrio, seu significado;
usar alguns conectivos temticos, como as expresses: falemos agora,
preciso, neste momento, chegamos ao artista tal, etc.;
sinalizar o texto para a plateia, isto , explicar o que mais importante e o que
secundrio utilizando expresses, como: relevante ressaltar, esses auto-
res tm como caractersticas, importante conhecer, etc.

A CRNICA 197

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A p R O V E I T E p A R A...

... ler
Pequena antologia do Braga, organizao de Domcio Proena, editora Record.
O livro rene 28 crnicas do escritor Rubem Braga.

Crnicas, coleo Para gostar de ler, editora tica.


Em seis volumes, a coleo rene textos de grandes cronistas, como Carlos Drummond de
Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Luis Fernando Verissimo.

De notcias e no notcias faz-se a crnica, de Carlos Drummond de Andrade, editora


Record.
Reunio de crnicas de Drummond, organizadas conforme as sees de um jornal. Drum-
mond fala de poltica, cidade, cultura e at de classificados amorosos.

Crnicas, organizao de Humberto Werneck, coleo Boa Companhia, editora Com-


panhia das Letras.
A reunio de 42 cronistas forma um painel da crnica no Brasil, desde suas origens at o fim
do sculo XIX.

Comdias para se ler na escola, organizao de Ana Maria Machado, editora Objetiva.
Uma seleo de crnicas de Luis Fernando Verissimo.

A crnica, de Jorge de S, coleo Princpios, editora tica.


Define a crnica, inserindo-a no plano geral dos gneros literrios, e analisa textos dos prin-
cipais cronistas brasileiros.

Histrias que os jornais no contam, de Moacyr Scliar, editora Agir.


O livro rene 54 crnicas em que o autor mostra o lado fantstico da vida real, criando his-
trias ficcionais inspiradas em notcias de jornal.

... assistir a
O homem nu, de Hugo Carvana (Brasil, 1997).
Baseado em crnica homnima de Fernando Sabino, o filme
retrata a situao constrangedora de um homem (interpretado por
Cludio Marzo, foto) que fica totalmente nu do lado de fora do
apartamento.

... ver na internet


www.releituras.com/releituras.asp
O site rene os melhores textos de grandes escritores, como Fer-
nando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Acesso em:
Divulgao/Riofilme
31 jan. 2013.

www.almacarioca.com.br/cronicas.htm
Textos de grandes cronistas disponveis para leitura. Acesso em: 31 jan. 2013.

www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/index.htm
Saiba um pouco mais sobre a origem e as caractersticas do gnero crnica. Conhea modelos
de anlise e dicas para o desenvolvimento de uma crnica. Acesso em: 31 jan. 2013.

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LItErAtUrA

Gerao de 1945 > Interdisciplinaridade com:


Arte, Informtica, Histria.

poesia e prosa

p A r A c o M E A r
Leia os fragmentos de textos crticos a seguir.

Sobre o poeta Joo Cabral de Melo Neto

[] uma atitude de vigilncia e lucidez no que fazer, contrria ao deixar-se


fazer do espontneo e ao saber fazer do acadmico.
CAMPOS, Haroldo de. In: MELO NETO, Joo Cabral de. Melhores poemas de Joo Cabral de Melo Neto.
8. ed. So Paulo: Global, 2001.

Joo Cabral de Melo Neto d categoria esttica a muito daquilo que, no cha-
mado romance nordestino, tinha apenas categoria documentria.
NUNES, Benedito. In: MELO NETO, Joo Cabral de, op. cit.

Sobre Joo Guimares Rosa

Para contar o serto, Guimares Rosa utiliza-se do idioma do prprio serto,


falado por Riobaldo em sua extensa narrativa. Mas, como acontece com toda lite-
ratura regional que ultrapassa a simples descrio para situar-se no plano da arte,
ela adquire dimenses universais pelo vigor e beleza do texto.
In: ROSA, Joo Guimares. Grande serto: veredas. 36. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. Texto da quarta capa.

Sobre Clarice Lispector

Seus textos podem ser desmontados, desfeitos em pedaos at mesmo dife-


rentes dos fragmentos originais sem que se perca sua intensidade. Cada palavra
ou frase dessa escritora sem igual origina-se em camadas to fundas do ser, que traz
consigo mais que um testemunho, a prpria voltagem da vida.
COLASANTI, Marina. In: LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Texto da orelha.

Esses fragmentos fazem referncia a trs importantes autores da literatura bra- ATENO: NO ESCREVA
NO LIVRO. FAA AS
sileira, cujos textos sero lidos a seguir. Os comentrios sobre os autores apre- ATIVIDADES NO CADERNO.
sentam um ponto em comum. Escreva no caderno a alternativa que indica a que
ponto em comum eles se referem.
a) Ao contedo desenvolvido nas obras.
b) ousadia no modo de apresentar as informaes.
c) Ao descuido com a linguagem.
d) Ao cuidado artstico na composio do texto.

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 199

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Joo Cabral de Melo Neto escreveu Morte e vida severina entre 1954
e 1955 por encomenda da diretora de teatro Maria Clara Machado, que
tExto 1 lhe pedira um auto de Natal pernambucano. um dos poemas mais po-
pulares e acessveis de Joo Cabral de Melo Neto, cuja obra se caracteriza
pela quase ausncia de subjetividade e lirismo.
Em Morte e vida severina, a personagem Severino abandona o ser-
to e segue em direo ao litoral, buscando uma forma de sobreviver,
fugindo da seca nordestina. No caminho procura trabalho, mas no en-
Eduardo Albarello/Arquivo da editora
contra nada que possa fazer;
todas as vezes que tenta ali-
mentar esperanas, a morte
que ele v pela frente. Ao che-
gar ao cais do rio Capibaribe,
Severino, certo de que deve se
suicidar, encontra um dos mo-
radores da regio: seu Jos. A
seguir, leia o dilogo entre os
dois homens e o desfecho sur-
preendente dessa conversa.
Cena da montagem da pea Morte e vida severina, dirigida por Gabriel Villela, no Rio
de Janeiro, em 1997. A montagem contou com o trabalho de atores do Teatro Glria.

Morte e vida severina


Joo Cabral de Melo Neto
[...]
APROXIMA-SE DO RETIRANTE
O MORADOR DE UM DOS
MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE
O CAIS E A GUA DO RIO
1 Seu Jos, mestre carpina, 3 Seu Jos, mestre carpina,
que habita este lamaal, para cobrir corpo de homem
sabe me dizer se o rio no preciso muita gua:
a esta altura d vau? basta que chegue ao abdome,
sabe me dizer se funda basta que tenha fundura
esta gua grossa e carnal? igual de sua fome.

2 Severino, retirante, 4 Severino, retirante,


jamais o cruzei a nado; pois no sei o que lhe conte;
quando a mar est cheia sempre que cruzo este rio
vejo passar muitos barcos, costumo tomar a ponte;
barcaas, alvarengas, quanto ao vazio do estmago,
muitas de grande calado. se cruza quando se come.

200 UNIDADE 4 Do cotIDIANo Ao ExtrAorDINrIo

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UMA MULHER, DA PORTA alvarenga:
5 Seu Jos, mestre carpina, embarcao de forte
e quando ponte no h? DE ONDE SAIU O HOMEM, construo.
ANUNCIA-LHE O QUE calado: distncia
quando os vazios da fome vertical entre a
no se tem com que cruzar? SE VER superfcie da gua em
que a embarcao
quando esses rios sem gua 10 Compadre, Jos, compadre,
flutua e a face inferior
so grandes braos de mar? que na relva estais deitado: da sua quilha.
carpina: carpinteiro.
conversais e no sabeis dar vau: dar
6 Severino, retirante, que vosso filho chegado? passagem;
escoamento.
o meu amigo bem moo; Estais a conversando mocambo: refgio,
sei que a misria mar largo, em vossa prosa entretida: em geral em mata, de
escravos foragidos.
no como qualquer poo: no sabeis que vosso filho perau: lugar ngreme;
mas sei que para cruz-la saltou para dentro da vida? precipcio.
severino: adjetivo
vale bem qualquer esforo. Saltou para dentro da vida formado a partir do
ao dar seu primeiro grito; substantivo prprio
Severino, personagem
7 Seu Jos, mestre carpina, e estais a conversando; principal deste texto.
e quando fundo o perau? pois sabeis que ele nascido.
quando a fora que morreu
nem tem onde se enterrar, []
por que ao puxo das guas COMEAM A CHEGAR
no melhor se entregar? PESSOAS TRAZENDO
[] PRESENTES PARA O
RECM-NASCIDO
8 Severino, retirante, 11 Minha pobreza tal

sou de Nazar da Mata, que no trago presente grande:


mas tanto l como aqui trago para me caranguejos

Daniel Araujo/Arquivo da editora


jamais me fiaram nada: pescados por esses mangues;
a vida de cada dia mamando leite de lama
cada dia hei de compr-la. conservar nosso sangue.
[]
12 Minha pobreza tal
9 Seu Jos, mestre carpina, que coisa no posso ofertar:
que diferena faria somente o leite que tenho
se em vez de continuar para meu filho amamentar;
tomasse a melhor sada: aqui so todos irmos,
a de saltar numa noite, de leite, de lama, de ar.
fora da ponte e da vida?

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 201

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13 Minha pobreza tal ainda mais quando ela
que no tenho presente melhor: esta que v, severina;
trago papel de jornal mas se responder no pude
para lhe servir de cobertor; pergunta que fazia,
cobrindo-se assim de letras ela, a vida, a respondeu
vai um dia ser doutor. com sua presena viva.
[]
15 E no h melhor resposta
O CARPINA FALA COM O RETIRANTE que o espetculo da vida:
QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR v-la desfiar seu fio,
PARTE EM NADA que tambm se chama vida,
14 Severino, retirante, ver a fbrica que ela mesma,
deixe agora que lhe diga: teimosamente, se fabrica,
eu no sei bem a resposta v-la brotar como h pouco
da pergunta que fazia, em nova vida explodida;
se no vale mais saltar mesmo quando assim pequena
fora da ponte e da vida; a exploso, como a ocorrida;
nem conheo essa resposta, mesmo quando uma exploso
se quer mesmo que lhe diga; como a de h pouco, franzina;
difcil defender, mesmo quando a exploso
s com palavras, a vida, de uma vida severina.
MELO NETO, Joo Cabral de, op. cit.
by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.

INtErprEtAo Do tExto
1. Releia as quatro primeiras falas do fragmento e responda no caderno.
a) Por que Severino quer saber se o rio fundo?
b) Seu Jos, mestre carpina, compreende imediatamente a inteno de Severi-
no? Justifique sua resposta.

2. Ao longo do dilogo entre Severino e mestre Jos, observa-se o emprego de um


recurso de linguagem importante para a construo do trecho: compara-se
atravessar o rio com atravessar a fome. Identifique, ao longo do dilogo, esses
pontos de comparao.

3. Uma mulher interrompe a conversa entre mestre Jos e Severino, e todo o de-
senvolvimento da prosa muda de direo. Em que consiste essa mudana? O
que ela pode significar para Severino?

4. A confiana na vida representada pela criana recm-nascida motiva todas as


pessoas que participam do momento. De que modo isso apresentado no poe-
ma? Escreva a(s) alternativa(s) correta(s) no caderno.

202 UNIDADE 4 Do cotIDIANo Ao ExtrAorDINrIo

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a) Pela ateno de Severino s cenas que se desenrolam.
b) Pela empolgao com que a mulher anuncia a chegada da criana.
c) Pela maneira como os presentes so ofertados pelas pessoas da comunidade.
d) Pela transformao que esse nascimento provoca imediatamente na vida de
Severino.

5. Na introduo ao texto, voc leu que o poema Morte e vida severina foi es-
crito por encomenda de uma diretora de teatro que queria montar um auto de
Natal. Que elementos do texto aproximam esse poema de um auto natalino?

Grande serto: veredas considerado um dos mais importantes ro-


mances brasileiros. Essa afirmao apoia-se sobretudo na inventividade
com que Guimares Rosa tratou a linguagem do texto, ao destacar o tExto 2
vocabulrio e o ritmo do falar sertanejo, construindo por meio desse
falar uma obra inovadora, de grande valor esttico.
Faa uma leitura silenciosa de um tre-

Marcelo Prates/Agncia O Globo


cho do romance, um momento em que
Riobaldo, a personagem principal, fala de
sua concepo de religiosidade. Procure
imaginar que o texto est sendo contado
mentalmente por uma pessoa, numa situa-
o de conversa informal. Identifique o
sentido das palavras desconhecidas e cer-
tifique-se de que compreendeu o contedo
de cada frase.
Cena de Grande serto:
veredas, adaptao da

Grande serto: veredas Rede Globo do romance


de mesmo nome escrito
Joo Guimares Rosa por Guimares Rosa.
Minissrie dirigida
por Walter Avancini,
Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-o-mundo louco. em 1985.

O senhor, eu, ns, as pessoas todas. Por isso que se carece principalmente
de religio: para se desendoidecer, desdoidar. Reza que sara loucura. No
geral. Isso que a salvao-da-alma Muita religio, seu moo! Eu c,
no perco ocasio de religio. Aproveito de todas. Bebo gua de todo rio
Uma s, para mim, pouca, talvez no me chegue. Rezo cristo, catlico,
embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemm,
doutrina dele, de Cardque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde
um Matias crente, metodista: a gente se acusa de pecador, l alto a Bblia,
e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer
sombrinha me refresca. Mas s muito provisrio. Eu queria rezar o
tempo todo. Muita gente no me aprova, acham que lei de Deus
privilgios, invarivel. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? o que fao, que
quero, muito curial. E em cara de todos fao, executado. Eu no tresmalho!

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 203

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Cardque: forma Olhe: tem uma preta, Maria Lencia, longe daqui no mora, as rezas
abrasileirada do nome
Kardec (de Allan Kardec,
dela afamam muita virtude de poder. Pois a ela pago, todo ms
nome com que ficou encomenda de rezar por mim um tero, todo santo dia, e, nos domingos,
conhecido o professor
francs responsvel pela um rosrio. Vale, se vale. Minha mulher no v mal nisso. E estou, j
divulgao da doutrina mandei recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina Calanga, para vir
esprita).
curial: relativo cria aqui, ouvi de que reza tambm grandes meremerncias, vou efetuar com
(local em que se fazem ela trato igual. Quero punhado dessas, me defendendo em Deus,
os servios religiosos).
embrenhar: internar- reunidas de mim em volta Chagas de Cristo!
-se, esconder-se.
meremerncia: palavra
Viver muito perigoso Querer o bem com demais fora, de incerto
formada provavelmente jeito, pode j estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses
a partir de mrito.
tresmalhar: sair do
homens! Todos puxavam o mundo para si, para consertar o consertado.
caminho desejado; Mas cada um s v e entende as coisas dum seu modo.
perder-se, extraviar-se.
ROSA, Joo Guimares. Grande serto: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

INtErprEtAo Do tExto
1. Por que, segundo o narrador, todo o mundo carece de religio? Nesse contexto,
qual o papel da religio na vida das pessoas?

2. A forma como o texto foi escrito revolucionria. Note que o autor se vale de uma
linguagem muito prxima da fala. Com uma sintaxe diferente da que encontramos
nos manuais de gramtica e um vocabulrio cheio de neologismos isto , de
palavras e expresses criadas pelo autor , sua linguagem d um ritmo completa-
mente diferente narrativa, sem, evidentemente, subverter a lgica do texto.
Releia os trechos a seguir, volte ao texto para identificar o contexto do qual fazem
parte e proponha uma interpretao para eles.
a) Bebo gua de todo rio Uma s, para mim, pouca, talvez no me chegue.
b) Qualquer sombrinha me refresca. Mas s muito provisrio.

3. Releia:

Muita gente no me aprova, acham que lei de Deus privilgios, invarivel.


E eu! Bofe! Detesto! O que sou? o que fao, que quero, muito curial. E em
cara de todos fao, executado. Eu no tresmalho!

a) O que as pessoas no aprovam?


b) Como ele se comporta diante do que as pessoas pensam sobre seu modo de
se envolver com a religio?

4. No ltimo pargrafo do fragmento, fica clara a viso que o narrador tem da vida, o
que justifica, de certa forma, sua grande necessidade de religio, de rezas, de oraes.
a) Que viso essa?
b) Segundo o narrador, por que a religio, nesse contexto, tem papel fundamental?

204 UNIDADE 4 Do cotIDIANo Ao ExtrAorDINrIo

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Clarice Lispector publicou o conto a seguir no livro Felicidade clandestina,
de 1971, fase j bastante madura da escritora ento com 57 anos , que
teve seus trs primeiros livros (todos romances) publicados entre 1944 e 1949 tExto 3
(Perto do corao selvagem, O lustre e A cidade sitiada), o que a inscreve na
gerao de 1945 da literatura brasileira. Sua obra se destaca por uma narra-
tiva voltada aos eventos interiores das personagens; trata-se de uma litera-
tura de carter introspectivo.
O conto que voc vai ler, de grande simplicidade narrativa e vocabular,
contm uma bonita metfora do modo de alguns seres humanos amarem.

Uma histria de tanto amor


Clarice Lispector

Era uma vez uma menina que observava tanto as galinhas que lhes
conhecia a alma e os anseios ntimos. A galinha ansiosa, enquanto o
galo tem angstia quase humana: falta-lhe um amor verdadeiro naquele
seu harm, e ainda mais tem que vigiar a noite toda para no perder a
primeira das mais longquas claridades e cantar o mais sonoro possvel.
o seu dever e a sua arte. Voltando s galinhas, a menina possua duas s
dela. Uma se chamava Pedrina e a outra Petronilha.
Quando a menina achava que uma delas estava doente do fgado, ela
cheirava embaixo das asas delas, com uma simplicidade de enfermeira, o
que considerava ser o sintoma mximo de doenas, pois o cheiro de
galinha viva no de se brincar. Ento pedia um remdio a uma tia. E a
tia: Voc no tem coisa nenhuma no fgado. Ento, com a intimidade
que tinha com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remdio. A
menina achou de bom alvitre d-lo tanto a Pedrina quanto a Petronilha
para evitar contgios misteriosos. Era quase intil dar o remdio porque
Pedrina e Petronilha continuavam a passar o
dia ciscando o cho e comendo porcarias que
faziam mal ao fgado. E o cheiro debaixo das
asas era aquela morrinha mesmo. No lhe
Daniel Araujo/Arquivo da editora

ocorreu dar um desodorante porque nas


Minas Gerais onde o grupo vivia no eram
usados assim como no se usavam roupas
ntimas de nylon e sim de cambraia. A tia
continuava a lhe dar o remdio, um lquido
escuro que a menina desconfiava ser gua
com uns pingos de caf e vinha o inferno
de tentar abrir o bico das galinhas para
administrar-lhes o que as curaria de serem
galinhas. A menina ainda no tinha

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 205

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entendido que os homens no podem ser curados de serem homens e as
galinhas de serem galinhas: tanto o homem como a galinha tm misrias
e grandeza (a da galinha a de pr um ovo branco de forma perfeita)
inerentes prpria espcie. A menina morava no campo e no havia
farmcia perto para ela consultar.
Outro inferno de dificuldade era quando a menina achava Pedrina e
Petronilha magras debaixo das penas arrepiadas, apesar de comerem o dia
inteiro. A menina no entendera que engord-las seria apressar-lhes um
destino na mesa. E recomeava o trabalho mais difcil: o de abrir-lhes o
bico. A menina tornou-se grande conhecedora intuitiva de galinhas
naquele imenso quintal das Minas Gerais. E quando cresceu ficou
surpresa ao saber que na gria o termo galinha tinha outra acepo. Sem
notar a seriedade cmica que a coisa toda tomava:
Mas o galo, que um nervoso, quem quer! Elas no fazem nada
demais! e to rpido que mal se v! O galo quem fica procurando amar
uma e no consegue!
Um dia a famlia resolveu levar a menina para passar o dia na casa de
um parente, bem longe de casa. E quando voltou, j no existia aquela
que em vida fora Petronilha. Sua tia informou:
Ns comemos Petronilha.
A menina era uma criatura de grande capacidade de amar: uma galinha
no corresponde ao amor que se lhe d e no entanto a menina continuava a
am-la sem esperar reciprocidade. Quando soube o que acontecera com
Petronilha passou a odiar todo o mundo da casa, menos sua me que no
gostava de comer galinha e os empregados que comeram carne de vaca ou
de boi. O seu pai, ento, ela mal conseguiu olhar: era ele quem mais gostava
de comer galinha. Sua me percebeu tudo e explicou-lhe:
Quando a gente come bichos, os bichos ficam mais parecidos com
a gente, estando assim dentro de ns. Daqui de casa s ns duas que
no temos Petronilha dentro de ns. uma pena.
Pedrina, secretamente a preferida da menina, morreu de morte morrida
mesmo, pois sempre fora um ente frgil. A menina, ao ver Pedrina tremendo
num quintal ardente de sol, embrulhou-a num pano escuro e depois de bem
embrulhadinha botou-a em cima daqueles grandes foges de tijolos das
fazendas das minas-gerais. Todos lhe avisaram que estava apressando a morte
de Pedrina, mas a menina era obstinada e ps mesmo Pedrina toda enrolada
em cima dos tijolos quentes. Quando na manh do dia seguinte Pedrina
amanheceu dura de to morta, a menina s ento, entre lgrimas
interminveis, se convenceu de que apressara a morte do ser querido.
Um pouco maiorzinha, a menina teve uma galinha chamada Eponina.
O amor por Eponina: dessa vez era um amor mais realista e no
romntico; era o amor de quem j sofreu por amor. E quando chegou a

206 UNIDADE 4 Do cotIDIANo Ao ExtrAorDINrIo

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vez de Eponina ser comida, a menina no apenas soube como achou que alvitre: proposta,
sugesto, conselho.
era o destino fatal de quem nascia galinha. As galinhas pareciam ter uma morrinha: odor
pr-cincia do prprio destino e no aprendiam a amar os donos nem o desagradvel.

galo. Uma galinha sozinha no mundo.


Mas a menina no esquecera o que sua me dissera a respeito de
comer bichos amados: comeu Eponina mais do que todo o resto da
famlia, comeu sem fome, mas com um prazer quase fsico porque
sabia agora que assim Eponina se incorporaria nela e se tornaria mais
sua do que em vida. Tinham feito Eponina ao molho pardo. De
modo que a menina, num ritual pago que lhe foi transmitido de
corpo a corpo atravs dos sculos, comeu-lhe a carne e bebeu-lhe
o sangue. Nessa refeio tinha cimes de quem tambm comia
Eponina. A menina era um ser feito para amar at que se tornou
moa e havia os homens.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

INtErprEtAo Do tExto
1. Destaque do conto os elementos principais de uma narrativa: tipo de narrador
(narrador-personagem, narrador-observador ou narrador onisciente); persona-
gens; tempo de durao da histria; espao onde se desenrola a ao; conflito/
principal problema; clmax e desfecho.

2. Destaque do texto formas encontradas pela menina para expressar seu amor.

3. Isso se modifica com o tempo. Como a narradora justifica a mudana?

4. Releia:
Nessa refeio tinha cimes de quem tambm comia Eponina. A menina era
um ser feito para amar at que se tornou moa e havia os homens.

O enredo do conto , na realidade, um pretexto para tratar de certa forma


de amar. Que forma de amar essa?

< Habilidades
Para interpretar esses trs textos, voc precisou: leitoras

identificar informaes importantes do contedo de cada um deles;

dedicar-se interpretao de certas frases dos excertos, considerando
o contexto em que esto inseridos;

observar o valor esttico dos textos;

reconhecer os elementos da narrativa em um conto;

interpretar uma narrativa como metfora de certo sentimento.

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 207

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Para entender
A G E r A o D E 1 9 4 5
A produo literria de 1945 inicia-se com a publicao de Rosa extinta, de
Domingos Carvalho da Silva, O engenheiro, de Joo Cabral de Melo Neto, Pre-
destinao, de Geraldo Vidigal, e Ode e elegia, de Ledo Ivo. Trata-se de um pe-
rodo marcado pelo fim de uma guerra mundial e pela renovao do movimen-
to modernista.
Os textos lidos neste captulo do uma ideia de renovao, de esprito inte-
ligente, mas, sobretudo, de preocupao com os problemas humanos. Esses
textos nos ajudam a perceber tambm que os autores da poca estavam com-
prometidos com a pesquisa e a experimentao esttica, ainda que no propu-
sessem outro movimento literrio.
A gerao de 1945 ficou marcada pelo desejo de conciliar modernidade e tradi-
o. Proclamava a arte livre, o amor pelos ideais e a necessidade de sentir e criar.
Ao lermos, neste captulo, alguns trechos da obra de Guimares Rosa,
Joo Cabral e Clarice Lispector, autores que se debruaram sobre as tradies
locais e/ou questes do cotidiano e sobre os problemas da existncia huma-
na, temos uma ideia do que essa produo queria alcanar.
Terminada a Segunda Guerra e instaurada certa tranquilidade no cenrio mun-
dial, os artistas voltam-se para a pesquisa esttica, para o trabalho com a linguagem.
Nas artes plsticas, ganha espao a composio abstrata, que no se preocu-
pa em retratar fielmente a realidade. Na literatura, a pesquisa da linguagem li-
terria torna-se o foco do trabalho dos escritores. E isso ao lado das produes
da dcada de 1930, voltadas para a denncia dos problemas sociais e para ques-
tes regionais. Assim, a preocupao com o aspecto formal do texto (prosa ou
poesia) o tom da gerao de 1945.
Alguns poetas cultuam a esttica textual, enveredando por um caminho se-
melhante ao dos parnasianos; outros se concen-
Reproduo/Coleo particular, So Paulo, SP.

tram em buscar uma linguagem mais racional,


essencial, sinttica. Destacam-se, no perodo, a
obra potica de Joo Cabral de Melo Neto, Geir
Campos e Ledo Ivo.
Alguns contistas e romancistas buscam apro-
fundar a sondagem psicolgica, enquanto outros
procuram uma via diferenciada para retratar
questes regionais. Sobressaem, na primeira cor-
rente, o trabalho de Clarice Lispector e o de Ly-
gia Fagundes Telles. Na outra, evidente o mar-
co representado pelos textos de Joo Guimares
Rosa e Mrio Palmrio.

Tringulos com movimento diagonal, de Hermelindo


Fiaminghi, 1956. Nas artes plsticas, a tendncia do perodo
o abstracionismo, a pesquisa esttica, como nessa obra
do pintor, artista grfico, litgrafo e publicitrio.

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contexto

Agncia France-Presse/Arquivo da editora


histrico
Com o fim da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, instaura-se a
nova ordem mundial determinada
pelo perodo denominado Guerra
Fria. O mundo vive entre os ideais do
comunismo (representado pelo so-
cialismo da ento Unio Sovitica,
em expanso) e os do capitalismo
(liderado pelos Estados Unidos, que
colaboram para a reconstruo de
naes europeias e do Japo, destro-
ados pela guerra). Os demais pases
se veem constrangidos a assumir um
dos lados dessa disputa, marcada por
fortes antagonismos.
A Amrica Latina conhece o po-
pulismo; ou seja, em diversos pases
do continente, instala-se uma prtica
poltica cuja figura central, aparente-
mente acima dos partidos polticos, Em julho de 1973, perto do porto de Brandemburgo, trabalhadores terminam
um lder carismtico e autoritrio, parte da construo do Muro de Berlim, que por muito tempo separou as duas
Alemanhas, sendo considerado um smbolo da Guerra Fria.
que promete benefcios e mesmo leis
favorveis aos trabalhadores, alm
de agradar a classe mdia urbana. Em Cuba conquistou sua independncia poltica em 1898. En-
geral, as medidas adotadas so assis- tretanto, como economicamente dependia dos Estados Unidos,
tenciais, sem preocupao de formar que compravam a maior parte do acar produzido pela ilha, os
criticamente o povo. norte-americanos aproveitavam essa situao para impor seu
Assim, no sculo XX, populismo domnio. Em 1901, firmaram o direito de instalar bases militares
na ilha e intervir militarmente sempre que considerassem seus
e ditaduras sucedem-se no continente,
interesses ameaados.
no qual impera o capitalismo norte-
Em um cenrio de desigualdade social praticamente toda
-americano. Entretanto, numa ilha,
a riqueza de Cuba estava nas mos de algumas famlias da ilha
tem lugar um sopro socialista: a Revo- e de empresas norte-americanas a instaladas , um grupo de
luo Cubana. revolucionrios, liderado pelo jovem Fidel Castro, iniciou uma
No Brasil, Getlio Vargas de- luta contra o ditador Fulgncio Batista, no poder desde 1934. Em
posto, e, nas eleies presidenciais janeiro de 1959, quase dois anos depois de iniciada a guerrilha,
de 1946, vence Eurico Gaspar Dutra. Fidel e seus companheiros, entre eles o argentino Ernesto Che
No ano seguinte, Dutra apoia os Es- Guevara, levaram Batista a fugir do pas e se prepararam para
tados Unidos e rompe relaes com iniciar outro governo.
a ento Unio Sovitica. Assistimos, As principais medidas desse novo governo a reforma agr-
ria e a nacionalizao de indstrias e refinarias abalaram a
assim, a um perodo em que se valo-
relao entre a ilha e os Estados Unidos, que, em represlia, dei-
riza a cultura norte-americana e o
xaram de comprar o acar cubano. O governo de Fidel firmou,
estilo de vida capitalista. Como prio-
ento, acordos comerciais com os pases socialistas, desenca-
ridade, o governo procura desenvol- deando diversas reaes norte-americanas para repreender o
ver a indstria e o uso de energia governante cubano e seu povo.
eltrica no pas.

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 209

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Todavia, apesar dos incentivos, Dutra no agrada a populao e, em 1950,
Getlio Vargas volta ao poder, com o apoio dos trabalhadores, prometendo-lhes
benefcios. Mas as promessas no so realizadas, e o povo se revolta.
Pressionado, Getlio Vargas, em agosto de 1954, se suicida e provoca imensas
manifestaes populares que obrigam o governo a convocar imediatamente
eleies diretas para presidente. Juscelino Kubitschek, eleito ento pelo povo,
marcaria seu governo com intenso desenvolvimento urbano.
Reproduo/Arquivo da editora

Peter Scheier/Arquivo da editora


Em 1950, com a colaborao de Assis Chateaubriand, dono da cadeia
de jornais Dirios Associados, a TV chegou ao Brasil, e inaugurou-se o
primeiro programa brasileiro para televiso, com a TV Tupi. Esse
aparelho, que invadiu a sala de estar e captou a ateno das famlias
de classe mdia, tornou-se o marco inicial de uma era voltada para a
informao e o consumo.

Na dcada de 1940, a empresa Lever lana uma campanha para vender seus produtos, com a imagem
de grandes estrelas do cinema, como vemos neste anncio, com a atriz Elizabeth Taylor, um mito na
poca. Veja o slogan da campanha: Usado por 9 entre 10 estrelas do cinema.

Agncia Jornal do Brasil/Arquivo da editora


Marcel Gautherod/Instituto Moreira Salles

Nas ruas do Rio de Janeiro, o povo manifesta sua tristeza


diante da morte de Getlio Vargas, em 24 de agosto de 1954.
Congresso Nacional, Braslia, c. 1959. A foto focaliza a construo dos blocos em forma de H, que
abrigam atividades administrativas. Projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1960, o Congresso
Nacional tornou-se a sede do poder Legislativo na esfera federal.

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caractersticas da literatura
da gerao de 1945
Exatido na forma e na palavra sugestiva
cerne: parte central ou
A linguagem dessa gerao de escritores indica maior disciplina formal, o
essencial de algo.
cultivo das formas tradicionais e maior cuidado com a escolha da palavra que debrum: ornamento
daria ritmo frase ou ao verso. em forma de filete,
usado para margear
Os escritores mostravam uma tendncia ao Simbolismo. As emoes origina-
uma figura.
das em um mundo ps-guerra e dividido pela Guerra Fria eram expressas por truncar: retirar uma
meio de sugestes, de elementos que representariam os sentimentos. parte de; mutilar.
verruma: instrumento
Utilizando metrificao exata e imagens sugestivas, os poetas desse perodo de ao que tem sua
apresentavam seus sentimentos em relao sociedade. extremidade inferior
Veja os versos decasslabos cuidadosamente construdos por Geir Campos: aberta em espiral e
terminada em ponta.

Urubu
Geir Campos
Daniel Araujo/Arquivo da editora

Sobreviventes da pureza antiga,


As penas brancas, no debrum das asas,
Pesam como remorsos a encurv-las;
Vrgulas negras de uma negra histria.

Como que o sentimento do pecado


Neutraliza a ateno e trunca os gestos,
E o voo lento cair espiralado,
Misto de hesitao e de abandono
Penetra fundo o cerne azul da tarde:
longa verruma de carvo e sono.
CAMPOS, Geir. In: BOSI, Alfredo. Histria concisa da
literatura brasileira. So Paulo: Cultrix, 1997.

participao social
Os poetas incursionaram principalmente pela temtica social. Poemas com a
mesma preocupao formal e esttica que caracterizam o movimento tratam de
temas ligados poltica, s lutas do povo, opresso. So poemas que denunciam
o perodo histrico injusto e contraditrio que vivenciavam.
Ao tratar desses temas, percebe-se uma preocupao com a sociedade que
sofre com a m distribuio de renda e a concentrao de massas urbanas nos
grandes centros em razo da urbanizao acelerada que ocorria no momento.

Interesse por exploraes


O artista desse perodo um explorador. Bastante preocupado com o aspec-
to formal do texto, explora os espaos desconhecidos, as diferentes linguagens,
alguns aspectos especiais das personagens mais comuns, com a inteno de
tratar de questes existenciais mais profundas.

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principais autores
Joo cabral de Melo Neto
Joo Cabral de Melo Neto (1920-1999) nasceu no Recife e faleceu no Rio
de Janeiro. Autodidata, no fez nenhum curso superior; tudo o que sabia apren-
deu sozinho.
Morou algum tempo na Espanha e em outros pases por causa das funes con-
sulares que exerceu. Podem-se encontrar diversos indcios desse fato em sua obra.
A caracterstica fundamental de sua poesia a tentativa de eliminar do poema
os resduos sentimentais. Seus textos marcam o espao do homem moderno e
expressam as sensaes despertadas por ele. Com forte rigor mtrico e semntico,
o trabalho de Joo Cabral apurado, e seus poemas trazem um vocabulrio dife-
rente e menos pomposo, em comparao aos demais poetas da poca.
Para ele, a riqueza do poeta est na realidade. por isso que, em seus textos,
ele mistura o fazer potico (o poema visto como um artesanato) e a instigao
social. Na realizao desse trabalho, o autor retoma a tradio popular e utiliza
trovas, quadras, autos, para criar, por exemplo, Morte e vida
Chico Nelson/Arquivo da editora

severina.
H em sua poesia um primeiro momento em que se percebem
alguma ironia, um tom coloquial e at certo pessimismo. Note que,
nos versos a seguir, h elementos que se aproximam da poesia
simbolista, alm de certa ausncia de encadeamento lgico.

Poema
Joo Cabral de Melo Neto

jardins enfurecidos,
pensamentos palavras sortilgio
sob uma lua contemplada;
jardins de minha ausncia
imensa e vegetal;
jardins de um cu
viciosamente frequentado:
onde o mistrio maior
do sol da luz da sade?
Joo Cabral de Melo MELO NETO, Joo Cabral de. Poesias completas.
Neto, em 1972. Uma 3. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1979.
dor de cabea infernal by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.
o acompanhou durante
toda a vida, a ponto de
ser mencionada em
Mais tarde partiria para o seu prprio projeto literrio: elegendo a pedra
cartas aos amigos (a como o elemento que d a medida do poema, por ter, segundo ele, as caracte-
Clarice Lispector, por rsticas prprias da arte do criar (a dureza, a impessoalidade, sua resistncia fria
exemplo) e em seus
poemas (como em / ao que flui e a fluir, a ser maleada, conforme define o poeta em A educao
Num monumento pela pedra).
aspirina, publicado em
Sua composio caminha, dessa maneira, para a conteno, a sobriedade, a
A educao pela pedra).
exatido. A linguagem concisa, precisa. A arte no guiada pela intuio; ela
calculada. O poeta torna-se o engenheiro das palavras. Assim, o livro de
poemas que melhor exemplifica essa fase O engenheiro.

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O engenheiro
Joo Cabral de Melo Neto

A luz, o sol, o ar livre


envolvem o sonho do engenheiro.

Daniel Araujo/Arquivo da editora


O engenheiro sonha coisas claras:
superfcies, tnis, um copo de gua.

O lpis, o esquadro, o papel;


o desenho, o projeto, o nmero:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum vu encobre.
[].
MELO NETO, Joo Cabral de. Serial e antes.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [s.d.].
by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.

Em 1950, o poeta comea a tratar de assuntos do Nordeste. No livro O co


sem plumas, poema dividido em quatro partes, o autor volta-se para as preocu-
paes sociais. A paisagem o rio, que se assemelha a um co. Leia o incio da
quarta parte:

O co sem plumas
IV Discurso do Capibaribe
Joo Cabral de Melo Neto

Aquele rio
est na memria
como um co vivo
dentro de uma sala. Note o emprego da anfora as repeties
de certas expresses ao longo dos versos e
Como um co vivo a sua relao com o tema do poema o rio
dentro de um bolso. Capibaribe.
Como um co vivo Repare que a repetio pode ser associada ao
correr das guas do rio e sua presena na vida
debaixo dos lenis, do eu lrico.
debaixo da camisa, As comparaes como um co vivo / dentro
de uma sala. / Como um co vivo / dentro de
da pele. um bolso / Como um co vivo / debaixo dos
lenis, / debaixo da camisa, / da pele reforam
a presena do rio at naquilo que pode ser
Um co, porque vive, considerado mais abstrato, mas nem por isso
agudo. com menos influncia sobre o eu lrico, que a
O que vive sua memria do rio.
Perceba como a composio da estrofe seguinte,
no entorpece. bem como seu contedo, recuperam esses
O que vive fere. recursos e reforam o efeito do correr das guas
e da interao entre homem e rio.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
ir entre o que vive.
[]
MELO NETO, Joo Cabral de. O co sem plumas. Rio de Janeiro: Alfaguara, [s.d.].
by herdeiros de Joo Cabral de Melo Neto.

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Em 1956, Joo Cabral lanou um volume intitulado Duas
Divulgao/Arquivo da editora

guas. Nesse livro, publicou Paisagem sem figura, Uma


faca s lmina e Morte e vida severina. De enfoque social,
este ltimo coloca o homem como medida de todas as coisas,
inclusive de sua vida e de sua morte. Mais uma vez a paisagem
nordestina o palco das angstias humanas; o rio faz parte
do destino ingrato do ser humano. Com esse texto, Joo Ca-
bral conquistou reconhecimento internacional.
O autor trata da viagem do serto ao Recife feita pelo
retirante Severino. Pelo caminho, tudo o que ele encontra mor-
Abertura do te ou vida sofrida. Joo Cabral usa a redondilha para estruturar
documentrio Recife/ o lado dramtico do poema e para colaborar no ritmo da leitura do texto em voz alta.
Sevilha: Joo Cabral de
O nome da personagem principal, Severino, torna-se adjetivo no decorrer da
Melo Neto, de Bebeto
Abrantes, 2003. narrativa. Trata-se da histria de tantos outros nordestinos atingidos pela seca,
que migram e passam por privaes, enfrentam nos e a morte.

Guimares rosa
O mineiro Joo Guimares Rosa (1908-1967), ainda estu-
Acervo Iconographia/Reminiscncias

dante, produziu seus primeiros contos, premiados em um


concurso. Nascido em Cordisburgo, o mdico, escritor e di-
plomata marcou a literatura brasileira (sobretudo os contos)
com sua linguagem.
Em Sagarana, seu primeiro livro, podemos perceber a
caracterstica fundamental de seu trabalho: transpor para a
literatura a cultura de seu povo sua prosa apresenta h-
bitos, crenas, caractersticas fsicas e linguagem da regio
e ao mesmo tempo tratar de questes universais o
amor, a morte, as sutilezas das relaes humanas.
Viveu o perodo da Segunda Guerra Mundial no espao
mais tenso da poca: a Europa. Testemunhou destruies e
Joo Guimares Rosa mortes, contribuiu para fugas de judeus durante a persegui-
no serto mineiro, em o nazista. Sempre que voltava ao Brasil, incursionava pelos mais desconhecidos
foto publicada na
revista O Cruzeiro, em destinos: o serto de Mato Grosso e o de Minas Gerais, entre outros. Em todas
junho de 1952. essas viagens, o escritor anotava tudo: fauna, flora, costumes, crenas, supersti-
es, linguagens, etc.
Situadas sempre no espao do serto, suas histrias registram a fala regional,
principalmente expresses e construes lingusticas locais. Com essa linguagem
extremamente particular, ele levanta questes universais tanto do campo social
como as injustias a que se sujeitam os seres humanos quanto do campo
psicolgico e existencial como os sentimentos de vingana e de amor e as
relaes entre o bem e o mal.
Em suas narrativas observamos onomatopeias, rimas internas, construes
sintticas cortadas, vocabulrio diferenciado, figuras de linguagem (metonmias,
anforas). Leia um trecho do conto O burrinho pedrs:
Boi bem bravo bate baixo, bota baba, boi berrando Dana doido, d de duro,
d de dentro, d direito Vai, vem, volta, vem na vara, vai no volta, vai varando
ROSA, Joo Guimares. Sagarana. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1976.

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Guimares Rosa escreveu um nico romance, Grande serto: veredas. O cen-
tro dessa narrativa o amor de Riobaldo, um sertanejo, por Diadorim. Nesse ro-
mance, sertanejos representam tanto o cavaleiro quanto o bandido. No trecho
a seguir, em que se apresentam diversos sertanejos, repare como o narrador
deixa claro que, com exceo de Hermgenes, eles no nasceram bandidos:

Grande serto: veredas


Joo Guimares Rosa

[]
Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertar o consertado. Mas
cada um s v e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro, mais srio
foi Medeiro Vaz. Que um homem antigo Seu Joozinho Bem-Bem, o mais bra-
vo de todos, ningum nunca pde decifrar como ele por dentro consistia. Joca Ramiro
grande homem prncipe! era poltico. Z-Bebelo quis ser poltico, mas teve e no montante: que se
teve sorte: raposa que demorou. S Candelrio se endiabrou, por pensar que estava eleva, sobe.
supro: derivado de
com doena m. Tito Passos era o pelo preo de amigos: s por via deles, de suas
supra (acima).
mesmas amizades, foi que to alto se ajagunou. Antnio D severo bandido. Mas
por metade; grande maior metade que seja. Andalcio, no fundo um homem-de-bem,
estourado, raivoso em sua toda justia. Ricardo, mesmo, queria era ser rico em paz:
para isso guerreava. S o Hermgenes foi que nasceu formado tigre, e assassim.
[]
ROSA, Joo Guimares. Grande serto: veredas. 36. ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

Riobaldo atravessa o serto com esses jagunos. O serto mineiro o espao


escolhido pelo escritor para as transformaes, as aprendizagens das personagens.
Trata-se, portanto, de um espao simblico: pode ser qualquer espao em que o
ser humano se debata com suas dvidas.
Note como os recursos de linguagem aproximao de um modo de falar
sertanejo traduzem com preciso as caractersticas dos jagunos, companhei-
ros de Riobaldo, a personagem principal do romance. Veja como se alternam os
adjetivos e as expresses que tm, sem serem adjetivas, o objetivo de revelar
cada personagem: Seu Joozinho Bem-Bem, o mais bravo de todos, ningum
nunca pde decifrar como ele por dentro consistia; Tito Passos era o pelo
preo de amigos...; Antnio D severo bandido. Mas por metade.... Veri-
fica-se, nesse caso, que as expresses utilizadas na caracterizao de cada jagun-
o aproximam, em um primeiro momento, o leitor daquela aparente falta de
vocabulrio do falante sem escolaridade. Mas, aps uma leitura mais atenta,
compreende-se nessa forma de apresentar os companheiros uma viso analtica
e profunda do narrador sobre o carter e o comportamento de cada um deles.

Clarice Lispector
Clarice Lispector (1920-1977) nasceu na Ucrnia e faleceu no Rio de Janeiro.
Sua famlia veio da Europa para o Recife quando ela ainda era beb. Mais tarde,
mudou-se para o Rio de Janeiro e l entrou para a faculdade de Direito, onde
conheceu diversos escritores da poca. Ainda estudante, produziu seu primeiro
romance, Perto do corao selvagem.

Gerao de 1945 poesia e prosa 215

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Arquivo do Jornal O Estado de S.Paulo/Agncia Estado

Reconhecida pela preocupao em capturar e at


definir o instante sobre o qual escreve, a prosa de
Clarice muitas vezes explora a revelao proporcio-
nada por um instante que a princpio parece igual
aos outros, parece fazer parte do cotidiano mais ba-
nal. O tempo tem importncia fundamental em sua
obra escoa, esvai-se e acaba. Essa ideia de finitude
a assusta, e a escrita resulta desse medo. O tempo
no existe. O que chamamos de tempo o movimen-
to de evoluo das coisas, mas o tempo em si no
existe, afirma Clarice em seu livro Um sopro de vida.
Algumas caractersticas de sua obra encaminham
o leitor para um questionamento de carter existen-
cial. Podemos perceber, em seus textos, o destaque
dado ao fluxo de conscincia (a narrativa tomada
pelos pensamentos da personagem). Assim, d-se me-
nos importncia sequncia cronolgica dos fatos,
valendo mais as reflexes, os questionamentos. A nar-
rativa depende do universo ntimo das personagens.
A escritora Clarice
Outra caracterstica fundamental de sua obra a epifania, ou seja, a desco-
Lispector em sua
residncia. berta, a surpresa que nasce da situao mais banal. Em seus contos, as aes
simples do cotidiano tm forte carter revelador h a esposa que percebe a
fragilidade de sua vida ao deparar com um cego (em Amor), h a senhora que
percebe a finitude da vida durante sua festa de aniversrio (em Feliz anivers-
rio), enfim, cenas do dia a dia que desencadeiam reflexes e revelaes.
Clarice Lispector apresenta personagens que parecem adaptadas sociedade,
mas que, na verdade, no escapam de viver momentos de angstia e questiona-
mento. Leia um trecho de Amor.

Amor
Clarice Lispector

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tric, Ana subiu
no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde comeou a andar. Recostou-se
ento no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfao.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, toma-
vam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha
era enfim espaosa, o fogo enguiado dava estouros. O calor era forte no apartamen-
to que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mes-
ma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o
calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mo, no
outras, mas essas apenas. E cresciam rvores. Crescia sua rpida conversa com o co-
brador de luz, crescia a gua enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa
com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto impor-
tuno das empregadas do edifcio. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mo peque-
na e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as rvores que planta-
ra riam dela. Quando nada mais precisava de sua fora, inquietava-se. No entanto
sentia-se mais slida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o

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modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na
fazenda. Todo o seu desejo vagamente artstico encaminhara-se h muito no sentido
de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desen-
volvera e suplantara a ntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passvel
de aperfeioamento, a cada coisa se emprestaria uma aparncia harmoniosa; a vida
podia ser feita pela mo do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme

Daniel Araujo/Arquivo da editora


das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tor-
tos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber
como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um
homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros.
Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doena
de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que tambm
sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legio de pes-
soas, antes invisveis, que viviam como quem trabalha com per-
sistncia, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o
lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltao perturbada
que tantas vezes se confundira com felicidade insuportvel. Criara em troca algo
enfim compreensvel, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.
Sua precauo reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa
estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da famlia distribudo nas
suas funes. Olhando os mveis limpos, seu corao se apertava um pouco em espan-
to. Mas na sua vida no havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto ela
o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saa
ento para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da famlia
revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianas vindas do colgio exigiam-
-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibrao. De manh acordaria aureola-
da pelos calmos deveres. Encontrava os mveis de novo empoeirados e sujos, como se
voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das razes negras
e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela
o quisera e escolhera.
[]
LISPECTOR, Clarice. Laos de famlia. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

sintetizando a gerao de 1945 poesia e prosa


Copie o esquema a seguir no caderno e complete-o com base no que foi estudado neste captulo.

a) Os textos produzidos pela gerao de 1945 trazem uma ideia de renovao, .

b) Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, instaura-se a nova ordem mundial denominada .
O mundo vive entre os ideais do , representado , e os do , liderado .

c) No Brasil, assistimos a um perodo em que se valoriza .

d) So caractersticas da produo de 45: .

e) Os escritores mais importantes do perodo so: .

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t E x t o E c o N t E x t o
Responda s questes de vestibular no caderno.

1. (PUC-SP)
E o tucano, o voo, reto, lento como se voou embora, x, x! mirvel, cores
pairantes, no garridir; fez sonho. Mas a gente nem podendo esfriar de ver. J para
o outro imenso lado apontavam. De l, o sol queria sair, na regio da estrela-dalva.
A beira do campo, escura, como um muro baixo, quebrava-se, num ponto, doura-
do rombo, de bordas estilhaadas. Por ali, se balanou para cima, suave, aos ligeiros
vagarinhos, o meio-sol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora, era a bola de
ouro a se equilibrar no azul de um fio. O Tio olhava no relgio. Tanto tempo que
isso, o Menino nem exclamava. Apanhava com o olhar cada slaba do horizonte.
Sobre o trecho acima, do conto Os cimos, de Guimares Rosa, incorreto
afirmar que:
a) texto descritivo caracterizador da natureza, representada pela presena da
ave e do amanhecer.
b) utiliza recursos de linguagem potica como a onomatopeia, a metfora e a
enumerao.
c) descreve o tucano, utilizando frase nominal e de encadeamento de palavras
com fora adjetiva.
d) apresenta um estilo repetitivo que confunde o leitor e impede a manifestao
da fora potica do texto.
e) pinta com luz e cor a linha do horizonte, onde em dourado rombo, de
bordas estilhaadas, nasce o sol.

2. (Fuvest)
Devo registrar aqui uma alegria. que a moa num aflitivo domingo sem fa-
rofa teve uma inesperada felicidade que era inexplicvel: no cais do porto viu um
arco-ris. Experimentando o leve xtase, ambicionou logo outro: queria ver, como
uma vez em Macei, espocarem mudos fogos de artifcio. Ela quis mais porque
mesmo uma verdade que quando se d a mo, essa gentinha quer todo o resto, o
z-povinho sonha com fome de tudo. E quer mas sem direito algum, pois no ?
(Clarice Lispector, A hora da estrela)

Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, correto afirmar


que, nele, o narrador:
a) assume momentaneamente as convices elitistas que, no entanto, procura
ocultar no restante da narrativa.
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da prpria Macaba dian-
te dos fogos de artifcio.
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a reao de Macaba frente
ao espetculo.
d) adota uma atitude panfletria, criticando diretamente as injustias sociais e
cobrando sua superao.

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3. (Fuvest)
Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou,
perguntou-lhe:
E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
E, se me permite, qual mesmo a sua graa?
Macaba.
Maca o qu?
Ba, foi ela obrigada a completar.
Me desculpe mas at parece doena, doena de pele.
Eu tambm acho esquisito mas minha me botou ele por promessa a
Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, at um ano de idade eu no era
chamada porque no tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em
vez de ter um nome que ningum tem mas parece que deu certo parou um
instante retomando o flego perdido e acrescentou desanimada e com pudor
pois como o senhor v eu vinguei pois
Tambm no serto da Paraba promessa questo de grande dvida de honra.
Eles no sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam
diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrs do vidro
canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macaba, com medo de que o silncio
j significasse uma ruptura, disse ao recm-namorado:
Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
Da segunda vez em que se encontraram caa uma chuva fininha que ensopava
os ossos. Sem nem ao menos se darem as mos caminhavam na chuva que na cara
de Macaba parecia lgrimas escorrendo.
(Clarice Lispector, A hora da estrela)

Neste excerto, as falas de Olmpico e Macaba:


a) aproximam-se do cmico, mas, no mbito do livro, evidenciam a oposio
cultural entre a mulher nordestina e o homem do sul do Pas.
b) demonstram a incapacidade de expresso verbal das personagens, reflexo da
privao econmica de que so vtimas.
c) beiram s vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido
de humor e stira social.
d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que ope os princpios
antagnicos do Bem e do Mal.
e) suprimem, por seu carter ridculo, a percepo do desamparo social e exis-
tencial das personagens.

c o M p A r A N D o t E x t o s
Patativa do Assar, conhecido poeta popular, apresenta em seus poemas fi-
guras do povo, como o campons, o mendigo, o sertanejo, ou seja, pessoas
simples, muitas vezes vtimas de injustias sociais.

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O poema A triste partida, por exemplo, conta a histria de um retirante,
que, por causa da seca, abandona suas terras e segue para So Paulo, em busca
de melhor sorte. Leia com ateno algumas estrofes desse poema, musicado por
Luiz Gonzaga:

A triste partida
Patativa do Assar

Meu Deus, meu Deus []


A seca terrvi
Setembro passou Que tudo devora
Outubro e Novembro Lhe bota pra fora
J tamo em Dezembro Da terra nat
Meu Deus, que de ns, Ai, ai, ai, ai
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre []
Do seco Nordeste Seu filho choroso
Com medo da peste Exclama a dizer
Da fome feroz Ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
[] Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Agora pensando Quem d de comer?
Ele segue outra tria Meu Deus, meu Deus
Chamando a famia J outro pergunta
Comea a dizer Mezinha, e meu gato?
Meu Deus, meu Deus Com fome, sem trato
Eu vendo meu burro Mimi vai morrer
Meu jegue e o cavalo Ai, ai, ai, ai
Nis vamo a So Paulo []
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
ASSAR, Patativa. Inspirao nordestina. So Paulo: Hedra, 2003.
Daniel Araujo/Arquivo da editora

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A temtica do poema de Patativa do Assar assemelha-se do poema Mor-
te e vida severina, de Joo Cabral de Melo Neto. Releia o trecho do poema de
Joo Cabral estudado neste captulo (na pgina 200) e compare-o com o de A
triste partida.

1. O discurso potico de Joo Cabral e o de Patativa do Assar giram em torno de


um mesmo problema social. Releia a primeira estrofe de cada um desses textos
e indique os elementos que revelam a triste realidade nordestina.

2. Nas estrofes citadas desses poemas, as personagens dirigem-se a algum por


meio de um vocativo. Quem evocado em cada poema?

3. Nos dois textos os dilogos aparecem de forma clara, mas somente em Morte
e vida severina so indicados por travesses. Identifique os versos de A triste
partida em que o dilogo tambm se faz presente.

4. Escreva no caderno a(s) alternativa(s) que completa(m) a frase a seguir.


Ao deixar a personagem falar em um poema, o poeta pretende
a) representar o lamento do povo nordestino.
b) resgatar um momento diferente da vida do nordestino.
c) apontar a dura realidade do nordestino.

E por falar em geraes de novos escritores


Como vocs estudaram ao longo deste captulo, a gerao de 1945 trouxe
novos caminhos para a produo literria brasileira. Os escritores buscavam con-
ciliar modernidade e tradio.
Ao mesmo tempo que se voltam para a pesquisa e a experimentao estti-
ca da linguagem, preocupam-se com os problemas humanos, aprofundando a
sondagem psicolgica, com as questes sociais e regionais, escrevendo textos
bem-feitos, cuidados, de denncia.
A cada perodo literrio, estudamos o autor inserido em um contexto hist-
rico, que, muitas vezes, explica a opo que ele teve para escrever daquele modo.
No tempo que voc est vivendo tambm assim: acontecem fatos histricos
que levam os escritores a produzir um texto de determinado jeito.
E voc sabe que jeito esse, do seu tempo, da sua poca?

isto o que propomos agora:


Em grupos, pesquisem os poetas que formam a gerao da dcada de 2010.
Com o resultado da pesquisa, preparem um painel com uma breve biografia
desses autores e dois poemas que vocs consideram interessantes.
Montem o painel destacando as caractersticas comuns a essa produo. No dia
combinado, apresentem o resultado da pesquisa aos colegas da classe. Acertem
com o professor e com a escola um local ideal para que os painis possam ser
expostos para toda a comunidade escolar, com a finalidade de contribuir para a
divulgao dos artistas pesquisados e suas obras.
Para saber mais sobre a montagem de um painel, leia as informaes a seguir.

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 221

VivaPort_V3_PNLD2015_199a223_U4.indd 221 5/2/13 2:05 PM


O painel
O painel um gnero muito utilizado nas universidades, sobretudo nas apre-
sentaes de trabalhos acadmicos. Por isso, conhecer a organizao desse tipo
de texto fundamental.
Veja um modelo de painel sendo montado:

ZUMA Wire Service/Alamy/Other Images

Estudantes montam
painis na escola Clark
High School, na cidade de
Plano, Texas, Estados
Unidos. Foto de 2009.

Note que os painis, geralmente:

possuem textos curtos, posicionados na altura dos olhos. Esses textos no podem estar nem
muito altos nem muito baixos;
trazem o ttulo em destaque;
tm textos organizados em colunas, o que facilita a leitura.
Observe que faixas coloridas marcam os subttulos e as imagens facilitam a compreenso do
que lido.
Adaptado de: <http://sic.ufsc.br/fotos/fotos-22o-sic>. Acesso em: 20 dez. 2012.

A p r o v E I t E p A r A...

... ler
Primeiras estrias, de Guimares Rosa, editora Nova Fronteira.
Contos com a linguagem e as descries de personagens do serto de Minas Gerais.

Sagarana, de Guimares Rosa, editora Nova Fronteira.


Outro livro de contos do autor. A temtica continua sendo o serto e as pessoas que a vivem.
A linguagem inventada, a tcnica elaborada e os experimentos lingusticos que marcam a obra do
autor esto presentes em cada conto.

Morte e vida severina, de Joo Cabral de Melo Neto, editora Objetiva.


Histria de Severino e sua viagem do serto ao litoral, em busca de uma vida melhor, sem
seca e sem fome.

A hora da estrela, de Clarice Lispector, editora Rocco.


Macaba uma nordestina que no tem a menor conscincia de sua pobre existncia.
Relatando o dia a dia da garota no Rio de Janeiro, o livro traz profunda reflexo sobre a
condio humana.

222 UNIDADE 4 Do cotIDIANo Ao ExtrAorDINrIo

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Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, editora Rocco.
O livro traz 25 contos sobre infncia, adolescncia e famlia, sempre sob o olhar da
alma e suas angstias.

Folha explica: Joo Cabral de Melo Neto, de Joo Alexandre Barbosa; Clarice Lispector,
de Yudith Rosenbaum; Guimares Rosa, de Walnice Nogueira Galvo, editora Publifolha.
A srie da Publifolha traz textos de professores e especialistas comentando as obras consagradas
de escritores conhecidos e renomados.

... assistir a
A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos (Brasil, 1965).
Baseado no conto de mesmo nome escrito por Guimares Rosa, o filme conta a histria de
Matraga, fazendeiro violento trado pela mulher, que tido como morto. Ele sobrevive, torna-se
religioso e vive o drama de decidir entre se vingar e pagar pelos crimes cometidos.

A hora da estrela, de Suzana Amaral (Brasil, 1986).


Baseado no romance de mesmo nome escrito por Clarice Lispector, este filme conta a hist-
ria da nordestina Macaba, que vive numa cidade grande.
Divulgao/Embrafilme

Os atores Marclia Cartaxo e


Jos Dumont, que
interpretam os protagonistas
do filme A hora da estrela,
dirigido por Suzana Amaral.

A terceira margem do rio, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil, 1994).


Filme baseado em conto de mesmo nome escrito por Guimares Rosa, conta a histria de
um homem que abandona sua famlia e os amigos para morar numa canoa, no meio do rio.

Outras estrias, de Pedro Bial (Brasil, 1999).


Trata-se da filmagem de diversos contos do livro Primeiras estrias, de Guimares Rosa.

Recife/Sevilha: Joo Cabral de Melo Neto, de Bebeto Abrantes (Brasil, 2003).


Documentrio sobre o poeta e as cidades mais presentes em sua obra: Recife e Sevilha.

ver na internet
www.uol.com.br/augustodecampos/home.htm
Site com obras e biografia de um dos maiores autores concretistas do pas. Acesso em:
31 jan. 2013.

www.poiesis.org.br/mlp
Site do Museu da Lngua Portuguesa, localizado em So Paulo, que se dedica preservao
da nossa lngua e a obras que so escritas nela. No site, h biografia, curiosidades e listas dos livros
dos maiores autores do pas. Acesso em: 31 jan. 2013.

GErAo DE 1945 poEsIA E prosA 223

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UNIDADE

5 Pontos de vista

Nesta unidade, voc vai estudar o gnero artigo de opinio,


texto argumentativo que apresenta e defende um ponto de vista
com o objetivo de convencer, e a primeira parte das produes lite-
rrias brasileiras depois da gerao de 1945 poca conturbada
pelo final da Segunda Guerra Mundial, pela publicao da Decla-
rao dos Direitos Humanos, pela insatisfao trabalhista no Brasil,
enfim, poca de mudanas e de se externarem opinies.
Paulo Salomo/Arquivo da editora

III Festival da Msica Popular Brasileira,


So Paulo, 1967. O pas vive um perodo
de grande agitao poltica, e os
protestos comeam a surgir nas reas da
cultura. Na msica, aparecem os festivais
e, com eles, novos artistas, que compem
letras de carter social. Na foto, a torcida
pelas canes Roda-viva, de Chico
Buarque, e Domingo no parque, de
Gilberto Gil, interpretada por ele e pela
banda de rock Os Mutantes. Com o
aparecimento da Tropiclia no fim dos
anos 1960, o som das guitarras eltricas
incorporou-se msica popular.

224

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Rogrio Soud/Arquivo da editora

Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em


< Quadro de
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Interpretar textos do gnero artigo de opinio e observar a
posio do articulista e os argumentos utilizados por ele.
Conhecer e aplicar algumas regras de concordncia verbal e
nominal.
Refletir sobre variedades lingusticas relativas concor-
dncia.
Entender a estrutura de um artigo de opinio por meio de
atividades de produo.
Produzir um artigo de opinio a respeito de um assun-
to polmico da atualidade.
Ler e interpretar textos de poetas brasileiros representan-
tes da literatura contempornea.
Tomar conhecimento do contexto histrico e social em
que se desenvolveu a literatura brasileira contempornea
e as manifestaes artsticas desse perodo.

225

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> Interdisciplinaridade com:
Histria, Geografia,
LNGUA E PRODUO DE TEXTO

O artigo de
Sociologia, Filosofia, Arte,
Biologia, Fsica, Qumica.

opinio

P A R A C O M E A R
Observe a seguir um modelo de currculo.

(NOME COMPLETO)
(idade), (nacionalidade), (estado civil)
(endereo)
(telefone), (e-mail)
REA DE ATUAO
(rea em que deseja trabalhar)
FORMAO ACADMICA
(nome da instituio de ensino superior)
Graduao em (rea profissional) (ano de formao)
ESTGIO
Jo s L
(perodo em que fez estgio) (nome da empresa) u is
Pe l
ae
z,
In
c ./
Co
rb
IDIOMA is
/
La
tin
st

(idioma) (nvel de fluncia)


oc
k

EXPERINCIA PROFISSIONAL
(perodo em que trabalhou) (nome da
empresa)
Cargo:
Principais realizaes: (trabalhos
importantes feitos na empresa)
PRINCIPAIS CURSOS

Elaborar um currculo

nem sempre tarefa fcil.

226 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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Com base no modelo de currculo apresentado, elabore, em uma folha avulsa, Ateno: No escreva
No livro. Faa as
o currculo que voc gostaria de ter daqui a dez anos. Indique uma profisso que atividades No caderNo.
gostaria de seguir ou que chame sua ateno, as experincias profissionais pelas
quais espera passar, as lnguas estrangeiras que j conhece ou que pretenda
aprender nos prximos anos, os cursos tcnicos ou acadmicos que queira fazer.
Em outra folha, copie o modelo apresentado no livro e complete-o com dados do
seu currculo atual. Compare os dois e aventure-se a fazer um pequeno plane-
jamento das etapas necessrias ao alcance do currculo ideal, partindo, eviden-
temente, do ponto em que voc se encontra. Troque o resultado com alguns
colegas e discutam os caminhos possveis atualmente para se alcanar a situao
profissional sonhada.

O artigo de opinio a seguir, do educador e escritor Tom Coelho, des-


taca alguns dos processos implicados na escolha da carreira. TEXTO 1

A escolha da profisso
Tom Coelho

Reproduo/Acervo Portal Tom Coelho


Antigamente publicitrio era aquele que tinha largado o curso de
jornalismo. Hoje, publicitrio o cara que largou o curso de publicidade.
Eugnio Mohallem

1 Uma anlise do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia


e Estatstica (IBGE) feita pelo Observatrio Universitrio indicou a
correlao entre a profisso exercida e o curso superior realizado pelos
profissionais. Enquanto 70% dos dentistas, 75% dos mdicos e 84% Tom Coelho, em foto
dos enfermeiros trabalham na mesma rea em que se formaram, apenas de 2010.
10% dos economistas e bilogos e 1% dos gegrafos seguem pelo
mesmo caminho.
2 Exame atento de outras profisses ainda nos indicar que apenas um em
cada quatro publicitrios, um em cada trs engenheiros e um em cada dois
administradores faz carreira a partir do ttulo que escolheu e perseguiu.
3 evidente que faltam vagas no mercado de trabalho. O emprego
formal acabou. Nas dcadas de 1960 e 1970 o paradigma apontava como
colocao dos sonhos um cargo no Banco do Brasil, na Petrobras ou em
outra empresa pblica. Nos anos de 1980 experimentamos o boom das
multinacionais e empresas de consultoria e auditoria que recrutavam os
universitrios diretamente nos bancos escolares. J na dcada de 1990 o
domnio de um segundo idioma, da microinformtica e a posse de um
MBA eram garantia plena de uma posio de destaque. Contudo, nada
disso se aplica hoje.
O ARTIGO DE OPINIO 227

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4 As grandes empresas tm diminudo o nmero de vagas disponveis e
so as pequenas companhias as provedoras do mercado de trabalho atual.
Ainda assim, a oferta de trabalho infinitamente inferior demanda
e, paradoxalmente, muitas posies deixam de ser preenchidas devido
baixa qualificao dos candidatos.
5 Assim como todos os produtos e servios concorrem pela preferncia
do consumidor, os profissionais tambm disputam as mesmas
oportunidades. Engenheiros que gerenciam empresas, administradores
que coordenam departamentos jurdicos, advogados que fazem estudos
de viabilidade, economistas que se tornam gourmets. Uma autntica
dana das cadeiras que leva insegurana os jovens em fase pr-vestibular.
6 H quem defenda a tese de que adolescentes so muito imaturos para
optar por uma determinada carreira. Isso me remete a reis e monarcas
que com idade igual ou inferior ocupavam o trono de suas naes frente
de grandes responsabilidades, diante de uma expectativa de vida da
ordem de apenas 30 anos...
7 O que falta aos nossos jovens preparo. Um aparelhamento que deveria
ser ministrado desde o ensino fundamental por meio de disciplinas e
experincias alinhadas com a realidade, promovendo um aprendizado
prazeroso e til, despertando talentos e desenvolvendo competncias. Um
ensino capaz de inspirar e despertar vocaes. Ensino possvel, porm
distante, graas falta de infraestrutura das instituies, a programas
curriculares anacrnicos e, em especial, desqualificao dos professores.
8 Em vez disso, assistimos a estudantes com 17 anos de idade, 11 deles
ou mais na escola, que s vsperas de ingressar no ensino superior sequer
conseguem escolher entre psicologia e comunicao social, entre
arquitetura e educao fsica, entre veterinria e direito.
9 A escola e a famlia devem propiciar ao aluno caminhos para o
autoconhecimento e a descoberta da prpria personalidade e identidade.
Fornecer informaes qualificadas e estimular a reflexo, exercendo o
mnimo de influncia possvel. Muitos so os que direcionam suas carreiras
para atender s expectativas dos pais, aos apelos da mdia e da moda,
busca do status e do sucesso financeiro, em detrimento da autorrealizao
pessoal e profissional. E acabam por investir tempo e grandes somas de
dinheiro numa formao que no trar retorno para si ou para a sociedade.
10 Orientao vocacional no se resume aos testes de aptido e
questionrios. Envolve conhecer as diversas profisses na teoria e na
prtica. Permitir aos estudantes visitarem ambientes de trabalho e
ouvirem relatos de profissionais sobre os objetivos, riscos, desafios e
recompensas das diversas carreiras. Tomar contato com acertos e erros,
pessoas bem-sucedidas e que fracassaram. Provocar o interesse e, depois, a
paixo por um ofcio.
228 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

VivaPort_V3_PNLD2015_224_246_U5.indd 228 5/2/13 2:09 PM


11 Precisamos voltar a perguntar aos nossos filhos: O que voc vai ser
quando crescer?. A magia desta indagao que dentro dela residem os
sonhos e a capacidade de vislumbrar o futuro. Alis, talvez tambm
devamos colocar esta questo para ns mesmos, pais e educadores.
CoeLHo, tom. Disponvel em: <www.brasilprofissoes.com.br/palavra-de-
profissional/artigos/artigo-escolha-da-profiss%C3%a3o>.
acesso em: 28 dez. 2012.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. O autor inicia seu artigo com a apresentao de dados publicados pelo IBGE.
Que valor argumentativo tem essa escolha?

2. Observe o emprego do advrbio apenas nos dois trechos a seguir.

Enquanto 70% dos dentistas, 75% dos mdicos e 84% dos enfer-
meiros trabalham na mesma rea em que se formaram, apenas 10% dos
economistas e bilogos e 1% dos gegrafos seguem pelo mesmo caminho.

Exame atento de outras profisses ainda nos indicar que apenas um


em cada quatro publicitrios, um em cada trs engenheiros e um em cada
dois administradores faz carreira a partir do ttulo que escolheu e perseguiu.

Nas frases lidas, ao empregar apenas, o articulista revela uma expectativa com
relao aos dados que apresenta. Qual essa expectativa subentendida nas frases?

3. Que explicao o articulista apresenta para a diferena apontada entre a forma-


o acadmica e a profisso exercida?

4. Segundo o autor, h um paradoxo no atual sistema de oferta de trabalho. Qual ele?

5. Releia:

H quem defenda a tese de que adolescentes so muito imaturos


para optar por uma determinada carreira. Isso me remete a reis e monar-
cas que com idade igual ou inferior ocupavam o trono de suas naes
frente de grandes responsabilidades, diante de uma expectativa de vida
da ordem de apenas 30 anos...

Ao fazer essa associao, o articulista demonstra concordar com a tese de que


adolescentes so muito imaturos para optar por uma determinada carreira?
Justifique sua resposta.

O ARTIGO DE OPINIO 229

VivaPort_V3_PNLD2015_224_246_U5.indd 229 5/2/13 2:09 PM


6. Segundo o articulista, h no mercado de trabalho uma dana das cadeiras
que leva insegurana os jovens em fase pr-vestibular, quando precisam esco-
lher a prpria profisso.
O articulista apresenta sugestes para facilitar a escolha da carreira. Releia o trecho
que vai do 7o ao 10o pargrafo do texto para responder s questes a seguir.
a) O que est em falta na formao dos jovens de hoje, segundo o autor do texto?
b) Essas afirmaes se aplicam a sua realidade e de seus colegas?
c) Voc concorda com as propostas do articulista?

7. Identifique o principal objetivo do texto.

8. O autor do texto opta por escrever uma epgrafe, um trecho citado antes de
iniciar seu artigo.
a) Explique o contedo dessa epgrafe.
b) Esse trecho citado uma antecipao da linha argumentativa que o autor do
artigo vai seguir em seu texto? Justifique sua resposta.

Neste artigo, o escritor amazonense tambm formado em arquitetura,


Milton Hatoum, chama a ateno para o problema de moradia no Brasil.
TEXTO 2
CUlTURA

Eduardo Nicolau/Agncia Estado


Morar, no ilhar e prender
Milton Hatoum
1 Morar muito mais que se abrigar ou viver sob um teto. O abrigo, o
refgio, a toca e o subsolo so arquiteturas destinadas a certos animais, ou
a seres humanos em tempo de guerra.
2 Milhes de pessoas parecem repetir a triste sina de uma personagem
kafkiana, que constri tneis e passagens debaixo da terra e sobrevive
acuada com temor e fome, sempre ameaada. Essa personagem, um
homem bicho, ou um ser humano grotesco, est espera de algo terrvel,
uma catstrofe ou invaso, algo que no sabemos precisar. Ironicamente,
o nome desse relato de Kafka A construo.
3 Sobre a terra, na superfcie do imenso territrio do Brasil, dezenas
de milhes de brasileiros sobrevivem em favelas. Grande paradoxo de
um pas com dimenso continental: aos pobres e marginalizados no
sobra espao para morar. S na Grande So Paulo, mais de 1 milho de
pessoas moram em casas pequenas, ou barracos amontoados em lugares
Milton Hatoum, em
com infraestrutura urbana precria. Algo semelhante ocorre em outras
foto de 2009. grandes capitais: Manaus, Belm, Rio, Belo Horizonte, Recife,
Salvador, Porto Alegre...
4 Uma terrvel ironia da histria, da nossa Histria recente: menos de
dois anos depois do golpe militar, o ento presidente Humberto de
230 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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Alencar Castelo Branco fez uma visita a Manaus, onde inaugurou um
conjunto de casas populares financiadas pelo BNH. O carrancudo
marechal entrou numa das casas e, quando saiu, sufocado pelo calor e
decepcionado com a visita, declarou imprensa que aquelas casinhas no
eram propcias para seres humanos.
5 Pouca coisa mudou nos projetos de habitao social depois da
redemocratizao. Recentemente, construram-se casas populares em
Parintins no Mdio Amazonas numa rea desmatada, antes
ocupada por castanheiras seculares.
6 Transformar a floresta equatorial em deserto ou pasto j uma burrice e

uma ganncia sem tamanho. Construir casas nesse deserto uma


insanidade dos construtores e um martrio para os moradores. Mas no
apenas na Amaznia que isso acontece. J vi conjuntos habitacionais
construdos em reas devastadas na periferia de cidades do Paran e de So
Paulo, e tambm na regio do cerrado, prxima a Braslia, a capital
desfigurada, cercada por moradias precrias, como as de Ceilndia, uma
cidade que abriga 500 mil pessoas. Como diz um poema de Nicolas Behr:
em Ceilndia no se fez
a vontade do prncipe
sem maquete
sem maquiagem
a W3 da dor
Atravessa a L2
do abandono
outros eixos cruzam teus medos...
7 O modelo Cingapura uma favela vertical mostra a falncia de
certo tipo de projeto de habitao social, que ainda predominante.
Revela tambm que a grandeza e a riqueza do Brasil no se traduzem em
moradias dignas nem em qualidade de vida para uma parte expressiva de
sua populao.
8 Construir, no como ilhar e prender, diz um verso do poeta Joo
Cabral de Melo Neto. A sociedade e o Estado brasileiro podem e devem
reparar essa injustia histrica e dar a milhes de brasileiros uma moradia
humana, e no abrigo ou teto precrio. Porque morar muito mais do
que sobreviver em estado precrio e provisrio.
ra
ivo da edito

Hatoum, milton. Estado de S. Paulo. 12 out. 2012. Cultura.


Stefano/Arqu
Alberto De

O ARTIGO DE OPINIO 231

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INTERPRETAO DO TEXTO
1. No texto Morar, no ilhar e prender defende-se uma ideia. Antes de apresen-
t-la, entretanto, o autor, por meio de afirmaes, comparaes, fatos histricos
e atuais, desperta a reflexo do leitor sobre os problemas de moradia no Brasil.
Em todas essas informaes, h referncia a um tipo de moradia.
a) Que tipo de moradia essa?
b) Que expresses e nomes so usados pelo autor para referir-se a esse tipo de
moradia?
c) Que ideias acerca do assunto moradia so reforadas a partir do uso das
expresses encontradas na resposta ao item anterior?

2. Exemplos que ressaltam a precariedade das habitaes no se restringem a,


apenas, uma ou outra cidade brasileira. De que modo o autor evidencia em seu
texto que esse um problema generalizado no pas?

3. Voc j sabe que a maior ou a menor presena de marcas de primeira pessoa


em um texto pode provocar efeitos de sentido de maior ou menor objetividade
na exposio e na defesa das ideias.
a) Com relao s marcas de primeira pessoa presentes no texto, a leitura des-
se artigo produz um efeito de maior ou menor objetividade?
b) Que outros recursos no ligados s marcas de pessoa reforam esse efeito
indicado no item a desta questo?

4. Como recurso argumentativo, o autor referiu-se a alguns trabalhos literrios.


a) O que essas referncias ajudaram a ilustrar?
b) Para voc, tratou-se de um recurso argumentativo eficiente?

5. Leia alguns significados das palavras que compem o ttulo do artigo:

morar: residir, habitar, viver


ilhar: isolar
prender: aprisionar

a) Transcreva algumas passagens do texto que correspondem aos sentidos dos


verbos ilhar e prender, presentes no ttulo.
b) Nesse texto, portanto, os verbos morar, ilhar e prender tm seus significa-
dos ampliados. Em sua opinio, que novos sentidos eles adquirem?

6. De um pargrafo para o outro no h conectivos marcando a relao entre as


partes do texto. A coeso, portanto, conseguida por meio de outros recursos.
a) No quadro da pgina a seguir, veja um esquema com o levantamento dos
elementos que garantem a unidade e a progresso do texto. Depois de copi-
-lo no caderno, complete-o identificando as relaes que garantem unidade
e progresso ao texto.

232 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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PARGRAFO InFORMAO IMPORtAnte cOMO A InFORMAO RetOMAdA RecuRsO
enuncIAdA nO PARGRAFO nO PARGRAFO seGuInte eMPReGAdO

O abrigo, o refgio, a toca e o subsolo Inicia-se o pargrafo fazendo referncia Manuteno do


(habitaes precrias) so destinados a a uma personagem do escritor Kafka tema (habitaes
1o animais e pessoas em situaes que constri habitaes precrias precrias) do
extremas, como a guerra. debaixo da terra por viver acuada. pargrafo anterior.
(2o pargrafo)

O autor cita a personagem de uma sobre a terra (3o pargrafo) faz Referncia a uma
obra de Kafka que constri tneis e oposio a debaixo da terra. informao
2o passagens debaixo da terra e apresentada no
sobrevive acuada. pargrafo anterior.

Dezenas de milhes de pessoas no Evento histrico em que um presidente Exemplificao da


Brasil sobrevivem em lugares com do regime militar brasileiro visita uma afirmao feita no
infraestrutura precria. casa popular financiada por seu governo pargrafo anterior.
3o e sai de l afirmando no ser aquele
um lugar apropriado para uma
pessoa viver.
(4o pargrafo)

[...] menos de dois anos depois do Pouca coisa mudou [...] depois da Referncia
golpe militar, o ento presidente redemocratizao faz referncia ltima informao
Humberto de Alencar Castelo Branco situao descrita no pargrafo anterior. O apresentada no
fez uma visita a Manaus, onde trecho [...] depois da democratizao pargrafo anterior.
4o
inaugurou um conjunto de casas aparece por ser o perodo posterior ao
populares financiadas pelo BNH. regime militar, momento histrico ao
qual o autor se referiu.
(5o pargrafo)
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
5o |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
o
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||(6 pargrafo) ||||||||||||||||||||||||||||||

|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||


|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
o
6 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
o
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||(7 pargrafo) ||||||||||||||||||||||||||||||

|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||


|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
o
7 |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||||||||||||||||||||||
o
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||(8 pargrafo) ||||||||||||||||||||||||||||||

b) Por meio do desenvolvimento de ideias que voc observou no quadro do item


anterior, responda: afinal, o que defende o autor em seu texto?

< Habilidades
Ao interpretar os artigos de opinio, voc precisou: leitoras

identificar a posio adotada pelos articulistas;

observar os argumentos utilizados a favor da opinio deles;

verificar a trama textual do texto 2 e o modo de relacionar as informa-
es empregado pelo articulista do texto.

O ARTIGO DE OPINIO 233

VivaPort_V3_PNLD2015_224_246_U5.indd 233 5/2/13 2:09 PM


CONHECImENTOS lINGUSTICOS
Concordncia (verbal e nominal)
1. Leia com ateno esta definio de concordncia:

Concordncia um mecanismo pelo qual:


o verbo concorda em nmero e pessoa com o sujeito da orao (concor-
dncia verbal);
os adjetivos, os artigos, os pronomes e alguns numerais concordam em g-
nero e nmero com o substantivo a que se referem (concordncia nominal).

Nas frases a seguir, foram destacados alguns casos de concordncia. Leia-as com
ateno, retome a definio apresentada no quadro acima e diga se so casos
de concordncia nominal ou verbal. Justifique sua resposta usando a definio.
a) evidente que faltam vagas no mercado de trabalho.
b) A escola e a famlia devem propiciar ao aluno caminhos para o autoco-
nhecimento [].
c) Algo semelhante ocorre em outras grandes capitais [...].

Casos de concordncia verbal


2. Leia com ateno algumas regras bsicas de concordncia verbal:

I. sujeito simples o verbo concorda em pessoa e nmero com o ncleo


desse sujeito.
II. sujeito composto em geral, o verbo usado na 3a pessoa do plural.
III. sujeito composto com um dos ncleos em 1a pessoa o verbo usado
na 1a pessoa do plural.

Relacione, no caderno, as frases a seguir com as regras apresentadas.


a) O abrigo, o refgio, a toca e o subsolo so arquiteturas destinadas a certos
animais.
b) Muitas pessoas e inclusive eu buscamos informaes rpidas, mas elas podem
no ser confiveis.
c) O modelo Cingapura uma favela vertical mostra a falncia de certo
tipo de projeto de habitao social.
3. Os verbos haver e fazer que aparecem nas frases a seguir so impessoais, portan-
to no tm um sujeito com o qual concordar. Isso significa que em certas constru-
es, como as seguintes, eles devem ser sempre empregados no singular. Veja:
Quadro 1

Naquela empresa havia vagas disponveis para todos os diplomas.


(o verbo haver tem sentido de ter ou existir)

Faz anos que as exigncias do mercado de trabalho so outras.


(o verbo fazer indica tempo transcorrido)

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Entretanto comum encontrar construes como as registradas no quadro 2,
mas que no esto de acordo com a variedade-padro da lngua. Veja:

Quadro 2

Naquela empresa haviam vagas disponveis para todos os diplomas.


Fazem anos que as exigncias do mercado de trabalho so outras.

a) O que, em sua opinio, pode justificar o emprego desses verbos impessoais


(haver e fazer) no plural?
b) Que tipo de anlise gramatical importante fazer para garantir que constru-
es semelhantes s do quadro 2 estejam de acordo com a variedade-padro
da lngua? Converse com seus colegas sobre isso.

4. Quando o sujeito do verbo um pronome relativo, o verbo concorda com o


termo que antecede esse nome. No trecho a seguir, do Texto 1, foram destaca-
dos os pronomes relativos.

Engenheiros que gerenciam empresas, administradores que coordenam de-


partamentos jurdicos, advogados que fazem estudos de viabilidade, economistas
que se tornam gourmets.

a) Reescreva o trecho no caderno encontrando o antecedente do pronome


relativo e passando-o para o singular. Em seguida, faa a concordncia ade-
quada com os demais termos.
b) Encontre no Texto 1, e copie no caderno, outros trechos em que o sujeito
do verbo seja o pronome relativo. Cite um exemplo com concordncia de
termos no singular e outro com concordncia no plural. Explicite quais so
os termos da concordncia.

5. Quando o sujeito do verbo ser ou parecer representado pelos pronomes isto,


isso, aquilo, tudo, nada ou pelas expresses de sentido coletivo o resto e o mais
e o predicativo do sujeito estiver no plural, o verbo deve vir na 3a pessoa do plural.
Reescreva as frases a seguir no caderno, completando-as com os verbos ser ou
parecer no presente do indicativo e fazendo a concordncia.
a) Tudo profisses dignas.
b) Isso tendncias do mundo atual.
c) Isto profisses prestigiadas.
d) O resto moradias precrias.
e) O mais tentativas de moradias dignas.

6. Leia as regras expostas a seguir e complete as frases fazendo a concordncia


adequada dos verbos entre parnteses.

1o caso Quando ocorre um sujeito formado pelas expresses coletivas a


maior parte ou a maioria seguidas de um adjunto adnominal no plural, o
verbo pode concordar com o ncleo do sujeito no singular ou com o adjun-
to adnominal no plural.

O ARTIGO DE OPINIO 235

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a) A maior parte dos moradores melhor infraestrutura habitacional. (reivin-
dicar pretrito perfeito do indicativo)
b) A maioria dos profissionais gostar da profisso escolhida. (precisar
presente do indicativo)
c) A maior parte das profisses levar ao sucesso. (poder presente do in-
dicativo)

2o caso Quando aparecem as expresses cerca de, perto de, mais de,
o verbo concorda com o numeral.

d) Mais de 80% dos enfermeiros na mesma rea em que se formaram. (tra-


balhar presente do indicativo)
e) Cerca de trezentos universitrios no o que fazer com o diploma. (saber
presente do indicativo)
f) Mais de cem chefes de cozinha no gastronomia. (cursar pretrito
perfeito do indicativo)

3o caso Quando h substantivos prprios no plural que nomeiam lugares


ou obras, o verbo fica no singular se no houver artigo antes do nome. Caso
aparea o artigo no plural, emprega-se o verbo tambm no plural.

g) Os Andes uma famosa cordilheira da Amrica do Sul. (ser presente do


indicativo)
h) Os Estados Unidos condenados mundialmente por atirarem a bomba em
Hiroshima. (ser pretrito perfeito do indicativo)
i) Buenos Aires a famosa capital do tango. (ser presente do indicativo)

4o caso Quando as palavras milho, bilho, milhar vm acompanhadas


de um especificador no plural (milho de pessoas), a concordncia fa-
cultativa: quase um milho de pessoas moram em casas pequenas ou
quase um milho de pessoas mora em casas pequenas.

j) Pelo menos um milho de reais daquela conta no banco. (desaparecer


pretrito perfeito do indicativo)
k) Cerca de um bilho de plantas risco de contaminao. (correr presen-
te do indicativo)

7. Leia as regras de concordncia do verbo ser e, no caderno, relacione-as s frases


a seguir.

II. O verbo ser concorda com muito, pouco e bastante quando o sujeito
indica preo, peso ou medida.
II. O verbo ser concorda com o predicativo quando o sujeito o pronome
interrogativo quem.

a) Quem so os alunos que j escolheram a profisso?


b) Quatrocentos reais pouco para o salrio de um profissional.

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Casos de concordncia nominal

8. Leia com ateno as informaes do quadro abaixo. Depois, preencha no cader-


no uma cartela de loteria.

Regra bsica: artigos, pronomes, adjetivos e numerais concordam com o


substantivo a que se referem em gnero e nmero. Por exemplo:
As novas empresas tm diminudo o nmero de vagas disponveis.
adjetivo substantivo
feminino plural feminino plural

a) Na tabela a seguir h algumas frases com diferentes tipos de concordncia


nominal. Faa seu jogo utilizando seus conhecimentos e anote no caderno
a(s) frase(s) que julgar correta(s) em cada grupo.

1o GRuPO 1. Texto e verbete imprecisos. 2. Texto e verbete impreciso.

2o GRuPO 1. Escritos e fontes autnticos. 2. Escritos e fontes autnticas.

1. Antigas enciclopdias e jornais compem o 2. Antigos enciclopdias e jornais compem


3o GRuPO
acervo. o acervo.

4o GRuPO 1. Tenho papagaio e pipa colorida. 2. Tenho papagaio e pipa coloridos.

1. Homem e mulher pesquisadores participam 2. Homem e mulher pesquisadoras


5o GRuPO
do projeto. participam do projeto.

1. A pesquisadora est meio cansada das 2. A pesquisadora est meia cansada das
6o GRuPO
falhas no mercado de trabalho. falhas no mercado de trabalho.

1. Todos esto alerta contra os perigos de 2. Todos esto alertas contra os perigos de
7o GRuPO
uma m escolha profissional. uma m escolha profissional.

8o GRuPO 1. Os textos pedidos seguem em anexo. 2. Os textos pedidos seguem anexos.

9o GRuPO 1. Os estagirios pensavam em si mesmos. 2. Os estagirios pensavam em si mesmo.

1. Os polticos esto quites com os pedidos 2. O poltico est quite com o pedido
10o GRuPO
dos eleitores. do eleitor.

b) Confira os palpites. Leia as regras a seguir e identifique a que grupo de frases


cada uma se refere. Escreva as respostas no caderno.
I. O adjetivo colocado antes de substantivos de diferentes gneros deve
concordar com o mais prximo.
II. O adjetivo colocado depois de substantivos de gneros diferentes deve
ir para o masculino plural ou concordar com o substantivo mais prximo.
III. O advrbio meio invarivel.
IV. Quando os substantivos so antnimos e o adjetivo se referir aos dois,
este deve ir para o plural e concordar com o gnero masculino.
V. Quando os substantivos so ou forem considerados sinnimos e o adje-
tivo se referir aos dois, este deve concordar com o mais prximo.
VI. O adjetivo colocado depois de substantivos do mesmo gnero deve
ir para o plural ou concordar com o substantivo mais prximo.
VII. A palavra anexo concorda com a palavra a que se refere. J a expresso
em anexo invarivel.

O ARTIGO DE OPINIO 237

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VIII. extra e quite concordam com as palavras a que se referem.
IX. Mesmo e prprio concordam com a palavra a que se referem.
X. As palavras menos e alerta so invariveis.

9. Leia um trecho retirado do livro Terras do sem-fim, de Jorge Amado. Trata-se do


momento em que Jeremias fica indignado com a possibilidade da derrubada da
mata do Sequeiro Grande, no sul da Bahia, para a plantao de cacau, que
aumentaria a fortuna e o poder poltico de coronis que a disputavam.

A mata
Captulo 12
Jorge Amado

Jeremias se ergueu. Deu dois passos para a porta da cabana. Agora seus olhos
cegos viam perfeitamente a mata em todo seu esplendor. E via desde os dias mais
longnquos do passado at essa noite que marcava o seu fim. Sabia que os homens
iam derrubar a floresta, matar animais, plantar cacau na terra onde havia sido a mata
do Sequeiro Grande. [] Via agora era a mata devastada, derrubada, queimada, via
os cacaueiros nascendo, e estava possudo de um dio imenso. Sua voz no saiu como
num murmrio como sempre [] As palavras de Jeremias eram aos deuses que tinham
vindo das florestas da frica. Clamava por eles para que desencadeassem a sua clera
sobre aqueles que iam perturbar a paz de sua moradia. E disse:
Agora eles vai entrar na mata mas antes vai morrer homem e mulher, os
menino e at os bicho de pena. Vai morrer at no ter mais buraco onde enterrar,
at os urubu no dar conta de tanta carnia, at a terra t vermelha de sangue que
vire rio nas estrada e nele se afogue os parente, os vizinho, e as amizade deles, sem
faltar nenhum. Vo entrar na mata mas pisando carne de gente, pisando defun-
to. Cada p de pau que eles derrube vai ser um homem derrubado, e os urubu
vo ter tanto que vai esconder o sol. Carne vai ser estrume de p de cacau, cada
muda vai ser regada com sangue deles, deles tudo, tudo, sem faltar nenhum.
amaDo, Jorge. Terras do sem-fim. So Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Quando escreve, o autor pode controlar, entre outros fatores, a escolha do vo-
cabulrio e a aplicao das regras da variedade-padro da lngua adequadas a
seu texto. J na fala a realizao do texto imediata e no sofre, como no
texto escrito, intervenes como reviso ou reorganizao, podendo por isso
apresentar desvios em relao a regras gramaticais.
a) Compare as frases dos artigos de opinio lidos com as frases da fala de Jere-
mias, observe as diferenas e explique de que forma o autor do romance
Terras do sem-fim faz uso da concordncia na fala de sua personagem.
b) Estudamos que os artigos, os adjetivos, os pronomes, etc. concordam com o
substantivo ao qual se referem, mas nem sempre o que ocorre na linguagem
oral. Na fala de Jeremias, por exemplo, possvel encontrarmos marcas de plural
em uma das palavras de um bloco e sua ausncia em outra. Encontre, na fala da
personagem, exemplos de concordncia nominal em que isso ocorre.
c) Vimos que a principal regra de concordncia diz que o verbo deve concordar
com o sujeito; no entanto, diversos fatores podem intervir nessa regra. Quan-
do o sujeito est colocado depois do verbo, comum no haver concordn-
cia. Destaque da fala de Jeremias um exemplo para a afirmativa.

238 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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Atividade de fixao
Reescreva as frases no caderno substituindo o pelos verbos e pelos adjetivos
indicados nos parnteses. Faa a concordncia necessria.
a) Os motoristas americanos e europeus pela educao. No por serem
ou melhores do que ns, mas porque a lei. (Revista Veja, 20 fev. 2008.)
(impressionar presente do indicativo; bonzinho; temer presente do
indicativo)
b) A experincia dos estados mais bem-sucedidos que consertar a educao
requer muito mais do que jogar dinheiro no sistema. (Revista Veja, 13 fev. 2008.)
(mostrar presente do indicativo)
c) Cartes de crdito dinheiro de plstico. No se a financiar compras, e sim
a facilitar o controle de gastos pessoal, familiar e empresarial. As administradoras
que entender que, se no forem aceitos, os cartes no nada para o clien-
te. E os comerciantes, por sua vez, saber que, restringindo as formas de pa-
gamento, o impacto em suas vendas. (Folha de S.Paulo, 22 mar. 2008.)
(ser, destinar, ter presente do indicativo; valer futuro do presente do
indicativo; dever presente do indicativo; sentir futuro do presente do
indicativo)
d) Os Estados Unidos habituados supremacia econmica e muitos ameri-
canos sofrem com a ideia de perder o posto da nao nmero 1. (Revista
Veja, 26 mar. 2008.)
(estar presente do indicativo)

Atividades de aplicao
Veja abaixo uma foto da banda Ultraje a Rigor, que surgiu na dcada de 1980.
Entre seus sucessos, est a msica Intil, cuja letra est na pgina seguinte.
Leia-a atentamente e responda no caderno s questes.
Renato dos Anjos/Arquivo da editora

Da esquerda para a direita: Carlinhos, Leospa, Roger e Maurcio, componentes da banda Ultraje a
Rigor em foto de 1986.

O ARTIGO DE OPINIO 239

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Intil E no consegue criar
Roger Moreira A gente pede grana
E no consegue pagar
A gente no sabemos
Escolher presidente Intil! A gente somos intil!
A gente no sabemos Intil! A gente somos intil!
Tomar conta da gente
A gente no sabemos A gente faz msica
Nem escovar os dente E no consegue gravar
Tem gringo pensando A gente escreve livro
Que nis indigente E no consegue publicar
A gente escreve pea
Intil! A gente somos intil! E no consegue encenar
Intil! A gente somos intil! A gente joga bola
E no consegue ganhar
A gente faz carro
E no sabe guiar Intil! A gente somos intil!
Intil! A gente somos intil!
A gente faz trilho
Intil! Intil! Intil!
E no tem trem pra botar
moreira, roger. Acstico MTV: ultraje a rigor. So
A gente faz filho Paulo: Deckdisc, 2005. 1 CD. Faixa 4.

1. Identifique na letra da msica apresentada as expresses em desacordo com a


variedade-padro em relao concordncia:
a) verbal;
b) nominal.

2. O sucesso dessa msica da banda Ultraje a Rigor no incio da dcada de 1980


revela questes importantes a respeito do pas naquela poca, ainda sob a dita-
dura militar.
a) Nessa letra de msica, a quem se refere a expresso a gente?
b) O que, na afirmao irnica da letra da msica, a gente no sabe fazer?
c) Sabendo que, com o fim da ditadura e o incio do perodo de redemocrati-
zao do pas, os brasileiros s puderam participar da escolha do presidente
da Repblica por meio do voto direto nas eleies de 1989, o que podem
revelar os versos A gente no sabemos / Escolher presidente / A gente no
sabemos / Tomar conta da gente de uma msica lanada anos antes dessa
mudana poltica no pas?

3. Converse com seus colegas e procure explicar por que a concordncia est de
acordo com a norma gramatical em versos como A gente faz carro, A gen-
te faz trilho, A gente faz filho, A gente pede grana, A gente faz msica,
A gente escreve livro, A gente escreve pea, A gente joga bola e no
segue a norma em versos como A gente no sabemos, Tem gringo pensan-
do / Que nis indigente, A gente somos intil!?

4. possvel explicar a ocorrncia de uma expresso como os dente, em que a


flexo do artigo pressupe o plural do substantivo. Procure agora uma possvel
explicao para o uso de expresses como a gente somos e a gente sabe-
mos. Converse com seus colegas e discuta suas hipteses.

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P R O D U O D E T E X T O
Artigo de opinio
O artigo de opinio um texto argumentativo, isto , apresenta e defende
uma estratgia
um ponto de vista por meio de argumentos, evidncias, justificativas ou at
para iniciar
mesmo de apelo emocional quem argumenta tem como objetivo convencer
um artigo
e persuadir.
de opinio
Em relao estrutura, o artigo de opinio, nos primeiros pargrafos, costu- apresentar um
ma apresentar o assunto por meio de exposio, narrao ou descrio do tema. fato ou uma
Todavia, o mais comum expor o assunto tratado mediante uma opinio conhe- suposio lgica
cida para, na sequncia, desenvolver pargrafos argumentativos em que se de- que ganhe a
fende determinada opinio, utilizando para isso diferentes tipos de argumentos: concordncia
os de exemplos a ser seguidos (ou os antimodelos, aqueles que no se do leitor para,
devem seguir); em seguida,
os de analogia: utilizam-se exemplos que possam ser relacionados ideia apresentar a
ideia que se
defendida;
quer defender.
os de quantidade: empregam-se os nmeros de pesquisas para conven-
essa estratgia
cer que determinada ideia vale mais do que outra; chamada
os de autoridade: entre aspas ou por meio de marcas como segundo, de de tese de
acordo, etc. Usam-se falas de especialistas no assunto de que trata o texto, adeso e, por
trechos de livros especializados, obras literrias, trechos de lei, etc.; meio dela,
os de qualidade: a argumentao centra-se na valorizao dos aspectos possvel ganhar
qualitativos em detrimento dos quantitativos. a ateno do
O artigo de opinio, em relao ao tema, pode comentar os mais diversos leitor, que j
pode iniciar
assuntos que estiverem em pauta na poca da publicao. Por esse motivo, s
sua leitura
vezes, um artigo logo se torna ultrapassado. Por exemplo, a opinio de algum
concordando
sobre a inflao em 2004 pode no chamar a ateno de um leitor em 2015.
com o ponto de
O artigo de opinio tem algumas marcas lingusticas fceis de identificar, vista do autor
como o verbo ser na construo de opinies impessoais, por exemplo: impor- do texto.
tante, seria necessrio.
comum ainda o uso (sempre no presente do indicativo) de verbos como
afirmar, declarar, considerar, implicar, alegar e assegurar, entre outros, que
apresentam valores apreciativos e depreciativos em relao ideia defendida.

ATIVIDADE 1 Como entender


a organizao global do texto
O artigo de opinio a seguir est com os pargrafos fora de ordem. Leia o texto
e reorganize-o em seu caderno. Para fazer esta atividade, ser necessrio ler os
pargrafos para, em seguida, iniciar a reorganizao. Voc pode utilizar a estra-
tgia adotada na interpretao do Texto 2 deste captulo a partir dos recur-
sos temticos de coeso, identificar os dados recuperados ou, ainda, usar
palavras que funcionaro como conectivos, como recuperadores de informaes
dadas. Se optar por essa forma, lembre-se de marcar bem essas palavras, pois
poder us-las em outros textos.

O ARTIGO DE OPINIO 241

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Fazer nada
Como a visita de um pssaro nos fez pensar no tempo
Paulo Nogueira

1 Afinal, ns nunca aceleramos tanto. Na iluso de anteciparmos o futuro, rouba-


mos o momento seguinte e deixamos de viv-lo. Convivemos sem prestar ateno no
outro, respiramos com sofreguido, comemos sem sentir o sabor. Fugimos do pre-
sente, o nico tempo que existe e sobre o qual criamos a referncia para um passado
reconstrudo na memria e um futuro sonhado. Como parar e fazer nada? Como
apenas ser, sem se debater por ter entrado em uma porta estranha? H quem no
consiga relaxar e, simplesmente, fazer nada. Algum j disse que fazer nada no a
completa falta de ao, mas a ao feita com desapego, sem visar resultado para si
mesmo. H algo de bom em atingir esse momento em que s se parte da paisagem
e no um observador em separado. Se ainda quisssemos procurar um significado
para a visita da pequena ave, poderamos dizer que ela veio trazer o tema para estas
linhas que voc l agora. Como se nos dissesse: que bom que vocs conseguiram uns
dias de folga e vieram aqui, cuidar um do outro. Sejam bem-vindos a este momento
e esqueam o resto. Fui.
2 Depois, vimos que deixou de lembrana um cocozinho na nossa cama. De onde
teria vindo essa ave? Qual o significado do carimbo de passarinho sobre o lenol?
Resisti ideia de lembrar que excremento de pssaro sinal de boa fortuna em
antigas tradies. Augrio? Sinal? Ali no havia mistrio. Era apenas um bichinho
assustado, acelerado demais. Talvez apenas apavorado por haver entrado em um
lugar de onde parecia impossvel sair. Mais do que um significado oculto, sua visi-
ta pode nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem no se
debate, na iluso de que est acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que est
saturado por estmulos que ele prprio foi buscar? A sensao de que seu tempo
estrangulado, sem se dar conta de que ele quem cultiva desassossego para si. Um
amigo, sobrinho de um sbio do interior, costuma usar a imagem da trajetria
errtica e v das formigas para ilustrar a iluso que acomete o homem em movi-
mentos incuos e sem sentido, o esforo intil. No toa que se fale tanto na
necessidade de ir com mais calma.
3 Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro.
No hotel, em Itatiba, deram-nos o quarto 37, que se abre para um mar de morros
verdes, com plantaes, pastos, florestas. Fica no piso superior, tem p-direito alto e
uma varanda abraada por rvores repletas de pssaros. noite, entrou pela janela
um passarinho. Minsculo, branco no peito e na par-
Heide Benser/Arquivo da editora

te inferior da face, preto no dorso e na metade de cima


da cabea. Entrou pelo quarto, acelerado. Voava junto
ao teto e no conseguia baixar at a altura da porta por
onde havia entrado. Temamos que se machucasse.
Apagamos as luzes. Ele se acalmou e parou para des-
cansar no toucador. Pulou em p, no cho. Caminhou
um pouco, ofegante. Usamos um chapu para lev-lo
varanda, onde ficou ainda um tempo, refazendo-se.
Nogueira, Paulo. Vida Simples, ed. 37. So Paulo: abril, 2006.
Disponvel em: <http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/
edicoes/037/caminhos/conteudo_237474.shtml>.
acesso em: 25 jan. 2013.

242 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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ATIVIDADE 2 Como identificar
a estrutura do artigo de opinio
No artigo a seguir h um pargrafo que no pertence a esse texto. Identifique-o
e, no caderno, produza outro que mantenha a coerncia com o restante do texto.
Em seguida, d um ttulo produo final.


Eugenio Mussak

O filme Corao valente, com Mel Gibson, conta, de forma romanceada, a his-
tria real do lder escocs William Wallace. Um dos momentos marcantes a batalha
de Stirling, em que o pobre e mal-armado exrcito escocs vence a autoproclamada
invencvel fora inglesa. Fica evidente a liderana de Wallace porque oferece a seus
homens trs coisas: uma causa a liberdade, o maior de todos os valores; um exem-
plo ele luta frente de seus homens; e os meios uma estratgia inteligente e
uma nova arma, capaz de anular a cavalaria dos bretes.
Trata-se de um excelente exemplo de liderana em que

Divulgao/20th Century Fox Home Entertainment


o lder atinge o resultado desejado por dizer a seus homens
o que iriam fazer, por que e como. O encontro desses trs
componentes transforma cada membro da equipe em pro-
prietrio de seu futuro, criando um esprito comum de
confiana na vitria. Criar causas (diferente de apenas de-
legar tarefas) e liderar pelo exemplo so duas posturas fun-
damentais e pertencem ao componente comportamental
do exerccio da liderana. J o fornecimento da estratgia e
dos recursos indispensveis realizao das tarefas necess-
rias faz parte da tcnica de liderar. O lder que no se preo-
cupa com os recursos corre o risco de desperdiar o que
tem, sem alcanar o que deseja. Olha que isso relativa-
mente comum. Lderes competentes para mobilizar as pes-
soas, mas incapazes de obter e gerir os recursos necessrios.
Aps o assassinato de seu grande amor, o escocs William
Wallace (Mel Gibson), cansado dos abusos e da violncia
dos ingleses contra seu povo, se revolta e junto aos seus
compatriotas declara guerra contra a Inglaterra. Wallace
lidera vrias batalhas em que os escoceses lutam contra a
dominao inglesa, usando da determinao e da intelign-
cia para compensar os poucos homens que tinham em com-
parao ao exrcito inimigo. O ator Mel Gibson no
filme Corao valente,
Este o momento em que o idealismo se encontra com o pragmatismo; e um dirigido por ele em
precisa do outro. O lder idealista tem vises do futuro. O pragmtico cria as condi- 1995.
es para tornar a viso realidade. O idealista olha para a outra margem do rio, en-
quanto o pragmtico constri a ponte. A boa notcia que essas qualidades no so
excludentes. Ou seja, voc pode ter a viso e tambm pode providenciar os recursos
para chegar l. Lembre-se de que quem no se preocupa com as finanas corre o
risco de ver desperdiado seu talento de ter ideias, por mais geniais que elas sejam.
Experincia prpria!
muSSaK, eugenio. Voc S/A, n. 111.
So Paulo: abril, 2007.

O ARTIGO DE OPINIO 243

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PRODUO DE AUTORIA
Escolha um assunto atual que esteja gerando polmica. Em seguida, inicie a
produo de seu artigo de opinio. Para isso, decida:
qual ser seu posicionamento em relao ao tema;
por qual estratgia vai inici-lo: apresentando sua posio ou produzindo uma
tese de adeso;
a quais estratgias voc pretende recorrer (se for a estratgias de quantidade,
verifique se os nmeros que voc tem so verdadeiros e indique sempre uma
fonte confivel que seja responsvel pela divulgao desses nmeros. No
vale chutar!).

Tomadas as decises iniciais, pense em seu leitor, que faz parte do pblico-alvo
da revista a ser produzida para o projeto.

Preparando >
a segunda Releia seu artigo de opinio, observando se dele constam:
verso do a variedade-padro da lngua, respeitando as concordncias necessrias;
texto a clareza na apresentao de sua ideia;
o desenvolvimento lgico e pautado nas estratgias estudadas.
Verifique se voc no desenvolveu vrios assuntos no texto, o que
seria inadequado ao objetivo da atividade.
Guarde seu artigo de opinio para o projeto do fim do ano.

NO mUNDO DA ORAlIDADE
Vamos verificar se, na linguagem oral, h o predomnio da concordncia verbal
ou no.
CREATISTA/Shutterstock/Glow Images

1. Junte-se a alguns colegas de clas-


se e utilizem qualquer recurso de
gravao (gravador, celular, etc.)
para gravar uma conversa infor-
mal entre colegas, familiares,
passageiros espera de nibus
ou outro meio de transporte,
pessoas espera de atendimento
em filas de banco, de mercados,
etc. Antes de comear a gravar,
peam permisso a todas as pes-
soas que fizerem parte do grupo
escolhido por vocs.

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Terminada a gravao:
Ouam-na atentamente e transcrevam o texto sem alterar o que foi dito.
Deixem marcados os pensamentos interrompidos (usem reticncias para fazer
essa marcao, por exemplo), as repeties, a nfase dada a uma palavra
(vocs podem utilizar letras maisculas para isso), as reformulaes (frases
reformuladas pela prpria pessoa no momento da fala), etc.

2. Com o texto transcrito pronto, comecem a segunda parte do trabalho:


Pintem de azul as frases em que h concordncia entre o verbo e o sujeito e
de amarelo as frases em que no h a concordncia.
Contem o nmero de ocorrncias da concordncia e o nmero de ocorrncias
da no concordncia.
Relacionem os resultados situao de comunicao em que as pessoas ou-
vidas se encontravam maior ou menor informalidade, faixa etria, tipo de
compromisso profissional, etc. e proponham uma concluso para a pes-
quisa de vocs.
Apresentem para a classe a gravao e a transcrio a qual pode ser feita
em transparncia, por meio de um texto oral baseado nas concluses do
grupo. Se quiserem, vocs podem seguir o modelo de roteiro abaixo.
III. Apresentao da situao e dos entrevistados

A gravao foi realizada com (alunos do ano do Ensino Mdio/familiares/


pessoas na fila de um ponto de nibus/etc.), os/as quais nos autorizaram a
gravar suas falas, numa situao (de bastante informalidade/informal/des-
contrada/etc.), uma vez que eles estavam conversando (no ptio da escola
na hora do intervalo/na cozinha, aps o jantar/na parada de nibus espera
da conduo/etc.). Os alunos/As pessoas que participaram da entrevista foram
as seguintes: , , (colocar o nome, a idade e a profisso de cada pessoa).

III. Procedimentos de anlise

Aps uma anlise atenta do texto oral e o levantamento das ocorrncias ou


no de concordncia verbal, verificamos/observamos/percebemos/notamos
que, na gravao, (colocar o resultado da pesquisa: a concordncia verbal
predominou/no predominou).

III. Apresentao da hiptese que explica a presena ou a ausncia da


concordncia verbal

Conclumos que/Chegamos concluso de que, em uma situao de maior


informalidade/mais informal/mais descontrada/mais espontnea/de distenso,
comum/incomum a despreocupao (com a concordncia verbal/com a
concordncia e tambm com diferentes questes da variedade-padro/etc.).
Em nossa pesquisa notamos/observamos, ainda, que, entre pessoas (mais
velhas/com maior nvel de escolaridade/com grande interesse pela leitura/que
trabalham com /etc.), mais comum a preocupao com a realizao da
concordncia, por ser essa uma caracterstica da linguagem observada entre
(seus colegas/as pessoas da famlia/seus pares/etc.) e exigida (na escola/
em casa/no meio profissional).

O ARTIGO DE OPINIO 245

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A P R O V E I T E P A R A...

... ler
Atividades para orientao vocacional, de Lia Renata A. Giacaglia, editora Thomson
Learning.
O livro procura ajudar o leitor a refletir sobre o assunto e ter uma viso mais ampla e bem
fundamentada antes de tomar decises.

As profisses do futuro, de Gilson Schwartz, editora Publifolha.


O economista Schwartz analisa o futuro das profisses com base no mundo atual, no qual
questes como automao, humanizao e criatividade tm cada vez mais destaque.

Argumentao e linguagem, de Ingedore V. Koch, editora Cortez.


O livro um estudo pioneiro sobre a argumentao em lngua portuguesa.

As aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, editora tica.


Acompanhado de um amigo, Huckleberry Finn, um menino pobre e muito imaginativo,
parte em uma viagem de jangada pelo rio Mississpi. Eloquente, Finn sempre arruma sada para
os problemas em que se mete, graas sua grande capacidade argumentativa.

... assistir a
Anti-heri americano, de Robert Pulcini e Shari Springer Berman (EUA, 2003).
O filme conta como Harvey Pekar, que trabalha no arquivo de um hospital, passa a escrever
a srie de quadrinhos Anti-heri americano e bem-sucedido, apesar de no ter talento como
desenhista e de sua personagem, autobiogrfica, contar apenas com o charme do humor irnico.
Universal/Cortesia de Everett Collection/Keystone

Billy Elliot, de Stephen Daldry (Ingla


terra, 2000).
O garoto Billy (Jamie Bell, foto) descobre
que tem talento para dana e decide investir no
bal, apesar do preconceito e da contrariedade
de seu pai e seu irmo, que no veem na profis-
so espao para homens.

ver na internet
http://guiadoestudante.abril.com.br
O site oferece dicas de cursos, faculdades e
profisses, alm de testes vocacionais para se-
rem feitos on-line. Acesso em: 25 jan. 2012.

www.curriculum.com.br
Se quiser fazer um currculo, voc pode aces-
sar este site ou outros semelhantes e montar
o seu de acordo com as diversas dicas e propostas
encontradas nele. Acesso em: 25 jan. 2012.

http://br.nget.com/Educacao/Listas_Discussao/
O endereo lista uma srie de fruns de discusso on-line para treinar argumentao.
Acesso em: 25 jan. 2012.

246 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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LITERATURA
Literatura brasileira
contempornea > Interdisciplinaridade com:
Arte, Histria, Geografia,

poesia Sociologia, Filosofia.

P A R A C O M E A R
Leia os trs poemas a seguir para responder questo.

Poema 1
Erra uma vez
Paulo Leminski

nunca cometo o mesmo erro


duas vezes
j cometo duas trs
quatro cinco seis
at esse erro aprender
que s o erro tem vez
LEMINSKI, Paulo. La vie en close.
So Paulo: Brasiliense, 1991.

Poema 2
Onde
Rgis Bonvicino

Onde eu escrevo
h o rudo
do lixo da cidade depois
de recolhido
sendo triturado
Alberto De Stefano/Arquivo da editora

h um abajur
uma cmoda
com espelho
e uma cama
desarrumada
o outono est prximo
a janela fechada
um cansao sbito
toma conta das palavras.
BONVICINO, Rgis. Cu-Eclipse.
So Paulo: Editora 34, 1999.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 247

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Alberto De Stefano/
Arquivo da editora

Ateno: No escreva Poema 3


No livro. Faa as de sol a sol de suco a suco
atividades No caderNo.
soldado sugado
de sal a sal de sono a sono
salgado sonado
de sova a sova sangrado
sovado de sangue a sangue
CAMPOS, Haroldo de. In: BOSI, Alfredo.
Histria concisa da literatura brasileira.
So Paulo: Cultrix, 1999.

Os poemas que voc acabou de ler foram publicados a partir da dcada de 1960.
Em sua opinio, considerando o que voc j estudou at aqui, que escola lite
rria parece mais influenciar essas composies? Por qu?

O poema a seguir foi publicado em 1963 pelo maranhense Ferreira Gullar.


Observe seu carter social e tambm o jeito irregular de dispor as palavras
TEXTO 1 nos versos e de organiz-los nas estrofes, legado dos poetas modernistas.

Homem comum
Ferreira Gullar

Sou um homem comum


de carne e de memria
de osso e esquecimento.
Ando a p, de nibus, de txi, de avio
e a vida sopra dentro de mim
pnica
feito a chama de um maarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como voc
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que j nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado

248 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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essa lenha perfumada pnico: adjetivo
relativo a P, deus
que se acende grego dos pastores e
da natureza; adjetivo
e me faz caminhar relativo ao radical
Sou um homem comum grego pan, que
significa tudo,
brasileiro, maior, casado, reservista, totalidade.
e no vejo na vida, amigo, Pastos-Bons:
municpio do estado
nenhum sentido, seno do Maranho.
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rpido destino.
Mas a poesia rara e no comove
nem move o pau de arara.

Quero, por isso, falar com voc,


de homem para homem,
apoiar-me em voc
oferecer-lhe o meu brao
que o tempo pouco
e o latifndio est a, matando.

Que o tempo pouco


e a esto o Chase Bank,

Reproduo/Coleo do artista
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se l quantos outros
braos do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa.
Homem comum, igual
a voc,
cruzo a Avenida sob a presso do imperialismo.
A sombra do latifndio
mancha a paisagem,
turva as guas do mar
e a infncia nos volta
boca, amarga,
suja de lama e de fome. Autorretrato, de Joo Cmara, 1990. Neste
Mas somos muitos milhes de homens autorretrato de corpo inteiro, frente e costas,
o paraibano Cmara tambm nos apresenta
comuns uma imagem de um homem comum. Ele
e podemos formar uma muralha trabalha o corpo humano preocupado em
ressaltar o realismo (temos a impresso de
com nossos corpos de sonho e margaridas. estarmos diante de um homem real), mas
FERREIRA GULLAR. Os melhores poemas de Ferreira Gullar. deixando uma ponta de estranhamento, pois
2. ed. So Paulo: Global, 1985. algo nessa figura nos inquieta.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 249

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INTERPRETAO DO TEXTO
1. De acordo com o poema, quem e como o homem comum?

2. O que se ope a esse homem?

3. Segundo o texto, qual a fora do homem comum? O que ele pode conseguir
com ela?

4. A maneira como foram dispostos os versos no poema chama a ateno. Propo


nha uma interpretao para os diversos deslocamentos presentes na organizao
formal do texto.

5. Como foi visto na introduo, o poema Homem comum foi publicado em


1963. Voc j sabe que toda produo literria sofre a influncia no s da es
ttica vigente e da experincia pessoal do poeta, mas tambm do contexto
histrico. Pesquise o que acontecia no Brasil no incio da dcada de 1960, pero
do que antecedeu o golpe militar de 1964, e verifique que eventos, provavel
mente, influenciaram a viso de mundo do poeta, registrada nesse poema.

6. Releia o seguinte trecho:


Ando a p, de nibus, de txi, de avio
e a vida sopra dentro de mim
pnica
feito a chama de um maarico
e pode
subitamente
cessar.

Alberto De Stefano/Arquivo da editora

Nos poemas, a multiplicidade de sentidos de uma mesma palavra ou expresso


chamada de polissemia, e essa uma caracterstica fundamental desses tex
tos. Pensando nisso, explique, de forma contextualizada, os diferentes sentidos
(polissemia) que a palavra pnica adquire no trecho lido.

250 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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Armando Freitas Filho apresenta, em sua poesia, a influncia do lega-
do construdo por diversos poetas a partir da dcada de 1960, entre eles
Ferreira Gullar, os poetas concretistas e os poetas marginais, que voc TEXTO 2
conhecer melhor neste captulo. Como resultado, tem-se uma produo
que traduz a intensidade de uma experincia por meio de escolhas formais
na composio de cada verso do poema.
vir a furo: surgir
vencendo dificuldades,

Torneio emergir no momento


certo; chegar a um
ponto em que
Armando Freitas Filho necessrio tomar uma
atitude.
O touro num instante

Josep Lago/Agncia France-Presse/Esta foto no faz parte do texto original.


o toureiro noutro estanques.
No entanto, as duas vidas
to distintas, tentam
o encontro, quadro a quadro
j que tanta velocidade dura e fria
s pode vir a furo, para se ver
e ser tocada, se for assim, por partes:
passo e pata, talhe bem cortado
de cada um, de pele e de carne.
Ambos coagulados, fixos, nos olhos
do outro
com chifre e espada vista
quando o espao acaba e cai a capa Vista da arena Monumental, em Barcelona, Espanha, setembro de
quando o instinto vira destino. 2011. As touradas foram proibidas na Catalunha, provncia
FREITAS FILHO, Armando. In: Boa Companhia: poesia. espanhola, em 2012.
So Paulo: Companhia das Letras, 2003.

INTERPRETAO DO TEXTO
1. No poema so apresentados dois elementos antagnicos. Identifiqueos.

2. Que aspectos da forma e do contedo do poema marcam claramente esse an


tagonismo?

3. A expresso quadro a quadro e os versos O touro num instante / o toureiro


noutro pertencem ao campo semntico da imagem em movimento as cenas
de cinema, de televiso e podem ser apresentados segundo os critrios do
editor de imagens (aquele que seleciona as cenas e a ordem em que elas sero
mostradas).
No caderno, copie do poema os versos que trazem a justificativa para o fato de
esses dois seres serem apresentados no texto um aps o outro, separadamente.
Explique sua resposta.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 251

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4. Releia os seguintes versos:
passo e pata, talhe bem cortado
de cada um, de pele e de carne.
Ambos coagulados, fixos, nos olhos do outro
com chifre e espada vista

Perceba que nesses versos os dois seres passam a ocupar a mesma cena.
a) Que recursos o poeta usou para conseguir esse efeito?
b) Que elementos so destacados nas cenas descritas? Por que so escolhidos
esses elementos?

5. Explique o verso quando o espao acaba e cai a capa.

6. Releia o ltimo verso do poema.


a) Ao destino de quem o poema faz referncia?
b) O instinto do homem, nesse confronto, igual ao do animal?
c) Nesse contexto, em que pode resultar o encontro com o prprio instinto?

O poema a seguir foi escrito por Arnaldo Antunes, que tambm


msico e compositor. O poeta pertence a uma gerao mais jovem que a
TEXTO 3 de Ferreira Gullar e Armando Freitas Filho Antunes nasceu em 1960.
Sua produo potica apresenta um trabalho em que explora os diversos
sentidos de uma palavra, a ponto de esses diferentes sentidos organizarem
toda a construo do texto.
Reproduo/<http://forumpermanente.incubadora.
fapesp.br/portal/convidados/ernestoneto>

Pensamento vem de fora


e pensa que vem de dentro,
expectorar: expelir, pensamento que expectora
colocar para fora.
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora Incubadora, de Ernesto Neto, [s.d.]. Interessado
em trabalhar com objetos que abrangem questes
cresce com o seu fermento; orgnicas e corporais, esse artista carioca
desenvolve peas tridimensionais, como esta da
pensamento, d o fora, foto, em que a pessoa (no caso o prprio Neto)
saia do meu pensamento. envolvida fisicamente pelo objeto, pode sentilo e
fazlo se amoldar a ela. Analisando esta
Pensamento, v embora, instalao artstica, depois de ler o poema, reflita:
desaparea no vento. a sensao de estar em uma incubadora, proposta
por Ernesto em sua obra, algo que vem apenas
E no jogarei sementes de fora, de um objeto ou uma pessoa que nos
em cima do seu cimento. envolve, ou pode vir tambm de dentro?

ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 4. ed.


So Paulo: Iluminuras, 1998.

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INTERPRETAO DO TEXTO
1. Releia os dois primeiros versos: Pensamento vem de fora / e pensa que vem de
dentro.
a) Explique o sentido das palavras fora e dentro no contexto do poema.
b) Como voc interpretaria esses versos?

2. Escreva no caderno a alternativa que completa adequadamente a frase a seguir.


O que incomoda o eu lrico
a) sua facilidade para pensar.
b) sua dificuldade para pensar.
c) a autonomia de seu pensamento.
d) sua familiaridade com suas ideias.
e) a quantidade de ideias incompreensveis que produz.

3. Compare o poema de Arnaldo Antunes com Homem comum, de Ferreira


Gullar, e Torneio, de Armando Freitas Filho.
a) Quanto forma, o que difere o poema deste Texto 3 dos outros dois poemas?
b) Sugira uma possvel explicao para essa diferena entre os poemas.

4. O poema termina com estes versos:


Pensamento, v embora,
desaparea no vento
E no jogarei sementes
em cima do seu cimento
a) As palavras sementes e cimento foram empregadas em sentido metafrico.
Nesses dois versos, elas se opem. Em sua opinio, o que so as sementes
que o eu lrico diz no jogar no cimento do pensamento?
b) A expresso seu cimento ligase a pensamento por meio do pronome
possessivo seu. O que pode significar esse cimento do pensamento?
c) Que valor o eu lrico atribui a seu pensamento no fim do poema?

Para entender
A L I T E R A T U R A B R A S I-
L E I R A C O N T E M P O R N E A
O experimentalismo da gerao de 1922 serviu de base para a literatura
contempornea. Como a sociedade em que vivemos, a literatura de hoje est
fragmentada, em constante transformao. Defini-la talvez ainda no seja pos-
svel. E para compreend-la melhor, assim como a qualquer esttica literria, s
mesmo lendo o que se produz.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 253

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Reproduo/Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA.

A partir da dcada de 1960, importantes fa-


tos histricos marcariam as artes brasileiras. O
mundo vivia o fortalecimento do capitalismo,
em especial o fortalecimento das grandes po-
tncias. Censura, autoritarismo e adversidades
polticas apontam para tempos difceis, mas de
intensa produo artstica.
O consumismo, marca da contemporaneida-
de, caracteriza no s a economia, como todas
as reas compra-se tudo e cada vez mais,
compram-se as ideias, as vidas O homem tor-
nou-se um ser annimo em meio massa. O
mesmo ocorre com a arte, que perde sua auten-
ticidade (seu aspecto nico) ao ser reproduzida
em grande quantidade, tornando-se cada vez
mais uma mercadoria capaz de gerar enormes
Marilyn, de Andy Warhol, 1967. Conjunto de serigrafias de lucros. Na literatura, seguindo essa tendncia,
91,5 cm 91,5 cm cada uma. Museu de Arte Moderna (MoMA),
Nova York, EUA. Reproduzida em sequncia, a imagem da atriz ganham cada vez mais destaque os best-sellers,
Marilyn Monroe tornase um objeto de consumo como outro os mais vendidos, como ocorreu no fim dos
qualquer neste trabalho de Warhol (19281987), um dos grandes
nomes da pop art, movimento que propunha destruir as barreiras
anos 1990, por exemplo, com os livros da coleo
entre a arte e a vida cotidiana. do bruxinho Harry Potter.

O crtico literrio italiano Alfonso Berardinelli, que v os best-sellers de maneira negativa (por vezes ele
expressa sua opinio de modo contundente), acredita que h uma verdadeira indstria pronta a fabric-los.
Leia a seguir o trecho de uma entrevista que ele deu Lucia Wataghin, do jornal Folha de S.Paulo.

[...]
Sobre o best-seller tenho duas ideias principais. A primeira : ele no amplia os horizontes do leitor,
um livro mata-livros, cria o deserto em torno de si, porque o leitor de best-seller no procura outros auto-
res, no curioso, espera a sada do prximo best-seller, porque quer o livro-sntese, que lhe permita no
ler mais nada e lhe d a iluso de ter lido o essencial. A segunda ideia a de que, antes, o best-seller era
frequentemente casual, ao passo que agora se trata de livros programados; h uma indstria do best-seller.
Cria-se um certo produto literrio de acordo com uma frmula considerada magntica, que tende a se
repetir, j que o leitor de best-seller ama a repetio, quer trilhar caminhos seguros.
[...]
WATAGHIN, Lucia. A multido solitria. Folha de S.Paulo, 6 nov. 2005. Folhapress.

Contexto histrico
Aps o suicdio de Getlio Vargas, em 1954, o Brasil enfrentou profundas
transformaes sociais. Do governo do mineiro Juscelino Kubitschek ao do nor-
destino Luiz Incio Lula da Silva, o pas passou por diversos acontecimentos que
interferiram bruscamente em sua produo artstica.
Com Kubitschek no poder, viveu-se uma efervescncia em diversos setores,
incluindo o cultural com seu lema 50 anos em 5, aquele presidente preten-
dia desenvolver cinquenta anos da histria do pas em cinco anos de governo. A
indstria nacional cresceu vertiginosamente nesse perodo. Marcas como Arno,

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Walita, General Electric, Volkswagen, entre outras,

Reproduo/N. V. Cadena-Brasil
chegaram ao Brasil durante seu governo e provo-
caram profundas mudanas na cultura nacional,
gerando, assim, novos hbitos de consumo.
Na primeira metade da dcada de 1960, dois
presidentes da Repblica chegaram ao poder, mas
permaneceram pouco tempo na Presidncia: Jnio
Quadros e, na sequncia, seu vice-presidente, Joo
Goulart, que jamais conquistou a simpatia do Exr-
cito e da elite brasileira. Esses grupos comearam
a engendrar um golpe contra Goulart, o que de
fato ocorreu em maro de 1964, inserindo o Brasil
em um dos perodos mais obscuros da histria na-
cional: a ditadura militar.
A partir de 1964, os militares assumiram o po-
der. Em dezembro de 1968, pressionado por movi-
mentos contrrios ao regime militar, o presidente
em exerccio, o marechal Costa e Silva, fechou o
Congresso Nacional e decretou o Ato Institucional
n 5 (AI-5), que concedia ao poder Executivo o di-
reito de determinar medidas repressivas especficas,
como decretar o recesso do Congresso, das assem-
bleias legislativas estaduais e das cmaras munici-
pais. O governo podia tambm censurar os meios
de comunicao, eliminar garantias de estabilidade
Liquidificadores so uma novidade no Brasil da dcada de
do poder Judicirio e suspender a aplicao do ha- 1950. Neste anncio o eletrodomstico aparece agigantado
beas corpus em caso de crimes polticos. Essa atitu- diante da mulher.
de radical dos militares levou polticos e artistas a
se exilarem no estrangeiro.
Grupos de estudantes e operrios militantes fo-

Agncia O Globo/Arquivo da editora


ram levados clandestinidade. O cenrio repressor
s comeou a receber uma suave luz no final dos
anos 1970, quando se iniciou um processo de aber-
tura poltica a partir da permisso dada volta de
exilados polticos. As artes evidentemente refletiram
esse estado de desgaste e revolta, por meio de obras
marcadas pelo desejo de contestao.
Divulgao/Warner Bros

Em 1o de abril de 1964, tanques circulando na cidade do Rio de


Janeiro concretizam a tomada do governo pelos militares.

Cena do filme Zuzu Angel, de Srgio Rezende, 2006. O filme conta


a histria da ento reconhecida estilista Zuzu Angel, cujo filho,
Stuart, participa da luta armada contra a ditadura. Ao saber que o
filho foi preso, a empresria comea sua busca pelo rapaz ou, ao
menos, pelo corpo do filho, para enterr-lo.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 255

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Joero Sarbach/Associated Press/Glow Images

Se a dcada de 1980 marcada, no Brasil, pela


efetivao da abertura poltica e pela volta, ainda que
problemtica, ao sistema democrtico de governo, no
plano mundial a Guerra Fria chega ao fim, o que
simbolizado pela queda do Muro de Berlim.
Terminamos o sculo XX num cenrio em que
cada vez mais se fortalece a globalizao da econo-
mia, acentuam-se as diferenas entre a riqueza das
potncias econmicas e a pobreza dos pases em de-
senvolvimento e se constata a necessidade de agir
para garantir a sustentabilidade do planeta.
Observe a moa da
Um dos marcos de nossa poca , sem dvida, a comunicao virtual. Vivemos
foto: ela usa dois
notebooks ao mesmo a era da transmisso via internet, uma ideia na rede pode estar em todos os lu-
tempo. Alemanha, gares do mundo. No existe mais a arte para um pblico especfico, h diversas
2008.
possibilidades artsticas que muitas vezes fazem desaparecer a barreira entre o
erudito e o popular.
Eduardo Knapp/Folhapress

Manifestaes artsticas
marcantes do perodo
Os concretistas uma influncia duradoura
Durante a dcada de 1950, um grupo de intelectuais costumava reunir-se
no chamado Clube de Poesia, de So Paulo. A partir desses encontros, os poe-
tas Haroldo de Campos (1929-2003), Dcio Pignatari (1927-2012) e Augusto
de Campos (1931) uniram-se em torno de um movimento potico denomina-
do concretismo, retomando algumas propostas dos modernistas de 1922.
Seus criadores recorrem linguagem dos cartazes, ao ideograma chins
e s artes plsticas para valorizar a estrutura verbal e visual do poema
Os poetas Augusto de Campos, segundo esse movimento, mais importante do que o prprio tema. Para
Dcio Pignatari e eles, o poema caracteriza-se pelo contraste das palavras dispostas no espa-
Haroldo de Campos,
em So Paulo, SP. Foto de
o em branco da pgina. Tambm vale formar imagens a partir de slabas
26 de novembro de 1996. e vocbulos, como no poema ovo novelo, de Augusto de Campos:
Reproduo/Editora Cultrix

CAMPOS, Augusto de. In: BOSI,


Alfredo. Histria concisa da literatura
brasileira. So Paulo: Cultrix, 1979.

256 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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O poema pluvial/fluvial, de Augusto de Campos, construdo pela dispo-
sio repetitiva dos adjetivos pluvial (de chuva) e fluvial (de rio).
Veja que possvel perceber o movimento em que o pluvial se transforma
em fluvial, passando da posio vertical (chuva) para a horizontal (rio).

Reproduo/Ateli Editorial

CAMPOS, Augusto de. Viva vaia: poesia 1949-1979. 3. ed. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2001.

Com Cidade/city/cit, Augusto de Campos produziu um dos mais interes-


santes poemas do concretismo.
A leitura completa do poema s possvel se acrescentarmos as palavras
cidade, city ou cit depois de cada pedao de palavra (atro, cadu, capa,
causti, dupli, elasti, etc.) para formar palavras com o mesmo significado em trs
lnguas diferentes portugus, ingls e francs.
Assim, temos: atroCIDADE, atroCITY, atroCIT; capaCIDADE, capaCITY, capa-
CIT; etc.

Cidade/city/cit
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorgani
[periodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivora
cidade
city
cit

CAMPOS, Augusto de. Cidade/city/cit. In: AGUILAR, Gonzalo Moiss. Poesia concreta brasileira:
As vanguardas na encruzilhada modernista. So Paulo: Edusp, 2005. p. 264-265.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 257

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Bossas, jovens guardas, tropicalismos,
marginalidade
A bossa nova representou uma releitura do samba brasileiro, nos anos 1950,
marcando com o violo o compasso do governo democrtico-populista de Jus-
celino Kubitschek.
Na dcada de 1960, formam-se os movimentos culturais promovidos pela
televiso. A jovem guarda (de Roberto Carlos e Erasmo Carlos) e o tropicalismo
(de Caetano Veloso e Gilberto Gil) so movimentos surgidos em programas e
festivais da TV Record. A jovem guarda cantava a irreverncia, questionava em
suas msicas alguns conceitos morais da poca; muitos tropicalistas e os compo-
sitores das chamadas canes de protesto (como a conhecida Pra no dizer
que no falei de flores, de Geraldo Vandr) eram considerados aliados no com-
bate ditadura, represso.
Em 1970, no auge da ditadura, comea a ganhar espao a poesia marginal.
A palavra marginal caracterizava toda arte que era feita quase que artesanal-
mente, isto , sem muito gasto com edio. Os poemas eram impressos em
pequenas grficas e, s vezes, com mimegrafos. Grampeados ou dobrados,
no tinham muitas edies, ficando restritos a um pblico pequeno, mas que
percebia as diversas vozes desses artistas. Os artistas dessa vertente declamavam
seus textos em praas, bares, universidades. No lanavam livros e se recusavam
a participar de programas de auditrio. A circulao dos textos dessa poca
era feita por meio de cpias ou de exposies em varais ou murais das univer-
sidades do pas.
Com a volta do sistema democrtico
Antonio Ribeiro/Arquivo da editora

sociedade brasileira, nas dcadas finais do


sculo XX e incio do sculo XXI, os artistas
podem gozar de mais liberdade, proliferan-
do ento as tendncias artsticas. Cada es-
critor pode seguir seu estilo sem preocupa-
es com uma esttica definida ou temas
especficos, pois no h um grupo que nor-
teie o trabalho artstico.

Homem vestido com parangol em foto de 1986.


Inventados pelo artista plstico brasileiro Hlio Oiticica na
dcada de 1960, parangols so capas, bandeiras para
serem vestidas ou carregadas. Feitos com panos coloridos
interligados, revelamse melhor quando a pessoa se
movimenta ou quando dana. Essa obra s existe
plenamente, portanto, quando h a participao corporal,
uma vez que a estrutura da pea depende da ao.

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Caractersticas importantes
Vozes da denncia

Divulgao/Philips
Nas dcadas de 1960 e 1970, a arte era o meio possvel
para denunciar os problemas sociais sobretudo em poe-
mas, que muitas vezes acabaram se tornando letra de
msica. Essas letras marcaram a poca, e muitas delas
foram cantadas e apreciadas pelos jovens. So represen-
tantes desse perodo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal
Costa, Tom Z, entre outros, dos quais muitos ainda con-
tinuam ativos.
Observe a seguir a letra de msica Homem bomba
(2002) e, se possvel, oua-a. Composta em ritmo de mar-
chinha de Carnaval, o que torna o contedo bastante
irnico ao retratar um tema to tenso, a msica toca em
feridas atuais e apresenta uma denncia daquilo que
chama de ideologia da agonia.
Capa do LP Tropicalia ou Panis et circencis, lanado
Homem bomba em 1968 pela Philips. Esse disco marca o movimento
tropicalista.
Caetano Veloso e Jorge Mautner

L vem o homem bomba


Que no tem medo algum
Porque daqui a pouco
Vai virar egum

Mas at l, mata um, mata dois egum: esprito no


Mata mais de um bilho desenvolvido que vaga
pela terra, alma
No vai deixar sobrar nenhum penada.
Mas eu sou contra essa ideologia da agonia
Sou a favor do investimento
Pra acabar com a pobreza
Sou pelo estudo e o trabalho em harmonia
O amor e o Cristo Redentor
Poesia na democracia
VELOSO. Caetano; MAUTNER. Jorge. Eu no peo desculpa. [S.l.]: Universal, 2002. 1 CD. Faixa 8.

Mltiplas tendncias
Painel de poesia
Ora voltada para a questo social, ora para o mundo individual, a arte dos
dias atuais aponta para uma multiplicidade de temas e formas. Haicais, poemas
concretos, poemas tradicionais, experimentalismo, tudo isso convive muito bem
neste incio de sculo.
Conhea e saboreie a seguir um painel de poemas bem interessantes que
representam os diversos caminhos poticos trilhados pela literatura contempo-
rnea no Brasil.

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Ferreira Gullar

Oscar Cabral/Arquivo da editora


Estranheza do mundo
Olho a rvore e indago:
est a para qu?
O mundo sem sentido
quanto mais vasto .
Esta pedra esta folha
este mar sem tamanho
fecham-se em si, me
repelem.
Pervago em um mundo estranho.
Mas em meio estranheza
do mundo, descubro
uma nova beleza
Ferreira Gullar (1930), poeta, ensasta e crtico de arte, em
com que me deslumbro: 1954 publica A luta corporal e se aproxima dos irmos
teu doce sorriso Campos e de Dcio Pignatari, integrantes do Concretismo.
tua pele macia A partir de 1961, voltase para o movimento de cultura
popular. preso pela ditadura militar em 1968. Aps um
so teus olhos brilhando longo perodo na clandestinidade, segue para o exlio. Em
essa tua alegria. 1975, em Buenos Aires, l seu Poema sujo para um grupo
Olho a rvore e j liderado pelo poeta Vinicius de Moraes, que consegue
pervagar: andar sem lanar o livro em 1976 e colabora para a volta de Gullar
no pergunto para qu? destino. ao Brasil logo depois.
A estranheza do mundo
se dissipa em voc.
FERREIRA GULLAR. O Globo. Rio de Janeiro, 2 set. 2000. Prosa e verso. Disponvel em:
<www.releituras.com/fgullar_claudia.asp>. Acesso em: 26 fev. 2010.

Ana Cristina Csar

Flavio Cruz/Arquivo da editora


Cabeceira
Intratvel.
No quero mais pr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Fao ar de dura,
muito sbria e dura,
no pergunto
da sombra daquele beijo
que farei?
intil
ficar escuta
ou manobrar a lupa Ana Cristina Csar (19521983), poetisa carioca que
da adivinhao. marcou o cenrio da poesia brasileira sobretudo dos anos
Dito isto 1970, licenciouse em Letras e fez diversas tradues.
Teve os melhores poemas reunidos pela editora
o livro de cabeceira cai no cho. Brasiliense, em 1982, no volume A teus ps. Alguns
Tua mo que desliza poemas seus foram publicados aps sua morte, como os
distraidamente? do volume Inditos e dispersos, da editora tica.
sobre a minha mo
CSAR, Ana Cristina. A teus ps. So Paulo: Brasiliense, 1982.

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Frederic Jean/Arquivo da editora
Arnaldo Antunes
as coisas Arnaldo Antunes (1960), poeta e
compositor paulistano, ficou famoso com
o que a banda Tits, da qual j no faz parte.
(se) foi Recursos de computao grfica e vdeo
muitas vezes so utilizados em sua poesia.
(s)ido Seu trabalho revela afinidades com o
ANTUNES, Arnaldo. As coisas. movimento concretista. Entre suas obras,
So Paulo: luminuras, 1993.
ressaltamos As coisas (editora Iluminuras)
e Como que chama o nome disso
(editora Publifolha).

Edner Morelli

Acervo particular/Arquivo da editora


Ciclo Relgios
Morro-me Relgios?
Socorro-me No os tenho
Naso-me So eles que estragam
Re-naso-me O tempo
Ao centro da hiptese MORELLI, op. cit.

Que brilha
Sempre tardia Edner Morelli (1978), poeta paulistano,
Volto-me. compositor, professor de Literatura.
MORELLI, Edner. Latncia. Estreou em poesia com a publicao de
So Paulo: A-temporal, 2002. Latncia em 2002, pela editora
Atemporal. Recebe influncias ntidas
da poesia lrica produzida no sculo XX,
especialmente a brasileira, ao unir
subjetividade e questes existenciais aos
motivos mais cotidianos.

Paulo Leminski Paulo Leminski

Monica Vendramini/Acervo da fotgrafa


(19441989), poeta,
Apagar-me Se publicitrio e letrista
curitibano,
Apagar-me se aproximouse de
diversas tendncias
diluir-me nem artsticas e literrias
desmanchar-me for da segunda metade
at que depois terra do sculo XX, como
o concretismo e o
de mim se tropicalismo, porm
de ns trans seguiu uma trilha
de tudo for
mais independente,
com influncias dos
no reste mais mar haicais, poesia de
que o charme. LEMINSKI, op. cit. origem japonesa. De
LEMINSKI, Paulo. seu trabalho,
Caprichos e relaxos. destacamos La vie en
So Paulo: Brasiliense, 1983.
close e Distrados
venceremos, ambos
publicados pela
editora Brasiliense.

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Roberto Price/Folhapress

Armando Freitas Filho


Fotografia
No amava o amor. Nem as suas provas
Amava sua engrenagem. A urdidura.
Do palco, o holofote cego
Com a possibilidade da luz.
A cortina caindo em pano rpido
Na boca de cena, sob o corao imaginrio
Artificial e monitorado, diverso
Daquele que batia dentro de si:
Sem controle na bela e na fera.
FREITAS FILHO, Armando. Numeral/Nominal. In: Mquina de escrever:
poesia reunida e revista. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2003.

Armando Martins de Freitas Filho (1940), pesquisador e poeta, publicou


diversos livros de poesia; entre eles, 3x4 (em 1985), pelo qual recebeu o
prmio Jabuti, e Fio terra (em 2000), pelo qual recebeu prmio concedido
pela Biblioteca Nacional.

Affonso vila

Andre Brant/Arquivo da editora


Arte de furtar
O poeta declarou que toda criao tributria de outras
criaes no permanente processo de linguagem da poesia

O poeta afirmou que todo criador tributrio de outros no


processo de linguagem da poesia

O poeta se confessou um criador tributrio de outros na


linguagem de sua poesia

O poeta no esconde que sua poesia tributria da linguagem


de outros criadores

O poeta no esconde que sua poesia influenciada pela Affonso vila (19282012), ensasta e
linguagem de outros criadores poeta, destaca em seus poemas a
linguagem sinttica, de ritmo prprio e
fluente na construo de sentidos. Publicou
O poeta no faz segredo de que se utiliza da linguagem de estudos sobre a modernidade literria e,
outros poetas com particular nfase, sobre a natureza e o
impacto do Barroco no Brasil. A lgica do
erro, coletnea de poema, foi lanada pela
O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de editora Perspectiva e d uma ideia do
outros poetas trabalho desse poeta.

O poeta um deslavado apropriador de linguagens O POETA UM PLAGIRIO


VILA, Affonso. O discurso da difamao do poeta. So Paulo: Summus Editorial, 1978.

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Folhapress/Arquivo da editora
Chacal
Dentes de ao
eu te arranco um pedao com meus dentes de ao
e fao e refao no peito e no brao
e te arranco um pedao com meus dentes de ao
e voc acha pouco e diz que eu sou muito louco
mas eu no dou carne a gato
e no vou pagar o pato dos teus sais dos teus ais
eu quero mais
planetas estrelas cometas
virgnia Sofia Roraima
bem no se fala mais nisso Chacal (1951), poeta e letrista, publicou diversos
livros. Seu trabalho est bem representado no
at que voc descubra
volume Poetas marginais, da Coleo Para
que a bomba H a bossa nova Gostar de Ler, publicado pela editora tica, em
que se pode conhecer tambm outros poetas
est na ponta da lngua que produziram durante a dcada de 1970.
CHACAL. Belvedere: 1971-2007. So Paulo: Cosac Naify; Letrista, Chacal trabalhou com Lulu Santos,
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. p.186.
Fernanda Abreu e Moraes Moreira, entre outros.

Adlia Prado

Clio Apolinrio/Arquivo da editora


Corridinho
O amor quer abraar e no pode.
A multido em volta,
com seus olhos cedios,
pe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta no chega,
o amor fica sem saber se ou no .
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
Adlia Prado (1935), romancista, poeta, formada em Filosofia,
chega na porta cansado publicou em 1976 seu primeiro livro, Bagagem. Alguns de
de tanto caminhar a p. seus textos foram adaptados para o teatro em montagens
bemsucedidas como Dona Doida, protagonizado por
Fala a palavra aucena, Fernanda Montenegro. Quando eu era pequena, Cacos para
pede gua, bebe caf, um vitral e O pelicano, todos publicados pela editora Record,
dorme na sua presena, do uma ideia da obra dessa poeta mineira.

chupa bala de hortel.


Tudo manha, truque, engenho:
descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas gua o amor no .
PRADO, Adlia. O corao disparado. Rio de Janeiro: Record, [s.d.]. by Adlia Prado.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 263

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Mrio Quintana

Luiz Abreu/Nextfoto
Eu queria trazer-te uns versos
muito lindos
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais ntimo de mim
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porm no sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas e que esto escritas
do lado de fora do papel No sei, eu nunca soube o que
dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia Mrio Quintana (19061994), tradutor e
como poeta gacho, em 1940 lanou Rua dos
cataventos, seu primeiro livro de poesias. Da
uma pobre lanterna que incendiou! vasta obra que produziu, podese ter uma
QUINTANA, Mrio. Apontamentos de histria sobrenatural. ideia de seu trabalho com a leitura de Nova
So Paulo: Globo, 2005. by Elena Quintana. antologia potica (editora Globo).

T E X T O E C O N T E X T O
Responda s questes no caderno.

1. (PUCPR) Para responder questo a seguir, leia o poema de Paulo Leminski,


que consta do seu livro Poemas.
Marginal quem escreve margem,
deixando branca a pgina
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro sua passagem.
Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

I. O poema faz referncia poesia marginal, grupo do qual Leminski fez parte.
II. O humor, uma das marcas da poesia leminskiana, remete o leitor ao fazer
potico.
III. um haicai, nos moldes japoneses.
IV. No poema, Leminski faz uma crtica marginalizao do poeta na sociedade.

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a) Apenas as assertivas I e II esto corretas.
b) Apenas as assertivas I, II e III esto corretas.
c) Apenas a assertiva I est correta.
d) Todas as assertivas esto corretas.
e) Apenas a assertiva II est correta.

2. (UCSRS) Observe o poema.

CAMPOS, Augusto de. Luxo. In: MORICONI, talo.


Os cem melhores poemas do sculo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 261.

As afirmaes seguintes referemse ao poema transcrito.


I. um exemplo da poesia concretista, que tem como propsito aliar a explo
rao de aspectos formais crtica da realidade.
II. A crtica sociedade de consumo sugerida pela oposio entre os termos
lixo e luxo.
III. A disposio grfica das palavras fundamental para sua interpretao, uma
vez que possibilita estabelecer relaes entre a forma e o contedo.
Das afirmativas acima, podese dizer que:

a) apenas II est correta. c) I e II esto corretas. e) I, II e III esto corretas.


b) apenas III est correta. d) II e III esto corretas.

3. (Uerj)

Texto

O dia abriu seu parassol bordado


1 O dia abriu seu parassol bordado
2 De nuvens e de verde ramaria.
3 E estava at um fumo, que subia,
4 Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
5 Depois surgiu, no cu azul arqueado,
6 A Lua a Lua! em pleno meio-dia.
7 Na rua, um menininho que seguia
8 Parou, ficou a olh-la admirado
9 Pus meus sapatos na janela alta,
10 Sobre o rebordo Cu que lhes falta
11 Pra suportarem a existncia rude!
12 E eles sonham, imveis, deslumbrados,
13 Que so dois velhos barcos, encalhados
14 Sobre a margem tranquila de um aude.
QUINTANA, Mrio. Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 265

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O autor utilizou nesse poema recursos formais da poesia tradicional e a eles
incorporou traos caractersticos da linguagem modernista.
Considerando a estrutura do poema, identifique dois aspectos formais da poe
sia tradicional e aponte uma caracterstica da linguagem modernista e seu res
pectivo exemplo.

C O M P A R A N D O T E X T O S
Leia a letra de msica , do compositor Gonzaguinha, e comparea ao poema
Homem comum, de Ferreira Gullar (na pgina 248).


Gonzaguinha

!
A gente quer valer o nosso amor
A gente quer valer nosso suor
A gente quer valer o nosso humor
A gente quer do bom e do melhor

A gente quer carinho e ateno


A gente quer calor no corao
A gente quer suar, mas de prazer
A gente quer ter muita sade
A gente quer viver a liberdade
A gente quer viver felicidade

!
A gente no tem cara de panaca
A gente no tem jeito de babaca
A gente no est
Com a bunda exposta na janela
Pra passar a mo nela
Alberto De Stefano/Arquivo da editora

!
A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nao
A gente quer ser um cidado
A gente quer viver uma nao
! ! ! ! ! ! !
GONZAGUINHA. Coraes marginais. Disponvel em:
<http://www.gonzaguinha.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=226:e&catid=
35:letras&Itemid=54>. Acesso em: 9 jan. 2013.

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1. Nos dois textos, temos um eu lrico que compartilha com seus interlocutores
certas caractersticas, impresses e necessidades. Que recurso cada um dos
autores usou para indicar que faz parte do grupo para o qual fala?

2. Os dois textos, com recursos bem diferentes, apresentam objetivos bem pareci
dos. Quais so eles?

3. Perceba, na letra da cano , uma gradao: relendo cada um dos versos,


possvel notar que os desejos apontados tm caractersticas diferentes.
a) Do que trata a primeira estrofe? Comprove com versos da letra.
b) Do que trata a segunda estrofe? Comprove com versos da letra.
c) Do que trata a ltima estrofe? Comprove com versos da letra.

4. Existe na letra da cano um pedido implcito.


a) Em sua opinio, a quem feito esse pedido?
b) O que pedido?

5. Existe no poema Homem comum um pedido explcito.


a) A quem feito esse pedido?
b) O que pedido?

6. Considere as respostas dadas s questes 4 e 5 e identifique uma importante


diferena entre os dois textos em anlise.

E por falar em poesia contempornea


Alm dos autores estudados neste captulo, existe uma nova gerao de
poetas, nascida entre as dcadas de 1960 e 1980, cuja produo literria j
reconhecida.
Selecionamos alguns poemas para que voc conhea um pouco a produo
literria desses jovens poetas.

Faa uma leitura atenta dos textos selecionados a seguir. Depois, renase com
trs colegas, escolham alguns dos poemas lidos no captulo e criem uma manei
ra de divulglos na escola. Vocs podem:
elaborar cartazes. Escrevam um ou mais poemas, ilustreos com desenhos ou
colagens que faam referncia a um dos sentidos sugeridos pelo texto;
preparar uma apresentao de performance potica. Leiam o poema mais
de uma vez, memorizem os versos e pensem em uma forma diferente de
apresentlo. No intervalo das aulas, atraiam as pessoas para algum lugar do
ptio e declamem o poema;
elaborar panfletos poticos. Digitem os poemas escolhidos ou escrevamnos
mo. Acrescentem ilustraes e uma sntese da biografia dos autores.
Ocupem apenas o equivalente a uma folha de sulfite. Imprimam, se tiverem
sido digitados, tirem cpias e distribuamnas entre os alunos da escola.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 267

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Os poemas que selecionamos foram retirados do livro Poesia do dia: poetas
de hoje para leitores de agora.

Seleo de poemas
I. II.
Mrio Bortolotto

No quero descobrir
Aprendizado
Fabrcio Corsaletti
Que te amo
Prefiro continuar ligando Aprender
E dizer que foi engano a ser sozinho
alm de toda
melancolia
III.
no esperar
Passagem nada das coisas
Bruna Beber nem de ningum
mas encantar-se
o beijo que espero vir com tudo o que
da coliso das retas vivo
paralelas e imprime
a caminho da festa um rastro fugaz
banho de lama o amor
na minha melhor roupa vir depois
de raspo passar como tiro como um sacramento
Alberto De Stefano/Arquivo da editora

em quem t do lado
esperando o nibus.

IV.

Da condio primeira
Alberto Pucheu

Com licena de todos os santos e a de meu pai Oxal


pego nesta encruzilhada o prato de comida
A fome grande e pela minha boca que comem os deuses.

V.
Fabrcio Carpinejar

Enquanto te espero,
Sou chamado ao porto. No respondo. VI.
Elisa Andrade Buzzo
O nome ajuda a envelhecer.
Pela rua deserta, as pessoas passam, quando o meu amor
fechadas como as lojas. tira os olhos de mim
Enquanto te espero, eu no enxergo
Custo a recobrar o sono recente.
A nudez adormece
quando acordamos.
Amadurecem os dias
como se fossem meus. SARMATZ, Leandro (Org.). Poesia do dia: poetas de hoje para
leitores de agora. So Paulo: tica, 2008.

268 UNIDADE 5 PONTOS DE VISTA

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A P R O V E I T E P A R A...
ler
Literatura brasileira hoje, de Manuel da Costa Pinto, editora Publifolha.
O livro destaca sessenta autores (trinta poetas e trinta prosadores) da atualidade, mostrando
quem tem feito a literatura nacional dos dias de hoje.

Coyote Revista de literatura e arte, editora Kan.


Revista editada em Londrina pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak, Maurcio
Arruda Mendona e Ademir Assuno. Apresenta tradues de textos literrios bastante interes-
santes e inditos no Brasil, alm de novos poetas brasileiros.

Inimigo rumor Revista de poesia, editora 7 Letras.


A revista dedica-se publicao de poemas e textos crticos sobre poemas, publicada pelas
editora 7 Letras em parceria com a Cosac Naify.

Boa companhia: poesia, editora Companhia das Letras.


Neste livro so apresentados alguns poemas de cada um dos dezesseis poetas que, hoje, repre-
sentam parte da produo potica brasileira contempornea.

Os cem melhores poemas brasileiros do sculo, seleo de talo Moriconi,


editora Objetiva.
Trata-se da seleo de poemas diversos, reunidos nesse volume pela qualidade inegvel de
cada produo.

assistir a
O que isso, companheiro?, de Bruno Barreto (Brasil, 1997).
Durante a ditadura militar das dcadas de 1960 e 1970, grupo de jovens sequestra embaixa-
dor norte-americano para troc-lo por prisioneiros polticos.

O ano em que meus pais saram de frias, de Cao Hamburger (Brasil, 2006).
Mauro um garoto comum de 12 anos, mas tudo muda em sua vida quando seus pais,
perseguidos pela ditadura, resolvem fugir um dia, deixando-o com o av e uma nova realidade.
Divulgao/Buena Vista

O ator Michel Joelsas no papel de


Mauro, um dos protagonistas do
filme O ano em que meus pais
saram de frias.

ver na internet
www.releituras.com
O site oferece textos e dicas, alm de biografias de autores nacionais e internacionais conhe-
cidos. Acesso em: 9 jan. 2013.

http://www.literal.com.br
Site com notcias, matrias, crticas e comentrios sobre literatura brasileira, que d acesso
aos sites oficiais de escritores como Luis Fernando Verissimo, Lygia Fagundes Telles, Ferreira
Gullar, Rubem Fonseca e Zuenir Ventura. Acesso em: 9 jan. 2013.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORNEA POESIA 269

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6
UNIDADE

Temas e cenas

Nesta unidade, voc vai estudar o texto dissertativo e tambm


tomar contato com alguns textos em prosa, pequenos exemplos
das produes literrias brasileiras contemporneas.
Marlene Bergamo/Folhapress

Foto de 2009 que mostra detalhe da finalizao


de um painel que integrou a exposio De dentro
para fora, de fora para dentro, na galeria
subterrnea do Museu de Arte de So Paulo.
Artistas cobriram 1 500 metros quadrados do
local com tinta ltex e spray. A exposio levou a
arte dos muros da cidade o grafite s salas
do museu.

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Rogrio Soud/Arquivo da editora

< Quadro de
Ao final desta unidade, verifique o que voc aprendeu em
objetivos
relao aos seguintes objetivos:
Ler e compreender textos dissertativos.
Produzir textos dissertativos com base em temas propostos.
Elaborar perguntas e respostas sobre o tema.
Definir qual ser a tese de seu texto.
Criar um texto dissertativo com a estrutura adequada.
Atender proposta de produo de um texto dissertativo.
Conceber um texto coeso, com ideias bem articuladas e con-
cluses lgicas.
Saber argumentar.
Interpretar textos em prosa de autores contemporneos.
Conhecer as caractersticas da prosa contempornea.

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LNgUA E proDUo DE TExTo
> Interdisciplinaridade com:
Sociologia, Filosofia,
Histria, Geografia, Arte,
Biologia, Fsica, Qumica. o texto
dissertativo

p A r A C o M E A r
Observe os passos para a produo de um texto dissertativo sugeridos por
Antnio Surez Abreu em seu livro A arte de argumentar, publicado pela edito-
ra Ateli.

1o passo: Escrever em forma de pergunta um problema relacionado ao tema


sobre o qual dever dissertar. Por exemplo:
Tema: Aquecimento global.
Problema: Quem ganha com o aquecimento global?

2o passo: Encontrar possveis respostas para a pergunta. Por exemplo:


Hiptese 1: Todo o mundo perde com o aquecimento global.
Hiptese 2: Muita gente j investe prevendo os lucros com o
aquecimento global.

3o passo: Escolher a melhor hiptese que ser a sua tese. Por exemplo:
Tese: Muita gente j investe prevendo os lucros com o aquecimen-
to global.

Tomando por base esse modelo, copie o quadro a seguir no caderno e comple-
Ateno: No escreva
No livro. Faa as
atividades No caderNo.
te-o como se fosse planejar um texto dissertativo.

1o passo: tema/problema 2o passo: hipteses 3o passo: tese

Hiptese 1: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||
Tema: O lixo nas grandes cidades
Hiptese 2: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | Tese: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
Problema: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
Hiptese 3: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||

Tema: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | Hiptese 1: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||

Problema: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | Hiptese 2: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | Tese: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |


|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| Hiptese 3: | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | |||||||||||||||||||||||

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Dissertar apresentar a um leitor pontos de vista, opinies; argu-
mentar sobre determinado assunto, expondo uma ideia. Assim, o objeti-
vo principal do texto dissertativo convencer ou instruir o interlocutor TExTo
por meio de argumentos convincentes.

Leia com ateno o texto dissertativo a seguir elaborado por um candidato dos
exames vestibulares da Fuvest em 2007.

Divina ddiva
A amizade, para os povos da Antiguidade clssica, era a melhor e mais
agradvel ddiva dos imortais. Esta face das relaes humanas valorizada
desde o incio da evoluo at a contemporaneidade.
complicado viver sem a felicidade de se encontrar num amigo.
Assim como no h nada mais doce do que confiar inteiramente em
algum. A felicidade seria desnecessria, se no houvesse com quem o
homem partilh-la, como o mestre e o discpulo, cujas vitrias e alegrias
de um, so tambm do outro. Os filsofos da Grcia Antiga, Scrates e
Plato, respectivamente mentor e aluno, cultivaram uma amizade to
profunda a ponto dessas condies se mesclarem. De seus conhecimentos
surgiram as bases da sociedade ocidental.
Outros casos de amizades verdadeiras geradoras de grandes ideias
ocorreram na histria. Como o dos economistas e filsofos Karl Marx e
Friederich Engels, que revolucionaram com O Manifesto Comunista,
plantando as ideologias de futuras grandes naes, como a extinta Unio
Sovitica. Pode-se lembrar inclusive dos franceses Roger Bastide e Pierre
Verger, de cuja amizade nasceram grandes teses antropolgicas sobre o
Brasil, em especial o Nordeste, e milhares de fotografias que rodam o
mundo em exposies apresentando o brasileiro de meados do sculo XX
para outras culturas.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

o TExTo DISSErTATIVo 273

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Este sentimento quando sincero, gera uma intimidade sem reservas.
Sentir-se seguro e confiar em algum uma sensao inerente
humanidade. No meio social contemporneo acreditar nas pessoas
tornou-se tarefa rdua, uma vez que a fidelidade, a confiana e a lealdade
se desvincularam dos princpios morais, dando espao para a inveja, o
cime e a vingana. Cada vez mais difcil manter um amigo digno, o
qual fosse capaz de realmente sofrer numa despedida e de se alegrar nas
conquistas do outro. A amizade e o amor so complementares, ambos
exigem sentimentos sinceros e recprocos.
Para a humanidade a existncia de amigos sinceros urgente, o homem
incapaz de conviver isolado em si mesmo. preciso uma reviso dos
princpios bsicos para evitar a imoralidade, que envenena amizades e
transforma Edmounds Dants em Condes de Monte Cristo.
Divina ddiva. Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2007/bestred/502395.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

INTErprETAo Do TExTo
A coerncia de um texto o resultado da organizao dos argumentos de
forma coesa somados ao conhecimento de mundo da pessoa que o escreve. Essa
organizao que leva o interlocutor a uma interpretao adequada.
Richard Melloul/Sygma/Corbis/Latinstock

Cena de O conde de Monte Cristo, de Jose Dayan,


1998, uma adaptao para o cinema do romance de
mesmo nome, de Alexandre Dumas, concludo em
1844. A personagem principal da histria, Edmond
Dants, um homem simples e bom, preso
injustamente. Na priso, um abade lhe conta onde est
escondido um grande tesouro. Dants foge e, com a
imensa fortuna do abade, torna-se o conde de Monte
Cristo, iniciando, assim, um ciclo de vingana aos
responsveis por sua condenao.

1. O texto que voc leu recebeu nota 10 no vestibular da Fuvest de 2007. Sabendo
que, em geral, o texto dissertativo deve apresentar uma tese (uma ideia), iden-
tifique no texto a tese que o autor pretende defender.

2. A coerncia de um texto manifesta-se por uma rede coesiva que apresenta vrios
fatores importantes. Vamos analisar um deles.
a) Releia a resposta questo 1 e destaque da tese o substantivo que serve de
palavra-chave no texto.
b) Identifique nos demais pargrafos palavras semelhantes ou iguais quela que
voc destacou na questo a.

274 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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c) Pelas respostas apresentadas nos itens a e b, escreva no caderno a afirmati-
va correta.
A repetio de palavras, no texto, acontece pelo fato de o autor no ter
um vocabulrio mais amplo.
A repetio apresentada no texto um importante recurso coesivo, por-
que recupera elementos para reforar a argumentao.
A repetio representa um erro grave no desenvolvimento dos argumentos
de uma dissertao.

3. A coeso por referncia pode ocorrer pela substituio de palavras ou expres-


ses por pronomes (pessoais, demonstrativos, possessivos), advrbios de lugar,
artigos definidos, expresses sinnimas, etc.
Leia as frases destacadas a seguir e identifique o termo que estabelece a coeso
entre as ideias expostas. Em seguida, explique que ideias ou palavras esse termo
retoma.
a) A amizade, para os povos da Antiguidade clssica, era a melhor e mais
agradvel ddiva dos imortais. Esta face das relaes humanas valorizada
desde o incio da evoluo at a contemporaneidade.
b) A amizade, para os povos da Antiguidade clssica, era a melhor e mais
agradvel ddiva dos imortais [] Este sentimento quando sincero, gera uma
intimidade sem reservas.

4. Um texto coerente e coeso deve apresentar, alm da retomada (repetio), outros


fatores importantes, como a progresso. Leia e compare os excertos de textos
dissertativos destacados.

i.
Para se atingir o sucesso profissional, tem que estar bem preparado, ter uma boa
formao escolar, ter talento e coragem para superar os obstculos que vm pela frente
e se dedicar ao mximo na profisso. A felicidade na vida profissional ocorre quando
o talento nela empregado harmnico com a vocao. O mercado de trabalho assimi-
la o profissional no por causa de sua vocao, mas sim por causa de seu talento.
Disponvel em: <http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/ult4657u178.jhtm>.
Acesso em: 4 fev. 2012.

ii.
complicado viver sem a felicidade de se encontrar num amigo.
Assim como no h nada mais doce do que confiar inteiramente em
algum. A felicidade seria desnecessria, se no houvesse com quem o
homem partilh-la, como o mestre e o discpulo, cujas vitrias e alegrias
de um, so tambm do outro. Os filsofos da Grcia Antiga, Scrates e
Vaticano, Cidade do Vaticano, Itlia.

Plato, respectivamente mentor e aluno, cultivaram uma amizade to


akg-images/Latinstock/Museu do

profunda a ponto dessas condies se mesclarem. De seus conhecimen-


tos surgiram as bases da sociedade ocidental.

Busto do filsofo grego Plato (427 a.C.-347 a.C.), em cpia romana de escultura grega.
Plato foi amigo e discpulo do filsofo Scrates (470 a.C.-399 a.C.).

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Os excertos apresentados opem-se: em um deles, as ideias no se desenvolvem,
voltam ao ponto de partida, o autor no passa informaes novas ao leitor;
enquanto no outro h uma progresso no tratamento do tema.
a) Em sua opinio, em que texto se apresenta ao leitor pouca ou nenhuma in-
formao adequadamente desenvolvida? E em que texto, a cada etapa,
acrescentam-se novas informaes ao leitor, garantindo sua progresso?
b) Acrescente ao excerto a seguir uma informao criada por voc. Para intro-
duzi-la, utilize expresses como a respeito de, no que se refere a ou
quanto a, entre outras.
Outros casos de amizades verdadeiras geradoras de grandes ideias ocor-
reram na histria. Como o dos economistas e filsofos Karl Marx e Friederich
Engels, que revolucionaram com O Manifesto Comunista, plantando as
ideologias de futuras grandes naes, como a extinta Unio Sovitica.

5. A progresso faz-se ao longo do texto, isto , um pargrafo no deve repetir


uma ideia exposta anteriormente sem nada lhe acrescentar.
Copie o quadro a seguir no caderno. Depois, verifique como ocorre a progresso
no texto lido e complete os pargrafos do quadro.

pargrafo sntese do assunto desenvolvido

1o A amizade sempre fez parte das relaes humanas.

2o |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

3o ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

4o ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

5o O homem, um ser social, no feliz sem amigos sinceros.

6. A progresso temtica resulta de um raciocnio lgico que implica o surgimento


de uma ideia. Veja:
complicado viver sem a felicidade de se encontrar num amigo. Assim como
no h nada mais doce do que confiar inteiramente em algum.

Pela sequncia do raciocnio, percebemos que quem no tem um amigo no


feliz, consequentemente felicidade ter um amigo para compartilhar
sua vida.
a) Analise, no caderno, a progresso do seguinte raciocnio:
Os amigos so o principal indicador de bem-estar na vida de algum. Ter
laos fortes de amizade aumenta nossa vida em at 10 anos e previne uma
srie de doenas.
COSTA, Camila. Revista Superinteressante, ed. 288, fev. 2011. Disponvel em:
<http://super.abril.com.br/cotidiano/amizade-coisas-mais-importantes-nossas-vidas-619643.shtml>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

b) Volte atividade 4. O texto i no apresenta progresso de informaes.


Reescreva-o, utilizando a tcnica aqui exposta.

7. Releia o primeiro e o segundo pargrafo do texto Divina ddiva e compare-os


com o ltimo. Qual deles, por ter verbos no tempo presente, pretende apresen-
tar uma verdade? Procure explicar por que esse pargrafo tem tal caracterstica.

276 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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8. Os textos dissertativos apresentam tambm mecanismos de conexo verbal, que
devem explicitar continuidade ou oposio entre as ideias expostas no texto.
Leia os perodos a seguir e preste ateno nos conectores destacados. Depois,
escreva no caderno:
(1) para os perodos compostos por subordinao;
(2) para os perodos compostos por subordinao e coordenao.
a) A felicidade seria desnecessria, se no houvesse com quem o homem
partilh-la [].
b) Os filsofos da Grcia Antiga, Scrates e Plato, respectivamente mentor e
aluno, cultivaram uma amizade to profunda a ponto dessas condies se
mesclarem.
c) No meio social contemporneo acreditar nas pessoas tornou-se tarefa rdua,
uma vez que a fidelidade, a confiana e a lealdade se desvincularam dos
princpios morais [].
d) preciso uma reviso dos princpios bsicos para evitar a imoralidade, que
envenena amizades e transforma Edmounds Dants em Condes de Monte
Cristo.

9. Escreva no caderno a(s) alternativa(s) que completa(m) adequadamente a frase


a seguir.
O texto lido aparece no site das melhores redaes da Fuvest. Da podemos
concluir que
a) perodos compostos cujas oraes se interligam por meio de diferentes co-
nectores so inadequados ao texto dissertativo.
b) perodos curtos no ligados por conectivos no so a melhor forma de apre-
sentao de um texto dissertativo.
c) perodos compostos cujas oraes se interligam por meio de diferentes co-
nectores so adequados ao texto dissertativo.

p r o D U o D E T E x T o
o texto dissertativo
O texto dissertativo produzido em situaes que exigem do produtor a
apresentao do seu ponto de vista em relao a determinado assunto. Sua
produo comum, em especial no ambiente escolar, para desenvolver a com-
petncia comunicativa do aluno e prepar-lo para situaes de produo reais,
como processos seletivos de candidatos a vagas em universidades, concursos,
estgios, e a cargos em empresas pblicas e privadas.
A avaliao do texto pelo professor ou corretor ocorre em todos esses casos.
O bom desempenho do aluno lhe possibilitar a consolidao do aprendizado e
o do candidato lhe dar maior chance de ocupar a vaga.
Nessas situaes de produo, espera-se que o autor demonstre sua compe-
tncia para dissertar, ou seja, para discorrer logicamente, organizando um texto
com comeo, meio e fim sobre determinado assunto.

o TExTo DISSErTATIVo 277

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No texto dissertativo, o autor precisa externar seu pensamento a respeito do
assunto proposto demonstrando senso crtico, independncia de opinio e ca-
pacidade comunicativa. Ao dissertar, o indivduo precisa selecionar, articular e
expor suas ideias, para, assim, participar efetivamente das mais diversas situaes
sociais em que deve apresentar seu ponto de vista.
O texto dissertativo tem sempre uma inteno: expor o ponto de vista do
autor do texto a outras pessoas, que podem concordar com a ideia ou refut-la.
Como na dissertao apresentado o ponto de vista de quem escreve, bom
evitar se prender a um modelo ou a uma forma de texto que no expresse esse
ponto de vista. Leia o que comenta a professora Maria Thereza Fraga Rocco,
responsvel pelas provas de redao da Fuvest, em que predomina a sequncia
dissertativo-argumentativa:
As boas redaes so aquelas que obedecem ao discurso dissertativo que tm
comeo, meio e fim e so fruto da independncia do pensamento de cada um.
Ficamos exaustos de ver a camisa de fora enfiada nos jovens pela escola ou pelos
cursos preparativos.
Revista Guia do estudante: redao vestibular. So Paulo: Abril, 2008.

O leitor do texto quer saber a opinio do autor, o que ele pensa sobre o
assunto dado e como pensa. Para realizar uma produo que atenda a esse pro-
psito, preciso demonstrar maturidade intelectual ao se posicionar sobre o
tema e clareza na organizao desse pensamento.
O autor da dissertao deve expressar suas ideias e defend-las por meio de
argumentos prprios, construdos a partir de sua viso de mundo. Na interao
autor-leitor, o objetivo da dissertao convencer o leitor do ponto de vista do
autor, que, para persuadir e convencer, deve usar argumentos convincentes.
Toda informao, experincia de vida e conhecimento adquirido ao longo
do tempo podem ajudar a elaborar o texto dissertativo. Veja outro comentrio
da professora Maria Thereza para a mesma revista:
Pedimos temas que exijam que ele [o aluno] saiba refletir, julgar, analisar sob
diversos ngulos, e nunca tpicos referentes s notcias recentes de jornal. Os estu-
dantes ficam preocupados com a possibilidade de que caiam temas como a violncia
urbana, o aquecimento global, o gs natural da Bolvia. No vai cair nada disso, j
digo de cara!
Revista Guia do estudante, op. cit.

O mais importante em relao a um tema a sua progresso, isto , como o


tema se desenvolve. Convm lembrar que uma dissertao precisa ter raciocnio
lgico ou encadeamento de ideias, de maneira que uma implique o surgimento
da seguinte. Cada uma das partes que formam um texto dissertativo introdu-
o, desenvolvimento e concluso tem um objetivo diferente, que exige um
trabalho especfico de redao. Leia uma das dissertaes da Fuvest 2007 que
alcanou boa colocao, com nossos comentrios ao lado:

Vnculos que superam as diferenas


O primeiro pargrafo
expe a opinio do Um dos sentimentos mais admirveis que um ser humano pode desenvolver por
autor a respeito do outro a amizade. atravs dela que muitas pessoas conseguem suportar grandes
assunto proposto.
problemas em suas vidas e vencem grandes desafios.

278 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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Apesar de muitos argumentarem sobre quo difcil encontrar algum digno de Os pargrafos 2, 3 e
confiana, o preo a ser pago nessa procura rende frutos ainda maiores quando se 4 argumentam, isto ,
apresentam ideias do
encontra uma pessoa disposta a cultivar uma amizade verdadeira com outra. autor para convencer
A sabedoria popular prega que nenhum ser humano uma ilha, e essa mxima o leitor. Para isso,
confirmada pelo cantor e compositor Tom Jobim, quando diz que impossvel ser foram usados alguns
recursos, como
feliz sozinho. Os seres humanos precisam conviver em sociedade e criar vnculos citaes simples
fortes uns com os outros, porque a verdadeira amizade mais profunda do que as e sofismas.
pessoas imaginam: no um relacionamento superficial, mas antes construda
base da confiana, ou seja, lentamente.
H muitas pessoas que buscam amizades, mas nessa busca no se importam com
sentimentos alheios. Essa forma de procura por amigos prejudicial porque egosta.
Para ter amizades verdadeiras, as pessoas devem antes moldar-se para serem amigas,
respeitando as outras pessoas, interessando-se por elas, e dessa forma descobriro afi-
nidades que as faam mais prximas umas das outras.
H tambm quem queira manter-se longe de outras pessoas e no cultivar amizades
com medo de ser magoado por algum. Nos relacionamentos as pessoas de fato discordam
umas das outras, e isso pode acontecer em amizades verdadeiras tambm, mas se houver
real interesse entre as partes envolvidas, as diferenas so superadas a fim de que haja a
retomada da amizade e assim preserve-se tambm a qualidade nos relacionamentos.
Portanto, o preo a ser pago no desenvolvimento de relacionamentos entre as pes- O ltimo pargrafo
soas rende bons frutos, e cultivar amizades verdadeiras faz bem aos seres humanos. A expe novamente a
opinio do autor, sua
criao de vnculos interpessoais ajudam o indivduo a superar problemas e moldam-no viso de mundo, suas
para que se interesse por outras pessoas. A verdadeira amizade faz com que as pessoas crenas e seus valores.
superem as diferenas e busquem uma boa qualidade em seus relacionamentos.
Vnculos que superam as diferenas. Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2007/bestred/500105.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

Em relao lngua, preciso ser claro e, para isso, o ideal usar frases de-
clarativas, vocabulrio simples e, de preferncia, objetivo conveniente evitar
os clichs, ou seja, as frases feitas, como a unio faz a fora, preciso saber
viver, etc. D preferncia ordem direta dos enunciados (primeiro sujeito, de-
pois verbo e, por fim, complementos). No se pode esquecer de usar termos que
articulem as partes, para a progresso do tema, como entretanto, assim, por
isso, logo, que contribuem para a coeso necessria a um texto.
A respeito do estilo, ou seja, o jeito de escrever uma dissertao, preciso
observar a presena de determinadas marcas gramaticais, como o verbo ser das
oraes subordinadas substantivas subjetivas. Por exemplo, comum que apa-
ream construes do tipo importante, intil, etc. Note que elas
ajudam a apresentar a opinio do autor de forma objetiva. O tempo verbal pre-
dominante o presente com valor atemporal, que transmite a ideia de que a
opinio dada vale generalizadamente.

Atividade 1 Como fazer a introduo


Em uma dissertao, o produtor deve apresentar claramente seu ponto de
vista ao leitor. Para isso, deve deixar claro o que pensa sobre o assunto logo no
incio do texto. Portanto, a introduo deve ser clara, objetiva e autnoma, ou
seja, no necessrio ler a proposta para compreend-la.

O TEXTO DISSERTATIVO 279

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Os pargrafos abaixo introduzem dissertaes premiadas nos vestibulares
mais concorridos do pas.

Introduo 1
A amizade tem sido eleita por pensadores e artistas de diversos tempos como
uma das coisas mais importantes da vida. H quem lhe atribua importncia maior
que o amor.
Em nosso mundo contemporneo no faltam produes escritas ou audiovi-
suais que coloquem a amizade no mais alto patamar. Porm, tanto nas produes
dos tempos passados como nas dos tempos atuais, a amizade tratada como um
ideal, no sentido de que algo difcil de ser conseguido.
Revista Guia do estudante, op. cit.
Bettmann/Corbis/Latinstock

Introduo 2
Segundo o filsofo Nietszche, os inimigos tm grande importncia na vida
do homem, medida que um indivduo s se desenvolve a partir do embate com
quem tem opinies e condutas diferentes das suas. No entanto, sabido tambm
que o companheirismo, a cumplicidade e o apoio de um bom amigo so funda-
mentais para garantir a felicidade e o crescimento de cada um.
Idem.

Retrato do filsofo
alemo Friedrich W. Note que, mesmo sem conhecermos o tema proposto, compreendemos essas
Nietzsche (essa a introdues. Nos dois exemplos, os autores apresentam uma ideia comum, par-
grafia correta do
sobrenome dele). tilhada entre a maioria das pessoas para, em seguida, apresentar a ideia que ser
Viveu de 1844 a defendida ao longo do texto. Perceba que a estratgia usada em ambos os mo-
1900 e, em seus textos, delos a mesma:
foi crtico em relao
cultura ocidental e
suas religies. IDEIA COMUM IDEIA DEFENDIDA PELO AUTOR

Veja que, nos dois pargrafos, a parte que apresenta a opinio de quem
escreve iniciada com um conectivo de oposio: porm, no entanto.

Considerando como modelos os exemplos e a estratgia de construo de tex-


to, elabore o(s) pargrafo(s) de introduo de uma dissertao sobre o mesmo
tema da Fuvest 2007, reproduzida a seguir.

Tema da Fuvest 2007


Em primeiro lugar [] pode-se realmente viver a vida sem conhecer a felici-
dade de encontrar num amigo os mesmos sentimentos? Que haver de mais doce
que poder falar a algum como falarias a ti mesmo? De que nos valeria a felicidade
se no tivssemos quem com ela se alegrasse tanto quanto ns prprios? Bem dif-
cil te seria suportar adversidades sem um companheiro que as sofresse mais ainda.
[]

280 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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Os que suprimem a amizade da vida parecem-me privar o mundo do sol: os
deuses imortais nada nos deram de melhor, nem de mais agradvel.
CCERO. Da amizade.

Aprecio no mais alto grau a resposta daquele jovem soldado a quem Ciro
perguntava quanto queria pelo cavalo com o qual acabara de ganhar uma corrida
e se o trocaria por um reino: seguramente no, senhor, e no entanto eu o daria
de bom grado se com isso obtivesse a amizade de um homem que eu considerasse
digno de ser meu amigo. E estava certo ao dizer se, pois, se encontramos facil-
mente homens aptos a travar conosco relaes superficiais, o mesmo no acon-
tece quando procuramos uma intimidade sem reservas. Nesse caso, preciso que
tudo seja lmpido e oferea completa segurana.
Adaptado de: MONTAIGNE. Da amizade.

Amigo coisa pra se guardar,


Debaixo de sete chaves,
Dentro do corao
Assim falava a cano
Que na Amrica ouvi
Mas quem cantava chorou,
Ao ver seu amigo partir
Mas quem ficou,
No pensamento voou,
Com seu canto que o outro lembrou.
[]
BRANT, Fernando; NASCIMENTO, Milton. Cano da Amrica.

[]
E sei que a poesia est para a prosa
Assim como o amor est
Para a amizade.
E quem h de negar que esta
Lhe superior?
[]
VELOSO, Caetano. Lngua.

Considere os textos e a instruo abaixo:


Instruo: A amizade tem sido objeto de reflexo e elogios de pensadores
e artistas de todas as pocas. Os trechos sobre esse tema, aqui reproduzidos,
pertencem a um pensador da Antiguidade clssica (Ccero), a um pensador
do sculo XVI (Montaigne) e a compositores da msica popular brasileira
contempornea. Voc considera adequadas as ideias neles expressas? Elas so
atuais, isto , voc julga que elas tm validade no mundo de hoje? O que sua
prpria experincia lhe diz sobre esse assunto? Tendo em conta tais questes,
alm de outras que voc julgue pertinentes, redija uma dissertao em prosa,
argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o assunto.
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2007/provas/2fase/por/red.gif>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

o TExTo DISSErTATIVo 281

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ATIVIDADE 2 Como avaliar uma
introduo
A seguir apresentamos duas introdues. Uma delas foi considerada fraca,
abaixo da mdia; a outra obteve avaliao positiva e est entre as melhores
produes de 2008. Copie no caderno a introduo que considerar positiva e
elabore uma lista com os motivos que o levaram a essa escolha.

Introduo 1
A agricultura uma das culturas mais importantes para o desenvolvi-
mento do Brasil. Mesmo inconscientemente grande parte da populao con-
tribui para isso, j que a qualidade de vida, adquirida atravs do uso de
produtos naturais, um dos assuntos mais questionados atualmente, poden-
do at ser considerada um status para quem a tem ou quer ter.
Revista Guia do estudante, op. cit.

Introduo 2
Atualmente o Brasil um dos pases que mais vm se destacando na rea de
bionergia, que vem atraindo ateno e investimento crescente de todos os setores
da sociedade. Destinar a produo agrcola brasileira para atender gerao de
bionergia significa criar um cenrio propcio ao cultivo, armazenamento, trans-
porte, transformao e venda de bioenergticos, como lcool e leos vegetais,
tendo em vista o desenvolvimento econmico e social da populao.
Idem.

Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

ATIVIDADE 3 Como fazer a montagem


de uma dissertao
No quadro a seguir, h trs dissertaes (Fuvest, 2006) que foram desmontadas.
Na coluna da esquerda, leia as introdues desses textos. Na coluna da direita,
esto os pargrafos que se ligam a essas trs introdues (portanto, correspondem
ao desenvolvimento da apresentao ou defesa do tema de cada dissertao).
Localize termos e/ou ideias que so mencionados na introduo e recuperados
no desenvolvimento do texto, os quais marcam a progresso textual e possibili-
tam fazer a conexo entre introduo e desenvolvimento. Em seguida relacione
no caderno o nmero (1, 2 ou 3) do pargrafo inicial com a letra (A, B ou C) das
continuaes da coluna da direita.

282 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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1 A
Uma obra de arte, um prdio, uma No entanto, observando-se as sociedades modernas, uma cons-
ponte ou um estudo acadmico, num tatao se impe: contrariamente a um progressivo e homogneo
primeiro momento, podem no estar desaparecimento do trabalho, o que ocorre uma diminuio no
relacionados, mas se considerar-se nmero de postos e uma concentrao do trabalho em efetivos
como produtos de trabalho, as rela- reduzidos, criando uma luta acirrada pelos empregos disponveis
es se estabelecem. e, ao mesmo tempo, uma presso extrema sobre os empregados.
Por que, ento, no se pde desenvolver um modelo social
compatvel com o declnio do trabalho? A resposta simples: por-
que a concepo de tal modelo teria de considerar exclusivamente
o aspecto tcnico do trabalho, o que um erro. Do mesmo modo
a parte tcnica do trabalho de um gnio como Michelangelo
precedida pela maturao de um anseio criativo; no homem co-
mum, a parte tcnica do trabalho precedida por um anseio pro-
dutivo que, no podendo materializar-se, torna-se frustrao.
[...]
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2006/bestred/505717.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

2 B
O trabalho a forma pela qual o Um prdio fruto de vrios profissionais, desde engenheiros e
homem transforma a natureza, geran- arquitetos que o projetaram aos pedreiros e mestre de obras que o
do toda a riqueza que possui. Desde executaram. Da mesma forma que uma obra de arte, como a es-
o trabalho primitivo do homem caa- cultura David de Michelangelo, produto de trabalho do artista
dor e coletor at o trabalho assalaria- que o concebeu. Desse modo, o trabalho possui vrias facetas,
do, tpico do sistema capitalista, as podendo ser classificado como trabalho intelectual, braal, artsti-
diferentes formas de trabalho acom- co ou produtivo.
panham as transformaes histricas Infelizmente, na sociedade atual, h formas de trabalho que so
e econmicas das diferentes socieda- mais valorizadas que outras. Por exemplo, o trabalho de um advogado
des, nas mais diversas pocas. atra- mais conceituado que o de um carpinteiro e pode ser visto na forma
vs do trabalho que o homem cons- de remunerao. Um advogado recebe mais pelas mesmas horas tra-
truiu sua histria e ainda assim acre- balhadas que um carpinteiro. Isso porque o pensamento contempo-
dita-se que o fim do trabalho pode rneo e capitalista enxerga que o advogado agrega mais valor cadeia
estar prximo. produtiva e, portanto, gera mais renda que o carpinteiro.
A essa primeira diferenciao, verifica-se que o progresso tcni-
co e capacidade produtiva ao longo dos sculos, ao invs de propor-
cionar mais tempo prpria humanidade, implicou o aumento do
trabalho e maior distncia entre os que dominam tais tcnicas e os
que esto margem delas. A era digital e o uso de computadores e
softwares modernos permitiu maior produtividade, corte de custos
e otimizao do processo produtivo aos que dela participam. Tam-
bm implica maior carga de trabalho. Porm, aos excludos, signifi-
cou desemprego e marginalizao.
[...]
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2006/bestred/503031.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

o TExTo DISSErTATIVo 283

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3 C
As ltimas dcadas viram florescer Alguns tericos que pensavam sobre os rumos do trabalho no
no pensamento ocidental novas teorias futuro prximo, como Peter Drucker, consideram que, com a au-
acerca do trabalho. Entre elas, destaca-se tomao da produo e a informatizao dos servios, natural
a estrondosa e aparentemente otimista que o trabalho deixe de fazer parte da vida de uma grande parcela
teoria do fim do trabalho. Com efeito, da populao mundial. Essa parcela no tendo mais de trabalhar
j parece bem remoto o tempo em que, para sobreviver, poderia dedicar-se ao chamado trabalho criativo
na Inglaterra recm-industrializada, o ou artstico ou artesanal, que se caracteriza pela realizao e pela
desemprego era considerado vagabun- plenitude do homem no trabalho.
dagem e punido por lei; hoje, com as No entanto, no contexto histrico, social e econmico atual, ca-
crescentes maquinizao e informatiza- racterizado pelo capitalismo de mercado de forte cunho financeiro e
o, a demanda por mo de obra tem pela adoo abrangente de polticas econmicas neoliberais, a substi-
cado, e seu total desaparecimento no tuio da mo de obra humana, decorrente da revoluo tecnolgica
parece uma previso absurda. da informtica e da automao, no tem contribudo para um maior
bem-estar. Ao contrrio, tem gerado uma massa de desempregados,
cuja condio de vida extremamente precria e insustentvel.
Enquanto o desemprego cresce, um nmero cada vez menor de
trabalhadores se encarrega das funes que antes eram desempenhadas
por muitos e so assim sobrecarregados e superexplorados no trabalho.
H, por fim, um pequeno grupo dos chamados trabalhadores do
conhecimento, que constitui a elite dos trabalhadores modernos. O
trabalho, no caso destes ltimos, pode incorporar caractersticas do
trabalho criativo e ser fonte de realizao pessoal, porm so muito
pouco privilegiados por essa nova forma do trabalho atual.
[...]
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2006/bestred/508390.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

ATIVIDADE 4 Como elaborar uma


concluso
Na atividade anterior, h trs dissertaes sem concluso. Escolha uma delas e
produza a concluso no caderno. Nessa parte final do texto, comum citar
expresses que foram usadas no primeiro pargrafo para mostrar ao leitor que
o texto est perfeito: o fim retoma o incio. Todavia no se prenda a isso. Outras
caractersticas importantes so a simplicidade, a objetividade e a sntese do
posicionamento adotado ao longo dos pargrafos.

ATIVIDADE 5 Como elaborar um


desenvolvimento
Leia a seguir a introduo e a concluso de uma dissertao sobre o tema da
Fuvest 2007, cuja proposta foi mostrada na atividade 1 de produo. Seu tra-
balho ser elaborar o desenvolvimento do texto de modo que tenha continui-
dade e progresso das palavras e das ideias apresentadas na introduo. Ao
terminar sua parte, veja se seu texto realmente tem ligao com o ltimo par-
grafo (ou concluso) aqui apresentado.

284 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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Introduo

Chocolate amigo
A amizade uma palavrinha bonita, e apenas isto. Inventada por floristas e
fazedores de cartes enfeitados de coraes e poemas hipcritas. Usada em dis-
cursos romnticos, sem significado algum, completamente banalizada.
Chocolate amigo. Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2007/bestred/516715.stm>. Acesso em: 4 fev. 2013.

Desenvolvimento
Identifique o ponto de vista do texto j na introduo.
Faa o assunto progredir de forma coerente, mesmo que seu ponto de vista
seja diferente.
Elabore argumentos pertinentes ideia apresentada.
Busque convencer o leitor pela lgica de seu texto, no pela panfletagem
(evite frases como: Somos o pas do amanh!, Faa a sua parte!, Seja
forte!, etc.).
Releia sua produo e confirme se a resposta o que o autor pensa a res-
peito disso foi dada.

Concluso
Pois somos todos pessoas, seres humanos; egocntricos, dissimulados e egostas.
S enxergamos a prpria vontade e acreditamos que cada um de ns o nico que
pode ser magoado. Mantemos relaes e gostamos de pessoas e coisas quando e
enquanto for conveniente. Usamos e pisamos em nossos amigos e nos escon-
demos. Atrs de msica, poemas, declaraes e discursos sobre sentimentos que
sabemos no ter.
Chocolate amigo, op. cit.

ATIVIDADE 6 Como elaborar o


esquema de um texto
Leia a dissertao a seguir e elabore um esquema sobre a apresentao do tex-
to. Para isso, copie em seu caderno os quadrinhos dados e preencha-os com
informaes da dissertao.

O tempo de cada um, cada um a seu tempo


Talvez uma das maiores conquistas da humanidade em sua evoluo das ca-
vernas sociedade moderna seja o conceito de tempo. Com a ideia de passagem
do tempo est a ideia de evoluo, de mudana, de expectativas que viro, de
lembranas do que j veio. A concepo de tempo nos diferencia dos demais
elementos da natureza animais, vegetais, seres inanimados em geral, todos
estes vivem em um cotidiano atemporal, perene, interrompido apenas com a

o TExTo DISSErTATIVo 285

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morte (para os seres vivos) e a destruio. O homem consciente do tempo
consciente de sua mortalidade, de sua condio efmera, e talvez por isso busque
a cada momento modificar o mundo que o rodeia e interagir com seus compo-
nentes. Talvez seja o prprio tempo que nos faz verdadeiramente humanos.
Por ser o tempo um conceito humano, tantos existem quanto os seres que o
concebem. Para uns, tempo histria, aprendizado com as experincias passadas,
referencial para nossa compreenso do mundo; o tempo de Hobsbawn, crtico,
analtico, manancial de conhecimento. Para outros, tempo instante, presente,
efmero e dinmico como os homens que nele vivem, hoje, agora, sem maiores
divagaes; o tempo de Heriberto, fugaz e irreversvel. Alguns, por fim, veem o
tempo com olhos contemplativos, num amanh sem pressa, por ser inevitvel.
Tudo chegar um dia, como o amor da cano de Chico Buarque. Nada pra j,
e certas coisas sero o que so, no importa em que poca. Certas coisas desafiam
o prprio tempo.
A verdade talvez resida nos versos do msico. O tempo, surgido para dar um
sentido existncia humana, acabou por escraviz-la. O homem moderno refm
do tempo, seja ele passado ou presente. Sem perder tais tempos de vista, poderia
ser mais interessante voltar os olhos para o futuro, aguardar sua chegada com
calma, dele desfrutar quando tornar-se presente e dele recordar-se quando virar
passado. Seria um resgate serenidade das eras atemporais, sem descuidar do
progresso e da necessidade de mudar que a ideia de tempo traz ao homem.
No se afobe, no, que nada pra j.
O tempo de cada um, cada um a seu tempo.
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2004/bestred/517916.stm>.
Acesso em: 4 fev. 2013.

Ponto de vista do autor

1a reexo ligada ideia 2a reexo ligada ideia


Alberto De Stefano/Arquivo da editora

Com base nesse esquema, produza uma dissertao apresentando o mesmo


ponto de vista. Para isso, desenvolva as ideias dos quadrinhos ainda que voc
no concorde com elas. Lembre-se de que est exercitando a produo.

286 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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Produo de autoria
Depois de algumas atividades de produo parcial, voc vai finalmente elaborar
uma dissertao por inteiro. Essa produo ser feita em dois momentos. Para
isso, leia a proposta a seguir.


O Brasil envelheceu. o que provam dados numricos como os apontados
pela articulista do site Portal da Terceira Idade, Maria Terezinha Santellano:
Em 2025 sero 64 milhes e, em 2050, um em cada trs brasileiros ser
idoso. Sabendo disso, necessrio discutir esse tema e propor solues
para a realidade que se aproxima.


O tema de sua dissertao ser: A terceira idade no Brasil. Para que voc conhe-
a um pouco mais esse assunto, leia os textos a seguir.

Texto I

Maior de 60 ganha mais peso na economia


Presena de idoso na famlia, antes vista como fardo, hoje fonte de renda
Pedro Soares
Num cenrio de envelhecimento acelerado da to a famlias mais pobres com a aposentadoria rural
populao do pas, os idosos foram responsveis por universal e o benefcio de um salrio mnimo a todos
quase um quinto da renda (19,4%) das famlias bra os idosos de baixa renda acima de 65 anos.
sileiras em 2011, uma proporo maior do que a que Ter um idoso na famlia, que antes era um peso,
ocupam na distribuio da populao. passou a ser fonte de renda.
Saiu de suas carteiras uma injeo mensal de Entre os homens (mais voltados ao mercado de
R$ 28,5 bilhes na economia brasileira. Os dados so trabalho sobretudo nas geraes anteriores), apenas
de estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica 3,7% no tinham rendimento prprio. Para as mu
Aplicada, rgo ligado Presidncia da Repblica), lheres, o percentual era de 13,4% mais alto em
com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Do razo da menor ocupao feminina, problema atenua
miclios, do IBGE. do pelo pagamento de penses s vivas, diz o Ipea.
Nos lares onde viviam, as pessoas com 60 anos Atualmente j com uma taxa de fecundidade si
ou mais respondiam por uma parcela ainda maior do milar Frana e ao Reino Unido, o Brasil viver uma
rendimento total: 64,5%. E a principal fonte era a estagnao da populao a partir de 2030. Dez anos
seguridade social, segundo o Ipea. mais tarde, diz o estudo, s crescer a faixa acima de
Graas correo do salrio mnimo acima da 60 anos.
inflao nos ltimos anos, as aposentadorias e pen Um problema da estrutura etria envelhecida o
ses correspondiam a 69,5% do rendimento dos recuo da fora de trabalho, diminuindo a capacidade
idosos 15 milhes eram beneficirios, de um to produtiva. Mas no o nico: A grande questo
tal de 23 milhes de pessoas com ao menos 60 anos como prover sade e condies de autonomia [com
no pas. custos para o Estado] a uma populao mais velha,
Para Ana Amlia Camarano, demgrafa do disse Camarano.
Ipea, esses nmeros mostram que o Brasil conse Ela, porm, cr em aumento dos idosos em ati
guiu enfrentar o problema da falta de uma renda vidade 35,1% dos homens e 12,4% das mulheres
garantida e da pobreza na velhice diferentemen nessa faixa trabalhavam em 2011.
te de outros pases. SOARES, Pedro. Folha de S.Paulo, So Paulo, 12 out. 2012. Mercado.
Professor de economia da UFRJ, Joo Sabia diz Disponvel em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/71555-maior-de-60-
ganha-mais-peso-na-economia.shtml>.
que a Previdncia no Brasil assegurou um rendimen Acesso em: 18 jan. 2013.

O TEXTO DISSERTATIVO 287

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Texto II

Em 50 anos, percentual de idosos mais que dobra no Brasil


Em 1960, 3,3 milhes tinham mais de 60 anos; em 2010, eram 20,5 milhes. [...]

Ao longo dos ltimos 50 anos, a populao bra- proposta que extinguiu o fator foi vetada no governo
sileira quase triplicou: passou de 70 milhes, em do ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva.
1960, para 190,7 milhes, em 2010. O crescimento Segundo Brbara, a maioria da populao idosa
do nmero de idosos, no entanto, foi ainda maior. do pas est concentrada prxima a reas urbanas.
Em 1960, 3,3 milhes de brasileiros tinham 60 anos So regies com maior disponibilidade de servios
ou mais e representavam 4,7% da populao. Em mdicos qualificados e tambm uma rede social com
2000, 14,5 milhes, ou 8,5% dos brasileiros, estavam atividades de lazer, culturais e religiosas que permi-
nessa faixa etria. Na ltima dcada, o salto foi gran- tem maior envolvimento dessa faixa etria na socie-
de, e em 2010 a representao passou para 10,8% da dade diz.
populao (20,5 milhes). Um dos indicadores da mudana na pirmide etria
A comparao feita [...] se baseia nos censos de- a queda da taxa de fecundidade, publicada na ltima
mogrficos do Instituto Brasileiro de Geografia e sexta-feira (27), entre outros dados do Censo Demo-
Estatstica (IBGE) de 1960, de 2000 e de 2010. grfico 2010. A queda tem feito com que o grfico que
O envelhecimento da populao uma tendncia separa os habitantes por idade fique cada vez menos
to evidente que at mesmo os critrios do IBGE mu- triangular. Censo aps censo, ele fica mais volumoso na
daram. Em 1960, todas as pessoas com 70 anos ou mais parte central, que representa a populao adulta, e co-
eram colocadas na mesma categoria. J nas pirmides mea a diminuir na base, onde ficam os mais novos.
etrias de 2000 e 2010, as faixas etrias foram separadas O envelhecimento da populao uma tendn-
a partir dos 70 de cinco em cinco anos at os 100 [...]. cia e grande parte dos pases desenvolvidos j chegou
O Brasil ainda um pas com a maioria da po- nessa etapa, decorrente do maior desenvolvimento
pulao jovem, ainda temos elevado percentual de social e do aumento da expectativa de vida. Isso
jovens no mercado de trabalho, mas temos que nos fruto do avano da medicina, de melhorias nas con-
preparar para o envelhecimento da populao, prin- dies de saneamento nas cidades, da diminuio da
cipalmente em relao presso sobre a Previdncia. taxa de fecundidade, dentre outros fatores, diz Br-
Entre as iniciativas vlidas est a de apoiar a imple- bara Cobo, do IBGE.
mentao de recursos com previdncia complemen- Em 2010, cada brasileira tinha em mdia 1,9
tar. Precisamos pensar e criar mecanismos que tornem filho. Foi a primeira vez que o nmero ficou abaixo
o sistema mais sustentvel, diz Brbara Cobo, pes- do chamado nvel de reposio 2,1 por mulher ,
quisadora de indicadores sociais do IBGE. que garante a reposio das geraes. Em outras pa-
Ana Amlia Camarano, do Instituto de Pesquisa lavras, a manuteno dessa tendncia deve provocar
Econmica Aplicada (Ipea), concorda. O pas est a reduo da populao brasileira no futuro.
se preparando para esse futuro, mas ainda h muito O nmero caiu 20,1% ao longo da ltima dca-
a ser feito, diz. da. Em 2000, cada mulher tinha em mdia 2,38 fi-
Recentemente, o Congresso aprovou um novo lhos. H 50 anos, a taxa de fecundidade era de 6,3
fundo complementar para o servidor pblico federal filhos por mulher mais que o triplo do que hoje.
com o objetivo de reduzir o dficit da Previdncia. Nos prximos 30, 40 anos, essa tendncia de
O projeto ainda precisa ser sancionado pela presiden- envelhecimento da populao brasileira praticamen-
te Dilma Rousseff. H outro projeto em discusso no te irreversvel, a menos que a fecundidade volte a
Congresso para mudar o fator previdencirio, instru- aumentar e a aumentar muito, acredita a pesquisa-
mento que visa reduzir o valor do benefcio de quem dora Ana Amlia Camarano, do Ipea. Isso ocorre
se aposenta antes dos 65 anos, no caso de homens, porque a taxa de fecundidade caiu muito desde os
ou 60, no caso das mulheres. Esse projeto pode au- anos 1990 e a taxa de mortalidade nas idades avan-
mentar os gastos do governo e, por conta disso, uma adas tambm diminuiu, explica.

288 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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Alguns pases com aumento da populao idosa que a tendncia que as mulheres tenham filhos cada
comearam a criar polticas pblicas de incentivo para vez mais tarde. Em dez anos, aumentou o percentual
as mulheres terem mais filhos. O ideal, para repor a de mulheres que se tornaram mes depois dos 30
populao do pas, seria que cada mulher tivesse dois anos. Em 2000, elas representavam 27,6% do total;
filhos, aponta Brbara. em 2010, j eram 31,3%.
Enquanto isso, houve queda entre as mais novas.
Dados Os grupos de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos de
Apesar do crescimento absoluto de mais de 20 idade, que tinham respectivamente 18,8% e 29,3%
milhes de pessoas entre 2000 e 2010, a quantidade das mes em 2000, passaram a concentrar 17,7% e
de crianas diminuiu. Em 2000, 32,9 milhes de 27,0% do total em 2010.
brasileiros tinham menos de 10 anos; em 2010, o Para Brbara Cobo, o fato de as mulheres deixa-
nmero caiu para 28,7 milhes. rem para ter filhos mais velhas no tem relao dire-
Dentre as faixas etrias separadas pelo IBGE, a mais ta com o aumento da populao idosa. No acho
povoada em 2010 era a que fica entre os 20 e os 24 anos que a mulher pensa que, j que as pessoas esto vi-
17,2 milhes (9%) de brasileiros tm essas idades. Em vendo mais, vou deixar para ter um filho mais tarde.
2000, a maior concentrao era na faixa etria imedia- A tendncia decorre do avano da mulher no merca-
tamente abaixo 17,9 milhes (10,6%) tinham entre do de trabalho e da implementao dos mtodos
15 e 19 anos de idade. H cinquenta anos, as crianas anticoncepcionais desde a dcada de 1970, que mui-
pequenas eram a parcela mais significativa da populao tas vezes gera uma mudana de comportamento da
11,1 milhes (15,8%) tinham entre 0 e 4 anos. mulher, que se preocupa em consolidar uma carreira
estvel primeiro.
Mes mais velhas
Em 50 anos, percentual de idosos mais que dobra no Brasil.
Com os novos padres, mudam tambm os h- Disponvel em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/04/em-50-anos-
percentual-de-idosos-mais-que-dobra-no-brasil.html>.
bitos. Os dados divulgados na sexta-feira mostram Acesso em: 4 fev. 2013.

Texto III

Dalcio/Correio Popular

Os idosos j somam 10% da populao. Nesse novo cenrio, ser que o governo est preparado para
atender s necessidades bsicas dessa populao? Ser que haver servios pblicos especializados sendo
prestados eficientemente para os idosos? E, quanto sade, como garantir o devido atendimento a eles?

o TExTo DISSErTATIVo 289

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1o momento
No caderno, redija um rascunho de um texto dissertativo, de acordo com o que
estudamos at agora, expondo seu ponto de vista sobre essas e outras pergun-
tas que a leitura dos textos lidos instigar em voc.

2o momento
Finalizado o rascunho, leia a seguir o que o editor de uma revista comenta sobre
a produo de textos.

Menos mais
Denis Russo Burgierman

O maior problema que aflige os textos deste Brasil o excesso. Por exemplo, tem
muita gente que padece de excesso de ideias. Acha que tem muita coisa importante
para dizer e que tudo essencial, nada pode ser cortado. A o texto fica parecendo
um depsito de frases apressadas, uma amontoada em cima da outra, e ningum
entende nada. Texto bom tem de ter uma ideia de cada vez cada pargrafo uma
ideia, cada ideia claramente conectada na ideia anterior e na seguinte. Tudo bem
explicadinho. Se no houver espao para explicar bem uma ideia, nem tente coloc-
-la no texto corte-a. Menos mais.
Outras pessoas sofrem do excesso de palavras. Abusam dos adjetivos, dos termos
de efeito que no acrescentam nada. Ou ficam repetindo duas, trs vezes a mesma
ideia se a ideia est clara, ela no precisa ser repetida nenhuma vez. Melhor seria
trabalhar cada frase at ela ficar perfeita, exata. E a voc pode cortar todas as repeti-
es. Menos mais.
Escrever bem mais uma questo de tirar do que de colocar palavras. Menos
mais. E vou parar por aqui, porque j estou me repetindo.
Revista Guia do estudante, op. cit.

Agora, troque seu texto com o de um colega e leia-o verificando se h excessos


ou repetio de ideias que comprometam sua clareza e objetividade, se a ideia
exposta em um pargrafo est adequadamente conectada anterior e seguin-
te. Veja tambm se houve uso excessivo de adjetivos e se h termos de efeito
que nada acrescentam ao texto. Faa apontamentos no prprio texto e, depois
dessa anlise, destroquem os textos para que alteraes necessrias sejam feitas
conforme as orientaes do editor.

preparando >
releia sua produo e verifique se ela:
a segunda
verso do
tem a estrutura de um texto dissertativo: introduo, desenvolvimento
texto e concluso;

est clara, com linguagem objetiva;

apresenta sua opinio logo no primeiro pargrafo, sem o leitor precisar
reler a proposta;

tem um desenvolvimento que progride;

expe argumentos bem encadeados.
feito isso, passe seu texto a limpo e guarde-o para o projeto do fim do ano.

290 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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No MUNDo DA orALIDADE
Exposio oral: dicas para uma
boa dissertao
Com a chegada do fim do ano, aproximam-se os vestibulares, as entrevistas
para a seleo de candidatos a uma vaga no mercado de trabalho e, com tudo
isso, a necessidade de produzir textos dissertativos. comum que, nessa poca
do ano, muitas publicaes tratem de textos dissertativos, apresentando mode-
los, estratgias para produzi-los e por que no? dicas.

isso que vamos propor que voc e seu grupo elaborem: dicas para serem dadas
aos demais alunos da classe.
Depois de terem estudado o texto dissertativo ao longo deste captulo, retomem
o que anotaram, releiam os textos, regulem o conhecimento construdo por meio
de conversas, apontamentos e retomadas. Discutido o assunto, pensem em
cinco itens que no podem faltar para se escrever bem um texto dissertativo.
A fim de facilitar a apresentao das dicas aos colegas, elaborem um cartaz bem
divertido e chamativo com os cinco itens, atentando para que o texto esteja ade-
quado ao pblico ouvinte. O texto dever ser breve, afinal vocs podero comple-
ment-lo oralmente no momento da apresentao.
Para ajud-los na elaborao do cartaz, leiam na sequncia mais dois exemplos
de dissertaes bem avaliadas no vestibular da Fuvest de 2009.

As fronteiras da vida
Quando pensamos na palavra fronteira, quase inevitvel relacion-la ao limi-
te geogrfico de uma regio; porm, se analisarmos este termo com mais cautela,
veremos que ele possui um significado muito mais amplo do que apenas o de divisa.
Por exemplo, dias atrs, meia-noite, atravessvamos a fronteira entre 2008 e 2009.
Atravessar uma fronteira no apenas ultrapassar o limite de um territrio, alcanar
objetivos, quebrar estigmas, vencer etapas, ou at mesmo, passar dos limites.
Em 2008 o Brasil e o Supremo Tribunal Federal, STF, romperam importantes
barreiras. Entre elas, podemos destacar duas: a liberao de pesquisas com clulas-
-tronco e a demarcao contnua do territrio Raposa Serra do Sol em benefcio dos
indgenas. Foi atravessada a fronteira de um dogma da Igreja catlica, a favor da
cincia; e a do interesse de uma minoria de fazendeiros, beneficiando representantes
de um povo, que aqui estava, antes da chegada dos portugueses em 1500.
Atravessar uma fronteira raramente uma tarefa fcil. O vestibular, por exem-
plo, algo que exige muita dedicao, estudo e horas de sono reduzidas. Vencer
uma etapa como essa, atravessar a divisa entre a adolescncia e a vida adulta, estu-
dando nas melhores universidades do pas; algo que poucos podero, um dia,
contar para seus netos.
Existem tambm as fronteiras cotidianas a serem atravessadas. Levantar cedo,
trabalhar muito, dormir pouco, pagar contas, cuidar dos filhos. Cada um de ns tem
inmeros exemplos. Infelizmente at as fronteiras do inimaginvel o ser humano
acaba ultrapassando. Recentemente, um policial do Rio de Janeiro alvejou com tiros

o TExTo DISSErTATIVo 291

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o carro de uma inocente famlia, matou uma criana de trs anos e acabou sendo
absolvido. Sempre tem algum que acaba passando dos limites.
Se o mundo em que vivemos est repleto de fronteiras territoriais, as nossas vidas
tambm tem as suas prprias. Cabe a cada um, vencer as suas prprias dificuldades,
alar suas metas, quebrar paradigmas, sempre tomando muito cuidado para no
passar dos limites. O importante escolher o caminho do bem para que ao atraves-
sarmos a ltima fronteira da vida, pela qual todos passam, tenhamos deixado algo de
bom para o futuro.
As fronteiras da vida. Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2009/bestred/511835.jpg>. Acesso em: 4 fev. 2013.

A necessidade da concordncia entre fronteiras geogrficas


e ideolgicas
Os diversos confrontos fronteirios ocorridos em 2008, como na Osstia do Sul
e em Israel, conduzem-nos a uma reflexo sobre o que fronteira. Essencialmente,
o limite, a parte extrema de uma rea, um meio ou, at mesmo, de algo abstrato,
como uma ideologia ou uma religio. Buscam-se artifcios histricos, sociais e eco-
nmicos para a delimitao de fronteiras geogrficas, mas essa delimitao nem
sempre eficiente. Muitos dos conflitos observados atualmente decorrem fundamen-
talmente da discordncia que ocorre entre as fronteiras ideolgicas e as geogrficas.
A histrica guerra entre palestinos e israelenses exemplifica bem a discordncia
citada. As ideologias adotadas pelos dois povos, fundamentadas em suas diferentes
religies, pregam a discriminao do outro e o direito totalidade da rea represen-
tada por Israel. A delimitao atual desse pas, um prejuzo para o povo palestino,
no representa o pensamento desse povo. Essa delimitao apenas acentua e torna
mais conflituosa a fronteira entre o islamismo e o judasmo. Situao semelhante
ocorreu na Irlanda, onde havia intensos conflitos entre catlicos e protestantes, en-
volvendo at ataques terroristas.
Fronteiras ideolgicas, no entanto, nem sempre so causas de conflito. A Unio
Europeia representa bem essa conciliao entre os limites abstratos e os limites geo-
grficos. Assim como na Irlanda, h a dualidade entre religies crists, pois nesse
bloco econmico existem pases protestantes majoritariamente, como a Holanda, e
pases catlicos, como a Itlia. Com o objetivo de alcanar maior fortalecimento
poltico-econmico, esses pases pregam o respeito s diferenas religiosas entre si.
Hoje, representam, juntos, uma potncia. Apesar de claros limites religiosos, no h
conflitos territoriais. A concordncia entre fronteiras geogrficas e ideolgicas im-
portantssima para o sucesso econmico.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

292 UNIDADE 6 TEMAS E CENAS

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A essencialidade da concordncia entre os dois referidos tipos de fronteira fa-
cilmente percebida na manuteno da paz e na obteno do progresso. Nesse con-
texto, a tolerncia e o respeito so imperativos. Respeitando-se as diferenas, as fron-
teiras abstratas tornam-se mais harmoniosas, o que se reflete nas fronteiras geogrfi-
cas, com esforo poltico. A diversidade e as fronteiras devem ser compreendidas como
elementos enriquecedores e fortalecedores.
A necessidade da concordncia entre fronteiras geogrficas e ideolgicas.
Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2009/bestred/503690.jpg>. Acesso em: 4 fev. 2013.

Preparadas as dicas, apresentem-nas classe, considerando o que estudamos


sobre oralidade ao longo do ano.
Fiquem atentos reao dos ouvintes e necessidade de fazer mudanas, se
necessrio, para que a compreenso do que apresentado esteja garantida.
Estruturem o texto deixando marcas que orientem quem ouve quanto ao incio,
ao meio e ao fim da apresentao das dicas (por exemplo: Vamos comear
falando sobre...; Agora falaremos...; Retomando...; Finalmente...).
Falem com um tom de voz adequado que possibilite a todos que ouam
claramente o que dito.

A p r o V E I T E p A r A
ler

Reproduo/Ed. Rocco
Dissertao no bicho-papo, de Simone Pessoa, editora Rocco.
Com linguagem clara e direta, a professora Simone Pessoa desmistifica o processo de
produo de uma dissertao, propondo solues inovadoras para as etapas.

assistir a
Mais estranho que a fico, de Marc Forster (EUA, 2006).
Harold um fiscal da receita pblica que tem uma vida montona. De repente comea
a ouvir uma voz narrando sua vida, inclusive seus sentimentos. Quando a voz anuncia sua
morte prxima, ele tenta mostrar que sua existncia no vazia e precisa ser preservada.

procura da felicidade, de Gabriele Muccino (EUA, 2006).


Chris Gardner um pai de famlia que enfrenta srios problemas financeiros e acaba
abandonado pela esposa. Para dar uma vida melhor ao filho, aceita estagiar em uma grande
corretora de aes para disputar a nica vaga efetiva e bem remunerada que a empresa abre ao
final do estgio. O problema que esse perodo de prova no remunerado, e Gardner ter
de usar todo seu poder de convencimento e persistncia para sobreviver e ser bem-sucedido.

ver na internet
www.folha.uol.com.br/
http://jbonline.terra.com.br/
http://oglobo.globo.com/
www.atarde.com.br/capa/
Diversos endereos de jornais on-line para informaes e atualidades. A escrita jornalstica
tambm pode ser um bom exemplo de redao dissertativa. Acessos em: 4 fev. 2013.

http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/
Site com propostas de temas e redaes corrigidas, que servem de exemplo. O aluno pode
enviar sua prpria redao. No site tambm h dicas de outras disciplinas. Acesso em: 4 fev. 2013.

o TExTo DISSErTATIVo 293

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Literatura
Literatura brasileira
> Interdisciplinaridade com:
Arte, Histria, Geografia, contempornea
prosa
Sociologia, Filosofia.

p a r a c o m e a r
Leia, a seguir, um trecho do livro Literatura brasileira hoje, escrito pelo jornalista
e crtico literrio Manuel da Costa Pinto.

Prosa brasileira hoje


Manuel da Costa Pinto

A fico brasileira contempornea est concentrada em solo urbano. E, assim,


como acontece com as grandes metrpoles, difcil encontrar um eixo que a
defina. No existe homogeneidade de estilos, no mximo uma afinidade tem-
tica que s vezes pode ser surpreendente. Assim, se os autores da chamada
gerao 90 frequentam os mesmos lugares inspitos que os escritores da perife-
ria ruas deterioradas, botecos esqulidos, casas traumatizadas pelo desempre-
go, pela violncia e pela loucura , h uma percepo geral do isolamento e da
vulnerabilidade do sujeito moderno (e urbano).
PINTO, Manuel da Costa. Literatura brasileira hoje. So Paulo: Publifolha, 2004. p. 82.

ATENO: NO ESCREVA 1. Segundo o excerto, qual o espao em que esto instaladas as personagens da
NO LIVRO. FAA AS
ATIVIDADES NO CADERNO.
fico brasileira contempornea?

2. O autor afirma no haver homogeneidade de estilos, no mximo uma afinida-


de temtica. Qual a caracterstica que perpassa a fico brasileira contempo-
rnea?

Agora, leia atentamente os textos deste captulo todos fazem parte da


literatura contempornea brasileira e verifique a presena ou no das carac-
tersticas apontadas no texto acima citado.

O texto que voc vai ler na pgina a seguir chama-se Tio Galileu e
texto 1 foi escrito por um grande contista brasileiro da atualidade: Dalton Trevi-
san. Ao ler essa narrativa, preste ateno forma como revelada a
doena moral das personagens.

294 uniDaDe 6 temas e cenas

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Tio Galileu
Dalton Trevisan

A pobre me deu Betinho quele homem: agradasse ao tio Galileu,


com os dias contados, seria um dos herdeiros.
Depois de partir lenha, puxar gua do poo, limpar o poleiro do
papagaio, o menino enxugava a loua para a cozinheira. Toda noite,
Betinho subia a escada, para levar o urinol e tomar a bno ao tio
Galileu. Batia na porta: Entre, meu filho. O rapaz beijava a mo
branca, mole e mida me-dgua. No domingo recebia a menor moeda,
que o padrinho catava entre os ns do leno xadrez.
Tio Galileu raramente saa e, ao tirar o palet, exibia duas rodelas de

Alexandre Dubiela/Arquivo da editora


suor na camisa. Arrastava o p, bufando, sempre a mo no peito. Afagava
o papagaio, que sacudia o pescoo e eriava a penugem: Piolhinho
piolhinho Subindo a escada, dedos crispados no corrimo, isolava-se no
quarto. O assobio atravs da porta: alegria de contar o dinheiro?
Diante dele era feita a limpeza, pelo rapaz ou pela negra, nunca por
Mercedes. Sentado na cama, coando eterno pozinho na perna, vigiava. E
no assobiava com algum no quarto. Instalado na cama que, essa, ele
mesmo arrumava, sem permitir que virassem o colcho de palha.
Mercedes fazia compras, perfumada e de sombrinha azul. O homem
discutia com ela, que o arruinava, por sua culpa sofria de angina.
Domingo, a negra de folga, Betinho preparava o caf para Mercedes.
Abria a porta, tateava na penumbra do quarto e, ao pousar a bandeja,
sentia entre os lenis a fragrncia de ma madura guardada na gaveta.
Uma noite Mercedes surgiu no quarto de Betinho. J deitado, luz
apagada. Sentou-se ao p da cama, casara com tio Galileu por ser velho,
que morria de uma hora para outra. Grande mentira, de mim e de voc
fazer um escravo. No sofria do corao, nem sabia o que era corao, a
esconder mais dinheiro entre a palha. Ao crepitar o colcho l no quarto
o avarento remexia no tesouro.
Um bruto, que a esquecia, dormindo em quarto separado, com medo
fosse roub-lo. diabo, ela o xingou, pesteado como o papagaio louco,
que a bicara ali no dedinho. O rapaz inclinou-se para beijar a gota de
sangue. Mercedes ergueu-se e jurou que, se o monstro morresse, daria a
Betinho o que lhe pedisse.
O rapaz no pde dormir. Meia hora depois, saltou a janela.
Agarrou no poleiro o papagaio, cabea escondida na asa os piolhos
corriam pelo bico de ponta quebrada. Torceu o pescoo do bicho e o
enterrou no quintal.
Literatura brasiLeira contempornea prosa 295

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Dia seguinte o homem buscou o papagaio, a assobiar debaixo de cada
rvore. Betinho sugeriu que a ave fugira. Foi colocar o vaso sob a cama e,
ao tomar a bno ao padrinho, o piolho correu de sua mo para a do
velho um dos piolhos vermelhos da peste.
Mercedes voltou ao seu quarto. Reclinada na cadeira, amarrava e
desamarrava o cinto. Noite quente, queixou-se do calor, abriu o
quimono: inteirinha nua.
V disse a mulher. V, meu bem. Primeiro o papagaio. Agora
o velho.
Betinho ficou de p. Tremia tanto, ela o amparou at a porta:
V, meu amor. A vez do velho.
Hora de pedir a bno. Betinho subiu a escada. Aos passos no
corredor o avarento, entre a bulha do colcho, perguntava quem era.
Aquela noite nada falou. Betinho abriu a porta, avanou lentamente a
cabea. Tio Galileu deitara-se vestido, o saquinho de fumo espalhado no
colete de veludo. O ltimo cigarro, sem enrolar a palha com os dedos
imveis Olho arregalado, a negra boca no abenoou Betinho. Fazia-se
de morto, nunca mais fingiria.
angina: dor
espasmdica sufocante.
Tio Galileu no gritou. Nem mesmo fechou o olho, mais fcil que o
bulha: confuso papagaio. Betinho afogou debaixo do travesseiro a boca arreganhada.
sonora, tumulto.
crepitar: estalar como Os ps descalos de Mercedes desciam a escada. Ele ergueu o colcho,
o fogo. rasgou o pano, revolveu a palha nada. Deteve-se escuta: os passos
crispado: contrado
nervosamente. perdidos da mulher. Avis-la que o velho os enganara.
me-dgua: mina de
gua.
Era tarde, abria a janela aos gritos:
pesteado: doente. Ladro. Assassino! Socorro
TREVISAN, Dalton. Quem tem medo de vampiro?. So Paulo: tica, 1998.

interpretao Do texto
1. O que levou Betinho casa de tio Galileu?

2. O texto sugere que o rapaz percebe sofrer algum tipo de explorao? Justifique
sua resposta.

3. De que modo Mercedes envolve Betinho em seus planos?

4. Uma atitude de Betinho revela, de antemo, que ele estaria disposto a atender
todos os pedidos de Mercedes.
a) Que atitude essa?
b) Por que ele faz isso?

5. Que intenes Mercedes parece ter?

296 uniDaDe 6 temas e cenas

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6. Releia este trecho prestando ateno em cada uma das aes.
Hora de pedir a bno. Betinho subiu a escada. Aos passos no corredor o
avarento, entre a bulha do colcho, perguntava quem era. Aquela noite nada falou.
Betinho abriu a porta, avanou lentamente a cabea. Tio Galileu deitara-se ves-
tido, o saquinho de fumo espalhado no colete de veludo. O ltimo cigarro, sem
enrolar a palha com os dedos imveis Olho arregalado, a negra boca no
abenoou Betinho. Fazia-se de morto, nunca mais fingiria.
Tio Galileu no gritou. Nem mesmo fechou o olho, mais fcil que o papagaio.
Betinho afogou debaixo do travesseiro a boca arreganhada.
a) O que tio Galileu fez de diferente em relao ao que costumeiramente fazia
quando ouvia passos no corredor?
b) Na cena descrita existe algum outro detalhe que parece estranho a uma
pessoa que teria se deitado para dormir?
c) O que todos esses elementos parecem sugerir em relao ao estado de tio
Galileu?
d) Que aes de Betinho, descritas nesse trecho, revelam toda sua ingenuidade
diante da situao? Destaque falas em discurso indireto livre que ilustre essa
ingenuidade.

7. Os objetivos de Mercedes no so evidentes para Betinho, que cai em uma ar-


madilha. Em sua opinio, isso diminui a culpa do rapaz?

8. Em sua opinio, de que maneira o narrador torna evidente a degradao moral


das personagens?

9. Dalton Trevisan considerado um dos grandes mestres da conciso. Para cons-


tatar esse dado, basta observar a construo de seus pargrafos, sem excessos,
com frases curtas, diretas e precisas. Veja:
A pobre me deu Betinho quele homem: agradasse ao tio Galileu, com os
dias contados, seria um dos herdeiros.
Note a quantidade de informaes que podem ser extradas dessas duas linhas:
Betinho foi dado pela me ao tio Galileu, ao qual deveria agradar; tio Galileu
estava prximo da morte e poderia eleger o sobrinho seu herdeiro. Pode-se
ainda inferir: a me, muito pobre, enxergava naquela atitude um meio de ajudar
o filho. Tio Galileu no tinha filhos e, certamente, tinha algum dinheiro, caso
contrrio no seria alvo de interesse da me de Betinho.
Releia o trecho a seguir e identifique que informaes podem ser extradas dele.
Mercedes fazia compras, perfumada e de sombrinha azul. O homem discu-
tia com ela, que o arruinava, por sua culpa sofria de angina.

< Habilidades
Para interpretar o texto, voc precisou:
leitoras

identificar informaes que compem o enredo;

reconhecer e analisar caractersticas do comportamento das perso-
nagens;

inferir informaes a partir de dados presentes nas linhas do texto;

analisar elementos do estilo do autor.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 297

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Leia agora um conto do escritor amazonense Milton Hatoum. Acom-
panhe as cenas descritas, as reflexes sutis do narrador-personagem e a
texto 2
forma contida de alcanar um final surpreendente aps o relato de des-
cobertas de diferentes naturezas.

Varandas da Eva
Milton Hatoum

Varandas da Eva: o nome do lugar.


No era longe do porto, mas naquela poca a noo de distncia era
outra. O tempo era mais longo, demorado, ningum falava em desperdiar
horas ou minutos. Desprezvamos a velhice ou a ideia de envelhecer;
vivamos perdidos no tempo, as tardes nos sufocavam, lentas: tardes paradas
no mormao. J conhecamos a noite: festas no Fast Clube e no antigo
Bares, bailes a bordo dos navios da Booth Line, serenatas para a namorada
de um inimigo e brigas na madrugada, l na calada do bar do Sujo, na
praa da Saudade. s vezes entrvamos pelos fundos do teatro Amazonas e
espivamos atores e cantores nos camarins, exibindo-se nervosamente diante
do espelho, antes da primeira cena. Mas aquele lugar, Varandas da Eva,
ainda era um mistrio.
Ranulfo, tio Ran, o conhecia.
um balnerio lindo, e cheio de moas lindas, dizia ele. Mas vocs
precisam crescer um pouquinho, as mulheres no gostam de fedelhos.
Invejvamos tio Ran, que at se enjoara de tantas noites dormidas no
Varandas. A vida, para ele, dava outros sinais, descaa para outros
caminhos. Enfastiado, sem graa, o queixo erguido, ele mal sorria, e l do
alto, nos olhava, repetindo: Cresam mais um pouco, cambada de
fedelhos. A levo todos vocs ao balnerio.
Minotauro, fortao e afoito, quis ir antes. Foi barrado no porto alto,
cuspiu na terra, deu meia-volta, quase marchando para trs. Era um
destemido, o corpo grandalho, e um jeito de encarar os outros com olho
quente, de meter medo e intimidar. Mas a voz ainda hesitava: era aguda e
grossa, de periquito rouco, e o rosto de moleque, assombrado, meio leso.
Gerinlson era mais paciente, rapaz melindroso, sabia esperar. J
namorava de dar beijos gulosos e acochos, e nos surpreendia em pleno
domingo guiando uma lambreta velha, roubada do irmo. Na garupa,
uma moa desconhecida, de outro bairro. Ou estrangeira. A mquina
passava perto da gente, devagar, roncando, rodeando o tronco de uma
rvore. Depois acelerava, sumindo na fumaceira. Ele sempre gostou de
desaparecer, extraviar-se. Gerinlson era e no era da nossa turma. Eu o
considerava um dos nossos. Ele, no sei. Tinha uns segredos bem
guardados, era cheio de reticncias: no se mostrava o rapaz.
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O Tarso era o mais triste e envergonhado: nunca
disse onde morava. Desconfivamos que o teto dele era
um dos barracos perto do igarap de Manaus; um dia
se meteu por ali e sumiu. Raro sair com a gente para
um arrasta-p. Ele recusava: Com esses sapatos velhos,
no d, mano. Um cineminha, sim: duas moedas de

Alberto De Stefano/Arquivo da editora


cada um, e pagvamos o ingresso do Tarso. E l amos
ao den, Guarany ou Polytheama. Depois da matin,
ele escapulia, no ficava para ver as meninas da Escola
Normal, nem as endiabradas do Santa Dorothea. Tarso
queria vender picols e frutas na rua, queria ganhar um
dinheirinho s para entrar no Varandas da Eva. Mas era
caro, no ia dar. Ento tio Ranulfo prometeu: Quando
chegar a hora, pago pra todos vocs.
Tio Ran, homem de palavra, foi generoso. []
Contamos as cdulas: dava e sobrava, era a nossa fortuna. Compramos
na Casa Colombo um par de sapatos, e tia Mira costurou uma cala e
uma camisa, tudo para o Tarso. []
Marcamos a noitada para uma sexta-feira de setembro. Gerinlson pegou
o dinheiro, quis ir sozinho de lambreta. Tio Ran nos levou em seu Dalphine,
parou quase na porta, nos desejou boa noitada. Quando amos entrar, Tarso
hesitou: deu uns passos para frente, recuou, quis e no quis entrar. Ficou
mudo, mais e mais esquisito, fechou-se. Ns o desconhecemos: luz e dana
no o atraam? Minotauro puxou-o pela camisa, enganchou a mo no
pescoo dele, repetindo: Bora l, seu leso. Nosso amigo abaixou a cabea,
concordando, mas com um salto se desgarrou, e correu para a escurido.
Tarso, um desmancha-prazer. Deixamos o nosso amigo. A vontade
no de cada um e em cada dia? Minotauro soltou um grunhido,
resmungou: No disse? Roupinha nova mimo pra mocinha.
Entramos. Um caminho estreito e sinuoso conduzia ao Varandas da
Eva. Aos poucos uma sombra foi crescendo, e no fim do caminho uma
luminosidade surgiu na floresta. Era uma construo redonda, de
madeira e palha, desenho de oca indgena. Mesinhas na borda do crculo,
um salo ao meio, iluminado por lmpadas vermelhas. Uns casais
danavam ali, a msica era um bolero. Minotauro apontou uma mesinha
vazia num canto mais escuro. Sentamos, pedimos cerveja, um cheiro de
aucena vinha do mato. E Gerinlson, se extraviara? Na luz vermelha,
quase noite, Minotauro me cutucou: uma mulher sorria para mim. No
vi mais o Minotauro, nem quis saber do Gerinlson. S olhava para ela,
que me atraa com sorrisos; depois ela me chamou com um aceno,
girando o indicador, me convidando para danar. No era alta, mas tinha
um corpo cheio e recortado, e um rostinho dos mais belos, com olhos
Literatura brasiLeira contempornea prosa 299

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acesos, cor de fogo, de gata-maracaj. Danamos trs msicas, e
danamos mais outras, parados, apertadinhos, de corpo molhado.
Ela percebeu minha nsia, me apertou com gosto, e me levou, no ritmo
lento da msica, para fora do salo. Por outro caminho me conduziu a
uma das casinhas vermelhas, avarandadas, na beira de um igarap.
Ficamos um tempo na varandinha, no namoro de beijos e pegaes.
Depois, l dentro, ela fechou a porta, e deixou as janelas entreabertas. O
som de um bolero morria na casinha avarandada.
[] Perguntei como ela se chamava. Ela disfarou, e disse, rindo:
Meu nome? Tu no vais saber, proibido, pecado. Meu nome s meu.
Prometo.
A voz e a risada bastavam, minha curiosidade diminua. Nome e
sobrenome no so aparncias?
No quis me ver nem ser vista luz do dia; quando as guas do
igarap ficaram mais escuras do que a noite, ela pediu que eu fosse
embora. Obedeci, a contragosto. Sa no fim da madrugada, caminhando
na trilha de folhas midas. Naquela manh o sol teimou em aparecer no
cu fechado.
Voltei ao Varandas no mesmo dia, a fim de rev-la; voltei muitas
vezes, sempre sozinho, nunca mais a encontrei.
O Tarso disse que no entrou no Varandas porque teve medo.
Medo?
Ele srio, e calado.
Minotauro me contou sua farra, cheia de faanhas. A grande gandaia,
noite e dia, ele disse com uma voz que no tremia mais, voz bem grossa,
de cachorro. O Gerinlson me olhou de soslaio, sorriu de fininho,
desconversou. Ele no se mostrava mesmo. Gostava das coisas s para ele,
guardando tudo na memria, dono sozinho de seus feitos e fracassos.
Nos meses seguintes, ainda tentei ver a mulher, pulava de um clube
para outro, os lupanares de Manaus. At hoje, sinto nsia s de lembrar.
Tia Mira dizia que eu estava babado de amor. Ests tonto por uma
mulher, ela ria, observando meu devaneio triste, meu olhar ao lu.
O Tarso no quis conversar sobre aquela noite. Foi o primeiro a se
afastar da turma: teve de abandonar a escola, queria ser prtico de motor,
ou, quem sabe, capataz numa fazenda do Careiro.
Trs anos depois, meus tios Mira e Ran mudaram de bairro; os
encontros com meus amigos tornaram-se fortuitos, minha vida procurou
outros rumos. O nico que cruzou o meu caminho foi Minotauro;
cruzou por acaso, quando eu saa do bar Mocambo e ele ia visitar um
amigo no quartel da Polcia Militar. Estava fardado, era soldado S1 e se
preparava para o exame de suboficial da Aeronutica. Servia na base
terrestre, de guerras na selva. No queria voar.
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Sou homem com ps no cho, ele foi logo dizendo. emocionante a
gente se perder na mata, os perigos me atraem, mano. A gente entra na
floresta, escuta os rudos da noite e a noite escura que nem o dia. um
desafio. Toda a cambada tem que caminhar naquele zigue-zague escuro,
dormir sem saber onde est, matar os bichos e encontrar a sada para a
sede do comando.
Falava com desembarao, cheio de si, alisando com os dedos grossos a
boina azul. O rosto continuava assombrado, quase feroz, e a risada saa
que nem uivo. Ele havia topado com o Gerinlson:
O leso do Geri viajou para So Paulo. Quer ser doutor, mdico de
mulher. Quer se aproveitar delas, riu o Minotauro, tenebroso,
mostrando dentes de cavalo. Tu nem sabes O Geri sempre foi sonso,
andou pelo Varandas antes da gente, sempre foi cado por mulheres de
todas as idades.
Dei um risinho chocho, sem vontade. Minotauro j era meu ex-amigo?
Est em outro mundo, nossos pensamentos no se encontram. Foi o que
eu remo naquele instante.
E o Tarso?
Mais pobre do que eu, ele disse. Deve estar cado por a. Pobre pobre
no se levanta, mano. Nem soldado o coitado do Tarso pode ser.
O Minotauro me tratou com carinho. No sei se naquele dia eu tive
pena ou raiva dele. Desprezo, talvez.
Ele se despediu com um abrao forte, de estalar as costelas. Era
socado, um monstro. Ps a boina na cabea e saiu andando,
desengonado, cumpridor de deveres.
Anos depois, num fim de tarde, eu acabara de sair de uma vara cvel, e

Allberto De Stefano/
Arquivo da editora
passava pela avenida Sete de Setembro. Divagava. E j no era jovem.
A gente sente isso quando as complicaes se somam, as respostas se
esquivam das perguntas. Coisas ruins insinuavam-se, escondidas atrs da
porta. As gandaias, os gozos de no ter fim, aquele arrojo dissipador, tudo
vai se esvaindo. E a aspereza de cada cacto da vida surge como um cacto,
ou planta sem perfume. Algum que olha para trs e toma um susto: a
juventude passou.
Quando andava diante do Palcio do Governo, decidi descer a escadaria
que termina prxima margem do igarap; parei no meio da escada e me
distra com a viso dos pssaros pousados nas plantas que flutuavam no rio
cheio. Foi ento que vi, numa canoa, um rosto conhecido. Era Tarso.
Remou lentamente at a margem e saltou; depois tirou um cesto da canoa
e ps o fardo nas costas, a ala em volta da testa, como faz um ndio. O
corpo do meu amigo, curvado pelo peso, era o de um homem. Subiu uma
escadinha de madeira, deixou o cesto na porta de uma palafita, voltou
margem e puxou a canoa at a areia enlameada. porta apareceu uma

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acocho: apertado, arrochado. mulher para apanhar o cesto. Reapareceu em seguida e acenou para
aucena: planta da famlia
das amarilidceas, com flores Tarso. Num relance, ela ergueu a cabea e me encontrou. Estremeci. Eu
muito vistosas.
de soslaio: de vis, de lado.
ia virar o rosto, mas no pude deixar de encar-la. Ela me atraa, e a
esvair: evaporar, desfazer, lembrana surgiu agitada, confusa. A voz dela chamou: Meu filho! A
desaparecer.
fortuito: que acontece por
mesma voz, meiga e firme, da moa, da mulher da casinha vermelha, no
acaso, eventual. balnerio Varandas da Eva. Era a me do meu amigo? Isso durou uns
gato-maracaj: mesmo que
gato-do-mato, jaguatirica.
segundos. Por assombro, ou magia, o rosto dela era o mesmo, no
igarap: riacho que corre entre envelhecera. Mal tive tempo de ver os braos e as pernas, a memria foi
ilhas ou trechos de um rio.
lupanar: prostbulo, casa de abrindo brechas, compondo o corpo inteiro daquela noite.
meretriz, bordel. Tarso escondeu a canoa entre os pilares da palafita, e entrou pela
palafita: conjunto de estacas
que sustentam habitaes escadinha dos fundos. A mulher j tinha sumido.
construdas sobre a gua; Permaneci ali mais um pouco, relembrando
designao comum a essas
habitaes. Nunca mais voltei quele lugar.
HATOUM, Milton. A cidade ilhada. So Paulo: Companhia das Letras, 2009.

interpretao Do texto
1. Releia o primeiro pargrafo e identifique em que momento da juventude se
encontra o narrador-personagem.

2. Explicite a oposio existente entre os rapazes da idade do narrador-personagem


e tio Ran.

3. Aparentemente um evento na vida dos quatro amigos marca a passagem para


a vida adulta: a ida ao Varandas da Eva.
a) Como o narrador, inicialmente, vive esse primeiro contato com o mundo
adulto?
b) Como ele percebe esse contato com o Varandas da Eva em seus trs amigos?

4. Trs anos depois desse primeiro contato com o Varandas da Eva, os rapazes no
andavam mais juntos. Essa distncia entre eles informada de diversas maneiras,
e isso fica bem claro no reencontro do narrador com Minotauro.
a) O que, nessa conversa, revela a distncia entre eles?
b) Que frases destacam especificamente a distncia entre o narrador e Mi-
notauro?
c) O que, na fala de Minotauro, pode ter levado o narrador a ter uma opinio
to dura em relao ao colega de meninice?

5. A que momento da vida do narrador corresponde seu reencontro com Tarso?


Como esse momento descrito por ele?

6. Ao rever Tarso, algo revelado. Que revelao essa?

7. Essa revelao final justificaria alguns dos comportamentos de Tarso, relatados


pelo narrador no incio do conto? Explique sua resposta.

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8. Releia:
Coisas ruins insinuavam-se, escondidas atrs da porta. As gandaias, os gozos
de no ter fim, aquele arrojo dissipador, tudo vai se esvaindo.
No trecho citado, qual a correspondncia entre a conscincia da perda da ju-
ventude do narrador e a revelao que viria em seguida?

Para entender
a p r o s a b r a s i L e i r a
c o n t e m p o r n e a
Assim como na poesia, a produo em prosa, no Brasil, marcada pela plu-
ralidade. So vrios os gneros que se destacam: o conto, a crnica, o texto
teatral, o romance. Todos se tornam produtos de consumo na nova sociedade.
Por esse motivo, as temticas mudam tambm. Se antes podamos dividir a
produo literria entre romances psicolgicos ou regionalistas, na contempo-
raneidade surgem os romances policiais, os de violncia urbana, os de personagens
socialmente desequilibradas.
A prosa busca retratar a urbanidade, a vida catica do indivduo nesse con-
texto. Como nunca, lemos uma literatura contaminada pelo jornalismo, pela
denncia social e pelas cidades. Se tivssemos de apresentar este captulo em
uma palavra, esta palavra seria: (re)inovaes.

caractersticas da prosa
contempornea
o imprio das narrativas curtas
No perodo entre 1980 e o incio do sculo XXI, a opo por textos curtos em
prosa reflete um mundo marcado pela rapidez e pela agitao.
A comunicao em ritmo acelerado e o sofisticado desenvolvimento tecnol-
gico alcanado em algumas reas s poderiam levar produo de gneros lite-
rrios relativamente curtos, como o conto e a crnica, que podem facilmente cir-
cular em jornais, sites e revistas, aproximando ainda mais as pessoas da literatura.
Com o surgimento dos blogs e das redes sociais, muitos passaram a escrever
suas produes on-line. Nunca antes na histria da humanidade se produziu um
nmero to grande de textos como os que circulam na rede nem se consumiu
tanta leitura como nos dias atuais. A rede encurtou o tempo entre o autor e o
leitor, e pode-se at mesmo dizer que desestruturou esses papis, os quais nun-
ca estiveram to ligados como agora.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 303

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crnicas e contos reflexos de nossos tempos
Contos e crnicas trazem tona temas relacionados sociedade e a seu co-
tidiano. Denunciam as mazelas e as preocupaes do ser humano que vive nesse
turbilho de informaes, sugestes, sentimentos.
No Brasil, alguns dos escritores que melhor desenvolveram, ou desenvolvem,
em sua obra essa caracterstica so: Dalton Trevisan, Ricardo Ramos, Luiz Vilela,
Moacyr Scliar e Igncio de Loyola Brando.
Na crnica, destaca-se o desejo de levar o leitor reflexo dos fatos mais
banais do cotidiano. Rubem Braga, Luis Fernando Verissimo e alguns autores que
tambm so contistas ou romancistas (Fernando Sabino, Moacyr Scliar e Igncio
de Loyola Brando, por exemplo) representam muito bem esse gnero.

romance o eterno gnero


No romance, sobressaem-se Luiz Alfredo Garcia-Roza, Moacyr Scliar, Rubem
Fonseca, Raduan Nassar, Milton Hatoum, Patrcia Melo, Igncio de Loyola Bran-
do, Srgio SantAnna, Antnio Callado, Cristovo Tezza, entre outros.
A marca desses escritores o ecletismo, a mistura de estilos. De modo geral,
porm, podemos afirmar que suas obras constituem um olhar crtico sobre a
sociedade descrente. H certo desencantamento com o mundo. As personagens
no agem segundo a tradio ou os valores do passado, mas movidas pelo aqui
e pelo agora. So pessoas simples, sem traos de herosmos.
O papel do leitor reconhecido cada vez mais como fundamental na din-
mica dessa literatura, pois ele quem decifra os mistrios, as pistas do romance
contemporneo.

autores da prosa contempornea


em lngua portuguesa
So muitos os autores de contos, romances e crnicas que se destacam nos
dias atuais. Por essa razo, no conseguiremos, neste espao, enumerar todos os
representantes da prosa contempornea que nos encantam com seus textos.
Apresentaremos, apenas, alguns nomes mais significativos e convidaremos voc,
na seo E por falar em, a buscar outros nomes de destaque na literatura con-
tempornea em lngua portuguesa.

cristovo tezza
Reconhecido por seu trabalho, Tezza recebeu, entre outros, o prmio Portu-
gal Telecom de Literatura e o prmio Jabuti com o romance Meu filho eterno,
que narra a histria de um pai cujo filho tem sndrome de Down. Muitos crticos
literrios comentam que se trata de uma obra autobiogrfica, que mistura rea-
lidade e fico. Todavia essa uma caracterstica da produo contempornea:
a linha entre a realidade e a fico torna-se muito tnue e escrever passa a ser
um retrato do real.
Leia um trecho do romance Meu filho eterno:
A manh mais brutal da vida dele comeou com o sono que se interrompe
chegavam os parentes. Ele est feliz, visvel, uma alegria meio dopada pela madru-

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gada insone, mais as doses de usque, a intensidade do acontecimento, a sucesso de
pequenas estranhezas naquele espao oficial que no o seu, mais uma vez ele no
est em casa, e h agora um alheamento em tudo, como se fosse ele mesmo, e no a
mulher, que tivesse o filho de suas entranhas a sensao boa, mas irremedivel ao
mesmo tempo, vai se transformando numa aflio invisvel que parece respirar com
ele. Talvez ele, como algumas mulheres no choque do parto, no queira o filho que
tem, mas a ideia apenas uma sombra. Afinal, ele s um homem desempregado e
agora tem um filho. Ponto-final.
TEZZA, Cristovo. Meu filho eterno. Rio de Janeiro: Record, 2007.
Guilherme Pupo/Folhapress

Cristovo Tezza (1952), escritor e professor


universitrio, nasceu em Lajes, Santa Catarina.
Menino ainda, mudou-se para Curitiba, cenrio de
muitas de suas obras. Tornou-se conhecido
nacionalmente com a publicao de Trapo (1988).
Em 1998, ganhou o prmio Machado de Assis da
Biblioteca Nacional de melhor romance com
Breve espao entre cor e sombra. Com o livro
O fotgrafo, recebeu o prmio de Melhor Romance
de 2004 da Academia Brasileira de Letras.
Foto de 8 de maro de 2012.
Carlos Fenerich/Arquivo da editora

ricardo ramos
Ricardo Ramos nasceu com a literatura no san-
gue. Filho de Graciliano Ramos, formou-se em
Direito, mas logo se entregou literatura.
Segundo o prprio autor, sua obra tinha mui-
to de realidade; s havia um pouco de inveno.
Assim, o que podemos ler dele so contos e ro-
mances repletos de referncia ao cotidiano, numa
Ricardo Ramos (1929-1992) nasceu em Palmeira dos ndios,
denncia sutil daquilo que nos afoga nos afazeres Alagoas. Escritor, jornalista, professor de comunicao, seu
dirios. maior interesse estava nos contos, embora tenha escrito
Os contos do livro Circuito fechado so impor- romances, novelas, ensaios. Autor premiado, seus contos j
foram traduzidos para diversas lnguas. Entre suas publicaes,
tantes para a compreenso dessas caractersticas. destacamos Circuito fechado (contos), As frias invisveis
Leia um desses contos a seguir. (romance), Os sobreviventes (contos).

Literatura brasiLeira contempornea prosa 305

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Um cachorro
Ricardo Ramos

pequeno e ruivo. Chegou na casa ainda novo, com poucos dias e um nome dif-
cil. De boa raa, tinham dito, e assim fora comprado. Um cachorro para as crianas.
Passado o primeiro ms, a linhagem no se fizera. Ao contrrio, o focinho alon-
gara, o rabo se estendera, o corpo subira desengonado nas pernas altas, geis, que
trotavam por entre os mveis. Os olhos confirmavam a mistura, desvaliam o emba-
rao do princpio: eram vivos, alegres, inteligentes. Apesar do pelo avermelhado, do
peito largo, um vira-lata. Da a simpatia, talvez. Mudaram-lhe o nome.
A dona da casa, que resistira a um bicho para cuidar, sujando e criando caso com
as empregadas, que s a custo cedera no seu exerccio de atender aos filhos, logo se
lembrou do tempo de menina, de um outro cachorro, felpudo e preto, mas tambm
engraado, assim como esse.
O Toquinho mordeu um homem na rua.
As reclamaes de estilo. Como que deixam pela calada, solto, atacando quem
passa? O homem se controlava, ele o raivoso, grosso, malvestido, tropeando nas
palavras. As desculpas, de no se ouvir. Afinal o porto vazio. Mas s um intervalo,
com a radiopatrulha chegando em seguida, os guardas querendo ver o animal, a va-
cina. A dona da casa mostrou o papel, em ordem. O homem ainda aborrecido, como
que deixam, isso devia ser proibido. Ento aquilo aparecendo no jardim, mido,
bulioso, latindo esganiado. Os policiais rindo, vendo o homem to grande, o ca-
chorro to pequeno. E todos indo embora.
[]
A menina, que fizera a escolha do animal, do nome, e o considerava propriedade
sua, por isso mesmo tinha os modos imperiosos. Uma domadora. Andava pelos cin-
co anos e brincava, por vezes se surpreendendo com os movimentos do cachorro, um
grunhir, uma patada, afinal ele reagia. Feito gente, parecido. E no entanto pouco,
obedecendo quase sempre. Ela mandava, ele fazia, os dois no meio da zoada, cruzan-
do a sala e desarrumando, os gritos, os latidos, tudo misturado e treloso. A menina
treloso: estouvado,
travesso; inoportuno, passava, puxando o bicho pelas patas dianteiras, dizendo olha aqui, olha aqui, as
inconveniente. empregadas riam, a me brigava:
Deixe o Toquinho.
Ele meu.
Estou mandando.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora
O menino maior, festejado desde o chegar, punha
o cachorro para dar saltos, correr, depois o alisava sor-
rindo. Estalava os dedos. Um ia na frente, o outro seguia
atrs. Por toda a casa. O menino sentava-se para estudar,
o bicho parava ao seu lado. Cabea levantada, olhos
fixos at achar que tudo ficaria naquilo. Ento se ani-
nhava no tapete, em segurana, e dormia ressonando.
[]
O Toquinho tem medo de bomba.
Junho chegara com os fogos. Esses estouros que s
tm sentido no interior, fogueira, foguetes, as insistn-
cias de se aligeirar a cidade. Os bales subiam, vogavam
e criavam os seus pequenos incndios, muito amplia-
dos nas advertncias, nos comentrios. []

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Olhe o Toquinho.
O estampido e ele correndo. A qualquer barulho, vinha em disparada e se aga-
chava, trmulo, aos ps de algum. Apavorado, se escondendo. Os meninos riam
daquilo. A menor aprendeu a bater palmas, estaladas, para v-lo correr. A mulher
achou que passara o perigo de mordidas e confuso.
Coitadinho.
O homem da casa, esse que fica na rua da manh noite, que nos fins de semana
recolhe fragmentos de um lar e os imagina em dia til, o homem descobriu que
bom, simples e natural ter um cachorro a seus ps, feito uma ncora no passado que
ele no sabe mas desconfia.
RAMOS, Ricardo. Circuito fechado. Rio de Janeiro: Record, 1978.

moacyr scliar

Neco Varella/Folhapress
Moacyr Scliar nasceu em 1937, no Rio Grande do Sul, e faleceu em
2011. Foi mdico, professor universitrio e membro da Academia Bra-
sileira de Letras.
Como mdico, fez uma reflexo profunda da realidade humana e
social. Em suas crnicas, romances, ensaios e fico infantojuvenil, Scliar
tratou de temas entre o fantstico e o cotidiano. Foi colaborador do
jornal Folha de S.Paulo, publicando semanalmente crnicas que, se-
gundo o prprio autor, eram desencadeadas por notcias do dia a dia.
Sua produo literria representa nos ltimos tempos o que se tem
produzido de melhor no Brasil.
Leia um de seus textos que trata do que, poca em que foi escrito,
era a grande novidade: as vendas pelo computador. Observe que, antes Moacyr Scliar em sua casa, em Porto
do texto, h uma referncia notcia que originou as reflexes do autor. Alegre, RS. Foto de 16 de setembro
de 2010.

Felicidade no se compra. Nem mesmo pela internet


Moacyr Scliar

Sof de dois lugares, seminovo: produtos como esse podem sair de sua casa e
serem vendidos com a ajuda da internet.
Folha Informtica, 23 mar. 2005.

Ele adorava o sof de dois lugares que estava no living. A mulher odiava o sof de
dois lugares que estava no living. Ele adorava o sof de dois lugares que estava no
living porque era ali que, todas as noites, se instalava para assistir TV at altas horas.
A mulher odiava o sof de dois lugares que estava no living porque era ali que, todas
as noites, o marido se instalava para assistir TV at altas horas. E, vendo TV, o
marido no queria fazer programas, no queria passear, no queria nem conversar.
Em desespero, ela ameaa vender o sof por qualquer preo.
O marido no acreditava. Porque a mulher no tinha jeito para negociar. No
sabia falar com as pessoas, no sabia apresentar seu produto. Se dependesse de sua
habilidade para a venda, o sof de dois lugares permaneceria no living por muitos e
muitos anos. De modo que ele ficou muito surpreso quando, voltando do trabalho,
no encontrou o sof. Vendi, disse a mulher, triunfante. Ele no quis acreditar, achou
que fosse brincadeira. Ela explicou: graas internet, tinha vendido a uma pessoa que

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nem conhecia, que enviara um portador para entregar o dinheiro e levar o sof.
Aquilo deixou-o furioso. Queria o seu sof de volta e exigiu da mulher o nome
do comprador. Ela simplesmente se recusou a revelar esse segredo.
Brigaram e, naquela noite, ele dormiu no outro quarto do apartamento, vazio
desde que a filha tinha casado. De madrugada, uma ideia lhe ocorreu. Correu a ve-
rificar os e-mails da esposa e, de fato, ali estava a mensagem enviada pela comprado-
ra, com nome, endereo, telefone.
No dia seguinte, ligou para essa mulher, disse que precisava v-la com urgncia:
assunto ligado compra do sof. Ela relutou, mas consentiu em receb-lo. Ele foi at
a casa, num bairro afastado. E ali estava a mulher, ainda jovem, a esper-lo.
No living, diante da TV, o sof de dois lugares que ele quis comprar de volta. Ela
recusou; gostara do sof, no o venderia. Ele recorreu a todos os argumentos, sem
resultado, quis at pagar o dobro da quantia que ela havia despendido. Nada, ela
mostrava-se irredutvel, e ele acabou desistindo.
Antes de ir embora, porm, resolveu perguntar quem sentava ao lado dela no sof.
Ningum, foi a resposta. Divorciada, estava sozinha havia algum tempo. Com-
prara um sof de dois lugares porque tinha esperana de, um dia, arranjar um
companheiro.
Ele tem ido casa da nova proprietria do sof. Senta-se ao lado dela para ver TV,
coisa que adora. No comeo, ela gostava da companhia.
Mas agora j no acha o arranjo to bom: o homem no quer fazer programas,
no quer passear, no quer nem conversar.
Ela pensa seriamente em vender o sof. No muito hbil nessas coisas, mas tem
certeza de que, atravs da internet, resolver o problema.
Folha de S.Paulo, 28 mar. 2005. Folhapress.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

Luiz alfredo Garcia-roza


Carioca e estudioso da psicanlise, Roza mostra-nos uma Rio de Janeiro pelo
olhar de personagens densamente construdas. O autor no se restringe ao lugar-
-comum da violncia e do trfico; pelo contrrio, apresenta-nos um painel de uma
sociedade cheia de dramas pessoais mal resolvidos.
A maioria de suas obras composta de romances policiais, e uma personagem
surge em quase todos eles: o delegado Espinosa.
Leia na prxima pgina um trecho de seu romance policial Na multido. Nele,
a personagem Espinosa precisa desvendar um misterioso crime no apartamento
onde passou a infncia.

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Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936) estudou Filosofia e Psicologia, foi professor titular na Universidade

Marcos Michael/Folhapress
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de um programa de ps-graduao em Teoria
Psicanaltica. Alm de romances, escreveu livros sobre psicanlise e filosofia.
Por sua obra O silncio da chuva recebeu os prmios Nestl de Literatura e Jabuti.
Foto de 25 de junho de 2012.

Na multido
Luiz Garcia-Roza

Espinosa olhou para a mo dele e ela empunhava uma faca. Levou imediatamen-
te a mo s costas para sacar a arma, ao mesmo tempo que tentava dar um passo atrs
para evitar o golpe. A faca o atingiu do lado esquerdo do abdome, com toda a violncia.
Espinosa tinha conseguido sacar a arma e disparar, mas o tiro sara baixo, atingindo a
coxa de Hugo Breno, que caiu de joelhos no cho arenoso. Espinosa deu um passo e
desabou sobre o banco de ripas de madeira, deslizando pelo encosto curvo at tombar
de lado no assento. Hugo Breno estava sentado no cho de saibro, junto ao mesmo
banco, ainda com a faca na mo, a cala empapada de sangue. A pistola de Espinosa
cara no cho, ao alcance dos dois. Com a barra da camisa, Espinosa tentava tamponar
seu ferimento, que sangrava abundantemente. Ele estava sem ar, com a vista embaada,
e fazia um esforo enorme para no fechar os olhos. Foi quando viu Hugo Breno sen-
tado ao seu lado, uma das mos tentando deter o sangramento da perna e a outra esti-
cada para o delegado. A vista embaada no permitia que Espinosa distinguisse clara-
mente o que Hugo pretendia com seu gesto, at que percebeu que a mo estendida de
Hugo Breno segurava a pistola que ele pegara do cho.
GARCIA-ROZA, Luiz. Na multido. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Fernando bonassi
Fernando Bonassi a representao da contemporaneidade. Nascido na ci-
dade de So Paulo, o autor passeia pela produo de romances, contos, roteiros
de cinema, textos teatrais e crnicas jornalsticas.
Reconhecido a partir da dcada de 1990, sua obra tem uma caracterstica
prpria: a construo de personagens em situaes claustrofbicas, presas,
escondidas.

Relaes perigosas
Fernando Bonassi

O doutor Geraldo daqueles que sempre digita aquele abrao ao filho Eduardo,
mas tem uns dez anos que no lhe d nem a mo pessoalmente. J Eduardo, que tem
dezenove anos de idade, manda para a me, Dilma, e-mails com beijos que nunca
tem coragem, ou vontade, de dar. Dona Dilma, em pouco tempo, passou a dar beijos
pessoalmente no vizinho de porta, o Serginho, de dezoito aninhos, que este nem
sonha descrever para a namorada, Cssia, de vinte e um, que vive dizendo que no
quer compromisso, mas visita agncias de casamento na Finlndia, onde Haldor, de
vinte e trs, quer porque quer uma esposa brasileira. Haldor est entre Cssia e Selma,
que no diz a idade, viaja muito e passa o tempo lhe escrevendo que trabalha, mas
fica visitando sites de sacanagem. Sacanagem mesmo fez o chefe dela, o arquiteto
Arthur, que a pegou num blog em flagrante e deu advertncia s para manter as apa-

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Leonardo Wen/Folhapress

rncias, j que uns e outros sabem que eles se encontram muito bem um
com o outro por essas mensagens cifradas, senhas partilhadas e pedidos de
decoro, decorao ou sigilo. Marta, enciumada, trainee de rea de marketing,
at organizou um chat indignado para contarem-se esses segredos chatos.
O que nem todos sabem que nos dias de folga a prpria Marta prefere se
apresentar como Wanessa, a Devassa, despindo-se ao comentrio dos
outros numa sala de bate-papo furado com palavras safadas e gozando com
a admirao canastra de sua literatura impura. Um desses admiradores cheios
de culpa jamais ps a mo num livro que no fosse a Bblia! Diz estar ape-
nas curioso, mas pergunta como quem conhece o linguajar das respostas
Fernando Bonassi (1962), romancista, mais sujas. Trata-se do doutor Geraldo, que no s negou divrcio esposa
contista, dramaturgo, roteirista de como assegurou que vai permanecer-lhe fiel at que a morte os separe; o
cinema, transita com desenvoltura em que deu umas ideias dona Dilma e ao Serginho, que esto cada vez mais
diversos setores artsticos. Entre suas
publicaes, destacamos Violncia e apaixonados e passaram a fazer uns contatos estranhos com uns endereos
paixo. Foto de 23 de fevereiro esquisitos
de 2006. BONASSI, Fernando. Violncia e paixo. So Paulo: Scipione, 2007.

rubem braga
Nascido na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Esprito Santo,
Alexandre Sassaki/Arquivo da editora/EA

Rubem Braga formou-se em Direito, mas trabalhou como jornalista.


Talvez a juno desses dois trabalhos tenha provocado no autor um
olhar mais crtico e atento sociedade.
Considerado um dos maiores escritores brasileiros da atualidade,
ganhou popularidade com suas crnicas. Nelas o autor retrata o olhar
do homem no mundo, nas sociedades modernas, com textos enxutos,
objetivos, marcados pela linguagem coloquial e pelas temticas simples.

Rubem Braga (1913-1990) considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde
Machado de Assis. A marca registrada de seus textos, segundo Afrnio Coutinho, a
crnica potica, na qual alia um estilo prprio a um intenso lirismo, provocado pelos
acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela
natureza. Foto de 3 de janeiro de 1989.

Flor-de-maio
Alberto De Stefano/
Arquivo da editora

Rubem Braga

Entre tantas notcias do jornal o crime do Sacop, o disco voador em Bag, a


nova droga antituberculosa, o andaime que caiu, o homem que matou outro com
machado e com foice, o possvel aumento do po, a angstia dos Barnabs h uma
pequenina nota de trs linhas, que nem todos os jornais publicaram.
No vem do gabinete do prefeito para explicar a falta dgua, nem do Ministrio
da Guerra para insinuar que o pas est em paz. No conta incidentes de fronteira
nem desastre de avio. assinada pelo senhor diretor do Jardim Botnico, e nos in-
forma gravemente que a partir do dia 27 vale a pena visitar o Jardim, porque a plan-
ta chamada flor-de-maio est, efetivamente, em flor.
Meu primeiro movimento, ao ler esse delicado convite, foi deixar a mesa da
redao e me dirigir ao Jardim Botnico, contemplar a flor e cumprimentar a ad-
ministrao do horto pelo feliz evento. Mas havia ainda muita coisa para ler e es-
crever, telefonemas a dar, providncias a tomar. Agora, j desce a noite, e as plantas

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Alberto De Stefano/Arquivo da editora
em flor devem ser vistas pela manh ou tarde, quando h sol ou
mesmo quando a chuva as despenca e elas soluam no vento, e cho-
ram gotas e flores no cho.
Suspiro e digo comigo mesmo que amanh acordarei cedo e
irei. Digo, mas no acredito, ou pelo menos desconfio que esse impul-
so que tive ao ler a notcia ficar no que foi um impulso de fazer
uma coisa boa e simples, que se perde no meio da pressa e da inquie-
tao dos minutos que voam. Qualquer uma destas tardes possvel
que me d vontade real, imperiosa, de ir ao Jardim Botnico, mas
ento ser tarde, no haver mais flor-de-maio, e ento pensarei que
preciso esperar a vinda de outro outono, e no outro outono posso
estar em outra cidade em que no haja outono em maio, e sem outo-
no em maio no sei se em alguma cidade haver essa flor-de-maio.
No fundo, a minha secreta esperana de que estas linhas sejam
lidas por algum uma pessoa melhor do que eu, alguma criatura
correta e simples que tire desta crnica a sua nica substncia, a infor-
mao precisa e preciosa: do dia 27 em diante as flores-de-maio do
Jardim Botnico esto gloriosamente em flor. E que utilize essa infor-
mao saindo de casa e indo diretamente ao Jardim Botnico ver a
flor-de-maio talvez com a mulher e as crianas, talvez com a
namorada, talvez s.
Ir s, no fim da tarde, ver a flor-de-maio; aproveitar a nica
notcia boa de um dia inteiro de jornal, fazer a coisa mais bela e emo-
cionante de um dia inteiro da cidade imensa. Se entre vs houver essa
criatura, e ela souber por mim a notcia, e for, ento eu vos direi que
nem tudo est perdido, e que vale a pena viver entre tantos sacops de
paixes desgraadas e tantas COFAPs de preos irritantes; que a hu-
manidade possivelmente ainda poder ser salva, e que s vezes ainda
vale a pena escrever uma crnica.
BRAGA, Rubem. Crnicas 2. So Paulo: tica, 2008. (Para gostar de ler).

Fernando Sabino
Fernando Sabino nasceu em 1923, em Minas, e faleceu em
Flavio Ciro/Arquivo da editora
2004, no Rio de Janeiro. Como ele mesmo pediu, em seu tmulo
h a epgrafe: Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e
morreu menino.
Por influncia de Murilo Rubio, comea a trabalhar no jorna-
lismo mineiro e logo d incio s publicaes de seus contos e ro-
mances. Dono de uma fala de menino, Sabino faz um retrato da
sociedade brasileira da poca.
Leia um trecho do romance O menino no espelho, publica-
do em 1982.

Fernando Tavares Sabino escreveu romances, crnicas, contos, artigos para jornais e
revistas. O encontro marcado considerado seu romance de maior sucesso. Entre seus
romances, destacam-se: O homem nu, O menino no espelho e O grande mentecapto,
obra que recebeu o prmio Jabuti e foi adaptada para o cinema e o teatro. Foto de 1989.

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Como deixei de voar
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

Fernando Sabino

[]
Uma noite tive um sonho maravilhoso: sonhei que sabia
voar. Bastava movimentar os braos, mos abertas ao lado do
corpo fazendo crculos no ar, e eu me descolava do cho como
um passarinho, saa voando por cima das casas e pelos campos
sem fim.
Durante vrios dias aquele sonho no me saiu da cabea.
Acabei cismando que poderia torn-lo realidade. Ia para o
fundo do quintal e, longe da vista dos outros, ficava horas segui-
das ensaiando meu voo. Mexia com as mos, sem parar, como
fizera no sonho, e nada. Eu sabia que no era uma questo de
fora, mas de conseguir estabelecer, com o movimento harmonio-
so das mos, um misterioso equilbrio entre o meu peso e o peso
do ar. Como se estivesse dentro dgua e quisesse me manter
tona: qualquer gesto mais forte ou afobado e eu me afundava.
[]
SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1996.

Marina Colasanti
Nascida em 1937, na Eritreia ( poca pertencente Etipia),
Marcos de Paula/Agncia Estado

morou onze anos na Itlia e desde ento vive no Brasil.


Dona de uma narrativa potica, Marina Colasanti, como qua-
se todos os autores contemporneos de lngua portuguesa, pro-
duziu crnicas, contos, romances, poesias, histrias infantojuvenis,
roteiros para cinema e TV, e at apresentou programas televisivos.
Tudo isso sem deixar de lado sua caracterstica fundamental: mos-
trar a alma feminina ao narrar os fatos do cotidiano e os proble-
mas sociais.
O que tambm marcante em seus textos a sensibilidade com
que apresenta os temas mais caros para a humanidade. Veja como
ela trata da solido em um dos contos do livro A morada do ser.
Para compor esse livro, a autora desenhou seu prdio e passou a
olh-lo como um edifcio de verdade, onde havia uma pessoa so-
Marina Colasanti tem uma produo zinha, uma pessoa que no suportava viver com outra, uma tele
extensa. Desde sua primeira publicao,
Eu sozinha (1968), j escreveu mais de viso ligada Desse modo, localizou os mitos, distribuiu os temas
trinta livros. Ganhou o prmio Jabuti pelas pelos apartamentos e s ento comeou a escrever os contos.
obras Rota de coliso (1993) e Ana Z.
aonde vai voc? (1999). Foto de 23 de
setembro de 2010.

Apto 403
Marina Colasanti

Trouxe primeiro a pomba, animalzinho ferido na praa. Depois o carneiro en-


contrado no terreno baldio.
Sarada a asa, lavado o pelo, era suave a convivncia. Arrulhos, balidos, milho na
palma, capim na mo, ruminar de trs pacincias. E mais doce ele ficava vivendo com
a pomba, mais manso se fazia acordando com o carneiro.

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Amavam-se nos cmodos estreitos. Cuidadoso porm de que a janela
se mantivesse fechada evitando voos, e fosse firme a coleira presa ao p da
mesa. A vida sem seus amigos parecia-lhe impossvel. Menos nos fins de
semana, quando viajava sem lev-los, medo de que fugissem e, na volta,
saudoso, trazia do campo ramas e a pele tostada pelo sol.
Arrulhava a pomba, balia o carneiro. Mas s vezes voando entre a
cmoda e o armrio a pomba parecia estonteada, a cabecinha batendo

Alexandre Dubiela/Arquivo da editora


contra os vidros. E sem desgastar-se em razes os dentes do carneiro se
alongavam superando o focinho.
Foi com o agitar das ramas que ela se assustou? Ou com o alvoroo
da chegada? Difcil dizer por que a fria tomou-lhe as asas cravando o
bico nos olhos e repetidas vezes afundando entre gritos e sangue. Mas
certo que o cheiro novo excitou o carneiro levando-o a patear o cor-
po cado, sem que bastasse a carne entre os dentes.
COLASANTI, Marina. A morada do ser. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1978.

patrcia melo
Uma das mais respeitadas escritoras na atualidade, Patrcia

Felipe Varanda/Agncia Jornal do Brasil


Melo paulistana e representa em seus textos a violncia e a ve-
locidade das grandes cidades. Influenciada por esse ritmo, produz
uma narrativa densa e de perodos curtos, fortes, esmagadores.
Como para ela o humano corrompido por esse frenesi, suas per-
sonagens s poderiam apresentar valores duvidosos e tica adap-
tada s necessidades.
Leia um trecho do livro Inferno, que conta a saga de Jos Lus
Reis, apelidado Reizinho, menino de 11 anos que se envolve com
o trfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro.
Patrcia Melo (1962)
romancista, dramaturga,
roteirista. Ganhadora de
[] inmeros prmios,
Foi naquela noite que conheceu Leitor. O rapaz se aproximou, fumando, os dedos recebeu, entre outros, o
sujos de nicotina, querendo saber se Reizinho havia prestado ateno nas portas dos prmio Jabuti de
literatura por seu livro
barracos. No, no prestara ateno. Vai ser esta noite, ele disse. Apontou trs recm- Inferno. Foto de 2005.
-fugidos, as estrelas da festa. Armados. Eles nos apoiam, continuou o Leitor. Nunca
fico preocupado com esse tipo de problema, ele falou, acendendo outro cigarro.
Reizinho no compreendeu o que ele quis dizer com esse tipo de problema, nem
com todo o resto da conversa. Percebe a agitao?, perguntou Leitor. Sim, percebia,
mas passara o dia atordoado, a cabea latejando, os braos, pernas, sentia dores no
abdmen, nas juntas, no conseguia pensar em nada. No notara as portas azuis, e
nem sentia vontade de perguntar por que estavam distribuindo tinta no bar do Ono-
fre. Queria falar com Milto, s isso. Queria que seu interlocutor evaporasse, o mais
rpido possvel. Leitor no se importava nem um pouco em parecer indiscreto, olha-
va o estrago no rosto do Reizinho como um comerciante interessado no produto,
atento, direto, s falta mesmo perguntar o preo, pensou Reizinho, contrariado.
Milto, num dos cantos da quadra, conversava com os amigos. A mo na cintu-
ra de Suzana. A ginga de Milto, gesticulando, rindo, Suzana por duas vezes fez sinal
para que Reizinho esperasse. Calma, ela disse. []
MELO, Patrcia. Inferno. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 313

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Arquivo do jornal O Estado de S. Paulo/Agncia Estado

Dalton trevisan
Conhecido como O Vampiro de Curitiba, nome de um de
seus livros, e sobretudo por ser avesso a entrevistas e fotgrafos,
Dalton Trevisan , de fato, o mais arredio dos autores contem-
porneos, tendo criado em torno de si um certo mistrio.
Ao contrrio dos demais autores atuais, sua produo baseia-
-se nos contos, gnero que atinge o ponto mximo com ele.
Os contos de Trevisan so cuidadosamente trabalhados,
em especial no que diz respeito economia, da seus textos
serem curtos e densos. Muito antes dos blogs e das redes
sociais, o autor j produzia micro-histrias, que levam os leito-
Dalton Trevisan (1925), escritor curitibano, res a profundas reflexes.
editou, na dcada de 1940, a revista
Joaquim, reunindo ensaios e poemas de
grandes nomes da crtica e da literatura
brasileira da poca. Ganhou o prmio
Jabuti com suas obras Novelas nada milton Hatoum
exemplares e Cemitrio de elefantes
(ambas publicadas pela editora Record). Nascido em Manaus, em 1952, Milton Hatoum considerado
hoje um dos maiores escritores brasileiros de sua gerao.
Henrique Manreza/Folhapress

Iniciou a vida acadmica ao ingressar no curso de Arquite-


tura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Mais tarde, aps
ter morado em Madri e Barcelona, fez ps-graduao na Uni-
versidade de Paris III. Foi professor de Lngua e Literatura Fran-
cesa na Universidade Federal de Manaus.
Relato de um certo Oriente, seu primeiro romance, foi pu-
blicado em 1989. Seus contos e romances revelam o resultado
de um intenso cuidado com a construo narrativa, que con-
cisa, enxuta, precisa.
Filho de imigrantes libaneses, Hatoum recupera, em alguns
de seus principais romances, certos conflitos vividos por perso-
Milton Hatoum ganhou o prmio Jabuti de nagens de famlias de mesma origem, que tm na cidade de
melhor romance com as obras Relato de um Manaus o cenrio para a reconstruo de imagens que emergem
certo Oriente (1990), Dois irmos (2001) e
Cinzas do norte (2005). Foto de 2008. da memria.
Algumas outras obras desse autor so: Dois irmos, rfos
Daniel Bennett/Futura Press

do Eldorado e A cidade ilhada, livro do qual foi tirado o conto


Varandas da Eva, que voc leu no incio deste captulo.

igncio de Loyola brando


Escritor de reportagens, roteiros de cinemas, romances, cr-
nicas e contos, Igncio de Loyola Brando o prottipo do es-
critor contemporneo. Costuma sair pela avenida Paulista, uma
das mais modernas da metrpole de So Paulo, para ouvir o que
Paulista de Araraquara, Igncio de Loyola as pessoas conversam, o que veem, o que fazem, material de
Brando (1936) jornalista desde os 15 anos. que retira os temas para sua produo.
Recebeu o prmio Jabuti de Melhor livro de
contos por O homem que odiava a Com muitos prmios de reconhecimento sua obra, tambm
segunda-feira (2000). Foto de 2010. escreve crnicas para o jornal O Estado de S. Paulo.

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O homem que queria

Alexandre Dubiela/Arquivo da editora


eliminar a memria
Igncio de Loyola Brando

Entrou no hospital, mandou cha-


mar o melhor neurocirurgio. Disse que
era caso de vida e morte. No se sabe como,
o melhor neurocirurgio foi atend-lo. Mdicos
so imprevisveis. Precisa-se muito e eles falham; subitamente, esto ali,
salvando nossas vidas, ele pensou, sem se incomodar com o lugar-comum.
Estava na sala diante do doutor. Uma sala branca, annima. Por que so sempre
assim, derrotando a gente logo de entrada?
O mdico:
Sim?
Quero me operar. Quero que o senhor tire um pedao do meu crebro.
Um pedao do crebro? Por que vou tirar um pedao do seu crebro?
Porque eu quero.
Sim, mas precisa me explicar. Justificar.
No basta eu querer?
Claro que no.
No sou dono do meu corpo?
Em termos.
Como em termos?
Bem, o senhor e no . H certas coisas que o senhor est impedido de fazer.
Ou melhor; eu que estou impedido de fazer no senhor.
Que impede?
A tica, a lei.
A sua tica manda tambm no meu corpo? Se pago, se quero, porque quero
fazer do meu corpo aquilo que desejo. E se acabou.
Olha, a gente vai ficar o dia inteiro nesta discusso boba. E no tenho tempo
a perder. Por que o senhor quer cortar um pedao do crebro?
Quero eliminar a minha memria.
Para qu?
Gozado, as pessoas s sabem perguntar: o qu? por qu? para qu? Falei com
dezenas de pessoas e todos me perguntaram: por qu? No podem aceitar pura e
simplesmente algum que deseja eliminar a memria.
J que o senhor veio a mim para fazer esta operao, tenho ao menos o direito
dessa informao.
No quero mais me lembrar de nada. S isso. As coisas passaram, passaram. Fim!
No to simples assim. Na vida diria, o senhor precisa da memria. Para
lembrar pequenas coisas. Ou grandes. Compromissos, encontros, coisas a pagar, etc.
tudo isso que vou eliminar. Marco numa agenda, olho ali e pronto.
No d para fazer isso, de qualquer modo. A medicina no est to adiantada assim.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 315

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Em lugar nenhum posso eliminar a minha memria?
Que eu saiba no.
Seria muito melhor para os homens. O dia a dia. O dia de hoje para a frente.
Entende o que eu quero dizer? Nenhuma lembrana ruim ou boa, nenhuma neuro-
se. O passado fechado, encerrado. Definitivamente bloqueado. No seria engraado?
No se lembrar sequer do que se tomou no caf da manh? E para que quero me
lembrar do que tomei no caf da manh?
Se todo mundo fizesse isso, acabaria a histria.
E quem quer saber da histria?
Imaginou o mundo?
Feliz, tranquilo. S de futuro. O dia em vez de se transformar em passado de
hoje, mudando-se em futuro. Cada instante projetado para a frente.
No seria bem assim. Teramos apenas uma soma de instantes perdidos. Nada
mais. Cada segundo eliminado. A sua existncia comprovada atravs do qu?
Quem quer comprovar a existncia?
A gente precisa.
Para qu?
O mdico pensou. No conseguiu responder. O homem tinha-o deixado total-
mente confuso. Pediu ao homem que voltasse outro dia. Despediram-se. O mdico
subiu para os brancos corredores do hospital, passou pela sala de operaes. Chamou
um amigo.
Estou pensando em tirar um pedao do meu crebro. Eliminar a memria. O
que voc acha?
Muito boa ideia. Por que no pensamos nisto antes? Opero voc e depois voc
me opera. Tambm quero.
BRANDO, Igncio de Loyola. Contos. So Paulo: tica, 1983. (Para gostar de ler).

Jos saramago
Carlos Alvarez/Getty Images

Jos de Sousa Saramago nasceu em uma aldeia


portuguesa, em 1922, e morreu na Espanha, em 2010,
aos 87 anos de idade.
Saramago desvendou o mundo social do nosso s-
culo. Prmio Nobel de Literatura, retratou as histrias
dos desconhecidos, abandonados e humilhados. Para
o escritor, era preciso rever a Histria do ponto de
vista daqueles que lutaram, que se sacrificaram e que,
portanto, fizeram-na de fato.
A voz de suas personagens a voz de pessoas
comuns. Para criar essa voz, Saramago construiu per-
sonagens que representam no s o homem portu-
gus, mas o ser humano, retratando as vozes do povo
em luta por liberdade, por reconhecimento.

O escritor portugus Jos Saramago


(1922-2010) em Madri, na Espanha.
Foto de 3 de maro de 2009.

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Suas obras mostram personagens marginalizadas, excludas. As falas dessas
personagens misturam-se fala do narrador em perodos longos e com pouca
pontuao. Trata-se de uma de suas caractersticas mais marcantes, pois, ao lon-
go da leitura, misturam-se as vozes em total fluxo de conscincia. Por meio
desse tipo de personagem, o autor no s garante a verossimilhana de sua
narrativa, como, envolvendo o leitor na rede de suas histrias, leva-o a pensar
sobre a vida, questionando-a.
As obras mais conhecidas de Saramago so: Ensaio sobre a cegueira ro-
mance de certo realismo fantstico, mostra uma doena que acomete uma cida-
de onde todas as pessoas ficam cegas ; Memorial do convento romance
histrico que apresenta a construo do convento de Mafra do ponto de vista
dos operrios ; Conto da ilha desconhecida conto, novela, enfim, a narrati-
va da ida de um homem simples porta de um castelo para pedir ao rei uma
embarcao, com a qual ele quer encontrar a ilha desconhecida.
Leia um trecho do romance A caverna, que trata da mo de obra no valo-
rizada, representada pela personagem que fabrica artesanalmente peas de
barro que no tm mais mercado.
[]
Que faz a o ler, Lendo, fica-se a saber quase tudo, Eu tambm leio, Algo portan-
to sabers, Agora j no estou to certa, Ters ento de ler de outra maneira, Como,
No serve a mesma para todos, cada um inventa a sua, a que lhe for prpria, h quem
leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais alm da leitura, ficam pe-
gados pgina, no percebem que as palavras so apenas pedras postas a atravessar a
corrente de um rio, se esto ali para que possamos chegar outra margem, a outra
margem que importa, A no ser, A no ser, qu, A no ser que esses tais rios no
tenham duas margens mas muitas, que cada pessoa que l seja, ela, a sua prpria
margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que ter de chegar [].
SARAMAGO, Jos. A caverna. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.

antnio Lobo antunes


Psiquiatra, escritor, cronista, Antnio Lobo Antunes nasceu
Luciana Whitaker/LatinContent/Getty Images
em 1942, em Lisboa. Tornou-se um dos escritores mais polmicos
da prosa contempornea em Portugal. Considerado um estranho
no ninho, escreve sobre todas as crises humanas com material
cientfico para isso, uma vez que mdico.
Lobo considerado denso. Na leitura de sua obra, impor-
tante perceber os jogos entre as vozes dos narradores, a apre-
sentao de personagens atormentadas, de seres humanos nicos,
ilhados nessa sociedade que os descaracteriza.
Sua obra vasta e muito premiada. Escreveu, entre outros
livros, Memria de elefante, Conhecimento do inferno, Fado
alexandrino, Tratado das paixes da alma, Livro de crnicas, Ar-
quiplago da insnia, Ontem no te vi em Babilnia, A histria Antnio Lobo Antunes (1942) considerado
do hidroavio (contos). por muitos crticos o mais importante
romancista portugus depois de Ea de
Leia um trecho de Ontem no te vi em Babilnia, romance Queirs. um dos autores portugueses mais
em que o autor cria uma histria sobre perda e desamor. lidos e traduzidos no mundo. Foto de 2009.

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Meia-noite
2
Antnio Lobo Antunes

Deve ser meia-noite porque os rudos cessaram, os do jardim, os da casa e os da


minha mulher que afastou os cachorros com a chibatinha de um galho
Desandem
prendeu a cadela com cio na garagem e aposto que se deitou visto que nenhuma
luz no corredor ou no quarto onde no entro h sculos, fico aqui longssimo dela
com todo este silncio e este escuro entre ns, nem o atrito dos lenis nem uma tbua
da cama ao mudar de posio, os candeeiros de vora no outro lado da casa, nesta
janela piteiras, at o meu refluxo levou sumio dos vidros
(o que se passa comigo?)
e ningum vir cumprimentar-me ao mesmo tempo que eu, sentia o frenesim dos ca-
chorros em torno da garagem na esperana de uma falha na parede e a cadela enrolada sob
o automvel espera, havia homens dessa forma quando os prendamos, deitados no cho
de olhos abertos ao entrarmos na cela, que faria a minha mulher se escutasse os meus passos
sem um automvel onde esconder-se e um muro de pneus velhos a proteg-la de mim, de-
fender-se-ia com o cotovelo como os homens que tentavam levantar-se a explicar no se
entendia o qu, dentes demasiado numerosos que os impediam de falar, deve ser meia-noite
esteva: arbusto da porque os cachorros desistem, imveis nos tufos dos canteiros e nos legumes mortos de tal
famlia das cistceas, de modo que se confundem com pedras, so pedras, estou acordado entre pedras, se calhar uma
folhas grandes e flores
tambm grandes e
pedra eu tambm, uma pedra a minha mulher, uma pedra a que me espera em Lisboa, d-me
brancas. ideia que uma claridade nos campos, a lua ou isso a aumentar o mato e as estevas despertan-
frenesim: o mesmo do os cachorros que me respiram debaixo do peitoril a pedir o que no entendia o que fosse
que frenesi (delrio,
desvario; agitao,
(o que se passa comigo?)
inquietao). []
ANTUNES, Antnio Lobo. Ontem no te vi em Babilnia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

mia couto
Mia Couto nasceu em 1955, em Moambique, onde
Karime Xavier/Folhapress

trabalhou como diretor da revista Tempo e do jornal


Notcias de Maputo.
Tal qual Guimares Rosa, Couto preocupa-se em usar
uma linguagem que caracteriza suas personagens. As-
sim, mais do que apresentar aos seus leitores o uso que
se faz da lngua portuguesa em Moambique, o escritor
africano de origem portuguesa inventa um jeito de usar
as palavras, criando novos vocbulos, brincando com os
sentidos. Para l-lo, preciso perceber-se num jogo fan-
tstico entre o sonho e a realidade.
Antnio Emlio Leite Couto (1955) Mia Couto
Fazem parte de sua temtica os dramas pessoais de
considerado um dos escritores mais importantes de
Moambique. Muitos de seus livros j foram traduzidos quem vive em Moambique aps a independncia.
para diversas lnguas. Em muitas de suas obras, tenta Leia a seguir um exemplo de sua produo. Trata-se
recriar a lngua portuguesa com influncia
de um trecho do primeiro captulo de Terra sonmbula,
moambicana, utilizando o lxico de vrias regies do
pas e produzindo um novo modelo de narrativa romance que apresenta a devastao causada pela guer-
africana. Foto de 3 de agosto de 2011. ra civil, mas sem abrir mo da esperana e dos sonhos.

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A estrada morta
Mia Couto

Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos s as bambolento: no encontramos
registro; provavelmente uma
hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mes- variao de bamboleante (sem
tiara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam boca. Eram cores firmeza, que balana, oscila).
sujas, to sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de berma: passagem estreita.
brincriao: no encontramos
levantar asas pelo azul. Aqui, o cu se tornara impossvel. E os viventes se registro; provavelmente um
acostumaram ao cho, em resignada aprendizagem da morte. neologismo (brincadeira + criao).
A estrada que agora se abre a nossos olhos no se entrecruza com outra coxear: caminhar com dificuldade;
mancar.
nenhuma. Est mais deitada que os sculos, suportando sozinha toda a dis- embondeiro: rvore gigantesca da
tncia. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na famlia das bombacceas, muito
savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir. disseminada nas savanas africanas,
com flores brancas, s vezes com
Um velho e um mido vo seguindo a estrada. Andam bambolentos tons de lils.
como se caminhar fosse seu nico servio desde que nasceram. Vo para l
de nenhuma parte, dando o vindo por no ido, espera do adiante. Fogem
da guerra, essa guerra que contaminara toda sua terra. Vo na iluso de, mais
alm, haver um refgio tranquilo. Avanam descalos, suas vestes tm a
mesma cor do caminho.
O velho se chama Tuahir. magro, parece ter perdido toda a substn-
cia. O jovem se chama Muidinga. Caminha frente desde que sara do
campo de refugiados. Se nota nele um leve coxear, uma perna demorando
mais que o passo. Quem o recolhera fora o velho Tuahir, quando todos os
outros o haviam abandonado. O menino estava j sem estado, os ranhos
lhe saam no do nariz mas de toda a cabea. O velho teve que lhe ensinar
todos os incios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez.
Esta segunda infncia, porm, fora apressada pelos ditados da sobrevi-
vncia. Quando iniciara a viagem j ele se acostumava de cantar, dando vaga
a distradas brincriaes. No convvio com a solido, porm, o canto acabou
por migrar de si. Os dois caminheiros condiziam com a estrada, murchos e
desesperanados.
COUTO, Mia. Terra sonmbula. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

Jos Luandino Vieira


Nascido em Portugal, em 1935, Jos Luandino Vieira foi morar em
Jorge Leal/Arquivo da editora

Angola, frica, aos 3 anos. Sua literatura sempre serviu na luta pela in-
dependncia do pas africano, o que o levou a ser preso inmeras vezes.
Luandino apresenta a lngua portuguesa cortada, atravessada pelo
quimbundo, a lngua do dia a dia angolano. Sua obra busca integrar uma
cultura a angolana desintegrada pela Histria.
Escreveu romances, contos, histrias infantojuvenis, novelas, poesias.
So exemplos de sua produo: Ns, os do Makulusu (romance), A cida-
de e a infncia e Luuanda (contos), A guerra dos fazedores de chuva com
os caadores de nuvens: guerra para crianas (infantojuvenil).

Luandino Vieira pseudnimo de Jos Vieira Mateus da Graa, escritor angolano nascido em
Portugal. Tornou-se cidado angolano por sua participao no movimento de libertao nacional
e escolheu o nome de Luandino em homenagem a Luanda, capital de Angola. Foto de 2007.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 319

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Leia um trecho de um conto do livro Luuanda.

arreganhar: mostrar os
dentes com expresso de
Estria da galinha e do ovo
Jos Luandino Vieira
clera ou riso; irritar-se.
cabri (Angola): sem A estria da galinha e do ovo. Estes casos passaram no musseque Sambizanga,
raa determinada,
diz-se de ces e
nesta nossa terra de Luanda.
galinhas. Foi hora das quatro horas.
capoeira: gaiola Assim como, s vezes, dos lados onde o sol fimba no mar, uma pequena e gorda
grande, cesto ou
casinhola em que se
nuvem negra aparece para correr no cu azul e, na corrida, comea a ficar grande, a
criam e alojam aves estender braos para todos os lados, esses braos a ficarem outros braos e esse ainda
domsticas. outros mais finos, j no to negros, e todo esse apressado caminhar da nuvem no cu
fimba (termo do
quimbundo, lngua da
parece os ramos de muitas folhas de uma mulemba velha, com barbas e tudo, as folhas
famlia banta, falada de muitas cores, algumas secas com o colorido que o sol lhes pe e, no fim mesmo, j
em Angola): mergulho. ningum que sabe como nasceram, onde comearam, onde acabaram, onde acabam
jindungo (do
quimbundo):
essas malucas filhas da nuvem correndo sobre a cidade, largando gua pesada e quente
malagueta, espcie de que traziam, rindo compridos e tortos relmpagos, falando a voz grossa de seus troves,
pimenta. assim, nessa tarde calma, comeou a confuso.
mona (do quimbundo):
criana.
S Z da quitanda tinha visto passar nga Zefa rebocando mido Beto e avisando
monandengue (do para no adiantar falar mentira, seno ia-lhe pr mesmo jindungo na lngua. Mas o
quimbundo): menino, monandengue refilava, repetia:
garoto.
mulemba (do
Juro, sangue de Cristo! Vi-lhe bem, mam, a Cabri!
quimbundo): rvore Falava verdade como todas as vizinhas viram bem, uma gorda galinha de pequenas
frondosa. penas brancas e pretas, mirando toda a gente, desconfiada, debaixo do cesto ao contr-
musseque: bairro
pobre da periferia de
rio onde estava presa. Era essa a razo dos insultos que nga Zefa tinha posto em Bina,
Luanda, capital de chamando-lhe ladrona, feiticeira, queria lhe roubar ainda a galinha e mesmo que a
Angola. barriga da vizinha j se via com o mona l dentro, adiantaram pelejar.
ng (do quimbundo,
sem acento grfico):
Mido Xico que descobriu, andava na brincadeira com Beto, seu mais-novo, fa-
tratamento respeitoso zendo essas partidas vav Petelu tinha-lhes ensinado, de imitar as falas dos animais e
dispensado a homens e baralhar-lhes e quando vieram no quintal de mam Bina pararam admirados. A senhora
mulheres: senhor,
senhora, amo.
no tinha criao, como ouvia-se a voz dela, pi, pi, pi, chamar galinha, o barulho do
refilar: responder milho a cair no cho varrido? Mas Beto lembrou os casos j antigos, as palavras da me
grosseiramente; reagir. queixando no pai quando, sete horas, est voltar do servio:
s: mesmo que
senhor.
Rebento-lhe as fuas, Joo! Est ensinar a galinha a pr l!
vav: no encontramos Miguel Joo desculpava sempre, dizia a senhora andava assim de barriga voc sabe,
registro; provavelmente s vezes s essas manias as mulheres tm, no adianta fazer confuso, se a galinha
variao de vov.
volta sempre na nossa capoeira e os ovos voc que apanha Mas nga Zefa no ficava
satisfeita. Arreganhava o homem era um mole e jurava se a atrevida tocava na galinha
ia passar luta. []
VIEIRA, Jos Luandino. Luuanda. So Paulo: Companhia das Letras, 2006.

sintetizando a literatura contempornea em prosa


Copie as frases a seguir no caderno e complete-as com base no que foi estudado no captulo.
a) O contexto histrico, na segunda metade do sculo XX, foi marcado por intensas . De maneira geral, o
mundo vivia o fortalecimento do . A palavra-chave de nossa poca .

b) As caractersticas mais marcantes nas manifestaes artsticas dessa poca so: .

c) Nas literaturas de lngua portuguesa de Portugal e da frica, destacam-se: .

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t e x t o e c o n t e x t o
Responda s questes no caderno.

(UEL) Texto:
Se no havia ningum na casa, alm dele e Maria Intrigado, experimentou o
trinco: no quarto cor-de-rosa penteadeira oval.
Uma, duas, trs bonecas de luxo. E, da cama, sentadinha, sorria a gorda senhora.
Entre, seu moo.
Dois passos no reino das bonecas: ar adocicado de incenso, p de arroz, esmal-
te de unha.
parenta da Maria?
No adivinha? E sorria, faceira, lbio muito pintado. minha filha.
To jovem Bem a avozinha do Chapeuzinho Vermelho. Parece irm!
No canto do espelho alinhavam-se os gals de cinema.
Muito gentil. Voc quem ?
Amiguinho dela.
A gorda afastou o abajur, aninhada na sombra misteriosa.
Esqueceu no joelho a revista, em gesto pudico fechou o quimono encarnado.
Aceita um bombom? e retirou do lenol uma caixa dourada. Como
escondida
Lambeu o dedinho curto, a tinir o bracelete:
Segredo de ns dois!
De mim ela no vai saber e beliscava o cacho loiro da boneca.
O moo no quer sentar?
Ao v-lo correr o olho, encolheu-se no canto:
Lugar para mais um.
Respeitoso na beira da cama, apanhou a revista de fotonovela.
Os dois brigaram?
Sabe como ela .
Aborrecido virava as pginas: dedo peganhento de chocolate o olhinho gorducho.
recheado de licor! e oferecia na ponta da lngua um bocado meio derretido.
Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o prprio lobo?
Largou a revista ao p da cama voltar Maria e pedir mil perdes? Na mesinha
o retrato em moldura prateada.
Sou eu.
A menina com a cesta de amora.
J fui bonita.
Ainda retrucou alegre , ainda .
Muito srio ao dar na sombra com o olho arregalado de sapo debaixo da pedra.
Seu diabinho! agarrou-lhe o polegar na mo lambuzada e, antes de solt-lo,
um aperto e mais outro.
Nada de avozinha, mesmo o lobo. Ao mexer a cabea, girava a parede e, enxu-
gando o suor da testa, voltou-se para ela:
Tem alguma bebida?
Exibiu os dentes alvares de pouco uso:
Sou melhor que bebida.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 321

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Entre divertido e assustado, descansou o cotovelo na cama: propunha-se o lobo
devor-lo? Vislumbrou a cara na sombra: balofa, sem sobrancelha, o cabelo ralo. Por
cima do quimono apalpou-lhe o peito: apesar de velha, o seio durinho.
Quer minha perdio? Meu Deus, a voz dengosa de menina. Ai, diabi-
nho peralta!
Brincalhona, correu a unha pela nuca. De repente o gemido rouco:
Feche a porta.
TREVISAN, Dalton. Chapeuzinho Vermelho. In: O Vampiro de Curitiba.
Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 72-74.

1. Leia as correlaes estabelecidas entre as frases do conto e suas interpretaes.

I. Bem a avozinha do Chapeuzinho Vermelho. Esta frase corresponde im-


presso inicial do rapaz sobre a me da namorada quando ainda desconhece
as suas artimanhas.

II. Era a avozinha ou, no quimono fulgurante de seda, o prprio lobo? Esta
frase corresponde a um momento em que o rapaz ratifica suas suspeitas an-
teriores quanto senhora e se sente emocionalmente fragilizado diante dela.

III. Nada de avozinha, mesmo o lobo. Esta frase corresponde a uma etapa
em que o rapaz sai de seu torpor, ressaltando que, a partir dali, ele estaria
recuperando o controle da situao.

IV. Entre divertido e assustado, descansou o cotovelo na cama: propunha-se o


lobo devor-lo? Esta frase corresponde convico de que a senhora no era
uma vtima e ao esprito de anlise demonstrado pelo personagem do rapaz.

Esto corretas apenas as afirmativas:


a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

2. correto afirmar que esse segmento do conto corresponde:


a) A um encontro marcado entre os dois personagens que ainda no se conheciam
at aquela ocasio.
b) Ao momento em que o rapaz, que havia brigado com sua namorada, desco-
bre a presena da me na casa, mas depois retorna aos braos da amada,
com asco daquela mulher.
c) descoberta da sexualidade pelo menino, que, aps uma briga em seu namoro
inocente com a filha daquela senhora, conhece a me dela e por ela seduzido.
d) A uma passagem constrangedora em que o rapaz sente um misto de atrao
e repulsa, mas se entrega tentao sem remorso ou grandes conflitos por
trair a namorada.
e) A um duelo entre os personagens, do qual o rapaz sai vencedor, pois ele
tortura a senhora, fazendo com que ela se apaixone por ele, abandonando-
-a em seguida, ignorando suas splicas.

322 uniDaDe 6 temas e cenas

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3. Que temtica comum a outras produes literrias da prosa contempornea
pode ser destacada desse conto de Dalton Trevisan?

c o m p a r a n D o t e x t o s
Leia a seguir um texto do escritor Fernando Bonassi e compare-o ao conto Tio
Galileu, de Dalton Trevisan (pgina 295).

Assistncia mdica
Fernando Bonassi

Devido ao fato de no estar aguentando mais levar teus desaforos em casa, chamei
uma dessas UTIs mveis pra te internar bem longe daqui. Eu tenho direito a quinze
minutos desse espetculo, no? Eles vo te amarrar numa maca, te entubar a seco,
espetar tua carne e sair correndo, fazendo aquele barulho de guerra pela cidade. Teu
coraozinho vaidoso vai aparecer em diversas televises que apitam de graa, lan-
ando sinais evidentes da tua maldita presuno. Tudo includo na mensalidade. J
vo chegar. No conhecem trnsito. Voc vai, finalmente, ter o caminho livre. Tuas
furiosas gripes espanholas sero cuidadas por outros trouxas profissionais. Voc vai
correr vontade. Ter viso de raio X. Dar de cara no poste.
BONASSI, Fernando. Entre vida e morte. So Paulo: FTD, 2004.

Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

1. O narrador-personagem do conto Assistncia mdica apresenta uma viso de


mundo em comum com uma das personagens do conto Tio Galileu.
a) Identifique a personagem.
b) Quais os aspectos em comum entre eles?

2. No excerto do texto de Manuel da Costa Pinto (pgina 294), indica-se uma carac-
terstica da prosa contempornea que podemos observar nesses dois contos.
a) Identifique essa caracterstica.
b) Aponte como cada uma das narrativas lidas expressa tal caracterstica.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 323

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E por falar em literatura contempornea...
Em seu artigo O direito literatura, Antonio Candido, um dos mais impor-
tantes estudiosos da literatura brasileira, defende que sem os textos literrios
no h civilizao.
Leia algumas frases retiradas desse artigo:

No h povo e no h homem que possa viver sem ela (literatura), isto ,


sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espcie de fabulao.
[] ela (a literatura) no corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo
livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza
em sentido profundo, porque faz viver.
[] fru-la um direito das pessoas de qualquer sociedade, desde o ndio
que canta as suas proezas de caa ou evoca danando a lua cheia at o mais re-
quintado erudito.
[] quanto mais igualitria for a sociedade, e quanto mais lazer proporcio-
nar, maior dever ser a difuso humanizadora das obras literrias e, portanto, a
possibilidade de contriburem para o amadurecimento de cada um.
CANDIDO, Antonio. Vrios escritos. 3. ed. rev. So Paulo: Duas Cidades, 1995.

Como voc pde perceber, Antonio Candido acredita na literatura como


caminho no s de fruio, mas, sobretudo, de formao civil, isto , de formao
de um ser humano que se relacione com os demais por meio do respeito.

Candido acredita tambm na difuso literria e, pensando no papel da lite-


ratura e na importncia da divulgao dessa arte, propomos a voc que apre-
sente classe o livro contemporneo de que mais gosta. E se voc no tiver um
livro, mas um texto, como um conto, uma crnica, um poema, etc., traga-o para
a classe assim mesmo. O objetivo da atividade divulgar a literatura, criar
novos leitores literrios com inteno de melhorar o convvio social.
Para ajud-lo na elaborao dessa atividade, veja o passo a passo a seguir.
No dia combinado com o professor, traga o material que voc selecionou e
apresente-o aos colegas de sala.
Para a apresentao do livro ou do texto classe, leve em conta o contexto de
produo: quem produz, para quem e com que inteno. Como voc sabe, tudo
isso resultar em como ser elaborado seu texto oral. Considere que, de acordo
com esse contexto, o ideal seja voc usar uma variedade lingustica mais formal,
que evite grias, que no brinque durante sua fala e que expresse seu texto em
tom adequado e ritmado.
Inicie sua exposio apresentando o ttulo do livro ou do texto e o autor. Mostre
a capa e as ilustraes se forem significativas , caso seja um livro. Se for
um texto, mostre o suporte em que ele foi publicado. Em seguida, apresente
uma sntese do enredo. S no conte o final para que a classe no perca o de-
sejo de conhecer a obra.

324 uniDaDe 6 temas e cenas

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a p r o V e i t e p a r a...

... ler
Quem tem medo de vampiro?, de Dalton Trevisan, editora tica.
Livro de contos de Dalton Trevisan, que exemplificam o estilo conciso do autor e captam
aspectos profundos da alma humana.

Boa companhia: crnicas, organizao de Humberto Werneck, editora


Companhia das Letras.
Humberto Werneck rene textos dos maiores cronistas brasileiros, uma homenagem ao g-
nero que nasceu principalmente nos jornais e conquistou o pblico.

A cidade ilhada, de Milton Hatoum, editora Companhia das Letras.


O livro rene 14 contos, todos captando fragmentos de experincias que conduzem as per-
sonagens ao reconhecimento ora de si, ora do entorno.

Cadeiras proibidas, de Igncio de Loyola Brando, editora Global.


So diversos contos que tratam dos absurdos da vida moderna.

Boa companhia: contos, vrios autores, editora Companhia das Letras.


Livro que traz contos de alguns dos representantes da prosa brasileira contempornea.

... assistir a

Miramax/Cortesia de Everett Collection/Keystone


Abril despedaado, de Walter Salles (Brasil, 2001).
Em 1910, no serto brasileiro, vive Tonho (Rodrigo Santoro, na
foto com o ator Ravi Ramos Lacerda) e sua famlia. Ele enfrenta um
grande dilema: mesmo sabendo que seu pai deseja que ele (Tonho)
vingue a morte de seu irmo mais velho, assassinado por uma famlia
rival, ele sabe que, se assim agir, ser perseguido e logo morrer. An-
gustiado, Tonho passa a questionar o porqu da violncia e da tradio.

Lavoura arcaica, de Luiz Fernando Carvalho


(Brasil, 2001).
Andr saiu da casa dos pais por causa da rigidez paterna e do sufocamento da ternura da
me. Pedro, seu irmo mais velho, encarregado pela me de faz-lo retornar ao lar. Cedendo aos
apelos da me e de Pedro, Andr volta para a casa dos pais, mas destri definitivamente os alicer-
ces da famlia ao deixar evidente sua paixo por Ana, sua irm. O filme baseado no romance
homnimo de Raduan Nassar.

ver na internet
www.releituras.com
O site oferece textos e dicas, alm de biografias de autores nacionais (e internacionais) conhe-
cidos. Acesso em: 31 jan. 2013.

portalliteral.terra.com.br
Site com notcias, matrias, crticas e comentrios sobre literatura brasileira, com links para
os sites oficiais de escritores como Luis Fernando Verissimo, Lygia Fagundes Telles, Ferreira
Gullar, Rubem Fonseca e Zuenir Ventura. Acesso em: 31 jan. 2013.

www.portaldaliteratura.com/literatura.php
Este site apresenta textos de literatura em lngua portuguesa, biografias de autores,
ttulos e editoras. Acesso em: 31 jan. 2013.

Literatura brasiLeira contempornea prosa 325

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PROJETO Revista

diagramar: dispor Chegou o momento de concretizar a publicao de vocs. Planejem o aspec-


gracamente os to grfico da revista pensando no leitor a que ela se destina. Os participantes do
elementos (textos,
grupo com mais facilidade para desenho, artes grficas e diagramao podem
ttulos, ilustraes,
legendas, os, etc.) se encarregar da tarefa de ilustrar as pginas, distribuir os textos, criar vinhetas
que devero fazer para as sees e montar a capa.
parte de uma Anotem no caderno o que for decidido para cada questo a seguir.
publicao, Na capa da revista:
geralmente com
que tipo de letra ser utilizado?
base em uma
programao visual que imagens vo ser trabalhadas?
predeterminada. quantas e quais chamadas aparecero?
No miolo (ou seja, nas pginas que compem a revista):
os textos sero digitados ou escritos mo?
os textos sero organizados em quantas colunas? Uma, duas, trs?
haver boxes para complementar reportagens e outros textos?
sero usadas s fotos ou tambm ilustraes? De que tamanho em geral?
o nome dos autores vai aparecer no incio ou no fim dos textos?
Nas pginas iniciais e finais:
em que parte da revista entraro os crditos (ou o expediente: o nome
das pessoas que trabalharam na revista) e o sumrio?

Criao do prottipo (ou boneco)


Prottipo ou boneco, para quem trabalha em editora e com artes grficas em
geral, uma espcie de rascunho da revista ou do livro que est sendo produzido.
Faam o boneco da revista de vocs para se ter uma ideia de qual ser seu
aspecto depois de pronta, de quantas pginas ter, etc.
Coloquem algumas folhas de papel sulfite uma em cima da outra e dobrem-
-nas ao meio. Inicia-se assim o livreto que servir de boneco.
Na capa, escrevam a lpis o ttulo, j com o tipo de letra que ele ter na revis-
ta. Em seguida, marquem nas pginas internas os espaos onde ficaro as fotos,
as ilustraes, as cartas ao/do leitor, os artigos de opinio, as crnicas, as rese-
nhas, as entrevistas e os textos dissertativos. Produzam, nessa etapa do processo,
textos de outros gneros para incrementar a publicao reportagens, tirinhas,
charges, dicas culturais, curiosidades, sinopses de filmes ou peas de teatro, etc.
(A ordem dos textos deve ser definida nesse momento.)
Observem nas revistas a seguir os diferentes tipos de diagramao de texto
e imagem. Voc e seus colegas de grupo tambm podero consultar outras p-
ginas de revistas que costumam chamar a ateno de vocs para que possam
utiliz-las como modelo.

326 PROJETO: REVISTA

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Reproduo/Revista Gadgets Info/Editora Abril

Reproduo/Revista Isto /Editora Trs


Resenha crtica do
filme Onde vivem os
monstros, de Spike
Jonze, revista Isto,
O 3D quer entrar na sua sala, reportagem da revista 13 jan. 2010.
Gadgets Info, fev. 2010.

Reproduo/Joel Stein/Caio Borges, Estdio Onze/Revista Piau


Reproduo/Revista Lngua Portuguesa/Editora Segmento

A voz de
Moambique, Um seu criado,
entrevista com o crnica do
escritor africano jornalista e
Mia Couto, comediante
revista Lngua americano Joel
Portuguesa, Stein, revista Piau,
n. 33, jul. 2008. 6 set. 2012.

Seria interessante, se possvel, consultar os professores de outras disciplinas


e trazer o material trabalhado por vocs em outras aulas para a produo da
revista, como a descrio de um experimento cientfico de Fsica ou Qumica, que
poderia ser utilizado em uma reportagem sobre o assunto.
Depois de terminado, apresentem o boneco ao professor.

Reviso e diagramao
Em uma revista, todos os textos so revisados antes de serem publicados, e
essa tarefa cabe aos revisores. Eles leem com muita ateno os textos, as legendas
das fotos, os ttulos das matrias e das sees, para detectar se no h desvios
de ortografia, de pontuao, de concordncia ou mesmo informaes equivoca-
das (datas erradas, grafia dos nomes prprios incorreta, etc.). Todos os desvios
encontrados devem ser corrigidos.
Revisem os textos de vocs. Lembrem-se de que o leitor da revista deve se
envolver com as matrias. Por isso, verifiquem na reviso se a linguagem usada
est adequada a ele. E, mesmo que esteja sendo empregada uma linguagem
informal, cuidem para que no ocorram os desvios indicados anteriormente.
Quando a revista de vocs estiver pronta, comecem a distribuio para o pblico.

PROJETO: REVISTA 327

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Ortografia e
outras questes

Sumrio
I. Pronomes relativos 328
II. Meio advrbio/adjetivo 331
III. Uso de por que/porque 332
IV. Verbos terminados em -jar e seus cognatos 332
V. Verbos defectivos 334

I. PROnOmES RElATIVOS
Os pronomes relativos podem ser usados para substituir nomes (algo ou algum)
em uma orao, seja no singular seja no plural. Eles podem, portanto, desempenhar
diferentes funes nas oraes: sujeito, objeto direto, complemento nominal, etc.

1. Em cada item a seguir, voc deve reunir as duas oraes em uma nica frase
utilizando os pronomes relativos. Para substituir sujeito ou objeto direto, pode-
mos usar que, o qual (e suas flexes) e quem (para pessoas). Lembre-se de que
o pronome relativo deve vir logo aps seu antecedente. Exemplos:

Algumas pessoas so como o camaleo. O camaleo se esconde na paisagem.


sujeito
Algumas pessoas so como o camaleo, que (o qual) se esconde na paisagem.

Foi a menina. A menina disse isso.


sujeito
Foi a menina quem disse isso.

a) Pedimos para assistir ao filme. O filme havia sido lanado no fim de semana.
sujeito

b) As folhas das rvores caem no inverno. O vento leva as folhas das rvores.
objeto direto

c) O processo finalmente foi julgado. O processo estava engavetado.


sujeito

d) Cumprimentaram as cantoras. As cantoras representaram a pera Carmen.


sujeito

328 ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES

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2. Vamos continuar transformando duas oraes em uma frase, mas aqui a ateno
vai para o objeto indireto ou o complemento nominal. Para substitu-los, pode-
mos usar que, o qual (e suas flexes), quem (para pessoas) sempre com pre-
posio. Lembre-se de que o pronome relativo deve vir logo aps seu antece-
dente. Exemplo:

Muitas pessoas assistiram apenas a uma parte do filme. Elas falavam mal do filme.
objeto
indireto
Muitas pessoas assistiram apenas a uma parte do filme do qual falavam mal.

a) O passageiro embarcou em um voo para Fortaleza. Falei do passageiro.


objeto indireto

b) Vera e Lusa so timas amigas. Quero muito bem a essas amigas.


objeto indireto

c) Estes so os livros. Eu preciso deles.


complemento nominal

d) A coordenadora da escola recebeu alguns pais. Ela conversou muito


com alguns pais.
objeto indireto
Alberto De Stefano/Arquivo da editora

ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES 329

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3. Continuando a reunir duas oraes em uma nica frase, vamos agora substituir
adjuntos adverbiais. Para isso, podemos usar que e o qual (e suas flexes),
sempre antecedidos da preposio em ou do advrbio onde. Lembre-se de que
o pronome relativo deve vir logo aps seu antecedente. Se for preciso, altere o
modo verbal da orao adjetiva para o subjuntivo. Exemplo:

Ela queria morar em uma cidade. Na cidade haveria mais vida noturna.
adjunto adverbial
Ela queria morar em uma cidade onde (na qual/em que) houvesse mais vida
noturna.

a) O filme estreou na cidade. A maior parte do elenco residia naquela cidade.


adjunto adverbial
b) Pensei em visitar uma biblioteca. Poderia realizar umas pesquisas na biblioteca.
adjunto adverbial
c) Meus pais venderam a casa. Antigamente meus avs moravam nela.
adjunto adverbial

d) Entrei no cinema. Marcara um encontro com alguns amigos no cinema.


adjunto adverbial

4. Ainda reunindo duas oraes em uma nica frase, substitua os adjuntos adno-
minais. Para isso, utilize o pronome relativo cujo (e suas flexes). Esse pronome
sempre indica posse. Se houver preposio acompanhando o termo ao qual o
adjunto adnominal se refere, ela deve ser colocada antes do pronome. Exemplo:

Fazem sucesso alguns filmes. O assunto desses filmes o problema das gran-
des metrpoles. adjunto adnominal

Fazem sucesso alguns filmes cujo assunto o problema das grandes metrpoles.

a) Esse o aluno. Eu falei da redao dele na reunio.


adjunto adnominal

b) So perigosas essas praias. Nas guas dessas praias h correntezas.


adjunto adnominal

c) Essa a menina. A aprovao da menina na faculdade foi automtica.


adjunto adnominal

d) Existem problemas. A soluo desses problemas impossvel.


adjunto adnominal

5. Com pronomes relativos adequados, complete as frases no caderno (no se


esquea da preposio, caso seja necessria).
a) Jorge foi ao zoolgico os animais ficavam soltos.
b) Essa a mala compartimentos se encontraram drogas.
c) Marilda era a prima Andreia vivia.
d) Voc a amiga dedicarei uma cano.
e) O discurso o papa leu logo que chegou ao Brasil foi curto.
f) A prima contei um caso interessante faleceu.

330 ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES

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II. mEIO AdVRbIO/AdJETIVO
Quando a palavra meio for um advrbio, ela fica invarivel. Quando for
um adjetivo, concorda em gnero e nmero com o substantivo a que se refere.
Por exemplo:
A notcia deixou-a meio chateada.
advrbio (significa
um pouco invarivel)

Ela demorou meia hora para resolver a questo.


adjetivo (significa metade de
concorda em gnero e nmero
com a palavra hora)

Copie as frases a seguir no caderno, completando-as com meio, meios, meia


ou meias. Ateno concordncia!
a) A deciso de escolher uma profisso deixou Jlio atordoado.
b) Foram feira e compraram duas melancias.
c) Eliana ficou nervosa com o teor daquela notcia.
d) Cheguei muito tarde da festa e vi que minha me me aguardava com a por-
ta aberta.
e) Cheguei muito tarde da festa e vi que minha me me aguardava com
porta aberta.
f) Naquele dia de tempestade, quando cheguei ao colgio, era meio-dia e .
g) Algumas alunas de nossa escola estavam apreensivas por cauda da gripe
H1N1.
h) No sou uma pessoa de palavras.
i) Nossa casa ficou danificada em consequncia da ltima enchente.
j) A plantao de arroz est prejudicada por causa do transbordamento do rio.
k) Minhas amigas no quiseram sair porque estavam cansadas.
l) Recebeu-me com palavras rspidas.
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES 331

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III. Uso de por que / porque
1. Na tira abaixo, substitua o smbolo no balo de fala por uma das formas:
porque, porqu, por que, por qu.

Laerte/Acervo do cartunista

LAERTE.
Classificados.
So Paulo,
Devir, 2002.
Livro 2, p. 47.

2. Leia o trecho do seguinte texto informativo, publicado em uma revista para


adolescentes.
Por que o p adormece?
por Dante Grecco
No s o p que dorme, a perna tambm. Em ambos os casos, isso acon-
tece porque os nervos da perna so pressionados e a circulao no local fica
comprometida. Essa soneca de que estamos falando aquela sensao de formi-
gamento que rola em situaes corriqueiras, como ao se apertar demais o cadar-
o do calado ou ficar com o joelho dobrado por muito tempo. [...]
Revista Mundo Estranho. Disponvel em: <www.mundoestranho.abril.com.br/materia/por-que-o-pe-adormece>.
Acesso em: 24 maio 2013.

a) No ttulo do texto, Por que est escrito em duas palavras. Explique esse uso.
b) No corpo do texto, no segundo perodo, porque est escrito em uma nica
palavra. Explique esse uso.

IV. Verbos terminados em -jar e


seus cognatos
Os verbos terminados em -jar, derivados de substantivos que tm a letra j,
mantm essa letra em todas as flexes, como no exemplo:
Substantivo desejo; verbo desejar: deseje, desejei, desejamos, desejem.
Cuidado para no fazer confuso com certas palavras cognatas (da mesma
famlia) dos verbos terminados em -jar, como os substantivos viagem e ferru-
gem, que so escritos com g.

1. Copie a tabela no caderno e complete-a.


Presente do indicativo Presente do subjuntivo Substantivo
Verbo
(3a pessoa do plural) (3a pessoa do plural) correspondente
viajar eles viajam que eles viajem viagem

enferrujar eles que eles

avantajar eles que eles

encorajar eles que eles

332 ORTOGRAFIA e outras questes

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2. Nos textos a seguir, substitua adequadamente o smbolo pelos verbos viajar
ou enferrujar e suas flexes ou pelo substantivo correspondente.
a) Uma lei que permite que os cubanos para o exterior sem permisses especiais
pela primeira vez em 50 anos entrou em vigor meia-noite (horrio local)
desta segunda-feira. De acordo com o estatuto publicado no Dirio Oficial de
Cuba, os cidados do pas agora podem para fora sem uma permisso para
sada ou um convite estrangeiro, desde que tenham um passaporte vlido.
Lei que autoriza cubanos a ao exterior sem permisso entra em vigor.
Dirio da Bahia, edio on-line, Salvador, 14 jan. 2013.

b) A inaugural do Expresso Folia acontece na manh desta tera-feira com


sada s 9h do Shopping RioMar, no Pina. O nibus, que ser acompanhado
por batedores da CTTU, seguir at a rua Madre de Deus, no bairro do
Recife Antigo.
CTTU realiza inaugural do expresso da Folia 2013. Dirio de Pernambuco,
edio on-line, Recife, 5 fev. 2013.

c) Os frascos de vidro devem ter tampa de plstico, para que no depois de


repetidas esterilizaes.
Disponvel em: <http://unipe.br/impressao.php?id=2241>.
Acesso em: 6 fev. 2013.

d) Os 411 vages classificados como bens no operacionais e inservveis para o setor


ferrovirio pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)
ainda tero que por mais algum tempo no ptio de Triagem Paulista, em Bauru.
LeiLo de sucata ferroviria no tem proposta. Rede Bom dia,
edio on-line, Sorocaba, 2 fev. 2013.

e) A safra de soja, que nem havia sido plantada no Mato Grosso, j estava mar-
cada para ser uma das mais atingidas da histria pela asitica. Ainda em
agosto, a previso foi anunciada por causa do indito volume encontrado de
plantas guaxas que traziam do ciclo anterior [...] o fungo causador da doena.
CLiMA vem ajudando em MT. Dirio de Cuiab,
edio on-line, 9 jan. 2013.

3. Escolha uma das duas formas de cada palavra e escreva-a no caderno. Em se-
guida, consulte um dicionrio e verifique se a palavra que voc escolheu a que
est grafada corretamente.
a) reivindicar ou reinvidicar? g) mortadela ou mortandela?
b) beneficente ou beneficiente? h) frustao ou frustrao?
c) cabelereiro ou cabeleireiro? i) previlgio ou privilgio?
Alexandre Dubiela/Arquivo da editora

d) mantegueira ou manteigueira? j) rubrica ou rbrica?


e) carangueijo ou caranguejo? k) metereologia ou meteorologia?
f) areoporto ou aeroporto? l) flagrante ou fragrante?

ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES 333

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V. VERbOS dEFECTIVOS
Os verbos defectivos, embora conjugados regularmente nos tempos pretritos
e futuros, so conjugados apenas em algumas pessoas do presente do indicativo e
no so conjugados no presente do subjuntivo. Veja, por exemplo, o verbo abolir:

IndIcatIVo sUbjUntIVo
Eu (no flexionado) (no flexionado)
Ele abole (no flexionado)
Ns abolimos (no flexionado)
Eles abolem (no flexionado)

Quando no h 1a pessoa verbal, a soluo encontrar formas sinnimas ou


perfrases. Veja:
Eu revogo todas as leis discriminatrias contra as mulheres em minha empresa.
Eu anulo todas as leis discriminatrias contra as mulheres em minha empresa.

Os verbos banir, colorir, competir, demolir, explodir e discernir so conju-


gados semelhana do verbo abolir. Conservando as frases no presente, en-
contre uma soluo para pass-las para a 1a pessoa. Faas pequenas adaptaes,
considerando cada situao.
Aldo Carneiro/Futura Press

a) Remy, a personagem principal do filme Rata-


touille, discerne os sabores dos diversos ingre-
dientes de uma receita.
b) Fifa bane mundialmente 41 jogadores sul-
-coreanos por manipulao. (Reuters, 9 jan.
2013)
c) O bloco Galo da Madrugada colore as ruas do
Recife com suas fantasias.
d) Escolas de sambas pequenas competem com
as grandes escolas.
e) Jos Aldo demole Frankie Edgar aos poucos
e mantm o ttulo dos penas. (Cenrio MT, 3
fev. 2013)
Desfile do bloco Galo da Madrugada realizado na manh do dia f) Esquadro antibombas explode mala suspeita
9 de fevereiro, no centro de Recife, PE, no Carnaval de 2013. na Zona Sul do Rio. (Portal G1 RJ, 17 jan. 2013)

VI. GRAFIAS mlTIPlAS


Leia:
Assobio e assovio pertencem quele gnero de palavras que, por sobrevivncia
de uso, mantm dupla (ou mltipla) grafia. A mesma palavra assume formas diferen-
tes porque a menos usada no foi aposentada (ou sequer est claro qual a menos
usada, como no caso de assobio e assovio). []
oS iDioMAS assobiados. Lngua Portuguesa, ano 8, n 85. So Paulo: Segmento, nov. 2012. p. 22.

334 ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES

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1. Observe agora as palavras do quadro e escreva na coluna ao lado outra possibi-
lidade de grafia para elas. Algumas apresentam mais do que duas possibilidades
de grafia registradas pela ortografia oficial, mas no necessrio colocar todas
elas. Se quiser, utilize o dicionrio.

PalaVras com grafIas mltIPlas

afeminar

brabo

berruga

cobarde

carroaria

desgelar

imundcia

louro

percentagem

quota

redemoinho

relampear

soprar

taberna

2. Observe os pares de palavras nas trs tabelas abaixo. Assim como na tabela an-
terior, todas as palavras das tabelas a seguir esto registradas nos dicionrios.

Sebastian Kaulitzki/Shutterstock/Glow Images


a b
quotidiano cotidiano

c d
tiroide tireoide

e f
caso causo

a) Entre os pares de palavras das tabelas acima,


qual das possibilidades de grafia voc utiliza?
A ou B? C ou D? E ou F?
b) Entre esses pares apresentados, voc percebe
alguma diferena no uso de uma ou de outra
variante da mesma palavra? Explique. Representao grfica da glndula tireoide ou tiroide.

ORTOGRAFIA E OuTRAS quESTES 335

VivaPort_V3_PNLD2015_326a336.indd 335 5/2/13 2:16 PM


b I b l I O G R A F I A
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336 bIblIOGRAFIA

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Manual do
Professor

Lngua Portuguesa
Volume 3

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Sumrio
Apresentao 3 eStruturA gerAL dA coLeo 12

AVALiAo 13
Parte geral 4
bibLiogrAfiA 14
PreSSuPoStoS tericoS 4
textoS PArA AtuALizAo tericA 15
O ensino de Lngua Portuguesa no Ensino Mdio 4
Texto 1
O ensino da leitura 4
A atividade de leitura no Ensino Mdio,
O estudo de textos literrios 4 de Angela B. Kleiman 15
O estudo da linguagem 4 Texto 2
A produo de texto 5 Como enfrentar a literatura nas sries superiores,
de Felipe Alliende e Mabel Condemarn 18
Percurso da produo textual 5
Texto 3
O projeto interdisciplinar 7
Noes de texto e lingustica de texto,
orgAnizAo e MetodoLogiA dA obrA 8 de Luiz Antnio Marcuschi 20

Sees que compem os captulos 9 Texto 4


A exposio oral, de Bernard Schneuwly (Org.) 25
Para comear 9
Texto 5
Interpretao do texto 9
Materiais didticos digitais,
Para entender 9 de Ismar Frango Silveira 29
Sintetizando... 9
Texto e contexto 10
Comparando textos 10
Conhecimentos lingusticos 10
Produo de texto 10
Parte especfica 31

E por falar em... 10 orientAeS coMPLeMentAreS 31


No mundo da oralidade 11
QuAdroS de interdiSciPLinAridAde 41
Aproveite para... 11
AtiVidAdeS coMPLeMentAreS 51
Projeto anual 11
Caderno Ortografia e outras questes 11 indicAeS de LeiturA 63

VivaPort_v3_PNLD2015_Parte_Geral_MP.indd 2 5/3/13 4:11 PM


Apresentao

c
olaborar com a formao de um aluno leitor, produtor de texto e conhecedor
de muitos dos mecanismos implicados na comunicao mais eficiente nosso
objetivo.
Para alcanar tal propsito, nesta coleo para o Ensino Mdio apresentamos um con-
junto variado de gneros textuais em circulao na sociedade, bem como atividades de
leitura e escrita relevantes para a consolidao dos diversos conhecimentos adquiridos ao
longo da vida escolar.
Organizada em unidades de dois a trs captulos, a coleo prope ainda relacionar os
diversos tipos de conhecimentos implicados no estudo da lngua, de modo que cada infor-
mao seja no apenas complementar a outra, mas facilitadora da compreenso e da
apropriao do novo contedo.
Assim, o primeiro captulo de cada unidade conta com uma sequncia didtica envolven-
do a leitura e a interpretao de texto; a reflexo lingustica a partir de sentenas encon-
tradas nos textos em estudo; o trabalho com a oralidade por meio de produes que levam
em conta entonao, postura, gestos, etc. e, ainda, atividades de produo que, para alm
da simples apresentao de uma proposta de escrita, sugerem um percurso um pouco mais
longo, porm mais coerente com o objetivo de se formar bons produtores de texto. Esse
trabalho consiste em, inicialmente, destacar as caractersticas do gnero com o qual o aluno
j ter tomado contato nas atividades de leitura e de interpretao; sugerir, em seguida, a
aplicao de recursos textuais relevantes a uma comunicao mais eficiente, para s ento
apresentar uma proposta de produo de um texto completo de autoria. Tudo isso antecipan-
do o estudo dos textos literrios do(s) captulo(s) de Literatura, os quais tero atividades de
interpretao com uso de estratgias leitoras e verificao de recursos textuais j adotados nas
sequncias do captulo de Lngua e Produo de texto, que inicia cada unidade.
Os captulos de Literatura, portanto, propem um trabalho bastante sistemtico de
leitura de textos literrios objeto artstico fundamental para o exerccio da fruio esttica
e para o conhecimento da dinmica das sociedades e dos seres humanos atravs dos tempos.
Dessa forma, parte-se de uma breve contextualizao temtica para se chegar anlise do
texto propriamente, buscando-se destacar, sobretudo, seu valor artstico e no sua impor-
tncia apenas por fazer parte dessa ou daquela escola literria.
Ao longo da coleo, o aluno encontrar, ainda, propostas de trabalho que o incitem
busca de soluo para diferentes problemas, o que o levar a acionar, de maneira integrada,
diversos tipos de conhecimentos, alm de ampliar sua reflexo acerca das prprias concepes
de mundo e das concepes de mundo que orientam muitas das aes das pessoas a sua volta.
Esperamos, por meio dessa proposta de ensino, contribuir com a formao de seus
alunos e com a preparao de suas aulas, que, sabemos, precisam ser cada vez mais din-
micas e envolventes para atrair a escuta de um grupo de jovens que divide sua ateno entre
a escola, o trabalho e as diversas mdias presentes de modo to efetivo em nossa vida.
Neste manual, voc encontrar pressupostos tericos que norteiam o trabalho desenvol-
vido na coleo, uma indicao dos objetivos de cada seo do livro, comentrios que com-
plementam algumas das tarefas propostas ao longo dos captulos, alm de sugestes para um
trabalho efetivo entre as disciplinas do Ensino Mdio, partindo do ponto de vista de que o
dilogo entre os contedos ocorre pela leitura e pela produo de textos, orais e escritos.
As sugestes didticas, as propostas de entrada na leitura dos textos e as sugestes de
correo esto no prprio livro do professor.
Desejamos que nossa contribuio para a formao de seus alunos seja bastante til
para o desenvolvimento do seu trabalho.

As autoras

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Parte geral
PreSSuPoStoS tericoS o estudo de textos literrios
Segundo Alliende e Condemarn, o desenvolvimento
da leitura no pode ser considerado completo se, em
o ensino de Lngua Portuguesa no cada um dos passos, no se inclui uma progressiva apro-
ensino Mdio ximao s obras literrias. Estas trazem as marcas expres-
sivas de uma lngua, bem como o imaginrio de um povo,
o ensino da leitura a traduo de seus conflitos pessoais e sociais, patentes
e latentes. Em sntese, por meio do estudo dos textos
Ler , antes de tudo, um processo de interao entre literrios, pode-se ter acesso a um vasto espectro de ima-
o leitor e o texto. Nessa atividade interativa, muitas vezes ginrios que, se, por um lado, representam os conflitos
orientada por objetivos claros a serem obtidos (busca de de uma poca, por outro traduzem os diversos modos de
informao, entretenimento, reflexo, etc.), nem sempre os seres humanos viverem os dramas e as conquistas em
so conscientes as estratgias de entrada no texto, ou diferentes momentos de sua histria.
seja, a maneira como feita a preparao para a leitura,
As propostas para o ensino de literatura apresentadas
vem quais os aspectos lingusticos e discursivos que preci-
nesta coleo consideram que a leitura do texto literrio
samos identificar e mobilizar, e tampouco so claros os
o melhor ponto de partida para o estudo desse aspec-
mecanismos textuais utilizados pelos autores para comu-
nicar uma ideia, um fato ou uma experincia estilstica. to cultural to relevante para um conhecimento mais rico
de determinada sociedade e do ser humano em geral,
nesse espao de inconscincia das estratgias desen-
sem deixar de lado a forma singular de expressar uma
cadeadoras de uma leitura mais eficiente que se faz
necessria a interveno do professor. Ele deve se colocar ideia, trao inerente linguagem literria.
como mediador entre alunos e texto, propondo atividades Com a inteno de no restringir a abordagem do
que os levem compreenso do processo de leitura por texto a apenas um de seus aspectos lingustico, estils-
meio da ativao do conhecimento de mundo j adqui- tico, histrico ou social , buscou-se integrar esses ele-
rido, do estabelecimento de relaes entre esse saber e mentos, enfatizando-se ora um, ora outro, dependendo
as informaes novas, de antecipaes e levantamento das possibilidades de anlise apresentadas pelo texto.
de hipteses e de verificao dos obstculos compreen- Numa proposta dessa natureza, a histria literria no
so do sentido global do texto. Em sntese, esses proce- o ponto de partida, tampouco o principal motivador da
dimentos capacitaro o leitor a identificar os elementos estruturao do estudo de literatura, mas um meio de
que compem o texto, bem como a lanar mo de meca- compreender melhor as obras a partir da sua relao com
nismos para favorecer essa compreenso. um contexto cultural, social e poltico.
Nesse sentido, a inteno desta coleo apresentar
um conjunto de atividades que favoream a ampliao
da conscincia de habilidades leitoras mobilizadas desde o estudo da linguagem
o Ensino Fundamental. Segundo o artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases da
Alm disso, as atividades foram propostas para guiar Educao Nacional (Lei 9394/96), o Ensino Mdio tem
a leitura e deixar claros para os jovens leitores fatores como uma de suas finalidades a consolidao e o aprofun-
como: as possibilidades de entrada autnoma no texto, damento dos conhecimentos adquiridos no Ensino
os esquemas mentais a serem ativados durante esse pro- Fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estu-
cesso enriquecedor de interao e os recursos textuais dos. Aliemos a essa finalidade a crena num ensino de
que colaboram para a construo do sentido.
lngua que leve em conta um indivduo com maior grau
Para orientar a elaborao das atividades, foram le- de autonomia no uso da linguagem em relao ao Ensino
vados em conta as reflexes e os estudos publicados em Fundamental, mas que precisa aprofundar seus conheci-
trabalhos que chamaram nossa ateno justamente por
mentos com o objetivo de tornar mais eficiente sua comu-
apresentarem rigor terico e serem coerentes com uma pr-
nicao, e teremos uma sequncia didtica que considera
tica possvel no contexto da educao brasileira. So eles:
a lngua como expresso de uma identidade e como ins-
Ensinar a ler, ensinar a compreender, de Teresa Colomer
e Anna Camps (editora Artmed), Elementos de anlise do trumento para a ao cidad mais efetiva.
discurso, de Jos Luiz Fiorin (editora Contexto), Oficina de Assim, para o estudo proposto, no se pode mais
leitura: teoria e prtica, de Angela Kleiman (editora Pontes), considerar a gramtica como um conjunto de regras imu-
Compreenso e redao de textos: dificuldades e ajudas, tveis advindas de modelos de construes de frases que
de Emlio Snchez Miguel (editora Artmed), Estratgias de encontramos nos grandes clssicos da literatura. Aqui ela
leitura, de Isabel Sol (editora Artmed) e A leitura, de Felipe vista como um meio de organizar questes de lingua-
Alliende e Mabel Condemarn (editora Artmed). gem presentes nos textos antigos e contemporneos.

4 MAnuAL do ProfeSSor

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No ser incomum, portanto, professor e alunos depa- Gneros textuais:
rarem com um quadro de sntese de questes gramaticais so enunciados relativamente estveis, elaborados
vistas no Ensino Fundamental e, aps a recordao dessas por determinados grupos sociais;
informaes, iniciar um processo de reflexo e ampliao so caracterizados pelo contedo temtico, pelo esti-
desses conhecimentos, tendo como foco principal de lo e pela construo composicional;
anlise o texto estudado no captulo. na realidade desse
texto que se buscar a relevncia dos itens a estudados,
so escolhidos de acordo com a necessidade da tem-
tica, o conjunto dos participantes da situao comu-
sua importncia para a organizao textual e para a cons-
nicativa e a inteno do locutor.
truo do sentido. A lngua, nesse contexto, vista em
seu funcionamento, na sua possibilidade de variao, Pode-se classificar como um gnero textual, portanto,
uma vez que viva e por isso dinmica, sujeita a cons- o grupo de textos elaborados por diferentes sujeitos em
tantes alteraes para alcanar meios expressivos que determinadas situaes e que apresentam objetivos seme-
atendam s necessidades do enunciador. lhantes e certas regularidades em sua estrutura. Para agir
socialmente, o sujeito produtor de textos conhece e reco-
A produo de texto nhece as caractersticas de um gnero e faz uso desse
conhecimento. Uma conversa em famlia, um bilhetinho
Mais do que apresentar propostas de redao aos entre colegas de classe, uma carta de amor so exemplos
nossos alunos, precisamos ensin-los a redigir. Para isso, de gneros textuais, uma vez que cada um deles faz parte
no basta dar temas ou explicar qual o contexto social, de um grupo de textos que apresentam caractersticas
acreditando na produo de bons textos. comum, como semelhantes e servem a determinada situao social.
sabemos, haver alunos que, sendo leitores eficientes, No desenvolvimento do trabalho com os gneros
interagem com outros textos e realizam boas produes. textuais, tratamos tambm dos tipos textuais e das dife-
Todavia, nem sempre essa a realidade encontrada dia- rentes sequncias que o gnero estudado comporta. Ao
riamente em sala de aula. observarmos os tipos textuais, levamos em conta a com-
Por esse motivo, preocupamo-nos nesta coleo com posio lingustica responsvel pela organizao de um
o ensino da produo escrita, ou seja, com o ensino dos gnero (aspectos lexicais, sintticos, morfolgicos, etc.).
contedos que o aluno precisa mobilizar para escrever. Segundo Bronckart (2003), trata-se da infraestrutura de
Ao produzir um texto, o agente verbal dialoga com os um texto. Dessa forma, importante perceber que o
modelos dos muitos textos a que j teve acesso. Assim, tipo textual descrio, por exemplo, poder compor
como somos seres dialgicos, o nosso dizer ser sempre diversos gneros, como uma resenha ou um romance.
atravessado por outros dizeres. Quando produzimos um Ao leitor cabe compreender, pelo contexto, de que
texto de autoria, apresentamos as muitas vozes que nos forma se deu o uso dessa sequncia na construo
atravessam por meio do ouvir, do ler, do lembrar de tan- daquele texto.
tas experincias, etc. Defendemos um trabalho que prioriza os gneros,
O ensino de produo de texto, portanto, passa pela mas envolve a noo de tipos, pois os alunos que com-
leitura, pelo reconhecimento de modelos comuns em preenderem, por exemplo, a sequncia narrativa pode-
determinadas prticas sociais e, sobretudo, pela elucida- ro ler e produzir quaisquer gneros que tenham esse
o de estratgias de escrita. Sabemos que uma pessoa tipo como meio de construo. Dessa forma, tomamos
capaz de produzir, por exemplo, um convite de aniver- o tipo como base lingustica que compe o gnero e,
srio baseando-se apenas em modelos dos quais incons- em alguns captulos, so trabalhadas as caractersticas
cientemente detectou caractersticas bsicas, j que se dos tipos (Bronckart): narrao, descrio, argumenta-
trata de um gnero de circulao bastante comum e cuja o, exposio e relato.
aplicao social em seu contexto de produo , em geral, Embasadas nessa linha terica, no podemos conce-
imediatamente reconhecida. Cientes desse processo, ber o processo de produo como uma atividade mera-
nesta coleo, buscamos apresentar, primeiramente, mente de sala de aula. Produzir no significa escrever
diversos modelos de textos de circulao efetiva como para o professor corrigir, mas, acima de tudo, significa
fontes para o trabalho de produo. que o texto deve ser lido socialmente. Para um trabalho
Somente depois de um trabalho de leitura e de reco- significativo de produo textual a partir da concepo
nhecimento do contedo dizvel pelo texto, da estrutura de gneros, preciso pensar no processo da produo de
comunicativa (para quem diz? por qu? o qu?), da lin- texto de forma diferenciada.
guagem, dos traos de estilo, etc., podemos mostrar ao
aluno como se apropriar das vozes dos autores, perce-
bendo seus estilos, seus temas comuns e a construo
Percurso da produo textual
composicional de seus textos. Chegamos, assim, a um Ensinar a escrever por meio de gneros levar o aluno
conceito fundamental para o ensino de produo em sala a compreender que, embora o trabalho de redigir ocorra
de aula: o de gneros textuais. sem a presena do leitor, nossas escolhas so determina-
Segundo Schneuwly (2004), pode-se resumir da seguin- das pela imagem que temos desse destinatrio e por
te forma o conceito de gnero desenvolvido por Bakhtin: modelos sedimentados socialmente, no caso, os gneros.

MAnuAL do ProfeSSor 5

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preciso saber que os gneros se organizam em um volvimento de um sujeito produtor de textos, sejam orais,
trip: temas especficos que se organizam em gneros sejam escritos. Para isso, inicia-se a tarefa apresentando
especficos, isto , nas diferentes prticas sociais de que a situao de produo. Nesse primeiro momento, devem
participamos se estabelecem diferentes assuntos permi- ser feitas perguntas como: para quem ser escrito o
tidos ou no em alguns gneros; estrutura composicional, texto? Que gnero dever ser usado: um artigo de opi-
ou seja, modelos tpicos de organizao quanto s partes nio, um seminrio? Por qual suporte ser veiculado
que os formam; os gneros ainda se distinguem pelo (rdio, revista, mural, etc.)? Qual ser sua forma de apre-
estilo, definindo os recursos lexicais e morfossintticos sentao? Em seguida, fundamental propor atividades
de cada frase e de suas relaes no texto. Nesse caso, que levem em conta esse levantamento. Segundo
importa tambm conhecer os tipos textuais narrao, Schneuwly (2004), essas atividades precisam trabalhar as
relato, descrio, exposio, prescrio, argumentao dificuldades dos alunos em seus diferentes nveis (o reco-
que esto presentes na produo de diferentes gneros nhecimento da situao, a elaborao do contedo, o
e contribuem com a caracterizao gramatical de deter- planejamento e a produo propriamente dita) e apre-
minado gnero. sentar propostas diferentes para a apropriao conscien-
Para a realizao de um trabalho na linha adotada nesta te, por parte dos alunos, das caractersticas do gnero.
coleo, precisamos considerar que, mesmo sendo din- Fundamentada nessa concepo de ensino, esta cole-
micos, os gneros apresentam certa estabilidade em seus o parte da ideia de que a produo no pode ser pro-
fundamentos. Da, a possibilidade de explicitar, na seo vocada a partir de um tema ou da simples explicitao
de Produo de texto de cada unidade, as caractersticas de um contexto social, ou seja, no basta dizer voc vai
especficas de cada gnero trabalhado. Isso porque todo produzir um texto para a dona da lanchonete do bairro,
gnero tem certa estrutura. Conforme afirma Schneuwly para convenc-la a contribuir com o projeto. Acreditamos
(2004), eles definem o que dizvel (e, inversamente: o que, mesmo com essa explicao, falta ao aluno saber
que deve ser dito define a escolha de um gnero). como dizer o texto. Portanto, nossa proposta toma
Ao desconsiderar a noo de gnero, podemos exigir emprestado o conceito de sequncia didtica e oferece
que nossos alunos produzam um bom texto logo que o atividades de produo. Assim, partimos de modelos, de
tema tenha sido informado, dando a ideia de que produzir leituras, de caracterizao do que h de regular nos gne-
um texto mera inspirao, e no o resultado e a ao da ros textuais para atividades de produo. Para realiz-las,
linguagem. Todavia, deve ser objetivo da escola colaborar os alunos tero de completar, reescrever, no s tendo
para reforar o fato de os alunos serem pessoas que escre- acesso aos textos, mas principalmente reconhecendo e
vem, isto , colaborar para que se tornem indivduos que, se apropriando das caractersticas de textos com circula-
em determinadas situaes, estejam aptos a se valer da o efetiva na sociedade.
escrita para se enunciar no mundo. O sujeito s se confi- Tendo como base uma concepo semelhante de
gura sujeito se puder fazer uso do texto/escrita, e atuar na sequncia didtica, Nbrega (2000) tambm d prefe-
construo desse caminho um dos objetivos desta coleo. rncia a um processo de produo que parte no de
Ensinar a produzir textos no Ensino Mdio exige dois temas, mas da leitura e do reconhecimento da voz do
pontos de partida bem definidos. Um deles a importn- outro. Ela afirma que s se aprende a escrever assimilan-
cia de fornecer aos alunos, por meio da interao cont- do textos de outros, interagindo com a linguagem. Para
nua de atividades significativas de leitura, de anlise lin- a autora, o processo de saber escrever passa, citando
gustica e de produo, a possibilidade de praticarem a Bakhtin, por um processo de ventrilocuo, ou seja, por
escrita mediante estratgias que envolvam escrita de um processo em que os alunos falam por meio da incor-
pargrafo, de ttulo, a reproduo para adequao ao porao de vrias vozes. Nesse sentido, as atividades para
leitor, etc. Sem esquecer que, nesse estgio de sua for- produzir textos desta coleo, compondo uma sequncia
mao, os alunos j produzem textos socialmente: curr- didtica com etapas que precedem a produo de auto-
culos, e-mails, blogs, poemas em agendas ou em folhas ria, levam os alunos a tomar emprestadas as vozes de
avulsas de caderno, peas teatrais para eventos religiosos, outros autores, a misturar a sua voz voz do outro, a
convites para festas, etc. interagir com a linguagem.
Outro ponto de partida que se deve estabelecer no ensi- Em suma, reiteramos a necessidade de o professor ter
no de produo refere-se ao trabalho com os textos que uma estratgia de produo apoiando-se em prticas
circulam nas prticas sociais. Esse trabalho implica um redire- significativas com as quais os alunos possam:
cionamento das atividades. Antes, quando se dava redao, desenvolver as competncias que lhes permitam esco-
o professor, em geral, indicava o tema e o aluno produzia. lher e representar em lngua materna o gnero de texto
Em uma atividade de produo pautada no trabalho com que convm ser produzido em determinada situao;
gneros, o professor redireciona seu papel: para ensinar a considerar-se prontos a identificar as principais carac-
redigir, parte da elaborao de uma sequncia didtica. tersticas lingusticas desse texto;
Sequncia didtica , segundo Schneuwly (2004), tornar-se aptos a levar em conta a estrutura do texto a
um conjunto de atividades escolares organizadas, de ser produzido, a enunciao e os usos da gramtica;
maneira sistemtica, em torno de um gnero textual. O habilitar-se a utilizar as competncias lingusticas mais
objetivo do planejamento de uma sequncia o desen- gerais: sintticas, lexicais, semnticas e ortogrficas.

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O pressuposto terico ora apresentado concretiza-se acepo de interdisciplinaridade que esteja em conso-
em uma prtica que colabora para a explicitao dos nncia com um programa nacional de ensino, neste
mecanismos necessrios produo dos sentidos. momento representado pelos Parmetros Curriculares
Repetimos que no basta dar um tema pensando que, Nacionais do Ensino Mdio.
unicamente a partir disso, os alunos vo produzir. Antes De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,
de tudo, preciso que eles leiam um modelo, faam de 2002, a interdisciplinaridade pressupe um eixo inte-
atividades relativas ao gnero que se pretende ensinar e grador, que pode ser um objeto de conhecimento, um
s depois experimentem uma produo de autoria. Na projeto de investigao ou um plano de interveno2. Em
elaborao das atividades de produo de texto, adota- todos os casos, o projeto deve partir da necessidade da
mos a linha de Nbrega (2000), que apresenta uma srie escola de interferir em situaes cuja compreenso no
de atividades destinadas a contribuir para o desenvolvi- pode ficar restrita aos limites de uma s disciplina. Em
mento da produo escrita dos alunos. So elas: resumo, trata-se de atribuir um papel instrumental para
atividades de reproduo: parfrases, resumos, ativida- a interdisciplinaridade, o que, segundo os PCN, implica
des em que o plano de contedo j est definido pelo utilizar os conhecimentos de vrias disciplinas para resol-
modelo e preciso, ento, desenvolver o como dizer; ver um problema concreto ou compreender um fenme-
atividades de decalque: modelos com lacunas, em que no sob diferentes pontos de vista.
as questes formais dos gneros j esto definidas, Esse olhar sobre o fazer interdisciplinar se ampliou
sendo necessrio completar o contedo; nos PCN+ e ganhou detalhamentos, entre os quais est
atividades de produo de autoria: nesse momento, a busca de unidade da prtica docente. O meio de alcan-
chega-se autoria ou criao, tarefa mais comple- ar essa unidade o desenvolvimento de competncias
ta, pois exige do sujeito determinar o que dizer e e habilidades comuns. Isso significa que envolver diversas
como dizer. disciplinas em torno de um mesmo tema ou obrig-las a
Durante o processo de produo, necessrio que dar contribuies bastante especficas para a realizao
a atividade de correo seja uma realidade. Para tanto, de um trabalho no devem ser as nicas possibilidades
sugerimos que o professor apresente, desde o incio, os de atividade interdisciplinar. Nessa concepo de inter-
critrios de avaliao do texto final. No podemos mais disciplinaridade, portanto, torna-se fundamental a eleio
acreditar num processo em que a correo final seja das grandes competncias a serem desenvolvidas por
feita s pelo professor. Pelo contrrio, o aluno tem de todas as reas e, no interior das reas, a eleio das gran-
perceber que escrever um processo de transpirao e des habilidades que colaboraro para o desenvolvimento
que o prprio produtor do texto deve conhecer os cri- dessas competncias. necessrio, portanto, identificar,
trios de avaliao e ser o responsvel pelas correes, nas atividades e nos projetos propostos, quais so as
reformulando trechos obscuros, selecionando lxico competncias e habilidades desenvolvidas, em que medi-
adequado, revendo elementos organizadores, etc. da elas esto de acordo com o projeto maior da escola
e, consequentemente, com os grandes objetivos das
o projeto interdisciplinar demais reas e disciplinas.
esta a viso de interdisciplinaridade assumida por
A interdisciplinaridade um dos nveis de interao esta coleo. No h dvida de que a rea de Linguagens,
entre as disciplinas, mais marcadamente aquele em que, Cdigos e suas Tecnologias e, mais especificamente, a
a partir de um eixo integrador, promove a coordenao disciplina de Lngua Portuguesa possibilitam o desenvol-
e o dilogo entre as disciplinas do conhecimento1. vimento dos trs grupos de competncias gerais enun-
Apesar desse sentido mais amplo, existem diversos ciados nos PCNEM: representao e comunicao;
conceitos de interdisciplinaridade, o que leva as coorde- investigao e compreenso e contextualizao
naes pedaggicas escolares a colocar sob essa concep- sociocultural. Nesse sentido, a interdisciplinaridade,
o as mais variadas aes envolvendo a tentativa de numa coleo didtica de Lngua Portuguesa, torna-se
integrao das disciplinas escolares. um processo, praticamente, inerente ao exerccio das
O conhecimento da existncia desses inmeros con- prticas de leitura, compreenso, contextualizao, inves-
ceitos e das confuses, muitas vezes, advindas da ausn- tigao, uma vez que estas so aes, mesmo a despeito
cia de um projeto mais amplo envolvendo todos os edu- de se utilizarem objetos de estudo bastante especficos
cadores de uma escola, impe a tarefa de se adotar uma (o texto, as regularidades da lngua, a produo literria,

1
GONALvES CARLOS, Jairo. Interdisciplinaridade: o que isso?, apndice da dissertao de mestrado Interdisciplinaridade no Ensino Mdio: desafios
e potencialidades, apresentada rea de Ensino de Fsica, da Universidade de Braslia, 2007, p. 163-164. Gonalves (2007), citando classificao
proposta por Eric Jantsch (1972 apud JAPIASS, 1976), descreve em sua dissertao quatro nveis de relao entre as disciplinas: multidisciplinarida-
de, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade. No apndice Interdisciplinaridade: o que isso?, Gonalves retoma as descries
e prope uma aproximao entre o conceito de interdisciplinaridade explicado por Japiass e as ideias sobre esse tema propostas nos PCN de Ensino
Mdio (BRASIL, 2002), por meio do conceito de eixo de integrao (GONALvES CARLOS, 2007, p. 163-164).
2
BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica. Parmetros Curriculares Nacionais: Ensino Mdio. Braslia: Ministrio
da Educao, 2002.

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os recursos para as produes de textos orais e escritos rdua no estudo dos textos literrios do(s) captulo(s)
que comuniquem eficientemente uma mensagem, etc.), posterior(es). Dessa forma, nos captulos centrados no
que concorrem para a consolidao de muitas das habi- estudo do gnero, encontram-se:
lidades previstas para o alcance das competncias nas uma preparao para a leitura do gnero;
demais disciplinas da rea de linguagens e das demais
o estudo de um ou mais textos de mesmo gnero com
reas. Partindo de outra direo, a disciplina de Lngua explicitao das habilidades leitoras envolvidas no
Portuguesa muito se beneficia das prticas que so espe- processo de reconstruo do sentido de um deles;
cificamente desenvolvidas em outras disciplinas.
Em resumo, interdisciplinaridade ser entendida aqui
um estudo dos conhecimentos lingusticos, que tem
como base as construes presentes nos textos do
como a interao entre disciplinas e reas que tenham como
captulo;
fundamento e principal objetivo o desenvolvimento de
competncias comuns. Assim, com essa meta em vista, atividades de produo de texto nessa seo, o
devero promover a explicitao dos vnculos entre os con- gnero caracterizado, e so propostas atividades de
tedos e entre as aes, que, independentemente da dis- escrita preparatrias para a produo autoral, textos
ciplina de origem, favorecem a compreenso e avaliao em que os alunos aplicam as caractersticas do gne-
de fenmenos, a argumentao, a proposio de ro estudado, bem como os recursos textuais e lingus-
solues3, o desenvolvimento de valores humanos ticos desenvolvidos nas atividades de leitura e de
mais amplos, entre outros eixos. conhecimentos lingusticos;
nesse contexto que se torna importante evidenciar uma seo voltada para as prticas de oralidade, as
os pontos de convergncia entre as competncias desen- quais envolvem oralizao de textos literrios ou no
volvidas nas diferentes disciplinas e, ao mesmo tempo, literrios e, principalmente, atividades que levam os
expor propostas de trabalho que, para serem resolvidas, alunos exposio oral de ideias, de resultados de
no prescindiro da mobilizao de conceitos, contedos pesquisa, de descrio de processos, etc., de modo
oriundos das diferentes reas. que favoream a apropriao de muitas das caracte-
Na pgina 41 deste manual, Parte especfica, esto rsticas dos gneros pblicos do oral.
os quadros de interdisciplinaridade que montamos para Os captulos destinados ao estudo do texto literrio
ajudar a organizar o trabalho interdisciplinar a partir do apresentam organizao diferente, elaborada em funo
contedo presente em cada volume desta coleo. da especificidade desse trabalho. A sequncia inclui:
a preparao para a leitura dos textos que sero tra-
balhados;
orgAnizAo e o estudo de dois ou mais textos literrios selecionados
MetodoLogiA dA obrA de acordo com a poca de sua primeira edio e com
sua participao em uma escola literria especfica;
Destinada ao ensino de Lngua Portuguesa no Ensino as habilidades leitoras envolvidas no processo de inter-
Mdio, a obra composta de trs volumes, com seis pretao de um deles;
unidades cada um, alm de uma unidade de abertura a contextualizao histrico-cultural;
no primeiro volume. Em cada unidade h dois ou trs uma atividade de sntese dessas informaes;
captulos, que se alternam entre dois objetivos bsicos:
o trabalho com gneros textuais e a leitura do texto
sequncias de questes de interpretao do texto
literrio associando texto e contexto de produo;
literrio. Ao organizar a obra, consideramos que essa
alternncia favoreceria o ensino da leitura, a reflexo uma anlise lingustica em que um dos textos da
lingustica e a produo de textos de circulao social, escola literria trabalhada comparado a outro de
importantes para o aprofundamento da proficincia diferente poca;
leitora e de escrita dos alunos, sem deixar de lado o uma seo de ampliao de algum dos temas ali tra-
fundamental exerccio de fruio esttica, de conheci- tados.
mento histrico-cultural e de autoconhecimento to Ao final de cada captulo h uma seo com dicas de
eficientemente proporcionados pela leitura e pela inter- filmes, livros, msicas e sites. Por meio delas, pretende-se
pretao de textos literrios. auxiliar no aprofundamento dos temas, o que pode ocor-
Assim, temos sempre um captulo destinado ao estu- rer fora da sala de aula.
do de determinado gnero textual que, na medida do Os volumes so compostos de seis unidades, cada
possvel, prepara os alunos para uma entrada menos uma com dois captulos, com exceo do volume 1 com

3
Aqui se trata de alguns dos eixos cognitivos da Matriz de Referncia do Enem, a qual estabelece eixos comuns a todas as reas: o domnio das lin-
guagens; a compreenso dos fenmenos que se traduzem na construo e aplicao de conceitos de diversas reas do conhecimento; o enfrenta-
mento de situaes-problema, por meio da seleo, organizao, interpretao de dados e informaes representadas de diferentes formas; a
construo de argumentao, relacionando informaes e conhecimentos disponveis em situaes concretas; elaborao de propostas de interven-
o na realidade, tendo por base os conhecimentos desenvolvidos na escola e o respeito aos valores humanos, levando em considerao a diversi-
dade sociocultural.

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uma Unidade de Abertura e do volume 3, Unidade 2 cimento das informaes presentes na camada superficial
com trs captulos, dois dedicados ao Modernismo no do texto e questes que levem em conta o exerccio cons-
Brasil. Em cada volume, h uma proposta de desenvolvi- tante de associao e inferncia. Assim, procuramos apre-
mento de um projeto a ser concretizado no fim de cada sentar propostas de recuperao das informaes, de
ano, mas aberto antes da primeira unidade. Esses proje- relao desses dados com o conhecimento j adquirido
tos tm como principais finalidades: criar uma situao pelos alunos, de levantamento de hipteses, de reconhe-
real de circulao dos textos produzidos pelos alunos; cimento dos passos necessrios para a identificao do
favorecer a maior participao da escola na vida da comu- assunto principal e do tema do texto e, em outra sequn-
nidade (e vice-versa); favorecer o trabalho interdisciplinar, cia, apresentamos propostas de identificao de recursos
por meio da integrao dos saberes oriundos de diferen- textuais que esto diretamente ligados ao sentido de
tes disciplinas; desenvolver o esprito de colaborao, de superfcie e ao sentido profundo do texto.
cidadania e de senso tico. Pretendemos com essa dinmica, envolvendo habili-
Cada uma das sees ser mais precisamente descri- dades leitoras e identificao de recursos de construo
ta a seguir. Espera-se que o professor encontre nesta do sentido, indicar aos estudantes as chaves necess-
coleo atividades que realmente favoream o desenvol- rias de entrada autnoma em um texto afinal, o exer-
vimento e o aprofundamento da competncia leitora, ccio de leitura fora da escola no acompanhado por
oral e de escrita de seus alunos. roteiros com questes de interpretao.
tambm nesse ponto que se do os contatos iniciais
Sees que compem os captulos com o gnero, por meio de alguns aspectos que o estru-
turam. No entanto, ainda no h levantamento de suas
principais caractersticas, uma vez que no a caracte-
Para comear rizao do gnero textual o maior objetivo das atividades
Trata-se de uma preparao para a leitura, que leva dessa seo.
em conta o gnero ou alguma caracterstica literria de Nos estudos propostos no foi nosso objetivo esgotar
determinados textos. a leitura dos textos, apontando de uma s vez todos os
Sabe-se que a leitura mobilizada por diversos ele- recursos textuais, mas destacar o que poderia haver de
mentos externos construo propriamente do texto. relevante para a compreenso global.
Antes de chegarmos leitura efetiva das linhas, mobiliza- Para completar esse processo, ao final da interpreta-
mos uma srie de expectativas, determinamos objetivos, o de um ou mais textos, inserimos um quadro com a
levantamos hipteses, deixamo-nos seduzir pelo tema ou explicitao de certas estratgias envolvidas na resoluo
o rejeitamos de incio. Ao ter acesso ao texto, podemos das questes propostas. O objetivo tornar o aluno mais
ento nos deparar com certos obstculos leitura: desco- consciente de seu prprio processo leitor e, acima de
nhecimento do tema, do vocabulrio, das estruturas, etc. tudo, mais apto a transferir intencionalmente esse pro-
A seo Para comear pretende ocupar exatamente cesso para a leitura de qualquer texto, em qualquer con-
esse espao, o da determinao de objetivos de leitura texto social, sem depender de roteiros que orientem sua
ou da criao de expectativas ou de elucidao de dvi- compreenso.
das que as linhas do texto possam suscitar. um espao
de motivao para a leitura dos principais textos do cap- Para entender...
tulo, para a delimitao de certos objetivos de leitura,
para o despertar do reconhecimento de certas ideias, Nos captulos destinados aos estudos literrios, a seo
abordagens temticas ou caractersticas textuais; enfim, Para entender... apresenta um estudo do momento hist-
a seo Para comear deve favorecer uma entrada mais rico em que determinados movimentos comearam a sur-
contextualizada nos textos que so propostos aos alunos gir. nessa seo tambm que se caracterizam os perodos
de Ensino Mdio por meio de uma situao artificial (dis- literrios e se apresentam os autores representativos da
tante dos seus veculos reais de circulao), que a do poca. Alm de atender a uma linearidade histrica, a
livro didtico, mas no sem importncia se considerarmos seo preocupa-se em explicar como os fenmenos sociais
que muitos deles tero como base para outras leituras propiciaram o surgimento de determinado tipo de arte
exatamente aqueles textos organizados para serem lidos literria. Trata-se de um texto em que no se pretende
e estudados no contexto escolar. apresentar as escolas literrias como momentos estanques
ou simples, mas, sim, mostr-las como manifestaes
interpretao do texto ficcionais, poticas e dramticas de acordo com as crenas,
os pensamentos e os sentimentos de uma poca.
As questes de interpretao devem ser vistas como
meios de elucidao dos recursos de construo de sen- Sintetizando
tido do texto. A fim de favorecer a ampliao da profi-
cincia leitora de um leitor mais independente e crtico Presente em todos os captulos destinados aos estudos
do que aquele do incio do segundo ciclo do Ensino literrios, a seo Sintetizando tem o objetivo de tornar
Fundamental, propomos questes que visam ao reconhe- o aluno ator de sua aprendizagem. Para isso, proposta

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uma sntese em que ele organiza as novas informaes os estivessem estudando pela primeira vez. Esse quadro
em um processo metacognitivo, ou seja, em um momen- torna-se, ento, ponto de partida para o estudo de estru-
to de reflexo, de reconstruo dos saberes e de registro turas presentes nos textos do captulo. Os conceitos revi-
desse saber. sados so exercitados por meio de atividades de identifi-
Nessa seo, o aluno convidado a copiar o esquema cao. A partir desse ponto, o aluno passa a verificar a
apresentado e complet-lo com as observaes pertinen- relevncia dos tpicos revistos para a construo do sen-
tes quele estudo. No trabalho com a seo, o professor tido, da coeso ou da expressividade do texto.
pode, em diferentes momentos, apresentar snteses de importante observar que essa proposta d novo
alunos s outras classes, propor o trabalho em grupos sentido ao estudo da gramtica porque aqui ela no vem
para discusso ou fazer a resoluo coletiva dos esque- revestida apenas de seu carter normativo. Sem deixar
mas, escrevendo possveis respostas na lousa com a cola- de lado os conceitos que padronizam seus tpicos,
borao de todos os alunos. O mais importante nessa sempre proposto um retorno ao texto, espao em que a
atividade a organizao desses novos saberes. lngua se realiza plenamente, estejam as estruturas
empregadas previstas ou no na variedade-padro do
texto e contexto portugus praticado no Brasil.
Aps a anlise dos textos a partir do tpico gramati-
Nessa seo, que se segue ao Sintetizando..., so apre- cal em estudo, apresentam-se algumas atividades de
sentadas novas questes de interpretao de um dos tex- aplicao, que tm como objetivo facilitar a compreenso
tos representativos da esttica literria estudada, mas dessa do contedo, visto agora sob nova abordagem, ou cola-
vez os alunos so levados a identificar em poemas ou em borar para a fixao de uma nova estrutura ou mesmo
trechos de obras em prosa elementos prprios do contex- de uma forma nova de empreg-la.
to histrico ou da esttica representativa do perodo.
Produo de texto
comparando textos
A seo Produo de texto iniciada com a apre-
Presente apenas nos captulos de anlise dos textos sentao do gnero estudado, a partir de seus aspectos
literrios, a seo Comparando textos um meio de levar no s composicionais, mas, acima de tudo, voltados
o aluno percepo da importncia do dilogo entre os produo, circulao social e recepo de tais textos.
textos de diferentes pocas. As sugestes de atividades Em cada captulo, o aluno l pelo menos dois modelos
enfatizam a comparao de aspectos lingusticos que de um gnero, estuda os recursos gramaticais que orga-
encaminham o texto para graus distintos de expressivi- nizam esse gnero e volta a ele no item de produo,
dade, ou enfatizam a comparao de aspectos temticos, que prope exerccios, ou seja, atividades que visam
que levem o aluno a observar os variados meios de se trabalhar recursos de que os alunos podem se valer para
desenvolver um assunto. produzir bons textos. O gnero selecionado dita o tipo
Para Colomer (2007), o confronto entre textos lite- comum a ele, bem como seu estilo, sua composio e
rrios distintos oferece ao aluno a ocasio de enfrentar seu tema mais corrente. Dominando essa prtica, o
a diversidade social e cultural, no momento em que tm aluno ter mais conscincia e confiana para produzir.
incio as grandes questes filosficas propostas ao longo Ao final do processo de exerccio da escrita, propomos
do tempo. Assim, com o objetivo maior de formar a uma escrita de autoria.
pessoa, o cidado, a seo Comparando textos tem como vale lembrar ainda que toda atividade de produo
um de seus propsitos explicitar aos alunos, por meio do de autoria seguida por uma autoavaliao, que servir
confronto com textos atuais, a maneira como geraes tambm ao professor. Por fim, uma vez que, segundo
anteriores retratavam a vida a partir da linguagem. orientaes dadas no corpo do texto, essas produes
faro parte do projeto de final de ano, ficam determina-
conhecimentos lingusticos dos tambm os parmetros de produo: com que inten-
o, para quem, em qual suporte, em que variedade e
A seo que trabalha diretamente os conhecimentos como ser escrito o texto.
lingusticos pretende ampliar o conhecimento dos diver-
sos recursos possibilitados pela lngua portuguesa usada
no Brasil e favorecer a reflexo sobre suas diversas ocor-
e por falar em...
rncias nas situaes reais de uso da linguagem. A seo E por falar em... prope a ampliao de um
Para atingir tal objetivo, partimos do pressuposto de dos temas abordados no captulo de estudos literrios.
que os alunos, por terem passado pelo Ensino Fundamental, por meio dessas atividades que os alunos tm a pos-
j tenham estudado os diversos tpicos gramaticais reto- sibilidade de simular num contexto de sala de aula algu-
mados no Ensino Mdio. Considerando ser essa etapa da mas das situaes cotidianas que exigiro reflexo sobre
escolaridade um momento de aprofundamento de deter- o papel do ser humano na sociedade. Ciente das carac-
minadas informaes, optamos por apresentar um quadro tersticas do mundo atual, o cidado precisa agir de
com a sntese de alguns conceitos da gramtica da lngua forma responsvel, e deve ser papel da escola favorecer
portuguesa, em lugar de apresent-los como se os alunos esse tipo de ao.

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Assim, nessa seo, apresentam-se desde atividades escolar, um dos objetivos da proposta de organizao
de reflexo acerca dos diferentes assuntos tratados no de um projeto no final do ano letivo.
captulo, passando por pesquisas de diversas manifesta- Durante o Ensino Mdio, os alunos que ainda no
es artsticas e de linguagem, por trabalhos envolvendo participam do mundo do trabalho esto preparando-se
a mobilizao de conceitos tratados nas distintas reas do para isso. nessa realidade que se d mais fortemente o
conhecimento, at propostas de soluo para problemas exerccio da responsabilidade, do senso crtico, da ao
reais da comunidade na qual est inserido o aluno. Os cidad. A escola, nesse contexto, pode facilitar o acesso
meios para realizar e apresentar esses trabalhos so bas- efetivo do jovem a esse conjunto de aes.
tante variados, e isso ocorre para que o aluno experimen- O projeto anual ajuda a promover esse exerccio, por
te o maior nmero possvel de situaes de aprendizagem isso apresentado no incio do ano letivo, antes da aber-
alm daquelas que levam em conta apenas o espao tura dos captulos. A finalidade dessa apresentao
escolar. Desse modo, possvel encontrar propostas de permitir a alunos e professor um planejamento mais cui-
pesquisa em diversos espaos reais (bibliotecas, por exem- dadoso e intencional dos textos de autoria a serem pro-
plo) e virtuais (internet); propostas de ativao dos conhe- duzidos. Por meio desse processo, os alunos sabem, desde
cimentos normalmente apresentados por outras discipli- o incio, que provavelmente no escrevero apenas para
nas; apresentaes que levam em conta a expresso o professor, mas para toda a comunidade escolar, com
corporal (como a mmica); alm dos mais diversos meios propsitos diversos, como entreter, emocionar, levar
de circulao dos trabalhos exposio de cartazes, pai- reflexo ou a uma ao concreta.
nis de fotografias e de peas confeccionadas em aula,
Com o projeto, a atividade de produo no consi-
apresentaes orais , possibilitando a circulao do
derada um exerccio escolar escrever para o professor
conhecimento na sociedade.
, mas uma prtica social. O aluno exercita a produo
Em sntese, pode-se dizer que o objetivo da seo E por meio de atividades que o encaminham autoria sig-
por falar em... ser mais um meio de desenvolvimento nificada na apresentao dos critrios de circulao e de
de diversas habilidades e competncias necessrias s recepo do texto.
novas geraes.

caderno ortografia e outras


no mundo da oralidade questes
Sabe-se que a oralidade atravessa todo o percurso
Segundo Artur Gomes de Morais (2003), discutir
escolar do aluno: leituras em voz alta, participaes em
ortografia enveredar por um espao de controvrsias,
aula, apresentao de seminrios, etc. Entretanto, nem
pois implica enfocar um objeto marcado por preconcei-
sempre se garante a sistematizao de gneros do oral,
tos. E ele tem toda razo, nem tudo to errado a ponto
extremamente relevantes no cotidiano escolar e, sobre-
de provocar risos.
tudo, na preparao para o trabalho. seo No mundo
da oralidade cabe a descrio da estrutura de muitos dos Em seu livro A lngua de Eullia, Marcos Bagno expli-
gneros pblicos do oral. Ao final das atividades de lei- ca com detalhes quanto existe de preconceito em nossa
tura e produo escrita, os alunos so expostos reflexo forma de conceber a lngua desconsiderando suas varie-
de diferentes temas, ao trabalho de pesquisa, entre outras dades. No captulo O livro de Irene, por exemplo, a
aes, e preparam um texto oral, que pode ser tanto a prpria personagem explica: em hiptese nenhuma eu
exposio oral dos resultados desses trabalhos quanto a reivindicaria a substituio da variedade-padro pela no
apresentao de seminrios, a participao em debates padro como objeto de ensino na escola. A existncia de
ou a leitura em voz alta de uma produo autoral. Em uma variedade-padro desejvel e necessria para um
todos os casos, faz-se no s a caracterizao do gnero meio de expresso comum a todas as pessoas cultas de
pedido, mas a enumerao de procedimentos necessrios um pas. O que eu reivindico, sim, que ela no seja
boa realizao dos trabalhos propostos. ensinada como a nica existente (BAGNO, 1998), e
acrescentamos aqui que ela no pode servir para ridicu-
larizar quem no a siga.
Aproveite para... Levar o aluno a conhecer as regras ortogrficas e
Trata-se de uma seo voltada ampliao do reper- outras questes da variedade-padro da lngua portu-
trio cultural do aluno. Sem desconsiderar suas experin- guesa, longe de ser uma forma de apontar erros e acer-
cias culturais, sugerem-se filmes, msicas, textos, sites, tos, deve ser um meio de colaborar para que o aluno faa
revistas, etc. que possam contribuir para o reconhecimen- escolhas lingusticas conscientes. Afinal, ele sabe que est
to da existncia de uma cultura mltipla, reveladora das inserido numa sociedade que avaliar seus conhecimen-
diversas potencialidades de expresso humana. tos dessa variedade da lngua. Para atingir essa finalidade,
so propostas atividades de reconhecimento e aplicao
Projeto anual de certas regras de ortografia e de acentuao. Outras
questes relativas variedade-padro, em alguns captu-
Encontrar um meio de valorizar as produes orais e los, so comentadas como informaes complementares
escritas dos alunos, fazendo-as circular na comunidade aos conhecimentos lingusticos trabalhados.

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eStruturA gerAL dA coLeo

Volume 1 1o ano Volume 2 2o ano Volume 3 3o ano

Unidade de Abertura
UNIDADE DE
Linguagem e lngua
ABERTURA
Literatura: arte com palavras

Um olhar crtico
Trovas e trovadores A vida que se recria
Resenha crtica
Cordel Romance
Oraes subordinadas adjetivas
UNIDADE 1 variedades lingusticas Transitividade verbal e colocao
vanguardas europeias
Trovadorismo pronominal
Modernismo em Portugal 1-
Romantismo prosa
momento

Do amor, do nacionalismo e
A humanidade em cena Tecendo conversas
da denncia
Texto dramtico Entrevista
Letra de msica
A frase Oraes subordinadas adverbiais
UNIDADE 2 Figuras de sintaxe: paralelismo,
Linguagem oral versus lingua- Modernismo no Brasil
comparao, anfora, hiponmia e
gem escrita - 1- gerao poesia e prosa
hiperonmia
Humanismo - 2- gerao poesia
Romantismo poesia

Outra voz: a voz do outro


Histrias que se contam
Uma forma para a arte Carta aberta
Conto
Soneto Manifesto
Tipos de predicado: predicado
UNIDADE 3 Figuras de sintaxe: anfora, O papel das conjunes na
verbal e verbo-nominal
anacoluto e hiprbato construo do texto
Funes sintticas do adjetivo
Classicismo Prosa modernista gerao de
Realismo e Naturalismo
1930

Histrias de quem viaja


Relato de viagem A arte da forma Do cotidiano ao extraordinrio
Tipos de sujeito Haicai e martelo Crnica
UNIDADE 4 Usos do sujeito na construo da Formas nominais do verbo Pargrafo
coeso e clivagem Parnasianismo Gerao de 1945 poesia e
Primeiras manifestaes literrias prosa
no Brasil

Profuso de imagens
Pontos de vista
e significados O mundo em smbolos
Artigo de opinio
Poema Anncio publicitrio
UNIDADE 5 Concordncia verbal e nominal
Figuras de linguagem: metfora, vozes verbais
Literatura brasileira contempor-
hiprbole e anttese Simbolismo
nea poesia
Barroco

Investigar e documentar
Temas e cenas
Cincia e emoo um tema
Dissertao
O artigo jornalstico de divulga- Reportagem
Coeso por referncia
UNIDADE 6 o cientfica Perodo composto por subordi-
Progresso
Complementos verbais nao
Literatura brasileira contempor-
Arcadismo Oraes subordinadas substantivas
nea prosa
Pr-Modernismo

PROJETO
Antologia Festival de cultura e informao Revista
ANUAL

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Em seguida avaliao reguladora, seria feita uma
AVALiAo avaliao final para que, com base no conhecimento
inicial, pudssemos ter um informe do processo da ava-
Segundo Charles Hadji (2001), a avaliao, em um liao. Independentemente dos vrios modos possveis
contexto escolar, tem o objetivo legtimo de contribuir para de se avaliar, o mais importante a percepo do desen-
o xito do ensino. volvimento processual, e no meramente do produto
Dessa forma, no se deve avaliar para qualificar ou final. Nessa linha, preciso que a ao avaliadora obser-
sancionar. A avaliao deve existir com o propsito de ve simultaneamente os processos individuais e os do
reconhecer no processo as mudanas que precisam ser grupo, abarcando no s a aprendizagem, como tam-
feitas para que haja aprendizagem. Assim, nenhuma bm o ensino.
avaliao deve ser feita sem incluir uma resposta Ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
seguinte pergunta: por que se avalia? Antes de iniciar encontram-se pessoas que desejam conhecer o resul-
um processo de avaliao, preciso determinar por que tado da avaliao (por meio de notas e conceitos): os
o estamos realizando. Uma vez determinados os obje- alunos/famlia; a coordenao/administrao; o profes-
tivos desse processo, deixam-se claros os resultados. sor. A cada um deles pode ser dada uma resposta.
Avaliamos para saber se os alunos sabem usar a cons- Primeiro, uma avaliao informa sobre os processos que
truo sinttica estudada, avaliamos para saber se eles ns, professores, devemos realizar com os alunos. Aos
se apropriaram das regularidades de um gnero. Estando alunos e s famlias, ela deve informar os avanos e as
claras, para alunos e professores, as razes da avaliao medidas que devem ser tomadas para ajudar o trabalho
e os objetivos a serem alcanados, pode-se determinar da escola. coordenao, a avaliao fornece os dados
quais sero as aes reguladoras da interveno no pro- necessrios para garantir a continuidade do percurso
cesso de aprendizagem das pessoas implicadas na situa- do aluno.
o educativa. Sem dvida, sabemos que discutir avaliao deve
Esse tipo de procedimento funda uma concepo de estar sempre em pauta, uma vez que a ao resultante
avaliao de dupla mo: as estratgias adotadas para o do processo avaliativo nem sempre sossegada e serena.
alcance dos objetivos definidos por professores e/para Ningum fica indiferente a qualquer tipo de julgamento,
alunos foram eficientes? nesse sentido que, em alguma o que dir quando se avalia o conhecimento de um sujei-
medida, a avaliao do avano do aluno torna-se avalia- to. Quem avalia sente-se prestigiado, e quem avaliado,
o das medidas interventivas adotadas pelo professor, muitas vezes, procura se defender daquele resultado. Na
obrigado, nesse contexto, a avaliar para rever e ajustar busca por uma dinmica menos conflitante, h que se
frequentemente suas prticas. pensar em uma relao didtica em que a prova atinja
Quanto forma como se avalia, so encontradas seu objetivo essencial: averiguar at que ponto as prti-
questes fundamentais. Por exemplo: O que os alunos j cas adotadas e exercitadas favoreceram o ensinar a
sabem sobre o conhecimento que se pretende desenvol- aprender.
ver? Que experincias j tiveram com o contedo a ser Alguns quadros presentes nas unidades da coleo
apresentado? Que habilidades podero ser mobilizadas favorecem um exerccio de autoavaliao mais autno-
e quais devero ser desenvolvidas? Quais so as diferen- mo para os alunos: Quadro de objetivos, Desenvolvendo
tes formas de aprendizagem? Uma reflexo acerca das habilidades leitoras e Preparando a segunda verso do
respostas a essas questes poder orientar um trabalho texto.
voltado para as diferentes possibilidades de desempenho Quadro de objetivos localizado no incio de cada
e, num contexto como esse, o aluno ser enxergado sem- unidade, esse quadro apresenta um resumo dos objetivos
pre em relao a suas possibilidades de avano e no em de cada captulo para que aluno e professor organizem-
relao s possibilidades de avano da mdia da turma. -se previamente.
Pode-se concluir, portanto, que a avaliao no pode ser Habilidades leitoras localizado ao final da inter-
esttica, silenciosa; ao contrrio, deve ser processual, pretao do primeiro ou dos dois primeiros textos da
dialgica. Os diferentes instrumentos avaliativos devem seo de interpretao de textos, esse quadro explicita
dialogar com o que os alunos j sabem (zona processual as habilidades de leitura implicadas na realizao da
de desenvolvimento), com o que podem saber e com o atividade, possibilitando ao aluno verificar os mecanis-
modo como aprendem. mos usados para a compreenso do texto em estudo.
No modelo apresentado por Zabala (1999), deve-se Preparando a segunda verso do texto locali-
partir de uma avaliao inicial diagnstica qual se zado na parte destinada produo de autoria, prope
seguiria a avaliao reguladora. Desta ltima, equivalen- ao aluno uma releitura atenta dos textos, alm de uma
te ideia da sequncia didtica apresentada por reviso que atenda aos critrios ali propostos. Isso obri-
Schneuwly (2004), sairiam as tarefas que favoreceriam a ga o aluno a reler sua produo, observando se seu
aprendizagem em relao aos objetivos, aos contedos trabalho corresponde ao que foi pedido e regulando
previstos e s dificuldades dos alunos. autonomamente o prprio desenvolvimento escritor.

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Abaixo h uma sugesto de quadro de autoavaliao aprendizagem do aluno, observar o desenvolvimento do
para que o aluno possa acompanhar o prprio desempenho. processo nas suas vrias etapas e considerar os resultados
O quadro pode ser preenchido a cada bimestre ou trimestre, obtidos: maior ou menor participao na aula, maior ou
de acordo com os contedos do livro, em sala de aula ou menor compreenso dos contedos, etc. Com base nos
no, cabendo a professor e alunos definir previamente de primeiros resultados reais, advindos das produes da
que forma ser organizado esse instrumento autoavaliativo. classe, o professor pode rever o percurso realizado at
O professor que pretenda avaliar seu trabalho pode ento e ainda discutir com a turma os ajustes necessrios
ainda enumerar as estratgias adotadas para facilitar a ao maior envolvimento do grupo ao longo do ano.

Contedos e O que j sei sobre o O que aprendi O que confirmei O que preciso rever
habilidades a assunto inicialmente sobre o contedo
serem trabalhados aprendido

[Informao apresenta- [Devem ser levantadas [Devem ser considerados [Devem ser acrescenta- [Devem ser consideradas
da pelo professor] informaes e conheci- os conhecimentos traba- das informaes a partir as habilidades e os con-
mentos prvios sobre os lhados a cada perodo, das avaliaes feitas por tedos que necessitam
+ contedos e habilidades de acordo com a prvia professores e colegas] ser retomados a fim de
apresentados na primei- organizao estabelecida se atingirem os objetivos
[Informaes encontra- ra coluna] entre professor e alunos] iniciais]
das nos materiais did-
ticos trabalhados; no
caso desta coleo, as
informaes do Qua-
dro de objetivos do
incio de cada unidade]

bibLiogrAfiA

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considerados femininos; no caso das meninas, talvez
textoS PArA haja aquelas que so impedidas de ler certos romances
AtuALizAo tericA por estes serem tidos como fteis. Restries como
essas, assim como mtodos escolares impositivos, que
Em seu texto, Angela Kleiman apresen-
ta propostas de trabalho de leitura com
geram determinadas cobranas, mais dificultam que
alunos do Ensino Mdio, os quais, muitas ajudam o aprimoramento do perfil do leitor em for-
texto 1 vezes, trazem para a sala de aula diferentes mao. Afinal, as histrias individuais dos jovens com-
experincias leitoras, que se relacionam pem o universo do aprendizado; no h como no
tanto a prticas sociais, de um modo geral, lev-las em conta nem motivo para isso no proces-
como ao prprio ambiente escolar. so educacional como um todo.
Uma boa forma de comear a conhecer os alunos
A atividade de leitura no Ensino Mdio estabelecer uma conversa informal sobre seus hbitos
Angela B. Kleiman
Ph.D. em Lingustica pela University of Illinois, EUA, desenvolve
e preferncias de leitura, em torno das seguintes ques-
pesquisas sobre leitura e ensino. professora titular colaboradora do tes: o que geralmente leem; como comeam a ler (se
Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. de uma vez, ou se paqueram o livro antes, folheando-
A linguagem a capacidade, ou faculdade, da qual -o, olhando a capa, o verso, as fotos, deixando o incio
depende todo o processo de aprendizagem. E aqui se para um momento mais propcio, mais ntimo); se vo
trata tanto da linguagem oral quanto da escrita. Mas, sempre at o fim da leitura e as razes por que param
medida que o aluno vai avanando no seu percurso de ler ou continuam lendo. As perguntas tambm
escolar, espera-se que ele utilize a linguagem escrita de podem ser feitas por escrito, em um questionrio, mas
maneira cada vez mais autnoma. Sem escrita e, espe- provavelmente os alunos se sentiro mais vontade
cialmente, sem leitura, no h como aprender e conti- para responder o que de fato pensam se no precisarem
nuar aprendendo ao longo da vida em uma sociedade registrar as respostas no papel.
como a nossa, em que a linguagem escrita permeia a Pesquisas realizadas com jovens mostram que, mesmo
grande maioria das prticas sociais. os alunos que declaram no gostar de ler, na verdade,
Apesar de a importncia da leitura ser reconhecida gostam de ler algumas coisas; h ainda os que, ao conse-
universalmente, h ainda muitos alunos no Ensino guirem entender o texto, descobrem que gostam de ler!
Mdio que no veem sentido nas prticas de leitura De que maneira o professor pode proceder, portan-
que lhes so propostas. Isso, em muitos casos, prova- to, ao identificar entre seus alunos esses dois tipos de
velmente ocorre porque: comportamento nas classes de Ensino Mdio?
o aluno sabe ler com compreenso, entende o que l, 1. No caso de alunos que alegam no gostar de ler
mas resiste a ler porque no gosta, ou tem averso
leitura; Propomos ao professor que reflita sobre como est
aluno reconhece as palavras, e at frases, mas no
o sendo realizada a transio entre o que se l no Ensino
consegue alcanar o sentido delas, no compreende o Fundamental e o que se l no Ensino Mdio. No
que l. Ensino Fundamental, os livros so escolhidos com base
Para ajudar os alunos, em qualquer desses casos, o na ideia de que devem seduzir os alunos. Por sua vez,
professor de Lngua Portuguesa est em uma posio no Ensino Mdio, so selecionadas para leitura obras
mpar se comparado de seus demais colegas na escola. que fazem parte do acervo literrio e cultural da lngua
Por isso, defendemos que a melhor e mais valiosa meta portuguesa. Essa transio pode ser muito abrupta para
do ensino nesse segmento seja o letramento do aluno os jovens que s tm o letramento escolar, isto , que
do Ensino Mdio, isto , a promoo da participao convivem relativamente pouco com a leitura fora da
autnoma desse aluno em prticas diversas de leitura e escola, participando da prtica de ler majoritariamen-
escrita, o que envolve fazer seu projeto de aula em torno te no ambiente escolar.
desse objetivo maior: transformar mais um aluno em Assim, a experincia das primeiras leituras literrias
um leitor e, talvez, em um amante da leitura. no chega a ser prazerosa para muitos adolescentes.
O primeiro passo conhecer que tipo de leitor seu Pode haver, de fato, professores que conseguem des-
aluno , ou seja, o professor de Lngua Portuguesa pre- pertar nos alunos o prazer na leitura de Iracema, de Jos
cisa conhecer a histria de leitura de cada um dos jovens de Alencar, por exemplo, ao preparar aulas vivazes,
de sua turma. Alguns aspectos dessas histrias prova- espirituosas, mas isso no a norma. Na maioria das
velmente so comuns maioria dos alunos; por exem- vezes, o jovem fica calado enquanto o professor lhe
plo, no caso dos meninos, pode ser que alguns no informa por que tal livro importante, por que ele
possam ou no queiram ler certos livros por estes serem bom, por que um clssico.

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Cabe ao professor relativizar a situao e aceitar que que os alunos discutam romances de vampiros pode
o jovem ou adolescente de sua classe tambm tem direi- at levar leitura do clssico da literatura inglesa O
to a ter uma opinio que no coincide com a da crtica. morro dos ventos uivantes, de Emily Bront, pelo fato
Dizer aos alunos que determinada obra representou, de ser este o livro preferido de um casal de heris e
na poca, uma nova forma de tratar um assunto, marca heronas desse romance.
uma reestruturao do gnero literrio romance, exem- Para os adolescentes, que ainda tm um longo cami-
plifica bom manejo da linguagem dramtica, trata-se nho a percorrer, no fcil fazer essas relaes, pois
do melhor exemplo da corrente naturalista, etc., pode ainda desconhecem quase tudo; por que, ento, no
justificar o fato de se propor aos alunos que leiam o comear por algo que j conhecem, da cultura popular:
livro, mas pode no ser suficiente para levar o jovem a uma msica, um filme, um fanzine, por exemplo?
gostar da obra. Encorajar todo tipo de leitura na tela, a de um manu-
Isso no significa que os alunos no devam ler esses al importante porque, quanto mais lemos, mais
textos. Entretanto, sugere uma mudana em relao ao fcil fica a leitura, e ler com facilidade pr-requisito
enfoque metodolgico: por exemplo, uma alternativa para insistir em uma atividade, para no evit-la.
permitir que o jovem ou adolescente expresse sua O caminho para trazer de volta aos prazeres da lei-
opinio, desde que consiga justific-la citando trechos tura aqueles jovens que compreendem o que leem mas
do livro. No suficiente dizer que a linguagem do no gostam de ler afetivo; envolve seduo, respei-
livro ridcula, ou careta; o adolescente deve expli- to mtuo, confiana e entusiasmo partilhado. E isso
car como mudaram os interesses e por que certa des- sugere um terceiro enfoque metodolgico.
crio que aguava o gosto dos leitores h um sculo, Mesmo no Ensino Mdio, se o professor julgar
por tratar de situaes que lhes eram prximas, hoje necessrio para despertar o interesse dos alunos,
cria uma impresso de sentimentalismo exagerado no possvel comunicar seu entusiasmo por determinado
leitor. E assim por diante. texto iniciando sua leitura em aula. Em um relato
Mesmo que o jovem esteja equivocado, ele apren- do professor Luiz Marques, que, cansado de acom-
der a ser um leitor crtico: aquele que defende sua panhar atentamente o cronograma sem conseguir
opinio com base no texto, citando passagens para despertar o interesse dos alunos pela leitura, decidiu
fundament-la. E, no fim das contas, um dos objetivos ler o conto A terceira margem do rio, de Guimares
da leitura de textos literrios tornar o jovem um leitor Rosa, a uma aptica turma de 3 ano do Ensino
crtico. Essa abordagem permite que o professor aten- Mdio, lemos que:
da s necessidades do currculo. [...] Inicialmente houve apatia de muitos e uma
Outro procedimento, que tambm pode ser con- m vontade generalizada da sala em ouvir uma estria
ciliado com o currculo, embora com maior dificul- chata, segundo eles. Mesmo assim insisti. Li devagar,
dade, abrir espao para prticas letradas juvenis na fazendo todas as entonaes. Minha voz se embargava
sala de aula, a fim de que os alunos se sintam von- medida que eu me emocionava com o texto, e meus
tade para falar de textos da cultura juvenil popular, olhos enchiam-se de lgrimas. A emoo tomou conta
isto , possibilitar aos jovens levar para a aula outros da sala. Enquanto a narrativa prosseguia, vi um aluno
letramentos, no escolares. Abrir as portas da sala para de 18 anos apoiar a cabea sobre a carteira e desman-
a cultura popular, trabalhando, por exemplo, um pro- char-se em lgrimas [...]. Ao terminar a leitura pergun-
jeto sobre msica e alguns temas universais (desigual- tei o que havia de marcante no conto e foram unnimes
dade, amor, respeito), permite que se faam interco- ao dizer que era a ausncia do pai. Comearam a falar
nexes com outras linguagens (como as das Artes), sobre a beleza da estria e descobri que a maioria no
por um lado, e propicia, por outro, fazer comparaes, havia conhecido a figura do pai....1
buscar analogias e relaes; enfim, na medida do pos- Como diria Daniel Pennac, em seu livro Como um
svel, fazer leituras intertextuais (e intergenricas) romance2, de repente, os jovens descobriram que tudo
entre textos de diversos gneros usando outras lingua- aquilo fora escrito para eles. E acreditamos que quem
gens (por exemplo, filme, poesia, msica, artes pls- sente o prazer de encontrar-se em um texto capaz de
ticas, artes dramticas) para desenvolver os mesmos perder-se nele e passar a procurar outros para neles
temas selecionados para o projeto. Abrir espao para reencontrar-se.

1
MARQUES, Luiz. Por que eles no conseguem ler?. In: Braudel Papers. So Paulo: Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, n. 16, 2002. p.
16-17. Disponvel em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/braudel-papers/downloads/portugues/bp31_pt.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2013.
2
Rio de Janeiro: Rocco, 1993. Traduo de Leny Werneck.

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2. No caso de alunos que relutam em ler porque, definir um objetivo para ler o texto, em geral uma
segundo eles, no compreendem o que leem leitura para confirmar alguma hiptese ou predio:
O segundo tipo de alunos envolve o grande desafio vamos ler agora para ver se o texto explica como fazer
de ensinar estratgias cognitivas que um bom leitor j x?; ou ler para ver se o texto fala sobre as causas e as
domina quando acaba o primeiro ciclo de ensino, por solues para o problema y?;
volta do quinto ano de escolaridade. Mas possvel revisar ou introduzir vocabulrio, utilizando, nas
lidar com a questo, apesar dos problemas e dificulda- atividades de pr-leitura, o vocabulrio que ser
des que acompanham a defasagem na aprendizagem, encontrado no texto, principalmente quando se
e certamente vale a pena investir nisso, porque so essas trata de termos eruditos e/ou cientficos, inclusive
as estratgias e hbitos que permitiro ao aluno ter escrevendo-os na lousa para torn-los mais fami-
sucesso na aprendizagem de outras disciplinas e que o liares ao jovem.
acompanharo pelo resto da vida. Durante a leitura, o objetivo verificar se as pre-
O trabalho difcil porque o aluno j tem uma dies do jovem ou adolescente estavam certas ou
histria de fracasso e no espera que haja soluo para erradas; para maior facilidade, o professor pode divi-
seu problema. Mas o problema decorre, na maioria das dir o texto em partes: vamos ler os dois primeiros
vezes, da falta de ensino de tcnicas de leitura (ningum pargrafos e ver se o ttulo se refere mesmo ao pro-
lhe ensinou para que serve o sumrio e como l-lo, por blema x a ser discutido.
exemplo) e, nesse caso, possvel reverter o quadro. Alm disso, esse o momento para demonstrar ao
Sugerimos, para o objetivo de ensinar (ou revisar) aluno a importncia da automonitorao, assim como
estratgias de leitura, a escolha de textos curtos, que o fato de que o leitor faz isso constantemente durante
possam ser trabalhados em aula dupla, de diversos gne- a leitura quando l para aprender conceitos, ou proce-
ros jornalsticos ou informativos. importante que os dimentos, identificando o trecho em que ocorre uma
assuntos sejam de interesse dos alunos, e, se possvel, dificuldade e decidindo que tcnica adotar para resol-
v-la: no entendi x no pargrafo y: continuo lendo
j faam parte da fofoca global que a mdia promove:
para ver se fica mais claro mais adiante? Releio o trecho?
conhecidos, noticiados e debatidos, polmicos. Eles
Vou reler e tentar conectar com algo que j sei...
podem trazer uma nova perspectiva para um velho
Tambm durante a leitura importante ensinar o
assunto. Ou podem ser sobre assuntos relacionados a
aluno a:
outras linguagens corporais, musicais, visuais , e se
visualizar as cenas que esto sendo descritas (tambm
houver trabalho cooperativo, interdisciplinar, com
uma atividade que o professor pode orientar por meio
outros professores da turma.
de perguntas);
Uma parte importante do ensino de estratgias
identificar trechos-chave (o professor pode deter-se
acontece antes da leitura. Em geral, o professor faz neles e fazer perguntas para ajudar a esclarec-los).
muitas perguntas depois da leitura, mesmo quando Depois da leitura, importante avaliar com a turma
h perguntas no final do captulo ou da unidade que se os objetivos estabelecidos foram alcanados e fazer
poderiam orientar o aluno no seu percurso meio perguntas que permitam aos jovens fazer conexes e
s cegas pelo texto, mas a pesquisa mostra que as comparaes; identificar as ideias principais; tirar
perguntas antes de ler o texto so mais importantes concluses; formar opinies baseadas em informaes
para a compreenso, porque ajudam o aluno a focar do texto lido, enfim, perguntas que exijam mais do
nos aspectos destacados por elas. Assim, essas per- que localizar informao no texto, ou seja, que requei-
guntas permitem: ram o uso de capacidades intelectuais superiores
ativar o conhecimento prvio sobre o assunto: o que o (raciocnio, inferncia, elaborao de relaes) e aju-
aluno j sabe?; o que leu sobre o assunto?; o que gos- dem a chegar a um entendimento mais aprofundado
taria de saber?; e crtico do texto.
analisar como o texto est estruturado: quais so os So muitos os fatores que contribuem para o decl-
ttulos e subttulos, o nome dos captulos, o que pode nio das atitudes positivas do estudante em relao
esperar lendo o sumrio (se houver); onde est a ima- leitura, medida que vai avanando na escolaridade:
gem (e a legenda que a acompanha) e qual a sua funo; livros didticos sobrecarregados de informao, a con-
como as cores so usadas e com que propsito assim cepo de leitura como trabalho, a aceitao pela esco-
como os tamanhos e tipos de letras; la e pelo aluno de que no h remdio para suas difi-
predizer o contedo fazendo uso dos elementos anali- culdades com a leitura, a falta de ensino de estratgias
sados, tanto os verbais como os no verbais; para a compreenso da escrita. Paralelamente, falta

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tempo para projetos, para a elaborao de jornais esco- A segunda contribuio do leitor pode ser consi-
lares (e incrvel a quantidade de materiais diversos derada como a compreenso da estrutura profunda
que os alunos leem quando querem ver seus textos ou dos contedos latentes do texto; tambm pode ser
publicados nesses jornais), falta tempo (e entusiasmo) constituda da captao de sentidos virtuais, ou, mais
para ler com os alunos e para eles, bem como faltam ainda, do domnio do texto como um sistema gerador
distanciamento, tolerncia e respeito para admitir que de sentidos. A compreenso dos aspectos literrios do
nem tudo o que est no currculo sagrado, e aceitar texto est unida a esta segunda compreenso. Podem-
a opinio do jovem ainda em formao se alterado -se discutir e precisar o tipo e as modalidades exatas
esse quadro, comprovadamente ser possvel vencer a dessas contribuies, mas no se pode negar que a
resistncia e a apatia do aluno em relao leitura. verdadeira compreenso e captao dos textos liter-
Texto indito. rios vo alm da determinao do que se refere sua
estrutura superficial.
O leitor independente e crtico de que estamos
falando realiza automaticamente uma srie de con-
O texto de Alliende e Condemarn tribuies ao texto. s vezes, essas contribuies
chama a ateno para determinados tipos
texto 2
no conseguem tornar significativa a estrutura
de compreenso na leitura do texto liter-
rio e trata de como o leitor mais autnomo superficial do contedo. O leitor simplesmente no
traz contribuies prprias para o texto. entende o que o autor quer dizer; extrai do texto
significados parciais e desestruturados. Outras
Como enfrentar a literatura vezes, o leitor compreende tudo o que est nele, mas
nas sries superiores continua sem entender o que o autor quer dizer;
Felipe Alliende e Mabel Condemarn nesse caso, no entende porque no sabe para onde
a estrutura superficial do texto, que no captou per-
Chega um momento em que os textos literrios so feitamente, aponta. o caso, por exemplo, de quem
enfrentados por um leitor independente e crtico, capaz ouve uma piada, entende perfeitamente tudo o que
de se meter dentro do texto (lector in fabula, diria se conta, sem ser capaz no entanto de captar em que
Eco, 1981). Esse leitor realiza dois tipos de contribui- est o humorstico.
es para o texto: No caso destes dois tipos de falta de compreenso
Primeiro: capaz de reconstruir as situaes, as e quando se quer que esta seja mais completa, neces-
demonstraes, as instrues, etc. que o texto d srio e recomendvel guiar a compreenso do leitor,
por subentendidas; como resultado desta operao, enriquecendo as suas contribuies espontneas auto-
o texto adquire unidade e sentido. mticas. Examinemos, como exemplo, uma conhecida
Segundo: aplica ao texto o conjunto de cdigos e sub- rima de Bcquer3:
cdigos que maneja, que podem ser muito diferentes Rima XXI
dos do autor, e faz o texto falar, isto , capaz de O que poesia dizes enquanto cravas
manej-lo como uma linguagem. em minha pupila tua pupila azul.
A primeira contribuio o que se costuma chamar O que poesia? E tu me perguntas?
de compreenso literal do que est dito textualmente; Poesia... s tu.
a compreenso do significado pela estrutura superfi- No vamos estudar literariamente este texto. No
cial ou aparente do texto. Essa superficialidade da com- matria deste livro. Por esse motivo, no falaremos de
preenso no implica m compreenso ou compreen- suas caractersticas mtricas, nem estilsticas, nem de
so negligente, significa compreenso parcial de um outros aspectos propriamente literrios. Simplesmente
dos elementos da estrutura textual. a compreenso tentaremos compreender o que o texto diz.
bsica que permite compreenses profundas. Parece fcil captar o que est dito textualmente.
Muitas das perguntas ou esforos pela compreenso Algum poderia dizer que evidente que um jovem se
de um texto literrio apontam para o domnio de sua dirige sua amada, que lhe pergunta o que poesia, e
estrutura superficial. So esforos necessrios e pergun- lhe diz que poesia ela. Na realidade, na interpretao
tas vlidas, mas normalmente insuficientes para captar transcrita, h uma enorme quantidade de contribuies
o texto no que tem propriamente de literrio. do leitor para determinar o textualmente dito.

3
Gustavo Adolfo Bcquer (1836-1870), poeta e escritor do Romantismo espanhol.

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O texto bastante preguioso, como diria Eco ou ter um esquema do simblico, ou dominar um
(1981). Limita-se a dar indcios. Com desinncias ver- mecanismo de traduo do concreto para o abstrato.
bais correspondentes segunda pessoa do dilogo, com Seja cdigo, esquema ou mecanismo, o leitor tem
pronomes pessoais de primeira e segunda pessoa em uma ferramenta ou instrumento que lhe permite apro-
diferentes casos e com pronomes possessivos, tambm fundar a significao da situao bsica e projet-la a
de primeira e segunda pessoa, cria dois personagens: outros mbitos.
um que fala e outro a quem se fala, um eu e um tu, Por outro lado, o fato de saber que a Rima XXI
um falante e um interlocutor. Mas no se trata de pertence obra chamada Rimas, de G. A. Bcquer, e
ningum em particular; podem ser, o mais provvel, conhecer as 85 rimas restantes e ter informao sobre
os dois namorados propostos, mas tambm pode se a poca em que foram escritas e da biografia de seu
tratar de um pai que fala com sua filha, ou de qualquer autor gera um patrimnio de conhecimentos que per-
outro casal, apaixonado ou no. No diz que h um mite compreend-la de determinado modo.
dilogo efetivo; pode-se tratar do dilogo imaginrio Em resumo: estamos dizendo que os cdigos e sub-
de algum que se lembra, ou imagina uma situao. cdigos que o leitor maneje e seu patrimnio cultural
Os falantes ou o falante no esto em nenhum lugar, so algumas das fontes que se podem apontar para
no esto sentados, nem de p, no dialogam em compreenses profundas.
nenhuma hora precisa. No entanto, utilizando todos Levando essas consideraes para o terreno prtico,
os indcios que o texto d, pode-se configurar uma podemos dar as seguintes sugestes para se conseguirem
situao mais ou menos clara com a colaborao do adequadas compreenses dos textos literrios:
leitor. Se ao primeiro personagem (ao falante) chama-
Ter conscincia de que a compreenso textual de
mos de o amante e ao segundo personagem (ao inter-
uma obra literria vai alm da captao de sua
locutor) chamamos de a amada, estamos em condi-
estrutura superficial ou contedo manifesto.
es de compreender o que diz a amada, a quem diz,
No perder de vista que, sendo importante a
o que faz quando diz e o que responde o amante. Sem
captao deste aspecto da obra literria, insu-
sairmos ainda deste tipo de textualidade, podemos
ficiente para se conseguir uma compreenso
compreender que a pergunta do amante: E tu me
adequada dela.
perguntas? reflete estranheza ao ver que a pergunta
da amada inslita ou injustificada. Levar em conta os cdigos ou esquemas que os
O leitor que termina nesse ponto o seu processo de leitores manejam e seu patrimnio cultural para a
compreenso certamente entendeu alguma coisa. seleo de obras e para determinar as exigncias de
Soube obter um determinado sentido do texto. compreenso que forem feitas a ele.
No entanto, ainda no compreendeu realmente Enriquecer o manejo de cdigos e o patrimnio
nada da rima como tal. Apenas tem uma base para cultural dos leitores para chegar a compreenses
entend-la. O sentido fundamental da rima vai alm mais profundas. Por exemplo, no ministrar his-
do que dizem, fazem e sentem os dois personagens tria literria como uma disciplina isolada, mas
do texto. como um meio de compreender melhor as obras
Algum pode entender que a estrutura superficial que se leiam. Por exemplo, ensinar aos alunos
da rima uma histria exemplar de uma conversa como, ao aplicar um cdigo geogrfico, podem
entre dois amantes que realmente aponta para uma ser descobertos muitos elementos significativos de
pergunta pela poesia, que adequadamente respon- algumas obras literrias.
dida por procedimentos poticos. Esse segundo leitor, Apelar para o patrimnio cultural e para o mane-
mais agudo que o primeiro, acha que a rima uma jo de cdigos do educador para fazer guias e pro-
proclamao de que o potico no se confunde com vas de compreenso que levem os alunos a capta-
o retrico, nem com o mtrico, nem com o que enten- rem as significaes mais profundas das obras
de o vulgo por poesia; a rima responde que a poesia literrias. [...] A propsito, convm lembrar que,
se confunde com a beleza, com a vida, em encarnaes para conseguir uma compreenso adequada, no
concretas e atrativas, ingnuas, alheias a toda consci- em absoluto necessrio recorrer a metalinguagens
ncia racional; que o modelo de toda poesia uma (terminologia lingustica ou literria) complexas;
bela mulher que inspira amor e paixo, mas no tem dentro do possvel, as categorias de anlise devem
conscincia de seu ser potico. provir dos prprios textos.
De onde esse segundo leitor tirou sua interpreta- ALLIENDE, Felipe; CONDEMARN, Mabel. A leitura: teoria, avalia-
o? Esse leitor parece manejar um cdigo simblico, o e desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2005.

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Neste captulo de seu livro, Luiz e no reflete, tambm podemos afirmar do texto que
Antnio Marcuschi expe a noo de ele refrata o mundo na medida em que o reordena e
texto com a qual trabalha, baseado no reconstri. Neste curso, vamos nos dedicar a essa enti-
que propem alguns autores: entidade
dade comunicativa que forma uma unidade de sentido
significativa, tecido estruturado; enti-
dade de comunicao e tambm arte- chamada texto. Tanto o texto oral como o escrito. Pois
fato scio-histrico. O autor parte da oralidade e escrita5 so duas modalidades discursivas,
texto 3
caracterizao da noo de texto e da igualmente relevantes e fundamentais, como ainda
lingustica de texto, perspectiva terica veremos adiante.
que adota, para discutir como se d a Aqui, enuncio brevemente a noo de texto que
produo textual, tanto escrita como oral,
vamos adotar neste curso. Ela foi desenvolvida por
considerando processos interlocutivos do
ponto de vista da enunciao.
Beaugrande (1997:10) e postula que:
O texto um evento comunicativo em que con-
Noes de texto e lingustica de texto vergem aes lingusticas, sociais e cognitivas.
Luiz Antnio Marcuschi Muitos so os aspectos que devem ser aqui tratados
Todos ns sabemos que a comunicao lingustica para dar conta dessa definio. Em resumo, ela envol-
(e a produo discursiva em geral) no se d em uni- ve tudo que necessitamos para dar conta da produo
dades isoladas, tais como fonemas, morfemas ou pala- textual na perspectiva sociodiscursiva.
vras soltas, mas sim em unidades maiores, ou seja, por A lingustica de texto (doravante LT), surgida nos
textos. E os textos so, a rigor, o nico material lin- meados dos anos 60 do sculo XX, trata hoje tanto da
gustico observvel, como lembram alguns autores. produo como da compreenso de textos orais e escri-
Isso quer dizer que h um fenmeno lingustico (de tos. Inicialmente, s se ocupava dos textos escritos e com
carter enunciativo e no meramente formal) que vai o processo de produo. Seus interesses e objetivos
alm da frase e constitui uma unidade de sentido4. O ampliaram-se muito nos anos 90. Para uma boa infor-
texto o resultado de uma ao lingustica cujas fron- mao sobre o desenvolvimento da LT nos ltimos 30
teiras so em geral definidas por seus vnculos com o anos, vejam-se os trabalhos de Marcuschi (1983),
mundo no qual ele surge e funciona. Esse fenmeno Ingedore Koch (1999) e Anna Christina Bentes (2001)6.
no apenas uma extenso da frase, mas uma entida- De um ponto de vista mais tcnico, a LT pode ser
de teoricamente nova (como j disse Charolles). Exige definida como o estudo das operaes lingusticas, dis-
explicaes que exorbitam as conhecidas anlises do cursivas e cognitivas reguladoras e controladoras da
nvel morfossinttico. produo, construo e processamento de textos escri-
O texto pode ser tido como um tecido estruturado, tos ou orais em contextos naturais de uso.
uma entidade significativa, uma entidade de comuni- A LT parte da premissa de que a lngua no funcio-
cao e um artefato scio-histrico. De certo modo, na nem se d em unidades isoladas, tais como os fone-
pode-se afirmar que o texto uma (re)construo do mas, os morfemas, as palavras ou as frases soltas. Mas
mundo e no uma simples refrao ou reflexo. Como sim em unidades de sentido chamadas texto, sejam elas
Bakhtin dizia da linguagem, que ela refrata o mundo textos orais ou escritos.

4
Quanto ao problema de se considerar o texto uma unidade de anlise ou no, podem-se consultar as observaes de Anne Reboul & Jacques
Moeschler (1998). Pragmatique de discours. De linterprtation de lnonc linterprtation du discours. Paris: Armand Colin, em especial as pp. 21-27,
em que se discute que tipo de unidade o texto. Para os autores (p. 25), existem trs tipos de unidades lingusticas: (a) unidades indivisveis (por
exemplo: fonemas); (b) unidades emergentes e compostas (por exemplo: morfemas); e (c) unidades formais que emergem pelas regras (por exem-
plo: frases). O texto no nenhuma dessas e no pode ser tido como uma unidade lingustica para esses autores. Para eles (p. 26), o DISCURSO
tem caractersticas que no se explicam pelos elementos que o compem e pelas relaes entre esses elementos. A questo muito complexa e
no pode ser aqui resolvida, no entanto, num ponto os autores tm razo. No se pode dizer que o texto seja uma unidade do tipo frase ou mor-
fema, sintagma, etc. Caso fosse assim, poderamos dar-lhe uma gramtica rigorosa de boa formao, o que no possvel em hiptese alguma.
Assim, no caso do texto, estamos diante de uma unidade processual, uma unidade semntica, um evento.
5
Sugiro cuidado com o uso da expresso escrita, que aqui est sendo empregada de maneira tcnica. Refiro-me, nesse momento, aos problemas
de ordem lingustica em sentido mais restrito. H uma expresso que hoje se tornou comum e tem um uso muito mais amplo, isto , letramento.
Com a expresso letramento tm-se em mente os usos sociais da escrita numa dada sociedade. No h um letramento apenas, mas sim um contnuo
de letramentos. mais do que o simples domnio da escrita formal. No se confunde com a alfabetizao nem com o uso da escrita apenas. Na
segunda parte deste curso, teremos oportunidade de discutir alguns aspectos a esse respeito.
6
Alm desses estudos, podem-se ler, sobre as noes de LT e texto, os estudos de Leonor Fvero & Ingedore Koch (1983) Lingustica textual. So
Paulo: Cortez. Tambm o trabalho de Irand Antunes (1999) Coeso lexical. Recife: Editora da UFPE. Recentemente, saiu sobre o mesmo tema o
trabalho de Irand Antunes (2005), Lutar com palavras Coeso e coerncia. So Paulo: Parbola Editorial.

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A motivao inicial da LT foi a certeza de que as ou simplesmente um fenmeno do funcionamento
teorias lingusticas tradicionais no davam conta de do sistema? Aqui, as posies tericas tm variado.
alguns fenmenos lingusticos que apareciam no texto. Segundo Ferdinand de Saussure (1916), por exem-
E esses fenmenos eram resumidos numa expresso plo, a frase no uma unidade da langue e sim da
quase mgica: relaes interfrsticas. Constatava-se que parole (do uso, da fala); Noam Chomsky (1965 e
certas propriedades lingusticas de uma frase s eram 1986), por sua vez, j tem na frase a unidade bsica
explicveis na sua relao com uma outra frase, o que da lngua (mas sua preocupao se volta para a com-
exigia uma teoria que fosse alm da lingustica de frase. petncia lingustica ideal e abstrata e no para a frase
S assim se explicaria a anfora, as propriedades textuais em uso). A Chomsky, como vimos, no interessa o
do artigo e tambm o problema da elipse e repetio, desempenho.
entre outros. Contudo, se no incio da LT o argumen- Assim como a lingustica terica se dedica ao estudo
to era a necessidade de desenvolver uma gramtica do sistema virtual da lngua, a lingustica de texto dedi-
transfrstica, hoje o argumento para se prosseguir no ca-se ao estudo da atualizao desse sistema em situa-
desenvolvimento de uma LT j outro. es concretas de uso. Isso faz com que alguns linguis-
Hoje no se fala mais em gramtica de texto. Essa tas situem a LT fora do estudo da lngua stricto sensu.
noo supunha que seria possvel identificar um con- Essa postura ser comum aos linguistas que seguem
junto de regras de boa formao textual, o que se sabe Saussure (1916), Bloomfield (1933), Chomsky (1965)
ser impossvel, pois o texto no uma unidade formal e muitos outros.
que pode ser definida e determinada por um conjunto A LT distingue entre sentido e contedo e no tem
de propriedades puramente componenciais e intrnse- como objetivo uma anlise de contedo, j que isso
cas. Tambm no possvel dar um conjunto de regras objeto de outras disciplinas. O contedo aquilo que
formais que possam gerar textos adequados. se diz ou descreve ou designa no mundo, mas o senti-
Imaginemos a dificuldade que teramos de propor do um efeito produzido pelo fato de se dizer de uma
regras para a produo de todos os gneros textuais; ou ou outra forma esse contedo. O sentido um efeito
ento as regras para obter efeitos de sentido especficos; do funcionamento da lngua quando os falantes esto
ou as regras para sequenciar contedos ou dar saltos situados em contextos scio-histricos e produzem
temticos, produzir digresses, etc. O projeto seria textos em condies especficas.
impossvel e invivel. Foi isso que levou os gramticos Pelo fato de o texto ativar estratgias, expectativas,
do texto a desistir da ideia. A teoria textual muito conhecimentos lingusticos e no lingusticos, a LT
mais uma heurstica do que um conjunto de regras assume importncia decisiva no ensino de lngua e na
especficas enunciadas de modo explcito e claro. montagem de manuais que buscam estudar textos. Ela
Dizer que os critrios definidores das propriedades deve prestar um servio fundamental na elaborao de
de um texto so heursticos equivale a propor que exerccios de produo e compreenso de textos (cf.
sejam indicativos e sugestivos para permitir a produ- mais alguns elementos a este respeito no trabalho de
o e a compreenso, mas no regras rgidas e formais Graa Costa Val, 2000).
como condies necessrias e suficientes para a boa De uma maneira geral, as diversas vertentes da LT
formao textual. hoje aceitam as seguintes posies:
A LT, abordada em sentido estrito, algo bem diver- A LT uma perspectiva de trabalho que observa o
so da anlise literria; tambm diferente da retrica e funcionamento da lngua em uso e no in vitro. Trata-
da estilstica, embora evidencie parentescos com ambas. -se de uma perspectiva orientada por dados autnticos
Configura uma linha de investigao interdisciplinar e no pela introspeco, mas, apesar disso, sua preocu-
dentro da lingustica e como tal exige mtodos e cate- pao no descritivista.
gorias de vrias procedncias. Hoje a perspectiva que A LT se funda numa concepo de lngua em que a
vem fornecendo a base terica mais usada no estudo preocupao maior recai nos processos (sociocogniti-
da lngua em sala de aula. Mas no se pode imaginar vos) e no no produto.
que haja apenas uma LT. A LT no se dedica ao estudo das propriedades gerais
A questo qual devemos responder : como e onde da lngua, como o faz a lingustica clssica, que se dedi-
situar o texto nos estudos lingusticos, j que as defi- ca aos subdomnios estveis do sistema, tais como a
nies de texto no fazem aluso a nenhum dos nveis fonologia, a morfologia e a sintaxe, reduzindo assim o
lingusticos de anlise? O texto est no nvel do sistema campo de anlise e descrio.

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A LT dedica-se a domnios mais flutuantes ou din- Trata-se de um estudo em que se privilegia a variada
micos, como observa Beaugrande (1997), tais como produo e suas contextualizaes na vida diria.
a concatenao de enunciados, a produo de sen- Hoje em dia, no faz muito sentido discutir se o
tido, a pragmtica, os processos de compreenso, texto uma unidade da langue (do sistema da lngua)
as operaes cognitivas, a diferena entre os gne- ou da parole (do uso da lngua). Trata-se de uma uni-
ros textuais, a insero da linguagem em contextos, dade comunicativa (um evento) e de uma unidade de
o aspecto social e o funcionamento discursivo da sentido realizada tanto no nvel do uso como no nvel
lngua. Trata-se de uma lingustica da enunciao do sistema. Tanto o sistema como o uso tm suas fun-
em oposio a uma lingustica do enunciado ou do es essenciais na produo textual. Mas, de qualquer
significante. modo, o texto no uma unidade formal da lngua
A LT tem como ponto central de suas preocupaes como, por exemplo, o fonema, o morfema, a palavra,
atuais as relaes dinmicas entre a teoria e a prtica, o sintagma e a frase.
entre o processamento e o uso do texto. provvel que certos aspectos formais da lngua
No h dvida de que a LT se situa nos domnios tenham influncia na sequenciao dos enunciados,
da lingustica e lida com fatos da lngua, alm de con- assim como certas propriedades comunicativas exercem
siderar a sociedade em que essa lngua se situa. A LT presses discursivas sobre o texto. Contudo, no h
opera com fatos mais amplos que a lingustica tradi- uma regra que diz qual o contedo que deve necessa-
cional. Contudo, quando se faz uma anlise textual, riamente se seguir a outro determinado contedo numa
deve-se ter em mente que os aspectos estritamente sequncia textual. O que determina a sequncia uma
lingusticos, tais como a fonologia, a morfologia, a relao muito complexa e no h regras fixas para isso.
sintaxe e a semntica, so imprescindveis para a esta- Conhecemos algumas sequncias chamadas pares
bilidade textual. adjacentes na conversao, tais como pergunta-respos-
O que se postula enfaticamente na LT que a lngua ta ou afirmao-comentrio, entre outros. Essas
no tem autonomia sinttica, semntica e cognitiva. O sequncias so comandadas por relaes de relevncia.
texto no simplesmente um artefato lingustico, mas Mas nem tudo se comporta dessa forma nas sequn-
um evento que ocorre na forma de linguagem inserida cias textuais.
em contextos comunicativos. Assim, poderamos con- O que se pode afirmar com certa segurana que
cluir estas observaes preliminares com a posio sis- a sequncia dos enunciados num texto no pode ser alea-
temtica de que: a lingustica de texto uma perspectiva tria do ponto de vista lingustico, discursivo ou cognitivo.
de trabalho com a lngua que recusa a noo de autono- Isto equivale a dizer que, se, por um lado, as operaes
mia da lngua. tipicamente lingusticas como a sintaxe, a morfologia
Metodologicamente, lidamos, na LT, com um e a fonologia so imprescindveis e inevitveis, a an-
domnio emprico (isto : o funcionamento efetivo da lise textual no deve parar nesses aspectos, pois at eles
lngua) e no formal. Assim, a LT uma perspectiva mesmos podem ser comandados por orientaes dis-
de trabalho orientada por dados autnticos, empricos cursivas, como no caso de muitas anforas e at mesmo
e extrados do desempenho real. No uma anlise de de certas concordncias sintticas.
observaes introspectivas. importante determinar- O texto acha-se construdo na perspectiva da enun-
mos com certa preciso este domnio, j que no se ciao. E os processos enunciativos no so simples
trata de uma panaceia geral, mas de um estudo con- nem obedecem a regras fixas. Na viso que aqui se
trolado. Seu tema abrange: est propondo, denominada sociointerativa, um dos
(a) coeso superficial (nvel dos constituintes lin- aspectos centrais no processo interlocutivo a relao
gusticos); dos indivduos entre si e com a situao discursiva.
(b) coerncia conceitual (nvel semntico, cognitivo, Esses aspectos vo exigir dos falantes e escritores que
intersubjetivo e funcional); se preocupem em articular conjuntamente seus textos
(c) sistema de pressuposies (implicaes no nvel ou ento que tenham em mente seus interlocutores
pragmtico da produo de sentido no plano das aes quando escrevem.
e intenes). Usando de uma imagem diria que, do ponto de
Em suma: o trabalho com a lngua portuguesa, na vista sociointerativo, produzir um texto assemelha-
perspectiva de uma LT, teria de se ocupar com algo -se a jogar um jogo. Antes de um jogo, temos um
mais do que o ensino e aprendizagem de regras ou conjunto de regras (que podem ser elsticas como no
normas de boa formao de sequncias lingusticas. futebol ou rgidas como no xadrez), um espao de

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manobra (a quadra, o campo, o tabuleiro, a mesa) e leva a se fazer selees lexicais diversas e nveis de for-
uma srie de atores (os jogadores), cada qual com malidade distintos7.
seus papis e funes (que podem ser bastante vari- Muitas indagaes surgem nesse contexto. Entre
veis, se for um futebol, um basquete, um xadrez, elas esto:
etc.). Mas o jogo s se d no decorrer do jogo. Para Quais so os princpios mais gerais que permitem
que o jogo ocorra, todos devem colaborar. Se so dois a produo de e o acesso a sentidos?
times (como no futebol) ou dois indivduos (como Qual o papel das relaes entre os atores sociais
no xadrez e na conversao dialogal), cada um ter envolvidos nos processos de enunciao e na ativi-
sua posio particular. Embora cada qual queira ven- dade de interlocuo ao produzirem textos?
cer, todos devem jogar o mesmo jogo, pois, do
Pode-se afirmar que cada texto teria de realizar uma
contrrio, no haver jogo algum. Para que um vena, estrutura bsica inevitvel?
devem ser respeitadas as mesmas regras. No adianta
reunir dois times num campo e um querer jogar vlei
Caso todos os textos devessem oferecer uma estru-
tura bsica, os gneros textuais teriam algum papel
e outro querer basquete. Ambos devem jogar ou bas-
importante na determinao dessa estrutura?
quete ou vlei. Assim se d com os textos. Produtores
e receptores de texto (ouvinte/leitor falante/escri- Em que medida as intenes, os propsitos, os obje-
tor) todos devem colaborar para um mesmo fim e tivos, etc. influenciam na determinao da sequn-
dentro de um conjunto de normas iguais. Os falan- cia dos enunciados?
tes/escritores da lngua, ao produzirem textos, esto Em que medida aspectos como nvel de linguagem,
enunciando contedos e sugerindo sentidos que devem grau de formalidade/informalidade, etc. tm um
ser construdos, inferidos, determinados mutuamen- papel decisivo na produo textual?
te. A produo textual, assim como um jogo cole- Os dois modos de enunciao fala e escrita tm
tivo, no uma atividade unilateral. Envolve deci- algum papel decisivo na produo textual a ponto
ses conjuntas. Isso caracteriza de maneira bastante de exigirem estratgias de textualizao totalmente
essencial a produo textual como uma atividade diversas?
sociointerativa. Essa avalanche de questes serve apenas para expres-
Embora imagens e metforas sejam heuristicamen- sar a complexidade do problema em foco. No se deve
te adequadas para dar uma viso plasticamente rica e ter a iluso de que vamos responder a todas as indaga-
clara, necessrio, num passo posterior, enfrentar as es. Algumas j esto respondidas acima e outras o
questes tericas e prticas. E aqui comea o nosso sero a seguir. Algumas ficaro para o futuro. No
problema: sabemos que para se produzir um texto deve- momento, vou me ater ao seguinte problema geral:
-se seguir algumas normas, mesmo que no sejam regras quais so os nossos sistemas de controle da produo tex-
rgidas. Sabemos que no se pode enunciar de qualquer tual? O que observar? A que dar importncia?
modo os contedos, j que isso no favoreceria a com- A primeira deciso terica importante nesse
preenso pretendida. Tambm sabemos que deve haver momento deve ser esta: os conhecidos princpios da
pelo menos uma noo clara de quanto se deve dizer e textualidade (formulados por Beaugrande & Dressler,
de quanto se pode deixar de dizer, isto , sabemos que 1981) no podem ser tomados como equivalentes a
os textos so desenhados para interlocutores definidos regras de boa formao textual.
e para situaes nas quais supomos que os textos devem O mais certo, mas ao mesmo tempo pouco til,
estar inseridos. admitir que o texto se d como um ato de comunicao
Um dos problemas constatados nas redaes esco- unificado num complexo universo de aes humanas
lares precisamente este: no se define com preciso a interativas e colaborativas.
quem o aluno se dirige. A cena textual no fica clara. Refinando essa viso podemos, com Beaugrande
Ele no tem um outro (o auditrio) bem determinado (1997), dizer que:
e assim tem dificuldade de operar com a linguagem e O texto um sistema atualizado de escolhas extrado
escreve tudo para o mesmo interlocutor, que o pro- de sistemas virtuais entre os quais a lngua o sistema
fessor. E ns sabemos que a mudana de interlocutor mais importante.

7
De grande proveito nesse contexto so as observaes trazidas por Irand Antunes (2003), Aula de portugus: encontro e interao. So Paulo:
Parbola. Para a autora, toda escrita uma atividade interativa e isso implica sempre duas ou mais pessoas em interao real ou simulada.

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A questo neste caso : como se do as relaes entre no lingusticos no seu processamento (imagem, msi-
os sistemas virtuais (sistemas lingusticos) e o sistema ca) e o texto se torna em geral multimodal.
atualizado e representado pelo texto?8 3. O texto um evento interativo e no se d como um
Uma resposta a essa questo deve orientar-se para artefato monolgico e solitrio, sendo sempre um pro-
as relaes entre a teoria e os dados, o geral e o espec- cesso e uma coproduo (coautorias em vrios nveis).
fico, o abstrato e o concreto, o social e o individual, o 4. O texto compe-se de elementos que so multifuncionais
conhecimento e a ao, a regra e a estratgia, o mental sob vrios aspectos, tais como: um som, uma palavra,
e o comportamental e assim por diante. No para uma significao, uma instruo, etc. e deve ser pro-
endossar a dicotomia, mas, sobretudo, para evit-la. cessado com esta multifuncionalidade.
No momento, vou me dedicar a alguns aspectos dessa No ltimo ponto, h uma questo interessante apon-
questo e no a todos eles. tada por Beaugrande (1997:11). Todos ns aprendemos
Quando um falante ou um escritor se pe a usar a a lngua em condies nicas na infncia, no contato
lngua (produzir textos), ele pode fazer escolhas diver- direto e primeiro com a me, com a famlia, o ambien-
sas a partir do sistema virtual da lngua, mas tem que se te direto, nosso meio, na escola, etc. e em condies
decidir por uma escolha. Assim, como lembrado por
relativamente restritas. Como se explica ento que, em
Beaugrande (1997), a liberdade virtual passa a ser uma
qualquer situao em que nos encontremos (mesmo as
obrigao real na hora da produo. Se observarmos a
que no vivemos ainda diretamente um dia), consegui-
facilidade e a rapidez com que nos desempenhamos
mos obter tanto consenso sobre o que dizemos, ou seja,
quando produzimos nossos textos no dia a dia, pode-
conseguimos nos entender de maneira to admirvel?
mos nos indagar se o fazemos como uma deciso cons-
Para Beaugrande (1977:11), a resposta est no
ciente e deliberada ou se isso flui dentro da situao
seguinte:
normal em que estamos inseridos.
As pessoas usam e partilham a lngua to bem pre-
Basta observar como produzimos com facilidade
cisamente porque ela um sistema em constante inte-
uma enormidade de gneros textuais orais com as mais
rao com seus conhecimentos partilhados sobre o seu
diversas formas organizacionais sem titubear e sem
planejar o que vamos fazer. mundo e sua sociedade.
Baseados nisso, podemos chegar definio de texto nessa ideia bsica que se funda a essncia de nosso
de Beaugrande (1997:10), j lembrada anteriormente, tema propriamente, pois ela aponta para o estudo das
que assim se expressa: condies sociocomunicativas identificadas nos pro-
essencial tomar o texto como um evento comu- cessos sociointerativos.
nicativo no qual convergem aes lingusticas, cogni- Na operao com a lngua, lidamos mais do que
tivas e sociais. com um simples uso de regras, sejam elas de sequen-
Essa definio, no dizer de Beaugrande, sugere que ciao ou outras quaisquer. O que aqui est em ao
o texto no uma simples sequncia de palavras escri- um conjunto de sistemas ou subsistemas que permitem
tas ou faladas, mas um evento. Tal definio envolve s pessoas interagir por escrito ou pela fala, escolhendo
uma enorme riqueza de aspectos, o que torna difcil e especificando sentidos mediante a linguagem que
sua explanao completa. Em essncia, podemos frisar usam. Em suma: todos temos uma competncia tex-
as seguintes implicaes diretas dessa posio: tual-discursiva relativamente bem desenvolvida e no
1. O texto visto como um sistema de conexes entre vrios h o que ensinar propriamente. Nosso papel neste
elementos, tais como: sons, palavras, enunciados, signi- momento compreender como isso funciona e como
ficaes, participantes, contextos, aes, etc. podemos fazer com que funcione ainda melhor.
2. O texto construdo numa orientao de multissiste- MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros e
mas, ou seja, envolve tanto aspectos lingusticos como compreenso. 2. ed. So Paulo: Parbola Editorial, 2008.

8
No h uma oposio dicotmica entre real e virtual, pois ambos so realidades. Cada qual a seu modo: uma a realidade virtual (realidade do
sistema) e outra a realidade concreta (realidade emprica). No h nada de paradoxal nessa formulao, pois a oposio se d entre virtual e
concreto e no entre virtual e real. O texto que voc est lendo agora, no seu monitor, acha-se num ambiente virtual, mas ele real, existe a seu
modo. Tanto assim que voc pode ler. Isto quer dizer que todo texto uma atualizao ou realizao do sistema lingustico. Por outro lado, quan-
do falamos em sistema e dizemos que ele virtual, isso no o mesmo que falar na virtualidade do texto no seu vdeo. Ou seja: quando dizemos
que um sistema um fenmeno virtual e como tal abstrato e independente das circunstncias de uso, tal como o sistema lingustico, falamos num
construto terico. Quando dizemos que o texto no seu vdeo virtual, falamos numa forma tpica de realizao que no se manifesta na concre-
tude do texto impresso e que tem vrias maneiras de ser operado, por exemplo, o hipertexto.

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O texto a seguir, escrito por pesquisa- Para a audincia, mas tambm e sobretudo para
dores suos como Joaquim Dolz e Bernard aquele(a) que a prepara e apresenta, a exposio forne-
Schneuwly, apresenta uma caracterizao ce um instrumento para aprender contedos diversifi-
texto 4
bastante completa e importante para a
cados, mas estruturados graas ao enquadramento
utilizao em sala de aula do gnero expo-
viabilizado pelo gnero textual. A explorao de fontes
sio oral, o conhecido seminrio.
diversificadas de informao, a seleo das informaes
A exposio oral 9 em funo do tema e da finalidade visada e a elabora-
Joaquim Dolz o de um esquema destinado a sustentar a apresenta-
Bernard Schneuwly o oral constituem um primeiro nvel de interveno
Jean-Franois de Pietro didtica, ligado ao contedo.
Gabrielle Zahnd10 Do ponto de vista comunicativo, a exposio per-
Parece-nos evidente que a exposio deva ser tratada mite construir e exercer o papel de especialista, con-
como objeto de ensino de expresso oral: fazer uma dio indispensvel para que a prpria ideia de trans-
exposio ou, segundo a terminologia frequentemen- mitir um conhecimento a um auditrio tenha sentido.
te utilizada na escola, um seminrio representa uma das Esse gnero caracteriza-se tambm por seu carter bas-
raras atividades orais que so praticadas com muita fre- tante monologal (Roulet et al. 1985) e, por isso, neces-
quncia nas salas de aula, nas aulas de francs, mas tam- sita, por parte do expositor, um trabalho importante e
bm nas de cincias, histria, etc. Uma pesquisa feita com complexo de planejamento, de antecipao e de consi-
derao do auditrio. A interveno didtica no traba-
os professores de 6a srie da Sua francfona (Nidegger
lho sobre a exposio deve, portanto, levar em conta as
1994; De Pietro e Wirthner no prelo) mostra, por exem-
dimenses comunicativas que lhe so prprias e que
plo, que 51% deles recorrem a seminrios frequentemen-
visam transmisso de um saber a um auditrio, mas
te, ou muito frequentemente, e que a exposio oral
tambm questes ligadas ao contedo, alm, claro, de
figura como a quinta entre as 21 atividades propostas no
aspectos mais tcnicos, como procedimentos lingusti-
questionrio, precedida somente pelas atividades de lei-
cos e discursivos caractersticos desse gnero oral.
tura em voz alta (70%), compreenso oral de narrativa
(68%) e compreenso de instrues e de manuais de O MODELO DIDTICO DA ExPOSIO ORAL
utilizao (65%). Alm disso, a exposio a atividade Caractersticas gerais do gnero
mais frequentemente mencionada por esses mesmos pro- A exposio um discurso que se realiza numa situa-
fessores, quando se lhes pergunta, dentre as atividades o de comunicao especfica que poderamos chamar
propostas, as trs que lhes parecem mais teis para desen- de bipolar, reunindo o orador ou expositor e seu audi-
volver o domnio da oralidade. trio. Assim, a exposio pode ser qualificada, segundo
Entretanto, se a exposio vem de uma longa tra- Bronckart et al. (1985), como um espao-tempo de
dio e constantemente praticada, muitssimas vezes produo no qual o enunciador se dirige ao destinat-
isso se d sem que um verdadeiro trabalho didtico rio por meio de uma ao de linguagem que veicula
tenha sido efetuado, sem que a construo da lingua- um contedo referencial. Mas, se esses dois atores se
gem expositiva seja objeto de atividades de sala de aula, encontram reunidos nessa troca comunicativa particu-
sem que estratgias concretas de interveno e proce- lar que a exposio, a assimetria de seus respectivos
dimentos explcitos de avaliao sejam adotados. Desse conhecimentos sobre o tema da exposio os separa:
ponto de vista, a exposio permanece como uma ati- um, por definio, representa um especialista; o outro
vidade bastante tradicional, na qual, para qualquer tipo mais difcil de caracterizar, mas, pelo menos, apre-
de pedagogia, vm-se expor diante da classe as aquisi- senta-se como algum disposto a aprender alguma
es anteriores dos alunos e mesmo seus dons , quan- coisa. Logo, o enunciador, por meio de seu discurso,
do no, meramente, a ajuda dos pais no momento da tende a reduzir a assimetria inicial de conhecimentos.
preparao... Ao longo de sua ao de linguagem, este leva em conta
A exposio representa, no entanto, um instrumen- o destinatrio, o que imagina que ele j saiba, suas
to privilegiado de transmisso de diversos contedos. expectativas e seu interesse.

9
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; DE PIETRO, J.-F.; ZAHND, G. (1998). Lexpos oral. In: DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Pour un enseignement de Ioral: Inicia-
tion aux genres formels Icole. Paris: ESF diteur. pp. 141-162. [N.T.]
10
Jean-Franois de Pietro e Gabrielle Zahnd so membros pesquisadores e docentes do Grupo Graf, equipe de pesquisa do Departamento de Did-
tica do Francs Lngua Materna da Universidade de Genebra. [N.T.]

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As definies dos dicionrios permitem distinguir claramente para si as diferenas de conhecimentos que
melhor, para fins didticos, a exposio de outros gne- os separam de seu auditrio.
ros que lhe so aparentados: da comunicao em con- O papel do expositor-especialista o de transmitir
gresso, que apresentada diante de uma comunidade um contedo, ou, dito de outra forma, de informar,
acadmica; do relatrio11, em que primordial a ideia de esclarecer, de modificar os conhecimentos dos
de lista, de relato, de narrativas; e, sobretudo, da con- ouvintes nas melhores condies possveis, procurando
ferncia ou do discurso12, nos quais, se a temtica a diminuir, assim, a assimetria inicial de conhecimentos
mesma, a dimenso pblica representacional ou ritu- que distingue os dois atores desse contexto de comu-
al, diria Goffman (1987) impe-se. Quanto expli- nicao. Para faz-lo, o expositor deve, primeiramente,
cao, esta representa claramente, segundo o Le construir uma problemtica, levando em conta aquilo
Robert13, uma dimenso mais local de um desenvol- que os ouvintes j sabem sobre o tema abordado, assim
vimento destinado a fazer compreender algo, que, de como suas expectativas em relao a esse tema. Deve,
certa maneira, faz parte da exposio. igualmente, ao longo de sua exposio, avaliar a novi-
Finalmente, podemos, pois, definir a exposio oral dade, a dificuldade daquilo que expe permanecen-
como um gnero textual pblico, relativamente formal do atento aos sinais que lhe so enviados pelo audit-
e especfico, no qual um expositor especialista se dirige rio , e, na medida do necessrio, dizer de outra manei-
a um auditrio, de maneira (explicitamente) estrutu- ra, formular, definir. Por fim, ele deve ter uma ideia
rada, para transmitir-lhe informaes, descrever-lhe ou clara das concluses s quais quer levar seu auditrio.
explicar-lhe alguma coisa. Na perspectiva do ensino, Mais concretamente, para assegurar um bom domnio
em que se trata de construir um objeto ensinvel, sobre da situao, o aluno-orador deve aprender a fazer per-
essas caractersticas que nos apoiaremos para definir os guntas a fim de estimular a ateno dos ouvintes e de
objetivos e elaborar modalidades de interveno. verificar se a finalidade de sua interveno est sendo
atingida, se todo mundo entende. Para assegurar uma
As dimenses ensinveis
boa transmisso de seu discurso, deve, igualmente,
A situao de comunicao A exposio oral em tomar conscincia das condies que a garantem: da
sala de aula rene o aluno que produz uma exposio elocuo clara e distinta explicitao de aspectos
e um pblico alunos aos quais ele se dirige , reuni- metadiscursivos da exposio (plano, mudanas de
do para ouvi-lo, aprender algo sobre um tema, adqui- tema, de partes, etc.), passando pela legibilidade e per-
rir ou enriquecer seu conhecimento. A sinalizao dos tinncia dos documentos auxiliares utilizados.
elementos dessa situao de comunicao ser percep- A organizao interna da exposio Embora a expo-
tvel por meio de diferentes marcas diticas, como os sio se inscreva, como vimos, num quadro interacio-
pronomes pessoais eu/ns e vocs (hoje, eu vou falar a nal, seu planejamento , em princpio, monogerado,
vocs sobre, etc.), por exemplo. A exposio constitui, isto , gerenciado somente pelo expositor. Dito de outra
de fato, uma estrutura bastante convencionalizada de forma, esse gnero nos d uma ocasio privilegiada para
aprendizagem tanto para o expositor como para o trabalhar as capacidades de planejamento de um texto
auditrio , na qual um aluno, de certa maneira, toma (relativamente) longo.
o lugar do professor e experimenta esse mecanismo O planejamento de uma exposio exige, primei-
particular e bem conhecido, expresso no dito ensi- ramente, que se proceda a uma triagem das informaes
nando que se aprende. Por isso, a exposio tambm disponveis, reorganizao dos elementos retidos e,
lugar de conscientizao de seu prprio comportamen- por fim, sua hierarquizao, distinguindo ideias prin-
to, o que fora o expositor a interrogar-se sobre a orga- cipais de secundrias, com a finalidade de garantir uma
nizao e a transmissibilidade do conhecimento. Para progresso temtica clara e coerente em funo da con-
atingir esse objetivo, necessrio construir com os cluso visada. Essas primeiras operaes, que precedem
alunos a noo de especialista14, que funda a situao o planejamento textual propriamente dito, devem ser
da exposio, pois, em geral, os alunos no representam objeto de um trabalho em sala de aula, para que as
11
Compte rendu, no original, que, nos dicionrios bilngues, tem por traduo relato, relatrio, ata, prestao de contas. [N.T.]
12
Ou da palestra. [N.T.]
13
Dicionrio da lngua francesa. No Aurlio, figuram justificao, esclarecimento. [N.T.]
14
[Em francs, expert N.T.] De certa maneira, sobretudo quando o tema de uma exposio decidido pelo professor, o aluno no realmente um
especialista; ele se torna. Alis, interessante constatar que nos documentos orais de referncia sobre os quais nos apoiamos para delimitar o
comportamento dos especialistas, notamos que estes se sentiam frequentemente obrigados, na abertura de suas exposies, seja a justificar seu
status de especialistas, seja a relativiz-Io. Entretanto, no retivemos essa dimenso como objeto de ensino, pois nos parecia necessrio construir
primeiramente o papel de especialista, antes de coloc-Io em questo

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exposies dos alunos no se reduzam a uma sequncia e) Uma fase de recapitulao e sntese, importante no
de fragmentos temticos sem ligao entre si. Operaes s porque permite retomar os principais pontos da
tais como a pesquisa de elementos pertinentes num exposio, como tambm porque constitui uma fase
texto-fonte, sua hierarquizao e sua organizao de transio entre a exposio propriamente dita e as
podem ser objeto de atividades individuais ou em duas etapas de concluso.
grupo, com correo coletiva para toda a classe. f ) A concluso, que transmite uma mensagem final,
Em seguida, a exposio dever ser ordenada em mas que pode tambm submeter aos ouvintes um
partes e subpartes, que permitam distinguir as fases problema novo, desencadeado pela exposio, ou,
sucessivas de sua construo interna. Numa perspecti- ainda, dar incio a um debate, etc.
va de ensino, podem-se distinguir as seguintes partes: g) O encerramento. A exposio encerra-se numa ltima
a) Uma fase de abertura, na qual o expositor toma etapa que , de certa maneira, simtrica abertura, com-
contato com o auditrio, sada-o, legitima sua fala... portando, frequentemente, agradecimentos ao auditrio.
, de fato, o momento em que o expositor institu- Esta ltima fase, tambm bastante ritualizada, caracteri-
do como tal, em que ele se define como um especia- za-se, alm disso, por sua configurao interacional, dife-
lista que se dirige a um auditrio, e em que este rente da que se tem no corpo da exposio, pois nela
tambm institudo como tal. Essa atividade bas- intervm muitas vezes a pessoa mediadora, o pblico, etc.
tante ritualizada. Segundo as circunstncias, ela exige Pode-se notar tambm que uma exposio igual-
um trabalho de figurao mais ou menos importan- mente estruturada atravs de uma alternncia entre
te (Goffman 1974 e 1987). Muitas vezes, alis, ela discurso e apresentao de documentos diversificados.
em parte assegurada por uma terceira pessoa que Essa alternncia, quando frequente e sistemtica, pode
serve de mediadora entre os atores principais. No tambm servir de trama exposio e, ento, ser anun-
contexto escolar, provavelmente em razo do carter ciada no plano.
evidente ou imposto das tarefas e dos papis, esta fase As caractersticas lingusticas O trabalho didtico
reduz-se, com frequncia, a uma interpelao por sobre o gnero exposio deve fornecer ao aluno um
parte do professor (Antnio, venha para a frente da repertrio de formas que permitam (e necessitem)
turma...). lamentvel a pouca ateno dispensada construir operaes lingusticas (mais ou menos) espe-
a esta fase, pois ela desempenha uma funo impor- cficas a esse gnero de texto. No caso da exposio,
tante na definio da situao, dos papis e das fina- trata-se das seguintes operaes, concernentes aos prin-
lidades da exposio que se seguir. cipais elementos do sistema textual da exposio:
b) Uma fase de introduo ao tema, um momento de Coeso temtica, que assegura a articulao das dife-
entrada no discurso. Trata-se de uma etapa de apre- rentes partes temticas (ento / falemos agora da ali-
sentao, de delimitao do assunto, que, alm disso, mentao do castor [...]; / ento, a esta dinmica da
fornece ao orador a oportunidade de legitimar as diversificao / preciso agora opor uma dinmica
razes de suas escolhas, do ponto de vista adotado, contrria que a dinmica / unificadora [...]; ento,
de suas motivaes, etc. Esse primeiro contato do chegamos ao captulo histrico importante da codi-
expositor com o pblico deve tambm mobilizar a ficao do francs central [...]).
ateno, o interesse ou a curiosidade dos ouvintes. Sinalizao do texto, que distingue, no interior das
c) A apresentao do plano da exposio. Para alm de sries temticas, as ideias principais das ideias secun-
uma simples enumerao de ideias ou de subtemas, drias (... sobretudo... ); as explicaes das descries
esta fase cumpre uma funo metadiscursiva que torna (ento esses elementos isolados / os sons, as formas, as
transparentes, explcitas, tanto para o auditrio como significaes, ns chamamos de traos / ento quando
para o expositor, as operaes de planejamento em uma lngua muda / evidente que todos os traos no
jogo. Sua eficcia dupla, esclarecendo, ao mesmo podem mudar ao mesmo tempo / por qu? Porque a
tempo, sobre o produto (um texto planejado) e sobre comunicao precisa ser preservada / podemos mudar
o procedimento (o planejamento). um pequeno elemento / isso no muda nada na com-
d) O desenvolvimento e o encadeamento dos diferentes preenso mas se mudamos tudo ao mesmo tempo tem
temas (cujo nmero deve corresponder ao que foi uma ruptura / que preciso evitar ento a mudana
anunciado no plano). lingustica extremamente lenta / e imperceptvel 15);

15
As etapas da explicao se apresentam assim:
a) questo: evidente que todos os traos no podem mudar ao mesmo tempo / por qu?
b) resposta geral: porque a comunicao precisa ser preservada.
c) resposta desenvolvida (em forma de reformulao): podemos mudar um pequeno elemento / isso no muda nada na compreenso, mas se
mudamos tudo ao mesmo tempo tem uma ruptura / que preciso evitar.
d) concluso, que uma retomada de a, mas de uma forma mais geral: ento a mudana lingustica extremamente lenta / e imperceptvel.

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os desenvolvimentos das concluses resumidas e das palavras-chave, a partir das quais o orador desenvolver
snteses (portanto, o castor ento o dia inteiro constri, um texto em grande parte improvisado.
conserta, fecha os diques, vigia os nveis da gua, pro- Goffman (1987, p. 178), tratando da conferncia,
cura alimento, em resumo, ele tem seus dias bastante distingue trs maneiras principais de dar vida s pala-
ocupados [...], bom, agora eu gostaria de resumir em vras pronunciadas: a memorizao, a leitura em voz
duas palavras ns vimos, ento, que...). O domnio alta (...) e a fala espontnea. Considerando, natural-
dessas operaes depende bastante do uso de mar- mente, que a palavra espontnea constitui, sem dvida,
cadores de estruturao do discurso (ento, portan- o ideal geral, s vezes realizado (mas, frequentemen-
to, sobretudo, etc.); de organizadores temporais te, com a ajuda de notas), o autor conclui entretanto
(ento, no momento, etc.); e dos tempos verbais (por que o ponto decisivo para esta relao de dar vida
exemplo, futuro na apresentao do plano da expo- palavra pronunciada que um nmero grande de con-
sio: ento, ao longo desta conferncia, falarei pri- ferncias repousa sobre a iluso da palavra espontnea
meiramente da descrio deste animal eu farei uma (p. 179), precisando, algumas pginas adiante, que:
descrio / como veremos, farei uma descrio em escrever um texto em prosa falada e depois l-lo de
seguida; futuros perifrstico e imperativo, frequen- maneira proficiente , pois, gerar a impresso de algo
temente empregados para marcar as fases da expo- como a fala espontnea (p. 199).
sio: ento, falemos agora de...; ento, passemos agora Ento, ser necessrio ler de maneira proficiente,
a...; bom, agora, para terminar, vamos falar de...; criando a iluso de uma fala espontnea? Ou falar
ento, tomemos a diversidade das lnguas [...]). espontaneamente, com a ajuda de uma folha de
Introduo de exemplos (explicativos ou ilustrativos), notas como nico apoio? Nada nos permite decidir...
para ilustrar, esclarecer ou legitimar o discurso; para se forem somente objetivos didticos que pretendemos
assegurar a boa recepo do discurso pelo destinatrio atingir. De fato, os trs modos de produo mencio-
(Coltier 1988): ento, justamente, eu tenho o seguinte nados por Goffman, todos eles, devem ser trabalhados
exemplo de... na perspectiva de um ensino coerente da oralidade,
Reformulaes (em forma de parfrases ou de defi- mas, evidentemente, em oportunidades diferentes; a
nies), a fim de esclarecer termos percebidos como representao teatral e a poesia aparecem naturalmen-
difceis ou novos: / um arcasmo, o que ? / / uma te como lugares privilegiados para um trabalho de
palavra ainda viva entre ns, embora / em francs memorizao; ao mesmo tempo, os gneros calcados
esteja fora de moda. sobretudo numa construo coletiva interativa
De maneira geral, a exposio exige um bom dom- suscitam a fala espontnea. Com finalidades didticas,
nio da estruturao de um texto longo e da explicitao reinterpretamos e foramos a oposio entre leitura
das mudanas de nveis do texto. O plano, ou esquema, em voz alta e fala espontnea, em relao ao que
de uma exposio merece, assim, uma ateno particu- observamos, tendencialmente, nos orais de refern-
lar: longe de ser somente um suporte auxiliar organiza- cia. A oposio recobre a que existe entre a confern-
do pelo expositor, ele faz parte do modelo didtico do cia, em que a prpria formulao e os efeitos de estilo
gnero e deve ser objeto de uma construo refletida, adquirem uma importncia incrementada pelas cir-
apoiada na observao das prticas sociais de referncia cunstncias enunciativas que a caracterizam, e a expo-
e nos conhecimentos prticos dos alunos. Sobre este sio, que constituiria, ento, uma oportunidade pri-
ltimo aspecto do esquema, a dificuldade, entretanto, vilegiada de exerccio do discurso monologal de uma
provm do fato de que muitos tipos de suportes so certa extenso no redigido.
possveis e de que sabemos quase nada a respeito do que Consequentemente, pensamos que seria didatica-
condiciona/influencia a passagem destes realizao oral mente razovel levar os alunos a construir exposies
da exposio. Com efeito, o suporte pode comportar o no para serem lidas, mas que se apoiem bastante em
prprio texto da exposio, eventualmente completado suportes escritos diversificados: anotaes, grficos,
por instrues prosdicas (entonao, pausas, etc.), e dar citaes, etc., assim como em esquemas baseados em
lugar, ento, a uma leitura, mais ou menos proficiente, palavras-chave, alguns marcadores de estruturao
s vezes entrecortada por um comentrio, um caso16; no que permitam ao orador lembrar-se explicitamente
outro extremo, embora todas as solues intermedirias do estatuto que atribui a essas palavras-chave em seu
sejam possveis, o esquema pode resumir-se a algumas planejamento. No entanto, algumas passagens parti-

16
Entretanto, esse tipo de suporte nos parece mais caracterstico dos gneros assemelhados exposio, que so o discurso e a conferncia pblicos.

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cularmente importantes em termos de contedo O texto a seguir trata da importncia
(enunciado de uma tese, etc.) ou de estrutura (enun- de apresentar os contedos em uma lin-
ciados-chave como a abertura, a introduo da con- guagem j dominada pelos alunos: a digi-
texto 5
tal. Para isso, prope que os educadores,
cluso, etc.) poderiam ser redigidas e lidas.
em sua maioria, imigrantes digitais, incor-
A oralizao da exposio comporta tambm porem essa inovao.
diversas caractersticas que fazem parte integrante do
modelo didtico e devem ser objeto de um trabalho Materiais didticos digitais
em sala de aula. Globalmente, a oralizao deve, em Ismar Frango Silveira
primeiro lugar, favorecer uma boa compreenso do Coordenador da CEIE Comisso Especial de Informtica na
texto: falar alto e dis-tin-ta-men-te, nem muito rpido, Educao
SBC Sociedade Brasileira de Computao
nem muito lentamente, gerenciar as pausas para
permitir a assimilao do texto, etc. Mas a oralizao Desde tempos remotos, o ser humano tem se
participa tambm da retrica textual: captar a ateno defrontado com a necessidade de criar ferramentas
da audincia, variando a voz; gerenciar o suspense; com propsitos diversos, sendo o principal deles, pos-
seduzir, etc. E a oralizao contribui tambm para a sivelmente, o de facilitar a sua vida. Os computadores,
estruturao da exposio, particularmente quando a essas valiosas ferramentas do nosso tempo, to presen-
voz marca uma mudana de nvel textual: passagem do tes e necessrios no nosso dia a dia, no parecem ter
texto ao paratexto; introduo de um exemplo, etc. a mesma presena no cotidiano das escolas, apesar de
claro que [...] a oralizao inclui a gestualidade, a todo o seu potencial.
cinestsica, a proxmica: um certo gesto que ilustra o Sabemos que as escolas brasileiras enfrentam muitos
propsito, como uma postura que cria a conivncia; a problemas, para cuja resoluo a ao do professor
mo que escande as partes, etc. fundamental. E isso se aplica tambm ao uso efetivo
Objetivos gerais de um trabalho didtico sobre a de computadores no ensino. No se trata de ns, pro-
exposio Tendo por base o modelo didtico assim fessores, ensinarmos nossos alunos a usar os computa-
definido, podemos agora precisar, num nvel mais dores, a navegar na internet ou a usar aplicativos
global, os principais objetivos que permitem o acesso como editores de texto ou planilhas. Isso eles j sabem
a um domnio da exposio oral, da seguinte maneira: (melhor que ns, geralmente) ou podem aprender de
tomada de conscincia da situao de comunicao maneira autnoma, sem a nossa ajuda. Lembremos que
de uma exposio; de sua dimenso comunicativa nossos alunos so o que se convencionou chamar de
que leva em conta a finalidade, o destinatrio, etc.; nativos digitais crianas e adolescentes que nasceram
em um mundo imerso em tecnologia.
explorao das fontes de informao; utilizao de
documentos (tais como: grficos, transparncias, Mesmo que por condies sociais, geogrficas ou
gravaes); culturais esses alunos no tenham pleno acesso a com-
putadores e internet em suas casas, o mundo no qual
estruturao de uma exposio; hierarquizao das
eles vivem propicia uma srie de oportunidades para
ideias e elaborao de um plano segundo estratgias
que tenham contato com a tecnologia e para que esta
discursivas;
venha a fazer parte de suas vidas, como aconteceu com
desenvolvimento das capacidades de exemplifica- o rdio e a TV para outras geraes. Grande parte de
o, ilustrao e explicao;
ns, professores, pertence ao grupo que se denomina
antecipao das dificuldades de compreenso e uso da imigrantes digitais nascemos em uma poca em que
reformulao (em forma de parfrase ou de definio);
os computadores no eram onipresentes e tivemos con-
desenvolvimento da competncia metadiscursiva e, tato com essas tecnologias depois do nosso processo de
em particular, das capacidades de explicitar a estru- letramento. De maneira similar a pessoas que imigram
turao da exposio (solicitada, por exemplo, no para outro pas, podemos at dominar a linguagem
momento da apresentao do plano, da concluso); do mundo digital, mas, para ns, ela no nativa.
de marcar as mudanas de nvel (texto/paratexto, E o que esperam os nativos digitais de ns, imigran-
por exemplo) e de etapas no discurso; tes digitais, como seus professores? Na verdade, o que
tomada de conscincia da importncia da voz, do sempre esperaram: que os ensinemos dentro de nossas
olhar, da atitude corporal; reas de conhecimento, mas preferencialmente na lin-
preparao e oralizao das notas. guagem que lhes familiar. E de que maneira podemos
SCHNEUWLY, Bernard (Org.). Gneros orais e escritos na nos comunicar nessa linguagem que no familiar e
escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. por vezes, nem mesmo amigvel para muitos de ns?

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Uma questo que logo nos vem mente : para que Softwares educacionais: so programas de compu-
fazer isso? Por que razes utilizar computadores em sala tador feitos especificamente para fins educacionais.
de aula? Podemos listar algumas das (muitas) razes: Em sua maioria, necessitam de instalao nos com-
Motivao: o uso de computadores em si no putadores (o que no ou no deveria ser exata-
garante uma motivao maior dos alunos. Esse uso mente um problema), mas muitos so planejados
deve ser cuidadosamente planejado e estar em sin- para utilizao sob orientao do professor, visando
cronia com as demais atividades da disciplina. Em um resultado de aprendizagem mais efetivo. Um
outras palavras, levar os alunos para a sala de com- exemplo gratuito desses softwares o GeoGebra (para
putadores para atividades genricas, sem foco, como aprendizagem de Matemtica; <www.geogebra.org>).
fazer pesquisas na internet, costuma ter pouca ou Objetos de aprendizagem: na prtica, correspondem
nenhuma eficcia. Entretanto, o uso de computa- a todo e qualquer elemento digital que possa ser usado
dores com objetivos bem claros e diretamente asso- e reutilizado em situaes de aprendizagem de um
ciados aos tpicos do plano de ensino tende a ser texto em PDF ou um conjunto de slides a um simula-
uma atividade motivadora e com um bom potencial dor virtual, incluindo nessa definio tambm anima-
de impacto no aprendizado dos alunos. es, vdeos, jogos digitais e outros tipos de recursos.
Novas possibilidades de experimentos: h muitos Apesar de vrios desses objetos serem encontrados de
casos de atividades que requerem recursos especfi- maneira simples por meio de buscadores da internet,
cos (como laboratrios de experimentos), ou que existem repositrios deles, que fornecem mais infor-
trazem algum tipo de risco ( o caso de algumas maes (chamadas metadados) sobre cada um, como
atividades de Qumica e Biologia, por exemplo) e autores, pblico-alvo, sugestes de uso, etc. Em mbi-
que poderiam ser realizadas com simuladores vir- to nacional, o MEC mantm o Banco Internacional
tuais, com segurana e sem custo. H ainda ativi-
de Objetos Educacionais (BIOE; <http://objetosedu-
dades que no poderiam ser executadas em condi-
cacionais2.mec.gov.br>), vasto repositrio com grande
es normais, para as quais distintas ferramentas
variedade de objetos de aprendizagem.
computacionais podem ser usadas.
Recursos educacionais abertos: seguem a mesma
Aprendizagem autnoma: os alunos podem desen- linha dos objetos de aprendizagem, com a ressalva
volver atividades fora do horrio de aula com as
de que os elementos, alm de utilizados e reutiliza-
ferramentas aprendidas com o professor, ou mesmo
dos, podem tambm ser modificados e adaptados
outras ferramentas buscadas e encontradas por eles
na internet. livremente. O site <http://rea.net.br> traz uma srie
Dessa maneira, os recursos digitais trazem um con- de informaes a respeito.
junto de novas possibilidades ao professor por propor- Porm, que tipos de computadores so necessrios
cionar situaes didticas diferenciadas, que, de outro para trabalhar com esses elementos? Muitos deles
modo, no poderiam ser implementadas em sala de aula. encontram-se disponveis para uma variedade de dis-
Tais recursos no vm substituir o material didtico tra- positivos, desde computadores desktop (de mesa) e
dicional: muito pelo contrrio, sua funo comple- notebooks, a at mesmo tablets e smartphones. J alguns
mentar o material j comumente utilizado pelo profes- softwares educativos apresentam algumas exigncias
sor, ampliando as possibilidades do fazer docente. tcnicas para instalao (tipo especfico de sistema ope-
E que recursos existem para ser usados? H vrios racional, quantidade mnima de memria no compu-
tipos de recursos, cada um com uma srie de possibi- tador, etc.), enquanto alguns objetos de aprendizagem
lidades didticas. O Ministrio da Educao entende necessitam que determinados plugins (programas adi-
por recursos digitais vdeos, imagens, udios, textos, cionais) estejam instalados.
grficos, tabelas, tutoriais, aplicaes, mapas, jogos Equipamentos e programas, entretanto, nada mais
educacionais, animaes, infogrficos, pginas web e so do que ferramentas. E, como foi dito no incio deste
outros elementos. Eles podem ser assim classificados: texto, ferramentas so criadas com o intuito de facilitar
Livros digitais ou e-books: so verses digitais de o nosso dia a dia. Assim, mais importantes que as fer-
livros em papel, ou de obras completas pensadas ramentas, so as pessoas que iro utiliz-las: os profes-
para o formato digital. Podem ser estticos (como sores dispostos a ressignificar o seu papel como forma-
os livros em papel, contm textos e imagens) ou dores de cidados plenamente aptos a tirar proveito das
dinmicos (podem incluir vdeos, animaes, simu- tecnologias de nosso tempo; e os alunos, que podero
laes ou qualquer outro contedo dito multimdia manej-los como veculos de informao, interao
ou seja, que agrega vrias mdias, ou formas de social, entretenimento e aprimoramento intelectual.
representao da informao). Texto indito.

30 MAnuAL do ProfeSSor

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Parte especfica
Orientaes complementares

primeiro lugar, o conhecimento das caractersticas da


UNiDADE 2 TEcENDO literatura modernista, da concepo literria por trs
cONvERSAS das escolhas temticas e estilsticas de seus autores
mais representativos; em segundo, a competncia lei-
captulo de Lngua e produo de tora necessria para identificar as principais informa-
texto Entrevista es do texto e relacion-las s alternativas.
A alternativa a est incorreta porque, segundo a fala
interpretao de texto 1 de Paulo Honrio, Gondim mexeu no estilo de escrita do
Atividade 7 (pgina 64) narrador, tornando-o artificial, distante da expresso real
da oralidade. Para Gondim a escrita literria deve ter par-
Comentrio: Resolva a questo com os alunos. Ela ticularidades que a afastem da fala. Essa opinio acerca
deve ser pretexto para a discusso da necessidade de da literatura est distante da concepo literria moder-
uma leitura crtica e reflexiva. Em geral, o leitor mais nista, como atestam os estudos realizados at agora.
desatento levado a aceitar como expresso da verda- A alternativa b est incorreta, uma vez que atribui
de uma frase como A populao brasileira deseja a apenas um autor (Graciliano Ramos) uma concepo
muito o luxo e, a menos que o autor argumente a literria que caracteriza a produo da maioria dos
favor de sua afirmao, o contedo pode se tornar autores modernistas (se no todos).
frgil e facilmente refutvel, por no contemplar a tota-
Caractersticas da prosa da segunda fase do Mo-
lidade dos indivduos que pertencem ao grupo citado.
dernismo como uma possvel busca, tanto temtica,
Resposta: Exigiriam maior empatia do leitor a genera- como lingustica, daquilo que pudesse ser considerado
lizao e a avaliao de comportamento. Por serem o
expresso verdadeira de um estilo de fala, de compor-
registro da opinio do filsofo, no, necessariamente, a
tamento, etc. so observadas na construo da
expresso de uma verdade irrefutvel (talvez nem toda a
personagem Paulo, que percebe a distncia entre a
populao pobre brasileira deseje o luxo, talvez nem todas
fala natural e espontnea e o estilo afetado proposto
as pessoas que esto na rede social citada pelo filsofo
por Gondim. A alternativa c, portanto, est incorreta.
estejam espera da aprovao dos outros). Assim, para
A alternativa d est incorreta porque a discusso entre
evitar controvrsias, o leitor deveria identificar nas prprias
Gondim e Paulo, nesse trecho, sobre uma questo de
experincias algo que pudesse confirmar essas afirmaes
estilo de escrita: trata-se, como j foi dito, da diferena
ou concluir, por si s, que, ao se referir populao pobre
brasileira ou aos usurios da referida rede social, o filsofo entre reproduzir a fala tal qual ela e submeter essa
estava tratando no de todas as pessoas desse grupo, mas mesma fala a adaptaes que a aproximem das caracte-
de uma parte representativa dele. rsticas da lngua escrita, da forma como ela compreen-
dida por Gondim.

UNiDADE 3 OUTRA vOz:


A vOz DO OUTRO UNiDADE 4 DO cOTiDiANO
AO ExTRAORDiNRiO
captulo de Literatura
captulo de Lngua e produo de
Texto e contexto texto A crnica
Atividade 4 (pgina 172)
conhecimentos lingusticos
Comentrio: Ao corrigir essa questo, identifique
com os alunos as habilidades e os conhecimentos que Atividade (pgina 186)
deveriam ser mobilizados para a sua resoluo: em O texto 1 pontuado, conforme original:

MANUAL DO PROFESSOR 31

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Do rapto de noivas ao casamento por Procure a publicao Cadernos do CNLF, srie VIII,
o
amor n 3. Uma vida sem pontuao, de Eder Parladore.
Disponvel em: <http://www.folhadaregiao.com.br/
Homens e mulheres juntam os trapos pelos mais jornal/2000/12/17/caderno2.php>. Acesso em: 21 mar.
diferentes motivos 2013.
Casamentos por sequestro eram comuns na Pr-
-Histria e vigoraram at o incio da era crist, em
locais como a Grcia, Roma e norte da Europa.
UNiDADE 5 PONTOS DE
Quando um homem via uma mulher que desejava,
geralmente de uma tribo vizinha, ele a tomava viSTA
fora. Para raptar a noiva, ele requisitava ajuda de
um amigo guerreiro, afirma Diane Ackerman no captulo de Lngua e produo de
livro Uma histria natural do amor. O mito de fun- texto O artigo de opinio
dao de Roma fala sobre um dos mais famosos epi-
sdios do gnero: o rapto das sabinas. Segundo a Para comear
lenda, aps a fundao de Roma, em 753 a.C.,
Atividade (pgina 227)
Rmulo decidiu povoar a cidade e, para isso, man-
dou raptar as jovens do povo vizinho, os sabinos. Comentrio: Se na sua escola houver laboratrio
de informtica com computadores conectados
Revoltados, eles resolveram revidar. Mas era tarde
internet, marque uma aula com antecedncia nesse
demais: as moas j haviam se enamorado dos roma-
espao. O currculo que ser desenvolvido na seo
nos e, graas interveno delas, assinaram um tra- Para comear poder ser feito pelos alunos no com-
tado de paz. Na Roma antiga, o casamento foi ins- putador. Antes disso, porm, proponha uma reflexo
titudo como forma de garantir uma linhagem leg- coletiva sobre a escolha da profisso por meio da
tima. Havia dois tipos de casamento: o com manus seguinte atividade:
e o sem manus. No primeiro, o matrimnio supunha
Cada aluno responder a um ou mais testes
a transmisso da autoridade paternal ao marido, que vocacionais interativos, disponveis na inter-
se tornava o tutor da mulher. No segundo, no havia net.
transmisso da autoridade paternal e a mulher, assim
como o homem, podia pedir o divrcio. Em ambos Enquanto estiver respondendo s questes do
teste, o aluno dever copiar (no caderno ou no
os casos, o casamento no envolvia o Estado, trata-
prprio computador) pelo menos uma questo
va-se de uma cerimnia privada sem juiz de paz ou ou alternativa que chame sua ateno, seja por-
papis a serem assinados. O noivo oferecia um anel que se identificou muito com a caracterstica
noiva, que o usava no mesmo dedo dos dias de indicada, seja porque no se identificou em
hoje. Os convidados jogavam sementes no casal, nada com ela.
smbolo da fertilidade. Rituais bastante familiares
Depois de terminado o teste, os alunos conver-
para ns, j que muitos desses costumes pagos saro a respeito das questes que chamaram
foram incorporados pelo casamento cristo e se man- sua ateno e dos resultados obtidos. impor-
tm at hoje. tante que, durante essa conversa, fique claro
Revista Aventuras na Histria, maio 2006. que a aplicao do teste vocacional foi apenas
uma forma mais ldica e despretensiosa de pro-
Atividade 2, item b (pgina 186) mover uma reflexo sobre a escolha da profis-
Sugestes de leituras sobre pontuao que podem so, j que esse tipo de teste mais generali-
ser encontradas na internet: zante. Comente ainda que esses testes costu-
O ensino de pontuao em uma perspectiva tex- mam permitir a associao de caractersticas
tual, de Maria Luci de Mesquita Prestes. Disponvel pessoais a atitudes esperadas em determinadas
em: <www.filologia.org.br>. Acesso em: 21 mar. profisses, indicando caminhos possveis, mas
2013. no nicos e definitivos.

32 MANUAL DO PROFESSOR

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interpretao do Texto 2

Atividade 6 (pgina 233)

Como a informao
Informao importante
Pargrafo retomada no pargrafo Recurso empregado
enunciada no pargrafo
seguinte

5o No Amazonas foram construdas Transformar a floresta equatorial Referncia a uma informao


casas em uma regio desmatada. em deserto ou pasto [...] recupera a apresentada no pargrafo anterior.
informao de que foram construdas
casas em regio desmatada.
(6o pargrafo)

6o Mas no apenas na Amaznia O modelo Cingapura [...] mostra a Exemplificao de uma informao
que isso acontece. J vi conjuntos falncia de certo tipo de projeto de apresentada no pargrafo anterior.
habitacionais construdos em reas habitao social [...].
devastadas na periferia de cidades (7o pargrafo)
do Paran e de So Paulo [...].

7o A riqueza do Brasil no se traduz Prope a reparao de uma injustia Recuperao do tema.


em moradia digna para sua histrica com a garantia de moradia
populao. humana para sua populao.
(8o pargrafo)

rigidas em classe. Esperamos que um trabalho de


UNiDADE 6 TEMAS E prtica, leitura, reviso e escrita possa contribuir na
cENAS formao de um aluno seguro para ler e para escre-
ver textos.

captulo de Lngua e produo de


texto A dissertao Proposta 1 Fuvest 2006
Texto 1
Produo de texto
O trabalho no uma essncia atemporal do
Atividade 1 (pgina 279) homem. Ele uma inveno histrica e, como
tal, pode ser transformado e mesmo desaparecer.
Julgamos que apresentar propostas de vestibu-
Adaptado de A. Simes.
lares no corpo do livro no seria uma metodologia
ideal para o ensino do processo de escrita. Todavia,
Texto 2
medida que o aluno exercita a habilidade de escre-
H algumas dcadas, pensava-se que o pro-
ver, importante que temas j apresentados pelas
universidades mais reconhecidas sejam propostos
gresso tcnico e o aumento da capacidade de
para a classe. Pensamos que, ao longo do terceiro produo permitiriam que o trabalho ficasse
ano, propostas da Fuvest ou da Unicamp devam ser razoavelmente fora de moda e a humanidade
trabalhadas. Reiteramos apenas a importncia de tivesse mais tempo para si mesma. Na verdade,
essas produes serem apresentadas aps as ativi- o que se passa hoje que uma parte da huma-
dades de escrita sugeridas. nidade est se matando de tanto trabalhar,
A seguir selecionamos quatro propostas dos enquanto a outra parte est morrendo por falta
melhores vestibulares. Sugerimos que, paralelamen- de emprego.
te a elas, sejam trabalhadas as atividades de produ- M. A. Marques

o apresentadas no livro, a serem realizadas e cor-

MANUAL DO PROFESSOR 33

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Texto 3 X) de um anncio publicitrio real, colhido em uma
revista publicada no ano de 2012.
Como toda mensagem, esse anncio, formado
pela relao entre imagem e texto, carrega pres-
supostos e implicaes: se o observarmos bem,
veremos que ele expressa uma determinada men-
talidade, projeta uma dada viso de mundo, mani-
festa uma certa escolha de valores e assim por
diante.

O trabalho de arte um processo. Resulta de


uma vida. Em 1501, Michelangelo retorna de via-
gem a Florena e concentra seu trabalho artstico
em um grande bloco de mrmore abandonado.
Quatro anos mais tarde fica pronta a escultura
Redija uma dissertao em prosa, na qual voc
David. interprete e discuta a mensagem contida nesse
Adaptado de site da Internet.
anncio, considerando os aspectos mencionados
no pargrafo anterior e, se quiser, tambm outros
Os trs textos anteriores apresentam diferentes
aspectos que julgue relevantes. Procure argumen-
vises de trabalho. O primeiro procura conceituar
tar de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre
essa atividade e prever seu futuro. O segundo trata
o assunto.
de suas condies no mundo contemporneo e o
Instrues:
ltimo, ilustrado pela famosa escultura de
Michelangelo, refere-se ao trabalho de artista. A redao deve obedecer norma-padro
da lngua portuguesa.
Relacione esses trs textos e com base nas ideias
neles contidas, alm de outras que julgue relevan- Escreva, no mnimo, 20 e, no mximo, 30
linhas, com letra legvel.
tes, redija uma DISSERTAO EM PROSA, argu-
mentando sobre o que leu e tambm sobre os D um ttulo a sua redao.
outros pontos que voc tenha considerado perti- Disponvel em: <www.fuvest.br/vest2013/provas/fuv2013.2fase.
nentes. dia1.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.

Disponvel em:
<www.fuvest.br/vest2006/provas/2fase/por/por2f.pdf>.
Acesso em: 22 abr. 2013. Proposta 3 Unicamp 2006
ORIENTAO GERAL: LEIA ATENTAMENTE
Proposta:
Proposta 2 Fuvest 2013 Escolha uma das trs propostas para a redao
Esta a reproduo (aqui, sem as marcas nor- (dissertao, narrao ou carta) e assinale sua
mais dos anunciantes, que foram substitudas por escolha no alto da pgina de resposta. Cada pro-

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posta faz um recorte do tema geral da prova incentivando a produo de automveis e cami-
(MEIOS DE TRANSPORTE), que deve ser trabalha- nhes com capitais privados, especialmente estran-
do de acordo com as instrues especficas. geiros. Estes foram atrados ao Brasil graas s faci-
Coletnea: lidades concedidas e graas tambm s potenciali-
um conjunto de textos de natureza diversa dades do mercado brasileiro. (...) Vista em termos
que serve de subsdio para sua redao. Sugerimos numricos e de organizao empresarial, a instalao
que voc leia toda a coletnea e selecione os ele- da indstria automobilstica representou um ineg-
mentos que julgar pertinentes para a realizao vel xito. Porm, ela se enquadrou no propsito de
da proposta escolhida. Um bom aproveitamento criar uma civilizao do automvel em detrimen-
da coletnea no significa referncia a todos os to da ampliao de meios de transporte coletivo para
textos. Esperamos, isso sim, que os elementos sele- a grande massa. (...) Como as ferrovias foram, na
cionados sejam articulados com a sua experin- prtica, abandonadas, o Brasil se tornou cada vez
cia de leitura e reflexo. mais dependente da extenso e conservao das
ATENO: a coletnea nica e vlida para rodovias e do uso dos derivados de petrleo na rea
as trs propostas. de transportes. (...) No governo Mdici, o projeto
ATENO: sua redao ser anulada se voc da rodovia Transamaznica representou um bom
fugir ao recorte temtico da proposta escolhida; exemplo do esprito do capitalismo selvagem. Foi
e/ou desconsiderar a coletnea; e/ou no atender construda para assegurar o controle brasileiro da
ao tipo de texto da proposta escolhida. regio um eterno fantasma na tica dos militares
e para assentar em agrovilas trabalhadores nor-
APRESENTAO DA COLETNEA
destinos. Aps provocar muita destruio e engordar
Em uma poca em que quase tudo tende a
as empreiteiras, a obra resultou em um fracasso.
circular de modo virtual, pessoas e mercadorias
Adaptado de Boris Fausto, Histria concisa
continuam a se deslocar fisicamente de um lugar do Brasil. So Paulo: Edusp/Imprensa
Oficial do Estado, 2002. p. 269-270.
para outro. Por isso, importante refletir sobre os
meios de transporte que possibilitam esse deslo- 3)
camento.
1)
Governar construir estradas. (Washington
Lus)

2)
Em funo do caf, aparelharam-se portos, cria-
ram-se novos mecanismos de crdito, empregos,
revolucionaram-se os transportes. (...) Era preciso 4)
superar os inconvenientes resultantes dos caminhos O agronegcio o setor mais afetado pela pre-
precrios, das cargas em lombo de burro que enca- cariedade da infraestrutura de transporte no pas.
reciam custos e dificultavam o fluxo adequado dos Isso porque o surto de desenvolvimento das lavou-
produtos. Por volta de 1850, a economia cafeeira ras comercialmente mais rentveis se deu nas cha-
do vale do Paraba chegou ao auge. O problema do madas fronteiras agrcolas, no corao do pas, em
transporte foi em grande parte solucionado com a regies distantes da costa. Como o cultivo chegou
construo da Estrada de Ferro D. Pedro II, mais antes do asfalto, a maior parte da produo cruza
tarde denominada Central do Brasil. As maiores o pas chacoalhando em caminhes. No trajeto
iniciativas de construo de estradas de ferro decor- para a costa, nas estradas malconservadas, a trepi-
reram da necessidade de melhorar as condies de dao do veculo faz com que uma quantidade
transporte das principais mercadorias de exportao equivalente a cerca de 3% de toda a safra se extra-
para os portos mais importantes do pas. (...) O vie, calcula Paulo Tarso Resende, da Fundace. O
governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) ficou uso de hidrovias reduziria o desperdcio, mas faltam
associado instalao da indstria automobilstica, investimentos, diz ele. Perda de igual escala ocor-

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re no porto, com multas e atrasos no translado para 7)
os navios, pois as instalaes so deficientes, faltam Para Cristina Bodini, presidente da comisso
contineres e as embarcaes tm de esperar em de trnsito da Associao Nacional de Transportes
filas at conseguir vaga para atracar. Pblicos (ANTP), os acidentes como o que
Adaptado de Juliana Garon, aconteceu ontem com um nibus da prefeitura de
Precariedade afeta mais o agronegcio,
em: <www.agrfeis.unesp.br>, 13 fev. 2005. Itatinga que transportava estudantes universitrios
5) geralmente so causados porque muitos vecu-
O avio los so obsoletos. (...) Segundo Lus Carlos
Franchini, gerente de fiscalizao da Agncia
Sou mais ligeiro que um carro,
Reguladora de Transportes do Estado de So Paulo
Corro bem mais que um navio.
(ARTESP), os veculos de transporte de estudantes
Sou o passarinho maior
so obrigados a passar por uma vistoria a cada seis
Que at hoje voc na sua vida j viu.
meses.
Voo l por cima das nuvens No entanto, o nibus acidentado pertencia
Onde o azul muda de tom. prefeitura de Itatinga, e por isso a ARTESP no
E se eu quiser ultrapasso fcil vistoriava esse veculo. Por se tratar de um carro
A barreira do som. oficial, a prefeitura que deve proporcionar um
agente fiscalizador, disse Franchini. De acordo
Minha barriga foi feita
com o Departamento de Estradas de Rodagem de
Pra muita gente levar.
So Paulo (DER) e a Polcia Rodoviria Estadual,
Trago pessoas de frias
no possvel saber quantos acidentes envolvendo
E homens que vm e que vo trabalhar.
veculos escolares acontecem atualmente nas estra-
(...)
das de So Paulo. O motivo que os carros envol-
Se voc me v l no alto
vidos em acidentes no so separados por categoria.
Voando na imensido,
Segundo o DER, entre janeiro e junho de 2005,
Eu fico to pequenininho
houve 35.141 acidentes nas estradas paulistas, que
Que caibo na palma da mo.
provocaram 18.527 vtimas, das quais, 1.175 fatais.
Toquinho. CD Pra gente mida II,
Mercury Records, 1993. Pablo Lpez Guelli, Veculos obsoletos causam
acidente. Folha de S.Paulo, 17 set. 2005, p. C5.
6)
Chegamos ao territrio do trem-fantasma. Sua 8)
permanncia to viva no imaginrio popular que Paralelamente ao processo de privatizao das
j virou atrativo obrigatrio nos parques de diver- vias terrestres, o Governo criou a Agncia Nacional
ses. O aspecto ldico dessa representao est pro- de Transporte Terrestre (ANTT). Essa Agncia
fundamente inscrito no inconsciente coletivo da regulamenta os transportes rodovirio, ferrovirio
sociedade industrial. O trenzinho de madeira ou e dutovirio (gases, leos e minrios). Dentre suas
eltrico um dos brinquedos mais persistentes, atividades, esto o acompanhamento e fiscalizao
um dos meios de transporte mais acessveis ao dos contratos das concessionrias; o controle do
mundo encantado da infncia. E no tm sido pou- transporte fretado (de passageiros e de cargas), de
cas as imagens literrias, pictricas ou fotocinema- multas rodovirias, de registro de transporte de
togrficas que identificam a locomotiva com o ani- cargas, de excesso de peso, de vale-pedgio; o com-
mal antediluviano. Esta mquina incrvel que j bate ao transporte clandestino, e o estabelecimen-
significou o fio condutor das mudanas revolucio- to de regulamentos e procedimentos de execuo
nrias passada, agora, para trs. expulsa do ter- de obras e servios. A seguir, trecho da entrevista
reno da histria. Dinossauro resfolegante e inclassi- do diretor-geral da ANTT, Jos Alexandre Nogueira
ficvel, a locomotiva est condenada a vagar incon- de Resende:
tinnti pelos campos e redutos aflitos da solido. A ANTT criou canais de comunicao com
Francisco Foot Hardman. Trem fantasma: os usurios atravs de 0800, internet e uma
a modernidade na selva. So Paulo:
Companhia das Letras, 1988. p. 39. Ouvidoria. Como tem sido essa experincia?

36 MANUAL DO PROFESSOR

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Recebemos contribuies do Brasil inteiro. brinquedo ou jogo representativo de um
Atualmente, so mais de 1500 por dia, que servem meio de transporte.
de apoio nossa fiscalizao. So denncias, quei- 2) Narre a origem do encanto pelo brinquedo
xas, sugestes, e at mesmo crticas com relao e o significado (positivo ou negativo) que
atuao da prpria agncia. As agncias regulado- esse encanto teve na vida adulta do(a) per-
ras se caracterizam pelo processo de transparncia. sonagem.
As decises so tomadas atravs de audincias 3) Sua histria pode ser narrada em primeira
pblicas. A importncia do registro nacional do ou terceira pessoa.
transportador rodovirio de cargas ficou clara com Proposta C
essas contribuies que esto chegando, e h anos Com o auxlio de elementos presentes na cole-
no era dada ateno a esse assunto. No transpor- tnea, trabalhe sua carta a partir do seguinte recor-
te de passageiros temos recebido mais contribuies te temtico:
e isso nos levou a uma srie de audincias para A atuao da sociedade civil, por meio de movi-
discutir a nova regulamentao do transporte de mentos sociais ou aes individuais, fundamen-
fretamento. tal para a gesto dos meios de transporte. Um
Adaptado de: <www.estradas.com.br>, 19 set. 2005. estmulo para essa atuao so os canais de comu-
nicao direta com os usurios, criados por agn-
Proposta A
cias reguladoras de transporte.
Com o auxlio de elementos presentes na cole-
Instrues:
tnea, trabalhe sua dissertao a partir do seguin-
1) Selecione um problema relativo segurana
te recorte temtico:
nas estradas.
Diferentes so os meios de transporte, assim
2) Argumente no sentido de demonstrar como
como as polticas adotadas pelo Estado para via-
esse problema afeta os usurios das rodovias.
biliz-los. O Estado pode atuar de forma mais
direta, por meio de financiamentos, concesses, 3) Dirija sua carta a uma agncia reguladora de
isenes e privilgios fiscais, ou apenas exercer um rodovias, apresentando uma reivindicao.
papel regulador dos diversos setores envolvidos. ATENO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS
APENAS, DE FORMA A NO SE IDENTIFICAR.
Instrues:
1) Discuta que meio(s) de transporte deve(m) Disponvel em: <www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2007/

ser priorizado(s) para atender s necessida- download/comentadas/1fase.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.

des da realidade brasileira atual.


2) Trabalhe seus argumentos no sentido de
explicitar como esse(s) meio(s) pode(m) ser Proposta 4 Unicamp 2007
viabilizado(s) e qual poderia ser o papel do ORIENTAO GERAL: LEIA ATENTAMENTE
Estado nesse processo.
O tema geral da prova da primeira fase
3) Explore tais argumentos de modo a justificar AGRICULTURA. A redao prope trs recortes
seu ponto de vista. desse tema.
Proposta B Propostas:
Com o auxlio de elementos presentes na cole- Cada proposta apresenta um recorte tem-
tnea, trabalhe sua narrativa a partir do seguinte tico a ser trabalhado de acordo com as instru-
recorte temtico: es especficas. Escolha uma das trs propostas
Os meios de transporte sempre alimentaram o para a redao (dissertao, narrao ou carta)
imaginrio das pessoas em todas as fases da vida. e assinale sua escolha no alto da pgina de res-
Desde a infncia, os brinquedos e jogos exprimem posta.
e estimulam esse imaginrio.
Coletnea:
Instrues: A coletnea nica e vlida para as trs pro-
1) Imagine a histria de um(a) personagem postas. Leia toda a coletnea e selecione o que
que, na infncia, era fascinado(a) por um julgar pertinente para a realizao da proposta

MANUAL DO PROFESSOR 37

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escolhida. Articule os elementos selecionados com Em usinas escuras,
sua experincia de leitura e reflexo. O uso da homens de vida amarga
coletnea obrigatrio. e dura
produziram este acar
ATENO: Sua redao ser anulada se voc
branco e puro
fugir ao recorte temtico da proposta escolhida
com que adoo meu caf esta manh em
ou desconsiderar a coletnea ou no atender ao
[Ipanema.
tipo de texto da proposta escolhida.
Ferreira Gullar, Dentro da noite veloz.
Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1975. p. 44-45.
Apresentao da coletnea
2)
A produo agrcola afeta relaes de trabalho,
Se eu pudesse alguma coisa com Deus, lhe
o uso da terra, o comrcio, a pesquisa tecnolgica,
o meio ambiente. rogaria quisesse dar muita geada anualmente nas
terras de serra acima, onde se faz o acar; por-
Refletir sobre a agricultura significa colocar em
questo o prprio modo de configurao de uma que a cultura da cana tem sido muito prejudicial
sociedade. aos povos: 1o) porque tem abandonado ou dimi-
1) nudo a cultura do milho e do feijo e a criao
O acar dos porcos; estes gneros tm encarecido, assim
como a cultura de trigo, e do algodo e azeite de
O branco acar que adoar meu caf
nesta manh de Ipanema mamona; 2o) porque tem introduzido muita
no foi produzido por mim escravatura, o que empobrece os lavradores, cor-
nem surgiu dentro do aucareiro por milagre. rompe os costumes e leva ao desprezo pelo tra-
balho de enxada; 3o) porque tem devastado as
Vejo-o puro belas matas e reduzido a taperas muitas herdades;
e afvel ao paladar 4o) porque rouba muitos braos agricultura,
como beijo de moa, gua que se empregam no carreto dos africanos; 5o)
na pele, flor porque exige grande nmero de bestas muares
que se dissolve na boca. Mas este acar que no procriam e que consomem muito milho;
no foi feito por mim. 6o) porque diminuiria a feitura da cachaa, que
to prejudicial do moral e fsico dos moradores
Este acar veio do campo.
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Adaptado de Jos Bonifcio de
[Oliveira, Andrada e Silva [1763-1838]. Projetos para o Brasil.
So Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 181-182.
dono da mercearia.
Este acar veio 3)
de uma usina de acar em Pernambuco Uma parceria entre rgos pblicos e iniciati-
ou no Estado do Rio va privada prev o fornecimento de oleaginosas
e tampouco o fez o dono da usina. produzidas em assentamentos rurais paulistas para
a fabricao de biodiesel. De um lado, a parceria
Este acar era cana proporcionar aos assentados uma nova fonte de
e veio dos canaviais extensos renda. De outro, facilitar o cumprimento da
que no nascem por acaso
exigncia do programa nacional de biodiesel que
no regao do vale.
estabelece que, no Estado de So Paulo, 30% das
Em lugares distantes, onde no h hospital nem
oleaginosas para a produo de biodiesel sejam
[escola,
provenientes da agricultura familiar, para que as
homens que no sabem ler e morrem de fome indstrias tenham acesso reduo dos impostos
aos 27 anos federais.
plantaram e colheram a cana Adaptado de Alessandra Nogueira,
Alternativa para os assentamentos. Energia Brasileira, no. 3, jun.
que viraria acar. 2006, p. 63.

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4) e poder, xodo rural, contaminao da gua e do
Parece que os orixs da Bahia j previam. O solo e destruio de biomas? Quanto tempo essa
mesmo dend que ferve a moqueca e frita o bonana vai durar, tendo em vista a exausto dos
acaraj pode tambm mover os trios eltricos recursos naturais? O descuido socioambiental
no Carnaval. O biotrio, trio eltrico de ltima vai servir de argumento para a criao de barrei-
gerao, movido a biodiesel, conquista o folio ras no tarifrias, como a que vivemos com a
e atrai a ateno de investidores. Se aproveita- China na questo da soja contaminada por agro-
rem a dica dos biotrios e usarem biodiesel, os txicos?
sistemas de transporte coletivo dos centros Adaptado de Amlia Safatle e Flvia Pardini,
Gros na Balana. Carta Capital, 01 set. 2004. p. 42.
urbanos transferiro recursos que hoje finan-
ciam o petrodiesel para as lavouras das plantas 7)
oleaginosas, ajudando a despoluir as cidades. A No que diz respeito poltica de comrcio
autossuficincia em petrleo, meta conquista- internacional da produo agrcola, no basta
da, menos importante hoje do que foi no batalhar pela reduo de tarifas aduaneiras e
passado. O desafio agora gerar excedentes pela diminuio de subsdios concedidos aos
para exportar energias renovveis por meio de produtores e exportadores no mundo rico.
econegcios que melhorem a qualidade do Tambm no basta combater o protecionismo
ambiente urbano, com ocupao e gerao de disfarado pelo excesso de normas sanitrias.
renda no campo, alimentando as economias Este problema real, mas, se for superado,
rurais e redistribuindo riquezas. ainda restaro regras de fiscalizao perfeita-
Adaptado de Eduardo Athayde, Biodiesel mente razoveis e necessrias a todos os pases.
no Carnaval da Bahia. Folha de S.Paulo,
28 fev. 2006. p. A3. O Brasil no est apenas atrasado em seu siste-
ma de controle sanitrio, em relao s normas
5)
em vigor nos pases mais desenvolvidos. A defi-
Especialistas dizem que, nos EUA, com o cincia, neste momento, mais grave. Houve
aumento dos preos do petrleo, os agricultores um retrocesso em relao aos padres alcana-
esto dirigindo uma parte maior de suas colhei- dos h alguns anos e a economia brasileira j
tas para a produo de combustvel do que para est sendo punida por isso.
alimentos ou raes animais. A nova estimativa Adaptado de Nem tudo protecionismo.
salienta a crescente concorrncia entre alimen- O Estado de S. Paulo, 14 jul. 2006. p. B14.
tos e combustvel, que poder colocar os ricos
8)
motoristas de carros do Ocidente contra os
A marcha para o oeste nos Estados Unidos,
consumidores famintos nos pases em desen-
no sculo XIX, s se tornou realidade depois
volvimento.
da popularizao do arado de ao, por volta de
Adaptado de Menos milho, mais etanol.
Energia Brasileira, n. 3, jun. 2006. p. 39. 1830. A partir do momento em que o solo duro
pde ser arado, a regio se tornou uma das mais
6)
produtivas do mundo. No Brasil, o desbrava-
O agronegcio responde por um tero do mento do Centro-Oeste, no sculo XX, tam-
PIB, 42% das exportaes e 37% dos empregos. bm foi resultado da tecnologia. Os primeiros
Com clima privilegiado, solo frtil, disponibili- agricultores do cerrado perderam quase todo o
dade de gua, rica biodiversidade e mo de obra investimento porque suas sementes no vinga-
qualificada, o Brasil capaz de colher at duas vam no solo da regio. Johanna Dbereiner
safras anuais de gros. As palavras so do descobriu que bactrias poderiam ser utilizadas
Ministrio da Agricultura e correspondem aos para diminuir a necessidade de gastos com adu-
fatos. Essa , no entanto, apenas metade da his- bos qumicos. A descoberta permitiu a expan-
tria. H uma srie de questes pouco debatidas: so de culturas subtropicais em direo ao
Como se distribui a riqueza gerada no campo? Equador.
Que impactos o agronegcio causa na sociedade, Adaptado de Eduardo Salgado, Tecnologia a servio do des-
na forma de desemprego, concentrao de renda bravamento. Veja, 29 set. 2004. p. 100.

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9) de culturas agrcolas, pela mudana na destinao
Devido s presses de fazendeiros do Meio- dos plantios, pelas modificaes na organizao
-Oeste e de empresas do setor agrcola que querem do trabalho. Tais alteraes deixam marcas pro-
proteger o etanol norte-americano, produzido fundas na paisagem fsica e humana das regies
com base no milho, contra a competio do lcool do pas.
brasileiro base de acar, os Estados Unidos Instrues:
impuseram uma tarifa (US$ 0,14 por litro) que 1) Crie um(a) personagem que viveu um pro-
inviabiliza a importao do produto brasileiro. E cesso de transformao na agricultura de
o fizeram mesmo que o etanol base de acar alguma regio do Brasil.
brasileiro produza oito vezes mais energia do que 2) Narre as consequncias desse processo de
o combustvel fssil utilizado em sua produo, transformao na vida do(a) personagem e
enquanto o etanol de milho norte-americano s descreva o cenrio rural onde ocorreu.
produz 130% mais energia do que sua produo 3) Sua histria pode ser narrada em primeira
consome. Eles o fizeram mesmo que o etanol ou terceira pessoa.
base de acar reduza mais as emisses dos gases
Proposta C
responsveis pelo efeito estufa do que o etanol de
milho. E o fizeram mesmo que o etanol base de Leia a coletnea e trabalhe sua carta a partir
do seguinte recorte temtico:
cana-de-acar pudesse facilmente ser produzido
nos pases tropicais pobres da frica e do Caribe A relao da agricultura com o comrcio inter-
nacional est marcada por barreiras tarifrias, sani-
e talvez ajudar a reduzir sua pobreza.
trias, ambientais, que demandam constantes
Adaptado de Thomas Friedman, To burros
quanto quisermos. Folha de S.Paulo, 21 set. 2006. p. B2. negociaes entre os produtores agrcolas e o
Estado.
Proposta A
Leia a coletnea e trabalhe sua dissertao a Instrues:
partir do seguinte recorte temtico: 1) Escolha um produto agrcola brasileiro de
A introduo de novas prticas agrcolas pro- exportao ou seu derivado.
duz impactos de ordem social, econmica, pol- 2) Argumente, a partir do ponto de vista de
tica e ambiental, envolvendo conflitos de interes- um produtor, contra uma barreira interna-
ses de difcil soluo. Cabe a uma poltica agr- cional imposta a esse produto.
cola consistente administrar esses conflitos, pro- 3) Dirija sua carta a uma associao representativa
pondo diretrizes que considerem o que plantar, do setor, solicitando medidas efetivas.
onde, como e para que plantar. Pensar sobre a
gerao de bioenergia um desafio para a pol- ATENO: AO ASSINAR A CARTA, USE INICIAIS
tica agrcola atual. APENAS, DE FORMA A NO SE IDENTIFICAR.
Instrues:
Disponvel em: <www.comvest.unicamp.br/vest2007/F1/fase1
1) Discuta o que significa destinar a produo coment.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.
agrcola brasileira para a gerao de bioe-
nergia.
Sugesto de como aplicar a atividade:
2) Trabalhe seus argumentos no sentido de
Promova em classe, se possvel, produes de
apontar os impactos positivos, negativos e
autoria periodicamente. Isso garantir ao aluno a
os impasses dessa destinao.
segurana do tempo e a prtica da escrita mo.
3) Explore tais argumentos de modo a justificar
Determine um nmero limite de linhas e prazo limite
seu ponto de vista.
de tempo.
Proposta B Organize fileiras com at cinco alunos. D o tema
Leia a coletnea e trabalhe sua narrao a par- e pea a eles de trs para a frente ou da frente para
tir do seguinte recorte temtico: trs que produzam um pargrafo. Quem receber a
As prticas agrcolas podem ser alteradas pela produo dever seguir a mesma linha do pargrafo
introduo de novas tecnologias, pela redefinio anterior para que no fique incoerente. Corrija as pro-
dues coletivamente na lousa ou em transparncias.

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Quadros de
interdisciplinaridade
Com a finalidade de favorecer a prtica interdisci- petncias destacadas na citao anterior apresentam
plinar definida nas pginas 7 e 8 deste manual, a qual ligeiras diferenas: nos PCNEM fala-se em contex-
acreditamos ser consistente e coerente com as possi- tualizao sociocultural apenas, sem nenhuma
bilidades de ao do professor de Ensino Mdio, apre- referncia contextualizao histrica; j na
sentaremos, a seguir, para cada unidade, quadros com matriz do Enem encontramos a expresso elaborar
breve descrio das atividades; indicao das propostas, sem referncia ao adjetivo solidria.
competncias gerais, as quais devero ser desenvol- De qualquer maneira, pensando em competncias
vidas por meio do trabalho proposto; indicao das gerais, podemos acatar a proposio dos PCN+, que
disciplinas mais claramente ligadas realizao des- trazem ainda, como exemplificao, outras compe-
sas atividades, e explicitao dos contedos e das tncias importantes:
prticas que tornam evidente a interao entre as
disciplinas. Informar e informar-se, comunicar-se, expressar-se, argu-
mentar logicamente, aceitar ou rejeitar argumentos, manifestar
Em relao s competncias gerais indicadas nos
preferncias, apontar contradies, fazer uso adequado de dife-
quadros, importante salientar que organizamos rentes nomenclaturas, de diferentes cdigos e de diferentes
nosso trabalho com base em conceitos apresentados meios de comunicao, so competncias gerais, recursos de
nos PCN+ de Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias, todas as disciplinas. [...]
segundo os quais: H competncias que, primeira vista, poderiam pare-
cer mais disciplinares como compreender processos natu-
No h receita, nem definio nica ou universal para as rais, sociais e tecnolgicos; interpretar manifestaes cultu-
competncias qualificaes humanas amplas, mltiplas que rais e artsticas. Lado a lado com o aprendizado dessas
no se excluem entre si ou para a relao e a distino entre competncias podem ser desenvolvidas outras, aparente-
competncias e habilidades. mente mais gerais como fazer avaliaes quantitativas e
Por exemplo, os PCNEM explicitam trs conjuntos de qualitativas, em termos prticos, ticos e estticos; equacio-
competncias: comunicar e representar, investigar e com- nar e enfrentar problemas pessoais ou coletivos; participar
preender, assim como contextualizar social ou historica- socialmente, de forma solidria; ser capaz de elaborar crti-
mente os conhecimentos. Por sua vez, de forma semelhante cas ou propostas.
mas no idntica, o Enem aponta cinco competncias gerais: Algumas dessas competncias podem ter um apelo mais
dominar diferentes linguagens, desde idiomas at represen- tcnico-cientfico, outras mais artstico-cultural, mas h um
taes matemticas e artsticas; compreender processos, sejam arco de qualidades humanas que, ainda que em doses dis-
eles sociais, naturais, culturais ou tecnolgicos; diagnosticar tintas, tomaro parte nos fazeres de cada aprendizado espe-
e enfrentar problemas reais; construir argumentaes; e cfico.
elaborar proposies solidrias. Tanto nos Parmetros PCN+, p. 16.
Curriculares Nacionais do Ensino Mdio, como no Enem,
relacionam-se as competncias a um nmero bem maior de Como representaes de qualificaes humanas
habilidades. amplas, as competncias, em tese, no apresentam
PCN+, p. 15-16.17 limitao. Assim, a indicao de algumas delas nos
quadros a seguir significa apenas a adoo de um
Nesse trecho, podemos notar a referncia aos modo de orientar a prtica interdisciplinar sugerida, o
grandes eixos (ou competncias gerais) de outros que no impede que outras competncias e habilida-
dois documentos oficiais importantes: os PCNEM18 des possam ser introduzidas por professores e orien-
e a Matriz de referncia do Enem19. importante tadores pedaggicos na confeco de um projeto
frisar que, nesses documentos, algumas das com- escolar prprio.

17
BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (PCN+): Linguagens, cdigos e suas tecnologias, 2007.
18
BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. Parte II: Linguagens, cdigos e suas tecnologias, 2000.
19
BRASIL. Ministrio da Educao. Matriz de referncia para o Enem, 2009.

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Em relao s atividades sugeridas, na maior parte Cabe, ainda, reforar a advertncia de que esses
dos casos, a proposta prescindir da participao do quadros no impem limites para o trabalho inter-
professor de outra matria20. Em certos momentos, a disciplinar envolvendo um projeto prprio, no esgo-
realizao do trabalho ser bastante enriquecida por tam suas possibilidades, sobretudo porque as ativi-
aquilo que h de mais especfico nas disciplinas indi- dades desta coleo foram elaboradas para contri-
cadas. De qualquer forma, o aluno ter a oportunida- buir, como um todo, no desenvolvimento das gran-
de de conhecer o contedo, as competncias implica- des competncias apresentadas nos PCNEM e das
das em sua aquisio e as possibilidades de mobiliza- habilidades ligadas aos cinco eixos cognitivos do
o dessas competncias nas mais variadas situaes. Enem.

20
Entre outras ideias defendidas por Jantsch e Bianchetti (1995), destacamos a de que a interdisciplinaridade tambm pode ser exercida individual-
mente, ou seja, que apenas um professor, por exemplo, possa ministrar sua disciplina de forma interdisciplinar e, principalmente, que a aceitao e o
exerccio da interdisciplinaridade no implica na negao e/ou na anulao da disciplinaridade; antes, a interdisciplinaridade construda a partir do
conhecimento disciplinar. GONALVES CARLOS, Jairo. Interdisciplinaridade no Ensino Mdio: desafios e potencialidades. Dissertao (Mestrado em
Ensino de Fsica) Universidade de Braslia, Braslia, 2007, p. 42.

UNiDADE 1 UM OLhAR cRTicO

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Todas as disciplinas PCN+: valorizar a diversidade cultural;


texto avaliar criticamente um objeto cultural;
Para comear analisar as diversas produes artsticas como
p. 12 meio de explicar diferentes culturas.
Enem: dominar diferentes linguagens.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


proposto aos alunos que elaborem uma lista pessoal com seus dez filmes favoritos. A partir disso, devero tentar identificar
os critrios de seleo dos filmes de sua lista, comparar esses critrios com os dos demais colegas e refletir sobre as diversas
variveis implicadas na anlise de um objeto cultural.
Interao com outras disciplinas
A reflexo sobre as variveis implicadas na seleo de um objeto cultural abre espao para a discusso dos limites que existem
para o julgamento no s de produtos artsticos, mas de eventos sociais, cientficos ou histricos. As anlises de todo fato
partem de um lugar histrico, cultural, social, pessoal. Tudo isso influenciar a viso que se ter dele.
Proposta de atividade complementar
Professores das diferentes disciplinas podem sugerir que os alunos elaborem listas com filmes e documentrios sobre temas
desenvolvidos em aula. Possibilidades: O professor de Matemtica pode pedir aos alunos que pesquisem cenas especficas de
filmes que usem ou citem clculos matemticos, por exemplo, para desvendar mistrios (a sequncia de Fibonacci no filme
Cdigo da Vinci, de Ron Howard) ou como tema importante para desenvolvimento do filme (Gnio indomvel, de Gus Van
Sant, e Uma mente brilhante, de Ron Howard).
Depois, em momento propcio, as turmas podem se reunir para divulgao dessas listas com apresentaes de trechos ou de
trailers dos filmes selecionados.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Arte, Histria, Fsica PCNEM: investigar e compreender.


texto PCN+: interpretar manifestaes culturais e
Interpretao dos textos 1 e 2 artsticas; manifestar preferncias; comunicar-
p. 16 -se; expressar-se; argumentar logicamente;
fazer avaliaes qualitativas em termos ticos
e estticos.
Enem: dominar diferentes linguagens.

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Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Leitura e interpretao das resenhas crticas Em Hugo Cabret, Scorsese faz homenagem ao cinema (sobre a produo
cinematogrfica A inveno de Hugo Cabret) e Com o encanto de outros tempos (sobre a pea teatral Maria do Carit).
Interao com outras disciplinas
A leitura dos dois textos favorece a discusso acerca das diferentes linguagens artsticas, alm de chamar a ateno para o
valor dessas produes. Ao ler a resenha crtica sobre o filme A inveno de Hugo Cabret, o aluno deve voltar o olhar para
especificidades da linguagem cinematogrfica; o mesmo cuidado com a linguagem deve acontecer com a leitura da resenha
sobre a pea teatral Maria do Carit, em que se destacam elementos prprios de uma representao teatral.
Proposta de atividade complementar
Os professores de Arte, de Histria ou de Lngua Portuguesa podem propor aos alunos uma pesquisa sobre o contexto
histrico, cultural e tecnolgico do momento em que foi desenvolvido o primeiro cinematgrafo. possvel pedir a eles que
procurem outras importantes invenes dessa poca.
Assistir ao filme juntamente com professores das disciplinas de Arte, Histria e Fsica e destacar elementos do filme
pertinentes a cada uma das disciplinas.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Arte, Educao Fsica, Histria, PCN+: informar e informar-se; argumentar
texto Geografia, Sociologia, Filosofia logicamente; manifestar preferncias; fazer uso
Produo de texto adequado de diferentes nomenclaturas; fazer
No mundo da oralidade avaliaes qualitativas em termos estticos.
p. 28 Enem: dominar diferentes linguagens;
construir argumentaes.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Aps escolher um objeto cultural livro, filme, pea teatral, exposio de arte o aluno dever escrever resenhas crticas
em que expresse claramente sua avaliao do produto. Em seguida, far uma exposio oral.
Interao com outras disciplinas
A anlise de um objeto cultural mobiliza diversas prticas, muitas das quais realizadas nas aulas de Lngua Portuguesa, mas
tambm comumente apresentadas em outras disciplinas, como a identificao de diferentes formas de representao de uma
ideia, de diferentes linguagens, a necessidade de se buscar o contexto de produo do trabalho analisado, a ativao do
repertrio cultural para a avaliao crtica do objeto.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura Sociologia, Filosofia, Histria, PCN+: informar e informar-se; argumentar


E por falar em vanguardas Geografia, Arte, Biologia, Fsica, logicamente; equacionar e enfrentar problemas
europeias... Qumica coletivos; manifestar preferncias.
p. 53 Enem: compreender processos;
diagnosticar e enfrentar problemas reais;
elaborar propostas de intervenes solidrias.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Aps tomarem contato com o conceito de craftivism, os alunos, em grupo, devem pensar no contexto social em que vivem
para identificar de que movimento essa realidade se beneficiaria.
Interao com outras disciplinas
De diversas disciplinas podem sair elementos para a realizao desse trabalho, afinal so de vrias naturezas os problemas de
nossa sociedade. A criao de um movimento exige do grupo de alunos sensibilidade para questes como a grande
desigualdade social ainda existente no Brasil, reflexo sobre a relao entre desenvolvimento cientfico e tica, conscincia dos

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grandes conflitos entre pases e entre povos de um mesmo pas, intolerncia s aes de corrupo em diversos setores da
sociedade brasileira, entre os quais est a poltica. Observaes: Para a realizao dessa atividade, cada professor de uma
disciplina pode destacar para a classe um problema atual que esteja mais claramente ligado a sua rea de atuao e exp-lo
brevemente. Cada grupo de alunos elege um tema para aprofundar e, a partir disso, prope um movimento de interveno
ou, ao menos, de reflexo acerca dos fatos pesquisados.

UNiDADE 2 TEcENDO cONvERSAS

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCN+: informar-se; argumentar logicamente;
Interpretao dos textos 1 e 2 Filosofia, Informtica aceitar ou rejeitar argumentos; apontar
p. 63 contradies.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Interpretao das entrevistas com o filsofo francs Gilles Lipovestki e com o ativista poltico Eli Pariser.
Interao com outras disciplinas
As reflexes apresentadas por Gilles Lipovetski envolvem diretamente conhecimentos das reas de Filosofia, Sociologia e
Histria. A leitura desse texto pode suscitar, ainda, discusses sobre conceitos como consumismo e hiperconsumo. Mais
adiante, com a leitura da entrevista de Eli Pariser, o aluno toma contato com uma preocupao do ativista poltico, a qual no
deixa de ser a representao dos novos problemas que surgem com o avano da tecnologia.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: investigar e compreender;
Produo de autoria Filosofia, Arte, Fsica, Qumica, contextualizar social ou historicamente os
No mundo da oralidade Biologia, Matemtica conhecimentos.
p. 85 PCN+: informar e informar-se; fazer uso
adequado de diferentes nomenclaturas, de
diferentes cdigos e de diferentes meios de
comunicao; argumentar logicamente;
apontar contradies; ser capaz de elaborar
crticas ou propostas.
Enem: dominar diferentes linguagens.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Produo de entrevista em suas diferentes verses: escrita e oral.
Interao com outras disciplinas
Diversas disciplinas podem se beneficiar das estratgias de produo textual do gnero entrevista. Trata-se de uma forma
bastante eficiente de se obter informaes acerca de um assunto. Por outro lado, especialistas de quaisquer reas podem ser
procurados pelos alunos para tentar suprir dvidas que estes possam ter sobre determinados temas.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura, parte 1 Arte, Histria PCNEM: contextualizar social ou


Para comear historicamente os conhecimentos.
p. 88 PCN+: comunicar e representar; interpretar
manifestaes culturais e artsticas;
compreender processos sociais.
Enem: dominar diferentes linguagens.

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Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Aps a leitura de textos tratando da Semana de Arte Moderna, em So Paulo, em 1922, os alunos devero escrever uma
notcia, a ser publicada no jornal da escola ou da cidade, sobre o impacto desse evento para as artes.
Interao com outras disciplinas
Analisar o impacto que foi para as Artes a Semana de Arte Moderna de 1922 implica o conhecimento das estticas apreciadas e
validadas na poca. Conhecer o contexto de mudanas sociais na Europa e no Brasil colabora tambm para a percepo de que
certas rupturas so muitas vezes respostas s insatisfaes com a sociedade em diversas reas, no s as artsticas.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura, parte 1 Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: comunicar e representar; investigar e
Texto e contexto Arte compreender.
Comparando textos PCN+: interpretar manifestaes culturais e
p. 104 artsticas; argumentar logicamente.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Interpretao do poema Paisagem no 1, de Mrio de Andrade e, na sequncia, comparao desse poema com a letra de
msica So Paulo, So Paulo, do Premeditando o Breque, grupo paulistano da dcada de 1980.
Interao com outras disciplinas
Alm da anlise esttica, aspectos fsicos e humanos podem ser observados e destacados nos dois textos. Pode-se aproveitar
a oportunidade para investigar, nas diferentes disciplinas, se a paisagem e o clima so aspectos que podem ser observados
igualmente hoje em dia na cidade, se so os mesmos tipos que circulam por ela. Investigar, ainda, caso seja constatada
mudana, quais so os principais agentes, os principais fatores dessas transformaes.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura, parte 2 Arte, Histria, Sociologia PCNEM: contextualizar social ou


Para comear historicamente os conhecimentos.
p. 108 PCN+: comunicar e representar; interpretar
manifestaes culturais e artsticas;
compreender processos sociais.
Enem: dominar diferentes linguagens.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Aps observar imagens histricas (entre 1917 e 1945) e referentes a obras de arte (o quadro Guernica, de Picasso, e o filme
O grande ditador, de Charles Chaplin) o aluno dever refletir sobre o papel social da arte.
Interao com outras disciplinas
Esse tipo de anlise mobiliza diversos conhecimentos dos alunos. Assim, possvel trabalhar em Histria os vrios
desdobramentos do momento histrico em destaque e, em Arte e Sociologia, a reflexo sobre o papel atribudo criao de
diversas obras artsticas quando estas estabelecem ligaes com os problemas da sociedade.

UNiDADE 3 OUTRA vOz: A vOz DO OUTRO

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Biologia, Fsica, Qumica, PCN+: informar-se; aceitar ou rejeitar
Interpretao dos textos 1 e 2 Geografia, Histria, Sociologia argumentos; compreender processos sociais;
p. 138 contextualizar social ou historicamente os
conhecimentos.
Enem: dominar diferentes linguagens.

MANUAL DO PROFESSOR 45

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Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Leitura e interpretao da Carta aberta de artistas brasileiros sobre a devastao da Amaznia e do Manifesto por uma
poltica nacional de energias renovveis.
Interao com outras disciplinas
As duas atividades de interpretao de textos articulam contedos das reas de Cincias Humanas e de Cincias da Natureza.
A compreenso do problema da devastao da Amaznia, por exemplo, implica o conhecimento de dados sobre sua
extenso, das razes dos interesses nessa regio, dos grupos sociais que ganham e dos que perdem com a explorao
indiscriminada da madeira ou das derrubadas para se formar pastos.
A interpretao do Manifesto por uma poltica nacional de energias renovveis envolve a pesquisa de conceitos como
economia de baixo carbono, pr-sal e segurana energtica. Deve ficar claro para o aluno que o conhecimento dessas
informaes e a compreenso do que solicitam os manifestantes so algumas das condies para que ele possa formar sua
opinio acerca desses assuntos.
Proposta de atividade complementar
O professor de Geografia pode combinar com os alunos pesquisas a respeito da atual situao da floresta Amaznica e os
professores de Biologia e de Qumica podem aprofundar o estudo e desenvolver atividades sobre as matrizes energticas
brasileiras e as possibilidades de investimento em fontes renovveis de energia.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Biologia, Fsica, Qumica, PCN+: informar-se e informar; argumentar
Produo de texto Geografia, Histria, Sociologia, logicamente; fazer uso adequado de diferentes
No mundo da oralidade Filosofia nomenclaturas e de diferentes meios de
p. 148 comunicao; equacionar e enfrentar
problemas coletivos.
Enem: diagnosticar e enfrentar problemas
reais; construir argumentaes; elaborar
proposies solidrias.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


As atividades de produo preparam os alunos para a elaborao de uma carta aberta ou um manifesto, por meio do qual
devero identificar e denunciar algum dos problemas de sua cidade ou regio, alm de apresentar uma possibilidade de
soluo. Aps a redao da carta ou do manifesto, uma apresentao oral da queixa, envolvendo argumentao sobre as
questes envolvidas, dever ser preparada.
Interao com outras disciplinas
A identificao de problemas da comunidade consequncia no s da sensibilidade diante do que afeta a todos diretamente,
mas tambm uma percepo mais ampla, possibilitada pelas discusses de certos ideais de organizao social/poltica; dos ideais
de segurana, moradia, saneamento, mobilidade, etc. Entende-se, aqui, que o olhar do aluno sobre o meio em que vive pode
ser aguado pelas novas informaes vindas de todas as reas do conhecimento observadas e desenvolvidas na escola.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: contextualizar social ou


Todo o captulo Filosofia, Arte historicamente os conhecimentos.
p. 154 PCN+: interpretar manifestaes artsticas;
compreender processos sociais e histricos;
argumentar logicamente.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


No captulo de Literatura desta unidade prope-se o estudo da produo literria brasileira em prosa da dcada de 1930. So
anlises de trechos de romances, contextualizaes histricas, comparaes de textos, alm da anlise dos usos que os
diferentes grupos de um pas fazem da lngua.

46 MANUAL DO PROFESSOR

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Interao com outras disciplinas
fundamental relacionar a produo literria brasileira em prosa da dcada de 1930 ao seu contexto histrico de forma mais ampla
e, ao contexto regional, de forma mais estrita. A observao de duas regies completamente distintas no Brasil o Norte e o
Nordeste de um lado e o Sul e o Sudeste de outro j aparecera em Os sertes, de Euclides da Cunha. Dcadas depois, surge do
Nordeste uma literatura vigorosa no propsito de, por um lado, denunciar a situao de misria de um povo completamente
assolado pela seca e, por outro, apresentar elementos prprios daquela cultura e daquela organizao social os grandes
engenhos, o coronelismo, as injustias to distintas da realidade de outras regies brasileiras. Por meio do estudo desse perodo,
destaca-se a influncia da interao entre fatores geogrficos, histricos, sociais e econmicos na constituio de um grupo, na
manuteno de suas condies de vida, no reforo ou na transformao de processos de injustia e de arbitrariedade.

UNiDADE 4 DO cOTiDiANO AO ExTRAORDiNRiO

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Arte, Histria, Geografia, PCNEM: contextualizar social ou
No mundo da oralidade Sociologia historicamente os conhecimentos.
p. 196 PCN+: investigar e compreender; manifestar
preferncias; comunicar-se; expressar-se.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Preparao de um seminrio sobre cronistas contemporneos.
Interao com outras disciplinas
Em relao ao tema do seminrio, possvel realizar uma pesquisa sobre o universo cultural desses cronistas, observando
aspectos de suas biografias que sejam ligados ao contexto histrico de suas produes. possvel observar, tambm, aspectos
sociolgicos e geogrficos relacionados s regies em que cada escritor desenvolveu sua obra, entre outros. Em relao ao
formato, os professores de qualquer disciplina que precisarem trabalhar diferentes conceitos por meio de um estudo que
envolva a apresentao de um seminrio podero utilizar a metodologia sugerida na seo.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura Arte, Informtica, Histria PCN+: representar; fazer uso adequado de
E por falar em geraes de novos diferentes cdigos e de diferentes meios de
escritores... comunicao; manifestar preferncias.
p. 221

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Os alunos devero pesquisar uma gerao atual de poetas e transformar o resultado das buscas em um painel, com a
biografia desses autores e dois de seus poemas.
Interao com outras disciplinas
As disciplinas de Arte e Informtica muito contribuiro com esse trabalho. Das aulas de Arte, os alunos se beneficiaro dos
conhecimentos sobre organizao e padronizao de elementos visuais, noes de composio, uso de cores e de tipologias
(fontes) de texto adequadas. Tais conceitos ajudaro na construo dos painis, fazendo com que os alunos compreendam
que a linguagem visual e os conhecimentos estticos so muito importantes para a eficincia da comunicao. Na mesma
linha de intenes, os conhecimentos de diagramao, prprios das aulas de Informtica, so recursos fundamentais para a
integrao das linguagens verbal e no verbal quando se quer obter um visual atraente e expressivo.

MANUAL DO PROFESSOR 47

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UNiDADE 5 PONTOS DE viSTA

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de texto Histria, Geografia, Sociologia, PCNEM: contextualizar social ou
Interpretao dos textos 1 e 2 Filosofia historicamente os conhecimentos.
p. 229 PCN+: informar-se; aceitar ou rejeitar
argumentos; argumentar logicamente;
compreender processos sociais; diagnosticar e
enfrentar problemas pessoais e coletivos.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Interpretao de dois artigos de opinio, um tratando da escolha profissional e outro da precariedade de moradias em diversas
regies do Brasil.
Interao com outras disciplinas
A escolha da carreira um tema que suscita a discusso de outros temas que se relacionam diretamente a ele, como a
liberdade de escolha, a qual no est ligada apenas expectativa familiar, mas s possibilidades culturais e econmicas de
escolha da profisso asseguradas pelas condies culturais e educacionais de um indivduo. Cabe s disciplinas de Sociologia e
de Filosofia a discusso sobre os grandes motivadores de uma escolha, as razes por que certas profisses ainda so exercidas
predominantemente por indivduos de uma classe social, os fatores histricos que determinam essas diferenas, o quanto
certas aes da sociedade, de modo geral, tm buscado promover mudanas nesse cenrio e em que medida essas mudanas
tm sido efetivas.
A precariedade das moradias outro assunto integrador dos domnios em diferentes reas. O que caracteriza, por exemplo,
uma moradia precria? Em quais reas de uma cidade elas so encontradas? Como o desenvolvimento econmico de uma
regio explica essas diferenas?
Proposta de atividade complementar
Os professores de Histria e de Geografia, juntamente com o professor de Lngua Portuguesa, podem pedir aos alunos uma
pesquisa acerca de uma metrpole brasileira. Aps descobrir quais foram as regies de maior desenvolvimento, devero identificar
em que reas da cidade foram construdas moradias precrias e em funo de que essas construes se multiplicaram.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Histria, Sociologia, Arte PCNEM: contextualizar social e historicamente
texto os conhecimentos.
Atividade de aplicao PCN+: informar-se; expressar-se; argumentar
p. 239 logicamente; aceitar ou rejeitar argumentos;
apontar contradies; interpretar
manifestaes culturais e artsticas.
Enem: dominar diferentes linguagens;
compreender processos sociais, naturais, culturais.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Anlise da letra de msica Intil, do Ultraje a Rigor, grupo de rock da dcada de 1980.
Interao com outras disciplinas
A resoluo das atividades ligadas ao texto exige o conhecimento do contexto histrico que motivou a criao dessa letra,
apresentando-se como um tema que pode ser ampliado nas aulas sobre Histria contempornea do Brasil. A compreenso do
uso expressivo e esttico de termos lingusticos em desacordo com a variedade-padro nessa letra de msica tambm pode ser
tema para o professor de Sociologia analisar comportamentos da poca em que a cano foi lanada e que ainda so
encontrados na sociedade atual, como o preconceito lingustico.

48 MANUAL DO PROFESSOR

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Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Geografia, Histria, Sociologia, PCNEM: comunicar e representar;


texto Filosofia, Biologia, Fsica, contextualizar social e historicamente os
Produo de autoria Qumica conhecimentos.
p. 244 PCN+: informar e informar-se; argumentar
logicamente.
Enem: construir argumentaes; elaborar
proposies solidrias; compreender processos
sociais, naturais, culturais.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Produo de artigo de opinio em que o aluno se posicione acerca de um tema polmico.
Interao com outras disciplinas
Ao propor a produo de um artigo de opinio, indica-se para o aluno a necessidade de se recorrer s informaes mais
comumente discutidas nas reas relacionadas ao assunto escolhido, buscando dados estatsticos e autores que possam dar
credibilidade sua tese.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Sociologia, Histria, Geografia, PCNEM: investigar e compreender;


texto Fsica, Qumica, Biologia contextualizar social e historicamente os
No mundo da oralidade conhecimentos.
p. 244 PCN+: fazer uso adequado de diferentes
nomenclaturas, informar e informar-se;
argumentar logicamente.
Enem: compreender processos sociais,
naturais, culturais.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Os alunos, em grupos, devem transcrever a gravao de uma conversa informal. Depois, eles faro um levantamento das
situaes em que h concordncia entre verbo e sujeito da frase. Aps levantamento dos dados, devem relacionar as
ocorrncias ou no de concordncia aos grupos investigados.
Interao com outras disciplinas
O professor deve chamar a ateno para o mtodo investigativo usado e compar-lo ao mtodo de pesquisa usado pelas
disciplinas das Cincias da Natureza. Destacar que a anlise de um fenmeno deve levar em conta a sua ocorrncia em uma
situao real, que isso implica a formulao de uma pergunta a concordncia ou a no concordncia um padro nas
situaes informais de comunicao? , a formulao de uma hiptese, o levantamento e a anlise dos dados e a concluso.
Depois disso, deve haver a comparao com os dados obtidos por outros grupos de pesquisa, a fim de se chegar a uma
resposta mais confivel pergunta formulada inicialmente.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura Arte, Histria, Geografia, PCN+: informar-se e informar; argumentar


Interpretao do Texto 1 Sociologia, Filosofia logicamente; fazer avaliaes qualitativas em
p. 250 termos ticos; equacionar e enfrentar
problemas coletivos; elaborar propostas de
interveno na realidade.
Enem: compreender processos naturais, sociais
e tecnolgicos.

MANUAL DO PROFESSOR 49

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Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Leitura e interpretao do poema Homem comum, de Ferreira Gullar.
Interao com outras disciplinas
O poema Homem comum traz reflexes importantes sobre a esttica vigente na poca de sua produo, com sua
disposio irregular no espao da pgina, assim como sobre o contexto histrico, social e cultural, ao tratar da identificao
do eu lrico com a vida comum (Sou como voc / feito de coisas lembradas / e esquecidas) e com os problemas sociais (e o
latifndio est a, matando; cruzo a Avenida sob a presso do imperialismo. / A sombra do latifndio; e a infncia nos
volta / boca, amarga, / suja de lama e de fome.). Esses so temas que podem ser discutidos e aprofundados nas diversas
disciplinas da rea de Cincias Humanas.

UNiDADE 6 TEMAS E cENAS

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Lngua e produo de Sociologia, Filosofia, Histria, PCNEM: investigar e compreender.


texto Geografia, Arte, Biologia, Fsica, PCN+: informar e informar-se; argumentar
Todo o captulo Qumica logicamente.
p. 272 Enem: construir argumentaes; elaborar
proposies solidrias.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Produo de textos dissertativos em que o aluno, a partir da compreenso de uma proposta, torne clara sua tese e exponha
argumentos que a justifiquem.
Interao com outras disciplinas
Ao escrever um texto dissertativo, o aluno dever mobilizar o conjunto de conhecimentos desenvolvidos na escola e relacion-
-los coerentemente a fim de atender ao objetivo apresentado na proposta.

Captulo/seo/pgina Disciplinas envolvidas Competncias gerais/eixos cognitivos

Captulo: Literatura Arte, Histria, Geografia, PCN+: informar-se e informar; argumentar


Todo o captulo Sociologia, Filosofia logicamente; fazer avaliaes qualitativas em
p. 294 termos ticos; equacionar e enfrentar
problemas coletivos; elaborar propostas de
interveno na realidade.
Enem: compreender processos naturais, sociais
e tecnolgicos.

Articulao de contedos e disciplinas

Breve apresentao da atividade


Leitura e interpretao dos textos contemporneos da literatura brasileira. Estudo do contexto histrico dessas produes.
Interao com outras disciplinas
A leitura e a interpretao da produo literria contempornea em prosa passa, necessariamente, pela compreenso das
mudanas ocorridas na sociedade brasileira nas ltimas dcadas. Esse estudo apenas refora um aspecto que foi tratado ao
longo de toda a coleo: sem levar em conta o contexto histrico, social e cultural, no ser possvel uma viso ampla da
produo artstica de uma poca. E, em outra direo, a compreenso da produo artstica torna-se mais uma fonte para a
interpretao de um momento. Assim, importante verificar em que medida as mudanas tecnolgicas, o crescimento das
cidades, o encurtamento das distncias, os avanos na medicina se refletem no comportamento das pessoas. Verificar se a
literatura contempornea reflete essas mudanas ou se lana um olhar para desordens humanas que persistem apesar das
grandes transformaes.

50 MANUAL DO PROFESSOR

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Atividades complementares
Professor, a seguir sugerimos algumas atividades Dono de personalidade fortssima, Abujamra
complementares. As respostas a essas atividades e/ou preocupa-se bem menos em criar um personagem.
comentrios foram colocados no final desta seo. No palco, mal se esfora para deixar de ser ele mesmo.
Se no fossem as rpidas intervenes de Miguel
UNiDADE 1 Hernandez e Nathlia Corra, muitos espectadores
pensariam estar diante de uma edio ao vivo do pro-
Leia a resenha da pea teatral Comear a ter- grama Provocaes, da TV Cultura. Nesse egocentris-
minar, de Antonio Abujamra. mo concentra-se o melhor e o pior de Comear a
Alma veterana terminar. Enquanto a fora dramtica se esvai ao ver
Aos 76 anos, o ator, diretor e dramaturgo Antonio
Abujamra com sua capa e a mesma impostao de voz
Abujamra encena uma pea sobre a velhice. o tempo inteiro, os lamentos oriundos de Beckett
Depois de Renato Borghi (71 anos), Antonio Petrin chegam plateia de forma bem mais sutil. Ele usa sua
(70) e Srgio Brito (85), ele o quarto homem do figura popularizada pela televiso para levar plateia
teatro de sua gerao a abordar o tema algo da sofisticao do autor irlands. Consegue pas-
Dirceu Alves Jr. sar a mensagem, mesmo que muitos no captem sua
Nos primeiros minutos de Comear a terminar, real origem.
como se estivesse em meio a uma desconfortvel Revista Bravo!. So Paulo: Abril, nov. 2008.

entrevista, Antonio Abujamra lana alguns recados


1. Explique a relao entre o ttulo e o assunto tra-
para a plateia. Ainda com o teatro iluminado, o ator,
tado na resenha.
diretor e dramaturgo alerta que pretende descons-
truir a obra de Samuel Beckett. Impaciente, cessa 2. Qual o tema da pea resenhada?
naquele momento as explicaes sobre a hora seguin- 3. O autor da resenha apresentou uma crtica com
te. Entre a melancolia e o sarcasmo, Comear a termi- pontos positivos e pontos negativos da pea.
nar aborda a iminncia da morte e questiona a vali- Exemplifique cada um deles com passagens do
dade do reconhecimento, quase sempre de uma mino- texto.
ria, para um artista experiente. Inspirado em clssicos 4. Resenha crtica um texto que resume e avalia
do autor irlands, como as peas Ato sem palavras 1 e o objeto resenhado (livro, filme, cartaz, propa-
Esperando Godot, o protagonista criou uma drama- ganda, etc.), apontando-lhe pontos positivos e
turgia sem texto determinado. Codirigida por Hugo negativos. Apesar de muitas vezes ser elabora-
Rodas, a montagem, em cartaz em So Paulo, traz no da com base em um resumo, ela no deve
elenco, ainda, os atores Miguel Hernandez e Nathlia apresentar apenas um resumo ao qual se acres-
Corra. centa uma opinio. importante que a postura
Com o espetculo, Abujamra reitera uma constan- crtica aparea, se possvel, desde a primeira
te entre os artistas de sua gerao. Somente nessa tem- linha. O autor, ento, ao mesmo tempo pode
porada, ele o quarto a pintar um retrato pessimista intercalar resumo e opinio.Prepare-se para
da alma veterana nos palcos. Mais provocativo, Renato escrever uma resenha. Selecione um objeto da
Borghi, 71 anos, questionou suas conquistas em Cadela atualidade para resenhar (livro, filme, pea de
de vison, enquanto Antonio Petrin, 70 anos, transbor- teatro, exposies, propagandas, festas impor-
dou amargura em relao velhice no monlogo S os tantes, etc.). Comece citando logo no incio o
doentes do corao deveriam ser atores. Mais urgente objeto a ser resenhado, resuma e ao mesmo
parece ser o apelo de Srgio Brito, 85 anos, que uniu tempo apresente sua opinio, apontando os
Ato sem palavras a A ltima gravao de Krapp, do pontos positivos e os negativos. No deixe de
mesmo Beckett, em elogiada performance. dar-lhe um ttulo bem sugestivo.

MANUAL DO PROFESSOR 51

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sante. 24 Horas, agora, vai num caminho diferente do
UNiDADE 2
que ele quer. Digo, ele est realmente se esforando
Atividade 1 para fazer o possvel para sair de Nova York.
Isso ser um choque?
Em 2010, o ator Kiefer Sutherland, protagonis-
ta e produtor executivo de um conhecido seria-
No diria dessa forma, mas posso garantir que o
do de TV chamado 24 Horas, deu uma entrevis- personagem foi construdo de uma maneira diferente
ta para a reportagem do jornal O Estado de S. da que foi nos ltimos sete anos. Ele tem uma linha
Paulo sobre sua personagem Jack Bauer, prota- que no quer atravessar, mas flerta com essa possibili-
gonista da srie. Leia a entrevista e, a seguir, dade o tempo todo. No chocante. Uma das coisas
responda s questes. que amo em Jack Bauer que ele tem um senso de
moral muito forte. Quando est em ao, ele certa-
Sempre o considerei um personagem
mente far o seu melhor e dane-se o resto. a coisa
poltico
certa ou errada de se fazer. Se ser bem-sucedido ou o
Ator fala ao Estado sobre sua criao mais
oposto, isso no relevante para o show. Nesse contex-
emblemtica e diz que a qualidade da TV um
reflexo da crise criativa do cinema
to, sempre considerei Jack Bauer um personagem
muito poltico.
Gustavo Miller
estranho ser um av?
Los Angeles Essa uma misso para Jack No, eu tenho um neto de quatro anos. Ele parece
Bauer. Durante os ltimos nove anos, mesmo quem um lutador de boxe combalido: fica caindo o tempo
nunca assistiu a um minuto de 24 Horas sabe o signi- todo. Ele corre o mais rpido que um humano pode,
ficado dessa expresso. O personagem, mistura de e da cai! Isso me fez desejar ter sido pai um pouco mais
McGiver com Capito Nascimento, um cone pop. velho, eu seria muito mais esperto. Mas no acho que
Ao conversar pessoalmente com Kiefer Sutherland, a paternidade tenha me mudado como pessoa. O jeito
a aura em torno de sua criao vai-se embora. Ele mais fcil de explicar isso que eu era pai e morava em
baixinho e no grita, apesar daquela voz sussurrada. uma casa com Billy Zane, Robert Downey Jr. e Sarah
Tampouco um brutamontes que d mata-lees a Jessica Parker (risos).
esmo. um gentleman. Mas no se engane: Sutherland Voc acredita que os melhores roteiros e papis,
malandro, demora-se nas respostas e controla o tempo aqueles mais desafiadores, esto, hoje, na televiso?
a seu favor para no ouvir o que no quer. Como Jack
Vide shows como Mad Men, Breaking Bad e o pr-
Bauer.
prio 24 Horas?
Na 7a temporada, Jack dizia no ter motivos para Todos so desafiadores. No quero entrar nessa de
viver. Agora, av, ele parece ter todas as razes do que trabalhar na TV melhor ou mais complicado. Se
mundo. Essa a pegada do 8o ano? voc quiser entender a razo de a indstria televisiva
Se voc olhar as outras temporadas, na segunda ter expandido tanto, d uma olhada no que aconteceu
houve uma pequena chance de ele ter um relaciona- na indstria cinematogrfica. Enquanto eu crescia, os
mento com a filha. Isso foi embora na temporada 3. EUA faziam filmes como Laos de ternura e Gente como
No tinha razes para viver e se apaixonou nos anos 4 a gente. Tente achar isso agora. Chamvamos isso de
e 5. Da, [sua mulher] ficou em coma irreversvel. filme de 15 ou 20 milhes. Hoje s fazem isso na
Temporadas 6 e 7, bem, nada para se viver. Agora, ele Europa, de vez em quando surge O lutador ou Quem
tem todos os motivos, na esperana de reatar com a quer ser um milionrio?. O resto Homem de ferro ou
filha. A neta foi o catalisador de tudo. Ele no sabe outro blockbuster com tecnologia visual. Esse o ltimo
direito como, mas quer ser um av melhor do que foi ano da srie? No sabemos, tchau!
como pai. MILLER, Gustavo. O Estado de S. Paulo. Disponvel em:
Mas isso claramente vai mudar em seguida? <www.estadao.com.br/noticias/suplementos,sempre-o-considerei-um-
-personagem-politico,523349,0.htm>. Acesso em: 12 abr. 2013.
Certas circunstncias comeam a indicar o incio
de um dia terrvel. A situao surge, literalmente, 1. De acordo com o que voc leu na entrevista, o ator
batendo em sua porta, enquanto ele est arrumando Kiefer Sutherland e a personagem Jack Bauer so
as malas para ir embora. Essa relutncia bem interes- semelhantes ou diferentes?

52 MANUAL DO PROFESSOR

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2. Releia a primeira pergunta feita ao ator e tambm (p. 122), pea aos alunos que procurem o poema
a sua resposta. Reinveno e tragam-no para a classe no dia
marcado. O poema encontra-se no livro Os melho-
Na 7a temporada, Jack dizia no ter motivos
res poemas de Ceclia Meireles, da editora Global,
para viver. Agora, av, ele parece ter todas as
mas pode ser encontrado em outras fontes.
razes do mundo. Essa a pegada do 8o ano?
Uma das caractersticas da poesia de Ceclia
Se voc olhar as outras temporadas, na segunda Meireles o misticismo, que procura apontar as
houve uma pequena chance de ele ter um relacio- diferenas entre o que passageiro no mundo
namento com a filha. Isso foi embora na tempora- e o que eterno. Do ponto de vista esttico a
da 3. No tinha razes para viver e se apaixonou maior parte de seus poemas mais afinada com
nos anos 4 e 5. Da, [sua mulher] ficou em coma o Simbolismo do que com o Modernismo pro-
irreversvel. Temporadas 6 e 7, bem, nada para se priamente. Leia o poema Reinveno, reco-
viver. Agora, ele tem todos os motivos, na esperan- nhecido pela beleza dos versos, pelo lirismo e pela
a de reatar com a filha. A neta foi o catalisador de profundidade com que identifica limites da vida,
tudo. Ele no sabe direito como, mas quer ser um da existncia e resolva as questes seguintes.
av melhor do que foi como pai.
a) Considerando os eventos que ocorreram na 1. No poema Reinveno, de Ceclia Meireles,
srie, indique algumas razes para Jack desejar existem dois planos: o da fantasia e o da realidade.
viver. Faa duas colunas no caderno e escreva os versos
que correspondem a cada um deles.
b) Indique algumas razes para Jack no desejar
viver. Plano da fantasia Plano da realidade
c) Identifique na resposta do ator a orao que
indica que o entrevistador podia analisar melhor
a personagem observando o desenrolar do 2. Se o plano da realidade predomina na composio
enredo ao longo das apresentaes. do poema (observe o nmero de versos do plano
d) Sua resposta ao item c uma orao subordi- da realidade em comparao com o do plano da
nada. Como voc a classifica? Explique. fantasia), por que, para o eu lrico, a vida s
possvel reinventada?
3. No perodo A situao surge, literalmente, baten-
do em sua porta, enquanto ele est arrumando as 3. Complete os itens a seguir no caderno para res-
malas para ir embora, as oraes destacadas so ponder s questes 4 a 8:
respectivamente:
a) O poema composto de estrofes.
a) subordinada adverbial temporal e subordinada
b) Trs estrofes (, e ) tm verso livre e,
adverbial final.
apesar de repetir a informao, apresentam
b) subordinada adverbial condicional e subordina- pequenas variaes.
da adverbial final.
c) Trs estrofes (, e ) so formadas por seis
c) subordinada adverbial concessiva e subordinada versos. Nelas predomina um tipo de metro po-
adverbial temporal. tico: a redondilha maior (com versos de sete
d) subordinada adverbial consecutiva e subordina- slabas poticas). Esse metro quebrado apenas
da adverbial condicional. no quarto verso da segunda estrofe (Ah! Tudo
bolhas, de slabas) e no quinto verso da
4. Identifique na terceira e na ltima resposta do quinta estrofe (S na treva, de slabas).
entrevistado oraes que tenham a mesma clas-
sificao de enquanto ele estava arrumando as 4. Justifique a maior liberdade na composio do
malas. primeiro, terceiro e sexto verso.
5. Releia a segunda e a quinta estrofe e reflita: os
Atividade 2
versos que quebram o ritmo da redondilha repre-
Professor, antes de iniciar o estudo da poetisa sentam uma mudana de contedo. Qual? Que
Ceclia Meireles no terceiro captulo desta unidade ideias esses versos separam?

MANUAL DO PROFESSOR 53

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6. Explique a quebra no ritmo e no metro ocasionada meus netos, filhos da Bruna. Um desses netos, Sean,
pelos versos da segunda e da quinta estrofe. tambm brasileiro nato, tornou-se alvo de uma cam-
7. Confirme se a quarta estrofe, embora no tenha panha internacional de nveis inacreditveis.
a quebra rtmica, reproduz tambm os dois planos Autoridades americanas do declaraes pblicas cha-
da segunda e da quinta estrofe. Indique a ideia mando de sequestradora uma av, que, na ausncia
que elas apresentam. da filha, apenas quer criar seus netos.
8. Compare a ideia dessas trs estrofes com a das Nossa formao valoriza o papel da me. Na ausn-
outras estrofes (1a, 3a e 6a). Por que, segundo o cia da me, a criao incumbe av. Assim em todo
eu lrico, a vida s possvel reinventada? o Brasil, de norte a sul, independentemente de raa,
cor, religio ou classe social. natural que estrangeiros,
9. Pode-se destacar um ponto em comum entre a
poesia de Ceclia Meireles e a poesia de Drummond: com formao diferente, no entendam esses sentimen-
ambos refletem sobre questes existenciais, rela- tos to autenticamente brasileiros.
cionadas dinmica do viver e fazer parte do Estou ameaada de perder meu neto Sean por conta
mundo. H pontos, no entanto, que se diferen- de uma presso internacional que no leva em consi-
ciam. Considerando as questes a seguir, faa derao o interesse de uma criana de 9 anos que dese-
uma comparao: ja ardentemente permanecer no meio daqueles que lhe
a) Qual dos poetas, na anlise da existncia, deram conforto na morte da me. As decises judiciais,
envolve o aspecto social? que foram tomadas determinando a entrega de Sean
em 48 horas ao Consulado americano, no levaram em
b) Ambos so pessimistas? Justifique sua opinio.
considerao a vontade expressa do meu neto de per-
10. Na sua opinio, o poema Reinveno, de Ceclia manecer no Brasil. Alegaram que a Conveno de Haia
Meireles, est mais prximo da ideia desenvolvida determina a entrega imediata. No sou advogada, mas
em Os ombros suportam o mundo, de Carlos
o que sei que a Conveno estabelece como priori-
Drummond de Andrade, ou em Inveno de
dade mxima o interesse da criana. E a criana no
Orfeu, de Jorge de Lima? Justifique sua resposta.
foi ouvida.
Senhor Presidente, isto no um desabafo de uma
UNiDADE 3 av agoniada. o clamor de uma brasileira que luta
com todas as foras que ainda lhe restam para que a
Leia a carta aberta publicada no jornal O Globo Justia deste pas aplique as leis com a indispensvel
por ocasio da disputa na Justia da guarda do dose de humanidade.
menino Sean Goldman. Tentar tirar uma criana de 9 anos do convvio da
famlia com a qual vive h 5 anos ininterruptamente,
Leia a ntegra da carta aberta escrita pela
e especialmente de perto de sua irm, Chiara, de 1 ano
av brasileira de Sean Goldman ao
e 3 meses, que tem em Sean seu grande amparo, jus-
presidente Lula
tamente na vspera do Natal, representa uma desuma-
RIO Segue abaixo a carta aberta que Silvana nidade. Jesus veio ao mundo para salvar os homens.
Bianchi, av brasileira do menino Sean Goldman, cuja Que Deus proteja aqueles que acreditam no princpio
guarda vem sendo disputada na Justia, encaminhou maior da cristandade, a preservao da famlia.
nesta tera-feira ao presidente Luiz Incio Lula da Silva: Peo respeitosamente a V. Exa. que nos seja conce-
Prezado Presidente Lula, dida a oportunidade de lhe apresentar, em audincia,
Meu nome Silvana Bianchi, sou brasileira, tenho nossa famlia e lhe entregar pessoalmente as manifes-
60 anos de idade e trabalhei toda minha vida. Junto taes escritas por Sean dirigidas a V. Exa.
com meu marido, Raimundo Carneiro Ribeiro, criei Desejando a V. Exa., sua esposa e toda a sua famlia
meus dois filhos ensinando-os a, acima de tudo, amar um Natal de reunio feliz, aguardo sua manifestao.
este pas. Com respeito,
Minha filha, Bruna, faleceu de forma trgica no Silvana Bianchi
parto de minha neta Chiara. Hoje tenho como maior O Globo. Disponvel em: <http://extra.globo.com/noticias/rio/leia-
-integra-da-carta-aberta-escrita-pela-avo-brasileira-de-sean-goldman-ao-
objetivo da minha vida dar toda ateno e carinho aos -presidente-lula-215460.html>. Acesso em: 12 abr. 2010. Adaptado.

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1. Qual o objetivo da carta aberta de Silvana Bianchi Tome cuidado. Tenha um emprego fixo.
ao presidente Lula? Certa noite, eu trabalhava at mais tarde. A redao
2. Silvana apresenta argumentos de diferentes natu- estava uma loucura, com mudanas de ltima hora.
rezas: h momentos em que seus argumentos so De repente, eu parei. Olhei para todo mundo no vai-
objetivos e, por essa razo, poderiam servir para vm. E disse a mim mesmo:
defender a custdia do neto. Mas, em outros, Se eu dedicasse todo esse esforo a meu projeto
movida pela emoo, ela usa argumentos subjeti- pessoal, ia acabar dando certo!
vos. Escreva um exemplo de objetividade e outro Terminei o trabalho de madrugada. Fui dormir. No
de subjetividade. dia seguinte fingi que estava doente. Fiquei em casa
3. Na carta argumentativa de Silvana encontramos pensando. No outro pedi demisso. Tive vrios empre-
diferentes tipos de perodos e de oraes. Leia os gos depois, porque a necessidade bateu porta inme-
perodos, observe as conjunes e as oraes em ras vezes. Mas meu projeto de ser escritor tornou-se o
destaque e responda questo a seguir. principal. Deixava de ir a festas. No fim de semana,
a) natural que estrangeiros, com formao me trancava escrevendo. Confesso: ao reler muitos
diferente, no entendam esses sentimentos to daqueles primeiros textos, me envergonho. Eram muito
autenticamente brasileiros. ruins! Ainda bem que no procurei ningum para ava-
liar meu talento! Teria desistido! Tanto que, atualmen-
b) Alegaram que a Conveno de Haia determi-
te, se me perguntam o que preciso para ser escritor,
na a entrega imediata.
respondo:
c) [...] mas o que sei que a Conveno estabelece Teimosia! De todos os meus amigos que preten-
como prioridade mxima o interesse da criana.
diam escrever, nunca fui o melhor. S o mais teimoso!
d) Peo respeitosamente a V. Exa. que nos seja Ainda encontro antigos amigos falando de seus pro-
concedida a oportunidade de lhe apresentar, jetos, sempre adiados!
em audincia, nossa famlia e lhe entregar pes- Tenho orgulho de viver como escritor. No acho
soalmente as manifestaes escritas por Sean melhor ou pior do que mdico, advogado, jornalista,
dirigidas a V. Exa. comerciante, corretor de imveis, agricultor ou feiran-
Qual a classificao das oraes destacadas? te. melhor para mim, por ser o que eu mais desejava!
[...]
Lembro da lenda de Fnix, o pssaro que queima,
UNiDADE 4 mas ressurge das prprias cinzas. Muitas vezes eu
tive de abandonar coisas de que gostava para seguir
Leia a crnica a seguir. meu caminho. E continuo assim. Sempre surgem
Fnix novos projetos, novas histrias pessoais. Todos ns
temos algo de Fnix. possvel se consumir nas pr-
Walcyr Carrasco
prias cinzas para criar uma nova vida! E nem to
Vivo criando metas para mim mesmo. Foi assim terrvel como a imagem possa parecer. A Fnix retor-
quando resolvi me dedicar ao projeto de ser escritor. na como Fnix, com sua identidade preservada e as
At ento eu era jornalista, tinha um timo emprego asas estalando de novas. assim que eu vejo a pas-
e grandes chances na carreira. Mas meu sonho era escre- sagem do ano: um momento simblico em que a
ver romances, teatro, novelas! O projeto era adiado gente pensa em metas, projetos, em tudo o que quer
continuamente, espera de uma situao ideal. Sou de mudar! Pode ser mais fcil ou difcil. Mas tambm
famlia humilde. Cresci com medo de ficar sem dinhei- a chance de renascer e, como a Fnix, empreender
ro. De ter de economizar no litro de leite, como ocor- longos voos!
reu na minha adolescncia! Queria armazenar uma CARRASCO, Walcyr. Revista Veja So Paulo, dez. 2007.
poupana para me garantir. Comprar um apartamen-
to. Tudo antes de me dedicar a meu sonho! O tempo 1. Explique a relao entre a fnix, o autor e a pas-
passava. Nunca juntava a quantia ideal. Meu pai acon- sagem do ano.
selhava: 2. Releia este trecho para resolver a questo.

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Terminei o trabalho de madrugada. Fui dormir. expresso ultrapassa a liberdade de expresso e chega
No dia seguinte fingi que estava doente. Fiquei ao patamar de conduta criminosa.
em casa pensando. No outro pedi demisso. Tive O modismo suscita duas questes imediatas.
vrios empregos depois, porque a necessidade Primeira: cala baixa com cueca aparecendo feio?
bateu porta inmeras vezes. Mas meu projeto de Tirando os usurios, o resto do planeta concorda,
ser escritor tornou-se o principal. Deixava de ir a feissimo. Segunda: como que eles conseguem?
festas. No fim de semana, me trancava escrevendo. Responder que, fora andar pelas ruas com um bocado
Confesso: ao reler muitos daqueles primeiros tex- de atrevimento, seus usurios no parecem fazer nenhu-
tos, me envergonho. ma outra atividade seria entrar para a turma do chefe
Nesse trecho, voc encontrar dez frases verbais. da polcia de Flint. Portanto, continuamos no campo
Algumas frases correspondem a perodos simples e das grandes dvidas filosficas da humanidade. A moda
outras a perodos compostos. Reescreva-o de forma do sagging surgiu nas cadeias, em protesto contra a
que tenhamos apenas quatro frases. Use nova pon- proibio de cintos. Foi adotada pelos rappers e virou
tuao e utilize outros conectores para que o novo atitude, junto com a cara enfezada e o jeito meio cur-
trecho fique coeso. vado de andar (que, no por acaso, ajuda a impedir
que a cala escorregue pernas abaixo). Nas escolas ame-
ricanas, o figurino quase sempre reprimido, mas na
UNiDADE 5 sada as calas voltam a cair. No vejo como se possa
transformar em lei algo cuja inteno discriminar e
O artigo de opinio a seguir discute a moda
rotular um modo de vestir que se originou na cultura
sagging que se espalhou nos EUA. Preste aten-
o nos argumentos usados pelo articulista para
da juventude negra, diz, com toda seriedade exigida
defender suas ideias. pelo tema, Debbie Seagraves, diretora da Unio
Americana de Liberdades Civis.
Cueca de fora No Brasil, cueco de fora coisa, principalmente,
Levanta a cala, menino de skatistas, que alegam que cala e bermuda largus-
Polcia, leis, debates, e os Estados Unidos se
simas favorecem o esporte. Apertadas, incomodam
perguntam: d para acabar com a moda na hora de fazer as manobras, argumenta Douglas
da cueca de fora? da Silva Alves, 17 anos, skatista desde os 13. Acidentes,
Seguindo os princpios sagrados da moda e do claro, acontecem. Douglas conta que uma vez entrou
comportamento juvenil, o cueco de fora espalha- num nibus carregando uma sacola em cada mo e,
-se como vrus de computador nos Estados Unidos. ao passar pela catraca, l se foi a cala. No ser nem
Inventada nos anos 90 pelos jovens do hip-hop, uma lei nem uma fora policial o que acabar com o
popularizada entre negros e brancos americanos e sagging. Em Flint e outras cidades dispostas a acabar
adotada por surfistas, skatistas e roqueiros em geral, com a cala baixa e a cueca de fora, a luta continua,
a cala ou bermuda largona usada l embaixo, com sem muita chance de vitria. Afinal, como se expli-
a roupa de baixo transformada em estridente atrao, caria uma lei dessas?, pergunta, desanimado, Jos
ultrapassa todos os limites do razovel, como se espe- Torres, prefeito de uma delas, Paterson, Nova Jersey.
rava, e provoca at intervenes de vigilantes repre- Resta a esperana de que a moda passe. Afinal, gente
sentantes da lei. Em cidades pequenas de norte a sul, influente, como aquele conhecido candidato
discute-se a proibio do sagging (pendente), como Presidncia, continua usando cala at um pouco mais
a prtica chamada. Em Flint, Michigan, cidade de alta que o recomendvel. E com preguinhas.
Revista Veja, 6 ago. 2008.
125 000 habitantes e hbitos nada inovadores em
termos de estilo, o chefe da polcia, David Dicks,
1. Apresente em uma frase completa o problema
resolveu mandar abordar e eventualmente prender discutido no texto.
todo e qualquer cidado com mais da metade da
cueca mostra. E, antecipando-se aos protestos, 2. Qual funo das falas reproduzidas no texto?
queimou etapas, alm de vrios artigos da 3. Qual frase do artigo responderia a pergunta inicial?
Constituio americana: Essa forma imoral de auto- Sintetize a resposta.

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4. Considere o possvel enunciado a seguir: recuperao, no caso de Glauco, e comunidades ind-
As manifestaes juvenis de tdio e indisposio genas isoladas, no caso de Raoni. Ainda assim, no
e a falta de desejo de transformar a prpria realida- se pode dizer que a tragdia ocorrida em Osasco no
de revela tambm o fracasso da gerao que prepa- ltimo dia 12 no deu pistas de que vinha se aproxi-
rou essa juventude. mando.
Nos ltimos trs anos, Cadu, de 24 anos, vinha
a) Reescreva-o, adequando-o variedade-padro
exibindo claros sinais de que estava sofrendo de dis-
da lngua. Justifique a correo.
trbios psquicos. Esse perodo, segundo seu pai,
b) Escreva uma hiptese para explicar esse tipo de Carlos Grecchi, coincide com o tempo que o filho
desvio de concordncia. comeou a frequentar o Cu de Maria, igreja funda-
da por Glauco e pertencente seita Santo Daime, que
mistura elementos do cristianismo, espiritismo e
UNiDADE 6
umbanda e prega o consumo de um ch com efeitos
Leia a reportagem para responder s atividades. alucingenos como forma de atingir o autoconheci-
mento e a conscincia csmica. O comportamento
Alucinao assassina de Cadu, diz Grecchi, comeou a se transformar
Tomar o ch alucingeno da seita Santo Daime quando ele passou a fazer uso da dimetiltriptamina
quando se tem um transtorno psquico, afirmam (DMT), o princpio ativo presente na beberagem
especialistas, o mesmo que jogar gasolina sobre consumida por adeptos da seita. Por diversas vezes,
um incndio. Tudo indica que foi o caso de Cadu, tanto Grecchi como os avs de Cadu ouviram o jovem
o assassino do cartunista Glauco e de seu filho dizer que era a reencarnao de Jesus Cristo. Tambm
Raoni por diversas vezes os parentes flagraram o jovem
Kalleo Coura e Renata Betti rezando, numa ocasio debaixo de chuva forte, para
No universo das tragdias, h as do tipo previsvel plantas que ele dizia serem reencarnaes de entidades
e as que fulminam suas vtimas com a imprevisibili- religiosas.
dade de um raio. O assassino do cartunista Glauco s tentativas de lev-lo a um psiquiatra ou a uma
Vilas Boas, 53 anos, e de seu filho Raoni Ornellas clnica de internao, Cadu reagia com determinao
Vilas Boas, de 25 anos, cometido por Carlos Eduardo e pavor. Dizia que no queria ficar como sua me,
Sundfeld Nunes, certamente no pertence primeira portadora de esquizofrenia. A esquizofrenia faz com
categoria. Cadu, como conhecido o criminoso con- que suas vtimas sejam acometidas por delrios e
fesso, nasceu em uma famlia de classe mdia alta de alucinaes, em surtos que duram, no mnimo, um
So Paulo e estudou nas melhores escolas da capital ms. Vozes e seres imaginrios solapam a percepo
paulista. Morava em um bairro nobre, frequentava os da realidade. Falsas ideias de perseguio e possesso
bares da moda, ia a baladas de black music e, segundo tornam a vida um pesadelo contnuo. A esses surtos
a famlia, nunca havia demonstrado comportamento se intercalam perodos de uma apatia profunda, mar-
violento. Os avs, com quem ele morava, sabiam que cados por lentido de raciocnio e desordem de pen-
o neto usava maconha (Como fazem hoje em dia samento. O risco de desenvolver essa psicose sobe
90% dos jovens, disse Carlos Nunes Filho, o av) e, de 1% para 13% no caso de pessoas cujo pai ou me
embora lamentassem o fato de ele ter comeado trs sofrem do transtorno. Na famlia de Cadu, alm da
faculdades sem terminar nenhuma (direito, artes vi- me, tambm uma tia-av foi diagnosticada com
suais e gastronomia), no viam nisso mais do que uma esquizofrenia. Seu pai diz estar convencido de que
indeciso em relao ao seu futuro profissional. o filho herdou a doena [...]. E comea aqui a parte
Glauco e o filho Raoni tampouco tinham perfil ou em que a tragdia do Cu de Maria atravessa o
comportamento que poderia ser considerado como campo do impondervel para adentrar o espao ater-
de risco nada que contribusse para fazer deles rador das desgraas que talvez pudessem ter sido
vtimas potenciais de um assassinato. Nenhum dos evitadas.
dois tinha inimigos e ambos tinham como iderio de Grande parte dos portadores de esquizofrenia con-
vida a assistncia ao prximo: drogados em busca de segue levar uma vida razoavelmente normal desde que

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sob tratamento que, alm de medicao, inclui vulnerabilidade, fsica ou emocional das partes envol-
manter distncia de certas substncias. Como chs vidas: eis uma boa receita para construir uma tragdia.
alucingenos, por exemplo. [...] permitir que porta- COuRA, Kalleo; BETTI, Renata. Veja. So Paulo: Abril, 24 mar. 2010.

dores de psicoses como a esquizofrenia bebam o ch


da seita Santo Daime equivale a jogar gasolina sobre 1. No primeiro pargrafo, os autores indicam que a
tragdia ocorrida em Osasco no era claramente
uma casa em chamas. Tudo indica que foi exatamen-
previsvel. Indique, de forma geral, os argumentos
te o que os seguidores da seita fizeram durante os trs
utilizados para justificar essa posio.
anos em que Cadu frequentou o local.
Ningum duvida de que a igreja fundada por 2. No final do primeiro pargrafo, os autores admitem
Glauco rena homens e mulheres de boa vontade, que os argumentos apresentados, entretanto, no
eram suficientes para justificar que nada poderia
timas intenes e um propsito louvvel: o de ajudar
acontecer. Quais os novos argumentos apresenta-
a livrar os jovens das drogas, coisa que o prprio
dos nos pargrafos seguintes?
Glauco havia conseguido fazer consigo mesmo, segun-
do afirmava, graas ao Santo Daime. [] 3. Identifique, no pargrafo final, a posio da revis-
A DMT proibida em quase todo o mundo. Ao ta sobre a liberao de drogas. Escreva esse posi-
lado do LSD e da mescalina, ela aparece na lista de cionamento em uma frase coerente.
drogas controladas na Conveno sobre Substncias
Psicotrpicas da Organizao das Naes Unidas. Essa Leia a entrevista publicada na mesma revista
lista seguida por 183 pases, o Brasil includo. A con- uma semana depois.
veno, entretanto, no proibiu plantas ricas na subs-
No existe droga segura
tncia, como a erva-rainha ou chacrona, que d origem
beberagem do Daime. Isso permite a interpretao A diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de
de que apenas a substncia proibida e a planta, que Drogas afirma que nem mesmo a maconha nem
tem pequena concentrao dela, no. No Brasil, em muito menos a DMT, presente no ch do Santo
Daime, podem ser consideradas inofensivas
1992, graas a uma campanha liderada por ayahuas-
queiros, o Conselho Federal de Entorpecentes liberou Kalleo Coura

o consumo do ch daimista para fins religiosos. Foi A psiquiatra mexicana Nora Volkow, 54 anos, uma
o primeiro de uma sucesso de erros que culminou com das mais importantes pesquisadoras sobre drogas no
a consagrao do ch como bebida sagrada, ttulo mundo. Quando, porm, o assunto so os danos neu-
concedido substncia alucingena pelo Estado bra- robiolgicos que essas substncias causam, Volkow
sileiro em janeiro passado. O advogado criminalista pode ser considerada a nmero 1. Foi a psiquiatra quem
Fernando Fragoso considera a interpretao casustica. primeiro usou a tomografia para comprovar as conse-
Uma droga no deixa de ser droga se for consumida quncias do uso de drogas no crebro e foi tambm ela
no meio de um ritual. A substncia lcita ou no , quem, nos anos 80, mostrou que, ao contrrio do que
diz. A Associao Brasileira de Psiquiatria tambm j se pensava at ento, a cocana , sim, capaz de viciar.
se manifestou contra a liberao do ch, sob o argu- Desde 2003 na direo do Instituto Nacional sobre
mento de que no existem estudos suficientes para Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow esteve
descrever em profundidade a ao no crebro da DMT no Brasil na semana passada para uma palestra na
presente na beberagem. Universidade Federal de So Paulo. Dias antes de che-
[...] gar, falou a Veja, por telefone, de seu escritrio em
Na semana passada, uma entidade da Bahia chama- Rockville, prximo a Washington.
da Associao Brasileira de Estudos Sociais do Uso de
Psicoativos entrou com uma petio no Supremo H quinze dias, um cartunista brasileiro e seu
Tribunal Federal pedindo a liberao da maconha para filho foram mortos por um jovem com sintomas de
uso teraputico e religioso. Caso a petio seja aceita, esquizofrenia e que usava constantemente maconha
so grandes as chances de outras drogas entrarem no e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um ch
rol de sagradas. Tolerncia em excesso, combinada conhecido como Santo Daime. Que efeitos essas
com negligncia na mesma medida e uma boa dose de drogas tm sobre um crebro esquizofrnico?

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Portadores de esquizofrenia tm propenso para- No concordo porque, ao descriminalizar a maco-
noia, e tanto a maconha quanto a DMT (presente no nha, voc estar contribuindo para que mais gente a
ch do Santo Daime) agravam esse sintoma, alm de consuma. H quem no fume por medo da repercusso
aumentar a profundidade e a frequncia das alucina- negativa que a atitude pode provocar e descrimina-
es. Drogas que produzem psicoses por si prprias, liz-la significa dizer: Se voc fumar, est tudo bem.
como metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar Um grupo de pesquisadores brasileiros est dis-
a doena mental de uma forma abrupta e veloz. cutindo a possibilidade de permitir o uso medicinal
Que efeitos essas drogas produzem em um cre- da maconha. Quais so os benefcios j comprova-
bro saudvel? dos da droga?
Em algum que no tenha esquizofrenia, os efeitos As pesquisas mostram que os canabinoides, inclu-
relacionados com a ansiedade e com a paranoia sero, sive o THC, tm algumas aes teraputicas teis. Por
provavelmente, mais moderados. No incomum, exemplo, diminuem a resposta nusea, o que muito
porm, que pessoas saudveis, mas com suscetibilidade til para pacientes com cncer que esto enfrentando
maior a tais substncias, possam vir a desenvolver psi- uma quimioterapia. Outra vantagem comprovada
coses. que eles aumentam o apetite e podem ajudar a com-
Estudos conduzidos pela senhora nos anos 80 bater a anorexia que acomete pacientes com doenas
provaram que a cocana tinha, sim, a capacidade de como a Aids, por exemplo. Alm disso, podem ter
viciar o usurio e de causar danos permanentes ao benefcios analgsicos e diminuir a presso interna do
crebro. At ento, ela era considerada uma droga olho, o que pode evitar um glaucoma. O que nosso
relativamente segura. Existe alguma droga que instituto apregoa que voc pode ter o benefcio dos
seja segura no que diz respeito capacidade de viciar canabinoides sem os efeitos colaterais que resultam do
e de causar danos sade? fumo da maconha, como a perda de memria, por
No existe droga segura, a no ser a cafena. Como exemplo. Por isso, estamos encorajando o desenvolvi-
ela estimulante e produz efeitos farmacolgicos nos mento de medicamentos que maximizem as proprie-
receptores de adenosina, , sim, uma droga. Mas no dades teraputicas da droga sem seus efeitos danosos.
h evidncias de que vicie nem de que seja txica a No mercado americano, j existem algumas plulas,
no ser que voc tenha problemas cardiovasculares. [...], que permitem isso.
Ainda no sabemos se prejudicial a crianas e adoles- [...]
centes, mas para adultos no h nenhum problema. A senhora nunca sentiu vontade de experimentar
E a maconha? alguma droga?
H quem veja a maconha como uma droga inofensi- Bebo de vez em quando um copo de vinho e expe-
va. Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha rimentei cigarros quando era adolescente. Nunca usei
tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear recepto- cocana, maconha nem outro tipo de droga ilcita. Amo
res neurais muito importantes. Estudos feitos em animais meu crebro e nunca pensei em estrag-lo.
mostraram que, expostos ao componente ativo da maco- COuRA, Kalleo. Veja. So Paulo: Abril, 31 mar. 2010.

nha, o tetraidrocanabinol (THC), eles deixam de produ-


4. Apresente em poucas palavras a razo de a mesma
zir seus prprios canabinoides naturais (associados ao con-
revista ter publicado essa entrevista na semana
trole do apetite, memria e humor). Isso causa desde aumen- seguinte publicao da reportagem Alucinao
to da ansiedade at perda de memria e depresso. Claro assassina.
que h pessoas que fumam maconha diariamente por toda
5. Os textos lidos se completam. O primeiro apresen-
a vida sem que sofram consequncias negativas, assim
ta a posio de seus autores e tambm a da revis-
como h quem fume cigarros at os 100 anos de idade e
ta para a qual escrevem sobre fatos de uma tra-
no desenvolva cncer de pulmo. Mas at agora no gdia. O segundo texto corrobora os argumentos
temos como saber quem tolerante droga e quem no da reportagem com o depoimento de uma espe-
. Ento, a maconha , sim, perigosa. cialista.
[...] Relacione os textos e, com base nas ideias neles
Est em curso no Brasil uma campanha para des- apresentadas, redija uma dissertao em prosa,
criminalizar a maconha. A senhora concorda com isso? argumentando sobre o tema neles apresentado.

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Respostas das atividades complementares
e/ou comentrios para o professor

sonagem, demonstra certa malcia ou malandra-


UNiDADE 1 gem em se desviar de questes sobre as quais no
1. Resposta: Provavelmente o ttulo faz aluso ao desejaria falar.
ator e dramaturgo Antonio Abujamra, que, com sua 2. a) Resposta: O fato de ele ter se apaixonado
personalidade forte, usa sua popularidade para trans- e a oportunidade de conseguir se entender com a
mitir a mensagem de Beckett. Alm disso, a palavra filha, alm da esperana de ser um av de um modo
veterana uma referncia ao tema da velhice, pre- melhor do que foi pai, representaram razes para ele
sente tanto na pea encenada por Abujamra quanto viver.
em outras trs peas, de atores entre 70 e 85 anos, 2. b) Resposta: O fato de a aproximao com a
que foram citadas na resenha. filha no ter dado certo em um primeiro momento
2. Resposta: A pea tratar da proximidade da e de a mulher ter entrado em coma irreversvel.
morte e prope tambm uma reflexo sobre a 2. c) Resposta: Se voc olhar as outras tempo-
importncia do reconhecimento do pblico para um radas.
artista. 2. d) Resposta: Trata-se de uma orao subordi-
3. Resposta: nada adverbial condicional. Essa orao indica uma
Pontos positivos os lamentos oriundos de condio para que o fato da orao principal se rea-
Beckett chegam plateia de forma bem mais sutil. lize e iniciada pela conjuno se.
Ele usa sua figura popularizada pela televiso para 3. Resposta: alternativa a.
levar plateia algo da sofisticao do autor irlan- 4. Resposta: Na terceira: Quando est em ao;
ds; Consegue passar a mensagem, [...]. na ltima: Enquanto eu crescia.
Pontos negativos [...], mesmo que muitos no
captem sua real origem; Abujamra preocupa-se Atividade 2
bem menos em criar um personagem. No palco, mal
1. Resposta:
se esfora para deixar de ser ele mesmo.; Enquanto
a fora dramtica se esvai ao ver Abujamra com sua
Plano da fantasia
capa e a mesma impostao de voz o tempo inteiro
[...]. Do verso Anda o sol pelas campinas at o verso
pelas guas, pelas folhas....

Do verso Vem a lua, vem, retira at o verso cheios


UNiDADE 2 da tua Figura.

Atividade 1 Plano da realidade


1. Resposta: Segundo o entrevistador, eles so
bem diferentes: a personagem Jack Bauer um Do verso Ah! Tudo bolhas at o verso de ilusionis-
homem grosseiro, truculento, que grita; enquanto mo... mais nada.
o ator calmo, gentil, fala com a voz sussurrada.
Do verso Tudo mentira! Mentira at o verso fico:
Porm, segundo o redator da entrevista, ambos recebida e dada.
tm algo em comum: o ator, assim como sua per-

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2. Resposta: Porque o eu lrico encontra na reali- mente, sem grandes esperanas ou mistificaes.
dade apenas treva, desencontro, iluso. No plano da Ceclia Meireles, por sua vez, no vislumbra uma
fantasia, ao contrrio, possvel viver a claridade, a realidade sem frustraes, mas defende a reinven-
liberdade e o encontro com algum importante. o da vida.
3. Respostas: a) seis; b) 1a, 3a e 6a; c) 2a, 4a e 5a/ 10. Resposta: Ele est mais prximo do poema
quatro/trs. Inveno de Orfeu, de Jorge de Lima. Ambos reco-
4. Resposta: So justamente os versos que trazem nhecem a existncia de problemas, de desiluses que
a ideia principal do poema, de que a vida s possvel fazem parte da vida de todos, mas propem sadas
reinventada. Repetem-se com ligeiras variaes, como que possam significar algum tipo de alento. No poema
tudo que se cria e recria. Os ombros suportam o mundo no h fuga possvel,
5. Resposta: Os versos que quebram o ritmo da resta a vida sem mistificao.
redondilha representam uma mudana do plano: na Comentrio: Sugerimos, nesta questo, retomar
segunda estrofe, passa-se de um cenrio ensolarado o poema de Drummond (p.112) e o de Jorge de Lima
e agradvel para a ideia de ilusionismo, tudo parece (p.115).
se desfazer; na quinta estrofe, passa-se da busca pelo
outro, intil (pois nada encontra), para um estado fixo,
sem busca, sem nada.
UNiDADE 3
6. Resposta: Essa quebra est justamente no ponto
em que o plano da realidade ou da frustrao invade 1. Resposta: Ela deseja uma audincia com o pre-
o plano ideal ou da fantasia. sidente para apresentar-lhe a famlia e entregar-lhe as
7. Resposta: A quarta estrofe tambm apresen- manifestaes escritas por Sean, seu neto.
ta versos de um plano ideal ou fantasioso, seguidos 2. Resposta: (Sugesto) Objetividade As
de versos em que h uma frustrao desse ideal. decises judiciais, que foram tomadas determinan-
Com a segunda e a quinta, traz uma ideia em pro- do a entrega de Sean em 48 horas ao Consulado
gresso: na segunda, o eu lrico observa um cenrio americano, no levaram em considerao a vontade
fantasioso e descobre que ele ilusrio; na quarta, expressa do meu neto de permanecer no Brasil.
ele se liberta e se lana nesse espao ideal e, na Alegaram que a Conveno de Haia determina a
quinta, ele tenta se manter nesse plano e encontrar entrega imediata. No sou advogada, mas o que sei
algo que procura e se frustra por ficar s, mas pare- que a Conveno estabelece como prioridade
ce encontrar um tipo de saciedade e de estabilidade mxima o interesse da criana. E a criana no foi
na treva. ouvida.
8. Resposta: Nas estrofes 2, 4 e 5, observa-se a Comentrio: mostre que esse argumento,
regularidade entre fantasia ou mundo ideal e uma provavelmente, foi apresentado pelos advogados da
realidade que frustra de alguma forma esse ideal. famlia na tentativa de vencer o processo, pois as leis
H uma tenso que parece no fazer da vida algo em defesa do menor sempre tm o mesmo cunho: o
possvel, sempre se encontra a frustrao, da a bem-estar da criana e ouvi-la quando estiver em idade
necessidade de reinventar a vida, criar algo diferen- de entendimento da situao vivida.
te, talvez a partir da solido, da prpria frustrao Resposta: (Sugesto) Subjetividade Nossa
do encontro, ao aceitar essa condio, como na formao valoriza o papel da me. Na ausncia da
quinta estrofe, que termina numa estabilidade do me, a criao incumbe av. Assim em todo o
eu lrico. Brasil, de norte a sul, independentemente de raa,
9. a) Resposta: Carlos Drummond de Andrade. cor, religio ou classe social. natural que estrangei-
9. b) Resposta: Ambos parecem ser pessimis- ros, com formao diferente, no entendam esses
tas, embora cada um, a seu modo, sugira que h sentimentos to autenticamente brasileiros.
uma maneira de lidar com a impossibilidade de Comentrio: mostre que no possvel provar que
viver. Drummond, que acredita que nem a morte em outros pases o papel de me no seja valorizado
resolve, sugere que o fundamental viver simples- da mesma forma.

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3. Resposta: a) subordinada substantiva subjetiva; 2. Resposta: As falas fundamentam os argumen-
b) subordinada substantiva objetiva direta; c) subordi- tos usados pelo articulista para defender seu ponto de
nada substantiva predicativa; d) subordinada substan- vista em relao ao uso ou no do sagging.
tiva objetiva direta.
3. Resposta: Resta a esperana de que a moda
passe. No adianta criar uma lei para proibir moda,
pois ela, a moda, passa.
UNiDADE 4 4. a) Resposta: As manifestaes juvenis de tdio
1. Resposta: O autor desistiu de uma vida segura e indisposio e a falta de desejo de transformar a
para tornar-se escritor, assim como a fnix que aban- prpria realidade revelam tambm o fracasso da gera-
dona uma vida e depois renasce. A passagem do ano o que preparou essa juventude. O verbo revelar
pode representar o momento exato para tentar uma deve ir para o plural, concordando com o sujeito com-
mudana de vida, um comear de novo. posto (As manifestaes juvenis de tdio e indisposio
2. Comentrio: A seguir, observe que separamos e a falta de desejo).
com barras (/) as dez frases verbais. Chame a ateno
4. b) Resposta: A concordncia foi feita com o
dos alunos para o fato de que todas elas terminam em
ncleo mais prximo, que est no singular.
pontos-finais.
Terminei o trabalho de madrugada./Fui dormir./
No dia seguinte fingi que estava doente./Fiquei em
casa pensando./No outro pedi demisso./Tive vrios UNiDADE 6
empregos depois, porque a necessidade bateu porta
inmeras vezes./Mas meu projeto de ser escritor tor- 1. Resposta: Cadu, o assassino confesso, era
nou-se o principal./Deixava de ir a festas./No fim de um jovem de classe mdia alta, vivia em bairro
semana, me trancava escrevendo./Confesso: ao reler nobre e nunca havia demonstrado comportamento
muitos daqueles primeiros textos, me envergonho./ agressivo. Glauco e Raoni, as vtimas, no tinham
Resposta: (Sugesto) Terminei o trabalho de inimigos e prestavam assistncia ao prximo como
madrugada, fui dormir. No dia seguinte fingi que ideal de vida.
estava doente, fiquei em casa pensando e, no outro,
2. Resposta: Cadu era consumidor de maconha,
pedi demisso. Tive vrios empregos depois, porque
a necessidade bateu porta inmeras vezes, mas apresentava problemas psquicos e comeou a consu-
meu projeto de ser escritor tornou-se o principal, e, mir o ch servido na seita religiosa, na qual Glauco e
assim, deixava de ir a festas e, no fim de semana, Raoni prestavam assistncia, para que pudesse se livrar
me trancava escrevendo. Confesso: ao reler muitos da dependncia de drogas.
daqueles primeiros textos, me envergonho. 3. Resposta: Segundo a reportagem apresentada,
Comentrio: Com frases extensas, o texto perde a liberao de drogas deve ser controlada a fim de
o ritmo da escrita original, que reproduz, na forma, evitar tragdias.
a tenso vivida pelo narrador.
4. Resposta: (Sugesto) A entrevistada psi-
quiatra e diretora do Instituto Nacional sobre Abuso
de Drogas; portanto, uma especialista no assun-
UNiDADE 5
to, e sua fala tem fora de um argumento de espe-
1. Resposta: O artigo discute a moda de os meni- cialista sobre os posicionamentos apresentados na
nos usarem calas que deixam a cueca mostra. reportagem.

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indicaes de leitura

Gramtica mnima para o domnio da lngua padro, de Antnio Surez Abreu. So Paulo: Ateli, 2003.

A leitura: teoria, avaliao e desenvolvimento, de Felipe Alliende e Mabel Condemarn. Porto Alegre: Artmed,
2005.

A lngua de Eullia: novela sociolingustica, de Marcos Bagno. So Paulo: Contexto, 1998.

Moderna gramtica portuguesa, de Evanildo Bechara. Rio de Janeiro: Y. H. Lucerna, 2003.

Uma gramtica de valncias para o portugus, de Francisco S. Borba. So Paulo: tica, 1996.

Cultura brasileira: temas e situaes, de Alfredo Bosi (Org.). So Paulo: tica, 2003.

Alfabetizao e lingustica, de Luiz Carlos Cagliari. So Paulo: Scipione, 1996.

Na sala de aula: caderno de anlise literria, de Antonio Candido. So Paulo: tica, 2002.

Andar entre livros, de Teresa Colomer. So Paulo: Global, 2007.

Gneros textuais e ensino, de ngela Paiva Dionisio e outros. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

Como analisar narrativas, de Cndida Vilares Gancho. 7. ed. So Paulo: tica, 2004.

Avaliao desmistificada, de Charles Hadji. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Introduo semntica: brincando com a gramtica, de Rodolfo Ilari. So Paulo: Contexto, 2001.

O portugus da gente: a lngua que estudamos, a lngua que falamos, de Rodolfo Ilari e Renato Basso.
So Paulo: Contexto, 2006.

Uma histria da leitura, de Alberto Manguel. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Produo textual, anlise de gneros e compreenso, de Luiz Antnio Marcuschi. 2. ed. So Paulo: Parbola,
2008.

Da fala para a escrita: atividades de retextualizao, de Luiz Antnio Marcuschi. So Paulo: Cortez, 2001.

A criao literria, de Massaud Moiss. So Paulo: Cultrix, 1983.

Gramtica de usos do portugus, de Maria Helena de Moura Neves. So Paulo: Unesp, 2000.

Que gramtica estudar na escola? Norma e uso na lngua portuguesa, de Maria Helena de Moura Neves.
So Paulo: Contexto, 2003.

A linguagem literria, de Domcio Proena Filho. So Paulo: tica, 2004.

Para entender o texto, de Francisco Plato Savioli e Jos L. Fiorin. So Paulo: tica, 1995.

Gneros orais e escritos na escola, de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz (Org.). Campinas: Mercado de Letras,
2004.

Gramtica: Ensino plural, de Luiz Carlos Travaglia. So Paulo: Cortez, 2003.

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Documentos oficiais
Alm dessas leituras, recomendamos tambm a consulta aos seguintes documentos que podem ser encontrados
no site do MEC:
Ensino Mdio Inovador. Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ensino_medioinovador.pdf>.
Acesso em: 5 mar. 2013.
Matriz de referncia para o Enem 2009. Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_con
tent&view=article&id=13318&Itemid=310>. Acesso em: 5 mar. 2013.
Orientaes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. Linguagens, cdigos e suas tecnologias.
Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf>. Acesso em: 5 mar.
2013.
Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. Linguagens, cdigos e suas tecnologias.
Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2013.
Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio. Linguagens, cdigos e suas tecnologias (PCN+).
Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/linguagens02.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2013.

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