O CONTENCIOSO ELEITORAL PORTUGUÊS Jor Ge MIRANDA
O CONTENCIOSO ELEITORAL PORTUGUÊS Jor Ge MIRANDA
O CONTENCIOSO ELEITORAL PORTUGUÊS Jor Ge MIRANDA
Jorge MIRANDA*
SUMARIO. I. Evoluo do contencioso eleitoral poltico. II. mbito do
contencioso eleitoral poltico. III. Contencioso eleitoral poltico e contencioso administrativo. IV. Caractersticas do contencioso eleitoral
poltico. V. O regime processual.
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Na maior parte das experincias mais recentes, domina o segundo modelo. Tanto quanto sabemos, s no Brasil, desde 1934, existem tribunais
eleitorais, com jurisdio prpria, embora compostos, na sua maior parte,
la historia constitucional espaola, Revista de Estudios Polticos, no. 99, Janeiro-Maro de
2000, pp. 175 e ss.; Ghevontian, Richard et al., Actualit du Droit constitutionnel lectoral-Le contentieux de llection prsidentielle des 21 avril et 5 mai 2002, Revue Franaise
de Droit Constitutionnel, 2002, pp. 615 e ss.; Rosenfeld, Michel, Bush contre Gore: trois
mauvais coups politiques la Constitution, la Cour et la Dmocratie, Les Cahiers du
Conseil Constitutionnel, 13, 2002, pp. 81 e ss.; Rosas, Roberto, Justia eleitoral: rapidez e
eficcia, Direito Pblico, Julho-Setembro de 2003, pp. 83 e ss.; Torgol, Sylvie, Le contentieux des lections lgislatives: rflexions autour dun contentieux risques, Revue du
Droit Public, 2004, pp. 1211 e ss.
Quanto a Portugal, vid. Atade Amaro, Maria, Contencioso eleitoral no Direito
constitucional portugus, Estudos de direito eleitoral, obra colectiva, Lisboa, 1996, pp.
577 e ss.; Fraga, Carlos, Contencioso eleitoral, Coimbra, 1997; Ribeiro Mendes, Armindo,
A jurisprudncia do Tribunal Constitucional em matria eleitoral, Eleies, no. 4, dezembro de 1997, pp. 9 e ss.; Freire Barros, Manuel, Natureza jurdica do recurso contencioso
eleitoral, Coimbra, 1998; Miguis, Jorge, O contencioso e a jurisprudncia eleitoral em
Portugal, Eleies, no. 9, setembro de 2005, pp. 59 e ss.; Gomes, Carla, Quem tem medo
do Tribunal Constitucional? A propsito dos artigos 103-C, 103-D e 103-E da LOTC,
Estudos em homenagem ao Conselheiro Jos Manuel Cardoso da Costa, obra colectiva,
Coimbra, 2003, I, pp. 585 e ss.
2 Tambm j houve sistemas mistos. Na Constituio de Weimar previa-se um tribunal
de verificao das eleies (que tambm decidia da perda da qualidade de deputado), composto por membros do Parlamento, eleito por toda a legislatura e membros do Tribunal
Administrativo do Reich, nomeados pelo presidente do Reich, sob proposta do presidente
deste tribunal (artigo 31).
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13 Sobre a verificao de poderes v., a ttulo histrico, Rossi, Pellegrino, Cours de Droit
Constitutionnel, 2a. ed., Paris, 1877, p. 436; e em direito comparado, por todos, Delpre,
Francis, op. cit., nota 1, pp. 54 e ss.
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Como se trata de rgos constitucionais e tendo em conta a relativa fragilidade das solues at agora adoptadas, de jure condendo seria prefervel tambm conferir estas matrias ao Tribunal Constitucional.14
III. CONTENCIOSO ELEITORAL POLTICO E CONTENCIOSO
ADMINISTRATIVO
1. Se a eleio no se circunscreve ao direito constitucional, antes se encontra analogamente noutros sectores de ordem jurdica, tambm o contencioso eleitoral no se reduz ao contencioso eleitoral poltico: h tambm
contencioso eleitoral administrativo, civil, comercial, internacional, etc.
H quem faa a destrina ente contencioso eleitoral poltico e contencioso eleitoral administrativo em razo da qualidade do eleitor: entrariam no
primeiro os litgios surgidos em eleies em que a capacidade eleitoral, activa e passiva, radicasse exclusivamente na qualidade de cidado; ao passo
que na segunda a capacidade eleitoral seria aferida pela posse de um status,
a pertena a uma dada categoria profissional ou corporacional, uma qualidade jurdica especfica a averiguar em cada eleio.15 Embora sugestivo,
14 Diverso, evidentemente, o contencioso eleitoral relativo a pessoas colectivas de direito pblico, pertencentes administrao, o qual recai sobre os tribunais administrativos
[artigo 4o., no. 1, alnea m) do estatuto].
15 Freire Barros, Manuel, op. cit., nota 1, pp. 65 e ss.
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Ibidem, p. 166.
Cfr. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituio da Repblica Portuguesa Anotada, 3a. ed., Coimbra, 1993, pp. 523-524.
18 Assim, Vital Moreira, O direito administrativo na Constituio, AB UNO AD
OMNES 75 anos da Coimbra Editora, Coimbra, 1998, pp. 1151.
19 De resto, a norma constitucional de competncia dos tribunais administrativos (artigo
212, no. 2) pode e deve ser lida em termos de razoabilidade, sem implicar exclusividade rgida. A doutrina praticamente unnime.
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5. Prevalncia dos elementos objectivistas sobre os elementos subjectivistas,22 excepto no contencioso de inscrio no recenseamento e no
das candidaturas;23
6. Contencioso de plena jurisdio, porque, independentemente da anulao ou declarao de nulidade de um acto, o Tribunal Constitucional pode decretar uma providncia adequada a cada caso, com vista
plena regularidade e validade dos procedimentos24 e at substituir-se
entidade recorrida na prtica de um acto de processo sempre que tal
se torne necessrio;25 26
7. A j referida regra da no repetio da votao em assembleia de voto
(ou em crculo eleitoral), quando a nulidade verificada no afecte o
resultado da eleio.
V. O REGIME PROCESSUAL
1. Tm legitimidade para interpor recursos eleitorais:
a) No contencioso do recenseamento, qualquer cidado eleitor, partido
poltico ou grupo de cidado com assento nos rgos autrquicos da rea
do recenseamento27 (artigos 60, no. 1 e 63 da Lei no. 13/99);
b) No contencioso das candidaturas, os candidatos e os mandatrios,
bem como, nas eleies parlamentares, os partidos polticos concorrentes
eleio e, nas eleies locais, os partidos e os grupos de cidados concorrentes (artigos 30, no. 1 e 32 da Lei no. 14/79, artigo 34 do Decreto-lei no.
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Algo diferentemente, Freire Barros, Manuel, op.cit., nota 1, pp. 142 e ss.
Cfr. quanto Frana, Sylvie Torcot, op.cit., loc. cit., pp. 1215 e ss.
24 Cfr. Freire Barros, Manuel, op. cit., nota 1, pp. 137 e 149 e ss. e 166, notando que o
Tribunal pode admitir uma candidatura com substituio de um candidato por outro, ordenar alteraes na contagem dos votos, reformar o apuramento geral, etc. V., alm dos acrdos a mencionados (pp. 150 e 151), o acrdo no. 258/85, de 26 de novembro (in Dirio da
Repblica, 2a. srie, de 18 de maro de 1986), considerando que a deciso de recurso relativo s provas dos boletins de voto no pode limitar-se a revogar, se for caso disso, a deciso
em causa, devendo proceder igualmente definio do que haja de corrigir no caso.
25 Assim, Ribeiro Mendes, Armindo, op. cit., nota 1, loc. cit., p. 18, e acrdos citados.
26 Tambm de plena jurisdio o processo de contencioso eleitoral administrativo (artigo 97, no. 2, 2a. parte do Cdigo de Processo nos Tribunais Administrativos e Fiscais).
27 No contencioso eleitoral administrativa tm legitimidade qualquer eleitor ou elegvel
e, quanto s omisses nas listas eleitorais, qualquer pessoa cuja inscrio haja sita omitida
(artigo 98, no. 1 do Cdigo de Processo nos Tribunais Administrativos e Fiscais.
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28 Cfr., entre tantos, acrdo no. 262/85, de 29 de novembro, in Dirio da Repblica, 2a.
srie, no. 64, de 18 de maro de 1986.
29 E conforme se declara no Cdigo de Processo nos Tribunais Administrativos e Fiscais
[artigo 36, no. 1, alnea a)].
30 Cfr. tambm artigo 97, no. 2, 1a. parte, do Cdigo de Processo nos Tribunais Administrativos e Fiscais.
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