A Teoria Da Relatividade Especial e Geral PDF
A Teoria Da Relatividade Especial e Geral PDF
A Teoria Da Relatividade Especial e Geral PDF
EINSTEIN
A TEORIA DA RELATIVIDADE
ESPECIAL E GERAL
Escrito: 1916 (esta edio revisada: 1924)
fonte: Relatividade: Teoria geral e especial
Editor 1920: Methuen & Co Ltd
Publicaram Primeiramente: Dezembro, 1916
Traduziu: Carlos Roberto Nogueira de Freitas
Fsico Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo - PUCSP
Verso Fora de linha De Sjoerd Langkemper: Arquivo da referncia de Einstein
(marxists.org) 1999
Prlogo
O presente livro pretende dar uma idia, a mais exata possvel, da Teoria da
Relatividade, pensando naqueles que, sem dominar o aparato matemtico da
fsica terica, tm interesse na Teoria do ponto de vista cientfico e filosfico em
geral.
Espero que este livro lhes proporcione algumas horas de alegre entretenimento.
Dezembro de 1916.
A. EINSTEIN
2
NOTAS DO TRADUTOR
Procurei encaixar notas esclarecedoras para que este livro se torne uma
referncia para estudantes com dificuldades na Fsica Relativista.
Procurei texto explicativos disponveis em diversos autores para tentar facilitar a
vida do estudante que inicia sua viagem pela genialidade de Albert Einstein e sua
Teoria da Relatividade.
fig. 1
Um indivduo A est fixo no solo e observa um vago que se move em linha reta e
com velocidade constante v. Dentro do vago h um indivduo B que segura duas
esferas carregadas x e y. Suponhamos que a reta que une x e y seja
perpendicular velocidade do vago.
Para o indivduo B, as esferas esto em repouso; assim, entre elas existe um par
de foras eletrostticas dadas pela Lei de Coulomb. Porm, para o indivduo A, as
esferas movem-se em trajetrias paralelas com velocidade v. Assim, para o
indivduo A, alm das foras dadas pela Lei de Coulomb, h um par de foras
magnticas entre as esferas. Desse modo, a fora resultante em cada esfera
depende do observador.
3
Para Einstein, essa concluso era insuportvel, pois na Mecnica isso no ocorria.
Quando temos dois referenciais inerciais, um movendo-se com velocidade
constante em relao ao outro, as leis da Mecnica so as mesmas nos dois
referenciais.
4
A VELOCIDADE DA LUZ NO VCUO TEM O MESMO VALOR C EM
QUALQUER REFERENCIAL INERCIAL, INDEPENDENTEMENTE DA
VELOCIDADE DA FONTE DE LUZ.
O segundo postulado foi o mais difcil de ser aceito, mesmo por fsicos famosos,
pois contraria nossa experincia diria. Consideremos, por exemplo, uma situao
j analisada por ns no estudo da Mecnica, como a representada na figura 2.
fig. 2
fig. 3
Esse meio hipottico no qual a luz se propagaria era chamado de ter. Com o
segundo postulado, Einstein elimina o ter da Fsica; segundo ele, a luz pode se
5
propagar no espao vazio (vcuo). Durante o sculo XX, vrios experimentos
comprovaram a validade do segundo postulado.
Baseado nos dois postulados, Einstein deduziu uma srie de conseqncias e,
com isso, resolveu alguns dos problemas que afligiam os fsicos no fim do sculo
XIX. As mais importantes foram em relao ao tempo, comprimento, massa,
energia, matria, radiao e aos campos eltricos e magnticos.
Nota do Tradutor
Nosso objetivo foi o de ter uma verso em portugus que fosse acessvel a todo
aluno do curso de bacharelado em fsica.
Procurei todos os exemplos em livros, publicaes inclusive na Internet para
facilitar o entendimento dos alunos.
Em sites de Portugal, Brasil e Espanha que possuam informaes relevantes
sobre a teoria eu retirei informaes para facilitar a vida dos alunos.
Toda e qualquer observao, favor enviar para [email protected] estou a
disposio para responder e ajudar em qualquer dvida sobre o assunto em tela.
Carlos Roberto Nogueira de Freitas
[email protected]
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Primeira parte
A Geometria parte de certos conceitos bsicos, como plano, ponto, reta, aos que
estamos em condio de associar representaes mais ou menos claras, assim
como de certas proposies simples (axiomas) que, sobre a base daquelas
representaes, nos inclinamos a dar por verdadeiras.
Todos os demais teoremas so ento referidos a aqueles axiomas ( dizer, so
demonstrados) sobre a base de um mtodo lgico cuja justificao nos sentimos
obrigados a reconhecer.
Um teorema correto, ou verdadeiro, quando se deriva dos axiomas atravs
desse mtodo reconhecido. A questo da verdade dos distintos teoremas
geomtricos remete,pois, a da verdade dos axiomas. Entretanto, se sabe desde
ha muito que esta ltima questo no s no resolvel com os mtodos da
Geometria, sem o que nem sequer tem sentido em si . No se pode perguntar se
verdade ou no que por dois pontos s passa uma reta. Unicamente cabe dizer
que a Geometria Euclidiana trata de figuras as que chama retas e as quais
assinala a propriedade de permanecer univocamente determinadas por dois de
seus pontos.
O conceito de verdadeiro no se aplica s proposies da Geometria pura, porque
com a palavra verdadeiro podemos designar sempre, em ltima instncia, a
coincidncia com um objeto real; a Geometria, entretanto, no se ocupa da
relao de seus conceitos com os objetos da experincia, somente da relao
lgica que guardam estes conceitos entre si.
O que, apesar de tudo, nos sentimos inclinados a qualificar de verdadeiros os
teoremas da Geometria tem fcil explicao. Os conceitos geomtricos se
correspondem, mais ou menos, exatamente com objetos na natureza, que so,
sem nenhum gnero de dvidas, a nica causa de sua formao.
Ainda que a Geometria se distancie disto para dar a seu edifcio o mximo rigor
lgico, o certo que de costume, por exemplo, ver um segmento como dos
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lugares marcados em um corpo praticamente rgido est muito fixo em nossos
hbitos de pensamento. E tambm, estamos acostumados a perceber trs lugares
como situados sobre una reta quando, mediante adequada eleio do ponto de
observao, podemos fazer coincidir suas imagens ao olhar com um s olho.
Se, deixarmos-nos levar pelos hbitos do pensamento, acrescentar agora aos
teoremas da Geometria Euclidiana um nico teorema porm, o de que a dois
pontos de um corpo praticamente rgido1 lhes corresponde sempre a mesma
distancia (segmento), independentemente das variaes de posio a que
submetemos o corpo, ento os teoremas da Geometria Euclidiana se convertem
em teoremas referentes s possveis posies relativas de corpos praticamente
rgidos.
A Geometria assim ampliada h que se contempl-la como um ramo da Fsica.
Agora cabe perguntar-se pela verdade dos teoremas geomtricos assim
interpretados, porque possvel perguntar se so vlidos ou no para aqueles
objetos reais que temos assinalado aos conceitos geomtricos. Mesmo que com
certa impreciso podemos dizer, pois, que por verdade de um teorema geomtrico
entendemos neste sentido sua validade em uma construo com rgua e
compasso. Naturalmente, a convico de que os teoremas geomtricos so
verdadeiros neste sentido descansa exclusivamente em experincias plenamente
incompletas. De incio daremos como hiptese essa verdade dos teoremas
geomtricos, para logo, na ltima parte da exposio (A Teoria da Relatividade
Geral), ver que essa verdade tem seus limites e precisar quais so estes limites.
1
Desta maneira se assinala tambm a linha reta um objeto da natureza. Trs pontos de um corpo
rgido A, B, C se acham situados sobre uma linha reta quando, dados os pontos A e C, o ponto B
est eleito de tal maneira que a soma das distancias AB e BC a menor possvel. Esta definio,
defeituosa desde logo, pode bastar neste contexto.
8
2. O SISTEMA DE COORDENADAS
2
Se por hiptese, entretanto, que a medio exata, dizer, que d um nmero inteiro. Desta
dificuldade se desfaz empregando-se escalas subdivididas, cuja introduo no exige nenhum
mtodo fundamentalmente novo.
3
No preciso entrar aqui com mais detalhamento do significado de coincidncia espacial, pois
este conceito claro na medida em que, em um caso real, apenas haveria diviso de opinies em
torno de sua validade.
9
fornecido com os nomes e localizados no corpo rgido a que posio, e usar-se em
vez dele nmeros. A Fsica experimental cabe este objetivo empregando o
sistema de coordenadas cartesianas.
Este sistema consta de trs paredes rgidas, planas, perpendiculares entre si e
unidas a um corpo rgido. O lugar de qualquer acontecimento, referido ao sistema
de coordenadas, vem descrito (em essncia) pela especificao do comprimento
das trs verticais ou coordenadas (x, y, z) (cf. Fig. 8, p. 26) que podem traar-se
desde o acontecimento at essas trs paredes. Os comprimentos destas trs
perpendiculares podem determinar-se mediante uma sucesso de manipulaes
com rguas rgidas, manipulaes que vm prescritas pelas leis e mtodos da
Geometria euclidiana. Nas aplicaes no costumam construir-se realmente essas
paredes rgidas que formam o sistema de coordenadas; e as coordenadas
tambm no se determinam realmente por meio de construes com rguas
rgidas, seno indiretamente. Mas o sentido fsico das localizaes deve procurar-
se sempre em concordncia com as consideraes anteriores, sob pena de que
os resultados da Fsica e a Astronomia se diluam na falta de clareza 4.
A concluso , conseqentemente, a seguinte: toda a descrio do espao dos
eventos serve-se de um corpo rgido para referi-los espacialmente. Essa
referncia pressupe que os segmentos so governados pelas leis da
Geometria Euclidiana, vindo represent-los fisicamente por duas marcas sobre um
corpo rgido.
NOTAS DO TRADUTOR
A RELATIVIDADE DO TEMPO
Vamos supor que queiramos medir o intervalo de tempo gasto para ocorrer um
fenmeno. Uma das conseqncias dos postulados de Einstein que o valor
desse intervalo de tempo vai depender do referencial em que est o observador.
Se tivermos dois observadores situados em dois referenciais inerciais diferentes,
um tendo velocidade constante em relao ao outro, os intervalos de tempo
medidos por esses observadores sero diferentes. Para demonstrar isso,
consideremos as situaes abaixo.
4
Est na Teoria do Relatividade Geral, estudada na segunda parte do livro, onde um se torna
necessrio para refinar e modificar esta concepo.
10
Nas figuras 4 e 5 representamos um trem que se move com velocidade constante
V em relao ao solo. Dentro do vago h um observador O', fixo em relao ao
vago, e fora dele h um observador O, fixo em relao ao solo.
O observador O' (fig. a) aciona uma fonte de luz que emite um pulso para cima.
Esse pulso refletido por um espelho e volta para a fonte. Para o observador O',
na ida e na volta o pulso de luz gasta um intervalo de tempo t' dado por:
2d' = c . (t' )
Eq.I
2d = c . (t )
Eq. II
2d = c. ( t ) t = 2d / c
11
Essa relao vale para todos os processos fsicos, incluindo reaes qumicas e
processos biolgicos.
Vamos agora encontrar uma equao que relacione t com t'. Aplicando o
teorema de Pitgoras ao tringulo retngulo sombreado na figura c, temos:
Uma das primeiras evidncias da dilatao temporal foi obtida por meio de
experimentos com uma partcula chamada mon. Quando fazemos experimentos
no laboratrio com mons em repouso, observamos que eles se desintegram com
uma vida mdia de 2,2 . l0-6 s. Muitos mons so criados na alta atmosfera, como
resultado do bombardeio dos raios csmicos. Esses mons movem-se com
velocidade prxima da luz:
d = v . (t )
12
d = 650 m
Como:
Assim:
Portanto:
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3. ESPAO E TEMPO NA MECNICA CLSSICA
5
dizer, uma curva ao longo da qual se move o corpo.
14
4. O SISTEMA DE COORDENADAS DE GALILEU
15
5. O PRINCPIO DA RELATIVIDADE (EM SENTIDO RESTRITO)
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natureza s podem formular-se com especial singeleza e naturalidade se dentre
todos os sistemas de coordenadas de Galileu elegssemos como corpo de
referncia um (K0) que tivesse um estado de movimento determinado. A este o
qualificaramos, e com razo (por suas vantagens para a descrio da natureza),
de absolutamente em repouso, enquanto dos demais sistemas galileanos K
diramos que so mveis. Se a via fosse o sistema K0, ponhamos por caso, ento
nosso vago de transporte ferrovirio seria um sistema K com respeito ao qual
regeriam leis menos singelas do que com respeito a K0. Esta menor simplicidade
teria que atribuir que o vago K se move com respeito a K0 (isto , realmente).
Nestas leis gerais da natureza formuladas com respeito a K teriam que
desempenhar um papel o mdulo e a direo da velocidade do vago.
Seria de esperar, por exemplo, que o tom de um tubo de rgo fosse diferente
quando seu eixo fosse paralelo direo de marcha do que quando estivesse
perpendicular. Agora , a Terra, devido a seu movimento orbital arredor do Sol,
equiparvel a um vago que viaja a uns 30 km por segundo. Portanto, no caso de
no ser vlido o Princpio de Relatividade, seria de esperar que a direo
instantnea do movimento terrestre interviesse nas leis da natureza e que,
portanto, o comportamento dos sistemas fsicos dependesse de sua orientao
espacial com respeito Terra; porque, como a velocidade do movimento de
rotao terrestre varia de direo em decorrncia do ano, a Terra no pode estar
todo o ano em repouso com respeito ao hipottico sistema K0.
Pese o esmero que se h posto em detectar uma tal anisotropia do espao fsico
terrestre, isto , uma no equivalncia das diferentes direes, jamais pde ser
observada. O qual um argumento de importncia a favor do Princpio da
Relatividade.
17
6. O TEOREMA DE ADIO DE VELOCIDADES SEGUNDO A
MECNICA CLSSICA
18
7. A APARENTE INCOMPATIBILIDADE DA LEI DE PROPAGAO
DA LUZ COM O PRINCPIO DA RELATIVIDADE
No h na fsica uma lei mais singela do que a de propagao da luz no espao
vcuo. Qualquer estudante sabe (ou cr saber) que esta propagao se produz
em linha reta com uma velocidade de c = 300.000 km/s. Em qualquer caso,
sabemos com grande exatido que esta velocidade a mesma para todas as
cores, porque se no fora assim, o mnimo de emisso no eclipse de uma estrela
fixa por sua colega escura no se observaria simultaneamente para as diversas
cores. Atravs de um raciocnio similar, relativo a observaes das estrelas
duplas, o astrnomo holands De Sitter conseguiu tambm demonstrar que a
velocidade de propagao da luz no pode depender da velocidade do movimento
do corpo emissor.
A hiptese de que esta velocidade de propagao depende da direo no espao
de todo improvvel. Suponhamos, em resumo, que o estudante cr
justificadamente na singela lei da constncia da velocidade da luz c (no vcuo).
Quem diria que esta lei to simples colocou os fsicos mais conceituados em
grandssimas dificuldades conceituais? Os problemas surgem do modo seguinte.
Como natural, o processo da propagao da luz, como qualquer outro, h que
se referir a um corpo de referncia rgido (sistema de coordenadas). Voltamos a
eleger como tal as vias do trem e imaginamos que o ar que tinha acima delas o
eliminamos por bombeamento. Suponhamos que ao longo do barranco se emite
um raio de luz cujo vrtice, segundo o anterior, propaga-se com a velocidade c
com respeito quele. Nosso vago de transporte ferrovirio segue viajando com a
velocidade v, na mesma direo em que se propaga o raio de luz, mas
naturalmente bem mais devagar. O que nos interessa averiguar a velocidade de
propagao do raio de luz com respeito ao vago. fcil ver que o raciocnio da
seo anterior tem aqui aplicao, pois o homem que corre com respeito ao vago
desempenha o papel do raio de luz. Em lugar de sua velocidade W com respeito
ao barranco aparece aqui a velocidade da luz com respeito a este; a velocidade w
que procuramos, a da luz com respeito ao vago, por tanto igual a:
w=cv
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Relatividade que por sua naturalidade e singeleza se impe mente como algo
quase inevitvel ou que se mantenha em p, substituindo em troca a lei da
propagao da luz no vcuo por uma lei mais complicada e compatvel com o
Princpio da Relatividade. No entanto, a evoluo da Fsica terica demonstrou
que este caminho era impraticvel.
As inovadoras investigaes tericas de H. A. Lorentz sobre os processos
eletrodinmicos e pticos em corpos mveis demonstraram que as experincias
nestes campos conduzem com necessidade imperiosa a uma teoria dos
processos eletromagnticos que tem como conseqncia irrefutvel a lei da
constncia da luz no vcuo. Por isso, os tericos de vanguarda se inclinaram mais
por prescindir do Princpio da Relatividade, pese a no poder achar nem um s
fato experimental que o contradissesse. Aqui onde entrou a Teoria da
Relatividade. Mediante uma anlise dos conceitos de espao e tempo se viu que
em realidade no existia nenhuma incompatibilidade entre o Princpio da
Relatividade e a lei de propagao da luz, seno que, atendo-se sistematicamente
a estas duas leis, chegava-se a uma teoria logicamente impecvel.
Esta teoria, que para diferenci-la de sua ampliao (comentada mais adiante)
chamamos Teoria da Relatividade Especial, a que exporemos a seguir em suas
idias fundamentais.
20
8. SOBRE O CONCEITO DE TEMPO NA FSICA
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posso fazer a discrio para chegar a uma definio de simultaneidade. Est claro
que esta definio se pode utilizar para dar sentido exato ao enunciado de
simultaneidade, no s de dois eventos, seno de um nmero arbitrrio deles,
seja qual for sua posio com respeito ao corpo de referncia6 . Com isso se
chega tambm a uma definio do tempo na Fsica. Imaginemos, efetivamente,
que nos pontos A,B,C da via (sistema de coordenadas) existem relgios de
idntica constituio e dispostos de tal maneira que as posies dos ponteiros
sejam simultaneamente (no sentido anterior) as mesmas.
Entende-se ento por tempo de um acontecimento a hora (posio dos ponteiros)
marcada por aquele nesses relgios que est imediatamente contguo
(espacialmente) ao acontecimento. Deste modo se atribui a cada acontecimento
um valor temporrio que essencialmente observvel. Esta definio entranha
outra hiptese fsica de cuja validade, em ausncia de razes empricas na
contramo, no se poder duvidar.
Efetivamente, supe-se que todos os relgios marcham com igual velocidade se
tm a mesma constituio. Formulando-o exatamente: se dois relgios colocados
em repouso em diferentes lugares do corpo de referncia so postos em hora de
tal maneira que a posio dos ponteiros de um seja simultnea (no sentido
anterior) mesma posio dos ponteiros do outro, ento posies iguais dos
ponteiros so em geral simultneas (no sentido da definio anterior).
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9. A RELATIVIDADE DA SIMULTANEIDADE
Barranco
A M B
Dois eventos (p. ex., os dois raios A e B) que so simultneos com respeito ao
barranco, so tambm simultneos com respeito ao trem? Em seguida
demonstraremos que a resposta tem que ser negativa.
Quando dizemos que os raios A e B so simultneos com respeito s vias,
queremos dizer: os raios de luz que saem dos lugares A e B se renem no ponto
mdio M do trecho da via A-B. Agora , os eventos A e B se correspondem
tambm com lugares A e B no trem. Seja M' o ponto mdio do segmento A-B do
trem em marcha. Este ponto M' verdadeiro que no instante da queda dos raios7
coincide com o ponto M, mas, como se indica na figura, move-se para a direita
com a velocidade v do trem. Um observador que estivesse sentado no trem em
M', mas que no possusse esta velocidade, permaneceria constantemente em M,
e os raios de luz que partem das fascas A e B o atingiriam simultaneamente, isto
, estes dois raios de luz se reuniriam precisamente nele. A realidade , no
entanto, que (julgando a situao desde o barranco) este observador vai ao
encontro do raio de luz que vem de B, fugindo em mudana do que avana desde
A Portanto, ver antes a luz que sai de B que a que sai de A. Em resumidas
contas, os observadores que utilizam o trem como corpo de referncia tm que
chegar concluso de que a fasca eltrica B caiu antes que a A. Chegamos
assim a um resultado importante: eventos que so simultneos com respeito ao
barranco no o so com respeito ao trem, e vice-versa (Relatividade da
simultaneidade). Cada corpo de referncia (sistema de coordenadas) tem seu
tempo especial; uma localizao temporria tem s sentido quando se indica o
corpo de referncia ao que remete. Antes da Teoria da Relatividade, a Fsica
supunha sempre implicitamente que o significado dos dados temporais era
absoluto, isto , independente do estado de movimento do corpo de referncia.
Mas acabamos de ver que esta suposio incompatvel com a definio natural
7
Do ponto de vista do barranco!
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de simultaneidade; se prescindimos dele, desaparece o conflito, exposto na seo
7, entre a lei da propagao da luz e o Princpio da Relatividade.
Efetivamente, o conflito provm do raciocnio da seo 6, que agora resulta
insustentvel. Inferimos ali que o homem que caminha pelo vago e percorre o
trecho w num segundo, percorre esse mesmo trecho tambm num segundo com
respeito s vias. Agora , toda vez que, em virtude das reflexes 'anteriores, o
tempo que precisa um processo com respeito ao vago no cabe igual-lo
durao do mesmo processo avaliada desde o corpo de referncia do barranco,
tambm no se pode afirmar que o homem, ao caminhar com respeito s vias,
percorra o trecho w num tempo que mensurado desde o barranco igual a
um segundo. Digamos de passagem que o raciocnio da seo 6 descansa alm
do mais numa segunda suposio que, luz de uma reflexo rigorosa, revela-se
arbitrria, a qual no tira para que, antes de estabelecer-se a Teoria da
Relatividade, fosse aceita sempre (de modo implcito).
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10. SOBRE A RELATIVIDADE DO CONCEITO DE DISTNCIA
ESPACIAL
Observamos dois lugares particulares do trem8 que viaja com velocidade v pela
linha e nos perguntamos que distncia h entre eles. Sabemos j que para medir
uma distncia se precisa um corpo de referncia com respeito ao qual faz-lo. O
mais singelo utilizar o prprio trem como corpo de referncia (sistema de
coordenadas). Um observador que viaja no trem mede a distncia, transportando
em linha reta uma rgua sobre o solo dos vages, por exemplo, at chegar desde
um dos pontos marcados ao outro. O nmero que indica quantas vezes
transportou a rgua ento a distncia procurada. Outra coisa se se quer medir
a distncia desde a via. Aqui se oferece o mtodo seguinte: sejam A' e B' os dois
pontos do trem de cuja distncia se trata; estes dois pontos se movem com
velocidade v ao longo da via. Perguntemo-nos primeiro pelos pontos A e B da via
por onde passam A' e B' num momento determinado t (mensurado desde a via).
Em virtude da definio de tempo dada na seo 8, estes pontos A e B da via so
determinveis. A seguir se mede a distncia entre A e B transportando
repetidamente o metro ao longo da via. A priori no est dito que esta segunda
medio tenha que proporcionar o mesmo resultado que a primeira. O
comprimento do trem, medido da via, pode ser diferente que medido desde o
prprio trem. Esta circunstncia se traduz numa segunda objeo que se ope ao
raciocnio, aparentemente to meridiano, da seo 6. Pois se o homem no vago
percorre numa unidade de tempo o trecho w medido desde o trem este trecho,
medido desde a via, no tem por que ser igual a w.
8
O centro dos vages primeiro e centsimo, por exemplo.
25
11. A TRANSFORMAO DE LORENTZ
As consideraes feitas nos trs ltimas sees nos mostram que a aparente
incompatibilidade da lei de propagao da luz com o Princpio de Relatividade na
seo 7 est deduzida atravs de um raciocnio que tomava de emprstimo da
Mecnica Clssica duas hipteses injustificadas; estas hipteses so:
1. O intervalo temporal entre dois eventos independente do estado de
movimento do corpo de referncia.
2. O intervalo espacial entre dois pontos de um corpo rgido independente do
estado de movimento do corpo de referncia.
Se eliminamos estas duas hipteses, desaparece o dilema da seo 7, porque o
teorema de adio de velocidades deduzido na seo 6 perde sua validade. Ante
ns surge a possibilidade de que a lei da propagao da luz no vcuo seja
compatvel com o Princpio de Relatividade. Chegamos assim pergunta: como
modificar o raciocnio da seo 6 para eliminar a aparente contradio entre estes
dois resultados fundamentais da experincia? Esta questo conduz a outra de
ndole geral. No raciocnio da seo 6 aparecem lugares e tempos com relao ao
trem e com relao s vias. Como se acham o lugar e o tempo de um
acontecimento com relao ao trem quando se conhecem o lugar e o tempo do
acontecimento com respeito s vias? Esta pergunta tem alguma resposta de
acordo com a qual a lei da propagao no vcuo no contradiga ao Princpio de
Relatividade?
Ou expresso de outro modo: cabe achar alguma relao entre as posies e
tempos dos diferentes eventos com relao a ambos corpos de referncia, de
maneira que todo raio de luz tenha a velocidade de propagao c com respeito s
vias e com respeito ao trem? Esta pergunta conduz a uma resposta muito
determinada e afirmativa, a uma lei de transformao muito precisa para as
magnitudes espao-temporais de um acontecimento ao passar de um corpo de
referncia a outro.
Antes de entrar em isso, intercalemos a seguinte considerao. At agora
somente falamos de eventos que se produziam ao longo da via, a qual
desempenhava a funo matemtica de uma reta. Mas, seguindo o indicado na
seo 2, cabe imaginar que este corpo de referncia se prolonga para os lados e
para acima por meio de um andaime de varetas, de maneira que qualquer
acontecimento, ocorra onde ocorra, pode localizar-se com respeito a esse
andaime. Analogamente, possvel imaginar que o trem que viaja com velocidade
v se prolonga por todo o espao, de maneira que qualquer acontecimento, por
longnquo que esteja, tambm possa localizar-se com respeito ao segundo
andaime. Sem incorrer em defeito terico, podemos prescindir do fato de que em
realidade esses andaimes se destroariam um contra o outro devido
impenetrabilidade dos corpos slidos. Em cada um destes andaimes imaginamos
que se erigem trs paredes mutuamente perpendiculares que denominamos
planos coordenados (sistema de coordenadas). Ao barranco lhe corresponde
ento um sistema de coordenadas K, e ao trem outro K'. Qualquer acontecimento,
onde quer que ocorra, vem fixado espacialmente com respeito a K pelas trs
perpendiculares x, e, z aos planos coordenados, e temporariamente por um valor
26
t. Esse mesmo acontecimento vem fixado no espao-tempo com respeito a K' por
valores correspondentes x', y', z', t', que, como natural, no coincidem com x, y,
z, t. J explicamos antes com detalhe como interpretar estas magnitudes como
resultados de medies fsicas. evidente que o problema que temos proposto se
pode formular exatamente da maneira seguinte: dadas as quantidades x, y, z, t de
um acontecimento com respeito a K, quais so os valorizes x',y',z',t' do mesmo
acontecimento com respeito a K' ? As relaes h que as eleger de tal modo que
satisfaam a lei de propagao da luz no vcuo para um e o mesmo raio de luz (e
alm do mais para qualquer raio de luz) com respeito a K e K'. Para a orientao
espacial relativa indicada no desenho da figura 2, o problema fica resolvido pelas
equaes:
y = y
z = z
fig. 8
9
No Apndice se d uma derivao singela da transformao de Lorentz
27
sistema que com freqncia se denomina transformao de Galileu. A
transformao de Galileu se obtm da de Lorentz igualando nesta a velocidade da
luz c a um valor infinitamente grande. O seguinte exemplo mostra claramente que,
segundo a transformao de Lorentz, a lei de propagao da luz no esvaziamento
se cumpre tanto com respeito ao corpo de referncia K como com respeito ao
corpo de referncia K'. Suponhamos que se envia um sinal luminoso ao longo do
eixo x positivo, propagando-se a excitao luminosa segundo a equao
x = ct,
28
12. O COMPORTAMENTO DE HASTES E RELGIOS MVEIS
Coloco uma haste de um metro sobre o eixo x' de K', de maneira que um extremo
coincida com o ponto x' = 0 e o outro com o ponto x' = 1. Qual a comprimento da
haste com respeito ao sistema K? Para averigu-lo podemos determinar as
posies de ambos extremos com respeito a K num momento determinado t. Da
primeira equao da transformao de Lorentz, para t = 0, obtm-se para estes
dois pontos:
X(origem da escala) = 0 . 1- v2
c2
X(extremo da escala) = 1 . 1- v2
c2
1- v2
c2 metros. A haste rgida em movimento mais curta do que a mesma
haste quando est em estado de repouso, e tanto mais curta quando mais
rapidamente se mova. Para a velocidade v = c seria
1- v2 =0
2
c
para velocidades ainda maiores a raiz se faria imaginria. De aqui inferimos que
na Teoria da Relatividade a velocidade c desempenha o papel de uma velocidade
limite que no pode atingir nem ultrapassar nenhum corpo real. Adicionemos que
este papel da velocidade c como velocidade limite se segue das prprias
equaes da transformao de Lorentz, porque estas perdem todo sentido quando
v se elege maior do que c.
Se tivssemos procedido ao inverso, considerando um metro que se acha em
repouso com respeito a K sobre o eixo x, teramos comprovado que em relao a
K' tem a comprimento de
1 v2
c2
29
medidas obtidas com relgios e hastes. Se tivssemos tomado como base a
transformao de Galileu, no teramos obtido um encurtamento de comprimento
como conseqncia do movimento. Imaginemos agora um relgio com ponteiros
de segundos que repousa constantemente na origem (x' = 0) de K'. Sejam t' = 0 e
t' = 1 dois sinais sucessivos deste relgio. Para estes dois ticks, as equaes
primeira e quarta da transformao de Lorentz daro:
t=0 e
1 v2
c2 segundos, ou seja um tempo algo maior. Como conseqncia de seu
movimento, o relgio marcha algo mais devagar do que em estado de repouso. A
velocidade da luz c desempenha, tambm aqui, o papel de uma velocidade limite
inatingvel.
30
13. TEOREMA DE ADIO DE VELOCIDADES. EXPERIMENTO DE
FIZEAU
Dado que as velocidades com que na prtica podemos mover relgios e hastes
so pequenas frente a velocidade da luz c, difcil que possamos comparar os
resultados do titulo anterior com a realidade. Isto posto, por outro lado, esses
resultados aparecem ao leitor cheio de singulares, vou extrair da teoria outra
conseqncia que muito fcil de deduzir do anteriormente exposto e que os
experimentos confirmam brilhantemente.
Na seo 6 havamos deduzido o teorema de adio para velocidades de mesma
direo, tal e como resulta das hipteses da Mecnica Clssica. O mesmo se
pode deduzir facilmente da transformao de Galileu (seo11). Em lugar do
homem que caminha pelo vago introduzimos um ponto que se move com
respeito ao sistema de coordenadas K' segundo a equao:
x' =wt.
x = (v + w) t.
Esta equao no expressa outra coisa que a lei do movimento do ponto com
respeito ao sistema K (do homem com respeito ao barranco), velocidade que
designamos por W, com a qual se obtm, como na seo 6:
W = v+w (A)
x' = wt'
v+w
W= (B)
1 + vw
c2
que corresponde ao teorema de adio de velocidades de igual direo segundo a
Teoria da Relatividade. A questo qual destes dois teoremas resiste a aferio
com a experincia. Sobre o particular nos induz a um experimento extremamente
importante, realizado faz mais de meio sculo pelo genial fsico Fizeau e desde
31
ento repetido por alguns dos melhores fsicos experimentais, pelo qual o
resultado irrepreensvel. O experimento versa sobre a seguinte questo.
Suponhamos que a luz se propaga num verdadeiro lquido em repouso com uma
determinada velocidade w. Com que velocidade se propaga no tubo R da figura 9
na direo da flecha, quando dentro desse tubo flui o lquido com velocidade v?
Em qualquer caso, fiis ao Princpio de Relatividade, teremos que aceitar a
suposio de que, com respeito ao lquido, a propagao da luz se produz sempre
com a mesma velocidade w, mova-se ou no o lquido com respeito a outros
corpos. So conhecidas, por tanto, a velocidade da luz com respeito ao lquido e a
velocidade deste com respeito ao tubo, e se procura a velocidade da luz com
respeito ao tubo. Est claro que o problema volta a ser o mesmo que o da seo
6. O tubo desempenha o papel das vias ou do sistema de coordenadas K; o
lquido, o papel do vago ou do sistema de coordenadas K'; a luz, o do homem
que caminha pelo vago ou o do ponto mvel mencionado neste. Por conseguinte,
se chamamos W velocidade da luz com respeito ao tubo, esta vir dada pela
equao (A) ou pela (B), segundo que seja a transformao de Galileu ou a de
Lorentz a que se corresponde com a realidade.
O experimento10 falha a favor da equao (B) deduzida da Teoria da Relatividade,
e alm do mais com grande exatido. Segundo as ltimas e excelentes medies
de Zeeman, a influncia da velocidade da corrente v sobre a propagao da luz
vem representada pela frmula (B) com uma exatido superior ao 1 por 100. H
que destacar, no entanto, que H. A. Lorentz, muito antes de estabelecer-se a
Teoria da Relatividade, deu j uma teoria deste fenmeno por via puramente
eletrodinmica e utilizando determinadas hipteses sobre a estrutura
eletromagntica da matria. Mas esta circunstncia no diminui nada o poder
probatrio do experimento, enquanto experimentum crucis a favor da Teoria da
Relatividade. Pois a Eletrodinmica de Maxwell-Lorentz, sobre a qual descansava
a teoria original, no est em nada em contradio com a Teoria da Relatividade.
Esta ltima emanou melhor da Eletrodinmica como resumo e generalizao
assombrosamente singelos das hipteses, antes mutuamente independentes, que
serviam de fundamento Eletrodinmica.
10
Fizeau achou W = w + v (1- 1/n2) , onde n = c/w o ndice de refrao do lquido. Por outro lado,
devido a que vw/c2 muito pequeno frente a 1, pode-se substituir (B) por W = (w+v) (1- vw/2), ou
bem, com a mesma aproximao, w+v (1- 1/n2), o qual concorda com o resultado de Fizeau.
32
14. O VALOR HEURSTICO DA TEORIA DA RELATIVIDADE
33
15. RESULTADOS GERAIS DA TEORIA
m v2 ,
2
seno pela expresso
mc2
1 v2
c2
mc2 + m v2 + 3 m v4 + .....
2 8 c2
O terceiro termo sempre pequeno frente ao segundo (o nico considerado na
Mecnica Clssica) quando v2 este termo pequeno em relao a 1.
c2
34
Relatividade Especial concerne ao conceito de massa. A Fsica pr-relativista
conhece dois princpios de conservao de importncia fundamental, o da
conservao da energia e o da conservao da massa; estes dois princpios
fundamentais aparecem completamente independentes uno de outro. A Teoria da
Relatividade os funde num s. A seguir explicaremos brevemente como se chegou
at a e como se interpretar esta fuso. O Princpio de Relatividade exige que o
postulado de conservao da energia se cumpra, no s com respeito a um
sistema de coordenadas K, seno com respeito a qualquer sistema de
coordenadas K' que se encontre com relao a K em movimento de translao
uniforme (afirmado brevemente, com respeito a qualquer sistema de coordenadas
de Galileu). Em contraposio Mecnica Clssica, o passo entre dois desses
sistemas vem regido pela transformao de Lorentz.
A partir destas premissas, e em conjuno com as equaes fundamentais da
eletrodinmica maxwelliana, pode-se inferir rigorosamente, mediante
consideraes relativamente singelas, que: um corpo que se move com
velocidade v e que absorve a energia E0 em forma de radiao11 sem variar por
isso sua velocidade, experimenta um aumento de energia na quantidade:
E0
1 v2
c2
Tendo em conta a expresso que demos antes para a energia cintica, a energia
do corpo vir dada por :
m + E0 c2
c2
1 v2
c2
O corpo tem ento a mesma energia que outro de velocidade v e massa
m + E0
c2
Cabe portanto dizer: se um corpo12 absorve a energia E0, sua massa inercial
cresce em
E0
c2
A massa inercial de um corpo no uma constante, ao contrrio, varivel segundo
a modificao de sua energia. A massa inercial de um sistema de corpos cabe
contempl-la precisamente como uma medida de sua energia. O postulado da
conservao da massa de um sistema coincide com o da conservao da energia
11
Eo a energia absorvida com respeito a um sistema de coordenadas que se move com o corpo.
12
Com respeito a um sistema de coordenadas solidrio com o corpo.
35
e s vlido na medida em que o sistema no absorve nem emite energia. Se
escrevemos a expresso da energia na forma
mc2 + E0
1 v2
c2
E0
C2
36
16. A TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL E A EXPERINCIA
13
A teoria da relatividade geral prope a idia de que as massas eltricas de um eltron se
mantm unidas por foras gravitacionais.
37
1 v2
c2 na direo do movimento
38
supondo que o movimento do corpo com respeito ao ter determinava uma
contrao daquele na direo do movimento e que dita contrao compensava
justamente essa diferena de tempos. A comparao com as consideraes da
seo12 demonstra que esta soluo era tambm a correta desde o ponto de vista
da Teoria da Relatividade. Mas a interpretao da situao segundo esta ltima
incomparavelmente mais satisfatria. De acordo com ela, no existe nenhum
sistema de coordenadas privilegiado que d p a introduzir a idia do ter, nem
tambm no nenhum vento do ter nem experimento algum que o ponha de
manifesto. A contrao dos corpos em movimento se segue aqui, sem hipteses
especiais, dos dois princpios bsicos da teoria; e o decisivo para esta contrao
no o movimento em si, ao que no podemos atribuir nenhum sentido, seno o
movimento com respeito ao corpo de referncia eleito em cada caso. Por
conseguinte, o corpo que sustenta os espelhos no experimento de Michelson e
Morley no se encurta com respeito a um sistema de referncia solidrio com a
Terra, mas sim com respeito a um sistema que se ache em repouso em relao ao
Sol. (figura 10 explica a experincia de Michelson e Morley)
fig. 10
39
17. O ESPAO QUADRIDIMENSIONAL DE MINKOWSKI
O no matemtico se sente coagido por um arrepio mstico ao ouvir a palavra
quadridimensional, uma sensao no diferente da provocada pelo fantasma de
uma comdia. E, no entanto, no h enunciado mais banal que o que afirma do
que nosso mundo cotidiano um contnuo espao-temporal quadridimensional.
O espao um contnuo tridimensional. Quer dizer isto que possvel descrever a
posio de um ponto (em repouso) mediante trs nmeros x, y, z (coordenadas) e
que, dado qualquer ponto, existem pontos arbitrariamente prximos cuja posio
se pode descrever mediante valores coordenados (coordenadas) x1, y1, z1 que
se aproximam arbitrariamente s coordenadas x, y, z do primeiro. Devido a esta
ltima propriedade falamos de um contnuo; devido ao carter trplice das
coordenadas de tridimensional.
Analogamente ocorre com o Universo fsico, com o que Minkowski chama
brevemente mundo ou Universo, que naturalmente quadridimensional no sentido
espao-temporrio. Pois esse Universo se compe de eventos individuais, cada
um dos quais pode descrever-se mediante quatro nmeros, a saber, trs
coordenadas espaciais x, y, z e uma coordenada temporal, o valor do tempo t. O
Universo neste sentido tambm um contnuo, pois para cada acontecimento
existem outros (reais ou imaginveis) arbitrariamente prximos cujas coordenadas
x1, y1, z1, t1 se diferenciam arbitrariamente pouco das do acontecimento
contemplado x, y, z, t. O que no estejamos useiro e vezeiro a conceber o mundo
neste sentido como um contnuo quadridimensional se deve a que o tempo
desempenhou na fsica pr-relativista um papel diferente, mais independente,
frente s coordenadas espaciais, pelo qual nos habituamos a tratar o tempo como
um contnuo independente. De fato, na Fsica Clssica o tempo absoluto, isto ,
independente da posio e do estado de movimento do sistema de referncia, o
qual fica patente na ltima equao da transformao de Galileu (t' = t). A Teoria
da Relatividade serve na bandeja a viso quadridimensional do mundo, pois
segundo esta teoria o tempo despojado de sua independncia, tal e como
mostra a quarta equao da transformao de Lorentz:
40
parentesco com o contnuo tridimensional do espao geomtrico euclidiano 14. No
entanto, para fazer ressaltar do todo este parentesco preciso substituir as
coordenadas temporrias usuais t pela quantidade imaginria
-1 ct
Fig. 11
14
Cf. a exposio algo mais detalhada no Apndice.
41
NOTA DO TRADUTOR
Uma das primeiras evidncias da dilatao temporal foi obtida por meio de
experimentos com uma partcula chamada mon. Quando fazemos experimentos
no laboratrio com mons em repouso, observamos que eles se desintegram com
uma vida mdia de 2,2 . 10-6 s. Muitos mons so criados na alta atmosfera, como
resultado do bombardeio dos raios csmicos. Esses mons movem-se com
velocidade prxima da luz:
d = v . ( t )
d = 650 m
Como:
Assim:
42
Portanto:
D = v . (t )
D = 10.000 m
A RELATIVIDADE DO COMPRIMENTO
43
A contrao de comprimento dada pela equao I pode ser percebida por meio de
medidas. No entanto, o aspecto visual outra coisa. A imagem formada na retina
de um observador (ou no filme de uma mquina fotogrfica) constituda de raios
de luz que chegam praticamente ao mesmo tempo na retina (ou no filme), mas
partiram do objeto em momentos diferentes. A conseqncia disso que a
imagem vista (ou fotografada) levemente distorcida. Na figura f mostramos um
cubo em repouso. Quando esse cubo se move para a direita com velocidade
prxima de c, a imagem observada tem o aspecto da figura g, como mostra uma
simulao feita em computador.
A RELATIVIDADE DA MASSA
Outra conseqncia dos postulados de Einstein que a massa inercial varia com
a velocidade. Sendo Mo a massa de um corpo quando est em repouso em
relao a um referencial inercial e M a massa desse mesmo corpo quando tem
velocidade v em relao a esse mesmo referencial, temos:
44
MASSA E ENERGIA
O significado dessa equao, contudo, bem mais complexo do que pode parecer
primeira vista. Antes de consider-la, vamos analisar o significado de uma
equao parecida com ela:
E = (m ) . c2
Nesse trabalho ele mostrou que a massa inercial de um corpo varia toda vez que
esse corpo ganha ou perde energia, qualquer que seja o tipo de energia. Se um
corpo receber uma quantidade de energia E, sua massa inercial ter um
aumento m dado por:
E = (m ) . c2
45
Q = m . ca . (q ) = ( 1 000 g ).(1 cal / g, C).(90 C)
Q = 9.104 cal = 36.104 J
Essa quantidade de calor a energia absorvida pela gua, ou seja:
E = Q = 36.104 J
Da equao E = (m ) . c2 tiramos:
m = E / c2 = 36.104 J / ( 3.108 m/s2 )
m = 36.104 J / ( 9.1016 m2/s2 )
m = 4.10-12 Kg = 0,000000000004 Kg
Como vemos uma variao muito pequena, que mesmo as balanas mais
precisas no conseguem determinar. Mas, de qualquer modo, sendo m 2 a massa
final da gua teremos:
m2 = m1 + Dm = 1Kg + 0,000000000004 Kg
m = 1,000000000004 Kg
Nas aulas de Qumica voc deve ter aprendido a lei da conservao da massa de
Lavoisier. Segundo essa lei, a massa total dos reagentes igual massa total dos
produtos de uma reao qumica. Agora sabemos que essa igualdade
aproximada, pois durante uma reao qumica em geral h absoro ou liberao
de calor (ou luz) para o ambiente. Desse modo h uma variao de massa.
Em primeiro lugar a massa no uma "coisa", mas sim uma propriedade, uma
medida da inrcia. Portanto, no pode ser convertida (transformada) em nada.
Em segundo lugar quando h converso, algo deve desaparecer para dar lugar a
outra coisa. No entanto, quando fornecemos energia a um corpo, ela no
desaparece, continua l, como energia. Consideremos, por exemplo, o caso da
compresso de uma mola. Ao comprimirmos a mola, fornecemos a ela uma
energia que fica armazenada na forma de energia potencial elstica, ela no
desaparece. Ento, por que essa energia produz um aumento da massa da mola?
A energia produz aumento da massa porque tem inrcia, isto , a energia tem
massa.
46
Por isso, um dos trabalhos de Einstein sobre a relao entre massa e energia,
publicado em 1907, tinha o seguinte ttulo: "Sobre a inrcia da energia, como
conseqncia do princpio de relatividade".
Outra noo freqente que tambm deve ser evitada a da equivalncia entre
massa e energia, pois ela d uma idia de igualdade entre massa e energia, o que
no verdade. A massa inercial mede a inrcia de um corpo, isto , sua
resistncia a mudanas de velocidade, enquanto a energia representa, numa
definio simplificada, capacidade de realizar trabalho.
MATRIA E RADIAO
47
Na figura 13 mostramos o caso em que um eltron se encontra com um psitron,
produzindo dois ftons.
Nestes dois casos podemos dizer que houve converso, pois algo desapareceu
dando origem a outra coisa.
Durante o sculo XX, os fsicos constataram que para cada partcula existe uma
antipartcula de modo que, ao se encontrarem, se aniquilam, isto , transformam-
se em radiao. Quando isso ocorre, a equao E = (m ) . c2 pode ser usada
para relacionar a energia da radiao com a massa da matria.
Quando um corpo tem massa m podemos dizer que esse corpo tem um contedo
energtico E dado por:
E = m . c2
O contedo energtico do corpo a soma de sua energia cintica com todas as
energias armazenadas no seu interior e com a energia da radiao que pode ser
obtida pela converso de suas partes materiais.
48
ENERGIA DE LIGAO
p+p+n+n
Essa reao um exemplo de fuso nuclear. Uma fuso uma reao em que
duas ou mais partculas se unem para formar um corpo maior. Consultando uma
tabela, obtemos as massas de repouso dos elementos que participam da fuso:
mp = massa do prton = 1,00728 u
mn = massa do nutron = 1,00867 u
ma = massa da partcula alfa = 4,00260 u
em que u a unidade de massa atmica, dada por:
1 u = 1,66054.10-27 Kg
Vamos calcular a massa total (mt) antes da reao:
mt = 2 mp + 2 mn = 2.(1,00728 u) +2.(1,00867 u) mt = 2,01456 u +2,01734 u
= 4,03190 u
Podemos observar que mt > ma isto , a massa total antes da reao maior do
que a massa da partcula alfa. Durante a reao houve uma perda de massa.
Como isso aconteceu? Ser que, durante a reao, algum prton ou nutron
perdeu um "pedao" ? No, prtons e nutrons continuam "inteiros". A razo
dessa perda de massa est na perda de energia. Durante a fuso h uma
liberao de energia, e essa energia tem massa. Vamos calcular a energia
liberada, calculando antes a variao de massa:
m = ma + mt = (4,00260 u) - (4,03190 u) = - 0,0293 u
Assim:
|m| = 0,0293 u = (0,0293 u) . (1,66054.10-27 Kg) = 4,865.10-29 Kg
Portanto, a energia liberada foi:
E = |m|.c2 = (4,865.10-29 Kg) . (3,0.108 m/s)2 = 4,3785.10-12 J
49
Aps essa liberao de energia, fica armazenada na partcula alfa uma energia
potencial (Ep) negativa cujo mdulo igual energia liberada na fuso:
Ep = - 4,3785.10-12 J
Essa energia a soma de duas energias potenciais: a energia potencial eltrica
(EEp) corresponde repulso eltrica dos prtons e a energia potencial nuclear
(NEp) correspondente fora nuclear, que mantm o ncleo coeso:
Ep = EEp + NEp
Como a fora eltrica de repulso, devemos ter EEp > 0 e, como a fora nuclear
de atrao, devemos ter NEp < 0. O fato de o ncleo se manter coeso significa
que, em mdulo, a energia nuclear maior do que a energia eltrica:
| NEp | > | EEp |
de modo que a soma negativa (Ep < 0).
O mdulo de Ep chamado de energia de ligao do ncleo (EL):
EL = | Ep | = 4,3785.10-12 J
A energia de ligao a energia mnima que devemos fornecer ao ncleo para
separar seus componentes.
No interior do Sol ocorrem vrios tipos de reaes de fuso e so essas reaes
que produzem a energia emitida por ele.
50
Freqentemente ouvimos dizer que a equao E=(m).c2 tornou possvel a
fabricao da bomba atmica. Porm, isso no verdade, como veremos a
seguir:
Um dos tipos de bomba atmica construdo a partir da fisso (fragmentao) do
ncleo do tomo de urnio (fig. 15). Um nutron atinge o ncleo de urnio
tomando-o instvel.
Com isso o ncleo de urnio se divide em dois ncleos menores com emisso de
dois ou trs nutrons e alguns ftons. Nesse processo, uma parte da energia
potencial armazenada no ncleo (eltrica e nuclear) transforma-se em radiao e
energia cintica dos fragmentos que resultam aps a fisso. No h alterao no
nmero total de prtons e nutrons, isto , no h converso de matria em
radiao, mas apenas transformaes de energia.
51
SEGUNDA PARTE
SOBRE A TEORIA DA RELATIVIDADE GERAL
52
movimento retilneo, uniforme e irrotacional: a todos estes corpos de referncia se
os considera corpos de referncia de Galileu. A validade do Princpio da
Relatividade somente a supusemos para estes corpos de referncia, no para
outros (animados de outros movimentos).
Uma vez que a introduo do Princpio da Relatividade Especial saiu airosa, tem
que ser tentador, para qualquer esprito que aspire generalizao, o atrever-se a
dar o passo que leva ao Princpio da Relatividade Geral. Mas basta uma
observao muito simples, em aparncia perfeitamente verossmil, para que a
tentativa parea em princpio condenada ao fracasso. Imagine-se o leitor instalado
nesse famoso vago de trem que viaja com velocidade uniforme. Enquanto o
vago mantenha sua marcha uniforme, os ocupantes no notaro nada no
movimento do trem; o qual explica assim mesmo que o ocupante possa interpretar
a situao no sentido de que o vago est em repouso e que o que se move o
barranco, sem sentir que isso violenta sua intuio. E segundo o Princpio da
Relatividade Especial, esta interpretao est perfeitamente justificada do ponto
de vista fsico.
53
19. O CAMPO GRAVITACIONAL
pergunta de por que cai ao solo uma pedra atirada ao ar costuma responder-se
porque atrada pela Terra. A Fsica moderna formula a resposta de um modo
algo diferente, pela seguinte razo. Atravs de um estudo mais detido dos
fenmenos eletromagnticos se chegou concluso de que no existe uma ao
imediata a distncia. Quando um im atrai um bocado de ferro, por exemplo, no
podemos nos contentar com a explicao de que o im atua diretamente sobre o
ferro atravs do espao no meio do vcuo; o que se faz , segundo idia de
Faraday, imaginar que o im cria sempre no espao circundante algo fisicamente
real que se denomina campo magntico. Este campo magntico atua por sua vez
sobre o bocado de ferro, que tende mover-se para o im. No vamos entrar aqui
na justificativa deste conceito interveniente que em si arbitrrio. Assinalemos to
s que com sua ajuda possvel explicar teoricamente de modo bem mais
satisfatrio os fenmenos eletromagnticos, e em especial a propagao das
ondas eletromagnticas. De maneira anloga se interpreta tambm a ao da
gravidade. A influncia da Terra sobre a pedra se produz indiretamente.
A Terra cria ao redor seu um campo gravitacional. Este campo atua sobre a pedra
e ocasiona seu movimento de queda. A intensidade da ao sobre um corpo
decresce ao afastar-se mais e mais da Terra, e decresce segundo uma lei
determinada. O qual, em nossa interpretao, quer dizer que: a lei que rege as
propriedades espaciais do campo gravitacional tem que ser uma lei muito
determinada para representar corretamente a diminuio da ao gravitacional
com a distncia ao corpo que exerce a ao. Supe-se, por exemplo, que o corpo
(a Terra, por caso) gera diretamente o campo em sua vizinhana imediata; a
intensidade e direo do campo a distncias maiores vm ento determinadas
pela lei que rege as propriedades espaciais dos campos gravitacionais. O campo
gravitacional, ao invs do campo eltrico e magntico, mostra uma propriedade
sumamente peculiar que de importncia fundamental para o que segue.
54
Pois bem, se queremos que para um campo gravitacional dado a acelerao seja
sempre a mesma, independentemente da natureza e do estado do corpo, tal e
como demonstra a experincia, a relao entre a massa gravitacional e a massa
inercial tem que ser tambm igual para todos os corpos. Mediante adequada
eleio das unidades pode fazer-se que esta relao valha 1(um), sendo ento
vlido o teorema seguinte: a massa gravitacional e a massa inercial de um corpo
so iguais. A antiga mecnica registrou este importante princpio, mas no o
interpretou. Uma interpretao satisfatria no pode surgir seno reconhecendo
que a mesma qualidade do corpo se manifesta como inrcia ou como gravidade,
segundo as circunstncias. Nos pargrafos seguintes veremos at que ponto
esse o caso e da relao guarda esta questo com o postulado da Relatividade
Geral.
55
20. A IGUALDADE ENTRE MASSA INERCIAL E MASSA
GRAVITACIONAL COMO ARGUMENTO A FAVOR DO
POSTULADO DA RELATIVIDADE GERAL
Suponhamos que no centro do teto da gaveta, por fora, h um gancho com uma
corda, e que um ser cuja natureza nos indiferente comea a atirar dela
com fora constante. A gaveta, junto com o observador, comear a voar para
acima com movimento uniformemente acelerado. Sua velocidade adquirir com o
tempo cotas fantsticas... sempre que julguemos tudo isso desde outro corpo de
referncia do qual no se atire com uma corda. Mas o homem que est na gaveta
como julga o processo? O solo da gaveta lhe transmite a acelerao. Por presso
contra os ps. Portanto, tem que contrabalanar esta presso com ajuda de suas
pernas se no quer medir o solo com seu corpo. Por conseguinte, estar de p na
gaveta igual que o est uma pessoa numa habitao de qualquer moradia
terrestre. Se solta um corpo que antes sustentava na mo a acelerao da gaveta
deixar de atuar sobre aquele, pelo qual se aproximar ao solo em movimento
relativo acelerado.
56
Temos, pois, boas razes para estender o Princpio de Relatividade a corpos de
referncia que estejam acelerados uns com respeito a outros, tendo ganhado
assim um potente argumento a favor de um Postulado de Relatividade
Generalizado.
Imaginemos agora que o homem da gaveta ata uma corda na parte interior do teto
e fixa um corpo no extremo livre. O corpo far que a corda pendure verticalmente
em estado tenso. Perguntemo-nos pela causa da tenso. O homem na gaveta
dir: O corpo suspenso experimenta no campo gravitacional uma fora para
abaixo e se mantm em equilbrio devido tenso da corda; o que determina a
magnitude da tenso a massa gravitacional do corpo suspenso. Por outro lado,
um observador que bie livremente no espao julgar a situao assim: A corda
se v obrigada a participar do movimento acelerado da gaveta e o transmite ao
corpo sujeito a ela.
57
impossvel, por exemplo, eleger um corpo de referncia com respeito ao qual o
campo gravitacional da Terra desaparea (em toda sua extenso).
Agora nos damos conta do por que do argumento esgrimido ao final da seo18
contra o Princpio da Relatividade Geral no concludente.
Sem dvida verdadeiro que o observador que se acha no vago sente um puxo
para adiante como conseqncia da freada, e verdade que em isso nota a no
uniformidade do movimento. Mas ningum lhe obriga a atribuir o puxo a uma
acelerao real do vago. Igual poderia interpretar o episdio assim: Meu corpo de
referncia (o vago) permanece constantemente em repouso. No entanto,
(durante o tempo de freada) existe com respeito a ele um campo gravitacional
temporariamente varivel, dirigido para adiante.
58
21. AT QUE PONTO SO INSATISFATRIAS AS BASES DA
MECNICA E DA TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL?
Como j dissemos em vrias ocasies, a Mecnica Clssica parte do princpio
seguinte: os pontos materiais suficientemente afastados de outros pontos
materiais se movem uniformemente e em linha reta ou persistem em estado de
repouso. Tambm sublinhamos repetidas vezes que este princpio fundamental s
pode ser vlido para corpos de referncia K que se encontram em determinados
estados de movimento e que se acham em movimento de translao uniforme uns
com respeito a outros.
15
A objeo adquire especial contundncia quando o estado de movimento do corpo de referncia
tal que para mant-lo no requer de nenhuma influncia exterior, por exemplo no caso de que o
corpo de referncia role uniformemente.
59
22. ALGUMAS CONCLUSES DO PRINCPIO DA RELATIVIDADE
GERAL
As consideraes feitas na seo 20 mostram que o Princpio da Relatividade
Geral nos permite deduzir propriedades do campo gravitacional por via puramente
terica. Suponhamos, efetivamente, que conhecemos a evoluo espao-tempo
de um processo natural qualquer, tal e como ocorre no terreno galileano com
respeito a um corpo de referncia de Galileu K. Nestas condies possvel
averiguar mediante operaes puramente tericas, isto , por simples clculos,
como se comporta este processo natural conhecido com respeito a um corpo de
referncia K' que est acelerado com relao a K e como com respeito a este
novo corpo de referncia K' existe um campo gravitacional, o clculo nos informa
de como influi o campo gravitacional no processo estudado.
Assim descobrimos, por um caso, que um corpo que com respeito a K executa um
movimento uniforme e retilneo (segundo o princpio de Galileu), executa com
respeito ao corpo de referncia acelerado K' (gaveta) um movimento acelerado,
de trajetria geralmente curvada. Esta acelerao, ou esta curvatura, responde
influncia que sobre o corpo mvel exerce o campo gravitacional que existe com
respeito a K'. Que o campo gravitacional influi deste modo no movimento dos
corpos j sabido, de maneira que a reflexo no contribui nada
fundamentalmente novo. Sim se obtm, em troca, um resultado novo e de
importncia capital ao fazer consideraes equivalentes para um raio de luz. Com
respeito ao corpo de referncia de Galileu K, propaga-se em linha reta com
velocidade c. Com respeito gaveta acelerada (corpo de referncia K'), a
trajetria do mesmo raio de luz j no uma reta, como se deduz facilmente. De
aqui se infere que os raios de luz no seio de campos gravitacionais se propagam
em geral segundo linhas curvas. Este resultado de grande importncia por dois
conceitos.
Em primeiro lugar, cabe contrast-lo com a realidade. Ainda que uma reflexo
detida demonstra que a curvatura que prediz a Teoria da Relatividade Geral para
os raios luminosos minscula no caso dos campos gravitacionais que nos brinda
a experincia, tem que ascender a 1,7 segundos de arco para raios de luz que
passam pelas imediaes do Sol. Este efeito deveria traduzir-se no fato de que as
estrelas fixas situadas nas cercanias do Sol, e que so observveis durante
eclipses solares totais, apaream afastadas dele nessa quantidade, comparado
com a posio que ocupam para ns no cu quando o Sol se acha em outro lugar
da abbada celeste. A comprovao da verdade ou falsidade deste resultado
uma tarefa da mxima importncia, cuja soluo de esperar que nos a dem
muito cedo os astrnomos.16
Em segundo lugar, a conseqncia anterior demonstra que, segundo a Teoria da
Relatividade Geral, a tantas vezes mencionada lei da constncia da velocidade da
luz no vcuo que constitui um dos dois supostos bsicos da Teoria da
16
A existncia do desvio da luz exigida pela teoria foi comprovada fotograficamente durante o
eclipse de Sol do 30 de maio de 1919 por duas expedies organizadas pela Royal Society sob a
direo dos astrnomos Eddington e Crommelin.
60
Relatividade Especial no pode aspirar validade ilimitada, pois os raios de luz
somente podem curvar-se se a velocidade de propagao desta varia com a
posio. Caberia pensar que esta conseqncia d ao fracasso com a Teoria da
Relatividade especial e com toda a Teoria da Relatividade em general. Mas em
realidade no assim. To s cabe inferir que a Teoria da Relatividade especial
no pode arrogar-se validez num campo ilimitado; seus resultados s so vlidos
na medida em que se possa prescindir da influncia dos campos gravitacionais
sobre os fenmenos (os luminosos, por exemplo).
Tida conta de que os detratores da Teoria da Relatividade afirmaram com
freqncia que a Relatividade geral tira pela borda a Teoria da Relatividade
especial,vou aclarar o verdadeiro estado de coisas mediante uma comparao.
Antes de ficar estabelecida a Eletrodinmica, as leis da Eletrosttica passavam
por ser as leis da Eletricidade em geral. Hoje sabemos que a Eletrosttica s pode
explicar corretamente os campos eltricos no caso que em rigor jamais se d
de do que as massas eltricas estejam estritamente em repouso umas com
respeito a outras e em relao ao sistema de coordenadas. Quer dizer isso que as
equaes de campo eletrodinmicas de Maxwell tenham atirado pela borda
Eletrosttica? De nenhum modo! A Eletrosttica se contm na Eletrodinmica
como caso limite; as leis desta ltima conduzem diretamente s daquela supondo
que os campos sejam temporariamente invariveis. O seno mais formoso de uma
teoria fsica o de assinalar o caminho para estabelecer outra mais ampla, em
cujo seio subsiste como caso limite.
No exemplo que acabamos de comentar, o da propagao da luz, temos visto que
o Princpio da Relatividade Geral nos permite derivar por via terica a influncia do
campo gravitacionais sobre a evoluo de fenmenos cujas leis so j conhecidas
para o caso de que no exista campo gravitacional. Mas o problema mais atraente
de entre aqueles cuja clave proporciona a Teoria da Relatividade Geral tem do
que ver com a determinao das leis que cumpre o prprio campo de gravitao.
A situao aqui a seguinte.
Conhecemos regies espao-temporais que, prvia eleio adequada do corpo de
referncia comportam-se (aproximadamente) ao modo galileano, isto , regies
nas quais no existem campos gravitacionais. Se referimos uma regio
semelhante a um corpo de referncia de movimento arbitrrio K', ento existe com
respeito a K' um campo gravitacional temporal e espacialmente varivel 17. A
estrutura deste campo depende naturalmente de como elejamos o movimento de
K'. Segundo a Teoria da Relatividade Geral, a lei geral do campo gravitacional
deve verificar se para todos os campos gravitacionais assim obtidos. Ainda que
desta maneira no se podem engendrar nem de longe todos os campos
gravitacionais, cabe a esperana de poder deduzir destes campos de classe
especial a lei geral da gravitao. E esta esperana se viu belissimamente
cumprida! Mas desde que se vislumbrou claramente esta meta at que se chegou
para valer a ela teve que superar uma sria dificuldade que no devo ocultar ao
leitor, por estar arraigada na essncia mesma do assunto. A questo requer
aprofundar novamente nos conceitos do contnuo espao-tempo.
17
Isto se segue por generalizao do raciocnio exposto em 20.
61
23. O COMPORTAMENTO DE RELGIOS E HASTES SOBRE UM
CORPO DE REFERNCIA EM ROTAO
At agora me abstive intencionadamente de falar da interpretao fsica de
localizaes espaciais e temporais no caso da Teoria da Relatividade Geral. Com
isso me fiz culpado de um verdadeiro desalinho que, segundo sabemos pela
Teoria da Relatividade Especial, no em modo algum banal nem perdovel. J
hora de preencher esta lacuna; mas advirto de antemo que o assunto demanda
muita pacincia e capacidade de abstrao por parte do leitor. Partimos uma vez
mais de casos muito especiais e muito socorridos. Imaginemos uma regio
espao-temporal na qual, com respeito a um corpo de referncia K que possua um
estado de movimento convenientemente eleito, no exista nenhum campo
gravitacional; em relao regio considerada, K ento um corpo de referncia
de Galileu, sendo vlidos com respeito a ele os resultados da Teoria da
Relatividade Especial. Imaginemos a mesma regio, mas referida a um segundo
corpo de referncia K' que rompida uniformemente com respeito a K. Para fixar as
idias, suponhamos que K' um disco circular que gira uniformemente ao redor
de seu centro e em seu mesmo plano.
62
da periferia, devido rotao com respeito a K, est em movimento. Segundo um
resultado da seo12, este segundo relgio marchar constantemente mais
devagar com respeito a K do que o relgio situado no centro do disco
circular. O mesmo deveria evidentemente constatar o homem do disco, a quem
vamos imaginar sentado no centro, junto ao relgio que h ali. Por conseguinte,
em nosso disco circular, e com mais generalidade em qualquer campo
gravitacional, os relgios marcharo mais depressa ou mais devagar segundo o
lugar que ocupe o relgio (em repouso). Portanto, com ajuda de relgios
colocados em repouso com respeito ao corpo de referncia no possvel dar
uma definio razovel do tempo. Anloga dificuldade se prope ao tentar aplicar
aqui nossa anterior definio de simultaneidade tema no qual no vamos nos
aprofundar. Tambm a definio das coordenadas espaciais prope aqui
problemas que em princpio so insuperveis.
Porque se o observador que se move junto com o disco coloca sua escala unidade
(uma rgua pequena, comparada com o raio do disco) tangencialmente sobre a
periferia deste, seu comprimento, medida do sistema de Galileu ser menor que 1,
pois segundo a seo12 os corpos em movimento experimentam um
encurtamento na direo do movimento. Se em mudana coloca a rgua na
direo do raio do disco, no ter encurtamento com respeito a K. Portanto, se o
observador mede primeiro o permetro do disco, depois seu dimetro e divide
estas duas medidas, obter como quociente, no o conhecido nmero = 3,14...,
seno um nmero maior19, enquanto num disco imvel com respeito a K deveria
resultar exatamente nesta operao, como natural. Com isso fica j provado
que os teoremas da geometria euclidiana no podem verificar-se exatamente
sobre o disco rotatrio nem, em geral, num campo gravitacional, ao menos se se
atribui reginha a comprimento 1 em qualquer posio e orientao. Tambm o
conceito de linha reta perde com isso seu significado.
19
Em todo este raciocnio h que utilizar o sistema de Galileu K (que no rompida) como corpo de
coordenadas porque a validade dos resultados da Teoria da Relatividade Especial s cabe sup-la
com respeito a K (em relao a K' existe um campo gravitacional).
63
24. O CONTNUO EUCLIDIANO E O NO EUCLIDIANO
Basta com pensar no seguinte. Quando num vrtice convergem trs quadrados,
esto j colocados dois lados do quarto, o qual determina totalmente a colocao
dos dois lados restantes deste. Mas agora j no posso retocar o quadriltero para
igualar seus diagonais. Se o so de por si, ser em virtude de um favor especial
da mesa e das varetas, ante o qual me terei que mostrar maravilhado e
agradecido. E para que a construo se consiga, temos que assistir a muitos
milagres parecidos.
Se tudo foi realmente redondo, ento digo que os pontos do tabuleiro formam um
contnuo euclidiano com respeito vareta utilizada como segmento. Se destaco
um dos vrtices da malha em qualidade de ponto de origem, qualquer outro
poderei caracteriz-lo, com respeito ao ponto de origem, mediante dois nmeros.
Basta-me especificar quantas varetas para a direita e quantas depois para acima
tenho que percorrer a partir da origem para chegar ao vrtice em questo. Estes
dois nmeros so ento as coordenadas cartesianas desse vrtice com respeito
ao sistema de coordenadas determinado pelas varetas colocadas. A seguinte
modificao do experimento mental demonstra que tambm h casos que
fracassa a tentativa. Suponhamos que as varetas se dilatam com a temperatura e
que se esquenta o tabuleiro no centro mas no nas bordas. Segue sendo possvel
encaixar duas das varetas em qualquer lugar da mesa, mas nossa construo de
quadrados ficar agora irremediavelmente desmontada, porque as varetas da
parte interior da massa se dilatam, enquanto as da parte exterior, no.
64
podemos realizar a construo anterior. No entanto, como existem outros objetos
sobre os quais a temperatura da mesa no influi da mesma maneira que sobre as
varetas (ou sobre os quais nem sequer influi), possvel, sem forar as coisas,
manter ainda assim a idia de que a mesa um contnuo euclidiano, e possvel
faz-lo de modo satisfatrio mediante uma constatao mais sutil a respeito da
medio ou comparao de segmentos.
20
Nosso problema se lhes props aos matemticos da seguinte maneira: Dada uma superfcie
por exemplo a de um elipside no espao de medida tridimensional euclidiano, existe sobre ela
uma geometria bidimensional, exatamente igual que no plano. Gauss se props o problema de
tratar teoricamente esta geometria bidimensional sem utilizar o fato de que a superfcie pertence a
um contnuo euclidiano de trs dimenses. Se imaginamos que na superfcie (igual que antes
sobre a mesa) realizamos construes com varetas rgidas, as leis que valem para elas so
diferentes das da geometria euclidiana do plano. A superfcie no , com respeito s varetas, um
contnuo euclidiano, nem tambm no se podem defini coordenadas cartesianas na superfcie.
Gauss mostrou os princpios com arranjo aos quais se podem trataras condies geomtricas na
superfcie, assinalando assim o caminho para o tratamento riemanniano de contnuos no
euclidianos multidimensionais. Da que os matemticos tenham resolvidos desde faz muito os
problemas formais a que conduz o postulado da relatividade geral.
65
25. COORDENADAS GAUSSIANAS
onde g11, g12, g22 so quantidades que dependem de maneira muito determinada
de u e de v.
66
As quantidades g11 , g12 e g22 determinam o comportamento das varetas com
respeito s curvas u e v, e por tanto tambm com respeito superfcie da mesa.
No caso de que os pontos da superfcie considerada constituam com respeito s
reginhas de medida um contnuo euclidiano e s nesse caso ser possvel
desenhar as curvas u e v e atribuir-lhes nmeros de tal maneira que se cumpra
singelamente
ds2 = du2+dv2.
onde as quantidades g11, etc. tm valores que variam com a posio no contnuo.
Somente no caso de que o contnuo seja euclidiano ser possvel atribuir as
coordenadas x1...x4 aos pontos do contnuo de tal maneira que se cumpra
simplesmente
ds2 = dx12 + dx22 + dx32 + dx42.
As relaes que se cumprem ento no contnuo quadridimensional so anlogas
s que regem em nossas medies tridimensionais. Assinalemos que a
representao gaussiana para ds2 que acabamos de dar nem sempre possvel;
s o quando existam regies suficientemente pequenas do contnuo em questo
que caiba considerar como contnuos euclidianos. O qual se cumpre
evidentemente no caso da mesa e da temperatura localmente varivel, por
exemplo porque numa poro pequena da mesa praticamente constante a
temperatura, e o comportamento geomtrico das varetas quase o que exigem as
rguas da geometria euclidiana. Por conseguinte, as discordncias na construo
de quadrados da seo anterior no se manifestam claramente enquanto a
operao no se estenda a uma parte importante da mesa.
67
A cada ponto do contnuo se lhe atribuem tantos nmeros (coordenadas
gaussianas) como dimenses tenha o contnuo. A atribuio se realiza de tal
modo que se conserve a univocidade e de maneira que a pontos vizinhos lhes
correspondam nmeros (coordenadas gaussianas) que difiram infinitamente pouco
entre si.
68
26. O CONTNUO ESPAO-TEMPO DA TEORIA DA RELATIVIDADE
ESPECIAL COMO CONTNUO EUCLIDIANO
x, y, z, 1- ct
por x1, x2, x3, x4, obtm-se o resultado de que ds2 = dx12 + dx22 + dx32 + dx42
independente da eleio do corpo de referncia. quantidade ds a chamamos
distncia dos dois eventos ou pontos quadridimensionais. Por conseguinte, se se
elege a varivel imaginria
- 1 ct
21
Cf. Apndice. As relaes (11a) e (12) deduzidas ali para as coordenadas valem tambm para
diferenas de coordenadas, e por tanto para diferenciais das mesmas (diferenas infinitamente
pequenas).
69
27. O CONTNUO ESPAO-TEMPO DA TEORIA DA RELATIVIDADE NO
UM CONTNUO EUCLIDIANO
70
encadeiam ininterruptamente; no ponto material lhe corresponde, portanto, uma
linha (unidimensional) no contnuo quadridimensional. E a uma multido de pontos
mveis lhes correspondem outras tantas linhas em nosso contnuo.
71
28. FORMULAO EXATA DO PRINCPIO DA RELATIVIDADE GERAL
Este Princpio da Relatividade Geral cabe enunci-lo em outra forma que permite
reconhec-lo ainda mais claramente como uma extenso natural do Princpio da
Relatividade Especial. Segundo a Teoria da Relatividade Especial, ao substituir as
variveis espao-temporais x, y, z, t de um corpo de referncia K (de Galileu)
pelas variveis espao-temporais x', y', z', t' de um novo corpo de referncia K'
utilizando a transformao de Lorentz, as equaes que expressam as leis gerais
da natureza se convertem em outras da mesma forma. Pelo contrrio, segundo a
Teoria da Relatividade Geral, as equaes tm que se transformar em outras da
mesma forma ao fazer quaisquer substituies das variveis gaussianas x1, x2,
x3, x4; pois toda substituio (e no s a da transformao de Lorentz)
corresponde ao passo de um sistema de coordenadas gaussianas a outro. Se no
se quer renunciar habitual representao tridimensional, podemos caracterizar
como segue a evoluo que vemos experimentar idia fundamental da Teoria da
Relatividade Geral: a Teoria da Relatividade Especial se refere a regies de
Galileu, isto , aquelas nas que no existe nenhum campo gravitacional. Como
corpo de referncia atua aqui um corpo de referncia de Galileu, isto , um corpo
rgido cujo estado de movimento tal que com respeito a ele vlido o princpio
de Galileu do movimento retilneo e uniforme de pontos materiais isolados.
Por essa razo se utilizam corpos de referncia no rgidos que, vistos como um
todo, no s tm um movimento arbitrrio, seno que durante seu movimento
sofrem alteraes arbitrrias em sua forma.
72
Para a definio do tempo servem relgios cuja marcha obedea a uma lei
arbitrria e to irregular quanto se queira; cada um destes relgios h que
imaginar-se fixo num ponto do corpo de referncia no rgido, e cumprem uma s
condio: a de que os dados simultaneamente perceptveis em relgios
espacialmente vizinhos difiram infinitamente pouco entre si.
Este corpo de referncia no rgido, que no sem razo caberia cham-lo molusco
de referncia, equivale em essncia a um sistema de coordenadas gaussianas,
quadridimensional e arbitrrio. O que lhe confere ao molusco um verdadeiro
atrativo frente ao sistema de coordenadas gaussianas a conservao formal (em
realidade injustificada) da peculiar existncia das coordenadas espaciais frente
coordenada temporria.
Todo ponto do molusco tratado como um ponto espacial; todo ponto material
que esteja em repouso com respeito a ele ser tratado como em repouso, a secas,
enquanto se utilize o molusco como corpo de referncia. O Princpio da
Relatividade Geral exige que todos estes moluscos se possam empregar, com
igual direito e sucesso parelho, como corpos de referncia na formulao das leis
gerais da natureza; estas leis devem ser totalmente independentes da eleio do
molusco.
73
29. A SOLUO DO PROBLEMA DA GRAVITAO SOBRE A BASE DO
PRINCPIO DA RELATIVIDADE GERAL
74
A teoria da gravitao derivada assim do Postulado da Relatividade Geral no s
sobressai por sua beleza, nem elimina o defeito indicado na seo 21 do qual
padece a Mecnica Clssica, nem interpreta a lei emprica da igualdade entre
massa inercial e massa gravitacional, mas j explicou tambm dois resultados
experimentais da astronomia, essencialmente muito diferentes, frente aos quais
fracassa a Mecnica Clssica. O segundo destes resultados, a curvatura dos raios
luminosos no campo gravitacional do Sol, j o mencionamos; o primeiro tem que
ver com a rbita do planeta Mercrio.
Efetivamente, se se particularizam as equaes da Teoria da Relatividade Geral
no caso de que os campos gravitacionais sejam dbeis e de que todas as massas
se movam com respeito ao sistema de coordenadas com velocidades pequenas
comparadas com a da luz ento se obtm a teoria de Newton como primeira
aproximao; por conseguinte, esta teoria resulta aqui sem necessidade de
postular nenhuma hiptese especial, enquanto Newton teve que introduzir como
hiptese a fora de atrao inversamente proporcional ao quadrado da distncia
entre os pontos materiais que interatuam. Se se aumenta a exatido do clculo,
aparecem desvios com respeito teoria de Newton quase todas as quais so, no
entanto, ainda demasiado pequenas para ser observveis. Um destes desvios
devemos examin-lo aqui com especial ateno. Segundo a Teoria Newtoniana,
os planetas se movem em torno do Sol segundo uma elipse que conservaria
eternamente sua posio com respeito s estrelas fixas se se pudesse prescindir
da influncia dos demais planetas sobre o planeta considerado, bem como do
movimento prprio das estrelas fixas.
Fora destas duas influncias, a rbita do planeta deveria ser uma elipse imutvel
com respeito s estrelas fixas, sempre que a teoria de Newton fosse exatamente
correta. Em todos os planetas, menos em Mercrio, o mais prximo do Sol,
confirmou-se esta conseqncia que se pode comprovar com eminente
preciso at o limite de exatido que permitem os mtodos de observao
atuais. Agora , do planeta Mercrio sabemos desde Leverrier que a elipse de sua
rbita com respeito s estrelas fixas, uma vez corrigida no sentido anterior, no
fixa, seno que rompida ainda que lentissimamente no plano orbital e no
sentido de sua revoluo. Para este movimento de rotao da elipse orbital se
obteve um valor de 43 segundos de arco por sculo, valor que seguro com uma
impreciso de poucos segundos de arco. A explicao deste fenmeno dentro da
Mecnica Clssica s possvel mediante a utilizao de hiptese pouco
verossmeis, inventadas exclusivamente com este propsito.
Segundo a Teoria da Relatividade Geral resulta que toda elipse planetria ao
redor do Sol deve necessariamente rotar no sentido indicado anteriormente, que
esta rotao em todos os planetas, menos em Mercrio, demasiado pequena
para poder detect-la com a exatido de observao hoje em dia alcanvel, mas
que no caso de Mercrio deve ascender a 43 segundos de arco por sculo,
exatamente como se tinha comprovado nas observaes. margem disto, s se
pde extrair da teoria outra conseqncia acessvel constatao experimental, e
um deslocamento, espectral da luz que nos enviam as grandes estrelas com
respeito luz gerada de maneira equivalente (isto , pela mesma classe de
molculas) na Terra. No me cabe nenhuma dvida de que tambm esta
conseqncia da teoria achar em breve sua confirmao.
75
CONSIDERAES A RESPEITO DO UNIVERSO COMO UM TODO
30. DIFICULDADES COSMOLGICAS DA TEORIA NEWTONIANA
22
Justificativa. Segundo a teoria newtoniana, numa massa m vo morrer uma verdadeira quantidade de linhas
de fora que provm do infinito e cujo nmero proporcional massa m. Se a densidade de massa 0 no
universo a meio-termo constante, ento uma esfera de volume V encerra a meio-termo a massa 0V. O
nmero de linhas de fora que entram atravs da superfcie F no interior da esfera , por tanto, proporcional a
0V . Por unidade de superfcie da esfera entra um nmero de linhas de fora que proporcional a
0V o 0R
F
a intensidade do campo na superfcie tenderia a infinito ao crescer o raio da esfera R, o qual impossvel.
76
31. A POSSIBILIDADE DE UM UNIVERSO FINITO E NO ENTANTO NO
LIMITADO
77
Sobre a superfcie esfrica, nossos seres achariam para esta razo o valor
isto , um valor que menor que , e tanto menor quanto maior seja o raio da
circunferncia em comparao com o raio R do mundo esfrico. A partir desta
relao podem determinar os seres esfricos o raio R de seu mundo, ainda que s
tenham a sua disposio uma parte relativamente pequena da esfera para fazer
suas medies. Mas se essa parte demasiado reduzida, j no podero
constatar que se acham sobre um mundo esfrico e no sobre um plano
euclidiano, porque um bocado pequeno de uma superfcie esfrica difere pouco de
um bocado de plano de igual tamanho.
Por conseguinte, se nossos seres esfricos habitam num planeta cujo sistema
solar ocupa s uma parte minscula do Universo esfrico, no tero possibilidade
de decidir se vivem num mundo finito ou infinito, porque o bocado de mundo que
acessvel a sua experincia em ambos casos praticamente plano ou euclidiano.
Esta reflexo mostra diretamente que para nossos seres esfricos o permetro da
circunferncia cresce, em princpio, com o raio at atingir o permetro do Universo,
para depois, ao seguir, diminuir paulatinamente at zero. A superfcie do crculo
cresce continuamente, at fazer-se finalmente igual superfcie total do mundo
esfrico inteiro. Ao leitor qui lhe estranhe que tenhamos colocado a nossos
seres precisamente sobre uma esfera e no sobre outra superfcie fechada. Mas
tem sua justificativa, porque a superfcie esfrica se caracteriza, frente a todas as
demais superfcies fechadas, pela propriedade de que todos seus pontos so
equivalentes. verdade que a relao entre o permetro p de uma circunferncia
e seu raio r depende de r; mas, dado r, tanto faz para todos os pontos do mundo
esfrico. O mundo esfrico uma superfcie de curvatura constante.
78
esfera r. As retas radiais que saem do ponto origem se afastam a princpio cada
vez mais umas de outras, voltam a acercar-se depois e convergem outra vez no
ponto oposto origem; tero percorrido ento todo o espao esfrico. fcil
comprovar que o espao esfrico tridimensional totalmente anlogo ao
bidimensional (superfcie esfrica). finito (isto , de volume finito) e no tem
limites.
79
32. A ESTRUTURA DO ESPAO SEGUNDO A TEORIA DA RELATIVIDADE
GERAL
23
27
Utilizando o sistema cgs, temos que 2/x = 1,08 10 ; a densidade mdia de matria.
80
APNDICE
Dado que o mesmo sinal luminoso deve propagar-se, tambm com respeito a K',
com a velocidade c, a propagao com respeito a K' vir descrita pela frmula
anloga
x' - ct= 0 (2)
Aqueles pontos do espao-tempo (eventos) que cumprem (1) tm que verificar
tambm (2), o qual ser o caso quando se cumpra em geral a relao
b= -
2
em lugar das constantes e , obtm-se:
x = ax bct (5)
ct = act bx
Com isso ficaria resolvido o problema, sempre que conheamos as constantes a e
b; estas resultam das seguintes consideraes. Para a origem de K' se cumpre
constantemente x' = 0 de maneira que, pela primeira das equaes (5):
x= bc t
a
81
Portanto, se chamamos v velocidade com que se move a origem de K' com
respeito a K, temos que:
v = bc (6)
a
O mesmo valor de v se obtm a partir de (5), ao calcular a velocidade de outro
ponto de K' com respeito a K ou a velocidade (dirigida para o eixo X negativo) de
um ponto K com respeito a K'. Por tanto, possvel dizer em resumo que v a
velocidade relativa de ambos sistemas. Alm do mais, pelo Princpio da
Relatividade, est claro que o comprimento, medido desde K, de uma haste de
medir unitria que se acha em repouso com respeito a K' tem que ser exatamente
o mesmo que o comprimento, avaliado desde K', de uma rgua unidade que se
ache em repouso com respeito a K. Para ver que aspecto tm os pontos do eixo
X' vistos desde K basta tomar uma fotografia instantnea de K' desde K; o qual
significa dar a t (tempo de K) um valor determinado, p. ex. t = 0. Da primeira das
equaes (5) obtm-se:
x' =ax.
Por conseguinte, dois pontos do eixo X' que medidos em K' distam entre si x' = 1,
tm em nossa instantnea a separao:
x = 1 (7)
a
Mas se se toma a fotografia desde K' (t' = 0), obtm-se a partir de (5), por
eliminao de t e tendo em conta (6):
x' = a 1 v2 x.
c2
De aqui se deduz que dois pontos do eixo X que distam 1 (com respeito a K) tm
em nossa instantnea a separao
x = a 1 v2 (7a)
c2
Tendo em conta que, pelo que havamos dito, as duas fotografias devem ser
iguais, x em (7) tem que ser igual a x' em (7a), de maneira que se obtm:
a2 = 1 (7b)
2
1v
c2
As equaes (6) e (7b) determinam as constantes a e b. Substituindo em (5)
obtm-se as equaes quarta e quinta das que demos na seo 11.
82
x vt
x =
1 v2
c2
(8)
t v x
c2
t =
1 v2
c2
extenso deste resultado a eventos que ocorrem fora do eixo X se obtm retendo
as equaes (8) e adicionando as relaes
y= y (9)
z = z
r = x2+y2+z2 = ct
Para que a equao (10a) seja uma conseqncia de (10), tem que verificar-se
que:
x2 + y2 + z2 c2t2 = x2 + y2 + z2 c2t2 (11)
J que a equao (8a) tem que se verificar para os pontos situados sobre o eixo
X, tem de ser = 1. fcil ver que a transformao de Lorentz cumpre realmente
a equao (11) com = 1, pois (11) uma conseqncia de (8a) e (9), e portanto
83
tambm de (8) e (9). Com isso fica derivada a transformao de Lorentz. preciso
agora generalizar esta transformao de Lorentz, representada por (8) e (9).
Evidentemente no essencial que os eixos de K' se elejam espacialmente
paralelos aos de K. Tambm no essencial que a velocidade de translao de K'
com respeito a K tenha a direo do eixo X. A transformao de Lorentz, neste
sentido geral, cabe decomp-la como mostra um simples raciocnio em duas
transformaes, a saber: transformaes de Lorentz em sentido especial e
transformaes puramente espaciais que equivalem substituio do sistema de
coordenadas retangulares por outro com eixos dirigidos em direes diferentes.
Matematicamente se pode caracterizar a transformao de Lorentz generalizada
da seguinte maneira: tal transformao expressa x', y', z', t' mediante umas
funes homogneas e lineares de x, y, z, t que fazem que a relao
x1 = x
x2 = y
x3 = z
x4 = - 1ct
e analogamente para o sistema com primas K', ento a condio que satisfaz
identicamente a transformao ser:
84
Este mundo quadridimensional guarda um profundo parecido com o espao
tridimensional da geometria analtica (euclidiana). Pois se neste ltimo se introduz
um novo sistema de coordenadas cartesianas (x'1, x'2, x'3) com a mesma origem,
ento x'1, x'2, x'3 so funes homogneas e lineares de x1, x2, x3 que cumprem
identicamente a equao
x12+x22+x32 = x12+x22+x32
85
a) O movimento do perilio do planeta Mercrio.
Segundo a mecnica newtoniana e a lei de gravitao de Newton, um nico
planeta que girasse em torno de um sol descreveria uma elipse ao redor dele (ou
mais exatamente, ao redor do centro de gravidade comum de ambos). O sol (ou
bem o centro de gravidade comum) jaz num dos focos da elipse orbital, de
maneira que a distncia sol planeta cresce ao longo de um ano planetrio at
um mximo, para depois voltar a decrescer at o mnimo. Se em lugar da lei de
atrao newtoniana se introduz nos clculos outra diferente, ento se comprova
que o movimento segundo esta nova lei teria que seguir sendo tal que a distncia
sol planeta oscilasse num sentido e outro; mas o ngulo descrito pela linha sol
planeta durante um desses perodos (de perilio a perilio) diferiria de 360. A
curva da rbita no seria ento fechada, seno que encheria com o tempo uma
poro anular do plano orbital (entre o crculo de mxima e o de mnima distncia
perilia).
Segundo a Teoria da Relatividade geral, que difere um pouco de a newtoniana,
tem que ter tambm um pequeno deslocamento desta espcie com respeito ao
movimento orbital previsto por Kepler-Newton, de maneira que o ngulo descrito
pelo raio sol-planeta entre um perilio e o seguinte difira de um ngulo completo
de rotao (isto , do ngulo 2, na medida angular absoluta que habitual em
fsica na quantidade
24 3 a2 ,
c (1 e )
2 2 2
86
Adicionemos que, de acordo com a teoria, a metade deste deslocamento
produto do campo de atrao (newtoniano) do Sol; a outra metade, produto da
modificao geomtrica (curvatura) do espao provocada por aquele. Este
resultado brinda a possibilidade de uma comprovao experimental mediante
fotografias estelares tomadas durante um eclipse total de Sol. necessrio
esperar este fenmeno porque em qualquer outro momento a atmosfera,
iluminada pela luz solar, resplandece tanto que as estrelas prximas ao Sol
tornam-se visveis.
87
O deslocamento para vermelho das riscas espectrais na seo 23 demonstra se
que num sistema K' que verificada com respeito a um sistema de Galileu K, a
velocidade de marcha de relgios em repouso e de idntica constituio depende
da posio. Vamos examinar quantitativamente esta dependncia. Um relgio
colocado a distncia r do centro do disco tem, com respeito a K, a velocidade v =
wr, onde w designa a velocidade de rotao do disco (K') com respeito a K. Se
chamamos v0 ao nmero de golpes do relgio por unidade de tempo (velocidade
de marcha) com respeito a K quando o relgio est em repouso, ento a
velocidade de marcha v do relgio quando se move com velocidade v com
respeito a K e est em repouso com respeito ao disco , segundo seo 12,
v=v0 1 v2
c2
v=v0 1 1 v2
2 c2
ento,
v=v0 1 w 2 r2
2 c2
= - w2r2
2
88
Com o qual resulta
v = v0 1+
c2
Daqui se depreende em primeiro lugar que dois relgios idnticos mas colocados
a diferente distncia do centro do disco marcham a diferente velocidade, resultado
que tambm vlido do ponto de vista de um observador que gire com o disco.
Dado que medido desde o disco existe um campo gravitacional cujo
potencial , o resultado obtido valer para campos gravitacionais em geral. E
como alm do mais um tomo que emite riscas espectrais possvel consider-lo
como um relgio, temos o seguinte teorema: Um tomo absorve ou emite uma
freqncia que depende do potencial do campo gravitacional no qual se encontra.
A freqncia de um tomo que se ache na superfcie de um corpo celeste algo
menor do que a de um tomo do mesmo elemento que se encontre no espao
livre (ou na superfcie de outro astro menor). Dado que
= KM ,
r
v v0 = - KM
v0 c2r
89
compilao do material emprico, junto a uma anlise detida desde o ponto de
vista da questo que aqui nos interessa. Em qualquer caso, os anos vindouros
traro a deciso definitiva. Se no existisse esse deslocamento para o vermelho
das riscas espectrais devido ao potencial gravitacional, a Teoria da Relatividade
Geral seria insustentvel. Por outro lado, o estudo do deslocamento das riscas
espectrais, caso de que se demonstre que sua origem est no potencial
gravitacional, proporcionar concluses importantes sobre a massa dos corpos
celestes.
NOTA DO TRADUTOR
90
Uma das imagens obtidas em 1919 em Sobral, do acervo da biblioteca do
Observatrio Nacional.
Medindo a distncia entre as estrelas esquerda do Sol e as estrelas direita do
Sol durante o eclipse, quando as estrelas esto visveis pelo curto espao de
tempo do eclipse, e comparando com medidas das mesmas estrelas obtidas 6
91
meses antes, quando elas eram visveis noite, Eddington encontrou que as
estrelas pareciam mais distantes umas das outras durante o eclipse. Isto implica
que os raios de luz destas estrelas foram desviados pelo campo gravitacional do
Sol, como predito por Einstein. O desvio previsto era de
A teoria de Einstein previa que a luz tambm seria atrada pelos corpos, mas esse
efeito seria pequeno e, assim, s poderia ser observado quando a luz passasse
perto de corpos de grande massa, como por exemplo o Sol.
92
2. A magnitude (ou o raio) do Universo independente do tempo.
93
descrever realidade fsica do espao e mesmo seu estado de movimento. Mas por
aquele ento no tinha outra sada se se queria atribuir Mecnica um sentido
claro.
24
Esta expresso h que a tomar cum gro salis.
94
matria25. (O qual no lhe impede, no entanto, tratar o espao como conceito
fundamental em sua geometria analtica). Uma simples indicao ao esvaziamento
do termmetro de mercrio desarmou seguramente aos ltimos cartesianos. Mas
no de negar que inclusive neste estado primitivo h um pouco de insatisfatrio
no conceito de espao, ou no espao concebido como coisa real e independente.
As maneiras que se podem alojar os corpos no espao (caixa) constituem o objeto
da geometria euclidiana tridimensional, cuja estrutura axiomtica faz facilmente
esquecer que se refere a situaes experimentveis. Uma vez formado da
maneira antes esboada o conceito de espao, com base nas experincias sobre
o recheio da caixa, o que temos um espao limitado. Mas esta limitao parece
no essencial, porque evidente que sempre se pode introduzir uma caixa maior
que encerre a menor. O espao aparece bem como algo que ilimitado. No vou
falar aqui de que as concepes da tridimensionalidade e a euclidicidade do
espao procedem de experincias (relativamente primitivas), seno que
considerarei primeiro o papel do conceito de espao na evoluo do pensamento
fsico segundo outros pontos de vista.
25
A tentativa de Kant de sufocar o mal-estar negando a objetividade do espao mal pode tomar-se
a srio. As possibilidades de alojamento, encarnadas pelo espao interior da caixa, so objetivas
no mesmo sentido que o so a prpria caixa e os objetos que se podem alojar nela.
95
este um princpio de ordenao conceitual para vivncias (imaginadas) cuja
viabilidade d p ao conceito de tempo subjetivo, isto , esse conceito de tempo
que remete ordenao das vivncias do indivduo.
26
A ordenao temporal de vivncias adquirida por via acstica pode, por exemplo, diferir da
ordenao temporal adquirida visualmente, com o qual no cabe identificar sem mais a ordenao
temporal dos acontecimentos com a ordenao temporal das vivncias.
96
pertencem j ao pensamento pr-cientfico,junto a conceitos da esfera psicolgica,
como dor, meta, propsito, etc. O pensamento fsico, e o das cincias naturais em
geral, caracteriza-se por pretender arrumar-se em princpio com conceitos tipo
espao unicamente e aspirar a expressar com eles todas as relaes regulares. O
fsico tenta reduzir cores e tons a vibraes; o fisiologista, pensamento e dor a
processos nervosos, de tal modo que o psquico como tal fica eliminado do nexo
causal do ser, isto , no aparece por nenhum lado como elo independente nas
relaes causais. Esta atitude, que considera teoricamente possvel o
entendimento de todas as relaes mediante o emprego exclusivo de conceitos
tipo espao, seguramente o que se entende atualmente por materialismo (depois
de que a matria tenha perdido seu papel como conceito fundamental). Por que
necessrio baixar os conceitos fundamentais do pensamento cientfico de seus
campos olmpicos platnicos e tentar desvelar sua origem terrestre? Resposta:
para liber-los do tabu que levam pendurado e conseguir assim maior liberdade na
formao de conceitos. O ter introduzido esta reflexo crtica mrito imperecvel
de D. Hume e E. Mach em primeira linha.
Mas, dado que a Fsica tem que fazer uso da Geometria desde o momento em
que estabelece seus conceitos, o contedo emprico da geometria no pode ser
especificado e contrastado seno no marco da fsica como um todo. Neste
contexto h que mencionar tambm o atomismo e sua concepo da divisibilidade
finita, pois os espaos de extenso subatmica no se podem medir. O atomismo
obriga tambm a abandonar teoricamente a idia de superfcies limtrofes e
estaticamente definidas em corpos slidos. Em rigor no existem ento leis
independentes para as possibilidades de alojamento de corpos slidos, nem
sequer no terreno macroscpico. Apesar de tudo, ningum pensou em abandonar
o conceito de espao, porque parecia imprescindvel nesse sistema global da
cincia natural to magnificamente credenciado. Mach foi o nico que no sculo
XIX pensou seriamente em eliminar o conceito de espao, tentando substitu-lo
pelo conceito do conjunto das distncias atuais de todos os pontos materiais. (E
fez esta tentativa com o fim de chegar a uma concepo satisfatria da inrcia.)
97
O campo. O espao e o tempo desempenham na mecnica newtoniana um papel
duplo. Em primeiro lugar, como suporte ou marco para o acontecer fsico, com
respeito ao qual os eventos vm descritos pelas coordenadas espaciais e o
tempo. A matria vista em essncia como composta de pontos materiais cujos
movimentos constituem o acontecer fsico. Quando se a concebe como contnua
em certo modo com carter provisrio e naqueles casos nos que no se quer ou
no se pode descobrir a estrutura discreta. Ento se dispensa o tratamento de
pontos materiais a pequenas partes (elementos de volume) da matria, ao menos
na medida em que se trate simplesmente de movimentos e no de processos cuja
reduo a movimentos no fosse possvel ou conveniente (p. ex., variaes de
temperatura, processos qumicos). O segundo papel do espao e do tempo era o
de sistema inercial. Dentre todos os sistemas de referncia imaginveis, os
inerciais se distinguiam pelo fato de que com respeito a eles era vlido o princpio
de inrcia.
98
No primeiro quarto do sculo XIX se comprovou, no entanto, que os fenmenos de
interferncia e movimento da luz admitiam uma explicao assombrosamente
ntida se se interpretava a luz como um campo de ondas completamente anlogo
ao campo de oscilaes mecnicas num slido elstico. Foi ento necessrio
introduzir um campo que pudesse existir inclusive em ausncia de matria
ponderal, no vcuo.
Este estado de coisas criou uma situao paradoxal, porque o conceito de campo,
de acordo com sua origem, parecia limitar-se a descrever estados no interior de
um corpo ponderal. O qual parecia tanto mais seguro quanto que existia a
convico de que todo campo tinha que o conceber como um estado
mecanicamente interpretvel, pressupondo isso a presena de matria. Viu-se
assim a necessidade de supor por todos os lados, inclusive nesse espao que at
ento se reputava vcuo, a existncia de uma matria que se denominou ter. A
forma em que o conceito de campo se sacudiu o julgo imposto por um substrato
material pertence aos processos psicologicamente mais interessantes na evoluo
do pensamento fsico. Na segunda metade do sculo XIX, e a raiz das
investigaes de Faraday e Maxwell, viu-se cada vez mais claro do que a
descrio dos processos eletromagnticos com ajuda da idia do campo era muito
superior a um tratamento baseado em conceitos de pontos mecnicos. Maxwell,
graas introduo do conceito de campo na Eletrodinmica, conseguiu predizer
a existncia das ondas eletromagnticas, cuja fundamental identificao com as
ondas luminosas era indubitvel, ainda que s fosse pela igualdade de suas
velocidades de propagao.
99
Os resultados destes fatos e experimentos (salvo um, o experimento de
Michelson-Morley) explicou-os H. A. Lorentz com a hiptese de que o ter no
participa dos movimentos dos corpos ponderais e de que as partes do ter no
tm absolutamente nenhum movimento relativo mtuo. O ter aparecia assim em
certo modo como a encarnao de um espao absolutamente em repouso. Mas a
investigao de Lorentz deu alm do mais outros frutos. Explicou os processos
eletromagnticos e pticos ento conhecidos no interior dos corpos ponderais,
supondo para isso que o influxo da matria ponderal sobre o campo eltrico (e ao
inverso) deve-se exclusivamente a que as partculas da matria portam cargas
eltricas que participam do movimento das partculas. Em relao com o
experimento de Michelson-Morley demonstrou H. A. Lorentz que seu resultado
no estava ao menos em contradio com a teoria do ter em repouso.
100
A simultaneidade de dois eventos determinados com respeito a um sistema
inrcia! implica a simultaneidade destes eventos com respeito a todos os sistemas
inerciais. Isto o que deve entender-se quando se diz que o tempo da Mecnica
Clssica absoluto. Na Teoria da Relatividade Especial j no assim. A idia do
conjunto de eventos que so simultneos a outro determinado existe em relao a
um determinado sistema inercial, mas j no com independncia da eleio do
sistema inercial. O contnuo quadridimensional no se decompe j objetivamente
em sees que contm todos os eventos simultneos; o agora perde para o
mundo, espacialmente extenso, seu significado objetivo. Da que se tenha que
conceber espao e tempo, objetivamente indissolveis, como um contnuo
quadridimensional se se quer expressar o contedo das relaes objetivas sem
arbitrariedades convencionais e prescindveis. A Teoria da Relatividade Especial,
ao demonstrar a equivalncia fsica de todos os sistemas inerciais, ps s claras o
carter insustentvel da hiptese do ter em repouso. Teve que renunciar por isso
idia de interpretar o campo eletromagntico como estado de um substrato
material. O campo se converte assim num elemento irredutvel da descrio fsica,
e irreduzvel mesmo sentido que o conceito de matria na Teoria Newtoniana.
101
O conceito de espao na Teoria da Relatividade Geral. Esta teoria nasceu em
princpio da tentativa de compreender a igualdade entre massa inercial e massa
gravitacional. Parte-se de um sistema inercial S1 cujo espao est fisicamente
vazio. Quer dizer isto que na poro de espao considerada no existe nem
matria (no sentido usual) nem um campo no sentido da Teoria da Relatividade
Especial. Seja S2 um segundo sistema de referncia uniformemente acelerado
com respeito a S1. S2 no , pois, um sistema inercial.
27
Sirva aqui esta maneira de expressar-nos, ainda que no seja exata.
102
Pois as condies que prevalecem com respeito a S2 se interpretam como campo
gravitacional, sem que se proponha a questo da existncia de massas que
engendrem o campo. E este raciocnio permite tambm compreender por que as
leis do campo gravitacional puro esto conectadas mais diretamente com a idia
da Relatividade. O raciocnio se baseia essencialmente no campo como conceito
independente. Pois as condies que prevalecem com respeito a S2 se
interpretam como campo gravitacional, sem que se proponha a questo da
existncia de massas que engendrem o campo. E este raciocnio permite tambm
compreender por que as leis do campo gravitacional puro esto conectadas mais
diretamente com a idia da Relatividade Geral que as leis para campos de classe
geral (quando existe um campo eletromagntico, por exemplo). Pois temos boas
razes para supor que o espao de Minkowski livre de campo representa um caso
especial permitido pelas leis da natureza, e em particular o caso especial mais
singelo que cabe imaginar. Um espao semelhante se caracteriza, em relao a
sua propriedade mtrica, pelo fato de que dx21 + dx22+ dx23 o quadrado da
distncia espacial, medida com uma haste unidade, entre dois pontos
infinitesimalmente prximos de uma seo espacial tridimensional (Teorema de
Pitgoras), enquanto dx4 a distncia temporal medida com uma unidade de
tempo conveniente entre dois eventos com (x1, x2, x3) comuns. De aqui se
deduz como fcil mostrar com ajuda das transformaes de Lorentz que a
quantidade
onde h que somar nos sub-ndices i e k em todas suas combinaes 11, 12,
...at 44. Agora , as gik j no so constantes, seno funes das coordenadas, e
vm determinadas pela transformao arbitrariamente eleita. Apesar disso, as gik
no so funes arbitrrias das novas coordenadas, seno precisamente funes
tais que a forma (a) possa transformar-se de novo na forma (1) mediante uma
transformao contnua das quatro coordenadas. Para que isto seja possvel, as
funes gik tm que se verificar certas equaes geralmente covariantes que B.
Riemann derivou mais de meio sculo antes do estabelecimento da Teoria da
Relatividade Geral (condio de Riemann). Segundo o princpio de equivalncia,
(1a) descreve em forma geralmente covariante um campo gravitacional de tipo
especial,sempre que as gik cumpram a condio de Riemann.
Por conseguinte, a lei para o campo gravitacional puro de tipo geral deve verificar-
se as seguintes condies.
103
Deve satisfazer-se quando se satisfaz a condio de Riemann; mas deve ser mais
dbil, isto , menos restritiva do que a condio de Riemann. Com isso fica
praticamente determinada por completo a lei de campo da gravitao pura, coisa
que no vamos fundamentar aqui com mais detalhe. Agora j estamos preparados
para ver at que ponto o passo Teoria da Relatividade Geral modifica o conceito
de espao. Segundo a Mecnica Clssica e segundo a Teoria da Relatividade
Especial, o espao (espao-tempo) tem uma existncia independente da matria
ou do campo. Para poder descrever aquilo que preenche o espao, aquilo que
depende das coordenadas, h que imaginar que o espao tempo, ou o sistema
inercial com suas propriedades mtricas, vem dado desde o princpio, porque se
no careceria de sentido a descrio de aquilo que preenche o espao 28. Pelo
contrrio, segundo a Teoria da Relatividade geral, o espao no tem existncia
peculiar margem de aquilo que enche o espao, daquilo que depende das
coordenadas. Seja, por exemplo, um campo gravitacional puro descrito pelas gik
(como funes das coordenadas) mediante resoluo das equaes
gravitacionais. Se suprimimos mentalmente o campo gravitacional, isto , as
funes gik, o que fica no algo bem como um espao do tipo (1), seno que
no fica absolutamente nada, nem sequer um espao topolgico. Pois as funes
gik descrevem no s o campo, seno ao mesmo tempo tambm a estrutura e
propriedades topolgicas e mtricas da variedade. Um espao do tipo (1) , no
sentido da Teoria da Relatividade Geral, no um espao sem campo, seno um
caso especial do campo gik para, o qual as gik (para o sistema de coordenadas
empregado, que em si no tem nenhum significado objetivo) possuem valores que
no dependem das coordenadas;o espao vazio, isto , um espao sem campo,
no existe.
28
Se se suprime mentalmente aquilo que enche o espao (p. ex., o campo), fica ainda o espao
mtrico segundo (1), que tambm seria determinante para o comportamento inercial de um corpo
de prova introduzido nele.
104
para o campo gravitacional puro. Creio que agora, depois de longas sondagens,
achei a forma mais natural para esta generalizao29; mas at a data no
consegui averiguar se esta lei generalizada resiste ou no a confrontao com os
fatos experimentais.
29
A generalizao cabe caracteriz-la do seguinte modo. O campo gravitacional puro dos gik
possui,de acordo com sua derivao a partir do espao de Minkowski esvazio, a propriedade de
simetria gik = gik (g12= g21, etc.). O campo generalizado da mesma classe, mas sem essa
propriedade de simetria. A derivao da lei do campo completamente anloga do caso especial
da gravitao pura.
105