Do Discurso Psicanalítico - Lacan

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DO DISCURSO PSICANALTICO
(CONFERNCIA DE LACAN EM MILO EM 12 DE MAIO DE 1972)

Traduo: Sandra Regina Felgueiras

Parte 1

Agradeo muito ao senhor Cesar Bianchi por nos ter dado essas
indicaes, essas falas de informao que foram muito corretas sobre o
que podem ser algumas etapas.

Ento, o que fiz durante esses anos me levou a dizer

Minha dificuldade tem a ver com que no sei de jeito nenhum posso
avaliar o grau de escuta do francs do conjunto de vocs. Estou muito
contente de ver um nmero enorme de pessoas jovens porque nelas
enfim, nelas, nessas pessoas, que coloco minha esperana.

Devo dizer que no gosto nada de falar em francs para pessoas que
no esto familiarizadas com essa lngua. Ento, espero poder sentir at
onde poderei ir nessas falas.

No caf da manh lembrei a alguns amigos uma experincia que tive na


John Hopkins University.

Era de tal forma evidente que meu auditrio no entenderia nada se eu


falasse francs que, assim a pedido geral, tendo tomado primeiro a
deciso de falar em francs, comecei a me desculpar em ingls por no
poder continuar, quer dizer, por falar em francs, depois essa desculpa
durou uma hora e meia, em ingls com certeza terrvel me escutar
falar em ingls. Mas os americanos so to complacentes, podemos nos
permitir tais derrogaes, no ? Vejo que vocs compreendem o
francs, isso me encoraja.

Ento, no continuarei a falar dos americanos: sou totalmente incapaz


de falar a vocs em italiano, por isso falo em francs. / p. 33 /[2].
Ento anuncio a vocs que vou falar Do discurso psicanaltico no
um termo em que eu tenha avanado muito, s nos ltimos trs anos.
No cmodo, diante de um auditrio que no dos meus alunos, que
no formado, que no est habituado a algo (vejam, eu comeo a
abrir parnteses) que no est habituado a algo que meu ensino,
meu seminrio, como se costuma cham-lo de jeito nenhum um
Seminrio, porque s eu falo.

Enfim, virou isso. Durante anos fiz falar outras pessoas em meu
seminrio, isso me descansava, mas, pouco a pouco, talvez porque o
tempo pressiona, renunciei a isso.

Ento, esse ensino que j dura vinte anos, de onde os Escritos sou
forado a falar dos Escritos porque acabam de ser publicados, pelo
menos um pequeno pedao, talvez houvesse outros , isso graas a
Giacomo Contri que amavelmente dedicou a eles um grande cuidado e
um tempo enorme.
Sou forado a falar um pouco dos Escritos que, ao que tudo indica, no
lhes parecem muito fceis.
verdade: no so, no so mesmo.

que no foram feitos, esses famosos escritos nunca foram feitos


para substituir meu ensino.

H neles uma boa metade que foi escrita antes que eu o comeasse, o
que quer dizer que no de ontem j que disse que h vinte anos fao
isso que se chama meu seminrio.

H neles uma boa metade que de antes, em particular alguns que


continuam a ser piv do que pude trazer para o discurso psicanaltico,
entre os quais O estdio do espelho. O estdio do espelho foi uma
comunicao que fiz num congresso no tempo em que eu fazia parte
ainda da chamada IPA International Psychanalytique
Avoue [reconhecida[3]] ou reconhecvel, como quiserem. Enfim,
uma maneira de traduzir essas palavras.
Depois, a segunda parte desses Escritos consiste numa srie de artigos
em que fiquei, digamos a cada ano a partir de um certo momento, entre
um certo momento e um outro em que a cada ano fiquei dando uma
espcie de referncia que permitia aos que me tinham escutado no
seminrio encontrar ali, condensado, em suma concentrado, o que pude
/ p. 34 / trazer ou o que eu mesmo acreditava poder situar como axial no
que havia enunciado.
No deixa de ser, em suma, uma pssima forma de reunir pblico.

Primeiro, muito difcil a noo de pblico. Vou me arriscar a lembrar


que quando dessa publicao me entreguei ao jogo de palavras de
cham-la publixao [poubellication[4]] vejo que h pessoas aqui que
sabem o que a palavra poubelle. Nos nossos dias, com efeito, h uma
enorme confuso entre o que constitui pblico e o que constitui lixeira!
mesmo por isso que recuso as entrevistas, porque, apesar de tudo, a
publicao de confidncias o que faz a entrevista.
Ela consiste ento inteiramente em abordar o pblico no nvel da lixeira.

No se deve confundir a lixeira com o pbis, no tem nada a ver.

O pbis tem muitas relaes com o nascimento da palavra pblico.

verdade, hein?

Isso no se discute, enfim penso.

Era um tempo em que o pblico no era a mesma coisa que abrir o


privado e no qual quando se passava ao pblico se sabia que era um
desvelamento, mas agora no se desvela mais nada j que tudo est
desvelado.

Enfim, evidentemente no sou levado a fazer a vocs confidncias, no


entanto sou forado assim mesmo a dizer algo que, j que s vou ver
vocs uma vez enfim, no me surpreenderia rever vocs daqui a pouco
tempo , sou forado a lhes dizer algo que assim mesmo do tipo da
confidncia.

A saber, como posso me sentir atualmente nessa posio que ocupo


para pessoas que no fazem parte de meu auditrio.

O que posso assinalar o que eu disse no princpio, que


os Escritos me parecem difceis quando exportados, assim, fora do
contexto de um certo esforo que fao e sobre o qual vou lhes dizer no
que ele centrado, que os Escritos, enfim, so suficientes para que se
possa elucubrar alguma coisa que corresponda verdadeiramente a meu
discurso.
O auditrio [auditoire] e a editoria [ditoire] no so, se posso me exprimir
assim, do mesmo nvel, vocs veem.
Estamos lidando a, editoria, assim publixao obsceno[5] e ao
mesmo tempo auditrio se contamina. / p. 35 /
Tudo isso , em suma, uma maneira de ver o que posso dizer e como
posso introduzir vocs, bem docemente, no que muito importante.

O que chamarei de jogo dos significantes.


O jogo dos significantes desliza para o sentido.

Mas o importante no que enuncio que s desliza maneira de uma


derrapada.

Para os que no esto acostumados com esses termos, digo


simplesmente: os significantes ou o jogo dos significantes esto ligados
lngua, linguagem no so equivalentes: a lngua algo muito
especfico para cada um, a lngua materna, o italiano para a maior parte
de vocs.

isso que faz a lngua.

Acontece que h algo que podemos situar como indicado para um


mesmo fim, em todas as lnguas, e generalizando, como se costuma
dizer, que se fala de linguagem como caracterstica do homem.

(Rumores na sala)

O que que h? Eu s queria deixar a fala para algum que me


provasse que no falo em vo

Ento, temos o sentimento de que a linguagem define um ser, que


geralmente chamamos homem, afinal contentando-nos em defini-lo
assim por qu?

certo que h um animal sobre o qual a linguagem baixou, se posso


dizer assim, e que esse animal est verdadeiramente marcado por ela.

Est marcado a ponto de eu no saber at onde posso ir para dizer isso


bem.

No apenas que a lngua faa parte de seu mundo, que isso que
sustenta seu mundo de ponta a ponta.

por isso que No tentem buscar qual minha Weltanschauung no


tenho nenhuma Weltanschauung no tenho
nenhuma Weltanschauung porque o que eu rigorosamente poderia ter
dela consiste em dizer que o Welt, o mundo, sucumbe linguagem[6].
Isso no uma viso de mundo, isso no deixa lugar para nenhuma
viso o que imaginamos ter visto, ser intuitivo, est evidentemente
ligado a algo que o fato de que tenhamos olhos e de que o olhar
verdadeiramente uma paixo do homem.

A fala tambm, com toda certeza. Ns nos damos conta disso menos. /
p. 36 /

A partir da h outros elementos que so inteiramente causa de seu


desejo.

Mas fato que a psicanlise, a prtica psicanaltica, nos mostrou o


carter radical da incidncia do significante nessa constituio do
mundo.

No digo para o ser que fala, porque o que chamei h pouco derrapada,
essa derrapada se d com o aparelho do significante isso que
determina o ser naquele que fala. A palavra ser no tem nenhum sentido
fora da linguagem.

At acabamos nos dando conta de que no meditando sobre o ser que


daremos o mais mnimo passo.

Acabamos por nos dar conta pela consequncia consequncia talvez


um pouco forada [pousse] os seguimentos dessa prtica que chamei
de deslizamento com o significante.
A maneira que temos, mais ou menos sabida, de derrapar na superfcie
do que chamamos coisas do que chamamos as coisas at o momento
em que se comea a considerar que as coisas no so srias.

Chegamos verdadeiramente a concentrar o poder do significante de tal


forma que uma parte desse mundo acaba por, simplesmente, inscrever-
se numa frmula matemtica.

Frmulas matemticas s quais, com toda certeza para os escolares, se


tenta unir um sentido.

Com efeito, chega-se a frmula de Einstein, e at de Heisenberg,


enfim, so pequenos termos que designam a massa.

E a massa sempre tem efeito, imaginamos que sabemos o que . Com


efeito, nem sempre se imagina algumas vezes, quando temos noes
fsicas precisas, sabemos como calcular, mas estaramos errados em
acreditar que a massa isso ou aquilo pelo sentimento.

No s porque pesamos um pouquinho que podemos imaginar que


sabemos o que a noo de massa.

Somente a partir do momento em que comeamos a fazer alguma coisa


virar vemos que os corpos tm uma massa.

Mas isso continua de tal forma contaminado por algo existente ligado a
uma correlao entre a massa e o peso que, na verdade, fazemos melhor
ao no buscar compreender e simplesmente ficar nas frmulas. /p. 37 /

nisso que a matemtica demonstra verdadeiramente o ponto de uso


do significante. Com toda certeza, chegamos [] que de fato
estamos mergulhados na linguagem.

Vejam vocs, no digo que somos seres falantes.

Estamos na linguagem e no me acredito de jeito nenhum capaz de dizer


a vocs por que estamos nela, nem de dizer como isso comeou.

Foi assim como se pde comear a dizer sobre a linguagem alguma


coisinha, desembaraados do prejulgamento de que essencial que isso
tenha um sentido; no essencial que isso tenha um sentido, e mesmo
nisso que est fundada essa nova prtica que se chama lingustica.

O que necessrio a que a lingustica se centra bem se centrar


no significante como tal.

No se deve crer que o significado que, bem entendido, se produz no


sulco do significante seja algo de alguma forma primeiro; e dizer que a
linguagem est a para permitir que haja a significao um
encaminhamento sobre o qual no mnimo se pode dizer que
precipitado.

H algo mais primrio que os efeitos de significao, e a que a busca


se que se busca alguma coisa se no a tivssemos encontrado
primeiro , a que o achado suscetvel de ter efeitos.
Enfim, vejam, para o significante, h pouco trouxe o que chamei a
derrapada, o efeito de deslizamento

Enfim, eu seria conduzido a lhes fazer a metfora de que o significante


como o estilo, igual, estilo que haveria j l.

possvel que o animal humano o tenha um dia fabricado No temos


o menor trao do que se poderia chamar de inveno da linguagem
To longe no passado quanto a vejamos funcionar, ela que est em
cima do piso.

Bem, vocs me diro, o que isso tem a ver com a psicanlise?

Tem a ver da maneira mais estreita, porque, se no partirmos desse nvel


que o nvel de partida, no se pode fazer nada na experincia
psicanaltica, s se pode /p. 38 / fazer a boa psicoterapia

Quer dizer, como to bem os psicanalistas confessam eles confessam


tudo eles expem tudo

Um dia Claudel imaginou que o castigo de Pncio Pilatos por ter


perguntado, muito fora de hora, O que a verdade?, seria que, a cada
vez que ele falasse diante de um dolo, e o dolo abrisse o seu ventre, o
que sairia dali? Uma formidvel exposio de moedinhas da poca,
coisas que eram colocadas em cofrinho.

Os psicanalistas so assim confessam tudo confessam tudo e


tudo que eles contam prova que so boas pessoas.

incrvel o que eles amam o ser humano, que eles queiram o bem dele,
a normalidade dele enfim, inaudita a loucura de curar deles: de curar
de qu? Isso o que nunca se deve questionar

Em nome de que se considera algum doente? Em que um neurtico


mais doente que um ser normal, um dito normal? Se Freud trouxe alguma
contribuio foi demonstrar que a neurose est estritamente inserida em
algum lugar numa rachadura [faille] que ele nomeia, que ele designa
perfeitamente, que ele chama de sexualidade, e fala de tal maneira que
fica claro, justamente, que nisso que o homem no fica muito
vontade.
O homem, com toda certeza, nomeado em sentido amplo, a mulher
tampouco; enfim, no h nada que v to mal quanto as relaes entre
o homem e a mulher.

O que admirvel que h pessoas aqui que parecem ouvir isso pela
primeira vez. absolutamente sublime, como se vocs no tivessem
nascido dentro disso A saber, que, para vocs, transar com uma
garota, isso no funciona. Para a garota a mesma coisa e, desde
que o mundo mundo, h toda uma literatura, h toda a literatura que
s serve para dizer isso.
Ento, certo dia Freud fala de sexualidade [in falsetto] e basta que essa
palavra aucarada seja dita para que todo mundo creia que para
resolver a questo.
Quer dizer, como lhes disse h pouco, que a partir do momento em que
se formula uma pergunta porque j h uma resposta, quer dizer que se
se faz uma pergunta porque /p. 39 / h a resposta, e assim isso deve
funcionar.

O que suporia que Freud tenha a ideia da harmonia sexual.

Ora, enfim, basta ler, basta abrir sua obra para ver que at o fim, porque
era homem, ficou nisso.

E ele diz, e ele escreve, e ele expe com esplendor ao se perguntar: uma
mulher, o que que ela pode querer? [risos]
Para isso no necessrio aludir biografia de Freud porque sempre
assim que se encurta a questo, tanto mais que ele era neurtico como
todo mundo, alm do mais tinha uma mulher que era uma chata
[emmerdeuse] Enfim, isso conhecido A velha senhora Freud.
verdadeiramente reduzir a questo.

Justamente por isso nunca me poria a fazer a psicanlise de Freud, tanto


mais que uma pessoa que no conheci.

O que dito por Freud isso, o que acabo de dizer. essa derrapada
do significante de que eu falava h pouco que faz com que em nome do
fato de que ele retrata a sexualidade supe-se que ele sabia o que quer
dizer a sexualidade.

Mas justamente o que ele nos explica que no sabe.

Ele no sabe. Justamente, a razo pela qual ele no sabe foi o que fez
com que descobrisse o inconsciente.
Quer dizer, porque ele percebeu que os efeitos da linguagem esto em
jogo nesse lugar em que a palavra sexualidade poderia ter um sentido.

Se a sexualidade no ser falante funcionasse de outra maneira que se


enredando nesses efeitos de linguagem

No estou dizendo para vocs que a linguagem veio para preencher esse
furo [trou] no sei se o furo primitivo ou vem depois: ou seja, se foi a
linguagem que desarranjou tudo.
Ficaria surpreso se a linguagem viesse para desarrumar tudo.

H campos em que isso bem-sucedido mas onde s bem-sucedido


para compartilhar o que parece andar bem nos animais a saber, que
eles parecem transar de uma maneira bem polida.

Porque, verdade, nos animais parece assim / p. 41[7] / o que nos


surpreende por contraste: parece se passar graciosamente.
H a parada[8]. H todo tipo de abordagens charmosas, depois isso
parece andar redondinho at o fim. Aparentemente, no h nos animais
nem estupros, tambm no todas essas complicaes, toda essa lenga-
lenga que se faz em torno disso.
Isso se passa neles, para dizer tudo, de uma maneira civilizada [risos]
No homem, constitui o que se chama dramas [] Pelo que com certeza
todo o mal-entendido [].

Praza aos cus que os homens faam amor como os animais, seria
agradvel.

Eu me deixo levar assim a algo enfim, to patente.

preciso lembrar [] algo que faz parte da experincia do psicanalista.

Que ele faa como se no soubesse nada se liga a uma necessidade de


discurso que est l escrita no quadro.

Quero fazer uso disso [provavelmente o que colocou no quadro-negro]


porue vim quinze minutos mais cedo para escrever no quadro.

Contm todas as caractersticas-chaves em todo discurso do ponto que


chamo semblante.
Meu ltimo seminrio vocs chamem como quiserem, mas no o
ltimo porque o ltimo aquele que estou terminando , meu ltimo
seminrio, ento, aquele de antes, se chamava De um discurso que no
fosse semblante.
Passei o ano demonstrando que um discurso totalmente excludo.

No h nenhum discurso possvel que no seja semblante.

Tudo isso semblante, hein?

Agora, acho totalmente admissvel que o psicanalista num certo nvel


faa semblante, como se ele estivesse l para que as coisas andem no
plano sexual. O chato que ele acaba acreditando, e isso o fixa,
completamente.

Quer dizer, para dar o nome, ele se torna imbecil.

Creio que era, em um certo momento, necessrio lembrar-lhe ao menos


para lhe permitir fazer um pouco de ginstica, para que, /p. 42 / numa
experincia tal como constituda, ele possa dar alguns passos a mais
o que ele faz: apesar de tudo, fazer algum falar explicando-lhe como
deve fazer, quer dizer, no qualquer coisa. Explicar-lhe a regra: dizer a
uma pessoa como ela deve falar. E que isso chega a alguma coisa, que
se trata de compreender por que esse algo que se faz com o aparelho
que chamo significante pode ter efeitos.

Que haja um descolamento necessrio, que consiste justamente em


no compreender rpido demais, foi isso que tentei produzir.

Numa certa poca evidentemente essa no era uma boa poca, mas
eu no tive escolha entrei na psicanlise, assim, um pouco tarde. Com
efeito, at aquele momento em neurologia, um belo dia o que que
me aconteceu? Cometi o erro de ver um psictico.

Fiz minha tese sobre isso: Da psicose paranoica em suas relaes com
a personalidade.
Personalidade, vejam s, no sou eu quem pode zombar disso.

Mas, enfim, naquela poca isso era para mim mais ou menos uma
nebulosa, algo que j era suficientemente escandaloso para a poca,
quero dizer que isso causou um verdadeiro efeito de horror.
Isso me levou a fazer eu mesmo a experincia da psicanlise. Depois
disso houve a guerra, durante a qual continuei essa experincia. Quando
a guerra acabou eu comecei a dizer que talvez pudesse dizer alguma
coisinha sobre a psicanlise.

Isso no me disseram ningum compreenderia nada, ns


conhecemos voc, j vimos voc em um momento.

Em suma, foi preciso para isso uma espcie de crise, de crise poltica,
poltica interior a intriga entre psicanalistas, para que eu me
encontrasse em uma posio retirada [extraite].
E como havia pessoas que pareciam querer que eu fizesse alguma coisa
por elas / p. 43 /

Comecei, como se diz, muito tarde; mas no fiquei entediado por ser
tarde eu no sentia nenhuma necessidade de forar as pessoas.

Para no for-las comecei a contar as coisas no nvel em que as tinha


visto.

Retorno a Freud: naturalmente me colocaram essa etiqueta, que eu bem


mereo, pois fui eu mesmo quem de incio a produziu.

Foda-se Freud. Simplesmente era o procedimento para que os


psicanalistas percebessem que, apesar de eu lhes estar dizendo, estava
j em Freud.

Quer dizer que basta que se analise um sonho para ver que s se trata
de significante. E significante em toda essa ambiguidade que h pouco
chamei de derrapada.

Quer dizer que no h significante cuja significao seja totalmente


garantida. Ela pode sempre ser outra coisa, e, to longe quanto se v na
significao, ela at passa o tempo a deslizar.

De tal modo sensvel na Traumdeutung, isso no deixava de estar em


A psicopatologia da vida cotidiana est ainda em Os chistes e sua
relao com o inconsciente.
Isso me parece essencial, essencial.

A coisa que me surpreende


[a fala interrompida para mudana de fita]
essa prioridade do significante.

Agora todo mundo est por dentro. O que vocs encontraro numa
revista de vanguarda, ou mesmo que no seja de vanguarda, de no
importa o que, quanto a esse significante martelam nos nossos
ouvidos.

Quando penso que no momento em que comecei estvamos sob o


reinado do existencialismo, e agora no sei no quero que parea
que atento contra um estilo altura de um escritor pelo qual tenho a
maior admirao: trata-se de Sartre.

E mesmo Sartre agora o significante entrou no seu vocabulrio.

Todo mundo sabe que significante significa lacanizao.

O que que isso quer dizer?

De vez em quando penso que estou aqui para algo e, nesse caso, foi
isso que me fez.

Encontrei em minhas notas que / p. 44 / eu tinha escrito algo em 11 de


abril de 1956, num seminrio registrado verdade que bem antes que
isso tenha sido absolutamente enfim, minha obra agora conhecida era
totalmente outra.

no menos verdade que o que estou dizendo agora que por sua
vez com toda certeza ser explorado em vinte anos no que estou
dizendo agora, quando s estruturas da lgica matemtica que recorro
para definir do que se trata no que chamo de discurso psicanaltico,
posso muito bem perceber que h coisas engraadas: vocs entendem,
por exemplo, que, embora eu lhes tenha dito que no precisam se cansar
com meus Escritos, no penltimo pargrafo de minha Interveno sobre
a transferncia est escrito: O caso Dora parece privilegiado para
nossa demonstrao j que, em se tratando de uma histrica, a tela do
eu [moi] que, em nenhuma parte, como Freud disse, seja mais baixo o
limiar entre o inconsciente e o consciente, ou, melhor dizendo, entre o
discurso psicanaltico e a fala [mot] do sintoma.
[1] Disponvel em francs e italiano em <http://www.valas.fr/Lacan-in-
Italia-1953-1978,079&gt;. Lacan en Italie (verso bilngue). La
Salamandra, Milo, 1977, pp. 32-55.
[2] Insiro a numerao de cada pgina do original que se inicia com os
sinais / /.
[3] Avouer, em francs, que, entre outros sentidos (como confessar,
admitir, etc), tem como primeiro significado no Robert, possivelmente seu
sentido mais antigo em francs: reconhecer como senhor aquele que
possui um feudo.
[4] Entre poubelle (lixeira) e publication (publicao).
[5] Obscne vem do latim obscenus, que significa mau augrio, segundo
o Robert. Formao etimolgica no latim: obs (sobre) + caenum (sujeira,
lixo).
[6] Em francs a expresso cest bati avec du langage. Adotei a
traduo sucumbir pelo contexto e pelas possveis tradues do
francs battre.
[7] A pgina 40 (reproduo do quadro-negro) ser colocada no final do
texto.
[8] Dana de exibio que antecede a cpula (ver Etologia).

Parte 2

Evidentemente foi em 1951 que dediquei um tempo para dar ao discurso


psicanaltico seu lugar. Mas nunca escrevo as palavras ao acaso, e foi
naquele dia l que o produzi.

Cinco anos mais tarde, quando tinha iniciado meu ensino, a estrutura
a estrutura escrevi ento porque agora ficaria atento, no quereria me
ligar ou parecer me ligar a essa salada que se chama estruturalismo.

Mas enfim, a estrutura, falei dela ento porque ningum conhecia essa
palavra. A estrutura uma coisa que se apresenta primeiro como um
grupo de elementos que formam um conjunto covariante.

Estou agora me referindo ao que se chama precisamente Teoria dos


conjuntos.

Na continuao falo de estruturas fechadas e de estruturas abertas, o


que est igualmente na moda quanto ao que enuncio agora.

Especialmente vemos a relaes de grupo fundadas na noo de


conjunto; sublinho: relaes fechadas ou abertas.
Naquela poca no posso me expressar de outra maneira / p. 45 / a
no ser dizendo que extrair [dgager] uma lei natural produzir uma
frmula significante pura. Quanto menos ela significa alguma coisa, mais
a podemos colocar do ponto de vista cientfico.
Acentuo [] que o passo cientfico consiste justamente, estritamente,
nisso: cortar as coisas no nvel dito signatura rerum [] o significante
seria a arrumado arrumado com toda certeza por quem? Por Deus,
porque a signatura rerum de Jacob Bhme para significar algo. O
caminho cientfico isso.
Com toda certeza, pontuar o mundo dos significantes matemticos
mas ficar justamente nisso: que seja para significar. Pois o que
chamamos impropriamente de finalismo era bem o que at ali tinha
emperrado tudo.

Somos to finalistas quanto tudo que existiu antes do discurso da cincia.

absolutamente claro que, com toda certeza, nenhuma lei est presente
a no ser para chegar a certo ponto.

O discurso cientfico totalmente finalista no sentido do funcionamento


[] no percebemos que esse finalismo teria sido feito para nos ensinar
algo, por exemplo para nos incitar virtude, para nos distrair
simplesmente [] num mundo que pode ser inteiramente estruturado
em termos de causas finais seria fcil demonstrar que a fsica moderna
perfeitamente finalista.

A prpria ideia da conservao da energia uma ideia finalista


tambm a de entropia, porque, justamente, o que ela mostra para que
freio vai, e vai necessariamente.

O que mudou que no h finalismo justamente porque isso no tem


nenhuma espcie de sentido

[]

[] descolar o sentido que correntemente dado ao subjetivo e ao


objetivo o subjetivo algo que encontramos no real.

No que o subjetivo seja dado no sentido que habitualmente entendemos


por real, quer dizer, que implique a objetividade: incessantemente essa
confuso feita nos escritos psicanalticos. / p. 46/
Aparece no real na medida em que o subjetivo supe que temos diante
de ns um sujeito capaz de se servir do significante e de servir-se do
significante como nos servimos, se servir do jogo do significante no para
significar alguma coisa, mas precisamente para nos enganar sobre o que
h a significar servir-se do fato de que o significante no a
significao para nos apresentar um significante enganador.

Em suma, como veem, no de ontem que insisto nesse vis-chave.

muito curioso que a posio do analista no permita que nos


sustentemos nela indefinidamente.

No somente porque o que se chama o que se chamava h pouco


de Internacional, por razes totalmente contingentes, faz obstculo a
isso.

E at homens que num momento eu havia formado, eles [].

O que em suma tentei instituir ali acabou no que chamo em algum lugar,
preto no branco, um fracasso.

Isso no o essencial, porque um fracasso, sabemos bem pela


experincia analtica, uma das formas do xito.

No se pode dizer que, afinal, eu no tenha tido xito em alguma coisa


tive xito em que alguns analistas se preocupem com esse vis que
tentei lhes explicar: qual a clivagem entre o discurso psicanaltico e os
outros.

E depois eu diria que todo mundo est interessado nisso h alguns anos.

Todo mundo est interessado nisso: que h algo que no anda mais
redondinho.

H em algum lugar, do lado do que se chama to gentilmente, to


ternamente, a juventude como se fosse uma caracterstica no nvel
da juventude h algo que no anda mais do lado de um certo discurso
do discurso universitrio, por exemplo Provavelmente no terei tempo
de comentar para vocs o discurso universitrio.
Este [provavelmente apontando para o quadro-negro] o discurso
eterno, o discurso fundamental. O homem um animal muito engraado,
no ? Onde, no reino animal, h o discurso do mestre? Onde que no
reino animal h um mestre? /p. 47/

No lhes salta aos olhos imediatamente, desde a primeira apreenso,


que se no houvesse linguagem no haveria mestre, que o mestre nunca
acontece por fora ou simplesmente porque comanda, e que como a
linguagem existe vocs obedecem?

E at que vocs ficam doentes se no continuar assim?

Tudo o que se passa no nvel do que chamado juventude muito


sensvel, porque penso que, se o discurso psicanaltico tivesse tomado
corpo, os jovens saberiam melhor o que se deve fazer para fazer
revoluo.

Naturalmente no devemos nos enganar Fazer revoluo, penso at


que vocs, vocs que esto a e a quem eu me dirijo vocs devem ter
compreendido o que isso significa que isso significa voltar ao ponto
de partida.

At porque vocs perceberam o que demonstrado historicamente: no


h discurso do mestre mais duro [vache] do que onde se faz a revoluo.
Vocs gostariam de que isso se desse de outra forma. Evidentemente,
poderia ser melhor. Seria preciso chegar a que o discurso do mestre
fosse um pouco menos primrio e, para dizer tudo, um pouco menos
babaca.

(risada do pblico)
como vocs sabem, o francs maravilhoso

Se vocs olharem a minhas formulinhas giratrias [ver p. 40 no final


desta traduo] devero ver que a maneira pela qual estruturo esse
discurso analtico exatamente oposto ao que o discurso do
mestre ou seja, no nvel do discurso do mestre o que h pouco
chamei de significante-mestre isso, com o que me ocupo no
momento: h Um.
O significante foi o que introduziu no mundo o Um, e basta que haja Um
para que comece [indica a frmula no quadro-negro] isso impe
[commande] o S2.
quer dizer o significante que vem depois depois que o Um funcione,
obedece.
O que maravilhoso que para obedecer preciso que ele saiba alguma
coisa.

O prprio do escravo, como se exprimia Hegel, saber alguma coisa. /p.


48/

Se ele no soubesse nada no haveria preocupao em obrig-lo [le


commander].
Mas por esse privilgio nico, essa nica primariedade, essa nica
existncia inaugural que o significante representa pelo fato de que h
linguagem, o discurso do mestre funciona. Alis, tudo que preciso ao
mestre que funcione.

Ento, para saber um pouco mais dos efeitos da linguagem, para saber
como isso determina um termo que de jeito nenhum aquele do uso
corrente: o sujeito

se houvesse em um trabalho, um trabalho feito em tempo na linha de


Freud, talvez tivesse havido nesse lugar nesse lugar que
designado, nesse suporte fundamental oferecido pelos termos
semblante, verdade, gozo, mais-gozar talvez tivesse havido no
nvel da produo, pois o mais-gozar o que produzido por esse efeito
de linguagem talvez tivesse havido o que o discurso psicanaltico
implica, a saber, um pequenininho melhor uso do significante como Um.

Teria havido talvez mas de qualquer maneira no teria havido


porque agora tarde demais

a crise no do discurso do mestre, mas do discurso capitalista, que


o substituto dele, est aberta.

De jeito nenhum lhes digo que o discurso capitalista seja medocre; ,


pelo contrrio, algo loucamente astucioso.

Loucamente astucioso, mas destinado a explodir.

Afinal, foi o que se fez de mais astucioso como discurso. Esse ltimo no
menos destinado exploso. porque insustentvel.
insustentvel num truque que poderia lhes explicar porque o
discurso capitalista est ali, vocs veem [indica o discurso no quadro-
negro] uma pequenininha inverso simplesmente entre o S1 e o $
que o sujeito basta para que isso ande como sobre rodinhas, no
poderia andar melhor, mas, justamente, anda rpido demais, se
consome [consomme], se consome to bem que se consuma [consume].
Agora vocs esto embarcados vocs esto embarcados mas h
poucas chances de que qualquer coisa acontea de srio na corrente do
discurso psicanaltico, salvo, assim ao acaso.

Na verdade, acho que no se falar / p. 49 / do psicanalista na


descendncia, se posso dizer, de meu discurso meu discurso
psicanaltico. Alguma outra coisa aparecer que, com toda certeza, deve
manter a posio do semblante, mas se chamar talvez discurso PS. Um
PS e depois um T, isso estar por todo lugar, inteiramente conforme
maneira como se diz que Freud via a importao do discurso
psicanaltico na Amrica seria o discurso PST. Acrescentem um E e
isso vai dar PESTE.

Um discurso que seria enfim verdadeiramente pestilento, totalmente


dedicado ao servio do discurso do capitalista.

Isso poderia talvez servir um dia para alguma coisa, desde que a coisa
no se afrouxe antes.

Resumindo, so 8.15 horas e faz uma hora e meia que falo. S lhes disse
um quarto do que tinha a lhes dizer. Mas talvez no seja impensvel que,
a partir do que lhes indiquei sobre o discurso capitalista e o discurso
psicanaltico, algum me faa alguma pergunta.

[]

Boas pessoas, mas inteiramente inconscientes do que o prprio Marx


dizia se divertem com isso sem Marx.

E eis que Marx lhes ensinou que a nica coisa que est em jogo a
mais-valia.

A mais-valia isso o mais-gozar

[rumor na sala]
Mas o que as pessoas compreenderam maravilhoso Elas se
disseram: Bem, verdade.
S isso faz o sistema funcionar. a mais-valia. O capitalismo a recebeu
seu salto, seu impulso [coup dailes] que faz com que atualmente []
algo assim um pouco anlogo, mas no de mesmo sentido que
eu diria que poderiam fazer as pessoas se verdadeiramente
trabalhassem um pouco, se verdadeiramente interrogassem o
significante, o funcionamento da linguagem. Se elas interrogassem da
mesma forma que um analisante[1], como o chamo, quer dizer, no um
analisado, j que aquele que faz o trabalho: o cara que est a em
anlise
se interrogassem da mesma forma talvez da sasse alguma coisa. /
p. 50 /

Essa a regra analtica. Nunca aconteceu, no s para o cara que tem


uma veleidade, que ele fosse forado a dizer alguma coisa e a que ele
pego, porque a interpretao analtica, mesmo quando feita por um
imbecil, age sobre algo no nvel da interpretao. So mostrados a ele
alguns efeitos lgicos do que disse, que se contradiz. Nem todo mundo
pode se contradizer.

No se pode se contradizer de qualquer modo. H contradies sobre as


quais se pode construir alguma coisa e outras sobre as quais nada se
pode construir.

assim o discurso analtico. Diz-se essa alguma coisa, muito


precisamente no nvel em que o significante Um, a raiz mesma do
significante. O que faz com que o significante funcione, porque l que
se pega o Um, l que h Um.
[a transcrio, por defeito da gravao, tem uma excluso de fragmentos]
Por outro lado, chegamos assim mesmo a algumas cogitaezinhas que
no nos parecem completamente suprfluas sobre a interrogao dos
nmeros inteiros. At a teoria dos conjuntos, Cantor e tudo mais, consiste
justamente em se perguntar por que h Um. Nada mais que isso.

Talvez, com um pouco de esforo, chegssemos a perceber que os


nmeros inteiros, que so chamados naturais, no so mais naturais que
o restante dos nmeros.

Em suma, h algo que sobreviria num nvel que o da estrutura.

Nesses trs quartos de sculo agora transcorridos desde que Freud


trouxe a pblico essa fabulosa subverso do que havia h uma outra
coisa que escapou, e grosseiramente, que nada menos que o discurso
da cincia, que agora ganha o jogo ganha o jogo at que se veja seu
limite: e se h algo que correlativo desse resultado do discurso da
cincia, algo que no havia nenhuma chance de que aparecesse antes
do triunfo do discurso da cincia, o discurso psicanaltico.

Freud absolutamente impensvel antes da emergncia no apenas do


discurso da cincia, mas tambm / p. 51 / de seus efeitos, efeitos que
so, bem entendido, sempre mais evidentes, sempre tambm mais
patentes, sempre mais crticos, sobre os quais se pode considerar []
ainda no foi feito, talvez um dia haja um discurso chamado o mal da
juventude.

Mas h algo que grita e uma nova funo que no deixar de surgir,
de abordar talvez, salvo acidente, um novo incio na instaurao do que
do que chamo discurso.

O discurso o qu? o que, na ordem no ordenamento do que pode


ser produzido pela existncia da linguagem, faz funo de lao social.
Talvez haja um lao social, assim, natural, dele que se ocupam os
socilogos mas pessoalmente no creio.

E no h trinta e seis possibilidades, h somente quatro

Significantes, preciso que haja ao menos dois.

Quer dizer, o significante enquanto funciona como elemento, o que se


chama elemento justamente na teoria dos conjuntos: o significante
enquanto o modo pelo qual se estrutura o mundo, o mundo do ser
falante, quer dizer, todo o saber.

H, pois, S1 e S2 de onde se deve partir para essa definio [] o


significante o que representa um sujeito para um outro significante.
Esse sujeito no o que cremos, no o sonho, a iluso [] tudo o
que determinado por esse efeito de significante. E isso vai muito mais
longe daquilo de que qualquer um tem conscincia do com que seja
conivente.

essa a descoberta de Freud, que h toda uma parte dos efeitos do


significante que escapa totalmente ao que chamamos correntemente
sujeito. , notemos bem, o sujeito determinado em todos os detalhes
pelos efeitos do significante [] Sabemos o que a linguagem produz: ela
produz o qu? O que chamei de mais-gozar, porque o termo que
aplicado nesse nvel, que conhecemos bem, que o desejo.
Mais exatamente, produz a causa do desejo. isso que se chama
objeto a. / p. 52 /
O objeto a o verdadeiro suporte de tudo que vimos funcionar e que
funciona de maneira mais e mais pura para especificar cada um em seu
desejo.
dele que a experincia psicanaltica nos d o catlogo sob o termo
pulso [] pulso que chamamos oral [] um muito belo objeto, um
objeto ligado a que [] desde que se tomou o hbito de sugar [], h
os que sugam durante toda a vida.

Mas por que sugariam durante toda a vida se isso no estivesse no


interstcio, no intervalo dos efeitos de linguagem? O efeito de linguagem
na medida em que aprendido ao mesmo tempo, exceto para quem fica
completamente idiota, no ?

isso que d sua essncia e sua essncia de tal modo essencial que
, isso, a personalidade, que a maneira pela qual cada um subsiste
diante desse objeto a H outras maneiras e busquei dizer quais.
Mas no que se refere psicanlise, ningum como Freud, ningum mais
que Freud, ningum mais e melhor que Freud Foram acrescentados,
com certeza, detalhes, uma estrutura, um estatuto dessa funo do
objeto a Melanie Klein trouxe amplamente suas contribuies, e
alguns outros tambm, Winnicott o objeto transicional
essa a verdadeira alma a nova subjetividade, no sentido antigo

isso que nos ensina a experincia psicanaltica.

ali ento que esto muitos psicanalistas o papel que


desempenham no nvel do semblante.

isso que os acabrunha, a causa do desejo naquele a quem eles


abrem a carreira de analisante.

dali que poderia poderia talvez sair outra coisa algo que deveria
dar um passo para uma outra construo

A saber, aquilo de que se trata depois de tudo, no fim das contas, que
a experincia se torne to curta quanto possvel quer dizer, que o
sujeito com algumas interpretaes se libere e encontre uma forma de
mal-entendido no qual possa subsistir.

Que outra pessoa me fez uma outra pergunta?


X Qual a diferena entre o discurso do mestre e o discurso do
capitalista?

L Indiquei h pouco / p. 53 /, falei latim, a cantilena de sempre, no ?,


entre o sujeito e o S1. Se voc quiser falaremos no final, com menos
pessoas, mas eu indiquei.
Y Qual o papel do aparelho algortmico no desculpe-me a palavra
sistema? Se estamos na linguagem, qual metalinguagem poderia falar
a cadeia significante? e seu prprio estilo a prova de que no h
metalinguagem possvel

L necessrio dizer s pessoas que falam metalinguagem: onde est


a linguagem ento?

Y De acordo, sobre isso voc muito fcil mas qual o aparelho


algortmico na medida em que ele escapa linguagem natural, que no
tem metalinguagem, que no est submetido metalinguagem? A partir
do momento em que emprega um aparelho algortmico, voc no tenta
bloquear essa fuga, essa derrapada contnua da cadeia significante em
algo que a define de fora? A no ser que a cadeia significante no seja
a linguagem natural mas um aparelho lgico, algortmico por cima. Se
voc emprega o aparelho algortmico para defini-la e bloque-la, no o
aparelho algortmico o nico desejo finalmente cumprido?

L muito pertinente, s que o que voc com razo chama de algoritmo


no sai da experincia psicanaltica.

O que toma sentido sempre articulei expressamente , o que toma


sentido validamente est sempre ligado ao que chamarei, se voc quiser,
o ponto de contato. E frequentemente um ponto de contato ideal, como
a teoria matemtica [].

na medida em que esse S1, esse Um do significante funciona em


pontos, em lugares diferentes, nessa tentativa de reduo radical, que
ele pode ser, se assim posso dizer, traduzido [], que ele pode ser
traduzido de um desses discursos no outro.
na medida em que nesses quatro discursos nunca os termos [] esto
no mesmo lugar funcional que, afinal no que nos interessa, no que
incidncia atual dos efeitos subjetivantes, no que nos interessa isso
pode por agora no digo que seja a nica frmula possvel, mas isso
pode por agora ser articulado dessa forma ao algoritmo , que h
convergncia entre o limite onde se tem por agora a lgica / p. 54 /
matemtica e os problemas de ns analistas que tentamos dominar um
pouquinho o que fazemos.
H convergncia h o mesmo limite algortmico [] a funo do
limite

No podemos dizer qualquer coisa.

Mesmos os mais tradicionais analistas no se permitem dizer qualquer


coisa.

O que escrevi ali [deve ter apontado o quadro-negro], que se diga no


sei quando escrevi isso que se diga como fato fica esquecido
habitualmente, digo detrs do que dito no que se ouve.
A que se relaciona o no que se ouve? perfeitamente ambguo. Pode
se relacionar a fica esquecido o que se diga que pode ficar
esquecido no que se ouve , ou o que dito no que se ouve?
um uso perfeitamente exemplar da ambiguidade no nvel da estrutura
geral transformacional, hein?

babaca, todo mundo faz tanto que no percebe.

O que em seguida h debaixo [no quadro-negro]?

Esse enunciado, que assertivo por sua forma, que qualifiquei de


universal, pertence ao modal pelo que enuncia [met] de existncia.
Pouco tive tempo hoje de referir-me ao que a existncia: comecei muito
claro e enfim estou, como de hbito, mais ou menos dobrando os joelhos
sob meu fardo.

Mas, enfim, o que absolutamente claro que estamos a para isso:


interrogar o existe no nvel do matema, no nvel do algoritmo.

S no nvel do algoritmo a existncia admissvel. A partir do momento


em que o discurso cientfico instaurado, ele quer dizer tudo saber e s
se inscreve no matema Estamos a, colocando a existncia como o
que est ligado estrutura-algoritmo.

um efeito da histria que nos interroguemos no sobre nosso ser, mas


sobre nossa existncia, eu penso logo sou, entre aspas logo sou. Ou
seja, aquilo atravs do que a existncia nasceu, l que somos. o fato
de que se diga quer dizer, que est atrs de tudo que se diz que / p.
55 / o algo que surge na atualidade histrica.
E a vocs de jeito nenhum podem dizer que um feito [fait] de dizer
terico, de minha parte por exemplo.
assim que as coisas so situadas, emergem do ordenamento do
discurso; a partir da que h emisso de existncia como algo que est
tambm no nvel do objeto a pelo qual o sujeito se divide.
uma questo que me parece, enfim, resolvida, porque me parece que
acabei de responder-lhes.

P. 40

O fato de que se diga fica esquecido atrs do que se diz no que se ouve.
Esse enunciado, que assertivo por sua forma, modal pelo que
enuncia [met] de existncia.

[1] Analysant na maioria das vezes traduzido por analisando. Prefiro


o termo analisante, que em portugus traz um eco do particpio
presente, forma nominal excluda das conjugaes lcitas dos verbos em
portugus h dcadas (embora formas nominais subsistam em
portugus: temente, fervente). Ele tem, digamos assim, um princpio
ativo permanente (a gua fervente no a gua que est fervendo) que
no contemplado pelas outras formas verbais hoje consideradas as
nicas lcitas: o infinitivo (analisar), o gerndio (analisando) e o particpio
[passado] (analisado). O francs mantm os dois particpios: passado e
presente.

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