Em Defesa de Israel PDF

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EM DEFESA DE ISRAEL

israel.indb 1 9/14/04 4:41:24 PM


A Editora Nobel tem como objetivo publicar obras com qualidade
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israel.indb 2 9/14/04 4:41:27 PM


Alan Dershowitz

EM DEFESA DE
ISRAEL
uma viso mais ampla dos conflitos no Oriente Mdio

traduo: Mario R. Krausz

israel.indb 3 9/14/04 4:41:29 PM


Publicado originalmente sob o ttulo The case for Israel com a autorizao de John Wiley
& Sons, Inc.
2003 Alan Dershowitz
2003 Peter Maass Excertos pginas 195-196 usadas com permisso: Good Kills, Peter
Maass. New York Times, 20/4/2003.
2002 Utilizao dos mapas autorizada por: Atlas Arab-Israel Conflict, 7_ edio, Sir Martin
Gilbert. Publicado por Routledge.

Direitos desta edio reservados AMPUB Comercial Ltda.


(Nobel um selo editorial da AMPUB Comercial Ltda.)
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Coordenador da edio: Maria Elisa Bifano


Traduo: Mario R. Krausz
Preparao de texto: Clemente Raphael Mahl
Reviso: Denise Katchuian Dognini, Ana Maria Herrera
Capa: Vivian Valli
Composio: Heloisa Moutinho Avilez
Impresso: PROL Editora Grfica Ltda.
Publicado em 2005

Dershowitz, Alan
Em defesa de Israel / Alan Dershowitz ; traduo Mario R. Krausz
So Paulo : Nobel, 2004

Ttulo original : The case for Israel


ISBN: 85-213-1287-3

1. Conflitos Israel rabes 2. Israel 3. Histria 4. Judeus


Colonizao Palestina Judeus Palestina Histria 5. Refugiados
Judeus Palestina Histria 6. Sionismo I. Ttulo.

04-3409 CDD-956.94

ndices para catlogo sistemtico:


1. Israel : Histria 956.94
2. Palestina : Histria 956.94

PROIBIDA A REPRODUO

Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida
por meios eletrnicos ou gravaes, sem permisso, por escrito, do editor. Os infratores sero
punidos pela Lei nk 9.610/98.

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

israel.indb 4 9/14/04 4:41:29 PM


Dedico respeitosamente este livro ao querido amigo
que tenho h aproximadamente 40 anos, professor
Aharon Barak, presidente da Suprema Corte de
Israel, cujas decises judiciais esclarecem a posio
de Israel e o cdigo da lei melhor do que qualquer
livro poderia faz-lo.

israel.indb 5 9/14/04 4:41:34 PM


israel.indb 6 9/14/04 4:41:35 PM
AGRADECIMENTOS

Trabalhei neste livro desde 1967, quando comecei a defender a


questo de Israel nos campi universitrios, na mdia e nos meus artigos.
Nesse perodo tive a assistncia freqentemente uma assistncia crtica
de um nmero demasiadamente grande de colegas, aos quais gostaria
de agradecer. Entre aqueles que merecem uma meno especial esto o
professor Irwin Cotler, atualmente membro do Parlamento canadense,
com quem trabalhei em tantas causas e projetos; os juzes Aharon Barak
e Yitzak Zamir, que tanto me ensinaram; o professor George Fletcher, que
me ensina pelo argumento e pelo desafio; o professor Amnon Rubinstein,
com cujos artigos quase sempre concordo; Israel Ringel, que gentilmente
corrige os meus enfoques errneos sobre Israel, e numerosos estudantes
que me mantm atualizado sobre assuntos correntes.
Ao escrever este livro aproveitei muito a assistncia em pesquisa
de Owen Alterman, Mara Zusman, Eric Citron, Holly Beth Billington,
Natalie Hershlag e Ayelet Weiss. Minha assistente, Jane Wagner; minha
agente, Helen Rees; minha editora, Hana Lane e minha assistente tempo-
rria, Robin Yeo, deram um suporte inestimvel.
Agradeo aos meus amigos Bernard Beck, Jeffrey Epstein, Steve
Kosslyn, Alan Rothfeld e Michael e Jackie Halbreich os comentrios per-
tinentes sobre o manuscrito.
Minha esposa, Carolyn, e minha filha, Ella, inspiraram-me, debate-
ram comigo e encorajaram-me. Meus filhos, Elon e Jamin, meu sobrinho
Adam, minhas sobrinhas Rana e Hannah, meu irmo Nathan e minha
cunhada Marilyn fizeram sugestes teis, as quais sinceramente agradeo.
Agradeo ao povo de Israel, que se sacrificou tanto em seus esforos
histricos na procura por paz, prosperidade e democracia diante de tanta
inimizade e violncia. Finalmente, agradeo aos construtores da paz, que
a defenderam, e aos que a procuram, de ambos os lados desse conflito,
especialmente queles que deram suas vidas para que outros pudessem
viver em paz e segurana.

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israel.indb 8 9/14/04 4:41:42 PM
SUMRIO

Introduo ............................................................................................... 11
1. Israel um Estado colonial e imperialista? .............................................. 26
2. Os judeus europeus deslocaram os palestinos? ........................................ 37
3. O movimento sionista foi uma trama para colonizar toda a Palestina? ... 47
4. A Declarao Balfour foi uma lei internacional obrigatria? .................. 51
5. Os judeus estavam relutantes em dividir a Palestina?.............................. 60
6. Os judeus sempre rejeitaram a soluo de dois Estados?.......................... 67
7. Os judeus tiraram partido do Holocausto? ............................................... 76
8. A diviso da Palestina pela ONU foi injusta para com os palestinos? ....... 88
9. Os judeus eram uma minoria no territrio que se tornou Israel? ............ 93
10. A vitimao dos palestinos por Israel foi a principal causa do
conflito rabe-israelense? ........................................................................ 97
11. A guerra da independncia de Israel foi uma agresso
expansionista? ....................................................................................... 102
12. Israel criou o problema dos refugiados rabes?...................................... 107
13. Israel desencadeou a Guerra dos Seis Dias? ........................................... 123
14. A ocupao por Israel foi injustificada? ................................................. 128
15. A guerra de Yom Kippur foi culpa de Israel? .......................................... 135

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16. Israel tem feito srios esforos pela paz?................................................. 141
17. Arafat tinha razo ao recusar a proposta de paz de Barak e Clinton? .... 156
18. Por que morreram mais palestinos do que israelenses? ......................... 163
19. Israel tortura palestinos? ....................................................................... 178
20. Israel tem cometido genocdio contra civis palestinos?.......................... 186
21. Israel um Estado racista? ..................................................................... 202
22. A ocupao israelense a causa de todos os problemas? ....................... 208
23. Israel contestou o Estado palestino? ...................................................... 214
24. A poltica de Israel de destruir casas um castigo coletivo?................... 219
25. O assassinato de lderes terroristas ilegal? ........................................... 228
26. A colonizao da margem ocidental e de Gaza um grave
empecilho para a paz? ............................................................................ 233
27. O terrorismo apenas parte de um ciclo de violncia? .......................... 237
28. Israel o principal violador mundial dos direitos humanos? ................. 241
29. Existe equivalncia moral entre terroristas palestinos e
respostas israelenses? ............................................................................ 251
30. As universidades deveriam abandonar Israel e boicotar os
intelectuais israelenses? ........................................................................ 261
31. Os crticos de Israel so anti-semitas? .................................................... 274
32. Por que tantos judeus e at mesmo israelenses apiam
os palestinos? ........................................................................................ 286
Concluso: Israel o judeu entre as naes........................................... 292

israel.indb 10 9/14/04 4:41:47 PM


Introduo

A nao judaica de Israel acusada pela justia internacional. As in-


criminaes incluem a de ser um Estado criminoso e violador dos
direitos humanos, uma imagem especular do nazismo e de ser a barreira
mais intransigente para a paz no Oriente Mdio. Pelo mundo todo, das
comisses da ONU aos campi das universidades, Israel discriminado com
condenaes, despojamentos, boicotes e demonizaes. Seus lderes so
ameaados de processos como criminosos de guerra. Seus amigos so
acusados de dupla lealdade e provincianismo.
Chegou a hora de uma defesa proativa de Israel ser apresentada na
corte da opinio pblica. Neste livro apresento tal defesa no de qual-
quer poltica ou ao israelense, mas do direito bsico de Israel existn-
cia. De proteger seus cidados do terrorismo e de defender suas fronteiras
de inimigos hostis. Mostro que Israel h muito tempo deseja aceitar a
existncia de dois Estados, propostos no mapa da estrada para a paz, e
que foi a liderana rabe que persistentemente se recusou a aceitar qual-
quer Estado judeu no importa quo pequeno nas regies palestinas
com maioria judaica. Tambm procuro apresentar um quadro realista de
Israel, com seus defeitos, como uma democracia multitnica florescente,
em muitos aspectos parecida com os Estados Unidos, que oferece a todos
os seus cidados judeus, muulmanos e cristos oportunidades e con-
dies de vida muito melhores do que as oferecidas por qualquer nao
rabe ou muulmana. Acima de tudo, afirmo que todos que escolhem
Israel como nico alvo de uma crtica, que no dirigida contra pases
com registros muito piores de violaes de direitos humanos, so eles pr-

israel.indb 11 9/14/04 4:41:53 PM


EM DEFESA DE ISRAEL

prios culpados de intolerncia internacional. Essa uma acusao sria


e eu a comprovo. Permitam-me esclarecer que eu no estou acusando
todos os crticos de Israel de anti-semitismo. Eu mesmo tenho criticado
polticas especficas e aes de Israel ao longo dos anos, como fizeram
quase todos os que apiam Israel, praticamente todo cidado israelense,
e muitos judeus americanos. Mas tambm critico outros pases, inclusive
o meu, bem como naes da Europa, sia e Oriente Mdio. Na medida em
que a crtica comparativa, contextual e justa, ela deve ser encorajada
e no inibida. Mas, quando a nao judaica a nica a ser criticada por
erros que so muito mais graves em outras naes, essa crtica atravessa
a linha entre o certo e o errado, e vai do aceitvel ao anti-semita.
Thomas Friedman, do New York Times, acertou quando disse que
criticar Israel no anti-semitismo, e afirmar isso mau. Mas condenar
Israel por infmia e sano internacional desproporcionalmente em re-
lao a qualquer outra parte no Oriente Mdio anti-semitismo e no
admiti-lo desonestidade.1 Uma boa definio usual de anti-semitismo
tomar uma caracterstica ou uma ao largamente difundida, se no
universal, e culpar apenas os judeus por ela. Foi isso que Hitler e Stalin
fizeram e foi o que o antigo presidente da Universidade de Harvard A.
Lawrence Lowell fez nos anos 1920 ao tentar limitar o nmero de judeus
a serem admitidos em Harvard porque os judeus trapaceiam. Quando
um aluno de destaque fez objeo a isso, argumentando que no-judeus
tambm trapaceiam, Lowell respondeu: Voc est mudando de assunto;
eu estou falando sobre judeus. Da mesma maneira, quando aqueles que
escolhem apenas a nao judaica para fazer crtica so questionados por
que no criticam tambm os inimigos de Israel, eles respondem: Voc
est mudando de assunto; estamos falando de Israel.
Este livro prova no apenas que o Estado de Israel inocente das
acusaes contra ele levantadas, mas que nenhuma nao na histria
que tenha enfrentado desafios semelhantes segue padres mais elevados
de direitos humanos, mais sensvel segurana de civis inocentes, es-
fora-se mais para seguir as leis ou tem estado mais disposta a assumir
riscos pela paz. Esta uma reivindicao audaz e eu a apio com fatos
e nmeros, alguns dos quais vo surpreender aqueles que recebem in-
formaes de fontes tendenciosas. Por exemplo, Israel a nica nao
no mundo cujo sistema judicirio refora ativamente a lei contra seus
militares, mesmo em tempo de guerra.2 o nico pas na histria mo-
derna a devolver territrio disputado, capturado numa guerra defensiva
e crucial para sua prpria defesa, em troca da paz. E Israel matou menos
civis inocentes, em comparao ao nmero dos seus civis mortos, do que
qualquer pas comprometido com uma guerra similar. Desafio os acusa-

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ALAN DERSHOWITZ

dores de Israel a apresentar dados em apoio sua afirmao de que, como


foi dito por um acusador, Israel o exemplo primeiro dos violadores de
direitos humanos no mundo.3 No sero capazes de faz-lo.
Quando o melhor acusado de ser o pior, o foco deve mudar para os
acusadores que, eu afirmo, podem ser culpados de intolerncia, hipocri-
sia ou, no mnimo, de uma ignorncia abismal. So eles que devem estar
no banco dos rus da histria, junto com outros que tambm escolheram
o povo judeu, sua religio, sua cultura ou a nao judaica para uma con-
denao sem igual e imerecida.
A premissa deste livro que uma soluo de dois Estados para as
reivindicaes palestinas e israelenses , ao mesmo tempo, inevitvel e
desejvel. A forma final precisa dessa soluo , naturalmente, objeto de
muita disputa como prova o fracasso das negociaes de Camp David e
Taba em 2000-2001 para alcanar uma soluo aceitvel por ambas as
partes e pelas disputas em torno do mapa da estrada de 2003. Existem,
na verdade, apenas quatro alternativas possveis para um Estado judeu e
um Estado palestino viverem em paz, lado a lado.
A primeira a soluo preferida dos palestinos, defendida pelo
Hamas e outros, que rejeitam o direito de Israel existir (geralmente de-
nominados de recusantes): especificamente exigem a destruio de Israel
e a eliminao total de um Estado judeu em qualquer parte do Oriente
Mdio. A segunda alternativa preferida por um pequeno nmero de
fundamentalistas judeus e expansionistas: a anexao permanente da
margem oeste e da faixa de Gaza e a expulso ou integrao dos milhes
de rabes que atualmente habitam essas reas. A terceira alternativa j
foi a preferida dos palestinos, mas eles no mais a aceitam: algum tipo de
federao entre a margem oeste e um outro Estado rabe (isto , a Sria ou
a Jordnia). A quarta, que sempre tem sido um pretexto para tornar Israel
um Estado palestino de fato, a criao de um nico Estado binacional.
Nenhuma dessas alternativas aceitvel atualmente. Uma resoluo que
reconhea o direito de autodeterminao por israelenses e palestinos o
nico caminho razovel para a paz, apesar de no estar livre de riscos.
A soluo de dois Estados tambm parece ser um dos poucos pontos
de consenso para o conflito rabe-palestino-israelense que, de outra for-
ma, um dilema insolvel. Qualquer considerao razovel de como re-
solver pacificamente essa disputa prolongada deve comear a partir desse
consenso. A maior parte do mundo atualmente advoga uma soluo de
dois Estados, incluindo a grande maioria dos norte-americanos. Uma
maioria expressiva de israelenses, h muito, j aceitou esse compromisso.
hoje a posio oficial da Autoridade Palestina e dos governos do Egito,
da Jordnia, da Arbia Saudita e do Marrocos. Apenas os extremistas en-

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EM DEFESA DE ISRAEL

tre os israelenses e palestinos, bem como os Estados recusantes da Sria,


do Ir e da Lbia, desejam que todo territrio do que atualmente Israel,
a margem oeste e a faixa de Gaza sejam permanentemente controlados
apenas por Israel ou apenas pelos palestinos.
Alguns opositores acadmicos de Israel, como Noam Chomsky e
Edward Said, tambm rejeitam a soluo de dois Estados. Chomsky afir-
mou: No creio que seja uma boa idia, apesar de reconhecer que pos-
sa ser a melhor das vrias idias ruins que andam por a. H muito,
Chomsky tem preferido, e aparentemente ainda prefere, um Estado ni-
co binacional baseado nos modelos do Lbano e da Iugoslvia.4 O fato
de ambos esses modelos terem falhado lamentavelmente e terminado
em sangrento fratricdio ignorado por Chomsky, para quem a teoria
mais importante do que a experincia. Said ope-se firmemente a qual-
quer soluo que deixe Israel existir como um Estado judeu: No creio
numa soluo de dois Estados. Creio numa soluo de um Estado.5 Como
Chomsky, ele a favor de um Estado secular binacional uma soluo
elitista e impraticvel que teria de ser imposta a ambos os lados, uma vez
que virtualmente nenhum israelense ou palestino iria aceit-la (exceto
como trama para destruir a outra nao).
Com certeza, os resultados de pesquisas em favor de uma soluo
de dois Estados variam com o tempo, especialmente de acordo com as
circunstncias. Em perodos de conflito violento, mais israelenses e mais
palestinos rejeitam o compromisso, mas a maioria das pessoas razo-
veis percebe que, apesar do que indivduos possam teoricamente esperar
ou mesmo reivindicar como direito divino, a realidade que nem israe-
lenses nem palestinos sairo ou aceitaro a soluo de um s Estado.
Conseqentemente, a inevitabilidade e correo de algum tipo de
compromisso de dois Estados um comeo til para qualquer discusso
que busque uma soluo construtiva desse conflito perigoso e doloroso.
Um ponto de partida concordante essencial porque cada parte
dessa longa disputa inicia a narrativa de sua reivindicao relativa ao
territrio em um ponto diferente da histria. Isso no deveria ser surpre-
endente, uma vez que naes e povos em conflito geralmente escolhem
como incio de sua narrativa nacional o ponto que melhor serve para
apoiar suas reivindicaes e queixas. Quando os colonizadores ameri-
canos procuraram obter a separao da Inglaterra, sua Declarao de
Independncia deu incio narrativa com uma histria de repetidas
injustias e usurpaes cometidas pelo rei de ento, tais como taxa-
o sem a nossa concordncia e alojamento de muitas tropas armadas
entre ns. Aqueles que se opuseram separao comearam sua narra-
tiva com os erros dos habitantes da colnia, como sua recusa em pagar

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ALAN DERSHOWITZ

determinados impostos e as provocaes aos soldados ingleses. De modo


similar, a Declarao de Independncia de Israel comea sua narrativa
com a terra de Israel sendo o local de nascimento do povo judeu, onde
eles pela primeira vez alcanaram a cidadania... e legaram ao mundo
o eterno Livro dos Livros. A genuna carta da Constituio palestina
comea com a ocupao sionista e rejeita qualquer reivindicao de
ligaes histricas ou espirituais entre os judeus e a Palestina, a diviso
da Palestina pela ONU e o estabelecimento do Estado de Israel.
Qualquer tentativa de desvendar as controvrsias histricas de dis-
putas complexas e, em ltima anlise, no comprovveis dos extremistas
israelenses e rabes somente conduz a argumentos no-realistas de ambos
os lados. Evidentemente necessrio ter alguma descrio da histria
antiga ou moderna dessa terra e de sua demografia em constante
mutao, nem que seja para comear a entender como pessoas razoveis
podem chegar a concluses to opostas a partir dos mesmos fatos bsicos.
A realidade, claro, de que h concordncia em apenas parte dos fatos.
Muito defendido e considerado a verdade absoluta por alguns, enquanto
outros crem exatamente no contrrio.
Essa disparidade to acentuada de percepo resulta de vrios fa-
tores. s vezes uma questo de interpretao de algum acontecimento.
Por exemplo, quando chegarmos ao captulo 12, veremos que ningum
nega o fato de que centenas de milhares de rabes que viviam onde hoje
Israel no vivem mais l. Apesar de haver disputa sobre o nmero preciso,
a maior discordncia se todos, a maioria, alguns ou nenhum desses re-
fugiados foi expulso de Israel. Se cada um partiu porque os lderes rabes
lhe deram a ordem ou se houve alguma combinao desses e de outros
fatores. Tambm h discordncia sobre quanto tempo esses refugiados
realmente viveram nos lugares depois abandonados, uma vez que a ONU
definiu um refugiado palestino ao contrrio de qualquer outro refugia-
do na histria como qualquer um que tenha vivido no territrio que se
tornou Israel durante apenas dois anos antes de partir.
Pelo fato de ser impossvel reconstruir a dinmica precisa e as con-
dies que acompanharam a guerra de 1948, deflagrada pelos Estados
rabes contra Israel, a nica concluso sobre a qual se pode ter absoluta
certeza que jamais algum saber ou convencer seus opositores se
a maioria dos rabes que abandonou Israel foi expulsa, abandonada ou
sofreu alguma combinao de fatores que a levou de um lugar para outro.
Recentemente, Israel abriu muitos dos seus arquivos histricos para os
estudiosos, e novas informaes conduziram a compreenses e interpre-
taes mais amplas, mas no terminaram e jamais terminaro com
as discordncias.6

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EM DEFESA DE ISRAEL

De modo similar, a maioria dos 850 mil judeus sefardis que viviam
nos pases rabes antes de 1948 foram para Israel, porque foram forados
a sair, abandonados ou experimentaram algum tipo de temor, tiveram al-
guma oportunidade ou foram em busca de um ideal religioso. Novamente,
o movimento dinmico e preciso da histria jamais ser conhecido, espe-
cialmente porque os pases rabes dos quais saram no mantm registros
e arquivos histricos ou recusam-se a fornec-los.
Cada lado faz jus narrativa que lhe conveniente, embora re-
conhea que outros possam interpretar os fatos de modo algo diferente.
Algumas vezes a disputa mais sobre a definio de termos do que sobre a
interpretao dos fatos. Por exemplo, os rabes freqentemente argumen-
tam que Israel recebeu 54% do territrio da Palestina apesar de apenas
35% dos residentes serem judeus.7 Os israelenses, por outro lado, argu-
mentam que os judeus eram uma clara maioria nas regies da terra aloca-
da a Israel quando a ONU fez a partio do territrio em disputa. Como se
v, as definies precisas podem algumas vezes estreitar as disparidades.
Um outro ponto de partida deve incluir algum tipo de lei de caduci-
dade para ressentimentos antigos. Assim como a questo a favor de Israel
no pode mais basear-se exclusivamente sobre a expulso dos judeus da
terra de Israel no primeiro sculo, tambm a questo dos rabes no pode
se basear com segurana em acontecimentos que supostamente ocorre-
ram h mais de um sculo. Uma razo para uma lei de caducidade o
reconhecimento de que, medida que o tempo passa, se torna cada vez
mais difcil reconstruir o passado com algum grau de preciso e as me-
mrias polticas endurecem e substituem os fatos. Como j foi dito, h
fatos e h fatos verdadeiros.
Com relao aos acontecimentos que precederam a primeira
Aliyah em 1882 (a imigrao inicial de refugiados judeus europeus para
a Palestina), existem mais memrias polticas e religiosas do que fatos
reais. Sabemos que sempre houve uma presena judaica em Israel, princi-
palmente nas cidades santas de Jerusalm, Hebron e Safed, e que sempre
houve uma pluralidade ou maioria em Jerusalm por sculos. Sabemos
que judeus europeus comearam a se mudar para onde hoje Israel em
nmeros significativos durante a dcada de 1880 s pouco depois da
poca em que australianos descendentes de ingleses comearam a deslo-
car os aborgines australianos, e americanos descendentes de europeus
comearam a se mudar para alguns territrios ocidentais, originalmente
habitados por americanos nativos.
Os judeus da primeira Aliyah no deslocaram os residentes locais
por conquista ou por intimidao, como fizeram os americanos e aus-
tralianos. Legal e abertamente compraram terras boa parte das quais

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israel.indb 16 9/14/04 4:42:36 PM


ALAN DERSHOWITZ

considerada no-cultivvel de proprietrios ausentes. Ningum que


aceite a Austrlia como sendo legitimamente uma nao crist de ln-
gua inglesa, ou a Amrica ocidental como parte dos Estados Unidos, pode
questionar a legitimidade da presena judaica onde hoje Israel, de 1880
at o presente. Mesmo antes da diviso feita pela ONU, em 1947, tratados
e leis internacionais reconheceram que a comunidade judaica existia na
Palestina como questo de direito, e qualquer discusso racional do
conflito deve ter como premissa que o conflito fundamental de di-
reito com direito. Tais conflitos so freqentemente os mais difceis de
resolver, j que cada lado deve ser persuadido a comprometer-se com o
que acredita ser uma absoluta questo de direito. A tarefa torna-se ainda
mais desalentadora quando h alguns de cada lado que vem a sua rei-
vindicao com base num mandato divino.
Inicio a questo a favor de Israel por uma breve reviso da hist-
ria do conflito entre rabes, muulmanos e judeus e depois entre rabes,
palestinos, muulmanos e israelenses, com nfase na recusa dos lderes
palestinos em aceitar uma soluo de dois Estados (ou duas ptrias) em
1917, 1937, 1948 e 2000. Focalizo os esforos pragmticos de Israel
para viver em paz dentro de fronteiras seguras, apesar dos repetidos es-
foros dos lderes rabes para destruir o Estado judeu. Saliento os erros
de Israel, mas argumento que foram geralmente cometidos num esforo
bem-intencionado (apesar de algumas vezes mal orientado) de defender a
sua populao civil. Finalmente, argumento que Israel procurou cumprir
a lei basicamente em todas as suas atividades.
Apesar da minha forte crena de que deve haver uma lei de cadu-
cidade para ressentimentos, levantar a causa a favor de Israel requer uma
breve viagem ao passado relativamente recente. Isso necessrio porque
a causa contra Israel, nos dias atuais sendo levantada em campi universi-
trios, na mdia e no mundo todo, baseia-se em distores propositais dos
registros histricos, a comear com a chegada dos primeiros europeus
Palestina, no final do sculo XIX, e continuando com a diviso feita pela
ONU, o estabelecimento do Estado judeu, as guerras entre Estados rabes
e Israel, culminando no atual terrorismo e nas reaes diante dele. Os
registros histricos devem ser bem estabelecidos para evitar a advertncia
do filsofo Santayana de que aqueles que no lembram o passado esto
condenados a repeti-lo.
Cada captulo deste livro comea com a acusao apresentada con-
tra Israel, citando fontes especficas. Respondo acusao com fatos reais
embasados em provas aceitveis. Ao apresentar os fatos geralmente no
me baseio em fontes pr-Israel, mas principalmente em fontes objetivas e,
algumas vezes, para enfatizar algum ponto, em fontes anti-Israel.

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israel.indb 17 9/14/04 4:42:45 PM


EM DEFESA DE ISRAEL

Provo, sem sombra de dvida, que as aes de Israel tm sido jul-


gadas por um duplo padro pernicioso: que mesmo quando Israel foi o
melhor entre os melhores do mundo, tem sido muitas vezes acusado de
ser o pior entre os piores. Tambm provo que esse duplo padro no tem
sido apenas injusto com o Estado judeu, mas tem prejudicado o cdigo da
lei, ferido a credibilidade de organizaes internacionais como a ONU e
encorajado terroristas palestinos a cometer atos de violncia para provo-
car reaes exageradas de Israel e assegurar a condenao unilateral de
Israel pela comunidade internacional.
Na concluso do livro, argumento que impossvel entender o con-
flito no Oriente Mdio sem aceitar a realidade de que, desde o incio, a
estratgia da liderana rabe tem sido a eliminao da existncia de qual-
quer Estado judeu e mesmo de uma substancial populao judaica onde
hoje se situa Israel. Mesmo o professor Edward Said, o mais destacado
defensor acadmico dos palestinos, reconhece que o nacionalismo pa-
lestino foi integralmente baseado na expulso dos israelenses [querendo
dizer judeus]8. Esse um fato simples, no sujeito a um questionamento
razovel. As provas verbais e escritas vindas de lderes rabes e palestinos
so esmagadoras. Vrias tticas tm sido usadas para esse fim, inclusive a
mentirosa reescrita da histria da imigrao de refugiados judeus para a
Palestina e a histria demogrfica dos rabes na regio. Outras tticas tm
includo o ataque a civis judeus vulnerveis a partir da dcada de 1920,
o suporte palestino a Hitler e ao genocdio nazista nos anos 1930 e 1940
e a oposio violenta soluo de dois Estados proposta pela Comisso
Peel, em 1937, e depois pela ONU, em 1948. Ainda uma outra ttica foi a
criao e posterior exacerbao e explorao da crise dos refugiados.
Para alguns, a simples idia de um Estado palestino ao lado de um
Estado judeu tem sido uma ttica em si um primeiro passo para a
eliminao de Israel. Entre 1880 e 1967, na verdade, nenhum porta-voz
rabe ou palestino falou a favor de um Estado palestino. Em vez disso, que-
riam que a rea chamada pelos romanos de Palestina fosse incorporada
Sria ou Jordnia. Como Auni Bey Abdul-Hati, um proeminente lder
palestino, disse Comisso Peel em 1937, no existe tal pas... Palestina
um termo que os sionistas inventaram... nosso pas foi, durante sculos,
parte da Sria. Portanto, os palestinos rejeitaram a ptria independente
proposta pela Comisso Peel porque tambm traria consigo uma peque-
na ptria judaica. O objetivo sempre permaneceu o mesmo: eliminar o
Estado judeu e transferir a maioria dos judeus para fora da rea.
Os realistas rabes agora reconhecem que esse objetivo inatingvel
pelo menos em um futuro previsvel. A esperana que o pragmatismo
predomine sobre o fundamentalismo e que o povo palestino e seus lderes fi-

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israel.indb 18 9/14/04 4:42:54 PM


ALAN DERSHOWITZ

nalmente cheguem a compreender que a causa a favor de um Estado pales-


tino fortalecida pela aceitao de um Estado judeu. Quando os palestinos
desejarem seu prprio Estado mais do que desejam a destruio do Estado
judeu, a maioria dos israelenses receber pacificamente o Estado palestino
como bom vizinho. O acordo que dever seguir o mapa da estrada e os
apertos de mo, bem como promessas trocadas em Acaba, em 4 de junho
de 2003, representam alguma esperana de que a soluo de dois Estados
h tempos aceita por Israel se torne finalmente uma realidade.
Acolho a discusso vigorosa sobre a questo a favor de Israel que
defendo neste livro. De fato, espero gerar um debate honesto e contextual
sobre um assunto que se tem polarizado por argumentos extremistas.
Certamente haver discordncias sobre as concluses a que chego e as
inferncias que fao dos fatos histricos. Mas no pode haver discordn-
cia razovel sobre os fatos bsicos: os judeus europeus que se juntaram
aos seus primos sefardis onde hoje Israel, no final do sculo XIX, tinham
um direito absoluto de procurar refgio na terra de seus ancestrais; esta-
beleceram com o suor do rosto uma ptria judaica em partes da Palestina
que justamente compraram de proprietrios ausentes; deslocaram bem
poucos fels (rabes que trabalhavam a terra) locais; aceitaram propos-
tas baseadas na lei internacional para uma ptria judaica repartida em
reas com maioria judaica; e, pelo menos at recentemente, quase todos
os lderes palestinos e rabes categoricamente rejeitaram qualquer solu-
o que inclusse um Estado judeu ou a autodeterminao judaica. Esses
fatos indiscutveis estabeleceram as bases do conflito que acompanhou
o estabelecimento de Israel e que continua at hoje. importante apre-
sentar esses fatos histricos como parte da atual questo a favor de Israel
porque essa distoro ou omisso fundamental na histria dolorosa um
elemento da questo muitas vezes levantada contra o Estado judeu.
Decidi escrever este livro depois de acompanhar de perto as nego-
ciaes de paz de Camp David e Taba, de 2000-2001, e depois de ver como
tantas pessoas no mundo se voltaram contra Israel quando as negociaes
falharam e os palestinos retornaram ao terrorismo. Eu estava lecionando
na Universidade de Haifa, em Israel, durante o vero de 2000, e pude ob-
servar em primeira mo o entusiasmo e a expectativa com os quais tantos
israelenses aguardavam o resultado do processo de paz iniciado com os
acordos de Oslo em 1993 e que parecia estar a caminho da aceitao de
uma resoluo de dois Estados, com Israel e Palestina finalmente convi-
vendo pacificamente depois de tantos anos de violento conflito.
medida que o processo se encaminhava para a resoluo, o pri-
meiro-ministro israelense Ehud Barak surpreendeu o mundo ao oferecer
aos palestinos praticamente tudo que demandavam, inclusive um Estado

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israel.indb 19 9/14/04 4:43:04 PM


EM DEFESA DE ISRAEL

com sua capital em Jerusalm, o controle do Monte do Templo, a devolu-


o de aproximadamente 95% da margem ocidental e toda a faixa de Gaza
e um pacote de compensao de 30 bilhes de dlares para os refugiados
de 1948. Como poderia Yasser Arafat rejeitar essa oferta histrica? O prn-
cipe Bandar, da Arbia Saudita, que estava servindo de intermedirio entre
as partes, exortou Arafat a aceitar este negcio. Voc poderia alguma vez
conseguir um negcio melhor?, perguntou. Voc preferiria negociar com
Sharon? Como Arafat vacilou, Bandar advertiu-o: Espero que o senhor
se lembre do que eu lhe disse. Se perdermos esta oportunidade ser um
crime.9
Observei com horror como Arafat cometeu esse crime, rejeitan-
do a oferta de Barak e abandonando as negociaes de paz sem nem
mesmo fazer uma contraproposta. Mais tarde o prncipe Bandar iria
caracterizar a deciso de Arafat como um crime contra os palestinos
de fato, contra toda a regio. Considerou Arafat pessoalmente res-
ponsvel por todas as mortes resultantes dos conflitos entre israelenses
e palestinos.10 O presidente Clinton tambm colocou toda a culpa pelo
fim do processo sobre Arafat, como o fizeram quase todos que partici-
param das negociaes. Mesmo alguns europeus ficaram furiosos com
Arafat por abandonar essa oferta generosa. Finalmente, parecia que
a opinio pblica mundial estava abandonando os palestinos, que ha-
viam novamente rejeitado a soluo de dois Estados, e voltando-se para
os israelenses, que haviam feito uma proposta para a sada do impasse
violento.
Mas em poucos meses a opinio pblica internacional novamente
mudou a favor dos palestinos e contra Israel, desta vez com uma vingan-
a. Repentinamente Israel era o pria, o vilo, o agressor e o destruidor
da paz. Em campi universitrios ao redor do mundo era Israel o pas
que tinha acabado de oferecer tanto o nico objeto das peties de
despojamento e boicote. Como tantas pessoas inteligentes puderam es-
quecer to depressa quem era culpado pelo fim do processo de paz? Como
o mundo podia to depressa transformar Arafat, o vilo de Camp David,
num heri e Israel, que heroicamente tinha oferecido tanto, num vilo?
O que aconteceu nesse breve perodo para produzir uma mudana to
dramtica na opinio pblica?
Fiquei sabendo que o que aconteceu foi precisamente aquilo que
o prncipe Bandar havia predito a Arafat que aconteceria se rejeitasse a
proposta de paz de Barak: Voc tem apenas duas alternativas. Ou voc
aceita esta proposta ou haver guerra. Arafat escolheu ir guerra.
De acordo com seu prprio ministro das Comunicaes, a Autoridade
Palestina comeou a preparar-se para o incio da atual revolta naciona-

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israel.indb 20 9/14/04 4:43:13 PM


ALAN DERSHOWITZ

lista dos palestinos a partir do retorno das negociaes de Camp David, a


pedido do presidente Yasser Arafat.11
A desculpa para a escalada das exploses suicidas foi a visita de Ariel
Sharon ao Monte do Templo. Mas, como o ministro das Comunicaes
alardeou, Arafat... havia previsto o incio da intifada como um passo com-
plementar resistncia palestina nas negociaes, e no como um protes-
to especfico contra a visita de Sharon ao Al-Haram Al-Sharif [o Monte
do Templo]. De fato, a escalada do terrorismo havia comeado alguns
dias antes da visita de Sharon, como parte das instrues da Autoridade
Palestina s foras polticas e faces para conduzir todos os elementos
da intifada. Em outras palavras, em vez de mostrar firmeza nas negocia-
es fazendo contrapropostas generosa oferta de Barak, Arafat decidiu
fazer a sua contraproposta na forma de exploses suicidas e aumento da
violncia. O prncipe Bandar acusou Arafat de responsvel pelo banho de
sangue resultante: Ainda no me recuperei... da magnitude da oportu-
nidade perdida, declarou ele a um reprter. Mil e seiscentos palestinos
mortos at agora. E setecentos israelenses mortos. No meu julgamento,
nenhuma dessas mortes de israelenses e palestinos justificada.12
Ento, de que maneira este homem, responsvel por essas mortes
evitveis, que escolheu rejeitar a proposta de paz de Barak e instruiu seus
subordinados a reiniciar a violenta intifada como um estgio comple-
mentar s negociaes, conseguiu mudar a opinio pblica mundial to
depressa em favor dos palestinos e contra Israel? Essa pergunta desalen-
tadora necessitava de uma resposta, e foi a resposta assustadora que me
levou a escrever este livro.
A resposta vem em duas partes. A primeira bastante bvia: Arafat
jogou a comprovada carta do terrorismo, que funcionou para ele tantas
vezes atravs de sua longa e tortuosa carreira como terrorista diplomata.
Ao fazer de alvo civis israelenses crianas ou nibus escolares, mulhe-
res grvidas em shopping centers, adolescentes numa discoteca, famlias
num jantar de Pessach, estudantes universitrios numa cafeteria , Arafat
sabia que podia fazer com que Israel tivesse uma reao exacerbada, pri-
meiro elegendo um primeiro-ministro mais sagaz para substituir o manso
Ehud Barak, depois instigando os militares a tomar atitudes que inevi-
tavelmente resultariam na morte de civis palestinos. Funcionou perfei-
tamente, como no passado. De repente, o mundo estava vendo imagens
perturbadoras de soldados israelenses atirando em multides, parando
mulheres em pontos de controle e matando civis. Arafat havia domina-
do uma dura aritmtica da dor, como foi dito por um diplomata: As
perdas palestinas contam a seu favor e as perdas israelenses tambm. A
no-violncia no compensa.13

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israel.indb 21 9/14/04 4:43:23 PM


EM DEFESA DE ISRAEL

Para muitos, a simples aritmtica era suficiente: mais palestinos


do que israelenses estavam mortos, e s esse fato j provava que Israel
era o vilo. Era ignorado o fato de que, apesar de apenas 800 israe-
lenses terem sido mortos (at junho de 2003), os terroristas palestinos
haviam tentado matar milhares mais e no haviam conseguido s porque
as autoridades israelenses haviam frustrado aproximadamente 80% das
tentativas de ataques terroristas.14 Tambm foi ignorado o fato de que
entre os aproximadamente dois mil palestinos mortos havia centenas de
homens-bomba, fabricantes de bombas, atiradores de bombas, coman-
dantes terroristas e mesmo supostos colaboradores mortos por outros
palestinos. Quando se contam apenas os civis inocentes, morreram signi-
ficativamente mais israelenses do que palestinos.15 De fato, Israel matou
menos civis palestinos inocentes durante as dcadas que tem combatido
o terrorismo do que qualquer outra nao na histria diante de tal vio-
lncia, e essas mortes trgicas foram conseqncias no-intencionais do
combate ao terrorismo, mais do que o objeto da violncia.
Por que ento tantas pessoas na comunidade internacional diplo-
matas, homens de mdia, estudantes, polticos, lderes religiosos caram
na trama transparente e imoral de Arafat? Por que no culpavam Arafat
pela escalada da violncia, como fizeram o prncipe Bandar e outros? Por
que culpavam Israel to apressadamente? Por que lderes morais e religio-
sos, que geralmente traam uma clara distino entre aqueles que propo-
sitalmente alvejam civis inocentes e aqueles que inadvertidamente matam
civis, num esforo de proteger seus prprios civis, eram incapazes de fazer
essa importante distino quando se tratava de Israel? Por que no com-
preenderam como a liderana palestina estava manipulando e exploran-
do a aritmtica da morte? Por que no podiam ver alm da contagem
de corpos e focalizar o correto clculo moral: quantas pessoas inocentes
foram deliberadamente transformadas em alvos e mortas de cada lado?
Procurando responder a essas perguntas perturbadoras, tornou-se
claro para mim que foras obscuras estavam em jogo. A mudana dra-
mtica e quase total nas percepes do pblico num perodo to curto
de tempo no podia ser explicada com base exclusiva em princpios da
lgica, moralidade, justia mesmo poltica. As respostas estavam, pelo
menos em parte, no fato de Israel ser o Estado judeu e o judeu entre os
Estados do mundo. Uma total compreenso das reaes bizarras do mun-
do generosa proposta israelense de paz e a violenta resposta palestina
requer o reconhecimento da longa e difcil histria mundial no julgamen-
to do povo judeu por padres diferentes e muito mais exigentes.
O mesmo ocorre com a nao judaica. Pouco aps o seu estabeleci-
mento como primeiro Estado judaico moderno do mundo, Israel tem sido

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israel.indb 22 9/14/04 4:43:32 PM


ALAN DERSHOWITZ

avaliado segundo um duplo padro de julgamento e crtica de suas aes


ao defender-se contra ameaas sua prpria existncia e sua populao
civil. Este livro sobre este duplo padro a sua injustia em relao a
Israel e, mais importante, seu pernicioso efeito ao encorajar o terrorismo
palestino e outros.
Se o tom deste livro algumas vezes pode parecer contencioso, por-
que as acusaes atuais contra Israel freqentemente so estridentes, in-
transigentes, unilaterais e exageradas: tipo nazista, genocida, exem-
plo clssico de violadores de direitos humanos no mundo, e assim por
diante. Essas falsas acusaes devem ser respondidas direta e verdadeira-
mente antes de se poder restaurar um tom de compromisso e reconheci-
mento mtuo de erros, e os assuntos serem debatidos nos seus mritos e
demritos freqentemente complexos. Mas, com demasiada freqncia,
o debate atual, especialmente nos campi universitrios, caracterizado
por acusaes contenciosas e unilaterais feitas por aqueles que desejam
demonizar Israel. So freqentemente respondidas pelo reconhecimento
bastante mais franco de erros por defensores de Israel e um tom de des-
culpa que muitas vezes serve aos acusadores.
O avano em direo paz somente vir quando ambos os lados
quiserem reconhecer seus prprios erros e culpas e ir alm das acusaes
do passado para um futuro de compromisso mtuo. Uma atmosfera favo-
rvel a tal compromisso no ser alcanada se o ar no for purificado das
acusaes falsas, exageradas e unilaterais que agora poluem a discusso
em tantas colocaes. A finalidade deste livro ajudar a purificar o ar,
fornecendo defesas diretas e verdadeiras a falsas acusaes. O tom dessas
defesas, algumas vezes, necessariamente espelha o tom das acusaes.
A principal caracterstica dos meus escritos, discursos e aulas durante
anos sempre foi ser direto e no criar intrigas ou preocupar-me em ofen-
der aqueles que, com base em suas aes intolerantes e falsas acusaes,
merecem ser ofendidos. Procuro seguir esse caminho neste livro.
Uma vez purificado o ar dos poluentes da intolerncia e da falsida-
de, um debate mais diferenciado pode ser iniciado sobre polticas especifi-
camente israelenses bem como sobre polticas especificamente palesti-
nas. Este livro no parte desse debate, apesar de eu ter minhas prprias
opinies sobre muitas dessas questes. Enquanto Israel for particular e
falsamente acusado de ser o principal infrator, a primeira obrigao da-
queles comprometidos com a verdade e a justia refutar essas acusaes
de modo firme e inequvoco.
Freqentemente, perguntam-me como, na qualidade de civil de-
fensor do livre-arbtrio e liberal, posso apoiar Israel. A implicao por trs
da pergunta que devo estar comprometendo meus princpios ao apoiar

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israel.indb 23 9/14/04 4:43:42 PM


EM DEFESA DE ISRAEL

um regime to repressivo. A verdade que apio Israel precisamente


porque sou um civil defensor do livre-arbtrio e liberal. Tambm critico
Israel sempre que suas polticas violam o rigor da lei. Tampouco procuro
defender aes chocantes de Israel ou de seus aliados, tais como as ma-
tanas de 1948 por tropas irregulares de civis em Deir Yassin, o massa-
cre falangista de palestinos em 1982 no campo de refugiados de Sabra e
Shatila ou os assassinatos em massa de muulmanos orando por Baruch
Goldstein em 1994. Como em qualquer outra democracia, Israel e seus
lderes deveriam ser criticados sempre que suas aes deixem de atingir
padres aceitveis, mas o criticismo deveria ser proporcional, comparati-
vo e contextual, como deveria ser tambm em relao a outras naes.
Defendo a causa de Israel com base em consideraes liberais e de
defesa da liberdade civil, apesar de acreditar que os conservadores tam-
bm deveriam apoiar o Estado judeu com base em valores conservadores.
No peo a ningum que faa concesses a seus princpios. Antes, o meu
pedido que todas as pessoas de boa vontade simplesmente apliquem ao
Estado judeu de Israel os mesmos princpios de moralidade e justia que
aplicam a outros Estados e povos. Se aplicassem um s padro de justia,
a causa a favor de Israel se resolveria por si. Mas, como tantas pessoas
insistem em ser mais exigentes em relao a Israel, eu agora defendo a
causa segundo a qual, num julgamento por qualquer padro racional,
Israel merece o apoio embora, certamente, no o apoio sem crtica de
todas as pessoas de boa vontade que atribuem valor paz, justia, ho-
nestidade e autodeterminao.

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israel.indb 24 9/14/04 4:43:51 PM


NOTAS

1. Thomas Friedman, Campus hypocrisy, New York Times, 16 de outubro de


2002.
2. V. captulo 28.
3. V. captulo 28.
4. A preferncia de Chomsky por um modelo federal ao longo das linhas
da Iugoslvia articulada em Middle east illusions (Oxford, Rowman &
Littlefield, 2003), pp. 105-106. A sua defesa do Lbano como um modelo
vem de um debate comigo em 1970.
5. Atlantic unbound (publicao on-line no Atlantic Monthly). Entrevista de
Said por Harry Bloom, 22 de setembro de 1999, www.theatlantic.com/un-
bound/interviews/ba990922.htm.
6. V. Benny Morris, Righteous victims (Nova York: Vintage Books, 2001),
p. XIV.
7. V. captulo 9.
8. Atlantic unbound, 22 de setembro de 1999.
9. V. captulo 17.
10. V. captulo 17.
11. V. captulos 16 e 17.
12. V. captulo 17.
13. James Bennet, Arafats edge: violence and time on his side, New York Times,
18 de maro de 2002.
14. Bruce Hoffman, The logic of suicide terrorism, Atlantic Monthly, junho de
2003, p. 45.
15. V. captulo 18.

israel.indb 25 9/14/04 4:43:57 PM


1 Israel um Estado colonial
e imperialista?

A ACUSAO

Israel um Estado colonial, imperialista, colonizador, com um re-


gime comparvel ao apartheid da frica do Sul.

OS ACUSADORES

[Um Estado judeu na Palestina] somente poderia emergir como


filho bastardo de potncias imperialistas e s poderia chegar a existir pelo
deslocamento da maioria da populao palestina, incorporando-a num
regime de apartheid ou por meio de alguma combinao de ambos. Alm
disso, uma vez criado, Israel s poderia sobreviver como Estado milita-
rista, expansionista e hegemnico, constantemente em guerra com seus
vizinhos. (M. Shahid Alam, professor de economia na Northeastern
University.)1

A Palestina ocupada [que inclui todo Israel] deve ser descoloni-


zada, desracializada e devolvida ao povo palestino como nico Estado
soberano. Em linguagem clara, o Estado sionista precisa ser desmon-
tado. (Imam Achmed Cassiem, presidente nacional da Islamic Unity
Conviction, frica do Sul.)2

israel.indb 26 9/14/04 4:44:01 PM

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