Notas Sobre o Teorema de Três Séries de Kolmogorov
Notas Sobre o Teorema de Três Séries de Kolmogorov
Notas Sobre o Teorema de Três Séries de Kolmogorov
13 de Maio de 2013
Introdu
c
ao
Nestas notas Z1 , Z2 , Z3 , . . . e uma sequencia de variaveis aleatorias independentes. Buscaremos determinar condicoes sob as quais a serie:
Z1 + Z2 + Z3 + . . .
converge com probabilidade 1 ou 0. Para facilitar, escreveremos:
Sn =
n
X
Zj (n N)
j=1
Neste caso h
a uma fronteira em p = 1: a serie converge para p > 1 e diverge
se p 1. Sabemos tambem que esta fronteira n
ao e robusta se trocamos os
sinais dos termos. Por exemplo, se tomamos sinais alternados:
X
(1)j j p
j
e f
acil ver que a fronteira para convergencia da serie passa para p = 0. Isto
ocorre porque a serie tem muitos cancelamentos. De fato, para qualquer j
par:
(1)j j p + (1)j+1 (j + 1)p e da ordem de j (1+p) .
1
P
Agora imagine uma serie j j j p em os sinaisj = 1 s
ao aleat
orios.
Mais exatamente,{j }+
e
sequ
e
ncia
iid
de
vari
a
veis
aleat
o
rias
com:
j=1
P (j = 1) = P (j = 1) = 1/2.
Veremos que neste caso tambem temos muitos cancelamentos, mas n
ao tantos quanto no caso alternado. Neste caso a fronteira passa para p = 1/2.
Isto e,
X
p > 1/2 P
j j p converge = 1
j
X
p 1/2 P
j j p converge = 0.
j
Isto seguir
a da aplicac
ao dos teoremas daqui a
`s vari
aveis Zj = j j p . O
exerccio 7 abaixo apresenta uma vers
ao muito mais geral disto.
A desigualdade de Kolmogorov
n
[
k=1
Ek .
Portanto,
X
2
n
n
X
Sk
P max |Sk | > =
P (Ek )
E 2 IEk ,
1kn
k=1
k=1
2
Deduz-se da afirmac
ao e da desigualdade anterior que:
"
#
X
2
n
n
Sn
Sn2 X
P max |Sk | >
E 2 IEk =, E 2
IEk .
1kn
k=1
k=1
Pn
Como os eventos Ek s
ao disjuntos, k=1 IEk 1, logo:
E Sn2
P max |Sk | >
,
1kn
2
que e a igualdade desejada.
Resta apenas provar a afirmacao. Vamos supor que k < n pois o caso
k = n e trivial. Observe que:
Sn = Sk + k,n onde k,n Sn Sk =
n
X
Zj .
j=k+1
Veja que
Sn2
Sk2
2k,n
Exerccio 1 (Desigualdade
de Kolmogorov para infinitos termos). LemP
brando que Var (Sn ) = nj=1 Var (Zj ), mostre que:
+
X
k1
j=1
P+
j=1
Var (Zj )
2
Nesta sec
ao provaremos os seguintes resultados.
Teorema
4 (Uma serie). Suponha que E [Zj ] = 0 para cada j N e
P+
Var
(Z
ao:
j ) < +. Ent
j=1
X
P
Zj converge = 1.
j
P
ao:
Teorema 5 (Duas series). Suponha que +
j=1 Var (Zj ) < +. Ent
X
P
Zj converge = 1
j
se
j E [Zj ] converge, e P
P
Z
converge
= 0 em caso contr
ario.
j
j
r
X
(?) k N : P sup |
Zj | > 2k 2k .
rnk j=n
k
Por que isto basta? Veja que, tomando isto como dado, o primeiro lema de
Borel Cantelli implica que:
r
X
P sup |
Zj | > 2k para infinitos valores de k = 0.
rnk j=n
k
r
X
Zj | < 2k .
rnk j=n
k
N
ao e difcil deduzir que, quando isto ocorre, as caudas das somas parciais
da serie v
ao ficando cada vez menores, o que implica a convergencia da serie
num evento de probabilidade 1.
Observa
c
ao 6. Vamos reformular este ponto para que fique claro o raciocnio geral. Um argumento de An
alise na Reta mostra que
X
B k0 N, k N : k k0 sup |
Zj | < 2k
rnk
j=nk
P
est
a contido no evento j Zj converge, logo basta provar P (B) = 1.
Como
X
B c = sup |
Zj | > 2k para infinitos valores de k ,
rnk
j=nk
r
+
X
X
P sup |
Zj | > 2k 4k
Var (Zj )
rm j=m
j=m
e consequencia da vers
ao da desigualdade de Kolmogorov para infinitos termos (cf. exerccio 1) aplicada
P+ a Zm , Zm+1 , Zm+2 , . . . ao inves de Z1 , Z2 , Z3 , . . . .
Agora
observe:
como
j=1 Var (Zj ) < +, podemos escolher m tal que
P
e t
ao pequeno quanto se queira. Em particular, podemos esjm Var (Zj )
colher m = nk tal que a soma e menor que 8k . Fazendo a escolha indutiva
de n1 < n2 < n3 < . . . com esta propriedade, temos a inequacao desejada
(?). 2
5
X
p > 1/2 P
j j p converge = 1.
j
Veremos a seguir que o teorema de uma serie admite uma recproca parcial
quando as Zj s
ao uniformemente limitadas. Observe que esta hipotese implica que E [Zj ] e Var (Zj ) estao bem definidas e sao finitas para todos os
j N; de fato, todos os momentos estao bem definidos.
Teorema 7 (Recproca parcial do teorema de uma serie). Suponha que as
vari
aveis {Zj }jN tomam valores entre c e c para alguma constante c > 0
e que E [Zj ] = 0 para todo j N. Ent
ao:
+
X
X
P
Zj converge > 0
Var (Zj ) converge.
j=1
Var (Zj ) 1.
j=ki
Pki+1 1
Pki+1
Defina agora Ui
Zj . Observe que Var (Ui ) =
j=ki Zj 1
j=ki
para cada i. Alem disto, estas variaveis Ui sao independentes, pois correspondem a pedacos disjuntosda sequencia Z1 , Z2 , . . . . Fazemos a seguinte
afirmac
ao:
Afirma
c
ao 9. Existe um > 0 fixo tal que P (|Ui | > 1/2) para todo i.
Antes de provar a afimacao, vejamos o que ela implica.
Os eventos
P
{|Ui | > 1/2} s
ao independentes e a afirmacao implica i P (|Ui | > 1/2) =
+. Portanto, o segundo Lema de Borel Cantelli nos permite deduzir que:
P (|Ui | > 1/2 infinitas vezes) = 1.
Agora observe que Ui = Zki + + Zki+1 1 = Ski+1 Ski . Se estas
somas s
ao maiores do que 1/2 infinitas vezes, vemos que sequencia das somas
parciais Sn n
ao e Cauchy, portanto nao converge. Deduzimos que:
X
{|Ui | > 1/2 infinitas vezes} {
Zj nao converge}
j
j=ki
Para calcular E Ui4 , usaremos o exerccio abaixo.
Exerccio 3. Mostre que se X1 , . . . , Xm L4 s
ao intependentes e tem media
0,
m
X
4
E (X1 + + Xm )
=
E Xj4 + 6
j=1
E Xi2 E Xj2
1i,jm
2
m
m
X
X
2
=
(E Xj4 E Xj2 ) + 6
E Xj2 .
j=1
j=1
h i
h i
No nosso caso, as Zj s sao limitadas por c > 0, logo E Zj4 c2 E Zj2 .
Portanto,
2
m
X
4
2 2
2
(E Zj E Zj ) + 6
E Zj
ki+1 1
4
E Ui
j=1
j=ki
ki+1 1
c2
2
E Zj2 + 6 E Ui2
j=ki
2
2
= c E Ui2 + 6 E Ui2 (c2 + 6)E Ui2
2
porque E Ui2 1. Deduzimos de Paley Zygmund que:
2 !
E
Ui
(3/4)2 E Ui2
1
9
2
4
P |Ui |
P Ui
.
2
2
4
16(c + 6)
E Ui
2
Exerccio 4. Utilize esta recproca para completar o caso p 1/2 do exemplo na primeira sec
ao.
Simetriza
c
ao e a recproca do teorema de duas
s
eries
Calha de ser verdade que tambem temos uma recproca parcial do teorema
de duas series.
+
X
X
X
P
Zj converge > 0
E [Zj ] e
Var (Zj ) convergem.
j=1
[Em particular, P
series.]
P
+
j=1 Zj
converge = 1 neste caso, pelo teorema de 2
X
X
X
P
Wj converge P {
Zj converge} {
Zj0 converge}
j
X
X
= P
Zj converge P
Zj0 converge
j
2
X
(2 seqs. com mesma lei) = P
Zj converge > 0.
j
Como Zj e Zj0 s
ao independentes e identicamente distribudas,
j : Var (Wj ) = Var (Zj ) + Var Zj0 = 2Var (Zj )
P
e deduzimos j Var (Z
Pj ) < +.
Falta provar que
j E [Zj ] converge. Mas veja
P que, pelo teorema de
uma serie e a finitude da soma das
vari
a
ncias,
j (Zj E [Zj ]) converge
P
Z
converge
com
probabilidade posiquase certamente. Alem disto,
j j
tiva (por hip
otese). Quando estas duas convergencias
P ocorrem (e isto se da
com probabilidade positiva), sua dferenca, que e j E [Zj ], tambem converge.
ltima serie e determinstica, e necesariamente verdade
P Como esta u
que j E [Zj ] converge.
Isto encerra a prova do teorema quando supomos que existem Zi0 s como
acima. Como provamos o teorema em geral? A ideia e aumentar o espaco de
probabilidade. Seja (, F, P) o espaco onde estao definidas as Zi s. Definimos
o produto deste espaco por ele mesmo,
(2 , F 2 , P2 )
Abusando notac
ao, definimos, para cada (1 , 2 ) 2 ,
Zi (1 , 2 ) = Zi (1 ), Zi0 (1 , 2 ) = Zi (2 ).
Exerccio 5. Prove que a distribuic
ao das novas Zi s e a mesma das antigas
e que as Zi0 s criadas tem as propriedades pedidas no incio da prova.
Isto nos permite provar o enunciado do teorema no novo espaco de probabilidade, do modo que j
a fizemos, e transferir o resultado de volta para o
antigo. 2
O teorema de tr
es s
eries
Os
P teoremas acima resolvem completamente o problema de convergencia de
ao independentes e uniformemente limitadas. Nesta
j Zj quando as Zj s
sec
ao veremos que tambem podemos obter uma caracterizacao completamente geral.
10
Para este u
ltimo resultado, precisamos de uma definicao. Dada uma
constante c > 0, defina o truncamento:
0, |Zi | > c
c
Zi Zi I|Zi |c =
Zi , |Zi | c.
Diremos que as vari
aveis {Zi }i1 tem a propriedade P(c) se:
X
X X
P (|Zj | > c) ,
E Zjc e
Var Zjc convergem.
j
Teorema
P 11 (Tres series). Se vale a propriedade P(c) paraPalgum c > 0,
ent
ao j Zj converge quase certamente. Reciprocamente, se j Zj converge
com
ao P(c) vale para qualquer c > 0 [e portanto
P probabilidade positiva, ent
Z
converge
quase
certamente].
j j
Prova: Vamos primeiro supor que vale P(c). Neste caso, o primeiro lema de
Borel Cantelli implica que:
P (|Zi | > c infinitas vezes) = P (Zi 6= Zic infinitas vezes) = 0.
Deste modo, as duas series quase certamente coincidem exceto em um n
umero
finito de termos. Deduzimos:
X
X
P
Zj converge = P
Zjc converge = 1
j
X
P
Zj converge > 0 P (Zj 0) > 0 P (|Zj | > c infinitas vezes) < 1.
j
A contrapositiva do segundo lema de Borel Cantelli nos diz que devemos ter:
X
P (|Zj | > c) < +.
j
Veja ainda que, como vale com probabilidade 1 que Zj = Zjc exceto por um
n
umero finito de vezes, deduzimos:
X
X
P
Zjc converge = P
Zj converge > 0.
j
11
Como as Zjc s
ao uniformemente limitadas, a recproca parcial do Teorema
de Duas Series encerra a prova. 2
Mais exerccios
1
(x R).
(1 + x2 )
jp
12