Fichamento Corrosão Caráter
Fichamento Corrosão Caráter
Fichamento Corrosão Caráter
laos fortes necessitam de uma associao a longo prazo, e mais do que isso, do
estabelecimento de compromissos.
Quando analisado no ambiente familiar, No h longo prazo confunde-se com a
ideia de constante mudana e a falta de comprometimento.
A nova face do capitalismo impe a experincia com a deriva no tempo, de lugar em
lugar, de emprego em emprego. As condies da nova economia tornam o dilema de
Rico uma oportunidade para a corroso de seu carter, evidenciando-se na perda de
suas qualidades. O comportamento flexvel que lhe proporcionou o sucesso o
mesmo que o enfraquece.
Flexvel
O termo flexibilidade est, conferindo a sua etimologia, intimamente relacionado
capacidade que a rvore tem de ceder e recuperar-se, como etapas de uma
restaurao. No mbito do novo capitalismo, o ser humano flexvel precisa estar
disponvel s circunstncias variveis, capaz de se adaptar a elas.
A sociedade atual constituda de instituies mais flexveis, que visam
desestruturar a rotina. No entanto, tal prtica tem ocasionado foras que manipulam
as pessoas.
Para Sennett, trs elementos so essenciais para o sistema de poder atual viabilizar
sua flexibilidade. E so eles: reinveno descontnua de instituies; especializao
flexvel de produo; e concentrao de poder sem centralizao.
Quando trata da reinveno descontnua de instituies, na rea do trabalho, surge
a ideia de tempo mutante, porm contnuo. E em contraste a esse tempo, nota-se a
mudana flexvel que busca desfazer a rotina burocrtica e que tem o objetivo de
reformular as instituies, tornando o presente desconexo do passado.
Dessa forma, a reduo de empregos aparece como fruto da chamada
reengenharia. Na obra Re-engineering the Corporation, os autores Michael
Hammer e James Champy observam que a demisso de funcionrios encoberta
pela reengenharia organizacional.
No entanto, a sugesto de uma maior eficincia pode ser enganadora, considerando
que a reengenharia pode tornar-se um caos. Assim, faz-se preciso uma mudana
irreversvel.
Alm disso, a mudana irreversvel tambm refere-se volatilidade do consumidor.
Essa volatilidade gera outra caracterstica dos regimes flexveis, a especializao
flexvel de produo. Esta ltima trata da necessidade em pr, com a maior agilidade
possvel, produtos mais diversos no mercado. a anttese do sistema de produo
embasado no fordismo.
Risco
O autor inicia o captulo abordando mais um exemplo de situao vivida com o qual
ele obteve contato. Desta vez trata-se da histria de Rose, a dona de um bar em
Nova York que ele costumava visitar.
Rose casou-se muito nova com um fabricante de chapus, e pouco depois teve dois
bebs. Passara-se certo tempo e o seu marido veio a falecer. Devido a isso,
pensando no mantimento de sua famlia, comprara o bar Trout. O Trout no era um
estabelecimento dos melhores, com uma comida que deixava a desejar. E durante
anos Rose comandou o lugar.
A mudana de ideais em Rose coincidiu com a crise da meia-idade, talvez afetada
pela comodidade de vida. A dona do bar recebera uma proposta de emprego numa
agncia de publicidade. E, procurando uma nova rotina, aceitou tal proposta.
Arrendou o Trout, e partiu na busca por novas experincias.
No entanto, passado um ano apenas, Rose j estava de volta ao seu bar. Os planos
que fizera no se consolidaram como ela desejou. Para o autor, o principal motivo do
retorno de Rose foi o choque de cultura. A vivncia diria de sucesso e fracasso,
lucro e perda, que obtinha no comando de seu prprio negcio fora substituda por
um mistrio na agncia de publicidade em que trabalhava.
Rose conclura que os bem-sucedidos na publicidade no so obrigatoriamente os
mais ambiciosos, e sim aqueles que esto longe dos fracassos aparentes. E o que a
deixava ainda mais descontente eram os testes sucessivos, e nunca sabia em que
posio estava na empresa. Sentia-se inconformada, pois no estava naquele ofcio
para prosperar financeiramente e sim para experimentar algo novo em sua vida.
Alm disso, o mundo da publicidade evidenciou algo para Rose: as pessoas de
meia-idade so tratadas como um peso a mais; como se as suas experincias de
vida fossem quase inteis, de pouco valor.
Para Sennett, Rose foi extremamente corajosa em arriscar uma vivncia nova, mas
as incertezas e a negao que recebera quanto sua experincia de vida,
acabaram por extinguir a sua coragem. Assim, ela torna-se exemplo de como o
fracasso gera confuses sobre a orientao da pessoa no mundo flexvel. O autor
ainda afirma que correr riscos em circunstncias variadas pode ser um teste de
carter.
A existncia do risco, entretanto, no mais se restringe a capitalistas de risco ou a
aventureiros, mas tornou-se uma necessidade diria para a sociedade em geral. A
prpria estrutura flexvel impe ao trabalhador a necessidade do arriscar-se.
O risco a possibilidade de alterar uma situao. O socilogo Ronald Burtt defende,
em sua obra Structural Holes, a peculiaridade de mudar de lugar numa organizao
frouxa; quanto mais brechas e desvios numa rede, mais favorvel ser a mudana
de indivduos e maiores sero as chances que os mesmos tero.
Fracasso
O autor inicia sua anlise neste captulo atribuindo aos fracassos pessoais a
caracterstica comum de ser um assunto intocvel. Evidencia-se isto na literatura
popular, onde h inmeras receitas de como vencer e uma omisso geral de como
enfrentar a derrota. Como no se pode fracassar, a resposta imediata que alivia o
ego No, no fracassou; voc uma vtima. Enquanto no interior outra voz fala:
Eu no sou bom o bastante.
O fracasso no mais uma perspectiva exclusiva para pobres e desprivilegiados, e
sim um sentimento recorrente nas vidas da classe mdia. Resultado das redues e
reengenharias, as tragdias constantes, as quais a sociedade ficou submetida, antes
atingiam em maioria a classe trabalhadora. No entanto, com um novo formato de
capitalismo, toda a sociedade atingida.
O antagonismo entre sucesso e fracasso , por si s, uma maneira de no aceitao
do fracasso. O homem tenta assegurar-se de conquistas materiais para no ser
questionado de suas derrotas, esperando encontrar em seus bens o escape para
provveis incompetncias.
Sennett cita o comentarista Walter Lippmann, que em seu livro Drift and Mastery
(Deriva e controle), estudou o clculo do sucesso do dlar na poca em que se
consolidavam as grandes indstrias nos Estados Unidos e na Europa. As
consequncias deste capitalismo eram evidentes: a falncia de pequenas firmas e a
crise em um governo exercido em nome do bem pblico.
Para Lippmann, a pior das consequncias era uma classe de operrios revoltada e
anrquica em suas lutas. Em seu estudo, ele procura descobrir qual seria a sada
para aquelas pessoas que largaram tudo o que tinham para tentar uma nova histria
nos grandes centros. Sua concluso de que o melhor a fazer era o exerccio de
uma carreira. Esse seria o remdio para o fracasso pessoal.
Na opinio de Lippmann, a carreira de um trabalhador uma histria de
desenvolvimento interior, que s possvel com habilidade e luta. A pessoa que
pretende seguir uma carreira, define objetivos a longo prazo e obtm o senso de
responsabilidade.
Ento, Richard Sennett expe o caso de um grupo de homens que ele conheceu.
Eram empregados da IBM, programadores de centrais de computadores e analistas
de sistema na antiga empresa, at que uma onda de demisses os atingiu. Em
encontros de discusso com estes homens, Sennett relata ter ouvido as
lamentaes por parte dos demitidos. E aps vrias conversas, notou uma mudana
de pensamento.
Quando a dor da demisso ainda estava recente, a discusso tratava principalmente
das traies da IBM, como se a empresa os tivesse abandonado. Relatou-se uma
tenso constante antes das demisses, e um corte nos benefcios antes vigentes.
Uma empresa de aspecto paternalista que entrou em crise por sua complexa
burocracia.
Outra ideia sobre as demisses surgiu quando notaram que profissionais indianos
tomaram seus ofcios por salrios menores e por contratos a curtos prazos.
No entanto, ao passar semanas de encontros discursivos, o autor relata que os
prprios programadores, antes revoltados com a empresa, notaram terem falhado
por no investir em suas carreiras. O fracasso a que estiveram submetidos fora uma
sucesso de escolhas erradas. Eles deveriam ter corrido o risco de tentar novos
caminhos quando perceberam a reorganizao na IBM motivada pelo desejo da
flexibilidade.
Assim, verifica-se a necessidade de relacionar-se o fracasso com o eu e o tempo.
No atribuindo s derrotas justificativas externas, e sim um senso coerente formado
por escolhas prprias. Faz-se necessrio um senso de comunidade e de pleno
carter por parte das pessoas que, inseridas na estrutura do capitalismo moderno,
esto aptas a fracassar.