Do A Terra - Cap 4 - Investigando o Interior Da Terra

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64 DECIFRANDO A TERRA

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Geociencias denominado Geofisica, Muitas informacoes sabre 0 comportamento dinamico do interior do nosso planeta resultam do estudo de suas propriedades fisicas, tais como a gravidade e 0 magnetismo. Atraves do cstudo global do campo da gravidade, obtem-se inforrnacao acerca das dimensoes, forma e massa da Terra, bern como do modo como a massa se distribui no interior do planeta. Em escala local, a analise das variacoes de gravidade e 0 fundamento da prospeccao gravimetrica, o uso criterioso desta Ultima, cotrtbinadocom informa<;:oes geologicas, permite localizar, identificar e avaliar o potencial econcmico de jazidas de minerios divers os, carY-ao, perroleo.-sal, materia-prima para industria cera~ mica e de construcao, etc.

Ocampo magnetico terrestre origina-se no rnicleo terrestre e a observacao na superficie da Terra da forma e variacoes dessecampo magnetico permite estudar a dinamica dessa regEio da Terra. As rochas da superflcie terrestre, ao se forrnarem, registram as informacoes do campo geomagnetico da epoca, e a recuperacao dessas informacces permite desvendar a historia do magnetisrno terrestre no pass ado geologico. Alem disso, atraves das propriedades magneticas das rochas, e possfvel localizar jazidas rninerais e tta<;ar os movimentos pretetitos dos blocos litosfericos durante a evohicao da Terra.

o ohletivo deste capftulo e fomecer os conceitos fundamentais sobrea gravldade e 0 campo magnetico terrestres e ilustrar de qlJe forma estas caracteristicas fisicas trazem inforrnacdes sobre a propria estrutura interna do planeta.

4.1 a que e a Gravidade?

Embota os estudos empiricos .sobre 0 movimento de queda livre tenhamsido iniciados e publlcados por Galileu no final do seculo XVI, a forrnulaeao da teoria da gravita9ao universal so ocorreu praticamente urn seculo depois, quando Newton publicou os seus estudos no ano de 1687. Nessa epoca, 0 conhecimento de que a Terra possui forma aproxirnadamente esferica ja estava totalmente difundido.visto que em 1522 Magalhaes havia conclufdo a primeira viagem de circunavegacao,

A gravitas:aoe uma propriedade fundamental da materia, manifestando-se em qualquer escala de grandeza, desde a atomica ate .a cosmica. Os fenomenos gravitacionais sao descritos pela lei de Newton, na qual duas massas esfericas ffi1 e m2, com densidades unifor-

mes nos seus inrerieres, atraem-se na.razao direta do produto de suas massas e na.razao inversa do quadrado da distancia entre os seus centres, conforme descrito pela equacso 8

. m1·mi (4.1)

F=G .

r

na qual m1 e ffi2 sao as rnassas das esferas, rea distancia entre elas, P ell. fot<;a de atras;aoque age sabre cada urna das esferas e G e a ronstante da gravitacao universal (veja tabela de unidades .no final do livro).

De acordo com a lei de Newton (equacao 4.1), se a esferacom massa .m1 estiver fixa e a esfera com massa 1h2 puder movimentar-se, ela ira se deslocar em dires;ad a prirneira, devido a forca F. Neste caso, sua aceleracao ag sera igual a F/m2 ou, substituindo-se na equacao 4.1:

F (G.mj) (4.2)

a = _.= ......:..-__;,;_

s m. r 2

Portanto,a acelera<;ao ag depende apemls da distancia entre as duas esferas e da massa mp que cria urn campo de aceleracao gravitational ao seu redbt,oqual e igual em todas as direcoes, ou seja, e isotropico, Estas caracteristicas fazem com que urn corpo, mesmo possuindo massa rnuito elevada, produza urn campo rnenos intenso do que urn outro, com rnassa rnuito menor, mas situado rnais proximo. Como exemplo, podemos citar a queda derneteoriros sabre a superfieie terrestre, Embora sendo atraidos pelo Sol, muitos deles acabam caindo na Terra, de massa rnuito menor, aopassarem em orbita proxima.

Alem disso, como 0 campo gravitacional e isotr6pico, as foreas de atra<;ao tendema aglutinatmassa em cotpos esfericos, Esta caracterfstica explica a forma aproximadamente esferica do Sol e dos planetas que compo em 0 Sistema Solar, os quais, foram forrnados a partir de uma nuvem de gas e poeira interestelares, hi 4,6 bilhoes de anos, durante 0 processo de acrescao (Cap. 1).

Como a Terra executa urn movimento de: rotacao ao redor de si mesma com urn periodo de 24 horas, qualquer ponto do seu interior ou de sua superficie sofre 0 efeito da. aceleracao centrifuga dada pela expres sao:

(4.3)

na qual Co = 21t/T e a velocidade angular de rotacao, Teo periodo de rotacao ere a distancia ao eixo de rotacao, Como a aceleracao centrffuga e dirigida per-

- A~ao do vente solar sabre as linhes de forcedo campo .geomagm3tico.

-

Capitulo 4 • Investigondo 0 Interior do Terra 65 '

pendicularmente ao eixo de rotacao, os unicos locais onde nao ha aceleracao centrifuga (ae = 0) sao aqueles situados sobre 0 eixo de rotacao, ou seja nos palos. Todos os outros pontos da Terra sofrem uma aceleracao centrifuga cuja intensidade e diretamente proporcional a distancia do eixo de rotacao, atingindo valores maximos na linha do Equador, como pode ser observado na Fig. 4.1.

Eixo de rotac;io

Fig. 4.1 A ocelerccco da gravidade yaria de ponto para ponto sobre a superffcie terrestre. A Terrae ochatada nos poles e executa movimento de rotocoo, portanto a ccelerocoo da gravidade em um dado local resulta da soma vetorial das ocelerccoes gravitacional a e da centrifuga a . A direcoo da

9 c

ocelerccoo da gravidade 9 noo e radial e sua intensidade atin-

ge valores rncximos nos poles e mfnimos na reqioo equatorial.

A soma vetorial da aceleracao gravitacional e da aceleracao centrifuga e denominada aceleracao da gravidade (Fig. 4.1) ou simplesmente gravidade.

g = a +a g c

(4.4)

Tanto a direcao como a intensidade de g variam conforme a posicao sobre a sup~r£~'c' terr. estre .. Embora 0 componente gravitacional a os a intensidade

g

aproximadamente constante, sua direcao e variavel,

sendo praticamente radial e apontando para 0 centro da Terra. J a 0 componente centrifugo ac tern direcao sempre perpendicular ao eixo de rotacao terrestre, mas sua intensidade varia em funcao da latitude. Desta forma, a intensidade de g e maxima nos palos e igual ao

componente a, diminuindo gradualmente em direg

c;:ao ao Equador, onde atinge 0 valor minimo. Como

.

pode ser observado na Fig. 4.1, a direcao de g sa

coincide com aquela do componente gravitadonal ag nos palos e no Equador, sendo que nas demais latitudes ela nao e radial.

4.2 Medindo a Gravidade

Atraves da medida do campo da gravidade da Terra foram obtidas importantes informacoes sobre 0 seu interior, deterrninando-se tambern diversasde suas caracteristicas, como sua forma e interacoes com outros corpos do Sistema Solar.

Como vimos anteriormente, 0 campo da gravidade associa a cada ponto da superficie terrestre urn vetor de aceleracao da gravidade g. Esse vetor caracteriza-se por sua intensidade, denominada gravidade, e por sua direc;:ao, denominada ver~cal. A gravidade e medida por meio de g.ravimetros, enquanto a vertical e obtida por rnetodos astron6micos. Em gravimetria, em homenagem a Galileu, utiliza-se como unidade de aceleracao 0 Gal (ver tabela de unidades no final do livro).

Dois tipos de gravirnetros podem ser utilizados em medidas da gravidade. Os gravimetros absolutos (Fig. 4.2) medem diretamente a intensidade da aceleracao da gravidade em urn dado ponto, sendo os do tipo queda

Fig. 4.2 Experimento realizado em Valinhos (SP) para a medida do gravidade utilizando um gravimetro absoluto.

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livre (que St baseiam na medida do ternpo de percurso de urncorpo em queda livre) os mills utilizados atualmente. Como sao de diflcil transporte, fie am instalados em lab oratorios. Por outro lado, as gtavimetros diferenciais sao basicamente balancas de mala que determinam com precisao .0 peso de. uma rnassa de 'valor constants, cuja variacao e causada por diferencas .no valor de .g. Este tipo de gravimetro rnede a diferenca de gravidade entre dois pontos distintos, enos casos em que 0 valor em urn dos pontos e conhecido, pode-se determinar a gravidade no outro.

Em Ievantamentos gravimetricos de detalhe e necessario rnedir pequenas variacces da gravidade, causadas por estruturas au corp os localizados na subsuperffcie, requerendourna sensibilidade instrumental da ordem de 0,01 mGal. Para essa finalidade saogeralmente utilizados gnndmetros· diferenciais, que possuem maior sensibilidade do' que OS absolutes. Nesses gravimetros e possivel rnedir, por exemplo, variacoes do valor de g quando a instrumcnto e .. colocad a sobre uma mesa au sabre 0 assoalho de urn mesmo local. Entretanto, como sofrern deriva, isto e, diferencas temperais nas medidas devido a rnudaneas nas propriedades elasticas de seus cornponentes, esses gravimetros devemser aferidos em locais cuja grayidade e eonhecida, antes de se iniciara aquisicao de urn novo conjunto de rnedidas. 'Como iS50 nem sempre e possivel, costuma-se ao final de cada dia de trabalho retornar ;10 ponto da prime-ita rnedida e efetuar nova leitura .. Dessa forma, deterrnina-se a derrva do instrumento durante 0 periodo, para pcsteriores correcoes,

4.3 A Forma da Terra

Como a intensidade de g e maior nos palos do que no Equador, a Terra nao possui forma totalmente esferica, sendo que oseu raio equatorial (6.378 km) e ligeiramente maior do que 0 raio polar (6.357 km). Portanto, a Terra possui a forma de urn esfer6ide achatado nos palos e isto explica, porexemplo, porque urn objeto e levemente mais pesado nos poles do que no Equador, 0 grau de deforrnacao do esferoide e medido pelo seu achararnento, definido como sendo a diferenca relativa entre os raios equatorial e polar do esferoide, conforme a expressao:

a.- c

~4.5)

f:::;:::---

a

na qual a e 0 raio equatorial, ceo raio polar e f e 0 achatarnento.

Como a diferenca ~fitte os raios equatorial e poJar e relativamente pequena (21 kin), ern comparacao com as dimensoes da Terra,. seu achatamento e muito pequeno, sendo de 1/298,247, quando calculadc precisamente. Portanto, em primeira aproximacao, podemos considerar que a Terra c esferica.

A atracao gravitacional mantem a Terra, as outros planetas do Sistema SQIq,r e 0 proprio Sol coesos. Entretanto, contrariarnonte ao que ocorre na Terra, nern todos as planetas possuem achatamento tao pequeno. Por cxemplo.jupiterapresenta um achatamento polar (U15) bern rnais acentuado, Mesmo assirn, esse achatamento e pouco perceptivel em fotografia. Para se ter urna idba, para urn raio equatorial de 10 em, 0 raio polar seria de 9,3 em, Jupiter efetua urn rapido movimento de rotacao (periodo de cerca de 10 11.0- ras). e POSSU! tambem elevadas dimens.6ts (raio' equatorial de 71.600 km), implicando grandes distancias de pOlitos Iocalizados em sua superficie em relacao no eixode rotacao. Estes dais fatores fazem com que a aceleracao centrifuga no bojo equatorial de Jupiter seja muito maier do que a equivalente na superficie terrestre, provocarrdo assim urn maior achatarnento,

o achatamento terrestre forneceu informacoes fundarnentais para oconhecirnento do interior do nosso planeta. Cum a suposicao de que a Terra possui densidade constante e e constituida por um.fluido em perfeitoequilibrio hidrostatico, Newton calculou um achatamcnto de 1/230. Com os conhecimentos atuais sobre a velocidade de rotacao cia Terra e de suas dimensdes, 0 achatamento polar teorieo e de 1/299,5, bastante proximo do valor aceito hoje, obtido por meio da observacao precis a das orbitas de satelites artificiais,

Esse resultado indica que grande parte do interior da Terra comporta-se como um fluido. A prindpio, isto pareee contraditorio, tendo ern vista os resultados obtidos pela Sismologia, que indicam que a crosta, manto terrestre e nucleo interne sao solidos. A explic2l<;:ao para esse fato e que as rochas do manto terrestre comportam-secomo um solido elastico em curtos 'intervalos de tempo (segundos), durante a passagem das ondas sismicas por exemplo, e como urn fluido viscose na eseala do tempo geologico (milhoes de anos). Considerando que a Tetra formou~5e hit 4,.6 bilhoes de anos, houve tempo suficiente para ocorrer defonnas:ao plastica das rochas que cornpoem 0 manto terrestre, originando assim, seu achatamerrto devido ao movimento de rotacao,

j

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4.4 Interpretando Anomalias Gravimetricas

Na superficie terrestre, Q valor medic da gravidade e de aproximadarnente 9,80 m/ if· ou 980 GaL Devido ao rnovimento de rotacao e ao achatamento na regiao polar, 0 valor da gravidade diminui cerca de 5,3 Gal dos poles ao Equador, 0 que representa urna variacao em torno de 0,5%, Alem disso, a atracao exercida pela Lua e pelo Sol, bern como as diferencas de altitude entre os pontos de rnedida causam alteracio no valor da gravidade, Como todasessas variacoes se superpoem, torna-se necessario quantifica-las e elimina-las ao maximo para, entao, estudar aquelas variacoes causadas por diferencas na cornposicao e. estrutura da crosta ou do manto superior da Terra.

A maior variacao no valor de g e a latitudinal, causada pela rotacao e achatamento terrestres, 0 valor teorico da gravidade y ao nivel do mar e descrito pela F6rmula Internacional da Gravidade, estabelecida em 1980 como:

y(~)=978,0318(1 +O,0053024sen2~~O,OOOOOS87sed2~)Gal (4.6)

.na qual ~ e a latitude sobre um ponte do elips6ide de referencia, cuja superficiee a que melhor se ajusta a forma da Terra.

As variacoes da gravidade devido a acao da Lua e do Sol (efeitos de mare) sao descritas por rneio de tabelas publicadas periodicamente, As variacoes causadas por diferencas de altitude, devido a mpografia do terreno, tarnbem podem Set eliminadas atraves de duas correcoes, denominadas correcao at-livre e correcao Bouguer. Esta Ultima deve seu nome a Ul1:1a homenagem a Pierre Bouguer por seus estudos, no seculo XVIII, sobre a forca deatracao .gravitacional exercida pela Terra.

A correcao de at-livre e aplicada para eliminar 0 efeito causado pela. diferenca de altitude entre 0 ponto de observacao e 0 nivel do mar (Equacao 4.6) no valor da gravidade. Esta correcao e dada por 0,03086 x h mGal, onde h e .a al~~ude em metros, e. d~ve. se. r sOl11adpu, valor medido, Ja que a graVldade diminui com a alt1~

Como existem rnassas rochosas entre ° ponto de medida eo nivel do mar, em areas continentais, aplica-se a correcao Bouguer para eliminar 0 efeito gravitacional dessaporcao crustal, sendo conveniente conhecer a sua densidade com a melhor exatidao possivel. Acorrec;ao de Bouguer e dada por -0,0419 x p mGal por metro de altitude, em que pea densidade em g/cm3. Quando esse parametro e desconhecido, utiliza-se 2,67 g/cm3,

que corresponde a media da crosta continental. A correc;ao Bouguer e aplicada conjuntamente com a de altitude (at-livre), restando 'apenas 0 efeito devido a atracao dos materiais situados abaixo do nivel do mar.

Em regioes muito acidentadas, e efetuada uma terceira correcao, denominada correeao de terreno, que leva em conta as feicoes topograficas de urna area. Em geral, como seus valores nao ultrapassam algumas dezenas de mGal, sao aplicadas sornente nos levantarnentos de detalhe. Em areas oceanicas, onde as medidas sao realizadas no nivel do mar, costuma-se efetuar apenas correcoes ar-livre, enquanto em areas continentals utilizase tarnbern a correcao Bouguer.

Se o interior da Terra Fosse uniforme, os valores pt:evis to e rnedido da gravidade seriam iguais, ap6s todas essas correcoes, Entretanto, como existem .irnportantes variacoes laterais e verticais nas rochas que compoem 0 interior da Terra, esses valores sao geralmente distintos. A diferenca entre 0 valor medido e 0 previsto e charnada de anomalia de gravidade. Dependendo da correcao aplicada, a anornalia recebe 0 nome de anomalia ar-livre ou de anornalia Bouguer.

As anornalias gravimetricas resultam de variacoes na densidade dos diferentes materiais que constituem 0 interior da Terra. Os contrastes de densidade entre diferentes tipos de rochas rnodificam a massa e causam, consequentemente, mudancas nos valores cia gravidade(Fig. 4.3).

PeridotitDs

Fig. 4.3 Intervalos de voriocco do densidade de algumas rochas Irequentemente encontradas no superiicie terrestre .e densidades medias para essas mesmas roches, Atitulo de comporocco, encontrorn-se tornbern representados os volores medics do crosta continental e do crosta oceanica.

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- -

N as anomalias negativas de gravidade, os valores rnedidos sao rnenores do que os previstos,ap6s todas as correcoes, sendo causadas par rochas com densidade relativamente baixa au sedimentos localizados na sub-superficie, em contato com outras roehas de maior densidade existentes no substrate. Por exemplo, anomalias negativas sao encontradas em cadeias montanhosas (que possuem raizes profundas constituidas por rochas com densidade relativamente baixa), ou ainda associadas a presenca de corpas ro cho so s in tru sivo s de b aixa densidade (Fig. 4.4).

6·S

S sedimento _granito Dgnaisse

mGal A 20 -

B

N

s

Fig. 4.4 Anomalia de gravidade causada pelo gran ito Iourco (situado no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil). 0 perfil A-B, indicado no mapa, mostra uma acentuada queda no valor de gravidade que coincide com 0 setor de maior profundidade do granito, menos denso que as rochas encoixantes. Note que a extensoo horizontal do eorpo intrusive (- 50 km) e cerea de dez vezes rnolor que a sua profundidade maxima (- 5 km). Cortesio de R.l.F. Trindade.

As anomalias negativas sao geradas tambem pela presenca de domos de sal de baixa densidade, formados pela· evaporacao da agua de antigos mares rasos, Como este ambiente e propicio para a de-

posicao de materia organica, que pode originar petro.le.o, e s sas anomalias podem indicar areas potencialmente favoraveis a prospeccao,

.Anomalias positivas de gravidade ocorrern quando os valores de gravidade medidos sao maiores do que os previstos e sao eausados pela presen<;a de materiais com alta densidade na superficie ou em profundidade. Assirn, locais onde ocorrem rochas com alta densidade sao caracterizados par apresentarem anomalias positivas. Na regiao meridional- do Brasil ha uma anomalia dessa natureza (Fig. 4.5), causada por uma das maiores manifestacoes de vulcanismo bas alti co do planeta, que or. iginouyh~ ap. roximadamente 130 Ma, a Forma<;ao Serrlgeral da Bacia do Parana.

9

Vulcanismo da Bacia do Parana

Anomalia positiva de gravidade

km

20

40

Fig. 4.5 Anomalias positivas de gravidade podem ser eausadas pela presence de roc has de alta densidade proxirncs do superffcie. Na Bacia do Parana, on de houve a extrusoo de uma grande quantidade de magmas bosicos, observa-se uma pronunciada anomalia positiva de gravidade.

Capitulo 4 • Investigondo 0 Interior do Terra 69 I

Depositos de rninerais meralicos de alta densidade localizados em sub-superffcie podem tambern ser identificados em levantamentos gravimetricos de detalhe, por produzirern anomalias positivas de gravidade.

A representacao de anornalias gravimetricas e feita por meio de mapas de curvas iso-anornalas, cujas linhas un em pontos com os mesmos valores de anomalia. Nesses mapas (Fig. 4.6) ocorrem altos e baixos gravimetricos causados por diferencas na densidade dos materiais que ocorrem na crosta e no manto superior. As anomalias que possuem dimensoes de ate dezenas de quilometros sao denorninadas anomalias lo cais , e sao geralmente associadas a corpos :rochosos relativamente pequenos, com densidade anornala, localizados proximos da superficie (na crosta superior). Por outro lado, as anomalias regionais possuem dimensoes de ate milhares de quilometros esao, em geral, associadas a feicoes de grande escala. Par exemplo, as altos gravimetricos de escala regional que ocorrem em bacias oceanicas profundas sao causados pela proximidade das rochas do manto, uma vez que a .crosta oceanica e pouco espessa (6 a 7 km).

4.5 0 Principio da Isostasia

Entre 1735 e'1745 foi realizada uma expedicao francesa para 0 Peru, liderada por P, Bouguer, com o objetivo de determinar a forma da Terra. Nessa viagem, Bouguer notou que as rnontanhas da Cordilheira dos Andes exerciam uma forca de atracao gravitacional menor do que a esperada para 0 respectivo volume. Cerca de urn seculo mais tarde, G. Everest fez a mesma observacao nos Himalaias, durante uma expedicao a India. Na epoca, foi sugerida a hip6tese de que as rnorrtanhas teriam menor massa do que as areas adjacentes; nao havia, entre tanto, uma explicacao geol6gica razoavel para esse tipo de fenorneno comum.

A explicacao viria em 1855, quando J. H. Pratt e

G. Airy propusetam, independentemente.Tiipoteses para explicar essas observacoes, e em 1889 0 termo isostasia foi utilizado para denominar 0 mecanismo que as explica. De acordo com 0 conceito de isostasia, ha uma deficiencia de massa abaixo das rochas da cordilheira aproximadarnente igual Ii massa das pr6prias montanhas.

-:80'· ~75" -70' -65'" -'60' -55· -50' -45- -40' -35~ 5~

-10"

-15"

-30'

-30' S·

-5*

-35"

-80" ~15'· .:10· -65· -60· .. 55" -50" -4S* -40· -3S*

....._.~r:=~::f- -35- -30·

mGal 60 40 20 o .:20 -40

-60

-80

-100

-120

-140

-160

-180

-200

-220

-240

-260

-280

-300

-320

-340

-360

-380

Fig. 4.6 Mapa de anomalies Bouguer do Brasil e 6reas adjacentes. 0 intervalo das linhas de conrorno.e de 20 mGal. Fonte: S6 et al. 1993.

)

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o conceito de isostasia baseia-se no principio de equilibrio hidrostatico de Arquimedes, no qual urn corpo ao flutuar desloca uma massa de agua equivalente a sua propria. N esse caso, uma cadeia montanhosa poderia comportar-se como uma rolha flu tuarido na agua. De acordo com este principio, a camada superficial da Terra relativamente rigida flutua sobre urn substrato mais den so. Sabemos hoje que essa camada corresponde a erosta e parte do manto superior, que integram a litosfera. 0 substrato denso e denominado astenosfera (Cap. 5), comportando-se como urn fluido visco so, no qual ocorrern deforrnacoes plasticas na escala do tempo geologico. 0 equilibrio isostatico e atingido quando urn acumulo de carga OU perda de massa existente na parte emersa e contrabalancada, respectivamente, por uma perda de massa ou acumulo de carga na parte submersa,

Nas duas hipoteses de compensacao isostatic a, a superficie terrestre e considerada suficientemente rigid a para preservar as feicoes topograficas e menos densa do que 0 substrato plastico, No modelo de Airy, as montanhas sao rnais altas por possuirem rafzes profundas, da mesma forma que urn imenso bloco de gelo flutuando no mar (Fig. 4.7).

Fig. 4.7 llustrocco do modelo de cornpensccdo isost6tica de Airy. A camada superior rigida possui densidade constante mas inferior oquelo do substrato pl6stico. A condicco de equilibrio isost6tico e atingida pela vcriccoo do espessura do camado superior, de modo que as rnontonhcs tem rolzes profundos.

Por outro lado, no mode1o de Pratt, as montanhas sao elevadas por serem compostas por rochas de menor densidade do que as existentes nas regioes vizinhas (Fig. 4.8), havendo neste caso diferencas laterais na densidade.

lamina d'agua

Fig. 4.8 llustrocco do modelo de cornpensccoo isost6tica de Pratt. A camoda s!perior rfgida e composta por blocos delgu,~,. profundidade, mas com densidades diferenfes e m~s do que aquela do substrato pl6stico. A condicoo de equilibrio isost6tico e atingida pela vorlocoo do densidade, de modo que as rochas sob as cadeias montonhosas 500 menos densas, enquanto as des bacias ocednicos sao mais densos.

Sabernos hoje que as dois modos de compensa~ao isostatica ocorrem na natureza. As montanhas sao mais altas, pois se projetam para as partes mais profundas do manto, conforme inforrnacoes obtidas atraves da Sismologia. POt outro lado, os continentes situam-se acima do nivel do mar devido as diferencas de cornposicao e densidade (Fig. 4.3) entre crosta continental e a crosta oceanica (Fig. 4.9). Mesmo apos ter sofrido intemperismo e erosao intensos no decorrer do tempo geologico, a crosta continental situa-se acima do nivel do mar devido a isostasia, pois a medida que a erosao remove as camadas mais superficiais, ocorre lento soerguimento. Portanto, rochas originadas em profundidades maiores acabam atingindo niveis superficiais. Uma confirrnacao desse fato e a ocorrencia de rochas rnetamorficas, formadas em condicoes de alta pres sao e temperatura, compativeis com as existentes na base da crosta continental e que hoje encontram-se expostas em varias regioes do planeta. No Brasil, estas rochas (granulitos) sao vistas, por exemplo, em varies pontos do Estado da Bahia (Craton do Sao Francisco).

Capitulo 4 • Investigondo 0 Interior do Terra 71 !

crosta continental

crosta oceanica

litosfera

manto

Fig. 4.9 Os dois modelos de cornpensccoo isost6tica operam simultaneamente. As montonhas possuern roizes profundos, compostas por rochas com densidade relativomente baixo, fozendo com que a crosta e a litosfera sejam mais espessas nessas reqioes, conforme previsto no modele de Airy. Por outro lado, a crostc oceanica situa-se em niveis topoqroficos mois baixos do que a crosta continental, devido a sua maior densidade, conforrne previsto no modelo de Pratt.

E~ geral, a litosfera suporta grandes esforcos sem sofrer deformacao. Entretanto, em algumas situacoes geo16gicas, uma carga muito elevada pode ser adicionada ou rernovida da litosfera, deformando-a. Podemos citar como exemplo a adi~ao de massa causada pelo extravasamento de grandes quantidades de basaltos em provincias igneas, pela sedimentacao ou pela formacao de calotas de gelo. Essa massa adicio- - nal faz com que a litosfera entre em subsidencia, para 'que 0 eq~br~o isos,titicQ seja aue. Atualmente, na Groenlandia, esta ocorrendo urn processo desse tipo, devido ao peso da espessa cam ada de gelo da sua superficie, de modo que suas rochas encontrarn-

v

se abaixo do myel do mat.

,. - - - - - - ... gravidade

.. ...

, ...

- - - - _" - r ..._ - - - - - -

(a)

Fig. 4.10 Movimentos verticois do litosfera causados pela odicdo (a) e rernocco (c) de umo cargo (coloto de gelo, sedimentos, derromes de basoltos, etc.) na sua superffcie. A linho pontilhodo refere-se 00 volordo gravidode antes do odicco ou rernocoo do cargo (sltuccco de equilibrio isost6tico) .. A linha tracejada indica como a grovidade varia com a odicco ou rernocoo do co~a quando oinda nco ocorreu d compensccco isost6tica, como ilustrodo em (0) e (e).

o ~'rocesso oposto, so~rguiRento, res~l~a da remocao de urna. carga eX1stent~na superficie da 'crosta, como nos casQs do degelo de calotas glaci-

. d -' ) de a hosi A

ais ou a erosao intensa e areas rnontan osas,

Escandinavia, por exemplo, encontra-se em fase de soerguimento (de ate lcrn/ano), reto.rnando ao equilibrio isostatico, devido ao desaparecimento do gelo que ali existia hi cerca de 10.000 anos. Esse movime.nto persistira ate que 0 equi4P,rio isostatico seja totalmente atingido. Nessas situacoes, a falta de equilibrio isostatico pode ser revelada pela presenca de anomalias de gravidade (Fig. 4.10).

4.6 A Terra como urn Imenso ima

Hoje estamos absolutamente familiarizados com o magnetismo terrestre atraves do uso da bussola para orientacao. Este instrumento nada mais e do que uma agulha imantada, livre para girar no plano horizontal, sendo atraida pelos poles magneticos da Terra. Desde ha seculos, esta propriedade fisica da Terra e conhecida e tem-se relatos de que a bussola ja era usada par volta de 1100 d.C. pelos chineses, a quem e atribuida sua descoberta, Evidentemente, a forma da bussola era muito diferente da atual: uma colecao de contos persas escritos em 1232 descreve uma folha de ferro em forma de peixe usada como bussola dez anos antes ou, como relatado par escritores arabes, uma agulha magnetizada flutuava em igua apoiada em madeira au junco.

- - - - - - - -. -:" ~-:. ~. -: .. ----:-. ~ ,",,:, .-' ,.. - - - - - - - -

(b)

------:.... ------

(c)

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,---------,

72 DEC I F RAN D 0 ATE R R A

Mas as primeiras irrvestigacoes sobre 0 fenomeno do magnetismo s6 tiveram inicio em 1269 com as experiencias de Petrus Peregrinus de Maricourt. Ele esculpiu rnagnetita (mineral magnetico de 6xido de ferro) nurna forma esferica, da qual aproximava pequenos Imas, Desenhou sobre a superficie esferica as direcoes indicadas por eles, obtendo linhas que circundavam a esfera e interceptavam-se ern dois pontos, da mesma forma que as linhas da longitude sobre a Terra interceptam-se nos palos. Por analogia, ele denominou esses pontos de palos do Ima, Na Inglaterra, William Gilbert repetiu e ampliou tais experiencias, reunindo todo 0 conhecimento de ate entao sobre magnetismo no tratado De Magnete, publicado em 1600. A partir das semelhancas no comportamento magnetico com a magnetita esferica, ele reconheceu que a propria Terra era urn imenso Ima,

Mas foi apenas depois de 1838 que se pode conhecer rnelhor a distribuicao do campo magnetico terrestre, quando Carl Friedrich Gauss cornecou a fazer medidas sistematicas da intensidade do campo geomagnetico. Atrayes de analise rnatematica, mostrou que 95% do campo rnagnetico da Terra originam-se no seu interior e somente urna pequena parte restante provem de fontes externas.

Por outro lado, a conclusao de Gilbert de que 0 campo rnagnetico da Terra e semelhante ao da esfera de magnetita equivale a dizer que a Terra e urna esfera uniformemente magnetizada. A forma do campo magnetico

60°

300

-300

-600

,-1800

-600

Fig. 4.12 Mapa de declmocoo rncqnetico indicando a posicco dos p610s eo linha de decllnocco zero. Fonte Langel.et 01., 1980.

1200

-120°

dessa esfera e semelhante a de urn ima de barra que chamamos de dipolo. Podemos entao imaginar a Terra como urna esfera, no centro da qual existe urn dipolo ou Ima de barra (Fig. 4.11). 0 eixo do dipolo geocentrico esta pr6- ximo do eixo de rotacao da Terra e faz com ele urn ingulo de cerca de 11,5°. Por esta razao, a agulha de urna bussola, em geral, nao aponta para 0 norte mas sua direcao faz

Fig. 4.11 0 campo rnoqnetico terrestte e equivolente 00 campo de um dipole, cujo eixo faz um angulo de 11,5° com 0 eixo de rotccdo do Terra e est6 um pouco afastodo de seu centro.

600

1800

Capitulo 4 • Investigando 0 Interior do Terra 73 ·

urn angulo com a direcao norte-sul, fato este ja conhecido dos grandes navegantes desde 0 seculo XVI. Esse angwo de desvio da agulha e a declinacao magnetica,

A agulha da bussola desvia do norte geografico para Leste ou para Oeste segundo urn angulo que dependera do local onde se encontra 0 observador em relacao aos polos geografico e magnetico, Desta forma, se 0 ponto de observacao e esses polos estiverem alinhados sobre 0 mesmo meridiana, entao a declinacao sera zero. Se 0 eixo do dipolo coincidisse com 0 eixo geografico, nao haveria declinacao (Fig. 4.12). Somente nos pontos correspondentes a linha de declinacao zero (ou linha ag6nica) da Fig. 4.12 e que a agulha indicara 0 norte geografico verdadeiro.

Entretanto, 0 campo magnetico da Terra nao e urn dipolo perfeito e cerca de 5% desse campo e irregular, ou seja, nib-dipolar. A conjugacao desses dois campos provoca desvios nas linhas de declinacao magnetica, bern como em todas as linhas de forca do campo magnetico terrestre, pois 0 campo nao-dipolar e diferente para cada regiao da superficie da Terra, resultando numa distribuicao de intensidades (Fig. 4.13) diferente daquela esperada para urn campo dipolar.

A intensidade do campo geomagnetico e muito fraca, cerca de 50.000 x 10-9 T ou 50.000 nT (f =r=: senta Tesla que e a unidade de inducao magnetica no Sistema Internacional; correntemente usa-se tambem

a unidade gamma - y que equivale 1 nT; (ver tabela de unidades no final do livro). Isto corresponde a urn campo centenas de vezes mais fraco do que 0 campo entre os poles de urn Ima de brinquedo. A intensidade varia conforme a regiao considerada sobre a superflde da Terra, sendo menor proximo ao Equador e maior em direcao aos poles (60.000 nT no polo magnetico norte e 70.000 nT no polo magnetico sul), como po de ser observado na Fig. 4.13.

Uma agulha imantada livre para girar em torno de urn eixo horizontal nao permanece na horizontal. Ela acompanha as linhas de forca do campo magnetico (Fig. 4.11), de tal forma que a extremidade norte da agulha inclina-se para baixo no hemisferio Norte e, para cima no hernisferio Sui. 0 angulo que a agulha faz com 0 plano horizontal e chamado de inclinacao magnetica, Sobre os polos rnagneticos a agulhacoloca-se na posicao vertical e portanto a inclinacao e de 90°. Em pontos intermediaries, 0 angulo de inclina<;ao varia ate chegar a zero no equador magnetico, onde as linhas de forca sao paralelas a superficie. Os polos magneticos estao localizados a aproximadamente 78°N 104°We 65°5 139°E, portanto nao SaO diametralmente simetrico s, afastando-se cerca de 2.300 km do antipoda. Desta forma, a melhor representacao do campo magnetico terrestre e a de urn dipolo cujo eixo esta deslocado em relacao ao centro da Terra de 490 km. Este dipolo e chamado dipolo excentrico.

-1800 -120° -600 00

Fig. 4.13 Mapa de intensidade total do campo qeornoqnetico em milhres de n T.

600

1800

1200

74 0 Eel F RAN DO ATE R R A

Os palos magneticos migram a uma velocidade de cerca de 0,2° por ano ao redor do polo geografico (Fig. 4.14)" em geral sem se afastar mais do que 30° deste Ultimo, porem descrevendo uma trajet6ria irregular. Assirn e que a declinacao magnetic a de urn local, muda continuamente, aumentando ou climinuindo. Torna-se entao necessario corrigir 0 valor de declinacao conhecido para urn determinado ponto cia superffcie terrestre a cada cinco anos aproximadamente. Comose pode deduzir facilmente, os palos magneticos levam alguns milhares de anos para percorrer os 360° de ttajet6ria ao redor dos poles geograficos.

I, looE

~--~~~--~~~

Fig. 4.14 Movimento do polo rnnqnetico norte ao redor do polo geogr6fico durante 0 periodo compreendido entre aproximadamente 69.000 e 45,500 anos atr6s, como registrado em rochas sedimentares do Jopoo. Fonte: Dawson e Newitt, 1982.

Nao s6 a direcao, mas tambem a intensidade do campo geomagnetico variam com periodos muito lentos e, por isso, 0 eonjunto dessas variacoes reeebe 0 nome de variacao secular. A origem da variacao secular e interna a Terra e deve-se aos proeessos geradores do campo geornagnetico que ocorrem no nucleo da Terra.

4. 7 Representacao Vetorial do Campo Magnetico

Uma vez que 0 campo magnetico terrestre nao e constante no espa<;o, variando tanto em direcao como em intensidade, torna-se necessario representa-Io

vetorialmente nurn sistema de eixos ortogonais convenienternente escolhidos, como mostra a Fig. 4.15.-0 eixo x tern direcao norte-sul, y tern direcao leste-oeste e 0 eixo vertical z e tornado com sentido positive para baixo. 0 angulo de declinacao D e 0 angulo entre 0 meridiano magnetico que passa pelo ponto considerado e a dire<;ao norte-sul. A inclinacao magnetics leo angulo que 0 vetor campo magnetico total F faz com 0 plano hori-

zonta ~ X

~0'<8

~ I

- ..... -~- - i+\: -~~ooeu

-: ,'~)

: ...

~~~~----~.~' ... ~~--~~------~ y

z

.... _--

.: ~--- - ..

. ,~'

z (vertical)

Fig. 4.15 Representccco vetorial do campo qeorncqnetico. Os eixos x e y coincidem com as direcoes geogr6ficos e 0 eixo 2 tem sentido positivo em direcco ao centro da Terra. Os angulos D e .I 500, respectivamente, a decllnccco e inclinocco moqneticcs.

Como e visto na Fig. 4.15, os componentes do campo geomagnetico relacionam-se atraves das equacoes abaixo:

2 2 Y,

F=(H+Z) (4.7) ou

2 2 2 'f,

F=(X+Y+Z-)

D=arctg (-5f) f=arctg (~)

(4.8) (4.9) e (4.10)

4.8 A Magnetosfera

Apesar de fraco, 0 campo geomagnetico ocupa um-= volume muito grande, com suas Iinhas de forca esten-v-; dendo-se a distancias de lOa 13 raios terrestres (vide secao 4.3). A regiao ocupada pelo campo magnetico terrestre recebe 0 nome de magnetosfera (Fig. 4.16). E uma regiao com forma caracteristica, assimetrica em rela<;:ao a Terra, asseme1hando-se a urna gota com cauda

. extremamente comprida. Essa forma particular e consequencia principalmente do chamado vento solar, que sera explicado a seguir.

Capitulo 4 • Investigondo 0 Interior do Terra 75 '

)

Fig. 4.16 Represenrocoo esquem6tica da magnetosfera e a<;oo do vento solar sobre as linhas de force do campo qeomcqnetico.

Observacoes com equiparnentos a bordo de naves espaciais levaram a conclusao de que 0 espa<;:o entre a Sol e a Terra nao e urn vacuo quase perfeito como se acreditava, mas esta preenchido par urn gas ionizado constituido de particulas com diferentes energias (nucleos de atomos, principalmente de hidrogenio e eletrons), que sao emitidas pelo Sol e par isso chamado de vento solar. 0 vento solar £lui a uma velocidade de cerca de 300 a 500 km/ s; proximo da Terra exerce uma pressao sobre 0 campo magnetico, cornprimindo-o. No lado da Terra que nao esta sendo iluminado peio Sol, isto e, no lado noite, as linhas de forca do campo nao sofrern essa pressao e estendem-se a distancias que correspondem a mais de 2.000 vezes 0 raio da Terra, chegando a atingir a Lua.

Ocampo magnetico terrestre desempenha urn papel importante como blindagem, impedindo que as particulas solares mais energeticas atinjam a superficie terrestre, causando danos a biosfera. Quando ocorrem erupcoes solares, hi emissao de grande quantidade de patticulas de alta velocidade, que alcancam a Terra em algumas dezenas de minutos. Patte ?essa radiacao e bloqueada pelo campo geomagnetico e nao atinge a atmosfera. Entretanto, nas regi6es polares, onde as linhas de forca do campo geomagnetico colocam-se perpendicular-

mente a superficie da Terra, as particulas penetram facilmente ate a atmosfera superior au ionosfera inferior (60 krn a 100 km de altitude), porque sao conduzidas pelas proprias linhas de campo.

A ionosfera corresponde a camada rnais extema da atmosfera terrestre (Fig. 4.17) e se caracteriza por ser urna camada eletricamente condutora, constituida pot ions e outras particulas carregadas (eletrons e protons). POt essa razao, ela e utilizada naradiocornunicacao, propagando e refletindo ondas de radio, Quando essa camada e invadida por urn £luxo de radiacao solar mais intenso, sua condutividade eletrica e alterada, podendo causar interrupcoes na comunicacao de radio.

600
1.0 -12
500
'10 '. A.uror~s boreais e austrais
400
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TERMOSFERA
300
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10 10 ,.
0 1000 1- Fig. 4.17 Desenho esquem6tico das camadas que comp6em a atmosfera, ilustrando a propoqccco e reflexoo de ondas eletrorncqneticcs utilizadas na rodiocornunicccco. A linha vermelho representa a varia<;oo de temperatura no Ozonosfera e no lonosfera. Fonte: A. Miller, 1972.

76 DEC IF RAN 0 a ATE R R A

4.9 Pot que 0 Campo Magnetico e Variave1r

o efeito da atividade solar e sentido pela magnetosfera continuamente, sendo que 0 lado da Terra iluminado pelo Sol (lado dia) e 0 lado que sofre as perturbacoes, 0 lado noite, em geral, nao e afetado. Dependendo da intensidade da atividade solar, faz-se a distincao entre dias magneticamente calmos e dias ativos ou perturbados (Fig. 4.18). A magnitude das variacoes geomagneticas regulares (dias calmos) e somentecerca de 1/1.000 da in tensidade do campo geomagnetico total. Em deterrninados dias, contudo, ocorrem grandes perturbacoes equivalentes a varies graus na declinacao e a ate 1.000 nT (1.000 G) au mais em intensidade. Esses disnirbios sao chamados de tempestades magneticas.

Fig. 4.18 Diagramas de ~oria<;60 do intensidade geomagnetica 00 longo de per/ados de 24 horos durante dias magneticamente calmos (11/03/1979) e perturbados (1 e 8/03/1979), conforme registrado no observat6rio magn8tico de Toolangi, Australia.

Uma tempestade magnetica ocorre em geral urn dia apos a apareeimento das chamas solares, que sao emissoes luminosas de grandes proporcoes da regiao mais externa do Sol (a cromosfera). Por ocasiao desses fenornenos, 0 Sol ernite nao so radiacao de onda visivel, mas tarnbem urn fluxo corpuscular que viaja com veloeidade de 1000 km/ s e atinge toda a Terra eausando disnirbios magneticos. As tempe stades SaO freqiierites e podem oeorrer ate varias vezes durante urn mesmo meso Tern inicio repentino e seus efeitos sao sentidos durante urn dia ou varies dias, Uma vez que as ternpestades eausam interferencia na cornunicacao de

. radio, e interessante poder preyer sua ocorrencia.

Entretanto, os seus "sintomas" so sao percebidos nas observacoes magneticas poueo antes de aeonteeerem.

Uma tempestade pode ser acompanhada pelo aparecimento de urn dos fenomenos luminosos mais intensos e fascinantes no ceu, que sao as auroras boreais ou austrais nas regioes polares norte ou sul, respectivamente. A aurora e eausada pela emissao de luz da atmosfera superior numa forma parecida com uma desearga eletrica (Fig. 4.19). Aparece como uma cortina luminosa de cor esverdeada au rosea, com a borda inferior a cerca de 100 km de altura e a superior talvez a 1.000 km. o fluxo de energia emitido par uma aurora intensa e apenas tres vezes menor do que 0 fluxo de energia refletido pela Lua na fase cheia.

Fig. 4.19 Fotografia de uma aurora boreal.

-

Capitulo 4 • Investigondo 0 Interior do Terra 77 .

4.10Mapas Magneticos e Anomalias Magneticas

A distribuicao do campo geomagnetico sobre a superficie da Terra e melhor observada em cartas isornagneticas, isto e, mapas nos quais linhas unem pontos que correspondem a um mesmo valor de urn determinado parametro magnetico,

Contornos de igual intensidade para qualquer componente do campd sao chamados de linhas isodindmicas (Figs. 4.12 e 4.13). E importante observar que urn fenorneno como 0 campo geomagnetico mostre tao pouca relacao com as feicoes principals da geologiae geografia. As linhas isomagneticas cruzam continentes e oceanos sem disnirbios e nao mostram relacoes 6bvias com as grandes cadeias de rnontanhas ou com as cadeias submarinas. Esse fato deixa claro que a origem do campo geomagnetico necessariamente tern de ser profunda.

o mapa da intensidade total do campo (Fig. 4.13) mostra que 0 campo magnetico terrestre e mais complicado que 0 campo que seria associado a urn simples dipolo geocentrico. Se 0 campo fosse exatamente urn campo dipolar, as linhas de mesmo valor da intensidade total ,(Fig. 4.13) seriarn linhas paralelas ao equador magnetico do dipolo (linha sobre a qual a inclinacao magnetics e igual a zero), isto e, exceto perto dos polos, elas seriam praticamente retas nesse mapa. Esta diferenca e chamada de campo nao-dipolar ou anomalia geomagnetica. Quando as cartas isomagneticas sao construidas a partir de pesquisas mais pormenorizadas, os contornos aparecem superpostos por campos localizados devido a fontes magneticas na crosta da Terra. Estas anomalias com secoes transversals de 1 a 100 kmou mais nao podem ser representadas nurn mapa de escala global (Fig. 4.20).

Concentracao de minerais magneticos em rochas e algumas correntes eletricas fracas na crosta ou nos ocea-

78 DEC I F RAN D 0 ATE R R A

0$
24,35
1400
1200
1000
24.39 800
600
400
24,43
-400
-soo
·800
24,47 ·1000 Fig. 4.20 Anomalia rncqnetico de infensidade total gerada por concentrccoo de minerais rncqneticos em corpo igneo intrusive na reqlco de Juquic, Estado de Sec Paulo. Cortesia de W. Shukowsky.

nos sao as principais fontes responsaveis pelos campos localizados. Essas itregularidades de superficie ou anomalias magneticas podem ter intensidades correspondentes a uma pequena porcentagem do campo normal-mas, acima de jazidas de ferro ou depositos magneticos proximos a superficie, estas anomalias podem exceder 0 campo da Terra. E na busca e interpretacao dessas anomalias que se baseia 0 metodo magnetico em prospeccao geofisica.

4.11 0 Mecanismo de Dinamo na Geracao do Campo Magnetico

Como visto ate aqui, 0 campo magnetico da Terra e razoavelmente bern representado POt urn dipolo magnetico localizado em seu centro. Entretanto, cabe a pergunta - 0 que poderia causar esse magnetismo? A ptesen<;a de minerais petmanentemente magnetizados nas cardadas superficiais da Terra nao e suficiente para explicar a intensidade do campo geomagnetico. Alern do mais, esses minerais nao sao suficientemente moveis para explicar as mudancas periodic as na direcao e intensidade do campo. Desta forma, algum outro mecanismo capaz de gerar urn campo magnetico com as caracteristicas observadas deve set ptOposto. A analise de ondas sismicas indica que pelo menos parte do nucleo da Terra e fluido, Ja e universalmente aceito que 0 movimento desse f1uido metalico gera correntes eletricas que, por sua vez, induzem campo magnetico, Entretanto, discute-se ainda de que forma 0 fluido metalico flui no nucleo, que fonte de energia coloca 0 fluido em movimento e como esse movimento da origem a urn campo rnagnetico, Essas

questoes sao dificeis de responder porque 0 nucleo nao pode ser investigado diretamente e as altas pressoes e temperaturas laexistentes sao dificeis de reproduzir em laboratorio, Mas a combinacao de re~ultados teoricos e experimentais ji permitiu estabelecer alguns fatos.

o nucleo consiste de urna esfera gigante, essencialmente metalica, do tamanho aproximado do planeta Marte. Sob condicoes normais, 0 micleo fluido conduz calor e eletricidade ate melhor que 0 cobre, e tern provavelmente a mesma viscosidade que a igua. Com urn raio medic de 3.485 km, corresponde a cerca de 1/6 do volume cia Terra e a cerca de 1/3 de sua massa. A densidade do micleo varia de, no minimo, 9 vezes a densidade da agua nas suas bordas ate 12 vezes a densidade da igua no seu centro. Os calculos de densidade combinados com as hipoteses acerca da origem do sistema solar sugerem que 0 nucleo e composto principalmente de ferro e niquel com traces de elementos mais leves como enxofre e oxigenio, No seu interior, localiza-se urn nucleo interno com propriedades diferentes. Tern urn raio de 1.220 km, 0 que corresponde a 2/3 do tamanho da Lua e, ao contrario do nucleo externo, e solido.

A partir dessas informacoes, a unica teoria viavel de gera<;ao do campo magnetico terrestre e aquela que trata o nucleo como urna especie de dinamo auto-sustentavel, Este modele foi desenvolvido por volta de 1950 por Bullard e Elsasser. Urn dinamo e qualquer mecanismo que converte energia mecanica em energia eletrica, como aquele utilizado em centrais hidreletricas, 0 dinamo da Terra e auto-sustentavel porque, depois de haver sido disparado par urn campo magnetico que poderia ter sido muito fraco (como por exemplo 0 proprio campo do sistema solar), continuou produzindo seu Rroprio campo sem suprimento de campo externo, 0 liquido metalico do nucleo terrestre, movendo-se de maneira apropriada (Fig. 4.21), agiria como um dinamo, necessitando apenas de um suprimento continuo de energia para manter 0 material em movimento.

Uma das fontes de energia mais provaveis nesse caso seria a movimentacao do fluido causada peIo seu resfriamento, corn a cristalizacao e fracionamento de fases minerais densas, liberando energia potencial. Pode-se estabelecer assim urn movirnento de conveccao provocado por diferencas de temperatura e composicao do fluido, que devem ser mantidas para que 0 movimento nao cesse, 0 movimento de rotacao da Terra exerce uma forca no> fluido do nucleo, chamada forca de Coriolis, que atua em qualquer massa que descreva urn movimento de rotacao, Esta e a me sma forca responsa-

Capitulo 4 • Investigando 0 Interior da Terra 79 ·

vel pelos movimentos cicl6nicos do ar e das correntes marinhas, A massa e acelerada em uma dire~ao perpendicular ao seu movimento, fazendo com que, no caso do fluido condutor do nucleo, estabelecam-se espirais de material condutor que vao gerar campo rnagnetico com resultante aproximadarnente paralela ao eixo de rotacao da Terra.

4.12 0 Magnetismo da Terra no Passado Geologico

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As cbservacoes do campo magnetico terrestre resumernse a apenaS' alguns seculo s, considerando-se at aquelas mais rudimentares em que, por questoes praticas de navegaC;ao, rnedia-se a declinacao

em rotas maritimas e portos visitados, Este e um intervalo de tempo muito curto em cornparacao a hist6ria cia Terra. Entao cabe pergunrar: ted tido 0 campo magnetico terrestre sempre ° mesmo padrjio que ° atual? Ten! sempre e xistido 0 magnetismo da Terra ou sera apenas transit6rio?

IIIIIII

\

Fig. 4.21 Movimento do fluido condutor do nucleo externo e geraC;ao do campo rncqnetico dipolar, indicado pelcs linhas de force. Fonte: Jeanloz, 1983.

Quest6es desse tipo puderam ser respondidas a partir de quando se verificou (meados do seculo XX) que a historia rnagnetica da Terra nao se perde completamente, mas fica registrada como urn magnetismo fossil nas rochas. Alguns minerais que contern ferro, ao serem submetidos a urn campo magnetico, comportam-se como Imas permanentes, isto e, esses minerals retem uma magnetizacao que e chamada remanescente, mesrno depois de cess ada a acao do campo magnetico. Substancias desse tipo sao chamadas ferromagnetic as. Os principais min.erais magneticos presentes nas rochas sao os 6xidos de ferro, como por exernplo, a magnetita (Fe30J e a hernatita (FeZ03). Embora estejam presentes em pequena proporcao (cerca de 1 %), esses minerais sao, em geral, os responsaveis pelas propriedades magneticas de uma rocha.

.A intensidade de magnetizacao das rochas e em geral ftaca mas, atraves de instrumentos sensiveis, e possivel deterrninar a direcao cia magnetizacao remanescente e

tentar reconstruir ° passado magnetico da Terra. 0 estudo sistematico das rochas com essa finalidade e chamado de P.aleomagnetismo. 0 mesmo principio do

- Paleomagnetisrno pode ser aplicado a ceramicas e fornos arqueologicos e este estudo recebe 0 nome de Arqueomagnetismo. Esses materiais ceramicos sao particularmente apropriados para se determinar a intensidade do campo durante os tempos hist6ricos. Foi atraves do Arqueomagnetismo que se constataram as variacoes de intensidade do campo cia Terra.

Os estudos paleomagneticos indicam que a Terra tern tido urn campo magnetico significativo, pelo menos durante os ultimos 2,7 bilhoes de anos. Entretanto, varias rochas apresentam magnetizacao inversa a esperada, isto e, compativel com urn campo geomagnetico de polaridade oposta a do campo atual, com linhas de forca que emergem do p610 norte e convergem para 0 polo sul. Acreditava-se, a principio, que aquelas rochas teriam propriedades especiais, adquirindo magnetizacao contraria a do campo magnetizante, Porem, grande numero de experiencias mostrou que somente· algumas poucas rochas apresentavam tal propriedade. Datacoes por metodos radiornetricos, associadas a determinacoes de polaridade dernonstram claramente que tern havido intervalos nQS quais as rochas de todas as regioes da

80 DEC I F RAN D 0 ATE R R A

I

Terra adquiriram magnetizacaocom polaridade igual a atual e, alternadamente, intervalos em que todas as rochas adquiriram polaridade oposta. Nos anos 60 foi estabelecida uma escala de reversoes (Fig. 4.22), agrupando-se os dados normais e reversos de varias regioes da Terra numa sequencia crono16gica, confirmandoconclusivamente a realidade das reversoes. 0 campo geomagnetico permanece em uma determin ada polaridade durante intervalos variaveis de aproximadamente 105 a 107 anos, e para completar-se uma transicao de polaridade sao necessaries 103 a 104 anos.

OUGOOENO

Fig. 4.22 Escala de invers6es de polaridade ou reversoes do compo qeorncqnetico nos oltirnos 80'milh6es de onos. Foixas escuras representam polaridade normal e faixas claras, polaridade inversa. A direito, detalhe da coluna, ressaltando epocos e eventos de polaridade ocorridos nos ultirnos 4,5 milh6es de anos e que recebem nomes especiais.

4.13 A Hist6ria Gravada das Inversoes de Polaridade

Na epoca em que se iniciaram as pesquisas rnagneticas nas rochas da crosta oceanica, feitas por navios oceanograficos levando a bordo magnerometros, revelou-se urn fato surpreendente. A nordeste do Oceano Pacifico, foi mapeado urn padrao de anomalias magneticas lineares, diferente de qualquer padrao conhecido nos continentes, Esse padrao e formado por faixas de polaridades alternadas e dispostas simetricamente em relacao a cadeia meso-oceanica, como ilustrado na Fig. 4.23.

Vine e Mathews propuse.ram em 1963 que esse padrao "zebrado" era conseqiiencia da expansao do assoalho oceanica e das reversoes do campo geomagnerico, atraves de urn processo representado esquematicamente na Fig. 4.23. 0 material .fundi do

cade·ia

Fig. 4.23 Podrco "zebrado" de anomalias do assoalho ocednico e sua relccco com a tectonico de placas.

-

Capitulo 4 • Investigando 0 Interior do Terra 81 '

do manto, ascendendo em correntes de conveccao atraves das cadeias oceinicas, esfria ao atingir a superficie terrestre. Os minerais ferromagneticos (principalmente magnetita) cristalizados nesse magma adquirem magnetizacao induzida pelo campo geomagnetico. Essa magnetizacao sera permanentemente retida por esses minerais quando atingirem temperaturas abaixo de urn cerro valor caracteristico. Essas temperaturas Sao chamadas de temperaturas de Curie que, para a magnetita, e da ordem de 580°C_ A nova rocha assim forrnada e ja magnetizada constitui-se num novo segmento do assoalho oceanico, que lentamente afasta-se da cadeia, enquanto por ela nove material ascende. Nesta fase, se 0 campo geomagnetico inverteu a polaridade, surgira entao uma nova faixa de assoalho, desta vez com polaridade invertida. Assim, surge, a longo prazo, 0 padrao zebrado simetrico a cadeia, tal como foi observado, 0 assoalho oceanica comporta-se, portanto, como uma esteira rolante que grava a historia dasreversoes do campo geomagnetico tal qual uma fita magnetica, a medida que vai se formando no tempo geol6gico.

4.14 Magnetismo das Rochas e a Deriva dos Continentes

o paleomagnetismo nao se contribui para a reconstituicao da historia do campo magnetico da Terra, como tambem fornece informacoes quantitativas sobre os processos que afetam as camadas superficiais da Terra, revelados como grandes movimentos laterais dos continentes ou' deriya continental. Nos arros 50, resultados paleomagneticos reavivaram 0 interesse nas sugestoes de que os continentes se moveram consideravelmente durante 0 tempo geologico. Alfred Wegener propos em 1910 que todos os continentes ja haviam estado agrupados nurn unico "supercontinente'', que ele chamou de Pangea. Ele sugeriu que essesupercontinente teria se desmembrado hi cerca de 200 rnilhoes de anos, Entretanto, suas ideias nao foram aceitas por muitos cientistas e a discus sao sobre a deriva continental ficou estagnada ate que os resultados paleomagneticos trouxeram novas evidencias,

A magnerizacao remanescente de rochas de mesma idade e magnetizadas simultaneamente pelo mesrno campo magnetico deve indicar a mesma localizacao para os palos magneticos associados a esse campo indutor; Entretanto, a rnagnetizacao de rocbas antigas e de mesma idade, provenientes de distintos continentes, indicam polos (palos paleomagneticos) diferentes (Fig. 4.24).

Fig. 4.24 Correlccco entre 0 vetor moqnetizccdo de uma roche (seta), definido pelos angulos de declinccco (0) e inclinocco (I), obtido em um sftio (S), e a posicdo do polo poleorncqnetico (P).

Sabendo-se que 0 campo geornagnetico so pode ser representado por urn unico dipolo magnetico, isto e, existe apenas urn par de p6los norte e sul situados proximos aos palos geograficos, a existencia de varios palos no passado geologico tern de ser descartada. A explica<;ao para 0 fato esta baseada no deslocamento dos continentes que tnodifica a orientacao da magnetizacao registrada em suas rochas, em relacao ao polo geografico. Poles paleomagneticos de mesma idade e pertencentes a diferentes blocos continentais podem set' deslocados ate que coincidam. Ao fazermos isso, os continentes de onde foram extraidas as rochas analisadas tambem se deslocam, chegando-se a reconstrucoes paleogeograficas surpreendentes, tal como ailustrada na Fig. 4.25 para a America do Sui e Africa.

A rnaneira mais conveniente de se representarem dados paleomagneticos para 0 estudo da deriva continental e ern termos da po sicao de palos paleomagneticos. Palos paleomagneticos para periodos geologic os consecutivos e, de urn unico continente, sao interligados para produzir-um caminho ou uma curva de deriva polar (Fig. 4.25). Torna-se aparente, quando se comparam as curvas para os varies continentes que, durante urn longo intervale de tempo, os continentes moveram-se conjuntamente e depois afastaram-se. 0 grau de divergencia entre duas curvas de

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deriva polar e a medida do grau de separacao dos continentes. Uma relacao entre a inclinacao do vetor magnetizacao (I) e latitude paleogeogr:ifica (<I» po de ser faeilmente obtida do modelo de dipolo geocentrieo, por trigonometria esferica:

tanI = 2tan <I>

(4.11 )

Com este dado e possivel avaliar quantitativamente a paleolatitude em que se encontrava uma deterrninada regiao da Terra. Por exemplo, os fil6es de roehas igneas (diques) que cortam as praias de Ilheus e Olivenca, na regiao sul do Estado da Bahia, apresentam magnetizacao cujo vetor coloca-se a ~66° de inclinacao em relacao ao plano horizontal. U tilizandose a formula 4.11, calcula-se que a latitude em que se formaram essas roehas hi urn bilhao de anos era de 48°, portanto muito mais elevada do que a atual (15°S), indicando que aquela regiao era de clima frio.

Neste capitulo estudamos os campos de gravidade e magnetico da Terra. Vimos como estas importantes propriedades fisicas podem ser utilizadas para se entender processos dinamicos que ocorrem em nosso planeta. Alern dis so, 0 mapeamento gravimetrico e magnetico da superficie perrnite identificar anomalias que refletem estruturas das camadas mais superficiais ou estao diretamente relacionadas com a presenca de depositos minerais. Desta forma, metodos de investigacao baseados em gravirnetria e magnetometria constituem importantes ferramentas geofisicas voltadas a prospeccao de bens minerais,

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Fig. 4.25 Curvas de deriva polar para a Ame~ rica do Sui e Africa e re construcco desses continentes, com a [usto pos ico o de parte dessas curvos. Notor que entre 200 e 130 rnilhoes de enos otros as curvos comec;om 0 divergir porque o s dois continentes migraram independentemente.

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