A Beleza Da Liturgia - Matalanga Mabiala
A Beleza Da Liturgia - Matalanga Mabiala
A Beleza Da Liturgia - Matalanga Mabiala
MATALANGA MABIALA
A BELEZA DA LITURGIA,
MANIFESTAO DA PRESENA REAL DE CRISTO.
SO PAULO
-2007-
2
MATALANGA MABIALA
A BELEZA DA LITURGIA,
So Paulo 2007.
3
AGRADECIMENTOS
de vrias maneiras pelas oraes, pelos encorajamentos e pela bolsa. Elas merecem o meu
vista da misso.
acolheu como aluno e me concedeu uma parte da bolsa para bancar os meus estudos.
verdadeiro poo litrgico onde tive oportunidade de saciar a minha sede; ao Doutor Valeriano
Santos Costa cujas aulas me inspiraram o tema da minha dissertao e ao Doutor Jos Raimundo
Aos amigos e irmos o padre Sylvestre Sangala, o padre Atta Achille e a Irm Irene
Barbosa, pessoas que estavam muito perto de mim para me animar sobretudo nos momentos mais
difceis.
Ao monsenhor Joo Batista Carvalho e todos fieis da parquia So Jos Operrio( diocese
A toda a minha famlia, aos amigos e amigas que estavam sempre em comunho comigo
A Dom Jos Foralosso que me permitiu de fazer a pesquisa de campo sobre a presena
Que Deus abenoe a todos e que cada um encontre na beleza um caminho para chagar at
Deus.
5
ABREVIAES E SIGLAS
LG =Lmen Gentium.
SC = Sacrossanctum Concilium.
6
NDICE
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................03
ABREVIAES E SIGLAS........................................................................................................05
INTRODUO............................................................................................................................10
Introduo.....................................................................................................................................12
1 Beleza.........................................................................................................................................13
2 A liturgia....................................................................................................................................24
3 A manifestao..........................................................................................................................31
Concluso......................................................................................................................................46
Captulo II:
Introduo.....................................................................................................................................47
4.1 A sacramentalidade...............................................................................................................56
Cristo...........................................................................................................................................59
8
Concluso......................................................................................................................................64
Captulo III:
Introduo.....................................................................................................................................66
1.Formao....................................................................................................................................67
2.1.1 As palavras.........................................................................................................................78
2.1.2.Os gestos............................................................................................................................ 79
9
2.1.4 O silncio........................................................................................................................... 81
Concluso......................................................................................................................................90
CONCLUSO GERAL...............................................................................................................92
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................................95
10
INTRODUO
O trabalho que vamos apresentar para a concluso de mestrado em liturgia surge de uma
preocupao pastoral nas diferentes comunidades e parquias onde exercemos nosso ministrio.
comum aps uma celebrao eucarstica os fiis comentarem sobre a liturgia. s vezes
dizendo que a celebrao foi bonita porque o padre fez um bom sermo, os cantos foram bem
entoados e o ambiente foi acolhedor. Ou ainda comentando que a celebrao no foi bonita
porque o som estava muito alto, o ambiente no foi agradvel e no gostamos do padre.
provvel que os primeiros tenham alcanado o objetivo da celebrao porque se sentiram bem.
satisfizeram.
Tais comentrios nos levam a perceber que uma celebrao litrgica no pode ser de
qualquer maneira. uma arte. uma ao que deve ser bela para que os participantes alcancem o
encontro com Deus, faz a experincia de manifestao da presena real de Cristo. Para isto,
Mostrar a beleza da liturgia como via para perceber a manifestao da presena real de
Cristo no o nico objetivo do trabalho. Queremos tambm levar os fiis a tomar conscincia da
importncia da beleza para a liturgia. Este um trabalho que pretendemos fazer em trs captulos.
11
manifestao e presena real de Cristo. Para uma compreenso mais ampla dos conceitos,
padres da Igreja.
No terceiro captulo daremos pistas para promover a beleza na liturgia e na vida crist em
geral.
12
Captulo I
DEFINIES DE CONCEITOS
Introduo
Apresentaremos o conceito beleza a partir de dois pontos de vista: filosfico e teolgico.
Do ponto de vista filosfico, o conceito ser estudado na sua realidade natural, quer dizer,
Do ponto de vista teolgico, partiremos da beleza na sua realidade natural, do jeito que
percebida no mundo sensvel, para procurar perceber alm dela, luz da f, a beleza e as
realidades divinas.
percorreremos brevemente a histria da Igreja, comeando pelo perodo dos padres da Igreja at o
saber em que consiste o trabalho. Este esclarecimento do tema ser o contedo da concluso.
13
1. A Beleza.
Vamos procurar entender o significado do conceito beleza partindo dos pontos de vista
filosfico e teolgico.
Apresentaremos a origem da beleza e os dois ngulos a partir dos quais ela pode ser vista.
Daremos duas das suas caractersticas importantes e tentaremos uma definio da mesma. Uma
pequena concluso marcar o fim da reflexo que ser iluminada por alguns autores como Tomas
Olhando para a beleza no mundo, nota-se que ela tem duas origens diferentes: natural e
artstica.
A beleza natural aquela que se encontra na natureza, nasce por si mesma sem a
interveno do ser humano. Ela pode ser contemplada nas coisas e nos seres vivos: os seres
e as estrelas.
pelos recursos da natureza, pode produzir a beleza nas coisas para que elas sejam mais
tecnologia sua disposio, lhe permite eliminar as imperfeies. uma beleza que pode ser
superior beleza natural. Hegel se refere aos dois belos falando do belo artstico e do belo
natural, e faz uma comparao entre os dois. Hegel afirma que o belo artstico superior ao belo
natural, por ser um produto do esprito que, superior natureza, comunica esta superioridade aos
14
seus produtos e, por conseguinte, arte; por isso o belo artstico superior ao belo natural. Tudo
A beleza do ponto de vista filosfico pode ser vista a partir de diferentes ngulos, entre
criam entre eles harmonia, simetria, ordem e por fim apresentam um tudo belo na forma. neste
sentido que no dicionrio de pensamento contemporneo, Garca Moriyn fala da beleza esttica
de um objeto afirmando:
A beleza esttica obedece aos padres de uma cultura e de uma poca que determinam as normas
e os critrios de apreciao os quais servem como ponto de referncia para uma realidade ser
A beleza tica caracterstica da vida de uma pessoa, com as suas diferentes virtudes
morais que a tornam uma pessoa boa, do bem, amorosa, misericordiosa, admirada e respeitada
1
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Esttica: a idia e o ideal; Esttica: o belo artstico ou o ideal; A fenomenologia
do esprito; Introduo histria da filosofia. 4 ed. So Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 3.
2
FLIX, Garca Moriyn. Beleza. In: VILLA, Mariano Moreno. Dicionrio de pensamento contemporneo.
So Paulo: Paulus, 2000, p.79.
15
pela sociedade. Quando Toms de Aquino fala da beleza espiritual, a partir do exerccio das
virtudes e da honestidade, ele se refere justamente beleza tica. Com efeito, ele afirma que a
beleza espiritual
natureza mesma, o qual, como dissemos, o mesmo que a virtude, que introduz
em todas as causas humanas a regra racional. Por onde, o honesto o mesmo que
a beleza espiritual3.
Como a beleza esttica, a beleza tica tambm agrada e desperta admirao, alegria,
contemplao; causa diferentes efeitos no ser humano. no mesmo sentido que Jacques Leclercq
afirma que uma bela ao, o espetculo de uma bela vida fazem a impresso muito semelhante
A beleza tem vrias caractersticas, mas destacaremos apenas duas que tm importncia
A beleza universal porque ela pode ser percebida por qualquer um, independentemente
linguagem falada sobre a beleza comum e universal. Kant fala desta universalidade da beleza
3
TOMAS DE AQUINO. Utrum honestum sit idem quod Decorum. In: Suma teolgica. Volume II, q.145, a.2.
Rio Grande do Sul: Livraria Sulina, 1980.
4
LECLERCQ, Jacques. Les grandes lignes de la philosofie morale. Louvain: Publications universitaires de Louvain;
Paris: Editions Beatrices-Nauwelaerts, 1964, p. 238.
16
afirmando que o belo o que representado sem conceito como objeto de complacncia
universal5.
O poder atraente caracterstica da beleza que prpria da sua natureza e que faz dela
algo que agrada. Pelo poder atraente, a beleza causa efeitos na pessoa e desperta diferentes
sentimentos. Ao perceber a beleza, a pessoa pode ficar excitada e alegre; pode admirar,
A beleza do ponto de vista filosfico pode ser definida como carter de um ser, de uma
coisa, de um fato, de uma virtude, de um gesto que, ao ser percebido pelos nossos sentidos e
julgado pela nossa razo, pode agradar, despertar na pessoa estmulo e vrios efeitos benficos.
chamam-se belas as coisas que, vistas agradam. E, por isso, o belo consiste na
A razo mais profunda do ser da beleza, sem a qual no ter mais sentido, a de agradar, de
e aquela julga. Podemos afirmar que percebe a beleza quem tem condio de sentir, de raciocinar,
5
KANT Immanuel. Crtica da faculdade do Juzo. Rio de Janeiro: Forenso universitria, 1993, p.56.
6
TOMAS DE AQUINO. Utrum honestum sit idem quod Decorum. In: Suma Teolgica .Volume VII, q.145, a.2.
Rio Grande do Sul: Livraria Sulina Editora, 1980.
17
de julgar e de discernir. Tudo mundo sabe disso e, no mesmo sentido, Kant afirma: Para apreciar
Para concluir, esse ponto de vista filosfico nos levou a ver a beleza na sua realidade
natural e artificial, isto , produto da natureza e do esforo do homem. Ela percebida pelos
sentidos, entendida, compreendida e julgada a partir da razo, do jeito que vista no mundo
sensvel. Ela se caracteriza pelo agrado e pela universalidade, e pode ser vista a partir de dois
Depois de falar da beleza do ponto de vista filosfico, vamos agora falar da mesma do
reflexos da beleza divina, tentaremos uma definio da beleza do ponto de vista teolgico e por
Deus a Beleza por excelncia e a Fonte de onde emana a beleza de toda criao. Depois
de criar o mundo, ele mesmo chegou a admirar a beleza da sua obra. o que est escrito no
Gnesis: Deus viu tudo que havia feito, e tudo era muito bom(Gn1, 13). importante notar que
na Bblia e, de modo particular no Antigo Testamento, a palavra grega kalos significa belo,
bom e verdadeiro.
7
A filosofia kantian In: HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Esttica: a idia e o ideal, Esttica: O Belo artstico ou
o ideal. 4 ed. So Paulo: Nova cultural, 1988, p. 55.
18
O livro da Sabedoria nos mostra e nos ajuda a perceber Deus como Fonte e Autor da
obras, mas no reconhecem o seu artfice [....] Se ficam fascinados com a beleza
acima delas o Senhor, pois foi o autor da beleza quem as criou. Se ficam
maravilhados com o poder e atividade dessas coisas, pensem ento quanto mais
No versculo 3: se ficam fascinados com a beleza dessas coisas, a ponto de tom-las como
deuses, reconheam o quanto est acima delas o Senhor, pois foi o autor da beleza quem as
criou, o autor do livro afirma que o Senhor Autor da beleza e ele tambm quem criou as
coisas admiradas. No versculo 5: Sim, porque a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por
comparao, contemplar o Autor delas, o autor do livro compara a beleza das criaturas beleza
do Autor delas. Pela beleza das criaturas, o ser humano pode imaginar como a beleza do
Criador. E podemos perceber tambm no mesmo versculo 5 que a beleza das criaturas rastro da
beleza de Deus.
mundo e se pergunta como muitos homens no chegam a reconhecer Deus, que o Criador e a
Fonte da beleza dessas coisas. Ver a beleza das coisas do mundo e no reconhecer o Deus que as
A beleza divina, cume de todas as belezas, torna-se presente no mundo sensvel e pode ser
percebida. Ela se faz reflexo em Jesus Cristo, no cosmo, no mundo, nas artes e objetos sacros.
Quem v Jesus Cristo, v o Pai que o enviou (Jo 13, 45). Ele a irradiao da glria
divina e nele Deus se expressou como ele ( Hb 1, 2-3). Expressando-se em Jesus Cristo como
ele , ele se expressou tambm com a sua beleza. Mas se Jesus terrestre a revelao da glria,
comprovado na transfigurao ( Mt 17,1-9). Com efeito, Jesus leva consigo Pedro, Tiago e Joo
a uma alta montanha onde se transfigurou diante deles: o rosto dele brilhou como o sol e as
roupas ficaram brancas como a luz. Esta viso foi a antecipao da glria, da beleza de Cristo
ressurreio. Jesus quis mostrar aos discpulos a beleza e a glria que deveria viver na
E como se v, Jesus teve que se aniquilar, perdendo a sua prpria beleza na cruz para se
irradiar da beleza divina. A cruz em si feia, mas se tornou beleza de Deus. uma beleza que s
pode ser percebida e entendida conhecendo o sentido profundo da cruz que o amor8.
No mesmo sentido, Bruno Forte fala da cruz onde Deus nega a sua prpria beleza para nascer
uma outra beleza que a esperana de um mundo melhor, de uma vida nova: o Reino de Deus.
Ele afirma:
8
Cf. NARCISSE, Gilbert. Le Christ en sa beaut. Tome I. Magny-les-Hameux (France): Socval Edition, 2005,
p.159.
20
somente das trevas da Sexta-Feira Santa, onde Deus sofre e morre por amor ao
Cristo reflexo perfeito da beleza de Deus. Por ele, o mundo decado pode recuperar a
imagem da beleza do paraso, projeto inicial de Deus para o mundo. Todo aquele que nele
acreditar, nele ter a vida eterna( Jo 3, 14-15) e ser reflexo da beleza divina.
O ser humano foi criado imagem e semelhana de Deus (Gn 1,26). No seu projeto como
Criador, Deus quis que o homem fosse reflexo e sacramento da sua beleza e da sua bondade.
por isso que consciente disso, o Catecismo da Igreja Catlica, que v no corpo humano a
manifestao da beleza divina, afirma: A pureza de corao a condio prvia da viso. Desde
Essa beleza, o homem pode chegar a perd-la por causa do pecado; mas, mesmo assim,
ele pode tambm recuper-la em Jesus Cristo porque nele temos a vida nova, a vida eterna e a
beleza divina. Jesus, convidando os seus discpulos a serem perfeitos como o Pai do cu
perfeito( Mt 5, 48), estava justamente convidando-os a deixar transparecer a beleza divina neles.
9
FORTE, Bruno. A porta da beleza: por uma esttica teolgica. Aparecida, So Paulo: Idias e letras, 2006, p.69.
10
C I C 2519.
21
A beleza divina transparece no ser humano quando ele vive conforme a vontade de Deus, pondo
A beleza da santidade a beleza que todo cristo deve sempre buscar. De fato, pelo nosso
batismo a santidade est em ns e cabe a cada cristo viv-la. Por isso Jesus concluiu o seu
discurso sobre o amor perfeito com as palavras: sejam perfeitos como perfeito o Pai de vocs
que est no cu(Mt5,48), assim tambm, convidou os seus discpulos Santidade que consiste
em amar tambm os inimigos. Paulo fala tambm aos irmos da comunidade de Corntio a se
purificarem de toda mancha do corpo e do esprito e levar a cabo a santificao no temor a Deus (
2 Cor7.1). Por sua vez, no seu documento Princeps Pastorum, Joo XXIII insiste sobre a
apenas necessrio lembrar que uma educao sacerdotal perfeita deve ser
antes de tudo dirigida aquisio das virtudes prprias do santo estado, sendo
demonstrar que luz e sal da terra (cf.Mt5,13-14), isto , da sua prpria nao e
ensinar aos fiis que a perfeio da vida crist uma meta qual podem e
devem tender com todo esforo e com perseverana todos os filhos de Deus,
seja qual for a sua origem, o seu ambiente, a sua cultura e a sua civilizao11.
11
JOO XXII. Princeps pastorum: Carta encclica sobre as misses. Petrpolis: Vozes, 1960, 10.
22
Concluindo, a beleza da santidade pode ser vista como caracterstica de uma vida marcada
pelo cumprimento da vontade de Deus e pela fidelidade total ao seu projeto, deixando-se levar
pelo Esprito Santo. pela santidade de vida que se v o reflexo da beleza de Deus na vida do ser
humano. Numa pessoa com uma vida de santidade, podem-se notar alguns sinais como o amor ao
com a justia. a vocao de todo cristo e cada um deve lutar para isso a fim de se tornar
Retomando o livro de sabedoria: Sim, porque a grandeza e a beleza das criaturas fazem,
por comparao, contemplar o Autor dela(Sab 13,5); vemos que a beleza das criaturas faz, por
analogia, contemplar o Criador. E o Catecismo da Igreja Catlica afirma: Deus fala ao homem
por intermdio da criao visvel. O cosmo material apresenta-se inteligncia do homem para
Catlica nos levam a acreditar que Deus, que invisvel, tem, porm, seus rastos no mundo que
criou e na beleza das criaturas. A beleza contemplada no cosmo reflexo da beleza divina e pela
Francisco de Assis exemplo de uma pessoa que notou a fala e os rastos de Deus na
criao. Com efeito, extasiado pela beleza e a grandeza da criao, ele louvava a Deus pela obra
da criao porque via nela a sua presena viva. O que o levou a viver a espiritualidade ecolgica.
12
CIC 1147.
23
Pela sua inteligncia e inspirado pela ao artstica do Criador, o ser humano pode
expressar a sua f, a beleza, as verdades e as realidades divinas na beleza das artes, dos objetos
linguagem. E como afirma o Catecismo da Igreja Catlica: a arte sacra verdadeira e bela
quando corresponde, por sua forma, sua vocao prpria: evocar e glorificar, na f e na
revelada em Cristo13. Assim, por estarem a servio do culto, ao divina e humana bela por
A beleza do ponto de vista teolgico pode ser definida como caracterstica de uma
realidade sensvel que, ao ser percebida pelos sentidos, julgada pela razo causa na pessoa efeitos
como admirao, alegria e que, luz da f, pode lev-la a perceber realidades divinas alm da
beleza admirada. E isso faz da beleza do ponto de vista teolgico, uma via do encontro entre o
divino e o humano, porque por ela, o homem pode chegar at Deus. como afirma Jos
percepo da beleza na sua realidade natural pelos sentidos e, em seguida passa a ser percebida
13
CIC 2502.
14
ALDAZABAL, Jos. Gestos e smbolos. So Paulo: Loyola, 2005, p.193.
24
Embora seja preciso ter f para a percepo da beleza divina, isso nem sempre acontece.
s vezes a percepo da beleza que precede a f. o caso dos sem Deus que, tocados pela
beleza da liturgia chegam a acreditar em Deus; encontram na beleza da liturgia, a Beleza divina.
Concluindo, a beleza, do ponto de vista teolgico, nos leva a perceber a beleza das
realidades sensveis luz da f. Com olhos da f, vemos a beleza divina na beleza esttica e tica.
A percepo da beleza divina passa pela beleza natural dos sinais sensveis e pelos sentidos luz
da f. Perceber algo supostamente dito beleza divina ou realidade divina a partir da beleza natural
pode ser tambm algo puramente psicolgico, que no tem nada a ver com a realidade ou beleza
divina.
Deus beleza por excelncia e fonte de onde emana toda beleza. Esta beleza divina se faz
reflexo em Jesus Cristo, no ser humano, no cosmo, nas artes e nos objetos sacros.
Tendo visto a beleza do ponto de vista filosfico e do ponto de vista teolgico, vejamos a
2.A liturgia
Ao longo da histria da humanidade, Deus sempre foi ao encontro do seu povo para salv-
lo; e podemos perceber a interveno divina em favor do povo eleito nas diferentes pocas.
Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por
meio dos profetas (Hb1,1). Os tempos antigos foram um perodo proftico, de anncio e
25
preparao para a plenitude dos tempos que se realizou em Jesus Cristo. Foi ele que o Pai enviou
para salvar o mundo; ele assumiu a misso entregando-se at morte na cruz por amor a Deus e
aos homens.
Sabendo que a sua misso tinha terminado, mas que o seu feito (anunciar o reino de Deus
pela pregao e pelo exemplo de vida) deveria continuar, Jesus convidou um grupo de
colaboradores: era a Igreja em gestao que nascera na cruz e se manifestara ao mundo no dia de
Pentecostes.
A Igreja recebeu de Jesus o mandato de atualizar o que ele fizera na ltima Ceia com os
seus discpulos por essas palavras: fazei isto em memria de mim. Foi um gesto que simboliza
a sua entrega. o que Paulo nos lembra com as seguintes palavras: todas as vezes que vocs
comem deste po e bebem deste clice, esto anunciando a morte do Senhor, at que ele venha(
mistrio pascal e receber graas divinas. A partir da, vive-se a liturgia como momento histrico
de salvao, momento da Igreja, momento do Esprito Santo que veio recordar o que Jesus disse
e ajudar a fazer o que Jesus fez. Esse momento histrico da salvao foi descrito pelo Conclio
Ecumnico Vaticano II que declarou: Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus
amadssima esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao eterno Pai. Com razo,
portanto, a liturgia considerada como exerccio da funo sacerdotal de Cristo. Ela simboliza
atravs de sinais sensveis e realiza de modo prprio a cada um a santificao dos homens; nele o
corpo mstico de Jesus Cristo, cabea e membros, presta a Deus o culto pblico integral15 .
15
Sacrosanctum Concilium. In: Documentos do Conclio Ecumnico Vaticano II. So Paulo: Paulus, 1997, 7.
26
Para uma melhor compreenso dessa descrio da liturgia, explicaremos os seus termos e
homens.
Toda ao litrgica de Cristo, porque ele que age e continua salvando os homens.
vtimas por participao; sendo Cristo a cabea deste Corpo Mstico que a Igreja. Ento, pela
Os sinais sensveis:
A ao litrgica se realiza e s pode ser realizada pelos sinais sensveis que, pela fora do
realizar s pelos sinais sensveis e aes simblicas faz dela toda, realidade simblica e
sacramental. Uma ao simblica um rito feito de gestos, sinais, palavras que uma linguagem
homem lhe falando pela sua palavra, concedendo-lhe salvao por diferentes ritos. Com tudo
isso, o homem vive o Mistrio Pascal, santificado, salvo e vive a comunho com Deus. E
tambm, o homem se dirige a Deus para louv-lo e agradecer-lhe de vrias maneiras: pelos hinos,
pelas preces e pelas oferendas. Ento, na liturgia, h dois movimentos que so sua razo de ser:
um descendente que vai de Deus para homem e o outro ascendente que vai do homem para Deus.
27
Tendo visto a liturgia conforme foi descrita pelo Conclio Vaticano II e depois da
entendemos e a descrevemos.
Podemos descrever a liturgia como ao sagrada de um povo reunido com Cristo, sua
cabea, guiado pelo Esprito Santo, inspirada pela palavra de Deus proclamada e com sinais
sensveis como meios para atualizar o mistrio pascal que paixo, morte, ressurreio e
glorificao de Jesus Cristo para a salvao e a santificao do mundo, e para a glria de Deus.
A liturgia fonte e cume da vida da Igreja; sem ela, a Igreja no teria vida. Por ela, Deus rene
seu povo, salva-o e faz dele uma s famlia. um momento privilegiado em que a famlia crist
se destaca como Igreja, como povo convocado por Deus, pronto para responder a este apelo.
Assim como Deus salva e liberta o seu povo por seu Filho Jesus, a assemblia reunida,
depois de ser fortalecida pelo banquete eucarstico se compromete, por sua vez, a dar testemunho
de vida, lutando pela justia, pela libertao do prximo, pela transformao do mundo para
celebrar, mas d liberdade e possibilidade de se criarem diversas formas e maneiras. Por isso, o
Conclio Vaticano II declarou que a Igreja no deseja impor na liturgia uma rgida uniformidade
28
para aquelas coisas que no dizem respeito f ou ao bem de toda a comunidade; mas procura
desenvolver as qualidades e dotes de esprito das raas e dos povos16. Isso faz da liturgia uma
realidade criativa.
Na prtica, vemos isso pela liberdade que uma Conferncia episcopal tem de traduzir o
missal romano para a lngua local; pela liberdade de escolher as oraes eucarsticas e as leituras,
de fazer preces espontneas e de inserir sinais no comuns em certas liturgias especiais; pela
liberdade que uma diocese ou uma parquia tem de fazer folhetos prprios que reflitam a sua
prpria realidade.
Uma tal liturgia s pode ser boa e bela para a assemblia porque a celebrao reflete uma
realidade, tem uma linguagem com qual os participantes se identificam e permite uma
participao ativa. E como afirma Gregrio Lutz, a criatividade um verdadeiro valor, se ela
Todavia, para que a criatividade seja benfica para a liturgia, preciso saber quais os
A palavra se fez homem e habitou entre ns (Jo1,14). Pelas palavras de Joo podemos
perceber que, ao nascer, o Filho de Deus se inseriu na histria dos homens; fez-se Judeu, assumiu
uma cultura, partilhando as condies humanas menos o pecado, para poder melhor revelar o Pai
que o enviou e fazer conhecer a sua vontade aos homens a quem ele foi enviado. Partindo da,
podemos entender o que a inculturao. Com efeito, assim como Jesus se inseriu na histria
humana, a comunicao do Evangelho tambm quer se inserir na histria dos povos e pessoas a
16
SC 37.
17
LUTZ, Gregrio. Criatividade na missa. In Revista de liturgia, n. 16, p.3-14, julho-agosto 1976, p.7.
29
que se destina, num dilogo respeitoso18 para que esse evangelho seja facilmente entendido e
assumido pelo povo da cultura evangelizada. Assim, por inculturao, entendemos como uma
ntima transformao dos valores culturais autnticos, graas sua integrao no cristianismo e
entre a cultura e o Evangelho cujo benefcio para ambos os lados. Neste intercmbio entre
cultura e Evangelho, este expressa um certo respeito por aquela porque valoriza os seus
Assim, a liturgia inculturada pode ser definida como a incorporao na liturgia romana de
elementos sociais ou religiosos das culturas locais (ritos, danas, gestos, msica..) mas dando a
eles um sentido cristo que est em harmonia com o sentido cultural20. o caso da liturgia
romana inculturada na Repblica Democrtica do Congo, conhecida como rito zairense. Entre
vrios elementos culturais incorporados na liturgia, h o culto aos antepassados. Com efeito, na
cultura bantu do Congo, no incio de uma assemblia, que rene pessoas para qualquer evento,
celebrao litrgica, h invocao dos santos que so agora os nossos antepassados na f; a eles
que devemos pedir para interceder por ns. O elemento foi apenas revestido de sentido cristo,
mas no perdeu a sua natureza de mediador, de auxiliador. neste sentido que podemos entender
a noo da inculturao.
18
CNBB. Diretrizes gerais da ao evangelizadora da Igreja no Brasil( 2003-2006). So Paulo: Paulinas, 2003, 14.
19
JOO PAULO II. Redentoris Missio: carta encclica sobre a validade permanente do mandato missionrio. So
Paulo: Paulinas, 1991, 52.
20
Cf. CNBB. Animao da vida litrgica no Brasil. So Paulo: Paulinas, 1989, 179.
30
estabelecidas, e cuja beleza dos sinais sensveis pode levar a assemblia a perceber uma outra
beleza que no mais sensvel, mas divina e por ela chegar tambm comunho com Deus. A
beleza da liturgia expresso excelsa da glria de Deus e, de certa forma, constitui o cu que
desce terra21.
A liturgia bela porque divina e resulta da Beleza por excelncia que Deus e sem o
qual ela no teria sentido. Com efeito, ao ser percebida, a Beleza admirada, contemplada,
adorada e leva ao louvor, celebrao. Da nasce a liturgia que j bela. Podemos afirmar que a
beleza faz parte da sua natureza. no mesmo sentido que o Papa Bento XVI, na exortao
litrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do prprio Deus e da sua revelao22.
busca por ela pode ser dispensada. Com efeito, Deus no precisa da beleza como meio para ir ao
encontro do homem na liturgia. Mas o homem, por causa das suas imperfeies e limitaes
precisa da beleza como estmulo, como meio. Vimos tambm que a beleza divina se reflete no ser
humano, no cosmo, na arte e nos objetos que so sinais que usamos na ao litrgica, que bela.
normal que deixemos transparecer nos sinais litrgicos as realidades divinas que representam e
a beleza divina que refletem. Tudo isso justifica a preocupao de embelezar por sinais sensveis
21
BENTO XVI. Sacramentum caritatis : Exortao apostlica ps-sinodal do Sumo Pontfice ao episcopado, ao
clero, s pessoas consagradas e aos fieis leigos sobre a eucaristia, fonte e pice da vida e da misso da Igreja. So
Paulo: Paulinas, 2007, 35.
22
Ib.
31
preocupar-se unicamente com a beleza dos sinais e dos ritos, sem olhar mais para a meta que
3. Manifestao.
desconhecida se revelar, se expressar, se tornar pblica e chegar a ser conhecida, percebida pelos
realidade divina e invisvel tornar-se visvel e percebida pelos nossos sentidos nos sinais
sensveis, realidades do mundo sensvel. , no mesmo sentido, que Joseph Lemari, falando da
epifania, termo muito comum na linguagem greco-romana no sculo IV, define-a como
diferentes exemplos como o do profeta Isaias que viu o Senhor sentado num trono com os
Serafins (Isaias 6, 1-13); de Elias que teve encontro com Jav no alto da montanha (1Rs19,1-15);
de Jos que foi avisado pelo anjo de Senhor que deveria salvar o Menino Jesus ameaado de
morte, de Saulo que encontrou Jesus no caminho para Damasco ( At 9,1-19).... Na Bblia, as
manifestaes divinas acontecem de diferentes maneiras: nos fenmenos naturais como vento,
terremoto, fogo (1Rs 19, 11-13), no sonho(Mt 2, 19-23), na viso (At 9,3-5)....
Nos evangelhos, e de modo especial no de Joo, Jesus, pela sua atuao durante a vida
terrestre (sinais operados, pregaes feitas....) apresentado como plena manifestao de Deus.
E ele mesmo o confirma: Quem me viu, viu o Pai(Jo 14,9). Podemos afirmar com Johan
23
LEMARIE, Joseph. La manifestation du Seigneur. Paris: les ditions du Cerf, 1957,p. 37.
32
Konings que o discurso de Joo sobre Jesus-Messias um discurso sobre Deus, manifestando-se
manifestaes, ele vai ao encontro do seu povo para ilumin-lo, gui-lo e transmitir a sua
vontade. Todavia, preciso discernimento para saber de fato o que manifestao de Deus e o
que no . O desequilbrio mental pode levar a pessoa a perceber coisas que podem ser chamadas
Enviando os seus discpulos para a misso, Cristo prometeu a sua presena permanente no
meio deles(cf. Mt 28, 15-20). uma presena que se manifesta na Igreja e, de modo particular,
na liturgia. Mas como ela se manifesta? De que maneira est presente? Estas so umas questes
que foram objeto de grandes debates sobre o tema ao longo da histria da Igreja.
A nossa tarefa, no presente item, apenas de definir a presena real de Cristo na liturgia.
Para termos uma idia mais ampla sobre o tema Presena real de Cristo na liturgia, ser
necessrio falar brevemente do assunto, conforme ele entendido na Bblia, na histria da Igreja
e no Conclio Vaticano II. No fim, diremos o que entendemos por presena real de Cristo na
liturgia.
24
KONINGS, Johan. A memria de Jesus e a manifestao do Pai no quarto evangelho. In: Perspectiva teolgica,
n. 51, Maio-agosto 1988, p.177-200, p. 199.
33
Atravs de vrios textos, a Bblia fala da presena real de Cristo na liturgia e os seus
Mt 18, 15-20
Se o teu irmo pecar, v e mostre o erro dele, mas em particular, s entre vocs
dois. Se ele der ouvidos, voc ter ganho o seu irmo. Se ele no lhe der
ouvidos, tome com voc mais uma ou dois pessoas, para que toda a questo seja
comunique Igreja. Se nem mesmo Igreja ele der ouvidos, seja tratado como
vocs ligarem na terra, ser ligado no cu, e tudo o que vocs desligarem na
terra ser desligado no cu. E lhes digo ainda mais: se dois de vocs na terra
estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhe ser
concedida por meu Pai que est no cu. Pois onde dois ou trs estiverem
Diante da diviso que um pecado pode causar numa comunidade, Jesus a convida a tomar
e o ofensor reconhecendo a sua culpa. O acordo dos membros da comunidade, mesmo que eles
sejam a dois, ser confirmado tambm por Deus. Essa reconciliao e acordo so sinais da
Esse texto encontra-se num contexto litrgico e fala de pessoas reunidas em nome de
reunida em seu nome; onde se ora, h perdo e reconciliao. Nesse sentido, a comunidade torna-
Mt 28, 18-20:
ordenei a vocs. Eis que eu estarei com vocs todos os dias at o fim do mundo.
Cristo glorioso que fala com autoridade, mandando os seus discpulos para a misso.
ele mesmo o mestre da misso; no os deixa sozinhos, mas promete estar presente no meio deles,
guiando-os e assistindo-os. Podemos afirmar com Juan Mateos que a nova fase de Jesus
promessa que visa sobretudo a misso. No ficaro sozinhos nela, Jesus os acompanhar em seu
trabalho( cf. At1,13). Assim se cumprir o contedo de seu nome, Emanuel Deus entre ns25.
O texto no fala de um contexto explicitamente litrgico, mas a certeza que se tem que
em seu nome e ele mesmo que os anima e os acompanha. E Cristo se manifesta quando os
Joo1,1-14.
A palavra estava voltada para Deus, e a palavra era Deus( Jo 1,1); e a palavra se fez
25
MATEOS, Juan; CAMACHO, Fernando. Evangelho de Mateus: Leitura comentada. So Paulo: Paulinas, 1993,
p.327.
26
CNBB. Diretrizes gerais da ao evangelizadora da Igreja no Brasil ( 2003-2006), 19.
35
Joo apresenta Jesus, Palavra de Deus feita carne. No princpio, a Palavra estava apenas
em Deus, mas por Jesus Cristo, Deus a fez perceber no meio dos homens. Jesus a palavra viva
do Pai, Palavra eterna encarnada. Assim sendo, Jesus est presente na palavra de Deus
proclamada e este modo de presena real de Cristo. Cada vez que ela lida ou proclamada na
noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o po e, depois de dar graas, o
partiu e disse:Isto o meu corpo que para vocs; faam isto em memria de
mim. Do mesmo modo, aps a Ceia, tomou tambm o clice, dizendo: Este
clice a Nova Aliana no meu sangue; todas as vezes que vocs beberem dele,
faam isso em memria de mim. Portanto, todas as vezes que vocs comem
deste po e bebem deste clice, esto anunciando a morte do Senhor at que ele
palavras que Jesus pronunciou na ltima Ceia. Na consagrao, o po e o vinho se tornam corpo
e sangue de Cristo, e Cristo est realmente presente neles porque isso que ele disse: Isto o
meu corpo que para vocs.... este clice a nova aliana no meu sangue. As espcies do po
Para confirmar que o que Jesus falou isso mesmo que ele queria: o po e o vinho
consagrados, ser corpo e sangue dele, o seu discurso sobre o po da vida em Jo 6,35-66 d mais
esclarecimentos. Ele disse: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e
palavras corretamente num sentido literal, do jeito que Jesus queria. Caso contrrio, ele mesmo
Jesus teria explicado para que entendessem melhor o que queria dizer. Dannemiller confirma a
mesma coisa dizendo: se Jesus absteve-se de corrigir os Judeus, foi porque no havia
absolutamente nenhuma necessidade ou nenhuma razo para agir assim. Repetimos, portanto, que
O discurso de Jesus sobre o po de vida em Joo 6 mais uma prova que mostra que a sua
inteno nas palavras que pronunciou na ltima Ceia de marcar a sua presena no po e vinho
consagrados, e a sua presena que acontecer cada vez que os discpulos fizerem o que ele
Os textos bblicos apresentados do uma idia sobre a presena real de Cristo na liturgia
conforme a Bblia. Essa presena a manifestao de Cristo aos discpulos e aos que acreditaram
nele, a forma como ele foi visto e percebido pelos seus conterrneos. Ela se fez de vrios modos:
pela palavra de Deus proclamada, pela comunidade reunida em seu nome, pelos seus discpulos
Lendo os testemunhos dos Padres da Igreja, possvel ter hoje uma idia sobre a f na
presena real de Cristo nos quatro primeiros sculos. Com efeito, os Padres da Igreja elaboraram
uma teologia sobre a Eucaristia onde se percebe a sua f na presena real de Cristo na liturgia.
27
DANNEMILLER, Lawrence. A profecia e a promessa da Presena Real de Cristo na Eucaristia. In: Revista da
cultura bblica. V.3, n.11 , p.120-126, 1959, p.4.
37
dessa poca.
No seu dilogo com Trifo, So Justino afirma que o po e o vinho, que so alimentos
da maneira como Jesus Cristo nosso Salvador, feito carne por fora do Verbo de
Deus, teve carne e sangue por nossa salvao, assim nos ensinou que, por
virtude da orao ao verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita
Por sua vez, Santo Agostinho, comentando as palavras de Jesus Quem come a minha
indubitvel que no come espiritualmente a sua carne, nem bebe o seu sangue,
No seu comentrio, Agostinho fala da presena de Cristo naqueles que comunga com o
seu corpo e seu sangue. E o comer e beber desta comida e bebida implica que a pessoa deve
permanecer em Cristo e com isso ela vai comer e beber espiritualmente a carne e o sangue de
Cristo.
28
Justino de Roma. Apologia I, 66 In: Justino de Roma I e II Apologias: dilogo com Trifo. So Paulo: Paulus,
1995.
29
AMADO, Augusto Rodrigues. Evangelho de so Joo comentado por Santo Agostinho. Vol. II. Coimbra, 1945,
18.
38
Embora tendo apresentado apenas dois testemunhos dos Padres da Igreja sobre a
Eucaristia, possvel ter uma idia sobre a f que eles tinham na presena real de Cristo na
liturgia, naquela poca. Eles tinham conscincia de que Cristo estava realmente presente na
liturgia, na eucaristia. Mas era um mistrio, uma questo de f. Lpez Martins mostra como se
com Cristo e a comunicao de seus dons. A presena do Senhor era uma verdade
sacramentais30.
posturas de dois monges: Radberto e Ratramno. O primeiro insistia mais na presena fisicista e o
identidade real entre o corpo eucarstico de Cristo e seu corpo histrico, sem dar importncia
que o corpo eucarstico de Cristo no pode ser idntico ao histrico e sua presena deve ser
30
LPEZ MARTIN, Julin. No esprito e na verdade: Introduo teolgica liturgia. V.1. Petrpolois: Vozes, 1996,
p.112.
31
ALDAZBAL, Jos. A eucaristia. Petrpolis: Vozes, 2002, p. 183.
32
Ib. p.183.
39
erradamente os escritos dos Padres da Igreja, que segundo eles, realidade e smbolo tm o mesmo
sentido e isso o levou a cair num simbolismo vazio e a negar a presena real de Cristo na
relao com a Eucaristia, ele as lia em seu sentido literal, mas j no de acordo
com o contedo que os termos tinham na era patrstica. No sculo XI, dizer
esto no altar, pelo mistrio da orao santa e pelas palavras de nosso Redentor,
verdadeiro corpo de Cristo, que nasceu da Virgem, que, oferecido pela salvao
do mundo, foi suspenso na cruz, que se encontra direita do Pai, assim como
verdadeiro sangue de Cristo que escorreu de seu lado. Ele no est somente de
33
Ib. p. 184.
40
sua verdadeira substncia, como esta breve exposio o contm, como eu li para
ensinarei contra esta f. Assim Deus me ajude e estes santos evangelhos de Deus
34
sobreviveu nos reformadores. Para termos uma idia, citamos apenas o exemplo de Calvino que
nega a presena real de Cristo na Eucaristia, partindo da sua teologia sobre a ascenso. Giraudo
fala desta negao dizendo que ele acentua em Cristo a sua humanidade que agora subiu glria
na ascenso e est direita do Pai, e, portanto, no pode estar ao mesmo tempo em outros
lugares35.
condenou reafirmando esta presena real de Cristo no po e no vinho aps a consagrao. Na sua
e substancialmente nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem, sob a aparncia
conceito substncia neste contexto. Neste contexto, substncia entendida como o que h de
essencial numa coisa, num ser. Rey-Mermet afirma a mesma coisa dizendo: Na teologia do
sculo XII, naquela do Conclio de Trento, como no francs do XIV ao XX sculos, `substncia
34
DS 700.
35
GIRAUDO, Cesare. Num s corpo: Tratado mistaggica sobre a eucaristia. So Paulo: Loyola, 2003, p.202.
36
Cf DS 1636.
41
significa o que h de essencial numa coisa ou numa idia, a realidade profunda de um ser, alm
das aparncias37. Assim, para os cristos, o que h de essencial nas espcies do po e vinho o
corpo e sangue de Cristo porque ele mesmo falou: isto o meu corpo e este o meu sangue.
encontra nos documentos conciliares Sacrosanctum concilium, Lmen Gentium e Ad Gentes. Para
termos uma idia sobre a presena real de Cristo no Vaticano II e na Igreja hoje, vamos
para realizar to grande obra, Cristo est sempre presente em sua Igreja, e
pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece pelo ministrio sacerdotal
eucarsticas. Ele est presente pela sua virtude nos sacramentos, de tal modo que
quando algum batiza, o prprio Cristo quem batiza. Est presente na sua
palavra, pois ele quem fala quando na Igreja se lem as Sagradas escrituras.
Est presente, por fim, quando a Igreja ora e salmodia, ele que prometeu: onde
37
REY-MERMET, Thodule. Croire: vivre sa foi dans les sacraments. 5 ed. Limonges: Droguet et Ardant, 1977, p.
197.
42
se acharem dois ou trs reunidos em meu nome, a estou no meio deles(Mt 18,
20)38.
Este texto apresenta os diferentes modos segundo os quais Cristo est presente durante a
Na sua carta encclica Mysterium Fidei, Paulo VI chama a ateno da Igreja sobre alguns
erros e heresias do passado acerca do mistrio eucarstico e aborda o tema da presena real de
Cristo na liturgia no mesmo sentido que o Conclio Vaticano II. Ele cita os diferentes modos de
Cristo est presente em sua Igreja quando ela ora porque ele que roga em ns, ele roga
por ns e rogado por ns como Deus. Ele prometeu tambm estar presente onde dois ou trs
Est presente em sua Igreja, quando ela pratica obra de caridade porque ele se identifica
s pessoas a quem feita a caridade e prpria Igreja que pratica a caridade. Est presente em
sua Igreja pela f dos fiis que caminham rumo vida eterna.
Est presente em sua Igreja quando ela prega a Palavra de Deus em nome de Jesus Cristo,
Verbo de Deus Encarnado. Est presente em sua Igreja enquanto ela dirige e governa o povo de
Deus, poder que recebe dele mesmo Cristo, seu Pastor e sua Cabea.
Est presente em sua Igreja enquanto, em nome de Cristo, ela celebra o sacrifcio da missa
Est presente na sua Igreja pelo sacramento da eucaristia que destacada como sendo a
38
SC 7
43
Este documento mostra, de uma maneira mais detalhada, os diferentes modos de presena
real de Cristo na sua Igreja. O Cristo apresentado um Cristo que se encontra na Igreja Orante,
comunho dos fiis, caridosa, pobre, anunciadora da Palavra de Deus, Pastor, Profeta, Sacerdote,
Rei e Igreja sacramental. Dos sacramentos administrados, a Eucaristia destacada porque Cristo
est presente ao vivo no po e vinho. Aps consagrao, acontece mudana de substncia pela
uma presena especial, que no se encontra nos outros modos, porque no tem mudana de
substncia.
Kasper e Danneels apresentam a posio da Igreja sobre a presena real de Cristo dando
o significado de isto o meu corpo e este o meu corpo. Kasper explica essas palavras dando-
vinho, mas corpo e sangue de Cristo, o que quer dizer, no sentido bblico : Jesus
vinho tornam-se assim sinais atuais plenos de realidade e smbolos de uma nova
39
Cf PAULUS VI. Mysterium Fidei. Carta encclica sobre o culto de sagrada eucaristia. So Paulo: Paulinas, 1965,
35-41.
40
KASPER,Walter. O sacramento da unidade: Eucaristia e Igreja. So Paulo: Loyola, 2006, p.46.
44
Por sua vez Danneels afirma que a Igreja compreende essa palavra com um realismo que
puramente mental. A memria de Jesus no mental, mas real, a tal ponto que torna
A posio da Igreja sobre a presena real de Cristo conforme nos apresenta o prprio
Concilio Vaticano II, os diferentes documentos e telogos mostra que a presena real de Cristo
uma presena real de Cristo na Igreja e na liturgia por diferentes modos, mas, nas espcies
percebido pelos sentidos luz da f. Assim, Cristo pode ser visto, ouvido, tocado e contemplado.
Esta presena tem como fundamento as Sagradas Escrituras, e sobretudo as palavras do prprio
Jesus. Ele est presente na liturgia de vrios modos: na Palavra de Deus proclamada, no sacerdote
que preside a celebrao, nos concelebrantes, nos leitores, nos cantores, na assemblia, nos
de uma mesma realidade, que Cristo. So tambm interligados entre eles como afirma Lpez
Martin dizendo: cada modo ou grau de presena do Senhor na liturgia mantm ligao com os
demais embora dentro de sua peculiaridade especfica42. Cada modo tem a sua misso ou
apresenta Cristo do seu jeito. Com efeito, o Cristo presente no presidente da celebrao se
41
DANNEELS, Godfried. A eucaristia, mistrio de nossa f, dom de Cristo sua Igreja. In: BROURD, Maurice.
Eucharistia: enciclopdia da eucaristia. So Paulo: Paulus, p.11-16, 2006, p.13.
42
LPEZ MARTIN, Julin. No esprito e na verdade: Introduo teolgica liturgia, v.1. Petrpolis: Vozes, 1996,
p. 129.
45
apresenta como sacerdote que oferece e se oferece; o Cristo presente na Palavra de Deus
proclamada ensina, instrui a assemblia. A respeito deste Cristo presente na Palavra de Deus
proclamada, o Conclio Vaticano II ensina: na liturgia Deus fala ao seu povo, e Cristo continua a
anunciar o Evangelho43. O Cristo presente na assemblia canta, louva e reza. E o Cristo presente
nas espcies consagradas se oferece como alimento da assemblia para a vida eterna. Este modo
de presena real de Cristo o cume e o mais importante de todos. Com efeito, alm de simbolizar
Cristo, o po e o vinho consagrados so o prprio corpo e sangue de Cristo. Fato acontecido pela
mudana de substncia.
Esses diferentes modos de presena de Cristo so todos reais porque Cristo est realmente
presente a. Mas uma presena que, mesmo passando por sinais sensveis no fsica, nem
natural. uma presena sacramental que para ser percebida precisa de sentidos de f. S quem
olha com olhos de f vai ver no presidente da assemblia litrgica, no po e vinho consagrados,
na assemblia litrgica Cristo presente e s quem escuta com ouvidos da f vai ouvir no leitor, na
Durante a celebrao litrgica, Cristo est realmente presente e a assemblia pode chegar
a perceber essa presena nos seus diferentes modos. Quanto a saber como se faz a manifestao
43
SC 33.
46
Concluso
A beleza do ponto de vista filosfico nos levou a perceber a beleza das coisas sensveis
vista no seu estado natural. uma beleza entendida do jeito que ela percebida no mundo
Do ponto de vista teolgico, vimos que Deus a Beleza por excelncia e a Fonte de toda
beleza. uma Beleza percebida alm da beleza que est nas realidades sensveis. O ponto de
vista teolgico nos levou a ver tambm na beleza uma via do encontro do divino com o humano.
Igreja por sinais sensveis para a celebrao do mistrio pascal, a comunho com Deus, a
salvao, a santificao e o louvor a Deus. Ela uma ao divinamente bela; mesmo assim, h
necessidade de usar os sinais litrgicos esttica e eticamente belos para facilitar o acesso s
realidades divinas. E a beleza de uma liturgia caracterstica de uma liturgia, cujo ambiente pode
despertar emoes espirituais na assemblia e oferecer condies ideais para a comunho com
Deus.
Por fim, falamos da Presena real de Cristo na liturgia, que Cristo presente na liturgia
nos sinais sensveis, podendo ser percebido pelos sentidos luz da f. uma presena
Captulo II
SACRAMENTAL
Introduo
Este captulo vai mostrar como os participantes da celebrao litrgica podem fazer a
No primeiro item que trata da beleza em suas duas diferentes formas, abordaremos a
No terceiro item, trataremos dos efeitos causados pela beleza da liturgia nos participantes
da celebrao, uma vez captada pelos diferentes sentidos do corpo humano. Enumeraremos
isso pode ser possvel, atravs dos sinais e dos sacramentos. Apresentaremos tambm a prova da
beleza dos sinais sensveis nas suas diferentes formas, isto , a beleza esttica e a beleza da
A primeira forma, a beleza esttica obedece s normas e aos padres que permitem que as
realidades sensveis sejam bem apresentadas na liturgia e criam um ambiente agradvel que
sensveis agradveis e admirveis pelo seu testemunho de vida, servindo de modelo para outras
pessoas. Se esta forma de beleza importante para todos os participantes da celebrao, ela
mais exigida do presidente da celebrao que celebra in Persona Christi, isto , no lugar de
Cristo. Por isso, ele deve ser o reflexo do que representa. Falando da responsabilidade do
Presidente da celebrao, Aldazbal disse: Ele o Sinal de Cristo, o sacramento que visibiliza
celebrados faz a sua beleza de santidade e, conseqentemente, faz dele um sinal que agrada, que
atrai; as pessoas vo acreditar mais porque o presidente vive o que celebra, d testemunho de
vida. ao mesmo testemunho de vida que Paulo VI convida a Igreja na misso evangelizadora,
44
ALDAZABAL, Jos. Gestos e smbolos. Op.cit. p.31.
50
infecunda45.
Na liturgia, a presena agradvel da beleza nas duas formas facilita aos participantes da
respeito a Deus. Com efeito, o homem religioso tem conscincia de que o culto no qualquer
ao, mas algo que envolve o homem e Deus, Ser Supremo a quem se deve louvor, respeito. Para
mostrar o respeito, o homem vai procurar cuidar dos ritos, fazer belas as aes simblicas pelas
quais Deus se manifesta e pelas quais ele tambm vai ao encontro do divino. No um critrio
suficiente para medir a f, porm um sinal exterior que pode mostrar f em Deus e considerao
pela liturgia. no mesmo sentido que, justificando a necessidade da beleza, Aldazbal afirma:
Na se trata de fazer ostentao de riqueza, mas mostrar, pela prpria maneira exterior de agir, o
De modo geral, o homem religioso est consciente da funo da beleza na liturgia, seja
para facilitar a comunho com Deus, seja em sinal de respeito e, s vezes, at de forma muito
Tendo visto a beleza na liturgia com as suas diferentes formas, vejamos agora o papel dos
sentidos na liturgia.
45
Evangalii Nuntiandi. In Documentos de Paulo VI. So Paulo: Paulus, 1997, 76.
46
ALDAZABAL, Jos. Gestos e smbolos. Op. cit. p.47.
51
os demais. Para tanto, precisa conhecer a sociedade onde vive e tudo que nela acontece. Para isso,
homem interior. neste sentido que Corazza afirma: A comunicao corporal a expresso que
surge do interior do ser humano e se manifesta pelos sentidos e membros. Coloca para fora,
exterioriza todo o entusiasmo e dinamismo interior47. Com efeito, pelo olhar e pela postura, o
ser humano pode transmitir uma mensagem a qual possvel ser percebida.
Na liturgia, o ser humano convidado a participar ativamente com todo o seu ser,
colocando ao servio litrgico todo seu corpo com os seus diferentes sentidos. Para entender a
A audio destacada na Bblia porque por ela captada a palavra de Deus. Ele mesmo,
Deus, nos convida a ouvir: Este meu filho amado. Escutem o que ele diz(Mc9,7). Deus
tambm escuta pelo ouvido: Eu amo o Senhor, porque ele ouve minha voz suplicante; ele inclina
seu ouvido para mim no dia em que o invoco(Sl 116,1-2). Na liturgia, ela permite assemblia
ouvir a Palavra de Deus proclamada e tudo que dito durante toda a celebrao. A importncia
da audio to grande que o ser humano precisa geralmente dela para aderir f crist. Na sua
carta aos Romanos, Paulo disse: A f depende, portanto, da pregao, e a pregao o anncio
da palavra de Jesus Cristo. Agora, eu pergunto: ser que eles ouviram? Ao contrrio, pela terra
inteira correu a voz deles e suas palavras foram at os confins do mundo (Rm 10,17-18).
47
CORAZZA, Helena. Comunicao e liturgia na comunidade e mdia. So Paulo: Paulinas, 2005, p.26.
52
Este texto nos mostra mais uma vez o papel da audio. Com efeito, para acreditar em
Deus, para se aderir f crist preciso ouvir o anncio, a pregao. Em Rm 10, 14, o mesmo
importncia se percebe pelas curas que Jesus realizou aos cegos. Saindo de Jeric com seus
discpulos, Jesus curou dois cegos sentados beira do caminho, tocando-lhes os olhos (Mt 20,
29-34); curou um cego de nascena, cuspindo no cho e com a saliva fazendo o barro com o qual
ungiu os olhos do cego (Jo 9, 1-7). Na liturgia, ela permite assemblia ver os sinais e tudo que
ocorre durante a celebrao. Ela tambm um meio que permite expressar sentimentos. Com
efeito, o olhar da assemblia para as espcies consagradas durante a elevao significa encanto,
respeito, adorao; o olhar entre participantes da celebrao durante o abrao da paz um olhar
seu rebanho.
O paladar permite pessoa saborear o alimento e conhecer o seu gosto. Na liturgia, ele
vinho consagrados, corpo e sangue de Cristo porque por eles, Cristo quis se dar para ns como
alimento para a vida eterna. Ele disse: Eu sou o po da vida. Quem vem a mim no ter fome, e
quem acredita em mim nunca mais ter sede (Jo 6, 35) ; Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no ltimo dia (Jo 6, 56).
53
O olfato permite sentir o cheiro. O incenso, as flores e o perfume so alguns dos sinais
cheirosos usados na liturgia os quais podem significar a presena de realidades divinas, teofania.
Por isso, Zacarias entrou no santurio, lugar sagrado e de manifestao divina para queimar o
O tato permite pessoa tocar. Muitos milagres feitos por Jesus, sobretudo as curas de
que aconteceu quando curou um leproso (Mt 8,1-4), quando ressuscitou um filho nico na
entrada da cidade de Naim( Lc7, 11-16), quando curou dois cegos( Mt 9, 27-31). Na liturgia, ele
tem tambm papis muito importantes. Aldazbal enumera os seus diferentes papis durante a
gesto da paz48.
Como podemos perceber, os sentidos tm cada um seu papel na liturgia, eles captam a
beleza dos sinais sensveis. A falta de alguns deles pode impedir uma boa participao litrgica
embora em alguns casos, como os dos deficientes auditivos tenha, de vez em quando, tradutores.
Vejamos o que a beleza causa nos participantes da celebrao litrgica, uma vez captada
pelos sentidos.
48
ALDAZBAL, Jos. Gestos simbolos. Op.cit. p.23.
54
A busca pela beleza algo comum que se percebe no dia a dia do ser humano, sobretudo
nos seus momentos especiais. Com efeito, o homem sai da rotina para viver ou fazer algo
diferente marcado muitas vezes pela beleza. Exemplo: o dia do aniversrio muitas vezes
celebrado com festa, leva a pessoa a sair da rotina, o lugar da festa enfeitado, o aniversariante se
veste bem, faz-se uma refeio especial... Em resumo, o necessrio ser feito para que tudo saia
bonito.
Esta busca da beleza no -toa, pois sabe-se que ela traz algo bom, faz saborear a vida.
Assim, podemos afirmar com Aldazbal que a experincia do esttico e do belo produz em ns
crist celebra o Mistrio Pascal, atualizando o sacrifcio feito uma vez por Cristo na cruz, para a
pela beleza tambm necessria porque ela pode facilitar a assemblia participante a alcanar o
objetivo da celebrao litrgica. Entre vrios efeitos que a beleza dos sinais pode causar nos
A admirao o fato de se sentir interessado e atrado por alguma coisa. A beleza dos
sinais litrgicos provoca a admirao dos participantes. Afinal, quem participa da celebrao
litrgica espera hinos bem cantados, uma igreja bem enfeitada e arrumada, os ministros com
49
Ib. p. 294.
55
santidade de vida e uma pregao bem feita. Tudo isso atrai os participantes que se deixam
envolver e tocar pela beleza a ponto de quererem construir a a tenda porque o lugar faz bom
de ficar. A admirao que os participantes tm pela beleza dos sinais lhes d um sentimento de
alegria.
fascinados pela beleza da liturgia encontram-se no estado de alegria, que um grande estmulo
para uma participao ativa. Quando os participantes esto alegres, a celebrao tambm fica
muito animada e podemos perceber todo mundo acompanhando a cerimnia e fazendo gestos no
momento certo porque h uma fora que impele todos para a ao litrgica. Esta fora a alegria.
como o nimo e a xtase. A alegria um sinal que pode mostrar que a liturgia bela. Quando os
participantes esto felizes e tm entusiasmo e nimo, significa que a liturgia bela. Ao contrrio,
uma celebrao fria e no participativa sempre sinal de feira, de que algo no est bem.
Os efeitos citados so causados pela participao litrgica externa que envolve realidades
sensveis como: a uno, o abrao, os cantos...Aqui, a liturgia vista do seu lado natural, isto , a
ao litrgica entendida e compreendida do jeito que , sem procurar ver alm dela um outro
significado. A beleza pode tambm causar todos esses efeitos em qualquer pblico ou assemblia,
que causam outros efeitos como a adorao e a contemplao na participao litrgica interna.
conscincia de que o rito do qual participa pelos cantos, pelos movimentos, pelas palavras e pelos
gestos evoca de fato o que celebrado, isto , o Mistrio Pascal. Aqui a liturgia vista do seu
lado sobrenatural onde, pela fora do Esprito Santo, as realidades sensveis so smbolos das
56
Valeriano Santos Costa fala das duas participaes no mesmo sentido dizendo que a
participao litrgica externa se faz por meio da ao ritual, que configura a dimenso exterior do
mistrio50.
A partir do que j vimos neste captulo, a beleza com as suas diferentes formas e suas
funes, os sentidos do corpo que a captam, os efeitos que ela causa nos participantes da
A meta neste trabalho mostrar a manifestao da presena real de Cristo pela beleza da
liturgia. Devemos saber como uma realidade invisvel pode ser percebida pelos sentidos e, para
4.1 A sacramentalidade
A vida humana est cheia de sinais, meios teis para a comunicao e a expresso de
qual, geralmente, nem se precisam acrescentar palavras para que as pessoas entendam o seu
significado. O sinal uma realidade sensvel, que aponta para uma outra realidade invisvel,
50
Cf. COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litrgica como momento histrico da salvao. So Paulo:
Paulinas, 2005, p.28.
57
espiritual, transcendente. Com efeito, flores colhidas na natureza, com as quais feito um buqu
e entregue a uma pessoa, podem ser uma declarao de amor. As flores permanecem flores, mas
O sinal smbolo quando ele contm em si, de uma certa forma, a realidade indicada ou
significada. o caso da gua que smbolo de purificao ou de vida porque ela purifica e limpa,
Criador e a potencialidade.
O relacionamento que existe entre Deus e a humanidade uma relao de amor. Deus
ama os seres humanos que ele mesmo criou e a quem tem mostrado este amor ao longo da
histria da salvao. Com efeito, por diferentes acontecimentos, como a libertao da escravido
no Egito( Ex 2, 23-14,31), o povo eleito tem notado a presena e a ao amorosa de Deus que
caminha com ele, guiando-o e salvando-o. Por sua vez, o homem tambm grato, procura
Entre Deus e a humanidade, nota-se uma comunicao que se faz por meio de sinais
sensveis. Um dos sinais de que Deus se serviu para comunicarse o seu Filho Jesus Cristo.
Tudo o que ele fez na vida terrena (anncio do Reino de Deus, o amor pregado e vivido) era
maneira de revelar Deus ao mundo. Ento, o amor de Deus velado, considerado como mistrio se
revela em Jesus Cristo por quem a salvao e a vida nova vieram ao mundo.
Cristo cumpriu a sua misso numa entrega total at a morte. Ressuscitou, subiu ao cu e
foi glorificado. Porm, mesmo sendo glorioso, no podendo ser visto, ele permanece presente no
58
mundo agindo pela Igreja por meio dos sinais sensveis. Ento, por estes e com o poder do
Esprito Santo, a humanidade pode contar com a presena permanente de Deus por seu Filho
Jesus Cristo.
criao, acontecimentos, gestos, aes ....) das quais Deus e o participante da celebrao se
servem para comunicarem-se. Nelas h a marca do Criador. Maldonado fala desta marca do
acham habitadas por ele. A criao participa de sua fora, de sua vida e de sua
beleza. Da por que cada realidade criada, com uma certa densidade, seja uma
marca[....]que nos remete a esse mistrio e no-lo faz presente. essa a funo
A marca do Criador pode ser entendida como a inteno de Deus sobre tudo que criou. Ele quer
que as suas criaturas contribuem para o bem da humanidade. Assim podemos dizer que uma
realidade sensvel tem a marca do Criador quando ela algo que serve para o bem ou a sua
Os sinais sensveis tm tambm a potencialidade que pode ser definida como a fora do
Criador que os habilita a simbolizar as realidades divinas. Gregrio Lutz se refere a esta fora nos
sinais litrgicos quando afirma: Nos smbolos litrgicos est presente uma fora transcendente,
51
MALDONADO, Luis. A celebrao litrgica: Fenomenologia e tecnologia. In: BOROBIO, Dionsio.
A celebrao na Igreja 1. Liturgia e sacramentologia fundamental. So Paulo: Loyola, p.161-461, 1990, p. 219.
59
uma fora divina que cria uma relao de smbolo com uma realidade no s espiritual, mas
divina e salvfica52.
marca do criador. Assim, o gesto de imposio das mos do sacerdote sobre a cabea de uma
Cristo; e tambm a beleza das realidades sensveis simboliza a beleza das realidades divinas na
liturgia. Cria-se uma relao entre a realidade sensvel percebida na liturgia externa e a realidade
divina.
O conceito experincia pode ser entendido como efeito, resultado do encontro do homem
com uma realidade determinada que o marca, o move, o transforma, fazendo dele algum
diferente do que era antes. no mesmo sentido que Leonardo Boff, falando do conceito, afirma:
ambos, na modificao que se opera tanto na conscincia como nos objetos que se estrutura a
52
LUTZ, Gregrio. O que liturgia? A natureza da liturgia luz da constituio sobre a Sagrada liturgia do Concilio
Vaticano II 2 ed. So Paulo: Paulinas, 2003, p.31.
60
experincia53. Ento, um fato vira experincia, na medida em que modifica a pessoa e torna-se
A vida de Jesus comoveu, tocou muitos de seus conterrneos que tiveram contato com ele
e, por causa disso, chegaram a acreditar em Deus e a mudar de vida. Eles, por Jesus, fizeram a
Cristo. Com efeito, quem participa da celebrao litrgica, vai, geralmente com a inteno de
A experincia da presena real de Cristo pela beleza da liturgia pode, de fato, acontecer e
no algo que acontece de um momento para outro, mas um processo, um caminho que vai
Deus que se faz dentro da liturgia passa tambm pelos sinais sensveis com a fora do Esprito
Santo. A ao litrgica gira mais em torno de quatro elementos importantes: Deus, a assemblia,
santidade do presidente e dos ministros da celebrao, a beleza da homilia e das leituras, a beleza
53
BOFF, Leonardo. Experimentar a Deus hoje. In :Frei Betto et al. Experimentar Deus hoje. Petrpolis: Vozes,
p.126-190, 1974, p.136
61
dos cantos e dos ritos, o jeito belo de o presidente da celebrao se posicionar e fazer gestos
tocam, encantam, comovem, mexem com o participante penetrando em todos os seus sentidos.
Nessa beleza e harmonia da ao litrgica, transparece uma outra beleza; o participante percebe a
beleza divina, o mistrio de Deus alm da beleza das realidades sensveis. Da, o participante
presena divina invadindo o seu corao para fazer dele sua morada, para question-lo, am-lo,
mud-lo, fortalec-lo e salv-lo. O participante percebe algo diferente que o marca, acontecendo
naquele momento. Ao sair dal, sente-se outro, sente a paz, sente-se amado, fortalecido,
perdoado, salvo e procura tomar uma resoluo a partir da experincia vivida: uma resoluo de
Zaqueu, ao ser visitado por Jesus, fez uma experincia indita porque se sentiu amado; ele, que
era excludo da comunidade religiosa por causa dos seus pecados, sentiu o perdo. O gesto de
Jesus foi um ato belo que comoveu Zaqueu. Este, percebeu uma outra realidade que a bondade,
experincia dos discpulos de Emas que, no caminho, viram um homem caminhando com eles
sem saber quem ele era. Porm, pela beleza da catequese ouvida o qual os tocou, os discpulos
foram elevados a um outro nvel: o de perceber que aquele homem era Cristo ressuscitado ( Mt
24, 13-35).
D para perceber que, na liturgia, a beleza da interao entre Deus, a assemblia, os sinais
Na liturgia, a beleza das realidades sensveis (os ritos, os gestos, as palavras, os cantos....)
eleva o participante a um outro nvel, o de contemplar e adorar a Beleza das belezas, que Deus.
54
BUYST, Ione. Pesquisa em liturgia: relato e anlise de uma experincia. So Paulo: Paulus, 1994, p.20.
62
A experincia da presena real de Cristo na liturgia algo que est ao alcance de qualquer
um que participa da celebrao litrgica. Alis, a nossa participao litrgica no serve de nada
se no nos leva a essa experincia. importante para isso trabalhar a beleza para ter uma liturgia
que desperte o interesse do participante, mas este precisa tambm estar predisposto, preparando-
sentido abordando a liturgia como experincia espiritual. Ele disse: Se as pessoas que participam
Cristo na liturgia algo marcante porque faz o encontro com Cristo. Ele se sente mais perto dele,
vive o Mistrio Pascal, se sentindo perdoado, salvo, fortalecido, amado, curado e chega ao
conhecimento de Cristo, deixando-se tomar por ele a ponto de dizer como Paulo: Eu vivo, mas
j no sou eu que vivo, pois Cristo que vive em mim ( Gal.2,20). Cristo se coloca no centro da
sua vida e vive em comunho com ele. no mesmo sentido que, ao falar de experincia, Yves
Congar afirma: Sob este termo entendemos a percepo da realidade de Deus vindo at ns,
ativo em ns e por ns, atraindonos a si numa comunho, numa amizade, isto , num ser um
para outro56. Congar quer mostrar que fazer a experincia de Deus implica uma mudana,
deixando-o entrar na nossa vida, agir em ns, tomar conta da nossa vida e viver em comunho
com ele.
55
KEATING, Thomas. O Mistrio de Cristo: a liturgia como experincia espiritual. So Paulo: Loyola, 2005, p.7.
56
CONGAR, Yves. Revelao e experincia do Esprito. So Paulo: Paulinas, 2005, p. 13.
63
A grande prova que vai mostrar que a pessoa fez a experincia de manifestao da
presena real de Cristo na liturgia o seu testemunho de vida e a paz que deve sentir dentro dela.
Com efeito, a experincia do que se trata um encontro do homem com a Beleza por excelncia.
Depois de contemplar esta Beleza, o participante convidado a viver o que viu e adorou pelo
testemunho de vida. Mas na prtica, nem sempre isso que acontece. Ao sair de uma celebrao
diferentes terrenos. A semente que caiu na terra frtil produz frutos enquanto aquela que caiu em
terra no frtil no produz ( cf Mc4,1-20). O encontro com Cristo na liturgia no produz frutos na
vida de todo mundo. A alguns acontece mudana de vida, enquanto aos outros no acontece nada.
64
Concluso.
Ao longo deste captulo procuramos provar ou mostrar a experincia da manifestao da
presena real de Cristo na beleza da liturgia. um processo que nos levou a apresentar diferentes
etapas como preparao para podermos compreender como acontece a manifestao. Para isso,
falamos da beleza com as suas duas diferentes formas e sua funo dentro da liturgia; falamos
dos sentidos do corpo humano e o seu papel durante a celebrao litrgica; apresentamos alguns
Na liturgia, a beleza tem duas diferentes formas: a beleza esttica e a beleza da santidade,
exigidas dos sinais litrgicos. Todavia, do presidente da celebrao exigido mais pela sua
funo e responsabilidade. Ele deve mostrar o exemplo que os demais devem seguir, sendo um
Durante a celebrao litrgica, o liturgo participa com o seu corpo todo, dom de Deus e
pe ao servio litrgico todos os sentidos, indispensveis para captar a beleza da liturgia. Esta,
por sua vez, produz efeitos, como a admirao e a alegria que podem desencadear outros, como o
nimo e a xtase. A alegria pode ser um sinal de beleza da liturgia. Quando os participantes da
celebrao esto alegres, participam com muito nimo, isso mostra que algo agrada assemblia.
real de Cristo.
entender como acontece essa experincia de manifestao da presena real de Cristo na liturgia.
Pascal pela fora divina, o Esprito Santo. Da, entendemos que pela sacramentalidade, o
Uma vez que o participante faz a experincia da manifestao da presena real de Cristo
na liturgia, ele deve normalmente ser marcado por ela e deve ter repercusso na sua vida
Captulo III
Introduo.
nossa dissertao, mostrando que a beleza uma via do encontro entre o divino e o humano. No
segundo captulo, mostramos que pela beleza, a assemblia pode perceber a manifestao da
Os dois captulos afirmam a grande importncia da beleza. Sendo assim, seria absurdo se
a Igreja ficasse indiferente diante dessa realidade sem promov-la para o servio litrgico e para a
vida crist.
beleza para uma liturgia que leve os participantes da celebrao comunho com Deus, ao
louvor, santificao e salvao alm de promover e valorizar a beleza para a vida crist em
geral, j que os seus efeitos ultrapassam as fronteiras litrgicas. Eis as pistas que propomos:
-incrementar a beleza como manifestao da presena real de Cristo numa liturgia autntica,
numa liturgia inculturada e criativa, num espao belo, nas imagens adequadas, nos mobilirios e
outros objetos.
No fim, faremos uma concluso que dar uma idia geral sobre as propostas feitas.
67
1.Formao
Neste item falaremos dos destinatrios da formao, da formao para a beleza, para a liturgia e
A formao que propomos, como primeira pista para promover a beleza da liturgia e de
sua influncia para a vida crist, ser destinada a todo cristo, mas de modo especial aos
diferentes grupos de pessoas que tm mais envolvimento com a liturgia e, portanto, mais
responsabilidade. Ser destinada mais aos bispos, sacerdotes e diconos; aos seminaristas; aos
Aos bispos, sacerdotes e diconos porque eles tm a responsabilidade de zelar pelo bom
andamento da liturgia, nas suas diferentes dioceses, parquias e comunidades; e porque, apesar
da formao teolgica que tiveram e que lhes capacita na questo litrgica, notase s vezes uma
sacramentos. O documento trata mais de uma chamada de ateno a respeito das normas que
devem ser observadas em relao celebrao litrgica. So normas ensinadas na formao para
sacerdotes, mas que, depois, nem sempre so observadas. Aos seminaristas porque so formados
para o sacerdcio, pessoas que tero a misso de celebrar os santos mistrios e de orientar a
Aos artistas e arquitetos porque trabalham com a arte e o espao litrgico, elementos
importantes na liturgia.
68
litrgica tem o papel de preparar as celebraes e de cuidar da vida litrgica em geral. Ela deve
normalmente ser estvel, formada de pessoas que tm dom na liturgia; enquanto a equipe de
litrgica. So equipes indispensveis numa parquia. E pelo papel delas, a formao necessria.
Aos alunos de catequese que esto na fase de iniciao vida crist. Para muitos pode ser
a nica oportunidade na vida deles de ter a catequese ou a formao da doutrina crist. Seria
muito bom tambm dar a catequese litrgica para que participem melhor das celebraes.
69
ecolgica.
Se queremos resultados satisfatrios na formao para a beleza, ela deve fazer parte
integrante da formao humana e crist. Isso significa que ela deve comear bem cedo e ser
mostrando-lhes que Deus belo e que ele quer belos o mundo e as coisas; que a vida que ele nos
deu bela e que precisamos cuidar bem dela. Da, de forma bem simples ensinar-lhes a maneira
certa de fazer ou de arrumar as coisas, de organizar a vida, de cuidar de si mesmo. Essa formao
no deve se limitar somente beleza esttica, mas envolver tambm a beleza tica, a beleza da
santidade, mostrando como uma pessoa pode se tornar bela, a partir dos seus bons atos, das suas
virtudes, como a bondade e que por isso o mundo e a vida podem ficar mais belos. Jesus, Madre
Teresa de Culcuta, Martin Lutherking e Joo Paulo II eram pessoas com beleza de santidade que
colaboraram para um mundo mais belo pelos seus atos. Elas podem ser apresentadas como
Mostrar, tambm, de modo geral que a feira esttica ou tica inadequada vida. Com
efeito, a feira esttica desanima, desgosta e a feira tica responsvel por muitos males que
Uma tal formao vai despertando no jovem o gosto pela beleza, e algo que poderia
crescer junto com ele, fazendo parte da sua personalidade. E isso pode ter uma grande influncia
70
na sua vida, levando o jovem a praticar o bem, a cultivar dentro dele valores morais. De modo
particular, poderia ter tambm repercusso na liturgia, valorizando a beleza dos sinais litrgicos,
e vendo nela a beleza divina. Tudo isso pode ajudar a juventude a fazer a experincia da
ministrios que exercem, tm mais envolvimentos com a liturgia. Esta deve fazer parte do
programa de formao permanente, no qual bom se falar da teologia da beleza, fazendo uma
reflexo teolgica para conhecer os seus diferentes reflexos no mundo sensvel, para conhecer
tambm a beleza como via do encontro do humano com o divino, para poder valoriz-la na
liturgia. Mostrar concretamente nos sinais, gestos e ritos a transparncia dessa beleza: a maneira
litrgico, de fazer o sermo e de cuidar da liturgia em geral. A formao do pastor para a beleza
muito importante porque depende em grande parte dela para tornar bela a liturgia na parquia.
O pastor deve mostrar o exemplo, orientar e para isso, precisa de formao adequada.
A celebrao do Mistrio Pascal uma das funes importantes do sacerdote que precisa
ser capacitado para cumpri-la, celebrando belamente a liturgia e, por ela, levar as pessoas
salvao.
formao para celebraes litrgicas belas, animadas e participativas. uma formao da qual o
proco deve participar para que juntos, achem o caminho para a beleza litrgica na parquia.
Para isso, as dioceses devem ter pessoas preparadas e deputadas para a animao litrgica.
Nessa formao, importante insistir sobre a beleza da ao litrgica, dos mistrios celebrados.
Na formao pela beleza, seja para os sacerdotes, para os futuros sacerdotes ou para as
equipes de liturgia, sempre bom insistir no fato de que todos so sinais litrgicos que devem
refletir o que representam. Deveriam ento deixar transparecer a beleza da santidade neles dando
o testemunho de vida, tendo uma vida coerente com a f professada e com o mistrio celebrado.
O contra testemunho dos ministros pode ser um motivo de afastamento dos fiis das parquias e
das celebraes.
No primeiro captulo, vimos que a beleza do cosmo reflexo da beleza divina e que o
homem pode chegar ao conhecimento de Deus, vendo os seus rastros na beleza das suas criaturas.
Se, de um lado v-se a tendncia a uma cultura de morte ecolgica, marcada por desmatamento e
poluio que causam um grande desastre ambiental, ameaando a beleza ecolgica; do outro lado
, v-se o esforo do homem de ser bom administrador dos bens da natureza valorizando-os. Neste
sentido, a Igreja tem sido um bom exemplo. Com efeito, valoriza as coisas da natureza usando-as
como sinais na liturgia, e o tema da Campanha de Fraternidade deste ano 2007: Fraternidade e
Entre vrios desses sinais, podemos enumerar alguns como gua, flores, leo, incenso.
Outros ainda servem na confeco de diversos sinais; o caso do trigo e da uva. Tudo isso nos
Esse valor litrgico da beleza ecolgica deve ser mais conhecido para ser melhor
explorado. Ser necessrio apresentar Deus como Criador, Beleza por excelncia e Fonte de toda
72
beleza; mostrar que a beleza que admiramos nas coisas criadas reflexo da beleza divina e que o
desrespeito a ela uma ofensa a Deus; incentivar a criatividade usando objetos da natureza como
a oferenda com frutos da terra ou da regio, o enfeite da igreja com flores ou plantas naturais.
acreditar mais que elas, em uso na liturgia, representam realidades divinas e isso facilita a
Vamos tratar da formao para a liturgia como realidade bela e criativa, apresentando
A liturgia uma realidade bela cuja beleza faz parte da sua natureza. A beleza dos sinais
sensveis serve de meio e via ao participante da celebrao para que ele alcance o objetivo da
liturgia. A beleza dos sinais sensveis importante na liturgia, mas no pode ser supervalorizada
Por isso, nesta busca da beleza da liturgia, necessrio formar as pessoas para saber da
finalidade do esforo de embelezar os sinais litrgicos. Se de um lado lutamos pela beleza dos
sinais litrgicos, do outro lado podemos cair no esteticismo, tendo uma liturgia exteriormente
bela mas sem participao litrgica interna, sem chegar tambm a perceber a manifestao da
diferentes maneiras de expressar a sua f em Deus na celebrao litrgica e contribui para uma
liturgia mais bela e participativa, ajudando a assemblia a alcanar o objetivo da sua celebrao.
quais os elementos litrgicos que podem ser sujeitos criatividade, e quais os riscos quando ela
Quando a criatividade bem feita, h grande probabilidade de ter uma liturgia bela, com
presena real de Cristo. Um grande cuidado deve ser tomado com aquela originada da
religiosidade popular cuja tendncia de criar liturgias paralelas, sem normas, e como ela tem
muita influncia, s vezes pode ser um grande veculo de erros. Acontece que, s vezes, h
pouca importncia. Por isso, muito importante a formao antes de qualquer tentativa de
criatividade.
Na formao para a beleza da arte sacra, falaremos da beleza da arte sacra em geral e em
particular. A proposta de uma formao ser sempre feita para deixar transparecer a beleza seja
No primeiro captulo vimos que a arte sacra reflexo da beleza divina, por isso, a teologia
e, de modo particular a liturgia valorizam na. Por ela, o homem religioso pode expressar
porque a imagem fala por si mesma, transmitindo mensagem; alm de seu papel esttico, que
Para se ter uma arte sacra, reflexo das realidades divinas que representam na liturgia,
necessrio ter artistas sacros bem preparados. Por isso, as faculdades de teologia, com a ajuda
dos bispos devem promover o curso de arte sacra que permita formar artistas sacros que atuam
nas dioceses e parquias, e devem proporcionar tambm aos sacerdotes e futuros sacerdotes as
noes da arte sacra. uma grande falha para algum que deve assumir o ministrio presbiteral,
celebrar os Santos Mistrios sem ter as noes de arte sacra. Ela deve fazer parte do programa de
formao permanente para sacerdotes. Esta formao foi uma preocupao do Conclio vaticano
II, que recomendou aos bispos a se interessarem pelos artistas, dando- lhes o esprito da arte sacra
de filosofia e de teologia58.
- A necessidade de dar o contedo, o centro das artes sacras. Segundo o papa Bento XVI,
elas encontram os seus contedos nas imagens da histria da salvao. Dentro encontramos as
57
Cf. SC 127
58
Ib. 129
75
imagens da Histria Bblica e as da histria dos santos como o desenrolar da histria de Jesus
Cristo59.
-A necessidade de mostrar que, no seu trabalho, o artista deve ser inspirado, iluminado
pelo Esprito Santo, por isso ele deve ser uma pessoa de orao.
-A necessidade de distinguir a arte sacra destinada para o culto e a arte religiosa destinada
para a devoo.
seu talento ao servio litrgico, os resultados so satisfatrios. As igrejas ficam mais bonitas,
Cristo, j que, como afirma Bento XVI, o segundo Conclio de Nicia e todos os Snodos
referentes a cones viam neles um testemunho da encarnao60. Pela beleza da arte sacra, o
participante da celebrao pode perceber o Deus invisvel que entra no espao visvel.
litrgico e dos objetos neste espao; alm da formao das pessoas para isso.
59
BENTO XVI. Introduo ao esprito da liturgia. 2ed. So Paulo: Paulinas, 2006, p.97.
60
Ib. p.90.
76
A celebrao litrgica acontece sempre num espao geogrfico bem definido. H a igreja,
que um edifcio sagrado destinado ao culto divino, ao qual os fiis tm o direito de ir para
praticar o culto divino, especialmente pblico61. Dentro rene-se o povo convocado por Deus e
A ao desse povo reunido acontece num espao chamado espao litrgico onde o
celebrante principal, com os ministros e a assemblia exercem a ao litrgica por seus diferentes
ministrios. um espao sagrado onde preciso muito respeito e tirar sandlias ( Ex 3, 5). Ele
constitudo de duas grandes partes que so o presbitrio e a nave da igreja. O presbitrio a parte
do arranjo precisam de uma iniciao, uma formao para saber o jeito certo de enfeitar, de
maneira bela e correta de se movimentar, de exercer o seu ministrio no espao litrgico, sem
atropelo.
Com boa formao, as pessoas sero preparadas para arrumar e enfeitar esteticamente o
durante a celebrao. Tudo isso contribui para a beleza da liturgia, que pode levar os participantes
61
Cn 1214.
77
Uma formao necessria aos sacerdotes e s equipes de liturgia para que saibam
ordenar os objetos no espao litrgico, colocando cada um no lugar adequado, ou no lugar que
lhe prprio e, para guardar nesse espao litrgico, somente objetos teis para a liturgia.
Uma igreja com coisas desarrumadas, ou com objetos no litrgicos, tira a beleza do
maneira e em qualquer lugar. Por isso, necessrio que os fiis, os sacerdotes, as equipes de
liturgia aprendam e saibam o que o espao litrgico com as suas diferentes partes, e onde e
Falamos da formao como pista para promover a beleza da liturgia e de sua influncia
na vida crist. uma formao dirigida a todo cristo, mas de modo especial aos bispos,
sacerdotes, diconos, seminaristas, equipes de liturgia, equipes de celebrao, aos artistas, aos
citados, pelo fato de a maioria ter mais envolvimento com a liturgia, tm necessidade de
formao porque aprendendo e se informando, eles sabero como contribuir para uma liturgia
bela, que leve a comunidade crist a fazer a experincia da manifestao da presena real de
Cristo.
78
uma formao que pode ser feita de vrias formas: por encontros ou cursos. Nela,
precisa-se falar da necessidade da formao litrgica, do valor litrgico da beleza, como via do
reflexo da beleza divina, e do uso das coisas da natureza na liturgia, da necessidade do cristo ser
um sinal litrgico esteticamente e eticamente belo, e do valor da arte sacra e do seu uso litrgico.
Neste item, que nossa segunda pista para promover a beleza da liturgia e de sua
influencia para a vida crist, mostraremos como desenvolver a beleza da liturgia para que os
participantes faam a experincia da manifestao da presena real de Cristo. Isso ser feito,
incrementando a beleza numa liturgia autntica, numa liturgia inculturada, num espao litrgico
A liturgia autntica universal aquela que descrita pelo Conclio Vaticano II. Propomos
pistas para desenvolver a sua beleza partindo de quatro sinais litrgicos escolhidos: as palavras,
os gestos, os cantos e o silncio dentro da celebrao. Vejamos como cada um desses sinais pode
2.1.1 As palavras
As palavras so sinais indispensveis na liturgia. Pelas Sagradas Escrituras, Deus nos fala;
ns tambm, pelas oraes e aclamaes falamos a ele, fazendo pedido e dando resposta sua
79
necessidade. A beleza da palavra consiste na sua origem, no seu contedo e na sua pronncia.
A palavra bela na sua origem e no seu contedo porque ela de origem divina e toca os
arrependimentos ou at converso; e tambm ela para o homem algo bom que sai de dentro
Se a palavra bela na sua origem, esta beleza deve ser percebida pela maneira esttica de
proclamar a palavra de Deus, de fazer as leituras, de cantar, de fazer preces.....Para isso, sempre
bom treinar os leitores. um trabalho que deve ser feito nos encontros semanais das equipes de
liturgia e de celebrao. Assim, fazendo as leituras de uma maneira clara, as palavras so ouvidas
2.1.2 Os gestos
de como o gesto feito, tem um significado. Com efeito, o bater com as mos no peito significa
normas estticas e litrgicas nos momentos exatos e pelas pessoas certas.Essa beleza pode ser
percebida numa celebrao litrgica, quando todos juntos se ajoelham, fazem o sinal da cruz,
levantam os braos para rezar o Pai nosso.Essa harmonia contribui para a beleza de toda a ao
litrgica.
80
A primeira pista para a beleza desses gestos o bom exemplo da equipe de celebrao,
constituda de pessoas que exercem diferentes ministrios durante a celebrao. Quando so bem
treinadas a fazer os gestos de uma maneira certa e bela, o restante da assemblia pode facilmente
seguir-lhes o exemplo.
fiis que chegam igreja trinta minutos antes da celebrao. Esse tempo pode ser bem
aproveitado para fazer um tipo de catequese litrgica, ensinando como fazer gestos ou como se
comportar na igreja. Quando isso feito, nem que seja durante dez minutos cada vez, os fiis
tero possibilidade de aprender como agir durante a celebrao litrgica e dela participar melhor.
unidas. Com efeito, so uns sinais pelo a assemblia celebrante expressa a f, os sentimentos
religiosos, as realidades e verdades divinas na sua beleza. Assim como o povo de Israel expressou
expressam tambm a gratido e a f em Deus pela libertao trazida por Jesus Cristo na msica,
nos cnticos durante as celebraes litrgicas. Diante de Deus, o ser humano se sente pequeno,
limitado para lhe expressar a sua f e gratido; por isso ele recorre msica e ao canto.
limites da palavra humana. Eis por que este dilogo com Deus, por sua prpria
representadas pelo som dos instrumentos. Pois este louvor de Deus no cabe
81
apenas ao homem. O culto divino o fato de unir sua voz voz de todos os
elementos do mundo62.
assemblia litrgica.
A msica litrgica deve ser bela como qualquer sinal litrgico. A sua beleza est na letra
inspirada nas Sagradas Escrituras ou nos dogmas da f, na sua correspondncia com as leis do
universo, rtmica e harmnica63. Ela est tambm na sua mensagem que os participantes
precisam ouvir. Por isso, o volume dos instrumentos no deve ser muito alto para que todos
conhece e pode acompanhar. Em muitas igrejas, h costume de fazer ensaio dos cantos
programados com toda a assemblia enquanto espera o incio da missa. Isso permite que todos
Levando em conta tudo isso, a msica se torna bela na liturgia e isso contribui para a
beleza de toda a liturgia. Quando a msica bela, os participantes da celebrao sentem-se mais
2.1.4 O Silncio
de silncio. Ele um sinal litrgico muito significativo, dependendo dos momentos ou das
62
RATZINGER, Joseph. Liturgia e msica da Igreja. In comunio. V.7, n.37, janeiro-fevereiro, p 77-92,1988, p.77
63
RATZINGER, Joseph. Introduo ao esprito da liturgia. Op.cit. p.112
82
ouvir aquele que contemplamos, de fazer uma viagem para dentro de ns mesmos para
reconhecer as nossas culpas....O papa Bento XVI, reconhecendo a importncia do silncio afirma:
O silncio faz parte da liturgia [....] O que ns esperamos da Liturgia precisamente que ela nos
d tal silncio positivo- o silncio que no apenas uma pausa, cheia de pensamentos e desejos,
mas sim o momento de contemplao, que nos oferea paz interior, que nos deixe respirar e que
Como qualquer outro sinal litrgico, o silncio deve tambm ser belo, isto , um sinal que
no -toa, mas positivo como falou Bento XVI, um sinal que permite aos participantes da
Cristo. Nesse sentido, o silncio, como sinal, pode contribuir beleza da liturgia. O presidente da
celebrao deve introduzir a assemblia a este momento para que saiba o seu porqu e possa
aproveit-lo melhor.
A instruo geral sobre o missal romano recomenda alguns momentos em que esse
silncio pode ser observado: antes de iniciar a liturgia da palavra, aps a primeira e a segunda
leitura, e tambm aps a homilia65. Sem desprez-los, achamos que esse silncio seria muito
No ato penitencial, o silncio pode acontecer logo depois que o presidente convida a
pensar e se lembrar dos pecados cometidos, antes de o canto de pedido de perdo seguir.
Aps a homilia, para refletir sobre a mensagem ouvida, deixando que ela penetre dentro
de ns.
64
Ib. p.154.
65
IGRM 56.
83
presena real de Cristo na liturgia, que culminou com o recebimento do corpo e sangue de Cristo.
Esses momentos podem ser acompanhados de um suave fundo musical. Mas tudo isso s
Numa liturgia autntica, os sinais citados, uma vez belos, influenciam muito tambm na
fcil, sobretudo num pas como o Brasil que multicultural. Ela delicada e precisa de muito
cuidado para mexer numa ao divina que tem uma longa tradio. Por isso, a tarefa fica na
povos e que, atualmente, constituem parte viva de sua cultura que podero enriquecer a
compreenso das aes litrgicas, sem trazer repercusses negativas para f e para a piedade dos
fiis66.
66
DOCUMENTOS PONTIFICIOS. A liturgia romana e a inculturao. Petrpolis: Vozes, 1994, 32.
84
Podemos desenvolver a beleza numa liturgia inculturada por meio de certos elementos da
cultura, em harmonia com o esprito evanglico. Um exemplo da nossa cultura brasileira pode
nos ajudar a entender que possvel desenvolver mais este trabalho de inculturao.
O povo brasileiro gosta da sua msica e podemos perceber a sua alegria ao cant-la. Nas
diferentes regies do pas, encontram-se msicas populares e profanas prprias daquelas regies.
Ouvindo os cantos litrgicos nas mesmas regies, podemos notar o ritmo e s vezes as melodias
nimo quando executa cantos que tm ritmo de cantos profanos e populares da prpria cultura.
Esse alegria e esse nimo ajudam a assemblia a bem rezar, contribuem para a beleza da liturgia e
Exemplo como este pista que mostra que, pela inculturao, podemos fazer bela a nossa
liturgia. O campo para um trabalho de inculturao vasto, porque temos muitos elementos, nos
diferentes grupos tnicos: ndios, negros e brancos os quais podemos explorar, sobretudo na
O espao litrgico, pela sua beleza pode levar os participantes da celebrao litrgica a
fazer a experincia da manifestao da presena real de Cristo. Mas algo que depende de certos
fatores como decorao, visibilidade, som e conforto nos assentos.Vejamos como esses fatores
A decorao contribui muito para a beleza da igreja pelas cores e flores, que do mais
vida e alegria, e tambm pelas esttuas e cones, que refletem a beleza das realidades divinas.
Todavia, ela deve ser discreta, para no se tornar objeto de distrao, ou no abafar o essencial
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que o Mistrio Pascal celebrado. um fato notado em muitas igrejas, que se tornaram
Uma boa visibilidade pode contribuir para a beleza do espao litrgico, porque os
participantes da celebrao precisam ver Cristo agindo nos seus diferentes modos de presena
real: no presidente da celebrao, nas espcies consagradas, na palavra de Deus proclamada, nos
adequadas e janelas com vidros que permitem a passagem da luz natural. Precisa-se tambm de
uma boa disposio dos mveis e dos demais objetos, para que no impeam os participantes de
perceberem a ao litrgica.
Um bom som faz tambm belo o espao litrgico porque os participantes precisam ouvir
Cristo falar nos seus diferentes modos de presena. Para isso, sempre necessrio arranjar os
microfones antes da celebrao para que todo mundo oua Jesus falando. Precisa tambm evitar,
na medida do possvel, barulho estranho de fora ou de dentro do local da celebrao, o que pode
distrair os fiis. Os barulhos de fora so praticamente inevitveis, sobretudo nas grandes cidades,
por causa dos carros e da msica, a no ser pela construo com material prprio que no deixa
passar barulho. Dentro do local da celebrao, necessrio ter um ministrio que cuide da
Esses fatores reunidos tornam o local agradvel, e as pessoas ali reunidas sentem-se bem
vontade, podendo bem participar da celebrao, no meio da beleza da decorao e das imagens,
da iluminao, do som e dos assentos que refletem a beleza das realidades celebradas e contribui
participantes a fazerem a experincia da manifestao da presena real de Cristo. Elas devem ser
belas, refletindo as realidades que representam. Sua beleza consiste na ligao com o Mistrio
Pascal. Ao serem vistas, que elas sejam um caminho que levem os fiis para a comunho com
Deus. A beleza consiste na observao das normas que fazem de qualquer realidade algo
esteticamente belo, na clareza da mensagem que trazem e nos efeitos que podem provocar nas
pessoas.
imagens e influencia a prpria beleza da liturgia que, pode por sua vez facilitar a experincia da
vivendo esse mistrio, de ver Jesus, ao vivo, saindo do tmulo. Embora isso seja uma impresso,
cria o clima envolvente de orao que pode suscitar na assemblia emoes espirituais
2.5 Pistas para incrementar a beleza dos mobilirios e dos outros objetos
Para o uso litrgico, h vrios mobilirios como altar, cadeira da presidncia, mesa da
palavra, credncia, pia batismal, bancos da assemblia, genuflexrio, alm de outros objetos
como galhetas, turbulos, clice, cibrio, patena, livros litrgicos. A beleza deles depende muito
cada objeto contribui para a beleza da prpria liturgia. Vejamos como podemos deixar
O altar a mesa da refeio de onde Jesus nos convida para o banquete eucarstico; onde
se atualiza a entrega total de Cristo para a salvao da humanidade; constitui o centro simblico
Ele deve, de preferncia, ser de uma peca nica, de pedra bem talhada, representando
Cristo, Pedra angular. No precisa ter grandes dimenses, porque dentro dele se acomodam
poucas coisas. O mistrio celebrado sendo ligado unicamente a Cristo, o altar precisa ser fixo e
estvel. Sobre ele, devem ser gravadas cinco cruzes representando as cinco chagas de Cristo.
Nada pode ser posto sobre ele: nem flores, nem vela, apenas uma tolha branca sobre a qual
colocam-se clice, cibrio, patena durante a consagrao67. Assim, ele aparece com toda a sua
responsabilidade e o papel de quem est nela sentado. Ela ser bonita e feita com material de boa
qualidade, posta num lugar de onde o celebrante principal possa ser facilmente visto pela
assemblia celebrante.
celebrao para ensinar pela palavra de Deus proclamada, pelas leituras e pela homilia.
importante que este lugar seja to digno e belo quanto ao altar, cadeira da presidncia.
As duas mesas e a cadeira da presidncia devem ser do mesmo material e seguir as normas
estticas e litrgicas.
comunidade de fiis reunidos com Cristo Cabea. Como ele disse: Onde dois ou trs estiverem
reunidos em meu nome, eu estou a no meio deles(Mt 18,20). A comunidade sinal de presena
67
Cf. PASTRO, Cludio. Arte sacra: o espao sagrado hoje. So Paulo: Loyola, 1993, p 245-255.
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de Cristo e por isso, o seu lugar deve tambm ser digno e belo. Ele deve refletir a realidade divina
Cristo que representa, levando em conta as normas litrgicas e estticas na sua estrutura.
Os mobilirios citados so apenas alguns exemplos, mas que mostram a importncia que
se deve dar beleza dos mobilirios para o uso litrgico. Ela contribui tambm para a beleza de
diferentes modos de presena real de Cristo. Destacar neles a beleza esttica necessrio, para
serem mais agradveis aos olhos da assemblia liturgica, para que reflitam realmente a beleza
divina que representam, e que, por eles, os participantes da celebrao cheguem a fazer a
Para outros objetos usados na liturgia, a beleza tambm recomendada. Por isso, a
instruo geral sobre o missal romano diz: Alm dos vasos e das vestes sagradas, para os quais
igreja sejam dignas e condizentes com o fim a que se destinam. Deve-se cuidar de modo especial
da palavra de Deus, gozando, por isso, de venerao peculiar, sejam na ao litrgica realmente
sinais e smbolos das realidades celestes, e, por conseguintes, verdadeiramente dignos, artsticos e
belos68. Nenhum objeto litrgico deve prescindir-se da beleza. Deve mostrar pela forma exterior
tarefa que envolve a liturgia na sua totalidade, com as suas diferentes realidades. por isso que
mostramos como desenvolver a beleza de alguns sinais ( palavras, gestos, cantos, silncio) que
68
IGMR 348-349.
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beleza da nossa liturgia. Mostramos como fazer belo o espao litrgico e, por fim, falamos
Quando a beleza reside em cada uma dessas realidades, a ao litrgica que aparece bela
no seu conjunto; cria-se o ambiente ideal para que a assemblia perceba e viva a experincia da
Concluso.
O caminho percorrido mostra-nos que a celebrao litrgica exige cuidados. uma arte e
deve obedecer s normas estticas que implicam uma maneira prpria de executar os ritos, de
objetos nesse espao. Ela uma arte que exige a beleza nos sinais litrgicos.
Apesar da presena freqente dos nossos fiis nas celebraes, muitos ignoram o valor do
belo e da arte na liturgia, e tambm a linguagem litrgica. Por isso, a formao de suma
importncia.
A Igreja precisa e deve incentivar a formao que leve os cristos a reconhecerem o valor
litrgico da beleza e da arte, a valorizar a espiritualidade ecolgica que ter um grande impacto
na liturgia. Os fiis vo acreditar facilmente nos sinais naturais como sinais de manifestao de
Cristo. A formao deve levar tambm os cristos a saberem como proceder para a criatividade e
a adaptao litrgica; a valorizar a beleza dos sinais sensveis na liturgia, beleza entendida nas
sacramentalidade da beleza dos sinais sensveis, porque esta beleza reflexo da beleza divina e,
por ela, os fiis podem chegar a contemplar a beleza divina e a perceber a manifestao da
Tendo ela, os encarregados desenvolvero uma liturgia mais participativa, mais animada e mais
91
bela nas diferentes parquias e comunidades; eles mesmos serviro de modelos, de exemplos
Os resultados que se podem esperar dessa formao e do seu incremento so que os fiis
CONCLUSO GERAL
Este trabalho que, desde o incio, teve como objetivo mostrar que, pela beleza da liturgia,
A beleza a caracterstica que faz da realidade algo atraente, admirvel. Pelos diferentes
efeitos que causa na pessoa, ela um estmulo, uma fora motor que motiva, excita, impele o
perceptor ao. A pessoa motivada ao, a se comprometer porque sabe que h algo bonito e
melhor que vem da sua ao. Nesse sentido, a beleza indispensvel vida humana porque lhe
d sabor.
Com a sua f, o homem conclui que Deus a Fonte de toda beleza. Ele observa como o
mundo e suas criaturas so belos e imagina como belo o Criador de tudo. S pode ser o autor
desta beleza, a Beleza das belezas que Deus. Pela beleza das coisas criadas, podemos tambm
chegar at Deus porque a sua beleza se manifesta, se reflete na beleza das coisas criadas.
manifestao da presena real de Cristo pelos sinais sensveis, pela fora do Esprito Santo e pela
Palavra de Deus. Nisso, a beleza uma via, um caminho que facilita esta experincia. O liturgo e
o liturgista chegam a descobrir que, pela beleza das coisas da criao, pela beleza dos gestos e os
demais sinais, a liturgia torna-se bela e pode permitir a quem participa dela a comunho com
Senhor, o seu perdo, a sua fora, o seu amor e finalmente sentir-se transformado e salvo um
processo que envolve diferentes etapas que vo mergulhando o homem nesse mistrio. O que
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atualizarem as realidades divinas. Isso s possvel pela f e pela fora divina, o Esprito Santo.
Da, d para compreender como a beleza das realidades sensveis na liturgia pode nos levar at
experiment-la comea pela percepo da beleza das realidades sensveis. O homem pelos seus
sentidos percebe e capta a beleza, o que provoca em seu ntimo a admirao, a alegria, o nimo.
At esse nvel, o homem faz uma participao litrgica exterior. A impresso que qualquer um
pode ter da ao litrgica nesta fase um conjunto de gestos e sinais. Pela sua f, porm, ele faz
uma participao litrgica interior que, pela sacramentalidade, percebe a beleza das realidades
divinas alm da beleza das realidades sensveis. Essa beleza divina no o deixa sem efeitos:
manifestao da presena real de Cristo, sente a presena, o amor, o perdo, a fora de Deus,
salvo. E a experincia deve deixar uma marca na vida da pessoa, levando-a converso e ao
louvor a Deus.
O homem, que fez a experincia do encontro com Deus, algum que, depois, vai
testemunhar o que viu, contemplou e adorou dando o testemunho de vida, vivendo conforme o
Depois de perceber o grande valor da beleza na liturgia e na vida crist, precisamos agir,
tomar atitudes que nos levem a valorizar a beleza e a aproveit-la melhor para a liturgia e para a
vida crist, tornando-a para ns um caminho do encontro com Deus. Propomos para isso, a
Todo cristo tem direito formao para entender melhor o significado do mistrio
celebrado, para compreender a linguagem litrgica, para conhecer o valor litrgico da beleza,
para participar melhor da celebrao litrgica e por ela, chegar salvao. Todavia, queremos
insistir mais nesta formao para as pessoas que tm mais envolvimento com a liturgia: os bispos,
formao deve lev-los ao, procurando desenvolver a beleza na liturgia, na sua totalidade.
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