Ética e Vegetarianismo
Ética e Vegetarianismo
Ética e Vegetarianismo
SUMRIO
Introduo
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SOBRE O AUTOR
Carlos Naconecy filsofo e doutor em
Filosofia. Foi pesquisador visitante na
Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Membro do Oxford Centre for Animal Ethics
e do corpo editorial do Journal of Animal
Ethics. Coordenador do Departamento de
tica Animal da Sociedade Vegetariana
Brasileira. Dentre outras publicaes, autor
do livro tica & Animais.
Do que se trata?
O que se entende por Vegetarianismo?
A quem este livreto se dirige?
Duas vises de mundo opostas
A tica Vegetariana no algo recente
As razes para comer carne
As razes do Vegetarianismo
As formas de ocultao do problema moral
Os mecanismos de resistncia ao Vegetarianismo
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2. OS ARGUMENTOS VEGETARIANOS
Apelo ao Senso Comum
Morte Desnecessria
Sofrimento Desnecessrio
Pessoa Virtuosa
Atitude de Respeito
Dignidade
Vulnerabilidade
Cuidado
Interesses
Deveres - Direitos
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INTRODUO
(por Gulherme Carvalho)
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Foto: PETA
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Galinhas poedeiras
O Brasil mantm em suas granjas aproximadamente 100 milhes
de galinhas poedeiras (aquelas usadas para produo de ovos),
sendo que mais de 90% delas vivem dentro das chamadas
gaiolas em bateria. As gaiolas em bateria so empilhadas, umas
em cima das outras, e oferecem para cada galinha poedeira
um espao menor do que uma folha de papel A4 para passar
sua vida inteira. Diferentemente dos frangos de corte, que so
mortos aos 40 dias de idade, as galinhas poedeiras perduram
esse sofrimento ao longo de um ano e meio ou dois anos, que o
perodo que se decorre at que a produtividade de ovos comece
a cair vertiginosamente, de modo que mant-la viva no vale
mais pena para a indstria.
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Vacas leiteiras
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Assista os documentrios:
A Carne Fraca, Terrqueos e Peaceable Kingdom: O Despertar
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1 - MIDGLEY, M. Animals and Why They Matter. Athens: The University of Georgia Press, 1983, p.27.
AS RAZES DO VEGETARIANISMO
1. Moral
Quando a pessoa decide evitar a carne por acreditar que o ato
de com-la eticamente errado. O mundo seria mais justo se os
animais no fossem criados e mortos para serem comidos. Nesse
2 - PLUTARCO. On the Eating of Flesh. In: WALTERS, K.S.; PORTMESS, L. (Eds.). Ethical Vegetarianism: from Pythagoras to Peter Singer. Albany: State University o0f New York Press, 1999, p.28.
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3 - NACONECY, C. tica & Animais: um guia de argumentao filosfica. Porto Alegre: ediPUCRS, 2014.
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1. Compartimentalizao
Diz respeito nossa habilidade de separar o intelectual do
emocional no que concerne quelas coisas que no queremos
comparar ou investigar de perto. Quando no podemos ou
no queremos lidar com realidades por demais desagradveis
ou ameaadoras. Exemplos:
a) Algum recusa o convite para visitar um matadouro, mas
no relaciona esse fato com sua escolha em comer carne.
b) Algum apresentado a cenas filmadas dentro de um
matadouro, mas se recusa a ver as cenas at o fim ou decide no
pensar nisso, e continua a comer carne.
2. Inconsistncia
Quando pensamento e comportamento esto desalinhados,
a ponto de no agirmos de acordo com nossos valores. Ou
quando nos recusamos a aplicar certos princpios morais a outras
circunstncias semelhantes ou idnticas. Exemplos:
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3. Racionalizao
As pessoas no gostam de admitir que esto erradas - ou melhor,
que vm fazendo algo errado ao longo de toda a sua vida. Ao ser
acusado de inconsistente, em vez de modificar seu comportamento,
comum que algum oferea uma razo para dissolver tal crtica.
Ele ir assim racionalizar suas intuies carnvoras mais primitivas,
procurando uma explicao aceitvel do ponto de vista moral para
seu consumo de carne, cujo motivo verdadeiro ele no percebe
(dizendo, por exemplo, no fui eu quem matou o animal que estou
comendo). O problema que muito das opinies pessoais esto
baseadas em intuies moldadas pela educao moral dada pelos
pais durante a infncia. E essas intuies morais podem no ser
sacudidas por argumentos ticos irrebatveis. Naquelas pessoas
cuja vontade no suficientemente forte para ouvir as razes
vegetarianas, a mente ir aonde o estmago for.
FONTES:
Michael Allen Fox. Deep Vegetarianism. Philadelphia: Temple University Press, 1999.
Tony Milligan. Beyond Animal Rights: food, pets and ethics. London: Continuum, 2010.
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OS ARGUMENTOS
VEGETARIANOS
CASO 1
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6 - RACHELS, J. The End of Life: euthanasia and morality. Oxford: Oxford University Press, 1986.
7 - DeGRAZIA, D. Self-awareness in animals. In: LURZ, R.W. (Ed.). The Philosophy of Animal Minds.
Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
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8 - ENGEL, JR.M. The Immorality of Eating Meat. In: POJMAN, L.P. (Ed.). The Moral Life: an introductory reader in ethics and literature. Oxford: Oxford University Press, 2000. O autor no inclui a
ideia de mortes desnecessrias no seu silogismo.
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9 - NOBIS, N. Vegetarianism and Virtue: Does Consequentialism Demand Too Little? Social Theory
and Practice, v.28, n.1, 2002.
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O ARGUMENTO DA DIGNIDADE
1. O conceito de dignidade est intrinsecamente vinculado ao
conceito gmeo de respeito, visto na seo anterior. Dignidade
justamente uma qualidade moral que inspira respeito.
2. do filsofo Kant a famosa distino entre coisas, que podem
ser usadas para atender os propsitos de outros, e pessoas,
sujeitos dignos, que merecem respeito moral. Meras coisas, diz
ele, tem um preo, um valor de troca. Pessoas, por outro lado,
tm uma dignidade. Elas no podem ser substitudas por algo
equivalente. A dignidade de um indivduo provm do valor que
ele tem em si mesmo, no para si prprio, nem para os outros.
Isso significa que ele no deve ser nunca tratado apenas como
um mero meio para outros fins, mas, em vez disso, como um fim
em si mesmo.
3. A tica Vegetariana toma emprestada essa distino, com a
diferena de que os animais ocupariam a categoria dos fins em
si mesmos, como criaturas dignas, merecedoras de respeito
em vez de meras coisas que se movem.
4. Se atribuir dignidade a um indivduo significa consider-lo um
fim em si mesmo, essa mesma dignidade violada ou negada
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FONTES
ANTOON DE BAETS. A Successful Utopia: The Doctrine of Human Dignity. Historein, v.7, 2007.
TOM REGAN. The Case for Animal Rights. Berkeley: University of California Press, 1983.
O ARGUMENTO DA VULNERABILIDADE
1. Por que achamos que seria horripilante matar uma pessoa
para ass-la, mas matar um porco para ass-lo, no? Imagine a
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O ARGUMENTO DO CUIDADO
1. Quando um vegetariano assiste algum comendo um peixe
durante um almoo, ele no precisa raciocinar a fim de concluir
que isso eticamente errado. Ele no precisa filosofar a respeito
disso. Ele simplesmente v que isso errado.
2. Tanto vegetarianos quanto no vegetarianos ficariam
extremamente perturbados ao visitar um matadouro. E no
levariam seus filhos para fazer essa visita. Nem gostariam de
morar do lado de um. Essa resposta emocional inapropriada?
Uma mera sentimentalidade de quem incapaz de lidar com a
dura realidade da vida? No, segundo a tica do cuidado. O ideal,
de acordo com essa concepo, no uma pessoa agir de modo
impessoal, objetivo e sem envolvimento emocional com uma
questo tica. Ao contrrio, justamente a dimenso emocional
da relao humano-animal que deve ser ressaltada.
3. Em vez dos ideais de justia e de imparcialidade, a noo-chave
aqui a de cuidado. Importa o ato de nos responsabilizarmos e
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1. Deveres
Como indivduos dotados de subjetividade/autonomia (ver seo
O Argumento da Atitude de Respeito), os animais valorizam
suas prprias vidas, por si mesmas. Isso significa que os animais
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J. BAIRD CALLICOTT. The Pragmatic Power and Promise of Theoretical Environmental Ethics:
Forging a New Discourse. Environmental Values, v.11, 2002
RONALD DWORKIN. Rights as Trumps. In: WALDRON, J. (Ed.). Theories of Rights. Oxford: Oxford
University Press, 1984.
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