FRANQUI, Carlos Franqui, Retrato de Família Com Fidel
FRANQUI, Carlos Franqui, Retrato de Família Com Fidel
FRANQUI, Carlos Franqui, Retrato de Família Com Fidel
Rio de
Janeiro: Record, 1981.
ZOO OU PICASSO
Novamente perdi minhas batalhas culturais com Fidel. Tentei leva-lo
ao Museu de Arte Moderna para ver Guernica, de Picasso, e Jungle, de
Wifredo Lam. O que eu queria era conseguir o apoio de Picasseo para
a revoluo, mas Fidel no se interessou. Nem em Nova York nem em
Washington. Ele foi ao zoolgico, e depois ao Texas e ao Canad. Em
outros nveis, a viagem foi menos bem-sucedida; os esforos que Rufo
Lpez Fresquet, ministro das Finanas e presidente do Banco
Nacional, fez para conseguir crdito e contratos, foram por gua
abaixo. Fidel realmente no se importava, e nisso ele era igual a
Eisenhower e Nixon. Fidel concordava com tudo a princpio, mas no
fazia nada de concreto. O encontro entre Fidel e Nixon foi um
completo desastre; essa antipatia mtua duraria a vida inteira. A
estratgia de Fidel era a de parecer amigo de todos; ele oferecia sua
mo e no deixava os outras apertarem-na. E em Washington a
atmosfera dominante foi de puro desdm. Um incidente exemplifica o
quadro inteiro. Algum entrou no salo onde a delegao estava
esperando e foi anunciado como sr. Fulano de Tal, encarregado dos
assuntos cubanos. A isto Fidel s pde retrucar: E eu que pensei que
era encarregado dos assuntos cubanos. (p. 48)
A defesa do Lunes
Trs pessoas me apoiaram naqueles momentos difceis: Hayde
Santamara, que se pronunciou duramente, indignada com o ataque
de [Alfredo, no Che] Guevara; Ievguni Ievtuchenko, que via o
processo com todo o horror que suas prprias experincias em
Moscou lhe ensinaram, e que estava assombrado com nossa coragem
e nosso protesto unnime. Fidel nunca o perdoou, mesmo depois de
sua autocrtica pblica posterior. A terceira foi Jos Lezama Lima. Eu
j o homenageara como um grande e puro poeta que estimulara a
literatura cubana. Afirmei, no processo, que a revoluo deveria
reconhecer esse grande artista e respeitar sua independncia e sua
tica. Lezama foi aplaudido, e no somente pelos que estavam na
parte de baixo. Continuei, defendendo o pintor Wifredo Lam, que foi
desprezado apesar de ser um grande pintor. Na poca ele no tinha
rejeitado sua prpria arte como agora. De fato, mesmo que sua
pintura continue a ser excelente e continua sua pessoa pode
apenas inspirar piedade. Isto contrasta com Lezama, que, como
escritor, cubano e ser humano, cresce cada vez mais. (p. 135-136)