Joseph Pearce A Crianca Magica (Livro)
Joseph Pearce A Crianca Magica (Livro)
Joseph Pearce A Crianca Magica (Livro)
A CRIANA
MAGICA
A redescoberta
na natureza
3,9 EDICO
Francisco
Alves
^J
f^c& .qqisc'
A CRIANA
m gica
A REDESCOBERTA DO PLANO DA NATIJREZA
PARA NOSSAS CRIANAS
Traduo de
Cinthia Barki
3.a EDICO
Francisco
Alves
CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de livros, RJ.
Pearce, Joseph Chilton.
P373c
Criana mgica: a redescobert do plano da natureza
para nssas crianas / Joseph Chilton Pearce; traduo de
Cinthia Barki.
Rio de Janeiro: F. Alves, 1987
(Coleo Cincia)
Traduo de: Magical Child.
1. Crianas - Aspectos psicolgicos 2. Psicologia
infantil I. Ttulo II. Srie
CDD - 155.413
155.4
CDU - 159.922.72
82-0869
159.922.7
1987
Dedicado a Karen
SUMRIO
Agradecimentos, 9
Prefcio, 11
Parte I.
O Equvoco Monstruoso
1 Promessa Feita, 19
2 Mudanas de Matriz, 33
3 A Inteligncia Como Interao, 43
4 Estresse e Aprendizagem, 47
5 A Nova Demonologia, 53
6 A Bomba-Relgio, 61
7 Rompendo o Vnculo, 75
O Conceito, 91
O Ciclo de Competncia, 101
Formando a Matriz, 109
O Mundo Como Ele , 123
Acabamento dos Detalhes, 145
Diviso do Trabalho, 153
As Percepes Primrias, 161
Os Jogos, 175
Agradecimentos
Prefcio
giao da criana com o seu eu, evitarei o melhor que possa o uso de ter
mos tcnicos ou explanaes. Minha nica preocupao descrever, em
linhas gerais, o plano biolgico e o modo como danificado, e usarei to
do o material que me auxilie. O trabalho de Jean Piaget, por exemplo,
um de meus fundamentos, mas usei sua teoria e materiais seletivamente, na
medida em que serviram aos meus propsitos. GeraOes passaro at que
possamos avaliar o enorme alcance do trabalho desse bilogo suo, mais
tarde tomado psiclogo. Ele passou cerca de quarenta e cinco anos obser
vando o desenvolvimento da inteligncia de milhares de crianas, e conside
ro seu trabalho como modelo, guia e fonte inestimvel. Na verdade, foi o
interesse de Piaget sobre o chamado pensamento mgico infantil que me
forneceu uma valiosa pista e, no final das contas, forneceu o ttulo deste
trabalho. No entanto, uso seu material quase que de maneira oposta a seus
pontos de vista. Para resumir, fao isso sem explicaes, argumentaes ou
justificativas (a no ser as que aqui se encontram).
Como bilogo, Piaget pereebeu o erro da psicologia em comear seu
estudo partindo do ser humano adulto e indo em direo criana, levan
do para a pesquisa os preconceitos e pontos de vista de uma lgica j
desenvolvida. No devemos partir de um organismo j completamente for
mado, disse ele, se quisermos compreend-lo. Devemos comear nossa pes
quisa pelo comeo daquela vida e deixar que a criatura se mostre a ns en
quanto cresce. Piaget descobriu que a criana tinha de construir seu pr
prio conhecimento intelectual para poder interpretar e responder fisica
mente ao mundo. Ele concluiu que a criana motivada internamente, que
tem uma intencionalidade no-volitiva e que assim que faz as interaes
fsicas necessrias com o mundo. Piaget chamou os resultados de estrutura
do conhecimento infantil. s vezes nos referimos a isso como nossa viso
de mundo , isto , o modo como o crebro organiza a entrada de informas e forma uma resposta inteligente.
Piaget notou que a criana passa por estgios de desenvolvimento de
finidos nesta evoluo da inteligncia, paralelos ao crescimento fsico. Ele
descobriu que o sistema cerebral da criana e sua estrutura de conhecimen
to passam por mudanas especficas numa espcie de base de maturao
sincronizada. A cada uma dessas mudanas, o crebro processa ento suas
informaes de um novo modo e desenvolve novas maneiras para intera
gir com uma experincia maior. Estas mudanas da lgica, segundo Piaget,
sffo determinadas geneticamente e ocorrem em todas as crianas com a
mesma seqncia, e mais ou menos na mesma idade como tambm, pos
so dizer, acontece com o crescimento fsico.
Esta tese bastante questionada, sobretudo neste pas. Jerome Bru13
ner acredita que qualquer assunto pode, praticamente, ser ensinado, a qual
quer momento, se disposto numa estrutura adequada, e que a natureza dos
estgios especficos de aprendizagem que Piaget descreve est articulada ar
tificialmente. A maioria dos educadores tem seguido Bruner e sua exign
cia de treinamento e experincia acadmica cada vez mais precoce. A Re
pblica Popular da China tem menosprezado as idias de Piaget, insistindo
que suas crianas esto aprendendo assuntos acadmicos abstratos muito
cedo. (Mas os resultados a longo prazo das experincias recentes dos chine
ses ainda esto para ser vistos.) Nas pginas que se seguiro, preocuparme-ei com estas teorias que se opem a Piaget somente enquanto perceblas em uma posio contrria ao desenvolvimento do plano biolgico, e
no enquanto relacionadas com Piaget, cujo trabalho permanecer por m
rito prprio.
Recentemente, Herman Epstein, biofsico da Universidade de
Brandeis, encontrou provas de crescimento cerebrais peridicos e sbitos
em todas as crianas em tomo dos mesmos estgios de desenvolvimento. Nes
tes perodos, o crebro realmente desenvolve novos materiais biolgicos para
a aprendizagem. Estas manifestaes sbitas ocorrem aproximadamente
de quatro em quatro anos, e todas, exceto uma, coincidem com os pero
dos de transio da lgica de Piaget. Estes perodos de crescimentos cere
brais sbitos parecem ser predeterminados geneticamente do mesmo modo
que os estgios de desenvolvimento de Piaget, e acho bvio que todos eles
faam parte de um cdigo gentico integral para o crescimento da inteli
gncia.
A teoria do desenvolvimento apresentada por Piaget e Epstein ofe
rece um modelo no qual quase todos os problemas da infncia e da fase
adulta conseqente podem adquirir um novo significado. Mas isso s acon
tecer se considerarmos e passarmos por cima dos prprios preconceitos
de Piaget, praticamente inevitveis para um cientista do sculo XX. O pre
conceito inerente s suas observaes foi sua atitude quanto caractersti
ca chamada pensamento mgico. Neste aspecto, ele partilhou da viso con
vencional de outros pesquisadores que se referem ao pensamento que dese;
ja que algo ocorra, s fantasias, ao pensamento autista da criana (no senti
do original do termo) como um pensamento voltado sobre si mesmo, que
no se preocupa em ser checado com a realidade. Em suma, o pensamento
mgico implica a existncia de alguma conexo entre pensamento e reali
dade, onde o pensamento penetra e pode exercer uma influncia sobre o
mundo real. O pensamento infantil baseia-se nesta atitude, nos primeiros
sete ou oito anos de idade. A questo central das pesquisas psicolgicas e
educacionais tem sido: Como fazer com que a criana se ligue realidade?
14
16
PARTE I
O Equvoco Monstruoso
Capitulo 1
Promessa Feita:
A Herana Magnfica
achar seu caminho sem falhar por milhas e milhas atravs do oceano,
centenas de milhas de gua doce, at atingirem exatamente o riacho onde
nasceram. Parecem possuir um mapa incorporado do mundo e igual capaci
dade para traarem seu curso com preciso. A maior parte das espcies
animais parece ter informaes pr-programadas complexas sobre o mundo
e de como conseguir deslocar-se nele. Tudo o de que necessitam, ao nascer,
serem largados no mundo, para que essas programaes inatas sejam
rapidamente ativadas e postas em ao. O resultado uma rpida autono
mia; eles amadurecem e so capazes de tomar conta de si prprios em
pouco tempo.
Estudiosos do crebro esto comeando a supor que este uma
espcie de holograma. O holograma um tipo de fotografia que contm
toda a imagem em qualquer parte ou pedao do todo. (Vocs tm que ver
para acreditar.) A holografia possui propriedades excepcionais, mas este
fenmeno do todo contido na parte a propriedade que parece ser anloga
ao crebro. Por exemplo, pegue uma chapa hologrfica de um vaso de
flores e quebre-a ao meio. Voc no ver a imagem de duas metades de um
vaso; cada metade conter ainda a imagem completa. Se quebrar a chapa
em quatro, voc ter quatro imagens completas, e assim por diante, at
fragmentos menores. O problema que elas tomam-se cada vez menos
ntidas a cada reduo. Um pedacinho ainda contm a imagem inteira, mas
sem preciso.
Quando comparamos o crebro a um holograma, queremos dizer
que qualquer parte dele, at mesmo uma pequena clula pensante, reflete
ou contm o funcionamento do crebro como um todo. Uma implicao
ainda mais interessante que talvez o crebro seja um holograma de todo o
planeta Terra. Isto significa que assim como podemos dividir uma chapa
hologrfica e encontrar a imagem inteira em qualquer pedao, do mesmo
modo o crebro pode ser considerado um pedao da Terra, refletindo em si
a imagem ou funcionamento de todo o sistema vital. 0 crebro humano
talvez seja uma rplica microminiaturizada do prprio planeta vivo, s
que um pouco fora de foco, necessitando de maior nitidez.
O modelo do crebro enquanto holograma implica automaticamente
uma extenso do conceito de holograma. Se o crebro um holograma do
planeta Terra, ento este prprio planeta tambm deve serum holograma.
(De fato, este prprio modelo foi sugerido por alguns dos maiores pesqui
sadores do crebro.3) Portanto, para usarmos este modelo, podemos consi
derar nossos crebros como pedaos do holograma terrestre. Isto algo a
que msticos e poetas tm feito aluso atravs dos tempos, assim como
quando William Blake escreveu Ver o mundo em um gro de areia...
22
32
Capitulo 2
Mudanas de Matriz:
Do Conhecido ao Desconhecido
A Pa la v r a matrix equivale a tero, em latim. Da temos tambm os
vocbulos matria, material, mater, me, e assim por diante. Todos se
referem matria bsica, a substncia fsica de onde se origina a vida.
0 tero oferece trs coisas a uma nova vida que est em formao:
uma fonte de possibilidades, uma fonte de energia para explorar essa fonte
de possibilidades, e um lugar seguro em que tal explorao possa ocorrer.
Toda vez que estas trs necessidades so satisfeitas, temos uma matriz. E o
desenvolvimento da inteligncia ocorre pelo uso da energia oferecida
explorao das possibilidades dadas enquanto se est no espao seguro
fornecido pela matriz.
Uma matriz sempre essencialmente feminina por natureza. 0
espermatozide masculino deve abrigar-se logo no vulo feminino ou ento
perecer. Ao vulo-matriz dada a energia, a possibilidade e o lugar seguro
do tero-matriz, que est dentro da me-matriz (que se situa no interior da
Terra-matriz). Depois que o beb sai do tero, a me toma-se a fonte de
energia, a possibilidade e o lugar seguro onde ficar, razo por que me,
apropriadamente, significa matriz. Mais tarde no desenvolvimento, a pr
pria Terra deveria tomar-se a matriz, como sempre nos referimos Me
Terra. A natureza sempre foi considerada o esprito universal da vida na
Terra, e era chamada de me natureza ou matriz.
0 plano biolgico para o desenvolvimento da inteligncia baseia-se
numa srie de formaes de matrizes e de mudanas: isto , os seres
humanos so criados de modo a desenvolver sua inteligncia pelo aprendi
zado, e pela obteno de capacidades para interagir com uma fonte de
energia, possibilidades e segurana uma aps a outra. A seqncia vai das
primeiras matrizes concretas a outras cada vez mais abstratas, ou seja, da
matriz da substncia da vida que nos dada matriz do pensamento
criativo puro. Cada mudana na matriz nos impele a um conjunto de
experincias desconhecidas e imprevisveis, que o modo pelo qual a
inteligncia se desenvolve. Cada mudana de matriz no s uma espcie
33
por volta dos sete anos, a natureza obriga a criana a separar-se funcional
mente (por meio de uma diviso de trabalho no sistema mente-crebro) da
dependncia direta da me, enquanto base de explorao, e deslocar-se
para a prpria Terra, enquanto lugar seguro. A Terra, estruturada como
conhecimento primrio no crebro, torna-se ento a fonte de poder e
tambm de possibilidades. Da, o desenvolvimento comea a estruturar um
conhecimento de poder pessoal ao interagir com a matriz do mundo.
Dos sete aos onze anos (aproximadamente), a criana estrutura um
conhecimento deste poder pessoal no mundo. Este conhecimento do teu
(do prprio organismo mente-crebro-corpo) enquanto matriz desenvol
ve-se por meio das interaes fsicas da criana com o corpo fsico da
Terra, assim como o beb estrutura o conhecimento da me pelas intera
es sensoriais com ela. Novas formas de interao, impressionantes e
profundas, abrem-se para o desenvolvimento durante este perodo do final
da infncia. A autonomia tomar-se fisicamente independente da ajuda
dos pais e aprender a sobreviver fisicamente aos princpios do mundo
fsico o objetivo deste perodo. O desenvolvimento deste poder pessoal
prepara para uma mudana de matriz da Terra para o eu.
Na adolescncia, o plano biolgico de que nos tomemos nossa
prpria matriz, que consiste em mente-crebro e corpo. Na lgica da
diferenciao, a atividade mente-crebro comea a distinguir-se lentamente
da atividade corporal ou conhecimento feito pelo corpo (body knowing),
que o conhecimento concreto estruturado atravs da infncia. O plano
biolgico, ento, nos conduz quinta mudana de matriz, quando a
mente-crebro deve separar-se (atravs de distines no processamento
cerebral) funcionalmente do corpo. A partir da matriz do corpo fsico
orientado concretamente, as interaes mente-crebro (o pensamento abs
trato puro) devem comear uma formao de matriz. Ou seja, a mentecrebro deve finalmente se tomar sua prpria matriz, sua prpria fonte de
poder, potencial e lugar seguro.
Em certo momento depois da maturidade, a mente deve comear
uma separao funcional ou diferenciao lgica dos processos cerebrais.
Esta a ltima mudana de matriz de que temos conhecimento direto.
Neste ponto, a mente capaz de atuar sobre as estruturas de seu prprio
crebro, e assim reestruturar sua realidade experimentada. Neste ponto, a
conscincia pessoal no mais contingente ou dependente do concreto.
Desse modo, a progresso do concreto ao abstrato deve completar-se.
Enquanto vivermos (ou ela viver), a me fsica continuar a ser a
matriz primria, mesmo que nos separemos dela e passemos para matrizes
maiores. Ao longo de nossas vidas, a Terra continuar a ser a matriz de
39
pensamento abstrato cada vez mais precoce, como fazemos hoje em dia.
Pelo contrrio, devemos fornecer uma interao de amplas dimenses com
a terra viva, sem deixar que idias abstratas intervenham ou atrapalhem,
para que uma estrutura concreta satisfatria possa ser formada, e da qual
as abstraes possam surgir.
Nossa herana de trs bilhes de anos realmente magnfica; a
promessa que nos foi feita de um alcance infinito. Mas este plano
biolgico deve ser protegido, e para faz-lo temos de reconhecer sua
existncia e aprender algo sobre seu contedo. Conhecamos este plano
quando tnhamos seis anos e vivamos cheios de alegres expectativas e
desejos. Outra coisa aconteceu, claro; e mesmo tendo acontecido, saba
mos intuitivamente que estava tudo errado. Este conhecimento primrio
foi recoberto por um condicionamento de ansiedades, to profundo e
penetrante, to arraigado e continuamente reforado e ampliado de todo o
jeito possvel, que o perdemos enquanto conhecimento profundo.
A inteno deste livro fedescobrir este conhecimento que existe em
voc, confirmar e restituir sua confiana nele. Temos que despertar nosso
conhecimento deste poder pessoal que pode fluir junto com o de todas as
coisas e jamais se exaurir. Devemos reavivar nossa f em um sistema de vida
que nossa matriz e que foi planejado para nos apoiar. Somente pela
confiana em voc mesmo e em sua prpria vida que ser possvel
responder nova vida que lhe oferecida (ou a seu filho ou a seu eu
desorientado) conforme as necessidades desta nova vida.
Paradoxalmente, para a maioria dos pais, esta f s pode ser recobra
da se respondermos a nossos filhos, porque apenas a criana a expressa
abertamente. Estamos em um crculo vicioso: somente atravs da f que
podemos nos abrir ao processo de vida dentro de ns e achar uma resposta
adequada pata educarmos nossos filhos, e s atravs dessa resposta que
podemos, mais uma vez, abrirmo-nos e recuperarmos nossa f e poder
pessoal. Descobriremos que apenas pelas nossas aes iniciais, nas quais
agamos como se tivssemos poder pessoal e sabamos o que fazer, que
podemos, de fato, ativar este poder e conhecimento. O entendimento
resulta do conhecimento, e este advm de aes que s sero apropriadas
se resultarem de palpites profundos e intuitivos que ladeiam nosso pensa
mento habitual. Nosso primeiro passo ser considerar a possibilidade de
que a natureza sabia o que estava fazendo quando idealizou este plano de
desenvolvimento de trs bilhes de anos.
41
Captulo 3
A Inteligncia Como Interao
A In TE r a o a troca bidirecional de energia, com aumento da energia
de cada uma das duas foras. A ao comum um movimento unidirecionai
de energia em direo a ou contra algo. Quando derrubo uma rvore,
despendo minha energia sem que haja uma troca de energia correspondente
por parte da rvore. Em geral, a ao provoca uma reao; a rvore cai e
tenho de desviar-me dela. A reao um movimento unidirecionai de
distanciamento. No ocorrem nem troca nem aumento de energia na ao
ou na reao, e sempre nos cansamos quando a energia frui desse modo.
No entanto, a verdadeira interao nunca nos fatiga.
Atravs da interao, a inteligncia aumenta sua capacidade para
interagir. Somos planejados para crescer e nos fortalecer com cada aconte
cimento, por mais corriqueiro ou espantoso. Os ciclos da natureza e das
estaes, as pessoas, os contrastes extremos, as catstrofes iminentes, as
brincadeiras - so todos experincias de interao que devemos fruir e
tambm oportunidades para aprender, que nos levam a uma capacidade de
interao maior.
Com o que foi a natureza humana planejada para interagir? Com
qualquer coisa possvel. Se existir algo com que a inteligncia no possa
interagir, porque ela est, de alguma forma, danificada. Uma inteligncia
totalmente desenvolvida aquela projetada para trocar energias com tudo
o que existe, sem ser nunca oprimida. Uma intelignia madura deveria ser
capaz de interagir nos trs nveis que se correspondem e se originam dos
trs estgios do desenvolvimento biolgico. Estes nveis so: em primeiro
lugar, a capacidade de interagir com a Terra viva, de acordo com os
princpios e leis naturais dela; em segundo lugar, a capacidade de interagir
com a Terra segundo os princpios da lgica criativa circunstanciada no
sistema mente-crebro, e, em terceiro lugar, a capacidade de interagir com
os processos e produtos do prprio sistema mente-crebro, o que significa
com os pensamentos e criaes de nossa prpria mente, da mente dos
outros e com todo o sistema de pensamento subjacente nossa realidade.
Qualquer definio da inteligncia que no englobe essas trs categorias de
43
Capitulo 4
Estresse e Aprendizagem
emergncia, e isso faz com que no sobre qualquer parte sua para a
conversao. Quando termina a emergncia, o corpo avisa de que est tudo
bem, a produo de hormnios esterides de supra-renal pra, as batidas
do corao voltam ao normal e os msculos relaxam. Mas se o resultado
no bom e estresse acumula-se em cima de estresse, ento o choque, uma
condio de interrupo sensorial, pode ocorrer. Quando as informaes
sensoriais s nos trazem ondas de alto estresse e perigo crtico aos quais
no podemos nos adaptar, o corpo pode barrar toda a entrada sensorial.
Tudo o que o corpo aprende nesse estado negativo. Ele aprende que
sobreviveu ao grande estresse atravs de um obscurecimento da prpria
realidade, uma morte menor.
A no-assimilalo e a no-acomodao a novas informaes provo
cam a ansiedade e a confuso do estresse no resolvido. Entrar numa
situao imprevisvel e aceit-la abertamente fluir com sua energia, ser
aumentado em sua prpria e, conseqentemente, relaxar suas tenses e
estresses.
Interagir com uma situao muito estressante, ter a capacidade de
aceitar o estresse. Capacidade, nesse sentido, o mesmo que a de levantar
um objeto pesado ou subir correndo um lance de escadas. O estresserelaxamento uma capacidade da mente-crebro e da conscincia-muscular
que deve ser desenvolvida, do mesmo modo que a musculatura do corpo. A
fora intelectual uma conscincia-muscular por meio da qual pode-se
entrar cada vez mais em situaes complexas do desconhecido-imprevis
vel, assimil-las pelo sistema cerebral e acomod-las por uma resposta
apropriada.
Uma inteligncia bem formada sabe e pode atuar sobre o conheci
mento de que o princpio vital estresse-relaxamento inviolvel, do mesmo
modo que o tomo mantm seus estresses fantsticos num equilbrio
relaxado. Uma inteligncia forte sabe que o estresse deve criar seu prprio
relaxamento quando permitido o desenvolvimento do processo natural
de interao mente-crebro-corpo. Uma inteligncia desenvolvida a que
sabe e funciona de modo que, por mais severa ou aparentemente destrutiva
que possa parecer uma fora de oposio, o princpio estresse-relaxamenfo
deve conservar-se. Atravs da interao com uma fora ou acontecimento,
sua energia deve aumentar nossa prpria e nos dar poder sobre quaisquer
elementos destrutivos dentro da situao.
O levantador de pesos adquire sua fora pelo estressamento e relaxa
mento dos seus msculos. A conscincia-muscular formada por prticas
bem-sucedidas de estresse-relaxamento. Isto nos d poder pessoal e fonte
de alegria. No entanto o ciclo s poder ocorrer a partir de uma matriz
50
Captulo 5
A Nova Demonologia:
Exorcizando a Natureza
59
Captulo 6
A Bomba-Relgio:
Na Sala de Partos
Parte II
O Mundo
Captulo 7
Rompendo o Vnculo:
Nosso Fim Est em Nosso Comeo;
Nosso Comeo Est em Nosso Fim
sua voz de qualquer outra. Afinal de contas, ouviu essa voz nos ltimos
meses em que esteve no tero. Existem inmeras outras sensaes prim
rias com relao me, que ainda no articulamos e talvez nnca sejamos
capazes de articul-las completamente. bem provvel que o leite materno
contenha hormnios vitais que ajudam no estabelecimento da vinculao.
Todo o esforo deve ir na direo de se estabelecer uma matriz para o
beb, uma sensao de segurana e um ponto de referncia para o sistema
sensorial em desenvolvimento e a experincia.
0 problema no est em sentimentos afveis. O problema 'a
inteligncia, a capacidade do crebro para processar informaes sensoriais,
organizar respostas musculares e interagir com o meio ambiente. A expe
rincia do desconhecido deve ter um nmero suficiente de pontos de
semelhana com o que conhecido, para que possa ser assimilada e
acomodada mente-crebro. Este o ciclo do estresse-relaxamento envol
vido em toda aprendizagem. Se no h um modo de se relacionar o novo
ao antigo, o crebro no poder processar essas informaes. Resultar
disso confuso e ansiedade, e a aprendizagem mostrar-se- negativa.
No mundo animal, se um filhote recm-nascido separado de sua
me por qualquer perodo de tempo, esta no o reconhecer quando ele
lhe for trazido de volta, e pode recusar-se a proteg-lo. Se o filhote for
separado logo ao nascer e mantido assim por algumas horas, provavelmente
no sobreviver.
Todas as mes animais (das espcies mais desenvolvidas, com exceo
de alguns marsupiais) lambem seus filhotes meticulosamente e no apenas
de leve ou por uma s vez. Este lamber prolongado e meticuloso ativa e faz
funcionar o sistema sensorial daquela criatura.
A vida uterina no tem muita necessidade do sistema sensorial
porque a criatura est flutuando em um lquido que isola a pele completa
mente. Por exemplo, o beb humano revestido com uma substncia
gordurosa e mucilaginosa (vemix caseosa) quando nasce, que de fato
parece proteger a pele de sua imerso constante na gua do tero. Portan
to, quando nasce, o sistema sensorial do corpo do beb, sobretudo as
inmeras terminaes nervosas cutneas, est em estado dormente. Mas a
vida do mundo externo exige a ativao deste aparato nervoso abandona
do. S h um modo pelo qual este sistema pode ser ativado: ser trazido
vida. Como que se ativa o sentido do tato? Tocando. Assim como o
padro visual de reconhecimento facial deve ser ativado pelo fornecimento
do estmulo adequado a ele, os outros sistemas sensoriais devem receber os
estmulos adequados.
No mesencfalo existe uma pequena rea chamada formao reticu78
lar. (Esta rea sempre foi de interesse relativo no que concerne pesquisa
cerebral, e, depois de um perodo de menor interesse, est recebendo de
novo ateno considervel.) Aparentemente, as informaes sensoriais do
corpo so dirigidas formao reticular e distribudas para as vrias partes
do crebro segundo o tipo especfico de informao e rea cerebral
especializadas. O desligar-despertar da conscincia, o sono e a viglia, entre
outras coisas, parecem ter ligao com esta rea.
H uma regio especfica na barriga do gatinho recm-nascido sobre
a qual a me parece concentrar-se quando o lambe incessantemente aps o
parto. Se esta rea for bloqueada, impedindo que a me a estimule, o
filhote toma-se extrema e permanentemente disfuncional. Aparentemente,
a formao reticular no consegue tomar-se toda funcional se esta rea no
for estimulada, e o gatinho no poder processar suas informaes senso
riais. A natureza crucial dessa ativao parece ter seu estgio especfico;
deve ser feita logo aps o nascimento, ou ento no ser mais realizada.
Enquanto est no tero, o beb humano estrutura estas formas de
conhecimento sobre seu mundo interino, inclusive o sentido geral e o
cheiro da m3e, .um conhecimento de sua voz, e talvez seu gosto; a ele
dado um padro (pelo menos) de reconhecimento construdo em seu
sistema cerebral novo (caso contrrio, seria algo como um quadro em
branco), a capacidade de reconhecer um rosto. Estas formas de reconheci
mento da me ajudaro na formao das vinculaes aps o nascimento,
isto , ajudaro, a fornecer pontos de semelhana entre a antiga matriz
e a nova, pontos em tomo dos quais ele poder assimilar a informao
desconhecida e fazer a acomodao a ela se o restante das vincula
es for fornecido. Na nova matriz, a vez apropriada ou conhecida, o
cheiro, talvez o gosto, e as sensaes gerais de natureza primria devem
ser fornecidos para que haja uma constante ativao desses sentidos primor
diais. Todo o sistema sensorial do recm-nascido deve ser posto em ao
pela estimulao fsica, porque s atravs da estimulao do corpo que a
formao reticular recebe os estmulos necessrios para coloci4o totalmen
te em ao e comea a funcionar plenamente como a coordenada dos
sentidos do corpo e da atividade mente-ciebro.
Portanto, o beb passa por um estado de estresse extremo pouco
antes do nascimento. Isso estimula o ACTH, que forma ento novas
protenas e conexes celulares cerebrais que preparam o beb para aprendi
zagens macias e rpidas. Os hormnios esterides da supra-renal preparam
o corpo para mudanas fsicas impressionantes, na verdade, drsticas,
alertando o corpo e o crebro para o rpido trabalho a ser feito. O estado
de alto estresse prepara o corpo do beb para ser muito receptivo de fato,
79
faro com que fiquem tranqilos com tudo e tambm com que vocs se
sintam meio idiotas de terem perguntado.
Uma das diferenas mais curiosas entre a criana nascida e cuidada
naturalmente e aquela nascida por meios tecnolgicos e abandonada est
no que tange ao sono. Nossos recm-nascidos dormem maciamente, mas
so acordados com facilidade e choram sem cessar quando isso acontece.
fcil se saber por qu. A falta de estimulao fsica no nascimento resulta
em uma falha na estrutura da formao reticular. As informaes sensoriais
no podem ento ser processadas de maneira correta, e sua entrada cria
confuses e ansiedades. Os cuidados necessrios tambm so o meio de se
reduzir a grande produo de hormnios esterides da supra-renal. O
estresse do nascimento que no aliviado e a incapacidade de assimilar e
lidar com a entrada de informaes sensoriais reforam-se mutuamente,
do prosseguimento ao efeito de luta-ou-fuga, e a sobrecarga supra-renal
torna o estado de viglia insuportvel.
A criana ugandense dorme bem menos, fica alerta e acordada por
muito tempo, e dorme sob uma grande variedade de condies. me no
faz acomodaes ao sono do filho. Ela carrega-o consigo o tempo todo e
dorme com ele. Durante o dia, ele dorme quando sente necessidade entre o
corre-corre da vida diria de sua me. O movimento o estado natural para
esse beb, e ele dorme muito melhor assim do que na imobilidade. Na
verdade, a imobilidade o mais estranho dos atos para o recm-nascido e a
criana pequena. O beb ugandense nunca abandona o conhecido, e, no
entanto abrigado com segurana naquela matriz (na tipia ou preso nas
costas), ele sempre passa por experincias novas muito estimulantes. Novos
dados sensoriais so despejados l, com a me sempre presente para dar um
reforo contnuo ao conjunto bsico de padres conceituais, ao qual tudo
o que novo se relaciona. Esta a situao ideal de aprendizagem, um
ciclo automtico de estresse relax an te, provendo uma estimulao cons
tante e segurana.
J disse que Marcelle Geber passou um ano em Uganda realizando
longos estudos sobre trezentos desses bebs nascidos em seus lares. Ela
usou os famosos testes Gese11 para a inteligncia precoce, desenvolvidos no
Centro de Desenvolvimento da Universidade de Yale. As fotografias de
crianas com quarenta e oito horas de idade seguradas apenas pelos
braos, completamente de p, com um perfeito equilbrio da cabea, olhos
que focalizavam e maravilhosas inteligncias brilhando nas faces no so
menos impressionantes que as fotos das crianas com menos de seis
semanas de idade. Entre seis e sete semanas, todas as trezentas crianas
engatinhavam habilmente, podiam sentar-se sozinhas e ficavam s vezes
84
estresse, mais uma vez nenhum cuidado fsico ocorre e ele levado
berrando para seu bero e isolamento. (Todos sorriem: Oh, que choro
saudvel, obviamente ter um grande futuro pela frente!)
Atravs desse perodo de transio extremamente crtico, durante o
qual o crebro do beb preparado para muitas aprendizagens novas, todo
o encontro com pessoas um estado de estresse, sem qualquer possibilida
de de relaxamento ou proteo. No auge desse estresse, o beb isolado, o
que significa abandonado. L, na proximidade de somente coisas materiais
(o cobertor do beb), ele deve ajeitar-se outra vez para conseguir alguma
reduo do estresse a fim de que possa sobreviver; a necessidade de
estimulao cutnea, que facilita essa reduo, encontra s aquele cober
tor, uma fonte no-humana. Qual a grande aprendizagem? O que est
sendo construdo dentro das prprias fibras do sistema mente-corpcrebro, como experincias iniciais da vida? O encontro com pessoas
causa de um estresse extremo, ininterrupto e implacvel, s reduzido pelo
contato com objetos materiais.
Pensemos agora no que os pais esclarecidos, educados e consciencio
sos fazem quando me e filho deixam o hospital. Levam o beb para casa e
montam um hospital em miniatura (um berrio ou, no melhor dos casos,
um quarto de beb), para perpetuarem o isolamento e o abandono. Afinal
de contas (foi-nos dito por geraes), o pequeno precisa de repouso e
calma. Ento surge a permanente ansiedade quanto aos germes, impelindo
alguns pais a usar mscaras de gaze quando esto perto do beb, durante as
primeiras semanas. Todos andam na ponta dos ps, at que o pequeno
jnior se acostume a ns, o que leva, digamos, uns dois meses e meio.
Porque o silncio e a imobilidade so to estranhos, o beb acorda
facilmente e comea a berrar. Sente clicas, cujos sintomas so quase
idnticos aos do estresse do nascimento.
Quando no est dormindo, ele chora. No h nenhum alfinete
apertando-o, sua fralda no est molhada, no est com frio nem com
fome. Est sofrendo de estresse no resolvido, que se transforma em
hiperansiedade e, finalmente, raiva, o sinal da frustrao prolongada.
Quando a raiva aparece, a me ou o pai tentam segur-lo (ocasionalmente),
mas ela toma isso difcil. Os pais tomam-se inseguros quanto a segur-lo e,
literalmente, tm medo de deix-lo cair. Ambos esto realmente um pouco
atemorizados por esta raiva franca. Colocam-no de volta no bero, no auge
de sua raiva, para que possa desabafar um pouco e conseguir um bom
sono.
Quase sempre, o pai est com pressa, com coisas mais importantes a
fazer do que mimar bebs, ou ento, se j est aborrecido, sua prpria raiva
86
explode misturada com uma pena de si mesmo: Que desgraa ter que
suportar isso. Por qualquer motivo ele coloca o beb enraivecido no
bero, para acalm-lo. Este beb foi abandonado outra vez. Ele est
nitidamente gravando e aprendendo o significado do abandono, do qual
sentir um medo que obscurecer o resto de sua infncia e juntar-se- a
uma sensao inevitvel de impotncia.
O resultado lquido disso tem sido, por um lado, uma ordem social
decadente e, por outro, uma gerao com uma intensa paixo pelo consu
mo; e esta gerao s poder criar outra igual. Isto , os efeitos a longo
prazo da criana vinculada materialmente so um esgotamento das relaes
interpessoais e uma fixao obsessivo-compulsiva a objetos materiais. (Um
efeito colateral, raramente acidental, a tentativa de transformar o outro
em objeto, no s porque objetos so passveis de manipulao como
porque no so fonte de tenso extrema.)
A fixao obsessivo-compulsiva a objetos (Linus com seu cobertor de
segurana, nas histrias em quadrinhos Charlie Brown, o smbolo
tragicmico disso) s ocorre porque o organismo aprendeu, em suas
aprendizagens primrias, que tem procedncia sobre todas as outras, que,
apesar de o estresse surgir de encontros com seres humanos, o relaxamento
ou a fuga ao estresse vem dos encontros com objetos materiais. Portanto,
temos uma nao e cada vez mais naes medida que nossa doena se
espalha na qual o esgotamento dos relacionamentos interpessoais est
conjugado a uma fixao obsessivo-compulsiva a coisas materiais.
Porm, o valor de redutor da ansiedade de qualquer coisa particular
limitado, porque arbitrrio e no-natural e porque, com a opresso cada
vez maior das populaes, o estresse das opresses interpessoais aumenta
continuamente. A ansiedade torna-se intolervel, e tentamos fazer todo o
possvel para alivi-la. Por isso, precisamos ter objetos que a reduzam o
tempo inteiro. Na verdade, ns, os adultos, exprimimos nossa ansiedade
empurrando nossos filhos de cabea para o mesmo crculo de aquisies
obsessivo-compulsivas. Sofremos, ansiosos para que se dem bem na
vida, o que significa que adquiram mais e mais coisas redutoras de
estresse.
Apesar de parecer uma anlise distorcida, esta uma apresentao
exata de nosso estgio atual. A vinculao um estado psico biolgico, um
lao fsico vital que coordena e unifica todo o sistema biolgico. A
vinculao sela um conhecimento primrio, a base do pensamento racional.
Nunca temos conscincia da vinculao; s temos conscincia de nossa
grave doena quando no fomos vinculados, ou quando fomos vinculados
compulsividade e a objetos materiais. A pessoa que no foi vinculada (e a
87
89
Capitulo 8
O Conceito: Voc Pode Ver?
restaram em uma outra chamada geral, e isso deve continuar at que todos
os pontos de informao tenham sido computados. Isso pode exigir (nos
primeiros dias) o estabelecimento de novas Unhas e o uso de linhas
constitudas de uma nova maneira.
As notcias dessemelhantes mostram ser bem mais estimulantes para
as atividades e expanso dos escritrios do que as mensagens rotineiras,
mas nenhuma mensagem pode ser aceita e retransmitida se no houver um
escritrio inicial com pelo menos alguns pontos de semelhana com aquela
mensagem. 0 que significa que nenhuma experincia nova pode ser aceita
e interpretada se no tiver pelo menos qualquer similitude com a experin
cia passada.
O escritrio A recebe sem parar novas reportagens diretamente dos
reprteres sensoriais, est captando sempre confirmaes e pontos de
destinao para suas mensagens que saem para outros escritrios, e recebe
continuamente chamadas de outros escritrios que pedem confirmaes
para os padres procedentes relacionados a suas partes especficas de ao.
O escritrio A pode muito bem ser retransmitido finalmente de volta para
as partfes de suas prprias mensagens enviadas para outros.
Em toda essa confuso de atividade rtmica, elabora-se um padro
para um determinado visual. O padro o caminho que as mensagens
seguem quando elaboradas em uma interpretao composta pela indexao
cruzada de todos os escritrios. Esses padres entre os escritrios tomamse mais homogneos e rpidos quanto mais forem repetidos, isto , quanto
mais aquela experincia ocorrer. As secretrias desenvolvem a capacidade de
reconhecer as unidades de mensagem usadas antes e no tm de averiguar
de volta com o escritrio para ver se esto arquivadas. Finalmente, a
confirmao da aceitao da mensagem no precisa mais ser reafirmada.
Assim, a prtica o meio pelo qual a aprendizagem se firma.
Certos pontos de semelhana so necessrios para que algum escrit
rio encontre alguma adequao e seja capaz, ento, de aceitar a mensagem,
pass-la atravs da secretria, e trabalhar sobre as dessemelhanas. Por
outro lado, o departamento cresce e fica mais sofisticado e hbil em
combinar seu conhecimento total pelo afluxo de novas informaes.
O conjunto final do departamento nunca pode ser achado em um
escritrio particular. O conjunto uma padronizao instantnea da ao
total, e essa ao, atravs da repetio, transforma-se em um conceito, ou
poltica editorial aceita daquele departamento. O conjunto a ao de
todas as comunicaes entre todos os escritrios. Reportagens novas,
estranhas e sem precedentes que cheguem sero averiguadas quanto ao
nmero cada vez maior desses padres de procedncia (conceitos) que se
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99
Capitulo 9
O Ciclo de Competncia
teve tanta dificuldade para enxergar e por que a criana teve melhores
chances.
Todo rosto que aparece para o beb ativa o seu conceito de rosto j
assimilado e pode originar um sorriso. O padro neural configurado no
crebro responde e age sobre o estmulo apresentado por qualquer rosto
que provoque uma percepo, tal como qualquer semente de tamanho e
forma apropriados provocar uma bicada do pintinho. O rosto da me ,
na certa, o estmulo mais freqente para o beb. O beb amamentado
passar a maior parte de seu tempo visual a olhar intensamente para o
rosto da me. Este olhar constante esboa um conhecimento daquele rosto
e depois faz o acabamento dos detalhes, ativando e aperfeioando aquele
conceito j dado, ao proceder assim. O beb olha para outros objetos no
mais do que vinte por cento do tempo, e estes so vistos em relao quele
rosto, que o conhecido. Quando ele desloca seu olhar de volta para a
me, depois de haver olhado para algum objeto relacionado ou alguma
outra parte da me, est fazendo um retomo do desconhecido ao conheci
do. Novos padres conceituais para a organizao de informaes visuais
esto sendo ento formados pelas conexes neurais, enquanto encontram
ou constroem pontos de semelhana com o padro de rosto inicial.
Ao mesmo tempo, todos os sentidos do beb esto registrando a
presena da me. A amamentao estabelece um paladar que se identifica
com ela. Seu cheiro registrado. A sensao e a textura de sua pele
tambm. (Os bebs humanos adoram texturas macias e acetinadas, assim
como os bebs macacos adoram as speras e peludas.) A voz da me
registrada* junto com seus olhos que olham os do beb, assim como seus
sorrisos. Todos esses comunicados sensoriais diferentes so registrados pela
relao com o conceito de rosto j dado inicialmente.
Pouco a pouco, o rosto da me passa a atuar como a reunio de
todos os sentidos conectados a ela. O rosto-enquanto-me esboado e
faz-se o acabamento dos detalhes. O feedback regulador, capacidade lgica
para se combinar experincias em grupos significantes, trabalha lentamente
na direo desta primeira reunio, sntese de todos os dados sensoriais
vindos por meio da viso. A lgica completa esta reunio quando o beb
est com cerca de seis meses de idade. Sob o conceito de rosto j dado,
todos os conhecimentos sobre a me so agora agrupados e includos na
indexao cruzada. A lgica completa sua primeira grande categoria. O
rosto da me inclui agora todas as estruturas de conhecimento obtidas
naquele momento da vida. Ela o mundo do beb, extenso do eu, e agora
conhecida como um rosto diferente de todos os outros. Os rostos
estranhos talvez no dem origem a sorrisos, mas sim a lgrimas, porque o
102
precisar mais pegar, tocar, sentir, provar cada graveto (apesar de poder
fazer isso por um longo tempo), para poder identific-lo. Todos os seus
sentidos de curto alcance estaro sintetizados naquele sentido de longo
alcance, bem mais rpido e econmico. Com um rpido olhar, ele saber o
cheiro, a sensao ttil e o gosto provveis de qualquer graveto. Seus
sistemas de feedback lgico ter agrupado todas as partculas de informa
es espalhadas da experincia com o graveto em um nico conceito de
graveto. Ela ter estruturado um conhecimento sobre gravetos. Todas as
outras estruturas de conhecimento tero sido, ento, sutilmente aumenta
das e tomadas mais flexveis por terem de relacionar-se a esta nova
experincia.
ssim se desenvolve a inteligncia da criana, o que significa que a
capacidade de interagir com o mundo muito maior. Suas coordenaes
mente-corpo tero um alcance maior e mais flexvel. Cada estrutura de
conhecimento, cada conceito e agrupamento de conceitos sero capazes de
oferecer mais pontos de semelhana. Isto significa que pode-se interagir e
aceitar mais experincias novas; uma assimilao-acomodao maior pode
ocorrer. Ela ser capaz de responder a mais possibilidades. Isto lhe pode ser
dado, uma vez que ela j o possui.
Pensemos agora na criana institucionalizada, isolada em um bero e
pouco estimulada. Seus poucos conceitos j dados encontram poucos
estmulos ao seu redor para serem ativados, praticados e expandidos. Ela
s tem suas mos, ps, as grades do bero e o teto, com os quais interagir.
Sua preferncia por padres complexos encontra pouca satisfao, e,
sobretudo, poucos rostos aparecem com os quais ela possa interagir e fazer
processamentos. Rapidamente o sistema de feedback lgico da criana
processa cada partcula concebvel de experincia, mas o sistema ultrapassa
em muito a entrada de informaes. No h nutrientes entrando. Depois
de retroalimentar, por algum tempo, seus dados limitados, todas as combi
naes e relaes possveis so percorridas e aperfeioadas. Depois disso, o
sistema simplesmente entra numa ociosidade. A seguir, comea a atrofiarse. No ocorrem novas conexes celulares-cerebrais. Caso aconteam, atra
vs de algum trauma, no ocorre qualquer experincia assimilvel que
oferea nutrientes. (E, certamente, essas crianas podero desenvolver uma
formao reticular incompleta por falta de cuidados corporais.) Aquilo
para o qual o sistema foi planejado - a prtica e o aperfeioamento da
lgica, a capacidade de combinar e sintetizar conceitos no acontece. A
criana logo diagnosticada como retardada, o que mesmo, pois, em
geral, o retardo o resultado da fome mental.
Agora vocs podem compreender a verdadeira importncia da capaci
106
Capitulo 10
Formando a Matriz
lua Intencionalidade. Esta no precisa ter pressa porque ainda est retiran
do sangue e oxignio de sua me. O cordo umbilical, logicamente, est
intacto. O corao do recm-nascido ainda no fez sua transio total de
mandar sangue aos pulmes, uma transio que levar vrios minutos, e
para a qual os bilhes de anos de preparao no deixaram de equipar a
criana. Com a dupla fonte de oxignio disponvel, a transio calma e
suave.
Seguro sobre a barriga da me, o beb comea a relaxar. Ele captou
as batidas do corao materno e seu sussurro familiares. Pontos de seme
lhana esto comeando a aparecer. Ele inicia tentativas cautelosas para
respirar, assim como incitado, chorando um pouco pela novidade, vai
respirando com mais regularidad, cada inspirao ficando mais fcil. Em
poucos minutos, a respirao firme e regular, enquanto o muco nos tubos
respiratrios desaparece. Seu contato com os mamilos da me desencadeia
o puerprio; as contraes que expulsam a placenta ajudam mandando as
reservas finais de sangue e oxignio ao beb.
A esta altura, todos os que esto no quarto saem. A primeira hora
aps o nascimento a mais decisiva na vida humana.3 Pois agora o vnculo
estabelecido de modos estranhos, misteriosos e inescrutveis. Qualquer
um que esteja por perto preso literalmente pelos campos magnticos de
atrao que se entrelaam de um lado para o outro. Um grande caso de
amor est nascendo, um caso de amor sensual, sexual, espiritual, mental,
calmamente exttico. Como diz Marshall Klaus, eles devem aprender a
fazer amor um com o outro. O eu dividiu-se e rene-se com o eu. A parte
do holograma comea imediatamente a mover-se para e a refletir o todo.
S na segunda grande vinculao, muitos anos depois, entrar de novo a
vida neste mesmo xtase.
Um dos braos do beb se move, ele estica uma das mos, exploran
do, tocando, buscando alguma barreira alcochoada familiar. O outro brao
comea a mexer-se em seguida, as pernas esticam-se. A me d suas mos
ao beb para que ele as empurre, estabelecendo uma fronteira temporria
com este mundo por enquanto sem fronteiras para que esta nova liberdade
no o esmague. Lentamente, todo seu corpo comea um movimento, e a
me faz-lhe ento uma massagem devagar e com suavidade, que continuar
intermitentemente, por semanas. Comeando pelas costas do beb, ela o
acaricia com suas mos com movimentos lentos, rtmicos e delicados,
estimulando todo seu corpo, massageando a vernix caseosa em sua pele.
Esta estimulao contnua ativa muitos processos fsicos (digestivo, eliminativo, sensorial, e os da formao reticular que tiveram de esperar pelo
parto para serem ativados). O estresse do parto o encheu de hormnios que
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121
Captulo 11
O Mundo Como Ele
124
gostar daquilo porque aposto que tem um gosto ruim. Seu conhecimento
esboado do mundo nunca poderia formar-se dessa maneira. Ela
neutra no que concerne experincia e simplesmente impelida para ela.
Suas avaliaes so o resultado da experincia, e ela nio correlaciona
juzos. Isto , ela no pra de colocar objetos na boca para identificar-lhes
o gosto, porque o graveto no tinha um gosto bom. Nem mesmo gravetos,
necessariamente. A criana impelida, atravs do estgio de esboar, a
interagir com cada objeto com todo sentido disponvel ou apropriado. Ns
reclamamos disto (Por que ser que ela no aprende a no colocar coisas
na boca? ), no compreendendo que imensa aprendizagem negativa esta
ria violando as exigncias do impulso gentico. Seu impulso a impele a
entrar de novo em cada experincia, sem ressalvas ou condies, para
poder formar um conceito daquela experincia tal como ela .
A abertura da criana quanto aos valores depender do fato de
ser-lhe permitido formar opinies concernentes ao gostar-desgostar resul
tante das experincias. Ou seja, ela deve ter permisso para decidir por si
mesma se uma experincia boa ou m. Ela deve ter a opo de decidir, e
suas decises devem ser respeitadas. De outro modo, ocorrer um fecha
mento da inteligncia.
Os pais tomam acessvel criana qualquer oportunidade possvel
para a explorao do mundo, tanto o mundo de objetos produzidos pelo
homem quanto o mundo natural. Na mesma medida em que o mundo da
criana est aberto e disponvel para seu impulso de intencionalidade, ela
aceita limites e restries. Lembrem-se de que a criana est biologicamen
te equipada para entender os indcios dos pais. Tem que haver limites,
bvio, a criana precisa deles. Os limites formam a estrutura de seu mundo.
No se deve restringir a criana em sua explorao do mundo fsico em
estado natural, mas, se uma linha de trem passa nos fundos de seu quintal,
claro que estes trilhos esto alm dos limites. No entanto, basta um
raciocnio como este para justificar a represso sobre a criana em sua
explorao do mundo. Certamente deve haver limites relativos proprieda
de, pessoas, direitos dos membros da famlia, e assim por diante, mas so
poucos, e a no ser que se faa um estardalhao em tomo deles, a criana
entender surpreendentemente bem, se os limites das relaes estiverem
muito bem delineados.
Os pais no submetem a criana a situaes em que limites arbitr
rios bloqueariam o seu impulso biolgico para a explorao. No levam
uma criana de dezoito meses de idade a um restaurante, para passar umas
poucas horas de lazer, porque sabem que ela no poder interagir com este
mundo por muito tempo. Sabem que ela no tem o mecanismo lgico para
129
Para que a criana tenha abertura, ela deve ter sempre o direito de
dar o valor & sua prpria experincia. Tomemos o problema da comida
como um exemplo: incrvel observar-se a criana de doze meses mesa.
Ela ainda amamentada, certamente, e, por isso, a comida no to
crucial. Ela explora a comida do mesmo modo como o faz com todo o
resto. Sempre parte do contexto familiar, a criana senta mesa e experi
menta de tudo pelo menos uma vez, inclusive o sal, apimenta e o arranjo
de flores. Qualquer nova colherada de comida oferecida ou apanhada
aceita de bm grado e alegremente uma grande brincadeira. Comer
explorar o mundo, tanto quanto explorar o quintal tambm o . Ela morde
tudo com uma naturalidade prazerosa. A metade dessas mordidas, ela
talvez cuspa de volta alegremente, do mesmo modo como cuspiu a amostra
de graveto. Os dois acontecimentos so bastante parecidos em sua mente,
porque sua inteligncia est aberta.
O pedao que foi cuspido registrado como no comvel, mas isso
nlo significa negativismo no sentido adulto. A informao cuspida
assimilada e acomodada pelo computador do crebro, do mesmo modo
que o pedao aceito, e ocasiona suas prprias mudanas sutis no todo
esquemtico que a criana est formando sobre a comida. Experincia
experincia, e uma nova experincia provoca um aumento na atividade
cerebral.
Certamente, bastante provvel que se repita o encontro positivo .
quando ocorrer aquela mordida no pur de batatas. A criana provavel
mente engolir mais pedaos do pur, enquanto d uma mordida no
brcolos, mas ambos provocaro certas mudanas no catlogo geral da
explorao do paladar. Acima de tudo, ela est aprendendo a explorar
livremente, sem ansiedade. A me mantm esta abertura, nunca tentando a
criana com alimentos que mais tarde sero reprimidos ou bloqueados,
como os doces, que hipnotizam as bases do paladar que se est desenvol
vendo, do mesmo modo que a televiso hipnotiza o crebro. Para propor
cionar escolhas e manter o sistema da criana aberto e flexvel, a me
usegura-se de que as reas de escolha sejam benficas.
Em contraposio, observem a me vizinha, uma criatura ansiosa,
que reflete a ansiedade do marido e suas tentativas mtuas de estruturar a
realidade intelectualmente. A me vizinha est preocupada com a dieta do
fllho. Ela prepara com cuidado um prato, cheio de vitaminas, carregado de
minerais, adaptados s necessidades do filho. Chamemos a esta criana de
Sam, apenas para deixar claros nossos modelos. Sam colocado em sua
cadeira alta, com seu babador cuidadosamente amarrado, para comer sua
dieta especial antes da hora da refeio dos adultos.
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143
Capitub 12
Acabamento dos Detalhes
neste mundo. Juntos se livram do urso. Talvez ela abrace a criana, ataque
e afugente o urso completamente. Talvez ela encurrale o urso e o amedron
te at que fique submisso. Ou talvez, abraando a criana, faam amizade
com o urso, ganhem dele uma ddiva e faam dele um guardio para noites
futuras.4
Ela no acendeu as luzes para provar que seu filho um mentiroso,
para mostrar que seu aparato perceptual defeituoso. Ela no tentou
suprimir o mundo da criana com o sistema de idias do adulto. Encon
trou-se com a criana onde ela estava, em sua necessidade, entendeu seus
sinais e respondeu de acordo com as necessidades da situao. Ao invs de
tentar dispersar a criao de realidade, a me juntou-se criana para
transform-la. O poder pessoal superou a falta de poder e o medo ao
desconhecido.
A criana descobre que a matriz a engrandeceu, deu-lhe poder, e
tornou-a maior do que as foras opostas e ameaadoras. A questo no era
tentar mudar o contexto no qual as percepes da criana foram formadas
e, assim, mudar a natureza destas percepes, que o que teria acontecido
se a me tivesse acendido as luzes. A luz que ela acendeu foi na mente da
criana; uma aprendizagem ocorreu.
Te-r exigido que esta criana em fase de pr-raciocnio concordasse e
refletisse de volta para eles seu prprio conjunto de razes adultas abstra
tas, no somente lhe teria forado na criana uma lgica inadequada, como
tambm teria criado uma forma de abandono psicolgico. Os pais no
teriam chegado at ela, no nico lugar onde poderia estar, mas ter-se-iam
retirado para um mundo semntico-racional alm da capacidade de respos
ta da criana e sem sentido para a situao. Teriam isolado a criana com
seus medos, apesar de talvez acalmarem-na temporariamente para que
pudessem voltar para suas camas quentes e esquecer o incidente. E nenhu
ma aprendizagem teria ocorrido.
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Captulo 13
Diviso do Trabalho:
O Nascimento do Eu
POR Vo lta dos quatro anos de idade, a maioria das crianas tem pesade
los.1 O tema geral destes maus sonhos a separao ou a perda da matriz.Tal
perda ou separao ameaa a criana e a jogaria no caos, porque a matriz
a orientao conceituai do crebro no mundo. Noentanto,os pesadelos so
sinais preciosos, porque, neste estgio, comea uma mudana no crebro
que separar a conscincia funcional da criana das funes da matriz que
preenchem seu mundo. O longo nascimento da individualidade comeou e
s estar completo por volta dos sete anos.
Desenvolvimentistas concordam que o eu social parece ter seu incio
enquanto conscincia separada por volta do terceiro ou quarto ano, quan
do o egocentrismo comea a desaparecer. Todos concordam, e, de fato, h
precedentes histricos, *que este eu social toma-se totalmente funcional em
torno.dos sete anos. Qualquer me sabe que seu filho demonstra uma
personalidade constante e firme desde o nascimento; a singularidade de
cada criana toma-se aparente bastante cedo. Mas a prpria conscincia
que a criana tem desta singularidade e a perda correspondente de egocen
trismo tm uma evoluo e constituem produtos da maturao lgica.
Na economia da natureza, a criao de um eu pessoal e singular
depende e faz parte de muitos processos biolgicos. A individualizao
tambm o meio, e depende de uma diviso de trabalho no sistema
mente-crebro. Esta diviso de trabalho um processo lento que s tem
incio quando trs coisas so reunidas: a formao da viso do mundo
esjoada; a formao do corpo cabso, um rgo de desenvolvimento
tardio do crebro e um outro crescimento cerebral sbito, que sempre
anuncia uma nova era de aprendizagem rpida especfica de um estgio.
Neste processo, a mente-crebro ser dividida em trs funes, inter
dependentes e sincrnicas, cada uma processando (e/ou criando) informa
es de acordo com suas necessidades funcionais: a conscincia do eu
enquanto individual, singular e separado do mundo; a conscincia do corpo
em relao fsica e interao com a Terra viva; e a conscincia do efeito
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159
Capitulo 14
As Percepes Primrias:
A Vinculao Terra
ESTOU v e n d o uma luz saindo da tua cabea e dos teus dedos, relata a
pequena Jessie. Tem cores brilhantes em volta do teu rosto e do teu
corpo. Larry, de sete anos, v luzes brancas entrando e saindo dos corpos
das pessoas. V luzes vermelhas em volta de rvores, e luzes laranja em
volta de ces. Brynn, de sete anos, v, s vezes, pontinhos coloridos
flutuarem ao lado de sua cama. Assim se seguem os relatos de crianas
estudadas por James Peterson. Nos ltimos dois anos, o psiquiatra infantil
Gerald Jampolsky estudou cerca de cento e cinqenta crianas que, entre
as idades de trs e quatro anos, tambm relataram percepes extrasensoriais.1 Os casos de Jampolsky entravam amplamente nas categorias
extra-sensoriais clssicas: clarividncia, na qual acontecimentos ocorrendo
alm do campo de vislo ou audio so mencionados pela criana, telepatia
na qual chegam informaes ou mensagens a distncia de pessoas especficas;
precognio, na qual um acontecimento percebido antes de ter realmente
acontecido.
Existe uma literatura considervel sobre ESP* e fenmenos psqui
cos entre crianas. Eloise Shields apresenta provas de que a capacidade
teleptica atinge seu pice na idade de quatro anos, em cuja poca os pais
podem comear a inteirar-se de tal atividade.2 Uma inglesa conhecida
minha, que se considera uma mdium e que pode captar as mentes de
outras pessoas surpreendentemente bem, disse-me que suas duas filhas
mostraram ter incrveis capacidades psquicas quando tinham quatro anos.
Essas capacidades relevaram-se como categorias ESP, e a telepatia entre a
me e as crianas era a mais forte entre elas. Infelizmente, as capacidades
desapareceram por volta dos oito anos de idade, para desgosto da me.
Uma amiga minha musicloga, enquanto preparava material para sua
dissertao, descobriu que quase toda criana de quatro anos tem um
ouvido perfeito (a capacidade de reconhecer e nomear sons musicais).
Tudo o que era necessrio era um trabalho preliminar de classificao com
elas, para que pudessem comunicar seu conhecimento, e uma explanao
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Capitulo 15
Os Jogos:
A Servio da Sobrevivncia
Isso nos leva a uma hiptese subjacente que percorre todo este livro:
a natureza dual da mente-crebro. No me estou referindo apenas diviso
de trabalho que envolve os hemisfrios separados e coisas do gnero; fao
referncia tambm a dois nveis de atividade que estio ocorrendo na
criana desde o comeo. Disse que os primeiros sete anos so dedicados
exclusivamente a uma coisa: estruturar um conhecimento do mundo tal
como ele . E, no entanto, na economia da natureza muitas funes so
realizadas de uma vez, e, novamente, a intencionalidade est sempre se
adiantando anos frente. Descobrimos que tudo o que querem brin
car, e a criana passa, praticamente, todo o seu tempo (se lhe permitirem)
a brincar. Ela planejada para brincar com o mundo, experimentando no
s o mundo como sua realidade ldica. A realidade com a qual ela brinca
o mundo filtrado atravs das projees das fantasias dos jogos.
No estado consciente da criana, h jogos. Apesar dos jogos no
serem um desenvolvimento intelectual, como Piaget deixa claro, todo
nutriente necessrio para estruturar uma viso de mundo pode ser forneci
do por eles. A intencionalidade da criana impulsiona-a para manter o
vnculo parental, explorar o mundo e brincar nele. Quando a intencionali
dade pode expressar-se livremente, nenhuma linha divisria surge entre
qualquer uma dessas necessidades cruciais.
Enquanto a criana brinca na superfcie, o trabalho maior acontece
por debaixo. O feedback regulador, a construo conceituai e a sntese,
toda a mecnica da aprendizagem, so procedimentos no conscientes. A
conscincia o resultado final. Somos sempre os receptores, e no os
fabricantes. Quando as intenes que pressionamos na criana esto fluin
do junto com sua intencionalidade, ela aprende rpida e alegremente,
porque est brincando conosco. A interao um jogo, mas a ao e a
reao so um trabalho. O plano biolgico abortado quando invertemos
este plano gentico para a aprendizagem. Isto , para encarar a aprendiza
gem conscientemente, pensamos que ns ou a criana devemos ter o
trabalho de aprender, mas isto biologicamente impossvel. A maior apren
dizagem que jamais acontece na mente humana uma aprendizagem de
tamanha amplitude, alcance, complexidade, que faz sombra a qualquer
outra acontece nos trs primeiros anos de vida sem que a criana, de
modo algum, jamais tenha conscincia de estar aprendendo.
Se os jogos esto a servio da sobrevivncia, a criana ento brinca de
combates, caas ou fugas? De modo algum. Ela brinca com a imaginao
criando imagens que no esto presentes aos sentidos; ou, brinca com a
fantasia, curvando o mundo ao seu desejo, tomando algum objeto que
esteja presente ao seus sentidos e transformando-o em sua mente-crebro;
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Parte III
Transformando o Dado
Capitulo 16
Danando por Entre a Rachadura:
0 Pensamento Operacional
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acadmica e racional. Seu filho de oito anos estava entalhando com uma
faca, deixou escap-la e cortou as artrias de seu pulso esquerdo. Entrando
em pnico instantaneamente com a viso do sangue jorrando, o pai, como
em um sonho, segurou o rosto de seu filho que gritava, olhou-o nos olhos
e ordenou: Filho, vamos parar este sangue. A gritaria parou, o rosto do
menino iluminou-se e ele disse: Est bem. Juntos, olharam para o sangue
borbotante e gritaram: Sangue, pare com isso. E o sangue parou.3 Em
pouco tempo, a ferida sarou e o mundo do pai quase parou tambm.
""Ficou desorientado e confuso. Ele no podia explicar suas prprias aes
ou as palavras que tinha ouvido dizer e, certamente, no podia explicar os
resultados. Ele no entendeu que a criana est biologicamente equipada
para entender indcios da realidade a partir dos pais; ele no sabia sobre
a alta sugestionabSidade da criana de oito anos, sobre o pensamento
operacional concreto, ou que, nesta idade, seu filho estava peculiarmente
suscetvel a idias sobre a sobrevivncia fsica. Alguma parte dele, porm,
sabia e conseguiu passar em um momento de emergncia. Tudo o que o
filho precisava, claro, era de sugesto e apoio.
A lgica criativa que se desenvolve durante este perodo do final da
infncia pode ser chamada de pensamento reversvel, uma capacidade que
Piaget considera o ato mais elevado da inteligncia humana, mas, infeliz
mente, o mais raro. O pensamento reversvel completo s se desenvolve na
adolescncia, mas sua primeira forma concreta o que mostraram os exem
plos que citei. O pensamento reversvel , para usar a descrio de Piaget,
a capacidade da mente de acolher qualquer estado em um contnuo de
estados possveis como sendo igualmente vlidos, e retornar ao ponto do
qual a operao mental comeou. Uma afirmao mais simples seria: o
pensamento reversvel a capacidade de considerar qualquer possibilidade
dentro de um contnuo de possibilidades como sendo verdadeira, sabendo
que se pode voltar de onde se partiu.
isso que a criana faz em seu jogo durante os primeiros sete anos.
O jogo da fantasia est acolhendo uma possibilidade de um contnuo espe
cfico, como sendo vlido. E a criana sempre volta ao ponto de onde a
aventura comeou; a caixa de fsforos , mais uma vez, a caixa de fsforos.
Ora, aos sete anos, este jogo toma-se uma operao completa e no s uma
realidade de fantasia na superfcie dos conceitos. A capacidade de aceitar
possibilidades externas significa a capacidade de acolh-las na mente, assi
mil-las e acomodar-se a elas. Uma ressalva importante deve ser feita quan
to palavra contnuo. Um contnuo um agrupamento lgico das possibi
lidades adequadas. No jogo da fantasia, qualquer coisa pode ser qualquer
coisa, mas dentro de limites rigorosos. A caixa de fsforos oferecia um
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vncia, dos sete aos dez ou onze anos de idade. Este o seu jogo e o desen
volvem muito habilmente. O que peculiar sobre a cultura que ela pega
as formas acidentais da lgica criativa ou do pensamento reversvel que
ocorrem e as ritualiza, transforma-as em atos religosos ao invs de correlacion-las em uma estrutura de ao. Tal ritualizao ocorreu em Bali e
entre muitas culturas orientais.
J me perguntaram muitas vezes o seguinte: se no ensinarem a uma
criana, logo no comeo, que o fogo queima, mas, ao invs, lhe ensinarem
que o fogo no queima, ser ela capaz de andar sobre o fogo, desde cedo
(de fato)? Tal idia contm alguns mal-entendidos. Em primeiro lugar,
claro, no ensinamos a criana pequena neste sentido; a criana aprende
atravs de interaes fsicas com aquilo que . O fato de o fogo no
queimar uma contradio e uma impossibilidade para o mundo ou o
fogo. Se a criana balinesa no tivesse um conhecimento de amplas
dimenses sobre o seu mundo inclusive o conhecimento claro de que o
fogo queima se o tocarmos, ela no poderia fazer a sofisticada abstrao
que o andar sobre o fogo exige. Para poder fazer uma operao lgica e
controlada sobre os estmulos sensoriais do fogo sobre a came, ela deve
possuir conceitos precisos dos quais e sobre os quais as abstraes necess
rias podem ser retiradas e construdas. Um nmero suficiente de pontos de
semelhana entre realidade e idia deve existir. A inverso do fluxo da vida
de causa e efeito comum s possvel se tivermos um padro conceituai
desta causa e efeito.
Andar sobre o fogo uma ocorrncia to comum em tantos pases,
simplesmente em virtude da experincia universal do prprio fogo. A
idia assimilada assim facilmente porque os pontos de semelhana so
tantos que os poucos pontos de dessemelhana que precisam ser acomoda
dos no so esmagadores. O ato impossvel e incompreensvel para o
pensamento enquanto pensamento, mas no para o pensamento enquanto
ao. O pensamento enquanto pensamento s pode recompor padres
abstratos no crebro, e o fogo queimando um padro muito concreto. A
nica forma de se retirar uma abstrao da, ha realidade, que o corpo
passa pelas manobras; esta ao concreta poder, ento, atuar com a
concretitude do conhecimento do fogo queimando e dar origem a uma
acomodao dos pontos de dessemelhana. Quando a criana balinesa
escolhida (consagrada ou os poderes lhe so atribudos), levanta-se total
mente absorvida, imitando seus modelos. Todas as partes do coipo devem
estar coordenadas nos gestos complicados e sofisticados que so os pontos
de concentrao. A dana a funo; a estruturao de um fluxo inverso
concernente ao fogo acidental. (Nos ltimos anos, esta parte da dana,
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Captulo 17
O Fluxo Bidireciom l:
Assimilao Acomodao
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pessoas e talvez mesmo a longa distncia. Ou, quem sabe? , outras pessoas
poderiam possuir suas mesmas estranhas capacidades. No show da televiso
inglesa, Geller convidou todos telespectadores que estavam assistindo em
casa a juntar-se a ele, para participar em seu trabalho mental de
entortar, segurando eles prprios, garfos ou colheres a fim de ver se o
fenmeno se repetia. Cerca de mil e quinhentos comunicados invadiram a
BBC, afirmando que garfos, colheres, ou qualquer coisa que estava mo,
realmente haviam entortado, quebrado, se movido l mesmo, nos lares
dos britnicos.
Em geral tais afirmaes histricas ocorrem, e no se pode atribuir a
tais coisas validade alguma. O curioso foi que a grande maioria daqueles
que se comunicaram com a emissora estava entre as idades de sete a
quatorze anos, o perodo da sugestionabilidade e do pensamento operacio
nal concreto. Algumas mulheres formaram excees, muitas das quais no
estavam realmente segurando utenslios, mas, logo aps o show, encon
traram colheres e outras coisas torcidas, tortas ou quebradas.
Quando Geller- apareceu na Escandinvia, Alemanha, frica do Sul e
Japo teve de repetir suas apresentaes. Entortar colheres tomou-se uma
epidemia popular. A faixa etria ia dos sete aos quatorze anos invariavel
mente, a idade mdia era de nove anos.
Se essa exploso tivesse acontecido nos Estados Unidos, l iriam
nossos psiclogos analticos defender as estranhas fantasias de Freud: os
realistas empedernidos, os behavioristas skinnerianos, teriam escrito douta
mente sobre as profundas sndromes de ansiedade que estavam operando
para produzirem tais iluses. Concordando sabiamente uns com os outros,
teriam explicado tudo. Na Inglaterra, Alemanha, Escandinvia, frica do
Sul e ho Japo, a reao foi diferente. Na Universidade de Londres, por
exemplo, o departamento de Fsica (dirigido por John Halstead e sob
superviso direta do fsico-matemtico John Taylor) deu uma resposta
cientfica legtima. Assim como Aristteles decidiu testar o conhecimento
comum de que salamandras podiam viver no fogo, atirando uma salaman
dra real ao fogo (onde a pobre fritou at torrar), do mesmo modo os
cientistas ingleses jogaram ao fogo algumas crianas-salamandras tipo
Geller. Trouxeram para o laboratrio um certo nmero de crianas e
comearam a trabalhar com elas.
Depois de um curto perodo onde quase nada aconteceu, as crianas
realmente comearam a esquentar. Naquele clima encorajador paciente, o
entortar de garfos comeou a comprovar-se de vrias formas. De fato, cada
experincia de laboratrio revelava outra forte sugesto. Cada sucesso
contribua para o conjunto de expectativas que estava comeando a
originar-se. Sucesso gera sucesso.
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grupo que anda sobre ele, alguns podem queimar-se outros no. Os concei
tos do mundo acomodam-se ao ato pessoal, e a realidade de mundo mais
pessoa tambm foi mudada correspondentemente, como foi necessrio
naquele momento e contexto. Isto o que a diviso de trabalho no sistema
mente-crebro planejada para fazer. Ambos os processos a Terra em si e a
pessoa, enquanto expresso individual, funcionam suavemente dentro do
sistema mente-crebro, numa relao simbitica natural. Deste modo, a
Terra atinge seu fim de ultrapassar suas prprias limitaes.
Um japons de onze anos de idade, Jun Sekiguchi, entortou uma
colher suspensa por um arame dentro de um recipiente plstico fechado,
por querer que ela entortasse. Ele entortou uma colher que estava no
fundo de uma bacia com gua, sem toc-la. Jogou uma colher para o ar e,
em certo momento, ela torceu-se em forma espiral. Jogou pedaos retos de
arame para cima e, enquanto caam, eles torceram-se para formar o nome
do homem que estava comandando o experimento. Nada disso foi preme
ditado; era tudo um jogo casual por parte do menino. (Apenas os experi
mentadores adultos so terrivelmente srios; as crianas acham tudo hila
riante, brilhante, sorriem afetadamente, do risadas, encantadas com cada
sucesso um pouco perplexa.)
As crianas inglesas pesquisadas por John Taylor curvavam metal
com leves pancadas de um dedo apenas. Uma garota de doze anos fez uma
curva de quarenta graus em uma barra de ferro cromado, dando uma
batida nela. Uma barra idntica exigiria quinhentas libras de presso
mecnica para curv-la da mesma forma. As tiras de metal que se dobram
em formas estranhas dentro de tubos de vidro fechados no so tocadas; as
crianas simplesmente passam suas mos sobre os tubos. (O metal o meio
comum para o experimento porque madeira ou plstico tendem a desinte
grar-se ou explodir.)
Quando Geller visitou o laboratrio de John Taylor, em Londres, em
julho de 1974, este havia preparado alguns experimentos cuidadosamente
planejados. Um deles envolvia um aparelho de medio de presso que
custou 600 dlares para ser construdo. O teste requeria apenas que
Geller segurasse o aparelho enquanto o experimento prosseguisse. No
entanto, logo que Geller o fez, o interior do aparelho esfacelou-se. Apesar
de Taylor agarr-lo rapidamente, o diafragma se desintegrara em cerca de
dez segundos. O investimento logo estava em runas e o experimento foi um
fracasso. Na mesma manh, vrios objetos de cobre desapareceram, s para
reaparecerem em outras reas do edifico. Dois dos objetos bateram atrs
das pernas de Taylor, enquanto ele e Geller andavam pelo corredor, a cerca
de 70 ps do lugar onde Taylor os tinha colocado pela ltima vez.
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Captulo 18
Em Direo a Autonomia:
Dividindo o Crebro
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Capitulo 19
O Ciclo da Competncia Criativa
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medida que a criana cresce, os pais usam cada vez mais instru
es verbais para as operaes concretas. As sugestes verbais para as ope
raes concretas dentro do corpo da criana so eficazes porque a lingua
gem da criana ainda no est totalmente separada de seus referenciais con
cretos. Isto , a linguagem no totalmente abstrata. A criana, dos sete
aos dez ou onze anos, ainda pensa agindo, e age pensando. A linguagem
ainda a linguagem do corpo, apesar de a separao entre palavra e coisa
estar a caminho. A criana agora capaz de padronizar informaes con
cretas, por meio de tais abstraes e, portanto, de agir sobre as informa
es. Em nenhuma categoria est a lgica mais adequada do que no con
trole corporal e no controle de emergncia, sobretudo durante a ado
lescncia.
Os pais tiram proveito da crena da criana mgica em sua onipo
tncia. Encorajam a idia inata da criana de que eles tm poder em seu
mundo e que, atravs deles, ela pode compartilhar deste poder e desenvol
ver o seu prprio. Se a criana adoecer por qualquer motivo (apesar de,
para a criana vinculada, tais insalubridades serem raras), os pais asseguram-na de que tm o poder pessoal de curar. Eles ento devotam total
ateno para essa cura porque est comprometida muito mais do que uma
desordem corporal. A aprendizagem est comprometida; o desenvolvimen
to da capacidade de interagir est em jogo. Atravs da sugesto contnua,
de um reassegurar e reafirmar de seus poderes e capacidades de emprestar
criana este poder, a sugestionabilidade dela recebe a idia da cura, e i eu
trabalho interior responde. A criana aprende que a mente domina o mundo.
Durante todo este perodo, os pais continuam a encorajar, reforar
e responder s percepes primrias da criana. Praticam a terapia nos pe
rodos hipnaggicos e anaggicos, um pouco antes do sono e antes do le
vantar. Durante esses breves perodos, eles exercitam tal capacidade com
a mesma assiduidade com que um pai ensina a seu filho ir ao banheiro.
Praticam a viso a distncia encorajando a criana a sentir reas espec
ficas escolhidas para aquele dia e relatar-lhes o que sentiu. Atravs de tal
jogo, as percepes primrias aumentam muito durante o estgio de su
gestionabilidade, porque os pais esto sugerindo e entrando nas experin
cias especficas junto com a criana.
Aprender a transformar objetos, como mostrou o efeito Geller ou an
dar sobre o fogo sem ferir-se, talvez no tenha uma aplicao prtica na
vida comum, mas estes acontecimentos extraordinrios fazem bem mais do
que simplesmente fornecer possibilidades para atos concretos especficos
de proteo. Fornecem uma confiana imensa no poder pessoal, o poder
da mente de fluir com os princpios da Terra e ultrapassar as limitaes de
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tal como a viso com relao aos sentidos. O nome de uma coisa penetra
no padro cerebral da criana pequena que rene as informaes sobre es
sa cdfsa, e esse nome uma parte da coisa ou do acontecimento, e nSo uma
descrio ou um smbolo. Essa concretitude de linguagem parte perma
nente do processo primrio e do conhecimento corporal do crebro pri
mitivo. Essa a razo pela qual se pode dar uma sugesto verbal para uma
criana de oito ou nove anos para que ela atue sobre informaes concre
tas; nos conceitos concretos de sua mente-crebro palavra e coisa nomea
da constituem uma unidade, e pode-se transformar a coisa atravs da
palavra.
0 feedback lgico est sempre dividindo o conhecimento em cate
gorias cada vez mais sofisticadas pela retroalimentao da experincia.
Quando comea a separao entre coisa e palavra, no final da infncia, os
conceitos concretos obtidos por meio do processo primrio ou do conheci
mento corporal no so afetados; eles permanecem inalterveis. A abstra
o da linguagem envolve a diviso do trabalho. Assim, o tipo de linguagem
a ser refinada e sistematizada continuamente no feedback lgico tomarse- totalmente abstrata e no mais relacionada com a linguagem concreta
do processo primrio e do crebro primitivo. A inteligncia em maturao
ter ento (ou dever ter) esses trs usos da linguagem, distintos, mas fun
cionais, a sua disposio: concreto, abstrao de concretitude e pura abs
trao. A intencionalidade precede e prepara a capacidade de fazer. Uma
nova mudana lgica est reservada para, em tomo dos onze anos, uma
mudana em direo ao pensamento abstrato puro. Separar a palavra da
quilo que ela nomeia parte desta mudana em direo ao pensamento for
mal. Apenas nesta fase que a palavra se toma descritiva ou substituta
do objeto ou fato. Para que capacidades lgicas superiores se desenvolvam,
a linguagem deve tomar-se distinta de concretitude e tomar-se um sistema
fechado sobre si mesmo. Essa sofisticao no deve, entretanto, ser adqui
rida s custas da linguagem concreta corporal ou da linguagem de um pro
cesso primrio.
Quando foramos a criana a trabalhar com pensamento abstrato
prematuramente, quebramos a unidade vital entre o eu e o mundo. Es
crever, explica Vigotsky, quase refora um afastamento da referncia do
usurio da linguagem. Escrever (e, em proporo menor, ler) refora uma
separao entre o nome e a coisa nomeada. Para lidar com este tipo de abs
trao, a lgica da diferenciao forada a saltar todos os degraus prelimi
nares e comear prematuramente tal separao. 0 resultado uma separa
o forada entre o eu e o mundo, apesar de ainda ser confusa e inadequa
da a diferenciao exigida. (Assim, Furth afirma que a alfabetizao pre-
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Como o crebro opera enquanto unidade, esta diferenciao atua sobre to
dos os conceitos do crebro-computador, incluindo a sensao de consci
ncia do sistema do eu no sistema do mundo, levando s sensaOes de
alienao, isolamento e abandono psicolgico que contribuem para a for
mao do conceito de morte em tomo dos nove anos.
Quando que queremos fomentar a autoconscincia que nasce a
partir de uma distino entre os processos humanos e os fenmenos f
sicos? Certamente no, aos sete ou oito anos, justamente quando o novo
eu emerge em uma relao funcional com o processo primrio. Esta cone
xo inata e intuitiva nada menos que nossa vinclao com a Terra que,
literalmente, nosso cordo umbilical atravs do qual nos alimentamos
neste estgio crtico. A mudana de matriz aos onze anos a melhor poca
para tais distines. Assim, os pais da criana mgica evitam a separao
prematura ou forada entre a palavra e a coisa e, conseqentemente evi
tam a separao entre o eu e o mundo. Eles atrasam a alfabetizao at os
onze anos. O sistema da criana mantm sua correspondncia biunvoca
entre coisa e nome para que possa aprender a agir sobre esta informao,
quando necessrio, transform-la quando exigido para seu bem-estar
fsico.
Por volta dos nove anos, com dois anos ricos de pensamento opera
cional e uns quatro ou cinco anos de contnuo aumento de percepes
primrias fortalecendo a vinclao com a matriz Terra, a criana mgica
caminha em direo autonomia. Atravs da maturao lgica, ela toma-se
consciejrte de que seu corpo vulnervel e de que aquilo que seus pais pen
sam sobre seu bem-estar tem limites. Ela deseja assumir a responsabilidade
de sua sobrevivncia. Tendo como base uma aprendizagem ide sobrevivn
cia e prtica e com vinculaes com a Terra, ela tem confiana na sua pr
pria capacidade de responder vida. Sua resposta a excitao pela aven
tura. Exatamente como algum que tenha um jogo novo ou uma capacida
de nova, e deseja test-los, a criana mgica deseja confrontaes com sua
prpria sobrevivncia.
A maturao lgica traz consigo a conscincia da morte como uma
possibilidade presente em qualquer momento, mas este conhecimento d
sabor vida. O estresse do desconhecido-imprevisvel muito mais um de
safio excitante do que uma fonte de ansiedade e medo. A conscincia da
morte tem uma funo catalisadora em todo conhecimento infantil, pro
move o acabamento dos 'detalhes de sua capacidade de sobrevivncia j
esboada, e toma-a alerta a seus atos. A morte produz sentido, prposito
e razo s suas capacidades de sobrevivncia. O jogo infantil toma-se o jo
go emocionante do final da pr-adolescncia, onde o jovem fica conscien-
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Captulo 20
O Pensar sobre o Pensar:
As Operaes Formais
Du R AN TE A SE GUN DA Guerra Mundial, o exrcito americano instalou ba
ses areas no Alasca. Freqentemente, os mecnicos relatavam que estavam
frustrados em virtude de algum defeito nos'motores, e que um esquim
que faz pequenos servios vinha, observava como quem no quer nada,
sorria, e entranhava-se pelo motor, ia remendando algumas coisas e conser
tava a mquina. 1 Aparentemente, isto se parece com q s chamados idiossbios que no podem ler ou escrever, mas podem realizar impressionantes
clculos matemticos em suas mentes, sem saber como. O esquim parecia
estar seguindo os ditames de seu processamento primrio, deixando seu
corpo mover-se apropriadamente, da mesma forma que Ootek sentiu a
localizao dos Caribou, a direo do tempo e o fluxo natural. Sua
capacidade, porm, de abrir-se s percepes primrias e de mover-se de
acordo com a mquina no era, ento, reversvel; isto , ele no podia .
colocar-se fora de suas prprias aes, analis-las, e atingir uma compre
enso da mquina ou de mquinas em geral. Apesar de seu talento excep
cional, este, por si s, provavelmente nunca chegaria inventividade pura,
necessria construo daquela mquina.
A criana balinesa ou a ceilonesa, que pode conceber a possibilidade
do fogo que no queima como um estado perfeitamente vlido, retoma ao
ponto do qual partiu a operao mental. Mas um retomo em termos
puramente concretos, um retomo matriz Terra enquanto tal. Estas
pessoas so incapazes de remontar seus passos, analis-los, e ento compre
ender que seu conhecimento corporal realizou. Assim, elas nunca
aprendem a aplicar livremente a sua capacidade miraculosa outras ativida
des.
Em torno dos onze anos, o crebro experimenta um outro cresci
mento sbito. Ao mesmo tempo, uma outra mudana lgica ocorre,
apresentando novas maneiras de processar as informaes. A susceptibilida
de sugesto atinge seu pice, de onde comear lentamente a desaparecer,
enquanto uma das caractersticas da mente-crebro por volta dos quinze
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que, por sua vez, depende da separao entre a palavra e o objeto ou fator
por ela nomeados. Toda esta difereciao foi parte do trabalho do feed
back regulador no final da infncia e no incio da pr-adolescncia,
permanecendo seu trabalho at que o jovem atinja mais ou menos os
quinze anos. A natureza prov esta separao gradativa de tal forma que as
operaes concretas possam ser aprendidas, aperfeioadas e transformadas
em processos mais autnomos no crebro primitivo como parte do substra
to total de processamento automtico de informaes.
Lembrem-se que a linguagem formou-se no beb ,sob a forma de
movimentos corporais; lembrem-se que a criana de dois anos mexia com
as mos enquanto falava a palavra; que a de quatro anos empregava a
linguagem como uma coordenada dos movimentos corporais. A palavra
quente era formada no crebro como parte do padro cerebral geral para
fogo, que tambm inclua a resposta do recuo fsico, quando necessria.
Nas operaes concretas, esta unidade palavra-coisa ainda desempenhava o
papel mais importante no trabalho conceituai do holograma do crebro,
relacionado ao holograma da Terra. Atravs da lgica de diferenciao,
uma palavra comea a abstrair-se desta unidade e permanecer como unida
de de pensamento separada. Uma palavra, ento, substitui ou representa
uma coisa ou um fato. ento possvel o pensar no interior da mente, em
oposio ao pensar enquanto ao. Pode-se, a partir da, desenvolver uma
lgica de palavras independentemente de qualquer realidade fsica, e que
nada mais que a linguagem proposicional do adulto, um outro aspecto
das operaes formais que surge mais ou menos aos onze anos. Este o
motivo pelo qual to fcil introduzir a alfabetizao criana de onze
anos; nesta fase, a alfabetizao no cria mais uma autonomia prematura
nem o abandono.
Aos onze anos, a mente jovem ainda necessita de exemplos e de
direo para que construa um corpo suficiente de abstraes puras. Neste
perodo, a sugestionabilidade atinge o seu pice. As sugestes para possibi
lidades para crianas de sete anos deveriam ser apresentadas sob uma forma
concreta, diretamente na sua frente ou por instruo concreta especfica e
sugesto. Antes, sua capacidade para o jogo-de-imitao movia seu corpo
adequadamente, e os conceitos abstratos novos surgiam desta ao concre
ta. Para crianas de onze anos, pode-se dar sugestes sem modelao direta
ou um referencial concreto. O menino japons de onze anos, Juni, apenas
ouviu uma informao de como as crianas reproduziam as faanhas de
Geller. Juni imediatamente soube que poderia faz-las, e fez. John Taylor
observou que as crianas mais velhas e os adolescentes s podiam imitar
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aps ouvir falar sobre alguma possibilidade; elas tinham capacidade sufici
ente de criar abstraes que no estivessem baseadas na concietitude.
Para ser assimilada, a natureza das abstraes dadas a uma criana de
onze anos deve ter um nmero suficiente de pontos de semelhana com
seu conhecimento abstrato existente; e para fazer acomodaes e novas
capacidades conceituais, deve existir um nmero suficiente de pontos de
dessemelhana. Conseqentemente a este cresimento cerebral sbito, a
criana de onze ou doze anos tem paixo por aprender, paixo por idias,
um desejo universal de compreender. Lembro-me das minhas longas
conversas, durante esta fase, com meus companheiros, tarde na noite,
quando dormamos uns na casa dos outros, ou luz de estrelas, enrolados
em velhos cobertores do exrcito. Compreendamos mais do que qualquer
adulto pudesse imaginar, e desejvamos saber e compreender tudo. ramos
tomados por longos e srios pensamentos, absortos no pensar sobre o
pensar. Aos doze e treze anos, discutamos sobre questes universais: a
amplitude do espao e do tempo, o preponderante problema de Deus, o
sentido da existncia. Eram poucos os limites nossa jornada atravs do
pensamento em qualquer caminho que se abrisse para ns por menor que
fosse. Nenhum de nossos desejos eram satisfeitos pela escolarizao.
Encontrvamos pouca relao entre nossa fome ardente e a poro escassa
e estranha que nos era servida naquela mesa. Antes da maturidade, entre
tanto, nossas ansiedades levaram-nos a aceitar o estanho ponto de vista que
nos ensinaram na escola, e nossos desejos perderam-se na louca presso
pela busca da identidade que se apoderou de ns nas dcadas seguintes,
presso que nos fez perder o mundo e tudo aquilo que ele nos oferece.
Os pais da criana mgica sabem que os perodos de aprendizagem
intensiva introduzidos pelos crescimentos cerebrais sbitos no duram
muito. Esto conscientes do ciclo de competncia a ser seguido em cada
novo estgio. Um novo aprendizado adequado por aproximadamente um
ano e meio aps o crescimento sbito: o perodo do esboar das novas
possibilidades e capacidades. O nico aprendizado adicional que ocorre
durante o perodo de acabamento dos detalhes o que aumenta e comple
ta o aprendizado inicial. E os pais sabem que na tera parte final do ciclo,
quando se necessita da prtica e variao, nenhum aprendizado novo
adequado. Durante este perodo, eles deixam amide seus filhos sozinhos,
interferindo apenas na medida em que a prtica e variao deles precisarem
de ajuda especfica. Eles esto cientes que um acmulo de conhecimentos
lento, firme e progressivo, em cuja possibilidade lamentavelmente os
educadores acreditam, impossvel, e, se tentado, sobretudo danificador.
Eles seguem as pistas que seus filhos do e respondem adequadamente.
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essencialmente se fundiriam na idade adulta. Na sugestologia encontram-se
algumas indicaes deste poder, mas h algo errado. Por que o eu volitivo
deve ser um impedimento aprendizagem? Por que devemos enganar o
sistema do eu, tirando-o do caminho para que o sistema conceituai funcio
ne? Ser que isto no cinde o sistema, e no haveria uma forte possibilida
de de que nveis mais profundos de aprendizagem estivessem reservados a
ns, se o sistema do eu estivesse num fluxo sincrnico com o sistema
conceituai?
Apesar dos protestos apresentados pelos sugestologistas de que esta
tcnica no semelhante hipnose, h uma semelhana. Na verdade, o
estudante entrega sua volio ao experimento e s pessoas que comandam
esta aventura. O sistema do estudante dividido e, portanto, a cons
cincia comum no participa da aprendizagem. Isto necessrio
porque a conscincia comum est paralisada na ansiedade da aprendizagem
(medo de falhar, de no aprender etc.). No entanto no podemos olhar
para alm das recompensas superficiais do processo, e ver uma recompensa
bem mais rica. Se o sistema conceituai impessoal pode aprender to rpida
e profundamente, quais seriam as possibilidades para a mente inteira, se a
volio consciente e o trabalho interno estivessem em harmonia? este
ponto que a natureza leva, e o que deveria desenvolver-se no final da
pr-adolescincia e na adolescncia. Ento, todo acontecimento na vida e
todo momento que se desdobra seriam a aprendizagem e, finalmente, a
criatividade que tal aprendizagem proporcionaria.
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Captulo 21
A Viagem Atravs da Mente:
A Realidade Criativa
Oc a s i o n a l m e n t e ,
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cor e papel, bolinhas de barro, talvez uma flauta, e um deleite total. Quan
do pensamos numa criana intelectual, pensamos em matemtica, livros,
aparelhagem para experincias de qumica, e em coisas prticas e reais.
Obviamente, ambos so reas da criatividade, expresses da capacidade de
interagir com as possibilidades.
No jogo da fantasia, a criana v um caminho ou um barco numa
caixa de fsforos, e escolhe sua possibilidade a partir de um contnuo, do
mesmo modo como Michelangelo via a esttua acabada numa pedra bruta.
A criana transforma a caixa de fsforos real em seu barco do jogo-da-realidade, e entra nesta realidade. Michelangelo transformava,a prpria pedra
na imagem que ele imaginava dela. A realidade transformada da criana
no tem um valor consensual; ela tem a experincia de sua criao sozinha.
O que Michelangelo transformou acessvel a nvel consensual, e ns te
mos apreciado sua obra por sculos. O que a criana transforma no muda;
o retorno para o ponto de origem que no mudou. A pedra nunca ser a
mesma, uma vez que Michelangelo usou ferramentas como um meio para
expressar sua criatividade atravs da pedra enquanto meio. A esttua um
aspecto de Terra mais mente humana expressando-se atravs de uma fer
ramenta fsica. Assim, uma forma de abstrao a partir da concretitude,
ou pensamento operacional concreto; enquanto que a realidade de fantasia
da criana um aspecto de Terra mais mente sem qualquer instrumento
intermedirio.
A cincia e sua tecnologia e toda a arte devem expressar-se atravs de
meios concretos. Mesmo a matemtica e a msica, mais prximas de serem
abstraOes puras, devem expressar-se por meio de smbolos e signos para
que possam ser comunicadas. Existem gnios em matemtica que podem
fazer grandes clculos de cabea, mas tm de convert-los para algum tipo
de meio a fim de poderem expressar-se para os outros. Mozart imaginava
suas obras numa forma gestltica, tendo a experincia delas enquanto uni
dades completas. Seu trabalho todo era o de traduzir esta perfeio interna
em signos lineares e digitais que outros msicos pudessem interpretar e,
assim, dar vida msica.
Uma forma artstica um meio de expresso, e o meio determina a
arte. 0 que maravilhoso com relao mente humana que tais meios oe
traduo podem ser inventados, e que os vastos usos dessas invenes
podem evoluir. A grande diferena entre a msica oriental e a msica
ocidental est na inveno de notao musical do Ocidente. O meio de
transposio de idias criou dimenses novas e vastas para a prpria criati
vidade musical, assim como os smbolos matemticos acrescentaram vastas
248
dimenses alm da contagem nos dedos das mos e dos ps, a prensa criou
a galxia de Gutenberg, o meio torna-se a mensagem etc.
Pensem, no entanto, que a maturao da inteligncia est programa
da para passar da concretitude para uma abstrao maior do pensamento
puro. Por mais puro, formal e abstrato que nosso pensamento operacional
formal possa tornar-se, mesmo na pesquisa cientfica mais pura, devemos
express-lo atravs de alguma forma concreta, algum meio de traduo e
transposio. Isto , toda arte e cincia so expresses do pensamento ama
durecido que, no entanto, devem fazer uso de materiais intermedirios.
Podemos dizer que o estgio de desenvolvimento que se inicia na adoles
cncia parece ter sempre de expressar-se pelo estgio que se iniciou aos sete
anos.
Toda nossa criatividade, ento, tem sido at aqui uma combinao
de pensamento formal e pensamento concreto, e esta , certamente, uma
das formas de combinao mais incrveis de que dispomos. Mas, com o
devido respeito, admirao e espanto por este tipo de criao. Queria frisar
que ela est limitada, no entanto, concretitude de seu meio. A intelign
cia amadurecida deveria ser capaz de interagir com as possibilidades da
Terra viva, esta Terra viva mais a criatividade da mente, e os processos e
produtos da prpria mente. At agora, s usamos esta terceira categoria de
possibilidades em relao segunda categoria. Ou seja, a mente-crebro
ainda no se tomou sua prpria matriz, como foi planejado geneticamente
para o perodo do final da adolescncia e para a maturidade.
Qualquer artista dir que o meio da arte o obstculo que deve ser
superado para que a criatividade possa desenvolver-se. O pianista que con
segue dar oitocentos toques individuais por minuto no piano tem de ultra
passar as notas para atingir a msica. Certamente, o mesmo se aplica a
todas as formas de arte e at para as cincias. A questo que o grande
pensamento criativo s pode surgir da base concreta apropriada; esta se
qncia nunca violada.
Qual seria, ento, a verdadeira forma madura de criatividade? Seria
aquela das abstraes puras que no precisam das formas concretas de ex
presso. Considerando que este desenvolvimento puro s poderia acontecer
atravs de uma aprendizagem disciplinada de formas materiais, tangveis,
tal criatividade sem mediaes seria a maior investida da inteligncia huma
na. O meio de passagem para este ato de criao formal, abstrato, seria (e
) o processo primrio. Sendo o fator comum de toda mente-crebro, o
processo primrio pode ser o meio para a expresso da criao pura. A pr
pria formao criativa tambm participa do processo primrio, e os re
ceptores criativos so as expresses individuais deste processo: voc e eu.
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]
]
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A
tes adorveis. Chamo-os de presentes porque a nica coisa que tenho que
fazer quanto a eles receb-los. Quando a conscincia retorna, mas o siste
ma sensorial permanece fechado por um breve momento, outros tipos de
percepes afluem, enquanto minha criatividade salta para o vazio tempo
rrio, encantada com a oportunidade de jogar comigo. Um dia, por exem
plo, estava acordado s duas da manh. Um camundongo do campo tinha
resolvido vir morar comigo e comeou a roer ativamente novas trilhas de
entrada e sada. (No sei por que; devia haver centenas delas em timo es
tado por toda a cabana.) Ele fazia um barulho to infernal, apesar de
minhas batidas fortes, splicas e ameaas, que finalmente desisti, acendi as
luzes e comecei a trabalhar neste capitulo. Quando estava amanhecendo,
fiquei com sono e apaguei as luzes. Enquanto via o dia clarear, meus olhos
pousaram sobre minha lareira de tijolos, e enquanto ela ia se apagando, eu
acho, eu ia fechando meus olhos. Logo, logo, sem mudana alguma, eu
ainda estava olhando para os tijolos, aparentemente em trs dimenses,
mas comecei a perceber uma enorme extenso de tijolos no era a pare
de de um edifcio, mas sim a de um interior, com nichos e ornamentaes.
Toda aquela extenso causava uma sensao emocionante de comeo-dedescoberta, e percebi que tinha deslizado para um estado hipnaggico
desencadeado pelos tijolos de minha lareira. Neste momento de estado de
autoconscincia, o cenrio desapareceu (para minha decepo, pois parecia
estar diante da iminncia de uma grande descoberta) e encontrei-me
olhando fixamente para minha prpria lareira. As sensaes usuais do esta
do ps-hipnaggico de prazer, segurana, sensualidade, entusiasmo, poder e
confiana me invadiram e esqueci-me de minha decepo com relao
brevidade do acontecimento.
Por um perodo de um ano ou mais, a maior parte de minhas expe
rincias hipnaggicas relacionava-se a quartos. De noite ao ir para a cama,
ou de manh logo que acordava, ou ento quando cochilava, via-me de
repente observando quartos, novamente sem nenhuma mudana aparente
do estado de viglia comum. Sries inteiras de quartos extraordinrios
simplesmente se sucediam em trs dimenses, quartos de todas as formas
possveis. s vezes fluam num prstito majestoso; outras vezes, cada vez
mais rapidamente, at que eu os entrevisse passar como balas. s vezes, as
seqncias dos quartos desdobravam-se verticalmente, de baixo para cima;
mas a maior parte das vezes moviam-se da esquerda para a direita. Geral
mente, eu s podia ver os quartos como de um s lado; em algumas ocasies
memorveis, eu conseguia parar o fluxo e entrar neles. Neste momento a
experincia parecia fundir-se com a do devaneio lcido. Uma vez, e apenas
uma vez, encontrei ocupantes em um quarto, e passamos momentos verda-
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das duas personalidades. Isto era amedrontador. O rapaz insistiu para que
deixassem o estado e contassem at chegar ao normal.
O jovem ficou to amedrontado com a se'rie dos experimentos que
recusou-se a continuar. Ele no podia mais chegar a um acordo sobre o
que realmente era real porque a realidade no-comum que os dois haviam
criado e compartilhado era sensorialmente igual sua experincia cotidiana.
Um resultado inesperado disto (ao qual retomaremos no Captulo
22), foi que o rapaz e a moa desenvolveram rapidamente uma afinidade
profunda e desconcertante um pelo outro. Eles no agentavam separar-se
durante as semanas dos experimentos. Jean Houston, cuja Fundao para
a Pesquisa da Mente dedica-se a fenmenos deste tipo, previne contra o uso
de casais ou pares mistos na hipnose mtua, a no ser que esses pares es
tejam preparados para um envolvimento emocional profundo.
Eu e um grupo de amigos descobrimos que em estados de hipnose
profunda, um membro do grupo podia comear um sonho hipntico,
quando dirigido pelo guia, e os outros rapidamente se veriam tanto expe
rimentando quanto contribuindo para este sonho. Quase no mesmo minu
to em que duas ou mais pessoas estivessem compartilhando o sonho, ele
estabilizava-se e tomava-se uma realidade consensual comum acessvel a
todos os sentidos. Esses estados, ento, pareciam ser permanentes; o grupo
podia retomar a eles mais tarde, e do mesmo modo os membros individuais
do grupo.
Um estudante universitrio declarou ter perdido trs anos viciado em
LSD. Ele e um amigo viajavam juntos regularmente at que, pr fim, con
seguiram compartilhar o mesmo estado. Uma vez, pediram a um outro ami
go que ficasse por perto e tomasse conta deles enquanto viajavam. Este
amigo era uma pessoa potica, religiosa e intelectual que no queria expe
rimentar drogas ou lcool. No entanto, quando ficou prximo dos dois,
foi tomado pelo estado que eles criaram e viajou junto com ambos. Os dois
ficaram surpresos de ver sua bab no mesmo estado de LSD que eles, e ele,
alm de surpreso, ficou encantado. Os trs participaram da aventura e,
quando voltaram ao normal, escreveram seus relatos; os relatos foram
idnticos.
Robert Monroe um homem de negcios bem-sucedido que ganhou
muito dinheiro com estaes de rdio e televiso. Atravs de alguns
acontecimentos fortuitos, ele experimentou deixar o seu corpo, h alguns
anos. Isso acontece a muitas pessoas uma vez e rapidamente, mas Monroe
tinha esprito de aventura, era esperto e corajoso o suficiente para desen
volver a experincia, at que se tornasse um lugar-comum para ele. Exterio
rizao o termo comum que se usa para designar a percepo que uma
256
pessoa tem de estar deixando seu corpo e de estar sendo o agente de uma
mente livre (apesar de isso talvez ser uma denominao incorreta, como o
estar fora do corpo)- As disciplinas esotricas chamam isso de viagem
astral Alguns dos primeiros trabalhos de Tart na Universidade de Virginia
Medical Hospital consistiam em se fazer eletroencefalogramas de pacientes
epilticos e de portadores de enxaquecas graves. Ele descobriu que estas
pessoas pareciam separar-se de seus corpos quando estavam profundamentes tomadas por um ataque. Um jovem professor da Universidade de Leeds,
na Inglaterra, veio para a Universidade da Carolina do Norte em Chapei
Hill, h alguns anos, e descobriu que seus alunos podiam, sob o estado de
hipnose profunda, ser virtualmente comandados a deixar seus corpos, e
relatar coisas a outros professores que estavam em outras salas, sobre o
campus ou mesmo sobre acontecimentos mais distantes. Os estudantes
relatavam fatos com bastante preciso, que eram facilmente verificveis
pelo telefone. O famoso mdium Edgar Cayce podia fazer algo semelhante
quando se encontrava em transe profundo. Ele chamava a isso de estar
temporariamente habitando o corpo de algum. Se lhe fossem dados o
endereo e o nome de uma pessoa especfica, ele podia fornecer notcias
acuradas sobre as atividades dela. Em 1840, um sapateiro do Maine,
Phineas Quimby, podia localizar desse modo pessoas desaparecidas, e
tem-se relatos de que ele curava habitando corpos, assumindo as molstias
para si, e retomando para seu prprio corpo sadio para descartar-se da
doena. (Muitos xamans seguem este mesmo procedimento para realizar
curas.)
Os doutores Targ e Puthoff, do Instituto de Pesquisa de Stanford,
ambos renomados cientistas que trabalham com laser, com muitas patentes
registradas, produziram recentemente um efeito de natureza semelhante.
Algumas cobaias, incluindo professores de Stanford que at ento no
eram mdiuns, sentam dentro de uma gaiola de Farady (que seleciona
ondas eletromagnticas ou outros meios de fraude) e fornecem (geralmente
para grande surpresa sua) relatos precisos de reas-alvo visitadas por um
dos pesquisadores naquele momento. D-se ao pesquisador um envelope
fechado contendo o nome da rea-alvo a ser visitada, e ele vai at l
enquanto que a cobaia que est na gaiola de Farady relaxa e relata as
impresses que vo surgindo em sua mente. Na maioria dos casos, essas
impresses so as da rea-alvo. Targ e Puthoff fizeram essa experincia com
cerca de cinqenta e cinco pessoas, inclusive cientistas e outros profissio
nais, e obtiveram resultados impressionantes.
No entanto as experincias de Robert Monroe talvez sejam as mais
fascinantes que qualquer pessoa de nosso tempo teve, com exceo talvez
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Captulo 22
A Segunda Vinculao:
Yin e Yang
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possibilidades e lugar seguro. Sem isso ele volta e usa sua fora para
violentar. Ele violenta rudemente ou com sofisticao, isto , corporal ou
intelectualmente, violando a Terra-matriz com tecnologia. E ele, ento,
tem a coragem de estabelecer todo um sistema de critrios culturais a fim
de julgar a inteligncia de acordo com o sucesso que se tem na violao da
matriz. No nenhuma surpresa que, nesse esquema de critrios, a mulher,
que no impelida autoviolentao, aparea com bastante inferioridade.
A diferena entre o impulso para a violentao do corpo fsico de
uma mulher em particular e para o corpo fsico da Terra viva somente
uma diferena de grau (talvez de grau universitrio). Na raiz est o mesmo
desequilbrio. O homem no-vinculado no possui um lugar seguro, e
volta-se para forar isso a partir da matriz. Domin-la toma-se sua paixo,
viol-la, se preciso for, para ganhar dela aquele impalpvel nutriente
mgico que toda mulher parece ter, mas que o homem no-vinculado no
pode conseguir ou arrancar dela. Jean Mackellar deixa claro que o apetite
sexual tem pouco em comum com o fato de os homens violentarem. A
atratividade sexual, no sentido social comum, tambm no desempenha
um papel importante; mulher de oitenta anos est to propensa a ser
violentada quanto a de vinte. O prprio estuprador no compreende a
verdadeira fome que o impulsiona.
Nossos grficos atuais sobre a inteligncia indicam graves desequil
brios, e no a inteno da natureza. Um verdadeiro grfico sobre as
inteligncias masculina e feminina no mostraria uma curva de extremos
violentos para o homem e uma linha desinteressante e horizontal para a
mulher. Com este tipo de diviso, todos saem perdendo. Ao invs disso,
um verdadeiro grfico sobre as inteligncias do homem e da mulher deveria
parecer-se como uma espiral dupla, a unio de um par idntico e no
entanto diferente, enrolados juntos, mas no entanto separados, nenhum
dos dois podendo funcionar bem sem o outro, ambos funcionando atravs
dos laos que ligam suas espirais de vida para a interao de energia.
Pensem no desenvolvimento geral da inteligncia durante os trs
estgios que delineei. O mesmo ciclo de competncia que subjaz a qualquer
ato de aprendizagem subjaz t&nbtn a este desenvolvimento geral. Os
primeiros sete anos esboam um conhecimento da matriz da Terra viva
qual nos deveramos vincular em nossa individuao por volta dos sete
anos; os prximos sete anos fazem o acabamento dos detalhes deste
conhecimento do existir, sendo os detalhes as interaes entre o eu e a
matriz; a parte final do ciclo, que talvez s comece nos prximos sete anos,
da adolescncia maturidade, o estgio da prtica e variao, onde se
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268
criana mgica (o que s pode ser feito atravs da modelao fsicomental), os pais ento praticam, aperfeioam e aprendem a variar seu
prprio conhecimento sobre o desenvolvimento da existncia. um siste
ma perfeito.
Quando o estgio parental chega ao fim, as preparaes para a
mudana de matriz final devem comear a ser feitas, a mudana para que a
mente venha a ser sua prpria matriz. Isso significa que a mente deve
separar-se funcionalmente das operaes concretas do crebro. A mente s
pode fazer isso relacionando-se com outra mente para obter o fluxo de
energia necessrio, e a vinculao masculino-feminino deveria proporcionar
isso. O meio seria novamente o processo primrio, a mente em expanso.
Finalmente, a mente ou personalidade, pode relacionar-se apenas com o
processo primrio, e assim ser capaz de funcionar independentemente do
corpo fsico, do crebro ou do mundo. Deste modo, quando o ciclo da
vida, conforme o conhecemos, termina, a prxima mudana de matriz,
para a mente em expanso, j ter sido devidamente preparada, estando os
vnculos assegurados. Nosso impulso de trs bilhes de anos para isso no
deixou nada sobrando. A matriz sempre est presente. Sempre temos um
lugar para onde ir, se a vinculao adequada foi feita. A segunda vinculao
incorpora todas essas transies, e , portanto, uma das experincias mais
impressionantes e profundas da vida, com um estgio especfico para o
final da adolescncia e o comeo da maturidade. Em geral, este grande
movimento frustrado por causa da ansiedade, e termina em p e cinzas,
mas seu sisgnificado profundo e universal sentido por todos ns em uma
ou outra ocasio. Do mesmo modo como em nossa maioria passamos a
vida a procurar a matriz da me-Terra que est faltando, tambm passamos
nossas vidas procurando pelo amor que a segunda vinculao deveria
conter. Como sempre, ficamos estagnados no fsico e no concreto, procu
rando neles aquele grande elemento de mente-esprito que est faltando.
Em algum lugar de nossos coraes partidos, sempre sentimos isso, apesar
de termos uma compreenso muito fraca de como e onde as coisas no
deram certo.
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Capitulo 23
Renovando a Promessa
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como toram dadas ao pai da criana que estava sangrando; e, como aquele
pai, ela sancionou um lugar seguro que esses jovens nunca haviam conheci
do. Por aquele breve perodo de tempo, eles estiveram vinculados, suas
feridas tambm sararam, e eles choraram.
Uma outra histria nos foi contada por uma senhora mais velha e
muito querida. Posso garantir sua autenticidade, apesar de seu aspecto de
filme de terceira categoria.
O ano era 1903. Ela tinha nove anos de idade e estava passando um
ano com os avs em um stio no Kansas. Era uma regio agreste, naqueles
tempos, com stios solitrios espalhados por toda a terra. Seus avs eram
fundamentalistas Bible-bel,* referiam-se ao Senhor conforme respiravam,
numa espcie de reforo semntico de seu sistema de crenas. Por exem
plo, em suas portas nSo havia fechaduras porque achavam que isso coloca
ria sua confiana e sua f fora do Senhor.
Numa noite fria e chuvosa, o av, pregador ambulante e tambm
fazendeiro, foi chamado para ficar com um membro de seu rebanho que
estava morrendo e deixaram a menina dormir com a av, um grande prazer.
Elas esquentaram a casa com a lareira totalmente aberta, e a av tinha jun
tado fogo para toda a noite (amontoando cinzas por sobre a lareira cheia
para impedir que a lenha queimasse com rapidez). Havia um brilho corde-rosa suave pelo quarto. Pelo meio da noite, a meninazinha acordou num
sobressalto com uma sensao de pnico. Sua av estava sentada, e a pe
quena sentou-se imediatamente, vendo, enquanto abria os olhos e se mo
via, a figura de um homem enorme e pesadona, com chuva pingando de seu
queixo, segurando bem alto um grande pedao de lenha. Ela sentiu um
grito subir pelo estmago, mas a av a tocou e ela foi invadida por-um mar
de calma.
A av estava dizendo ao homem: Estou contente de que voc tenha
encontrado nossa casa. Voc veio ao lugar certo. A porta estava destranca
da para voc. Voc bem-vindo aqui. Est uma noite feia para sair. Voc
est molhado, com frio e com fome. Pegue esta lenha que voc tem a, v
l dentro e acenda o fogo da cozinha. Deixe-me vestir um agasalho, e j
irei arranjar umas roupas secas para voc, preparar-lhe uma refeio quentinha e um lugar onde possa dormir: atrs do fogo, que quente e agra
dvel.
Ela no disse mais nada e esperou com calma. Seguiu-se uma longa
* N. da T.: rea no Sul dos EUA, onde a Bblia interpretada literalmente
e obedecida cegamente.
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curso tomar. Eu fao de conta que sei e descubro, para meu encanto e
incessante surpresa, que o mundo l fora se curva ao meu desejo. E qual
meu desejo? o de que se eu responder s necessidades da situao, estas
necessidades sejam satisfeitas. No tenho de tentar imaginar qual a escolha
correta entre as mirades de possibilidades; tenho de dizer sim minha
intencionalidade. Ento as palavras e as aes certas me sero dadas.
Deus trabalha, o homem joga ou esse o modo como est
montado o esquema, e como deve ser. Eu gosto que seja assim. Quando
tento fazer todo o trabalho, tento ser Deus, e fao a maior confuso.
Quanto mais eu jogar, mais Deus trabalhar. s vezes somos apanhados no
remoinho deste trabalho-jogo. s vezes tudo pega fogo nessa espiral de
trabalho-jogo, uma espiral de jogo como aquela que Blaise Pascal experi
mentou e rabiscou naquela folha de papel numa noite maravilhosa: Fogo!
Fogo!, ele escreveu, no o deus da filosofia, mas o Deus de Abrao, de
Isaac e de Jac. Ele havia entrado no jogo, nunca foi o mesmo novamen
te, e carregou sua resposta rabiscada no forro do casaco, perto do corao,
por toda a vida.
Talvez essa no seja uma receita muito detalhada, mas satisfar as
necessidades de qualquer criana que estiver sob nossos cuidados o filho
que geramos ou geraremos, concebemos ou conceberemos, e esta criana
gerada eternamente dentro de ns.
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NOTAS
Captulo 1. Prom essa Feita: A Herana Magnfica
1. Ver Thomas Lewis, The Lives o f a C ell
2. Em resposta s acusaes dos psiclogos de que inconcebvel que tanta infor
mao possa formar-se no crebro, sem uma interao entre o comportamento e o
meio ambiente, Blurton Jones afirma: Muitos zologos j se conformaram com
o fato de que a seleo natural capaz de produzir qualquer faanha. Ver Jones,
E thological Studies o f Child B ehavior, p. 16.
3. Numa conferncia recente, Karl Pribram detalhou mais tua teoria do crebro en
quanto holograma, e declarou que tambm a Tetra um holograma. Deite modo,
o holograma microcsmico individual reflete o macroosmlco, uma idia aceita e
praticada no Oriente. Entramos no reino do pensamento operacional agindo de
volta para o holograma macrocsmico. Ver Pribram, Language o f The B rain, Cap
tulo 8.
4. Ver Greenough, The N ature and N urture o f Behavior.
5. Ver Jerome Brunei, The Relevance o f E ducation, p. S3. Bruner fab a favor da
noo atual de que uma infncia prolongada necessria para que o conhecimento
cumulativo da cultura seja ensinado criana. Hans G. Furth no adapta um curr
culo para o mercado to bem, mas bem mais preciso. Algumas linhas de Furth
so pertinentes aqui: O desenvolvimento da inteligncia no o resultado de
algum fator externo, mas de uma fora reguladora interna que no depende unica
mente, ou sobretudo, dos objetos com os quais o intelecto est em contato. Ver
Furth, Piaget fo r Teachers, p. S. A inteligncia tem suas prprias leis de desenvol
vimento interno... suas aquisies sucessivas no so simplesmente acarretadas por
adies cumulativas do meio ambiente social ou fsico da criana. Ver Furth,
Piaget and K nowledge, p. 222. Bruner (na p. 57 do The Relevance o f E ducation)
considera as cinco maiores foras civilizadoras como sendo a criao de ferramen
tas, a linguagem, a sociedade, o adestramento da infncia e a compulso para ex
plicar. No entanto, construmos ferramentas na razo direta de nossa perda de
poder pessoal; o impulso para a linguagem codificado geneticamente e usado
para maiores capacidades do que as que Bruner v: temos no uma sociedade,
mas uma cultura imposta legalmente baseada em sistemas de idias semnticas ao
invs de relacionamentos em interao; gerimos a infncia como gerimos a polti
ca, as indstrias e/ou qualquer sistema de idias semntico e no conseguimos, de
modo algum, cuidar da inteligncia da criana; e comeamos a explicar compulsivamente quando comeamos a perder nosso poder de agir. Na pgina 120 da mes
ma obra, Bruner clarifica o assunto em questo citando Washburn: Sem a cultura
e as ferramentas, o homem estaria entre os primatas irrelevantes ecologicamente.
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Esta conversa superficial ignora que o homem est nesta Terra h trs milhes de
anos ou mais, e que no se pode ter um sistema cerebral que no funcione, pelo
menos em parte como o nosso funciona agora, de acordo com esta estrutura cere
bral. H inmeras provas de que as civilizaes superiores surgiram e desaparece
ram pelos milnios. Uma sociedade onde as pessoas funcionassem totalmente com
os trs modos de inteligncia que temos dentro de ns no precisaria de ferramen
tas, e no deixaria artefatos. O trabalho de vinte e cinoo anos de Hans Furth com
crianas congenitamente surdas (que no tm acesso algum a qualquer sistema
lingstico) mostra que, no entanto, estas crianas desenvolvem a inteligncia ea
lgica em um tipo de desenvolvimento ordenado e lento, como foi esboado por
Piaget. Essas pessoas aprendem a funcionar em um tipo de meio ambiente essen
cialmente hostil, com adversidades violentas e sem o processo semntico, a ferramenta-chave em torno da qual nosso sistema de realidade construdo.
Quando Bruner afirma (na pgina 122 do The Relevance o f Education) que
qualquer assunto pode ser ensinado em qualquer idade de alguma forma, est
afirmando uma meia-verdade desastrosa. O problema no se podemos deste mo
do construir a mente que est emergindo. Pelo contrrio, o que apropriado s
necessidades da criana num determinado estgio. Falamos de uma tecnologia
cega, mas esta tecnologia no nada mais do que os produtos principais de nosso
sistema de educao, mentes muito bem adestradas e ensinadas de acordo com a
noo de um aprendizado acadmico cada vez mais precoce. Uma tecnologia cega
violentando a Terra significa mentes cegas treinadas para dirigir este sistema.
Captulo 2. Mudanas de Matriz: Do Conhecido ao Desconhecido
1. A morte a abstrao ltima que parte da concretitude para a qual o sistema se
orienta. A mente nunca o contedo da experincia, mas, pelo contrrio, a
capacidade de interagir obtida atravs desta experincia. A natureza nunca d
origem a uma mudana de matriz, sem proporcionar uma vinculao plena ou
sem estabelecei pontos de semelhana com a prpria matriz, porque isto seria
auto-anulador. Assim, a vinculao a essncia do desenvolvimento intelectual. A
maturao ser automaticamente uma vinculao com a matriz que se segue
morte fsica.
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fato altamente estimulante e respondero por vinte minutos seguidos de cada vez,
para fazer com que ele (peekaboo) ocorra... mesmo bebs de somente duas sema
nas podem dar quatrocentos dessas respostas sem demonstrar cansao. Ver
Bower, The Visual World of the Infant. (Lembrem disto quando discutirmos o
jogo.)
Em 1967, Hanus Papousek narrou a experincia de se deixar bebs com fome
para ver se a comida, enquanto estimulo, aumentaria uma resposta de aprendiza
gem. (Isso funciona com ratos.) Ele comeou a ouvir sobre experimentos nos
quais, caso os bebs resolvessem corretamente o problema e ligassem a chave
certa (virando a cabea), seriam recompensados com um peito para amament-los.
Uma respost? com a soluo errada traria um peito sem leite. Deste modo, teorica
mente, quanto mais fome tivessem, mais atentos ficariam. Papousek tem fotografias adorveis de bebs de trs meses sorrindo depois de terem aprendido a prever
qual seria o lado onde apareceria o peito que amamentava depois que tocasse um
sinal Ora, o fato interessante era que os bebs estavam sorrindo por terem anali
sado corretamente e respondido ao conjunto de sinais, e no por terem obtido o
alimento. Pois apesar de terem fome, eles acabavam mamando e a todo instante
voltavam-se impacientemente para o pesquisador com um sorriso radiante de pra
zer por terem conseguido acertar, querendo brincar novamente. A recompensa
intrnseca do jogo mostrou ser mais forte do que a recompensa extrnseca do
alimento. Ver Papousek, Estudos Experimentais do Comportamento de Apetn
cia em Recm-Nascidos e Bebs.
Em 1970, Kalnins fez uma pesquisa sobre a resposta visual dos bebs. Ele repa
rou que os bebs comeam a sugar automaticamente quando um seio colocado
em suas bocas, e montou um seio eletrnico que registrava o nmero de sugadas
por minuto. Ele colocava o beb, com este seio eletrnico, diante de uma tela de
cinema onde era mostrado um filme fora de foco. Se o beb atingisse determinada
velocidade no sugar (estatisticamente provvel), esta velocidade poria o filme em
foco. Assim, se o beb pudesse distinguir entre uma projeo em foco e uma fora
de foco, talvez preferisse a que estava em foco, associasse a velocidade de sugar
com a resposta visual, e esforar-se-ia para manter o foco. H mais uma dificulda
de no fato de o bebS ser incapaz de sugar e focalizar ao mesmo tempo: esses dois
treinamentos absorvem a ateno total do crebro. No entanto, os bebs com
preenderam facilmente e, alm disso, estabeleceram um sutil equilbrio entre colo
car o foco necessrio atravs da velocidade de sugar adequada e depois focalizar o
olhar para apreciarem o espetculo. Quando a aparelhagem registrava a falta de
sugar e tirava o filme de foco, os astutos bebs recomeavam a sugar para coloca
rem foco novamente, atingindo um equilbrio perfeito que mantinha um foco
mximo com ateno mnima ao sugar. Quando os bebs compreenderam isso, os
pesquisadores mudaram a velocidade do sugar necessria para manter o foco bem
no meio do experimento. Os bebs normais precisaram de uma mdia de quatro
segundos para entenderem esta mudana e restabelecerem a nova velocidade de
sugar. Fez-se ento uma troca. Quando o jogo j estava bem firmado, colocaram
os bebs diante de uma tela com um filme j em foco. Eles imediatamente entra
ram no padro rtmico adequado de sugar-focalizar a fim de apreciarem o espet
culo. No entanto, desta vez, quando sugavam, o filme tornava-se indistinto. Os
bebs normais precisaram de oito segundos para entenderem esta inverso total e
adaptarem-se ao novo padro.
3. A veracidade da sincronizao do beb com a fala foi garantida por estudos subse
qentes. Marshall Klaus, numa conferncia-demonstrao em So Francisco
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(1976), mostrou o filme de me que repetia uma frase para seu beb muito ativo.
Quando o filme foi mostrado em cmara tenta, viu-se que os movimentos do beb
eram idnticos em cada repetio da frase, como se fossem passos de dana que
acompanhavam as palavras.
4. Suzanne Arms descreve como esta posio dilaceradora, e de modo algum natural,
teve seu incio no Ocidente. Lus XIV ficava sexualmente excitado quando via
suas amantes darem luz. Em virtude da posio agachada ou de ccoras (empre
gada quase universalmente), ele no conseguia ver bem e mandava seus servidores
colocarem a pobre mulher deitada de costas. Os mdicos emularam este nobre
exemplo, e isso se tornou a moda, o que todos deviam fazer. Depois virou um
costume, e portanto inquestionvel. Partos longos e difceis, fazendo com que os
cuidados que se seguiam ficassem quase impossveis, comearam assim o crculo
vicioso.
5. Um grande amigo meu, mdico oftalmologista, ficou muito transtornado com
declaraes feitas em palestras, por Windle e outros de que o corte do cordo um
bilical antes da hora ocorria na maioria dos partos mdicos. Ele chamou a ateno
para o fato de que todos os livros de obstetrcia enfatizavam o fato de se deixar o
cordo absolutamente intacto at que toda atividade cessasse. Ele no podia acre
ditar que os mdicos tivessem abandonado uma necessidade to bvia e banal.
Apesar disso, um jovem mdico, com cerca de trs anos de formado, contou-me
que, durante seu estgio de interno em um grande hospital ocidental, tinha feito
dez partos sob superviso e que tinha sido instrudo para no s cortar o cordo
logo que pudesse como tambm para sacudi-lo a fim de expulsar a placenta - o
mais rpido possvel para deixar a sala de partos livre. Duas enfermeiras que traba
lham com obsterda afirmaram que os fatos que apresentei estavam, de certa
forma, atenuados e que a situao real era bem mais sinistra.
6. M. P. M. Richards relata as vrias formas que o pethiknfan, a droga mais usada na
Inglaterra, afeta tanto a me como o recm-nascido, e como as respostas fsicas
deste (a primeira inspirao etc.) so bem mais retardadas e ainda mais por semanas
mais tarde. O que mais srio que os estudos de Richards mostraram como as
relaes me-beb ficavam surpreendentemente alteradas por causa do estado dro
gado de ambos, padres de relacionamento que nunca mais mudariam, e que esta
beleciam o quadro para todo o perodo da infncia. Ver Blurton N. Jones,Ethobgical Studies o f Chd Behavior, Cap. 7.
7. Ver Suzanne Arms, Immaculate Deception.
Captulo 7. Rompendo o Vnculo: Nosso Fim Est em Nosso Comeo; Nosso Come
o Est em Nosso Fim
1. Jean Mackellar consta aqui sob a forma de uma comunicao pessoal.
2. Ver Blurton N. Janes,Ethological Studies o f Chd Behavior, Cap. 11, pp. 305-328.
3. Tm-se acumulado dados desde 1940, mostrando danos especficos aos bebs e
relao me-beb. Montagu d provas ntidas disso em seu Prenatal Influences.
4. John Ott, o criador da fotografia em time-lapse *, e atualmente considerado a
maior autoridade em efeitos de luz sobre coisas vivas. Seu filme documentrio
mostra claramente os efeitos prejudiciais da luz fluorescente, sobretudo do espec
tro rosa, sua influncia sobre o cncer, leucemia e hiperatividade em crianas. Mais
* N. da T.: Fotografia que capta os vrios momentos de uma ao, por ex., a abertu
ra de uma flor em boto, e que, se projetada em filme, mostra esta ao acelerada.
283
e mais escolas esto sendo construdas sem janelas (as crianas ficam olhando para
fora desejando o mundo onde deveriam estar) e iluminadas com luz fluorescente.
5. Em 1924, Otto Rank, baseado no disparate de Freud, escreveu que a vida no
tero era a beatitude perfeita e que o nascimento constitua um trauma to
grande que passamos nossas vidas procurando por um substituto do tero ou
por um retorno ao tero. Certamente, o organismo constitudo para ter ciclos
de desenvolvimento de estresse-relaxamento, e toda a idia freudiana sobre a
beatitude ocenica do tero com sendo a origem da religio etc., tanto como
sua idia de que o estresse causa a ansiedade e de que o organismo tenta evitar o
estresse um puro disparate.
6. O choque do abandono o problema que enfrentamos. No damos importncia
ao fato de abandonarmos o beb. Os comerciais de televiso mostram as jovens
mes do lado de fora do berrio com suas paredes de vidro, apontando docemen
te para seus bebs abandonados, enquanto uma doce msica tocada e vozes
suaves vendem fraldas descartveis perfumadas.
Captulo 8. O Conceito: Voc Pode Ver?
1. Uso a teoria dos hemisfrios direito e esquerdo como modelo, um exemplo em
funcionamento de como devem ocorrer as funes. A funo o fato;o modelo
nada mais que a tentativa de se representar a funo graficamente. Por exemplo,
falamos do crebro como um computador, e podemos ento reparar em nossas
mquinas que computam, e descobrir um modelo para uma funo. Mas equiparar
o modelo e a funo enquanto teoria arriscado.
Capitulo 10. Formando a Matriz
1. A me-modeio baseada em conversas com mes recentes pelo pais e em descri
es encontradas nos trabalhos de LeBoyer, Geber, Ainsworth, Klaus e outros.
Em um seminrio, uma jovem inglesa, trazendo dois saudveis e radiantes jovens
a reboque, contou sobre seus dois partos em casa, feitos por ela mesma. Ela tran
cou a porta para assegurar sua privacidade, pois queria que esta experincia fosse
totalmente sua, e entrou em xtase as duas vezes.
2. Sentir o beb no tero vital, e no uma hiptese romntica. Mas difcil em am
bientes de barulho, confuso, hostilidade e ansiedade. A proporo sinal-rudo
um problema, como em todo o processamento primrio, mas o estado medita
tivo ou natural abre a pessoa para as comunicaes naturais.
3. Marshall Klaus disse que a me tinha uma espcie de cola em sua mente durante
a primeira hora aps o parto que serviria para selar este novo beb bem dentro de
la. A presena de outras pessoas tenderia a cortar esta energia magntica. A priva
cidade fundamental.
4. O banho momo certamente optativo, mas no deve ser desprezado. O principal
que se estabeleam pontos de semelhana entre as novas e as antigas matrizes,
mas os indcios devem ser tirados a partir do beb e qualquer ritual sem sentido
deve ser evitado.
5. A amamentao logo aps o parto age imediatamente sobre os msculos abdomi
nais, pondo o tero em forma novamente, e dando o tnus de toda a regio no
vamente.
6. Uma tipia de carregar deveria fazer parte do vestirio da me, permitindo que o
beb nu permanea em contato com seus seios descobertos. Problemas srios de
esquentamento do corpo so assim evitados, e o beb pode alimentar-se constan
temente, manter o contato dos olhos com a me, e receber o to necessrio est
mulo da pele humana. Por sua vez, a me est prxima para sentir o estado geral
284
do beb e responder adequadamente. Alm disso, ela est livre para prosseguir em
suas atividades normais.
Capitiulo 11.0 Mundo Como Ele
1. A capacidade inteligncia, e no o recordar de informaes. O crebro no pro
cessa a capacidade atravs de uma verificao da memria com aquilo que ela se
deparou anteriormente; ele faz isso verificando as capacidades adquiridas por meio
de interaes prvias. Os msculos de um levantador de pesos formam-se por trei
namento, mas seu corpo no verifica todos os levantamentos j feitos para ativa
rem seus msculos. A capacidade uma condio, uma aptido independente de
qualquer processo para se chegar a esta condio. A maior parte daquilo que os
jovens aprendem na escola torna-se obsoleta quando eles se formam. Assim, a in
formao no tem valor. Ela no fornece a capacidade de interagir com uma ex
tenso maior de experincia; pelo contrrio, ela fomece a capacidade de interagir
com um tipo de sistema semntico fechado autoverificador, limitado e altamente
especifico. Isso no inteligncia em nenhum sentido.
Capitulo 12. Acabamento dos Detalhes
1. As crianas parecem ver o mundo do mesmo modo at cerca dos sete anos de ida
de, em culturas diferentes. Os desenhos de uma criana de quatro anos do Kansas
so praticamente idnticos aos de uma criana de quatro anos do Timbuctoo. De
pois dos sete anos, as diferenas culturais comeam a aparecer. Ver Rhoda Kellog,
Analyzing Childrens Art.
2. Piaget afirmava que o que vemos no uma indicao daquilo que realmente est
presente. Em seu artigo Os Recursos da Percepo Binocular no Sistema Visual,
John Ross explorou esta caracterstica editorial da percepo, descrevendo-a
como a interpretao inconsciente de dados visuais, onde o crebro decide o
que vai ver. Registros visuais so consultados antes que qualquer coisa seja vista,
d modo que a viso uma faculdade critica capaz de tomar decises e de rejei
tar informaes, aparentemente sobre uma base esttica. Alm disso, aparente
mente idealizamos o que vemos. O sistema visual talvez tenha um programa, uma
disposio para perceber formas no espao e no tempo. O que vemos uma in
terpretao. Adotamos uma atitude perceptual para podermos compreender o
mundo (ou, diria eu, para fazermos com que o mundo se conforme ao nosso
sistema semntico).
3. A atividade cerebral praticamente incessante. Esta atividade conceituai produzi
r perceptos por meio de suas prprias aes, se estmulos perceptuais no esti
verem disponveis para os sentidos. O isolamento sensorial, onde no h entrada
de informaes, estimula este sistema conceituai a produzir seus prprios estmu
los sensoriais. A experincia percebida a mesma em ambos os casos, um percepto um percepto. Tenham isso em mente quando eu falar sobre a criao de ex
perincias de realidade ou criaes de realidades compartilhadas.
4. Richard Curtis, de St. George Homes, em Berkeley, Califrnia, relatou uma ex
perincia semelhante com uma paciente esquizofrnica adolescente. Ela solici
tou-lhe que pedisse aos terrveis demnios que a estavam conduzindo e importu
nando que a deixassem em paz; ele concordou, e foi com ela encontrar com os
demnios e para ordenar-lhes que fossem embora. E eles foram. Ver Charles
Tart, Altered States o f Consciousness, e o relato de Kilton Stewart sobre uma
tcnica parecida usada pelos Senoi.
Captulo 13. Diviso do Trabalho: O Nascimento do Eu
1. As observaes feitas por Lee Sannella, M.D., em Psychosis or Transcendence?
levaram a toda esta sntese.
285
286
a, s para desconstruir esta construo no hemisfrio direito por vo!ta dos doze
anos. Ele observou que em nenhuma parte da natureza se encontra um tal desper
dcio de economia. Dei, ao menos, uma parte da resposta: O que deveria ter sido
uma separao funcional para uma relao em interao toma-se, atravs do con
dicionamento de ansiedade, uma diviso, o equilbrio desequilibrado. Certamente,
a maturao lgica e o desenvolvimento do pensamento abstrato exigem uma
separao entre palavra e coisa e entre mundo e eu, mas no mesmo sentido que a
separao do beb do tero para um maior relacionamento e no para o isolamen
to e o abandono.
5. A intemalizao da fala uma das maiores ferramentas da lgica para o pensamen
to abstrato, como Bruner to bem analisou. O que a natureza no pretendeu foi a
fala interna como mecanismo de feedback compulsivo para manter um sistema se
mntico que no autntico.
6. Ver Joseph Chilton Pearce, Exploring The Crack in the Cosmic Egg, para uma des
crio muito bem feita sobre a conversao interior. Antes dos nove ou dez anos,
a mente da criana silenciosa; os sistemas de feedback da linguagem ainda no
so empregados como estabilizadores semnticos porque o sistema de realidade
semntica ainda no totalmente dominante.
Captulo 19- O Ciclo da Competncia Criativa
1. As crianas que lem espontaneamente ou aprenderam a ler muito cedo tiveram
pais que leram para elas exaustivamente ou que faziam uma leitura de faz-de-con
ta. A criana, que tem as necessidades de sua fantasia satisfeitas dessa maneira
(contar histrias seria bem melhor), compreende o sistema e aprende a ler para po
der entrar livremente neste mundo do espao interior. Furth afirma que crianas
que esto comeando a ler, no colgio, fazem-no bem para manter uma vinculao
sancionada com pais e professores, indo contra o fluxo natural do sistema corpo
ral, a fim de evitar o abandono por parte de seus superiores. Ver Futh, Piaget and
Knowledge e Piaget for Teachers. H mais uma observao sobre os efeitos poss
veis da alfabetizao precoce e sua rotura da funo biolgica: 100 anos atrs, as
mulheres na Escandinvia tinham sua primeira menstruao em mdia aos dezesse
te anos. Hoje, aps um sculo de alfabetizao precoce, a mdia aos quatorze
anos. As mulheres do Mediterrneo tinham sua primeira menstruao aos quatorze
anos, em mdia; hoje aos onze anos que isto ocorre. No comeo deste sculo,
Rudolph Steiner afirmou que a aprendizagem acadmica precoce acelerava a se
xualidade genital, assunto que precisa de pesquisa cuidadosa.
Captulo 20. O Pensar Sobre o Pensar: As Operaes Formais
1. Ver Edmund Carpenter, Eskimo Realities.
2. Simplifiquei os estudos detalhados de Piaget sobre este fenmeno.
3. Ver Jerome Bruner, The Relevance o f Education, p. 27.
4. Ver Marilyn Ferguson, The Brain Revolution, e O.W. Markley, Suggestology.
Captulo 21. A Viagem Atravs da Mente: A Realidade Criativa
1. Ver Joseph Chilton Pearce, The Crack in the Cosmic Egg, para uma discusso de
Kekule.
2. Ver Ann Faraday, The Dream Game, e Charles Tart, Altered States o f Conscious
ness.
3. Ver Tart, Altered States o f Consciousnees.
287
BIBLIOGRAFIA
A fim de tomar este estudo mais compreensvel e sem barreiras, acres
centei referncias diretas para uma pesquisa mais profunda, com algumas
excees. A utilizao desse material por mim foi geral e sintetizada. Gran
de parte desse material foi gentilmente enviado por pessoas que participa
ram de meus seminrios, e todos me foram de grande valia. Mas apenas
posso dizer que concordo com a inteno, atitude e concluses da pesquisa
em todos os casos.
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