Efomm 2004 - So769 Portugue770s

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

PROVA DE PORTUGUS - EFOMM 2004

PARTE I - INTERPRETAO DE TEXTO

Leia, atentamente, o seguinte texto

O canarinho
Atacado de senso de responsabilidade, num momento de descrena de si mesmo, Rubem Braga
liquidou entre amigos, h um ano, a sua passarinhada. s crianas aqui de casa tocaram um bicudo
e um canrio. O primeiro no agentou a crise da puberdade, morrendo logo uns dias depois. O
menino se consolou, forjando a teoria da imortalidade dos passarinhos: no morrera, afirmou-nos,
com um fanatismo que impunha respeito ou piedade, apenas a sua alma voara para Pirapora, de
onde viera. O garoto ficou firme com a sua f. A menina manteve a possesso do canrio, desses
comuns, chamados chapinhas ou da terra, e que mais cantam por boa vontade que vocao. No
importa, conseguiu depressa um lugar em nossa afeio, que o tratvamos com alpiste, vitaminas e
folhas de alface, procurando ainda arranjar-lhe um recanto mais clido neste apartamento batido por
umas raras rstias de sol, pois quase de todo virado para o Sul.
Era um canrio ordinrio, nunca lera Bilac, e parecia feliz em sua gaiola. Ns o amvamos desse
amor vagaroso e distrado com que enquadramos um bichinho em nossa rbita afetiva. Creio
mesmo que se ama com mais fora um animal sem raa, um pssaro comum, um cachorro vira-lata ,
o gato popular que anda pelos telhados. Com os animais de raa, h uma afetao que envenena um
pouco o sentimento; com os bichos comuns, pelo contrrio, o afeto de uma gratuidade que nos faz
bem.
Aos poucos surpreendi a mim, que nunca fui de bichos, e na infncia no os tive, a program-lo
em minhas preocupaes. Verificava o seu pequeno cocho de alpiste, renovava-lhe a gua fresca,
telefonava da rua quando chovia, meio encabulado perante mim mesmo com essa sentimentalidade
serdia; mas que havia de fazer!
Como nas fbulas infantis, um dia chegou o inverno, um inverno carioca, verdade,
perfeitamente suportvel. Entretanto, como j disse, a posio do edifcio no deixa o sol bater aqui,
principalmente nesta poca do ano. a gente ficar algumas horas dentro de casa e sentir logo uma
saudade fsica dos raios solares. Que seria ento do canarinho, relegado agora rea, onde pelo
menos ficava ao abrigo da virao marinha? s vezes, quando sinto frio, vou esquina, compro um
jornal e o leio ali mesmo, ao sol, ao mesmo tempo que compreendo o mistrio e a inquietao dos
escandinavos, mergulhados em friagens e brumas durante uma boa temporada de suas vidas.
E o canarinho, pois? Lev-lo comigo dentro da gaiola, isso no, eu no tinha coragem. No
devo ter reputao de muito sensato, e l se iria (como diz Mrio Quintana) o resto do prestgio que
no meu bairro eu ainda possa ter. Assim, vendo o passarinho encorujado a um canto, decidimos
do-lo a um amigo comum, nosso e dos passarinhos, dono de um stio. A comunicao foi feita s
crianas depois do caf. Pareciam estar de acordo, mas o menino, sem dar um pio, dirigiu-se at a
rea e soltou o canarinho. A empregada viu e veio contar-nos.
Mas, cad o menino! Voara? Foi um susto que demorou alguns minutos, pois no o achvamos
em seus esconderijos habituais, enrolado na cortina, debaixo da cama, atrs da porta. Restava um
armrio muito estreito a ser investigado, e l estava ele, quieto e encolhido no escuro como no tero
materno, com uma cara de expresso to dividida, que o choro da menina se desfez em uma
gargalhada cheia de lgrimas.
1 de 7

O canrio tambm tinha sumido e, embora fosse quase certa a sua impossibilidade de ganhar a
vida por conta prpria, melhor assim, no voltasse nunca mais.
Mas voltou. Na hora do almoo, a empregada veio dizer-nos que ele estava na janela do
edifcio que se constri ao lado, muito triste. verdade. L est o canarinho, sem saber de onde
veio, sem saber aonde ir, sem saber ao certo se gostamos dele, triste, arrepiado e com fome. Um
ponto amarelo no paredo esbranquiado, l est o nosso canrio-da-terra, a doer em nossos olhos.
Vai-te embora, canarinho, que no te quero mais. Mas ele fica, brincando de corvo, dizendo
never more. Este refro never more me deixa meio esquisito. Estou triste. Todo mundo aqui de
casa est triste, ridiculamente triste, nesta manh luminosa de junho.
Paulo Mendes Campos

Com base no texto lido, responda ao que se pede, assinalando apenas uma alternativa certa
em cada questo.
1 Questo:
A idia-ncleo do texto est centrada
( a ) no consolo do menino, forjando a teoria da imortalidade dos passarinhos.
( b ) no canrio-da-terra.
( c ) na atitude de Rubem Braga, que liquidou entre amigos seus passarinhos.
( d ) no inverno carioca.
( e ) no apartamento batido por umas raras rstias de sol.
2 Questo:
Nas passagens seguintes, o processo de formao de palavras que se diferencia dos demais aparece
na palavra sublinhada da opo
( a ) Ns o amvamos, desse amor vagaroso e distrado com que enquadramos...
( b ) ...meio encabulado perante mim mesmo com essa sentimentalidade serdia...
( c ) ...um inverno carioca, verdade, perfeitamente suportvel...
( d ) ...com os animais de raa, h uma afetao que envenena...
( e ) ...ao mesmo tempo
escandinavos...

que

compreendo

mistrio

inquietao

dos

3 Questo:
A insegurana comportamental pode atingir qualquer ser humano em qualquer momento da vida. O
narrador e o personagem Rubem Braga experimentaram esse momento de insegurana psquica,
manifestado pelo narrador no incio do
( a ) 1 e do 5 pargrafos.
( b ) 2 e do 6 pargrafos.
( c ) 3 e do 5 pargrafos.
( d ) 2 e do 4 pargrafos.
( e ) 1 e do 6 pargrafos.
2 de 7

4 Questo:
Todo mundo aqui de casa est triste, ridiculamente triste ... porque
( a ) o menino soltou o canrio-da-terra.
( b ) quase certa a impossibilidade de o canrio ganhar a vida por conta prpria.
( c ) no h como se resgatar o amor vagaroso e distrado dedicado ao bichinho.
( d ) junho, inverno no Rio de Janeiro e, apesar do canrio, a manh est luminosa.
( e ) l est o canarinho, sem saber de onde veio, sem saber aonde ir, sem saber ao certo se
gostamos dele, triste, arrepiado e com fome.
5 Questo:
O texto valoriza
( a ) a natureza.
( b ) a liberdade.
( c ) o sentimentalismo do narrador.
( d ) o canrio-da-terra.
( e ) a relao criananatureza.

PARTE II - GRAMTICA
6 Questo:
...procurando ainda arranjar-lhe um recanto mais clido neste apartamento batido por umas raras
rstias de sol... Nessa passagem a palavra sublinhada tem a acepo de
( a ) aconchegante.
( b ) confortvel.
( c ) quente.
( d ) cmodo.
( e ) ameno.
7 Questo:
Atacado de senso de responsabilidade, num momento de descrena de si mesmo ... As duas
expresses sublinhadas se classificam, respectivamente, em
( a ) aposto e adjunto adverbial.
( b ) predicativo e adjunto adverbial.
( c ) predicativo e aposto.
( d ) aposto e aposto.
( e ) aposto e predicativo.

3 de 7

8 Questo:
O pronome tono com valor expletivo aparece na opo:
( a ) Aos poucos surpreendi a mim, que nunca fui de bichos...
( b ) ...e na infncia nunca os tive, a program-lo em minhas preocupaes.
( c ) O menino se consolou, forjando a teoria da imortalidade dos passarinhos...
( d ) Na hora do almoo a empregada veio dizer-nos que ele estava na janela.
( e ) Vai-te embora, canarinho que...
9 Questo:
Nas passagens abaixo h um exemplo em que a presena do acento indicativo de crase facultativa.
Ela aparece em
( a ) Que seria ento do canarinho relegado agora rea?
( b ) As vezes, quando sinto frio, vou esquina ...
( c ) A comunicao foi feita s crianas depois do caf.
( d ) Mas o menino, sem dar um pio, dirigiu-se at a rea e soltou o canarinho.
( e ) Assim, vendo o passarinho encorujado a um canto ...
10 Questo:
De acordo com a norma culta da lngua, a posio do pronome tono pode variar na frase:
(a)

O menino se consolou, forjando a teoria da mortalidade dos passarinhos.

(b)

Creio mesmo que se ama com mais fora um animal sem raa ...

(c)

Aos poucos surpreendi a mim, que nunca fui de bichos, e na infncia no os tive ...

(d)

... com os bichos comuns, pelo contrrio, o afeto de uma gratuidade que nos faz bem.

(e)

E o canarinho, pois? Lev-lo comigo dentro da gaiola, isso eu no tinha coragem.

11 Questo:
Existe um tipo de orao que no pertence exatamente seqncia lgica das outras e aparece como
elemento adicional, esclarecedor. Essas oraes so chamadas interferentes ou intercaladas. Um
exemplo delas aparece na opo:
(a)

Era um canrio ordinrio, nunca lera Bilac, e aparecia feliz em sua gaiola.

(b)

Aos poucos surpreendi as mim mesmo, que nunca fui de bichos, e na infncia nunca o
tive ...

(c)

Como nas fbulas infantis, um dia chegou o inverno, um inverno carioca, verdade,
perfeitamente suportvel.

(d)

Ns o amvamos desse amor vagaroso e distrado com que enquadramos um bichinho em


nossa rbita afetiva.

(e)

s vezes, quando sinto frio, vou esquina, compro um jornal e o leio ali mesmo ao sol.
4 de 7

12 Questo:
Dentre as expresses sublinhadas, o objeto direto aparece em
( a ) Rubem Braga liquidou entre os amigos, h um ano, a sua passarinhada.
( b ) Como nas fbulas infantis, um dia chegou o inverno.
( c ) No devo ter reputao de muito sensato, e l se iria (como diz Mrio Quintana)
o resto do prestgio que no bairro ...
( d ) A comunicao foi feita s crianas depois do caf.
( e ) a empregada veio dizer-nos que ele estava na janela do edifcio que se constri ao lado ...
13 Questo:
A forma verbal sublinhada que NO se apresenta no passado est na opo
( a ) Era um canrio ordinrio, nunca lera Bilac e ...
( b ) A menina manteve a possesso do canrio, desses comuns chamados chapinhas
ou da terra ...
( c ) O canrio tambm tinha sumido e ...
( d ) Que seria ento do canarinho, relegado agora rea ...
( e ) Pareciam estar de acordo, mas o menino, sem dar um pio ...
14 Questo:
s crianas aqui de casa tocaram um bicudo e um canrio. O primeiro no agentou a crise da
puberdade, morrendo logo uns dias depois. Nesta passagem o autor trabalha a coeso referencial,
utilizando-se da expresso sublinhada a fim de evitar a repetio de um termo anterior. Uma palavra
que poderia substituir adequadamente o termo sublinhado seria
( a ) ele.
( b ) o passarinho.
( c ) a ave.
( d ) este.
( e ) aquele.
15 Questo:
Restava um armrio muito estreito a ser investigado e l estava ele, quieto e encolhido no escuro
como no tero materno. Nessa passagem a imagem de que o autor se vale uma
( a ) metfora.
( b ) smile.
( c ) personificao.
( d ) hiprbole.
( e ) anttese.

5 de 7

16 Questo:
A colocao de vrgulas, para marcar pausa, possvel no perodo da opo
( a ) s crianas aqui de casa tocaram um bicudo e um canrio.
( b ) O menino se consolou, forjando a teoria da mortalidade dos passarinhos ...
( c ) Era um canrio ordinrio, nunca lera Bilac, e parecia feliz em sua gaiola.
( d ) Entretanto, como j disse, a posio do edifcio no deixa o sol bater aqui, principalmente
no inverno.
( e ) Que seria ento do canarinho, relegado agora rea, onde pelo menos ficava ao abrigo da
virao marinha?

17 Questo:
Em uma das opo abaixo, analisou-se erroneamente a orao sublinhada. Assinale-a.
( a ) Aos poucos surpreendi a mim, que nunca fui de bichos, e na infncia nunca os tive...
orao subordinada adjetiva explicativa.
( b ) O garoto ficou firme, com sua f. orao absoluta.
( c ) Creio mesmo que se ama com mais fora um animal sem raa ... orao principal.
( d ) Na hora do almoo, a empregada veio dizer-nos que ele estava na janela do edifcio ...
orao subordinada substantiva objetiva indireta.
( e ) ... no morrera, afirmou-nos, com um fanatismo que impunha respeito ... orao
subordinada adjetiva restritiva.

18 Questo:
A linguagem potica sempre uma linguagem simblica, conotativa. O autor deste texto, Paulo
Mendes Campos, tem um estilo claro, limpo, com tonalidades ora realistas, objetivas, ora poticas.
A alternativa em que NO h caracterstica potica, simblica,
( a ) ... apenas a sua alma voara para Pirapora, de onde viera.
( b ) Era um canrio ordinrio, nunca lera Bilac, e parecia feliz em sua gaiola.
( c ) Entretanto, como j disse, a posio do edifcio no deixa a sol bater aqui, principalmente
nesta poca do ano.
( d ) Ns o amvamos desse amor vagaroso e distrado com que enquadramos um bichinho em
nossa rbita afetiva.
( e ) ... e l estava ele, quieto e encolhido no escuro como no tero materno ...

6 de 7

19 Questo:
s crianas daqui de casa tocaram um bicudo e um canrio. O sentido da forma verbal nessa
passagem o mesmo que aparece no exemplo seguinte:
( a ) Pai, d-me parte do patrimnio que me toca.
( b ) Os passarinhos no tocaram no alpiste que lhes foi dado.
( c ) A banda da escola tocou com maestria no baile de formatura.
( d ) A chegada dos passarinhos casa tocou profundamente as crianas.
( e ) Eles realmente no se tocaram com o problema.

20 Questo:
Em que opo encontramos predicado verbal?
( a ) ... ele, estava na janela do edifcio que se constri ao lado, muito triste.
( b ) Este refro never more me deixa meio esquisito.
( c ) Todo mundo aqui de casa est triste, ridiculamente triste, nesta manh luminosa de
junho.
( d ) s vezes, quando sinto frio, vou esquina compro um jornal e o leio ali mesmo.
( e ) Telefonava da rua, quando chovia, meio encabulado perante mim mesmo.

7 de 7

Você também pode gostar