Astrobiologia PDF
Astrobiologia PDF
Astrobiologia PDF
Douglas Galante
Evandro P. Silva
Fabio Rodrigues
Jorge E. Horvath
Marcio G. B. Avellar
tikinet
Produo editorial: Tikinet Edio Ltda
Edio de texto: Hamilton Fernandes
Preparao de texto: Amanda Coca
Reviso: Glaiane Quinteiro e Marilia Koeppl
Projeto grfico: Maurcio Marcelo
Diagramao: Maurcio Marcelo e Rodrigo Martins
Capa: Vitor Teixeira
Vrios autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-66241-03-7
16-00269 CDD-576.839
9 APRESENTAO
Alvorecer no terceiro planeta
15 INTRODUO
21 AGRADECIMENTOS
23 CAPTULO 1
ASTROBIOLOGIA
Estudando a vida no Universo
43 CAPTULO 2
A ORIGEM DOS ELEMENTOS
61 CAPTULO 3
ASTROQUMICA
A formao, a destruio e a busca de molculas
prebiticas no espao
75 CAPTULO 4
PLANETAS HABITVEIS
Onde esto os lugares no Universo adequados ao
nosso ou outros tipos de vida?
95 CAPTULO 5
QUMICA PREBITICA
A qumica da origem da vida
115 CAPTULO 6
ORIGEM DA VIDA
Estudando a vida no Universo
137 CAPTULO 7
A EVOLUO DA VIDA EM UM PLANETA EM
CONSTANTE MUDANA
155 CAPTULO 8
VIDA AO EXTREMO
A magnfica versatilidade da vida microbiana em
ambientes extremos da Terra
173 CAPTULO 9
METABOLISMOS POUCO CONVENCIONAIS
197 CAPTULO 10
QUANDO OS ANIMAIS HERDARAM O
PLANETA
217 CAPTULO 11
BUSCA DE VIDA FORA DA TERRA
Estudando o Sistema Solar
235 CAPTULO 12
LUAS GELADAS DO SISTEMA SOLAR
277 CAPTULO 13
BUSCA DE VIDA ALM DO SISTEMA SOLAR
293 CAPTULO 14
O SETI E O TAMANHO DO PALHEIRO...
Otimismo e pessimismo na busca de nosso alter
ego extraterrestre
315 CAPTULO 15
FUTURO DA VIDA NA TERRA E NO UNIVERSO
341 CAPTULO 16
EXPLORAO INTERESTELAR
Motivaes, sistemas estelares, tecnologias e
financiamento
361 GLOSSRIO
PREFCIO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
6
PREFCIO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
nada de simples na vida, seja ela qual for. O que nos trs de vol-
ta pergunta: o que vida?
Nesse contexto, onde entra o Brasil? Por quase uma dcada,
tenho conhecimento do interesse em criar um programa de pes-
quisa em astrobiologia no pas, aps uma reunio para a qual fui
convidada, organizada pelo Grupo de Pesquisa em Astrobiologia
do CNPq, durante a Assembleia Geral da IAU (Unio Astronmica
Internacional) no Rio de Janeiro, em 2009. Aps esse evento, to-
mei conhecimento e participei de vrios workshops sobre o tema
no Brasil, culminando com a filiao do pas como parceiro inter-
nacional do NASA Astrobiology Institute (NAI), em 2011. Cada vez
que vou ao Brasil, fico impressionada com o entusiasmo da comu-
nidade, tanto de cientistas como estudantes, sendo os ltimos uma
grande promessa para o futuro da astrobiologia no pas. Novas
instalaes de pesquisa esto sendo construdas, para complemen-
tar os laboratrios que o Brasil j possua. No meu prprio labora-
trio, nos Estados Unidos, fui privilegiada por ter um maravilhoso
ps-doutorando brasileiro, Dr. Ivan Paulino-Lima, que meu lem-
brete dirio do programa bem-sucedido em desenvolvimento no
pas. Eu me sinto honrada de ser parte desse processo, e espero
que essa colaborao e relacionamento duradouros continuem a
florescer.
Novos conhecimentos, a reorganizao dos conhecimentos
atuais e novas misses espaciais so claramente necessrios para
o avano da astrobiologia. Para ajudar o leitor a colaborar nessa
busca, o que se segue uma coletnea de tpicos que o permiti-
ro degustar da riqueza dessa rea de pesquisa. E, como em uma
refeio fabulosa, deve deix-lo com vontade de mais. Bem-vindo
astrobiologia!
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APRESENTAO
Alvorecer no terceiro planeta
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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APRESENTAO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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APRESENTAO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Salvador Nogueira
Jornalista de cincia, escreve atualmente para a coluna Mensageiro
Sideral da Folha de S.Paulo e autor de nove livros, entre os quais,
Extraterrestres, Rumo ao Infinito e Conexo Wright-Santos-Dumont.
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INTRODUO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
16
INTRODUO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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INTRODUO
Os Organizadores
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AGRADECIMENTOS
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ASTROBIOLOGIA
Estudando a vida no Universo
Captulo 1
Fabio Rodrigues, Douglas Galante e Marcio G. B. Avellar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
Cosmologia e astrofsica
O Universo tem uma idade aproximada de 13,7 bilhes de
anos e, desde o evento do Big Bang (Figura 1.2), vem evoluindo,
mudando com o tempo. A gravidade moldou suas grandes estru-
turas, desde a geometria do Universo at a forma das galxias e
estrelas. A mesma gravidade serve como fonte de energia para os
processos de fuso nuclear estelar que produziram praticamente
todos os elementos qumicos que conhecemos em nossa tabela
peridica. Dessa maneira, o entendimento dos mecanismos fsicos
do Universo essencial para entendermos a origem e a modifica-
o da matria-prima para os planetas e para a vida.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Astroqumica
Os ncleos produzidos no Big Bang e nas estrelas se distribuiriam
pelo Universo com o tempo, aumentando a complexidade qumica
existente. Conforme a temperatura mdia do Universo foi diminuindo
esses ncleos capturaram eltrons, formando os tomos, os quais co-
mearam a interagir por foras eletrostticas, ou seja, cargas positivas
e negativas se atraindo e repelindo, formando assim as ligaes qu-
micas e as molculas. Como a densidade mdia do Universo muito
baixa, ordens de grandeza mais baixas que s que estamos acostu-
mados na Terra, essas reaes acontecem lentamente, demorando
at centenas de milhares de anos. Hoje somos capazes de detectar
centenas de diferentes molculas no espao, inclusive orgnicas, es-
palhadas por todo meio interestelar, especialmente concentradas em
regies de maior densidade, como as nuvens moleculares ou discos
protoestelares. Essas molculas forneceram a matria-prima para que
a qumica prebitica ocorresse em nosso planeta e a vida surgisse.
Formao planetria
Essa uma rea da astronomia em grande expanso, pois at
pouco tempo atrs conhecamos muito pouco sobre o processo de
formao planetria. Ser que toda estrela possui planetas?
Nas ltimas duas dcadas, o nmero de exoplanetas descober-
tos tem aumentado rapidamente graas aos avanos tecnolgicos;
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Estudando a vida no Universo
Evoluo
Todas as formas de vida que conhecemos no planeta tm
uma propriedade em comum: so capazes de se reproduzir (ao
menos como populao), gerando descendentes com caracters-
ticas ligeiramente diferentes das da gerao parental (devido, por
exemplo, s mutaes espontneas ou induzidas), o que leva a
um sucesso reprodutivo diferencial, ou seja, alguns indivduos
dessa gerao conseguiro deixar mais descendentes que outros,
fixando, assim, as caractersticas na populao. Essa a base para
o processo de evoluo darwiniana descendncia com modifi-
cao , que levou a vida do primeiro ser vivo biodiversidade
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Figura 1.3. Alguns dos fsseis mais antigos da Terra, encontrados na regio
de Pilbara, no oeste da Austrlia, de bactrias que viviam em uma poca na
qual no existia oxignio na atmosfera (cerca de 3,4 bilhes de anos atrs).
Talvez, se encontrarmos sinais de vida em Marte, eles sejam parecidos com
esses microfsseis. Fonte: D. Wacey/uwa
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Estudando a vida no Universo
Frio Seco
cido Alcalino
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
O futuro da vida
Atualmente, discute-se muito sobre mudana climtica, aque-
cimento global e como a humanidade est alterando o planeta e
quais as implicaes em longo prazo (Figura 1.5). Em uma pers-
pectiva mais ampla, a astrobiologia se prope a entender como
a vida se adapta s alteraes do planeta com o tempo, seja em
consequncia das alteraes produzidas pela prpria vida, pelos
fenmenos planetrios (tectonismo, vulcanismo etc.), pela evolu-
o da estrela hospedeira ou por outros fenmenos astrofsicos.
Entender quais so esses possveis fenmenos, quais suas interco-
nexes, quais as consequncias para o planeta e para a vida de
extremo interesse da cincia, mas tambm tem aplicaes prti-
cas, pois pode permitir maior controle do impacto humano sobre
a Terra, minimizando os efeitos deletrios.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Astrobiologia no Brasil
Surgindo em seu formato atual na Nasa, em 1998, a astro-
biologia comeou a dar sinais no Brasil no incio dos anos 2000
(Rodrigues, 2012). Mas, muito antes disso, pesquisadores brasilei-
ros j estavam envolvidos com alguns dos temas que foram poste-
riormente compilados na astrobiologia.
Desde os anos 1980, pesquisas em qumica prebitica e ori-
gem da vida, por exemplo, vm sendo conduzidas, tendo como
pioneiro Ricardo C. Ferreira, que foi professor do Departamento de
Qumica da Universidade Federal de Pernambuco.
A busca de vida fora da Terra foi estudada, do ponto de vista
histrico, por Eduardo Dorneles Barcelos, em seu mestrado e dou-
torado na Universidade de So Paulo, sob orientao do professor
Shozo Motoyama, no final da dcada de 1980 e incio da de 1990
(Barcelos, 2001).
Antes disso, em 1958, o bilogo Flvio Pereira, formado em
Histria Natural pela Universidade de So Paulo e professor do
ensino mdio, havia escrito seu livro intitulado Introduo as-
trobiologia, em que compilava grande parte do que se acreditava
na poca sobre a existncia de vida fora da Terra (Pereira, 1958).
Escrito antes das misses de explorao espacial, quando no ha-
via uma separao clara entre astrobiologia e ufologia, o livro traz
conceitos at hoje discutidos pela astrobiologia, porm misturados
a temas hoje considerados menos cientficos, como a descrio de
habitantes de outros planetas. Pereira tornou-se, posteriormente,
pioneiro da ufologia no pas, distanciando-se do enfoque da astro-
biologia moderna.
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Estudando a vida no Universo
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando a vida no Universo
Referncias
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Des Marais , D. J.; Walter, M. R. Astrobiology: exploring the ori-
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Dick, S. J. Origins of the extraterrestrial life debate and its relation
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______. Plurality of worlds: the origins of the extraterrestrial life
debate from Democritus to Kant. Cambridge Cambridgeshire;
New York: Cambridge University Press, 246 p, 1982.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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A ORIGEM DOS
ELEMENTOS
Captulo 2
Roberto D. Dias da Costa e Jorge Ernesto Horvath
Origem do Universo
A curiosidade fundamental de saber de onde viemos intriga
a humanidade desde a aurora da civilizao. Todos os povos da
antiguidade tinham seus mitos cosmognicos que descreviam a
criao do mundo, mas foi apenas com a evoluo das ideias da
fsica no incio do sculo xx, em particular com a elaborao da
teoria da relatividade geral por Albert Einstein (com ilustres pre-
decessores como Newton), que foi possvel formular uma teoria
que descrevesse a origem e a evoluo do Universo tal como as
compreendemos hoje.
Ao longo do ltimo sculo, a base terica da relatividade,
combinada com a fsica nuclear e a fsica de partculas elemen-
tares, permitiu a interpretao correta de resultados experimentais
de distintas origens, tais como a datao de rochas e de meteoritos,
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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A origem dos elementos
* Notao exponencial: 10-1 significa 0,1; 10-2 significa 0,01; 10-3 significa
0,001 e assim sucessivamente. Portanto, 10-37 significa 0,000...0001 com 36
zeros depois da vrgula, antes do algarismo 1. De forma anloga, 101 = 10;
102 = 100; 103 = 1000; 106 = 1.000.000 e assim por diante.
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A origem dos elementos
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A origem dos elementos
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C + p 13N + g
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N 13C + e+ + e
13
C + p 14N + g
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N + p 15O + g
15
O 15N + e+ + e
15
N + p 12C + 4He
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
3 4He 12C + e+ + e- + g
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A origem dos elementos
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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A origem dos elementos
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Tipos de supernova
Depois de passar milhes de anos fusionando hidrognio, as
estrelas ficam sem condies de continuar esse processo, em par-
ticular nas estrelas massivas. O chamado ciclo triplo-alfa do hlio
comea antes do hidrognio se exaurir totalmente. Existe, assim,
uma modificao da estrutura estelar que leva queima de hlio
em carbono no centro, enquanto a fuso do hidrognio continua
em uma camada concntrica. Outros ciclos nucleares disparam
sucessivamente de forma anloga at a estrela finalizar com um
caroo suportado pela presso quntica dos eltrons (de longe,
maior que a presso do gs qual estamos acostumados) que no
dependem da temperatura mas da compresso.
Estudos detalhados mostram que as estrelas com 8 a 10 vezes
a massa do Sol nunca chegam a ter temperaturas que permitam
os ciclos mais avanados, e culminam com um caroo composto
de oxignio-nenio-magnsio que suporta exatamente uma massa
de 1,37 vezes a massa do Sol. Ao ultrapassar esse limite, a pres-
so no suficiente, e o caroo implode, ricocheteia e expulsa as
camadas externas (mais de 6 massas solares) em um evento de-
nominado supernova por captura eletrnica. Para um observador
externo, esse evento ser quase indistinguvel do tipo comum de
supernova (tipo II), no qual o caroo conseguiu avanar na evolu-
o e acontece em estrelas de 10 at 25 ou mais massas solares.
Nesse ltimo caso, quando o ncleo de uma estrela massiva,
composto de ferro e elementos adjacentes, ultrapassar o chamado
Limite de Chandrasekhar, equivalente a 1,44 massas solares, tam-
bm a gravitao vence o limite de resistncia da prpria estrutura
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A origem dos elementos
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Fe + n 57Fe
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Fe + n 58Fe
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Fe + n 59Fe 59Co + e-
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Co + n 60Co 60Ni + e-
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A origem dos elementos
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A origem dos elementos
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ASTROQUMICA
A formao, a destruio e a busca de molculas prebiticas no espao
Captulo 3
Heloisa M. Boechat-Roberty
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Astroqumica
Discos protoplanetrios
Uma importante fase da vida de uma estrela, como o Sol,
quando a estrela recm-nascida continua a sugar a matria circun-
dante, levando formao de um disco espesso de gs e gros.
Esses discos so regies de formao planetria, chamados de dis-
cos protoplanetrios. Os ambientes que circundam as estrelas re-
cm-nascidas e as estrelas evoludas so considerados verdadeiros
laboratrios qumicos, onde ocorrem reaes qumicas formando
compostos orgnicos e inorgnicos.
Na Figura 3.2 mostramos o esboo de um disco protoplane-
trio dividido em regies de acordo com a densidade e tempe-
ratura. R a distncia radial da estrela central, e Z a altura em
relao ao plano do disco, dada em unidades astronmica (ua).
A regio no plano do disco mais densa e mais fria, onde a ra-
diao da estrela central e a radiao interestelar no conseguem
penetrar. medida que Z aumenta, a temperatura aumenta e a
densidade de matria diminui. As partes do disco mais expostas
ao campo de radiao tornam-se extremamente quentes e total-
mente ionizadas, dando origem s regies ionizadas chamadas
de regies hii (hi e hii referem-se ao tomo de hidrognio neutro e
ionizado, respectivamente). Aps essa frente ionizada, a tempe-
ratura mais baixa, e a matria est mais protegida da radiao,
pois est mais distante da estrela central. No entanto, como os f-
tons de uv e raios X conseguem penetrar mais profundamente sem
serem absorvidos, as molculas podem ser dissociadas e temos as
chamadas regies de fotodissociao (pdrs, na sigla em ingls).
A interao da radiao eletromagntica, na faixa do ultravioleta
(uv) e raios X, emitida pela estrela recm-formada, com o gs e poeira
circundante, induz a ionizao (eltrons so arrancados dos tomos
e das molculas) e a dissociao (quebra das molculas). Os radicais
e ons gerados por esses processos reagem quimicamente formando
novas e mais complexas molculas. Espcies neutras e ionizadas tm
sido detectadas em vrios discos protoplanetrios como CO, CO2,
CN, HCN, HNC, H2CO, C2H, C2H2, CS, OH, HCO+, H13CO+, DCO+,
N2H+ e vapor de gua (Andrade, Rocco e Boechat-Roberty, 2010).
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
UV
Z (AU)
ada
o ioniz
X Regi o
dissocia
UV, raios Regio
de Foto
a
Regio aq ue cid
Plano do disco
Regi
o ioniz
R (AU)
Estrela ada
Nebulosas planetrias
No final da vida de uma estrela semelhante ao Sol, as camadas
externas so ejetadas para o meio interestelar, tornando-se ento
uma nebulosa protoplanetria ou pr-planetria, que depois evo-
luir para nebulosa planetria. Nesses ambientes circunstelares
ocorrem diversas reaes qumicas entre espcies na fase gasosa e
entre espcies congeladas na superfcie de gros.
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Astroqumica
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Astroqumica
H H2 H3+ CO
O H2O H3O+ CO2
C CH4 HCO+ O2
N NH3 NH4+ O3
S H2S N2H+ H2O2
1. Reao neutro-neutro
3. Fotodissociao ou fotodestruio
CH3OH+ CH3O+ + O
4. Reao on-molcula
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
5. Recombinao dissociativa
H2COOCH3+ + e- HCOOCH3 + H
Astroqumica experimental
Estuda-se experimentalmente os mecanismos e condies de inte-
rao de ftons (ultravioleta, uv e raios X), eltrons e partculas carre-
gadas com molculas, na fase gasosa e fase condensada, presentes em
ambientes circunstelares e interestelares, para se entender os processos
que ocorrem nesses ambientes. Muitos experimentos de interao de
ftons com molculas tm sido realizados no Laboratrio Nacional de
Luz Sncrotron (lnls), usando feixe de ftons provenientes das linhas
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Astroqumica
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Astroqumica
Astroqumica observacional
A busca de molculas no espao feita por observaes
astronmicas em vrios comprimentos de onda. Muitas das
molculas foram descobertas atravs das observaes em r-
dio e no infravermelho utilizando-se radiotelescpios como o
Institut de Radioastronomie Millimtrique (Iram), de 30 metros,
localizado na Espanha e telescpios espaciais, como o Infrared
Space Observatory (iso), o Spitzer e o mais recente observatrio
espacial Herschel. Recentemente entrou em operao o interfe-
rmetro Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (Alma),
que consiste em um conjunto de muitas antenas de radiote-
lescpios instalados no deserto do Atacama no Chile, a 5 mil
metros de altitude. A partir das observaes, determinam-se pa-
rmetros fsicos e fsico-qumicos importantes sobre as regies
de interesse, como a temperatura e a densidade numrica dos
gases, entre outros.
Uma grande quantidade de dados dos telescpios espaciais
j de domnio pblico e em breve novos dados tambm esta-
ro disponveis. A comunidade astronmica tem incentivado o
uso desses dados, e necessrio um esforo conjunto para seu
tratamento, pois a deteco das assinaturas moleculares no
simples. Para utilizar esses dados preciso adquirir conheci-
mento e experincia em obter espectros desses bancos de dados
e em manusear softwares de reduo de dados, com o objetivo
de identificar novas molculas e ons moleculares em objetos
de interesse.
71
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Figura 3.7. Radiotelescpio Iram 30m, Pico Veleta, Espanha. Fonte: JuanJan/
Creative Commons
Astroqumica terica
Modelos tericos so desenvolvidos na tentativa de se descre-
ver diferentes cenrios fsico-qumicos por exemplo, a formao
e evoluo de molculas em funo do tempo em diversos ambien-
tes interestelares e circunstelares, levando-se em conta, por exem-
plo, as condies fsico-qumicas de cada ambiente, a abundncia
inicial dos elementos qumicos e as principais reaes qumicas.
A estrutura e a estabilidade de ons moleculares tm sido inves-
tigadas empregando mtodos da qumica quntica para conhecer
as espcies moleculares mais estveis e suas contribuies para a
qumica em ambientes astrofsicos (Fantuzzi et al., 2012).
72
Astroqumica
Referncias
Almeida, G. C. et al. Desorption from methanol and ethanol ices
by high energy electrons: relevance to astrochemical models.
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Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, v. 444, n.
4, p. 3317-3327, 2014.
73
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
74
PLANETAS HABITVEIS
Onde esto os lugares no Universo adequados
ao nosso ou outros tipos de vida?
Captulo 4
Gustavo Porto de Mello
Habitabilidade
A Terra obviamente um planeta habitvel, mas como esta-
belecer que um planeta potencialmente capaz de manter formas
de vida durante bilhes de anos? Quais so os critrios usados
para reconhecer essa habitabilidade? A existncia e manuteno
da vida, tal como a conhecemos na Terra, baseada em um con-
junto de propriedades razoavelmente bem estabelecido, embora
permaneam dvidas sobre diversos detalhes. Entre as proprieda-
des mais essenciais est uma estrela de longa vida, como o Sol,
capaz de proporcionar energia luminosa de modo estvel durante
vrios bilhes de anos (Figura 4.1). Esse longo tempo necessrio
em funo do que aprendemos com o exemplo da Terra: a evolu-
o da vida em nosso planeta exigiu uma longa trajetria desde
os mais simples micro-organismos at o surgimento de vida com-
plexa, ou pelo menos de seu aparecimento no registro fssil, e por
fim de inteligncia. Parece razovel supor que tal evoluo exigir
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Zona habitvel
2
Massa da estrela em relao ao Sol
Marte
Terra
Vnus
0,1
0 0,1 1 10 40
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PLANETAS HABITVEIS
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PLANETAS HABITVEIS
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PLANETAS HABITVEIS
Atmosfera
Atmosfera
Eroso transporta
Depsitos carbonceos carbonatos para o mar
no leito do oceano Compostos
carbonceos
liberam CO2
Oceano
Oceano
Placa
Placa ocenica
ocenica
Magma
Magma Subduco
Subduco
Placa
Placa continental
continental
81
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Um termostato climtico
A presena desses gases por si s, porm, no capaz de
manter o efeito estufa operacional por longas escalas de tempo.
So necessrios mecanismos que regulem a presena desses gases
na atmosfera, impedindo que seu excesso aquea demasiadamen-
te o planeta, e que sua escassez torne a temperatura baixa demais.
Esses mecanismos so essencialmente geolgicos: a atividade vul-
cnica, que abastece a atmosfera continuamente com esses gases;
a tectnica de placas, que faz com que material rochoso da su-
perfcie terrestre seja reciclado no magma abaixo da crosta, e que
material jovem e incandescente desse magma seja trazido para a
superfcie; e a eroso ou intemperismo, que faz que os minerais
da superfcie reajam constantemente com os gases atmosfricos,
ajudando a controlar sua concentrao.
A conexo entre o vulcanismo, a tectnica de placas e a ero-
so determina um ciclo chamado de carbonato-silicato, do qual
alguns detalhes permanecem ignorados, mas cujo funcionamento
essencial bem compreendido. A presena de gases do efeito
estufa na atmosfera aquece o planeta, provocando a evaporao
da gua e sua precipitao sobre os continentes. A gua dissolve o
solo e as rochas com o auxlio do gs carbnico, transformando-os
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PLANETAS HABITVEIS
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
E o futuro?
Estudos recentes revelaram em nossa galxia muitas centenas
de planetas em estrelas vizinhas do Sol. Muito pouco se sabe so-
bre esses mundos: basicamente as distncias de suas estrelas e suas
massas e, em poucos casos, suas dimenses. A maioria desses exo-
planetas descobertos pertence categoria de gigantes gasosos como
Jpiter; alguns so aparentemente gigantes de gelo, como Urano.
Diversos deles, porm, parecem ter caractersticas de planetas ro-
chosos como a Terra. Vrios esto situados a distncias compatveis
com a presena de gua lquida em suas superfcies e poderiam ser
considerados habitveis dentro do nosso conhecimento. Algumas
estimativas otimistas sugerem que cerca de 30% das estrelas da nos-
sa galxia poderiam ter planetas habitveis. Mesmo que esse valor
seja muito otimista, o nmero de estrelas em nossa galxia to vas-
to que uma frao de 1% de estrelas com planetas habitveis ainda
acarretaria um bilho de planetas com possibilidade de abrigar vida
como ns a conhecemos! Claramente, o nmero de planetas poten-
cialmente habitveis apenas em nossa galxia desafia a imaginao.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Referncias
Galante, D.; Ernesto, H. J. Biological effects of gamma-ray bursts:
distances for severe damage on the biota. International Journal
of Astrobiology, Cambridge, v. 6, p. 19, 2007.
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Science, Washington, v. 303, n. 5654, p. 59-62, 2004.
92
PLANETAS HABITVEIS
93
QUMICA PREBITICA
A qumica da origem da vida
Captulo 5
Dimas A. M. Zaia, Cssia T. B. V. Zaia e Cristine E. A. Carneiro
Introduo
At meados do sculo xix era amplamente aceito pela comu-
nidade cientfica a teoria da gerao espontnea, que foi propos-
ta por Aristteles (384-322 a.C.). Segundo o filsofo, alguns se-
res vivos apareciam de forma espontnea e eram formados por
poucos elementos bsicos, nessa viso, os seres vivos poderiam
ser gerados de duas formas diferentes: pelos pais e por gerao
espontnea. Descries sobre a gerao espontnea podem ser
encontradas em antigos textos na China, na ndia, na Babilnia e
no Egito, nos quais h descritivos de produo de diversos seres
vivos, normalmente feitos a partir de matria orgnica em esta-
do de putrefao. A teoria da gerao espontnea sofreu seu pri-
meiro duro golpe com os experimentos realizados por Francesco
Redi (1626-1697), mdico florentino, em meados do sculo xvii.
Redi realizou um experimento (mostrado na Figura 5.1) no qual
demonstrou que vermes no apareciam espontaneamente e que
eram larvas de moscas que colocavam seus ovos na carne em
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Figura 5.1. Experimento de Redi. Em (a) o frasco foi coberto com uma tela
impedindo que as moscas depositassem suas larvas, em (b) o frasco no foi
coberto com uma tela e, portanto as moscas podem depositar suas larvas.
Fonte: IAG
96
Qumica prebitica
Sntese de biomolculas
Surgimento do planeta Terra (aminocidos, acares, lipdeos
4,5 bilhes de anos atrs etc.) a partir de molculas
simples (CH4, CO, CO2, H2, H2S,
HCN, NH3, H2O etc.)
Sntese de estruturas
cacervadas clulas (podem
ser constitudas de lipdeos, Sntese de biopolmeros a partir
peptdeos, protenas etc.) a partir de biomolculas (aminocidos,
de biopolmeros (aminocidos, acares, lipdeos etc.)
acares, lipdeos etc.)
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Qumica prebitica
Eletrodos
H2O
H2
NH 3
CH 4
Condensador
Aminocidos em soluo
Qumica prebitica
A qumica prebitica estuda todas as reaes e processos que
poderiam ter contribudo para a origem da vida do planeta Terra,
sendo uma cincia interdisciplinar que utiliza informaes e co-
nhecimentos de diversas reas, tais como: astrofsica, geologia,
qumica, bioqumica, biologia, matemtica e fsica com o objetivo
de explicar o aparecimento da vida. Nos experimentos de qumica
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Qumica prebitica
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
ATMOSFERAS NEUTRAS/REDUTORAS
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Qumica prebitica
e meteoros libera calor que pode ser utilizado para reaes qu-
micas. A formao de polmeros um passo importante para o
aumento da complexidade das estruturas formadas. A Figura 5.4
mostra a formao de um dipeptdeo e, como resultado, h a li-
berao de uma molcula de gua. No entanto, para a formao
desses polmeros, a liberao de uma molcula de gua faz parte
do processo reacional e, em soluo aquosa, essa reao termo-
dinamicamente desfavorvel, o que significa que no ocorre. As
reaes em estado slido so ideais para a formao de peptdeos/
protenas, nas quais o aquecimento em estado slido sem presen-
a de gua facilita sua sada. Diversos estudos foram realizados
com o aquecimento de aminocidos mais minerais, sendo que
aquecendo misturas de diversos aminocidos na faixa de tempera-
tura entre 160 e 210 C foi possvel obter peptdeos de at 25 mil
Daltons, ou seja, seria o mesmo que 250 aminocidos (peso mole-
cular mdio de 100 Daltons) fossem ligados formando uma longa
cadeia. Pesquisadores demonstraram que possvel formar di ou
tri-peptdeos em temperaturas relativamente baixas (50 a 60 C),
quando aminocidos foram aquecidos com minerais. Em estudos
de reaes em estado slido tambm foram obtidas outras substn-
cias como: aminocidos, hidrocarbonetos e cidos carboxlicos.
H H O H O
H
+ +
H N C C O + H N C C O
H H
R R
ligao peptdica
H H O H O
+
H N C C N C C O + H2O
H H
R R
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Qumica prebitica
NH2 NH2
O KCN H+
O
NH4CI R R
R H N OH
Figura 5.5. Reao de Strecker para a sntese de aminocidos
O O
H2N H2N
H
O N O
Ureia HO NH HCN NC NH HN -NH3
R1 R2 R1 R2 R1 NH
R1 R2
R2
O
H2N
H
N OH O HOOC HOOC NH2
O 2 NH H 2O
+NCO-
R1 NH R1 R2
R1 R2
R2
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Qumica prebitica
Minerais
At o momento foram descobertos mais de 4.440 diferentes
minerais, sendo que, todos os anos, 40 novos so encontrados.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Qumica prebitica
Adsoro/catlise/proteo
Uma das crticas feitas ao experimento de Miller foi que os ami-
nocidos, ao atingirem o mar, por causa do grande volume de gua,
seriam diludos, e, em consequncia, a formao de peptdeos e pro-
tenas no ocorreria. Em 1951, John D. Bernal (1901-1971) publicou o
livro The physical basis of life, baseado em uma palestra proferida por
ele em 1947. Nesse livro Bernal prope que minerais poderiam ter de-
sempenhado importantes papis na origem da vida, como de pr-con-
centradores de molculas orgnicas, de proteo contra a degradao
e inclusive de cdigo gentico. Diversos experimentos mostraram que
minerais podem adsorver biomolculas (aminocidos, bases nucleicas
do dna/rna etc.), portanto, pr-concentr-las e, uma vez adsorvidas na
superfcie do mineral, essas molculas ficariam protegidas da hidrlise
e radiao ultravioleta. A adsoro das molculas sobre minerais pode
ser fsica (fraca, DH na faixa de 20 kJ) ou qumica (forte, DH na faixa
de 200 kJ). No caso da adsoro fsica, a interao devida atrao
eletrosttica, interao dipolo-dipolo ou foras de van der Waals. No
caso da adsoro qumica, temos a formao de uma ligao qumica
entre a molcula adsorvida e o mineral. Existem diversos trabalhos
que mostram que minerais podem ter um efeito catalisador sobre uma
reao qumica, contudo, em muitos casos ocorre participao do mi-
neral na reao, ocasionando seu consumo.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Qumica prebitica
Quiralidade e os minerais
Muitas substncias apresentam uma propriedade chamada
quiralidade, palavra originada do grego quiros que signifi-
ca mo. Esse nome vem de uma caracterstica das mos, as-
sim como de muitos objetos tridimensionais que formam pares
assimtricos. Ou seja, uma mo a imagem especular de outra.
No caso das molculas orgnicas, h um centro quiral, que
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Concluso
Depois de quase 60 anos do clssico experimento de Miller,
uma grande quantidade de evidncias experimentais foi acumu-
lada pela qumica prebitica, demonstrando que possvel a ori-
gem de vida a partir da matria inanimada dentro do esquema
proposto por Oparin-Haldane. Outro esquema possvel seria da
origem da vida por meio do metabolismo, como proposto por
Wchtershuser. Entretanto, reproduzir as condies exatas de
como isso ocorreu pode ser impossvel, pois h muitas incertezas
sobre as condies da Terra prebitica. Qual era a exata composi-
o dos gases da atmosfera, dos sais da gua do mar, dos precur-
sores para a sntese das biomolculas etc.? Qual foi o papel de-
sempenhado por fontes terrestres e extraterrestres de precursores e
molculas para a sntese prebitica? Todavia, o importante aqui
demonstrar que isso possvel e essa possibilidade abre perspec-
tivas para a imaginao e engenhosidade dos pesquisadores para
112
Qumica prebitica
Referncias
Bleeker, W. et al. Mineral evolution. American Mineralogist, v. 93,
p. 1693-1728, 2008.
Rampelotto, P. H. A qumica da vida como ns no conhecemos.
Qumica Nova, v. 35, p. 1619-1627, 2012.
Zaia, D. A. M.; Zaia, C. T. B. V. Os cristais e a origem da vida: a se-
leo quiral de aminocidos na Terra primitiva. Cincia Hoje,
v. 37, p. 38-43, 2005.
Zaia, D. A. M.; Zaia, C. T. B. V. Algumas controvrsias sobre a ori-
gem da vida. Qumica Nova, v. 31, p. 1599-1602, 2008.
113
ORIGEM DA VIDA
Captulo 6
Douglas Galante e Fabio Rodrigues
* [] I should infer from analogy that probably all organic beings which have
ever lived on this Earth have descended from some one primordial form, into
which life was first breathed.
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
** [...] it is often said that all the conditions for the first production of a living be-
ing are now present, which could ever have been present. But if (and oh what
a big if) we could conceive in some warm little pond with all sort of ammonia
and phosphoric salts, light, heat, electricity present, that a protein compound
was chemically formed, ready to undergo still more complex changes, at the
present such matter would be instantly devoured, or absorbed, which would
not have been the case before living creatures were formed.
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Origem da vida
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Origem da vida
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Origem da vida
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
5cm
A B
Figura 6.2. (A) Modelo do reator de descargas eltricas usado no experimento
de Miller-Urey e (B) resultados originais de cromatografia em papel separando
alguns dos aminocidos produzidos aps uma semana de simulao (Miller,
1953)
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Origem da vida
Figura 6.7. Rascunho da primeira rvore evolutiva feita por Darwin em seu
caderno de anotaes, em 1837
131
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Referncias
Abrevaya, X. C. et al. Comparative survival analysis of Deinococcus
radiodurans and the Haloarchaea Natrialba magadii and
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Bedau, M. et al. Life after the synthetic cell. Nature, v. 465, n. 7297,
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Fox, S. W. How did life begin? Science, v. 132, n. 3421, p. 200-
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Origem da vida
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Origem da vida
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A EVOLUO DA VIDA
EM UM PLANETA EM
CONSTANTE MUDANA
Captulo 7
Daniel J. G. Lahr
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A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
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A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
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A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
Camada de acmulo
sedimentar
Camada de
microrganismos
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A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
Primeiros eucariontes 20
(Bangyomorpha)
Primeiros fsseis Plantas
de estromatlitos Cianobactrias 10
Animais
4 3 2 1 0
Tempo (em bilhes de anos atrs)
A evoluo da fotossntese
A atual diversidade da vida est intrinsecamente ligada com-
posio da atmosfera. Nem a atmosfera, nem a biodiversidade
atual existiriam sem o surgimento de um fenmeno fundamental:
a fotossntese. A fotossntese em si um fantstico exemplo de
como a evoluo atua. No apareceu ao acaso, mas sim, da jun-
o de diversas partes que surgiram independentemente para re-
solver problemas semelhantes enfrentados por organismos distin-
tos (Douglas, 1998). A fotossntese uma extensa srie de reaes
realizadas por enzimas especializadas e que ocorrem em partes
especiais da clula.
O processo da fotossntese se inicia no centro de reao fo-
tossinttico, onde a luz solar capturada por pigmentos especia-
lizados, que podem ser pigmentos carotenoides ou a clorofila.
Os centros de reao geralmente se encontram no centro de uma
grande estrutura molecular chamada de complexo-antena. Esse
complexo responsvel por canalizar a energia da luz para o
centro de reao fotossinttico. Essa energia ento utilizada em
uma srie de reaes para quebrar a molcula da gua e transfor-
mar gs carbnico em compostos orgnicos. O centro de reao
fotossinttico um complexo de molculas extremamente refina-
do: em organismos eucariontes, esse complexo pode ter at 13
subunidades e mais de 190 cofatores (protenas associadas). Essa
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A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
Invaginaes da
Membrana celular membrana clula
Primeiro eucariota
4 A habilidade do aerbio em usar oxignio para produzir
energia torna-se uma vantagem para o hospedeiro,
permitindo que este prospere em um ambiente cada vez
mais rico em oxignio, enquanto outros eucariotas so
extintos. A proteobactrias , por fim, assimilada e se
transforma em uma mitocndria.
Mitocndrias
Cianobactrias
Mitocndria
Cloroplastos
5 Alguns eucariotas continuam em busca de mais
endossimbiontes as cianobactrias, um grupo de
bactrias capazes de fazer fotossntese.
Transformam-se ento em cloroplastos.
151
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Referncias
Douglas, S. E. Plastid evolution: origins, diversity, trends. Current
Opinion in Genetics & Development, v. 8, p. 655-661, 1998.
Gould, S. J.; Lewontin, R. C. The spandrels of San Marco and the
panglossian paradigm: a critique of the adaptationist program-
me. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, v.
205, p. 581-598, 1979.
Hohmann-Marriott, M. F.; Blankenship, R. E. Evolution of photosyn-
thesis. Annual Review of Plant Biology, v. 62, p. 515-548, 2011.
152
A EVOLUO DA VIDA Em um PLANETA EM CONSTANTE MUDANA
153
VIDA AO EXTREMO
A magnfica versatilidade da vida microbiana
em ambientes extremos da Terra
Captulo 8
Rubens T. D. Duarte, Catherine G. Ribeiro e Vivian H. Pellizari
Introduo
Os 3,8 bilhes de anos nos quais a vida se desenvolveu em
nosso planeta forjaram um amplo espectro funcional da vida mi-
crobiana, permitindo-a ocupar nichos considerados inabitveis
para a vasta maioria de outros seres vivos. A afinidade pelo extre-
mo faz de alguns micro-organismos terrestres importantes alvos no
estudo da astrobiologia, pois refletem a plasticidade da vida nos
mais diversificados e inspitos ambientes.
155
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Extremfilos
Em 1964, o microbiologista norte-americano Thomas Brock
fez uma descoberta que mudou o conceito de vida: ele observou
micro-organismos sobrevivendo ao redor de giseres do Parque
Nacional do Yellowstone (eua) que lanavam gua a 82 C, uma
temperatura muito acima da tolerncia dos seres vivos. Mais tarde,
em 1967, Brock publicou os resultados de sua pesquisa descre-
vendo que o micro-organismo, identificado como uma arqueia e
batizada de Thermus aquaticus, no apenas tolerava altas tempera-
turas, mas tambm exigia essa temperatura para crescer. Passamos,
ento, a conhecer um novo grupo de seres vivos os extremfilos.
Muitos pesquisadores comearam a explorar diferentes ambientes
procura de vida, muitos dos quais considerados at ento inspi-
tos por serem ambientes extremos.
O conceito ecolgico de ambiente extremo est intrinseca-
mente atrelado ao conceito humano de habitabilidade. Uma am-
pla gama de ambientes com extremos de calor, frio, pH, salini-
dade, presso e radiao so dominados por micro-organismos,
cuja divergncia gentica manifestada em diferenciao metab-
lica possibilitou a ocupao de nichos considerados improvveis.
Esses ambientes podem ser caractersticos de exoplanetas com po-
tenciais chances de abrigar vida, mesmo que suas condies am-
bientais sejam diferentes das condies medianas do planeta Terra.
Atualmente, podem ser encontrados em cultura representantes de
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VIDA AO EXTREMO
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VIDA AO EXTREMO
Figura 8.2. Dry Valleys, na Antrtica, um dos desertos mais secos da Terra.
Fonte: Nasa/gsfc/meti/ersdac/jaros e u.s./Japan aster Science Team
Resistncia radiao
Embora a maioria das espcies existentes na atualidade ne-
cessite de um escudo para a radiao solar de alta energia, alguns
micro-organismos so capazes de suportar e proliferar em altos
nveis de radiaes ultravioleta e ionizante. A bactria de solo
Bacillus subtilis detm o recorde de seis anos de sobrevivncia no
espao (Horneck; Bcker; Reitz, 1994; Wassmann et al., 2012).
Outra bactria, denominada Deinococcus radiodurans, consi-
derada um dos seres vivos mais resistentes radiao ionizante.
Essa bactria de pigmento laranja-avermelhado foi descoberta
por acaso em 1956, quando a indstria comeou a usar radiao
gama para esterilizar comida enlatada. Doses mil vezes maiores
que a dose capaz de matar seres humanos no causam efeito letal
nessa bactria.
A pesquisa envolvendo resistncia em nveis considerveis de ra-
diao tambm est correlacionada s questes sobre panspermia e
possibilidade de micro-organismos sobreviverem a longas viagens
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
164
VIDA AO EXTREMO
Acidoflicos e alcaliflicos
Micro-organismos vivos tambm proliferam em pH extremos
e muitas vezes requerem ambientes extremamente cidos ou alca-
linos para apresentarem atividade metablica. O pH tem uma gra-
dao logartmica de 0 a 14 e mede a concentrao de ons H+ em
soluo. A maior parte dos processos biolgicos no planeta Terra
tende a acontecer na poro mediana da escala. Os micro-orga-
nismos acidoflicos (adaptados ao cido, ou pH abaixo de 5,0) e
os alcaliflicos (adaptados alcalinidade, com pH acima de 9,0)
no tm muito em comum, a no ser o fato de serem extremfilos.
So organismos de grupos diferentes, que evoluram com adapta-
es distintas. Entre os amantes do cido, a arqueia Picrophilus
considerada a espcie mais acidoflica j encontrada, isolada de
solos vulcnicos do Japo, tendo um crescimento timo em pH
0,7 algo entre um cido de bateria veicular e o cido sulfrico
(Schleper et al., 1995). Embora solos cidos sejam abundantes em
nosso planeta, ambientes alcalinos so particularmente difceis de
serem encontrados e so representados principalmente por reas
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
A caixa-preta biolgica
A prospeco pela existncia de vida fora da Terra pode en-
contrar barreiras dentro da pesquisa biolgica convencional. Uma
das questes que desafiam a microbiologia ambiental a chama-
da Caixa-Preta Biolgica (ou Biosfera Oculta), que representa o
desconhecimento da maior poro da microbiota que nos cerca.
Esse fenmeno decorre das limitaes de cultivo de micro-orga-
nismos in vitro: a cincia ainda no capaz de simular todas as
condies necessrias para o crescimento de muitas espcies de
micro-organismo. Estima-se que menos de 1% da biodiversidade
microbiana j tenha sido cultivada em laboratrio. Isso ainda
mais crtico ao se tratar de extremfilos, pois pouco conhecemos
sobre sua biologia. Em termos prticos, essa impossibilidade de
cultivo gera problemas na anlise do metabolismo e funo eco-
lgica dos micro-organismos, deixando vagas as inferncias sobre
o papel deles em seus respectivos ambientes. As tcnicas mole-
culares tm ajudado muito a preencher essas lacunas e detectam
e identificam sequncias de dna especficas de micro-organismos
em qualquer amostra ambiental, independentemente se estiverem
dentro de clulas vivas, mortas ou em estado de dormncia. Desde
que foram estabelecidas, em meados da dcada de 1980, muitos
grupos novos de micro-organismos foram descobertos atravs des-
ses mtodos. Com tcnicas cada vez mais sofisticadas, como o
sequenciamento de genoma de clulas nicas, utilizando-se dna
166
VIDA AO EXTREMO
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
168
VIDA AO EXTREMO
Broca
trmica
Broca
eletromecnica
Referncias
Abrevaya, X. C. et al. Comparative survival analysis of Deinococcus
radiodurans and the Haloarchaea Natrialba magadii and
Haloferax volcanii, exposed to vacuum ultraviolet irradiation.
Astrobiology, v. 11, p. 1034-1040, 2011.
169
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VIDA AO EXTREMO
171
METABOLISMOS POUCO
CONVENCIONAIS
Captulo 9
Andr Arashiro Pulschen
Introduo
A definio exata de metabolismo no bvia. Podemos con-
siderar como metabolismo todas as transformaes e reaes qu-
micas que ocorrem dentro de um organismo vivo, normalmente
envolvendo enzimas, e que asseguram a manuteno e o cres-
cimento celular, atravs da sntese ou degradao de molculas.
Com uma definio to geral, fcil de se imaginar que a quanti-
dade de diferentes metabolismos existentes extremamente vasta.
Certas vias metablicas mais basais, como a degradao da gli-
cose, so relativamente conservadas e abundantes, porm certos
metabolismos podem ser considerados como exticos e pouco
convencionais, ocorrendo principalmente em procariotos.
Metabolismos no convencionais no so to raros assim em
nosso planeta. Isso porque a definio de convencional parte de
ns, humanos, apenas uma das milhares de espcies que existem
173
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
174
Metabolismos pouco convencionais
175
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
176
Metabolismos pouco convencionais
H+
H+
H+ H+ H+
H+
H+
e- e-
Q
e-
NADH NAD+ O HO
2 2
ADP + Pi ATP
H+
Figura 9.1. Ilustrao da cadeia transportadora de eltrons. Fonte: Elaborado
pelo autor
177
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
178
Metabolismos pouco convencionais
H+
ADP + Pi ATP
NADPH
Luz NADP+
Luz
Estroma
PSI e-
e-
PSII
e-
Lmen do
Tilacide H2O +
H+ H+
O2 + 2H H+
H+
179
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Respirao anaerbia
A respirao anaerbia consiste em uma cadeia transportado-
ra de eltrons em que o aceptor final no o oxignio, mas sim
outro composto capaz de receber esses eltrons, como o nitrato.
comum a confuso entre fermentao e respirao anaerbia.
A primeira produz atp apenas pela gliclise, no faz uso da ca-
deia transportadora de eltrons e pouco eficiente. J a respirao
anaerbia faz uso da cadeia transportadora, e a produo de atp
muito mais eficiente do que na fermentao.
A respirao anaerbia comum no ambiente microbiano e
vrios organismos, como os Escherichia coli e Bacillus subtilis so
capazes de realiz-la (Nakano; Zuber, 1998; Unden; Bongaerts,
180
Metabolismos pouco convencionais
181
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
182
Metabolismos pouco convencionais
Quimiolitotrficos
Organismos quimiolitotrfricos so organismos capazes de
produzir atp ou com poder redutor, a partir de compostos qumicos
inorgnicos. No caso da produo de atp, no importa o aceptor
final de eltrons (oxignio, urnio ou qualquer outro), mas sim o
doador de eltrons, que nesse caso no um composto orgnico.
O padro bsico de produo de energia e poder redutor segue,
portanto, a mesma lgica de outras formas de vida, porm se ba-
seia agora em compostos inorgnicos (Peck, 1968).
Considerando-se a produo de atp, a cadeia transportadora
de eltrons dos organismos quimiolitotrficos conta com enzimas
capazes de remover eltrons de compostos orgnicos reduzidos.
De fato, uma vasta gama de compostos qumicos reduzidos po-
dem ser utilizados no metabolismo quimiolitotrfico, conforme
ilustrado na Tabela 9.2.
183
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
184
Metabolismos pouco convencionais
*Consumo de ATP
H+
Fluxo de eltrons no sentido reverso
0 -2
S ou S2O3
NADP+ S2O4
-2
(Ou NAD+) O HO
NADPH 2 2
Espao intracelular (Ou NADH)
ADP + Pi
ATP
H+
Fotossntese anoxignica
A fotossntese anoxignica consiste em uma fotossntese na
qual no se tem a produo de oxignio como um dos produtos
finais, da o seu nome. O oxignio produzido pela fotossntese
185
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
186
Metabolismos pouco convencionais
H+
Luz
H+ H+ H+
e-
e-
ADP + Pi ATP
H+
187
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
188
Metabolismos pouco convencionais
189
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
H2S
FeS 2 H2O2
(Pirita) Produo
de ATP
H 2O2 SO4-2
+
H OH - SO4-2
OH -
H 2O
H 2O SO4-2
H2
H2
H 2O
UO2 OH - poder redutor
(Uraninita)
-
H
+ HCO3
-
HCO3
+
H
Fixao de
Dissoluo Carbono
da Calcita
CaCO3
(Calcita)
Figura 9.5. Resumo do metabolismo proposto por Chivian et al. para o
Candidatus Desulforudis audaxviator (baseado no trabalho de Chivian et al.,
2008).
190
Metabolismos pouco convencionais
191
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
192
Metabolismos pouco convencionais
Referncias
Abreu, F. et al. Candidatus Magnetoglobus multicellularis, a mul-
ticellular, magnetotatic prokaryote from a hypersaline envi-
ronment. International Journal of Systematic and Evolutionary
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Bryant, D. A.; Frigaard, N. Prokaryotic photosynthesis and phototro-
phy illuminated. Trends in Microbiology, v. 14, p. 488-496, 2006.
Cardona, T.; Murray, J. W.; Rutherford, A. W. Origin and evolution
of water oxidation before the last common ancestor of the cy-
anobacteria. Molecular biology and evolution, v. 32, n. 5, p.
1310-1328, 2015.
Chivian, D. et al. Environmental genomics reveals a single-species
ecosystem deep within earth. Science, v. 322, n. 5899, p. 275-
278, 2008.
193
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
194
Metabolismos pouco convencionais
195
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
196
QUANDO OS ANIMAIS
HERDARAM O PLANETA
Captulo 10
Mrian Liza Alves Forancelli Pacheco, Bruno Becker Kerber
e Francisco Rony Gomes Barroso
197
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Quando os animais herdaram o planeta
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Quando os animais herdaram o planeta
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
202
Quando os animais herdaram o planeta
203
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
204
Quando os animais herdaram o planeta
REVOLUO AGRONMICA
Atividade de
Kimberella sobre
Substrato esteiras microbianas
Firme
Substrato
Macio
Atividades de
bilaterais no
Substrato Ediacarano substrato Substrato Cambriano
205
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Bacia de Itaja
Um dos mais importantes registros paleontolgicos brasilei-
ros, no contexto da evoluo das primeiras formas de vida ma-
croscpicas e complexas, a Bacia de Itaja, em Santa Catarina.
Datada de cerca de 595-558 Ma, as rochas dessa unidade ge-
olgica contm fsseis e traos fsseis (icnofsseis) que podem
pertencer s primeiras comunidades bentnicas do perodo
Ediacarano (Figura 10.4). Os icnofsseis dessa unidade podem
estar entre os primeiros registros de atividade de animais bilat-
rios, trazendo novas implicaes na origem desses organismos e
suas influncias nas transformaes do substrato, que culminaram
na Revoluo Agronmica da transio Ediacarano/Cambriano.
Alm disso, a Bacia de Itaja pode representar um dos poucos ca-
sos conhecidos no Brasil onde se encontra a presena da biota de
corpo mole tpica do Ediacarano, comumente conhecida pelos
vendobiontes.
Alm desses fsseis, algumas estruturas enigmticas j atribu-
das a impresses de esponjas, interpretadas como semelhantes ao
gnero Cambriano Choia (Figura 10.4 A), se confirmadas, podem
representar um dos poucos registros desse grupo j no Ediacarano.
Recentemente, pesquisadores tm apontado o papel de es-
ponjas na modificao do ambiente e criao de condies be-
nficas para outros organismos em ecossistemas marinhos. Essa
ideia est dentro do conceito da Engenharia de Ecossistemas, que
quando um grupo de organismos, por meio de suas atividades,
transformam habitats, podendo ter importantes impactos na biota
e, indiretamente, no prprio ambiente. No caso das esponjas, es-
tas podem ter influenciado nos padres de ventilao e remoo
de matria orgnica nas guas ocenicas do Ediacarano. Sendo
assim, estudos paleontolgicos na Bacia de Itaja podem trazer im-
plicaes importantes no estabelecimento dos primeiros organis-
mos bentnicos e na possibilidade da presena de esponjas como
engenheiros de ecossistemas.
206
Quando os animais herdaram o planeta
Bacia Jaibaras
Talvez a mais recente descoberta de organismos de corpo
mole atribudos biota de Ediacara brasileira encontre-se nos mu-
nicpios de Pacuj e Santana do Acara (noroeste do Cear). Essa
rea caracterizada por unidades litolgicas muito antigas que
abrangem do Pr-Cambriano ao incio do Paleozoico.
Ao que tudo indica, esses fsseis foram preservados na Bacia
de Jaibaras, em uma rea com cerca de 100 km de afloramentos
descontnuos, formando uma abundante comunidade bentnica
que viveu provavelmente h cerca de 550 Ma. Toda essa comu-
nidade est preservada sob condies ambientais semelhantes de
alta energia, possivelmente um esturio, que um brao do mar
formado pela desembocadura de um rio. O alto fluxo de detritos
carregados por esse rio em direo ao mar pode ter ocasionado a
mortandade em massa desses organismos por meio de um rpido
soterramento, uma vez que os espcimes so encontrados ainda
em posio de vida.
Contudo, esses fsseis esto preservados em moldes forma-
dos por gros muito grossos de areia e cascalho (Figura 10.5),
207
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Figura 10.5. Fsseis de Pacuj: (A) C. arboreus (escala 3 cm); (B) C. concentricus
(escala 4 cm); (C) C. davidi (escala 1 cm); (D) C. delicata (escala 7 cm); (E) E.
flindersi (escala 5 cm); (F) K. quadrata (escala 2 cm); (G) M. asteroides (escala
15 cm); (H) P. reticulata (escala 5 cm); (I) P. minchami (escala 1 cm). (J) P.
abyssalis (escala 3 cm); (K) S. wadea (escala 2 cm); (L) T. disciformis (escala
3 cm). Abaixo, temos a representao esquemtica dos mesmos fsseis na
respectiva ordem. Fonte: Adaptado de Barroso et al. (2013, 2014)
208
Quando os animais herdaram o planeta
Grupo Corumb
Sob um calor escaldante de 41 graus, em minas de cal-
crio localizadas em Corumb e Ladrio, cidades que encan-
tam por sua exuberncia, cientistas brasileiros e alemes des-
creveram, na dcada de 1980, um dos animais que viveu, em
nossa analogia entre o dia terrestre e o tempo geolgico, al-
guns segundos antes da exploso Cambriana. Corumbella
werneri, datada em cerca de 543 milhes de anos, foi um dos
209
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
210
Quando os animais herdaram o planeta
211
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
A B
Regio oral
Borda Lateral
Linha Mediana
Anel
C D E
Septo Anel
Borda Lateral
Linha Mediana
F G H
Insero da
Regio aboral regio aboral
unisseriada
212
Quando os animais herdaram o planeta
Agradecimentos
Fapesp e ao cnpq, pelo apoio financeiro para o desenvol-
vimento deste trabalho. Aos profs. drs. Juliana Leme e Thomas
Fairchild (Instituto de Geocincias, usp), por terem viabilizado
e incentivado o estudo paleontolgico dos animais fsseis de
Corumb e Ladrio. Ao prof. dr. Paulo Paim (Unisinos) e Ana
Zucatti (Petrobrs), pelo auxlio nas questes geolgicas e paleon-
tolgicas na Bacia do Itaja. s profas. dras. Maria Somlia Viana
213
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Referncias
Barroso, F. R. G. et al. First Ediacaran Fauna Occurrence in
Northeastern Brazil (Jaibaras Basin, Ediacaran-Cambrian):
Preliminary Results and Regional Correlation. Anais Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Cincias (Impresso). 2014. v.
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Barroso, F. R. G. et al. New discoidal fossils of Ediacaran fauna in
Jaibaras Basin (Northeastern Brazil). In: Corumb Meeting: The
Neoproterozoic Paraguay Belt (Brazil): glaciation, iron-manga-
nese formation and biota. Anais Corumb, 2013.
Brasier, M. D. Darwin's lost world. Londres: Oxford University
Press, 2009.
Dawkins, R. A grande histria da evoluo: na trilha dos nossos
ancestrais. So Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Dzik, J. The Verdun Syndrome: Simultaneous origin of protective
armour and infaunal shelters at the Precambrian-Cambrian
transition. In: Vickers-Rich, P.; Komarower, P. (Eds.). The rise
and fall of the Ediacaran Biota. Londres: Geological Society of
London, 2007. p. 405-414.
Fairchild, T. R. et al. Evolution of Precambrian life in the Brazilian
Geological Record. International Journal of Astrobiology, Nova
York, v. 11, n. 4, p. 309-323, 2012.
Fedonkin, M. A. The origin of the Metazoa in the light of the
Proterozoic fossil record. Palaeontological Research, Tokyo, v.
7, p. 9-41, 2003.
Gould, S. J. Wonderful life: the Burgess Shale and the nature of
history. New York: W. W. Norton, 1989.
214
Quando os animais herdaram o planeta
215
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
216
BUSCA DE VIDA FORA DA
TERRA
Estudando o Sistema Solar
Captulo 11
Fabio Rodrigues e Evandro Pereira da Silva
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
218
Estudando o Sistema Solar
219
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Curiosidade
Em 17 de dezembro de 1900, foi anunciado pela Academia
Francesa de Cincias (Acadmie des Sciences) o Prmio Guzman, fi-
nanciado por Anne Emilie Clara Gouget Guzman. Esse prmio, no valor
de 100 mil francos, seria dado primeira pessoa, de qualquer nacio-
nalidade, que conseguisse estabelecer comunicao com habitantes de
outros planetas.
O prmio, entretanto, previa uma exceo: foi excluda da
premiao a comunicao com Marte, considerada poca um
feito muito fcil para merecer o prmio, uma vez que acreditavam
ser bvia a existncia de vida nesse planeta.
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Estudando o Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando o Sistema Solar
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Estudando o Sistema Solar
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Estudando o Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Estudando o Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Referncias
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Estudando o Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
234
LUAS GELADAS DO
SISTEMA SOLAR
Captulo 12
Douglas Borges de Figueiredo
Introduo
Luas geladas constituem uma classe de satlites naturais que
orbitam os gigantes gasosos do nosso Sistema Solar e cuja superf-
cie composta principalmente por gelo. Embora diversos satlites
sejam classificados como luas geladas, estas apresentam carac-
tersticas muito distintas, especialmente quanto capacidade de
promover o surgimento e a manuteno da vida.
Irwin e Schulze-Makuch (2001) consideraram que existem trs
requisitos mnimos para o surgimento e a manuteno da vida:
1) presena de um meio lquido; 2) uma fonte de energia; 3) com-
ponentes e condies que possibilitem reaes qumicas capazes
de formar molculas complexas. Nessas condies, assume-se que
a vida seria capaz de surgir e de se adaptar a mudanas do ambien-
te. Assim, a possibilidade de haver vida em um corpo celeste seria
to grande quanto sua capacidade de suprir essas necessidades.
235
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
236
Luas geladas do Sistema Solar
Io
Caractersticas gerais
Orbitando a uma distncia de 421.700 km do centro de Jpiter,
Io a lua mais prxima do gigante gasoso. Possui formato elipsoide,
com seu eixo mais longo direcionado para Jpiter. Seu dimetro
de 3.642 km e sua massa de aproximadamente 8.932 1022kg,
sendo a segunda menor lua dos satlites galileanos, frente apenas
de Europa, e o mais denso dos satlites de Jpiter (d=3,527 g/
cm3) (Schubert et al., 2004). Medidas obtidas pelas sondas Galileo
e Voyager sugerem que o interior de Io diferenciado entre um n-
cleo de ferro e de pirita (FeS2), que corresponde a cerca de 20% de
sua massa, manto e crosta ricos em silicatos (Anderson et al., 2001).
A ausncia de um campo magntico intrnseco indica que o ncleo
de Io slido (Figura 12.1).
Com mais de 400 vulces ativos, Io o objeto com maior ativi-
dade geolgica no Sistema Solar. Devido ao vulcanismo, a superf-
cie de Io praticamente desprovida de crateras de impactos, j que
constantemente coberta do material expelido pelas erupes. Tal
material, rico em compostos de enxofre, como dixido de enxo-
fre (SO2), e silicatos confere uma colorao amarelada ao satlite
(Figura 12.1). A temperatura mdia na superfcie de Io de 143 K,
mas pode chegar at 1.900 K prximo a locais de atividade vulc-
nica, temperatura alta o bastante para manter a lava lquida. Alguns
veios vulcnicos ejetam SO2 gasoso na atmosfera, que condensa e
se deposita na superfcie como neve (Schulze-Makuch, 2010), alm
de poder ser ejetado e atingir as luas vizinhas, como Europa.
237
238
Tabela 12.2. Classificao dos satlites de Jpiter, Saturno, Urano e Netuno na escala de Plausabilidade de Vida de Irwin e Schulze-
Makuch (2001)
Corpo pv gua Qumica Energia Plausabilidade de Vida
Luas de Jpiter
Io iv Atividade vulcnica cria Colorao da superfcie Geotrmica Baixa gradientes trmicos
uma atmosfera fina qumica complexa (fora de mar, decaimento bruscos e ciclo geotrmico,
radioativo); qumica; mag- porm com temperaturas e
ntica radiao muito adversas
Europa ii Superfcie de gelo de gua; Colorao da superfcie Geotrmica (fora de mar, Favorvel muitas fontes
Ganimedes ii campo magntico e reno- qumica complexa e reci- decaimento radioativo); ra- de energia; provvel pre-
vao da superfcie gua clagem qumica diao jupiteriana sena de gua no subsolo;
lquida ciclo geoqumico
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Calisto iii Baixa densidade princi- Geotrmica (fora de mar Moderada possvel pre-
palmente gelo de gua limitada, decaimento ra- sena de gua lquida no
dioativo); radiao jupite- subsolo, mas pouco fluxo
riana de energia
Luas de Saturno
Ttis iv Densidade muito baixa e Magntica; forte radiao Baixa pouca evidncia de
Dione iv albedo alto; principalmente saturniana gua lquida
Reia iv gelo de gua
continua...
Tabela 12.2. Continuao
Enclado iii Superfcie renovada com Geotrmica (fora de Moderada possvel pre-
frequncia; evidncia de mar); magntica; de con- sena de gua no subso-
giseres de gelo veco lo com diversas fontes de
energia
Iapetus iv Baixa densidade e albedo Borda escura divisria Qumica Baixa no h evidncias
moderado principal- qumica de hidrocarbone- de gua lquida at o mo-
mente gelo tos mento
Tit iii Densidade 1,8 lqui- Atmosfera densa, colorida Qumica; geotrmica (de- Moderada qumica org-
dos orgnicos e/ou gelo de qumica complexa caimento radioativo) nica complexa e atmosfera
gua, com ncleo slido com capacidade de redu-
o qumica
Luas de Urano
Titnia iii Evidncia de fluxo de lqui- Geotrmica Moderada possibilidade
dos nos cnions de lquidos no subsolo e
lquidos recentes na super-
fcie
Ariel iv Densidades e albedo altos Geotrmica? Baixa luas pequenas, e
Miranda iv 1,5-1,7 rocha/gelo h pouca evidncia de gra-
Umbriel iv dientes de energia
Oberon iv
continua...
239
Luas geladas do Sistema Solar
240
Tabela 12.2. Continuao
Corpo pv gua Qumica Energia Plausabilidade de Vida
Luas de Netuno
Trito iii Densidade ncleo ro- Colorao da superfcie Qumica; rbita elptica Moderada qumica com-
choso com gua/superfcie qumica complexa, carac- fora da mar e temperatu- plexa e diversas fontes de
de gelo tersticas incomuns da su- ras sazonais energia, com a possvel
perfcie energia interna presena de lquidos no
subsolo
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
241
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Habitabilidade
Io possui classificao iv na Escala de Plausabilidade de Vida
(Irwin; Schulze-Makuch, 2001). Esto nessa categoria corpos ce-
lestes que, no passado, podem ter tido condies razoveis para o
surgimento da vida, mas que desenvolveram condies to abrasi-
vas que tornaram a existncia de vida hoje em dia pouco provvel,
mas concebvel em ambientes isolados.
A baixa probabilidade de vida em Io se deve principalmente
pouca quantidade de gua detectada na atmosfera e na su-
perfcie, no deteco de compostos orgnicos na superfcie
e interao com partculas de plasma extremamente energ-
ticas provenientes de Jpiter. Embora a temperatura mdia na
superfcie seja muito fria, existem locais quentes (500 a 600 K).
A temperatura mdia na depresso vulcnica Loki Patera, por
exemplo, de 273 K. Modelos da formao de Io sugerem que
ela se formou em uma regio do Sistema Solar rica em gua e
que sua temperatura mdia era de aproximadamente 250 K, sen-
do plausvel a formao de vida. medida que a temperatura
na superfcie foi diminuindo e a gua foi sendo perdida, a vida
poderia ter se refugiado em ambientes mais amenos no subsolo,
onde ainda poderia haver gua e dixido de carbono (Schulze-
Makuch, 2010).
Abaixo da superfcie, tubos de lava resultantes do vulcanismo
acentuado de Io poderiam representar ambientes habitveis, pois
seriam capazes de prover proteo contra radiao, reter umi-
dade, prover nutrientes e apresentar temperatura mais amena do
que a da superfcie. Na Terra, micro-organismos so comumente
encontrados em tubos de lava, independente do ambiente exter-
no (Figura 12.2).
H poucas evidncias sobre compostos de carbono na su-
perfcie ou no interior de Io, o que obrigaria eventuais micro-
-organismos a basearem sua estrutura e metabolismo em outras
molculas. No caso de Io, o enxofre pode ter um papel impor-
tante como bloco construtor da vida. Diversos compostos de
enxofre foram encontrados em Io e, embora no tenham sido
242
Luas geladas do Sistema Solar
Radiao de Jpiter
Ionosfera
Lago de
lava
Depsito de neve Ejeo de SO2
de SO2 (gasosos) e S2 (gasosos)
Fluxo de lava
sobre campos
de neve
Tubos de lava
Cmara
Magmtica
243
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
244
Luas geladas do Sistema Solar
Trito
Caractersticas gerais
Trito a maior das luas de Netuno, com dimetro de aproxi-
madamente 2.700 km e massa de 2,14 1022 Kg, correspondendo
a 99,5% de toda a massa que orbita Netuno. Modelos da estrutu-
ra interna do satlite indicam que possui um ncleo de silicatos
com aproximadamente 950 km de raio (Gaeman; Hier-Majumder;
Roberts, 2012). A superfcie de Trito jovem e apresenta poucas
crateras de impacto, o que se deve atividade geolgica recente.
Imagens da Voyager indicaram trs tipos de terreno distintos na su-
perfcie: plancies vulcnicas, calotas polares e terreno cantaloupe
(McKinnon; Kirk, 2007) (Figura 12.3).
Observaes da superfcie e anlise espectral da Voyager indi-
caram que a superfcie de Trito composta predominantemente
por N2, H2O e CO2 congelados, alm de CO e CH4 em menores
quantidades. Modelos da composio qumica da nbula pr-solar
onde o satlite se originou sugerem a presena de at 15% de NH3
no interior de Trito (Gaeman; Hier-Majumder; Roberts, 2012). A
temperatura mdia na superfcie 35,6 K. Sua atmosfera rarefeita
e composta principalmente por N2 e traos de CO2 e CH4 prximos
superfcie.
245
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Formao e rbita
Trito a nica das grandes luas do Sistema Solar a apresen-
tar uma rbita retrgrada, ou seja, que segue na direo oposta
rbita do seu planeta. Outros objetos com rbitas retrgradas
so algumas das luas exteriores de Jpiter e Saturno, mas so luas
muito distantes dos seus planetas e com tamanho muito inferior ao
de Trito. Essa lua apresenta rotao sincrnica com Netuno e sua
rbita quase totalmente circular.
Por causa de sua rbita peculiar, levantou-se a hiptese de
que Trito teria se formado no Cinturo de Kuiper (McKinnon;
Kirk, 2007), tendo sido capturado posteriormente por Netuno
(Agnor; Hamilton, 2006). Uma hiptese para a captura sugere
que Trito e um segundo corpo de tamanho similar formaram
um sistema binrio com o Sol (Agnor; Hamilton, 2006), e
medida que esse sistema se aproximou de Netuno, Trito foi
capturado pela gravidade do planeta. Outra hiptese sugere
que a lua foi capturada durante uma ou vrias passagens pr-
ximas a Netuno, que dissiparam a energia orbital por arrasto
hidrodinmico (McKinnon; Leith, 1995). Uma vez capturada,
a cada passagem da lua, a gravidade de Netuno levantava ma-
rs na superfcie do satlite, dissipando energia em seu inte-
rior, o que levou a rbita heliocntrica e altamente elptica de
Trito a circularizar-se at a rbita atual, com excentricidade
prxima a zero.
246
Luas geladas do Sistema Solar
Habitabilidade
A existncia de vida, como a conhecemos na Terra, em
Trito depende da existncia de gua lquida sob a superfcie.
Um oceano abaixo da crosta de gelo de Trito poderia ser man-
tido pela energia liberada em seu interior atravs da dissipao
de mar e do decaimento radiolgico do seu ncleo. Com base
na densidade de Trito e na abundncia de elementos radiog-
nicos em seu ncleo, Brown et al. (1991) estimaram que um
fluxo entre aproximadamente 0,75 e 1,5 1011 W de calor
gerado pelo decaimento radioativo no ncleo de Trito. J a
dissipao de mar depende diretamente de dois fatores, a ex-
centricidade da rbita de Trito e da espessura da camada de
gelo na superfcie.
De acordo com Roberts e Nimmo (2008), a dissipao de mar
proporcional ao quadrado da excentricidade orbital. Dessa for-
ma, aps a captura e circularizao da rbita de Trito, a dissipa-
o de mar teria diminudo significativamente. Ao mesmo tempo,
crostas de gelo mais finas so mais facilmente deformadas pela
mar, aumentando a dissipao. medida que a crosta aumenta,
torna-se mais difcil de deformar, diminuindo a dissipao e libe-
rao de energia no interior de Trito, levando ao congelamento
de um volume maior de gua. Contudo, o congelamento total do
247
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Ganimedes
Caractersticas gerais
Ganimedes a maior lua de Jpiter e do Sistema Solar. Com
dimetro de 5.268 km maior do que o planeta Mercrio, embo-
ra sua massa, 1,48 1023, seja cerca da metade da massa deste
planeta. Sua densidade de 1,936 g/cm3, o que sugere que seja
formada por partes iguais de material rochoso e de gua.
A superfcie de Ganimedes formada por um oceano de
gua congelada intermeado de rochas hidratadas. Dados de es-
pectroscopia prxima ao infravermelho e de espectroscopia uv
da sonda Galileo detectaram a presena de dixido de carbo-
no, dixido de enxofre, cianognio, hidrxido de enxofre, com-
postos orgnicos diversos, sulfato de magnsio e sulfato de s-
dio, estes dois possivelmente originrios de um oceano lquido
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Luas geladas do Sistema Solar
249
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
250
Luas geladas do Sistema Solar
Habitabilidade
Acredita-se que Ganimedes, assim como Europa, possua um
oceano lquido sob a superfcie. E, embora esses dois satlites te-
nham gua lquida, fontes de energia disponveis e indcios de
qumica complexa, Europa sempre foi considerado um candidato
melhor para abrigar vida do que Ganimedes.
A estrutura interna de Europa consistente com um oceano
lquido em contato direto com o manto rochoso, uma condio
que se acredita ter sido necessria para o surgimento da vida na
Terra. A presso hidrosttica no fundo do oceano de Europa de
aproximadamente 200 MPa, parecida com a presso nas regies
mais profundas do oceano terrestre. Por outro lado, o tamanho
maior de Ganimedes e a maior abundncia de gua resultam em
presses de at 1,2 GPa nas regies mais profundas. Essa condi-
o favorece a formao de uma camada de gelo tipo vi, um tipo
muito rgido e mais denso do que o oceano lquido. Esse material
se depositaria sobre o manto (Figura 12.5), isolando o oceano e
dificultando as primeiras reaes qumicas que dariam origem aos
primeiros seres vivos.
Contudo, analisando a oscilao da aurora de Ganimedes, me-
dida atravs de imagens obtidas pelo telescpio espacial Hubble,
Saur et al. (2015) observaram que a oscilao da aurora era menor
do que o esperado dada a influncia da magnetosfera de Jpiter
(Figura 12.6). Baseado nisso, foi criado um modelo onde um ocea-
no salgado eletricamente condutor abaixo da superfcie compensa-
ria a influncia da magnetosfera jupiteriana.
De acordo com esse modelo, medida que o gelo fosse se
formando, o sal precipitaria e iria para o fundo, tornando a gua
mais densa e fazendo o gelo subir. Dessa forma, o oceano se-
ria mais denso do que o gelo tipo vi, descendo para o fundo at
encontrar o manto. Acima desse oceano salino haveria camadas
intercaladas de gua e gelo de densidades distintas. A temperatura
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Ganimedes
Oceano de gua salgada
Gelo tetragonal
(VI) camadas representadas na escala
Manto rochoso
Ncleo de ferro e
sulfeto de ferro (lquido)
Ncleo de ferro (slido)
Terreno claro
Cratera
Terreno escuro
Sulcos
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Luas geladas do Sistema Solar
oscilao da magnosfera
oscilao da dentro de 5,2 h
magnosfera
dentro de 5,2 h sem
oceano oceano
OCFB
Jpiter
Europa
Caractersticas gerais
Embora seja a sexta maior lua do Sistema Solar, Europa a
menor das quatro luas geladas de Jpiter, com dimetro de apro-
ximadamente 3.100 km. Sua grande densidade, 2,99 g/cm3, aliada
a medidas gravitacionais, consistente com um ncleo metlico
slido formado por ferro e nquel e envolto por uma crosta de sili-
catos, ambos abaixo de uma camada de gua e gelo. A atmosfera
de Europa pouco densa e formada principalmente por oxignio.
Sobre a crosta de silicatos, estima-se que Europa tenha uma
camada de gua com 80-170 km de extenso, dividida entre uma
crosta congelada na superfcie e um oceano lquido abaixo desta.
O gelo na superfcie de Europa tem albedo elevado (0,64) e reflete
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Luas geladas do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
estruturas truncadas
mais antigas
faixa de subsuno
por
mai o de
s c
pro aquec obertu criolava
cess i r
o d do e e a de ge
e co m lo
nve
c
o
oc
ea
no placa de gelo aquecido mais
lq denso que profundo em
uid
o processo de subduo
subsuno da placa
na camada interior
Habitabilidade
A existncia de um oceano global abaixo da crosta de gelo de
Europa consistente com as estruturas geolgicas observadas na
superfcie da lua. Modelos termodinmicos predizem um oceano
abaixo dessa crosta que teria entre alguns quilmetros at dezenas
de quilmetros de espessura, dependendo da taxa de aquecimen-
to de mar entre o gelo e o manto rochoso. O oceano global de
Europa pode ter persistido desde a formao da lua. Trata-se do
elemento mais importante para a habitabilidade do satlite e seu
256
Luas geladas do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Luas geladas do Sistema Solar
Tit
Caractersticas gerais
Tit a maior lua de Saturno e a segunda maior lua do Sistema
Solar, atrs apenas de Ganimedes. Com dimetro de aproximada-
mente 5.150 km, tem 1,5 vezes o tamanho da Lua terrestre e 80%
mais massiva. Trata-se do nico satlite do Sistema Solar que tem at-
mosfera densa e evidncia clara de corpos lquidos estveis em sua
superfcie. Com densidade de 1,88 g/cm3, acredita-se que Tit seja
composta metade por gua e metade por material rochoso.
Modelos tericos da formao e evoluo de Tit predizem que
uma camada de gua lquida poderia existir abaixo do gelo na su-
perfcie, desde que houvesse uma quantidade suficiente de amnia
misturada gua, reduzindo sua temperatura de congelamento. A
existncia de amnia em Tit suportada pelo modelo de agrega-
o, pela abundncia de amnia em cometas e pela sua presena
em outros satlites de Saturno. Assim, Tit seria dividida, da super-
fcie para o centro, em uma camada de gelo tipo i, uma camada
lquida de gua-amnia, uma camada de gelo sob alta presso (tipo
v e vi) e um ncleo rochoso (Figura 12.9) (Tobie et al., 2005).
Tit a nica conhecida a possuir uma atmosfera densa e
rica em nitrognio no Sistema Solar alm da terrestre. A Voyager
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Luas geladas do Sistema Solar
Terra Tit
km km
160 K
Nitrognio
50 280 K 500 Metano
Argnio
Nitrognio
40 400
Oxignio
Argnio
30 240 K 300
Smog fotoqumico
Oznio
20 200 160 K
210 K Chuva de partculas
10 100 120 K
72 K
290 K gua 94 K Metano
261
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
262
Luas geladas do Sistema Solar
Figura 12.11. (A) Ligeia Mare; (B) Kraken Mare; (C) Ontario Lake. As imagens
do Ligeia Mare e do Kraken Mare so representaes coloridas com base nas
imagens da Cassini. Fonte: Nasa/jpl-Caltech/ASI/Cornell - Nasa/jpl-Caltech/
ASI/Cornell - Nasa/jpl-Caltech/Agenzia Spaziale Italiana/usgs
263
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Habitabilidade
As informaes obtidas at agora sobre o oceano de gua no in-
terior de Tit no sugerem que ele seja um bom candidato a conter
vida. A camada de gelo sobre a lua parece ser bastante rgida, o que
dificultaria as trocas de material entre a superfcie e o oceano, e a
camada de gelo tipo v e vi sobre a crosta isola o oceano do ncleo
rochoso, sendo que se acredita que essa interface seja importante
para o surgimento da vida. Ainda assim, o oceano aquoso no o
nico ambiente de Tit onde poderamos procurar formas de vida.
Caso a vida tenha surgido em Tit, o ambiente da lua pro-
vavelmente levaria os organismos a desenvolverem um maquin-
rio metablico muito diferente de qualquer um existente na Terra.
Enquanto todas as formas de vida terrestre usam gua como sol-
vente, concebvel que a vida em Tit poderia utilizar hidrocarbo-
netos lquidos, como metano e etano. A reatividade de compostos
orgnicos no menor em solventes orgnicos do que em gua.
De fato, muitas enzimas terrestres catalisam reaes em stios ati-
vos no aquosos. Alm disso, hidrocarbonetos com grupos pola-
res, como acetonitrila e hexano, so capazes de formar solues
de duas fases, o que torna concebvel que uma separao lquido/
lquido entre hidrocarbonetos seja capaz de criar a compartimen-
talizao necessria para a organizao de um micro-organismo.
Gotculas de gua, liquefeita atravs do impacto de asteroides, por
exemplo, em um meio de hidrocarbonetos poderiam formar estru-
turas compartimentalizadas anlogas a membranas, permitindo
vida conseguir o isolamento necessrio do meio para se submeter
evoluo darwiniana.
Por causa de sua reatividade, a gua destri espcies orgni-
cas hidroliticamente instveis. Assim, uma forma de vida em um
oceano de hidrocarbonetos estaria menos sujeita hidrlise de
suas biomolculas. Para obter energia, essa forma de vida poderia
utilizar o H2 no lugar do O2, reagindo-o com acetileno no lugar de
glicose e produzindo metano no lugar de CO2. Comparativamente,
alguns organismos metanognicos terrestres obtm energia reagin-
do H2 com CO2, gerando metano e gua (McKay; Smith, 2005).
264
Luas geladas do Sistema Solar
Enclado
Caractersticas gerais
Enclado a sexta maior lua de Saturno. Com 500 km de dime-
tro aproximadamente 10 vezes menor do que Tit. Tendo massa de
aproximadamente 1,08 1020 kg e densidade de 1,61g/cm (Porco
et al., 2006), estima-se que Enclado seja formada por gua, silicatos
e ferro, sendo diferenciada com um ncleo rochoso, envolto por um
oceano lquido e uma crosta de gelo em sua superfcie (Figura 12.12).
Oceano global
em ENCLADO, Crosta de gelo
lua de Saturno
Oceano global
Ncleo rochoso
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Luas geladas do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Janus
Diviso Epimeteu Insero da
de Cassini Cassini na rbita
Diviso de de Saturno
Encke (Pan) Cruzamento do
plano do anel
anel anel C
D anel B
Mimas Enclado
anel A
(limite exterior: Atlas)
anel G
anel F
(Prometeu, Pandora) anel E
(para Tit)
Habitabilidade
Com uma superfcie desprovida de gua lquida, a existncia de
vida em Enclado estaria condicionada presena de gua lquida
em seu interior. Desde 2005 h evidncias de gua lquida no in-
terior da lua, obtida atravs da anlise das plumas. Originalmente,
imaginou-se que a gua lquida no interior de Enclado estaria
concentrada em um oceano abaixo do hemisfrio sul, um modelo
distinto do imaginado para Europa e Ganimedes, cujos oceanos se
estenderiam por todo o globo. A concluso de que Enclado possui
um oceano global veio da observao das oscilaes presentes no
movimento orbital da lua em volta de Saturno, que s poderiam ser
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Luas geladas do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Luas geladas do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
embora no haja planos de realizar voos por Io, essa lua tambm ser
estudada durante a passagem por Jpiter (esa/sre, 2014).
Concluso
Embora possuam uma classificao comum, os satlites de-
nominados luas geladas tm caractersticas distintas e devem ser
estudados sempre levando isso em considerao. Entre eles en-
contra-se Io, um dos corpos com menos gua em nosso Sistema
Solar e intenso vulcanismo, onde a vida como a conhecemos na
Terra seria extremamente difcil, e tambm Ganimedes e Europa,
dois dos ambientes com maior possibilidade de conter vida fora da
Terra e cujo estudo ajudaria a compreender melhor como a vida
surgiu em nosso prprio planeta. Dessa forma, ao planejar mis-
ses para estudar alguma das luas geladas, imprescindvel definir
quais sero os objetos de estudo e, no caso da busca por vida, qual
tipo de vida est sendo procurado.
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276
BUSCA DE VIDA ALM
DO SISTEMA SOLAR
Captulo 13
Douglas Galante, Rosimar Alves do Rosrio
e Marcio G. B. de Avellar
277
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
278
Busca de vida alm do Sistema Solar
o planeta est muito perto da estrela, sua luz acaba sendo ofus-
cada. como tentarmos enxergar um pequeno mosquito voando
ao redor de uma potente lmpada; aos nossos olhos ele se torna
praticamente invisvel. Apenas recentemente esse problema come-
ou a ser resolvido, usando tcnicas alternativas e indiretas para
a deteco do planeta. A possibilidade de imagens diretas de ou-
tros mundos, alm do Sistema Solar, ainda demorar mais tempo,
necessitando mais desenvolvimento tecnolgico, em especial de
telescpios espaciais mais potentes.
Velocidade radial
o mtodo que tem descoberto mais exoplanetas at o
momento e se baseia em uma medida indireta dos efeitos do pla-
neta sobre a estrela. Em vez de tentarmos enxergar diretamente o
planeta, podemos perceber sua presena pela forma como sua gra-
vidade e movimento alteram a velocidade da estrela (ou estrelas,
se for um sistema mltiplo).
Essa tcnica chamada de mtodo da velocidade radial,
pois o que medimos so variaes na velocidade com que a estre-
la se move em relao ao observador na Terra. As estrelas, como o
prprio Sol, no esto paradas no centro de seus sistemas planet-
rios (como seria em um modelo absolutamente heliocntrico); na
verdade, todos os corpos de um sistema planetrio orbitam o cen-
tro de massa daquele conjunto de corpos, e esse ponto no espao
muitas vezes no coincide com a posio geomtrica da estrela.
Portanto, estrelas tambm descrevem rbitas elpticas em seus sis-
temas (com um raio orbital normalmente muito pequeno, claro),
ou seja, observando-as da Terra, elas se moveriam muito pouco, de
um lado para o outro e de frente para trs (Figura 13.1).
Usando mtodos espectroscpicos de grande preciso, pode-
-se medir a velocidade com que a estrela se aproxima e se afasta
de ns nesse movimento elptico causado pela presena dos pla-
netas. Essa medida possvel devido ao efeito Doppler, no qual
a radiao tem seus comprimentos de onda comprimidos quan-
do a fonte (estrela) se aproxima do observador (ns), e estendido
279
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Variao de frequncia
Doppler devido
oscilao estelar
280
Busca de vida alm do Sistema Solar
Trnsitos
A segunda forma mais eficiente de deteco, at o momen-
to, por meio de trnsitos planetrios, tambm chamados de
eclipses ou ocultamentos. Observando um sistema planetrio
distante, s vezes as rbitas estaro perpendiculares a nossa ob-
servao, ou seja, os planetas se movimentariam em torno da
estrela, mas nunca frente dela, e s vezes as rbitas podem
estar no mesmo plano de observao nosso, ou seja, em algum
momento elas cruzariam a reta entre a estrela e o observador,
criando um efeito de eclipse.
Essa distribuio das rbitas dos sistemas de exoplanetas deve
ser completamente aleatria, portanto de se esperar que encon-
tremos todos os casos possveis pelo Universo, de planetas com-
pletamente alinhados at completamente perpendiculares a ns. A
tcnica de trnsito s possvel nos casos em que o planeta cruza
frente da estrela, mesmo que um pouco fora de alinhamento, o
que cria um limite para o nmero de observaes por essa tcni-
ca, que pode ser uma das mais importantes para o futuro, para a
caracterizao das atmosferas dos exoplanetas.
Ao cruzar a frente da estrela, o planeta causa uma diminui-
o de seu brilho (Figura 13.2). Considerando que os planetas
so muito pequenos em comparao com o tamanho da estrela, e
porque esto longe, a quantidade de luz da estrela que bloque-
ada muito pequena, no geral inferior a 1% do total emitido. Ao
contrrio do que acontece em um evento de eclipse total solar,
quando a Lua bloqueia completamente o disco do Sol, o even-
to de trnsito similar ao que ocorreu quando Mercrio passou
na frente de nossa estrela em novembro de 2006 praticamente
281
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Tempo
Figura 13.2. Deteco de exoplaneta pela diminuio da luminosidade da
estrela durante o momento de trnsito. Fonte: IAG
Astrometria
A Astrometria uma das mais antigas reas da astronomia,
que se preocupa em medir a posio dos corpos celestes, para
diferentes objetivos. No passado, foi usada para compreender que
a Terra no estava no centro do Universo e dar provas teoria
282
Busca de vida alm do Sistema Solar
283
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Microlentes
A tcnica de microlente gravitacional permite a deteco de
pequenos exoplanetas a grandes distncias, tipicamente at cerca
de 20 mil anos-luz, ou seja, metade do tamanho de nossa galxia,
enquanto a maioria das outras tcnicas, como velocidade radial,
trnsitos ou astrometria, mais sensvel nas vizinhanas solares, a
algumas dezenas ou centenas de anos-luz.
No evento de microlente, necessrio que duas estrelas es-
tejam alinhadas com a Terra, de maneira que o campo gravita-
cional da estrela intermediria atue causando uma deformao
no espao-tempo, que explicada completamente pela teoria da
Relatividade Geral (Figura 13.4). Essa deformao faz os raios de
luz da primeira estrela (fonte) se curvarem, criando um efeito de
lente convergente para o observador na Terra, ou seja, criando uma
lupa gravitacional que amplia e estende a imagem da estrela ao
fundo. Em geral, o evento de microlente gera uma imagem em for-
ma de anel, conhecida como anel de Einstein. Se o alinhamento
perfeito e a geometria dos objetos tambm, o anel perfeita-
mente circular. Qualquer desvio dessa perfeio gera defeitos no
anel, que podem ser usados para estudar os detalhes do sistema,
284
Busca de vida alm do Sistema Solar
Exoplaneta
Fonte
Lentes
Terra
Figura 13.4. Deteco de exoplanetas durante o evento relativstico de
microlente gravitacional. Fonte: IAG
285
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Deteco direta
Apesar de muitos acharem que os cientistas esto observando
diretamente e tirando imagens de outros planetas, essa a tcnica
ainda menos usada e mais difcil para detectar exoplanetas. So
poucos os casos em que ela foi bem-sucedida e, mesmo assim,
foi usada aps os planetas terem sido descobertos pelas tcnicas
descritas anteriormente.
Alm dos planetas serem pequenos comparados s estrelas
que orbitam, sua luminosidade muito inferior, pois causada
pela reflexo da luz estelar. Na regio do visvel, onde a maioria
das observaes feita, essa diferena de cerca de 1 para 1 bi-
lho, ou seja, a estrela basicamente ofusca a luz do planeta.
No infravermelho o problema um pouco menor, sendo o ofus-
camento de cerca de 1 para 1 milho, e nessa faixa espectral que a
maioria das observaes diretas feita (Figura 13.5). Mesmo assim,
necessrio abafar a luz da estrela de alguma maneira, o que pode ser
feito de maneira fsica, com uma mscara que cobre a estrela (cha-
mada corongrafo estelar) ou combinando a luz captada por dois
ou mais telescpios diferentes, por cancelamento interferomtrico.
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Busca de vida alm do Sistema Solar
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Busca de vida alm do Sistema Solar
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290
Busca de vida alm do Sistema Solar
Referncia
Kaltenegger, L.; Traub, W. A.; Jucks, K. W. Spectral evolution of an Earth-
like planet. The Astrophysical Journal, 658, p. 598-616, 2007.
291
O SETI E O TAMANHO
DO PALHEIRO...
Otimismo e pessimismo na busca de nosso alter ego extraterrestre
Captulo 14
Jorge A. Quillfeldt
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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298
o SETI e o tamanho do palheiro...
100
H 2O
O2 O2
Absoro
Atmosfrica
O Buraco
de e
dgua
Emis ns inter
l~
etro
so
H OH
100 H 2O
Sinc setelare
roto
e
n
s
Limite
Quntico
Radiao csmica
de fundo de 3 K
1
0.1 1 10 100
Escolhendo o mensageiro
Alguns podem se perguntar, e com razo, por que escutar
em frequncias do rdio j que existem tantos tipos de ondas ele-
tromagnticas? As razes por trs dessa opo so essencialmente
de natureza prtica. Emisses intencionais de sinais, para serem
teis, precisam ter certas caractersticas bsicas: devem ser fceis e
baratas de produzir (exigir pouca energia); ter a maior velocidade
possvel; no ser muito absorvidas no caminho e poder dirigir-se
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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N = R* . fp . ne . f . fi . fc . L
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
Figura 14.3. As dificuldades na coincidncia temporal para garantir o contato por rdio entre
otimista de N ~ 200 civilizaes tecnolgicas distribudas homogeneamente na galxia
tecnolgicas como sendo a mdia das civilizaes terrestres (~400 anos, o fator L
a civilizao receptora, sem possibilidade de dilogo. Dilogos seriam lentssimos e
pudesse ocorrer localmente. Quanto menor o N, mais improvveis os contatos. Pequenas
Fonte: Elaborado pelo autor
308
o SETI e o tamanho do palheiro...
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o SETI e o tamanho do palheiro...
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o SETI e o tamanho do palheiro...
313
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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FUTURO DA VIDA NA
TERRA E NO UNIVERSO
Captulo 15
Douglas Galante, Gabriel Guarany de Araujo,
Marcio G. B. de Avellar, Rosimar Alves do Rosrio,
Fabio Rodrigues e Jorge E. Horvath
315
ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Futuro da vida na Terra e no Universo
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Futuro da vida na Terra e no Universo
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e
oqu
d e ch
arco envoltrio magntico
magnetopausa
cspide
lmina neutra
lbulos
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O aquecimento global
Apesar de nosso Sol estar em um perodo de estabilidade em
sua evoluo, conhecido como sequncia principal, ele continua
mudando, e grandes alteraes climticas so esperadas nesse
processo.
Nossa atmosfera possui muitos tipos de gases do efeito estufa,
sendo os principais o vapor de gua, o dixido de carbono (CO2)
e o metano (CH4). O princpio do efeito estufa aqui na Terra que
o equilbrio entre a radiao absorvida (no visvel) e emitida (no
infravermelho) pelo planeta de volta ao espao quebrado. Isso
acontece porque esses gases absorvem a radiao infravermelha da
superfcie terrestre, e a reemitem, fazendo a temperatura aumentar,
mas o fluxo emitido para o espao diminui ou fica constante.
Uma teoria razoavelmente bem estabelecida a teoria do
efeito estufa descontrolado. Conforme a superfcie esquenta, a at-
mosfera se torna mais densa com vapor de gua, o que limita a
quantidade de radiao trmica que pode ser emitida para o es-
pao. Assim, a temperatura superficial aumenta muito. Em termos
prticos, para que esse efeito seja acionado, o fluxo de radiao
emitido em infravermelho deve ser maior que certo limite, chama-
do troposfrico, calculado, em um modelo simples, em cerca de
290 W/m2 (atualmente a Terra emite cerca de 240 W/m2).
Ponto interessante que a adio de CO2 no leva direta-
mente ao aumento desse fluxo, a despeito dos intensos debates
sobre a ao humana no aumento da concentrao desse gs. O
mais importante para o efeito estufa parece ser o vapor de gua:
conforme a superfcie esquenta, mais vapor de gua libera-
do dos oceanos para a atmosfera, e mais absoro da radiao
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Exploses estelares
Talvez to importante quanto o impacto de meteoros so os efeitos
de eventos astrofsicos de alta energia, muito menos conhecidos: as
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Impacto de meteoros
Eventos astronmicos como a queda de asteroides represen-
tam ameaa mais imediata. J aconteceu antes, ao menos uma
vez, na grande extino dos dinossauros, no perodo Jurssico,
cerca de 65 milhes de anos atrs (apesar de existirem hipteses
alternativas). Na ocasio, acredita-se, um asteroide de aproxima-
damente 10 quilmetros de dimetro caiu onde hoje o golfo do
Mxico. O impacto foi to grande que lanou toneladas de poeira
na atmosfera, bloqueando a passagem da luz solar e impedin-
do a fotossntese, o que resfriou a temperatura na superfcie. Esse
evento, e outros similares antes dele, contriburam no processo
evolutivo, mudando as relaes ecolgicas que prevaleciam at
ento, extinguindo predadores e abrindo espao para o aumento
de populaes que antes eram muito mais limitadas, como a dos
mamferos. O impacto de asteroides acontecer novamente e os
potenciais danos vida so, de certa forma, imprevisveis. A curto
prazo, essa a ameaa de extino em massa mais provvel, ao
lado de supervulcanismo, deriva continental e eras glaciais. Esses
fenmenos talvez tenham contribudo para vrios dos eventos de
extino da histria do planeta e continuaro atuando no futu-
ro. Em relao a impactos, a escala de tempo para eventos de
extino em massa, como o dos dinossauros, de cerca de 100
milhes de anos. Entretanto, a Terra constantemente bombar-
deada por meteoritos. A queda de objetos pequenos ainda assim
pode causar danos e prejuzos enormes sociedade humana: a
atmosfera terrestre nos protege de impactos com o poder destruti-
vo de uma bomba atmica uma vez por ano, em mdia, mas um
meteoro relativamente pequeno, com cerca de 1 km de dimetro,
atingindo uma rea povoada, como So Paulo, poderia causar mi-
lhes de mortes.
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Todos os gneros
Gneros bem definidos 4
Tendncia a longo prazo
Milhares de gneros
5 grandesextines em massa
3
Outras extines em massa
0
Cm O S D C P T J K Pg N
542 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0
Milhes de anos no passado
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Efeito da ao humana
Atualmente, fala-se muito dos efeitos ecolgicos, com a
interferncia ou no do homem, para o futuro da vida na Terra.
Debate-se muito, ainda sem grande consenso, os efeitos do ser
humano no aquecimento global e em outras alteraes globais.
No entanto, a Terra j passou por perodos mais quentes e mais
frios, e a vida continuou. importante termos em mente que
o Homo sapiens apenas mais uma espcie no planeta, parte
de uma rede ecolgica complexa, imprevisvel e, ao que pa-
rece, bastante robusta. Mas somos capazes de induzir grandes
alteraes no planeta e tambm na biosfera. Nossa influncia
em alguns ecossistemas, desde a destruio de habitats natu-
rais para propsitos especificamente humanos at mudanas
climticas locais (talvez at mesmo globais) causadas pelo nos-
so progresso tecnolgico podem causar uma diminuio na
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ASTROBIOLOGIA Uma Cincia Emergente
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Sugesto de leitura
Fortey, R. Vida: uma biografia no autorizada. Rio de Janeiro:
Record, 2000.
Agradecimentos
Os autores agradecem Fernando Paolo, da ucsd, e o professor
Rodrigo Santucci, da unb, pelas informaes e complementos.
Referncias
Pross, A. What is Life? How chemistry becomes biology. Oxford
University Press, 2012.
Knoll, A. H. Life on a young planet: the first three billion years of
evolution on Earth. Princeton University Press, 2015.
339
EXPLORAO
INTERESTELAR
Motivaes, sistemas estelares, tecnologias e financiamento
Captulo 16
Amanda Gonalves Bendia
Introduo
A viagem para outras estrelas fascina a humanidade desde
o incio das primeiras civilizaes e a sua idealizao est pro-
gredindo cada vez mais conforme o desenvolvimento cientfico
e tecnolgico. A fico cientfica, representada na literatura e no
cinema, desempenha um papel importante ao conjecturar como
seriam os primeiros avanos da explorao interestelar. Inmeros
vislumbres da fico cientfica j inspiraram avanos cientficos
reais. Em 2001: uma odisseia no espao, publicado em 1968,
Arthur C. Clarke descreveu em detalhes uma estao espacial
orbitando a Terra. A primeira estao espacial de baixa rbita
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No acho que vamos sobreviver outros mil anos sem fugir do nosso
frgil planeta. Mais cedo ou mais tarde, desastres como a coliso de um
asteroide ou uma guerra nuclear podem nos dizimar. Mas uma vez que
comecemos a nos espalhar pelo espao e a estabelecer colnias inde-
pendentes, nosso futuro deve estar garantido.
10 1.088
50 4.600
100 8.600
500 36.800
1.000 68.700
10.000 545.000
1.000.000 35.000.000
Fonte: Adaptado de Bignami e Sommariva (2013)
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ESI
Exoplanetas potencialmente habitveis 1,00 0,66
Terra Marte
#1 #2 #3 #4 #5 #6 #7 #8 #9
ndice de Similaridade
com a Terra (ESI)
0,92 0,85 0,81 0,79 0,77 0,77 0,72 0,72 0,71
Gliese 581 g* Gliese 667C c Kepler -22b HD 40307 g* HD 85512 b Tau Ceti e* Gliese 163 c Gliese 581 d Tau Ceti f*
Data da descoberta
set. 2010 nov. 2011 dez. 2011 nov. 2012 set. 2011 dez. 2012 set. 2012 abr. 2007 dez. 2012
*possveis candidatos
1
Massa da estrela (em massas solares)
Sol
Gliese 581
Zona habitvel
Possvel extenso da zona habitvel
relacionada a diversas variveis
0,1
0,1 1,0 10
Distncia da estrela (AU)
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Explorao Interestelar
Tecnologia de propulso
Uma vez que as distncias interestelares so substancialmente
elevadas, uma velocidade significativa necessria para que a es-
paonave alcance seu destino em um tempo razovel. Adquirir tal
velocidade no lanamento e desacelerar no momento da chegada
ao planeta-alvo um desafio para os engenheiros das espaona-
ves. O problema de escapar da gravidade da Terra pode ser solu-
cionado quando se considera a construo de um porto espacial
na rbita da Terra ou nos pontos de Lagrange, entre a Terra e a
Lua. Dessa forma necessrio o desenvolvimento de sistemas de
propulso capazes de acelerar a espaonave a fraes significati-
vas da velocidade da luz. Se uma espaonave fosse capaz de viajar
a uma velocidade mdia equivalente a 10% da velocidade da luz,
seria possvel alcanar Alfa Centauri em quarenta anos (Bignami;
Sommariva, 2013). Diversos sistemas de propulso seriam capa-
zes disso, mas ainda nenhum deles economicamente vivel. Na
Tabela 16.3 esto representados os impulsos especficos em se-
gundos para alguns sistemas de propulso. A seguir sero descritos
os principais sistemas de propulso de acordo com as tecnologias
atuais: reatores nucleares (fisso e fuso nuclear), veleiros solares
movidos por lasers e sistemas de antimatria.
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Congurao do projeto conceitual para uma nave interestelar (parte central em feixe)
Radiao
Radiador do sistema Carga Radiador do gama
de converso de potncia til refrigerador
Escudo trmico Escudo 19,9 m
Escudo trmico
magntico
Escudo
contra
impacto
de poeira
impulso
Tanque Tanque Escudo de radiao Escudo do
anti SH2 de LH2 do sistema e carga radiador Ponto de
Sistema de potncia Sistema de Refrigerador
espaonave aniquilao
Figura 16.4. Esquema de um sistema de propulso por antimatria. Fonte: Adaptado de Frisbee (2003)
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A p 0,0013 1.000.000.000
Carro 0,026 50.000.000
Boeing 747 0,26 5.000.000
Voyager 1 17 76.000
Fisso Nuclear 10.000 120
Fuso Nuclear 30.000 40
Velas Solares 150.000 9
Antimatria 160.000 8
Luz 300.000 4,28
Fonte: Adaptado de Bignami e Sommariva (2013)
Financiamento
Diversas crticas da populao em geral so atribudas aos in-
vestimentos governamentais com os programas espaciais. O argu-
mento fundamenta-se no fato de que os problemas terrestres j so
grandes demais para termos tambm que nos preocupar com gastos
em cincia do espao. Os problemas terrestres argumentados, so-
bretudo a pobreza e escassez de alimentos, poderiam ser significati-
vamente solucionados caso houvesse melhor distribuio de renda
e interesse dos governantes. Alm disso, o investimento na indstria
militar espantosamente maior em comparao a investimentos
em qualquer outro setor, inclusive nos programas espaciais (Tabela
16.5). Para que nossa civilizao tenha grandes avanos cientficos
e tecnolgicos, necessrio que estejamos prontos para uma cul-
tura de cooperao e no violncia, reduzindo gradualmente os
gastos militares e dedicando os recursos a outros setores, inclusive
para a explorao espacial. A reduo dos gastos militares poderia
no causar grandes efeitos negativos nas atividades econmicas,
uma vez que grande parte das indstrias envolvidas na produo
de tecnologia militar, como as indstrias aeroespaciais, certamente
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Explorao Interestelar
Concluses
A viagem interestelar apresenta uma srie de dificuldades: a
descoberta e o estudo de exoplanetas habitveis para a nossa pos-
svel colonizao, o desenvolvimento de tecnologias de propulso
capazes de atingir fraes significativas da velocidade da luz e o
interesse do governo em financiar os programas espaciais intereste-
lares. Essas viagens parecem inviveis ao se imaginar que mal con-
seguimos explorar o nosso prprio Sistema Solar. Contudo, o desen-
volvimento cientfico e tecnolgico avana em fase exponencial, e
com um pouco de interesse do governo em investir nos programas
espaciais provvel que consigamos explorar estrelas prximas nos
prximos 50 ou 100 anos. Se quisermos considerar a sobrevivncia
da humanidade a longo prazo, necessrio que o pensamento de
cooperao supere os conflitos locais, e que as foras e investimen-
tos se renam para garantir nosso futuro nas estrelas.
Referncias
Bignami, G. F.; Sommariva, A. A scenario for interstellar exploration
and its financing. Nova York: Springer, 2013.
Crawford, I. A. Interstellar travel: a review for astronomers.
Quarterly Journal of the Royal Astronomical Society, v. 31,
p. 377-400, 1990.
Dyson, F. J. Interstellar transport. Physics Today, v. 21, n. 10, p.
41-45, 1968.
Dumusque, X. et al. An Earth-mass planet orbiting [agr] Centauri B.
Nature, v. 491, n. 7423, p. 207-211, 2012.
Frisbee, R. H. How to build an antimatter rocket for interstellar mis-
sions-systems level considerations in designing advanced pro-
pulsion technology vehicles. American Institute of Aeronautics
and Astronautics, 2003.
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Glossrio
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A Astrobiologia uma rea recente de pesquisa cientfica, que procura
entender o fenmeno da vida em nosso Universo, no se restringindo
apenas vida na Terra, ou mesmo vida como a conhecemos. Ela abor-
da algumas das questes mais complexas sobre os sistemas biolgicos,
como sua origem, evoluo, distribuio e futuro, na Terra e, possivel-
mente, em outros planetas e luas. Por ser multi e interdisciplinar , aci-
ma de tudo, uma ferramenta para facilitar a comunicao e interao
entre especialistas de diferentes reas, e tambm com a populao em
geral, j que trata de temas que despertam o interesse geral.