Livro EPSJV 011569
Livro EPSJV 011569
Livro EPSJV 011569
Presidente
Paulo Ernani Gadelha Vieira
Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio
Diretor
Mauro de Lima Gomes
Vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico
Marcela Pronko
Vice-diretor de Ensino e Informao
Marco Antnio Carvalho Santos
Vice-diretor de Gesto e Desenvolvimento Institucional
Jos Orblio de Souza Abreu
Instituto Oswaldo Cruz
Diretora
Tnia Cremonini Arajo Jorge
Vice-diretora de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao
Mariza Gonalves Morgado
Vice-diretora de Ensino, Informao e Comunicao
Helene dos Santos Barbosa
Vice-diretora de Servios de Referncia e Colees Cientficas
Elizabeth Ferreira Rangel
Vice-diretor de Desenvolvimento Institucional e Gesto
Christian Maurice Gabriel Niel
Volume 5
ORGANIZADORAS
Conselho Editorial
Dr. Maria Regina Reis Amendoeira (presidente)
Dr. Ana Luiza Lauria Filgueiras
Dr. Clarissa Menezes Maya Monteiro
Dr. Ftima Conceio Silva
Dr. Herman Gonalves Schatzmayr (in memoriam)
Dr. La Camillo-Coura
Dr. Lycia de Brito Gitirana
Dr. Marcia Cristina Ferro Alexandre
Dr. Marco Antonio Ferreira da Costa
Dr. Margareth Maria de Carvalho Queiroz
Dr. Maria Helena Migues da Rocha Leo
Dr. Otlio Machado Pereira Bastos
Dr. Paulo Roberto Soares Stephens
Coordenao Editorial
Ctia Guimares
Secretria-executiva da coleo
Josane Ferreira Filho
Desenhos
Newton Marinho da Costa Junior
Edio de Texto
Lisa Stuart
Projeto Grfico e Editorao
Marcelo Paixo
Capa
Z Luiz Fonseca
Fotos
Rodrigo Mexas
Catalogao na fonte
Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio
Biblioteca Emilia Bustamante
M722c
Autores
Alba Valria M. Silva
Mdica veterinria, mestre e doutora em Biologia Parasitria pela Fundao Oswaldo Cruz
(Fiocruz).
Aline Carvalho de Mattos
Biloga, especialista em Malacologia de Vetores pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/
Fiocruz); tecnologista em Sade Pblica do IOC/Fiocruz e gerente de qualidade do
Laboratrio de Referncia Nacional em Malacologia Mdica do IOC/Fiocruz.
Andr Figueiredo Barbosa
Bilogo, mestre em Cincias (Biologia Celular e Molecular) pelo Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) e egresso do Curso Tcnico de Pesquisa em Biologia Parasitria do mesmo
instituto; tcnico em Sade Pblica do IOC/Fiocruz e professor do Curso de Ps-graduao
Lato Sensu em Entomologia Mdica do IOC/Fiocruz.
Catarina Macedo Lopes
Biloga, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ) e especialista em Entomologia Mdica pelo curso de Entomologia Mdica do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); tecnologista em Sade Pblica do IOC/Fiocruz.
Danuza Pinheiro Bastos Garcia de Mattos
Mdica veterinria, doutoranda em Medicina Veterinria, Higiene Veterinria e
Processamento Tecnolgico de Produtos de Origem Animal pela Universidade Federal
Fluminense (UFF) e mestre em Biologia Parasitria pela Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz);
professora assistente da UFF.
Delir Correa Gomes Maues da Serra Freire
Historiadora natural, doutora em Medicina Veterinria/Parasitologia Veterinria pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); pesquisadora titular do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Fernanda Barbosa de Almeida
Biloga, doutoranda pelo Programa de Ps-graduao em Microbiologia da mesma
universidade; tecnologista da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mestre em Morfologia
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); gerente tcnica do Servio de
Referncia Nacional em Hidatidose.
Jacenir Reis dos Santos Mallet
Biloga, doutora em Biologia Parasitria pela Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mestre em
Cincias Morfolgicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); pesquisadora
titular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Joo Carlos Araujo Carreira
Doutor e mestre em Biologia Parasitria pela Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz); pesquisador
associado do Laboratrio de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Jos Roberto Machado e Silva
Biomdico, doutor em Parasitologia Veterinria pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) e mestre em Biologia Parasitria pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/
Fiocruz); professor adjunto e chefe do Departamento de Microbiologia, Imunologia e
Parasitologia da Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), e bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico (CNPq).
Lucas de Andrade Barros
Bilogo, mestre em Morfologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj);
gestor de Qualidade, Biossegurana e Ambiente do Servio de Referncia Nacional
em Hidatidose e bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico (CNPq).
Marcelo Knoff
Bilogo, doutor em Biologia Parasitria pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e
mestre em Medicina Veterinria/Parasitologia Veterinria pela Universidade Federal Rural
Sumrio
Prefcio
11
Apresentao da coleo
15
17
Captulo 1. Protozoologia
21
191
251
Captulo 4. Entomologia
283
Captulo 5. Malacologia
413
Prefcio
O Chico Trombone costumava me dizer:
Isso eu sei fazer, dr. Luiz Fernando, aprendi com Joaquim Venncio.
E era com orgulho que se referia a seu mestre.
Vimos, portanto, que a formao de tcnicos j vem dos tempos de Oswaldo. claro que no era institucionalizada como hoje. Eram outros tempos.
Joaquim Venncio nasceu na fazenda Bela Vista, Minas Gerais. Era a
fazenda da me de Carlos Chagas, pai. Em 1916, veio trabalhar no Instituto
Oswaldo Cruz. Veio e deu certo. O dr. Lutz teria dito certa vez:
No troco o Venncio por nenhum doutor de Oxford ou de Cambridge.
Se no disse, pensou.
Eficincia nos processos de seleo de pessoal? Competncia do servio de
recursos humanos? Evidentemente que no. No havia nada disso nessa poca.
As coisas eram muito mais simples, e davam certo. Veio porque era amigo do
velho Carlos Chagas. Amigos de infncia. Brincaram juntos na fazenda.
Quando Joaquim Venncio faleceu em 27 de agosto de 1955, teve seu
necrolgio publicado na Revista Brasileira de Biologia lugar de necrolgio
Prefcio | 13
Apresentao
A coletnea de livros intitulada Conceitos e mtodos para formao de
profissionais em laboratrios de sade, organizada por Etelcia Molinaro,
Luzia Caputo e Regina Amendoeira, , antes de tudo, uma obra original,
importante e necessria. Original porque no existe na literatura tcnica
em sade, na rea biomdica brasileira e internacional, ao menos que eu
saiba, algo semelhante em abrangncia, profundidade e seleo dos temas
abordados; importante pelo pblico-alvo a que se destina, muito alm da
formao de tcnicos de laboratrios, abrangendo certamente todos os
profissionais de sade; e necessria porque servir como obra de referncia
para a formao dos mencionados tcnicos e como consulta obrigatria para
todos os profissionais de sade que necessitem de esclarecimento dos aspectos tcnicos ali abordados.
Versada em cinco volumes e 23 captulos, organizados em sequncia lgica, desde a biossegurana e as boas prticas de laboratrio, passando por
todos os fundamentos das tcnicas laboratoriais bioqumica bsica, biologia
celular e molecular, histologia e ultraestrutura , at atingir o cerne da prtica
Protozoologia | 21
Captulo 1
Protozoologia
Maria Regina Reis Amendoeira
Danuza Pinheiro Bastos Garcia de Mattos
Joo Carlos de Arajo Carreira
Alba Valria Machado da Silva
Patrcia Riddell Millar Goulart
Introduo
seres unicelulares, eucariotas, que apresentam organelas2 capazes de desempenhar funes em sua nutrio, locomoo e na reproduo de suas diferentes
formas. As organelas dos protozorios podem ser estticas ou dinmicas:
organelas estticas externas: membrana, pelcula,3 teca,4 lorica,5
parede cstica6
internas: axstilos7
organelas dinmicas (locomoo) pseudpodes8
flagelos9
clios10
Os protozorios podem ter habitat:11
aqutico vivem na gua do mar ou no fundo dos oceanos;
em gua doce, salobra ou poluda;
terrestre vivem no solo ou em matria orgnica
em decomposio.
Estruturas celulares (mitocndrias, aparelho de Golgi, ribossomas, entre outras) que, nos protozorios, diferenciam-se para desempenhar determinadas funes, as quais, no caso dos metazorios,
so de competncia de diferentes rgos.
3
Membrana delgada.
4
Envoltrio protetor de alguns protozorios.
5
Carapaa externa protetora de alguns protozorios.
6
Envoltrio que protege o cisto, de estrutura resistente.
7
Estrutura celular formada por microtbulos, encontrada em girdias e tricmonas.
8
Projees originadas por movimento do citoplasma que ocorrem em alguns protozorios.
9
Filamento protoplasmtico, muito mvel, utilizado na locomoo de alguns protozorios.
10
Formao mvel presente na superfcie de alguns protozorios e que os auxilia em sua locomoo nos fluidos que os circundam.
11
Tipo de lugar onde um organismo vive e se reproduz.
2
Protozoologia | 23
Subfilo Mastigophora
Ordem: Kinetoplastida
Gneros: Trypanosoma e Leishmania
Subordem: Diplomonadina
Gnero: Giardia
Espcie: Giardia intestinalis
Ordem: Trichomonadida
Gnero: Trichomonas
Espcie: Trichomonas vaginalis
Subfilo Sarcodina
Ordem: Amoebida
Gneros: Entamoeba
Endolimax
Iodamoeba
Acanthamoeba
Hartmannella
Naegleria
Vahlkampfia
Filo Apicomplexa
So esporozorios que apresentam deslocamento por deslizamento (sem
pseudpodos, flagelos ou clios) determinado pela contrao de microtbulos
subpeliculares e pelo complexo apical de penetrao; todos os membros do
filo so parasitos obrigatrios, ou seja, apresentam alguma deficincia metablica e, por isso, dependem de um hospedeiro para sobreviver.
Protozoologia | 25
Ordem: Eucoccidiida
Gneros: Toxoplasma
Isospora
Sarcocystis
Cryptosporidium
Ordem: Hemosporidiida
Gnero: Plasmodium
Ordem: Piroplasmida
Gnero: Babesia
Filo Ciliophora
Assim chamados porque seu deslocamento determinado pelo batimento
de clios. Dentre os protozorios desse filo, a nica espcie que pode vir a
parasitar o homem o gnero Balantidium, espcie Balantidium coli, maior
protozorio parasito humano.
Ordem: Trichostomatida
Gnero: Balantidium
A famlia Trypanosomatidae engloba oito gneros: Trypanosoma, Leishmania, Endotrypanum, Leptomonas, Herpetomonas, Crithidia, Blastocrithidia e
Phytomonas.
Os gneros Trypanosoma, Leishmania e Endotrypanum so representados
por organismos heterxenos, parasitos de vertebrados; em sua maioria, so
transmitidos por vetores hematfagos: artrpodes ou sanguessugas.
Protozoologia | 27
Protozoologia | 29
Amastigotas: so as formas do parasito que fazem multiplicao intracelular obrigatria no hospedeiro vertebrado; tm formato arredondado ou
ovoide e no apresentam flagelo livre.
Protozoologia | 31
Protozoologia | 33
b) Relao parasitohospedeiro
Habitat: sangue (extracelularmente), clulas do sistema fagoctico mononuclear (SFM), fibras musculares cardacas, esquelticas ou lisas e clulas do
sistema nervoso.
Aps a fase da infeco, ocorre a evoluo para a fase crnica denominada por alguns autores de fase indeterminada, pois uma fase latente
onde no h sintomatologia clnica , que pode evoluir para a fase crnica
sintomtica de 10 a 15 anos aps a fase aguda da infeco, ou a doena
pode permanecer assintomtica por toda a vida do paciente. Nessa fase, a
quantidade de parasitos no sangue muito baixa.
Como j mencionado anteriormente, a doena causada pelo T. cruzi nos
humanos chama-se doena de Chagas. Ela apresenta grande variabilidade em
seus quadros clnicos e tambm nos aspectos histopatolgicos. Em razo dos
sintomas, a doena de Chagas dividida em fase aguda e fase crnica. Na
fase aguda, o paciente pode apresentar chagoma de inoculao (cutneo)
ou sinal de Romaa (edema de plpebra), febre, hepatoesplenomegalia (fgado e bao aumentados) e miocardite. Na fase crnica, o indivduo pode
Protozoologia | 35
Imunodiagnstico
O diagnstico sorolgico da infeco chagsica baseia-se na deteco de
anticorpos anti-T. cruzi das classes IgM (fase aguda) e IgG (fase crnica) no
soro do paciente. Os testes sorolgicos, em geral, apresentam variabilidade
na sensibilidade e na especificidade. No entanto, fatores como imunocompetncia do hospedeiro, qualidade do antgeno e dos reagentes e calibrao
dos instrumentos, entre outros, podem interferir no resultado do teste. Pode
ocorrer, inclusive, reao cruzada com soro de pacientes de reas endmicas
de leishmaniose. Alguns exemplos de mtodos para o imunodiagnstico de
T. cruzi so a reao de imunofluorescncia indireta (Rifi) e os testes imunoenzimticos, como o ELISA (do ingls Enzyme-Linked Immuno Sorbent
Assay), por exemplo.
Mtodos moleculares
O mtodo mais utilizado o da reao em cadeia da polimerase, com deteco do DNA do cinetoplasto (kDNA) do parasito por meio da utilizao
de amostras de sangue e/ou tecidos dos indivduos infectados.
Fase crnica
Mtodos parasitolgicos indiretos
Xenodiagnstico: tem por base a multiplicao das formas epimastigotas
no trato digestivo do triatomneo, permitindo sua deteco nas fezes ou na
urina dos insetos alimentados com sangue do paciente aps perodo de 1 a 3
meses. Existe ainda a opo do xenodiagnstico artificial, utilizado quando
no se pode praticar o xenodiagnstico natural e quando se objetiva pesquisar o parasito em outros lquidos, como o cefalorraquidiano, que, misturado
com o sangue, sugado pelos triatomneos. Para tanto, o sangue dos pacientes coletado com anticoagulante, mantido a 37C e oferecido aos insetos
atravs de uma membrana.
14
Protozoologia | 37
Prevalncia
Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS) (2010), a doena
de Chagas atinge cerca de 10 milhes de pessoas no mundo, principalmente
na Amrica Latina, tendo causado, em 2008, mais de 10 mil mortes, com
uma incidncia de 300 mil novos casos ao ano. No Brasil, cerca de 2 milhes de pessoas esto infectadas.
Mecanismos de infeco
Para o homem, o principal mecanismo de infeco ativo cutneo, com a
penetrao das formas tripomastigotas metacclicas na pele lesionada, na mucosa
ou na conjuntiva, sempre mediante o contato com as fezes de triatomneos infectados, que ocorre durante a hematofagia, pois o inseto frequentemente defeca
sobre a pele do hospedeiro. Outro modo comum de infeco a transfuso
sangunea; pela transfuso possvel que um indivduo que nunca tenha tido contato com barbeiros por exemplo, indivduos de reas urbanas e que possuem
melhores condiesde moradia seja infectado. J foram descritos casos de
infeco transplacentria e de infeco por transplante de rgos. A infeco oral
pode ocorrer pela ingesto de alimentos contaminados com material infectante
fezes, urina e triatomneos triturados proveniente especialmente de triatomneos.
g) Profilaxia e controle
De maneira geral, a metodologia recomendada para o controle da doena
de Chagas est relacionada aos seguintes fatores:
controle dos triatomneos, com o uso de inseticidas nos esconderijos
dos insetos;
educao ambiental, com a melhoria das habitaes, para que os barbeiros no encontrem condies favorveis de desenvolvimento;
educao sanitria visando esclarecer a populao sobre a doena, procedimento fundamental para que ela busque medidas prticas a fim de
evitar a infeco;
Protozoologia | 39
15
m = micrmetro
Protozoologia | 41
b) Relao parasitohospedeiro
A infeco pode ocorrer em trs estgios:
1 estgio pode haver o desenvolvimento de um cancro tripanossmico no local da picada, conhecido como cancro de inoculao, e inchao
edematoso, que desaparece aps trs semanas em mdia;
2 estgio denominado estgio hemolinftico, apresenta os seguintes
sintomas: febre, tremores, dores musculares e articulares, linfadenopatia (gnglios linfticos aumentados), mal-estar, perda de peso, anemia e trombocitopenia (reduo do nmero de plaquetas no sangue);
3 estgio conhecido como estgio meningoenceflico, nele o parasito
invade o sistema nervoso central, ocasionando dores de cabea, sonolncia,
convulses epilpticas e apatia que progride para o coma.
O curso da infeco muito mais grave para o T. b. rhodesiense do que
para o T. b. gambiense. A doena pode levar os indivduos morte num
perodo mdio de, para o T. b. gambiense, seis meses a seis anos e, para o
T. b. rhodesiense, de at seis meses.
Acredita-se que a patologia da doena do sono esteja relacionada a mecanismos imunolgicos.
c) Diagnstico laboratorial
Mtodos parasitolgicos diretos
Pode-se fazer o exame direto de amostras provenientes do sangue, do
fluido do cancro, do aspirado de linfonodos, da medula ssea e, no estgio
final da infeco, do lquido cefalorraquidiano. Com o exame a fresco dessas
amostras, observa-se a motilidade do parasito; esse material pode ser fixado
posteriormente com metanol e corado pelo Giemsa para visualizao das
formas tripomastigotas.
Protozoologia | 43
Protozoologia | 45
b) Epidemiologia
Tem distribuio geogrfica sobreposta (simpatria) ao T. cruzi. O T. rangeli
j foi encontrado no Brasil, Venezuela, Colmbia, Panam, El Salvador, Costa
Rica, Guatemala e Honduras, sempre em situaes nas quais o protozorio no
causava doena sintomtica no homem.
Em reas onde o T. cruzi e o T. rangeli esto presentes, os testes sorolgicos podem apresentar resultados falsos positivos, pois existe a possibilidade
de reaes cruzadas. Para distinguir essas duas protozooses, recorre-se ao
xenodiagnstico uma vez que o T. rangeli coloniza as glndulas salivares do
vetor , cultura tecidual ou, ainda, s tcnicas de biologia molecular, como
a reao em cadeia da polimerase.
Parasito que necessita de dois ou mais hospedeiros para a realizao de seu ciclo de vida.
Protozoologia | 47
Forma promastigota: observada no tubo digestivo do hospedeiro invertebrado e em meio de cultura acelular. Tem formato fusiforme ou piriforme,
ncleo arredondado, cinetoplasto em forma de basto e flagelo exteriorizado
na poro anterior do parasito.
Protozoologia | 49
b) Leishmnias e leishmaniose
Do ponto de vista clnico, as leishmanioses do Novo Mundo se dividem
em dois grandes grupos: tegumentar (cutnea) e visceral.
Leishmaniose tegumentar
Os parasitos do gnero Leishmania induzem respostas complexas no hospedeiro vertebrado, efetuadas e/ou moduladas pelo sistema imune do mesmo.
Principais formas cutneas no Novo Mundo
A) Leishmania (Viannia) braziliensis
Tem ampla distribuio no Brasil, na Venezuela, na Guiana Francesa e na
Amrica Central. encontrada em reas de colonizao recente ou antiga,
e, nessas ltimas, o ciclo de transmisso est associado a animais domsticos como ces, equinos e mulas , e a sinantrpicos como roedores. A
ocorrncia de casos humanos est relacionada ocupao desordenada na
periferia dos grandes centros urbanos ou aos desmatamentos. As espcies
vetoras mais comuns so Lutzomyia intermedia, L. whitmani e Psychodopygus
wellcomei.
B) Leishmania (Viannia) guyanensis
Ocorre em territrios da Venezuela, na Guiana Francesa, no Suriname e no
Brasil, podendo ser observada na Calha Norte da Amaznia, principalmente
em reas de desmatamento e de colonizao recente. O ciclo epidemiolgico
est relacionado a alguns hospedeiros silvestres, tais como a preguia, o tamandu, marsupiais e roedores; os casos humanos ocorrem com a invaso da
mata pelo homem, com finalidades de desmatamento ou agricultura. As espcies vetoras mais comuns so Lutzomyia umbratilis, L. whitmani e L. anduzei.
C) Leishmania (Leishmania) amazonensis
Ocorre na Colmbia, no Panam e no Brasil, onde observada na Bacia Amaznica e nos estados do Maranho, Bahia, Minas Gerais, Gois e
Rio de Janeiro. Seu ciclo epidemiolgico silvestre, envolvendo roedores
silvestres e marsupiais como hospedeiros. A infeco no homem pouco
frequente. Seu vetor Lutzomyia flaviscutellata.
D) Leishmania mexicana
Ocorre no Mxico, na Guatemala e em Belize, como zoonose florestal.
Seu ciclo epidemiolgico silvestre, sendo os roedores os principais reservatrios. A lcera dos chicleros, como conhecida, uma doena ocupacional, visto que a populao mais atingida a dos trabalhadores extratores
de chicle. As espcies vetoras mais comuns so Lutzomyia flaviscutellata e
Lutzomyia panamensis.
Protozoologia | 51
Protozoologia | 53
17
observar semanalmente, por quatro semanas, em microscpio ptico. A utilizao dessa tcnica permite observar as formas promastigotas. uma tcnica
pouco utilizada na rotina diagnstica.
Inoculao em animal de laboratrio
Inoculao do material obtido de puno ou bipsia por via subcutnea
ou intradrmica em hamster. A inoculao de animais, embora no tenha aplicao prtica para fins de diagnstico imediato, pode ser til para o isolamento do parasito visando sua caracterizao e aos estudos epidemiolgicos. A
utilizao dessa tcnica permite observar as formas amastigotas. uma tcnica
pouco utilizada na rotina diagnstica.
Mtodos indiretos
Imunolgicos
Teste intradrmico: uma reao de hipersensibilidade celular retardada
utilizada no diagnstico da leishmaniose tegumentar, porm indica somente a
reatividade aos antgenos utilizados; tem sido tambm empregado no controle
da cura.
Pesquisa de anticorpos sricos: as tcnicas mais utilizadas so a reao de
imunofluorescncia indireta (Rifi) e o teste imunoenzimtico ELISA.
Moleculares
Reao em cadeia da polimerase: utilizada para deteco do kDNA
(DNA do cinetoplasto) do parasito, por meio de amostras de sangue e/ou
tecidos de pacientes infectados.
Protozoologia | 55
Leishmaniose visceral
Mtodos diretos (evidenciao do parasito)
Aspirado (puno) de material do bao, medula ssea ou linfonodo:
com qualquer dessas amostras realizado o esfregao em lmina, posteriormente fixado com metanol e corado pelo Giemsa, Leishman ou Pantico. A
utilizao desse mtodo permite observar as formas amastigotas.
Bipsia de fgado ou bao: imprint e/ou histopatologia para observao
das formas amastigotas. A bipsia de bao ou de fgado um procedimento
de elevado risco que s deve ser realizado em condies especiais e por
mdicos.
OBS.: Embora de maior simplicidade e menor risco para o paciente,
o material de medula ssea, coletado atravs de puno do esterno,
da tbia ou da crista ilaca, tambm deve ser coletado por mdicos, em
ambiente com condies adequadas.
Esfregaos do material biolgico coletado: devem ser feitos em papel de
nitrocelulose, visando ao diagnstico por PCR.
Meio de cultura (cultivo em meios acelulares)
Semear em meio apropriado NNN, LIT, BHI, Schneider material
obtido de puno ou bipsia. Manter entre as temperaturas de 24 a 27C
e observar semanalmente, por quatro semanas, em microscpio ptico. A
utilizao dessa tcnica permite observar as formas promastigotas.
Inoculao em animal de laboratrio
Inoculao do material obtido de puno ou bipsia por via intraperitoneal em hamster. A utilizao dessa tcnica permite observar as formas
amastigotas. Essa metodologia, embora no tenha aplicao prtica para fins
Protozoologia | 57
Por ao do homem.
cerca de 3.500 casos por ano, com uma taxa de letalidade que, em algumas
regies, atinge 10%.
e) Profilaxia e controle
Muitas vezes, a profilaxia e o controle das leishmanioses so de difcil execuo. preciso proceder ampla anlise local da epidemiologia da doena
a fim de avaliar a utilizao de medidas profilticas e de controle, quando
viveis. As estratgias de controle utilizadas no Brasil devem estar integradas
e focadas no diagnstico e tratamento dos casos humanos, em inquritos
sorolgicos, na eliminao de ces soropositivos, no manejo ambiental e no
controle qumico para a reduo da espcie vetora.
Combate ao flebotomneo: algumas medidas que podem ser adotadas so
uso de inseticidas no ambiente (fumac) em reas endmicas urbanas; uso de
repelentes ao entrar na mata; uso de telas de malha fina, impedindo a entrada
do vetor no domiclio. Em relao ao manejo ambiental, evitar desmatamentos
e construes prximas de reas de florestas.
Controle de reservatrios: segundo a Organizao Mundial da Sade
(2010), ces comprovadamente parasitados por Leishmania chagasi devem
ser submetidos eutansia. Atualmente outras medidas de controle tambm
tm sido utilizadas, tais como borrifao de inseticidas nos cachorros, uso de
coleiras com deltametrina e vacinao dos ces, porm algumas dessas estratgias exigem ainda maiores estudos.
Protozoologia | 59
A) Giardia lamblia
a) Morfologia e biologia
A Giardia lamblia, tambm conhecida como Giardia duodenalis e Giardia
intestinalis, pertence ao filo Sarcomastigophora e ao subfilo Mastigophora.
So parasitos do intestino delgado de uma srie de mamferos, incluindo o
homem, no qual pode causar diarreia aguda e crnica. Anteriormente acreditava-se que homens e outros animais eram infectados por espcies diferentes,
mas atualmente h uma tendncia a se crer tratar-se de uma mesma espcie
que pode parasitar homens, ces, gatos e mais uma srie de outros mamferos.
Existem variaes genticas dentro do gnero e da espcie G. lamblia. Diferenas dos isolados19 influenciam diretamente a especificidade ao hospedeiro, crescimento, desenvolvimento, virulncia, antigenicidade e sensibilidade
a drogas. Vrios estudos sugerem o risco de transmisso zoontica, ou seja,
entre homens e animais.
Morfologia
Os trofozotas so piriformes,20 apresentam simetria bilateral e dois ncleos
anteriores. Sua poro dorsal convexa, e a ventral, cncava com um grande
disco suctorial21 em sua metade anterior que facilita a adeso do protozorio
s clulas do epitlio intestinal. Como estrutura de locomoo, apresentam
quatro pares de flagelos (dois anteriores, dois laterais, dois ventrais e dois
posteriores), que se originam de blefaroplastos.22 H dois axonemas paralelos
que vo de sua extremidade anterior at a extremidade posterior em dois
blefaroplastos. Abaixo do disco suctorial esto uma ou duas estruturas curvas,
Grupo de protozorios obtidos de um mesmo hospedeiro.
Forma de pera.
21
Tambm chamado de disco ventral ou disco adesivo.
22
Corpsculo basal do flagelo.
19
20
Protozoologia | 61
As formas trofozotas encontram-se aderidas, por meio de seu disco suctorial, s clulas do epitlio intestinal do hospedeiro. Nesse local, utilizam
produtos da digesto do hospedeiro para sobreviver. A multiplicao ocorre
por diviso binria longitudinal. Alguns trofozotas sofrem encistamento: recolhem seus flagelos, encurtam o corpo e formam uma parede ao seu redor.
Os cistos so eliminados para o meio ambiente nas fezes do hospedeiro.
Essas estruturas resistem por cerca de duas semanas em condies favorveis,
permanecendo viveis para infectar novos hospedeiros.
A infeco ocorre por meio da ingesto de cistos, principalmente por
contaminao da gua e de alimentos. No intestino delgado (criptas do duodeno) ocorre o desencistamento, que d origem a dois trofozotas.
b) Patogenia e manifestaes clnicas
A presena dos trofozotas aderidos mucosa intestinal causa alteraes
locais que podem prejudicar a absoro de nutrientes, como vitaminas e gorduras lipossolveis, pelo intestino. Alguns locais onde a Giardia lamblia se
fixa podem apresentar impresses circulares deixadas por seu disco suctorial,
com o que se altera a funo das microvilosidades da regio. Muitos casos de
parasitismo podem passar despercebidos. As manifestaes mais frequentes
so quadros de diarreia, perda de peso e presena de muco e gordura nas
fezes (esteatorreia). Quadros de intolerncia lactose j foram observados
em associao com o parasitismo. A hipersensibilidade local, mediada por
IgE, leva ao aumento do peristaltismo e, fora do intestino, pode ocasionar
manifestaes cutneas, como leses semelhantes urticria, que j foram
observados em indivduos parasitados por Giardia lamblia.
c) Diagnstico laboratorial
O diagnstico feito principalmente por meio de exames coproparasitolgicos para pesquisa de cistos e trofozotas. Em fezes diarreicas, possvel a
Protozoologia | 63
d) Epidemiologia
A distribuio geogrfica desse gnero mundial. Surtos de giardase humana esto normalmente associados contaminao de reservatrios de gua
para o abastecimento da populao. H maior prevalncia da protozoose em
regies tropicais e subtropicais onde as condies sanitrias so precrias e h
maior resistncia do cisto que pode se manter vivel por vrios meses s
condies ambientais. No Brasil, a prevalncia geral oscila, segundo os pesquisadores, de 4 a 30%. A maior incidncia ocorre entre 8 meses e 12
anos de idade, caindo significativamente na fase adulta. Alguns estudos indicam a possibilidade de existirem reservatrios no humanos dessa infeco
principalmente ratos e ces , porm esses dados devem ser analisados
mais profundamente para que fique clara a real importncia desses animais
na epidemiologia da giardase humana. Pelas caractersticas de transmisso,
comunidades fechadas como creches, escolas, enfermarias e afins se mostram
mais propensas transmisso entre seus membros. Alm disso, como possvel
encontrar cistos de G. lamblia na regio embaixo das unhas, os manipuladores
de alimentos podem transmitir o parasito para grande nmero de pessoas.
e) Profilaxia e controle
Como outras parasitoses intestinais de transmisso passiva oral, as medidas
mais eficientes nesse campo so: educao sanitria da populao; busca de
casos, principalmente na populao pr-escolar e escolar, seguida por tratamento especfico; tratamento de gua e esgoto; cuidados gerais no preparo
de refeies; corte de unhas; lavagem das mos aps defecar, entre outras.
O habitat principal do T. vaginalis, nas mulheres, a cavidade vaginal, seguida por exo e endocrvix, tero, trompas de Falpio e uretra. Nos homens,
uretra, prstata, vescula seminal e epiddimo so os locais que podem albergar
o parasito. Sua reproduo ocorre por diviso binria longitudinal, o que possibilita um grande aumento da populao em seu habitat. A transmisso ocorre
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ais. Em razo dos preconceitos que cercam as DSTs e da no notificao obrigatria de tal infeco, no existem dados fidedignos sobre a prevalncia e a
incidncia da tricomonase, tanto em nvel mundial quanto em nvel nacional.
e) Profilaxia e controle
A educao sanitria da populao quanto aos aspectos relativos transmisso/preveno de DSTs a forma mais eficiente de controle dessa protozoose. recomendvel o uso de preservativos durante todo o ato sexual; o
uso individual de roupas ntimas; a esterilizao dos aparelhos ginecolgicos;
a higiene adequada de assentos sanitrios e cuidados ao se utilizarem sanitrios pblicos; e o diagnstico e tratamento dos indivduos parasitados e
do(s) seu(s) parceiro(s) sexual(ais). Para o caso da transmisso por canal de
parto, a pesquisa cuidadosa de T. vaginalis deve ser includa entre os exames
pr-natais de rotina.
A) Entamoeba histolytica
Hospedeiros: homem (hospedeiro principal), outros primatas, ces e gatos.
Habitat: intestino grosso, essencialmente ceco, reto, sigmoide e incio do
clon ascendente, por serem locais de menor velocidade do trnsito intestinal.
Eventualmente, principalmente na dependncia do isolado do parasito, pode
ocorrer a forma extraintestinal da infeco, acometendo principalmente o fgado, o pulmo, o crebro e a pele.
a) Morfologia
Trofozota: a forma vegetativa do protozorio, encontrada no hospedeiro. Possui formato irregular (ameboide) por causa da emisso de pseudpodes. Sua membrana citoplasmtica delicada. Seu ncleo possui grnulos
de cromatina perifrica delicados e regularmente distribudos na face interna
da membrana nuclear. O cariossomo25 puntiforme e central. Quando na luz
intestinal, os trofozotas possuem dimenses entre 12 e 40 m; entretanto,
nos quadros de amebase invasiva, quando os trofozotas esto em intensa
atividade fagoctica, podem chegar a 60 m de dimetro, apresentando o citoplasma repleto de vacolos digestivos contendo hemcias e restos celulares,
e lesionar a parede intestinal, atingindo outros rgos.
Inflamao do crebro e das meninges que o envolvem.
Corpsculo central ou excntrico presente no ncleo de alguns protozorios, visualizado aps a
colorao por hematoxilina frrica; o mesmo que endossomo.
24
25
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Cistos: so as formas de resistncia do parasito fora do organismo do hospedeiro. So eliminados com as fezes no ambiente. Possuem forma arredondada, medem de 10 a 15 m e podem apresentar de um a quatro ncleos,
dependendo do estgio de maturao. Cistos imaturos podem apresentar
um, dois ou trs ncleos e corpos cromatoides em forma de basto; pode-se
observar tambm, nas coloraes permanentes, como a hematoxilina frrica,
um vacolo de glicognio.26 As duas ltimas estruturas no so visualizadas
nos cistos tetranucleados e maduros.
26
b) Amebase
Entende-se por amebase a infeco causada pela espcie E. histolytica. Tal
evento pode desencadear alteraes como diarreia com presena de sangue
(disenteria amebiana) em decorrncia de leses ulceradas causadas pelos trofozotas da ameba. Em alguns casos, trofozotas podem atingir outros rgos,
por meio da circulao sangunea, gerando leses necrticas principalmente
no fgado, pulmo e crebro. A amebase extraintestinal pode ser fatal e,
por causa de sua prevalncia, considerada a terceira infeco parasitria por
protozorio que mais causa bitos no mundo, colocando-se depois apenas da
doena de Chagas e da malria.
A maior parte dos casos de infeco por E. histolytica registrados como
amebase so assintomticos. Entretanto, sabe-se hoje que muitos casos de parasitismo por Entamoeba dispar (amebdeo morfologicamente idntico E. histolytica) foram erradamente considerados infeces por E. histolytica. Alguns
pesquisadores consideram que a patognese da amebase depende de fatores
inerentes ao parasito cepas mais ou menos virulentas, produo de protenas
responsveis pela adeso celular, formao de poros e lise das clulas-alvo ,
e de fatores inerentes ao hospedeiro resposta imunolgica, dieta alimentar e
sua microbiota intestinal.
Protozoologia | 71
c) Diagnstico laboratorial
Forma intestinal
A forma aguda da amebase exibe quadros clnicos comuns a outras
doenas que produzem disenteria ou diarreia. O diagnstico deve basear-se
em exames parasitolgicos ou, quando isso no possvel, em provas indiretas
e outros recursos laboratoriais. Como a liberao dos parasitos ocorre de modo
intermitente, devem-se realizar vrios exames (de 3 a 5), em dias diferentes,
para que se possa obter um resultado mais seguro.
Fezes diarreicas: os trofozotas so as formas mais encontradas em fezes
diarreicas, sendo a primeira opo o exame direto, que deve ser feito com
fezes coletadas e enviadas ao laboratrio em menos de uma hora, a fim de
se evitar a degradao dos trofozotas. Caso esse exame resulte positivo
para a presena de trofozotas de amebdeos, o material em seguida
corado por hematoxilina frrica (HF) ou tricromo (corante alternativo),
para exame pormenorizado da morfologia e dimenses dos trofozotas,
que vai permitir a diferenciao entre as diferentes espcies que podem ser
encontradas no homem.
Fezes moldadas: os cistos resistentes a tcnicas de concentrao fecal
como as descritas por Faust e cols. (1938) e Ritchie (1948) so as
formas predominantes. Podemos ainda utilizar outros materiais para a pesquisa em casos particulares, tais como material aspirado de leses ulceradas
coletado por endoscopia (retossigmoidoscopia), com posterior colorao
por HF.
Muitos pesquisadores tm utilizado o teste de imunoabsoro enzimtica
ELISA, com anticorpos policlonais anti-Entamoeba, a fim de detectar antgenos parasitrios nas fezes de pacientes; no entanto, esse teste no capaz de
distinguir E. histolytica de E. dispar, sendo sua utilidade limitada.
Formas extraintestinais
Alguns exames, tais como cintilografia, ressonncia magntica e radiografia
podem apresentar resultados que levantem a suspeita de amebase extraintestinal. No entanto, para a sua confirmao, so necessrias tcnicas que evidenciem diretamente a presena de trofozotas: coleta de material em aspirados
e/ou bipsias e colorao pela hematoxilina frrica. Essas tcnicas apresentam
alguns inconvenientes, por serem muito invasivas e por apresentarem baixa
sensibilidade. Dessa forma, mtodos de diagnstico imunolgico imunofluorescncia indireta (IFI), ELISA, hemaglutinao indireta, reao de fixao
do complemento, aglutinao do ltex, contraimunoeletroforese, imunodifuso
dupla em gel de gar tm ganhado mais espao no mercado.
Hemaglutinao, reao de fixao do complemento e contraimunoeletroforese so mtodos muito sensveis, mas como os anticorpos envolvidos nesses
processos persistem durante muitos anos aps a infeco, pouco informam
sobre a situao atual do paciente. Contudo, apesar de estarem em desuso,
podem ser utilizados em inquritos epidemiolgicos.
OBS.: Somente E. histolytica responsvel pelos quadros amebianos
invasivos, levando produo de anticorpos especficos; nas infeces
por E. dispar, tais anticorpos no so encontrados no soro. E. dispar
indistinguvel morfologicamente de E. histolytica; sua diferenciao
feita exclusivamente por tcnicas moleculares ou imunolgicas.
d) Diagnstico diferencial morfolgico
importante fazer a diferenciao das espcies de amebas no diagnstico
coproparasitolgico.
Entamoeba hartmanni
Os trofozotas de Entamoeba hartmanni so pequenos e delicados (com
6 a 12 m). Apresentam apenas um ncleo pequeno, com cariossoma em
geral puntiforme e excntrico. Em cerca de dois teros dos casos, a cromatina
perifrica semelhante da E. histolytica; em um tero dos casos, porm,
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Entamoeba coli
Os trofozotas de E. coli variam geralmente de 18 a 28 m de dimetro,
apresentam ncleo visvel mesmo a fresco, com o cariossoma posicionado fora
do eixo central do ncleo (excntrico), e um anel de grnulos perifricos mais
grosseiro e irregular. O endoplasma bastante granuloso, com muitos vacolos
contendo grande nmero de bactrias fagocitadas, leveduras e, muito raramente, hemcias. No cisto, o citoplasma no apresenta vacolo e, conforme o seu
grau de desenvolvimento, pode apresentar de um a oito ncleos. A dimenso
do cisto varia de 15 a 25 m. Os cistos tambm podem apresentar corpos
cromatoides lembrando agulhas ou espculas. Vacolos de glicognio e corpos
cromatoides so raros em cistos maduros.
Endolimax nana
Seus trofozotas so os menores encontrados nos humanos seu tamanho
varia de 6 a 12 m. Apresentam ncleo pequeno, vesicular, com membrana
nuclear delicada e sem revestimento interno de grnulos de cromatina; seu cariossomo relativamente grande, compacto e irregular, e algumas vezes ligado
carioteca27 por filamentos delgados. Endolimax nana emite lentamente seus
pseudpodos grossos e hialinos. O ncleo no visvel nos exemplares vivos.
Os cistos so elpticos ou ovoides, com quatro ncleos pequenos, pobres
de cromatina, mas lembram o aspecto descrito nas formas trofozoticas, com
cariossoma grande e irregular. Algumas vezes, os corpos cromatoides, que tm
tamanho reduzido e formato varivel arredondado, ovoide ou em forma de
bastonete curto , podem ser observados. Pode tambm haver um vacolo
de glicognio.
Iodamoeba btschlii
Os trofozotas variam geralmente de 6 a 16 m, e seu ncleo possui
uma membrana espessa sem cromatina perifrica. O cariossoma volumoso,
central e est separado da membrana por uma fileira de grnulos acromticos.
Quando corado pela hematoxilina, pode-se observar que o cariossomo
constitudo de vrios grnulos escuros interligados por material um pouco
menos denso. O citoplasma muito vacuolizado, e dentro dos vacolos
27
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e) Epidemiologia
A infeco por E. histolytica cosmopolita, sendo mais frequente em regies
de clima tropical e subtropical. As taxas de prevalncia so influenciadas pelo
nvel sanitrio das regies, de modo que, quanto mais precrio o saneamento
bsico local, tanto maiores as taxas de prevalncia. A transmisso ocorre pela
contaminao do meio ambiente com fezes de pessoas parasitadas. Os cistos
tornam-se maduros em at dois dias em condies ambientais adequadas. gua
e alimentos contaminados podem servir de veculo para os cistos. Alguns insetos,
como baratas e moscas, podem carrear os cistos em sua superfcie corporal. Sua
prevalncia e gravidade variam muito segundo as diferentes regies, sendo a
mortalidade mundial pela amebase de 40 mil a 110 mil casos por ano. A frequncia de localizaes extraintestinais tambm varia geograficamente, sendo que
Mxico, ndia e norte da frica apresentam as mais elevadas taxas das mesmas.
No Brasil, a regio Norte onde ocorre a maior prevalncia de amebase e os
casos mais graves, tanto intestinais quanto extraintestinais.
Os casos agudos de disenteria amebiana so pouco relevantes na transmisso do parasito, uma vez que os trofozotas no sobrevivem muito tempo
fora do organismo hospedeiro. Assim, os indivduos assintomticos ou oligossintomticos28 so os principais responsveis pela contaminao ambiental
com cistos.
f) Profilaxia e controle
medidas de saneamento bsico;
educao sanitria;
higiene pessoal (lavar as mos antes de ingerir alimentos e aps utilizar
o banheiro) e de alimentos;
controle de pragas (moscas e baratas);
identificao e tratamento das pessoas parasitadas.
Formam um grupo homogneo de parasitos obrigatrios da classe Sporozoea, ou Sporozoa, com reproduo sexuada alternando-se com reproduo
assexuada.
O complexo apical dos esporozorios uma estrutura especial, que auxilia
o parasito a invadir as clulas do organismo hospedeiro.
a) Morfologia e biologia
Morfologia
O complexo apical (fig. 27) formado por anis (a) localizados no
polo anterior do parasito, embaixo da membrana celular; esses anis envolvem
o conoide (b) e so ligados entre si por fibras do conoide (c). As roptrias
(d) e os micronemas (e) (organelas alongadas), na regio anterior entre o
28
Protozoologia | 77
Ciclo esporognico: a esporogonia (2) tem incio com a fuso dos gametas (f) e a formao do ovo ou zigoto (g). Na ordem Eucoccidiida, o zigoto
produz um envoltrio resistente, tornando-se oocisto imaturo, que, no meio
ambiente (h), evolui, e o esporoblasto no seu interior divide-se em esporocistos (i) no interior dos quais formam-se esporozotas, com capacidade invasiva
(j). Os oocistos maduros (infectantes) so ingeridos por um hospedeiro,
fechando-se o ciclo biolgico.
b) Sistemtica
A classificao utilizada neste captulo a proposta pelo Comit de Sistemtica e Evoluo, da Sociedade de Protozoologia (Levine et al., 1980):
Protozoologia | 79
Protozoologia | 81
terior mais afilada do que a posterior. Ultraestruturalmente, os taquizotas revelam inmeras organelas e incluses, sendo que um anel polar envolve conoide,
roptrias, micronemas, microporo, mitocndrias, microtbulos subpediculares,
retculo endoplasmtico, complexo de Golgi, ribossomas, ncleo e vacolo de
glicognio (fig. 31).
Protozoologia | 83
Oocistos: formas imaturas, no esporuladas, produzidas no epitlio intestinal dos feldeos (hospedeiros definitivos) e eliminadas com as fezes desses
animais. So arredondadas e medem de 10 a 13 m por 9 a 11 m, tendo
uma parede que confere resistncia s condies adversas do meio ambiente.
Os oocistos esporulam e se tornam infectantes no meio ambiente em temperatura e umidade adequadas. Quando esporulados, ocorre a formao de dois
esporocistos, cada um deles com quatro esporozotas (fig. 33). Os oocistos
maduros permanecem infectantes no meio ambiente mido por cerca de um
ano, em temperaturas variando de 4 a 37C; morrem a - 21C.
Protozoologia | 85
c) Relao parasitohospedeiro
A virulncia do Toxoplasma gondii varia segundo a cepa do parasito.
As cepas esto agrupadas em trs gentipos: tipos I, II e III. As do tipo I
so altamente virulentas (mais patognicas); as dos tipos II e III so relativamente de baixa virulncia. As linhagens virulentas de T. gondii produzem
infeco aguda, com os protozorios invadindo principalmente macrfagos e
leuccitos, e distribuindo-se para todos os tecidos do organismo. As clulas
hospedeiras se assemelham a um envelope repleto de taquizotas, formando
um grupo tecidual que acaba por romper-se e disseminar os parasitos, que
passam a invadir novas clulas. O resultado, dependendo do caso, pode ser
fatal em poucos dias.
O mecanismo que determina a virulncia das diferentes cepas de Toxoplasma gondii e a sua patogenicidade no hospedeiro ainda no conhecido.
Tambm ainda so pouco conhecidos os tipos de gondii que circulam entre
os hospedeiros brasileiros e quais os mais prevalentes. Esse conhecimento
pode ajudar na epidemiologia da toxoplasmose.
Na primeira semana de infeco, as linhagens no virulentas de T. gondii
produzem grupos teciduais pequenos, que desaparecem depois de duas semanas. No entanto, no crebro e em outros tecidos, bradizotas envoltos por
uma membrana cstica se multiplicam, formando o cisto.
Hospedeiro
A infeco por T. gondii varia de intensidade, de acordo com as diversas
espcies de hospedeiros por exemplo, diferentes linhagens de camundongos. A proteo do hospedeiro decorrente principalmente da imunidade
celular. Em humanos, a infeco por T. gondii tem graus diferentes de patogenicidade, variando desde casos assintomticos at quadros severos, incluindo
o bito. Os casos mais graves so a infeco congnita e a toxoplasmose em
imunossuprimidos.
Protozoologia | 87
Meio ambiente
A frequncia da infeco por T. gondii influenciada pelos seguintes fatores: alimentar, cultural, idade, procedncia rural ou urbana, condies socioeconmicas e caractersticas ambientais. A ocorrncia de elevada precipitao
pluvial tem papel importante no aumento das taxas de infeco
d) Toxoplasmose
A toxoplasmose , classicamente, dividida em forma congnita (que ocorre quando a gestante adquire a primo-infeco durante a gestao, passando
o parasito para o beb) e forma adquirida (que ocorre aps o nascimento).
Toxoplasmose congnita
As mulheres grvidas na fase crnica de infeco toxoplsmica geralmente
no a transmitem para seus filhos no tero, nem abortam por isso. Porm, no
caso de se infectarem durante a gestao, o risco de passarem a protozoose
por via transplacentria grande e, principalmente no caso de a gestante ser
imunossuprimida, podendo ocorrer reativao de uma infeco crnica, quando no proteger o feto. A infeco ser mais ou menos grave dependendo
da virulncia da cepa do parasito, da capacidade dos anticorpos maternos
de protegerem o feto e do perodo gestacional em que a mulher se encontra.
medida que aumenta a idade gestacional, aumenta o risco de transmisso
materno-fetal, porm decresce a severidade da infeco.
A ocorrncia da infeco toxoplsmica congnita no primeiro trimestre
da gravidez menos frequente, fica em torno de 10 a 15% do total de
gestantes infectadas durante a gestao, porm mais grave, pois costuma
levar a aborto espontneo. No segundo trimestre, aumenta a possibilidade
de transmisso (30%), podendo ocorrer toxoplasmose aguda ou subaguda
do feto, com leses disseminadas, principalmente no sistema nervoso e retina,
causando um quadro chamado de ttrade de Sabin, com retinocoroidite,
calcificaes cerebrais, microcefalia ou hidrocefalia e alteraes neurolgicas.
Protozoologia | 89
dente, pode ser confundida com outras afeces de etiologias diversas. Nesse
caso, os sinais e sintomas da protozoose so apenas sugestivos, tornando-se
necessria a utilizao de mtodos de diagnstico laboratorial.
Mesmo nos casos de toxoplasmose congnita e de toxoplasmose ocular,
com retinocoroidites, quando a clnica traz forte suspeita da protozoose, o
diagnstico feito laboratorialmente. O diagnstico da infeco pelo T. gondii
pode ser feito por mtodos sorolgicos, histolgicos, biolgicos, moleculares
ou pela combinao desses.
Imunodiagnstico mtodos sorolgicos
A pesquisa direta para evidenciar o protozorio em material biolgico
suspeito difcil, onerosa e requer tempo, por isso os mtodos mais utilizados
so os sorolgicos.
Usualmente, o diagnstico laboratorial baseado na pesquisa de anticorpos especficos anti-T. gondii, principalmente imunoglobulinas das classes
IgG e IgM; mais raramente, tambm so dosadas as imunoglobulinas IgA
e IgE. Atualmente, a baixa avidez de IgG tem sido referida como um bom
marcador para infeces primrias recentes causadas por Toxoplasma gondii.
Os anticorpos IgG sofrem progressivo amadurecimento, elevando a avidez
na fase crnica da toxoplasmose. Sendo assim, a baixa avidez de IgG indica
infeco aguda. O teste de avidez IgG tem sido recomendado para mulheres
grvidas, sendo utilizado para auxiliar em outros mtodos sorolgicos que
dosem IgG e IgM.
OBS.: Teste de avidez de IgG avidez corresponde fora de ligao entre o antgeno e o anticorpo, fora que aumenta progressivamente
com o passar do tempo.
A reao de Sabin-Feldman (teste do corante) foi muito utilizada no
passado e considerada clssica para o diagnstico da toxoplasmose nas fases
aguda ou crnica. Alm de muito especfica e sensvel, no ocasiona reao
cruzada com outras infeces, mas tornou-se obsoleta por necessitar de fator
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30
Mtodos histolgicos
O diagnstico histopatolgico pode ser uma alternativa quando a evidenciao do parasito necessria, como no caso de imunocomprometidos ou
de toxoplasmose congnita.
A avaliao macro e microscpica do material biolgico retirado de indivduo com suspeita de infeco pelo T. gondii deve ser realizada por profissional patologista, uma vez que, mesmo quando se encontram estruturas sugestivas, torna-se necessrio estabelecer a diferenciao com outros protozorios
(Leishmania, Sarcocystis) e fungos (Histoplasma, Cryptococcus).
A tcnica de histopatologia realizada por meio de amostras de diversos
tecidos, aps processamento, corte e colorao.31
A presena de taquizotas em tecidos e fluidos corporais pode revelar
casos de infeco aguda; entretanto, dificilmente detectada em preparaes
convencionais para histopatologia.
31
Protozoologia | 93
Tcnica de imuno-histoqumica
Para aumentar a eficincia da tcnica de histologia, tm sido empregadas
tcnicas de imuno-histoqumica utilizando imunoperoxidase. A demonstrao
de taquizotas pela imunoperoxidase, colorao com Giemsa ou PAS em
qualquer tecido ou fluido corpreo pode comprovar uma infeco ativa por
Toxoplasma gondii.
Protozoologia | 95
e) Epidemiologia da toxoplasmose
A toxoplasmose uma zoonose de ampla distribuio geogrfica, sendo
encontrada em todos os continentes e nos mais variados climas. As menores
prevalncias tm sido encontradas em regies frias ou ridas, onde a baixa
densidade de feldeos, aliada menor sobrevida de oocistos no solo, diminui
os ndices de parasitismo de herbvoros, roedores e pssaros e, consequentemente, dos carnvoros que deles se alimentam. A variabilidade na frequncia da infeco est ligada a diversos fatores: padres culturais da populao,
hbitos alimentares, idade, procedncia rural ou urbana, entre outros.
A prevalncia da infeco por Toxoplasma gondii varia entre as regies e
entre as populaes abordadas. No h relatos de toxoplasmose em ilhas do
Pacfico onde no existem gatos. De 20% a 83% da populao mundial esto infectados pelo parasito. No Brasil, de 50 a 80% da populao adulta
apresenta anticorpos anti-T. gondii: 74,5% na regio do Alto Uruguai (Rio
Grande do Sul); 72,16% no Rio de Janeiro; 58,9% a 77,9% em So
Paulo; e 73,9% em Manaus.
O fator idade tambm tem sido associado ao aumento da frequncia da
infeco pelo T. gondii, pois com o aumento da faixa etria aumentam as
chances de o indivduo entrar em contato com um dos diversos mecanismos
de transmisso, considerados como dados cumulativos.
A procedncia rural ou urbana tem sido apontada como um fator importante para a prevalncia da protozoose. No entanto, algumas vezes, no tm
sido encontradas diferenas na prevalncia entre as duas reas. Isso pode
sugerir que a causa da positividade nessas localidades seja devida, possivelmente, a fatores comuns tanto zona urbana quanto zona rural.
Em algumas regies rurais, podem ocorrer casos humanos de reaes cruzadas
com Sarcocystis spp, mas os casos confirmados sorologicamente so rarssimos.
H alta prevalncia da infeco toxoplsmica, tanto em animais silvestres
quanto nos domsticos, naturalmente infectados. Animais domsticos tm
sido apontados como fonte de infeco para o homem. No entanto, esse
fato s tem importncia quando associado ao hbito de ingerir carne crua
Protozoologia | 97
ambiente, principalmente solo e gua, por fezes de felinos parasitados e posterior manipulao do solo contaminado) importante mecanismo de transmisso
da protozoose. Esse meio de infeco possivelmente o responsvel pela
prevalncia da infeco por T. gondii em indivduos vegetarianos e animais
herbvoros. Crianas podem se infectar ao brincar em tanques de areia contaminados por gatos infectados, ou mesmo no contato com esses animais.
A cada evacuao, os gatos eliminam de 2 milhes a 20 milhes de
oocistos. Com temperatura e umidade adequadas, os oocistos permanecem
viveis no meio ambiente por muitos meses , s vezes, por at um ano.
Os oocistos, que podem ser disseminados por vrios meios chuva, vento,
fauna coprfila , ampliam enormemente as fontes de infeco, inclusive no
peridomiclio.
A ingesto de leite de vaca ou cabra e de ovos de galinha, pato ou
outras espcies, contaminados com taquizotas, pode ser considerada uma
forma potencial de transmisso do T. gondii, embora o parasito raramente seja
isolado desses produtos. A transmisso durante a amamentao no foi ainda
comprovada em humanos, mas taquizotas j foram isolados do leite de mulheres na fase aguda da infeco. Desse modo, concebvel que o leite no
pasteurizado seja veculo de transmisso do parasito, porm a fervura destri
todas as formas de taquizotas do T. gondii.
Existe ainda a possibilidade de transmisso congnita, pela passagem de
taquizotas atravs da placenta, nos casos de infeco aguda, durante a gestao no s da mulher, mas tambm de outros animais. Esse tipo de transmisso s ocorre aps a infeco materna logo, ocorre indiretamente, com
a participao de oocistos ou cistos de T. gondii.
Outros mecanismos de infeco de menor importncia epidemiolgica,
mas que no deve ser negligenciada, so os transplantes de rgos principalmente corao e rim, contendo cistos ou taquizotas; a transfuso sangunea e de leuccitos taquizotas so a principal forma envolvida; acidentes
de laboratrio taquizotas e oocistos so as principais formas envolvidas;
ingesto de leite cru e por meio da saliva taquizotas a forma envolvida;
Protozoologia | 99
F) Profilaxia e controle
As medidas profilticas que podem ser tomadas para prevenir a infeco
por Toxoplasma gondii esto diretamente relacionadas aos mecanismos de
transmisso do parasito:
ingerir carne e derivados crneos bem cozidos;
ingerir hortalias e frutas bem lavadas;
ingerir leite fervido ou pasteurizado;
lavar as mos ao manipular esses alimentos crus; habituar as crianas a
essa prtica higinica;
tratar o mais precocemente mulheres grvidas com infeco recente possvel;
impedir o acesso de gatos aos tanques de areia (cobrindo-os ou telando
o local);
evitar contato com gatos errantes ou desconhecidos;
evitar que os gatos domsticos cacem, fornecendo-lhes rao ou alimentos enlatados ou fervidos;
esterilizar com gua fervendo os lugares onde os gatos defecam.
combater os ratos;
evitar que moscas, baratas, formigas entrem em contato com os alimentos;
evitar a presena de gatos errantes no local onde vivam crianas pequenas, mulheres no incio da gravidez ou indivduos imunossuprimidos.
Essas medidas podem ser atingidas com:
saneamento bsico;
educao sanitria;
incinerao das fezes de gatos;
controle de roedores;
utilizao de tampas nas caixas de areia de praas pblicas;
controle de insetos sinantrpicos;
controle da produo de produtos crneos;
higienizao adequada de hortalias e frutas.
a) Morfologia e biologia
A infeco por Isospora belli chamada de isosporase ou isosporose. Os
oocistos de Isospora belli so elpticos e algumas vezes apresentam estreitamento de uma ou ambas as extremidades, lembrando a forma de um pescoo.
Medem cerca de 30 m de comprimento por 10 a 12 m de largura.
Hospedeiro: homem.
Habitat: intestino delgado.
OBS.: Cistos teciduais j foram identificados em vrios casos de isosporose humana. Eles podem ser vistos com exame cuidadoso de microscopia de luz ou por microscopia eletrnica. possvel que essas formas
csticas sejam as responsveis pela latncia da infeco por Isospora
observada em algumas situaes e tambm pela resistncia ao tratamento
com o medicamento de escolha.
Protozoologia | 101
Seres vivos que albergam e transportam parasitos sem fazerem parte de seu ciclo evolutivo, ou seja,
no h evoluo do parasito nesse tipo de relao.
32
b) Relao parasitohospedeiro
Em geral, a infeco por Isospora belli permanece assintomtica. Porm,
algumas vezes podem ocorrer clicas abdominais, meteorismo,33 diarreia, febre, anorexia,34 dor de cabea e nuseas. O incio das manifestaes clnicas
ocorre, provavelmente, de 7 a 10 dias aps a contaminao do indivduo, e
os sinais e sintomas podem durar 10 dias ou mais. No entanto, a evoluo
para a cura espontnea, mesmo sem medicao.
Em pacientes com Aids ou com outras condies que determinem imunocomprometimento, geralmente a isosporose se torna crnica e intermitente.35
J no caso de indivduos imunocompetentes, a evoluo da infeco por
Isospora belli , em geral, benigna.
Flatulncia (excesso de gases nos intestinos ou estmago).
Diminuio ou falta de apetite.
35
Perodos com manifestaes clnicas que se alternam com perodos sem sintomas.
33
34
Protozoologia | 103
c) Diagnstico laboratorial
O diagnstico feito por meio de exames de fezes para pesquisa de
oocistos a partir da terceira semana de infeco. Dentre os exames mais indicados, esto os mtodos de Faust e cols. (1938) e de Ritchie (1948), que
so mtodos de concentrao.
Geralmente acopla-se a tcnica de concentrao (sedimentao ou flutuao) a tcnicas de colorao. Considerando-se que Isospora belli um
coccdeo entrico, devem-se utilizar as tcnicas de colorao derivadas do
Ziehl-Neelsen ou a safranina-azul de metileno, que so bastante eficientes na
identificao dos oocistos.
Como a liberao de oocistos nas fezes pode ser irregular e com carga parasitria pequena, recomenda-se a repetio dos exames negativos, devendose fazer coleta de mais de uma amostra em dias no consecutivos.
d) Epidemiologia
A infeco por Isospora belli em humanos cosmopolita. Por causa de sua
ampla distribuio geogrfica e por sua ocorrncia ser rara, a manuteno de
casos de infeco faz supor a existncia de hospedeiros no humanos.
Com o aparecimento dos casos de Aids na dcada de 1980, a isosporase tem sido responsabilizada por surtos de diarreia. Estudos de prevalncia
mostram que esses casos atingem 0,2% dos pacientes com Aids submetidos
a exames de fezes nos Estados Unidos, 10,5% dos imunodeficientes no Rio
de Janeiro e 15% dos pacientes com Aids do Haiti.
A frequncia do encontro de Isospora belli em comparao com casos de
infeco por Sarcocystis hominis varivel, dependendo da regio estudada.
No Chile, os casos de isosporose so nove vezes mais frequentes do que os
de S. hominis; j em So Paulo, ocorrem trs casos de S. hominis para cada
dois de I. belli.
Pouco se sabe sobre a forma de transmisso da isosporase; provavelmente
a infeco se d por meio da ingesto de gua ou alimentos contaminados
com oocistos de I. belli.
e) Profilaxia
Como em outras parasitoses intestinais, a profilaxia baseada na educao
sanitria das populaes residentes.
Existem diversas espcies de Sarcocystis e elas so encontradas numa grande variedade de vertebrados: desde peixes at mamferos.
a) Morfologia e biologia
Os oocistos das duas principais espcies de Sarcocystis que parasitam o
homem Sarcocystis hominis e Sarcocystis suihominis so muito parecidos, de
forma que no possvel distinguir uma espcie da outra por meio do oocisto.
Como a membrana dos oocistos muito frgil, na maioria das vezes so encontrados esporocistos isolados ou dois esporocistos acoplados, um ao lado do outro,
com quatro esporozotas bem definidos dentro de cada um deles.
Os esporocistos, ovoides, medem de 10 a 18 m de comprimento por
7,5 a 12 m de largura.
Protozoologia | 105
b) Relao parasitohospedeiro
A doena provocada pelas espcies de Sarcocystis, que recebe os nomes
de sarcocistose, sarcosporidiose e sarcosporidase, no muito frequente no
homem. Sarcocystis hominis e Sarcocystis suihominis, espcies que parasitam
o homem, possuem ciclo evolutivo heterxeno obrigatrio, envolvendo um
hospedeiro definitivo e um intermedirio.
Sarcocystis hominis
Hospedeiro definitivo (ciclo sexuado do protozorio): homem e alguns
macacos.
Hospedeiro intermedirio (ciclo assexuado do protozorio): gado bovino.
Sarcocystis suihominis
Hospedeiro definitivo (ciclo sexuado do protozorio): homem.
Hospedeiro intermedirio (ciclo assexuado do protozorio): msculos do
porco.
c) Diagnstico laboratorial
O diagnstico feito pelo encontro de oocistos esporulados ou esporocistos nas fezes. Tcnicas de concentrao, como as de Faust e cols. (1938)
e Sheather (1923) usando-se soluo aucarada, em lugar de sulfato de
zinco, pois os oocistos e esporocistos so leves e flutuam bem em solues
que contenham acar ou sal em elevadas concentraes, com densidades
altas , so as mais utilizadas.
Protozoologia | 107
d) Epidemiologia
A infeco por Sarcocystis sp cosmopolita. Em alguns lugares, 100%
dos bovinos e caprinos esto infectados com alguma espcie de Sarcocystis.
Os esporocistos esporulados resistem bem nos esgotos e no meio ambiente.
Por isso, em regies onde existe contaminao das pastagens com resduos de
esgotos aumenta a probabilidade de infeco do gado bovino.
Os herbvoros se infectam ao ingerirem pasto poludo com fezes humanas
que contenham oocistos maduros ou esporocistos; os porcos se infectam ao
ingerirem alimentos contaminados com fezes humanas contendo oocistos. O
homem se infecta pela ingesto de carne crua ou malcozida de bovinos (S.
hominis) ou porcos (S. suihominis).
H relatos de que o homem pode funcionar como hospedeiro intermedirio, desenvolvendo o ciclo do protozorio no tecido muscular, porm de forma
assintomtica ou com sintomatologia branda.
e) Profilaxia e controle
para prevenir a infeco humana: as carnes de bovinos e sunos devem ser
ingeridas bem cozidas e os abatedouros de animais devem ser fiscalizados.
para evitar a infeco de bovinos e sunos: deve-se dar destino adequado s fezes humanas, impedindo que contaminem o meio ambiente.
a) Morfologia e biologia
Morfologia
Os oocistos maduros so esfricos ou ovoides, com quatro esporozotas,
e medem de 4 a 5 m; essa a forma infectante, que eliminada, em fezes
diarreicas, pelos pacientes ou animais parasitados. A maioria dos oocistos tem
parede cstica dupla e espessa e muito resistente ao meio ambiente. Alguns
oocistos, porm, possuem parede cstica nica e delgada, to frgil que muitas vezes se rompe ainda dentro do intestino do hospedeiro.
Protozoologia | 109
b) Relao parasitohospedeiro
A transmisso da protozoose se d pela contaminao fecal/oral entre
pessoas, ou por meio de animais da ser considerada uma zoonose , ou,
ainda, por gua ou alimentos contaminados com oocistos.
O perodo de incubao da infeco dura de 4 a 14 dias, e o incio das
manifestaes clnicas explosivo, com enterocolite aguda. Em indivduos
imunocompetentes, o quadro clnico de diarreia e clicas autolimitado, com
cura espontnea ao fim de uma ou duas semanas.
A gravidade da criptosporidiose maior quando h imunodeficincia de
qualquer natureza, principalmente em casos de Aids. Nesses casos, o incio
insidioso e se agrava progressivamente, com diarreia aquosa, clicas, dor
epigstrica, nuseas e vmitos, mal-estar e perda de peso, podendo ocorrer
desidratao e caquexia e at a morte. Os pacientes imunodeprimidos com
criptosporidiose tm intolerncia lactose e m absoro de gorduras. Vrios
antibiticos tm sido ensaiados para diminuir a diarreia, mas at o presente
no h nenhum tratamento eficaz.
Como os oocistos se tornam maduros (infectantes) dentro do organismo
do hospedeiro, h possibilidade de autoinfeco. A presena de oocistos de
parede fina pode ocasionar seu rompimento ainda no interior do intestino,
provocando a chamada infeco interna; j a autoinfeco externa se d quando o hospedeiro ingere as formas infectantes do parasito, geralmente oocistos
de parede espessa.
c) Diagnstico laboratorial
O diagnstico feito pela pesquisa de oocistos nas fezes (por mtodos
de concentrao e colorao) ou sorologicamente (pelas tcnicas de ELISA
ou Rifi).
O diagnstico laboratorial da criptosporidiose se baseia no encontro e na
identificao dos oocistos nas fezes dos hospedeiros infectados. Para tanto,
devem ser realizadas tcnicas de concentrao e coloraes especficas. As
fezes podem ser concentradas por metodologias convencionais como a
Protozoologia | 111
36
Foto cedida pelo professor Sidnei Silva (Instituto de Pesquisa Clnica Evandro Chagas/IOCFiocruz).
d) Epidemiologia
A criptosporidiose uma zoonose de animais domsticos e do gado
encontrada em todos os continentes, sendo considerada cosmopolita. Sua
prevalncia varia de regio para regio. Em pases desenvolvidos, ocorre em
0,6 a 20% de diferentes populaes; entre indivduos HIV-positivos com
diarreia, a ocorrncia dessa doena est em torno de 14%. J em relao
aos pases em desenvolvimento, a frequncia de infectados bem maior, de
4 a 32%, sendo de 24% a prevalncia entre os imunossuprimidos pelo
vrus HIV.
Os bovinos, por eliminarem grandes quantidades de oocistos, so muito
importantes na cadeia epidemiolgica da infeco.
OBS.: A prevalncia da criptosporidiose mais elevada entre os
homossexuais aidticos. Os indivduos com Aids so muito importantes
na transmisso da infeco, por serem grandes eliminadores de oocistos.
Vale ressaltar que, aps a introduo da terapia antirretroviral de alta
potncia HAART (do ingls Highly Active Antiretroviral Therapy),
e como resultado da melhora na imunidade celular desses indivduos,
houve uma queda no nmero de pacientes que apresentavam diarreia
por esses agentes.
Protozoologia | 113
Quadro 1
Principais diferenas morfolgicas e biolgicas entre os gneros
Protozorios
Isospora belli
Sarcocystis
hominis
Sarcocystis
suihominis
Cryptosporidium
sp
Toxoplasma
gondii
Presente nas
fezes humanas
ou de outros
animais
parasitados.
So eliminados
totalmente
maduros
(forma
infectante),
com quatro
esporozotas
medindo de 4
a 5 m
Presente
nas fezes de
felinos, so
eliminados
imaturos e
evoluem
no meio
ambiente
Presentes
imaturos nas fezes
humanas (com
um blastmero
apenas);
desenvolvem-se no
meio externo
Ausentes nas
fezes humanas
Ausentes nas
fezes humanas
Esporocistos
Dois dentro do
oocisto, cada
um com quatro
esporozotas
Saem juntos
com as fezes
humanas,
isolados ou
acoplados
em pares,
cada um
com quatro
esporozotas
Saem juntos
com as fezes
humanas,
isolados ou
acoplados
em pares,
cada um
com quatro
esporozotas
Ausentes
Dois dentro
do oocisto,
cada um
com quatro
esporozotas
Ciclo
Monoxnico
Heteroxnico
obrigatrio
Heteroxnico
obrigatrio
Monoxnico
Heteroxnico
facultativo
Hospedeiro
definitivo
Homem
Homem
Homem
Homem
Felinos
(gato)
Ausente
Mamferos,
inclusive o
homem, e
aves
Oocistos
Hospedeiro
intermedirio
No conhecido
Bovinos
Sunos
Protozoologia | 115
Protozoologia | 117
c) Malria
Os indivduos parasitados apresentam um quadro de infeco sistmica
que se manifesta em geral com febre em intervalos relativamente regulares
(perodo entre esquizogonias), anemia, ictercia, alteraes circulatrias e
Protozoologia | 119
aumento do bao, e, nos casos de malria cerebral, dores de cabea, convulses e coma.
A multiplicao do Plasmodium leva lise de hemcias e liberao de metablitos parasitrios. H prejuzo na oxigenao dos tecidos e danos decorrentes
de tal hipxia. Hemcias parasitadas pelo Plasmodium falciparum tornam-se mais
aderentes s paredes dos capilares, reduzindo a perfuso tecidual.37
A hemozona, ou pigmento malrico, liberada com o rompimento celular, pode formar depsitos em vrios rgos fgado, bao, crebro e medula
ssea , dando aos mesmos uma colorao enegrecida.
A periodicidade no aparecimento do quadro febril varia conforme a
espcie do parasito. Esse intervalo de 36 a 48 horas em infeces por P.
falciparum; de 48 horas em infeces por P. vivax; e de 72 horas nas infeces
por P. malariae, sendo a malria referida popularmente, nesses casos, respectivamente, como febre ter maligna, febre ter benigna e febre quart.
d) Diagnstico laboratorial
Parasitolgico
O diagnstico parasitolgico consiste em pesquisa das formas sanguneas
do protozorio no interior de hemcias, avaliando sua morfologia, em distenso delgada ou espessa. O sangue deve ser coletado preferencialmente
prximo ao momento de um acesso malrico e por puno capilar.
Distenso delgada (esfregao) e gota espessa: so os mtodos mais utilizados pelas vantagens que apresentam tempo reduzido para a liberao
do resultado, baixo custo e por permitirem a diferenciao entre as espcies de Plasmodium. Porm tm alguns inconvenientes, como a exigncia
de profissionais experientes para a realizao de uma boa colorao e para
a leitura das lminas, podendo ainda apresentar resultado falso negativo
em casos de parasitemia baixa.
Fluxo constante de sangue que assegura a oxigenao e a nutrio dos tecidos, assim como a
remoo dos resduos metablicos e do excesso de CO2 .
37
Mtodo da centrifugao do micro-hematcrito QBC (do ingls Quantitative Buff Coat): at oito vezes mais sensvel que as tcnicas anteriores,
esse mtodo permite o diagnstico parasitolgico mesmo em casos de
baixa parasitemia. Exige maiores recursos no laboratrio, o que eleva o
seu custo. Alm disso, a identificao da espcie parasitria mais difcil.
Sorolgico
Rifi: considerado o teste de referncia para o diagnstico da malria, apresenta boa sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade. Pode fornecer
resultado falso positivo, quando da presena de fator reumatoide, de
conjugados mal titulados e de anticorpos autoimunes. Exige equipamentos
especiais e pessoal com treinamento especfico.
ELISA: entre as suas vantagens, esto o seu baixo custo em relao aos
outros mtodos, a automao e a possibilidade de pesquisa de antgenos
circulantes.
Molecular
PCR e hibridizao de DNA so tcnicas de altas sensibilidade e especificidade que permitem a realizao de grande nmero de amostras.
Entretanto, seu custo operacional ainda muito elevado.
Protozoologia | 121
38
Protozoologia | 123
Plasmodium malariae
Trofozota jovem: tem aspecto de anel, citoplasma espesso e cromatina
saliente e se posiciona em faixa na hemcia.
Trofozota maduro: assume o aspecto de faixa em quase todo o dimetro
da hemcia, apresenta citoplasma compacto e cromatina pouco visvel.
Esquizonte: citoplasma disforme, cromatina em diviso e presena de pigmentos grosseiros ao longo do corpo do parasito; apresenta-se em posio
de faixa equatorial na hemcia.
Roscea ou mercito: cada fragmento do ncleo, acompanhado de uma
poro de citoplasma, forma tantos merozotas quantas forem as fragmentaes nucleares geralmente de 8 a 10 merozotas, dispostos como as
ptalas de uma flor, com citoplasma residual no centro.
Macrogametcito: tem formato redondo, com poucos pigmentos grosseiros, e cromatina perifrica semelhante ao P. vivax, porm de tamanho mais
reduzido.
Microgametcito: com formato redondo, tem poucos pigmentos grosseiros e cromatina central nica e menos evidente, mais difusa do que a do
macrogameta.
e) Epidemiologia
Cerca de cem pases, principalmente da frica, sia e Amrica Latina,
ainda apresentam reas endmicas para a malria. O sudeste asitico, a China
e algumas reas da Amrica do Sul apresentam transmisso focal limitada
ao interior de florestas, de forma sazonal (com picos depois do incio e
seguindo-se ao fim das chuvas). Nesses locais, a populao de risco consiste
em trabalhadores que entram em contato com as florestas.
A transmisso da malria mais comum no interior das habitaes, em
reas rurais e semirrurais. Pode ocorrer em reas urbanas, principalmente nas
zonas de periferia. Em altitudes superiores a 2.000 metros, o risco de aquisio de malria menor, pois o ambiente desfavorvel ao mosquito. O
principal transmissor na regio amaznica o Anopheles darlingi. Ele utiliza
grandes colees de gua como criadouro e atualmente mais relacionado
transmisso extradomiciliria. A espcie Anopheles aquasalis predomina na
faixa litornea, inclusive no Rio de Janeiro. Essa espcie apresenta maior atividade durante a noite, do crepsculo ao amanhecer, e pica tanto no interior
quanto no exterior das habitaes.
A transmisso do Plasmodium pode ocorrer tambm, de forma menos
frequente, por meio de transfuses sanguneas, transplantes de rgos, utilizao compartilhada de seringas e agulhas, e da gestante para o filho (malria
congnita), antes ou durante o parto.
Protozoologia | 125
A) Babesia sp
a) Morfologia e biologia
A babesiose constitui importante enfermidade parasitria dos animais domsticos, podendo ocasionar grandes perdas econmicas no rebanho. Esse
Protozoologia | 127
A) Balantidium coli
O Balantidium coli o nico ciliado patognico para o ser humano.
a) Morfologia e biologia
Morfologia
Trofozota: tem de 40 a 90 m de altura por 30 a 60 m de largura; seu
formato ovoide ou elptico e apresenta dois ncleos: um em forma de rim,
nitidamente de dimenso maior (macroncleo), e outro, prximo ao macroncleo, de difcil visualizao (microncleo). No citoplasma, h grandes vacolos
contrteis em nmero varivel. Nos polos celulares, encontram-se, opostamente,
o citstoma e o citopgio. Sua membrana plasmtica apresenta externamente
numerosas fileiras de clios (raramente visualizados nas preparaes permanentes,
pois so destrudos pelo processo de fixao e/ou colorao).
Protozoologia | 129
Sensao dolorosa na bexiga ou na regio anal, com desejo contnuo de urinar ou de evacuar,
sem xito.
43
Protozoologia | 131
c) Diagnstico laboratorial
Fezes diarreicas: por meio do exame direto possvel visualizar os trofozotas.
Fezes moldadas: so utilizadas tcnicas de concentrao, como as de Faust
e cols. (1938) e de Ritchie (1948).
Obs.: A fim de aumentar a sensibilidade diagnstica, a pesquisa de
formas parasitrias deve ser realizada em mais de uma amostra fecal (de 3
a 5), sendo que, exceto para a ltima coletada, utilizam-se conservantes
(MIF ou similares).
Outros materiais biolgicos: em casos especficos, pode-se utilizar ainda
para a pesquisa material aspirado, por meio de retossigmoidoscopia,44 de
leses ulceradas, com posterior colorao por hematoxilina eosina ou hematoxilina frrica.
d) Epidemiologia
A infeco por B. coli, apesar de ser amplamente distribuda no mundo,
pouco frequente em humanos, sendo mais encontrada em regies de clima
tropical e subtropical onde predominem a falta de educao sanitria das
populaes. O papel dos sunos como reservatrios e fontes de infeco
para humanos controverso. A dificuldade de encistamento do B. coli em
humanos, possivelmente fruto de resistncia natural, fator redutor da disseminao da parasitose. Os smios so reservatrios naturais do parasito.
e) Profilaxia e controle
destino adequado s fezes de sunos, homens e smios parasitados;
saneamento bsico e educao sanitria;
tratamento dos indivduos infectados.
44
Endoscopia realizada por via retal, para observao da regio do reto e sigmoide.
O nmero de protozorios parasitos de animais domsticos muito grande. Tal como nos humanos, algumas protozooses podem ocasionar manifestaes clnicas de grau varivel, acarretando no animal desde infeces assintomticas at o bito, trazendo prejuzos econmicos (no caso de animais de
produo) e afetivos (no caso de animais de companhia). Alm disso, esses
animais podem servir como importantes fontes de transmisso de protozooses
para humanos e para outras espcies de animais, ocasionando inclusive surtos zoonticos que, eventualmente, podem dar origem a infeces humanas.
Alguns exemplos de protozorios parasitos esto relacionados no quadro 2.
Quadro 2. Principais protozorios parasitos de animais domsticos.
Gnero/
espcie
Principais
hospedeiros
Habitat
Entamoeba
histolytica
Humanos e
outros primatas,
caninos, felinos
e sunos
Intestino grosso
e, eventualmente,
fgado, pulmo,
crebro
Trato genital
Sangue e linfa
Tripomastigota fusiforme,
alongada e fina (19 a 39
m), com flagelo de origem
posterior formando a membrana
ondulante, cinetoplasto pequeno
e subterminal
Tritrichomonas
foetus
Trypanosoma
brucei evansi
Bovinos
Hospedeiros
vertebrados:
equinos,
ruminantes,
sunos e felinos
Hospedeiros
invertebrados:
tabandeos
Protozoologia | 133
Trypanosoma
brucei
equiperdum
Leishmania spp
Equino
Trato urogenital
Morfologicamente semelhante ao
T. b. evansi
Hospedeiros
vertebrados:
humanos,
caninos,
equinos, felinos
e animais
silvestres
Clulas do
sistema fagoctico
mononuclear
Intestino delgado
Hemcias
Intestino grosso
ou delgado (de
acordo com a
espcie)
Oocistos identificados de
acordo com forma esfrica, oval
ou elipsoide e tamanho mais
comumente de 15 a 50 m.
Quando esporulados, apresentam
quatro esporocistos, com dois
esporozotas cada
Intestino delgado
Hospedeiros
invertebrados:
flebotomneos
Giardia lamblia
Babesia spp
Eimeria spp
Isospora spp
(Cystisospora
spp)
Caninos,
felinos,
pequenos
e grandes
ruminantes
Hospedeiro
definitivo:
carrapatos
ixoddeos
Hospedeiros
intermedirios:
mamferos
domsticos
Mamferos,
aves, rpteis e
peixes
Hospedeiros
definitivos:
caninos e felinos
Hospedeiros
paratnicos:
ratos e
camundongos
Cryptosporidium
parvum e
C. muris
Humanos,
roedores e
gado
Hospedeiros
definitivos:
carnvoros
(principalmente
caninos e
felinos)
Sarcocystis spp
Toxoplasma
gondii
Hospedeiros
intermedirios:
mamferos,
aves, marsupiais
e animais
pecilotrmicos
(presas)
Hospedeiros
definitivos:
feldeos
Hospedeiros
intermedirios:
mamferos e
aves
Hospedeiros
definitivos:
candeos
Neospora
caninum
Hospedeiros
intermedirios:
bovinos,
ovinos,
caprinos,
equinos e
caninos
Clulas do intestino
delgado e grosso
Hospedeiros
definitivos: clulas
do intestino
delgado
Hospedeiros
intermedirios:
tecido muscular
Hospedeiros
definitivos: clulas
do intestino delgado
Hospedeiros
intermedirios:
diversos tipos
celulares
fibroblastos,
hepatcitos, entre
outros e cistos em
fibras musculares e
clulas nervosas
Hospedeiros
definitivos: clulas
do intestino delgado
Hospedeiros
intermedirios:
taquizotas em
diversos tipos
celulares e cistos
em tecido nervoso
(crebro, medula e
retina)
Hospedeiros definitivos:
oocistos semelhantes aos de T.
gondii com, em mdia, 11,7 m
por 11,3 m
Hospedeiros intermedirios:
cistos teciduais com parede
espessa (mais de 4 m)
Protozoologia | 135
Hammondia spp
Hospedeiros
definitivos:
feldeos e
candeos
Hospedeiros
definitivos: clulas
do intestino
delgado
Hospedeiros
intermedirios:
caprinos, sunos
e roedores
Hospedeiros
intermedirios:
principalmente em
tecido muscular
Hospedeiros
definitivos:
feldeos
Besnoitia spp
Hospedeiros
intermedirios:
bovinos,
caprinos,
equdeos,
cervdeos,
roedores,
coelhos,
gambs e
lagartos
Hospedeiros
definitivos: clulas
do intestino
delgado
Hospedeiros
intermedirios:
principalmente
tecido conjuntivo,
subcutneo e
musculatura
Hospedeiros definitivos:
oocistos morfologicamente
semelhantes aos de T. gondii
Hospedeiros intermedirios:
cistos no septados, semelhantes
aos de T. gondii
Hospedeiros definitivos:
oocistos semelhantes aos de T.
gondii, com aproximadamente 12
m por 17 m
Hospedeiros intermedirios:
cistos de parede espessa com
bradizotas no interior
45
46
47
48
Protozoologia | 137
Protozoologia | 139
3) Microscpio.
Material necessrio (utilizando-se animais de laboratrio):
1) lcool a 70%;
2) Tesoura estril;
3) Lminas e lamnulas;
4) Microscpio.
Procedimento:
a) Colocar uma pequena gota de sangue obtido por puno da polpa
digital ou de sangue venoso coletado com anticoagulante, na extremidade
de uma lmina. No caso de animais de laboratrio (camundongos ou ratos), retirar o sangue da cauda do animal infectado, fazendo um pequeno
corte com tesoura estril, aps a assepsia do local com lcool a 70%,
desprezando as primeiras duas ou trs gotas de sangue;
b) Com outra lmina apoiada sobre a primeira em ngulo de 45, fazer o
sangue se espalhar por capilaridade, de forma que o ngulo entre as duas
lminas seja preenchido por sangue;
c) Distender a gota deslocando a segunda lmina sobre a primeira, de
forma que todo o sangue seja distendido. No caso de coletas sem anticoagulantes (polpa digital, cauda de animais de laboratrio), o esfregao
deve ser feito rapidamente, em uma nica direo, antes que o sangue
comece a coagular;
d) Secar a preparao rapidamente, para no deformar os parasitos, agitando-a ao ar. Fixar e corar.
Obs. 1: Esfregaos devidamente secos e protegidos apresentam boas
condies por algumas semanas.
Obs. 2: Uma boa preparao em camada delgada deve ter:
no mnimo 2 cm de comprimento;
as margens livres em ambos os lados;
Protozoologia | 141
3) Lminas e lamnulas;
4) Microscpio.
Procedimento:
a) Colocar quatro gotas pequenas de sangue obtido por puno da polpa
digital ou de sangue venoso coletado com anticoagulante no centro de uma
lmina; as gotas devem estar posicionadas como se formassem as extremidades de um quadriltero. No caso de animais de laboratrio (camundongos ou ratos), retirar o sangue da cauda do animal infectado, fazendo um
pequeno corte com tesoura estril aps a assepsia do local com lcool a
70%, desprezando as primeiras duas ou trs gotas de sangue;
b) Com o auxlio de um palito, ponteira ou outra lmina, juntar as gotas
com movimentos circulares em uma gota nica. No caso das coletas sem
anticoagulantes (polpa digital, cauda de animais de laboratrio), a juno
deve ser feita rapidamente, antes que o sangue comece a coagular;
c) Secar a preparao rapidamente, para no deformar os parasitos, agitando-a ao ar. Nesse caso, pode-se utilizar tambm a estufa a 37C;
d) Mergulhar a lmina em gua destilada tamponada;
e) Deixar em repouso para desemoglobinizar, por aproximadamente 10
minutos;
f) Retirar, deixar secar e corar.
Protozoologia | 143
Protozoologia | 145
Obs.: A passagem pelo HCl opcional, sendo particularmente indicada nas situaes em que se deseje visualizar com clareza a posio
relativa do ncleo e cinetoplasto. No se aconselha aplicar essa etapa
do protocolo quando a tcnica for utilizada para corar esfregaos sanguneos. Esse protocolo pode ser aplicado com essa etapa para a colorao
de materiais provenientes de culturas de tripanossomatdeos.
Mtodo de Giemsa (tamponado)
Fundamento: colorao que promove uma fixao do esfregao sanguneo
pelo formol tamponado a 5% (ou metanol) e a sua colorao pela soluo
tamponada de Giemsa.
Material necessrio:
1) Preparado sanguneo (esfregao e/ou gota espessa);
2) Bquer 100 mL e proveta de 50-100 mL para diluio do Giemsa
no tampo;
4) gua comum;
5) Pipeta Pasteur;
5) Suportes para lminas;
6) Formol tamponado a 5% ou metanol (lcool metlico);
7) Soluo de HCl a 5 N (opcional);
8) Soluo tamponada de Giemsa;
9) Cuba de colorao;
10) Microscpio.
Procedimento:
a) Fixar o preparado de sangue com formol tamponado a 5% por 5 minutos (ou metanol por 5 a 10 minutos);
b) Escorrer o formol tamponado (ou o metanol) e deixar secar;
c) Imergir as lminas, por 10 minutos, em uma soluo HCl a 5 N (opcional);
d) Lavar bem com gua corrente (fluxo delicado) (no deve ficar resduo
de HCl) e deixar secar;
e) Corar o preparado com a soluo tamponada de Giemsa, deixando agir
por 45 minutos (em mdia);
f) Lavar rapidamente em gua corrente (fluxo delicado) e deixar secar ao ar;
g) Observar no microscpio em objetiva de imerso.
Obs.: A passagem pelo HCl opcional, sendo particularmente indicada nas situaes em que se deseje visualizar com clareza a posio
relativa do ncleo e cinetoplasto. No se aconselha aplicar essa etapa
do protocolo quando a tcnica for utilizada para corar esfregaos sanguneos. Esse protocolo pode ser aplicado com essa etapa para a colorao
de materiais provenientes de culturas de tripanossomatdeos.
Mtodo de May-GrnwaldGiemsa
Fundamento: colorao que permite alcanar os mesmos objetivos do
mtodo de Giemsa, no necessitando de outro reagente fixador alm do que
j faz parte da soluo corante (May-Grnwald).
Material necessrio:
1) Preparado sanguneo (esfregao e/ou gota espessa);
2) Bquer 100 mL e proveta de 50-100 mL para diluio do Giemsa;
3) gua comum;
4) Pipeta Pasteur;
5) Suportes para lminas;
6) Corante May-Grnwald;
7) Soluo aquosa de Giemsa (3 gotas do corante para cada 2 mL de
gua);
8) Microscpio.
Protozoologia | 147
Procedimento:
a) Cobrir o preparado de sangue com 20 gotas de May-Grnwald (o
fixador faz parte do corante) por 3 minutos;
b) Sem rejeitar o May-Grnwald, acrescentar 20 gotas de gua destilada,
deixando por 3 minutos;
c) Desprezar a mistura e, sem lavar a lmina, cobri-la com a soluo de
Giemsa diluda (3 gotas do corante para cada 2 mL de gua), deixando
agir por 20 a 30 minutos;
d) Lavar rapidamente em gua corrente e deixar secar ao ar;
e)Observar no microscpio em objetiva de imerso.
b) Mtodos indiretos
Hemocultura
Fundamento: processo para multiplicao de protozorios parasitos do
sangue em meio acelular; muito utilizado para cultivo de tripanossomatdeos
em meio acelular.
Material necessrio:
1) Material para coleta de sangue venoso com anticoagulante;
2) Tubos de ensaio;
3) Estante para tubos;
4) Pipetas de 1, 2 e 5 mL e pipetador;
5) Meio de cultura LIT (do ingls Liver Infusion Tryptose);
6) Pipeta Pasteur;
7) Estufa;
8) Lminas e lamnulas;
9) Microscpio.
Procedimento:
a) Coletar cerca de 10 mL de sangue venoso do paciente suspeito com
anticoagulante.
b) Colocar alquotas de 1 a 2 mL de sangue total em tubos contendo
5 mL de meio LIT
c) Incubar a 28C e examinar em microscpio a cada 15 dias durante
4 meses.
Xenodiagnstico
Xenodiagnstico natural
Fundamento: processo biolgico de diagnstico baseado na suscetibilidade dos triatomneos infeco pelo Trypanosoma cruzi. Esse mtodo, introduzido por Brumpt em 1914, tem por base a multiplicao do T. cruzi no trato
digestivo do triatomneo e permite a sua deteco nas fezes ou na urina dos
insetos alimentados com sangue do paciente ou de animais com suspeita de
infeco, aps um perodo que varia de 1 a 3 meses.
Obs.: O xenodiagnstico uma tcnica perfeitamente aplicvel para
a pesquisa de campo e/ou o isolamento de amostras de T. cruzi de
pacientes e/ou animais. Entretanto, sua utilizao em pacientes pode
ocasionar com certa frequncia reaes alrgicas, decorrentes da saliva
dos triatomneos, levando rejeio do exame pelo paciente.
Material necessrio:
1) Aproximadamente 5 a 6 ninfas limpas (criadas em laboratrio com
sangue de aves) de quarto ou quinto estgio de desenvolvimento; as ninfas devem estar em jejum alimentar de 20 a 30 dias;
2) Caixa de carto tampada com pedao de fil (ou tela);
3) Elstico;
4) Pina de seco;
Protozoologia | 149
5) Lminas e lamnulas;
6) Pipeta Pasteur;
7) Soluo fisiolgica;
8) Microscpio;
9) Homogeneizador;
10) Gaze;
11) Centrfuga;
12) Microscpio de fase;
13) Seringas e agulhas;
14) lcool a 70%;
15) Animais de laboratrio (camundongos ou ratos);
16) Material para a colorao pelo mtodo de Giemsa tamponado.
Procedimento:
a) Colocar as ninfas na caixa de carto;
b) Cobrir com fil e prender com elstico;
c) Colocar em contato com a pele do paciente atravs do fil (em humanos, a caixa aplicada no antebrao; em animais, deve-se escolher um
local onde os pelos no dificultem a alimentao dos triatomneos);
d) Deixar de 30 a 60 minutos ou at que os barbeiros se desprendam
depois de cheios;
e) Aps 30 dias do repasto sanguneo, fazer exames peridicos das fezes
do barbeiro, colhendo-as com o auxlio de pina de seco do abdmen
do inseto no sentido crnio caudal. As fezes expelidas, s que se adiciona
uma gota de soluo fisiolgica, so examinadas em lmina e lamnula,
buscando-se formas flageladas mveis;
f) Aps seis semanas, caso os exames anteriores sejam negativos, trituramse os triatomneos em um homogeneizador, e o lquido obtido filtrado
em gaze, centrifugado durante 10 minutos a 2.500 rpm e seu sedimento
examinado, entre lmina e lamnula, em microscopia de fases. O restante
cora-se pelo Giemsa e inocula-se em camundongos.
Xenodiagnstico artificial
Fundamento: processo biolgico de diagnstico baseado na suscetibilidade dos triatomneos infeco pelo Trypanosoma cruzi. Utilizado quando
no se pode praticar o xenodiagnstico natural e se objetiva pesquisar o T.
cruzi em outros lquidos, como o cefalorraquidiano, que, misturado com o
sangue, sugado pelos triatomneos.
Material necessrio:
1) Frasco borrel contendo 10 mL de sangue citratado suspeito, com a
boca recoberta por intestino de boi umedecido ou luva de ltex presa com
elstico;
2) Cuba de vidro para suporte;
3) Caixa de carto tampada com pedao de fil.
Procedimento:
a) Colocar o frasco de borrel com o sangue em banho-maria a 37C por
10 minutos;
b) Colocar a caixa de carto com as ninfas na cuba;
c) Colocar o tubo de borrel invertido sobre a gaze, ficando a membrana
em contato com a mesma;
d) Colocar o conjunto em estufa a 37C por 1 hora;
e) Seguir os passos anteriores para o exame dos triatomneos.
Protozoologia | 151
para bipsia de pele pode ser obtido, com o auxlio de lmina de bisturi
ou punch de 4 a 6 mm de dimetro, aps anestesia e assepsia do local.
No caso das leishmanioses que apresentem mltiplas leses, recomenda-se
fortemente retirar o material de leses mais recentes, uma vez que so mais
ricas em parasitos. O fragmento de tecido obtido pode ser subdividido para
procedimentos diversos como histopatologia, preparao de esfregaos por
aposio, semeadura em meio de cultura, inoculao em hamster. Vale salientar que amostras visando ao diagnstico molecular devem ser fixadas em
etanol a 70%, pois outras substncias por exemplo, o formol podem
inibir a reao da PCR.
Material necessrio (utilizando-se animais de laboratrio):
1) Animal de laboratrio (camundongo, hamster ou rato) infectado e
apresentando leso;
2) Gaze;
3) lcool iodado;
4) Lmina de bisturi estril;
5) Pina dente de rato;
6) Xilocana a 2%;
7) Soluo fisiolgica.
Procedimento utilizando-se animais de laboratrio:
a) Retirar todo o pelo que estiver em redor da leso com auxlio de uma
tesoura;
b) Fazer assepsia da leso e do seu entorno com gaze embebida em lcool
70%;
c) Anestesiar o boto em torno da leso com xilocana a 2%;
d) Escarificar a borda da leso com auxlio de bisturi;
e) Fixar a parte da regio escarificada com a pina e, com o bisturi, retirar
um fragmento da borda da leso, sem tocar na pele exposta para evitar
contaminao;
Protozoologia | 153
8.1.1.3 Histopatologia
Consiste na coleta de fragmento de tecido para processamento por meio
de tcnicas histolgicas convencionais e colorao por hematoxilina eosina,
Giemsa ou Grocott. A anlise do material pode evidenciar, alm dos amastigotas de Leishmania, outros patgenos, tais como certos fungos e bactrias,
permitindo tambm um diagnstico diferencial de outras patologias inflamatrias e/ou neoplasias.50
Cultura para o isolamento de protozorios: Leishmania sp:
Fundamento: processo de diagnstico baseado na multiplicao in vitro de
Leishmania sp. A cultura para o isolamento de Leishmania sp pode ser realizada a partir de fragmento de tecido retirado na bipsia do bordo da leso,
semeado em meio LIT, NNN (gar-sangue)+LIT ou Schneider. A coleta do
material pode ser feita por meio da aspirao de material da leso utilizando-se
uma seringa de 5 mL com agulha de 25 mm x 8 mm, introduzindo-se, aps
assepsia e anestesia local, a agulha no bordo da leso e injetando-se de 1
a 3 mL de soluo salina estril; possvel aspirar o material, que pode ser
semeado em meio de cultura, por meio de movimentos rotacionais.
Leishmaniose visceral
Na leishmaniose visceral o agente etiolgico a Leishmania chagasi, demonstrada em amostras de tecido obtidas por puno de vsceras (bao,
fgado e medula ssea). A bipsia de bao e fgado procedimento de elevado risco e s deve ser realizada em condies especiais. Por causa da maior
simplicidade e do menor risco para o paciente, utiliza-se preferentemente
material de medula ssea coletado por puno do esterno, tbia ou da crista
ilaca, sendo o material dessa ltima preferencial em adultos. Com o material
coletado, devem ser feitos esfregaos corados pelo Giemsa, semeadura em
meio de cultura NNN+LIT, inoculao em hamster e, se possvel, esfregaos
50
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d) Aps cerca de 2 minutos em cmara mida, levar ao microscpio (objetiva de 40X) e contar os parasitos presentes nos quatro quadrantes da
cmara de Neubauer (os mesmos quadrantes utilizados para a contagem
de glbulos brancos);
e) Dividir por 4 o resultado obtido na contagem de parasitos somando-se
os quatro quadrantes contados. Obtm-se com isso uma mdia do nmero de parasitos encontrados em 0,1 L; multiplica-se essa mdia pelo
resultado da diviso por 10, obtendo-se o valor por L, e, em seguida,
multiplica-se o resultado pelo fator de diluio e depois por 1.000, para
s assim obter-se o valor de parasitos por mL.
Frmula do processo resumido
n de parasitos encontrados x diluio realizada x 104 = n parasitos por mL
4
OBS.: Ao contrar os protozorios, deve-se levar em conta as clulas
que esto nas quatro grades laterais sobre as linhas esquerda e no lado
superior (inclusive as que esto sobre a linha de fronteira) e desconsiderar as que esto sobre as linhas direita e inferior.
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Procedimento:
a) Rinsar as lamnulas em PBS a 37C;
b) Fixar em metanol por 3 minutos;
c) Corar o material com o corante Giemsa (1:10 em gua destilada) por
12 minutos;
d) Lavar rapidamente em gua corrente e deixar secar ao ar;
e) Montar em blsamo neutro;
f) Observar no microscpio em objetiva de imerso.
Reao de imunofluorescncia indireta (Rifi) para a infeco por
Toxoplasma gondii
Fundamento: mtodo imunolgico bastante aplicado no diagnstico de
infeces parasitrias, sobretudo para infeces por T. gondii, e que se baseia
na deteco da reao antgenoanticorpo, revelada pelo emprego de um
conjugado antianticorpo marcado com um fluorocromo que emite fluorescncia mediante a excitao com raios ultravioleta , observada em microscpio de fluorescncia (vide volume 4).
Manuteno de cepas no cistognicas de Toxoplasma gondii em
camundongos (Mus Musculus) da linhagem Swiss Webster
Fundamento: procedimento que permite a manuteno in vivo de cepas
de T. gondii em animais (camundongos) de laboratrios de pesquisa.
Material necessrio:
1) Trs a quatro camundongos (Mus musculus) fmeas da linhagem Swiss
Webster;
2) Seringa de 1 mL;
3) Agulha de insulina;
4) PBS pH 7,2;
5) lcool a 70%;
6) Gaze;
7) Prancha de disseco;
8) Tubo tipo Falcon 15 mL;
9) Cmara de Neubauer (ou hemocitmetro de Neubauer);
10) Contador de clulas;
11) Pipetadores de 10, 100 e 1.000 L e ponteiras;
12) Tubos tipo Eppendorf.
Procedimento:
a) Inocular trs a quatro camundongos (Mus musculus) fmeas da linhagem Swiss Webster com 1,5 x 106 taquizotas cada;
b) Aps 72 horas, realizar a lavagem peritoneal de cada um dos camundongos para a retirada dos taquizotas de T. gondii;
c) Transferir o lavado peritoneal em tubo cnico de 15 mL;
d) Colocar 90 L de PBS em dois tubos cnicos de 1,5 mL;
e) Colocar 10 L do exsudato no primeiro cnico de 1,5 mL e homogeneizar;
f) Colocar 10 L da diluio do primeiro cnico de 1,5 mL no segundo
cnico de 1,5 mL e homogeneizar;
g) Utilizar a diluio do segundo cnico de 1,5 mL para realizar a contagem dos parasitos na cmara de Neubauer;
h) Aps cerca de 2 minutos em cmara mida, levar ao microscpio (objetiva de 40X) e contar os parasitos presentes nos quatro quadrantes da
cmara de Neubauer (os mesmos quadrantes utilizados para a contagem
de glbulos brancos);
i) Dividir por 4 o resultado obtido na contagem de parasitos somados nos
quatro quadrantes contados. Obtm-se, assim, uma mdia do nmero de
parasitos encontrados em 0,1 L. Segue-se multiplicando o resultado da
diviso por 10 (obtm-se o valor por L), multiplicando-se, em seguida,
tanto pelo fator de diluio quanto por 1.000, para s assim obter o
valor de parasitos por mL.
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Protozoologia | 167
g) Realizar a eutansia dos animais de 48 a 72 horas aps o inculo, promovendo a lavagem da cavidade peritoneal, recuperando-se o exsudato
com taquizotas (confirmao da viabilidade dos taquizotas de T. gondii
aps a criopreservao);
h) Realizar a contagem em cmara de Neubauer e seguir promovendo
nova passagem dos parasitos em animais de laboratrio (camundongos)
susceptveis.
oocistos de coccdeos intestinais por mtodos especiais, como a colorao por hematoxilina frrica ou safranina-azul de metileno, entre outros.
Os conservadores mais utilizados so o formol a 10% e a soluo SAF
(cido actico, acetato de sdio e formol).
Protozoologia | 169
c) Adicionar de 1 a 2 gotas de lugol sobre o material da lmina, misturando com o auxlio de uma lamnula;
d) Cobrir com lamnula e examinar no microscpio ptico (objetivas de
10X e 40X).
Tcnica de hematoxilina frrica para colorao de protozorios (Heidenhain, 1908)
Fundamento: mtodo de colorao que permite a observao de estruturas nucleares (a hematoxilina cora com grande especificidade a cromatina
nuclear), sendo de grande valia para o diagnstico diferencial das espcies de
protozorios enteroparasitos, notadamente das formas vegetativas (trofozotas). Indicada no exame de material diarreico, pode ser utilizada tambm para
a pesquisa de cistos em fezes pastosas ou moldadas.
Material necessrio (fixao):
1) Amostras de fezes conservadas no fixador de Schaudinn;
2) Conservador-fixador de Schaudinn novo com 5% de cido actico
(ou conservador-fixador SAF);
3) Soro inativado;
4) Banho-maria;
5) Suporte (rolha) de borracha;
6) Pina;
7) Gaze;
8) Funil pequeno;
9) Lugol;
10) Basto de vidro (ou palito);
11) Pipeta Pasteur;
12) Lminas e lamnulas;
13) Placas de Petri contendo as seguintes solues: fixador de Schaudinn com
5% de cido actico, lcool a 50%, lcool a 70%, lcool a 70% iodado,
lcool a 90%, lcool a 95%, hematoxilina a 0,5%, creosoto e xilol;
Protozoologia | 171
Procedimento (colorao):
a) Imergir o esfregao em lcool a 95% para hidratao, deixando por
2 minutos;
b) Imergir o esfregao em lcool a 70% para hidratao, deixando por
2 minutos;
c) Imergir o esfregao em lcool a 50% para hidratao, deixando por
2 minutos;
d) Lavar em gua corrente (filete delicado) por 2 a 3 minutos;
e) Imergir o esfregao em soluo de almen frrico (mordente) a 2%,
deixando por 5 minutos;
f) Lavar em gua corrente (filete delicado) por 1 a 2 minutos;
g) Imergir o esfregao em soluo aquosa do corante hematoxilina a 0,5%,
deixando por 5 minutos;
h) Lavar em gua corrente (filete delicado) por 1 a 2 minutos;
i) Imergir o esfregao em soluo aquosa de cido actico a 7%, deixando por 5 minutos;
j) Lavar em gua corrente (filete delicado) por 2 minutos;
k) Imergir o esfregao em soluo diferenciadora de almen frrico a 2%,
deixando pelo tempo necessrio (curto espao de tempo) at que o
esfregao obtenha uma cor cinzento-azulada claro;
l) Realizar duas lavagens em gua corrente (filete delicado) por 3 minutos;
m) Imergir o esfregao em lcool a 50% para iniciar a desidratao, deixando por 2 minutos;
n) Imergir o esfregao em lcool a 70% para desidratao, deixando por
2 minutos;
o) Imergir o esfregao em lcool a 90% para desidratao, deixando por
2 minutos;
p) Imergir o esfregao em lcool a 95% (absoluto) para desidratao,
deixando por 2 minutos;
q) Imergir o esfregao em creosoto (pode ser ligeiramente aquecido) iniciando a clarificao do material, deixando por 2 minutos;
Protozoologia | 173
OBS 2.: Os cuidados exigidos para a execuo da tcnica so os mesmos aplicados no mtodo de Ritchie
Protozoologia | 175
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lcool a 70%
lcool etlico absoluto
gua (comum) q.s.p.
70 mL
100 mL
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0,2 g
100 mL
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Protozoologia | 183
Almen frrico
Sulfato de ferro III amoniacal ______ 2 g
gua destilada q.s.p.____________100 mL
Dissolver o sulfato de ferro III amoniacal em gua destilada a 40C e
armazenar em frasco de vidro escuro.
Soluo aquosa de hematoxilina a 0,5%
gua destilada
90 mL
lcool a 95% _________ 10 mL
Cristais de hematoxilina ____ 0,5 g
Dissolver a hematoxilina no lcool e completar com gua destilada at
100 mL. Essa soluo deve ser preparada, no mnimo, 48 horas antes do
uso e armazenada em recipiente mbar (no transparente).
Fixador SAF
Acetato de sdio___________ 15 g
cido actico ______________20 mL
Formaldedo _______________ 40 mL
gua destilada q.s.p._________ 1.000 mL
Misturar os reagentes e homogeneizar bem.
Meio RPMI 1640
RPMI (p)
NaHCO3
gua bidestilada q.s.p.
1,04 g
0,2 g
100 mL
Protozoologia | 185
5,0 g
5,0 g
880 mL
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Captulo 2
Introduo helmintologia
Jos Roberto Machado-Silva
Rosngela RodrigueS-Silva
Lucas de andrade barros
Fernanda Barbosa de Almeida
1. Consideraes gerais
m = micrmetros.
b) Ciclo biolgico
A infeco humana ocorre pela ingesto de carne bovina, crua ou mal cozida,
contaminada pelas larvas de T. saginata, ou de carne suna, contaminada com T.
solium. No intestino delgado, ocorre a desinvaginao da larva, quando essa
se fixa na mucosa intestinal e se transforma em verme adulto. A tnia adulta
comea a eliminar proglotes grvidas com 80 mil a 100 mil ovos, de 60 a 70
dias aps a ingesto da carne. Os ovos eliminados pelo hospedeiro definitivo
contaminam o solo, sendo ingeridos por sunos ou bovinos. No intestino
delgado do hospedeiro intermedirio, ocorre a liberao da oncosfera, que
atravessa a mucosa intestinal e alcana a circulao, podendo se desenvolver
no crebro, lngua e corao. O ciclo recomea quando o homem ingere esses
tecidos contaminados. Durante episdios de vmitos nos indivduos com T.
c) Relao parasitohospedeiro
A doena causada pela presena dos vermes adultos no intestino, que no
provoca alteraes importantes no local de fixao, conhecida como tenase.
Com muita frequncia se observam indivduos assintomticos. Os principais
sintomas so dor abdominal, nuseas, falta de apetite ou apetite exagerado
e perda de peso. As principais complicaes so apendicite (penetrao de
uma proglote e obstruo do apndice ileocecal) e obstruo intestinal pela
massa do estrbilo (extremamente rara).
d) Diagnstico laboratorial
Realizado pela pesquisa de proglotes ou de ovos eliminados nas fezes. A
obteno de proglotes pode ser conseguida, principalmente, por tamisao,
que consiste em desfazer o bolo fecal com gua corrente em uma peneira de
malhas finas (tamis), para reter as proglotes. As proglotes retidas devem ser
comprimidas entre duas lminas de vidro e clarificadas com cido actico, a
fim de se identificarem as espcies pela morfologia das ramificaes uterinas.
Esse procedimento importante pela possibilidade de autoinfeco por T.
solium.
importante lembrar que as proglotes de T. solium costumam ser expulsas
passivamente, misturadas a material fecal, ou ao fim da defecao. J as de
T. saginata saem normalmente de forma isolada, podendo estar envolvidas
pela massa fecal. Por possurem musculatura mais potente que as proglotes
da T. solium, o que determina uma atividade motora, as proglotes de T.
saginata conseguem locomover-se, forando a passagem pelo orifcio anal a
qualquer momento do dia ou da noite, e suas proglotes podem ser vistas com
frequncia na roupa de cama ou em peas ntimas de vesturio. Esse pode ser
um meio de obteno do proglote sem uso da tamisao.
Normalmente, o encontro de ovos nas fezes acidental, pois as proglotes
saem ntegras nas fezes. A pesquisa de ovos com fita adesiva a melhor
tcnica para encontrar os ovos de Taenia, tendo em vista que, ao passar pelo
orifcio anal, as proglotes so comprimidas e tendem a extravasar parte do seu
contedo (ovos). Porm, em razo da semelhana morfolgica entre os ovos
das mesmas, no possvel estabelecer o diagnstico da espcie parasitria.
e) Epidemiologia
O parasitismo pelo gnero Taenia encontrado em praticamente todas as
partes do mundo, apresentando maior prevalncia nas regies onde inexiste
ou precria a inspeo sanitria das carcaas de bovinos e/ou sunos.
No Brasil, pas no qual a maioria da carne consumida no fiscalizada, a
prevalncia da tenase/cisticercose alta, e tais patologias esto largamente
dispersas no territrio nacional, principalmente nas cidades do interior.
Hbitos de determinados segmentos populacionais podem fomentar ou inibir
tal transmisso, como o caso da proibio da ingesto de carne suna por
b) Ciclo biolgico
O ciclo evolutivo de H. nana do tipo monoxeno. O verme adulto
produz no intestino delgado numerosos ovos, que so liberados nas fezes.
Novos indivduos podero se infectar com esses ovos, os quais, no intestino
delgado, liberam os embries, que se fixam e do origem ao verme adulto. O
ciclo total desde a ingesto de ovos at o desenvolvimento do verme adulto
e o aparecimento de ovos nas fezes dura um ms.
J o ciclo de H. diminuta do tipo heteroxeno. Os ovos podem ser
ingeridos por insetos (hospedeiro intermedirio), e a larva cisticercoide
forma-se nos tecidos desses artrpodes, que so ingeridos acidentalmente.
No intestino delgado do hospedeiro definitivo, o esclex desinvagina, fixa-se
na mucosa e cresce at formar o verme adulto. A infeco humana por H.
diminuta pouco frequente. Os roedores so os hospedeiros naturais desse
helminto.
c) Relao parasitohospedeiro
De maneira geral, a presena de poucos vermes adultos no intestino no
provoca alteraes importantes no local de fixao. Com muita frequncia,
observam-se indivduos assintomticos. Os principais sintomas so dor abdominal,
nuseas, falta de apetite, irritabilidade, dor de cabea e perda de peso.
d) Diagnstico laboratorial
O exame coproparasitolgico feito para pesquisar os ovos tpicos de
Rodentolepis e Hymenolepis, e as tcnicas mais utilizadas so as de Faust e
colaboradores (1938), a de Sheather (1923) e Ritchie (1948) modificada.
e) Epidemiologia
A himenolepase encontrada em todas as partes do mundo, principalmente
nos pases ou regies mais frias. Dois fatores so importantes para a ocorrncia
dessa parasitose: densidade populacional e hbito de viver em ambientes
fechados. Crianas na faixa escolar so as mais frequentemente infectadas.
f) Profilaxia e controle
Higiene pessoal com lavagem constante das mos, destino adequado dos
dejetos, uso de aspirador de p e tratamento dos infectados. O combate
aos insetos de cereais e s pulgas no ambiente e o exame de fezes nos demais
membros da comunidade (famlia e creche) evitam a manuteno das fontes
de infeco.
2.2 Nematoides de habitat intestinal humano
b) Ciclo biolgico
Os ovos frteis ou infrteis so afetados de maneira diferente pelo ambiente.
Para os frteis, temperaturas em torno de 25C a 30C, umidade mnima
de 70% e oxignio so fatores que permitem o desenvolvimento de uma
larva de primeiro estgio (L1) que evolui para larva de segundo estgio (L2)
e, posteriormente, para larva infectante de terceiro estgio (L3) dentro do
ovo, com movimento observado entre lmina e lamnula ao microscpio. Nos
infrteis, no h a formao da larva porque o ovo no foi fecundado.
Dentro do hospedeiro, ocorre uma migrao muito acentuada. Aps a
ingesto, os ovos larvados passam pelo estmago, as larvas saem do ovo no
intestino delgado migram para o ceco, onde atravessam a parede intestinal e
penetram na circulao sangunea ou linftica, a fim de atingir o corao e os
pulmes quando ocorre o ciclo de Loss , evoluindo para larva de quarto
estgio (L4). A migrao continua, e as L4 atingem a faringe, onde podem
ser expelidas com a expectorao ou ingeridas, passando pelo estmago e
transformando-se em adultos jovens no intestino delgado. Em aproximadamente
60 dias, realizam a cpula e as fmeas produzem ovos que saem nas fezes.
c) Relao parasitohospedeiro
A patogenia caracterizada pelo processo migratrio das larvas no
pulmo, que determina um quadro de pneumonite, no qual h febre, tosse e
eosinofilia. Caso o indivduo seja hipersensvel, pode ocorrer a denominada
sndrome de Loeffler. Na infeco intestinal, os vermes adultos ocasionam
ao espoliadora, txica, mecnica e, com menor frequncia, localizaes
no habituais (ectpicas). As manifestaes clnicas envolvem desconforto
abdominal, nuseas e perda de apetite. Esses quadros so mais graves em
crianas desnutridas e que apresentem grande nmero de vermes. A ao
irritativa mais grave desenvolvida pelos adultos diretamente sobre a parede
intestinal a formao de volumosas massas que lembram novelos, conduzindo
algumas vezes produo de espasmos e de obstruo intestinal e peritonite,
com ou sem perfurao do intestino.
d) Diagnstico laboratorial
feito com base no exame de fezes de rotina. Em razo do grande nmero
de ovos eliminados normalmente nas fezes em torno de 200 mil ovos
por fmea/dia e de sua densidade de valor intermedirio, praticamente
todas as tcnicas de concentrao, sedimentao e flutuao apresentam boa
sensibilidade para a ascariose. As principais tcnicas utilizadas so as de
Lutz (1919) ou Hoffman, Pons e Janer (1934), Ritchie (1948), Faust
e colaboradores (1938), Sheather (1923) e Willis (1921). O emprego
de mtodos quantitativos como os de Kato-Katz (Katz, Chaves e Pellegrino,
1972) e Stoll (1923) permitem a quantificao do nmero de ovos e,
consequentemente, a estimativa da carga parasitria do indivduo.
Obs: Cuidado com a morfologia dos ovos infrteis ou frteis descorticados nas fezes, pois a mesma pode determinar falsos negativos ou identificao errnea, uma vez que se assemelham a ovos de ancilostomdeos,
apresentando, porm, casca mais grossa.
e) Epidemiologia
A infeco por A. lumbricoides est amplamente distribuda nas regies
tropicais e temperadas do planeta. Em todos os estados do Brasil, h relatos
de infeco por esse helminto. Entretanto, h reas de alta transmisso o
Nordeste, reas de mdia transmisso, o Norte, o Centro-Oeste e o Sudeste,
e de baixa transmisso, o Sul. Alguns fatores interferem nessa distribuio:
grande nmero de ovos produzidos pelas fmeas, condies deficientes de
saneamento, concentrao de indivduos e caractersticas climticas, havendo
maior prevalncia da infeco em regies midas e quentes.
f) Profilaxia e controle
Recomenda-se o tratamento dos indivduos infectados, instalao de
saneamento bsico e educao em sade.
b) Ciclo biolgico
A infeco por N. americanus se d pela penetrao cutnea das larvas
filarioides infectantes (L3). No A. duodenale, alm desse tipo de transmisso,
constata-se tambm a infeco por via oral, quando as larvas filarioides so
ingeridas com o alimento. No entanto, os autores divergem se a transmisso
se d exclusivamente pela penetrao cutnea, ou se tambm ocorre por via
oral. Alcanada a circulao cutnea, as larvas L3 so levadas ao corao e aos
pulmes. De forma semelhante ao A. lumbricoides, as larvas realizam o ciclo de
Loss, atingindo a fase adulta no intestino delgado. Acredita-se que na transmisso
por via oral o ciclo de Loss no ocorra. Da invaso das larvas infectantes at o
aparecimento de ovos nas fezes so necessrios de 35 a 60 dias.
c) Relao parasitohospedeiro
A gravidade dessa helmintose depende do local de migrao das larvas,
do nmero de vermes adultos localizados no intestino e do estado nutricional
do indivduo. No intestino, o helminto se fixa pela cpsula bucal, causando
b) Ciclo biolgico
As fmeas partenogenticas habitam o intestino delgado. Os ovos so
depositados na mucosa intestinal e as larvas alcanam luz intestinal. As larvas
rabditoides eliminadas nas fezes dos indivduos parasitados podem seguir
dois ciclos: no ciclo direto, elas sofrem progressivas mudas e evoluem para
larvas filarioides infectantes; j no ciclo indireto, as larvas rabditoides sofrem
mudas e se transformam em machos e fmeas de vida livre. Aps a cpula,
as fmeas pem os ovos, liberando larvas rabditoides que evoluem para
larvas filarioides infectantes. Os dois ciclos se completam com a penetrao
das larvas infectantes pela pele. Aps atravessarem o tegumento, as larvas
invadem a corrente sangunea e realizam o ciclo pulmonar descrito para Ascaris
e ancilostomdeos.
Pessoas que andam descalas em ambientes contaminados por fezes humanas
se infectam de forma semelhante infeco por ancilostomdeos. Outras
formas de infeco so observadas na estrongiloidase: autoinfeco externa
ou exgena, quando larvas rabditoides se transformam em filarioides na regio
perianal e penetram no hospedeiro; e autoinfeco interna ou endgena,
quando as larvas rabditoides se transformam em filarioides ainda na luz intestinal
e penetram na mucosa intestinal (leo ou clon). Essa situao no s leva
manuteno prolongada do parasitismo, como tambm ao desenvolvimento
da superinfeco, que pode ocorrer em indivduos com estrongiloidase e
constipao intestinal, por causa do retardamento na eliminao das fezes.
Nos indivduos com baixa imunidade (sob o uso de drogas imunossupressoras,
radioterapia, sndrome da imunodeficincia adquirida, uso de corticoides
e alcoolismo crnico), pode ocorrer a autoinfeco interna, com larvas de
diferentes estgios (L1, L2 e L3) em diferentes rgos.
c) Relao parasitohospedeiro
Depende do local de migrao das larvas (pele e pulmes) e,
principalmente, das leses no duodeno e jejuno provocadas por fmeas e larvas.
Geralmente, a penetrao cutnea assintomtica, seguida de manifestaes
pulmonares semelhantes a uma pneumonia atpica. Os principais sintomas
envolvem a localizao intestinal e de formas disseminadas em indivduos com
imunocomprometimento.
d) Diagnstico laboratorial
O exame de fezes feito para pesquisar larvas em fezes sem utilizar
conservantes, como os mtodos de BaermannMoraes (Baermann, 1917;
Moraes, 1948) e Rugai, Mattos e Brisola (1954). Esses mtodos se baseiam
no hidro e no termotropismo das larvas. O exame de uma nica amostra de
fezes falha em detectar larvas em at 70% dos casos. Para se atingir 100%
de sensibilidade do exame de fezes, necessrio o exame de, pelo menos,
trs amostras fecais, coletadas em dias consecutivos.
Figura 13. A) Ovo de Trichuris trichiura, com poros (1) nas extremidades; B)
Macho de T. trichiura com regio posterior curvada ventralmente; C) Fmea de
T. trichiura note-se a regio posterior retilnea.
b) Ciclo biolgico
Da mesma maneira que A. lumbricoides, as condies ambientais favorecem
o desenvolvimento de larvas infectantes no interior do ovo de T. trichiura.
Quando ingeridos, os ovos embrionados liberam as larvas, que saem pelas suas
extremidades. Diferentemente de A. lumbricoides, as larvas de T. trichiura no
realizam o ciclo de Loss, permanecendo por alguns dias na mucosa duodenal
e migrando, posteriormente, para a regio cecal, onde completam o ciclo.
Por volta de 70 a 90 dias da ingesto dos ovos embrionados, comeam a
aparecer ovos nas fezes.
c) Relao parasitohospedeiro
A gravidade da infeco depende da carga parasitria, da idade e do
estado nutricional dos hospedeiros em geral, crianas. Em infeces macias,
h intensa irritao intestinal que pode levar exteriorizao do reto (prolapso
retal). A grande maioria dos indivduos assintomtica. O quadro clnico
dos sintomticos representado por dores abdominais, perda de apetite,
desnutrio, insnia, nervosismo e retardamento no desenvolvimento fsico.
d) Diagnstico laboratorial
Da mesma maneira que A. lumbricoides, devido grande fecundidade das
fmeas, e tambm por ser intermediria a densidade de seus ovos, sua pesquisa
nas fezes no oferece dificuldades para a maioria dos mtodos de concentrao
para pesquisa de ovos (tcnica de Kato-Katz), nos mtodos de flutuao (tcnica
de Faust, 1938 e tcnica de Willis, 1921), sedimentao (tcnica de Ritchie,
1948 e tcnica de Lutz, 1919).
e) Epidemiologia
As condies ambientais interferem diretamente na distribuio geogrfica
de A. lumbricoides e T. trichiura. Apesar da semelhana no mecanismo de
transmisso, a infeco por T. trichiura menos frequente. Crianas em idade
pr-escolar tm grande importncia na transmisso por meio da contaminao
do peridomiclio ou na maior suscetibilidade infeco. A distribuio
geogrfica cosmopolita, com maior ocorrncia em lugares de clima quente e
mido onde falte o saneamento bsico. O grande nmero de ovos produzidos
pelas fmeas, as condies de saneamento e a concentrao de indivduos so
fatores que interferem na distribuio geogrfica.
f) Profilaxia e controle
Recomenda-se o tratamento dos indivduos infectados, instalao de
saneamento bsico e educao em sade.
b) Ciclo biolgico
Completamente diferente de outros nematoides intestinais, os ovos
dependem pouco de condies ambientais para se tornarem infectantes, pois,
quando o ovo sai do hospedeiro, no interior do mesmo encontra-se uma
larva j formada. Quando ingeridos, os ovos embrionados liberam as larvas
no intestino delgado, as quais se alimentam e migram para o ceco, habitat
dos vermes adultos. Um a dois meses depois, as fmeas, contendo de 10
mil a 16 mil ovos no tero, migram para a regio perianal, o que ocorre
principalmente noite, devido diminuio da temperatura nessa regio.
Os ovos podem ser eliminados pela ruptura do corpo da fmea, devido ao
ressecamento, ou pela oviposio atravs do orifcio vulvar.
c) Relao parasitohospedeiro
Os vermes adultos provocam uma ao mecnica e irritativa no intestino.
O sintoma mais frequente coceira na regio anal, causada pela presena de
fmeas na pele da regio.
d) Diagnstico laboratorial
Sintomas como prurido anal noturno e presena de vermes adultos no
perneo caracterizam a infeco por E. vermicularis. O exame de fezes
pouco eficiente, pois os ovos no so eliminados com as fezes. O diagnstico
laboratorial mais eficiente quando, pela manh, sem higiene prvia, se
aplica na pele da regio perianal uma fita adesiva transparente (mtodo de
Graham, 1941). Os ovos aderem superfcie gomada da fita que, depois
de removida da pele, colada sobre uma lmina de microscopia e examinada
ao microscpio.
e) Epidemiologia
Diferentemente de outras parasitoses intestinais, a infeco por E.
vermicularis mais comum nos pases de clima frio e temperado, em razo
da menor frequncia dos banhos e do maior confinamento em ambientes
fechados. A transmisso do E. vermicularis tambm comum em creches,
orfanatos e no ambiente domstico. A transmisso pode ser de um indivduo
para outro (heteroinfeco) ou no mesmo indivduo (autoinfeco).
f) Profilaxia e controle
Inclui o tratamento dos infectados e, nos contactantes, a aplicao de
medidas higinicas gerais e pessoais, como banhos matinais dirios, evitar
sacudir as roupas de cama e de dormir dos indivduos infectados, ferver essas
roupas, cortar as unhas rente, evitar superlotao de quartos e educao
sanitria domstica e nas instituies que abrigam crianas.
b) Ciclo biolgico
Embora os ovos do trematdeo de S. mansoni sejam eliminados nas fezes,
a luz intestinal no o habitat dos vermes adultos, e sim o sistema vascular
sanguneo. Os ovos maduros so eliminados nas fezes dos hospedeiros
infectados e alcanam uma coleo dgua. Sob a ao da luminosidade e da
temperatura, o miracdio sai do ovo e nada no ambiente, at encontrar um
molusco de gua doce de certas espcies do gnero Biomphalaria, no Brasil, e
Bulinus, na frica. O miracdio penetra nesses moluscos, modifica a sua forma
e origina milhares de cercrias que sairo do molusco sob a ao dos mesmos
fatores citados para o miracdio. As cercrias nadam na gua e penetram em
indivduos que entram em contato com as guas contaminadas. A penetrao
na pele faz que as cercrias modifiquem a sua morfologia, invadam alguns
vasos sanguneos, passem pelo corao e pelo pulmo, at atingirem o fgado.
A ocorre a maturao sexual, e os vermes acasalados migram para os vasos
que irrigam o intestino para a postura dos ovos, ainda imaturos. Depois de
c) Relao parasito-hospedeiro
A penetrao da cercria provoca reao local (dermatite cercariana),
acompanhada de intensa coceira. A presena dos vermes adultos vivos no
provoca alteraes importantes no local de fixao. Diferentemente de outros
helmintos, os ovos que no saram junto com as fezes provocaro uma resposta
inflamatria principalmente no fgado e no intestino que, com o passar do
tempo, comprometer a fisiologia do rgo. Os sintomas podem ser pouco
elucidativos, como perda de apetite e pequenos surtos diarreicos, ou mais
importantes, como o aumento do fgado e do bao e insuficincia heptica.
d) Diagnstico laboratorial
Pode ser realizado por meio de mtodos qualitativos de rotina parasitolgica,
que detectam os ovos do helminto nas fezes. Por sua simplicidade e baixo
b) Ciclo biolgico
O ciclo biolgico heteroxeno. Os vermes adultos habitam o interior da
vescula e dos canais biliares mais calibrosos do hospedeiro vertebrado. Os ovos
so arrastados pela bile, misturam-se s fezes e alcanam o ambiente externo.
O desenvolvimento embrionrio e a formao do miracdio ocorrem quando os
ovos entram em contato com a gua em temperatura adequada. Aps a ecloso
do ovo, o miracdio comea a nadar e penetra no hospedeiro intermedirio
(moluscos do gnero Lymnaea). No interior dos moluscos, o miracdio
transforma-se em esporocisto e, dentro deste, formam-se as rdias. Essas ltimas
podem resultar em rdias de segundo estgio ou em cercrias. As cercrias
liberadas aderem com suas ventosas vegetao aqutica e com a descarga
do contedo das glndulas cistgenas dorsais e ventrais, h formao de uma
camada cstica. As cercrias envoltas pelas camadas csticas se transformam em
metacercrias. O hospedeiro vertebrado se infecta ao ingerir gua ou vegetais
aquticos (agrio) contaminados com metacercrias. O desencistamento ocorre
no intestino delgado. Liberadas dos cistos, as larvas perfuram a parede intestinal
e invadem a cavidade peritoneal. A migrao para o fgado continua, havendo
perfurao da cpsula de Gilson, que reveste o rgo.
c) Relao parasitohospedeiro
So observadas numerosas leses na superfcie do fgado, podendo
produzir pequenas hemorragias, hematomas e inflamao. H hipertrofia dos
canais biliares. A sintomatologia mais caracterstica compreende aumento
doloroso do fgado, febre e acentuada eosinofilia de 60 a 80% de
eosinfilos no sangue. Dores abdominais e diarreia podem acompanhar a
febre. Aps algumas semanas so observadas ulceraes na parede dos canais
biliares, alm da destruio do epitlio, com submucosa espessada e infiltrada
de elementos inflamatrios. O fgado e a vescula biliar podem apresentar
aumento de tamanho. Fenmenos obstrutivos, fibrose e calcificao das vias
biliares so geralmente observados. A fasciolose em suas formas mais graves
conduz cirrose biliar, com compresso e atrofia do parnquima adjacente e
insuficincia heptica.
d) Diagnstico laboratorial
O diagnstico clnico caracterizado pela eosinofilia acompanhada de febre, dor e aumento do fgado. O diagnstico seguro se d pelo encontro de
ovos nas fezes do hospedeiro definitivo. Mtodos de diagnstico imunolgico,
particularmente a tcnica ELISA, mas tambm a imunofluorescncia indireta, a
hemaglutinao passiva e a precipitao em gel do resultados confiveis.
e) Epidemiologia
A fasciolose uma zoonose cosmopolita, muito frequente em pases
dedicados pecuria. No Brasil, a fasciolose ocupa extensas reas da
regio Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul esto os maiores focos dessa
parasitose.
f) Profilaxia e controle
Consumir agrio somente de hortas cercadas e irrigadas, de modo a
impedir a contaminao das valas com fezes de gado. Nunca consumir agrio
silvestre. Ferver ou filtrar a gua em zonas endmicas. Combate aos moluscos
transmissores dessa parasitose.
b) Ciclo biolgico
W. bancrofti desenvolve parte do ciclo no homem e parte em mosquitos
hematfagos do gnero Culex, que apresentam a microfilria infectante (larva
do tipo L3) na bainha de sua tromba. Quando o mosquito pica o indivduo,
as microfilrias saem da tromba e penetram no orifcio feito na pele pela
picada. Da pele, as microfilrias penetram nos vasos linfticos e sofrem duas
mudanas de estgio evolutivo (L4 e adultos jovens), antes de chegarem ao
estgio adulto. Da penetrao das microfilrias infectantes at o surgimento
de microfilrias (produzidas e eliminadas pelas fmeas) no sangue transcorrem
cerca de 9 a 12 meses. Quando os mosquitos picam indivduos infectados,
as microfilrias circulantes so ingeridas e sofrem mudanas morfolgicas at o
surgimento da microfilria infectante. Uma caracterstica importante nesse ciclo
que as microfilrias sanguneas apresentam periodicidade: durante o dia
esto localizadas nos capilares pulmonares e aumentam progressivamente em
nmero na corrente sangunea ao anoitecer, at atingirem o pico nas primeiras
horas da manh.
c) Relao parasitohospedeiro
O desenvolvimento da doena clnica depende da resposta imune do
hospedeiro e da infeco bacteriana secundria geradora de erisipela. Alguns
pacientes permanecem assintomticos por anos, ao passo que os sintomticos
apresentam um processo de inflamao dos vasos linfticos, acompanhado de
febre, dor de cabea, dor local e vermelhido na regio atingida. Na fase
crnica da doena, predominam os fenmenos obstrutivos, agravados pelas
reaes inflamatrias nos pontos de distrbio da circulao linftica, como
o edema linftico (linfoedema), no qual so encontrados, alm da linfa,
microfilrias, o que estimula ainda mais a resposta inflamatria local. Esse
substrato possibilita o surgimento da fibrose local, comprimindo o tegumento
cutneo, o qual, para no se romper por causa da alta presso exercida,
se hipertrofia lentamente, iniciando-se a paquidermia, em geral conhecida
como elefantase. A elefantase pode ocorrer em vrias regies do corpo,
porm predomina nos membros inferiores, na genitlia e, em menor grau, nos
membros superiores, escroto e mama. A estase sangunea e o processo de
b) Ciclo biolgico
O ciclo biolgico heteroxeno. No Brasil, o nico hospedeiro definitivo
o homem. Os vermes adultos habitam ndulos subcutneos, geralmente
encapsulados, chamados oncocercomas. Os hospedeiros intermedirios so
insetos do gnero Simulium (borrachudos). Durante o repasto sanguneo, os
insetos ingerem as microfilrias presentes na pele ou nos oncocercomas. As larvas
infectantes (L3) surgem depois de uma a trs semanas de desenvolvimento na
musculatura torcica e migram para a probscide do inseto. Durante o novo
repasto sanguneo, as larvas presentes em sua probscide penetram ativamente
atravs da pele do hospedeiro definitivo, onde os adultos se desenvolvem de
a) Morfologia
O verme adulto mede de 4 a 8 mm em E. granulosus e cerca de 12 mm
em E. vogeli. Ambos possuem o corpo dividido em esclex globoso, com
quatro ventosas e um rostro armado de duas fileiras de ganchos; colo ou regio
proglotognica, delgado e curto, e o estrbilo, formado por trs ou quatro
proglotes, das quais apenas a ltima grvida. Os cistos hidticos (forma
larvar), vulgarmente chamados de vescula aquosa ou bolha dgua, so tipicamente uniloculares em E. granulosus e policsticos em E. vogeli. Apresentam-se
como uma esfera cheia de lquido transparente. Externamente, so compostos
por membrana adventcia, que uma reao tecidual do rgo parasitado
presena da larva; membrana anista, constituda de escleroprotenas; e membrana germinativa, de natureza celular, responsvel por secretar o lquido hidtico
e em cuja parede interna brotam as vesculas prolgeras com os protoscleces.
Essas vesculas podem estar aderidas parede por um pedculo, ou podem se
soltar e ficar livres no lquido hidtico, compondo a areia hidtica. Os ovos
so semelhantes aos do gnero Taenia sp., medindo de 32 a 38 m de comprimento por 25 a 35 m de largura. Apresentam membrana externa radiada
(embriforo) e uma larva (oncosfera ou embrio hexacanto) com seis ganchos.
b) Ciclo biolgico
O E. granulosus possui um ciclo de vida heteroxeno. A forma adulta
encontra-se fixada s vilosidades da mucosa do intestino delgado de candeos
domsticos e silvestres, como lobos e chacais (hospedeiros definitivos). As
proglotes grvidas, com vrias centenas de ovos, so eliminadas com as fezes
do animal medida que se desprendem do estrbilo. Esses ovos, contendo
a oncosfera, so ingeridos pelo hospedeiro intermedirio (bovinos, ovinos,
sunos, equinos...) no solo contaminado. Quando a oncosfera liberada
no intestino delgado desses hospedeiros, atravessa as paredes do intestino
e penetra nos vasos sanguneos e linfticos, atravs dos quais levada aos
tecidos do organismo. Nos hospedeiros intermedirios, a larva do helminto
(metacestoide) se desenvolve mais frequentemente no fgado (75%) e no
pulmo (10%).
O E. vogeli realiza seu ciclo biolgico em hospedeiros definitivos, como
o co selvagem (Speothos venaticus) e o co domstico (Canis familiaris),
nos quais se desenvolve o verme adulto, e em hospedeiros intermedirios,
tais como pacas (Cuniculus paca) e cutias (Dasyprocta aguti), nos quais se
desenvolve a forma larvar (cisto hidtico). Por ser um hospedeiro acidental no
ciclo de ambas as espcies, o homem ingere ovos presentes no ambiente ou
se contamina no contato ntimo com ces infectados. O ciclo no interior do
homem semelhante ao que ocorre nos hospedeiros intermedirios naturais: a
forma larvar de E. granulosus (fig. 26) se desenvolve no fgado e no pulmo
e, no caso de E. vogeli (fig. 27), desenvolve-se quase que exclusivamente
no fgado.
c) Relao parasitohospedeiro
Os indivduos infectados permanecem assintomticos at que os cistos
comecem a produzir uma compresso nas estruturas dos rgos afetados ou
circunvizinhos, ou se tornem palpveis. Os sinais e sintomas apresentados
dependem da localizao anatmica da larva. O fgado e o pulmo constituem
os rgos fortemente envolvidos na infeco em humanos e em animais. As
hidtides encontradas no fgado tm estrutura similar s encontradas em outros
rgos, porm a reao do hospedeiro (pericisto) particularmente intensa
nesse rgo. Na forma larvar, a estrutura cstica, na superfcie e no interior
do fgado, apresenta proliferao endgena e exgena de vesculas que,
sucessivamente, terminam por envolver outros rgos abdominais.
d) Diagnstico laboratorial
A hidatidose humana uma das poucas infeces parasitrias para as quais
o diagnstico laboratorial bsico principalmente imunolgico. O imunodiagnstico, baseado na deteco de anticorpos circulantes contra os antgenos do
cisto hidtico, de grande importncia no diagnstico da hidatidose, complementando o diagnstico clnico em pacientes que apresentam manifestaes ou
imagens de cistos hidticos. Quando, clinicamente, o paciente encaminhado
para cirurgia de coleta do lquido hidtico, o diagnstico morfolgico realizado pelas medidas dos ganchos rostelares.
Existem mtodos sorolgicos para o diagnstico complementar da
hidatidose: ensaio imunoenzimtico (ELISA), Immunoblotting e reao em
cadeia de polimerase (PCR). Recentemente, est sendo utilizado o mtodo
de Immunoblotting, que permite observar a reao dos anticorpos presentes
no soro de um paciente diante de protenas antignicas do lquido hidtico.
e) Epidemiologia
A prevalncia do E. granulosus maior em regies com criao de ovinos e
bovinos. A hidatidose cstica considerada altamente endmica. Atualmente
encontrada em regies do hemisfrio norte (Alasca e Canad), em quase
todos os pases da Europa, no continente africano (Marrocos, Arglia, Tunsia, Lbia, Sudo, Etipia, Somlia, Qunia, Uganda e Tanznia), na Oceania
(Austrlia e Nova Zelndia) e na Amrica Latina (reas rurais do Chile,
Argentina, Uruguai e extremo sul do Brasil). Os casos de hidatidose humana
quase sempre ocorrem em locais de alta taxa de infeco de carneiros ou bovinos. O hbito de alimentar ces de pastoreio com vsceras de carneiros em
abatedouros e tambm o fato de ces errantes se alimentarem de tais vsceras
facilitam a transmisso da parasitose.
A hidatidose policstica provocada por E. vogeli, tambm denominada
hidatidose neotropical, ocorre quase que exclusivamente em regies tropicais.
J foram relatados casos no Panam, Colmbia, Equador e Venezuela. No
Brasil, houve relato de casos nas regies vizinhas ao estado do Amazonas, no
Centro-Oeste e na regio Sudeste. Os casos de hidatidose policstica humana
esto relacionados com o hbito de caar pacas. O hbito de alimentar os
ces com as vsceras das pacas facilita a transmisso da parasitose.
f) Profilaxia e controle
O elo mais frgil na cadeia epidemiolgica constitudo pela infeco dos
ces com vsceras contaminadas. Bastaria, portanto, impedir que os ces se
alimentassem de vsceras cruas para que rapidamente se esgotassem as fontes de
ovos de Echinococcus, visto que os helmintos no duram mais do que alguns
meses na fase estrobilar. As medidas profilticas so: programa adequado
de esclarecimento e educao sanitria, interdio de abates clandestinos,
controle sanitrio do gado abatido, diagnstico e tratamento anti-helmntico
de ces parasitados e aperfeioamento de tcnicas agropecurias. Medida
importante na hidatidose humana evitar o contato ntimo com ces que
tenham se alimentado de vsceras cruas de bovinos ou ovinos.
c) Relao parasito-hospedeiro
A presena de larvas causa a cisticercose; dependendo da localizao
das mesmas, a sintomatologia ser diferenciada. O processo patognico
atribuvel a dois fatores principais: o primeiro a compresso mecnica e
o deslocamento de tecidos, ou estruturas, decorrentes da localizao e do
crescimento do cisticerco, podendo obstruir, por exemplo, o fluxo normal de
lquidos orgnicos, como o lquido cefalorraquidiano; o segundo o processo
inflamatrio que geralmente envolve o parasito e que pode, eventualmente,
estender-se a estruturas vizinhas.
Os sintomas e as eventuais sequelas surgem meses ou at anos aps o incio
da infeco. As manifestaes clnicas causadas pelo cisticerco dependem no
somente da localizao, bem como do nmero de cisticercos, de seu estgio
de desenvolvimento e das respostas orgnicas do hospedeiro humano.
O cisticerco mais frequentemente encontrado no sistema nervoso central.
As leses presentes nos hemisfrios, ventrculos e base do crebro podem
causar principalmente cefaleia, vmitos, convulses, desordem mental com
formas de delrio, prostrao, alucinaes, hipertenso intracraniana e demncia. A neurocisticercose tem longa evoluo que afeta a qualidade de vida do
paciente, com importantes consequncias socioeconmicas. Na cisticercose
ocular, podem surgir reaes inflamatrias exsudativas que promovero diversos graus de agresso, podendo levar cegueira. As cisticercoses muscular e
subcutnea provocam poucas alteraes clnicas.
d) Diagnstico laboratorial
Para saber a localizao do cisticerco ou conhecer o seu estgio evolutivo,
podemos utilizar os seguintes exames diagnsticos: imagens raios X,
ressonncia magntica, tomografia computadorizada etc. (nas imagens
radiolgicas so encontrados os cisticercos calcificados); bipsias; exames
de fundo de olho; mtodos de imunodiagnstico ELISA, Western-blot,
imunofluorescncia indireta etc. para a deteco de anticorpos no lquido
cefalorraquidiano e no soro; e pesquisa de DNA.
e) Epidemiologia
A cisticercose humana um importante problema de sade pblica em
reas carentes de condies sanitrias. Curiosamente, a infeco tambm preocupa pases desenvolvidos que recebem migrantes de reas endmicas. A
cisticercose frequente na sia, frica e Amrica do Sul em reas onde as
condies de saneamento bsico sejam deficientes. O destino inadequado
de fezes humanas tambm pode contaminar hortalias, posteriormente consumidas pelos indivduos.
f) Profilaxia e controle
Os indivduos com sintomatologia ou suspeita de tenase devem realizar
o procedimento para diagnstico laboratorial e ser tratados. Medidas de
higiene pessoal, como banhos e lavagem frequente das mos, principalmente
depois das evacuaes, antes de manipular alimentos e antes das refeies,
so prticas fundamentais para o controle da doena. Lavar bem os alimentos
tambm contribui para a profilaxia e o controle da cisticercose.
comprimento. Alm dos trs lbios que precedem a boca, possuem duas
expanses cervicais, em forma de aleta. Os ovos so esfricos e medem de
75 a 90 m.
b) Ciclo biolgico
Os vermes adultos so encontrados no intestino delgado de ces. As
fmeas produzem grande quantidade de ovos, que so expelidos nas fezes
dos ces. Assim como A. lumbricoides, os ovos eliminados so imaturos e
dependem de condies favorveis de umidade, temperatura e oxigenao
para embrionamento dentro do ovo e formao da larva L3 infectante. O embrionamento no solo dura em torno de 28 dias. Os animais jovens se infectam com os ovos embrionados que eclodem no intestino. As larvas realizam
o ciclo de Loss, atravessam a parede intestinal e alcanam a circulao, passando pelo fgado, corao e pulmo. Ao chegarem ao intestino, crescem e
se desenvolvem em vermes adultos, o que dura em torno de quatro semanas.
Se uma cadela infectada engravida, as larvas que esto realizando o ciclo de
Loss so ativadas e invadem a placenta, infectando o feto e transformando-se
em vermes adultos. Depois do nascimento, o ciclo recomea, e cezinhos com
trs semanas de idade j eliminam ovos nas fezes.
O homem se infecta ingerindo ovos embrionados presentes no solo ou em
alimentos e gua contaminada. A ecloso e a liberao das larvas ocorrem
no intestino delgado. Essas invadem a mucosa e atingem a circulao, sendo
levadas para diversos rgos e tecidos (fgado, pulmo, msculos, olhos, rins
e corao).
c) Relao parasitohospedeiro
A migrao das larvas acompanhada por hemorragia e inflamao. Ao
redor das larvas que ficam retidas nos rgos h formao de granulomas. O
perodo de sobrevida das larvas pode variar de alguns dias a vrios meses,
na dependncia de resposta tecidual eficiente. Aps alguns dias, ocorre
significativa reduo do substrato inflamatrio, com reparo local normalmente
regenerativo. Qualquer tecido pode ser sede de leses, porm fgado, pulmes, encfalo, globo ocular e gnglios linfticos so os locais mais afetados.
Tais agresses frequentemente determinam inflamao e necrose de capilares e
tecidos locais circunjacentes. As principais alteraes sintomticas so febre,
palidez, hepatite, hepatomegalia (aumento do fgado), esplenomegalia (aumento do bao), pneumonia parasitria com tosse, dificuldade respiratria,
miocardite, nefrose e leses cerebrais, do globo ocular e ganglionares. As
queixas mais comuns no acometimento ocular so dor e diminuio da acuidade visual. Na maioria dos casos, os indivduos no apresentam sintomas.
d) Diagnstico laboratorial
H leucocitose e eosinofilia. A pesquisa de anticorpos anti-Toxocara em
soro e lquor feita pela tcnica de ELISA. Mais recentemente, foi desenvolvida a tcnica de Immunoblotting, que permite o diagnstico e o controle
de cura da infeco.
e) Epidemiologia
A sndrome da larva migrans visceral geralmente est associada contaminao de praas pblicas, parques e praias com ovos de T. canis. Caixas de
areia em parques e creches tambm podem funcionar como fontes de infeco.
Por causa do intenso contato com essas fontes de infeco, frequentemente
so as crianas as mais acometidas pela sndrome. Ter ces adultos em casa
no parece ser fator importante; entretanto, a presena de filhotes aumenta
a probabilidade de ocorrer infeco humana. No h certeza se a atividade
profissional de veterinrios, tratadores e capturadores de ces aumenta o risco
de infeco por T. canis.
f) Profilaxia e controle
Medidas de controle sanitrio que diminuam a contaminao ambiental
pelos ovos do helminto devem ser estimuladas. Proprietrios de cachorros
devem recolher as fezes dos animais, evitando que fiquem abandonadas em
locais pblicos. Evitar que os animais defequem em praas pblicas, parques,
praias e caixas de areia. Para a reduo da contaminao ambiental, recomenda-se o tratamento dos ces com anti-helmnticos.
B) Larva migrans cutnea (dermatite serpiginosa)
Essa denominao se refere exclusivamente migrao de larvas, em terceiro
estgio, de Ancylostoma braziliense, A. caninum, A. tubaeforme e Uncinaria
c) Relao parasitohospedeiro
O mecanismo de transmisso exclusivamente ativo cutneo, por larvas
dos agentes acima mencionados. A movimentao das larvas possibilitada
pela liberao de enzimas e pela destruio mecnica da camada de Malpighi,
determinada pelo movimento em direo ao estrato epitelial, normalmente
no perfurando o tecido subcutneo, determinando trajeto superficial que,
em um dia, pode chegar a 15 cm, acarretando inicialmente aparecimento
de ppulas e pequenos ndulos, que progridem para leses serpentiformes.
Como reao a essas leses, ocorre processo inflamatrio, que, na fase inicial
da primoinfeco, tem predominncia de eosinfilos e macrfagos, porm
em pequeno nmero, o que determina macroscopicamente pequenos pontos
eritematosos. Na continuao do processo ou nas reinfeces, a resposta
imunolgica migrao larvar determina aumento significativo no nmero
de eosinfilos, macrfagos e linfcitos e na intensidade de sua resposta,
aumentando a necrose local, o que permite que o processo, sinuoso e irregular,
com frequente presena de vesculas e queixa de prurido de intensidade
varivel, seja facilmente notado na ectoscopia. As leses escoriativas so
porta de entrada para agentes de infeces bacterianas secundrias. Caso essas
ltimas no ocorram, aps alguns dias as leses tendem a significativa reduo
de substrato inflamatrio, com reparo local normalmente regenerativo.
d) Diagnstico laboratorial
A bipsia de tegumento no ponto mais distal da leso a opo diagnstica mais sensvel para a deteco das larvas, porm, pela caracterstica
invasiva da tcnica, utiliza-se a ectoscopia das leses, baseada no aspecto
macroscpico das mesmas, para a confirmao etiolgica da sndrome.
e) Epidemiologia
Apesar de ser uma sndrome cosmopolita, o nmero de casos relatados
muito pequeno quando comparado com a prevalncia esperada. Possivelmente isso se deve subnotificao dos casos diagnosticados e s dificuldades
Bibliografia consultada
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Captulo 3
1.2 Necropsia
forem ocos devem ser dissecados para a anlise dos tecidos recomenda-se
a anlise de pequenos pedaos de tecido, esmagando-os entre lmina e lamnula, ou entre duas lminas.
Quanto ao sistema digestrio, fundamental a realizao do exame do
seu contedo. O rgo deve ser aberto com cuidado, por meio de um corte
longitudinal, com o auxlio de uma tesoura de ponta fina e uma pina. O
contedo intestinal deve ser retirado com o auxlio de um pincel, e no raro
com jatos dgua, para a remoo do excesso de muco, e analisado ao estereomicroscpio e ao microscpio ptico. Frequentemente encontramos aderidos, luz intestinal, cestoides e acantocfalos e preciso remov-los com
cuidado, a fim de manter a sua integridade. O exame da parede do intestino
requer que essa seja cortada em pores pequenas para facilitar a observao
ao estereomicroscpio e ao microscpio ptico.
As vsceras devem ser analisadas meticulosamente pulmes, rins, vescula
biliar, vescula gasosa (em peixes), bexiga urinria e corao devem ser abertos
e seu contedo analisado separadamente , pois talvez se encontrem formas
adultas e larvas de trematdeos digenticos, de cestoides e de nematoides.
O crebro e os olhos devem ser expostos e analisados macro e microscopicamente. Nessa regio, frequentemente so encontradas larvas de trematdeos digenticos, de cestoides e de nematoides. No raro devemos proceder
dissecao dos olhos, onde podem ser encontradas no humor vtreo, ou
mesmo ao esmagamento do cristalino, para facilitar a retirada de diferentes
estgios ontogenticos, dependendo do grupo do helminto.
O msculo deve ser analisado de forma macro e microscpica; nesse ltimo caso, a anlise deve ser feita mediante cortes de amostras pequenas e
pouco espessas. No caso do msculo de peixes especificamente, que em geral claro e hialino, a amostra pode ser colocada contra um fundo iluminado
(negatoscpio) a fim de facilitar o encontro de helmintos macroscpicos.
necessria, s vezes, a utilizao da digesto do tecido por pepsina e tripsina,
de modo a permitir o isolamento de helmintos que se alojam no msculo.
2. Monogenoides
A maioria dos monogenoides so ectoparasitas na superfcie do corpo, narinas, brnquias e cavidade opercular de peixes. Poucas espcies localizam-se
no estmago, cavidade visceral, ovidutos ou canais urinrios de vertebrados.
Tambm so encontrados sobre o corpo de anfbios, ou como hiperparasitas
sobre o exoesqueleto de crustceos parasitos de peixes. Suas dimenses variam de menos de 1 mm a cerca de 3 cm de comprimento, so hermafroditas
e de ciclo direto. A caracterstica morfolgica predominante desses helmintos
conter um aparelho de fixao ao hospedeiro o haptor , localizado na
parte posterior do seu corpo. Na maioria das espcies, o haptor tem estruturas esclerotizadas, chamadas ganchos, barras ou ncoras; em outras, apresenta
ventosas, formas como pinas ou um conjunto de ganchos.
Para a coleta dos monogenoides, deve-se reduzir ao mximo a manipulao
do hospedeiro, visando-se evitar a perda desses helmintos. Hospedeiros de
porte pequeno devem ser colocados vivos, durante cerca de 2 horas, em
uma soluo de formalina a 1:4.000. Essa tcnica de coleta tem a vantagem
de manter vivos os peixes, que podem ser devolvidos posteriormente ao seu
ambiente natural. Em seguida, examina-se o lquido em placas de Petri ao
estereomicroscpio para observar os parasitos que se destacaram da superfcie pela ao do formol. Nos peixes de grande porte, faz-se a raspagem da
superfcie, removendo-se o muco com soluo de formalina na mesma concentrao dentro de um recipiente. Para a anlise das brnquias, retiram-se os
arcos branquiais, que so colocados em um recipiente com tampa de rosca,
contendo formalina a 1:4.000; em seguida, fecha-se a tampa e agita-se o
recipiente para que os parasitos se desprendam. Na coleta de espcimes das
narinas, elas devem ser abertas com tesouras e/ou pinas, ambas de ponta
fina, e lavadas cuidadosamente com jatos de formalina na mesma concentrao
referida, utilizando-se uma pisseta. Em trabalhos de campo, quando no h
tempo para procedimentos mais detalhados, os hospedeiros devem ser fixados
em formalina a 10% para depois serem analisados; nesse processo de fixao,
apenas um pequeno nmero de helmintos se destaca do hospedeiro.
3. Trematdeos digenticos
4. Temnocefaldeos
Conhecidos tambm como turbelrios, os temnocefaldeos so platelmintos que se caracterizam por apresentar tentculos ceflicos. So ectocomensais
5. Aspidobtreos
6. Cestoides
Todo o cestoide, partes dele contendo o esclex ou segmentos do estrbilo com proglotes imaturas, maduras e grvidas devem ser comprimidos entre
lminas e colocados no fixador a frio.
Em alguns cestoides, por exemplo, nos da ordem Ciclophyllidae pertencentes famlia Taenidae necessrio o estudo do nmero e da morfologia
dos ganchos do rostelo contido no esclex; sob o estereomicroscpio, fazse a separao do rostelo do esclex, por meio de corte com uma lmina
de barbear, visualizando-se depois, em montagem en face, o que permite
a contagem do nmero total de ganchos. Para o estudo da morfologia dos
ganchos, deve-se esmagar o rostelo entre lmina e lamnula, o que possibilita a
visualizao dos ganchos lateralmente. Dependendo da ordem de cestoides,
necessrio o estudo de cortes histolgicos transversais das proglotes maduras.
Nesse caso, alguns exemplares devem ser fixados sem compresso, em soluo
de formol a 10%.
As larvas de cestoides podem ser encontradas encistadas, livres no celoma, na musculatura de vertebrados ou na hemocele de artrpodes. Helmintos
encistados sempre devem ser removidos, com agulhas entomolgicas ou de
acupuntura das membranas csticas antes de serem submetidos ao fixador.
Plerocercos da ordem Trypanorhyncha, aps terem sido liberados dos cistos,
devem ser colocadas em gua destilada no refrigerador, para que os tentculos
desinvaginem e eles morram relaxados.
7. Girocotildeos e anfilindeos
8. Acantocfalos
As larvas encistadas em hospedeiros intermedirios e/ou paratnicos (cistacantos) devem ser removidas do cisto e tratadas, assim como as formas no
encistadas (acantelas), como os adultos.
9. Nematoides
10. Fixao
11. Colorao
Etapa
Etanol 70GL
Etanol 50GL
Durao
15 minutos
15 minutos
Etanol 30GL
15 minutos
Hematoxilina
tempo varivela
gua destilada
lavagem rpida
gua de torneira
15 minutos
Etanol 30GL
15 minutos
Etanol 50GL
15 minutos
Etanol 70GL
15 minutos
Processo
hidratao
colorao
oxidaob
desidratao
diferenciao
11 Etanol 70GL
15 minutos
12 Etanol 80GL
15 minutos
13 Etanol 90GL
15 minutos
14 Etanol absoluto 1
15 minutos
15 Etanol absoluto 2
15 minutos
16 Creosoto de faia
tempo varivel,
at a clarificao e
montagemd
montagem
desidratao
O tempo nas hematoxilinas varia de acordo com o helminto, o seu tamanho e a diluio do
corante. Pequenos helmintos e seus estgios larvais necessitam de 15 a 30 minutos, ao passo que
os espcimes maiores exigem de 45 a 60 minutos.
b
A gua de torneira oxida as hematoxilinas, mudando sua colorao de roxa para azul.
c
A diferenciao pelo etanol clordrico deve ser controlada ao estereomicroscpio para clarificar o
tegumento e o parnquima. O observador deve tirar o helminto no totalmente diferenciado, uma
vez que o mesmo perder um pouco mais de corante ao passar pela sequncia de desidratao.
d
O creosoto de faia usado como clarificador, inclusive completando a desidratao. Nunca usar o
xilol. O tempo ideal para a clarificao de um helminto depende de seu tamanho e do grupo a que
pertence. Helmintos no creosoto tendem a flutuar e a se aderir na borda da placa de Petri e preciso
controlar os helmintos individualmente, para impedir que isso ocorra, levando-os, delicadamente,
com um estilete, uma agulha de acupuntura ou um pincel fino de poucas cerdas, para o fundo da
placa.
a
Durao
Etanol 70GL
15 minutos
Carmim
tempo varivel
Etanol 30GL
lavagem rpida
tempo varivel
Etanol 70GL
15 minutos
Etanol 80GL
15 minutos
Etanol 90GL
15 minutos
Etanol absoluto 1
15 minutos
Etanol absoluto 2
15 minutos
10 Creosoto de faia
tempo varivel
12. Clarificao
Os helmintos em geral so clarificados quando deixados no creosoto. Existem, porm, dois processos especiais para a clarificao de nematoides, um
1
2
3
4
5
6
7
Obs.: Os nematoides muito grandes devem passar por fenol 10% aps
o lactofenol. Tambm se utiliza a lavagem rpida, em cido ltico glacial,
antes da clarificao com fenol.
No estudo morfolgico de nematoides, importante a observao de
estruturas bucais; a fim de se ter uma viso apical das mesmas, so feitas
montagens especiais da regio anterior, utilizando-se cortes da regio anterior
dos espcimes de nematoides, feitos com lmina de barbear ou bisturi de lmina bem fina. Esse procedimento realizado sob o estereomicroscpio, e as
partes cortadas so montadas na posio en face. Essa montagem realizada
com clarificao em glicerina.
1
2
3
13. Montagem
Etiquetas para lminas devem ser coladas em uma das extremidades dessas;
etiquetas para material preservado em meio lquido devem ter tamanho
compatvel com o do recipiente. Caso se tenha optado pelo nanquim, antes
de as etiquetas serem colocadas dentro do meio lquido, deve-se remover o
excesso de tinta das mesmas com um jato dgua (isto evita a absoro do
nanquim pelo helminto).
15. Utenslios
no comrcio e devem ser confeccionadas. A tela da peneira de colorao colada, com adesivo para tubos de PVC, em pequenos tubos de
PVC de dimetro reduzido, com as bordas previamente lixadas. Depois
de coladas, devem ser deixadas sob presso por 24 horas. A altura das
peneiras de colorao deve ser menor do que a altura das placas de Petri
(1,5 a 2 cm), o que permite permanecerem tampadas durante o processo
de colorao, evitando que os lquidos evaporem.
Obs.: Como o adesivo de PVC no resiste ao creosoto de faia, os helmintos devem ser retirados das peneiras na etapa do etanol absoluto 2. Os
helmintos devem ser transferidos do etanol absoluto 2 para o creosoto de
faia com o auxlio de um pincel pequeno e de poucas cerdas e finas.
Pinas de joalheiro: as de ponta fina e sem serrilhado so as mais
indicadas em helmintologia.
Pincis pequenos, pincis de tamanho 0: cortar algumas cerdas,
diminuindo seu nmero, para tarefas mais delicadas.
Placas de Petri: de tamanhos variados.
Formulrio de necropsia, lpis ou lapiseira, borracha.
Tesouras: pequenas, mdias e grandes, de ponta fina.
Tesouro destrinchador.
Bquers de 50 ml, 100 ml, 200 ml, 500 ml e 1 l.
Gral.
Pisseta.
Tubos de ensaio.
Centrfuga.
Funil pequeno, papel-filtro, anteparo de funil.
Clice Hoffman.
Tubo de borracha, grampos.
Gaze.
Bico de Bunsen ou placa aquecedora.
Termmetro qumico (-10 a 110C).
Microscpio ptico binocular.
Estereomicroscpio.
Lupa de mo: com no mnimo 2 a 4 vezes de aumento; facilita no
exame da superfcie de hospedeiros.
Pipetas de Pasteur, bulbos de borracha para pipeta na falta desses,
usar pipetas plsticas descartveis.
Bisturi, lminas de bisturi, lmina de barbear.
Trena de mo.
Lanterna: ser til, caso falte luz durante a necropsia.
Formulrio de Necropsia
N. ______
Nome especfico: _____________________. Nome vulgar: ______________.
Sexo/estgio de maturao: ____________________.
Data de coleta: __/__/____. Local de coleta: _________________________.
Modo de captura: ___________________. Armazenagem: (
) Sim (
) No
Obs.:
No.
Fixador AFA: etanol 70GL (93 partes) + formalina comercial (3740%; 5 partes) + cido actico glacial (2 partes).
Formalina 10%: formalina comercial (10 partes) + gua destilada
(90 partes).
Formalina 1:4.000: gua destilada (4.000 ml) + formalina comercial
(1 ml).
Diferenciador etanol 70GL clordrico a 0,5%: etanol 70GL
(200 ml) + cido clordrico (1 ml).
Hematoxilina de Delafield: hematoxilina em p (4 g) + etanol
absoluto (25 ml) + metanol (100 ml) + almen de amnia
[NH4Al(SO4)2.12H2O] (400 ml) + glicerina (100 ml).
Como fazer: dissolver a hematoxilina no etanol absoluto. Misturar,
gradualmente, a soluo saturada aquosa de almen de amnia
(aproximadamente 1 parte de almen para 11 partes de gua destilada).
Expor luz por 3 a 5 dias em um balo volumtrico com tampa de algodo.
Filtrar. Adicionar ao filtrado a glicerina e o metanol. Deixar amadurecer por
seis semanas. Guardar em frasco escuro, se possvel coberto com papel
laminado. Filtrar sempre antes de usar.
Carmalmen de Mayer: carmim em p (5 g) + almen de potssio
[KAl(SO4)2.12H2O] (6 g) + cido actico glacial (25 ml) + gua
destilada (100ml).
Como fazer: dissolver o carmim e o almen na gua destilada fervendo.
Deixar esfriar. Adicionar o cido actico. Deixar amadurecer por 10
dias. Filtrar e adicionar 0,5 ml de formalina a 37%, para impedir o
aparecimento de fungos. Diluir de acordo com a necessidade. Guardar em
um frasco escuro. Filtrar sempre antes de usar.
Referncias bibliogrficas
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GORDON, H. McL; WHITLOCK, A. V. A New Technique for Counting
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Captulo 4
Entomologia Mdica
Teresa Fernandes Silva do Nascimento
Maria Goreti Rosa-Freitas
Monique de Abuquerque Motta
Andr de Figueiredo Barbosa
Nataly Arajo de Souza
Maurcio Luiz Vilella
Margareth M. C. Queiroz
Jacenir Reis dos Santos Mallet
Catarina Lopes de Macedo
Teresa Cristina Monte Gonalves
1. Consideraes gerais
1.1 Definio
O filo Arthropoda possui simetria bilateral, apndices articulados, exoesqueleto quitinoso e cavidade geral, ou hemocele, na qual circula a hemolinfa.
A hemolinfa um fluido aquoso, contendo ons, molculas e clulas, com vrias funes. Esse fluido circula em baixa presso e com fluxo lento, passando
por cavidades chamadas hemocele. Uma das suas principais funes a troca
qumica de alimentos e rejeitos metablicos, hormnios, clulas e molculas
de defesa imune entre os tecidos dos insetos. A hemolinfa se movimenta
pstero-anteriormente e pode ter cor avermelhada, amarelada ou esverdeada.
Os artrpodes possuem sistema circulatrio aberto e lacunar, sistema digestivo completo, sistema nervoso formado por gnglio cerebral e cadeia
ganglionar ventral. Os artrpodes so dioicos, de reproduo sexuada e
fecundao interna. Existem espcies que so hermafroditas.
Diico: sexos separados em indivduos machos e fmeas.
Fecundao interna: o macho deposita as clulas sexuais masculinas dentro do corpo da fmea, no qual se encontram as clulas
sexuais femininas.
As estruturas sensoriais dos artrpodes so eficientes e diversificadas. Possuem sensores qumicos capazes de reconhecer a presena de alimentos ou de
inimigos naturais e tambm de identificar seus parceiros sexuais; receptores de
paladar, como aqueles localizados nas patas das moscas; sensores posturais
os estatocistos semelhantes aos encontrados nos demais invertebrados; e
receptores olfativos, auditivos e luminosos.
A utilizao de sensores visuais, olfativos, de temperatura e outros determina o comportamento dos artrpodes na procura da fonte alimentar, sua relao com o hospedeiro e a transmisso de patgenos. Insetos como mosquitos
e borrachudos utilizam seus sensores visuais para escolher cores onde pousaro e faro seu repasto sanguneo. Os tabandeos podem detectar grandes
contornos que contrastam com o cu, alimentando-se, preferencialmente, em
grandes ungulados. Sensores olfativos para o dixido de carbono, exalado na
respirao de vertebrados, e para o cido ltico, molcula comum no suor humano, podem indicar a existncia de fontes de alimentao. O conhecimento
desses mecanismos de atrao pode ser utilizado na confeco de armadilhas
para esses artrpodes.
O esqueleto rgido dos artrpodes, embora confira ao grupo proteo
mecnica, tambm limita o seu crescimento: para crescer, o exoesqueleto
trocado num processo denominado muda ou ecdise; ocorrem de 4 a 7 mudas
do exoesqueleto at o artrpode atingir o estgio adulto. O exoesqueleto
vazio abandonado recebe o nome de exvia.
Os artrpodes podem manter a mesma forma ou se transformar durante o seu ciclo de vida. Aqueles que no modificam a sua morfologia so
denominados ametbolos. Entre os que se transformam, h os que sofrem
metamorfose parcial os hemimetbolos ou total os holometbolos. Os
ametbolos e alguns hemimetbolos como piolhos e hempteros vivem
no mesmo ambiente em todas as fases de sua vida, competindo entre si. Os
holometbolos como borboletas, moscas e mosquitos exploram ambientes
distintos nas diferentes fases de seu ciclo de vida e no competem entre si. A
no competio entre os estgios uma grande vantagem para o grupo dos
holometbolos.
2.3 Taxonomia
Classe
Vrias classes
Crustacea
(caranguejos,
camares,
coppodes)
Caractersticas
Chilopoda
(centopeias,
lacraias)
Myriapoda
Diplopoda
(piolhode-cobra,
gongolo)
Arachnida
Chelicerata
(aranhas,
escorpies,
carrapatos,
caros)
Insecta
Hexapoda
(mosquitos,
besouros,
vespas,
mariposas,
borboletas,
formigas,
flebtomos)
Esquema*
Os quilpodes, conhecidos vulgarmente por centopeias, lacraias ou escolopendras, apresentam corpo alongado e achatado dorsoventralmente, com
um nmero variado de segmentos, que podem chegar a 170. Na cabea,
possuem um par de longas antenas, um par de mandbulas, dois pares de maxilas e um par de forcpulas ou aguilho, estrutura inoculadora de veneno. So
artrpodes de hbitos predatrios, e alguns gneros como Scolopendra, que
alcana 30 cm alimentam-se de pequenos lagartos, rs, pssaros e at de
morcegos. So encontrados principalmente em regies quentes, escondendose durante o dia debaixo de pedras e troncos cados, sendo ativos noite,
quando saem em busca de alimento. Algumas espcies desse gnero podem
inocular potente veneno ou peonha, em cuja composio entram proteases,
histamina, acetilcolina e serotonina, capazes de causar acidentes peonhentos
srios. Acidentes peonhentos em humanos tm sido relatados, com quadro
clnico de febre e reaes alrgicas fortes. Apesar da dor intensa que podem
causar, raramente so fatais. No Brasil, a lacraia mais comum a Scolopendra
viridicornis, que pode atingir 20 cm de comprimento.
Classe Diplopoda
feces bacterianas associadas. Essas espcies sero vistas com mais detalhes
nas prximas sees.
a) Posio taxonmica
Os insetos pertencem classe Insecta. As ordens Diptera, Hemiptera,
Anoplura, Siphonaptera e Homoptera, que sero detalhadas nas prximas
sees, so de interesse mdico; as ordens Lepidoptera e Coleoptera tm
certo interesse mdico, pois podem causar envenenamento se ingeridas.
b) Morfologia externa dos insetos
O conhecimento da morfologia importante, pois ela se relaciona com
a funo, ou seja, tipos de alimento, parceiros e habitat, que, por sua vez,
guardam relao com a epidemiologia das doenas. As asas e a funo do
voo, por exemplo, do aos mosquitos e s moscas capacidade de procurar
hospedeiros de forma mais efetiva que os piolhos. A procura de abrigo
dentro do domiclio humano tambm facilita a proximidade com o homem.
A coevoluo entre o tipo de aparelho bucal e o tipo de alimentao dos
diferentes insetos hematfagos com ciclos de parasitos causadores de doenas
no homem determina uma interao especfica na qual, muitas vezes, apenas
uma espcie de inseto funciona como vetor de determinado parasito. Exemplos dessa interao so os ciclos da leishmaniose tegumentar e da malria.
Os flebtomos tm a probscide curta, cortam os tecidos, permitindo o
extravasamento do sangue para uma pequena leso sob a pele, da qual sugam
diretamente o sangue. Como as formas infectantes da leishmnia ficam situadas
nas bordas da leso, a leishmnia ingerida junto com o sangue e fragmentos
do tecido dilacerado. Os mosquitos, por sua vez, tm probscide longa
que permite a eles ingerir sangue como atravs de uma agulha de seringa. O
plasmdio da malria corre livre pelas veias do hospedeiro e sugado pelo
mosquito. Essas adaptaes morfolgicas ao longo da evoluo propiciaram o
desenvolvimento da relao parasitohospedeiro e dos ciclos de transmisso
nos estgios que atualmente observamos.
De acordo com o grupo de insetos, as antenas possuem diferentes formatos e tm funes variadas, como olfativas e acsticas. Com as antenas, os
insetos podem encontrar alimentos, hospedeiros e parceiros sexuais, podem
se comunicar e evitar a predao, atravs de feromnios, que so substncias
qumicas liberadas e captadas pelos sensores contidos nas antenas.
O trax dividido em trs segmentos: protrax, mesotrax e metatrax.
Cada segmento tem um par de patas e, nos insetos alados, um ou dois pares
de asas: um no mesotrax, outro no metatrax. Cada segmento torcico consiste em placas endurecidas, ou escleritos. Os escleritos dorsais so chamados
notos, os laterais so chamados pleura e os ventrais, esternos. O 1 segmento
do protrax o pronoto. O pronoto o esclerito dorsal do protrax, que
pode estar modificado em vrias ordens.
As patas anteriores esto inseridas no protrax, as patas mdias, no mesotrax e as posteriores, no metatrax. Cada pata tem seis partes principais,
listadas, do corpo poro distal, como coxa, trocnter, fmur, tbia, tarso
e garras. O fmur e a tbia podem ser modificados com espinhos. Como o
aparelho bucal e as antenas, as patas dos insetos so modificadas para funes
diferentes, dependendo do ambiente e do estilo de vida.
c) Abdome
O abdome contm a maioria dos rgos vitais e pode apresentar at doze
segmentos. Os segmentos abdominais dorsais so denominados tergo; os ventrais, esterno. Aberturas chamadas espirculos para trocas de gases podem ser
encontradas no tecido conjuntivo entre o tergo e os esternos. As estruturas
reprodutivas dos machos incluindo o edeago, ou pnis, e frequentemente
um par de claspetes esto situadas no 9 segmento; as estruturas reprodutivas das fmeas esto localizadas nos 8 e 9 segmentos abdominais. O ltimo
segmento pode trazer apndices, que so chamados cercos.
Nervoso
Circulatrio
Respiratrio
Digestivo
Reprodutor
Esquema
As fmeas depositam seus ovos diretamente na gua, nas bordas dos criadouros ou em substratos midos flutuando na gua, em diferentes tipos de
criadouros, dependendo da espcie. A escolha do local para a oviposio
responsvel pela distribuio da espcie na natureza e nos diferentes tipos
de locais de reproduo. Fatores fsicos, biolgicos e qumicos influenciam
a escolha dos criadouros. Dentre os fatores fsicos, esto a luminosidade, o
comprimento de onda da luz refletida no criadouro, a temperatura. Dentre os
fatores biolgicos, esto a presena ou ausncia de vegetais e microrganismos.
J dentre os fatores qumicos, esto a presena de subprodutos de vegetais
e microrganismos, oxignio dissolvido e a salinidade. As fases imaturas se
desenvolvem no meio aqutico. O aparelho reprodutor da fmea formado
por um par de ovrios situados na poro posterior do abdome, os quais
esto repletos de ovarolos. Esses ovrios se conectam, atravs de ovidutos
laterais, a um oviduto principal, que desemboca na cmara genital ou vagina.
As espermatecas, que variam de uma a trs, so quitinizadas e se abrem na
vagina. O aparelho genital feminino tambm pode apresentar uma glndula
Subfamlia Anophelinae
Pertencem a essa subfamlia os insetos transmissores da malria, conhecidos
vulgarmente por fininho ou agulhinha.
a) Taxonomia
O gnero Anopheles compreende seis subgneros: Nyssorhynchus,
Kerteszia, Stethomyia, Lophopodomyia, Anopheles e Cellia. O subgnero
Cellia de importncia mdica no Velho Mundo.
b) Caractersticas gerais
So mosquitos delgados, sem muitas cerdas, de colorao geral branca
e preta. Os adultos so desprovidos de cobertura contnua escamosa nos
segmentos abdominais, sendo possvel observar a existncia de conjuntos localizados desses anexos. O escutelo apresenta a margem arredondada, exceto
no gnero Chagasia. Os palpos femininos so de comprimento equivalente
ao da probscide, exceto no gnero Bironella. Os ltimos segmentos palpais
do macho so em forma de clave. Outra marca do dimorfismo sexual so as
antenas com flagelos mais plumosos, nos machos, e o toro, ou 2 segmento
antenal, maior do que o das fmeas. A garra tarsal do tarso anterior nica
e denteada. Os anofelneos podem ser facilmente distinguidos dos demais
culicdeos graas ao posicionamento do seu corpo em relao ao substrato.
Ao pousarem, mantm a probscide e o corpo em linha reta, formando um
ngulo reto ou quase reto com a superfcie onde esto pousados. As larvas so
desprovidas de sifo respiratrio. Possuem cabea mais longa do que larga, a
cerda 1 do 1 ao 7 segmento abdominal palmada. Por causa da ausncia
do sifo respiratrio, as larvas de anofelneos tambm podem ser facilmente
reconhecidas entre os outros culicdeos, pois assumem postura horizontal em
relao superfcie lquida do criadouro quando necessitam respirar. Na gua,
movimentam-se de forma brusca, flexionando o corpo muito rapidamente. As
pupas possuem trompa ou tuba respiratria curta, de aspecto alargado, e com
abertura em forma de fenda que percorre a trompa at a base. A cerda 9 do
3 ao 8 segmento abdominal apresenta frequentemente aspecto espiniforme.
Os ovos so postos isoladamente e contam com flutuadores expanses dispostas bilateralmente. Cada flutuador comporta uma srie de compartimentos,
chamados de gomos ou costeletas, contendo ar, e isso permite a flutuao dos
ovos no meio lquido.
Os subgneros Stethomyia e Lophopodomyia no possuem importncia
epidemiolgica. Na regio neotropical, os subgneros que encerram espcies
de interesse epidemiolgico so Anopheles, Kerteszia e Nyssorhynchus.
c) Importncia mdica
A subfamlia Anophelinae inclui os mosquitos vetores da malria. O subgnero Nyssorhynchus constitui o grupo de anofelneos que encerra o maior
B) Tribo Culicini
a) Taxonomia
A tribo Culicini est composta de quatro gneros, dos quais Culex e Deinocerites so encontrados no Brasil.
b) Caractersticas gerais
Os culicini so mosquitos que exercem a hematofagia noite ou no crepsculo vespertino. Gostam de picar aves e humanos. As colees de gua onde
as fmeas depositam os ovos variam de espcie para espcie. As fmeas de
culicini podem depositar seus ovos em colees de gua pura ou estagnada,
no ambiente silvestre, semissilvestre ou nas imediaes do domiclio humano.
Os ovos so desprovidos de flutuadores e so postos aglutinados, na vertical,
formando uma jangada. As larvas tm sifo respiratrio e dispem-se em ngulo perpendicular ou oblquo superfcie da gua. O ciclo de vida de ovo a
adulto de 10 a 11 dias. Quando em repouso, os espcimes adultos ficam
com o corpo paralelo superfcie. Os culicini so mosquitos de aspecto cinza
ou marrom e possuem escamas escuras nas asas.
c) Importncia mdica
Na tribo Culicini encontra-se o gnero Culex, de vetor da filariose bancroftiana e da malria aviria. A espcie Culex quinquefasciatus o mosquito
comum, espcie cosmopolita que ataca o homem noite; Culex quinquefasciatus transmissor da filria Wuchereria bancrofti, que causa elefantase; Culex
quinquefasciatus, Culex nigripalpus, Culex coronator e Culex declarator so
espcies que j foram encontradas infectadas, na natureza, com arbovrus.
C) Tribo Mansoniini
a) Taxonomia
A tribo Mansoniini est composta de dois gneros: Mansonia e Coquilettidia.
b) Caractersticas gerais
Os mansoniini so mosquitos grandes e vorazes. Atacam em grande nmero, a qualquer hora do dia, podendo se constituir em pestes no s para o
homem, mas tambm para os rebanhos. As fmeas de mansoniini depositam
seus ovos juntos, em crculo, flutuantes ou submersos, perto de plantas flutuantes. As larvas e pupas desses mosquitos tm a caracterstica especial de
retirarem o oxignio que respiram de sacos aerferos de plantas flutuantes, no
precisando ir at a superfcie da gua para respirar. As larvas se alimentam de
matria orgnica em suspenso. Os adultos so mosquitos grandes, com trax
de aspecto felpudo e escamas largas nas asas.
c) Importncia mdica
Na tribo Mansoniini, o gnero Mansonia possui espcies importantes pela
agressividade e ao espoliativa quando em grande nmero. Vrias espcies
de Mansonia, como Mansonia humeralis, Mansonia indubitans e Mansonia
amazonensis, so espcies cuja agressividade e ao espoliativa as fazem ser
consideradas pestes frequentemente associadas a lagos de hidreltricas. Mansonia titillans foi encontrada naturalmente infectada com arbovrus causadores
de encefalites e doenas febris, e portando ovos da mosca Dermatobia hominis, causadora da berne.
D) Tribo Sabethini
a) Taxonomia
A tribo Sabethini est composta por catorze gneros, com cerca de 420
espcies. Nove gneros esto na regio neotropical Isostomyia, Johnbelkinia,
Runchomyia, Shannoniana, Trichoprosopon, Sabethes, Limatus, Wyeomyia e
Onirion com cerca de 225 espcies. Entretanto, por causa da dificuldade
na identificao das espcies, acredita-se que o grupo deva ser maior.
b) Caractersticas gerais
Os mosquitos da tribo Sabethini so mosquitos silvestres que apresentam
no s grande diversidade morfolgica e biolgica, mas tambm beleza incomum, graas s escamas coloridas, com reflexos metlicos, que lhes recobrem
o corpo. A distribuio geogrfica das espcies da tribo Sabethini se d
nas regies Neotropical, Oriental e na Australsia. Apenas algumas espcies
ocorrem na Amrica do Norte. Os sabetneos so mosquitos de hbito diurno, e suas formas imaturas se desenvolvem quase que exclusivamente em gua
acumulada em diferentes tipos de plantas fitotelmatas bromlias, helicnias,
buritis, bambus e arceas, dentre outras , mas tambm podem se desenvolver
em certos recipientes naturais, como ocos de rvores e sementes, e em folhas
cadas no cho.
Diversas espcies de sabetneos apresentam comportamento diferenciado,
nas diferentes fases de desenvolvimento, do comportamento das demais espcies de mosquitos. Os adultos, por exemplo, quando pousados, mantm as
pernas posteriores voltadas para cima, sobre o trax. As fmeas, principalmente aquelas de espcies dos gneros Sabethes e Wyeomyia, antes de pousarem
para realizar a hematofagia, aproximam-se e recuam, em vrios crculos de voo
em torno do hospedeiro. Esses mosquitos, portanto, so considerados mosquitos de ndole tmida, em oposio ao comportamento agressivo de outras
espcies de mosquitos. Em relao postura dos ovos, tambm h, entre os
sabetneos, comportamentos peculiares, como a postura de ovos atravs de
pequenos orifcios em bambus ou entre estreitas axilas de plantas, observada
em algumas espcies de Wyeomyia. Um comportamento de oviposio muito
especial e nunca observado em outros grupos o descrito para Trichoprosopon digitatum: as fmeas de Trichoprosopon digitatum permanecem pousadas
sobre sua postura, protegendo-a, e ali continuam durante o desenvolvimento
de seus ovos at a ecloso das larvas.
Subfamlia Phlebotominae
Os flebotomneos tiveram sua origem possivelmente durante o perodo
Cretcio Inferior. No Brasil, de acordo com a regio geogrfica, so
popularmente conhecidos como birigui, mosquito-palha, cangalinha, anjinho,
arrupiado e tatuquira.
a) Taxonomia
As subfamlias Sycoracinae e Phlebotominae so aquelas que apresentam
interesse mdico, por serem hematfagas. Apenas a subfamlia Phlebotominae
tem espcies vetores de doenas, como leishmanioses, bartonelose e vrias
arboviroses.
Em todo o mundo, so conhecidas mais de oitocentas espcies de
flebotomneos, sendo 65% delas da regio neotropical. No Brasil, h mais
de 250 espcies descritas, as quais representam 31% do total mundial e
48% das que ocorrem na regio neotropical. Da subfamlia Phlebotominae,
existem trs gneros no Novo Mundo: Lutzomyia, Brumptomyia e Warileya.
No Velho Mundo, so igualmente trs os gneros existentes: Phlebotomus,
Sergentomyia e Chinius.
b) Interesse mdico
Os flebotomneos participam da transmisso de doenas ao homem, cujos
agentes etiolgicos podem ser bactrias, arbovrus e protozorios, destacandose, entre os ltimos, as leishmnias. Algumas espcies so dotadas de notvel
grau de antropofilia, o que lhes confere importante papel na veiculao de
patgenos humanos. Espcies dos gneros Phlebotomus e Lutzomyia so
incriminadas como vetores de leishmanioses. A hematofagia em flebotomneos
est restrita s fmeas.
c) Caractersticas gerais
Os adultos apresentam tegumento cuticular de fina espessura, o que os
torna sensveis s flutuaes de temperatura e umidade. Em geral, apresentam
atividade noturna, que se inicia no crepsculo vespertino e pode alcanar o
crepsculo matutino. Os flebotomneos so de porte pequeno, tm em torno
de 4 mm, e possuem corpo piloso, de tonalidade variando do amarelo-palha
ao castanho e asas de formato lanceolado, alongadas e hialinas, densamente
revestidas de cerdas que, na maioria das vezes, permanecem eretas, dando
ao inseto um aspecto bem caracterstico (fig. 7). So diicos, de fecundao
interna e holometablica.
c) Caractersticas gerais
As fmeas e machos adultos podem viver de 3 a 4 semanas na natureza.
As fmeas depositam seus ovos sobre pedras, galhos e folhas ou em substratos
encontrados em cachoeiras, rios ou crregos. Cada fmea coloca em mdia,
por postura, duzentos a trezentos ovos, que amadurecem em 5 a 6 dias, dependendo da temperatura da gua e da espcie. Aps esse perodo, as larvas
eclodem e se fixam. As larvas se locomovem, aderidas aos substratos, por meio
de uma teia produzida por substncia salivar. A fase larval dura aproximadamente
15 dias, depois dos quais a larva se torna pupa, em um casulo. Os stios de
desenvolvimento ovolarvapupaadulto so cachoeiras, rios ou crregos, com
correnteza e guas cristalinas. Aps 4 dias, o casulo se rompe e o adulto, dentro
de uma bolha de ar, atinge a superfcie da gua.
Os adultos podem viver na natureza por mais ou menos 3 a 4 semanas.
O raio de voo dos adultos de aproximadamente 40 km de distncia a partir
do curso dgua. Os adultos usam como suporte de descanso rvores e plantas herbceas. Apenas as fmeas adultas so hematfagas. Os adultos machos
alimentam-se de sucos vegetais. As fmeas alimentam-se do sangue de mamferos e aves; algumas espcies preferem o homem. O ato da picada rpido e
silencioso, e dura de 3 a 8 minutos. Por causa das propriedades anestsicas da
saliva, no momento em que ocorrem, as picadas so indolores. A atividade de
alimentao das fmeas se realiza principalmente nos perodos da manh e da
tarde. O sangue ingerido utilizado para o desenvolvimento dos ovos no interior
das fmeas. O desenvolvimento dos ovos varia conforme a temperatura ambiente.
b) Interesse mdico
Alm das espcies sugadoras, moscas saprfagas e coprfagas so
responsveis por transportar mecanicamente diversos agentes etiolgicos de
doenas, tais como bactrias, vrus, fungos, cistos e oocistos de protozorios,
larvas e ovos de helmintos, entre outros, pois muitos desses insetos frequentam
residncias, hospitais, aterros sanitrios, bem como locais de alimentao
coletiva, o que facilita a transmisso de doenas provocadas por esses agentes.
As larvas de vrias espcies de Muscomorpha, principalmente da famlia
Calliphoridae, merecem especial destaque em sade pblica, por produzirem
miases primrias, que so afeces causadas por larvas de moscas no homem,
animais domsticos e silvestres. Essas larvas so parasitos obrigatrios de
vertebrados. As miases causadas por Cochliomyia hominivorax so as mais
prevalentes nas regies quentes e midas dos pases tropicais e subtropicais.
A enfermidade ocorre com mais frequncia em indivduos que moram em reas
de periferias e zonas rurais. Em geral, a miase atinge reas descobertas com
leses no corpo, pois a oviposio da mosca mais fcil nesses locais. Nesse
caso, as miases so de tipo tecidual e podem invadir cavidades; vulgarmente
chamadas bicheiras, a infestao promovida por larvas biontfagas, que
parasitam tecidos sadios. Indivduos que vivem em locais com condies
precrias de higiene so os mais afetados pela doena.
b) Interesse mdico
Os triatomneos hematfagos so conhecidos por diversos nomes nas diferentes regies onde se relata a sua ocorrncia; quase sempre, o significado
desses nomes est relacionado com a cultura regional e com as adaptaes do
inseto ao ambiente domiciliar. No Brasil, conhecido pelos seguintes nomes:
barbeiro, chupo, chupana, finco, bicudo, percevejo, bicho-de-parede,
bicho-de-parede preto, chupa-pinto, percevejo-do-serto, percevejo-francs,
percevejo-gaudrio, percevejo-grande, procot, prorocot, barato, bruxa,
piolho-de-piaava, quiche do serto, rondo, vunvun, cascudo.
Atualmente, tcnicas bioqumicas, moleculares e citogenticas, alm da
morfologia clssica, tm sido utilizadas para a identificao de muitas espcies
de hempteros.
O Triatoma infestans, um hemptero vetor da doena de Chagas, j foi
o principal vetor do parasito Trypanosoma cruzi no Brasil. Desde 2006,
no entanto, o Brasil recebeu o certificado emitido pela Organizao PanAmericana da Sade (Opas) e pela Organizao Mundial de Sade
(OMS) de erradicao da transmisso vetorial da doena de Chagas
pelo Triatoma infestans. Essa certificao foi fruto da intensificao das
aes de controle impetradas pelo Ministrio da Sade, em articulao com
as trs esferas de governo federal, estadual, municipal que conformam o
Sistema nico de Sade (SUS).
c) Caractersticas gerais
O desenvolvimento dos triatomneos do tipo hemimetablico. As formas
jovens so muito parecidas com as formas adultas; entretanto, apenas os adultos possuem asas, podendo, portanto, voar. O ciclo de vida compreende uma
fase de ovo, cinco estdios de ninfa e a fase adulta. Para que ocorra a muda
de um estdio ninfal para o outro, inclusive do ltimo estdio ninfal para a fase
adulta, necessrio que os triatomneos realizem repasto sanguneo.
O tempo de desenvolvimento desde a fase de ovo at a fase adulta varia
em cada espcie, podendo oscilar de 6 meses a 2 anos. Logo aps a muda,
as ninfas e as formas adultas so rosadas; vo escurecendo posteriormente,
com o endurecimento progressivo da cutcula. O tempo mdio de vida de um
triatomneo de 1 a 2 anos.
A capacidade vetorial dos triatomneos determinada pelo grau de associao do inseto com o homem e seu domiclio e pelo tempo entre o repasto
sanguneo e a defecao. Ninfas e adultos se alimentam de sangue e so
capazes de se infectar e transmitir o parasito Trypanosoma cruzi, que depositado junto com as fezes do barbeiro e entra no organismo do hospedeiro
pela soluo de continuidade dada pela picada quando o hospedeiro se coa.
Algumas espcies depositam seus ovos soltos nos ectopos que habitam;
outras, entretanto, colocam seus ovos agrupados e aderidos aos seus hospedeiros ou ao substrato dos ectopos onde habitam.
Cimex lectularius leva cerca de cinco minutos para ingurgitar-se. O hospedeiro geralmente no acorda enquanto est sendo picado, pois a saliva
do percevejo contm anestsicos, alm de anticoagulantes. Sua picada pode
causar reaes alrgicas; at o momento, porm, no h descrio de doenas
transmitidas ao homem pelos percevejos. Uma caracterstica compartilhada com
a picada das pulgas a tendncia dos percevejos de exibirem um padro de
picadas sequenciais, em que as picadas so enfileiradas. Isso pode ser causado
pela perturbao do percevejo durante o repasto, que se reposiciona antes de
recomear a alimentao. Alternativamente, a explicao pode ser a de que o
percevejo estaria procurando repetidamente uma veia.
As respostas individuais do hospedeiro variam de acordo com o tipo da
pele, o ambiente e a espcie de percevejo. Em raros casos, as reaes alrgicas
s picadas podem se tornar srias, surgindo infeces bacterianas secundrias.
Indivduos infestados podem apresentar ansiedade, stress e insnia. A infestao de uma casa por percevejos pode ser adquirida durante uma viagem,
quando eles podem se esconder nas bagagens. Mveis usados, ou a contiguidade com casas ou apartamentos infestados, tambm podem ser outro modo
de infestao.
Percevejos adultos conseguem viver at um ano sem repasto sanguneo.
Os percevejos so pequenos e geis. Muitas vezes, apenas o uso de inseticidas no consegue elimin-los. Deve se usar, para isso, uma combinao de
tratamentos, que inclui lavagem dos tecidos atingidos em temperaturas acima
de 49C, aspirao de todos os carpetes, mveis estofados e rachaduras na
madeira, eliminao do mofo e asperso de inseticidas em p, que costumam
conter vidro modo ou p de slica e agem como abrasivos e dessecantes,
entre outros.
c) Caractersticas gerais
Os percevejos so hemimetbolos, rpidos, geis, tm cor vermelho-amarronzada e so pteros. Os adultos, que podem viver at quatro anos, tm
aproximadamente 0,60 cm de comprimento, ou seja, so do tamanho de
uma semente de ma, e, como so achatados dorsoventralmente, podem se
esconder em pequenas frestas. Camas e sofs so os locais preferidos por esses
pequenos insetos, que podem ser encontrados ainda em poltronas, cadeiras
estofadas, cabeceiras e estrados de cama, cortinas, tapearias, fendas e buracos
nas paredes, molduras, armrios, bolsas, roupa, gavetas, livros velhos, papis
e pilhas de roupa. Nesses locais, os percevejos se escondem e depositam at
cinco ovos por dia.
As ninfas de percevejo so menores e translcidas. Os percevejos-de-cama
preferem exercer a hematofagia noite, quando o seu hospedeiro est dormindo, mas tambm podem exerc-la a qualquer hora do dia se lhes for oferecida
oportunidade. Os percevejos procuram por repasto sanguneo a cada 5-10
dias aproximadamente.
cujo habitat so os cabelos da cabea, e Pediculus humanus, o piolho-docorpo ou muquirana. Os ovos so ovoides e apresentam oprculo na sua
extremidade mais larga. Pediculus humanus, que tem comprimento maior,
coloca seus ovos nas fibras das vestes, sendo tambm um vetor natural de
molstias como o tifo, febre recorrente e febre das trincheiras.
Figura 21. Phtirus pubis, o chato, parasito dos pelos pbicos humanos.
Ilustrao: Reproduzida de Rey, 2008.
b) Interesse mdico
Muitas espcies de piolhos podem ser, alm de ectoparasitas, pestes para
os animais e vetores de doenas como o tifo, a febre recorrente e a febre das
trincheiras. O tifo causado pela bactria Rickettsia prowazekii. A doena
se estabelece quando as fezes do parasito entram em contato com feridas na
pele do hospedeiro, permitindo que a bactria entre na corrente sangunea.
Os principais sintomas so dores de cabea, dores nas articulaes, febre alta
com delrios e erupo cutnea.
A febre recorrente causada por espiroquetas do gnero Borrelia, e pode
se apresentar de duas maneiras: forma epidmica, causada exclusivamente por
Borrelia recurrentis e transmitida de homem para homem pelo piolho Pediculus
humanus; uma forma endmica, causada por outras espcies de Borrelia e transmitida por carrapatos. A febre recorrente caracteriza-se por perodos de febre,
intercalados por outros no febris, com os perodos febris terminando em crise.
A febre das trincheiras uma doena infecciosa aguda causada por uma
bactria da famlia Rickettsiaceae, que tambm transmitida pelo Pediculus
humanus. O quadro clnico caracteriza-se por febre, cefaleia, mal-estar, dor e
fraqueza nas pernas. Essa doena teve grande incidncia no perodo das duas
guerras mundiais, por causa das precrias condies de higiene nas regies de
combate, ou seja, nas trincheiras, surgindo da o nome da doena.
c) Caractersticas gerais
Os piolhos apresentam uma morfologia altamente adaptada ao hbito ectoparasitrio, tendo corpo achatado dorsoventralmente, ausncia de asas, reduo
dos rgos visuais e estruturas modificadas para se manterem presos ao corpo
dos hospedeiros. Somente o abdome possui segmentao distinta. Os olhos so
reduzidos a apenas um omatdeo ou esto ausentes, no apresentando ocelos.
As peas bucais so do tipo picador-sugador, sendo constitudas por probscide curta (haustelo) com pequenos dentculos internos, eversveis, e estrutura
picadora, formada por trs estiletes, que se acomodam em um saco trfico. Os
ovos, conhecidos como lndeas, so ovais e operculados e sempre aderidos ao
hospedeiro. Aps a ecloso, a ninfa passa por trs mudas, formando o adulto.
Os piolhos mastigadores da ordem Mallophaga se alimentam de detritos
de pele, penas e pelos de aves e mamferos; os piolhos sugadores de sangue
da ordem Anoplura so parasitos exclusivamente de mamferos, inclusive do
homem. Os insetos de ambas as ordens so hemimetablicos e passam todo
o seu ciclo vital sobre os seus hospedeiros. A relao parasitohospedeiro
tende a ser especfica, e tem sido demonstrada estreita relao fisiolgica entre
os componentes do sangue de determinados hospedeiros e seus parasitos anopluros. Como os piolhos passam todo o ciclo sobre seus hospedeiros, sua reproduo tambm ocorre sobre o hospedeiro. De modo geral, as populaes
apresentam maior nmero de fmeas do que de machos. Em algumas espcies,
os machos so bastante raros.
adaptado para perfurar a pele. Os sifonperos no possuem asas. Na fase adulta, todas as pulgas so parasitos hematfagos. A maioria das espcies se alimenta
em mamferos menos de 10% das espcies tm pssaros como hospedeiros.
Uma grande diversidade de espcies ocorre nas zonas temperadas do planeta.
As pulgas so insetos holometablicos, ativos, com ps traseiros fortes
adaptados ao salto e um corpo achatado lateralmente, o que lhes permite
moverem-se facilmente por entre os pelos ou as penas dos hospedeiros. O
corpo da pulga duro e lustrado; coberto com muitas cerdas e espinhos
curtos dirigidos para trs, que tambm ajudam os movimentos no hospedeiro.
O corpo resistente da pulga pode suportar grande presso, uma adaptao
de sobrevivncia s tentativas de eliminao pela coceira. Mesmo quando
pressionada entre os dedos, a pulga sobrevive.
Ao contrrio dos piolhos, a maioria das pulgas gasta um tempo considervel
longe do hospedeiro. Os adultos, que vivem por um ano ou mais, podem sobreviver por semanas ou meses sem uma refeio de sangue. As pulgas adultas
so resistentes e podem ficar sem repasto sanguneo at por um perodo de um
ano. As pulgas possuem cerdas genais, em forma de pente, na regio frontal
da cabea e cerdas pronotais, chamadas ctendios, no trax. As pulgas pem
pequenos ovos esbranquiados, de forma oval, em lotes de vinte ou mais.
Entre 2 e 14 dias as larvas eclodem dos ovos.
A larva da pulga vermiforme, coberta por cerdas escassas, com aparato
bucal mastigador; as pulgas no tm olhos. As larvas, que raramente vivem no
corpo do hospedeiro, so encontradas geralmente livres, alimentando-se de restos orgnicos, inclusive de fezes das pulgas adultas. O perodo larval tem trs
estgios que duram de 7 a 14 dias, quando ento ocorre a formao da pupa.
As pupas so envoltas por um casulo de seda coberto de partculas de poeira.
Aps 14 dias, as pulgas emergem da pupa. Ao emergirem, as pulgas adultas
devem encontrar um hospedeiro dentro de duas semanas, seno morrem.
Uma vez que a larva da pulga precisa amadurecer no ninho do hospedeiro,
a pulga infesta somente animais que fazem ninho, como ratos, camundongos,
gatos e ces. Animais que no fazem ninho, como vacas, cavalos e cervos, no
tm pulgas. Em algumas espcies de pulgas, o ciclo reprodutivo da fmea
desencadeado por hormnios reprodutivos do hospedeiro-fmea. Dessa forma, fica assegurado que uma gerao nova de pulgas amadurecer antes que a
prole do hospedeiro deixe o ninho.
A importncia mdica das pulgas, alm da picada irritante e das alergias que
ocasiona, est na transmisso de micrbios patognicos para os seres humanos e
outros animais. Por exemplo, as pulgas do gato, Ctenocephalides felis, e do co,
Ctenocephalides canis, so hospedeiros intermedirios dos helmintos Dipylidium
caninum e Hymenolepis spp, que parasitam ces, gatos e seres humanos. A pulga do homem a Pulex irritans. A pulga do rato, Xenopsylla cheopis, o vetor
primrio de Yersinia pestis, bactria causadora da peste bubnica.
de 21C a 32C para sobreviver. Baixas temperaturas retardam ou interrompem completamente o ciclo de vida da pulga. Uma combinao de umidade
controlada, temperatura e limpeza a vcuo pode ser suficiente para reduzir, e
mesmo eliminar, a infestao por pulgas.
b) Interesse mdico
Dentre os principais problemas de interesse mdico que a barata pode
ocasionar, est a sua atuao como vetor mecnico de patgenos diversos
como vrus, bactrias, fungos, protozorios e vermes; como vetor biolgico de
helmintos; e como vetor de reaes alrgicas, causadas pelo contato com as
fezes e exvias. Alm disso, a barata inutiliza alimentos, pois deixa um odor
repugnante por onde passa; ri e suja utenslios, como roupas e livros; praga
agrcola de relativa importncia, uma vez que ri razes e se alimenta de produtos armazenados; e causa problemas psicolgicos de nojo e medo.
c) Caractersticas gerais
As espcies Periplaneta americana, Blatta orientalis e Blattella germanica
so ovparas. As baratas so hemimetlicos e paurometablicos, ou seja, os
imaturos e adultos vivem no mesmo habitat. Dependendo da espcie, o tamanho das baratas varia de 3 mm a 10 cm de comprimento. As baratas tm
corpo oval, achatado dorsoventralmente e, em geral, de colorao escura. A
cabea curta, subtriangular, com peas bucais mastigadoras, antenas longas
e filiformes, geralmente dois ocelos e olhos compostos. Os olhos compostos
esto presentes na maioria das espcies, exceo das espcies caverncolas.
O trax possui trs pares de pernas do tipo ambulatoriais. Quando presentes,
h dois pares de asas, que podem cobrir o abdome.
As baratas gostam de lugares quentes e midos, podendo ser encontradas
sob pedras, cascas de rvores e no interior das edificaes humanas, onde preferem a cozinha e a rede de esgotos. As espcies sinantrpicas so onvoras,
tm hbitos gregrios e so noturnas. As baratas preferem a noite para procurar
alimento e parceiros para acasalamento e para realizar oviposio e disperso.
Durante o dia, permanecem escondidas, descansando. Na verdade, as baratas
passam 75% de seu tempo imveis. As baratas urbanas so capazes de viver
trs dias sem gua e dois meses sem comida.
Na maioria das espcies, os ovos esto contidos em um estojo denominado ooteca. A ooteca varia em forma, tamanho e nmero de ovos de espcie
para espcie. O nmero de ovos dentro da ooteca pode variar de 4 a 50
ovos. A ooteca geralmente depositada em locais escondidos, e muitas vezes
cobertos com detritos, para manter a umidade e servir de camuflagem contra
predadores. A durao do estgio de ovo varia, dependendo da espcie e da
temperatura. Por exemplo, na barata americana, a durao da fase a 29C
de aproximadamente cinco semanas. A durao e o nmero de estgios ninfais
variam tambm segundo a espcie, o sexo e as condies ambientais. Em geral,
condies desfavorveis levam a um maior nmero de estgios. Para a barata
americana, a durao do estgio ninfal a 29C de aproximadamente oito
meses; a espcie apresenta entre 11 e 12 estgios. A diferena entre as ninfas
e os adultos est nas asas e nos rgos sexuais. Assim, nas ninfas, as asas esto
ausentes e os rgos sexuais no esto desenvolvidos.
As baratas tm muitos inimigos naturais: bactrias, vermes, fungos, protozorios,
artrpodes como caros, aranhas, besouros, escorpies , hempteros, himenpteros, vertebrados predadores e parasitos. Seis famlias de himenpteros, por exemplo, se desenvolvem nos ovos das baratas e algumas famlias de vespas alimentam
suas larvas com ninfas de barata.
Curiosidades
Para muitos povos e regies, as baratas tm um lugar de destaque no
folclore, havendo meno a elas em modinhas, supersties, jogos infantis,
medicina popular, provrbios, adivinhaes, ditados e na alimentao.
Na medicina popular, existem relatos do uso de Blatta orientalis
principalmente nas curas do alcoolismo, asma, bronquite, clicas intestinais,
dores de cabea e ouvido, furnculos e gripe. De fato, pesquisadores
russos e alemes dos sculos XIX e XX conseguiram comprovar o efeito
teraputico das baratas.
Os caros compreendem um grupo de artrpodes (aracndeos) de habitat e hbitos variados, e na sua maioria terrestres. No possuem cefalotrax
distinto, como nos outros aracndeos: o prprio abdome se funde aos demais
segmentos para constituir um nico segmento, denominado idiossoma. As quelceras e demais peas bucais esto reunidas em uma estrutura nica, denominada captulo ou gnatossoma. Os adultos e as ninfas possuem quatro pares de
pernas; na fase larval, apresentam apenas trs pares. Nessa ordem, esto os
carrapatos, os caros do corpo, dos clios e da poeira domstica. Podem ser
b) Interesse mdico
Os caros da poeira domstica se alimentam de detritos orgnicos, como
as descamaes da pele humana, abundantes no ambiente domstico. Os
caros da poeira da casa so uma causa comum da asma e provocam sintomas
alrgicos no mundo inteiro. As fezes dos caros da poeira domstica so fortemente alergnicas.
c) Caractersticas gerais
Os caros da poeira domstica adultos medem 0,5 mm de comprimento
e de 0,25 mm a 0,3 mm de largura. Eles apresentam cor azul cremosa, cutcula estriada, forma retangular e quatro pares de patas, possuindo idiossomo
ovoide e estriado. Como todo acari, os caros da poeira da casa tm oito
ps (exceto no primeiro estgio, quando tm trs pares). A vida mdia dos
machos de 10 a 19 dias. As fmeas grvidas vivem em torno de 70 dias,
colocando de 60 a 100 ovos. A exposio a temperaturas superiores a
60C e inferiores a -20C e umidade abaixo de 50% os destroem. Esse
aracndeo sobrevive em todos os climas, mesmo em altas altitudes.
Uma pessoa verte aproximadamente 1,5 g/dia de clulas epiteliais ou 0,30,45 kg/ano, o suficiente para alimentar aproximadamente 1 milho de caros. O controle dos caros da poeira domstica passa necessariamente pelo
controle da umidade, que deve ser mantida baixa. Os caros so encontrados
de preferncia nos quartos e nas cozinhas, vivendo em colches, tapetes,
estofados. Os alrgenos produzidos por eles esto entre os mais comuns alrgenos desencadeadores de asma. Alguns sinais principais de alergias causadas
por caros da poeira domstica so coceiras, espirros, olhos lacrimejantes e
vermelhos, coriza, febre do feno, obstruo pulmonar. A alergia pode ser
crnica. O p de boro usado frequentemente para erradicar caros da
poeira da casa pela desidratao que ocasiona aos caros.
A coleta de espcimes de insetos necessria para conhecermos a epidemiologia das doenas. Quais espcies vivem em quais lugares, quando e em que
hospedeiro, so algumas das perguntas que se quer responder com as coletas.
Vrios tipos de equipamentos so usados para coletar insetos de interesse
mdico, como tubo manual de suco, armadilhas com iscas animais e luminosas,
armadilhas a gs e com feromnios.
Antes de iniciar a coleta de qualquer grupo de insetos, necessrio ter
em mente alguns parmetros, para que se saiba onde procurar os espcimes,
o que levar para campo, em que horrio do dia mais proveitosa a coleta,
como transportar o material coletado e como receber, triar e guardar o material
no retorno ao laboratrio.
Conhecimento da biologia e ecologia do inseto que se pretende
coletar: deve-se ter um mnimo de conhecimento a respeito do ciclo de
vida, dos principais criadouros, dos tipos de atrativos ou iscas e do horrio
de atividade do inseto em seu ambiente natural. De posse desses conhecimentos ser mais fcil encontrar no campo espcimes do grupo que se
quer estudar.
As formas adultas podem ser coletadas com rede entomolgica, capturadores de suco, bandeja dgua e armadilha luminosa, entre outros mtodos.
A rede entomolgica, tambm conhecida como pu, prpria para coletar insetos em voo. Consiste em um cabo de madeira com um aro de arame
numa extremidade, contendo um saco feito de tecido fil preso por uma das
pontas. A madeira deve ser leve para facilitar o manuseio. O cabo tambm
pode ser de alumnio. O dimetro do saco pode ser variado, levando-se em
considerao o tamanho do inseto que se quer coletar borboletas, mariposas, odonatas, vespas, cigarras, moscas. Porm, para insetos alados menores,
embora tambm seja utilizada, pode ser substituda pelo capturador de Castro.
O capturador de suco utilizado para capturar insetos alados quando
pousados sobre o hospedeiro para o repasto sanguneo. formado por um
tubo de vidro ou acrlico, provido de uma tela fina em uma extremidade,
qual est acoplado um tubo de borracha ou uma mangueira de garrote, que
servir para suco. Existem outros modelos de capturadores base de suco.
A suco pode ser com a prpria boca ou por uma bomba que gere presso
negativa. Sua finalidade aspirar o inseto para dentro do tubo de vidro. O
inseto poder ser transportado para uma gaiola, caso seja necessrio manter o
espcime vivo, ou para um frasco mortfero, contendo ter ou acetato de etila.
O capturador de suco excelente para a captura de mosquitos, moscas,
borrachudos, maruins e flebtomos, entre outros. A ideia desse tipo de capturador foi descrita em 1928 por Patrick Alfred Buxton, mdico entomologista
da London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Formas imaturas aquticas podem ser coletadas com conchas e tubos sugadores. Elas podem ser mortas com gua quente e depois fixadas, para no
sofrerem melanizao, que o escurecimento da cutcula. A fixao feita
com uma mistura de 1 parte de querosene, 7 a 9 partes de lcool 96 GL,
1 parte de cido actico glacial e 1 parte de detergente incolor.
A seguir descrevemos os tipos de coletas mais utilizados em diferentes
grupos de insetos de importncia mdica.
4.3 Tcnicas de coleta de alguns insetos hematfagos
Os insetos coletados devem ser acondicionados em recipientes, devidamente identificados quanto ao local de captura, nome do coletor e data. Esses
dados so de extrema importncia porque, havendo a necessidade de retornar
ao local de coleta para capturar mais espcimes, isso s ser possvel mediante
essas informaes.
Etiqueta de identificao
Nmero de acesso (registro de arquivo em ordem numrica crescente e outros cdigos)
Identificao da espcie
Nome do coletor
Data
Endereo de coleta
Coordenadas geogrficas (graus, minutos, segundos)
Local de coleta: ( )domiclio ( )peridomiclio ( )quarto ( )sala ( )galinheiro ( )chiqueiro ( )outros
Outras informaes
O recipiente para o transporte do inseto vivo dever conter, em seu interior, papel dobrado em sanfona, para aumentar a superfcie de contato.
Pequenos orifcios devem ser feitos na tampa; no entanto, deve-se cuidar que
no sejam muito grandes, para que os ovos e ninfas de 1 estdio no passem.
No caso de insetos mortos, devem ser contidos no recipiente por um papel
fino (papel higinico ou leno de papel), a fim de evitar que se desloquem
dentro do recipiente, e que estruturas delicadas, como antenas, tarsos e cerdas, se danifiquem, o que dificultar a sua identificao.
4.4 Tcnicas de coleta de moscas
Os dpteros muscoides necrfagos so os insetos de maior importncia forense, pois utilizam a matria orgnica em decomposio como fonte proteica,
visando estimular a oviposio ou larviposio, ou para o desenvolvimento de
suas fases imaturas. Suas atividades aceleram a putrefao e a desintegrao
do corpo. Alm disso, cada fase da putrefao cadavrica oferece condies
e caractersticas prprias que atraem um determinado grupo de insetos; consequentemente, eles se sucedem de acordo com um padro.
A coleta de dpteros muscoides ao lado de cadveres precisa ser feita de
maneira cuidadosa, a fim de que se evitem leses ps-morte no corpo. Os
adultos das moscas podem ser coletados com o auxlio de rede entomolgica
comum, passada por cima do cadver; aps terem sidos anestesiados, so retirados e transferidos para recipientes devidamente identificados. Outro recurso
a utilizao de armadilha confeccionada com papel adesivo, organizada em
forma de tenda, com ngulo de 60, montada distncia de 1 m do corpo.
No laboratrio, os espcimes que ficaram aderidos ao papel podem ser removidos da armadilha com o uso de xileno. Os inconvenientes desse mtodo
so os danos que possam ser provocados nos espcimes, dificultando a sua
identificao, alm do preo, pois o papel adesivo importado.
No caso de espcimes imaturos, ovos, larvas e pupas, a coleta pode ser
feita diretamente do cadver. necessrio transportar ovos e larvas em recipientes fechados por tecido de malha fina escaline, para evitar a asfixia, a fuga
de larvas pequenas e o ataque de dpteros predadores da famlia Phoridae.
Para a coleta de ovos, uma parte deve ser acondicionada em papel-filtro umedecido para evitar a desidratao e, consequentemente, a morte.
Na rotina de trabalho de peritos criminais em laboratrio de entomologia
forense, faz-se necessria a adio de substrato de criao base de carne
moda, peixe e fgado ou dieta artificial para a criao das larvas que eclodiro
dos ovos. Essa atividade permite a identificao das espcies presentes no
cadver, pois as chaves de identificao de ovos so inexistentes na literatura.
No entanto, a identificao por meio da microscopia eletrnica pode fornecer
resultado mais rpido, o que facilitaria bastante o trabalho dos peritos em
situaes nas quais no existem locais apropriados para a manuteno e/ou
criao dos imaturos. Diversos autores utilizaram a microscopia ptica e de
varredura para analisar a morfologia dos ovos e discutiram a importncia de
cada uma das estruturas como diagnstico na identificao das espcies.
J a coleta das larvas feita com pina, colheres e pincis finos de pelo
diretamente da massa que costuma ser encontrada nas bordas das leses, nos
orifcios naturais do corpo e em locais abrigados, como axilas, cabelos e atrs
das orelhas. necessrio verificar tambm o interior do corpo, dentro das
roupas e sob o cadver, cavando-se o solo em busca de larvas e de pupas.
As coletas de insetos so feitas diariamente, s 12 horas. O tubo desencaixado da armadilha e vedado na extremidade inferior, por onde os insetos
entram, transformando-se numa gaiola de transporte. No laboratrio, as gaiolas
so introduzidas no freezer a -17C de temperatura, permanecendo dentro
dele por 40 minutos. Aps o congelamento, os insetos so transferidos para
tubos de ensaio, com informaes sobre dia, horrio e nmero da carcaa onde
os insetos foram coletados. O material retorna ao freezer para que sejam feitas
triagem, identificao e contagem dos espcimes posteriores.
aerao. Dentro do insetrio, deve haver uma pia para lavar o material utilizado
no manuseio dirio e um reservatrio contendo gua ambientada. gua ambientada a gua de torneira que se deixou descansar em recipiente fechado
por tecido fil por alguns dias para a evaporao do cloro dissolvido. Deve
existir um termmetro e um hidrmetro permanentemente na gaiola para medir
a temperatura e a umidade. Podem existir equipamentos que facultem a luminosidade controlada, com fotoperodos estabelecidos, como um cronmetro
ligado rede eltrica.
A entrada do insetrio deve conter uma dupla porta de segurana, com
uma pequena saleta entre elas, para evitar a sada de insetos adultos do insetrio ou, ainda, para evitar a entrada de insetos do ambiente externo que
poderiam contaminar a colnia, seja desovando em recipientes onde as larvas
se encontram, seja simplesmente danificando a colnia, ao invadirem as gaiolas
dos insetos adultos. Deve haver uma antecmara contgua ao insetrio que servir para o armazenamento de materiais utilizados no prprio insetrio como
cubas, gaze, algodo, fil, pipetas, estiletes, pinas, entre outros. Essa antecmara dever conter tambm uma pia para lavagem de material e preparao
de solues e uma bancada que permita a instalao de microscpios pticos
e estereoscpios ou de lupas.
Para a criao de espcies vetores de patgenos por exemplo, os da malria, dengue, febre amarela, encefalites e leishmanioses , principalmente quando
os insetos provm da natureza e podem estar infectados, devem ser tomadas
certas medidas extras de segurana. Entre as medidas de segurana, esto a
utilizao de equipamentos adequados, como telamento, antecmara, presso
negativa, cortina de vento; pessoal treinado; uma nica porta de acesso; duas
pias, no mnimo, sendo uma ligada a um reservatrio de gua sem cloro; a gua
drenada pelas pias deve passar por um reservatrio tratado regularmente.
Nos itens relacionados biossegurana, podem-se citar: treinamento adequado do pessoal antes do incio do trabalho; uso de avental ou jaleco, luvas e
demais EPIs; no tocar em maanetas, interruptores ou telefones com as luvas;
nunca sair do laboratrio usando jaleco ou luvas; nunca pipetar com a boca;
nunca fumar, comer ou beber no insetrio; no tocar o prprio rosto ou o
cabelo de luvas por isso recomenda-se prender o cabelo; lavar as mos
aps tirar as luvas; manter controle rotineiro dos insetos; seguir as normas
bsicas para trabalho em laboratrio e para trabalho com animais que serviro
como fonte de alimentao sangunea para os insetos hematfagos; manter
limpo e organizado todos os equipamentos e as reas de trabalho; descartar
do modo prescrito pelas normas de biossegurana vigentes os resduos qumicos e/ou biolgicos do laboratrio; e dedicar especial ateno ao material
biolgico infeccioso.
A alimentao sangunea deve ser administrada segundo a preferncia e o
horrio natural de alimentao de cada uma das espcies criadas, podendo ser
utilizados animais devidamente imobilizados ou um alimentador artificial para
insetos hematfagos.
As colnias devem oferecer um manejo com tcnicas que assegurem simplicidade e obteno do maior nmero possvel de posturas frteis, evitando-se,
alm disso, a excessiva manipulao dos ovos. A temperatura e a umidade devem ser controladas. Assim, para a criao de espcimes da famlia Culicidae,
as colnias devem ter acima de 70% de umidade relativa e temperatura de
27C1C; j para a criao de flebotomneos, a umidade relativa deve ficar
em 90%10% e a temperatura, em 25C1C. O monitoramento deve ser
dirio, inclusive nos finais de semana e feriados, visando assegurar o controle
do desenvolvimento excessivo de fungos, formigas e caros nocivos ao bom
desenvolvimento de larvas, pupas e adultos.
Tcnicas para obteno de posturas de flebotomneos
Dentro dos cuidados que devemos ter numa criao de insetos vetores, a
oviposio o momento mais delicado, e alguns pesquisadores desenvolveram
tcnicas para minimizar as perdas, que so muito grandes. A primeira tentativa
de atenuar essa perda foi feita utilizando-se caixas de madeira com paredes
Criao individual
As fmeas so individualizadas em tubinhos de polietileno forrados no
fundo com gesso, para manter os ovos recm-postos bastante umedecidos.
Essa tcnica em geral empregada quando os flebotomneos so de reas
onde mais de uma espcie predomina. As posturas so individualizadas em
placas de Petri forradas com gesso; quando nasce o primeiro adulto de cada
placa, ele ento identificado e, assim, as posturas vo sendo separadas de
acordo com cada espcie.
Criao em massa
A criao em massa de flebotomneos prev que as fmeas ingurgitadas, trazidas do campo ou nascidas em laboratrio, sejam liberadas em recipientes apropriados caixas maiores ou gaiolas. Tais recipientes podem ser de madeira, vidro
(fig. 42A), plstico ou acrlico (fig. 42B). Essa tcnica empregada quando
existe frequncia muito maior de uma nica espcie, no caso de o pesquisador
ter conhecimento prvio da espcie que atua na rea ou, a partir da gerao F2,
quando j h conhecimento sobre a espcie que est sendo criada.
Os frascos de vidro onde so colocadas as fmeas para oviposio e tambm as gaiolas devem ser identificados por uma etiqueta com nmero, nome
da espcie, data da coleta e procedncia. Se for o caso, identificar o tipo de
experimento que est sendo realizado e o nome do responsvel. Paralelamente, deve ser preenchida uma ficha com todas essas informaes, acrescida do
nmero de insetos que deram incio colnia.
se guarde a lmina. Para que as terminaes das traquolas sejam bem visualizadas, deixar os ovrios secarem em temperatura ambiente o que os far inflar.
Examinar ao microscpio. Nas fmeas nulparas, as extremidades das traquolas
se apresentam enoveladas. Nas fmeas que j realizaram mais de uma postura,
as traquolas se mostram distendidas.
Para a disseco de ovarolos, trabalhar com pinas ou estiletes finos, removendo a membrana que envolve o ovrio, para que os ovarolos sejam separados. Segurando o ovrio pelo oviduto interno, tracionar cuidadosamente um ovarolo com
a outra mo, para que o pedculo seja esticado. Contar o nmero de dilataes
encontradas. Examinar o maior nmero de ovarolos. O nmero de dilataes nos
pedculos corresponde ao nmero de ovos produzido por cada ovarolo. A idade
fisiolgica da fmea corresponde ao ovarolo com o maior nmero de dilataes.
preciso no confundir as pores do clice ovariolar, que podem se desprender
do oviduto, com os resqucios do clice ou com dilataes verdadeiras.
Para a disseco de larvas e pupas, transferir, com o auxlio de uma pipeta,
as larvas individualmente do recipiente de manuteno para uma lmina de
vidro contendo pequena gota de soluo salina. Subtrair o mximo possvel
do lquido para evitar a movimentao da larva e, assim, facilitar o exame
dos caracteres morfolgicos para confirmao da identidade taxonmica do
espcime ao estereomicroscpio. Aps a identificao, pinar com uma mo
a regio torcica, sem exercer presso demasiada, e com a outra mo destacar
os trs ltimos segmentos abdominais, ao mesmo tempo em que o trato digestivo extrado com movimentos firmes, tomando cuidado para que no se
rompa. Como resultado de uma boa tcnica de disseco, o tubo digestivo se
mostrar distendido e permitir facilmente a distino visual de suas partes, do
intestino mdio torcico at a ampola retal, incluindo os tbulos de Malpighi.
Cobrir o material com lamnula e realizar o exame ao microscpio. O exame
pode ser a fresco ou aps a colorao.
Como substrato para a oviposio, recomenda-se a utilizao de carne bovina, equina ou suna ou fgado em decomposio. As massas de ovos, cerca
de 30 mg por recipiente, so transferidas para uma dieta de carne ou fgado
em incio de decomposio, geralmente com uma semana de refrigerador a
12C. Essa dieta deve ser colocada em recipientes de plstico com capacidade
para 500 mL e introduzida dentro de outro recipiente, com capacidade para
1.000 mL, contendo vermiculita ou solo inerte, para maximizar a pupao.
Esse ltimo recipiente deve ser tampado com tecido de nilon de malha fina
por exemplo, escaline , preso nas bordas com elstico. Os sarcofagdeos
larvipositam no mesmo substrato citado acima e para cada larva so recomendadas 2 g de dieta/larva.
c) Placa de Petri;
d) Alfinete entomolgico;
e) Pinas de ponta fina;
f) Estiletes;
g) Tringulos de papel;
h) Etiquetas de papel para identificao;
i) Suporte de madeira ou cortia para montagem, com altura padro para o
tringulo e as etiquetas;
j) Esmalte cosmtico incolor;
k) Gavetas e armrios entomolgicos para armazenar os espcimes;
l) Naftalina para conservao.
Obs.: Todo o material deve ficar guardado junto em uma caixa apropriada
e que contenha uma etiqueta de identificao Material para montagem de
mosquitos adultos, para facilitar a organizao no momento da montagem.
Procedimento:
A montagem feita com o auxlio de um tringulo de papel, produzido
com um cortador de tringulos. A ponta livre do tringulo pode ou no ser
dobrada para baixo, dependendo do tamanho do mosquito. O tringulo
de papel transpassado, prximo sua base, por um alfinete entomolgico,
com o auxlio de um pdio-suporte feito de madeira, isopor, plstico ou
cortia, com diferentes alturas padronizadas. Cada altura corresponde a um
procedimento: a parte mais alta do pdio destina-se ao tringulo de papel; a
parte mdia do pdio, primeira etiqueta; na parte baixa do pdio, coloca-se
a segunda etiqueta.
As etiquetas servem para a identificao do espcime alfinetado, bem
como para as informaes sobre local de coleta e nome de quem classificou
(fig. 52). A primeira etiqueta traz as informaes do pas, estado, municpio,
local de coleta, data e nome do coletor. A segunda etiqueta tem o nome da
espcie, do determinador e a data. Pode haver uma terceira etiqueta opcional,
com informaes sobre o substrato da coleta e outras informaes consideradas
importantes. Se o espcime fizer parte de uma coleo, deve ser atribuda a
ele uma numerao de acesso. Na maioria das vezes, a segunda etiqueta no
colocada no momento da montagem, uma vez que geralmente a identificao
feita em momento distinto ao da montagem.
Os exemplares montados, devidamente identificados, devem ser guardados em
caixas, gavetas ou armrios entomolgicos adequados, e mantidos em local seco
e arejado (fig. 53). Para a manuteno do bom estado dos espcimes, p de
naftalina, que ajuda a impedir o ataque de pragas, deve ser colocado no fundo das
caixas e/ou gavetas.
Material necessrio:
a) Microscpio estereoscpico ou lupa;
b) Lmina e lamnula;
c) lcool absoluto;
d) Esmalte cosmtico incolor;
e) Cola plstica;
f) Eugenol ou cellosolve;
g) Pincis finos;
h) Estiletes;
i) Etiquetas de papel para identificao;
j) Gavetas e armrios entomolgicos para armazenar os espcimes.
Procedimento:
Na montagem de formas imaturas e exvias de culicdeos, devem ser usadas
larvas de 4 estgio na montagem, pois nelas a posio e a forma das cerdas
esto definidas, e a quetotaxia estudo de vrios aspectos dessas cerdas,
como tamanho, posio, forma e ramificaes utilizada para a identificao
das espcies. As larvas devem ser mortas por imerso em gua quente com
temperatura em torno de 60C, e, logo aps, transferidas para um recipiente
contendo hidrxido de potssio (KOH) a 10%, por aproximadamente 12
a 24 horas, para clarificao e remoo da gordura. Esse tempo deve ser
calculado pela maior ou menor quitinizao da pea: quanto mais quitinizada,
maior deve ser o tempo. As larvas devem ser mergulhadas em gua destilada
por 15 minutos, para que fiquem livres do hidrxido de potssio, antes da
prxima etapa.
O prximo passo a desidratao. As larvas devem ser transferidas para
recipientes contendo lcool em diferentes concentraes, de 70%, 80%,
90% e absoluto, permanecendo em cada um deles por 10 minutos. As exvias larvais e pupais devem ser processadas a partir dessa etapa. Nessa etapa,
as larvas devem ser mergulhadas em um lquido, que pode ser o eugenol ou o
cellosolve, para diafanizao e nele permanecer por poucos minutos (5 a 10
minutos). Finalmente as larvas podem ser montadas entre lmina e lamnula com
blsamo do Canad, caso na fase anterior tenha sido usado o eugenol, ou com
euparal, caso tenha sido usado o cellosolve.
As lminas assim preparadas podem ficar arrumadas em bandejas de
madeira, na temperatura ambiente, at que sequem completamente. Preferencialmente, tambm podem ser colocadas dentro de uma estufa com temperatura entre 40 e 45C, para que sequem mais rpido e sejam eliminadas
pequenas bolhas de ar que se formam durante a montagem. Aps a secagem
completa das lminas, as bordas da lamnula devem ser seladas com esmalte
cosmtico incolor.
Em uma das extremidades da lmina deve ser colada, com cola plstica,
a etiqueta de identificao da coleta com informaes como coletor, local
e data e, na outra extremidade, a etiqueta de identificao do espcime
com informaes como nome cientfico, nome do identificador e data.
Em cada etapa, a transferncia das larvas e/ou exvias deve ser feita com
um pincel fino, para evitar a danificao de estruturas ou perda de cerdas.
Outra opo seria deixar as larvas em um mesmo recipiente, sem transferi-las,
e trocar as solues com o auxlio de uma pipeta de ponta muito fina. Nesse
caso, deve-se assegurar que todo o lquido seja retirado completamente antes
que a soluo da prxima etapa seja adicionada. Misturas de solues podem
danificar o processo.
Tcnicas de montagem e conservao de triatomneos, flebotomneos, ceratopogondeos e simulideos
Os flebotomneos, ceratopogondeos e simulideos so geralmente montados entre lmina e lamnula ou imersos em soluo alcolica em vidros transparentes, devido ao seu pequeno tamanho. Algumas vezes, no entanto,
possvel a montagem cuidadosa em alfinete entomolgico.
Existem vrias tcnicas de montagem que, de modo geral, seguem os procedimentos usados para culicdeos imaturos. Os procedimentos de etiquetagem
tambm so os mesmos usados para os culicdeos.
Tcnicas de conservao e montagens de moscas
Geralmente, o material entomolgico preservado a seco ou em meio lquido,
embora possam ser preservadas partes de um exemplar de forma diferente por
exemplo, a genitlia de Sarcophagidae, que pode ser montada e preservada montada em lmina, assim como diversas espcies de larvas de muscoides.
A maioria das moscas preservada a seco; dependendo de seu tamanho,
da resistncia do corpo e dos apndices, as moscas so espetadas em alfinetes
entomolgicos, colados a tringulos de cartolina ou inseridos em envelopes
ou invlucros de papel transparente. Esse material deve passar antes por uma
secagem, usualmente em placa de Petri, sob luz quente.
Alguns muscoides frgeis ou com apndices quebradios so preservados em meio lquido, em geral lcool etlico 70%. H casos especiais de
preservao em lquido usando-se lcool 80%, lcool glicerinado ou outras
combinaes.
As etiquetas de procedncia reproduzem os dados dos rtulos de campo
e so afixadas individualmente no material a seco ou em lotes do material em
meio lquido nesse caso, utiliza-se papel vegetal escrito a nanquim ou a lpis.
Em insetos secos, etiquetas, com dimenso e impresso uniformizadas, so usadas para economizar espao. A etiqueta deve conter o local de procedncia,
data da coleta e nome do coletor; alm de outros dados importantes para o
estudo, como substrato da coleta, hora da coleta, entre outros.
Para as formas adultas, a alfinetagem deve levar em conta o grupo de insetos. Para cada grupo, h uma posio correta de alfinetagem que no danifica
ou atrapalha o exame das partes importantes na identificao. Os insetos
devem ser montados a uma altura uniforme do alfinete e, para isso, blocos de
alfinetagem so utilizados. Durante a secagem, devem ser corrigidas as posies das asas, pernas e antenas, dependendo do caso. Insetos pequenos so
colados na ponta de tringulos de cartolina, e esses so alfinetados pela base.
Alguns insetos pequenos no podem ser alfinetados ou colados, especialmente aqueles de corpo mole, exigindo montagem em lminas para colecionamento e preservao. O procedimento de montagem de insetos em lminas de
vidro para microscopia varia de acordo com o inseto e o meio de montagem.
Os ovos e as larvas so conservados e montados em via mida ou em lminas.
As moscas costumam depositar cerca de 300 ovos a cada postura, de acordo com a espcie. Essa postura, que pode se repetir de 3 a 4 vezes durante
toda a vida do inseto, costuma ser feita sob a forma de aglomerado ou em massa,
uma estratgia das fmeas para garantir a maior sobrevivncia da prole. A famlia
Sarcophagidae, no entanto, deposita diretamente larvas de primeiro nstar sobre
o cadver ou sobre o substrato de alimentao das larvas, sendo esse outro tipo
de estratgia utilizada pelos insetos na competio por alimento.
Os ovos so estruturas alongadas de cor branca, com a superfcie cncava, localizadas dorsalmente em relao ao corpo da fmea. So revestidos
pelo crion, que tm como funo principal proteger o embrio da dessecao. Na parte dorsal do ovo, pode ser observada uma regio diferenciada,
denominada rea mediana, responsvel principalmente pelas trocas gasosas
do embrio com o meio, servindo e que serve tambm como ponto de fissura para a ecloso da larva.
As larvas de dpteros muscoides apresentam formato vermiforme, so podes e possuem cabea vestigial, chamada acfala, formando um pseudoencfalo. A poro anterior afilada; a posterior termina de forma abrupta. Dessa
forma, as larvas esto adaptadas para se enterrarem, tanto nos tecidos quanto
no solo, e dar incio fase de pupa. O corpo dividido em 12 segmentos
e revestido por uma cutcula torcica coberta por espinhos ao longo de reas
ou faixas transversais.
A regio anterior constituda por peas fortemente esclerotizadas, denominadas escleritos, que formam o esqueleto cfalo-farngeo, onde se localizam os
ganchos bucais ou orais em forma de garra, com as extremidades agudas localizadas na face ventral do pseudoencfalo. Os ganchos bucais se articulam com o
esclerito hipostomal intermedirio, que se une a um grande esclerito faringiano,
constitudo de duas lamelas laterais, chamadas cornos, unidas ventralmente. Na
extremidade anterior do 1 segmento ou pseudocfalo, h um par de antenas
reduzidas, um par de pequenos palpos maxilares e um par de tubrculos ticos.
No 2 segmento, as larvas de segundo e terceiro nstar apresentam um par de
espirculos laterais semelhante a tubrculos, com projees que terminam em
aberturas espiraculares. No ltimo segmento da larva, h um par de espirculos
posteriores de grande importncia na identificao das espcies de dpteros
muscoides, bem como dos nstares larvais; cada espirculo geralmente rodeado
por um peritrema fortemente esclerotizado e pigmentado, que pode ser completo ou incompleto na parte ventral, formando uma pequena estrutura circular
que recebe o nome de boto espiracular, e que de extrema importncia na
identificao da espcie.
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. Flebotomneos do
Malacologia | 413
Captulo 5
Malacologia
Silvana Carvalho Thiengo
Monica Ammon Fernandez
Aline Carvalho Mattos
Malacologia o ramo da cincia que estuda os moluscos. Esse grupo, segundo maior em nmero de espcies descritas, possui incontestvel relevncia
por sua utilizao na alimentao desde os primrdios da humanidade, bem
como do ponto de vista biolgico e parasitolgico, como ser visto a seguir.
Entre as classes pertencentes ao filo Mollusca, Gastropoda e Bivalvia merecem destaque por sua importncia mdica, veterinria e econmica. Gastropoda engloba cerca de trs quartos do nmero total de espcies do filo,
incluindo os transmissores da esquistossomose e de outras helmintoses, alm de
espcies consideradas pragas de diferentes cultivos. Bivalvia abrange a maioria
das espcies de moluscos utilizadas na alimentao humana (ostras, mexilhes,
sernambi, entre outros) e tambm algumas que causam prejuzos econmicos
como os teredindeos, que perfuram ancoradouros e cascos de embarcaes
de madeira.
1. Gastrpodes
Malacologia | 415
Figura 1. Vista ventral da concha de Physa marmorata Guilding, 1828, em posio anatmica, mostrando os principais termos utilizados em conquiliologia. (Escala: 5 mm.)
Foto: Acervo do Laboratrio de Malacologia/IOCFiocruz.
1.1.1 Ampullariidae
So os maiores gastrpodes lmnicos, podendo alcanar 17 cm de comprimento. Esto amplamente distribudos no pas, geralmente em guas lnticas.1 Sua concha globosa, com exceo do gnero Marisa (planispiral).
As espcies americanas possuem oprculo crneo. So animais diicos, mas,
geralmente, sem dimorfismo sexual externo muito evidente. Efetuam respirao dupla: pulmo e brnquia. So bastante resistentes dessecao. Os
1
1.1.2 Thiaridae
Tm concha geralmente turriculada,2 e seus primeiros giros3 frequentemente
encontram-se danificados, ou mesmo ausentes, por causa do atrito com o
substrato. Possuem oprculo crneo. Vivem preferencialmente em ambientes
ricos em oxignio. Sua reproduo sexuada; na ausncia de machos, porm,
ocorre partenognese.
A espcie afro-asitica Melanoides tuberculatus (Mller, 1774), embora
extica, de ampla distribuio no territrio brasileiro. Na regio do Caribe,
foi utilizada, com sucesso, em programas de controle biolgico das espcies
transmissoras do Schistosoma mansoni Sambon, 1907.
Espcie extica toda espcie que no nativa de uma determinada rea.
1.1.3 Rissooiidea
Tm concha pequena oval-cnica, ou mesmo turriculada, e oprculo crneo s vezes calcificado; vivem em gua doce, podendo habitar gua salobra.
Alguns gneros encontrados no Brasil so Littoridina, Heleobia e Idiopyrgus.
2
3
Malacologia | 417
Malacologia | 419
Algumas espcies de veroniceldeos (fig. 4) so as principais transmissoras do nematoide Angiostrongylus costaricensis Morera & Cspedes, 1971,
agente etiolgico da angiostrongilose abdominal.
Os moluscos so hospedeiros de trematdeos digenticos e de alguns nematoides parasitos do homem e dos animais. No Brasil, as principais doenas
relacionadas aos moluscos so a esquistossomose, a fasciolose, a angiostrongilose abdominal e, recentemente, a meningoencefalite eosinoflica. Existem
outros moluscos que, acidentalmente, podem injetar veneno em seres humanos,
causando a morte por exemplo, gastrpodes marinhos da famlia Conidae;
Malacologia | 421
Malacologia | 423
Alm do tamanho, tais espcies diferem em diversas caractersticas morfolgicas e conquiliolgicas. Por exemplo, somente nos exemplares do gnero
Drepanotrema a abertura da concha em forma de foice, e so observadas, na
maioria de suas espcies, faixas pigmentadas nos tentculos, nas faces dorsal e
lateral da cabea e nas margens da mufla e do p.
2.1.5.1 Gnero Biomphalaria
Apresentam concha planispiral, com dimetro variando nos indivduos
adultos de 7 mm a 40 mm. A cor natural da concha amarelo-palha, mas
modifica-se em contato com substncias corantes dissolvidas na gua dos criadouros, como o xido de ferro, que confere s conchas colorao mais escura,
passando por vrios tons de marrom at o negro.
No Brasil existem onze espcies e uma subespcie descritas no gnero
Biomphalaria, e apenas trs so hospedeiras naturais do trematdeo Schistosoma mansoni. Trs so hospedeiras potenciais, uma vez que se infectam quando
expostas experimentalmente ao parasito.
Hospedeiro natural: o parasitismo ocorre em condies naturais.
Hospedeiro potencial: o parasitismo ocorre em condies de laboratrio.
Alm da identificao baseada nos caracteres conquiliolgicos e anatmicos, existem estudos genticos (cruzamentos entre indivduos, utilizando o albinismo como marcador) e moleculares capazes de fornecer diagnstico preciso.
Principais caractersticas:
Apresentam dois tentculos longos e filiformes, e olhos na base dos tentculos. A boca contornada pela mandbula, que, quando vista de frente,
apresenta a forma de um T. No colo, encontram-se as aberturas genitais: a masculina, localizada atrs da base do tentculo esquerdo, e a feminina, localizada
um pouco mais atrs, sob a pseudobrnquia. O p oblongo. Na poro
ceflica da massa visceral, o manto dobra-se para formar a cavidade pulmonar.
Malacologia | 425
Manto
No manto podem ser observados:
a) o corao, contido no pericrdio e constitudo por uma aurcula e
um ventrculo;
b) parte da glndula de albmen;
Malacologia | 427
Sistema respiratrio
Predomina a respirao atmosfrica a hematose ocorre na rede vascular
da parede pulmonar, de onde o sangue flui para o corao por meio da veia
pulmonar. A respirao aqutica ocorre pela pseudobrnquia (sede principal)
e pelo tegumento em contato com o meio lquido.
Sistema nervoso
O sistema nervoso est formado por onze gnglios, sendo cinco em pares bucais, cerebrais, pleurais, pedais e parietais e um isolado visceral.
Esses gnglios formam um anel chamado anel periesofagiano ao redor do
esfago, logo atrs do saco bucal.
Sistema digestivo
A rdula, presente no saco bucal, raspa o substrato, extraindo os alimentos:
algas, bactrias, fragmentos de animais e vegetais, sais minerais e outros.
Malacologia | 429
Sistema reprodutor
Embora os animais sejam hermafroditas, a fecundao cruzada predomina
sobre a autofecundao. Se a fecundao cruzada propicia maior variabilidade
gentica, a autofecundao garante a formao de uma populao a partir
de um nico indivduo (estudos experimentais realizados por W. L. Paraense
demonstraram que um nico exemplar de B. glabrata pode produzir cumulativamente 10 milhes de descendentes em trs meses).
A disseco do sistema reprodutor permite a identificao especfica dos planorbdeos, mediante a observao morfolgica dos rgos: presena e forma de
determinadas estruturas, quantificaes, propores entre rgos, mensuraes, posicionamento, dentre outros. De um modo geral, as espcies vetoras podem ser
identificadas com base nas caractersticas que se descrevem abaixo.
Malacologia | 431
Figura 15. Biomphalaria glabrata: A) Vista do lado direito, vista frontal e vista do lado
esquerdo, respectivamente; B) Manto de um exemplar adulto, onde se v a crista renal;
C) Manto de um exemplar jovem com linha renal pigmentada; D) Ssistema reprodutor:
canal coletor do ovoteste (cc), encruzilhada genital (eg), ovispermiduto proximal (odp),
ovispermiduto distal (odd), ovoteste (ot) e vescula seminal (vs); estruturas masculinas:
bainha do pnis (bp), canal deferente (cd), espermiduto (ed), msculos do complexo
peniano retrator (mr) e protrator (mp) , prepcio (pp) e prstata (pr); estruturas
femininas: bolsa do oviduto (bo), bolsa vaginal (bv), espermateca (es), glndula nidamental (gn), oviduto (ov), vagina (va) e tero (ut); corao (co), pericrdio (pe),
glndula de albmen (ga), veia pulmonar (vp), veia renal (vr), tubo renal (tr), crista lateral
(cl), crista renal (cr), linha renal pigmentada (lr), colar do manto (cm), ureter (ur), meato
do ureter (mu) e pneumstoma (pn).
Ilustrao: Extrada de Paraense, 1975.
Malacologia | 433
Malacologia | 435
Observao: embora os caracteres diagnsticos mais marcantes das espcies transmissoras presentes no Brasil tenham sido relacionados anteriormente, a identificao precisa requer anlises criteriosas de vrios
exemplares (preferencialmente sries de indivduos), uma vez que existem outras espcies com caractersticas similares.
3. Tcnicas malacolgicas
3.1 Gastrpodes lmnicos
Drepanotrema, Biomphalaria jovem e pequenos bivalves. Em alguns casos, a concha de captura pode ser substituda por uma draga e peneiras
para triagem;
b) Pinas longas e pinas com pontas finas: em alguns ambientes, pinas
com pontas finas so necessrias para retirar o molusco que se encontre
preso s frestas de rochas ou dos troncos;
c) Recipientes plsticos e sacos de plstico ou de tecido, umedecido,
em gua: para acondicionar os moluscos maiores, como Pomacea spp;
d) Luvas e botas de borracha, para proteo individual.
e) Caderneta de campo, lpis e fita adesiva para a identificao do
bitopo e da coleta: todas as anotaes devem ser feitas no local, relacionando tipo de ambiente, vegetao, topografia, clima, temperatura e
pH da gua, umidade do ar, fauna acompanhante e coordenadas geogrficas obtidas com um aparelho de sistema de posicionamento global
(GPS). Outras anlises da gua, como turbidez, oxignio dissolvido,
ferro, cloretos, gs carbnico, cloro e mangans, podem ser feitas no
local, com o uso de aparelhos especficos, ou aps o transporte da
amostra, no laboratrio;
f) Bolsa trmica ou isopor para o transporte: o uso de um pouco de
gelo aconselhvel nas regies mais quentes, desde que no entre em
contato direto com os recipientes contendo os moluscos;
g) Coletes com vrios bolsos, para facilitar o transporte do equipamento
de trabalho.
c) Mtodos de coleta
Os mtodos de coleta variam segundo o tipo de estudo: anlises qualitativas requerem vrias amostragens em pocas diferentes; anlises quantitativas
baseiam-se em tcnicas que envolvem a delimitao da rea amostral, o tempo
de coleta ou o nmero de conchadas e a quantidade de coletores.
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A tcnica de coleta consiste em raspar com a concha de captura a vegetao submersa, as margens e o fundo dos criadouros. Na superfcie, o material recolhido deve ser cuidadosamente analisado para detectar a presena
dos moluscos, observando-se folhas e pequenos gravetos onde espcimes
jovens ou pequenos moluscos como os ancildeos podem estar presos.
medida que os moluscos forem sendo encontrados, devem ser colocados
no recipiente plstico, sem gua, e o material da concha deve ser lavado
at a confirmao da ausncia de moluscos, para ento ser desprezado.
aconselhvel que se coloque no frasco um pequeno pedao de vegetao
(folha) retirado do criadouro, para manter a umidade; se forem coletados
exemplares da famlia Ancylidae, necessrio colocar um pouco da gua.
imprescindvel colocar uma etiqueta com o nmero de identificao referente s anotaes da caderneta de campo. A busca dos moluscos deve ser
realizada em diferentes pontos de cada criadouro, para se obter uma boa
amostragem da malacofauna presente.
Os criadouros podem ser temporrios, quando tm gua apenas em alguns
perodos, ou permanentes. Podem ser formados pela gua que mina do solo
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mente, para fora, com uma suave trao. Com esse procedimento, o
msculo se desprende e a parte mole pode ser extrada da concha, que
vai sendo ocupada pela gua, de forma a diluir os resduos de hemolinfa, facilitando a extrao (fig. 25).
e) Colocar a parte mole do molusco no fixador Railliet-Henry, modificado para animais de gua doce; a concha deve ser posta para secar, aps
ter sido lavada e limpa com um pincel de pelo macio. A quantidade
de fixador no deve ser menor do que dez vezes o volume do material
a ser fixado.
Preparao de Railliet-Henry, adaptada para moluscos lmnicos
a) gua destilada: 930 mL;
b) Cloreto de sdio: 6 g;
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concha, porque facilmente pode se romper. Assim, o lote a ser fixado deve
ser separado em duas partes, metade guardada como parte mole e a outra,
como concha. O material destinado fixao e ao estudo morfolgico deve
ser colocado diretamente no fixador, aps a anestesia e o aquecimento em
gua a 70C.
O fixador Railliet-Henry deve ser trocado no mnimo duas vezes antes de
iniciar a disseco, para que o material fique bem fixado. At a descalcificao
da concha, o frasco deve ser observado frequentemente, pois, medida que a
concha corroda pela reao entre o cido actico e o carbonato de clcio,
ocorre produo de CO2 e a tampa do frasco pode abrir-se pela liberao do
gs formado. Nesse caso, o fixador deve ser trocado frequentemente.
Quanto ao material para conquiliologia, depois de aquecido, o molusco
deve ser mantido em gua, que deve ser trocada periodicamente, at o apodrecimento da parte mole; quando retirar a concha, deve ser limpa com um
pincel de cerdas macias e posta para secar.
Para estudos de biologia molecular, os moluscos devem ser fixados em
lcool a 90%.
Disseco de planorbdeos para identificao especfica
A tcnica de disseco descrita a seguir foi desenvolvida por Paraense e
Deslandes na dcada de 1950 e a utilizada no Laboratrio de Malacologia
do Instituto Oswaldo Cruz. A tcnica requer uma placa de Petri rasa, duas
pinas de ponta fina e reta (ou dois estiletes), um pincel com cerdas finas e
macias e um bom microscpio estereoscpico.
a) Escolher um exemplar dentre os moluscos fixados e coloc-lo numa
placa de Petri rasa, que contenha um pouco da soluo fixadora. O
molusco deve estar com o lado esquerdo, onde se localizam as aberturas
genitais masculina e feminina, voltado para cima.
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d) O gonoporo masculino encontra-se logo abaixo do tentculo esquerdo, ao passo que o feminino localiza-se posteriormente, sob o
colar do manto, prximo da abertura anal. Geralmente, possvel ver
por transparncia o prepcio e o delicado canal deferente, prximo do
gonoporo masculino. A disseco do complexo peniano se inicia nessa
regio, retirando-se cuidadosamente o tegumento sobre o complexo
e os msculos que o prendem, at que o prepcio e parte do canal
deferente fiquem bem expostos. O canal deferente bem fino e de
colorao esbranquiada; o prepcio facilmente reconhecido por ser
bem mais largo e apresentar colorao negra ou cinza escuro.
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h) A glndula de albmen, geralmente com colorao amarelada, encontra-se prxima ao carrefour, ou encruzilhada genital.
i) encruzilhada genital segue-se o delicado ovispermiduto, que se dilata mais adiante, formando a vescula seminal e o ovoteste, ou glndula
hermafrodita, que ocupa os giros mais internos da concha. O ovispermiduto, apesar de muito fino, pode ser facilmente visto em todo seu
trajeto at a vescula seminal, passando pela face ventral do estmago
e da glndula digestiva. Para dissec-lo, basta que se v retirando aos
poucos a glndula digestiva e o estmago. A glndula digestiva e o
ovoteste encontram-se recobertos por tegumento escuro (manto), que
deve ser retirado para facilitar a observao dos cinos. Esses so geralmente menores no ovoteste do que na glndula digestiva e normalmente
apresentam colorao branco-amarelada.
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Procedimento:
1) Forrar a bancada com papel absorvente, para facilitar a limpeza do
local aps o processamento dos moluscos.
2) Com o auxlio de uma pina de metal, retirar o molusco do terrrio
e coloc-lo sobre a rgua. Medir cada animal (fig. 39) e anotar o
tamanho no protocolo de ensaio. Cada animal recebe um nmero de
identificao individual, que tambm deve ser anotado na placa de Petri
que ser utilizada.
6) Completar com gua reagente tipo III; a gua contida em cada funil
deve cobrir os fragmentos contidos na gaze.
7) No dia seguinte, transferir uma alquota do material (cerca de 10 mL)
para um tubo Falcon, identificando-o com o nmero da amostra, e centrifug-lo por 10 minutos numa rotao de 2.000 rpm. O material restante
no funil deve ser mantido, caso seja necessrio process-lo posteriormente.
8) Aps a centrifugao, desprezar o sobrenadante e, com o auxlio de
uma pipeta Pasteur, transferir uma alquota do material para uma placa
de Petri com fundo quadriculado, acrescentando gua reagente tipo III,
e examinar sob microscpio estereoscpio, com aumento maior ou igual
a 25 vezes, procura de larvas de nematoides.
9) Caso a amostra esteja muito escura, deve-se adicionar um pouco
mais de gua reagente tipo III, a fim de diluir o material e facilitar a
visualizao das larvas. A observao das larvas feita, inicialmente, a
fresco para observao de sua forma, estruturas, tamanho e movimento.
Dependendo do interesse da pesquisa, as larvas podem ser fixadas em
lcool 70% ou em fixador Railliet-Henry a quente ou podem ser separadas para sua inoculao em roedores. Aps serem fixadas, as larvas de
metastrongildeos como Angiostrongylus spp geralmente assumem a
forma de um C; j as de outros nematoides ficam retilneas.
10) As larvas devem ser coletadas posteriormente com uma pipeta
Pasteur e colocadas em tubos de criognio etiquetados com a
identificao da amostra.
Aps o exame e o diagnstico, os resduos lquidos devem ser colocados
em um frasco Erlenmeyer e aquecidos a 80C por cerca de 15 minutos,
antes do descarte. O material slido contido na gaze deve ser autoclavado
e descartado no lixo de risco biolgico. Todo o material utilizado deve ser
descontaminado em soluo de hipoclorito de sdio a 10%.
Helix aspersa Mller, 1774 e Helix pomatia Linnaeus, 1758: caracis comestveis europeus, conhecidos como escargot. Helix aspersa foi introduzido
Importante:
no utilize moluscicidas ou venenos, pois so muito txicos e outros
animais, ou mesmo pessoas, podem ser contaminados e at morrer;