Arturo Escobar
Arturo Escobar
Arturo Escobar
pierdan sus culturas y sin que sus formas de producir y consumir sean aniquiladas. Para l,
hay una necesidad de cuestionar el actual modelo de desarrollo en la sociedad industrial
moderna y cmo ste se ha impuesto a las comunidades sin dejar espacio para la diversidad
y la pluralidad en ellas presentas, ya que stas utilizan sus recursos naturales desde otro
parmetro de desarrollo.
Palabras-clave: Desarrollo, Arturo Escobar, Comunidades Afectadas
INTRODUO
A palavra desenvolvimento3 tem sido o mote discursivo para os mais variados ramos
ideolgicos ancorarem as suas falas oficiais nas ltimas dcadas. Seu emprego para justificar
a implantao de megaprojetos, investimentos em grandes obras, emprstimos subsidiados
aos grandes grupos empresariais por parte dos governos ou mesmo a busca de votos
durante as campanhas eleitorais, tornou-a o mantra vocalizado e repetido exausto pelos
mais diferentes espectros poltico-partidrios e ganhou contornos de discurso oficial a
partir da dcada de cinquenta (BIELSCHOWSKY, 2009). tema dos sermes
proferidos por alguns pregadores com o objetivo de converter a todos a uma religio que
se cr como a nica com a possibilidade factvel de salvao dos males das desigualdades
socioeconmicas da atualidade. Algumas vezes, quem difunde a ideia do desenvolvimento
apenas cumpre o ritual das promessas ao sabor dos eventos oficiais com palavras que,
sabem os oradores, atingiro o alvo certo dos seus ouvintes sedentos por solues mgicas
para os problemas do nosso tempo. No somente uma das palavras mais utilizadas nas
falas oficiais dos representantes governamentais, como quem a articula no encontra
oposio com uma dimenso que a derrube do pedestal em que foi posta. So aqueles que
poderamos denominar de Arautos do Desenvolvimento. uma promessa para o futuro
que exige o sacrifcio do presente. A fora da palavra desenvolvimento tamanha, que
Lisboa (2014) chega a defini-la como a ideologia de nossa poca, dada a sua eficcia no
imaginrio da nossa sociedade.
Palavra polissmica, o vocbulo desenvolvimento de fcil reverberao junto a todas
as camadas sociais, j que vem sendo difundida h dcadas (quase todos os projetos
governamentais a utilizam em seus documentos ou nas nomenclaturas que os titulam)
3 De carter polissmico, analisamos, neste artigo a palavra desenvolvimento como uma referncia ao seu
significado como motor do crescimento econmico, muito embora seus arautos a ela deem vrios outros
sentidos, mesmo quando est vinculada apenas ao setor econmico. Embora venha sendo utilizada h
sculos, possvel afirmar que o desenvolvimento, neste sentido, fruto das relaes entre os pases no
perodo ps Segunda Guerra (ESCOBAR, 1995). essa drstica mudana nas relaes entre os pases e a
necessidade de novos mercados que vai catapultar a palavra desenvolvimento como combustvel para a
imposio do modelo urbano-industrial e, posteriormente, para o agronegcio nos chamados pases do
Terceiro Mundo.
como expresso chave para crticas ou propostas. Como bem afirmou Alimonda (2010, p.
10),
4Era uma espcie de panaceia universal que no somente resolveria nossos problemas, como nos diria quais
eram os nossos problemas. Era uma espcie de gramtica geradora das caractersticas de nossas sociedades,
um diagnstico de situaes e patologias com a receita de solues desejveis. (Traduo do autor).
6 Even those who opposed the prevailing capitalist strategies were obliged to couch their critique in terms of
the need for development, through concepts such as another development, participatory development,
socialist development, and the like. (ESCOBAR, 1995, p. 5). Mesmo aqueles que se opem s estratgias
do capitalismo, foram obrigados a moldar as suas crticas em termos da necessidade de desenvolvimento
atravs de conceitos como um outro desenvolvimento, desenvolvimento participativo e desenvolvimento
socialista, por exemplo. (Traduo do autor).
qu e para quem? So perguntas que comeam a emergir depois de mais de meio sculo de
submisso s solues impostas.
Para trazer o desenvolvimento para o lugar de seu interesse, o mercado precisa des-
envolver o grupo social que nele vive. o no envolvimento e o distanciar-se das razes,
muitas vezes como uma consequncia de um modelo de sociedade vindo de outra cultura,
que facilita a imposio de prticas que traro prejuzos s comunidades locais. Assim, aos
poucos, o direito de definir o que ser melhor para o lugar onde vivem vir de fora, j que a
resistncia foi minada por crenas em modelos que, supostamente, traro empregos, renda
e um outro modo de relacionar-se com o meio ambiente, dito moderno. Porto-
Gonalves (2004, p. 39) ressalta que, Assim, des-envolver tirar o envolvimento (a
autonomia) que cada cultura e cada povo mantm com o seu espao, com seu territrio;
subverter o modo como cada povo mantm suas prprias relaes de homens (e mulheres)
entre si e destas com a natureza.
Diante da avalanche miditica, burocrtica e econmica da imposio de um modelo
de desenvolvimento, h grupos que resistem a estas armadilhas e preferem continuar com
um envolvimento com o seu lugar reafirmando as suas prticas de produo e as suas
subjetividades. No se trata de negar as facilidades e benesses da modernidade que podem
aumentar a produo de alimentos, por exemplo, mas estes grupos denunciam que muitas
delas esto a servio do desequilbrio socioambiental e traro consequncias nefastas ao
lugar onde se colocam como vias para o desenvolvimento.
Um modelo de envolvimento que abarque os conhecimentos e as aes do lugar
deve operar a partir das particularidades socioambientais e culturais deste lugar e com elas
interagir. Assim j fazem vrios grupos que trabalham em vrias partes do mundo,
contrapondo-se ao modelo de desenvolvimento imperante nas ltimas dcadas. A
construo deste novo modelo fundamenta-se na cultura local, o que quase sempre
ausente nos grandes projetos de desenvolvimento, mas no nega o dilogo com as novas
tecnologias.
Diante da diversidade presente em uma paisagem no se pode implantar projetos que
no distingam e/ou dialoguem com as suas vrias caractersticas, negando os cuidados
diferenciados para cada aspecto nela presente. Sem levar em conta a cultura (ou culturas)
do lugar, projetos faranicos de desenvolvimento esto condenados ao fracasso, seno no
curto, com certeza em longo prazo. O que temos testemunhado que h sempre a negao
da escuta sobre as possibilidades que possam vir a emergir dos saberes locais adquiridos
das relaes com o seu habitat ao longo dos sculos7. Como afirmam Silva e Sato (2012, p.
21),
Cardoso (2009) afirma que O processo histrico da evoluo do homem mostra que
este interage com o ambiente de acordo com os conhecimentos histricos construdos,
transmitidos culturalmente atravs de geraes.... Sendo assim, no apenas o
conhecimento registrado por meio dos processos tcnico-cientficos que so os nicos
vlidos, pois h tambm o arcabouo adquirido atravs dos sculos por grupos humanos na
forma como apreenderam o seu meio. O fato de que este arcabouo ainda resiste, reflete
um mecanismo de oposio s formas impostas de diferentes modos de produo que no
interagem com o lugar. O saber local, inclusive, muitas vezes dialoga com o saber
dominante em um processo que culmina com a hibridizao dos saberes para construir
suas formas de resistncia (ESCOBAR, 1995).
Ao refletirmos sobre o termo lugar, ancoramo-nos no conceito elaborado pelo
antroplogo Arturo Escobar (2001, p. 152), que afirma que Nevertheless, it is impossible
to provide a definition of place that works for all, and for all, perspectives. 8 Segundo este
autor, a ateno dada por movimentos sociais e pesquisadores ao lugar importante para
minar o pensamento eurocntrico. Ele no advoga o encerramento deste conceito em
fronteiras geogrficas definidas. No entanto, Escobar adverte que To be sure, place and
local knowledge are not panaceas that will sove the worlds problems.9 (Idem, p. 157). O
enfoque no lugar pode ser um importante instrumento de confronto por se adequar ao
momento de perda de territrios e identidades pelo qual vrios grupos esto passando no
7 Para Stroh (2009, p. 284), Na regio h o registro do afeto e do trabalho l investido. O trabalho e o afeto
so as categorias que definem as relaes do indivduo com o lugar que elegeu como seu. Por meio do
trabalho e do afeto os homens estabelecem as relaes com a natureza e com os outros homens, nas quais
esto retidas representaes simblicas do real, determinadas pela prpria existncia da conscincia humana, e
nelas coexistem muitas redes de relaes que estruturam a vida coletiva.
8 Todavia, impossvel ter uma definio de lugar que contemple a todos e para todas as perspectivas.
(Traduo do autor).
9 Lugar e conhecimento local no so panaceias que resolvero os problemas do mundo. (Traduo do
autor).
planeta. Ainda assim, necessrio estar aberto ao dilogo com o que est fora deste lugar
para no cair no isolamento, na estagnao ou no purismo.
Ao pensarmos o lugar com nfase no conceito esboado por Escobar, queremos
salientar, como Castro (1992, p. 32), que Como o espao produzido pela sociedade, a
regio o espao da sociedade local, em interao com a sociedade global, porm
configurando-se de forma diferenciada. Esta relao sempre existiu e sempre existir, de
forma saudvel ou no, visto que o espao territorial sempre ter peculiaridades
socioeconmicas, polticas, ambientais e culturais que sero manifestadas, algumas vezes de
forma conflituosa, em algum momento na inter-relao com o espao para alm dos seus
limites territoriais.
O grande trunfo para a apropriao do lugar como instrumento de resistncia que as
populaes podem avaliar e definir [...] o que seja um padro em termos de renda, sade e
educao (Lisboa, 2014, p. 63) baseadas no seu entendimento do que seja
desenvolvimento, pois cada populao tem suas especificidades, suas diversidades e,
principalmente, seus conflitos internos resultantes de sculos de uma ordem social de onde
emergiu um modelo de relacionamento com o lugar que dificulta as estratgias de
uniformizao daquela rea sempre que suas caractersticas no forem levadas em conta.
Como destacam Zhouri e Oliveira (2010, p. 445),
10O conhecimento local um modo de ter conscincia do lugar, um lugar especfico (mesmo que no seja
um lugar determinado ou delimitado por fronteira), uma maneira de dar ao mundo um significado.
(Traduo do autor).
dcadas. No h que romantizar esta relao, pois ela est enleivada por hierarquias
traduzidas nas relaes geracionais, de gnero, tnicas, de classe social, etc., e em alguns
momentos estas tero que ser confrontadas. Ao mesmo tempo no h como negar que
modelos como o agronegcio em grande escala dinamitam qualquer possibilidade de
compreenso do lugar de forma sistmica, posto que um padro que imprime uma viso
de que a nica forma de progresso.
preciso repensar a insero do conhecimento local e da relao dos habitantes com
o lugar para que estes sejam inseridos como protagonistas, de forma verdadeira, nos
processos de intervenes em uma comunidade. necessrio, tambm, redimensionar as
imagens criadas sobre o lugar que possam estar estancada no imaginrio de seus habitantes.
No acreditamos na pureza do lugar e o dilogo imprescindvel para que se consiga
algum xito em projetos propulsores de qualidade de vida para qualquer populao. O
dilogo pode ser, e ser, inevitavelmente, em algum momento, com o mercado, desde que
as partes dialoguem verdadeiramente, o que no significa necessariamente que da surgir
uma associao entre estes, pois o lugar, mesmo tendo uma relao com o mercado, na
maioria das vezes tem uma autonomia mnima em relao quele. preciso impor-se como
lugar consciente de sua potncia e, ao mesmo tempo, dialogar com outros lugares
geogrficos ou abstratos, como o mercado, sempre reforando que as prticas locais so
frutos de observaes, dinmicas e modos de lidar decorrentes de sculos de observao e
experincias das populaes locais.
Este dilogo entre o lugar e os seus entornos (no necessariamente geogrficos)
um construto feito por tempo indeterminado e constante, visto que uma dinmica que
exige confrontos em virtude de interesse divergentes. As culturas advindas de cada um dos
lados no so neutras, e o conflito inerente a qualquer relao com interesses que no se
alinham, j que o mercado no tem um senso de lugar (Escobar, 2001), como se pode
atestar pelos impactos socioambientais deixados por grandes projetos em vrias partes do
planeta.
Entender a cultura do lugar extremamente importante para ressignificar o seu poder.
Como afirmado por Escobar (2001, p. 166), Theorically is important to learn to see place-
based cultural, ecological, and economic practices as important sources of alternative of
visions and strategies for reconstructing local and regional worlds no matter how produces
by the global they might also be.11 Muitas destas prticas chocam-se com as aes dos
CONCLUSO
Ao valorizar o lugar com o seu conhecimento local, mina-se o discurso dominante
que a economia desenvolvimentista encontrou em nosso meio nas ltimas dcadas,
fazendo-se detentora da ltima palavra sobre as decises tcnicas e polticas. Descentraliza-
se a fala do desenvolvimento como apenas crescimento econmico e volta-se o olhar para
outras dimenses presentes no lugar como gnero, raa, etnia, relao com a natureza, etc.
mediados pelas outras matrizes de saberes anteriormente censuradas pelo discurso do
desenvolvimento.
Levar o lugar ao centro do palco como protagonista, como defende Arturo Escobar,
poder ressignificar a palavra desenvolvimento, dando a ela um novo patamar que possibilite
que os diferentes modos de viver, produzir e se expressar sejam respeitados e entender que
desenvolvimento tem mltiplos sentidos a depender de interesses e desejos em um mundo
diverso e plural.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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12E quanto maior se faz a disponibilidade de considerar em p de igualdade aos grupos subalternos, maior
a presso exercida sobre eles para que neguem a sua diferena atravs da assimilao. (Traduo do autor).
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