AVia Sacra

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Sociedade das Cincias Antigas

A Via Sacra

A Via Sacra uma prtica de piedade cuja tradio remonta aos sculos XII e XIII, poca em que
se realizavam as Cruzadas e peregrinaes Terra Santa. Para divulgar a devoo Paixo de
Cristo, os peregrinos reproduziam o caminho da cruz, erguendo estaes alusivas aos
acontecimentos da Paixo.

Quem mais propagou a Via Sacra foi So Leonardo, de Porto Maurcio (1676-1751). Percorrer o
caminho da Via Sacra um dos melhores meios para se meditar sobre a paixo de Jesus. Eis, pois,
as estaes da Via Sacra e os respectivos textos bblicos que podem auxiliar na sua reflexo:

1 Estao: Jesus condenado morte (Jo 19, 12-16)


2 Estao: Jesus recebe a cruz (Jo 19, 16-17)
3 Estao: Jesus cai pela primeira vez (Is 50, 5-7)
4 Estao: Jesus encontra sua me (Lc 11, 34-35)
5 Estao: Jesus ajudado por Cirineu (Lc 23, 26)
6 Estao: Vernica enxuga o rosto de Jesus (Is 53,3)
7 Estao: Jesus cai pela segunda vez (Is 53, 4-5)
8 Estao: Jesus encontra as santas mulheres (Lc 23, 27-28)
9 Estao: Jesus cai pela terceira vez (Is 53, 8-9)
10 Estao: Jesus despojado de suas vestes (Mc 15, 24)
11 Estao: Jesus pregado na cruz (Lc 23, 33-34)
12 Estao: Jesus morre na cruz (Jo 19,28)
13 Estao: Jesus descido da cruz (Jo 19, 38)
14 Estao: Jesus sepultado (Jo 19, 40-42)
15 Estao: A ressurreio de Jesus (Mt 28, 1-6)

Primeira Estao

Jesus condenado morte


Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 2

Eles gritaram ainda mais: "Crucifica-O!".


Pilatos, desejoso de agradar multido,
soltou-lhes Barrabs
e, depois de mandar aoitar Jesus,
entregou-O para ser crucificado.
(Mc 15, 14-15)

A sentena de Pilatos foi proferida sob presso dos sacerdotes e da multido. A condenao morte
por crucifixo serviria para satisfazer s suas paixes dando resposta ao grito: "Crucifica-O!
Crucifica-O!" (Mc 15, 13-14; etc.). O pretor romano pensou que podia subtrair-se sentena
lavando-se as mos, como antes se desinteressara das palavras de Cristo, que tinha identificado o
seu reino com a verdade, com o testemunho da verdade (Jo 18, 38).

Num caso e noutro, Pilatos procurava conservar a sua independncia, ficar de qualquer modo "de
fora". Mas, s na aparncia. A Cruz, qual foi condenado Jesus de Nazar (Jo 19, 16), tal como a
sua verdade do reino (Jo 18, 36-37) deviam tocar no mais fundo da alma do pretor romano. Tratou-
se e trata-se duma realidade, diante da qual impossvel ficar de fora ou margem. O fato de Jesus,
o Filho de Deus, ter sido interrogado sobre o seu reino e por isso ter sido julgado pelo homem e
condenado morte, constitui o princpio daquele testemunho final de Deus que tanto amou o
mundo (cf. Jo 3, 16). Ns encontramo-nos perante este testemunho e sabemos que no nos lcito
lavar as mos.

O evangelista So Mateus diz: "Jesus foi conduzido presena do governador, que lhe perguntou:
s tu o Rei dos Judeus? Jesus respondeu: Tu o dizes. Mas, ao ser acusado pelos prncipes dos
sacerdotes e ancios, nada respondeu. Disse-lhe ento Pilatos: No ouves tudo o que dizem contra
ti? Mas ele no respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado. Ora
por ocasio da festa, costumava o governador conceder liberdade a um prisioneiro escolha do
povo. Nessa altura, havia um prisioneiro afamado, chamado Barrabs. Pilatos disse ao povo que se
encontrava reunido: Qual quereis que vos solte, Barrabs ou Jesus, chamado Cristo? (...)" "Eles
responderam: Barrabs!. Pilatos disse-lhes: Que hei de fazer ento de Jesus, chamado Cristo?.
Responderam todos: Seja crucificado!. Pilatos (...) mandou vir gua e lavou as mos em presena
da multido, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Isso convosco. (...) Soltou-lhes
ento Barrabs; quanto a Jesus, depois de o mandar aoitar, entregou-o para ser crucificado".
(Mateus 27, 11-26)

Pilatos perguntou: Que fizeste? Jesus respondeu: Para isto nasci e para isto vim ao mundo: para
dar testemunho da verdade. (cf. Jo 18,35-37) Pilatos procurava libert-lo. Mas os judeus
vociferavam: "Se o soltas, no s amigo do Csar!" Ouvindo tais palavras, Pilatos o entregou para
ser crucificado. (Jo 19,12-16)
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 3

II Estao

Jesus recebe a cruz

Depois de O terem escarnecido,


tiraram-Lhe o manto de prpura
e vestiram-Lhe as suas roupas.
Levaram-No, ento,
para O crucificarem.
(Mc 15, 20)

Comea a execuo, ou seja, a atuao da sentena. Condenado morte, Cristo tem de carregar a
cruz, como os outros dois condenados que devem sofrer a mesma pena: "Foi contado entre os
malfeitores" (Is 53, 12). Cristo aproxima-Se da Cruz, tendo todo o corpo terrivelmente dilacerado e
pisado, e com o sangue que da cabea coroada de espinhos Lhe escorre pelo rosto. Ecce Homo! (Jo
19, 5). Em Ele est toda a verdade do Filho do Homem que os profetas predisseram, a verdade
sobre o Servo de Jav anunciada por Isaas: "Foi esmagado pelas nossas iniqidades; (...) fomos
curados nas suas chagas" (Is 53, 5).

Em Ele est presente tambm uma certa conseqncia, que nos deixa estupefatos, daquilo que o
homem fez ao seu Deus. Pilatos diz: "Ecce Homo" (Jo 19, 5); "vede o que fizestes deste homem!"
Nesta afirmao, parece falar outra voz, como se dissesse: "Vede o que fizestes, neste homem, ao
vosso Deus!" impressionante a sobreposio, a inter-relao desta voz que ouvimos atravs da
histria com aquilo que nos chega atravs da certeza da f. Ecce Homo! Jesus, "chamado Cristo"
(Mt 27, 17), toma a Cruz sobre os seus ombros (Jo 19, 17). Comeou a execuo.

Acompanhemos o relato de So Marcos: "Os soldados levaram-no para dentro do trio, isto , para
o pretrio, e convocaram toda a corte. Revestiram-no de um manto de prpura, e cingiram-lhe uma
coroa de espinhos, que haviam tecido. Depois comearam a saud-lo: Salve, Rei dos Judeus!
Batiam-lhe na cabea com uma cana, cuspiam-lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante
dele. Em seguida, depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de prpura e vestiram-lhe as
suas roupas." (Mc 15, 16-20). Este relato do escarnecimento de Jesus est presente nos quatro
evangelhos. Em seguida, Jesus toma a cruz: "Levaram, pois, consigo Jesus. E, carregando s costas
a cruz, saiu para o lugar chamado Crnio, que em hebraico se diz Glgota (...)" (Jo 19, 16-17).

Estao III
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Jesus cai sob o peso da sua cruz

Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenas,


carregou as nossas dores;
ns o reputvamos como um leproso,
ferido por Deus e humilhado.
Mas foi castigado pelos nossos crimes,
esmagado pelas nossas iniqidades;
o castigo que nos salva pesou sobre ele,
fomos curados nas suas chagas.
Todos ns andvamos desgarrados como ovelhas,
cada um seguia o seu caminho;
o Senhor carregou sobre ele
a iniqidade de todos ns.
(Is 53, 4-6)

Jesus cai sob a Cruz. Cai por terra. No recorre s suas foras sobre-humanas, no recorre fora
dos anjos. "Julgas que no posso rogar a meu Pai, que imediatamente Me enviaria mais de doze
legies de anjos?" (Mt 26, 53). Mas no o pede. Tendo aceitado o clice das mos do Pai (Mc 14,
36), quer beb-lo at o fim. isto mesmo o que quer. E por isso no pensa em quaisquer foras
sobre-humanas, embora estejam ao seu dispor. Podero estranhar aqueles que O tinham visto
quando comandava s enfermidades humanas, s mutilaes, s doenas, prpria morte. E agora?
Nega Ele tudo isto? E todavia "ns espervamos...", diro alguns dias depois os discpulos de
Emas (cf. Lc 24, 21). "Se s Filho de Deus..." (Mt 27, 40), ho de provoc-Lo os membros do
Sindrio. "Salvou os outros, e no pode salvar-Se a Si mesmo" (Mc 15, 31; Mt 27, 42) gritar a
multido.

E Ele aceita estas provocaes, que parecem anular todo o sentido da sua misso, dos discursos
pronunciados, dos milagres realizados. Aceita todas aquelas palavras; decidiu no opor-Se. Quer ser
ultrajado, quer vacilar, quer cair sob a Cruz. fiel at ao fim, mesmo nos mnimos detalhes, a esta
afirmao: "No se faa o que Eu quero, mas o que Tu queres" (Mc 14, 36; etc.). Deus extrair a
salvao da humanidade das quedas de Cristo sob a Cruz.

Estao IV

Jesus encontra sua me


Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 5

Simeo abenoou-os e disse a Maria, sua me:


"Este Menino est aqui para queda
e ressurgimento de muitos em Israel
e para ser sinal de contradio;
uma espada trespassar a tua alma,
a fim de se revelarem os pensamentos de muitos coraes"...
Sua me guardava todas estas coisas no seu corao.
(Lc 2, 34-35.51)

Maria encontra o Filho a caminho da Cruz. A sua cruz torna-se a cruz de Ela; a humilhao de Ele
a sua, o oprbrio pblico torna-se o de Ela. a ordem humana das coisas. Assim o devem sentir
aqueles que A rodeiam, e assim o entende o corao de Ela: "Uma espada trespassar a tua alma"
(Lc 2, 35). As palavras pronunciadas quando Jesus tinha quarenta dias, cumpriam-se neste
momento. Atingem agora toda a sua plenitude. E Maria, trespassada por esta espada invisvel,
encaminha-se para o Calvrio do seu Filho, para o seu prprio Calvrio. A devoo crist A v com
esta espada no corao, e assim A representa e modela. Me das Dores!

" Vs que sofrestes com Ele!" - repetem os fiis, sentindo no seu ntimo que assim mesmo que
se deve exprimir o mistrio deste sofrimento. Embora esta dor Lhe pertena e A toque mesmo no
fundo da sua maternidade, todavia a verdade plena deste sofrimento expressa pelo termo
compaixo. Faz parte do prprio mistrio: exprime de certo modo a unidade com o sofrimento do
Filho.

Estao V

Simo de Cirene ajuda Jesus a transportar a cruz


Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 6

Requisitaram, para Lhe levar a cruz,


um homem que passava, vindo do campo,
Simo de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo.
Conduziram Jesus ao lugar do Glgota,
que quer dizer "Lugar do Crnio".
(Mc 15, 21-22)

Simo de Cirene, designado para levar a Cruz (cf. Mc 15, 21; Lc 23, 26), certamente no queria
lev-la. Por isso teve de ser obrigado. Caminhava ao lado de Cristo sob o mesmo peso. Emprestava-
Lhe os seus ombros, sempre que os ombros do condenado pareciam vacilar. Estava perto de Ele:
mais perto do que Maria, mais perto que Joo, o qual, embora sendo homem, no foi chamado para
ajud-Lo. Chamaram-no a ele, Simo de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, como refere o
Evangelho de So Marcos. Chamaram-no, foraram-no.

Quanto durou este constrangimento? Quanto tempo ter caminhado ao lado de Jesus, fazendo sentir
que nada tinha a ver com o condenado, com a sua culpa, com a sua pena? Quanto tempo ter
passado assim, interiormente dividido, atrs duma barreira de indiferena para com o Homem que
sofria? "Estava nu, tive sede, estive na priso" (cf. Mt 25, 35.36), levei a Cruz... e tu levaste-a
Comigo? Levaste-a Comigo verdadeiramente at ao fim? No se sabe. So Marcos refere apenas o
nome dos filhos de Cireneu e a tradio afirma que pertenciam comunidade dos cristos ligada a
So Pedro (cf. Rm 16, 13).

Estao VI

Uma mulher piedosa enxuga o rosto de Jesus

Cresceu (...) sem figura nem beleza.


Vimo-lo sem aspecto atraente,
desprezado e evitado pelos homens,
homem das dores, experimentado nos sofrimentos:
diante do qual se tapa o rosto,
menosprezado e desestimado.
(Is 53, 2-3)

A tradio fala-nos de Vernica. Talvez ela complete a histria do Cireneu. Na verdade, embora
sendo mulher, no tenha levado fisicamente a Cruz nem a isso tenha sido forada, o certo que esta
Cruz com Jesus, ela a levou: levou-a como podia, como lhe era possvel fazer naquele momento e
como lhe ditava o corao, isto , enxugando o seu Rosto. A explicao deste fato, referido pela
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 7

tradio, parece fcil tambm: no leno com que ela Lhe enxugou o Rosto, ficaram gravadas as
feies de Cristo. Precisamente porque estava todo ensangentado e suado, podia deixar traos e
linhas. Mas, o sentido deste acontecimento pode ser interpretado tambm de outra maneira, se o
analisarmos luz do discurso escatolgico de Cristo. Sero muitos, sem dvida, aqueles que vo
perguntar: "Senhor, quando que fizemos isto?". E Jesus responder: "Sempre que fizestes isto a
um destes meus irmos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes" (cf. Mt 25, 37-40). De fato, o
Salvador imprime a sua imagem em cada ato de caridade, como o fez no leno de Vernica.

Estao VII

Jesus cai pela segunda vez

Eu sou o homem que conheceu a aflio,


sob a vara do seu furor.
Conduziu-me e fez-me caminhar
nas trevas e no na claridade. (...)
Fechou-me o caminho com pedras silhares
e subverteu as minhas veredas. (...)
Quebrou-me os dentes com uma pedra
e mergulhou-me na cinza.
(Livro das Lamentaes 3, 1-2.9.16)

"Eu sou um verme e no um homem, o oprbrio dos homens e a abjeo da plebe" (Sal 22/21, 7): as
palavras do profeta-salmista cumprem-se plenamente nestas vielas estreitas e rduas de Jerusalm,
durante as ltimas horas que antecedem a Pscoa. Sabe-se que estas horas, antes da festa, so
enervantes e que as estradas esto apinhadas. neste contexto que se cumprem as palavras do
salmista, embora ningum o pense. Certamente no se do conta disto aqueles que demonstram
desprezo vista deste Jesus de Nazar que cai pela segunda vez sob a Cruz, tornando-Se para eles
objeto de oprbrio.

Ele que o deseja; quer que se cumpra a profecia. Por isso, cai exausto pelo esforo feito. Cai por
vontade do Pai, vontade expressa tambm nas palavras do Profeta. Cai por sua vontade prpria,
porque "como se cumpririam ento as Escrituras?" (Mt 26, 54). "Eu sou um verme e no um
homem" (Sal 22/21, 7), e conseqentemente nem sequer o "Ecce Homo" (Jo 19, 5), sou menos
ainda, ainda pior...

O verme rasteja no meio da terra; ao contrrio, o homem, como rei das criaturas, caminha por cima
dela. O verme tambm ri a madeira: como o verme, o remorso do pecado ri a conscincia do
homem. Remorso pela segunda queda.
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 8

Estao VIII

Jesus consola as filhas de Jerusalm

Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes:


"Filhas de Jerusalm, no choreis por Mim;
chorai antes por vs mesmas e pelos vossos filhos,
pois dias viro em que se dir:
"Felizes as estreis, os ventres que no geraram
e os peitos que no amamentaram".
Ho de ento dizer aos montes:
"Ca sobre ns", e s colinas: "Cobri-nos".
Porque se tratam assim a madeira verde,
o que acontecer seca?"
(Lc 23, 28-31)

Eis o apelo ao arrependimento, ao verdadeiro arrependimento, compuno, na verdade do mal


cometido. Jesus diz s filhas de Jerusalm que choram, ao v-Lo passar: "No choreis por Mim;
chorai antes por vs mesmas e pelos vossos filhos" (Lc 23, 28). No se pode ficar pela superfcie do
mal; preciso chegar at ao fundo das suas razes, das causas, da verdade da conscincia.

isto mesmo que quer dizer Jesus que leva a Cruz, Ele que desde sempre "conhecia o interior de
cada homem" (cf. Jo 2, 25) e sempre o conhece. Por isso, Ele deve permanecer sempre como a
testemunha mais direta dos nossos atos e dos juzos que fazemos sobre eles na nossa conscincia.
Talvez nos faa compreender que estes juzos devem ser ponderados, razoveis, objetivos - diz:
"No choreis" - mas, ao mesmo tempo, conseqentes com tudo o que esta verdade contm: avisa-
nos porque Ele que leva a Cruz. Peo-Vos, Senhor, que saiba viver e caminhar na verdade!

Em Lucas h um relato deste encontro: "Seguia-o uma grande multido de povo e de mulheres, que
batiam no peito e o lamentavam. Porm Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalm,
no choreis sobre mim, mas chorai sobre vs mesmas e sobre os vossos filhos. Porque eis que vir o
tempo em que se dir: Ditosas as estreis, os seios que no geraram, e os peitos que no
amamentaram. Ento comearo os homens a dizer aos montes: Ca sobre ns; e aos outeiros:
Cobri-nos. Porque se isto se faz no lenho verde, que se far no seco?." (Lucas 23, 27-31)

O simbolismo muito forte nesta estao. Jesus profetiza, avisando que as geraes futuras que
sofrero as conseqncias da sua morte. Anuncia que os Homens, reparando na gravidade do ato
consumado, iro sentir um imenso remorso. A ltima frase terrvel, no sentido em que se o
Homem destri o prprio filho de Deus (o "lenho verde"), o que acontecer ao comum mortal? H
quem veja esta profecia como o prenncio da catstrofe da revolta judaica em 70 d.C., quando o
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exrcito romano reduz uma das mais violentas revoltas a cinzas, expulsando os Judeus de
Jerusalm.

Estao IX

Jesus cai pela terceira vez

bom para o homem carregar o jugo,


desde a sua mocidade.
bom ele sentar-se solitrio e silencioso,
quando o Senhor lho impuser;
pr a sua boca no p,
onde talvez encontre esperana;
estender a face a quem o fere,
e suportar as afrontas.
Porque o Senhor no repele para sempre.
Aps haver afligido, tem compaixo,
porque grande a sua misericrdia.
(Livro das Lamentaes 3, 27-32)

"Humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente at morte e morte de cruz" (Flp 2, 8). Cada estao
deste Caminho uma pedra miliar desta obedincia e deste aniquilamento. A medida deste
aniquilamento, vemo-la quando comeamos a ouvir as palavras do profeta: "O Senhor carregou
sobre Ele a iniqidade de todos ns...Todos ns andvamos desgarrados como ovelhas, cada um
seguia o seu caminho; o Senhor carregou sobre Ele a iniqidade de todos ns" (Is 53, 6).

A medida deste aniquilamento, a calculamos quando vemos Jesus cair de novo, pela terceira vez,
sob a Cruz. A medimos ao meditarmos quem Aquele que cai, quem Aquele que jaz no p da
estrada sob a Cruz, cado aos ps de gente hostil que no Lhe poupa humilhaes e ultrajes.

Quem Aquele que cai? Quem Jesus Cristo? "Ele que era de condio divina, no reivindicou o
direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo tomando a condio de servo,
tornando-Se semelhante aos homens. Tido pelo aspecto como homem, humilhou-Se a Si mesmo,
feito obediente at morte e morte de cruz" (Flp 2, 6-8).

Agora, aproxima-se do fim a Via Dolorosa, com a ltima queda de Jesus, a terceira de trs quedas.
O uso do nmero trs refora o simbolismo. Jesus chega ao Calvrio: "Conduziram-no ao lugar do
Glgota, que quer dizer lugar do Crnio. Queriam dar-lhe vinho misturado com mirra, mas ele
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no o quis beber." (Mc 15, 22-23). Note-se que a funo do vinho com mirra era a de simplesmente
diminuir-lhe o sofrimento.

Estao X

Jesus despojado das suas roupas

Os soldados repartiram entre si os seus vestidos,


sorteando-os para verem
o que levava cada um.
(Mc 15, 24)

Quando vemos Jesus sobre o Glgota, despojado dos seus vestidos (cf. Mc 15, 24; etc), o
pensamento volta-se para sua Me: volta atrs, origem deste corpo, que j agora, antes da
crucifixo, todo ele uma chaga viva (cf. Is 52, 14). O mistrio da Encarnao: o Filho de Deus
toma o seu corpo do seio da Virgem (cf. Mt 1, 23; Lc 1, 26-38). O Filho de Deus fala com o Pai,
usando as palavras dum salmo: "No quiseste sacrifcio nem oblao, mas preparaste-Me um corpo"
(Sal 40/39, 7; Heb 10, 5). O corpo do homem manifesta a sua alma. O corpo de Cristo exprime
amor para com o Pai: "Ento Eu disse: Eis que venho (...) para fazer, Deus, a tua vontade" (Sal
40/39, 9; Heb 10, 7). "Eu sempre fao o que do agrado de Ele" (Jo 8, 29). Este corpo despojado
cumpre a vontade do Filho e a do Pai em cada chaga, cada guinada de dor, cada msculo
dilacerado, cada fio de sangue que corre, o cansao total dos braos, as pisaduras do pescoo e das
costas, uma terrvel dor nas tmporas. Este corpo cumpre a vontade do Pai, quando despojado dos
vestidos e tratado como objeto de suplcio, quando encerra em si a dor imensa da humanidade
profanada. O corpo do homem profanado de vrios modos.

Nesta estao, devemos pensar na Me de Cristo, porque, junto do seu corao, nos seus olhos,
entre as suas mos, o corpo do Filho de Deus recebeu plena adorao. Quase todos os evangelistas
relatam este episdio, apenas So Lucas o omite. O relato mais pormenorizado o de So Joo:
"Tendo os soldados crucificado Jesus, tomaram as suas vestes - de que fizeram quatro partes, uma
para cada soldado - e tambm a tnica. A tnica, toda tecida de alto a baixo, no tinha costura.
Disseram uns aos outros: No a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem ser.
Assim se cumpriu a escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e sobre a minha tnica
deitaram sortes. Assim fizeram, pois, os soldados." (Joo 19, 23-24)

H que mencionar que na Via Sacra, este episdio representado como sendo anterior
crucificao, mas os trs evangelistas que mencionam este episdio (So Mateus, So Marcos e So
Joo) apresentam-no como posterior subida de Jesus cruz.

Estao XI
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 11

Jesus pregado na cruz

Eram as nove da manh quando O crucificaram.


Na inscrio que indicava o motivo da sua condenao, lia-se:
"O Rei dos judeus".
Com Ele crucificaram dois salteadores,
um sua direita e o outro sua esquerda".
(Mc 15, 25-27)

"Trespassaram as minhas mos e os meus ps; posso contar todos os meus ossos" (Sal 22/21, 17-
18). "Posso contar...": palavras verdadeiramente profticas! que este corpo o preo dum resgate.
Um grande resgate todo este corpo: as mos, os ps, e cada osso. Todo o Homem sujeito
mxima tenso: esqueleto, msculos, sistema nervoso, cada rgo, cada clula, tudo posto na
mxima tenso. "Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim" (Jo 12, 32).

Eis as palavras que exprimem a plena realidade da crucifixo. Desta faz parte tambm esta tenso
terrvel que atravessa as mos, os ps e todos os ossos: terrvel tenso do corpo inteiro, que,
pregado como um objeto s traves da Cruz, est para chegar ao extremo do aniquilamento nas
convulses da morte. E na realidade da crucifixo entra tambm todo o mundo que Jesus quer atrair
a Si (cf. Jo 12, 32). O mundo fica sujeito gravitao do corpo, que por inrcia tende para baixo.
precisamente nesta gravitao que est a paixo do Crucificado. "Vs sois c de baixo, Eu sou l de
cima" (Jo 8, 23). Eis as suas palavras da Cruz: "Perdoa-lhes, Pai, porque no sabem o que fazem"
(Lc 23, 34).

So Lucas continua no vigsimo terceiro captulo o relato da crucificao: "Quando chegaram ao


lugar que se chama Calvrio ali o crucificaram a ele e aos ladres, um direita e outro esquerda.
Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque no sabem o que fazem. Dividindo os seus vestidos,
sortearam-nos." (Lucas 23, 33-34)

A escurido descrita no Novo Testamento s ocorre quando Jesus j est crucificado. So Mateus
bem claro neste ponto: "Desde a hora sexta, at hora nona, as trevas envolveram toda a terra (...)"
(Mateus 27, 45). Assim, parece claro que segundo So Mateus, as trevas s vieram hora sexta, ou
seja, sensivelmente ao meio-dia (as horas eram contadas a partir do nascer do sol, e a hora prima era
aproximadamente s sete da manh). A esta hora, Jesus j estava crucificado h algum tempo, logo
faz pouco sentido que esteja um cu to escuro no momento em que ele pregado na cruz, pois as
trevas s viriam depois. Pelos relatos dos outros evangelistas como So Marcos (15, 24-36),
obtemos a informao de que Jesus foi crucificado perto das nove da manh ("hora terceira",
Marcos 15, 25), que as trevas vieram ao meio-dia e que Jesus morreu perto das trs da tarde, como
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 12

nos diz So Marcos: "E hora nona, Jesus exclamou em alta voz: Elo, lama sabacthani? Que
quer dizer: meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" (Mc 15, 34)

Estao XII

Jesus morre na cruz

Chegado ao meio-dia,
houve trevas por toda a terra,
at s trs da tarde.
s trs horas, Jesus exclamou em alta voz:
"Elo, Elo, lema sabactni?"
que quer dizer:
Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste? (...)
Soltando um grande brado, Jesus expirou. (...)
Ao v-Lo expirar daquela maneira,
o centurio, que se encontrava em frente de Ele, exclamou:
"Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus".
(Mc 15, 33-34.37.39)

Eis o agir mais alto, mais sublime do Filho em unio com o Pai. Sim, em unio, na mais profunda
unio... precisamente quando grita: "Elo, Elo, lema sabactni?", "Meu Deus, meu Deus, porque
Me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27, 46). Este agir exprime-se na verticalidade do corpo estendido
ao longo da trave perpendicular da Cruz com a horizontalidade dos braos estendidos ao longo do
madeiro transversal. A pessoa que olha estes braos pode pensar com quanto esforo eles abraam o
homem e o mundo. Abraam.

Eis o homem. Eis o prprio Deus. "Em Ele (...) vivemos, nos movemos e existimos" (At 17, 28).
Em Ele, nestes braos estendidos ao longo da trave horizontal da Cruz. O mistrio da Redeno.
Jesus, pregado na Cruz, imobilizado nesta terrvel posio, invoca o Pai (cf. Mc 15, 34; Mt 27, 46;
Lc 23, 46). Todas as suas invocaes testemunham que Ele est unido com o Pai. "Eu e o Pai somos
um" (Jo 10, 30); "Quem Me v, v o Pai" (Jo 14, 9); "Meu Pai trabalha continuamente e Eu tambm
trabalho" (Jo 5, 17).

Estao XIII

Jesus retirado da cruz e entregue sua me


Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 13

Ao cair da tarde,
Jos de Arimatia, respeitvel membro do Conselho,
que tambm esperava o Reino de Deus, (...)
depois de comprar um lenol,
desceu o corpo de Jesus da cruz e envolveu-o nele.
(Mc 15, 42-43.46)

Ao ver o corpo de Jesus ser tirado da Cruz e colocado nos braos de sua Me, diante dos nossos
olhos repassa o momento em que Maria recebeu a saudao do anjo Gabriel: "Hs de conceber no
teu seio e dar luz um filho, ao qual pors o nome de Jesus. (..) O Senhor Deus dar-Lhe- o trono
de seu pai David (...) e o seu reinado no ter fim" (Lc 1, 31-33). Maria disse apenas: "Faa-se em
mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38), como se desde ento tivesse querido exprimir o que est
vivendo agora.

No mistrio da Redeno, entrelaam-se a Graa, isto , o dom do prprio Deus, e "o pagamento"
do corao humano. Neste mistrio, somos enriquecidos por um Dom do alto (cf. Tg 1, 17) e ao
mesmo tempo comprados pelo resgate do Filho de Deus (cf. 1 Cor 6, 20; 7, 23; At 20, 28). E Maria,
tendo sido mais do que ningum enriquecida de dons, paga mais tambm. Com o corao. A este
mistrio est unida a promessa maravilhosa formulada por Simeo quando da apresentao de Jesus
no templo: "Uma espada trespassar a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos
coraes" (Lc 2, 35). Tambm isto se cumpre. Quantos coraes humanos se abrem diante do
corao desta Me que pagou tanto. E de novo Jesus est todo inteiro nos seus braos, como esteve
no prespio de Belm (cf. Lc 2, 16), durante a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 14), em Nazar (cf. Lc 2,
39-40). Senhora da Piedade.

Estao XIV

Jesus sepultado
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 14

Jos de Arimatia
envolveu o corpo de Jesus num lenol.
Em seguida, depositou-O num sepulcro cavado na rocha
e rolou uma pedra
contra a porta do sepulcro.
Maria de Magdala
e Maria, me de Jos,
observaram onde O depositaram.
(Mc 15, 46-47)

Desde que o homem, por causa do pecado, foi afastado da rvore da vida (cf. Gn 3, 23-24), a terra
tornou-se um cemitrio. H tantos homens como sepulcros. Um grande planeta de tmulos. Nas
proximidades do Calvrio, havia um tmulo que pertencia a Jos de Arimatia (cf. Mt 27, 60).
Neste tmulo, com o consentimento de Jos, colocou-se o corpo de Jesus depois de descido da Cruz
(cf. Mc 15, 42-46; etc.). Depositaram-no pressa, de modo que a cerimnia terminasse antes da
festa da Pscoa (cf. Jo 19, 31), que comeava ao pr do sol.

Dentre todos os tmulos espalhados pelos continentes do nosso planeta, h um onde o Filho de
Deus, o homem Jesus Cristo, venceu a morte com a morte. "O mors! Ero mors tua!", " morte, Eu
serei a tua morte" (1 antfona das Laudes de Sbado Santo)". A rvore da Vida, da qual o homem
foi afastado por causa do pecado, revelou-se novamente aos homens no corpo de Cristo. "Se algum
comer deste po viver eternamente; e o po que Eu hei de dar a minha carne pela vida do
mundo" (Jo 6, 51).

Estao XV

A Ressurreio

Por que buscar entre os mortos quele que est entre os vivos?
No est aqui, ressuscitou.
(Lc 24,5-6).

"Vos anunciamos a Boa Nova de que a promessa feita aos pais, Deus a cumpriu em ns, os filhos,
ao ressuscitar Jesus" (At 13,32-33). A ressurreio de Jesus a verdade culminante de nossa f em
Cristo, crida e vivida pela primeira comunidade crist como verdade central, transmitida como
fundamental pela Tradio, estabelecida nos documentos do novo Testamento, predicada como
parte essencial do Mistrio Pascal ao mesmo tempo que a Cruz: Cristo ressuscitou dentre os mortos.
Com sua morte venceu a morte. "Aos mortos deu a vida".
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 15

O mistrio da ressurreio de Cristo um acontecimento real que teve manifestaes historicamente


comprovadas como o testifica o Novo Testamento. J So Paulo, no ano 56, pde escrever aos
Corntios: "Porque vos transmiti, em primeiro lugar, o que por minha vez recebi: que Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia,
segundo as Escrituras; que se apareceu a Cefas e depois aos Doze" (1Cor 15, 3-4). O apstolo fala
aqui da tradio viva da Ressurreio que recebeu depois de sua converso s portas de Damasco
(ver At 9,3-18).

No marco dos acontecimentos da Pscoa, o primeiro elemento que encontrado o sepulcro vazio.
No em si uma prova direta, a ausncia do corpo de Cristo no sepulcro poderia ser explicada de
outro modo (ver Jo 10,13; Mt 28,11-15). Apesar disso, o sepulcro vazio constituiu para todos um
sinal essencial. Seu descobrimento pelos discpulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do
fato da Ressurreio. No caso, em primeiro lugar, das santas mulheres (ver Lc 24,3.22-23), depois
de Pedro (ver Lc 24,12). "O discpulo que Jesus amava" (Jo 20,2) afirma que, ao entrar no sepulcro
vazio e ao descobrir "as vendas no cho" (Jo 20,6) "viu e acreditou" (Jo 20,8). Isso supe que
constatou no estado do sepulcro vazio (ver Jo, 20,5-7) que a ausncia do corpo de Jesus no poderia
ter sido obra humana e que Jesus no teria voltado simplesmente a uma vida terrena como havia
sido o caso de Lzaro (ver Jo 11,44).

Maria Madalena e as santas mulheres, que iam embalsamar o corpo de Jesus enterrado s pressas na
tarde da Sexta-feira pela chegada do Sbado (ver Jo 19,31.42), foram as primeiras a encontrar o
Ressuscitado. Assim as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreio de Cristo para os
prprios apstolos (ver Lc 24,9-10). Jesus apareceu em seguida a eles, primeiro a Pedro, depois aos
Doze. Pedro, chamado a confirmar na f seus irmos, v portanto o Ressuscitado antes dos demais e
sobre seu testemunho se apia a comunidade quando exclama: " verdade! O Senhor ressuscitou e
apareceu a Simo!" (Lc, 24,34). Tudo o que aconteceu nestas jornadas pascais compromete a cada
um dos apstolos, e a Pedro em particular, na construo da nova era que comeou na manh de
Pscoa. Como testemunhas do Ressuscitado, os apstolos so as pedras de fundao de sua Igreja.
A f da primeira comunidade de fiis se funda no testemunho de homens concretos, conhecidos dos
cristos e, para a maioria, vivendo entre eles ainda. Estas "testemunhas da Ressurreio de Cristo"
(ver At 1,22) so principalmente Pedro e os Doze, mas no somente eles: Paulo fala claramente de
mais de quinhentas pessoas s quais Jesus apareceu de uma s vez, alm de Santiago e de todos os
apstolos (ver 1Cor 15,4-8).

Diante destes testemunhos impossvel interpretar a Ressurreio de Cristo fora da ordem fsica, e
no reconhec-lo como um fato histrico. Sabemos pelos fatos que a f dos discpulos foi
submetida prova radical da paixo e da morte na cruz de seu mestre, anunciada por Ele de
antemo (ver Lc 22,31-32). A sacudida provocada pela paixo foi to grande que, pelo menos
alguns deles, no acreditaram em seguida na notcia da ressurreio. Os evangelhos, longe de nos
mostrar uma comunidade acometida por uma exaltao mstica, nos apresentam os discpulos
abatidos e assustados. Por isso no acreditaram nas santas mulheres que voltavam do sepulcro e
"suas palavras pareciam desatinos" (Lc 24,11). Quando Jesus se manifesta aos onze na tarde de
Pscoa, "jogou-lhes na cara sua incredulidade e sua dureza de cabea por no ter acreditado nos que
o tinham visto ressuscitado" (Mc 16,14).

To impossvel lhes parece que, at mesmo colocados diante da realidade de Jesus ressuscitado, os
discpulos ainda duvidam: crem ver um esprito. "No acabam de acreditar por causa da alegria e
estavam assustados" (Lc 24,41). Tom conhecer a mesma prova da dvida e, na ltima apario na
Galilia referida por Mateus, "alguns entretanto duvidaram" (Mt 28, 17). Por isto a hiptese
segundo a qual a ressurreio teria sido um 'produto' da f (ou da credulidade) dos apstolos no
tem consistncia. Pelo contrrio, sua f na Ressurreio nasceu sob a ao da graa divina, da
experincia direta da realidade de Jesus ressuscitado.
Artigo A Via Sacra Sociedade das Cincias Antigas 16

"Que noite to ditosa, (canta o Exultet de Pscoa), s ela conheceu o momento em que Cristo
ressuscitou dentre os mortos!". Com efeito, ningum foi testemunha ocular do acontecimento da
Ressurreio e nenhum evangelista o descreve. Ningum pode dizer como aconteceu fisicamente.
Menos ainda, sua essncia mais ntima, a passagem outra vida, foi perceptvel aos sentidos.
Acontecimento histrico demonstrvel pelo sinal do sepulcro vazio e pela realidade dos encontros
dos apstolos com Cristo ressuscitado, entretanto no por isso a Ressurreio seja alheia ao centro
do Mistrio da f naquilo que transcende e sobrepassa histria. Por isso, Cristo ressuscitado no
se manifesta ao mundo seno a seus discpulos, "aos que haviam subido com ele da Galilia
Jerusalm e que agora so suas testemunhas perante o povo" (Hch 13,31).

"Se Cristo no ressuscitou, v nossa pregao, v tambm vossa f" (1Cor 15,14). A Ressurreio
constitui principalmente a confirmao de tudo o que Cristo fez e ensinou. Todas as verdades,
inclusive as mais inacessveis ao esprito humano, encontram sua justificativa se Cristo, ao
ressuscitar, deu a prova definitiva de sua autoridade divina segundo o havia prometido.

A Ressurreio de Cristo cumprimento das promessas do Antigo Testamento e do prprio Jesus


durante sua vida terrena. A expresso "segundo as Escrituras" (ver 1 Cor 15,3-4) indica que a
Ressurreio de Cristo cumpriu estas pregaes. H um duplo aspecto no mistrio pascal: por sua
morte nos liberta do pecado, por sua Ressurreio nos abre o acesso a uma nova vida. Esta , em
primeiro lugar, a justificativa que nos devolve graa de Deus "afim de que, assim como Cristo
ressuscitou dentre os mortos... assim tambm ns vivamos uma nova vida" (Rm 6,4). Consiste na
vitria sobre a morte e o pecado e na nova participao na graa. Realiza a adoo filial porque os
homens se convertem em irmos de Cristo, como Jesus mesmo chama a seus discpulos depois de
sua Ressurreio: "Ide, avisai a meus irmos" (Mt 28,10; Jo 20,17). Irmos no por natureza, mas
por dom da graa, porque esta filiao adotiva confere uma participao real na vida do Filho nico,
a que revelou plenamente em sua Ressurreio.

Por ltimo, a Ressurreio de Cristo, e o prprio Cristo ressuscitado, princpio e fonte de nossa
ressurreio futura: "Cristo ressuscitou dentre os mortos como primcia dos que dormiram... do
mesmo modo que em Ado morrem todos, assim tambm todos revivero em Cristo" (1Cor 15, 20-
22). Na espera de que isto se realize, Cristo ressuscitado vive no corao de seus fiis. Nele os
cristos "saboreiam os prodgios do mundo futuro" (Hb 6,5) e sua vida transportada por Cristo ao
seio da vida divina "para que j no vivam para si os que vivem, mas para aquele que morreu e
ressuscitou por eles" (2Cor 5,15).

BIBLIOGRAFIA:

http://www.chamada.com.br/mensagens/horadagloria.shtml
http://www.asj.org.br/boletins_detalhe.asp?cod_boletim=10
http://www.ocatolico.com.br/recadobreve/jesus_via_sacra.htm
http://apostolado.sites.uol.com.br/index40.htm
http://www.brasil.terravista.pt/AreiasBrancas/2119/tercomercy.htm
http://www.vatican.va/news_services/liturgy/2002/documents/ns_lit_doc_20020329_via-
crucis_po.html
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2003/april/documents/hf_jp-
ii_spe_20030418_via-crucis-meditations_po.html
http://www.cbpf.br/~mm/foto-imag.html
http://www.acidigital.com/pascoa/catecismo.htm

FIM

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