Pato Mergulhao PNSC
Pato Mergulhao PNSC
Pato Mergulhao PNSC
Autora
Ivana Reis Lamas
2002
Presidente da Repblica
Fernando Henrique Cardoso
Ministro do Meio Ambiente
Jos Carlos de Carvalho
Presidente do IBAMA
Rmulo Jos Fernandes Barreto Mello
Diretor de Ecossistemas
Jlio Cesar Gonchorosky
Coordenador Geral de Unidades de Conservao
Jos Lzaro Arajo Filho
Coordenadora de Planejamento
Ins de Ftima Oliveira Dias
Gerente Executivo do IBAMA em Minas Gerais
Jader Pinto de Campos Figueiredo
Chefe do Parque Nacional da Serra da Canastra
Rosilene Aparecida Ferreira
Gesto do Contrato deste trabalho no IBAMA
Augusta Rosa Gonalves
Jos Osnil Nepomuceno
________________________________________________________
Este documento foi elaborado com recursos da Compensao Ambiental do
Empreendimento UHE Igarapava, atendendo as condicionantes da Licena
de Operao N 25/98
________________________________________________________
Empreendedor
CONSRCIO DA USINA HIDRELTRICA DE IGARAPAVA
Diretor Presidente Jos Maciel Duarte de Paiva
Diretor de Operao - Srgio Carvalho Mendona
Diretor Administrativo e Financeiro Lus Mendes Carvalho
Gesto do Contrato PARNACANASTRA - Gleuza Jesu
________________________________________________________
Executor deste trabalho
INSTITUTO TERRA BRASILIS DE DESENVOLVIMENTO SCIOAMBIENTAL
Presidente - Snia Rigueira
ii
AGRADECIMENTOS
iii
SUMRIO
INTRODUO ....................................................................................... 1
PROCEDIMENTOS ............................................................................... 4
RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................ 10
DISTRIBUIO E TAMANHO DA POPULAO ............... 10
PREFERNCIA DE HBITAT .................................................. 14
ATIVIDADES REPRODUTIVAS ............................................. 18
AMEAAS .................................................................................... 23
PROPOSTAS DE MANEJO E CONSERVAO ........................... 26
BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 29
ANEXO I TABELAS ....................................................................... 30
.
ANEXO II FOTOS ......................................................................... 39
iv
INTRODUO
em adio a essa baixa densidade das populaes locais so poucas as reas que dispem de
grande extenso de hbitat apropriado.
considerada criticamente ameaada nas listas oficiais de espcies ameaadas do mundo
(BirdLife International 2000) e das Amricas (Collar et al. 1992). Consta tambm da lista de
espcies brasileiras ameaadas (Portaria Ibama 1522/89). No Paraguai foi registrado pela
ltima vez em 1984 e parece haver pouco hbitat favorvel ainda disponvel. Um
levantamento em mais de 300km de rios na Argentina confirmou a existncia de um nico
indivduo e parece, portanto, j estar praticamente extinta tambm neste pas (Benstead et al.
1998). No estado do Paran, embora tenha sido considerada como provavelmente extinta
(Paran 1995), a espcie foi observada em 1997 no rio Tibagi (Anjos et al. 1997). Tambm
parece estar extinta no Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, So Paulo e Santa Catarina
(BirdLife International 2000). Em Minas Gerais considerada criticamente ameaada
(Deliberao Copam 041/95), sendo que a populao melhor conhecida encontra-se na regio
do Parque Nacional da Serra da Canastra (Silveira & Bartmann 2001, Bartmann 1995,
Bartmann 1988). Sua populao atual estimada em menos de 250 indivduos (BirdLife
International 2000).
Informaes biolgicas sobre M. octosetaceus so raras (Silveira & Bartmann 2001,
Bartmann 1995, Partridge 1956). No Brasil, seus hbitos foram relatados apenas por
Bartmann (1988) e Silveira & Bartmann (2001). O primeiro registrou 78 horas de observao
de uma famlia no Parque Nacional da Serra da Canastra, entre 1981 e 1984. Silveira &
Bartmann (2001) trabalharam intensamente no campo em 1996, e mais irregularmente entre
1997 e 2000. Eles registraram seis casais na rea do Parque e arredores. Tambm apresentam
dados de comportamento alimentar e reprodutivo, vocalizao, seleo de hbitats e propostas
para sua conservao.
O pato-mergulho habita rios e riachos limpos, com corredeiras, margeados de florestas, em
regies ermas e montanhosas, sendo arisco e de difcil observao (Silveira & Bartmann
2001, Collar et al. 1992, Bartmann 1988, Partridge 1956). Yamashita & Valle (1990)
argumentam que o principal fator limitante de sua distribuio a estrutura do rio, com guas
claras e corredeiras, e no o tipo de vegetao em suas margens, embora dependam desta
vegetao para nidificao. H registro de apenas um ninho para a espcie (Partridge 1956).
Ele foi descoberto em cavidade de rvore na mata ciliar (Partridge 1956). Provavelmente
reside o ano inteiro na mesma rea e o tamanho de seus territrios deve estar relacionado ao
nmero de corredeiras, cachoeiras, remansos, velocidade da gua e outros fatores que
determinam a qualidade destes territrios.
O desenvolvimento da agricultura, degradao das bacias e eroso dos solos tm afetado os
cursos d'gua favorveis ocorrncia de M. octosetaceus (Collar et al. 1992, Bartmann 1988,
Partridge 1956). Pequenas represas, inundando crregos, e a minerao de diamantes so
ainda citadas como causas do extermnio de seus hbitats. Sendo altamente vulnervel s
alteraes do hbitat e presso humana, Bartmann (1988) sugeriu que a sobrevivncia da
espcie est somente garantida em reas estritamente protegidas. Apesar disso, tem sido
registrado em poucos riachos nos arredores do Parque Nacional da Serra da Canastra (Silveira
& Bartmann 2001).
Entre as medidas propostas pelo Red Data Book para conservao do pato-mergulho esto
includos: realizao de censos atravs de sua rea de distribuio, monitoramento de
populaes conhecidas, e estudos biolgicos abordando parmetros tais como tamanho de
PROCEDIMENTOS
sido amostrados cinco pontos em cada curso dgua. Estes foram classificados em duas ou
trs categorias de acordo com as freqncias de cada varivel. Para testar se existe associao
entre a ocorrncia da espcie com as variveis ambientais foi empregado o teste de quiquadrado (Zar 1984). O mesmo teste foi empregado para testar a associao entre a ocorrncia
da espcie e a presena ou no de tipos diferentes de substrato no fundo do rio - lajedo,
pedras, seixos, areia, silte e cascalho.
Figura 1: Carto com ilustraes de espcies de aves limcolas encontradas na regio, utilizado para
checar conhecimento da populao local sobre a presena do pato-mergulho.
Data: ________________________________
Rio/Crrego: _________________________________________
No Ponto: ___________________
Ordem: ________________________________________
Coordenadas: ________________
Play-back: __________________________________________
________________
Foto: _________________________________________________
Tempo: ________________
Referncias: ______________________________________________________________________
Arbustos
2-5
1-2
Ervas
-
Curso dgua
13. Largura: ______________ mnima: ____________ mxima: _________
14. Profundidade: mnima: ____ mxima: _____ mdia: _________
15. Poluio: __ s/ evidncias
__ fontes potenciais
__ fontes bvias
16. gua: __ clara
__ pouco turva
__ turva
__ opaca
17. Cor gua: ______________________________________________________________________
18. Fundo (freq.): __ lajedo
__ pedras grandes
__ seixos
__ cascalho
___ areia
____silte
19: Detritos org.: ________________________________ (ausente, raro, mdio, abundante)
20. Razo pool/riffle ou run/bend / largura: _____________________________________________________
21. No corredeiras em 50 m: _______________________________________
22. Potencial de ocorrncia (0-5): ______________________
Obs.:
- Velocidade da gua:
- Odor:
- Outras:
Figura 2: Ficha para coleta de dados utilizada para caracterizao de cada ponto de amostragem.
Figura 3: Cpia da autorizao expedida pelo Ibama para coleta dos ovos de pato-mergulho cujo
ninho foi abandonado em julho de 2002.
RESULTADOS E DISCUSSO
10
A riqueza hdrica, aqui expressa como o nmero de cursos dgua, uma das caractersticas
mais conspcuas da paisagem local. difcil estimar quanto a amostragem realizada
representa para a totalidade da drenagem da regio, mas certo que trata-se de uma
amostragem restrita. Certamente vrios cursos dgua no visitados abrigam outros patosmergulhes, e a populao local deve ser bem mais numerosa. Durante vrias conversas, os
moradores locais indicavam a presena de marrecos pequenos, escuros e bravos (que no
permitiam aproximao) que, muito provavelmente, dizia respeito ao pato-mergulho. No
entanto, no foram consideradas informaes seguras no presente estudo por faltar uma
caracterizao mais detalhada da morfologia externa dos indivduos.
Mergus octosetaceus reconhecido como uma espcie no migratria, que no abandona os
cursos dgua onde estabelece seu territrio (Silveira & Bartmann 2001, Partridge 1956). De
fato, todos os vos de deslocamento do pato-mergulho observados em campo
acompanhavam fielmente a lmina da gua, s vezes rente superfcie, s vezes um pouco
acima da vegetao arbustiva (cerca de 5 metros de altura). As anlises aqui apresentadas
baseiam-se na suposio que eles sejam realmente confinados a seus territrios. No entanto, a
hiptese que eles no se deslocam entre cursos dgua no foi ainda testada e, portanto, no
pode se descartada.
de extrema relevncia considerar que em alguns casos era difcil distinguir se os patos
observados em diferentes locais de uma mesma rede de drenagem ou sub-bacia eram os
mesmos indivduos ou no.
No rio So Francisco, por exemplo, sabe-se com certeza que um casal habita a parte alta da
Casca DAnta e outro habita a parte baixa, at prximo a So Jos do Barreiro, pois foi visto
um casal com filhotes pequenos na parte alta no mesmo ms em que se registrou um casal
com seis filhotes grandes na parte baixa. Segundo Silveira & Bartman (2001), h ainda um
outro casal no trecho do rio So Francisco entre So Jos do Barreiro e a cachoeira Casca
DAnta. O territrio desse casal deve se estender para o rio Cachoeirinha, onde est
estabelecida a Minerao do Sul, para o qual foi obtida referncia precisa da ocorrncia
freqente de patos-mergulhes. Ainda no rio So Francisco foram observados trs indivduos
voando nas proximidades da nascente em fevereiro de 2002. Considerando que o casal da
parte alta da Casca DAnta tinha sido visto em janeiro sem filhotes e que a extenso do rio
entre a nascente e a cachoeira permite o estabelecimento de mais de um territrio para a
espcie, admite-se que esse seja um quarto casal que ainda permanecia com o filhote.
Bartmann (1995) observa que os jovens podem permanecer nos territrios dos pais at
prximo estao reprodutiva seguinte.
No se tem certeza tambm que o casal observado no crrego da Fazenda Fundo no o
mesmo avistado na sua parte alta, prximo Casa de Pedra. A cachoeira do Fundo no to
alta e parece ser fcil o deslocamento dos patos para montante ou jusante. Entretanto, sabendo
que um territrio estende-se, em mdia, por nove quilmetros, tambm possvel tratar-se de
dois casais.
J no crrego Rolinhos, admite-se que seja mais provvel a existncia de dois territrios, visto
que o desnvel entre a parte alta e baixa muito abrupto o que dificultaria o deslocamento dos
patos. O casal observado no ribeiro da Babilnia pode ser o mesmo casal 5 registrado por
Silveira & Bartmann (2001) no ribeiro das Posses.
11
A regio de confluncia dos crregos dos Coelhos, da Matinha, das Posses e dos Pombos,
juntamente com os prprios cursos dgua, apresenta abundncia de gua e isolada de
qualquer atividade humana, inclusive do turismo, podendo, ento, potencialmente ser ocupada
por diversos casais de Mergus octosetaceus.
Os dados e evidncias obtidos nesse estudo permitem concluir que a populao de M.
octosetaceus deve ser bem maior que o sugerido. Estimativas recentes apontam uma
populao total de menos que 250 indivduos (BirdLife International 2000). Com um ano de
estudo na regio da Serra da Canastra, estima-se para a regio uma populao
substancialmente maior que 80 indivduos, evidenciando que a espcie localmente menos
rara do que se supunha. Entretanto, seu status de ameaada no Brasil (Portaria Ibama
1522/89), criticamente ameaada em Minas Gerais (Deliberao Copam 041/95), nas
Amricas (Collar et al. 1992) e no mundo (BirdLife International 2000) permanece e aes
voltadas conservao da espcie e de seus hbitats devem ser priorizadas.
12
Mapa 1: Trechos de rios amostrados para confirmao da presena de pato-mergulho na regio do Parque Nacional da Serra da Canastra.
13
Preferncia de Hbitat
Informaes para caracterizao do hbitat preferencial foram levantadas em todos os cursos
dgua amostrados. Entre as vrias caractersticas analisadas, as que apresentaram
consistncia para uma anlise mais robusta foram as seguintes: ordem de grandeza do curso
dgua, grau de conservao, nvel de poluio potencial, eroso, tipo de substrato, e anlise
subjetiva do potencial de ocorrncia com base apenas nos parmetros citados na literatura
como importantes para ocorrncia do pato-mergulho.
A regresso logstica foi utilizada para testar a relao entre a ocorrncia da espcie e a ordem
do rio. E o teste do qui-quadrado, para testar a associao entre a presena da espcie e o grau
de conservao do local amostrado, o nvel de poluio, o grau de eroso, o tipo de substrato,
e o potencial de ocorrncia.
Para fins dessa anlise estatstica, o grau de conservao do curso dgua foi definido de
acordo com a categoria de conservao mais freqente, podendo ser alta, mdia ou baixa. No
existe associao entre a presena da espcie e o grau de conservao do curso dgua (2 =
3,06; g.l. = 2; p = 0,165) (Quadro 1).
Quadro 1: Nmero de registros de presena e ausncia de
Mergus octosetaceus por grau de conservao dos cursos
dgua (porcentagem entre parnteses).
Ocorrncia
Total
Ausente
Baixo
6 (60%)
Mdio
11 (61,1%)
Alto
7 (33,1%)
24
Presente
4 (40%)
7 (38,9%)
14 (66,7%)
25
10
18
22
49
Total
A presena de fontes poluidoras de cada curso dgua foi categorizada de acordo com a
freqncia de registros de poluio de cada ponto amostrado para aquele curso. Pela
freqncia, um rio foi considerado de baixo, mdio ou alto potencial de poluio. No foi
encontrada associao entre este parmetro e a presena da espcie (2 = 3,06; g.l. = 2; p =
0,165) (Quadro 2).
No foi constatada relao entre a ocorrncia da espcie e a ordem de grandeza dos cursos
dgua, definida de acordo com Strahler (1957) (Final loss = 33,6; 2 = 0,74; p = 0,38). A
espcie foi registrada tanto em cursos de pequena ordem quanto em rios de grande ordem
(Figura 4).
Os cursos dgua foram categorizados de acordo com a frequncia de registros de eroso em
cada ponto de amostragem. Pela freqncia da anlise em cada ponto, um rio foi considerado
muito ou pouco erodido. No existe relao entre o grau de eroso das margens de um corpo
dgua e a ocorrncia de Mergus octosetaceus (2 =1,83; g.l. = 1; p =0,17) (Quadro 3).
14
Total
Ausente
Baixo
6 (40%)
Mdio
7 (41,2%)
Alto
11 (64,7%)
24
Presente
9 (60%)
10 (58,2%)
6 (35,3%)
25
15
17
17
49
Total
1.2
1.0
Prob. de ocorrncia
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
-0.2
1
Ordem
Eroso
Pouco erodido
Muito erodido
15 (42,9%)
9 (64,3%)
Total
24
20 (57,1%)
5 (37,7%)
25
35
14
49
15
Em cada ponto amostral de um rio, sempre que a turbidez da gua permitia, era indicada a
ocorrncia de diferentes tipos de substrato no fundo. Os substratos identificados foram lajedo,
pedras, seixos, cascalho, areia e silte. Com base nas amostras o substrato foi considerado
presente ou ausente para cada curso dgua. Nenhum tipo de substrato apresentou associao
significativa com a ocorrncia da espcie (Quadros 4a a 4f).
Quadros 4a a 4f: Nmero de registros de presena e ausncia de Mergus octosetaceus por ocorrncia
de sedimento no fundo do curso dgua: a - lajedo, b - pedras, c - seixos, d - cascalho, e - areia, f - silte
(porcentagem entre parnteses).
a
d
Lajedo
Ocorrncia
Ausente
Ausente
12 (66,1%)
Presente
11 (40,7%)
23
Presente
7 (36,9%)
16 (59,3%)
23
19
27
46
Total
Cascalho
Ocorrncia
Total
Total
Ausente
Ausente
3 (75%)
Presente
21 (48,8%)
24
Presente
1 (25%)
22 (51,2%)
23
Total
45
47
e
Pedras
Ocorrncia
Areia
Ocorrncia
Total
Total
Ausente
Ausente
5 (62,5%)
Presente
19 (47,5%)
24
Ausente
Ausente
2 (33,3%)
Presente
22 (55%)
24
Presente
3 (37,5%)
21 (52,5%)
24
Presente
4 (66,7%)
18 (45%)
22
40
48
40
46
Total
Total
f
Seixos
Ocorrncia
Total
Total
24
Ausente
Ausente
2 (33,3%)
Presente
21 (55%)
23
23 (52,5%)
23
Presente
5 (66,7%)
17 (45%)
22
45
47
38
45
Ausente
Ausente
2 (100%)
Presente
22 (47,5%)
Presente
0 (0%)
2
Total
Silte
Ocorrncia
Total
16
considerados com baixo potencial (Quadro 5). Como j discutido no item acima
(Distribuio e tamanho da populao), essa relao fortalece a suposio de que realmente
existem patos-mergulhes nos locais considerados como muito provveis.
Potencial
Total
Ausente
Baixo
6 (85,7%)
Mdio
9 (50%)
Alto
9 (37,5%)
24
Presente
1 (14,3%)
9 (50%)
15 (62,5%)
25
18
24
49
Total
Segundo Yamashita & Valle (1990), o principal fator que limita a distribuio de Mergus
octosetaceus parece ser a estrutura dos rios, sendo seu hbitat linear aos rios de porte mdio a
grande de cabeceira de drenagem, com corredeiras e gua oligotrfica. Esse tipo de hbitat
descontnuo, limitado e pouco comum.
Acredita-se que quando as condies ambientais tornam-se desfavorveis como, por exemplo,
quando as chuvas intensas turvam completamente as guas dos rios, os indivduos sobem os
tributrios que, embora menores, mantm mais constantemente a qualidade das guas. O
crrego da Fazenda, por exemplo, afluente da margem direita do rio Santo Antnio (do norte)
relativamente pequeno e um pouco degradado. Mas possvel que sirva de refgio aos
patos-mergulhes na poca de chuvas, quando as cheias tornam o rio Santo Antnio mais
sujo levando ao deslocamento dos indivduos para crregos mais altos e menos turvos da
bacia. Vrios outros exemplos podem ser citados de patos que podem abandonar o leito
principal de rios como o So Francisco, Araguari e Santo Antnio do Sul e subir os tributrios
na busca de melhores qualidades de hbitat.
No Chapado da Canastra, rea j consolidada do Parque da Canastra, todos os cursos dgua,
incluindo suas nascentes (com exceo do ribeiro das Posses), encontram-se na rea sob
proteo restrita e no h interferncias de atividades antrpicas sobre eles h dcadas. Suas
guas muito limpas, as caractersticas estruturais, intercalando corredeiras e poos de
tamanhos e profundidades variados, e a presena constante de matas ciliares em bom estado
de conservao so elementos que reconhecidamente conferem alto padro de qualidade aos
hbitats da espcie em estudo. No Chapado da Babilnia, regio de Delfinpolis e na zona de
amortecimento do Parque, as condies ambientais variam muito e possvel encontrar
crregos e riachos com alto grau de conservao bem prximos a outros j em avanado
estado de degradao.
Os resultados das anlises acima apresentadas demonstram que, da forma como os hbitats
foram avaliados, a presena de Mergus octosetaceus no mostra dependncia com nenhum
dos parmetros analisados. Mas, prematuro afirmar que a espcie no depende de algumas
caractersticas especficas de hbitat, como se supunha. Por meio do presente estudo,
constatou-se que a espcie pode suportar um certo grau de degradao ambiental, haja vista o
17
crrego da Formiga, onde foram observados quatro indivduos 100 metros acima de um
trecho bem degradado (Foto 4). No entanto, no possvel fazer inferncias sobre o nvel de
degradao tolerado e de como as alteraes ambientais podem estar modificando os
comportamentos bsicos do pato-mergulho, e interferindo na extenso de seus territrios.
O tamanho do territrio deve estar condicionado s caractersticas que lhe conferem qualidade
como, por exemplo, abundncia de recursos alimentares. Segundo Fbio Vieira (2002,
comunicao pessoal) a fauna de peixes, alimento principal da espcie, caracterizada por
apresentar, em sua maioria espcies de pequeno porte, onde praticamente todas as espcies
no ultrapassam 15cm quando adultos. As espcies de peixes mais abundantes foram os
lambaris (Astyanax scabripinnis e A. rivularis), e o barrigudinho (Phalloceros
caudimaculatus). Na rea consolidada do Parque, registraram-se apenas quatro espcies: os
lambaris (Astyanax rivularis e A. scabripinnis), um cascudinho (Neoplecostomus aff.
paranensis) e a cambeva (Trichomycterus aff. brasiliensis) (F. Vieira 2002, comunicao
pessoal).
Uma pesquisa feita com outra espcie de Mergus (M. serrator), presente na costa leste dos
Estados Unidos, que tambm vive basicamente de peixes capturados em mergulho (alm de
alguns crustceos), mostra alguns resultados interessantes sobre a alimentao da espcie
(Miller 1996). Foi constatado que M. serrator consome de 200 a 250g por dia, quantia que
requer a captura de 15 a 20 peixes com cerca de 10-20g/peixe. Com uma taxa de sucesso de
captura de 6 a 7 %, ele necessitaria de 250 a 300 mergulhos, que poderia levar 4-5 horas. Isso
representaria de 30 a 50% do dia, considerando que ele no se alimenta noite (Miller 1996).
Tais dados podem indicar que a abundncia de alimento deve ser tambm um dos fatores a
serem considerados para a anlise de qualidade e preferncia de hbitat do pato-mergulho.
Atividades Reprodutivas
Embora o presente trabalho no tenha sido planejado para o estudo da reproduo de Mergus
octosetaceus, as observaes feitas possibilitam tecer comentrios sobre alguns aspectos
reprodutivos.
A estao de nidificao, de acordo com BirdLife International (2000), estende-se de junho a
agosto; enquanto que no Plano de Ao para Mergus octosetaceus este perodo indicado
entre junho e outubro, sendo julho o ms mais comum para incubao e agosto para ecloso.
Mas, machos e fmeas ficam constantemente juntos, como j observado por outros autores
(Silveira & Bartmann 2001, Yamashita & Valle 1990, Partridge 1956). No presente trabalho
foram observados adultos com filhotes de agosto a dezembro. O grande tamanho dos filhotes
observados em agosto no So Francisco a jusante da Casca DAnta demonstra que sua ecloso
deu-se, no mais tardar, em meados de junho, o que levaria a crer que os ovos foram postos em
meados de maio. Sendo assim, pode-se considerar que a poca reprodutiva da populao local
estende-se por, no mnimo, seis meses.
Os filhotes de tamanho mdio observados com o casal no crrego Fumal, em novembro, ainda
estavam com os pais em janeiro, mas j com boa capacidade de vo. Isso indica que os jovens
permanecem com os pais por mais de trs meses antes de se dispersarem. Em fevereiro,
18
Casal
SET
FEV
+2
+1
Casal c/ filhotes
pequenos
MAI
JUN
JUL
+ 4
+2
+2
+ 6
+2
+2
Casal c/ ninho
Indivduo sozinho
MAR ABR
+ 2
Casal ou fmea c/
filhotes mdios
Casal c/ filhotes
grandes
2002
substrato com uma fina camada de areia e terra. A fmea no saiu de cima dos ovos enquanto
o observador permaneceu prximo entrada da cavidade. Quando a fmea saa do ninho, os
ovos eram cobertos com uma penugem, aparentemente retirada de seu corpo. (Foto 6).
Com as poucas horas de observao do ninho com os pais, pde-se constatar que somente a
fmea chocava e, aparentemente, saa do ninho pelo menos uma vez por dia para se alimentar.
O macho passava parte do tempo alimentando-se ou descansando prximo ao ninho, sempre
em alerta. Mas algumas vezes ele voava para longe, permanecendo horas mais longe do
ninho. Quando observou-se a fmea sair do ninho e chamar pelo macho, ele apareceu
imediatamente, vocalizaram por poucos minutos sempre de frente um para o outro, e o macho
continuou vocalizando sozinho por vrios segundos.
O paredo rochoso com o ninho apresentava altura de cerca de 13m (Foto 7). A fenda usada
para ninho estava a 10,5m do nvel da gua e a 8m do primeiro degrau de pedras. A abertura
era voltada para o leste, mas o sol no chegava a entrar dentro da fenda, pelo menos naquela
poca do ano. As temperaturas noite dentro da fenda foram de 13oC e 14oC em duas noites
consecutivas. A temperatura mxima durante o dia chegou a 22oC.
Algumas medidas da cavidade onde encontrava-se o ninho foram tomadas:
- Abertura mxima na entrada: 30cm de altura.
- Abertura mnima na entrada: 18cm de altura
- Profundidade mxima: 2,10m.
- Distncia da depresso com os ovos da entrada: 1,50m.
- Largura mxima da fenda (a cerca de 0,60cm para dentro da abertura): 0,70m.
- Altura da fenda no ponto onde estava o ninho: ~0,50m.
A regio dominada por campos limpos, sujos e rupestres. O rio forma seqncia de quedas
dgua e poos de tamanhos e profundidades variados. Bem em frente ao ninho, o rio desce
num estreitamento da rocha formando um pequeno cnion. Poucos metros acima h um
grande poo com cerca de 20m de largura, no qual o macho ficava freqentemente pousado
ou nadando e de onde chamava a fmea. A jusante do cnion tambm abrem-se outros poos
menores nos quais o casal tambm se alimentava (Foto 8).
A descoberta do ninho do pato-mergulho fato da maior importncia para sua conservao e
manejo. Existe apenas um registro de ninho, encontrado em 1954 em uma cavidade de rvore
nas margens do Arroyo Urugua-i, em Misiones (Partridge 1956). Alguns autores j sugeriram
que a espcie poderia nidificar em cavidades nas rochas (in BirdLife International 2000), mas
tal fato ainda no havia sido confirmado. Sabe-se, portanto, agora, que a ausncia de rvores
de grande porte no fator limitante reproduo da espcie na regio. E a grande
disponibilidade de paredes rochosos com muitas fendas pode propiciar mais oportunidades
de nidificao do que cavidades em rvores.
No ms de julho, trs semanas aps a descoberta do ninho, foi organizada uma expedio,
quando o ninho seria monitorado por alguns dias para observao do comportamento parental
e seriam tiradas as medidas dos ovos. Desde o primeiro dia em que se chegou ao local, notouse apenas a presena do macho. Durante trs dias em nenhum momento a fmea foi
visualizada nas proximidades e o macho, sempre por volta das 06:50hs da manh,
aproximava-se do ninho chamando, aparentemente, por ela. Quando o ninho foi acessado para
medio e pesagem dos ovos, constatou-se a existncia de sete ovos (Fotos 9 e 10), e estes
no estavam aquecidos, o que evidenciava o abandono do ninho.
20
Os ovos apresentavam formato oval e colorao creme bem clara, quase branca. Possuam,
em mdia, 61,7mm de comprimento, 42,5mm de largura, e 59,86g de peso. Os resultados das
medidas dos ovos so apresentados no Quadro 7.
Quadro 7: Pesos e medidas dos ovos de Mergus
octosetaceus.
Ovos
Ovo 1
62,0
42,1
55
Ovo 2
60,2
42,7
57
Ovo 3
61,4
43,2
59
Ovo 4
61,7
41,3
63
Ovo 5
60,8
43,6
63
Ovo 6
Ovo 7
62,0
64,0
42,6
42,2
61
61
Embora seja uma espcie migratria, Mergus squamatus (Chinese Merganser) possui
caractersticas reprodutivas muito semelhantes s de M. octosetaceus (Zhengjie et al. 1995).
Eles nidificam em cavidades de rvores ao longo de crregos nas florestas do nordeste da
China. Tal qual M. octosetaceus, os ovos de M. squamatus so incubados somente pela fmea
e so cobertos com penugem quando a fmea deixa o ninho. Suas medidas so semelhantes:
63,3mm de comprimento, 45,9mm de largura e 61,9g de peso. O tempo de incubao descrito
para essa espcie de 35 dias (Zhengjie et al. 1995). Os autores ainda afirmam que Mergus
serrator e Mergus merganser apresentam caractersticas reprodutivas similares s de Mergus
squamatus.
Ainda que o abandono de ninhos no seja raro entre as aves (Gill 1994), sugere-se que a causa
mais provvel da ausncia da fmea seja sua morte, pois o macho continuava a chamar por ela
parecendo ignorar sua falta. Acredita-se que ela tenha sido predada. Pretende-se visitar a rea
na prxima estao reprodutiva para verificar se o mesmo local ser novamente utilizado para
nidificao. Mergus squamatus foi observado utilizando a mesma cavidade de rvore, na
China, por trs anos consecutivos (Zhengjie et al. 1995).
No so raros os potenciais predadores de pato-mergulho na regio. Com base em registros
de mamferos que ocorrem e permanecem em matas ciliares, que forrageiam prximo a
corpos dgua e que podem predar aves, o pesquisador Rogrio C. de Paula (2002,
comunicao pessoal) considera que seguintes espcies de mamferos podem potencialmente
ser predadoras de adultos e filhotes de pato-mergulho: ona-parda (Puma concolor),
jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracaj (Leopardus wiedii), gato-mourisco
(Herpailurus yagouaroundi), lobo-guar (Chrysocyon brachyurus), cachorro-do-mato
(Cerdocyon thous) e irara (Eira barbara). O furo-pequeno (Galictis cuja) provvel que
prede somente filhotes. Possveis predadores de ovos seriam: gamb (Didelphis albiventris),
21
Estado de decomposio
Destino
Avanado
conservao da casca
Ovo 2
extrao de DNA
Ovo 3
Avanado
conservao da casca
Ovo 4
Aparentemente avanado
conservao da casca
Ovo 5
Avanado
conservao da casca
Ovo 6
extrao de DNA
Ovo 7
extrao de DNA
22
Supondo que o tempo de incubao dos ovos de M. octosetaceus seja de cerca de 28 a 30 dias,
os embries pareciam estar com cerca de 8 dias de desenvolvimento quando foram
abandonados (Germn Mahecha 2002, comunicao pessoal).
O material gentico coletado, proveniente de trs indivduos irmos, no suficiente para
anlises de variabilidade gentica da populao, mas poder no futuro, juntando com DNA de
outros indivduos, fornecer importantes informaes sobre a espcie. No momento, possvel
o desenvolvimento de estudos comparativos com outras espcies. O material est depositado
no Laboratrio de Biodiversidade e Evoluo Molecular, do Departamento de Biologia Geral
da UFMG, coordenado pelo Professor Fabrcio R. Santos, com os seguintes nmeros de
identificao: Ovo 2 B0478; Ovo 6 B0479; Ovo 7 B0480.
At onde se tem conhecimento, os ovos sero os primeiros da espcie a serem incorporados a
colees de referncia. Propem-se o encaminhamento desses ovos ao Museu de Zoologia da
Universidade de So Paulo.
Ameaas
Alm de ser uma espcie naturalmente rara, populaes de Mergus octosetaceus sofrem
presses diversas que contribuem para seu decrscimo. Na regio do Parque Nacional da
Serra da Canastra, as principais ameaas detectadas esto relacionadas degradao e
destruio dos hbitats preferenciais da espcie, principalmente fora do Chapado da Canastra
(rea consolidada do Parque com cerca de 71.000ha), bem como intensificao do
ecoturismo em toda a regio.
Sendo uma espcie tpica de cursos dgua com corredeiras e/ou cachoeiras entremeados por
poos e remansos, a mudana do regime hidrolgico dos rios, principalmente devido
implantao de usinas hidreltricas que transformam longos trechos lticos em reservatrios
de guas lnticas, torna-se um fator de grande relevncia na dinmica populacional da
espcie. As represas de Peixoto e Furnas inundaram quilmetros de cursos dgua eliminando
hbitats que certamente abrigavam vrios patos-mergulhes (Foto 19). No entanto, no se tem
conhecimento da construo de novos empreendimentos hidreltricos na regio, e a mudana
do regime hidrolgico dos rios no parece ser, localmente, uma ameaa atual espcie.
Todas as atividades antrpicas que interferem na qualidade e integridade dos rios e suas
margens so potencialmente impactantes para o Mergus octosetaceus. A destruio das matas
ciliares, embora proibida por lei, lamentavelmente uma prtica ainda comum em muitas
propriedades (Foto 20). No raramente observaram-se, nas margens e at mesmo dentro do
prprio rio, restos da vegetao retirada para limpeza dos pastos (Foto 21). A degradao das
margens, com eroso e assoreamento dos cursos dgua surgem como conseqncia certa da
interferncia na vegetao marginal (Foto 22). A mata ciliar ajuda a resguardar o curso dgua
das atividades antrpicas adjacentes, conferindo maior isolamento s famlias de patosmergulhes.
Nas fazendas onde h criao de gado e a mata ciliar persiste, permitido ao gado avanar
por dentro da mata para garantir o acesso gua (Foto 23). A presena de cerca impedindo o
acesso do gado mata ciliar ou parte dela foi observada em raras ocasies. Tambm foram
23
observadas cercas atravessando os cursos dgua (Foto 24). Embora tenham sido consideradas
como possvel forma de impacto, uma vez que os patos, muito comumente, voam rente
gua, no foi possvel verificar se elas so facilmente vistas e evitadas pelos animais.
As atividades minerrias, basicamente a extrao de blocos de quartzito e caulim, impactam
diretamente os cursos dgua e, conseqentemente, sua fauna associada. Muitas dessas
mineraes so clandestinas e no passam por nenhum tipo de controle ou fiscalizao.
Algumas nascentes e cabeceiras esto aparentemente comprometidas pela explorao direta.
Alm disso, as detonaes freqentes e a deposio de rejeitos nas encostas provocam outros
graves impactos. Observou-se, prximo ao ponto 2, que cacos de pedras so acumulados at
nas margens do ribeiro Quebra-Anzol (Foto 25). Sendo as pedreiras to comuns, este fato
deve repetir-se em outros rios da regio.
Esgotos domsticos e uso de pesticidas, nas pastagens e culturas, que so carreados para as
drenagens constituem fontes de poluio permanente em algumas drenagens. As culturas,
muitas vezes, avanam at prximo s margens; e os pastos comumente estendem-se at a
calha do rio (Foto 26). As diversas estradas que cortam os cursos dgua tambm possuem
potencial de modificao ambiental, principalmente por canalizarem sedimentos para os
ambientes aquticos.
As atividades de turismo que ocorrem na rea do Parque no parecem interferir
significativamente no comportamento do pato-mergulho, haja vista que um casal de Mergus
octosetaceus vem se reproduzindo ao longo de muitos anos em um dos locais mais visitados
(Silveira & Bartmann 2001, Bartmann 1988 e observaes pessoais). No entanto, verifica-se
um crescimento alarmante do turismo na regio, tanto no Chapado da Canastra, quanto em
suas adjacncias, no Chapado da Babilnia e regio de Delfinpolis. A intensificao das
atividades tursticas, sempre procurando acesso aos rios e cachoeiras, seja para banhos,
caminhadas, prtica de boiacross ou apenas para contemplao, pode vir a comprometer o
comportamento biolgico da espcie.
Outro impacto que merece destaque especial a presena de espcies exticas de peixes na
regio. Nos reservatrios de Furnas e Peixoto foi introduzido, entre outras espcies alctones,
o tucunar (Cichla sp.) que tambm presena constante nos tanques de criao de peixes.
Espcies desse gnero tm causado profundas modificaes em ambientes onde foram
introduzidas, com o agravante de no existirem processos eficazes para sua erradicao aps o
estabelecimento em uma determinada comunidade hospedeira (F. Vieira 2002, comunicao
pessoal). Embora o tucunar habite preferencialmente ambientes lnticos, no raro encontrlo em trechos de rios. Sendo uma espcie essencialmente piscvora, seu estabelecimento pode
alterar a dinmica das comunidades aquticas nativas. Peixes pequenos nativos constituem a
base da alimentao de Mergus octosetaceus, e qualquer fator que interfira na abundncia de
sua principal fonte alimentar pode gerar consequncias graves para a populao dessa espcie.
A caa no parece ser uma ameaa atual ao pato-mergulho. Algumas informaes sobre sua
caa h algumas dcadas passadas foram obtidas, mas sem comprovaes. Certos moradores
alegam que no uma caa vantajosa, uma vez que se trata de um animal muito difcil de se
aproximar e, ao mesmo tempo, pequeno e sem muita carne. No entanto, h que se considerar
que o assunto caa evitado por todos e raramente encontra-se algum disposto a fornecer
informaes confiveis. possvel que, em tempos passados, quando era mais abundante, a
espcie tenha sido alvo mais comum de caadores, e que hoje esta seja uma atividade
realmente rara.
24
Poucas foram as espcies de aves aquticas registradas na rea de estudo, que poderiam estar
competindo com Mergus octosetaceus. Martins-pescadores foram as mais comumente
observadas em vrios cursos dgua. Marreca-anana (Amazonetta brasiliensis) no ribeiro da
Babilnia e o mergulho (Podilymbus podiceps) no rio So Francisco foram as nicas
espcies registradas bem prximas (a poucos metros de distncia) a casais de patosmergulhes. Outras espcies foram observadas nos mesmos rios onde ocorre M. octosetaceus,
embora no se tenha constatado nenhuma interao entre elas. No crrego da Joana registrouse um biguatinga (Anhinga anhinga); no rio Santo Antnio (norte do Parque) e no ribeiro da
Formiga foram detectados casais de pato-do-mato (Cairina moschata), sendo que o ltimo
encontrava-se com um filhote. O casal observado no rio Santo Antnio sobrevoou algumas
vezes o trecho do rio onde estava sendo feito o play-back para atrao do pato-mergulho.
Esse comportamento parece indicar que ele conhece a zoofonia de Mergus e que, de alguma
forma, a presena de uma espcie pode provocar alteraes no comportamento da outra.
A lontra (Lontra longicaudis) tambm foi constatada em alguns rios onde ocorre o patomergulho. Como os peixes fazem parte de sua dieta, ela poderia tambm competir pelos
recursos alimentares de M. octosetaceus. Alm disso, importante avaliar se a lontra seria
possvel predadora de filhotes de pato-mergulho.
Ainda sobre predao, algumas suposies baseadas em observaes pessoais de
pesquisadores que trabalharam na regio so apresentadas no item acima (Atividades
Reprodutivas). Durante o trabalho de campo no crrego Grande, a jusante da cachoeira do
Cerrado, quando dois ces da fazenda acompanharam todo o trecho amostrado junto com os
pesquisadores, percebeu-se que eles ficavam um pouco excitados quando ouviam a zoofonia
do pato-mergulho reproduzida para o play-back e no raramente entravam na gua em sinal
de alerta. Esse comportamento pode ser interpretado como sinal de possvel interao
agonstica entre essas espcies. Tambm relatado na literatura que o dourado (Salminus
maxillosus), um dos mais vorazes peixes do alto Paran, um perigoso inimigo para filhotes
pequenos de qualquer espcie de pato (Partridge 1956). No entanto, so necessrios estudos
voltados verificao das interaes interespecficas, tanto de competio quanto de
predao, e suas conseqncias para as populaes de Mergus octosetaceus na regio.
25
Com um ano de trabalho em campo, embora tenham sido feitos poucos contatos diretos com a
espcie, possvel traar algumas prioridades para manejo e conservao do pato-mergulho
(Mergus octosetaceus) na regio do Parque Nacional da Serra da Canastra.
A escassez de informaes sobre a biologia e comportamento da espcie dificulta as tomadas
de decises quando estas requerem embasamento tcnico. O levantamento de dados sobre
reproduo, alimentao, rea de uso, interaes intra e interespecficas, interferncia das
atividades tursticas sobre a populao, entre outros parmetros, deve ser incentivado nas
vrias localidade de ocorrncia do pato-mergulho. A regio do Parque Nacional da Serra da
Canastra muito favorvel ao desenvolvimento desses estudos e, por meio do presente
trabalho, verificou-se que abriga uma populao relativamente estvel, que poderia trazer
respostas concretas e aplicveis s questes de conservao da espcie. Pesquisas que
envolvem marcao dos indivduos, preferencialmente com uso de rdio-transmissores, para
confirmao da rea de uso e deslocamentos so essenciais para definio precisa do tamanho
e da dinmica de sua populao na regio.
Constatou-se que, to importante quanto a necessidade de desenvolvimento de estudos
biolgicos sobre a espcie, imprescindvel a implantao de um programa de divulgao e
conscientizao ambiental para as populaes locais. Muitos moradores no conhecem o patomergulho, outros indicam a presena de alguma espcie semelhante, que poderia tratar-se de
M. octosetaceus, mas no conseguem descrever detalhes fisionmicos ou comportamentais. A
populao de So Roque de Minas e de suas proximidades so mais cientes da ocorrncia
dessa espcie, muito provavelmente devido ao turismo de observadores de aves que vem no
pato-mergulho um dos maiores atrativos do Parque e eventual presena de pesquisadores
procurando pela espcie. Foi muito comum, durante as conversas com moradores, a afirmao
de que este um pato muito bravo, que no deixa chegar perto. Vale destacar que os
moradores referem-se M. octosetaceus como marreco. Para eles, pato diz respeito ao
pato-domstico e ao pato-do-mato (Cairina moschata). Assim, um programa de divulgao
associado conscientizao comunitria, ressaltando a importncia da espcie e mostrando
que sua presena na regio uma rara riqueza e motivo de orgulho, poderia trazer o
comprometimento de todos na busca e aplicao de aes benficas sua conservao. Tanto
o desenvolvimento de pesquisas cientficas quanto a implantao de projetos de educao
ambiental devem ser conduzidos por profissionais qualificados.
Ressalta-se que a conservao do pato-mergulho depende necessariamente de medidas que
envolvem a recuperao e preservao dos cursos dgua, suas nascentes e margens, incluindo
as matas ciliares. Ento, alm dos benefcios voltados conservao da prpria espcie, o
programa proposto estaria direcionado ao resgate de valores bsicos e fundamentais de uso da
terra e preservao ambiental. Em algumas regies, como na rea noroeste fora do Parque,
evidencia-se maior conscincia e comprometimento dos fazendeiros com a conservao dos
recursos hdricos em comparao com outras regies. So observados longos trechos de matas
formando verdadeiros corredores. Como j mencionado anteriormente, no item Ameaas, as
matas ciliares conferem um certo isolamento ao corpo dgua que parece favorecer a presena
de M. octosetaceus.
26
27
podem ser instalados painis de interpretao ambiental sobre a espcie. Este tem sido
o local mais comum de observao do Mergus no Parque por turistas e funcionrios do
Ibama. Entre julho e outubro/novembro provvel a visualizao de filhotes junto
com os pais;
5. proibio da introduo de espcies de peixes no nativas da regio em qualquer corpo
dgua, inclusive em audes e tanques de pesque-pague;
6. incentivo recuperao das margens dos rios e matas ciliares com espcies nativas nas
propriedades privadas, enquanto no for implantado o Programa de Divulgao e
Conscientizao Ambiental voltado conservao do pato-mergulho.
28
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29
ANEXO I
TABELAS
30
Tabela 1: Sntese dos resultados de ocorrncia de Mergus octosetaceus nos cursos dgua amostrados
durante as coletas de dados em campo.
DATA
CURSO DGUA
20/08/2001
21/08/2001
22/08/2001
23/08/2001
24/08/2001
23/09/2001
24/09/2001
25/09/2001
No confirmado.
26/09/2001
Rio Sambur
No confirmado *.
27/09/2001
15/10/2001
No confirmado.
16/10/2001
Rio Araguari
Referncias seguras*.
17/10/2001
Crrego da Parida
No confirmado*.
18/10/2001
Crrego da Joana
12/11/2001
Ribeiro da Babilnia
13/11/2001
Ribeiro do Engano
Referncia segura.
14/11/2001
15/11/2001
Crrego Claro
16/11/2001
06/12/2001
Ribeiro Grande
07/12/2001
Crrego Fumal
08/12/2001
Ribeiro da Capetinga
No confirmado.
09/12/2001
Crrego da Cabeceira
No confirmado.
10/12/2001
Ribeiro da Formiga
11/12/2001
No confirmado.
Continua...
31
DATA
CURSO DGUA
05/01/2002
Ribeiro do Turvo
No confirmado.
06/01/2002
No confirmado *.
07/01/2002
No confirmado.
08/01/2002
Crrego Rolinhos #
09/01/2002
10/01/2002
Rio So Francisco #
11/01/2002
12/01/2002
Rio do Peixe #
23/02/2002
Crrego da Picada
24/02/2002
No confirmado.
25/02/2002
Ribeiro da Prata
No confirmado *.
26/02/2002
No confirmado.
27/02/2002
21/03/2002
No confirmado.
22/03/2002
No confirmado *.
23/03/2002
Crrego da Cachoeirinha
24/03/2002
No confirmado.
25/03/2002
Ribeiro da Usina
No confirmado.
20/04/2002
No confirmado *.
21/04/2002
Crrego da Matinha
No confirmado *.
22/04/2002
No confirmado *.
23/04/2002
No confirmado *.
25/04/2002
Crrego da Fazenda
No confirmado.
26/04/2002
No confirmado *.
18/05/2002
No confirmado.
19/05/2002
26/06/2002
Crrego Quilombo
27/06/2002
29/06/2002
32
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
20/08/2001*
So Francisco
So Francisco
So Francisco
1
2
3
341067
341999
?
7754880
7755269
?
21/08/2001*
Crrego Rolinhos**
Crrego Rolinhos
1
2
?
338603
?
7766536
22/08/2001*
Crrego da Casa de
Pedra
Crrego dos Cochos
Crrego da Casa de
Pedra
2
3
?
?
?
?
23/08/2001*
Rio do Peixe
Rio do Peixe
1
2
356035
?
7760593
?
24/08/2001*
Rio So Francisco
Rio So Francisco
Rio So Francisco
1
2
3
?
?
?
?
?
?
23/09/2001
Crrego Grande
Crrego Grande
Crrego Grande
Crrego Grande
Crrego Grande
1
2
3
4
5
353598
354310
355111
356039
?
7765492
7765602
7766629
7766991
?
24/09/2001
Crrego Rolinhos
Crrego Rolinhos
Crrego Rolinhos
Crrego Rolinhos
1
2
3
4
337883
338090
338534
337960
7771923
7771778
7772123
7770675
25/09/2001
Rio do Peixe
Rio Santo Antnio (N)
Rio Santo Antnio (N)
Rio Santo Antnio (N)
Rio Santo Antnio (N)
Rio Santo Antnio (N)
Rio Santo Antnio (N)
3
1
2
3
4
5
6
?
349101
348691
348072
347721
346857
345870
?
7771500
7771251
7771885
7772300
7772340
346857
26/09/2001
Rio Sambur
Rio Sambur
Rio Sambur
Rio Sambur
Rio Sambur
1
2
3
4
5
364241
363128
362596
360691
359905
7771087
7771755
7773435
7776414
7776826
27/09/2001
1
2
3
332516
332453
331526
7768370
7769040
7769659
Continua...
33
DATA
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
15/10/2001
1
2
3
316467
316414
315869
7775008
7775836
7776612
16/10/2001
Rio Araguari
Rio Araguari
Rio Araguari
Rio Araguari
Rio Araguari
1
2
3
4
5
315188
315923
316416
316833
317198
7784501
7784571
7784575
7784177
7783843
17/10/2001
Crrego da Parida
Crrego da Parida
Crrego da Parida
1
2
3
307465
307893
308327
7776799
7777192
7777680
Crrego da Joana
Crrego da Joana
Crrego da Joana
1
2
3
300519
299900
299474
7778360
7778296
7777550
18/10/2001
19/10/2001
Crrego da Joana
Crrego da Joana
4
5
299605
300217
7779492
7779027
12/11/2001
Ribeiro da Babilnia
Ribeiro da Babilnia
Ribeiro da Babilnia
Ribeiro da Babilnia
Ribeiro da Babilnia
Ribeiro da Babilnia
1
2
3
4
5
6
323873
324549
325168
322925
322211
321670
7753033
7752649
7752336
7753242
7753749
7754046
13/11/2001
Ribeiro do Engano
Ribeiro do Engano
Ribeiro do Engano
1
2
3
291972
292378
291293
7766295
7766607
7766194
14/11/2001
1
2
3
4
5
298191
298461
298595
298096
297645
7762159
7761877
7761468
7760891
7760105
15/11/2001
Crrego Claro
Crrego Claro
Crrego Claro
Crrego Claro
Crrego Claro
Crrego Claro
1
2
3
4
5
6
311711
312111
312800
313358
313912
314790
7749739
7750024
7749845
7749750
7749057
7749450
16/11/2001
1
2
3
4
5
304278
304737
304974
305290
305799
7756547
7757203
7758057
7758874
7759621
Continua...
34
DATA
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
06/12/2001
Ribeiro Grande
Ribeiro Grande
Ribeiro Grande
Ribeiro Grande
Ribeiro Grande
1
2
3
4
5
346173
345592
344865
344462
343631
7734354
7734861
7734896
7734691
7734407
07/12/2001
Crrego Fumal
Crrego Fumal
Crrego Fumal
Crrego Fumal
Crrego Fumal
1
2
3
4
5
354963
354848
354753
354101
354323
7728837
7728080
7727249
7726658
7725791
08/12/2001
Ribeiro da Capetinga
Ribeiro da Capetinga
Ribeiro da Capetinga
Ribeiro da Capetinga
1
2
3
4
345512
346000
346942
347531
7725392
7725894
7726097
7726472
09/12/2001
Crrego da Cabeceira
Crrego da Cabeceira
Crrego da Cabeceira
Crrego da Cabeceira
Crrego da Cabeceira
Crrego da Cabeceira
1
2
3
4
5
6
349952
350123
350137
350780
351272
351760
7734331
7734697
7734929
7734985
7735280
7735684
10/12/2001
Ribeiro da Formiga
Ribeiro da Formiga
Ribeiro da Formiga
Ribeiro da Formiga
Ribeiro da Formiga
1
2
3
4
5
330992
331738
332258
332282
332587
7734638
7734597
7734863
7734401
7733871
11/12/2001
1
2
3
4
5
324442
324139
324095
323367
323304
7740523
7740992
7741620
7741552
7742137
05/01/2002
Ribeiro do Turvo
Ribeiro do Turvo
Ribeiro do Turvo
Ribeiro do Turvo
Ribeiro do Turvo
1
2
3
4
5
371980
372079
372125
371924
371871
7721162
7720541
7719951
7719026
7718218
06/01/2002
Ribeiro Quebra-Anzol
Ribeiro Quebra-Anzol
Ribeiro Quebra-Anzol
1
2
3
362108
361794
361262
7719163
7719979
7720505
07/01/2002
1
2
3
4
5
381335
381787
382669
383049
383631
7721066
7721230
7721164
7720927
7720594
Continua...
35
DATA
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
08/01/2002
Crrego Rolinhos**
Crrego Rolinhos
Crrego Rolinhos
Crrego Rolinhos
1
2
3
4
336966
336956
337298
337789
7768930
7768209
7767588
7767112
09/01/2002
Rio So Francisco
Rio So Francisco
Rio So Francisco
Rio So Francisco
Rio So Francisco
1
2
3
4
5
341181
340777
341473
342333
342895
7753521
7752911
7752627
7752298
7751994
10/01/2002
Rio So Francisco
Rio So Francisco
Rio So Francisco
1
2
3
341156
341973
342106
7754889
7755257
7756032
11/01/2002
1
2
3
4
5
332704
332662
332956
333279
333462
7766835
7766112
7765517
7764898
7764053
12/01/2002
Rio do Peixe
Rio do Peixe
Rio do Peixe
Rio do Peixe
Rio do Peixe
1
2
3
4
5
353168
353929
354810
355509
356068
7759928
7760147
7760095
7760066
7760583
23/02/2002
Crrego da Picada
Crrego da Picada
Crrego da Picada
1
2
3
363881
363736
363905
7732163
7731562
7730721
24/02/2002
1
2
3
4
5
351999
352309
352444
352705
352785
7746486
7746966
7747549
7748202
7748874
25/02/2002
Ribeiro da Prata
Ribeiro da Prata
Ribeiro da Prata
Ribeiro da Prata
1
2
3
4
354818
355414
355799
356268
7736063
7736445
7737055
7737379
26/02/2002
Ribeiro do Fumal
Ribeiro do Fumal
Ribeiro do Fumal
1
2
3
372196
372629
373189
7726196
7725634
7725188
27/02/2002
So Francisco
(nascente)
So Francisco (nasc.)
So Francisco (nasc.)
So Francisco (nasc.)
So Francisco (nasc.)
348849
7760779
2
3
4
5
347968
347190
346472
345587
7761207
7761234
7760862
7760702
Continua...
36
DATA
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
21/03/2002
1
2
3
4
5
350362
350741
351001
350244
349768
7753539
7754102
7754856
7755217
7755812
22/03/2002
1
2
3
4
330101
330916
331673
332281
7759302
7758775
7758199
7757660
23/03/2002
Crr. da Cachoeirinha
Crr. da Cachoeirinha
Crr. da Cachoeirinha
1
2
3
334803
339397
338844
7752189
7751506
7750791
24/03/2002
1
2
3
4
5
358346
357788
357409
356656
355989
7745012
7744729
7744139
7743685
7743012
25/03/2002
Ribeiro da Usina
Ribeiro da Usina
Ribeiro da Usina
1
2
3
355543
354673
353840
7758832
7758705
7758507
20/04/2002
1
2
3
319951
319510
318852
7762799
7762632
7762701
21/04/2002
Crrego da Matinha
Crrego da Matinha
Crrego da Matinha
1
2
3
319623
319254
319004
7766189
7765582
7764910
22/04/2002
1
2
3
317536
317964
318420
7764361
7763911
7764009
23/04/2002
1
2
3
4
320617
319976
319930
319448
7764922
7764827
7764488
7764007
25/04/2002
Crrego da Fazenda
Crrego da Fazenda
Crrego da Fazenda
Crrego da Fazenda
Crrego da Fazenda
1
2
3
4
5
351008
350969
350840
350608
350509
7773570
7772930
7772417
7771863
7771313
26/04/2002
Ribeiro Pinheiros
Ribeiro Pinheiros
Ribeiro Pinheiros
Ribeiro Pinheiros
Ribeiro Pinheiros
1
2
3
4
5
338784
338666
338592
338129
337319
7775240
7775767
7776254
7776621
7776284
Continua...
37
DATA
CURSO DGUA
PONTO
LONGITUDE
(UTM)
LATITUDE
(UTM)
18/05/2002
1
2
3
4
5
304432
303548
303414
302887
302174
7783654
7783613
7783857
7783595
7783745
19/05/2002
1
2
3
4
5
326170
326074
325672
325602
325427
7778211
7777714
7777116
7776692
7776026
26/06/2002
Crrego Quilombo
Crrego Quilombo
Crrego Quilombo
Crrego Quilombo
1
2
3
4
343447
344338
344971
345762
7767588
7767365
7766562
7766051
27/06/2002
1
2
3
308015
308946
309806
7768251
7767827
7767519
28/06/2002
1
2
3
319622
319543
319367
7766452
7767443
7768136
38
ANEXO II
FOTOS
39
b) Rio So Francisco.
a) Crrego da Picada.
d) Ribeiro da Babilnia.
c) Crrego da Joana.
Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS
Fotos 1 (a, b, c, d): Cursos dgua com ocorrncia confirmada do pato-mergulho (Mergus
octosetaceus).
40
a) Rio Araguari.
b) Crrego Cachoeira.
c) Crrego Quilombo.
Foto: Ivana Lamas/TERRA BRASILIS
d) Crrego Rolinhos.
Foto 2 (a, b, c, d): Cursos dgua para os quais foram obtidas referncias seguras da
ocorrncia do pato-mergulho (Mergus octosetaceus), mas sem confirmao nos trabalhos
de campo.
41
a) Ribeiro da Prata.
b) Rio Sambur.
c) Ribeiro Quebra-Anzol.
Foto 3 (a, b, c, d): Exemplos de cursos dgua com alta probabilidade de ocorrncia do pato-mergulho
(Mergus octosetaceus), sem confirmao nos trabalhos de campo.
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53