Gato Grafias
Gato Grafias
Gato Grafias
Nem prosa,
nem Mia
Couto
Nem...
A
e o nome do gato?
rtimanhas de um gasto gato J. Alfred Prufrock? J. Pinto
Fernandes?
No sei desenhar gato. o nome do gato nome de estao
No sei escrever gato. de trem
No sei gatografia o inverno dentro dos bares
Nem a linguagem felina das suas a necessidade quente de t-lo
artimanhas onde vamos diariamente fingindo
Nem as artimanhas felinas da sua nomear
no-linguagem eu o gato e a grafia de minhas
Nem o que o dito gato pensa do garras:
hipoptamo (no o de Eliot) toma: l o que eu escrevo em teu
Eliot e os gatos de Eliot rosto
(Practical Cats) a parte que em ti minha gato
Os que no sei leio onde te tenho gato
e nunca escreverei na tua cama. e a gatografia que nunca sei
O hipoptamo e suas hipopotas aprendi na marca no meu rosto
ameaam gato (que no hopogato) aprendi nas garras que tomei
Antes hiponmico. e me tornei parte e tua gata a
Coisa com peso e forma de peso saltar sobre montanhas como um
ana cristina csar
gato
e deixar arco-irisado esse meu
salto
saltar nem ao menos sabendo que
desenho
e escrita esperam gato
saltar felinamente sobre o nome de
gato
ameaado
ameaado o nome de GATO
ameaado o nome de GASTO
ameaado de morrer na gastura de
meu nome
repito e me auto-ameao:
no sei desenhar gato
no sei escrever gato
no sei gatografia http://pensamentotangencial.
Nem blogspot.com.br/2014/04/poetica-ana-cristina-cesar.html
o que podem saber
de mim?
andr monteiro
Chacal
penugem apetite
Adenio A. Lima
Os gatos so sempre mais dramticos. So as
verses gays dos ces.
Luciano de Melo
Mario Quintana
Black Cat
as if awakened, she turns
her face to yours;
and with a shock, you see
yourself, tiny,
inside the golden amber of
her eyeballs
suspended, like a
prehistoric fly.
Rilke
Mirsad
o gAtO possui beleza sem vaidade, fora
sem insolncia, coragem sem ferocidade,
todas as virtudes do homem sem vcios.
Lord Byron
Eu j vi um Gato ler
e um grilo sentar escola,
nas asas de uma ema
jogar-se o jogo da bola,
dar louvores ao macaco.
S me falta ver agora
acender vela sem pavio,
correr pra cima a gua do rio,
o sol a tremer com frio
e a lua tomar tabaco!...
Guimares Rosa
Trecho de A hora e a vez de Augusto Matraga.
Eu estou s.
O Gato est s.
As rvores esto ss.
Mas no o s da solido:
o s da solistncia.
Guimares Rosa
Jos Mara Arguedas, escritor peruano
Juan L. Ortiz
La prunelle
.
Eu olho o mundo pelo ngulo da esfera
Toca, cova, vazio
Procuro os sentidos, as certezas
Sempre desabam
Abalo
Abismo
Absurdo
!
Olho a natureza pelo ngulo do rasgo
Trao, pndulo, fio
Procuro os tetos, as alturas
Sempre suspenso
asa
assalto
Albert Camus alto
Por um momento, em outro orifcio
Encaramos a mesma tica
Este segundo infinitamente se repetir
La prunelle
A diferena entre
a eternidade e o instante
Michel Foucault
felinosficos
T.S. Eliot
Ernest Hemingway
Ernest Hemingway, um dos grandes
escritores do sculo XX. Premio
Nobel de Literatura em 1954. Na
foto o autor come junto a cinco
gatos.
Um carro deve ter atropelado ele ou algum
o acertou com um porrete. Ele veio pra
casa nas duas patas de um lado durante
todo o caminho. Foi uma fratura mltipla
com muita sujeira na ferida e fragmentos
ressaltados. Mas ele ronronou e pareceu
estar certo de que eu poderia consert-lo.
Miiiauuuuuuuu
Os aplausos so barulhos
de gato, muro, gata, cio e lua.
Vai despertar sentado no sof da sala
enrolando quieto aqueles mesmos
cabelos do sonho.
Svetlana Petrova - artista russa
Marcos Falchero Falleiros
in Flores de plstico, 1983
O gato preto
Edgar Allan Poe
No espero nem peo que acreditem nesta
narrativa ao mesmo tempo estranha e
despretensiosa que estou a ponto de escrever.
Seria realmente doido se esperasse, neste caso
em que at mesmo meus sentidos rejeitaram a
prpria evidncia. Todavia, no sou louco e
certamente no sonhei o que vou narrar. Mas
amanh morrerei e quero hoje aliviar minha
alma. Meu propsito imediato o de colocar
diante do mundo, simplesmente, sucintamente e
sem comentrios, uma srie de eventos nada
mais do que domsticos. Atravs de suas
consequncias, esses acontecimentos me
terrificaram, torturaram e destruram.
Entretanto, no tentarei explic- los nem
justific-los. Para mim significaram apenas
Horror, para muitos parecero menos terrveis
do que gticos ou grotescos. Mais tarde,
talvez, algum intelecto surgir para reduzir
minhas fantasmagorias a lugares-comuns
alguma inteligncia mais calma, mais lgica,
muito menos excitvel que a minha; e esta
perceber, nas circunstncias que descrevo com
espanto, nada mais que uma sucesso ordinria
de causas e efeitos muito naturais.
Desde a infncia observaram minha docilidade e Este ltimo era um animal notavelmente grande
a humanidade de meu carter. A ternura de meu e belo, completamente preto e dotado de uma
corao era de fato to conspcua que me sagacidade realmente admirvel. Ao falar de
tornava alvo dos gracejos de meus sua inteligncia, minha esposa, cujo corao
companheiros. Gostava especialmente de animais no era afetado pela mnima superstio, fazia
e, assim, meus pais permitiam que eu criasse frequentes aluses antiga crena popular de
um grande nmero de mascotes. Passava a maior que todos os gatos pretos eram bruxas
parte de meu tempo com eles e meus momentos disfaradas. No que ela jamais mencionasse
mais felizes transcorriam quando os alimentava esse assunto seriamente e se falo nele
ou acariciava. Esta peculiaridade de carter simplesmente porque me recordei agora do
cresceu comigo e, ao tornar-me homem, fato.
prossegui derivando dela uma de minhas Pluto esse era o nome do gato era minha
principais fontes de prazer. Todos aqueles que mascote favorita e era com ele que passava
estabeleceram uma relao de afeto com um co mais tempo. Era s eu que o alimentava e o
inteligente e fiel dificilmente precisaro que animal me acompanhava em qualquer parte da
eu me d ao trabalho de explicar a natureza da casa em que eu fosse. De fato, era difcil
intensidade da gratificao que deriva de tal impedi-lo de sair rua comigo e acompanhar-
relacionamento. Existe alguma coisa no amor me.
altrusta e pronto ao sacrifcio de um animal Nossa amizade perdurou desta forma por
que vai diretamente ao corao daquele que diversos anos, durante os quais meu
teve ocasies frequentes de testar a amizade temperamento geral e meu carter devido
mesquinha e a frgil fidelidade dos homens. interferncia da Intemperana criada pelo
Casei-me cedo e tive a felicidade de encontrar Demnio tinham (meu rosto se cobre de rubor
em minha esposa uma disposio que no era ao confess-lo) sofrido uma mudana radical
muito diferente da minha. Observando como para pior. A cada dia que se passava eu ficava
gostava de animais domsticos, ela no perdeu mais mal-humorado, mais irritvel, menos
oportunidade para me trazer representantes das interessado nos sentimentos alheios. Permitia-
espcies mais agradveis. Tnhamos pssaros, me usar linguagem grosseira com minha prpria
peixinhos dourados, um belo co, coelhos, um esposa. Aps um certo perodo de tempo,
macaquinho e um gato. cheguei a torn-la alvo de violncia pessoal.
Naturalmente, minhas mascotes sentiram a
diferena em minha disposio. No apenas as olhos. Encho-me de rubor e meu corpo todo
negligenciava, como chegava a trat-las mal. estremece enquanto registro esta abominvel
Mas com relao a Pluto, entretanto, eu ainda atrocidade.
conservava suficiente considerao para Quando a manh me trouxe de volta razo
conter-me antes de maltrat-lo, ao passo que depois que o sono tinha apagado a maior parte
no tinha escrpulos em judiar dos coelhos, do do fogo de minha orgia alcolica ,
macaco e at mesmo do co quando, por acidente experimentei um sentimento misto de horror e
ou at mesmo por afeio, eles se atravessavam de remorso pelo crime que havia cometido. Mas
em meu caminho. Porm minha doena cresceu este sentimento foi no mximo dbil e elusivo
cada vez mais pois que doena pior que o e a alma permaneceu intocada. Novamente
vcio do alcoolismo? e, finalmente, at mergulhei em meus excessos e logo afoguei na
Pluto, que estava agora ficando velho e, em bebida toda lembrana de minha m ao.
consequncia, um tanto impertinente, at Pluto Enquanto isso, o gato lentamente se recuperou.
comeou a experimentar os efeitos de meu mau A rbita vazia do olho perdido apresentava,
humor. naturalmente, uma aparncia assustadora, mas
Uma noite, ao chegar em casa bastante ele no parecia estar sofrendo mais nenhuma
embriagado, depois de um de meus passeios sem dor. Andava pela casa, como de costume, mas,
destino atravs da cidade, imaginei que o gato como se poderia esperar, fugia de mim em
estava evitando minha presena. Agarrei-o extremo terror cada vez que chegava perto
fora; e ento, assustado por minha violncia, dele. Ainda me restava uma certa parte de meu
ele infligiu uma pequena ferida em minha mo nimo anterior e a princpio lamentei que
com os dentinhos. A fria de um demnio agora me detestasse tanto uma criatura que j
possuiu-me instantaneamente. Nem sequer me havia amado. Mas este sentimento logo deu
conseguia reconhecer a mim mesmo. Minha alma lugar irritao. E ento fui acometido, como
original parecia ter fugido imediatamente de se fosse para minha queda final e irrevogvel,
meu corpo; e uma malevolncia mais do que pelo esprito da Perversidade. A prpria
satnica, alimentada pelo gim, assumiu o filosofia no estudou este esprito. E
controle de cada fibra de meu corpo. Tirei um todavia, assim como tenho certeza de possuir
canivete do bolso de meu colete, abri a uma alma vivente, minha convico que a
lmina, agarrei a pobre besta pela garganta e perversidade um dos impulsos primitivos do
deliberadamente arranquei da rbita um de seus corao humano uma das faculdades primrias
e indivisveis, um dos sentimentos que do Na noite seguinte ao dia em que pratiquei esta
origem e orientam o carter do Homem. Quem j ao cruel, fui despertado do sono por gritos
no se flagrou uma centena de vezes a cometer de Fogo!. As cortinas de meu leito estavam
uma ao vil ou meramente tola por nenhuma em chamas. A casa inteira estava ardendo. Foi
razo exceto sentir que no devia? No temos com grande dificuldade que minha esposa, uma
todos ns uma inclinao perptua e contrria criada e eu mesmo escapamos da conflagrao. A
a nosso melhor julgamento para violar as Leis, destruio foi completa. Todos os meus bens
simplesmente porque compreendemos que so materiais foram consumidos e a partir desse
obrigatrias? Pois foi este esprito de momento entreguei-me ao desespero.
Perversidade, digo eu, que veio a causar minha Estou acima da fraqueza de tentar estabelecer
queda final. Foi este anseio insondvel da uma sequncia de causa e efeito entre o
alma, que anela por prejudicar a si mesma, por desastre e a atrocidade. Mas estou detalhando
oferecer violncia sua prpria natureza, por um encadeamento de fatos e no desejo deixar
praticar o mal pelo amor ao mal e nada mais, imperfeito um s dos elos da corrente. No dia
que me impulsionou a prosseguir e finalmente que se seguiu ao incndio, visitei as runas.
consumar a injria que tinha infligido sobre a Todas as paredes tinham desabado, exceo de
pequena besta inofensiva. Uma manh, a sangue- uma nica. Esta exceo foi a de um aposento
frio, passei-lhe um lao ao redor da garganta interno, uma parede no muito grossa, que se
e o pendurei no galho de uma rvore erguia mais ou menos na metade da casa,
enforquei-o com lgrimas nos olhos, sentindo justamente aquela contra a qual descansava a
ao mesmo tempo o remorso mais amargo em meu cabeceira de minha cama. O prprio reboco
corao , assassinei o pobre gato porque tinha ali, em grande parte, resistido ao
sabia que ele me tinha amado e porque eu do fogo segundo julguei, porque era feito de
entendia muito bem que ele no me tinha dado argamassa nova, talvez ainda um pouco mida.
razo alguma de queixa matei-o porque sabia Em torno desta parede estava reunida uma
que ao faz-lo estava cometendo um pecado um grande multido; e muitas pessoas pareciam
pecado mortal que iria manchar minha alma estar examinando um trecho especial dela, com
imortal ao ponto de coloc-la se isso fosse minuciosa ateno. As palavras estranho,
possvel fora do alcance at mesmo da singular e outras semelhantes excitaram-me a
infinita misericrdia do Deus Mais curiosidade. Aproximei-me e vi, como se
Misericordioso e Mais Terrvel. estivesse gravado em bas relief [1] sobre a
superfcie branca, a figura de um gato impediu que produzisse forte impresso sobre
gigantesco. A imagem estava desenhada com uma minha imaginao. Durante meses no conseguia
preciso realmente maravilhosa. Havia uma livrar minha viso interna do fantasma do
corda esboada ao redor do pescoo do animal. gato; e, durante esse perodo, retornou a meu
Da primeira vez que contemplei esta apario esprito uma espcie de sentimento que se
porque dificilmente poderia cham-la de algo assemelhava a remorso, mas no era exatamente
menos assombroso , meu espanto e meu terror isso. Cheguei ao ponto de lamentar a perda do
foram extremos. Mas, finalmente, o raciocnio animal e a procurar, nos ambientes ordinrios
e a reflexo vieram em meu amparo. O gato, que agora habitualmente frequentava, outra
segundo recordava, tinha sido enforcado em um mascote da mesma espcie, cuja aparncia fosse
jardim adjacente casa. Logo que fora dado o semelhante e pudesse ocupar o vazio deixado
alarme de incndio, este jardim ficou pela primeira.
imediatamente cheio de basbaques, um dos quais Uma noite eu estava sentado, entorpecido de
provavelmente tinha cortado a corda que tanto beber, em um botequim da pior espcie,
prendia arvore o gato e jogado o animal quando minha ateno foi subitamente atrada
dentro de meu quarto atravs de uma janela para um objeto preto que repousava sobre a
aberta. Talvez at mesmo a inteno fosse boa, tampa de uma das imensas bordalesas de gim ou
quem sabe queriam acordar-me do sono e de rum que constituam o principal mobilirio
lanassem o animal janela adentro para esse da pea. H vrios minutos eu j contemplava
fim. A queda das outras paredes tinha fixamente a tampa desse barril, e o que agora
comprimido a vtima de minha crueldade na me causava surpresa era o fato de que no
prpria substncia do reboco recm-aplicado; o houvesse percebido antes o objeto que se
cal contido nele, misturado amnia encontrava sobre ele. Aproximei-me a passos
proveniente da carcaa, com o calor das vacilantes, estendi a mo e toquei-o. Era um
chamas, tinha ento realizado o retrato que gato preto um animal muito grande , to
contemplava agora. grande quanto Pluto e extremamente parecido
Embora eu satisfizesse minha razo assim com ele em todos os detalhes, salvo um: Pluto
rapidamente, se bem que no tivesse podido no tinha um pelo branco sequer em qualquer
acalmar totalmente minha conscincia e poro de seu corpo; mas este gato tinha uma
tentasse desse modo descartar o fato mancha branca bastante grande, embora de
assombroso que acabei de descrever, isso no
formato indefinido, cobrindo-lhe quase de crueldade evitaram que eu o machucasse
inteiramente o peito. fisicamente. Durante algumas semanas, eu no
Assim que o toquei, o animal ergueu-se bati nele nem o maltratei violentamente; mas
imediatamente, ronronou bem alto, esfregou-se gradualmente muito gradualmente comecei a
contra minha mo e pareceu encantado com minha encar-lo com uma repugnncia indescritvel e
ateno. Tinha encontrado a prpria criatura a fugir silenciosamente de sua presena
que vinha procurando. Imediatamente fui falar odienta, como se estivesse tentando escapar do
com o taverneiro e ofereci-me para comprar o sopro sufocante de um pntano ou do hlito
bichano, mas ele disse que o animal no lhe pestilento de uma praga.
pertencia que nunca o tinha visto antes e Sem a menor dvida, o que originou meu rancor
que no fazia a menor ideia de onde tinha pelo animal foi a descoberta, logo na manh
vindo ou a quem pudesse pertencer. seguinte noite em que o trouxe para casa, de
Continuei com minhas carcias, e, quando me que ele, exatamente como Pluto, tambm tivera
dispus a ir para casa, o animal demonstrou um dos olhos arrancado. Esta circunstncia,
estar disposto a me acompanhar. Permiti-lhe entretanto, s levou minha esposa a gostar
que o fizesse; de fato, durante o caminho, ainda mais dele, a qual, conforme relatei
ocasionalmente parava, curvava-me e fazia-lhe anteriormente, possua em alto grau aquela
carcias. Quando chegamos casa em que agora humanidade de sentimentos que em pocas
eu morava, ele familiarizou-se de imediato, passadas fora tambm um de meus traos
adquirindo em seguida as boas graas de minha caractersticos e a fonte de muitos de meus
esposa. prazeres mais simples e puros.
Quanto a mim, para meu desapontamento, logo medida que aumentava minha averso pelo
descobri que no gostava do animal. Isto era gato, seu amor por mim parecia crescer na
justamente o reverso do que havia antecipado; mesma proporo. Seguia meus passos com uma
porm no sei como nem por que o evidente pertincia que seria difcil fazer o leitor
prazer que o gato achava em minha companhia me compreender. Onde quer que me assentasse,
aborrecia e enojava. Lenta e progressivamente, vinha enroscar-se embaixo de minha cadeira ou
estes sentimentos de desgosto e aborrecimento saltar sobre meus joelhos, cobrindo-me de
se transformaram em rancor e dio. Evitava a carinhos nojentos. Se eu me erguesse para
criatura, sempre que podia; uma certa sensao caminhar, ele se intrometia entre meus ps e
de vergonha e a lembrana de meu antigo feito quase me fazia cair; ou, ento, cravava suas
unhas longas e afiadas em minhas roupas e que eu detestava e temia tanto aquele monstro
procurava, desta forma, trepar at chegar a e teria me livrado dele, se ao menos eu
meu peito. Nessas ocasies, embora eu ansiasse ousasse. Essa imagem, escrevo agora, era a
por rebent-lo pancada, ainda me sentia imagem de uma coisa horrvel, uma coisa
incapaz de faz-lo, em parte pela recordao apavorante... a imagem de uma FORCA! Ah,
de meu crime anterior, mas especialmente melanclico e terrvel instrumento de Horror e
confessarei de imediato porque tinha de Crime de Agonia e de Morte!
absoluto pavor daquele animal. E agora eis que me encontrava realmente
Este pavor no era exatamente um temor da desgraado, um miservel alm da desgraa e da
possibilidade de algum dano fsico, todavia misria da natureza humana. E era um animal
no sou capaz de defini-lo de outra forma. sem alma, cujo companheiro eu tinha destrudo
Estou quase envergonhado de admitir sim, com desprezo, era um animal sem alma que
mesmo nesta cela de condenado tenho quase originava em mim eu, que era um homem,
vergonha de admitir que o terror e horror criado imagem do Deus Altssimo tanta
que o animal me inspirava tinham sido muito angstia intolervel! Ai de mim! Nem de dia,
aumentados por uma das mais ilusrias quimeras nem de noite eu era mais abenoado pelo
que teria sido possvel conceber. Minha esposa Repouso! Durante o dia a criatura no me
me tinha chamado a ateno, mais de uma vez, deixava por um nico momento; e, de noite, eu
para o carter da mancha de pelo branco que j me acordava de hora em hora, despertado de
mencionei e que constitua a nica diferena sonhos cheios de um pavor indescritvel, para
aparente entre o estranho animal e aquele que encontrar a respirao quente daquela coisa
eu tinha morto. O leitor h de lembrar que soprando diretamente sobre meu rosto e seu
esta marca, embora grande, era originalmente enorme peso um pesadelo encarnado do qual eu
muito indefinida; porm, muito lentamente, de no poderia jamais me acordar, oprimindo e
uma forma quase imperceptvel, uma forma que esmagando eternamente o meu corao!
por muito tempo minha Razo lutou para Sob a presso de tormentos assim, os dbeis
considerar como meramente fantasiosa, acabou traos que restavam de minha boa natureza
por assumir um contorno rigorosamente sucumbiram totalmente. Os maus pensamentos se
distinto. Era agora a representao de um tornaram meus amigos ntimos, meus nicos
objeto tal que a simples ideia de mencion-lo amigos, logo os pensamentos mais mpios e mais
me faz tremer. Era por isso, acima de tudo, malficos. O mau humor de minha disposio
habitual transformou-se em um rancor deliberada possvel, voltei-me para a tarefa
indefinido voltado para todas as coisas e para de esconder o corpo. Sabia que no podia
toda a humanidade; e os acessos de fria remov-lo da casa, tanto de dia como de noite,
sbitos, frequentes e incontrolveis aos quais sem correr o risco de ser observado pelos
eu agora me abandonava cegamente e sem o menor vizinhos. Uma srie de projetos passou por
remorso eram descarregados ai de mim! minha cabea. Durante algum tempo, pensei em
precisamente sobre minha esposa, a sofredora cortar o corpo em minsculos fragmentos que
mais paciente e mais constante, que nunca depois destruiria no fogo. Depois pensei em
emitia sequer uma palavra de queixa ou de cavar-lhe uma cova no cho do poro. Tambm me
revolta contra mim. passou pela cabea jogar o cadver no poo que
Um dia ela me acompanhou, com a inteno de ficava no ptio; ou coloc-lo dentro de uma
executar alguma tarefa domstica, ao poro do caixa, como se fosse uma mercadoria, aplicando
velho edifcio em que nossa pobreza atual nos todos os cuidados que em geral se dedica
obrigava a morar. O gato me seguiu pelos preparao de tais volumes e contratando um
degraus ngremes e, quando me fez tropear e carregador para retir-lo da casa. Finalmente,
quase me levou a cair escada abaixo, deixou-me imaginei o que me pareceu ser um expediente
exasperado a ponto de enlouquecer. Erguendo um melhor que qualquer um desses. Resolvi
machado, esquecido em minha clera do medo empared-lo em um dos cantos do poro
infantil que at ento havia impedido que conforme dizem que os monges da Idade Mdia
levantasse um dedo contra ele, dirigi um golpe costumavam fazer com suas vtimas.
ao animal que, sem a menor dvida, teria sido O poro estava perfeitamente adaptado para
fatal se tivesse acertado onde eu queria. esse propsito. Suas paredes tinham sido muito
Porm a machadada foi impedida pela mo de mal- construdas e h pouco tempo tinham sido
minha esposa a segurar-me o brao. Esta novamente rebocadas com uma argamassa
interferncia me lanou em uma raiva mais do grosseira, que a umidade do ambiente no
que demonaca: arranquei o brao de seu aperto deixara endurecer. Alm disso, em uma das
e, com um nico golpe, enterrei o machado na paredes havia uma projeo, causada por uma
cabea dela. Ela caiu morta no mesmo lugar, falsa chamin ou lareira que tinha sido
sem soltar um nico gemido. preenchida com tijolos na inteno de
Tendo cometido este assassinato pavoroso, assemelh-la ao restante das paredes do poro.
imediatamente, sem remorsos e da maneira mais No tinha dvidas de que poderia facilmente
retirar os tijolos neste ponto, enfiar o pressentido alguma coisa ou se amedrontado com
cadver e depois restaurar a parede inteira ao a violncia de minha raiva anterior, evitando
estado anterior, de tal modo que olhar algum apresentar-se diante de mim enquanto durasse
poderia detectar qualquer coisa suspeita. minha m disposio. impossvel descrever ou
No me enganava neste ponto. Com um p de imaginar a sensao de alvio profunda e
cabra retirei facilmente os tijolos e, depois abenoada que a ausncia da detestada criatura
de depositar o corpo cuidadosamente contra a causou em meu peito. Melhor ainda, o gato no
parede interna, ergui-o de modo a deix-lo em apareceu nessa noite e assim, ao menos por
p, apoiado contra a parede. Com pouca uma noite, desde que o desgraado se
dificuldade recoloquei os tijolos e deixei a introduzira em minha casa, dormi profunda e
estrutura precisamente da maneira em que se tranquilamente; sim, dormi o sono dos justos,
achava antes. Tendo trazido cal, areia e uma mesmo que tivesse agora o peso de um
poro de pelos de animais retirados de assassinato em minha alma!
couros, como era costume na poca, preparei, Passaram-se o segundo e o terceiro dias e meu
com todas as precaues possveis, uma atormentador no regressou. Novamente eu
argamassa que no podia ser diferente da que respirava como um homem livre. O monstro tinha
recobria o restante da parede e com esta fugido aterrorizado e deixado para sempre
reboquei muito cuidadosamente os tijolos que minha companhia! Nunca mais iria v-lo! Minha
havia recolocado. Ao terminar, sentia-me felicidade era suprema! O remorso ocasionado
satisfeito com a perfeio do trabalho. A por minha ao to negra e perversa
parede no apresentava o menor sinal de que praticamente no me perturbava. Algumas
tinha sido modificada. Recolhi a calia do perguntas haviam sido feitas, mas fora fcil
cho com o cuidado mais minucioso. Olhei ao responder. At mesmo havia sido feita uma
meu redor triunfantemente e congratulei-me: busca pela polcia, mas naturalmente no
Pelo menos desta vez no trabalhei em vo. haviam descoberto nada. Pensei que minha
Minha prxima tarefa era a de procurar a besta felicidade futura estava assegurada.
que tinha sido a causa de tamanha desgraa, Mas no quarto dia depois do assassinato, uma
porque tinha, finalmente, a firme resoluo de patrulha da polcia retornou, muito
mat-la. Se nesse momento tivesse podido inesperadamente, entrou em minha casa e
encontr-la, seu destino estaria selado, mas recomeou a fazer uma investigao rigorosa do
aparentemente o animal ardiloso tinha prdio. Achava-me seguro, todavia, devido
impenetrabilidade do lugar em que escondera o E foi neste ponto que, tomado por um estpido
cadver, e assim no me senti nem um pouco frenesi de bravata, bati pesadamente com uma
constrangido pela busca. Os policiais bengala que tinha na mo justamente sobre
ordenaram-me que os acompanhasse enquanto aquela poro da parede atrs da qual jazia o
procuravam. No deixaram nem canto nem cadver da esposa que tinha apertado tantas
escaninho sem explorar. Finalmente, pela vezes contra o peito.
terceira ou quarta vez, desceram ao poro. No Possa Deus escudar-me e proteger-me das presas
senti estremecer nem um s de meus msculos. do Pai dos Demnios! To logo a reverberao
Meu corao batia calmamente como o de algum dos golpes que havia dado desapareceu no
perfeitamente inocente. Caminhei de ponta a silncio, foi respondida por uma voz de dentro
ponta do poro. Cruzei os braos e fiquei do tmulo! respondida por um grito, a
andando de um lado para outro. A polcia princpio abafado e entrecortado, como os
finalmente satisfez-se e estava a ponto de soluos de uma criana, mas rapidamente se
partir, desta vez em definitivo. A alegria em avolumando em um grito longo, alto e contnuo,
meu corao era grande demais para ser totalmente anormal e desumano um uivo , um
contida. Ansiava para dizer ao menos uma guincho lamentoso, meio de horror e meio de
palavra de triunfo e queria garantir-me triunfo, tal como s poderia ter subido das
duplamente de que eles me julgavam inocente. profundezas do inferno, um berro emitido
Cavalheiros disse finalmente, enquanto o conjuntamente pelas gargantas de centenas de
grupo subia as escadas , estou encantado por condenados danao eterna, torturados em sua
ter desfeito todas as suas suspeitas. Desejo a agonia, e pelos demnios que exultam em sua
todos uma boa sade e um pouco mais de condenao.
cortesia. A propsito, cavalheiros esta casa, tolice tentar descrever meus pensamentos.
esta casa muito bem-construda. (Tomado de Sentindo-me desmaiar, cambaleei at a parede
um violento desejo de aparentar a maior oposta. Por um instante, o grupo de policiais
naturalidade, falava sem prestar muita ateno que subia as escadas permaneceu imvel, em um
no que dizia.) Posso at dizer que uma casa misto de espanto e profundo terror. No momento
excelentemente bem-construda. Estas paredes seguinte, uma dzia de braos robustos
j esto de partida, cavalheiros? , estas esforava-se por esboroar a parede. Ela caiu
paredes so muito slidas. inteira. O cadver, j bastante decomposto e
coberto de sangue coagulado, estava ereto
perante os olhos dos espectadores, na mesma
posio em que eu o deixara. Mas sobre sua
cabea, com a boca vermelha escancarada e uma
chispa de fogo no nico olho, sentava-se a
besta horrenda cujos ardis me tinham levado ao
assassinato e cuja voz denunciadora agora me
levaria ao carrasco. Eu havia emparedado o
monstro dentro do tmulo!
David G. Fors,
ilustrador de Barcelona.
Os dois GATOS Poders dizer-me a isto
Que nunca te conheci;
Dois bichanos se encontraram Mas para ver que no minto
Sobre uma trapeira um dia: Basta-me olhar para ti.''
(Creio que no foi no tempo
Dessa gritaria). ''Ui! (responde-lhe o gatorro,
Mostrando um ar de estranheza)
De um deles todo o conchego s mais que eu? Que distino
Era dormir no borralho; Ps em ns a Natureza?
O outro em leito de senhora
Tinha mimoso agasalho. Tens mais valor? Eis aqui
A ocasio de o provar.''
Ao primeiro o dono humilde ''Nada (acode o cavalheiro)
Espinhas apenas dava; Eu no costumo brigar.''
Com esquisitos manjares
O segundo se engordava. ''Ento (torna-lhe enfadado
O nosso vilo ruim)
Miou, e lambeu-o aquele Se tu no s mais valente,
Por o ver da sua casta; Em que s superior a mim?
Eis que o brutinho orgulhoso
De si com desdm o afasta. Tu no mias?'' - ''Mio.'' - ''E sentes
Gosto em pilhar algum rato?''
Aguda unha vibrando ''Sim.'' - E o comes?'' - ''Oh! Se como!...''
Lhe diz: ''Gato vil e pobre, ''Logo no passa de um gato.
Tens semelhante ousadia
Comigo, opulento, e nobre? Abate, pois, esse orgulho,
Intratvel criatura:
Cuidas que sou como tu? No tens mais nobreza que eu;
Asneiro, quanto te enganas! O que tens mais ventura.''
Entendes que me sustento
De espinhas, ou barbatanas?
BURROUGHS
William Burroughs & o gato Ruski
''Todos vocs que amam os gatos
lembrem que os milhes de gatos
que miam pelos quartos do
mundo depositam toda sua
esperana e confiana em
vocs. Somos os gatos por
dentro. Os gatos que no podem
andar sozinhos, e para ns h
apenas um lugar.''
William Burroughs
(1914-1997)
"Quando penso no incio de minha adolescncia,
eu me recordo da sensao recorrente de aninhar
e acariciar uma criatura contra meu peito. bem
pequena, mais ou menos do tamanho de um gato.
No um beb humano, nem um animal. No
exatamente. parte humana e parte outra coisa.
Lembro-me de uma ocasio em que isso
aconteceu l na casa da Prince Road. Eu devia ter
doze ou treze anos. Eu me pergunto o que era
um esquilo? no exatamente. No consigo ver
direito. No sei de que ela precisa. Sei apenas
que confia plenamente em mim. Muito mais tarde
eu descobriria que fui escalado para o papel do
Guardio, para criar e alimentar uma criatura que
William Burroughs parte gato, parte humana e parte algo ainda
inimaginvel, que pode resultar de uma unio que
no acontece h milhes de anos".
W. B. Yeats
THE CAT AND THE MOON The sacred moon overhead
Has taken a new phase.
The cat went here and there Does Minnaloushe know that his
And the moon spun round like a pupils
top, Will pass from change to
And the nearest kin of the change,
moon, And that from round to
The creeping cat, looked up. crescent,
Black Minnaloushe stared at From crescent to round they
the moon, range?
For, wander and wail as he Minnaloushe creeps through the
would, grass
The pure cold light in the sky Alone, important and wise,
Troubled his animal blood. And lifts to the changing moon
Minnaloushe runs in the grass His changing eyes.
Lifting his delicate feet.
Do you dance, Minnaloushe, do
you dance? W. B. Yeats (1865-1939)
When two close kindred meet,
What better than call a dance?
Maybe the moon may learn,
Tired of that courtly fashion,
A new dance turn.
Minnaloushe creeps through the
grass
From moonlit place to place,
Allen Ginsberg, por Fred W.
McDarrah.
Catrin-Welz-Stein
bolacha maria
trs poemas inditos de clara cruz
O que estaramos falando ns duas
agora, naquela cena muda?
Como seria viver
sem ter tido a tua ajuda o murchar
que tornava to mais fcil
atravessar as noites frias? Dentro de mim,
tua imagem trgida
Eram to escuras as noites trgida
Encerravam tantos medos
balo prestes a estourar.
Mas teu enorme amor por mim
sem reservas, sem segredos
me protegia das tempestades. Tarde da noite
o balo arrebenta
Me protegia de mim mesma, pois j no aguenta
da insnia de meu corpo. a presso do meu ar:
Me acalmava o passar do tempo
pois ao teu lado eu sempre sabia
quando j sou eu o balo
no era to cedo e o prprio insuflar.
quando ainda
no era dia. Eu prpria a agulha
com o poder de esvaziar.
Sem saber que sabia,
de angstia voc entendia.
A minha voc acalmava Trgida eu estava
com amor e bolacha maria. de coisas para falar.
vamos chover?
I
O meu corpo
um poema aprisionado.
Alheio a mim
e incnscio de si,
enche-se de ar
(linguagem reprimida)
e incha
incha
at que por fim arrebenta-se em versos
para tudo quanto lado.
O meu corpo
um poema libertado.
II
A pulso de morte atravessa meu corpo
e ele se incha como um balo
O meu corpo
um poo de sabedoria muda.
Gato esperto
ronrona baixinho
segredos da lua
Chuva caindo
o felino arranha
fio de tempo
O sereno cai
no telhado a gata
desequilibra
Mara Faturi
Catrin-Welz-Stein
Luz Quente
sozinho
esta noite
nesta casa,
sozinho com
6 gatos
que me contam
sem
esforo
tudo que
h
para saber.
Bukowski
Ter um bando de gatos por perto
bom. Se voc est se sentindo mal, s
voc olhar para os gatos e vai se
sentir melhor, porque eles sabem que
tudo , tal como . No h nada para
ficar animado. Eles apenas sabem. Eles
so salvadores. Quanto mais gatos voc
tem, mais tempo voc vive. Se voc tem
uma centena de gatos, voc vai viver
dez vezes mais do que se voc tem
dez. Algum dia isso vai ser descoberto,
e as pessoas tero mil gatos e vivero
para sempre. realmente ridculo.
BUKOWSKI
I know. I know. when I am feeling
they are limited, have different low
needs and all I have to do is
concerns. watch my cats
but I watch and learn from them. and my
I like the little they know, courage
which is so returns.
much. I study these
they complain but never creatures.
worry, they are my
they walk with a surprising teachers.
dignity.
they sleep with a direct
simplicity that
humans just cant Charles Bukowski
understand.
(1920-1994)
their eyes are more
beautiful than our eyes.
and they can sleep 20 hours
a day
without
hesitation or
remorse.
chamada
pi
guri
curumi
este rango
nhoc rock
talo-paulista
mamma
mia
gato
na
cucina
valeu
orra meu
finge lgia
s aquele merda
fingers
dedo pontal dedal us ulisses meu gato
bicho
dia aps
claricedia amador ribeiro neto
E. P. Thompson
Casola Valsenio: The Cat She cried and all night wandered crying in the
snow.
Im sure no love of ours had kept her there Her blood thawed crimson patches in the bitter
After her mster left. She hid herself from white.
sight And still we heard her weakenning below
By day. She seemed to know that men had ceased Until the soldiers faces wasted into white
to care And misting pity misinformed the sentries
For company. So she patrollerd, like us, at sight,
night, Because of her complaint who wandered to and
And often in the dark we started up in fright, fro
Thinking she was the enemy inside our wire. And was distressed by forces which she could
But still we let her be, until she tripped a not know
flare, And in her time of dying had no place to go.
And spent its light, and showes the Germans War, when a soldiers dies, his comrandes turn
where we were. away
I ordered that the cat be shot. There is no Their eyes and shut their hearts. There is no
time man whod dare
In war to exhaust ones heart on animals, I Consider on the thing and still maintain the
said, day.
What is a shell-torn forest to one shattered It is set by for remebering in a future year.
home? And so it was this sorrow entered unaware
This wretched car before a human life? I And vanquished us. And we were half-ashamed to
said. show
The longer that she lives the sooner well be Such pity for a creature we set out to slay.
dead. She was the waste of Europe, crying in the
Besides, shell serve to give your markmanship snow.
a cherk.
So we waited. And the next time that she came [E. P. Thompson (1924-1993). Grassina,
A man fired, wounding the creature in the February 1945]
neck.
Casola Valsenio: A Gata Suas manchas vermelhas de sangue descongelado no
frio cruel
Eu estava certo de que no era nosso amor que a E ainda ouvimos seu fraquejar gradual
mantilha ali At as faces embriagadas dos soldados ficarem
Depois que seu dono a largou. Ela escondeu-se ao plidas
sinal E uma enevoada misericrdia desorientar as vistas
Do dia. Parecia saber que os homens j no se dos sentinelas,
importavam Por conta de suas queixas de quem vagueara l e c
Pela civilidade. Ento ela patrulhava, como ns, E por foras das quais no poderia conhecer,
noite, ficara angustiada
E frequentemente na escurido camos em pavor; E na hora de sua morte no possua lugar algum
Pensando que ela era o inimigo dentro de nossas para ir.
cercas. Guerra, quando um soldado morre, seus camaradas
Mas, ainda assim, livre a deixamos, at que retiram
tropeara num lampejo Seus olhos e cerram seus coraes. No h homem
E sua luz consumira e mostrara aos Alemes onde algum que ousaria
estvamos. Considerar tal coisa e ainda manter rotina.
Ordenei que a gata fosse alvejada. No h momento Fato pelo qual recordaramos em futuro prximo.
Na guerra que o corao de algum se esgote pelos E ento isso foi este infortnio alheiamente
animais, disse, inserido
Diante de um lar destruindo, o que uma floresta E derrotou-nos. E estvamos um pouco
despedaada? desconcertados por mostrar
Esta gata desventurada ante uma vida humana? Tanta piedade por uma criatura que pretendamos
acrescentei. matar.
Quanto mais ela vive, mais cedo ser para Ela era a devastao da Europa, chorando na neve.
estarmos mortos.
Alm do mais, ela servir para voc checar sua [E. P. Thompson (1924-1993). Grassina, Fevereiro
pontaria. 1945]
E ento, aguardamos. E no momento que ela veio
Um homem disparara, acertando a criatura no ***
pescoo. Traduo do poeta e historiador Raul vila de
Ela chorou e por toda noite vaga chorando na neve. Agrela.
Poema do historiador e poeta ingls E. P. apario fora um infortnio alheiamente
Thompson (1924-1993). Escrito em fevereiro de inserido. E os soldados souberam que isso era
1945 em Grassina, cidade italiana, quando este infeliz, porm inevitvel. Como a prpria
participava da II Guerra Mundial, enquanto circunstncia de desdobramento da guerra. Ela
comandante de uma tripulao de tanques. fora infeliz e fora se tornando mais infeliz
Thompson tinha 21 anos. O poema fala de um ainda, mas a sensao era de que se precisa
incidente: uma gata diante de uma tripulao continuar para acaba-la. Matar para findar.
inglesa em campanha na Itlia. A gata, no Matar a gata para findar a guerra. Deixar o
poema, pe em cheque a sensibilidade sangue correr no frio cruel. O sangue era a
instaurada nos homens na guerra. O poema diz prpria Europa: Ela era a devastao da
de um furao sensitivo de uma tripulao ao Europa, chorando na neve.
tomar a deciso de alvej-la, o que era
inelutvel, pois seus passos entregariam aos
alemes a localidade da tripulao inglesa.
Por isso, o soldado que a alvejou, acertando Raul vila de Agrela
a criatura no pescoo e vendo o animal
cambalear dbil, deixando escorrer manchas de
sangue vermelho descongelado no frio cruel,
juntamente com os outros soldados tem suas
faces embriagadas empalidecidas. O mnimo
incidente de um animal que aparece para uma
tripulao de tanque comandada pelo E. P.
Thompson, tornar-se um incidente de grande
valor moral. No fim, tomando a perspectiva de
todos, o poeta diz que estvamos
desconcertados por mostrar / tanta piedade por
uma criatura que pretendamos matar. No se
espera combater um animal na guerra, s
homens. Homens que representam naes. O
animal poderia passar desapercebido. Mas no.
Pela guerra, a gata deveria morrer, pois sua
Inger Hagerup
(1905-1985) dramaturga norueguesa
Roberto Bolao (1929-2014)
Georges Perec(1936-1982)
Hermann Hesse, recebeu Prmio
Hermann Hesse (1867-1972)
Nobel de Literatura em 1946.
Truman Capote
Pobre desgraado lamentou-se,
coando-lhe a cabea. Pobre
desgraado sem nome. No muito
correto que ele no tenha um nome.
Mas eu no tenho qualquer direito
de lhe pr um nome, vai ter de
esperar pertencer a algum. Ns
apenas nos encontramos um belo dia
beira-rio, no pertencemos um ao
outro, ele e eu somos
independentes.
the jamcloset
first the right
forefoot
carefully
then the hind
stepped down
RAYMOND CHANDLER
(1888-1959)
Mark Twain (1835-1910)
Um gato vive um pouco nas poltronas, no
cimento ao sol, no telhado sob a lua.
Vive tambm sobre a mesa do escritrio,
e o salto preciso que ele d para
atingi-la mais do que impulso para a
cultura. o movimento civilizado de um
organismo plenamente ajustado s leis
fsicas, e que no carece de suplemento
de informao. Livros e papis,
beneficiam-se com a sua presteza
austera. Mais do que a coruja, o gato
smbolo e guardio da vida
intelectual."
Bash
Jackie Morris
Nem se lembra
Do arroz grudado ao bigode -
Gato enamorado.
Taigi
Um gato chins
Era uma vez
3
Na mesa posta,
o gato se lambe
porque se gosta. 9
4 Gato gaiato,
Um pulo de gato, bola de pelo,
gracioso e exato, rola o novelo.
qual verso no ar...
10
A gata dengosa no cio, 16
olhando o telhado vazio, Um gato vadio
parece gemer sete vidas. miando no frio:
assim me sinto.
11
Resta vaga magia 17
quando o gato afia Olhar de gato,
as unhas no tapete. mesmo com sono,
12 ainda decifra o dono.
A tarde se fica,
enquanto o gato
dorme na bica.
13
Na poa de rua,
um gato bebendo
o brilho da lua.
18
14 Na rua antiga, cena de aquarela,
Do gato, restou o ronronado; em cores triviais de tarde morna;
mas do canrio, coitado, a madorna dum gato na janela.
apenas as penas.
19
15 O olhar da gata persa
No contrazul da janela, conta uma estria inversa
qual nuvem no contravento, das mil e uma noites.
gato branco passa lento...
20
Um gato pardo de andar
esguio e desafio
no olhar de esfinge.
21
Por causa dum gato,
sem dono nem sono,
perdi meu sapato.
Baudelaire
Dentro em meu crebro vai e vem
Como se a sua casa fosse
Um belo gato, forte e doce.
Charles Baudelaire
Charles Baudelaire
3
Thomas Stearns Eliot nasceu em St. Louis, nos Estados Unidos em 26 de
setembro de 1888, e morreu em Londres, 4 de janeiro de 1965) foi um poeta
modernista, dramaturgo e crtico literrio. Disponvel em:
1 http://educacao.uol.com.br/biografias/t-s-eliot.jhtm
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. (Org.) 26 poetas hoje. 6. ed. - Rio de Janeiro:
Aeroplano Editora, 1999, p. 261.
Monsieur, eu lhe escrevi esta carta para que soubesse
que, mesmo estando em qualquer lugar fora do mundo4, seu
legado literrio vai continuar a ter seguidores. E para se
entender porque a alma potica de Ana Cristina se
identificou to completamente com a sua, vale acreditar no
que ela mesma escreveu: sou uma mulher do sculo XIX /
disfarada em sculo XX.5
E fique certo, monsieur, que novidades poticas vo
continuar a surgir, e os gatinhos sero recorrentemente
lembrados.
Paula Pires
4
Any where out of the world (Em qualquer lugar fora do mundo). In: Pequenos
Poemas em Prosa (Le Spleen de Paris) Disponvel em:
http://pequenospoemasemprosa.blogspot.com.br/2011/04/any-where-out-of-
world.html
5
Ana Cristina Csar. Inditos e dispersos Poesia/Prosa. So Paulo: Brasiliense,
1985, p. 136.
Ana Cristina Csar & seu Felino
Gatos desenhados por Levi Strauss
O gato Beppo & Jorge Luis Borges
Beppo
Julio Cortzar
O Gatinho Teodoro W. Adorno
& Jlio Cortzar
s vezes eu ansiava por algum que,
como eu, no estava ajustado
perfeitamente com sua idade, e essa
pessoa era difcil de encontrar, mas
logo descobri gatos, em que eu
poderia imaginar uma condio como
a minha, e livros, onde encontrei a
mesma coisa muitas vezes.
dirige o pnico
de sua
generosidade
espia
desorienta a
primavera
a cidade permite
descansar
os ps
a negligncia
os saltos
Zo, fotografia de Claudia Eugnia
- abatido,
ouve o outono
W. H Auden
Francoise Sagan
eles
s eles captam e capturam
nossos lampejos
e como ms lamparinas
iluminam nossos rostos
nossas andanas e
caminhos.
Cgurgel
Assinar a Pele" uma antologia de
poesia contempornea sobre gatos,
da Assrio & Alvim, organizada pelo
poeta Joo Lus Barreto Guimares.
Se quiser escrever,
arranje um gato
(A. Huxley)
um motor afetivo
que bate em seu corao
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratido.
No passado se dizia
que esse ron-ron to doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.
O tempo fora
de mim
relativo
mas no o tempo vivo:
esse eterno
porque afetivo
dura eternamente
enquanto vivo
E como no vivo
alm do que vivo
no
Lies de um Gato Siams tempo relativo:
dura em si mesmo
S agora sei eterno (e transitivo)
que existe a eternidade:
a durao
Ferreira Gullar
Como todo o dono de gato sabe,
ningum dono de um gato.
O gato caramelo
Tem uma pequena noo
https://br.pinterest.com/pin/439030663651790270/
Rosngela Trajano
catsjazz
Daniela Arago
Histria de Uma Gata Toda a noite vo cantando assim
Felino, no reconhecers
Felino, no reconhecers
Chico Buarque
Vou lhes contar
E depois de ouv-la
H tempos eu no sei
Paul McCartney
Elvis e sua gatinha kitty
Thelonious Monk
MGMT Rock Band Cats Music
Peter Tosh
James Taylor
Joey Ramone
David Bowie
Bob Dylan
Damon Albarn - Blur
Fabrcio Guto
Hendrix
Morrissey - The Smiths John Taylor - Duran Duran
O homem pisa no rabo
Itamar Assumpo
Roberta Flack
Frank-Zappa
Keith Richards
Philip Glass
John Cage
Syd Barrett - Pink Floyd
GATOSgrafites
Luis Trimano
Basquiat
"O menor dos felinos
uma obra-prima."
Leonardo da Vinci
Leonardo da Vinci
Will Barnet
JAN STEEN
REMBRANDT
Rembrandt BUGATTI (1884-1916)
Giacometti
(1901-1966)
Pierre Bonnard
(1867-1947)
Pierre Bonnard
Henri-Charles Guerard
Litografa de Theophile
Steilen.
Thophile Alexandre Steinlen
(1859-1923)
Wladyslaw Slewinski (1854-1918)
Pintor polons
& Minushe
Matisse (1869-1954)
Matisse
Matisse
Paul Gauguin
Paul Klee
Paul Klee, Lily & Bimbo
Andy Warhol (1928-1987)
Robert Indiano & Sam.
Andy Warhol ilustrou mais de 25 Gatos,
Andy Warhol
cartilha primitiva
s sabe do amor
s sabe como nascem quem faz laos
os girassis com felinos
quem ousa plant-los plantas
e mais ousa: flores
cuid-los durante guas
todo o longo e exigente e outras formas de pasto
percurso at a florada
s sabe o vero
renata pimentel
canto dos pssaros
quem ousa receb-los
no lar sem grades
sem gaiolas
e deles receber
o livre canto
Summer Serenade,
by Marta Orlowska.
Kazuaki Horitomo Kitamura
Monmon Cats
Xu Beihong (1895-19530) - Pintor
chins
Salvador Dali (1904-1989)
GUSTAV KLIMT
& Katze
Lucien Freud
Jean Baptiste Simeon
Modigliani (1884-1920)
Di Cavalcante (1897-1976)
Di Cavalcante
Di Cavalcante
Iber Camargo Cndido Portinari
(1914-1994) (1903~1962)
Alfred Arthur Brunel de
Neuville (1852-1941)
Auguste Renoir (1841- 1919)
Auguste Renoir
No se consegue
convencer
um rato
de que um Gato
pode trazer boa sorte.
Picasso
(1881-1973)
Picasso
Picasso
PICASSO
Picasso
Neil Curtis
Neil Curtis
Aldemir Martins
Aldemir Martins
(1922-2006)
Aldemir Martins
Aldemir Martins
A luta que em mim arde
Neil Gaiman
Neil Gaiman romancista, contista,
quadrinista. Bastante conhecido por sua
srie de quadrinhos Sandman, alm de
romances como: Coraline, Filhos de
Anansi etc.
Neil Gaiman
ROBERT CRUMB
teatrofelino
Ava Gardner
Clark Gable
George Clooney
Brigitte Bardot
James Dean Mary Pickford
Marlon Brando
Maurice Chevalier
Arnold Henry
Audrey Hepburn
Clara Gordon
Morgan Freeman
Merna K. & Charlie Chaplin
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes s o que sentes.
s feliz porque s assim,
Todo o nada que s teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheo-me e no sou eu.
Fernando Pessoa, 1931
Ganhou um gato
aos trs anos de idade
o bichano comeou a crescer...
cresceu tanto que ficou
maior que a bicicleta
Disse ao pai:
- Faz ele parar de crescer?!!!
Tnia Lima
planos na mala
sonhos (de cama)
lenis choramingam
muda-se a caixa postal
Luis Eme
Freud que no me escute
MIAU
Esperei um pouco,
Respirei.
Ftima Costa
Jos Lira
Andy Prokh
Procisso de gatos?
a menina vai na frente
levando sardinhas
Rosa Clemente