O Destino Da Número Dez - Legados de Lorien

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Prlogo

A PORTA DA FRENTE COMEA A TREMER. SEMPRE FEZ ISSO TODA VEZ QUE O
PORTO de metal fechado com fora, acontece desde que eles mudaram para o
apartamento em Harlem trs anos atrs.
Entre a entrada principal e os finos papis de parede, eles sempre esto cientes das
idas e vindas de todos que moram no prdio. Colocam a televiso no mudo para
ouvir melhor, uma garota de quinze anos de idade e um velho homem de cinquenta
e sete, filha e padrasto que raramente olham um para o outro, mas que colocaram as
diferenas de lado para assistir invaso aliengena. O homem passou quase toda a
tarde murmurando oraes em espanhol, enquanto a garota assistiu cobertura das
notcias em um silncio receoso. Tudo parece como um filme para ela, parece to
irreal que o medo ainda no despertara nela. A garota se pergunta se o bonito
homem loiro que tentou lutar contra os monstros est morto. O homem se pergunta
se a me da garota, uma garonete de um pequeno restaurante no centro,
sobreviveu ao ataque inicial.
O homem coloca a TV no mudo para que possam ouvir melhor o que acontece do
lado de fora. Um de seus vizinhos sobe correndo as escadas, gritando durante todo o
percurso.
Eles esto no quarteiro! Esto no quarteiro!
O homem range os dentes em descrena.
O garoto est perdendo. Aquelas bestas plidas no vo se incomodar com
Harlem. Estamos seguros aqui ele assegura garota.
Ele aumenta o volume. A garota no tem muita certeza sobre o que ele disse. Ela vai
at a porta e espia o lado de fora. O corredor est escuro e vazio. Assim como no
quarteiro atrs do dela, onde a reprter parece literalmente um farrapo. Ela est
suja e com manchas no rosto, sujeira por todo o seu cabelo loiro. H sangue seco em
sua boca em vez de batom. A prpria reprter mal parece entender tudo.

Reiterando, o bombeamento inicial parece ter sido afunilado... a reprter diz


tremendo. O homem escutando com ateno. Os... os... os mogadorianos
tomaram as ruas em massa e parecem estar, ah, fazendo prisioneiros, embora
termos visto algumas aes mais violentas ... ... menor provocao...
A reprter solua. Atrs dela, h centenas de aliengenas plidos com uniformes
pretos marchando pelas ruas. Alguns deles vm em direo cmera, olhando
fixamente para a lente com seus olhos negros.
Jesus Cristo diz o homem.
Novamente, reiterando, estamos sendo, ah, estamos sendo permitidos a
continuar a transmisso. Eles... eles... os invasores, eles parecem nos querer aqui...
L embaixo, o porto chacoalha novamente. H um guincho de metal rasgando e um
estrondo alto.
Algum no tinha a chave.
Algum precisou derrubar o porto completamente.
So eles! a garota exclama.
Fique calada! responde o homem. Ele abaixa o volume da TV mais uma vez.
Quero dizer, fique em silncio. Droga.
Eles ouvem passos pesados subindo as escadas. A garota se afasta da porta quando
ouve a porta de algum sendo derrubada. Os vizinhos dos andares debaixo comeam
a gritar.
Se esconda o homem diz garota. V logo.
O homem segura com firmeza um taco de baseball que retirou do armrio quando a
primeira nave aliengena apareceu no cu. Ele se aproxima da porta oscilante,
posicionando-se em um dos lados dela, encostado na parede. Eles podem ouvir
barulhos vindos do corredor. Com um estalo alto, ouvem a porta de seu vizinho ser
arrancada das dobradias, palavras duras em um ingls arrastado sendo gritadas, e
finalmente, um som parecido com um relmpago comprimido atingindo o cho.

Eles viram as armas dos aliengenas na televiso, viram abismados os raios azuis de
energia crepitante que atiravam.
Os passos diminuem, e ento param em frente porta que ainda oscila. Os olhos do
homem esto arregalados, suas mos segurando firmemente o taco de baseball. Ele
percebe que a garota ainda no se moveu. Ela est congelada.
Ande, idiota! ele diz. V agora!
Ele gesticula para a janela da sala de estar. A janela est aberta, a escada de incndio
esperando do lado de fora.
A garota odeia quando o homem a chama de idiota. Mesmo assim, pela primeira vez
que se lembra, ela faz o que seu padrasto manda. Ela sobe na janela e a pula como
fez diversas outras vezes nesse mesmo apartamento. A garota sabe que no deveria
ir sozinha. Seu padrasto deveria fugir tambm. Ela d a volta na escada de incndio
para cham-lo, e ento de repente est olhando para dentro do apartamento
quando a porta da frente arrancada.
Os aliengenas so bem mais feios pessoalmente que na televiso.
Sua presena congela a garota onde est. Ela olha fixamente para a pele plida do
primeiro que passa pela porta, depois para seus olhos negros que no piscam, sem
contar as tatuagens bizarras.
H quatro deles no total, todos armados. o primeiro que v a garota na escada de
incndio. Ele para no vo da porta, sua arma esquisita apontada para ela.
Renda-se ou morra o aliengena diz.
Um segundo depois, o padrasto da garota acerta o aliengena no rosto com seu taco.
Foi um golpe forte o homem ganhava a vida como mecnico, seus antebraos
musculosos com a fora ganhada com as doze horas de trabalho dirias. O taco
empurrou o rosto do aliengena para dentro, e a criatura imediatamente se
transformou em cinzas.

Antes que o padrasto da garota pudesse erguer o taco mais uma vez, um alien atira
em seu peito. O homem jogado para trs no fundo do apartamento, sua camisa
pegando fogo. Ele cai sobre a mesa de centro e rola, acabando de cara com a janela,
onde trava seu olhar com a garota.
Corra! o padrasto dela de alguma forma encontra foras para gritar. Corra,
droga!
A garota comea a descer a escada de incndio. Quando chega ao final, escuta tiros
vindos do seu apartamento. Ela tenta no pensar sobre o significado daquilo. Uma
das criaturas coloca sua cara plida na janela e mira sua arma na direo da garota.
Ela se solta da escada, caindo no beco que se encontrava abaixo bem na hora em que
o ar ao seu redor crepita. Os pelos de seus braos se arrepiam e a garota conclui que
h eletricidade passando pelo metal da escada de incndio. Mas ela no se
machucou. O aliengena errou.
A garota pula alguns sacos de lixo e corre para a boca do beco, espiando pela beirada
para observar a rua na qual cresceu. H um hidrante jorrando gua, o que a lembra
das festas de vero do quarteiro. Ela v um caminho do correio cado, a parte
traseira cheia de fumaa, como se fosse explodir a qualquer instante.
Mais abaixo, estacionada no meio da rua, a garota v a pequena nave dos
aliengenas, uma das muitas que ela e seu padrasto viram sair da nave maior que
ainda flutua sobre a ilha de Manhattan. Eles passam esse vdeo vrias vezes nas
notcias, assim como o vdeo do garoto loiro.
John Smith. Esse seu nome. Assim foi como a narradora do vdeo o chamou.
Onde ele est agora?, a garota se pergunta. Provavelmente no salvando as pessoas
no Harlem, disso ela tem certeza.
A garota sabe que ela tem que se salvar sozinha.
Ela est prestes a comear a correr quando avista outro grupo de aliengenas saindo
de um prdio do outro lado da rua. Eles tm uma dzia de humanos com eles, alguns

rostos familiares da vizinhana, duas crianas que ela reconhece. Eles foram as
pessoas a se ajoelhar na rua e apontam as armas para elas. Um grande monstro
aliengena anda ao lado da linha formada pelas pessoas, clicando um pequeno objeto
em sua mo, como um guarda do lado de fora de uma casa noturna.
A garota no tem certeza se quer ver o que acontece depois. Ela ouve metal
guinchando atrs dela. Ento, se vira e v um dos aliengenas que estava em seu
apartamento descendo pela escada de incndio.
Ela corre. A garota rpida e conhece essas ruas. O metr fica a apenas alguns
quarteires de distncia. Uma vez, em um desafio, a garota desceu na plataforma e
se aventurou pelos tuneis. Os ratos e a escurido no a assustam nem um pouco em
comparao a esses aliengenas. para l que ela vai. Ela pode se esconder l, at
mesmo seguir para o centro, para tentar encontrar sua me. A garota no sabe como
vai contar para sua me sobre seu padrasto. Ela mesma ainda no acredita. Continua
a esperar que tudo no passe de um sonho.
A garota corre pelas ruas quando trs aliengenas surgem em seu caminho. Seu
instinto a faz tentar voltar, mas seu tornozelo torce e ela perde o equilbrio. Ela cai,
batendo com fora na calada. Um dos aliengenas solta um grunhido baixo e a
garota percebe que ele est rindo dela.
Renda-se ou morra ele diz, e a garota sabe que isso no uma escolha.
Os aliengenas j tm suas armas erguidas e apontadas, os dedos quase apertando os
gatilhos. Renda-se e morra. Eles vo mat-la de qualquer jeito, no importando o
que ela faa. A garota tem certeza disso.
Ela levanta as mos para se defender. um reflexo. Ela sabe que no vai ajudar em
nada contra as armas.
Mas ajuda.
As armas dos aliengenas voam para cima, fugindo das mos deles. Elas voam vinte
metros de distncia para trs deles.

Eles olham para a garota, paralisados e incertos. Ela tambm no entende o que
acabou de acontecer.
Mas ela consegue sentir alguma coisa diferente dentro dela. Algo novo. como se
ela pudesse controlar qualquer objeto no quarteiro. Tudo o que ela precisa fazer
puxar e empurrar. A garota no tem certeza de como ela sabe disso. Parece natural.
Um dos aliengenas carrega outra arma e a garota move sua mo da direita para a
esquerda. Ele voa pela rua e cai sobre o para-brisa de um carro estacionado. Os
outros dois trocam olhares e comeam a se afastar.
Quem est rindo agora? a garota pergunta, levantando-se.
Garde um deles responde num sussurro.
A garota no sabe o que isso significa. O jeito como ele falou parece ser um
xingamento. Isso faz a garota sorrir. Ela gosta de ver que essas coisas que esto pela
sua vizinhana esto com medo dela agora.
Ela pode lutar contra eles.
Ela vai mat-los.
A garota levanta as mos para o alto e o resultado um dos aliengenas sendo
erguido do cho. A garota abaixa suas mos com a mesma rapidez que as levantou,
jogando o aliengena em cima do seu companheiro. Ela repete isso at ambos se
tornarem cinzas.
Quando isso acontece, a garota olha para suas mos. Ela no sabe de onde esse
poder veio. No sabe o que significa. Mas ela vai us-lo.

Captulo um

NS PASSAMOS PELA ASA QUEBRADA DE UM AVIO DE COMBATE EXPLODIDO, O


pedao de metal jogado no meio da rua de uma cidade como uma barbatana de
tubaro. Quanto tempo se passou desde que vimos os jatos fazendo barulhos no cu,
uma formao clara indo para o centro da cidade e na direo de Anubis? Parece que
foi h dias, mas deve ter sido apenas a algumas horas. Algumas das pessoas que
esto conosco os sobreviventes gritaram e aplaudiram quando viram os jatos,
como quando a mar comea a subir.
Eu sabia o que aconteceria. Fiquei em silncio. Apenas alguns minutos depois,
pudemos ouvir as exploses enquanto a Anubis destrua esses jatos no cu,
estilhaando as peas militares mais sofisticadas da Terra por toda a ilha de
Manhattan. Eles no mandaram mais nem um jato desde ento.
Quantas mortes at agora? Centenas. Milhares. Talvez mais. E tudo minha culpa.
Porque eu no pude matar Setrkus Ra quando tive a chance.
sua esquerda! um homem grita de algum lugar atrs de mim.
Viro minha cabea, carrego uma bola de fogo instantaneamente, e incinero um
mogadoriano enquanto ele virava a esquina. Eu, Sam e uma dzia de sobreviventes
que fomos juntando pelo caminho mal conseguimos dar passos largos. Estamos na
parte sul de Manhattan agora. Fugimos para c. Lutamos at chegarmos aqui.
Quarteiro por quarteiro. Tentando aumentar a distncia entre ns e o centro da
cidade, onde os mogadorianos esto em maior quantidade, onde vimos pela ltima
vez a Anubis.
Estou exausto.
Eu tropeo. Mal consigo sentir meus ps, eles esto cansados.
Acho que estou prestes a desmoronar. Um brao passa em torno do meu ombro e
me estabiliza.
John? Sam pergunta, preocupado. Ele est me segurando. Parece que sua voz
est vindo de dentro de um tnel. Tento respond-lo, mas as palavras no vm. Sam

vira a cabea e fala com um dos sobreviventes. Precisamos sair das ruas por algum
tempo. Ele precisa descansar.
A prxima coisa que me lembro de estar encostado contra a parede do hall de
entrada de um prdio residencial. Devo der desmaiado por alguns minutos. Eu tento
me fortalecer, descansar. Preciso continuar lutando.
Mas no consigo meu corpo se recusa a ser punido novamente.
Deixo meu corpo se deslizar contra a parede para que eu ento me sente no cho. O
carpete est coberto de poeira e vidro quebrado que deve ter sido explodido de fora
para dentro. H mais ou menos vinte e cinco de ns aqui. Isso foi tudo o que
conseguimos salvar. Todos sujos e manchados de sangue, alguns machucados, todos
cansados.
Quantos ferimentos curei hoje? Foi fcil, no comeo. Depois de um tempo, ento,
pude sentir meu Legado de cura drenar minha prpria energia. Devo ter atingido
meu limite.
Eu me lembro das pessoas no pelo nome, mas pelo estado em que as encontrei ou
pelo o que curei. Brao-quebrado e Preso-embaixo-do-carro parecem preocupados,
com medo.
Uma mulher, a Pulou-da-janela, coloca sua mo em meus ombros. Assinto para ela
dizendo que estou bem e ela parece aliviada. Bem na minha frente, Sam conversa
com um policial sem uniforme que parece ter uns cinquenta anos. Ele tem sangue
seco por toda parte em um lado do rosto de um corte no topo da cabea que curei.
Esqueci o nome dele ou onde o encontramos. As vozes deles parecem distantes,
como se fossem o eco vindo de um tnel a quilmetros de distncia. Tenho que me
focar para entender o que eles dizem, e mesmo isso me toma um esforo colossal.
Minha cabea parece estar envolta em algodo.
Ouvi no rdio que temos um ponto de apoio na Ponte do Brooklyn o policial
diz. Polcia de Nova York, Guarda Nacional, exrcito... caramba, todo mundo. Eles

esto guardando a ponte. Evacuando os sobreviventes de l. Fica a apenas alguns


bairros de distncia, e eles dizem que os mogs esto concentrados no norte da
cidade. Ns podemos conseguir.
Ento vocs devem ir Sam responde. Partam agora que a costa est limpa,
antes que mais patrulhas apaream.
Vocs deveriam vir conosco, garotos.
No podemos Sam responde. Um dos nossos amigos ainda est l fora.
Temos que encontr-lo.
Nove. quem precisamos encontrar. Da ltima vez que o vimos, ele estava lutando
com Cinco em frente s Naes Unidas. Atravs das Naes Unidas. Temos que
encontr-lo antes de deixarmos Nova York. Temos que encontr-lo e salvar tantas
pessoas quanto pudermos. Meus sentidos esto comeando a voltar, mas ainda
estou demasiado exausto para me mover. Abro minha boca para falar, mas tudo o
que consigo um gemido.
Ele est no limite diz o policial, e sei que ele fala de mim. Vocs dois j
fizeram o suficiente. Venham conosco agora, enquanto podem.
Ele vai ficar bem Sam fala. A dvida em sua voz me faz ranger os dentes e focar.
Eu preciso me esforar, levantar e continuar lutando.
Ele desmaiou.
Ele s precisa descansar por alguns minutos.
Eu estou bem murmuro, mas no acho que me ouviram.
Voc vai acabar sendo morto se ficar, garoto o policial fala para Sam. Vocs
no podem continuar com isso. H muitos deles para vocs dois. Deixe isso para o
exrcito, ou...
Ele para. Ns sabemos que o exrcito j fez sua tentativa. Manhattan est perdida.
Sairemos daqui o mais rpido que pudermos Sam responde.

Voc a em baixo consegue me ouvir? o policial est falando comigo agora.


Usando o mesmo tom na voz que Henri costumava usar. Eu me pergunto se ele tem
filhos em algum lugar. No h mais nada que voc possa fazer. Voc nos trouxe
at aqui, deixe-nos fazer o resto. Ns o carregaremos at a ponte, se for preciso.
Todos os sobreviventes da sala assentem, murmurando em concordncia. Sam olha
para mim, suas sobrancelhas erguidas em questionamento. Seu rosto est sujo com
poeira e cinzas. Ele parece exausto e fraco, como se mal conseguisse se manter em
p. Uma arma mogadoriana est pendurada em sua cintura, presa por um fio de
eletricidade cortado, e como se o corpo todo dele pendesse naquela direo, o
peso extra ameaando derrub-lo.
Eu me foro a levantar. Meus msculos esto cansados e quase inteis. Estou
tentando mostrar para o policial e para os outros que ainda tenho foras dentro de
mim, mas posso dizer pelo modo que eles esto me olhando que esto com pena,
que no pareo muito promissor. Eu mal consigo impedir minhas pernas de
tremerem. Por um momento, parece que vou desmoronar no cho. Mas ento,
alguma coisa acontece sinto como se uma fora tivesse me levantado e comeado
a me carregar, suportando um pouco do meu peso, endireitando minhas costas e
esticando meus ombros. Eu no sei como estou fazendo isso, onde estou
encontrando foras, quase sobrenatural.
No, na verdade no sobrenatural. Sam. Telecinesia. Sam est se concentrando,
tentando fazer parecer que ainda h um pouco de fora dentro de mim.
Vamos ficar eu digo finalmente, minha voz rouca. H mais pessoas para
serem salvas.
O policial move a cabea em questionamento. Atrs dele, uma garota que lembro
vagamente de t-la salvo de cair de uma escada de incndio comea a chorar. No
tenho certeza do motivo. Sam continua completamente focado em mim, com uma
expresso de esforo no rosto, gotas de suor formando em sua tmpora.

Mantenham-se em segurana eu digo para os sobreviventes. Ento, ajudem


quem vocs puderem. Este o planeta de vocs. Vamos salv-lo todos juntos.
O policial d alguns passos at mim para apertar minha mo.
No esqueceremos de voc, John Smith ele fala. Todos ns. Devemos nossas
vidas a voc.
Mande todos eles para o inferno algum diz.
E ento todos os outros do grupo de sobreviventes esto se despedindo e
agradecendo. Aperto meus dentes no que espero ser um sorriso. A verdade que
estou muito cansado para isso. O policial o lder agora, os manter em segurana
garante que todos fiquem quietos e sejam rpidos, e ento os lidera para fora do hall
do prdio residencial e os guia em direo Ponte do Brooklyn.
Assim que ficamos sozinhos, Sam me solta da fora telecintica que usava para me
manter ereto e eu caio para trs, me encostando na parede novamente, lutando
para me manter de p. Ele est sem flego e suando pelo esforo que fez para me
manter daquele jeito. Ele no lorieno e no teve treinamento adequado, mas de
algum jeito desenvolveu um Legado e comeou a us-lo da melhor maneira que
conseguiu.
Considerando nossa situao, ele no teve escolha de aprender a us-lo no caminho
para c. Sam com Legados se as coisas no estivessem to caticas e
desesperadoras, eu estaria mais animado. No tenho certeza de como nem porque
isso aconteceu com ele, mas o mais novo poder de Sam na verdade uma das nicas
coisas que ganhamos desde que chegamos Nova York.
Obrigado eu digo, as palavras saem com mais facilidade agora.
Sem problemas ele responde. Voc o smbolo da resistncia da Terra
agora; no podemos deix-lo cado por a.

Tento me desencostar da parede, mas minhas pernas ainda no esto prontas para
suportar todo meu peso. Seria mais fcil se eu apenas me arrastasse para a porta do
apartamento.
Olhe para mim. No sou o smbolo de nada resmungo.
Pare ele diz. Voc est exausto.
Sam coloca seu brao em volta de mim, me ajudando. Ele est se arrastando
tambm, ento tento no jogar tanto peso em cima dele.
Estivemos no inferno nas ltimas horas. A pele das minhas mos est formigando
pelo tanto que tive que usar meu Lmen, jogando bolas de fogo de peloto em
peloto de mogadorianos. Espero que no tenha danificado nenhum nervo
permanentemente ou coisa do tipo. O pensamento de acender meu Lmen agora
quase faz com que meus joelhos cedam.
Resistncia eu digo amargamente. Resistncia o que acontece depois de
voc perder uma guerra, Sam.
Voc sabe o que eu quis dizer ele responde. Posso dizer pelo tom de sua voz
trmula que um esforo para Sam parecer otimista depois de tudo o que vimos
hoje. Pelo menos ele est tentando. A maioria dessas pessoas sabia quem voc
era. Eles disseram que havia um vdeo seu ou coisa do tipo no noticirio. E tudo o
que aconteceu nas Naes Unidas voc basicamente desmascarou Setrkus Ra na
frente de uma audincia internacional. Todo mundo sabe que voc tem lutado
contra os mogadorianos. Que voc tentou impedir isso.
Ento eles sabem que eu falhei.
A porta para o apartamento do primeiro andar est entreaberta. Eu a empurro e
depois Sam a fecha e a tranca atrs de ns. Tento encontrar o interruptor de luz mais
prximo, surpreso por ver que ainda h eletricidade aqui. A eletricidade s est
presente em alguns pontos da cidade. Acho que esse bairro ainda no foi atingido
com fora. Apago as luzes rapidamente na nossa atual situao, no queremos

atrair ateno de nenhuma patrulha mogadoriana que possam estar nos arredores.
Enquanto tropeo at o colcho mais prximo, Sam fecha as cortinas do
apartamento.
O apartamento pequeno, um cmodo s. H uma pequena cozinha apertada
separada da sala de estar por um balco de granito, um pequeno closet e um
banheiro. Quem quer que viva aqui definitivamente deixou tudo com pressa, h
roupas espalhadas pelo cho, uma tigela de cereal virada para baixo e uma moldura
de foto quebrada perto da porta, parecendo ter sido pisada. Na foto, um casal em
seus vinte anos posa em uma praia tropical, um pequeno macaco no ombro do
rapaz.
Essas pessoas tinham uma vida normal. Mesmo que tenham conseguido sair de
Manhattan e estiverem em segurana, agora isso acabou. A Terra nunca mais ser a
mesma.
Eu costumava imaginar um lugar calmo como esse para Sarah e eu, uma vez que os
mogadorianos forem derrotados. No um apartamento apertado na cidade de Nova
York, mas algo simples e calmo.
H uma exploso ao longe, os mogs destruindo alguma coisa ao norte da cidade.
Percebo quo ingnuos os sonhos de vidas ps-guerra so. Nada nunca mais ser
normal depois disso.
Sarah. Espero que ela esteja bem. Era o rosto dela que eu chamava em meus
pensamentos nas horas mais difceis da nossa batalha pelos bairros de Manhattan.
Continue lutando e voc ir v-la novamente, era o que repetia para mim mesmo. Eu
queria poder falar com ela. Eu preciso falar com ela. No apenas com Sarah, mas com
Seis tambm preciso entrar em contato com os outros, tentar descobrir o que
Sarah conseguiu com Mark James e seu misterioso contato, e para saber o que Seis,
Marina e Adam fizeram no Mxico. Isso tem de ter alguma ligao com Sam ter de
repente desenvolvido um Legado. E se ele no for o nico? Preciso saber o que

aconteceu fora da cidade de Nova York, mas meu telefone via satlite foi destrudo
quando ca no Lago Oeste e o celular pr-pago est sem sinal de Internet. At agora,
somos apenas eu e Sam. Sobrevivendo.
Na cozinha, Sam abre a geladeira. Ele para e olha para mim.
errado pegarmos a comida dessas pessoas? ele pergunta.
Tenho certeza de que eles no iro se importar respondo.
Fecho meus olhos pelo o que parece ser um segundo, mas deve ter sido mais, e
quando os abro h um pedao de po perto do meu nariz.
Com uma mo esticada teatralmente como nas histrias em quadrinhos, Sam faz um
sanduche de pasta de amendoim flutuar at mim, junto com um prato de plstico e
uma colher em frente ao meu rosto. Mesmo me sentindo fraco, no posso evitar
sorrir com seu esforo.
Me desculpe, no foi minha inteno acert-lo com o sanduche Sam diz
enquanto pego a comida do ar. Ainda estou me acostumando com isso,
obviamente.
No se preocupe. fcil puxar e empurrar com telecinesia. A preciso a parte
mais difcil de se aprender.
Sem brincadeiras ele diz.
Voc est se saindo incrivelmente bem para quem desenvolveu telecinese h
apenas quatro horas, cara.
Sam se senta no colcho perto de mim com seu sanduche.
Ajuda se eu imaginar que tenho, tipo, mos invisveis. Isso faz sentido?
Penso como foi quando eu treinei minha prpria telecinesia com Henri. Parece que
foi h tanto tempo.
Eu costumava visualizar o que eu ia mover, e ento desejava que acontecesse
explico a Sam. Comeamos com coisas pequenas. Henri costumava jogar bolas de

baseball contra mim no quintal, e ento eu praticava tentando segur-las com minha
mente.
Ah, bem, no acho que brincar de batedor seja uma opo para mim neste
momento Sam observa. Encontrarei outras maneiras de praticar.
Sam flutua seu sanduche do colo. Ele inicialmente o aproxima da boca para mordlo, mas erra a altura depois de alguns segundos de concentrao.
Nada mal comento.
mais fcil quando no estou pensando sobre isso.
Como quando estvamos lutando pelas nossas vidas, por exemplo?
Sim Sam diz, movendo a cabea assentindo. Vamos falar sobre o que
aconteceu comigo, John? Ou por que aconteceu? Ou... Eu no sei. O que isso
significa?
Os Gardes desenvolvem seus Legados na adolescncia eu digo, dando de
ombros. Talvez voc seja apenas um cara atrasado.
Amigo, voc esqueceu que no sou lorieno?
Muito menos Adam, mas ele tem Legados aponto.
, mas o pai violento dele o conectou com uma Garde morta e...
Ergo uma mo e interrompo Sam.
Tudo o que quero dizer que nada est definido. Acho que os Legados no
funcionam da forma que meu povo presumia pauso por um momento para
pensar. O que aconteceu com voc tem algo a ver com o que Seis e os outros
fizeram no Santurio.
Seis fez isso... Sam comea.
Eles foram l para encontrar Lorien na Terra, e eu acho que conseguiram. E ento,
talvez Lorien tenha te escolhido.

Sem nem perceber, j devorei meu sanduche de pasta de amendoim. Meu


estmago ronca. Eu me sinto um pouco melhor, minha fora comeando a ser
restaurada.
Bem, uma honra Sam fala, olhando para suas mos e pensando sobre tudo.
Ou, mais provavelmente, pensando em Seis. Uma honra aterrorizante.
Voc se saiu bem l fora. Eu no poderia ter salvado todas aquelas pessoas sem
voc eu digo, dando palmadinhas nas costas de Sam. A verdade que no sei
que inferno est acontecendo. No sei como, nem porqu voc de repente
desenvolveu um Legado. Estou apenas feliz por ter acontecido. Estou feliz por ainda
ter um fiapo de esperana na nossa situao de morte e destruio.
Sam fica de p, limpando os farelos das calas.
, esse sou eu, a grande esperana da humanidade, atualmente morrendo por
outro sanduche. Quer mais um?
Eu posso fazer digo a Sam, mas quando me inclino para levantar, sou
imediatamente empurrado de volta para o colcho.
Vai com calma Sam fala, fingindo no estar cansado como eu estou. Eu cuido
dos sanduches.
Ficaremos aqui por apenas mais alguns minutos eu digo, sonolento. Ento
vamos procurar Nove.
Eu fecho os olhos, ouvindo Sam fazendo os lanches na cozinha, tentando sustentar a
faca que espalha a pasta de amendoim com a fora do pensamento. Ao fundo,
sempre ao fundo agora, posso ouvir o barulho de lutas em algum lugar de
Manhattan. Sam est certo somos a resistncia. Deveramos estar l fora
resistindo. Se eu puder descansar por apenas alguns minutos...
No abro meus olhos at Sam balanar meus ombros.
Imediatamente, posso dizer que dormi. A luz no apartamento mudou, d para ver as
luzes das ruas acesas, um brilho amarelado atravessando as cortinas. Um prato com

sanduches me espera num sof prximo a mim. Estou tentado a ir l e devorar


todos. Parece que tudo dentro de mim est num nvel animalesco agora sono,
fome, raiva.
Por quanto tempo eu apaguei? pergunto a Sam, sentindo-me um pouco melhor
fisicamente mas tambm culpado por dormir enquanto h pessoas morrendo por
toda Nova York.
Mais ou menos uma hora ele diz. Eu iria deix-lo descansar, mas...
Como explicao, Sam gesticula para trs, na direo de uma pequena televiso que
est fixada em uma das paredes do quarto. O noticirio local na verdade est sendo
transmitindo ao vivo. Sam deixou a televiso no mudo e a imagem ocasionalmente
some e volta com a esttica, mostrando a cidade de Nova York em chamas. Imagens
granuladas ilustram a iminente Anubis atravessando o cu, suas armas laterais
bombardeando os terraos dos arranha-cus mais altos at no sobrar nada alm de
destroos e poeira.
Eu nem lembrei de verificar se ela estava funcionando at alguns minutos atrs
ele explica. Pensei que os mogs teriam destrudos os prdios das emissoras, voc
sabe, por motivos de guerra.
No esqueci o que Setrkus Ra me disse quando eu estava pendurado em sua nave
sobre o Lago Oeste. Ele quer que eu assista a Terra cair. Lembrando agora daquela
viso de Washington, D.C., que compartilhei com Ella, a cidade l parecia bem
destruda, mas no completamente arrasada. E havia sobreviventes para servi-lo.
Acho que estou comeando a entender.
No um acidente eu digo para Sam, pensando alto. Ele deve querer que os
humanos sejam capazes de ver a destruio que ele est causando. No foi como em
Lorien, onde sua frota apenas exterminou todo mundo. Foi por isso que ele tentou
montar aquele show nas Naes Unidas, por isso que ele criou aquela droga
sombria da ProMog, para tentar dominar a Terra pacificamente. Ele planeja viver

aqui depois de tudo. E se no houver ningum para ador-lo como os mogadorianos,


pelo menos quer que os humanos sobreviventes o temam.
Bom, a parte de todos o temerem est funcionando Sam comenta.
Na tela, o noticirio mudou para uma cena ao vivo de uma ncora em sua mesa. O
prdio da emissora desse canal provavelmente foi danificado de alguma forma
durante a batalha, porque parece que eles mal conseguem se manter no ar. Apenas
metade das luzes do estdio est acesa e a cmera est desfocada, a imagem sem a
resoluo e tamanho que deveria ter. Ela fala diretamente para a cmera durante
alguns segundos, apresentando a prxima imagem.
A ncora desaparece, substituda por um vdeo tremido feito por um celular. No
meio de um cruzamento importante, uma figura obscura roda como um lanador de
discos Olmpicos se aquecendo. Com exceo de que esse cara no est segurando
um disco. Com uma fora sobre-humana ele est girando outra pessoa pelo
tornozelo. Depois de uma dzia de giros, o cara solta o corpo, arremessando-o em
direo janela frontal de um cinema nas proximidades. O vdeo continua centrado
no lanador, que erguendo os ombros, grita o que parece ser um xingamento.
Nove.
Sam! Aumenta o volume!
Enquanto Sam tateia em busca do controle remoto, quem quer que tenha filmado
Nove corre para trs de um carro para se proteger. desorientador, mas o
cameraman consegue continuar gravando com uma das mos erguidas por cima do
carro. Um grupo de soldados mogadorianos apareceu no cruzamento, atirando em
Nove. Assisto enquanto ele dana estupidamente para desviar dos tiros, usando
telecinesia para arremessar um carro na direo deles.
... novamente, esse vdeo foi gravado na Union Square h alguns momentos a
voz trmula da ncora narra enquanto Sam aumenta o volume. Esse garoto
superpoderoso, hum, possivelmente um adolescente aliengena que estava nas

Naes Unidas junto com o outro jovem identificado como John Smith. Ns o vemos
aqui empenhado em um combate contra os mogadorianos, fazendo coisas
humanamente impossveis...
Eles sabem meu nome falo, quase um sussurro.
Olhe Sam diz, tocando meu brao.
A cmera est mostrando novamente o cinema, quando uma forma corpulenta
lentamente se levanta da janela estilhaada. Eu no tenho uma boa viso dela, mas
imediatamente sei quem Nove estava arremessando. Ele voa do cinema para o cu,
derruba alguns mogs que ainda esto no cruzamento, e ento mergulha
violentamente na direo de Nove.
Cinco Sam diz.
A cmera no consegue acompanhar Cinco e Nove enquanto eles se chocam contra o
gramado de um pequeno parque nas proximidades, arrancando grandes pedaos de
terra do cho.
Eles esto se matando eu digo. Temos que ir at l.
Um segundo garoto extraterrestre est lutando com o primeiro, pelo menos
quando no esto lutando contra os invasores... a ncora continua, parecendo
perplexa. Ns no sabemos o motivo. No temos muitas respostas at agora,
receio. Apenas... fique em segurana, Nova York. Operaes de evacuao esto
acontecendo caso voc tenha uma rota segura para a Ponte do Brooklyn. Se voc
est prximo batalha, mantenha-se dentro de casa e...
Pego o controle remoto da mo de Sam e desligo a TV. Ele me observa enquanto
levanto, para garantir que estou bem. Meus msculos gritam em protesto e fico
tonto por alguns segundos, mas posso aguentar. Tenho que aguentar. Nunca a
expresso lute como se no houvesse amanh fez tanto sentido. Se eu for fazer
isso da maneira certa se vamos salvar a Terra de Setrkus Ra e dos mogadorianos,
ento o primeiro passo encontrar Nove e sobreviver Nova York.

Ela disse Union Square eu falo. pra l que vamos.

Captulo dois
O MUNDO NO MUDOU. PELO MENOS, NO DE MANEIRA QUE EU
TENHA percebido.
O ar da floresta est mido e pegajoso, uma mudana bem-vinda em relao
ao clima frio das profundezas subterrneas do Santurio. Tenho que proteger
meus olhos assim que emergimos para o sol da tarde, um seguindo atrs do
outro atravs de uma passagem estreita em forma de arco que apareceu no
templo Maia.
Eles no poderiam ter nos deixado vir por aqui? resmungo, estralando
minhas costas e olhando para as centenas de degraus de calcrio aos quais
subimos mais cedo.
Assim que chegamos ao topo de Calakmul, nossos pingentes ativaram algum
tipo de portal lrico que nos teleportou para dentro do Santurio escondido
sob uma estrutura centenria construda pelos humanos. Ns nos
encontramos em uma sala de outro mundo obviamente criada pelos Ancios
em uma de suas visitas Terra. Acho que o sigilo era uma prioridade maior
que fcil acesso.
De qualquer forma, a sada no foi uma escalada e no envolveu teleportes
desorientados apenas uma escada em espiral empoeirada de uns cem
metros que nos deixou tontos e uma porta simples, que claro, no estava l
quando entramos pela primeira vez.
Adam sai do Santurio atrs de mim, seus olhos semicerrados.
E agora? ele pergunta.
Eu no sei respondo, olhando para o cu escuro. Eu meio que
esperava que o Santurio respondesse essa pergunta.
Eu... eu ainda estou incerto sobre o que vimos l. Ou sobre o que
realizamos Adam diz, hesitando. Ele tira alguns fios dos cabelos negros do
rosto enquanto me observa.
Somos dois respondo.

Verdade seja dita, nem tenho certeza sobre quanto tempo passamos debaixo
da terra. Voc perde a noo do tempo quando est em uma conversa
profunda com um ser de outro mundo feito de energia lrica pura. Ns
juntamos a maior quantidade de peas das nossas heranas lricas que
conseguimos poupar basicamente, usamos tudo o que no era arma. Uma
vez dentro do Santurio, jogamos todas aquelas pedras desconhecidas e
bugigangas dentro de um poo secreto que estava bem conectado com uma
fonte de energia dormente de loralite.
Acho que foi o suficiente para despertar a Entidade, a personificao da
prpria Lorien. Ns conversamos.
, isso aconteceu.
Mas a Entidade praticamente falou com enigmas e, no fim da nossa
conversa, a coisa virou uma supernova, sua energia inundando o Santurio e
vazando para o mundo. Assim como Adam, no tenho certeza do que
aconteceu.
Eu esperava emergir do Santurio e encontrar... alguma coisa. Talvez
colunas de energia lrica atravs dos cus, ou esses mesmos jatos
incinerando o mogadoriano mais prximo que no tenha o nome de Adam?
Talvez mais poder para os meus Legados, me colocando em um nvel que eu
seria capaz de criar uma tempestade grande o suficiente para destruir todos
os nossos inimigos? Seria muita sorte.
At onde sei, a frota mogadoriana ainda est entrando na Terra.
John, Sam, Nove e os outros podem estar correndo contra as linhas de frente
agora, e no tenho certeza se fizemos alguma coisa para ajud-los.
Marina a ltima a passar pela porta do templo. Ela se abraa, seus olhos
cheios de lgrimas, piscando contra a luz do sol.
Antes da fonte de energia explodir para o mundo, de alguma forma ela
conseguiu ressuscit-lo, mesmo que tenha sido por alguns minutos.

Tempo suficiente para Marina se despedir. Mesmo agora, j comeando a


suar por causa da umidade da selva, tenho calafrios quando penso no retorno
de Oito, inundado pela energia de loralite, sorrindo mais uma vez.
Foi o tipo daqueles momentos maravilhosos que evitei durante o passar dos
anos isto guerra, e as pessoas vo morrer. Amigos vo morrer. Cheguei
ao ponto de aceitar a dor. Ento o choque menor quando algo de fato
acontece.
Foi reconfortante rever Oito, melhor ainda foi nos despedir. Eu no consigo
imaginar pelo o que Marina est passando. Ela o amava e agora ele se foi.
Mais uma vez.
Marina para e olha de volta para o templo, quase como se quisesse voltar.
Perto de mim, Adam pigarreia.
Ela vai ficar bem? ele me pergunta, com a voz baixa.
Marina se fechou comigo uma vez antes, na Flrida, depois de Cinco ter nos
trado. Depois de ele ter matado Oito. Mas no a mesma coisa ela no
est irradiando um frio constante e no parece prestes a estrangular o
primeiro que se aproximar. Quando ela se volta para ns, sua expresso
quase serena. Ela est se lembrando, gravando aquele momento com Oito na
memria e se preparando para o que est por vir.
Eu sorrio enquanto Marina pisca os olhos e passa a mo sobre o rosto.
Eu posso te ouvir ela responde Adam. Estou bem.
timo Adam responde, desviando o olhar timidamente. Eu s queria
dizer, sobre o que aconteceu l, uh, que eu...
Adam para, eu e Marina olhando para ele com expectativa. Sendo um mog,
ainda acho que ele se sente desconfortvel em falar dessas coisas como ns.
Sei que ele ficou maravilhado com a energia lrica do Santurio, mas tambm
posso dizer que ele se sentiu deslocado, como se no valesse o suficiente
para estar na presena da Entidade.
Quando a pausa de Adam se prolonga, dou uma batidinha nas costas dele.

Vamos deixar essa conversa para a viagem, ok?


Adam parece aliviado enquanto andamos de volta para as naves, nosso
Skimmer pousado ao lado de outra dzia de naves mogadorianas na pista de
pouso mais prxima. O acampamento mogadoriano em frente do templo est
exatamente do jeito que deixamos uma baguna. Os mogadorianos que
estavam tentando entrar no Santurio desmataram a rea em crculo ao redor
do templo, chegando o mais perto que a energia do escudo do Santurio
permitira.
E s aps atravessarmos a videira que cresceu sobre a terra chamuscada
exatamente em frente do templo do acampamento mogadoriano que percebo
que o campo de fora se foi. A barreira mortal que protegeu o Santurio por
anos no existe mais.
O campo de fora deve ter sido desativado enquanto estvamos l dentro
eu digo.
Talvez ele no precise mais ser protegido agora Adam sugere.
Ou talvez a Entidade tenha desviado seu poder para outro lugar Marina
responde. Ela pausa por um momento, pensando. Quando beijei Oito... eu
senti. Por um breve momento, eu fiz parte da energia da Entidade. Ela estava
se espalhando para todos os lugares da Terra. Para onde quer que a energia
lrica tenha ido, est espalhada. Talvez ela no possa ativar suas defesas
aqui.
Adam lana um olhar para mim, como se eu devesse ser capaz de explicar o
que Marina disse.
O que voc quer dizer com se espalhando para todos os lugares da
Terra? pergunto.
Eu no sei como explicar de uma forma mais clara Marina diz, olhando
para o templo, agora metade em sobra com a luz do sol poente. Foi como
se eu fosse igual a Lorien. E estvamos em todos os lugares.

Interessante Adam responde, observando o templo e ento olhando


para o cho abaixo de seus ps, com uma mistura de cuidado e temor.
Para onde voc acha que foi? Seus Legados esto...?
Eu no sinto nada diferente eu digo.
Eu tambm no Marina concorda. Mas alguma coisa mudou. Lorien
est por a agora. Na Terra.
No definitivamente o resultado que eu estava esperando, mas Marina
parece ter tanta certeza sobre isso. Eu no quero ser a chuva e estragar a
festa dela.
Acho que veremos se alguma coisa mudou quando voltarmos para a
civilizao. Talvez a Entidade esteja l chutando alguns traseiros.
Marina olha para o templo.
Deveramos deix-lo assim? Sem proteo?
O que sobrou para ser protegido? Adam pergunta.
Ainda h um pouco da, uh, da entidade aqui Marina responde.
Mesmo agora, acho que o Santurio ainda uma maneira de... eu no sei, ao
certo. Entrar em contato com Lorien?
No temos outra escolha. Os outros vo precisar de ns.
Espere um segundo Adam diz, olhando em volta. Onde est Areal?
Com tudo o que aconteceu dentro do Santurio, esqueci completamente do
Chimra que deixamos do lado de fora para ficar de guarda. No h sinal do
lobo em lugar algum.
Poderia ele ter ido mata adentro atrs daquela mulher mog? Marina
pergunta.
Phiri Dun-Ra Adam corrige, nomeando a nascida naturalmente que
sobreviveu ao nosso ataque. Ele no iria atrs dela sozinho assim.
Talvez a luz do Santurio o tenha assustado sugiro.
Adam franze a testa, ento pe as mos em concha ao lado da boca.
Areal! Venha, Areal!

Ele e Marina comeam a procurar por qualquer sinal do Chimra. Subo no


Skimmer para ter uma viso melhor dos arredores.
Daqui de cima, algo chama minha ateno. Uma silhueta cinza se
contorcendo debaixo de um tronco podre perto da entrada da floresta.
O que aquilo? eu grito, apontando para l.
Adam corre em direo, com Marina logo atrs. Um momento depois, Adam
traz a pequena forma em minha direo, com uma expresso preocupada.
o Areal Adam diz. Quer dizer, eu acho que .
Adam segura um pssaro cinza em suas mos. Est vivo, mas seu corpo
est duro e contorcido, como se tivesse sofrido um ataque de choque eltrico
e nunca se recuperado dos espasmos. Suas asas se sobressaem em ngulos
estranhos e seu bico est meio aberto, congelado. Embora isso no seja
nada parecido com o lobo poderoso que deixamos para trs h algum tempo,
h uma caracterstica que imediatamente reconheo. Areal, com certeza.
Ele parece mal, seus olhos negros de pssaro vasculham ao redor
freneticamente. Ele est vivo, sua mente est funcionando, mas seu corpo
no est respondendo.
Que diabos aconteceu com ele? pergunto.
Eu no sei Adam diz, e por um momento acho que vejo lgrimas em
seus olhos. Ele se acalma. Ele parece... ele parece como os outros
Chimra antes de eu resgat-los da Ilha Plum. Eles foram usados em
experimentos.
Est tudo bem Areal, est tudo bem Marina sussurra.
Ela gentilmente amacia as penas da cabea dele, tentando acalm-lo. Ela
usa seu Legado para curar a maioria dos ferimentos que o cobrem, mas o
Legado no liberta Areal da paralisia.
No podemos fazer mais nada por ele aqui eu digo. Eu me sinto mal,
mas precisamos continuar. Se aquela mog fez isso com ele, ela j foi h

tempos. Vamos apenas voltar e nos encontrar com os outros. Talvez eles
tenham ideias sobre o que podemos fazer.
Adam traz Areal a bordo do Skimmer e o enrola num lenol. Ele tenta deixar o
Chimra paralisado o mais confortvel possvel antes de se sentar atrs dos
controles da nave.
Quero entrar em contato com John, descobrir o que est acontecendo fora da
selva mexicana. Puxo o telefone de satlite do bolso e me sento numa
poltrona perto de Adam. Enquanto ele comea a reiniciar a nave, ligo para
John. O telefone toca sem parar. Depois de um minuto, Marina se inclina para
frente e olha para mim.
Quo preocupados devemos ficar por ele no atender? ela pergunta.
A quantidade normal de preocupao respondo. No posso evitar olhar
para meu tornozelo. Sem novas cicatrizes como se fosse possvel no
sentirmos a dor dilacerante. Pelo menos sabemos que eles ainda esto
vivos.
Alguma coisa est errada Adam diz.
No podemos saber respondo rapidamente. No porque ele no
atende o celular uma vez que significa que...
No. Eu quero dizer, com a nave.
Quando afasto o celular da orelha, posso ouvir o som estranho que o motor
do Skimmer est emitindo. As luzes do painel na minha frente piscam
erraticamente.
Pensei que voc soubesse como fazer essa coisa funcionar eu digo.
Adam franze as sobrancelhas, ento bruscamente desliga os botes no
painel, desligando a nave. Abaixo de ns, o motor range e faz um barulho
estridente, como se algo estivesse muito errado.
Eu sei como funcionar essa coisa, Seis ele devolve. No erro meu.
Desculpe respondo, observando enquanto ele espera o motor desligar
por completo para religar a nave. O motor tecnologia mogadoriana que

deveria funcionar em um silncio mortal mais uma vez range e faz barulhos
estranhos. Talvez devssemos tentar algo alm de ligar e desligar.
Primeiro Areal, agora isso. No faz sentido Adam murmura. Os
eletrnicos ainda funcionam. Bem, tudo com exceo do diagnstico
automtico, que exatamente o que nos diria o que h de errado com o
motor.
Eu me levanto e aperto o boto que abre o painel. O domo de vidro se parte
sobre ns.
Vamos dar uma olhada eu falo.
Todos samos do Skimmer. Adam pula para inspecionar a parte de baixo da
nave, mas fico na parte de cima do cap, perto do painel. Eu me pego
olhando para o Santurio, a construo de calcrio antiga que agora nada
mais do que uma sombra. Marina est perto de mim, observando
silenciosamente.
Voc acha que venceremos? pergunto a ela, sem tempo de evitar a
pergunta. No tenho nem certeza se quero uma resposta.
Marina no diz nada por algum tempo. Depois, ela pe sua cabea em meus
ombros.
Eu acho que estamos mais perto de vencer hoje do que estivemos ontem.
Eu queria poder ter certeza de que ter vindo aqui valeu a pena eu digo,
apertando o telefone-satlite, desejando que ele toque.
Voc precisa ter f Marina responde. Estou lhe dizendo, Seis, a
Entidade fez alguma coisa...
Tento acreditar nas palavras de Marina, mas tudo em que consigo pensar so
os aspectos prticos. Eu me pergunto se a inundao de energia lrica do
Santurio foi o que acabou com nossa nave, em primeiro lugar.
Ou talvez tenha uma explicao mais simples.
Ei, gente? Adam chama debaixo da nave. Acho que vocs deveriam
ver isso.

Deso para a parte de baixo do Skimmer, Marina logo atrs de mim. Ns


encontramos Adam encravado entre as escoras metlicas do trem de pouso,
um painel dobrado debaixo do ventre blindado da nave no cho a seus ps.
Esse o nosso problema? pergunto.
Isso j era Adam explica, chutando a pea desalojada. E olhem para
isso...
Adam gesticula para que eu me aproxime, ento sigo at estar ao seu lado,
tento uma viso interna dos motores da nossa nave. O motor do Skimmer
poderia provavelmente caber dentro do cap de uma caminhonete, porm
mais complicado do que qualquer coisa j construda na Terra. Ao invs de
pistes ou engrenagens, o motor composto por uma srie de esferas
sobrepostas. Elas giram com pouca frequncia enquanto Adam as empurras
inutilmente contra a ponta dos cabos expostos que seguem mais
profundamente para baixo da nave.
Veja, os sistemas eltricos esto intactos Adam diz, sacudindo os
cabos. por isso que ainda temos um pouco de energia. Mas s isso no
o suficiente para fazer com que a propulso antigravidade funcione. Esses
rotores centrfugos aqui? ele aponta para as esferas sobrepostas. So
elas que nos tiram do cho. A coisa , elas tambm esto intactas.
Ento voc est me dizendo que o Skimmer deveria estar funcionando?
pergunto, enquanto olho para os motores.
Deveria Adam confirma, mas ento ele gesticula para um ponto vazio
entre os rotores e os fios. Com exceo disso, est vendo?
Eu no tenho ideia do que diabos estou olhando, cara eu digo. Est
quebrado?
H um condute faltando ele explica. ele que transfere a energia
gerada pelos motores para o resto da nave.
E voc est me dizendo que ele no caiu da nave.
Obviamente que no.

Dou alguns passos para longe dos motores do Skimmer e observo os


arredores perto das rvores em busca de qualquer movimento. Ns j
matamos todos os mogs que estavam tentando entrar no Santurio.
Todos, com exceo de uma.
Phiri Dun-Ra eu digo, lembrando que ela ainda est por a.
Estvamos to focados em entrar no Santurio para nos incomodarmos com
ela antes, e agora...
Ela nos sabotou Adam concorda, chegando mesma concluso que
eu.
Phiri Dun-Ra fez uma encenao at que boa com Adam quando chegamos,
e estava preste a fritar o rosto dele no campo de fora do Santurio antes de
atacarmos. Ele ainda parece bem assustado com isso.
Ela tirou Areal do caminho e ento veio at aqui. Deveramos t-la matado.
Ainda d tempo eu digo, franzindo a testa.
No vejo nada nas rvores, mas isso no significa que Phiri Dun-Ra no
esteja l nos observando.
No poderamos substituir essa parte com uma de outro Skimmer?
Marina pergunta, gesticulando para a dzia de outras naves mogadorianas
espalhadas pelo local.
Adam grunhe e sai do Skimmer. Ele segue at a nave mais prxima, sua mo
esquerda segurando um canho mogadoriano que ele pegou de um dos
soldados que matamos.
Aposto que essas naves tm peas e painis que so exatamente como
os nossos Adam murmura. Pelo menos espero que ela tenha
machucado as mos.
Eu me lembro das mos enfaixadas de Phiri Dun-Ra, queimadas por terem
entrado em contato com o campo de fora do Santurio. Ns deveramos ter
imaginado isso e no ter deixado ningum vivo. Mesmo antes de Adam
chegar perto da nave, tenho um mal pressentimento.

Adam se abaixa embaixo da nave, examinando-a. Ele suspira e olha para


mim antes de gentilmente dar uma cotovelada no casco da nave sob ele. O
painel do motor cai como se nunca tivesse estado preso.
Ela est brincando com a gente ele diz, sua voz num tom baixo, porm
grave. Poderia ter atirado em ns quando samos do Santurio. Porm, ela
quer nos manter aqui.
Ela sabe que no pode nos vencer sozinha eu falo, levantando meu tom
de voz um pouquinho, pensando que talvez Phiri Dun-Ra possa morder a isca
e sair do esconderijo.
Ela removeu essas partes, certo? Marina pergunta. No as destruiu?
No, parece que ela apenas as pegou Adam responde.
Provavelmente no quer ser responsvel por destruir um monte de naves
alm de j ter perdido seu esquadro. Contudo, nos manter aqui por tempo
suficiente at o reforo chegar para nos capturar e nos matar provavelmente
vai lhe dar um passe VIP at o seu Adorado Lder.
Ningum vai ser capturado nem morto eu digo. Com exceo de
Phiri Dun-Ra.
H outra maneira de fazer com que nossa nave decole? Marina
pergunta a Adam. Voc poderia... eu no sei? Improvisar alguma coisa?
Adam coa sua nuca, olhando para as outras naves.
Suponho que seja possvel. Depende do que podemos conseguir juntar.
Eu posso tentar, mas no sou um mecnico.
Isso um comeo eu digo, olhando para o cu para ver quanto da luz
do dia ainda nos resta. No muito. Ou, podemos entrar naquela floresta,
caar Phiri Dun-Ra e recuperar nossa pea.
Adam assente.
Eu prefiro esse plano.
Olho para Marina.
E voc?

Eu nem tenho que perguntar. O suor em meu brao formiga ela est
irradiando a aura gelada.
Vamos caar Marina diz.

Captulo trs
SOB CONDIES IDEAIS, A CAMINHADA AT A UNION SQUARE DEVERIA DEMORAR
cerca de quarenta minutos. Fica a apenas dois quilmetros daqui. Mas estas so de
longe condies no-ideais. Sam e eu estamos voltando pelos mesmos quarteires os
quais passamos tarde lutando contra os mogs. Indo de volta para o local onde a
presena mogadoriana mais forte.
Com sorte, Nove e Cinco ainda no tero se matado quando chegarmos l. Vamos
precisar deles se quisermos ter um pouco de esperana em vencer essa guerra.
De ambos.
Sam e eu seguimos pelas sombras. Alguns bairros ainda tm eletricidade, ento os
postes das ruas esto acesos, brilhando como se fosse um fim de tarde comum numa
cidade grande, como se as ruas no estivessem cheias de carros capotados e
rachaduras no pavimento. Ns evitamos esses bairros, pois sabemos que ser mais
fcil para os mogadorianos nos encontrarem.
Passamos por onde deveria ser Chinatown. Parece que um tornado atingiu aqui. As
caladas esto intransitveis em um dos lados, um bairro inteiro com prdios que
desmoronaram. H centenas de peixes mortos no meio da rua. Temos que abrir
caminho cuidadosamente atravs dos obstculos.
No meio do caminho, ainda havia pessoas perto destes bairros. O DPNY estava
tentando

conseguir

uma

evacuao

organizada,

mas

maioria

fugia

desesperadamente, apenas tentando ficar frente dos esquadres mogadorianos


que pareciam ter a mesma probabilidade de assassinar as pessoas ou lev-las como
prisioneiras. Todos estavam em pnico e em estado de choque frente sua terrvel
realidade. Sam e eu recolhemos os retardatrios, aqueles que no conseguiram fugir
a tempo, ou aqueles grupos que foram separados pelas patrulhas mogadorianas.
Havia muito deles. Agora, depois de dez quarteires, no vimos mais nenhuma alma
viva. Talvez a maioria das pessoas na parte baixa de Manhattan tenha conseguido

fugir para a Ponte do Brooklyn isso se os mogs no estiverem atacando l nesse


momento.
De qualquer forma, descobri de que as pessoas que conseguiram sobreviver at o
fim do dia so espertas o suficiente para passar a noite escondidas.
Enquanto seguimos para o prximo quarteiro desolado, Sam e eu contornamos
cuidadosamente uma ambulncia abandonada, onde escuto sussurros vindos de um
beco prximo. Coloco minha mo nos braos de Sam e, quando paramos de andar, o
barulho cessa. Posso dizer que estvamos sendo observados.
O que foi? Sam pergunta, com a voz num tom baixo.
H algum l.
Sam semicerra os olhos para a escurido.
Vamos continuar ele diz depois de alguns segundos. Eles no querem nossa
ajuda.
difcil para mim deixar algum para trs. Mas Sam tem razo quem quer que
esteja l, est perfeitamente bem escondido, e ns estaramos colocando-os em um
perigo maior se os levssemos conosco.
Cinco minutos depois, ns viramos uma esquina e vemos nossa primeira patrulha
mogadoriana da noite.
Os mogs esto no lado oposto do quarteiro, ento temos um espao seguro para
observ-los. H doze soldados, todos carregando canhes. Sobre eles, um Skimmer
est zumbindo, varrendo a rua com um holofote de luz preso sob a nave. A patrulha
se move metodicamente pelo quarteiro, um grupo de quatro soldados
periodicamente se separando dos outros para entrar nos apartamentos escuros dos
prdios.
Eu os observo nessa rotina por duas vezes, e em ambas suspiro aliviado quando os
soldados retornam sem prisioneiros. O que aconteceria se os mogs encontrassem um
humano em algum destes prdios e o arrastasse aos berros pela rua? Eu no poderia

deixar isso acontecer, certo? Eu teria que lutar. E o que aconteceria depois que Sam
e eu segussemos nosso caminho? Eles so predadores. Se os deixarmos vivos,
eventualmente encontraro outra presa.
Enquanto considero isso, Sam me cutuca, apontando para um beco prximo que ir
nos ajudar a evitar os mogs.
Vamos ele fala quase sem fazer som. Antes que eles cheguem perto demais.
Fico enraizado no lugar, considerando nossa sorte. H apenas doze deles, mais a
nave. Eu j lutei com grupos maiores antes e ganhei.
Porm, ainda estou cansado da tarde que passamos batalhando sem intervalos, mas
teramos o elemento surpresa do nosso lado. Eu poderia derrubar o Skimmer antes
mesmo de eles perceberem que esto sob ataque, e o resto cairia facilmente.
Ns podemos contra eles.
John, est maluco? Sam pergunta, segurando meu ombro. No podemos
lutar contra cada mogadoriano que est em Nova York.
Mas podemos lutar contra esses aqui respondo. Estou me sentindo melhor
agora, e se alguma coisa der errado, posso nos curar depois.
Presumindo que no iremos, voc sabe, levar um tiro na cara e morrer. De batalha
em batalha, nos curar logo depois por quanto tempo acha que pode fazer isso?
Eu no sei.
H muito deles. Temos que escolher nossas batalhas.
Voc est certo admito de m vontade.
Ns seguimos em direo do beco, pulamos uma cerca de metal e emergimos no
quarteiro vizinho, deixando a patrulha mogadoriana com sua caada.
Logicamente, sei que Sam est certo. Eu no deveria gastar meu tempo com uma
dzia de mogs enquanto h uma guerra maior para ser vencida. Depois de um dia
exaustivo, eu deveria estar conservando minhas foras. Sei que tudo isso verdade.
Mesmo assim, no posso evitar me sentir um covarde por evitar as batalhas.

Sam aponta para uma placa que marca a 1st Street com a Segunda Avenida.
Ruas numeradas. Estamos chegando mais perto.
Eles estavam lutando perto da 14th Street, mas isso foi h pelo menos uma hora.
Pela forma que estava acontecendo, eles podem ter ido para qualquer direo a
partir de l.
Ento vamos manter nossos ouvidos atentos para exploses e xingamentos
criativos Sam sugere.
Ns andamos apenas alguns quarteires antes de encontrarmos nossa segunda
patrulha de mogs da noite. Sam e eu nos escondemos atrs de um caminho de
entregas, carrinhos abandonados com pes assados recentemente. Movo minha
cabea em direo frente do caminho, para observar. Mais uma vez, h doze
soldados com um Skimmer ajudando-os. Porm, esse grupo se comporta
diferentemente do ltimo. A nave est flutuando, estabilizada, com seu holofote
direcionado para uma janela estilhaada de um banco. Todos os mogs do lado de
fora tm seus canhes apontados para o prdio. Alguma coisa os assustou.
Reconto as cabeas plidas que esto olhando para a luz do holofote. Onze. Apenas
onze onde definitivamente havia doze. Ser que algum deles virou cinzas sem que eu
notasse?
Vamos Sam diz cautelosamente, provavelmente pensando que estou querendo
arrumar briga mais uma vez. Deveramos ir enquanto eles esto distrados.
Espere um pouco. Algo est acontecendo aqui.
Enquanto os outros do cobertura, dois mogs seguem em direo ao banco. Eles
esto indo devagar, com as armas apontadas, procurando por alguma coisa alm da
luz do Skimmer.
Quando alcanam o limiar do banco, ambos os mogs tm suas armas arrancadas das
mos e jogadas para longe. O esquadro inteiro pausa, congelado, frisado por esse
acontecimento.

telecinesia. Algum acabou de desarmar os mogs com um Legado.


Olho com surpresa para Sam.
Nove ou Cinco eu digo. Eles esto encurralados.
Voltando para a realidade, o resto dos mogs abre fogo sobre a escurido do banco.
Os dois soldados desarmados so erguidos do cho, mais uma vez por telecinesia, e
usados como escudo. Eles se desintegram em cinzas na enxurrada de tiros do seu
esquadro. Ento uma mesa sai voando de dentro do banco. Dois mogs so atingidos
pela moblia, e os outros correm para procurar abrigo. Enquanto isso, o Skimmer
levado para mais perto da rua, suas armas sendo ativadas, ansiosas para um tiro em
direo ao interior do banco.
Eu fico com a nave, voc com os soldados eu digo.
Ento vamos Sam diz, assentindo. S espero que no seja o Cinco
encurralado l.
Salto detrs da caminhonete e corro em direo ao, acendendo meu Lmen
enquanto sigo. As terminaes nervosas de minhas mos parecem estar fritas. Posso
realmente sentir o calor do meu prprio Lmen, como se eu estivesse passando
minha mo sobre a chama de uma vela. A dor suportvel, claramente um efeito
colateral pelo esforo excessivo de hoje. Eu aguento firme, rapidamente lanando
uma bola de fogo no Skimmer. Meu primeiro ataque explode o holofote,
escurecendo a rua. A nave perde o controle assim que descarrega sua arma no
banco, com a exploso mais forte criando rachaduras na parede de tijolos do prdio.
Com a arma principal distrada, espero ver Nove sair de dentro do banco e se juntar
luta.
Ningum aparece. Talvez o Garde l dentro esteja ferido.
Depois de um longo dia lutando entre si e contra os mogs, eles provavelmente esto
mais desgastados do que eu.

Ouo um chiado de eletricidade atrs de mim Sam est usando sua arma e
observo enquanto os dois mogs mais prximos so explodidos em cinzas. Nos vendo
chegar por trs, um dos mogs tenta se abaixar atrs de um carro estacionado. Sam o
arranca da proteo com sua nova telecinesia e acaba com ele.
Um dos outros mogs grita uma exploso de palavras irritantes em mogadoriano num
comunicador. Provavelmente pedindo reforo pelo rdio.
Entregando nossa localizao isso no bom.
Subo no teto de um SUV estacionado convenientemente abaixo do Skimmer. No meu
caminho, arremesso uma bola de fogo no mogadoriano que est com o
comunicador. Ele engolido pelas chamas e logo no nada mais do que um monte
de cinzas envolto em engrenagens derretidas. Mesmo assim, o dano est feito. Eles
sabem que estamos aqui. Precisamos sair daqui depressa.
Salto do teto do SUV, criando uma enorme cavidade no metal com minha fora. Ao
mesmo tempo, acerto o Skimmer com um soco telecintico. No tenho o poder para
derrubar a nave, mas eu a acerto com fora suficiente, de modo que um dos lados da
nave em forma de pires se inclina para baixo, na minha direo. Subo direto em cima
da coisa, dois pilotos mogadorianos me encarando em estado de choque.
H algumas semanas, teria sido bom ver dois mogs com medo. Eu at teria dito
alguma coisa engraada, pegando emprestado algumas do livro de piadas do Nove
antes de mat-los. Mas agora depois do terror que eles desencadearam em Nova
York no perco o meu flego para isso.
Arranco a porta da cabine, soltando-a de suas dobradias e arremessando-a para a
noite. Os mogs tentam se soltar dos cintos em seus assentos, tateando por seus
canhes. Antes que eles possam fazer qualquer coisa, libero um exaustor, que solta
um fogo branco muito quente. O Skimmer imediatamente comea a ficar fora do
controle.

Pulo da nave, caindo com fora na calada abaixo, minhas pernas cansadas mal
conseguindo me suportar. O Skimmer se choca contra uma loja do outro lado da rua
e explode, fumaa preta ascendendo para fora da janela quebrada da loja.
Sam corre at mim, sua arma apontada para o cho. O resto da rea est limpa em
relao aos mogs. Por enquanto.
Derrubamos doze, e tipo, ainda falta uns cem mil Sam fala secamente.
Um deles conseguiu se comunicar com os outros. Precisamos ir digo a Sam, mas
enquanto falo, sinto a luz da outra nave acima de ns mais uma vez. A adrenalina da
batalha se foi, minha fadiga voltou. Eu tenho que me apoiar nos ombros de Sam por
um minuto, para que eu possa me orientar.
Ningum saiu do banco Sam diz. No acho que seja Nove l. A menos que ele
esteja ferido, est tudo muito quieto.
Cinco eu resmungo, me movendo cautelosamente em direo entrada
explodida do banco. Eu no tenho certeza se posso aguentar uma briga com ele
agora. Minha nica esperana que Nove tenha feito um bom trabalho com ele.
L Sam diz, apontando para a entrada escura.
Algum est se movimentando ali. Quem quer que seja, parece ter se escondido
atrs de um sof durante a batalha toda.
Ei, est tudo limpo aqui eu falo em direo ao banco, rangendo meus dentes
enquanto ilumino o interior com meu Lmen. Nove? Cinco?
No algum da Garde que cautelosamente d um passo em direo ao meu raio de
luz. uma garota. Ela provavelmente tem a nossa idade, alguns centmetros mais
baixa que eu, com um corpo magro de velocista. Seu cabelo est amarrado para trs
em tranas. Suas roupas esto desgastadas devido batalha ou ao caos geral, mas
alm disso, ela parece ilesa. Pendurada atrs do ombro esquerdo da garota h uma
mochila que parece pesada. Ela olha de Sam para mim com olhos castanhos
arregalados, eventualmente focando na luz brilhante da palma da minha mo.

Voc ele a garota diz, dando um passo frente. Voc o garoto da TV.
Agora que a garota est perto o suficiente para v-la, apago meu Lmen. No quero
iluminar nossa localizao para os reforos mogadorianos que esto a caminho.
Eu sou John digo a ela.
John Smith. , eu sei a garota responde, assentindo exageradamente. Eu sou
Daniela. Voc realmente acabou com aqueles aliengenas infernais.
Ahn, obrigado.
Havia algum l dentro com voc? Sam interrompe, esticando seu pescoo para
olh-la. Um cara com raivoso problemtico que tem hbito de tirar a camisa? Um
caolho bruto?
Daniela vira sua cabea para Sam, franzindo as sobrancelhas.
No. O qu? Por qu?
Pensamos ter visto algum atacar aqueles mogs com telecinesia explico,
olhando para Daniela mais uma vez, sentindo igualmente curiosidade e cuidado. J
fomos enganados por aliados potenciais antes.
Voc quer dizer isso? Daniela estica sua mo e um dos canhes que antes
pertenceu a um dos mogs mortos flutua at ela. Ela o segura e o apoia at o ombro
que no est apoiando a mochila. Uh-huh. Isso novo para mim.
Eu no sou o nico Sam diz, olhando para mim com os olhos arregalados.
Minha mente est trabalhando com as possibilidades to rpido que fico mudo.
Posso no ter entendido o motivo, mas Sam desenvolver Legados fez sentido para
mim at certo ponto. Ele passou tanto tempo com ns da Garde, fez tanto para nos
ajudar se qualquer humano fosse desenvolver Legados, teria de ser ele. As horas
desde que a invaso comeou foram to loucas que realmente no tive tempo para
pensar mais sobre isso. No precisei, na verdade. Sam com Legados pareceu to
lgico.

Quando imaginei outros humanos ao lado de Sam desenvolvendo Legados, eu estava


pensando nas pessoas que conhecemos, pessoas que nos ajudaram. Pensei em
Sarah, na maior parte do tempo. Definitivamente no em uma garota aleatria. Essa
garota, porm, Daniela, ter desenvolvido um Legado significa algo muito maior do
que eu imaginei que havia acontecido.
Quem ela? Por que ela desenvolveu Legados? H quantos mais iguais a ela por a?
Enquanto isso, Daniela est olhando para ns com aquele olhar novamente.
Ento, hum, posso perguntar por que voc me escolheu?
Te escolhi?
, para me tornar uma mutante Daniela explica. Eu no podia fazer essa
droga at hoje quando voc e os caras plidos...
Mogadorianos corrige Sam.
Eu no podia mover as coisas com a mente at voc e os modagorianos
aparecerem Daniela termina. O que h, cara? Nenhuma das outras pessoas que
vi por a tinha poderes.
Sam pigarreia e levanta sua mo, mas Daniela o ignora. Ela est no meio de uma
encenao agora.
Eu sou radioativa? O que mais posso fazer? Voc tem essas luzes brilhantes que
acendem na sua mo. Eu vou ser capaz de fazer isso tambm? Por que eu? Responda
a ltima primeiro.
Eu... coo a minha nuca, oprimido. No tenho a menor ideia porque
aconteceu com voc.
Oh Daniela franze a testa, olhando para o cho.
John, no deveramos ir?
Assinto quando Sam me lembra do pendente reforo mogadoriano. J estamos aqui
parados e conversando por muito tempo.

Diante de mim bem na minha frente, no caso est... o que, exatamente? Novos
membros da Garde? Humanos. No se parece com nada do que j contemplei.
Preciso me concentrar e raciocinar sobre o novo status rapidamente, porque se
houver mais humanos Gardes por a, eles vo precisar de ajuda. E com todos os
Cpans mortos...
Bom, assim resta ns. Os lorienos.
Primeiramente, tenho que ter certeza de que Daniela vai ficar conosco. Preciso de
tempo para falar com ela, para tentar descobrir o que exatamente desencadeou o
seu Legado.
No seguro aqui, voc deveria vir conosco eu digo a ela.
Daniela olha em volta, para a destruio que nos rodeia.
Ser seguro onde quer que voc esteja indo?
No. bvio que no.
O que John quer dizer que esse bairro em particular vai estar cheio de
mogadorianos a qualquer minuto Sam explica.
Ele comea a se afastar do banco, tentando ser um exemplo. Daniela no o segue,
ento eu tambm no.
Seu companheiro est nervoso Daniela observa.
Meu nome Sam.
Voc um cara nervoso, Sam Daniela responde, com uma mo na cintura. Ela
comeou a me olhar novamente, dos ps cabea. Se mais daqueles aliengenas
aparecerem, por que voc no simplesmente explode o traseiro deles?
Eu... eu me vejo reciclando a lgica do escolha-sua-batalha que me fez arrepiar
todo quando Sam a usou comigo. H muito deles para continuarmos lutando.
Voc pode no perceber e nem sentir agora porque acabou de comear a us-los,
mas nosso Legados no tm uma fonte ilimitada. Voc pode abusar, ficar cansada, e
ento no seremos bons para ningum.

Conselho bom Daniela diz. Ela continua enraizada no lugar. Que pena que
voc no pde responder nenhuma das minhas perguntas.
Olhe, eu no sei o motivo pelo qual voc desenvolveu Legados, mas um
acontecimento incrvel. Uma coisa boa. Talvez seja seu destino. Voc pode nos
ajudar a vencer esta guerra.
Daniela bufa.
Srio cara? Eu no estou lutando em guerra alguma, John Smith de Marte. Estou
tentando sobreviver aqui fora. Isso a Amrica, mano. O Exrcito vai cuidar do
traseiro plido desses aliengenas. Eles vo cuidar de tudo e pronto.
Balano minha cabea em descrena. Realmente no h tempo para explicar para
Daniela tudo o que ela precisa saber sobre os mogadorianos sobre a tecnologia
superior deles, suas infiltraes no governo da Terra, sua fonte inesgotvel de
soldados nascidos artificialmente e monstros. Nunca tive que explicar essas coisas
para os outros membros da Garde. Ns sempre soubemos disso, fomos criados
entendendo nossa misso na Terra. Mas Daniela e os outros novos membros da
Garde que podem estar andando desorientadamente por a... e se eles no estiverem
prontos para lutar? Ou no quiserem?
Uma exploso sacode o cho abaixo de ns. Ela emana de alguns quarteires de
distncia, mas ainda assim poderosa o suficiente para disparar o alarme dos carros
e ranger meus dentes. Uma cortina fina de fumaa mais escura que o cu noturno
aparece em nosso campo de viso do norte. Parece que um prdio acabou de
desmoronar.
Falando srio Sam diz. Alguma coisa est vindo em nossa direo.
Outra exploso, mais perto, confirma as suspeitas de Sam. Eu me viro
desesperadamente para Daniela.
Podemos ajudar uns aos outros. Temos que fazer isso, ou no sobreviveremos
eu digo, pensando no apenas em ns trs, mas nos outros humanos e lorienos.

Estamos procurando nosso amigo. Assim que o encontrarmos, vamos sair de


Manhattan. Ouvimos que o governo estabeleceu uma zona segura perto da Ponte do
Brooklyn. Seguiremos para l e...
Daniela acaba com meu plano, parando na minha frente. Seu tom de voz aumentou,
e eu sinto sua telecinesia contra meu peito, como se fosse seu dedo indicador.
Meu padrasto foi torrado por uma daquelas escrias plidas e agora estou
procurando pela minha me, garoto extraterrestre. Ela trabalhava aqui perto. Voc
est dizendo que eu deveria largar tudo e me juntar ao seu exrcito de duas pessoas,
correr pela minha cidade que serviu de cenrio e foi explodida? Voc est dizendo
que o amigo que est procurando mais importante do que minha me?
Mais uma exploso. S que ainda mais perto. Eu no tenho ideia do que dizer para
Daniela. Que sim, salvar a Terra mais importante do que salvar a me dela? esse
o meu discurso de recrutamento? Eu teria ouvido isso se algum me dissesse com
relao a Henri ou Sarah?
Ah meu Deus Sam diz, desesperado. Podemos pelo menos concordar em
correr na mesma direo?
E ento que o reforo mogadoriano chega. No apenas um esquadro de
Skimmers ou soldados que vieram nos matar.
Anubis.

Captulo quatro

A NAVE DE GUERRA MASSIVA, MAIOR QUE UM PORTA-AVIES, TORNA-SE VISVEL


NO cu noturno quando ainda est a mais ou menos cinco quarteires de distncia.
Ela se arrasta devagar atravs da fumaa rida que causou com seus recentes
bombardeamentos. Sam e eu conseguimos nos manter frente da Anubis mais cedo
durante a tarde, lutando pelo caminho rumo ao sul enquanto ela lentamente
rondava o cu para o oeste. Mas agora, aqui est ela, assombrando a avenida, na
direo da Union Square.
Cerro meus punhos. Setrkus Ra e Ella esto a bordo da Anubis. Se eu apenas
conseguisse chegar l, talvez pudesse lutar pelo caminho at chegar ao lder
mogadoriano. Talvez eu pudesse mat-lo desta vez.
Sam para do meu lado.
No que quer que esteja pensando, uma m ideia. Precisamos correr, John.
Como se para pontuar a declarao de Sam, uma bola escaldante de energia eltrica
se forma no enorme canho montado no casco da Anubis. como uma miniatura do
sol se formando dentro do cano, e por um momento ela ilumina os bairros com uma
cor azul fantasmagrica. Ento, com um som como o de mil canhes mogadorianos
sendo utilizados de uma vez, a energia irrompe de dentro do canho, cortando
atravs da fachada de um prdio comercial prximo, a estrutura de vinte andares
quase desmoronando imediatamente.
Uma onda de poeira cai sobre a rua em nossa direo. Tossindo, ns trs cobrimos os
olhos para proteg-los. A poeira talvez nos d cobertura, mas isso no importa muito
quando a nave de guerra tem um canho que pode demolir prdios inteiros de uma
nica vez.
A Anubis arrasta-se pesadamente, se aproximando, j se preparando para mais um
tiro. No tenho certeza se Setrkus Ra est mirando em pontos de calor dentro dos
edifcios ou se est apenas destruindo as coisas aleatoriamente, esperando nos

atingir. No importa. A Anubis como uma fora da natureza e est vindo em nossa
direo.
Para o inferno com isso ouo Daniela dizer, e ento ela comea a se afastar.
Sam a segue, ento eu tambm, ns trs recuando pelo mesmo caminho que eu e
Sam percorremos para chegar aqui. Teremos de encontrar outra maneira de rastrear
o Nove. Se ele ainda estiver nessa rea, espero que ele consiga fugir desse
bombardeamento.
Voc sabe onde est indo? Sam grita para Daniela.
O qu? Vocs esto me seguindo agora?
Voc conhece a cidade, no ?
Outro prdio explode atrs de ns. A poeira mais fina desta vez, nos asfixiando, e
minhas costas est sendo bombardeada com pequenos pedaos de gesso e cimento.
As exploses esto muito prximas. Talvez no sejamos capazes de escapar da
prxima.
Precisamos sair da rua! eu grito.
Por aqui! Daniela grita, enganchando uma curva esquerda que
momentaneamente nos leva para fora do dilvio de detritos dos edifcios que
desmoronaram no fim da avenida.
Quando Daniela vira, algo cai pelo zper quebrado de sua mochila. Por um curto
segundo, meus olhos rastreiam uma nota de cem dlares enquanto ela flutua atravs
do ar e rapidamente engolida pela nuvem de poeira de detritos. Estranho o que
voc percebe quando est correndo para salvar sua vida.
Espere a. O que exatamente ela estava fazendo naquele banco quando os mogs a
encurralaram?
No h tempo para perguntar. Outra exploso atinge a rea, essa definitivamente
muito prxima e forte o suficiente para derrubar Sam. Eu o ajudo a levantar e ns
cambaleamos para frente, ambos cobertos de poeira pegajosa e asfixiante provida

dos prdios destrudos. Embora Daniela esteja apenas a alguns metros frente, ela
visvel apenas como uma silhueta.
Estou aqui! ela grita para ns.
Tento iluminar o caminho com meu Lmen, mas no tem um efeito muito bom nos
fragmentos dos prdios destrudos. No tenho ideia de para onde Daniela est nos
levando, no at o cho desaparecer debaixo dos meus ps e eu me ver caindo num
buraco no cho.
Uus! Sam deixa escapar quando ele cai no cho de concreto perto de mim.
Daniela est de p a alguns metros frente. Minhas mos e joelhos esto ralados
devido a aterrisagem, mas alm disso estou ileso. Olho por cima do ombro, vendo
uma escada escura que rapidamente coberta com detritos vindos de cima.
Estamos em uma estao de metr.
Um aviso teria cado bem digo para Daniela.
Voc disse, para fora das ruas ela responde. Estamos fora das ruas.
Voc est bem? pergunto a Sam, ajudando-o a se levantar.
Ele assente, recuperando o flego.
A estao de metr comea a vibrar. As catracas de metal comeam a chacoalhar e
mais poeira cai do teto. Mesmo as paredes sendo de concreto, posso ouvir o rugido
poderoso dos motores da nave de guerra. A Anubis deve estar agora bem acima de
ns. Uma luz eltrica azul chove dentro da estao vindo de fora.
Vo! eu grito, empurrando Sam, Daniela j est pulando a catraca.
Para dentro dos tneis!
O canho descarrega com um som agudo. Mesmo protegido por camadas de
concreto, eu me arrepio com a eletricidade, meu corpo formigando at os ossos. A
estao treme e, sobre ns, um edifcio deixa escapar um grunhido agudo quando
suas colunas de metal se entortam e desmoronam. Eu me viro e corro, pulando as
catracas depois de Sam e Daniela. Olho por sobre o ombro enquanto o teto comea a

ceder, primeiro selando a passagem da escadaria pela qual acabamos de passar, e


depois se espalhando em frente, para dentro da estao. Ela no vai aguentar por
muito tempo.
Corram! grito de novo, torcendo para ser ouvindo sobre os rangidos da
arquitetura.
No meio da escurido do tnel da estao, ns arrancamos. Acendo meu Lmen para
que possamos ver, minha luz reluzindo nas partes de metal em ambos lados. Percebo
um movimento do meu lado e demora alguns segundos para perceber que h uma
horda de ratos correndo ao nosso lado, tambm fugindo do desmoronamento. Em
algum lugar aqui embaixo, um cano deve ter estourado, pois estou correndo com
gua nos tornozelos.
Com minha audio aguada, ouo as pedras que nos envolvem grunhindo e
rasgando. O que quer que a Anubis tenha destrudo na rua, causou maior dano para
a fundao da cidade. Olho rapidamente para o teto bem a tempo de ver uma
rachadura se espalhar atravs do concreto, rompendo rapidamente as paredes
cobertas de mofo. como se estivssemos tentando desviar dos danos estruturais.
No podemos ganhar essa corrida. O tnel ir desabar.
Estou prestes a gritar em aviso quando o tnel se rompe acima de Daniela. Ela
apenas tem tempo de olhar para cima e gritar enquanto um pedao desalojado de
concreto desaba em sua direo.
Coloco toda a fora em minha telecinesia e empurro o concreto para cima.
Eu o impeo de cair. Consegui segurar o pedao de concreto poucos centmetros
acima da cabea de Daniela. Fao tanto esforo para segurar o peso massivo sob a
cabea dela que eu caio de joelhos. Sinto as veias em meu pescoo latejarem, suor
fresco escorrendo em minhas costas. como carregar um tremendo peso quando
voc j est totalmente exausto. E enquanto isso, novas pedaos esto se soltando

rapidamente da parte quebrada do teto. fsica o peso tem de ir para algum lugar.
E esse lugar vai ser bem acima de ns.
Eu posso aguentar. No por muito tempo.
Sinto o sangue na minha boca e percebo que estou mordendo meus lbios. Mal
consigo gritar para os outros por ajuda. Se eu mudar um pouco que seja o foco da
minha telecinesia, o peso ser muito maior.
Por sorte, Sam percebe o que est acontecendo.
Temos que segurar o teto! ele grita para Daniela. Temos que ajud-lo!
Sam para perto de mim e joga suas mos para cima. Sinto a fora de sua telecinesia
se juntar minha e isso alivia um pouco da presso. Agora sou capaz de ficar em p
novamente.
Pelo canto do olho, vejo Daniela hesitar. A verdade que, se ela correr agora, comigo
e com Sam suportando o tnel, ela provavelmente conseguir sair ilesa. Estaramos
ferrados, mas ela conseguiria se salvar.
Mas ela no corre. Ela para do meu outro lado e comea a ajudar. O concreto no teto
protesta e mais rachaduras aparecem nas paredes do tnel. um equilbrio delicado
nossas telecinesias apenas foram o peso da pedra de concreto quebrado mudar-se
para outro lugar. No importa o que fizermos, eventualmente, esse tnel vai
desmoronar.
Peso suficiente foi tirado de cima de mim, ento sou capaz de falar novamente.
Ignoro a sensao agoniante nos meus msculos, o peso caindo sobre meus ombros.
Sam e Daniela esto segurando, esperando por instrues.
Andem... recuem eu consigo grunhir. Vamos recuar... lentamente.
De ombro a ombro, nos trs marchamos lentamente para trs no tnel. Ns
mantemos a presso telecintica diretamente acima de ns, gradualmente a
soltando das sees em que j passamos com segurana. Logo aps, elas tremem e
desabam. Em certo momento, vejo dois carros caindo para dentro do tnel,

rapidamente engolidos pelos outros detritos. A rua acima de ns est se partindo,


porm ns trs conseguimos segur-la.
Por quanto tempo? Sam pergunta por entre os dentes.
No sei eu respondo. Continue.
Merda Daniela repete seguidamente, sua voz quase num sussurro.
Posso ver seus braos tremendo. Sam e ela so novatos, no esto acostumados com
telecinesia. Nunca suportei esse peso antes, e eu certamente no chegaria nem
perto de conseguir no meu primeiro dia com Legados. Posso sentir a fora deles se
esvaindo, comeando a se esgotar.
Eles precisam apenas aguentar por mais alguns metros. Se eles no conseguirem,
estamos mortos.
Ns vamos conseguir eu murmuro. Continuem!
Posso sentir a estao de metr gradualmente afundar sob meus ps. Quanto mais
longe alcanamos, mais resistente o teto acima de ns fica. Passo a passo, a
contrapresso telecintica que precisamos exercer diminui, at finalmente
chegarmos a uma seo onde o teto est estvel.
Podem soltar eu digo. Tudo bem, j podem soltar.
Juntos, ns trs soltamos o teto. H uns dez metros de distncia, o ltimo pedao do
teto que estvamos segurando desmorona no tnel, bloqueando o caminho por
onde viemos. Sobre ns, o tnel range e se estabiliza. Ns trs camos na gua suja
do cho do tnel. Sinto literalmente que um peso foi retirado de cima dos meus
ombros. Ouo algum vomitando prximo a mim e vejo que Daniela. Tento me
levantar para ajud-la, mas meu corpo no coopera. Eu caio de cara na gua.
Um segundo depois, as mos de Sam esto embaixo dos meus braos, me
levantando. Seu rosto est plido e tenso, como se ele no tivesse mais fora.
Ah cara, ele est morrendo? Daniela pergunta para Sam.

No importa o tanto do teto que estvamos segurando, ele provavelmente estava


suportando quatro vezes mais Sam responde. Me ajude com ele.
Daniela desliza para baixo do meu outro brao. Ela e Sam me levantam e me
arrastam tnel adentro.
Ele acabou de salvar minha vida Daniela diz, ainda sem flego.
, ele meio que faz isso Sam vira o rosto, e sussurra no meu ouvido. John?
Pode me ouvir? Voc j pode apagar as luzes. Podemos seguir no escuro por
enquanto.
S ento que percebo que ainda estou iluminando o tnel com meu Lmen. Por
causa da fumaa, ainda estou instintivamente mantendo as luzes acesas. Tenho de
me esforar para conseguir apagar o Lmen, para no lutar contra minha prpria
exausto, me permitir ser carregado.
Eu apago. Confio em Sam.
E ento j no sinto mais as mos de Sam e Daniela ao meu redor.
No posso sentir meus ps sendo arrastados atravs da fina poa de gua nos tneis
da estao de metr. Todas as minhas dores e cansao se foram at eu estar
flutuando calmamente atravs da escurido.

A voz de uma garota interrompe meu descanso.


John...
Uma mo fria segura na minha. delicada e pequena, frgil, mas aperta com fora
suficiente para me trazer de volta aos sentidos.
Abra os olhos, John.
Fao o que ela diz e me encontro deitado numa mesa de operaes numa sala
austera, vrias mquinas de aparncia cirrgicas arrumadas e espalhadas ao meu
redor. Prximo minha cabea h uma mquina que se parece muito com um

aspirador de p um tubo de suco com um bisturi em forma de dente de tubaro


e sua extremidade anexada a um barril cheio de uma substncia preta viscosa. O
lquido flutuando dentro da mquina me lembra daquela coisa que eu limpei das
veias do secretrio de defesa. S olhar para ela faz minha pele formigar.
inerentemente antinatural e mogadoriano.
Isso no est certo. Onde estou? Fomos capturados enquanto eu estava
inconsciente?
No consigo sentir meus braos nem minhas pernas. E ainda, estranhamente, no
estou em pnico. Por alguma razo, eu no me sinto em nenhum estado de perigo
real. Eu j tive esse tipo de experincia fora-do-corpo antes.
Estou num sonho, percebo. Mas ele no meu. Algum est controlando isto.
Com algum esforo, consigo virar minha cabea para a esquerda.
No h nada diferente nessa direo, com exceo de mais equipamentos de
aparncia bizarra uma mistura equipamentos mdicos de metal inoxidvel e
mquinas complexas, como aquelas que encontramos em Ashwood Estates. Na
parede mais distante, embora, h uma janela. Um observatrio, na verdade. Estamos
no ar, o cu escuro do lado de fora, iluminado apenas pelo fogo na cidade abaixo.
Estou abordo da Anubis, flutuando sobre a cidade de Nova York.
Prestando ateno em cada detalhe, viro minha cabea para a direita. Um grupo de
mogadorianos vestidos com aventais de laboratrio e usando luvas esterilizadas se
amontoam ao redor de uma mesa de metal exatamente como a que estou. H um
pequeno corpo na mesa. Um dos mogs segura um tubo de outro barril com aquele
lquido, no processo de injet-lo no esterno de uma jovem garota, deitada na mesa.
Ella.
Ela no chora quando a lmina da mangueira perfura seu peito. Estou impossibilitado
de fazer qualquer coisa enquanto a gosma preta mogadoriana lentamente injetada
dentro dela.

Eu quero gritar. Antes que eu possa, Ella vira sua cabea e trava um olhar comigo.
John ela diz, sua voz totalmente calma apesar da cirurgia macabra que est
sendo feita nela. Levante. No temos muito tempo.

Captulo cinco
NS PODEMOS FAZER ISSO, MAS PRIMEIRO PRECISAMOS
ENTENDER COMO A Phiri Dun-Ra pensa Adam sussurra.
Voc que o expert na psicologia mogadoriana respondo, observando
Adam enquanto ele usa um galho quebrado para desenhar um quadrado na
poeira do cho. Esclarea-nos.
Ns trs nos agachamos perto do Skimmer sem vida na faixa de terra que os
mogs usavam como pista de pouso. Est escuro agora, mas os mogs tinham
um monte de lanternas eltricas portteis para realizar as rondas ao redor do
Santurio. Penso que a Phiri no teve a ideia de roubar as baterias, ento
pelo menos ns temos luz. Tambm h alguns projetores de luz posicionados
no permetro do templo, mas no os ligamos. No precisamos facilitar a
espionagem sobre ns para ela.
A mata ao nosso redor parece maior agora que o sol se ps, o ecoar do canto
dos pssaros foram trocados por som estridente de bilhes de mosquitos.
Bato no meu pescoo onde deles estava tentando me morder.
No h dvida para mim que ela est l fora, nos observando Adam diz.
Todos os soldados da classe dela foram treinados para vigiar.
, ns sabemos eu digo, o olhando torto na escurido. Vocs
estiveram nos seguindo durante toda a nossa vida, lembra?
Adam continua, me ignorando.
Ela provavelmente capaz de ficar trs dias sem dormir. E no vai ficar no
mesmo lugar, estar sempre em movimento. No haver um acampamento
ou nada assim para achar. Se ns formos atrs dela, ela vai mudar de lugar,
estando um passo a nossa frente. Ela tem bastante mata para se esconder.
Dito isso, o instinto dela ser ficar por perto. Ela quer manter o controle sobre
ns.

Marina faz uma careta para Adam, observando-o desenhar alguns rabiscos
na poeira envolta do quadrado. Ento percebo que ele est desenhando o
Santurio e a mata ao seu redor.
Ento ns temos que tir-la de l Marina diz.
Voc sabe um bom jeito de fazer isso? pergunto.
Ns damos a ela uma coisa que nenhum mog consegue resistir.
Adam responde, e desenha um M na parte oeste da mata. Ento, ele olha
para Marina:
Um Garde vulnervel.
Imediatamente, sinto o ar ao nosso redor ficar mais frio. Marina vai para
frente, chegando perto de Adam, olhando-o ameaadoramente.
Eu pareo vulnervel pra voc, Adam?
Com certeza no. Ns s queremos que voc parea assim.
Uma armadilha falo, tentando pensar. Marina, relaxa.
Marina me d um olhar bravo, mas sinto a sua aura de gelo desaparecer.
Ento Adam continua. Primeiro, ns nos separamos.
Nos separar? Marina repete. Voc est brincando?!
Essa sempre a pior ideia concordo.
Ns podemos ir l e ca-la. Seis pode ficar invisvel. Ela no vai ter
chance.
Isso poderia levar a noite toda Adam responde. Ou mais.
E esse no exatamente um bom plano nessa merda de mata recordo
Marina, me lembrando da nossa jornada nos Everglades.
Ns nos separamos porque burrice Adam explica. Ns fazemos
parecer que estamos tentando encontr-la, como se estivssemos tentando
poupar tempo. Phiri ver isso como uma oportunidade...
Adam desenha trs linhas saindo do templo, indo para mata.

Seis, voc vai para leste, eu vou para o sul, Marina, voc vai para oeste
Adam olha para mim. Quando voc contar duzentos passos na mata, fique
invisvel. Ela no estar observando-a at esse ponto.
O que te faz acreditar que ela no vai me atacar? pergunto. Eu posso
ser vulnervel.
Marina bufa. Adam balana a cabea.
Ela vai ir atrs daquela que possui o Legado de cura primeiro. Tenho
certeza disso.
Por que seria isso que voc faria? Marina pergunta.
Adam encontra o seus olhos.
Sim.
Marina e eu trocamos um olhar. Pelo menos Adam est sendo direto sobre
como ele nos caaria. Estou feliz que ele esteja no nosso lado.
Acho que isso faz sentido Marina diz, examinando os desenhos na
terra. De repente ela olha para Adam. Espera. Voc est dizendo que os
mogs sabem que eu posso curar?
Claro ele responde. Qualquer Legado que eles observam nos
arquivos se torna parte de um dossi. E todos os mogs o estudam. como a
segunda lio favorita deles depois do Grande Livro.
Legal eu digo.
Marina considera isso.
Eles no devem saber sobre a minha viso noturna. uma coisa que eles
nunca viram.
Adam olha para ela, tirando os olhos do plano.
Voc tem viso noturna?
Marina assente.
Se voc est certo e Phiri me atacar mesmo, eu provavelmente virei
chegando.

Adam concorda. , isso um bnus.


Ento o que eu fao depois que ficar invisvel? pergunto.
Voc me acha, ns ficamos invisveis, e ento voltamos e seguimos
Marina. Para estarmos l quando Phiri atacar.
E se ela atacar antes de vocs chegarem?
Adam sorri.
Acho que voc tenta no mat-la at ns pegarmos os condutes de volta.
Voc acha que ela anda com eles por a? Marina pergunta.
Com sorte, ela deve estar carregando ele responde.
E se ela no estiver?
Eu... Adam olha de Marina para mim, tentando interpretar a nossa
reao. H maneiras de fazer as pessoas falarem. Mesmo mogadorianos.
Ns no torturamos Marina enfatiza. Mesmo depois de tudo o que ela j
passou, mesmo depois de perder o Oito, ela ainda tem compaixo. Ela olha
para mim, pedindo por ajuda. Certo, Seis?
Ns descobriremos na hora respondo, no quero tomar uma deciso
agora. Primeiro, vamos pegar essa vadia.
Ns trs fazemos um grande encenao para nos separarmos, cada um
carregando uma lanterna. Enquanto entro na mata densa, atravesso heras
grossas e galhos que parecem garras, focando minha audio o mximo que
consigo. Toro para que talvez eu tropece em Phiri, encurtando todo esse
plano que Adam armou, mas no tenho sorte. Eu s tenho sucesso em
ampliar sons incessantes da mata.
minha esquerda, alguma coisa escura e com um grito denso avisa que h
movimento no seu territrio. H tanto movimentos e barulhos aqui, Adam
estava certo, seria praticamente impossvel de rastrear Phiri Dun-Ra.
Empurro um arbusto para o lado com muito mais fora do que o necessrio.
Ele volta e bate no meu ombro. Eu ranjo meus dentes e me pergunto se eu

poderia simplesmente invocar um furaco aqui nessa estpida floresta e


pegar a Phiri Dun-Ra.
Um mog. Ns estamos aqui atrs de uma estpida mogadoriana. Isso deve
ser exatamente o que a Phiri queria, nos tirar do jogo quanto sabe-se l o que
est acontecendo em Nova York. Uma invaso de auto-nvel poderia estar a
caminho. Imagino John e Nove tentando lutar com hordas de mogadorianos,
Sam correndo para sobreviver, o mundo todo sendo engolido por chamas.
. Precisamos nos apressar.
Antes de nos separarmos indo para a floresta, acendemos as luzes ao redor
do permetro do Santurio para que sejamos capazes de achar o caminho de
volta. Assim que estou longe o suficiente, onde mal posso ver as luzes
atravs das rvores, fico invisvel. S para o caso de Phiri Dun-Ra estar me
observando ao invs de Marina, uso a minha telecinesia para flutuar minha
lanterna minha frente. Espero alguns minutos para ver se algum escondido
nas sombras vai perseguir a minha lanterna fantasmagrica e, quando
ningum aparece, penduro a lanterna em um galho e a deixo para trs.
Estou bem com a minha invisibilidade, tendo desenvolvido um bom sentido
espacial depois de anos de prtica. Ainda assim, no fcil caminhar sem
luz. Pelo menos adquiri experincia na Flrida. Eu vou devagar, olhando bem
por onde piso, me esquivando por baixo dos arbustos. Em um ponto, tenho o
cuidado de passar por cima de uma cascavel, a cobra nem se mexe enquanto
eu passo.
Depois de um tempo, vejo a lanterna de Adam iluminando a mata. Ele est se
movendo devagar de propsito, me esperando. Ele no me escuta chegar
perto. Quando coloco a minha mo na dele, um segundo antes de torn-lo
invisvel, eu o escuto prender a respirao e os seus ombros ficarem tensos.
Te assustei? sussurro para ele.
Tiro a lanterna da sua outra mo e com a telecinesia, fao a mesma coisa
que fiz antes com a minha.

Me surpreendeu, s isso ele responde baixo. Vamos.


Ns comeamos a ir na direo de Marina. Eu no vou muito rpido no
comeo, mas Adam tem um bom equilbrio e parece estar indo bem. A sua
mo est surpreendente fria e seca ao contrrio do ar mido da floresta, ele
est estvel com toda essa situao que no parece estranha para ele. Eu
no consigo conter uma pequena risada.
O qu? ele pergunta, sua voz um sussurro na escurido.
que nunca imaginei que chegaria um ponto em que eu estaria de mos
dadas com um mogadoriano respondo.
Ns somos aliados Adam responde. pela misso.
, obrigada por esclarecer isso. Ainda assim, no estranho para voc?
Adam para.
Na verdade no.
Ele no diz mais nada. Eu lembro de uma coisa que ele disse enquanto
estvamos voando para o Santurio.
Quem eu te lembro? pergunto a ele enquanto subimos com cuidado
num tronco cado.
O qu?
No Skimmer, voc disse que eu te lembrava algum.
Voc quer falar disso agora? ele sussurra de volta.
Eu estou curiosa respondo, mantendo um olho a procura do brilho da
lanterna de Marina. Ns ainda no o vimos.
Adam fica quieto por tempo suficiente que me faz pensar que prefere no
falar, como se o seu silncio fosse uma repreenso por eu no focar na
misso. Estou prestes a dizer a ele que sou completamente capaz de rastrear
um mogadoriano enquanto conversamos, quando ele finalmente me
responde.
Nmero Um ele diz. dela que voc me lembra.

Um? A Garde de quem voc pegou o Legado?


A sua mo fica tensa na minha, como se ele tivesse que se controlar para
no arrancar a sua mo da minha.
Ela me deu o Legado dela ele diz. Eu no peguei nada.
Ento t repondo. Desculpe. M escolha de palavras. Eu no sabia
que voc a tinha conhecido.
Ns tivemos um... relacionamento complicado.
Tipo, voc estava liderando os mogs que a perseguiram ou algo assim?
Ele suspira.
No. Depois que ela foi morta, a conscincia da Um foi implantada junto ao
meu crebro. Por um tempo, basicamente, ns dividimos um corpo. Acho que
por isso que no estou preocupado em segurar a sua mo ou qualquer
outra coisa de adolescente que possa estar te deixando desconfortvel pelo
ltimos cinco minutos. Eu j fui muito, muito prximo a um Garde antes.
Agora sou eu que caio em silncio. Eu nunca conheci a Nmero Um. Ela
permanece um completo mistrio para mim, mais como um conceito. A Um
sem sorte. A primeira a morrer. A primeira a ser morta. E mesmo assim,
Adam tem todo um conhecimento dela. estranho pensar que um
mogadoriano j se preocupou bem mais com a Nmero Um do que eu
durante toda a minha vida. No s isso, parece que ele realmente se importa
com ela. Nossa conversa fica cada vez mais estranha.
L est ela ele sussurra, acabando com qualquer conversa estranha
quando vemos a lanterna de Marina.
Bom Adam diz, parecendo aliviado. Agora ns a seguimos e
esperamos que Phiri Dun-Ra caia na arm...
Adam interrompido por um tiro crepitante azul de um canho, exatamente
na lanterna. Mesmo com o barulho da floresta, consigo escutar o grito de
Marina.

Droga! Vai!
Solto a mo de Adam e corro atravs da mata usando a minha telecinesia
para desviar os galhos emaranhados e dos densos arbustos. Tenho certeza
de que levei alguns arranhes pelo caminho, mas isso no importa. As
criaturas fazem barulho ao meu redor com pnico enquanto passo por seus
territrios. Tenho uma boa vantagem sobre Adam, correndo atrs de mim,
pelo caminho que eu estou limpando.
Logo a frente, posso dizer que a lanterna de Marina caiu no cho pelo jeito
que ela lana raios de luz curvados nas rvores retorcidas. Correndo com
toda a minha capacidade, leva menos de um minuto para abrir meu caminho
pela mata. Eu entro na pequena clareira onde a lanterna de Marina est no
cho, no exato momento de ver Marina levando sua mo sobre a queimadura
de um tiro de canho em seu outro brao. Ela me v enquanto cura a sua
carne empolada.
O plano funcionou Marina diz casualmente.
Voc est machucada respondo.
Isso? Ela teve sorte.
Respiro aliviada, ento olho para o lado de Marina, onde Phiri Dun-Ra nos
encara de joelhos. H uma tira de sangue fresco escorrendo atravs de suas
tatuagens mogadorianas, com as tranas puxadas para trs provavelmente
foi assim que Marina venceu a luta. Suas mos e tornozelos esto presos
pelo o que noto serem algemas de gelo. Parece que Marina est ficando
muito boa com seu Legado.
Adam chega clareira alguns segundos depois de mim. O olhar de Phiri DunRa fica com mais dio quando ele aparece.
Voc a pegou Adam diz, e Marina concorda, at sorrindo um pouco.
Voc est bem?
Estou Marina responde. Agora o que faremos com ela?

Vocs deveriam me matar Phiri aumenta a sua voz, cuspindo no cho a


sua frente. A viso de ver um nascido naturalmente cooperando com o lixo
lorieno ofende os meus olhos, e no desejo mais viver.
Oi para voc tambm, Phiri Adam responde, revirando os olhos. O
que voc fez com o meu Chimra?
Os olhos da Phiri Dun-Ra clareiam.
Um pequeno truque que aprendi na Ilha Plum com os cientistas e a
frequncia de um canho. O seu animal de estimao morreu? No tive
tempo de checar o corpo dele.
Ele sobreviveu. Que azar o seu.
Ns no vamos te matar comeo a dizer, mas Phiri se joga no cho, me
interrompendo.
Porque vocs so uns covardes ela grunhe. Voc quer me reabilitar
como esse ai? Fazer de mim outro animal de estimao mogadoriano? Isso
no vai acontecer.
Voc no me deixou terminar eu digo, me aproximando dela. Ns
no vamos te matar ainda.
Voc a revistou? Adam pergunta a Marina.
Ela estava carregando s o canho Marina responde.
A nica coisa que Phiri carrega agora sua armadura mogadoriana. Mas no
h espao sequer onde ela possa ter escondido peas de naves.
Onde esto os condutes? pergunto a ela. Nos devolva e eu farei a
sua morte ser rpida.
Marina me lana um olhar rpido, sua sobrancelha erguida. Eu no quis
responder essas questes antes, o que ns fazemos com um mogadoriano
capturado e quo longe ns vamos para conseguir o que precisamos?
Tortura. O pensamento me d nsia de vmito, especialmente lembrando do
tempo em que eu era umas das pessoas a serem mantidas e torturadas.

Sinto como se estivesse cruzando uma linha, como se fosse algo que eles
fariam. diferente do que mat-los em batalha, quando eles esto lutando de
volta e tentando nos matar tambm. Phiri Dun-Ra nos ajuda mais sendo
nossa prisioneira. Mas um mog prisioneiro no nos ajuda e ns precisamos
sair da merda dessa floresta. Eu sei que ns no deveramos baixar ao nvel
deles, mas a nossa situao de desespero. Quo longe isso vai nos levar?,
eu me pergunto.
Morra devagar, escria loriena Phiri diz para mim.
Ento, ela no vai fazer isso do jeito fcil.
Antes que eu decidisse o que fazer, Adam passa por mim e d um tapa no
rosto da Phiri com a parte de trs da sua mo. Ela geme e cambaleia para o
lado. Phiri est atordoada, percebo. Ela no esperava por isso. Talvez
estivesse contando com a ideia de que eu e Marina no tivssemos
estmago para tortura. Adam, por outro lado...
Voc esqueceu de com quem est lidando, Phiri Dun-Ra Adam diz com
os dentes cerrados. Ele se ajoelha na frente dela e a agarra pela gola da
camisa, levantando-a. Voc acha que s porque passei algum tempo com
a Garde que esqueci as nossas tcnicas? Voc sabe quem era o meu pai.
Para o maior desapontamento dele, as minhas maiores marcas eram sempre
nas reas de ps-combate. Mas mesmo assim... o General arrumou jeitos de
mudar o meu treinamento. Interrogatrios. Anatomia. Imagine como o
treinamento que ele arrumou era rigoroso. E eu me lembro muito bem.
Adam passa uma de suas mos pela cabea de Phiri, enterrando o seu
dedo em um espao atrs da sua orelha. Ela grita, as suas pernas falham.
Marina d um passo na direo dos dois mogs, me lanando outro olhar.
Engulo com fora e balano a minha cabea, fazendo-a parar.
Eu vou deixar o jogo seguir. Para onde ele for.

Posso no compartilhar da sua ideologia, Phiri Dun-Ra Adam diz,


aumentando a sua voz para ser ouvido mesmo por sobre os gritos. Mas
compartilho da biologia. Eu sei onde esto os seus nervos, onde di mais. E
passarei o resto da noite te cortando em pedacinhos at voc implorar para
ser desintegrada.
Adam liberta Phiri da dor, deixando-a cair no cho sujo de novo. Ela est
ofegante, se esforando para conseguir respirar fundo.
Ou voc pode nos contar onde escondeu os condutes Adam fala
calmamente. Agora.
Eu nunca vou...
Phiri interrompida, vacilando quando Adam levanta. Ele de repente perdeu
interesse nela. Ele viu a mesma coisa que eu. O jeito como os olhos de Phiri
se moveram para um arbusto bem fechado na beirada da clareira.
Adam vai at l, enquanto ela se remexe na sujeira tentando manter os olhos
nele. Em uma rpida inspeo, Adam enfia a sua mo dentro do arbusto e
puxa uma pequena mochila de tecido. Phiri deve ter escondido l antes de
atacar Marina.
Ah! ele diz, balanando a mochila. Dentro, peas de metal fazem
barulho. Obrigada pela sua ajuda.
Marina e eu nos olhamos aliviadas, mesmo com Phiri usando da sua ltima
chance de sarcasmo.
Isso no importa, traidor. Nada para voc importa mais!
Isso me faz prestar ateno. Dou um chute no muito gentil nas costas de
Phiri para faz-la rolar e olhar para mim.
O que isso significa? pergunto a ela. O que voc est dizendo?
A guerra j veio e j foi Phiri responde, rindo de mim. A Terra j
nossa.

Meu estmago se revira, mas no deixo isso transparecer. Ns temos que


sair do Mxico e ver por ns mesmos.
As peas esto intactas? pergunto aAdam.
Ela est mentindo para voc, Seis. o que ela faz ele afirma para mim,
talvez notando o tremor de nervoso na minha voz.
Ele pega a mochila e se agacha para abri-la.
O que ns devemos fazer com ela? Marina pergunta.
Ela foca em Phiri Dun-Ra por um segundo, reforando o gelo das suas
algemas que comearam a derreter.
Estou pensando na resposta quando Adam geme, forando o zper que
parece estar preso em alguma coisa. Quando o zper solta, alguma coisa
dentro da mochila d um clique, como se comeasse uma contagem.
Cuidado! Adam grita, quando atira a mochila para longe.
Tudo acontece muito rpido. Vejo o cho na frente da mochila de tecido
tremer e percebo que Adam est usando o seu Legado ssmico para tentar
nos proteger. Com um flash laranja de luz e fora, a bomba dentro da mochila
detona bem na frente dele. Uma montanha de p e folhas mortas voa atravs
da clareira. Eu sou jogada no cho. Posso sentir um dor na minha perna, um
pedao de metal, provavelmente um pedao da nave, cravado na minha
coxa.
Acima do barulho dos meus ouvidos, posso ouvir Phiri rindo histericamente.

Captulo seis
UM GRANDE PESO CAI SOBRE MINHA PERNA, CRAVANDO OS
ESTILHAOS AINDA mais fundo em minha coxa. Phiri Dun-Ra. Ela tem
novos ferimentos em seu rosto e braos, resultado de sua prpria bomba
improvisada. Seus pulsos e tornozelos ainda esto presos nas algemas de
gelo, mas isso no a impede de se jogar em cima de mim. Ainda estou
atordoada pela bomba, ento no reajo to rpido quanto deveria. Phiri d
uma cabeada em meu peito e se contorce em cima do meu corpo.
Agora vocs morrem, lixos lricos ela diz de uma forma manaca, ainda
histrica por sua armadilha com a bomba ter funcionado.
Eu no estou certa de qual plano dela, talvez me morder at a morte ou me
sufocar com o seu peso, mas no estou to mal para deixar qualquer uma
dessas coisas acontecer. Com um rpido movimento de telecinesia, arranco
Phiri Dun-Ra de cima de mim. Ela cai na sujeira, rolando por cima de alguns
estilhaos da bomba. Ela tenta levantar, gritando de frustao quando no
consegue.

Ela fica quieta quando chuto a sua cara o mais forte que consigo.
Phiri bate no cho inconsciente.
Fique comigo!
a voz de Marina que me traz de volta ao mundo depois da raiva que estava
sentindo ou eu provavelmente mataria Phiri agora mesmo. Eu viro para trs
para v-la inclinada sobre o corpo de Adam.
Ele est...?
Cruzo a clareira, esquecendo que tenho um ferro de seis centmetros cravado
em minha coxa. Eu ignoro a dor. Adam est bem pior que eu.
Entro no pequeno buraco que Adam foi capaz de fazer antes de a bomba
explodir. Ele absorveu uma boa parte dos estilhaos, mas no tudo. A bomba,
mesmo assim, praticamente explodiu na frente dele, fazendo-o sofrer a maior
parte do impacto. Ele est de bruos agora, Marina se inclinando sobre ele, e
fico com pena dele. O peito dele est aberto, como se algum tivesse cavado
um buraco l. Ele deveria ter sado logo da frente em fez de ficar como um
escudo humano. Mog idiota, tentando ser um heri.
Mas de algum jeito, ele ainda est consciente. Ele no consegue falar, todo o
esforo concentrado em respirar. Os seus olhos esto arregalados e
assustados enquanto ele sangra muito, a respirao entrecortada. As suas
mos, encharcadas de sangue, em punho.
Eu posso fazer isso, eu posso fazer isso... Marina repete para si
mesma, no hesitando nem por um momento em colocar as suas mos nos
ferimentos de Adam.
Olhando melhor, percebo como esta situao deve ser tristemente familiar
para ela. Como se fosse o Oito de novo.
A respirao dele fica cada vez pior, observo a pele dele se unir enquanto
Marina o toca. E ento alguma coisa estranha acontece, h uma crepitao e
um chiado comea, como se comeasse a pegar fogo, e parte do peito de

Adam comea a faiscar antes de se desintegrar como quando um


mogadoriano morre.
Marina leva um susto, tirando as suas mos dele.
Que droga foi essa? pergunto.
Eu no sei! Marina grita. Alguma coisa est lutando comigo, Seis.
Estou com medo de estar machucando-o.
No momento que a cura de Marina para, o ferimento ainda aberto de Adam
volta a sangrar. Ele est ficando plido. Mais que o normal. A mo dele raspa
pelo cho e encontra a de Marina.
No... argh, no pare... Adam tenta murmurar, e enquanto ele tenta,
consigo ver que h sangue preto dentro da sua boca. No importa o que
acontea... no pare.
Recompondo-se, Marina coloca as suas mos sobre os ferimentos de Adam.
Ela fecha os seus olhos e se concentra, uma gota de suor surge ao lado de
uma mancha de terra no seu rosto. J vi Marina curar ferimentos muitas
vezes, mas no um ferimento que precisou de tanto esforo quanto este. O
corpo de Adam aos poucos comea a se curar, at uma nova parte do seu
corpo faiscar e se desintegrar, como se houvesse uma bomba dentro dele.
Quando isso acaba, porm, o resto cura normalmente.
Leva alguns minutos, mas Marina finalmente termina de fechar Adam.
Ela cai sentada no cho, respirando como se tivesse terminado uma
maratona, e as suas mos tremem. Adam continua deitado, passando os
seus dedos pela pele do seu abdmen que h alguns minutos no estava l.
Finalmente, ele levanta um pouco e se apoia no seu cotovelo e olha para
Marina.
Obrigado ele diz, olhando-a nos olhos, com o seu rosto em uma mistura
de assombro e gratido.
No h de qu Marina responde, tentando normalizar a sua respirao.

Hum, Marina... Voc se importa? mostro o pedao de metal preso na


minha perna.
Marina geme pelo esforo, mas concorda, se mexendo, ficando de joelhos na
minha frente.
Voc quer que eu arranque ou...?
Antes que ela possa terminar, arranco o estilhao da minha coxa. Um novo
ponto de sangramento faz um filete de sangue escorrer pela minha perna. A
dor forte, mas Marina logo esfria o local antes de usar seu Legado de cura
em mim. Comparando com o de Adam, isso no leva tempo algum.
Quando ela termina, Marina olha imediatamente para Adam.
O que foi aquilo quando eu estava curando voc? Por que foi to difcil?
Eu... Eu no sei, exatamente. Adam responde, olhando para longe.
Voc comeou a se desintegrar um pouco eu digo. Como se
estivesse morrendo.
Eu estava morrendo Adam diz. Mas isso no deveria acontecer
comigo. S os soldados nascidos artificialmente que vocs j viram que se
transformam em cinzas, porque eles so feitos completamente da biologia
experimental de Setrkus Ra. Alguns nascidos naturalmente, como eu,
recebem modificaes que podem causar a desintegrao quando morrem.
Eu no recebi nada disso, acho. Pelo menos...
No que voc saiba termino o seu pensamento.
Exatamente ele responde, olhando para baixo como se de repente no
confiasse mais em seu prprio corpo. Eu estive em coma por trs anos.
possvel que o meu pai tenha feito algo a mim. Eu no sei o qu.
O que quer que fosse, acho que o meu Legado tirou de voc Marina diz.
Assim espero Adam responde.
Ns trs camos em silncio. Com as emergncias mdicas acabadas, s
agora notamos como estamos ferrados. Caminho pelo cho chamuscado
onde a bomba da Phiri Dun-Ra explodiu, jogando pedaos esfarrapados da

mochila e pedaos disformes de metal. A mochila provavelmente estava


cheia de condutes, mas no encontro nada que parea levemente inteiro.
Ns estamos completamente presos aqui.
Quando me viro, vejo que Adam se levantou e est olhando para o corpo
inconsciente de Phiri.
Ns deveramos mat-la ele diz friamente. No h nenhuma razo
para a deixarmos viva.
Ns no fazemos isso Marina responde, com a voz gentil. Ela no
pode nos machucar enquanto est amarrada.
Adam abre a boca para responder, mas parece pensar duas vezes.
Marina acabou de salvar sua vida, ento acho que ele sente que deveria
escut-la. Eu, na realidade concordo com os dois, Phiri Dun-Ra no nada
alm de problemas, e mant-la presa s vai nos ferrar de novo. Mas mat-la
inconsciente parece errado.
Ns vamos esperar ela acordar, pelo menos eu digo de forma
diplomtica. Para ento decidirmos o que fazer com ela.
Os outros concordam em silncio, carrancudos. Ns voltamos ao Santurio.
Uso a telecinesia para flutuar o corpo inconsciente da Phiri com a gente.
Quando voltamos, Marina mantm a algema de gelo em Phiri at chegarmos
e prendermos com segurana a mogadoriana com cabos, e a mantemos
dentro de uma das naves quebradas. Nesse momento, tenho certeza de que
ela est se fingindo de morta. O melhor seria deix-la. Marina est certa, ela
no pode nos machucar enquanto estiver presa, e se ela se libertar, farei o
desejo de Adam se tornar realidade.
Eu no sei mais o que fazer, ento tento o telefone via satlite. Ainda no
tivemos resposta de John. Isso me faz pensar que Phiri Dun-Ra pode estar
falando a verdade sobre a guerra j ter comeado. No tenho nenhuma nova
cicatriz, significando que John e Nove ainda esto bem vivos, mas isso no
significa que as coisas no esto feias em Nova York.

Adam, ns podemos entrar no sistema de comunicao de uma das


naves? pergunto. Eu quero saber o que est acontecendo.
Com certeza ele responde, feliz com a oportunidade de fazer alguma
coisa.
Ns trs subimos abordo do nosso Skimmer, Adam sentado no banco do
piloto. Ele consegue ligar o sistema eltrico da nave, as luzes acendem e
alguma parte do Skimmer grunhe de esforo. Adam comea tentar captar
sinal, pegando nada alm de esttica.
Eu s preciso achar a frequncia certa ele diz.
Eu concordo.
Est bem. No como se eu tivesse algo mais para fazer.
Ao meu lado, Marina olha para o Santurio pela janela do Skimmer.
J que deixamos as luzes do permetro ligadas, o Santurio inteiro est
iluminado, o antigo calcrio praticamente brilhando.
No perca as esperanas, Seis Marina fala baixinho. Ns vamos dar
um jeito.
Quando Adam liga o rdio de novo a esttica d lugar ao uma voz
mogadoriana brutal. O mog est falando roboticamente, de um jeito sem
sentido, como se tivesse lendo uma lista. Claro que no consigo entender
nada que ele est falando.
Eu cutuco Adam.
Voc vai traduzir?
Eu... Adam encara o rdio como se estivesse possudo, como se no
soubesse o que dizer. Percebo que ele no quer me contar o que eles esto
dizendo.
Muito ruim? pergunto, mantendo minha voz nivelada. S me conte
quo ruim est.
Adam pigarreia e com a voz trmula comea a traduzir.

Moscou, resistncia moderada. Cairo, sem resistncia. Tquio, sem


resistncia. Londres, resistncia moderada. Nova Dli, resistncia moderada.
Washington D.C., sem resistncia. Beijing, alta resistncia, cdigo de
protocolo ativado...
O que isso? eu o interrompo, perdendo a pacincia com o grunhido.
O plano de ataque deles?
So relatrios, Seis Adam diz, levantando a voz. As naves de guerra
esto mandando os seus relatrios de como invaso est prosseguindo.
Cada uma dessas cidades tem uma nave enorme de guerra fazendo uma
ocupao, e elas no so as nicas...
Est acontecendo? Marina pergunta. Pensei que ns tnhamos mais
tempo.
A frota est na Terra Adam responde com o seu rosto branco.
O que ele quis dizer com protocolo ativado? pergunto. Voc disse
que era em Beijing.
Protocolo de proteo o jeito de Setrkus Ra de manter a Terra
colaborando para ocupao. Se eles esto em Beijing, isso significa que vo
destruir a cidade Adam diz. Usando isso como uma mensagem para as
outras cidades que possam causar problemas.
Meu Deus... Marina sussurra.
Uma nave de guerra pode destruir uma cidade em horas Adam
continua. Se eles...
Ele para, porque algo que esto dizendo no rdio chama a sua ateno. Ele
engole em seco, aumentando o volume.
Eu balano o seu ombro.
O que ? O que voc escutou?
Nova York... ele comea a falar, e belisca a ponta do seu nariz. Nova
York, resistncia com ajuda da Garde...
a gente! o John!

Adam balana a cabea, terminando a traduo.


Resistncia com ajuda da Garde superada. Invaso bem-sucedida.
O que isso significa? Marina pergunta.
Isso significa que eles venceram Adam responde friamente. Eles
conquistaram a cidade de Nova York.
Eles venceram. A frase reverbera na minha mente.
Eles esto conquistando a Terra e ns estamos presos aqui.
J que no tenho um alvo melhor, soco o painel de controle onde um
zumbido alto comea. Fascas saem do lixo que sobrou e Adam sai da
cadeira de piloto, assustado. Marina se levanta e tenta colocar os seus
braos a minha volta, mas eu a empurro.
Seis! ela grita atrs de mim quando pulo fora da cabine do piloto.
Ainda no est acabado!
Paro em cima da nossa nave sentindo a raiva queimar dentro de mim, mas
sem tem nenhum lugar para canaliz-la. Olho para o Santurio, cheio de luz.
Esse lugar deveria ser a nossa salvao. Nossa viagem at aqui no mudou
nada, penso. Quase nos matou e agora ns estamos fora da guerra. Quantas
pessoas esto morrendo porque ns no estamos l ajudando o John a
salvar Nova York?
Sinto um olhar nas minhas costas. Algum est me observando. Eu me viro,
e o meu olhar vai da estrada para as outras naves. Phiri Dun-Ra est
acordada, amarada exatamente no lugar onde ns a deixamos.
Ela sorri para mim.

Captulo sete
QUANDO ELLA FALA, UM CHOQUE PASSA POR MIM. DE REPENTE, POSSO ME MOVER
novamente. Salto da mesa de operaes e tento empurrar os mdicos mogadorianos
em torno de Ella. Minhas mos passam por eles, como se fossem fantasmas. Eles

esto congelados no espao agora, imveis, como se fossem a reproduo de um


vdeo em minha frente. Tenho que me lembrar de que tudo isso est acontecendo
em minha cabea, ou na cabea de Ella, ou talvez em algum lugar entre elas. Em
nossos sonhos.
No se preocupe com eles Ella diz. Ela se senta, passando atravs da mquina
de fluidos atada a seu peito, e ento pelos mogs enquanto ela pula da mesa para o
cho. Eu no posso nem mesmo sentir o que esto fazendo comigo.
Ella... eu nem sei por onde comear. Me desculpe por deix-la ser sequestrada
em Chicago, desculpe por no t-la salvo em Nova York...
Ela me abraa, seu pequeno rosto pressionando meu peito. Ao menos isso parece
real.
Est tudo bem, John ela fala. Sua voz quase serena, como a de algum que
aceitou seu destino. No culpa sua.
H a Ella que estou abraando e uma congelada no tempo, ainda presa mesa de
operaes sob as mquinas mogadorianas cercada por inimigos. No posso deixar de
olhar atrs da Ella em meus braos e notar os terrveis resultados de seu
aprisionamento pelos mogadorianos.
Ela parece plida e drenada, uma faixa cinza corre por seus cabelos acobreados. H
veias pretas visveis sob a pele dela. Um calafrio me percorre e me foro a desviar o
olhar, apertando Ella um pouco mais.
O abrao acaba e Ella e olha para mim. Essa verso dela quase se parece com a que
me lembro de olhos arregalados e inocentes porm h cansao neles, e um tipo
de sabedoria fatigada, e isso no estava ali da ltima vez que a vi. No consigo
imaginar pelo o que ela vem passando.
O que eles esto fazendo com voc? pergunto, minha voz sai calma.
Setrkus Ra chama isso de seu presente Ella diz, seus lbios se curvam em
desgosto. Ela olha sobre seu ombro, vendo a si mesma sendo uma cobaia, e abraa

seu corpo. No estou certa sobre de onde vem o material que ele est colocando
em mim. a mesma porcaria gentica que ele usa para criar os guerreiros nascidos
artificialmente. o mesmo que costumava usar para melhorar alguns humanos
voc sabe sobre isso?
Eu assinto, pensando no secretrio de defesa Sanderson e a resistncia cancerosa
que senti em seu corpo quando o curei.
Ele est fazendo isso com voc. Sua prpria... continuo hesitando em dizer essa
parte em voz alta. Sua prpria carne e sangue.
Ella concorda tristemente.
Pela segunda vez.
Me lembro de como Ella parecia durante a batalha nas Naes Unidas.
Ele fez isso com voc antes da grande apario pblica digo, juntando as peas.
Drogou voc, assim voc no poderia arruinar o momento dele.
Aquilo foi uma punio por tentar escapar com Cinco. O presente... faz com que
seja difcil pra mim me focar, pelo menos quando estou acordada. No estou certa
de como, mas ele usa isso para me controlar. Isso pode estar relacionado com um
dos Legados dele. Tentei descobrir tudo o que ele pode fazer, John, tentei par-lo,
mas...
Os ombros de Ella caem. Coloco minha mo gentilmente na parte de trs do pescoo
dela.
Voc fez tudo o que pde digo a ela.
Ela bufa.
Uh-huh.
Dou uma longa olhada na mquina a que Ella est presa, tentando memorizar os
detalhes. Talvez se conseguirmos nos contatar novamente com Adam, ele possa dar
uma luz sobre como exatamente funciona essa coisa.

Ele no est controlando voc agora digo, gesticulando em direo cmara de


operaes mogadoriana congelada no tempo. Voc est fazendo isso. Voc
continua lutando contra ele.
Eu tenho sido capaz de esconder que sou uma telepata Ella responde,
endireitando-se um pouco. Sempre que ele me fere, eu me escondo em minha
mente. Eu pratico. Meus Legados esto ficando mais fortes. Pude sentir vocs l em
baixo de dentro da Anubis. Sou capaz de puxar voc para meu, h... meu sonho? O
que quer que seja isso.
Como em Chicago penso a respeito, tentando entender isso. Porm, voc
precisou me tocar daquela vez.
No mais. Acho que estou ficando mais forte.
Dou um aperto no ombro de Ella. Este deveria ser um momento de orgulho, ela se
tornando quem ela realmente , aprendendo a controlar um Legado to poderoso
enquanto to jovem. Mas nossa situao muito medonha para qualquer
comemorao de verdade.
Olho atravs da rea mdica na direo da porta, ento de volta para Ella.
Pode me mostrar as coisas por aqui? pergunto. Isso ao menos possvel?
Ella me dirige um sorriso trmulo.
Voc quer um tour?
Poderia ser til saber como a nave . Para quando viermos aqui e resgatarmos
voc.
Ella solta uma risada desconsolada, olhando para longe de mim.
Espero que isso no tenha sido ela desistindo da esperana. A probabilidade pode
parecer ruim agora, mas no vou deix-la ser o animal de estimao de Setrkus Ra
para sempre. Vou encontrar uma maneira. Antes que eu possa dizer isso, Ella
assente.

Eu posso te mostrar a nave. Estive por toda ela. Se eu tiver visto, estar aqui
Ella diz dando um tapinha em sua tmpora.
Andamos para fora da estao mdica e entramos num corredor.
Todas as paredes so de metal inoxidvel de um vermelho brilhante, um lugar frio e
econmico. Ella me conduz atravs da Anubis, me mostrando o deque de
observao, a sala de controle, o quartel, todos esses lugares completamente vazios.
Tento associar cada detalhe na memria, assim posso desenhar um mapa quando
acordar.
Onde esto todos os mogs? pergunto a ela.
A maioria deles est na cidade l em baixo. A Anubis tem apenas uma equipe
fantasma agora.
Bom saber.
Nos fundos da nave, paramos em frente a uma janela de vidro que mostra o interior
de outro de laboratrio. Dentro, o cho completamente tomado por um tanque de
um lquido preto e viscoso. H duas passarelas se cruzando sobre o tanque, cada
uma equipada com uma variedade de painis de controle, equipamento de
monitoramento, e como se j no fosse esquisito, canhes de uso industrial
montados.
Crescendo para fora do lquido numa forma alongada que lembra vagamente um
ovo, exceto por ser roxo escuro e com veias negras palpitantes.
Pressiono minha mo no vidro do laboratrio e me viro para Ella.
O que diabos este lugar?
Eu no sei ela responde. Ele no me deixa entrar aqui, mas...
Ella franze a testa e parece se esforar um instante. Dentro do laboratrio, figuras se
manifestam de repente. Meia dzia de mogs usando mscaras de gs esto nas
passarelas, operando silenciosamente as mquinas. De p entre eles est o prprio

Setrkus Ra. V-lo ali me faz avanar contra o vidro. Tenho que resistir tentao de
atac-lo, me lembrando de que isso no exatamente real.
Isso ... isso uma memria? pergunto a Ella.
Algo que eu vi, sim ela responde. Eu acho... no sei. Isso pode ser
importante.
Enquanto assistimos, Setrkus Ra tira os colares lricos roubados do pescoo. Ele os
segura em suas mos grossas por um momento, considerando as joias de Loralite
azul. Ele possui vrios deles trs dos Gardes que matou na Terra e o resto
provavelmente tirado de Gardes que ele capturou em um ponto ou outro. Ele parece
um tanto nostlgico por um momento enquanto observa seus trofus.
Ento, os joga dentro do tanque. Quatro pequenas bocas se abrem no ovo e sugam
para dentro os colares, sufocando seu brilho.
O que foi isso? pergunto a Ella, sentindo-me enjoado, mesmo em sonho.
Quando isso aconteceu? O que ele est fazendo?
O olhar fixo de Setrkus Ra se volta de repente em nossa direo e ele grita alguma
coisa. Um segundo depois, ele e o resto dos mogs desaparecem no ar rarefeito.
Isso foi quando ele me pegou espiando Ella explica, mordendo o lbio. No
sei o que ele estava fazendo, John. Me desculpe. Tudo um pouco... vago.
Continuamos andando. Eventualmente, Ella me leva at a rea de lanamento. O
lugar enorme com o teto alto, preenchido com filas e linhas de Skimmers. daqui
que os esquadres de mogs zarparam para aterrorizar Nova York.
Eles esto sempre chegando e saindo por aqui Ella diz, acenando em direo as
grandes portas de metal no fim do hangar. Talvez vocs sejam capazes de entrar
por ali, se elas estiverem abertas. Foi por onde Cinco e eu tentamos escapar.
Fao uma nota sobre as portas do hangar. Temos apenas que pensar numa maneira
de fazer com que os mogs as abram. Seria muito fcil entrar a bordo se tivssemos
algum que pudesse voar.

Sobre Cinco... digo, hesitando, sem saber o quanto Ella ouviu. Voc sabe o
que ele fez?
Ella morde seus lbios, olhando para o cho.
Ele assassinou Oito.
Mas ele tambm tentou ajudar voc a escapar digo, sentindo-a longe. Ele
est...?
Voc est tentando descobrir o quo mal ele ?
Estou procurando por ele neste momento. Estou tentando entender, se quando
encontr-lo, devo mat-lo.
Ella faz uma careta e se afasta de mim, olhando um ponto do cho que est
afundado. Presumo que tenha sido quando ela e Cinco tentaram escapar.
Ele est confuso ela diz depois de um momento. Eu no sei... no sei o que
ele ir fazer. No confie nele, John. Mas no o mate.
Me lembro da ltima vez que Ella me trouxe para um desses sonhos, de volta quando
comeou a manifestar seus Legados que estavam fora de controle. Foi em Chicago.
Naquela ocasio, ela no me trouxe para sua localizao. Na verdade, estivemos
presos numa viso do futuro, assistindo Setrkus Ra tomar posse em Washington
num mundo em que mogadorianos venceram a guerra.
No sabemos o que ele faz, ento? pergunto, meus punhos se fecham como
reflexo. Voc me mostrou isso. Cinco retornando para Setrkus Ra. Ele trabalha
para o inimigo. Ele capturou Seis e Sam...
Me calo, no quero ir mais fundo nessa memria da qual testemunhei a execuo de
meus amigos. No quero lembrar da profecia que diz que estamos condenados a
perder. Ella balana a cabea. Ela abre a boca, e de repente percebo que h alguma
coisa grande que ela no est me contando.
Esse futuro no existe mais, John ela diz depois de uma longa pausa. Minhas
vises... no so como os pesadelos de Setrkus Ra que eu costumava contar a

vocs. E no so profecias. No estamos presos a elas, como Oito pensava. Eles so


premonies. Possibilidades.
Como sabe disso?
Ella pensa por um momento.
No tenho certeza. Como voc sabe como criar bolas de fogo? Voc apenas faz.
Isso instintivo.
Dou um passo na direo dela.
Ento aquela viso de D.C., em que todos esto mortos e voc estava...?
Eu no posso v-la mais. Alguma coisa no presente mudou o que vai acontecer.
Se isso um Legado como o meu Lmen... meus olhos se arregalam enquanto
considero as possibilidades. Voc pode controlar as vises agora? Pode olhar no
futuro quando quiser?
Ella levanta as sobrancelhas, como se no estivesse certa sobre como me descrever o
que v.
No posso controlar, exatamente. As vises... elas no so confiveis. Eu no sei
se isso culpa minha, porque ainda estou aprendendo ou se porque o futuro
instvel. De qualquer forma, tenho gasto muito tempo olhando nele...
Agora sei porque Ella parece to exausta mesmo em um sonho, porque ela de
repente est to sbia mesmo com sua idade. Ela mencionou antes o quanto tempo
gastou se escondendo na segurana de sua mente. Me pergunto quanto desse
tempo foi gasto lutando com vises do futuro. Deve ter sido agonizante examinar
todas essas possibilidades.
Pelo o que voc esteve procurando? pergunto a ela.
Ella hesita, evitando meus olhos.
Eu queria... eu queria ver se tinha um futuro em que eu morro.
Ella, no digo, minha voz falha. Cinco me contou sobre o feitio lrico que
Setrkus Ra usou em si mesmo e em Ella, um que os liga, ento teremos que mat-la

para alcan-lo. Vamos pensar num meio de quebrar o feitio. Deve haver uma
fraqueza.
Ella balana a cabea, no acreditando em mim. Ou talvez ela j saiba que estou
errado.
No estou me colocando antes do mundo inteiro, John. Eu queria ver um futuro
em que Setrkus Ra est morto, no importa as consequncias agora ela olha
diretamente, com fogo em seus olhos. Queria ver um futuro em que algum tenha
estmago para fazer o que precisa ser feito.
Engulo em seco. No tenho certeza se eu realmente quero saber os detalhes das
vises de Ella, mas no consigo parar de me perguntar.
O que... o que voc viu?
Muitas coisas Ella diz, se acalmando. Ela adquire um olhar distante enquanto
tenta explicar como o futuro . As vises comeam como possibilidades
embaadas. Existem milhes delas, eu acho. Algumas delas so mais slidas que
outras essas so as que consigo ver. As que parecem... no sei. Provveis? Mas
mesmo assim no so garantidas. Voc se lembra do futuro que vimos em Chicago.
Aquilo pareceu real, impossvel de fugir, claro como o dia. Isso se foi completamente
agora. O futuro mudou muito. E continua mudando.
Minha cabea di. Me sinto meio maluco ouvindo Ella. Precisamos de um Cpan,
algum que pudesse ajud-la a controlar esses Legados mentais antes que a deixem
louca. Ao menos evitamos o futuro que testemunhei. Mas o trocamos pelo qu?
Ella, voc viu sua morte?
Ela hesita, e um n de medo se forma em meu estmago.
Sim ela responde.
Ela treme eu percebo que por prender um soluo.
Me agacho na frente dela e coloco minhas mos em seus ombros.

No vai acontecer insisto com a voz o mais firme que consigo. Vamos mudar
o futuro.
Mas ns vencemos, John.
Ella segura minhas mos. Lgrimas escorrem livremente por suas bochechas. Ento
percebo algo, o modo como ela olha para mim, o modo como ela aperta minhas
mos. Ella no est sentindo pena por si. Ela est sentindo pena por mim.
Isso vai ferir muito voc, John ela diz, sua voz fraquejando. Voc ter que ser
forte.
Sou eu? no acredito. Eu sou aquele que...?
No consigo nem mesmo terminar a pergunta. Afasto minhas mos de Ella. Eu nunca
a machucaria, nem mesmo se isso significasse terminar esta guerra.
Tem que haver outro jeito. Use seu Legado e encontre um futuro melhor para ns.
Ella balana a cabea.
Voc no entende...
Num piscar de olhos, Ella est mudada. Se parece com a garota presa na mesa de
cirurgia, uma gosma preta rasteja por baixo de sua pele. Ela se esfora para se
concentrar em mim. O hangar a nossa volta se torna enevoado e comea a se esvair.
Ella? O que est acontecendo?
A Anubis est se movendo para fora do alcance ela explica, estreitando seus
olhos, tentando fortalecer nossa conexo teleptica. Eu vou perder voc. Rpido!
H mais uma coisa que voc tem que ver!
Ella agarra minha mo e ento estamos correndo na direo da entrada do hangar.
Damos um passo na direo dele e...
Sujeira se esmaga debaixo dos meus ps. Raios de sol quentes batem em minha
nuca, o ar pesado e mido. desorientador ser teletransportado de repente do
ambiente estril da Anubis para o calor da selva, o verde vvido por todos os lados,
pssaros tropicas gorjeando.

Estou de p no que parece ser uma pista de pouso feita no meio da selva. Latarias
pretas e blindadas de vrios Skimmers mogadorianos refletem o brilhante sol da
tarde.
Meus olhos so atrados para a pirmide de pedra a apenas alguns metros da pista
de aterrissagem, todos os equipamentos dos mogs parecem posicionados a uma
distncia segura da estrutura antiga. Reconheo instintivamente o templo, mesmo
nunca tendo o visto antes. Talvez seja minha imaginao, mas como se alguma
coisa enterrada por sculos na arquitetura maia estivesse me chamando. Me sinto
seguro aqui.
Este o Santurio digo, minha voz sai calma e reverente.
Ella confirma, e percebo que ela tambm est admirando o templo.
Seis, Marina e Adam... pauso, percebendo que Ella nunca encontrou nosso
aliado mogadoriano. Adam ...
Eu sei quem ele Ella diz, seu tom no parece surpreso. Nos encontraremos
em breve.
Ok, bem, eles estavam bem aqui continuo, olhando em volta procura de sinais
de nossos amigos. Eles provavelmente esto voltando agora. Voc vai me mostrar
o que eles fizeram para dar Legados aos humanos?
Isso no o passado ou o presente, John. Estamos no futuro. Um que posso ver
bem, bem claramente.
Eu devia ter sabido, pois o sol est no cu. Me viro para encarar Ella, sentindo que
ela no me trouxe aqui para me dar boas notcias.
Por que est me mostrando isso?
Por causa daquilo.
Ella aponta para o cu a norte do Santurio. Ali, como uma nuvem de tempestade
atravessando o cu que outrora era azul e sem nuvens, est a Anubis, flutuando
lentamente em direo ao templo. Minhas pernas se amolecem, reflexos para correr

se escondem depois de sobreviver por pouco ao bombardeio em Nova York. Me


foro a ficar e assistir a aproximao da nave de guerra.
Quando? pergunto a Ella. Quando isso vai acontecer?
Antes que Ella possa responder, sua forma se contorce, se tornando novamente
plida e com as veias negras. O cenrio pisca, a selva de sbito se transforma na sala
de operaes da Anubis e tambm o que parece ser o interior de um vago de metr
todos os trs lugares existindo simultaneamente, como trs fotografias
transparentes uma sobreposta a outra. Por um segundo, impossvel me focar em
qualquer detalhe particular, misturando tudo at o ponto que me sinto fora da
realidade. Mas ento Ella solta um grito, de frustrao ou dor, ou talvez ambos, e a
floresta e o Santurio solidificam novamente.
Voc est se distanciando digo, assistindo crculos negros se formarem ao redor
de seus olhos. Estamos muito longe um do outro.
No se preocupe comigo ela responde apressadamente. No importa. Aqui
para onde estamos indo agora, John. A Anubis est indo para o Santurio neste exato
momento.
Ento Setrkus Ra estar l...
Ele chegar ao pr do sol Ella diz. Ele parou em West Virginia para reunir
reforos depois de deixar tantos soldados para trs em Nova York, e depois...
Ella acena na direo da Anubis. Est perto agora, a longa sombra da nave de guerra
caindo sobre s pedras do Santurio.
O que ele quer?
Ele quer o que est l dentro! Ella grita. E mesmo assim, mesmo com a voz mais
alta, ela comea a soar distante. Acho que o que ele sempre quis! Eles abriram
as portas do Santurio! Ele no est mais protegido!
O que...?
Ela me corta, agarrando meu brao.

John, oua! Seis, e os outros, voc tem que alert-los! Diga a eles...
As mos de Ella me atravessam. Eu vejo tudo novamente o Santurio e a Anubis,
Ella se contorcendo na mesa de operaes, o vago do metr escurecido e ento
todas as cores se misturam, nada slido para me segurar. Ella grita alguma coisa para
mim, mas ela est muito longe. As palavras no me alcanam.
Ento, escurido.

Captulo oito
ACORDO COM AS COSTAS DURAS ESTALANDO NO BANCO DE PLSTICO, MINHAS
pernas balanando na extremidade. Sei que estou de volta ao meu corpo, no mais
no mundo dos sonhos de Ella por causa das intensas dores que passam por todos os
meus msculos. Estou deitado de lado, encarando as costas de bancos amarelos e

laranjas do metr. Eu nunca estive em um desses vages, mas vi filmes e programas


de TV o bastante para reconhec-los imediatamente. Na parede acima de minha
cabea h um pster dizendo: SE VOC VIR ALGUMA COISA, DIGA ALGUMA COISA.
Com um gemido, me apoio em um cotovelo. Sam est deitado a dois bancos de mim
com a cabea apoiada na janela, roncando baixo. Do lado de fora da janela, posso ver
apenas a escurido. Esse trem est parado em algum lugar do subterrneo, dentro
de um tnel. Os passageiros devem ter abandonado mais cedo durante o ataque. O
vago est morto, parado e sem energia, os painis que controlam as luzes
completamente escuros.
E ainda assim, h luz vindo de algum lugar.
Me sento e olho ao redor, e imediatamente percebo celulares espalhados pelo
corredor do vago. Com os aplicativos de iluminao ligados, os telefones funcionam
como velas carregadas por bateria. No banco minha frente, acordada e
observando, Daniela est sentada.
Seus ps esto apoiados na bolsa que ela trouxe do banco, ento presumo que esteja
cheia de dinheiro roubado.
Voc est vivo ela diz, mantendo sua voz baixa para no acordar Sam.
Fao o mesmo, ainda que com seu ronco ele poderia passar por outro bombardeio
da Anubis sem acordar.
Por quanto tempo eu dormi? pergunto.
J de manh de acordo com os celulares Daniela responde. Umas seis
horas, acho.
J de manh. Balano a cabea. Uma noite inteira perdida. No pudemos encontrar
Nove e Cinco, e quem sabe por qual parte de Nova York eles andaram lutando at
agora. Para tornar as coisas piores, eu sei para onde Setrkus Ra e a Anubisesto
indo diretamente para a ltima localizao conhecida do resto da Garde. Por causa

da perda de contato com Ella no ltimo instante, no tenho certeza do que fazer com
a informao, mesmo se eu conseguisse contato com Seis e os outros.
Eles deveriam estar se preparando para voltar para o Santurio? Ou Ella queria que
eu os mantivesse o mais longe possvel?
Preciso me mover, fazer algo produtivo. Mas meu corpo ainda no est cem por
cento e Sam est apagado.
Ainda estamos no metr? pergunto a Daniela, j sabendo a resposta, mas
querendo ter controle sobre a situao antes de fazer qualquer deciso.
Sim. Obviamente. Ns arrastamos voc at aqui quando desmaiou.
Quando desmaiei repito com uma careta. Desmaiei de cansao.
No foi s voc. De qualquer forma, estvamos todos exaustos depois daquele
tnel Daniela continua, talvez sentindo meu aborrecimento. Eu ca no sono
logo que chegamos aqui.
Daniela d uma olhadela em Sam, um sorriso abatido em seu rosto.
Seu amigo Sam ia ficar de guarda, mas acho que no deu muito certo. No foi um
bom negcio. No quando ningum est procurando por ns aqui em baixo.
Ainda no, pelo menos respondo, pensando nos mogadorianos na superfcie e
desejando saber como a ocupao de Nova York est progredindo.
Um dos telefones pisca. Daniela se agacha sobre ele, apertando alguns botes, mas a
bateria acaba.
Pessoas dormiram na frente da loja por essas coisas ela diz, segurando o celular
descarregado para que eu o inspecione. Mas tudo foi por gua abaixo, no final das
contas... vrias pessoas largam tudo e correm. O que isso faz voc pensar da
humanidade, menino aliengena?
Que elas tm melhores prioridades respondo, dando novamente uma olhada
para a bolsa cheia de dinheiro.

Pois . Eu acho Daniela diz, ento arremessa o celular para a extremidade


oposta do vago, onde ele bate no cho e quebra em vrios pedaos. Mesmo com o
som do celular sendo despedaado, Sam continua dormindo. Isso
surpreendentemente bom Daniela me diz, sorrindo em minha direo. Voc
deveria tentar.
Onde conseguiu todos esses telefones? pergunto a Daniela, observando-a de
perto enquanto ela se senta.
Eu ainda no sei o que fazer com ela. Ela uma humana com Legados, ns nem ao
menos temos uma palavra para descrev-la. Mas ela parece pensar que toda a
situao apenas uma grande piada. No posso dizer se ela est desequilibrada
como Cinco ou se escondendo atrs de um massivo mecanismo de defesa. Ela
mencionou antes que os mogs mataram seu padrasto e que sua me est
desaparecida. Eu sei como isso perder pessoas, no saber o que est havendo
com quem amamos.
Eu poderia dizer isso a ela, exceto que no acho que Daniela seja do tipo que se abre
facilmente. Gostaria que Seis estivesse aqui. Tenho a sensao de que elas se dariam
bem.
Eu acordei primeiro ela diz, gesticulando para o trem. Passei por todos os
vages. As pessoas largaram um monte de porcaria para trs.
De volta ao banco, algum por acaso retirou todo o dinheiro que ficou para trs
tambm? pergunto, apontando com meu queixo para a bolsa.
Oh, sim, isso Daniela diz, olhando para o lado com se fingindo culpada, mas
sendo incapaz de manter o sorriso no rosto. Estava me perguntando se voc tinha
notado.
Eu notei.
A coisa mais pesada do que voc pensa ela diz, cutucando a bolsa com o
tnis.

Esfrego a mo no rosto, tentando entender como eu deveria abordar isso. No


como se eu nunca tivesse roubado antes. Sempre fiz isso em caso de necessidade,
mas nunca fiz isso justo no meio de uma invaso em escala total.
Estranho voc ter tempo de roubar um banco enquanto deveria estar procurando
sua me.
Primeiro de tudo, eu no roubei isso. Quero dizer, tecnicamente no. Havia uns
caras se escondendo dos mogs no banco. Eles estavam roubando. Acabei dando
cobertura l. Eles explodiram, e ento vocs apareceram. Pensei, para que
desperdiar uma bela bolsa com esta?
Eu a censuro, balanando a cabea. No fao ideia se o que Daniela est me
contando verdade. No estou certo se sequer importa como ela conseguiu o
dinheiro. Estou mais preocupado em descobrir se esta nova Garde algum que
podemos confiar. Algum que pode nos apoiar.
Segundo ela continua, inclinando-se em minha direo minha me iria ficar
irritada se descobrisse que desperdicei uma oportunidade como essa.
Ela tenta manter sua voz calma, mas um tremor a abala quando ela menciona a me.
Talvez essa atitude seja apenas fachada, uma maneira de lidar com o fato de seu
mundo ter virado de cabea para baixo nas ltimas vinte quatro horas. Eu entendo
isso. Minha expresso deve parecer compreensiva, penso, ou talvez ela apenas
percebeu sua voz falhando, porque Daniela aumenta a voz, mais efervescente do que
antes. Me ocorre que da mesma forma que estou tentando entend-la, ela est
tentando me entender.
Terceiro, eu no assinei nada para ganhar esses superpoderes que voc nem sabe
porque eu tenho. E tenho a maldita certeza de que no me alistei para lutar na sua
guerra aliengena. Nem minha famlia.
Voc acha que tem uma folha de alistamento passando por a? pergunto
rispidamente, tentando e falhando em evitar que meu temperamento se inflame.

Ningum pediu por isso. Os lorienos, meu povo, ns no pedimos para que os mogs
destrussem nosso planeta natal. Isso aconteceu de qualquer forma.
Daniela levanta suas mos defensivamente.
Tudo bem, ento voc sabe como isso. Tudo o que estou dizendo que voc
no deveria estar julgando como escolho usufruir da minha invaso aliengena.
Droga, uma loucura.
Eu era muito jovem para revidar quando atacaram Lorien digo a ela. Mas
voc...
Ah droga, l vem. O discurso de recrutamento Daniela comea a fazer uma
interpretao, sua voz se torna aguda de repente, suas palavras anunciadas
teatralmente. Olhe pela sua janela ela recita. Os mogadorianos esto aqui. A
Garde vai combat-los. Voc vai lutar pela Terra?
Balano minha cabea, confuso.
O que isso?
do seu vdeo, cara. Toda aquela coisa de apoio Garde. Eles passaram isso nas
notcias.
Balano a cabea.
Eu nem sei sobre o que voc est falando.
Daniela estuda meu rosto por um momento, e finalmente parece satisfeita com
minha perplexidade.
Huh. Realmente no. Acho que voc provavelmente no andou vendo muita TV.
Eu? Eu estava assistindo quando as primeiras naves comearam a aparecer. como
se de repente estivssemos vivenciando todos aqueles filmes de invases
aliengenas. Foi bem legal at que, bem...
Daniela balana a mo, abrangendo no apenas nossa situao, de nos esconder no
subterrneo, mas a destruio na cidade inteira quem ambos presenciamos. Percebo

que suas mos tremem um pouco. Ela rapidamente disfara isso, dobrando seus
braos com fora sobre o peito.
Sam e eu ajudamos um grupo de pessoas a sair de Manhattan ontem digo a ela.
Me perguntei como muitos deles sabiam meu nome, mas estava catico demais
para descobrir. Isso estava nas notcias? Eles me mostraram lutando nas Naes
Unidas?
Daniela confirma.
Eles mostraram um pouco disso. Exceto quando um cara parecendo o George
Clooney deformado se transformou em um monstro aliengena, a as pessoas
realmente comearam a surtar e todas as cmeras a tremer. Voc estava bombando
nas notcias antes disso.
Inclino minha cabea, sem entender nada.
O que voc quer dizer?
Tinha aquilo, tipo, um vdeo no YouTube. Foi postado num estpido site de
conspirao primeiro...
Espere... por acaso era Eles Esto Entre Ns?
Daniela d de ombros.
Nerds Esto Entre Ns, eu no tenho certeza. Comeava com uma imagem da
Terra que eles com certeza tiraram do Google e uma garota narrando tipo: Este o
nosso planeta, mas no estamos sozinhos na galxia, bl-bl-bl. Ela estava
tentando fazer parecer como todos aqueles documentrios profissionais sobre a
natureza ou alguma coisa assim, mas posso dizer que ela da nossa idade. Por que
voc est fazendo essa cara estpida?
Enquanto Daniela falava, no pude evitar que um sorriso idiota surgisse em meu
rosto.
Tentei manter minha expresso neutra enquanto me inclino para frente.
O que mais aconteceu?

Ento, eles mostraram algumas fotos dos mogadorianos e disseram que eles
vieram para escravizar a humanidade. Esses aliengenas plidos pareciam com
pessoas com maquiagem de monstros ou qualquer coisa do tipo. Ningum teria
levado aquela porcaria a srio se, voc sabe, no houvesse toneladas de OVNIs
ameaando a cidade. E ento ela comeou a falar de voc. Tinha um vdeo de voc
pulando para fora de uma casa em chamas que no parecia possvel, e depois tinha
cenas de voc curando o rosto queimado de um agente do FBI e... bem, estava meio
trmulo, mas os efeitos especiais foram muito bem feitos se fosse falso.
O que... o que ela fala sobre mim?
Daniela sorri, olhando pra mim.
Ela disse que seu nome John Smith. Que voc um Garde. Que voc foi enviado
para nosso planeta para lutar contra esses aliengenas. E que agora voc precisa de
nossa ajuda.
Isso era sobre o que Daniela estava falando antes. Sua pssima interpretao deve se
referir a Sarah. Encosto as costas no banco, pensando sobre o vdeo que Sarah e
Mark fizeram, a contribuio deles nos bastidores. Mesmo que ela esteja zombando,
o vdeo parece ter causado uma impresso em Daniela. Ela o decorou. Droga, os
sobreviventes que trouxemos pela rua com certeza viram o vdeo. Eles confiaram em
mim. Estavam prontos para ficar e lutar. Mas era tarde demais para isso?
Fao uma careta involuntariamente, pensando alto.
Passei minha vida inteira me escondendo dos mogadorianos que estavam nos
caando na Terra. Ficando mais forte. Treinando. A guerra estava sendo lutada em
segredo. Estvamos comeando a reunir aliados, alm de estar conseguindo
descobrir as coisas. Me pergunto, se tivssemos ido a pblico antes, quantas vidas
teramos salvo se Nova York estivesse pronta para um ataque como este?
Nah Daniela diz, descartando essa ideia com um aceno de mo. Ningum
teria acreditado nesta porcaria h uma semana. No sem a CNN gritando sobre

naves espaciais sobrevoando Nova York. Quero dizer, voc precisava de toda a luta
na NU para que pudessem acreditar. Caso contrrio, as pessoas do noticirio
estariam debatendo se isso era uma farsa, ou uma publicidade para a divulgao de
algum filme ou coisa do tipo. Eu vi uma mulher na TV dizendo que voc era um anjo.
Bem engraado.
Rio secamente, no estando muito com vontade.
. Hilrio.
Percebo que Daniela est tentando me confortar sua maneira. Nunca vou saber o
que teria acontecido se tivssemos gastado os ltimos meses tentando tornar
pblica nossa guerra com os mogadorianos. Havia humanos de cargos importantes
envolvidos com o ProMog e isso faria com que qualquer tentativa de exp-los se
tornasse extremamente difcil, se no impossvel. Eu sei de tudo isso, logicamente. E
ainda assim no posso deixar de sentir que a colossal perda de vidas foi culpa minha.
Eu devia ter feito mais.
Quantos anos voc tem mesmo? Daniela pergunta.
Dezesseis digo a ela.
Ah Daniela assente, como se ela j soubesse disso. Voc como a garota que
narrou no vdeo. Voc tem toda essa sabedoria por trs da idade, isso verdade. E
parece que j passou por muita coisa. Mas dando uma olhada mais de perto... ela
se perde, estalando sua lngua enquanto pensa. Voc deveria estar terminando o
ensino mdio. No salvando o mundo.
No posso deixar o que aconteceu em Nova York me enterrar sob a culpa. Eu tenho
que ter certeza de que nada desse tipo vai acontecer novamente. Preciso encontrar
meus amigos e descobrir como matar Setrkus Ra, de uma vez por todas.
Ergo meus ombros e sorrio para Daniela, dando de ombros com indiferena.
Algum precisava faz-lo.

Daniela devolve o sorriso por um segundo, ento surpreende a si mesma e desvia o


olhar. Por um segundo, ali, pensei que ela talvez tivesse se voluntariado para se
juntar a luta. No posso obrig-la a ficar conosco depois de sairmos do metr.
Apenas tenho que acreditar que ela, e os outros humanos l fora, desenvolveram
Legados por algum motivo.
Precisamos nos mover digo.
Balano os ombros de Sam e ele bufa quando acorda. Seus olhos ficam turvos por um
momento, se ajustando lentamente a luz azulada do vago de metr.
Ento aquilo no foi um pesadelo ele suspira, levantando lentamente e
estalando as costas. Seu olhar vai em direo a Daniela. Voc resolveu passar um
tempo conosco, h?
Daniela encolhe os ombros, como se a pergunta a tivesse envergonhado.
Voc mencionou ter tirado algumas pessoas de Nova York... ela diz para mim.
Isso. O exrcito protegeu a Ponte do Brooklyn. Eles estavam evacuando as pessoas
por l. Pelo menos, estavam at ontem noite.
Eu gostaria de ir l Daniela responde, se colocando de p. Ela endireita sua
blusa coberta de poeira e sangue seco. Talvez ver se minha me chegou at l.
Tudo bem digo. No quero obrig-la a se unir a ns. Se isso acontecer, ela
quem deve fazer essa deciso. Isso no significa que no devemos passar um tempo
juntos por enquanto. Ns devemos seguir nessa direo tambm.
Sam esfrega os olhos, ainda umedecendo sua boca.
Voc acha que Nove e Cinco batalharam todo o caminho at o ponto de
evacuao?
Duvido respondo. Mas Nove j grandinho, pode se virar sozinho por mais
algum tempo. As prioridades mudaram. Eu realmente preciso entrar em contato com
Seis. Se ainda existir telefones funcionando, acho que estaro no ponto de
evacuao viro-me para Daniela. Pode nos mostrar o caminho para fora daqui?

Daniela assente.
S tem um jeito de ir j que os caminhos para a superfcie desabaram. Seguimos
os trilhos at algumas estaes, e ento devemos chegar prximo ponte.
Espere. Como as prioridades mudaram enquanto eu estava dormindo? Sam
pergunta.
Conto a Sam como Ella me alcanou telepaticamente de sua priso na Anubis,
explicando que Setrkus Ra est indo para o Santurio. Daniela ouve, seus olhos bem
abertos e focados em mim, sua boca ligeiramente aberta. Quando termino de
descrever minha jornada dos sonhos, sobre profecias e locais lricos ameaados, ela
balana a cabea em total mistificao.
Minha vida ficou to estranha ela diz, andando na direo da sada do vago.
Ei Sam a chama de volta. Voc se esqueceu da bolsa!
Daniela olha por cima dos ombros. Ento, ela olha pra mim. No sei se ela quer
permisso ou se est me desafiando a par-la. Quando no falo nada, ela se vira e
levanta a bolsa pesada com um grunhido
Use sua telecinesia digo casualmente. bom para praticar.
Daniela olha para mim por um momento, depois concorda e sorri. Ela se concentra e
flutua a bolsa a sua frente.
O que tem a? Sam pergunta.
Meus fundos para faculdade ela responde.
Sam olha para mim. Eu apenas dou de ombros.
Quando Daniela alcana o fim do vago, ela levita a bolsa para o lado e abre a porta
de metal com um barulho estridente. Ela d um passo para o corredor que liga o
prximo vago. Sam e eu a seguimos alguns passos atrs.
Uou, uou Daniela diz, suas palavras no so direcionadas para ns.
Sua bolsa dispara de volta para o vago que estvamos, Sam e eu pulamos para fora
do caminho. Daniela desliza a bolsa para debaixo do banco com telecinesia, como se

estivesse tentando escond-la. Um segundo depois, ela volta alguns passos pela
porta, suas mos levantadas em rendio. Imediatamente meus msculos
tensionam.
Pensei que estivssemos salvos aqui em baixo nos tneis. Mas no estamos sozinhos.
Um cano de metralhadora com uma lanterna acoplada est apontada a alguns
centmetros do rosto de Daniela. Uma forma escura, coberta de equipamentos e
armadura, est entrando com cuidado em nosso vago, levando Daniela a recuar.
Tarde demais, percebo feixes de lanterna no vago seguinte cerca de dzias deles,
talvez mais. Um segundo feixe atinge meus olhos, e um segundo homem est
armado entrando em nosso vago. Sem pensar nisso, ativo meu Lmen, fogo
deslizando atravs de meus punhos.
Espere Sam avisa. No so mogs.
Ouo um clique de armas engatilhadas, provavelmente em resposta a minha bola de
fogo. O corredor do vago estreito, Daniela est no caminho e a luz em meu rosto
faz com que seja difcil enxergar.
Definitivamente no so condies ideais. Eu provavelmente seria capaz de desarmlos com minha telecinesia, mas no quero arriscar criar uma exploso automtica
assim to perto. Melhor esperar e ver o que vai acontecer.
Deixo meu Lmen se apagar, e no mesmo momento o soldado da frente abaixa a luz
da lanterna de sua arma para o cho. Ele est usando um capacete, farda e culos de
viso noturna.
Apesar disso, posso te dizer que ele apenas alguns anos mais velho que eu.
Voc ele o soldado diz, com um leve temor em sua voz. John Smith.
Ainda no estou acostumado com essa coisa de ser reconhecido, ento levo um
momento para responder.
Isso mesmo.
O soldado pega o walkie-talkie em seu cinto e fala nele.

Ns o pegamos ele diz, sem tirar os olhos de mim.


Daniela vem em direo a Sam e a mim, olhando para ns e para os soldados, dos
quais esto entrando mais em nosso vago, ventilando o lugar, vasculhando tudo.
Amigos seus?
No tenho certeza respondo calmamente.
s vezes o governo gosta da gente, outras nem tanto Sam explica.
timo Daniela responde. Por um segundo, achei que eles estivessem aqui
para me prender.
O walkie-talkie do soldado ganha vida, uma familiar voz de mulher ecoa pelo vago.
Pea a eles com educao, mas os traga aqui a mulher comanda.
O soldado pigarreia desconfortavelmente, olhando para ns.
Por favor venha conosco ele diz. A Agente Walker gostaria de dar uma
palavrinha.

Captulo nove
OS SOLDADOS NOS PRESSIONARAM AT OS TNEIS DO METR PARA LONGE DA
estao mais prxima e, finalmente at a luz do dia. Eles esto constantemente na
nossa cola, um escudo humano, nos tratando como o Servio Secreto trata o
presidente.
Eu me deixo ficar mais prximo deles, sabendo que posso facilmente atravess-los
com um empurro ao primeiro sinal de problemas. Ns no encontramos nenhuma
patrulha mogadoriana no caminho de volta aos seus Humvees blindados, e

rapidamente estamos ecoando pelas ruas preenchidas com pedaos dos prdios, os
destroos, o resultado do bombardeamento feito pela Anubis ontem noite.
Alcanamos a Ponte do Brooklyn rapidamente e sem incidentes.
No lado de Manhattan, o exrcito preparou uma barreira fortemente armada.
Soldados empacotando metralhadoras observam as ruas de trs de um bloco de
sacos de areia. Atrs deles, trs linhas de tanques esto estacionadas, seis do outro
lado da ponte, suas torres armadas e apontadas para o cu. Helicpteros carregados
com mais misseis patrulham o cu e alguns botes bem recheado esto preparados no
rio.
Se os mogadorianos tentarem tomar o Brooklyn, eles definitivamente encontraro
resistncia.
Vocs tiveram que lutar com muitos deles? pergunto ao soldado que est
dirigindo nosso Humvee enquanto ns passamos pela barreira segura e comeamos
a diminuir a velocidade devido ao engarrafamento na ponte.
Nenhum. Senhor ele responde. Os hostis ficaram em Manhattan at agora.
Aquela grande nave voou bem acima de ns essa manh e no nos comprometeu.
Voc me diz, eles no querem nenhum pedao de nossos soldados.
Senhor Daniela repete, levantando uma sobrancelha para mim e rindo.
Eles esto preservando Manhattan eu digo, inclinando para trs e franzindo a
testa, sem entender porque os mogs no atacaram.
como se Setrkus Ra estivesse mandando uma mensagem Sam diz
calmamente. Olha o que eu posso fazer.
Se eles vierem at ns, ns estaremos preparados o soldado diz, se
intrometendo.
Olhando pela janela, descubro atiradores escondidos nas estruturas da ponte,
vigiando o lado Manhattan da ponte atravs de seus binculos.

Troco um olhar de dvida com Sam. Quero acreditar nessa demonstrao de fora do
exrcito, mas vi o tipo de destruio que os mogs so capazes de fazer. O nico
motivo pelo qual o Brooklyn ainda est de p porque Setrkus Ra permitiu.
O soldado estaciona nosso Humvee no meio de um quarteiro da cidade que foi
convertido em uma rea de preparao para os militares. Existem tendas nas
proximidades, mais Humvees e muitos soldados com olhares inquietantes e com
armas. Tambm h uma longa fila de civis, muito deles sujos e com leses
superficiais, agarrando seus bens escassos medida que esperam em uma fila de
contagem. No incio dela, alguns voluntrios com pranchetas anotam as informaes
das pessoas exaustas, antes de direcion-las at os nibus das cidades comandadas.
Nossa escolta me nota observando o lento processo de refugiados.
Os voluntrios esto tentando manter o controle dos sem teto o soldado
explica. Ento estamos evacuando para Long Island, Nova Jersey, qualquer lugar.
Levando-os para longe da luta at conseguirmos recuperar Nova York.
O soldado mede Sam e Daniela de cima abaixo, ento olha para mim de novo. De
repente me ocorre que esse cara est esperando que eu lhe d ordens.
Voc quer que evacuemos esses dois? o soldado pergunta, referindo se aos
meus companheiros.
Eles esto comigo eu digo a ele, e ele acena com a cabea, aceitando sem
questionar.
Daniela observa os voluntrios checarem um casal idoso e ajud-los a subir no
nibus.
Eles tm uma lista ou algo que eu possa checar? Eu estou... procurando por
algum.
O soldado encolhe o ombro como se essa no fosse sua rea de conhecimento.
Claro, voc poderia perguntar.
Daniela vira para mim.

Eu estou indo...
V respondo, acenando. Espero que voc a encontre.
Daniela sorri para Sam, ento para mim, e comea a se afastar.
Hum, sobre aquela coisa toda de salvar o mundo... ela comea, hesitando.
Quando voc estiver preparada, venha e me procure eu digo a ela.
Voc est assumindo que em algum momento eu irei estar preparada Daniela
responde.
Ela ainda no mencionou sua mochila de dinheiro roubado, desde que ela foi deixada
para trs no metr.
Sim, eu estou.
Daniela demora mais um segundo, os olhos fixados nos meus.
Ento, acena para si mesma, se vira e corre em direo aos voluntrios.
Sam olha para mim como se eu fosse louco.
Voc est a deixando ir? Uma das nicas... Sam olha de relance para o soldado
que ainda est pacientemente esperando prximo a ns, sem ter certeza de quanto
ele deveria dizer.
No posso for-la a se juntar a ns, Sam eu respondo. Mas o que aconteceu
a ela o que aconteceu com voc... tem que ter uma razo. Tenho f de que isso no
vai ser para nada.
A barraca da Agente Walker est nessa direo, senhor o soldado diz, acenando
para eu e Sam seguirmos.
Os celulares ainda esto funcionando? pergunto a ele enquanto ns
atravessamos o congestionado acampamento. Preciso fazer uma ligao.
importante.
Mtodos tradicionais ainda no esto funcionando, senhor. Os inimigos se
atentaram a isso. No entanto, ns provavelmente temos alguma coisa que voc
possa usar no centro de comunicao o soldado diz, apontando para uma tenda

prxima com muita atividade. Todavia, devo lev-los diretamente Agente


Walker. Se voc permitir.
Se eu permitir?
Ns fomos brevemente informados de seu histrico de... dificuldades com as
autoridades o soldado diz, timidamente examinando a ala de seu rifle. Foi-nos
dito para no entrar em combate ou forar vocs a fazerem qualquer coisa. Os
parmetros da misso so limitados a apenas gentilmente cutucar.
Balano minha cabea, desacreditando. No h muito tempo fui considerado um
inimigo dos Estados Unidos. Agora, estou sendo tratado como um estrangeiro digno
pelo exrcito.
Tudo bem eu digo, decidindo no tornar a vida difcil para nossa escolta.
Aponte-me a direo da Agente Walker e ento ajude meu amigo Sam a colocar suas
mos em um telefone via satlite.
Momentos depois, ando ao lado do per de concreto observando o East River e
Manhattan. O ar est fresco e gelado, no entanto ainda est tingido com um irritante
cheiro de queimado que sopra de Manhattan.
Daqui, tenho uma viso clara da destruio que os mogadorianos impuseram na
cidade. Pilares de fumaa negra sobem no brilhante cu azul, o fogo que ainda
queima. Existem lacunas no horizonte da cidade, espaos onde sei que edifcios
deviam estar, simplesmente apagados pelas poderosas armas de energia da Anubis.
Ocasionalmente, posso fazer um rasante entrelaando entre os edifcios, os mogs
patrulhando as ruas.
A Agente Walker est sozinha na grade, observando a cidade.
Como voc me encontrou? pergunto como um modo de cumprimento,
enquanto me aproximo.
A Agente do FBI que uma vez tentou me prender agora sorri para mim.

Alguns sobreviventes mencionaram t-lo visto Walker responde. Ns


enviamos grupos para fora da rea geral. Comeamos a procurar onde a principal
nave de guerra estava despejando artilharia pesada.
Boa ideia respondo.
Estou feliz por voc estar vivo ela diz bruscamente.
O cabelo ruivo e grisalho da Walker est puxado para trs em rabo de cavalo. Ela
parece exausta, olheiras pesadas abaixo de seus olhos. Em algum momento, trocou
seu habitual casaco e terninho por um colete Kevlar, provavelmente emprestado do
grande contingente do exrcito que est garantindo a segurana desta rea. Seu
brao esquerdo est em uma tipoia, e h uma bandagem feita s pressas em sua
testa.
Quer que eu a cure? pergunto.
Em resposta, Walker d uma olhada em volta. Ns dois estamos sozinhos no
momento, em um pequeno parque escondido embaixo da Ponte de Brooklyn. Ou
melhor, to sozinhos quanto conseguimos ficar em um lugar que basicamente se
tornou um campo para refugiados do dia para a noite. O gramado montanhoso atrs
de ns est cheio de tendas improvisadas, onde nova iorquinos feridos e assustados
se apertam. Acho que essas so as pessoas que recusaram serem evacuadas pela
Cruz Vermelha, ou talvez estivessem feridas demais para fazer esta viagem.
H tendas espalhadas pelo arredor do bloco, e tenho certeza que h pessoas
agachadas nos chiques apartamentos construdos beira do rio nas proximidades.
Intercalados atravs dos sobreviventes, mantendo a ordem e cuidando dos feridos,
esto os soldados, policiais e alguns mdicos, apenas uma pequena parte da fora de
milhares que vi reunidos perto da ponte. essencialmente um caos organizado.
Esses seus poderes, eles tm limites? Walker pergunta, olhando como uma
mulher deixada na grama do parque que teve um brao severamente queimado
tratado por um mdico apressado.

Sim, eu os sobrecarreguei ontem respondo, coando a parte de trs do meu


pescoo. Por que voc pergunta?
Porque por mais que eu aprecie a oferta, ns temos milhares de feridos aqui,
John, com mais chegando a cada hora. Voc quer gastar todo o seu tempo
remendando as pessoas?
Encaro as filas das pessoas no parque, muitas delas descansando em nada mais do
que a grama. A maioria delas est me observando. Ainda no estou confortvel com
isso, ser o rosto da Garde. Eu me viro de volta para a Walker.
Eu poderia. Isso salvaria algumas vidas.
Walker balana sua cabea me olha.
Os mais feridos esto na tenda de classificao. Ns podemos dar uma passada
por l depois, se voc quiser fazer toda essa coisa de Me Teresa. Mas voc e eu
sabemos que h maneiras melhores de gastar o seu tempo.
Eu no respondo, e no levo a questo adiante. Walker geme e caminha ao longo dos
canais, indo em direo a uma coleo de tendas do exrcito levantadas nas
proximidades de uma praa. Dou outra rpida olhada em volta do parque.
Atravessando a ponte, as coisas parecem bem seguras. No entanto, de volta onde eu
estava, est uma absoluta loucura. Pessoas feridas, soldados, policiais militares eu
nem sei por onde comear.
Ento, voc a responsvel aqui? pergunto a Walker, tentando me orientar.
Ela bufa.
Voc est brincando, certo? H generais cinco estrelas na cena planejando
operaes de contra-ataque. A CIA e a NSA esto aqui, coordenando com pessoas de
Washington, tentando dar sentido a todas as informaes que esto sendo recebidas
de todo o mundo. Eles tiveram o presidente em videoconferncia mais cedo nesta
tarde, por mais espirituoso que o Servio Secreto seja. Eu sou apenas uma Agente do
FBI, no muito em comando.

Ok, se este o caso, por que eles me trouxeram at voc, Walker? Por que ns
estamos conversando?
Walker para e vira para mim, com suas mos nos quadris.
Por causa de nossa histria, nossa relao...
disso que voc est chamando?
Eu fui nomeada sua ligao, John. Seu ponto de contato. Qualquer coisa que voc
nos contar sobre os mogadorianos, suas tticas, esta invaso isso ser dito atravs
de mim. Da mesma forma, qualquer requisio que voc poder fazer para as foras
armadas dos Estados Unidos.
Deixo escapar uma risada aguda e sem graa. Eu me pergunto onde esto os
generais. Procuro pelas tendas prximas procurando por alguma que parea mais
importante que as outras.
Sem ofensa, Walker, mas eu no preciso de voc como um meio comunicao.
No voc quem decide ela responde, resumindo sua caminhada pelo per.
Voc tem que entender que as pessoas no comando, o presidente, seus generais, o
que sobrou de seu gabinete eles no eram do ProMog. Quando os mogs fizeram
contato, ns quase tivemos um golpe bem-sucedido em nossas mos com as escrias
do ProMog defendendo a rendio. Por sorte, com o Sanderson fora da jogada...
Espera a. O que aconteceu com ele? pergunto.
Eu perdi o sinal do secretrio da defesa durante a batalha com Setrkus Ra.
Ele no resistiu Walker responde tristemente. Eu tinha pessoas suficientes
em Washington para se livrar da maioria das mas podres. Aquelas que ns
sabamos, pelo menos.
Ento voc est dizendo que a maioria dos ProMog se foram e que ns fomos
deixados com...

Um governo fraturado que foi mantido totalmente nas sombras. Essa invaso, a
ideia de aliens de outro planeta nos atacando, tudo novo para eles. Eles aceitam
que voc est lutando do nosso lado. Mas voc ainda um extraterreste.
Eles no acreditam em mim eu digo, incapaz de manter a amargura da minha
voz.
A maioria deles nem mesmo acredita mais um no outro. E de qualquer forma,
voc no deveria confiar neles Walker responde empaticamente. Os membros
ProMog conhecidos foram todos presos, mortos ou se esconderam. Mas isso no
significa que pegamos todos eles.
Eu dou uma olhada para Walker, revirando meus olhos.
Ento melhor para mim continuar com o diabo que eu conheo, no ?
Ela abre os braos, obviamente no esperando que realmente eu a abrace.
Isso mesmo!
Tudo bem, aqui est meu primeiro pedido: contato. A Anubis a nave de guerra
que deixou Nova York essa manh est carregando Setrkus Ra e est indo para o
Mxico.
Ah, bom Walker interrompe. Eles vo gostar disso. Uma ameaa a menos
para os cus do EUA.
Eles precisam enviar jatos, lutadores, drones, o que quer que eles tiverem
continuo. A nave est indo em direo de um lugar de grande poder, um lugar
lrico. Eu no tenho certeza do que Setrkus Ra quer l, mas sei que ser ruim se ele
conseguir. Ns temos que levar a luta at ele.
A expresso da Walker fica mais sombria quanto mais eu falo. J posso dizer que no
vou gostar do que ela tem a me dizer. Ela me leva para fora do per, atravessando
algum emaranhado de grama e para em frente de uma tenda de lona ligeiramente
isolada das outras.
Um ataque direto no vai acontecer ela responde.

Por que diabos no?


Meu quartel General ela diz, empurrando a abertura da aba de entrada.
Vamos conversar l dentro.
Dentro da tenda da Walker est uma cama no usada, uma mesa bagunada e um
laptop. H um mapa da cidade de Nova York com linhas vermelhas cruzando nela
se eu tivesse que adivinhar, apostaria que as linhas vermelhas representam o
caminho que a Anubis fez durante o ataque de ontem. Walker puxa um segundo
mapa debaixo do mapa de Nova York, este do mundo inteiro. H alguns sinistros Xs
pretos desenhados sobre vrias das principais cidades Nova York, Washington, Los
Angeles e lugares mais distantes como Londres, Moscou e Beijing. H mais de vinte
cidades marcadas neste mapa.
Walker bate seus dedos no papel.
Essa a situao, John ela diz. Cada marca uma das naves de guerra. Voc
sabe como derrubar uma dessas coisas?
Balano minha cabea.
Ainda no, mas ainda no tentei.
A fora area tentou ontem, e no deu muito certo.
Eu franzo a testa.
Eu os vi voando. Sei que no conseguiram.
Eles tiveram algum sucesso contra as menores naves, mas elas nem se comparam
com a Anubis. A fora area estava considerando outro ataque quando os chineses
tentaram.
O que isso significa?
Algumas horas depois do ataque em Nova York, eles ficaram com os dedos no
gatilho. Provavelmente estavam preocupados que seriam os prximos a serem
atacados. Eles lanaram tudo o que puderam com exceo de uma bomba nuclear na
nave que estava sobre Beijing.

E?
Vtimas em dezenas de milhares Walker responde. A nave de guerra ainda
est no ar. Elas esto protegidas de alguma forma. Os cientistas chineses dizem que
um tipo de campo eletromagntico. Se cansaram de lanar jatos contra esse campo,
ento tentaram lanar paraquedas com uma pequena fora diretamente na nave de
guerra. Aqueles caras no sobreviveram ao contato com o campo.
Lembro-me do campo de fora em volta da base mogadoriana de West Virginia. O
choque que recebi ao toc-lo foi o suficiente para me nocautear e me deixar doente
por dias.
Eu j atravessei o campo de fora deles antes eu digo a ela. Literalmente.
Como voc o derrubou?
Nunca consegui.
Walker me d um olhar inexpressivo.
E aqui estava eu , tendo um pouco de esperana.
Olho de volta para o mapa e balano minha cabea. Todo os Xs pretos me parecem
uma batalha que no sei como vencer.
Vinte e cinco cidades sob ataque. Voc tem alguma notcia boa, Agente Walker?
isso ela diz. Esta a boa notcia.
Levanto uma sobrancelha para ela.
Alguns lugares, como Londres e Moscou, enviaram tropas para lutar contra os
mogs. Mas no houve resposta como aqui ou em Beijing. Nenhum bombardeio,
nenhum monstro furioso. como se os mogs estivessem pegando leve com eles. E
tambm h alguns lugares como Paris e Tquio que no levantaram nenhum dedo se
quer. Essas cidades no esto atualmente sob ataque. As naves de guerra e as naves
de escolta esto controlando o espao areo, mas alm disso, no h nenhum mog
em terra firme. E ento, esta manh, aquela nave de guerra voou bem em cima de
ns, como se no fssemos nada. Isso fez algumas pessoas pensarem que talvez eles

no quisessem lutar. Talvez tudo isso seja um grande mal-entendido com os


extraterrestres, que ns no deveramos t-los atacados primeiro.
Ns no atacamos aponto.
Eu sei disso, mas em volta do mundo, o que ns vimos...
Setrkus Ra est enviando uma mensagem eu digo. Mesmo sabendo que ele
tem a vantagem, ele no quer uma batalha demorada. Ele quer intimidar a
humanidade submisso. Ele quer que ns desistamos.
Walker acena e anda at seu laptop. Ela coloca uma srie de senhas, o que no
uma tarefa fcil considerando que ela tecla com apenas uma mo, antes de
finalmente abrir um vdeo criptografado.
Voc est mais certo do que voc imagina Walker diz. No est claro como
ele conseguiu acesso, mas esse vdeo apareceu nos canais de segurana da caixa
particular do presidente. Outros lderes do mundo com que ns conversamos
reportaram ter recebido a mesma coisa.
Walker aperta o boto reproduzir e um vdeo de qualidade HD com a imagem do
rosto de Setrkus Ra aparece na tela. Meu sangue comea a gelar ao ver sua pele
plida e vazios olhos pretos, a cicatriz roxa escura que rodeia seu pescoo, seu
sorriso convencido para a cmera.
exatamente o mesmo sorriso que tinha um pouco antes de me arremessar no East
River. Setrkus Ra est sentado em uma cadeira ornamental de comandante na
Anubis eu me lembro de t-la visto quando Ella me mostrou a nave. Sob seu
ombro, a cidade de Nova York visvel atravs de uma grande janela do cho ao
teto. O sol est nascendo, a cidade ainda est em chamas. No h dvidas em minha
mente que ele escolheu essa cena de fundo de propsito.
Respeitveis lderes da Terra Setrkus Ra comea, essas palavras educadas
emitidas em um spero estrondo. Rogo para que essa mensagem os encontre com
uma cabea aberta depois do infeliz evento em Nova York e Beijing. Foi com grande

relutncia, e somente depois de uma tentativa de assassinato pelos aliengenas


terroristas, que usei uma frao da fora mogadoriana disponvel contra suas
pessoas.
A propsito, vocs so os aliengenas terroristas Walker comenta.
, percebi isso.
Setrkus Ra continua:
Tirando essas circunstncias lamentveis, minha oferta para acolher a
humanidade e mostrar-lhe que o Progresso Mogadoriano vale a pena ainda est de
p. Eu no sou nada se no souber perdoar. Enquanto minhas foras continuaro a
manter a cidade de Nova York e Beijing como um lembrete do que acontece quando
bestas imprudentes mordem a mo gentil que as guia, as outras cidades onde
minhas naves de guerra esto posicionadas no tm o que temer. Assumindo, isto ,
que meus generais recebam rendio incondicional destes governos nas prximas
quarenta e oito horas.
Minha cabea se vira para Walker.
Eles no esto realmente acreditando nessa porcaria, no ?
Ela aponta para a tela.
Tem mais.
Adicionalmente Setrkus Ra entoa acredito que o governo dos Estados
Unidos esteja abrigando os terroristas lorienos conhecidos como Garde. Continuar a
ajudar essas almas retorcidas ser considerado um ato de guerra. Eles devero ser
entregues a mim no tempo de rendio, no interesse de evitar o custoso e doloroso
processo de retir-los fora. E tambm de meu entendimento que alguns
humanos tenham sofrido de uma mutao nas mos da Garde onde eles
manifestaro alguns tipos de habilidades sobrenaturais. Estes humanos devem ser
entregues a mim para tratamento.
O que ele quer dizer com mutaes? Walker me pergunta. Mais besteira?

Eu no respondo. Em vez disso, me afasto do laptop enquanto Setrkus Ra ainda est


falando, meu olhar deslocando na direo da Agente Walker.
Vocs tm quarenta e oito horas para se render, ou eu no terei escolha seno
libertar sua humanidade de sua liderana estpida e liberar suas cidades pela fora...
O vdeo para e Walker vira o rosto para mim. Quando o faz, eu j tinha preparado
uma pequena bola de fogo, pairando sobe a palma da minha mo.
Oh, Jesus Cristo, John ela grunhe, saindo de perto do calor.
esse o motivo de voc me trazer aqui? retruco, me afastando.
Estou meio que esperando um grupo de soldados entrar explodindo tudo para tentar
me conter, ento mantenho um olho na sada da tenda enquanto me movo em
direo a ela.
Meus amigos esto seguros?
Voc acha que mostrei isso para voc como um preldio de uma emboscada?
Fique calmo. Voc est seguro.
Encaro Walker por mais alguns segundos. Nesse ponto, no tenho muita opo a no
ser acreditar nela, especialmente considerando a alternativa de lutar um exrcito
para sair daqui. Se o governo quer me entregar para Setrkus Ra como um gesto de
boa vontade, isso provavelmente ainda no aconteceu. Extingo minha bola de fogo e
encaro Walker.
Ento, isso verdade? Walker pressiona. O que Setrkus Ra disse sobre os
humanos manifestando habilidades sobrenaturais? Ele quis dizer que os humanos
esto obtendo Legados?
Eu...
No tenho certeza o quanto devo compartilhar com Walker. Ela me diz que estou
seguro, mas no tem muito tempo ela estava me caando atravs do pas. Embora
ela alegue que o ProMog foi levado para as escuras, ainda h humanos por a
trabalhando contra ns. Droga, ela acabou de me dizer para no acreditar no

governo. E se tiver novos Gardes em todo o mundo, e se algum liquidado como o


Secretrio de Defesa Sanderson chegar at eles antes de ns? E eu poderia revelar
Sam e Daniela para Walker? No posso dizer nada para ela. No at eu ter
descoberto primeiro.
Eu no sei do que diabos ele est falando, Walker falo depois de um momento.
Ele vai dizer qualquer coisa para conseguir o que ele quer.
Acho que ela pode dizer que estou escondendo algo dela.
Eu sei que difcil aceitar considerando nossa histria, mas estou do seu lado
agora Walker diz. Por ora, assim como os Estados Unidos.
Por ora? O que isso significa?
Isso significa que ningum vai se render para o aliengena manaco que acabou de
explodir Nova York. Mas se ele comear a colocar fogo em mais cidades e ns no
tivermos descoberto uma maneira de contra-atacar? As coisas podem mudar, John.
Por isso que seu pedido por uma operao militar no Mxico no vai acontecer.
Primeiro, um propsito perdido contra as naves de guerra. E segundo, de acordo
com os fatos ocorridos, o mais sbio no ajudarmos voc abertamente por ora.
Eles esto protegendo suas apostas eu digo, incapaz de manter um sorriso no
meu rosto. No caso de eles decidirem em se render.
Palavra do presidente que todas as opes esto abertas.
Desistir no uma opo. Eu j vi... eu me contenho para no usar referncias
das vises do futuro de Ella, profecias de Legados poderosos no vai fazer muito
peso para a superprtica Walker. No vai acabar bem para a humanidade.
Sim, voc e eu sabemos disso, John. Mas quando Setrkus Ra comear a matar
civis e tudo o que ele quiser em troca for voc e os outros Gardes? Esse um plano
de ao que o presidente vai ser forado a considerar.
Dou as costas, abrindo a aba da tenda para olhar para fora, me perguntando onde
Sam est com o telefone via satlite. Eu tambm quero esconder meu rosto de

Walker, sentindo que um ataque de pnico est chegando. Eu no sei o que fazer. Se
o prazo de Setrkus Ra passar e ele comear a bombardear outra cidade, devo
simplesmente deixar acontecer? Eu devo me entregar? Neste meio tempo, o que
fao para impedir o ataque dele ao Santurio? E sobre Nove e Cinco, que ainda esto
desaparecidos? muita coisa para lidar.
John?
Devagar, encaro Walker, garantindo que minha expresso esteja neutra. Mesmo
assim ela deve detectar algo, porque atravessa a tenda e para em minha frente. Ela
agarra meu ombro com seu brao bom, e estou to surpreso por ter deixado isso
acontecer. H medo nos olhos de Walker, misturado com um tipo de determinao
suicida. Eu j vi aquele olhar antes usado pelos meus amigos, pouco antes deles se
jogarem em uma batalha contra o impossvel.
Voc precisa me dizer como fazer isso Walker fala para mim, sua voz baixa e
trmula. Me diga como vencer essa guerra em menos de quarenta e oito horas.

Captulo dez
COMO EST INDO?
Adam pula quando coloco minha mo em seu ombro e me inclino para checar
seu progresso. Ele est curvado sobre uma bancada onde os mogs
aprimoravam suas armas antes das tentativas infrutferas de destruir o campo
de fora do Santurio. Adam varreu toda a porcaria mogadoriana que estava
atravancando a bancada para o cho e as substituiu com uma variedade de
peas mecnicas. As peas variadas vieram dos Skimmers desativados que
estavam juntando poeira no campo de pouso, algumas das entranhas dos
motores, outras de trs do painel de instrumentos touchscreen. Entre as
partes da nave esto vrias outras coisas, de todos os tamanhos a bateria

de uma das lmpadas de halognio, um canho mogadoriano quebrado e a


carcaa de um notebook.
Todas essas coisas foram dobradas, torcidas ou marteladas por Adam
enquanto ele tenta substituir os condute destrudos da nossa nave usando
partes diversas.
Como parece que est indo? ele responde, sombriamente colocando no
cho maarico que estava prestes a ligar. Eu no sou um engenheiro,
Seis. Isso estritamente tentativa e erro. At agora, cem por cento de erro.
O sol est agora subindo sobre as copas das rvores da selva para queimar a
pista de pouso, nenhum adiamento do calor pegajoso l fora.
Adam j tem toda sua camisa suada, sua pele plida em sua nuca ficando
rosada. Tiro minha mo de seu ombro at ele suspirar e virar seu rosto para
mim. Seus olhos negros esto secos e um pouco selvagens, crculos cinzas
se formando ao redor deles.
Voc no dormiu eu digo, tomando isso como um fato. Ele trabalhou
durante a noite toda, suas marteladas e xingamentos interrompendo as
espasmdicas horas de descanso que consegui enquanto dormia enrolada na
cabine do Skimmer. Os nicos intervalos que ele fez foi para checar Areal,
que ainda no se livrava do estado de paralisia. Talvez eu no saiba muito
sobre a biologia mogadoriana, mas tenho certeza de que vocs precisam
dormir.
Adam tira um pouco de cabelo dos seus olhos, tentando focar em mim.
Sim, Seis, ns dormimos. Quando conveniente.
Voc vai acabar ultrapassando seus limites e ficar exausto, e ento ser
bom em qu? pergunto.
Adam franze a testa.
Nas mesmas coisas que eu sou bom agora ele diz, olhando para a
coleo de diversas partes em sua frente. Eu entendo voc, Seis. Estou
bem. Deixe-me continuar trabalhando.

Para falar a verdade, estou orgulhosa por Adam ser devoto em seu servio.
Ao mesmo tempo que no quero v-lo se machucando, ns precisamos
desesperadamente sair do Mxico. Ainda no h uma palavra do John. Temo
estarmos perdendo a guerra.
Pelo menos coma algo eu digo a ele, agarrando uma banana verde que
acabei de pegar de uma bananeira prxima e empurrando nas mos de
Adam.
Ele considera a banana por alguns momentos. Posso realmente ouvir o
estmago de Adam roncar enquanto ele comea a descasc-la. Comida no
foi uma coisa que pensamos em trazer ns no sabamos o que esperar
quando vnhamos para o Santurio, mas definitivamente no estvamos
planejando ficar por aqui. No trouxemos os suprimentos necessrios para
uma estadia longa.
Sabe, Nove tinha uma daquelas pedras em sua Arca que, se voc as
chupasse, elas lhe dariam todos os nutrientes de uma refeio eu digo a
Adam, descascando uma banana. Meio nojento, especialmente depois que
voc comea a pensar sobre onde eles estiveram e quantas vezes Nove
provavelmente a usou. Mas agora, eu realmente queria que no tivssemos
jogado aquilo dentro do poo do Santurio.
Adam sorri, olhando para o templo.
Talvez voc devesse voltar e pedir com jeitinho. Tenho certeza que aquela
coisa-energtica no quer as pedras cuspidas por Nove.
Talvez eu devesse pedir um novo motor, j que estarei l.
No doeria Adam responde, e engole o resto de sua banana com
pressa. Eu vou tirar a gente daqui, Seis. No se preocupe.
Coloco uma segunda banana na mesa e deixo Adam voltar ao trabalho.
Atravesso a pista de pouso em direo onde Marina est sentada com as
pernas cruzadas na grama, encarando o Santurio. Eu no tenho certeza se
ela est meditando ou rezando ou alguma coisa assim, mas ela estava

naquele lugar quando acordei esta manh e ainda no se moveu desde que
sa caando por comida na selva.
Eu gostaria de pensar que foi por acidente minha rota at Marina me levar
para a haste do Skimmer onde Phiri-Dun-Ra est amarrada, mas eu sei que
no. Ns a amarramos no meio do campo e todos temos mantido os olhos
nela. Quero que a mogadoriana diga alguma coisa, para me dar um motivo.
Ela no desaponta.
Ele vai falhar, voc sabe.
Voc disse alguma coisa? pergunto, parando e me virando devagar
para encar-la.
Eu ouvi Phiri Dun-Ra perfeitamente.
Nossa prisioneira mogadoriana sorri cruelmente para mim, seus dentes tortos
com sangue seco. Seu olho direito est inchado. Eu fiz isso nela ontem
noite. Depois de ouvir sobre a invaso mogadoriana, cansei-me rapidamente
com sua incessante gargalhada. Ento, eu a acertei. No foi meu momento
mais orgulhoso, socando um mogadoriano amarrado, mas isso me fez sentir
bem. Na verdade, eu provavelmente teria feito mais se Marina no tivesse me
arrastado para longe dela.
Enquanto encaro Phiri Dun-Ra, seu olho bom se estreita em diverso.
Cerro os punhos de novo. Eu quero bater em algo. Tudo o que preciso de
um motivo.
Voc me ouviu, garotinha ela responde, balanando o queixo na direo
de Adam. Phiri Dun-Ra fala alto o suficiente que eu tenho certeza que ele
pode ouvir tambm. Adamus Sutekh vai falhar, como ele sempre falha.
Voc sabe, eu o conheo h muito mais tempo que voc. Eu sei o eterno
desapontamento que ele foi para seu pai. Para o nosso povo. No toa que
ele se tornou um traidor.
Olho por sobre os meus ombros para Adam. Ele est fingindo no ouvir Phiri
Dun-Ra, mas suas mos pararam de trabalhar e seus ombros enrijeceram.

Voc quer ser nocauteada de novo? pergunto para Phiri Dun-Ra, dando
um passo em direo a ela.
Ela fica pensativa por um momento, ento continua:
No entanto, hmm... acabei de me lembrar de algo. Eu me lembro de ouvir
as proezas do jovem tcnico Adamus. Ele era algo como um prodgio em
mquinas para um jovem nascido naturalmente. estranho ele no ser capaz
de consertar

uma

dessas

naves,

especialmente com

todos

esses

equipamentos a seu dispor.


Eu olho novamente para Adam. Ele est virado agora, uma expresso
confusa em seu rosto, encarando Phiri Dun-Ra.
Eu me pergunto se ele est enrolando de propsito Phiri Dun-Ra diz.
Talvez, agora que o Progresso Mogadoriano se provou inevitvel, ele pense
que manter vocs aqui dar a ele algum favor com nosso Adorado Lder, para
que ento ele volte rastejando de volta para seu povo de verdade... Ou talvez
ele simplesmente seja covarde demais para encarar as batalhas perdidas que
esto por vir.
Adam passa por mim como um borro. Ele agacha em frente Phiri Dun-Ra
e puxa sua cabea para trs. Ela tenta mord-lo, mas Adam mais rpido.
A morte est chegando para voc, Adamus Sutekh! Para todos vocs!
ela d um jeito de gritar, antes de Adam enfiar um pedao de pano em sua
boca.
Depois, ele rasga um pedao grande de fita e enrola em toda a cabea de
Phiri Dun-Ra. Sua respirao agora vem em rajadas furiosas pelo seu nariz, a
mogadoriana olhando venenosamente para Adam. Sobre a grama em frente
ao Santurio, Marina tem resistido em assistir a cena, uma pequena careta
em seu rosto.
Adam fica em cima de Phiri Dun-Ra, seus dentes mostra, linhas escuras
aparecendo em seu rosto. um olhar assassino, um que vi no rosto de vrios
mogadorianos, usualmente logo antes de tentarem me matar.

Adam... chamo, advertindo-o.


Adam se vira para me encarar, tentando se controlar. Ele respira fundo.
Tudo o que ela disse mentira, Seis ele diz. Tudo.
Eu sei disso respondo. Ns devamos t-la amordaado antes.
Adam grunhe e retorna para sua bancada, seus olhos desanimados enquanto
passa por mim. Phiri Dun-Ra definitivamente sabe como tir-lo do controle.
Como tirar todos ns. Bom, exceto Marina. Eu sei que ela est tentando criar
uma barreira entre ela e o nosso grupo, mas isso no vai funcionar. Quo
estpida ela pensa que sou? Eu sempre vou acreditar na palavra de um
mogadoriano que foi permitido atravessar o campo de fora do Santurio do
que de um que tentou nos explodir com uma granada.
Com o fim da discusso, Marina senta na grama de frente para o Santurio.
Eu me junto a ela, observando as brilhantes aves coloridas voarem enquanto
brincam em volta do templo antigo.
Voc o teria parado, se ele tentasse mat-la? Marina me pergunta
depois de um momento.
Eu encolho os ombros.
Ela uma mogadoriana respondo. Uma das piores que j conheci. E
isso quer dizer alguma coisa.
No calor da batalha uma coisa Marina diz. Mas quando ela est
amarrada... Ela no como os guerreiros que ns tanto enfrentamos. Ela
como Adam, uma nascido naturalmente. Quando usei minha cura nele,
evitando que ele desintegrasse, eu pude... Eu pude sentir a vida l, no to
diferente do que a nossa. Temo no que ns podemos nos tornar com a
continuidade dessa guerra.
Talvez eu esteja cansada demais, e definitivamente estou alm de estressada
com nossa situao atual, mas essa coisa moral de Marina est comeando a
encher o saco. Quando respondo, tem mais ignorncia na minha voz do que
eu gostaria.

E ento? Voc pacifista agora? Alguns dias atrs, voc arrancou o olho
do Cinco com um ataque de gelo eu a lembro. Ele muito mais
parecido conosco do que Phiri Dun-Ra , e eles dois esto em apuros.
Sim, eu fiz isso Marina responde, passando suas mos sobre as pontas
afiadas da grama. Eu me arrependo disso. Ou, na verdade, eu me
arrependo do pouco arrependida que estou. Voc entende o que quero dizer,
Seis? Ns temos que tomar cuidado para no nos tornarmos eles.
Cinco mereceu respondo, amolecendo um pouco minha voz.
Talvez Marina admite, e finalmente olha para mim. Eu me pergunto o
que ser de ns quando tudo isso acabar, Seis. Com o que ns seremos
parecidos?
Se ainda tiver restado alguma coisa de ns respondo. Grande se
nesse momento.
Marina sorri tristemente. Ela muda seu olhar de volta para o Santurio.
Eu fui dentro do templo mais cedo nessa manh, antes do nascer do sol
ela conta. Voltei para o poo, de onde a energia Lrica veio.
Eu estudo Marina. Enquanto eu estava dormindo, ela estava descendo
aquelas escadas tortas de volta para a cmara subterrnea do Santurio.
O poo de pedra de onde a Entidade veio, os mapas brilhantes do universo
nas paredes. Eu gostaria que ns tivssemos obtido mais respostas daquele
lugar.
Achou algo til?
Ela balana o ombro.
Ainda est l. A Entidade. Eu posso senti-la, se espalhando de dentro do
Santurio, no entanto, no sei por qual motivo. Ainda posso ver o brilho, l no
fundo do poo. Mas...
Voc estava esperando por algum conselho?
Marina acena e sorri baixinho.

Eu tinha esperana que ela poderia nos guiar. Dizer-nos o que fazer a
partir de agora.
No estou surpresa que a Entidade esteja vivendo dentro do Santurio,
aparentemente a fonte de nosso poder, no colocou a cabea para fora para
outra visita com Marina. Quando ns encontramos a entidade pela primeira
vez, ele parecia quase incomodada conosco, feliz por ter sido acordada, com
certeza, mas sem nenhuma pressa em nos ajudar a ganhar essa guerra
contra os mogadorianos. Eu me lembro de algo que ela disse durante nossa
conversa, que ela concede seus dons sobre uma espcie, que no julga ou
toma lados, nem mesmo para sua prpria defesa. Acho que ns j tivemos
toda ajuda da entidade que ns vamos ter. Guardo esse pensamento para
mim, no querendo desencorajar Marina ou abalar sua f, a qual parece ser a
nica coisa que a est mantendo s. Mesmo se isso a guie a algumas
questes ticas mrbidas que eu francamente no me vejo pensando.
Fiquei sentada aqui fora rezando por nossa situao Marina continua.
Suponho que seja idiota esperar por algum tipo de sinal. No entanto, no
sei o que mais fazer comigo mesma.
Antes que eu consiga responder, um zumbido estridente soa atrs de ns. No
incio, penso que s a ltima tentativa de Adam em criar um novo tubo. O
barulho est muito perto. Est vindo praticamente de cima de ns. Marina
est sorrindo para mim, com seus olhos arregalados e animados. Meu
corao comea a bater mais rpido enquanto percebo o que est
acontecendo. Talvez a orao de Marina realmente tenha funcionado.
Seis? Voc no vai atender?
As coisas tm sido irritantemente silenciosas por tanto tempo, que devo ter
esquecido como o toque de um telefone via satlite soa. Eu me levanto em
um pulo, arrancando o telefone do bolso da minha cala.

Marina permanece comigo, inclinando sua cabea mais prximo para poder
ouvir, e Adam corre para se juntar a ns. Eu posso sentir Phiri Dun-Ra nos
observando, mas eu a ignoro.
John?
H uma exploso esttica enquanto o telefone via satlite estabelece a
conexo, uma voz familiar saindo atravs dos gritos da interferncia.
Seis? o Sam!
Um largo sorriso se forma no meu rosto. Posso sentir o alvio na voz de Sam
por eu ter atendido ao telefone.
Sam! minha prpria voz trava um pouco. Espero que ele no tenha
percebido isso. Na verdade, eu no me importo. Marina agarra meu brao,
sorrindo mais largamente. Voc est bem? pergunto para Sam, as
palavras saindo metade como questo e metade como exclamao.
Eu estou bem! ele grita.
E John?
John tambm. Ns estamos em um acampamento militar no Brooklyn. Eles
nos emprestaram um par de telefones via satlite e John est falando com
Sarah no outro telefone.
Eu resmungo e no posso evitar revirar meus olhos um pouco.
claro que ele est.
Onde vocs esto, gente? Est todo mundo bem? Sam pergunta.
As coisas ficaram loucas.
Todo mundo est bem, mas...
Antes que eu consiga contar ao Sam sobre nossa situao, ele interrompe.
Alguma coisa aconteceu ai embaixo, Seis? Enquanto vocs estavam no
Santurio? Como, por um exemplo, vocs apertaram um boto para Legados
ou alguma coisa?
No tinha nenhum boto eu digo, trocando um olhar com Marina.
Ns conhecemos, eu no sei...

O prprio Lorien Marina diz.


Ns conhecemos uma Entidade explico a Sam. Ela diz algumas
coisas enigmticas, nos agradeceu por t-la acordada e ento, hum...
Se espalhou pela Terra Marina termina para mim.
Ah, oi Marina Sam diz distraidamente. Escuta, acho que essa
Entidade de vocs pode ter, hum, se espalhado em mim.
Que diabos isso significa, Sam?
Eu desenvolvi Legados Sam responde. H uma forte mistura de
animao e orgulho em sua voz que impossvel eu no imaginar Sam
estufando um pouco o peito, parecendo como se ele tivesse feito algo de bom
depois de ter beijado pela primeira vez. Bem, s telecinesia. Que sempre
o primeiro, certo?
Voc desenvolveu um Legado?! exclamo, olhando com os olhos
arregalados para os outros.
As mos de Marina apertam meu brao, e ela se vira para ver o Santurio.
Nesse meio tempo, a expresso de Adam se torna pensativa enquanto ele
olha para suas prprias mos, talvez se questionando o que este
desenvolvimento quer dizer sobre seus prprios Legados.
E eu no sou o nico Sam continua. Ns conhecemos outra garota
em Nova York que por acaso tambm desenvolveu Legados. Quem sabe
quantos novos Gardes h pelo mundo afora?
Balano minha cabea, tentando digerir toda essa informao. Eu me
percebo encarando o Santurio tambm, pensando sobre Entidade escondida
com ele.
Funcionou eu digo em voz baixa. Realmente funcionou.
Marina me encara, lgrimas em seus olhos.
Ns estamos em casa, Seis ela diz. Ns trouxemos Lorien para c.
Ns mudamos o mundo.

Tudo isso soa incrvel, mas eu ainda no estou preparada para celebrar. Ns
ainda estamos presos no Mxico. A guerra no acabou de repente.
Aquela Entidade no te deu uma lista de novos Garde, deu? Sam
pergunta. Algum jeito de ns encontr-los?
Nenhuma lista respondo. No posso dizer com certeza, mas julgando
pela minha conversa com a Entidade, tudo parece ser bastante por acaso. O
que est acontecendo ai? pergunto ao Sam, desviando a conversa para as
batalhas que ns perdemos. Ns ouvimos sobre o ataque em Nova York...
Est ruim, Seis Sam diz, diminuindo sua voz. Manhattan est, tipo,
pegando fogo. Ns no sabemos onde Nove est; ele ainda est l em algum
lugar. Onde vocs esto? Ns realmente poderamos usar sua ajuda.
Percebo que eu ainda no terminei de contar ao Sam sobre nossa situao
atual.
Tinha mogs de guarda no Santurio conto a ele. Ns pegamos todos,
exceto um. Enquanto estvamos dentro do templo, ela destruiu todas as
naves. Estamos presos aqui. Voc acha que vocs conseguiriam que um
novo amigo militar mandasse um jato? Talvez precisemos ser resgatados.
Espere, vocs ainda esto no Mxico? No Santurio?
Eu no gosto do medo na voz do Sam. Alguma coisa no est certa.
O que est errado, Sam?
Vocs precisam sair da Sam diz. Setrkus Ra e sua nave gigante
esto indo direto na direo de vocs.

Captulo onze
ALGUNS MINUTOS DEPOIS DE A AGENTE WALKER ME DIZER QUE TENHO QUARENTA
E oito horas para vencer uma guerra, uma dupla de soldados vestidos em uma
armadura completa e um cidado de meia idade esto carregando um tablet chegam
sua barraca. Eles querem entregar algum tipo de mensagem importante
relacionada gravao que o cidado fez em seu aparelho durante a manh. Eu no
estou prestando muita ateno meus ouvidos esto zunindo, corao batendo
forte. Posso sentir que os recm-chegados esto me olhando, como se eu fosse um

hbrido de celebridade e um unicrnio. Isso no ajuda no meu pressentimento de


que as paredes da barraca esto se fechando lentamente.
Acho que talvez eu possa estar sob um ataque de pnico.
A Agente Walker d uma olhada em mim e levanta sua mo, impedindo que os
soldados falem qualquer coisa.
Vamos dar uma volta, cavalheiros ela diz. Preciso de ar fresco.
Walker leva os trs homens para fora de sua barraca e os segue, parando na sada.
Ela olha para mim, fazendo uma careta como se estivesse com dor. Sei que ela
provavelmente quer dizer alguma coisa confortante ou encorajadora, e tambm sei
que a Agente Walker simplesmente no faz esse tipo.
Tire alguns minutos ela diz gentilmente, e essa provavelmente a maior
empatia que vi por parte dela.
Eu estou bem digo bruscamente, embora eu no me sinta bem.
Na maior parte. Estou enraizado no mesmo lugar e lutando para manter minha
respirao estvel.
Claro, eu sei disso ela concorda. Apenas... eu no sei, voc passou por
momentos difceis nas ltimas vinte e quatro horas. Tome um ar fresco. Estarei de
volta dentro de alguns minutos.
Assim que ela sai, eu imediatamente desmorono na cadeira em frente ao notebook.
Eu no deveria estar descansando. H muita coisa para ser feita. Embora meu corpo
no esteja cooperando. Essa sensao no como a exausto pela qual eu estava
passando ontem algo diferente.
Minhas mos tremem, e posso ouvir meus batimentos cardacos em meu peito. Eles
me lembram do barulho das exploses que ocorreram ontem dos gritos, dos
mortos. Correndo pela minha vida, passando por corpos de pessoas que no fui bom
o suficiente para salvar. E ainda h mais para vir.

A menos que eu possa fazer o impossvel. Sinto como se eu fosse vomitar. Preciso de
algo para focar, alguma coisa para me tirar desse pavor, ento ligo o notebook de
Walker. Eu sei o que estou esperando encontrar, o que preciso ouvir. Junto com o
vdeo que ela me mostrou da ameaa de Setrkus Ra, Walker tem alguns outros
arquivos abertos em seu computador. Eu no estou to surpreso pelo fato de
encontrar o vdeo que eu quero l, j aberto.
LUTE PELA TERRA APOIE OS LORIENOS.
Aumento o volume e clico no boto reproduzir.
Esse o nosso planeta, porm no estamos sozinhos.
Daniela estava certa: Sarah realmente parece tentar parecer mais velha e mais
profissional do que ela realmente , como uma ncora ou uma jornalista. Isso me faz
sorrir, de qualquer forma. Fecho os olhos e escuto a voz dela. Eu no preciso
necessariamente compreender as palavras embora seja definitivamente bom ouvir
a voz de sua namorada descrevendo voc como um heri para a raa humana.
Ouvir a voz de Sarah comea a tranquilizar meus nervos, mas tambm cria um
sentimento que estive muito preocupado em sentir durante os ltimos dias. Eu
imagino ns, de volta a Paradise, inocentes, ficando juntos no meu quarto enquanto
Henri fazia compras...
No tenho certeza de quantas vezes assisti o vdeo antes de Sam entrar na barraca
de Walker. Ele pigarreia para chamar minha ateno e segura um celular via satlite
em cada mo.
Misso cumprida ele diz. Ele inclina sua cabea para ver a tela do notebook.
O que voc est assistindo?
O... hum... o vdeo que a Sarah fez respondo, me sentindo envergonhado.
Claro, Sam no sabe que acabei de ver uma dzia de vezes, que estou ouvindo a voz
da minha namorada para tentar sair desse estado emocional. Levanto rapidamente e
tento parecer to firme quanto sou descrito no vdeo.

incrvel? Sam pergunta, se aproximando. Ele deixa um dos telefones na mesa,


perto de mim.
... eu paro, no tendo certeza sobre o que dizer do vdeo. bem
sentimental, na verdade. Mas, agora, uma das melhores coisas do mundo tambm.
Sam assente e d um tapinha no meu ombro, entendendo.
Por que voc no liga para ela?
Sarah?
. Eu vou ligar para Seis e ver como est a Equipe do Santurio ele diz,
parecendo ansioso. Descobrir onde eles esto. Talvez eles nem tenham
conseguido voltar para Ashwood Estates. Vou atualiz-los sobre o que est
acontecendo conosco e iremos combinar um local de encontro. Eu provavelmente
deveria ligar para meu pai tambm. Deixar ele saber que estou vivo.
Percebo que Sam est olhando para mim da mesma maneira que Walker, como se eu
de repente estivesse frgil. Assinto e comeo a andar, mas Sam pe a mo em meu
ombro.
Srio, cara ele diz. Ligue para sua namorada. Ela deve estar morrendo de
preocupao.
Deixo Sam me colocar de volta na cadeira.
Tudo bem. Mas se qualquer coisa aconteceu com Seis e os outros, ou se voc no
conseguir falar com eles...
Voc ser o primeiro a saber Sam diz enquanto ele segue para a sada. Eu
vou deixar voc a ss antes da prxima crise.
Assim que Sam se foi, coloco minhas mos sobre meus cabelos e as deixo l,
apertando minha cabea, como se estivesse literalmente tentando juntar as coisas.
Depois de um momento de recomposio, alcano o celular que Sam me trouxe e
digito o nmero que memorizei.
Sarah atende no terceiro toque, sem flego e cheia de esperanas.

John?
Voc no tem ideia do quanto eu precisava ouvir sua voz eu respondo, olhando
para o notebook da Walker e finalmente fechando-o.
Aperto o telefone na minha orelha, fecho meus olhos e imagino Sarah sentada ao
meu lado.
Eu estava to preocupada, John. Eu vi ns vimos o que aconteceu em Nova York.
Mordo a parte interna da minha bochecha. A imagem de Sarah que estava em minha
mente substituda por um dos prdios se desmoronando em razo do
bombeamento causado pela Anubis.
Foi... eu no sei o que dizer sobre isso eu digo. Eu me sinto com sorte por ter
escapado.
No menciono a culpa que estou sentido, ou como foi difcil para mim continuar. Eu
no quero que Sarah saiba isso. Eu quero ser o heri que ela descreveu no vdeo.
Sarah no diz nada por alguns segundos, mas posso ouvi-la respirando, instvel e
devagar, como se estivesse tentando impedir que as emoes explodam. Quando ela
finalmente fala, sua voz baixa, num sussurro desesperado, vindo de muito longe.
Foi horrvel, John. Todas aquelas pobres pessoas. Eles esto morrendo, o mundo
est basicamente acabando, e tudo... tudo em que eu conseguia pensar era no que
poderia ter acontecido com voc, o motivo pelo qual voc no entrava em contato.
Eu no eu no tenho um feitio no meu tornozelo para me manter atualizada. Eu
no sabia se...
Percebo que Sarah est aliviada por ouvir minha voz daquele jeito, aquela forma de
quando voc est a noites sem dormir por estar preocupado com algum. Eu me
lembro de como me senti quando os mogadorianos a tinham pego, como foi sentir
que uma parte de mim estava faltando. Eu tambm me lembro do quo simples as
coisas eram at ento evitar os mogs, salvar Sarah, quando no havia milhes de
vidas pesando na balana. louco pensar que eu considerava aquilo como uma crise.

Meu telefone foi destrudo, por isso no entrei em contato antes. Ns


conseguimos chegar ao Brooklyn, onde o exrcito se estabilizou. Estou bem eu
reasseguro ela, sabendo que de certa forma estou tentando me convencer disso
tambm.
Eu me senti como um fantasma nesses ltimos dias Sarah sussurra. Mark e
eu, ns passamos muito tempo na Internet, trabalhando em projetos para ajudar,
voc sabe, conseguir seguidores. E ns finalmente conhecemos GUARD em carne e
osso, o que meu Deus John, tenho tanta coisa para contar. Mas primeiro preciso
que voc saiba que durante todo esse tempo, sinto como se eu apenas estivesse
agindo com emoes. Como se eu estivesse fora do meu corpo. Porque tudo em que
pude pensar era em voc acabar explodido junto com essas pessoas em Nova York.
Eu deveria perguntar a Sarah sobre a identidade do misterioso hacker com quem ela
e Mark estiveram trabalhando. Eu deveria saber os detalhes do que ela e Mark
estiveram fazendo. Eu sei que deveria. Com exceo desse momento, onde tudo o
que quero pensar em como senti sua falta.
Eu sei que parte do motivo pelo qual voc foi se encontrar com Mark era porque
voc no queria ser uma distrao eu digo, tentando parecer mais srio do que
desesperado. No ser capaz de falar com voc, de v-la, de te tocar isso talvez
tenha sido a maior distrao, no final das contas. Voc tem ajudado tanto, mas...
Eu tambm sinto sua falta Sarah responde, e posso dizer que quando ela fala,
ela tenta encontrar um motivo, ser sorte como foi quando eu a deixei na rodoviria
de Baltimore. Ns fizemos a escolha certa, John. melhor assim.
Foi uma escolha estpida respondo.
John...
Eu no sei porque deixei voc me convencer a isso continuo. Ns nunca
devamos ter nos separado. Depois de tudo o que aconteceu em Nova York, tudo o
que tive que ver...

Eu fico sem flego por um momento enquanto me lembro das exploses, da


destruio, dos feridos e dos mortos. Percebo que estou tremendo novamente, e
definitivamente no de cansao. Sinto como se eu tivesse atingido meu limite,
como se tivesse mais brutalidade em meu crebro do que ele pode suportar. Tento
focar em Sarah e em conseguir falar, tentando no parecer desesperado.
Eu preciso de voc do meu lado, Sarah consigo terminar. Sinto que estas so
as ltimas batalhas que teremos que enfrentar at o fim de nossas vidas. Depois de
Nova York, eu... eu vi o quo rapidamente a vida pode nos ser tirada. Eu no quero
que estejamos separados se algo acontecer, se esse for o fim.
Sarah expira fundo. Quando ela fala, sua voz firme.
Esse no o fim, John.
Percebo como eu devo ter parecido para ela. Fraco e com medo, no como o superheri aliengena que ela descreveu no vdeo. Estou envergonhado pela forma como
agi. Sozinho pela primeira vez desde Nova York, sem conflitos constantes para me
distrair, com as coisas finalmente calmas para que eu possa pensar o resultado sou
eu desmoronando ao telefone com minha namorada. Estivemos em ms situaes
antes, lutamos algumas batalhas brutais e vimos amigos morrerem. Mas, at agora,
eu nunca me senti sem esperana.
Quando fico em silncio por alguns minutos, Sarah continua, sua voz num tom gentil.
Eu no posso imaginar o que foi para voc estar em Nova York durante... aquilo.
Eu no posso imaginar pelo o que voc est passando...
Foi minha culpa o que aconteceu eu digo a ela em voz baixa, olhando para sada
da barraca caso algum l fora possa ouvir. Eu poderia ter matado Setrkus Ra nas
Naes Unidas. Tive tempo para me preparar para essa invaso. E eu falhei.
Ah, John. Voc no pode se culpar pelo que ocorreu em Nova York Sarah
responde, com um tom de voz insistente. Voc no responsvel pelos

assassinatos brutais daquele aliengena psicopata, t bom? Voc estava tentando


impedi-lo.
Mas no impedi.
, mas nenhuma outra pessoa o impediu tambm. Ento ou todos ns somos
culpados, ou talvez a culpa seja do mogadoriano cruel e podemos deixar assim. Se
culpar no vai trazer ningum de volta, John. Mas voc pode ving-los. Voc pode
impedir Setrkus Ra de repetir o que ele fez.
Eu rio amargamente.
isso. Eu no sei como impedi-lo.
Encontraremos algum jeito Sarah responde, e ela certamente quase me
convence. Vamos fazer isso juntos. Todos ns.
Esfrego as mos em meu rosto, tentando me estabilizar.
Sarah est me dizendo exatamente o que eu precisava ouvir. Como sempre, eu sei
que ela est certa, pelo menos logicamente. Mas isso no retira a culpa que sinto em
minhas entranhas, ou talvez faz o futuro parecer menos sobrecarregado.
Eles olham para mim como se eu fosse um heri eu digo, zombando. Ando
por este acampamento de soldados, de sobreviventes, e todos me olham como se eu
fosse algum tipo de super-homem. Eles no sabem...
Acho que o vdeo realmente funcionou Sarah diz, tentando melhorar meu
humor. Eles olham para voc dessa forma porque voc um heri, John.
Balano minha cabea.
Eles no sabem que no tenho ideia do que estou fazendo. Eu no sei como lutar
numa batalha nessa escala. Nove est desaparecido. Ella foi raptada e est
basicamente sendo torturada, e no sei porque Seis e os outros esto demorando
tanto para voltar do Santurio, mas quando eles voltarem, talvez teremos que
regressar para l de qualquer jeito, porque para l que Setrkus Ra est indo.

Enquanto isso, h vinte e cinco naves sobre vinte e cinco cidades diferentes. Eu no
sei como lidar com isso, Sarah.
Bem Sarah responde, sua voz calma, como se eu no tivesse acabado de jogar
uma pilha de problemas sobre ela. uma boa coisa voc ter amigos. Agora vamos
tratar uma coisa de cada vez. Deixe-me lhe contar sobre GUARD.

Captulo doze
SARAH CONTA TUDO SOBRE O TEMPO QUE PASSOU COM MARK, E EU REALMENTE
no consigo acreditar no que ela me fala sobre GUARD. Depois de todos esses anos,
incrvel. Tento manter a calma em minha voz, esconder essas notcias incrveis da
Agente Walker e de seus amigos do governo, pelo menos por enquanto. Depois que
Sarah me atualizou, digo a ela tudo o que aconteceu comigo, e sobre tudo o que
estamos enfrentando. Ela no vacila. Ela me diz que podemos fazer isso. Ela me diz
que podemos vencer.
Ela me faz acreditar.
Quando finalmente saio da barraca da Agente Walker, no estou mais tremendo.
Desabafar com Sarah, ouvir sua voz, lembrar do motivo pelo qual estou lutando

tudo isso foi o suficiente para me fazer levantar, seguir em frente, pronto para voltar
batalha. Ainda no tenho todas as respostas, mas agora no tenho mais medo de
enfrentar as perguntas.
Do lado de fora da barraca, Sam ainda est no telefone. Ele anda de um lado para o
outro, gesticulando enfaticamente com sua mo livre.
Seis, isso loucura ele insiste. Obviamente, Seis est viva e muito bem. E
claro que Sam j est tentando faz-la desistir de alguma loucura. Voc no viu o
tamanho dessa coisa. Ela destruiu todos os prdios da cidade como se fossem feitos
de papel.
Sam me v, ento arregala os olhos como se Seis estivesse dizendo algo louco em
resposta.
John est aqui Sam diz para o telefone. Talvez ele consiga pr alguma razo
em sua cabea.
Sam me entrega o celular.
Eles esto bem? pergunto para Sam, aceitando o telefone.
Esto. Eles libertaram o esprito de Lorien na Terra, o que provavelmente a
resposta para o desenvolvimento do meu Legado, mas agora esto presos no
Mxico, e Seis est falando da possibilidade de lutar contra a Anubis quando ela
aparecer no Santurio Sam revela quase sem flego. Eu o encaro, tentando
absorver tudo o que ele me disse enquanto levo o telefone at a orelha.
John? Sam? a voz familiar de Seis, parecendo irritada. Algum fale comigo.
Ei, Seis eu digo. Bom ouvir sua voz.
Bom ouvir a sua tambm ela responde, um pouco alto. Quer que eu o
atualize com detalhes? Ou devemos ir direto ao ponto onde voc tenta me
convencer a no lutar contra Setrkus Ra e sua nave de guerra?

No consigo evitar sorrir quando a ouo explodindo. Depois de falar com Sarah, e
agora com Seis, as coisas no parecem to pesadas como pareciam. Ns
definitivamente vamos lutar, e pelo menos no estou nessa sozinho.
Eu quero que voc me atualize eu digo Seis. Mas primeiro, realmente preciso
falar com Adam.
Oh Seis responde, parecendo surpresa. Claro. Espere um segundo.
Sam me encara, como se eu definitivamente devesse ter dito primeiro a Seis e os
outros para fugirem do Santurio. No tenho certeza se essa a coisa certa no
momento. Ns sabemos que Setrkus Ra est indo para l, mas ele no sabe que
sabemos disso. Isso nos d uma vantagem rara. Ella me mostrou o Santurio em sua
viso. Ela me disse para avisar Seis e os outros. Talvez seja l que ocorrer a batalha
final contra Setrkus Ra. Se esse for o caso, pelo menos ela ser travada no meio do
nada. Pessoas inocentes no estaro em perigo.
Adam atende o telefone, parecendo cansado.
Como posso ajudar?
Suas naves digo, a nave dos mogs, elas so protegidas com um campo de fora.
Me diga como destru-los.
Adam bufa.
Est brincando, certo?
Eu preciso dar alguma coisa para o governo respondo a Adam. Setrkus Ra
estabeleceu um prazo para a rendio, e se eles no descobrirem uma forma de
derrotar a frota, o Exrcito no vai nos ajudar.
John, aquelas naves foram projetadas antes da invaso de Lorien Adam explica.
Os escudos foram feitos para sustentar ataques de um planeta repletos de
Gardes. No h arma na Terra menor que uma bomba nuclear que poderia ao menos
potencialmente quebrar o escudo, e tentar fazer isso em cima de uma cidade

populosa seria catastrfico Adam para, e posso ouvir o passos. Ele est andando
na direo de alguma coisa. Entretanto...
O qu? Eu aceito qualquer coisa que puder me dar, Adam.
Talvez fora bruta no seja a resposta. Estou olhando para uma pista de pouso
cheia de Skimmeres ele diz. Me ocorreu que h mais ou menos cem desses
ligados a cada nave de guerra. Elas servem como escolta e transportam esquadres
de tropas terrestres. Elas vm e vo da nave de guerra o tempo todo, o que
teoricamente significa baixar o campo de fora por um tempo. Ento, os Skimmeres
foram equipados com um gerador de campo eletromagntico que os escondem do
campo de fora da nave de guerra, permitindo que passem atravs dele ilesos.
Eu deveria ter pensado nisso. Agora que Adam falou, percebo que vi essa tecnologia
em prtica na base da montanha em West Virginia. Quando Setrkus Ra chegou pela
primeira vez na Terra, sua nave atravessou o campo de fora da base como se ele
no estivesse l. Quando tentei ca-lo, o campo de fora praticamente me fritou.
Seria possvel despojar essa tecnologia dos Skimmeres e transferi-la para algo
diferente? pergunto a Adam. Como, por exemplo, num jato do Exrcito?
Adam considera.
Possivelmente, sim. Porm mesmo que no tivesse mais que se preocupar com o
escudo, ainda ele estaria na mira dos canhes.
Eu me lembro do que Ella me mostrou durante o sonho que compartilhamos o
observatrio por onde ela e Cinco tentaram escapar. Talvez possamos usar a
tecnologia dos mogadorianos contra eles mesmos.
Ns poderamos, tipo, colocar dez pessoas dentro de um Skimmer desses, certo?
pergunto, considerando um novo plano de ataque.
Doze, mais dois pilotos Adam responde rapidamente. Voc est
considerando um ataque menos bvio.

Estou. Se pudssemos embarcar em uma das naves de guerra, quantas pessoas


voc acha que precisaramos para conquist-la?
Agora h um pouco de animao na voz de Adam.
Isso depende de quantas dessas pessoas tm Legados. Eu j mencionei, John, que
quando era pequeno eu sonhava pilotar essas naves de guerra?
Sorrio ao ouvir isso.
Talvez voc tenha acabado de ganhar essa chance, Adam. Obrigado pelas
informaes. Voc poderia colocar Seis de volta na linha?
Adam se despede e devolve o celular para Seis.
Voc acha que deveramos tentar embarcar na Anubis? Seis me pergunta.
Sam estava at agora me encorajando para que eu e os outros fugssemos correndo
para longe daquela coisa o mais rpido possvel.
Eu no tenho certeza do que devemos fazer ainda, mas quero conhecer nossas
opes respondo. Olho para Sam e no evito franzir a testa. Ele no vai gostar do
que vou dizer agora. Aguente firme, Seis, a ajuda est a caminho.

Pouco tempo depois, Sam e eu estamos andando pelo per, procurando pela Agente
Walker. Onde quer que ela tenha ido com aqueles dois agentes e o cidado, est
demorando mais do que espervamos. Logo a frente h uma grande presena militar
no deque de concreto bem no meio do East River. Quando chegamos, um pequeno
grupo de soldados est trabalhando duro puxando alguns caiaques vazios da gua
para que os navios militares possam ter espao para atracar. Este lugar no foi
exatamente projetado para batalhas.
Durante as ltimas vinte e quatro horas, isto se transformou em uma rea de
preparao, com um bando de destroieres flutuantes ameaadoramente na estreita

hidrovia, apontando suas armas para os vestgios de fumaa do centro de


Manhattan.
Como Malcolm est? pergunto a Sam. Ele fez uma curta ligao para seu pai
depois de termos terminado a ligao com Seis.
Mais aliviado por estarmos vivos. E muito animado sobre meu novo... talento
Sam responde, olhando ao redor para ter certeza de que no h ningum ouvindo.
Ele e os agentes do FBI que Walker deixou para trs foram escoltados pelo governo
durante a evacuao de Washington. Acho que ele est sendo tratado como VIP. Eles
o tem no mesmo complexo no subsolo em que est o presidente.
Talvez ele pudesse falar bem de ns.
Foi o que falei. Agora, ele me disse que eles acham que ele algum cientista louco
especializado em aliengenas com um bando de bichos de estimao.
Os Chimrae.
Meu pai acha que ser melhor se eles se passarem por animais comuns por
enquanto. Sei que decidimos confiar no pequeno grupo rebelde da Agente Walker,
mas h mais gente alm d eles em Washington. Alguns cientistas que esto l, bem,
meu pai acha que eles podem estar um pouco curiosos sobre a biologia aliengena.
Penso sobre como Adam resgatou os Chimrae dos experimentos mogadorianos.
Mesmo eu querendo acreditar que os agentes norte-americanos so melhores que
isso, no consigo.
Isso inteligente respondo. Mant-los longe de serem dissecados ou coisa
do tipo at precisarmos deles. Nesse meio tempo, eles podem tomar conta de seu
pai.
Sim... Sam para. Eu posso dizer que ele preferiria estar falando de outra coisa,
principalmente porque est inquieto desde que desligamos o telefone com Seis.
John, eu ainda no consigo acreditar que voc disse para eles ficarem l.

Estou planejando ligar para Seis novamente assim que descobrir o quanto posso
contar com Walker e o governo. At l, eles continuaro no Santurio. Eles ainda tm
algum tempo antes de Setrkus Ra chegar l.
Voc realmente acha que Seis teria voltado se eu pedisse? devolvo. Eu no
quero coloc-los em perigo tambm, Sam, mas...
John, qual . A Anubis quase nos matou ontem! ramos como formigas contra
aquela coisa. Nem isso. Qual a nossa chance?
Ella me disse que Setrkus Ra quer o que est dentro do Santurio, o que estou
presumindo ser a Entidade Lrica que Seis nos contou. No podemos simplesmente
deix-lo l sem nos manifestarmos. No ser nada bom ser permitimos que ele
consiga o que quer.
Mas como iremos enfrent-lo? Qual a vantagem de eles ficarem por l? Sam
pergunta, aumentando seu tom de voz. Eles mal podem feri-lo. No sem...
Estou ciente da nossa situao, Sam retruco, perdendo a pacincia. Ns
vamos encontrar uma maneira de ir at l para ajud-los, ok? Ella me mostrou ela
me mostrou o Santurio, ela me disse para alertar Seis e os outros e ela tambm me
disse que podemos vencer. Que ela encontrou uma maneira. Tudo comea l.
Oculto as partes em que Ella me disse que haver sacrifcios, onde ela deixou
implcito que posso ser aquele que ir mat-la. Farei de tudo para que eu possa
mudar essa parte de sua profecia. Sei que Sam est me pressionando porque est
preocupado com os outros com Seis, em particular. Eu tambm estou preocupado
com eles. Mas tambm confio em Seis para manter a cabea erguida e tomar suas
prprias decises.
Antes que Sam possa retrucar, avisto a Agente Walker em nossa frente e comeo a
andar. Os agentes do FBI esto rodeados de alguns oficiais militares de alto escalo.
Tenho que abrir meu caminho entre a multido de soldados para me aproximar.
Recebo alguns olhares descontentes no comeo, como se eu fosse um cidado

normal que acabou de sobreviver a um desastre natural. Quando comeam a


perceber quem sou, um caminho se abre rapidamente. Eu no estou mais surpreso
por esse tratamento, e tento no me sentir desconfortvel com isso. Um dos
soldados at presta continncia para mim, embora seu companheiro o cutuque com
seu cotovelo e revire os olhos.
Walker me v chegando e sai do amontado de militares. Noto que eles perceberam
minha presena, mas parece que Walker estava certa sobre os oficiais de alto escalo
quererem evitar contato direto com os perigosos rebeldes de Lorien. Eles se movem
e se reagrupam mais frente no per, muitos dos soldados indo com eles. Assim que
esto l, comeam a apontar para o East River e trocar palavras. Alguma coisa sobre
a gua est definitivamente os alertando. Comeo a amplificar minha audio para
tentar ouvir se esto falando algo importante, mas Walker j est tagarelando na
minha frente.
Bom, voc est aqui. Eu j estava voltando para buscar voc Walker diz.
Ela est segurando o tablet que pertence ao cidado que chegou sua barraca mais
cedo, embora o cara no est em nenhum lugar visvel agora. Walker deve ter
recrutado seu tablet e o mandado de volta para casa.
Eu sei qual a fraqueza dos escudos das naves de guerra. Sei como podemos
derrot-los digo a Walker, indo direto ao assunto.
Suas sobrancelhas se erguem.
Droga, John. Isso foi rpido. Isso definitivamente algo que os caras do exrcito
vo estar interessados em ouvir.
timo olho para os oficiais que esto amontoados do outro lado do per.
Preciso chegar ao Mxico, Walker. Estou falando dentro de umas duas horas. Haver
uma batalha l que no posso perder. Preciso de qualquer apoio que eles puderem
me conceder.

H algum tipo de caso contrrio que voc ir jogar pra cima de mim? Walker
pergunta, sua expresso mudando. Farei o que puder, mas eu j lhe disse sobre a
hierarquia militar. Isso vem direto do comandante geral.
, bem, sabe as peas que eles necessitam para vencer os campos de fora. Elas
esto paradas em uma pista de pouso no Mxico. Ento melhor que se virem e me
deem uma droga de jato para me levar at l.
Walker levanta sua mo, me dizendo que j entendeu.
Tudo bem, tudo bem. Eu farei meu melhor. Mas temos outra droga de assunto
para lidar antes de viajarmos para a sua zona lrica segura ou qualquer inferno que
seja isso.
Whoa Sam diz. Ele est perto da borda olhando para a gua. Eles tm um
submarino l em baixo.
Tm Walker responde. Antes de voc ir para qualquer lugar, John, preciso
que d uma olhada nisso.
Ela se aproxima de mim e clica no boto reproduzir do tablet, iniciando um vdeo.
uma gravao trmula desta manh, onde a Anubis deixa Manhattan e desliza sobre
a Ponte do Brooklyn. A cmera est oscilante e o udio est distorcido com gritos e
soldados gritando ordens um para o outro. Eventualmente, a nave de guerra sinistra
se perde na vista.
O que eu deveria estar procurando, Walker?
Foi isso o que eu disse. Tambm no encontrei nada da primeira vez Walker
responde, reproduzindo novamente a gravao. Aparentemente, os milhares de
oficiais altamente treinados no perceberam o acontecido em tempo real tambm.
Observe o rio agora.
Sam se inclina perto de ns, observando o vdeo.
Alguma coisa caiu da nave ele diz terminantemente, apontando para tela.

Ele est certo. Um pequeno objeto redondo do tamanho da nave prola de Setrkus
Ra cai da barriga da nave de guerra. Ela atinge o East River com um grande respingo
e imediatamente afunda, longe de vista.
J havia visto algo assim antes? Walker pergunta.
Balano a cabea.
Eu nunca tinha visto nenhuma nave desse tipo at a Anubis atacar Nova York.
Walker suspira.
Ento ainda estamos no escuro.
Eles esto mandando esse submarino l para baixo para procurar o que quer que
seja aquilo? Sam pergunta.
Walker assente.
O rio tem apenas cem metros de profundidade, mas eles no querem arriscar
mandar mergulhadores para o caso de ser uma armadilha ou algum tipo de arma.
O que mais possivelmente poderia ser? pergunto a Walker, colocando minhas
mos na minha cintura e me virando em direo ao rio. Adicionando este misterioso
objeto longa lista de coisas com que tenho que me preocupar.
Os oficiais de alto escalo esto com esperanas de que tenha sido um acidente,
que algo caiu da nave de guerra e possivelmente poderamos estudar ou usar contra
os mogadorianos, ter um melhor entendimento sobre contra quem estamos lutando.
Setrkus Ra no faz nada por acidente.
Ento voc est me dizendo que no deveramos mandar ningum l? Walker
pergunta, com uma das sobrancelhas erguidas. Voc no est curioso, John?
Antes que eu possa responder, ouo um guincho de pneus no fim do per. Um dos
jipes do exrcito se aproxima em alta velocidade e o freio teve que ser acionado com
fora quando chega perto dos soldados amontoados ao redor. A motorista retira seu
capacete, revelando um cabelo negro suado. Ela abre a porta traseira e o outro
soltado d a volta no carro para ajud-la a retirar um terceiro soldado do carro. Ele

parece ferido, embora eu no consiga dizer a gravidade dessa distncia. Outros


militares se aproximam, para tentar ajudar os outros.
Onde eles esto? a mulher grita. Onde esto os aliengenas? Cad aquela
vadia do FBI?
Um n se forma em minha garganta. Setrkus Ra colocou uma caadora atrs de
mim e o resto da Garde. Talvez esses soldados tenham decidido que chegou a hora
de me levar. De qualquer maneira, dou um passo frente. Eu no vou me esconder.
Os soldados agrupados no fim do per esto apontando na minha direo, de
qualquer forma. No h para onde ir.
Olho sobre meu ombro e vejo os oficiais de alto escalo, os coronis e generais e
qualquer outra droga de posto que eles tenham, todos se virando para ver o
desenrolar da cena. Eles no parecem to interessados em intervir caso isso se torne
perigoso.
Ou talvez, eu esteja sendo paranoico. Talvez percebendo que fiquei tenso, Walker
pe a mo em meu brao.
Deixe-me cuidar disso ela diz.
Nem sabemos do que se trata respondo, dando um passo frente para
encontrar os soldados.
Ele est todo ferrado Sam diz, olhando o soldado agora sendo carregado pelo
motorista e sua parceira com um olhar assustado. A parte da frente do uniforme est
encharcada de sangue. Ele est meramente consciente e tem de ser carregado pelos
outros. O soldado que o est segurando no parece machucado, mas ainda assim
parece estar demasiado cansado. Em estado de choque. Apenas a motorista parece
estar bem, e ela est olhando furiosamente para a Agente Walker.
O que aconteceu, soldado? Walker pergunta enquanto o trio para a alguns
passos de ns. Posso ver que o sobrenome bordado na camisa da motorista
Schaffer.

Estvamos fazendo o que voc mandou. Procurando por ele e seus amigos
Schaffer responde, gesticulando com seu queixo em minha direo. Ento havia
outras unidades na cidade alm daquelas que nos retirou da estao do metr.
Pensamos ter encontrado um sobrevivente, mas fomos atacados.
Os mogadorianos fizeram isso? pergunto, dando um passo em direo ao
soldado ferido. A frente de sua camisa est rasgada, assim como o colete a prova de
balas que ele usa por baixo. Isso aconteceu quando ele estava tentando me
encontrar. Segure-o firme. Deixe-me cur-lo.
Com Schaffer e o outro soldado segurando o seu parceiro ferido, comeo
cuidadosamente a desabotoar sua camisa e retirar seu colete prova de balas.
Enquanto isso, Schaffer olha para mim.
Voc no est entendendo Schaffer bufa. Encontramos um garoto, parecia
que era feito de metal. Pensei que ele fosse uma das suas aberraes Gardes, ento
falamos para ele que iriamos traz-lo at voc. Ele veio para cima de ns com uma
espada. Ele voou para cima de ns. Se moveu mais rpido do que qualquer coisa
deveria se mover. Nos desarmou, e fez aquilo com o Roosevelt.
Engulo seco. Apenas agora percebo que o soldado no foi apenas ferido com a
espada. H uma mensagem cravada nele.
Onde ele est? pergunto, com um tom de voz frio.
Ele nos mandou para c para avis-lo Schaffer responde. Ele disse que vai
estar na Esttua da Liberdade ao pr-do-sol. Quer que voc se encontre com ele.
Havia mais algum com ele? Sam pergunta.
Um garoto grande, de cabelos negros. Inconsciente Schaffer responde. Ela se
vira para mim. Ele falou para dizer a voc o que vai acontecer se voc no ir. Eu
no sei que droga isso deveria significar para voc encontr-lo ao pr-do-sol ou ele
vai te dar uma nova cicatriz.

Captulo treze
ESTAMOS NO LIMITE DO GRAMADO EM FRENTE AO SANTURIO, LADO
A LADO, DE costas para o templo. Juntos, olhamos para o horizonte, para o
norte. dessa direo que a nave do Setrkus Ra vir.
Ns temos at o anoitecer.
Ns trs somos a ltima linha de defesa.
O dia ficou ainda mais quente. Pelo menos posso fingir que o suor
escorrendo pelas minhas costa do calor.
Aponto na direo da linha das vores.
Os mogs nos fizeram um favor cortando a mata digo enquanto me
esforo para calcular a distncia. Ns veremos a nave chegando a pelo
menos a cinco quilmetros de distncia.

Eles tambm vo nos ver Adam responde, com uma voz sombria. Eu
no sei, Seis. Isso parece loucura.
Eu estava esperando Adam dizer algo assim. Soube pelo olhar dele quando
eu estava no telefone com John e Sam que ele no est com a gente na luta
com Setrkus Ra e a sua nave de guerra.
Setrkus Ra no pode entrar no Santurio Marina diz, antes que eu
possa responder. Esse um local lrico. Um lugar sagrado. Ele no pode
contamin-lo. O que quer que ele queira, ns devemos det-lo.
Olho de relance de Marina para Adam, e encolho os ombros para o
mogadoriano.
Voc a ouviu.
Adam nega com a cabea, frustrado.
Olhe, entendo que este local especial para vocs, mas no vale a pena
trocar nossas vidas por ele.
Eu discordo Marina responde, grossamente. Ela com certeza j se
decidiu. De jeito nenhum ela vai deixar o Santurio agora, no depois do que
aconteceu aqui.
Ns fizemos o que tnhamos que fazer aqui Adam argumenta. Alguns
humanos tm Legados agora. No h nada que Setrkus Ra possa fazer
para mudar isso. Ele est atrasado.
Ns no temos certeza respondo, olhando de relance para o Santurio
por cima do meu ombro. Se ele entrar l, ele poderia... Eu no sei.
Reverter o que fizemos, talvez. Ou alguma coisa para machucar a Entidade.
Adam bufa.
Ele controlou o planeta natal de vocs por pelo menos uma dcada, e
nunca foi capaz de tirar os Legados de vocs. No permanentemente.
Porque Lorien estava aqui! Marina enfatiza. Ela estava se
escondendo aqui e agora ele a achou. Ns no podemos deix-lo tocar na
Entidade. As consequncias podem ser catastrficas.

Adam balana as suas mos.


Vocs no esto escutando a razo!
Olho para o estacionamento desordenado de naves e Skimmers desativados.
Claro que os meus olhos acham o caminho para Phiri Dun-Ra. Ainda
amordaada e amarrada roda de suporte, ela est se esforando para
sentar direito, provavelmente tentando escutar a nossa conversa. Posso dizer
pelo rosto dela, pelas dobras na volta da fita adesiva que ela est sorrindo
para mim. Eu me lembro do que ela disse hoje cedo, quando tentava me
convencer de que Adam estava trabalhando secretamente para ns capturar.
Voc no acha que podemos ganhar, ento est com medo de lutar
digo abruptamente, me arrependendo das palavras segundos depois que elas
saem da minha boca.
Adam me olha espantado, ento segue o meu olhar at Phiri. Ele deve ter
feito a conexo do meu argumento com o discurso dela mais cedo. Ele nega
com a cabea desgostoso, e d uns passos para longe de mim.
Marina me cutuca, e cochicha.
Seis...
Desculpe, Adam falo rapidamente. Srio. Isso foi golpe baixo.
No, voc est certa, Seis Adam responde secamente, dando de
ombros. Eu sou um covarde porque no quero morrer hoje. Sou um
covarde porque, quando era menino, assisti pelo deque de uma das naves de
guerra o seu planeta ser dilacerado. Sou um covarde porque acho que ns
deveramos achar um jeito melhor. Um jeito mais esperto de vencer isso.
Certo, Adam falo, sentindo um aperto no meu peito pela meno da
destruio de Lorien. Ns te ouvimos.
Eu posso no ser esperta Marina diz. Mas isso o certo.
Adam fala com um tom cido:
No caso, qual de ns vai fazer?
Fazer o qu? pergunto.

Matar Ella ele responde. Ns todos ouvimos o que o John disse.


Setrkus Ra fez o seu prprio tipo de feitio lrico. Vocs no podem feri-lo
sem machucar Ella. Eu nem conheci a garota e j posso afirmar que eu no
vou mat-la. Ento me contem, qual de voc duas vai matar a sua amiga?
Ningum eu digo, sem olhar em seus olhos. Ns vamos descobrir um
jeito de parar Setrkus Ra sem machuc-la.
Adam olha para o sol, como se tivesse tentando descobrir quanto tempo
ainda temos.
timo. Fantstico. Nossos recursos so naves quebradas e qualquer
merda que ns conseguirmos achar na mata. Me conte como vamos parar
Setrkus Ra nessa situao, Seis.
John disse que os reforos esto vindo, o Exrcito...
Ele disse que iria tentar Adam praticamente grita comigo. Olhe, eu
confio em John, mas ele est a milhares de quilmetros daqui. A ajuda est a
milhares de quilmetros. Aqui? S tem a gente. S ns estamos aqui.
A ajuda est bem atrs de ns Marina diz. Sua voz ainda est calma,
mas h certa tenso nela. O que Adam vem dizendo a irritou. O Santurio
vai nos dar um meio de lutar.
Adam leva alguns segundos antes de revirar os olhos.
Um milagre. isso que vocs duas esto esperando? Um milagre! Entendi
que voc acordou aquela coisa, e sei que ela deixou voc falar... com o seu
amigo pela ltima vez. Mas isso tudo o que ela vai fazer, est bem? Ela no
vai mais nos ajudar. No acredita em mim? Talvez voc pudesse perguntar
para alguns lorienos o quanto a Entidade os ajudou durante a invaso
mogadoriana. Se eles no estivessem todos mortos.
O ar ao redor de mim fica gelado. Primeiro, muito bom no calor dessa
floresta arrogante, at eu perceber que Marina fumegando de raiva do seu
prprio jeito. Ela d um passo na direo de Adam, com os punhos cerrados,
toda a aura-serena-do-Santurio abandonada.

No fale sobre o que voc no sabe, seu monstro! ela grita, apontando
seu dedo para ele.
Uma estalactite de gelo se forma na ponta do seu dedo e cai na terra em
frente aos ps de Adam. Imediatamente comea a derreter. Adam d um
passo para trs em surpresa, encarando Marina.
J chega! exclamo, parando no meio dos dois. Isso no est levando
a gente a lugar algum.
Da rea de pouso, Phiri Dun-Ra faz uma srie de barulhos abafados. Percebo
que ela est rindo de ns. Eu a ignoro, me viro e levo Marina pelos ombros
para longe. A pele dele est gelada quando a toco.
Mesmo eu amando o ar-condicionado agora, voc precisa sair daqui por
um minuto eu digo.
Marina me d um olhar de descrena, como se no conseguisse acreditar
que estou do lado de Adam, contra ela. Balano a minha cabea levemente e
levanto as sobrancelhas, dizendo que no por isso. Ela suspira, passa a
mo pelos cabelos e caminha em direo ao Santurio.
Eu me viro para observar Adam. Primeiro, ele no me olha de volta. Est
ocupado demais fitando a estalactite que Marina criou contra ele, se
transformar em gua.
Sorte sua que ela no arrancou seu olho fora eu brinco.
Eu sei ele responde, finalmente olhando para mim. Seis, olhe,
desculpa. Eu no deveria ter trazido Lorien tona. Aquele no era... no era
o meu ponto.
Pode apostar seu traseiro que no eu digo, dando um passo na sua
direo. Est tudo bem, voc est pirando um pouco. Vou relevar isso.
Mas, , no fale sobre as nossas famlias mortas e sobre o nosso planeta
massacrado, ok? Porque srio, eu quis te dar um soco na cara.
Adam concorda.
Entendido.

Eu ainda no tenho certeza do que fazer continuo, abaixando ainda


mais a minha voz e chegando mais perto. Me permita deixar isso bem
claro pra voc, Adam. No tenho inteno nenhuma de morrer hoje. Voc
acha que no sei das nossas desvantagens? Cara, eu no preciso de uma
explicao. Mas voc no consertou magicamente um daqueles Skimmers
enquanto eu no estava olhando, no ?
Ele faz careta para mim.
Voc sabe que no, Seis.
Ento ns estamos presos aqui at os reforos chegarem. E se ns
estamos presos aqui, ns vamos lutar. Voc entendeu?
Ns poderamos fugir Adam sugere, apontando para a mata. No
precisamos de um Skimmer para escapar.
Olhando por esse lado, a mata nunca vai deixar de ser uma opo
admito a ele. Se a Anubis chegar aqui, e as coisas derem errado, ns
fugimos.
Ns vamos? Adam pergunta, desviando seu olhar de mim para Marina.
Todos ns?
Viro a minha cabea para sutilmente olhar Marina. Pelas suas costas, d para
ver que ela ainda est respirando fundo, se acalmando. Ela est encarando o
Santurio de novo, como vem fazendo o dia todo. Marina desenvolveu quase
como uma devoo religiosa pelo antigo templo. Eu entendo o porqu, a
nossa experincia com a Entidade foi bem forte, talvez ainda mais para uma
garota que foi criada no meio de um monte de freiras.
Sem mencionar que o garoto que ela amava foi enterrado aqui. O Santurio
se tornou um smbolo religioso e um tmulo para ela.
Eu vou arrast-la daqui se for preciso respondo para Adam, falando
srio.

Adam parece satisfeito com a resposta. O olhar frentico que ele tinha
quando estava nos repreendendo se foi, substitudo pelo de mogadoriano
calculista. Nunca pensei que ficaria feliz de ver isso no rosto de algum.
Posso comear retirando os mdulos de ocultao do campo de fora para
John e tentar arrumar o Skimmer, mas nenhuma dessas coisas vai nos ajudar
a defender esse lugar ou a sobreviver a um ataque da Anubis ele me olha,
com as sobrancelhas erguidas. Ento, qual o nosso plano para no
morrer?
tima pergunta.
Olho em volta. O aspecto de tudo isso ainda algo que estou pensando.
Como ns podemos impedir Setrkus Ra de fazer seja l o que ele quer com
o Santurio? Como podemos atingi-lo sem ferir Ella? De novo, meu olhar
volta Phiri Dun-Ra. Ela no est mais rindo de ns, ao invs disso, est nos
observando como um falco. Penso em suas mos, ainda amarradas roda
atrs dela, e do jeito que est machucada, no seu estado sujo e coberta de
queimaduras sofridas pelo campo de fora do Santurio. Os mogs passaram
anos aqui, tentando forar sua entrada no Santurio em favor do seu Adorado
Lder. O ruim que no vimos nenhum fusvel ou painel de controle dentro do
templo para ligar o campo de fora novamente.
Pelo menos ns sabemos aonde ele est indo falo em voz alta, ainda
pensando. Se Setrkus Ra quer entrar no Santurio, ele tem que descer
da sua nave fodstica. Isso nos d uma chance.
Uma chance para fazer o qu? Adam pergunta.
No podemos machucar Setrkus Ra sem ferir Ella, o que significa que
no podemos realmente impedi-lo de entrar no Santurio. Mas se ele quer
Ella e o Santurio, bem, talvez ns possamos tirar algum proveito disso.
Adam logo se liga.
Voc est pensando...?

Voc mesmo mencionou que sempre quis pilotar uma dessas naves de
guerra. O que quer que Setrkus Ra queira do Santurio, ele no vai
conseguir lev-lo a lugar nenhum aponto, sentido um plano tomar forma.
Porque ns vamos resgatar a Ella e roubar sua nave.

A nossa preparao comea praticamente em silncio, uma tenso ainda no


ar entre Marina e Adam. Comeamos indo ao equipamento que os
mogadorianos deixaram para trs. H engradados empilhados em uma das
tendas maiores, um arsenal variado de armas e ferramentas que os mogs
trouxeram aqui s para ser quebrado pelo campo de fora do Santurio. H
uma artilharia enorme de canhes, mas o resto parece ter sido feito aqui na
Terra. H pilhas de armas com estampas do Exrcito dos Estados Unidos,
equipamentos de minerao da Austrlia e o que Adam me conta ser EMPs
experimentais da China. Adam j havia repassado todas essas coisas mais
cedo, enquanto procurava por peas espalhadas para consertar o Skimmer,
ento ele sabe como est organizado.
Ns queremos explosivos eu digo a ele. O que eles tinham?
Cuidadosamente, Adam move algumas coisas antes de abrir uma caixa com
substncias que lembram argila.
Explosivos plsticos ele diz. C-4, eu acho.
Voc sabe como funcionam essas coisas?
Um pouco Adam responde, e comea e colocar os objetos ao lado
gentilmente. Ao lado do C-4, h tambm alguns fios e cilindros que presumo
serem detonadores. Depois de uma rpida procura, Adam sorri e segura um
pequeno bloco de papel. H instrues.
Perfeito Marina murmura.
Quantas bombas ao total? pergunto.
Adam faz uma conta rpida.

Doze. Mas eu posso dividi-las, torn-las menores se voc quiser. Quanto


menor a bomba, menor a exploso. Mas ns s temos doze detonadores,
ento as menores precisariam ser ligadas uma na outra.
Antes de responder Adam, coloco a minha cabea do lado de fora da tenda e
fao uma conta rpida dos Skimmers estacionados na pista de pouso.
Dezesseis delas, incluindo o que Adam vem trabalhando e o que a Phiri DunRa est amarrada.
Ns estaramos bem com doze digo a Adam. No se exploda, ok?
Farei o meu melhor.
timo. Vem, Marina.
Pego um saco de pano vazio da tenda de suprimentos dos mogs antes de ir
ao estacionamentos das naves. Marina me segue de perto.
O que voc pretende explodir exatamente, Seis? ela pergunta.
Espere a falo, me aproximando do Skimmer onde Phiri Dun- Ra est
retida.
Ela observa minha aproximao, os olhos cheios de raiva, sem sorrir atravs
da fita adesiva. Acho que ela sabe o que vai acontecer. Ela luta um pouco
contra as amarras, mas sem conseguir me impedir de colocar o saco de pano
em sua cabea.
Cansada de olhar para ela? - Marina pergunta.
Sim, isso. E no quero que ela veja o que vamos aprontar levo Marina
longe da prisioneira, para outros Skimmeres. Ns vamos explodir essas
naves. Acho que Setrkus Ra no vir sozinho, ele vai trazer mais mogs com
ele. Ns no precisamos estar no campo de batalha para mant-los longe do
Santurio, mas podemos com certeza explodi-los quando eles chegarem
perto.
Graas a Phiri Dun-Ra, nenhum dos Skimmers est em condies de se
mover sozinhos. Um por um, Marina e eu usamos nossa telecinesia para
empurrar as naves para as posies certas. Com ns duas trabalhando

juntas, o peso no to grande, at as rodas comearem a funcionar. Ns


colocamos os Skimmers a trinta metros um do outro em um semicrculo na
frente da entrada do Santurio. As naves acabam praticamente seguindo a
linha do antigo campo de fora.
Agora que ns movemos os Skimmeres, h um grande espao para pouso.
Vamos torcer para que Setrkus Ra estacione a sua nave idiota no lugar
mais bvio possvel eu digo, apontando com o meu dedo atravs do ar
para a rea de pouso na entrada do Santurio. H apenas uma maneira de
entrar no Santurio, ento eles tero que passar pelas naves, que onde ns
vamos esconder as bombas.
Que vai eliminar pelo menos a primeira leva de mogs Marina adiciona.
Sim, e com sorte ns vamos peg-los de suprresa e confundi-los,
procurando por um ataque, ento Adam e eu vamos por trs deles e
entraremos na Anubis.
Marina faz careta para mim.
Espera. Onde estou em tudo isso?
Antes que eu possa responder, Adam surge da barraca de armamento dos
mogadorianos com uma mochila de pano cheia de explosivos. Ele d uma
olhada no que fizemos at agora e assente com a cabea, aprovando.
Ento, caminha at ns, coloca a mochila no cho e entrega um grande
controle remoto.
Olhe isso - Adam diz. Acho que os mogs estavam tentando usar uma
sequncia de explosivos para tentar tirar o campo de fora, talvez pensando
que vrias exploses em lugares diferentes poderiam acabar com ele.
Ele me entrega o controle remoto. uma linha com vinte interruptores, cada
um com uma luz verde e vermelha correspondendo. Vinte lmpadas
vermelhas esto ligadas. Adam se aproxima de mim, explicando como o
aparelho funciona.

Todos os detonadores tm controles automticos ele mostra, puxando


um interruptor para a esquerda. A pequena luz acima do interruptor muda de
vermelho para verde. Acabei de armar uma bomba.
Olho de relance para a mochila de pano nos meus ps, cheia de explosivos, e
ento olho de volta para o controle. H um pequeno pino de metal que voc
precisa contornar para faz-lo chegar ao seu terceiro nvel, provavelmente
para evitar que o dedo de algum escorregue. Ainda assim, estou um pouco
nervosa sobre essa demonstrao.
H, entendido...
Segurana primeiro Adam coloca o pino de volta na posio original, a
luz vermelha voltando a acender. Se voc tivesse colocado o boto todo
para cima, os detonadores pegariam o sinal e a bomba detonaria.
Concordo com a cabea, ento entrego o controle para Marina.
Voc entendeu tudo?
Sim, mas... ela enruga a testa ao receber o controle.
Voc perguntou onde estaria em tudo isso eu digo. Voc vai se
esconder na mata, controlando a defesa do Santurio.
Marina pensa por um momento, sorrindo um pouco.
Isso ser um prazer.
Adam segue em direo s naves, colocando uma caixa pequena em cada
Skimmer. Os mogadorianos podem not-las, claro, mas no antes que seja
tarde demais.
Enquanto isso, Marina e eu manobramos os ltimas dois Skimmers, depois
dos que j esto prontos para explodir. Estes ns posicionamos do outro lado
do Santurio, os dois na borda da mata.
Ns podemos criar uma linha de fogo cruzado aqui digo, abrindo a
cabine do piloto de um dos Skimmers. Se sua telecinesia for forte o
sufuciente para controlar...
Ter que ser Marina responde.

Adam vem at ns e liga o sistema de armas de um dos Skimmers e explica


para Marina quais botes ela teria que pressionar para disparar os canhes.
Marina passa um bom tempo estudando os controles, memorizando-os,
guardando a imagem deles em sua mente. Ento, caminha devagar para
longe de ns e dos Skimmeres, entrando na floresta, indo longe o suficiente
das exploses, mas perto suficiente para ter uma viso clara da batalha. Ser
desse esconderijo que ela vai defender o Santurio.
Marina se concentra. Ela lana uma mo ao ar na direo do Skimmer.
Ugh ela diz depois de um momento, enrugando o seu nariz. Eu no
sei, Seis. muito difcil usar a minha telecinesia em algo que no posso ver.
Ns tentamos uma tcnica diferente. Adam e eu andamos pela borda da
floresta, colocando canhes mogadorianos em arbustos e rvores. Ns os
camuflamos com galhos e folhas, o suficiente para que os mogs no notem,
mas no muito escondidos para que Marina consiga v-los. Do seu
esconderijo, ela testa cada um deles, apertando o gatilho com telecinesia, e
atirando na clareira na frente do Santurio.
Bom eu digo. Voc nem precisa acertar ningum, Marina. S precisa
faz-los pensar que o ataque est vindo de todos os lados.
Agora que terminamos, h dois Skimmers no caminho: o que ns usamos
para vir para c, que Adam vem tentando consertar, e aquele que Phiri DunRa est amarrada. Estou satisfeita com o nosso resultado at aqui.
Eu me sinto bem de estar fazendo alguma coisa, pelo menos.
Isso bom, Seis Marina diz, com os braos cruzados, olhando para as
naves dos mogs paradas como guardas na porta do Santurio. Perfeito se
Setrkus Ra mandar os seus soldados. Mas o que faremos se ele estiver na
linha de frente? Machuc-lo significa machucar Ella. Ns no podemos
ariscar.
Voc est certa respondo. Ns teremos que encontrar uma maneira
de pelo menos atras-lo.

Comeo a ir na direo ao Santurio e finjo que no noto quando Adam


passa por trs de mim, tocando gentilmente o cotovelo de Marina. Com a
minha audio aprimorada, praticamente impossvel no escutar nada.
Me desculpe por antes Adam diz baixinho. Eu estava transtornado.
Est tudo bem Marina responde com gentileza. Eu no deveria ter te
chamado de monstro. Mas saiu. Eu no pensei aquilo.
Adam da uma risada, se precavendo.
No, voc sabe, eu venho me perguntando por muitos anos se... se essa
no uma boa palavra para ns.
Marina faz um barulho, como se fosse dizer algo a mais, mas Adam a
interrompe.
Est certo, desculpe de novo, por tudo. Eu sei o que perder algum que
voc gosta. Eu no deveria... No vou ser to estpido sobre querer deixar
esse lugar de novo. Entendi porque ele to importante. O que significa.
Obrigada, Adam.
Eu me viro, fingindo que no escutei a conversa inteira deles. Ns estamos
em frente ao que costumava ser a porta escondida do Santurio. uma porta
estreita de pedra que leva a uma escada por um caminho longo uma
cmara abaixo do templo.
Ento falo, com as mos nos quadris. Como ns atrasamos o
mogadoriano mais poderoso do universo sem machuc-lo, enquanto ao
mesmo tempo, ns roubamos a sua nave embaixo do seu nariz?
Adam levanta a sua mo.
Tenho uma pergunta.
Eu posso v-lo pensando.
Manda.
Todo esse plano baseado em uma chance: Setrkus sair pela porta da
nave, Setrkus mandando tropas de soldados, Marina distraindo-os com
algumas bombas e armas fantasmas abro a minha boca para responder,

com medo de ele pirar de novo, mas Adam continua falando. a nossa
melhor opo. Eu concordo com voc. Mas, supondo que funcione, supondo
que ns consigamos roubar a Anubis enquanto Setrkus Ra fica aqui
embaixo. E ento o qu? O que ns faremos a seguir? Ainda no poderemos
mat-lo.
Mas ele no vai poder nos matar tambm respondo. Mesmo sabendo
que no a estratgia brilhante que Adam estava esperando, honestamente
no pensei to frente. Estou mais focada na nossa sobrevivncia.
Talvez ns possamos negociar Marina sugere. Ella ou o Santurio...
Tirando a parte que ele fervorosamente iria querer o oposto, ele no tem
honra Adam diz. No vai haver nenhuma negociao.
Isso um beco sem sada eu digo. E melhor que perder, certo?
Adam considera as minhas palavras, cavando um buraco com o seu
calcanhar.
Est certo Adam concorda. Ento eu sugiro que cavemos um buraco.
Um buraco?
Uma cova Adam continua. Na frente da porta. Uma bem grande.
Ento, ns cobrimos e deixamos Setrkus Ra cair dentro.
Empurro o meu dedo do p no cho. Graas sombra do Santurio e as
plantas crescendo perto, a terra est fofa e mida, no como na pista de
pouso de terra batida e bem dura. Com todos os nossos Legados, o estoque
de armas dos mogs, um monte de C-4, e ns estamos falando de cavar um
buraco.
Bem, ele exatamente o tipo de idiota que no olha por onde anda,
especialmente se estiver ostentando a vontade de entrar no Santurio.
Essa a ideia Adam responde.
E quando ele estiver l embaixo, eu cubro o topo com gelo do meu
esconderijo Marina diz, entrando na ideia. Isso pelo menos poderia
atras-lo.

, pelo menos seria hilrio v-lo cair em um buraco acrescento,


otimista.
Ter que ser um buraco enorme Adam diz, coando o queixo,
pensativo. Ele pode mudar de tamanho.
O bom que temos Legados para ajudar a cavar respondo. Mesmo
que nos d apenas alguns minutos, pode ser o suficiente para que possamos
entrar a bordo da Anubis.
Mais uma coisa, e voc pode no gostar da ideia Adam fala para
Marina, antes de gesticular para a porta do Santurio. Mas talvez ns
poderamos derrub-la. Seria mais um obstculo no caminho de Setrkus Ra.
uma boa ideia, mas olho para Marina antes de dizer alguma coisa. Ela
pensa sobre isso por um momento e ento d de ombros.
So s pedras ela diz. O importante proteger o que est dentro.
Devo pegar mais C-4? Adam pergunta.
Acho que dou conta respondo, j chamando o meu Legado e fazendo
uma pequena tempestade. O ar fica pesado enquanto junto algumas nuvens
escuras acima da nossa cabea, um pequeno tamborilar de chuva caindo
delas. Com um movimento descendente da minha mo, quatro raios de luz
cortam para baixo em um ngulo que a Me Natureza no poderia esperar
duplicar. O arco em volta porta do Santurio explode em calcrio decrpito,
desmoronando, fechando a passagem com a exploso.
Dou um passo frente e dou uma olhada no meu trabalho. A porta de
entrada est agora cheia de rochas, com algumas paredes do interior que
com certeza caram tambm. Isso no manter nenhum exrcito de mogs
longe para sempre, e Setrkus Ra com certeza ser capaz de tirar as pedras
do caminho com a sua telecinise. Ainda assim, melhor do que nada.
Enquanto isso, com um olhar pensativo no rosto, Marina mede a distncia
dos arredores da entrada do Santurio com passos, contando-os. Quando ela

acaba de andar um quadrado quase perfeito na frente da entrada, Marina


olha para mim.
Mais ou menos nove metros de cada lado, n? ela me pergunta.
Para a cova.
Acho que vai ser o suficiente.
Deixe-me tentar uma coisa Marina diz, e ento comea a se concentrar.
Ela caminha no lugar onde vai ser o buraco, com as mos para o alto. Uma
parede de gelo comea a se formar, embora a beirada no faa contato com
o cho.
Me ajude a segur-lo no lugar, por favor? Marina pede, me olhando por
cima do ombro.
No estou muito certa no que isso vai dar, mas ajudo. Usando a minha
telecinesia, seguro o gelo crescente de Marina. Noto que o gelo comea a
ficar mais grosso em cima e estreito em baixo, letalmente afiado nas bordas,
quase como uma guilhotina. Ela anda exatamente nos mesmos lugares que
andou segundos atrs, desta vez regenerando o gelo enquanto percorre.
Depois de alguns minutos, Marina criou um cubo de gelo oco, que mede
grosseiramente nove por nove metros. O gelo flutua acima do cho, pingando
gua, e Marina continua usando o seu Legado para impedi-lo de derreter.
O que acontece agora? Adam pergunta, observando tudo.
Ns o erguemos Marina diz, se referindo a ns duas. E ento o
empurramos para baixo com toda a fora que conseguirmos reunir. Pronta,
Seis?
Fao como ela instruiu, usando a minha telecinesia para levitar a escultura de
gelo de Marina, a mais ou menos seis metros do cho.
Pronta? ela pergunta, me olhando. Agora!
Juntas, ns jogamos o gelo no cho. H um baque quando as beiradas
afiadas entram no cho, seguido pelo som de vidro quebrando e com o gelo

logo se espalhando. Apesar de tudo, o gelo no entrou muito no cho alm


de mais ou menos um metro. Marina parece feliz com o resultado.
Ok, ok! Espere um segundo.
Ela corre ao redor da caixa de gelo. H quatro paredes incorporadas ao cho,
e ela comea a reforar o gelo, espessando-o e deixando-o mais forte quando
o toca. Quando as rachaduras no gelo so seladas e os pedaos quebrados
preenchidos, Marina se ajoelha em um dos cantos e coloca as suas mos
sobre o gelo, o mais prximo do cho quanto consegue.
Ok, eu no tenho certeza se essa parte vai realmente funcionar ela diz.
L vai.
Marina fecha os seus olhos e se concentra. Adam e eu trocamos um olhar,
ambos bem confusos. Ainda assim, ficamos quietos pelo que o parece ser
mais que cinco minutos, assistindo Marina usar o seu Legado.
Quero colocar a minha testa no gelo, mas acho que isso pode estragar o que
quer que seja que ela esteja fazendo.
Acho que consegui Marina diz finalmente, levantando e alongando o
pescoo. Seis, vamos levantar o gelo de novo.
Agora voc o quer fora do cho? pergunto.
Marina concorda animada.
Rpido! Antes que derreta demais.
Ento, ns nos concentramos no cubo de novo. Ele parece mais pesado que
antes, e enquanto ns o erguemos, eu percebo porque. Marina uniu o gelo
embaixo do cho, conectando as quatro paredes em um cubo.
Quando ns o levantamos, ele vem com um som de rasgo e triturao, com
restos da razes da grama junto. O cubo de gelo flutua com a nossa
telecinesia e, dentro, h mais de um metro de terra presa.
Gentilmente agora Marina diz, enquanto ns transportamos o gelo e a
terra para fora do caminho. Eu reforcei bastante o gelo, mas ainda pode
quebrar.

Brilhante Adam diz, sorrindo para o monte flutuante. Ns no


teremos que cobrir o topo com, tipo, grandes galhos e ramos. Depois que
escavarmos, poderemos colocar o cubo de volta no topo. Vai parecer normal
quando Setrkus Ra passar por ele, mas voc deve ser capaz de derrub-lo
com a sua telecinesia de longe.
Marina concorda.
Era nisso que eu estava pensando.
Baixamos o gelo com cuidado no cho com um baque suave. Sem Marina
constantemente o aumentando com o seu Legado, o gelo comea a derreter.
As bordas da nossa cova ficam um pouco enlameadas, mas seca
rapidamente, considerando o calor.
Adam vai um pouco frente e se ajoelha em frente cova no cho.
Minha vez ele diz.
Ele coloca as suas mos na terra e um segundo depois j posso sentir as
vibraes fluindo dele. As ondas ssmicas so focadas principalmente a sua
frente, mas seu controle no muito preciso. Por um momento, fico um
pouco enjoada graas s ondas do solo embaixo dos meus ps, mas logo me
recomponho. O cho na frente de Adam comea a se soltar e as camadas do
solo comeam a se quebrar em pedaos considerveis.
Adam olha por cima do ombro para mim.
Como est?
Uso a minha telecinesia para levantar uma quantidade considervel de terra e
pedras para cima da cova, e em seguida, os jogo na selva. Ser mais fcil
cavar agora que Adam est quebrando as camadas de terra, mas ainda vai
ser um saco. Aceno com a cabea para ele.
um bom comeo eu digo a ele.
Ele se levanta.
Eu vou procurar por... uma p.

Adam mal pode terminar o seu pensamento, quando de repente seus olhos
se prendem no cu atrs de ns. Eu me viro, ouvindo um som mecnico.
No. No pode ser. cedo demais. Ns no estamos prontos.
Seis? Marina pergunta. O que aquilo?
uma nave. Prata e elegante, sem os ngulos estranhos e armas como nas
outras naves mogadorianas. No nada parecido com qualquer coisa que eu
j tenha visto, mas tambm estranhamente familiar.
A nave est vindo rpido, e bem na nossa direo.

DORES? MARINA PERGUNTA. POSSO SENTIR SEU LEGADO


VOLTANDO tona, para se precisarmos lutar.
No uma nave mogadoriana Adam diz, dando um passo ao meu lado.
No concorda, j percebendo. Coloco a minha mo no brao de Marina.
Est tudo bem. Voc no... voc no reconhece?
Eu... Marina para enquanto examina melhor a nave que se aproxima.
Ela voa por cima das rvores e gira sem esforo no ar, diminuindo a sua
velocidade logo acima da nova rea de pouso dos mogs.
Embora esteja um pouco amassada e arranhada, at com um pouco de
ferrugem nas bordas, a nave ainda reluz, seus painis blindados, feitos com
materiais que no so encontrados nesse mundo. A nave paira no ar por um
momento, o sol brilhando, refletindo nas janelas coloridas da cabine do piloto,
e em seguida, pousa suavemente.
uma das nossas eu digo. Como a nave que nos trouxe para c.
Para a Terra, eu quero dizer.
Como isso possvel? Adam devolve, perguntando.
Esses so os nossos reforos? Marina pergunta, sem tirar os olhos da
nave. O John comentou alguma coisa?
Ele disse que estava enviando a Sarah, Mark e mais alguma coisa...
respondo um pouco atordoada. Alguma coisa que ns tnhamos que ver
para crer.
Quem poderia estar pilotando uma nave loriena? De onde ela veio? Dou um
passo para frente.
A rampa de metal da parte de trs da nave comea a descer e eu fico tensa.
Uma memria nebulosa que vem tona, de uma rampa como aquela na
minha infncia, com Katarina ao meu lado, exploses e gritos ao fundo. Aqui
estamos ns de novo, no meio da segunda invaso mogadoriana, e mais uma
vez h uma nave lrica na minha frente. S que dessa vez, eu no sei se
deveria estar correndo na sua direo ou para longe. Mesmo que John j
tenha me dito que a ajuda estava chegando, no consigo afastar a sensao

de que isso pode ser uma armadilha. A paranoia vem me acompanhando at


aqui, no h razes para ignor-la agora.
Preparem-se para qualquer coisa digo aos outros. Ns no sabemos
o que vai sair de l.
E ento um beagle muito familiar desce a rampa correndo.
Bernie Kosar, com a lngua para fora da boca, pula em mim primeiro, com as
suas patas dianteiras apoiadas nas minhas pernas. A sua cauda um borro
quando ele cumprimenta Marina, logo em seguida. E depois ainda salta em
Adam. Ouo um som estranho, mas logo noto que o riso de um
mogadoriano.
Quando olho de volta para nave, Sarah Hart est parada no topo da rampa,
com os seus braos abertos em saudao e com um sorriso.
Oi, pessoal Sarah diz casualmente. Olhem o que ns encontramos.
Marina solta uma gargalhada de surpresa e logo sai correndo, encontrando a
Sarah na ponta da rampa, j a envolvendo em um abrao.
J faz um tempo desde que vi Sarah, ela j tinha ido para a sua misso
secreta de se encontrar com o ex-namorado quando eu e Marina voltamos da
Flrida. Ela est com o cabelo para trs, preso em um rabo de cavalo
apertado, mas o seu sorriso brilhante mesmo com algumas marcas sob os
olhos, e percebo que esto avermelhados quando chego mais perto. H
tambm alguns arranhes e contuses que nem o seu sorriso consegue
esconder. Sim, ela est feliz em nos ver, mas tambm est cansada,
estressada e um pouco abatida. Independente disso, ela parece melhor do
que ns, sujos depois de alguns dias na selva, queimados do sol e exaustos.
Voc est aqui eu digo a Sarah, abraando-a tambm. Na verdade
estou um pouco distrada. Ainda no consigo tirar os olhos da nave.
bom ver voc, Seis Sarah responde, me abraando apesar do suor e
do p. John disse que vocs poderiam precisar de alguma ajuda e uma
maneira de sair daqui. Ento, ns trouxemos os dois.
Quem exatamente esse ns se torna aparente um segundo depois.
O Mark James que sai da nave atrs da Sarah muito diferente daquele cara
que lutou um pouco ao meu lado em Paradise. Ele aposentou toda aquela
coisa de cabelo-com-gel de jogador. O cabelo escuro dele est mais
comprido e desgrenhado. Acho que ele perdeu um pouco de peso, seus

msculos esto maiores do que me lembro. Ele tem um olhar cansado no


rosto e est com os olhos bem fechados, o que sugere que ele no est
acostumado com tanto sol.
Whoa, merda Mark diz, parando na metade da rampa. Tem um deles
atrs de voc.
Esse Adam apresenta Sarah. Pensei que eu tivesse te contado
sobre ele.
, acho que contou Mark diz, fazendo sombra nos olhos enquanto
encara Adam. apenas assustador ver um deles, voc sabe, andando
normal por a. Desculpe, mano acrescenta Mark, acenando para Adam.
Est tudo bem Adam responde diplomaticamente. Ela aponta por cima
do seu ombro para onde a Phiri Dun-Ra est encapuzada e presa no
Skimmer. Eu no sou o nico mog aqui, como voc pode ver. Mas eu sou
o mais amigvel.
Notvel Mark responde.
Sarah comea a fazer as apresentaes necessrias. Eu a interrompo antes
que possa realmente comear.
Desculpa, mas onde vocs conseguiram essa nave? pergunto,
passando por ela e subindo na rampa.
Sim, sobre isso... Sarah responde, apontando para frente, como se eu
devesse continuar explorando ... voc provavelmente vai querer falar com
ela.
Quem?
Sarah me d um olhar de que eu deveria simplesmente parar de fazer
perguntas e ir, ento eu fao isso. Troco um olhar com Marina, que levanta as
sobrancelhas tambm. S alguns passos para dentro, e tenho o maior dj
vu. Estamos na rea dos passageiros. um espao aberto, completamente
desprovido de qualquer moblia. As paredes emitem uma luz suave indicando
que a nave ainda est ligada. Tenho uma vaga memria de estar alinhada ao
lado de outro Garde, e os nossos Cpans nos empurrando para os exerccios
de aerbica e algum treinamento de artes marciais.
Vou caminhando at a parede mais prxima e passo os meus dedos pela
superfcie. O material de plstico responde, brilhando mais por onde os meus
dedos passaram. As paredes so como uma grande tela touchscreen.

Puxo um comando da minha memria, rapidamente desenhando um smbolo


lrico na parede. O smbolo pisca uma vez para mostrar que foi aceito, e em
seguida, um barulho e ento uma porta se abre e duas dzias de camas
surgem. Marina d um passo para trs quando a porta se abre exatamente
onde ela estava.
Seis, essa ...?
a nossa nave digo. A mesma que nos trouxe para Terra.
Eu sempre achei que ela tinha sido destruda ou... Marina para e
sacode a sua cabea com espanto.
Ela passa os seus dedos na parede oposta, colocando outro comando. A
parede inteira se transforma em uma tela gigante de alta-definio com a
imagem de um beagle feliz perseguindo uma bola de tnis.
Em portugus, cachorro diz uma voz gravada com um sotaque lrico
bem perceptivo. Cachorro. O cachorro corre. En espaol, perro. El perro
corre...
Curso de idiomas da Terra. Quantas vezes ns tivemos que ficar sentados
assistindo esse vdeo enquanto vovamos para o nosso novo planeta? Eu
tinha esquecido isso, mas todo o tdio da minha infncia volta de uma vez s.
Todo um ano claustrofbico passado aqui, assistindo um cachorro correr em
um campo verde.
Ahh, desliga eu peo para Marina.
Voc no quer ver o que o co faz a seguir? ela pergunta com um
sorriso. Ela passa a sua mo pela parede e o programa para.
Vou at uma das camas e me agacho ao lado dela. Os lenis cheiram a
mofo e esto um pouco sujos. Eles provavelmente ficaram guardados por
mais de uma dcada. Empurro os cobertores e o colcho para o lado,
inspecionando a armao.
Ah, olhe isso eu digo.
Marina se inclina sobre o meu ombro. L, esculpida na armao de metal da
cama, por uma garota entediada, est o nmero seis.
Vndala! Marina sorri.
O zumbido mecnico diminui at o silncio e as paredes touchscreen piscam
e desligam. Algum acabou de desligar a nave.
Do jeito que voc deixou, n?

Marina e eu nos viramos na direo da voz e acabamos por encontrar uma


mulher que lentamente emerge da cabine do piloto. Minha primeira
observao de que ela linda de tirar o flego. A sua pele tem um tom
escuro de marrom, suas mas do rosto altas e pronunciadas, cabelo escuro
e curto. Ainda que ela esteja vestida com um macaco de mecnico com
manchas de graxa, a mulher parece pertencer a uma capa de revista de
moda. Eu rapidamente percebo que ela no puramente impressionante
apenas na aparncia. uma qualidade indiferente que a maioria das pessoas
da Terra no seria capaz de perceber, mas eu percebo imediatamente.
Essa mulher loriena.
Ela parece quase nervosa por ver eu e Marina. Deve ser por isso que levou
tanto tempo para desligar a nave. Mesmo agora, ela continua na porta da
cabine, to incerta sobre ns quanto estamos com ela. H um nervosismo
nela, como se a qualquer momento ela fosse voltar para cabine do piloto e
trancar a porta. Posso dizer que ela est tentando pensar em algo para dizer.
Vocs devem ser Seis e Sete ela diz depois de um momento, ao no
conseguirmos nada alm de olhares atnicos.
Voc... voc pode me chamar de Marina.
Pode deixar, Marina a mulher diz com um sorriso gentil.
Quem voc? pergunto, finalmente encontrando minha voz.
Meu nome Lexa a mulher responde. Estive ajudando o seu amigo
Mark atravs do apelido GUARD.
Voc uma das nossas Cpans?
Lexa finalmente sai da porta e se senta em uma das camas. Marina e eu
sentamos na sua frente.
No, eu no sou uma Cpan. O meu irmo era um Garde, mas ele no
passou do treinamento da Academia de Defesa de Lorien. Eu estava
matriculada l tambm, como uma estudante de engenharia, quando ele...
quando ele morreu. Depois disso, eu meio que, h, me distanciei da Garde. O
quanto voc conseguisse em Lorien. Eu no me encaixava exatamente nas
regras. Eu trabalhava muito com computadores, s vezes fora da legalidade.
Eu no era ningum especial, basicamente.
Mas voc acabou aqui Marina diz, com a sua cabea inclinada.
Sim, eu fui contratada para reformar uma nave antiga para um museu...

Esse detalhe d um clique na minha mente.


Voc veio na segunda nave para Terra eu digo.
Sim. Eu vim para c com Crayton e a minha amiga Zophie. Vocs
provavelmente j sabem disso, mas ns no fazamos parte do plano dos
Ancios. Conseguimos escapar de Lorien graas a Crayton, bem, porque ele
trabalhava para o pai de Ella, e porque ns tnhamos acesso a essa nave
antiga. O pai da Ella, ele sabia o que estava por vir. Ento me contratou para
consertar a nave. Eu nem sabia realmente como pilotar. Tive que aprender,
bem... durante o voo.
Sorrio para o humor negro de Lexa, mas a minha mente est correndo. H
mais de ns. Talvez os lorienos no estejam mesmo extintos. Eu deveria
estar animada com isso, mas em vez disso fico desconfiada. Eu
provavelmente s estou sendo paranoica depois do que aconteceu com o
Cinco. Ainda assim, penso em Crayton e em como ele criou a Ella enquanto
secretamente procurava o resto da Garde.
Ele nunca mencionou que veio com mais duas lorienas. Meus olhos se
estreitam.
Crayton nunca nos contou sobre vocs eu digo, tentando no parecer
tanto uma acusao.
Crayton escondeu muitas coisas de ns, afinal. Como a verdadeira origem da
Ella, que s descobrimos depois que ele morreu.
Eu acho que no responde Lexa, franzindo a testa. A sua nica
preocupao era em manter a Ella viva. Ns concordamos em no manter
contato um com o outro. Era mais seguro para todos se mantivssemos
distncia. Vocs sabem como so os mogs. Eles no podem torturar por
informao se voc na verdade no sabe de nada.
E a sua amiga? Zophie? Onde ela est?
Lexa balana a cabea.
Ela no conseguiu. Seu irmo era o piloto desta nave. Da nave de vocs.
Zophie veio procurar por ele, e na verdade pensou que o tivesse encontrado
pela internet, mas...
Marina fica plida.
Mogs.
Lexa concorda tristemente.

Depois disso, eu estava sozinha.


Voc no estava sozinha, afinal. Ns estvamos l fora. Muitos de ns
droga, todos ns perdemos os nossos Cpans. Alguns cedo demais. Ns
poderamos precisar de uma orientao. Por que voc esperou tanto tempo?
Por que no tentou nos encontrar?
Voc sabe porque, Seis. Pelas mesmas razes que o seu Cpan no
tentou achar os outros. Era muito perigoso tentar fazer contato. Tudo na
Internet poderia significar exposio. Eu fiz o que pude de longe. Canalizei
dinheiro e informaes de grupos que estavam trabalhando para expor os
mogadorianos. Comecei um website chamado Aliengenas Annimos para
espalhar as informaes e tentar expor o que eles estavam fazendo com o
ProMog. Foi assim que eu encontrei o Mark.
Penso como deve ter sido para ela, uma estranha em um planeta estranho,
sem ningum para confiar. Na verdade, no preciso imaginar pelo que ela
passou. Eu viviisso. Eu sabia do perigo e nunca parei de procurar os outros.
No consigo disfarar a amargura na minha voz.
Perigoso para ns ou para voc?
Para todos ns, Seis Lexa responde. Noto que as minhas palavras a
atingiram. Eu sei que isso no nem uma frao da responsabilidade que
os Ancios colocaram em vocs nove, mas... Eu no pedi por isso tambm.
Consegui um trabalho em um museu e a prxima coisa que sei que estou
voando em uma nave velha para um planeta em um sistema solar
completamente diferente com os ltimos da Garde vivos como carga. Eu
perdi meu irmo, a minha melhor amiga, a minha vida toda.
Ela respira fundo. Marina e eu ficamos em silncio.
Eu disse a mim mesma que estava ajudando o suficiente de longe. Ento,
fiz o que pude distncia. Apaguei todas as informaes que eu encontrei de
vocs online. Tentei deixar vocs invisveis, no s para o mundo, mas para
mim. Talvez fosse covardia. Ou vergonha. Eu no sei. Eu sabia l no fundo
que deveria estar fazendo mais. Eu sempre tive a inteno de recuperar a
nave, e ento contatar vocs, uma vez que tivessem idade suficiente e uma
vez que eu...
Voc est aqui agora Marina diz gentilmente. Isso o que importa.

Eu no podia mais ficar escondida. Eu j tinha fugido de um planeta


durante uma invaso. Decidi que era hora de parar de fugir.
Isso me atinge como um tapa. De algum jeito, depois de passar anos nos
escondendo dos mogadorianos, todos ns decidimos que j era hora de parar
de fugir. Eu s espero que no seja tarde demais.
Estaria tudo bem se eu lhe desse um abrao agora? Marina pede para
Lexa.
A pilota pega de surpresa, mas concorda. Marina a envolve em um grande
abrao, enterrando o rosto no ombro da mulher. Lexa me v observando e
me d um sorriso quase envergonhado antes de fechar os olhos e se deixar
ser abraada. Ela suspira, e talvez eu esteja imaginando isso, mas parece
que um peso invisvel saiu dos seus ombros.
Eu no me junto a elas. Abrao em grupo no bem para mim.
Obrigada por vir eu digo depois de um momento. Bem-vinda ao
Santurio.
Com isso eu levo as duas para fora da nave. Dou uma ltima olhada na rea
dos passageiros da nave antes de enterrar o resto das memrias da fuga de
Lorien. Eu no sou mais uma criana. Essa invaso vai ser diferente.
L fora, Adam e Mark parecem estar no meio de uma discusso. Sarah fica a
alguns passos de distncia deles, mais perto da nave, obviamente esperando
por ns. Ela levanta as suas sobrancelhas em questionamento quando me v
e eu suspiro em resposta.
Loucura quem voc trouxe para o Mxico eu digo tentando ignorar o
choque e a mistura de sentimentos de encontrar a Lexa.
Juntas, ns caminhamos at o Mark e Adam. Mark j com suor marcando sua
camiseta, e parece que ele est tendo um problema em entender alguma
coisa.
Um buraco ele diz, sem rodeios. Vocs vo matar o Setrkus Ra
com um buraco no cho.
Adam suspira, apontando para as sees de artilharia escondidas na mata.
Voc est realmente preso na parte do plano do buraco. Ns temos armas
escondidas, bombas...
Mas para o Setrkus Ra vocs tm um buraco.

Percebo que baixa-tecnologia, mas as nossas opes so realmente


limitadas Adam responde. E ns no estamos tentando mat-lo. Essa
no nem uma possibilidade, considerando que qualquer coisa que fizermos
ser revertido na Ella. Ns s queremos atras-lo e comprar algum tempo
para ns.
Tempo para qu? Mark pergunta.
Adam olha de relance para mim.
Para resgatar a Ella, roubar a Anubis de Setrkus Ra embaixo do seu nariz
ou os dois.
Por que ns simplesmente no vamos embora? Mark pergunta, j
querendo voltar para a nave lrica recm-chegada. Entendi que todas
essas armadilhas podem ser uma boa ideia quando vocs estavam, bem,
presos aqui. Mas agora ns podemos ir.
Essa no uma opo Marina responde. O Santurio deve ser
defendido a todo custo.
A todo custo? Mark repete, olhando de novo para nave, e ento de novo
para o templo. Que diabos tm de to especial sobre esse lugar?
Percebo que a Lexa est estranhamente quieta durante a discusso.
Os seus olhos esto presos no Santurio, seu rosto plido, com um olhar
parecido com o de Marina, quando ela fica com aquele jeito, com os traos
em reverncia. Lexa deve ter percebido que estava sendo observada, porque
balana a sua cabea abruptamente e encontra o meu olhar.
Esse lugar... ela procura pelas palavras corretas. H alguma coisa
especial nele.
um local lrico Marina responde. O lugar de Lorien agora, na
verdade. A fonte dos nossos Legados est l dentro.
Ns acabamos de selar a entrada, seno lhes daramos um tour
acrescento. Ns poderamos at apresentar a vocs a criatura que vive l
dentro. Bem legal, para uma Entidade feita de pura energia lrica.
Lexa me lana um rpido sorriso antes de responder.
Eu posso sentir... o que quer que seja l dentro. Posso senti-la nos meus
ossos. Entendo o motivo de quererem proteger este lugar.
Obrigada Marina responde.

Dito isso... e agora Lexa olha na minha direo. Tenha em mente


que a minha nave, nossa nave, est pronta. Se vocs precisarem. J
derrubou uma das naves deles antes.
Aceno sutilmente e troco um rpido olhar com Adam. Marina pode no querer
admitir que ns precisamos de uma, mas ns tnhamos uma estratgia de
fuga da qualquer maneira, e essa muito melhor do que correr na selva.
Cara, o que quer que esteja l dentro, como se estivesse no comando
dos Legados? Mark pergunta, olhando para o Santurio com as mos no
quadril.
Ns achamos que sim confirmo.
Ento foi isso que decidiu que o nerd do Sam Goode deveria desenvolver
super poderes e que eu... ento ele para, fazendo careta. ... merda. Eu
deveria ter sido mais legal no colgio.
Tento no rir. John deve ter contado a Sarah e Mark sobre os humanos
desenvolvendo Legados graas nossa brincadeira no Santurio. Eu no sei
como a Entidade decide quem deve desenvolver Legados, mas realmente
no espero que seja caras como o Mark, mesmo que ele esteja arriscando a
sua bunda por ns pelos ltimos meses.
Sarah por outro lado...
E voc? eu digo, olhando para ela.
Sarah encolhe os ombros e olha para suas mos, como se esperasse que
raios de luz surgissem delas a qualquer momento.
Nada ainda ela diz, franzindo a testa. Ainda sou s uma humana
normal.
Sarah tenta agir normal, mas posso ver que isso est a incomodando. Depois
de tudo o que ela j fez por ns, pelo John em particular, me parece um
enorme descuido por parte da Entidade no dar Legados a ela, escolhendo
outros humanos para desenvolv-los.
Pelo o que John nos contou, Sam descobriu que ele tinha Legados quando
um pken estava quase caindo em cima deles aponto. Talvez voc s
no esteve em uma situao onde eles pudessem se desenvolver.
Sim Marina concorda, entrando na conversa. Falando por
experincia, os Legados tm o hbito de s se manifestarem quando voc
precisar deles.

Oh, timo Mark diz. Ento, se ns ficarmos por a encarando a


morte, talvez haja uma chance de pelo menos morrermos com superpoderes.
Sim. Talvez eu o respondo.
Ou talvez a Entidade no tenha escolhido ningum Adam diz. Talvez
seja aleatrio.
Diz o mogadoriano com Legados comenta Mark.
Seja como for, est bom Sarah diz, claramente tentando mudar de
assunto. Eu no estou contando que isso acontea. Ento, tanto faz. Mas
isso no significa que eu no posso ajudar de outras formas. Acabei de falar
com o John antes de pousarmos.
Ele est a caminho? pergunto. Ele deveria estar trazendo as grandes
armas com ele.
Eu no sei se isso vai acontecer Sarah responde, com uma carranca
que s pode significar uma m notcia. O governo no est exatamente
cooperando. Tipo, eles querem lutar, mas no querem perder.
Que merda significa isso?
Que eles esto sendo uns bunda-moles Mark explica.
Eles no querem se jogar em uma luta contra o Setrkus Ra a menos que
saibam que vo vencer. Ento, eles vo nos apoiar, mas no vo lutar contra
ele. Ainda no, de qualquer maneira.
Pattico eu digo.
Sarah olha para Adam.
John ainda quer que voc consiga aquelas peas dos Skimmers.
Assim ele pode dar essa tecnologia para o exrcito que no vai nos
ajudar? Adam pergunta, com uma sobrancelha levantada.
Basicamente.
Eu j cuidei disso. Tirei delas antes de colocar os explosivos nas naves
Adam responde, olhando para mim. Vamos ou no entreg-las? Podemos
decidimos depois.
Por que diabos ns vamos entregar se eles no vo nos ajudar a lutar?
pergunto a Sarah.
Todo esse acordo parece terrivelmente com o que a Agente Walker nos
descreveu l em Ashwood Estates. ProMog. Mesmo agora, com as grandes

cidades praticamente como crateras fumegantes, o governo ainda est


jogando e tentando ser legal com os aliengenas recm-chegados.
Por diplomacia? Sarah responde, dando de ombros como se a situao
estivesse fora do seu controle. A qual obviamente est. Como normalmente,
ns estamos sozinhos. John acha que eles podem nos ajudar uma vez que
vejam um modo de vencer os mogs.
Quando ele vai chegar aqui? Marina pergunta.
O rosto de Sarah fica triste.
Mais ms notcias. Cinco est mantendo Nove refm em Nova York.
Ouo estalos de gelo nos punhos de Marina.
O qu?
Sim, no bom Sarah responde. John e Sam esto tentando ach-lo
e impedi-lo antes de... bem, o que quer que seja que aquele psicopata est
planejando.
Eu deveria t-lo matado murmura Marina.
Lano um olhar rpido para ela. Ela tem sido to pacifista desde que
estivemos no Santurio, to parecida com a antiga Marina, toda da noviolncia e serena. primeira meno do Cinco, e a sua escurido vem
tona.
Sarah continua, sem ter escutado Marina.
Uma vez que eles tenham resolvido isso, John estar a caminho, mas...
Olho para a linha de rvores da selva. O sol j est comeando a baixar.
Ele no vai chegar a tempo completo, sentindo um n em meu
estmago. Vai ser s a gente.
Ele vai tentar Sarah insiste, e tenho certeza de que ela est esperando
o seu namorado aparecer no horizonte como se fosse um heri, ele e Sam
apoiados pelas foras armadas dos Estados Unidos. Eu no me iludo com
isso.
Ns precisamos voltar ao trabalho aponto. Tudo precisa estar pronto.
Ou ns poderamos ir embora Mark diz, levantando as mos.
Quando ele recebe um olhar feio de Marina, ele recua.
Est certo, est certo. Mostre-me onde tenho que cavar.

Ns comeamos a trabalhar.
Primeiramente, Adam coloca o corpo retorcido de Areal na nave de Lexa. A
Chimra parece um pouco melhor agora, como se a tenso estivesse saindo
dos seus msculos, mas ele ainda no consegue mudar de forma e no est
nem perto pronto para um combate. Ele vai ter que ficar observando tudo de
longe.
Lexa quer ver os dispositivos que ns retiramos dos Skimmers, ento Adam e
eu mostramos a ela onde os empilhamos na tenda da munio. Cada um
uma slida caixa de mais ou menos o tamanho de um laptop.
Eles estavam atrs dos controles de pilotagem dos Skimmers Adam
explica, manuseando a abertura de um dos dispositivos, cheia de cabos.
Tentei mant-los o mais intacto possvel.
Ns os colocamos em uma mochila de pano e levamos para a nave da Lexa,
prontos para serem entregues para os nossos generosos amigos no governo,
que, em troca, nos daro um bando de nada.
Isso, claro, presumindo que consigamos sair do Mxico vivos.
Vai funcionar? pergunto a ela.
Eu acho que sim Lexa responde. Ela tira o recobrimento de um cabo e,
em seguida, conecta o fio exposto na porta de alimentao do dispositivo de
camuflagem. Acho que no vamos ter certeza at tentarmos passar pelo
campo de fora deles.
Ir contra uma nave de guerra em uma nave lrica remodelada que pode ou
no passar pelo campo de fora impenetrvel que h a sua volta. Essa com
certeza uma situao que eu no esperava.
Se no funcionar...
Ns poderamos explodir ela diz, antes que eu possa terminar. No
vamos apressar isso, ok?
Enquanto Adam e Lexa continuam arrumando o dispositivo no sistema da
nave lrica, o resto de ns vai trabalhar na cova em frente entrada do
Santurio. Adam conseguiu algumas ps que estavam enterradas nos
equipamentos dos mogadorianos, aparentemente eles desistiram de tentar
cavar a sua entrada para o Santurio h muito tempo. Mark parece um pouco
feliz demais em tirar a camisa e comea a jogar ps de terra sobre o seu
ombro. Bernie Kosar se junta ele alegremente, e o Chimra se transforma

em uma toupeira imensa. Com os seus trs dedos-garras, Bernie Kosar faz
chover sujeira para fora da cova. Parece que ele est tendo uma exploso de
energia. Mark, por outro lado, no fica muito tempo entusiasmado.
O calor da selva logo toma controle.
Isso uma merda! eu o escuto reclamar vrias vezes para Sarah,
enxugando o suor da sua testa.
Espere at os mogs aparecerem e comearem a atirar na gente Sarah
responde. Voc vai desejar ter mais trabalho manual.
Logo em seguida chegamos a uma camada de terra que dura demais para
que consigamos cavar com a p. muito mais fcil quando Adam vem e faz
uma exploso ssmica para acabar com essas rochas, e ento Marina e eu
usamos a nossa telecinesia para tirar as grandes rochas da cova e esconder
a terra e as pedras na selva.
Eventualmente, ns temos um buraco cavado. Agora que terminamos, Marina
e eu usamos cuidadosamente a nossa telecinesia para levantar o nosso cubo
depois de remover as sujeiras, e colocamos de volta no lugar. Ele est
suspenso sobre a nossa cova, muito precariamente, mas parece muito
natural para quem no sabe a diferena. Tenho certeza de que ele vai ceder
fcil quando Setrkus Ra cair dentro do buraco de nove metros, para que ele
no seja capaz de pular para fora. Com sorte, dentre essa e as outras
armadilhas, ns conseguiremos distra-lo para conseguir entrar a bordo da
Anubis.
De volta forma de beagle, Bernie Kosar fareja a borda escondida da cova,
abanando o rabo. Ele parece aprovar.
E agora? Mark pergunta, tirando o p das mos. Ns vamos colocar
alguns arcos de disparo automtico escondidos ou algo assim?
No vi nenhum tipo de arco espalhado por a Adam responde, coando
o queixo. Mas ns podamos fazer algumas lanas com os galhos das
rvores. Como voc est em talhar?
Ou Adam realmente no percebeu que Mark estava sendo sarcstico ou ele
realmente gosta de fazer armadilhas.
, vamos deixar assim mesmo Mark responde, se afastando.
Sarah e companhia, na verdade, tiveram a grande ideia de trazer alguns
suprimentos. Todo mundo faz uma pausa, passando garrafas de gua e

comida. Todos ns fazemos um bom trabalho fingindo que no estamos


assustados pelo inferno que est por vir.
Eu paro um pouco longe do resto do nosso grupo, comendo o meu sanduche
e pensando na nave lrica parada na pista de pouso. Alguma coisa est me
incomodando, mas no consigo descobrir o qu. como se tivesse uma voz
baixinha gritando um aviso no fundo da minha mente e eu no conseguisse
entender o que est dizendo. Vendo-me encarar a nave, Lexa se aproxima.
Voc acha que vai funcionar? ela me pergunta, inclinando a sua cabea
para as nossas armadilhas.
Voc est me perguntando se ns vamos vencer essa batalha de hoje
graas a um grande buraco e algumas armas escondidas na mata?
balano a minha cabea solenemente. De jeito nenhum. Mas talvez ns
consigamos estragar os planos do Setrkus Ra de alguma forma.
Sei que isso provavelmente no significa muito vindo de mim Lexa
comea hesitante, claramente desconfortvel. Mas voc uma tima lder,
Seis. Voc est mantendo todos juntos. A sua Cpan ficaria orgulhosa.
Diabos, todos de Lorien ficariam orgulhosos da luta em que vocs esto se
metendo.
Posso ver que a Lexa no se refere s por hoje, ela se refere a todo o tempo
na Terra, sobrevivendo contra os mogadorianos. Eu a observo pelo canto do
olho. Reconheo uma qualidade semelhante nela. Ela uma sobrevivente.
Eu me pergunto se nela que vou me transformar se essa guerra durar muito
tempo; uma pessoa que evita se ligar aos outros, porque j sofreu muito.
Talvez eu j seja assim.
Sim respondo sem jeito. Obrigada.
Lexa parece satisfeita com essa breve troca. Ela provavelmente me entende
assim como eu a entendo, e no quero um momento meloso. Com uma das
mos, ela aponta para selva, a oeste.
Quando estvamos pousando, vi uma pequena clareira perto daqui.
Colocarei a nave l, longe do Santurio. Vou deix-la sob o dossel de rvores
para que eles no sejam capazes de ver.
Bem pensado concordo. No quero que Setrkus Ra saiba que
estamos aqui.
Sim. H uma boa chance de que ele pense que vocs fugiram.

Elemento surpresa praticamente a nica coisa boa que temos.


s vezes tudo o que preciso Lexa responde, e ento me deixa,
caminhando em direo a nave.
Nossa nave, ela falou.
Eu a observo ir. Ainda h uma vozinha gritando na minha cabea, mais alta
agora, mas ainda no consigo entender. Eu no sei o que est tentando me
dizer.
Seis? Voc ouviu isso?
Marina, caminhando na minha direo com uma mo pressionada na sua
tmpora como se alguma coisa estivesse lhe dando uma enxaqueca.
Ouvi o qu? pergunto a ela.
como... como uma voz ela diz. Oh, Deus, talvez eu esteja ficando
louca.
E quando percebo que o que est me incomodando no a voz da minha
conscincia ou um alerta mental se descontrolando. literalmente uma voz
em minha mente. Uma que no me pertence e est desesperadamente
tentando ser ouvida.
Voc no est louca. Eu ouvi tambm.
Foco no zumbido estridente e, ao mesmo momento, a voz se torna
perfeitamente clara, mas ainda distante, como se viesse atravs de um tnel.
Seis! Marina! Seis! Marina! Vocs podem me ouvir?
Marina e eu nos encaramos. Essa voz teleptica pertence Ella. John
mencionou que os seus Legados ficaram mais aprimorados, mas sua
telepatia deve estar seriamente forte para que ela seja capaz de transmitir a
essa distncia para mim e Marina. A cada segundo que passa, sua voz fica
mais clara na minha cabea.
Isso s pode significar que ela est chegando mais perto.
Ella! digo em voz alta, no acostumada a utilizar a comunicao
teleptica. Onde voc est? O que est acont...?
Ela me interrompe telepaticamente com um grito. O que vocs esto fazendo
a? Eu avisei o John! Ele deveria ter avisado vocs.
Ele nos avisou Marina diz. Ns estamos aqui para tentar ajudar voc.
E para proteger o Santurio.

NO! No, no, no, no! Ella soa um pouco perturbada e definitivamente
em pnico. Ele deveria ter avisado vocs.
Nos avisar sobre o qu? pergunto.
Avisar para fugir!, Ella grita. Vocs precisam correr! CORRAM OU VO
MORRER!

Captulo quinze
MARINA E EU NOS FITAMOS, AMBAS CONGELADAS.
Essa a parte ruim sobre profecias de morte entregues por chat de grupos
telepticos. No fica claro a quem ela se destina. Ella est falando sobre
mim? Marina? Ns duas? Todos aqui?
Droga, no acredito que o futuro est escrito numa pedra. No acredito em
destino. No vamos fugir agora. No sem antes tentar executar nosso plano.
Depois de um momento de incerteza, vejo uma chama de determinao nos
olhos de Marina.
No vou fugir ela diz.
Nem eu respondo, j lamentando esses ltimos segundos que
gastamos paradas. Vai! Coloque os outros em posio!
Marina corre na direo de Sarah e dos outros. Disparo na direo oposta,
atravessando a pista de pouso tentando chegar Lexa. Ela ouve minha
aproximao e se vira no topo da rampa, com uma sobrancelha levantada
para mim.
Ele est adiantado digo a ela.
Merda.
Voe baixo, assim eles no podero v-la. Eu no tenho certeza do quo
perto eles esto.
PERTO!, Ella grita em meu crebro. Recuo com a altura da voz.
Voc sabe que tenho algumas armas nessa coisa, certo? Lexa
pergunta, apontando seu dedo para a nave. Eu posso ajudar a acabar
com eles.
No. Esse nosso nico plano de fuga. No podemos arriscar que a nave
seja danificada.
Voc que sabe, Seis Lexa responde. Vou esconder essa coisa e
voltar para c.

No eu digo, balanando minha cabea. No volte. No podemos


arriscar perder nosso piloto tambm. Estacione e esconda a nave, e ento
espere. Se as coisas estiverem ruins aqui, quero que esteja pronta para nos
tirar daqui. Talvez precisemos correr.
Tudo certo Lexa diz, se mantendo fria. Ela ruma para a selva ao sul,
onde as pedras quebradas das construes antigas ainda esto visveis.
Estarei a um quilmetro e meio, Seis. Em linha reta daqui. Mark tem um rdio
conectado ao painel se precisar entrar em contato.
Entendido.
Boa sorte Lexa responde. O que ela realmente quis dizer foi: sobreviva.
Lexa coloca a nave no ar e voa baixo o bastante para as copas das rvores
encostem na nave. Assim que ela est fora de viso, olho para o horizonte
ainda sem sinal da Anubis e ento corro na direo da floresta do lado
oriental do Santurio. onde os outros esto reunidos, um bom lugar para se
esconder h uma abundncia de densa folhagem e um tronco tombado que
podemos usar para nos proteger. Dali, podemos ver a frente do templo e a
porta lateral. o lugar perfeito para ativar nossas armadilhas. Podemos ver
tambm a Anubis chegando quando for a hora, o que deve estar perto agora.
Ella? parece estrando dizer seu nome em voz alta, mas no consigo
digerir toda essa coisa de conversa-dentro-da-minha-cabea. Gostaria de
saber se Marina ainda est ligada conversa teleptica. Que diabos?
Voc disse a John ao nascer do Sol!
Setrkus Ra no parou para reunir reforos. Ele est muito... animado para
chegar aqui.
Bem, essas so boas notcias, pelo menos. Setrkus Ra no reabasteceu
suas tropas depois de deixar Nova York. Isso significa que no teremos que
lidar com tantos. Mesmo assim, estou mais do que um pouco assustada com
a primeira notcia de Ella.
O que voc quis dizer antes? Quem vai morrer?

Eu... eu no sei. Foi uma viso. No muito clara. Mas eu vi sangue. Muito
sangue. E eu no valho a pena, Seis! Vocs podem sair agora, escapar e...
Percebo que Ella est escondendo alguma coisa, no est sendo totalmente
honesta sobre o que sabe. John me disse que os Legados dela foram
amplificados, mas essa clarividncia dela no prova das falhas.
No pretendo mudar nosso plano baseado na viso do futuro que ainda
podemos ser capazes de mudar.
Vamos ficar digo firmemente, esperando que ela possa detectar a
determinao em minha mente. Vamos tirar voc dessa nave. Est me
ouvindo?
Sim.
Poderamos usar sua ajuda. Quo perto voc est? O que voc est
vendo?
Cinco minutos, Seis. Estamos a cinco minutos.
Cinco minutos. Porcaria.
O que ele est mandando contra ns?
Ele est indo pessoalmente. Cem guerreiros prontos. E eu estarei l tambm.
No poderei ajudar voc, Seis. No posso... meu corpo no funciona mais.
Cem. Isso muito. Podemos lidar com eles. Pelo menos se conseguirmos
acertar muitos deles quando explodirmos os Skimmers.
Deve ter alguma coisa que possamos fazer, Ella. Apenas me diga como
ajudar voc.
Voc no pode, a voz dela retorna, triste e resignada. No se preocupe
comigo. Faa o que precisa ser feito.
Adam se junta a mim e corre na direo do limite da floresta onde os outros j
esto escondidos. Em vez de ir imediatamente para nosso esconderijo, ele
faz um desvio para o Skimmer que usamos para voar at aqui e pega a
espada mogadoriana que pertenceu ao seu pai. A espada parece pesada
presa s costas de Adam, mas ele acompanha meu ritmo.

Quase esqueci disso ele diz, quando me pega olhando para a espada.
No existe uma expresso popular sobre trazer uma faca um tiroteio?
pergunto.
Ele d de ombros.
Voc nunca sabe quando uma coisa grande e afiada pode ser til.
Ns deslizamos at o lugar onde nosso grupo est abrigado, atrs de uma
rvore cada. Adam se vira e observa o cu, sua boca apertada em uma linha
fina, os braos cruzados. Mark est segurando o detonador para as bombas
que Adam lhe mostrou como usar mais cedo. Com Mark atuando como nosso
especialista em demolies, Marina est livre para focar em atirar a
telecinesia nos canhes que escondemos na floresta. Sarah est de p perto
deles, com um canho numa mo, a outra pressionada na tmpora, plida e
com a testa franzida.
Eu no aceito isso Marina diz quando deslizo perto dela. Percebo que
ela est tendo uma conversa com Ella tambm.
Aceitar o qu? Mark pergunta, confuso.
Sarah o silencia com um shh. Dando outra olhada nela, percebo que Sarah
tambm est conectada ao canal teleptico de Ella. Ela sabe que a morte
pode estar chegando.
Ns vamos roubar a nave dele bem debaixo dele. Vamos resgatar voc
digo essas coisas alto, com ferro em minha voz, sabendo que Ella pode me
ouvir.
Me desculpem. Isso no vai acontecer, Ella diz telepaticamente.
Posso dizer pelo modo que os olhos de Marina se enchem de lgrimas que
ela pode ouvir tambm. Sarah cobre a boca e engole em seco, olhando pra
mim interrogativamente.
Merda digo.
No se atreva a desistir da esperana Marina praticamente grita para o
espao vazio sua frente.

Ella? est me ouvindo?


Ella no responde. Ainda posso senti-la l, quase como ccegas ao fundo de
minha mente. Sei que ela est ouvindo. S no est nos respondendo mais.
No me importo com o que ela diz ou quantos mogs teremos que lutar
contra falo para Marina agora. Se fizermos alguma coisa hoje, ser tirar
Ella de perto de Setrkus Ra. Nos apossar dela e lev-la de volta a nave de
Lexa.
Concordo Marina diz.
Talvez isso funcione Sarah completa, parece que o espanto deixou seu
rosto, e no lugar surge uma expresso pensativa. Como Marina e eu, ela no
est recuando diante da ameaa de morte. Quero dizer, no tinha alguma
coisa com o velho feitio lrico de vocs que se quebrava quando vocs se
juntassem?
Isso respondo. E da?
Ento, talvez a verso bagunada de Setrkus Ra funcione de forma
contrria Sarah explica. Talvez seja por isso que ele leva Ella para onde
quer que ele v. Ele tem que mant-la perto para que isso funcione.
Faz sentido para mim Mark fala, dando de ombros. No que eu seja,
tipo, um especialista nessa porcaria.
Definitivamente isso uma possibilidade que vale a pena ser testada,
especialmente desde que planejamos o resgate de Ella de qualquer forma.
Viro-me para Adam. O plano era ns dois ficarmos invisveis e entrar na
Anubis enquanto os outros criavam uma distrao.
O que voc acha? Ir para a nave de guerra ou Ella?
Vocs que decidem ele responde.
Voc talvez tenha que estar debaixo do nariz dele para chegar at Ella
Sarah aponta.
O que quer dizer que ele pode retirar temporariamente sua invisibilidade
Marina continua.

Droga digo, minha mente trabalhando. Tudo bem. Talvez possamos


separ-los

quando

ativarmos

nossas

armadilhas.

Se

vermos

uma

oportunidade, vamos para Ella. Caso contrrio, mantemos o plano de tomar a


Anubis aponto para o sul. H algumas antigas construes de pedra
naquela direo. Se forem para o sul a partir de l, onde Lexa escondeu
nossa nave. Se as coisas ficarem ruins aqui, se os mogs descobrirem suas
posies, quero que vocs trs vo para l.
E deixar vocs para trs? Marina pergunta.
Estaremos invisveis, pelo menos respondo, olhando dela para Sarah.
Apenas fiquem vivos. Isso o importante agora.
Sarah concorda sombriamente e Marina se afasta, olhando na direo do
Santurio. Mesmo depois do aviso de Ella, duvido que ela tenha qualquer
inteno de recuar.
Antes que eu possa dizer mais qualquer coisa, Adam segura meu abrao e
aponta na direo da pista de pouso.
Droga! Seis, esquecemos da nossa amiga.
Olho para onde Adam aponta e vejo Phiri Dun-Ra contorcendo-se
selvagemente contra a corrente. Na correria de ficar em posio, me esqueci
completamente de nossa prisioneira mogadoriana. Mesmo com ela
encapuzada, Phiri Dun-Ra deve ter ouvido a comoo e sabe que estamos
distrados. Ela vai enlouquecer em seu estado de aprisionamento, fazendo
qualquer coisa para se soltar. Ns a amarramos a um suporte de pneus de
forma bem firme, ento no acho que ela v se libertar. Mesmo assim,
provavelmente no uma boa ideia deix-la ali quando a Anubis aparecer.
Setrkus Ra vai perceber alguma coisa se v-la Adam diz, lendo minha
mente.
Mark levanta seu canho e olha na mira, o cano da arma apontado na direo
de Phiri Dun-Ra.
Querem que eu d um jeito nela? Acho que consigo fazer o disparo.

Marina coloca a mo no canho e faz com que ele o abaixe.


Se quisssemos execut-la, Mark, no acha que j no teramos feito
isso?
Adam me lana um olhar, como se talvez no fosse uma m ideia finalmente
dar a Phiri Dun-Ra nossa misericrdia. Ele tem desejado mat-la o dia todo. E
posso entender o porqu.
Deveria t-la prendido no poo Sarah diz com pesar.
Temos que deix-la fora de vista concordo.
Alcano-a com minha telecinesia e libero Phiri Dun-Ra de sua priso.
Isso me leva alguns segundos com Marina atirando com os canhes
escondidos, tal tarefa no fcil a essa distncia. Phiri Dun-Ra deve pensar
que ela est fazendo isso sozinha. Ela tira o capuz e a mordaa, em seguida
fica de p, tropeando, surpresa pelas cordas terem se rompido. A nascida
naturalmente esfrega os pulsos por um momento, olhando ao redor, e ento
corre para a floresta do lado oposto ao nosso. Ela est indo na direo de
onde escondemos alguns canhes dos mogs.
Seis? Marina pergunta, com um tom de aviso em sua voz. Voc sabe
o que est fazendo?
Eu sei. Antes que Phiri Dun-Ra possa ir muito longe, uso as cordas que a
prendiam e com minha telecinesia e prendo em seus ps. Ela cai feio com o
rosto no cho. Ento eu a arrasto em nossa direo, poeira e sujeira se
elevam no ar quando ela arranha o cho, tentando escapar. Seus gritos de
frustrao so altos o bastante para assustar alguns pssaros nas rvores
mais prximas.
Precisamos silenci-la Adam fala.
Marina, puxe-a respondo.
Enquanto Marina assume meu lugar com sua telecinesia, foco nas nuvens
vagando no cu do anoitecer. Eu no quero criar uma tempestade
propriamente dita no com a Anubis e Setrkus Ra to perto. Felizmente,

no precisei de uma. H uma nuvem escura com carga o bastante para gerar
um pequeno raio. Mando este arco em Phiri Dun-Ra, acertando-a em cheio.
Acho que h uma chance disso mat-la, mas no tenho muito tempo para me
preocupar com isso. A mogadoriana espasma quando a eletricidade passa
por ela, ento para de resistir telecinesia de Marina. Ela no desintegra,
ento acho que ainda est viva.
Quando Marina arrasta Phiri Dun-Ra para a linha das rvores, Adam a agarra
por baixo dos braos e a puxa o resto do caminho. Ele a empurra para de trs
do tronco que estamos nos escondendo e comea a prender novamente seus
pulsos e tornozelos.
Ento, vocs fazem prisioneiros agora? Mark pergunta.
Ela pode vir a ser til respondo, dando de ombros.
No podemos continuar arrastando-a por a Adam diz assim que
termina de apertar os ns.
Vamos deix-la aqui. Ela mencionou amar selvas, certo? digo, com um
sorriso no rosto.
Temos coisas maiores para nos preocupar do que o destino de Phiri Dun-Ra.
No vamos azarar nossa chance de sobrevivncia por fazer muitos planos
- Mark diz.
Antes que qualquer um possa responder, a selva ao nosso redor se torna
estranhamente calma. Estava to acostumada com o incessante som dos
pssaros que absolutamente chocante quando ele some. At mesmo o som
dos insetos se reduz at desaparecer. Atravs da clareira que os mogs
fizeram ao redor do Santurio, ao norte, uma revoada inteira de pssaros voa
das rvores e se dispersa.
A Anubis est aqui.
Estendo minhas mos e braos.
Segurem digo a todos. Vou nos manter invisveis at estarmos
prontos para atacar.

Marina segura uma de minhas mos e Sarah a outra. Mark, com o detonador
pronto, segura meu ombro. Adam o ltimo. Ele me d um aceno de cabea,
provavelmente se lembrando de quando eu disse a ele como estranho foi
ficar de mos dadas com um mogadoriano. At que tudo isso acabe, ns dois
estaremos ligados. Aceno de volta, por cima do ombro, e ele se aperta ao
lado de Marina, suas mos em meu brao. Apenas Bernie Kosar no se
aproxima de mim. Em vez disso, nosso Chimra se transforma num tucano e
voa para uma rvore prxima.
um pouco engraado, ns cinco amontoados dessa forma. quase como
se estivssemos posando para uma foto.
Deixo-nos invisveis no exato momento em que a Anubis plana em nosso
campo de viso. A nave de guerra ainda maior do que imaginei. Toda ela
feita de placas de metal cinzento sobrepostas que chegam parecer uma
bscula. Tem o formato daquele inseto egpcio escaravelho exceto pelas
toneladas de armas, o macio canho que se projeta de frente da nave
particularmente na direo dos meus olhos.
Deus Sarah sussurra.
Puta merda Mark diz, um pouco alto.
Sua mo aperta meu ombro.
Enquanto a Anubis se arrasta pesadamente para cada vez mais perto, a
clareira inteira e o Santurio so tragados por sua sombra.
Com calma agora digo, tentando no surtar. Fiquem quietos e por
perto. Eles no podem nos ver.
A nave enorme para, e ento fica pairando sobre o acampamento dos mogs.
Mesmo considerando a larga faixa de floresta que os mogs desmataram, a
nave de guerra ainda to grande que no h espao para ela aterrissar.
Adam deve ter percebido que a Anubis pairando sobre o campo de batalha
meio que ferrou com nossos planos.
Teremos que encontrar um jeito de subir at l.

Se ele aterrissar alguma tropa, ns podemos acabar com eles e voar com
um dos Skimmers deles at l em cima respondo. exatamente a ttica
que John e os militares ausentes dos EUA querem usar contra as naves de
guerra dos mogs, ento quem melhor do que ns para sermos as cobaias?
O que ele est fazendo? Sarah pergunta. Pelo que eles esto
esperando?
Ella parou de transmitir telepaticamente para ns h alguns minutos, e agora
me pergunto se apenas minha imaginao que eu possa sentir sua
presena ao fundo de minha mente. Se ela ainda est l, se ela pode me
ouvir, poderamos definitivamente usar sua ajuda.
Ella? pergunto, me sentindo estpida dizendo seu nome alto dessa
forma. Pode me ouvir? O que est acontecendo a em cima?
No obtenho resposta.
Marina? Sarah? Ela est...?
Nada, Seis Sarah responde, uma voz sem corpo falando sobre outra.
Acho que ela se foi Marina continua.
Mas ento acontece. Um sussurro ao fundo de minha mente. A voz de Ella,
desamparada e sem esperana.
Vocs deveriam ter fugido.
No ar sobre ns, um zumbido comea a emanar da Anubis. notvel porque
ao contrrio, a nave incrivelmente silenciosa. Comea devagar, mas
aumenta rapidamente. Logo depois, meus dentes esto vibrando devido ao
rudo. Eu observo o casco inferior da nave, esperando ver soldados de
Setrkus Ra descendo em Skimmers, mas o cu est claro.
Que diabos aquilo? pergunto, com esperana de que Adam v me
responder.
Est... est se energizando Adam explica.

Sua voz est trmula e eu sinto sua mo afrouxar em meu brao, como se
estivesse atordoado e se esqueceu de que precisa segurar em mim para se
manter invisvel.
Energizando o qu? pergunto.
A arma principal ele responde. O canho.
Posso v-lo. O buraco negro do cano do canho comea a brilhar quando a
energia comea a se acumular ali. O zumbido se torna mais alto conforme o
canho preenchido de pura energia, como os pequenos canhes
mogadorianos se carregando. Em segundos, o Santurio e a floresta ao redor
dele esto banhados por uma luz azulada. Sinto vontade de cobrir meus
olhos, mas Marina e Sarah esto segurando minhas mos com fora.
Isso mau Mark diz. Muito mau.
Adam? Grito para que ele me oua devido ao som de carregamento da
arma. Quo poderosa aquela coisa?
Como um grupo, todos ns recuamos. Eu mal consigo saber onde cada um
est para manter a invisibilidade.
Precisamos nos mover Adam responde, o temor sumiu de sua voz,
substitudo pelo terror. Precisamos recuar!
Todos recuam, deixando apenas Phiri Dun-Ra escondida atrs do tronco
cado. Marina resiste ao meu puxo. Ela no est se movendo.
Marina! grito. Vamos!
Falamos que no iramos fugir! ela grita de volta.
Mas...!
O zumbido atinge uma intensidade enorme e a energia absorvida na nave
descarregada com um som ensurdecedor. Um slido arco de eletricidade do
tamanho de dez mil raios cortando o ar desce na direo do Santurio,
acertando-o, as pedras antigas brilhando em um vermelho quente. O tiro do
canho atravessa o templo do topo base, como se no fosse nada. Eu

tenho apenas um momento para perceber o Santurio, ainda de p, mas


partido ao meio. Posso ver luz atravs da parede que antes era slida.
Um segundo depois, a energia condensada do canho se expande para fora
em uma onda de luz ofuscante.
O Santurio explode.
NO! Marina grita.
Ns estragamos tudo. Setrkus Ra no veio at aqui para entrar o Santurio.
Ele veio para destru-lo.
No tenho tempo para pensar no que isso significa ou no que acontece
depois. Adam me puxa para trs e vamos cambaleando para a selva, no
momento em que o templo comea a ruir ao nosso redor. Perco o punho de
Marina e ela se torna visvel novamente. A mo de Mark solta meus ombros e
ele reaparece tambm. Apenas Sarah e Adam ainda se seguram em mim.
Marina, na verdade, corre para frente como se fosse capaz de lutar contra a
nave.
Pare! grito. Marina! Pare!
Mark reage rapidamente, seus reflexos de jogador ressurgindo naturalmente.
Ele se joga contra ela, envolve seus braos ao redor da cintura de Marina e a
derruba.
Saia de cima de mim! Marina grita para Mark.
Ela o empurra para longe, impresses digitais congeladas se formam em seu
peito.
Ento, mais alguma coisa explode. Um dos Skimmers que armamos com C-4.
Deve ter sido atingido diretamente por uma parte do Santurio e disparado a
bomba. Estilhaos voam ao nosso redor, pedaos de metal retorcido chiam
quando rasgam as folhas das rvores.
Mark perde a respirao e tropea. H um pedao irregular de vidro do painel
do Skimmer sobressaindo de seu peito.
Mark! Sarah grita, se soltando de mim e correndo na direo dele.

Marina v o ferimento de Mark e suspira. Ela se volta para o Santurio e cai


de joelhos ao lado dele, arrancando o pedao de vidro e imediatamente
comeando a cur-lo.
Ramos de rvores se quebram acima da minha cabea e eu olho para cima a
tempo de ver um pedao do tamanho de um taco de baseball de calcrio cair
em minha direo. Em reflexo, uso minha telecinesia para peg-lo e jog-lo
para o lado.
No consigo parar o prximo.
Me acerta no topo da cabea. Antes de eu perceber o que aconteceu, alguma
coisa pegajosa e quente cobre um lado do meu rosto. Adam me segura em
seus braos enquanto caio de joelhos. Estamos ambos visveis agora. Devo
ter perdido minha concentrao. Tento por fora em minhas pernas, para
focar na minha invisibilidade, mas no consigo fazer nenhuma das duas
coisas. Minha cabea gira e eu sinto gosto de sangue.
Me ajuda! Adam grita para Marina. Seis est ferida!
Tento me manter consciente, mas difcil. O mundo est ficando escuro,
como se tudo o que tivssemos lutado se acabasse em chamas.
Ella nos avisou de que poderia haver morte. Me sentindo quase
desconectada do meu corpo, eu me pergunto se a hora.
Enquanto perco a conscincia, ouo a voz de Ella em minha cabea.
Me desculpem, ela diz.

Captulo dezesseis

EU NO TENHO TEMPO PARA ESSA PORCARIA.


Cinco quer me encontrar ao pr-do-sol na Esttua da Liberdade. Isso soa como um
plano de um supervilo. Ele est mantendo Nove como refm e planeja mat-lo se
eu no aparecer. No sei o que ele quer de mim. Nas Naes Unidas me pareceu que
ele estava tentando nos ajudar, apesar de seu jeito psictico. Ao menos, ele evitou
que eu machucasse Ella involuntariamente. Claro, ele possivelmente no sabe que
estou contra o tempo aqui, que cada minuto desperdiado em seus joguinhos um
minuto no gasto ajudando Sarah, Seis e os outros. Se ele soubesse, se importaria?
Mandei Sarah e Mark para o Mxico com a recm-descoberta loriena, hacker e
piloto, que mal posso esperar para conhecer. Eu os mandei para l porque eles so
literalmente a nica ajuda que pude arranjar para Seis e o resto da Garde, que esto
espera da luta principal.
Pelo menos eles podem escapar agora. Eles no esto encurralados.
Seis e Sarah so espertas o bastante para evitar perdas e sair de l. Isso o que
continuo dizendo a mim mesmo.
Fao um rpido clculo mental. Mesmo que a Agente Walker pudesse, de alguma
forma, convencer os militares a me emprestar seus caas mais rpidos, eu ainda no
seria capaz de chegar ao Mxico antes de Setrkus Ra. No mais.
Isso no quer dizer que no vou tentar.
Pode pelo menos me conseguir um barco? pergunto a Walker.
Tendo deixado o caos das docas para trs, estamos novamente na tenda da agente
do FBI.
Para lev-lo Esttua da Liberdade? Walker assente com a cabea. Sim,
posso conseguir isso.
Mas tem que ser agora respondo. Preciso para agora.
Cinco disse ao pr-do-sol. Isso quase daqui uma hora Sam acrescenta
sombriamente. Sei que ele est fazendo os mesmos clculos que eu. Ele sabe que

no chegaremos a tempo ao Santurio. No a menos que deixemos Nove merc do


destino que Cinco tem reservado para ele, e nenhum de ns deseja seguir por esse
caminho.
No vou esperar. No estamos no tempo de Cinco. Ele provavelmente est agora
preparando uma armadilha ou coisa parecida. Seja o que ele quer. Vamos mais cedo.
Se ele no estiver l, ento esperaremos pelo bastardo.
Boa ideia Sam concorda. Vamos fazer isso.
Consiga o barco digo a Walker, e caminho para fora da barraca.
Daqui, no Brooklyn Bridge Park, podemos ver a Ilha da Liberdade. O contorno
esverdeado da famosa esttua visvel contra o cu enevoado. No levar muito
tempo para chegarmos l. Dessa distncia, no posso discernir nenhum detalhe. No
posso dizer se Cinco est l ou se preparou alguma armadilha para ns. Isso no
importa, na verdade. O que encontrarmos, vamos enfrentar de cabea erguida.
Sam me segue para fora.
O que vamos fazer? ele me pergunta. Quero dizer, com Cinco.
O que precisarmos respondo.
Ele fica em silncio e cruza seus braos, tambm olhando para a esttua sobre a
gua.
Voc sabe, eu sempre quis ver a Esttua da Liberdade tudo o que ele
consegue pensar em dizer.
Dentro da barraca, posso ouvir Walker gritando em seu walkie-talkie.
Eventualmente, ela nos consegue uma lancha da guarda-costeira. O barco no tem
artilharia como aqueles da marinha que avistei no porto, mas nos levar rpido Ilha
da Liberdade. Walker tambm chama agentes de sua confiana, integrando a equipe
com trs caras que conheo da fora tarefa anti-ProMog que nos ajudou a ir atrs do
secretrio de defesa. Acho que eles foram os nicos que sobreviveram batalha com
Setrkus Ra nas Naes Unidas. Um deles o homem que curei durante o primeiro

conflito em Midtown, aquele de quem Sarah postou o vdeo na Internet. Ele quase
parece envergonhado quando aperta minha mo.
Agente Murray ele se apresenta. Nunca tive a chance de agradecer. Pelo
outro dia.
No se preocupe com isso digo a ele, ento me viro para a Agente Walker.
No precisamos de apoio. Apenas do barco.
Me desculpe, John. No posso deixar vocs dois ir l sozinhos. Vocs so de
interesse do governo agora.
Bufo.
Oh, somos?
So.
No vou perder tempo discutindo sobre isso. Eles podem ir se quiserem. Vou na
direo das docas, Sam ao meu lado, e Walker e seus agentes se espalham ao nosso
redor como guarda-costas. Como sempre, recebo olhares dos soldados no caminho.
Alguns deles parecem querer ajudar, mas tenho certeza de que esto sob ordens
para no se envolverem conosco. A Agente Walker e o que restou do seu grupo de
agentes anti-ProMog toda a ajuda que o governo est disposto a nos conceder
nesse momento. Ao menos eles melhoraram suas armas, tendo os agentes tendo
trocado suas pistolas habituais por pesados rifles de assalto.
Hey! John Smith de Marte! Espere!
Me viro a tempo de ver Daniela espremer seu corpo dessa jeitado por um grupo de
soldados e correm em nossa direo. Os agentes que nos rodeiam erguem
imediatamente seus rifles e, vendo isso, Daniela derrapa at parar a alguns metros,
com as mos para cima. Ela olha os agentes do FBI com um sorriso arrogante no
rosto.
Est tudo bem, acalmem-se digo a Walker e seu grupo, apontando para
Daniela. Ela uma de ns.

Walker levanta uma sobrancelha.


Voc quer dizer...?
Uma Garde humana falo, mantendo minha voz baixa. Uma das pessoas que
Setrkus Ra quer junto dele.
Walker avalia Daniela.
timo ela diz secamente.
Daniela apenas amplia seu sorriso.
Vocs rapazes esto indo em uma aventura ou algo assim? Posso ir?
Franzo um pouco a testa pela forma que ela est levando tudo isso, e troco um olhar
com Sam.
Voc encontrou sua me? Sam pergunta a ela, e o sorriso de Daniela falha por
um instante.
Ela no est aqui, e nunca deu entrada na Cruz Vermelha Daniela responde,
dando de ombros como se no fosse nada. Mesmo que ela esteja tentando manter o
tom normal, sua voz est trmula e posso dizer que ela espera o pior.
Provavelmente saiu da cidade de outro jeito. Tenho certeza de que ela est bem.
Sim, com certeza Sam responde, forando um sorriso.
Estamos a caminho de confrontar um Garde traidor digo a ela abruptamente.
Walker me lana um olhar, mas no tenho motivos para mentir. Todas as cartas na
mesa.
Whoa. Existem traidores, tipo, da sua espcie?
Penso sobre Cinco e como ele se virou contra ns e penso em Setrkus Ra e as
incontveis coisas horrveis que ele fez. Ele costumava ser um Garde tambm, talvez
algo maior que isso, se pudermos acreditar na carta de Crayton para Ella. Ento, olho
para Daniela e considero ela e os outros humanos com Legados que ainda no
encontramos. Eles iro lutar pelo bem? Ou alguns deles iro se voltar para Setrkus
Ra como Cinco fez?

Somos pessoas, como quaisquer outras falo.


Exceto pelos poderes incrveis Sam acrescenta.
Como qualquer um continuo podemos nos tornar maus sem a devida
orientao.
Daniela est novamente com um sorriso travesso no rosto. quase irritante, mas
estou comeando a perceber que apenas um mecanismo de defesa. Quando ela se
sente desconfortvel, tenta com todas as foras devolver o favor.
Beleza. Entendi. Voc vai ser meu guia, John Smith? Meu sensei?
Ns os chamamos de Cpans, na verdade. Nossos treinadores. Mas eles se foram.
Agora, aprendemos as coisas por ns mesmos.
Agente Walker pigarreia. Acho que ela quer que eu me livre de Daniela, mas no
estou recusando ajuda. De jeito nenhum.
Pode vir conosco continua. Mas voc deve saber de uma coisa: o cara que
estamos atrs extremamente perigoso.
Desequilibrado Sam acrescenta.
Ele j matou um de ns continuo e no acho que ele v hesitar em fazer isso
novamente. Quando acabarmos com ele, nossa amiga Agente Walker aqui vai nos
conseguir um avio de alguma maneira, e descobriremos um jeito de matar o
mogadoriano no controle antes que a invaso dele prossiga.
Voc est tentando me assustar? Daniela pergunta com suas mos nos quadris.
S quero que saiba no que est se metendo respondo. Durante o caminho,
posso tentar te ajudar com sua telecinesia. Talvez descobrir o que mais voc pode
fazer. Mas voc tem que dar seu melhor...
Daniela olha por cima de seu ombro. Percebo que, mais do que qualquer coisa, ela
quer sair daqui. Ela quer se manter ocupada e evitar confrontar a real possibilidade
de ter perdido toda a sua famlia durante o ataque a Nova York.
Estou dentro. Vamos salvar o mundo e essa droga toda.

Sam sorri e no posso fazer nada a no ser dar um pequeno sorriso tambm,
especialmente quando percebo a Agente Walker revirando os olhos. Com Daniela
incorporada ao nosso pequeno grupo de agentes secretos, continuamos seguindo
para o per.
Ei Sam diz para Daniela, mantendo o tom de voz baixo. S para voc saber,
os mogs estavam mantendo prisioneiros em Nova York. Eles no estavam, tipo,
matando tudo que se movesse.
, eu sei, os vi fazendo isso na minha vizinhana Daniela responde. E da?
E da que s porque ela no est aqui, no quer dizer que sua me... voc sabe...
Sei. Obrigada Daniela fala rispidamente, mas acho que ela realmente quis dizer
isso.
A lancha da guarda-costeira est pronta e esperando por ns, um capito fumante
vestido em um uniforme amarrotado preparado para nos levar aonde quer que
precisemos ir. Deixo Walker falando com ele, e alguns minutos depois estamos
saltando sobre as ondas. Do outro lado da gua, posso ver as luzes brilhantes de New
Jersey, helicpteros surgindo e desaparecendo do nosso campo de viso.
Parece que os militares criaram um permetro ali tambm, realmente querem ter
certeza que os mogadorianos fiquem contidos em Manhattan. Olho na direo da
cidade e encontro o lugar assustadoramente calmo. Ainda h mogs l, tenho certeza,
patrulhando as ruas e talvez criando uma fortaleza. Espero que muitos dos
moradores tenham conseguido atravessar a ponte e, se no, espero que Sam tenha
razo sobre os mogs estarem mantendo-os prisioneiros ao invs de os matarem. Isso
significa que eles ainda podem ser salvos.
Quando a Ilha da Liberdade fica maior a nossa frente, Daniela me cutuca nas
costelas.
Vamos encontrar esse cara na Esttua da Liberdade? ela pergunta.
Aham.

Cara, isso uma porcaria para turistas.


Rapidamente atracamos as docas da Ilha da Liberdade. Meia dzia de barcos esto
flutuando ali, vazios, um deles com marcas de queimaduras em uma das laterais.
Todo o lugar est deserto; ningum visitando a Esttua da Liberdade durante a
invaso. quase pacfico aqui.
Enquanto samos do barco, tento dar uma boa olhada no terreno. Me foro a pensar
como Cinco, me perguntando onde seria o melhor lugar para uma emboscada.
Tenho que inclinar a cabea para cima para ver a esttua. Nos aproximamos dela
pelo lado em que ela segura o livro. A tocha banhada de ouro brilha no que resta da
luz do dia. A grande senhora verde est sentada no topo de um enorme pedestal de
granito, que por sua vez fica sobre uma base de pedra ainda maior que toma quase
metade da ilha.
Para a direita, h um pequeno parque que parece intacto. Ele no estar escondido
no parque no assim que Cinco trabalha.
O capito do barco fica para trs, mas o resto de ns caminha pela doca na direo
da esttua. Penso na primeira vez que encontrei Cinco, como ele usou um
monumento de um monstro assustador no bosque para se revelar. Acho que o cara
tem alguma coisa com marcos histricos. Ou talvez aquela esttua suja de madeira
fosse uma pista, sobre o monstro escondido dentro de Cinco. Se este o caso, me
pergunto o que a escolha da Esttua da Liberdade significa. Provavelmente nada,
penso, me lembrando que Cinco um completo maluco.
Ao meu lado, Daniela abafa uma risada.
Sabe, na verdade eu nunca estive aqui, mesmo vivendo nesta cidade minha vida
inteira.
N, como uma viagem de campo Sam comenta. Uma viagem de campo em
que no final um maluco feito de ao slido tenta te esfaquear at a morte.
Ningum vai ser esfaqueado at a morte digo.

Quando entramos na praa que se estende ao redor da base da esttua, mantenho


meu olhar centrado no pedestal superior. Decidi que o lugar em que Cinco
provavelmente estar. Ele pode voar, ento seria fcil para ele alcanar aquela rea,
e isso permitiria que ele ficasse de olho em nossa chegada. Apesar disso, no vejo
nenhum movimento l em cima. Talvez ele no esteja aqui ainda. Ou talvez esteja se
escondendo dentro da esttua. Ergo ainda mais meu pescoo, tentando vislumbrar
algo dentro da coroa da esttua, mas impossvel. Teremos que ir l dentro para ter
certeza de que est vazia.
Olha Sam fala, baixando a voz. Bem ali.
Viro minha cabea para esquerda, na direo do gramado perfeitamente esculpido
que se estende a partir da fundao da esttua.
H um movimento. Uma forma brilhante se ergue lentamente da grama e d passos
vacilantes em nossa direo. Eu estava olhando para o lugar errado.
Vocs esto adiantados Cinco diz. Excelente.
Dizer que Cinco parece acabado seria um elogio. Suas roupas parecem ter passado
por um triturador esto rasgadas, manchadas de sangue e cobertas de sujeira e
cinzas. Sua pele um ao prateado, fazendo-me pensar que ele est pronto para
lutar, mesmo que parea que ele mal possa se manter em p. Seus traos parecem
inchados e fora de lugar apesar de seu revestimento metlico, seu nariz est torto, e
h entalhes visveis na lateral de sua cabea raspada. Ele est curvado, um brao
balanando inutilmente ao se lado. Em seu outro brao h uma braadeira com sua
lmina retrtil. A luz do entardecer reflete em sua pele.
Imediatamente, Walker e seu time flanqueiam Cinco. Eles tm suas armas apontadas
para ele. Daniela vai para o lado oposto, ficando um passo atrs de mim.
Uh, vocs deveriam ter descrito o cara traidor melhor ela diz.

Cinco d uma olhada nos agentes de Walker e zomba. Mesmo que ele parea
desgastado, ter um conjunto de armas apontadas para ele parece reacender seu
temperamento intenso. Seu nico olho se ajusta abrindo mais e ele se endireita.
No me faa rir com essa porcaria Cinco diz para Walker, ento se vira na
direo do Agente Murray enquanto o homem aponta sua arma. Sou prova de
balas, otrio. Vamos, eu te desafio.
H algo estranho na voz de Cinco. Soa metlica e estridente, quase como se ele
estivesse tendo problemas para respirar.
Os agentes so inteligentes o bastante para no ficarem to perto. Sei o quo rpido
Cinco . Se ele quisesse ir at um deles, seria capaz de chegar l em um ou dois
segundos com seu voo. Caminho sobre a grama, esperando atrair a ateno para
mim antes que ele faa qualquer coisa maluca. Sam fica logo ao meu lado, Daniela
alguns passos atrs.
quando percebo uma forma grumosa perto de Cinco. uma daquelas lonas azuis
de construo envolvendo o que obviamente um corpo, tudo isso bem apertado
por correntes de ao de construo.
Tem que ser o Nove.
Entregue-o digo para Cinco, sem perder tempo.
Cinco olha para baixo, para o corpo, quase como se tivesse esquecido que ele estava
ali.
Claro, John Cinco responde.
Cinco se curva e segura as correntes. Ele ergue o corpo de Nove com uma careta. Ele
est machucado e cansado, e posso dizer que este show o est drenando mais do
imaginou. Com um grunhido animal, Cinco lana o corpo atravs dos metros que nos
separam. Seguro Nove no ar com minha telecinesia e o deso gentilmente para o
cho. Imediatamente, arranco as correntes e desenrolo a lona.

Nove est deitado inconsciente na grama a minha frente. Suas roupas esto nas
mesmas pssimas condies que as de Cinco, seus machucados igualmente
grotescos. H queimaduras de tiros em seus braos e peito, uma de suas mos est
quebrada como se alguma coisa a tivesse esmagado, e h um corte feio em sua
cabea. Esta a ltima coisa que me preocupa. Sangue empapa o cabelo negro de
Nove muito mesmo e seus olhos no se abrem quando bato gentilmente em suas
bochechas.
Sam coloca a mo em meu ombro.
Ele est...?
Oh, ele est bem Cinco grunhe, respondendo pergunta que Sam me fez.
Tive que bater com fora nele para nocaute-lo. Voc provavelmente vai querer
trabalhar com isso primeiro, doutor.
Coloco minhas mos na lateral da cabea de Nove, mas paro antes de comear a
cur-lo. Isso vai requerer minha concentrao, o que significa que no poderei ficar
de olho em Cinco. Olho para ele.
Voc vai tentar alguma coisa estpida?
Cinco levanta as mos para cima, as palmas abertas, mesmo que um dos braos no
se erga tanto quanto o outro. Ento, ele cai para trs sentado.
No se preocupe, John. No vou machucar nenhum dos seus amiguinhos. Ao
mesmo tempo, seu olho passa por minha equipe, observando cada um deles. O olhar
de Cinco se demora em Daniela. Voc no policial. Qual a sua?
No fale comigo, esquisito ela devolve.
No perca seu tempo respondendo Sam diz calmamente.
Cinco bufa e balana a cabea, mais admirado que nunca. Ele arranca um punhado
de grama a sua frente, rasga e o joga fora com um suspiro.
Vamos logo com isso, John. Eu no tenho o dia todo.

Ainda estou desconfiado de que seja um tipo de armadilha, mas no posso adiar a
cura de Nove por muito tempo. Pressiono minha mo na lateral da cabea dele e
deixo minha energia de cura fluir para ele.
Primeiro o corte em sua cabea se fecha. Esse apenas o dano superficial.
Intuitivamente, posso sentir mais profundamente, traumas mais srios afetando
Nove. Seu crnio est fraturado e seu crebro est inchado.
Foco meu Legado ali, porm estou cauteloso para no usar mais energia do que
preciso. O crebro uma coisa delicada e no quero piorar a situao de Nove. Ele
talvez continue a ter uma concusso quando eu terminar, mas pelo menos o dano
mais srio ser revertido.
Leva alguns minutos de concentrao em Nove. Estou vagamente consciente do
silncio e da tenso ao meu redor. Quando termino, tiro minhas mos de sua cabea.
As outras leses podem esperar at que no estejamos na presena de um luntico.
Nove? Nove, acorde chamo, chacoalhando-o.
Depois de um momento, os olhos de Nove se abrem. Seu corpo tensiona e seus olhos
dardejam no entorno descontroladamente. como se ele estivesse esperando ser
atacado novamente. Quando reconhece Sam e a mim, ele se acalma e sua expresso
se torna sonhadora. Ele segura meu brao.
Johnny! Eu peguei o filho da puta. Acertei-o em cheio ele murmura.
Pegou quem? pergunto, e no obtenho resposta.
A cabea de Nove j est pendendo para longe de mim. Curei suas leses, mas no
posso evitar sua exausto depois de lutar pelas ltimas vinte quatro horas sem parar.
Ele est inconsciente. Ns provavelmente teremos que carreg-lo. Levanto meu
olhar de Nove para ver Cinco ainda sentado na grama, nos assistindo. Vendo que
Nove est fora de perigo, Cinco comea devagar uma salva de palmas sarcstica.
Bravo, John. Sempre o heri ele diz. E quanto a mim?
E quanto a voc? repito com os dentes cerrados.

No, na verdade, eu gostaria de uma resposta quanto a essa questo tambm


Walker diz, sua arma ainda apontada para Cinco. Ele atacou nossos soldados e
ajudou os mogadorianos. basicamente um criminoso de guerra. Voc quer apenas
deix-lo aqui?
Vocs tm um tipo de priso espacial supersecreta para caras metlicos do mal?
Daniela sussurra para mim.
Para o inferno com ele Sam diz. Ele o nico que entendeu que temos coisas
mais importantes para lidar. Ele acena com desdm para Cinco e se inclina para Nove
tentando ajud-lo. Vamos l, John. Temos que dar o fora daqui.
Estou indo ajudar Sam quando Cinco fala novamente.
isso? ele pergunta, soando quase carrancudo. Vocs vo apenas me deixar
ir?
Eu me endireito e o encaro.
O que diabos voc quer, Cinco? Voc sabe quanto tempo ns j desperdiamos
com seu teatro estpido? gesticulo na direo de Manhattan, plumas de fumaa
ainda subindo para o ar ali. Voc no nossa prioridade agora, cara. Percebeu que
estamos em guerra, n? Voc no esteve to longe para perder seus velhos amigos
mogs matando milhares de pessoas, esteve?
Cinco olha na direo da cidade, contemplando a destruio ali. Seu lbio inferior se
projeta pra fora.
Eles no eram meus amigos ele fala calmamente.
, no mesmo respondo. uma pena que voc s tenha percebido isso
agora. Eles te usaram, Cinco, e agora eles no te querem mais. E nem ns. Voc tem
sorte de eu no ter vindo terminar o que o Nove comeou.
Meu temperamento incendeia quando me lembro de todas as bobagens que Cinco
fez no pouco tempo que o conheo. Como consequncia de minhas palavras, dou um
passo na direo dele. Sam coloca uma mo em meu ombro.

No ele diz. Apenas vamos embora.


Concordo, sabendo que Sam est certo. Ainda tenho algumas jogadas para atirar.
Preciso livr-las do meu peito.
Acho que voc pode ficar sozinho agora digo a Cinco. Isso tipo o que voc
sempre quis, no ? Ento, v, corra de volta para a sua ilha tropical e se esconda, ou
qualquer coisa que queira fazer. Apenas saia do nosso caminho e pare de
desperdiar nosso tempo.
Cinco olha para baixo, para a grama a sua frente.
Voc no tinha que vir ele diz com amargura.
Isso na verdade me faz rir. A insanidade pura desse cara.
Voc nos fez vir aqui. Disse que mataria Nove se no vissemos.
A testa de Cinco faz um clique metlico quando ele bate nela tentando se lembrar de
algo.
No foi o que eu disse para esses perdedores do exrcito quando eles me
acharam. Eu disse a eles que voc ganharia uma nova cicatriz.
Por que voc ainda est falando com ele? Sam pergunta, sua voz se elevando
um pouco desnorteada. Ele se inclina em direo ao corpo de Nove, passa o brao
dele sobre seu ombro e grunhe enquanto tenta levant-lo.
O olho de Cinco captura os meus. Ele est focado em mim, ignorando totalmente os
outros. Sei que ele est me atraindo para alguma coisa, s no sei o que . Sam est
certo sobre no gastarmos tempo aqui, mas no posso evitar.
Do que voc est falando? pergunto a ele de m vontade, sabendo que
exatamente o que ele quer.
Em resposta, Cinco tira a camisa.
Essa simples ao parece tomar muito esforo, como se fosse difcil para Cinco
levantar os braos. A camisa rasga ao prender em alguma coisa quando a puxa pela

cabea e ele uiva. Depois de alguns minutos olhando para seu peito, banhado em
metal como o resto dele, percebo que h algo errado.
Cinco tem uma pea de metal saindo de seu esterno. Parece com um poste de uma
placa de trnsito. Ele se vira de lado fracamente, e ento posso ver a outra
extremidade irregular atravessando suas costas. Cada extremidade termina com
apenas alguns centmetros, ambas torcidas e deformadas como se Cinco as tivesse
encurtado com suas mos. Est atravessando-o totalmente, pelo que vejo, deve ter
atingido um dos pulmes de Cinco e parte de sua espinha. O poste de metal pode at
mesmo estar passando por seu corao.
Eu j estava na minha forma de metal quando ele me atravessou com isso. E
mesmo assim, no o parou Cinco explica, sibilando suas palavras um pouco. Ele
olha para Nove com algo perto de admirao. Meus instintos me tomaram. Usei
minha Externa de uma forma que nunca tinha usado antes, fiz o metal se tornar
parte de mim. Posso sentir o frio dele dentro de mim, Quatro. esquisito.
Cinco parece quase casual sobre isso. Tento me aproximar um passo na direo dele
e ele sorri.
Estou cansado e no posso manter minha Externa para sempre Cinco diz.
Ento eu quis que isso estivesse em suas mos. Voc o cara bom, John. O racional.
E voc sempre esteve logo na minha frente na ordem, me mantendo vivo todos esses
anos, me conhecendo ou no. Ento o que vai ser?
Dou mais um passo cauteloso na direo dele.
Cinco...
Viver ou morrer? Cinco pergunta, e ento, sem aviso, ele desliga sua Externa,
voltando ao estado normal.

Captulo dezessete

CINCO SE ENGASGA QUANDO RESPIRA. UMA BOLHA DE SANGUE CUSPIDA POR SUA
boca. Sua pele, no mais envolta pela camada de ferro, se torna plida rapidamente.
Seu olho remanescente se arregala, e nesse momento, antes que eu veja seu olho
revirar para trs, vejo medo ali. Talvez Cinco tenha pensado que queria isso. Mas
agora, encarando a morte cara a cara, ele est assustado.
Cinco cai de costas na grama, lutando para manter a respirao em dolorosos
suspiros. Dez segundos. Empalado por uma placa de trnsito, essa a quantidade de
tempo que eu diria que Cinco tem de vida.
Ele nos traiu. Ele disse aos mogs onde poderiam nos encontrar, fez a cobertura de
Nove ser explodida. Por causa de Cinco, Setrkus Ra foi capaz de raptar Ella, e o pai
de Sam quase foi morto. Ele assassinou Oito. Com aquela lmina em forma de agulha
que mesmo agora rasga pedaos do cho enquanto Cinco tem espasmos na grama.
Cinco executou um de seu prprio povo. Ele merece isso.
Mas eu no sou como ele. No posso apenas observ-lo morrer.
Maldito seja voc, Cinco eu digo, rangendo os dentes enquanto corro em frente
e deslizo at ele. Pressiono minhas duas mos sob o peito dele e uso meu Legado de
cura, colocando energia suficiente nele para pelo menos estancar alguns dos
sangramentos internos, ganhando tempo para curar os ferimentos mais graves.
Cinco volta um pouco a si, seu olho bom encontra o meu, e acho que peguei o canto
da boca dele revirado em um pequeno sorriso. Ento, ele desmaia novamente de dor
e choque.
Preciso tirar essa estaca para fora dele. Obviamente no li um monte de artigos
mdicos, mas tenho certeza de que se eu remover a placa, piorarei a situao de
Cinco por dentro. No entanto, devo estar cur-lo ao mesmo tempo que o poste de
metal removido, esperando minimizaro dano. Eu arrasto o corpo mole de Cinco e o
sento, apoiando-o em mim. Ento aceno para Sam.

Eu preciso que voc use sua telecinesia para retirar o metal dele digo a Sam
rapidamente. Desse jeito posso me concentrar na cura.
Eu... Sam hesita. Ele olha para Cinco, mortalmente ferido, e engole seco.
Melhor no, John.
O que voc quer dizer com isso?
Quero dizer que no acho que voc deva salv-lo Sam responde, sua voz mais
firme agora. Ele olha sob seus ombros, onde est o corpo inconsciente de Nove.
Nove, h... acho que Nove estava certo da maneira como ele lidou com isso.
Minha mo est na nunca de Cinco. Posso sentir sua pulsao ficando mais lenta. Eu
o estabilizo, mas no vai durar muito. Ele est enfraquecendo. No tenho certeza se
vai funcionar se eu tentar usar minha telecinesia ao mesmo tempo em que uso meu
Legado de cura.
Ele est morrendo, Sam.
Eu sei.
Isso j foi longe demais eu digo. Ns no vamos matar uns aos outros, no
mais. Ajude-me a salv-lo Sam.
No Sam responde balanando sua cabea. Ele muito... olha, eu no vou
impedi-lo. Sei que eu no conseguiria mesmo se tentasse. Mas tambm no vou
ajuda-lo. Eu no vou ajudar a ele.
Que merda! Eu ajudo Daniela diz, empurrando Sam e se ajoelhando no cho
prximo a mim.
Encaro Sam por mais um segundo. Entendo o motivo de ele se recusar a ajudar,
realmente entendo. Tenho certeza que Nove no estaria vibrando com meu auxilio
se ele estivesse consciente. Mas mesmo assim, estou desapontado.
Volto minha ateno para Daniela. Ela est encarando o estado de Cinco, como se
fosse a coisa mais louca que j viu. Ela estica uma das mos na direo onde o metal
desapareceu no peito de Cinco, mas no consegue se convencer de toc-lo.

Por qu? pergunto para ela. Voc no conhece Cinco e o que ele fez. Por que
voc...?
Daniela me corta com um encolher de ombros.
Porque voc pediu. Vamos fazer isso ou no?
Vamos sim concordo, ajeitando minhas mos nos dois lados da ferida de Cinco.
Empurre. Gentilmente. Vou cur-lo enquanto isso.
Daniela estreita os olhos para o pedao de metal, suas mos pairando a alguns
centmetros do peito de Cinco. Eu me pergunto se ela tem controle sobre isso. Se ela
exercer muita fora telecintica, poderia acabar arrancando o poste de metal para
fora de Cinco e eu no sei se conseguiria curar suas entranhas machucadas rpido o
suficiente.
Ns temos que ir devagar e constantemente, ou arriscamos que Cinco sangre at a
morte.
Devagar, Daniela comea a empurrar o metal. A respirao de Cinco acelera quando
ela faz o processo, e ele comea a se torcer, no entanto seus olhos permanecem
fechados. Ela mantm o foco e tem um controle melhor do que imaginei. Pressiono
minhas mos no peito de Cinco, uma de cada lado do ferimento, e deixo minha
energia de cura fluir dentro dele.
Que nojo, que nojo, que nojo Daniela murmura enquanto respira.
Continuo enviando minha energia para dentro de Cinco, sentindo suas leses sendo
emendadas, mas tambm sentindo meu Legado sendo contrariado pelo metal ainda
dentro de seu corpo. Isso at eu ouvir um baque molhado no cho e perceber que
Daniela conseguiu empurrar o poste para fora dele. Assim que isso acontece, eu
amplifico meu poder, curando seu pulmo e sua coluna.
Quando acabo, Cinco respira mais facilmente. Ele ainda est inconsciente, e pela
primeira vez que posso me lembrar, ele parece quase sereno.

Graas a mim ele vai sobreviver. Agora que o momento passou, eu no tenho certeza
de como me sinto sobre isso.
Droga cara Daniela diz. Ns devamos ser cirurgies ou algo assim.
Espero que a gente no se arrependa disso Sam diz em voz baixa.
A gente no vai se arrepender eu digo, olhando para Sam. Eu fiz isso. Ele
minha responsabilidade agora.
Com isso em mente, e considerando que ele ainda est desmaiado, rapidamente
retiro a braadeira com a lmina do antebrao de Cinco e a lano na grama aos ps
de Sam. Ele pega e cuidadosamente examina o mecanismo, e ento aperta o boto
para retrair a lmina. Ele enfia a arma no bolso de trs de seu jeans.
Eu me lembro que mesmo sem sua lmina, Cinco no est totalmente desarmado.
Abro suas duas mos procurando pela bola de borracha e pela esfera de metal que
ele carrega para acionar seu Externa. Ele no as est segurando, ento comeo a
revist-lo. Quando elas no aparecem em seus bolsos, sei que s h um lugar onde
elas possam estar.
Encolhendo-me, retiro a gaze amarela que cobre o olho ruim de Cinco. Encravadas na
cavidade vazia esto a esfera brilhante e sua parceira de borracha. No parece
confortvel ter essas duas coisas dentro da sua cabea. Essa a vida que eu salvei
um cara que v perder um olho como uma oportunidade para mais um
armazenamento eficiente. Uso minha telecinesia para colher as duas esferas da
cavidade do olho de Cinco e coloc-las na grama. Ele geme, mas no acorda.
Isso desagradvel Daniela diz.
No brinca respondo. Olho para a Agente Walker. Ela tem observado toda a
cena em silncio. Sei que ela provavelmente est do lado do Sam e pensa que eu
deveria ter deixado Cinco morrer. por isso que sei que fiz a coisa certa. Me traga
alguma coisa para eu amarr-lo peo para Walker.

Tendo acabado de me ver retirar os tesouros da cavidade do olho de Cinco, demora


um momento para Walker reagir minha solicitao. Ela leva a mo para trs dela,
destrava suas algemas e as joga para mim. Eu as pego e imediatamente lano-as de
volta.
Voc sabe que uma ideia terrvel, certo? Ele se transforma em qualquer coisa
que toque, Walker. Consiga-me uma corda ou algo assim.
Eu sou uma agente do FBI, John. No carrego cordas por a.
Verifique o barco eu digo, balanando minha cabea.
Irritada por eu estar dando ordens a ela em frente dos outros agentes, Walker
manda o Agente Murray checar se h alguma corda na lancha da guarda-costeira.
Voc sensvel, Johnny.
Eu me viro para ver Nove recuperando a conscincia. Ele est se levantando, com seu
antebrao apoiado em seus joelhos, a cabea curvada um pouco como se ainda a
estivesse incomodando. Ele olha de mim para Cinco e de volta, balanando sua
cabea.
Voc sabe o quo difcil foi enfiar esse poste nele? Nove suspira.
Eu caminho e me agacho na frente dele.
Voc est bravo?
Nove d de ombros, parecendo estranhamente zen.
Tanto faz, cara. Eu mato ele de novo depois.
Eu realmente preferiria que voc no fizesse isso.
Nove revira seus olhos.
Claro, claro. Tudo bem, cara. Entendi que voc contra a pena de morte e toda
essa bosta. Pelo menos ele implorou para voc salvar a vida dele? Eu teria gostado
de ver isso.
Ele no implorou eu digo a Nove.
Na verdade, acho que ele queria morrer.

Doente Nove responde.


Eu no quis dar a ele o que ele queria.
Uh-huh. Sei que normalmente ns perdemos quando os caras maus consegue o
que querem, John. Mas, mano, acho que essa tinha sido uma vitria.
Eu discordo.
Nove revira seus olhos, ento olha em direo de Cinco.
Ns nunca poderemos confiar nele. Voc sabe disso, certo?
Eu sei.
E se chegar a esse ponto, no vou hesitar em fazer de novo. Voc no vai
conseguir me impedir.
Voc ainda vai estar com uma concusso observo com um sorriso, desviando o
mau-humor. Gesticulo para seu peito e seus braos, ainda cobertos de arranhes e
queimaduras, e sua mo quebrada. Voc quer que eu termine de curar isso?
Nove assente.
A menos que voc s trabalhe com assassinos agora ele responde.
Enquanto curo Nove, Daniela se aproxima e se apresenta. Ela recebe aquele sorriso
usual do grande idiota. Ns o atualizamos rapidamente com tudo que aconteceu
enquanto ele estava brigando do outro lado da cidade com Cinco. Quando termino,
Nove se vira para olhar para a gua para a cidade em chamas e alm dela.
Ns devamos ter feito mais ele diz em voz baixa, balanando seus braos e
suas pernas, esticando seus msculos. Ns devamos ter pego ele quando tivemos
a chance.
Eu sei respondo. Isso tudo em que tenho pensado.
Ns teremos mais chances Nove diz, e ento bate suas mos e se vira para a
Agente Walker. Ento, voc vai nos levar para o Mxico ou o que, senhora?
Walker levanta uma sobrancelha para Nove. Ento, Agente Murray retorna, com os
braos cheios de cordas grossas que deve ter pego no barco. Ele passa a corda para

as minhas mos e eu amarro o ainda inconsciente Cinco, prendendo seus pulsos e


seus tornozelos o mais forte possvel. Vislumbro suas cicatrizes. To parecida com as
minhas, nos identificando como parte do mesmo povo extinto. Como Cinco chegou a
este ponto? E o que aconteceu depois?
O que ns vamos fazer com ele? Sam pergunta, lendo minha mente.
Priso respondo. Apenas percebendo que isso que eu quero no momento que
eu digo. S porque salvei a vida dele, no significa que no haver justia. Ns
precisamos de uma sala almofadada para ele, onde ele no possa tocar nada
remotamente duro.
Isso pode ser arranjado Walker diz.
Ela faz essa oferta rapidamente. Isso me faz pensar se ela e o governo j prepararam
lugares como esse para ns, prises capazes de nos segurar, nos impedindo de usar
nossos Legados. Talvez isso fosse algo em que o ProMog estivesse trabalhando.
Arranje isso depois de descobrir como nos levar at o Mxico digo para ela.
Ns no vamos mais esperar, Walker.
O que isso significa?
Isso significa que se o presidente ou os generais ou quem diabos estiver no
comando l no nos colocar em um jato nos prximos dez minutos, ns vamos
simplesmente pegar um.
Walker bufa para isso.
Vocs no sabem pilotar um jato.
Aposto que algum vai se voluntariar quando eu comear a esmurrar caras
Nove diz, dando um passo frente para cobrir minha jogada.
Agente Murray retira o rdio de seu cinto e oferece para Walker.
Apenas faa a ligao, Karen ele suspira.
Walker d um olhar gelado para Murray e pega seu prprio telefone via satlite e
caminha alguns passos para longe de ns. Apesar de nossa histria, estou convencido

de que Walker realmente quer nos ajudar. o resto do governo que no est
convencido que de ns somos uma boa aposta para vencer esta guerra. Ela est
fazendo tudo o que pode com relao a isso. Porm, nossa janela para ser de alguma
ajuda para Seis, Sarah e os outros est ficando cada vez mais fechada. No posso
mais ficar aqui esperando que essas pessoas nos ajudem com a nossa luta.
Ns vamos salv-los, eles queiram ou no. Isso tudo.
Vocs no vo realmente atacar o exrcito agora, vo? Daniela pergunta,
mantendo sua voz baixa para que os agentes no possam ouvir.
Droga, eu mal consigo me levantar Nove responde em voz baixa.
Ainda assim, ns precisamos chegar l Sam diz, e eu sei que ele est pensando
em Seis tanto quanto estou pensando em Sarah. Se ela no nos ajudar, o que ns
vamos fazer?
Nove olha para mim.
Voc realmente vai continuar com isso, no vai?
Sim. Se eles no nos ajudarem, ns os obrigaremos.
Daniela assobia pelos dentes.
Isso intenso, cara.
Olho para Walker. Ela est mantendo sua voz baixa, mas est fazendo vrios gestos
empticos com as mos.
Ela sabe o que est em jogo. Walker vai proceder com isso.
Enquanto digo isso, pego meu telefone via satlite. Eu deveria ligar para Sarah e Seis,
ver onde elas esto e garantir que elas no vo tentar lidar com Setrkus Ra
sozinhas.
Antes que eu aperte o boto de discar, h um som estranho e alto vindo da gua.
Ns todos viramos em direo bem a tempo de ver um grande cilindro voar para fora
do rio. O cilindro voa alto no ar, jatos de gua sendo atirados enquanto gira em
direo das docas prximas. A coisa grande grande o suficiente que, quando

aterrissa, com um rangido de metal amassando, tijolos explodem com o impacto.


Vejo o capito de nossa lancha mergulhando na gua para evitar os destroos
voando.
Este o submarino que ns vimos no porto mais cedo.
O qu... como isso possvel? Sam exclama.
Alguma coisa jogou o submarino para fora da gua.
Ns corremos em direo s docas para buscar por sobreviventes, no entanto, no
parece nada bom. A metade de trs do submarino est amassada como uma lata de
alumnio esmagada e h trincheiras irregulares arranhadas no lado dos painis. Ns
podemos ver atravs das paredes enquanto nos aproximamos ele definitivamente
est inundado. Fios soltos dos sistemas eltricos fritos cospem fascas quando nos
aproximamos.
Cuidado eu digo. No se aproximem muito.
O que diabos poderia ter feito isso? Nove pergunta, suas mos abraadas em
seus joelhos enquanto ele respira.
Como que em resposta, o capito do nosso barco grita. Em um minuto ele est de p
na gua, esperando que lhe digamos que est tudo limpo, e no prximo h uma
sombra negra crescendo abaixo dele. Ele sugado sob as ondas com um grito agudo
e engolido inteiramente pela besta que sobe lentamente das profundezas do rio
Hudson.
Ns todos damos um passo para trs, um depois outro. Dois dos agentes correm na
direo oposta, horrorizados pelo tamanho da criatura diante de ns. A gua flui
para fora da pele do monstro, que translcida a ponto de podermos ver o sangue
preto sendo bombeado entre suas veias fortemente marcadas. Ele no tem pelos,
no tem pescoo e corcunda. Presas curvadas se projetam a partir de sua
mandbula inferior e torna impossvel para a coisa fechar completamente a boca. Um
fluxo constante de baba amarelada derramado. Brnquias do tamanho de hlices

de helicptero tm espasmos enquanto o monstro tem o seu primeiro sopro de ar.


Ele est de quatro, as patas traseiras inclinadas, as dianteiras mais parecendo braos
grossos de gorila, e quase to alto quanto a Esttua da Liberdade.
A atitude de garota durona deixa Daniela rapidamente. Ela grita e Nove tem que
tapar sua boca com a suas mos. Eu no a culpo. O monstro terrvel, e lutei com
muitas criaturas dos mogadorianas antes.
Droga Sam sussurra. uma droga de tarrasque.
Minha cabea se vira para Sam, desacreditando.
Voc j viu um desses antes?
No, eu... eu... ele gagueja. um monstro de um jogo.
Nerd Nove murmura.
Daniela tira as mos de Nove de sua boca, recompondo-se o suficiente para me
encarar.
Voc no me disse que eles tinham uma... uma droga de mogassauro!!
Deve ter sido isso que Setrkus Ra jogou na gua quando a Anubis foi embora nessa
manh. Um ltimo presente para a dizimada cidade de Nova York. Um lembrete para
a presena militar de quem realmente est no comando. Acendo meu Lmen em
minhas mos. Terei que gerar muito fogo se quiser fazer alguma marca nessa besta.
Eu sei que voc consegue ver essa coisa! Walker grita em seu telefone,
provavelmente estourando o tmpano daquele que estava tendo uma conversa
silenciosa com ela minutos atrs. Suporte areo! Tragam-me a porcaria de um
suporte areo!
O mogassauro inclina sua cara plana em direo do cu. As membranas viscosas que
considero serem narinas comeam a se contorcer. Ento ele abre seus olhos, cada
um branco e leitoso, dispostos em um padro de diamante na testa ampla da besta.
difcil distinguir a esta distncia, mas eu poderia jurar que vi um vislumbre de azul

cobalto dentro deles. No centro de cada olho, onde a pupila estaria, posso
definitivamente ver uma onda de energia azulada queimando na criatura.
A cor, a energia. Isso me lembra dos pingentes. Poderia isso ser resultado do que
Setrkus Ra fazia quando eu o avistei dentro da Anubis? Mas o que isso significa?
Alm de ser to grande quanto um prdio, o que esse monstro pode fazer que os
outros que enfrentamos no? Os pingentes roubados esto dando mais energia para
ele de alguma forma? Ou esto fazendo algo totalmente diferente?
Ainda de p ao largo da costa, o mogassauro balana sua cabea e olha diretamente
para ns.
Merda Nove diz, dando um passo para trs. Ele est vindo na nossa direo?
Agora! Walker grita no telefone, recuando tambm. uma porcaria de um
gigante!
Acho que ele pode nos sentir eu digo. Penso que Setrkus Ra deixou isto
aqui para nos caar.
Tudo bem Daniela responde. Eu tenho que ir.
Como em resposta, o mogassauro solta um rugido em nossa direo, pulverizando
nvoa do rio com seu hlito de peixe podre em cima de ns.
Ento, ele levanta um dos braos dianteiros para fora da lama do rio e o deixa cair
nas docas. Vigas de madeira explodem em estilhaos e as passarelas de concreto se
afundam, dois dos barcos so empurrados debaixo d'gua como brinquedos.
Est vindo para c.
Lano uma bola de fogo no mogassauro. Rapidamente, percebo que pequena
demais para fazer qualquer dano. A bola de fogo chia e deixa uma marca de
queimadura na pele do monstro, mas ele nem percebe.
Corram! eu grito. Espalhem-se! Usem a esttua como cobertura.

Nove, Daniela, Walker e Murray, todos correm de volta na direo da grama e da


esttua. Mas Sam fica parado no lugar, mesmo quando o mogassauro d outro passo
estrondoso em nossa direo.
Sam! Vamos l! eu grito, agarrando-o pelo brao.
John? Voc sente isso?
Fico olhando para Sam. Seus olhos esto diferentes, preenchidos com uma
crepitante energia. Eles parecem quase como duas TVs fora de sintonia, exceto que a
luz dos olhos de Sam brilhantemente azul.
Sam? Que diab...?
Antes que eu consiga terminar minha pergunta, Sam tem espasmos e desmaia. Dou
um jeito de peg-lo, e tento arrast-lo para trs.
Daniela e Nove veem isso acontecer e param no meio do caminho.
Johnny, o que h de errado com ele? Nove grita.
Pegue-o e corra! Daniela adiciona.
Bum! Outra exploso atrs de ns. O mogassauro tirou todos seus membros para
fora da gua, praticamente esmagando a doca inteira abaixo dele. O submarino est
preso como um espinho na palma da sua pata da frente, e a besta
temporariamente distrada, se balanando para solt-lo. Eu no sei o h de errado
com Sam, mas no acho que o animal gigantesco atrs de ns seja a causa. Sua
aflio algo totalmente diferente.
Ele desmaiou! grito para nove. Ele...
Sou cortado quando Daniela e Nove comeam a ter espasmos, seus olhos se
enchendo com a mesma luz azul. Eles caem no cho ao mesmo tempo, em colapso,
um em cima do outro.
No!
Ento acontece comigo.
Um tentculo de uma vvida luz azul sobe do cho na minha frente.

Por alguma razo, no estou com medo. quase como se eu reconhecesse esta
estranha formao de energia. Posso sentir que ela corre por dentro da terra, e
tambm posso sentir que, se a Agente Walker ou o mogassauro ou algum sem
Legados olhar para onde estou olhando agora, eles no veriam nada, alm do espao
vazio. Isto s para mim.
Essa minha conexo. Minha conexo com Lorien.
Mais rpido do que meus olhos podem acompanhar, o tentculo de luz se atrela
minha testa. Agora, tenho certeza que meus olhos esto mostrando energia eltrica
azul como os outros fizeram antes de desmaiar.
Sinto isso acontecer. Eu estou deixando meu corpo.
Eu reconheo essa sensao. exatamente igual quando Ella me coloca em suas
vises.
Ella? chamo, no entanto tenho certeza de que essas palavras no saram de
minha boca. Tenho certeza de que meu corpo ainda est nas docas, no to longe do
maior monstro que j vi em toda minha vida.
Oi John, Ella responde dentro de minha cabea. Quando ela responde, posso ouvi-la
dizer outras palavras tambm, como se ela estivesse mantendo cem conversas ao
mesmo tempo.
Eu no penso em perguntar como isso aconteceu. Era para Ella estar a milhares de
quilmetros de distncia com Setrkus Ra ou, esperanosamente, no processo de ser
resgatada por Seis. Ela no assim to poderosa. Seus poderes no funcionam desta
maneira. Mas eu no penso em nada disso. Estou mais focado em meu corpo fsico,
sem mencionar Nove, Sam e Daniela. Qualquer coisa que Ella esteja fazendo
conosco, ela no poderia ter escolhido um momento pior.
O que diabos est acontecendo? Voc vai acabar nos matando!
A qualquer momento, espero escutar a triturao dos meus ossos quando o
mogassauro pisar em mim. Isso no acontece. Em vez disso, formas comeam a se

formar na frente dos meus olhos obscuros, formas indistintas, como um projetor de
filme que est fora de foco.
No se preocupe, diz Ella, e novamente h aquele eco de outras vozes. S vai levar
um segundo.

Captulo dezoito
H QUANTO TEMPO ESTOU NOCAUTEADA? NO PODE FAZER MAIS
DE DOIS minutos at eu ser acordada por alfinetadas geladas ao longo da
lateral do meu rosto. Marina, usando seu Legado de cura em mim.
Minha cabea est em seu colo. Recebo uma estranha sensao em meu
cabelo quando o couro cabeludo de l cresce novamente, o corte que ganhei
graas pedra rapidamente sendo curado.
Marina tem a outra mo sobre minha boca, e acho que para o caso de eu
acordar gritando. Arregalo meus olhos para ela para mostrar-lhe que estou de
volta e ela retira sua mo. Seu rosto est coberto com poeira chamuscada
vindas do templo recm-explodido. H lgrimas escorrendo atravs das
bochechas de Marina.
Ele o destruiu, Seis ela sussurra. Ele destruiu tudo.
Eu me sento para avaliar nossa situao. Ainda estamos na extremidade da
floresta, escondidos atrs do tronco cado da rvore, agora com um monte de
pedaos desalojados de calcrio. H lacunas entre as rvores acima de ns,
feitas pelos pedaos destrudos de pedra do Santurio. Por sorte, ningum
mais parece estar ferido, ou Marina j terminou de cur-los.
Marina fica perto de mim enquanto eu me arrasto para frente em direo aos
outros. Mark e Adam esto de bruos, lado a lado, exatamente direita do
cachorro cado. Eles esto com seus canhes apontados e usam um bloco de
calcrio para cobertura. Percebo que h manchas de sangue seco na camisa
de Mark e me lembro que ele retirou um pedao de estilhao do seu peito
logo antes de eu ser nocauteada.
Toco seu brao.
Voc est bem?
Ele lana um olhar de agradecimento Marina.
Estou bem. Embora eu realmente no queira criar o hbito de fazer aquilo.
E voc?

Idem.
Sarah est direita de BK, espiando por trs dele. Phiri Dun-Ra foi arrastada
para perto dela. Ela no foi atingida por nenhum dos destroos que caram
em nossa rea, o que realmente parece injusto. A mogadoriana ainda est
inconsciente ou, mais provavelmente, se fingindo de morta. Tenho certeza de
conferir suas amarras antes de deslizar para perto de Sarah. Ela me olha
imvel, com um olhar furtivo. Me lembra muito a expresso de coragem de
John, para falar a verdade. Aquela onde ele est se borrando, mas quer
continuar a lutar de qualquer jeito.
O que ns vamos fazer, Seis? Sarah pergunta.
Ficar distncia de um brao de mim para o caso de precisarmos ficar
invisveis novamente eu digo, no apenas para Sarah, mas para todos.
Ainda temos um plano.
Mark bufa com isso, e suas mos tremem um pouco sobre o cano da arma. O
detonador dos nossos explosivos jaz no cho prximo a ele.
No h mais Santurio para protegermos Marina diz desoladamente.
Ns ainda podemos pegar a Anubis respondo. E ainda temos que
resgatar Ella.
Cara, eu no vejo droga nenhuma daqui de trs Mark adiciona.
Eu me torno invisvel para poder espiar por trs da nossa cobertura sem
correr o risco de ser vista. Tenho uma viso melhor do campo do que Mark e
Adam podem ver l atrs. A poeira levantada pelo ataque da Anubis ainda
est se estabilizando na clareira, entre isso e o pr-do-sol, a rea inteira est
embaada num tom dourado.
Trs pequenas nuvens de fumaa escura ondulam pelo ar vindas dos
Skimmers-bombas que foram explodidos quando a Anubis descarregou sua
fria. Entretanto, embora alguns deles estejam virados de ponta cabea e
outros arremessados para longe, ainda vejo vrios de nossos Skimmers
prontos para serem explodidos.

Ento talvez sejamos capazes de salvar uma de nossas armadilhas contra os


mogadorianos. Mas o buraco em que nos empenhamos tanto para cavar j
era. Ou, mais exatamente, se transformou em um buraco maior ainda.
O terreno onde o Santurio se ergueu por sculos agora uma cratera
fumegante. Tem mais ou menos sessenta metros de profundidade, com
pedaos insistentes de pedra ainda enraizados no cho, e apenas agora os
pequenos incndios causados pelo tiro do canho da Anubis esto
desaparecendo na terra chamuscada. Aquele campo de fora estava
posicionado to precisamente que algo como isso nunca iria acontecer. Ns
conseguimos entrar no Santurio e esse o resultado.
Destruio total.
A menos que...
Ainda invisvel, subo no tronco quebrado para que eu possa ver a cratera de
um ngulo melhor. Sarah hesita pelo barulho que fao e aponta seu canho
em minha direo.
Relaxa, sou eu sussurro rapidamente. Estou tentando ter uma viso
melhor de alguma coisa.
O que voc v? Marina pergunta.
Vejo um brilho azul-dourado emanar bem do centro da cratera. Vejo a
superfcie das pedras do poo onde ns jogamos nossas heranas, o lugar de
onde a Entidade surgiu.
Deso do tronco e me torno visvel novamente. Quero que Marina veja a
esperana no meu rosto, porque ela bem real.
O poo ainda est l eu digo a ela. Ele no o explodiu, ou quem sabe
no conseguiu. A Entidade est bem.
Srio? Marina responde, passando suas mos pelo rosto.
Srio. Ainda temos um deus extraterrestre para proteger.
Essa coisa deveria estar nos protegendo Mark resmunga.

E se, por acaso, ele no estivesse tentando explodi-lo? Sarah pergunta.


Se o objetivo dele, afinal, fosse tipo, capturar a Entidade? E se ele tivesse
que tirar o templo do caminho para isso?
Merda eu digo, porque essa teoria faz muito sentido.
Eles esto descendo Adam sibila.
A Anubis lentamente se move para baixo. Mesmo com o templo destrudo, a
nave de guerra massiva ainda grande demais para pousar na clareira.
Mesmo assim, a nave de guerra flutua at ficar bem acima do centro da
cratera.
Engrenagens rangem quando duas extensas portas de metal se estendem
para fora, com portas duplas se abrindo nos topos. De l, vrios
mogadorianos comeam a sair da nave. Eles parecem ser os soldados
comuns nascidos artificialmente, todos vestidos em uma armadura preta e
carregando armas.
Os mogs deixam a nave com uma velocidade eficiente e comeam a
assegurar a rea. Estamos em desvantagem numrica de pelo menos dez
para um, e no vai demorar muito at que eles descubram nossa posio ou
encontrem as bombas que anexamos aos Skimmers.
Temos que atacar agora! sussurro para os outros. Eu me movo e
alcano Adam. Vamos ficar invisveis e cerc-los. Vocs detonam as
bombas para distra-los. Marina, ainda h alguma arma que montamos em
posio?
Marina estreita os olhos em concentrao, ento assente.
Algumas. Eu vou faz-las funcionar.
Mark deixa de lado seu canho e pega o detonador, armando os explosivos.
Trs quartos das luzes no acendem, indicando que ns perdemos essas
bombas durante o ataque da Anubis.
Armadas Mark diz.

Lembrem-se, se a coisa ficar feia, corram para a nave de Lexa eu os


recordo.
Adam, saindo de trs do tronco quebrado, estala seus dedos para chamar
nossa ateno.
L ele diz, sombriamente. L esto os dois.
Setrkus Ra entra no campo de viso, no topo da rampa. Ele est to
intimidante quanto eu me lembro quase quatro metros de altura, plido, com
aquela cicatriz roxa e grossa no pescoo que visvel mesmo a esta
distncia.

Est

vestido

em

algum

tipo

de

armadura

mogadoriana

extravagante, feita com a mesma liga obsidiana de seus soldados, com


exceo de dois acessrios pontudos que ele anexou armadura na parte
dos ombros, que prendem uma longa capa de couro que se arrasta pelo cho
enquanto ele caminha. Cada parte dele parece fazer jus ao vilo
intergalctico que , e ele parece estar saboreando isso.
Ele est de mos dadas com Ella, seus pequenos dedos entrelaados
gentilmente pelos dedos blindados dele. Marina suspira quando a v.
Eu no tenho certeza se a reconheceria se ela no estivesse gritando em
minha cabea h apenas alguns minutos. Ela parece menor e mais magra,
como se a vida tivesse sido sugada para fora dela. No, isso no est nada
certo. Percebo que ela no parece necessariamente doente.
Ela parece mogadoriana.
Os olhos de Ella esto vazios e sua cabea pende, fazendo com que seu
queixo encoste em seu peito. Ela no parece nem mesmo ciente do que est
acontecendo ao seu redor. Seus movimentos so robticos e atordoados. Ela
segue Setrkus Ra atravs da rampa com total submisso.
Os mogs que esto vasculhando a rea param de fazer o que esto fazendo
para observar seu ditador e sua herdeira descerem da Anubis, todos eles
fazendo uma saudao com a mo no peito.

Setrkus Ra para na metade do caminho. Ele olha para a mata ao redor,


procurando por ns.
Eu sei que vocs esto a! Setrkus Ra grita, sua voz se espalhando
atravs da mata. Estou orgulhoso! Quero que vocs vejam o que vai
acontecer agora! Setrkus Ra berra sobre o ombro, em direo Anubis.
Abaixem-no!
Em resposta a seu comando, um alapo se abre na parte de baixo da nave
de guerra. Lentamente, uma larga pea telescpica sai da Anubis. como
um cano com escoras de apoio e andaimes construdos em torno dele. As
laterais do tubo esto cobertas com circuitos complicados e medidores. H
mais do que apenas tecnologia mogadoriana no dispositivo de Setrkus Ra,
que desce lentamente.
Gravado nas laterais metlicas entre todos os componentes eletrnicos, h
gravuras estranhas que me fazem lembrar dos smbolos marcados em
nossos tornozelos. Porm, no posso ter cem por cento de certeza sobre
isso, mas parece que essas gravuras foram feitas em loralite. O que quer que
este dispositivo seja, parece ser mais um hbrido lrico-mogadoriano como
Setrkus Ra.
Eu no gosto da aparncia daquilo murmuro.
Nem eu Sarah responde.
Ns deveramos explodi-la Mark sugere.
Qualquer que seja a inteno dele com aquele aparelho, ns no podemos
permitir Marina concorda.
Tudo bem. Ento vamos destruir o brinquedo dele, resgatar Ella e ento ou
pegar a Anubis ou voltar para Lexa eu digo.
Voc faz com que parea to fcil Adam observa.
Mesmo no podendo nos ver, Setrkus Ra ainda est fazendo seu discurso
retrico.

Por sculos, trabalhei para atrelar o poder de Lorien, para utiliz-lo de


maneiras mais eficientes do que da inteno da natureza. Agora, finalmente...
Bl, bl, bl. Rapidamente, meo a distncia entre Ella e o Skimmer-bomba
ativado mais prximo. Bem longe. No acho que ela estar dentro do raio da
exploso. Enquanto Setrkus Ra continua, olho para os outros.
Eu j ouvi o suficiente. E quanto a vocs?
Todos assentem. Eles esto prontos.
Fiquem abaixados falo, relembrando de como Mark foi atingido
facilmente h alguns minutos.
Todos se protegem. agora.
Ative eu digo para Mark.
Com os dedos voando sobre o controle, Mark aperta os botes detonadores.
Como presumido, alguns dos Skimmers que ligamos aos explosivos foram
desconectados quando a Anubis bombardeou o Santurio. E tambm, outros
haviam sido explodidos com o impacto. Ento no tivemos a exploso gigante
que teramos se todos os nossos Skimmers-bombas tivessem sido explodidos
ao mesmo tempo, como planejado ordinariamente.
Mas ainda assim loucamente eficiente.
Os mogs esto ocupados demais prestando ateno respeitosamente ao
ltimo discurso pomposo estpido de Setrkus Ra para perceber o que est
acontecendo. Cinco Skimmers espalhados ao redor da cratera explodem em
nuvens brancas de fogo. Posso sentir o calor daqui e tenho que proteger
meus olhos. Pelo menos trinta mogs so desintegrados imediatamente, seus
corpos completamente engolidos pelas chamas. Mais deles morrem quando
as partes dos Skimmers comeam a voar para todas as direes. Observo
um soldado ser cortado ao meio quando uma parte do para-brisa de uma das
naves o atravessa verticalmente e outro sendo esmagado por uma coluna em
chamas.

A melhor parte o pnico. Os mogs no sabem o que os atingiu, ento


comeam a atirar em direo s naves explodidas, incertos de onde a
verdadeira ameaa est se escondendo. Pelo menos mais alguns morrem
com tiros vindos dos outros soldados. E ento Marina e eu usamos nossa
telecinesia para ativar alguns dos canhes que escondemos na selva,
confundindo os mogs ainda mais.
Uma roda retorcida atinge a rampa bem frente de Setrkus Ra e Ella.
Talvez tenha sido uma atitude um pouco imprudente explodir aquelas naves
acho que Setrkus Ra teve que parar aquela roda com sua telecinesia para
que ela no os acertasse. Porm, bom saber que ele no quer v-la
machucada tanto quanto ns.
Eu sorrio. Setrkus Ra realmente parece surpreso com o nosso contraataque.
Seu discurso arruinado, o lder mogadoriano rapidamente anda at o fim da
rampa, arrastando Ella com ele.
Encontrem-nos! ele grita enquanto comea a descer pelas bordas
inclinadas da cratera, em direo ao poo. Matem-nos!
Vamos agora! grito, no muito alto para no entregar nossa posio
graas aos sons explosivos vindos dos Skimmers recm-explodidos, mas o
suficiente para que todos os meus aliados ouam.
Agora a hora de agir ou morrer.
Agarro a mo de Adam e nos tornamos invisveis. Eu lidero, nos levando
fazendo um arco largo ao redor dos mogs que eventualmente nos levar para
perto da cratera e do aparelho de Setrkus Ra. Marina continua com a
distrao, usando as armas escondidas em diferentes localidades para
manter os mogs confusos. Memorizei os locais onde escondemos as armas,
ento sou capaz de evitar o tiro cruzado. Pelo menos, consigo evitar por mais
ou menos vinte metros. Ento, o azar me atinge. Um dos mogs, de costas

para as exploses dos Skimmers, tropea em nossa direo, atirando


descontroladamente. Mergulho para desviar dos tiros, e Adam tambm.
Mas fazemos isso em direes opostas.
Simplesmente assim, Adam aparece novamente no mundo visvel.
Merda ele diz, pegando seu prprio canho e atingindo o mog mais
prximo.
Ali! grita um dos outros soldados.
Suficiente para o estilo-guerrilha.
Vendo Adam em perigo, Bernie Kosar o primeiro a se atirar na batalha.
Em um segundo ele um tucano, voando inocentemente em direo ao
grupo mais prximo de mogs, e em um piscar de olhos ele se transforma em
um leo enorme, cortando e abrindo caminho em meio aos inimigos.
Muito dos mogadorianos ainda esto confusos com a exploso e no
perceberam Adam ainda, ento Bernie Kosar acaba facilmente com eles.
Ele est mais rpido e mais feroz do que da ltima vez que o vi lutar, com
mais raiva, talvez, e me lembro de que ele quase morreu em Chicago.
Sempre que um dos mogs consegue t-lo na mira, BK se transforma em um
animal menor como um inseto ou um pssaro fazendo-se ser um alvo
impossvel. Ento, quando ele est em uma posio favorvel para matar,
Bernie Kosar se transforma de volta na sua forma de predador. As transies
so perfeitas, quase lindo.
Nosso Chimra de estimao ficou realmente muito bom em matar
mogadorianos. E ns tambm.
Um par de mogs esquerda consegue se reunir o suficiente para atingir
Adam. Eles so rapidamente desintegrados por um tiro vindo de nosso grupo.
Esses devem ser Sarah e Mark, e eles no param de atirar mesmo depois
desses dois primeiros virarem cinzas. H muitos soldados na terra deserta do
que costumava ser nossa pista de pouso. Tudo agora um espao vazio e
sem cobertura. Vejo Sarah matar rapidamente dois soldados com sucesso.

Marina sai correndo da floresta em direo a Adam, e ento eles se juntam


briga. Alguns dos mogs esto tentando se recompor e se reagrupar, mas
outros os veem chegando. Eles se agrupam e miram.
Rapidamente o ar se enche com sons de tiros vindos de todas as direes. A
mdia de mais ou menos vinte pra um.
Nada mau.
Adam lidera, saltando para frente com grandes passos, cada pisada no cho
emanando ondas ssmicas que ondulam sob os ps dos mogadorianos.
Quando o cho treme, fica quase impossvel para os mogs manterem uma
mira certa. Alguns deles acabam se trombando com outros, tiros
ziguezagueando em todas as direes. Uma onda ssmica em particular
resulta em um barulho alto quando o cho se divide em dois, com meia dzia
de mogs caindo dentro da nova cratera.
Acho que conseguimos nosso buraco, afinal de contas.
Marina est mais devagar, porm igualmente mortal. Ela segue em direo
dos mogadorianos com ambas mos abertas para os lados em forma de
concha. Esferas afiadas de gelo se formam em sua mo, e quando eles
crescem at o tamanho de uma bola de baseball, Marina os lana com sua
telecinesia em direo aos mogs. Gritando e perdendo o equilbrio graas
uma das ondas ssmicas de Adam, um dos mogs segue na direo de Marina
com um punhal.
Ela mal olha para ele enquanto levanta suas mos em um gesto de pare,
congelando-o no rapidamente. Ela abre caminho entre os mogs, cortando-os
com gelo, seguindo na direo da cratera e de Setrkus Ra.
Do outro lado do campo de batalha, Setrkus Ra conseguiu chegar no fundo
da cratera e no poo lrico. Ella est de p ao lado, indiferente e parecendo
um zumbi, sua cabea pendendo de um lado para o outro. Ela observa
enquanto Setrkus Ra manuseia o instrumento sinistro que est atracado

Anubis. Ele posiciona o cilindro para que fique a apenas alguns metros acima
do poo.
Ento, Setrkus d alguns passos para trs e levanta suas mos como um
maestro, manuseando telepaticamente os botes complicados e mostradores
embutidos nos lados do tubo. Com um zumbido, consigo ouvir daqui que a
coisa est comeando a ganhar vida. Isso no pode ser bom.
Ns temos que impedi-lo! Marina grita.
Eu sei que suas palavras so intencionadas para mim, mas no respondo.
Ainda invisvel, no quero entregar minha posio. Eu queria poder usar meu
Legado do clima e lanar um raio em Setrkus Ra.
A Anubis est encobrindo muito o cu. Ao invs disso, eu pego um canho
mogadoriano abandonado.
Ultimamente, passei bastante tempo movendo grupos de pessoas invisveis
atravs de selvas que quase me esqueci de como libertador estar sozinha e
invisvel. Livre e mortal. Deslizo facilmente pelos mogadorianos. quase
como uma dana, com exceo de que eles no sabem que somos parceiros.
Enquanto sigo, levanto meu canho invisvel e puxo o gatilho, atirando de
perto, apenas nas cabeas. Tudo isso enquanto me aproximo da cratera e de
Setrkus Ra. A nica coisa que me expe o brilho de luz que o canho faz,
e isso geralmente rapidamente ocultado pelas exploses de cinzas
mogadorianas.
Matei mais de dez mogs em alguns segundos. Paro por um momento e olho
para trs, para ter certeza de que Sarah e Mark esto seguros na floresta.
Com certeza, eles ainda esto atirando. Bernie Kosar tambm se mantm
assim, impedindo que qualquer mog se aproxime dos humanos. Percebo que
BK deve estar sob ordens estritas do John para manter Sarah em segurana.
Isso bom.

Os mogs j esto comeando a se dissipar. Alguns, de fato, esto retornando


para a Anubis, enquanto outros formaram um grupo ao redor da cratera para
proteger o Adorado Lder deles.
Setrkus Ra no parece estar to preocupado com isso. Ele est
completamente focado enquanto opera aquela mquina.
Enquanto luto pelo meu caminho at a cratera, o tubo comea a emitir um
chiado. Posso sentir a atmosfera ao nosso redor mudar pedras aleatrias
comeam a levitar do cho, e sinto rapidamente a fora da gravidade me
puxando na direo da cratera. Completamente ligado, o aparelho de
Setrkus Ra est comeando a sugar tudo nos arredores.
Vejo Ella, ainda parada indiferente na cratera, telepaticamente em silncio,
seu cabelo sendo puxado na direo do cilindro. O prprio poo comea a
tremer, seus tijolos sendo levitados e iados em direo da mquina de
suco antes de serem repelidos por um campo de fora que provavelmente
similar ao que protege a Anubis. O aparelho de Setrkus Ra no est
interessado nos detritos do cho; ele est os filtrando, criando um mini
tornado de sujeira e pedra.
E ento acontece. Com um grito ululante como centenas de chaleiras de ch
explodindo, a luz azul cobalto da energia lrica explode do cho e sugada
pelo cilindro. Toda a rea iluminada pelo brilho azul que at faz com que
alguns dos mogs olhem com dvida ao redor. No natural a forma com que
a energia ondula ao sair do cho, primeiramente de forma selvagem e
incontrolvel, mas rapidamente pega e canalizada pelo o que percebo ser
um oleoduto, que transfere a energia lrica para dentro da Anubis. Achei o
brilho da Entidade confortante e sereno l no Santurio, mas agora o ar
estala com a eletricidade, as luzes irritam meus olhos e o barulho...
como se a prpria energia estivesse gritando. Ela est sofrendo.
Sim! Sim! Setrkus Ra grita de alegria, como um cientista louco, suas
mos erguidas em direo do seu aparelho de suco.

Marina enlouquece. Ela perde a noo do cuidado quando se joga na direo


da cratera. Duas estalactites grossas e afiadas se manifestam sobre suas
mos como duas espadas, e ela as usa para empalar trs mogadorianos que
estavam em seu caminho, danando entre aqueles que estavam protegendo
a cratera. Ento, ela desliza para dentro do buraco, na direo de Setrkus
Ra e Ella. Ela vai querer mat-lo sozinha.
Eu fiz isso uma vez no deu muito certo.
Corro para alcan-la. H outros mogs ao redor da borda da cratera ao lado
daqueles que Marina acabou de desintegrar e todos eles a tem como alvo.
Ela est distrada, se tornando um alvo fcil. Mas para mim, ainda invisvel,
so os mogs que se tornaram alvos fceis.
Corro atrs deles em um arco ao redor da borda da cratera, desintegrando
cada um deles o mais rpido que posso. Antes que eu possa mat-lo, um
deles consegue desviar do tiro que acaba acertando uma das pernas de
Marina. Acho que ela nem percebeu.
De fato, Marina nem percebe Setrkus Ra. Ou no se importa. Ela ataca o
oleoduto diretamente, bombardeando-o com bolas pontiagudas de gelo.
Enquanto essas so engolidas pelo minitornado de detritos ou refletidas pelo
campo de fora da mquina, Marina segue em frente. Ela vai acabar
quebrando a coisa com as prprias mos se for preciso.
Setrkus Ra a agarra pelo pescoo. Ele se move mais rpido do que qualquer
criatura do tamanho dele tem direito. Enquanto corro para dentro da cratera,
ainda invisvel, Setrkus Ra levanta Marina pelo pescoo, fazendo com que
seus ps fiquem fora do cho. Ela tenta chut-lo, mas ele a mantm numa
distncia segura.
Ol, garotinha Setrkus Ra diz, seu tom de voz feliz e vitorioso. Veio
assistir ao espetculo?
Marina cerra os punhos. Ela obviamente no pode respirar. Eu no sei se vou
conseguir chegar a tempo.

Detrs dele, uma onda de rochas e sujeira acerta Setrkus Ra nas


panturrilhas. Ele est surpreso e acaba soltando Marina enquanto cai para
frente e instintivamente se apoia com as mos. Marina consegue rolar para
longe enquanto as pernas de Setrkus Ra so enterradas por uma rocha. Ella
balana para frente, como se suas prprias pernas tivessem sido atingidas,
mas ela no chora e sua expresso vazia no muda.
Foi Adam quem fez o salvamento, derrapando pelo caminho em direo
cratera do lado oposto ao meu. H marcas de tiros em seus ombros e um
longo corte na lateral do seu rosto onde algum mog o cortou com um punhal,
mas ele ainda parece pronto para lutar.
Acabo chegando no fundo da cratera prximo Ella. quando acontece
pop bem assim, e estou visvel novamente, no por minha escolha.
Setrkus Ra deve estar usando sua habilidade de cancelar Legados
temporariamente. Marina est de joelhos a alguns metros dele, segurando
sua garganta e tossindo. Enquanto isso, o lder mogadoriano est tendo um
pssimo momento enquanto tenta se desalojar da pedra.
Pelo menos Adam conseguiu enterr-lo at os joelhos antes de nossos
Legados serem anulados.
Aproveito a oportunidade para agarrar Ella pelos ombros. Bem de perto, ela
est mais distante do que eu esperava. Suas bochechas esto ocas, seu
rosto magro, e h teias de veias escuras correndo por baixo de sua pele. Seu
olhar distante e ela no reage quando eu a chacoalho. O brilho da energia
lrica ainda sendo sugada pelo oleoduto est refletida em seus olhos. Ela
est olhando fixamente para l.
Ella! Vamos! Vamos tirar voc daqui!
No h reao visvel, mas sua voz finalmente retorna minha cabea.
Seis. lindo, no ?
Ela est perdida. Droga terei que arrast-la daqui como havamos
planejado.

Seis! Marina grita, sua voz rouca. Temos que desligar aquela coisa!
Eu olho para a mquina, e ento para a Anubis. No h o que dizer sobre o
que Setrkus Ra far com a energia lrica que ele est capturando, mas
obviamente no pode ser nada bom. Eu me pergunto se ele ser capaz de
cancelar nossos legados permanentemente se sugar energia o suficiente da
Entidade.
Voc sabe como par-la? pergunto para Ella, novamente recebendo
nada de seu rosto inexpressivo.
Essa resposta demora um momento. Sim.
Como?! Nos diga como!
Ela no responde.
Com um bufo de indignao, Setrkus Ra puxa uma das pernas para fora da
priso de pedra. Assim que ele o faz, Adam o alcana. Privado de seu legado
assim como ns, o jovem mogadoriano agarra a espada de seu pai. A espada
grande demais para ele e suas mos tremem quando ele a segura. Mesmo
assim, ele pe a ponta da espada no pescoo de Setrkus Ra.
Pare Adam comanda. Seu tempo acabou, velhote. Desligue sua
mquina ou eu vou mat-lo.
A expresso de Setrkus Ra no muda, mesmo tendo uma espada apontada
contra aquela cicatriz roxa dele. Ele ri.
Adamus Sutekh ele exclama. Eu estava esperando uma chance para
nos conhecermos.
Feche a matraca Adam alerta. Faa o que mandei.
Desligar a mquina? Setrkus Ra sorri. Ele consegue ficar em p.
Adam tem que se esticar para manter a espada pressionada contra o
pescoo dele. Mas a minha maior realizao. Eu alcancei a prpria
Lorien e agora ela est sob meu comando. No mais teremos que acolher a
arbitrariedade do destino. Ns podemos forjar nossos prprios Legados.
Voc, dentre todas as pessoas, deveria apreciar isso.

Pare de tagarelar.
Voc no deveria me ameaar, garotinho. Deveria estar me agradecendo
Setrkus Ra continua, limpando a poeira de suas pernas. Esse Legado
que voc usou com tanta preciso foi-lhe dado graas aos resultados da
minha pesquisa, entende? A mquina que o Dr. Anu plugou em voc foi
alimentada com loralite pura, o que havia sobrado daquelas que eu minei de
Lorien h tanto tempo. Com o corpo de uma Garde que carregava a fasca
necessria de Lorien, bem... a transferncia se tornou possvel. Voc o
resultado glorioso da minha pesquisa, Adamus Sutekh. Do meu controle
sobre Lorien. E hoje, voc pode me ajudar a pavimentar um caminho para
outros iguais a voc.
No Adam diz, sua voz quase inaudvel sobre o rugir da energia sendo
sugada para dentro da Anubis.
No o qu? Setrkus Ra pergunta. O que voc achou, garoto? Que
seus Legados vieram de outro lugar? Que essa mente oca da natureza havia
lhe escolhido? Foi cincia, Adamus. Cincia, eu e seu pai. Ns o escolhemos.
Meu pai est morto! Adam grita, pressionando com mais fora a espada
contra o pescoo de Setrkus Ra.
Perto de mim, Ella tosse. Uma bolha de sangue surge em sua garganta.
Adam, tenha cuidado! eu grito, dando um passo na direo dele.
Marina est de p tambm, olhando incerta do oleoduto para os dois
mogadorianos. Eles nos ignoram.
Hmm Setrkus Ra responde. Eu no havia ouvido...
Eu o matei Adam continua, gritando. Com essa espada! Da mesma
forma que vou matar voc!
Por um momento, Setrkus Ra parece ter sido genuinamente pego de
surpresa. Ento, ele levanta uma das mos e arranca a espada da mo de
Adam.

Voc sabe o que vai acontecer se tentar Setrkus Ra diz, e em


demonstrao, aperta com fora a espada. Eu viro e vejo o corpo de Ella se
inclinar de dor enquanto um longo corte se abre atravs de sua palma,
sangue respingando na terra. Ela d alguns passos para frente, em direo
ao poo, se segurando.
Eu no me importo. Durante toda minha vida, fui treinado para mat-los
Adam diz dentre os dentes.
E voc nunca pde faz-lo, no ? Setrkus retruca, rindo do blefe de
Adam. Eu li os relatrios de seu pai, garoto. Conheo tudo sobre voc.
Ainda segurando a espada em uma as mos, Setrkus Ra se aproxima de
Adam, ficando mais alto que o jovem mogadoriano. O corpo todo de Adam
treme, mas no sei se de medo ou raiva. Eu me aproximo deles, embora no
saiba o que fazer. Atrs de mim, ouo Ella arrastando os ps. Em seu estado
de transe, ela tropeou at o poo lrico e o pilar de energia.
Ella! eu sussurro. Fique parada!
Eu nunca quis matar para voc porque nunca acreditei nas suas
paranoias! Adam resmunga. Mas se fazer isso significa acabar com
voc os olhos de Adam seguem em direo Ella. Ento percebo seu
olhar est confirmando. Ele no est blefando, no mais. Eu posso viver
com isso ele diz, friamente. Posso viver com isso se voc morrer
tambm.
Tudo acontece muito rpido. Adam empurra a lmina contra a mo de
Setrkus Ra, a borda no causando danos na palma, e a ponta apontada
para o pescoo. Setrkus Ra parece surpreso, mas ele reage rpido ele
rpido, mais do que Adam esperava. Setrkus Ra se abaixa para a esquerda,
a lmina deslizando em seu pescoo, porm sem fazer dano algum. Pelo
menos no nele.
Viro minha cabea para ver um corte se formar na lateral do pescoo de Ella.
Sangue comea a escorrer pelos seus ombros, mas ela no expressa reao.

De fato, ela nem parece ter percebido. Ela est totalmente focada na energia
corrente, seus pequenos ps na ponta dos dedos.
Antes que Adam possa estabilizar a espada para dar outro golpe, Setrkus
Ra esmurra seu punho no rosto dele. Ele est vestindo luvas de metal e
posso ouvir os ossos do rosto de Adam quebrarem com o impacto. Ele
derruba a espada e cambaleia para trs. Setrkus est prestes a atingi-lo
novamente quando Marina entra na briga e o tira do caminho.
Quando ambos esto no cho, tenho a chance de dar um passo frente e me
por entre eles e Setrkus Ra. Enquanto me aproximo, Setrkus pega a
espada de Adam, girando-a em um arco lento ao seu lado.
Ele sorri para mim.
Ol, Seis ele diz, e corta o ar sua frente com a espada. Est pronta
para que isso tudo acabe?
Eu no respondo. Conversar apenas d vantagem ele, deixando-o entrar
em nosso psicolgico. Ao invs disso, grito sobre meu ombro para Marina.
Recue! eu digo. V longe o suficiente para poder cur-lo.
Pelo canto do olho, posso ver Marina arrastando Adam. Ele est
inconsciente, e no tenho nem certeza se Marina quer cur-lo depois do que
ele acabou de dizer. Ela definitivamente no quer me deixar para trs, ou
recuar enquanto a mquina de Setrkus Ra ainda est sugando a energia.
V! Eu cuido disso! insisto, olhando para Setrkus Ra, me
movimentando. Eu apenas tenho que atras-lo, ficar viva at... at o qu? At
quando vamos continuar com isso?
Ella estava certa. Ficar aqui significa morte.
O sorriso de Setrkus Ra no desaparece. Ele sabe que estamos
encurralados. Ele investe contra mim, atacando com a espada. Dou um pulo
para trs e sinto a ponta da espada passar bem em frente ao meu abdmen.
O cho pedregoso abaixo de mim treme e eu quase perco o equilbrio.

Atrs de mim, Marina conseguiu arrastar Adam at onde a cratera comea a


subir. Ela para l e comea a gritar.
Ella! Que diabos...?
Ambos, Setrkus Ra e eu, nos viramos em direo ao poo, onde Ella subiu
na borda. Ela est a apenas alguns centmetros da onda de energia lrica.
Seu cabelo voa em todas as direes, quase como uma aurola. Fascas
eltricas aparecem ao redor dela, e o sangue escuro de suas veias se torna
uma sombra roxa na luz azul vivida. A pele de seu rosto e de suas mos
comeam a ondular como se ela estivesse em um tnel de vento, e pequenos
detritos a atingem. Ela ignora tudo isso.
Imediatamente, Setrkus Ra se esquece de mim. Ele d um largo passo em
direo Ella.
Desa da! ele grita. O que voc...?
Ella se vira em nossa direo, seus olhos em Setrkus Ra. Eles no esto
mais dispersos. Por um breve momento, posso ver a velha Ella ali. A
garotinha tmida que conheci na Espanha e que se tornou uma lutadora
corajosa. Sua voz baixa, porm de alguma forma amplificada pela energia
que flui atrs dela.
Voc no vai vencer, av ela diz. Adeus.
E ento Ella cai para trs dentro da energia lrica.
Setrkus Ra grita e corre para frente, mas ele est atrasado. H quase um
flash de luz que nos cega. O corpo de Ella, basicamente uma silhueta do meu
ponto de vista, flutua no meio do ar, pega entre o poo lrico e a mquina de
Setrkus Ra. Por um momento, seu corpo se contorce, arqueando
dolorosamente. Ento, uma nova onda energia surge do poo, o que
demais para a mquina de Setrkus Ra suportar. Os circuitos nas laterais
explodem em chuvas de fascas e a loralite derrete em um mar de exploses
brancas e quentes. Enquanto isso, o corpo de Ella parece desintegrar ainda

posso v-lo l, pego pela energia, mas tambm posso ver atravs dele, como
se cada partcula do corpo dela tivesse se separado.
Um momento depois, o corpo de Ella cuspido para fora da energia.
Ela jogada como uma boneca de pano para a lateral da cratera. Ento, o
brilho da energia lrica se dissipa e se retrai para baixo da terra, enquanto o
oleoduto de Setrkus Ra emana um craque metlico e desmorona, com
pedaos retorcidos de metal enterrando o poo lrico.
Setrkus Ra encara sua mquina destruda em descrena. a primeira vez
que vejo o velho bastardo totalmente perdido.
Marina se move imediatamente. Ela deixa o corpo de Adam para trs e
mergulha em direo Ella. Seus Legados ainda no esto funcionando,
ento quando Marina pressiona suas mos contra o corpo de Ella, sei que
nada vai acontecer. tarde demais, de qualquer forma.
Eu no preciso ver as lgrimas escorrendo atravs do rosto da Marina para
compreender. Ella est morta.
Setrkus Ra encara o corpo da neta, uma expresso desolada em seu rosto.
Enquanto ele faz isso, pego a maior rocha que consigo encontrar.
E ento a jogo, atingindo a parte de trs da cabea de Setrkus Ra.
Um corte se abre. Ele sangra. O feitio mogadoriano foi quebrado.
Meu ataque o traz de volta realidade. Ele ruge, se vira para me encarar e
levanta sua enorme espada sobre sua cabea.
Ele est prestes a desc-la em minha direo quando seus olhos
normalmente cavidades pretas e vazias se enchem com o brilho azul da
energia lrica. A espada cai de suas mos e Setrkus Ra, o lder dos
mogadorianos, assassino do meu povo, destruidor de mundos desmaia aos
meus ps.
Estou paralisada. Eu me viro para procurar por Marina, mas encontro-a
desmaiada tambm. Que diabos est acontecendo?

Ella. O brilho da energia Lrica emana dela. Est sendo cuspido de seus
olhos, boca, orelhas de todos os lados, da mesma forma quando a Entidade
reanimou o corpo de Oito.
A partir de um de seus dedos, um raio de energia Lrica lanado em minha
direo. Me acerta bem no meio da testa. Eu caio de joelhos, me sentindo
inconsciente. Eu olho para Ella... ou que quer que ela seja agora.
H outras exploses de energia saindo de seu corpo, como se fossem
estrelas cadentes, saindo da cratera e indo... para onde? Eu no sei. Eu no
sei o que est acontecendo com ela, com a Entidade ou com ambas.
S sei que minha chance.
No agora! eu grito, lutando contra o sono gentil que a energia lrica
est tentando me forar a aceitar. Ella! Lorien! Parem! eu digo. Eu...
eu posso mat-lo!
Mas ento eu desmaio. Sou arrastada para o mesmo sono artificial para o
qual foram Setrkus Ra e Marina.
O que eu vejo a seguir, o que todos ns vemos, onde tudo comeou.

Captulo dezenove
ENTO ASSIM ESTAR MORTA.
Flutuo sobre meu corpo e mal me reconheo. Meu av ele comeou a me
transformar em um monstro, assim como ele. A garota quebrada l embaixo
est to plida e sem vida, que mal consigo acreditar que sou eu. Ou que
eraeu. Marina pe suas mos sobre meu corpo, tentando me trazer de voltar,
mesmo sabendo que seus Legados foram desativados. triste v-la distrada
assim.
Eu no quero voltar para aquele corpo. um alvio estar fora dele.
No h mais a dor, e pela primeira vez em dias eu posso realmente pensar.

Na verdade, meio estranho que eu possa pensar considerando que agora


eu estou, voc sabe... morta. Acho que a vida aps a morte assim.
Abaixo de mim, os outros Marina, Seis e Setrkus Ra todos se movem em
cmera lenta. Posso ver muita coisa. Cada partcula do templo destrudo que
ainda flutua no ar visvel para mim. As gotas de suor na nuca do meu av
tambm so visveis para mim. A energia lrica pulsante est dentro de todos
eles, at mesmo de Setrkus Ra, e isso tambm visvel para mim.
Como eu posso ver tudo isso?
Eu apenas queria quebrar o domnio que Setrkus Ra tinha sobre mim,
destruir seu feitio mogadoriano nojento para que ele no pudesse mais me
manter como refm. Eu queria ajudar meus amigos.
Alguma coisa me disse que a melhor forma de fazer isso era me jogar dentro
daquele redemoinho de energia. Eu sabia que iria morrer e estava quase bem
com isso. Estou feliz de no ser apenas escurido e vermes. Qualquer que
seja o prximo estgio, espero que no seja ver as pessoas que amo lutarem
at a morte em cmera lenta.
Ella.
A voz vem de todos os lugares ao meu redor. No apenas uma, mas vrias
vozes. Milhares delas. Ainda assim, desse coro eu consigo reconhecer
algumas. Crayton. Adelina. Oito. Eles esto me chamando.
Voc tem trabalho para fazer.
Eu caio em direo ao cho e meu corpo. Por um momento, estou cheia de
pnico. Eu voltarei para dentro do meu velho corpo mais uma vez, para ser a
marionete do meu av? Mas ento, de repente, um sentimento de calma cai
sobre mim, como se eu tivesse sido enrolada em uma toalha aquecida. Nada
pode me machucar, no agora.
Eu deveria me chocar contra o cho. Ao invs disso, continuo caindo. Eu
passo atravs dos detritos e das pedras, e logo estou submersa em total
escurido. No parece mais que estou caindo. Sinto como se estivesse

flutuando no espao sem gravidade, sem peso, apenas uma levitao


pacifica sem fim. Perco a noo de qual direo para cima, qual para
baixo, ou qual leva at meus amigos, meu corpo. Mas isso no parece
importante agora. Eu deveria estar enlouquecendo. Mas de algum jeito, sei
que estou segura.
Lentamente, a luz comea a brilhar ao meu redor. Milhares de pontos azuis
brilhantes flutuam ao meu redor, como a poeira flutua atravs dos raios de
sol. como a energia lrica na qual mergulhei.
As partculas se expandem e se contraem, me lembrando de pulmes.
Algumas vezes elas se misturam em formas vagas, ento rapidamente se
rompem.
De alguma forma, tenho a sensao de que estou sendo observada.
H uma rede de energia abaixo de mim e eu no sinto mais como se
estivesse flutuando ou caindo. mais como se eu estivesse sendo segurada,
envolta por duas mos gigantes. Eu me sinto relaxada e confortvel, como se
pudesse descansar aqui para sempre. to diferente dos ltimos dias
infernais pelos quais passei, onde exercer o mnimo da minha vontade me
causava dores pelo corpo todo. Parte de mim quer desligar minha mente e
deixar o que quer que seja que esteja acontecendo e me esticar aqui. Mas
outra parte de mim sabe que meus amigos ainda esto lutando no mundo
horrvel em que vivem. Eu tenho que tentar ajudar.
Ol? eu chamo, testando minha fala.
Ouo minha voz, embora no parea que eu tenha uma boca, pulmes ou
sequer um corpo. como a sensao de quando estou tendo uma conversa
teleptica, como se de alguma forma alguns dos meus pensamentos estejam
mais altos do que os outros e esses so os que eu projeto para as outras
pessoas.
Ol, Ella, uma voz responde. As bolhas de energia flutuando na minha frente
pulsam em sincronia com a voz. Estranhamente, eu me sinto completamente

confortvel por ter uma conversa com um bando de bolhas flutuantes de


non.
Estou morta? pergunto. Isso tipo, o paraso ou coisa assim?
Sinto ccegas agradveis onde minha pele deveria estar. Acho que assim
que se sente quando essa coisa ri.
No, isto aqui no o cu, criana. E sua morte apenas uma condio
temporria. Quando a hora chegar, vou restaur-la para sua forma fsica.
Oh eu pauso. E se eu no quiser voltar?
Voc vai querer.
No tenha tanta certeza, camarada, eu penso, mas no digo.
Ento... onde estamos? O que isso?
Voc abandonou seu corpo e usou seus dons telepticos para se abrigar em
minha mente. Voc misturou sua conscincia com a minha. Ao menos sabia
que era capaz de fazer isso, criana?
Hm... no.
Eu no achei que saberia. Foi uma coisa perigosa de se fazer, jovem Ella.
Minha mente vasta e se estende atravs de todos os lugares e por todo o
tempo desde que eu existo. Estou bloqueando voc desse conhecimento,
para que no a sobrecarregue.
Acho que por isso que eu me sinto to aconchegada nessa total escurido,
sem corpo e envolta pela energia lrica. Porque a Entidade Lrica est
tomando conta de mim.
Obrigado por isso respondo.
De nada.
Me ocorre que eu provavelmente deveria estar perguntando algumas coisas
importantes. No todo dia que voc acaba dividindo sua mente com uma
energia como essa.
O que exatamente voc, afinal de contas?
Eu sou eu. Eu sou a fonte.

Uh-huh. Mas como eu deveria cham-la?


H uma pequena pausa antes da voz me responder. Os pontos de energia
nunca param de esvoaar na minha frente.
Eu tenho sido chamada de muitas coisas. Uma vez, eu fui Lorien. Agora, sou
a Terra. Seus amigos me chamaram de Entidade.
Ento era isso que estava escondido dentro do Santurio, era o que Setrkus
Ra queria. Marina e os outros devem ter conversado com ela antes do seu
esconderijo ter explodido pelos ares. Embora, a Entidade... isso soe to
formal, aliengena e frio. No esse o sentimento que estou sentindo agora.
Eu vou cham-la de Legado decido.
Como desejar, criana.
Legado parece to calma. Foi apenas h alguns minutos que a Anubisestava
sugando-a do cho atravs daquela engenhoca mecnica gigante.
Meu av machucou voc quando ele a puxou da Terra? pergunto.
Ele no pode me machucar, mas pode apenas me modificar. Uma vez
modificada, eu no serei mais eu, e ento a experincia da dor no ir
pertencer mim.
Ok respondo, sem entender nada. Voc est, tipo, presa abordo da
Anubis agora?
Apenas uma pequena parte de mim, criana. Eu existo em vrios lugares.
Seu av tentou me capturar antes, mas eu sou maior do que ele pensa.
Venha. Vou lhe mostrar.
Antes que eu possa perguntar, ir aonde? uma onda da energia lrica me
varre para longe. No estou mais flutuando na escurido pacifica. Ao invs
disso, estou dentro da prpria Terra. como uma daquelas imagens onde
voc pode ver as diferentes camadas da crosta terrestre as placas
tectnicas, os ossos dos dinossauros, lava derretida quente perto do ncleo
do planeta. Eu posso visualizar tudo isso. Sinto-me minscula em
comparao a tudo.

Correndo atravs de cada camada da Terra, ligada ao prprio ncleo, h


agora veias brilhantes de loralite. A energia fraca em alguns pontos, forte
em outros, mas no h lugar no planeta que no esteja perto do seu gentil
brilho.
Nossa eu digo. Voc realmente se fez sentir em casa.
Sim, Legado responde. Isso no tudo.
Ns subimos. Mais uma vez, o campo de batalha aprece abaixo de mim.
Meus amigos e Setrkus Ra ainda esto se movendo como se estivessem
presos em melao. Seis est no processo de levantar uma rocha, com a
esperana de acertar meu av com ela.
No peito de Seis, bem perto de seu corao, h uma brasa da energia lrica.
Marina e Adam tambm a possuem. At Setrkus Ra tem uma fagulha de
Lorien dentro dele, embora a dele parea estar parcialmente envolta de
algum tipo de substncia preta. Ele se corrompeu de formas que no consigo
entender.
O pensamento faz com que eu olhe em direo Anubis. H, situada na
barriga da nave, um latejante fulgor de loralite. No nada comparado ao que
acabei de ver no subsolo, mas ainda assim...
O que ele vai fazer com aquilo? pergunto a Legado. Quero dizer,
com voc?
Eu vou lhe mostrar. Primeiro, voc precisa juntar os outros. Decidi que todos
eles devem ver o motivo de sua luta...
Que outros?
Todos eles. Eu a ajudarei.
Sem avisar, minha mente comea a se esticar. como se eu estivesse
usando minha telepatia, tateando por mentes familiares, com exceo de que
meu poder foi aumentado. Na verdade no parece to bom, como se meu
crebro estivesse sendo puxado em todas as direes por um magnetismo
muito forte.

O que... o que voc est fazendo?


Estou aumentando suas habilidades, criana. Pode ser um pouco
desconfortvel no comeo. Peo desculpas.
O que devo fazer?
Junte todos aqueles que eu marquei.
Pode ser loucura, mas na verdade eu sei o que isso significa.
Quando uso minha telepatia, posso realmente sentir todas as pessoas que
foram tocadas por Legado na Terra. Eu miro em direo ao ncleo azul
pulsante em Marina, pego-o com minha mo teleptica e a puxo. como
quando eu era capaz de levar John para dentro das minhas vises, com
exceo de que agora muito mais fcil. Vou na direo de Adam tambm,
trazendo-os para o aconchego da conscincia de Legado. Ento, eu hesito.
E ele? eu pergunto, olhando para meu av.
At ele. Devem ser todos.
Me sentindo um pouco enjoada por ter que entrar em contato telepaticamente
com aquele crebro retorcido e seu corao lrico estragado, puxo Setrkus
Ra para c. Tento absorver Seis agora, mas sua conscincia luta contra a
minha. Distantemente, estou ciente de seu corpo fsico gritando alguma coisa.
O que ela est dizendo? pergunto a Legado.
Ela no compreende ainda que eu no interfiro, Legado fala. Todos vo ver,
ou ningum ver. Nenhuma vantagem ser admitida.
Eu no sei o que Legado quer dizer e no tenho tempo para pensar nisso
porque logo que a conscincia de Seis abre caminho para a minha, ns
estamos nos espalhando mais alm.
O mundo inteiro se abre diante de mim. Centenas de pequenos pontos de
loralite so mostrados nos continentes. Esses so os novos Gardes, os
humanos que recentemente desenvolveram poderes. Legado os quer
tambm. Eu os alcano com minha mente, capturando-os um por um.

Um garoto em Londres que encara uma nave de guerra mogadoriana com


suas mos se abrindo e fechando enquanto ele tenta decidir o que fazer. O
asfalto da rua se quebra e se rompe a cada movimento, pego pela telecinesia
descontrolada do garoto.
Uma garota no Japo que h apenas alguns dias estava confinada uma
cadeira de rodas. Agora, ela se encontra andando atravs do pequeno
apartamento de seus pais numa velocidade que no achava ser possvel.
Um garoto numa vila remota da Nigria, onde eles no foram atingidos de
verdade pela invaso ainda. Seus pais esto chorando enquanto ele flutua
sobre eles, emanando um brilho anglico.
Capturo todos com minha mente. Onde quer que Legado esteja nos levando,
eles esto vindo.
Alguns deles esto assustados. Ok, muitos deles esto assustados. Seus
Legados foram uma coisa, mas agora isso uma repentina experincia
teleptica? Eu entendo que isso um pouco demais. Eu falo com eles. Os
conforto. Sinto que minha mente est forte o suficiente para que eu consiga
manter mltiplas conversas de uma vez enquanto ainda estou recolhendo as
pessoas com meu voo teleptico.
Eu lhes asseguro que ficaro bem. Que isso como um sonho.
Eu no digo a eles que no tenho ideia do que estou fazendo.
Ento chego Nova York. Pego Sam primeiro, mais porque estou to
animada por ele ter sido contemplado com Legados, e s quero lhe dar um
abrao. O Cinco ferrado, o Nove maravilhoso em que tambm quero muito
dar um abrao, uma garota nova todos eles so acolhidos pelo meu abrao
teleptico. E ento pego John. Tive mais experincias usando minha telepatia
nele do que em qualquer outro; deveria ser fcil. Mas como Seis, ele luta
contra mim. John quer lutar. Ou, bem, ele no quer ser pisoteado. Eu no
posso dizer que o culpo.
Aquilo ir nocaute-lo? eu pergunto. Ele vai, tipo, ser devorado?

No. Tudo isso vai passar num piscar de olhos.


No se preocupe, John eu digo triunfantemente. S vai levar um
segundo.
Puxo a conscincia de John tambm. Pronto. Toda a Garde da Terra. Todos
os seus batimentos lricos pulsando, puxados para minha vasta conscincia.
Ento, agora o que acontece? pergunto a Legado.
Observe.

Captulo vinte
ESTOU EM OUTRO LUGAR. UM LUGAR QUE AO MESMO TEMPO
ESTRANHO E familiar para mim. Flutuo pelo ar, capaz de ver toda a cena
que acontece ao meu redor, mas incapaz de agir. Posso sentir as centenas
de mentes que esto juntas comigo.
Isso o que Legado quer nos mostrar.
uma noite quente de vero. Duas luas brancas vvidas pairam no cu
escuro sem nuvens, uma no norte e uma no sul. Isso significa que um
momento especial para meu povo. Duas semanas do ano as luas esto
desse jeito, e durante essas duas semanas os lorienos celebrariam. onde
estamos. Lorien.
Eu sei disso porque Legado sabe disso. O que no sei quo distante
voltamos no tempo.
Estamos numa praia, a areia tingida de laranja oscilando pela luz de uma
dzia de fogueiras. H pessoas por toda parte, comendo e sorrindo, bebendo
e danando. Uma banda toca msica como nada que eu tenha ouvido na
Terra antes. Meu olhar paira em uma jovem garota com uma juba ruiva
encaracolado enquanto ela dana no ritmo da msica, suas mos acima da
cabea, sem se importar com o mundo ao redor. Seu vestido reflete a luz e se
distorce, pego ocasionalmente pela brisa quente do oceano.
Na praia, um pouco distante da festa, dois garotos adolescentes esto
sentados na areia, num intervalo da festa. Um alto para sua idade, com
escuros cabelos curtos e traos fortes. O outro, menor porm mais bonito do
que o primeiro, tem cabelo loiro sujo e desgrenhado e um queixo quadrado. O
loiro est vestido com uma camisa branca folgada para fora das calas e
casual. Seu amigo est vestido mais formalmente, com uma camisa vermelha
escura, passada e perfeita, as mangas meticulosamente enroladas para cima.
Ambos, mas o maior em particular, parecem superinteressados na garota que
est danando.

Voc deveria ir l o loiro diz, cutucando seu amigo. Ela gosta de


voc. Todo mundo sabe.
O garoto de cabelos escuros franze a testa, passando uma mo sobre a
areia.
E da? Por que eu faria isso?
Uh, porque voc a est olhando danar? Posso pensar em vrios motivos,
cara.
Ela no Garde. Ela no como ns. No seramos capazes... o
garoto de cabelos escuros balana a cabea, melancolicamente. Nossos
mundos so muito diferentes.
Ela no parece se importar por no ser Garde o garoto loiro retruca.
Ela est se divertindo de qualquer forma. Voc o nico que est impedindo
isso.
Por que ns temos Legados enquanto ela no tem? No parece justo, que
alguns devam ficar presos sendo to... normais o garoto de cabelos
escuros se vira para seu amigo, com um olhar srio em seu rosto. Voc j
pensou sobre isso?
Em resposta, o garoto loiro abre a palma de sua mo. Nela, uma pequena
bola de fogo ganha vida e rapidamente toma a forma de uma garota
danando.
No ele responde, sorrindo.
O garoto de cabelos escuros se concentra por um momento e ento a
pequena danarina de fogo explode, deixando de existir. O garoto loiro ergue
as sobrancelhas.
Pare ele reclama. Voc sabe que eu odeio quando voc faz isso.
O garoto de cabelos escuros sorri se desculpando com seu amigo e traz de
volta os Legados dele.
Legado estpido ele diz, balanando a cabea. Qual a vantagem de
algo que funciona apenas contra outros Gardes?

O garoto loiro gesticula em direo da danarina.


V? Voc perfeito para Celwe. Ela no tem nenhum Legado, e voc tem
o mais ridculo deles.
O outro ri e d um soco levemente no ombro de seu amigo.
Voc sempre diz as coisas certas.
Isso verdade o loiro responde, sorrindo. Voc poderia aprender
muito comigo.
Eu no tenho olhos da forma tradicional aqui, mas a viso parecer piscar. Em
um segundo, os garotos sentados na praia aparecem na forma dos homens
que iro se tornar. O garoto loiro lindo, atltico, com olhos bonitos e eu
no estou prestando nem um pouco de ateno nele. Ao invs disso, minha
ateno se volta bruta forma que est sentada ao lado dele, mortalmente
plida, com uma cicatriz nojenta em torno do pescoo.
Setrkus Ra.
Essa cena deve ter acontecido centenas de anos atrs. Talvez milhares.
antes de Setrkus Ra ter se juntado aos mogadorianos, antes dele se tornar
um monstro.
Um segundo depois, e eles so jovens novamente. O garoto loiro d um
tapinha nas costas do jovem Setrkus Ra enquanto eles continuam a
observar a garota que dana. Estou chocada com a normalidade de sua
aparncia, um garoto jovem sentado numa praia, olhando melancolicamente
para a garota que ele gosta.
Onde tudo isso deu errado?
A viso desmancha, juntando-se sem problemas outra.
Meu av e seu amigo esto em um grande salo abobado, um mapa de
Lorien estampado em loralite brilhante atravs do teto. Eles no so mais
garotos, esto mais para jovens adultos. Quanto anos mais tarde estamos?
Podem ser dcadas, pela forma que contamos os anos em Lorien. Se fossem
humanos, acho que eles estariam com mais ou menos vinte anos, mas quem

sabe como isso se traduziria para a idade lrica. Eles esto parados em
frente a uma enorme mesa redonda que cresce diretamente do cho, como
se fosse feita a partir de uma rvore que ningum se importou em cortar.
Cravada no centro da mesa h o smbolo lrico para unidade.
Eu sei disso porque Legado sabe.
Ao redor da mesa h dez poltronas, todas elas ocupadas com srios olhares
lricos, com exceo de duas, que esto vazias.
Cadeiras como as de um grande teatro cercam a mesa redonda por toda a
circunferncia. Est lotado hoje, todas as fileiras em sua capacidade mxima,
Gardes apertados de cotovelo a cotovelo. Isso, percebo, a cmara dos
Ancios. onde os Ancios se juntam na presena da Garde para tomar
grandes decises. A cena toda me lembra das reunies do senado que vi na
Terra, com exceo da loralite brilhante. Atualmente, todos os olhares esto
sobre o Ancio magro com longos cabelos brancos e olhos gentis. Apesar
dos cabelos brancos, ele no parece mais velho que meu av. Mas o seu
jeito projeta uma aura de superioridade.
Ele Loridas. um Aeternus, como eu, o que significa que ele pode parecer
muito mais jovem do que realmente . Todo mundo ouve respeitavelmente
quando ele comea a falar.
Estamos reunidos aqui hoje em honra aos nossos cados Loridas diz,
sua voz se espalhando pela cmara inteira. Nossa ltima tentativa de
melhorar nossa relao diplomtica com os mogadorianos foi rejeitada.
Violentamente. Parece que os mogadorianos apenas aceitaram nossa
delegao em seu planeta para que pudessem assassin-los. Durante a
batalha, nossos Gardes foram capazes de paralisar suas capacidades
interestelares, o que ir mant-los confinados em seu planeta por algum
tempo. Ns ainda acreditamos que h aqueles dentre os mogadorianos que
valorizam a paz sobre a guerra, mas a sociedade deles deve chegar a essa
concluso sozinha. Ns, Ancios, vimos que futuros envolvimentos com

Mogadore sero prejudiciais para ambas espcies. Portanto, todo e qualquer


contato com Mogadore est proibido at nova ordem.
Loridas pausa por um momento. Ele olha para as duas cadeiras vazias ao
redor da mesa e uma expresso muda as linhas de seu rosto.
De repente ele parece muito, muito mais velho.
Ns perdemos muitos irmos e irms durante esta ltima batalha, incluindo
dois Ancios Loridas continua. Seus nomes, que h muito tempo foram
escolhidos para se tornarem Ancios, eram Zaniff e Banshevus. Eles
serviram este conselho com lealdade por muitas dcadas, pastoreando nosso
povo atravs dos tempos de guerra e dos tempos de paz. Vamos refletir
sobre eles nos prximos dias. Entretanto, as cadeiras de Setrkus Ra e do
nosso lder, Pittacus Lore, no devem permanecer vazias. Ns seguimos em
frente, como os lorienos sempre fazem, e sabemos que no sofremos apenas
perdas em Mogadore. Tambm fizemos heris. Deem um passo frente,
vocs dois.
Quando Loridas comanda, meu av e seu amigo do um passo frente, em
direo mesa. O garoto loiro se permite um sorriso e assente para todas as
pessoas amontoadas na cmara. Por outro lado, meu av, alto e magro como
ser centenas de anos depois, parece dificilmente estar ciente do que est
acontecendo. Ele parece assustado.
As aes rpidas de vocs, com seus Legados fortes e poderosos
salvaram muitas vidas em Mogadore Loridas diz. Ns, os Ancios,
temos visto h tempo o potencial de vocs e sabemos bem as grandes coisas
que realizaram para com o nosso povo. Portanto, nesse dia que ns
oferecemos esses dois lugares vazios e damos boas-vindas a vocs como
Ancios Lricos, para servirem e protegerem Lorien, seu povo e a paz. Vocs
aceitam esses postos sagrados e juram colocar as necessidades de seu povo
acima de quaisquer outras?
O homem loiro assente com a cabea, conhecendo sua parte na cerimnia.

Eu aceito ele fala.


Meu av, perdido em seus pensamentos, no diz nada. Depois de um
momento de um estranho silncio, seu amigo o cutuca.
Sim Setrkus Ra diz, assentindo tambm. Eu aceito.
Anos depois, o homem loiro corre pelo corredor de uma casa modesta. Cacos
de vidro se desmancham em baixo de seus ps. O lugar est uma baguna.
Mesas esto viradas, fotos emolduradas foram derrubados das paredes,
vasos de vidros estilhaados em milhes de pedaos.
Celwe? ele grita. Voc est bem?
Aqui uma voz trmula de mulher responde.
Ele corre atravs da porta dupla de bambu para dentro de um quarto
iluminado, a linda praia de antes agora visvel pelas janelas abertas. Esse
quarto est to bagunado quanto o resto da casa. A cama est virada de
cabea para baixo, as prateleiras de livros derrubas e seu contedo
espalhado, e at mesmo as tbuas de madeira do cho esto desiguais.
como se algum tivesse tido um ataque de raiva telecintico aqui.
Olhando pela janela est a mulher de cabelos ruivos encaracolados que h
muitos anos atrs danava pela noite na praia. Celwe.
Abraando a si mesma, ela no se vira quando o homem entra no quarto.
Eu o conheci bem ali fora Celwe diz, gesticulando para a praia. Ele
era to tmido. Sempre no seu prprio mundo. Ainda fico surpresa, algumas
vezes, por ele ter tido coragem de se casar comigo.
O que aconteceu aqui? ele pergunta enquanto se aproxima devagar.
Ns tivemos uma discusso, Pittacus.
Voc e Setrkus?
Celwe bufa e se vira para encar-lo. O amigo de infncia do meu av, o
homem que deve ter se tornado o prximo Pittacus Lore. Seus olhos esto
vermelhos por ter chorado, porm ela parece ilesa.
Ah, no o chame assim. Esse ttulo no trouxe nada alm de problemas.

quem ele agora Pittacus responde seriamente. uma grande


honra.
Ela semicerra os olhos.
Foi difcil o suficiente estar casada com um Garde. Ns costumvamos
conversar sobre ter filhos, sabe. Agora, depois dessa viagem Mogadore,
depois de ele ter se tornado um Ancio... eu mal o vejo. Quando consigo,
tudo o que ele fala envolve aquele projeto, aquela obsesso dele.
Pittacus inclina a cabea.
Que projeto?
Celwe engole seco, talvez percebendo que falou demais. Ela se afasta da
janela e vai em direo cama. Comea a empurrar o estrado de madeira
para longe do colcho para que ela possa desvirar a cama, mas invs disso
pensar melhor, olhando para Pittacus.
Me ajuda, por favor?
Pittacus usa sua telecinesia para desvirar a cama, arrumando o colcho ao
mesmo tempo. Seu olhar nunca se desviou de Celwe.
To fcil para voc ela murmura enquanto se senta na cama recmarrumada.
Pittacus se senta prximo ela.
No que Setrkus est trabalhando?
Ela respira fundo.
uma escavao. Nas montanhas. Eu no deveria... eu no sei
exatamente como explicar. O que ele faz l... ele diz que faz por mim,
Pittacus. Como um presente Celwe diminui o tom de voz. H lgrimas em
seus olhos. Mas eu no quero.
Eu no entendi Pittacus responde.
Voc deveria ver por si mesmo ela diz. No conte... no conte a ele
que eu te disse.

Voc est com medo dele? Pittacus pergunta, sua voz baixa. Ele te
machucou?
Ele no me machucou. Eu s estou assustada pelo o que ele pode se
tornar.
Celwe alcana as mos de Pittacus e as aperta.
Apenas faa com que ele venha para casa, Pittacus. Por favor. Faa-o ver
a razo e traga meu marido de volta para mim.
Eu trarei.
Pittacus segue pelo cu, voando atravs das nuvens. Ele mergulha na
direo de uma cadeia de montanhas e, em seguida, dispara para baixo em
um abismo profundo, como uma verso maior do Grand Canyon. Enquanto
ele desce, paredes em cor de arenito salpicadas de loralite esto por todo
lado, e ento Pittacus nota um conjunto maquinrio complexo e um gerador
macio abaixo dele. Algum tem cavado profundamente, como se o abismo j
no fosse profundo o suficiente.
O olhar de Pittacus muda, como o meu, para a pea do topo da mquina no
centro do permetro da escavao. Vigas retorcidas de ao aumentadas com
circuitos piscantes e smbolos de loralite se parece com uma verso maior e
menos refinada do canalizador que Setrkus Ra desembarcou da Anubis.
Ento isso que Legado quis dizer quando disse que Setrkus Ra j tinha
tentado colet-lo antes. Aqui o incio de tudo, sculos atrs.
O incio do mergulho do meu av na loucura.
Quando Pittacus pousa, um jovem lorieno em um avental de laboratrio vai
at ele para cumpriment-lo. Sua pele estranhamente plida para um
lorieno e ele se move de uma maneira anloga a um rob, como se seus
membros no estivessem mais em sincronia com seu crebro. Pittacus
parece se surpreender pela aparncia do jovem, mas isso no tira seu foco.
Onde est Setrkus? ele pergunta.

Ele est no Libertador o jovem lorieno responde, apontando para o


canalizador. Ele est esperando sua visita, Ancio Lore?
Isso no importa Pittacus responde, e marcha at o ento chamado
Libertador. O lorieno plido sai de seu caminho, porm Pittacus hesita. Ele se
volta para o jovem. O que ele tem feito aqui? O que ele fez com voc?
Eu... o jovem hesita, como se no pudesse falar. Mas ento, ele ergue
as mos, se concentra e levita um punhado de rochas com sua telecinesia.
Parece um tremendo esforo para ele.
Pittacus inclina a cabea, surpreso.
Voc Garde? Por que eu no o conheo?
A que est o garoto responde. Eu no sou Garde. No sou
ningum.
Durante sua fraca demonstrao telecintica, veias escuras comeam a
pulsar na testa do jovem lorieno. Pittacus nota isso e se aproxima para tocar
o rosto do jovem. O jovem recua.
... um trabalho em progresso o garoto plido diz. Eu no tive
minha dose hoje.
Dose Pittacus sussurra sob sua respirao, mas ento anda
propositadamente em direo mquina Libertador.
Ele passa por vrios outros assistentes pelo caminho, todos igualmente com
a pele plida e assustadora. Posso sentir a raiva crescendo dentro dele, ou
talvez seja minha prpria raiva, ou talvez seja ambas.
Estamos testemunhando algo legitimamente corrupto.
O Libertador est ligado. Ele emite o mesmo som agudo de moagem que o
canalizador que Setrkus Ra desembarcou da Anubis. H protuberncias de
loralite despejadas ao redor do permetro de escavao, como se os
assistentes tivessem arrancado essas rochas da terra para chegarem ao que
est abaixo dela. Energia lrica puxada do cho e transferida para dentro
de containers de vidro em forma de plulas enormes. Uma vez nos containers,

a energia processada atingida por ondas de alta frequncia e


misturadas com exploses de gases qumicos em temperatura abaixo de
zero, at que se solidifique de alguma forma. Ento, ela agitada por um
rolete envolto com pontas afiadas antes de passar por uma srie de filtros.
O resultado a gosma preta com que Setrkus Ra capaz de encher um
tubo de ensaio. Ele est no meio desse procedimento quando Pittacus vai at
ele.
Setrkus!
Meu av olha e sorri. Ele est orgulhoso. H veias escuras correndo debaixo
de

sua

pele,

tambm,

seu

cabelo

preto

comeou

cair.

Surpreendentemente, ele est animado por ver Pittacus e deixa de lado seu
trabalho torcido para cumpriment-lo.
Velho amigo Setrkus Ra diz, se aproximando com os braos abertos.
Quanto tempo? Se perdi outra reunio do conselho dos Ancios, diga a
Loridas que sinto muito, mas...
Como forma de cumprimento, Pittacus agarra a gola da camisa de Setrkus
Ra e o empurra, pressionando-o contra uma das vigas de ao do Libertador.
Embora ele seja menor que Setrkus, consegue pegar o homem grande de
surpresa.
O que isso, Setrkus? O que voc fez?
O que voc quer dizer? Me solte, Pittacus.
Pittacus pe as mos em suas tmporas. Eu realmente desejaria que ele no
colocasse. Ele respira fundo, solta Setrkus e d um passo para trs.
Voc est minando Lorien Pittacus diz, claramente tentando juntar as
peas em sua cabea olhando para o permetro de escavao. Voc... o
que voc fez com essas pessoas?
Com os voluntrios? Eu os ajudei.
Pittacus balana a cabea.

Isso errado, Setrkus. Isso parece... parece que voc contaminou nosso
mundo.
Setrkus ri.
Ah, no seja dramtico. Isso o assusta apenas porque voc no
compreende.
Me explique, ento! Pittacus grita, e uma pequena chama irrompe nos
cantos de seus olhos.
Por onde comear... Setrkus diz, passando a mo em sua cabea.
Ns estvamos juntos em Mogadore. Voc viu o dio que os mogs tm por
ns. A selvageria. Qual benefcio poderia algum dia prover daquele lugar?
Levar tempo Pittacus fala. Um dia, os mogadorianos vo escolher a
paz. Loridas acredita nisso, ento eu tambm.
Mas e se eles no escolherem? Eles no esto colocando em risco
apenas o nosso modo de vida, mas sim toda a galxia. Por que devemos
cont-los e esperar uma melhora em sua mentalidade quando podemos
simplesmente

acelerar

sua evoluo? E

se

os

mogadorianos

que

escolhermos, aqueles que virmos como aliados pacficos e se pudssemos


dar Legados eles? Transform-los em Gardes? Lderes dentre o povo
deles, capazes de extinguir a guerra e a periculosidade? Ns poderamos
mudar o destino de uma espcie inteira, Pittacus.
No somos deuses Pittacus responde.
Quem disse?
Um momento de silncio se passa. Pittacus d um passo para trs de seu
velho amigo.
tudo em que eu pensava desde que retornamos de Mogadore
Setrkus continua. No apenas os mogadorianos. Ns tambm. Todos
ns. Os lorienos. Por que existem os Gardes e os Cpans? Ns temos paz,
sim, mas a que preo? Um sistema de linhagem onde nossos lderes decidem
dentre os quais foram ou no sortudos o suficiente para ter nascido com

Legados? Ns, Ancios, sentamos ao redor de uma mesa que se l unidade


mas como somos iguais?
como Lorien deseja...
Setrkus ri amargamente.
Natureza, destino, sorte. Somos mais do que esses conceitos imaturos,
Pittacus. Ns controlamos Lorien, no ao contrrio. Voc, eu, todos ns
poderamos escolher nosso prprio destino, nossos prprios Legados. Minha
esposa, ela poderia...
Celwe ficaria indignada com isso e voc sabe Pittacus diz. Ela est
preocupada com voc.
Voc... voc falou com ela?
Sim. E vi a baguna que voc fez em sua casa.
As sobrancelhas de Setrkus Ra se erguem, boquiaberto, quase como se ele
tivesse sido atingido por um tapa. Eu meio que espero que ele comece a
gritar com Pittacus no tom arrogante que com frequncia usava comigo
enquanto eu estava abordo da Anubis.
Posso ver a arrogncia que conheo bem em sua expresso, mas tambm
algo a mais. Ele no foi longe o suficiente ainda.
Competindo com os delrios de grandeza de meu av, h uma pequena dose
de vergonha.
Eu... eu perdi o controle Setrkus Ra fala aps um momento.
Voc perdeu um monte de coisas e perder mais se no parar com isso
Pittacus responde. Talvez nosso mundo no seja perfeito. Talvez
possamos fazer mais, Setrkus. Mas isso... isso no a resposta. Voc no
est ajudando ningum. Est deixando-os doentes e torturando a me
natureza do nosso mundo.
Setrkus mexe a cabea.
No. No estou... isso progresso, Pittacus. Algumas vezes, o progresso
precisa ser doloroso.

A expresso de Pittacus se torna dura. Ele se vira em direo ao Libertador e


observa o fluxo constante de energia lrica sendo sugada de graa do ncleo
do planeta. Ele toma sua deciso rapidamente. Fogo toma conta de suas
mos e braos.
V para casa e para Celwe, Setrkus. Tente esquecer essa loucura. Eu
vou... limpar o que voc fez aqui.
Por um momento, Setrkus parece considerar. Toro por ele, de verdade. Eu
gostaria que ele percebesse que Pittacus est certo, desse as costas para
sua mquina e voltasse para a minha av.
Mas eu j sei como tudo isso ir acabar.
A expresso de meu av se torna obscura e as chamas intensas crescentes
de Pittacus so de repente extintas.
Eu no posso permitir que faa isso ele diz.
A Cmara dos Ancios est vazia agora, exceto por Pittacus e Loridas. O
Garde mais jovem se afunda em sua cadeira alta, com o rosto machucado e
os dedos entrelaados. O Garde mais velho fica do outro lado da mesa,
inclinando-se sobre um objeto brilhante, trabalhando no que quer que seja
com suas mos nodosas.
Eu no concordo com a deciso deles Pittacus fala.
Nossa deciso Loridas o corrige, gentilmente. Voc teve um voto.
Todos os outros nove tambm.
Execuo foi longe demais. Ele no merece isso.
Ele era seu amigo Loridas responde. Mas no mais aquele homem.
Seus experimentos poderiam ter corrompido todas as nossas formas de vida.
Eles pervertiam tudo o que puro em Lorien. No pode ser permitido a
continuar. Ele deve ser removido inteiramente. Apagado de nossa histria.
At mesmo o seu assento de Ancio no deve ser preenchido, ele tambm o
danificou. Sua malignidade no pode ser autorizada a formar razes e se
espalhar.

Eu ouvi tudo isso quando fomos convocados, Loridas.


Se o entedia, ento por que ainda est aqui?
Pittacus expira profundamente. Ele olha para suas mos.
Ns crescemos juntos. Voc nos nomeou Ancios juntos. Ns... sua voz
est trmula e ele para e se acalma. Eu quero ser aquele que far.
Loridas prende o olhar com Pittacus. Satisfeito que o jovem homem est
srio, ele assente.
Pensei que gostaria.
Loridas usa seu Aeternus, suas expresses lentamente mudando at que ele
parea bem mais jovem. Pittacus o observa com uma sobrancelha levantada.
Ele tirou seus Legado na ltima vez que o viu Loridas diz. Conseguiu
faz-lo recuar.
No vai acontecer novamente Pittacus responde, sua voz aumentando.
Mostre-me.
Pittacus foca em Loridas. Um momento depois, a pele no rosto de Loridas se
torna flcida e enrugada, seus fios de cabelo retrocedem drasticamente e seu
corpo definha dentro de seu traje cerimonial. Ele parece muito mais velho do
que antes e rapidamente percebo que esta sua verdadeira aparncia. De
alguma forma, Pittacus acabou de retirar o Legado dele.
timo Loridas diz, sua voz rspida. Agora devolva ao velho homem
sua dignidade.
Com um aceno de mo, Pittacus restaura os Legados de Loridas. O Ancio
muda de forma novamente, ainda velho, porm no to desconsertadamente.
Quantos Legados voc dominou com seu Ximic, Ancio Lore?
Pittacus coa sua nuca, parecendo modesto.
Com o Dreynen, setenta e quatro. Nunca me incomodei em aprend-lo
antes. Jamais pensei que iria us-lo.

Dreynen, esse meu Legado, um dos poucos que compartilho com meu av,
o que nos permite retirar temporariamente os Legados alheios com o toque
ou carregando projteis.
Impressionante Loridas responde, voltando sua ateno para os objetos
espalhados na mesa a sua frente. Ximic o nosso Legado mais raro,
Pittacus. A habilidade de copiar e dominar qualquer Legado que observar.
No um dom que se usa levianamente.
Meu Cpan costumava me dar lies sobre isso Pittacus responde.
Entendi a responsabilidade que vem com o poder. Tento viver minha vida
com isso em mente.
Sim, e ns tivemos sorte que esse Legado tenha escolhido voc e no
outra pessoa. Imagine, Pittacus, se seu amigo Setrkus encontrasse uma
maneira de duplicar esse Legado. Torn-lo dele. Ou d-lo para quem ele
escolher.
Pittacus range os dentes.
Eu no vou permitir que isso acontea.
Loridas segura o objeto que esteve trabalhando. Parece uma corda, com
exceo de que o material tranado no se parece com nada que j vi na
Terra. grosso e forte, com mais ou menos seis metros de comprimento,
com uma ponta enrolada em um lao complexo. A parte do lao da corda foi
moldada e endurecida, com uma ponta afiada. Loridas demonstra apertando
lao, e quando o faz, a borda letal faz o som do movimento de uma espada.
Pittacus observa.
Um pouco antigo, no acha?
J faz sculos e voc jovem, mas assim que punimos a traio.
Algumas vezes, os meios antigos so os melhores. feito a partir da rvore
Voron, uma planta quase to rara quanto voc. Os ferimentos causados pela
Voron no podem ser curados por Legados Loridas gesticula para
Pittacus. Venha. Deixe-me pegar seu Dreynen emprestado.

Pittacus d a volta na mesa e pe suas mos nos ombros de Loridas. Eu no


consigo ver o que acontece, mas posso perceber Legado pode perceber
que Pittacus usa um Legado de transferncia igual ao de Nove, permitindo
com que Loridas use seu Dreynen. Loridas se concentra no lao. Ele comea
a emitir um fulgor carmesim fraco, exatamente como quando eu carrego um
objeto com meu Legado.
Voc ter isso carregado com Dreynen agora, para o caso de ele retirar
seus Legados antes que voc possa retirar os dele Loridas explica,
balanando cautelosamente a ponta afiada do lao. Encoste isso nele e...
Eu sei como funciona Pittacus interrompe.
Ser rpido, Pittacus.
Pittacus pega a corda de Loridas, tomando cuidado para no tocar no lao
carregado. Ele aperta a corda com firmeza, sua expresso determinada.
Eu sei o que devo fazer, Loridas.
E ns aqueles que esto assistindo do futuro sabemos que ele ferrou com
tudo.
Setrkus rasteja atravs do cho do cnion, com manchas de sujeira e
cinzas, seu rosto e cabea cobertos de pequenos cortes. Ao fundo, um grupo
de Gardes comanda o lanamento de todos os tipos de elementos diferentes
no Libertador. A mquina cospe nuvens enormes de fumaa preta quando
comea a desmoronar. Os corpos de seus assistentes esto amontoados no
cho. Entretanto, eles no foram mortos pela Garde. No, alguma coisa
sinistra e escura vaza pelos poros deles at na morte.
No fui eu quem enlouqueci... Setrkus diz, cuspindo sangue na terra
enquanto se arrasta para longe do seu permetro de escavao. Ele no olha
para trs quando sua mquina explode, embora uma expresso parecida com
dor fsica se espalhe atravs de seu rosto. O resto de vocs, todos vocs
vocs que esto errados. Vocs no compreendem o progresso.

Pittacus segue logo atrs de Setrkus. O lao balana em suas mos. Seu
queixo forte est estabilizado e determinado, mas seus olhos esto
brilhantes.
Por favor, Setrkus. Pare de falar.
Setrkus sabe que ele no pode escapar, ento para de rastejar.
Ele rola e fica de costas para o cho, e olha para cima, na direo de
Pittacus.
Como eu posso estar errado, Pittacus? Setrkus pergunta, sem flego.
A prpria Lorien me deu o poder de dominar outros Gardes, de retirar
temporariamente os Legados deles. Esse a forma do planeta dizer que me
quer no controle.
Pittacus balana a cabea e para em frente a seu amigo.
Oua a si mesmo. Primeiro voc rebaixa a forma com que Lorien distribui
aleatoriamente os Legados, e agora prega que seus Legados so o destino.
Eu no sei qual pensamento acho mais perturbador.
Ns poderamos reinar juntos, Pittacus Setrkus implora. Por favor.
Voc como um irmo para mim!
Pittacus engole em seco. Com sua telecinesia, ele laa a corda ao redor do
pescoo de Setrkus. Ele se abaixa em direo ao seu amigo Ancio, sua
mo sobre espesso n da corda que vai apertar o lao.
Voc foi longe demais Pittacus diz. Sinto muito, Setrkus. Mas o que
voc fez...
Pittacus comea a apertar o lao. Ele deveria fazer isso rapidamente, mas
no pode acelerar, no ainda. A parte afiada encosta no pescoo de
Setrkus. Meu av engasga em dor, porm ainda no reagiu. De repente h
um olhar de sabedoria nele, de renncia. Setrkus se inclina para trs. A
ponta afiada perfura ainda mais sua pele. Ele olha para o cu.
Haver duas luas hoje noite ele diz. Elas danaro na praia como
costumvamos fazer, Pittacus.

Sangue escurece o cho abaixo de meu av. Ele comea a chorar, ento
fecha os olhos para esconder as lgrimas.
Pittacus no consegue continuar. Ele retira o lao do pescoo de Setrkus, o
joga para o lado e se levanta. Entretanto, ele no olha nos olhos de Setrkus.
Ao invs disso, segue na direo do Libertador e da rea de pesquisa de
Setrkus, observando o lugar inteiro enquanto ele queimado. Ele acredita
com seu corao que isso significa o fim.
Ele ainda v seu velho amigo ali, jazendo no cho. No conhece o monstro
no qual ele ir se tornar.
O Libertador extenso. Ningum nota quando Pittacus usa sua telecinesia
para arrastar um dos corpos dos assistentes mortos de Setrkus em direo
eles. Enquanto Setrkus observa, com os olhos arregalados, Pittacus usa
seu Lmen para queimar o corpo at que ele fique chamuscado e
irreconhecvel. Quando termina, Pittacus desvia o olhar.
Voc est morto Pittacus diz. Saia daqui. Nunca retorne. Talvez
algum dia, voc encontre uma forma de restaurar o dano que causou, aqui e
dentro de voc. At esse dia chegar... adeus, Setrkus.
Pittacus leva o corpo queimado com ele e deixa Setrkus l no cho. Ele fica
perfeitamente parado, deixando o sangue escorrer do ferimento circular
causado pela ponta afiada da corda em seu pescoo plido. Eventualmente,
ele limpa as lgrimas dos olhos.
Ento, Setrkus sorri.
Ns nos demoramos no cnion enquanto os anos passam. As cinzas da
batalha foram sopradas para longe, as marcas do fogo desaparecendo com a
luz do sol. Os restos da mquina de Setrkus Ra erodiram, engolidas pela
poeira vermelha e pelo vento que sopra atravs das montanhas.
Todo ano, quando h duas luas no cu, Pittacus Lore retorna para c. Olha
para os destroos do Libertador e considera o que fez.
O que ele quase fez. Ou o que no fez.

Quantos anos se passaram assim? difcil dizer. Pittacus nunca envelhece


graas a seu Aeternus.
E ento, um dia, enquanto Pittacus estava parado no mesmo lugar onde
deveria ter matado meu av, uma nave horrvel em forma de inseto corta o
pr-do-sol no cu e voa em sua direo. Parece com uma verso mais antiga
dos Skimmers mogadorianos que vi tantas vezes. Enquanto a nave pousa em
sua frente, Pittacus acende chamas em uma das mos, enquanto a outra est
envolta em uma bola de gelo afiada.
A porta da nave se abre e Celwe aparece. Ao contrrio de Pittacus, ela
envelheceu. Seu antigo cabelo encaracolado agora est grisalho, seu rosto
enrugado.
Pittacus arregala os olhos quando a v.
Ol, Pittacus ela diz, colocando para trs os fios de cabelo. Voc no
envelheceu um dia.
Celwe Pittacus respira, sem palavras. Ele a pega em seus braos, ela
retribui o abrao que dura por um longo momento. Eventualmente, Pittacus
fala. Eu nunca pensei que a veria de novo. Quando Setrkus Ra... quando
ele... eu no esperava que voc fosse para o exlio com ele, Celwe.
Eu fui criada da forma antiga ns, lorienos, amamos para sempre
Celwe responde, sem frieza.
Pittacus levanta ceticamente uma sobrancelha, porm no diz nada. Ao invs
disso, ele olha para trs de Celwe, em direo ao modelo obsoleto de
Skimmer.
Essa nave. Ela ...?
Mogadoriana Celwe completa simplesmente.
l que ele tem se escondido durante todos esses anos? Onde vocs tem
vivido?
Celwe assente.
Que lugar melhor do que um onde os Gardes esto proibidos de ir?

Pittacus balana a cabea.


Ele deveria voltar. J faz dcadas. Os Ancios o apagaram da histria, seu
nome foi esquecido por todos, com exceo de ns. Eu realmente acredito
que depois de todos esses anos, os crimes dele podem ser perdoados.
Mas os crimes dele nunca pararam, Pittacus.
E ento ele nota. As veias negras no pescoo de Celwe. Pittacus d um
passo para trs, sua expresso enrijecendo.
Por que voc retornou agora, Celwe?
Em resposta, Celwe se volta para o Skimmer.
Venha at aqui ela chama e, um momento depois, uma tmida garota,
com no mais de trs anos, desce pela entrada da nave. Ela tem os cabelos
encaracolados de Celwe e as feies de Setrkus Ra, e ento de repente eu
me lembro da carta de Crayton. Setrkus Ra pode me chamar de neta, mas
na verdade eu sou sua bisneta. No h como negar agora no apenas
porque Legado sabe, mas porque eu me reconheo nela essa criana que
vai crescer e dar luz a Raylan, meu pai.
Essa Parrwyn Celwe diz. Minha filha.
Pittacus encara a criana.
Ela linda, Celwe. Mas... ele olha para o rosto velho em sua frente.
Me desculpe, mas como isso possvel?
Sei que estou velha para ser me Celwe responde, com um olhar
distante. A fertilidade a especialidade de Setrkus Ra agora. Fertilidade
e gentica, para ajudar a elevar os mogadorianos. Eles o chamam de
Adorado Lder ela ri disso, balanando a cabea. Mesmo assim, ele no
queria ver sua filha crescer no meio deles. Ento aqui estamos.
Parrwyn d um passo apreensivo, escondendo-se atrs das pernas de sua
me. Pittacus Lore se agacha, gesticula suas mos sobre as pedras sem vida
do Canyon e faz com que uma nica flor azul floresa do arenito. Ele a pega
e entrega para Parrwyn. A garota sorri.

Eu cuidarei da sua proteo aqui Pittacus diz para Celwe, sem olhar
para ela, mas para a filha. Voc pode viver uma vida normal. Mant-la
salvo. No conte a ela sobre... sobre ele.
Celwe assente.
Ele vai voltar um dia, Pittacus. Voc sabe disso, certo? Com exceo de
que no ser como voc imagina. Ele no vir procurando perdo.
Pittacus toca sua garganta, passando uma mo no local onde a cicatriz de
Setrkus Ra est.
Eu estarei pronto para ele Pittacus diz.
Ele no estava.
A viso acaba e a escurido retorna. H exploses da energia lrica ao meu
redor. Mais uma vez, estou flutuando no espao aconchegante que o
Legado.
O que agora? pergunto. Por que voc nos mostrou isso?
Para que vocs soubessem, a voz responde gentilmente. E sabendo, agora
conhecero.
Quem ns conheceremos?
Todos.

Captulo vinte e um
ACORDO EM UMA BIBLIOTECA, COM O ROSTO EM UM CARPETE MACIO, CERCADO
DE todos os lados por cadeiras confortveis.
Acordar provavelmente no o termo certo, na verdade. Tudo tem uma
impreciso nas bordas, inclusive meu prprio corpo. Posso dizer que ainda estou no
estado de sonho que Ella criou, com exceo de que no estou mais no modo
telespectador. Eu posso me mover e interagir com a sala, mesmo sabendo que no
sei que diabos eu deveria fazer agora.
Eu me levanto e olho em volta. A iluminao aqui branda e as paredes esto
cobertas com estantes e livros de couro, todos os ttulos nas lombadas escritos em
lrico. Normalmente esse seria o tipo de lugar que eu no me importaria de explorar,
exceto que de volta ao mundo real h um mogassauro vindo na minha direo e na
dos meus amigos.
Ella me assegurou de que ficaramos bem. Porm isso no significa que estou
contente em me sentar em uma biblioteca astral esperando para ver o que acontece
em seguida.
Cara, algum d um lencinho umedecido para aquele frutinha do Pittacus Lore.
Eu me viro e encontro Nove parado no meio da sala onde no havia nada alm de
um espao vazio minutos atrs. Ele assente para mim.
Do que voc est falando?
Voc viu aquilo tambm, n? A histria da vida de Setrkus Ra?
Eu assinto.
Aham, eu vi tambm.
Nove me olha como se eu fosse um idiota.

O cara deveria ter matado Setrkus Ra quando teve a chance ao invs de ficar
todo sentimental na situao. Qual .
No sei eu respondo, em voz baia. No fcil ter a vida de algum em suas
mos. Ele no tinha como saber o que aconteceria.
Nove bufa.
Que seja. Eu estava gritando para ele matar aquele pateta, mas ele no ouvia.
Obrigado por nada, Pittacus.
Para falar a verdade, no estou preparado para processar a viso, especialmente
com os comentrios de Nove. Eu queria poder reproduzir novamente para ter tempo
de examinar minuciosamente meu planeta natal da forma que era sculos atrs.
Mais do que nunca, eu queria poder ver mais daquele Legado Ximic. Ns ouvimos
sobre histrias do quo poderoso Pittacus Lore era, sobre como ele tinha todos os
Legados. Acho que foi assim que ele conseguiu. Vendo-o usar o Ximic, me fez pensar
sobre quando desenvolvi meu Legado de cura. Aconteceu durante uma situao
desesperadora: apenas quando eu tentava salvar a vida de Sarah o Legado se
manifestou. E se no fosse um Legado de cura que se manifestou, afinal de contas? E
se fosse meu Ximic se manifestando quando eu realmente precisei e apenas no fui
capaz de descobrir como us-lo para nada mais alm de cura desde ento?
Balano minha cabea. bobeira esperar algo assim. Eu no posso querer melhorar
meus Legados da mesma forma que Nove no pode desejar mudar o passado. Temos
que vencer esta guerra com o que nos foi dado.
O que foi feito est feito digo para Nove, franzindo a testa. O que importa
que paramos Setrkus Ra. Essa era a nossa misso.
Aham. Eu tambm gostaria de evitar ser engolido por aquele monstrengo gigante
l em Nova York Nove observa, olhando em volta.
Ele no parece estar enlouquecendo por causa do estado de sonho. Ele segue o
fluxo.

Ugh, livros. Voc acha que algum desses livros fala sobre como matar aquele
Godzilla?
Olho em volta tambm, mas no para os livros. Estou procurando por uma sada.
Esta sala no parece ter qualquer tipo de porta. Estamos presos aqui. Ella, a Entidade
Lrica, quem quer esteja no comando disso eles no terminaram conosco ainda.
Acho que estamos em algum tipo de sala de espera psquica falo para Nove.
No tenho certeza de para qu.
Legal Nove responde, se jogando em uma das cadeiras. Talvez eles vo nos
mostrar outro filme.
O que voc acha que aconteceu com Sam e Daniela? Eu os vi desmaiando ao
mesmo tempo que ns.
No fao a menor ideia Nove diz.
Voc deveria pensar que ns acabaramos no mesmo lugar.
Por qu? Nove pergunta. Voc acha que h lgica em qualquer operao
alucinatria compartilhada telepaticamente?
No admito. Acho que no.
Ento, voc acha que Ella est fazendo tudo isso, certo? Estou captando uma total
vibe Ella.
Sim confirmo, assentindo em consentimento.
Nove est certo. Eu no tenho certeza de como estamos na projeo psquica de Ella,
eu apenas sei. intuio.
Nove assobia.
Droga, cara. A garota teve um melhoramento monstro. Eu meio que sinto que
estamos ficando frouxos. Quero poder copiar alguns Legados como seu irmo
Pittacus. Ou pelo menos arrumar aquela corda com a ponta afiada.
Suspiro e balano a cabea, um pouco envergonhado por ouvir Nove dizer em voz
alta o que eu estava pensando. Eu mudo de assunto.

Precisamos encontrar uma maneira de sair daqui.


Nove me olha com uma expresso engraada, ento eu me viro e sigo em direo a
uma das estantes de livros. Comeo a puxar os livros das prateleiras, pensando que
talvez eu abra algum tipo de passagem secreta. Nada acontece e Nove ri de mim.
No deveramos estar sentados por a eu digo, olhando para ele.
Cara, o que mais podemos fazer? Voc sabe o tanto que tentei matar o jovem
Setrkus Ra enquanto estvamos assistindo aquela projeo? Muitas vezes Nove
soca uma de suas mos na palma da outra, e ento se arrepia. Mas, sabe, eu no
tinha nem braos e nem pernas. No podemos fazer nada agora. Ento vamos
apenas relaxar. Estive lutando por dias e mesmo nessa cadeira, tipo, que um
fragmento da minha imaginao, eu me sinto confortvel para caramba.
Desisto de puxar os livros da parede e volto para o centro da sala. Ignorando Nove,
inclino minha cabea e grito para o teto.
Ella? Voc pode me ouvir?
Voc parece estupidamente idiota agora Nove comenta.
Eu no sei porque voc ainda est sentado a eu digo, encarando-o. Agora
no hora para relaxar.
Agora a hora perfeita para relaxar Nove responde, olhando para um relgio
de pulso imaginrio. Vamos voltar para quase sermos mortos assim que Ella nos
mostrar a droga da profecia maluca que ela teve.
Eu concordo com Nove.
Eu me viro para a voz e encontro Cinco parado de p a alguns metros de distncia,
recentemente manifestado em nossa pequena sala. Ele morde seus lbios e se d de
ombros para mim, como se ele no estivesse feliz em nos ver tambm. Mesmo nesse
mundo dos sonhos, Cinco ainda est caolho. Pelo menos o local est coberto com um
tapa-olho normal ao invs daquela gaze suja que ele ostenta no mundo real.
Que diabos voc est fazendo aq...?

H um grito de guerra gutural atrs de mim e ento Nove passa por mim num
borro. Ele ergue os ombros e segue com as mos esticadas na direo do pescoo
de Cinco. Por alguma razo, Cinco no esperava ser atacado primeira vista e mal
tem tempo de se proteger antes que Nove o alcance.
Exceto que, desta vez, Nove no o acerta. Ele passa atravs de Cinco e acaba com sua
cara no meio de uma pilha de livros que retirei das prateleiras.
Filho da me! Nove grunhe.
Huh Cinco diz, olhando para seu peito, que com certeza parece slido o
suficiente para ser atingido.
No pode haver violncia por aqui.
Todos voltamos nossos olhares para perto da parede dos fundos, onde um vo de
porta acabou de se manifestar. No meio dele h um homem de meia idade com um
corpo modulado, seu cabelo castanho ficando branco nas pontas. Ele parece
exatamente da mesma forma que eu me lembro.
Henri?! exclamo.
Ao mesmo tempo, Nove grita:
Sandor?! Que diabos?
Cinco no diz nada. Ele simplesmente olha para o homem no vo da porta, seus
lbios curvados em um sorriso sarcstico.
Nove e eu trocamos um olhar rpido. Leva apenas alguns segundos para perceber
que estamos vendo pessoas diferentes. Se realmente Ella quem est controlando
essa terra dos sonhos, ela deve ter puxado algum de nosso subconsciente com o
qual nos sentimos confortveis. Exceto que, na realidade, no parece ter funcionado
com Cinco. Ele mantm os punhos cerrados, como se fosse se atirar para frente a
qualquer momento. E no posso evitar sorrir ao ver Henri, mesmo sabendo que esse
momento passageiro.
Voc ... voc real? pergunto, me sentindo idiota por fazer essa pergunta.

Eu sou to real quanto uma memria, John Henri responde.


Quando ele fala, vejo um pequeno brilho dentro de sua boca, a mesma energia que
Setrkus Ra estava minando de Lorien. similar descrio que Seis fez do seu breve
encontro em grupo com a reencarnao de Oito. Eu no acho mais que seja apenas
Ella controlando essa projeo teleptica. Ela est tendo ajuda de alguma coisa
superpoderosa.
Me desculpe por ter explodido a cobertura Nove diz. Ele pausa esperando uma
resposta, e ento diz: Sim, tudo foi totalmente culpa do Cinco, voc tem razo.
Olho primeiro para Nove, e depois para cinco, que ainda no disse nada, porm
parece estar ouvindo intensamente, e finalmente me volto para Henri. Ns no
podemos ver ou ouvir o visitante do outro, apenas o nosso.
O que voc...? estou prestes a perguntar a Henri o que ele faz aqui, mas penso
melhor. Ele estar aqui faz tanto sentido quanto qualquer outra coisa. H perguntas
muito mais importantes que precisam ser respondidas. O que estamos fazendo
aqui?
Vocs esto aqui para encontrar os outros Henri responde, e ento se vira e
anda em direo ao vo da porta que no estava l segundos atrs. Ele gesticula para
seguirmos.
Que outros?
Todos eles Henri diz, e ento sorri para mim da mesma forma frustrante que
ele costumava fazer. Lembre-se, John. Voc ter apenas uma chance para passar
uma boa primeira impresso. melhor aproveit-la.
Eu no sei do que ele est falando, mas o sigo de mesmo assim. Ele meu Cpan,
afinal. Mesmo manifestado nesse estado de sonho maluco, ele ainda parece real. Eu
confio nele. Nove segue para a porta tambm, seguindo a verso de Sandor que no
posso ver, conversando sobre o Chicago Bulls. Cinco invejosamente segue a alguns
passos atrs, ainda em silncio.

Quando chego perto dele, Henri coloca as mos em meus ombros. Ele abaixa sua
voz, mesmo sabendo que os outros no podem ouvi-lo, como se ele estivesse me
contando um segredo.
Comece com aqueles que voc sentiu, John. Eles sero mais fceis. Lembre-se de
como era. Visualize.
Eu encaro Henri, incerto da maluquice que ele est falando. Em resposta ao meu
olhar, ele sorri daquela maneira novamente. Me dando dicas, me fazendo pensar
sozinho nos detalhes. moda Henri. Sei que isso me faz mais forte e mais inteligente
durante a caminhada, mas mesmo assim me irrita.
Eu no entendi o que voc quis me dizer falo.
Henri d palmadinhas nos meus ombros, e ento comea a descer para o hall.
Voc entender.

Captulo vinte e dois


ESTOU ME SENTINDO UM POUCO TONTA, EM GRANDE PARTE PELO
FATO DE QUE estou sendo guiada por um longo corredor por Katarina,
minha falecida Cpan. Marina e Adam esto alguns passos atrs de mim.
No tivemos muito para conversar quando acordamos em uma biblioteca
extravagante. Todos estavam espantados pelo o que acabamos de ver ou
pelo choque da terrvel batalha da qual fomos transportados. De toda
maneira, no demorou muito at que Katarina viesse nos chamar.
Exceto que acredito que os outros no esto vendo Katarina.
Marina se dirigiu pessoa nos guiando como Adelina e Adam est
propositalmente falando baixo, ento no posso ouvir o que est dizendo.
Ambos esto tendo seus prprios dilogos. como se estivssemos juntos;
mas cada um em uma sintonia diferente.
A expresso de Adam de culpa desde que acordamos aqui. Mas agora ele
se posicionou um pouco a frete de Marina, ficando mais prximo da pessoa
que vejo como Katarina. Marina e eu trocamos um olhar, ambas querendo
escutar o que eles esto conversando. Nos aproximamos de Adam.
Eu fiz a coisa certa? ele pergunta a quem quer que seja que a EntidadeElla se mostra para ele.
No ouo a resposta que ele recebe. O que quer que a Entidade diz a ele,
tudo o que Adam faz sacudir sua cabea.
Isso no muda o que eu tentei fazer, Um.
Ah! Eu sei o que ele est perguntando. Adam tentou matar Ella logo antes...
ok, antes de ela basicamente se matar. Eu tambm tenho minha parcela de
culpa, j que eu definitivamente no tentei impedi-lo. Eu estava disposta
deixar todo episdio de lado, como algo que aconteceu no calor da batalha.
Aparentemente, Adam no consegue fazer isso.

Nem Marina. Ele agarra o cotovelo de Adam, virando-o para poder confrontlo. Se tratando de Marina, sei que essa raiva vem se acumulando j por um
tempo.
O que voc estava pensando?! ela pergunta.
Quase acreditei que Marina comearia a irradiar sua aura de gelo. Mas
imagino que isso no acontea aqui neste lugar, dentro da mente de Ella.
Mesmo assim, seu olhar mortal conseguiu o efeito desejado.
Eu sei... Adam responde com a cabea baixa. Eu perdi o controle.
Voc poderia ter matado Ella! Marina rebate. Voc a teria matado!
Mas ele no matou... eu digo, tentando manter a paz.
Ambos me ignoram.
Eu no espero que voc entenda Adam fala, sua voz suave. Eu
nunca, nunca realmente encontrei Setrkus Ra antes. Mas passei toda a
minha vida sua sombra, sob seu polegar, um prisioneiro de suas palavras.
Quando tive a chance de mat-lo, de me libertar... Eu simplesmente no pude
evitar.
Voc acha que ns no queremos mat-lo? Marina pergunta, incrdula.
Ele tem nos caado durante toda nossa vida. Mas ns sabamos que Ella
teria morrido primeiro, ento ns... ns nos controlamos.
Eu sei Adam responde, nem mesmo tentando se defender. E
naquele mesmo momento me tornei o que sempre odiei. Eu terei que viver
com isso, Marina. Sinto muito, aconteceu.
Marina passa a mo pelo cabelo, no sabendo como responder a isso.
Eu apenas... eu simplesmente no posso acreditar que ela se foi Marina
fala depois de um momento. Eu no posso acreditar que ela se matou.
Eu no acho que Ella se foi digo a Marina, passando as mos nas
paredes azuis no profundo de mrmore do corredor que nos rodeia. Acho
que ela tem algo a ver com a nossa situao atual, sabia? Eu vi muitos
relmpagos lricos sarem do corpo de Ella antes desmaiarmos.

Marina sorri apertado, olhando para mim agora, em vez de para Adam.
Espero que voc tenha razo, Seis.
O encanto foi quebrado. Eu o testei antes de virmos para c falo,
lembrando com muita satisfao como me senti ao rachar a cabea de
Setrkus Ra com uma pedra.
Marina aperta a ponte do nariz. muito para se absorver, passar do combate
com Setrkus Ra a v-lo como um lorieno normal e depois a isso.
Ele...? Ele poderia estar matando gente agora?
No, ele sofreu o mesmo efeito do que quer que Ella tenha feito com a
gente, tambm. Mesmo assim, devemos criar um plano, porque tenho o
pressentimento de que uma vez que esta pequena viagem ao passado
acabe, estaremos de volta naquela baguna.
Adam franze a testa, parecendo envergonhado.
Eu estou mal. Acho que ele quebrou toda a minha cara.
Eu vou te curar Marina fala secamente. Eu estava prestes a faz-lo
de qualquer maneira.
Bom, bom. E ento vocs podem me ajudar a matar Setrkus Ra.
Adam e Marina olham para mim.
O qu? pergunto. Vocs acham que teremos uma chance melhor?
As tropas dele fugiram e ele est machucado, so trs contra um...
No temos nossos Legados aponta Marina. Ele os drenou. Eu terei
que arrastar Adam para fora da cratera apenas para cur-lo.
Adam balana a cabea, me estudando. Posso dizer que ele no tem certeza
se estou sendo louca ou se ele pensa que um bom plano. De qualquer
maneira, noto a admirao em seu olhar.
No ser trs contra um de imediato, Seis. Ser um contra um.
Eu no me importo. Eu no vou desperdiar essa chance lhes digo.
Olho ao redor, desejando que eu pudesse descobrir um jeito de sair daqui.
Assim que isto finalmente acabar, eu vou mat-lo.

Marina esquece sua raiva com Adam tempo suficiente para eles trocarem um
olhar rpido. Acho que posso soar um pouco louca. Durante essa discusso,
ns paramos de andar pelo corredor. Katarina, ou quem ou o que quer que
seja que tomou sua forma, percebe nosso atraso e para, pigarreando com
impacincia.
Ns no temos muito tempo ela diz no mesmo tom severo que
costumava usar quando eu realmente a incomodava. Vamos l.
Ns comeamos a andar novamente. Marina chega perto de mim, se encosta
em meu ombro.
Vamos apenas ter cuidado, tudo bem, Seis? ela fala baixinho. O
Santurio... talvez Ella... j perdemos muito hoje.
Eu assinto com a cabea, sem responder. Marina foi quem quis ficar e
proteger o Santurio de Setrkus Ra em primeiro lugar. Mas agora que temos
uma chance real para mat-lo, ela est ficando com p atrs.
Eventualmente, o corredor se abre para uma sala abobadada com uma
grande mesa circular que cresce diretamente para fora do cho. Katarina fica
de lado para nos deixar entrar e quando me viro para olhar para ela, ela
desapareceu.
A sala uma rplica exata da Cmara dos Ancios da viso que todos ns
compartilhamos. A nica diferena o mapa brilhante desenhado no teto. Em
vez de Lorien, ele retrata a Terra. Existem pontos brilhantes no mapa em
lugares como Nevada, Stonehenge e ndia as localizaes das pedras de
loralite. O local est vazio, mas um dos nove lugares ao redor da mesa j
est preenchido.
Lexa parece muito desconfortvel sentada em uma das cadeiras de espaldar
alto. Ela tamborila os dedos sobre a mesa, obviamente, sem saber o que
deveria estar fazendo. Ela parece aliviada quando entramos no cmodo.
No acho que eu deveria estar aqui diz Lexa, levantando-se para nos
cumprimentar

Eu sinto o mesmo Adam responde, olhando para o e enorme smbolo


lrico no centro da mesa.
Eu no sou uma Garde. Nunca sequer vi uma dessas reunies at essa
coisa de viso. Vocs viram tambm, certo?
Todos acenamos com a cabea.
Se voc est aqui, por uma razo diz Marina.
Lexa olha para mim.
Eu ouvi as exploses da selva. Como o combate est indo?
Adam toca o rosto, onde Setrkus Ra o acertou, em seguida, vai em direo
a um dos lugares vazios. Tento descobrir a melhor maneira de dizer Lexa
sobre a nossa situao atual.
Estamos sobrevivendo respondo. Ns empurramos os mogs de volta
e acho que ns temos uma chance real de matar Setrkus Ra. Se sairmos
daqui.
Lexa acena com a cabea em aprovao.
Claro que sim. Mesmo assim, estou mantendo os motores ligados. Em
caso de necessidade de fuga.
Podemos muito bem precisar Marina diz, me lanando um olhar.
Voc foi a que queria ficar e lutar em primeiro lugar, Marina. Agora ns
temos que terminar isso.
Mas voc no entende, Seis? O conhecimento o que precisvamos. Ns
sabemos o que Setrkus Ra quer e sabemos como par-lo. O encanto foi
quebrado. Ella destruiu seu aparelho para que ele no possa sugar mais da
Entidade. Apenas estar aqui Marina gesticula, mostrando a sala. Isto
uma vitria. Adam est ferido, Ella est... no sabemos, e estou convencida
de que Sarah, Mark e Bernie Kosar no sero capazes de nos dar cobertura
para sempre. Talvez nos retirar seja o mais sbio a fazer. Ella nos disse que
deveramos correr. Correr ou...

Oh, agora voc concorda com ela devolvo, balanando a cabea.


Olha, eu no sei o que voc aprendeu com essa viso, mas se aprendi uma
coisa, que Pittacus Lore deveria tido a coragem de matar Setrkus Ra
quando ele teve a chance.
Boom. Est vendo, Johnny? Seis concorda comigo!
John e Nove entram na sala a partir de uma passagem lateral. Apesar de
tudo, no posso deixar de sorrir quando os vejo. O sorriso vacila rapidamente,
porm, quando Cinco marcha atrs deles. Marina fica tensa imediatamente e
d um passo em direo a ele, mas John coloca-se entre eles, arregalando
os olhos como se dissesse agora no o momento para isso. Coloco a mo
no brao de Marina para mant-la calma. Para seu crdito, Cinco parece
perceber que ele uma presena muito indesejvel. Ele permanece na lateral
da sala, evitando o contato visual.
John e Nove correm para ns e todos nos abraamos. Rapidamente os
apresentamos a Lexa, de quem John j tinha ouvido falar atravs de Sarah.
Ento, vocs esto no meio de um combate com Setrkus Ra e ns
estamos prestes a ser engolidos por um mogassauro gigante Nove
comenta, cruzando os braos. Timing perfeito para essa merda, hein?
Como est Sarah? John me pergunta.
Ela est bem digo-lhe, deixando de fora a parte em que eu realmente
no a vi nos ltimos minutos. No h nenhuma razo para preocup-lo. Sua
namorada pode cuidar de si mesma. Ela se tornou uma excelente
atiradora.
John sorri e parece aliviado.
E Sam? pergunto.
John balana a cabea.
Eu no sei. Ele tem Legados e eu o vi desmaiar antes de mim. Ele
definitivamente foi puxado para o chat teleptico de Ella. Eu no tenho
certeza de onde ele acabou, no entanto.

Ele estar aqui em um segundo.


Todos ns reconhecemos a voz. Ella aparece do nada, sentada na mesma
cadeira que Loridas ocupou na viso. Seus olhos esto transbordando com
energia lrica. Suas mos descansam sobre a mesa e em sua frente fascas
de energia se propagam por toda parte. O cabelo dela flutua para fora de sua
cabea, como se ela estivesse cercada por eletricidade esttica. Todos ns
olhamos para ela, em um silncio e espanto.
Ella...? Marina a primeira a falar. Ela d um passo em direo a Ella.
Voc est bem?
Ella d um leve sorriso, mesmo sem nunca olhar em nossa direo. Seus
olhos mantm o foco sobre o espao vazio sua frente. Seu comportamento
me faz lembrar da Entidade. como se elas compartilhassem o mesmo
corpo.
Eu estou bem Ella responde. H uma qualidade musical a sua voz,
como se ela no fosse a nica pessoa falando, h trechos de outras
conversas tambm. No entanto, no posso manter isso por muito mais
tempo. Temos que comear. No se assustem com o que vai acontecer a
seguir.
Se assustar com o qu? John pergunta.
Em resposta, Setrkus Ra aparece na cadeira ao lado de Ella, vestindo a
mesma armadura ornamentada de quando atacou o Santurio. Todos ns
recuamos. O lder mogadoriano parece no nos notar, no entanto. Ele no
pode, por conta de sua cabea que estar coberta por um capuz preto.
Correntes incandescentes feitas de loralite azul esto enrolados em torno de
seu peito e ombros, mantendo-o preso cadeira, apesar se seus esforos
para se libertar.
Que diabos? Nove pergunta, dando um passo em direo Setrkus
Ra.
Por que ele est aqui? pergunto Ella.

Eu tive que trazer todos que foram tocados por Legado Ella responde.
Era tudo ou nada.
Legado...? Voc quer dizer...?
A Entidade ela responde. Eu lhe dei um nome. Ela no parece se
importar.
Marina ri. Isso me faz sorrir tambm. Parece que a velha Ella est l.
E esse tal Legado vai sair e se apresentar? Nove pergunta. Eu quero
dizer oi e pedir novos poderes.
Ela est aqui, Nove Ella responde, e acho que vejo um canto de sua
boca ser curvar em um sorriso. Est em mim. Nesta sala. Em tudo que nos
rodeia.
Oh, ok Nove responde.
Ele pode nos ouvir? John pergunta, olhando para Setrkus Ra.
No, mas ele sabe que algo est acontecendo diz Ella. Ele est
lutando contra mim. Tentando se libertar. No sei quanto tempo posso
segur-lo. melhor fazer o que estamos aqui para fazer.
Para que estamos aqui? pergunto.
Todo mundo, sente-se Ella fala.
Olho em volta para ver se algum acha que isso uma loucura como eu.
John e Marina imediatamente puxam para cadeiras e se sentam, com Lexa e
Adam rapidamente se juntando a eles. Nove chama minha ateno, d
piscadinha, um sorriso metido e d de ombros como que dizendo dane-se.
Ele se senta ao lado de John e eu me espremo entre Marina e Ella. Isso deixa
apenas um assento, o prximo a Setrkus Ra. Ningum estava ansioso para
se sentar l.
A contragosto, Cinco caminha da borda da sala e senta-se ao lado de seu
antigo mestre. Parece que ele preferiria estar em qualquer outro lugar agora e
evita fazer contato visual com qualquer um de ns.
Perfeito Nove zomba.

Enquanto todo mundo se senta, eu me inclino e sussurro para Ella. No


posso manter minha mente fora do confronto iminente com Setrkus Ra.
Ella, voc disse para correr ou morrer comeo, realmente no sei como
abordar e esclarecer uma profecia minha amiga cheia de energia e talvez
morta. Isso ... essas ainda so nossas nicas opes? Se eu lutar
Setrkus Ra qualquer um de ns pode morrer...?
Veias se destacam na testa de Ella.
Seis, eu no posso. Eu no posso te dizer o que fazer. tudo... tudo
muito incerto.
E agora? John pergunta a Ella, interrompendo nossa conversa.
Ela demora um momento para responder. H tenso em seu rosto. Ela est
muito concentrada em alguma coisa.
Agora, eu vou trazer os outros.
Que outros? John pergunta.
Em resposta, h um de rudo sbito nossa volta. De repente, parece que
estamos no meio de uma festa lotada. Isso porque a galeria circundante a
mesa dos Ancios agora est completamente cheia de pessoas. Eles so
todos da nossa idade, alguns talvez mais jovens e, primeira vista, parecem
vir de todo o mundo.
Muitos deles conversam animadamente entre si, alguns se apresentam,
outros discutem a viso que acabamos de ver, analisam os detalhes da
histria Setrkus e Pittacus. Outros sentam sozinhos, parecendo nervosos ou
com medo. Um menino bronzeado com cabelo escuro e um colar de contas
no para de chorar em suas mos, mesmo sendo consolado por um par de
meninas loiras que parecem pertencer a um comercial de chocolate quente.
A forma como eles esto agindo, como se tivessem sentados aqui o tempo
todo e ns que fomos transportados para o palco neste instante.
Acho que, pela sua perspectiva, isso exatamente o que aconteceu.

Sam se senta na primeira fila, e uma menina com olhar ranzinza com uma
confuso de tranas est sentada ao lado dele. Ele olha diretamente para
mim, sorri e sussurra um cumprimento.
Em seguida, a comoo realmente comea.
Olhem! grita uma menina japonesa, e levo um segundo para perceber
que ela est apontando para ns.
Um murmrio percorre a multido quando todos nos notam sentados ao redor
da mesa. No incio, todos falam ao mesmo tempo, nos metralhando com
perguntas que no posso nem distinguir.
Lentamente, a sala fica quieta.
Um silncio respeitoso eventualmente cai. Estes so os Gardes humanos. Eu
s posso imaginar quo totalmente insana essa coisa toda pode parecer para
eles.
Ento, percebo que eles esto esperando por ns para explicar a situao.
Olho em volta nossa mesa. Ella ainda est completamente distante e aptica.
Ao lado dela, Setrkus Ra se debate e luta. Adam e Cinco parecem prestes a
se esconder debaixo da mesa. Mesmo Marina est corando e parecendo
desconfortvel. Ao contrrio dos outros, Nove sorri e acena para o maior
nmero de pessoas da multido que pode.
E a? ele chama.
Algumas pessoas na plateia riem silenciosamente.
Obviamente, um de ns precisa dizer algo mais inteligente do que isso.
John se levanta, sua cadeira raspando alto contra o cho de mrmore.
o cara do YouTube ouo algum sussurrar, e do outro lado da sala,
algum diz: o John Smith.
John olha para todos os diferentes rostos, tentando no aparecer encabulado.
Vejo Sam piscar para ele com um polegar para cima. John respira
profundamente, ento hesita. Ele se vira para Ella.
Todos falam ingls?

Eu estou traduzindo Ella responde simplesmente, com os olhos


brilhando intensamente.
Eu no sei quando ela aprendeu a fazer isso. No vou perguntar e,
aparentemente, nem John.
Oi John fala, erguendo a mo. Algumas pessoas na multido
murmuram saudaes de volta. John Smith o meu nome. Ns somos o
que sobrou de Lorien.
John caminha ao redor da mesa. Ele acaba ao lado de Setrkus Ra.
Acho que vocs provavelmente viram tambm, certo? Bem, essa histria
termina com Setrkus Ra aqui voltando para o nosso planeta, Lorien, e
massacrando todos seus habitantes. Todos, exceto ns.
Ele permite a informao seja absorvida antes de continuar.
Se no tem certeza do que isso tem a ver com voc, bem, talvez tenha
notado todas as naves espaciais nos jornais? Setrkus Ra est aqui. Ele vai
fazer com a Terra o que fez com Lorien. A menos que possamos det-lo.
John tenta fazer contato visual com o maior nmero de pessoas na plateia
possvel. Ele est realmente fazendo essa coisa toda de lder muito bem.
Eu no quero dizer ns, como h, apenas meus amigos aqui sentados ao
redor da mesa John continua. Quero dizer ns, todos nesta sala.
Isso faz com os jovens na plateia comecem a murmurar. O garoto havaiano
que estava chorando pelo menos parou de soluar tempo suficiente para
ouvir, mas agora eu vejo seus olhos procura de uma sada.
Eu sei que isso parece loucura. Tambm no parece justo John
continua. H alguns dias, vocs estavam levando uma vida normal. Agora,
sem aviso, existem aliengenas em seu planeta e vocs podem mover objetos
com suas mentes. Certo? Quero dizer... h algum aqui que no possui
telecinesia ainda?
Algumas mos se levantam, incluindo o menino choro.

Oh, uau diz John. Ento, vocs devem estar muito confusos.
Experimentem quando vocs sarem daqui. Apenas, h... visualizem algo em
sua casa se movendo atravs do ar. Realmente se concentrem nisso. Vai
funcionar, eu prometo. Voc vai surpreender-se e provavelmente assustar
seus pais John pensa por um momento. Algum j desenvolveu
quaisquer outros poderes, alm de telecinesia? Ns os chamamos de
Legados. Algum mais...?
Um indivduo em uma das filas do meio se levanta. Ele robusto de cabelos
castanhos e me faz lembrar de um bicho de pelcia. Quando ele fala, tem um
leve sotaque alemo.
Meu nome Bertrand diz ele, nervosamente olhando ao redor. A
minha famlia e eu, somos apicultores. Ontem, eu notei, hum, as abelhas...
elas falaram comigo. Pensei que eu estava ficando louco, mas o enxame vai
para onde eu digo para ir, ento...
Que nerd Nove sussurra para mim. Apicultor.
John bate palmas.
Isso incrvel, Bertrand. Isto , foi muito rpido em desenvolver um
Legado. Prometo o resto de vocs vai receb-los tambm, e no sero todos
que vo poder falar com insetos. Ns podemos trein-los e ensinar como uslos. Temos pessoas que sabem, pessoas com experincia... ento, John
olha em volta da mesa. Acho todos vamos nos tornar Cpans agora. De
qualquer maneira, h uma razo para vocs receberem esses Legados,
especialmente agora. No caso de vocs no terem percebido ainda...
porque vocs supostamente devem nos ajudar a defender a Terra.
Isso realmente fez a multido falar. Algumas pessoas realmente aplaudem
como se tivessem prontos para lutar, mas principalmente murmuraram
duvidosos, conversando entre si.
John... Ella chama, cerrando os dentes. Rpido, por favor.
Olho para Setrkus Ra. Suas tentativas de fuga esto cada vez mais brutais.

John levanta ambas as mos pedindo silncio.


Eu no vou mentir e dizer que o que estou dizendo para vocs fazerem
no perigoso. Definitivamente . Estou pedindo que deixem suas vidas para
trs, deixem suas famlias e se juntem a ns em uma luta que comeou em
uma galxia inteiramente diferente.
Algo sobre a forma como John diz que tudo isso me faz pensar que ele
praticou antes. Percebo que ele olha para a menina sentada ao lado de Sam.
Ela sorri de volta.
Eu, obviamente, no posso obrig-los a se juntar a ns. Em poucos
minutos, vocs vo acordar desse pequeno encontro para onde vocs
estavam antes. Aonde seguro, espero. E talvez aqueles de ns que
lutarem, talvez os exrcitos do mundo, todos ns... talvez isso seja suficiente.
Talvez possamos combater os mogadorianos e salvar a Terra. Mas se
falharmos, mesmo se voc ficar margem para esta batalha... eles viro
atrs de voc. Ento, estou pedindo a todos vocs, mesmo que no me
conheam, mesmo que ns tenhamos abalado suas vidas. Ajude-nos a salvar
o mundo.
Claro que sim Nove diz, batendo palmas para John. Vocs ouviram,
novatos. Deixem de ser covardes e se juntem essa maldita guerra.
O silncio respeitoso que tinha sido mantido durante o discurso de John se
quebra quando Nove abre a boca, como se de repente estivssemos em uma
conferncia de imprensa. H perguntas gritadas de todas as direes.
Isso um mogadoriano na mesa?
Voltem para a sua galxia, aberraes!
Como posso sair quebrando coisas com minha telecinesia?
Eu quero ir para casa!
Como podemos par-los?
O que h com o seu tapa-olho, mano?
Aquele cara assustador pode nos ver?

Por que eles querem nos matar?


E, em seguida, elevando-se acima da cacofonia, um rapaz magro com um
corte Mohawk no estilo de algum punk aposentado levanta-se de sua cadeira
e pisa com fora. Acho que a robustez de suas botas de combate foi trazida
para este mundo de sonhos, porque o som alto o suficiente fazer todos se
calarem.
Vocs todos esto na Amrica, certo, companheiro? o punk, pergunta a
John, falando com um sotaque portugus forte. Digamos que eu queira me
juntar luta e dar uma surra nestes babacas. Como vou chegar at voc?
Caso no tenham notado, no h voos transatlnticos devido a essas
malditas naves espaciais de guerra.
John esfrega a parte de trs do seu pescoo, incerto.
Eu...
As mos de Ella esto tensas sobre a mesa.
Eu posso responder a isso ela fala, sua voz melodiosa e,
definitivamente no Ella. Legado falando atravs dela.
Acima de ns, pontos de luz no mapa do mundo comea a brilhar. Todo
mundo vira a sua ateno para o teto. Lembro-me dos mais brilhantes como
os locais das pedras loralite que usamos para ns teleportar, mas h mais
luzes, tomando forma em todo o globo.
Estes so os locais que contm pedras loralite Ella explica. Os mais
brilhantes existem neste planeta h muito tempo. Os outros s agora esto
comeando a crescer como meu vnculo com a Terra. Logo, eles viro tona.
Marina interrompe.
Ns precisamos... ela hesita. Precisvamos de um Legado de
teletransporte para usar aquelas pedras antes.
No mais. No agora que eu acordei Legado entoa via Ella. A loralite
est em sintonia com os seus Legados. Quando vocs estiverem perto,

sentiro a sua fora. Tudo o que vocs precisam fazer tocar uma delas e
imaginar a localizao de outra pedra. A loralite far o resto.
Aquilo Stonehenge? um britnico pergunta, focando os olhos no
mapa. Tudo bem ento. Isso possvel fazer.
Uh, acho que uma delas fica na Somlia diz algum.
Haver mais mudanas em seu ambiente Ella continua, mas para de
repente, sacudindo violentamente. Suas mos esto apertando a mesa e
realmente derretendo a madeira, fascas silvando dela. Quando ela fala
novamente, com sua prpria voz, no com a de Legado.
Ele est se soltando! Ella grita.
As correntes incandescentes segurando Setrkus Ra sua cadeira se
partem. Os elos quebrados voam para o outro lado da mesa que passem
atravs de ns sem causar danos. Ella deve ter perdido seu poder teleptico
sobre Setrkus Ra. Ele no est mais isolado do resto de ns. Em um
movimento fluido, o ex-lder Ancio e atual dos mogadorianos se levanta, sua
cadeira tomba atrs dele, e lana fora seu capuz. Pessoas na galeria
comeam gritar e a se levantar de suas poltronas, mesmo que no tenham
para onde fugir.
Primeiro, Setrkus Ra pe a mo no ombro de Ella. A luz em seus olhos
aumenta, mas ela no se move. Mantendo seu foco. Sem obter uma reao
de sua neta, ele se vira para olhar para o Garde mais prximo. No caso,
Cinco. Setrkus Ra sorri.
Ol garoto. Gostaria de ser o primeiro a ajoelhar perante mim?
Cinco recua em terror, afastando-se da mesa. Os Gardes esto se
levantando agora. Eu estou pronta para atacar, mas, ao meu lado, Nove no
parece muito preocupado.
Ele no pode fazer nada aqui Nove diz me diz. Descobri isso quando
tentei chutar o traseiro do Cinco.

Setrkus Ra muda o foco de seu olhar para os Gardes humanos na plateia.


Eu sei o que ele est fazendo.
Ele est memorizando rostos.
Ele pode fazer alguma coisa eu digo. No deixe que ele os veja, Ella!
Tire-nos daqui!
Eu no sei o que disseram a vocs! Setrkus Ra fala para a plateia.
Eu lhes asseguro, tolice. Se vocs viram o que vi, ento sabem como o
lorieno tentou me assassinar pelo crime de curiosidade. Venham! Jurem
fidelidade ao seu Adorado Lder e eu lhes mostrarei como realmente
aproveitar seus poderes.
Ningum na multido corre para jurar fidelidade ao mogadoriano psictico,
mas muitos deles parecem justificadamente aterrorizados.
Estou liberando vocs diz Ella. Vai acontecer rapidamente. Estejam
prontos.
E, em seguida, a luz em seus olhos escurece. Ela cai. Espero que no seja a
ltima vez que eu possa falar com ela.
Seis... John. Ele est em p ao meu lado. Ns estaremos em
contato em breve. Traga todos de volta em segurana.
Ento ele e Nove somem de repente da existncia.
O mapa no teto comea a sumir. A sala comea a ficar escura. A viso est
terminando.
Muitos dos novos Gardes j desapareceram, retornando ao mundo real. Sam
e que a menina ao lado dele j se foram. Restam alguns do lado esquerdo da
galeria ainda, e Setrkus Ra foca neles.
Eu vi os seus rostos! Setrkus Ra grita para os seres humanos,
ignorando totalmente o resto de ns. Eu vou ca-los! Vou matar vocs!
Eu irei...
Bem, no vou deixar isso continuar.

Eu pulo em cima da mesa, e fico frente a frente com Setrkus Ra. Ele para
seu discurso, seus olhos negros e vazios olhando diretamente nos meus.
Eu salto de p.
Ei, filho da puta eu digo. Quando ns acordamos, eu vou te matar.
Veremos Setrkus Ra responde.
Sinto que comea a acontecer. Meu corpo aqui torna-se transparente. Os
detalhes do salo se tornam nebulosos. Posso sentir o cheiro da fumaa dos
incndios ao redor do Santurio, posso sentir a poeira na minha pele. Eu
preciso me mover rapidamente. Estou forando meus msculos a
funcionarem assim possvel.
Vamos! Grito. VAMOS L!
hora de acabar com isso.

Captulo vinte e trs


ACONTECE RPIDO. DA MESMA FORMA QUE O MUNDO DOS SONHOS
PARECIA real, no fez jus ao peso fsico de realmente ter um corpo.
Jogada sem rodeios para o lugar aonde eu perteno, todas as sensaes me
atingem outra vez. O calor do fogo, a poeira asfixiante, meus msculos
doloridos. Meus joelhos se enfraquecem com todo o impacto. Fiquei
inconsciente por um tempo, e como resultado, meu corpo ficou mole. No
consigo impedir que eu acabe caindo no cho.

Caio bem em cima de Setrkus Ra enquanto ele cambaleia, tambm.


O grande bastardo est to desorientado quanto eu. Ouo um barulho aos
meus ps e percebo que Setrkus Ra perdeu a espada do pai do Adam.
Com um giro, empurro-o para longe com toda a fora que consigo encontrar.
Lano minhas mos sobre as placas metlicas sobrepostas de sua armadura.
Vamos l, Seis. Vamos!
Encontro meu equilbrio novamente antes de Setrkus Ra. Isso me d apenas
um ou dois segundos de vantagem, mas tudo o que eu preciso. Dou uma
cambalhota para frente, agarro a espada de Adam e a giro em direo
cabea de Setrkus Ra no momento em que fico em equilibrada sobre meus
ps.
No ltimo segundo, Setrkus Ra levanta seu antebrao. A espada se choca
contra sua armadura com um grunhido metlico. Sangue escuro espirra para
fora quando puxo a lmina de volta. Espero pelo menos ter rasgado seu
brao, mas a armadura forte demais e eu apenas fiz um corte. Mesmo
assim, os olhos de Setrkus Ra se arregalam acho que ele sabe o quo
perto cheguei. Ainda assim, ele fora um sorriso, reequilibrando-se, e olha
fixamente para mim.
Muito devagar, garota ele grunhe. Agora vamos ver se consegue
fazer de fato o que prometeu.
Ranjo meus dentes em resposta e avano com toda a minha fora de
vontade. Setrkus Ra desvia facilmente a espada para o lado com um de
seus punhos, desta vez, conseguindo evitar a ponta da lmina, e ento me d
um chute no estmago. Imediatamente perco o flego e caio de joelhos,
depois desmorono no cho. Rolo imediatamente para o lado para desviar de
sua pisada, que provavelmente teria enterrado minha cabea na terra.
A espada me acerta por baixo enquanto rolo, cortando minha coxa. Eu nunca
treinei realmente com espadas antes, nunca havia visto a utilidade.
Definitivamente eu desejaria ter visto agora. Sem meus Legados, a nica

arma que tenho contra Setrkus Ra. Ele definitivamente mais forte que eu,
e tambm mais rpido. Eu estou comeando a achar que deveria ter ouvido
Marina.
Falando em Marina, enquanto volto a ficar de p a alguns metros de Setrkus
Ra, olho ao redor para localiz-la. E l est ela arrastando o corpo
inconsciente de Adam para a lateral da cratera. Enquanto observo, tiros so
disparados no cho ao redor dela e ela obrigada a se esconder atrs de
uma pilha de pedras de calcrio bem no topo da cratera.
Da direo dos tiros, parece que os mogs conseguiram se reagrupar ao redor
da entrada da Anubis. A nave de guerra massiva ainda paira sobre ns, a
parte de baixo de metal se transformou agora em nosso cu.
Eu recuo enquanto Setrkus Ra vem em minha direo, desviando de vrios
socos massivos de seus punhos e da armadura. Quando desvio de seus
golpes, ele usa sua telecinesia para lanar pequenos pedaos de detritos em
mim. Eu os desvio com minha espada, minhas mos suando no cabo.
Onde est sua coragem agora, criana? ele pergunta. Por que est
fugindo?
Vou deixar ele pensar que estou recuando. Quero dizer, eu estou recuando.
Mas no significa que seja tudo o que estou fazendo. Meu real objetivo
levar Setrkus Ra para mais longe possvel do lado da cratera onde est
Marina. Uma vez que ela fique fora do raio do Legado de Setrkus Ra e
consiga curar Adam com sucesso, talvez possamos virar a luta.
Enquanto desvio de mais uma pedra, vejo Marina colocar a cabea de Adam
no colo e pressionar suas mos no rosto dele. Seus Legados devem estar
funcionando! Agora eu s preciso manter a brincadeira de gato-e-rato at...
Uuuf.
Meu calcanhar se choca contra alguma coisa e eu caio para trs. Minha
aterrisagem amortecida por alguma coisa macia e me leva alguns segundos
para perceber que tropecei no corpo de Ella. Ela est plida, completamente

imvel, e h uma trilha daquela gosma escura coagulada saindo de suas


narinas. Ela ainda parece bem morta. Eu no tenho tempo para checar seu
pulso. Setrkus Ra est parado bem na minha frente.
Ele, na verdade, para. O corpo de Ella prendeu sua a ateno. Eu no sou
boa em ler as expresses daquele rosto enrugado e olhos pretos, mas se eu
tivesse que adivinhar o que Setrkus Ra est sentido, seria algum tipo de
mistura louca de remorso e desapontamento. Ele se preocupava com sua
neta da maneira mais grosseira possvel, querendo transform-la em um
monstro assim como ele. Eu quero que isso o devore por dentro para ele
saber o quanto falhou.
Ela odiava tudo sobre voc eu digo, e ento levanto a espada e aponto
para a virilha de Setrkus Ra.
Setrkus tenta desviar. A lmina se arrasta sobre a armadura que ele est
vestindo, mas ento eu tenho sorte. A ponta da espada segue pela lateral,
descendo atravs da armadura, e encontra uma abertura perto da parte de
cima da coxa, se encravando l. Setrkus Ra ruge em dor enquanto eu o
talho, aquele sangue escuro e viscoso espirrando de sua perna.
Sua vadiazinha! ele grita.
Em resposta, pego um punhado de terra e lano contra os olhos dele.
Enquanto isso, j estou de p, me adiantando novamente, procurando por
mais aberturas em sua armadura. Essas partes esto sempre perto de suas
juntas para permitir sua flexibilidade seus cotovelos, joelhos, e claro, sua
cabea e seu pescoo cicatrizado. aonde eu tenho que acertar.
Isso j foi longe demais! ele grita, e no acho que ele se refere apenas
a esta luta de agora.
Nos caar durante anos frustrou o velhote, e agora estamos tentando arruinar
seu plano de invaso meticulosamente calculado. Ele est perdendo a
pacincia. Eu posso usar isso. Fazer com que ele lute estupidamente.

Setrkus Ra ruge. No espao de alguns segundos, ele se transforma de um


mamute de trs metros de altura para um gigante de cinco que me deixa
completamente em desvantagem. A coisa que, sua armadura cresce
proporcionalmente ele, e isso faz com que aquelas aberturas nas juntas
paream alvos maiores.
Agora, a nica coisa que tenho que evitar ser pisada at a morte.
Nada demais.
Eu no posso mais correr dele. Ele pode cobrir muito espao desse tamanho.
Eu me viro para encar-lo, enquanto ele se prepara para dar um golpe. Meu
plano conseguir desviar, talvez correr sob suas pernas e cortar a parte de
trs de seus joelhos.
Os punhos de Setrkus Ra so do tamanho de blocos de concreto. E eles
caem na minha direo. Eu no tenho certeza se vou conseguir desviar.
Eu no preciso. No ltimo segundo, Setrkus Ra recua a mo e a leva em
direo ao seu rosto, rugindo de dor. Um leo com uma cabea de guia,
com garras afiadas e asas com penas maravilhosas acaba de levantar voo e
atingi-lo. Um hipogrifo. Um hipogrifo acabou de se juntar mim.
Bernie Kosar. Deus abenoe BK.
Setrkus Ra se vira para encarar o Chimra, que de fato quase algum do
mesmo tamanho que ele. Bernie ruge e atinge Setrkus Ra com suas garras.
Mesmo sendo forte, Setrkus tambm . Ele pega as garras de BK com uma
das mos, e ento o empurra para frente, contundindo-o.
Bernie Kosar grita, obviamente de dor. Com um uivo feroz, parecido com o de
uma fera como BK, seno mais, Setrkus Ra tenta atingir o pescoo do
Chimra.
Eu no deixo isso acontecer. Com toda minha fora, apunhalo a espada na
parte de trs dos joelhos de Setrkus Ra. Ela o corta facilmente, e ele ruge de
dor, perde a fora contra BK e tropea para frente. A espada arrancada de

minhas mos. Ele chuta para trs, e embora eu tente desviar, sua bota
gigante me atinge. Posso sentir costelas se quebrando como resultado.
Pegue-o, BK! grito enquanto caio com fora no cho.
Bernie Kosar est prestes a descer as garras sobre ele quando um suspiro
agudo chama nossa ateno.
Ella se senta. Ela respira fundo novamente, como se tal ato fosse dolorido.
Seus olhos esto quase como antes, com exceo de que ainda h vestgios
da energia lrica nos cantos. Aquela gosma preta continua saindo de suas
narinas e ela acaba cuspindo um pouco tambm.
Setrkus Ra arranca a espada da parte de trs de seu joelho como se fosse
um espinho. A espada parece comicamente pequena em sua mo gigante.
Ele a arremessa em direo Bernie, redirecionando com sua telecinesia. BK
consegue desviar da espada no ltimo segundo, mas a espada ainda assim
consegue fazer um corte nele. Ele est ferido e sua poderosa forma de
hipogrifo comea a se reverter para sua forma normal.
Bernie Kosar balana sua cabea para frente e para trs, rugindo, lutando
para manter sua forma e continuar na luta.
Minha neta! Setrkus Ra berra, sua voz parecendo um trovo graas
sua forma gigante. Ele segue em direo Ella. Ele realmente parece
aliviado. Estou indo at voc.
Em resposta, Ella vomita mais da gosma preta. Ela est sem condio de
agir. Entretanto, o que quer que seja a porcaria que Setrkus Ra injetou nela,
com certeza parece que seu corpo est rejeitando-a agora.
Eu no posso deix-lo tomar posse dela novamente.
Bernie Kosar! eu grito. Tire-a daqui!
O Chimra ferido me olha com seus olhos de guia, mas no hesita. Ele
chega at Ella bem antes de Setrkus Ra, gentilmente a pega com suas
garras e ento voa em direo floresta.
No! Setrkus Ra grita. Ela minha!

Setrkus Ra no para. Ele lana sua telecinesia contra Bernie Kosar,


conseguindo diminuir a velocidade do Chimra. Setrkus quase a captura
quando uma estalactite do tamanho de um martelo voa para baixo da borda
da cratera, atingindo a lateral do rosto de Setrkus Ra e arrancando um
pedao da sua orelha.
Marina. Ela est de p na bora da cratera, j desenvolvendo outro projtil de
estalactite para lanar contra Setrkus Ra. Ao seu lado, Adam se levanta. Ele
pisa no cho com fora e uma onda de energia ssmica desce pela cratera,
trazendo consigo pedaos de detritos e partes das naves explodidas. Se eu j
no estivesse no cho, a onda ssmica teria me derrubado. Setrkus Ra, que
j tem as pernas machucadas, cai com fora no cho. Talvez seja apenas
minha imaginao, mas acho que ele grita quando ele atinge o cho. Ns
acabamos com a concentrao dele o suficiente que ele est lutando para
manter todos os seus Legados. Tento usar minha telecinesia para lanar
alguns detritos contra ele, mas eu ainda estou perto demais.
Tiros de canhes saem da Anubis tendo como alvos Marina e Adam, mas
respondida por tiros de Mark e Sarah enquanto ambos correm pela borda da
cratera. Entre os tiros deles e as rochas partidas do Santurio, ns, na
verdade, inadvertidamente conseguimos tirar toda a ateno de Setrkus Ra
e a pouca fora que lhe restava.
Com um vislumbre, vejo que Mark est sangrando graas a um corte em sua
testa e Sarah tem marcas bem feias de tiros em uma das mos. Fora isso,
eles parecem bem.
Eles parecem melhor, de fato, do que Setrkus Ra. Ele est com o rosto
machucado, faltando um pedao da orelha, e com as pernas feridas. Ele luta
para ficar de joelhos.
Ns o pegamos. Ns realmente o pegamos.
Marina lana outra estalactite em direo Setrkus Ra. Ele levanta um dos
punhos e a estilhaa no ar.

Eu no vou morrer nas mos de crianas ele murmura.


Mas sabe de uma coisa? Ele no soa com tanta certeza.
Demasiado machucada e tonta, eu me foro a ficar de p novamente para
correr na direo oposta do lado da cratera onde Marina e Adam esto. Se
ns ficarmos separados, ento no h como Setrkus Ra conseguir manter
todos dentro do raio do seu Legado de cancelamento.
Ns podemos bombarde-lo distncia.
Mark e Sarah me veem se aproximando, embora eles ainda estejam trocando
tiros com os mogs. Eles pararam de correr pela borda da cratera a mais ou
menos metade da distncia entre minha posio e da Marina e Adam. Vejo
que eles trocam algumas palavras, e ento Sarah se vira na minha direo e
Mark segue para os outros.
Voc parece precisar de uma mozinha! Sarah fala, dando alguns
passos para dentro da cratera para me ajudar a subir o resto.
Obrigada. Voc est bem?
Aguentando ela responde.
Posso dizer que ela est tentando no olhar para os ferimentos em suas
mos.
Tenho uma viso muito melhor da nossa situao daqui de cima. A
quantidade de mogs que ainda est mantendo posio em frente Anubis
supreendentemente pequena. Os outros devem ter matado muitos deles
enquanto eu lutava com Setrkus Ra. Mesmo enquanto observo, Mark
transforma um deles em cinzas com um tiro certeiro. H apenas alguns
sobrando.
Setrkus Ra no tem mais reforos.
Mesmo assim, ele no vai ceder facilmente. O lorde mogadoriano, ainda em
seu tamanho gigante, segue pela cratera em direo posio de Marina e
Adam. Com suas pernas feridas, ele tem que usar as mos para conseguir
subir. Espertos, os outros no o deixam se aproximar. Adam continua

mandando ondas ssmicas consecutivas que fazem com que Setrkus Ra


cambaleie para trs. Enquanto isso, Marina se alterna entre congelar o cho
abaixo dele e lanar pedaos de estalactites.
Setrkus Ra consegue absorver a maioria deles com sua armadura, mas no
o suficiente. Ele no est mais falando bobeiras. Invs disso, o lder
mogadoriano parece estar desesperado.
Voc me d cobertura? peo Sarah.
Claro que sim.
Eu assinto e grito atravs da cratera para Marina e Adam.
Agora! Joguem tudo o que tiverem contra ele!
Percebo o cho tremer enquanto Adam continua a criar terremotos e Marina
dobra a quantidade de estalactites que est lanando. Sarah e Mark
continuam a atirar nos mogs que esto perto da Anubis, matando alguns e
mantendo outros distncia. Eu levanto, me concentrando no clima acima, e
comeo a conjurar a maior tempestade que consigo criar. A atmosfera ao
nosso redor fica pesada e mida enquanto puxo as nuvens para baixo,
mesmo com elas estando acima da Anubis. Logo, logo, a nave estar envolta
de um nevoeiro espesso.
Uou! ouo Sarah dizer.
No todo dia que voc v nuvens de tempestades se juntando to perto do
cho.
Antes que eu possa continuar, ouo um som metlico estridente.
Setrkus Ra desistiu de tentar subir at a borda da cratera para alcanar
Marina e Adam. Ele estava superconfiante e sedento por sangue antes.
Agora, ele est sendo esperto. Com sua telecinesia, ele rasga o que sobrou
de sua mquina. A pea massiva flutua no ar por um segundo antes de ele
lan-la contra os outros.
Cuidado! Mark berra.

Ele e Adam se jogam para um lado, Marina para o outro. O duto se esbarra
contra o cho entre eles. Nenhum deles atingido, mas sem nenhum deles
atingindo-o com Legados, Setrkus Ra consegue comear a escalar a
cratera, seus passos enormes diminuindo a distncia com mais rapidez.
minha vez de mant-lo aqui embaixo.
Viro minhas mos no ar, conduzindo o clima. Aumento a velocidade, do
vento, que leva consigo detritos e rochas. Meu rosto atingido por pequenas
pedras e meus olhos so inundados por areia. Eu continuo.
Estou criando um tornado, bem acima de Setrkus Ra.
Morra, seu filho da...!
Minhas costas explodem em dor. Um tiro, bem no meio delas. Caio para
frente, com minhas mos apoiadas nos joelhos, quase caindo para dentro da
cratera. Minha concentrao tirada de mim, o vento imediatamente
comeando a se dissipar.
Seis! Sarah geme.
Ela me segura pela cintura e juntas ns rolamos para trs de uma pilha de
pedras, quase sendo atingidas por mais tiros.
Os tiros no vieram da Anubis, entretanto. Vieram da floresta.
Proteger o Adorado Lder! berra Phiri Dun-Ra enquanto ela entra no
campo de viso, atirando. Ela lidera um pequeno contingente de soldados
mogadorianos. Eles devem ter se escondido dentro da floresta, encontrado e
libertado a nascida naturalmente e seguiram para nossa direo. Vendo
reforos, os mogs perto da Anubis se reagrupam. De repente, somos pegas
no meio de um tiroteio. Sarah tenta atirar de volta, mas a tempestade de tiros
muito intensa. Ela se abaixa prxima mim.
Seis, o que faremos?
Espio bem a tempo de ver Setrkus Ra alcanar o topo da cratera.
Ele est com a espada de Adam novamente, usando-a como uma bengala.
Marina est bem sua frente.

Marina! Saia da! eu grito.


Ela no pode me ouvir. Eu vejo a prxima cena em minha mente.
Marina joga suas mos para frente, esperando que pedaos de estalactites
voam em direo Setrkus Ra. Nada acontece. Seus Legados foram
cancelados temporariamente. Setrkus Ra levanta suas mos no ar, e
embora ela lute, Marina levantada do cho. Ele a tem com sua telecinesia.
Ah Deus Sarah diz. Ah no.
Setrkus Ra a joga no cho com fora. A levanta. A joga no cho com fora
mais uma vez. Eu observo enquanto o corpo de Marina usado como
marionete. Cada vez, ele a levanta a mais ou menos dez metros de altura, e
ento a choca contra o cho com muita fora. De novo e de novo.
Mark quem a salva. Ele desvia do maquinrio estraalhado e atira contra
Setrkus Ra, atingindo-o na lateral do rosto, aumentando o buraco onde,
antigamente, a orelha costumava estar. O mogadoriano berra de dor, e ento
devolve o tiro lanando o corpo de Marina em direo Mark.
Eles colidam e ambos caem com fora no cho. Mark ainda est se movendo,
entretanto. Ele envolve Marina em seus braos e tenta levant-la.
Mesmo a essa distncia, ela parece quebrada.
No senti nenhuma nova cicatriz se formar em meu tornozelo. No ainda. Ela
est viva.
Adam corre em direo Mark e, juntos, eles levantam o corpo de Marina.
Desviando dos tiros, eles conseguem recuar para dentro da floresta.
Phiri Dun-Ra e os outros mogs alcanaram Setrkus Ra. Eles o cercam por
todos os lados, embora ele esteja recusando a ajuda, violentamente
esmagando o crnio de um mogadoriano que foi ousado demais ao toc-lo.
Eles o escoltam pela rampa. Ele quase est dentro da Anubis.
Droga, no eu sussurro, me forando a ficar de p a pesar da dor
dilacerante nas minhas costas.
Seis! Sarah me agarra. Pare! Acabou!

Eu no aceito isso. Estvamos to perto. Droga. Ele no pode fugir dessa


maneira.
Eu ainda posso mat-lo. Ainda podemos ganhar.
Eu me levanto e jogo minhas mos para cima, fazendo com que o ar ganhe
velocidade novamente. Pedaos do Santurio, metais retorcidos dos
Skimmers explodidos, pedaos pontudos de vidro tudo isso est
aglomerado, girando dentro de um funil mortal. Phiri e seus mogs atiram em
mim. Sinto um tiro atingir minha coxa, outro, o ombro. Mas isso no me para.
Isso suicdio! Sarah grita para mim. Ela est do meu lado, devolvendo
os tiros.
Afaste-se! eu digo. Corra para a floresta.
Eu no vou te abandonar! ela responde, mais uma vez tentando me
agarrar. Eu a empurro.
Setrkus Ra chega no topo da rampa. Eu grito e empurro em direo a ele
toda a minha fora, combinando meu Legado climtico com uma exploso
selvagem telecintica, jogando tudo que foi aglomerado pela minha ventania
em Setrkus Ra.
Dois dos mogs sobreviventes se tornam cinzas imediatamente, esmagados
pelo meu bombardeio de detritos. Phiri Dun-Ra recua, protegendo o rosto.
Mas, na porta de entrada para a Anubis, Setrkus Ra continua parado. Ele se
vira para mim, pedras e estilhaos sendo refletidos por sua armadura, e
empurra de volta. Sua prpria exploso telecintica contra a minha.
Objetos voam em todas as direes. Pelo canto do meu olho, vejo o canho
de Sarah ser arrancado de suas mos. O para brisa de um Skimmer
desalojado corta o cho ao meu lado como uma lmina de guilhotina. Sou
atingida de novo e de novo por coisas que eu no posso nem identificar.
Ainda assim, continuo parada, meus ps afundando na terra. Eu continuo
empurrando.
Ento acontece.

Um poste de metal com um smbolo de loralite cravado nele, um pedao da


mquina destroada de Setrkus Ra, voa atravs doar. O fim ntido.
Serrilhado.
Acerta diretamente o peito de Setrkus Ra. Eu o observo tombar, tropear
para trs com o impacto. Eu posso ouvir Phiri Dun-Ra gritar.
A fora de sua telecinesia desaparece. Eu o sinto enfraquecer.
Eu consegui.
Lgrimas escorrem pelo meu rosto.
Eu consegui.
Phiri Dun-Ra e os outros arrastam Setrkus Ra para dentro da Anubis.
A porta se abaixa com fora atrs deles. A rampa se retrai.
Eu caio de joelhos. Ele est morto. Ele tem que estar morto. Tem que ter
valido a pena.
Sarah envolve seus braos em mim.
Levante, Seis ela diz, sua voz est tensa. Ela tosse, perde o flego. Ela
est ferida. Ambas estamos. Temos que ir!
Coloco minha mo na cabea de Sarah e nos torno invisveis. Assim, no
preciso ver o sangue.
Muito sangue. Sangue demais.
Espero que tenha valido a pena.

Captulo vinte e quatro


FIZ UM MONTE DE PROMESSAS NA CMARA DOS ANCIOS.
Eu disse queles novos Gardes que eu os lideraria, que ns iriamos ajud-los a
treinar, que juntos poderamos salvar o mundo deles. Foi bem incrvel, v-los todos
l. Mesmo com alguns deles assustados, outros confusos, e at alguns que pareciam
enfurecidos por terem sido arrastados para isso. Mas os outros... eles pareciam
preparados. Nervosos, sim, mas preparados e querendo levantar e se juntar luta.

Agora, para manter aquelas promessas, preciso apenas sobreviver um mogassauro


seriamente enlouquecido.
No segundo aps eu estar de volta ao meu corpo, sinto o bafo quente da besta
enquanto ela ruge. E est bem atrs de ns. Eu ainda tenho um brao ao redor de
Sam de quando o segurei depois que ns brevemente desmaiamos. Ele est
consciente de novo, ento nos esbarramos um no outro mas conseguimos correr.
Belo discurso Sam grita para mim. Ns vamos morrer agora?
Nem fodendo respondo.
A reunio dos Gardes no a nica coisa que mexeu comigo no sonho de Ella do
espao. Eu ainda estou me acostumando a ver Pittacus Lore em ao. Ximic, foi disso
que Loridas chamou o Legado imitador de Pittacus. E ento teve meu rpido
encontro com Henri. Visualize, ele disse. Visualize e se lembre.
A Agente Walker para de gritar no seu celular via satlite para nos encarar. Ela
parece to confusa em nos ver em p como deve ter ficado quando ns desmaiamos
alguns segundos atrs.
Que diabos est acontecendo? ela grita.
No se preocupe com isso! Consiga cobertura para o seu pessoal! eu grito,
balanando meus braos.
Como ns devemos lutar contra essa coisa? Sam pergunta, olhando sobre seus
ombros.
Eu no sei respondo sombriamente.
Ns batemos muito nele Nove berra de volta.
Walker e a maioria dos agentes usam a Esttua da Liberdade como cobertura. Eu no
estou certo de quo bem isto far, considerando que o mogassauro quase to
grande quanto a esttua. Um dos agentes, no lembro o seu nome, entra em
absoluto pnico enquanto o monstro se inclina. Ele se move como um gorila,

colocando o peso nos seus punhos, as garras dos seus ps levantam pedaos de
cimento enquanto caminha.
Para nossa sorte, o monstro recm-nascido ainda est se acostumando a andar.
Entretanto isto no salva o agente cado. Tento pux-lo com a minha telecinesia, mas
no fui suficientemente rpido. O mogassauro traz um dos seus punhos pra baixo e
esmaga o coitado. Acho que o monstro nem sentiu. Seus olhos, cada um deles
pontilhado com o que acredito ser um colar lrico roubado, esto focados em ns.
apenas uma questo de tempo at que ele nos pegue.
De repente eu me pego pensando na primeira noite que conheci Seis, em Paradise.
Foi tambm a primeira noite em que matei um pken, entretanto ele no era nem de
longe to grande quanto esse monstro. Seis usou a sua invisibilidade para nos tirar
de muitos problemas naquela noite. Eu me lembro do jeito que ela segurou minha
mo. Lembro do efeito estonteante de ver atravs do meu prprio corpo.
Lembre. Visualize.
John? Sam grita enquanto corremos. JOHN?
Que foi? grito de volta, virando a cabea.
Voc... ele est me olhando e quase tropea nos prprios ps. Voc acabou
de desaparecer.
Eu no desapareci, percebo. Eu me tornei invisvel.
Puta merda, eu consigo...
Consegue o qu? Nove pergunta.
Eu no respondo. Minha mente corre. Eu acabei de usar o Legado de invisibilidade de
Seis, mesmo que brevemente. E s num pensamento, como lembrar um nome que
voc tinha esquecido. Eu poderia nos tornar invisveis. Ns podamos escapar. Mas
isso significaria abandonar Walker e seus amigos.
Todo esse poder, bem na ponta dos meus dedos, mas sempre fora de alcance. E
agora? O que posso fazer com isso? Eu preciso de tempo para praticar, para

descobrir como funciona, para treinar. Qual Legado posso trazer nos prximos
minutos que ir nos ajudar a derrotar esse monstro?
A Agente Walker e seu grupo descarregam as armas no monstro. As balas so
engolidas pela dura pele da coisa, no mais efetivas que minha bola de fogo
anteriormente. Nada alm de um grupo de moscas para o mogassauro. Ele ignora os
agentes completamente, est vindo para ns.
Vamos l! eu grito. Tragam-no ele para a grama!
Ns teremos mais espao para lutar l, considerando quo desajeitado o monstro
aparenta, provavelmente melhor continuarmos nos movendo. Esperanosamente,
consigo pensar em algo enquanto ele nos persegue.
Ah cara, eu no me sinto em forma Daniela diz. Normalmente uma graciosa e
rpida corredora, Daniela tropea nos prprios ps e cai no gramado enquanto
corremos. Eu a seguro pelo brao e a arrasto comigo. Algo aconteceu comigo
naquela merda de viso. Minha cabea est explodindo.
Pedaos de cimento voam do ltimo passo do mogassauro e acertam meus ombros.
Eu vou tentar algo, Johnny! Nove diz, e se separa do resto de ns.
Faa a sua coisa eu digo, confiando que Nove no vai acabar morto.
Nove corre para a ponta da praa, onde h uma coluna de binculos de metal presos
ao cho, aquelas coisas para turistas admirarem a vista de Manhattan. Ele arranca
dois do cho, segurando um em cada mo como tacos. Ento os carrega em direo
ao monstro. Sua supervelocidade entra em ao e ele um borro atravessando a
praa.
Eu poderia usar isso. Tento focar no Nove, imagino como os msculos dele
trabalham, como ele cria velocidade com seu Legado. Mas nada acontece.
A criatura gigantesca, na verdade, parece confusa quando Nove corre em sua
direo. A coisa hesita, tentando decidir se parte para cima de Nove ou continua
perseguindo o resto de ns. Ento, talvez raciocinando em seu pequeno crebro para

ficar parado, o mogassauro solta um grito de estou indo na direo de Nove.


Levanta uma das suas patas gigantes, preparando para esmagar Nove assim que ele
estiver perto o suficiente.
Ele sabe o que est fazendo? Sam pergunta.
Ele alguma vez soube? falo de volta.
Ns atingimos o final do campo atrs da esttua da Liberdade.
Naquele ponto, Daniela tropea e cai de joelhos, incapaz de seguir adiante.
Ah cara, minha cabea vai explodir ela reclama.
Ela se agacha e massageia os olhos com os punhos.
O que h de errado com ela? - Sam me pergunta.
Eu no sei!
Nossos olhos se encontram e ns dois percebemos ao mesmo tempo. Juntos, Sam e
eu viramos em direo de Daniela.
Ela est desenvolvendo um novo Legado! Sam diz.
Eu me abaixo perto dela.
O que quer que esteja acontecendo com voc, Daniela, deixe acontecer! Solte
tudo e... eu sou interrompido assim que o mogassauro ataca Nove.
O impacto gigante. A besta deixa um buraco de dois metros no formato de uma
mo no concreto da praa. Primeiro penso que de maneira nenhuma Nove pode ter
sobrevivido a isso. Mas ento eu o vejo usando seu Legado antigravidade para correr
pelo antebrao do mogassauro.
O monstro ruge enraivecido e ataca Nove com sua outra mo. Nove corre pela parte
de dentro do antebrao da criatura no momento certo, escapando do impacto. Ele
rpido e est preso ao mogassauro, se movendo cava vez mais acima do brao como
um inseto irritante. No tenho certeza sobre o que ele vai fazer quando chegar at a
cabea do monstro. Se eu tivesse que apostar, diria que Nove tambm no sabe.
John! algum grita atrs de mim. John! Me solte!

Eu me viro para ver Cinco lutando atravs da grama de joelhos. Ns o deixamos l


todo amarrado com as cordas que pegamos do barco da guarda costeira. Ele no tem
a sua espada ou sua bolinha para transformar a pele em metal, ento Cinco no
momento inofensivo como ele sempre vai ser.
Ah, de jeito nenhum Sam diz, olhando para Cinco.
Eu sei o que aquela coisa Cinco fala, olhando para ns. Ele se senta de
joelhos, suas mos atadas a sua frente e me olha. Eu sei como mat-la. Eu posso
te ajudar.
Me conte.
Setrkus Ra chama isto de Caador Cinco fala rapidamente. Ele estava
criando isto enquanto eu ainda estava abordo da nave Anubis. Ele tem pingentes
lricos nos olhos e pode us-los para sentir a localizao de qualquer Garde. No h
fuga, ns temos que mat-lo.
Enquanto Cinco fala, Nove alcana a ponta do ombro do Caador. A besta desiste de
tentar esmag-lo. Agora ele gira a cabea e tenta engolir Nove inteiro. Nove
responde batendo com a ponta quebrada de uma das barras de ferro na boca do
monstro. A criatura gira a cabea e grita.
Perto de mim, Daniela resmunga. Sam ajoelha perto dela e acaricia suas costas.
Vamos l, faa o que John disse Sam tenta, mas a nica resposta de Daniela
um resmungo. Ele olha para mim. Ns precisamos descobrir algo! Se algum de
vocs tem um novo superpoder foda, agora hora de us-los!
Ele precisa ir para os olhos, John Cinco insiste, ignorando tudo menos a mim.
Me solte. Eu posso te ajudar.
Por que diabos devo confiar em voc? pergunto.
A expresso de Cinco sombria. Eu o vejo forando suas amarras, testando-as. Ele
me olha e posso ver que ele est fazendo um esforo imenso para controlar a sua
raiva.

Porque eu poderia me libertar disso se eu realmente quisesse Cinco me


responde. Mas eu no vou. Voc salvou a minha vida, John, e no importa o que
voc pense, no sou como ele.
Eu sei exatamente de quem Cinco est falando. Setrkus Ra e Pittacus Lore.
Misericrdia seguida de traio.
Eu quero ajudar Cinco grita. Me deixe ajudar.
Que se dane-se Sam diz, tomando a deciso por mim. Ele pega a lmina de
punho de Cinco, a estende e destri as amarras dele. Todos a bordo.
Olho novamente para o monstro. Nove bate com o resto da sua barra de ferro na
lateral do pescoo do monstro diversas vezes. Posso ver um pouco de sangue preto
espirrar, mas ele definitivamente no est fazendo muito dano ao monstro. Ento o
mogassauro o ataca novamente. Desta vez ele acerta Nove e ele forado a recuar
para as costas do monstro.
Acima dos gritos do Caador, escuto o som familiar do motor de helicpteros. Um
par de rpidos Black Hawks acaba de sair da ponte do Brooklyn e est a caminho.
Ento a agente Walker no totalmente intil no fim das contas.
Voc pode me devolver? Cinco pede a Sam, esticando a mo para a sua arma.
No eu digo, me colocando entre eles. Voc disse que podia ajudar. V
ajudar.
Cinco suspira.
Certo. Vou fazer do jeito difcil ele flutua um pouco acima do cho e me olha.
Vamos l John. Me incendeie.
O qu?
Me incendeie! ele grita.
Eu no preciso de motivos para machucar Cinco. Acendo meu Lmen e lano uma
pequena bola de fogo nele. Ele a deixa acert-lo e imediatamente sua pele est
coberta em chamas.

Obrigado ele diz, e sai voando na direo do Caador, nosso prprio mssil em
chamas.
Eu me agacho prximo a Daniela e pressiono minhas mos contra a cabea dela.
Deixo meu Legado de cura fluir, esperando que isto a ajude com a dor. No
realmente meu Legado de cura, sabe? Ximic, e a cura o nico Legado que eu sou
realmente bom em copiar.
No ajuda Daniela, mas algo acontece quando a energia flui entre ns. De repente,
percebo exatamente o que est acontecendo dentro dela. Eu posso sentir tambm.
Uma presso atrs dos olhos. Um peso grande que parece estar tentando atravessar
minha face.
Est me destruindo! Daniela grita.
Agh, eu sei! Eu tambm sinto! respondo, segurando os lados da minha cabea
como se meu crnio pudesse se quebrar ao meio.
Enquanto isso, Cinco, que pura velocidade e calor, voa direto para dentro de um
dos olhos do Caador. H um som doentio e o monstro grita mais alto do que nunca.
Um momento depois, um buraco explode na nuca do monstro e Cinco sai por ele. Ele
segura algo, que deve ser um dos pingentes lricos.
Puta merda Sam diz. Isso foi nojento, mas funcionou.
O Caador acabou de receber um homem bala atravs do seu crebro.
Aposto que ele sente algo bem parecido com o que eu e Daniela sentimos agora. Ele
no cai morto como eu esperava. Ao contrrio, ele est apenas mais nervoso. Ele se
joga na direo de Cinco, que desvia rapidamente. Ainda agarrado besta, mas
agora tendo a noo de como realmente machuc-la, Nove comea a subir em
direo aos olhos restante.
E ento os Black Hawks chegam. Eles bombardeiam o Caador com msseis que
apenas irritam o monstro. Embora eu aprecie a ajuda, as armas deles no vo

machucar esta coisa. H uma boa chance de que aqueles pilotos acabem apenas
sendo mortos ou acertem Cinco e Nove por acidente.
O Caador destri tudo ao redor, esmagando o resto da praa e quase derruba um
dos helicpteros com as costas da mo. Isso faz com que seja extremamente difcil
para que Cinco consiga atacar novamente os olhos da criatura. Quando o Caador
inclina a cabea e ruge, o bafo suficientemente poderoso para tirar Nove do rosto
do monstro.
Ele voa para longe do Caador e despenca centenas de metros para o cho. Tento
segur-lo com a minha telecinesia, mas estou muito longe e minha cabea est
doendo tanto que no consigo me concentrar.
Cinco desce rapidamente, o fogo extinto. Ao invs de atacar novamente, Cinco pega
Nove no ar pelo pulso. Ele o coloca gentilmente no cho. Em resposta a isso, Nove o
soca bem no meio do rosto. Porque isso o que ele faz.
Os pilotos dos helicpteros esto indo para um novo ataque. Cinco e Nove esto bem
na cola do Caador. O ataque vai comear em um segundo.
Se vocs vo fazer algo, agora a hora! Sam grita.
Eu no sei o que fazer. Consigo sentir o Legado que eu copiei de Daniela crescendo
dentro de mim, mas no tenho ideia do que ele faz ou como us-lo. Eu estou
falhando aqui. Tudo o que consegui foi uma dor de cabea gigantesca. Tem que
haver mais que isso.
Com um choro angustiado, Daniela levanta rapidamente. Ela empurra ns dois ao
mesmo tempo e grita:
Eu tenho que deixar sair!
Daniela abre os olhos e solta um raio de energia prata que atinge o Caador. No
comeo, ela est completamente fora de controle, mas o raio de energia que parece
dolorosamente grande e que pode destruir a cabea dela atinge o corpo todo do

monstro. Mas depois de alguns segundos, Daniela assume o controle. O raio fica
mais fino e mais preciso. O resultado melhor do que eu poderia ter imaginado.
O Caador d um grito confuso, olha para baixo e v o seu corpo gigantesco se
transformando em uma esttua de pedra. Assim que vejo Daniela fazendo, percebo
que consigo fazer tambm. Eu me foco no peso atrs dos meus olhos, como uma
pedra comeando a descer uma colina, e a empurro. Minha viso fica cinza enquanto
o raio sai pelos meus olhos. difcil no comeo, tenho que controlar meus olhos,
ento no fcil ser preciso, mas pego o jeito rapidamente. Daniela tambm. Logo
nos estamos pintando faixas cinzas no corpo todo do monstro confuso.
O Caador tenta correr em frente para pegar Nove e Cinco, mas suas pernas no
esto mais funcionando. Elas so pedaos slidos de rocha.
Est acabado alguns segundos depois. Parado ao lado da esttua da Liberdade existe
uma tumba cinza d mais formidvel criao mogadoriana que j vi, e vai estar aqui
para sempre, congelada em uma mscara de confuso e raiva. Cinco e Nove encaram
a coisa, confusos o bastante para no brigarem um com o outro. Os helicpteros
circulam ao redor da criatura, obviamente vendo que a besta no mais uma
ameaa.
Minha nossa Daniela responde, e se inclina em mim para se apoiar. Aquilo
no foi nem um pouco gostoso de fazer.
Eu massageio meu rosto.
No brinca!
Aquilo foi incrvel! Sam grita. Voc como uma Medusa.
Esse no vai ser meu nome de super-heri Daniela responde nervosa. Ugh.
E voc como... como... Sam est muito excitado para conseguir falar.
Como Pittacus termino por ele.
Puta merda, sim! Isso grande. Voc percebe o quo importante isso ?
imenso.

Voc est, tipo, roubando os holofotes do meu novo Legado Daniela resmunga.
Balano minha cabea e gargalho, na verdade me sentindo aliviado pela primeira vez
em dias. Nove anda at o monumento do monstro, com as mos nos quadris, e bate
na pedra. Enquanto ele faz isso, Cinco volta para o resto de ns. Noto que ele
pendurou o pingente lrico que arrancou do monstro ao redor do seu pescoo. Fico
imaginando se este o seu pingente original que ele entregou ou foi tomado por
Setrkus Ra, ou se pertence a um dos Gardes mortos. Eu no pressiono o assunto
agora. Ele estende as mos.
Bem, eu tentei ele diz. Voc pode me amarrar de novo se quiser.
Troco um rpido olhar com Sam. Sei que Cinco acabou de nos ajudar, sei que ele
disse que poderia ter quebrado aquelas amarras se precisasse, mas me sinto mais
confortvel com ele amarrado. Ele um descontrolado e um assassino. Eu no sei se
algum dia serei capaz de confiar nele.
Enquanto pego as cordas que Sam cortou h alguns minutos atrs, a Agente Walker e
seu time sobrevivente andam em nossa direo. Ela est em seu telefone via satlite
no meio de uma animada discusso.
Enquanto ela no est prestando ateno, agente Murray sorri para ns e ergue os
dois polegares em um sinal de agradecimento.
Os helicpteros pousam a uma distncia em um dos pequenos espaos que no
foram demolidos pelo Caador. Acho que eles vieram para nos levar de volta ao
acampamento militar. Tenho que descobrir o que aconteceu com os outros Gardes.
Eu no tenho nenhuma cicatriz nova na perna, o que significa que a batalha foi
ganha, ou que ainda est acontecendo. Preciso chegar at eles, at Setrkus Ra, e
colocar esse novo Legado em uso.
Bem, pelo menos o que aprendi a usar dele.
Sim, senhor Agente Walker diz ao telefone, ento o segura longe do rosto,
piscando em choque como se ela no conseguisse acreditar no que est

acontecendo. Ela parece mais surpresa pela conversa do que pela esttua gigante de
monstro que eu e Daniela acabamos de fazer. Ela segura a boca do telefone e o
estende pra mim. John, hum... o presidente quer falar com voc ela assente
com a cabea. Ele aparentemente... h ... mudou sua opinio sobre total suporte
aos lorienos. Ele quer voc em Washington imediatamente para discutir a estratgia.
Deixo as cordas com Nove. Ele est todo feliz por ser ele quem ir amarrar Cinco.
Me salvar de cair no nos deixa quites eu o ouo murmurar para Cinco.
No, no deixa Cinco responde.
Eu os ignoro por agora. Estou prestes a falar com o Presidente. Eu balano a cabea,
encarando Walker.
Isto algum tipo de pegadinha, no ?
No Walker diz, balanando o telefone pra mim. Ele de verdade. Soa
incrivelmente louco, aparentemente, mas sua filha mais velha acabou de
experimentar algum tipo de... viso? Onde voc deu um discurso?
Sam no consegue segurar a risada.
No pode ser.
Walker olha para ns.
Eu perdi alguma coisa?
No eu digo, sorrindo e pegando o telefone. Eu te explico depois.
Antes que Walker possa me entregar o telefone, meu prprio telefone comea a
vibrar no meu bolso. Somente duas pessoas no mundo tem aquele nmero Sarah e
Seis. A luta com Setrkus Ra deve ter acabado se elas esto me ligando. Caramba,
talvez elas at tenham matado aquele velho puto.
Desculpa eu digo a Walker, pegando meu prprio telefone. Ela me olha como
se eu fosse louco. Diga para o Presidente esperar, eu tenho que atender esta.

Atendo o telefone e imediatamente meu bom humor evapora. Ouo barulhos,


exploses a distncia e muitos gritos. Acho que Mark e ele parece completamente
louco, gritando para algum acordar. Minha barriga d um n.
E ento Sarah comea a falar.
John... sua voz parece trmula, fraca. Escute, eu no tenho muito tempo...

Captulo vinte e cinco


SEGUREM FIRME! LEXA GRITA PARA TRS DO ASSENTO DO
PILOTO, E A NAVE balana violentamente para o lado. Tiros de canhes
passam atravs do ar do lado de fora, quase nos atingindo. Ela faz outra
manobra evasiva e nos joga com fora para direita.
A Anubis est nos caando, descarregando a energia de seu canho toda vez
que ela tem qualquer coisa na mira. Ainda assim, tenho f que Lexa vai nos

tirar dessa, vivos. Nossa nave menor, mais rpida, e ela uma excelente
piloto.
O que est havendo a atrs, Seis? ela grita, suor escorrendo pelo seu
rosto enquanto ela nos leva para baixo, mais adentro da floresta, usando as
rvores como cobertura. Seis? Fale comigo, Seis!
Do outro lado do corredor, Ella est sentada com as costas apoiada na
parede, seus joelhos dobrados, encostando-os no peito. Ela se abraa e
oscila para frente e para trs, chorando. Seu rosto est manchado com
aquele lixo oleoso, mas pelo menos ele parou de fluir para fora dela. Ainda h
o crepitar ocasional da energia lrica ao redor de sua cabea.
Eu o avisei ela sussurra para si mesma, de novo e de novo. Eu avisei
todos vocs que isso iria acontecer.
Marina jaz num sobretudo nos fundos da nave, inconsciente e muito mal, seu
corpo amarrado no cho para no ser arremessado durante mais uma
manobra evasiva. Eu no quero nem pensar em quantos dos seus ossos
esto quebrados, ou se ela vai acordar outra vez.
Isso

no

impede

Mark,

desesperado

choroso,

de

chacoalh-la

violentamente pelos ombros.


Acorde! ele grita na frente dela. Maldita seja voc que tem o Legado
da cura! Voc tem que acordar e cur-la!
Adam se joga sobre ele. O mogadoriano empurra Mark com fora contra a
parede e pressiona seu antebrao direito contra o pescoo dele. Mark luta em
resposta, ento Adam continua pressionando at ele parar.
Pare! Voc pode mat-la, chacoalhando-a desse jeito! Adam rosna.
Eu preciso Mark implora.
Adam chacoalha a cabea dele com fora.
No h nada que voc possa fazer ele diz, tentando no parecer to
frio.
Mark pressiona sua testa contra a do Adam e grita:

Ns nunca deveramos ter vindo aqui!


Todo o caos no parece incomodar Sarah. Ela olha para mim e ri, em paz.
Ela est mais plida que nunca. Um segundo atrs, eu lhe entreguei meu
telefone via satlite para que ela pudesse ligar para John.
John... escute, eu no tenho muito tempo ela diz, sua voz baixa e fraca.
Minhas mos esto cobertas com sangue de Sarah. Estou fazendo o meu
melhor para parar o sangramento, mas o ferimento muito grande. Eu mal
sei exatamente o que a acertou, havia tantos objetos voando atravs do ar.
Alguma coisa grande e pontuda. A atingiu bem na lateral, acima do quadril e
saiu pelo outro lado. Acertou grande parte de sua cintura. Eu fui atingida por
alguns tiros durante aquela luta contra Setrkus Ra, mas eu vou conseguir.
Sem Marina, Sarah no tem chance.
Ela me arrastou para longe da pista de pouso onde eu ainda estava
paralisada. Eu no sei como ela o fez, sangrando tanto. Adrenalina? Sua
fora se esvaiu quando chegamos na floresta. Eu tive que carreg-la pelo
resto do caminho at a nave de Lexa.
O cho est coberto com o sangue dela. Assim como minhas roupas. Est
por espalhado por ambas as minhas mos. Isso aconteceu por minha culpa.
Porque ela no me deixaria enfrentar Setrkus Ra sozinha.
Garota estpida. Ela provavelmente salvou minha vida.
Por favor, John, no fale, apenas escute... Sarah diz. Voc precisa
saber, que desde o primeiro momento que eu o vi em Paradise High, eu sabia
que iriamos nos apaixonar. E eu nunca me arrependi nem um segundo
sequer. Nem mesmo agora. Eu te amo com todo meu corao, John. E
sempre amarei. Tudo... tudo valeu a pena.
A nave se inclina com fora para a esquerda. Mesmo se eu matasse Setrkus
Ra l, no impediria de sermos caados pela Anubis. Como vou explicar isso
para John? Como vou viver com isso?
Deveria ter sido eu.

Eu queria... eu queria poder ter visto voc mais uma nica vez Sarah
diz baixinho, lgrimas caindo de seus olhos. Talvez eu ainda v v-lo.
Estarei esperando por voc, John, onde quer que seja. Talvez seja... seja
como Lorien. Ou Paradise.
Bernie Kosar jaz perto de Sarah. Ele choraminga e lambe o rosto dela. Isso a
faz sorrir um pouco.
BK est aqui ela diz para John, parecendo cada vez mais distante.
Ele disse oi.
Sarah suspira. Tosse. Sangue escorre pelas laterais de sua boca, vindo de
dentro dela. Eu a vejo tentando lutar. Ela est se esforando para ficar.
Me prometa, John... me prometa que voc vai continuar lutando. Me
prometa que vai ganhar. No desista por nada, meu amor. Por favor, apenas
se lembre, eu te amo John. Eu sempre...
Sarah para de falar. Sua boca se move por mais alguns segundos, mas
nenhum som sai, e ento ela para. Eu mantenho uma das mos contra seu
estmago e continuo com a outra atrs de seu pescoo, mesmo j sabendo.
Ela se foi.

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