Beat Scheneider - Design Uma Introdução - Cap 1 PDF

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1. INDUSTRIALIZAO E
PRIMRDIOS DO DESIGN

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

Aspectos econmicos e sociais

Design e industrializao
O processo de industrializao que se iniciou em fins do
sculo XVIII e envolveu todo o sculo XIX levou a mudanas muito profundas no universo material e espiritual da
Europa e da Amrica do Norte. A marcha triunfal das mquinas a vapor no podia ser contida, e, na segunda metade do sculo XIX, a tcnica festejava triunfos em cada vez
mais campos da atividade humana. A consequncia foi
um crescimento cada vez mais acelerado da indstria e da
economia. A produo industrial de bens de produo e de
consumo ampliava-se incessantemente. O novo modo de
produo industrial mudou fundamentalmente a maioria
dos aspectos da vida.
Mecanizao e diviso do trabalho
A industrializao mecanizou muitas das atividades que
at ento eram realizadas manualmente. A mecanizao
foi acompanhada por uma radical diviso do trabalho, pois
nos produtos fabricados industrialmente a unidade artesanal entre projeto e execuo ficou cada vez mais cindida.
A criao dos objetos (trabalho mental) e a sua produo
(trabalho das mquinas) tornaram-se atividades distintas.
Aqui, na diviso industrial do trabalho, surgiu a moderna
atividade de projeto de produtos, surgiu o design industrial. J no eram os artesos que produziam a maioria dos
objetos e lhes davam forma. Os empresrios, em suas manufaturas ou fbricas, encarregavam os chamados projetistas ou fazedores de amostras (tambm chamados
de desenhistas ou modeladores) de desenvolverem
os produtos que depois seriam produzidos pelas mqui-

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Teoria

nas. Esses projetistas tinham sua formao, em parte, nas


escolas de desenho ou de arte, ou obtinham seus juzos
de gosto no entorno das academias de arte. Por volta de
1800, o trabalho de projetista tornou-se uma profisso
independente. No demorou para que determinados movimentos reformadores no ambiente do artesanato e das
artes aplicadas reivindicassem o direito de criar a forma
dos novos produtos, reclamando para si o belo design
dos objetos a serem produzidos (cf. captulo 2).
Concorrncia econmica e reformas
A industrializao aguou a concorrncia econmica entre as naes. A competitividade internacional atingiu sua
manifestao mais visvel nas exposies mundiais, que
comearam a surgir durante o sculo XIX. A primeira delas
realizou-se em Londres, em 1851 (figs. 1 e 2). No decurso
da segunda metade do sculo XIX, essas exposies da
pujana nacional se transformaram em mercados internacionais. Nelas as economias nacionais tinham de submeter prova as caractersticas, as qualidades e os aspectos
tpicos dos seus produtos. Elas se constituram na maior
praa de trocas para ideias criativas, porque cada pas se
fazia representar nas exposies mundiais pela elite de
seus criadores.1
Nos diversos pases, o acirramento da concorrncia internacional, mas tambm daquela dentro dos mercados
internos nacionais, levou a diversas tentativas de melhoria das condies de competio. Devido presso
exercida pela indstria e pelos profissionais, houve iniciativas, com apoio do Estado, nos setores de educao,
exposio e museus, que tambm estavam sob a influncia das exposies mundiais e cuja meta conjunta
era garantir a produo de bens de consumo capazes de
competir nos mercados. Com isso, a forma dos produtos
de consumo passou a ocupar o centro das atenes.
Houve primeiras e tmidas reformas ou correes das
artes e ofcios industriais.

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No sistema escolar da Sua, por exemplo, j houve em


fins do sculo XIX tentativas de criar locais para formao profissional e artesanal (escolas privadas de desenho
e arte). Durante o sculo XIX, surgiram novas escolas tcnicas especializadas, escolas politcnicas e liceus de artes
e ofcios, que tambm deveriam contribuir para manter a
competitividade internacional dos produtos.
Sob a influncia do modelo das exposies internacionais,
em muitos lugares, foram feitas exposies industriais nacionais e regionais de produtos industrializados. Na Sua,
a primeira ocorreu em 1862, em Lausanne. Tais exposies transformaram-se em fruns abertos de discusso,
no quais se debatia a qualidade dos produtos expostos e
oferecidos.
No impulso dessas exposies que concorriam entre si, logo
surgiram, nas principais metrpoles europeias, os primeiros
museus de artes e ofcios. Neles tambm se fazia a comparao entre os melhores produtos, dando lugar ao surgimento de um discurso especfico sobre o que mais tarde se
chamaria de design. Pela primeira vez, a forma dada aos
objetos do cotidiano se tornou um tema de interesse pblico. Reconhecia-se a importncia econmica do design.
Mais de um museu foi enriquecido com a criao de escolas profissionalizantes a eles ligadas, para sua mtua
fecundao, financiadas pelo Estado ou pelas cortes.2 A
criao de museus e escolas ampliava o acervo de projetos
e levava esse tipo de criao ao centro de discusses marcadas pela ideologia.3
Em resumo: a industrializao no teve apenas consequncias econmicas, mas trouxe tambm mltiplos debates
nas reas da poltica educacional e cultural. A conformao de produtos industriais tornou-se um fator conscientemente percebido por muitos.

adequadas aos produtos, a evoluo tecnolgica passou por


muitas fases de inovao, que se transformaram em molas
propulsoras para o desenvolvimento do design. Sua base
residia no surgimento e na aplicao de novas tecnologiasguia. Uma dessas fases foi a mecanizao da construo
de mquinas durante as ltimas dcadas do sculo XIX. A
produo mecnica (!) de mquinas para a produo de
objetos de consumo e de mquinas de impresso foi responsvel por um notvel crescimento do trabalho criativo
no mbito do design de produtos e do design grfico.4

A mola propulsora tecnolgica do design


Depois de a mecanizao da produo ter criado as bases
para uma moderna profisso destinada a conferir formas

1.
2.
3.
4.

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A mola propulsora econmica do design


A mola propulsora econmica do design industrial, da criao da forma de objetos produzidos em srie e, portanto,
padronizados, est no princpio capitalista da economia: o
capital investido no circuito econmico para gerar renda.
O capitalista est interessado em pr no mercado a maior
quantidade possvel de mercadorias para que sejam vendidas, com o intuito de obter a maior renda possvel. Mas,
para tanto, ele precisa deslocar os seus concorrentes do
mercado, por exemplo, mediante a reduo de seus custos
de produo para abaixo do nvel daqueles da concorrncia. Como isso possvel? O resultado financeiro obtido a
partir da venda dos produtos no mercado, o lucro, no
gasto, mas reinvestido, em boa parte, na produo. Com
esse capital adicional podem ser desenvolvidos e aplicados meios de produo que poupem custos e tempo, o
que melhora a prpria posio em meio concorrncia
de deslocamento. E, desse modo, sempre mais e novas
mercadorias entram no mercado.
Faz parte da lgica do modo de produo capitalista (diferentemente, por exemplo, do modo feudal medieval ou
do chamado modo de produo asitico) transformar todos
os objetos de consumo em mercadoria e inventar todas as
Gert Selle, Ideologie und Utopie des Designs, p. 55.
Lotte Schilder Br, Norbert Wild, Designland Schweiz, p. 44.
Gert Selle, Ideologie und Utopie des Designs, p. 45.
Reinhart Kssler, Informationszeitalter, in: Widerspruch 45, Zurique, 2003, p. 29.

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

Teoria

mercadorias imaginveis, com as quais seja possvel auferir lucros adicionais. O capital, portanto, no est interessado, em primeira instncia, pelo gnero das mercadorias,
pelo seu valor de uso, mas sobretudo pelo seu valor de
troca. Sem um crescimento permanente, sem um aumento constante do volume de trocas, a taxa de lucro no pode
ser aumentada e o capital investido no voltar de forma
lucrativa. A produo em massa, ou seja, a produo em
srie de objetos padronizados a preos favorveis, faz parte da essncia do capitalismo. Ela o motivo do surgimento da cultura de massas.
Para convencer os consumidores a comprarem cada vez
mais objetos de uso em forma de mercadoria, esses objetos
no podem apenas cumprir uma funo, mas precisam ter
formas atraentes e sedutoras, para se diferenciarem positivamente dos produtos concorrentes. Por isso, a indstria
orientada pelas vendas reconheceu bem cedo as grandes
possibilidades que a conformao dos produtos pode criar
para incentivar eficientemente as vendas. Porque os produtos industrializados ganham em atratividade para serem
comprados mediante mudanas permanentes de sua forma
externa, sem que isso esteja forosamente ligado a uma
melhora de sua capacidade de uso. Aqui est a origem do
design de produtos, de uma boa parte do design grfico
e do design corporativo, desenvolvido no sculo XX. Atravs do processo de criao de novas formas, os designers
revolucionam constantemente os produtos como um todo
ou meramente na sua superfcie; conferem-lhes constantemente, em outras palavras, a mesma mensagem conservadora: compre-me!! (cf. a este respeito as sees Design e
esttica das mercadorias e A tarefa do design industrial,
neste mesmo captulo).
Resumo: Design significa, em primeira instncia, integrao da esttica na produo e comercializao de mercadorias e prestao de servios com o fim de incentivar as
vendas. Serve para defender a prpria posio diante dos
concorrentes e para tirar mais proveito do capital.

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

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Fig. 1: Joseph Paxton: O Palcio de Cristal em Londres, construdo para a Exposio Mundial de 1851, depois
de sua reconstruo em Sydenham, em 1854. Aqui foram expostos pela primeira vez mveis patenteados,
produzidos industrialmente. Fonte: Peter Gssel, Gabriele Leuthuser, Architektur des 20. Jahrhunderts,
Colnia, 1990, p. 29.

Fig. 2: Charles Dutert et al.: Pavilho de mquinas


da Exposio Mundial de Paris, 1889. Fonte: Peter
Gssel, Gabriele Leuthuser, Architektur des 20.
Jahrhunderts, Colnia, 1990, p. 29.

Os primrdios do design industrial

Historicismo e esttica das mercadorias

Novas tarefas na rea da construo


O processo de industrializao trouxe, durante o sculo
XIX, uma grande variedade de novas tarefas de criao
de formas. As tarefas na rea da construo nos diversos
estados nacionais atingiram um volume indito at ento:
escolas, hospitais, edifcios para os parlamentos, palcios
de justia e museus (nacionais) multiplicaram-se em ritmo acelerado. Alm disso, em toda parte surgiam novas
fbricas, edifcios de escritrios, lojas, passagens, estaes e pontes de estradas de ferro, pavilhes de exposio
e hotis.
Todas essas construes tinham dimenses bem maiores
do que as anteriormente conhecidas tanto no que tangia
ao seu tamanho quanto no que se referia s suas pretenses. As novas tarefas na rea da construo exigiam solues radicalmente inovadoras. Elas foram cumpridas com
a ajuda de mtodos racionais e de novos materiais, como
ferro fundido, ao, vidro e concreto (figs. 1 e 2). Os materiais eram fornecidos pela jovem indstria, os mtodos
foram criados e desenvolvidos pelos engenheiros.
Por isso, as mais interessantes construes do sculo XIX
no surgiram na prancheta de arquitetos, mas de engenheiros. O engenheiro da primeira fase da era das mquinas faz parte dos pioneiros do design industrial. Ele foi o
Prometeu do sculo XIX.1 As foras criativas na arte da
construo concentravam-se no desenvolvimento tcnico
e no domnio dos novos meios.

Historicismo
A palavra historicismo refere-se, entre
outras coisas, a uma tendncia generalizada
de readotar estilos de perodos culturais
do passado. O historicismo, no sentido
mais concreto, foi uma corrente do sculo
XIX que perdurou at o fim da Primeira
Guerra Mundial. As obras historicistas na
arquitetura, nas artes plsticas e no artesanato
artstico derivavam o seu vocabulrio de
formas estilsticas de pocas anteriores
(neorromntico, neogtico, neorrenascentista
etc.). Esses estilos eram amide levemente
modificados ou combinados com outros estilos
(pluralismo estilstico). O artesanato artstico
orientava-se preferencialmente pelos modelos
extraeuropeus (por exemplo, pela arte indiana
ou japonesa).
Mas o historicismo tambm expresso
de incertezas estilsticas e de fraqueza na
orientao cultural da sociedade burguesa do
sculo XIX (cf. a seo Aspectos econmicos
e sociais, neste mesmo captulo). Mediante o
recurso a padres estilsticos j consagrados,
queria-se contrapor a essa insegurana uma
srie de valores mais estveis.
Feitos culturais do passado gozavam, pois,
de maior prioridade que os esforos por criar
formas artsticas novas, correspondentes ao
seu tempo.

1. No sculo XX, Le Corbusier ir louv-lo por ser sadio e msculo, ativo e til, equilibrado e
feliz (Citado a partir de: Beat Schneider, Penthesilea, Berna, 1999, p. 267).

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

Teoria

Fig. 3: Mquina de escrever Underwood, 1900.


Este modelo, devido aos seus duradouros efeitos em
termos de formao de normas e de criao de estilo,
tornou-se o mais bem-sucedido de seu tipo. Fonte:
Volker Albus et al., Design! Das 20. Jahrhunderts,
Munique, 2000, p. 14.

Fig. 4: Michel Thonet: Cadeira n. 14, 1859.


Material: Madeira de faia encurvada. Firma Irmos
Thonet, Viena. Fonte: Cathrine McDermott, Design
AZ, Munique, 1999, p. 108.

Fig. 5: Carl e Victoria Elsener: Canivete suo, 1981.


Este objeto legendrio baseia-se em trs princpios:
alta qualidade, versatilidade (grau de funcionalidade)
e excelente design. Fonte: Cathrine McDermott,
Design AZ, Munique, 1999, p. 218.

Objetos do cotidiano produzidos industrialmente


Embora os objetos do cotidiano continuassem a ser dominados por muito tempo por produtos artesanais, a indstria e a tcnica se fizeram presentes paulatinamente
nesse setor. Cada vez mais aparelhos produzidos industrialmente surgiam no mercado sobretudo para o uso
no lar e no trabalho. Os maiores avanos na produo
em massa de objetos de uso cotidiano foram registrados
nos EUA. L, j em 1851, Singer lanou no mercado
a primeira mquina de costura para uso domstico. Em
1874, comeou a funcionar em Nova York o primeiro
bonde eltrico produzido em massa. Na exposio mundial de Filadlfia de 1876, foi apresentado o primeiro
telefone, e a partir do mesmo ano foram produzidas em
srie as primeiras mquinas de escrever (fig. 3).
Cabe a Michel Thonet (1796-1871) um papel pioneiro na fabricao industrial de mveis. Thonet conseguiu
aproveitar novos processos tcnicos de produo na marcenaria, que tambm levaram criao de formas mais
simples. Ele no escondia os procedimentos construtivos
industriais, mas os transformava em princpio de conformao, desenvolvendo um processo para encurvar peas
macias de madeira de faia mediante a ao do vapor. A
cadeira Thonet N 24 (1859) transformou-se no suprassumo do mvel de madeira encurvada e no prottipo dos
modernos mveis de massa. At os dias de hoje, foram
vendidas mais de 100 milhes dessas cadeiras no mundo
todo (fig. 4). Um dos objetos mais antigos produzidos
industrialmente, e que at hoje um exemplo da fora
simblica e duradoura do design industrial, o canivete

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Durante o modernismo, o historicismo foi visto


sempre de modo negativo. Isso mudou no
ps- -modernismo, quando o historicismo foi
visto com crescente aceitao. As correntes
ps-modernas cultivavam, em contraste com
as modernistas, o jogo com os estilos e
ornamentos do passado (cf. captulo 13).
Design e esttica das mercadorias
Em seus trabalhos, Wolfgang Fritz Haug
analisou a funo do design industrial,
conferindo-lhe assim uma singular
importncia.1 A Crtica da esttica das
mercadorias, por ele desenvolvida, pesquisa
o carter dplice das mercadorias no sistema
econmico capitalista, que pode ser definido
como valor de uso e valor de troca. Haug
mostra com diferentes exemplos que o design
tem, sobretudo, a funo de meio para o
incremento do valor de troca ou seja, que
a conformao esttica dos objetos no
visa primariamente a uma melhora de suas
condies de uso. No ambiente capitalista,
cabe ao design uma funo comparvel quela
da Cruz Vermelha durante as guerras. Cuida
de algumas feridas nunca das mais graves ,
provocadas pelo capitalismo. Faz maquiagem
e, desse modo, prolonga, embelezando-o em
alguns pontos e mantendo elevada a moral, o
capitalismo, como a Cruz Vermelha prolonga a
guerra.2

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Fig. 6: Robert Thorne: Letras em negrito, 1821. A


primeira famlia de letras em negrito para cartazes,
anncios e publicidade foi desenvolvida em comeos
da era industrial, em 1821, na Inglaterra, por Robert
Thorne. Fonte: Philip Meggs, A History of Graphic
Design, Nova York, 1998, p. 127.

Fig. 7: S. Frizzali e J. H. Bufford: Cartaz da


campanha eleitoral de Cleveland e Hendricks, 1884.
Observa-se o extremo realismo dos retratos. Fonte:
Philip Meggs, A History of Graphic Design, Nova
York, 1998, p. 147.

suo (fig. 5). Trata-se de fato de um produto surgido no


sculo XIX, pois foi criado por Carlo e Victoria Elsener em
1896 e produzido em srie para o exrcito como faca
dos oficiais. Mas iria transformar-se em mais do que
um canivete. Seria uma compacta caixa de ferramentas,
um conjunto de talheres de qualidade e um veculo de
propaganda da qualidade do trabalho suo, conhecido
no mundo todo. At hoje, as mais conhecidas conotaes
da palavra Sua esto ligadas a ele.
Crescente necessidade de comunicao
Antes da industrializao do sculo XIX, a forma dominante de divulgao de informaes escritas era o livro.
Na sociedade industrializada, a necessidade de comunicao cresceu vertiginosamente. As condies tecnolgicas necessrias foram criadas mediante a inveno de
mquinas de impresso movidas a vapor, compositoras
mecanizadas e mquinas para a produo de papel. Agora era possvel produzir cartazes de propaganda e jornais
com mais facilidade e, com o advento da fotografia, foi
desenvolvida uma ferramenta de comunicao totalmente nova. Inaugurou-se uma era do saber, da educao e
do letramento, tornando possvel a divulgao global de
palavras e de imagens. Comeava a era da comunicao
de massas.
A tipografia de livros, que tinha se desenvolvido a partir
da escrita manual, j no era suficiente para as novas exigncias. O alfabeto, com suas 26 letras, no mais podia
funcionar apenas como sistema de sinais fonticos. A era
industrial continuou a desenvolver esses sinais, transfor-

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Fig. 8: Forst, Averell & Co.: Cartaz para impressora


Hoe, 1870. Esta mquina tornou possvel a impresso
de grandes quantidades de cromolitografias. O cartaz
demonstra a nova liberdade no uso das famlias de
letras. Fonte: Philip Meggs, A History of Graphic
Design, Nova York, 1998, p. 150.

A tarefa do design industrial


F. Mercer definiu a tarefa do designer
industrial, em 1947, com as seguintes
palavras: O designer industrial um tcnico
especializado em efeitos visuais. (Ele)
empregado por um produtor por um motivo
s: deve aumentar a procura pelos produtos
mediante o aumento de sua atratividade para o
consumidor. O produtor o remunera de acordo
com o sucesso que ele obtm em atingir esse
objetivo. A sobrevivncia do designer industrial
depende exclusivamente de sua capacidade
de obter e manter ganhos comerciais. Ele ,
em primeira instncia, um tcnico industrial
e no primordialmente um educador do
gosto dos consumidores. Sob as condies
predominantes, a sua meta deve ser maximizar
o lucro para o seu empregador.3

1. Wolfgang Fritz Haug, Kritik der Warensthetik, Frankfurt


a.M., 1971.
2. W. F. Haug, em: Bernhard Brdek, Design, p. 176.
3. F. Mercier, in: Walker, Designgeschichte, p. 41.

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

Teoria

Fig. 9: Embalagens para fumo e alimentos


industrializados, impressas com o mtodo da
cromolitografia. Fonte: Philip Meggs, A History of
Graphic Design, Nova York, 1998, p. 151.

Fig. 10: Henri Labrouste: Sala de leitura da


Biblioteca Nacional em Paris, 1861-1869. Colunas
de ferro fundido com capitis corntios e abbadas
gticas. Foto: Beat Schneider.

Fig. 11: Cadeira da sala Biedermeier do Museu


Municipal de Oldenburg, aprox. 1840. Cerejeira
folhada. Fonte: Gert Selle, Design-Geschichte in
Deutschland, Colnia, 1987, p. 162.

mando-os em formas visuais abstratas, que projetavam


caracteres grandes, fortes e ricos em contrastes sobre as
placas de publicidade. A inovao das famlias de letras
tinha comeado (fig. 6).
Logo aps a inveno da fotografia, nos anos 1860, foi
desenvolvido o processo da fotogravura, ampliando em
muito a variedade das tcnicas de ilustrao (figs. 7 e 8).
A litografia, que j tinha sido inventada em 1796, foi
aperfeioada em Boston, levando cromolitografia, abrindo assim um novo campo para o design de ilustraes a
cores. Novos campos de aplicao dessa tcnica surgiram: cartazes, rtulos e embalagens impressas (fig. 9).
Imitao e decorao
Como eram realizadas as tarefas de criao nos primrdios
da industrializao, em termos estilsticos? Nas obras arquitetnicas, a riqueza econmica das novas camadas
industriais burguesas encontrava a sua expresso numa
decorao carregada e numa ornamentao opulenta. As
necessidades de representao dessas novas camadas
no foram satisfeitas, todavia, mediante um design inovador, mas pelo recurso linguagem formal das camadas
dominantes de outrora. Por isso, a arquitetura do sculo
XIX, e, alis, tambm a arte, esgotam-se em grande medida nas imitaes de estilos passados. Igrejas, edifcios
pblicos e as residncias dos bem-aquinhoados foram
construdas nos mais variados neoestilos e, frequentemente, tambm numa mistura de diferentes estilos: estilo neorromntico, neogtico, neorrenascentista, neobarroco e neoclssico (cf. a seo sobre o historicismo,

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neste captulo). Mesmo as construes novas, desde as


fbricas at as pontes, foram recobertas na sua superfcie com uma decorao histrica (fig. 10).
Na primeira fase da produo em massa, o design dos
objetos de uso cotidiano, de fabricao industrial, imitava as formas dos produtos antes feitos de forma artesanal, de modo que os produtos feitos mecanicamente
somente se diferenciavam dos artesanais pela sua pior
qualidade. Muitos dos produtos de massa foram providos
de ornamentos histricos.
Esttica burguesa
A sociedade burguesa do sculo XIX comeou timidamente a desenvolver, em alguns pases, modelos estticos independentes, que se liberavam pouco a pouco do recurso
aos estilos do passado e se diferenciavam dos modelos
preferidos pela aristocracia de sangue ou de posses. O
estilo Biedermeier uma denominao inicialmente
satrica para a cultura trivial (bieder, em alemo) e decente da burguesia entre 1814 e a revoluo de 1848
foi uma tendncia burguesa contrria ao estilo feudalimperial predominante at 1814. Ele caracterizava-se
por uma atitude fundamentalmente racional. Os mveis
em estilo Biedermeier eram devedores do ideal da falta
de ornamento e das formas simples (fig. 11).2
Em algumas reas de predominncia do protestantismo
na Europa, os novos modelos burgueses eram caracterizados por extrema objetividade e modstia. Aqui o
caso de chamar a ateno para o nexo entre moral/religio e criao de formas, ou para a correlao entre esta

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Fig. 12: Capela da abadia cisterciense de Fontenay,


na Borgonha francesa, sculos XII/XIII. Foto: Beat
Schneider.

Fig. 13: Um espao interno mobiliado de forma


genuna, na aldeia menonita Hancock, em
Massachusetts, aprox. 1840. Os menonitas, com sua
procura por simplicidade, motivada por princpios
religiosos, podem ser vistos como precursores do
design moderno. Fonte: Dieter Weidmann, Design des
20. Jahrhunderts, Berlim, 1998, p. 13.

e uma tica crist puritana. Repetidamente, ao longo da


histria do Ocidente, a tica crist marcada pela ascese
levou criao de formas puristas: na Idade Mdia, por
exemplo, a esttica da ordem cisterciense, que se caracterizava na arquitetura interna e externa dos conventos
mediante elementos severos, quase funcionalistas (fig.
12). No sculo XIX, o caso de mencionar a comunidade
religiosa protestante puritana dos shaker, nos EUA, cujos
objetos de uso cotidiano se caracterizam por uma beleza
singela (fig. 13).
Em contraste com o opulento estilo imperial das camadas
mais altas da sociedade da poca, a cultura domstica
burguesa do sculo XIX abria mo, em grande medida, de
tecidos carregados, de marchetarias e luxos semelhantes,
dando preferncia a um aspecto modesto e unitrio dos
espaos habitados. Em consequncia da industrializao,
apareceram os primeiros mveis de confeco, que se
caracterizavam pelas suas formas singelas, funcionalidade e pelos folhados com madeiras locais (fig. 14).
Os mencionados modelos estticos da burguesia iriam
influenciar o design at o presente. At hoje so consideradas exigncias importantes para o design moderno a
funcionalidade, a singeleza e a objetividade. Contudo,
necessrio salientar aqui que o design moderno se nutre
muito mais das condies tecnolgicas de produo do
que de uma tica burguesa ou protestante.3 Porque a
coero industrial para a produo de objetos em srie e,
portanto, padronizados foi, no fim das contas, o hmus para a prevalncia de um design singelo, objetivo e
funcional.

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Fig. 14: Sof com dois gavetes. Munique, aprox.


1820. Fonte: Thomas Hauffe, Design Schrellkurs,
Colnia, 2000, p. 25.

2. At hoje no ficou claro se o Biedermeier foi apenas uma concepo burguesa de valores; o
fato de muitos mveis nesse estilo estarem inicialmente em lares aristocrticos contrape-se a
essa tese (cf. tambm: Dieter Weidmann, Design des 20. Jahrhunderts, Berlim, 1998, p. 12).
3. Esta posio defendida por Thomas Hauffe, em: Design Schnellkurs, Colnia, 2000, p. 22.

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1. Industrializao
e primrdios do design

Expoentes

Comentrio

A permanente coao pelo novo


O design como criao de objetos de uso um fenmeno
cultural conhecido desde os tempos da Idade da Pedra. O
design como conformao esttica de mercadorias e como
estimulador da vontade de comprar e da comunicao social um produto da sociedade industrial ocidental da Idade Moderna. Nela, separaram-se o valor de uso do valor de
troca dos produtos, criando o universo das mercadorias.
O design um resultado da coao econmica em prol de
uma padronizao da produo em massa. A constante mudana das formas , nas economias e culturas baseadas no
capital, uma necessidade imprescindvel, e a coao permanente pelo novo tornou-se um padro cultural bsico que
impe o seu cunho em todas as reas da vida.
Nova era das mquinas velha esttica
A produo industrial no conduziu, inicialmente, a uma
nova esttica, que fosse derivada das novas possibilidades construtivas e tcnicas e correspondesse nova autoconscincia cultural da era das mquinas. Em lugar disso,
ficava-se satisfeito, por um lado, com a mera imitao de
produtos artesanais, agora feitos por mquinas, e, por outro lado, com o recurso a estilos e formas de decorao
histricas. Qual a possvel explicao desse fenmeno?
A imitao dos produtos artesanais tem a ver, presumivelmente, com a maior chance de vender os novos produtos
assim projetados. Com a imitao da linguagem formal das
camadas outrora dominantes, contudo, a nova classe demonstrava a sua prpria reivindicao de poder.1 Com esse
mundo simulado de formas emprestadas, a nova classe

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Teoria

industrial conseguia amedrontar esteticamente a pequena


burguesia. considerado fato sociolgico que a oferta de
produtos diferenciados por classe e a imitao da ostentao feudal nos objetos de uso cotidiano, nos ambientes
pblicos e privados, uniam em suas conscincias os capitalistas e os pequeno-burgueses.2 Vista dessa forma, a
pomposa linguagem dos produtos com ostentao feudal
no apenas decorao carente de sentido, mas ganha o
seu sentido no processo da produo de uma supremacia
cultural. Simultaneamente e isso no contradiz aquilo
que foi expresso aqui at este momento , a imitao dos
estilos histricos um sinal de insegurana esttica da
classe burguesa de ento. Pois o desenvolvimento intelectual e cultural teve dificuldades para acompanhar o ritmo
do desenvolvimento econmico, durante as dcadas da
celerssima Revoluo Industrial. O primado dos valores
econmicos transtornou a cultura tradicional. A burguesia,
cada vez mais marcada pelas novas geraes de empresrios industriais, havia ocupado uma posio de liderana
na sociedade. Mas ela tinha dificuldades em se orientar
culturalmente, em desenvolver uma esttica independente
e em pr esta em consonncia com o processo econmico. Por esses motivos, a situao cultural se apresenta de
modo muito contraditrio.

1. Gert Selle, Ideologie und Utopie des Designs, p. 41 ss.


2. Idem, p. 43.

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