Internar para Educar. Internatos No Brasil 1840 - 1950
Internar para Educar. Internatos No Brasil 1840 - 1950
Internar para Educar. Internatos No Brasil 1840 - 1950
SALVADOR BA
2012
JOAQUIM TAVARES DA CONCEIO
SALVADOR BA
2012
JOAQUIM TAVARES DA CONCEIO
Prof. Dr. Adriana Dantas Reis Prof. Dr. Anamaria Gonalves Bueno de Freitas
(UEFS) (UFS)
Prof. Dr. Iole Macedo Vanin Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
(UFBA) (UFS)
Ao professor Adilson Oliveira Almeida pela reviso textual e lingustica do texto final.
Uma palavra, em suma, domina e ilumina os
nossos estudos: compreender. Marc Bloch
RESUMO
Este estudo trata dos internatos na sociedade brasileira e, especialmente, sergipana, tomando
como objeto os colgios-internatos, no perodo que se estende de 1840 a 1950. A pesquisa,
utilizando abordagens culturais da histria social, destaca os escolares na condio de internos
(pensionistas), os espaos de internamento, as prticas culturais, os debates e as funes
sociais dos internatos. A operao historiogrfica consistiu em separar, reunir e transformar
em documentos histricos as informaes coletadas, efetuando os cruzamentos entre essas
informaes e/ou indcios encontrados. Para responder aos questionamentos propostos foram
utilizadas fontes diversas, como relatrios, teses doutorais, almanaques, revistas, prospectos e
estatutos de colgios, livros de viajantes, romances, entre outras. O internato brasileiro no
ficou imune a crticas. Entre os problemas apontados pelos intelectuais, as condies fsicas e
de higiene do internato, especialmente os dormitrios, ocupavam um lugar de destaque. Os
mdicos, preocupados com questes higienistas, em suas teses de doutoramento do sculo
XIX e incio do sculo XX, alertavam para as insalubridades fsicas e moral dos internatos e
apresentavam propostas para o funcionamento higinico destes. Os internatos foram
defendidos e at utilizados na instruo pblica, principalmente visando ao desenvolvimento
do ensino secundrio. Contudo, foi na instruo particular onde os internatos se
desenvolveram utilizados por famlias ricas e mdias da populao para promover a instruo
de seus filhos. Nos internatos, os estudantes encontravam cama, comida (pensionato) e
instruo (aulas, repeties, exerccios suplementares e direo dos estudos). No sculo XIX,
existiam pequenos internatos constitudos como uma empresa familiar e grandes internatos,
instalados em casas residenciais adaptadas, em sobrados ou em prdios planejados para
servirem como colgios-internatos, com vastos cmodos capazes de acomodar um grande
nmero de pensionistas. Em Sergipe, no sculo XX, a histria dos internatos marcada pela
permanncia de pequenos internatos de organizao familiar e pelo surgimento de colgios-
internatos instalados em prdios adaptados ou em edifcios-internatos. Enfim, a educao
dispensada nos internatos, apesar das crticas desfavorveis, serviu como estratgia educativa
de famlias ricas e classes mdias e estabeleceu distino a esses segmentos sociais por meio
de constante formao de princpios culturais que contriburam para a perpetuao de
privilgios de classe.
This study is about boarding schools in Brazilian society and especially, sergipana society,
taking as an object the boarding schools, from 1840 to 1950. The research which uses cultural
approaches of social history emphasizes the scholars under the condition of resident students
(pensioner), the spaces in boarding schools, the cultural practices, the debates and the
boarding school students social jobs. The historical operation consisted of separating,
organizing and transforming the collected information into historical documents, and
crosschecking such information with other facts found. As to answer the proposed questions
several sources were used like reports, doctors dissertations, almanacs, magazines, prospects,
schools internal rules, travelers books, novels, among others. The Brazilian boarding school
system was also criticized. Among the problems mentioned by intellectuals, the boarding
schools physical and hygiene conditions, especially the dormitories were on spot. The
doctors, worried about hygiene aspects, in their doctorate dissertations from XIX century and
beginning of XX century, used to mention the resident students physical and moral hazards
and they used to propose suggestions for a better hygienic environment. The resident students
were defended as well as used in public instruction, mainly aiming at developing the
secondary schools teaching. However, it was in private instruction where resident students
developed themselves used by rich and middle-class families population to promote their
childrens education. In the boarding schools, the scholars used to have accommodation, food
and instruction (classes, repetitions, supplementary exercises and instructions on how to
study). In the XIX century, there were small boarding houses like a family company and big
boarding schools, located in adapted houses, old houses or buildings planned to be used like
boarding schools with a lot of rooms which could house a great number of pensioners. In
Sergipe, in the XX century, the boarding houses history is characterized by the existence of
small family boarding houses and by the appearance of boarding schools located in adapted
buildings or in boarding school buildings. So, education given to boarding schools students,
despite the unfavorable criticism, served like an educational strategy of rich and middle-class
families and established a distinction to such social groups through constant development of
cultural principles which contributed to the class privileges perpetuation.
Quadro 1 Teses Doutorais de Titulados pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ)......61
Quadro 2 Teses Doutorais de Titulados pela Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB)................62
Quadro 3 Relao de professores de Colgios-Internatos da Corte Imperial do Rio de Janeiro(1871)
...........................................................................................................................................................119
Quadro 4 Colgios-Internatos Masculinos na Corte Imperial Almanak Laemmert (1850-1888)..128
Quadro 5 Colgios-Internatos Femininos na Corte Imperial Almanaque Laemmert (1850-1888)
...........................................................................................................................................................129
Quadro 6 Frequncia nos estabelecimentos pblicos e particulares de Instruo Primria e
Secundria do Municpio da Corte 1870...........................................................................................130
Quadro 7 Matrculas na Instruo Primria nos estabelecimentos pblicos e particulares por
freguesias do Municpio da Corte 1887.............................................................................................131
Quadro 8 Disciplinas dos programas de Colgios de Meninas Corte Imperial do Rio de
Janeiro...................................................................................................................................................158
Quadro 9 Matrculas na Instruo Primria e Secundria Colgios Femininos do Municpio da
Corte 1865)...........................................................................................................................................164
Quadro 10 Matrculas na Instruo Primria e Secundria Colgios Masculinos do Municpio da
Corte (1865).......................................................................................................................................166
Quadro 11 Matrculas na Instruo Secundria, por matria, nos estabelecimentos pblicos e
particulares do Municpio da Corte (1872)...........................................................................................168
Quadro 12 Resultados de Exames de Preparatrios Inspetoria Geral do Municpio da Corte
(dez/1865 jan/1866)..........................................................................................................................172
Quadro 13 Listas de Enxovais de Internatos Masculino e Feminino................................................177
Quadro 14 Itens de Listas de Enxovais de Internatos Masculinos e Femininos (1853-1879)...........178
Quadro 15 Penses de Colgios-Internatos do Rio de Janeiro (1870).............................................185
Quadro 16 Valores das artes de recreio (belas-artes) e lnguas no compreendidas no valor da
penso dos internatos (1870)................................................................................................................186
Quadro 17 Valores cobrados por internatos lavagem de roupas, jia de entrada e frias de Natal
..............................................................................................................................................................189
Quadro 18 Relao exemplificativa de meninos ou moos de engenhos enviados para colgios-
internatos em outras provncias............................................................................................................198
Quadro 19 Internatos sergipanos na segunda metade do sculo XIX................................................232
Quadro 20 Relao de alunos egressos do Colgio Parthenon Sergipense.......................................234
Quadro 21 Resultados nos Exames Gerais Pblicos dos alunos do Colgio Parthenon Sergipense
(1879 a 1882).....................................................................................................................................235
Quadro 22 Horrios e atividades no internato do Colgio Corao de Jesus....................................240
Quadro 23 Internatos sergipanos na primeira metade do sculo XX................................................247
Quadro 24 Situao espacial dos prdios do Colgio Tobias Barreto (1950)...................................280
SUMRIO
INTRODUO.............................................................................................................13
1 PRINCPIO DO INTERNATO................................................................................23
1.1 Origens e influncias da pedagogia de internar........................................................23
1.2 Questo do internato no Brasil.................................................................................33
1.3 Primrdios dos internatos na sociedade brasileira....................................................39
1.4 Defesa do internato na instruo pblica..................................................................48
2 O OLHAR DA MEDICINA SOBRE OS INTERNATOS.....................................59
2.1 Internatos no discurso mdico-higinico..................................................................59
2.2 Diagnosticando os internatos....................................................................................69
2.3 Vcios execrando dos internatos...........................................................................80
2.4 Requisitos para um bom internato............................................................................93
3 RECLAMES DE INTERNATOS............................................................................113
3.1 Internatos nas pginas do Almanak Laemmert...................................................113
3.2 Lugar aprazvel e salubre casa vasta e bem arejada........................................132
3.3 Ingresso e a instruo nos internatos......................................................................147
3.4 Enxovais de pensionistas de colgios.....................................................................176
3.5 Penses e outros gastos com o internato................................................................184
4 SURGIMENTO DOS INTERNATOS EM SERGIPE (XIX)..............................193
4.1 Instruo em Sergipe no sculo XIX......................................................................193
4.2 Internato e o ensino secundrio pblico.................................................................203
4.3 Internato e a centralizao da instruo secundria................................................214
4.4 Internato e a instruo particular............................................................................225
4.5 A vida no internato.................................................................................................235
5 INTERNATOS EM SERGIPE NO SCULO XX................................................245
5.1 Permanncias dos internatos...................................................................................245
5.2 Espaos dos internatos............................................................................................255
5.3 Espao projetado: o edifcio-internato do colgio Nossa Senhora de Lourdes......260
5.4 Espaos adaptados: o internato do Colgio Tobias Barreto...................................265
5.5 Internamento escolar em Sergipe...........................................................................279
CONCLUSES..........................................................................................................290
FONTES.....................................................................................................................299
REFERNCIAS........................................................................................................317
13
INTRODUO
1
Dissertao de mestrado defendida pelo autor. CONCEIO, Joaquim Tavares da. A pedagogia de internar:
uma abordagem das prticas culturais do internato da Escola Agrotcnica Federal de So Cristvo - SE (1934-
1967). 2007. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2007.
2
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia educacional sergipana: Uma crtica aos estudos de Histria
da Educao. So Cristvo: Editora UFS, 2003.
14
durao3 foi uma escolha que procurou reconhecer nas peculiaridades do prprio objeto o
centro determinante da periodizao. Nesse perodo, os internatos foram utilizados de forma
mais acentuada na educao brasileira e sergipana, o que permitiu seguir e compreender as
transformaes, continuidades e descontinuadas culturais do objeto.
No sculo XIX, a pesquisa tem como espao colgios-internatos estabelecidos na
Corte Imperial do Rio de Janeiro e na Provncia de Sergipe. Quando alcana o sculo XX, o
estudo se concentra em aspectos dos internatos sergipanos. Contudo, nos diversos momentos
do estudo, pelos diversos tipos de fontes utilizadas, a circularidade da questo do internato
examinada, permitindo diversas conexes com tempos e espaos diversos da sociedade
brasileira.
O internato compreendido como um modelo escolar, com prticas educativas
prprias, caracterizado pelo isolamento do mundo (controle das sadas, do tempo de frias,
entrada de jornais, correspondncia, controle de livros e revistas e da interveno de pessoas
estranhas) e pela formao integral atravs da utilizao de uma determinada organizao e
controle do tempo e do espao4. O seu estudo desafia um olhar para o detalhe a fim de
produzir interpretaes sobre padres e significados simblicos desse fenmeno histrico-
cultural, podendo revelar de que modo o sistema social se ajusta e como os seus participantes
percebem a si prprios e ao mundo exterior5.
Na problematizao de carter geral do objeto, o estudo evidencia a configurao e
vestgios histricos dos internatos, abordando o surgimento dos internatos para fins de
instruo ou educao, apresentando as influncias da pedagogia moderna, da educao
jesutica e do modelo de colgio-internato francs na configurao dos internatos brasileiros.
Tambm apresenta debates sobre a salubridade fsica e moral dos internatos advindos do
campo mdico e a respeito de propostas e/ou efetivao da implantao de internatos pblicos
discutida por autoridades da instruo e outros intelectuais.
Os questionamentos especficos giram em torno da compreenso dos escolares na
condio de internos (pensionistas) e de aspectos internos da configurao dos internatos
(espao e prticas). Dessa forma, a pesquisa evidencia as regularidades e caractersticas
predominantes da pedagogia de internar e destaca o papel social desempenhado pelo modelo
colgio-internato.
3
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a histria. So Paulo: Perspectiva, 1978.
4
CONCEIO, Joaquim Tavares da. A pedagogia de internar: uma abordagem das prticas culturais do
internato da Escola Agrotcnica Federal de So Cristvo - SE (1934-1967). 2007. Dissertao (Mestrado em
Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2007.
5
DESAN, Suzanne. Massas, comunidade e ritual na obra de E. P. Thompson e Natalie Davis. In: HUNT, Lynn.
A Nova Histria Cultural. So Paulo: Martins Fontes, 1995, p.70.
15
6
Compartilho do conceito de GEERTZ. Para o autor, o homem um animal amarrado a teias de significados
que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua anlise; portanto, no como uma cincia
experimental em busca de leis, mas como uma cincia interpretativa, procura do significado. (...) Como
sistemas entrelaados de signos interpretveis (o que eu chamaria smbolos, ignorando as utilizaes
provinciais), a cultura no um poder, algo ao qual podem ser atribudos casualmente os acontecimentos sociais,
os comportamentos, as instituies ou os processos; ela um contexto, algo dentro do qual eles podem ser
descritos de forma inteligvel isto , descritos com densidade. GEERTZ, Clifford. A interpretao das
culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 15.
7
DESAN, Suzanne. Massas, comunidade e ritual na obra de E. P. Thompson e Natalie Davis. In: HUNT, Lynn.
A Nova Histria Cultural. So Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 86.
8
GEERTZ, op. cit., p. 58.
16
entre outras, dando-se, deste modo, conta da histria real dos indivduos internos, ainda que
apenas seja possvel iluminar evidncias incompletas e imperfeitas 9.
Essa abordagem histrica aceita a interao dialtica entre economia e valores, entre
estrutura e operao, entre os elementos materiais e culturais da existncia10. Nesse estudo
sobre os internatos, essa relao dialtica percebida na educao11 disseminada por eles, que
em parte funcionou para a formao de uma identidade de classe. Assim, sabendo que o
universo dos estudantes internados nos colgios-internatos era formado predominantemente
por filhos e filhas oriundos das classes ricas e de segmentos mdios, a cultura dispensada
nesses colgios contribuiu para formar futuros dirigentes e intelectuais de um determinado
segmento social ou classe12 social, entendendo que a escola
9
THOMPSON, E. P. A misria da teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 50.
10
DESAN, Suzanne. Massas, comunidade e ritual na obra de E. P. Thompson e Natalie Davis. In: HUNT, Lynn.
A Nova Histria Cultural. So Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 69.
11
Utilizo o termo educao como forma de transmisso cultural, seja ela escolarizada ou todas as outras prticas
que tendem a incutir padres de comportamento. No caso dos internatos interessa os padres de civilidade
incutidos por meio de diversas prticas de sociabilidade e em espaos diversos.
12
Segundo o conceito de Thompson: A classe uma relao e no uma coisa [...] Ela no existe para ter um
interesse ou uma conscincia ideal [...] um fenmeno histrico. No vejo classe como uma estrutura, [...] mas
como algo que ocorre efetivamente e cuja ocorrncia pode ser demonstrada nas relaes humanas. A classe
acontece quando alguns homens, como resultado de experincias comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e
articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente
se opem) aos seus. THOMPSON, E. P. A formao da classe operria na Inglaterra. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987, p. 9.
13
PETITAT, Andr. Production de lcole. Production de la societ. Genve/Paris: Rie Droz, 1982, p. 70.
14
No pensamento de Bourdieu o capital cultural pode ser compreendido sob trs acepes ou estados: no estado
incorporado, ou seja, sob a forma de disposies durveis do organismo; no estado objetivado, sob a forma de
bens culturais [...] e no estado institucionalizado, forma de objetivao [...]. Essa forma de objetivao pode
ocorrer pela aquisio do diploma escolar. Com o diploma, essa certido de competncia cultural que confere
ao seu portador um valor convencional, contante e juridicamente garantido no que diz respeito cultura, a
alquimia social produz uuma forma de capital cultural que tem uma autonomia relativa em relao ao seu
portador e, at mesmo em relao ao capital cultural que ele possuii, efetivamente, em um dado momento
17
econmico15 das famlias. Deste modo, as famlias serviam-se dos internatos como uma
estratgia de reproduo educativa, movidas por [...] uma tendncia a perpetuar seu ser
social, com todos os poderes e privilgios [...]16. O internato quase sempre servia a esse
interesse, pois era um espao de distino social, ou diferenciao social, pela formao de
disposies ou de habitus, entendido como [...] princpio gerador e unificador que retraduz as
caractersticas intrnsecas e relacionais de uma posio em um estilo de vida unvoco, isto ,
em um conjunto unvoco de escolhas de pessoas, de bens e de prticas.17 O tempo de
permanncia no internato foi importante para a interiorizao desses princpios culturais
produtores de experincias comuns18.
Contudo, a transmisso de valores no se fazia sem conflitos. Nem todos se
enquadravam na frma do internato. Diante do regime de horrios, tarefas regradas e pela
prpria idade imatura e costumes trazidos de casa, os internos iam transgredindo, da forma
que podiam, diante das imposies dos fiscais e manifestando a recusa de viver no internato.
As anlises de Michel Foucault sobre o poder disciplinar19 e de Erving Goffman sobre
instituies totais apresentam-se como ferramentas importantes para a compreenso de
aspectos micros dos internatos, sobretudo das tcnicas disciplinares postas em circulao nos
internatos a fim de normalizar o interno aos propsitos do estabelecimento. No microcosmo
do internato, em geral, os internos eram submetidos a uma vigilncia hierrquica20 ou a uma
autoridade escalonada21 com muitos postos de observao (diretor, professor, inspetor) das
condutas individuais, dando ensejo a multiplicidades organizadas pelo controle do tempo e
do espao.
histrico. BOURDIEU, Pierre. Os trs estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, Maria Alice e CATANI,
Afrnio. (Orgs.). Escritos de educao. Petrpolis: Vozes, 1998, p. 78.
15
As trs noes de capital segundo Bourdieu so: o capital econmico, que corresponde a apropriao de
bens materiais, o capital social, conjunto das relaes sociais (amigos, laos de parentesco, contatos
profissionais, etc.) mantidas por um indivduo como estratgicas de apoios para a atuao, e o capital
simblico que corresponde ao conjunto de rituais (como as boas maneiras ou o protocolo) ligados honra e ao
reconhecimento. NOGUEIRA, Maria Alice e CATANI, Afrnio. (Orgs.). Escritos de educao. Petrpolis:
Vozes, 1998.
16
BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 1996, p. 35.
17
Ibid., p. 21.
18
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reproduo: elementos para uma teoria do sistema de
ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
19
O nvel de disciplinarizao de cada instituio dependia do grau de fechamento que procurou atingir, dos fins
proclamados e, sobretudo, da prtica cotidiana que o grupo dirigente imps aos internos. Diante disso, a pesquisa
buscar elucidar a trajetria do controle das individualidades, o poder disciplinar colocado em funcionamento
nos colgios internatos atravs do olhar hierrquico, da sano normalizadora e do procedimento do
exame FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da priso. 28 ed. Petrpolis: Vozes, 2003, p.143.
20
Ibid.
21
GOFFMAN, Erving. Manicmios, prises e conventos. So Paulo: Perspectiva, 1974.
18
22
Consoante Foucault, o [...] discurso sobre a masturbao adquire a forma muito menos de uma anlise
cientfica (embora a referncia ao discurso cientfico seja forte nele ...) do que a forma de uma verdadeira
campanha: trata-se de exortaes, trata-se de conselhos, trata-se de injunes. FOUCAULT, Michel. Os
anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 297.
23
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes,
2002, p. 74.
24
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p. 115.
25
HUNT, Lynn. A Nova Histria Cultural. So Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 24.
26
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til para anlise histrica. Recife, SOS corpo, 1990, p. 14.
27
PETITAT, Andr. Production de lcole. Production de la societ. Genve/Paris: Rie Droz, 1982.
19
trabalho de Philippe Aris no que diz respeito evoluo do modelo colgio-internato francs
(do internato ao externato), sua estrutura e funcionamento, entendido como espao
privilegiado para adestramento da infncia28.
29
Acrescentem-se ainda as contribuies de Antoine Prost sobre a vida escolar nos
internatos do sculo XIX, em que o autor apresenta a cultura dispensada pelos colgios como
fator importante para a formao de notveis ou futuros dirigentes. Para caracterizar a cultura
brasileira, suas rupturas e continuidades, so fundamentais, dentre outras, as contribuies de
Gilberto Freyre sobre a decadncia do patriarcado rural e o desenvolvimento urbano e seus
impactos na pedagogia de internar.
A fim de responder aos questionamentos propostos, foram utilizadas fontes30 diversas,
entre outras, relatrios (relatrios da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe, relatrios de
presidentes da Provncia de Sergipe, relatrios da Inspetoria Geral da Instruo Primria e
Secundria do Municpio da Corte, relatrios da Secretaria de Estado dos Negcios do
Imprio, relatrios de presidentes de provncias), teses doutorais das Faculdades de Medicina
da Bahia e do Rio de Janeiro, diversos documentos do Departamento de Inspeo Escolar de
Sergipe (DIES), plantas arquitetnicas de colgios-internatos, material fotogrfico, gravuras,
litografias, jornais, almanaques, revistas, prospectos e estatutos de colgios, livros de
viajantes e fontes bibliogrficas diversas que abordam a temtica do internato de forma direta
ou difusa.
Considerando que a dinmica de funcionamento do internato abordado pelo texto
literrio31 possibilita compreender as regularidades, o modus vivendi e as marcas culturais de
uma poca de internamento, os romances de internato32 de carter autobiogrficos, foram
explorados como fontes. Foram, sobretudo, fontes utilizadas para enfrentar a dificuldade de
captar e abordar aspectos da cultura do microcosmo dos internatos nas fontes tradicionais da
histria e a possibilidade de fazer a correlao entre srie literria e a vida social33.
28
ARIS, Philippe. De lexternat a linternat. In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie familiale sous l Ancien
Regime. Paris: Editions du Seuil, 1973. pp. 298-317.
29
PROST, Antoine. Histoire de lenseigment en France, (1800-1967). Paris: Armand Colin, 1968.
30
Optou-se pela atualizao da ortografia das fontes antigas, especialmente do sculo XIX.
31
PEREIRA, Leonice Rodrigues. Uma viso do internato atravs da leitura de Doidinho de Jos Lins do Rego e
de os Rios Profundos de Jos Maria Arguedas. 2002. Dissertao (Mestrado) Universidade de So Paulo, So
Paulo, 2002.
32
A fidelidade do romance brasileiro temtica do internato (indicaes exemplares: O Ateneu, de Raul
Pompia, em 1888, A falange gloriosa, de Godofredo Rangel, em 1917, Doidinho, de Jos Lins do Rego, 1933,
As trs Marias, em 1939, de Rachel de Queiroz, e Balo Cativo, de Pedro Nava.) levou estudiosos da literatura
brasileira, como Antonio Carlos Villaa (1995), a empregar o termo romance de internato para caracterizar
essa recorrncia nos escritos literrios do romance brasileiro. nesse sentido que o termo empregado neste
trabalho.
33
PERRONE-MOISS, Leyla (Org.). O Ateneu: Retrica e Paixo. So Paulo: Brasiliense: EDUSP, 1988.
20
34
LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003.
21
CAPTULO I
PRINCPIO DO INTERNATO
1
As primeiras universidades estavam compostas de quatro faculdades, a saber: Teologia, Direito, Medicina e
Artes Liberais. As trs primeiras so escolas especiais, de carter profissional. Quanto Faculdade das Artes,
propedutica, e confere a cultura geral indispensvel a qualquer especializao. Corresponde, por alto, ao ensino
secundrio. CLAUSSE, Arnould. A Idade Mdia. O perodo universitrio. In: DEBESSE, Maurice;
MIALARET, Gaston (Orgs.). Tratado das cincias pedaggicas. Histria da pedagogia. v. 2. So Paulo: Editora
Nacional, Editora da Universidade de So Paulo, 1974, p. 167. (Coleo Atualidades Pedaggicas Vol. 114)
2
Baseio-me principalmente no estudo de Emile Durkheim sobre a histria do ensino na Frana. DURKHEIM,
Emile. A evoluo pedaggica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995.
3
Ibid., p. 106.
24
4
O colgio da Sorbonne foi fundado em 1257 para receber 16 estudantes de teologia; o de Navarra, para
receber 20 estudantes de teologia, 20 de artes e, depois, 20 de gramtica. Esses prottipos vo multiplicar-se no
sculo XIV. CLAUSSE, Arnould. A Idade Mdia. O perodo universitrio. In: DEBESSE, Maurice;
MIALARET, Gaston. (Orgs.). Tratado das cincias pedaggicas. Histria da pedagogia. v. 2. So Paulo: Editora
Nacional, Editora da Universidade de So Paulo, 1974, p. 167.
5
DURKHEIM, Emile. A evoluo pedaggica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995, p. 107.
6
Ora, o verdadeiro internato, o internato propriamente dito, no o pensionato, mas sim o pensionato que ,
ao mesmo tempo, uma escola. Pois somente assim o internato est completo. Com efeito, assim o aluno encontra
na casa que o abriga tudo quanto necessrio sua vida tanto espiritual como material; est, portanto,
definitivamente separado do resto do mundo; o mundo cessa para ele nos muros que o abrigam e que ele no
pode mais transpor. Est enclausurado [...]. Alm desse enclausuramento, o internato integral tem o grave defeito
de ser um produto hbrido, devido fuso de regimes dificilmente conciliveis; por um lado, a escola; do outro,
o pensionato [...]. Id. , Ibid. , p. 115.
7
PETITAT, Andr. Produo da escola. Produo da sociedade. Anlise scio-histrica de alguns momentos
decisivos da evoluo escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994.
25
8
Dizemos em parte porque, na elaborao das congregaes ps-tridentinas, os elementos de derivao
humanstica so encaixados em formas organizativas rgidas, perdendo desse modo o papel de ruptura em
relao ao passado e o carter de liberao e de exaltao do homem que so aspectos tpicos das experincias
educativas dos mestres renascentistas. CAMBI, Franco. Histria da pedagogia. So Paulo: UNESP, 1999,
p.258
9
na Itlia, em Messina, que foi criado o primeiro colgio jesuta. em Roma que foram institudos o Colgio
Romano, depois o Colgio Germnico, sementeiras de professores jesutas. DEBESSE, Maurice. A criao dos
colgios de jesutas no sculo XVI. In: DEBESSE, Maurice; MIALARET, Gaston. (Orgs.) Tratado das cincias
pedaggicas. Histria da pedagogia. v. 2. So Paulo: Nacional, EDUSP, 1974, p. 212.
10
Como no Brasil, onde os jesutas fundaram diversas instituies de ensino. SERAFIM LEITE, S. I. Histria
da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao Nordeste. Estabelecimentos e assuntos locais, sculos
XVII XVIII. Lisboa: Livraria Portugalia; Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1945, p. 169.
11
DEBESSE, op. cit.
12
FRANCA S. J., Leonel. O Mtodo Pedaggico dos Jesutas O Ratio Studiorum Introduo e Traduo.
Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1952.
13
Sobre o mtodo pedaggico dos jesutas consultar FRANCA S. J., Leonel. O Mtodo Pedaggico dos Jesutas
O Ratio Studiorum Introduo e Traduo. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1952.
14
DEBESSE, op. cit., p. 216.
15
Segundo o padre Leonel Frana: Os prmios eram outro incentivo poderoso emulao fecunda. No os
inventaram os jesutas; mas sua distribuio deram tal realce e esplendor que a elevaram altura de um dos
26
Os alunos internos dos colgios jesutas, ao menos na Europa, possuam distines que
davam lugar a duas categorias de pensionistas: o chambristes, que representavam a minoria
dos alunos internos e se diferenciavam dos demais por disporem de preceptores particulares,
de criados e de alojamentos em quartos particulares; e a maioria dos outros internos, que no
dispunham dessas regalias, e eram acomodados em dormitrios coletivos. Neste ltimo caso,
atos mais importantes e ansiosamente desejados da vida escolar. Sob a presidncia de altas autoridades
eclesisticas e civis, na presena das famlias, galardoavam-se, em solenidades de raro brilho, os resultados finais
dos esforos do ano. O Ratio traa normas minuciosas relativas aos prmios, ao seu nmero, realizao e
julgamento dos concursos para apurar os merecimentos, sua distribuio solene. FRANCA S. J., Leonel. O
Mtodo Pedaggico dos Jesutas O Ratio Studiorum. Introduo e Traduo. Rio de Janeiro: AGIR, 1952, p.
64.
16
PETITAT, Andr. Produo da escola. Produo da sociedade. Anlise scio-histrica de alguns momentos
decisivos da evoluo escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994.
17
Tambm para Philippe Aris, os jesutas no tentavam nunca aumentar o efetivo de seus pensionrios, pois o
externato era o ideal deles. ARIS, Philippe. De lexternat a linternat. In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie
familiale sous l Ancien Regime. Paris: Editious Du Seuil, 1973, p. 298-317.
18
FRANCA, op. cit.
19
DURKHEIM, Emile. A evoluo pedaggica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995, p. 226.
27
a fim de evitar a promiscuidade nos dormitrios, cada pensionista tinha sua cela, espaada das
outras [...] por uma divisria de 2 metros e fechada por uma cortina. As celas formavam duas
fileiras paralelas ao longo da sala. Entre essas duas fileiras havia um corredor que servia de
local de reunio para as preces, bem como para as repeties [...]20.
Segundo Durkheim, o princpio do qual se originou o regime de internato dos colgios
decorreu da necessidade de colocar os estudantes (crianas ou adolescentes) sob o controle
(enclausurados21).
Quando no possui ainda uma experincia suficiente para poder ter um bom
desempenho no meio das coisas e das pessoas, quando no tem seno uma
conscincia muito incerta de sua individualidade nascente, indispensvel
que seja submetido a uma regra mais impessoal e a um controle mais
imediato. preciso que o meio moral no qual a criana vive a envolva mais
de perto para poder apoi-la com mais eficincia.22
20
DURKHEIM, Emile. A evoluo pedaggica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995, p. 226.
21
Ao falar-se dessa organizao, h uma palavra que vem espontaneamente aos lbios para descrev-la: a de
enclausuramento. E, com efeito, existem inegveis semelhanas entre o internato entendido assim e o regime
monacal. O segundo no teria, pois, sugerido o primeiro? No seria o internato integral um simples
prolongamento da idia monacal que ter-se-ia estendido, por um contgio natural, do domnio religioso ao
domnio escolar? Existe, alis, um fato que tende a fazer pensar que a hiptese no deixa de ter algum
fundamento [...]. Os primeiros colgios seculares de telogos que se fundaram encontraram, pois, na organizao
conventual o prottipo sobre o qual se moldaram [...]. DURKHEIM, op. cit., p. 116.
22
Ibid., p. 111.
23
PETITAT, Andr. Produo da escola. Produo da sociedade. Anlise scio-histrica de alguns momentos
decisivos da evoluo escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994, p. 90.
24
SNYDERS, Georges. A pedagogia em Frana nos sculos XVII e XVIII. In: DEBESSE, Maurice;
MIALARET, Gaston. Tratado das cincias pedaggicas. Histria da pedagogia. v. 2. So Paulo: Nacional,
EDUSP, 1974, p. 271.
25
Segundo Philippe Aris, o [...] desenvolvimento do internato a partir do final do sculo XVIII testemunha
uma concepo diferente da infncia e de sua incluso na sociedade. Busca-se separar a infncia de todas as
idades da sociedade: importa pelo menos na burguesia de isolar a infncia em um mundo parte, o mundo do
28
Para fazer a criana alcanar a piedade, a educao conta, antes de tudo, com
a humildade e o desapego; hbito indiscutido, em toda a vida do aluno, de
dobrar-se a imperativos, de aceitar plenamente ser dirigido; e, por outro lado,
exorta-se o aluno a desapegar-se e a preservar-se do mundo: a clausura do
internato, o mundo latino, que significa afastamento no passado e que,
sobretudo, constitudo para encarnar o tema da renncia. Da vem que o
valor do ser seja colocado muito menos na alegria de conhecer que numa
srie de passos penosos e rigorosos aos quais o homem deve submeter-se.26
internato. A escola o meio disso. Ela substitui a sociedade na qual todas as idades eram confundidas; exigia-se
que ele formasse crianas sob o modelo de um tipo humano ideal. ARIS, Philippe. De lexternat a linternat.
In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie familiale sous l Ancien Regime. Paris: Editious Du Seuil, 1973, p. 315.
26
SNYDERS, Georges. A pedagogia em Frana nos sculos XVII e XVIII. In: DEBESSE, Maurice e
MIALARET, Gaston. Tratado das cincias pedaggicas. vol. 2. Histria da pedagogia. So Paulo: Nacional,
EDUSP, 1974, p. 273.
27
Antes de Montaigne, protestaram em seus escritos contra a brutalidade dos castigos fsicos empregados pelos
regentes dos colgios Erasmo, Vives, Rebelais. [...] A palmatria deixava pungentes lembranas. Hbito
inveterado, e to espalhado que Tarsot afirma: Quem quer que ensinasse aoitava, quem quer que aprendesse
recebia o aoite . DEBESSE, Maurice. A Renascena. O pensamento pedaggico de Michel de Montaigne
(1533-1592). In: DEBESSE, Maurice e MIALARET, Gaston. Tratado das cincias pedaggicas. Histria da
pedagogia. v. 2. So Paulo: Nacional, EDUSP, 1974, p. 261.
28
[...] no quero que prendam o jovem; no quero que o abandonem ao mau humor e clera de um mestre-
escola furioso; no quero corromper-lhe o esprito torturando-o com trabalho, como o fazem a outros, 14 a 15
horas por dia, a exemplo de um carregador [...]. MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios Livro Primeiro.
Braslia: Editora Universidade de Braslia; Hucitec, 1987, p. 228.
29
29
MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios Livro Primeiro. Braslia: Editora Universidade de Braslia;
Hucitec, 1987, p. 229.
30
DEBESSE, Maurice. A Renascena. O pensamento pedaggico de Michel de Montaigne (1533-1592). In:
DEBESSE, Maurice; MIALARET, Gaston. (Orgs.) Tratado das cincias pedaggicas. Histria da pedagogia. v.
2. So Paulo: Nacional, EDUSP, 1974, p. 261.
31
CAMBI, Franco. Histria da pedagogia. So Paulo: UNESP, 1999, p.331.
32
Problemtica discutida no captulo terceiro deste trabalho.
33
Sobre a reputao dos colgios e liceus franceses consultar tambm: PERROT, Michelle. Figuras e papis. In:
PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
34
CARON, Jean-Claude. Os Jovens na escola: Alunos de Colgios e Liceus na Frana e na Europa (Fim do Sc.
XVIII Fim do Sc. XIX). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. Histria dos Jovens. A poca
Contempornea. So Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 156.
30
para a poca, de uma instruo escolar e pblica, que julga prefervel educao familiar e
privada35.
Segundo Maurice Debesse, a crtica de Jean Bodin direcionava-se para os dois
sistemas de instruo na poca; ou seja, o modelo colgio-internato francs e a educao
domstica feita por preceptores. O primeiro sistema pecava pela conhecida severidade, temida
por alunos e pais; e, o segundo, porque faltava na formao de crianas e adolescentes,
instrudos em casa, os contatos sociais com seus colegas. Alm do mais, na educao
domstica, os pais erravam ou por serem excessivamente severos ou por exagerarem na
compaixo36.
No sculo XVII, John Locke37, em sua obra Some Thoughts Concerning Education,
1693 (Algumas reflexes sobre a educao), demonstrou seu desagrado com a educao
oferecida nos colgios. Para ele, a vida nos internatos dos colgios era capaz das piores
influncias pelo alojamento de uma grande quantidade de meninos de toda origem social, e
tambm porque era impossvel que o mestre cuidasse da formao das virtudes de aluno
individualmente. Ainda mais porque, [...] el nio, durante la mayor parte de las veinticuatro
horas de cada da, est necesariamente abandonado a s mismo o al infljo pernicioso de sus
camaradas, influjo ms furete que todas las lecciones del maestro38. Deste modo, para Locke,
a educao devia ser ministrada em casa, com o auxilio de um preceptor.
Pero cmo um nio pueda adquirir el talento del trato, el arte de resolver sus
assuntos en el mundo por haber sido colocado en medio de um grupo de
nios disipados, de camaradas de todas as clases, por haber aprendido a
querellarse a propsito del trompo, o a haver trampas em el juego, eso me es
imposible comprenderlo. Y es difcil adivinar las cualidades que um padre
pueda esperar que sus hijos consigan em la sociedad de estos nios que
rene la escuela procedentes de todo gnero de familias. De lo que estoy
seguro es de que todo ele que pueda costear un preceptor y educar a su hijo
en su casa, Le asegurar mejor que toda escuela, maneras gentiles,
pensamientos viriles, el sentimiento de lo que es digno y conveniente, sin
contar que le obligar a hacer mayores progresos en sus estdios y tambin
que har madurar ms pronto al hombre en el nio. [...] Y si un joven
educado em su casa no est ms instrudo em estas virtudes de lo que estaria
35
DEBESSE, Maurice. A Renascena. Jean Bodin e a teoria da instruo pblica. In: DEBESSE, Maurice;
MIALARET, Gaston. (Orgs.). Tratado das cincias pedaggicas. Histria da pedagogia. v. 2. So
Paulo:EDUSP, 1974, p. 252.
36
Ibid., p. 253.
37
Os principais aspectos da teoria educativa de Locke, segundo Mariano Fernndez Enguita, so: Reduzir o
papel dos castigos na formao dos costumes; averso no ensino baseado nas lnguas clssicas e nas artes do
trivium (lgica, gramtica e retrica); horror pelas escolas pblicas, pois considerava lugar de depravao; defesa
da educao fsica e direcionamento de suas preocupaes educao do gentleman (nobres e burgueses).
ENGUITA, Mariano Fernndez. Prologo. In: LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin (1693). Madrid:
Akal, 1986.
38
Ibid., p. 100.
31
Que o mestre tivesse salrio pblico: que se lhe pagasse a casa ou casas,
onde estaria a penso: que o Delegado do Diretor dos Estudos tivesse esta
incumbncia de formar estas penses primeiramente na Corte e nas cidades
capitais; e tanto que uma ou duas estivesse estabelecida, se deveriam
imprimir instrues, para se estabelecer nas mais vilas e cidades. Deixo a
consider-lo de quem deseja ver aumentado o nmero dos sditos, por seu
nascimento e estado serem as mos e os ps da repblica, se entrara na
utilidade pblica o estabelecimento d'estas penses: todo o custo seria no
estabelecimento das primeiras quatro ou cinco; e em pouco tempo muitos
mestres, sem serem obrigados, as fundariam com permisso e aprovao
sempre do Delegado Diretor dos Estudos e Educao.41
39
LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin (1693). Madrid: Akal, 1986, p. 100.
40
Consultar ARIS, Philippe. De lexternat a linternat. In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie familiale sous l
Ancien Regime. Paris: Editious Du Seuil, 1973. Nesse mesmo sentido: Ponto comum, no entanto, entre Locke e
Rousseau: a crena na relao pessoal entre o mestre (mentor ou preceptor) e o aluno. Crena afirmada no
momento em que essa prtica, ainda preponderante na nobreza, rejeitada pela burguesia que povoa as classes
dos colgios com seus rebentos, enquanto parlamentares ou filsofos definem as bases de uma educao
nacional. CARON, Jean-Claude. Os Jovens na escola: Alunos de Colgios e Liceus na Frana e na Europa (Fim
do Sc. XVIII Fim do Sc. XIX). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. Histria dos Jovens: A poca
Contempornea. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 141.
41
SANCHES, Antonio Nunes Ribeiro. Cartas sobre a educao da mocidade. Coimbra: Imprensa da
Universidade, 1922, p. 134.
32
estudantes das Escolas Reais vivessem em clausura, seria o melhor mtodo de receber quela
tenra idade a melhor educao possvel [...]42.
Preocupado com a educao da nobreza e fidalguia portuguesa, Ribeiro Sanches igualmente
defendia a instituio de uma Escola Real Portuguesa, em moldes de internato. A economia
interior dessa instituio deveria observar algumas caractersticas. Deveria estar situada em
local afastado da Corte [...] que nem estudantes nem os mestres estejam distrados pelas
visitas dos parentes e amigos, e muito menos pelos divertimentos de uma capital ; todos os
administradores e empregados no servio da escola deveriam ser casados para evitar os
crimes contra a religio ; nenhum estudante deveria ter criado particular; todos os servios
domsticos, como varrer os quartos, limp-los, arrumar as camas, deveriam ser realizados por
uma mulher com idade de mais de cinquenta anos; os compartimentos do internato (quartos,
salas, cmaras), utilizados por administradores, professores e educandos, deveriam ser
decorados com o mesmo tipo de alfaias (mveis); tudo que fosse utilizado no estabelecimento
(alimentos, bebidas, vestimentas, calados, armas, etc.) deveria ser produzido no reino ou ser
proveniente dos domnios reais; a nenhum pensionista seria permitido adentrar no quarto ou
cmara dos seus colegas; e, no seriam permitidos os castigos fsicos. No lugar desses seriam
adotados a priso e outros43 a serem determinados pelo conselho econmico da escola.
Algumas dessas ideias eram praticadas em colgios-internatos europeus, especialmente
franceses, e continuaram marcando o internamento escolar no decorrer do sculo XIX,
inclusive no Brasil.
Na Frana44, o modelo colgio-internato teve um grande desenvolvimento, sobretudo a
partir do sculo XVIII at grande parte do sculo XIX45. Neste sculo, o internato se tornou
42
SANCHES, Antonio Nunes Ribeiro. Cartas sobre a educao da mocidade. Coimbra: Imprensa da
Universidade, 1922, p. 153.
43
O Maior que sente a Nobreza a desonra: o ser condenado a no freqentar as classes: o estar de p em
parada sem espada, e sem espingarda a vista dos Mestres e de seus iguais, serviria da mais eficaz correo. Ibid,
p. 187.
44
As funes sociais desempenhadas pelos colgios franceses: Chega uma poca em que se impem os
pensionatos e internatos. Entre os quinze e os dezoito anos, as moas seguem para l, a fim de concluir sua
educao moral e mundana, de adquirir essas artes recreativas destinadas a torn-la atraentes nos sales
matrimoniais. Os garotos, aquartelados em colgios ou liceus, preparam-se para o bacharelado, barreira e nvel
da burguesia. PERROT, Michelle. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da
Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 151.
45
At por volta de 1870, o internato no colgio ou nas penses enviando s classes do colgio, representavam
mais de 80% do efetivo total. O externato era reduzido a uma pequena minoria, de 10 a 15%, ou seja, exatamente
o contrrio do que se passava em um colgio do Antigo Regime. Era a situao que inspirava Taine estas linhas
amargas: Para receber a instruo secundria mais da metade da juventude francesa sofreu o internato,
eclesistico ou laico, o internato sob uma disciplina de caserna ou de convento. ARIS, Philippe. De lexternat
a linternat. In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie familiale sous l Ancien Regime. Paris: Editious Du Seuil,
1973, p. 315.
33
um fenmeno geral, sendo praticado na Alemanha, como na Inglaterra dos public schools46.
Todavia, como salienta Michelle Perrot, o ideal da educao domstica sob a vigilncia da
famlia [...] com preceptores e professores, de preferncia ingleses as misses -, continua a
ser alimentado por muitas famlias apaixonadas pela aristocracia ou pelo rousseaunismo e que
temem os contatos vulgares e pervertidos47.
O modelo colgio-internato entrou em declnio na Frana a partir da segunda metade
do sculo XIX, pois j no se atribua a ele, como no sculo XVIII, o valor de formao moral
e humana. Recorria-se ao internato a partir da apenas nos casos de distncia da residncia do
colgio, devido a dificuldades na famlia ou com o objetivo de possibilitar uma melhor
preparao para o ingresso nas grandes escolas. Como ressalta Philippe Aris, no caso da
Frana, o internato passa a ser
46
ARIS, Philippe. De lexternat a linternat. In: ARIS, Philippe. L enfant et la vie familiale sous l Ancien
Regime. Paris: Editious Du Seuil, 1973, p. 315.
47
PERROT, Michelle. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo
Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.150.
48
ARIS, op. cit., p. 315.
49
Enquanto as famlias populares ou camponesas, se querem dar continuidade aos estudos de seus filhos, se
vem obrigados a coloc-los em regime de internato, as famlias burguesas, na medida do possvel, recorrem ao
externato, tido tanto por Ernest Legouv quanto por George Sand como a melhor soluo. Essa famlia, mais do
que nunca, faz a educao, em face do Estado laico, um assunto privado. a isso que o ensino livre deve em
parte seu xito. PERROT, op. cit., p. 151.
34
Alm das crticas formuladas nas teses dos facultativos, o modelo colgio-internato
recebeu o parecer negativo do movimento pedaggico escolanovista51, iniciado nos Estados
Unidos e em pases europeus nos anos finais do sculo XIX e difundido no Brasil nas
primeiras dcadas do sculo XX. O movimento indicava como fatores negativos para a
formao do sujeito o ajuntamento de crianas e/ou adolescentes e jovens, o regime invarivel
e a regulao constante, acabando por interferir na livre iniciativa do sujeito.
O internato foi um tema controverso durante boa parte do sculo XIX, especialmente
na sua segunda metade. No havia consenso sobre os benefcios pedaggicos do
internamento. A esse respeito, ilustrativo um trecho da escrita, realista e autobiogrfica, de
Raul Pompia em O Ateneu (1888):
Nesse fragmento esto presentes duas posies sobre o internato bastante recorrentes,
em boa parte do sculo XIX, nos discursos de autoridades da instruo e em teses mdicas. A
primeira, provavelmente dominante, impingia ao internato um valor negativo. O modelo era
criticado por propiciar a corrupo fsica e moral dos colegiais. A segunda apontava o
50
Conforme anlise de um conjunto de teses produzidas pelos doutorandos das Faculdades de Medicina da
Bahia e do Rio de Janeiro, apresentada em outra parte deste trabalho.
51
Tambm denominado de Escolas Novas, defendia que A criana espontaneamente ativa e necessita,
portanto, ser libertada dos vnculos da educao familiar e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestao de
suas inclinaes primrias. Em consequncia dessa ideia, o movimento defendia que a educao escolar deveria
sofrer profundas mudanas, como afastar o prdio escolar do ambiente artificial e constritivo da cidade, a
aprendizagem devia ocorrer em contato com o ambiente externo e as atividades intelectuais deviam estar
conjugadas com as atividades prticas. No Brasil, o movimento teve como defensores, entre outros intelectuais
da educao, Ansio Teixeira, Fernando de Azevedo e Loureno Filho. CAMBI, Franco. O sculo XX at os
anos 50. Escolas Novas e ideologias da educao. In: CAMBI, Franco. Histria da Pedagogia. So Paulo:
UNESP, 1999, p. 514-515.
52
POMPIA, Raul. O Ateneu. So Paulo: tica, 2001, p. 144.
35
internato como um mal menor, recurso importante diante das longas distncias
(casa/colgio) e/ou da falta de estabelecimentos de ensino em determinadas localidades.
Igualmente existia quem defendesse o recurso ao internato como um espao ideal para
o pleno desenvolvimento das crianas e adolescentes. Neste ltimo caso, considerava-se que
as adversidades enfrentadas no internato agiriam positivamente para fortalecer o indivduo a
fim de enfrentar os desafios do mundo exterior. Em 1879, discorrendo sobre a educao da
mulher, Sanches de Frias fazia o seguinte questionamento: Qual o caminho a seguir na
instruo feminina, externato, internato ou na famlia?. Posicionava-se favorvel recluso e
regularidade do internato como um recurso conveniente ao adiantamento e correo dos
defeitos de uma menina: [...] horas regulares da alimentao, a distribuio sensata dos seus
trabalhos e dos seus recreios a podem melhorar, se no curar rapidamente, o que
totalmente impossvel, se no houver recluso e recluso prolongada e sem intermitncias53.
Ainda, para o autor, na condio de externa, a menina estava [...] exposta constante
convivencia dos criados, que a acompanham, s chalaas e dilogos picantes dos trues de
esquina e prtica das assuadas, jogos e entretenimentos dos garotos54.
Quando o governo imperial idealizou, no ano de 1882, o Congresso de Instruo, o
internato figurava entre as questes do programa55. O Congresso acabou no ocorrendo, e no
seu lugar foi organizada uma Exposio Pedaggica e a publicao de memrias e pareceres,
sabre os vrios temas propostos no programa56. A dcima terceira questo, que deveria ter
sido discutida pelos congressistas, tratava do regime de internato praticado nas escolas
normais e colgios pblicos de instruo secundria. Sobre esta questo foram apresentados
pareceres pelos doutores Joo Carlos de Oliva Maya, Manoel Antonio Duarte Moreira de
Azevedo e o Baro Homem de Melo.
O parecer do Dr. Joo Carlos de Oliva Maya foi favorvel adoo do internato,
desde que obedecesse a certas regras e fiscalizao do governo.
53
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p. 54.
54
Ibid., p. 57.
55
O plano do Congresso e o programa das questes sujeitas ao seu exame e discusso foram organizados pelo
conselheiro Lencio de Carvalho.
56
CONGRESSO DA INSTRUO. 1884. Rio de Janeiro. Atas e Pareceres... Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1884.
36
Por sua vez, o Dr. Manoel Antonio Duarte Moreira de Azevedo defendia que, diante
das condies geogrficas do Brasil, ainda no era possvel suprimir os internatos. Porm,
para o seu funcionamento adequado, os internatos deveriam ser instalados em espaos
salubres, em
57
MAIA, Joo Carlos de Oliva. O regime de Internato nos estabelecimentos de instruo secundria e nas
escolas normais. In: CONGRESSO DA INSTRUO. 1884. Rio de Janeiro. Atas e Pareceres... Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1884.
58
AZEVEDO, Manuel Antnio Duarte Moreira de. O regime de Internato nos estabelecimentos de instruo
secundria e nas escolas normais. In: CONGRESSO DA INSTRUO. 1884. Rio de Janeiro. Atas e
Pareceres... Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1884.
37
O Dr. Eurico Branco Ribeiro apresentava como ideal para o funcionamento adequado
de um internato um prdio completamente isolado de outros edifcios, com boa disposio e
com bastante arvoredo. Sobre esse aspecto ele concluiu que no existiam essas condies para
todos os internatos pesquisados, pois alguns deles estavam instalados em casas que serviram
de residncias para famlias, casas comuns, situadas entre outras. Segundo ele, os edifcios
dos colgios pesquisados podiam ser classificados em prdios especialmente construdos para
servirem como colgio-internato e os prdios adaptados59 para essa funo. Embora, os
primeiros apresentassem melhores condies sanitrias, todos padeciam de falhas que
deveriam ser corrigidas a fim de se adaptarem aos novos conceitos higinicos.
O Dr. Eurico Branco Ribeiro destacava como uma dessas falhas a adoo dos
dormitrios coletivos ou grandes sales, atulhados de camas, embora existissem internatos
que adotavam o sistema de dormitrios com compartimentos para trs ou quatro pessoas, e os
modelos intermedirios, caracterizados por serem
[...] um vasto salo dividido por paredes de meia altura em cubculos onde se
abrigam de trs a cinco pessoas. Em um deles, os corredores cortam o salo
ao meio, de modo que cada compartimento tem a sua janela, ficando os da
esquina aquinhoados com duas. Em outro, os corredores so volta do salo,
e os quartinhos, denominados boxes, constituem um bloco no centro. Um
tal sistema tem, pelo menos, a virtude de impedir o demasiado
aproveitamento do salo, que, se fosse aberto, daria lugar colocao de um
nmero muito maior de camas.60
Outro aspecto salientado na tese do Dr. Eurico Branco Ribeiro foi a questo do contato
entre internos e externos, visto como prejudicial pelos males fsicos e morais que poderiam
causar aos alunos internos. De fato, desde o sculo XIX, era recorrente no discurso mdico-
higinico a desaprovao desses contatos, especialmente por questes morais61.
Igualmente, no incio do sculo XX, precisamente no ano de 1912, o Dr. B. Vieira de
Mello, encarregado do Servio de Inspeo Mdico Sanitrio das Escolas de So Paulo,
organizou um conjunto de preceitos higinicos que deveriam ser observados para a instalao
59
Adaptaes nem sempre correspondentes aos preceitos higinicos: s vezes a disposio boa, mas o
compartimento acanhado, como no caso de um dos estabelecimentos por ns visitados, que converteu a
cozinha de uma casa de famlia em cozinha para atender a uma centena de pessoas. RIBEIRO, Eurico Branco.
A higiene nos internatos: Estudo das condies sanitrias dos internatos de So Paulo. In: COSTA, Maria Jos
Franco Ferreira da; SHENA; Denlson Roberto; SCHMIT; Maria Auxiliadora. (Orgs.). I Conferncia Nacional
de Educao. Braslia: SEDEIA/ INEP/ IPARDES, 1997, p.493.
60
Ibid., p. 486.
61
Pode ser consultada, entre outras, a tese do Dr. Candido Balbino da Cunha. CUNHA, Balbino Candido da.
Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais tendentes conservao da saude,
e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio
de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854.
38
62
MELLO, B. Vieira. Requisitos para um bom internato. So Paulo: Weiszflog Irmos, 1912.
63
BURGERSTEIN, Leo. Higiene escolar (traduo 3 edio alem pelo Dr. Lyon Davidovich). Rio de Janeiro:
Atlntida Editora 1934, p. 181.
64
Mesmo desprezando os argumentos morais, a prpria cincia dir os males produzidos pelas perdas seminais
dos mocinhos, cujo organismo em formao deve economizar todas as foras necessrias ao prprio
crescimento. [...] Crescido no desperdcio de to precioso elemento, o moo se ver prejudicado tanto nas
resistncias do corpo como nas faculdades superiores da inteligncia e da vontade. Est muito de acordo com os
estudos de endocrinologia, to avanados nos ltimos tempos. NEGROMONTE, A. A educao sexual (para
pais e educadores). Rio de Janeiro: Edies Rumo, Rio de Janeiro, 1941, p. 152.
39
A educao fsica e esportiva era vista como uma prtica bastante vantajosa para
afastar os meninos e moos das conversaes perigosas, dos vcios e das perverses sexuais.
Da seu uso acentuado em determinados internatos, como mtodo de desviar o pensamento
dos jovens de prticas condenadas e mant-los constantemente ocupados.
Enfim, as questes ligadas higiene e propagao de perverses sexuais
continuavam marcando o discurso de intelectuais que abordavam o uso do internato escolar.
Quanto permanncia do modelo, imperava o dissenso.
65
NEGROMONTE, A. A educao sexual (para pais e educadores). Rio de Janeiro: Edies Rumo, Rio de
Janeiro, 1941, p. 44.
66
SERAFIM LEITE, S. I. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao Nordeste.
Estabelecimentos e assuntos locais, sculos XVII XVIII. Lisboa: Livraria Portugalia; Rio de Janeiro: Instituto
Nacional do Livro, 1945, p. 169.
40
pela transmisso das letras clssicas e o exerccio das prticas de devoo aos santos da
Igreja, da penitncia e das virtudes.
Os seminrios introduzidos pelos jesutas tambm esto nas origens das prticas de
internamento no Brasil. A Companhia fundou o primeiro colgio-seminrio no sculo XVII,
denominado de Seminrio de Belm da Cachoeira (1687), no Recncavo da Bahia. No
decorrer do sculo XVIII outros seminrios foram fundados em diversas localidades, como na
Paraba (1745), em Paranagu (1754), no Par (1749), no Maranho (1751) e em Pernambuco
(1798). Nestes seminrios a vida era de internamento em que os alunos, alm da instruo,
recebiam moradia e sustento. Com a expulso dos jesutas, outras ordens religiosas, como os
oratorianos, fundaram os seus seminrios em terras braslicas.
Os seminrios, conquanto fossem instituies reservadas instruo de moos que se
destinavam carreira eclesistica, igualmente recebiam alunos para serem instrudos no curso
de humanidades. Neste sentido, como explica o padre Serafim Leite, o Seminrio de Belm,
dirigido pelo padre Alexandre de Gusmo, foi o primeiro colgio com internato de ensino
secundrio do Brasil, onde os internos aprendiam a doutrina catlica e o curso de
humanidades (latim, arte e retrica), conforme a capacidade dos ouvintes, segundo a ordem
das classes da Companhia67.
Com os estudos de humanidades concludos, os alunos egressos do Seminrio de
Belm seguiam itinerrios diferentes. Alguns viajavam para Portugal a fim de se matricular na
Universidade de Coimbra; outros seguiam a vocao religiosa e eram admitidos na Ordem dos
Jesutas ou em outras ordens68.
Tambm possua esse duplo sentido (colgio-seminrio) o Seminrio de Olinda,
fundado em 1800, por Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, bispo de Olinda. O
estabelecimento destinava-se a jovens que almejavam carreira religiosa, mas igualmente [...]
absorvia estudantes que prosseguiriam seus estudos de nvel superior em Portugal, recrutados
entre as mais importantes e abastadas famlias do Nordeste, que remuneravam o
estabelecimento escolar pela educao de seus filhos69. O plano de estudo do Seminrio de
Olinda era composto de cinco matrias, a saber: gramtica latina, retrica, filosofia, geometria
67
SERAFIM LEITE, S. I. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao Nordeste.
Estabelecimentos e assuntos locais, sculos XVII XVIII. Lisboa: Portugalia; Rio de Janeiro: Instituto Nacional
do Livro, 1945, p. 185.
68
Ibid.
69
ALVES, Gilberto Luiz. Azeredo Coutinho. Recife: Fundao Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 2010, p.
54.
41
70
O que representou o golpe de misericrdia e a desarticulao definitiva desses colgios-seminrios catlicos
foi o surgimento dos liceus e dos colgios pblicos, depois da Independncia. Nas regies mais desenvolvidas do
pas, portanto, o predomnio dos colgios-seminrios se estendeu por meio sculo, aproximadamente, j que se
iniciara no ltimo quartel do sculo XVIII. ALVES, Gilberto Luiz. Azeredo Coutinho. Recife: Fundao
Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 2010, p. 65.
71
Conforme o Regulamento do Seminrio de Belm da Cachoeira, copilado pelo padre Serafim Leite.
SERAFIM LEITE, S. I. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao Nordeste.
Estabelecimentos e assuntos locais, sculos XVII XVIII. Lisboa: Livraria Portuglia; Rio de Janeiro: Instituto
Nacional do Livro, 1945, p. 182.
72
Hbito de sacerdote; batina. ROUPETA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da
Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 1250.
73
Tecido comum de l. ESTAMENHA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da
Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 576.
74
Cabelo desegrenhado e longo. GADELHAS. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio
da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 708.
75
Nos conventos e recolhimentos era costume que meninas, mulheres e moas ricas fossem reclusas
acompanhadas de escravas ou servas para servi-las em seus cuidados pessoais. Prtica existente, por exemplo, no
Convento da Soledade na Bahia. FERREIRA, Adnia Santana. A recluso feminina no Convento da Soledade:
As diversas faces de uma experincia (Salvador Sculo XVIII). 2006. Dissertao (Mestrado em Histria)
Universidade de Braslia, Braslia, 2006.
42
justificando essa proibio por causa da necessidade de que os alunos [...] se sirvam a si, e
uns aos outros quando esto doentes; e para se acostumarem a ter cuidado das coisas, eles
sero os sacristos, porteiros, etc., e varrero seus cubculos, faro suas camas, etc.76.
Contudo, para os servios gerais do estabelecimento, o colgio-seminrio dispunha de
escravos.
Igualmente, existiam regras que orientavam como os jesutas da Casa deviam cuidar
dos meninos internos (E para os Nossos que assistirem no Seminrio aprovou as ordens
seguintes), de modo que os pequenos no sentissem falta do carinho materno e os grandes no
se apresentassem indisciplinados. Os castigos deviam ser frequentes, mas moderados, e [...]
se a falta for secreta, o padre reitor no seu cubculo o castigue, de sorte que se no saiba a
falta e se emende o culpado [...]77. Tambm deviam ser evitados o contato dos alunos com
pessoas do sexo feminino e as visitas ao internato de pessoas que no fossem religiosas, a fim
de se evitar os pecados contra a moral e as ms influncias do mundo exterior.
Havia tambm um conjunto de regras a serem observadas na conduta diria do
internato (Ordem que se deve guardar no Seminrio de Belm). Assim, ressaltava que
bastavam aos pensionistas oito horas de repouso ou sono, devendo, ao romper do dia, ser
despertados ao som do toque de uma campa (sino) e de batidas nas portas dos respectivos
cubculos. Acordados, os alunos deviam seguir em silncio para as primeiras atividades
religiosas do dia (preces matinais, missa), depois seguiam os estudos, que somente seriam
interrompidos para o almoo, que se dava antes das oito horas.
Depois do almoo, ainda observando a regra do silncio, continuavam os estudos,
depois uma hora de repouso, quando tinham licena para falar at o momento da refeio
seguinte. Em seguida, novo repouso, seguindo novas oraes e execuo das tarefas da classe,
com a advertncia de que seriam castigados os que desrespeitassem a proibio de falar, at as
trs horas quando se reuniam novamente em classe de estudos. Finalizada a aula, podiam falar
at o incio das lies de solfa (msica), e, logo se seguia, sucessivamente, a ceia, o repouso, a
lio espiritual, as preces noturnas, e se retiravam para os respectivos cubculos para dormir78.
Informa o padre Serafim Leite que o Seminrio de Belm possua todas as
acomodaes necessrias a um colgio-internato, tanto para a moradia e alimentao tanto dos
alunos como dos padres da Companhia, ou seja, salas de aulas, ptio, cubculos, biblioteca,
76
Regulamento do Seminrio de Belm da Cachoeira, copilado pelo padre Serafim Leite. SERAFIM LEITE, S.
I. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao Nordeste. Estabelecimentos e assuntos locais,
sculos XVII XVIII. Lisboa: Livraria Portuglia; Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1945, p. 182.
77
E para os Nossos que assistirem no Seminrio aprovou as ordens seguintes. Ibid, p.186.
78
Ordem que se deve guardar no Seminrio de Belm Ibid, p.187.
43
capela, cozinha, dispensa, refeitrio, tanques e fonte de gua, residncia dos padres, portaria e
casa de hspedes. Observando a planta79 apresentada pelo padre Serafim Leite possvel
perceber que o prdio do Seminrio de Belm imitava as antigas construes claustrais,
fechadas, com dois grandes ptios no seu interior que, em alguns pontos, os grandes colgios-
internatos do sculo XIX, principalmente aqueles ligados a congregaes religiosas,
procuraram imitar80.
Por sua vez, o regulamento intitulado Estatutos do Seminrio Episcopal de N. Senhora
da Graa da Cidade de Olinda de Pernambuco81 (1798), ou simplesmente Seminrio de
Olinda, ordenado pelo bispo Azeredo Coutinho, tambm apresenta algumas evidncias da
economia do internato. O documento dividido em trs partes, ou seja, as disposies
relativas a observncia econmica, moral e literria. Segundo o estatuto, o Seminrio
recebia duas categorias de colegiais, meninos pobres, rfos ou filhos de pais pobres
(numerrios), e, colegiais extranumerrios, ou porcionistas que se sustentem a sua custa.
Os colegiais pobres, alm dessa condio social, deveriam comprovar que sabiam ler e
escrever, serem filhos legtimos, sem nota de infmia82, sem doena e terem ao menos 12 anos
de idade. Deveriam tambm trazer para o colgio, a ttulo de enxoval, cama e roupa branca,
um roupo de druguete preto (samarra83) sem sobremangas (para uso no cotidiano do colgio
e nas aulas), uma beca de cor roxo-claro, sem mangas (para uso em pblico e para sair a rua) e
livros. Advertia tambm que o traje composto de meias, sapatos e fivelas fosse proporcional
condio de pobreza, [...] e quando sarem rua, levaro meias de laia pretas, ou de linha de
79
Seminrio de Belm da Cachoeira. Planta, por justaposio, da que se guarda no Arquivo Geral da
Companhia. In: SERAFIM LEITE, S. I. Histria da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo V. Da Baa ao
Nordeste. Estabelecimentos e assuntos locais, sculos XVII XVIII. Lisboa: Livraria Portugalia; Rio de Janeiro:
Instituto Nacional do Livro, 1945, p.166.
80
A exemplo do Colgio Episcopal de S. Pedro de Alcntara, no Palcio do Rio Comprido, no Rio de Janeiro:
Este estabelecimento, situado em um arrabalde prximo da corte e reconhecidamente das mais saudveis, ocupa
ainda o ponto mais importante do Rio Comprido. Um edifcio de forma claustral, com capacidade para duzentos
alunos, casa separada para professores e criados; no centro de uma extensa chcara, com jardim, passeios [...].
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro
para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 444.
81
Estatutos do Seminrio Episcopal de N. Senhora da Graa da Cidade de Olinda de Pernambuco ordenados por
D. Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, bispo de Pernambuco do Conselho de S. Majestade
Fidelssima, fundador do mesmo Seminrio. (1798). [Transcrito da fonte original] In: ALVES, Gilberto Luiz.
Azeredo Coutinho. Recife: Fundao Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 2010, p. 54.
82
Para Antnio Manuel de Almeida Costa traduzia-se a infamia facti num juizo de desvalor moral, dirigido pela
colectividade contra a pessoa de um de seus membros. Ou seja, consistia num juzo desfavorvel sobre a
personalidade de um indivduo, podendo, conforme a mundividncia da poca, assentar numa multiplicidade de
fundamentos: v.g., quer na condio de nascimento, quer na prtica de actos ou na adopo de formas de vida
contrrios ao cdigo tico-social vigente. COSTA, Antnio Manuel de Almeida. O registro criminal: histria,
direito comparado, anlise poltico-criminal do instituto. Coimbra: Faculdade de Direito de Coimbra, 1985, p.
40.
83
Batina leve e simples de sacristo. SAMARRA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo
dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 1265.
44
cor honesta, mas nunca de seda; por serem imprprias da pobreza, a cujo ttulo foram
admitidos84. A fim de guardar a roupa de uso pessoal e mant-la conservada e com asseio, os
internos deveriam trazer para o colgio-seminrio uma arca, ou ba.
Os colegiais extranumerrios ou porcionistas deveriam ter as mesmas qualidades
exigidas para a admisso dos colegiais pobres. Assim, eram obrigados a trazer o mesmo
enxoval e, alm disso, efetuar o pagamento da penso ou cngrua anual. No momento da
admisso dos colegiais porcionistas, estes deveriam ser advertidos de que no haveria
distino ou tratamento diferenciado entre eles e os colegiais pobres (numerrios):
84
Estatutos do Seminrio Episcopal de N. Senhora da Graa da Cidade de Olinda de Pernambuco ordenados por
D. Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho XII Bispo de Pernambuco do Conselho de S. Majestade
Fidelssima, fundador do mesmo Seminrio. (1798). [Transcrito da fonte original] In: ALVES, Gilberto Luiz.
Azeredo Coutinho. Recife: Fundao Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 2010, p. 78.
85
Ibid., p. 80.
45
86
Estatutos do Seminrio Episcopal de N. Senhora da Graa da Cidade de Olinda de Pernambuco ordenados por
D. Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho XII Bispo de Pernambuco do Conselho de S. Majestade
Fidelssima, fundador do mesmo Seminrio. (1798). [Transcrito da fonte original] In: ALVES, Gilberto Luiz.
Azeredo Coutinho. Recife: Fundao Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 2010, p. 82.
87
Ibid., p. 86.
88
Costume tambm adotado nos colgios-internatos do sculo XIX, especialmente os religiosos. O regulamento
do Colgio Caraa, em Minas Gerais (1820), determinava como deveres do porteiro: 4. Quando algum
estudante for procurado dar parte ao diretor para com ordem sua ir falar. 5. Nada receber de fora para os
estudantes, e nem os estudantes para fora que no passe por mo do diretor. Regulamento do Seminrio da
Imperial Casa de N. S. Me dos Homens da Serra do Caraa Transcrio encontrada em ANDRADE, Mariza
Guerra de. A educao exilada. Colgio do Caraa. Belo Horizonte: Autntica, 2000, p. 175.
46
89
Motivaes para o ingresso de meninas, jovens e mulheres nos conventos e recolhimentos: [...] a imposio
dos pais e/ou maridos, a instituio do morgadio, regime em que os herdeiros poderiam abrir mo da herana em
prol de irmos mais velhos ao se tornarem religiosas, o zelo dos pais com a formao espiritual e escolar de suas
filhas, a fim de prepar-las para o estado de religio ou de matrimnio, ou a prpria escolha de muitas jovens
mulheres pela vida religiosa. FERREIRA, Adnia Santana. A recluso feminina no Convento da Soledade: As
diversas faces de uma experincia (Salvador Sculo XVIII). 2006. Dissertao (Mestrado em Histria)
Universidade de Braslia, Braslia, 2006, p. 6.
90
O primeiro convento do Brasil foi o de Santa Clara do Desterro, fundado na Bahia em 1677.
91
ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro. O sexo devoto: normatizao e resistncia feminina no imprio portugus
(XVI-XVIII). 2003. Tese (Doutorado em Histria) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.
92
FERREIRA, op. cit., p. 8.
93
Ibid.
47
Pernambuco, ainda no Sculo XVI, pelos padres Antonio da Nbrega e Antonio Pires94. No
final do sculo XVIII ficou famoso o Recolhimento de Nossa Senhora da Glria do Lugar da
Boavista de Pernambuco, fundado pelo bispo Dom Jos Joaquim da Cunha Azeredo
Coutinho.
Os recolhimentos estavam dentro dos ideais da reforma pombalina, conforme
explicitado por Ribeiro Sanches95 na obra Cartas sobre a educao da mocidade (1759). Para
o autor, sendo as mes as primeiras mestras das crianas, seria impossvel incutir a [...] boa
educao na fidalguia portuguesa enquanto no houver um Colgio ou Recolhimento, quero
dizer uma escola com clausura para se educarem ali meninas da fidalguia desde a mais tenra
idade [...]96.
Ainda, para Ribeiro Sanches, se as meninas e moas fidalgas fossem bem educadas
nos conhecimentos da religio, das obrigaes da vida civil, e em uma instruo restrita aos
conhecimentos da geografia, da histria sagrada e profana e aos trabalhos manuais senhoriais
(bordar, pintar, estofar), no perderiam tempo com a leitura de novelas amorosas e versos
[...] que nem todos so sagrados: e em outros passatempos, onde o nimo no s se dissipa,
mas s vezes se corrompe; mas o pior desta vida assim empregada que se comunica aos
filhos, aos irmos, e aos maridos97.
Adentrando o sculo XIX, o internamento para fins de instruo foi assumido
predominantemente pelos colgios particulares, confessionais ou no. Ficaram famosos os
colgios fundados por congregaes catlicas, entre outros, o Colgio Caraa98 fundado em
Minas Gerais, no incio do sculo XIX, pela Congregao da Misso de So Vicente de Paulo
dos padres lazaristas franceses. Por sua vez, os colgios particulares no confessionais
tiveram um grande impulso, sobretudo pela demanda por instruo das camadas ricas e
extratos mdios da populao. Na grande maioria desses estabelecimentos existiam trs
94
SERAFIM LEITE, S. I. Novas pginas de Histria do Brasil. So Paulo. Companhia Editora Nacional, 1965,
p. 80.
95
Pedagogo e planejador prtico de muitas das reformas educacionais do Marqus de Pombal. TOBIAS, Jos
Antonio. Histria da Educao Brasileira. So Paulo. Juriscredi, 1972.
96
SANCHES, Antonio Nunes Ribeiro. Cartas sobre a educao da mocidade. Coimbra: Imprensa da
Universidade, 1992.
97
Ibid., p. 192.
98
Reduto de uma disciplina implacvel tal, como retratada por Gilberto Freyre, o Caraa tornou-se alguma
coisa de sinistro na paisagem social brasileira [...], arrebatando os meninos aos engenhos [...]; s fazendas das
sertanejas de criar: s casas de stio; aos sobrados da cidade. E reduzindo-os a internos, em um casaro triste, no
meio das montanhas, dentro de salas midas, com estampas de So Lus Gonzaga pelas paredes, [...].
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. So
Paulo: Global, 2003, p.185.
48
[...] nas freguesias de fora da cidade [...] onde a populao ainda bastante
disseminada, seriam os meninos obrigados a percorrerem grandes distncias
e a sofrerem os rigores das estaes, com grande dano de sua sade, para
irem quotidianamente receber na escola as lies do professor.
[...]
99
Dois sistemas diversos so adotados na educao da mocidade: os meninos, ou residem nos colgios
internatos, ou somente frequentam as aulas durante o dia, retirando-se tarde para a casa paterna externatos.
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.25.
100
Formado em direito pela Faculdade de Direito de Olinda. Exerceu diversos cargos pblicos (juiz, chefe de
polcia, ministro da Justia, inspetor geral da Instruo Pblica Primria e Secundria do Municpio da Corte) e
diversos mandatos eletivos de deputado provincial, deputado geral e senador.
http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=1616&li=13&lcab=1867-1868&lf=13
101
A defesa da instalao de internatos para a instruo primria aparece nos relatrios da Inspetoria da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte do conselheiro Euzbio Queiroz dos anos de 1856 a
1862, perodo em que exerceu o cargo de Inspetor Geral da Instruo do Municpio da Corte.
102
Freguesias de fora: Inhama, Iraj, Jacarepagu, Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba, Ilha do Governador e
Paquet.
49
Quer seja porm obstculo real que cumpre superar, quer seja pretexto a que
se socorre a m vontade, que indispensvel destruir, no menos certo que
nas freguesias de fora da cidade so as distncias uma das causas mais
poderosas para a pouca frequncia da maior parte das escolas, e as
circunstncias excepcionais dessas localidades esto indicando que o meio
mais fcil de remover os inconvenientes que temos assinalado, e tornar mais
teis as escolas pblicas, dar-lhes uma organizao tambm excepcional e
mais acomodada s necessidades da populao que a se acha estabelecida.
Parece-me que se cada uma dessas escolas constitusse uma espcie de
internato, desapareceriam a um tempo as dificuldades que se opem ao
desenvolvimento e progresso da instruo primria.103(grifo nosso)
103
CMARA, Euzbio de Queiroz Mattoso Coutinho. Relatrio do estado da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 15 de fevereiro de 1856. (Anexo). In: FERRAZ, Luiz Pedreira de Couto.
Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1856, p. 11.
104
Ibid., p. 11.
105
CMARA, Euzbio de Queiroz Coutinho Mattoso. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primaria e
Secundria do Municpio da Corte apresentado em 25 de abril de 1858. (Anexo K). In: FERRAZ, Luiz Pedreira
do Coutto. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos
Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857.
106
Com o advento da Repblica, o nome da instituio foi alterado para Instituto Nacional de Instruo
Secundria e, logo em seguida, para Ginsio Nacional. Em 1911 readquiriu sua primitiva designao.
107
BRASIL. Decreto de 2 de dezembro de 1837. Converte o Seminrio de S. Joaquim em colgio de Instruo
Secundria, com a denominao de Colgio de Pedro II, e outras disposies. Rio de Janeiro, 1837.
50
108
Em 1739, foi fundado o Colgio dos rfos de So Pedro, origem do Seminrio de So Joaquim.
109
Homem de slida formao humanstica de irradiao francesa, Bernardo Pereira de Vasconcellos tinha
como objetivo criar no Brasil um estabelecimento nacional de ensino que recordasse a grandeza do Colgio de
Frana, considerado o maior monumento cultural da Europa. DORIA, Escragnolle. Memria histrica do
Colgio de Pedro Segundo. 1837-1937. (1937). Braslia: Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos (INEP),
1997.
110
O Colgio Pedro II contou com o mecenato do patrono o imperador D. Pedro II. CHWARCZ, Lilia Moritz.
As barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos trpicos. So Paulo: Companhia das Letras, 2010.
111
DORIA, op. cit.
112
BRASIL. Regulamento n. 8, de 31 de janeiro de 1838. Contm os estatutos para o Colgio de Pedro II. Rio de
Janeiro, 1838.
113
BRASIL. Decreto n. 2006 de 24 de outubro de 1857. Aprova o Regulamento para os colgios pblicos de
Instruo Secundria do Municpio da Corte. Rio de Janeiro, 1857.
114
INTERNATO do Imperial Collegio de Pedro II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1885.
51
115
Provncias do Par, Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraba, Alagoas, Sergipe.
116
Seguindo a opinio de alguns de meus ilustrados antecessores, penso, senhores, que o Liceu deve ser
convertido em um internato [...] para que o benefcio que este estabelecimento presta s famlias da capital
chegue tambm as que moram fora dela. PENNA, Herculano Ferreira. Fala do presidente da Provncia da
Bahia Assemblia Legislativa em 10 de abril de 1860. Bahia: Typ. de Antonio Olavo da Frana Guerra, 1860,
p.52.
117
Todos os moos que se destinam a formaturas de medicina e direito aprendem em colgios na Bahia e no
Maranho ou em Pernambuco todos os seus preparatrios, e isso porque no h na provncia um internato no
qual possam os pais de famlia confiar seus filhos. Se assim , e se gastamos tanto dinheiro com o Liceu sem
resultados maiores, no se perderia nada em organizar um internato custa da provncia, que oferecesse a todos
os pais de famlia as seguranas indispensveis para educao de seus filhos [...]. Relatrio do presidente da
Provncia do Piau (1852), conforme copilao realizada por Primitivo Moacyr. MOACY, Primitivo. A instruo
e as Provncias. Subsdios para a histria de Educao no Brasil (1834-1889). So Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1939, p. 257.
118
BARROS, Sebastio do Rego. Fala do presidente da Provncia do Par Assemblia Legislativa Provincial
no dia 15 de agosto de 1854. Par: Typ. da Aurora Paraense, 1854, p. 12.
119
BARRETO, Francisco Xavier Paes. Relatrio do presidente da Provncia do Maranho em 13 de abril de
1858. So Luiz do Maranho: Typ. da Temperana, 1858, p. 10.
120
MAYA, Jos da Silva. Relatrio do presidente da Provncia do Maranho em 28 de outubro de 1870. So
Luiz do Maranho: Typ. de Jos Mathias, 1871, p. 8.
52
Uma forma idealizada para a criao de internato na instruo pblica secundria foi a
implantao deste atravs de contrato entre o governo e um empresrio. Neste caso, cabia ao
governo subvencionar o ensino (material escolar, professores pblicos, prdio) e ao
empresrio o fornecimento de alojamento e refeies (penso) e demais necessidade de um
internato pelas quais deveria ser remunerado atravs das penses pagas pelos alunos
pensionistas e meio-pensionistas. Esta modalidade de internato foi tentada, entre outras, na
121
CASTRO, Gomes de. Relatrio do presidente da Provncia do Maranho Assemblia Legislativa
Provincial em 3 de maio de 1871. So Luiz do Maranho: Typ. B. de Mattos, 1871, p. 17.
122
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha e. Relatrio do presidente da Provncia de Pernambuco Assemblia
Legislativa Provincial no ano 1855. Recife: Typ. de M.F. de Faria, 1855, p. 13.
123
Como os internatos pblicos instalados no ano de 1855 nas cidades de Laranjeiras e Estncia pelo presidente
da Provncia de Sergipe Incio Joaquim Barbosa. BARBOSA, Incio Joaquim, Relatrio do presidente da
Provncia de Sergipe em 1 de maro de 1855. Typographia Provincial de Sergipe, 1855, p. 11.
124
Assim tambm na Provncia de Pernambuco: [...] reconheo que as despesas com um estabelecimento da
ordem do internato sero suficientemente compensadas no s pela penso, que devem pagar os alunos internos
e externos, como pela grande utilidade que ele h de prestar provncia. FIGUEIREDO, op. cit., p.13.
125
Citao extrada de copilao realizada por Primitivo Moacyr. MOACY, Primitivo. A instruo e as
Provncias. Subsdios para a histria de Educao no Brasil (1834-1889). So Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1939, p. 255.
53
126
Essa questo est aprofundada no captulo 4 desta pesquisa.
127
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 26.
128
LIMA, Henrique Victor. Relatrio do Director da Instruo Pblica. (Anexo) In: CUNHA, Manoel
Clementino Carneiro da. Relatrio do presidente da Provncia da Paraba do Norte Assemblia em 1 de
agosto de 1857. Paraba: Typ. de Jos Rodrigues da Costa, 1857. p. 5.
129
Provncias onde havia previso legal, ou autorizao da Assembleia Legislativa Provincial para a criao de
internatos nos estabelecimentos pblicos de ensino secundrio: Sergipe, Pernambuco, Paraba, Alagoas, Par,
Maranho.
130
BORGES, Ablio Cesar. Relatrio sobre a Instruo Pblica da Provncia da Bahia. Bahia: Typographia de
Antonio Olavo da Frana Guerra e Comp., 1856.
54
131
ALBUQUERQUE, Antonio Colho de S e. Fala do presidente da Provncia de Alagoas no ano de 1856.
Recife: Typ. de Santos & Companhia, 1856, p.30.
132
CASTRO, Gomes de. Relatrio do presidente da Provncia do Maranho Assemblia Legislativa
Provincial em 3 de maio de 1871. So Luiz do Maranho: Typ. B. de Mattos, 1871, p. 17.
55
133
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 25.
134
Ibid., p. 25.
135
Ibid., p. 27.
136
Ibid., p. 27.
56
ministrada na famlia, era impossvel realiz-la nos internatos leigos ou religiosos por mais
bem dirigidos que fossem. O regime cenobtico137 dos internatos era capaz de destruir todos
os [...] sentimentos elevados, recebidos durante os primeiros anos da vida, no interior da
famlia mais virtuosa; a falta de uma terna me durante os longos anos de estudos clssicos
deixa traos indelveis nos coraes mais bem formados138. Argumentava, ainda, que o
internato no preparava os jovens para viver em sociedade, pois quando estes deixavam o
colgio, mostravam-se inexperientes para enfrentar as dificuldades ou resistir aos vcios. No
cotidiano do internato, aprendiam a obedecer com servilismo e hipocrisia. E, mais, a falta de
convivncia com o sexo oposto acarretava como inconveniente no poderem ter critrio
necessrio para escolher uma mulher para esposa e no poderem desfrutar da salutar
influncia que exerciam as mulheres sobre os costumes.
Todavia, em certas circunstncias, os pais eram obrigados a enviar seus filhos aos
internatos. Assim, o Dr. Joo da Matta Machado aconselhava que o diretor do
estabelecimento escolhido fosse casado139 e portador de algumas qualidades para minimizar
os perigos do internato. O diretor ou professor de um internato deveria exercer o magistrio
como sacerdcio, ter uma instruo slida e variada, firmeza de carter, retido de
conscincia, abnegao completa, pacincia inquebrantvel e amar os meninos que lhe fossem
confiados. Mas, segundo o Dr. Machado, o que se via nos colgios mais bem dirigidos, nas
casas de educao mais afamadas da Corte Imperial era o [...] diretor, seco, spero e egosta,
armado constantemente de nojenta frula, odeia profundamente seus alunos, e ainda mais
odiado por eles! [...]140.
Contudo, a descrena na capacidade educativa do internato no era uma ideia absoluta.
Quanto a isso, so elucidativas as palavras do presidente da Provncia do Piau: Continuo a
pensar que o Liceu nenhuma utilidade prestar provncia enquanto no for nele instalado o
internato [...]. Tais estabelecimentos so teis porque renem a dupla vantagem da instruo e
137
De, pertencente ou relativo a cenobitas. CENOBTICO. Indivduo que leva vida, retirada mas em comum
com outros que tm seus mesmos interesses, princpios ou prerrogativas. CENOBITA. In: FERREIRA, Aurlio
Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 305.
138
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 62.
139
Uma condio, que nos parece de grande importncia, de ser, aquele que se prope a educar meninos,
casado e pai de numerosa famlia. Somente em tal escola poderia ele ter conhecido a sua vocao, aprendido a
difcil arte que se prope a executar. A pouca experincia que temos suficiente para nos permitir afirmar que,
dadas as mesmas circunstncias, saber melhor desempenhar essa rdua misso o pai de famlia que souber
cumprir com os seus deveres, do que o homem solteiro que nunca soube viver seno para si, que desconhece as
santas alegrias da famlia, e que, sobretudo, no aprendeu a adivinhar as mil necessidades da infncia. Ibid., p.
63.
140
Ibid., p. 63.
57
tinha lugar o servio do Colgio, camas de ferro, colches, travesseiros, toalhas, lenis e
moblias que no fossem propriamente escolar, iluminao e alimentao145, mdico e botica,
servios de asseio. Todos esses bens e servios deveriam ser disponibilizados para at dez
internos, professores e empregados internos.
Pelo contrato, o empresrio tambm ficava obrigado a manter uma casa, pertencente
ao desembargador Antonio de Cerqueira Lima, asseada e reformada para o uso da Escola
Normal feminina, bem como a roa contgua a essa escola e todos os bens e servios
disponibilizados ao internato da Escola Normal masculina.
O empresrio Dr. Francisco Pereira de Almeida Sebro receberia do governo baiano a
quantia de 16:000$00 contos de ris para o atendimento de at dez normalistas em cada um
dos internatos. Por qualquer aluno ou aluna que excedesse esse nmero, em cada uma das
escolas, o governo pagaria a quantia anual de 450$000 ris; a de 400$000 ris excedendo
vinte normalistas; a de 350$000 ris quando exceder a 30; a de 300$000 ris excedendo de
40; mas que, sendo o nmero inferior a dez, nenhum desconto seria aplicado na quantia de
16:000$00 ris.
Os discursos e/ou medidas tomadas por autoridades provinciais mostram que o
internato, amplamente utilizado nos colgios particulares, tambm foi pensado e utilizado na
instruo pblica, principalmente com o intuito de desenvolver os estabelecimentos
provinciais de ensino secundrio que se ressentiam com a falta de alunos.
145
[...] sendo a alimentao s, abundante, e de peixe fresco ou salgado ao menos uma vez na semana, afora os
dias da semana santa, que sero de comida magra. TERMO DE contrato feito entre a Diretoria Geral dos
Estudos e o Dr. Francisco Pereira de Almeida Sebro, para a fundao das duas Escolas Normais primrias ... ,
em 5 de fevereiro de 1861. (Anexo). In: PINTO, Antonio da Costa Pinto. Fala do presidente da Provncia da
Bahia Assemblia Legislativa em 1 de maro de 1861. Bahia, Typ. de Antonio Olavo da Frana Guerra, 1861.
59
CAPTULO II
O OLHAR DA MEDICINA SOBRE OS INTERNATOS
Com a reforma do ensino mdico de 1832, a defesa de uma tese no ltimo ano do
curso era um requisito obrigatrio para aqueles que almejassem o ttulo de doutor em
Medicina1. Os alunos concluintes que no defendiam uma tese recebiam somente o ttulo de
bacharel em Medicina. Os autores dessas teses abarcaram nos seus escritos, alm de temas
que, nos dias atuais, poderiam ser classificados como especficos do campo da Medicina, uma
grande variedade de temas sociais. Deste modo, os mdicos deixaram registros importantes
sobre a realidade social brasileira e, especialmente para os objetivos desta pesquisa, temas
direta ou indiretamente relacionados higiene dos colgios-internatos.
As representaes do campo mdico, expostas em algumas dessas teses, so utilizadas
como fontes, devidamente cotejadas com outros registros, para a compreenso dos internatos
em dois aspectos: primeiro, analisando o diagnstico, as representaes dos mdicos sobre a
situao dos internatos na poca, especialmente no sculo XIX e incio do sculo XX, e em
segundo, destacando as medidas apresentadas para o funcionamento de um internato dentro
dos padres mdico-higinicos.
Nesse intuito, foram analisadas catorze2 teses doutorais de titulados pela Faculdade3 de
Medicina do Rio de Janeiro (FAMERJ), constantes do acervo da Biblioteca Alfredo
Nascimento da Academia Nacional de Medicina (ANM-RJ), produzidas e publicadas no
sculo XIX e compreendidas no perodo de 1840 a 1875, e onze teses doutorais de titulados
pela Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), constantes do acervo da Biblioteca da
1
Passados todos os exames, o candidato no obter o ttulo de doutor, sem sustentar em pblico uma tese, o que
far, quando quiser. As Faculdades determinaro por um regulamento a forma destas teses, que sero escritas no
idioma nacional ou em latim, impressos, custa do candidato; os quais assim como os farmacuticos, e as
parteiras, pagaro tambm as despesas feitas com os respectivos diplomas. Os exames sero pblicos e sobre as
matrias do ponto, que o examinando tirar por sorte. Os estatutos determinaro a sua distribuio e forma.
BRASIL. Lei de 3 de outubro de 1832. D nova organizao s atuais Academias Mdico- cirrgicas das cidades
do Rio de Janeiro e Salvador. Rio de Janeiro, 1832.
2
Selecionadas a partir da consulta s obras de Gilberto Freyre (2005), Jos Gonalves Gondra (2004), Jos
Leopoldo Ferreira Antunes (1999), Jurandir Freire Costa (2004) e Roberto Machado (1978).
3
As Academias mdico-cirrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia sero denominadas Escolas ou Faculdades de
Medicina do Brasil. BRASIL. Lei de 3 de outubro de 1832. D nova organizao s atuais Academias Mdico-
cirrgicas das cidades do Rio de Janeiro e Bahia. Rio de Janeiro, 1832.
60
FAMEB, selecionadas a partir de uma lista publicada na Gazeta Mdica da Bahia 4, de teses
produzidas e publicadas no perodo de 1840 a 1928.
As teses da FAMERJ e da FAMEB foram utilizadas em conjunto, buscando, a partir
dessas representaes do campo mdico, compreender a realidade dos internatos na vida
social brasileira, especialmente no contexto dos colgios-internatos das cidades do Rio de
Janeiro e de Salvador e suas similaridades com os internatos em Sergipe.
A repetio de alguns temas abordados nas teses da FAMERJ, segundo Jos Gondra,
pode ser explicada atravs das normas estatutrias da Faculdade que
7
GONDRA, Jos Gonalves. Artes de civilizar: medicina, higiene e educao escolar na Corte Imperial. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2004, p. 151.
63
8
A luta contra o charlatanismo (curandeiros, espritas, barbeiros, sangradores, benzedeiros, boticrios,
homeopatas) foi tambm uma das estratgias utilizadas pelos mdicos para se legitimarem e monopolizar a cura.
SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas Trincheiras da Cura. As diferentes medicinas no Rio de Janeiro Imperial.
1995. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1995.
9
Como cemitrios, quartis, escolas, prostbulos, fbricas, matadouros, casas.
10
MACHADO, Roberto. Danao da norma: a medicina social e constituio da psiquiatria no Brasil. Rio de
Janeiro: Graal, 1978. / Consultar tambm COSTA, Freire Costa. Ordem Mdica e Norma Familiar. Rio de
Janeiro: Graal, 2004, p.30.
11
MACHADO, op. cit., p. 280.
12
De fato, o saber mdico, especialmente as prescries higienistas, teve circulao atravs de jornais, revistas,
especialmente com o patrocnio da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e das prprias faculdades. Pode ser
citado como exemplo extratos de recomendaes publicados nos jornais: Ao povo se deve aconselhar: 1
Que evite a ingesto de comidas grosseiras ou de difcil digesto, apimentadas, ou sobrecarregadas de temperos
excitantes. 2 Que se abstenha em geral do uso das bebidas alcolicas excitantes, e bem assim dos purgantes
drsticos como o Le Roy e outros do gnero. 3 Que se no submeta ao prolongada do sol. 4 Que no
promova o cansao, e nem se entregue as penosas fadigas. 5 Que faa passeios brandos e por lugares arejados.
64
6 Que faa uso repetido de banhos e de bebidas cidas e refrigerantes. 7 Que mude de roupa o mais
frequentemente que for possvel. 8 Finalmente que conserve a maior limpeza do corpo, e do interior de sua
habitao. E para que chegue notcia de todos se mandou publicar o presente edital. Pao da Ilm Camara
Municipal do Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1850. Dr. Candido Borges Monteiro, presidente. EXTRATO do
parecer da Academia Imperial de Medicina. O Correio Sergipense. So Cristvo, p.2, 23 fev. 1850.
13
GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes
conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os
nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.7.
14
CUNHA, Balbino Candido da. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais
tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854, p. 20.
15
Sobre outras influncias tericas recebidas pelos autores das teses da FAMERJ consultar GONDRA, Jos
Gonalves. Artes de civilizar: medicina, higiene e educao escolar na Corte Imperial. Rio de Janeiro: EdUERJ,
2004.
16
Edio espanhola: DESLANDES, M. L. Compendio de higiene pblica y privada: o tratado elemental de los
conocimientos relativos la conservacion de la salud, y la perfeccion fsica y moral de los hombres (Tomo
Primeiro). Gerona: En la oficina de A.Olva, 1829.
17
LEVY, Miguel. Tratado completo de higiene publica. Madrid: Libreria de los Senres viuva de Callega e
hijos, 1816, p. 9.
65
aumentar a fora digestiva; enfim, ela indica as precaues a tomar-se no comeo das
indisposies para suavizar nossos males ou desviar graves molstias18.
Alm desses conhecimentos filosficos e dos tratados sobre higiene, os mdicos
produziram seus estudos a partir do conhecimento in loco de uma realidade social de cidades
com grande presena de colgios funcionando com internatos. Na segunda metade do sculo
XIX e incio do sculo XX, nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, onde a maioria dos
autores das teses analisadas estudaram e residiam, existia um grande nmero de colgios-
internatos para os quais convergiam alunos provenientes de grupos elitizados das provncias,
principalmente em busca do ensino secundrio para a continuao dos estudos nos cursos
superiores.
Alguns mdicos tambm se utilizaram de suas experincias como diretores,
professores e pensionistas de colgios-internatos. Neste ltimo caso, pode ser citado o Dr.
Joo da Matta Machado19, que levou em considerao sua experincia como pensionista20 no
Colgio de Santo Antonio21, para refletir sobre as condies higinicas dos internatos da
Corte Imperial.
Em relao s faixas etrias foram as crianas (segunda infncia)22 e os adolescentes
que os mdicos procuraram atingir com suas prescries higienistas. Com relao aos sexos,
as orientaes se dirigiam tanto para os colgios masculinos como femininos, ressaltando
sempre as distines de tratamento entre os sexos. Em geral, os moos eram representados
pela trade paternidade, fora e proteo e as moas,23 maternidade, beleza e fraqueza.
18
CUNHA, Balbino Candido da. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais
tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854, p. 20.
19
Dr. Joo da Matta Machado. Natural de Diamantina (Minas Gerais), filho de Joo da Matta Machado e Amlia
Senhorinha Caldeira da Matta. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 15 de dezembro de
1874, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica,
intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G.
Leuzinger & Filhos, 1875, p.25.
20
Relata o Dr. Joo da Matta Machado que: Em 1865 retirei-me da minha provncia natal em demanda de
meios de instruo que eram escassos no interior. Consideraes de amizade e parentesco a um distinto
professor, que nessa poca regia a cadeira de matemticas do Colgio Santo Antonio, determinaram meu pai a
deixar-me nesse estabelecimento dirigido pelo Rev. Cnego Pereira, respeitvel ancio, encanecido no
magistrio. Ibid., p.25.
21
Dirigido pelo Cnego Francisco Pereira de Souza, localizado na Corte Imperial, em uma Chcara da Marquesa
de Valena, Rua dos Invlidos, n. 4. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 24
ano, 1867, p. 411.
22
Para o Dr. Joo da Matta Machado, a segunda infncia comeava no desmame at a puberdade, podendo ser
dividida em duas fases: primeiro perodo: desmame at os 7 anos, segundo perodo: 7 anos at a puberdade.
MACHADO, op. cit., p.25.
23
O Dr. Antenor Augusto Ribeiro Guimares dizia: Toda moa deve aspirar ao casamento e seus elementos de
felicidade para o futuro se resumem em um marido e nos filhos. GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A
higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das
66
foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia
Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.51.
24
Michelle Perrot tambm observou a preocupao mdica com a puberdade. Essa autora diz: Essa noo de
momento crtico retomada ao longo do sculo XIX, notadamente pelos mdicos que, entre 1780 e 1880
escrevem dezenas de teses sobre a puberdade dos meninos e meninas, e os remdios a serem ministrados. A
adolescncia, alm de ser um perigo para o individuo, tambm um perigo para a sociedade. PERROT,
Michelle. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa
Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, 149.
25
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 26.
26
Externato Aquino localizado, no ano de 1871, na Rua da Ajuda n. 50 A (dentro da chcara da Floresta). Nesse
ano frequentaram o estabelecimento 161 alunos. O estabelecimento contava como professores, alm Diretor o
bacharel em cincias matemticas Joo Pedro de Aquino, o bacharel Joo Jos Luiz Vianna, Dr. Manoel Thomaz
Alves Nogueira, bacharel Theophilo das Neves Leo , Jos Cardoso da Silva, Jose da Maia, Nuno Ferreira de
Andrade, Dr. Agostinho de Souza Lima. FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios
das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e
Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado
Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1872.
67
dois poderosos agentes higinicos, de cuja falta nos internatos, onde so mais necessrios,
tanto nos lamentamos27.
27
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 86.
28
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 443.
29
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1880. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 37 ano, 1880, p. 621.
68
Ainda verberava o Dr. Joo da Matta Machado30 contra os internatos, dizendo que
feliz era o pai que podia livrar seus filhos das [...] emanaes pestferas destas casas de
negcio, que se pavoneiam com o ttulo de estabelecimentos de educao! [...]. Entretanto, o
citado mdico reconhecia que o internato ainda era um [...] mal necessrio, uma excrescncia
social, cuja extirpao , ao menos na atualidade, impossvel. [...]. Assim, nos casos de que
no se podia prescindir dos internatos, as solues higinicas deveriam ser adotadas pelos
diretores para diminuir os efeitos negativos sade dos pensionistas.
No incio do sculo XX, a desaprovao do internato permaneceu presente no discurso
mdico. No ano de 1910, o Dr. Raul Mendes de Castilho Brando31 tambm apresentava o
internato como modelo propcio corrupo fsica e moral da mocidade. Para ele, era
revoltante que muitos pais que habitavam em Salvador, e que possuam outros meios e
recursos financeiros, colocassem desumanamente seus filhos como internos em colgios.
Alm do mais, os bons costumes, enfim, a educao moral, somente a famlia seria capaz de
realizar.
Todavia, destoando das teses mdicas contrrias ao internato, em 1921, o Dr. Claudon
Ribeiro da Costa32 escrevia, embora de forma sucinta, que no encontrava razes para
condenar o modelo colgio-internato, quando bem ajustado s medidas higinicas, pois em
todos os pases adiantados produzia timo resultado.
O fato que, apesar da crtica dominante dos facultativos em relao ao modelo
colgio-internato, como j dito anteriormente, ele foi predominante na instruo privada na
Corte e nas provncias, oferecendo vagas para trs modalidades de colegiais, ou seja,
pensionistas (internos), meio-pensionistas (semi-internos) e externos. Na realidade, ficaram
em parte subjugados os preceitos higinicos s necessidades sociais e interesses econmicos
dos diretores de colgios.
30
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 26.
31
Dr. Raul Mendes de Castilho Brando, natural do Estado do Rio Grande do Norte, filho de Jos J. de Castilho
Brando e Rosa Mendes Brando. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 31 de outubro
de 1910, pela Faculdade de Medicina da Bahia. BRANDO, Raul Mendes de Castilho. Breves consideraes
sobre a educao sexual. Bahia: Imprensa Nova, 1910, p.5.
32
Dr. Claudon Ribeiro da Costa, natural do Estado do Cear, filho de Jos Ribeiro da Costa e Maria Maciel
Parente Ribeiro. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 30 de outubro de 1921, pela
Faculdade de Medicina da Bahia. COSTA, Claudon Ribeiro da. Higiene nas escolas. Bahia: Imprensa Social,
1921, p. 86
69
Esse trecho reflete o tom da oratria empregada pelos mdicos em suas teses sobre as
condies dos internatos. A esse respeito, em 1857 o mdico Joo Goulart Rolim34
conclamava a sociedade do Rio de Janeiro a refletir sobre a situao dos colgios-internatos
da capital do Imprio: A esto os nossos colgios, examinai-os um por um, e vede se em
todos eles se observa com toda a cautela as regras prescritas pela higiene35. E conclui o autor
pela negativa. Nesse mesmo sentido so as concluses de outros mdicos da FAMERJ, a
exemplo de Candido Teixeira de Azeredo Coutinho36, que julgava a maioria dos internatos
como casas de especulao imoral e perigosa37.
Ainda no sculo XIX, encontramos a desaprovao do internato tambm em teses de
mdicos da FAMEB, a exemplo da dissertao38 do Dr. Sulpcio Germiniano Barroso39, que
reputava o internamento responsvel pelo desenvolvimento de muitos vcios, especialmente
o onanismo e a pederastia.
33
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 83.
34
Dr. Joo Goulart Rolim, natural de Angra dos Reis (Rio de Janeiro). Defesa da tese e obteno do ttulo de
doutor em medicina em 14 de setembro de 1857, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. ROLIM, Joo
Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos: regras principais tendentes conservao
da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos
colgios. (Quarto ponto. Cincias Mdicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos, 1857.
35
ROLIM, Joo Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nosso: regras principais tendentes
conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem
regular os nossos colgios. (Quarto ponto. Cincias Mdicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos, 1857, p.14.
36
Dr. Candido Teixeira de Azeredo Coutinho, filho de Jos Vicente de Azeredo Coutinho e Rita Candida de
Azeredo Coutinho. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina no ano de 1857, pela Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos colgios
aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das foras
fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typografia
Universal de Laemmert, 1857.
37
Ibid., p.7.
38
BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves consideraes acerca do onanismo ou masturbao. Bahia:
Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853, p.8.
39
Dr. Sulpcio Germiniano Barroso, natural de Cachoeira (Bahia), filho de Cypriano Gonalves Barroso. Defesa
da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 12 de dezembro de 1857, pela Faculdade de Medicina da
Bahia. Ibid.
70
Ainda para o citado facultativo a prova da penosa rotina vivida pelos meninos nos
internatos podia ser observada nas condies fsicas dos mesmos, em sua fisionomia
descorado e triste, resultante do [...] desgosto, que o estudo assim apresentado lhes inspira,
nasce a hipocrisia, e para escapar s punies que os perseguem, os meninos se lanam na
mentira, e procuram iludir seus mestres44. Corroborando com esse parecer, o Dr. Joo da
Matta Machado, afirmava que nos grandes colgios-internatos, sobretudo naqueles dirigidos
40
A educao do menino brasileiro, na descrio do norte-americano James Cooley Fletcher, que viveu no Brasil
entre os anos de 1851 e 1865: A educao do menino brasileiro melhor do que a de sua irm. H, contudo,
uma grande dose de superficialidade: Ele transformado num pequenino velho artes de ter doze anos de
idade, com o seu chapu duro de seda preta, colarinho em p e bengala; e, na cidade, anda como se todos
estivessem olhando para ele, e como se o houvessem enfiado num colete. No corre, no trepa, nem roda o arco
ou atira pedras, como as crianas da Europa e da Amrica do Norte. mandado na mais tenra idade para um
colgio onde cedo adquire o conhecimento da lngua francesa, e os rudimentos comuns da educao em
portugus. Embora os pais residam na cidade, fica interno no colgio e somente em certas ocasies visitado.
Aprende a escrever em boa caligrafia, o que um dom universal entre os brasileiros: e a maioria dos meninos
das classes superiores so bons msicos, tornam-se adeptos do latim, e muitos deles, segundo dizem, falam
ingls com certa fluncia. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros:
esboo histrico e descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p. 196.
41
Entre outros, consultar as proposies de CRUZ, Jos de Souza Pereira da Junior. Esboo de uma higiene de
colgios, aplicvel aos nossos; regras principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem reger os nossos colgios (Proposies). Rio de Janeiro:
Typographia Brasiliense Maximiano Gomes Ribeiro, 1857.
42
Dr. Antonio Francisco Gomes, natural de Pirahy (Rio de Janeiro), filho de Jos Luiz Gomes. Defesa da tese e
obteno do ttulo de doutor em medicina em 9 de dezembro de 1852, pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro.
43
GOMES, Antonio Francisco. Influncia da educao fsica do homem. Rio de Janeiro: Typographia Dous de
Dezembro, 1852, p.12.
44
Ibid, p.13.
71
45
O Dr. Joo da Matta Machado mostrou-se severo crtico da educao dispensada nos colgios confessionais:
A educao de um povo livre, regido pelos princpios da democracia moderna, deve ser forosamente leiga; o
sacerdote, dedicado aos interesses espirituais, segregado, pela ndole de sua nobre profisso, dos interesses
mundanos, obrigado at a combater o esprito do sculo, a proclamar a nulidade dos bens temporais, no poder,
com certeza, educar convenientemente um jovem que no futuro seja cidado ativo, independente e, sobretudo,
entusiasta do progresso moral e material da sociedade em que vive. MACHADO, Joo da Matta. Da educao
fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G.
Leuzinger & Filhos, 1875, p. 7.
46
Um estudo das aptides mrbidas dos primeiros anos nos faz repugnar com a idia de enviar meninos de
quatro, cinco, seis anos como internos dos colgios. Antes dos sete anos os rgos irritam-se facilmente e no
podem suportar sem grave prejuzo um ar carregado das emanaes de muitos peitos; a tortura de dez ou doze
horas de imobilidade e silncio superior s suas foras e desenvolvimento fsico. GUIMARES, Antenor
Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes conservao da sade, e ao
desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de
Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.29.
47
Em anncios de jornais ou outros peridicos do sculo XIX alguns estabelecimentos anunciavam receber
como pensionistas meninos com idade de 5 a 10 anos de idade. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da
Provncia de S. Paulo para o ano de 1881. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 38 ano, 1881, p.
648.
48
BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves consideraes acerca do onanismo ou masturbao. Bahia:
Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853.
49
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p. 10.
72
educao domstica ou nos externatos, evitando que os pequenos, uma vez sujeitos aos
rigores dos internatos, adquirissem to cedo o horror ao estudo.
Alm de serem admitidas nos internatos crianas em idade desaconselhvel, outro
problema se ajuntava a este, ou seja, era costume na organizao dos colgios a imposio das
mesmas regras higinicas e disciplinares a alunos de todas as idades. Uma criana que, muitas
vezes, no tinha mais que cinco ou seis anos de idade, achava-se nas mesmas condies do
adulto. Para os mdicos, essa uniformizao de tratamento no regime dos internatos resultava
na debilidade fsica e moral dos pensionistas.
Da mesma forma, a inadequada diviso do tempo das atividades estudo, recreao50,
alimentao, asseio, sono , caracterizada por longas horas de estudo e tarefas sem o descanso
higinico51, era um fator prejudicial sade dos pensionistas. Ao passo que a educao
intelectual era marcada pelo exagero, a educao fsica, segundo os mdicos52, era
praticamente desconhecida53 nos colgios da Corte Imperial, inclusive no Colgio Pedro II54.
Corroborando com a crtica dos mdicos em relao deficincia ou inexistncia da
educao fsica nos colgios, o conselheiro Euzbio de Queiroz Coitinho Mattoso Camara,
inspetor geral da Instruo do Municpio da Corte, relatava, em 1858, ao governo imperial a
lacuna no Colgio Pedro II e a deficincia nos demais colgios da educao fsica. Para ele, o
governo deveria agir para introduzir no internato do Colgio Pedro II os exerccios ginsticos,
sem os quais a educao no estabelecimento estaria incompleta. Outrossim, lembrava os
50
A recreao um componente importante do pensamento pedaggico de John Locke: El recreo es tan
necesario como el trabajo y la alimentacin; ahora bien: como ho hay recreo sin placer, y el placer depende ms
frecuentemente de la simpata que de la razn, debis permitir a los nios, no solamente divertirse, sino
divertirse como elllos lo entienden, con tal de que sea inocentemente y sin peligro para su salud. LOCKE, John.
Pensamientos sobre la educacin [1693]. Madrid: Akal, 1986, p.147.
51
Submeter as crianas diariamente e por tempo imenso, como se dar em nossos colgios, severidade e rigor,
e, muitas vezes, aos caprichos e impacincia de mestres e inspetores de estudos que os condenam, estes ao
silncio e imobilidade, aqueles a um esforo sobrenatural de seu fraco esprito debaixo da impresso constante
do medo: no obstar poderosamente ao seu desenvolvimento fsico e espiritual? No definhar-lhes o corpo,
matar-lhes a inteligncia, e formar para a sociedade cidados pouco duradouros, e inteis quando no
perniciosos?. MAFRA, Joaquim Jos de Oliveira. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos:
regras principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Empreza Typographica Dous de Dezembro
De Paula Brito, 1855, p.4.
52
A exemplo do Dr. Joo da Matta Machado: A educao fsica completamente descurada; e nisto, justo
dizer-se, esto de acordo com a doutrina que ensinam: para que o esprito possa lutar vitoriosamente contra as
tentaes da carne necessrio que as foras fsicas no predominem, que no se faa concesses besta
(denominao que aplicam acintosamente parte material do homem), que existe to ligada ao esprito, que dela
depende to imediatamente que j diziam os antigos com grande critrio: mens sana in corpore sano.
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 8.
53
Embora alguns mdicos afirmem o desconhecimento ou a falta da educao fsica nos colgios, especialmente
na Corte, os anncios, prospectos e regulamentos dos colgios desde o final da primeira metade do sculo XIX
anunciavam a prtica de diversas atividades fsicas em seus estabelecimentos.
54
Joaquim Jos de Oliveira Mafra, 1855; Joaquim Pedro de Mello, 1846.
73
55
CMARA, Euzbio de Queiroz Coutinho Mattoso. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primaria e
Secundria do Municpio da Corte apresentado em 25 de abril de 1858. (Anexo K). In: FERRAZ, Luiz Pedreira
do Coutto. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos
Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857, p.9.
56
COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos. Regras
principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as
quais se devem regular os nossos Colgios. Rio de Janeiro: Typografia Universal de Laemmert, 1857, p.8.
57
O uso e o significado da cafua: H em certos colgios quartos denominados cafuas, os quais so o mais
pernicioso meio de castigo para a mocidade: porque situados quase sempre na parte inferior dos edifcios, sem
janelas ou aberturas por onde penetre o ar, e quase sempre muito midos, so estes quartos imundos, onde so
encarcerados os inocentes jovens, e para maior cmulo de desesperao, s vezes por dias e privados de
alimentos! Compreendem todos facilmente quo perigosa a recluso nesses lugares por muito tempo. SILVA,
Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869, p. 20.
58
Ideia encontrada no pensamento pedaggico de John Locke: [...] una disciplina servil forma caracteres
serviles. El nio se somete y finge obediencia em tanto que el temor al ltigo acta sobre el; pero quando se libra
de l y no lo tiene a la vista y puede prometerse la impunidad, da rienda suelta a sus naturales inclinaciones, las
cuales, lejos de debilitarse por este mtodo, se aumentan por el contrario y se fortifican en l, y, em um instante
dado, estallan on ms violencia. LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin [1693]. Madrid: Akal, 1986,
p. 78.
59
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 62.
60
A localizao e a organizao do espao interno das instituies urbanas foram dois grandes princpios da
anlise mdica no sculo XIX. MACHADO, Roberto. Danao da norma: a medicina social e constituio da
psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
61
As deficincias higinicas encontradas nos internatos tambm eram denunciadas nas habitaes. Do ponto de
vista da higiene, a habitao antiga prestava-se a todo tipo de crtica. Sua arquitetura fechada, impermevel ao
exterior, elaborada para responder ao medo dos maus ares, ventos e miasmas foi duramente atacada pelos
mdicos como insalubre e doentia. COSTA, Freire Costa. Ordem mdica e norma familiar. Rio de Janeiro:
Graal, 2004, p.110.
74
doenas. Em 1855, o Dr. Jos Bonifcio Caldeira de Andrada62 denunciava essa situao no
Rio de Janeiro, pois muitos colgios estavam localizados no centro da cidade, em ruas
acanhadas e tortuosas, a maior parte sem asseio, o que, [...] vista das nossas condies
higromtricas e de temperatura, e da pouca elevao do solo em que repousamos, no pode
deixar de exercer uma influncia fatal sobre a sade dos educandos.63 Nesse mesmo sentido,
no ano de 1857, o Dr. Joo Goulart Rolim64 constatava as condies insalubres da localizao
da maior parte dos colgios da Corte e, para piorar, segundo ele, os comissionados em zelar
pela salubridade pblica da cidade nada faziam para mudar essa situao. Na avaliao do Dr.
Agnello Geraque Collet65, idntico quadro podia ser pintado em relao aos internatos da
Cidade Imperial de Salvador, visto que os locais em que se achavam levantados os prdios
dos colgios da cidade no atendiam s regras de higiene66.
Os mdicos tambm criticavam os prdios dos internatos por causa da ocupao
excessiva67, das deficincias na insolao e ventilao, a inadequada diviso e disposio dos
cmodos, a falta de instalaes sanitrias e o uso de iluminao68 inadequada. A respeito
desse ltimo ponto, o Dr. Jos Bonifcio Caldeira de Andrada Jr. apresentou os tipos de
iluminao mais utilizados nos colgios e destes os mais adequados para o uso nos internatos:
62
Dr. Jos Bonifcio Caldeira de Andrada Jr., natural de Santa Catarina, filho de Jos Bonifcio Caldeira de
Andrada. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina, em 12 de dezembro de 1855, pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene
dos colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento
das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro:
Typographia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve e Comp., 1855.
63
Ibid., p.16.
64
ROLIM, Joo Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos: regras principais tendentes
conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem
regular os nossos colgios. (Quarto ponto. Cincias Mdicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos, 1857, p.
17.
65
Dr. Agnello Geraque Collet, natural de Santo Amaro (Bahia), filho de Pedro Eugenio Collet e Emlia
Leopoldina Geraque Collet. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 1883, pela Faculdade
de Medicina da Bahia. COLLET, Agnello Geraque. Higiene escolar. Bahia: Typographia de H. Olavo da Frana
Guerra, 1883.
66
Ibid. p. 6.
67
sabido que os edifcios dos internatos devem possuir capacidade relativa ao numero dos habitantes, sob
pena de se manifestarem as graves conseqncias da acumulao de indivduos em espaos acanhados; ora,
triste dizer-se que todos os estabelecimentos de instruo da capital pecam contra este princpio higinico;
nenhum existe cuja capacidade seja proporcional ao numero de internos que possui; por isso os seus dormitrios
so em geral pequenos e mal ventilados, assim como as salas de estudo e refeitrios. MACHADO, Joo da
Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade.
Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 79.
68
Consultar tambm SILVA, Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869.
75
consumo de oxignio, a que d lugar pelo muito cido carbnico que ento
se forma, e pelo desprendimento de muitas outras substncias txicas, como
o xido de carbono, o cido sulfrico, etc., que tem s vezes lugar e em
maior escala, que pelos outros sistemas. O azeite tem quase as mesmas
vantagens, porm menos pronunciadas; os inconvenientes que resultariam da
sua combusto incompleta, e o cheiro nauseabundo que costuma desprender,
fazem com que seu emprego deva tambm ser rejeitado: no lhe so muito
superiores as velas de sebo. As velas, em cuja composio entra o cido
stearico, a cetina ou a cera, so as que mais convm para o nosso caso; com
efeito, a sua combusto sendo mais completa que a do azeite, d lugar
formao de uma menor quantidade de vapores e de leo emireumatico, e as
alteraes que ela produz no ar ambiente so incomparavelmente menos
sensveis do que as produzidas pela combusto do gs de iluminao.69
69
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p.18.
70
A exemplo do anncio do Colgio Franco-Brasileiro: [...] uma alimentao substancial, variada e abundante,
concorrer ainda para a sade e bem-estar das meninas. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S.
Paulo para o ano de 1875. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 32 ano, 1875, p. 598.
71
O Dr. Antonio Francisco Gomes tambm diagnosticou deficincias na alimentao servida nos internatos.
GOMES, Antonio Francisco. Influncia da educao fsica do homem. Rio de Janeiro: Typographia Dous de
Dezembro, 1852, p. 13.
72
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.43.
73
Reprovao tambm encontrada no pensamento pedaggico do mdico John Locke: Lo que sucede,
naturalmente, y casi siempre a los nios a quienes se obliga a llevar ajustadores fuertes y vestidos muy estrechos,
es que se ls angosta y reduce el pecho; que la respiracin llega a ser ftida y difcil, y que adquierem
76
[...] Mal sabes, minha filha, quantas e quo perigosas molstias resultam do
excessivo aperto dos coletes, para os quais j no bastam as barbas de baleia,
e mister empregar folhas de ao! No atribuas a outra causa os verges
vermelhos que vs no rosto de muitas damas, os narizes avermelhados, as
dores de estmago, e outras molstias internas que sofrem sem se queixarem
e de que muitas vezes so vtimas. O desejo de ter uma cintura delicada tem
se tornado em una mania para certas senhoras, que amam mais parecer bem
do que ter sade. [...] Porm o que mais me admira que haja mes de
famlia que no s o consintam, mas que o ordenem a suas filhas [...].76
enfermedades del pulmn y se encorvan. LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin [1693]. Madrid:
Akal, 1986, p. 45.
73
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875
74
A Higiene no pode deixar de fazer votos pela eliminao dos coletes de talas de ferro do toalete das
meninas, e que se empregam com a estulta vaidade de torn-las esbeltas e delgadas. Estes coletes deformam-lhe
o trax, impedem-lhes o livre jogo dos pulmes, comprometem-lhes os rgos da cavidade abdominal, lanando
assim os germens da dispepsia, tuberculose e de uma srie inumervel de afeces de sofreram toda a vida.
COLLET, Agnello Geraque. Higiene Escholar. Bahia: Typographia de H. Olavo da Frana Guerra, 1883, p. 44.
75
ROQUETTE, J. I. Cdigo de bom tom ou regras da civilidade e de bem viver no sculo XIX. Paris: V J. P.
AILLAUD, GUILLARD E C livreiros de suas majestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal, 1875, p.
293.
76
Ibid., p. 292.
77
Revista de Notabilidades Profissionaes Commerciaes e Industriaes da Corte do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Livraria Universal de E. & H. Laemmert, 1874, p. 83.
78
Estabelecimentos comerciais na Provncia de Sergipe tambm costumavam anunciar as novidades de Paris:
A Loja de Variedades de Jos Joaquim Telles de Menezes acaba de receber diretamente de Paris um grande
sortimento de objetos de gosto constantes dos seguintes artigos [...]. Para senhoras: Chapus, espartilhos,
jaconas, tecidos, enfeites [...]. Novidades de Paris. Jornal do Aracaju, p. 4, 18 jan. 1873.
77
O Dr. Jos Bonifcio de Andrada Jnior, alm de criticar o uso dos coletes femininos,
igualmente apontava como efeito pernicioso para a sade das moas o costume de trazer
descobertos e expostos ao capricho das intempries o colo, as espduas, os braos e a parte
superior do peito. Este costume podia resultar no desenvolvimento de tubrculos nos pulmes,
pneumonias e as diferentes espcies de anginas. Para ele no era reprovvel que a donzela
nbil, para se apresentar bem na sociedade e, desde que compatvel com a integridade de
suas funes, apelasse aos recursos da arte. Neste sentido, o que condenava era
79
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da
Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1877. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano, 1877, p. 948.
78
[...] uma menina de colgio (grifo nosso), que bem poucas vezes conta de
13 a 14 anos, v destruir, de encontro uma parede de ao, por exemplo, o
engraado das formas que apenas se caracterizaram, ao que no podemos
subscrever calando-nos. E a este sistema de educar abatendo, de aperfeioar
esmagando, que devemos encontrar em nossas reunies em to grande
nmero de moas romnticas, verdadeiras vtimas de uma coquetterie80
antecipada, e que mais tarde tero talvez de pagar ao organismo ofendido
um tributo ainda mais penoso.81
O citado mdico advertia tambm que muitas das corrupes morais que existiam nos
internatos resultavam dos exemplos nocivos do mundo exterior. Os pais, ao exigirem as
sadas frequentes dos seus filhos do internato, facilitavam o contato destes com
80
O sentido como era empregada a palavra, segundo J. I. Roquette: necessrio, minha filha, que a este
respeito tomes uma firme resoluo: se puder supor que tua vontade tem alguma parte no efeito que produzes, se
crer que contribuis de algum modo para que os homens olhem para ti com particularidade, e que buscas suas
homenagens, sers declarada leviana, garrida e namoradeira, o que tudo se inclui na palavra francesa coquete,
que mui bem conheces, e que o oposto de sisuda, modesta e recatada, que so os mais preciosos dotes de uma
donzela [...]. ROQUETTE, J. I. Cdigo de bom tom ou regras da civilidade e de bem viver no sculo XIX. Paris:
V J. P. AILLAUD, GUILLARD E C livreiros de suas majestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal,
1875, p. 289.
81
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p. 19.
82
Dr. Joaquim Jos de Oliveira Mafra, natural de Itabira (Minas Gerais), filho de Joaquim Jos de Oliveira
Mafra. Defesa da tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 3 de dezembro de 1855 pela Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. MAFRA, Joaquim Jos de Oliveira. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel
aos nossos: regras principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e
intelectuais, segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Empreza Typographica Dous
de Dezembro De Paula Brito, 1855.
83
MAFRA, Joaquim Jos de Oliveira. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos: regras
principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as
quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Empreza Typographica Dous de Dezembro De Paula
Brito, 1855, p. 5.
79
Adentrando o sculo XX, pelo menos nas suas primeiras dcadas, o internato
continuou sendo alvo de crticas negativas advindas do campo mdico. Permaneciam os
discursos que apontavam o internato como espao anti-higinico, onde no se respeitavam as
indisposies e desenvolvimentos individuais, a alimentao era imprestvel, alm de
propiciar a proliferao de doenas.
Em 1910, o mdico Raul Mendes de Castilho Brando defendia essas ideias e
afirmava tambm ser o internato um modelo irracional e inquisitorial, e que se os pais
conhecessem ou tivessem frequentado um internato, em nenhuma hiptese colocaria seus
filhos nesse tipo de estabelecimento. Para ele, os bons costumes adquiridos na educao
domstica perdiam-se na corrupo moral do internato.
84
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p.62.
85
BRANDO, Raul Mendes de Castilho. Breves consideraes sobre a educao sexual. Bahia: Imprensa
Nova, 1910, p.7.
80
86
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 84.
87
Masturbao, homossexualidade latente nos internatos, possvel perversidade das amizades particulares so
fantasmas atiados pelos mdicos, os principais abservadores dos corpos. PERROT, Michelle. Figuras e papis.
In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo:
Companhia das Letras, 2009, p. 149.
88
Termo comumente utilizado pelos mdicos para a prtica da masturbao. O onanismo foi motivo de
preocupao e recomendaes higinicas em quase todas as teses consultadas sobre a higiene nos colgios.
Tambm presente em dicionrios de medicina dedicados ao pblico em geral. Este assunto melindroso e
grave, digno de toda a solicitude dos pais de famlia, e de todas as pessoas zelosas da moralidade e da sade da
mocidade [...] Saiba-se pois que, de todas as influncias que ameaam a existncia humana, nenhuma existe mais
perigosa do que esta. ONANISMO ou MASTURBAO. In: CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleao . Dicionrio
de medicina popular e das cincias acessrias ... 6. ed. Paris: A. Roger & F. Chernoviz, 1890. 2 v., p. 524.
(Brasiliana da USP)
89
Como comumente denominada pelos mdicos as relaes sexuais entre pessoas do mesmo sexo, ou o
homossexualismo masculino.
90
Michelle Perrot, analisando romances autobiogrficos, aponta evidncias importantes sobre a vida sexual dos
colegiais franceses no sculo XIX e mostra como os internatos foram apontados como responsveis pela
masturbao e prticas homossexuais na Frana. PERROT, op. cit.
91
ROLIM, Joo Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nosso: regras principais tendentes
conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem
81
regular os nossos colgios. (Quarto ponto. Cincias Mdicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos, 1857, p.
20.
92
Consultar Michel Foucault sobre os autores precursores do discurso da masturbao: Em 1720-1725 (no
lembro mais), aparece na Inglaterra um livro chamado Onania , que atribudo a Bekker; em meados do sculo
XVIII, aparece o famoso livro de Tissot, em 1770-1780, na Alemanha, Basedow, Salzmann, etc., tambm
retomam esse grande discurso da masturbao. Bekker, na Inglaterra, Tissot, em Genebra, Basedow, na
Alemanha: vocs esto vendo que estamos em pleno pas protestante. [...] Rapidamente, depois da publicao na
Frana do livro de Tissot, o problema, o discurso, o imenso falatrio sobre a masturbao comea e no pra por
todo o sculo. FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo:
Martins Fontes, 2002, p. 295.
93
Segundo Philippe Brenot, Tissot insere-se como o criador do mito da masturbao e foi [...] apenas o eco
amplificador do choque traumtico da Europa pr-cientfica, que descobre os mistrios da vida com a descoberta
do espermatozide e a ela reage de maneira defensiva pela proibio da masturbao. BRENOT, Philippe.
Elogio da masturbao. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1998, p. 15.
94
GARNIER, Pierre. Onanismo: s e a dois sob todas as suas formas e suas consequncias. Rio de Janeiro: H.
Garnier, [1883?].
95
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p 62.
96
Ibid., p. 34.
97
Os mdicos indicavam especial ateno durante a puberdade, perodo das mudanas morais e fsicas.
82
Segundo eles, era imperativo identificar possveis praticantes para debelar o mal, evitando o
contgio98 e as consequncias do vcio execrando.
Na campanha99 contra o onanismo os mdicos alertavam sobre a necessidade de
medidas urgentes para combater o vcio, pois era espantosa sua propagao entre os colegiais
no Brasil. Ainda no ano de 1853 o Dr. Marinonio de Freitas Britto100 alertava que a prtica do
onanismo estava muito disseminada101 entre os moos da cidade de Salvador desde a idade de
oito anos, e mesmo quando homens feitos nunca desprezam esse pernicioso vcio. Era
costume que os indivduos afeitos ao vcio alegassem que por este meio saciariam seus
prazeres sexuais sem o perigo de contrarem a sfilis, a que por meio do coito estariam
sujeitos102.
Semelhante era o discurso do Dr. Joo da Matta Machado, dizendo-se espantado com
a incria dos educadores da Corte Imperial diante da generalizao das manobras secretas
entre os colegiais103 da cidade. Outrossim, o Dr. Sulpcio Germiniano Barroso, em suas
consideraes sobre o onanismo, sustentava que este decorria do desenvolvimento dos rgos
sexuais, mas tambm concorriam para o seu incremento a escravatura104, os colgios, livros,
romances e as estampas.
98
Mdicos como o Dr. Antenor Augusto Ribeiro Guimares, ao enfrentarem a questo do onanismo, sempre
destacaram o perigo da proliferao do vcio entre os internos de colgios: E cousa notvel e terrvel o
onanismo contagioso, uma s ovelha leprosa basta para contaminar um rebanho inteiro.[...] A julgar pela minha
prpria experincia em dez masturbadores em quem a sade se alterou imediata ou consecutivamente pode-se
contar nove que se perderam no colgio ou em um internato. GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A
higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia
Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p. 47.
99
A campanha contra o onanismo, segundo Foucault, foi uma das fases da pedagogizao do sexo da criana
que se desenvolveu durante todo os sculos XVIII e XIX, com a [...] dupla afirmao, de que quase todas as
crianas se dedicam ou so suscetveis de se dedicar a uma atividade sexual; e de que tal atividade sexual, sendo
indevida, ao mesmo tempo natural e contra a natureza, traz consigo perigos fsicos e morais, coletivos e
individuais; as crianas so definidas como seres sexuais liminares, ao mesmo tempo aqum e j no sexo, sobre
uma perigosa linha de demarcao; os pais, as famlias, os educadores, os mdicos e, mais tarde, os psiclogos,
todos devem se encarregar continuamente desse germe sexual precioso e arriscado, perigoso e em perigo [...].
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p. 115.
100
Dr. Marinonio de Freitas Britto, natural de Salvador (Bahia), filho de Manoel Francisco de Britto. Defesa da
tese e obteno do ttulo de doutor em medicina em 30 de novembro de 1853 pela Faculdade de Medicina da
Bahia. BRITTO, Marinonio de Freitas. A libertinagem e seus perigos relativamente ao fsico e moral do homem.
Bahia: Typographia de Vasco Carneiro dOliveira Chaves, 1853.
101
Outrossim, para o Dr. Sulpcio Germiniano Barroso, o onanismo se manifestava como uma prtica
assustadora entre os moos educados em colgios na cidade de Salvador. Muitas vezes era necessria a
interveno mdica. BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves consideraes acerca do onanismo ou
masturbao. Bahia: Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853, p.9.
102
BRITTO, Marinonio de Freitas. A libertinagem e seus perigos relativamente ao fsico e moral do homem.
Bahia: Typographia de Vasco Carneiro dOliveira Chaves, 1853, p. 27.
103
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 84.
104
Sobre a escravatura como meio perversivo da mocidade consultar BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves
consideraes acerca do onanismo ou masturbao. Bahia: Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853.
83
105
Quadros e estampas com motivos erticos, alm dos romances que eram considerados por alguns mdicos
como livros licenciosos que, uma vez introduzidos nos colgios, podiam despertar a sensibilidade genital. O
mdico Candido Coutinho diz que: [...] o melhor romance desperta o sentimento e faz engendrar um mundo
novo povoado de quimeras e de idealidades romanescas; desviam os sentimentos da senda normal e os impelem
em uma m direo. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel
aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das foras fsicas e
intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typografia Universal de
Laemmert, 1857, p.26. Sobre a leitura de romances pelas meninas: Talvez, diz Tissot, que de todas as causas
que arrunam a sade das mulheres, a principal seja o grande nmero de romances, que de h sculo, tem
aparecido. A menina que a dez anos de idade l em vez de correr, a vinte e um h de ser uma mulher de vapores,
e no uma boa ama. S, Miguel Antonio Heredia de. Algumas reflexes sobre a cpula, onanismo e a
prostituio do Rio de Janeiro. Typografhia Universal de Laemmert, 1845, p.19.
106
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p. 30.
107
Exerccio da vigilncia to bem descrito, no contexto da sociedade francesa, por Alain Corbin: A luta contra
a corrente provm dos pais, do padre e sobretudo do mdico. Os livros incitam a vigilncia domstica. Aos olhos
dos educadores clericais, o sono deve ser o equivalente da morte, o leito, imagem do tmulo e o despertar,
equivalente da ressurreio. No interior do dormitrio do pensionato encontra-se uma freira para zelar pela
modstia do despertar e do adormecer. Durante o dia, convm no deixar a criana sozinha por muito tempo. O
regulamento das casas dirigidas pelas ursulinas prescreve que as moas devem ficar sempre vista de numerosas
colegas. Os mdicos, por seu turno, aconselham que se evite o calor e a maciez da cama; proscrevem a manta e
um exagero de cobertas, e fixam a postura do sono. A prtica feminina da equitao desperta sua desconfiana,
assim como a mquina de costura, denunciada pela Academia de Medicina em 1866. CORBIN, Alan.
Bastidores. O segredo do indivduo. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa
Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 423.
84
especial ateno ao espao dos dormitrios e a disposio dos lugares e das coisas no seu
interior, sendo indicado que esse espao permanecesse iluminado durante toda a noite e que
fosse visitado vrias vezes.
Sobre os espaos de uso individual, como as latrinas, ele deviam ter uma forma e
disposio que facilitassem a vigilncia. Para os facultativos, por estes meios era possvel
proteger os moos contra os eivados farpes do horrvel e abominvel vcio do ananismo,
[...] sobre o qual se deve vigiar com olhos dargos; porque infelizmente o seu sopro
contagioso raras vezes deixa de empeonhar a alma dos meninos, logo que vo tocando
certa idade [...]108.
A ordem era vigiar e manter os pensionistas constantemente ocupados. Nas recreaes
recomendava-se que os alunos estivessem em constante movimento, sempre entretidos com
atividades que despertassem o seu interesse, pois [...] o tempo que gastam em passear
tranquilamente e conversar com seus camaradas ou confidentes secretos, podia reverter
sempre em detrimento da ordem, dos estudos e dos costumes109.
Em sua obra sobre a histria da sexualidade no Ocidente, Michel Foucault interpretou
que a campanha antimastubatria que mobilizou mdicos, pedagogos, professores, diretores e
a famlia em torno do sexo das crianas nos sculos XVIII e XX, alicerou-se em
108
MELLO, Joaquim Pedro de. Generalidades acerca da educao fsica dos meninos. Rio de Janeiro:
Typographia de Teixeira e Comp. 1846, p. 38.
109
CUNHA, Balbino Candido da. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais
tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854, p. 26.
110
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p. 49.
85
aguar a curiosidade dos inocentes, arrastando-os igualmente a este terrvel mal111. Mas
como identificar um pensionista onanista? A resposta de Dr. Joo da Matta Machado
encerrava dispositivos de saber e poder; ou seja, segundo o mdico, primeiro deveria ser
provocada a confisso112 do delito, ou ser realizada a acusao direta, se houvesse fortes
indcios ou suspeitas da prtica do vcio por um interno. Mas, sendo esses meios ineficazes,
no se poderia hesitar em utilizar o recurso extremo de surpreender o colegial em flagrante
delito e exp-lo ao escrnio dos seus companheiros. A esse respeito, o mencionado mdico
narrou um fato que presenciou no Seminrio de Diamantina, Minas Gerais, de como um
jovem regente, que cuidava do salo dos grandes, surpreendeu um dos pensionistas que
apresentava sinais de se entregar s manobras secretas. O Dr. Joo da Matta Machado
relatou que:
[...] para isso colocou a sua cama em posio que lhe facilitasse, durante a
noite, a observao de todos os movimentos e atitudes do suspeito. A noite
desse mesmo dia, depois que todos se deitaram, procurou tambm o leito e
fingiu que dormia; algum tempo depois os movimentos do suspeito, a sua
respirao freqente e suspirosa, lhe fez compreender a verdade de suas
previses; ergueu-se sem fazer rudo e nem ser pressentido pelo
delinqente, que estava voltado para o lado oposto, aproximou-se do leito e
pode surpreend-lo em meio da manobra; ento, em voz alta manifesta-lhe
o horror de que se achava possudo, e a admirao que lhe causava ver um
moo adiantado em idade entregar-se a to imundas prticas; quase todos os
pensionistas acordando sobressaltados, sentam-se nos leitos e ouvem a
longa prdica do regente sobre os perigos do onanismo. Confuso e
envergonhado, o delinqente agradece os bons conselhos e faz um pblico
protesto de emendar-se; o regente, porm inexorvel chama dois
conterrneos do onanista e exorta-os a auxili-lo na difcil tarefa de
regenerar aquela alma, e de salvar aquela vida to seriamente
comprometida. No satisfeito com a cena que tinha provocado, durante
longos meses o regente submeteu-o mais severa vigilncia; acompanhava-
o por toda a parte; era a sua sombra: se ia s latrinas, o regente logo aps ia
bater porta e exort-lo a que no se trucidasse; se no recreio retirava-se
um pouco dos diversos grupos, ia sentar-se a seu lado e convidava-o a
tomar parte nos folguedos de seus companheiros. O delinqente de ento,
hoje agradece, ns o sabemos, a dedicao do regente, confessa que a ele
deve a sua regenerao e dedica-lhe sincera amizade.113
111
ROLIM, Joo Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos: regras principais
tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem regular os nossos colgios. (Quarto ponto. Cincias Mdicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos,
1857, p. 22.
112
Segundo Foucault, a confisso [...] passou a ser, no Ocidente, uma das tcnicas mais altamente valorizadas
para produzir a verdade. [...] confessa-se em pblico, em particular, aos pais, aos educadores, ao mdico, queles
a quem se ama; fazem-se a si prprios, no prazer e na dor, confisses impossveis de confiar a outrem, com o que
se produzem livros. Confessa-se ou se forado a confessar. Quando a confisso no espontnea ou imposta
por algum imperativo interior, extorquida; desencavam-na na alma ou arrancam-na ao corpo. FOUCAULT,
Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p. 67.
113
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 66.
86
114
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes,
2002, p.76.
115
Caractersticas fundamentais do jovem masturbador que se assemelham com a descrio dos escritos mdicos
do sculo XIX analisados por Foucault: [...] esgotamento; perda de substncia; corpo inerte, difano e
debilitado; escorrimento perptuo; jorro imundo do interior para o exterior, aura infecta envolvendo o corpo do
doente; por conseguinte, impossibilidade de os outros se aproximarem dele; polimorfismo de sintomas. Ibid.,
p.302.
116
MELLO, Joaquim Pedro de. Generalidades acerca da educao fsica dos meninos. Rio de Janeiro:
Typographia de Teixeira e Comp. 1846, p. 38-39.
117
Ibid., p. 38.
118
Para Thomas Laqueur essa obsesso dos sculos XVIII e XIX pela masturbao decorria de ser o vcio
solitrio considerado uma patologia social que destrua o corpo, [...] da mesma forma que em tempos idos a
blasfmia ou a lascvia produziam monstros. O masturbador alucinado, plido e trmulo, e a prostituta grosseira
87
e estril eram as figuras vis que a idade moderna produziu, como seus predecessores tinham sido deformados por
uma doena moral. LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo. Corpo e gnero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relume Dumar, 2001, p. 273.
119
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes,
2002, p.300.
120
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade I. A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2009, p.132.
121
Consoante Foucault, a tese do vnculo entre a tsica e a masturbao correr ao longo de todo o sculo XIX.
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes, 2002.
122
Doena nervosa, com manifestaes ocasionais, sbitas e rpidas, entre as quais sobressaem convules e
distrbios da conscincia. EPILEPSIA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da
Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 542.
123
De acordo com o parecer de alguns mdicos, o vcio em estado grave podia provocar: tsica, loucura,
epilepsia, hipocondria. SILVA, Fructuoso Pinto da. Higiene dos Colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869.
124
Como explica Foucault, referindo-se campanha antimasturbatria dos sculos XVIII e XIX: A
masturbao, por obra e injuno dos prprios mdicos, est se instalando como uma espcie de etiologia difusa,
geral, polimorfa, que permite referir masturbao, isto , a certo interdito sexual, todo o campo do patolgico, e
isso at a morte. Poderamos encontrar vrias confirmaes disso no fato de que, nessa literatura, encontramos
constantemente, por exemplo, a idia de que a masturbao se caracteriza por no ter uma sintomatologia
prpria: qualquer doena pode derivar dela. [...] A masturbao est se tornando a causa, a causalidade universal
de todas as doenas. FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo:
Martins Fontes, 2002, p. 305.
125
COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typografia Universal de Laemmert, 1857,
p.26
88
J o Dr. Sulpcio Germiniano Barroso dizia que a epilepsia era uma afeco nervosa
que, conquanto dependesse de outras causas, manifestava-se em consequncia do onanismo.
Para ilustrar, o mdico apresentava o caso, citado por Zimmermam, de um rapaz dado ao
vcio da masturbao, que se tornou epiltico e [...] todas as vezes que tinha polues era
acometido imediatamente do ataque, e a mesma coisa sucedia quando se masturbava: os
acessos foram repetindo-se com tal intensidade que o indivduo morreu em um deles128.
Por sua vez, o Dr. Heredia de S registrou em sua tese o caso de um menino epiltico e
j idiota pelos efeitos do onanismo. Internado no Hospital da Santa Casa da Misericrdia do
Rio de Janeiro, o menino apresentava na expresso da face [...] o vcio e o padecer; teria ao
muito doze anos; seu corpo era franzino e atrofiado, mas os rgos genitais eram prodigiosos
e to completamente desenvolvidos como se fossem de um homem129.
Outrossim, a masturbao era enumerada entre as causas que no sexo amvel
aceleravam a poca do primeiro fluxo catamenial, pois [...] irrita os rgos genitais, produz
o fluxo do lquido, excita, e faz aparecer as funes do tero.130 Deste modo, justificava-se a
necessidade de que as meninas, logo que se aproximassem da puberdade, fossem educadas em
casa sob a vigilncia dos pais, pois estariam sujeitas a muitos perigos permanecendo nesse
estado nos internatos131. Sobretudo, porque a puberdade era considerada uma fase de muitas
126
Dr. Miguel Antonio Heredia de S, natural do Rio de Janeiro, filho de Antonio Lino Heredia. Defesa da tese e
obteno do ttulo de doutor em medicina em 19 de dezembro de 1845 pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro. S, Miguel Antonio Heredia de. Algumas reflexes sobre a copula, onanismo e a prostituio do Rio de
Janeiro. Typografhia Universal de Laemmert, 1845.
127
Ibid., p.16.
128
BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves consideraes acerca do onanismo ou masturbao. Bahia:
Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853, p.16.
129
S, op. cit., p.16.
130
FIRMINO JR., Jos Joaquim. Dissertao sobre a menstruao, precedida de breves consideraes sobre a
mulher. Typographia Imparcial de F. P. Brito, 1840, p. 16.
131
Tambm existia quem pensasse diferente: A menina, tornada mulher, no deve permanecer no colgio
diz muita gente. E por qu? Na verdade, no vemos a justificao disto, que nos ho de dar licena de julgar um
89
mudanas em que as meninas se viam atormentadas por uma melancolia amorosa, e [...]
tornam-se tristes, lnguidas e distradas, formam ligaes ntimas, adquirem em pouco tempo
hbitos funestos, que dilaceram muitas vezes o vu do pudor e fazem perder a sedutora
inocncia, que o mais belo ornato de uma moa.132 Por mais zelosa que fosse a vigilncia
exercida pelas pessoas encarregadas da educao das meninas, no era possvel nos internatos
cuidar de cada uma em particular. A retirada das meninas dos internatos nessa fase causou
admirao em viajantes que estiveram no Brasil. Agassiz afirmava que
[...] nos pensionatos freqentados pelas filhas das classes abastadas, todos os
professores se queixam de que se retiram as alunas justamente na idade em
que a inteligncia comea a se desenvolver. A maioria das meninas enviadas
escola a entram com a idade de sete ou oito anos; aos treze ou quatorze
so consideradas como tendo terminado os estudos. O casamento as espreita
e no tarda em tom-las. H excees, est visto. Alguns pais mais razoveis
prolongam a permanncia no pensionato ou fazem dar a instruo em casa
at dezessete ou dezoito anos; outros mandam suas filhas para o
estrangeiro.133
contrasenso; porque indivduo ou corporao, que no merece confiana para a guarda e direo da mulher,
tambm, em nenhum caso, a deve merecer, para a guarda e ensino da menina. Isto claro . FRIAS, David
Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos publicados em outubro
de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal, 1880, p. 82.
132
MELLO, Jos Tavares de. A higiene da mulher durante a puberdade, e aparecimento peridico do fluxo
catemenial. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemert, 1841, 16.
133
AGASSIZ, Luis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil 1865-1866. Braslia: Senado Federal, 2000,
p. 435.
134
Influnciado pelos ensinamentos de Gurget, o Dr. Candido Teixeira de Azeredo Coutinho dizia que o
onanismo produzia a languidez e enfraquecimento do corpo, perda de memria e de inteligncia, sncopes,
palpitaes, uretrites crnicas, hipocondria, demncia e morte. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo.
Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade,
e do desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios.
Rio de Janeiro: Typografia Universal de Laemmert, 1857, p.28.
135
Essas orientaes de como tratar a criana ou jovem masturbador circulavam no Brasil no sculo XIX na
forma de prospectos, mementos do pai de famlia, dicionrios populares, entre outros. Entre esses impressos,
pode ser citado O Diccionrio de medicina domstica e popular, que no verbete Pollues ou spermatorrhea
apresenta orientaes sobre a masturbao ou onanismo, recomendando: As regras dietticas so mui
90
cunho moral137 e religioso, a alimentao sem excitantes e os banhos de mar138. Ainda, era
preciso impedir o isolamento e a misantropia139 dos internos, como elucidado no discurso do
Dr. Antonio Francisco Gomes:
importantes; convm evitar qualquer congesto para as partes genitais, e fugir por isso de todo o contato com as
mulheres, o vesturio deve ser livre, no muito quente ou apertado; o doente deve dormir sobre um colcho duro
e com pouca coberta, no dormir de costas, o que se pode prevenir por meios artificiais, deitando o doente com
uma cinta, onde na parte que corresponde s costas se pe alguma coisa dura ou pontuda, que o incomoda e torna
a posio de costas desagradvel. As partes genitais externas banha-se 3 a 4 vezes por dia com gua fria,
conservando-as sempre alguns minutos no banho. O doente deve levantar-se cedo, s vezes mesmo de noite
quando lhe aparece a ereo do membro, trabalhar ao ar livre, e escolher um servio forte que o canse; fazer uso
de banhos frios gerais, sendo o de mar preferveis, tomar choques de gua fria sobre as costas e osso sacro, e
clisteres de gua fria. POLLUES OU SPERMATORRHEA. In: LANGGAARD, Theodoro J. H.
Diccionrio de medicina domestica e popular. Tomo terceiro (M-Z). Rio de Janeiro : Eduardo & Henrique
Laemmert, 1865, p.302. / Consulte tambm o verbete ONANISMO em CHERNOVIZ , Pedro Luiz Napoleao .
Dicionrio de medicina popular e das cincias acessrias ... 6. ed. Paris: A. Roger & F. Chernoviz, 1890. 2 v.,
p. 524. (Brasiliana da USP)
136
A recomendao de constante ocupao atravs de atividades de recreao e exerccios ginsticos foi uma
constante no discurso mdico-higinico de combate ao onanismo, como bem exemplifica o trecho da tese do Dr.
Antenor Guimares: Com efeito s por uma agitao muscular contnua que se pode combater eficazmente a
predominncia genital to freqente nos nervosos; s assim que se poder obstar ao formidvel vcio do
onanismo. O menino gil e forte raras vezes dado a este vcio, em quanto que o indolente e fraco s por um
milagre escapa a ele. Ao passo que o aparelho genital do primeiro sofre at a poca da puberdade uma espcie de
atrofia que contrasta com o vigor dos membros o do segundo adquire por um estmulo incessante um
desenvolvimento muitas vezes considervel. As foras do organismo chamadas ao centro de ao abandonam o
crebro, o ventre, o peito e os msculos; quanto mais progride a fraqueza tanto mais se alimentam as disposies
viciosas, convm pois sujeitar o menino a trabalhos musculares at quanto permite seu temperamento mxime
nas proximidades da puberdade. GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das
regras principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais
segundo as quais se devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes
Garcia, 1858, p.24.
137
O mdico Candido T. de A. Coutinho recomendava que diretores mandassem os meninos convictos de
onanismo fazerem, sob a orientao de um sacerdote, a leitura da obra de Tissot para se tornarem cientes dos
perigos da prtica do onanismo. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos
colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos Colgios. Rio de Janeiro: Typografia
Universal de Laemmert, 1857, p.26.
138
O Dr. Jos Ferraz de Oliveira Duro destacava entre as qualidades teraputicas do banho de mar o combate
debilidade geral provocada pela prtica da masturbao. DURO, Jos Ferraz de Oliveira. Breves consideraes
acerca do emprego higinico e teraputico dos banhos de mar. Rio de Janeiro: Typographia Teixeira & Cia.
1845, p. 52.
139
Averso sociedade, aos homens; antropofobia. MISANTROPIA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de
Holanda. Novo dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 929.
140
GOMES, Antonio Francisco. Influncia da educao fsica do homem. Rio de Janeiro: Typographia Dous de
Dezembro, 1852, p. 12.
91
141
Circularam tambm em prospectos, anncios, mementos, tratados, algumas medidas contra a masturbao
como o uso de camisoles, amarrar as mos, corpetes, ataduras, cintos, a cauterizao da uretra, do clitris e do
orifcio da vulva, sanitrios tendo na parte superior e na inferiot orifcios autorizando o controle de posturas.
FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collge de France (1974-1975). So Paulo: Martins Fontes, 2002.
/ CORBIN, Alan. Bastidores. O segredo do indivduo. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da
Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009.
142
Dr. tala Silva de Oliveira, natural de Sergipe, filha de Silvano Auto de Oliveira e Marcionilla Silva de
Oliveira. Defesa da tese em 31 de outubro de 1927 pela Faculdade de Medicina da Bahia. OLIVEIRA, tala Silva
de. Da sexualidade e da educao sexual. Bahia, 1927.
143
OLIVEIRA, tala Silva de. Da sexualidade e da educao sexual. Bahia, 1927, p. 178.
144
RABELLO, Oscar Bastos. A pedagogia feminina em face da medicina. Bahia: Imprensa Oficial do Estado,
1920, p. 38.
145
Auguste Henri Forel (1848-1931), psiquiatra e entomologista suo, escreveu sobre a masturbao no seu
livro Die sexuelle frage (A questo sexual) de 1905.
146
FOUCAULT, op. cit., p. 297.
147
O homossexualismo visto como uma doena: verdade que a homossexualidade masculina, e mesmo a
feminina, deixa de constituir um delito desde que no ofenda o pudor pblico, mas torna-se uma anomalia
escrutada como uma doena. No centro dessa angstia est o adolescente com seus maus hbitos. O
conhecimento e a administrao do sexo dos adolescentes se encontram no cerne das tarefas educativas e da
ansiedade social. Elas demandam pedagogias especficas: a famlia ser suficiente?. PERROT, Michelle. Os
atores. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira
Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 149.
148
Dr. Fructuoso Pinto da Silva, natural da Bahia, filho de Antonio Pinto da Silva e Fructuosa Maria de Souza
Pinto. Obteve o ttulo de doutor em medicina em 1969 pela Faculdade Medicina da Bahia. SILVA, Fructuoso
Pinto da. Higiene dos Colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869.
92
entre os colegiais, e [...] por isso a maior ateno e perspiccia deve haver da parte de seus
diretores em pesquisar se h algum indivduo, que a ela se habitue, e nesse caso empregar os
meios capazes de extinguir este pernicioso vcio, que degrada e avilta [...]149.
Para o Dr. Sulpcio Germiniano Barroso, a prtica era resultante da vida reclusa e das
amizades e protees insidiosas que induzem os meninos [...] s prticas degradantes, por
cujo uso tero de arrepender-se, e de corar de pejo, quando mais tarde a palavra colgio
for proferida em sua presena [...]150. Para impedir essa inqualificvel desmoralizao nos
internatos, as prticas de vigilncia e proibies indicadas para o combate ao onanismo
podiam tambm ser utilizadas, alm de uma [...] rigorosa punio dos suspeitosos e dos
surpreendidos em flagrante delito151.
Em 1910, o Dr. Raul Mendes de Castilho Brando, crtico extremado do internato152,
afirmava que muitos homens ilustres tinham o diploma de homossexuais adquirido na vida
reclusa dos internatos. Segundo ele, situao idntica ocorria nos internatos femininos, dos
quais muitas meninas saam [...] histricas e pervertidas!! Quantas tribades, lsbicas de l
no tm sado! [...]. Ainda argumentava o mdico:
149
SILVA, Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869, p.22.
150
BARROSO, Sulpcio Germiniano. Breves consideraes acerca do onanismo ou masturbao. Bahia:
Typographia de Luiz Olegrio Alves, 1853, p.9.
151
GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes
conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os
nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.47.
152
[...] Falei dos colgios de seculares, o que devo acrescentar a estes colgios jesutas, onde se ser hipcrita
uma coisa to simples e onde as leis humanas e sociais esto banidas. Se fizermos uma escavao nestes
conventos e colgios para freiras, quanta misria no havamos de encontrar sub-solum! As crianas ingnuas
encontram nestes aougues da inocncia perversores de profisso [...]. BRANDO, Raul Mendes de Castilho.
Breves consideraes sobre a educao sexual. Bahia: Imprensa Nova, 1910, p.8.
153
Ibid., p.8.
154
Situao comumente descrita em romances de internato: Os gnios fazem aqui dois sexos, como se fosse
uma escola mista. Os rapazes tmidos, ingnuos, sem sangue, so brandamente impelidos para o sexo da
93
fraqueza; so dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais,
pensam que o colgio a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, esto
perdidos ... Faa-se homem, meu amigo! Comece por no admitir protetores. POMPIA, Raul. O Ateneu. So
Paulo: tica, 2001, p. 33.
155
CARON, Jean-Claude. Os Jovens na escola: Alunos de Colgios e Liceus na Frana e na Europa (Fim do Sc.
XVIII Fim do Sc. XIX). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. Histria dos jovens: A poca
Contempornea. So Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.178.
156
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.27.
94
157
Mdicos formados na Faculdade de Medicina da Bahia tambm criticavam a falta de inspeo mdica oficial
nos internatos de Salvador. COLLET, Agnello Geraque. Higiene escolar. Bahia: Typographia de H. Olavo da
Frana Guerra, 1883; LOBO, Francisco Candido da Silva. Higiene escolar. Bahia: Imprensa Popular, 1895.
158
O Dr. Joaquim Francisco de Paula Souza recomendava que o estabelecimento fosse dirigido por um diretor
moralizado [...] virtuoso, reto e justiceiro, tenha uma alma nobre e sensvel, ame e saiba fazer-se amar pelos
discpulos, e que fazendo seguir o justo, o belo, a virtude, saiba de tal sorte distribuir as repreenses, e elogios,
de maneira que estes no produzam orgulho, nem aquelas indiferenas. SOUZA, Joaquim Francisco de Paula e.
Esboo de uma Higiene de colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e
ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio
de Janeiro: Typographia Vianna & Filhos, 1857.
159
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 26.
160
Ibid., p. 28.
161
Na condio de externos, os mdicos admitiam que as crianas a partir de 6 a 7 anos fossem admitidas nos
colgios. CRUZ, Jos de Souza Pereira da Junior. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos;
regras principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem reger os nossos colgios (Proposies). Rio de Janeiro: Typographia Brasiliense
Maximiano Gomes Ribeiro, 1857.
162
Filho de Miguel Borges de Carvalho e de Mafalda Maria da Paixo. Nasceu no povoado de Macabas, ento
pertencente pequena Vila de Rio de Contas (Bahia). Formado em medicina na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro (1847). Foi diretor geral do ensino na Bahia (1856), membro do Instituto Histrico e Geogrfico da
Bahia, fundou em Salvador o Ginsio Baiano em 1858, o Colgio Ablio da Corte, em 1871, no Rio de Janeiro, e
em 1881 a filial deste na cidade de Barbacena em Minas Gerais. Teve como alunos no Ginsio Baiano, dentre
95
estabelecimento no recebia [...] seno alunos internos, sendo as idades para admisso
limitadas a 12 anos para a Corte, e a 13 para as Provncias.163 Alm da idade higienicamente
apropriada, fazia-se necessria no momento do ingresso de pensionistas nos colgios uma
inspeo mdica para verificar se o candidato no era portador de molstia contagiosa, se
estava devidamente vacinado164 e como era o seu estado moral. Da a necessidade de os
internatos terem a assistncia de um mdico que, alm desse exame de admisso de novos
pensionistas, pudesse ser chamado em casos de urgncia, e rotineiramente inspecionasse o
estado moral e sanitrio dos alunos e tudo que no estabelecimento165 pudesse ser suscetvel de
desenvolver uma epidemia de natureza contagiosa ou decorrente de emanaes ftidas
oriundas de animais ou plantas em decomposio (miasmas).
Da mesma forma, os edifcios destinados a receber pensionistas deveriam satisfazer a
certas condies higinicas. Comeando pelo local166 apropriado que deveria ser distante de
focos de infeces ou umidade, de preferncia que fossem situados167 nos arrabaldes longe
dos grandes centros de populao, com a existncia de arvoredo e de um rio prximo para o
banho e natao dos internos. ilustrativa a descrio do Dr. Jos Bonifcio Caldeira de
Andrada Junior sobre os requisitos higinicos para a situao e orientao de um colgio-
internato na Corte Imperial do Rio de Janeiro.
outros, os intelectuais Rui Barbosa, Aristides Spnola, Castro Alves, Plnio de Lima e Cezar Zama. Foi agraciado
com o ttulo de Baro de Macabas, alm de outras honrarias. ABLIO CSAR BORGES. In: BLAKE, Augusto
Victorino Alves Sacramento. Dicionrio bibliografico Brasileiro. Vol. 1. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1883, p. 3.
163
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 452.
164
Em um colgio, em que se recebem meninos de todas as classes e procedncias, a medida a mais acertada e
de rigorosa necessidade, depois de observar a sua constituio, o verificar se ele traz consigo as cicatrizes
vacinais, e no caso contrrio faz-lo imediatamente vacinar para poder entrar em comunho com seus
companheiros. SILVA, Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869, p.7.
165
Permaneceu nas primeiras dcadas do sculo XX a recomendao mdica para que os internatos passassem
por uma inspeo mdica que verificasse as condies higinicas dos dormitrios, refeitrios, salas de aulas,
dependncias anexas, banheiros e locais prprios higiene privada dos alunos. COSTA, Claudon Ribeiro da.
Higiene nas escolas. Bahia: Imprensa Social, 1921, 65.
166
Recomendaes semelhantes com relao ao local apropriado para as escolas tambm foram feitas em teses
produzidas no incio do sculo XX, a exemplo de: SANTOS, Orlando Thiago dos. Consideraes em torno da
famlia e suas relaes com a escola. Bahia. Typographia do Povo, 1924.
167
O Dr. Francisco Candido da Silva Lobo recomendava que os internatos funcionassem de preferncia fora das
cidades. LOBO, Francisco Candido da Silva. Higiene escolar. Bahia: Imprensa Popular, 1895.
96
168
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p.16.
169
GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes
conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os
nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.66.
170
A avaliao pelo Dr. Joo da Matta Machado destes dormitrios: [...] Os dormitrios vastos, claros e
arejados, so preferveis aos pequenos quartos destinados a receber quatro ou seis pensionistas, no s por ser a
ventilao e o asseio mais fcil naqueles, como porque prestam-se melhor severa vigilncia, principal antdoto
contra o onanismo e pederastia. [...]. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da
mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.40.
171
O sistema de quartos que contenham 2 a 4 alunos prefervel ao de dormitrios comuns. SOUZA, Joaquim
Francisco de Paula e. Esboo de uma Higiene de colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes
conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular
os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Vianna & Filhos, 1857 / [...] prefervel que se lhes aplicasse o
sistema das clulas, em cada uma das quais dormiriam dois alunos, escolhendo-se para isso os da mesma idade.
ANDRADA JR., op cit., p.16.
172
Recomendava-se a ocupao mxima de 30 leitos, com um espao de um metro pelo menos entre os leitos.
COLLET, Agnello Geraque. Higiene escolar. Bahia: Typographia de H. Olavo da Frana Guerra, 1883.
97
173
Muitos internatos da cidade do Rio de Janeiro anunciavam que seus dormitrios estavam guarnecidos com
camas de ferro. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de
Janeiro para o ano de 1862. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 19 ano, 1862, p. 440.
174
Os colches sendo muito macios tinha uma ao muito nociva sobre o sistema nervoso. Um lit mollet ou
lon sensevelit dans la plume ou dans ledredon fond et dissout le corps pour ainsi dire. J. J. Rousseau).
COLLET, Agnello Geraque. Higiene escolar. Bahia: Typographia de H. Olavo da Frana Guerra, 1883.
175
Disposio do temperamento do indivduo, que o faz reagir de maneira muito pessoal ao dos agentes
externos [...]. IDIOSSINCRASIA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Lngua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 739. Ou como explicava o Dr. Machado, [...] expresso de
predominncia de rgo ou aparelho, as que mais importam ao mdico higienista so as seguintes: a muscular,
ceflica, cardaca, torcica, gastrintestinal, heptica e genital [...] notaremos apenas que, assim como a
constituio, as idiossincrasias no devem ser desprezadas pelos educadores da mocidade, e que dentre elas a
que mais deve despertar a sua solicitude incontestavelmente a ceflica [...]. MACHADO, Joo da Matta. Da
educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade.
Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 36.
98
176
SILVA, Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869.
177
O Dicionrio universal de educao e ensino, publicado em 1873, dedicado mocidade de ambos os sexos,
s mes de familia, aos professores, aos diretores de colgios, ensinava: A limpeza a principal condio da
sade. A pele a sede de uma transpirao contnua que deposita no orifcio de seus inmeros poros uma
matria viscosa que se dissolve na gua. [...] Da, a utilidade e preciso da lavagem e banhos frequentes. Os
banhos gerais, quentes ou tpidos, afora a vantagem que tem de amaciar a pele, limpa-a completamente do
verniz que impede a transpirao, e chamam o sangue ativando todas as funes. LIMPEZA. In: CAMPAGNE,
mile Mathieu. Dicionrio Universal de Educao e Ensino...Traduo de Camillo Castello Branco. Porto:
Ernesto Chardron, Braga: Eugenio Chardron, 1873, p.98, v. 2.
178
ROQUETTE, J. I. Cdigo de bom tom ou regras da civilidade e de bem viver no sculo XIX. Paris: V J. P.
AILLAUD, GUILLARD E C livreiros de suas majestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal, 1875, p.
288.
99
Como salienta Alain Corbin: [...] Normas extremamente estritas regulam a prtica do
banho conforme o sexo, a idade, o temperamento e a profisso. A preocupao de evitar a
languidez, a complacncia, o olhar para si, na verdade a masturbao, limita a extenso de tais
prticas180. Nesse sentido, os mdicos prescreviam, no caso dos banhos gerais ou completos,
para que estes no fossem empregados durante a fadiga do corpo e logo aps as refeies, e
que fosse observada uma durao mxima de 15 minutos a meia hora. Quanto
periodicidade, os banhos gerais domiciliares deveriam ser empregados duas vezes por semana
na estao quente e uma no inverno. As ablues ou banhos parciais recomendava-se serem
tomados todos os dias pela manh e noite181.
O uso do banho de mar era conveniente seja por suas qualidades teraputicas, seja
como meio de recreao; e quando acompanhado da natao, tornava-se tambm um bom
exerccio fsico. As qualidades teraputicas do banho de mar182 resultavam, segundo o Dr.
179
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 42.
180
CORBIN, Alan. Bastidores. O segredo do indivduo. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da
Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 413.
181
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos.
Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais,
segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de
J. Villeneuve e Comp., 1855, p. 20.
182
Distinguem-se os banhos do mar por sua ao tnica e excitante, cuja energia procede dos princpios salinos
dissolvidos nele, [...] resultante do movimento das vagas, e na maior densidade da gua. Quase sempre estes
banhos favorecem os temperamentos dbeis, e as pessoas que padecem tremores nervosos; mas no convm a
todos os doentes, e s devem ser tomados por conselho de mdico. BANHOS. In: CAMPAGNE, mile
Mathieu. Dicionrio Universal de Educao e Ensino... Porto: Internacional, 1873, p.98, v. I.
100
Jos Marques de S183, dos seguintes fatores: [...] 1 da temperatura baixa de suas guas; 2
da densidade destas; 3 da sua composio qumica; 4 de choque produzido pelo flutuar das
ondas; 5 da pureza da atmosfera martima constantemente renovada; e 6 de suas emanaes
salinas. [...]184. Diante dessas caractersticas, o banho de mar era recomendado como um bom
laxativo, curativo no caso de hemorroidas, molstias da pele e dos rgos genitais, do
reumatismo, pneumonia, tosse, para fortificar e regularizar a ao muscular, restaurar as
foras dos convalescentes, entre outros benefcios. Mas, salientava o Dr. Joaquim Pedro de
Mello185, os moradores do centro da cidade do Rio de Janeiro estavam privados dos [...]
salutares efeitos dos banhos, [...] porque as praias, que lhe esto prximas, so imundas, se
servem de depsito, onde o povo vai lanar o que quer.186
Realmente, alguns internatos da Corte Imperial e nas provncias anunciavam as
facilidades para o banho de mar dos pensionistas, por estarem localizados em praias limpas da
cidade, uma vez que muitas praias estavam contaminadas com os despejos de imundices187.
Em 1884, no Rio de Janeiro, o Colgio Suo-Brasileiro188 fazia anunciar que se alguma
discpula precisasse de banhos de mar tinha a melhor ocasio de tom-los porque o
estabelecimento estava prximo do mar. Do mesmo modo, o Colgio de S. Luiz, situado na
Ponta do Caju, [...] sob to agradvel clima, preferido e aconselhado por distintos
facultativos s pessoas convalescentes [...]189, avisava estar equipado com banheiros de
chuva e de mar nos fundos da prpria chcara. J na cidade de Salvador, o Ateneu Baiano
183
Dr. Jos Marques de S, natural do Rio de Janeiro, filho de Jos Marques de S. Obteve o ttulo de doutor em
medicina em 1850, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. S, Jos Marques de. Higiene da pele no Rio
de Janeiro: Vesturio e banhos. Estudo especial dos banhos em relao a esta cidade: quais os hbitos e
costumes da populao? Qual a sua influncia sobre a sade pblica? Que direo se lhes deve dar? Rio de
Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1850.
184
S, Jos Marques de. Higiene da pele no Rio de Janeiro: Vesturio e banhos. Estudo especial dos banhos em
relao a esta cidade: quais os hbitos e costumes da populao? Qual a sua influncia sobre a sade pblica?
Que direo se lhes deve dar? Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1850, p. 63.
185
Dr. Joaquim Pedro de Mello, natural de Paracatu (Minas Gerais). Tese defendida pela Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro em 1846. MELLO, Joaquim Pedro de. Generalidades a cerca da educao fsica dos meninos.
Rio de Janeiro: Typographia de Teixeira e Comp. 1846.
186
MELLO, Joaquim Pedro de. Generalidades acerca da educao fsica dos meninos. Rio de Janeiro:
Typographia de Teixeira e Comp. 1846, p. 35.
187
Segundo o Dr. Francisco de Paula Candido, presidente da Junta Central de Higiene Pblica do Municpio da
Corte, as praias da cidade do Rio de Janeiro, como as da Glria, de D. Manuel, dos Mineiros, Gamboa, eram
contaminadas devido ao sistema dos despejos de imundcias, ou seja, de se conservarem no interior das casas e
de se transportarem em barris os dejetos fecais para serem despejados nas praias. CANDIDO, Francisco de
Paula. Exposio do estado sanitrio da Capital do Imprio, apresentado ao Ministrio do Imprio pelo
presidente da Junta Central de Higiene Pblica em 1 de maio de 1853. (Anexo). In: MARTINS, Francisco
Gonalves. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos
Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1853.
188
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imperio do Brasil para 1884. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 41 ano, 1884, p. 1260.
189
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 626.
101
190
ATENEU Baiano. Jornal do Aracaju, Aracaju, p. 4, 01 ago. 1877.
191
O norte-americano James Cooley Fletcher, visitando o Brasil entre os anos de 1851 e 1865, observou e
registrou o costume de tomar banho de mar dos habitantes do Rio de Janeiro: Durante cinco meses no ano, a
Praia do Flamengo o ponto escolhido por ambos os sexos para banhos de mar. Na estao dos banhos (de
novembro a maro), assiste-se todas as manhs a cenas cheias de vida. Antes que o sol desponte acima dos
morros, uma fila de homens, mulheres e crianas desce as ruas para tomar banho nas claras guas salgadas da
baa. [...] Os habitantes do Rio tm paixo pelos banhos de mar, e so por isso chamados cariocas, que alguns
traduzem por patos. Muitas pessoas andam milhas para tom-los. H um flutuante para banhos no interior do
porto, no longe do Hotel Pharoux, para aqueles que tm a coragem necessria para afrontar o elemento que a
chamam de gua salgada, mas que, para um narrador fiel, devido ao sistema improvisado de esgotos, deve ser
estigmatizado por um nome bem diverso. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os
brasileiros: esboo histrico e descritivo. v.1. So Paulo. Companhia Editora Nacional, 1941, p. 100 e 102.
192
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
So Paulo: Global, 2003, p. 546.
193
PARANHOS, Jos Maria da Silva. Cartas ao amigo ausente. Rio de Janeiro: ABL, 2008.
194
Visconde do Rio Branco (Salvador, 16 de maro de 1819 Rio de Janeiro, 1. de novembro de 1880),
professor, poltico, jornalista, diplomata e monarquista brasileiro.
102
195
PARANHOS, op. cit., p.83.
196
FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo histrico e
descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941.
197
Recreio saudvel de banhos. Na rua de Japaratuba, ao p do quartel da linha, acha-se este estabelecimento
preparado para servido pblica, de 5 horas da manh at as 10 horas da noite. Preo fixo 160 rs cada pessoa.
RECREIO saudvel de banhos. Jornal do Aracaju, p. 4, 12 ago. 1876.
103
198
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 614.
199
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil [...] e Industrial do Imperio do Brasil para 1885. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 42 ano, 1885, p. 1911.
104
As vestimentas adequadas para colegiais foi outro ponto das prescries dos mdicos
com relao aos cuidados com o corpo. Os facultativos recomendavam a utilizao de tecidos
adequados a cada estao, como o uso do linho e do algodo nas estaes de calor e a l
batida e o merino no frio intenso. As vestimentas tambm deveriam ser largas para que
pudessem facilitar, livremente, o movimento dos rgos e o seu desenvolvimento200. As
roupas de uso dirio deveriam ser colocadas em lugar distante do dormitrio e no nos lados
do leito, como usualmente era feito.
Igualmente, os cuidados com o regime alimentar foram destacados pelos mdicos201
para a boa higiene dos internatos. Nesse tpico, costumavam indicar os tipos de alimentos,
horrios das refeies e o intervalo entre estas, dentre outras recomendaes. Os alimentos
deveriam ser administrados levando em considerao a idade, constituio e temperamento,
todavia, reconheciam a impossibilidade da efetivao dessa seleo em um internato. Em
compensao, apresentavam prescries gerais que pudessem alcanar com xito todos os
pensionistas. Assim, em relao s quantidades, recomendavam um equilbrio; nem muito
abundantes e nem insuficientes. Trs refeies dirias eram, em regra, consideradas
suficientes, devendo ser tomadas em horas fixas e determinadas, divididas em almoo s 8
horas da manh, constando de caf202, leite e po; o jantar 1 da tarde, devendo ser servidos
alimentos como sopa, legumes, carne, arroz e frutas; e 5 ou 6 horas depois a ceia, servindo-se
uma sopa de arroz, marmelos, ch e po, ou somente estes dois ltimos. Depois de cada
refeio os alunos deveriam ter de 1 a 1 hora de recreio, para auxiliar os movimentos
peristlticos do estmago. Durante a digesto no convinham as srias preocupaes de
esprito, os movimentos exagerados, o sono e o emprego de banhos.
Sobre o uso do vinho entre os colegiais, o mdico Jos Bonifcio de Andrada Jnior
recomendava que se fornecesse aos alunos, uma vez por semana, em pequena quantidade,
vinho da Madeira ou de Bordeaux, puro ou misturado com gua, segundo as idades. Para ele,
essa era uma medida necessria na estao fria e para os [...] meninos e meninas de fraca
compleio, de fibra branca e mole, astnicos, de um temperamento excessivamente linftico,
200
CRUZ, Jos de Souza Pereira Junior. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras
principais tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as
quais se devem reger os nossos colgios (Proposies).Rio de Janeiro: Typographia Brasiliense Maximiano
Gomes Ribeiro, 1857.
201
Conferir, entre outras, as teses dos mdicos Candido Teixeira de Azeredo Coutinho, 1857; Joo Goulart
Rolim, 1857 e Joo da Matta Machado, 1875.
202
Nos colgios, principalmente nos do Rio de Janeiro, dever-se-ia admitir o sistema, alis adotado nas
provncias, de fornecer aos pensionistas caf de manh ao levantarem-se e depois do jantar: tal uso, salvo casos
individuais, no produziria seno resultados favorveis. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica,
intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G.
Leuzinger & Filhos, 1875, p. 45.
105
203
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 43.
204
O Dr. Fructuoso Pinto da Silva igualmente manifestou-se contrrio ao uso de vinho pelos colegiais. SILVA,
Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869.
205
En esto solamente hay que permitirles que se satisfagan plenamente; nada contribuye ms al crecimiento y
salud del nio, que el sueo. Todo lo que puede ser regulado en ello, es que parte de las veinticuatro horas las
han de consagrar al sueo, lo cual se resolver fcilmente con solo decir que es de gran ventaja acostumbrale a
despertarse por la maana temprano. Es mejor hacerlo as para su salud; y aqul que desde su tierna infancia se
haya acostumbrado por um uso constante a madrugar sin violencia, cuando ya sea hombre formado, no envidiar
el imaginado placer de algunos, que disipan la parte mejor y ms considerable de su vida en reposar en su lech.
LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin . Madrid: Akal, 1986, p.56.
206
Ibid., p. 59.
207
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emlio, ou da educao. So Paulo: Martins Fontes, 2004, p.155.
106
208
Importncia h muito salientada por pensadores Iluministas a exemplo de Locke: Uno espritu sano en un
cuerpo sano es uma descripcin breve, pero completa de un estado feliz en este mundo. Al que dispone de ambas
cosas le queda muy poo que desear, y al que le falten una u outra no ser feliz por ventajas que disfrute por
outra parte. La felicidad y la desgracia del hombre son, em gran parte, su propria obra. LOCKE, John.
Pensamientos sobre la educacin . Madrid: Akal, 1986, p.31. Como tambm Rousseau, quando diz que [...]
preciso trein-la na aspereza dos exerccios para educ-la para a aspereza das luxaes, da clica e de todos os
males. O sbio Locke, o bom Rollin, o douto Fleury, o pedante de Crouzas, to diferentes entre si em tudo o
mais, concordam todos neste nico ponto: exercitar bastante o corpo das crianas. ROUSSEAU, Jean-Jacques.
Emlio, ou da educao. So Paulo: Martins Fontes, 2004, p.150.
209
CRUZ, Jos de Souza Pereira da Junior. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras
principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as
quais se devem reger os nossos colgios (Proposies).Rio de Janeiro: Typographia Brasiliense Maximiano
Gomes Ribeiro, 1857.
210
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de Andrada. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos
nossos. Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e
intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e
Constitucional de J. Villeneuve e Comp., 1855, p.28.
211
Na pedagogia roussouneana: Exercitar os sentidos no apenas fazer uso deles, mas aprender a bem julgar
atravs deles e aprender, por assim dizer, a sentir; pois ns no sabemos nem tocar, nem ver, nem ouvir a no ser
da maneira como aprendemos. Existe um exerccio puramente natural e mecnico que serve para tornar robusto o
corpo sem dar nenhuma matria ao julgamento: nadar, correr, saltar, chicotear o pio, jogar pedras. Tudo isso
muito bom, mas teremos s braos e pernas? No temos olhos e ouvidos tambm? E sero esses rgos
suprfluos para o uso dos primeiros? Portanto, no exerciteis apenas as foras, exercitai todos os sentidos que as
dirigem; tirai de cada um deles todo o partido possvel, e depois verificai a impresso de um pelo outro.
ROUSSEAU, op. cit, p. 160.
212
A recomendao do uso dos passeios para os colegiais: Dever-se-ia adotar nas casas de educao o sistema
de passeios a p suficientemente longos, ao menos duas vezes por semana; neste caso, porm, no deveria ser um
passeio disciplinar metdico a dois de fundo, espetculo que uma ou outra vez agrada aos diretores de colgio
oferecer aos pacficos burgueses do Rio de Janeiro. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica,
intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G.
Leuzinger & Filhos, 1875, p. 51.
213
Sobre a importncia social da arte de danar, informa Wanderley Pinho, que danava-se muito e os bailes
multiplicavam-se na Corte Imperial do Rio de Janeiro. Segundo o autor era nos bailes onde a polidez, a arte das
boas maneiras, melhor se desenvolvia. Num salo esmeram-se vrias artes: a de receber ou preparar um
ambiente de cordialidade e esprito; a de entreter a palestra e cultivar humor; danar uma valsa ou contar uma
107
sexos. Os mdicos igualmente lembravam que essas atividades traziam como benefcios para
os pensionistas anestesiar o sentido sexual216 , alm de imprimir um estmulo salutar a todas
as funes do organismo.
A prtica dos exerccios ginsticos era tambm recomendada s meninas. O Dr. Joo
da Matta Machado, depois de criticar o sedentarismo217 da mulher da alta sociedade, dizia que
se o sexo feminino no necessitava tanto desenvolver as foras musculares,
ria, declamar ou inspirar versos, criticar com graa e sem maledicncia, realar a beleza feminina nas ltimas
invenes da moda. PINHO, Wanderley. Sales e damas no Segundo Reinado. So Paulo: Martins, 1970.
214
A esgrima era indicada por alguns mdicos e mesmo anunciada como uma atividade dos colgios. Mas,
tambm existia quem criticasse sua prtica, pois dava um esprito disputador e desordeiro. SOUZA, Joaquim
Francisco de Paula e. Esboo de uma Higiene de colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes
conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular
os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Vianna & Filhos, 1857.
215
O uso da natao no pensamento pedaggico de John Locke: No es necesario advertir aqui que conviene
mucho ensear a nadar a los nios cuando estn en edad para ello, poniendo a su lado alguno que los ensee.
LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin. Madrid: Akal, 1986, p.41.
216
BRANDO, Raul Mendes de Castilho. Breves consideraes sobre a educao sexual. Bahia: Imprensa
Nova, 1910, p.3.
217
Com efeito: a mulher da alta sociedade que comumente se entrega a mais completa inao: ergue-se do
leito quando o sol j tem traado a metade do seu curso diurno; almoa s vezes mesmo no quarto de dormir;
depois, recosta molemente em cmoda poltrona, conversa, l ou... seisma; em breve a toilette a reclama; duas ou
trs horas se passam defronte de um espelho; soam as horas de jantar a elegante senhora, que no tem
naturalmente apetite, senta-se com desgosto mesa: o aroma dos delicados manjares irrita [...]. MACHADO,
Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a
sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 49.
218
Ibid., p. 49.
219
Cuidado com as meninas durante o perodo da menstruao: Em todo o tempo que durar a excitao que
acompanha o trabalho da ovulao espontnea, deve-se ter para com as jovens pberes toda a espcie de
contemplaes, no contrari-las sem necessidade, nem repreend-las asperamente, priv-las de tudo o que lhes
possa causar uma alegria extrema ou uma profunda tristeza, subtra-las enfim a todas as emoes morais vivas.
A malfica influncia do terror, da clera, e de todas as paixes violentas sobre a menstruao, no hoje uma
simples hiptese. ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de Andrada. Esboo de uma higiene dos colgios
aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras
fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia
Imperial e Constitucional de J. Villeneuve e Comp., 1855, p.31.
220
O uso da dana entre os colegiais: [...] A dana deve ser permitida nos colgios, mas com as competentes
precaues higinicas: sejam sempre abolidos das casas de educao estes saraus esplndidos e sufocantes, em
que os nossos jovens educandos, em vez de encontrarem o exerccio salutar e reparador de que tanto precisam,
s vm o luxo e a vaidade de envolta com todas as sedues capazes de perverterem um moral menos acessvel
108
que o de um menino, onde s respiram as particular alteradas de uma atmosfera escaldada e corrompida. Ibid.,
p. 27.
221
Rapazes e moas aprendiam no colgio a arte da dana para pratic-la nos bailes: [...] durante os anos de
1840 a 1860, que se cria uma febre de bailes, concertos e reunies e festas. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As
barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos trpicos. So Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.111. / A
respeito do salonismo brasileiro no sculo XIX, onde a dana era uma arte sempre presente, consultar PINHO,
Wanderley. Sales e damas no Segundo Reinado. So Paulo: Martins, 1970.
222
Em nosso pas o nico exerccio, a que sujeitam as moas, a dana, que elas aprendem mais como um
objeto de luxo e moda, do que como exerccio necessrio para o desenvolvimento do seu corpo. SILVA,
Fructuoso Pinto da. Higiene dos colgios,. Bahia. Typographia de F. Felix, 1869, p. 18.
223
Dr. Joaquim Francisco de Paula Souza, natural de Itu (So Paulo). Tese defendida em 15 de setembro de 1857
pela Faculdade de Medicina da Bahia. SOUZA, Joaquim Francisco de Paula e. Esboo de uma higiene de
colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia
Vianna & Filhos, 1857.
224
Recomendao na obra Emlio (1761), de Rousseau: Robinson Cruso em sua ilha, sozinho, sem o amparo
de seus semelhantes e dos instrumentos de todas as artes, provendo porm sua subsistncia, sua conservao
e conseguindo at uma espcie de bem-estar, eis um tema interessante para qualquer idade e que temos mil
maneiras de tornar agradvel para as crianas. Eis como realizamos a ilha deserta que inicialmente me servia de
comparao. Esse estado no , concordo, o do homem social; provavelmente no o de Emlio, mas atravs
desse mesmo estado que ele deve apreciar todos os outros. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emlio, ou da educao.
So Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 244.
225
SOUZA, op. cit.
109
religiosa que circulava na cultura do sculo XIX, tal como expresso nas palavras do Padre
Miguel do Sacramento Lopes Gama226:
226
Conhecido como Padre Carapuceiro (1791-1852), nasceu em Recife, atuou como jornalista, religioso,
professor e poltico. Estudou no Mosteiro de So Bento (Olinda) em 1805. Foi professor de Retrica no
Seminrio de Olinda (1817); redator do Dirio do Governo (1823); diretor da Tipografia Nacional (1824); vice-
diretor dos cursos jurdicos de Olinda (1840), deputado provincial por Pernambuco eleito em 1852, fundador e
redator do jornal O Carapuceiro (1832 - 1847).
227
Educao das Meninas (O Carapuceiro). O Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 5 mar. 1845.
228
Dr. Jos Tavares de Mello, natural de Queluz (Minas Gerais). Tese defendida em 10 de dezembro de 1841,
perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. MELLO, Jos Tavares de. A higiene da mulher durante a
puberdade, e aparecimento perodico do fluxo catemenial. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemert,
1841.
229
Ibid., p. 15.
230
Ibid., p.15.
110
Embora no sculo XIX fosse dominante a ideia de que a funo da mulher era a de
casar, gerar filhos e educ-los, o Dr. Joo da Matta Machado, destoando do pensamento
dominante sobre o assunto, argumentava:
evidente que a mulher tem a liberdade de se casar ou no, que pode por
uma deliberao espontnea do livre arbtrio votar-se ao celibato; ora, em
tal caso, qual a misso que lhe ser reservada? Querer, portanto, determinar
arbitrariamente a misso da mulher, permitindo-lhe somente o papel de me
de famlia, a atentar contra os direitos da personalidade humana, atributo
que ningum lhe tem seriamente negado. Se porm a sua misso fosse
exclusivamente gerar e educar filhos, ainda seria de imediata utilidade que
se lhe facultassem os mais amplos meios de instruo. Com efeito, quanto
mais desenvolvida for a inteligncia de uma me de famlia, tanto mais
segura e frutuosamente dirigir a educao de seus filhos; e at um tato de
observao vulgar que se a mes sabem ler os filhos aprendem com grande
facilidade. E se isto sucede em relao aos estudos primrios, porque no
suceder o mesmo quanto se tratar de ensino secundrio ou superior?231
O pensamento ilustrado, progressista para a poca, adotado pelo Dr. Machado sobre a
instruo da mulher, ressoava ainda muito fraco no direcionamento da educao feminina no
Brasil do sculo XIX. De fato, relatos escritos por viajantes estrangeiros que estiveram no
Brasil durante aquele sculo ressaltam a situao rudimentar da educao feminina na poca.
Nesse sentido, foram as impresses, quando de sua estada no Brasil (1864-1865), que o casal
Lus Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz deixou na obra Viagem ao Brasil. Segundo eles, a
instruo dada s meninas, inclusive nos colgios, era restrita [...] a um conhecimento
sofrvel de francs e msica, deixa-as na ignorncia de uma srie de questes gerais; o mundo
dos livros lhes est fechado, pois diminuto o nmero das obras portuguesas que lhes
permitem ler, e menor ainda o das obras escritas em outras lnguas.232
O professor e comerciante francs Charles Expilly, retratando os costumes e a vida
cotidiano no Brasil de meados do sculo XIX, tambm destacou em sua obra Mulheres e
costumes do Brasil (1863) a rudimentar educao das mulheres.
Hoje ainda a educao de uma brasileira est completa, desde que saiba ler e
escrever correntemente, manejar o chicote, fazer doces e cantar,
acompanhando-se ao piano, num romance de Arnaud ou de Luiza Puget. At
agora as senhoras no tomaram da civilizao seno a crinolina, o ch e a
polca. A crinolina... coisa de que afinal elas no tm necessidade. O ch a
231
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 14.
232
AGASSIZ, Luis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil 1865-1866. Braslia: Senado Federal, 2000.
111
233
EXPILLY, Charles. Mulheres e costumes do Brasil. [1863] So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
234
A MULHER perante o sculo em que vivemos. Jornal do Aracaju, p. 3, 29 jan. 1873.
235
CARON, Jean-Claude. Os Jovens na escola: Alunos de Colgios e Liceus na Frana e na Europa (Fim do Sc.
XVIII Fim do Sc. XIX). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. Histria dos Jovens: A poca
Contempornea. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 181.
236
Sobre a relao entre medicina e moral no sculo XIX Roberto Machado interpreta: Por um lado o homem
um todo fsico-moral e no a juno de dois princpios da natureza independente. As disposies morais do
homem so condicionados por circunstncias fsicas. As disposies fsicas se alteram por circunstncias morais
desfavorveis. O conhecimento mdico naturaliza a moral. A dupla srie de causas fsicas e morais
responsveis pelo comportamento humano se interrelaciona, a medicina, corrigindo os excessos que os homens
cometem, visa justamente a estabelecer um estado de equilbrio entre os aspectos fsicos e morais. MACHADO,
Roberto. Danao da norma: a medicina social e constituio da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal,
1978, p. 281.
112
Sobre esse tema, o Dr. Balbino Candido da Cunha237 anotava que a ordem era
necessria quando se tratava de educar um grande nmero de meninos ou meninas reunidos
no mesmo lugar, ainda mais quando estes colegiais eram preguiosos, indisciplinados, [...]
naturalmente inimigos de todo o aperto, de qualquer constrangimento e comunicando-se
reciprocamente pelo exemplo sua indolncia, sua indocilidade e outros defeitos [...]238.
Assim, segundo ele, para evitar o relaxamento dos costumes, os internatos deveriam ter
regulamentos justos, sbios, severos, garantidos por uma disciplina ativa, zelosa e inflexvel.
Com essas recomendaes mdico-higinicas os facultativos estendiam as teias do
campo mdico sobre a organizao dos internatos e acreditavam que elas poderiam contribuir
para o funcionamento adequado dos colgios, uma instituio urbana que se desenvolvia a
passos largos durante todo o sculo XIX.
237
Balbino Candido da Cunha, natural de So Joo Del Rei (Minas Gerais), filho de Domingos Jos da Cunha.
Tese defendida em 11 de dezembro de 1854, perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. CUNHA,
Balbino Candido da. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais tendentes
conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem reger
os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854.
238
Ibid., p. 24.
113
CAPTULO III
RECLAMES DE INTERNATOS
1
Os proprietrios dos colgios tambm mandavam confeccionar prospectos para serem distribudos aos
interessados: Nos prospectos impressos, que sero entregues no colgio a quem os pedir, se designa o enxoval
que devem levar as alunas, principalmente quando so de fora da corte. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do Rio de Janeiro com os Municpios
de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 29 ano, 1872, p.
458. Igualmente eram distribudas cpias dos estatutos e a indicao de pessoas ou firmas em que os interessados
podiam se informar sobre o colgio: [...] informaes sero ministradas no prprio colgio, e, por especial favor
pelas casas dos Srs. Carvalho & Rocha, rua de S. Pedro n. 57; Viva de Albino Lucio, Filho & Cunha, rua do
Visconde de Inhama n. 74; F. J. de Oliveira Aguiar & C. , rua dos Ouvires n. 102, e Joo Castelpuggi, rua de S.
Joaquim n. 118. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da
Corte e da Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de
1877. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano, 1877, p. 629.
2
Foram catalogados e examinados anncios e outras informaes sobre colgios-internatos no Almanak
Laemmert dos anos de 1845 a 1889.
3
Impresso na tipografia dos irmos Laemmert localizada no Rio de Janeiro na Rua da Quitanda, 77 e, a partir do
ano de 1868, localizada na Rua do Ouvidor, 68.
4
Nascido no Gro-ducado de Baden, no sudoeste da Alemanha, mudou-se para o Brasil no incio do sculo XIX.
5
O Almanak Laemmert circulou em Sergipe, como recorda Gilberto Amado: No me saa tambm das mos o
Almanaque de Lembranas Luso-Brasileiro, o Laemert e o de Sergipe. Charadas, enigmas, logogrifos, eu os
abatia, com facilidade, propalava meu pai. Espicaado por ele, compunha charadas e logogrifos para a vida
decifrar. AMADO, Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora da UFS, 1999, p.104. Jornais
sergipanos tambm anunciavam a venda de assinaturas do Almanak Laemmert. No Correio de Aracaju recebe-
se assinatura para este Almanak. ALMANAK Laemmert. O Guarany, Aracaju, p. 4, 13 mar. 1883.
6
No ano de 1883 o almanaque foi reformado e reorganizado por Arthur Sauer, passando a ser denominado
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil, e informava aos seus leitores tratar-se de
114
uma obra estatstica e de consulta, abrangendo todas as provncias do Imprio SAUER, Arthur. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil para 1883. Rio de Janeiro: Typographia H.
Laemmert & C., 40 ano, 1883.
7
Advogado, professor do Colgio de Pedro II e da Escola Militar, jornalista, deputado pela Provncia de Minas
Gerais.
8
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p.1.
115
9
FERRAZ, Luiz Pedreira de Couto. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e
Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1855.
10
MELLO, Francisco Ignacio Marcondes Homem de. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e
Secundria do Municpio da Corte apresentado em 18 de abril de 1874. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo
Correia de. Relatrio apresentado a Assemblia Geral pelo Ministro Secretrio dos Negcios do Imprio. Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1875.
11
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para
o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 460.
116
12
Os diretores que no professavam a religio catlica eram obrigados a ter nos colgios um sacerdote para os
alunos dessa religio. BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte,
aprovado pelo Decreto N 1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
13
Diretor-proprietrio do Colgio Menezes Vieira. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da
Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1877, p.
625.
14
Em muitos internatos geralmente a mulher do diretor cuidava dos internos menores e da manuteno do
estabelecimento.
15
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 451.
16
Sendo 8 menores de 7 anos, 57 menores de 14 anos e 9 menores de 21 anos. Quanto religio professada, 68
eram catlicas e 6 acatlicas. A respeito da nacionalidade, 58 eram brasileiras e 12 estrangeiras. Em 1871, o
colgio tinha a seguinte composio: diretora Mme. Taniere, professores, de portugus, o Sr. Frazo; de ingls,
Miss Mme. David Taniere; de msica instrumental, Mme. Brilani, Mme. Heck Taniere e Mme David Taniere; de
msica vocal, Mme. Briliani; de dana Mlle. Ferrare. FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da
Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872.
Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de.
Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do
Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872, p.9.
17
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p.8.
117
Episcopal S. Pedro de Alcntara, dirigido pelo cnego Jos Mendes de Paiva e seus irmos,
anunciava que tinha capacidade para receber at duzentos e cinquenta alunos (internos, semi-
internos e externos); o Colgio Imaculada Conceio, fundado em 1854 pela Associao de S.
Vicente de Paulo, dirigido pela irm Saugre e 32 irms de caridade na condio de
professoras, tinha, no ano de 1871, 230 alunas pensionistas sendo 2 menores de 7; 188
menores de 14; 40 menores de 21, todas catlicas, e, 20 estrangeiras , alm de quase 80
alunas pobres internas que recebiam gratuitamente a educao e instruo18. Igualmente o
Colgio Vitrio19, do conselheiro Dr. Adolpho Manoel Vitrio da Costa, era um grande
internato com at 100 alunos internos nas primeiras dcadas de 187020.
Nos grandes internatos, alm da contratao de professores e de um mdico, existiam
os empregados que cuidavam da sua administrao. O ecnomo cuidava do funcionamento do
internato, especialmente do refeitrio, e comandava funcionrios subalternos; a contabilidade
do estabelecimento ficava a cargo do escriturrio; o servio domstico geralmente ficava a
cargo dos criados (cozinheiros, copeiros, serventes, lavadeiras) ou de escravos.
Segundo o Dr. Justiniano Jos da Rocha, o que mais custava na organizao de um
colgio era o servio domstico, que devia ser realizado
[...] sem a menor ingerncia dos alunos, sem a menor relao entre eles e os
serventes. Com os nossos escravos, com a dificuldade de haver bons criados,
talvez, seja impossvel organizar satisfatoriamente esta parte do regime
colegial. Vi porm que os diretores dos bons colgios compreendem a sua
importncia, e procuram desveladamente evitar ou pelo menos diminuir a
intensidade do mal.21
18
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
19
Diretor conselheiro Dr. Adopho Vitrio da Costa, sub-diretor, bacharel Emygdio Adolpho Vitrio da Costa.
Professores, os diretores, Thomaz Gosling, Dr. Antonio de Paula Freitas, Francisco Lopes Suzano, Jos
Nogueira de Lacerda, Silvino Barreto Cotrim de Almeida, Manoel do Nascimento Nobrega, Basilio Eusebio
Brunie, Guilherme Loureno Schultze (piano), Emilio Arthur Ribeiro da Fonseca, capito Ataliba Manoel
Fernandes (dana e ginstica), capito Paulino Francisco Paes Barreto (ginstica), Manoel Tavares de Aquino
Junior. Ibid.
20
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 420.
21
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p.7.
118
22
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864.
23
ARIS, Philippe. Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
24
ESTATUTOS do Colgio DEducao Clssica Todos os Santos, na Bahia. Correio Sergipense. So
Cristvo, p. 3, 10 fev. 1849.
25
O Colgio Moreira (antigo Santo Agostinho) tinha como diretor o Dr. Francisco Moreira de Rocha, natural de
Minas Gerais, bacharel em Direito pela Faculdade de S. Paulo em 1854. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia do Rio de Janeiro inclusive alguns
municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1874. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 31 ano, 1874, p. 589.
26
Dr. Joaquim Jos de Oliveira Mafra, diretor do Colgio Marinho.
27
Colgio Pinheiro dirigido por Jos Rodrigues de Azevedo Pinheiro, professor habilitado pelo Conselho Diretor
da Instruo Pblica da Corte. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte
e da Capital da Provncia do Rio de Janeiro com os municpios de Campos e de Santos para o ano de 1874. Rio
de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 490. / Colgio S. Manoel, em Botafogo, dirigido
pelo professor Manoel Ferreira das Neves. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S.
Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 625.
28
Colgio Episcopal de S. Pedro de Alcntara, dirigido pelo cnego Jos Mendes de Paiva e seus irmos, padre-
mestre Antnio M. Fernandes Ferreira de Paiva (ecnomo), padre-mestre Bacharel Joaquim Mendes de Paiva
(pedagogo), Joo Mendes de Paiva (escriturrio).
29
FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo histrico e
descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p. 197.
119
Colgios
Professores
Femininos
Baronesa Diretora baronesa de Geslin, sub-diretora Mme. Julia de Geslin, professores, baro de
de Geslin Geslin, Pardal, Cruz, Julia Malheiros, Francina Macon, Delminda Macon, Mme.
Sophia Emery, Miss. Lamour, Mme. Luiggi Elena, Miss. Jackson
Mme. Diretora Mme. Taniere, professores: de portugus, o Sr. Frazo; de ingls, Miss Mme.
Taniere David Taniere; de msica instrumental, Mme. Brilani, Mme. Heck Taniere e Mme
David Taniere; de musica vocal, Mme. Briliani; de dana Mlle. Ferrare
Brasileiro Diretora D. Florinda de Oliveira Fernandes, professores: a diretora, Manoel Jos
Pereira Frazo, Germano Arnaud e G. de Mattia
Mme. Diretora Mme. Taulois, sub-diretora Mme. Cadeac, professores: Mlle. Rivierre, Mme.
Taulois Briani, padre Marcos Neville
Colgios
Professores
Masculinos
Ablio Ablio Csar Borges, sub-diretor Jos Bencio de Abreu, professores:: Jos
Domingues Ramos e Manuel Olympio da Costa (portugus), Dr. Francisco Lins de
Andrade e Amaro de Albuquerque Maranho (latim), Lon Serville e Vicente Ferreira
de Souza (francs), Jasper Harben e Vicente da Costa (ingls), Jos Leandro
Filgueiras (msica e dana), Mill (desenho)
Neves Diretor Manoel Ferreira das Neves, professores: Jacintho Cardoso da Silva, Antonio
Getulio Monteiro de Mendona, bacharel Jos Feliciano de Noronha Feital e Manoel
Ferreira das Neves
Vitrio Diretor conselheiro Dr. Adopho Vitrio da Costa, sub-diretor, bacharel Emygdio
Adolpho Vitrio da Costa, professores: os diretores, Thomaz Gosling, Dr. Antonio de
Paula Freitas, Francisco Lopes Suzano, Jos Nogueira de Lacerda, Silvino Barreto
Cotrim de Almeida, Manoel do Nascimento Nobrega, Basilio Eusbio Brunie,
Guilherme Loureno Schultze (piano), Emilio Arthur Ribeiro da Fonseca, capito
Ataliba Manoel Fernandes (dana e ginstica), capito Paulino Francisco Paes Barreto
(ginstica), Manoel Tavares de Aquino Junior
Episcopal Diretor-geral cnego Jos Mendes de Paiva, sub-diretores padres Antonio, Joaquim e
S. Pedro de Francisco Mendes de Paiva, professores: Adolpho LAbb, Anibale Elena, Antonio
Alcntara Jos da Rocha, Bacharel Augusto Rochet, Epifanio Jos dos Reis, Joo Mendes de
Paiva, Jos de Barcellos, Jos Cardoso da Silva, bacharel Luiz Chardinal dArpenans,
Luiz Manoel dos Santos Valente Junior, Romualdo Pagani, padre mestre Francisco
Mendes de Paiva e padre mestre bacharel Joaquim Mendes de Paiva
Ateneu Diretor monsenhor Antonio Pedro dos Reis, sub-diretor bacharel Augusto Ferreira dos
Fluminense Reis, professores: padre-mestre Joo Nicolao Rumazza, Joaquim Verissimo da Silva,
Dr. Jos Ortiz da Silva, padre Dr. Patrcio Moniz, Phillippe Jos Alberto Junior, Jos
de Maya, Bento Fernandes das Mercs, Augusto Ferreira dos Reis, monsenhor
Antonio Pedro dos Reis
Quadro 3 Relao de professores de Colgios-Internatos da Corte Imperial do Rio de Janeiro(1871)
Fonte: Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte [...],
1872.30
30
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
120
31
As provas de capacidade poderiam ser dispensadas pelo governo aos que tivessem sido aprovados nos estudos
superiores pelas Academias do Imprio, aos que fossem ou tivessem sido professores pblicos, aos bacharis em
letras pelo Colgio de Pedro II e aos que exibissem diplomas de Academias estrangeiras e aos nacionais e
estrangeiros reconhecidamente habilitados, a quem o governo concedesse dispensa. BRASIL. Regulamento da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N 1.331 A, de 17 de fevereiro
de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
32
BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N
1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
33
BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N
1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
34
Os professores e diretores de estabelecimentos particulares podiam adotar qualquer compndio ou mtodo de
ensino, desde que no fossem expressamente proibidos. BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e
Secundria do Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N 1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de
Janeiro, 1854.
121
Jos Vicente Jorge, relatava ao inspetor geral que os diretores dos colgios particulares
localizados nessa freguesia furtavam-se por diversos modos sua inspeo, pouco se
importavam com o delegado, muitos no faziam as comunicaes a que estavam obrigados e
outros se estabeleciam sem comprovar o ttulo de habilitao para tal35. Isto era confirmado
pelo inspetor geral da Instruo, Jos Bento da Cunha Figueiredo, ao afirmar que a inspeo
dos estabelecimentos particulares de ensino da Corte era seno de todo nula, ao menos
excessivamente fraca e [...] parece que a ideia do ensino livre est to inoculada no esprito
dos diretores e professores de colgios particulares, que nem todos se prestam de boa vontade
s exigncias do regulamento [...]36.
Muitos estrangeiros (franceses, portugueses, americanos) atuavam nos colgios-
internatos na condio de diretores-proprietrios e professores, a exemplo do Colgio de
Meninas, dirigido pelas francesas Madame Taniere e Mrs. Tootal; a primeira informava aos
interessados ter chegado ao Brasil [...] j provida de todos os seus diplomas da Frana, pois
tinha dirigido um colgio seu em Paris por nove anos37. Igualmente francs era o Mr. De
Roosmalen, diretor do Liceu Roosmalen, autor de lOrateur e de outras obras. Ainda,
informava aos leitores que era membro das Academias Imperiais de Frana, leitor da
Universidade, ex-professor da Escola Normal Eclesistica de Paris. Foi [...] enviado, assim
como seu filho, em misses ao Brasil pelo governo francs, estabeleceu-se no Rio de Janeiro,
e a instncias de alguns brasileiros influentes, dedicou-se educao da mocidade do
Brasil38. E, no Colgio Brasileiro39 conviviam com as meninas no internato professoras
francesas, inglesas, alems e italianas, com o fim de tornar familiar s alunas a prtica das
lnguas estrangeiras e incutir regras de civilidade, como portar-se mesa, conversar, receber
visitas, entre outras regras de civilidade40.
35
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872, p.33.
36
Relatorio apresentado Assemblea Geral Legislativa na quarta sesso da dcima quarta legislatura pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio Dr. Joo Alfredo Correia de Oliveira. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1872. Anexo: Relatrio da Inspectoria Geral da Instruco Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado por Jos Bento da Cunha Figueiredo em 11 de abril de 1872.
37
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para
o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 443.
38
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o
ano de 1856. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 13 ano, 1856, p. 405.
39
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 632.
40
Regras de civilidade muitas vezes ensinadas com o uso de pequenos manuais que continham, entre outros,
ensinamentos sobre: Deveres gerais para com Deus, a famlia e a sociedade; deveres pessoais (despertar, vestir,
122
No ano de 1850, o Dr. Justiniano Jos da Rocha alertava o Governo Imperial sobre a
grande quantidade de estrangeiros ocupando a condio de diretores e professores de colgios
particulares estabelecidos na Corte Imperial. Segundo ele, essa realidade podia resultar em
prejuzo para a formao cvica da mocidade que frequentava esses colgios.
Juventude, Maria Fortunata de Almeida Bastos, indicava como suas referncias44, entre
outras, a Marquesa de Olinda, os comendadores Jos Maria do Amaral, Joo Jos de Souza
Rio e o proprietrio do estabelecimento, Teixeira Leite & Bastos. Da mesma forma, o cnego
Francisco Pereira de Souza, diretor do Colgio de Santo Antonio, ressaltava a boa educao
de seu estabelecimento, dando prova aos interessados, atravs de atestados emitidos por
autoridades, de que o diretor fazia publicar juntamente com o anncio do colgio, conforme o
exemplo seguinte:
Atesto que fao muito bom juzo da administrao do Revmo. Sr. Cnego
Desembargador Francisco Pereira de Souza, no Colgio de Educao
Primria e Secundria que mantm e dirige na casa n. 4 da Rua dos
Invlidos: que o Revmo. Diretor desempenha por si bem e
escrupulosamente os deveres do seu cargo; que h nesse estabelecimento
disciplina e vigilncia indispensveis, com aplicao nas aulas e ordem nas
salas de estudo; que se encontra a necessria limpeza e asseio nos
dormitrios, quarto de banhos e cozinha; e que na ltima ocasio que visitei
o Colgio, e na qual examinei minuciosamente tudo, nada tive que censurar,
e antes reconheci que se achava em tudo satisfatrio. Rio de Janeiro, 6 de
Julho de 1864. Jos Vicente Jorge, delegado do 5 distrito da Instruo
Pblica da Corte.45
44
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para
o ano de 1866. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 23 ano, 1866, p. 427.
45
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para
o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 24 ano, 1867, p. 411.
46
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1875. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 32 ano, 1875, p. 590.
47
Joaquim Nabuco ressalta a influncia do baro de Tautphoeus na sua formao. NABUCO, Joaquim. Minha
formao. (Coleo Biblioteca Bsica Brasileira; 2). Braslia: Senado Federal, 1998.
48
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 628.
124
49
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 444.
50
Miguel Calmon du Pin e Almeida (1796-1865), formado pela Faculdade de Direito de Coimbra em 1821,
exerceu diversos cargos pblicos, presidiu o Conselho interino que governou a Provncia da Bahia de 1822 a
1823.
51
Lus Alves de Lima e Silva (1803-1880), filho do brigadeiro e regente do Imprio, Francisco de Lima e Silva,
e de Mariana Cndida de Oliveira Belo.
52
Paulino Jos Soares de Sousa (1807-1866), jurista, senador do Imprio e ministro do Imprio em diversas
pastas.
53
Cndido Jos de Arajo Viana (1793-1875) exerceu diversos cargos pblicos como ministro da Fazenda e da
Justia, conselheiro de Estado, deputado, presidente de Provncia e senador. Foi professor de Literatura e
Cincias Positivas do imperador D. Pedro II e, tambm cuidou da educao da Princesa Isabel.
54
Magistrado e poltico brasileiro, ministro da Justia, autor, entre outras, da Lei Eusbio de Queirs, que
extinguiu o trfico negreiro. Foi inspetor geral da Instruo Pblica.
55
No pensamento de Bourdieu o capital social [...] o conjunto de recursos atuais ou potenciais que esto
ligados posse de uma rede durvel de relaes mais ou menos intitucionalizadas de interconhecimento e de
inter-reconhecimento ou, em outros termos, vinculao a um grupo, como conjunto de agentes que no
somente so dotados de propriedades comuns (passveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou
por eles mesmos), mas tambm so unidas por ligaes permanentes e teis [...] O volume de capital social que
um agente individual possui depende ento da extenso da rede de relaes que ele pode efetivamente mobilizar
e do volume do capital (econmico, cultural e simblico) que posse exclusiva de cada um daqueles a quem est
ligado. BOURDIEU, Pierre. O capital social notas provisrias. In: NOGUEIRA, Maria Alice e CATANI,
Afrnio. (Orgs.). Escritos de educao. Petrpolis: Vozes, 1998, p. 73.
56
Jos Maria da Silva Paranhos (1819-1880) foi professor, jornalista, poltico, tendo sido eleito senador do
Imprio, e ministro em diversas pastas e perodos.
57
Manuel Gomes de Carvalho (1836-1898).
58
Formado pela Faculdade de Direito de So Paulo, foi presidente da Provncia de Minas Gerais no perodo de
1868 a 1869.
59
Baro de Itamarandiba, poltico e banqueiro brasileiro (1818-1883).
60
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1877. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 34 ano, 1877, p. 634.
125
Alm de marcar o capital social dos diretores desses colgios, essas referncias so
indicativas das classes sociais atendidas por esses estabelecimentos. Nesses internatos
adentravam os filhos e filhas de grandes proprietrios rurais, comerciantes e industririos,
funcionrios pblicos graduados, profissionais liberais de destaque da Corte do Rio de Janeiro
e/ou de outras provncias do Imprio. Desse modo, a educao dispensada nos internatos
constitua-se em privilgio de classes ou de posies61 sociais de famlias abastadas,
segmentos que podiam fazer face aos dispndios do internato.
Quanto procedncia, os estudantes matriculados nos colgios-internatos do Rio do
Janeiro eram da prpria cidade, do interior da Provncia do Rio de Janeiro e de outras
provncias do Imprio. Da Provncia de Sergipe saram muitos moos ou at crianas para
estudarem, principalmente, os preparatrios para as faculdades, como pensionistas nesses
colgios. Podem ser citados, entre outros, Slvio Romero62, que foi interno no Colgio Ateneu
Fluminense; Francisco Soares de Brito Travassos63, interno no Colgio Menezes Vieira;
Alcibades Fontes Leite64, egresso de diversos internatos da Corte e Martinho Cezar da
Silveira Garcez65, interno nos colgios Santo Antonio e Vitria.
O Colgio Ablio da Corte66 foi um internato que se destacou pelo recebimento de um
grande nmero de alunos de diversas provncias do Imprio. O sucesso do estabelecimento
fez, inclusive, com que o seu proprietrio, o Dr. Ablio Csar Borges (Baro de Macabas),
61
BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 1996.
62
Bacharel, escritor, professor. Filho de Andr Ramos Romero e Maria Vasconcellos da Silva Ramos Romero,
nasceu na Vila de Lagarto, em 21 de abril de 1851. Foi promotor pblico, juiz, professor do Colgio Pedro II,
deputado por Sergipe, autor de diversas obras. GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano.
Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe, 1925. / A respeito da formao intelectual de Slvio Romero
consultar SOUZA, Cristiane Vitrio de. As Leituras Pedaggicas de Slvio Romero. 2006. Dissertao (Mestrado
em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2006.
63
Cirurgio-dentista, farmacutico e bacharel. Filho do Dr. Joo Ferreira de Brito Travassos e Rosa de Viterbo
de Britto Travassos. Nasceu no engenho do Rio Vermelho, comarca de Japaratuba, em 11 de setembro de 1873.
64
Cirurgio-dentista, natural de Engenho Novo, termo de Santa Luzia, em 22 de outubro de 1876, filho de
Alcibades Martins Fontes e Amelia Fontes Leite. GUARAN, op., cit.
65
Bacharel, filho do desembargador Manoel de Freitas Cesar Garcez e Clara Julia da Silveira Garcez, nasceu no
engenho Comendaroba, municpio de Laranjeiras. Promotor pblico em Laranjeiras, juiz de rfos, deputado
provincial por Sergipe (1874-75), presidente do Estado no trinio de 1896-1899 e senador federal de 1900 a
1908. Ibid.
66
Diretor Dr. Abilio Csar Borges, sub-diretor Jos Bencio de Abreu, professores: Jos Domingues Ramos e
Manuel Olympio da Costa (portugus), Dr. Francisco Lins de Andrade e Amaro de Albuquerque Maranho
(latim), Lon Serville e Vicente Ferreira de Souza (francs), Jasper Harben e Vicente da Costa (ingls), Jos
Leandro Filgueiras (msica e dana), Mill (desenho). FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da
Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872.
Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de.
Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do
Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872, p.6.
126
abrisse uma filial do colgio na cidade de Barbacena (Minas Gerais) 67. A seguir, um anncio
do Colgio Ablio como aparecia costumeiramente no Almanak Laemmert.
67
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imperio do Brasil para 1886. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 42 ano, 1886, p. 528.
68
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 628.
69
poltico e pensador social, ocupou importantes cargos no incio da Repblica, sendo considerado um
precursor do nacionalismo autoritrio, doutrina aclamada a partir da Revoluo de 1930.
http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/23/O-problema-nacional-brasileiro-introducao-a-um-
programa-de-organizacao-nacional Acessado em 2 de agosto de 2011.
127
70
TORRES, Alberto. O problema nacional brasileiro: introduo a um programa de organizao nacional. So
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938, p. 75.
71
Como na recomendao contida no anncio do Colgio Brasileiro: Todas as alunas devero ter, na corte, um
correspondente responsvel pelo pronto pagamento das contas do colgio. CARDOSO, Jos Antonio dos
Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a
cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 33 ano, 1876, p. 632.
72
Comissrios do acar e do caf muitas vezes fizeram as vezes dos senhores de engenho ou dos bares do caf
perante os internatos das capitais. FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala: Formao da famlia brasileira
sob o regime de economia patriarcal. So Paulo: Global, 2005, p. 506.
73
ALBUQUERQUE JUNIOR, Pedro Autran da Matta. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1859. (Anexo).
In: BROTERO, Joo Dabney DAvellar. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 7 de maro de
1859. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1859, p. 14.
74
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 445.
75
Como relatam os escitos de viajantes que estiveram no Rio de Janeiro durante o sculo XIX, na Corte Imperial
existiam diversos habitantes de origem estrangeira. GEORGE GARDNER, M. D., F.L.S. Viagens no Brasil.
principalmente nas provncias do Norte e nos Distritos do Ouro e do Diamante durante os anos de 1836-1841.
So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942, p. 6. Publicado originalmente em Londres em 1846.
76
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
128
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
77
Depois transferido para a rua de D. Castorina, 32, Palacete Castorina, Vertente da Tijuca.
78
Em 1869 foi transferido para a Rua dos Invlidos, n 4.
79
Em 1876 passou a denominar-se Colgio Moreira, sob a direo de Dr. Francisco Moreira da Rocha, Rua da
Constituio, n 39 e depois Rua de Humayt, n 6.
80
A partir de 1878, com a morte do antigo diretor, passou a ser dirigido pelo seu filho, Dr. Emygdio Adolpho
Vitrio da Costa.
129
81
A partir de 1876 informado que o estabelecimento passou para a direo da D. Maria de Oliveira Fernandes,
nora da antiga proprietria e a mudana de endereo para o n 157, da mesma rua.
82
Filhas da Caridade de So Vicente de Paulo, Servas dos Pobres. Fundada em Paris em 1633, por So Vicente
de Paulo e Santa Lusa de Marillac, para servir os pobres nas mltiplas formas de pobreza.
83
A partir de 1868 passou a ser dirigido pela Madame Leuzinger.
84
Tambm denominado de Colgio Hitchings, considerado o mais antigo dos colgios de meninas da Corte e
contava, no ano de 1971, com 54 alunas pensionistas. FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da
Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872.
Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de.
Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do
Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872..
85
No ano de 1856 consta que o estabelecimento estava localizado na Rua do Conde, n 59.
130
86
SILVA, Joaquim Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio
da Corte para o ano de 1864, em 26 de abril de 1865. (Anexo). In: BARROSO, Jos Liberrato. Relatrio
apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio.
Typographia Nacional, 1865., p. 19.
87
Matrculas no Colgio de Pedro II.
88
AMARAL, Jos de Santa Maria. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 1871. (Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de.Relatrio
apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1871.
131
89
SILVA, Joaquim Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio
da Corte, apresentado em 1868. (Anexo). In: TORRES, Jos Joaquim Fernandes. Relatrio apresentado
Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1868.
90
Como na tese do Dr. Joo da Matta Machado: Nos colgios do Rio de Janeiro, quer de um quer de outro sexo,
a alimentao insuficiente, o trabalho exagerado, os exerccios desprezados, os diversos modificadores
higinicos, capazes de conservar e melhorar a sade, completamente esquecidos; enfim, a educao fsica no
existe, e poderosas causas de depauperamento se combinam para em pouco tempo arruinar a sade dos infelizes
meninos sacrificados, pela incria do governo e pela ignorncia dos pais aos mprobos interesses dos diretores de
internatos. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro
da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 82.
132
91
Capital do Municipio da Corte, dividido nas seguintes freguesias: Freguesias da cidade Glria, Candelria,
S. Jos, Santa Rita, Sacramento, Santa Ana, Santo Antonio, Lagoa, Engenho Velho, Esprito Santo e So
Cristvo; Freguesias de fora Inhama, Iraj, Jacarepagu, Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba, Ilha do
Governador e Paquet. Os colgios particulares concentravam-se nas frequesias da cidade. SILVA, Joaquim
Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte,
apresentado em 1868. (Anexo). In: TORRES, Jos Joaquim Fernandes. Relatrio apresentado Assemblia
Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1868.
92
A cidade do Rio de Janeiro, colocada beira mar, sobre um terreno plano e alagadio, sujeita durante os
longos meses de vero influncia de um calor tropical, acha-se em pssimas condies topogrficas de
salubridade; acresce que as suas ruas so em geral estreitas e mal caladas, que a populao acha-se aglomerada
em um local relativamente insuficiente, e que pantanais ainda no esgotados a circundam. Tal conjunto de
condies anti-higinicas facilmente explica a proverbial insalubridade do clima, que se manifesta pelas
endemias de natureza palustre, pelas freqentes epidemias de febre amarela, pela espantosa difuso da tsica
pulmonar, etc.. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de
Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.79.
93
Uma descrio da cidade do Rio de Janeiro na dcada de 1860: O Rio possui hoje um teatro lrico e jornais.
As suas ruas so iluminadas a gs e h um piano em cada casa. verdade que esse teatro est situado no meio de
uma praa infecta, e que os jornais tm horror s discusses srias. Que as ruas, sem passeios, so mal caladas,
de pedra bruta, e que afinal, nos tais pianos de fabricao geralmente inglesa, no se tocam seno msicas de
dama, romances e polcas. EXPILLY, Charles. Mulheres e costumes do Brasil. [1863] So Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1935, p. 404.
133
Argumentava o Dr. Machado que os males a que estavam sujeitos ou eram acometidos
os estudantes pensionistas dos colgios-internatos do Rio de Janeiro no podiam ser
imputados somente s condies climticas e de salubridade95 da cidade. A deficiente
organizao higinica dos internatos da capital igualmente concorria para as ms condies de
sade dos estudantes. Entretanto, diferentemente desse discurso mdico-higinico que
desabonava os internatos, muitos diretores-proprietrios dos colgios-internatos do Rio de
Janeiro informavam que seus estabelecimentos funcionavam em casas, palacetes (sobrados)
ou em prdios, originalmente planejados para servirem como colgios-internatos e estavam
localizados em importantes ruas e bairros ou nos arrabaldes96 mais salubres e aprazveis da
cidade. E, deste modo, tinham condies que, segundo eles, agiam como escudo higinico
para os males da cidade.
De fato, importantes colgios-internatos funcionavam em ruas97 do centro98 da cidade
do Rio de Janeiro, comumente conhecidas pela insalubridade99, onde doenas epidmicas100
94
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.78.
95
Informa Gilberto Freyre que de 1835 a 1850, melhoramentos ou inovaes de tcnica sanitria (encanamento
de gua, aterramento de terrenos paludosos) e de transporte, de iluminao e de arborizao de ruas foram
aparecendo na cidade do Rio de Janeiro. FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado
rural e desenvolvimento do urbano. So Paulo: Global, 2003, p. 684.
96
Conforme as recomendaes dos facultativos: Destas ligeiras consideraes se depreende que para os
estabelecimentos de educao se deve preferir os lugares elevados s plancies, o campo s cidades, e nestas os
arrabaldes s ruas centrais. MACHADO, op. cit., p.39.
97
Muitos colgios estavam localizados em antigas ruas do centro da cidade, a saber: Ouvidor, Quitanda, Direita,
Da Constituio, Catete, Lavradio, entre outras. Algumas dessas ruas so mencionadas nas reminiscncias de
Daniel P. Kidder, que esteve no Rio de Janeiro na primeira metade do sculo XIX. KIDDER, Daniel P.
Reminiscncias de viagens e permanncias no Brasil Rio de Janeiro e Provncia de So Paulo. Traduo de
Moacir N. Vasconcelos. Braslia: Senado Federal, 2001, p. 67.
98
Contribui tambm o testemunho deixado pelos mdicos em suas teses: Consideramos assim m a situao de
colgios nas grandes povoaes; e portanto no podemos deixar de lastimar que, aqui na corte, aqueles colgios,
que por maior nmero de razes merecem justamente a confiana dos pais de famlia se achem colocados mesmo
no centro da cidade. Nomeando o Imperial Colgio de Pedro Segundo, que deveria servir de norma, os colgios
Marinho, Tautphoeus e sobretudo o colgio Vitrio, no podemos deixar de increpar-lhes a situao nos centros
populosos e manufatureiros, onde o ar facilmente se altera e no se pode aproveitar as vantagens dos banhos e da
ginstica, que ofereceria um vasto espao cercado de rvores e vizinho de rios ou do mar. GUIMARES,
Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais tendentes conservao da
sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se devem reger os nossos
colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, 58.
134
99
Como relatos de viajantes que estiveram na cidade do Rio de Janeiro no sculo XIX, a exemplo das descries
do naturalista Luis Agassiz e sua esposa: O que chama desde logo a ateno no Rio de Janeiro a negligncia e
a incria. Que contraste quando se pensa na ordem, no asseio, na regularidade das nossas grandes cidades! Ruas
estreitas infalivelmente cortadas, no centro, por uma vala onde se acumulam imundcies de todo gnero; esgotos
de nenhuma espcie; um aspecto de descalabro geral, resultante, em parte, sem dvida, da extrema umidade do
clima; uma expresso uniforme de indolncia nos transeuntes: eis o bastante para causar uma impresso singular
a quem acaba de deixar a nossa populao ativa e enrgica. AGASSIZ, Luis e AGASSIZ, Elisabeth Cary.
Viagem ao Brasil 1865-1866. Braslia: Senado Federal, 2000.
100
Segundo o Dr. Francisco de Paula Candido, contribuam para o aparecimento dessas doenas na cidade do rio
de Janeiro fatores como os despejos de imundcies nas praias, despejos orgnicos nas ruas, praas, os cemitrios,
indstrias, matadouros, guas infectas. CANDIDO, Francisco de Paula. Exposio do estado sanitrio da Capital
do Imprio apresentado ao Ministrio do Imprio pelo presidente da Junta Central de Higiene Pblica, em 1 de
maio de 1853. (Anexo). In: MARTINS, Francisco Gonalves. Relatrio apresentado Assemblia Geral
Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio.Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, 1853.
101
No vero de 1889 a febre amarela grassou na capital do imprio com muita intensidade, como acontecia h
anos na principal cidade do Brasil na poca. SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas Trincheiras da Cura. As
diferentes medicinas no Rio de Janeiro Imperial. 1995. Dissertao (Mestrado Histria) Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, SP, 1995, p.27.
102
Doena infecciosa aguda, caracterizada por febre, exantema de pequenos pontos vermelhos, albuminria, e
descamao em largas placas. ESCARLATINA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio
da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 552.
103
Na Freguesia Candelria, o Dr. Joo Carlos de Oliva, delegado da Instruo Pblica encarregado desta,
relatava que os colgios nessa freguesia estavam pessimamente colocados e dispostos. FIGUEIREDO, Jos
Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte
apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de
1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA,
Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
104
Os principais bairros da cidade do Rio de Janeiro onde alguns colgios estavam instalados eram Botafogo,
Andara, So Cristvo e Rio Comprido.
105
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil para 1885. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 42 ano, 1885, p. 1911.
106
Colgio Vitrio, fundado em 1840 pelo Conselheiro Dr. Adolpho Manoel Vitrio da Costa, funcionou
inicialmente na Rua Sete de Setembro, 118 (antiga Rua do Cano), em 1841 passou para o Largo da S, 95; em
1843 foi transferido para a Rua do Conde, 13; e finalmente, em 1844, para a Rua de Gonalves Dias, 46 e 48,
onde permaneceu at pelo menos o ano de 1880. O diretor do Colgio Vitrio destacava: A casa em que
funciona, situada a quarenta e tantos metros acima do nvel do mar, est completamente ao abrigo das
flagelaes de todas as molstias endmicas e epidmicas, e sobretudo da febre amarela. CARDOSO, Jos
135
apesar da epidemia de varola que grassou na Corte, no foi atingido. Em sequncia expe-se
a figura107 exemplificativa de um tpico sobrado do centro108 da Corte Imperial onde
costumavam funcionar internatos.
Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro
inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1879. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 36 ano, 1879, p. 591.
107
Prdio do Colgio So Francisco de Paula em 1873, localizado no centro do Rio de Janeiro, na Praa da
Constituio, 49 (antigo Largo do Rocio). O colgio tinha como diretores os padres Joaquim Ferreira da Cruz
Belmonte e Francisco Igncio Christo. Como professores: Dr. Viana, Dr. Thomaz Alves Nogueira, Frazo,
Verissimo dos Santos, padre mestre Guimares, Dr. Ortiz, Dr. Lacerda Coutinho, Pockels, John Moore, A, J. da
Rocha (desenho), Gamboa (msica), Dr. Padre-mestre Toscano, Monteiro e os diretores. FIGUEIREDO, Jos
Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte
apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a Circular de 8 de janeiro de
1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. (Anexo). In: OLIVEIRA,
Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
108
Outros problemas das ruas do centro do Rio de Janeiro na segunda metade do sculo XIX, onde alguns
colgios estavam instalados eram: [...] a poeira das ruas, as bicas rebentadas jorrando gua pelo lajedo, o
ajuntamento de escravos em certas vendas e esquinas, o trnsito de carroas pela Rua do Ouvidor, as
contradanas dos tlburis, as corridas das gndolas, o chuveiro dos cambistas, as casas de jogo, os vadios a pedir
esmolas, os armarinhos ambulantes. RENAULT, Delso. Rio de Janeiro: a vida da cidade refletida nos jornais
(1850-1870). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978, p. 282.
136
Os proprietrios dos colgios, por vezes alegavam como impedimento para realizarem
a mudana do estabelecimento para um bairro que correspondesse s recomendaes mdico-
higinicas o cumprimento do contrato de aluguel a que estavam submetidos. Neste sentido, o
discurso do monsenhor Antonio Pedro dos Reis, diretor do Colgio Ateneu Fluminense,
justificava:
109
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1873. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 30 ano, 1873, p. 489.
110
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 420.
110
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 423.
111
Conforme as recomendaes higinicas da poca: O edifcio deve ser colocado longe dos grandes centros de
populao, longe de pntanos ou focos que alterem o ar, em chcaras com suficiente espao para os brincos e
exerccios dos colegiais, com gua corrente, e arvoredo. SOUZA, Joaquim Francisco de Paula e. Esboo de
uma higiene de colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e ao
desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de
Janeiro: Typographia Vianna & Filhos, 1857.
112
Uma descrio dos arrabaldes da cidade do Rio de Janeiro na dcada de 1860: Quase todos os arrabaldes do
Rio de Janeiro se acham edificados ao longo das praias. H assim a praia de Botafogo, a praia de So Cristvo,
a praia de So Domingos e uma dzia ainda de outras. Tudo isso forma ainda os arrabaldes do Rio, situados
beira-mar ou fazendo face s margens da baa; e como de bom-tom para certa classe da sociedade viver fora da
cidade, as casas e os jardins desses arrabaldes so quase sempre atraentes. AGASSIZ, Luis e AGASSIZ,
Elisabeth Cary (traduo e notas de Edgar Sussekind de Mendona). Viagem ao Brasil 1865-1866. Braslia:
Senado Federal, 2000, p. 98.
137
113
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 433.
114
Localizado na Rua D. Castorina, n. 2, no Palacete Castorina, na melhor localidade do Rio de Janeiro, sob
um clima salubrrimo, no lugar denominado Macaco encosta da serra da Tijuca, onde jamais penetrou o
flagelo das epidemias. Est distante da corte 10 quilmetros e afastado da linha frrea do Jardim Botnico apenas
15 minutos. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1880. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 37 ano, 1880, p. 636.
115
Ibid., p. 626.
116
GINSIO Baiano. Programa. Correio Sergipense. Aracaju, p. 4, 17 fev. 1858.
117
Pequena propriedade campestre, em geral perto da cidade, com casa de habitao. Terreno urbano de grandes
dimenses, com casa de moradia, jardim, horta, pomar [...]. CHCARA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de
Holanda. Novo dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 311.
118
CARDOSO, op. cit., p. 622.
119
Moradias ou chcaras suburbanas do Rio de Janeiro, algumas utilizadas para o funcionamento de colgios-
internatos, na descrio do norte-americano James Cooley Fletcher: As residncias urbanas, nas velhas cidades,
pareceram-me excessivamente tristes, porm o mesmo no pode ser dito das novas residncias urbanas, das
lindas vilas suburbanas, cercadas por jardins, cobertos de folhagens, muitas flores e frutos pendentes. Alguns
trechos de Santa Tereza, Laranjeiras, Botafogo, Catumbi, Engenho Velho, Praia Grande e So Domingos, no
podem ser ultrapassados na beleza e pitoresco de suas casas. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel
Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo histrico e descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional,
1941, p. 180.
138
terrenos de grandes dimenses, com casa de moradia, jardim, horta, pomar, muita rvore de
fruta, olho dgua ou cacimba120.
Em sequncia, a litografia de Joseph Alfred Martinet121 ilustra o sobrado onde
funcionava o Colgio Hitchings, dirigido por Thomas Price Hitchings e sua senhora. Fundado
em 1836, considerado o decano dos colgios de meninas da Corte Imperial, o estabelecimento
estava situado em uma chcara122, nos arrabaldes da Corte do Rio de Janeiro, mais
especificamente na Praia do Botafogo. Em 1871, o internato desse colgio recebeu 64 alunas
pensionistas e tinha a denominao de Colgio de Botafogo123.
120
Chcaras patriarcais do Rio de Janeiro laranjeiras, limoeiros, bananeiras, palmeiras. FREYRE, Gilberto.
Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. So Paulo: Global, 2003.
121
Paisagista, retratista e litgrafo francs. Autor da obra MARTINET, J. Alfred. O Brasil pitoresco, histrico e
monumental. Rio de Janeiro: Typ. Laemmert, 1847.
122
O terreno onde estava localizado o colgio descrito por Aureliano R. Gonalves: Praia de Botafogo 1856
Terreno de 45m de frente por 65m de fundo, ocupado, em 1856, por um grande prdio, estilo palacete, e extensa
chcara, propriedade do professor Toms Price Hitching e onde funcionava o colgio desse afamado educador.
GONALVES, Aureliano Restier. Cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro: terras e fatos. Rio de Janeiro:
Secretaria Municipal de Cultura, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2004, p. 62.
123
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 429.
124
http://www.casaruibarbosa.gov.br/oprazerdopercurso/lugares.htm Acessado em 19 de junho de 2011.
139
125
Como afirmava o anncio do Colgio Santo Agostinho, localizado na Rua de Haddock Lobo, 63, no Engenho
Velho: [...] conduo rpida e cmoda de dez em dez minutos, nos carros da linha frrea do Andarahy [...].
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447. / Tambm como anunciava o Colgio Moreira, na Rua da Constituio, 39:
[...] bonde de S. Cristvo e da Carioca porta [...]. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da
provncia e a cidade de Santos para o ano de 1874. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano,
1874, p. 589.
126
Colgio Emulao da Juventude: Este colgio, estabelecido em uma das melhores ruas da cidade, em uma
bela casa, vasta e arejada com jardim, chcara espaosa e excelentes acomodaes, rene a vantagem da sua
situao central as melhores condies higinicas. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o ano de 1865. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 22 ano, 1865, p. 440.
127
As adaptaes de casas residenciais para o funcionamento de internatos foi uma caracterstica que continuou
presente no sculo XX, em muitas cidades brasileiras. Nesse sentido, de forma exemplificativa, a constatao por
meio da inspeo realizada em 1926 por Eurico Branco Ribeiro em internatos da cidade de So Paulo. RIBEIRO,
Eurico Branco. A higiene nos internatos: Estudo das condies sanitrias dos internatos de So Paulo. In:
COSTA, Maria Jos Franco Ferreira da; SHENA; Denlson Roberto; SCHMIT; Maria Auxiliadora. (Orgs.). I
Conferencia Nacional de Educao. Braslia: SEDEIA/ INEP/ IPARDES, 1997. p. 478-519.
128
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1867, p. 412.
129
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 433.
130
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1867, p. 411.
131
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 432.
140
132
BAHIA. Colgio S. Joo. Correio Sergipense. Aracaju, 2 de maro de 1859, p. 4. Ano XXII, N. 11.
133
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
So Paulo: Global, 2003, p. 46 e 56.
141
134
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1874. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano, 1874, p. 587.
135
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de So Paulo para o ano de 1875. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 32 ano, 1875, p. 590.
136
Padre-mestre Antonio M. Fernandes Ferreira de Paiva (ecnomo), Padre-mestre Bacharel Joaquim Mendes de
Paiva (pedagogo) e Joo Mendes de Paiva (escriturrio).
137
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 444.
138
ROLIM, Joo Goulart. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos nossos: regras principais
tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem regular os nossos colgios. (Quarto ponto. Sciencias Medicas) Rio de Janeiro. N. L. Vianna & Filhos,
1857, p.17.
142
Figura 13 Fachada e planta baixa de uma Grande Casa de Campo, onde funcionou
o Colgio Episcopal de So Pedro de Alcntara Rio de Janeiro
Fonte: DEBRET, Jean Baptiste Voyage pittoresque et historique au Brsil [...] (Vol.
3), 1939.142
Outra vez, a mesma casa aparece litografada na obra O Brasil pitoresco e monumental
(1856), de Pedro Godofredo Bertichen143 (1796-1866). Na poca em que o autor produziu a
139
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1873. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 30 ano, 1873, p. 492.
140
Traduo do ttulo: [Plantas e elevaes de duas grandes casas, uma na cidade e a outra no campo].
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00624530 Acessado em 2 de agosto de 2011.
141
Pintor e desenhista francs [...], cuja caracterstica marcante o fato de revelar em imagens a histria da
vida urbana brasileira do incio de sculo XIX e da vida na corte do Rio de Janeiro.
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00624530 Acessado em 2 de agosto de 2011.
142
DEBRET, Jean Baptiste. Plans et lvations de deux grandes maisons: l'une de ville et l'autre de campagne
Planche 43, N 2. In : DEBRET, Jean Baptiste. Voyage pittoresque et historique au Brsil [...] (Vol. 3). Paris :
Firmin Didot Frres, 1839.
143
143
Artista holands radicado no Rio de Janeiro na segunda metade do sculo XIX. Alm de quadros a leo,
dedicou-se litografia, preparando um conjunto de 45 pranchas de aspectos arquitetnicos da cidade, editado em
1856. PEREIRA, Paulo Roberto (Org.). 500 anos do Brasil na Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Fundao
Biblioteca Nacional, 2000, p. 136.
144
BERTICHEN, Pedro Godofredo. O Brasil pitoresco e monumental. Rio de Janeiro: Lith. Imperial de
Rensburg, 1856. 46 est.
145
Descrio do terreno onde foi estabelecido o Colgio da Imaculada Conceio: Terreno de 98m de frente
ocupado pelos estabelecimentos da Associao de So Vicente de Paula Colgio da Imaculada Conceio,
Igreja da Conceio e Pensionato. O prdio em que funciona o colgio foi modernizado e aumentado. Tinha dois
pavimentos, frente da rua, com testada de 27m, quando foi arrematado pela Associao de So Vicente de
Paula, a 17 de junho de 1858. A igreja afastada da rua cerca de 36m e fica entre o edifcio do colgio e o do
pensionato, destinado a senhoras. O prdio do pensionato de antiga construo, com trs pavimentos, afastado
da rua e num terreno de 32m de frente. Foi doado Associao, em 16 de maio de 1900, tem uma acentuada
obliqidade, da esquerda para a direita, buscando a linha do alinhamento determinado pelo prdio direita. Em
1875, a Ilustrssima Cmara permitiu o ajardinamento frente do prdio, na forma da deliberao de 17 de julho
de 1857. O prdio do colgio teve o n 36 e o do pensionato o n 34. Em 1908, na reviso da numerao predial
da cidade, eles receberam o n 266. GONALVES, Aureliano Restier. Cidade de So Sebastio do Rio de
Janeiro: terras e fatos. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro, 2004, p. 63.
144
Originalmente construdo para funcionar como internato, ou adaptado para esse fim, o
certo que os prdios dos grandes colgios-internatos da Corte Imperial do Rio de Janeiro,
tradicionalmente formadores das elites locais e provinciais, apresentavam como divises
especficas do internato dormitrios, refeitrio, ptios arborizados para recreio, enfermaria148,
capela e rouparia. E, no obstante a crtica mdico-higinica, esses edifcios tinham,
principalmente a partir da segunda metade do sculo XIX, algumas novidades para a poca e
146
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
147
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 459.
148
Colegio Vitrio: A enfermaria isolada do corpo do colgio e contgua aos aposentos da famlia.
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do
Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1880. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 37 ano, 1880, p. 614.
145
inacessveis maioria da populao, como gua encanada, tanques para banho e lavagem de
roupa, tanques de natao, iluminao a gs e instalaes sanitrias (latrinas, salas de banho,
esgoto).
149
A exemplo do Colgio Queiroz, situado na Rua Guanabara 16, Bairro das Laranjeiras: O edifcio est
cercado em toda volta por inmeras janelas, que, rasgadas muito a propsito aqui e acol, facilitam imensamente
a entrada e sada do ar, arejando convenientemente os vastos sales do interior. De qualquer dos pontos dele
descortinam-se panoramas que embelezam ao espectador. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da
provncia de S. Paulo para o ano de 1878. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 37 ano, 1878, p.
622.
150
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
146
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851.
151
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1867, p. 416.
152
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 79.
147
153
Sobre o consenso nos escritos pedaggicos com relao idade para entrar na escola, diz Aris: Tudo indica
que a idade de sete anos marcava uma etapa de certa importncia: era a idade geralmente fixada pela literatura
moralista e pedaggica do sculo XVII para a criana entrar na escola ou comear a trabalhar. ARIS, Philippe.
Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: LTC, 2006, p.46.
154
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
155
O externato era considerado por alguns mdicos a melhor opo para os meninos menores de 10 anos.
Enclausurados em tenra idade nos colgios os mais bem organizados, os meninos jamais deixam de sofrer todas
as funestas conseqncias do errado passo de seus pais ou tutores. Basta lanar um golpe de vista sobre este
grupo de pequenas criaturas que formam a diviso dos meninos em todos os colgios, para convencermo-nos da
enormidade do crime: plidos, abatidos, tristonhos e indiferentes, que contraste no formam com aqueles que
tarde, na hora da sada, precipitam-se risonhos e contentes pela porta do estabelecimentos em demanda do lar
paterno!. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro
da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 27.
148
externos eram aqueles que somente cursavam aulas do curso primrio ou secundrio em
horrios determinados156
Em 1850, apresentando ao Governo Imperial o relatrio do estado da instruo na
cidade do Rio de Janeiro, o Dr. Justiniano Jos da Rocha considerou como um defeito da
instruo particular os colgios receberem alunos tanto na condio de internos como de
externos e semi-internos.
156
O regime dos colgios situados no Rio de Janeiro no ano de 1850 foi descrito da seguinte forma: Nenhum
deles simples externato; todos admitem internos (alunos residentes no colgio) meio-pensionistas (alunos que
vo para o colgio de manh, hora das aulas e retiram-se tarde, depois da ltima aula) e externos (que
assistem unicamente s aulas). ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de
instruo secundria, e dos colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In:
CARVALHO, Jos da Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p.5.
157
Ibid. , p.5.
158
O Dr. Balbino Candido da Cunha era enfaticamente defensor do isolamento dos alunos pensionistas e
principalmente do contato destes com os externos que, segundo ele, eram os seus comissionistas. CUNHA,
Balbino Candido da. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais tendentes
conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem reger
os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854.
159
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447.
149
estabelecimento, era adotada pela diretora como uma demonstrao do esforo por uma
educao diligente s pensionistas, [...] que lhe forem confiadas, educao que mais difcil
conseguir, quando os conselhos e bons exemplos de quem dela se encarrega so neutralizados
pelo contacto permanente das mesmas pensionistas com pessoas estranhas ao colgio.160
Era tambm visando moralidade dos estabelecimentos que o Regulamento da
Instruo do Municpio da Corte do Rio de Janeiro de 1854 determinava que os colgios ou
casas de educao de meninas no poderiam admitir meninos, nem poderiam morar no
estabelecimento pessoas do sexo masculino maiores de 10 anos, exceto o marido da
diretora.161
Como condio para o ingresso, os colgios-internatos exigiam do candidato a
comprovao de vacinao162, de no ser portador de molstia contagiosa, de saber
rudimentos da lngua ou escrita e de ser uma criana menino ou menina moralizada ou de
boa conduta163.
Relativamente instruo ministrada, recorrentemente os diretores dos internatos,
tanto masculinos quanto femininos, propagavam que a educao e instruo por eles
oferecidas pautavam-se em princpios da religio catlica e tinham como base a formao e o
desenvolvimento das capacidades fsicas, morais e intelectuais dos estudantes164. A cultura
do corao, como denominada a formao moral, era a tnica dos discursos dos diretores. Os
elementos dessa formao podem ser percebidos no trecho do discurso do professor Jos
Joaquim de Queiroz, diretor do Colgio Queiroz:
160
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 432.
161
BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N
1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
162
Colgio Brasileiro: As alunas devero trazer permisso de seus pais para serem vacinadas no colgio, caso
no o tenham sido ainda. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871,
p. 432.
163
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 632.
164
Como prometia o diretor do Colgio Queiroz, Jos Joaquim Queiroz, estabelecimento situado na Rua
Guanabara, 16, Bairro das Laranjeiras: Uma disciplina severa e o mais minucioso cuidado na educao fsica,
moral e intelectual dos alunos unicamente o que afiana seu director, que conquistou a confiana pblica
fora de muito trabalho e sacrifcios externos. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte da Capital da Provncia do Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o
ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 490.
150
165
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1880. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 37 ano, 1880, p. 623.
166
Conforme a tese do Dr. Joo da Matta Machado: Com efeito, no Brasil o nvel da moralidade baixa com
espantosa rapidez; esta a triste verdade que todos proclamam, e infelizmente so as classes mdias e superiores
da sociedade brasileira que se acham mais contaminadas; isto , aquelas cujos representantes recebem de
ordinrio a educao nos internatos. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da
mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.82.
167
Sentimento que nos incita a igualar ou superar outrem [...] Estmulo, incentivo [...]. EMULAO. In:
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1975, p . 515.
168
Destacado no anncio do Colgio da Imaculada Conceio: Este estabelecimento, confiado direo das
irms da caridade, tem por fim a educao da mocidade, baseada sobre a religio e a moral. Objeto de uma
solcita e sempre maternal vigilncia, as educandas se conservam constantemente sob as vistas de suas mestras,
que presidem no somente a seus trabalhos escolsticos e manuais, como tambm ao seu levantar e deitar, as
suas refeies e recreaes etc.. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da
Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28
ano, 1871, p. 434.
169
Colgio Ateneu Fluminense: Como um meio de excitar a emulao entre os colegiais, temos estabelecido
exames parciais trimensais com prmios de medalha de prata aos que tiveram aprovaes plenas, dando elas,
aqueles que as obtiverem em todos 3 meses do ano, direito a obterem a de ouro no fim do ano [...].
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447.
170
Colgio da Imaculada Conceio: [...] Um quadro na sala da recepo indicar os lugares que cada menina
houver merecido. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871,
p. 435.
171
Os prmios anunciados pelo Colgio Vitrio: Os prmios do colgio so diplomas de scios remidos das
Ordens Terceiras de Santo Antonio do Carmo, S. Francisco de Paula, Senhor Bom Jesus do Calvrio, e do SS.
Sacramento da Candelria e tambm da Beneficncia Portuguesa, da Caixa de Socorro de D. Pedro V, e do
Gabinete de Portugus de Leitura, conferidos aos benemritos, que nos exames gerais se distinguirem, cujo
resultado sempre publicado pela imprensa. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e
151
Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 28 ano, 1871, p. 420.
172
FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo histrico e
descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p. 196.
173
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p. 99.
152
Buscava-se educar pelo exemplo, mas tambm pela vigilncia174 visando coibir
condutas em desacordo com a moral. Assim era o discurso da diretora do Colgio Brasileiro
informando aos pais de famlia que ela, sua filha e professoras residiam no internato para
acompanhar incessantemente as jovens patrcias nas salas de estudos, refeitrio, recreios,
banheiros e dormitrios, e exerciam sobre elas toda a vigilncia175.
A vigilncia nos pequenos internatos estava a cargo do diretor, que geralmente dividia
esse encargo com parentes ou professores residentes no colgio. Nos grandes internatos
existiam empregados (inspetores, bedis) com essa obrigao sob a imediata fiscalizao do
diretor. Tambm em alguns colgios existiam alunos a quem o diretor incumbia da vigilncia
dos colegas. O Dr. Justiniano Jos da Rocha reprovava esse mtodo, pois, segundo ele, podia
prejudicar o sentimento de fraternidade e de afeio entre os colegiais; e ademais, o aluno-
vigia perdia muito do tempo que devia ser reservado aos estudos, com a obrigao de vigiar
os colegas176.
Da mesma forma, para assegurar garantias de moralidade nos dormitrios, os
internatos costumeiramente separavam os pensionistas por idade ou desenvolvimento fsico
(menores, mdios, grandes), mantendo sempre iluminado e com a presena de empregados
(censores), pessoas de reconhecida moralidade, que repousavam juntamente com os
internos. Em internatos confessionais catlicos177, as irms tomavam para si o encargo de
vigiar o dormitrio das meninas. Segundo o relatrio da inspeo realizada pelo Dr. Ablio
Cesar Borges, em 1956, no Colgio Nossa Senhora dos Anjos da Bahia, dirigido pelas Irms
de Caridade, em cada um dos dormitrios do estabelecimento uma irm dormia para velar
pela moralidade das meninas e socorr-las em qualquer necessidade.
As medidas preventivas no uso dos dormitrios faziam parte da cultura dos internatos
brasileiros e eram tambm recomendadas nas teses mdicas sobre a higiene dos colgios.
Neste sentido, so elucidativas, entre outras, as recomendaes do Dr. Balbino Candido da
174
Consoante o Dr. Joo da Matta Machado, o mecanismo de vigilncia dos internatos inclua a espionagem
mtua que fazia germinar nos coraes juvenis a desconfiana e a hipocrisia. MACHADO, Joo da Matta. Da
educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade.
Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p.8.
175
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 458.
176
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p.7.
177
A exemplo do Colgio da Imaculada Conceio, no Rio de Janeiro, sob a direo das irms de caridade de
So Vicente de Paulo. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da
Capital da Provncia do Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447.
153
Cunha, que defendia a separao dos internos em todos os espaos e tempos do internato a
fim de evitar o grave inconveniente dos entretenimentos secretos e a comunicao mtua dos
defeitos, vcios ou maus hbitos entre os pensionistas178. Por isso, segundo ele, era preciso
que os alunos internos estivessem inteiramente separados segundo o grau de sua idade; que
no se encontrassem [...] nem nas refeies, nem nas recreaes nem nas salas de estudo, e
muito menos ainda nos dormitrios; preciso que nas mesmas classes estejam separados, que
saiam em tempos diferentes, e sobretudo que se achem absolutamente isolados dos discpulos
externos [...]179. Entretanto, essas recomendaes, embora na prtica tenham sido utilizadas
nos colgios-internatos, no foram suficientes para impedir a prtica pelos pensionistas de
atos em desacordo com os padres de moralidade da poca, como to efusivamente
proclamado nas teses dos facultativos.
Nos exguos prdios, originalmente construdos para servirem como colgios-
internatos, a diviso e organizao do espao arquitetnico levava em conta a superviso da
movimentao dos colegiais. Os espaos do internato eram controlados pelas tcnicas de
distribuio dos internos em lugares fixos ou especficos, mas que ao mesmo tempo
permitiam a circulao produtiva e controlada; uma dupla funo do controle espacial:
sujeitos obedientes e teis180.
Assim, a organizao espacial do edifcio-internato facilitava a execuo da vigilncia
e do controle, pois tudo era disposto em um s prdio (dormitrio, refeitrio, instalaes
sanitrias, sales de aula, etc.), permitindo verificar a presena e a ausncia. A esse respeito, o
Cnego Jos Mendes de Paiva, diretor do Colgio Episcopal de S. Pedro de Alcntara,
anunciava as facilidades de vigilncia proporcionadas pela funcionalidade da arquitetura do
prdio do colgio: Um s Diretor, colocado em vigilncia na extensa varanda que serve de
comunicao a todas as salas, basta para inspecionar todas as classes ao mesmo tempo, e bem
assim os lugares onde os alunos bebem gua e as 18 latrinas de sistema aperfeioado [...]181.
178
Tambm nesse sentido a preposio do Dr. Jos de Souza Pereira da Cruz Junior: A comunicao entre
meninos de idades diferentes deve ser, completamente, proibida, e, com capacidade, em as horas de recreio.
CRUZ, Jos de Souza Pereira da Junior. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras
principais tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as
quais se devem reger os nossos colgios (Proposies). Rio de Janeiro: Typographia Brasiliense Maximiano
Gomes Ribeiro, 1857.
179
CUNHA, Balbino Candido da. Esboo de uma higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais
tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854, p. 25.
180
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003, p.126.
181
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municipios da provincia e a cidade de Santos para o ano de 1873. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 30 ano, 1873, p. 492.
154
182
Os lemas do Colgio Queiroz eram: evitar antes que corrigir, persuadir mais pelos conselhos a praticar o
bem que obrigar pelos castigos, falar ao esprito, mas no castigar o corpo. CARDOSO, Jos Antonio dos
Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a
cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1877. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 33 ano, 1877, p. 622.
183
Que tem bons costumes ou vida exemplar. MORIGERADO. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda.
Novo dicionrio Aurlio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 945.
184
BORGES, Ablio Cesar. Vinte anos de propaganda contra o emprego da palmatria e outros meios
alvitantes no ensino da mocidade. Fragmentos de vrios escriptos do Dr. Ablio Cesar Borges publicados no
Globo em 1876. Rio de Janeiro: Bruxellas Typographia e Lithographia E. Guyot, 1880.
185
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1850. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 7 ano, 1850, p. 246.
186
Sobre os castigos nos colgios do sculo XIX: Havia castigos que o esprito do sculo atual com razo
reprova, porque eram humilhantes: tais eram chibatas e outros castigos corporais de que certos mestres
abusavam horrivelmente. Hoje em dia a disciplina dos liceus e colgios est subordinada a regulamentos gerais
que no podem ser transgredidos pelos diretores. As prises, retenes, com encargos de tarefa, a privao da
sada, o po e gua por alimentos, os temas copiados ou decorados tais so poucos ou mais ou menos os castigos;
de modo que a chibata, a palmatria, o estar de joelhos, as orelhas de burro foram excludos do cdigo
penitencirio dos nossos colgios. CASTIGOS. In: CAMPAGNE, E. M. Dicionrio universal de educao e
ensino. til mocidade de ambos os sexos, s mes de familia, aos professores, aos directores e directoras de
colgios, aos alumnos que se preparam para exames, contendo o mais essencial da sabedoria humana [...]. Porto:
Typographia de Antonio Jos da Silva Teixeira, 1873, p. 177.
187
A expulso no Colgio Menezes Vieira era aplicada por um jri composto de trs alunos distintos e trs
professores, sob a presidncia do diretor. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S.
Paulo para o ano de 1877. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1877, p. 631. / No Colgio
da Adolescncia, os diretores eram auxiliados na parte disciplinar por uma [...] comisso de cinco membros,
respeitveis chefes de famlia, que, a convite dos diretores, e sobre a iniciativa dos mesmos, se renem para
julgar das faltas graves dos alunos e comunicar-lhes a pena adequada. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
155
aos castigos fsicos, os colgios faziam questo de ressaltar que os alunos no seriam
envilecidos pela sua utilizao188.
O Dr. Ablio Cesar Borges, diretor do Colgio Ablio, era um ardoroso defensor da
extino dos castigos fsicos nas escolas. Em discurso189 proferido em 1875, por ocasio da
solenidade da distribuio de prmios aos alunos do colgio, ele expressou o seu pensamento
sobre a matria, recordando da extino dos castigos fsicos que realizou quando dirigia o
Ginsio Baiano, relatando que
[...] desde que, h 18 anos, fundado na Bahia o Ginsio Baiano, hasteei bem
alto o estandarte do novo ensino pelo amor e pelos estmulos da dignidade;
desde que ali comecei ento a cruzada, em que at hoje tenho
fervorosamente persistido a favor da abolio dos castigos corporais nas
escolas do meu pas, estabeleci, como complemento necessrio de outros
meios de animao e emulao, as distribuies anuais de prmios, onde, ao
mesmo passo que fossem galardoados e aplaudidos na proporo de seus
mritos os alunos briosos e aplicados, esquecidos e humilhados ficassem os
negligentes e covardes, e tirassem estes da prpria humilhao e
esquecimento incentivos para mais esforo e mais aplicao no porvir.
E os resultados felizes de tais medidas no se fizeram esperar por muito
tempo.
Em breve os alunos do Ginsio Baiano, onde nunca teve entrada da frula,
sobrepujavam nos estudos, como nas perfeies morais, aos dos outros
estabelecimentos regidos pelo despotismo da fora bruta, onde para os
meninos s havia os estimulantes do medo e das dores.190
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da
Provncia de S. Paulo para o ano de 1875. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 32 ano, 1875, p.
590.
188
Michelle Perrot, estudando o costume de bater na cultura escolar francesa, informa: Nos meios burgueses,
mais do que nos aristocrticos, as crianas j no apanham muito em casa. Aqui e ali, subsistem algumas varas e
aoites de corda, mas cada vez mais reprovados. Perduram na escola e em certos liceus que pretendem impor
uma disciplina militar. [...] Os internatos, em sua publicidade, chegam a especificar nos prospectos que excluem
tais mtodos. [...] Aumenta a distancia entre os estabelecimentos pblicos e os religiosos, estes mais arcaicos em
suas concepes pedaggicas, que se trate da higiene, quer da punio. Quanto palmatria, os frades e os
religiosos sero os ltimos a abrir mo dela, pelo menos em relao s crianas das classes populares, como
mostram inmeras autobiografias. PERROT, Michelle. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da
Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, 145.
189
Os discursos do Dr. Ablio Cesar Borges tinham uma grande circulao no Brasil, inclusive em jornais nas
capitais das provncias seus pensamentos educativos eram publicados, sobretudo a propaganda pela extino dos
castigos fsicos e aviltantes nas escolas brasileiras. Em Sergipe, o jornal Correio Sergipense publicava na ntegra
esses discursos, julgando desse modo [...] fazer um servio importante instruo pblica desta provncia, e a
seus dignos diretores [...]. DISCURSO QUE recitou o diretor do Ginasio Baiano por ocasio da solenidade da
distribuio dos prmios pelos respectivos alunos. 30 de novembro de 1855. Correio Sergipense. Aracaju, p. 1,
16 fev. 1859.
190
BORGES, Ablio Cesar. Vinte anos de propaganda contra o emprego da palmatria e outros meios
alvitantes no ensino da mocidade. Fragmentos de vrios escritos do Dr. Ablio Cesar Borges publicados no
Globo em 1876. Rio de Janeiro: Bruxellas Typographia e Lithographia E. Guyot, 1880, p. 45
156
em todo o sculo XIX e em boa parte do sculo XX. Na interpretao de Gilberto Freyre, essa
pedagogia tinha verdadeira feio sdica, podendo-se notar pelas vrias formas e instrumentos
[...] de suplcios a que esteve sujeito o menino no Brasil em casa e no colgio: as vrias
espcies de palmatrias, a vara de marmelo, s vezes com alfinete na ponta, o cip, o galho de
goiabeira, o muxico, o cachao, o puxavante de orelha, o belisco simples, o belisco de
frade, o cascudo, o cocorote, a palmada [...]191. Corroborando com essa afirmao, o Dr. Joo
Matta Machado recorda que no seu tempo de aluno interno no Colgio Santo Antonio192, na
Corte Imperial, o diretor do estabelecimento, com sua fama de proverbial severidade,
utilizava como castigos os bolos de palmatria, prises, jejuns e privaes de recreio. Recorda
ele que
[...] uma vez contamos os bolos dados pelo diretor em um dia e a soma
elevou-se no espantoso numero de 300! [...] As prises, celulares, midas e
imundas, quase sempre estavam ocupadas, e conforme a gravidade do crime
os delinqentes dormiam duas ou trs noites seguidas naquelas horrveis
espeluncas. Os jejuns eram castigos no menos comuns; dentre os alunos
duas pequenas criaturas plidas, anmicas, porm, contudo insubordinadas,
rebeldes a todo o ensino, eram as que maior nmero de vezes ficavam
privadas do almoo ou jantar, uma delas chamava-se Santos e da outra
apenas daremos a inicial R. Perdemos de vista estas duas mseras crianas,
porm apostaramos cem contra um, que se hoje ainda vivem, devem ter a
constituio profundamente deteriorada; era raro o dia em que no fossem
privadas de uma, s vezes de duas refeies; dizia o diretor que j no
sentiam os bolos ou prises, e com efeito nem os jejuns habituais puderam
vencer a ndole turbulenta, e a preguia ou antes o desnimo daqueles
infelizes meninos.193
191
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala: Formao da famlia brasileira sob o regime de economia
patriarcal. So Paulo: Global, 2005, p. 556.
192
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 24 ano, 1867, p. 411.
193
Joo da Matta Machado. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 57.
157
Nos internatos de freiras as internas, estimuladas que eram pelo ambiente de convento
e pelas constantes repeties de prticas, interiorizavam com intensidade os ensinamentos e
sentimentos religiosos. No retorno do internato para a famlia era possvel perceber, nos
costumes da menina, os resultados da estada com as religiosas. Segundo Sanches de Frias,
Quando nos anos de 1865 e 1866 o casal Luis Agassiz e Elisabeth Cary Agassiz esteve
visitando o Brasil causou-lhe m impresso a educao reservada ao sexo feminino: Em
geral, no Brasil, pouco se cuida da educao da mulher; o nvel da instruo dada nas escolas
femininas pouqussimo elevado; [...]. Habitualmente, porm, salvo uma ou duas matrias
bem estudadas, o francs e a msica, a educao das jovens pouco cuidada e o tom geral da
sociedade disso se ressente195.
A instruo ministrada s meninas nos colgios correspondia aos papis de esposa e
me a que estavam relegadas as mulheres na sociedade brasileira do sculo XIX, e os estudos
se pautavam segundo a vontade das famlias. Assim, a instruo intelectual delas consistia no
ensino primrio, costumeiramente classificado em primeiras letras. Esses contedos
podiam ser divididos em trs classes: na primeira era ensinada leitura, escrita, doutrina crist e
primeiras operaes de aritmtica; na segunda classe, gramtica portuguesa, caligrafia,
desenho, ortografia e, na terceira, anlise gramatical e lgica, elementos de civilidade e
princpios de moral e as belas artes. Em alguns colgios tambm eram oferecidas
disciplinas do ensino secundrio, mas sem possibilidade de progresso nos estudos superiores.
194
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p.70 e 95.
195
AGASSIZ, Luis e AGASSIZ, Elisabeth Cary. Viagem ao Brasil 1865-1866. Braslia: Senado Federal, 2000,
p. 435.
158
O ensino de lnguas, como apresentado nesse quadro, tinha especial destaque nos
colgios de meninas, inclusive com a presena de professoras estrangeiras que exercitavam as
alunas nos respectivos idiomas. Observando essa predominncia do ensino de lnguas
estrangeiras196 nos colgios femininos, principalmente o francs e o ingls, na inspeo que
realizou nos colgios particulares do Rio de Janeiro, em 1850, o Dr. Justiniano Jos da Rocha
registrou sua reprovao:
Foi-me doloroso ver que ainda mesmo nos melhores colgios o estudo das
lnguas estrangeiras (francesa e inglesa) merecia mais cuidado do que o da
lngua e da literatura nacional. Em alguns ostenta-se como grande vantagem
o falarem francs e ingls os alunos, posposta lngua nacional, que, em vez
de purificar-se, enriquecer-se da primognita latina, vai-se adulterando
esquecida, desdenhada.197
196
Quando o missionrio metodista norte-americano James Cooley Fletcher esteve no Brasil, entre os anos de
1851 e 1865, notou: A lngua portuguesa a falada em todo o Brasil. No um dialeto do espanhol, porm uma
lngua distinta: como disse Vieyra, a filha mais velha do latim. O portugus e o francs so as lnguas da Corte.
Um sexto da populao das cidades mais importantes fala francs. Os que conhecem as lnguas francesa, italiana
ou espanhola facilmente aprendero o portugus. O ingls falado em todas as escolas mais adiantadas, e grato
aos americanos saber que, na capital, e em outras cidades importantes, os Class Readers de George S. Hillard,
Esq., (autor de Six Months in Italy), so adotados nas aulas. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel
Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo histrico e descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional,
1941, p. 181.
197
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851., p.9.
159
198
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 432. (Colgio
Brasileiro 1871: 432 a433)
199
O Dr. Joo da Matta Machado fazia duras crticas aos colgios dirigidos pelas irms de caridade da
Congregao de So Vicente de Paula: [...] As irms de caridade, fonte integrante da Congregao de S.
Vicente, encarregam-se, sob a direo dos lazaristas, da educao das meninas, que no menos importante para
a sociedade; todos os defeitos acima apontados, inerentes educao clerical; todos os inconvenientes que
discutimos se do igualmente em relao aos colgios das irms de caridade, acrescentando que, sendo a mulher
em geral mais impressionvel, os seus efeitos perniciosos so ainda mais acentuados. Acusaes vagas e mal
definidas, autorizadas por fatos isolados, so lanados aos colgios regidos pelas irms de caridade em relao
moralidade das educandas; sem nos querermos tornar eco de calnias ou exageraes, faremos notar os srios
inconvenientes da convivncia ntima, no interior do colgio de meninas, de padres moos, voltados aos rigores
de um celibato obrigatrio. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade
no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 8.
200
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 434.
201
Com a inculcao desses contedos, os internatos femininos contriburam para o afrancesamento da educao
das meninas brasileiras, das tpicas senhoras afrancesadas ou senhoras de sobrados, afeitas ao romance,
piano, dana, teatro, tal como descritas por Gilberto Freyre.
202
Esses contedos adentraram o sculo XX e continuaram fazendo parte da instruo feminina nos colgios
femininos.
203
Os mdicos recomendavam a msica como atividade da educao fsica: A msica uma distrao na
solido; ela desperta os bons sentimentos, dando suaves emoes alma, e uma ocupao que deleita, e evita
as consequncias da ociosidade [...]. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos
colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typografia
Universal de Laemmert, 1857, p. 8.
160
prprios de uma senhora, ou seja, costura, bordados, croch, tapearia, flores de diversas
qualidades, trabalhos de cera, de mianga, de couro, entre outras 206. Essas atividades visavam
preparao das meninas para futuras esposas e mes, como tambm eram entendidas como
educao fsica, capazes de manter a sade e aperfeioar o corpo.
No Colgio Suo-Brasileiro207, dirigido pelas Sras. Lutz, com intuito de dar uma
recreao benfica aos estudos srios, foram introduzidos tambm os exerccios calistnicos
e ginsticos. Igualmente, nas provncias, internatos femininos procuravam, diante das
possibilidades do estabelecimento e do pblico atendido, oferecer essas atividades s alunas
internas, como contedos extraordinrios.
Em 1852, na cidade de So Cristvo, capital da Provncia de Sergipe, um
estabelecimento de educao feminina prometia s famlias que as pensionistas aprenderiam
prendas domsticas, que caracterizavam uma educao delicada e curiosa, e tambm
aprenderiam msica e dana segundo exigissem seus progenitores, ou correspondentes208. Na
mesma provncia, agora na cidade de Laranjeiras, as diretoras do Colgio Ingls 209 ofereciam
s ricas famlias da regio uma educao das meninas e moas mesclada com a prtica do
piano, desenho, pintura e aquarela a leo e sobre espelhos, bordados de todas as qualidades,
flores artificiais, entre outras prendas.
Dentre essas artes de recreio oferecidas em tradicionais internatos da Corte e das
provncias, o aprendizado do piano, sobretudo de influncia francesa210, teve especial
204
Como a recomendao de Locke: Como el baile me parece el mejor remedio de dar a los nios confianza y
correccin, u de estimular-los a buscar la sociedad de las personas mayores, creo que hay que ensearles a bailar
lo antes posible. LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin [1693]. Madrid: Akal, 1986, p. 93. /
Recomendao repetida pelos facultativos brasileiros: A dana uma combinao metdica, regular,
cadenciada ou caprichosa da carreira e do salto. [...] Nos colgios em que se recebem pensionistas de um ou de
outro sexo, no de incontestvel vantagem os cursos de dana, que devem funcionar durante o dia em vastos
sales perfeitamente arejados e claros: nestas condies a dana torna-se um passatempo agradvel e um
excelente exerccio ginstico, principalmente para os que comeam; alem disto incontestvel que a dana
comunica aos movimentos naturais certa distino e elegncia, dando-lhe ao mesmo tempo preciso e ligeireza.
MACHADO, op. cit, p. 52.
205
O canto como atividade da educao fsica: O canto exige esforos muito mais considerveis, algumas vezes
at o seu mecanismo aproxima-se ao do esforo. um exerccio muito enrgico que rapidamente fatiga,
principalmente aos que comeam a aprender a arte [...]. Ibid., p. 53.
206
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 434.
207
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil para 1884. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 41 ano, 1884, p. 1260.
208
ANNCIO. O Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 28 abr. 1852.
209
ESTATUTO DO Colgio Ingls. O Horizonte. Laranjeiras, p. 4, 24 dez. 1885.
210
Na Frana a moda do piano [...] inicia-se em 1815; o pundonor trabalha a seu favor, depois que a harpa, o
violoncelo e o violo comearam a parecer indecentes. Durante a Monarquia de Julho, o piano expande-se pela
pequena burguesia; em seguida, democratiza-se. Comea inclusive a tornar-se um pouco vulgar a partir de 1870:
comea ento o seu relativo declnio. CORBIN, Alan. Bastidores. O segredo do indivduo. In: PERROT,
Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das
Letras, 2009, p. 454.
161
211
Estrangeiros que visitaram o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, observaram e registraram a moda do
piano: Pianos, vem-se abundantemente em cada rua, e ambos os sexos se tornam seus executantes
consumados. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os brasileiros: esboo
histrico e descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p. 181.
212
Sobre a substituio, nas casas de gente mais fina, do violo pelo piano ingls, da modinha pela msica
italiana ou francesa, consultar Gilberto Freyre. FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do
patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. So Paulo: Global, 2003. p. 151 e 518.
213
Jos da Silva Paranhos (1819-1880), Visconde do Rio Branco, descreve em 1851, apresentaes msicais nos
colgios de meninas (Colgio da Baronesa de Geslin e no Colgio Hitchings) na Corte do Rio de Janeiro: No
dia 14 do corrente houve no colgio de Mme. de Geslin uma dessas reunies a que os parisienses chamam
matine musicale. Depois dos exames pblicos nos quais as discpulas mostraram bastante adiantamento,
cantaram as alunas do Sr. Amat vrios romances da composio do mesmo senhor, e os cantaram de modo tal
que bem patentes tornaram os progressos que tm feito sob a direo de to distinto mestre. O Sr. Amat cantou
tambm um duetino com Mme. de Geslin e uma melodia de sua composio, intitulada Maria, que lhe valeu os
aplausos da brilhante reunio que concorreu a esta solenidade.
Na noite de 16, uma brilhante sociedade tinha dado rendez-vous no colgio de Mrs. Hitchings, dirigido hoje por
Mme. Lima e Miss Freeman: eram os adeuses das alunas do estabelecimento, ao menos por alguns dias. Ali
encontrei tambm o Sr. Amat, campeo dos sales musicais, testa das suas discpulas. Merece meno honrosa
a maneira com que foram executadas as variaes de Ana Bolena e a do Elixir dAmore, ambas muito difceis. O
Sr. Amat cantou com aquele gosto apurado que todos lhe conhecem. Acabado o dueto principiou a dana geral,
que durou at s 2 horas da manh. PARANHOS, Jos Maria da Silva. Cartas ao amigo ausente. Rio de
Janeiro: ABL, 2008, p. 481.
214
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p. 64.
162
Entretanto, a arte de tocar piano, mesmo que na maioria dos casos o ensino se
restringisse a execues simples, indicava uma educao refinada e figurava como um dote
esttico nas estratgias matrimoniais das famlias abastadas216. Assim, a presena de um
piano nos sobrados senhoriais tornou-se uma distino social dos segmentos ricos da
sociedade brasileira da segunda metade do sculo XIX217. Enfim, o piano era uma
mercadoria-fetiche dessa fase da histria econmica e cultural do Brasil.
Era comum no sculo XIX e incio do sculo XX empresas comerciais da corte e das
provncias anunciarem nos reclames dos jornais a venda dos tradicionais pianos219, nacionais
215
A EDUCAO da mulher. O Horizonte, p. 2, 27 mar. 1888.
216
Sobre os usos do piano na educao francesa consultar: CORBIN, Alan. Bastidores. O segredo do indivduo.
In: PERROT, Michelle. Histria da Vida Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
217
FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. So Paulo: Global, 2004, p. 313.
218
ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org.). Histria da vida privada no Brasil. Imprio. So Paulo: Companhia
das Letras, 1998, p.47.
219
Os jornais anunciavam tambm os consertadores de piano e as aulas de professores particulares. Pianos. C.
Scheler, afinador e consertador de pianos em principais fbricas de Alemanha e Frana, estabelecido em casa de
pianos, na Bahia, oferece seus prstimos ao respeitvel pblico desta capital e arredores, para afinaes e
concertos de pianos por mais estragados que estiverem, garantindo prontido e perfeio em todos seus
trabalhos.. PIANOS. A Liberdade. Aracaju, p. 4, 24 dez. 1873. / Piano e canto. Augusta da Silveira leciona
piano e canto, para o que tem as necessrias habilitaes. As pessoas que se quiserem utilizar de seus servios
163
e importados, aos quais as meninas iriam treinar e exibir seus dotes musicais aprendidos
durante a estada nos internatos ou com professores particulares.
dirijam-se rua de Maruim, casa que faz esquina com a de Pacatuba, que ali acharam com quem contratar.
PIANO E canto. O Horizonte, Laranjeiras, p. 4, 17 mar. 1883.
220
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o
ano de 1856. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 13 ano, 1856, p. 560.
164
Madame Taniere
Madame Toulois
Madame Tootal
Madame Grivet
Santa Cndida
Leuzinger
Madmoisele
Madame
Imaculada
Conceio
Hitchings
Mounier
Colgios Femininos
221
SILVA, Joaquim Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio
da Corte para o ano de 1865. In: LIMA, Pedro de Arajo. (Marqus de Olinda). Relatrio apresentado
Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1866..
165
222
Os alunos internos e meio-pensionistas em alguns colgios eram obrigados a falar as lnguas francesa e
inglesa. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de
Janeiro para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1867, p. 416.
223
elucidativo o testemunho do Dr. Antenor Augusto Ribeiro Guimares sobre a introduo da msica vocal
no Colgio Marinho da Corte: Foi Monsenhor Marinho quem abjurando, como notrio, a mais brilhante
posio poltica e social, despertou com a fundao de seu colgio em 1849 o zelo no governo, o interesse nos
pais, a emulao nos colgios e o desejo nos jovens, por um dos mais importantes elementos de felicidade e
grandeza das naes. [...] Pois bem este homem [...] aplicava grande empenho na manuteno de uma aula de
msica vocal bem dirigida, e na qual ele mesmo tomava parte para encorajar seus discpulos e para dissipar de
seus espritos os ridculos prejuzos contra as artes. E nem s particularmente o fazia, mas publicamente quando
na Igreja de SS., de que era digno proco, entoava com seus discpulos os cnticos das solenidades a
praticadas. GUIMARES, Antenor Augusto Ribeiro. A higiene dos colgios. Esboo das regras principais
tendentes conservao da sade, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imparcial de J. M. Nunes Garcia, 1858, p.46.
224
A utilidade da dana na descrio do Visconde do Rio Branco: Que os bailes so utilssimos indstria,
dizem-no e o provam com os seus borradores os feudatrios do mundo elegante; mas eles tambm pulem os
costumes, e preparam, pelo exemplo, a elevao das sociedades deserdadas, concorrendo assim para a
civilizao popular, como eu a entendo. H mesmo quem pretenda que a educao das mulheres no se pode
operar sem os bailes; que as mulheres criam-se no salo, como o general no campo da batalha, como o homem
de cincia no gabinete, como o homem de Estado nos escritrios de jornal e nas discusses da tribuna.
PARANHOS, Jos Maria da Silva. Cartas ao amigo ausente. Rio de Janeiro: ABL, 2008, p. 351.
225
Os passeios higinicos eram amplamente recomendados nas teses mdicas sobre a higiene dos colgios e a
educao fsica dos meninos: Os passeios, outra espcie de exerccio no menos til, consistem em pequena
digresso pelas ruas da cidade em alguns domingos, formados os alunos em ordem militar; justo, porm, dizer
que os pensionistas do Colgio Vitrio em todos os domingos e dias santificados, fazem extensos passeios pelos
arrabaldes e passam quase todo o dia fora do estabelecimento, o que necessariamente proporciona grandes
vantagens aos alunos desse importante colgio, mesmo porque as ms condies higinicas da localidade em que
se acha colocado, torna indispensvel, que ao menos se conceda aos pensionistas, uma vez por semana, respirar o
grande ar. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro
da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 81.
166
ensino secundrio, na crtica do Dr. Justiniano Jos da Rocha, era um inconveniente de tristes
consequncias e ainda mais se agravava quando [...] os pais dos alunos, iludidos por
deplorvel erro, no pedem aos diretores de colgio que ensinem a seus filhos, mas
simplesmente que os habilitem no menor prazo possvel, e com o menor incmodo deles pais
e de seus filhos, para os exames de preparatrios das nossas aulas superiores226. Esta situao
tambm foi verificada pelo Dr. Joo da Matta Machado, para quem o modelo correspondia a
uma dupla ambio: a dos pais em ver seus filhos rapidamente matriculados nos cursos
superiores e a dos diretores em enviar relatrios no fim do ano com o maior nmero possvel
de alunos formados Instruo Pblica. Ainda segundo Dr. Machado, o resultado desta
dupla ambio era o de serem os meninos sobrecarregados de trabalho, oprimidos pelo
estudo excessivo que causava graves consequncias sade deles, j deteriorada pelas
condies anti-higinicas dos internatos227.
Marinho
Vitrio
Pinheiro
Fluminense
Antnio
Santa Cruz
S. Salvador
Alcntara
S. P. de
Ateneu
Santo
Colgios Masculinos
226
ROCHA, Justiniano Jos da. Exposio sobre o estado das aulas pblicas de instruo secundria, e dos
colgios e escolas particulares da Capital do Imprio, 5 de abril de 1851. (Anexo). In: CARVALHO, Jos da
Costa. (Visconde de Monte Alegre). Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851., p.3.
227
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 87.
167
228
SILVA, Joaquim Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio
da Corte para o ano de 1865. In: LIMA, Pedro de Arajo. (Marqus de Olinda). Relatrio apresentado
Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1866.
229
Destas rpidas consideraes se conclui que os ginsios so de imprescindvel necessidade nos
estabelecimentos de educao destinados aos meninos de um e de outro sexo; com efeito em nenhuma idade da
vida a ginstica to necessria como na segunda infncia, principalmente para estes infelizes reclusos, que
passam as longas horas do dia enclausurados nas salas de estudo ou aulas, respirando um ar mais ou menos
viciado[...]. Infelizmente nos colgios brasileiros a ginstica completamente desprezada; [...]. MACHADO,
Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a
sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 55.
230
No Colgio de Pedro II, o inspetor geral da Instruo relatava que no ano de 1858 [...] comeou a funcionar
com a possvel regularidade o ginsio do internato. Com pequena despesa se acha provido de um prtico regular
com vrios aparelhos suplementares que permitem a maior parte dos exerccios da ginstica prtica de Napoleon
Laisn, ensinados pelo alferes Pedro Guilherme Mayer, que serve com muito louvvel zelo no impedimento do
professor, licenciado por motivo de molstia. Tive a satisfao de assistir a alguns desses exerccios, notando
em geral bastante progresso nos alunos. CMARA, Euzbio de Queiroz Mattoso Coutinho. Relatrio da
Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, apresentado em 2 de maio de 1858.
(Anexo). In: MACEDO, Sergio Teixeira de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert,
1859, p. 18.
231
168
232
Colgio Pedro II.
169
238
Francisco Amors y Ondeano (Valncia, 1770 Paris, 1848) foi um professor e militar espanhol,
naturalizado francs. Iniciou seu trabalho na Espanha, e em 1814, desenvolveu suas ideias a respeito dos
exerccios ginsticos. Seu trabalho consolidou-se na Frana, no sculo XIX, na Escola de Ginstica Francesa.
SOARES, Carmen Lcia. Imagens da Educao no Corpo estudo a partir da Ginstica Francesa no sculo
XIX. Campinas: UNICAMP, 1996 (Tese Doutorado).
239
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o
ano de 1856. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 13 ano, 1856, p. 405.
240
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1879. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 36 ano, 1879, p. 594.
171
prospectos dos resultados241 alcanados pelos alunos nos exames preparatrios das
Faculdades do Imprio242, de ingresso no Colgio de Pedro II e nos exames anuais da
Instruo Pblica243. A esse respeito, o Colgio Santo Agostinho244 anunciava que o
estabelecimento obtivera brilhantes resultados nos exames gerais de preparatrios, sendo que
no perodo de 1868 a 1872, o colgio conseguira a aprovao de mais de noventa por cento
dos seus alunos.
Outros colgios, a exemplo do Colgio Vitrio, recebiam o reconhecimento pblico
por terem preparado, com xito, alunos para o ingresso nas Faculdades do Imprio.
241
Em Aracaju o Colgio Parthenon costumeiramente publicava nos jornais os resultados alcanados pelos
alunos do estabelecimento: Em trs anos de exerccio os exames pblicos feitos pelos alunos deste
estabelecimento deram o seguinte resultado: aprovados com distino 22, aprovados plenamente 224, aprovados
simplesmente 263, reprovaes 36, total dos exames 515. Habilitaram-se para a matrcula: medicina 17, direito
11, engenharia 2, agricultura 2, farmcia 7, escola naval 1, escola militar 2, total das matrculas 43, destes 13
fizeram todos os preparatrios no colgio. COLGIO Parthenon Sergipense. Sergipe. Aracaju, p. 4, 31 jan. 1882.
242
Os Colgios Marinho, Baro de Tautphoeus, Vitrio, S. Pedro de Alcntara, Freese, Humanidades, Santa
Cruz, Ateneu Fluminense, S. Salvador, Kopper e Santo Antnio comumente apareciam nos resultados dos
exames de candidatos matrcula nos cursos superiores do Imprio, realizados perante a Inspetoria Geral de
Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte. MARTINS, Antonio Felix. Relatrio da Inspetoria Geral
de Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 1864. (Anexo). In: SILVA, Jos
Bonifacio de Andrade e. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de
Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1864.
243
O Regulamento da Instruo do Municipio da Corte determinava que os discpulos das aulas e
estabelecimentos particulares de instruo secundria seriam admitidos todos os anos, no ms de novembro, a
exames pblicos por escrito das matrias que eram requeridas como preparatrios para a admisso nos cursos de
estudos superiores. BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte, aprovado
pelo Decreto N 1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
244
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447.
245
PARANHOS, Jos Maria da Silva. Cartas ao amigo ausente. Rio de Janeiro: ABL, 2008, p. 485.
172
Reprovaes
Reprovaes
Reprovaes
Aprovaes
Aprovaes
Aprovaes
Inscries
Inscries
Exames
Exames
Exames
Colgios
246
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 447.
247
SILVA, Joaquim Caetano da. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio
da Corte para o ano de 1865. In: LIMA, Pedro de Arajo. (Marqus de Olinda). Relatrio apresentado
Assemblia Geral Legislativa pelo Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1866.
248
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 445.
173
249
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1862. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 19 ano, 1862, p. 440.
250
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de
Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 8.
251
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 458.
252
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 435.
253
A baronesa de Geslin comunicava aos pais das meninas internadas em seu colgio que a cada trimestre os
pais de famlia recebem uma conta fiel da conduta das suas meninas, assim como de seus progressos.
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro
para o ano de 1850. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 7 ano, 1850, p. 246.
174
cujo motivo os pais esto muito gratos, sendo esse favor um daqueles, que
nunca se podem esquecer.254
254
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p. 69.
255
Ibid., p. 56.
175
Imaculada Conceio,256 as pensionistas estavam autorizadas a sair uma vez por ms, no
primeiro domingo, s 9 h da manh, sendo obrigadas a retornar na segunda feira. J a diretora
do Colgio Brasileiro257 avisava aos pais que as sadas davam-se de 15 em 15 dias, em
sbados alternados, s 2 horas da tarde, devendo as alunas voltar para o colgio na segunda-
feira imediata, at as 10 horas da manh, sob pena de perderem o direito sada seguinte. Os
meninos internados no Liceu Roosmalen258 tinham licena para sair a cada quinze dias, se no
estivessem retidos por castigo.
Os meninos e meninas cujas famlias residiam em outras Provncias ficavam no
colgio nos finais de semana, feriados, inclusive nas frias, portanto, uma permanncia no
internato que podia durar at seis anos distantes da terra natal e, principalmente, da famlia.
Como informa Anne Martin-Fugier, medidas foram tomadas para minimizar a longa
permanncia dos estudantes nos internatos franceses:
[...] Sob a Restaurao, no eram raros os alunos que ficavam anos inteiros
nos internatos, sem nunca sair. Isso ainda ocorre no Segundo Imprio. Em
agosto de 1866, Victor Duruy, ministro da Educao, comove-se com a
situao desses meninos e emite o parecer de que sejam recebidos nos liceus
litorneos. Ponto de vista muito moderno que merece ser ressaltado. Ao lado
de seu sonho de organizao de viagens e intercmbios escolares.259
256
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro
para o ano de 1862. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 19 ano, 1862, p. 440.
257
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 632.
258
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o
ano de 1856. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 13 ano, 1856, p. 405.
259
MARTIN-FUGIER, Anne. Os ritos da vida privada burguesa. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida
Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 214.
260
CUNHA, Balbino Candido da. Esboo de uma Higiene de colgios, aplicvel aos nossos; regras principais
tendentes conservao da saude, e ao desenvolvimento das foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se
devem reger os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1854, p. 25.
176
das recreaes. Entretanto, ressaltava o mdico, que se essa regra fosse considerada muito
severa, ao menos deveriam ser proibidas as sadas durante o ano letivo e somente permitidas
nas frias. A importncia e utilidade dessa regra eram poder evitar a entrada das obras
imorais e contatos com pessoas que podiam influenciar os alunos contra os costumes.
261
FRIAS, David Correia Sanches de. A mulher, sua infncia, educao e influncia na sociedade. Artigos
publicados em outubro de 1879 no jornal A Provncia do Par. Par: Tavares Cardoso & C. Livraria Universal,
1880, p. 56.
177
optavam para que as roupas de seus filhos fossem lavadas e engomadas no colgio 262. A
senhora Tootal, diretora de um Colgio de Meninas, avisava aos pais de famlia que se
desejassem ter a roupa de suas filhas lavadas e engomadas no colgio deveriam entregar um
enxoval completo conforme a lista apresentada. Adiante, so expostas listas de enxoval de um
internato masculino e outro feminino, tal como aparecem nos respectivos anncios.
262
Colgio Imaculada Conceio: As educandas, cuja roupa tiver de ser lavada no colgio, devero trazer
enxoval completo, sendo 5 pares de lenis, 12 camisas, 12 saias etc. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1869. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 457.
263
A utilizao do pente fino aponta para um mal que afligia no somente as cabecinhas dos filhos de escravos
ou das crianas pobres. O piolho era uma verdadeira praga domstica, tanto que em 1854, o Jornal das Senhoras,
voltado para as mulheres da elite, ensinava uma receita para destruir os bichos da cabea [...]. MAUAD, Ana
Maria. A vida de crianas de elite durante o Imprio. In: DEL PRIORE, Mary. (Org.). Histria das crianas no
Brasil. So Paulo: Contexto, 2008, p. 162.
178
INTERNATOS MASCULINOS
VESTIMENTAS E CAMA, MESA E UTENSLIOS
ACESSRIOS BANHO
palets, camisas, camisas para lenis, fronhas, escova de fato264, de unhas, de
dormir, calas, sobrecasacas, colchas, toalhas de dentes, de sapatos, pentes fino e
jaquetas, coletes, gravata, lenos rosto, toalhas de grosso, pentes de limpar para
para pescoo, suspensrios, meias, banho, cobertores, bichos, tesoura de unhas, espelho,
lenos de algibeira, bons, chapu, guardanapos saco para roupa suja, caixinha de
sapatos envernizados, sapatos folha com chave para guardar
abotinados, chinelos, lenos, pertences265
ceroulas, ceroulas para banho,
lenos para mo
INTERNATOS FEMININOS
VESTIMENTAS E CAMA, MESA E UTENSLIOS
ACESSRIOS BANHO
264
Roupas, veste(s), vesturio. FATO. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da
Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 614.
265
Uma caixinha de folha com chave, contendo: escovas de fato, cabea e dentes, tesoura de unha, pente de
alisar e para bichos. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do
Rio de Janeiro para o ano de 1868. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 431. / E
na lista do Colgio Menezes Vieira: Uma caixa de madeira tendo 0,75 de comprimento, 0,40 de largura e 0,20
de altura. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1879. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 36 ano, 1879, p. 594.
179
Vestidos de sada, vestidos para lenis, fronhas, Bacia de folha para banho267,
uso no colgio, saias, camisas, colchas, toalhas de escova de fato, de unhas, de dentes,
calas, lenos de mo, meias, rosto, toalhas de de sapatos, pentes fino e grosso,
capote, chapu, chapu de sol, banho, cobertores, pentes de limpar, esponja, tesoura
calados guardanapos, de unhas, espelho, saco para roupa
camisolas para suja, caixinha de folha com chave
dormir e para banho, para guardar pertences, caixa de
talher266 pertences para costurar, caixa268 de
folha para roupa limpa, caixinha
com objetos de toalete
Quadro 14 Itens de Listas de Enxovais de Internatos Masculinos e Femininos269 (1853-1879)
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial, 1853 a 1879.
266
A diretora do Colgio Brasileiro de meninas exigia, apontando como justificativa a necessidade de
uniformidade e asseio no refeitrio, que cada aluna trouxesse no enxoval um talher completo da marca
Chrystoffle, conforme o modelo existente no colgio. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da
Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p.
632.
267
Ou banheira, como na lista do enxoval do Colgio de Mrs. Elisa Van-Nyvel. HARING, Carlos Guilherme.
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o ano de 1861. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 18 ano, 1861, p. 427.
268
No Colgio Brasileiro e no da Madame Tootal aparece uma lata para guardar roupa e no Colgio Santa
Cndida um ba com chave. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da
Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26
ano, 1869, p. 460 e 463.
269
Colgios Emulao, Humanidades, Kopke, Menezes Vieira, Perseverana, So Francisco de Paula, So Luiz e
Vassourense. Tambm foram examinados os anncios dos colgios Kopke (Petrpolis), Humanidades (Nova
Friburgo) e Vassourense (Vassouras) por apresentarem informaes importantes sobre os internatos. E dos
internatos femininos dos colgios Mrs. Elisa Van-Nyvel, Madame Grivet, Colgio Imaculada Conceio, Mrs.
Tootal, Colgio de Santa Cndida, Baronesa de Geslin, Colgio Brasileiro, Franco-Brasileiro.
270
Como recorda Gilberto Amado: Uma famlia abastada distinguia-se pela espessura do tecido que usava.
Quanto mais hirto, grosso e crespo o gorgoro, melhor a famlia. Gilberto. Histria da minha infncia. So
Cristvo: UFS, 1999, p. 28.
271
O Dr. Joo da Matta Machado recomendava que o vesturio dos pensionistas deveria satisfazer as exigncias
do clima, ainda que em detrimento da elegncia das formas. Entretanto, lamentava no ser isso que ocorresse na
prtica: A forma e o tecido dos vesturios devero estar em relao direta com os diferentes climas, e
acompanhar as mudanas de estao; entretanto assim no acontece: as modas de Paris, invadindo todo o
mundo, obrigam os habitantes da zona trrida a trazer calas apertadas, sobrecasacas abotoadas, coletes
fechados, etc., etc. [...] O belo sexo dos pases quentes o que mais sofre com as exigncias da caprichosa deusa
que se adora nas margens do Sena, acrescendo que os figurinos das ltimas modas, inventadas no rigor do
inverno, aqui chegam durante os calores do vero. MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual
e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos,
1875, p. 41.
180
nossa paisagem pelo preto e pelo cinzento cores civilizadas, urbanas, burguesas, em
oposio s rsticas, s orientais, s africanas, s plebias [...]272.
Em certos colgios, os uniformes ou fardamentos deviam seguir o figurino existente
no alfaiate indicado pelo estabelecimento. A utilizao da farda proporcionava uniformidade,
contribuindo para o controle disciplinar dos internos. Nos internatos masculinos eram trajes
de homem que meninos273 e moos eram obrigados a usar. Geralmente, o uniforme era a
jaqueta e bon para os meninos menores de 14 anos, e para os rapazes, o palet ou
sobrecasaca e chapu.
Os meninos do Colgio Kopke274 (Petrpolis) apresentavam-se nas aulas e nas sadas
do colgio usando jaqueta de pano verde-escuro com botes amarelos, calas de pano azul-
forrete, bons do mesmo tecido e cor, colete de casimira amarela esvada, leno preto no
pescoo. E no Colgio Perseverana275, exigia-se uma sobrecasaca ou jaqueta de pano ou
casimira preta, um chapu ou bon, um par de calas pretas, dois de calas brancas, um colete
preto e dois brancos, duas gravatas de seda preta e um par de botinas. Nos dias de festas e
para sair rua o traje a ser usado eram sobrecasaca e calas pretas, e nas aulas o palet preto e
calas brancas.
O escritor sergipano Gilberto Amado276 recorda com admirao como, ainda nas
primeiras dcadas do sculo XX, essas vestimentas eram usadas no Brasil, desafiando as
condies climticas do pas:
272
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
So Paulo: Global, 2003, p. 433.
273
O modo de vestir dos meninos brasileiros, durante o sculo XIX, na descrio de estrangeiros que estiveram
no Brasil: Ele transformado num pequenino velho antes de ter doze anos de idade, com o seu chapu duro de
seda preta, colarinho em p e bengala; e, na cidade, anda como se todos estivessem olhando para ele, e como se o
houvessem enfiado num colete. FLETCHER, James Cooley & KIDDER, Daniel Parish. O Brasil e os
brasileiros: esboo histrico e descritivo. v.1. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p. 196.
274
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1853. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 10 ano, 1853, p. 345.
275
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 449.
276
Gilberto de Lima Azevedo Souza Ferreira Amado de Faria nasceu em 1877 em Estncia (Se), filho de grande
comerciante do interior de Sergipe. Depois de ter feito o ensino secundrio em Aracaju, partiu para Salvador
onde se formou em Farmcia na Faculdade de Medicina da Bahia. Tambm formado em Direito na Faculdade de
Recife, ocupou diversos cargos polticos.
181
Das listas dos enxovais femininos destacam-se, entre outros aspectos, os artigos de
toalete e pertences para os trabalhos manuais e especificaes sobre o modelo e cores dos
vestidos278, tipos de vestimentas usadas para sair e as de uso domstico. Era comum a
proibio de vestidos com babados para uso dirio e domstico, mas os vestidos de sada
ficavam quase sempre a critrio dos pais279. As exigncias ou recomendaes dos internatos
femininos sobre os trajes adequados280 tambm podem ser encontradas nos conselhos
contidos nos manuais de etiquetas da poca.
Tem como regra geral, minha filha, que o penteado, o calado, os vestidos
simples e modestos, tudo bem feito, asseado, e bem composto; poucas cores
vivas, e nunca contrastando umas com as outras, como as de arlequins; certo
discernimento e juzo em modificar as modas naquilo em que ofendem a
decncia e prejudicam a sade, so as cousas em que deves por todo o teu
desvelo, e pelas quais dars provas de ter recebido uma boa educao, e te
tornars estimvel a todas as pessoas que sabem apreciar o verdadeiro
merecimento e a modstia acompanhada do bom gosto.281
277
AMADO, Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: UFS, 1999, p. 28.
278
Para o Dr. Candido Teixeira de Azeredo Coutinho, nas classes ricas a ostentao dos vestidos defafiava a
sade das meninas: O luxo dos vestidos depende da riqueza dos parentes, os quais enxergam um prazer na
ostentao das pompas da moda em uma menina de onze a doze anos; a vaidade se aninha nestas almas juvenis,
o desejo de brilhar, de sobressair, e de aparecer as acompanha em todas as frases de suas vidas; sacrificam
muitas vezes a vaidade, a sade, o repouso, e a famlia! uma luta interminvel com a higiene; acusemos uma
mulher nestes casos; mas como, e por qu? Inocentes vtimas de uma educao imperfeita morrem sem ao menos
saberem a causa de seus males!. COUTINHO, Candido Teixeira de Azeredo. Esboo de uma higiene dos
colgios aplicvel aos nossos. Regras principais tendentes conservao da sade, e do desenvolvimento das
foras fsicas e intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typografia
Universal de Laemmert, 1857, p. 9.
279
No Colgio de Meninas dirigido por Madame Grivet os vestidos de sada ficavam a gosto dos pais; porm os
do colgio tinham que ser sem bordados. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1862. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 19 ano, 1862, p. 439.
280
Cada um usava o traje de sua condio social: os manuais de civilidade insistiam muito na indecncia que
haveria se as pessoas se vestissem de maneira diferente de como deveriam, de acordo com a idade ou seu
nascimento. Cada nuana social era traduzida por um signo especial do vesturio. No fim do sculo XVI, o
costume decidiu que a criana, agora reconhecida como uma entidade separada, tivesse tambm seu traje
particular. ARIS, Philippe. Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: LTC, 2006, p.38.
281
ROQUETTE, J. I. Cdigo de bom tom ou regras da civilidade e de bem viver no sculo XIX. Paris: V J. P.
AILLAUD, GUILLARD E C livreiros de suas majestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal, 1875, p.
296.
182
282
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 633.
283
Colgio S. Luiz. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da
Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876.
Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1877, p. 636.
284
Como a Loja de Variedades de Jos Joaquim Telles de Menezes estabelecida em Aracaju, que oferecia um
grande sortimento de objetos importados da Frana, como chapus, espartilhos, jaconas, tecidos, enfeites,
botinas, camisas, ceroulas, bons, gravatas, entre outros. NOVIDADES DE Paris. Jornal do Aracaju, Aracaju, p.
4, 18 jan. 1873.
183
285
REVISTA DE NOTABILIDADES PROFISSIONAES COMMERCIAES E INDUSTRIAES DA CORTE
DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro: Livraria Universal de E. & H. Laemmert, 1874, p. 82.
286
Enxoval do Colgio Perseverana: 1 sobrecasaca ou jaqueta de pano de l ou casimira preta (conforme a
idade); 1 chapu ou bon idem, idem; 1 par de calas pretas e 2 brancas; 1 colete preto e 2 brancos; 1 par de
botinas; 6 pares de calas de brim pardo; 6 jaquetas idem; 6 pares de ceroulas; 12 camisas brancas; 4 ditas de
chita de dormir; 12 pares de meia; 8 ceroulas para banho; 12 lenos para mo; 4 fronhas; 8 lenis para cama; 3
calas de chita; 1 cobertor de l encarnado; 6 toalhas de rosto; 4 ditas para banho; 2 sacos para roupa suja; 4
guardanapos; 2 gravatas de seda preta; 2 pares de sapatos abotinados; 1 caixinha de folha com chave, contendo:
escovas de fato, cabea e dentes, tesoura de unha, pente de alisar e para bichos. HARING, Carlos Guilherme.
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o ano de 1868. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 25 ano, 1868, p. 432.
287
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 449.
184
[...] no exige que cada menina traga, ao entrar para o colgio, um certo
nmero de peas de roupa como enxoval, porque pressupe em cada pai o
desejo de que sua filha se apresente sempre decentemente vestida,
entretanto, no caso de falta, nesse sentido, reclamara o que julgar
necessrio, e se no for prontamente atendida, comprara os objetos de que
carecer a aluna, em cuja conta sero lanadas essas despesas.292
Havia, ainda, estabelecimentos que forneciam, por conta dos pais ou responsveis,
havendo recebido ordem para isso, todo o enxoval de que o aluno necessitasse. Por questo de
distncia, provavelmente muitos pais encarregavam os correspondentes ou o prprio
estabelecimento de manter em ordem ou completar de acordo com a necessidade o enxoval de
seus filhos, acertando as despesas juntamente com o pagamento das penses.
O enxoval exigido pelos internatos compreendido como um artefato cultural que
permite compreender marcas ou condies de classe dos alunos atendidos nos colgios-
internatos. Nesse sentido, a exigncia de um sofisticado enxoval e os tipos e qualidades dos
objetos que o compunham evidenciavam no somente o status do colgio, mas igualmente os
segmentos sociais atendidos por este.
288
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 463.
289
Traje, roupa, farpela, fato. FATIOTA. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da
Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 614.
290
Roupa completa. ANDAINAS. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Lngua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 94.
291
CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia
do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 625.
292
Ibid., p. 632.
185
PREO ANUAL
INTERNATOS MASCULINOS PENSIONISTA MEIO-PENSIONISTA EXTERNO
Vitrio 540$000 100$000 96$000
S. Francisco de Paula 480$000 320$000 120$000
Pinheiro 560$000 300$000 180$000
S. Luiz 540$000 300$000 144$000
Ateneu Fluminense 520$000 240$000 ---
Santo Agostinho 600$000 360$000 200$000
Moreira 560$000 300$000 180$000
INTERNATOS FEMININOS PENSIONISTA MEIO-PENSIONISTA EXTERNA
Baronesa de Geslin 480$000 240$000 144$000
Imaculada Conceio 460$000 --- ---
Brasileiro 480$000 --- ---
Franco-Brasileiro 520$000 240$000 120$000
Botafogo 540$000 --- ---
Mrs. Tootal 480$000 240$000 ---
Mrs. Hitchings 540$000 --- ---
Quadro 15 Penses de Colgios-Internatos do Rio de Janeiro (1870)
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial, 1870.
Os valores apresentados nesse quadro incluam, em qualquer das trs condies, para
as meninas, o ensino primrio e trabalhos manuais e, para os meninos, o ensino primrio ou
secundrio. A maior diferena entre o valor das penses entre internatos masculinos e
femininos era basicamente o ensino secundrio ou as matrias preparatrias para as
faculdades, oferecidas somente nos primeiros e, neste caso, elevando o valor da penso.
Igualmente, observa-se que a diferena entre um aluno pensionista e um meio-pensionista, em
alguns colgios, podia ser quase cinco vezes maior do que o valor daquele em relao a este.
293
A criana e o adolescente como objeto de investimento familiar: Um duplo movimento percorre as relaes
entre pais e filhos do sculo XIX. De um lado, um investimento crescente no filho, futuro da famlia, muitas
vezes extremamente coercitivo. PERROT, Michelle. Figuras e papis. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida
Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 147.
186
A diferena de preo das penses entre os internatos masculinos podia chegar a 120$000 ris
anuais, e nos internatos femininos esse valor chegava a 80$000 ris. Influenciavam nessas
diferenas de valores das penses cobradas pelos internatos o reconhecimento social do
estabelecimento resultante do bom desempenho escolar de seus aluno , a boa fama do
diretor e professores e as prprias condies especficas do internato (localizao e espao do
estabelecimento, aposentos, alimentao e atividades extras disponibilizadas).
No preo da penso para os alunos internos no estavam includos os servios de
lavagem e gomagem de roupas, os gastos com mdico e botica (no caso de doena), as
atividades complementares de ensino (belas-artes ou artes de recreio), o valor pago na
entrada para uso de bens especficos do estabelecimento (jia de entrada) e, em alguns
estabelecimentos, as frias de Natal passadas no colgio.
O quadro em sequncia apresenta valores das artes de recreio e lnguas no
compreendidas na penso dos internatos.
Preo Mensal
Lngua Desenho Msica Ginstica Piano
INTERNATOS
(cada) ou Dana
MASCULINOS
Vitrio --- 8$000 10$000 10$000 ---
Magalhes 10$000 8$000 10$000 6$000 10$000
S. Luiz --- 10$000 10$000 --- 10$000
Menezes Vieira 10$000 10$000 10$000 ---
S. Agostinho 8$000 8$000 8$000 --- ---
INTERNATOS Lngua Piano Canto Desenho Dana
FEMININOS (cada)
Baronesa de Geslin 8$000 10$000 10$000 8$000 8$000
Imaculada Conceio 7$000 10$000 7$000 8$000 ---
Brasileiro 8$000 10$000 --- 8$000 8$000
Franco-Brasileiro 8$000 10$000 8$000 8$000 8$000
Botafogo 8$000 --- 10$000 8$000 8$000
Quadro 16 Valores das artes de recreio (belas-artes) e lnguas no compreendidas no
valor da penso dos internatos (1870)
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial, 1870.
294
Nesses colgios de padres comia-se mal; havia muito jejum; o menino vivia com fome. Evidentemente, mais
de um colgio ou diretor de colgio religioso, prevaleceu-se de motivos teolgicos, para realizar economias ou
lucros custa da alimentao dos alunos. FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do
patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. So Paulo: Global, 2003, 186.
187
299
SAUER, Arthur. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil para 1888. Rio de
Janeiro: Typographia H. Laemmert & C., 45 ano, 1888, p. 613.
300
FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872. Apndice: Ofcios das Delegacias em resposta a
Circular de 8 de janeiro de 1872 da Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872.
301
Colgio de meninas fundado pela Baronesa de Geslin: Colcho, leito de ferro, travesseiro, material da sala
de banho 25$000. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do
Rio de Janeiro para o ano de 1862. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 19 ano, 1862, p. 1441.
189
302
Em alguns internatos o talher, o copo, o lavatrio, bacias, colcha e material da sala de banho j faziam parte
do enxoval de cada interno.
303
Entre outros, o anncio do Colgio de Meninas dirigido pela Madame Taniere e Mrs. Tootal: Toda
pensionista que se retirar do colgio levar o seu colcho e travesseiro. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1864. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 451.
304
O Colgio Santa Cruz prometia, alm do leito de ferro, um cortinado. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1852. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 1852, p. 338.
305
Como no internato do Colgio da Imaculada Conceio. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia
E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 434.
306
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte da Capital da Provncia do
Rio de Janeiro com os Municpios de Campos e de Santos para o ano de 1872. Rio de Janeiro: Typographia E. &
H. Laemmert, 29 ano, 1872, p. 436.
190
Os colgios ainda podiam fornecer aos pensionistas, mediante pagamento extra, letras e
partituras de msicas, papel, penas, tintas, pedra, lpis, cadernos, livros, preparos de bordados
ou desenhos307. Alguns colgios cobravam um valor especfico pelo uso das esferas terrestre
e celeste, das cartas geogrficas, do piano e dos aparelhos ginsticos308.
Os internatos tambm proviam os servios de asseio e cuidados com o corpo e a sade
dos internos. Estes servios eram amplamente divulgados e presentes nos anncios dos
internatos, como divulgado pelo Colgio S. Francisco de Paulo, dirigido pelos padres Joaquim
Ferreira da Cruz Belmonte e Francisco Igncio de Christo.
307
O Colgio Koper avisava: O consumo de papel, penas e lpis ser por conta do Colgio, assim como
tambm a lavagem e conserto ordinrio de roupa colegial dos alunos. LAEMMERT, Eduardo. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1853. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 10 ano, 1853, p. 345.
308
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1874. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano, 1874, p. 587.
309
HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1869. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 26 ano, 1869, p. 449.
310
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Capital da Provncia
do Rio de Janeiro inclusive alguns municpios da provncia e a cidade de Santos para o ano de 1874. Rio de
Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 31 ano, 1874, p. 587.
311
Banhos de mar tambm oferecidos como comodidades em colgios em outras capitais praianas do Imprio, a
exemplo do Ateneu Baiano em Salvador. ATENEU Baiano. Jornal do Aracaju, p. 4, 01 ago. 1877.
312
DURO, Jos Ferraz de Oliveira. Breves consideraes acerca do emprego higinico e teraputico dos
banhos de mar. Rio de Janeiro: Typographia Teixeira & Cia. 1845.
313
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 425.
191
A lavagem e gomagem de roupa eram uma obrigao dos pais, que deviam, em dia e
horrio previamente determinados, enviar314 ao colgio as roupas limpas dos seus filhos e
receber as usadas. No internato do Colgio da Imaculada Conceio ficava consignado que:
A lavagem de roupa fica a cargo dos pais. Todas as segundas-feiras das 8 as 11 horas da
manh, e de tarde, de 1 s 5 horas (na tera feira se a segunda for dia santo) mandaro trazer a
roupa lavada e buscar a suja315. A famlia que no podia atender a essa condio,
principalmente as que residiam fora da cidade do Rio de Janeiro ou em outras provncias,
encarregavam os estabelecimentos da lavagem de roupa pagando pelo servio.
Os pensionistas que adoeciam316 eram cuidados no estabelecimento, se assim
conviesse aos pais ou correspondentes, correndo por conta destes as despesas com o mdico e
a botica317. Alguns internatos indicavam os mdicos que atendiam os pensionistas em caso de
doena. Os internos do Colgio Vitrio318 eram atendidos pelos mdicos Dr. Gonalves
Fontes e Dr. Manuel de Vallado Pimentel (conselheiro, baro de Petrpolis); o Colgio
Barbacenense319 oferecia gratuitamente os cuidados dos mdicos Dr. Camilo Maria Ferreira
Armond e Dr. Jos Rodrigues de Lima Duarte, e os pensionistas do Colgio Pinheiro eram
atendidos pelo Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz. O mesmo costume era praticado em
outros internatos do Brasil, a exemplo do Colgio de Educao Clssica Todos os Santos, em
Salvador, em cujo estatuto previa que os alunos internos do colgio seriam tratados durante
suas enfermidades por um mdico de partido, custa do colgio. Ao diretor cabia informar,
logo depois do aparecimento da molstia, a ocorrncia a seus pais ou correspondentes320.
314
Colgio de Meninas Franco-Brasileiro: Os bondes de carga da companhia de S. Cristvo, passando quatro
vezes por dia porta do estabelecimento, a remessa de roupa torna-se fcil e pouco dispendiosa. CARDOSO,
Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1876. Rio de Janeiro: Typographia
E. & H. Laemmert, 33 ano, 1876, p. 637.
315
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 435.
316
Colgio de S. Pedro de Alcntara: [...] No que diz respeito parte higinica e tratamento de doentes,
executam-se com inteira pontualidade as indicaes do mdico do estabelecimento. Este servio, da mais sria
responsabilidade, est incumbido aos prprios diretores e a um enfermeiro especial, verdadeiramente amigo,
dotado de paternal dedicao e de um cuidado inimitvel. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo,
Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1864. Rio de Janeiro: Typographia
E. & H. Laemmert, 21 ano, 1864, p. 445.
317
Estabelecimento onde se preparam e vendem medicamentos; farmcia. BOTICA. In: FERREIRA, Aurlio
Buarque de Holanda. Novo dicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 222.
318
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano de 1871. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 420.
319
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o
ano de 1856. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 13 ano, 1856, p. 403.
320
ESTATUTOS DO Colgio DEducao Clssica Todos os Santos, na Bahia. Correio Sergipense. So
Cristvo, p. 3, 10 fev. 1849.
192
321
Colgio Vitrio: [...] Todos os doentes tm sido tratados na enfermaria do colgio donde nunca sairo para
casa alguma de sade ou hospital; excetuam-se, porm, as molstias contagiosas. LAEMMERT, Eduardo.
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1871. Rio
de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 28 ano, 1871, p. 421.
322
Colgio S. Joo em Salvador: Em caso de molstias os pais, ou correspondentes ou tutores sero
imediatamente avisados, podendo o aluno ser tratado no colgio; para o que h uma sala especial, com todos os
cmodos. BAHIA. Colgio S. Joo. Correio Sergipense. Aracaju, p. 4, 02 de mar. 1859.
323
Colgio Vitrio: [...] em 1860, Francisco Moreira de Souza, natural de S. Joo da Barra, de um tifo adquirido
por causa do sol do vero na viagem de casa para o colgio; Manoel Pereira Gomes, natural de Araruana, de um
ataque cerebral repentino; em 1871, Antonio da Silveira Goulart; em 1872, Joo Caetano de Oliveira Guimares;
em 1873, Cornlio Septembrino Falco; em 1875, Jos Augusto Pereira, vtimas de vrias molstias graves,
sendo algumas hereditrias, e Bernardino Julio de Carvalho, em 1876. SAUER, Arthur. Almanak
Administrativo, Mercantil e Industrial do Imprio do Brasil para 1888. Rio de Janeiro: Typographia H.
Laemmert & C., 45 ano, 1888, p. 614.
193
CAPTULO IV
SURGIMENTO DOS INTERNATOS EM SERGIPE (SCULO XIX)
1
Segundo Adnia Santana Ferreira: O ingresso de meninas, jovens e mulheres nessas casas de recluso foi
motivado por diversos fatores, dentre eles, a imposio dos pais e/ou maridos, a instituio do morgadio, regime
em que os herdeiras poderiam abrir mo da herana em prol de irmos mais velhos ao se tornarem religiosas, o
zelo dos pais com a formao espiritual e escolar de suas filhas, a fim de prepar-las para o estado de religio ou
de matrimnio, ou a prpria escolha de muitas jovens mulheres pela vida religiosa. FERREIRA, Adnia
Santana. A recluso feminina no Convento da Soledade: As diversas faces de uma experincia (Salvador
Sculo XVIII). 2006. Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade de Braslia, Braslia, 2006, p. 6.
2
Sobre o assunto, consultar, entre outros, FERREIRA, Adnia Santana. A recluso feminina no Convento da
Soledade: As diversas faces de uma experincia (Salvador Sculo XVIII). 2006. Dissertao (Mestrado em
Histria) Universidade de Braslia, Braslia, 2006. e MOTT, Luiz. Sergipanas no Convento da Soledade da
Bahia. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe, Aracaju, n 31, 1992.
3
Relao de moas sergipanas que ingressaram no Convento da Soledade (1739-1752), conforme levantamento
realizado por Adnia Santana Ferreira: Teresa de Jesus Maria Sergipe dEl Rey, Freguesia de Santa Luzia.
Filiao: Mximo Lus de La Pea e Anna Pereira de Matos; Antonia Jesus Maria. Freguesia de Santa Luzia, Rio
Real, Sergipe dEl Rey. Filiao: Afonso Lessa e Maria da Silva; ngela da Encarnao Freguesia de Santa
Luzia, Rio Real. Filio: Leandro Vieira de Mello e Eugnia da Costa; Lourena de Jesus. Filiao: Manoel
Francisco e Lourena Roiz Barbosa. Freguesia Santa Luzia. FERREIRA, op. cit.
4
MOTT, op. cit., p.98.
5
Tornou-se independente da Capitania da Bahia em 1820, pela Carta Rgia de D. Joo VI, de 8 de julho de
1820.
194
A situao da instruo pblica em Sergipe durante o sculo XIX tambm era muito
recorrente nos relatrios dos inspetores da instruo pblica. O atraso era visto como
resultante de entraves, tais como a falta de formao e/ou incapacidade dos professores, a
6
A Lei Imperial de 15 de outubro de 1827 concedeu mulher o direito educao pblica, ao prever a criao
de escolas de primeiras letras nas cidades, vilas e lugarejos mais populosos. Na Provncia de Sergipe, as
primeiras escolas pblicas para o sexo feminino foram criadas em 1831 nas localidades de So Cristvo,
Estncia, Laranjeiras e Propri, evocando, assim, o governo provincial a responsabilidade de ministrar as
primeiras letras mulher.
7
Somente no comeo do sculo XX as mulheres tiveram acesso ao ensino secundrio pblico.
8
O imperador D. Pedro II, na visita que fez Provncia de Sergipe, em 1860, esteve na capital, Aracaju, e nas
cidades de So Cristvo, Maruim, Laranjeiras e Estncia.
9
REVISTA DO INSTITUTO HISTRICO E GEOGRFICO DE SERGIPE. Dirio do Imperador D. Pedro II
na sua visita a Sergipe em 1860. Aracaju: Regina, n 26, 1961-1965, p. 67.
195
Ilm. Sr. Tendo eu por trs vezes, em diferentes dias, me dirigido aula de
primeiras letras, que V. S. rege, para inspecion-la, como me cumpre, e
achado V. S. dela ausente, e os seus alunos em completa desordem; alm
das vezes, que em dias, e horas letivas V. S. encontro percorrendo as ruas,
e das em que V. S. presencio na prtica de atos mui particulares da vida
privada no recinto de uma Aula Pblica distraindo e perturbando por tal
modo a serena ateno, que ao estudo devem aplicar os seus discpulos, com
10
Esses motivos podem ser encontrados em quase todas as falas dos presidentes da provncia e nos relatrios dos
inspetores da instruo pblica. Consultar especialmente: REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor
Geral das Aulas, 1864. (Anexo letra D). In: CHAVES, Alexandre Rodrigues da Silva. Relatrio do presidente da
Provncia de Sergipe em 24 de fevereiro de 1864. Aracaju: Typographia Provincial, 1864, p. 6.
11
As Escolas Normais para o sexo masculino comearam a ser criadas no Brasil, a partir de 1839, nas provncias
de Niteri (1835), Bahia (1836), Cear (1845), So Paulo (1846), Par (1839), Sergipe (1870) e Gois (1882).
Em 1877, em Sergipe, a Escola Normal j recebia alunos do sexo feminino. FREITAS, Anamaria Gonalves
Bueno de Freitas. Vestidas de Azul e Branco. Um estudo sobre as representaes de ex-normalistas (1920-1950).
So Cristvo: Editora UFS, 2003.
12
Discurso recorrente em todo o sculo XIX: Muitos professores pblicos, direi mesmo a maioria deles, tem
muito concorrido para que os alunos desertem os seus bancos. No compreendendo a santidade dos deveres de
seu cargo, desconhecendo a importncia de sua misso, como membros do mais importante sacerdcio,
ignorantes, inativos, sem a menor vocao para o magistrio, que no encaram, seno como um oficio, ou como
um meio de ganhar dinheiro, nem sabem ensinar, nem sabem o que ensinam, nem ao menos ensinam o que
sabem, abandonam o ensino para entregarem-se a misteres e ocupaes muito deferentes [...]. REBELLO,
Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor das Aulas da Provncia, 1860. (Anexo E). In: Relatrio do presidente
da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860.Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1860, p. 15.
13
Principalmente os professores primrios eram joguetes dos interesses dos chefes polticos. NUNES, Maria
Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
14
Situao que adentrou o sculo XX segundo o testemunho de Gilberto Amado quando diz que [...] escola no
Brasil era, no meu tempo, arremedo de ensino, luz da tcnica didtica. Professores capazes, poucos; a maioria
nomeada por poltica, para emprego no oramento, no para exerccio efetivo do cargo. Em Sergipe criou-se uma
cadeira de grego. Para ela nomearam um farmacutico de poucas letras mesmo em portugus. [...] O homem,
considerado srio (veja-se que seriedade!), aceitou o cargo. A famlia precisava, a farmcia no rendia
bastante... [...]. Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora UFS, 1999, p. 172.
196
De tudo isso tem provindo que os pais de famlias zelosos dos progressos de
seus filhos repugnam confiar a educao destes a homens ignaros,
imperitos, e descuidosos; e preferem fazer por ela sacrifcios, pagando a
mestres particulares, que ao menos estimulados pelo interesse, apuram-se
no aproveitamento dos meninos, que lhes so entregues, e apresentam
sensveis resultados. Tal , entretanto o motivo porque as aulas particulares
so muito frequentadas, e as pblicas quase desertas, ainda mesmo em
alguns lugares populosos, e da dois males: gastar a Fazenda Provincial
avultadas somas, e no colher a mocidade o menor fruto desse dispndio.16
15
Situao tambm presente na instruo pblica do Muncipio da Corte, conforme relatado pelo inspetor geral
Jos Bento da Cunha Figueiredo: Nas visitas que hei feito algumas escolas tenho notado que os filhos de
pessoas da classe pobre so os que somente as frequentam: atribuo este fato menos a tendncias aristocrticas do
que ao estado quase desprezvel das salas de estudo. FIGUEIREDO, Jos Bento da Cunha. Relatrio da
Inspetoria Geral da Instruo Primria e Secundria do Municpio da Corte apresentado em 11 de abril de 1872.
(Anexo). In: OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral Legislativa pelo
Ministro e Secretrio de Estado dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1872, p.17.
16
PERETI, Anselmo Francisco. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 21 de
abril de 1843. [So Christovo]: Typographia Provincial, 1843, p. 11.
17
A situao da falta de edifcios prprios para a educao era um problema presente em muitas provncias. Na
maior parte delas as escolas funcionavam em casas alugadas e sem condies apropriadas. ALMEIDA, Jos
Ricardo Pires de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 100.
18
A mesma situao foi constatada na Provncia da Bahia em 1856 pelo Diretor Geral de Estudos da Provncia
da Bahia, Dr. Ablio Cesar Borges: Eu, que tenho percorrido a maior parte do interior da Provncia, julgo-me
asss habilitado para declarar V. Ex. que no h por ali, em parte alguma, uma s aula primria colocada em
edifcio que tenha os requisitos essenciais: sempre acanhados, escuros, deaceiados, acaapados, tristes, e
insalubres. E sendo de primeira intuio que no pode haver boa ordem e disciplina em escolas, cujos edifcios
alem de maus caream da competente moblia [...]. BORGES, Ablio Cesar. Relatrio sobre a Instruo
Pblica da Provncia da Bahia, apresentado ao Ilmo. e Exmo. Sr. Presidente Commendador Alvaro Tiberio de
197
Moncorvo e Lima por Ablio Cesar Borges. Bahia: Typographia de Antonio Olavo da Frana Guerra e Comp.,
1856, p.14. Situao semelhante descrita em 1898 pelo Dr. Jos Lopes Patury: A maior parte das escolas,
porm, funcionam em casas de propriedade particular, construdas para um fim inteiramente diverso e escolhidas
ao acaso dentre as que ficam mais prximas do professor, ou mesmo em sua prpria residncia, em uma saleta
acanhada, sem ar e sem luz, ou ainda naquela cujo aluguel for mais cmodo. [...] resultando desse grave
inconveniente, muitas vezes, satisfazerem estes s necessidades corporais em lugares pblicos, com prejuzo da
conservao do pudor e promovendo um desacato moralidade pblica, com o consentimento ou tolerncia do
mestre, o prprio encarregado da educao do povo.[...] Algumas delas so verdadeiros focos de infeco,
verdadeiros meios prprios para a predisposio mrbida, verdadeiras mquinas de fabricar doentes, onde cada
professor cava a runa de cada aluno. PATURY, Jos Lopes. Higiene escolar. Bahia: Litho-Typographia e
Encadenao V. Oliveira & C., 1898, p. 32.
19
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 8.
20
Filho do coronel Francisco Antonio de Carvalho Nobre e D. Delfina Nobre, nasceu em Laranjeiras e faleceu
em Aracaju (5/12/1839 a 24/12/1907). Bacharel em cincias jurdicas e sociais graduado na Faculdade do Recife
no ano de 1866, promotor pblico da comarca do Aracaju (1868), curador de rfos, deputado provincial, diretor
geral da instruo pblica (1877 e 1885), vice-presidente da provncia e outros cargos pblicos. GUARAN,
Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe, 1925.
21
NOBRE, Pelino Francisco de Carvalho. Relatrio do Diretor Geral de Instruo Pblica, 1877. (Anexo). In:
FONTES, Jos Martins. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 1 de
maro de 1878. Aracaju: Typographia Jornal de Aracaju, 1878, p. 13.
22
A economia sergipana foi afetada, na segunda metade do sculo XIX, por crises que aprofundaram a misria
da populao. Entre os anos de 1855 e 1859 foi a epidemia do clera-morbus e as secas peridicas das dcadas
de 1850 e 1860. NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2006.
23
Em 1889 Jos Ricardo Pires de Almeida, na sua Histria da Instruo Pblica no Brasil, escrevia que [...]
quanto negligencia e indiferena dos pais, estes so escusveis em muitos casos porque, s vezes,
conseqncia da pobreza que no lhes permite vestir decentemente os filhos para envi-los escola; outras vezes
a distancia a percorrer que muito grande e no prudente que as crianas percorram um trajeto muito longo
sem companhia. ALMEIDA, Jos Ricardo Pires de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC,
2000, p. 296.
198
toda a populao escolvel. No ano de 1867, o inspetor geral Jos Joo de Arajo Lima
apresentou a seguinte situao deficitria da instruo na provncia sergipana:
24
LIMA, Jos Joo de Arajo. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1868. (Anexo). In: BULCO, Antonio de
Araujo dArago. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 2 de maro de
1868. Aracaju: Typographia Jornal de Sergipe, 1868.
25
Sobre as preceptoras em Sergipe consultar: ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. A Preceptora:
representaes em "Amar, verbo intransitivo" de Mrio de Andrade. 2007. Dissertao (Mestrado em Educao)
Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2007.
26
Como informa Jos Ricardo Pires de Almeida, no sculo XIX a denominao colgio se aplicava
indistintamente, no Brasil, a toda espcie de escola, mesmo as mais elementares. ALMEIDA, Jos Ricardo Pires
de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 95.
27
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro
28
Faculdade de Medicina da Bahia
199
Baiano (Salvador)
06 Eugenio Teles da S. Engenho S. Colgio Ablio (Rio de F. de Direito do Advogado
Fontes (1845) Francisco (Socorro) Janeiro) Recife
07 Fausto de Aguiar Engenho So Felix Colgio Sete de F. de Direito do Advogado
Cardoso (1864) (Divina Pastora) Setembro (Salvador) Recife
08 Francisco Soares de B. Engenho Vermelho Colgio Menezes Vieira Escola de Ouro Farmacutico
Travassos29 (1873) (Japaratuba) (Rio de Janeiro) Preto
09 Francisco Vieira Leite Engenho Castelo Preparatrios em FAMEB Mdico
(1887) (Santa Luzia) Salvador
10 Horacio Vieira de Mello Engenho Santa Preparatrios em FAMEB Mdico
(1884) Brbara (Rosrio) Salvador
11 Joo Gomes Barreto Engenho Rosrio Preparatrios em F. de Direito do Advogado
(1861) (Rosrio) Salvador Recife
12 Joo Gomes Vieira de Engenho Santa Colgio S. Jos F. de Direito do Advogado
Mello (1866) Brbara (Rosrio do (Salvador) Recife
Catete)
13 Joo da Silva Mello Engenho Ara Colgio S. Joo F. de Direito do Advogado
(1856) (Capela) (Salvador), Gustavo de Recife
S (Salvador)
14 Jos Mateus de Aguiar Engenho S. Felix Colgio Sete de --- Advogado
(1864) (Divina Pastora) Setembro (Salvador)
15 Lauro de Mello Engenho S. Colgio Carneiro --- Engenheiro
Andrade (1898) Joaquim (Rosrio (Salvador)
do Catete)
16 Martinho Cezar da Engenho Colgios Santo Antonio F. de Direito do Advogado
Silveira Garcez (1850) Comendaroba e Vitria (RJ) Recife
(Laranjeiras)
17 Olympio Cardoso da Engenho Payay Colgio Spencer FAMEB Farmacutico e
Silveira (1879) (Salvador) e G.Baiano mdico
18 Pedro Antonio de Engenho Varzinhas Colgio S. Joo F. de Direito do Advogado
Oliveira Ribeiro (1851) (Laranjeiras) (Salvador) Recife
19 Serafim Vieira de Engenho Buraco Colgio So Jos FAMEB Mdico
Almeida (1868) (Itaporanga) (Salvador)
20 Vicente Luiz de Engenho Varzinhas Ateneu Baiano --- ---
Oliveira Ribeiro (1852) (Laranjeiras) (Salvador)
Quadro 18 Relao exemplificativa de meninos ou moos de engenhos enviados para colgios-
internatos em outras provncias
Fonte: GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do
Estado de Sergipe, 1925.
O costume de classes ricas sergipanas de enviar seus filhos para estudar nos internatos
em outras provncias do Imprio foi uma opo que se manteve durante toda a segunda
metade do sculo XIX30 e permaneceu existindo durante boa parte da primeira metade do
sculo XX31. Esta situao era bastante evidente na busca pelos colgios-internatos das
cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, os quais ministravam os preparatrios32 para os
29
Concludo o curso de Farmcia em 1890, formou-se Cirurgio-Dentista pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro em 1898 e em Direito em 1921 na Faculdade Livre da Bahia.
30
Desde a primeira metade do sculo XIX existem registros de muitos estudantes naturais de Sergipe
matriculados em colgios nas provncias onde estavam sediadas as Faculdades do Imprio. AMARAL, Joaquim
Alvares. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial.[So Christovo]: Typographia
Provincial de Sergipe, 1846.
31
O Colgio Antonio Viera (CAV), em Salvador, recebeu no perodo de 1917 a 1930 muitos filhos de grandes
proprietrios rurais, usineiros e comerciantes sergipanos. ALMEIDA, Stela Borges de. Negativos em vidro.
Coleo de Imagens do Colgio Antnio Vieira, 1920-1930. Salvador: EDUFBA, 2002.
32
Para o ingresso nas escolas superiores era necessria a aprovao nos Exames Preparatrios realizados nas
prprias Faculdades do Imprio. As Faculdades de Medicina da Bahia e Rio de Janeiro exigiam para o ingresso
200
exames de ingresso nas Faculdades33 sediadas nessas localidades. Igualmente existiram casos
do envio por pais ou tutores de meninos aos internatos fora da provncia a fim de cursar o
ensino primrio. Foi o caso de meninos sergipanos como Deodato da Silva Maia34, que, com
idade de 11 anos, foi internado no Colgio Sete de Setembro, em Salvador; e Francisco
Fernandes de Sousa35, contando apenas 9 anos de idade, foi internado no Colgio Ateneu
Baiano. Contudo, provavelmente a maior parte das famlias sergipanas somente recorria aos
internatos localizados em outras provncias para que seus filhos cursassem o ensino
secundrio com idade entre 12 e 15 anos mais ou menos.
A escolha dos internatos locais ordinariamente era feita pela impresso dos exames a
que assistiam os pais, por uma visita ao estabelecimento, por conselho de um parente ou de
um protetor. Tambm influenciava na escolha a seriedade do estabelecimento, os resultados
obtidos pelos alunos nos exames, o exemplo do diretor, seu capital social, pela instruo
prometida, professores, entre outros. Na escolha do internato localizado em outra provncia
era comum que os pais recorressem a amigos ou familiares que residiam onde estavam
estabelecidos os colgios, ou se informassem atravs dos anncios dos internatos
costumeiramente publicados nos jornais e almanaques36 que circulavam em Sergipe.
Era comum que proprietrios de colgios localizados principalmente em Recife, Rio
de Janeiro e Salvador mandassem publicar nos jornais sergipanos anncios dos seus
estabelecimentos. Podem ser citados, entre outros, os anncios dos colgios Alberto Brando
(Vassouras, RJ), Euler (Nova Friburgo, RJ), Ateneu Baiano (Salvador), Colgio De Educao
Clssica Todos os Santos (Salvador) e Colgio S. Joo (Salvador). Nessas publicaes, os
interessados podiam tomar conhecimento sobre as condies e localizao do
estabelecimento, o professorado, as condies de matrcula (idade, valores das penses,
dos candidatos a aprovao nos exames de Latim, Ingls ou Francs, Filosofia Racional e Moral, Aritmtica e
Geometria. BRASIL. Lei de 3 de outubro de 1832. D nova organizao s atuais Academias Mdico- cirrgicas
das cidades do Rio de Janeiro e Bahia. Rio de Janeiro, 1832.
33
Escola de Direito de Olinda, Faculdade de Medicina da Bahia, Faculdade de Direito de So Paulo.
34
Bacharel, filho de Deodato da Silva Maia e Umbelina de Oliveira Borges, nascido na cidade de Maruim em 29
de novembro de 1876, formou-se em Direito em 1901 na Faculdade Livre de Direito (RJ). Advogado no Rio de
Janeiro e professor do Instituto Comercial da mesma cidade. GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-
bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe, 1925.
35
Mdico, nasceu em 17 de julho de 1849 na cidade de So Cristvo, filho de Antonio Fernandes de Souza e
Ana Joaquina Fernandes de Souza, formado em medicina em 1880, pela Faculdade de Medicina da Bahia.
GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe,
1925.
36
Entre outros, o Almanaque Mercantil de Laemert que possua uma sesso sobre os colgios com internatos do
Rio de Janeiro, e de circulao nacional. O Laemert circulou em Sergipe lembrado nas memrias de Gilberto
Amado: No me saa tambm das mos o Almanaque de Lembranas Luso-Brasileiro, o Laemert e o de
Sergipe. Charadas, enigmas, logorifos, eu os abatia, com facilidade, propalava meu pai. Espicaado por ele,
compunha charadas e logogrifos para a vida decifrar. AMADO, Gilberto. Histria da Minha Infncia. So
Cristvo: Editora da UFS, 1999, p. 104.
201
37
ALBUQUERQUE JUNIOR, Pedro Autran da Matta. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1859. (Anexo).
In: BROTERO, Joo Dabney DAvellar. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 7 de maro de
1859. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1859, p. 14.
38
Mesmo os pequenos internatos localizados na provncia exigiam dos pais ou responsveis a figura do
correspondente quando estes no residiam na mesma cidade do estabelecimento. Neste sentido, era o que exigia
o estatuto do Colgio Ingls na cidade de Laranjeiras: Cada aluna dever ter um correspondente que se
responsabilize pelo pagamento das penses; estas uma vez recebidas consideram-se vencidas e sem direito
restituio. ESTATUTOS DO Colgio Ingls. O Horizonte. Laranjeiras, p. 4, 24 dez. 1885.
39
Principais colgios particulares de ensino primrio e secundrio da cidade de Salvador masculinos: So Jos
(Conego Dr. Joo Nepomuceno da Rocha), So Joo (Dr. Joo Estanislau da Silva Lisboa), Sete de Setembro
(Luiz Frana P. de Carvalho), Pedro II (Dr. Antonio Augusto Guimares), Ginasio Brasileiro Alemo (J. G.
Theodoro Uflacker), Ateneu Baiano (Padre Jos Alves Martins do Loreto), Santo Antonio Quinta (Conego
Francisco Pereira de Souza), So Francisco (Dr. Gustavo Adolpho de S), Santo Antonio rua de S. Jos
(Manuel Lopes Pontes), S. Pedro, Bahia (Conego Dr. Emilio Lopes Freire Lobo e Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro),
S. Vicente de Paula (Padre Domingos Jos de Brito), Paraense (Dr. Domingos Rodrigues Seixas e Dr. Ramiro
Afonso Monteiro), femininos: Corao de Maria (Mathilde Elisabeth Schroder), Nossa Senhora do Amparo,
Conceio (Elisa Rosa Guedes), Gratido (Joana Francisca Moreira Santos), Piedade (Cristina Blandy Motta),
Primavera (Rosa Candida Rangel), Santa Clara (Narcisa Maria do Amor Divino), Santa Izabel (Joana Maria da
Silva), Santana (Ana Emilia Paraizo), Nossa Senhora da Gloria (Maria Augusta Azambuja), Esperana Emilia
Constana de Azevedo e Silva). MACHADO, Antonio Candido da Cruz. Fala do presidente da Provncia da
Bahia Assemblia Legislativa Provincial da Bahia no dia 1. de maro de 1874. Bahia, Typ. do Correio da
Bahia, 1874, p.71.
202
A separao das classes ficava muito mais evidente no caso dos internatos que, por
suas penses proibitivas para a maioria da populao, davam um sinal de distino social.
Mesmo os estratos mdios46 da populao encontravam dificuldades para manter seus filhos
em um internato na provncia e, sobretudo, envi-los aos conceituados e caros internatos da
40
ALBUQUERQUE JUNIOR, Pedro Autran da Matta. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1859. (Anexo).
In: BROTERO, Joo Dabney DAvellar. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 7 de maro de
1859. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1859, p. 14.
41
O estatuto do Colgio Ingls determinava que o [...] enxoval de cada aluna ser feito conforme o gosto e
vontade de sua famlia, sendo, porm, obrigada cada uma delas a trazer cama pequena, colcho, travesseiros e
roupa correspondente, lavatrio de ferro com bacia e jarros para banho. ESTATUTOS DO Colgio Ingls. O
Horizonte: Laranjeiras, 24 de dezembro de 1885, ano I, n 28, p. 4.
42
Os alunos devero trazer para o colgio tudo o mais que for necessrio a sua estada nele, como cama, roupas,
vasilhas para seu uso, como se determinara no regimento interno, e livros para as aulas maiores. ESTATUTOS
DO Colgio DEducao Clssica Todos os Santos, na Bahia. Correio Sergipense. So Cristvo, p. 3, 10 fev.
1849.
43
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor das Aulas da Provncia, 1860. (Anexo E). In: Relatrio
do presidente da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860.Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe,
1860, p.15.
44
A opo e o investimento que as famlias faziam para o envio e manuteno de seus filhos e filhas em colgios
de prestgio eram resultantes da posio social e das expectativas que depositavam nas futuras geraes.
BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 1996.
45
ALMEIDA, Jos Ricardo Pires de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 90.
46
Alguns alunos oriundos de famlias de classe mdia urbana, que se destacavam nos estudos locais, conseguiam
subsdios, atravs da poltica de clientela dominante, para estudarem fora da Provncia. NUNES, Maria Thetis.
Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
203
47
Artigo 10, 2 do Ato Adicional de 1834.
48
HAIDAR, Maria de Lourdes Mariotto. O ensino secundrio no Brasil Imprio. So Paulo: EDUSP, 2008.
49
NUNES, Maria Times. Ensino secundrio e sociedade brasileira. So Cristvo: UFS, 1999, p. 71.
50
Defendia essa posio, entre outros, o inspetor geral das Aulas Dr. Guilherme Pereira Rabello. REBELLO,
Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In: ALVES
JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de maro de
1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 35.
51
Como informa Jean-Claude Caron: Do Antigo Regime ao fim do sculo XIX, inmeros so os publicistas ou
os polticos a exprimir seu receio de ver as classes populares terem acesso ao ensino secundrio e reivindicarem
uma posio social no correspondente s suas competncias nem aos seus interesses: o que Richelieu e
Colbert, mas tambm Voltaire e Rousseau, afirmam antes da Revoluo (muita instruo nas classes populares
ameaa os equilbrios social e econmico da sociedade), outros (Balzac, Stendhal, Reybaud) o reafirmam no
204
56
Diferentemente do que se podia esperar, a maior parte dos alunos matriculados no Liceu era constituda de
alunos egressos de famlias pobres. Em 1849, mostrando o estado de pobreza dos alunos, o diretor da
Congregao do Liceu solicitou ao governo provincial que dispensasse, no todo, ou em parte, o imposto de 5$
reis que era cobrado para a matrcula dos alunos. Segundo o diretor, o imposto deveria ser cobrado apenas aos
[...] moos de fortuna, mas no fosse exigido daqueles, que por atestaes e documentos adequados provassem
os seus poucos recursos. VASCONCELOS, Zacarias de Goes. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe
em 17 de dezembro de 1849. [So Christovo ]: Typographia Provincial de Sergipe, 1849, p. 20.
57
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do inspetor geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 135.
58
Segundo Maria Thetis Nunes: A localizao geogrfica da cidade de So Cristvo no correspondia s
exigncias das atividades comerciais sergipanas, em plena expanso. O rio Vaza-Barris, largo e profundo na foz,
logo depois bifurca-se, tendo um dos seus braos a direo da Vila de Itaporanga e da Provncia da Bahia onde
nasceu. O outro brao, estreito, com o nome de Paramopama, banha a cidade de So Cristvo, no oferecendo,
porm, condies navegao e, consequentemente, ao comrcio, que convergia para a cidade de Estncia,
favorecida pela barra do rio Real, ou para as cidades de Laranjeiras e Maruim em busca da barra da Cotinguiba,
onde o porto possua melhores condies para o comrcio. NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-
1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 140.
59
Falta de casas para os estudantes de outros pontos da provncia residir, pois o liceu no tinha internato.
60
Febre amarela, clera-morbus. ANDRADE, Amancio Joo Pereira de. Fala do presidente da Provncia de
Sergipe Assemblia Provincial, em 11 de janeiro de 1851. [So Christovo ]: Typographia Provincial de
Sergipe, 1851, p. 12.
61
Constantemente, os presidentes da provncia discutiam essa questo e, no intuito de dar maior importncia ao
Liceu de So Cristvo e estimular a frequncia, solicitavam Assembleia Geral do Imprio o direito de serem
aceitos nas Academias do Imprio os exames feitos no referido estabelecimento.
62
No ano de 1851 o governo gastou para manter o Liceu de So Cristvo a quantia de 6.900$000, o que
correspondia a um gasto de 383.333 por cada aluno. Apesar dessas despesas, o estabelecimento contou apenas
com uma frequncia bastante irrisria de 18 estudantes, dos 55 matriculados. SILVA, Jos Antonio de Oliveira
da. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 8 de maro de 1852. [So Christovo]: Typographia
Provincial de Sergipe, 1852, p. 20. Nesse mesmo ano a penso anual em um Colgio na Corte Imperial do Rio de
Janeiro no custava mais de 300$000 anual. LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro para o ano de 1850. Rio de Janeiro: Typographia E. & H.
Laemmert, 7 ano, 1850, p. 242.
206
do estabelecimento. Nesses debates, o internato63 era apresentado como medida a ser adotada
para o sucesso de um estabelecimento de ensino secundrio na provncia. Segundo as
autoridades da instruo, alm do liceu, tambm as aulas avulsas de latim espalhadas por
alguns pontos da provncia ressentiam-se da falta de internatos. Para o presidente da
provncia, Incio Joaquim Barbosa, essas aulas avulsas, em geral, pouca utilidade prestavam,
porque lutavam com o embargo, ou falta de internato, como acontecia no Liceu de So
Cristvo. Deste modo, no entendimento do presidente da provncia, por causa da falta de
internato, as aulas eram frequentadas apenas por alunos dos pequenos povoados onde estavam
localizadas, e se continuassem assim deveriam ser extintas64.
Contudo, havia quem defendesse, antes de extinguir o Liceu ou transferi-lo para outra
cidade da provncia, a continuao do estabelecimento em So Cristvo com a criao de um
internato65 que pudesse atrair alunos de outros pontos da provncia, movimentando as
matrculas e frequncia do estabelecimento. Entretanto, como na viso dos governos
provinciais, a criao de um internato pblico66 acarretaria considerveis despesas e
dificuldades no seu funcionamento, avaliou-se mais prudente adi-la para poca em que as
63
O Liceu Baiano tambm atravessava no ano de 1856 dificuldades de funcionamento. O Dr. Ablio Cesar
Borges, inspetor da Instruo Pblica da Bahia na poca, tambm defendia a ideia de instalar no estabelecimento
um internato. Segundo o inspetor baiano: Um internato no oferece o inconveniente dessas reunies
tumultuosas de rapazes e meninos sem um freio legtimo e reconhecido, que muitas vezes fazem cometer
excessos por demais repreensveis e criminosos: os alunos submetidos a uma vigilncia ativa, e a uma severa
disciplina, acostumam-se aos hbitos de moderao e ordem, ao respeito que devem a seus mestres, que neste
caso exercem sobre eles uma autoridade incontestvel. A pode a instruo ser dada com perfeita regularidade,
a par de perfeita educao moral. Todos compreendem ser mais fcil no Internato, do que Externato, a correo
dos costumes, e a manuteno da ordem. BORGES, Ablio Cesar. Relatrio sobre a Instruo Pblica da
Provncia da Bahia. Bahia: Typographia de Antonio Olavo da Frana Guerra e Comp., 1856, p.40.
64
BARBOSA, Incio Joaquim. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe. Typographia Provincial de
Sergipe, 1854, p. 9.
65
A ideia de criao de um estabelecimento pblico de ensino secundrio era muito recorrente, especialmente
nas dcadas de 1850 e 1860, no discurso de muitos presidentes de provncias. Na Provncia do Piau: Continuo
a pensar que o Liceu nenhuma utilidade prestar provncia enquanto no for nele instalado o internato e
convenientemente dirigido por pessoa que s a isso se aplique e que seja tambm diretor da instruo pblica na
provncia. Todos os moos que se destinam a formaturas de medicina e direito aprendem em colgios na Bahia e
no Maranho ou em Pernambuco todos os seus preparatrios, e isso porque no h na provncia um internato no
qual possam os pais de famlia confiar seus filhos. Relatrio do presidente da Provncia do Piau (1852),
conforme copilao realizada por Primitivo Moacyr. MOACY, Primitivo. A instruo e as provncias. Subsdios
para a histria de Educao no Brasil (1834-1889). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939, p. 257. Na
Provncia do Rio Grande do Norte: Parece conveniente criar um Colgio nesta capital, e se no apraz este
modesto ttulo, um Liceu, com as cinco aulas de ensinos secundrios existentes. Concordaria mesmo em que se
dispensasse a de histria e geografia, se as poucas foras dos cofres pblicos assim o exigem; pois creio que no
podemos desde logo fundar tal estabelecimento completamente, como era de desejar, se no dar-lhe princpio,
realizando o indispensvel; mas com tal instruo sem o internato, como so verdadeiramente os colgios de
nosso pas, penso que pouco adiantaramos. PASSOS, Antonio Bernardo de. Fala do presidente da Provncia
do Rio Grande do Norte, dirigido Assemblia Legislativa Provincial em o 1 de julho de 1855. Pernambuco:
Typ. de M.F. de Faria, 1855.
66
necessrio atentar que internato pblico no se confundia com internato gratuito. O termo pblico
significava que seria criado e mantido pelo governo provincial, que para isso cobrava penses dos alunos
internos e externos que fizessem uso de servios especficos do internato.
207
67
SILVA, Jos Antonio de Oliveira da. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 14 de julho de 1853.
So Christovo: Typographia Provincial de Sergipe, 1853, p.11.
68
BARBOSA, Incio Joaquim. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe. Typographia Provincial de
Sergipe, 1854, p. 8.
69
BARBOSA, Incio Joaquim, Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 1 de maro de 1855.
Typographia Provincial de Sergipe, 1855, p. 11.
70
Segundo Jos Ricardo Pires de Almeida, as provncias do Paran e de Gois suprimiram seus estabelecimentos
de ensino secundrio para subvencionar colgios particulares. A exemplo da Provncia de Santa Catarina, que
extinguiu o Liceu Provincial para subvencionar o Colgio So Salvador, dos jesutas. ALMEIDA, Jos Ricardo
Pires de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 121.
71
No mesmo ano o Liceu de So Cristvo foi extinto pela Resoluo n 422, de 28 de abril de 1855.
72
Criados pela Lei Provincial n 398 de 21 de Junho de 1854, e dirigidos pelo regulamento de primeiro de
Setembro de 1854.
208
havia sido transferida73 para Aracaju74. Entretanto, avaliou-se que a nova capital no
apresentava condies necessrias (prdios, populao, salubridade75 do local) para receber
estabelecimentos de ensino secundrio como os que foram criados em Estncia e Laranjeiras.
Os colgios-internatos de Estncia e Laranjeiras, de acordo com a organizao
proposta no seu regulamento76 e no contrato entre o governo provincial e os respectivos
empresrios, estavam subordinados Inspetoria Geral das Aulas e tinha uma natureza jurdica
hbrida77, ou seja, um externato pblico e gratuito sem distino de disciplinas78 e um
internato particular. Ao diretor ou empresrio do colgio, pessoa de reconhecida probidade e
conhecimentos literrios, cabia manter o internato e semi-internato com o recebimento de
penses e meias penses, oferecer disciplinas complementares79 como dana e msica, pagas
pelos interessados; manter a ordem e disciplina, zelando pelo bom funcionamento do
estabelecimento; fiscalizar os professores, presidir os exames anuais e de tudo dando contas
ao inspetor geral de ensino.
Ao governo provincial cabia o pagamento da remunerao dos professores e o custeio
de aluguel de casas e materiais didticos para o funcionamento dos estabelecimentos. Esses
colgios no passavam de estabelecimentos subvencionados pelo governo, funcionando em
casas alugadas, com cmodos arranjados para receber alunos internos. O presidente da
Provncia, Incio Joaquim Barbosa, justificava a subveno do governo aos colgios como
uma medida capaz de incentivar os empresrios a investir em um empreendimento que
demandava razoveis investimentos, mas sem muitas garantias de sucesso. Segundo o
presidente Incio Barbosa,
[...] um internato particular, que possa inspirar confiana ao pblico pelo seu
bom regime, e hbeis mestres, acarreta fortes despesas, e essas no querer
sem duvida sujeitar-se um empresrio na eventualidade de poder ou no atrair
ao seu Colgio os alunos, que hoje vo buscar instruo fora da Provncia,
visto, o hbito, e a preocupao, que naturalmente dele deriva, de que s fora
73
Art. 1 - Fica elevada categoria de cidade o Povoado Santo Antnio do Aracaju, na Barra da Cotinguiba,
com a denominao de cidade do Aracaju. SERGIPE. Resoluo n 413 de 17 de maro de 1855.
74
A planta da nova capital da provncia foi projetada pelo Capito de Engenharia Sebastio Jos Baslio Pirro.
75
At os primeiros anos da Repblica, a nova capital sofreu com os alagadios, mangues e as lagoas, as guas
paradas concorriam para as febres perniciosas. WYNNE, J. Pires. Histria de Sergipe (1575-1930). Rio de
Janeiro: Editora Pongetti, 1970, p. 182.
76
REGULAMENTO. Correio Sergipense. Aracaju, p. 2, 2 set. 1854.
77
BARBOSA, Incio Joaquim, Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 1 de maro de 1855.
Typographia Provincial de Sergipe, 1855, p. 11.
78
Aulas pblicas de latim, francs, filosofia, geometria, geografia e histria
79
Quintas-feiras pela manh reservada aula de dana, e msica nas quintas e sbados tarde.
REGULAMENTO. Correio Sergipense. Aracaju, p. 2, 2 set. 1854.
209
Com a criao dos internatos nas cidades de Estncia e Laranjeiras, o presidente Incio
Barbosa esperava que os estabelecimentos funcionassem como polos de atrao de alunos
oriundos, respectivamente, do sul e do norte da provncia. A medida procurava responder,
tambm, aos anseios pelo ensino secundrio das elites e de estratos mdios da populao da
provncia sergipana, que eram os segmentos que podiam arcar com os custos do internato.
A escolha da cidade de Estncia para sediar um dos internatos deveu-se a sua situao
geogrfica, que, na poca, lhe garantia a prosperidade econmica atravs da atividade
comercial. A cidade se tornara nos meados da dcada de 1855
80
BARBOSA, Incio Joaquim, Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 1 de maro de 1855.
Typographia Provincial de Sergipe, 1855, p. 11.
81
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 228.
82
BARBOSA, op. cit.
210
83
ALBUQUERQUE JUNIOR, Pedro Autran da Matta. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1859. (Anexo).
In: BROTERO, Joo Dabney DAvellar. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 7 de maro de
1859. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1859, p.11.
84
Ibid., p.11.
85
REVISTA DO INSTITUTO HISTRICO E GEOGRAFICO DE SERGIPE. Dirio do Imperador D. Pedro II
na sua visita a Sergipe em 1860. Aracaju: Regina, n 26, 1961-1965, p. 68 e 76.
211
Joaquim Barbosa para a instalao do outro colgio pblico com internato. Desde o incio do
sculo XIX a cidade de Laranjeiras se destacava como centro principal do comrcio
importador e exportador da provncia e mantinha comunicao direta com a Europa, Bahia,
Pernambuco e Rio de Janeiro atravs da navegao martima86. Acreditava-se que este fator
podia facilitar a atrao de jovens cidade em busca do ensino secundrio.
86
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 221.
87
Anteriormente havia exercido o cargo de secretrio do Liceu de So Cristvo. Correio de Sergipe. So
Cristvo, 27 out. 1847.
88
ANNCIO. Correio Sergipense. Aracaju, p. 4, 27 fev. 1856.
212
internos juntava-se a falta de materiais escolares, como globo terrestre, planetrio, mapas
geogrficos e cadeiras escolares89.
O diretor Manuel Odorico Mendes de Amorim defendia que as razes para o
infortnio do estabelecimento eram as mesmas que estavam determinando o fracasso de
instituies dedicadas ao ensino secundrio em outras provncias. Ou seja, faltava uma
regulamentao homognea e uniforme da instruo secundria no pas e, principalmente, que
fossem reconhecidos os certificados e diplomas dos estabelecimentos provinciais para o
ingresso nas Faculdades do Imprio. Segundo o diretor, mantido o monoplio dos exames
preparatrios pelas faculdades, o internato de Laranjeiras estava fadado ao insucesso. Ele
dizia: [...] no espero obter pensionrio e nem tambm nos anos anteriores os tenho obtido,
tendo seis apenas frequentando este ano as aulas do Estabelecimento90. Ainda segundo o
mencionado diretor, a mesma sorte acompanhava os colgios particulares da cidade, pois os
pais preferiam gastar com as penses dos estabelecimentos de Salvador ou de outras
provncias onde estavam sediadas as faculdades, e seus filhos podiam ter mais sucesso nos
exames preparatrios.
Diante da insignificante procura, o Colgio de Laranjeiras foi extinto91 em 2 de
novembro de 185992, mas continuaram funcionando na cidade de Laranjeiras as cadeiras de
filosofia e de geografia sob a direo do professor Tito Augusto Souto de Andrade. O inspetor
Guilherme Pereira Rabello justificava a dissoluo do internato de Laranjeiras como
89
ALBUQUERQUE JUNIOR, Pedro Autran da Matta. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1859. (Anexo).
In: BROTERO, Joo Dabney DAvellar. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 7 de maro de
1859. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1859, p.14.
90
Ibid., p.14.
91
SERGIPE. Resoluo n 575 de 13 de Julho de 1859.
92
GALVO, Manoel da Cunha. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860.
[Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe, 1860, p. 11.
93
Ibid., p. 7.
213
Mesmo tendo sido abertos estabelecimentos nas principais cidades da provncia, com
populao e fortuna capazes de demandar estudantes para os internatos, o problema da
insuficincia de matrculas nos estabelecimentos de ensino secundrio continuou. Novamente,
o esforo do governo provincial para manter um estabelecimento de ensino secundrio
esbarrou na falta de nmero suficiente de alunos que justificasse a manuteno do
estabelecimento. As famlias preferiram continuar enviando seus filhos para os colgios-
internatos sediados nas provncias sedes das faculdades.
O no reconhecimento dos estudos e exames realizados nos estabelecimentos
provinciais de ensino secundrio era apresentado como principal fator do fracasso desse ramo
94
A Assemblia Provincial no seu louvvel empenho de fixar as despesas da Provncia na conformidade da sua
receita, suprimiu diversas cadeiras quer do sexo masculino, quer do feminino, tanto do ensino primrio, como do
secundrio.Acompanhando a Assemblia neste seu nobre intuito sancionei e pus imediatamente em execuo a
mesma Lei. Ficou por esta forma extinto o Internato da Estncia [...]. GALVO, Manoel da Cunha. Relatrio
do presidente da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860. [Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe,
1860, p.5.
95
A Resoluo Provincial n 585, de 21 de abril de 1960 suprimiu cadeiras do ensino primrio e secundrio,
dissolveu os internatos de Estncia e Laranjeiras, que ficaram reduzidos as cadeiras de latim, francs e
geometria, sendo suprimidas em ambas estas cidades as cadeiras de filosofia e geografia. REBELLO, Guilherme
Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In: ALVES JUNIOR, Thomaz.
Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de maro de 1861. Aracaju:
Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 4.
96
A primeira foi a criao do Liceu de So Cristvo.
97
REBELLO, op. cit., p. 135.
214
98
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 135.
99
Conforme relatrios dos presidentes da Provncia de Sergipe dos anos de 1857, 1858 e 1959.
100
REBELLO, op. cit., p. 136.
215
pouco desenvolvimento da capital, distncia das principais cidades e falta de condies para
acomodar os estudantes, o recurso a um liceu com internato voltava a ser cogitado.
101
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 136.
102
Segundo o presidente Joaquim Jacinto de Mendona, as dificuldades financeiras da provncia impediam a
realizao do projeto.
103
MENDONA, Joaquim Jacinto de. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em
1 de maro de 1862. [Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe,1862, p. 15.
104
Ibid., p. 29.
216
105
Joaquim Jacinto de Mendona (Presidente da Provncia), Dr. Guilherme Pereira Rebello (Inspetor Geral da
Instruo Pblica), Dr. Jose Joo de Arajo Lima, Polydoro Pereira da Fonseca Gomes, Manoel Gomes Borges,
Geminiano Paes dAzevedo, Eustaquio Pinto da Costa, Joaquim Jos de Oliveira, Dr. Francisco Sabino Coelho
de Sampaio, Manoel da Silva Rego, Erico Mondim Pestana, Manoel Antunes de Salles, Jos Antonio Ramos.
MENDONA, Joaquim Jacinto de. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 1 de
maro de 1862. [Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe,1862, p. 20.
106
REGIMENTO Interno do Liceu Sergipano . Correio Sergipense. Aracaju, p. 2, 15 out. 1862.
107
O LICEU Sergipano. Saudao criao do Liceu. Correio Sergipense. Aracaju, p. 2, 9 ago. 1862.
108
Na poca algumas crticas foram dirigidas aos fundadores do Liceu, acusando-os de estarem motivados por
interesse pecunirio. REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1864. (Anexo letra
D). In: CHAVES, Alexandre Rodrigues da Silva. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 24 de
fevereiro de 1864. Aracaju: Typographia Provincial, 1864, p. 12.
217
Conheceis que esta Capital no passa de uma cidade oficial; e que mais vale
a um pai de famlia mandar estudar seu filho na Bahia ou em Pernambuco,
do que mand-lo para aqui, onde faltam todos os recursos. A extino do
109
MENDONA, Joaquim Jacintho de. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia
Provincial em 4 de maro de 1863. Aracaju: Typographia Provincial, 1863, p. 29.
110
O italiano, gramtica filosfica, filosofia, retrica, potica, geografia, lgebra, desenho, msica, princpios
gerais de qumica, fsica, botnica e agricultura, instruo religiosa. Objetivavam atrair moos que desejassem
seguir a carreira do comrcio escriturao de partidas dobradas, aritmtica comercial, direito mercantil.
REGIMENTO Interno do Liceu Sergipano . Correio Sergipense. Aracaju, p. 2, 15 out. 1862.
111
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1864. (Anexo letra D). In: CHAVES,
Alexandre Rodrigues da Silva. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 24 de fevereiro de 1864.
Aracaju: Typographia Provincial, 1864, p. 13.
112
SERGIPE. Resoluo n 713, de 20 de julho de 1864.
218
Liceu, que foi aqui montado gratuitamente, prova com exuberncia contra a
centralizao do ensino113.
113
RAMOS, Angelo Francisco. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 20 de
janeiro de 1866. [Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe, 1866, p. 11.
114
SERGIPE. Resoluo n 764, de 17 de maro de 1866.
115
A produo e exportao do algodo foram estimuladas pela procura internacional em virtude da crise da
produo norte-americana provocada pela Guerra de Secesso (1862-1866). NUNES, Maria Thetis. Sergipe
Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
116
LIMA, Jos Joo de Arajo. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas, 1868. (Anexo). In: BULCO, Antonio de
Araujo dArago. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 2 de maro de
1868. Aracaju: Typographia Jornal de Sergipe, 1868., 1868, p.4.
117
Elaborado pelo Inspetor Geral da Instruo Dr. Manuel Lus Azevedo DArajo.
118
SERGIPE. Regulamento n 24, de 24 de outubro de 1870.
119
Os pontos essenciais do Regulamento foram a criao de um conselho literrio, o ensino obrigatrio
facultativo, o ensino livre, a renovao de provas para obteno da vitaliciedade dos professores, a severidade
nos concursos para o provimento das cadeiras, os concursos s seriam realizados depois do candidato
considerado idneo em exame de habilitao, diviso da instruo elementar em duas classes: inferior e superior,
criao da escola normal, instruo secundria, entre outros. CARDOSO JUNIOR, Francisco Jos. Relatrio do
presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 3 de maro de 1871. [Aracaju]: Typographia
Jornal de Aracaju, 1871, p. 48.
120
A edificao de um prdio para o funcionamento do Ateneu contou com donativos do comendador Antonio
Jos da Silva Travassos, 3.920$000; tenente-coronel Felisberto dOliveira Freire, 2.000$000; capito Luiz da
Silva Tavares, 1.00$000; diretor da Instruo Pblica, 400$; professores, 931$000; acrobatas brasileiros,
401$000; major Antonio Pedro Machado dAraujo, 50$000; Hercules Antonio da Silva, 100$000; Manoel
Joaquim de Souza Britto, 30$000; coronel Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro, 200$000; Jos Igncio Accioli do
Prado, 200$000 e de diversos cidados da provncia. A obra foi orada em 28.000$000. No dia 13 de novembro
de 1870 foi lanada a primeira pedra do edifcio. CARDOSO JUNIOR, Francisco Jos. Relatrio do presidente
da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 3 de maro de 1871. [Aracaju]: Typographia Jornal de
Aracaju, 1871, p. 57.
219
Instalado no dia 3 de fevereiro de 1870, o Ateneu Sergipense era composto pelo curso
de humanidades e normal, atendia somente a alunos do sexo masculino123 e funcionava sem
internato. As disciplinas do curso de humanidades124 eram basicamente aquelas exigidas nos
exames para admisso nas Faculdades do Imprio; ou seja, gramtica filosfica da lngua
nacional, anlise de clssicos, gramtica e traduo da lngua latina, gramtica e traduo da
lngua francesa, gramtica e traduo de lngua inglesa, aritmtica, lgebra, geometria,
geografia, histria, filosofia racional e moral, retrica e potica125.
O Ateneu Sergipense teve uma trajetria bem diferente dos estabelecimentos do seu
tipo que o antecederam. Conseguiu, apesar das oscilaes nas matrculas nos primeiros anos
de fundao, romper o sculo XIX e adentrar o sculo XX como a principal instituio de
ensino secundrio de Sergipe. As oscilaes na matrcula deveram-se ao antigo problema do
ensino secundrio brasileiro, ou seja, o monoplio dos exames preparatrios pelas Faculdades
do Imprio, o qual impulsionava a migrao de jovens para os colgios das provncias onde
121
Liceu de So Cristvo e o Liceu gratuito da capital.
122
CARDOSO JUNIOR, Francisco Jos. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia
Provincial em 3 de maro de 1871. [Aracaju]: Typographia Jornal de Aracaju, 1871, p.56.
123
Como informa Maria Thetis Nunes, o acesso [...] da mulher sergipana ao curso de Humanidades do Ateneu e
de outros estabelecimentos particulares que foram surgindo, s aconteceria a partir da primeira dcada do sculo
XX, o que tambm ocorreria com a obteno de diploma de cursos superiores. NUNES, Maria Thetis. Sergipe
Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p.66.
124
Cadeiras do Ateneu: Antonio Diniz Barreto (Latim), Geminiano Paes dAzevedo (Francs), Dr. Thomaz
Diogo Leopoldo (Gramtica Filosfica), Tito Augusto Souto dAndrade (Aritmtica, lgebra e Geometria),
Raphael Archanjo de Moura Mattos, (Geografia e Histria), Justiniano de Mello e Silva (Ingls) e Dr. Sancho de
Barros Pimentel (Filosofia). CARDOSO JUNIOR, op. cit., p.55.
125
Ibid., p.53.
220
por isso que todos correm a estudar as aulas secundrias nas cidades,
onde so fundadas as academias; que os colgios pblicos ou particulares
no medram seno ao lado destas; que morrem os estmulos e esterilizam-
se os melhores esforos longe delas. [...] assegure-se a validade dos exames
preparatrios feitos nos liceus pblicos das provncias, e a vida e o
progresso renasceriam brilhantes nessas instituies, que se atrofiam at a
esterilidade, em que as coloca o monoplio oficial. Fora dessas condies,
sero elas sempre existncias acanhadas, enfezadas, raquticas e impotentes
para se produzirem um desenvolvimento progressivo; apenas a escola
secundria porta do pobre provinciano, cuja desfortuna no o permite ir
mais longe.128
Uma das medidas para atrair estudantes para o Ateneu Sergipense foi a alterao dos
planos de estudos, tendo como modelo o Imperial Colgio de Pedro II, visando a que esses
estudos fossem futuramente validados pelo Governo Imperial, conforme a orientao da
Direo Central da Instruo Pblica do Imprio129. Finalmente, em 1873, o Governo
Imperial, por iniciativa do ministro Joo Alfredo Correia dOliveira, concedeu a todas as
provncias a validade dos exames realizados nos estabelecimentos provinciais para o ingresso
nas faculdades e instituiu nas respectivas capitais das provncias mesas examinadoras de
preparatrios130. O ministro justificava a medida apontando a necessidade de desenvolver o
ensino secundrio nas provncias onde no existiam faculdades e facilitar aos estudantes
dessas provncias os meios de fazerem os respectivos exames. Assim, determinava o decreto
que:
126
Segundo Nunes, a clientela que buscava o ensino secundrio [...] era constituda, em sua quase totalidade,
dos filhos da burguesia latifndio-mercantilista, que nele viam um trampolim de acesso s Academias do
Imprio. Desse modo, s lhes interessava o estudo das disciplinas exigidas para nelas terem ingresso, e que iam
cursar diretamente nas cidades onde existia o curso superior escolhido. Ante tal realidade, fracassou, de incio, a
tentativa do ensino secundrio seriado. S as disciplinas que integravam os Preparatrios eram procuradas, e o
Ateneu teve que funcionar na base das aulas isoladas. NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-
1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 114.
127
Filho de Antonio de Arajo Pimenta e D. Ignez de Azevedo Arajo. Nasceu em Estncia a 24 de novembro
de 1838 e faleceu em Aracaju a 21 de outubro de 1883. Formado em direito pela Faculdade do Recife em 1860,
foi promotor pblico da comarca de Itabaiana, diretor geral da Instruo Pblica (1870-1875), deputado
provincial.
128
ARAUJO, Manuel Luiz Azevedo de. Relatrio do Diretor Geral da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe,
1871. (Anexo). In: MACEDO, Luiz Alvares de Azevedo. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe
Assemblia Provincial em 4 de maro em 1872. Aracaju: Typographia do Jornal do Aracaju, 1872, p. 39.
129
SEBRO, Cypriano dAlmeida. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em
1 de maro de 1873. [Aracaju]: Typographia Jornal de Aracaju, 1873, p.10.
130
DECRETO N 5.429 de 2 de outubro de 1873. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 1, 29 out. 1873.
221
A medida, h muito esperada, foi bastante festejada nos jornais sergipanos, que
enalteciam a figura do conselheiro Joo Alfredo Correia dOliveira e apresentavam a medida
como uma justa deciso para o equilbrio132 entre as provncias. Igualmente lembravam que a
medida possibilitaria queles que no tinham condies de manter-se em um internato na
Corte, em Salvador ou Recife, cursar o ensino secundrio e mesmo para que os meninos de
famlias com recursos pudessem estudar na terra natal sob a vigilncia e proteo dos pais,
sem a separao provocada pelo internato.
131
DECRETO N. 5.429 de 2 de outubro de 1873. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 1, 29 out. 1873.
132
No se podia deixar de sentir-se sob a presso de legtimo pesar o esprito verdadeiramente liberal que se
volvia para a quase totalidade das nossas provncias. Via-os dependentes daquelas outras onde todos os anos iam
pedir seus filhos, com avultado dispndio e com sacrifcio de afeies de famlia, e, por assim dizermos, esmola
da instruo secundria. Era esse um privilgio em favor de quatro sobre dezesseis irms ricas tambm de
elementos de vitalidade, e por isso com indispensvel jus a terem em seu seio fontes de instruo, que,
poupando-lhes tais sacrifcios, lhes proporcionassem as facilidades de uma carreira literria e cientfica menos
penosa. Quantas brilhantes vocaes, quantos grandiosos talentos se no perderam por no disporem de meios
para se transportarem e manterem em Pernambuco, Bahia, Corte e So Paulo durante 8 anos pelo menos!. O
LTIMO decreto sobre a instruo pblica. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 2, 29 out. 1873.
222
133
O LTIMO decreto sobre a instruo pblica. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 2, 29 out. 1873.
134
OLIVEIRA, Joo Alfredo Correia de. Relatrio apresentado Assemblia Geral pelo Ministro e Secretrio
dos Negcios do Imprio. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1875, p. 26.
135
NOBRE, Pelino Francisco de Carvalho. Relatrio do Diretor Geral de Instruo Pblica, 1877. (Anexo). In:
FONTES, Jos Martins. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 1 de
maro de 1878. Aracaju: Typographia Jornal de Aracaju, 1878, p. 42
136
ALMEIDA, Jos Ricardo Pires de. Instruo Pblica no Brasil (1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 149.
223
137
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p.133.
138
Filho de Joaquim Maurcio Cardoso e D. Joanna Batista de Azevedo Cardoso, nasceu na cidade de Estncia
no dia 9 de julho de 1844. Iniciou os estudos na cidade natal e terminou-o no colgio Ateneu Baiano na capital
da Bahia. Iniciou sua vida pblica antes de concluir o curso de preparatrios, como professor substituto da
cadeira de geometria da Estncia. Em 1874, foi nomeado para a cadeira de retrica e potica do Ateneu
Sergipense; lecionou filosofia e retrica no Parthenon Sergipense; gramtica portuguesa, matemtica e
geografia no colgio fundado pelo bacharel Gonalo Vieira de Melo; portugus no colgio para meninas N. S.
de Lourdes dirigido por Irms Sacramentinas e portugus, latim e histria universal no colgio Tobias
Barreto, deputado provincial na legislatura de 1878-79 e outros cargos pblicos. GUARAN, Armindo.
Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe, 1925.
139
CARDOSO, Brcio. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 3, 22 fev. 1874.
140
A INSTRUO secundria na provncia. A Liberdade, Aracaju, p. 1, 24 dez. 1873.
224
A falta de internato no Ateneu Sergipense fez com que surgissem alternativas para os
moos residentes no interior da provncia que desejam frequentar o estabelecimento.
Professores residentes em Aracaju costumavam oferecer alojamento em suas casas e direo
dos estudos a moos do interior que vinham cursar as aulas desse referido estabelecimento. O
professor Manoel Alves Machado recebia em sua casa localizada em Aracaju, na rua
Itabaiana, n. 71 onde funcionava seu curso de primeiras letras, gramtica nacional e
aritmtica meninos internos que se destinassem s suas aulas ou s do Ateneu, mediante a
gratificao mensal de 26$ ris, e mais 30$ ris pela lavagem e goma de roupa142.
Do mesmo modo, em 1881, Incio de Souza Valado, professor do Ateneu, possua
uma casa destinada exclusivamente a receber moos ou meninos do interior da provncia que
vinham cursar as aulas daquele estabelecimento. O professor garantia aos pais de famlias a
direo dos respectivos pensionistas, cobrando a quantia de 240$000 ris anuais, pagos em
trs prestaes de 80$000 reis e correndo as despesas de lavagem de roupa e goma por conta
da famlia143.
141
ARAUJO, Manuel Luiz Azevedo de. Relatrio do Diretor Geral da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe,
1871. (Anexo). In: MACEDO, Luiz Alvares de Azevedo. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe
Assemblia Provincial em 4 de maro em 1872. Aracaju: Typographia do Jornal do Aracaju, 1872, p. 37.
142
CURSO. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 4, 13 jan. 1877.
143
AOS SENHORES pais de famlias do interior da provncia. Jornal de Sergipe, Aracaju, 15 jan. 1881.
225
144
Como apresentado anteriormente, as tentativas de subvenes do poder pblico para que empresrios
mantivessem internatos na provncia no prosperaram. Tambm sequer foram tentadas as sugestes de
226
em Sergipe a criao de grandes internatos. Esse perodo foi marcado pelo surgimento dos
primeiros internatos que podem ser caracterizados como familiares. Nesse modelo, o internato
ou penso funcionava na casa do proprietrio do colgio ou em casas alugadas para o
recebimento de alunos pensionistas.
Alm da ausncia em todo o perodo de um edifcio planejado e construdo para
funcionar como internato, este era caracterizado, em geral, pelo nmero pequeno de vagas
oferecidas para alunos internos e por serem as atividades de ensino realizadas pelo
proprietrio do estabelecimento, e a manuteno do internato era realizada por sua prpria
famlia.
A orientao catlica145 era predominante nos internatos no sculo XIX em Sergipe,
mas no chegaram a ser criados colgios dirigidos por ordens religiosas ou diretamente
ligados Igreja Catlica. Somente nas primeiras dcadas do sculo XX surgiriam os
primeiros colgios-internatos fundados e dirigidos por ordens religiosas catlicas.
Nos anos de 1840, j existiam em Sergipe em diversas localidades pequenos colgios
particulares de primeiras letras e mesmo com aulas do curso secundrio146 funcionando com
internato familiar147. Na cidade de So Cristvo, capital da provncia, em 1855, Tereza de
Jesus Correia, dando como referncia sua passagem pelos colgios femininos de Salvador,
avisava s famlias que aceitava receber em sua casa meninas para serem instrudas como
internas148.
Na mesma cidade j havia sido fundado, em 1848, o Colgio So Cristvo, dirigido
pelo diretor do Liceu de So Cristvo, padre Jos Gonalves Barroso 149. O colgio chegou a
ser frequentado por mais de 50 alunos e recebeu at 23 alunos internos. O estabelecimento
presidentes da provncia e inspetores para a criao por parte do governo de internatos pblicos, alegando
deficincias oramentrias e dificuldades de direo do modelo pelo setor pblico.
145
Os protestantes presbiterianos tambm estiveram presentes, nesse perodo, em Sergipe e fundaram na cidade
de Laranjeiras, em 1886, a Escola Americana que oferecia internato feminino e masculino e o Colgio Ingls em
1887. NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bas Carvalho do. A Escola Americana: origens da educao
protestante em Sergipe (1886-1913). So Cristvo: Editora UFS, 2004. A respeito de outros internatos fundados
por protestantes consultar: NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Bas Carvalho do. Educar, curar, salvar: uma
ilha de civilizao no Brasil tropical. 2005. Tese (Doutorado em Educao) Pontifcia Universidade de So
Paulo, SP, 2005.
146
Resumia-se a disciplinas exigidas nos exames preparatrios dos cursos superiores.
147
VASCONCELOS, Zacarias de Goes. Relatrio do presidente da Provincia de Sergipe em 17 de dezembro de
1849. [So Christovo ]: Typographia Provincial de Sergipe, 1849. , p. 22.
148
ANNCIO. Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 26 out. 1842.
149
Nasceu na vila de Laranjeiras (21/03/1821) e faleceu na cidade de S. Cristvo (17/09/ 1882), filho do capito
Antonio Gonalves Barroso e D. Martinha Maria do Sacramento. Formado no seminrio arquiepiscopal da
Bahia, exerceu cargos de lente de Filosofia Racional e Moral em 1845, os cargos de secretrio e lente de
Filosofia em 1846 do Liceu de S. Cristvo, do qual fora tambm diretor em 1848, vigrio geral da provncia,
entre outros. GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado
de Sergipe, 1925.
227
oferecia o curso primrio e aulas do ensino secundrio (latim, francs, filosofia, retrica,
msica e dana).
No ano seguinte fundao do Colgio So Cristvo, provavelmente j enfrentando
dificuldades150 para manter o internato, motivadas pela falta ou demora no pagamento das
penses, o padre Jos Gonalves Barroso props ao presidente da provncia, Dr. Zacarias de
Ges e Vasconcellos, receber no internato trs meninos rfos e pobres mediante a metade da
penso, paga pelos cofres pblicos151. Este era um costumeiro recurso que proprietrios de
escolas particulares utilizavam para conseguirem do governo provincial algum tipo de
subveno152 aos seus estabelecimentos. Com o capital poltico que o diretor do Colgio So
Cristvo possua, bem possvel que tenha conseguido a ajuda esperada.
150
Conforme o anncio que o diretor fez publicar em 1848: O abaixo-assinado, diretor do Colgio S. Cristvo,
tendo de no ms de novembro, dar frias aos seus colegiais, roga a todos os srs. que se acham devendo ao
colgio, que tenham a bondade de acudir com seus pagamentos, para tambm embolsar o comrcio, com quem
acha-se comprometido. O Padre Jos Gonalves Barroso. Anncio. O Correio sergipense. So Cristvo, p. 4,
04 de nov. 1848.
151
VASCONCELOS, Zacarias de Goes. Relatrio do presidente da Provincia de Sergipe em 17 de dezembro
de 1849. [So Christovo ]: Typographia Provincial de Sergipe, 1849, p. 22.
152
Tambm em outras provncias ocorria a subveno do governo a estabelecimentos particulares para que estes
recebessem gratuitamente crianas pobres. ALMEIDA, Jos Ricardo Pires de. Instruo Pblica no Brasil
(1500-1889). So Paulo: EDUC, 2000, p. 151.
228
Jos da Silva Castro, dirigiam um pequeno colgio no qual recebiam somente meninas
internas, justificando essa opo por entender que no internato a educao era mais regular e
metdica, como tambm para evitar a grande perda de tempo em sadas e entradas das alunas.
No pequeno internato feminino das senhoras Anglica e Olmpia Vanerio de Argolo
Castro as meninas eram instrudas nas primeiras letras, gramtica, francs, bordado a ponto de
marca e todos os trabalhos de agulha e a dana. Para isso, a famlia de cada aluna deveria
desembolsar a quantia de 20$000 ris mensais. Como de costume nos internatos, nas frias
de natal, dezembro a janeiro, as pensionistas podiam continuar no internato, devendo fazer
pagamento extra. Tambm era cobrado o pagamento extraordinrio pela roupa lavada e
gomada153.
A cidade de Laranjeiras, bero de grandes proprietrios rurais ligados ao cultivo e
fabricao do acar, foi prspera em colgios particulares funcionando com internato. Em
1841 os professores Braz Diniz de Villas-Boas e Inocncia Narciza de Santa Roza fundaram
nesta cidade o Colgio Corao de Jesus, que funcionava com internato para meninos e
meninas e ministrava a instrues primria e secundria. O Colgio contava inclusive com o
apoio do presidente da provncia, Dr. Anselmo Francisco Peretti (1842-1844), que, em
pronunciamento Assembleia Provincial, solicitava a proteo dos deputados provinciais
ao estabelecimento. Nesse sentido ele disse:
153
ANNCIO. Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 14 jul. 1849.
154
PERETI, Anselmo Francisco. Fala do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 21 de
abril de 1843. [So Christovo]: Typographia Provincial, 1843, p. 14.
229
155
ANNCIO. O Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 28 abr. 1852.
156
Sobre o crescimento da instruo particular em Sergipe na segunda metade do sculo XIX consultar os
Relatrios dos Inspetores da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe Dr. Pedro Autran da Matta Albuquerque
Junior, 1859, e Dr. Guilherme Pereira Rebello, 1861.
157
BULCO, Antonio de Araujo dArago. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia
Provincial em 2 de maro de 1868.[Aracaju]: Typographia Jornal de Sergipe, 1868, p. 5.
158
Os inspetores do ensino costumavam apresentar como razes para o crescimento da instruo particular a
disciplina, a moralidade e a boa regncia das aulas, o bom aproveitamento dos alunos nos exames, melhores
condies materiais e mais esforo dos professores e proprietrios dos estabelecimentos para com o
aproveitamento dos alunos. REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de
janeiro de 1861. (Anexo) In: ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe
Assemblia Provincial em 4 de maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 38.
159
ARAUJO, Manuel Luiz Azevedo de. Relatrio do Diretor Geral da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe,
1871. (Anexo). In: MACEDO, Luiz Alvares de Azevedo. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe
Assemblia Provincial em 4 de maro em 1872. Aracaju: Typographia do Jornal do Aracaju, 1872, p. 21.
230
160
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor Geral das Aulas em 31 de janeiro de 1861. (Anexo) In:
ALVES JUNIOR, Thomaz. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 4 de
maro de 1861. Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe, 1861, p. 38.
161
De acordo com a Constituio de 1824, a instruo primria era gratuita para todos os cidados.
162
ARRIADA, Eduardo. A educao Secundria na Provncia de So Pedro do Rio Grande do Sul: a
desoficializao do ensino pblico. 2007. Tese (Doutorado em Educao) Pontifcia Universidade Catlica do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
163
DECRETO N 5.429 de 2 de outubro de 1873. Jornal do Aracaju. Aracaju, p. 1, 29 out. 1873.
164
Na prtica, muitos professores e/ou proprietrios de estabelecimentos no enviavam os relatrios de matrcula
e aproveitamento dos alunos Diretoria de Instruo Pblica. CARDOSO JUNIOR, Francisco Jos. Relatrio do
presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 3 de maro de 1871. [Aracaju]: Typographia
Jornal de Aracaju, 1871, p. 50.
231
e de moralidade165, exigncias essas que nem sempre eram cumpridas pelos proprietrios dos
colgios.
No sculo XIX, a parcela da sociedade sergipana que podia arcar com os custos da
instruo particular, sobretudo do internato, eram os grandes proprietrios rurais e grandes
comerciantes, que no desejavam enviar seus filhos para estudarem fora da Provncia. Uma
outra questo era que, da dcada de 1860 em diante, estratos mdios da populao, diante dos
problemas da instruo pblica, recorriam aos estabelecimentos particulares. A maior parte
que vivia na zona rural com dificuldades de transporte166 para as cidades onde estavam
localizados os colgios encontrava no internato um modelo adequado para garantir a instruo
de seus filhos. Desta forma, foram surgindo pequenos colgios particulares167 com internatos
nas cidades168 de So Cristvo, Aracaju, Capela, Estncia, Lagarto, Laranjeiras e Propri.
Na dcada de 1870 existiam diversos internatos estabelecidos na capital, Aracaju, e em
diferentes pontos do interior da provncia que ministravam o ensino primrio e aulas avulsas
do ensino secundrio169. O quadro a seguir apresenta uma amostra de colgios ou professores
particulares, presentes nos jornais sergipanos da segunda metade do sculo XIX, que
recebiam alunos na condio de internos ou pensionistas.
INTERNATOS MASCULINOS
N Estabelecimento Diretor Local
01 Internato de Japaratuba Padre Firmino B. Rocha Japaratuba
02 Internato Antonio de S. Camilo de Lelis Propri
03 Colgio Sergipe Laranjeirense Paulino de Andrade Faria Laranjeiras
04 Liceu Laranjeirense Professor Balthazar Ges Laranjeiras
05 Aula de Antonio de Arajo Lobo Antonio de Arajo Lobo Itabaiana
06 Colgio So Francisco Manoel Alves Machado Propri
07 Colgio N. S. do Amparo Padre Francisco Vieira de Mello Capela
08 Colgio S. Salvador Bacharel Gonalo Vieira de Mello Aracaju
09 Curso do Prof. Manoel Alves Machado Manoel Alves Machado Aracaju
10 Parthenon Sergipense Ascendino Argolo Reis Aracaju
165
NOBRE, Pelino Francisco de Carvalho. Relatrio do Diretor Geral de Instruo Pblica, 1877. (Anexo). In:
FONTES, Jos Martins. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 1 de
maro de 1878. Aracaju: Typographia Jornal de Aracaju, 1878, p. 34.
166
Problemas no desenvolvimento econmico da Provncia, transporte martimo utilizado principalmente o
comrcio, somente no sculo XX a locomotiva chegaria terra sergipana.
167
Sobre o surgimento e expanso dos colgios particulares em Sergipe na segunda metade do sculo XIX
consultar os Relatrios dos Inspetores da Instruo Pblica da Provncia de Sergipe, Dr. Guilherme Pereira
Rebello, 1861, e Dr. Jos Joo de Arajo Lima, 1868.
168
As cidades de Laranjeiras, Estncia e Capela, localizadas na regio produtora de cana-de-acar, e Propri,
localizada s margens do Rio So Francisco, destacava-se como centro comercial da regio, e Lagarto a criao
de gado. NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840-1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006. p.
220.
169
LEOPOLDO, Toms Diogo. Relatrio do Inspetor das Aulas, 1876. (Anexo). In: PINHO, Joo Ferreira
d'Araujo. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 1. de maro de 1876.
Aracaju: Typographia do Jornal do Aracaju , 1876, p. 51.
232
INTERNATOS FEMININOS
N Estabelecimento Diretor Local
01 Colgio N. S. da Conceio Josefa Maria da Trindade Aracaju
02 Colgio N. S. da Conceio Maria Rosa do Esprito Laranjeiras
03 Colgio N. S. da Purificao Josefa B. de Oliveira e Souza Capela
04 Colgio S. Salvador Julia E. Barbosa de Castro Aracaju
05 Colgio Ingls Anna Carroll e Julia de Oliveira Laranjeiras
06 Colgio Santa Maria Maria Diniz de Mello Maruim
07 Colgio Santana Laranjeiras
Quadro 19 Internatos sergipanos na segunda metade do sculo XIX
Fonte: Relatrios dos presidentes da provncia e da Instruo Pblica de Sergipe (1872, 1875 e 1876)
e jornais.
170
Crescimento da populao de Aracaju: 1856 (1.484), 1872 (9.556), 1890 (16.336). LOUREIRO, Ktia
Afonso S. A trajetria urbana de Aracaju em tempo de interferir. Aracaju: INEP, 1983.
171
Filho de Joo Francisco dos Reis e D. Rosa. Florinda do Amor Divino, nasceu a 20 de abril de 1852 em S.
Cristvo. Estudou em Salvador e completou o curso mdico em 1874 pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Nomeado 2 tenente do Corpo de Sade por decreto de 13 de fevereiro de 1875, serviu na guarnio de Sergipe
at 1885 e na de S. Paulo at reformar-se em 1899, depois de ter sido promovido a capito, 1. cirurgio, por
decreto de 5 de maro de 1890 e decorridos poucos dias a major, mdico de 3 classe, por merecimento. Foi
delegado especial dos exames de preparatrios em 1876, lente da cadeira de ingls do Ateneu Sergipense.
GUARAN, Armindo. Dicionrio bio-bibliogrfico sergipano. Rio de Janeiro: Governo do Estado de Sergipe,
1925.
172
COLGIO Parthenon Sergipense. Gazeta de Aracaju, Aracaju, 22 dez. 1883, p. 4.
173
COLGIO Parthenon Sergipense. Jornal de Sergipe, Aracaju, 19 jan. 1881, p.4.
174
Gazeta de Aracaju, Jornal de Sergipe, Echo Sergipano, O Guarany, Sergipe.
233
aulas oferecidas, entre outras. Na sequncia, mostra-se um anncio do Colgio Parthenon que
costumeiramente figurava nos jornais.
175
COLGIO Parthenon Sergipense. Gazeta de Aracaju. Aracaju, p. 2, 28, nov. 1882.
176
Na cidade do Rio de Janeiro internatos bem conceituados cobravam a penso em mdia de 600$000 ris
anuais por aluno pensionista. CARDOSO, Jos Antonio dos Santos. Almanak Administrativo, Mercantil e
234
O quadro seguinte apresenta uma amostra de alunos que fizeram o curso primrio e/ou
secundrio, ou parte desse, no Colgio Parthenon Sergipense e a posterior formao superior
que alcanaram.
Industrial da Corte e Provncia do Rio de Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o
ano de 1881. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 38 ano, 1881, p. 648.
177
COLGIO Parthenon Sergipense. O Guarany. Aracaju, p. 4, 15 fev. 1883.
235
COLGIO PARTHENON
SERGIPENSE
Examinados inscritos 654
Aprovados com distino 24
Aprovados plenamente 258
Aprovados simplesmente 319
Reprovados 53
Total de Aprovados 601
Quadro 21 Resultados nos Exames
Gerais Pblicos dos alunos do Colgio
Parthenon Sergipense (1879 a 1882)
Fonte: COLGIO Parthenon Sergipense.
O Guarany, Aracaju, 8 fev.1883, [p.4].
Alm dos resultados obtidos nos exames gerais, no perodo de 1879 a 1882, dos 51
alunos sergipanos matriculados em diferentes cursos superiores, 17 fizeram todo o curso
preparatrio no Colgio Parthenon Sergipense. Os cursos superiores nos quais os alunos do
Parthenon Sergipense obtiveram matrcula foram os de medicina, direito, farmcia e
engenharia.
Outro ponto de prestgio para o Colgio Parthenon Sergipense era o importante e
respeitvel corpo de professores que lecionava no estabelecimento, formado por professores
pblicos catedrticos do Ateneu Sergipense. Assim, lecionaram no colgio, entre outros,
Deoclcio de Araujo Goes (ensino primrio), Balthazar de Arajo Goes (ensino primrio e
francs), Severiano Cardoso (gramtica nacional, aritmtica), Dr. Thomaz Diogo Leopoldo
(latim), Joo A. Gouveia Lima (latim), Geminiano Paes de Azevedo (francs), Joo A.
Gouva Lima (italiano), Manoel Francisco de Oliveira (filosofia), Dr. Pedro dAndrada
(geometria) e Manoel F. dOliveira (retrica)178.
Como enfatizado em outra parte deste trabalho, na maior parte do sculo XIX o
internato sergipano caracterizou-se pelos pequenos colgios que ofereciam penso para alunos
dos sexos masculino e feminino, organizados com aspectos de um pequeno empreendimento
familiar. Atravs de pistas e evidncias deixadas por alguns desses estabelecimentos
possvel discorrer sobre aspectos da cultura e do cotidiano desses internatos, ainda que de
forma incompleta.
178
COLGIO Parthenon Sergipense. Sergipe. Aracaju, p. 4, 31 jan. 1882.
236
179
VILLAS-BOS, Braz Diniz de e SANTA ROZA Inocncia Narciza de. Estatuto do Colgio Sagrado Corao
de Jesus, Laranjeiras, 1 de agosto de 1841. (Anexo). In: PERETI, Anselmo Francisco. Fala do presidente da
Provncia de Sergipe Assemblia Provincial em 21 de abril de 1843. [So Christovo]: Typographia
Provincial, 1843, p. 14.
237
vigilncia sobre as maneiras decentes, e prprias de uma senhora, bem como ensinar-lhes a
cozer, bordar [...]180.
A convivncia181 entre meninos e meninas, embora condenada182 na poca, ocorria de
forma vigiada e foi uma acomodao resultante do pouco desenvolvimento da instruo na
Provncia que no dava lugar a muitas exigncias por parte das famlias e, sobretudo, da
pouca demanda, fazendo com que os proprietrios dos estabelecimentos particulares
aumentassem ao mximo as possibilidades de oferta. O internato misto tambm ocorreu em
outras partes do Brasil, porm nos grandes internatos, principalmente nos confessionais, a
regra era o atendimento no internato de apenas um sexo. Entretanto, nas ltimas dcadas do
sculo XIX, a convivncia de meninos e meninas, nas aulas, j era um tema bastante
difundido. A esse respeito, o Dr. Joo da Matta Machado defendia:
Com efeito: um fato verificado que a unio dos dois sexos nas escolas
excita uma nobre emulao, modifica as maneiras rudes e grosseiras dos
meninos, comunicando-lhes aquela delicadeza no trato, que caracteriza os
homens bem educados e previne essas disposies doentias, essas
melancolias sem objeto, esse vago das paixes, que se observa comumente
nas casas onde uma desconfiana exagerada separa completamente os dois
sexos. Ainda a experincia tem demonstrado que a unio, em vez de
favorecer ou provocar ataques moralidade, conveniente boa ordem e
disciplina, e que aumenta o respeito mutuo, fazendo germinar no corao
dos moos idias nobres e cavalheirescas.183
Nos anos de 1840, para enviar seus filhos ao internato do Colgio Corao de Jesus, as
famlias da cidade de Laranjeiras e do recncavo, sobretudo as classes ligadas produo
canavieira e ao grande comrcio, deviam providenciar o enxoval e o desembolso referente ao
pagamento da penso. O enxoval, como de costume nos internatos, deveria ser composto pela
roupa de cama e vesturio de livre escolha da famlia.
180
VILLAS-BOS, Braz Diniz de e SANTA ROZA Inocncia Narciza de Estatuto do Colgio Sagrado Corao
de Jesus, Laranjeiras, 1 de agosto de 1841. PERETI, Anselmo Francisco. Fala do presidente da Provncia de
Sergipe Assemblia Provincial em 21 de abril de 1843. [So Christovo]: Typographia Provincial, 1843, p. 14,
p. 14.
181
O Regulamento da Instruo Pblica do Municpio da Corte do Rio de Janeior determinava que nas casas de
educao de meninas no poderiam ser admitidos alunos, nem poderiam morar pessoas do sexo masculino
maiores de 10 anos, exceto o marido da diretora. BRASIL. Regulamento da Instruo Primria e Secundria do
Municpio da Corte, aprovado pelo Decreto N 1.331 A, de 17 de fevereiro de 1854. Rio de Janeiro, 1854.
182
Como ensinava o Padre Miguel do Sacramento Lopes Gama: Um dos pontos mais essenciais da educao,
mormente das meninas, a escrupulosa escolha, que deve haver nas pessoas que mais freqentam a casa e nela
tomam familiaridade. [...]. Fora da companhia de seus irmozinhos, no convm que a menina viva
conjuntamente com outro qualquer menino, ainda que seja seu primo.. EDUCAO DAS Meninas
(continuao). O Correio Sergipense. So Cristvo, p. 4, 05 mar. 1845.
183
MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica, intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua
influncia sobre a sade. Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1875, p. 76.
238
184
LAEMMERT, Eduardo. Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro para o ano bissexto de 1848, 5 ano, 1884, pp. 266, 268 e 271.
185
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003, p. 127.
239
Para os alunos que necessitavam de reforo nos estudos, este iniciava s sete horas e ia
at as oito, tempo em que o interrompiam para a ceia que era servida nessa hora e durava meia
hora, e mais meia de descanso. s nove horas retornavam aos estudos e somente eram
dispensados destes s onze horas com a sinalizao de um toque de campa186, momento em
que se recolhiam ao dormitrio, depois de uma breve orao.
Nos internatos o toque de sino, ou de outro instrumento, emitia um sinal que obrigava
o exerccio de ocupaes rotineiras e impositivas e regulava os ciclos de repetio delas na
cultura do internato: acordar187, fazer o asseio, comer, estudar, recrear-se, recolher-se ao
dormitrio e dormir. Apesar dos desvios, os pensionistas internalizavam os sinais e atendiam
sem muita hesitao, pois o tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos
do poder188.
A cada instante havia uma atividade correlata e ordenada. Os ritmos dos dispositivos
de controle do tempo indicavam uma regulao temporal que servia para acelerar a prtica da
atividade ao mesmo tempo em que educava para a rapidez do exerccio delas atravs de uma
resposta automtica, tendo em vista que:
186
Sino pequeno para sinais de aviso.
187
Locke recomendava incutir nas crianas o costume de acordar cedo: Debe llamrseles y hacer que se
levanten siempre temprano; pero teniendo buen cuidado, al despertarles, de no hacerlo bruscamente, ni com voz
furete y penetrante, ni com cualquier outro rudo violento y repetino. Esto suele sorprenderles y ls hace mucho
dao. LOCKE, John. Pensamientos sobre la educacin [1693]. Madrid: Akal, 1986, p. 58.
188
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003, p. 128. Conferir
tambm o controle do espao e do tempo em um internato nas primeiras dcadas do sculo XX: CONCEIO,
Joaquim Tavares da. O livro de registro de ocorrncias: o jornalismo do internato (1934-1946). Revista do
Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe, v. 1, p. 179-206, 2011.
189
Ibid., p. 140.
240
[...] a qualidade do tempo empregado: controle ininterrupto, presso dos fiscais, anulao de
tudo o que possa perturbar e distrair; trata-se de constituir um tempo integralmente til190.
190
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003, p. 128.
191
Localizado na cidade do Rio de Janeiro, rua dos Invlidos, n 4 (chcara da Marquesa de Valena), dirigido
pelo cnego Francisco Pereira de Souza. HARING, Carlos Guilherme. Almanak Administrativo, Mercantil e
Industrial da Corte do Rio de Janeiro para o ano de 1867. Rio de Janeiro: Typographia E. & H. Laemmert, 24
ano, 1867, p. 411.
241
192
Mudana tambm evidenciada na cultura francesa do sculo XIX: O nome das refeies difere no interior e
na capital. No interior, janta-se ao meio-dia e ceia-se ao entardecer. Em Paris, a ceia uma refeio fria que
se faz aps os bailes e os grandes saraus, uma ou duas horas da manh. A terminologia se uniformizou a partir
da capital, mas ainda hoje, no interior, h quem chame o almoo de jantar e o jantar de ceia. Os horrios das
refeies se alteraram no decorrer do sculo XIX. O pequeno almoo ou caf da manh se toma ao levantar.
Consiste numa xcara de leite, caf, ch ou chocolate, acompanhado de um pozinho ou um torrada. O segundo
almoo, chamado de almoo de garfo ou ajantarado, servido entre dez e meio-dia. Inclui entradas,
embutidos, carnes frias e sobremesas. Servem-se carnes assadas e saladas apenas se a refeio for servida um
pouco mais tarde. [...]. O jantar a refeio de horrio mais variado, avanando sempre mais ao longo do
sculo. MARTIN-FUGIER, Anne. Os ritos da vida privada burguesa. In: PERROT, Michelle. Histria da Vida
Privada. Da Revoluo Francesa Primeira Guerra. So Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 186.
193
Nos colgios, principalmente nos do Rio de Janeiro, dever-se-ia admitir o sistema, alis adotado nas
provncias, de fornecer aos pensionistas caf de manh ao levantarem-se e depois do jantar: tal uso, salvo casos
individuais, no produziria seno resultados favorveis. 193 MACHADO, Joo da Matta. Da educao fsica,
intelectual e moral da mocidade no Rio de Janeiro da sua influncia sobre a sade. Typographia de G.
Leuzinger & Filhos, 1875, p. 45.
242
denominada de ceia, em que usualmente eram servidos os alimentos leves, a exemplo de sopa
de arroz, ch e po ou somente esses dois ltimos. No ano de 1855 o Dr. Jos Bonifcio
Caldeira de Andrada Junior recomendava que fossem servidas nos internatos aos pensionistas
trs refeies em horas fixas e determinadas, sendo divididas da seguinte forma [...] o
almoo s 8 horas da manh, o jantar 1 da tarde, e 5 ou 6 horas depois a ceia, que s
constar de ch com po [...]194.
A respeito dos horrios em que eram servidas as refeies Gilberto Amado, em suas
memrias de menino em Sergipe, na passagem do sculo XIX para o sculo XX, registrou que
o jantar a esse tempo em Sergipe acontecia s duas horas da tarde. A ceia era servida noite e
consistia em ch com po, bolos, banana assada, banana frita, fatias de parida, arroz doce,
aipim, inhame. [...] Carne s uma vez por dia. Mesmo em Aracaju e na Bahia era assim. S
em Pernambuco, quando l cheguei em 1905, que vi pela primeira vez jantar como hoje, de
noite195. Outrossim, Gilberto Freyre informa que no sculo XIX o jantar ocorria em horrios
[...] que variavam entre as duas e as quatro da tarde. Consistia geralmente no caldo de
substncia, na carne assada ou cozida, no piro escaldado, no molho de malagueta. Bebida,
quase que era s gua [...]196.
Quanto disciplina nos internatos, diante do regime de horrios, tarefas regradas e,
talvez, pela prpria idade imatura e costumes trazidos de casa, os internos iam transgredindo
da forma que podiam, diante das imposies dos fiscais. Nem todos se enquadravam na
frma dos internatos, fazendo-os sofrer uma sano disciplinar. No regime disciplinar dos
internatos sergipanos os alunos estavam sujeitos, dependendo da gravidade e natureza das
infraes, a medidas disciplinares, como ficar por certo tempo de p ou de joelhos, vestir a
roupa s avessas, privao de passeio ou de alimento, priso em local especfico, lio
dobrada, entre outros.
Os castigos corporais, j repudiados197 no sculo XIX, no eram citados no
regulamento dos colgios sergipanos. A partir de 1850 a Lei Orgnica da Instruo Pblica de
Sergipe, de 6 de Junho de 1850, proibia expressamente a utilizao dos castigos fsicos nos
194
ANDRADA JR., Jos Bonifcio Caldeira de Andrada. Esboo de uma higiene dos colgios aplicvel aos
nossos. Regras principais tendentes conservao da sade e ao desenvolvimento das foras fsicas e
intelectuais, segundo as quais se devem regular os nossos colgios. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e
Constitucional de J. Villeneuve e Comp., 1855, p. 22.
195
AMADO, Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora da UFS, 1999, p.31.
196
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadncia do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
So Paulo: Global, 2003, p. 226 e 336.
197
Os castigos fsicos embora combatidos por muitos intelectuais, a exemplo dos mdicos, fizeram parte da vida
escolar brasileira durante todo o sculo XIX e em boa parte do sculo XX.
243
uma bela idia, cujo mrito, contudo no tem um carter absoluto [...]
pensamos que a proibio absoluta e expressa dos castigos corporais foi
muito prejudicial disciplina das escolas, e que muito tem concorrido para
desmoraliz-las, afrouxando os laos de respeito e submisso, que devem
prender o aluno ao mestre. [...] porque razo negar ao Professor o direito de
aplicar castigos corporais moderados; quando vir que os castigos morais
no produzem mais efeito? O que, seno os castigos corporais aplicados aos
alunos rebeldes e corrompidos, pode garantir a fora moral dos Professores,
para que possam manter em suas escolas esta disciplina no menos
necessria do que o saber e a dedicao, para que o ensino progrida?
Pensem como quiserem aqueles que nos lerem: o que certo, o que um
fato incontestvel , que depois que a frula desapareceu de sobre a mesa do
professor pblico a disciplina das escolas afrouxou-se at ao ponto da
imoralidade e da desordem, e o ensino pblico retrogradou
consideravelmente.198
198
REBELLO, Guilherme Pereira. Relatrio do Inspetor das Aulas da Provncia, 1860. (Anexo E). In: Relatrio
do presidente da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860.Aracaju: Typographia Provincial de Sergipe,
1860., p. 13.
199
Palmatria.
200
GALVO, Manoel da Cunha. Relatrio do presidente da Provncia de Sergipe em 13 de agosto de 1860.
[Aracaju]: Typographia Provincial de Sergipe, 1860, p.12.
201
Na cultura escolar francesa a palmatria, o chicote, o aoite ou a rgua eram empregados no sculo XIX.
Pouco a pouco, substituram-se esses castigos que comearam a chocar as classes mdias por proibies
(notadamente de receber a visita dos pais), privaes (de alimento at 1809, de sada, de recreao, ou mesmo de
uma parte das frias) ou punies mais simblicas (uma roupa de burel, equivalente do chapu de burro na
escola primria, uma mesa de penitncia para as refeies, um banco da preguia e o envio para o canto, com a
variante clerical de manter os braos em cruz). Entre os mais usados dos castigos, a priso e a lio
suplementar. CARON, Jean-Claude. Os Jovens na escola: Alunos de Colgios e Liceus na Frana e na Europa
(Fim do Sc. XVIII Fim do Sc. XIX). In: LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude. Histria dos jovens: A
poca Contempornea. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 163.
244
meninos. A palmatria era a sua vara de condo; com ela movia o mundo.
Pensava corrigir e iluminar com pedao de pau os que lhe chegavam s mos
para serem moldados a seu jeito.202
O Colgio Ingls, dirigido por Anna Carroll e Julia de Oliveira, auxiliadas por D.
Laura de Oliveira, permite igualmente algumas aproximaes sobre a cultura do internato
durante o sculo XIX em Sergipe. O estabelecimento era dedicado exclusivamente ao sexo
feminino na condio de interna ou externa. As meninas aprendiam primeiras letras, religio,
portugus, francs, ingls, alemo, geografia e histria universal. Alm dessas disciplinas
havia a instruo de trabalhos prprios de uma senhora, ou artes de recreio, como piano,
desenho, pintura a aquarela e a leo e sobre espelhos, bordados e flores artificiais.
No ano de 1885, o ingresso no internato do Colgio Ingls requeria para as famlias
que no residiam na cidade de Laranjeiras, como de costume nos internatos, a figura do
correspondente que se responsabilizasse pelo pagamento das penses e demais despesas da
pensionista. As diretoras tambm exigiam que cada pensionista trouxesse para o internato um
enxoval composto de vestimentas segundo o arbtrio dos pais e uma cama pequena,
colcho, travesseiros e roupa de cama, lavatrio de ferro com bacia e jarros para banho.
Os valores das penses, pagos por trimestre, eram de 135$000 ris para as internas,
30$000 ris para as externas e 60$000 ris para as externas que tambm optassem pela
instruo de piano. Comparando com os valores dos colgios da Corte Imperial, no ano de
1881 era possvel encontrar internatos femininos com valores203 que variavam de 120$000 a
150$000 ris por trimestre. Entretanto, nesses valores no estavam includas as artes de
recreio, a exemplo de lngua estrangeira, pintura, dana, piano, canto e desenho. Assim, a
aluna pensionista cuja famlia optasse por uma atividade complementar, como piano, chegaria
a pagar o valor de 150$000 a 180$000 ris por trimestre, e uma aluna externa com piano
pagava 100$000 ris por trimestre.
202
REGO, Jos Lins do. 1995. Doidinho. Rio de Janeiro: Jos Olympio, p. 56.
203
Referentes aos seguintes internatos femininos: Colgio da Baronesa de Geslin, Colgio Brasileiro e Colgio
da Imaculada Conceio. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Provncia do Rio de
Janeiro inclusive a cidade de Santos, da Provncia de S. Paulo para o ano de 1880. Rio de Janeiro:
Typographia E. & H. Laemmert, 38 ano, 1880, pp. 435, 644 e 646.
245
CAPTULO V
INTERNATOS EM SERGIPE NO SCULO XX
1
DANTAS, Jos Ibar Costa. Histria de Sergipe: Repblica (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2000.
2
Pelo menos at o ano de 1935 o ensino secundrio somente era ministrado em Aracaju, no Ateneu Pedro II
Ateneu Sergipense (pblico) e em dois colgios particulares: Tobias Barreto e N. S. Auxiliadora. SERGIPE. O
Estado de Sergipe em 1835. Recursos possibilidades, desenvolvimento, estatstica. Aracaju: Grfica Editora,
1937.
3
SERGIPE. Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Aracaju: INEP, 1983. (Srie Monografias Municipais)
246
4
As famlias, no pensamento de Bourdieu, [...] so corpos (corporate bodies) animados por uma espcie de
conatus [...] uma tendncia a perpetuar seu ser social, com todos os seus poderes e privilgios, que a base das
estratgias de reproduo, estratgias de fecundidade, estratgias matrimoniais, estratgias de herana,
estratgias econmicas e, por fim, estratgias educativas. BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria
da ao. Campinas: Papirus, 2010, p. 36.
5
As famlias que residirem fora tero um correspondente encarregado das prestaes e com quem a diretoria se
entender, havendo qualquer necessidade. O ESTATUTO do Ginsio Patrocnio So Jos. A Cruzada, Aracaju,
p. 2, 29, mai. 1949.
247
Internatos Masculinos
N Estabelecimento/Denominao Local Diretor e/ou Proprietrio
01 Colgio Brasil Estncia Hugolino Azevedo
02 Colgio do Salvador Estncia Domingos Cordova de Lima
03 Colgio Jackson de Figueiredo6 Praa O. Campos, 47, Benedito A. de Oliveira
Aracaju
04 Colgio Modelo Capela Virgilio Prado
05 Colgio Nossa Senhora das Vitrias, Stio Bela Vista, Raymundo Smith Firpo
1909 Maruim
06 Colgio Salesiano N. S. Auxiliadora Rua Boquim, Aracaju Congregao Salesiana
07 Colgio So Luiz Gonzaga Estncia Padre Alexandre Alves Casaes e
Domingos Cordova Lima
08 Colgio Serigi Praa 7 de setembro, n. Temstocles Alves Viana
36, Estncia
09 Colgio Tobias Barreto Rua Pacatuba, 288, Jos de Alencar Cardozo
Aracaju
10 Grmio Escolar Aracaju, Praa da Evangelino Faro
Matriz
Internatos Femininos
N Estabelecimento/Denominao Local Diretor e/ou Proprietrio
01 Colgio Boa Esperana Rua da Aurora, n 60, Marianna Braga
Aracaju
02 Colgio Camerino Estncia Maria Cndida de Carvalho
03 Colgio Corao de Jesus Riachuelo Eulina de Aquino Vasconcellos
04 Colgio Maria Auxiliadora Praa 7 de Setembro, Laura Gomes Leite, auxiliada pelas
Estncia professoras A. Salles, Constana
Pitangueira
05 Colgio N. S. da Gloria Maruim Ceclia Maia
06 Colgio Nossa Senhora da Aracaju, Travessa Cel. Maria da Gloria Chaves
Conceio Jos de Faro
07 Colgio Nossa Senhora das Graas Praa Tobias Barreto, Congregao das Irms Franciscanas
Propri Hospitaleiras da Imaculada Conceio
08 Colgio Nossa Senhora de Lourdes Aracaju, Congregao das Irms Sacramentinas
09 Colgio Nossa Senhora Santana Av. Baro do Rio Quintina de Oliveira Diniz (1908),
Branco, Aracaju Sylvia de Oliveira Ribeiro (1916)
10 Colgio Patrocnio de So Jos Praa Tobias Barreto, Congregao das Irms Franciscanas
Aracaju Hospitaleiras da Imaculada Conceio
11 Colgio Santa Cruz Aracaju, Rua da Maria Margarida da Santa Cruz e
6
Jackson de Figueiredo Martins, patrono do colgio, nasceu em Aracaju, em 1891. Bacharel em direito,
dedicou-se poltica e ao jornalismo. Seu nome ponto de referncia na histria do catolicismo brasileiro como
organizador do movimento catlico leigo. Entre 1921 e 1922, fundou o Centro Dom Vital e a revista A Ordem,
atravs dos quais combateu o comunismo, o liberalismo e a revoluo de modo geral. A sua proposta era reunir
leigos e religiosos que se dedicassem aos estudos da doutrina catlica. Foi atravs de sua obra que o pensamento
conservador, tradicionalista ou reacionrio foi introduzido no Brasil. Em 1921 defendeu a candidatura de Artur
Bernardes, identificando-o com os princpios da autoridade, religio e ordem, em detrimento de Nilo Peanha,
como demagogo, revolucionrio e ligado maonaria. Colaborador em vrios jornais e revistas, como a Gazeta
de Notcias e O Jornal, produziu, entre outras obras, Afirmaes (1921), A reao do bom senso (1922) e A
coluna de fogo (1925). Faleceu em 1928.
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/jackson_de_figueiredo (acessado em 23 de maio
de 2012).
248
11
ANDRADE, Ana Paula Dantas Franca de. Colgio Patrocnio So Jos: o ensino religioso catlico (1940-
1945). 2005. Monografia (Graduao Histria) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2005.
12
SANTOS, Sandra Maria dos. A trajetria educacional em Capela: a experincia das missionrias da
Imaculada Conceio (1929/1954). 2002. Monografia (Graduao Histria) Universidade Federal de Sergipe,
Propri, SE, 2002, p. 21.
13
COLGIOS catlicos e acatlicos. A Cruzada, Aracaju, p. 1, 11 mar. 1945.
14
Sobretudo de colgios que ministravam o curso secundrio, que por isso deveria ser buscado em Aracaju ou
em capitais de outros estados.
15
Situao retratada na poca por Nunes Mendona como dficit escolar, ou seja, a rede de escolas pblicas
era ponderavelmente inferior em relao populao em idade escolar. MENDONA, Nunes. A educao em
Sergipe. Aracaju. Livraria Regina, 1958, p. 69.
250
fazia com que as famlias ricas ou camadas mdias da sociedade enviassem seus filhos para os
internatos da capital ou das cidades mais desenvolvidas.
Tambm o isolamento geogrfico causado pelas longas distncias, alm das
dificuldades de transporte e comunicao entre as localidades (do interior para a capital ou
sede do municpio), dificultavam o retorno quelas residncias localizadas na zona rural. Na
poca, as estradas e o transporte eram bastante rudimentares, realizado predominantemente no
lombo de animais ou outras formas que utilizavam a trao animal, o que dificultava o retorno
dos escolares para as suas residncias distantes da escola. O escritor sergipano Gilberto
Amado recorda as dificuldades de transporte no incio do sculo XX: Aos seis anos de idade
partia, em cima do meu cavalo, para o que, naquele tempo, era longe, viagem comprida, de
Itaporanga Bahia. [...] Tinham me botado cedo na cama, pois sairamos de madrugada. Meu
pai tinha essa mania... viajar de noite16.
A inexistncia e o fato de morar longe da escola e as dificuldades de transporte,
embora principais, no foram as nicas variveis que determinaram a opo das famlias pelo
internato. Mesmo morando na capital, prximo aos colgios 17, algumas famlias sergipanas,
por no quererem ou por no estarem aptas para dirigir a instruo de seus filhos,
principalmente na fase dos estudos secundrios, enviavam-nos aos internatos18. Alm disso,
no se pode olvidar que a crena no carter disciplinador19 do internamento escolar, apontado
por Gilberto Freyre20 como uma caracterstica da sociedade patriarcal do sculo XIX,
permanecesse um pouco presente na mentalidade do sculo XX. Deste modo, meninos ou
moos com problemas de disciplina no convvio familiar eram matriculados no internato
16
AMADO, Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora da UFS, 1999, p.117.
17
Costume tambm verificado em famlias residentes em Salvador. O que ainda revolta mais o esprito veem-
se pais que habitam aqui na capital, tm outros meios e recursos pecunirios, jogar desumanamente seus filhos
como internos em colgios; pergunto eu, para que se diplomam tantas professoras distintas, anualmente? Pois,
no seria melhor que a instruo fosse ministrada sob fiscalizao dos pais em sua casa? muito pouco amor por
seus filhos! O que se d com os meninos, d-se com as meninas. BRANDO, Raul Mendes de Castilho. Breves
consideraes sobre a educao sexual. Bahia: Imprensa Nova, 1910, p.7.
18
Tanto foi assim que em estatutos de colgios estavam consignados os horrios de visita para as famlias
residentes na cidade do estabelecimento ou no interior. permitido s alunas serem visitadas aos domingos e
dias santos, das 9 s 11 horas. As famlias residentes fora da cidade, permite-se a visita em qualquer dia e hora,
depois das 8 e antes das 18 horas, porm os visitantes faro o possvel para serem breves a fim de evitar
perturbao do horrio escolar. O ESTATUTO do Ginsio Patrocnio So Jos. A Cruzada, Aracaju, p.2, 29
mai. 1949.
19
Situao constatada em pesquisas sobre colgios femininos catlicos sergipanos. Muitas meninas iam estudar
no Colgio das Freiras porque os pais tomavam esta deciso quando elas comeavam a namorar. Algumas eram
externas, mas depois passavam a internas porque se tornavam muito indisciplinadas. COSTA, Rosemeire
Marcedo. F, Civilidade e Ilustrao: as memrias de ex-alunas do Colgio Nossa Senhora de Lourdes (1903-
1973). 2003. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2003,
p. 67.
20
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala: Formao da famlia brasileira sob o regime de economia
patriarcal. So Paulo: Global, 2005.
251
21
O romance teve a sua primeira publicao em 1933, e segundo Antonio Carlos Villaa, faz parte de uma
trilogia (Menino de engenho, Doidinho e Bang) voltada para a infncia. O livro de estreia da trilogia termina
com o anncio de que [...] Carlinhos, Carlos de Melo, iria para um colgio de padres. Doidinho comea com a
admisso do menino no Instituto Nossa Senhora do Carmo, de Itabaiana, comandado pelo professor Maciel,
exatamente o mesmo colgio em que Jos Lins cursou o seu primrio. neste mundo pequeno que o menino
Carlinhos faz o seu rito de passagem [...] a criana precoce faz seu spero aprendizado em relao s durezas da
vida. VILLAA, Antonio Carlos. Doidinho In: REGO, Jos Lins do. Doidinho. Rio de Janeiro: Jos Olympio,
1995, p.11-13.
22
REGO, Jos Lins do. Doidinho. Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1995, p.144.
23
Fundaram colgios em Sergipe as seguintes congregaes catlicas: Irms Sacramentinas, Salesianos e Irms
Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceio.
252
colgios-internatos confessionais, alm das meninas e/ou moas pensionistas (pagantes), eram
recebidas a ttulo de caridade, em orfanatos ou escolas24 anexas aos colgios, alunas gratuitas.
Tambm existiam colgios que acolhiam alunas internas gratuitas que recebiam cama, comida
e instruo, embora em espaos e condies distintas das pensionistas e em alguns casos
estavam obrigadas a pequenos servios domsticos25 no estabelecimento. Os salesianos
enfrentando dificuldades na manuteno dos aprendizes da Escola Agrcola da Tebaida
abriram uma turma de alunos pensionistas para ajudar no sustento dos aprendizes gratuitos26.
A renda extra provinda das penses garantia a existncia do internato com uma
atividade lucrativa para os proprietrios de colgios. Isso de fato fica evidenciado pelo
emprego de recursos, como pessoal e espao fsico, do estabelecimento para servios
especficos do internato.
Por essas razes continuou sendo necessrio unir a escola que ministrava apenas a
instruo, outra que oferecia aos estudantes moradia, alimentao, vigilncia e direo dos
estudos. Desta forma, os diretores dos colgios, por meio de prospectos de colgios e
anncios publicados em jornais e/ou almanaques27, persistiam apresentando as famlias o
internato como soluo para conservarem, comodamente e sob vigilncia, seus filhos na
capital, ou mesmo nas cidades mais desenvolvidas do interior do estado, a fim de realizarem
seus estudos escolsticos.
Nos reclames, a tnica do discurso dos diretores, no muito diferente do que se deu no
sculo anterior, prometia zelo no tratamento, higiene, alimentao s e abundante e todos os
cuidados que um menino ou menina viesse a necessitar. Igualmente, destacavam a boa
localizao e condies fsicas do estabelecimento, especialmente os dormitrios e reas de
recreio; alm de informarem as condies necessrias para admisso no estabelecimento.
24
Entre outras, as escolas gratuitas Santo Antnio, mantida pelo Colgio N. S. das Graas, e Escola Nossa
Senhora do Bom Conselho, mantida pelo Colgio N. S. de Lourdes.
25
Como se reporta romancista Raquel de Queiroz: E alm, rodeando outros ptios, obrigando outras vidas
antpodas, l estavam as casas do Orfanato, onde meninas silenciosas, vestidas de xadrez humilde, aprendiam a
trabalhar, a coser, a tecer as rendas dos enxovais de noiva que ns vestiramos mais tarde, a bordar as camisinhas
dos filhos que ns teramos, porque elas eram as pobres do mundo e aprendiam justamente a viver e a penar
como pobres. QUEIROZ, Rachel. As trs Marias. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2005, p. 23.
26
Nas casas de formao profissional sob a orientao dos Salesianos existiam duas categorias de educandos:
aprendizes e estudantes. Aceitavam-se gratuitamente como artistas, ou aprendizes os meninos pobres e rfos em
extrema indigncia. Os estudantes eram os pensionistas (pagantes). SILVA, Antenor de Andrade. Os Salesianos
e a educao na Bahia e em Sergipe Brasil 1897 1970. Roma: LAS Libreria Ateneo Salesiano, 2000.
27
Especialmente no Almanaque Sergipano.
253
28
Os internatos localizados em Salvador eram um dos destinos principais de estudantes sergipanos. O Colgio
Antonio Viera (CAV), sediado nesta cidade, no perodo de 1917 a 1930, recebeu 156 filhos de grandes
proprietrios rurais sergipanos, sobretudo usineiros. Originrios das seguintes localidades: Aracaju, Estncia,
Escurial, Fundio de Aracaju, Laranjeiras, Riachuelo, Propri, Maruim (Usina Pedras), Saparetuba, Santa Rosa,
Rosrio, Riacho, Usina Soledade, Engenho Oitocentos, Capela. ALMEIDA, Stela Borges de. Educao, histria
e imagem: Um estudo do Colgio Antonio Vieira atravs de uma coleo de negativos em vidro dos anos 20/30.
Salvador: UFBA, 1999 (Tese de Doutoramento).
29
COLGIO Regina Coele. Correio de Aracaju, Aracaju, p.5, 30 ago. 1919.
254
30
GINSIO Ipiranga. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 12 jul. 1914.
31
INSTITUO Baiano de Ensino. Correio de Aracaju, Aracaju, 26 nov. 1919.
32
COLGIO Ablio. Correio de Aracaju, Aracaju, p.4, 12 jul. 1914.
33
COLGIO Ablio. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 2, 9 mar. 1910.
255
34
Em Sergipe o processo de decadncia dos internatos ocorreu na segunda metade do sculo XX, quando os
tradicionais colgios-internatos da capital e do interior do estado iniciaram o desmonte dos seus internatos.
35
MENDONA, Nunes. A Educao em Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958.
36
INTERNATO E ensino. Gazeta de Sergipe, Aracaju, p. 2, 17 jun. 1967.
37
Os colgios salesianos iniciaram o fechamento do internato durante a dcada de 1960. Entre os motivos estava
a revolta dos alunos com a vida fechada do internato, ocasionando atos de indisciplina. SILVA, Antenor de
Andrade. Os Salesianos e a educao na Bahia e em Sergipe Brasil 1897 1970. Roma: LAS Libreria
Ateneo Salesiano, 2000.
256
criticado por apresentar a inconvenincia de uma arquitetura fora dos padres higinico-
pedaggicos modernos38.
Apesar de crticas, o edifcio-internato vindo do sculo XIX continuou sendo utilizado
no sculo XX, a exemplo do colgio-internato em que estudou, no Cear, a romancista Raquel
de Queiroz: O colgio era grande como uma cidadela, todo fechado em muros altos. Por
dentro, ptios quadrados, varandas brancas entre pitangueiras, numa quietude mourisca de
claustro39.
Em Sergipe, as casas que abrigavam os pequenos internatos, em regra, possuam um
salo de aulas de pequenas propores e de um ou dois quartos onde funcionavam dormitrios
para os poucos alunos pensionistas que garantiam uma renda extra ao proprietrio. Esse era o
aspecto do internato para meninas do Colgio N. S. da Conceio, estabelecido na residncia
da diretora Maria da Gloria Chaves, localizada em Aracaju, na travessa Cel. Jos de Faro. Na
visita de inspeo que realizou em 1927, o inspetor de ensino afirma ter verificado asseio nas
dependncias da casa destinadas s funes do colgio e que, apesar das pequenas propores
do espao, as alunas arguidas apresentaram bom aproveitamento40.
A propsito do tipo de internato familiar, o escritor sergipano Gilberto Amado,
interno em um colgio de Aracaju na passagem do sculo XIX para o sculo XX, registrou
sua impresso sobre esse tipo de estabelecimento:
38
CONCEIO, Joaquim Tavares da. A pedagogia de internar: uma abordagem das prticas culturais do
internato da Escola Agrotcnica Federal de So CristvoSE (1934-1967). So Cristvo: UFS, 2007.
(Dissertao de Mestrado)
39
QUEIROZ, Rachel de. As trs Marias. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2005, p.25.
40
Anotou tambm o inspetor que o mobilirio era comum, o material didtico era composto por quadro-negro,
mapas, carta de Parker e livros recomendados pelo Conselho de Ensino. SERGIPE. Termo de Visita. Colgio N.
S. da Conceio, 8 de abril de 1927.
41
AMADO, Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora da UFS, 1999, p. 162.
42
GRMIO Escolar. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 21 jan. 1910.
257
43
Evangelino de Faro, desembargador, promotor pblico, juiz de direito, escritor, educador, deputado estadual
em Sergipe, no binio de 1894 a 1895, e dramaturgo. Filho de Alexandre Jos de Faro e Josefa Isabel da Silveira
Faro. Nasceu no engenho So Flix, municpio de Laranjeiras (SE), em 24 de junho de 1865. Estudou
preparatrios em Aracaju, matriculando-se em maro de 1883 na Faculdade de Direito do Recife, onde se
formou em 16 de novembro de 1886. Fundou em 3 de fevereiro de 1906 o colgio Grmio Escolar, no engenho
Ribeira de Baixo, termo de Laranjeiras, transferindo-o depois para Aracaju em fevereiro de 1909.
44
O Grmio Escolar, antes de ser transferido para Aracaju, funcionava na Fazenda Ribeira, Laranjeiras.
GRMIO Escolar. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 5 mai. 1907.
45
Nesse mesmo sobrado, com o fechamento do Grmio Escolar, passou a funcionar o Colgio Jackson de
Figueiredo. JACKSON DE Figueiredo. Sob a direo do prof. Benedito Alves de Oliveira. Correio de Aracaju,
Aracaju, p. 4, 10 jan. 1938.
46
Atual Parque Tefilo Dantas.
47
Trecho entre as praas Fausto Cardoso e General Valado, atual Avenida Rio Branco. BARRETO, Luiz
Antnio. Pequeno Dicionrio prtico de nomes e denominaes de Aracaju. Aracaju:ITBEC/BANESE, 2002.
48
COLGIO Boa Esperana. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 28 jan. 1908.
49
COLGIO Santana. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 30 jan. 1916.
50
Internato para ambos os sexos, estabelecimento de orientao protestante dirigido por W. E. Finley.
51
Mesmo em uma casa adaptada, o estabelecimento recebeu no primeiro ano uma matrcula de 64 alunos, sendo
17 internos. No ano seguinte os internos eram 38 e os externos 86. SILVA, Antenor de Andrade. Os Salesianos e
a educao na Bahia e em Sergipe Brasil 1897 1970. Roma: LAS Libreria Ateneo Salesiano, 2000.
52
COLGIO Serigi. O Nordeste, Aracaju, p. 3, 29 jan. 1942.
53
COLGIO Tobias Barreto. A Razo, Estncia, 18 set. 1910.
258
54
Sobre a construo de prdios para escolas pblicas sergipanas da poca consultar SANTOS, Magno
Francisco de Jesus. Ecos da modernidade. A arquitetura dos grupos escolares sergipanos (1911-1926). 2009.
Dissertao (Mestrado Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2009.
55
Depois de funcionar em uma casa na rua de So Cristvo, foi transferido em 1925 para prdio prprio
localizado na Rua Joo Pessoa. COLGIO de N. Sra. de Lourdes. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 17 jan.
1907.
56
Em Aracaju, o Colgio Salesiano funcionou em uma casa na rua da Aurora, depois foi transferido para uma
casa de dois pavimentos situada na rua Pacatuba, e finalmente se mudou para um bairro afastado do centro da
cidade, na rua de Dom Bosco (stio Tebaidinha), onde j funcionava o Oratrio. SILVA, Antenor de Andrade.
Os Salesianos e a educao na Bahia e em Sergipe Brasil 1897 1970. Roma: LAS Libreria Ateneo
Salesiano, 2000. / COLGIO Salesiano N. Sra. Auxiliarora. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 3, 30 jan. 1916.
57
Instalado em um prdio alugado at a inaugurao de um prdio moderno na praa Tobias Barreto.
ANDRADE, Ana Paula Dantas Franca de. Colgio Patrocnio So Jos: o ensino religioso catlico (1940-1945).
2005. Monografia (Graduao Histria) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2005.
58
Foi instalado inicialmente em um casaro antigo e depois em prdio com instalaes especficas para
internato. MELO, Valria Alves. As filhas da Imaculada Conceio: um estudo sobre educao catlica (1915-
1970). 2007. Dissertao (Mestrado Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2007.
259
59
Acomodado em um sobrado no Parque Tefilo Dantas, centro de Aracaju, com adaptaes para funcionar
como colgio-internato, onde antes havia funcionado o Grmio Escolar. COLGIO Jackson de Figueiredo.
Sergipe Jornal, Aracaju, 5 de janeiro de 1938.
260
O Colgio Nossa Senhora de Lourdes60 foi fundado em Aracaju no ano de 190361, pela
Congregao das Religiosas do Santssimo Sacramento62, e tinha como objetivo a instruo
feminina63, em regime de internato, semi-internato e externato. Inicialmente, o
estabelecimento ministrava apenas o curso primrio. Ao longo das dcadas de 1930 e 1940
obteve autorizao para oferecer o curso de formao para o magistrio e o curso ginasial,
ampliando a clientela atendida pelo estabelecimento. A formao das meninas e moas
entregues aos cuidados das Irms Sacramentinas era, como de costume nos colgios
femininos, complementada pela instruo das prendas domsticas (costura, bordados),
bandolim, piano, desenho. Estes contedos objetivavam a preparao da mulher para assumir
seu papel social de esposa e me, conforme a cultura da poca64.
O Colgio N. Sra. de Lourdes funcionou em casa residencial com adaptaes at 1925,
ano em que foi inaugurado o edifcio-internato da instituio. O prdio desse colgio foi o
primeiro edifcio originalmente projetado65 e construdo para servir s funes de colgio-
internato feminino. O prdio, que passou por modificaes e ampliaes ao longo do tempo66,
quando totalmente finalizado, contava com trs pavilhes e uma capela anexa, e tinha
capacidade para mais de 600 alunas na condio de externas, internas e semi-internas em dois
turnos de funcionamento. O edifcio possua as principais divises indicadas para o
funcionamento de um internato67, como dormitrios, refeitrio, cozinha, despensa, rouparia e
instalaes sanitrias, permitindo o recebimento de mais ou menos 80 alunas na condio de
pensionistas.
60
Sobre os aspectos gerais da instituio consultar COSTA, Rosemeire Marcedo. F, Civilidade e Ilustrao: as
memrias de ex-alunas do Colgio Nossa Senhora de Lourdes (1903-1973). 2003. Dissertao (Mestrado em
Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2003.
61
COLGIO N. S. de Lourdes. Estatutos do Colgio N. S. de Lourdes, 12 de setembro de 1941. Aracaju, 1941.
DIES Arquivo de Escolas Extintas.
62
Congregao francesa fundada em 1715 pelo padre Pierre Vigne. As freiras sacramentinas chegaram ao Brasil
em 1902, na Bahia e deste estado se espalharam por outras partes do Brasil.
63
A clientela do colgio era formada por meninas e moas das classes ricas da sociedade sergipana. COSTA,
Rosemeire Marcedo. F, Civilidade e Ilustrao: as memrias de ex-alunas do Colgio Nossa Senhora de
Lourdes (1903-1973). 2003. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So
Cristvo, SE, 2003.
64
Sobre a educao feminina em Sergipe no incio do sculo XX, consultar FREITAS, Anamaria Gonalves
Bueno de Freitas. Educao, trabalho e ao poltica: sergipanas no incio do sculo XX. 2003. Tese
(Doutorado em Educao) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2003.
65
Projeto elaborado pelo arquiteto Jos Rolemberg Leite. LEITE, Jos Rolemberg. Planta baixa do Colgio
Nossa Senhora de Lourdes. Pavimento trreo. Aracaju, [192-?]. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
66
Inspetoria Federal do Ginsio N. Sra. de Lourdes. Relatrio de Verificao Prvia. Aracaju, 1953. DIES
Arquivo de Escolas Extintas.
67
ALENCAR Neto, Meton. Edifcios escolares para internatos. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Rio
de Janeiro, v. 6, n. 18, p. 393-405, dez. 1945.
261
O edifcio estava limitado lateralmente pelas ruas So Vicente e Santa Rosa a ao fundo
a rua Itabaianinha70. E segundo relatrios de inspees realizadas na dcada de 1930, essa
posio espacial do edifcio era saudvel, isento de poeira, no havendo depsito de lixo nem
emanaes ftidas ou guas estagnadas nas suas proximidades. A ausncia de rudos, embora
o prdio estivesse localizado em uma rea de comrcio71, era garantida pelo fato de ter sido
68
No que diz respeito orientao, deve-se de preferncia procurar a face leste e norte, cujos ventos no so
incmodos nem nocivos, evitando-se quanto possvel a exposio do edifcio face sul, por serem os ventos
desse quadrante excessivamente frios e midos, contrariamente ao noroeste, clido, irritante e poeirento. A
melhor orientao portanto ser aquela em que o eixo do edifcio seja dirigido de leste a oeste, aproveitando-se a
face norte e deixando a face sul para dependncias secundrias. MELLO, B. Vieira. Requisitos para um bom
internato. So Paulo: Weiszflog Irmos, 1912, p. 3.
69
SOUTO, Valois. A tuberculose entre os escolares. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Rio de Janeiro,
v. 7, n. 20, p. 241-248, fev. 1946.
70
LEITE, Jos Rolemberg. Planta baixa do Colgio Nossa Senhora de Lourdes. Pavimento trreo. Aracaju,
[192-?]. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
71
Na dcada de 1920 iniciou-se a construo de casas comerciais nas imediaes do colgio. Sobretudo com a
inaugurao do Mercado de Aracaju, tambm conhecido como Mercado Modelo ou Mercado Velho, construdo
no Governo Graccho Cardoso (1922-1926), contando com a participao financeira do empresrio Antonio
Franco. BARRETO, Luiz Antnio. Pequeno Dicionrio prtico de nomes e denominaes de Aracaju. Aracaju:
ITBEC/BANESE, 2002.
262
construdo completamente isolado dos prdios fronteirios. Alm disso, ao longo das dcadas
seguintes, foram providenciados outros acessos para os alunos pelas ruas laterais.
Em linhas gerais, o edifcio72 seguia o plano arquitetnico em U, com a sua fachada
separada da rua por um espao de jardim e um muro em toda sua extenso. Contava com dois
pavimentos, uma capela anexa e um grande ptio interno que facilitava a penetrao da
luminosidade e da ventilao. Na entrada do prdio ficavam localizadas a sala de espera e a
sala de visitas, ambientes que separavam pessoas estranhas do contato com as dependncias
internas do colgio. Este modelo seguia traos tpicos de colgios confessionais catlicos que
procuravam resguardar o interior do estabelecimento e estabelecia a separao entre os
espaos de uso administrativo, pedaggico e do internato.
No pavimento trreo, os espaos especficos do internato eram o refeitrio, a copa, a
cozinha, a dispensa e a lavanderia73, localizados nos pavilhes I e II. Em todos esses
ambientes adotou-se a recomendao higinica da colocao de piso de ladrilho e
revestimento das paredes com azulejo, para facilitar o asseio dirio, e a disposio de janelas
para iluminao e renovao do ar74.
O refeitrio estava instalado em sala ampla, com a colocao de grandes mesas com
capacidade para mais ou menos 10 internas. A cozinha era provida de fogo lenha, com
duas pias, com instalao de gua quente e fria, armrios e depsitos de detritos. A despensa
era um compartimento com armrios onde os gneros alimentcios eram conservados e
guardados em latas.
No esquema do pavimento trreo, apresentado em sequncia, podem ser observadas a
situao posicional do prdio, as divises internas e a funcionalidade do projeto: sacristia (1),
capela (2), sala das vocaes sacerdotais (3), quarto (4), sala de visitas (5), sala de espera (6),
hall (7), escada (8), sala da inspetoria (9), corredor (10), sala de comunidade (11), gabinete
fsico biomtrico, sala de aula (12), sala de aula (13), refeitrio das alunas (14), refeitrio das
irms (15), cozinha (16), dispensa (17), gabinete de histria natural (18), gabinete de fsica e
qumica (19), varanda (20), sala de geografia (21), recreio (22), instalaes sanitrias (23) e
lavanderia (24).
72
O prdio original sofreu acrscimos com a construo de novos pavilhes nos anos de 1935 e 1940.
73
LEITE, Jos Rolemberg. Planta baixa do Colgio Nossa Senhora de Lourdes. Pavimento trreo. Aracaju,
[192-?]. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
74
RIBEIRO, Eurico Branco. A higiene nos internatos: Estudo das condies sanitrias dos internatos de So
Paulo. In: COSTA, Maria Jos Franco Ferreira da; SHENA; Denlson Roberto; SCHMIT; Maria Auxiliadora.
(Org.). I Conferencia Nacional de Educao. Braslia: SEDEIA/ INEP/ IPARDES, 1997.
263
75
LEITE, Jos Rolemberg. Planta baixa do Colgio Nossa Senhora de Lourdes. Pavimento superior. Aracaju,
[192-?]. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
264
76
A propsito dos tipos de dormitrios de internatos de colgios consultar CONCEIO, Joaquim Tavares da.
A pedagogia de internar: uma abordagem das prticas culturais do internato da Escola Agrotcnica Federal de
So CristvoSE (1934-1967). 2007. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe,
So Cristvo, SE, 2007.
77
Em certos colgios femininos catlicos, nos dormitrios coletivos ou grandes sales as camas das internas
eram isoladas uma das outras atravs de cortinas e/ou divisrias internas de madeira de meia altura. PASSOS,
Elizete Silva. A educao das virgens. Um estudo do cotidiano do Colgio Nossa Senhora das Mercs. Rio de
Janeiro: Editora Universitria Santa rsula, 1995.
78
SERGIPE. Decreto n 77, de 24 de maio de 1937. D regulamento ao Departamento de Sade Pblica do
Estado de Sergipe, 1937.
265
pelos dormitrios do Colgio N. Sra. de Lourdes, visto que os mesmos eram guarnecidos de
grande quantidade de janeles e um p direito com altura de mais ou menos 4,47m, o que
permitia uma boa cubagem79.
No pavimento superior tambm existiam trs salas que serviam como rouparia80,
lavatrios, sanitrios, banheiros com divises internas para os vasos sanitrios e os chuveiros.
Em todos esses espaos tambm se observou o cuidado higinico na colocao de ladrilhados
no piso e revestimento das paredes com azulejos at a altura de 1,60m.
Os espaos de uso das alunas pensionistas no se confundiam com os utilizados pelas
irms. Na arquitetura do prdio existiam quartos e refeitrio para o uso exclusivo das
religiosas. Mas teve-se o cuidado de alocar os aposentos das irms prximo ao das internas
possibilitando a vigilncia e os cuidados com estas81.
Esse modelo de prdio escolar inaugurado em Sergipe pelas Irms do Santssimo
Sacramento, com a fundao do Colgio N. Sra. de Lourdes, representou a concretizao do
ideal higinico pedaggico82 de um edifcio especialmente projetado e construdo para o
funcionamento de colgio-internato.
79
Volume do dormitrio por aluno, m3.
80
Em todos os internatos o sistema adotado era despir-se fora do dormitrio, em espao onde estavam guardadas
as roupas. Nos dormitrios a regra era a colocao apenas das camas.
81
A vigilncia tambm era garantida pelo pernoite de uma irm nos dormitrios das pensionistas. COSTA,
Rosemeire Marcedo. F, Civilidade e Ilustrao: as memrias de ex-alunas do Colgio Nossa Senhora de
Lourdes (1903-1973). 2003. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So
Cristvo, SE, 2003.
82
RIBEIRO, Eurico Branco. A higiene nos internatos: Estudo das condies sanitrias dos internatos de So
Paulo. In: COSTA, Maria Jos Franco Ferreira da; SHENA; Denlson Roberto; SCHMIT; Maria Auxiliadora.
(Org.). I Conferencia Nacional de Educao. Braslia: SEDEIA/ INEP/ IPARDES, 1997, p. 478-519.
83
Patrono do estabelecimento, Tobias Barreto de Meneses nasceu na vila sergipana de Campos, a 7 de junho de
1839, e faleceu em Recife, em 27 de junho de 1889, sendo filho de Pedro Barreto de Meneses, escrivo de rfos
266
da localidade. Foi filsofo, poeta, crtico e jurista brasileiro, integrante da Escola do Recife, e o patrono da
Cadeira n 38 da Academia Brasileira de Letras. Perfil do site oficial da ABL :
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=339 (acessado em 5 de junho de 2012)
84
Funcionou como estabelecimento particular at o ano de 1969, quando foi adquirido pelo governo estadual,
passando a fazer parte da rede de escolas pblicas do estado.
85
Outros diretores do Colgio Tobias Barreto: Brcio Cardoso, Alcibiades Correia Paes, Capito do Exrcito
Carlos Cardoso, Tenente do Exrcito Manuel Xavier de Oliveira. FREIRE, M. Franco. Relatrio relativo s
verificaes necessrias concesso de inspeo preliminar ao Colgio Tobias Barreto, 22 de janeiro de 1933.
Aracaju, 1933. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
86
ESTATUTOS do Colgio Tobias Barreto. A Razo, Estncia, p.3, 29 de jan. 1911. / Jos de Alencar Cardoso
nasceu na cidade de Estncia em 18 de abril de 1878, filho do professor Severino Cardoso, e de Maria Antonia
Cardoso. Aps a concluso dos preparatrios no Colgio Ateneu Sergipense, ingressou na Escola Militar da
Praia Vermelha (RJ). Retornando a Sergipe, fundou o Colgio Tobias Barreto e exerceu diversos cargos
pblicos. MANGUEIRA, Francisco Igor de Oliveira. Colgio Tobias Barreto: escola ou quartel? (1909-1946).
2003. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2003.
87
Inicialmente mantido pelo seu fundador, passou em 1942 para a Cooperativa de Assistncia Financeira ao
Ensino e Cultura da Mocidade de Sergipe, e depois foi transformado em Sociedade Annima Ginsio Tobias
Barreto S. A. Diretoria da Diviso de Ensino Secundrio. SANTANA, Jos Cabral. Relatrio para reviso da
ficha de classificao do Ginsio Tobias Barreto, 21 de julho de 1943. Aracaju, 1943. DIES Arquivo de
Escolas Extintas.
88
A classificao escolar [...] institui uma diferena social de estatuto, uma relao de ordem definitiva: os
eleitos so marcados, por toda a vida, por sua pertinncia (antigo aluno de ...); eles so membros de uma ordem,
no sentido medieval do termo, e de uma ordem nobilirquica, conjunto nitidamente delimitado (pertence-se ou
no a ela) de pessoas separadas dos comuns mortais por uma diferena de essncia e, assim, legitimados para
dominar. BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 2010, p.38.
89
O patrimnio moral do estabelecimento grande, dele tendo sado um forte contingente de moos que se
destinaram s escolas superiores do pas e hoje servem sociedade nas vrias profisses que alcanaram, na
medicina, na engenharia, no magistrio, na advocacia, nas fileiras das classes armadas e conservadoras.
FREIRE, M. Franco. Relatrio relativo s verificaes necessrias concesso de inspeo preliminar ao
Colgio Tobias Barreto, 22 de janeiro de 1933. Aracaju, 1933. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
90
Colgio secundrio pblico mantido pelo governo estadual. Deste estabelecimento tambm lecionavam no
Colgio T. Barreto, no ano de 1938, os seguintes professores catedrticos: Arthur Fortes, Manuel Jos dos
Santos Mello, Manoel Candido dos Santos Pereira, Luiz Figueiredo Martins, Abdias Bezerra, Joaquim Vieira
Sobral, Maria Valdete de Mello, Jos Andrade Carvalho, Oscar Nascimento. INSPETORIA Federal. Relatrio
de inspeo preliminar do Colgio Tobias Barreto. Aracaju, 1938. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
91
GUIMARES, Ophelia. Relatrio da inspeo permanente do Colgio Tobias Barreto, 3 de Janeiro de 1936.
Rio de Janeiro. Aracaju, 1936. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
267
92
FREIRE, M. Franco. Relatrio relativo s verificaes necessrias concesso de inspeo preliminar ao
Colgio Tobias Barreto, 22 de janeiro de 1933. Aracaju, 1933. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
93
COLGIO Tobias Barreto. Estatutos do Colgio Tobias Barreto. Aracaju: Seco de Artes Grficas da Escola
A. Artfices de Sergipe, 1936. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
94
HORTA, Jos Silveiro Baa. O Hino, O Sermo e a Ordem do Dia. Regime autoritrio e a educao no Brasil
(1930-1945). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.
268
Com a transferncia para Aracaju, o colgio ocupou casas e/ou sobrados residenciais
alugados, de construo antiga, localizados em diferentes pontos no centro da cidade. A partir
da dcada de 1930, o estabelecimento ficou definitivamente instalado em casas nas ruas de
Pacatuba (prdios I e II) e Estncia. Essas casas foram construdas, originalmente, para
residncia familiar, e mesmo as modificaes visando adaptao dos prdios para a
finalidade escolar no lhes modificaram substancialmente o destino original de residncia96.
A localizao das duas principais casas ocupadas pelo colgio na rua de Pacatuba
(prdios I e II) era considerada salubre, pois os prdios estavam orientados frente ao nascente,
considerando como satisfatrias as condies de insolao e distribuio da luz solar. Alm
disso, as ruas eram pavimentadas com pedras, de pouco trfego, sem rudos, de fcil acesso,
podendo se chegar de qualquer ponto da cidade com facilidade, de bonde ou a p. O entorno
dessas casas ocupadas pelo colgio era formado por residncias de famlias ricas97.
95
Passando em frente do Palcio do Governo Olmpio Campos.
96
SANTANA, Jos Cabral. Relatrio para reviso da ficha de classificao do Ginsio Tobias Barreto, 21 de
julho de 1943. Aracaju, 1943. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
97
FREIRE, M. Franco. Relatrio relativo s verificaes necessrias concesso de inspeo preliminar ao
Colgio Tobias Barreto, 22 de janeiro de 1933. Aracaju, 1933. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
269
Uma das casas ocupadas pelo colgio (prdio I), na rua Pacatuba, tinha dois
pavimentos no primeiro corpo, medindo 272,80m2, ambos soalhados e forrados,
completamente isolados e contornados por varandas cobertas, e o segundo corpo tinha um s
pavimento com a dimenso de 118,08m2.
Na sequncia, o esquema do prdio I com as divises internas do andar trreo e
superior: dormitrio dos maiores (1), dormitrio dos mdios (2), dormitrio dos menores (3),
escada (4), instalaes sanitrias (5), sala de aula (6), portaria (7), varanda (8) e tanque de
gua (9). Ao lado esquerdo desse prdio existiam pequenas construes que funcionavam
como instalaes sanitrias femininas (9) e rouparia (10), tanque de gua (11), varanda (12).
Nesse esquema tambm esto representados duas construes, anexas no lado esquerdo do
prdio I, que eram as instalaes sanitrias para as alunas, recebidas no estabelecimento
somente na condio de externas, e uma das rouparias de uso de alunos internos.
270
A outra casa (prdio II) tinha um s pavimento, em dois corpos, medindo o primeiro
corpo 237,12m2, e o segundo, 123,60m298. Nela estavam instaladas as seguintes
dependncias99: gabinete de fsica, qumica e histria natural (1), sala de aula (2), sala de
cincias fsicas e naturais (3), sala dos professores e administrao (4), biblioteca (5),
refeitrio (6), copa (7), cozinha (8), dispensa (9) e instalaes sanitrias (10).
98
SAMPAIO, Arnaldo de Almeida. Inspetoria Federal do Ginsio Tobias Barreto. Elucidativo para ficha de
classificao, 21 de outubro de 1946. Aracaju, 1946. DIES Arquivo de Escolas Extintas
99
Ibid.
271
estavam instaladas seis salas de aulas, e metade de outro chal conjugado (prdio 4), vizinho a
este, utilizado para dormitrio dos alunos menores.
Figura 39 Prdio III Colgio Tobias Barreto e Prdio IV Colgio Tobias Barreto
Fonte: Fonte: SANTANA, Jos Cabral. Relatrio para reviso da ficha de classificao do
Ginsio Tobias Barreto, 21 de julho de 1943. Aracaju, 1943. DIES Arquivo de Escolas
Extintas.
Na Rua de Estncia, n 223 (prdio V) e n 227 (prdio VI), transversal rua Pacatuba,
o colgio tambm ocupou outras casas residenciais como dependncias ou anexos. Em
sequencia, a imagem apresenta uma dessas casas na Rua de Estncia.
100
Faziam parte da Ficha de Classificao Suplementar dos Estabelecimentos de Ensino Secundrio os
seguintes itens referentes s condies das instalaes e espaos do internato: Refeitrio: rea, iluminao e
ventilao, mobilirio e outro material, lavatrios. Copa: pavimentao, revestimento das paredes, instalao
para lavagens de loua, mesas e outros materiais. Cozinha: pavimentao, revestimento das paredes, iluminao
e ventilao, localizao, instalaes, armrios e material de cozinha. Dispensa: pavimentao e revestimento
das paredes, iluminao e ventilao, armrios. Dormitrios: rea, iluminao e ventilao, localizao e
mobilirio. Instalaes higinicas: lavatrios, chuveiros, water closets, bids. Enfermaria: pavimentao,
revestimento das paredes, condies de isolamento e material e instalaes. Instalaes diversas: rouparia,
lavanderia, farmcia e gabinete dentrio.
101
GUIMARES, Ophelia. Relatrio da inspeo permanente do Colgio Tobias Barreto, 3 de Janeiro de 1936.
Rio de Janeiro, 1936. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
102
PRATA, Hernane Mesquita. Relatrio da Inspetoria Federal do Ginsio Tobias Barreto,14 de janeiro de
1953. Aracaju, 1953. DIES Arquivo de Escolas Extintas.
103
SERGIPE. Decreto n 77, de 24 de maio de 1937. D regulamento ao Departamento de Sade Pblica do
Estado de Sergipe. 1937.
274
O segundo dormitrio foi instalado em uma casa localizada na rua de Estncia, 227, e
tinha uma rea total de 156,80m2, correspondente a trs pavimentos-dormitrios (prdio IV).
No pavimento trreo ficavam as instalaes sanitrias e um dormitrio com 34,86m2
(8,30x4,20), com nove camas patentes, colches e travesseiros de capim, cabides de parede e
pequenas prateleiras de madeira para depositar objetos de asseio corporal. No primeiro andar
estava instalado outro dormitrio com 54m2 (12,4x4,50), com a colocao de 15 camas
patentes. O terceiro pavimento (sto) tinha uma rea total de 16,80m2 (4,20x4) com a
colocao de quatro camas patentes. No poro dessa casa ficava instalada a rouparia105. Todos
os pavimentos possuam piso assoalhado de madeira e teto forrado, exceto o sto, que era de
telha v. As camas patentes eram guarnecidas com colches e travesseiros de capim.
104
INSPETORIA Federal. Relatrio de inspeo preliminar do Colgio Tobias Barreto. Aracaju, 1938. DIES
Arquivo de Escolas Extintas.
105
Ibid.
275
para gua potvel. O quarto dormitrio ocupava duas reas de uma casa na rua de Estncia,
217, com 83,34m2 (13,10x6,40) e 14 camas. O segundo e o quarto dormitrios comunicavam-
se com o pavilho central do colgio, prdio I, pela confluncia interna das reas
descobertas106.
Nos dormitrios do Colgio Tobias Barreto ficava evidente um tipo de exposio
contaminadora caracterizada pelo compartilhamento de um espao pequeno com um grande
nmero de pessoas, o qual ocasionava a violao do territrio do eu, ou seja, a fronteira
que o indivduo estabelece entre seu ser e o ambiente invadida, e as encarnaes do eu so
profanadas107. A exposio contaminadora ocorria pela exposio do corpo e pela relao
social imposta com um grande nmero de pessoas.
Provavelmente, o excessivo aproveitamento do espao tornava o ambiente insalubre e
ensejava a promiscuidade entre os internos, apesar da contnua vigilncia. No entanto, por
questes de economicidade e funcionalidade, as improvisaes e/ou superlotao foram
dominantes tanto nos tradicionais colgios-internatos como nos internatos para crianas
desvalidas108.
Acompanhando as mudanas na disposio dos dormitrios, o refeitrio tambm foi
transferido para outra posio no prdio II. Assim, deixou de funcionar em um salo no corpo
principal desse prdio, sendo definitivamente improvisado na ala lateral (alpendre) no fundo
desse mesmo prdio, com uma rea de 81,12m2 (20,28x4m). O novo refeitrio s tinha duas
paredes: uma no sentido do comprimento e outra no da largura. Nos lados que no dispunham
de parede, toldos de lonas serviam como proteo.
Observam-se no esquema em seguida as adaptaes no prdio II, principalmente com
a improvisao do refeitrio na varanda do respectivo prdio. Os nmeros representam os
seguintes ambientes: sala de aula (1), sala de cincias naturais (2), sala de demonstrao (3),
arquivo (4), gabinete de fsica, qumica e histria natural (5), banheiro e sanitrio (6), cozinha
(7), copa (8), despensa (9), abrigo para recreio (10) e refeitrio (11).
106
INSPETORIA Federal. Relatrio de inspeo preliminar do Colgio Tobias Barreto. Aracaju, 1938. DIES
Arquivo de Escolas Extintas.
107
GOFFMAN, Erving. Manicmios, prises e conventos. So Paulo: Perspectiva, 1974.
108
CONCEIO, Joaquim Tavares da. A pedagogia de internar: uma abordagem das prticas culturais do
internato da Escola Agrotcnica Federal de So CristvoSE (1934-1967). 2007. Dissertao (Mestrado em
Educao) Universidade Federal de Sergipe, So Cristvo, SE, 2007.
277
109
A utilizao de prdios adaptados para o funcionamento de colgios-internatos tambm foi verificada em
outros estados do Brasil. O inqurito realizado pelo Dr. Eurico Branco apontou essa situao em internatos da
cidade de So Paulo. RIBEIRO, Eurico Branco. A higiene nos internatos: Estudo das condies sanitrias dos
internatos de So Paulo. In: COSTA, Maria Jos Franco Ferreira da; SHENA; Denlson Roberto; SCHMIT;
Maria Auxiliadora. (Org.). I Conferencia Nacional de Educao. Braslia: SEDEIA/ INEP/ IPARDES, 1997.
279
acordo com as recomendaes higinicas que circulavam na poca. Apesar disso, as inspees
acabavam por aprovar as condies fsicas do colgio.
110
Trabalhos sobre instituies educacionais em outros estados tambm revelam o predomnio no internato de
pensionistas oriundos de famlias ricas. Consultar, entre outros, BISPO JUNIOR, Santana. Construindo a
masculinidade na escola: o Colgio Antonio Vieira (1911-1949). 2004. Dissertao (Mestrado Histria)
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004. ;
111
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simblicas. (Introduo, organizao e seleo Sergio Miceli).
Editora Perspectiva, 2009.
280
112
Folhas finas de ardsia, tipo de rocha; eram utilizadas para a confeco do quadro ou lousa.
113
Investimentos na educao funcionavam como estratgia de reproduo para as classes ricas. BOURDIEU,
Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 2010.
114
ESTATUTOS do Grmio Escolar. O Estado de Sergipe, Aracaju, p. 1, 5 dez. 1909.
115
COLGIO Maria Auxiliadora. A Razo, Estncia, p.4, 27 fev. 1910.
116
ESTATUTOS do Ginsio Patrocnio de So Jos. A Cruzada, Aracaju, p. 2, 11 mai. 1949.
281
117
GOFFMAN, Erving. Manicmios, prises e conventos. So Paulo: Perspectiva, 1974.
283
normal em escolas pblicas sem internato e podiam ser recebidos na condio de meros
pensionistas118. Nesta condio, recebiam apenas alojamento, comida e direo dos estudos.
Os colgios Grmio Escolar119 e Nossa Senhora Santana120 aceitavam pensionistas,
respectivamente, destinados ao curso ginasial do Ateneu Sergipense e ao curso normal da
Escola Normal Rui Barbosa. No regime do internato do Grmio Escolar os alunos que
frequentavam as aulas do Ateneu eram acompanhados e vigiados nas idas e vindas por um
aluno monitor e s podiam permanecer fora do internato o tempo de suas aulas121. Quem
viveu na transio do sculo XIX para o XX tambm recorda que, por preferncia dos pais,
alguns pensionistas de colgio tomavam lies na casa de professores particulares 122 fora do
estabelecimento, retornando no final dessas aulas para o internato.
Na maior parte dos internatos o horrio123 era utilizado como controle da atividade,
com a utilizao de dispositivos de controle do tempo, os quais sinalizavam aos internos os
horrios regulados e impositivos. Deste modo, os internos eram despertados com sinais do
tipo: convite a uma prece, palmas, toque de sino ou de corneta. Geralmente, no tempo do
internato, a vida do aluno comeava s 5 horas da manh, quando todos os alunos deviam
deixar o leito; s 6 horas, depois de terem praticado os atos de asseio, iniciavam os estudos de
banca, sendo interrompidos s 8 horas, quando era servido o caf.
Em determinados estabelecimentos, sobretudo naqueles que congregavam muitos
pensionistas, durante as refeies em cada mesa um aluno-mestre era indicado pelo diretor
para manter a ordem e decncia durante as refeies. Ao meio dia era servido o jantar (como
era designado o almoo atual), depois os alunos ficavam de recreio at s 14 horas, quando
recomeavam os trabalhos letivos. Tambm existia um perodo de recreio das 17 s 14 horas.
A ltima refeio era feita s 19 horas, depois da qual os alunos retomam os trabalhos de
118
O Colgio Jackson de Figueiredo recebia pensionistas destinados ao Ateneu Sergipense e Escola de Comrcio
Conselheiro Orlando, [...] fiscalizando e responsabilizando-se pelo aproveitamento dos pensionistas. Para isso,
igualmente como procederei para com os alunos dos cursos que mantm o colgio, estarei em contato dirio com
as direes do Ateneu Pedro II e Escola de Comrcio Conselheiro Orlando, sindicando do aproveitamento dos
alunos pensionistas, aos quais o nosso corpo docente auxiliar em seus estudos. COLGIO Jackson de
Figueiredo. Ouvindo o diretor desse novo estabelecimento de ensino. Sergipe Jornal, Aracaju, p. 4, 5 jan. 1938.
119
GRMIO Escolar. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 4 fev. 1910.
120
COLGIO N. S. Santana. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 4, 30 jan. 1916.
121
ESTATUTOS do Grmio Escolar. O Estado de Sergipe, Aracaju, 5 dez. 1909.
122
Eu tomava lies particulares com Alfredo Montes, de ingls, e com Teixeira de Faria, de matemticas.
Entrei com essa condio. Oliveira no gostou, mas meu pai queria que eu aprendesse de verdade. AMADO,
Gilberto. Histria da minha infncia. So Cristvo: Editora da UFS, 1999, p. 163.
123
O horrio utilizado como controle da atividade uma antiga herana das comunidades monsticas e se
difundiu tambm nos colgios-internatos, e est ligado a trs grandes processos estabelecer as cesuras,
obrigar a ocupaes determinadas, regulamentar os ciclos de repetio. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir:
nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003, p 127.
284
banca, que se prolongam at s 21 horas, quando se recolhiam aos seus dormitrios, onde
deveriam permanecer em silncio124.
A estada no internato correspondia ao transcurso do perodo escolar, que se estendia
de fevereiro a novembro. Os alunos eram liberados para retornarem casa de suas famlias
nas grandes frias dos meses de dezembro e janeiro, Semana Santa (do Sbado de Ramos
segunda feira aps a Ressurreio), no S. Joo (23 de junho a 2 de julho), nos feriados oficiais
e nos domingos e dias santificados. Alguns estabelecimentos aceitavam a permanncia no
internato mediante pagamento extra de pensionistas que no podiam, por motivo de distncia,
retornar casa paterna nas frias e feriados125.
Os pensionistas que s podiam retornar ao lar nas grandes frias utilizavam-se das
cartas para manter contado com a famlia. Alguns internatos incentivavam essa prtica,
chegando mesmo a determinar como obrigao das alunas escrever aos pais, de 15 em 15
dias, ou sempre que necessrio. Advertiam, porm, que toda correspondncia deveria ser
entregue aberta diretoria do estabelecimento, bem como seriam abertas todas que fossem
dirigidas s alunas126. As famlias visitavam127 ou enviavam mensageiros com cartas,
alimentos, roupas ou outras encomendas. Este contato com a famlia ajudava a manter os
laos familiares fragilizados pela separao provocada pelo internato. A interrupo desse
contato familiar provocada pela estada no internato por longos meses, ou mesmo a falta de
notcias de casa, davam lugar a um sentimento de abandono128, tpico do aluno de internato.
O ensino oferecido pelos pequenos internatos era basicamente o curso primrio
dividido em quatro anos ou sries, para meninos de sete a 12 anos. Geralmente, cada srie
funcionava em duas sees, a primeira iniciando s 9 horas da manh at o meio-dia e a
segunda estendia-se das 2 s 4 horas da tarde. Os colgios maiores, na medida em que
conseguiam a equiparao ao Ginsio Nacional (Colgio Pedro II) e a Escola Normal,
124
COLGIO Tobias Barreto. Estatutos do Colgio Tobias Barreto. Aracaju: Seco de Artes Grficas da
Escola A. Artfices de Sergipe, 1936. DIES Arquivo de Escolas Extintas / ESTATUTOS do Grmio Escolar.
O Estado de Sergipe, Aracaju, 5 dez. 1909. / ESTATUTOS do Ginsio Patrocnio de So Jos. A Cruzada,
Aracaju, p. 2, 11 mai. 1949.
125
Minha gente morava no serto, no Cariri. Por causa disso eu s passava em casa as frias grandes; o resto do
ano tirava-o no Colgio: Semana Santa, So Joo, tudo. QUEIROZ, Rachel. As trs Marias. Rio de Janeiro:
Jos Olympio, 2005, p. 39.
126
ESTATUTOS do Ginsio Patrocnio de So Jos. A Cruzada, Aracaju, p. 2, 11 mai. 1949.
127
Nos internatos dos colgios femininos, principalmente nos dirigidos por congregaes catlicas, para se
consentir qualquer visita, a no ser dos pais e irmos, exigia-se o consentimento por escrito dos pais, sendo
sempre recusada a visitao por rapazes, embora fossem parentes das alunas. O ESTATUTO do Ginsio
Patrocinio So Jos. A Cruzada, Aracaju, p. 2, 29 mai. 1949.
128
Ele recebia cartas de casa, de sua me. [...] Somente Aurlio e eu no recebamos nada de casa. H um ms
ali, e nem um recado. Isto me diminua, me dava a impresso de que fosse um abandonado, um esquecido, sem
ningum que guardasse de mim uma recordao qualquer. At o Vergara, o pior aluno, recebia de casa, e vinha
um correspondente visit-lo, e passava os domingos fora. REGO, Jos Lins do. Doidinho. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 1995, p. 12.
285
passavam a oferecer, respectivamente, o curso ginasial e o curso normal. Dentre esses podem
ser citados os colgios masculinos Salesiano, Tobias Barreto e Jackson de Figueiredo, todos
em Aracaju, e os colgios femininos Nossa Senhora de Lourdes (Aracaju) e Nossa Senhora
das Graas (Propri).
Nos internatos tambm eram espaos privilegiados de formao de habitus, entendidos
como princpios geradores de prticas distintas e distintivas129. Deste modo, os alunos
tambm eram instrudos na prtica das boas maneiras130, no exerccio das virtudes e do
civismo131 pelo conhecimento dos grandes homens e na apreciao dos seus feitos, nos cantos
dos hinos. Uma caracterstica dos internatos era poder manter os alunos sempre mo para a
realizao de diversas prticas institucionalizadas ou cerimnias institucionais132, marcadas
pela periodicidade, participao coletiva (internos, equipe dirigente, visitantes) e com
finalidades diversas. Foram comuns, na cultura dos internatos sergipanos, as comemoraes,
os jogos e festas com finalidades diversas. As festas e/ou solenidades escolares ocorriam em
diversas ocasies da vida escolar, como a comemorao de datas histricas, cvicas e
religiosas, visitas ilustres133, exames escolares, contando com a participao da sociedade, de
autoridades134 e da famlia.
Na educao das meninas e moas eram ministrados princpios morais, prtica de
virtudes com o propsito de [...] torn-las teis a si mesmas, famlia e sociedade, para a
qual todas finalmente se dirigem, e onde cada uma ter que desempenhar o papel que o futuro
129
BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre a teoria da ao. Campinas: Papirus, 2010, p. 22.
130
No sculo XX alguns colgios continuavam fazendo uso de manuais de civilidade. Pode ser citado o
Compndio de Civilidade adotado pelos salesianos em seus colgios, que trazia ensinamentos sobre regras de:
comportamento, asseio, vesturio, porte, conversao, entre outras. COMPNDIO DE civilidade para uso das
famlias e dos institutos educativos. So Paulo: Escolas Profissionais do Liceu Salesiano do Sagrado Corao de
Jesus, 1916.
131
A educao cvica e a cultura fsica merecendo especial cuidado, o colgio instrue os alunos conhecimentos
dos nossos grandes homens, na apreciao dos seus feitos e nas datas memorveis da ptria [...].COLGIO
Jackson de Figueiredo. Ouvindo o diretor desse novo estabelecimento de ensino. Sergipe Jornal, Aracaju, p. 4, 5
jan. 1938.
132
Por cerimnias institucionais entende-se [...] um conjunto de prticas institucionalizadas seja
espontaneamente, seja por imitao atravs das quais os internos e a equipe dirigente chegam a ficar
suficientemente perto para ter uma imagem um pouco mais favorvel do outro e a identificar-se com a situao
do outro. Tais prticas exprimem solidariedade, unidade e compromisso conjunto com relao instituio, e
no diferenas entre os dois nveis. GOFFMAN, Erving. Manicmios, prises e conventos. So Paulo:
Perspectiva, 1974, p. 85.
133
Como a visita, em 16 de maro de 1917, do Baro Homem de Mello aos colgios Tobias Barreto e Grmio
Escolar. BARO Homem de Mello. Visita ao Colgio Tobias Barreto. No Gremio Escolar. Correio de Aracaju,
Aracaju, p. 2, 22 mar. 1917, 2006.
134
Era comum a presena de altas autoridades do governo estadual e municipal nas solenidades dos tradicionais
colgios. No ano de 1849, por ocasio da diplomao de turmas do Colgio N. Sra. de Lourdes compareceu o
governado do estado, Jos Rolemberg Leite (1947-1951) e secretrios. GINSIO Nossa Senhora de Lourdes. A
Cruzada, Aracaju, p. 1, 25 dez. 1948.
286
lhe reservar135. No tempo que passavam no internato, as meninas ou moas, alm das aulas
normais, aprendiam a confeco de prendas, bordados, costura, tocar piano e msica. E nos
internatos masculinos os meninos e moos aprendiam msica, dana, desenho e ginstica. Os
colgios Grmio Escolar e Tobias Barreto primavam pelos exerccios militares, e no Colgio
Salesiano, os padres costumavam gastar o tempo dos internos com os jogos e apresentaes
teatrais, sempre buscando a inculcao de valores morais e religiosos.
135
COLGIO Maria Auxiliadora. A Razo, Estncia, 21 jun. 1912. / Colgio Camerino. A Razo, Estncia, p. 3,
15 dez. 1912.
136
Padres Csar Delgrosso e Carlos Figueiredo e o coadjunto Antonio Bruno.
137
COLGIO Maria Auxiliadora. A Razo, Estncia, p.1, 10 dez. 1911.Collegio Maria Auxiliadora.
138
Como prevenimos ao pblico em nossa edio passada, realizaram-se domingo, 11 do corrente, os exerccios
militares pelos alunos do acreditado Colgio Tobias Barreto, de propriedade e direo do exmio educador, Sr.
Jos de Alencar Cardoso. s 4 da tarde do referido dia, perante grande massa popular, reunida na espaosa
praa 7 de Setembro, onde se acha situado o palacete em que funciona o mencionado estabelecimento de
ensino [...]. COLGIO Tobias Barreto. A Razo, Estncia, p.1, 18 set. 1910.
287
139
OS COLGIOS. Correio de Aracaju, Aracaju, p. 2, 5 dez. 1907.
140
COLGIO do Salvador. A Razo, Estncia, p. 4, 22 nov. 1908.
141
NO COLGIO da Imaculada Conceio. A Repblica, Aracaju, p. 3, 4 dez. 1932.
142
ATIVIDADES escolares. O encerramento dos cursos no Colgio Jackson de Figueiredo. Sergipe Jornal,
Aracaju, 20 jun. 1938.
143
GINSIO Patrocnio de S. Jos. A Cruzada, Aracaju, 3 de maio de 1947.
144
O GINSIO N. Senhora Auxiliadora celebrou solenemente a Festa de So Joo Bosco. A Cruzada, Aracaju,
p. 4, 17 ago, 1946.
288
145
Configura-se a disciplina do internato como uma anatomia poltica do detalhe, ensejando uma
micropenalidade do tempo, da atividade, da maneira de ser, dos discursos, do corpo e da sexualidade.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da priso. Petrpolis: Vozes, 2003.
146
Troa, zombaria, motejo, escrnio [...]. DICTRIOS. In: FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo
dicionrio Aurlio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 473.
147
Castigo recordado por Jos Lins do Rego V sentar-se no quarto do meio. Era o pior castigo do colgio:
ficar isolado num quarto, sentado num tamborete, sem fazer nada. Passar horas e horas sem uma palavra, com a
boca seca ouvindo l por fora o rumor da conversa dos outros. REGO, Jos Lins do. Doidinho. Rio de Janeiro:
Jos Olympio, 1995, p.34.
148
O mtodo pedaggico da organizao salesiana no que tange ao ensino da cincia, abstraindo-se qualquer
tintura religiosa, bastante eficiente, e a prova disso a distribuio de prmios no sentido de despertar no aluno
a vaidade do saber, o interesse pelos livros. ENCERRAMENTO do ano letivo. A Repblica, Aracaju, p. 4, 20
nov. 1932.
289
utilizao do Livro das Partes149, onde seriam escritas as faltas cometidas e os elogios que
tivessem merecido os alunos.
A publicidade da escriturao desse livro se daria com sua leitura pelo diretor, na hora
do jantar, na presena dos alunos internos. A escriturao das ocorrncias150 do internato
funcionava como uma espcie de memorial das partes, um registro dirio das atividades dos
internos semelhante aos antigos livros de notas de comportamento: Um livro de lembranas
comprido e grosso [...] O temvel noticirio, redigido ao sabor da justia suspeita de
professores, muita vez despidos por violentos, ignorantes, odiosos, imorais, erigia-se em
censura irremissvel de reputaes151.
149
Na hora do jantar ser lido perante a colegiada interna o Livro das Partes, onde sero escritas as faltas
cometidas pelos alunos, bem como os elogios que tiverem merecido. ESTATUTOS do Grmio Escolar. O
Estado de Sergipe, Aracaju, 5 de dez. 1909.
150
A respeito do registro de ocorrncias em internato consultar o artigo O livro de registro de ocorrncias: o
jornalismo do internato (1934-1946) Trata-se de um estudo sobre aspectos histrico-culturais do microcosmo do
internato do Aprendizado Agrcola Benjamin Constant (SE), no perodo de 1934 a 1946, tomando como fonte
principal as notas lanadas no Livro de Registro de Ocorrncias da citada instituio. O estabelecimento era uma
instituio de ensino agrcola elementar, funcionando em regime de internato e subordinado ao Ministrio da
Agricultura. O Livro funcionou como um temvel noticirio do internato da instituio, pois, fazendo o memorial
do comportamento dirio das partes, permitiu a individualizao dos transgressores e a aplicao do castigo exemplar.
Nos registros sobressai o poder disciplinador e de conformao moral da pedagogia de internar de uma fase
marcada por uma disciplina rigorosa. CONCEIO, Joaquim Tavares da . O livro de registro de ocorrncias: o
"jornalismo do internato" (1934-1946). Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe, v. 1, p. 179-206,
2011.
151
POMPIA, Raul. O Ateneu. So Paulo: tica, 2001, p. 50.
290
CONCLUSES
Os internatos, ao longo do sculo XIX e em boa parte do sculo XX, apesar das
crticas recebidas, subsistiram na cultura escolar brasileira, utilizados por famlias das
camadas ricas e estratos mdios da populao para promover a instruo de seus filhos. Nos
internatos, os estudantes encontravam cama, comida (pensionato) e toda a instruo (aulas,
repeties, exerccios suplementares, direo dos estudos).
Na Capital do Imprio existiam pequenos internatos constitudos como uma empresa
familiar e de confisso catlica, com um pequeno nmero de alunos internos que viviam em
comum com a famlia do diretor, sendo seus comensais. Mas tambm existiam grandes
internatos que chegavam a congregar mais ou menos 100 pensionistas. Nos internatos
maiores, alm da contratao de professores e de um mdico, existiam empregados que
cuidavam dos servios especficos do internato.
Durante todo o sculo XIX, foram predominantes na Provncia de Sergipe os pequenos
internatos familiares que funcionavam nas casas dos proprietrios ou em casas alugadas para
o recebimento de alunos pensionistas que viviam sob os cuidados do diretor e sua famlia.
Tambm era costume professores particulares e pblicos receberem em suas casas, sem darem
ao seu ensino o carter de um estabelecimento formal, alunos pensionistas.
Nos internatos dos colgios particulares do Rio de Janeiro adentravam filhos e filhas
de grandes proprietrios rurais, comerciantes e industririos, funcionrios pblicos graduados,
profissionais liberais de destaque da Corte do Rio de Janeiro e/ou de outras provncias do
Imprio. As possibilidades de estabelecimentos de instruo secundria e superior tornavam a
capital do Imprio atrativa para as famlias que desejavam investir na instruo de seus filhos.
Da Provncia de Sergipe saram muitos moos e crianas para estudarem, principalmente, os
preparatrios para as faculdades, como pensionistas em internatos da Corte. A figura do
correspondente era uma soluo encontrada para os acertos entre os internatos e famlias de
alunos internos procedentes de fora da cidade do Rio de Janeiro ou de outras provncias.
No sculo XIX a parcela da sociedade sergipana que podia arcar com os custos do
internato eram os grandes proprietrios rurais e grandes comerciantes, que matriculavam seus
filhos nos internatos locais ou em colgios-internatos das cidades de Salvador, Rio de Janeiro
e Recife, os quais ministravam os preparatrios para os exames de ingresso nas Faculdades
sediadas nessas localidades. E, tambm, na dcada de 1860 em diante, estratos mdios da
populao, diante dos problemas da instruo pblica, recorriam aos estabelecimentos
particulares. A maior parte que vivia na zona rural com dificuldades de transporte para as
291
A vigilncia nos pequenos internatos estava a cargo do diretor, que geralmente dividia
esse encargo com parentes ou professores residentes no colgio. Nos grandes internatos
existiam empregados (inspetores, bedis) com essa obrigao sob a imediata fiscalizao do
diretor. Para assegurar garantias de moralidade, os dormitrios eram mantidos sempre
iluminados e com a presena de empregados (censores), que repousavam juntamente com os
internos. Em internatos confessionais catlicos, as irms tomavam para si o encargo de vigiar
o dormitrio das alunas.
A instruo intelectual das alunas consistia no ensino primrio, costumeiramente
classificado em primeiras letras, e em alguns estabelecimentos elas tambm podiam cursar
aulas do ensino secundrio, mas sem perspectiva de continuao dos estudos superiores. Os
internatos femininos recorriam ainda ao ensinamento de um conjunto de contedos
denominados de belas artes ou artes de recreio desenho, piano, harpa, pintura, msica,
dana, canto, solfejo e aos trabalhos manuais. Essa formao correspondia s funes de
esposa e me a que estavam relegadas as mulheres na sociedade brasileira do sculo XIX.
A instruo intelectual dos alunos consistia no Curso Primrio e Secundrio. Este
ltimo quase sempre se restringia ao ensino das matrias preparatrias para os exames de
ingresso nas faculdades e podiam ser cursadas parcialmente, ou no todo, segundo os interesses
das famlias dos alunos. A educao do corpo atravs da prtica de dana, ginstica e natao,
estava prevista nos programas de muitos colgios-internatos, principalmente masculinos.
Os custos das famlias com o internato correspondiam principalmente ao pagamento
da mensalidade ou penso (alimentao e alojamento), preparao do enxoval e pagamento da
jia para uso dos utenslios do estabelecimento (cama, colches, colcha, travesseiros,
lavatrio, material da sala de banho, bacias, copos, talheres). Eram pagos em separado os
servios de lavagem e gomagem de roupas, os gastos com mdico e botica, as atividades
complementares de ensino (belas-artes ou artes de recreio) e, em alguns estabelecimentos,
as frias passadas no internato.
A maior diferena entre o valor das penses entre internatos masculinos e femininos
era basicamente o ensino secundrio ou as matrias preparatrias para as faculdades,
oferecidas somente nos primeiros e, neste caso, elevando o valor da penso. Igualmente,
observa-se que a diferena entre um aluno pensionista e meio-pensionista, em alguns
colgios, podia ser quase cinco vezes maior do que o valor daquele em relao a este.
Influenciavam nos valores das penses cobradas pelos internatos o reconhecimento social do
estabelecimento, resultante do bom desempenho escolar de seus alunos, a boa fama do diretor
294
internato era apresentada como medida capaz de garantir o sucesso do ensino secundrio
pblico na provncia. Enfrentando essa questo, o presidente da provncia Incio Joaquim
Barbosa determinou a contratao de dois colgios particulares, um em Estncia e, o outro,
em Laranjeiras, para que neles fossem reunidas cadeiras do ensino secundrio pblico e o
funcionamento de internatos. Esses colgios no passavam de estabelecimentos
subvencionados pelo governo, funcionando em casas alugadas, com cmodos arranjados para
receber alunos internos.
A criao de internato no resolveu o problema da insuficincia de matrculas nos
estabelecimentos de ensino secundrio da Provncia de Sergipe e em outras provncias onde
fora tentado. O no reconhecimento dos estudos e exames realizados nos estabelecimentos de
ensino secundrio provinciais foi o principal fator do fracasso desses estabelecimentos em
Sergipe e em outras provncias. Conforme o pensamento de autoridades provinciais da
instruo, sob essas condies, nem mesmo a criao de internatos em colgios
subvencionados pelo governo provincial teria condies de progredir. As famlias preferiram
continuar enviando seus filhos para os colgios-internatos sediados nas provncias sedes das
faculdades.
Com a criao do Ateneu Sergipense, havia quem defendesse, sem sucesso, a ideia de
que o estabelecimento funcionasse com internato para que pudesse receber os alunos que
residiam no interior da provncia. A alternativa falta de internato no Ateneu, foi o
pensionato (alojamento e direo dos estudos) oferecido por professores em suas residncias,
a moos do interior que vinham para Aracaju a fim de cursar as aulas do mencionado
estabelecimento.
Em teses doutorais, produzidas e publicadas no sculo XIX e incio do sculo XX,
mdicos interessados na temtica da higiene dos colgios acreditavam que a interveno de
seus conhecimentos seria capaz de ordenar higienicamente o espao dos internatos. Para isso,
procuraram intervir na organizao do espao e de determinadas prticas desses
estabelecimentos, influenciando as famlias, diretores e professores dos colgios da
necessidade de atentarem para a importncia de diversas medidas higinicas, visando
promoo do desenvolvimento fsico, moral e intelectual dos pensionistas de colgio.
O diagnstico mdico, praticamente dominante, cominava aos internatos a degradao
fsica, moral e intelectual de geraes inteiras de estudantes submetidos ao internato. Segundo
os mdicos, a deteriorao da sade dos pensionistas era resultante de fatores como a
admisso de pensionistas com idade inferior a 10 ou 7 anos de idade, do regramento penoso
da vida diria nos internatos, que chegava mesmo a aniquilar as vontades individuais, da
296
excitantes; a leitura de livros de cunho moral e religioso; os banhos de mar; evitar a entrada de
todo tipo de impresso que pudesse despertar o senso gensico, entre outros.
Os mdicos destacavam diversos efeitos fsicos causados pela masturbao, entre
outros, a magreza, a palidez, o encovamento dos olhos, salivaes abundantes, vmitos,
estatura diminuda e curvada para diante e marcha vacilante. Com relao ao comportamento,
tornavam-se tmidos, melanclicos, indolentes, buscando sempre o isolamento. O vcio era
apresentado como uma patologia social, pois causava prejuzo nas faculdades intelectuais,
ocasionando a completa estupidez e idiotismo, resultando na incapacidade para o exerccio de
qualquer atividade ou profisso que exigisse a mnima concentrao. E, finalmente, adotando
uma fabulao cientfica da doena total em que a masturbao se tornava a causa possvel
de todas as doenas possveis, os mdicos tambm relacionavam a tsica ou tuberculose
pulmonar e a epilepsia como consequncias do onanismo.
A pederastia ou sodomia, como os mdicos denominavam as relaes homossexuais,
tambm era apontada pelos facultativos como um vcio disseminado nos internatos e
prejudicial sade e moralidade dos pensionistas. Segundo eles, a prtica era resultante da
vida reclusa e das amizades e protees insidiosas que ocorriam nos internatos e podia ser
impedida pela vigilncia e proibies indicadas para o combate ao onanismo.
O internato permaneceu como um tema controverso durante boa parte do sculo XIX e
primeira metade do sculo XX, no havia consenso sobre os benefcios pedaggicos do
internamento escolar. Posies divergentes sobre o internato eram recorrentes, sobretudo nos
discursos de autoridades da instruo e em teses doutorais de mdicos. Havia a posio que
impingia ao internato um valor negativo, pois propiciava a corrupo fsica e moral dos
colegiais.
Outra posio entendia o internato como um mal menor, recurso importante diante
das longas distncias (casa/colgio) e/ou da falta de estabelecimentos de ensino em
determinadas localidades; e com menor ressonncia, a posio que defendia o internato como
espao ideal para disciplinamento de meninos e moos. Nesse caso, considerava-se que as
adversidades encontradas no internato agiriam positivamente para fortalecer o indivduo a fim
de enfrentar as dificuldades do mundo exterior.
Enfim, a educao dispensada nos internatos, apesar das crticas desfavorveis, serviu
como estratgia educativa de famlias ricas e mdias e estabeleceu distino social a esses
segmentos sociais por meio de constante formao de princpios culturais que contriburam
para a perpetuao de privilgios de classe. Seu estudo continua desafiando novas abordagens
histricas que visem configurao de outros espaos de internatos sergipanos, estabelecendo
298
FONTES
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