Filosofia e Educação - Confluências PDF
Filosofia e Educação - Confluências PDF
Filosofia e Educação - Confluências PDF
-CONFLUNCIAS
__________________________________________________________
Filosofia e educao - confluncias. Amarildo Luiz Trevisan;
Noeli Dutra Rossatto (Orgs.). Santa Maria, RS: Ed. FACOS/UFSM,
2004. p. 542.
ISBN 85 98031 11 - 9:
2. 3. 4.
__________________________________________________________
Ficha catalogrfica elaborada por
Biblioteca Central da UFSM
SUMRIO
APRESENTAO
Amarildo Luiz Trevisan e Noeli Dutra Rossatto .................... 08
PRAGMATISMO E EDUCAO
A Prtica do Pragmatismo: Aprender Vivendo, Viver Aprendendo
Floyd Merrell .......................................................................... 12
Pragmatismo, Filosofia e Verdade: Uma Introduo
Waldomiro Jos da Silva Filho ............................................... 48
ENSINO DE FILOSOFIA: NOVAS PROPOSTAS
Teoria dos Estgios da Argumentao
Frank Thomas Sautter ............................................................. 62
A Filosofia no Vestibular: Elitizao do Ensino, ou, Democratizao da
Filosofia?
Humberto Guido ..................................................................... 76
Apresentao
UFSM,
Editora
FACOS/UFSM.
A seguir, apresentamos os textos das palestras do evento que
resultaram na produo do livro. Na oportunidade, agradecemos a
contribuio valorosa e competente oferecida pelos palestrantes para o
esclarecimento das temticas abordadas. Juntamente com os textos das
comunicaes e oficinas pedaggicas j disponibilizados em forma de
CD-Rom, a reunio desses trabalhos dar uma idia bastante
aproximada do que foi a experincia do seminrio. Em ltima anlise,
uma experincia acadmica aberta, democrtica e pluralista, com nfase
na idia de fazer Filosofia no como um saber sublime e distante dos
outros saberes, e sim, algo capaz de dialogar com as diferentes reas do
conhecimento, debatendo, mas sempre respeitando e aprendendo com as
diferenas e semelhanas.
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PRAGMATISMO E EDUCAO
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A PRTICA DO PRAGMATISMO:
APRENDER VIVENDO, VIVER APRENDENDO
Floyd Merrell
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Primeiridade
Segundidade
Terceiridade
FIGURA 1
Peirce, entre plos opostos
3
Sobre a vaguidade e a generalidade no pensamento de Peirce, ver Brock (1979), EngelTiercelin (1992), Nadin (1982, 1983), Rescher and Brandom (1979), Rosenthal (1994,
2000) e Merrell (1997, 1998, 2000a).
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Primeiridade
Segundidade
Terceiridade
FIGURA 2
18
19
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21
22
algo porque tem as qualidades gerais que pertencem a toda uma classe
de objetos. Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. Simples e, ao
mesmo tempo, extremamente complicado.
Primeiridade
'Both + and -'
0
'Neither +
nor -'
'Either + or -'
Segundidade
Terceiridade
( )
FIGURA 3
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25
que o objeto do jogo vai ser algum objeto dentro da sala uma cadeira,
um quadro, o piano, a luminria, etc. A pessoa ausente agora volta. E
comea fazendo perguntas sobre a natureza de esse objeto que foi
escolhido. Cada pergunta que faz a possibilidade de que haja
adivinhado qual esse objeto escolhido. E se no adivinhar bem, j sabe
que tem que ser outro objeto. No momento que adivinha, acaba o jogo, e
a pessoa que teve que admitir que o adivinhador adivinhou bem agora
tem que sair. E o jogo comea de novo (ou, se o adivinhador no
adivinhar qual o objeto depois de fazer 20 perguntas, ele mesmo tem
que sair de novo).
Agora Wheeler conta que numa ocasio ele saiu da sala, e as
pessoas que ficaram presentes decidiram que no escolheriam nenhum
objeto. Wheeler mesmo teria que eliminar os objetos adivinhados depois
de cada pergunta que fez, um por um, at 20.
Figure 12 4
FIGURA
Mbius strip
26
rol como co-participantes com o universo fsico. Somos coparticipantes com a auto-organizao do universo. Somos uma parte do
nosso universo, e nossa percepo e concepo so co-existentes com
todas as caractersticas do universo mesmo. Quer dizer, o universo coparticipante com a nossa criao como entidades infinitesimais deste
mesmo universo, e ns somos co-participantes com a totalidade do
universo.6
Ento, de acordo com a Figura 3 o jogo de Wheeler das 20
perguntas comea do nada (0), e da temos possibilidades (
Primeiridade), a maior parte delas erradas ( Segundidade), mas
sempre existe outras possibilidades, algumas um pouco mais provveis
que outras ( Terceiridade). E continuamos, errando, de vez em quando
dando certo, e a cada passo aprendendo mais um pouco, dentro do jogo,
dentro do nosso universo.7
Um modelo do processo
Qual a natureza do processo de co-participao? Exemplifico
o processo atravs do modelo topolgico na Figura 4. uma Banda de
Mbius. Consiste de uma banda de duas dimenses que torcida e
conectada dentro de trs dimenses. Uma banda de duas dimenses tem
um lado e outro lado. Porm, a Banda de Mbius no tem lados; s
tem lado. Dentro destas trs dimenses que contm a banda, no
6
Agora, sua teoria complicada demais, e com minha experincia nas cincias e a
matemtica como professor nas escolas de segundo nvel eu alcano entender um
pouco mais, no tudo. Mas acho que o exemplo que oferece timo.
7
Eu gostaria de acreditar que de modo geral a teoria de Paulo Freire (1970) cabe dentro da
teoria de co-participao no sentido de que o mestre e o aluno colaboram na criao de
novidades para o aluno e no processo existe uma auto-conscientizao de parte dele.
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podemos dizer com certeza que parte da banda considerada como uma
banda de duas dimenses de um lado e que parte do outro lado. A
banda dentro de trs dimenses uma continuidade: no tem dois lados;
tem s um lado. Neste sentido a banda como -1, que tem a
representao neutra em i (ou na Figura 3). Dito de outra maneira, a
banda como as categorias: Primeiridade (+1), Segundidade (-1), e
Terceiridade (i, a mediao entre +1 e -1 de modo que qualquer ponto na
banda no nem de um lado nem de outro lado, porque no existem
lados).
O dobro da Banda de Mbius representa um aspecto da banda
em duas dimenses (este lado) e ao mesmo tempo o outro aspecto da
banda (o outro lado). como se Alice do Pas das Maravilhas pudesse
existir nos dois lados do seu espelho simultaneamente. Existe um
mundo (0 +1 [Primeiridade]) e seu mundo inverso (-1
[Segundidade]), e, alm disso, existe o espelho ( [Terceiridade]) que
une os dois mundos e d a possibilidade de tudo que existe dentro de
estes dois mundos e tudo que pode emergir no futuro.
FIGURA 5
Agora, se
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FIGURA 6
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Conhecimento
explcito
Concepo
b
Ateno
subsidiaria
a
c
Ateno
focal
Sentimento
-Sensao
(Feeling)
a =
b =
c =
Conhecimento
tcito
Interrelacionalidade
Interdependncia
Interao
FIGURA 7
Um exemplo
Considere voc o caso relativamente simples de dirigir um
carro. O aprendiz que quer ser motorista dentro das aulas tenta assimilar
as instrues verbais dadas a ele por seu professor, com um grande
nmero de exemplos visuais oferecidos. Mas tudo dificlimo s com
signos verbais e visuais sem interdependncia, inter-relacionalidade,
interao e co-participao com o mundo fsico. Por isso ele permanece
excessivamente embaraado a primeira vez que se encontra atrs do
volante. Ele deve se concentrar, s focalizando explcitamente e
intensivamente quase todos seus movimentos em srie. A tarefa
agonizante, e aps muitas tentativas, ele acaba todo suado. Porm
depois de muita prtica, sua destreza em dirigir gradualmente se torna
uma segunda natureza para ele. Ele aprende a colocar seus movimentos
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em
detalhes
peas
analisando
cada
pea
Contra o dualismo
O qumico e filsofo Michael Polanyi (1958) lutou por anos
com a idia de que todos ns, desde o mais humilde espcime humano
atrs do volante de um carro at Einstein e um mestre do xadrez,
conduzimos os negcios do nosso viver cotidiano na presena de
basicamente dois diferentes tipos de conscincia: focalizada e
subsidiria (Figura 7).
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termos
de
Polanyi,
voc
est
subsidiariamente
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subsidiria
para
conscincia
focalizada.
Neste
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E a aprendizagem? O conhecimento?
De novo a pergunta: Tem isso tudo algo a ver com a
aprendizagem e o conhecimento? Tem. A aprendizagem processo,
nunca produto. processo por meio da interdependncia, interrelacionalidade e interaopara usar esse trio de termos j
acostumados. Isto em geral a filosofia da educao de Alfred North
Whitehead (1957, ver tambm Gill, 1993).
Aprendizagem no uma imagem metafrica como a de
arrumar as malas. No questo de encher o crebro de fatos como se
jogssemos camisas, calas, calcinhas, e meias na mala, como se a
mente estivesse predisposta a organizar os fatos no sentido do
racionalismo dualstico. um processo de co-participao (Carl Rogers
1983). Tambm no a simples idia de observar fatos objetivos como
se o sujeito fosse um observador neutro (a teoria do sujeito como
espectador [spectator theory] segundo o termo de John Dewey
[1975]). No. A aprendizagem um processo de interao com o
mundo fsico e com a comunidade dentro da qual se encontra o sujeito.
a idia de Dewey, e tambm de Peirce, de que a mente e o corpo, o
corpomente, produto da evoluo biolgica, e por isso deve ser coparticipante de e com o mundo fsico; deve ser de uma natureza
compatvel com o mundo fsico; deve estar em harmonia e em
37
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As limitaes
Mas esse conhecimento, como processo dialgico, sempre fica
sem terminar. Fica incompleto (subdeterminado) e/ou inconsistente,
contraditrio ou paradoxal (sobre-determinado).9 Tudo sempre est
virando outra coisa diferente daquilo que foi. como dana. A
danarina e a dana so complementares. A dana precisa da danarina
para que possa se desenvolver como dana, e a danarina precisa da
dana para que consiga se desenvolver como danarina. No ato da
performance, a danarina e a dana no so duas; so uma como
corpomente um.
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Primeiridade
Possibilidade
Inconsistncia
('Both-And')
Sobredeterminao
Segundidade
Existncia
No-Contradio
('Either/Or')
Hiperdeterminao
Terceiridade
ProbabilidadeNecessidade
Incompletude
('Neither-Nor')
Subdeterminao
Figura 8
Esta unio entre danarina e dana, e entre corpo e mente, de
interdependncia, inter-relacionalidade e interao implica tambm uma
viso perspectivista. Mas no o perspectivismo de Friedrich
Nietzsche; de Nelson Goodman dos Jeitos de Fazer Mundos (ways
of worldmaking) (1978). Para Goodman, em primeiro lugar, o nosso
conhecimento do mundo questo de uma perspectiva particular e
sentida atravs das sensaes e o sentimento dentro do que eu
denomino corpomente concebido e articulado atravs da lngua. Em
segundo lugar, no existe s um mundo seno uma pluralidade de
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afastados dos processos hermenuticos, sobretudo maneira de HansGeorg Gadamer (1975). Ou, melhor dito, compatvel com o processo
da triangulao na interpretao radical de Donald Davidson (1984).
Como os trips das Figuras 1 a 3, duas pessoas em comunicao
ocupariam dois eixos e o objeto da comunicao ocuparia o terceiro
eixo. Mas no simples questo de um tringulo, porque os trs eixos
existem dentro de um sistema de interdependncia, inter-relao e
interao. Quer dizer, o processo de interconexo entre os trs lados do
tringulo um processo de integrao. E de onde comea essa
integrao? Desde Zero, 0. O Zero engendra e logo , e valores
positivos e negativos, e da tudo que h engendrado.
Limitaes, ou libertao?
Existem os objetos, atos e acontecimentos engendrados de
maneira tcita e os objetos, atos e acontecimentos explcitos, pelas
sensaes e os sentimentos (feelings), e pela ateno conscientemente
focalizada e a ateno subsidiria, tudo segundo a Figura 7. E a Figura
7 em conjuno com a Figura 8 demonstra que do possvel, passamos
pelo engendramento quer dizer, inveno, construo existncia
dos objetos, atos e acontecimentos do nosso mundo. Da, pelas
premissas, predisposies, propenses, inclinaes, e tambm os
preconceitos, temos a probabilidade e a necessidade de interpretar o
mundo segundo os costumes habituados. Da sobredeterminao e a
inconsistncia (onde pode haver Both-And), passamos aos objetos,
atos e acontecimentos que so para ns a
existncia e a
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Sujetividade
Mente
Interdependncia
Interatividade
Objetividade
Corpo
Segundidade
Interrelacionalidade
Idealismo ObjetivoRelativismo Sujetivo
Constructivismo
'CorpoMente'
Figura 9
44
Bibliografia
ALMEDER, Robert. The Philosophy of Charles S. Peirce. Totowa:
Rowman and Littlefield, 1980.
BOLER, John. Habits of Thought. In Studies in the Philosophy of
Charles Sanders Peirce, E. C. Moore and R. S. Robin (eds), 382-400.
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BROCK, Jarrett E. Principle Themes in Peirce's Logic of Vagueness.
In Peirce Studies 1, J. E. Brock, et al. (eds.), 41-50. Lubbock: Institute
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DAVIDSON, Donald. Inquiries into Truth and Interpretation.
Oxford: Clarendon Press, 1984.
DEWEY, John. Experience and Education. New York: Macmillan,
1975.
DOZORETZ, Jerry. The Internally Real, the Fictitious, and the
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Lubbock: Institute for Studies in Pragmaticism, 1979.
ENGEL-TIERCELIN, Claudine. Vagueness and the Unity of C. S.
Peirces Realism. Transactions of the Charles S. Peirce Society 28
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FANN, K. T. Peirces Theory of Abduction. The Hague: Martinus
Nijhoff, 1970.
FREIRE, Paulo. Pedagogy of the Oppressed. New York: Seabury
Press, 1970.
GADAMER, Hans-Georg. Truth and Method.
Crossroads, 1975.
New York:
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47
48
49
50
51
52
lingstico-pragmtico-hermenutica
dissolveria
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como
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A verdade , em Davidson, um conceito primitivo, qual seja, no pode ser definido. Isto
se d porque uma definio qualquer de verdade ter que ser elaborada
proposicionalmente e, deste modo, recorrer a caractersticas prprias a proposies
verdadeiras, ou seja, implicar o prprio conceito de verdade: necessitamos sempre
dominar o conceito de verdade que esses traos caractersticos da proposio pressupem.
Para definir a verdade precisamos dominar o conceito de proposio verdadeira e de
verdade, o que quer significar, o conceito de verdade indefinvel: Uma noo geral e
pr-analtica da verdade pressuposta pela teoria. Porque temos esta noo, podemos
determinar o que conta como evidncia para a verdade de uma sentena-T (Davidson, op.
cit., p. 223).
56
Para que algum tenha uma crena ser decisivo que compreenda a
possibilidade de estar equivocado e conhea o contraste entre verdade e
erro, crena verdadeira e crena falsa. No entanto, estes contrastes no
esto dispostos numa experincia ou na observao, mas na
interpretao que constituda pela idia de uma verdade objetiva,
pblica (Davidson, 2001, p. 170).
O sentido de objetividade, para alm da perspectiva idealista ou
realista e da epistemologia da primeira pessoa, conseqncia de
uma espcie de triangulao: o contedo do pensamento de uma pessoa
depende das suas relaes com outras pessoas e com o mundo, de modo
que para que se d tal triangulao se requer dois seres (supostamente
racionais) que interagem com um objeto e que se inscrevem, pela
interpretacao radical, num dilogo. Porque ambos partilham o conceito
de verdade lhes permitido dar um sentido suposio de que cada um
deles tem uma crena e que eles so capazes ter crenas sobre um
mundo objetivo. Este externalismo tem dois elementos caractersticos: a)
h a necessidade ontolgica de uma interao causal entre os objetos do
mundo e nossas crenas e b) h a exigncia do carter pblico e social
dos pensamentos e dos significados nas condies de uma comunicao
intersubjetiva.
Sem um intrprete que determine do exterior como uma cadeia
causal (que vai do mundo s palavras) determina o conhecimento do
significado de uma palavra, no h meio de definir se o sujeito utiliza
esta palavra corretamente ou no, com sentido ou no. Para explicar o
que e porque algum disse ou fez alguma coisa necessitamos interpretar
os objetivos, intenes, razes e crenas que o falante desposa: o
trabalho de interpretao obrigatoriamente est associado ao ato de
57
tempo,
pensar
na
impossibilidade
de
um
mundo
58
Bibliografia
DAVIDSON, D. Inquiries into truth and interpretation. Oxford:
Clarendon Press, 1984 e reeditado em 2001.
_____. Truth rehabilited, in Robert Brandom (ed.), Rorty and his
critics. Massachusetts/Oxford: Basil Blackwell, 2000.
_____. Rational Animal, in Dialectica, n. 36, 1982.
HABERMAS, J. in: J. Niznik e J. Sanders (ed.), Debating the State of
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QUINE. Word and Object. Cambridge/Massachusetts: MIT Press,
1999.
59
60
61
62
63
64
65
regras
estratgicas
(Hintikka,
2001,
p.
37).
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67
68
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PROPONENTE
OPONENTE
PROPONENTE
OPONENTE
PROPONENTE
OPONENTE
70
argumento
unilateral
quando
ele
se
compe
PROPONENTE
OPONENTE
OPONENTE
PROPONENTE
71
OPONENTE
PROPONENTE
OPONENTE
PROPONENTE
PROPONENTE
PROPONENTE
OPONENTE
OPONENTE
72
PROPONENTE
(Tese)
OPONENTE
(Dissenso da tese)
d
c
FULANO
a
BELTRANO
b
73
O Estgio 1 , a rigor,
um estgio pr-argumentativo, um
exclusivamente
positivos
ou
argumentos
ou
seja,
74
Bibliografia
HINTIKKA, Jaakko. Is logic the key to all good reasoning.
Argumentation, v. 15 (2001): 35-57.
PLEBE, Armando; EMANUELE, Pietro. Retrica, dialtica e filosofia:
uma antiga rivalidade. In: _____. Manual de retrica. So Paulo:
Martins Fontes, 1992. p. 11-34.
75
76
A FILOSOFIA NO VESTIBULAR:
ELITIZAO DO ENSINO OU DEMOCRATIZAO DA
FILOSOFIA?
77
78
79
80
esta
modalidade
do
secundrio
atendia
um
nmero
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para
tratar
dos
pensadores
em
suas
respectivas
pblicas
particulares,
ainda
eram
ministradas
83
metodolgica.
apresentao
dos
contedos
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87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
Bibliografia
ARANHA, M.L. & MARTINS, m.h. Filosofando, introduo
filosofia. So Paulo: Moderna, 1986.
ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.
Constituio do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Livraria
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Traduo de Antnio Pinto de Carvalho. So Paulo: Nova Cultural,
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Rohden. So Paulo: Nova Cultural, Volume II. Coleo Os Pensadores,
1988.
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Kant: textos seletos. 2.ed. Traduo de Raiumndo Vier. Petrpolis:
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NIELSEN NETO, H. Prolegmenos destruio do ensino no Brasil.
In: ___. (Org.) A filosofia no 2 grau. So Paulo: SEAF/SOFIA
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PLATO. A Repblica Livro VII. Traduo de Elza Moreira
Marcelina. Braslia/So Paulo: Editora da UnB/tica, 1989.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DE MINAS GERAIS.
Proposta Curricular de Filosofia 2 Grau. Belo Horizonte:
Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais, 1990.
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Ensino e razo
Para responder a esta questo, preciso mostrar em que mediada
a fala docente, enquanto condio de possibilidade da razo e do
ceticismo, torna possvel realizar uma epoch fenomenolgica das
discusses sobre o ensino de filosofia, em benefcio da tarefa de
filosofar sobre o ensino. Refletir sobre a situao de ensino j no uma
forma de reconhecer a necessidade e a possibilidade de se ensinar
filosofia? Neste caso, a filosofia no somente uma disciplina que faria
parte de currculos escolares, pois a relao inter-humana, sem a qual
no haveria a construo de conhecimento e nem o retorno necessrio do
ceticismo, a vida filosfica que se ignora ou que ainda no despertou
de seu sono, numa palavra, o filosofar como vida da linguagem e
surgimento do humano. Se verdade que a competncia e o saber de
cada profissional devem ser preservados e enriquecidos em toda prtica
educativa, verdade tambm que o filosofar surge ou emerge a partir do
encontro com a fala docente, estejamos ou no na condio de
professores.
Por conseguinte, a fala docente, passvel de estar implcita em
qualquer relao inter-humana, e que pode inclusive ser descrita por um
olhar fenomenolgico sensvel, deve ser assumida pelo profissional do
ensino, e de modo especial pelas prticas dos profissionais envolvidos
com filosofia. Esses profissionais talvez sejam os primeiros a ter
responsabilidade pela articulao entre presentificao e abertura ao
futuro, entre sincronia e diacronia, entre razo e ceticismo, pois esta
tenso constitui, mesmo que seja de um modo inconsciente, a trama
mesma do ensinar e do aprender, que no outra seno a trama do
prprio filosofar.
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110
111
112
Bibliografia
FRON, E.- De lide de transcendance la question du langage. L
itinraire philosophiique de Levinas. Grenoble: Jrme Millon, 1992.
FREIRE, Paulo - Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessrios
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LEVINAS, E.- Totalit et Infini. La Haye: Martinus Nijhoff, 1974.
LEVINAS, E. Autrement qu tre ou au-del de l essence. Paris:
Kluwer Academic, 1990.
LEVINAS, E.- De Deus que vem Idia. Trad. Pergentino S. Pivatto
(coord.), Petrpolis: Vozes, 2002.
PLATO. Dilogos. vol. V. Trad. Carlos Alberto Nunes, Universidade
Federal do Par, 1975.
113
114
Introduo
Os debates sobre ensino de filosofia no nvel mdio, nos
ltimos anos, permitem identificar algumas caractersticas do mesmo.
Apontarei algumas delas, sem pretender ser exaustivo:
a) no existem programas oficiais definidos por Secretarias
Estaduais de Ensino ou Coordenadorias de Educao Regionais ou
Municipais;
b) quanto escolha dos programas de ensino, predominam as
decises tomadas pela escola e, em ltima instncia, pelo professor.
Com isso, a unidade existente entre as aulas de filosofia das diversas
escolas de uma mesma regio, quando existe, est baseada na adoo
dos mesmos livros didticos;
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Os
processistas
so
muito
sedutores.
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e todas e cada uma das demais disciplinas, que, cada uma a seu jeito, so
peas fundamentais na formao crtica de cada um de ns. Se
quisermos entender o papel de cada disciplina nesse processo, isso nos
obriga a procurar algum esclarecimento sobre a natureza de cada uma
delas. nesse sentido que procuro por uma compreenso mais contida
do lugar pedaggico da filosofia. Para tanto, vou sugerir um esquema
que est baseado na idia de que as disciplinas escolares, em ltima
instncia, representam os esforos humanos para dar conta das nossas
curiosidades mais legtimas, de nossos mais legtimos anseios de
compreenso. Nesse sentido, as disciplinas da rea de Cincias Naturais
Fsica, Qumica, por exemplo visam dar conta de como o mundo ,
de como o mundo funciona, por assim dizer, sem as gentes. As
disciplinas escolares como as Sociais e Humanas Sociologia, Histria,
Geografia operam em uma outra esfera de nossa curiosidade. Elas
visam dar conta de como o mundo , com as gentes e com a gente. Os
estudos de Psicologia, nesse sentido, ocupam uma espcie de espao
intermedirio entre esses dois grupos, na medida em que oferece ao
jovem uma discusso sobre como as gentes funcionam. Podemos dizer,
nesse sentido, que as cincias naturais e humanas pertencem a uma e
mesma rea geral, a um mesmo interesse bsico, que o da
compreenso do mundo, em sentido amplo: mundo natural, mundo
social-histrico. A diferena importante, em todo o caso, que no caso
da compreenso do mundo social-histrico estamos pessoalmente
implicados. Na aula de Educao Fsica, o aluno pode explorar sua
corporeidade; nas disciplinas de Artes, o estudante explora suas
capacidades expressivas. Mas a curiosidade humana segue. A vida
cotidiana - e tambm as disciplinas escolares - coloca para a criana uma
srie de perguntas que as disciplinas at aqui mencionadas no tem o
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Sobre esse tpico, ver, por exemplo, o livro de Stephen Mulhall, Faith and Reason,
Duckworth, 1994.
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No posso desenvolver aqui mais esse tema. Em especial, deveria tratar do caso das
sociedades tradicionais, que parecem criar mecanismos que dificultam o distanciamento e
a discusso daquelas afirmaes que dizem respeito sua identidade de base, regras e
normas sociais fundamentais. Nelas, as normas sociais so justificadas de forma vertical
ou autoritria. Mesmo as justificaes autoritrias, na medida em que devem justificar as
condutas moralmente boas, parecem ter uma porta aberta para a dvida e para a crtica,
pois pode-se perguntar se as normas so boas porque Deus as promulgou ou se Deus as
promulgou porque so boas. Trata-se do problema do Eutfron, como bem lembra Ernst
Tugendhat, no livro No Somos de Arame Rgido (Ulbra, 2002). Para uma fundamentao
do que chamo de concepo deflacionista da criticidade, recomendaria o derradeiro livro
de Bernard Williams, Truth and Truthfulness, Princepton University Press, 2002, em
especial o captulo 2, e ainda Peter Geach, Faith and Reason, Columbia University Press,
1983, captulos 1 e 2. No menos relevante para meu argumento o trabalho de Arthur
Danto, Mysticism and Morality. Columbia University Press, NY, 1988, em especial o
captulo 1.
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como
sugeri
acima,
como
uma
capacidade
de
Penso aqui no captulo Ferro, do livro de Primo Levi, A Tabela Peridica. Traduo
de Luiz Srgio Henriques, Rio de Janeiro, Relume Dumar, 2001.
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Como j dei a entender, estou assumindo um ponto de vista sobre a natureza da filosofia
cujo ponto de partida , por exemplo o escrito de Ernst Tugendhat, O que filosofia. Eu
digo por exemplo porque considero essa caracterizao ampla demais para que seja
considerada como tpica desse ou daquele filsofo. Tugendhat ali define a filosofia como
uma investigao sobre conceitos fundamentais, tendo uma dupla dimenso: sistemtica (a
dimenso escolstica) e dialtica (a dimenso cosmopolita). Isso nos remete para a
distino apresentada por Kant na Lgica e ao escrito de Tugendhat. Minha outra
referncia so os escritos de Stanley Cavell, em especial The Claim of Reason.
132
morte, Deus, origens, etc. Essas perguntas so bons indicadores que elas
esto explorando o modo de funcionamento desses conceitos
fundamentais, dos quais o mais notrio o funcionamento do conceito
de causalidade. Creio que podemos dizer que a criana est, em um
sentido relevante, examinando o modo de funcionamento do aparato
(rede, esquema, campo) conceitual de que ela est se apropriando nessa
fase da vida, e que , em certos sentidos, indissocivel da linguagem e
do mundo.18
Nesse sentido, o professor de filosofia, nas atividades com
crianas, no tem, propriamente, contedos para ensinar, como se fosse
uma aula de cincias, de histria ou lngua portuguesa. Se fosse
inevitvel fazer uma comparao, as atividades na aula de artes, na
medida em que desafiam o aluno a explorar suas habilidades nesse
campo, seriam as atividades mais prximas da aula de filosofia. O
professor de filosofia com crianas cuida desse espao de dilogos
especiais no qual as crianas por vezes se metem naturalmente. Trata-se
de filosofia com crianas; isso quer dizer que no se trata de ensinar
filosofia para crianas.19 O mesmo no ocorre com os jovens, que, entre
seus
direitos
formacionais,
podem
incluir
debater,
com
No h sentido na idia de que um ser humano possa apropriar-se de sua lngua natural
em completa desconexo com a realidade; tampouco h sentido na idia que um ser
humano possa apropriar-se de sua lngua natural sem o domnio implcito de conceitos
formais: objeto, causa, etc.
19
Eu disse dilogos especiais, porque aquilo que a criana pode estar precisando de
um espao de escuta para hipteses, dvidas, e questionamentos sobre uma rea da
experincia humana que no coberta pelas demais disciplinas escolares, como j vimos.
133
aqui apenas a idia que a filosofia (no seu conceito no mundo) tem o seu
campo de questionamentos balizado pelas perguntas fundamentais sobre
o que podemos saber, o que devemos fazer, o que nos permitido
esperar, e, afinal, o que somos? Uma forma de se elaborar as
conseqncias didticas dessas questes dizer-se que, como
professores de filosofia, no podemos dogmatizar sobre essas questes,
isto , propor respostas determinadas, particulares. Essa atitude revela
uma leitura e um entendimento parcial de Kant. H direes de respostas
em Kant para essas perguntas, que no se confundem com as solues
oferecidas por esta ou aquela viso de mundo, por essa ou aquela
religio ou escola poltica. As respostas de Kant indicam o que se pode
dizer, sobre essas questes, de um ponto de vista exclusivamente
racional. Mas mesmo que assim entendamos as coisas, persistir a
afirmao que a filosofia tem uma dimenso idiossincrtica, uma
dimenso de criao pessoalssima, de inveno originria, que precisa
ser reconhecida e admitida: os jovens, afinal, elaboram formas de situarse e compreender a realidade e a si mesmos, criam seus pequenos
sistemas, defendem com paixo suas convices e valores; diante disso,
a aula de filosofia no pode ser o ensino de contedos, pois isso deixaria
sem espao essa dimenso de compreenso da filosofia, que, em ltima
instncia, teria a ver com o sentido da filosofia no mundo, no esquema
de Kant. Se voc conceder um apenas no meio da ltima afirmao,
podemos ir em frente: a aula de filosofia no pode ser apenas o ensino
de contedos. Ela precisa reconhecer e acolher essa dimenso de criao
pessoal. Mas muito difcil caracterizar em que consiste essa dimenso.
Ela tem sido confundida com o subjetivo, com literatura, e tem sido
invocada pelos processistas para atacar os conteudistas.
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No livro Natureza Humana (Rio de Janeiro: Imago, 2000, p. 134), Winnicott escreve:
Os filsofos sempre se preocuparam com o significado da palavra real, e houve diversas
escolas de pensamento fundadas sobre a crena de que pedra, rvore, ou o que quer que
mais seja, s tero existncia se houver quem as veja..., com a alternativa a pedra, a
rvore seja l o que for, estaro bem a mesmo sem espectador... Nem todos os filsofos
percebem que este problema, que aflige todo ser humano, constitui uma descrio do
relacionamento inicial com a realidade externa no momento da primeira mamada terica;
ou, melhor ainda, no momento de qualquer primeiro contato terico.
138
Bibliografia
KANT, Immanuel. Manual dos Cursos de Lgica Geral. Traduo de
Fausto Castilho. Ed. Unicamp/Edufu, So Paulo/Uberlndia, 2003.
139
140
Introduo
O artigo pretende fazer uma apresentao das histrias para
filosofar com crianas de minha autoria, nas quais Ula a personagem
central, estabelecendo relaes entre as mesmas e a concepo
141
Ula o nome da personagem central das histrias para filosofar com crianas de minha
autoria. H uma edio da WSeditor, lanada em 2000, praticamente esgotada, e uma nova
edio, a ser lanada este ano, pela Editora Vozes, intitulada Ula - Brincando de pensar.
142
O Filosofar de Ula
Quando se ouve falar em Filosofia, o que geralmente nos vem
mente que iremos encontrar, sob esse rtulo, um universo de idias
complexas que dificilmente compreenderemos. Isso at pode ser verdade
quando nos deparamos com a leitura de livros como Crtica da Razo
Pura, de E. Kant, filsofo que viveu no sculo XVIII, ou a Cincia da
Lgica, de Hegel, no sculo seguinte. A Histria da Filosofia est
repleta de exemplos de idias que, para serem expressas por seus
autores, termos como ontologia, epistemologia e fenomenologia
tiveram que criados e recriados. Se no bastasse, cada autor-filsofo
conferiu a esses termos um significado distinto, s compreensvel,
muitas vezes, a partir da leitura da totalidade de suas obras.
Mas poderamos nos perguntar: no haveria, por detrs de
tantas e to variadas idias, algo que tivesse levado estes filsofos a
escreverem? Qual a sua motivao bsica? A resposta mais aceita para
essa questo a de que certas questes como Qual o sentido da vida?
Por que tudo existe e, no antes, nada? De onde e como tudo surgiu? O
que a liberdade? E o que o ser humano?, dentre tantas outras, os
levaram a pensar. E tambm nos levam a pensar, pois tm a ver com
aquilo que h de mais fundamental em nossa condio humana. Mas
isso nos conduz a buscar algo ainda anterior: O que est por trs do
surgimento destas questes? Como elas se tornam significativas para
ns? E qual a sua importncia?
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Vivenciar as Questes
Quem nunca parou para pensar em funo das perguntas que
um dia alguma criana lhe fez? E at que ponto ns mesmos, quando
crianas, no paramos para observar o cu, o mar, um pequeno inseto?
Quantas vezes nos admiramos com um fenmeno qualquer, achando-o
estranho, chegando ao ponto de formularmos teorias a respeito, por mais
146
A Pergunta de Ula
Consideremos uma questo: Quem sou eu? Ser essa uma
genuna questo filosfica? Em caso afirmativo, o que a faz ser
filosfica? Ser a mera formulao da pergunta?
Ora, uma tal questo pode estar requerendo uma resposta do
tipo: sou Jos, ou Sharon. E, mesmo que a inteno da pergunta fosse
mais ampla, ela poderia ser assim compreendida. Aqui, a resposta
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fundamentais,
poderemos
construir
idias
tambm
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Brincando de Pensar
Utilizar Ula em sala de aula, ou mesmo em sua prpria casa,
pode ser muito prazeroso se voc permitir que as crianas possam
tambm lhe ensinar, e se voc puder ler as histrias interagindo com
experincias que possam despertar, nas crianas, assim como em voc
mesmo, a admirao frente aos acontecimentos do cotidiano, admirao
que faz da experincia do pensar o sempre possvel encontro com o
inusitado, com a novidade do prprio pensar.
Por isso, brincar de pensar algo que tem a ver com o prazer,
com a curiosidade, com a inveno, com a infncia das crianas e com a
infncia que guardamos em ns mesmos, com o nascimento sempre
renovado do nosso prprio pensar.
As vivncias e as perguntas de Ula pretendem estimular as
crianas a elaborarem as suas prprias questes. Pois no se trata aqui
de perguntar apenas por perguntar, mas sim de fazer com que cada um
possa sentir, intimamente, a profundidade e a permanente novidade dos
problemas que sempre provocaram os seres humanos a pensar e a dar
uma direo s suas prprias vidas.
E, se podemos ler o texto com as crianas, criando e recriando
situaes concretas em que as vivncias possam se produzir como, por
exemplo, olhando no fundo dos olhos dos colegas, ou observando a
natureza, ento j temos um timo ponto de partida, pois as vivncias
geram questionamentos significativos.
Claro que algumas experincias podero ser significativas para
algumas crianas ou adultos, e para outros no. preciso ento
150
151
a criar situaes vivenciais para ns mesmos para que possamos proplas aos outros, ento j assumimos, de algum modo, ou melhor, do nosso
prprio modo, uma postura filosfica frente ao nosso viver. E essa
postura que nos cumpre assumir. E o que somos, o que fazemos, o como
pensamos e agimos sempre o princpio do deixar o outro aprender.
Pois, mais que ensinar, trata-se sempre de convidar o outro a
aprender, e a aprender a aprender, do seu prprio modo, na sua
diferena, fazendo o papel daquele que estimula e requer do outro que
ele possa ultrapassar a si mesmo. Talvez possamos compreender, neste
gesto, que novas relaes entre ns, professores, e as crianas, e entre
elas, devero surgir, desde que elas possam se sentir livres para pensar.
E deveremos ento aprender a lidar com o fato de que nos
surpreenderemos com as crianas. Isso poder exigir que ultrapassemos
a ns mesmos, pois nesse movimento bem provvel que venhamos a
nos surpreender com nossos prprios pensamentos.
Dessa forma, poderemos dialogar com elas e, para tanto,
precisamos aprender a escutar, pois so as questes das crianas (assim
como as nossas, mas as delas preferencialmente) o ponto de partida de
uma relao na qual importa estimular o gesto de pensar sobre o prprio
pensar, e de construir assim a diferena e a criatividade do pensar.
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Provocar o Pensamento
Quanto a uma modalidade de atividade relacionada aos
sentidos, ofereo aqui algumas sugestes:
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animais,
relaes,
acontecimentos,
pessoas,
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entre
as
pessoas,
bem
como
as
suas
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pode ser feito, por exemplo, pedindo que fiquem de olhos fechados e
contem o que est acontecendo em seus pensamentos, ou narrando uma
histria real, ou modificando uma j contada, ou criando-as a partir de
um tema determinado, etc.); exercitar o relaxamento do corpo, buscando
conhecer outros movimentos de seu corpo; exercitar a postura corporal;
oportunizar conversas, mais ou menos longas, sobre um mesmo assunto,
ou sobre assuntos que vo se sucedendo em uma ordem criada no
prprio dilogo, fazendo e pedindo referncias a temas que j foram
abordados; solicitar a sntese ou resumo de uma histria, acontecimento
ou dilogo; solicitar ajuda em tarefas que envolvam um certo cuidado ou
uma seqncia ordenada de aes; participar, juntos, professores e
crianas, de brincadeiras, de desenhos, de jogos, de aes que envolvam
delicadeza, observao, sutileza; propor jogos (ou problemas) que
contenham desafios lgicos; demonstrar uma atitude, um exemplo de
ateno e concentrao, em contextos propcios, etc. Ao desenvolver
estas atividades podem surgir, no entanto, questes de outra ordem, as
quais podem tambm ser trabalhadas.
Ao brincarmos juntos com a criana, podemos pedir e propor
situaes novas, alternativas para a prpria brincadeira, ou, ento, a
inveno de novas formas de brincar, inclusive com um brinquedo (ou
jogo) no qual j venha prescrito como brincar. Durante a brincadeira,
poderemos criar situaes que faam pensar, que oportunizem ver algo
de um novo ponto de vista, ou propor desafios e a busca de solues
criativas. Podemos diversificar as formas de brincar e as prprias
brincadeiras; diversificar os ambientes em que o brincar ocorre, etc. O
envolvimento do adulto com o brincar da criana (por isso, brincar junto
com ela) condio para que uma relao de proximidade emptica se
produza para, a partir disso, transitar das proposies que fazemos de
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nenhuma
outra
palavra
ou
expresso
pde
dar
conta
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Podemos,
tambm,
apresentar
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dificuldades
ou
insuficincias
na
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crianas, bem como sobre o quanto isso as afeta no modo como elas
percebem a si mesmas.
Na criao lingustica, no aprendemos apenas a lidar com a
prpria lngua, mas a modific-la e a ampli-la. Isso poder ser
estimulado por meio da poesia, ou da arte em geral, ou pelo retorno
reflexivo vivncia, dentre outras possibilidades. Uma criao
lingstica pode tanto ser a inveno de um termo ou de uma metfora,
como, ainda, a ressignificao de um termo ou expresso j em voga.
Um exemplo disso pode ser dado se nos dispusermos a dar o nome ao
sentimento que temos quando no sabemos como dizer o que pensamos
(podemos nos aproximar deste sentimento com muitas expresses
correntes, e, quem sabe, nenhuma delas diga adequadamente o que
sentimos em sua especificidade), ou ainda o nome para aquele olhar no
fundo dos olhos de outrem, sabendo-se visto por ele. Observe-se, ainda,
como no campo do conhecimento cientfico sempre surge a necessidade
de criao de novos termos e expresses que objetivam dar conta de
novos conhecimentos e da formulao de novas teorias. No limite, a
criao lingstica ocorre quando tentamos dizer algo novo de um novo
modo e quando criamos o nosso prprio estilo de expresso.
Gostaria de citar mais um exemplo para poder elucidar a
questo aqui tratada: a partir de atividades que objetivavam suscitar uma
reflexo sobre o ato de pensar, Rbia (9 anos) elaborou a metfora
pensamento intocvel. Quando solicitada para que tornasse mais claro
seu pensamento, ela se referiu ao significado do mesmo a partir do
seguinte problema: se penso em uma palavra como, por exemplo,
Guaba (o nome de uma cidade do RS), penso em doce; se penso em
outra como, por exemplo, Sapucaia (outra cidade), penso em salgado.
Mas, por que eu ligo estas palavras entre si? Eu as ligo em meu
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Introduo
Como contribuio ao desenvolvimento deste tema enfrentado
aqui pelos demais colegas, gostaria de apresentar o que chamei de
prolegmenos ao tema em discusso, uma vez que passo a discutir
idias introdutrias ao ensino de filosofia na educao fundamental no
Brasil, as quais podero resultar numa abordagem complementar mas,
penso, necessria compreenso do que tem sido falado a respeito de
filosofia para crianas em nosso pas. Iniciarei a exposio deste tema
anunciando um dos recursos que a filosofia oferece como contribuio
educao - dentre as suas demais tarefas analticas, compreensivas e
explicativas da realidade, quais sejam, aquelas relativas anlise,
interpretao, reflexo e crtica - que , no caso especfico, o seu
trabalho de anlise da linguagem educacional.
Assim, com respeito ao tema em discusso, percebemos que se
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ensino,
presente
nas
instituies
educativas
que
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A filosofia no Brasil
parte aos complicadores tericos decorrentes desses
questionamentos, temos que considerar o contexto a que nos referimos
ao tratar da filosofia, quer se d nos pases de Primeiro Mundo e dentre
eles, quais seriam as diferentes tradies e origens do seu pensamento;
quer se d em pases em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Pois a
filosofia, embora considerada um saber universalista por excelncia,
produz o seu contedo em grande parte, como resultado do trabalho
reflexivo realizado em estreita relao com as questes e problemas que
emergem do contexto onde se encontra, se envolvendo em grande
medida, nas caractersticas das aes e pensamentos realizados pelos
atores sociais que fazem e refazem a sua trajetria de humanos,
problematizando a sua existncia na tentativa de tomada de conscincia
acerca de si mesmos e do mundo onde vivem.
Na tentativa de deslindar acerca da
filosofia brasileira,
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fecundo e imediato. E diz: Sem dvida, isto tem a ver com a prpria
tradio
acadmico-pedaggica
de
aprendizagem
da
filosofia,
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freqncia, dentre outras questes alarmantes de contedo filosficoeducacional. A idia de progresso caracterstica deste novo tempo em constante mudana - cuja dinamicidade cada vez mais acentuada,
projetada num programa cultural amplo que pretende superar os estgios
religiosos ou fantasiosos e aqueles racionais ou metafsicos, segundo a
gide da doutrina positivista. A filosofia passa ento a ser questionada.
A obrigatoriedade da disciplina motiva debates cada vez mais
inflamados dado o universo de idias que se ampliam numa sociedade
que se industrializa e muda o perfil de sua organizao poltica,
econmica, social e por que no dizer, educacional26. Comeamos a
assistir um progressivo interesse pelo ensino primrio, alis, muito
defendido pelos positivistas muitos dos quais entendem ser a Academia
um lugar de embrutecimento do esprito e corrupo dos costumes 27.
Mas, entra em cena temticas inusitadas na tradio brasileira: crticas
acirradas aristocracia e aos privilgios, explorao humana,
ingerncia da Igreja nas questes pblicas, e em contrapartida, propostas
de moralizao da sociedade, defesa da mulher e assim por diante.
Se, com efeito, tentarmos elaborar uma reviso da filosofia no
Brasil verificamos que foi a partir do Sculo XVIII/XIX que
observamos um impulso intelectual entre os nossos pensadores, cujas
marcas e esforos esbarram em alguma originalidade e crescente
incorporao de um pensamento efetivamente mais reflexivo que se
mostra na releitura dos autores, na adaptao das idias que entram no
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pretende-se
pela
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Bibliografia
ADORNO, T. W. & HORKHEIMER, M. Dialtica do Esclarecimento.
Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
CARTOLANO, Maria Teresa Penteado. Filosofia no Ensino de 2o
Grau. So Paulo: Cortez, Autores Associados, 1985.
DEMO, Pedro. Educao e Conhecimento. Petrpolis, RJ: Vozes,
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GHIRALDELI Jr, Paulo. Filosofia e Histria da Educao Brasileira.
Barueri, SP: Manole, 2003.
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mtica na sala de aula. Fragmentos de Cultura, vl. 1, n. 1, 1991,
Goinia.
194
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196
Elisete M. Tomazetti
Introduzindo a problemtica
Ao procurar compreender a formao inicial do professor de
Filosofia situo a temtica da formao de professores em geral no
mbito das instituies de ensino superior e das polticas pblicas de
educao. Alm disso, indago acerca do desprestgio para com o
pedaggico em favor da formao para a pesquisa, como se pesquisa e
ensino fossem inconciliveis. Ao contrrio, argumento em favor da idia
de que o ensinar a filosofar no exclui a prpria Filosofia em sua
tradio legitimada ao longo da civilizao ocidental. O professor de
Filosofia deve receber uma formao de alto nvel no aspecto da histria
da Filosofia e de suas temticas e do aprender a filosofar, assim como
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brasileira
esse
medo
(da
interao
com
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problematizado
pelos
pesquisadores
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Para Finalizar
Penso que os cursos de licenciatura em Filosofia poderiam ajudar
em muito a todos estes alunos, porque ao definirem-se como formadores
de professores desencorajariam desde o incio do curso aqueles que
decidiram que a docncia no Ensino Mdio no seu objetivo. Ajudaria
a encaminhar aqueles que se definiram pela profisso de professor,
porque durante quatro anos as questes de ensino, de sala de aula e de
escola estariam presentes, constituindo-os como professores de Filosofia
aptos a enfrentar os desafios impostos pela profisso. E quando falo
presentes refere-se as questes aparecerem no conjunto das disciplinas
na formao inicial, tanto quanto a presena do aluno durante o curso de
forma mais enftica na escola.
Se no Brasil, ser professor da escola bsica fosse considerada uma
profisso importante a ponto de ser to ou mais remunerada que a de
professor do ensino superior teramos jovens entendendo que trabalhar
na escola bsica no lhes tira a possibilidade de fazer um curso de
mestrado e doutorado, mas ao contrrio, pode tornar-se seu desafio e seu
incentivo. preciso re-afirmar que ser professor de Filosofia e ser
filsofo no se excluem, embora muitos assim o tenham entendido.
Estas so as inverses que precisamos desconstruir com polticas e aes
209
srias, que extrapolam nosso mbito de ao, mas que nos dizem
respeito e pelas quais tambm nos sentimos responsveis.
Penso que o atual momento de mudanas pelo qual passam muitos
cursos de licenciatura no Brasil, em especial os cursos de Filosofia, um
momento precioso para que se produza uma reflexo sobre o que se
espera do professor de Filosofia no Ensino Mdio nas atuais condies
da escola bsica brasileira. Para alm de produzirmos uma reflexo
importante a partir da Filosofia sobre a educao, penso que temos que
assumir mais enfaticamente o ensino, a formao do professor para
ensinar Filosofia. quem sabe uma Filosofia do Ensino.
Bibliografia
AZANHA, Jos Mrio Pires. Educao: temas polmicos. So Paulo,
Marins Fontes, 1995.
OBIOLS, Guillermo. Uma introduo ao ensino da Filosofia. Iju,
UNIJU, 2002.
GAUTHIER, Clermonth. et. al. Por uma teoria da Pedagogia:
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Ensino Mdio brasileiro (1980-2000): uma contribuio histria das
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Universidade de So Paulo, 2001.
BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAO. Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso
de licenciatura, de graduao plena. Resoluo CNE/CP 1/2002.
Disponvel na internet: http:/www.mec.gov.br
BRASIL, MINISTRIO DA EDUCAO. CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAO. A durao e a carga horria dos cursos
de licenciatura, de graduao plena, de formao de professores da
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Uma verso mais extensa deste texto foi submetida para apresentao no XII Encontro
Nacional de Didtica e Prtica de Ensino, com o ttulo Professor de filosofia: do eterno
retorno ao mesmo e do desembarao da superao.
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hoje e aqui os ecos da crtica nietzschiana. A meu ver, penso que ela nos
diga algo, que ela nos alerta para uma armadilha que, talvez, estejamos
prestes a cair. Afirmar certo ensino de filosofia pode ser o manto com o
qual se recobre um verdadeiro desprezo pela filosofia.
Assim, em nosso caso, mesmo uma profcua abertura para a
diversidade, possibilitada pela ausncia de um currculo oficial para a
filosofia no ensino mdio, e por uma definio excessivamente geral da
LDBEN, que acabou no se manifestando, tende a reduzir-se cada vez
mais, em torno de uma repetio de assuntos e de autores. Precisamente
aquilo que venho denominando, aqui, de um retorno ao mesmo, que
facilita e promove a repetio, tirando a potencialidade criativa da
filosofia e de seu ensino.
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Bibliografia
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Ensino de Filosofia. Petrpolis: Vozes, 2003, p. 17-30.
GALLO, Slvio; CORNELLI, Gabriele; DANELON, Mrcio (orgs.).
Filosofia do Ensino de Filosofia. Petrpolis: Vozes, 2003.
MEC-CNE. Parecer CNE/CES 492/2001- Diretrizes Curriculares
Nacionais dos cursos de Filosofia, Histria, Geografia, Servio
Social,
Comunicao
Social,
Cincias
Sociais,
Letras,
Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia (disponvel em
www.mec.gov.br).
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava Zaratustra. Lisboa: Ed.
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Autntica, 2002.
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229
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231
mulher, que constitui a relao ertica; a relao entre pai e filho e, por
extenso, a de mestre-discpulo, que configura a pedaggica; e, por
ltimo, a relao irmo-irmo, a partir da qual se constitui a relao que
chamamos de poltica. Dussel se vale desses nveis de proximidade
humana para caracterizar os processos de alienao e de libertao
latino-americana (Dussel, 1977). J para os objetivos deste debate
interessa a possibilidade de visualizar a partir desse esboo terico o
carter especfico da educao enquanto dimenso fundamental da vida
humana em sociedade.
Para Dussel a pedaggica , essencialmente, toda bipolaridade
em que h anterioridade de um dos plos sobre o outro, e onde h legado
tradicional ou cultural a ser transmitido. Ela compreende o conjunto das
interaes sociais e culturais que permitem a continuidade histrica de
uma gerao para a outra. Trata-se, portanto, de um campo de atuao
que transcende o espao de atuao profissional da escola e da sala de
aula para abarcar tambm as muitas outras instituies e espaos de
atuao em que se realizam atividades educativas ou que demandam um
sentido pedaggico em seu fazer (Boufleuer, 1991, p.77).
A pedagogia adquire, nesta perspectiva terico-conceitual, uma
identidade similar ao campo de estudos da poltica. Mas enquanto a
pedagogia se coloca sob a dimenso bipolar da anterioridadeposterioridade, do mestre e do discpulo, a poltica se coloca na
dimenso da relao de igualdade, dos irmos, dos colegas, dos
cidados. Sob o ponto de vista da tica, a pedagogia cumpre a sua tarefa
quando, na responsabilidade para com as novas geraes, mostra o
caminho j percorrido pelas geraes adultas, para que possa servir de
referncia a quem tem tudo por andar. Em transmitindo o legado
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sentido
hermenutica
se
coloca
na
perspectiva
da
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Desidrio Murcho, em artigo acerca da natureza da filosofia e o seu ensino, alerta para
as duas formas de acabar com a filosofia, ou seja, transformando-a numa espcie de
conversa de caf, vaga e sem qualquer contato com a tradio filosfica, ou, ento, numa
histria dos grandes problemas filosficos, contada sem qualquer envolvimento nessa
discusso. (Murcho, 2002, p. 15).
238
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CURRCULOS E FILOSOFIA
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241
242
quais espero que surjam perguntas que me faam aprender mais, gostaria
de socializar a metfora pela qual hoje eu entendo tanto a educao
como a filosofia e o currculo: o navegante Colombo. Ele sabia onde
queria chegar (s ndias); possua seu guia (a estrela Polar), mas veio dar
nas Amricas. Considero essa aparente contradio com o navegar
preciso a melhor forma de encararmos os problemas que encontramos
na educao, formal ou no.
Deve ser lembrado que os selos cumprem uma importante funo disfarando a
presena da moeda sonante no processo de troca.
243
organizao
propedutico-conteudista
do
aparato
educativo
e,
244
crtica.
De
um
lado,
crtica
por
apresentar-se
245
moderno.
Adorno
&
Horkheimer
(1994)
desenvolveram estudando o cinema, o rdio e o livros de bolso norteamericanos da dcada de 1940. No conheceram a televiso31, muito
menos a informtica/internet.
A questo que move o corpo de reflexes desses autores,
principalmente Adorno, o imbricamento objetivo, disfarado e cada
vez mais intenso entre progresso e barbrie. No caso da escola e de seus
currculos sempre bom lembrar uma de suas lapidares frases: O mundo
inteiro forado a passar pelo filtro da indstria cultural (Adorno &
Horkheimer, 1994, p. 118).
A indstria cultural oferece a fuga do quotidiano como forma
exclusiva de satisfao (A diverso favorece a resignao, que nela quer
se esquecer, Adorno & Horkheimer, 1994, p. 133), obscurecendo a
possibilidade de resistncia individual. As lgrimas simpticas
catalisadas pelo amor impossvel da herona operam no esquecimento do
conjunto de renncias afetivas exigidas pelo quotidiano da sociedade de
mercado. Tanto o horror provocado pela pornogrfica exibio de um
massacre como a hilaridade provocada pela sova do personagem da
comdia pastelo anestesiam a percepo da crueldade organizada para
que os espectadores possam se acostumar com a que eles prprios
recebem. Enganam-se os que entendem que os frankfurteanos se
referiam apenas aos produtos da Semicultura oferecidos s massas
exploradas:
31
246
247
248
249
como
consumidores
compulsivos
dos
contedos
250
251
252
253
254
255
256
257
258
259
morte.
Elabor-la
discursivamente,
suport-la,
enfrent-la
260
261
262
263
currculo (tanto no seu aspecto de coisa em si, como nos mais extensos e
intensos debates sobre o que ele ou deveria ser) traduo da demanda
por uma tranqilidade e uma certeza que so praticamente impossveis
se o eixo da educao abandonar a perspectiva de garantir um devir. Isso
significa que precisamos desenvolver outras formas de viabilizar a
necessria submisso dos estudantes para que a escola resulte em
sujeitos emancipados.
A auto-reflexo foi proposta como uma possibilidade
alternativa de forma e de contedos da educao. No caso dos
professores que, em ltima instncia, sero os encarregados ocupar a
linha de frente de novas formas de ensinar e aprender, sugeri que esse
264
Bibliografia
ADORNO, T. W. Teoria da semicultura. Educao e Sociedade. XVII,
(56). Campinas: Papirus & CEDES, (388-411), 1996.
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ADORNO, T. W. & HORKEIMER, M. Dialtica do Esclarecimento.
Trad: Guido Antnio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
265
266
Introduo
Antes de iniciar minhas reflexes sobre a questo curricular,
gostaria de esclarecer, em primeiro lugar, minha postura de trabalho, na
qual venho acreditando cada vez mais, principalmente quando este
envolve a ao humana. O trabalho s tem sucesso quando elaborado a
partir de uma construo coletiva, respeitando as contradies, os
conflitos e a diversidade. Para que isso ocorra necessrio buscar a
mediao na soluo de problemas e esta, por sua vez, dever
ultrapassar o paradigma do ganhar-perder. O que estou explicitando a
postura colaborativa que devemos ter no tratamento de toda e qualquer
questo que envolva mudana, buscando dessa forma, solues
consensuais e a construo de lugares sociais legtimos para os
participantes (Schnitman, 1999, p. 18). Portanto, sendo o currculo uma
ao humana ele s pode ser efetivado a partir de uma construo
coletiva embasada por esse princpio.
267
268
269
270
271
272
273
1. Noo do saber
Na nsia da ordem e do controle, a perspectiva social moderna
busca elaborar teorias e explicaes que sejam as mais abrangentes
possveis, que renam, num nico sistema, a compreenso total da
estrutura e do funcionamento do universo e do mundo social. Essa noo
exemplifica as grandes narrativas. J o novo arranjo social se coloca
numa posio de profunda desconfiana em relao s pretenses
totalizantes desse saber.
274
busca
da
emancipao,
implicava,
por
um
lado,
no
3. Noo de progresso
A rejeio noo de progresso presente no novo arranjo social
baseia-se, sobretudo, na sensao de insegurana que hoje vivemos e
pode ser explicada pela grande assimetria entre a capacidade de agir e a
capacidade de prever.
Essa assimetria se explica pela absoro do pilar da
emancipao pelo pilar da regulao, sobretudo no que se refere ao
mercado, neutralizando, dessa forma, a possibilidade de uma
transformao social. Paralelo a isso, no que diz respeito ao pilar da
emancipao o que assistimos foi sua nfase na cincia e na tcnica,
tornando-as hiper-cientificizadas.
275
4. Noo de sujeito
Outro ataque sociedade moderna a questo do sujeito que se
apresenta livre, autnomo, centrado e soberano; ele guiado unicamente
por sua razo e por sua racionalidade. Sua existncia coincide com seu
pensamento. Na crtica dessa centralidade e autonomia, o novo arranjo
social coloca em dvida essa perspectiva, considerando que o sujeito
fragmentado e dividido, pois ele no pensa e nem fala; ele pensado,
falado e produzido.
5. Noo de objetividade
Outra noo contestada pelo novo arranjo o objetivismo,
noo dominante da sociedade moderna. Para o novo arranjo, baseado
na incerteza e no repdio s afirmaes categricas, ele acena
positivamente para o subjetivismo das interpretaes parciais e
localizadas.
Tais reflexes, ainda que incipientes, j se mostram capazes de
apontar a existncia de uma crise na questo curricular. Se anteriormente
tal crise se efetivou pelo esgotamento em suas anlises atravs dos
componentes puramente tcnicos, hoje a crise se caracteriza em outros
patamares de discusso, tais como: fragmentao e totalidade, dicotomia
entre teoria e prtica, noes de espao e de tempo, organizao do
conhecimento
escolar,
conhecimento
cientfico
conhecimento
276
Bibliografia
APPLE, Michael. Ideologia e Currculo. Trad. Carlos Eduardo F
Carvalho. So Paulo: Brasiliense, 1982.
CAMBI, Franco. Histria da Pedagogia. Trad. lvaro Lorencini. So
Paulo: Uneso, 1999.
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SANTOS, Boaventura de Souza. A crtica da razo indolente: contra o
desperdcio da experincia. So Paulo: Cortez, 2000.
SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade terminais. So Paulo: Vozes,1996.
277
278
EPISTEMOLOGIA E EDUCAO
279
280
firmemente
alicerado
nas
pressuposies
em
torno
da
281
(1971).
282
283
284
Thomas Kuhn, The essential Tension: Selected Studies in Scientific. Tradition and
Change, Chicago, 1970; Imre Lakatos e Alan Musgrave (eds.) Criticism and the Growth
of Knowledge, Cambridge, 1970; Stephen Toulmin, Human Understanding, Princeton,
1972, Richard Bernstein, Beyond Objectivism and Relativism: Science, Hermeneutics and
Praxis, Oxford, 1983.
285
286
epistemlogos
contemporneos
no
tocante
questo
da
287
288
289
Para uma anlise mais detalhada dessa questo, ver especialmente L. C. Bombassaro,
As fronteiras da epistemologia Como se produz o conhecimento. Petrpolis: Vozes,
1992; Charles Taylor, Philosophical Arguments. Harvard University Press, Cambridge,
1995.
290
291
292
293
epistemologia
hermenutica
acompanhava
diferena
mtodo. Por
mediante o
294
295
Mediante
uma
perspectiva
de
complementaridade
296
as
tentativas
de
estabelecer
uma
relao
de
297
entendimento.
Para
Apel,
por
exemplo,
Sobre o tema, alm do j citado livro de Apel, tornou-se refrncia a obra de Jrgen
Habermas, Theorie des kommunikativen Handelns. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag,
1981.
41
Cfe. Richard Rorty, Philosophy and the Mirror of Nature. Princeton: Princeton
University Press, 1979. Mais recentemente, a mesma linha de argumentao foi levada
ainda mais adiante por Charles Taylor, Overcoming Epistemology in Kenneth Baynes,
James Bohmann, and Thomas McCarthy, eds., After Philosphy, MIT Press., Cambridge,
298
299
300
Bibliografia
Theory
in
301
302
Introduo
A epistemologia foi considerada, na filosofia moderna, uma
espcie de centro da prpria filosofia: a epistemologia como a principal
contribuio da filosofia a uma cultura cientfica. Enquanto a cincia
teria por funo obter conhecimento a partir da investigao e do
domnio da natureza, cabia a filosofia, enquanto epistemologia, validar
tais conhecimentos. Entretanto, esse papel central da epistemologia entre
em crise a partir de uma crtica endereada a idia de filosofia enquanto
fundamento de todo e qualquer conhecimento. No so poucos os
303
possam
superar
determinados
limites
encontrados
pela
304
de
filosofia
epistemologicamente
centrada
que
se
305
306
objetivismo-subjetivismo;
racionalismo-
307
308
309
hermenutica,
diferentemente
da
epistemologia,
no
310
311
312
313
como
Rorty
caracteriza
distintamente
filosofia
314
315
316
Bibliografia
OLIVEIRA, Manfredo A. Filosofia na crise da modernidade. So
Paulo: Loyola, 1995.
RORTY, Richard. Filosofia e espelho da natureza. Trad. Antnio
Trnsito. Rio de Janeiro: Relume-Dumar, 1994.
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ROUANET, Sergio Paulo. As razes do iluminismo. So Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
317
Introduo
A conversao terica contempornea tem sido submetida
difcil tarefa de tematizar o sentido plural de todas as coisas, fenmeno
que alcanou, ao longo do ltimo sculo, do milnio passado, as mais
diversas instncias do pensar e do agir humano.
318
319
320
autonomia
expressar,
alm
fronteiras,
suas
possibilidades.
Este panorama, mesmo sem individuar as descontinuidades e as
muitas faces de um problema, outrora, comum e compartilhado,
permite-nos, ao menos, chamar a ateno em entrever os seus diferentes
encaminhamentos no percurso da histria, suas atuais configuraes na
sociedade globalizada e os seus desdobramentos sob o registro de um
neo-colonialismo. Por sua vez, em se tratando de particularizar o
presente estudo, muito embora as peculiaridades do caso, esta breve
retrospectiva pode ajudar-nos a perceber o tipo de dificuldades e o
significado do florescimento da filosofia norte-americana, na segunda
metade do sculo XIX, de modo a compor, com particular solidez, um
corpus terico para o pragmatismo e projet-lo como corrente de
pensamento cuja tradio, embora recente, no contexto da histria das
idias, passou a freqentar o mbito da filosofia com a mesma
envergadura de ancestrais tendncias europias.
Considerado a contribuio mais significativa dos Estados
Unidos filosofia ocidental, o pragmatismo teve forte incidncia nas
duas primeiras dcadas do sculo XX. Entre os seus principais
expoentes
encontramos
Charles
Sanders
Peirce
(1839-1914),
321
analtica,
nas
universidades
americanas,
relegou
322
323
324
325
indicamos,
longo
processo
de
pesquisa,
45
326
327
328
329
330
Este
aspecto
propositivo,
interessante
observar
no
331
332
333
334
335
336
temas
sociais,
polticos,
ticos,
culturais,
filosficos,
337
338
339
Bibliografia
GHIRALDELLI JR., P. Para ler Rorty e sua Filosofia da Educao.
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RORTY, R. Os perigos da sobre-filosoficao. In: Paulo Ghiraldelli
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_____. A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: RelumeDumar, 1994.
340
341
FILOSOFIA E EDUCAO:
APRENDENDO UMA RAZO-EMOO CRTICOREFLEXIVA
professor
do
ADE/CE-UFSM.
Endereo
eletrnico:
342
343
344
345
juntos(as)
buscarem
novas
respostas,
exercitando
346
347
348
de
reflexo,
de
pensar
aprofundado
pelas
349
350
precisa
estar
mergulhada
no
conjunto
de
outras
351
352
atitudes
cada
vez
mais
autnomas,
dialogantes,
vo
se
conhecendo,
se
descobrindo
na
353
354
355
Bibliografia
CHAU, Marilena. Convite Filosofia. 3ed. SP: tica, 1995.
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Geschichtsphilosophie, Politik un Pdagogik 2. Frankfurt, 1988.
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356
357
Clovis R. J.Guterres
358
um
359
360
361
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RORTY, Richard. A Narrativa da Vida. Folha de So Paulo - Caderno
Mais. So Paulo, 8 de junho de 2003.
366
Introduo
Um tratamento adequado da pedagogia kantiana no pode
prescindir do fato de que Kant no se ocupou sistematicamente com esse
tema como se ocupou, por exemplo, com o problema de oferecer uma
fundamentao transcendental para o conhecimento a priori de objetos,
investigando suas condies de possibilidade, ou com o problema da
fundamentao da ao moral, como ela entendida na GMS47, enquanto
367
49
368
interpretao de Groothoff (1982) Kauder, por sua vez, formula a tese de que enquanto a
Introduo orienta-se por um conceito de educao social o Tratado, em sua ltima
parte, conduzido pelo conceito de educao moral. Isso mostra ento uma mudana
de curso no pensamento de Kant ocorrida entre os perodos de 1776 a 1791 que diz
respeito no s ao seu pensamento sobre a pedagogia, como se refere tambm a sua
filosofia prtica, num sentido mais amplo, uma vez que durante este perodo que Kant
escreve os trabalhos sistemticos de sua filosofia moral. Deste modo, o ser social que se
tratava na Introduo do escrito substitudo pela exigncia de um ser moral do
homem, a qual desenvolvida na parte final do Tratado. Isso caracteriza ento a
diferena de contedo que h entre as duas partes do escrito (Kauder, Fischer, 1999, p. 4950). O dficit na argumentao de Kauder reside, ao meu ver, no fato dele no esclarecer a
diferena entre o que denomina de ser social e ser moral e por no mostrar
convincentemente a precedncia cronolgica da Introduo em relao ao Tratado.
369
Esta tarefa Kant assume de modo sistemtico primeiro na GMS e depois na KpV. Para
uma anlise deste problema ver a ltima parte de meu livro: DALBOSCO, 2002.
370
caracterizando-se
com
isso,
simultaneamente,
371
372
373
homem a nica criatura que precisa ser educada (Pd, IX, 441).
Confrontando-o com a caracterstica instintiva do animal, a qual
determinada por uma razo estranha a ele e na qual o animal age com
base num comportamento codificado, o homem concebido por Kant
como um ser que tem necessidade de sua prpria razo (Pd, IX, 441).
Ora, pelo fato de no poder agir s instintivamente, o homem precisa
formar por si mesmo o projeto de sua conduta e, porque ele, ainda
enquanto criana, no pode formar sozinho este projeto, outros devem
ajuda-lo. Formar por si mesmo o projeto de sua conduta um ideal
educacional que se movimenta nos horizontes iluministas de no mais
aceitar nada que venha de fora da prpria razo e que lhe seja estranho.
Este ideal a raiz do prprio conceito de autonomia, o qual, central para
a moralidade kantiana, significa a capacidade que uma vontade livre tem
de se dar racionalmente leis a si mesma. Ou seja, autonomia , como a
Grundlegung nos ensina, a autolegislao (Selbstgesetzgebung) da
prpria razo, derivando dela leis capazes de obrigar.56
Para o ponto que nos interessa agora importante destacar que
no contexto de ber Pdagogik fazem parte tambm desses ideais, a
convico de que se pode estabelecer uma linha divisria entre o estado
selvagem e o estado racional na natureza humana e conceber o processo
cultural-civilizatrio experimentado pela espcie como herana de sua
conquista progressiva de racionalidade. Para o prprio Kant, coloca-se a
questo de que uma aproximao progressiva idia de moralizao s
possvel mediante a superao do que h de selvagem no ser humano e
isto, visto do ponto de vista pedaggico, s pode ser conquistado
mediante o desenvolvimento da capacidade de pensar. Kant no contou,
56
374
375
376
377
378
ensinar a criana a pensar. Assim diz ele: O homem pode ser, treinado,
disciplinado, instrudo, mecanicamente, ou tambm ser ilustrado.
Treinam-se ces e cavalos; mas tambm se podem treinar homens. [...]
Entretanto, no suficiente treinar as crianas; necessrio que
aprendam a pensar (Pd, IX, 450). Com base neste propsito, a
disciplina no pode ser confundida com adestramento. Neste sentido, o
procedimento disciplinador do educador em relao ao educando, na
fase inicial de seu processo educativo, precisa incidir sobre a vontade
desse, isto porque sua vontade est constituda de modo arbitrariamente
livre. Trata-se de disciplinar a liberdade de uma vontade que ainda no
conhece regras e, portanto, ainda no pode estabelecer nenhum limite
entre sua ao e o mundo. Trata-se de uma vontade que quer tudo,
agindo simplesmente de acordo com seus caprichos e inclinaes.
Aqui se ve claramente que Kant parte de um conceito de
infncia no qual a criana compreendida como um ser que ainda no
possui as condies racionais de agir por conta prpria. Por isso, ela
ainda no est em condies de agir moralmente e ser imputada,
inteiramente, como o jovem ou o adulto, por suas aes. A criana ainda
no livre no sentido moral de decidir por conta prpria e de ser
responsabilizada pelas aes que derivam dessa deciso. Justamente por
partir deste conceito de infncia que ele atribui papel central para o
conceito de disciplina. A criana concebida como matria bruta que
, pela ao da educao enquanto arte, polida em sua rudeza. Kant
deixa entender a uma concepo de ser humano como constitudo por
uma associao entre humanidade e selvageria, competindo disciplina,
neste contexto, evitar que o homem permanea no estado selvagem.
Assim afirma ele: A disciplina impede o homem de se desviar de seu
destino, de se desviar da humanidade por meio de suas inclinaes
379
animais (Pd, IX, 442). Aqui se nota claramente sua funo negativa,
porque a disciplina a ao por meio da qual se tira do homem a sua
selvageria (Pd, IX, 442).
O conceito de disciplina assume, deste modo, um duplo papel:
negativo, enquanto recurso pedaggico por meio do qual se estabelecem
limites ao do educando em sua relao com os outros seres humanos
e com o mundo e um sentido positivo, derivado do negativo, na medida
em que ao agir mediante limites, a criana se exercita a viver mediante
regras. Para se entender a importncia do conceito de disciplina, se faz
necessrio compreender sua relao com o sentido atribudo por Kant ao
conceito de selvageria (Wildheit)58. Este, que caracteriza o estado inicial
da infncia, significa o oposto da moralizao entendida como estado no
qual a ao humana obriga-se racionalmente a agir de acordo com a lei
moral. Ou seja, a ao que se encontra no estado de moralizao
aquela guiada por uma vontade que decidiu racional e livremente a
assumir a lei moral como um dever de ao e, portanto, como um
imperativo moral. Por conter uma vontade livre que age de acordo com a
lei que a razo se d a si mesma, o estado de moralizao se caracteriza,
portanto, por uma ao livremente orientada por leis. Ora, a selvageria
significa o seu oposto, na medida em que um agir independente de leis.
Kant diz isso, literalmente, na seguinte passagem: A selvageria consiste
na independncia de leis (Pd, IX, 442).
58
380
381
382
383
Como mostra Terra neste trabalho, a herana platnica do termo idia em Kant clara.
No entanto, Kant a transforma numa regra, num padro de medida racional, recusando
qualquer hipstase (p. 21).
384
Gltigkeit),
transformando-se
assim
em
princpio
princpio
da
unidade
sistemtica
do
emprego
do
385
iluso. Elas so, isto sim, conceitos racionais necessrios (notwendigevernnftige Begriffe), que, embora no possuam uma funo constitutiva
de conhecimento, assume um papel regulador central. Tal o
significado atribudo por Kant a idia de perfeio no contexto da ber
Pdagogik. Kant define a idia a como o conceito de uma perfeio
ainda no encontrada na experincia (Pd, IX, 444). Ora, conceber a
educao como idia significa conceb-la como um processo contnuo
de formao orientada para o ideal de busca da perfeio humana, a qual
possvel
de
ser
alcanada
progressivamente
por
meio
do
386
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387
388
Professora Titular de
[email protected]
Filosofia
da
Educao/UFRGS.
Endereo
eletrnico:
389
fins educacionais.
Fundamento o termo
tcnicas.
Disso
advm
todas
as
crticas
do
61
Essa sugesto foi indicada por Hans-Georg Flickinger na Mesa Redonda intitulada
Filosofia da educao: para qu?, I Seminrio Internacional sobre Filosofia e Educao,
realizado pela UPF, Passo Fundo, RS, de 22 a 26/09/2003.
62
A noo de causa, causalidade, relao causal, princpio causal aparece no pensamento
filosfico, desde seu incio. A expresso nihil est sine ratione (nada sem razo) o
princpio da razo suficiente formulado por Leibniz (1646-1716), pelo qual nada pode ser
como sem que haja uma causa para isso. Compreender dar razo, valendo-se de
princpios invariveis.
390
Parte das argumentaes que se seguem, retomam, com modificaes, algumas idias
desenvolvidas no livro de minha autoria, Hermenutica e educao.
391
392
393
fora. O verdadeiro
dilogo, portanto, no tem por objetivo derrotar uma pessoa, mas deixar
o tema vir luz. O dilogo exige a abertura ao outro, atravs do
reconhecimento de que no sabemos.
O dilogo possibilita condies de reflexo sobre um
entendimento ainda no disponvel; ou seja, oportuniza aos participantes
fazer uma auto-reflexo sobre seus prprios pontos de vista.
A primazia da pergunta para a essncia do saber, diz Gadamer,
aponta, de maneira mais originria, a inadequao do mtodo. No h
um mtodo para ensinar a perguntar e justamente com Scrates que se
criam os pressupostos o perguntar e o querer saber pressupem um
saber que no se sabe e as perguntas so conduzidas atravs da arte de
desconcertar. O dilogo impossibilitado se um dos participantes
pressupe uma tese superior, pois ele exige abertura ao outro, levando
srio suas posies.
A pergunta abre o horizonte do outro, conduz o participante do
dilogo para fora de suas prprias reservas. Flickinger observa que
aprender a perguntar marca o prprio processo de compreender: Tratase aqui, naturalmente, de uma lgica do perguntar, desvinculada das
394
395
396
397
As
diferentes
verses
do
olhar
objetificador,
seja
metodologia da pesquisa
condio
determinante
da
Tais
determinaes
398
experincia
educativa,
aceitando
que
ela
tem
de
399
400
401
em que pode
402
Bibliografia
GADAMER, Hans-Georg. Gesammelte Werke. Tbingen: Mohr
Siebeck,1999.
_____. Verdad y Metodo. Trad. por Ana Agud Aparicio e Rafael de
Agapito. Salamanca: Sgueme, 1977,
_____. Verdad y Metodo II. Trad. por Manuel Olasagasti. Salamanca:
Sgueme, 1992.
_____. El problema de la conciencia histrica. Trad. por Augustn
Domingo Moratalla. Madrid: Tecnos,1993a.
_____. Hermenutica como filosofia prtica. In:. GADAMER, HansGeorg. A razo na poca da cincia. Trad. por ngela Dias. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro,1983.
_____. Elogio de la teora: discursos y artculos. Trad. por Anna Poca.
Barcelona: Ediciones Pennsula, 1993b.
_____. Der Anfang der Philosophie. Stuttgart: Reclam, 1996.
_____. Der Anfang des Wissens. Stuttgart: Reclam, 1999.
_____. Erziehung ist sich erziehen. Heidelberg: Kurpflzischer Verlag,
2000a.
_____. Da palavra ao conceito, a tarefa da hermenutica enquanto
filosofia. In: ALMEIDA, Custdio Lus Silva de; FLICKINGER, HansGeorg: ROHDEN, Luiz Hermenutica filosfica: nas trilhas de HansGeorg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000b, p.13-26.
_____. Homem e linguagem. In: ALMEIDA, Custdio Lus Silva de;
FLICKINGER, Hans-Georg: ROHDEN, Luiz Hermenutica filosfica:
nas trilhas de Hans-Georg Gadamer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000b,
p.117-127.
_____. Retrospectiva dialgica obra reunificada e sua histria de
efetuao. Entrevista de Jean Grondin com H-G Gadamer. In:
ALMEIDA, Custdio Lus Silva de; FLICKINGER, Hans-Georg:
403
404
PRAGMTICA DO SABER:
A MUDANA DE PARADIGMA NA EDUCAO
Amarildo Luiz Trevisan
Consideraes introdutrias
Tendo em vista as transformaes por que passa o contexto
cultural atualmente, a teoria pedaggica, que pretende oferecer
embasamento s nossas prticas, e a formao docente, so solicitadas a
fazer a terapia das grandes fbulas ou das grandes esperanas
depositadas na idia do progresso. Para propor a terapia dos excessos
da razo, a Filosofia deve captar o esprito do tempo (Zeitgeist),
preocupando-se em identificar onde ele se manifesta. Hoje esse esprito
se manifesta no visvel, no movimento de voltar-se para o imediato, no
aqui e agora, no modo tribal de viver, na idia de interatividade (que
sozinhos no resolveremos os nossos problemas), na valorizao do
O texto uma verso resumida da terceira unidade do livro que ser publicado em breve
sob o ttulo Terapia de Atlas: Pedagogia e Formao Docente na Ps-Modernidade.
Santa Cruz do Sul/RS: EDUNISC, 2004 (no prelo).
405
ps-modernidade,
tentando perceber
406
cultura
contempornea
constata,
em
diversos
campos
do
407
(Marx),
ou
ainda
pelas
confuses
de
linguagem
408
contemporneos
(trans)histrica. Pretendo
que
procuram
aliviar
essa
carga
409
Mito e educao
A
Filosofia
surge
como
tentativa
de
resposta
aos
410
num sentido
411
da civilizao
ocidental todos
os conhecimentos eram
412
413
414
415
416
entre
quem
produz
as
imagens
miditicas
quem
417
da ps-
modernidade.
418
419
Bibliografia
AUROUX, Sylvain. A filosofia da linguagem. Trad. Jos Horta Nunes.
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1998.
DELEUZE, Gilles. Lgica do sentido. So Paulo: Perspectiva, 2000.
420
421
1.
422
de
comunicar,
essencial
sobrevivncia
ao
423
424
425
3. Educao: conhecimento e ao
A relao entre a prxis como trabalho ou tcnica e teoria s
aparecer claramente no Renascimento. a que o trabalho passa a
alcanar um lugar bem distinto daquele antes ocupado no mundo grecoromano e medieval. Com a Reforma Protestante, ele passa a
desempenhar o papel de mediador no processo de santificao do
mundo. Alcana assim o grau de plenitude e de pureza outrora reservado
426
427
428
429
430
431
de
princpios
ticos
so
elementos
introduzidos
na
432
433
do
indivduo
isolado,
sem
sentido
algum
sem
434
435
436
Bibliografia
ARENDT, Hannah. Entre el pasado y el futuro. Ocho ejercicios sobre
la reflexin poltica. Barcelona: Pennsula, 1996.
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HUME, D. Investigaes sobre o entendimento humano. In: Os
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las representaciones. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1983.
MACINTYRE, A. Depois da virtude. Bauru: Edusc, 2001.
437
438
439
Introduo
O problema no que somos poucos, e
sim que temos um pensamento
reducionista e unidimensional. Conseguir,
um dia, ser muitos no uma tarefa
simples, mas poder realizar os prprios
sonhos uma maravilha
(Daniel Cohn-Bendit Maio de 68).
Para alguns pensadores contemporneos, dentre os quais cito o
italiano Gianni Vattimo, no mais vivemos um tempo em que ainda se
possa pensar a partir de uma representao nica de historia. O que
temos, em sntese, so imagens construdas de um passado. Imagens e
representaes, essas, que provm de diversos, e at mesmo
divergentes, pontos de vista. Como no acredito na existncia de um
ponto de vista nico, capaz de dar conta da complexidade das questes
Prof. Adj. CE/UFSM - ADE (Dep. Administrao Escolar) - GEPEIS (Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educao e Imaginrio Social). Endereo eletrnico:
[email protected]
440
filosficas
do
movimento
sobre as possveis
ecologista,
como
um
movimento poltico e cultural, para a educao em tempos de psmodernidade. A perspectiva de ps-modernidade, aqui tomada, a de
um movimento de superao dos ideais paradigmticos da modernidade,
buscando a construo daquilo que Boaventura Santos (2000) denomina
de transio para um universo crtico ps-moderno e inquietante ou de
resistncia. De oposio a uma idia de ps-modernidade conservadora
e de vis meramente economicista to ao gosto das elites conservadoras
latino-americanas.
Ao se referir a este perodo de transio, Holanda (1991) o
denomina de Ps-modernidade de resistncia. Para ela poucas
441
do
modelo
industrial
ao
ps-industrial.
Uma
das
442
Direito dos Povos na perspectiva defendida por John Rawls (2001), onde os povos
devem reconhecer que no podem compensar a falha em regular seu crescimento
demogrfico e econmico em cuidar de sua terra, mediante conquista ou migrao para o
territrio de outro povo sem o seu consentimento.
443
(Maio
68),
movimento
pacifista
movimento
65
Nesse ensaio adotarei a expresso movimento ecologista e/ou ecolgico por considerla de domnio pblico no mundo acadmico, bem como nos movimentos sociais.
444
continente
se
comportaram
historicamente.
Sobre
estes
445
446
Gonalves, C.W.P. Contexto, 1990. Chama a ateno para o fato de que nenhum outro
movimento social levou to a srio esta idia de questionamento das formas de vida como
o movimento ecolgico dos anos sessenta.
447
67
448
449
450
Estende a mo
Viva a mata ta ta
Viva a mulata ta ta
(Caetano Veloso, 1988).
Como no ver nesses versos, daquela que foi a msica
inauguradora do tropicalismo, uma enorme afinidade com a conjuntura
de um Brasil de quarenta anos depois? Um Brasil que viu golpes
militares, revolues, reformas, sofreu ditaduras e aberturas? Que teve
campanhas Diretas J? Que teve impeachman de presidente? Um pas
onde ainda se precisam fazer campanhas contra a prostituio infantil,
contra o trabalho escravo, contra a explorao de mulheres e de crianas
em trabalhos insalubres? Um Brasil que assiste ao assassinato de suas
lideranas populares como o ambientalista Chico Mendes e tantos outros
e outras? Que ainda precisa de programas do tipo Fome Zero? Que v,
agora, a esquerda chegar ao poder mximo do pas, via Partido dos
Trabalhadores e da eleio de LULA, seu lder maior, presidente da
repblica? Novamente proftica a frase de Oswald de Andrade no
Manifesto Antropfago A nossa independncia ainda no foi
proclamada...Antes dos portugueses terem descoberto o Brasil, o Brasil
tinha descoberto a felicidade (1928).
Alm das contribuies filosficas e estticas do Tropicalismo,
para o movimento ecologista, muitos de seus representantes se
envolveram ativamente e ainda o fazem - com as causas ecologistas. O
atual ministro da cultura, Gilberto Gil, apenas um exemplo. Ao estudar
a relao de entrecruzamento entre ecologia e tropicalismo Reigota
(1999), mostra como esses dois movimentos promoveram atividades
conjuntas que em muito contriburam para a divulgao das idias
ecologistas no Brasil e no planeta.
451
452
453
454
68
455
456
457
Exatamente
inverso
disso
que
propuseram
os
458
459
460
A interpretao ecologista dos manifestos PauBrasil e Antropfago precisa ser feita a partir da
contemporizao destes, juntamente com o conjunto
de textos produzidos pelo autor, paralelamente
produo especfica em ecologia global, sobretudo
nos seus aspectos, sociais, culturais e polticos. Que
esto implcitos ou explcitos nas imagens, frases e
slogans (1999, p. 57).
nesta perspectiva que tomei nesse ensaio algumas idias e
dialoguei com seus autores. At porque, ao decidir tomar como
referencial terico textos de carter literrio no podemos nos esquecer
que as interpretaes feitas so apenas algumas das tantas possveis. H
461
mistura,
contaminao
uma
resultante
da
diversidade
de
462
463
464
465
verdade
dos
povos
missionrios...Contra
as
sublimaes
campos
da
produo
cultural
brasileira,
so
uma
466
Bibliografia
ANDRADE. O. Do Pau-Brasil antropofagia e s utopias. Obras
Completas. V.6. Rio de Janeiro. Civilizao Brasileira, 1970.
_____. Esttica e Poltica. So Paulo, Globo, 1992.
_____. Os dentes do drago- entrevistas. So Paulo. Globo, 1990.
467
468
469
470
desresponsabilizao
flexibilizao
da
crescem e se consolidam os
471
472
centros
de
conhecimento,
esto
passivos
scio-
embargada
at
incio
da
dcada
de
oitenta,
473
ao,
integradas,
conectadas,
concomitantes,
escolar,
existencialmente
onde
como
temos
produzido
nos
produzido
professor,
produzir
comunicar
este
474
ideolgicos,
475
476
universitrio
da
rea
da
histria
(http://www.icarobrasil.com.br).
Ah! J sei prezado leitor: este conhecimento proibido , s
para os poucos brasileiros - o que inclui o autor, professor universitrio
da rea da educao em cincias naturais e suas tecnologias, s para no
esquecer claro - que viajam de avio (quando custeados pela
universidade) ou acessam a internet para comunicao, cooperao,
pesquisa bibliogrfica e ensino a distncia. A maioria, o que inclui a
maior parte dos professores da educao bsica e seus respectivos
477
conhecer
estes
dados
educacionais,
angustiantes
478
porque
educacionais,
precisamos
viv-las
como
479
480
481
482
Bibliografia
CARR, W. E KEMMIS, S. Becoming Critical: Action Research,
Educational And Knowledge. Falmer Press, London, UK, 1986.
DE BASTOS, F. da P. E outros. A Luta da Escola Pblica Frente a
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SADER, E. Quando Novos Personagens entraram em cena:
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VIEIRA PINTO, A. Conscincia e Realidade Nacional. Rio de
Janeiro, ISEB/MEC, 1961.
VIEIRA PINTO, A. Cincia e Existncia: problemas filosficos da
pesquisa cientfica. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
483
TICA E EDUCAO
484
Introduo
O objetivo do presente texto analisar o significado
contemporneo da tica aristotlica das virtudes em sua relao com a
educao, estudando o modelo de complementaridade entre o
particularismo e o universalismo. Um ponto central de divergncia em
relao validade ou insuficincia da tica das virtudes de Aristteles se
encontra na prpria especificidade de seu mtodo de filosofia prtica.
Aristteles criou um modelo tico baseado na racionalidade da prpria
ao humana, no fazendo uso de uma deduo particular de leis
universais, no momento em que se distanciou do modelo que
identificava causas necessrias (tanto pelos fenmenos naturais como
pelas formas ideais) para o agir moral, apontando o homem como
princpio da ao tica, o que destacou o sentido da responsabilidade da
ao humana69. Uma forma de interpretao usual tende a ressaltar suas
485
(universais),
universalistas
neste
ou
se
modelo
de
possvel
tica.
verificar
Pretendo
caractersticas
demonstrar
70
Para as citaes em portugus, uso a traduo de Mario Gama Kury (4. ed.), editada
pela Editora UnB, Braslia, 2001. A obra ser abreviada por EN.
486
487
com
exatido
matemtica,
que
possibilita
um
488
489
por
uma
vontade
racional,
entretanto
permanecem
Aristteles tambm distingue entre cincia prtica e cincia produtiva (BD>4H B@\0F4H). A cincia produtiva, do agir instrumental, do fazer, do produzir, pertence
esfera da JXP<0 (tcnica) e esta, voltada para a perfeio da prpria obra, um meio em
funo de um fim que exterior a si mesma. As cincias produtivas investigam a respeito
da ao fabricadora humana. Na posis o agente, a ao e o produto da ao constituem-se
como em separados, em que a finalidade da ao est em um objeto, estando fora da
prpria ao a finalidade. As cincias produtivas tambm operam com o contingente e o
particular e possuem um critrio que oferece uma certa universalidade e necessidade que
a finalidade (o tlos). A finalidade o modelo daquilo que vai ser produzido, sendo que as
aes produtivas so compreendidas enquanto tcnicas, pois so aes repetitivas que
visam produo de um objeto, no tendo sua finalidade na prpria ao. As cincias
produtivas tm referncia a um aspecto particular da capacidade tcnica humana, sendo
seus exemplos: a arquitetura, a escultura, a medicina, a guerra, a discusso, a poesia, a
engenharia, a tecelagem etc. Os casos investigados por Aristteles so a retrica, como
arte da discusso e da persuaso por meio do discurso e a potica, onde se analisa o drama
(tragdia), a comdia, a poesia pica e lrica etc. Ver a respeito da distino entre prxis e
posis: Natali, 1996, p. 109-112 e Gauthier, 1973, p. 38-44.
490
491
492
regras ticas (que valem na maior parte dos casos). Como Aristteles
tinha identificado que o objeto da tica (belo, justo e bom) est
circunscrito diversidade de opinio (*4"N@DV<) e a incerteza
(B8V<0<), diz que a tica deve se contentar com o ponto de partida de
premissas incertas, em que ser possvel um delineamento da verdade,
sendo que essas premissas so generalizaes que possibilitam
concluses que possuem validade na maior parte dos casos (EN I, 3,
1094 b 19-23).
Uso como ponto de partida o entendimento de que possvel
interpretar o significado de H B J B@8b de duas formas distintas, a
saber: ou significa dizer que a validade usual em tica est
fundamentada no juzo particular do agente somente, em que essas
generalizaes representariam como as coisas ocorrem na maioria dos
casos, o que revelaria uma compreenso particularista em tica; ou
representa afirmar que a validade usual das premissas em tica podem
ser entendidas enquanto uma norma, o que introduziria uma
caracterstica universalista na tica aristotlica. Minha inteno
demonstrar que razovel identificar no modelo da tica de Aristteles,
que utiliza generalizaes usuais, um universalismo, no momento em
que essas generalizaes que admitem excees forem interpretadas
enquanto normas; tambm, importante evidenciar que se encontram
nesse modelo de pensamento generalizaes universais, o que corrobora
com a interpretao das generalizaes usuais enquanto normas e no
enquanto um entendimento particular.
Essa regra generalizante pode ser formulada da seguinte
maneira: na maior parte dos casos (H B J B@8b) A bom, sendo
que temos generalizaes que podem ser acompanhadas de excees,
493
494
495
496
apresenta
uma
srie
de
argumentos
de
497
498
499
Esta a regra particularista que pode ser identificada na teoria da mediania, a saber, que
em determinadas circunstncias, fazer uma determinada coisa que se constitui como um
bem.
500
do
indivduo,
circunscrevendo
particularismo
ao
mediania,
pois,
dessa
forma,
estaria
comprovando
seu
Laction morale inclut un rapport au sujet, et en ce sens on peut dire quelle est
subjective. Mais ce rapport est lui aussi une ralit, et laction quil dfinit reste aux yeux
dAristote une action objectivement dtermine, et, il nhsitera pas le dire, une chose
(E.N., II, 3, 1105 b 5). Le juste milieu est, chez Aristote, la qualit de cette chose, et en ce
sens il est valeur objective (Gauthier, 1973, p. 72).
501
502
503
504
505
506
507
508
509
que s se pode escolher sobre aquilo que um bem (EN III, 2, 1111 b
44-49), isto , o objeto da BD@"\D,F4H no pode ser confundido como
uma assero, pois est relacionado com a aceitao em relao
deliberao ($@b8,LF4H) (Zingano, 1997, p. 87). J que a escolha no
pode ser identificada nem com o desejo, nem com a ira, nem com a
vontade nem com a opinio, Aristteles apresenta a definio de
BD@"\D,F4H: ela uma ao voluntria que precedida pela deliberao
(BD@$,$@L8,L:X<@<), sendo que a escolha envolve o raciocnio (uso
da razo - 8`(@L) e o pensamento (*4V<@4"). Por isso, BD@"\D,F4H
significa a escolha premeditada, em que se escolhe uma coisa antes de
outras coisas (EN III, 2, 1112 a 15-19; Aubenque, 1976, p. 121). Isso
significa que a escolha premeditada no pode ser considerada como uma
ao a partir do impulso passional, pois ela supe o pensamento e a
razo que orientam para as aes concretas e contingentes que se
apresentam ao indivduo (Millet, 1990, p. 135). A BD@"\D,F4H no se
encontra nem no puramente factual nem no estritamente necessrio e
universal, sendo que ela pressupe o desejo dos fins e escolhe os meios
necessrios para realiz-los, tendo em conta estes fins (Farias, 1995, p.
232; Aubenque, 1976, p. 121).
A deliberao ($@b8,LF4H) est circunscrita s coisas que
pertencem ao controle humano e que so possibilitadas pela ao
($@L8,L`:,2" * B,D J< Nz :< 6" BD"6J<), no tendo
relao com a ordem natural (NbF4H), nem com o necessrio (<V(60)
nem com as coisas que resultam do acaso (JbP0), pois sua relao est
identificada com as coisas que podem ser realizadas e dependem do
empenho do indivduo (J< *z <2DfBT< 6"FJ@4 $@L8,b@<J"4
510
B,D J< *4z "J< BD"6J<) (EN III, 3, 1112 a 36-41; Aubenque,
1976, p. 107). No se delibera sobre os assuntos humanos que no
admitem excees, e isso significa que no possvel deliberar a
respeito da incomensurabilidade da diagonal e do lado de um
quadrado (EN III, 3, 1112 a 26) nem possvel a deliberao a respeito
da ortografia (EN III, 3, 1112 b 1-2), pois estas matrias j esto
completamente definidas. Isso representa que a deliberao opera no
horizonte da indeterminao, quer dizer, s possvel se deliberar sobre
aquilo que no necessrio ou universal (EN III, 3, 1112 b 9-11). A
deliberao est relacionada com a escolha sobre o tipo de ao que
necessria em um caso especfico que no definido, podendo ser
entendida como uma pesquisa para encontrar aquilo que contribuir
para a realizao de um fim (Aubenque, 1976, p. 109). Essa
identificao da deliberao com as coisas indefinidas pode apontar para
a existncia de dvida sobre o que deve ser realizado em cada caso
particular (Irwin, 1996, p. 55), o que poderia afirmar apenas o carter
particularista da tica das virtudes; porm, importante chamar a
ateno para os elementos universalistas dessa argumentao. Em
primeiro lugar, Aristteles faz referncia a que a deliberao est sujeita
a regras generalizantes usuais (H B J B@8b) que apontam para o
bem; porm essas regras generalizantes no podem determinar com
exatido todas as aes em funo das coisas indefinidas (*4`D4FJ@<)
(EN III, 3, 1112 b 9-11). Em segundo lugar, para se estabelecer a
deliberao no caso indeterminado necessrio recorrer a um elemento
intersubjetivo, isto , necessrio o estabelecimento de uma deliberao
conjunta para encontrar a deciso correta (EN III, 3, 1112 b 10-13). Isso
significa afirmar que a deliberao, que usa de escolhas nos casos
particulares, no pode alcanar a escolha correta utilizando-se de
511
individual
(Millet,
1990,
p.
135-136);
porm
esta
512
Pensar a deliberao como estritamente identificada com meios que conduzem a fins
reduzir a deliberao (...) bsqueda de las conexiones causales que producen un
determinado fin y de los recursos al alcance del agente para poder iniciar esa cadena de
efectos (Guariglia, 1997, p. 208).
86
A deciso (BD@"\D,F4H) no se distingue do julgamento que faz parte da deliberao
($@b8,LF4H): a deciso o julgamento mesmo que pode ser entendido com um imperativo
que obriga (Gauthier, 1973, p. 38).
513
514
515
A tese de Zingano que pode ser identificada a partir desse raciocnio uma doutrina
moderada da liberdade prtica, em que o sujeito autnomo (\), ao fazer certos
atos, na forma de ter escolhido os meios de forma individual, o indivduo adquire uma
disposio (), e a repetio de atos cria uma disposio, criando uma natureza prtica,
existindo fins a partir dessa natureza prtica. Tem-se, ento, a autonomia dos fins, em que
se parte da escolha racional dos meios para ser o espao de deliberao individual com
vistas a fins, obtida com a autonomia em relao aos meios (Zingano, 1996, p. 90-91).
516
517
518
especificidade
da
ND`<0F4H,
em
oposio
ao
<@H
519
utilize
percepo
("F20F4H)
dos
particulares
para
o
92
Ver sobre os dois significados de <@H em Natali, 2001, pp. 74-75. Nesse texto, o autor
faz referncia que, em um primeiro momento, o <@H visto como o oposto de ND`<0F4H
e que esta est identificada com a "F20F4H e, posteriormente, o <@H passa a estar
relacionado com a "F20F4H.
520
Concluso
No possvel pensar que a tica das virtudes conta somente
com uma fundamentao particularista para a ao moral em razo da
identificao de um modelo cooperativo entre o particular e o universal
que assegura a validade da deciso deliberada subjetiva e, tambm,
conta com um referencial normativo para a escolha individual. Isso pode
ser demonstrado ao se analisar a relao estabelecida entre a ND`<0F4H
e a F@N\" (sabedoria). A ND`<0F4H prescritiva e inferior F@N\"
em funo de orientar-se para os objetos no-necessrios e particulares
(EN VI, 13, 1145 a 1-9). Atravs da phrnsis, o indivduo deve
alcanar aquilo que promove o bem para a realizao da mxima
perfeio que possvel na indeterminao do contingente. Escolher os
meios acertados significa uma antecipao dos fins, isto , significa
saber aonde se quer chegar. Como a ND`<0F4H no est relacionada
com o necessrio, estabelecendo um movimento contrrio em relao
F@N\", ela no se determina em relao ao objeto (que mutvel), mas
em relao disposio individual para a ao contingente que busca
alcanar um JX8@H. Sendo assim, o ND`<4:@H (indivduo prudente)
aquele que conhece o particular, tendo a viso dos meios necessrios
para a realizao dos fins, mas, tambm, possui o conhecimento
universal do fim humano, tendo um tipo de conhecimento que engloba o
521
Bibliografia
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1995.
93
Segundo Gauthier e Jolif (1970, p. 469) a phrnsis se constitui como sabedoria prtica
que se dirige para a ao, devendo ter conhecimento do singular e conhecimento dos meios
e, tambm, permanece normativa, pois deve possuir o conhecimento universal do fim da
vida humana.
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523
na
tica
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Introduo
A crise do sistema educacional, entre outros fatores, uma
decorrncia da crise da racionalidade moderna. Prestes (1996, p. 11)
afirma que a atual crise na educao no mais nem menos que a crise
da modernidade e da racionalidade, dos quais a educao se apresenta
como filha promissora. Seguindo esse pensamento, evidente que as
instituies que trabalham com a educao precisam verificar os
principais efeitos desse modelo e procurar, na medida do possvel, quais
as sadas mais viveis no qual podemos encontrar.
A supervalorizao do paradigma da conscincia acarreta
teoricamente um problema muito complexo de ser discutido: a questo
da pouca nfase metafsica nos diversos planos da vida. A racionalidade,
baseada na cientificidade e no plano emprico, passa a configurar-se na
sociedade moderna como um dos poucos elementos no qual poder-se-ia
chegar na verdade. Dessa forma, o pensamento racional contribuiu
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94
Bacon considerado para muitos o pai da era industrial. Nasceu em 1561 na cidade
inglesa de Londres, tendo sua morte ocorrida em 1626. Sua pretenso estava em criar uma
nova cincia, tendo como base o mtodo indutivo, capaz de dar ao ser humano um
domnio sobre a natureza. A verdadeira filosofia para ele no a cincia divina ou
humana e nem a busca da verdade, mas algo prtico.
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95
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razo
instrumental96
apropriou-se
das
esferas
do
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530
que se vive. Assim, sua teoria analisada num plano conceitual em que
busca fundamentar os discursos, tanto do mundo sistmico como no
mundo vivido pelos interlocutores, como afirma Bernstein (1991, p. 48)
A perspectiva terica de Habermas (...) sublinha
conceptualmente a necessidade de fomentar a
racionalidade comunicativa do mundo da vida a fim
de que se possa alcanar um equilbrio adequado
entre as exigncias legitimas da racionalidade
sistmica e a racionalidade comunicativa do mundo
da vida.
Por meio da ao comunicativa os sujeitos devem direcionar
os processos sistmicos direcionando-os para a finalidade da vida
humana, ampliando constantemente seus atos de fala, proporcionando
um relacionamento mais tico entre os indivduos.
Embora seus estudos no tenham uma conotao pedaggica,
a educao entendida na Teoria da Ao Comunicativa a ao entre
sujeitos que procuram desenvolver a capacidade de relacionamento
mediado pela linguagem, com a pretenso de estabelecerem acordos no
plano de ao. Essa filosofia da linguagem est centrada na
intersubjetividade, indo mais alm da dimenso da filosofia da
conscincia, que estabelece um dilogo entre o sujeito com sua prpria
razo, que em sua relao est entre o sujeito e o objeto. Por sua vez, a
ao comunicativa est em colocar os sujeitos num embate,
proporcionando acordos mais apropriados, estabelecendo uma relao
sujeito-sujeito.
Assim, Habermas (1987, p. 10) ao escrever a Teoria da Ao
Comunicativa, destaca a finalidade da sua teoria, dando trs pretenses,
que consistem em:
531
532
Bibliografia
BACON, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras Indicaes
Acerca da Interpretao da Natureza. Trad. Jos Aluysio Reis de
Andrade. So Paulo: Abril Cultural, 1973.
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1990.
BOUFLEUER, Jos Pedro. Pedagogia da Ao Comunicativa: uma
leitura de Habermas. Iju: Uniju, 2001.
OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. A
modernidade. So Paulo: Loyola, 1989.
filosofia
na
crise
da
533
tica e moral
Na tentativa de buscarmos uma compreenso da tica, torna-se
necessrio recorremos ao entendimento do conceito, a fim de que o
mesmo no seja tomado como o equivente moral. Na seqncia,
apresentamos algumas contribuies ticas na inteno de mediar
acordos para uma melhor convivncia humana ao longo da histria.
534
535
prtico. A virtude no
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537
97
538
tica na modernidade
A tica na modernidade caracteriza-se pela laicidade, em
contrapartida da tica teocntrica do medioevo. Trata-se de uma tica
centrada no homem, no Eu (subjetividade). Na poca moderna, acentuase a dimenso da racionalidade humana baseada na cientificidade.
Procura-se o fundamento da ao humana, no mais em Deus, mas na
razo. Nesse perodo da histria, acentua-se a ao do dever pelo dever,
conforme a tica kantiana.
A modernidade caracteriza-se pela cientificidade e pelo
empirismo. H um acento muito grande na cincia e no uso dos mtodos
cientficos, deixando de lado o elemento metafsico. Nesse sentido, a
tica um elemento que tem um grau de importncia pouco acentuado.
Na contemporaneidade, encontramos uma vida moral e uma
tica que se caracterizam de diversas maneiras: centrada no Eu, busca do
esttico, quebra das neuroses e represses, crtica ao racionalismo, apelo
sensibilidade, valorizao das emoes, educao para a liberdade,
autonomia sem autocracia, heteronomia sem anulao. Em nosso tempo,
diante de todas essas manifestaes, surgem muitos questionamentos
ticos. A tica questionada.
As perguntas que surgem nos tempos atuais so as seguintes:
o
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540
enquadram-se
na
compreenso
adequada
do
agir
comunicativo.
Assim, a Teoria da Ao Comunicativa pretende reconstruir
teoricamente alguns pontos necessrios para a ao humana, tendo em
vista acordos nos quais vence o melhor discurso, aquele mais
fundamentado, e que valer para o momento em que se vive. Aqui se
levar em conta a sistematizao e tambm a vivncia. A sistematizao
dever levar em conta a vivncia humana, no podendo ser desvinculada
da vida das pessoas.
Na tica discursiva, a interao entre os indivduos se d pela
linguagem. A tica discursiva no tem a mesma inteno da filosofia da
conscincia, que dinamiza a relao sujeito-objeto, ou seja, valoriza o
sujeito que usa de sua razo. Mas, no paradigma habermasiano os nveis
relacionais se encontram na relao sujeito-sujeito. Um indivduo ir
541
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mas
baseia-se
em
pretenses
vlidas,
com
suas
Bibliografia
BACON, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras Indicaes
Acerca da Interpretao da Natureza. Trad. Jos Aluysio Reis de
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filosofia
na
crise
da
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