Fichamento - A Origem Do Capitalismo

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Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves

Direito

Fichamento do Texto: A Origem do Capitalismo

Daniel Geraldo de vila

So Joo del Rei Minas Gerais


2006

1 Introduo
A autora Ellen Wood, visa com o seu livro a origem do capitalismo demonstrar
que o sistema capitalista no se originou, como pregado por alguns historiadores, como uma
condio inata da sociedade, mas que devido a fatores especiais, no tempo e espao que o
capitalismo se desenvolveu. Desta forma a autora nos trs primeiros captulos aponta o que
o modelo mercantil e o seu legado, os debates marxistas sobre tal modelo mercantil e por fim
no terceiro captulo as alternativas marxistas.

2 O Modelo Mercantil e seu legado


Geralmente, temos a concepo bsica de que o surgimento dos primeiros
comerciantes e artesos livres nas pequenas cidades medievais foi o germe de uma sociedade
nova que, no decorrer de alguns sculos, substituiria o sistema feudal. Assim, no capitalismo,
as classes no mais se relacionam pelo vnculo da servido, mas pela posse ou carncia de
meios de produo e pela contratao livre do trabalho.
A maneira mais comum de explicar a origem do capitalismo pressupor que seu
desenvolvimento foi o resultado natural de prticas humanas quase to antigas
quanto a prpria espcie, e que requereu apenas a eliminao de obstculos externos
que impediam sua materializao. Essa modalidade de explicao, constitui o que se
tem chamado de modelo mercantil do desenvolvimento econmico, podendo-se
argumentar que ele ainda o modelo dominante. (WOOD, 2001, pg. 21)

Desta forma, o capitalismo apenas o aprimoramento das tcnicas comerciais


juntamente com a evoluo tecnolgica e eliminao de obstculos que impediam seu
desenvolvimento, assim aps a libertao poltica e cultural o capitalismo poderia se
desenvolver.
Esta libertao da economia urbana, da atividade comercial e da racionalidade
mercantil, acompanhada pelos inevitveis aperfeioamentos das tcnicas de
produo que decorrem, evidentemente, da emancipao do comrcio,
aparentemente bastou para explicar a ascenso do capitalismo moderno. (WOOD,
2001, pg. 23)

Outro tema que sempre tratado quando se fala na origem/evoluo do


capitalismo o sujeito como criador do fenmeno social, ou seja, o burgus a pessoa
pertencente a classe da burguesia. comum termos a definio de burguesia como a classe

social que compreende as pessoas que no trabalham braalmente e possuem uma situao
econmica cmoda.
O cidado do burgo ou burgus , por definio, um morador da cidade. A palavra
no costumava significar outra coisa seno algum sem status de nobreza que
embora trabalhasse para viver, em geral no sujava as mos e usava mais a cabea
do que o corpo no trabalho. (WOOD, 2001, pg. 23).

Mas a classe burguesa no era composta apenas de comerciantes, dentre os


membros estavam mdicos, advogados e outros. Assim, no o comerciante da classe
burguesa que foi o percursor do capitalismo, pois no foi com o capitalismo que surgiu o
lucro (comprar barato e vender caro), tal prtica sempre esteve inata no ser humano, este
sempre busca obter melhores resultados com o menor esforo, sendo tal regra, quase to
antiga quanto o instinto de sobrevivncia.
Fala-se com freqncia, por exemplo, na transio de uma economia natural para
uma economia monetria, ou at na transio entre produo para uso e produo
para troca. No entanto, se h uma grande transformao nessas explicaes
histricas, no na natureza do comrcio e dos mercados em si. A mudana se d,
antes, no que acontece com as foras e instituies polticas, jurdicas, culturais e
ideolgicas, bem como tecnolgicas que impediram a evoluo natural do
comrcio e o amadurecimento dos mercados. (WOOD, 2001, pg. 24)
Em outras palavras, o modelo mercantil no demonstrou nenhum reconhecimento
de imperativos que so especficos do capitalismo, dos modos especficos de
funcionamento do mercado no capitalismo e de suas leis de movimento especficas,
as quais, de modo singular, obrigam as pessoas a entrarem no mercado e obrigam os
produtores a produzirem com eficincia, aumentando a produtividade do trabalho
as leis da competio, da maximizao do lucro e da acumulao de capital.
Decorre da que os adeptos desse modelo no viram necessidade de explicar as
relaes sociais de propriedade especficas e o modo especfico de explorao que
determinam essas leis de movimento especficas. Segundo o modelo mercantil, na
verdade, no havia nenhuma necessidade de explicar o surgimento do capitalismo.
Ele presumiu que o capitalismo existiu, pelo menos sob forma embrionria, desde o
alvorecer da histria, se no no prprio cerne da natureza humana e da racionalidade
humana. Dada essa oportunidade, presumiu o modelo, as pessoas sempre se
portaram de acordo com as regras da racionalidade capitalista, visando o lucro e,
nessa busca, procurando meios de melhorar a produtividade do trabalho. (WOOD,
2001, pg. 25).

A medida que a sociedade evolua, os historiadores fizeram aprimoramentos do


modelo mercantil bsico. Assim, alguns historiadores tentavam explicar a origem do
capitalismo partindo da premissa de que este, originou-se com eliminao dos obstculos, ou
seja, a partir do crescimento das cidades e do comrcio sem restrio e a libertao das classes
urbanas e burguesas, o capitalismo teria eclodido.

No entanto tal concepo, foi alvo de inmeros historiadores que optaram por
tentar explicar a origem do capitalismo atravs do modelo demogrfico que tinha atribua o
desenvolvimento econmico a certos ciclos autnomos de crescimento e declnio
populacional.
Desta forma, Ellen Wood (2001, pg. 28), conclui que de um modo ou de outro,
portanto, seja por processos de urbanizao e de comrcio crescente, seja pelos padres
cclicos do crescimento demogrfico, a transio para o capitalismo, em todas essas
explicaes, foi uma resposta s leis universais e transitricas do mercado, quais sejam, as
leis da oferta e da procura.
Uma citao feita por Ellen Wood, sobre o trabalho de Karl Polanyi, salienta que a
vida dos comerciantes at a modernidade, no era motivada pelo lucro, pois geralmente nessas
sociedades com mercado e de mercados, as relaes eram mais a nvel familiar-religioso,
visando mais especificamente, a manuteno da sociedade.
Desta forma, a principal crtica feita por Karl Polanyi sobre a inclinao do
homem para o mercado capitalista segundo Ellen Wood, quanto ao fato do ser humano j ser
pr-disposto para o comrcio, visando assim em todas as suas atividades o lucro, ou seja, o ser
humano no tinha nas suas relaes comerciais a finalidade exclusivamente econmicas, mas
geralmente intenes voltadas mais para a religio e questes familiares.
Polanyi contestou diretamente os pressupostos de Adam Smith sobre o homem
econmico e sua propenso [natural] a comerciar, permutar e trocar, afirmando
que antes da poca do prprio Smith, essa propenso nunca havia desempenhado o
papel preponderante que ele lhe atribua, e s veio a regular a economia um sculo
depois. Quando existiam mercados nas sociedades pr-mercado, e mesmo nos casos
em que estes eram extensos e importantes, eles se mantinham como um aspecto
subalterno da vida econmica, dominada por outros princpios de comportamento
econmico. (WOOD, 2001, pg. 30).
Somente na moderna sociedade de mercado, segundo Polanyi, que h uma
motivao econmica distinta, instituies econmicas distintas e relaes separadas
das relaes no econmicas. Visto que os seres humanos e a natureza sob a forma
do trabalho e da terra so tratados, ainda que de maneira mais fictcia, como
mercadorias, num sistema de mercados auto-regulados e movidos pelo mecanismo
dos preos, a prpria sociedade torna-se um apndice do mercado. A economia de
mercado s pode existir numa sociedade de mercado, isto , numa sociedade em
que, em vez de uma economia inserida nas relaes sociais, as relaes sociais que
se inserem na economia.. (WOOD, 2001, pg. 31).

Outro ponto importante da anlise de Ellen Wood sobre o pensamento de Polanyi,


a forma como a Revoluo Industrial, originou a sociedade de mercado, transformando

tudo (matria-prima) e todos (o ser humano e sua fora de trabalho) em elementos destinados
a um fim comum a produo mercantil.
O tema principal da narrativa histrica de Polanyi a maneira como a Revoluo
Industrial deu origem a uma sociedade de mercado a maneira como, numa
sociedade mercantil, a inveno de mquinas complexas tornou necessrio converter
a substncia natural e humana da sociedade em mercadoria. Dado que as
mquinas complexas so dispendiosas, elas no compensam, a menos que se
produzam grandes quantidades de mercadorias. O ltimo e mais desastroso passo
na criao das condies necessrias isto , na criao da sociedade de mercado
originalmente requerida pela produo mecnica complexa a transformao do
trabalho num fator da produo mercantil. (WOOD, 2001, pg. 32).
A Revoluo Industrial foi meramente o comeo de uma revoluo extrema e
radical, que transformou profundamente a sociedade, ao converter a humanidade e
a natureza em mercadorias. Essa transformao, portanto foi o esforo do progresso
tecnolgico. Em seu cerne estava um aperfeioamento quase milagroso dos
instrumentos de produo, e, conquanto tenha acarretado uma transformao da
sociedade, ela foi, em si mesma, o auge dos aperfeioamentos anteriores da
produtividade, tanto nas tcnicas quanto na organizao do uso da terra, sobretudo
no cerco de grandes propriedades particulares da Inglaterra. (WOOD, 2001, pg.
33).

Por fim, cabe ressaltar que apesar do pensamento dominante existente sobre a
origem do capitalismo relacionando-o com a burguesia, Ellen Wood afirma que talvez a viso
marxista sobre o capitalismo possa apropriadamente definir a origem do capitalismo.
Os antigos modelos do desenvolvimento capitalista foram uma mescla paradoxal de
determinismo transitrico e voluntarismo do livre mercado, na qual o mercado
capitalista era uma lei natural imutvel e o supra-sumo da escolha e da liberdade
humana. A anttese desses modelos seria uma concepo do mercado capitalista que
reconhecesse plenamente seus imperativos e compulses, ao mesmo tempo
reconhecendo que esses prprios imperativos radicam-se no numa lei transistrica,
mas em relaes sociais historicamente especficas, constitudas pela ao humana e
sujeitas a mudanas. (WOOD, 2001, pg. 35).

2 Debates Marxistas
No captulo 2 do Livro A Origem do Capitalismo, a autora Ellen Wood, anlisa
como o pensamento marxista v o capitalismo, sua origem e evoluo.
Ellen Wood, aponta que Marx, possua duas narrativas diferentes, a primeira que
se assemelhava ao modelo mercantil clssico, em que o burgus ocupa o papel principal
dando origem ao capitalismo aps a eliminao dos obstculos feudais. E outra, na qual a
anlise se fixa sobre a mudana das relaes de propriedade.

Ellen Wood opta por apresentar as vises mais modernas do marxismo sobre o
capitalismo, destacando entre os principais pensadores Paul Sweezy, Maurice Dobb, R.H.
Hilton, entre outros.
O livro de Doob representou um grande avano na compreenso da transio.
Representou um poderoso questionamento do antigo modelo mercantil, na medida
em que situou as origens do capitalismo, nas relaes feudais primrias entre
proprietrios e camponeses. Como outros trabalhos dentro dessa tradio, muito
especificamente os escritos de R.H. Hilton, historiador da Europa medieval, essa
anlise abalou os alicerces do antigo modelo, contestando algumas de suas
premissas bsicas, em particular o pressupostos de que a anttese do feudalismo, que
o teria dissolvido e dado origem ao capitalismo se encontraria nas cidades e no
comrcio. (WOOD, 2001, pg. 37).

O principal ponto de debate apontado por Ellen Wood, sobre os debates entre
Sweezy e Dobb, era localizar em que momento e de onde partiu a primeira ecloso do
capitalismo, das relaes entre os senhores feudais e os camponeses ou da expanso
comercial.
Desta forma Ellen Wood, v o pensamento de Sweezy como compatvel com o
modelo mercantil clssico, sendo caracterizado como neo-smithiano, ao passo que o
pensamento de Dobb e Hilton atacam categoricamente este modelo.
Dobb e Hilton, no debate que se seguiu, enunciaram argumentos de profunda
importncia para demonstrar que no foi o comrcio em si que dissolveu o
feudalismo. Na verdade, o comrcio e as cidades no eram intrinsecamente
antagnicos ao regime feudal. Ao contrrio, este foi dissolvido e o capitalismo se
materializou por fatores intrnsecos s relaes primrias do prprio feudalismo, nas
lutas de classes entre senhores e camponeses. (WOOD, 2001, pg. 38).
As presses impostas pelos senhores aos camponeses para que estes transferissem o
trabalho excedente foram, segundo ele sugeriu (Hilton), a causa primria do
aperfeioamento das tcnicas de produo e a base do crescimento da produo
mercantil simples. Ao mesmo tempo, a resistncia dos camponeses a essas presses
foi de import6ncia crucial para o processo de transio para o capitalismo, para a
libertao das economias rural e artesanal para o desenvolvimento da produo
mercantil e, eventualmente, para o surgimento do empresrio capitalista.
(WOOD, 2001, pg. 38).
Em seu contra-argumento, Sweezy insistiu em que o feudalismo apesar de todos os
seus traos de ineficincia e instabilidade, era intrinsecamente tenaz e resistente
mudanas, e em que a principal fora propulsora de sua dissoluo tinha que vir de
fora. O sistema feudal podia tolerar e, a rigor, precisava de uma certa dose de
comrcio; mas, com a criao de centros de comrcio e transbordo urbano
localizados, baseados no comrcio de longa distncia, desencadeou-se um processo
que estimulou o crescimento da produo para troca, que se opunha ao princpio
feudal da produo para uso. (WOOD, 2001, pg. 39)

No entanto, argumentou Sweezy, o capitalismo no foi o resultado imediato desse


processo. A expanso do comrcio foi suficiente para dissolver o feudalismo e
introduzir uma fase transicional de produo mercantil pr-capitalista, que em si
mesma era instvel, preparando o terreno para o capitalismo nos sculos XVII e
XVIII. (WOOD, 2001, pg. 39)

Outro marxista de importncia citado por Ellen Wood o editor da New Left
Review da dcada de 1970, Perry Anderson, para o qual o fundamento do feudalismo se
encontrava no poder dos senhores feudais, sendo que este poder em determinado momento
passou a ser exercido com exclusividade pela monarquia e com isso dando margem a
libertao dos camponeses e burgueses, os quais puderam se desenvolver sem as obstrues
impostas pelos senhores feudais.
Desta forma, volta-se ao mesmo questionamento sobre o modelo mercantil, qual
seja, se a evoluo e expanso do mercado so os alicerces da origem do capitalismo.
Decerto podemos dizer que o sistema de comrcio europeu e o imperialismo foram
condies necessrias do capitalismo, mas no podemos simplesmente presumir que
o comrcio e o capitalismo so uma mesmo coisa, ou que um se transformou no
outro por um simples processo de crescimento. (WOOD, 2001, pg. 49).

3 Alternativas Marxistas
No Terceiro Captulo do livro A Origem do Capitalismo, a autora Ellen Wood,
ainda questiona o pensamento marxista, alegando o debate sobre a transio do feudalismo
para o capitalismo, ainda deixou algumas lacunas sem respostas.
O que o debate sobre a transio deixou sem explicar e sem abordar foi como e em
que circunstncias os produtores passaram a ficar sujeitos aos imperativos do
mercado. Sempre se pareceu pressupor que o capitalismo surgiu quando foram
retirados os obstculos realizao das oportunidades do mercado. Porm, um outro
episdio no debate permanente entre os marxistas aceitou o desafio do debate sobre
a transio, no esforo de explicar a passagem do feudalismo para o capitalismo sem
identificar princpios capitalistas, retrospectivamente, nas sociedades pr-capitalistas
ou seja, sem presumir exatamente aquilo que precisava ser explicado. (WOOD,
2001, pg. 50).

De acordo com Ellen Wood, Brenner ofereceu uma nova explicao sem alegar qualquer
forma de capitalismo embrionrio, concentrando sua anlise sobre as relaes sociais de
propriedade.
Brenner obviamente acreditava que um modelo de transio em que dois modos de
produo antagnicos se confrontavam era imprprio para lidar com a transio do

feudalismo para o capitalismo. No havia capitalismo, nem mesmo em forma


embrionria, para desafiar o feudalismo e isso se aplicava no apenas s formas
pr-capitalistas de comrcio, mas tambm pequena produo mercantil. (WOOD,
2001, pg. 51).
Brenner tambm tomou como ponto de partida a tenacidade do feudalismo,
criticando outras descries da transio por negligenciarem a lgica e a solidez
internas das economias pr capitalistas, e por funcionarem como se os agentes
econmicos viessem a adotar estratgias capitalistas toda vez que lhes fosse dada
essa oportunidade (WOOD, 2001, pg. 51).

Desta forma, de acordo com Ellen Wood, o pensamento de Brenner se difere do de


Sweezy, porque este busca algum impulso externo para a dissoluo do feudalismo ao passo
que Brenner, Dobb e Hilton afirmam que a dissoluo do feudalismo foi por um impulso
interno.
No entanto, o pensamento de Brenner ainda diferenciava-se do de Dobb e Hilton,
pelo fato de que ele buscava um impulso interno que no tivesse uma lgica pr-capitalista
existente. Assim, a dissoluo do feudalismo ocasionou diferentes resultados (capitalismo na
Inglaterra e Absolutismo na Frana).
Na Inglaterra, uma proporo excepcionalmente grande da terra pertencia a
latifundirios e era trabalhada por arrendatrios cujas condies de posse da terra
assumiram, cada vez mais, a forma de arrendamentos pagos em dinheiro, cujo
valores no erram fixados pela lei ou pelos costumes, mas respondiam s condies
do mercado. Poder-se-ia dizer at que existia um mercado de arrendamentos. As
condies de posse eram tais que um nmero crescente de arrendatrios ficou sujeito
aos imperativos do mercado no oportunidade de produzirem para o mercado e
passarem de pequenos produtores a capitalistas, mas necessidade de se
especializarem para o mercado e produzirem de forma competitiva simplesmente
para garantirem o acesso aos meios de subsistncia. (WOOD, 2001, pg. 52).

Desta forma, enquanto para Dobb e Hilton, o princpio atuante era a oportunidade
para Brenner a compulso ou imperativo era a mola mestra para explicar a transio do
feudalismo para o capitalismo.
Com isso, Brenner demonstrou a via realmente revolucionria conforme
questionou Sweezy, para o qual, os ingleses no eram proprietrios que se transformaram em
capitalistas, mas a sua relao com a propriedade e com os meios de produo, fizeram deles
capitalistas desde o incio.
...ou seja, ele no se tornou capitalista apenas por ter crescido e alcanado um nvel
apropriado de prosperidade, nem tampouco apenas porque sua relativa riqueza lhe
permitisse empregar mo-de-obra assalariada, mas porque suas relaes com os
meios de sua prpria auto-reproduo sujeitavam0no, desde o incio, juntamente

com quaisquer trabalhadores assalariados que eles empregassem, aos imperativos do


mercado. (WOOD, 2001, pg. 54).

Assim, de acordo com Ellen Wood, as crticas feitas por Brenner, eram de que as
explicaes sempre possuam algum tipo de elemento pr-capitalista, para se explicar a
origem do capitalismo. Desta forma os seus crticos, agiram da mesma forma, repetindo os
pressupostos pr-capitalistas que Brenner havia contestado.
De acordo com Ellen Wood, Brenner baseou sua argumentao, no fato de que no
sistema feudal a extorso do excedente se dava por causa do poder poltico e econmico dos
senhores feudais, assim os camponeses que detinham a posse dos meios de produo, eram
obrigados a abrir mo da parte excedente de seu trabalho, sob a forma de aluguis e impostos
(propriedade politicamente constituda). Ao passo que no capitalismo, a extorso do excedente
puramente econmica, obtida atravs da troca de mercadorias, que obrigam os trabalhadores
sem propriedade a venderem sua mo-de-obra, a fim de obterem acesso aos meios de
produo.
Brenner simplesmente pautou-se na diferena fundamental entre o modo de
apropriao capitalista, que depende do aumento da produtividade do trabalho, por
causa dos imperativos da competio e da maximizao do lucro e que, portanto,
incentiva o aperfeioamento das foras produtivas -, e os modos de apropriao prcapitalistas. (WOOD, 2001, pg. 57).
As perguntas principais de Brenner, portanto, foram: de que modo as antigas
formas de propriedade politicamente constituda foram substitudas, na Inglaterra,
por uma forma puramente econmica, e com foi que isso acionou um padro
caracterstico de crescimento econmico auto-sustentado?. (WOOD, 2001, pg.
57).

Desta forma, os crticos de Brenner apresentaram duas objees aos seus


argumentos, a primeira concernente a saber se o crescimento econmico ingls foi realmente
distintivo, se a agricultura inglesa, em particular, mesmo no sculo XVIII, foi singular,
especialmente em seu impulso de aumentar a produtividade; e a segunda objeo referente ao
trabalho assalariado.
A primeira objeo sobre a produtividade agrcola na Frana no tem
pertinncia. Constata-se que o que esses crticos querem dizer que a produo
agrcola francesa no sculo XVIII era aproximadamente equivalente agricultura
inglesa em sua produo total. Mas considere-se que, na Inglaterra, precisava-se de
uma populao rural muito menor e de um nmero muito menor de pessoas
trabalhando na agricultura do que na Frana para gerar essa produo. (WOOD,
2001, pg. 58).

Assim, de que modo a tese de Brenner afetada pela outra questo referente
extenso do trabalho assalariado? Podemos concordar em que a extenso do trabalho
assalariado era limitada nos primrdios da Inglaterra moderna, especialmente o
trabalho assalariado regular e permanente em contraste com o ocasional ou
sazonal. E podemos concordar em que o processo de expropriao e proletarizao
foi, por definio, absolutamente central na histria do capitalismo. (WOOD, 2001,
pg. 58).
Brenner no presume que uma diviso preexistente entre camponeses ricos e
pobres, como a que existiu noutras pocas e lugares, levaria inevitavelmente
polarizao em fazendeiros ricos e lavradores no proprietrios. Por exemplo, tanto
a Inglaterra quanto a Frana, no final do sculo XV, tinham um campesinato mdio
com propriedades relativamente grandes. (poderamos acrescentar que, mesmo no
sculo XVI, a produtividade agrcola nos dois casos tambm ainda no era
claramente diferente) No entanto, desde esse ponto de partida comum, elas se
bifurcaram em direes histricas substancialmente diferentes: os franceses
rumando para uma crescente fragmentao dos domnios dos camponeses, os
ingleses para a trade agrria formada por grandes proprietrios, arrendatrios
capitalistas e trabalhadores assalariados; os ingleses rumando para o melhoramento
agrcola, os franceses para a estagnao agrcola. (WOOD, 2001, pg. 59).

Alguns anos depois do debate original em torno de suas teses, brener publicou um
grande estudo dos primrdios da Inglaterra moderna que levou em conta o papel dos
comerciantes na Revoluo Inglesa.
Desta forma, a concepo tradicional de que a diviso do trabalho, a expanso dos
mercados e a preexistncia do capitalismo so invocadas para explicar a origem do
capitalismo, juntamente com a revoluo burguesa marco de transio do feudalismo para o
capitalismo, redundante uma vez que, significaria fazer uma revoluo para a prpria
revoluo.
Podemos ter profunda convico de que, digamos, a Revoluo Francesa foi
inteiramente burguesa, muito mais do que a inglesa, alis, sem por isso chegarmos
um milmetro mais perto de determinar se ela tambm foi capitalista. Desde que
aceitemos que no h uma identificao necessria entre burgus (ou habitante dos
burgos, ou cidade) e capitalista, o burgus revolucionrio pode ficar longe de ser
uma fico, mesmo ou especialmente na Frana, onde o revolucionrio burgus
modelo no era capitalista nem tampouco comerciante moda antiga, mas advogado
ou funcionrio pblico. Ao mesmo tempo, se o burgus revolucionrio da Inglaterra
esteve inexoravelmente ligado ao capitalismo, foi precisamente porque j se haviam
estabelecido relaes sociais capitalistas de propriedade no interior do pas.
(WOOD, 2001, pg. 63).
A tese de Brenner, ao mostrar como os produtores direitos ficaram sujeitos aos
imperativos do mercado, ainda que no explique o papel das cidades e mercados no
desenvolvimento do capitalismo, explica o contexto em que a prpria natureza do
comrcio e dos mercados foi transformada, adquirindo um papel econmico
inteiramente novo e uma lgica sistmica. Isso aconteceu muito antes da
industrializao e foi uma precondio dela. Os imperativos de mercado, em outras
palavras, impuseram-se aos produtores diretos antes da proletarizao em massa da
fora de trabalho. Foram um fator decisivo na criao de um proletariado de massa,
j que as foras de mercado, respaldadas pela coero direta, sob a forma da

interveno poltica e jurdica, criaram uma maioria no proprietria. (WOOD,


2001, pg. 64).

A autora Ellen Wood, cita ainda E.P. Thompson, que descreveu como se
estabeleceram os imperativos do mercado no perodo da industrializao, bem como o
confronto entre os princpios de mercado e as prticas e valores alternativos.
A implantao da sociedade de mercado surge como uma confrontao entre
aqueles cujos interesses expressavam-se na nova economia poltica do mercado e
aqueles que a contestavam, colocando o direito subsistncia acima dos imperativos
do lucro. (WOOD, 2001, pg. 65).
Na parte central de A formao da classe trabalhadora inglesa, intitulada
Explorao, Thompson resume o que so, para ele, os momentos axiais do
surgimento do capitalismo industrial. Dois aspectos correlatos destacam-se em sua
anlise. O primeiro a poca do impulso transformador, a formao de uma nova
classe trabalhadora. O segundo aspecto, correlato a esse, que ele discerne uma
transformao no que parece ser uma continuidade fundamental: at os
trabalhadores que, primeira vista, mal parecem diferir de seus predecessores
artesanais, e cuja cultura de oposio ainda tem razes profundas nas antigas
tradies pr-industriais populares e radicais, so para Thompson, uma nova raa
de seres, um novo tipo de proletariado. (WOOD, 2001, pg. 65).

Deste modo, Thompson, na viso de Ellen wood, queria investigar as


conseqncias dos modos de explorao especificamente capitalistas, ou seja, a necessidade
intrnseca das relaes de propriedade capitalistas de aumentar a produtividade e o lucro.
O mercado com que as pessoas estavam mais familiarizadas era um lugar fsico,
onde punham em oferta mercadorias a serem compradas por outras pessoas de
acordo com princpios que, at certo ponto, eram regidos pelos costumes, pela
regulao comunitria e pelas expectativas referentes ao direito subsistncia.
(WOOD, 2001, pg. 69).
Thompson tambm mostra como a nova ideologia da economia poltica, que inclua
as novas concepes de propriedade e a tica do lucro, foi cada vez mais imposta
pela represso estatal. Os tribunais punham o direito de o proprietrio lucrar com o
aumento da produtividade acima dos outros tipos de direito, tais como o direito
consuetudinrio de uso de que os no proprietrios haviam desfrutado durante muito
tempo, ou o direito a subsistncia. E as autoridades pblicas reagiam como mais
violncia, especialmente na esteira da Revoluo Francesa, aos protestos contra os
preos injustos e as prticas de mercado. (WOOD, 2001, pg. 69).

Concluindo,
A tese deste livro tem sido que o principal problema das verses histricas mais
padronizadas do capitalismo comeam ou terminam em conceitos que
obscurecem a especificidade do capitalismo. Precisamos de uma forma de histria
que d ntido relevo a essa especificidade, que reconhea a diferena entre a

auferio comercial do lucro e a acumulao capitalista, entre o mercado como


oportunidade e o mercado como imperativo, e entre os processos transistricos de
desenvolvimento tecnolgico e o impulso capitalista especfico para aumentar a
produtividade do trabalho. (WOOD, 2001, pg. 69).

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