00 o Amor Pelo Inapreensível
00 o Amor Pelo Inapreensível
00 o Amor Pelo Inapreensível
Roberto Mello**
RESUMO
Este texto pretende descrever trs posies tericas no campo psicanaltico
marcadas por uma diferena na abordagem da questo sobre as relaes entre
psicanlise e educao. So aqui examinadas as contribuies dos psicanalistas
Catherine Millot no seu livro Freud Antipedagogo, de 1987, MD Magno, no seu
livro Pedagogia freudiana, de 1993, e Horus Vital Brazil, no seu livro O sujeito
da dvida e a retrica do inconsciente, de 1998, e no seu artigo Sobre as
diferenas entre psicanlise e psicoterapias, de 1988, publicado na revista Tempo
psicanaltico, que abordou o tema Psicanlise e Cultura, no seu n. 29, publicado
em 1997.
Palavras-chave: psicanlise; educao; posies tericas.
PSICANLISE E EDUCAO
Deve o psicanalista deixar a pedagogia para o pedagogo? Deve o
pedagogo deixar a psicanlise para o psicanalista? Existe alguma
possibilidade de se manter um dilogo produtivo entre psicanlise e
educao, com um mnimo de distores e interferncias lesivas aos
dois campos? Catherine Millot lembra que Freud (1908), no seu artigo
Moral sexual civilizada e doena nervosa moderna, no deixou um
tratado sobre educao, apesar de formular uma crtica severa s
prticas educacionais de sua poca, incluindo-a na crtica mais ampla
que fez civilizao ocidental capitalista do sculo XIX, ao combater os
excessos de uma moral hipcrita quanto s questes da sexualidade,
ressaltando o valor patognico da represso das pulses, como geradora
* Artigo recebido em 15/08/2005 e aprovado em 30/08/2005.
** Psicanalista (Fazenda Freudiana de Goinia). E-mail: [email protected].
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um impossvel gozo (Por estranho que parea, creio que deveria ser
considerada a possibilidade de que alguma coisa, da prpria natureza da
pulso sexual, no seja favorvel realizao da satisfao completa,
como diz Freud em Contribuies psicologia do amor II, de 1912);
e, por outro lado, fazendo reconhecimento da pulso de morte, a partir de
1920, com Alm do princpio do prazer, e em 1929, com O mal-estar
na civilizao, quando diz que Estaramos tentados a afirmar que no
entrou no programa da criao a determinao de que o homem seja
feliz.
O Freud das Novas conferncias, de 1932, prope que a criana
deve aprender ou comear a aprender a dominar seus instintos [melhor
traduzido por pulses] e a adaptar-se ao meio social. E, para isso,
preciso que a educao, em grande parte, a obrigue a isso [...] a educao
deve inibir, proibir, reprimir, e nisto se esforou amplamente em todos os
tempos. Ainda que a represso gere a neurose, impossvel permitir
( criana) uma liberdade total [...] A educao, ento, deve encontrar
seu caminho entre a Cila do deixar fazer e o Caribde da proibio.
Seria, ento, continua a argumentao alinhavada por Catherine Millot, o
caso de buscar o ponto timo dessa educao, quer dizer, a maneira
pela qual ser o mais benfica possvel, e o menos perigosa. Lembra
Millot que a educao no pode se ausentar da tarefa de adaptar a criana
ordem estabelecida:
A educao psicanaltica assumiria uma responsabilidade que no
lhe cabe tentando converter em revolucionrios aqueles que a recebem.
Sua tarefa consiste em tornar as crianas o mais sadias e capazes de
trabalhar que for possvel [...] no desejvel, sob qualquer ponto de
vista, que as crianas sejam revolucionrias.
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O CTICO E O ILUMINADO
Horus Vital Brazil, no seu livro O sujeito da dvida e a retrica
do inconsciente, lembra-nos que foi o poeta Beaudelaire que elegeu
Goya como um dos primeiros modernos: foi o pintor, desenhista e autor
de textos (Los Provrbios, Los Caprichos) que antecipou a denncia
das pretenses da soberania da razo no Iluminismo, fazendo uma
crtica satrica e com seu amor pelo inapreensvel situou a idade
moderna como a idade da razo crtica e descobrindo, na dimenso
social, a ambivalncia do efmero, do transitrio, do fugaz e do contingente
na histria. Vital Brazil cita o texto de Beaudelaire, dizendo que Goya
une graa, jovialidade, stira espanhola do bom tempo de
Cervantes, um esprito bem mais moderno ou, pelo menos, que foi
bem mais escrutado nos tempos modernos, o amor pelo inapreensvel,
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REFERNCIAS
MAGNO, MD. De Mysterio Magno. Rio de Janeiro: aoutra editora, 1990.
_____. Pedagogia freudiana. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
MILLOT, C. Freud antipedagogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987.
VITAL BRAZIL, H. Sobre a diferena entre psicanlise e as psicoterapias. Tempo
Psicanaltico, n. 29, 1997, Rio de Janeiro: SPID.
_____. O sujeito da dvida e a retrica do inconsciente. Rio de janeiro: Imago
Editora, 1998.